>*^ i<»*»V ^^^^ -^-^-^^5?^^ 1 .'/_ T^ ^^'^ ->. - -^.■ \..' ^'^WM ^*A4^iiA^^!íi%«^N:? '^^^^^^í^;í^^Ã' A ,^ A ^ •. -^^í» .A A ^4 ^^^ ^ s'7'a^r^^ ^•C-sO^^ ^í^•^*^ F^^^ A >^ -» ^C^a^: c^^-^r-^ ^^A^^ Ir L aOi^a; %Ai^/ 'S^ i ^ nu íliis '^S^S niii^ HilIM SS ^ ^ * w RI wwl -ii»;;?^ S^ -^ ^1 •' -•- ^H -^A' :'.-:-^'''* «MW »/:<' sAA-- irr^.^Ãíí^s-ii^ '<-^- f Memorias d< ^luseu GcbIcIí ^l\ ( Museu Paiaense ) de Historia Natural e Ethnographia IV. Os Mosquitos no Pará E-eunião de quatro trabalhos sobre os Mosquitos indígenas, principalmente as espécies que molestam o homem. :5 PELO PROFESSOR DR. EMÍLIO AUGUSTO GOELDI DIRECTOR DO MUSEU Com 1+4 Figuras no texto e 5 estampas chromolithographicas Ç' 7i^ PARA' (IIRAZIL) Esiabelocimenlo Gr»pii.co C, WIEGANOT-Pjni i«M>r«. :<~^ d- I (^^ Memorias do Museu Goeldi •^ ( Museu Paraense ) de Historia Natural e Ethnographia IV. Os Mosquitos no Pará Reunião de quatro trabalhos sobre os Mosquitos indígenas, principalmente as espécies que molestam o homem. PELO PROFESSOR DR. EMILItJÍ AUGUSTO GOELDI Dl RECTOR DO MUSEU Com 100 Figuras no texto e 5 estampas chromolithographicas IV\lll" (l!ll\ZIL) Estabelecimenlo Graphico C. WIEGANOT-Pará. Parecer contido no " Livro de Visitas " do Museu, relativo a uma visita dos Exms. Sps. Dr. Governador do Estado, Vice-Governador e Director do Serviço Sanitário, feita ao estabelecimento no dia 9 de setembro de 1903. « Coimi expontâneo e .solcmne testiMiuiiilio da venliuic. attostaiuos nestas linluus iiue a !) de setembro findo, em visita coiijun<'tameMte realisada ao Museu (iirldi. fomos encontrar no seu laboratório o Director d "este estabelecimento. Professor Dr. Emilio Gieldi, occui)ando-.se do estados biológicos sobre os mosquitos iudi,«enas. entre os (luaes devemos particularisar os da.s espécies Stegomyia fasciata <■ Citlcx fatigaiís. N 'esta occasião achava-se também |)i'esento o 1'rnfcssor Consellirirn Dr. Franz Steindacliner, Director do Imperial Museu de Vieiína. .\s minuciosas experiências a que jirocedia então o douto naturalista, ao (juc observ.imos, ligavam-se principalmente á influencia da mitrição pelo sangue ou pelo mel na vida dos mosquitos de ,'mibos os sexos no captiveiro; aos .seus effeitos immrdia- tiis. favoíeccndo. retardando ou inijicdindo a fecundidade das fêmeas ca|itiv.as de Stegomyia fasciata, ao instincto accentiiadamente sanguinário d'estas ultimas, á qua- lid.ide e ao mimero das jiosturas em determinadas condivões, emfini á acvão da copula sexual sobre a haemaphilia e a fertilidade das fêmeas nascida.s em captiveiro, sendo ahi comprehendidos os phenomenos de parthenogenese e de pseiido-parthenogenese. Pelo desenvolvimento das indagações entomologicas e pela continua appli- cavão de methodos scientificos rigorosos, cuja amplitude e importância podemos reco- nhecer, o Dr. Goddi obteve resultados positivos e completos no assumpto. Pará. () de outubro de 190.'!. .il iKjHstíj Mi,iitciiC!/ro " Dr. Geutiniano de Lyra Cnstru Dr. Frriiif/.sro (In Silra Mirnndn lh\ MiijKi'! Jii.sr d' Aliiifidii Pcriinnd/Kiii. Versão de um trecho de um parecer detalhado sobre o Museu do Pará, gravado no "Livro de Visitas", pag. 1-3, e emittido pelo Conselheiro Dr. Fpanz Sieindaehner, Director do Imperial Museu de Vienna d'Austrifi, por oeeasião da sua visita no Pará durante a expedição scientifiea austríaca ( setembro -outubro, 1903.) .\bstracçrio feita da actividade euiiniMiti^nieutr scientifiea do estabelecimento, com a qual lucra o orbe inteiro, elle traz [lara o pmprio paiz enorme jiroveito pratico, chamando a attenção sobre a utilidade ou nocividade d estes ou d'aquelles membros da fauna e flora indígena, tendo j;l por diversas vezes corrido em auxilio de certos representantes gravemente pei^seguidos e ameaçados de extermínio, e apontando por outro lado. para os meios de livrar-nos de transmissores de moléstias pertencentes ao mvmdo dos insectos, estuil:iiiil..-l)v^ n seu modo de vida e ilesenvulvi- mento com inexcedivel cuidado Pará. .") de dezembio de 1903. Dr. Fruir. Siciíidacliinr. Iiitendenlc do Imperial e Rvjil Museu líe Hislorin Natural dl' Viptnm «lAustria. \= / Os Mosquitos no Pará I. Os mosquitos no Pará encarados oonio uma calamidade publica. II. Resumo provisório dos resultados da campanha de experiências execu- tadas em 1903, especialmente em relação ás espécies Stegomyia fasciata e Cidex fatigans, sob o ponto de vista sanitário. III. Pormenores biológicos principalmente relativos ao cyclo de desenvol- vimento das principaes espécies indigenas. IV. Stegomyia fasciata, o mosquito transmissor da febre amarella, e o actual estado de conhecimentos sobre a causa (Testa moléstia. (Conferencia realisada perante o Congresso Internacional de Zoologia em Berna (Suissa), agosto 1904.) Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica. A. — Orientação sobre o conjuncto dos Mosquitos em geral e as espécies paraenses em particular. I 111 hi> tam parvis at<\uo tam iuilli> i\\\.v t ratio, ijuaiita vis. rniam ine.\triraliili-% per- n. fectiol Ubi tnt sciiMi-. eollocavit i tiafura | In «culiceV... qua sulitililate pfiuias .itlm-xuit ? « Praoloiifravit ]ieilum cniia. dispusuit teiíiiiam « caveain. uti alvum. avidara sansnunls, et \>n- c tissiiuum liuiiiaiii hitim ac-t-eiiilit I Plinius, hÍNtoria natiiralis. — Libkr XI. Conhecem-se actualmente umas 300 espécies diversas de Mosquitos em todo o globo. (*) Repartem-se sobre os divei-sos continentes do modo seguinte : Europa 4"^^ espécies America 111 Africa 57 Ásia . 94 Au.stralia 3.S ( 10 espécies ainda cabem ás ilhas oceânicas Bermudas. Fidji. Maurícias. Madeira, sendo que a differença d'este total — 359 — do outro acima indicado — 300 — provém da circumstancia de serem certas espécies de Mosquitos encontradas em mais de um con- tinente. ) Vê-se logo que o continente amciicano nilo ficou prejudicado no seu quinliAo. Quanto á subdi\isão d'este continente, podemos dar a seguinte synopse: America do Xorte com o Canadá . 37 espécies America Central li Antilhas 2() America do Sul 4o » ( * ) <_)s dados numéricos ahi resíistrados são em parte extiahidos da novíssima i;randc Mon. Diz um antigo provérbio: «Natura nnixinn^ uiiraiuia in iii////i/iis .' > De facto: no estudo dos seres pequenos e minimos é principalmente que ao espirito investigador se apresentam as maiores maravilhas ( 1 ) e não é sem razão que o tal provérbio ficou escolhido como lemma por uma respeitável c benemérita corporação scienlifica do Velho Mundo — a «Sociedade Entomologica da Fnmça >. Pertencem os Mosquitos (Culicidae) á classe dos Insectos, á ordem dos Dipteros, isto é, aos Insectos moldados sobre o typo de uma mosca commum e que apparente- mente não têm senão duas azas — de onde lhes vem o nome scientifico. Na realidade existem porém rudimentos das azas posteriores n'uns insignificantes appendices, chamados halteras. São na maioria seres pequenos, dos menores da ordem. Seu apparelho buccal é feito de maneira a permittir-lhes ao mesmo tempo furar, me- diante dois pares de cerdas e estyletes chitinosos rijos, dos quaes um — as maxillas — -se parecem com umas agulhas com ponta (arpada, e sugar, mediante um tubo com- posto de duas peças encaixadas uma na oulra ;i modo de calhas, e pmvido de uma (1) «Plus enim — escrevia Santo ."Vgostinho — formiciilanim et apicularum opera stupemus, uviani ininiensa forpnra balenanim. ; (lie civitate liei l..'.>. c. .'4. n. 5 ) Os !\I(iSfiuii (2) O género Megarhinus, distribuído sobre o littoral oriental trópico e subtropico de todos os continentes do hemispherio sul, allude á tromba extraordinariamente com- prida, igualando de perto o comprimento do corpo. São mosquitos assas gi-andes c bas- tante distinctos pel.i sua extranha belleza e vivacidade de colorido; .são talvez, os mais ( 1 ) .\ sii;nificai,ão (l'cste nome i;eneiico. tir.iclo do líreifo, é »imitil-, 'imprestável-, concordando assim assas bem o termo ti ivial ^ atoa. ( .' ) r. V. Theoliald. Ciilicides. vol. I. pai;, lis. ^ Os Mosquitos no Pará encarados coiiio uma calamiiladc publica lx>nit(KS de toda a familia dos Cii//f/, cimtra a qual a 'j,ente deve se precaver. Outros fazem-no derivar do substantivo greiío stcsos » = tecto, casa. O autor do nome. Theobaid, nunca se pronunciou ao que eu saiba acerca da interpretação por elle intencionada. ( 4 ) riizem-me que a 5. fasciata tem por alii o nome trivial de carapana'-pinima com allusão ao colorido rajado Mt/Miuitt» ivi I'aiá cncaraliora (todo amazonico), Haeiíiagogus, Wyeoiuyia e Liittafus, pouco numerosos todos em espécies sylvestres, não muito bem estudados ainda, mas não incommodando o homem senão portas fora. Apenas o ultimo, Lí/itafits, nos poderá merecer algum maior interesse pelo facto de ter sido creado em virtude do material coUigido aqui no Pará. em l'>00, pelos drs. Durh.im e \iyers. enviados da Medicai School of tropical Descases» de Liverpool. Quatro sào portantn as espécies de niosquitns que principalmente provocam a nossa altcn^'àn. aqui no l^ini. c(uiv) inimi,tros da humanidade, pequenos de vulto, tn";indes, 10 Os .Muscjuitos no Pará encarados ciimo unia calamidade publica porém, nos seus effeitos, inimigos que parece tcrem-se conjurado para rouhar-nos o so- cego, de dia e de noite, torturando-nos não s(3 pela dôr physica, comn ac;irretando-nos gravissimos perigos e males á saúde. Trez d'elles armaram já definitixo acampamento dentro da própria cidade nestes últimos annos, revezando-se nos assaltos diários ás nossas habitações humanas, prejudicando enormemente o credito e a reputação de Belém como cidade equatorial de amena habitabilidade; o quarto avassala os arredores e circumvi- sinhanças, e, ameaçando incessantemente a existência humana nas regiões pantanosas do interior, é apontado pelos resultados modernos da sciencia como vehiculo e trans- missor das febres palustres, e, constituindo-se em serio obstáculo ao povoamento do paiz. torna-se directamente culpado de grave lesão á prosperidade publica. Examinando-os de mais perto um por um, principiaremos pelo ultimo. No género Atiophclcs, ( 1 ) todo elle de tristissima celebridade na litteratura me- dica hodierna, a espécie que, conforme as minhas investigações, principalmente nos pode interessar do ponto de vista local paraense, é o Anopheles argyrotarsis Desvoid}- (1.S28), e se não me engano, a raça ou subespécie albipcs Theobald ( 1901 ). Mede, com a tromba estendida, uns 7""" e é de colorido sombrio, uniformemente cinzento-branco. (Guiando-se pela estampa I de Theobald, este colorido deveria todavia puxar sensivelmente ao bruno-vermelho-claro sobre o cephalothorax, o que constituiria uma das differenças em relação ao A. argyrotarsis typico, onde a côr do cephalothorax apresenta-se de um cinzento-azulado. Devo declarar entretanto que em exemplares fres- cos não achei confirmada semelhante differença, que prova\elmente se explica por uma imperfeição technica.) Pertence a nossa espécie ao grupo ou secção com a margem anterior da aza provida, pela parte de cima, de manchas escuras muito distinctas. O aspecto das azas é enxadrezado, como sóe ser aliás em todo o género. Dis- tingue-se a nossa subespécie ou raça albipes outrosim por uma larga fita preta no articulo baseai do tarso das pernas posteriores, signal este que não se nota no A. argyrotarsis typico. São estes os caracteres principaes, além de outros mais subtis, que permittem reconhecer o nosso mais frequente Anopheles paraense. Os exemplares que me servem para a presente descripção provêm de Macapá, margem guyaneza do Amazonas, onde foram colleccionados, faz 3 annos, pelo preparador de entomologia do nosso Museu. HaAia por lá então uma afflicti\a abundância d'elles e coincidia esta circumstancia com uma epidemia de sezões. Os nossos exemplares são todos do .sexo feminino, cheios de sangue a não poder mais, e foram apanhados dentro de casa, e dentro de mosquiteiros já não muito preenchedores da sua tarefa. Tanto quanto sei, concordam estes AuopJieles de Macapá com aquelle sombrio carapanã, que com tanta profusão encontrei em 1895 durante a expedição scientifica do pessoal do Museu ao littoral da Guyana entre o Oyapock e o Araguar}-. No Amapá era simples- inente horrorosa então a abundância de taes insectos. Pude convencer-me do acerto da affirmação popular que este carapanã sombrio tinha uma predileção pronunciada pela mata de siriúba ( Avicennia '/ de facto, quem ( 1 ) Os mosquitos do tfenero Auoj>heles podem ser distinguidos e reconliecidos i>ii' uma pessoa \e'vj.ã mesmo, pela posição por elles assumida no acto da picada. Levantam o abdómen, assumindo o eixo do corpo direcção que se approxima mais ou menos da perpendicular. Conservam por outro lado o seu corpo em direcção mais ou men.is horizontal as espécies de outros ureneros de Culicides. Os .M(i^(iuit(i> no Paiíi mcaraclos cí/pk, uma calamidade iHiMica 11 tentasse atr;i\ cssar um siriuhal, mesmo de dia. licaxa logo com o rosto e as mãos pretas de carapanàs que, quaes fúrias infernaes, em nuxem espessa perseguiam o intruso até que conseguisse salvar-se da /ona de mato. Xunca me esquecerei das torturas que n'aquclla região soffremt)s pelos A)ioplicles, que de noite invadiam a villa. Coincidiu no\amenle o tempo da nossa residência com recrudescimento de febres palustres na dita reg.ão. i.embro-me de certa casa no Amapá, onde de uma noite para a outra contei 7 casos novos de sezões. E em todo o littoral da Guyana por nós percorrido e de onde pude obter informações fidedignas sempre foi verificado o mesmo resultado empírico, que se impunha com nitidez de não poder ser mal entendida — < onde havia muita febre palustre, também havia muito carapanã >. Ora, quando pela observação múltipla e con- stante se evidencia a coexistência de dous phenomenos A e B com o caracter de regra e norma, não é mais demasiada ou.sadia suspeitar-se um nexo causal entre ambos. A área de distribuição deste Anopliclcs estende-se no littoral oriental desde o Paraguay e Buenos-Aires até a ilha Jamaica, sendo que nas Antilhas as ilhas Santa Luzia (agora em perigo pela actividade vulcânica do monte Souffrière ), Antigua e Gra- nada, com diversos pontos na terra firme da Guyana Ingleza, representam pontos, onde a existência da espécie foi positi\amcnte a\eriguada sobre material original de lá en- viado ao sr. Theobald em Londres. No Pará (arredores) foi o Auophclcs argyrotarsis colleccionado, além de nós, pelos Drs. Durham e .Myers, e pelo Dr. E. Austen, dipterologista do British Museum. da Faraday-Expedition, (Boletim do Museu Paraense, VoX. 11 pag. 386 seg. ). Observações sobre o Anopheles arííyrotarsis, espécie typica, e sub-especie al- bipcs — (ambos são encontrados, ora simultaneamente nos mesmos logares, ora uma com exclusão da outra ) — têm sido feitas pelos Doutores St. George na ilha de Santa Lúcia, Grabliam na Jamaica, Forrest na Antigua, Broadway em Granada, Rowland na Guyana Ingleza, Lutz no Rio de Janeiro e São Paulo, Arribalzaga em Buenos-Ayres Holmberg em Formosa. Na ilha de Antigua o Dr. Forrest encontrou abundantemente as lar\as num valle pantanoso e coberto de um capim (< Pará-grass», Paiiicuiii miiticuDi Forsk, ) e em condições semelhantes as encontrou também o Dr. St. George Gray na ilha de S.'" Lúcia (conf. Theobald, Monograph of Culicidae Vol. 1, pag. 30 seg,). Distinguem-se as larxas do género Auopliclcs pelo tubo resp'ratorio anal muito curto e os pellos rami- ficados, gi-andcs e em pares, agrupados de cada lado dos segmentos da parte anterior do corpo. Já acima alludi á coincidência singular que ha entre a distribuição geographica da malária e a do género Anopluics. Na Inglaterra foi pelo professor Nuttall, em Cam- bridge, chamada a attenção para as relações entre febres intermittentes em certas re- giões com a coexistência do Aiiop/ir/cs !iitn!ilipciiiii.<: na Itália foram os professores Grassi e Noc que fizeram bell e o nosso Aiiopliclcs (irj^yrofurs/s é novamente incriminado da dispersão de febres de máo caracter em Surinam e na Guyana Ingleza. Tudo isto são factos que não podem soffrer contestação. Que se leiam os livros de Theobald. Grassi. Nuttall. além 12 Os .Mcisquitns iin Pará (.■ncarailns enniii uma L-alainiilaiK' pulilica das muitas revistas medicas modernas, que constanieiiunle \ém ti^izeiído novos estudos, novas contribuições n'este terreno. E para quem sabe como o professor Koch, de Berlim, commissionado especial do governo allemão para o estudo da malária na Itália, na Africa c nas índias, nestes últimos annos, \oltou, mostrando como por uma therapeutica e prophylaxia racional e methodica ha meio seguro de um combate victorioso contra a malária, não me levará de certo em conta de grosseria, se confesso francamente, que hoje, um medico residente cm região trópica, não cuidando seriamente de acompanhar os progi"essos da sua sciencia, com a litteratura profissional e o microscópio á mão para seu uso diário, trabalhando assim no seu próprio aperfeiçoamento e em proveito e a bem dos seus clientes, não passa para mim de um — deplorável traste, cuja rotina es- capara tão pouco ao sarcasmo das gerações futuras, como os portadores da medicina medic\al lograram fugir das irónicas setas do immortal Mohère no «Médicin malgré lui » ! E, voltando ao nosso assumpto, não é curioso agora saber, que nas ilhas Bar- bados e no archipelago das Bermudas não ha malária e também não ha Anopheles? Ainda não achei um só exemplar de Anopheles argyrotarsis dentro de cidade de Belém. E' porém substituído aqui por um flagello talvez ainda peior, a Stegomyia fasciata, insolentíssimo mosquito diurno, que faz inauditas exigências á nossa paciência e resignação. E', como acima já dissemos de passagem, um grupo de Ciilicidc^ cara- cterisado pelo desenho saliente, rajado de preto e branco. Além dos caracteres geraes já mencionados, direi que possue um colorido geral escuro, em tinta-neutra. A orna- mentação t3'pica do cephalothorax consiste em duas linhas longitudinaes medianas, bran- cas, compridas (I, II) tendo no meio, na parte anterior, uma terceira linha curta (III); de ambos os lados corre em curva lunar uma outi-a linha (IV, V) para cima, acom- panhando parallclamente as outras desde o centro do cephalothorax, até a margem posterior d'este, que é, por sua vez, marcado com uma bem vistosa orla transversal branca. No abdómen vêm-se indicadas as zonas limitrophes entre dois segmentos conse- cutivos por uns anneis transversaes, claros esbranquiçados, cuja largura poderá importar em 1/4 ou 1/5 de um dos segmentos. Pelo lado inferior de cada segmento abdominal vê-se, tanto á direita como á esquerda, um grande salpicc; arredondado branco, de brilho argênteo, scintillante, com furtos de madrepérola. Estriados de preto e branco são também os palpos, como as pernas, sobretudo os pares medianos e posteriores; n 'estas pernas posteriores, contam-se na parte tarsal, ò fitas brancas, prateadas, cujas duas terminaes (IV e V) são separadas apenas por um estreito annel preto no meio. Salpicos prateados percebem-se outrosim aos lados do cephalothorax, na região da inserção das pernas e na cabeça, ao redor e por entre os olhos. As azas, de colorido fundamental de fuligem, são providas de escamas, que ao exame microscópico mostram um feitio íissás alongado e estreito. — Em geral os indi- víduos machos parecem ser de um tom ligeiramente mais escuro do que os do sexo feminino. A distribuição da Stcíioiíiyia fascidUi abrange grande parte do littoral de uma zona sita entre 40" lat. N. e 40" lat. S. Póde-se dizer que é quasi cosmopolita, em relação á cinta trópica e subtropica do Globo, faltando porém nas regiões frias. Onde porém mostra o seu principal centro de densidade, é no continente americano: o sul dos Es- Os MuM|uuu,s 110 Pará (.•iicarados como uma calamidade publica l3 tados Unidos com parte do México, costa atlântica até Viríjinia beach (bacia do Mis- sissipi), as Cirandes Antilhas, e o littoral sul-americano, costa atlantico-oriental. O British Museum de Londres recebeu a Slc^oniyid fdscidhi da I lespanha, de Portugal e de Gibraltar im Europa, de Trovancore, Calcutta, Sinjcapore, Madrasta, Birmânia e Tokyo, na Ásia: Serra Leoa, Lag-os, Zanzibar. Durban, Sene.oambia, Mashonaland, na Africa; de Nova Guiné, de Quecnsland, Nova Galles do Sul e Victoria, na Austrália; de Sa- vannah e Geor.fi;-ia nos Estados Ciiidos; de Honduras, na .l/;/íV'/Vrt C<';///'f//,- de Jamaica, Santa Lúcia, (Iranada, SAo Vicente, Cuba e Porto Rico, Bermudas, nas Antilhas; de Nova Amsterdam e Demerara, nas CuyaiKis: do Panamíí ; de Manáos (Dr. Durham), do Pará (pelo cônsul da Inglaterra W. A. Churchill 11 fev., 1.S99; dos Drs. Myers e Durham, Austen e Dr. E. A. Goeldi ), do Rio de Janeiro e Santos no Brazil. Agora exclama o monographo moderno dos 0///f/í/í'.s expressamente: < O pa- rasita da febre amarella é disseminado por este mosquito!» ( 1 ) De facto, com força de dia em dia crescente, accentua-se na sciencia medica moderna a convicção d'este nexo causal e póde-se dizer mesmo, que para um respeitável numero de autoridades scien- tificas, já tomou a feiçáo de certesa. Ha uma pedra de toque, de primeira qualidade, para se julgar d'esta theoria: um mappa da distribuição geographica do mosquito Ste- goniyia f asei ata, coincide de um modo surprehendente com um mappa da distribuição da febre amarella: não ha um ponto do mundo, onde exi.sta agora, ou tenha jamais existido a febre amarella, que não contivesse ao mesmo tempo a Stegoinyia. (2) Isto já por si só não pode deixar de impressionar a quem para usar de um termo drástico popular — enxerga dous palmos adiante do nariz. A doutrina da relação intima entre a febre amarella e a Stcgoiuia fasciata não é de todo no\a, pois um medico norte-americano, Finlay, já entre 1881 — iNSf) publicou vários trabalhos n'uma revista dos Estados Unidos acerca dos seus estudos n'este ter- reno. Não tendo sido porém, no methodo das suas iinestigações, evitados certos defeitos, também os resultados não puderam libertar-se de certas objecções e assim não conse- guiram ganhar desde então terreno e acceitação geral. Houve um intervallo em que tinha cabido n'um quasi esquecimento. Mas as recentes operaçães dos norte-americanos nas grandes Antilhas, e a attenção augmentada para as regiões meridionaes da própria União, fizeram com que resuscitasse o interesse para os estudos iniciados por Finlay, Grassi e outros. Hoje os americanos, depois de terem creado um laboratório especial na ilha de Cuba, onde se verificou o bum fundamento das antigas observações de Finlaj' e tomando a peito as cnnclusões therapeuticas e prophylaticas, /// nucc contidas nos trabalhos daquelle precursor, organisaram uma campanha methodica e poderosa, para debellar a Stcgoniyia e, com esta, a febre amarella. Dos bellos resultados assim obtidos os periódicos especiaes no No\ o e no \'elho Mundo estão cheios e conforme o que se ouve, não está mais longe o dia no qual o saneamento completo da bella ilha, da -^pé- rola das Ant'lhas>, ser;i um facto consummado. ( 1 ) The Vellnw-Fever parasite is dissemiiiatcl liy this v;nal. Tlieobald.Culicliles (. I"/'l ). \ 'jI. 1. pai;. -">J. ( 2 ) Conforme o mappa na obra de Tlieobald. Ciilicides. Vol. 1. paií. 2^)i. 14 Os .Miis(|i;it E a commissão de médicos da « Liverpool Medicai School of Tropical Descases», bastante em contradicção com o que a imprensa diária d'aqui dizia acerca dos motivos que levaram-na a mudar o centro de observações para as Antilhas, n'uma brochura posterior, relativa ás condições sanitárias da cidade do Pará, emittiu conceitos que se não são francamente alarmantes, todavia sSo assas rele- \'antes para merecer a attenção appiehensi\-a das auctoridades. da classe medica e do publico instruido em geral. Falla-se nesta brochura da Stcgoinyia. alludindo ao grau de insupportabilidade que attingc aqui a incessante perseguição soffrida pel(j homem por parte do feroz e famigerado diplero e quem sabe ler entre as linhas, aproveitáveis lições ainda poderá tirar dalli. Tanto quanto se sabe até hoje acerca da larva da Síegoinyia /(isc/d/ a. vWc cWn em buracos, poços, depressões do solo etc. contendo agua relativamente limpa. Possue uma cabeça mais ou menos quadrangular, um corpo que conserva o mesmo calibre até o ultimo segmento abdominal, c um siphão respiratório não muito considera\el. Os ovos da Stcgoiny/a, postos isoladamente, são da forma de ellypsoide muito alongado e pos- suem ao exame microscópico, na peripheria uma serie continua de umas \acuolas claras, consideradas camarás de ar. Segue em importância e insupportabilidade como «pendant» nocturno o Culex fa- tígans Wiedemann. Não é lá no género Ciílcx, na sua extensão systcmatica moderna, cousa muito commum o regimen nocturno; constitue pois, póde-se dizer, uma excepção, visto que é de dia que a maioria exerce a sua abdominavel profissão de vampiros. Conhcce-se esta espécie de cara pana relati\amente grande, por um colorido geral bruno-castanho; sensivelmente miis ruivo é já o cephalothorax, onde com uma lente commum se percebe o awlludado de uns curtos cabellos com reflexos dourados, faltando apenas na parte mediana anterior, onde a superfície se apresenta como pellada e atravessada longitudinalmente de duas linhas escuras em rele\-o. Os limittcs entre os segmentos abdominaes são marcados por uns distinctos anneis de côr vcrmelha-amarel- lacea clara, contrastando bem com o tom bruno escuro do resto do abdómen. Azas um pouco tuliginosas, aliás hyaliiias. ncr\ ura pronunciada por linhas escuras; pernas, palpos, proboscida e laJn inferior tudo de um bruno claro, uniforme, sem desenho ou ornamento qualquer essencialmente notável. O macho, um pouco mais delgado do que a fêmea ^ cousa que aliás se dá igualmente nos outros Citlicidcs), ostenta phenomenal penacho ou pluma nas suas antennas, muito mais vistoso do que nos mach.is da Stc- goniyia, e fazendo concurrencia, n'este sentido, com os machos de género .Urgar/iiiiit.^. A dstribuição geographica do Cii/iW fatigans muitíssimo .se parece com a da Stegoiiiv/a /as(/,i/(i: também por este lado quer ser seu companheiro inseparável. Ha I 1 1 Kscrevf riR-nl,,,!.!: . Roupa cscuia .l>.-via portanto ser abolida, quanto possível, em todas as re;riAes onde os mosquitos se tolnam um aborrecido tla^^ello. ( Culicides. Vol. I. pa^. ok ) Em sentido semelhante pronunaa-se o Lr^ Durham loc. cit. paií. 9. .Vmbos estes autores d.rln.nn. .,ue por experiências hcou demonstrado, que é da cor amarella que os mosquitos menos ifostam. 1(3 Os .Mus(|uitiis nii 1'aiá inearailu^ cumo Lima calamiiladi- paljlÍLa uma multidão de sub-especies c raças que se pudem distin.nuii- enti"e os indixiduos pro- \cnicntes de diversas partes do mundo; não entraremos nestes pormenores, eontentando- nos de constatar c|ue os exemplares d'aL|ui d(» Paní, correspondem á forma typica. O Cl/hw fatigans é próximo parente e mui parecido com o Cii/cx pipieiís europeu, que para l^inneo é o prototypo da família, 1oí>"o reconhecivel entretanto por outros distinctivos na nervura das azas ( primeira cellula submarginal e se^^unda cellula posterior com as suas respectivas pontas interiores quasi em linhas perpendicular ). Limitar-me-ei a enumerar as localidades da America do Sul, de onde houve exemplares de Ciilcx fatigans scientificamente identificados: Panamá — , Demerara, — Pará ( Churchill, Austen, Duiiiam ( 1 ), Ckeldi ) — Rio de Janeiro, — Buenos-Ayres e Re- publica Arí^entina. Do Dr. Lutz, J)irector úo histituto Bacteriológico de São Paulo, acha-se na obra de Theobald a declaração de que esta espécie representa o mosquito nocturno commum no Brazil, encontrado por toda a parte e picando de noite somente. Aqui na cidade do Pará é simplesmente pasmosa a frequência d'este insolente carapanã nocturno: no bairro de Nazareth elle, em nuvens de myriades, assalta as casas, nas primeiras horas da noite, invadindo por janellas e portas, esbarrando qual farinha jogada a todo mfnnento, com intenção offensi\a, revoltantemente manifesta, contra o nosso rosto. A muzica ou zumbido produzido simultaneamente por milhares de carapanãs xoando e fazendo verão, n'um quarto escuro, é capaz de fazer arrepiar-nos o cabello ! Com bastante razão Plinius, naturalista e escriptor quasi contemporâneo de Jesus Christo, chamou-a de «truculenta»! E apprehensivo cada vez me torna esta odiosa musica, quando penso nas funestas consequências sanitárias de que ella é, na minha tirme con- vicção, fatal precursora e mensageira ! Aos milhares os temos todas as noites nos quartos de dormir e se centenas ma- tamos por via de regra — lembro-me que certa noite matou-se, n'um só quarto, em pouco tempo nada menos do que 14.'! individuos d'este carapanã — sobram muitas centenas ainda, aptas a tornar um verdadeiro suppHcio a noite, durante a qual o repouso do corpo é um postulado hygienico inadiável depois de um dia cheio de trabalho phj-sico ou intellectual com as dobradas exigências de energia originadas do cffeito de um clima equatorial. De que vale e serve a relativa frescura da noite, aLjui no Pará, quando não se pckle díjrmir por causa dos mosquitos ! — Mas não é somente pelo lado da dôr physica pela picada e da impossibilidade de um somno restaurador, que o Ciílcx fatigans se mostra inimigo do homem: inflinge- Ihe invisivelmente prejuizos ainda muito mais graves. Pelos seus recentes estudos o Dr. Ronald Ross, medico militar nas índias inglezas, demonstrou que o Culex fatigans, o «grey mosquiuito» hospeda um singular parasita do sangue, conhecido pelo nome scien- tifico de Proteosoina (Labbc), e hoje Henioprotciis i/a////i-a's/cy/ Kruse, e provou es- perimentalmente a transmissibilidade do parasita para as a\es e reptis, pela inoculação ( 1 ) o Lir. Iiurham. no momento de redisrir o seu artigo « Notas sobre as condições sanitárias do Pará » ( ou- tubro içíuj ) ainda não conhecia o nome d'este carapanã ( « a brown one at present unnamed » ), mas da sua descripção assa's detalhada, vè-se lo.ijo. que elle não se referia a nenhum outro senão ao Culex fatiiiiins. Wiedemann ( pag. 6 ). Os MosquiK.s nu Pará encarados como uma calamidade publica 17 directa mediante a picada do insecto ( 1 ). Outrosim o Dr. Manson descobriu recente- mente toda a historia da \ ida de um pequeno verme ( nematode ), parasitário do sangue do homem, a Filaria saiií^iii/iis /nuiiiiiis — hoje Filaria Baucrofti — e poude consta- tar que o Ciilex fatigaiis é o intermediário, vehiculo e transmissor de semelhante pa- • rasita ( 2 ). Ora, a fiiariasis é uma moléstia que causa uma mortalidade considerável nas regiões trópicas e subtropicas. Silo sobretudo a raça preta e os seus cruzamentos que parecem ser de preferencia perseguidos por esta traiçoeira e perigosa moléstia. E conselhos d 'esta experiência empirica emanados, apontando para o perigo que ha aqui no I'ar;i, quando pretos e brancos dormem na mesma casa, infestada deste carapaníl, nem ao menos fazendo uso do mosquiteiro, d'cstes conselhos encontram-sc na curta mas substancial brochura já por di\'crsas vezes citada dos Drs. Mj-ers e Durham da - Li- verpool Medicai School >. E pela obra de Thecjhald c os cscriptos dos médicos mencionados verifica-se mais uma vez que, quasi por toda a parte onde a filariase é moléstia corrente, líí também o Ciílcx fatigaiis é o mosquito nocturno predominante — « essentially a house- hold form». De maneira que, também aqui, notamos a concordância já duas vezes en- contrada e tão significativa entre a distribuição geographica de uma certa moléstia e a de certa e determinada espécie de mosquitos. « A bon entendeur salut. > Restando-nos ainda a quarta espécie de carapanã, já acima denunciada como fazendo-se sentir aqui nas habitações humanas na hora do crepúsculo, o Taeniorhyn- cIiHs fasciolatus Arribalzaga, podemos completar o seu retrato physiognomico do se- guinte modo : semelhando em tamanho e aspecto geral a um Culex fatigaiis do mesmo sexo, differe por um colorido de fundo de um bruno muito mais escuro, interrompido em certos e determinados logares por uns anneis e zonas claras branco-amarellaceas. Uma destas — a larga fita branca no meio da proboscida, (que também mostra extre- midade branca ) — permitte todavia distinguir logo ;í primeira \ista o nosso carapanã do anterior e de caracterisal-o como membro do género Taeniorhynchtis : pois este nome genérico, tirado do grego, não pretende ter outra significação senão esta: «fita na pro- boscida». Nas pernas nota-se um annel claro distincto na parte apical do fémur de todos os três pares; a tibia é atravessada por uns o anneis claros nada apertados e, nos tarsos costuma apresentar-se em tal modo clara a zona limitrophe entre cada dois articulos consecutivos, e particularmente vistosa, destaca-se a articulação tibio — tarsal das pernas anteriores. No cephalothorax contrasta na parte anterior a sombria côr de fundo com uma ornamentação em forma de V virado, feita com uns pcllos dourados, claros. De bellissimo effeito é, no animal vivo, a côr verde-escura dos olhos facetados. No abdómen, escuro, quasi preto, os limites entre os segmentos são guarnecidos de uma corAa de pellos compi-idos, amaivllados claros, luzentes; aos flancos nota-se em cada segmento um salpico branco, correspondendo com um desenho branco em f()rma de escala, que se estende sobre os segmentos abdominaes. pelo lado infenor. (1) Theol.ald. Culicides I pa-. KJ, scj;.. paj;. - Vol. II. patj. lO, se-. Ross, • Indian Medicai Oaiette ., Vol. 33, I>ez. IM9S e Vol. 34. Jan. 1S99. c muitos outros artii,'OS do mesmo auctor. , .. , . ^, . . ... vTV ,.-., -r>i ( ') Theobal.I. Culicides I. pa-. SS Vol. II. pají. 161. Manson. Journal ol L:nnean Socicty. \ ol. XU , pa-. .,01 — :.\\. (diversos outros artigos do mesmo autor na I.ancct e Itrilish Medicai Journal' etc. iS Os Mosquitos no Pai-á encarados com'» uma calamidade puliliea Noto que os iiidi\iduo.s de 7'(ici//or//y/n-/í//s /tisc/o/d/iis, ■<\i.\u\ por mim obser- vados no Pará, differem do desenho eolorido n. TJl do atlas da obra de Theobald por um tom mais escuro, circumstancia que aliás já foi mencionada pelo próprio autor: «Specimens from the lower Amazon are for the most part rather browncr than one from Rio.» Vol. U e pag. 194). Taeniorhyiichiis fascioUiliis é uma espécie restricta á costa oriental da parte trópica e subtropica da America do Sul. Foi colleccionado e identificado em espécimens \indos do Amazonas inferior ( Austen ), — Pará ( Goeldi ), — Rio de janeiro e São Paulo ( Lutz ) — Republica Argen- tina ( Navarro ). Theobald cita a seguinte communicação do Dr. Lutz: «Este é um verdadeiro mosquito dos pântanos, commum no littoral; pica dolorosrunente de preferencia atravez das meias e ao anoitecer, ou então na sombra, durante as horas do dia. Tenho-o do Rio, São Paulo e Santos.» (Th. II, pag. 144). Concordo com isto, accrescentando também que aqui no Pará é uma forma crepuscular que invade as casas. Que as picadas d'estes carapanãs são dolorosas, sabem-no as nossas crianças, que na hora do jantar muito se queixam dos seus constantes ataques ás pernas. Têm, como já acima alludi, indole san- guinária, porém ingénua e phleugmatica, para não dizer redondamente estúpida. Creatura exclusivamente atlântico — sul-americana ao que parece, conforme o actual estado de conhecimentos scientificos, não foi até hoje apanhada em flagrante, pela medicina indigena, em nefasta coparticipação na transmissão de moléstias infecciosas Mas, francamente dito, não a tenho em bôa conta e julgo-a tão capaz de prejudicar a nossa síiiide, como os trez anteriores e tantos outros, quer auxiliando-os na incubação e transmissão das moléstias já mencionadas, quer na de outras, talvez nem su.speitadas ainda hoje em dia. B. — Biologia dos Mosquitos. Linneu, em 1758, condensou o estado geral dos conhecimentos sobre esta matéria, n'aquelle tempo, em uma phrase curta: «Culicis larvae plerumque ia aqua degunt e Pupae moventur agiles. » Para o fim que temos em vista é, toda\ia, preciso que entremos um tanto mais nos pormenores do seu cyclo de desenvolvimento. A fêmea do mosquito, repleta de sangue sugado, dias antes, ao homem ou a um animal vertebrado superior, (sangue que durante uma gestão de uns 3 para 4 dias pa- rece ser despendido e gasto no crescimento dos ovos no estado intra-ovario), sentindo chegar a sua hora, pousa em cima do espelho da agua de qualquer poça que lhe parece idónea, e principia a pôr os ovos, um por um, até esgotar-se o thesouro ovarial. Con- forme as observações de outros, confirmadas por mim aqui no Pará, a postura se realiza durante a noite: é sempre de manhan que eu encontro o facto consummado, sem ter con- seguido jamais até hoje testemunhar de vista o próprio acto. Variando sensivelmente os detalhes biológicos de uma espécie para outra, con- siderei n'estas linhas principalmente as espécies paraenses, para as quaes no capitulo anterior acabo de apontar como em primeira linha merecedoras da nossa attenção, po- Us .Mij>(|uit()s no l^aiá nuarados como uma calamifladc [lublica i(|uitos no Pará oncaraclus cumo uma calamidatlc publica 21 minhas lar\as que as cerdas compridas cxtcndem-se não somente em H pares sobre o cephalothorax, mas ainda sobre os dous anneis abdominaes seguintes. Medem a<> nascer l."""6. As larvas de StriiOiíiy/d faseia/d têm um tronco que desde o cephalothorax ate' a parte anal consena mais ou menos o mesmo calibre, calibre este que, ao contrario do que se dá na larva de C. fatigmts, nílo destoa lá muito do da cabeça e do cephalo- thorax; o siphão respiratório c de comprimento mediano. As larvas de Aiiopltelcs distino;uem-se pelas suas cerdas compridas quando no- vas, e ramificadas na parte anterior, quando mais velhas; o siphflo é curto, porém as cerdas anaes são extraordinariamente desenvolvidas. Vivem estas larvas de matérias orgânicas finamente distribuídas e em suspensilo na agua; sfio algas de diversas categorias (limo), folhas em decomposição, pelles vasias de larvas etc. e ao que parece tornam-se culpadas de actos de cannibalismo. as maiores devorando as menores. Ha agora na economia destas lar\as um facto importante: apezar de aquáticas, dependem de respiração aérea, morrendo infallivelmente quando esta lhe é vedada. Todas estas larvas têm uma necessidade imperiosa de frequentar amiudadas vezes a superfície ou então consenam-se de uma feita na sua visinhança. Curioso é vêr-se a differença que se nota entre as larvas do Aiwphelcs de um lado e as do Ciílcx e géneros parentes por outro. As larvas de Ciilex são ao que pa- rece, de um peso especifico maior do que a agua; não remando, com os seus movi- mentos flagellantes, a larva sempre cahe ao fundo, e uma vez lá não consegue sahir outra vez, senão mediante visível esforço muscular. Entretanto ellas fazem esta viagem para a tona d'agua a todo o momento, perto de minuto a minuto. Larva que não o faz e que não está fornecida do necessário vigor e robustez, é doente, perdida; afoga-se. Parece um paradoxo, mas é incontestável que um animal aquático assim pode afogar-se. Subindo á tona, conservam-se em posição obliqua de uns 45o contra a vertical, cabeça para baixo, dous possantes apparelhos ciliares ao redor da bocca, em constante m.nimento rotativo, quaes turbinas, levando partículas nutritivas para aquellc sorvedouro insaciável; o siphão respiratório virado para cima, chegando ao ar hvre e aprovisio- nando-se assim novamente, como locomotiva mediante manga d'agua, parada em frente de um deposito. Embora a necessidade das larvas de Cnlex e de Anopliclcs de prover-se de ar na superfície seja a mesma, comtudo o' modo de comportar-se entre ambas é assaz diverso. Ao inverso do que temos visto em relação ás larvas de Ciílcx, a do . liiopMcs, nutrindo-se de preferencia de matérias fluctuantes, leves, tem ao que devemos julgar, um peso específico semelhante ao da própria agua, pois ella detem-se principalmente na camada superior, perto do espelho dagua. Em vez de posição obliquamente mchnada, observa de preferencia a horizontal, com o siphão respiratório para fora. (1) Para descer ás ( , ) I.xqu,.ito é o costume de larv. cl„ .-/»../>/.•/,. de conservar a maior parte do tempo a cabe.-a torcida em 180- em relàçio .reixo do corpo. „u em outros termos, de ostentar o rosto v.rado contra as co.ta.. 2'J Os Mosciuilos no Pará (.■ncarados ciimn uma calaiiiiilailc publie^a camadas inferiores d'agua — o que faz, quando se sente perseguida — ella precisa tão visivelmente um esforço muscular, como a larva do Ciílcx necessita no sentido con- trario. Em condições normaes ou favoráveis, isto é, quando o tempo é bom e ha far- tura de alimento, crescem as larvas {\ vista d'olhos. Mudando de pelle por diversas vezes, trocando a velha sempre por uma nova. mais folgada, a larva do Culcx pôde estar adulta depois, de 7 a 8 dias. A larva do Aiwplicles, porém, que precisa, conforme Howard. também um dia mais para sahir do ovo, leva o dobro, 16 dias. Segue-se o estado de chrysalida ou de pupa. E' um ser inoffensivo, condemnado a uma \ida meramente vegetativa, pois não pode tomar alimento, tendo cabeça e ce- phalothorax enrolados e envolvidos n'um envoltório chitinoso, espécie de sacco, do qual nada sahe senão um par de siphões respiratórios no thorax, tendo agora a forma de piston, e um abdómen longo com remos anaes, parecendo com o abdómen de certos camarões. Mantém-se perpendicularmente n'agua e destaca-se de longe por sua côr escura. Em posição, forma do olho, tamanho do sacco mencionado, feitio do siphão, revestimento de cabellos mais ou menos curtos, notam-se differenças sufficientes para permittir logo reconhecer se temos diante de nós uma chrysalida de Culex fatigans ou uma de Anopheles. O Culcx fatigans não precisa mais do que 2 dias para a phase de chrysalida; o Anopheles niaculipcnnis necessita, ao que assegura Howard, bem cinco dias para a mesma phase. Surge finalmente o insecto perfeito. O Carapanã alado, completo, que rebentando a casca, liberta-se por uma fenda dorsal da prisão estreita e incommoda, n'um quarto de hora mais ou menos e levantando o vôo, com presteza se affasta de seu berço natal e desde já trata de cuidar da sua própria existência. Desenrola-se assim todo o cyclo do desenvolvimento no Culex fatigans em 11 dias redondos, ao passo que o Anopheles maculipennis no caso da experiência feita pelo professor Howard em maio de 1900 na Virgínia, 24 dias, portanto mais do que o dobro. ( 1 ) Verdade é, que o mesmo autor suspeita, que em estação mais quente o cyclo do Anopheles levará bastante menos tempo, e estou também convencido, de que real- mente a processo se abrevia consideravelmente aqui na zona equatorial. ( 1 ) Nuttall e Shipley ( Studies in relation to Malária 1901 ) acharam lambem 20 a 25 dias na Ini^laterra ( pag. 275); Grassi (Malária, pag. 92) indica como norma, na Itália, um período de 25 a 20 dias. para umo temperatura nào oscillando além de 25 a 28" C, alienando a abreviação com temperatura mais elevada. Os Mi)>(iuitos no Pará encarados como uma calamiiladc puhlica 23 Dous, dizia Cnclhc, são os eixos grandes do mcchanismo d'cstc mundo: ii foiíic e o (iiiior. Se ha onde este axioma se possa descortinar com toda a nitidez e acha sua applicação literal nua c crua, é na \ ida dos mosquitos, como passamos a demonstrar. Sabido o mosquito da chrysalida ou pupa, e endurecidas devidamente as suas azas e toda a sua carapaça chitinosa, em contacto com o ar, durante algumas horas, principia a sentir fome e trata de procurar alimentação. Visto que a alimentação no reino dos insectos costuma ser de nalure/.a \ egetal, não ha para mim duvida, que desta regra não se exceptuaram primitivamente, em tempos geológicos anteriores, os Ciilicides e alguns outros grupos isolados tanto da própria classe dos Dipteros, como de outras, entre as quaes hoje enconti-amos a haemaphilia como um costume profundo e tradicio- nalmente arraigado no seu caracter. Logo \oltaremos a este assumpto. Phenomeno curioso agora é a differença existente no modo de .se alimentar entre mosquitos do sexo masculino e os do sexo feminino. Os primeiros procuram fructos maduros e flores, lá f('ira na natureza, e vi.sitando as nossas casas, frequentam o a.ssu- careiro, café, chá, vinho, caldos, nas chicaras, pires e pratos das nossas mezas, todas as substancias doces enfim, abstendo-se por via de regra, de chupar sangue. Os indi- víduos do sexo feminino, participando, até certo ponto d'este regimen, todavia .são si- multaneamente dados ao vicio de chupar sangue; são estes de preferencia, que nos fazem mal e conti"a elles em primeira linha é que se \-olve o nosso ódio, fructo do des- espero. Sendo, como acima fizemos ver, fácil, de reconhecer sempre o sexo masculino nas diversas espécies de mosquitos, pelas suas antennas decoradas com vistosas plumas, ao passo que as fêmeas mostram somente, á simples inspecção a olho nú, bem distincta, entre as partes buccaes, a proboscida ou tromba, em forma de estylete comprido, recto ou ligeiramente curxo, qualquer pessoa e em qualquer hora poderá con\encer-se do acerto do que acabo de affirmar. Ha uns mezcs, fiz o seguinte experimento significativo: vendo de noite, o assucareiro em nossa mesa envohido n'uma nuvem de carapanãs. e verificando que bom numero já se acha\a l;i dentro, tampei subitamente com um pedaço de papelão e introduzi, por uma abertura previamente arranjada, um pouco de algodão embebido com algumas gottas de chloroformio. Minutos depois verifiquei o resultado: 3? carapanãs mortos e agonisantes; 35 indivíduos de espécie Cuhw fatigaits; 2 indivíduos de Stegoiuyia fasciata; 34 exemplares machos, 3 fêmeas (sendo uma de Stegomyia, 2 de Cl/hw f(!t/g(i//s.) Era isto na sala de jantar. A maioria enorme portanto era constituída de machos d'aquella espécie de mos- quitos que aqui no Pará nos molesta principalmente de noite. E quantas vezes esta experiência será repetida, tantas vezes o resultado .será o mesmo, com insignificante variação na porcentagem dos representantes de um e outro sexo. Eiz, ha dias, uma experiência complementar. Notando alta noite, que uma certa parte do nosso mosquiteiro, circumvisina ao meu rosto, estava pelo lado de fora. crivado por a.ssim dizer de carapanãs, sapateando afflictos para cima c para baixo no manifesto e conhecido empenho de descobrir um furo ou buraco ba.stante grande, para lhes per- mittir o ingresso e de me picar, por uma súbita inspiração, com violenta tapona com a palma da mão, achatei uma porção d'elles contra a parede, encostado á cama. Levan- 24 Os Mosíiuitos no Paiá encarados como uma calamidade jjublica tei-me e contei o resultado: 23 individuos mortos, de Ciilex fatigans, todos do sexo feminino ! E era isto no quarto de dormir. E assim sempre seríí, quando procuramos averiguar, qual a relação numérica dos dois sexos entre os carapanãs que invadem os nossos quartos de dormir: enorme maioria, até a exclusividade, de individuos do sexo feminino entre todas aquellas sur- prehendidas no exercício effectivo ou intencionado de chupar-nos o sangue — esta seiva de todo especial, no dizer de Goethe, na mysteriosa linguagem symbolica do «Faust». Todos os autores que tivemos occasião de conpulsar a este respeito, são con- cordes em declarar que é muito difficil de explicar p(>i\|uc ha entre os Culicides seme- lhante gosto para chupar sangue, restricto mormente ao sexo feminino (Howard pag. 12, Theobald pag. 69 seg. ) (1) Não é tão difficil, ao meu ver: poucos leitores haverá, que ](\ não tenham tido ensejo de observar, especialmente aqui n'um clima tropical, como uma qualquer escoriação, ferida em partes expostas do corpo é perseguida por uma turba de pequenas moscas e insectos parentes, que vêm sorver o serum do sangue — substancia um tanto adocicada. Igualmente sabe-se como os cantos dos olhos por exemplo d( IS mammiferos maiores durante certos períodos estivaes, são perseguidos pelos mesmos dipteros impertinentes, que vêm attrahidos pelo « humor aqueus » com que o globo ocular é humedecido com vistas á sua funcção rotativa. Ora, todos estes pequenos Dipteros, de par com diversas moscas de tamanho vulgar [Stomoxys etc. ) e outras grandes, como as Tabanídes, indicam-nos o caminho percorrido pela haemaphilia: os Culicides, primi- tivamente somente procurando seivas adocicadas, tra\aram conhecimento com o sangue an'mal, mediante o serum sanguíneo de feridas e contentando-se os machos com este, as fêmeas foram a ponto de praticar intencionalmente perfurações da pelle, para se mettcrem em posse do liquido desejado. Secundadas n'este mister por um apparelho buccal positivamente mais robusto, melhor perfurante do que o do macho, e utilisado proveitosamente o liquido assim, de modo tão fácil e barato obtido, como \iaticum para as augmentadas exigências do tra- balho physiologico da postura dos ovos e consumo material que d'ahi deriva, uma dis- posição para este procedimento devia facilmente tornar-se em costume e habito arrai- gado, em regra e norma, em postulato indispensável finalmente. E não são poucos os exemplos que, na serie animal, podemos allegar de estranhos casos e por vezes inauditas exigências, que a reprodução da espécie põe ao sexo feminino: as ultimas proglottides de uma Taenia (solitária) nada mais são morphologicamente senão um enorme armazém de óvulos ; — em certas Anguillulas entre os vermes nematoides ( aos quaes pertence a Meloidogyne exígua, causadora da moléstia do cafeeiro no sul do Brazil ) a fêmea trans- forma-se em sacco disforme repleto de óvulos ; — nos Coccidios ( pulgões parasitários dos vegetaes ) a fêmea finaliza a sua existência individual, dissolvendo-se em um montão de ovos e larvas novas, coberto pelo disco dorsal da mãe como um escudo protector. São três exemplos, onde a mãe se sacrifica litteralmente no interesse da sua prole, num grau que surprehende o nosso sentimento humano, pois significa nada menos do que a completa dissolução material do corpo materno em descendentes. ( 1 ) Veja também David Sharp «Insects» (Cambridge Natural Ilistnry ), Cambridge lyoi. pai;. 467. (Js Mns(|uitus no l'aiá cncaruilos eomo unia calamiiladc publica .'.") A' luz de um;i con.sickTa(;ílo cornp;ii;ida sobre ((imó uma calamidade publica 2'i vez em condições de sentir vonUide pani repetir a experiência. Não ha duvida, que uma e mesma fêmea pôde buscar e normalmente buscará mais de uma ração de san- gue, picando cm noites successivas e — talvez individuos diversos. (1) .\hi está justa- mente o ponto principal, que deve nos chamar a attcnçao pelo prisma do interesse sanitário, pois n'isso reside a explicação da transmissibilidade de certas molestiíis ao homem pelo intermédio do mosquito, como vehiculo. Se a fêmea se contentasse com uma ração única de saní^ue humano, cxtrahido de um único individuo, a moléstia forçosamente extinguir-se-hia, porque, embora o mos- quito fêmea tivesse se infeccionado com o parasita, este morreria consequentemente á morte do mosquito, pois não é hereditário para a descendência d'aquella, quer dizer, os ovos de uma fêmea infeccionada não são infeccionados: A infecção é adquirida cada vez individual e pessoalmente pelo mosquito adulto. (2) Ora, precisando, por exemplo, o parasita causador da malária o Plasiiiodiíini nialanac La\eran (antigamente Lave- rania) somente um periodo de 4>l. Uec. 10 um artií,'o de I. E. Dutton sobre a Filariase humana, onde vejo que os membros da «Liverpool Expedition. na Xigeria puderam averiíjuar, que o Aiiopheles cosliilis e o A. funcstus precisam sanijue pelo menos de dous em dous dias para a raaturavao do ovano. (2) Koch. que a principio (ainda em 1S9S) tinha admittido a possibilidade eventual da hereditariedade do parasita do mosquito-mâe para os seus ovos e as suas larvas ( Aerztl. Beobacht. in den Tropen. Berlin 1898 paj;. 366 ) ja' dous annos depois ( 19 X) ) ( Ergebuisse d. d. Malária Expedition. Berlin 191X) pag. 5 ) entrou francamente na vereda aqui trai,ada. (irassi forneceu a prova experimental ( confer Malária- pag. 1.'7. ) ( 3 ) E' necessário lembrar que o parasita da malária tem dous modos de descnvolver-se. que podem guardar entre si uma certa independência, ou completar-se e enxcrtar-se reciprocamente n'um único cyclo evolutivo alargado. I>c- signamos uma vez o primeiro com a lettra — .-í. j j 1 j- Abrande todas as phases de metamorphose (são nada menos de que 14) desde a entrada do plasmodio, com san.'ue humano ' infeccionado, pela pruboscida ilo .4iwph,'l,'S, as suas migrações pelo interior do corpo do mosquito .ité a sua"invasão nas glândulas salivares no mesmo mosquito prompto ja para infeccionar novi^mente na primeira occasiao d.idn. kealisa-se todo ' no corpo do Aiwpheli-s. Chama-se technicamente o cyclo .iwphigonico. por ser morphologicamente caracte- risado pela formaç.io de productos sexuaes. Kxige um periodo de 12 dias para etTectiiar-sc. Designamos o segundo modo com a lettra B. .\brange as poucas phases da metamorphose desde a infecção de sangue humano pela picada do Aiiopbclis infeccionado, — são 4 apenas. Realisa-se todo no corpo do homem, no sangue. Chama-se technicamente o <•_>•"''' monogomco, por ser morpholo- .'icamente caracterisado pela reproducvão a.sexua — a esporula(.ão. Xào necessita senão .' a 3 dias para effectuar-se. Os dous modos .\ e li podem combinar-se n'um cyclo evolutivo completo, alargado A + B. exigindo um período de 14 a l> dias. a saber, 12 no corpo do Anophdcs o 2 a .3 no corpo do homem. bs dous modos de reproducvãodo parasita da malária podem ser convenientemente comparados com o que seda com tantos vegetaes: a) reproducvão sexual por sementes, h ) multiplicarão asexiia por «mudíís», .estacas», filhos etc. 28 Os Mosquitos no Pará encarados conio unia calaniiikulc i)ublica Mas retomando o fio da nossa dcscripção da biolog^ia do mosquito, diremos que a fêmea assim fortalecida e habilitada por uma cura tcmpor.iria de alimentação espe- cialmente sadia e roborante, qual a representa o sangue, este sueco de \ida fabricado por outros organismos maiores e mais fortes, sentindo-se próxima de tornar-se mãe, procura uma localidade na visinhança, que se não fôr justamente a mesma, onde ella mesmo nasceu, não esteja longe e apresente ao menos condições exteriores similares. Pousa na haste de um capim, emergindo d'agua e, vindo a hora, desce ú superficie do liquido, de noite, pondo aquella quantidade de ovos, nas cireumstancias que no principio deste ca- pitulo referimos. Questão não de todo liquidada ó, se a fêmea, posta aquella massa de o\os, é exgottada e morre, ou se retomando alimentação e sobretudo pro\endo-se novamente de repetidas rações de sangue alheio, capaz de fornecer ainda ulteriores massas de ovos. Inclino-me antes para primeira eventualidade, guiando-me pór aquillo que observo em fêmeas tidas no captiveiro: é regra geríil, que ellas morrem logo algumas horas depois da postura dos ovos. Comtudo não contestarei em absoluto a possibilidade da segunda: é assumpto de experiências especiaes, para a qual ainda não tive o tempo. Em todo o caso poderemos, com bastante certeza predizer, que se a segunda eventualidade de facto se pode dar na naturuza, para as ultimas posturas não é neces- sitada novd copula sexual, visto que a provisão de sperma contido no receptaciihmi seininis, é mais do que sufficiente para fecundar uma serie de posturas consecutivas de ovos. Haja vista aos exemplos análogos com a < abelha-mestra » entre as Apides e a «içã», na formiga saúva, onde estas «rainhas», isto é, as únicas fêmeas normalmente constituidas sob o ponto de vista dos requisitos sexuaes e das habilitações reproducti\as, também gastam da provisão de sperma depositada no mencionado orgam, passando a sua \ida, depois de curtíssima lua de mel e passageira voyage noce n'uma definitiva e indiscutível viuvez. Aqui é também o logar próprio, para communicai- ejue as minhas obser\ações relati\-as aos logares escolhidos aqui no Pará para a postui-a dos ovos pelo Culcx fa- tigaiis por um lado e a Stegoiuyía fasciata por outro concordam com as que foram feitas pelos Drs. Durham e Myers ( 1 ) nos arrabaldes da cidade. O primeiro contenta-se com qualquer poço d'agua, por mais choca e fétida que seja ; depressões com agua servida, calhas de exgottos etc. tudo lhe serve. Assim tam- bém no captiveiro é aquella espécie, que no laboratório com relati\ a sem cerimonia se cria nos aquários e boccaes de experiência. Diverso j;i o caracter da felina Sícgoinyid, que é bastante caprichosa na escolha dos seus logares de criação; prefere mais a agua re- lativamente limpa, como costuma ser encontrada cm depressões de calhas horizontacs ( 1 ) Xotes 011 Sanitarj' conditions etc. pasí. 9. CXs .Mij.-,iiuito> no l'ará cncai-ados como uma ealamidailo ijublica _■ . de chuva nas casas, cm barris, quintos, caldeirões nos quintaes. no coraçHo das folhas ainda enroscadas das bananeiras, de bromeHas etc. Tal se comporta também no capti- veiro: não \in.i;a a criação senão em a.íjua isenta de outras misturas que não sejam algas e semelhantes xesíctaes crj-ptogamicos próprios para a alimentação das lar\as. ( 1 ) C. — Resumo do que dizem algumas notórias auctoridades acerca do papel sanitário dos mosquitos. Koch, cm l)Ciiim, ainda cm bS98 assim se pronunciou sobre a sua opinião rela- tivamente á transmissão da malária pelo . íi/op/ieles: «Em consequência dos factos que cada vez mais se vão axolumando em favor da theoria dos mosquitos, em tempo mo- derno todos os invest',í>adores da malária, que neste terreno alíruma importância podem fazer valer, viram-se mais e mais impellidos a acceitar esta theoria. Naturalmente é e fica provisoriamente uma llieoria. que aliás tanta probabilidade tem a seu fíivor. que torna-se um postulado uri>ente resolver esta questão experimentalmente de qualquer maneira». (2) Mas já, dous annos depois, em l^XX), de volta da expedição especial da malária, enviada pelo Go\erno Allemão, e chefiada por este professor, elle declarou: « A assim chamada theoria dos mosqaitos deixou de ser, para iiâs pelo menos, tuna theoria, por ter tomado feição de um facto positivo scieutificamente l)em fun- dado». (3) Grassi, este incansável pesquizador italiano, disse no anno passado, no Congresso Internacional de Zoologia em Berlim, literalmente: «A malária é uma moléstia febril, que é unicamente causada pela picada do Anopheles ». ( 4 ) Howard (5) escrexeu no seu utilíssimo pequeno tratado sobre os Culicides dos Estados Unidos da America do Xorte. ha dous annos: «Não é aqui o logar opportuno para discutir cabalmente o histórico das recentes descobertas, que produziram a imiifo perfeita prova, de que os mosquitos podem transmittir e de facto transmittem o gennen malarico de um p;iciente malarico, depositando-o no sangue de outra pessoa sã. Aquelles que -se interessam n'este a.ssumpto, seja recommendada a excellente memoria: «On the role of insects etc, as carriers in the spread of bacterial and parasitic descases of man and animais > do Prol. G. Xuttall [h] e bem assim o trabalho do Dr. R. Ross (7) «Malária and mosquitoes». ( 1 1 Tive de abandonar o projecto, de acrescentar aqui iim capitul» especial, dedicado exclusivamente a dcs- cripção dos endo-parasitas microscópicos' transmittidos ao homem pelos Culicides. conforme a actual phase da sciencia zoolo^'ico-medica. Semelhante tentativa naufra-ara' necessariamente rl/> iiiitio. quando não ha meio de ajudar a comprehens.io do texto mediante farto cabedal illustrativo. (2) Ivoch, í .Aerztliche Heobacht. in den Tropen ». 189S. pa^'. .V<0. (3) Koch. ' ( 1901 ), pag. 232 e seg. Isto, em relação á malária. Agora a respeito da «filar /ase ^^ vejamos o que dizem as auctoridades sobre o seu nexo com os mosquitos. Koch já em 1898 disse na conferencia acima alludida: «Resta ainda outro pa- rasita do sangue, a Filaria sangiiiiiis, que provadamente é transmittida pelos mos- quitos». (2) Grassi affirma : « Experimentalmente provamos que a //lar ia se transmitte, pela picada, do vertebrado mosquito, voltando novamente, pela picada, do insecto ao ver- tebrado». (3) Pronuncia-se Theobald (1901) (4) da seguinte maneira: «O mosquito também age como abrigo intermediário da pequena helmintha conhecida por Filaria Bai/croftii, que causa uma mortandade considerável nas regiões tropicaes e subtropicaes. (5) Aos Drs. Bancroft e Manson devemos a descoberta da mara\ilhosa historia evo- luti\"a d'este verme nematoide. Este verme do sangue passa por transformações evolu- li\ as nos mosquitos que ingeriram sangue humano que os contem. » E o Dr. Durham, que aqui no Pará esteve em missão scientifica, falia da filariase nestes termos textuaes: «Esta moléstia, cuja origem se prende aos mosquitos, não é raro encontrar-se no Pará». (6) Ora, soffrendo o cachorro de casa de um verme nematoide parasitário do sangue^ próximo parente do do sangue humano, a Filaria i//////i/is, ( 7 ) e sabendo-se que o ( 1) Theobald, Culicidae, ( l'>oi ). Vnl. I, pai,'. 1-14. ( 2) Koch, loc, cit. pag. 305. (3) Grassi loc. cit. pai;. 9M. Refere-se a um trabalho feito em ;. 8S. ( 5) Grassi. Joc. cit. pag, 9S3. cliama a filariase > 1 uma moléstia terrível, contra a cpial ainda não se conhece remédio certo. > ( 6 ) Loc. cit. pag. s. (7) Eu mesmo jã encontrei a Filaria imiiiilis em cachorro no Rio de Janeiro. .\ aurícula esquerda do coração- acha-se as vezes repleta de um bolo d'estes vermes filiformes. Os Míjsquitos no I'ará encarados como unia calamidade publica 3l parasita passa a sua phase inicial no mesmo mosquito C>//<'.v fatigans, as circumstan- ciadas experiências feitas com o fim de elucidar as relações do insecto para o cachorro sob o ponto de \ ista do dito verme parasitário, adquiriram uma importância capital pelo p^irallelismo que offerecem e as conclusões de analo,ííia que permittem. Isto em relação á tilariase. Agora \eremos, o que, pelo mesmo prisma, se diz da febre aiuareUn. Disse Grassi no Congresso internacional de Zoologia em Berlim (1900): «Nos últimos mezes obteve-se tilo robustíi affirmaçãíj em factos experimentaes, especialmente graças ás observações de Reed, Carol e Agramontes, que se pôde pretender com ab- soluta certeza, que e febre amarella é exclusivamente dissiminada pelos mosquitos > (1 ) Theobald recentemente assim se exprime : < Pelos recentes estudos e experiências em Cuba chegou-se a esta conclusão : O mosquito serve de vehiculo intermediário para o parasita da febre amarella. c é altamente pro\a\el que esta moléstia seja unicamente disseminada pela picada deste insecto. «E desde então vejo pela imprensa scientifica, que é a Stegomyia ft/se/atd, que foi demonstrada ser o liospedeiro do parasita da febre amarella. ( 2 ) E no capitulo do seu livro, que trata da Stegomyiit JiiscinUi lê-se textualmente: «O parasita da febre amarella é disseminado por este mosquito». (3). Outrosim o Dr. Durham, da Escola de Medicina de moléstias tropicaes em Li\ erpcjol, um dos médicos que aqui no Pará estiveram estudando especialmente esta moléstia, escreve no seu re- latório: «A relação dos mosquitos para com a transmissão da febre amarella não de\ia ser ignorada. Por meio de experiências directas sobre o homem, a Commissão Americana chefiada pelo Major Reed mostrou que a febre amarella pode ser tran.smittida por um mosquito scientificamente conhecido por StegODiyia fase/ata . . . E' muito frequente no Pará e em Manáos nas casas, e muitas vezes é carregado por alvarengas e navios... Por certos indicios e circumstancias a Expedição no Pará chegou a pensar, que pro- vavelmente ainda um outro mosquito bruno de casa teria igualmente sua coparticipação na transmissão da febre amarella» (4) (allude ao Cii/ex fat/gaiis de Wiedmann. ) Ivoch em Berlim, tendo na sua conferencia j;í dixersas vezes citada acima, em 1898, chamado a attenção publica para a febre do Texas,» grave moléstia do gado no Sul dos Estados Unidos e obser\ada por ellc também nas novas colónias allemãs na Africa, moléstia caracterisada por um parasita dos corpúsculos sanguíneos, chamado Pyroplasma (Pyrosoma) bigeiuimiin e transmittido por um cairapato, f Ixodidco) , Boophilus bovis e depois para a moléstia «Tse^-tsé», outro flagello perigosíssimo para a criação do gado na Africa oriental, por sua vez disseminada por uma mosca ; passando ( 1 ) 1 Umschau », loc. cit. p;u;. ')-)•'<. (2) Theobald. Culicidae, ( KXM ). loc. cil. y.vj.. '<■>■ ( 3 ) Ibidem, pa^. 293. (4) 111. Huiham. Inc. cit. pai;. O. 32 Os Mosquitos no Pará c^ncarados como uma calamidaiK' i)ulili(.a depois a tratar da malária e outros males aparentados, exclama: <■<£' um facto, que recentemente chegamos a conhecer toda uma serie de diversas moléstias, que devem a sua origem a certos parasitas do sangue, nos quaes a transmissão iiiditliitíivelinciite tem logar por taes insectos chupadores de sangue» (1) Podenl ha\-er quem queira retrucar, que não se conhece ainda bem o parasita da febre amarella. Não encontro resposta melhor e mais clara do que a contida nas palavras de Grassi: «O causador da moléstia é, visto que o baccillo de Sanarelli não pôde mais ser considerado como tal, desconhecido ainda, n'este momento, mas o facto de que, par;i ;i transmissão da moléstia, é necessário um periodo de 12 e mais dias de- pois de infiltrado o sangue infeccionado por parte do mosquito, isto é, um periodo igual ^iquelle que precisam os parasitas da malária dentro do corpo do Anophelcs, para che- gar na sua peregrinação até dentro das glândulas salivares, — o facto outrosim, que a febre amarella somente se dissemina pelas picadas dos mosquitos, levam á supposição, que se trata de um parasita, que não deve ser muito diverso do da malária . . . Certa- mente cada um perguntará, como é possi\'el, que os parasitas da febre amarella ainda não foram achados ? Respondo a isto, que provavelmente grandes surpresas nos esperam. A.té agora admittia-se que com os meios ordinários de conservação e os methodos usuaes de tincção os parasitas não nos poderiam escapar.» (2) Estende-se Grassi, então ser- vindo-se do exemplo das suas próprias experiências relativas á febre do Texas, sobre a probabilidade que ha, de ter o parasita da febre amarella escapado de ser visto até agora graças talvez unicamente a certos costumes especiaes, (3) ás suas qualidades ópticas ou ao seu poder refractário aos meios de tincção usuaes na microscopia. Ahi formei uma pequena polj^anthéa de julgamentos emittidos por notórias au- ctoridades, — julgamentos todos que, com nitidez e clareza que nada deixa a desejar, caracterisam o actual estado da sciencia registrando a intervenção dos mosquitos na transmissão de uma serie de moléstias graves, e das mais graves, como facto inabalável c verdade solida. Du\idar d'isto hoje já não é mais licito. Facilmente eu poderia duplicar e triplicar o numero dos scientistas de valor — médicos e zoologos que se acham á frente da brilhante phalange, que de dia em dia mais se vae avolumando, d'aquelles que possuem a necessária intuição para romper com a rotina e comprehehdendo o alcance do assumpto, são fervorosos adeptos do com- bate á oiitrance aos mosquitos. Ou poderá haver realmente quem queira ficar atraz dos negros africanos em terreno de bom senso-commum ? Pois não é sem malícia, que o celebre Prof. R. Koch em Berlim conta. ( 4 ) como ( 1 ') Koch, loc. tit. pa^. JS3 se^., pag. 305 seií. ^2) Grassi, loc. cit. paij;. 94í> seg. ( 3 ) .^ Filaria Baiicroftii por e.xemplo c principalmente encontrado em provas cln saní^iie. retiradas do paciente depois do sol posto; augmenta o seu numero até meia noite, para entáo tomar desenvolvimento descendente: desde meio dia até a tarde não se observam filarias no sangue. (4) -Verzt. Heob. lierlim. I89S, pag. 31 1. Os Mosquitos no Paiá encarados como uma calamidade publica 33 os negros da tribu Mschamba, na montanha de Usambara, na Africa, residindo nas al- turas, temem descer ás regiões baixas circumvisinhas, com medo da febre: febre tem na sua lingua o nome «mbú» e «mbú» significa simultaneamente na mesma lingua. mos- quito; tao perfeito conhecimento do nexo causal entre mosquito ç. febre possuem, que designam ambas as cousas com o mesmo termo ! D. — Resultados práticos que clamam por urgente applicação. Não ha mais duvida possível de que devemos evitar a todo transe a picada dos mosquitos. As razões porque assim devemos fazer, subordinam-se a dous pontos de vista principaes. O primeiro é o das moléstias, sendo exuberantemente demonstrado pelo que aqui adiantamos, que além da acção provadamente perniciosa d 'essas espécies de mos- quitos na transmissão de taes moléstias, ha manifesta probabilidade da existência de outras correlações semelhantes, por ora ainda desconhecidas nos seus pormenores, onde outras espécies de mosquitos, de Dipteros parentes e Arthropodos em geral serão um dia reconhecidas como directamente culpadas da propagação d'este ou d'aquelle morbo. O segundo ponto de vista, no meu pensar nãcj menos importante, é o do desasocego espiritual e da dar p/iysica. Se um respeitável medico e scientista, o Dr. Durham, resumiu o seu juizo acerca do nosso clima e estado sanitário na phrase: «Embora em alguns respeitos o Pará não seja insalubre, o clima é excessivamente enervante, espe- cialmente com a precisão de manter tensa a actividade mental » ( 1 ), nós no Museu para quem em alto grão quadra o caso ahi indicado, e que, podemos dizel-o, conhecemos o clima do Pará por estudos que nos centros scientificos são taxados como os melhores e os mais aprofundados que têm sido feitos até hoje, nós não hesitamos nem um mo- mento em declarar que, se o alludido estado de cousas existe de facto, peiorou a situação sensivelmente dentro dos últimos trez ou quatro annos e que a culpa principal reside, ao nosso ver, na espantosa multiplicação do carapanã de perna rajada, da Stcgoniyia fasciata! E' um horror! E' simplesmente incrível a tortura que a gente soffre physica e pychicamente, desde o nascer do sol até o occaso, por esta fúria sanguinária. Como se não bastasse já a anemia, este fatal património das regiões intertropicacs, junta-se-lhe a neurasthenia, resultado em grande parte da implacável luta pela existência com a sua crescente acri- monia fomentada e augmentada ainda pelo desespero forçosamente sentido por quem bem queria trabalhar e não pôde, devido a este flagello. Quanta energia não é matada no embryão, — quanta iniciati\a não é vilmente assassinada de costas por esta viperina creatura, que incessantemente trabalha pelo descrédito do Pará! Fustiga ossãos — mar- tyrisa os doentes: qual é o pae que, vendo prostrado um ente querido por traiçoeira moléstia, não sentiria a tentação de acompanhar Gt.iethe no seu pensamento, quando tem 1 ) rir. Durham. Notes on sanitary conditions ohtaining in Para, lOOl. pa^;. 4- 34 Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica que testemunhar com os seus próprios olhos, como esta creatuni infame, desalmada, de mosquito nem respeita o corpo soffredor? Apontada assim mais uma vez a necessidade indiscutível de abrirmos aberta- mente campanha contra os carapanas, approximamo-nos da tarefa de estudar summa- riamente os Meios de combate. Tratando-se aqui por ora somente dos meios tendentes a combater os mosquitos e a acção directa dos mesmos, e, apenas indirectamente, as moléstias por elles causadas, obedecem as diversas categorias ao seguinte agrupamento natural: 1 ) installações que têm por fim affastar e impedir o mosquito do contacto com o corpo humano ( mosquiteiros, installações domesticas systema Grassi etc. ) ; 2) matança dos mosquitos adultos nas casas; 3) matança das larvas nos seus logares de creação (tratamento com kerosene, methodo Howard ) ; 4 ) diminuição ou extincção d'estes logares de criação onde isso fôr praticamente exequível ; 5) saneamento em maior escala, escoamento dos brejos, ^ drenagem — desecca- mento do solo com plantações apropriadas ( Eucal3'ptus etc. ) Logo se vê que a primeira categoria comprehende medidas de mera defensiva ; as quatro outras porém revestem o caracter de declarada offensiva. Também compre- hende-se simultaneamente, que a acção relativa ás quatro primeiras é .perfeitamente accessivel á iniciativa particular, ao passo que a quinta, por motivos fáceis de adivinhar, ficará principalmente dentro da orbita da acção official. Passemos ligeiramente em revista um a um os pontos acima mencionados. A pratica de usar mosquiteiros, para impedir os mosquitos de nos picar, é não somente muito antiga, como também generalisada nos diversos paizes perseguidos pelo flagello dos Culicides. Sabemos já pela relação de Heródoto, que escrevia ha perto de cinco séculos antes de Christo, que os antigos Egypcios usavam de um "^konopeion»y instrumento que, pela descripção dada do seu fim, não era outra cousa, senão uma es- pécie de mosquiteiro. Aqui no valle- amazonico é assas conhecido e di\ulgado, felizmente, o uso do mosquiteiro. Todavia seria para desejar que o uso se fosse generalisando ainda; bastante usado, sobretudo aqui na cidade, seria isto tanto de interesse individual como da coUectividade. Ainda ha gente que reside em quarteirões d'esta cidade assas perseguidos pelos carapanãs e que não usa mosquiteiro. Quando se trata de uma pessoa de reconhecida saúde, nada mais ha a objectar senão que constitue uma imprudência e que a situação sanitária poderá mudar um dia, invertendo-se; além d'isso nem se comprehende mesmo, como pode haver quem prefira deixar-se picar noite por noite, a romper com um costume rotineiro, que acarreta pe- rigos! Mas quando se trata de uma pessoa provadamente contaminada de moléstia Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica 35 transmissível, cutâneas e outras, não chega esta pratica a significar directamente um delicto attentatorio ao interesse publico, á collectividade ? De interesse é saber que, na Itália, foram com toda a vantagem introduzidos nas regiões flagclladas pela malária '^sanzarierey, isto é, mosquiteiros especiaes, me- nores, para a cabeça e para as mãos, para o pessoal que, em virtude da sua profissilo, é obrigado a expôr-se ao ar livre ás picadas dos mosquitos. ( 1 ) Ao mesmo tempo foram acompanhadas de óptimo successo as intelligentes medidas lá postas em pratica, de proteger as habitações do pessoal das estradas de ferro, as estações, etc, adoptando um systema de applicaçáo geral e radical de tela de arame fina nas portas, janellas, chaminés, aberturas de ventilação, etc, em summa, em toda e qualquer abertura com- municando o exterior com o interior. (2) Um verdadeiro triumpho da scicncia sobre a rotina significa, por exemplo, a experiência em grande escala executada pelo prof. Grassi na zona malarica da Estrada de Ferro de Nápoles a Reggio, na baixa Itália, ( Província de Salerno), sita entre as estações Battipaglia e Reggio, justificando plenamente o ju- bilo do valoroso autor contido na exclamação: « E quando se visitar d'aqui a uns annos a minha Itália, náo se encontrarão mais « tantos sertões incultos e brejos Ínvios, onde reina o gérmen mortífero, mas por toda « a parte campos férteis e povoações florescentes. A Hygiene guiada pela Zoologia, terá « realisado esta obra, que a phantasia dos povos da antiguidade inseria entre os trabalhos « de Hercules. > (3) Todas estas medidas, que em 1900 com brilhante êxito soffreram na baixa Itália a prova de fogo, foram adoptadas in nuce também recentemente pelos Norte-ame- ricanos em Cuba: lá na Itália contra o Anopheles — Malária; em Cuba contra a Ste- gomyia — Febre amarella. E com que resultados, nos conta o supramencionado artigo na «Revue Scientifique », «la fiévre jaune et les moustiques». (4) Não direi que tudo isto tenha logo de ser introduzido e imitado á risca, porque por ora, felizmente, não existe uma epidemia aqui na cidade, que nos obrigue a cogitar promptamente em medidas draconianas, nem o typo architectonico usual das casas aqui em Belém se presta á adopção methodica do isolamento real e cfficaz mediante caixilhos com tela de arame fina. Entretanto acho bom seguir também n'este terreno o conselho apostólico: Examinae tudo c conservae o ijiic ha (íc imilior ! Ha positivamente bastante que aproveitar e lucrar com o conhecimento perfeito das experiências dos médicos ita- lianos e norte-americanos, tanto para o campo da iniciativa particular, como para a esphcra da acção governamental c official. O segundo meio concerne á matança dos mosquitos adultos intrusos nas casas. Comprehende-se facilmente que isto é, no fundo, o que o povo chama «cataplasma ( ) ) Grassi, « Umschau. », ( 1901 ), pag. 946, fij;. 7 ( « Vcu e luvas » contra as picadas dos AnopheUs ). (j) Grassi - Malária ^ 1901, cap. X, pás. 216 — 240 (com diversas estampas). - Umschau. >, pag. 947. (3) Grassi «rmschau. >, 1901. pag. 94tí. (4) 1902. 16 Agosto, T. 18. N. 7. 36 Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica applicada em perna de pão». Poderá apenas ser considerado como palliativo em occa- siões onde a invasão ameaça tornar-se assustadora e grandemente afflictiva, como ul- timamente tem acontecido tantas vezes no bairro de Nazareth. Serviços relativamente bons presta a incineração do pó de Pyrethrum (vulgar- mente «pó da Pérsia»), o pollen de uma planta da familia das Compostas e de paren- tesco próximo da Chamomilla. ( 1 ) Mas sae caro ( para um quarto de cubagem média Silo precisas pelo menos 25 grammas, que importam, á varejo, em 750 réis quando barato ) e é de effeito mais que problemático, attenta a circumstancia de não se prestar o typo architectonico usual aqui. A fumaça pyretica d'este pó narcotiza, tonteia apenas o carapanã, não o mata. ( Na Itália recommendam, para o mesmo fim, como o mais efficaz a incineração de uma certa côr de anilina, amarella, conhecida com o nome technico de « Laricith » ). No terceiro ponto — a matança das larvas nos sciis logares de criação — abor- damos, fora de duvida, entre os meios de immediata applicabilidade, aquelle de mais seguro e de mais efficaz effeito. Entre as diversas modalidades theoricamente possiveis tem provado como a melhor, sob o ponto de vista pratico, a applicação do kerozene impuro sobre as superfícies d'agua onde os mosquitos se criam. Tirando proveito da circumstancia, acima descripta, de ter a larva do mosquito necessidade de vir tomar ar â superfície de minuto em minuto mais ou menos, compromette-se do modo o mais grave a vida d'estas larvas, despejando sobre a agua uma diminuta quantidade de kerozene ( ou de óleos semelhantes ) que logo em finíssima pellicula se espalha sobre uma larga área, formando uma camada, e fecho impermeável. Nem a larva consegue passar im- punemente atravez esta coberta oleosa com o seu siphão respiratório sem que logo o azeite lhe entupa e grude a entrada para o systema tracheano, nem as fêmeas, que tencionarem depositar os ovos, podem desempenhar-se d'esta tarefa sem correr perigo de atolar-se. E' experiência assaz fácil de repetir-se, que pouco kerozene é sufficiente para matar as larvas contidas n'um deposito d'agua de superfície relativamente grande. O methodo não é novo; entretanto foi somente em 1892 que o Prof. Howard nos Estados-Unidos insistiu nas suas grandes vantagens e recentemente o tratamento a ke- rozene é o remédio mais usado em grande escala nos paizes onde o combate aos mos- quitos está methodicamente organisado. E' applicado na Itália, nos Estados-Unidos, nas colónias francezas, nas índias, na Africa, na Austrália, nas Antilhas. Em Calcutta as autoridades municipaes possuem um corpo de trabalhadores especialmente instruídos para este fim, que diariamente empunhando uma vasilha com kerozene e levando ao hombro uma vara comprida com uns trapos na ponta vão pro- ( 1 ) o melhor modo de usar o pó de Pyrethrum é o ses;uinte: Molha-se o pú, tal como se encontra na dro- garia, com tanta agua, quanto necessária para formar uma massa plástica. D'esta forma-se pequenos cones, que se seccam sobre uma folha de metal no forno. Seccos estão promptos para o uso; accendem-se com um phosphoro na ponta. Dous ou três d'estes cones serão sufficientes em a;eral para impor aos mosquitos o armistício de algumas horas n'um quarto de dimensões regulares. Os Mosquitos nu Pará encarados como uma calamidade publica 37 curar as poças cl'agua estaj^nadas nos arredores da cidade, applicando-lhes o kerozene. Chamam-no « mosquito-brig-ade. » Semelhantes corpos existem hoje também já nas possessões inglezas e allemans da Africa, no Sul dos Estados-Unidos e agora em Cuba. Também os francezcs applicam este systcma nas suas colónias, tendo principiado pela do Senegal. Sendo averiguado que por via de regra o mosquito não irradia espontaneamente do logar que lhe foi berço, alím de um a dous kilometros no máximo — só isoladamente e le\ado accidentalmente por correnteza aérea violenta elle transporá distancia maior — póde-se presumir com bastante certeza que tratando a kerozene os brejos e poças d'aguas estagnadas sitos dentro d'este perímetro, tal cidade poderá ser libertada da invasão dos mosquitos intrusos dos arredores. Para dar um exemplo: estou convencido de que nós no bairro de Nazareth não soffremos pelos carapanãs vindos do Marco da Légua e pontos de igual distancia; — os que nos atormentam virão das baixadas de ambos os lados, dos capinzaes e das muitas poças d'agua, abandonadas ao descuido, nas rocinhas immediatamente circumvisinhas. E aqui será a occasião de externar a nossa opinião, de que a pasmosa abun- dância dos mosquitos no bairro de Nazareth ( 1 ) observada durante os últimos annos não será extranha ao estado tanto tempo lastimável da Estrada da Independência entre a Igreja de Nazareth até o Largo de São Braz. Obser\açues directas autorisam-nos a apontar por ahi como em bôa parte culpado d'esta situação. Gerações sem conta de carapanãs tiveram tempo de desenvolver-se n'aquelle lodaçal de inglório aspecto e in- fausta memoria. Ora, quando pelo que acima dissemos no capitulo Biologia, por um lado, e por um simples calculo por outro lado, podemos nos convencer que a des- cendência theorica de uma única fêmea de Ciilex fatigans attinge a 160 milhões já com a quinta geração e isto no curto praso de pouco mais de 3 mezes — perde evidentemente muito do seu mysterioso o caracter endémico da praga do carapanã pelos nossos lados, para fazer logar a um sentimento de motivado scepticismo, que — sem uma prompta coa- lição da iniciativa particular com a acção official — a calamidade não poderá ser mais desalojada das a\ançadas posições de que se apossou na mais futurosa parte da nossa cidade. Que óptima occasião offerece-se aqui para uma experiência em certa escala maior, com o kerozene, nas baixadas circumvisinhas do bairro ! E que não se venha objectar-me o protexto de que tal ensaio haveria de sahir muito caro, a menos que não se invente um qualquer kerosene politico especial ! E que não se allegue quaesquer difficuldades fictícias locaes e sui generis que se poderiam oppôr á applicação do methodo, pois redundaria simplesmente em tcstinionitiin paii- pertatis de confessar, que aqui entre nós não haveria meio de executar o mesmo que se consegue nas índias, na Africa, nas Antilhas, num meio indígena social e ethnico, ao qual de certo não ha de se querer attribuir uma effectiva superioridade intellectual. ( 1 ) Tive occasião de veriticar ató no Tlieatio da Vaz. no Laijo da Pólvora, por diversas ve/es durante espe- ctáculos nocturnos, fartura de mosquitos danvando — tanto que uma pessoa de fora n,io poderá' deixar de licar impressionada desaijradavelmente. 38 Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica Venha e appareça, pois, uma vontade superior, que diga: «Mãos á obra! Fora com os carapanãs ! » O quarto ponto ^•ae de braço dado com o anterior, não sendo senão o seu com- plemento lógico. Claro é que, evitando cuidadosamente pelos quintaes e rocinhas a accumulação de vasilhas com agua estagnada e eliminando assim toda e qualquer oc- casião de formarem-se ás escondidas logares de criação para as larvas dos carapanãs, dando-se assim uma caça methodica, continuada e persistente, consideravelmente se contribue para o supremo alvo — a extincção dos mosquitos pela immediata visinhança. Obvio é, que semelhante táctica dará pleno resultado somente quando seguida á risca universalmente, sem excepção, quando a convicção das vantagens communs fôr infiltrada por igual em todas as camadas sociaes e constituir-se o principio agente para o auxilio expontâneo na obra collectiva. N'este sentido benéfico effeito antevejo no bom exemplo de pessoas intelligentes, que particularmente pelas suas casas adoptem a guen-a racional contra os mosquitos, na propaganda dos médicos na sua clinica particular, pois elles exercem uma legitima influencia e last iiot lenst na animação que deriva da acção e iniciativa official quer na esphera administrativa municipal, quer na estadoal. Quanto ao quinto ponto — saneamento radical da cidade e dos arredores — por obras publicas de maior vulto — não pretendo entrar aqui mais de perto no seu estudo e discussão. Claro é que ahi reside, no fundo, a verdadeira solução do magno problema e que a attenção administrativa não poderá deixar de ter sempre em vista preparar a situação, para que a questão possa passar da phase dos projectos para a das realidades. Mas também salta aos olhos por outro lado, que seus factores, o technico e o financeiro fazem com que este meio, idealmente o melhor, não passe de um « saque a praso longo ». De passagem eu queria ainda dizer, que a pretendida acção protectora da arvore Eucalyptus, de origem australiana, contra a praga dos mosquitos, não passa, conforme experiências norte-americas communicadas pelo prof. Howard ( 1 ) e como aliás era de prever — de uma conclusão errónea, pois esta acção, em vez de ser directa, como se pretendia, é apenas indirecta e limita-se a diminuir os logares apropriados para o des- envolvimento das landas pelo enxugamento do solo. Depois de ter passado em rápida revista os meios de combate directos contra os mosquitos, resta-nos dizer alguma cousa acerca do modo como nós imaginamos que deveria ser encaminhada e organisada a propaganda contra as moléstias por elles transmittidas. Condensarei as minhas idéas em algumas theses principaes, que serão commentadas, quando d 'isso. haja mister. ( 1 ) Howard. Notes etc, pag. 62. O.s Jlosquilos no Paiá cncaiadus como uma calamidade | ublica dç /." Jií/fio de grande iiut>ortct>icia e alcance esclarecer o publico, dividgando, pelos meios apropriados, conhecimentos sobre a acção dos mosquitos e a sua corre- lação com as diversas moléstias. Ha vantaííem n'isto nSo somente em relação á cidade de Bclem, pelo prisma da febre amarclla, da filariase e outras, como também em relação ao interior, pelo prisma da malária. Um inimigo que se conhece e que se enxerga não d nem de longe tão pe- rigoso, como um que é invisível, immaterial como um phantasma. Estou firmemente convencido, que o publico nas regiões perseguidas por sezões, orientado sobre o nexo causal entre a malária e o Anopheles, e conhecedor das soberanas armas que se possue, tanto n'uma intelligente prophjiaxia, como numa adequada e criteriosa therapia com a quinina, ( 1 ) com mais calma podení enfrentar as investidas e tentativas d'este morbo polymurpho. E creio que a residência em logares e regiões de notória má reputação sanitária, como por exemplo grande parte do littoral da Guyana (Amapá. Calçoene, Cunany, Cassiporé, Oyapock ) muito perderá do terror que custumava incutir. Alcan- çar-se-á maior estabilidade. Penso que o Governo, seguindo para o seu pessoal adminis- trati\o lá estacionado, o exemplo dos médicos italianos na Província de Salemo, e dos norte-americanos na ilha de Cuba, se por um lado gastaria por ora, talvez, um tanto mais na primeira installação, bons resultados obteria por outro, revertendo em economia no futuro. ( 2 ) 2.0 Opino que a acção official com vantagem entraria a campo desde Já, em forma branda, isto é, dando o bom exemplo, incitando a iniciativa particular a seguil-o, e principiando por casa : a) cogitando da organisação de „ mosquito— brigadas "sobre o modelo em uso nos outros paizes ; b ) reformando e adoptando os hospitaes ás exigências do actual estado da sciencia em relação aos mosquitos ; c ) emprestando gratuitamente aos necessitados mosquiteiros em casos de febre amarella e tratamento em domiciHo; d ) examinando, sem animo preconcebido, seriamente a questão, se ultimamente não foram, dentro da cidade e seus arredores immediatos, talvez projectadas e executadas obras de ajardinamento etc, que pelo emprego de consideráveis superfícies d'agua não sufficiententemente movimentada, não poderiam constituir-se em outros tantos logares de criação de mosquitos. Os logradouros públicos, tanques ornamentaes, lagos, etc, que em tempos normaes não contribuiriam de modo sensível, para augmentar o flagcllo, tornam-se entretanto um factor digno de reflexão n'um pcriíulo de invasão e inundação de carapanãs, como o temos actualmente. ( n ( ) tito em primeira linha a alcaiKar n'esta conjunctura dever.í ser a initiiiiiiiía{âc arlifidal da popula(,-ão. D esperar pela outra, iiiiminiisafão natural e fxpoiílaiit-a, este caminho por via de re^ra sahirã caro e não será conquistado senão a' custa de muitas vidas humanas e depois de muitas ijerações. (3) Grassi («Malária paj;. 2\3) estabelece o principio, hvfíienico — como juridicamí-nte interessante, da t'hri. gafão do Estado, de cuidar do tratamento obrÍ!;atorio de todos os malaricos indirectamente. Ora, tendo o PljsmoJiiini malariae, o parasita das sezões, dous hospedes, — o Mnophelfs e o homem — do mesmo principio Ic^camente derivaria também a obrigavão official cio Estado para a lucta da cxtincção dos mesmos carapanãs. 40 Os Mosquitos no Pará encarados como uma calamidade publica Não sendo dada a possibilidade de movimentar devidamente a agua, conviria povoar taes depósitos d'agua com um forte contingente de peixinhos vivos, de agua doce, prestando-se evidentemente para semelhante fim os nossos jejús pequenos, as di- versas espécies de acarás, os sarapós e os tamboatás, do comprimento médio de um dedo. São inimigos natos dos carapanãs e das suas larvas, devorando d'ellas quantidades verdadeiramente assombrosas. 3.0 Não posso liberíar-nic do idca de que o hospital dos leprosos no Toain- ditba está mal collocado, sob o ponto de vista hygienico moderno e que conviria a sua remoção para local mais afastado. Não tenciono entrar em pormenores sobre este assumpto, porque isto nos levaria longe. Desejo simplesmente ver archivado aqui que uma qualquer situação, em relação ao hospital para com a cidade, entre N E e S E, quadrante varrido pelos ventos domi- nantes diários aqui em Belém, e em distancia que não seja bastante superior a 2 kilo- metros, não corresponde aos requisitos hodiernos de um hospital de isolamento para doença transmissível pelos mosquitos. Aproveito comtudo a occasião para dizer que não faltam autorisadas vozes no mundo medico, que entre as moléstias transmissíveis especialísam nominalmente ainda, além das jã mencionadas, o anthrax, a elephantíasís e outras affecções do systema lym- phatíco, como morbus para os quaes um nexo causal com os mosquitos e insectos pa- rentes é igualmente provável. ( 1 ) Escrevi o presente trabalho, fructo de diversos mezes de estudo intensivos, em poucos dias, ao correr da penna sob o impulso de intima convicção minha, que era tempo de eu intervir, na qualidade de zoologo e chefe de um estabelecimento scientifico, nesta questão, que se me afigura de gravidade. A classe medica aqui em Belém tinha o direito de esperar que fosse primeiramente elucidada a posição systematica dos mos- quitos predominantes n'esta cidade, antes de tomar posição no assumpto, e não ha du- vida que esta tarefa, aqui como em outra parte, cabia antes de tudo á sciencia natural descriptiva. Ora, feito este trabalho no nosso Museu, determinados não somente os Culicides nossos, como estudados também sob o ponto de vista biológico, averiguada agora de modo absolutamente seguro a identidade dos nossos principaes carapanãs paraenses, com aquellas espécies que alhures justamente tristíssima reputação pos- suem como transmissores de algtrmas das mais graves moléstias tropicaes, são dadas para a medicina e a hygiene as bases de operação ulterior. Senti a responsabilidade que me cabia como naturalista, n'este problema attinente ao bem-estar publico, c julgo que me desobriguei d'ella lealmente. Caveant cônsules! Dixi. Belém do Pará, fins de setembro de KX)2. (l) (Jue toda a prophj-laxia contra certos outros fjraves flagellos da humanidade taes como tulerculose, cholera, peste asiática parte do mesmo ponto de vista, é assas sabido. KxiKiiiMKias com Str-omvia fasciata i' Culcx fati^an- 41 II Resumo provisório dos resultados da campanha de experiências executadas em 1903, espe- cialmente em relação ás espécies Sfeoowyw fasciafa e Cu/ex fafigans sob O pontO de vista sanitário. Bliit ist fin fianz bfsomrrer Saft-. Goethe, — Fatst >. NOTA INTRODUCTORIA Não emprchcndi os estudos, dos quaes por ora somente me é possível dar um resumo preliminar, pour me tailler un role», como na lin.s^ua franceza com graça se diz, na tão debatida questão dos mosquitos no seu papel como transmissores de moléstia. Approximei-me do assumpto em fins de l')01 — como mero naturalista e zoologista, antes com o fervoroso desejo de aprender no contacto com os mestres na matéria, do que com a esperança de jamais poder ensinar outros. Se eu, querendo a principio ser nada mais que espectador, fui empurrado para o meio, no campo da acção, a responsabilidade cabe a circumstancias alheias ;í minha vontade. Desejando seriamente instruir-me, atirei-me ao estudo dos mais afamados livros que na especialidade tinham sido publicados, princ:pahnente com o fito de orientar-me bem sobre a systematxa e a biologia dos Mosquitos brazileiros. Caía n'este periodo exactamente a publicação da monumental Monographia t/os Ci(//c/(h'Oíi do Dr. T. \'. Theobald, do Museu Britannico de Londres, obra esta que veio assim a ser para mim. neste empenho, o que se chama «ouro sobre azul >. Mas, por mais que me satisfizesse a perfeição que encontrei n'este admirável trabalho, relativamente A s3-stematica dos nossos Mosquitos, falha\ ;i por \ ia de regra a resposta para uma qualquer pergunta que eu C(immgo formulasse acerca dos pormenores biologcos. Examinando a dita obra de mais perto, debaixo d'este ponto de vista, fiquei impressionado do pouco que constava dos costumes e do modo de vida dos nossos mais vulgares .Mosquitos. \'i e convcnci-me de que. mesmo .sobre alguns dos probl(•ma~^ mais elementares, reinav;i escuridão quasi completa e sen.sivcl incerteza. \'oltei a minha .lUenção para a litteratura indígena, desconfiando que talvez os representantes da sciencia medica se acha.ssem em uma pha.se de saber mais adiantada .sobre os Mosquitos nacionaes do que a minha. O calor que se notava na imprensa diária 4_' H.\|)L'rioiicias com Ste^Hinyia ta^ciala o Culcx tati^an-- e profissiunal, na discussílu de assumptos atinentes a este dom^iin, pelo menos podia justificar tal espectativa minha. \"\ Gregos e Troyanos, Blancos e Colorados. Convictos e Scepticos, Adeptos e Refractários, Moderados e Radicaes extremados entrarem na discussão com tanta paixão, que se podia julyar que ambos estivessem desde muito de posse plena das premissas biológicas, versando a c(jntro\crsia talvez unicamente sobre o modo de interpretar em sua applicação á therapeutica, prophylaxia e hj-giene. Qual mio foi a minlia surpreza e decepção quando, olhando de mais perto, percebi que n'esta arena as armas principaes em uso de cá e de lá consistiam em trechos emprestados e adrede apparelhados de autores extrangeiros e trabalhos de outros paizes, e que raris- simos eram os vestigios de investigação própria, de pesquiza independente, de trabalho mental original, trazendo o cunho e feição do experimento e do laboratório, em vez d;i toga da dialéctica salernitana ? Assim eu, não encontrando, nem por um lado nem por outro, informação satis- factoria nem sequer sobre os elementos e os contornos principaes da historia natural dos Cii//i'/(h'os brazilicos, e compenetrado de que sem o conhecimento d'estes não podia haver possibilidade para uma fructifera discussão do papel sanitário; reconhecendo emfim, em uma palavra, que para um assumpto ferindo tão genuinamente os mais altos interesses vitaes do paiz deve existir um solido substrato e pedestal com materiaes locaes, resolvi metter mãos á obra. Si já Grassi no caso do Anopheles — Malária pronunciou que o terreno pertencia ao zoologista, preparado em assumptos de medicina e ao medico, familiar com assumptos de zoologia, a situação é a mesmíssima no caso da Stcgoiiiyia — Febre amarella, no do Culex fatigans — Filariasc. O medico por si só não resolverá a questão: terá forçosamente que recorrer ao naturalista, para d'elle obter o substrato necessário de conhecimentos de historia natural. E era preciso que viesse uma vez um embaraço d'estes deveras penoso e affiictivo, para abrir os olhos aos que pensam e seriamente se empenham no levantamento intellectual do paiz, e para mostrar-lhes a insufficiencia actual do ensino de sciencias naturaes no programma dos estabelecimentos superiores e incutir-lhes a convicção de que, a menos que não se queira resignar-se beatamente a ficar atraz no certamen e tendência pro- gi-essista internacional, urge prestar mais attenção e respeito áquellas sciencias que ciaia t- Cuk-x fati^ans 4^ tribuii- cmn malcriacs antes iírnorados c ainda inéditos. Tive sempre o inestinnavel e valioso auxilio do Sr. l)r. Theobald, em Londres, o que equivale a uma {garantia, so- bretudo no dominio das questões systematicus e da identificação exacta. (1) A publicação detalhada, em extenso, das minhas investigações durante a recente campanha, exige mais tempo e mais avultadas providencias, mormente em relaçflo ao lado illustrativo, do que dispuz até agora. Todavia tenciono publicar dentro de prazo não muito longo, um trabalho mais comprehensivo, acompanhado de estampas coloridas, do hahiius dos principaes mosquitos da íauna paraense. Attento ao cuidado que tive de escolher espécies de larga distribuição sobre o littoral do Brazil tropical, nutro viva esperança de que o referido trabalho será bemvindo ao mundo medico indigena todo. As estampas são feitas de mosquitos vivos e frescos em escal.a tamanha e com tão minu- ciosa exactidão que poderão servir de padrão em circulos scientificos como em círculos de leigos instruídos. O que aqui, nas presentes linhas dou, é apenas um resumo muito conden.sado das minhas experiências e resultados sobre certos pontos, assaz controvertidos, da vida dos nossos mosquitos domésticos mais communs e mais importantes — a diurna Stcgo- líiy/a fasciata e o nocturno Ciilex fatigmis. São aquelles pontos a que a.ssiste um in- teresse de todo especial pelo lado pratico e sanitário. (Confira-se o questionário detalhado, que puz como guia orientadora, no cabeça- lho das experiências). São em primeira linha o problema do papel do sangue haurido, na economia interna do mosquito-femea, em relação com a copula sexual por um lado, e com o pro- cesso da postura dos ovos por outro lado. Abrangem estas experiências mais de 220 indivíduos adiiltos de ambos os sexos, de Stegoniyia fasciata e além de 2(iO indiví- duos de Culex fatigans; (não entrando em conta ovos e larvas de ambas estas espé- cies, que andam por milhares). Esbocei este resumo em consequência de pedidos ín.sistentes de amigos no mun- do medico brazileiro, ornamentos da sciencia, residentes no sul do paiz. Algumas palavras acerca da instrumentagem, por mim utilisada n.i.> experiências que seguem. Havendo conveniência em poder executar o rigoroso isolamento simultâ- neo de muitos individuos ou de muitos casaes, quer de uma quer de outra espécie, era mister architectar um typo de gaiola apropriado leve, manuseavel e barata ao mesmo tempo. Bem depressa achei um modelo que preenchia satisfactoriamente todos estes requisitos e que conservei até hoje. E' uma caixinha leve, de madeira de cedro, de f('irma prism.itica. de i50"" de comprimento, sobre li5'"' de largura e 20"' de altura. Fun- ( 1 ) (Jue ,1 respectiva correspondência não tem deixado de tra/er vant.ujens para o conhecimento dos mosquitos d'aqui, resalta lo},'o para quem compulsa o recente volume III supplementar da >;rande .Monc^Taphiu do Dr. Theobald, publicado durante o anno de igi)3. 44 I{.\lHTÍL'nciii.-> CDin StL\L;niiiyia la^ciata c Culc.x taliyans do, costas, tecto c metade superior da trente, são de tL'l:i de arame de malha fina; a parte inferior do lado frontal é formada por uma porta de um \ idr 4-, Ultimamente \ i, p^r um arti.iíu n'uma rc\ isia meJica. ( 1 ) que u Dr. Liitz. em Sao Paulo entre os principaes fomentadores de estudos orig-inaes sobre a vida dmo fim. e não duvido que este observador se tivesse fam:iiarisado com elle da mesma forma e pelas mesmas razões que eu. (2) Concluo declarando que não me abalarei a tomar em consideração luruesia- ções e censuras dos meus resultados, senão dos contendores que provem tfr feito estu- dos igualmente conscienciosos e comprehensivos. Res non verba. Quem tiver animo de combate, que o laça de viseira er}íuid;i e mo.stranJo a lealdade das suas armas. Vivendo eu na firme convicção de que, destes pro- blemas, mais do que de quaesqucr outros, depende a solução directa da exposição fiel e exacta do methodo seguido e das circumstancias exteriores, debaixo das quacs as experiências foram realisadas, e tendo eu dado o exemplo nas paginas que setrui-m. faço para qualquer outro condição essencial de idêntico procedimento. Por ultimo direi que, a quem só superficialmente conhece alguma cousa da mo derna litteratura scientifica poderiam apparecer todos ou a maior parte dos meus resul- tados como carecendo de novidade e de merecimento, por constituírem as leis por mim formuladas a necessária supposição e premissa para toda a recente doutrina acerca dos mosquitos. Ainda quanto a isto, a minha consciência me tranquilisa ; .sr heiíi que estas /r/s estivesse;//, po/- ass///i dize/-, pai /'(///do /lo a/-, aquelles que conhecem a matéria a fundo, perfeitamente sabem que faltava até hoje a prova expe/'i///e/ital e /t/atei-ial, que esta falta co//st/t/i/a u/i/a laau/a e hz-echa assaz sensível e i/icoi/ii//odativa //o edipcio do act/ial sabe/'. Estes sim, saberão a\aliar do perto o merecimento inherente a estas tão conscienciosas quão comprehensivas labutações e o applauso d'estes será para mim a melhor recompensa para toda esta penosa cruzada de experiências e contra-expe- riencias. Pará, 9 de ianciro de 1^'U4. ( 1 ) Waldmosqiiilos und Waldmiilaiia • em • Centnilblatl filr HakterioIo:;ie. I*arasitenkunde •. ctc. ( Veriíu; von (J. risohei in Icna. Vol. J.i. N. 44 ( J6 Jan. liX).? ( pas». 2S2.J92 ). — pai;. J<)i) sts;. e um artiiío da • Gazeta de Xo- ticias », do Rin de Janeiro, com o titiilo : « .\ febre amarella e o mosquito >. liando conta de uma consulta feita ao mesmo Dr. .\ Lutz ( Jó outubro, 1'/),) ). ( J ) Hiincroft recommendou calorosamente o empresio de tâmaras .seccas penduradas na ijaioLi, par.i substituir as latias de banana, antes em uso n'estas experiências. Concordam Nuti.iU c Shipley. lic. cit. pai;. "'>. 46 Experiências curn Stc-j^nmyia íasciata r ( ulcx tati;:ans QUESTIONÁRIO I Influencia da alimentação sobre a duração da vida no captiveiro a ) li alimentação com mel, líquidos assucarados, sumos de fructas, etc, prolonga ou encurta a vida r I J quaes os effeitos sobre o sexo feminino ? ^^ quaes os effeitos sobre o sexo masculino? b ) íi alimentação com sangue, prolonga ou encurta? ij effeitos sobre o sexo masculino ? 2 ) effeitos sobre o sexo feminino ? II Influencia da alimentação sobre a fecundidade das fêmeas de Stegomyia fasciata, nascidas em liberdade e postas no captiveiro a) a alimentação com sangue, favorece e accelera a postura dos ovos? h ) ha um sangue animal ô, ) preferido ? b-i ) óptimo ? c ) i\ alimentação com mel tem effeito Ci ) retardativo e interruptor ? ou c, ) paralysante e destructivo ? d ) qual o effeito de outra alimentação? d^ ) animal ( extracto de carne, sumo de carne, etc. ) ? d., ) vegetal ( sumo de fructas, etc. ) ? 111 Influencia da copula sexual sobre a haemaphilia e a fertilidade das fêmeas nascidas no captiveiro a) fêmeas xÀo fecundadas chupam ( a) sangue? ( b) mel? h j fêmeas nào fecundadas />, J põem ovos ' a) férteis? (Parthenosíenese i,'enuinal. b ) estéreis ? ( Pseudo-Parthenoí;enese ). h.,) não põem (_)\os? a) içmesis fecundadas, chupando mel «1 ) põem ovos . I a ) férteis. \ b ) estéreis. a.,) não põem? Íí /I í ff*T"t"í^l^ põem ovos? I b ) estéreis. Hxpericncias luiii Stcgomyia fasciata c Culex l'ati}j;an.s 47 EXPERIÊNCIAS Stegomyia íasciata EXPERIIÍNCIA l.a Nu dia 1 de aj^ustu de UXAi, de manhíin, foram postas em 3 fíaiolas, (das de nossa invenção para o fim especial da observação continua dos mosquitos no captivei- ro) ao todo 16 fêmeas de S/i-í^oiiiy/a /(iscni/d, sadias e robustas, apanhadas em liber- dade com o borboleteiro (Museu e dependências), ao accaso, isto é, sem que cilas tra- hissem pelo seu aspecto exterior, haverem chupado sangue humano ou de qualquer animal nas horas immediatamcnte aanteriores, embora admittamos sem hesitar tal pos- sibilidade, bem como a probabilidade de terem sido previamente fecundadas todas ellas. Na «aiola C entraram 2 fêmeas; na ga'ola A, ò\ na gaiola B, 9 fêmeas. Trata- mento com mel de abelha e com agua (exclusivamente, sempre e em todos os casos, onde não ha expressa indicação contraria), offerecida cada uma destas cousas em pe- queno pralinhii de \idro. Caixa C. '2 fêmeas. Tendo as duas fêmeas sido alimentadas cxclusi\amente com mel de abelha e agua desde o dia 1 até o dia 23 de agosto (23 dias), mudou-se repentinamente de regi- men, dando-lhes sangue no mesmo dia 23 (deixando-as picar cobayas encostadas com a mão pelo lado exterior da tela. (1) Tomaram logo o sangue offerecido em apparente boa ração cada uma. AVTo fc/i(/(> s/íío postos ovos durante os dias 1 até 23 de agosto ( ali inent ardo a mel) agora apparecerani logo duas posturas: 1) eui 28 de agosto (36 ovos: iutcr- vallo, 5 dias) e II) em 30 de agosto (35 ovos: intervallo, 7 dias). Observação das primeiras larvas no dia õ de .setembro (intervallo de 6 dias); os ovos eram férteis. Iso- ladas as posturas c po.stas nos boccaes especiaes de criação, continuou-se a administrar sangue de cobaya da seguinte forma : dia 30 de agosto (ambas as fêmeas tomaram um;i ração cada uma ); dia 1 de setembro, idem, idem, idem ; dia 4 de setembro, idem, idem. idem. ( 1 ) Como se vC- por uma multidão de experiências aqui enumeradas, as fêmeas de .^ítesíomyia acceUam sanijue e prestam-se a picar com satisfactoria facilidade, não só as primitivamente apanhadas em liberdade e depois postas em síaiola. como também as fêmeas criadas no captiveiro. E se não me en?;ann. outros observ.idores em diversos pontos do Braiil. também não reconheceram na Stesíf.mvia, em captiveiro. um mosquito recalcitrante o estouvado. Surprehcndeu-mc deveras encontrar recentemente no volume supplementar Hl da obra de Theobald. pa-. M-'. o se-uintc trecho da carta de um Kr. Low. da Trindade: - If one introduces one's hand intn the catre thcy quickly settle on the hand and probe with their proboscis. hiit ihev 11,-ver punclurc timl I biive iiever sem hhod iii Ih.- sloimuh i>/ hmiJnJs I bave fuimineJ • .\inda uma vei estou tentado a formular a per^'unta, se talvez a Stc!,'om.via na ilha da Trindade se comporta de outra maneira do que aqui no Brazil ? .,j.jii:-„ Recalcitrante achei o Ciilix /Ii/iVuhj, este sim. correspondendo assim ao esboço de caracter e mdole. qual 1,1 o traçou Grassi ( loc. cit. 77 ) dos representantes sul-europeus do «enero Culex. Por outro lado posso aflirmar que a|í;uns dos • '^ - '-" ,/(/.(, (;. í(Tni/i/í, picam regularmente no captiveiro. com 5 nossos representantes sylvestres. do mesmo ijencro. como C roíijiniialiis, C. picam varias espécies dos t;eneros TiUiiiorhyiithiis — Paiii dias de captiveiro), e pe- recendo igualmente a ultima no dia 11 de setembro (com 4L' dias de capti\eiro), sem dt'i\arem ainda uma ultima \ez descendência. Assim não houve pos/i/ra iiciiliiiiiui durante os pr/inc/ros 23 dias de aiiuwu- tação com mel c logo depois houve :> /)(h^turas, depois t/e introduzida a a/imentti- çdo com sauíiue. Tocou assim para uma das duas fêmeas duas posturas, phenomeno interessante, indicio de que (assim habilitam-me a diagnosticar repetidas experiências) estas mesmas posturas não eram o que estou tentado a chamar completas, mas sim parciaes, frac- cionadas (circumstancia que se vê também pelo numero dos ovos: 36, 35, 44, que eu es- timo importar n'um terço ou na metade de uma postura normal) e que attribuo a um processo defeituoso, quer que o numero de rações de sangue tenha sido insufficiente, quer porque o fosse o quantum total de sangue haurido. Caixa A. Das 5 fêmeas, entradas em 1 de agosto, retirou-se no dia 26 de agosto uma d'esta caixa, simultaneamente com uma das 9 fêmeas da caixa B. Tinham sido alimentadas durante 26 dias sob o regimen exclusivo de mel e agua. Foram postas em gaiola se- parada, recebendo sangue humano ( offerecendo-lhe a mão atravez da tela ), que accei- taram. Por desastre mallogrou-se a experiência, morrendo ambas estas fêmeas, antes de ser obtido o resultado desejado. No dia IS de setembro, retirou-se do mesmo modo, uma outra fêmea da caixa A, juntando-se com uma fêmea nas mesmas condições da caixa B, em gaiola separada. Depois de ter vivido durante 48 dias debaixo do regimen ahmenticio de mel, acceitaram ambas sangue n'este mesmo dia. Tendo de me ausentar do Museu e da capital do Pará entre os dias 22 até 26 de setembro, e \'oltando somente no dia 26, encontrei uma pos- tura de 33 ovos e 2 larvas muito novas (total 35; intervallo pelo menos íans EXPERIÊNCIA 2.-> De 9 fêmeas de Stegoii/y/a. apanhadas cm liberdade, e postas em gaiola no dia 14 de acosto de 1903, e nutridas com uma ração de sangue humano no mesmo dia, ap- pareceu uma primeira postura já no dia 16 de agosto, (intervallo de 2 dias). EXPERIÊNCIA 3.-' Foram postas em gaiola H fêmeas, apanhadas em liberdade, no dia 1 de agosto de 1903. Receberam rações de sangue de cobaya nos seguintes dias: 22 de agosto ( tomaram 7 fêmeas ) ; 23 de agosto 2 fêmeas ) ; 24 de agosto 3 fêmeas ) ; 28 de agosto 1 fêmea ) ; 5 de setembro 3 fêmeas ) ; 9 de setembro 1 fêmea ) ; Obtive posturas de ovos em: IJ 22 de agosto — 15 ovos. //; 24 de agosto — 120 ovos. II/J 26 de agosto— g ovos. / VJ 9 de setembro — 90 ovos. Intervallo minimo 2 - 4 dias Os ovos eram férteis; acompanhei larvas da 4» postura no seu desenvolvimento. — Quanto á 1 .■' postura do dia 22 de agosto, a respectiva fêmea a forneceu visivelmente devido ainda á intervenção de sangue anteriormente apanhado na liberdade, antes de entrar em gaiola. EXPERIÊNCIA 4.^^ Três fêmeas de Stcgouiyia, apanhadas em liberdade, e cngaioladas no dia 1 de setembro de 1903, receberam uma ração de sangue humano no mesmo dia ( uma só acceitou, 2 não acceitaram; no dia 3 de setembro todas trez recusaram). Appareceu uma pequena postura de 15 ovos no dia 4 de setembro, ( intervallo de 3 dias ). Ovos férteis. EXPERIÊNCIA 5.^' Uma fêmea de Stegoinyia, apanhada cm liberdade, posta em gaiola no dia 23 de agosto de 1903, e tendo recebido uma ração de sangue humano no mesmo dia, for- neceu uma postura de 35 ovos no dia 26 de agosto ( intervallo de .S dias ). — Ovos férteis. KxptTicncias com Stcíromyia fasciata c Culcx fatipans 51 EXPERIÊNCIA 6.' H fêmeas de Stegomyia, apanhadas cm liberdade, postas em ííaiola no dia 30 de setembro de 1903, receberam rações de sangue de cobaya: no dia 30 de setembro; no dia 3 de outubro ; Obtive uma postura de 37 ovos no dia 8 de outubro de IWS. ( intervallo de H-b dias ). — Os ovos eram férteis ; acompanhei as larvas. EXPERIÊNCIA 7.^' 4 fêmeas de Stegomyia, apanhadas cm liberdade e presas em gaiola no dia 3 de novembro de 100.'-), receberam sangue de cobaya nas seguintes datas: dia 4 de novembro tomaram ração todas 4); dia 7 de novembro ( t. 2); dia 9 de novembro ( t. 1 ) ; dia 1 1 de novembro ( t. 2 ) ; Obtive uma primeira postura completa de 105 ovos no dia 7 de novembro de 1903, ( intervallo de 4 dias ). — Ovos provadamcnte férteis. Segunda postura de 30 ovos no dia 14 de novembro. EXPERIÊNCIA 8.-'' 2 fêmeas de Stegomyia, apanhadas em liberdade e postas em gaiola no dia 22 de novembro, receberam uma ração de sangue humano. Appareceram 4 ovos no dia 25 de novembro e mais 11 ovos na manhan seguinte, 26 de novembro. Total 15 ovos. (intervallo de 3-4 dias), todos férteis. EXPERIÊNCIA Q,^ \ fêmea de Stegoiiiyid. apanhada cm liberdade no dia 9 de novembro de 1903, recebeu sangue humano da seguinte forma : 9 de novembro; 1 1 de novembro; 16 de novembro; 17 de novembro; A fêmea moircu no dia 20 de novembro, tendo deixado uma progenitura de • 52 Hxporiencias com Stctiomyia lasciala c Culc.x tati^ans cento e tantos ovos, (, intervallo máximo, 11 diíis; minimo, ò dias. ) — ( Não existe anno- taçílo relativa ;'i questílo se os ovos se desenvolveram). EXPERIENCI.\ lO.^' As fêmeas de Stcgoniyia, apanhadas em Uberdade e engaioladas no dia 14 de outubro de 1903, receberam rações de sangue de eobaya nas datas: 15 de outubro (3); 17 de outubro (2); 20 de outubro ( 1) ; Appareceu a l-"». postura (25 ovos), no dia 10 de outubro (intervallo de 2 dias). — Ovos férteis; criei mosquitos d'esta postura. EXPERIÊNCIA ll.^i A uma fêmea de Stegoiuy/a, apparentemente vasia, apanhada em liberdade no dia 10 de novembro de 1903, se juntaram em 11 de novembro mais trez fêmeas nas mesmas condições (morrendo entretanto uma em 14 de novembro), e finalmente, mais cinco fê- meas em idênticas circumstancias, no dia 15 de novembro de 1903, sendo o total da caixa 8. Foram tratadas com o regimem do mel e não receberam sangue. Appareceram todavia no dia 29 de novembro, 36 ovos e 4 larvas. Tendo-se reti- rado em 8 de dezembro uma fêmea para a caixa VII, da qual logo fallarei, e tendo mor- rido até o dia 24 de dezembro, 4 fêmeas, restam hoje ainda 3 ( 29 de dezembro de 1903 ). Os ovos eram férteis, pois até o dia 4 de dezembro tinham sabido 36 larvas. Sou levado a suppor que o apparecimento um tanto surprehendente â primeira vista de uma postura de ovos férteis, depois de um inter\allo de captiveiro de 15 para 19 dias, com regimen alimentício exclusi\o de mel durante este periodo, fosse de\-ido a uma influencia, embora tardia, de rações de sangue hauridas quando em liberdade, an- teriormente á data do aprisionamento, ( 10, 11 e 15 de dezembro). EXPERIÊNCIA 12.^' Três fêmeas de S/t'á-(>///v/c/, apparentemente vasias, foram apanhadas cm liberdade, na residência directorial, no dia 28 de noxembro de 1903, e postas em gaiola, igualmente para serem submettidas ao regimen de mel e agua. Todavia appareceu uma postura de 40 ovos no dia 4 de dezembro, (intervallo, 6 dias ), morrendo logo a respectiva fêmea. Ovos férteis. ( Retirou-se no dia 8 de dezem- bro uma fêmea para a caixa 7, como na experiência anterior, ficíindo 1 só na gaiola na data de hoje (29 de dezembro de 1903). Ex[)oiicncias com StL-yomyia fasciata c Culcx lalis^ans ', í Ainda uma vez explico-me este caso pela mesma forma, como na experiência 11.-1, servindo de prova material e pedra de toque o resultado obtido com íuí duas fêmeas retiradas, no modo acima referido, no dia H de dezembro e ao qual logo voltarei. EXPKRIENCIA 13.^' As duas fêmeas,, (originalmente apanhadas em liberdade), de que fallei nas ex- periências 11.=» e 12.-1, e que foram retiradas de duas gaiolas diversas no dia H de de- zembro de 1003, cujos inquilinos estavam submettidos desde o principio ( 10. 15 e 2.S de novembro) ao regimen exclusivo de mel e agua, foram reunidas no mesmo dia -V tíi' desonbro em gaiola distincta, juntando-se a ellas um exemplar macho de Stcgoniyia, apanhado em liberdade. Continuou estrictamente observado o regimen alimenticio de mel e agua. Nenhuma postura, nem ovo isolado, appareceu até hoje— 30 de dezembro de l'XX3 — decorridos, no momento em que escre\(), 22 dias. EXPERIÊNCIA 14.^' As duas fêmeas, criadus desde o estado, pupal no captiveiro, em severo isola- mento (cada uma cm tubo de vidro), virgens até aquella data, foram reunidas no mesmo dia de LÍala c Culex latigans ■,-, No dia l'> de )iovci)ihro npf^areceu num pequena postiit-a de 7 ovos apenas. fugindo casualmente a respecti\a milc. ( Intervallo máximo 11 dias; minimo 2 dias). Dos ã mosquitos fêmeas restantes n<; dia 15 de novembro e entrados depois d'a- quella data, tomaram ainda sangue humano: no dia 10 de novembro (1); no dia 17 » » (3); no dia 19 » » (3); acontecendo porem infelizmente a fuga e a morte por uma pequena aranha (Salticida) intrusa, de maneira que no dia 22 de novembro estava tudo liquidado, antes que eu ti- vesse conseguido ainda outras posturas ulteriores. Dos 7 ovos, apezar de fluctuando regularmente, nilo sahiram lar\'as até hoje ( 30 de dezembro de nX)3; intervallo 45 dias!): certamente sao estéreis, e sdo garantida- mente pseudo-partlienogeneticos! ( 1 ) Fica até agora, ao que eu saiba, sendo este o único caso scientificamente averi- guado de ovos pseudo-parthenogeneticos não só na espécie de Stegomyia, como entre os Culicideos em geral. (2) EXPERIÊNCIA 18.» Duas fêmeas de Stegoniya, criadas em isolamento individual no captiveiro e re- tiradas da caixa de deposito no dia 22 de dezembro de ^X)3 (regimen de mel), virgens, receberam e acceitaram sangue humano na tarde do mesmo dia 22 de dezembro ( a pri- meira de 4 h. 35'". p. m. — 4 h. 45"', a segunda das 7 h. 35'". — 7 h. 43'"). No dia 25 de dezembro uma tomou sangue pela segunda vez (4 h. da tarde) em- quanto que a outra não o quiz. Míjrreu no dia 30 de dezembro uma destas duas fêmeas, sem ter produzido ovos, (intervallo de 8 dias) ao passo que a ultima sobreviveu mais um dia, fornecendo 23 ovos na bacia dagua, morrendo em 31 de dezembro incontinenti depois de finda a funcção (intervallo de 9 dias). Os ovos serão postos em observação afim de a\eriguar o seu comportamento debaixo do ponto de vista da sua naturalmente problemática fertilidade Eis pois ///// seguiuio caso scientificanwnte constatado de ovos pseudi -parte- (1) Ku pnsso reconhecer como leijilima -piirlhfiiogí'iii'Sf •. ( J ) Xuttal e Shipley ( loc. cit, paj;. 67 — sei;. ) dedicam ii parthenoiíenese uma nota especial, referindo um caso. que parece ainda envolto em certas duvidas, descripto por lloward soh a autoridade de Kello^i; na Califiruia (nem género nem espécie conhecida) e um outro annunciado de .\nnett, I>utton e Elliot ( ig■ ( ulrx fatiyans nogeneticos postos por uma fcmca de Stegoniyid \irfícm, depois de ter haurido san- gue. Intervallo entre !•''. raçfio de sangue e postura — '^^) dias; idem entre 2 rações de san- gue—ò dias. E' interessante esta experiência, tanto em comparação com a anterior ( 17.-M, como pelo parallelismo existente com a experiência simultânea 16.^', onde os elementos eram em tudo idênticos, com a única excepção de ter entrado ahi o factor da sexualidade pela intencional intervenção de individuos machos. EXPERIÊNCIA 19.^' Entraram em gaiola separada, no dia 30 de agosto 2 indi\iduos machos de Ste- goinyia e no dia 31 de agosto mais 3 machos, todos estes 5 apanhados em liberdade. Submetteram-se ao regimen exclusivo de mel e agua. Morrendo 3 logo nos primeiros dias, resistiu um até o dia 26 de setembro ( 28 dias), e quanto ao ultimo, conseguiu fugir ainda atravez das malhas, no dia 10 de no- \embro íz/^íÍs 72 dias passados no captivciro ! EXPERIÊNCIA 20.'' 7 machos de Stegoinyia, apanhados em liberdade foram postos no dia 30 de agosto em gaiola separada, dando-se-lhes por um lado somente agua, porém experimen- tando-se repetidas vezes, durante os próximos dias se acceitavam sangue humano e de cobaya. Não quizeram, preferindo morrer todos até a tarde do dia 2 de setembro de 1903 (máximo 4 dias). EXPERIÊNCIA 21." Uma fêmea criada isoladamente no captiveiro, descendente em l." geração da centenária historiada na experiência l.-s caixa A, (ovo encontrado em ), ficaram duas, das quaes a ultima morreu no dia 30 de dezembro de 1903, com 32 dias de vida no captiveiro. l'.xiHiicncia> cc.m Su^i.myia fasciata v Culex íatipans EXPERIÊNCIA 23.^' (1) Caixa A. Duas fcmcas de Stcgoii/y/d, criadas nu captiveiro, e-m isolamento individual, re- tiradas da respecti\a caixa de deposito, installada em 11 de novembro, foram postas em gaiola separada no dia 29 de dezembro de 1^3. Continuação da alimentação com mel até o dia '_'0 de janeiro de 1004. No dia '22 de janeiro tomaram sani^ue humano 2 fêmeas; no dia 25 de janeiro tomou sauí^ue humano 1 fêmea; (a outra desappareceu t; no dia 20 de janeiro, tomou san^^ue humano 1 fêmea ; no dia 1 de fevereiro, tomou sang-ue humano 1 fêmea, morrendo n'este mesmo dia, 1 de fevereiro, sem ter posto um único ovo, tendo vivido no minimo .'i5 dias ( prazo possível 47 diasX e tendo haurido 4 vezes sangue. Caixa A '. Duas fêmeas de SfcííOiiiy/a, em condições inteiramente idênticas, foram postas em gaiola separada no dia 29 de dezembro, continuando todavia o estricto regimen alimentício de mel. As duas fêmeas não puzeram até agora um único oxo, \i\endo ainda h(jje ( lõ de fevereiro de 1 25 de > » » » ; apparecendt) uma primeira fraca postura — 6 ovos, — no dia 29 de janeiro de ]'»U. e no dia 31 de janeiro uma segunda postura de mais 62 ovos. Tomando sangue humano novamente no dia í) de fevereiro as duas fêmeas, e no dia 11 de » » » » , appareceu no dia 10 de fevereiro de UKU uma terceira postura de 41 ovos. Tendo-se deixado a pequena vasilha com mel, \ivem ainda hoje ( lõ de fevereiro de 1904) os dous casaes perfeit:a mente, com 48 dias de vida no minimo. Ovos fecundos, acompanharani-se as larvas. Caixa B '. Com outras duas fêmeas e outros dous machos, foram observadas em tudo con- dições exactamente iguacs, com a única excepção de continuar para esta gaiola o e.stricto regimen de mel. ( 1 ) .\s Kxperiencias .í.í — J5 foram insertas aimla durante a impressão das provas. 58 Ivxperirncias com Stc^umyia fa>ciala c Culex latif^ans Vivem ainda hoje ( 15 de fevereiro de IVU4 ) os 4 inquilinos, não tendo porém as duas fêmeas fornecido o\-o algum durante todo este tempo. N. B. Facilmente se percebe que ha entre as caixas A e A' igualdade de con- dições na ausência do factor da copula sexual, mas desigualdade na alimentação. Por outro lado ha concordância entre A e B na applicação da alimentação com sangue, como discordância das condições sexuaes, e ha outra vez harmonia entre A' e B' na conservação da alimentação de mel, com simultânea desharmonia quanto ao factor sexual. Ora, Jiáo t/c/xa de srr imiito significativo qite posturas de ovos — fe estes sendo férteis) — s<'> se oliservarani na caixa fí: applicação de sangue e copula sexual ! EXPERIÊNCIA 24.-' Caixa A. A duas fêmeas de Stegoitiyia, criadas no capti\eiro em rigoroso isolamento individual, retiradas da respectiva caixa de deposito, juntaram-se dous machos, criados em igualdade de circumstancias, no dia 30 de dezembro de 1903. Offereceu-se-lhes sangue de col)aya no dia 31 de dezembro de 1903, tomou 1; idem, id., no dia 2 de janeiro de 1904, tomou 1, retirando-se de uma a vasilha com mel. No dia 4 de janeiro appareceu uma postura de 92 ovos, ( intervallo 4 dias ) en- contrando-se morrendo a respectiva fêmea ( os dous machos morreram n'este mesmo dia ) e no dia 9 de janeiro morreu a ultima fêmea, sem ter posto ovos. Ovos férteis. Larvas. Caixa B. A duas outnis fêmeas, idem, idem, juntaram-se dous outros machos, idem, idem, na mesma data, ( dia 30 de dezembro de 1903 ), offerecendo lhes sangue /luntano e re- tirando-se a vasilha com mel. No dia 2 de janeiro, tomou uma,.( a outra fugiu). No dia () de janeiro appareceu uma postura de 33 ovos, morrendo a respectixa fêmea no dia 9 de janeiro, sem ter mais haurido sangue e sem ter posto outros o\os. (Dos dous machos, morreu um no dia 19 de janeiro com 20 dias, e o outro no dia 21 de janeiro, com 22 dias). Ovos férteis. Larvas. X. B. Nota-se que esta experiência tinha o fim de averiguar a qualidade do san- gue na sua influencia sobre a postura dos ovos. Tendo sido porém algo viciada pela recusa de uma fêmea na caixa A e pela fuga de uma fêmea na caixa B, resolveu-se repetil-a. EXPEKIENCI.\ 25.-' Caixa C. Duas fêmeas e duos machos, idem, idem, reunidos n'uma gaiola no dia 3 de fe- Hxpci icncias com Stcgomyia fasciata c Culex fatigans 59 vereiro de l')04. Administração de sangue hiinidiio no dia (> de fevereiro, tomaram 2 fêmeas. No dia 11 de fevereiro appareceu uma postura de 52 ovos, ( intervallo 5 dias). N'este mesmo dia ( 2 de fevereiro ). tomaram sangue humano ambas as fêmeas, vivendo ainda em 15 de fevereiro. (Dos machos morreu um no dia 'í, o outro no dia 11 de fevereiro ). Caixa D. Duas fêmeas e dous machos, idem. idem, reunidos n'uma gaiola no dia '.^ de fe- vereiro de 1*)04. Administração de sangue de cobaya: no dia 6 de fevereiro tomaram as duas fêmeas. No dia 11 de fevereiro appareceu uma fraca postura de 7 ovos. (in- tervallo 5 dias I, morrendo a respectiva fêmea na tarde do mesmo. A fêmea restante tomou sangue de cobaya pela segunda vez, no dia 1 1 de fe- vereiro, não apparecendo ovos antes do dia 15 de fevereiro, em que escrevo. (Os ma- chos morreram ambos, logo no dia 5 de fevereiro). N. B. Concordo que estas duas experiências ainda não liquidam o problema satis- factoriamente. Mas creio prever que, de uma maior serie de experiências no mesmo sentido, resultará uma perceptível vantagem qualitativa para o sangue /luinano sobre o sangue de cobaya. Experiências sobre o intertmllo de tempo entre a primeira ração de sangue e a data da postura dos oz>os. ( Resumo synoptico extrahido das minhas annotações ). ( relativo á experiência anterior N." 2 ) ( conforme experiência anterior N." 1 C ). ( conforme experiência anterior N." 1 A ). (conforme experiência anterior N." 3). Caso 1." Caso 2.0 Caso 3." Caso 4." Caso 5." Caso ò." Caso 7." Caso X." Caso 9." Caso 10." ( conforme experiência anterior N." 4) Caso 11." (conforme experiência anterior N." 5) Caso 12." (conforme experiência anterior N." 6) Caso t:;." I Ca.so 14." I Ca.so 15." ( conforme experienca anterior N." S ). Caso \(\" (conforme experiência anterior N." 9). Caso 17." (conforme experiência anterior N." 10). Caso IS." ( confoiTne experiência anterior N." 16). ( conforme experiência anterior N." 7 ). . 2 dias. 5 dias. 7 dias. 1 dia. j (1 dias. I 5-6 dias. 1 dia. 3 dias. 5 dias. 3 dias. 3 dias. 5 dias. 4 dias. 3 dias. 3 dias. 3 dias. 2 dias. 7 dias. N'esta serie de IN casos o máximo é j de 7 dias ( duas vezes 1; o minimo de 1 dia rx) Kxperiencias com Stegomyia lasciata c Culrx tatii^ans (também duas vezes); 2 dias (duas vezes); 3 dias (seis vezes), etc. A media arithme- tica 3,7 dias =90 4 horas approxima-se também bastante d'este numero. ( 1 ) Experiências sobre o tempo de sobrevivência das fêmeas ao acto da postura dos ovos. Resumo: 1.^ 2.0 3.« 4.0 õ." ó.". . ■ Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso Caso 10." . Caso ll.o. Caso 12.". Caso 13.". Caso 14." . Caso 15.". /.". H." 9.". 0 dia. 14 dias. t) 12 dias. t) õ dias. 2 dias. 0 dia. 3 dias. 6 dias. 2 dias. 0 dia. 1 dia. 2 dias. 0 dia. 0 dia. 0 dia. N'esta serie de 15 casos o máximo é de 14 dias; houve por outro lado 6 casos de menos de dia (morte immediata depois da postura dos ovos), perto de 40 "/o. (2 ^ Houve ainda 1 caso de um dia, 3 casos de 2 dias, 1 de 3 dias. Tratando-se nos N."' 2 e 3 t de casos de posturas provadamente muito pouco numerosas e insufficientes (conf. experiência N." 1, C), não poderão modificar o facto empírico, de que a fêmea costuma morrer, por via de regra, logo ou nos dias immediatos a 7i))m postura com- pleta. Experiências sobre o intervallo de tempo que levam as larvas novas, para sahirem dos ovos recem-postos. Resumo: Caso N." 1 Caso N." 2 Caso N." 3 Caso N." 4 Caso N." 5 Caso N." 6 Caso N." 7 Caso N." cS Caso N." 9 Caso N." 10 3—4 dias. 4 dias. 6 dias. 8 dias. 5 dias. 3 dias. 4 dias. 4—5 dias. 3-4 dias. 4 dia:.. ( 1 ) Km 4 casos posteriores houve 4 dias ( 2 vezes ) e 4 — 5 tlias ( .' vezes ). ( -> ) Em .5 casos posteriores observou-se morte immediat;i ( '' dia ) .' vezes e sobrevivência de .5 dias uma veí. E.\l)fric'ncias com Sti;;iim\ia lasciata o Culcx tatiííans ')i Entre estes 10 casos o máximo é de « dias; o minimo é de 3 para 4 dias (3 ve- zes); 4 dias (3 vezes;) 4—5 dias e 5 dias (1 vez cada). A media arithmetica de 4,5 dias. Experiência sobre a duração do cyclo inteiro, desde a data da postura dos ovos até a sahida das imagines (mosquitos alados). Resumo : Caso 1." 12 dias (+)— 16 dias. Caso 2." 13 dias. Caso 3." 29 dias. Caso 4." 21 dias. Caso 5.° 23 dias. Caso 6." 31 dias.— 44 dias. Caso 7." 17 dias.— 18 dias. O que é de especial interesse aqui sRo os casos de durarão minitua (12 dias) f, ao passo que a duração máxima é indefinida e quasi illimitada, conforme a estação do anno e a alimentação mais ou menos farta. Observei um caso, onde um mosquito Stegomyia (macho) levou õO para sahir e outros casos onde, com ií?ual numero de dias, havia ainda larvas e pupas. Experiência sobre a duração da vida no captivciro, debaixo da influencia da alimentação. Resumo : Extrahi os seguintes dados das minhas a nnotações, relativas ás fêmeas de S/í',ír"- iiiy/a, submettidas ao regimen de mel. ou ao regimen mixto, depois de um certo tempo de alimentação exclusiva com mel : ( 1 ) Fêmeas : vezes vez l.o caso 2.0 caso 3.° caso 4." caso 5." caso b." caso 7." easo S.o caso 9." caso 10." caso 11." caso 12.' caso 13." caso 14.' caso 1.").' caso 31 dias (2 32 dias ( 1 35 dias (1 36 dias (1 39 dias ( 1 42 dias ( 1 44 dias (4 45 dias ( 1 50 dias ( 2 57 dias ( 1 (j4 dias (1 65 dias (1 71 dias ( 1 .S4 dias (1 102 dias (1 vezes ! vez vezes vez ( 1 ) T'atiiiulo-se iuiui ile determinar a tlura<;âi) iiiaxiiini. deixei propositalmente fora da synopse todos os valores inferiores a 31) dias. 62 Expcricncias com Slcí^omyia fasciata (.■ Culcx fati^ans Machos : 1.0 caso '^^ dias (1 vez). 2.0 caso 31 dias ( fugindo ainda ! ). 3." caso -'- dias ( 2 vezes ). 4." caso , . 4o dias ( ainda vivo ). 5." caso -'^O dias. 6.0 caso ii6 dias ( ainda vivo ! ) 7.0 caso - 60 dias. S.o caso 62 dias. '■).o caso 66 dias. 10." caso 71 dias. 11. o caso 72 dias (fugindo ainda!) CULEX FATIGANS EXPERIÊNCIA 1." 10 fêmeas de Ciílcx fatigaus, apanhadas na residência directorial na véspera, tendo chupado sangue humano, entraram em gaiola separada no dia 11 de agosto de 1903. Appareceram as duas primeiras posturas de ovos (as características jangadas) em 15 de agosto [ intervallo 4 dias ]. Jangadas normaes, ovos férteis. As duas fêmeas morreram logo. Duração no captiveiro, 4 dias. EXPERIÊNCIA 2.-' 2 fêmeas, apanhadas em idênticas condições, repletas de sangue humano, entraram em gaiola do dia 12 de agosto de 1903. Encontraram-se duas jangadas normaes de ovos no dia 16 de agosto (intervallo, 4 dias). Ovos férteis; observei as larvas. Uma das fêmeas sobreviveu ao acto 2 dias. Duração da vida no captiveiro, (> dias. EXPERIÊNCIA 3.^' 2 fêmeas, capturadas em condições semelhantes, repletas de sangue humanu, entraram em gaiola no dia 17 de agosto de 1003. Observaram-se jangadas normaes de ovos em 21 de agosto, ( intervallo 4 dias ). Ovos férteis; larvas observadas. Sobreviveram as duas fêmeas ;io parto 2 a 3 dias. Du- ração total da vida no captiveiro, () 7 dias. KxiJciiciicias cuiu Stc;,fi)niyia fa>ciuta e Culcx t"ati;;ans 03 EXPERIÊNCIA 4.' 3 fêmeas de Cii/cx f(i//)4<íiis (e 1 individuo macho da mesma espécie), tendo sido apanhadas em estado repleto de sanei^ue humano, entraram em gaiola separada no dia 15 de agosto de 1903. Notei a primeira jangada normal de ovos em 19 de agosto, ( intervallo 4 dias ). Ovos férteis. Morreu a respccti\ a femca logo na mesma manhan. Duraçflo da vida no captiveiro, 4 dias. EX1*ERIEXCL\ 5.^' De '2 fêmeas Cii/cx fatigaus, enclausuradas depois de idênticos precedentes e em iguaes circumstancias no dia 10 de agosto de 1903, obtive a primeira jangada de ovos no dia 19 de agosto, (intervallo, 3 dias). Morreu a respectiva fêmea no mesmo dia, tendo durado a sua vida no capti- veiro apenas 3 dias. EXPERIÊNCIA 6.^ Outras duas fêmeas, em iguaes circumstancias, entraram no mesmo dia, lõ de agosto de 1903, em outra caixa. Appareceu igualmente uma jangada de ovos no dia 19 de agosto, ( intervallo 3 dias). EXPERIENCL\ 7.^^ De 2 fêmeas de Culcx. repletas de sangue humano, enclausuradas no dia 14 de agosto, alcancei a primeira jangada de ovos no dia 17 de agosto, (intervallo 3 dias). EXPERIÊNCIA 8.^' De outras 2 fêmeas, repletas de sangue humano e capturadas no dia 17 de agosto de 1903, encontrou-se uma postura normal de ovos no dia 21 de agosto, ( intervalhj 4 dias ). Ovos férteis ; observei o desenvolvimento das larvas. EXPERIÊNCIA 9-' De outras 3 fêmeas de Culcx fatigmis. em idênticas circumstancias. entradas em gaiola no dia 21 de agosto de 1903, descobri a primeira jangada de ovos em 2:^ de agosto, ( intcr\ alio, 4 dias ). Os ovos igualmente fecundos ; accompanhei as larvas no seu crescimento. G4 Kxperiencias com Slc-^dmyja lasciatu c Culex fatigans EXPERIÊNCIA lO.--^ Outras 3 fêmeas, nas mesmas condições, entraram em caixa na mesma data, 21 de agosto, observando-se uma primeira postura de ovos na manhan do dia 25 de agosto, ( intcrvallo 4 dias). Morreu a respectiva fêmea logo, ( duração da vida, 4 dias ), ao passo que as 2 outras morreram com 4 '/a e 5 dias, sem terem depositado os seus ovos ( pelo menos não os encontrei na bacia ). EXPERIÊNCIA 11." De duas fêmeas, apanhadas em estado de terem tomado sangue humano em li- liberdade, e que entraram em observação no dia 28 de agosto de 1903, appareceu uma pequena jangada de 15 ovos apenas, no dia 1 de setembro, (intervallo, 4 dias). Ovos férteis. A fêmea morreu logo; duração da vida no captiveiro somente 4 dias. EXPERIÊNCIA 12.-'' Seis fêmeas de Ciilex fatigans, apanhadas com sangue humano e postas em gaiola no dia 20 de setembro de 1903. Como tive de ausentar-me do Museu e da capi- tal do Pará durante os dias 22 a 26 de setembro, voltando no dia 26, encontrei n'a- quella data na respectiva bacia d'agua as 6 jangadas de ovos correspondentes ás 6 fê- meas, bem como centenas de pequenas larvas de 1 a 2 dias. EXPERIÊNCIA IS.'-» Oito fêmeas do mesmo mosquito, enclausuradas em idênticas condições ás pre- cedentes, no dia 28 de setembro de 1903, forneceram 8 jangadas, que encontrei no dia 3 de outubro (depois de uma ausência da capital durante os dias 1 e 2 de outubro). Observei igualmente centenas de novas larvas na bacia d'agua, da idade approximada de 1 a 2 dias. EXPERIÊNCIA \^.^ 2 fêmeas de Ciílcx fatigans, apanhadas em liberdade no dia 5 de outubro, não quizeram pôr ovos, vivendo apenas dois dias na gaiola. EXPERIÊNCIA 15." O mesmo caso se deu com 1 fêmea enclausurada nu dia 27 de agosto: morreu sem deixar prole. Kxperiencias com Str^cinivia fasciata (.• Cuk-x fati^ans 63 g EXPERIÊNCIA 16.» Recolhendo cm gaiola separada, no dia KJ de novembro de \Wò, 10 fêmeas de Oílex fatigans, a maior parte delias apparentemente repletas de sangue humano, appare- ceram S jangadas de ovos atei o dia Yl de ncnembro, (intervallo de dois dias). Os ovos eram férteis ; acompanhei-lhes o desenvolvimento. .Morreram as dias ). Morreu 1 fêmea no dia 1 de setembro ( 17 dias ). » 1 -> » >> 6 de outubro (53 dias). » 1 » » » 9 de » ( com 56 dias de idade no captiveiro ). EXPERIÊNCIA 21.-' Trez fêmeas criadas no capti\eiro, em isolamento indi\-idual, entraram juntas em gaiola separada no dia 17 de novembro de 1903. Regimen uni e agua. Juntou-se-lhes mais uma fêmea no dia 29 de novembro. Não appareceu postura alguma de ovos. Morreram estas fêmeas: no dia 21 de dezembro, uma, com 34 dias de vida; no dia 29 de dezembro, uma, com 42 dias de vida; no dia 30 de dezembro, uma, com 43 dias de vida. EXPERIÊNCIA 22.-^ N'uma gaiola separada foram successivamente postas: no dia 14 de outubro 1 fêmea; » » 16 » outubro 4 fêmeas; » » 17 » » 5 fêmeas; perfazendo um total de 10 fêmeas, criadas no captiveiro. Foram submettidas ao regimen alimentício de uma solução aquosa de extracto de carne de Maggi (do de tubos de gelatina). Não obtive postura alguuia de ovos. As trez ultimas fêmeas alcançaram rela- tivamente as seguintes idades: 25 dias, 29 dias, e 34 dias (17 de novembro de 1903). Expvrieitrias sobre o intervallo de tempo entre a ultima ração de sangue, ( pro- zmzjcl ou olfservada directamente) e a data da postura dos ovos. Resumo extrahido das annotações : Caso l.o (experiência 1.=') 4 dias. Caso 2.0 ( » 2.'>) • . . . 4 dias. Caso 3." ( » 3.--^) 4 dias. Caso 4." ( » A.^) 4 dias. Caso 5.0 ( » 5.'-^) 3 dias. Caso 6.0 ( » 6.'i) 3 dias. Experiências com Stcgomyia fasciata e Culex fatigans 6? ^ Caso 7." ( » 7/0 3 dias. Caso 8.° ( » .S.a) 4 dias. Caso 9.0 ( » 9.^) 4 dias. Caso 10.° ( » 10.") 4 dias. Caso 11.» ( » 11.'-') 4 dias. Caso 12." ( » 16.->) 2 dias. N'esta serie de 12 casos o máximo é de 4 dias (8 vezes), o mínimo de 2 dias ( 1 vez). A média arithmetica é perto de 3, 5 dias = S4 horas (sendo este resultado quasi o mesmo que no caso da Stcgomyia fasciata ). Experiências sobre a sobrevivência das fêmeas de Culex fatiga.ns au acto da postura dos ozws. Resumo : Caso 1." U dia. Caso 2.C 2 dias. Caso 3." 2 ',., dias. Caso 4.0 O dia. Caso 5.0 O dia. Caso 6.0 O dia. Caso 7.0 O dia. N'estes 8 casos o máximo de duração é de 2 ',',, dias ( 1 caso ) ; ha 1 caso ainda de 2 dias — ha porém 6 casos (80 °loJ de morte das respectivas fêmeas nas horas immediatas depois do parto. Não ha duvida que isto constitue a re.yra e norma na espécie Cidex fatigans. Experiências sobre o intervallo de tempo que lezeiro debaixo da influencia da alimentação artificial. Resumo: Hxtrahi os seguintes dados das minhas notas, relativas a fêmeas e machos de Culcx fatigcDis, submettidos ao regimen de mel ou de extracto de carne diluido: (1) Fêmeas : :le carne ). 1." caso 25 dias ( extr acto d 2." caso 29 dias (id. ) 3.0 caso 34 dias (id. ) 4.0 caso 34 dias (mel) 4.0 caso 42 dias (id. ) 6.0 caso 43 dias (id. ) 7." caso 52 dias (id. ) ■S.o caso 56 dias ( id. ) Machos : 1.0 caso 53 dias. 2.0 caso 55 dias. 3.0 caso 56 dias. Experiências sobre a duração do cyclo inteiro desde a data da postura dos ozí>ec\k, porque favorece a funcção repro- ductiva. \'lll) Temos o direito de chamar o sangue como postulado nece. e in- dispensável para a postura de ovos férteis e opinamos que, pelas experiências acima, ficou, pela primeira vez, experimental -e materialmente provado e definitivamente liquidado, o que até aqui era acceito como supposição hypothetica. (1) ( 1) Niittall f Shiplev. no seu importanlu tialialho sobre a biolo-ia do AiwfhelíS, dizem no fira cie seu capitulo .Ovipusition ,pa^'. 65-07. aceica das experiências de Koss. .\nnett. .\usten ( 190I ) e de Grass. e Ross 1"^^'' ; J -^"n^';- Duttnn e Elliot ( 1901 ): « In lhe ahove exfaimcnts Ibf h/oíi/h/ícVí as , de feitio espatular. não entra em acção senão como secundário factor mechanico. Eixporiencias tom Str-umyia fa-ciata .• Culcx fatii^^ans 73 E eis-me outra vez nas pegadas das considerações feitas nas paíí. 24 c seg. do meu p.-imeiro traballiu sobre «Os mosquitos do Pará». Lá mostrei qual era. ao meu ver. o caminho f^hylogenetico pcrcorritlo Ma liacmaMuUa dos CuUcideos. Apontei para o serum sanguíneo de escoriações, a luimieladc no canto dos olhos, e semelhantes secre- ções, tilo avidamente procuradas por uma turba de Dipteros minúsculos. Claro <:• que o suor taz parte dos mesmos productos. E eis a Sfc,c(on,yia fnsciata que vem corrobo- rar ainda uma \e/ o acerto d'esta explicação : apegando-se esta espécie ao homem, pri- mitivamente ambos os sexos tributa vam-lhe o suor. Ao passo que as fêmeas progrediam até a perfin-a<:ào liabUual da epidermide, tornando-se chupadoras profissionaes de sangue humano, os nuichos conservam-se na phase anterior, historicamente mais an- tiga de /amhedorrs do suor, e senw/hontcs secreções do corpo Jmnuino. (Juando e onde ha muitas Stegomyias, nota-se que os machos, por vezes reu- nidos em turbas de lõ. 20 e mais, visiveis de um golpe de vista, costumam observar por um lado um tal ou qual espirito corporativo quanto aos seus .similares, e um certo antagonismo apparente quanto ás fêmeas por outro lado. Manifesta-se este na circums- tancia de, por exemplo, agglomerarem-se os machos a tal canto de uma meza com o seu encerado, tapete, etc, quando as fêmeas circulam pelo quarto, ou de se postarem em tal região da parte ascendente de um mosquiteiro, ao passo que as fêmeas voam por baixo da cama ou fazem reconhecimento voando pelas visinhanças. São atalaias, pontos salientes de \igia e de observação, de onde os machos se atiram contra qualquer fêmea que lhes venha transpor a arca de domínio. Em geral póde-se dizer que a Stegomyia é um mosquito .singularmente photophilo : o alegre zumbido, que tanto os machos como as fêmeas deixam ouvir, dançando anima- damente em enxames, quando o sol da tarde dá moderadamente na sua gaiola, depõe também neste sentido. Ouanto ao som produzido pelo vòo da Stegomyia fasciata, não me consta pela litteratura, que ensaios tenham sido feitos de determinal-o de modo scientificamente exacto. V\y. uma tentativa n'este sentido, auxiliado por dous collegas do Museu, versados em a.ssumptos de musica. Para este fim servimo-nos dos inquilinos das duas caixas de deposito, ccjntendo uma somente indixiduos do sexo masculino, outra somente fêmeas. Escolheu-se uma hora durante a tarde, expondo as gaiolas aos raios brandos do sol de um dia meio encoberto. Utili.samos uma cithara e um diapa.são. de conhecido numero de \ibrações. Achamos o som da fêmea correspondente ao do dó lA ^ (rf ao passo que o do macho corresponde ao do Id \ÍL C*^)- Os dous sons estão entre si na relação de uma sexta; o a do macho corresponde a 880 \ibrações. o c da fcmca a 4.s() vibrações. Tanto n'um como n'outro caso tivemos a impressão de que ao lado do som principal ouvem-se. de quando em vez. simultanea- mente as respectivas oitavas, de maneira que o timbre parecia encoberto pelos compe- tentes -sons concomitantes ( «Obertíine ■ da linguagem technico-acustica allemã). 74 ExpL-ricncuis com Stogomyia lasciata e Culcx tatiyans Evidentemente exercem certo effeito sobre altura e timbre do som o estado de maior ou menor dilatação do abdómen com alimento e quem sabe atO o effeito ps\-chico debaixo da influencia da sugo-estão mutua. Não deixa de ser interessante a semelhança n'este nosso resultado obtido em referencia á Sfcffoniy/n com o de Nuttall e Shiplej- acerca do Anophcles maculipciínis («Structure and biology of Anopheles», Journal of Hygiene, Vol. II, N." 1, jan. l'X)2, Cambridge, pag. 78 seg. ). (Coincide o tom dos machos, com SSO vibrações; para fêmeas mais ou menos \asias comtudo o som parecia -lhes mo^•er-se ao redor de c inferior ( dó grave) com 240 \ibrações, portanto uma oitava mais baixo ). Em relação á copula sexual da Stegomyia, que parece ter sido ainda muito pouco observada a julgar pelas paupérrimas indicações na litteratura e que só muito recentemente foi tratada por um autor residente na ilha da Trindade, conforme se vê pelo Vol. III da Monographia de Theobald (1903, pag. 143) temol-a visto milhares de vezes e a vemos todos os dias, sem que todavia nos fosse possível descrevel-a de modo ple- namente satisfactorio nos seus menores detalhes. O processo nos seus contornos geraes é este: um macho precipita-se da sua atalaia sobre uma fêmea que se approxima voando, une-se a ella pelo lado inferior, e deixa-se por ella levar n'um vôo lento e pesado du- rante uns poucos segundos (2 ou 3 somente), depois separam-se de novo. E' obra de um momento, e surprchende realmente a ligeireza com que' este acto se consumma e a facilidade com que os dous nubentes se safam do amplexo sexual. A scena é um vi\-o contraste com o que se vê por exemplo na mosca domestica e outros Dipteros, e tão fugaz, que difficilmente a gente consegue dar conta, e todas as tentativas que até agora fizemos de fixar um casal no acto da copula por um meio súbito de moite, abortaram invaria- velmente, a menos que a gente não recorra ao meio extremo do achatamento e esma- gamento entre as duas mãos, o que naturalmente não fornece um resultado apro\eitavel para o reconhecimento do situs. Por outro lado, a Stegomyia precisa de tão pouco espaço para o seu vôo nupcial, que este se pode operar sem difficuldade até dentro das estreitas dimensões de um boccal ou de uma gaiola de criação, — facto este que facilita consideravelmente a fecundação de fêmeas criadas no captiveiro e com isto a criação d'esta espécie de mosquito durante gerações consecutivas. Tanto quanto é possível julgar sem marcação pré\-ia dos indixiduos por qualquer signal especial, parecia-nos que o mesmo macho executava diversas copulas em rápida successão com diversas fêmeas que se approxima\am. Todo o processo da copula da Stcgoiuyia tem, como se vê, muita semelhança com o que já esbocei para o Ci/lex fatigans em publicação anterior ( pag. 25, 26). Se aqui nestas bacchanaes não chegam a formar-se aquellas duas nuvens distinctas, dançando no ar, constituídas, uma por machos só, outras por fêmeas só, todavia fica de pé certa tendência separatista, certo antagonismo local, ao qual alludi acima. Também no Culcx fatigans a copula dura somente obra de um momento. Mas quer me parecer que o Culcx fatigans assim mesmo precisa de mais espaço para o seu vôo nupcial. ílxpcricncias C(jm Stc^'iimyin lasciauí c- eulrx iati-an>- /O faz maiores exi.íícncias do que a Stcí(oi/iy/a, nfío se rcalisanJo a fecundação no capti- veiro com a mesma facilidade e quasi certeza mathematica conv. n<. cas<. daquella. Tenho a impressão de que, em geral, o Culex/atigans, comporta-se de modo mais rebelde, obstinado, teimoso, refractário á domesticação e comprehensão : significativa prova d'isto julgo poder perceber na circumstancia singular, que em caso algum con- segui fazer, no captiveiro, chupar sangue um único idividuo sequer desta espécie de mosquitos, mm entre os apanhados no estado de liberdade, nem entre os criados no cap- tiveiro. Reputo (I de um grão de intelligencia decididamente inferior á Stegoinxid fas- ciata. E se vou bem acertado com o meu sentimento natural de que, da mesma maneira como nos outros insectos haematophagos. tal espécie de Culicideo acha-se principalmente relacionado com certa e determinada espécie de vertebrados-hospede, sinto-me induzido a dizer que tenho o Ciílcx fafigajis por um mosquito primitivamente adjudicado menos cl espécie humana, cnm especialidade, do que a certos animaes domésticos e, entre estes, minha suspeição aponta principalmente para os inquilinos dos nossos gallinheiros. E não seria possivel que na sensível diversidade intellectual entre Ciilex fatigans, e Stcgomvia fasciata reflectisse ainda a primitiva dixersidade entre os seus respectivos hospedes? Estou certo, e ninguém me contestará, que é preciso ser mosquito mais experto para perseguir o homem, do que para perseguir galhnhas, ou gato ou cão que seja. E não estão aqui os ratos e morganhos domésticos e, entre os insectos, as odientas baratas a provar de quanto vale o effeito da convivência diária com o « homo sapiens » no sentido do desenvolvimento e do refinamento intellectuaes ? Seja como fôr, não ha que duvidar de que, tanto a Stcgoniyia fasciata, como o Culex faí/gans, são dous Culicideos hoje, que, intrusos malignos, pertencem á baga- gem, ao inventario dos parasitas, pestes e flagellos animaes que se apegam ao calcanhar do homem na zona littoral neotropica ! ( 1 ) Pouco ou nada foi ventilada até hoje a questão da origem c f^rovciiiciiciti da Stcgo- III y ia fasciata. Xão hesito em confessar que julgo-a de origem africana. E baseio-me principalmente n'um,'i consideração critica da actual distribuição geographica do género Stegomyia. Tanto quanto se pode julgar peia Monographia de Theobald, é um género na- tural, composto todo de espécies que no seu especto, rajado de preto e branco, possuem um traço caracteristico que á primeini xista logo tnie affinidade e parentesco. Na t 1 I Até que ponto os mosquitos podem tornar-se um fliu;ello em certas r^ii"ies, cita-nos Félix Lynch Arribai- ziii^a, conceituado dipteroloifista art;cntino o sei;iuiite edificante trecho: « En los climas húmidos y cálidos, son iin verda- dero azote, hasta el punto de hacer casi inhabitaliles ciertas comarcas; sesiin Spix y Martius. en Ias máp^cnes dei .\ma- zonas, dei Orinoco y dei Vapure, hacen tan dolorosa la existência de los pobres indi^enas que, las delicias de Ia vida lutura anunciadas por los misioneros. se las imai;inan como el te'rmino de las penalidades i que los sujetan los abundanti- simos mosquitos de esas reijiones ■>. Dipterolojíia .Ariíentina. 1en/(doris, S. crassipes, S. pipersalata, S. nívea ~ 6 espécies ao todo ( não incluindo a ubiquistica Steg. fasciata), menos do que >4 do total. A' Austrália cabe a St. notoscripta ( não incluindo outra \ez a infalli\el St. fas- ciata). Do continente americano, de Norte a Sul, Theobald enumera ainda S. signifer, Columbia ( E. U. ), S. terrens (habitat incerto ), S. sexlineata ( Trindade ), transparecendo comtudo duvidas acerca da posição systematica, pelo menos em relação ás duas pri- meiras. A espécie de mais avantajadas dimensões parece ser a St. graidii da ilha de Sokotora (Africa oriental). Ora, não fazemos outra cousa senão empregar uma regra fundamental de in\es- tigação biológica moderna, se procuramos pelo menos quanto ao conjuncto orgânico actual, pátria e ponto de disseminação e irradiação de formas pertencentes a um e mesmo griTpo natural de plantas ou de animaes, lá onde convergem os fios do maximum numérico de espécies e onde encontramos as maiores e mais vigorosas formas. Debaixo d'este duplo aspecto do quesito, é a Africa que, obedecendo ao exorcismo de uma formula scientifica, surge diante dos nossos olhos como origem e pátria pro\-a- vel de todo o género Stegomyia, e portanto também da maléfica Stegomyia fasciata. E porque não seria assim? Que argumento serio c inderroca\el poderia ser opposto a esta hypothese? A Stegomyia fasciída nos terá vindo da costa d'Africa bem cedo, tahez yã nos tempos coloniaes, em navios de vela. Ella nos terá \indo pelo mesmo caminho, pelo qual tantos ento — e ecto-parasitas humanos e vectores de doenças celebraram a sua entrada no Brazil (haja vista ao «bicho do pé», (1) á filaria, etc. ), — ella representa ao meu ver mais um — e não o menos importante — d'estes presentes fataes e lamentáveis, que vieram na bagagem do trafico de escravos africanos. Seria uma tarefa tão grata como interessante e meritória, para um escriptor medico, do paiz, lançar uma vez um arrolamento d'este funesto inventario de moléstias que o continente negro nos legou ! A Stegomyia encetou a sua circumnavegação em na\ios de vela, nos bons tem- (^1) E' versão corriqueira que o < biclin do pé foi introduzido, em ^etembr., de lí<7-'- na costa d'Alrica ( Ambriz ) por um navio inslez. vindo do Brazil. Entretanto hoje. se sabe pela chronica pouco conliecida e recentemente publicada de novo do medico suisso Sebastian Braun. de Basiléa, que. em servigo hoUandez. viajou entre lóio — 10-'i) uo então reino do Con^o e grande extensão do littoral atlântico que n'aquelle tempo e n'aquella bacia fluvial ja lavrava entre os indígenas e a tripulação do navio uma moléstia ecto-parasitaria chamada « Peysy - a qual facilmente se reconhece como idêntica á praga do «bicho do pé» ( Sarcopsylla penetrans L. ). Já existia portanto na costa d'Africa a pulga penetrante uns 250 para 300 annos bem contados, antes da tal reinfecção secundaria, via Brazil, ( que não queremos pòr em duvida ) datando dos nossos dias. ( Veja-se a esse respeito a circumstanciada discussão do Dr. (leorg Ilenning em <> Verhandlungen der Naturforschenden Gesellsehaft » in Basel, Vol. XIII, Heft 1. 190I, pag. 227 seg. ) ( 1-' III. lOoS-) Kxperiencias com Stci^omyia fa>ciala c Culcx lati),'an.s 77 pos idos; hoje ella j:í\i;ij;icm vapor e cm estrada de ferro. Aprendeu —aperfeiçoou-se, modernisou-se. Embora o .«-enero Cii/cx tenha os seus emissários em todas as zonas e todas as partes do mundo, sendo por isto bastante mais complicado o problema de precisar o seu centro de dispersão, tenho moti\-os para acreditar que justamente no caso do Cii/f.x fa- //ffa//s as cousas não se passaram de modo muito di\erso do da Stegomyia fasciatd. Os mappas de distribuição .yeoHraphica, organisados para ambos por Theobald (Stegomyia: Vol. I pag. 292;Culex fatigans: V^jI. II, pag. l.Y)) mostram uma surprehen- dente concordância. O Ci//rx /(///í^di/s é aqui como por toda a parte, o fiel \a.ssallo e companheiro inseparável da felina Stegomyia fasciata: encarrega-se de submetter ao supplicio o ho- mem e t»s seus animaes domésticos durante a noite, quando as creaturas precisavam do repouso restaurador, depois que a outra os assediara sem trégua, com revoltante cynismo durante todo o dia. Quando o estudo das moléstias tiver um dia alcançado no futuro um grau mais elexado de perfeição, virá — estou prevendo isto nitidamente — a hora em que a obra collectiva d'estes dous intrusos será reconhecida e avaliada devidamente em todo o seu alcance maléfico e visto será, se tenho ou não razão dizendo — que á sua influencia collectiva deve ser attribuida uma das principaes causas da anemia tro- pical, além do quinhão de moléstias graves, de que cada um d'estes dous Culicideos se faz portador de monopólio e transmissor plenipotenciário. Muitas vezes tenho occasião de observar, tanto na espécie Stcgoinyid /'(isc/ii/, de actos e intcrvallos mathematicamentc iguaes e equivalentes; forçosamente haverá épocas de energia vital diminuída, revezando com épocas de actividade mais accentuada. Ninguém irá ao ponto de attríbuír-nos a supposição, para uma cidade littoral, sita entre o Pará até o Rio e Santos, da existência de um tempo de absoluto armistício pela impossibilidade climatérica de desenvolvimento, de larvas de Stegoinyia : larvas ha e haverá durante todo o anno. Mas que a curva d'este desenvolvimento, uma vez que o estado da sciencia n'este paiz permitta a tentativa de proceder-se á representação gra- phica, mostrará seus altos e seus baixos, trahindo uns e outros uma certa periodicidade, coincidindo e.sta por sua vez com o cyclo de estações quentes e chuvosas por um lado e frias e seccas por outro lado, d'ísto estou plenamente convencido e investigações pa- cientes e amorosas sobre a biologia dos nossos mosquitos em liberdade hão de trazer Experiências com Stf<íi»myia ía>ciala e Culcx latigans 79 a confirmaçno cabal. Taes pesquizas revestiriam naturalmente ainda particular impur- tancia em \ista do parallelismo na periodicidade de febre amarella. Seria errónea a opinino de que estes indivíduos da raça ana de Stegomyia fossem talvez menos aggressivos e sano-uinarios que os de estatura normal. Comporta m-se em tudo iq-ualmcnte; as suas picadas nfio sflo menos dolorosas, como tive occasiílo de verificar. Longe também de estar sufficientemente esclarecida é a questilo da proporçclo numérica entre os dous sexos. Prestei alyuma attenção a este problema, mas o que posso adduzir até agora, não é senão uma mui modestíi contribuição á sua solução. Em agosto de 1903 retirei, de uma fossa de banheiro, grande quantidade de larvas de Cl/hw /'(i/ifíd/is que alli se criaram e conteia-as. Desenvolveram-se 63 fêmeas e 77 machos, havendo assim um ligeiro excesso de indivíduos do sexo masculino. De uma considerável criação de Stegoniyia fasciata, installada em no\embro de 1903, saíram até esta data (7 de janeiro de 1904): 50 fêmeas e 56 machos, dando-se novamente um pequeno excesso a favor dos machos. Em diversos outros casos ainda de criação de espécies de mosquitos sylvestres parecia-me ás vezes haver mais machos, em outros mais fêmeas, geralmente porém es- tabeleceu-se um quasi equilíbrio numérico no fim da serie. E cheguei a concluir: maior a serie — melhor o equilíbrio. Concordo assim com Nuttall e Shípley, que dizem: «The proportion of males to females has always appeared to us to be faírly equal and \ve have counted the sexes on several occasions » . (Loc. cit. pag. 58). Em relação á questão, se ha proterandria ou proterogynia ou saliida siiniil- tanca das imagines de ambos os sexos, certas observações minhas fazem-me, por vezes inclinar a acceitar a opinião de Rees ( Nuttall e Shípley, loc. cit., pag. 68 ) que escreveu : « When mosquítoes are bred ín captívity, the males, as a rule, hatch out first ». Pelo menos lembro-me de occasíões onde. em criações de Cidex fatigans. Tnc/ioprosopon n?vipes,Limatiis Ditrliauii, etc, a predominância dos machos entre as primeiras imagines que saíam chegou a ímpressionar-me e fazer-me crer existir uma tendência para a protcrandria. ( 1 ) N'uma criação de larvas de data igual e perfeita igualdade das outras condições de existência, isto é, achando-se reunidas no mesmo boccal. a experiência pratica ensina a conhecer em muitos casos o sexo já no estado larval. As larvas que fornecerão imagines do sexo feminino distinguem-se depressa pelo seu tamanho e calibre, correndo na di- anteira, no seu desenvolvimento. Cannibalismo e pamcidio estão na ordem do dia. mesmo entre as larvas saidas dos ovos de uma e mesma postura. ( 1 ) H..w.ird ( Notes on the mosquitoes of the riiited .States 1900) pag. 2(i, refere-se a e.M>er.onoias com 0(/|-x mnmnis ( fatiçaiis ) nos secuintes tennos : «The in.livi.luals e.nergine on the first a.iy «ere inv.-.ri.->blv males. Mii lhe sec.ml .lay the !.'iv:>t inaj.M-ity weie males, hut theie «ere .ilso a few females, The /.irponderaure of mates millnwfd lo liolil for iliirr ilíii/f: Intrr tlic fcDuilr.-i irerr iii iiirijoriti/ . 8o Experiências cnm Stcytimyia fa>ciata f Culcx falit^ans As expericncins relativas á longevidade das /inagiiies de outros mosquitos indi- genas, além da Stegoniyia fasciata e do Cidex fatigans niio deram, no laboratório, de longe resultados tflo favoráveis. £"' i/iie sãmente estes dons são verdadeiramente domésticos aqui; a nMioria dos outros são campestres e svlvestres, entre os quaes somente alguns vêm frequentar as Iiabitações humanas para jiiear. As primeiras duas espeeies vivem, por assim dizer, dt^ntro; todo o resto \i\e l;i í(')ra, nascendo e morrendo aii ar livre. Julgo dever procurar a explicação da relativa fragilidade das imagines do grosso dos mosquitos campestres e sylvestres, surprehendente justamente nos géneros gigantescos como Megarliinus, Sabethes, etc, pela falta de ar e humidade, que forço- samente interfere como obstáculo á conservação no laboratório. Condições de existência de todo iguaes e idênticas a essas que existem na natureza, claro é que quasi não ha possibilidade de as crcar e offerecer no capti^■eiro. Relativamente rijos achei ainda o Culex con/irnudns e o Cutex serratus, mas dentro do prazo de uma para duas semanas morre por via de regra quasi tudo. Encon- tro no meu caderno de notas, como facto excepcional, o caso de uma fêmea de Tae- niorhynclius Arribalsagae que morreu com 38 dias de captiveiro, (tendo fornecido uma postura de 3', pag. 105) opina\a, no caso do Anof^hetes, que sem haver vertebrados Expciicncias com Stegomyia fasciata e Culcx fatigans 8l de san.í>ue quente prupria mente preferidos toda\ia os maiores eram mais perscíruidos do que os menores, — portanto mera preferencia de tamanho. Durante o anno passado surçiram de repente na imprensa (1) noticias muito elogiativas sobre o maravilhoso effcito de uma espécie de planta do género Ocymiim, O. vir ide para afugentar os mosquitos na Nigéria ( Africa ). Ora nós possuímos no Brazil um representante d'este género no conhecidíssimo « mangerícão », O. iniiiimtini, mimosa herva em forma de arbusto anão, bemquisto pela facilidade com que pega. como pelo seu agrada\el aroma. Fizemos experiências neste Museu e nas residências particulares, mas de effeito benéfico contra a Stegoiiiyia e o Ciilex fatigans — nçm. sombra. Aliás outro resultado não esperávamos. Quasi ao mesmo tempo um boato semelhante circulava, attribuindo virtudes de impedir a aproximação dos mosquitos ao nosso inatnoeiro (Carica papaya), (2) con- forme observações feitas na China. Também a repetição desta experiência forneceu-nos resultados negativos, quanto á Stegoiiiyid. Não quero perder a occasião de registrar ainda umas observações que fiz e que bem caracterisam a excessiva tenacidade e força de resistência que a StegODiyia fas- ciata oppõe a certos meios que infallivelmente affastariam qualquer outra espécie de mosquito. Uma serie d'ellas liga-se ao effeito nullo de uma forte correnteza de ar, produ- zido por vento encanado entre duas janellas abertas e orientadas no sentido do vento reinante ou pela movimentação aérea na directa proximidade de um ventilador mecha- nico, eléctrico ou outro. Pois- as Stegomyias absolutamente não se importam de tal vira- ção, continuando as suas evoluções serpentinas ao redor de nós investindo e picando^ da mesma forma, como se nada houvesse de incommodativo. Não conheço outra espécie de culicideo que se comporte do mesmo modo refractário em idênticas circumstancias ! Outra serie de observações prende-se ao effeito não menos negativo de fortes cheiros, produzidos por exemplo por certos desinfectantes sobre o bem estar das imagi- nes de Stegouiyia. Pois n'um cjuarto com o chão alagado e ensopado de creolina por exemplo a gente esperaria ver darem trégua as felinas Stegoiinias. Completo en- gano ! As emanações da creolina parecem incommodal-as tão pouco, como se fosse um qualquer perfume. Um quarto de hora depois de desinfectado um aposento com creolina, circumvolitam lá dentro estes teimosíssimos carapanãs outra vez, como se nada houvesse. Nem um armistício passageiro assim se consegue. Para subjugar efficazmente as Stego/i/yids é preciso já ingrediente mais enérgico, dioxydo de enxofre, chloro ou então muita fumaça de pyrethro. ( 1 ) Vide Prometheus > ( lieilim ) \ol. XIW hkiò. X.' 7J1. paji. 7J1 se^. 'I^ic Mosquilo-Pflaiuc und ihre Verwandteii » von C. Sterne. ( 2 I Vide • Prometheus > (lierlim I 1903. X." "J3, pag. 751. ' I'ie Tuixenden des Xlelonenbaumes ». 82 Expcricncias com Stcgi>myia lasciata c Culex fatiyans A Sfe^(>i//y/(! /)/sc/(i/(/ fica de noite. ^ Eis ;ilii um;i questRo que me intri;L;()U bastante e, se hoje respondo aífirmati\ amento, conlesso que tive de vencer o meu jiro- prio scepticismo e custou um esforço, nílo pequeno, de reunir as provas sufficientes para afastar as minhas du\ idas. A resposta não era tão fácil como parece á primeira vista, pois trata va-se de saber se a Stcgoiiiyia, de motn próprio, picava, em estado de liber- dade, durante a noite. Hoje estou de posse do conhecimento de mais ou menos 2 a 3 dúzias de casos observados em mim e por mim, casos estes todos perfeitamente a\eri- guados, porque o referido mosquito, apanhado em fla.^rante, foi cada vez examinado e identificado por mim pessoalmente. (Digo isto, porque da circumstancia de uma identi- ficação scientifica depende a competência para intervir na discussão. Este é um terreno onde somente poderá discutir com vantagem, quem realmente dispuzcr de observações pessoaes). Dous ou três destes casos deram-se no Rio de Janeiro, na Ladeira do Ascurra, na subida para o Corcovado, durante os mezes de novembro de 1W2 a março de 1903; os outros aqui no Par;i, no Museu e nas suas dependências. O ultimo ainda se deu, ha poucos dias, na residência do nosso collega, Dr. Jacques Huber, chefe da secção botânica. Aqui no Pará todos elles deram-se mais ou menos da mesma maneira: escre- vendo eu, — entre S e 11 horas da noite — na sala da minha residência, ou no meu ga- binete no Museu, com luz eléctrica e de janellas abertas, apanhei os mosquitos que vieram sentar nas minhas mãos, picando e chupando sangue. Geralmente os que vêm n'estas horas, entrando com certeza de fora, pela janella, são o TaeniorliyiicJiiis fasciolatiis e o Faiiopii/es tifi/hii/s. Mas de vez em quando, não sem cada vez constituir para mim as- sumpto de certa surpreza, lá se apresenta também uma fêmea de Stegoiiiyia fasciata- No Rio de Janeiro as picadas nocturnas de Stcgoiiiyici por mim pessoalmente obser- vadas deram-se no gabinete da bibliotheca, andar inferior, illuminado a gaz, nas mes- mas horas; o aposento era forrado de papel escuro. Sempre notei, de dia, que eu era relativamente mais perseguido pelo mosquito rajado n'aquelle local do que em outra parte. Bem depressa consegui descobrir que de facto, nas molduras escuras dos ar- mários, em cima, por baixo e por detraz d'estes eram os escondeiijos predilectos de bom numero de Stegoiiiyias). Que as fêmeas de Stegomyia presas no captiveiro, acceita- vam facilmente sangue de noite, eu sabia por experiências ; pensava, porém, que isto talvez somente se desse como anomalia de laboratório. A /'e/iien l/e Stegon/yi, Vol. II.. 1. ( Jan. lixjj ). pa^;. 83. 86 rurmcnojLS liiulogicos — Culcx latigans III Pormenores biológicos principalmente relativos ao cyclo de desenvolvimento das principaes espécies indígenas. ) Nur das kfimt man. was mau un \V<'i'- (leii verfolgte. » I. Heierle, « Urgescliiclite der Schweiz » , lOcil, iiag. 9. « From wliat little we know eoncevniiif; the i eijíis of Culicidae, it ajipears that each ge- . nus has not only a diffeveutly formed egg, but often a different maiiiipr of deiiositiiig 1 them. » Theohald, ■ llonograiih of Ciilieidae >. lUUl. Vol. I, pag. 19. ■» We have no information as to the eggs ■. of the other genera of Culicidae and as a matter of fact, our knowledge on this point c is very scanty and further observations are c much required. >< . . . Giles, Haudbook of Gnats or Mosquitoes, 1902, pag. ]27. « In by far the greater number of recor- < ded species tlie htrpae have never been > reoognised and still less desoribed. The V accurate descriptiou of the larvae of the > noxious species has become a matter of ^ great importance; but it is unfortunately t that one can. as yet, lie liardlj- said to be ■ coninienced. ■ Giles, ibiílcm. pag, 4(i. 1. — Culex fatigans. Wiedemann. ( 1S28 ) (Mosquito adulto ( imago) veja Estampa culorida I, fiíí". 4 (fêmea), fig. 5 (macho) ovos e larvas c seus pormenores : Estampa A e B, figuras 1 — 28 ). Ovo. Um esboço geral já foi dado no meu primeiro trabalho, pag. 19 e seg. ( Bio- logia dos Mosquitos ). As numerosas figuras originaes que agora damos, constando de photographias e desenhos feitos ao microscópio, dão uma tão perfeita idéa dos caracteres especiaes, que dispensam extensos commentarios a respeito. Não deixa de ser curioso que, apezar dos muitos autores que têm tratado do assumpto desde ruiincnurcs biológicos — Culcx falitíans 8? Rénumur ate hoje, [se admiuimus, eomu devemos fazer fora de duvida que a-, observa- ções feitas eom relaçAo ao Ciilrx pipLms, L. europeu e ao C. puugens norte-americano são extensivas e applicaveis na sua essência á nossa espécie |, e entre os quaes recen- temente Miall, ( 1 ) ll,)\vard. (2i Giles. (3) e Tiíeobald (4) darem as resenhas relativa- mente as mais cireumstanciadas, uma tentativa mono^fraphica completa tanto peio lado descriptivo como pelo lado iconographico constitue ainda um dcsideratum, não se encon- trando discussão comprehensiva de al.<4uns detalhes, íio nosso vêr, bem interessantes e dignos de attenção. A orientação radial dos ovos na jangada (conforme nota abaixo do Cap. I, pag-. 1'') vê-se distinctamente n'um dos grupos da figura 2. Se coUocamos a jangada fresca sobre a lamina microscópica, sem cobril-a, depa- ramos com o exquisito aspecto da fig. 6, de certo capaz de nos sorprehender pela exa- ctidão geométrica do seu desenho. Os círculos escuros correspondem cada um a um oxo, \isto do alto; as partes triangulares claras arrumadas em torno, em f<)rma de estrellas, são os interstícios entre cada o^•o e os seus dous visinhos contíguos. Pallidamente indicado vê-se isto também já na figura 3, embora em escala muito mais diminuta. Cheios de ar estes intcrsticios, que são umas gallerias perpendiculares do comprimento dos ovos ( para ter uma idéa exacta basta consultar o aspecto apresentado por um feixe bem apertado de alguns lápis redondos, quando examinado por um dos extremos, contra a luz), facilmente se comprehende que devem contribuir efficazmente para impedir e evitar o perigo da submersão da jangada. No mesmo sentido vem outrosim auxiliar o mechanismo da bolhasiiilia transpa- rente, coUocada na ponta fina do ovo fresco de Culex fatigans, — ao qual alludi no Cap. I, pag. lg. E' perfeitamente visível nas figuras photographícas 7 e 8 da Estampa A da presente Memoria, onde é vista obliquamente de cima e de lado. Julguei a princi- pio que a bolhasínha fosse de ar, accompanhando bona fide a opinião de diversos au- tores que de passagem a ella se referiram. Ultimamente porém a reflexão e a obser- vação me demonstraram que o conteúdo deve antes ser uma substancia gel;itinosa muci- laginosa, attentas as suas qualidades ópticas e sua maneira de comportar-se em diversos líquidos ambientes usuaes na techníca microscópica. .\ bolhasinha desprende-.se com bastante facilidade do seu logar, sob a mais leve pressão, affasta-se fluctuando e cos- tuma depressa desapparecer por completo, tendo ás vezes augmentado ainda de calibre n'um estado de turgidez. Na mesma occasião cheguei a convencer-mc que aliás toda a jangada fresca de Culcx fatigans jaz com a sua base n'uma nuvem gelatinosa, semelhante á gallerta que ser\ e de primeiro envolucro aos ovos de tantos outros insectos e até de animaes vertebrados, — haja \ ista aos cordões dos ovos dos sapos, etc. Comtudo não vejo motivo para attriinnr ;i bolhasiniia outra luncção que a hydrostadca. Tanto o material ( 1 ) Tile Xatiiial llistorv of Aqiiatic Insects. I-nndon IQOj. ( .' ) .\l"S(juitoe< : Ilow thev livo. etc. Xcw York IQoJ. ( .5 ) Ilandbook of the Gnnts or Mosquitoes. London igo2. (4) .\lonO!;raph of Culicklae IQOl — igoi (.3 vol. ) c \ol. W ( supplemento ) I903, London. S8 I'( limem iirs binlogicos — Cuk-.\ tati^ians para a bolhasinha como o que constituc a camada yclatinosa maior eiue envolve a superfície inferior da jangada serão sem duvida fornecidos por uma certa e determinada porção da parte terminal do apparelho ovopositor. Tendo notado que a dita camada desapparece já antes do desmancho total da jangada, que se inicia pouco tempo depois de sahidas todas as larvas das suas capsulas ovulares, não seria para estranhar se as novas larvas se servissem d'esta matéria como primeiro alimento. Dimensões do ovo de Culex fatigans: 0,71'""' em comprimento; 0,10 '""' de diâme- tro na base. A forma especial do ovo, comparável como adiante já disse, á feição da semente do pinheiro do sul do Brazil, é muito claramente demonstrada pelas nossas figuras 4 e 5. Na primeira, fig. 4, os dous ovos, embaixo á esquerda, quasi symetricos (pelos menos qtianto a um) são apanhados no sentido dorso-ventral, ao passo que os outros todos são mais ou menos lateralmente vistos, correspondendo a linha convexa ao lado dorsal, e a suavemente conca\a ao lado ventral. Deixam \-êr por transparência embryões larvaes em phase bastante adiantada de desenvolvimento, já sendo distinctamente visivel a se- gmentação do abdómen e a mancha ocular. Formação curiosa é o appeiuiice em fíjrma de taça sobreposto ao polo rombo, mediante um tenuissimo e curto pedúnculo, perceptí- vel em diversos ovos da figura 4. E' uma pellicula transparente, que facilmente se des- prende. Faliam delia e figuram-n'a Miall á pag. 112 e Howard á pag. 67, sem todavia precisarem pormenor algum, nem se pronunciarem sobre a sua significação morpholo- gica. Creio dever reconhecer n'este appendice um mero residuo lio período íntra-ovaríal, resto da « camará germínativa » primitiva, inteiramente sem utilidade physiologica, uma vez o ovo posto. Este problemático appendice tem, ao exame microscópico com forte augmento, uma estructura assaz curiosa, como mostra a nossa figura 11, que dá uma idéa do aspecto frontal interior. Um systema de pontos finos, arrumados radialmente ao redor de uma depressão central, produz um desenho de um disco semelhante ao sol. Bastante para extranhar é o facto de ter passado até esta hora, por assim dizer, completamente descurado e neglicenciado por parte dos já numerosos escriptores hodier- nos sobre mosquitos, o estudo minucioso da csUnictuva exterior da pellicula ovular. Entretanto ella offerece amplo material de estudo, como terei occasião de provar no decurso d'esta Memoria, e apresenta distinctivos específicos que serão reconhecidos de incontestável valor systematico e pratico. Relativamente ao ovo do Culex fatigans, são as nossas figuras 9 e 10 altamente instructivas. A figura 9 mostra o polo delgado de um ovo, visto ao microscópio com augmento mais considerável : em toda a circumferencia percebe-se um serrilhado fino, que, ao exame de augmento ainda maior, se mostra ser o producto de uns mui peque- nos elementos chitinosos transparentes, arrumados qual palissada e rombos na ponta (fig. 10). Levantando-se o tubo do microscópio, o aspecto frontal do ovo é igual ao que se vê na fig. 9, metade direita, originando-se uma granulação finíssima, composta de tubérculos de contornos redondos. Estes elementos marginaes são perpendicularmente orientados com o seu eixo em relação á superfície do ovo. Para dar sahida á larva o ovo de Culex fatigans abre-se, na parte romba, por uma dehiscencia transversal e circular, ficando todavia presa a tampinha á casca ovu- lar vasia, como perfeitamente se pôde distinguir nas quatro jangadas do lado direito na nossa fig. 3. Uma vez sahidas todas as larvas, a jangada desorganisa-se rapidamente, 2. — .laiif^ailas c fra^niiMituN di- jaiipiclas de ovos dt.' Cii/e.r fa- tigaiis, vistos (xmi fi'ai-11 atijíinoií- to. Tiistructiva é soluvhulo a vis- ta lateral da graiido jausada á i's- i|ii('nla. inostraiido a orientava" ra- ilial dos ovos. Fig. S. — Xove jangadas de Ctilex fatinaits, vistas de einia, com aiisiin^iito um |i(mco mais forte. As quatro de ladn eM|iierdo são freseas. as outras einco á direita mostram, pelas tani|nulias ariiimadas ua |ieri|iheria. i|Ue as javia-^ ja saliiram das respectivas capsulas ovulares. Fig. 7. — I'nnta de vima jangada fresca de ovos de i'uh'.v fatígaiis; aspecto microscópico, com tubo levautíido, em posição muito Íngreme quasi |ierpen- dicular, levementi! (]lili(pia. Percebem-so distiucta- meute as bolhasiulia-s pequena-s, transparentes, so- bre-postas ao polo delgado de cada ovo. X.^V' 7Z Fig, 9. — Parte do pelo delgade de um ovo de Cnlex Ja- tigans, para mostrar a es- truetura especifica da pel- liiaila ovulai'. Lado esipier- do — serrilhado peripherico; lado direito — asiiccto do ovo, visto de cima ( o tubo do microscoiiio levantado). Característica do ovo de Cule.x fatigans é a granu- lavão finissíma. Fig. 8. — Parte de uma jangada fresca de ovos de Culex fatigans, aspecto lateral; mesmo augmen- to que na fig. 7. Notam-so outra vez as bolliasinhas pequenas, transparentes na ponta delgada. Cuile; ■4^ . • SI. Vis II. — A|i|p'-iiiJiLf i'in (unna il>' t;n,a lmjIu- do (io polo ronilx) de um ovo de Culex fatigans, visto de tima, com forte aiimiRMitii. Mostra uma };raim- lavrio orientada em sentido nidial, ori- ^inando-se ahi iiina figurajsemelhantf :1 .lo ...I. Viíi. I. — (Iruiiii ilr (jvus dl" Cii/f.i Jíitígaits, vistos cum augnicMito mais forte. Já estão bastaute adiautados nu sihi ideseiivolvimeiíto. No polo rombo pereelie- se, em alguns, disfinetameute ura appendiee em forma de ti\i;i\, apparollio de funcvão prolilematica. Fig. IO. — Aspecto de mesma gni- ludavão da fig. 9, vi.sta na peripheria, com o tubo do microscópio abai.xado; fortíssimo augmenlo. I''ig. «. — r;irti' dl' uma janiiada fi'esca de ovos (b; Culc.v fatitrans, vista perpendirularmente de cima; aspiitn microscópico cnm fraco aiigniento. A Jan|,'ada acba-se sobre uma lamina de vidro, na- turalmiMite .sem laminula de cobrir. Os circu- Ins escuros são os ovos; os espavos claros são os intoi-stifios. Xotal)ilissiraa é a regularidade geomé- trica da arrumaçàn d"S evos. Kík. .1. I : ' m.-sinn ;;m- |. . :idi>s it>m aug- mcut i.i-i.iMi.' forte; |H>.sivã'> latenil. (• pnnto i-sciin", yx-V^ lado anterior, indiía o olho da larva; o estrvitamento atraz do primeiro ipiinto o limite entrt» o tlmnix e o aUlomen, sendo d'este ultimo b»'m vi- sível a seginenta<,'ão. Lgein.^ (I.) Fis Fig. 12. ^ .1(11 tigans, de roíii Vf^uhir to depois d(j respiratório as auteniias un larva de Ciílcx fa- uiu dia de idade, vista luyinento , iinmediatameií- iiiurta. Note-se o siplião anal liastante comiirido c compridas. I.S. — Di'senlin da parte ter- minal do corpo da mesma larva, em escala menor (jue na fig. 17. No seg- mento anal vèom-se ao lado do.s 4 folliolos brancliiaes somente ainda 4 cerdas compridas e vistosas, mas não o tiifo ulterior. f. Hí. — Larva liem eres- eida, ipiasi adnlta, de Cti- lex fatigaiis ; angmento frai.'0. AntcMiias mais com- pridas do que as escovas rotatórias doapjiarelho buc- cal; si]ih.ão res])iratorio com- prido; follioliis liraneliiaes do systema ti'aclieal de di- mensiàes antes reduzidas. Fig. aí. — Desenho da i|iarte aboral da mesma larva da fig. 20, em es- cala menos ampla. Noto-se o appa- reeimento de um resiieitavel tufo anal de cerdas. Fig. 15. — Duas larvas da mesma idade que as da fig. 14, a nas mesmas circum- stancias, ])orém alimentadas coní carmim para salientar melhor o tracto intestinal. Observe-se o comprimento relativamente grande do si- plião respiratório. Fig. 13. — Larva da mes- ma idade, que a da fig. 12, morta já ha algum tempo o tratada com solm.-ãodo fuohsiua para tingil-a, — processo que todavia não deu o resultado desejado, chegando-se a vèr mais da estructura interna na observarão da larva viva. 26. — i'u|ia ( clirysaliila ) de Ctilex Jatigans, vista lateral; augmento fra- co. Note-se a forma e o comprimento do piston res]iiratoiio no thorax. •"ig. 34. — Desenho, feito com a ca- mará lúcida, de algumas escamas isoladíus do „ pecten ", do 8?. seg- mento, [Se] visto cora augmento microscópico bastante forte. Fig. 28. — Aspecto geral do apparelho genital e.xteriír du ma- cho de Culex Jatigans, (c/ ) sito na ijarte [losteriui' do corpo, photographado com fraco augmento. Fig. 2;t. -Antennade uma larva adulta de Culex Jatigans; vista plm- tiigraphica com augmen- to bastante forte. Ciile>: fa. F5 Vig. 19. — Dociilio (los foiítiinios (l;i ciibeva de uniii liirva ci\'scida dr Culcx fati- gans. Ao lado pcrfclio-so a aiiteniia esiiuurda, ainda mais ampliaila. Note- so o tufo, mais dosenvolvidu, do cordas pliimosa-s, em oomijai-arão com a antenna da lana nova. — Vista photOKi-apliira da parti; |M)sterior do uma larva crescida do Culex fatigans, mm aii- ^nnciito moderado. Km .Sc piTcolwm-si- a an^a o<> cupada pcliis escamas do ., |)ecteii " do ^1. se^niieii- to, visíveis como riscos pefinenos e fiiios amima- dos em linhas transversaes; em Sp observa-se o aiuinho dos espinhos, longitudinalmente enfileirados no siphão respiratório. Fiii;. a». — l'larii laliial (mcntum) dl' unia larva do Culex fa- tigans; vista plioto{;i'apliica, com forte augmento microscó- pico. I''ÍK. II. I" '- larvar, ja uni pouco crescidas, p)iotoi;ra- |)hadas sobre uma lamina porta -dlijecto, numa gotta d'ai;ua; [lOuco angniento. Fig. 25. _- Desenho, feito do mesmo mc«l" '(ue ;i fig. 2 l. de al"uns dos espinhos do ancinho siph^nal [Sp]. Anil.as a^í fi;;ui:ts (24 e 2.')) de larva a.iulta de Cu- lex fatigans. :■■!«. 17. — PrsiMiho senii-sclioniatico dos contornos de uma joven larva de Culex fa- tir.i de cima, com auinnent" '"■"- te. Ohserve-se o .isp' fico dos hiPjjos ivmos 'i do leme. o-£Ul« (II) Pormcnuics biológicos — Culex fati<,'ans 89 fraccionandu SC cm parodias pequenas, que até nílo tardarão a ser devoradas pelas pró- prias larvas novas, especialmente se no respectivo boccal nRo houver muita fartura de substancias alimentares. Quero a^iui intercalar uma ohscrxaçtlo significativa em relaçflo aos logares pre- dilectos para a postura das jangadas de ovos do Culex fatigans. Tendo ficado recente- mente, por accaso, aberto um boccal de vidro alto, cylindrico, collocado na officina taxidermica deste Museu, e contendo uns craneos de alguns mamiferos menores pre\ia- mente limpos dos principaes músculos, p.ara ahi serem submettidos â maceraçilo, para fac litar a 1'mpeza ulterior, no fim de 2 a 3 dias já se observou na superfície d'esta agua um numero espantoso de jangadas de Culex fatigans. pelo menos 100 a 200. Se hou- véssemos permittido as larvas todas livremente se desenvolverem, ellas teriam corres- pondido, moderadamente calculado, ao bello contingente de 30000! Impressionado por esta ob:servação casual, repetimol-a diversas vezes intencionalmente, e sempre cora o mesmo resultado: taes depósitos com agua, contendo objectos de origem animal para a mace- ração, são com visivel avidez procurados pelas fêmeas do Culex fatigans para a postura de seus ovos. E^•identemente estas fêmeas escolhem, como guiadas por um instincto, se- melhantes aguas pútridas onde ha farta pastagem para as pequenas larvas, que se des- envolvem no nauseabundo meio ás mil mara\ilhas. São os microscópicos urubus das aguas sujas. Opino que desta obser\ação podení tirar-se proveito pratico, sabendo que taes \'idros constituem localidades que intensamente alheiam as fêmeas de Culex fatigans que querem pôr os seus ovos, lá onde ha muito d'este flagello, vale a pena expor de quando em vez boccaes especialmente apparelhados para este fim, a modo de « ara- puca », exterminando todas as manhans a rica colheita de jangadas de ovos que ahi terá sido depositada durante a noite. Esta táctica offerece a \antagem de concentrar as localidades procuradas pelos mosquitos fêmeas para depositar a sua prole, em espaço pequeno e de fácil e certeiro alcance, em \ez de serem as jangadas espalhadas sobre uma porção de esconderijos diversos, dos quaes muitos escaparão á vigilância. Larva. Não obstante os muitos autores que citam c faliam da larva de Culex fatigans como de uma cousa perfeitamente conhecida, não encontrei na litteratura ;i minha dis- posição resenha alguma completa, que exgotasse o assumpto. E' curioso como logo principiam a minguar os dados, quando se procura qualquer descripção detalhada e se inquire dos distincti\os específicos próprios a uma qualquer phase de desenvolvimento. E' um terreno onde tudo fica ainda por fazer em relação aos mosquitos do Brazil, podendo ser apontado como modelo digno de imitar-se o modo com que se aprofunda modernamente a historia natural dos Mosquitos indígenas por parte dos entomologistas norte-americanos. O que nós apresentamos ai-jui não é senão um primeiro passo neste sentido e n'esta direcção. O habitus geral da nova larva de Culex fatigans é demonstrado pelas nossas f gs. 12 e 13. Instructivo sobretudo éo confronto com a nova larva de Stegomyia fasciata. na mesma phase, visivel na fig. 47. Confira-se também com a figura 4^'. .\lém de bom numero de diffcrcnças perceptíveis que se descobrem na feição geral, forma da cabeça. arranjo c comprimento das cerdas marginaes, ctc, etc. duas principalmente ferem a go rdimenores biolo'^icos — Culcx fatiyan- nossa ;i' 'ni^ao: o siphílo respiratório anal rclali\am(jnlc comprido c as antennas com- plicada- ■ plumosas insertas na cabeça. Q into ao siphão, pelas figuras photographicas 12, 13, 14 e 15, é claramente demonstr.t Ia a sua considerável dimensão longitudinal. A larva crescida, adulta (figs. 16 c 19) por sua vez differe da nova (figs. 12 e 17 ). Não é tanto á proporcional largura da parte thoraxica que quero alludir, pois esta co>tuma ser sempre relativamente grande nas larwas maduras, em qualquer das espécies de mosquitos. No que concerne á parte anterior, por uma comparação dos nossos desenhos (figs. 17 e 19) vê-se logo que as antennas das lar\as novas (fig. 17) são ainda menos plumosas que as das adultas (figs. 19 e 23). Na parte opposta nota-se o )iiesmo phenomeno de mudança do estado mais simples para o mais compli- cado (figs. 18 e 21 ). O siphão respiratório na larva nova (fig. 18) po.ssue apenas umas poucas cerdas compridas e o segmento anal tem, como guarnição única, os quatro folliolos branchiaes e um i-amalhete de quatro cerdas rijas e compridas, sahindo de commum de um coxim situado pelo lado interior. Na larva adulta, porém (figs. 21 e 22) percebe-se no siphão pelo menos dous ramalhetes pequenos finos de pellos, dous algo maiores entre o siphão e o segmento anal, e n'este segmento, além dos quatro folliolos, uma escova vistosa de pellos grandes pelo lado exterior, e um feixe de fortes cerdas bem compridas pelo lado interior. Nesta occasião devemos nos approximar do estudo de umas formações tj-picas, de incontestável importância systematica e sitas n'esta parte terminal da lar\-a adulta de Culex fatigans. Pela fig. 22 vê-se que existe pelo lado interior do siphão, em arranjo longitudinal, uma fileira de diminutos espinhos, que eu designarei com o nome de ancinJio siphonal. (Sp. ). Dei da sua forma característica um desenho, feito ao microscópio com forte augmento e com o auxilio da camará lúcida. (Fig. 25). Estes es- pinhos ou esporões são revestidos de um lado de uns 4 a 5 dentes agudos, orientados obliquamente no sentido postero-mediano. Na figura 22 depara-se outrosim, entre siphão e annel anal, um campo estriado de finíssimos riscos transversalmente arrumados (Sc. ). São umas formações chitinosas, aqui modeladas um pouco sobre o feitio da base de uma penna, que chamaremos escamas do pente ( pecten ) anal. Também d'estas esca- mas damos um desenho fiel, executado com forte augmento microscópico. (Fig. 24). Contei d'ellas, no exemplar photographado, 38, quando dos espinhos siphonaes havia uma dupla fileira, cada uma de 11. Pelo lado inferior da cabeça da larva ha, entre as peças componentes do appa- relho buccal, uma outra systematicamente importante: a placa labial (nientnm), cuja configuração especial no Culex fatigans nos dá a vista photographica 20, organisada com augmento bastante grande. E' uma formação semelhante a uma pá, provida na margem anterior, de cada lado, de 10 dentes assaz agudos, achando-se ainda um maior no meio, na ponta. Podemos exprimir esta relação pela formula 10 -(- 1 -4- 10. Esta peça presta certamente óptimo serviço á larva na sua faina de alimentar-se, porque é intui- tivo que agindo no sentido postero-anterior qual enxó ou formão permitte por exemplo á larva, quando encostada á uma parede, pedra, folha, etc, que seja, raspar o limo, as algas e semelhantes substancias ahi adherentes. Debalde procurei uma figura da placa labial do Culex fatigans authentico em autores anteriores: não encontrei nenhuma. Em compensação ha semelhança bastante grande com a illustração d.ida acerca do mentum PormciiuiTs liiiiluyicos — Cuk-x latÍL;an.-5 91 do C. pipiens, fiy. 71', p;i.y. JL'.s da obra de Hpln-aim Portcr l'clt Mosquitos or Culicidac of Ne\v-\'ork State» (1904) e a figura 4, Estampa 43, Icttra 1, relativa ao me nv. Culex pipiens na nhra dn mesmo autor • Aqualic inseets in XL-\\-N'orií State» (1903) e bem assim com a figura O, ainda relati\a :i nu-snia espécie. Estampa 111 da brochura de lohn B. Smith The Common Mosquitoes of Xew Jersey » (1904). A mesma semelhança existe entre as figuras que dizem respeito aos pormenores dos espinhos (Sp.) do ancinho siphonal | compare-se o meu esboço (fig. 25) com a fi- gura 8 de Smith I e ás escamas do pecten anal [compare minha figura 24 com a figura 9 de Smith |. Espécies norte-amcricanas, que com relação a diversos d'estes pormeno- res mencionados provam ser próximas aparentadas do nosso é estriado em toda a larsura o siphão. como se poderia suppor soi-intlf^se pela fissura o pas;. 71 do alias excelleme livro do l'rof. Iloward. 92 Pormcnuics biológicos — Culux l'ati;^ans Durante a redacçílo das presentes linhas deparei ainda nd recente volume supple- mentar da Monographia dos Culicides do Sr. Fred. V. Thenhald, publicado em l'XJ3, pag. 225 — 227 descripção, accompanhada de algumas figuras, relati\ a á lar\a de um mosquito chamado Ciílcx fatigans, subespécie Skusii Giles e baseada sobre exem- plares enviados de Queensland ( Austrália ) pelo Dr. Bancroft. Não posso deixar de extranhar a surpreza que me causam as differenças relativamente grandes que eu noto n'estas larvas australianas em comparação com as minhas do Pará. \q.]o folholos branchiaes muito compridos e ponteagudos, um segmento anal longo, espinhos do ancinho siphonal com 6 e 7 raios lateraes e uma antenna recta, relativamente fina na base e pouco plumosa na metade distai. Tamanhas divergências com aquillo que eu tenho de considerar como norma do typo larval do Culex fatigans paraense devem for- çosamente suscitar duvidas, se o tal C. Skusii, da x^ustralia, não será antes espécie distincta do que simples subespécie. Em todo o caso ha aqui mais uma vez uma advertência significativa, quanto urge finalmente um processo uniformisado, exacto e minucioso nas descripções das di- versas phases de desenvolvimento das espécies de Culicides observadas n'esta e n'aquel- la região. Se a systematica dora em diante não fôr sempre accompanhada pari passu por cuidadosos estudos biológicos, dentro em pouco ella tornar-se-á um intrincado la- byrintho de erros e confusões, onde ninguém mais se entenda. Errar podemos, na verdade, todos nós ; mas se cada um se esforça do máximo cuidado e exactidão nas suas dissertações, este estado chaotico que ameaça alastrar n'este terreno, forçosamente terá que ceder a um discernimento claro e nitido. Pupa { Chrysalida ). A apparencia geral da pupa de Culex fatigans nos é ensinada pelas figuras 26 e 27. A primeira nos mostra o animal em vista lateral. Principio por confessar que, se ha uma phase da vida do mosquito, deveras rebelde em patentear distinctivos espe- cificos, é certamente a este estado de pupa que cabe a palma. Assemelham-se umas ás outras de tal modo, que é desesperadamente difficil conhecer com inteira segurança tal espécie, somente sobre uma única chrysalida, sobretudo quando ella fôr ainda muito nova. O único traço que permitte reconhecer rapidamente a chr^-salida de Culex fati- gans é a tuba respiratória, no lado dorsal do thorax, relati^'a mente comprida. Não me é possível entrar aqui em discussão circumstanciada, acompanhada de farto material illustrativo, d'este órgão. Figuras deveras satisfactorias d'elle ainda não vi, parecendo-me que em geral do estudo minucioso d'este apparelho não tem havido mais contribuição e progresso dignos de nota além do que foi levado por F. Meinert em 1886, que com a sua habitual mestria o investigou na espécie Culex annulatus. ( « Eucephale Mj^gge larver » Tab. I fig. 11 — 14). No Culex fatigans é uma espécie de cartucho, dirigido para traz, com uma pro- funda chanfradura obliqua pelo lado exterior, e deixando perceber uma estructura es- camosa na parte terminal. A parte aboral do corpo da chrysalida de Culex fatigans (Fig. 27) termina em duas laminas caudaes transparentes, arredondadas, em forma de possantes remos. Ha rurmcnoics biológicos — Culcx lati;,'ans — C. conliimatus ç3 meio de conhecer, se uma chrysalida O masculina ou feminina, porque o processo me- diano que contém as gonapophyses tem um feitio mais alongado quando a imago a saliir ti\er de ser masculina, mais curto quando feminina (1). Assim a nossa larva aqui escolhida pertence ao sexo feminino. — Quanto ao apparclho genital exterior do insecto alado (imago) constitue um desideratum ainda n'csta hora uma nomenclatura scientifica assentada, relativa ás di- versas peças que o compõem em individuos deste ou d'aquelle sexo. Falta assim pi-aticamente a pcjssibilidade de discutil-as verbalmente de um ponto de vista comparaiixo e ainda não surgiu para as Culicides um Lyonnel ou um Lacaze- Duthiers ! Estamos destarte limitados á confrontação de figuras, podendo o leitor fazer- se uma idéa adequada do aspecto do apparelho sexual externo masculino de Culcx fa- tigans pela figura 24 rtirnuiiuro Ihi. lógicos — Culox ci.niimiauis dcza (New Amsicrdam) - Pará fl);;rhaiTi; Goeldi) -- Rio de Janeiro (Moreira; Goeldi) — Sao Pauk) (Lutz) — Republica Ar.^entina (Rio Salado; Formosa). Acerca do dcsenvdh imcnli» - 'csta espécie nada me consta de cert(j até hoje pela litteratura; no recente volume supplementar (1004) o Sr. Theobald não teve a accres- centar proí^resso algum ri'lati\'o ao C. confiiMiiatus na pai;". 171. Ovo. Extraio do meu diário de observações as seguintes notas: De 3 fêmeas de Culex confirmatus, trazidas das matas de Murucutú no dia 16 de outubro de 1^03, morreu uma logo, tomando as duas outras sangue de cobaj-a no mesmo dia, no dia 17 uma, no dia 19 ambas, no dia 21 ainda uma. Após um intervallo de 4 dias, a 20 de outubro, appareceram os primeiros ovos, em numero de 10, sobre- vivendo a respectiva fêmea ainda 2 dias. Seis dias mais tarde, em 22 de outubro, ap- pareceram mais 25 ovos, morrendo então a fêmea horas depois. Dimensões do ovo de Culex confirmatus: 0,605™'" de comprimento; 0,15""" de largura na parte mais larga, (valor médio de 6 ovos). A f(')rm'a do ovo (figs. 20, 30, 31) é um bello oval-lanceolado; póde-se companir com o feitio de um charuto ou de um torpedo. O mais largo diâmetro corta approximadamente pelo terço do comprimento to- tal do o\-o. O polo delgado tem a ponta ai^redondada ; o polo rombo mostra uma peça de rolhamento alargada, munida de duas azelhas transparentes (figs. 30 — 31). Quanto d estriictiira externa da pelliciila ovular, tenho de declarar que a cir- cumferencia se mostra guarnecida com um serrilhado de elementos marginaes delica- dos, transparentes e arredondados. São relativamente achatados e extensos no sentido da largura, mostrando alguma semelhança com os do ovo de Mansonia. Cabe dizer c|ue, neste pormenor, guardam uma posição intermediaria entre os ovos de Stegomyia fasciata e Taeniorhynchus por um lado, e os de Mansonia por outro. Infelizmente ficou esquecido fazermos em tempo opportuno um desenho illustrati\o deste detalhe. Larva. Dos ovos postos em 22 de outubro de 1Õ03 descobriu-se pela primeira vez no dia 30 de outubro apenas 2 larvas novas, que se deixou de estudar então, para não incommodal-as. Acontece, porem, que desappareceram pouco tempo depois, de maneira que fiquei privado de traçar aqui a competente descripção, relati\a ás primeiras phases da larva de Culex confirmatus. L'm acaso todavia me fez chegar ;ís mãos a lar\a adulta, que me veio com uma colheita de diversas outras trazidas do mato da visinhança. E' de um habitus bastante característico (fig. 32). Distingue-se pela cabeça grande e larga, antennas compridas, cerdas thoracicas longuíssimas e sobretudo por um siphão respiratório anal muito longo, estreito e fino, tubular, igualando em comprimento bem os 5 últimos segmentos abdo- minaes. Neste particular a.ssemelha se bastante ;is figuras que dão, da lar\a do Culex territans Walk. norte-americano, .Smith loc. cit. Est. X, fig. 1 e Felt loc. cit. pag. 30S', fig. 45, e da do Melanoconion alralum da Ti-indade e da Jamaica, dada por Theobald, Pi. 16, fig. 1 do \"ol. I\^ (supplementar). c ;. a». — iini|..i coitjirtuattis, i (Ic ovos frescos do Ciilex .stoiit;mJo a fóniia ilo cha- ilo. Aii.iíinento nu-dio. •'iíi. ao. — Um dos iiiovnios ovos, [iliiito- fínipluidos com aii;;- mciito mais forto. No- to-so 110 polo anterior o modo como è obtu- rado por luuio do uma pei,-a rjuc possuo duíis grandes vesículas for- temente transparentes, uma de cada lado. Vi-i. :í;{. — Clirys;ilida de ( ii- Icx confirmatus, pelle vasia i|iie ja d'-i.\ou saliir o mosipiito alado ( iiiuif^o); fnico aufíineiito. Apezar de estar a pelle assaz avariada, cer- cada e coberta de detritos o coiTumellos, perciílie-se perfeitamente bem no hwlo doival do tliomx as duas trombetas respiratórias, não monos extraordinariamente compridas ijuo na tig. prece- dente. Fig. ;tl. — Outro ovo; mesmo augmeuto-e mesmas cinumstaucias ijue nas figuras antecedentes (20 o 30). Fig. ;ta. - Uirva, já liastante cn-^cida, ile í'«/t'a- con- firmatus, vista com fnuo aucmento. Digiio de nota o sobretudo a trombeta ivspinitoria anal, exijuisita- meute comprída c fiiia. Culc^^x c( )! ifiriiií^ittits. T> Fijt. Stt. — AntriiDii (In ra- l»'ra lia larva 'In iin'^- nin CtllCAT SpCC. \\-V.\ (11111 furte aiii;iiiciitii i- ilcscnhaila cdiii auxilid (la caniara lúcida. l-'i}j. ;t5. - DostMilio tia parte alioral da ini_'snia larva da fif;. :i4. Nota-se o coniiirido siplião ies|iiiaf(in<) e os folliolos lirancliiacs miiitii estirados. Os riscos por cima do siplião o o pi<(|ueno esli()(;o lateral deixam vêr a forma espe- cial do |ieiite ( pccten). 'ig. 3S. — Desenho de (live|-sos dos espiíilids do ancinho siphoiial da referi(|a larva de Cu- lex spec, feito i-oni camará lúcida e grande ausmento. ▲ mm Fi«. ;t7. — Placa laiiial da lai v,i do mesmo Clllcx spec, desciiliada com auxilie da camará In- cida e forte auiçmento. Fig. :t I. — Desenho semi-schematico dos contonios da caliei,a de um mosquito paraense sjlves- tiv do •jywvúCulex ( a detcrminavão da es- pécie niw foi possível por falta de material. como termo do coiupaniviio). Fig. 89. — Desenho de al;;umas escamas con- secutivas do S" sej;- mento (anal) da larva do mesmo Citlcx spec. feito com jrrande au,:;- menhi e con\ auxilio da cíuiuira Incida. L'i ile^v íspt^c Sinto que naquclla uccasião deixasse Uidar c desenhar, com a desejável minuciosidadc, os detalhes relativos aos espinlM incinho siphonal e as escamas do pecten da lai\a dn nosso Culex confirmatiis. Fie. > para outra vez. Pupa. O aspecto da chrysalida do Culex confirmatus é visível pela nossa íííí. 3.'-^, que díí a vista photosfraphica de uma pellc vasia, que já deixou sahir a imago. Apezar de um tanto avariada e cercada de detrictos, etc. permitte todavia apreciar perfeitamente o comprimento descommunal das tnimlx'las ihiiacicas, finas e tubulares. Cousa seme- lhante conheço pela litteratura somente na pu]ri de Uranotaenia .sapphirina conf. Felt, Aq. Insects N. ^'. St. plate 4íi. fiíí. 11 e na d'> Culex mimeticus das índias, Theohald Vol. IV (suppl.) pay. ir)7, fii;-. m.'). 3. — Culex serratus Theobaid (1901) (Mosquito adulto, alado; veja nossa Estampa colorida III, fis'. 14 (fêmea). Este mosquito, reconhecível já ;'i primeira \ista como próximo parente do Culex confirmatus Arribalz. (Est. lY, fig. 17), é caracteri.sado principalmente por uma I.irga estria longitudinal mediana, de côr griseo-argentea, por cima do thorax. Foi colleccíonado nas Guyanas Hollandeza e Ingleza; na Trindade; no baixo Amazonas (Austen, Durham) e Pará (Durham, Goeldi); no Rio de Janeiro íMoreiral Diurno e em todos os seus costumes semelhante ao C. confirmatus. Apezar de frequentemente trazido \i\-o de localidades paraenses próximas do Museu — por exemplo dos capinzaes ao redor do forno do lixo, — (entraram 3 fêmeas no dia 2 de dezembro de 1903; 2 Q no dia 17 de dezembro e 3 9 no dia 19 do mesmo mez) e de quasi todas acceitarem, depois de installadas nas gaiolas, até por diversas vezes, sangue humano e de coba}^!, morreram todas, sem excepçáo alguma, sem porem ovos nem deixarem progenitura. Das entradas no dia 2 de dezembro morreu a ultima no dia 7. isto c>, com 5 dias de capti^■ci^o; das posteriores duraram uma ò, outra 8 dias, numero este máximo de duração de vida observado. Ficamos assim privado de nos manifestar sobre os pormenores biológicos do Culex serratus, tendo também faltado de sahirem imagines desta espécie, das colheitas de larvas, ao accaso apanhadas no mato. 4. — Culex spec. indet. Est. D, figs. 34 — 39 ' '& Das matas do Murutucú, na \ isinhança d'esta cidade, vieram-nos em outubro de 1903 diversas lar\as de um Culicideo, de posiçáo systematica ainda náo averiguada. A 0 Pormonuics biológicos — Culex spcc. — Stcyomyia fa^ciata estas se referem as figuras íU — 3<), mostrando a primeira (.':>4 ) a cabeça e o lado an- terior, a segunda (3õ) o lado postcrinr do corpo com o siphjlo respiratório e partes visinhas. Caracterisam a larva : uma placa labial (mentum), fig. 37, alta, em forma de pá, com 10 -|- 1 + 10 dentes na margem anterior, bastante parecida com o labium da larva do Culex fatigans (fig. 20), porém com a differença de ser inserido o ultimo dente con- sidera\elmente mais contra a base; antennas regularmente compridas da forma demon- strada pelo nosso esboço (fig. 36); cerdas thoracicas muito desenvolvidas e longas (fig. 34); um siphão anal assaz longo (fig. 35), guarnecido, pelo lado interior, de uma serie de tufos de pellos plumosos e finalmente por folliolos branchiaes singularmente estreitos, longos e subuliformes, como ncão os encontrei ainda em espécie alguma alem dessa. Os espinhos do ancinho siphonal (fig. 38) são largos, da forma de pá de cavar, com muitas cerdas finas, delicadas, na beira, que não são fáceis de se perceber todas de uma vez, tendo algo do geito que possuem as respectivas formas na Uranotaenia sapphirina, conforme a fig. 6l, pag. 36S ), quando se referem a esta creaç.io em termos de franco elogio, e não hesitamos em fazer nossas as palavras d'este ultimo autor, quando exclama: » This is one of the most natural of the new groups of Culicid.ie, the members of the genus pre- senting an appearance that once seen is readily recognised. • Reputamos assim descabida e supérflua a critica exercida em relação a esta questão de systematica e de nomen- clatura zoológica pela Commissão medica franceza no Rio de Janeiro em certo trecho do seu « Rapport », IO03, na pag. o!v\ .\ introducvão de novos géneros é a consequência natural e lógica do progresso e do crescimento do saber humano em relação a este ou aquelle grupo de organismos, — symptoma e signal caracteristico do sentimento da necessidade de meios para externar pela palavra um estado de discernimento systematico mais retinado e mais aperfeiçoado. Onde iria a gente parar, se tivéssemos de subordinar as além de 41 «J espécies de mosquitos, hoje conhecidos, todos ainda ao ger^-r - '' ; , na concepção de Linneu em 1758! gS Purmcnoix-s biulogicos — Stcyumyia fasciata estudo as figuras 43-46. Examinado o ovo fresco da Stegomyia fasciata, com algum augmento microscópico já se nota que a circumferencia é toda moldurada por umas pérolas transparentes (figs. 43 e 45). Com o auxilio de ampliação maior agente se con- vence de que este perolamento marginal é devido a uns elementos chitinosos, ora mais, ora menos arredondados, — n'este ovo, de calibre mais ou menos igual (fig. 44); n'a- quelle outro, alternando maiores com menores ( fig. 4õ ). Levantando e baixando o tubo do microscópio obtem-se respectivamente os aspectos patenteados pelos nossos dese- nhos (figs. 43 e 45) ao lado esquerdo e direito da linha longitudinal, correspondente ao grande eixo do ovo. Sendo as depressões preto-escuras, as protuberâncias porém claras e, quaes aljôfares, luzentes, ganha o ovo da Stegomjáa fasciata um aspecto todo granu- loso e elegante. A granulação é bastante mais grossa que no o\-o de Culex fatigans. Por outro lado também não ha camarás aéreas tamanhas, como o faz crer a figura 14, pag. 22 da obra do prof. Theobald, lettra d (reproduzida também na obra de Giles, pag. 123, fig. õ). Orientados perpendicularmente sobre a peripheria os elementos margi- naes em quasi toda a circumferencia do ovo, nota-sa todaAia uma certa tendência de alongarem-se e de eriçarem-se em sentido obliquo contra o polo rombo. D'esta particu- laridade os dous ovos na fig. 41 deixam ainda vêr um ^•estigio, embora que a photogra- phia se mostre por vezes singularmente rebelde na reproducção de pormenores tão delicados. Não ha a menor coherencia entre os ovos de uma postura de Stegom^-ia fas- ciata. Cada um vae para o seu lado, á mercê do accaso e das pequenas correntezas no lençol d 'agua. A dehiscencia da casca ovular para permittir a sahida da joven larva é transver- sal e total, separando-se normalmente a tampinha, de todo, do resto do ovo. Opera-se a um quarto do comprimento total do ovo, contado do polo rombo. Larva. (Vejam-se as observações geraes no nosso primeiro trabalho, pag. 21). A joven larva de Stegomjia fasciata, ao sahir da casca ovular (fig. 47) é um bichinho vermiforme, muito pequeno, corpulento e gordo, transparente ao microscópio e" esbranquiçado á illuminação unilateral de cima. Comparada com a larva da mesma idade do Culex fatigans (fig. 12) notamos logo toda uma serie de differenças bem accentuadas. A cabeça da larva de Stegom3na é mais redonda, de tamanho moderado, ao passo que é de feitio rectangular, larga e proporcionalmente grande na de Culex fati- gans. O thorax por sua vez, guardando de perto a medida de largura da cabeça, é re- lativamente estreito na larva de Stegomjna, emquanto que tende a alargar-se, até igua- lar com a cabeça, na de Culex fatigans. As cerdas thoracicas amplas, rijas e compridas no Culex, são mais finas e delgadas na Stegomyia. Não ha duvida porém que a mais sensível differença reside no siphão, que é largo, curto, reforçado, a modo de projéctil de gros.sa artilheria moderna. Na cabeça são dignas de nota as antennas cylindricas, relativamente curtas e destituídas de pellos vistosos. Se a olho nú talvez não é de todo fácil distinguir com segurança as larvas de ambas estas espécies em tão tenra idade, á medida que ellas crescem vai diminuindo a Fig. 41. — Al,i;uiis oviis ilr SteiíOinyia, íl'i'si;(is, |]liiitiigia|iluul(js roíu mais fuili' angiMpiito. Aiiilios éiu pusirão lateral; as- liecto (la (.■irciiiiifiMviifia plaiio-eoiivexn. Perctíbe-se no polo aiit<-'rior as pevas ti'aiis- liarentes da tampa e em parte tamlicm as vesieulas transparentes da peri|)lieria dirigidas obliiiuamente para a frente Fig. 40. — Fêmea de Stegowyiii fnsciata, a;;onisaute, fluctuamlo á tona d'agiia, de|i()is de realisada a postura dos ovos. Fraco augniento. Fig. 44. — Alguns dos taes elementos periphe- ririis a i|ue allude a fig. 43, vistos com aug- mento assaz forte. Fig. 47. — Vista pliMtngrapliiea de uma joven larva de Stcgomyia fasciafa, dos dous primeiros dias; augmi'Mfii nirilio. Cararti^iisam a larva n'esta pliaso sobi'ctudo o siphão respiratório rombndo e curto como curtas são as aiitennas providas com estyletes tam- bém curtos em ven de cerdas longas e emplumadas. n R r. ■%. ■0 ,. Fig, 45. — Desenho de outro ovo de Ste- gomyia fasciata, nas mesmas cir- ciimstancias como na fig. 43. I''ig. 49. — Algumas larvas de Stegoinvia fasciafa, (|A e B) e. de CtiIcx fatigans ( C e U ). photf.gra- l)hadas sobre a mesma lamina pnrta-objecto jiara faeili- tar uma conf rontavãi > direita, liasta jior exemplo, con- siderar a tuba res|iirati)ria anal em todos estes indivi- dues, i)ara logo, á primeira vista, se reconhecerem as larvas de luua e de outra espécie. S te PO m vis E I**. — Duíis liirviLs (If Stcgoiiiyia fasciata, um imiico mais tn-si-ii! w já 1! vistiis CDin imiicu iUi;{iiH'ntr., si.lnv a laiiiiiiii mii.-n>srrta-i)lij<-- cti). Alem (l(is fiilliolos bi'aiii'liiacs U-m iintorios, coiihiiiere-si? n cin-um- staiifia (1(! its aiiteiiiias não |iassaii-m siMisivcliin-iito alrm do nivel das possantes uscoviís ciiiari-s mento fnico, tendo sido postos aljnins dias antes. .'situa..âo naliird •■ 'i>nit:d }'■ .se diversos ovos ipte apresentam, em ' _.. de sua exten.sio. iir tunndo n respi-ctiva tampitdia no lado: são aipielles <|ue já larvas. a.»cia.t£i ( I ) ijí- .»;{. - Aii- (dina tlc unia larva adulta (lo Slcgoniyin /'ascialt];\\s[;i pliotofírapliica com aufiiiicu- to bastante forte. Fíg. 55. — DrsiMilio il;i |iai-|c anal i|i' uma lai-va dr Stegomyia, dií iiicin taniiuilio. Coni|iare-se com o dcscnlin ( fifí. IS), relativo á mesma ]i;uti' de uma larva de Cillex fati_i{ans, aii[U'ij.\imadameute da uiesnui idadr. Fig. 51. — Larva de Stegoiiiyift, velha o adulta, gorda e bem alimentaila; mesmo angmento. Nota-se que os folliolos bran- eliiaiw da i'egião aual mostram n'esta pliase luua eerta ten- dência jiara assumirem um aspecto lanceoladn, em vez de longamente ovóides. y^ /Z Fig. 68. — Aspecto geral do apparelho genital ex- terior do macho de Stcgoiiiia fasciatai^J"), isto na parte [josterior do coipo; photogra]>liado com pecpicno auginento. Fig. .5». — Despidlo de iliversos dos espi- nhos ( S]).), do anci- nho .sii)lional da lar- va adulta de Stego- myia fasciata, lei- to nas mesmas condi- ções que a figura anterior. Fig. «I. - Tma clirvs.-i- lida i|i' Stegomyia, vi>ta pelo lado ventral, em es- cala um tanto maior. 8a- lienta-se a fubá resiiira- toria curta. Fig, 56. — Deseulio da parte anal de uin.i larva .\i[n\\ã '\f Stegomyia fasciata além do tufo das cerda.s bi- e tiipartidas mo segincntu anal. a fileira di recortados transversal (pecten) e outra de dentes aguçados ao longo do si piratorio. (Instnictiva é a compararão com a fig. 21, relativa aos mesiu' uores na larva de Culex fatigaits ). Vccm—' ganchos |ihão res- porine- Stegomyia. 1 F Fig. 5a. — Pt siMiliD sfhematico dterior d' iiiiia larva ere.~cida de Stfffoniyin frtsiiata Vi-se em Sr. a fileira liaii.-vei>al de escamas iinilli- cu-pidalas do oitavo sei;iueiilo ( peeten ); eiu S\*, iiota-se o aiieinlio de espinhos lonfiiiutliiialmeiílr arrumados no siplulo re>[>iratorio. Fig. ((2. I'ai'ti- tiTininal ile uni:i eliiy salida di' Stcgomyia, vista ventra auginento nial^ U'r\<\ Coiiipare-se a fiirina dos ri'iiios eaiidaes com a forma assuiiiid.-i pelos iiiesnios na larva de Ciílcx fatigaits na fi- gura paiallela n." 27. Fig. 60. - 1'iia-. eliiv-alidiLs (pu|>as). de StegO- iiiyia fasciata, vist;tó de lado; fraco aug- monto. Curta tromlH.-ta rvs|>iraturia no lado dorsal do tliorax. iscia.t£i (II) Pormenores biológicos — Stctromyia fasciata 99 difficuldade. A fi,i,air;i 4*) mostra tacs larvas umas ao lado das outras, quando na fij^ura 4.S vêem-se larvas de Stegomyia de meio tamanho. As fiiíuras 50 e õl nos ensinam qual o aspecto da larva de todo adulta, estando a ultima i;i prestes a metamorphosear-se em chrysalida. Bastante caracteristica sem- pre afiyurou-se-me a circumstancia de serem as possantes escovas buccaes como que aparadas com a tesoura, de maneira a formarem uma linha recta com a ponta das duas antennas. Os folliolos branchiaes, em numero de quatro, bem visíveis nas fií»Tjras 47, AH, — 50, 51, 52, ,Y) e 56 são de um oxiú bastante estirado, especialmente quando a lana já fòr mais \elha. Em larvas completamente adultas, como a da fiíf. 51, elles chegam ús \ezes a assumir a forma lanceolada. Todavia, ao contrario da de Culex fatigans, a ponta dos folliolos na larva da Steg-om3'ia é 'sempre romba, arredondadji. Quanto á sua es- tructura interna, não ha factores especiaes a mencionar. Os outros pormenores larvaes sao demonstrados pelas figuras 52 — 59. Encontra- mos na figura 52 um schema dos contornos geraes da larva de Stegomyia. Em (A) se vê um esboço, em grande escala, de um grupo de cerdas sitas na margem anterior- exterior do thorax. Como se vê são ligeiramente pinnadas. Qurmto ás antennas ( B. da mesma figura ) constituem um dos mais salientes característicos da lan-a de Stegomyia, o serem cylindricas, lisas ao redor, como truncadas repentinamente na ponta, onde, em xez de ^■istosas plumas e compridas cerdas, se notam apenas uns estyletes curtos; muito instructiva é a este respeito a nossa vista photographica (fig. 53). Das partes buccaes. que foram bem anah-sadas e figuradas na pag. 130, fig. 35 da obra do Prof. Howard. merece a nossa attenção sobretudo a placa labial (mentum), da qual incluímos uma vista microphotographica original na fig. 54. E' representada por uma peça triangular, baixa e encurtada, com 13-J-1 + 13 dentes ponteagudos na margem anterior, sobresaindo entre estes o mediano. Quanto aos pormenores da região posterior da larva, recorremos ás nossas fi- guras 52, 55 — 59. A larva nova (fig. 55) possue além dos graciosos e elegantes folliolos branchiaes somente algumas poucas cerdas compridas. A adulta porém (.figs. 56. 57) ostenta na margem exterior-posterior do segmento anal uma escova de respeitáveis pellos, além de outra na margem opposta. interna. No siphão anal (figs. 56,57) o ancinho de espinhos é duplo e constituído por ele- mentos, como o demonstra, em desenho feito em grande escala, o nosso esboço (fig. 59") (Sp. da fig. 57). São uns espetos tri e quadrífurcados. As escamas do pecten. do seg- mento anal. são arrumadas em uma única fileira transversal, como resalta das nossas figuras 56 e 57. Têm exquisita f(5iTna: um espeto médio e diversos outi"os dentes meno- res sitos, de cada lado, na sua base (fig. 58; Sc. da fig. 57). Possuem elles alguma se- melhança com os elementos coirespond entes na larva do Culex jamaicensis tanto quanto se pode julgar pela fig. 37, pag. 299 da obra de Felt op. cít. Toda a superfície chitinosa da larva de Stegomyia fasciata é. estudada com cui- dado e com forte augmento, finíssimamente estriada no sentido transversal : diminutissi- mos espinhos chitinosos, curtos, são disseminados por toda a parte. Quanto ás cerdas thoracicas, o terceiro e ultimo tufo de cada lado mostra á sua base um forte espinho curvo virado para a frente; no segundo tufo. o do meio, existe um espinho mais fr.aco, ao passo que no outro tufo, o primeiro da frente, como em todos 100 Pormenores biológicos — Stegomyia fasciata trcz d;i l;ir\a de Culex fatigans, as cerdas s^o implantadas n'uma simples protuberância da [úrma de um C(")ne truncado. Bastante característico é o colorido da larva de Stegomyia fasciata, considerada no aquário ou na lamina com luz unilateral obliqua de cima. A cabeça é de um ama- rellaceo claro, côr de âmbar ; do thorax a parte anterior é branca, vidracea, ao passo que a porção mediana da metade posterior na reg-ião das massas hepáticas (Giles) sb mostra quasi preta. Bruno escuro, fuliginoso, ostenta-se todo o percurso do tracto intestinal, como comprida estria longitudinal atravez do abdómen inteiro ; todo o resto do corpo, com excepção do siphão respiratório, que é fuliginoso claro, apresenta-se n'um lindo tom esbranquiçado, hyalino. Bem diverso o colorido da larva do Culex fa- tigans : a cabeça é de um branco amarellaceo sujo, excepto a beira anterior buccal e a região dos olhos ; do mesmo amarellaceo sujo que ás vezes toma um pallido tom ro- sado, é a metade do largo e possante thorax, e toda a zona lateral do abdómen. Bruno claro 6 o percurso do tracto intestinal e fuliginosos vemos o siphão respiratório e a metade aboral das antennas. Pupa. Sobre o aspecto da pupa ( chrysalida ) de Stegomyia fasciata orientam as nossas figuras 60 — 62. O colorido é o seguinte : bruno-ennegrecida a parte dorsal ; tom de tinta neutra as pernas ainda dobradas, visíveis por transparência atravez do grande estojo thoracico ; o chicote abdominal é amarellaceo, mais esbranquiçado pelo lado ven- tilai dos segmentos, um tanto fuliginoso sobre as placas dorsaes, mormente nos primei- ros da frente. Um confronto com a pupa de Culex fatigans (fig. 26) ensina logo que a diffe- rença mais sensível reside na tuba respiratória dorsal muito curta da pupa de Stego- myia. E' um funil largo, quasi triangular, profundamente recortado ou dobrado em di- recção obhqua, de modo a deixar patente larga abertura levando para o canal na base, quando vista pelo lado de fora. A figura 61 dá uma pupa de Stegomyia pela face ventral e na figura 62 vê-se a parte anal da mesma, em idêntica posição. Infelizmente quiz o accaso que para esta vista photogi-aphica servisse mais uma vez uma chrysalida do sexo feminino, quando te- ríamos desejado dar aqui uma do outro sexo. No sexo masculino o estojo central con- tendo as gonapophyses alcança perto da metade dos remos anaes. Estes remos são na Stegomvia talvez um bocadinho mais circulares e menores que no Culex fatigans. Se quizessemos recapitular em poucas theses os distinctivos mais importantes que permittem reconhecer com segurança e presteza a larva e a pupa da Stegomyia fas- ciata, seriam as seguintes : Pormenores biológicos — Sti>í,fiimvia fa-ciala 101 Larva. Pupa : 1 ) cabeça redonda. 2) antenna cylindriea, truncada, nao plumosa. 3) placa labial triangular, baixa, com 1.'^— 1 13 dentes. 4) thorax moderadamente largo; na base do terceiro tufo marginal um forte espinho curvo. 5 ) siphão respiratório curto, em forma de projéctil. 6 ) ancinho siphonal com espinhos em forma de ganchos 3-cuspidados. 7 ) pecten do segmento anal com escamas multi-espinosas. 8) folliolos branchiaes arredondados na ponta. 9) colorido geral bi-anco-hvalino. 1 ) Tuba respiratória thoracica curta, obliqua e largamente aberta. Quanto ao appíwclho gciiittil cxtcrioi-, da Stegomyia masculina, informa a nossa fig. 53. Tornando a ser sensível a falta de uma nomenclatura technica relativa ás di- versas peças componentes d'esta armação e ás partes destas, á qual já alludi tratando do Culex fatigans. posso unicamente salientar que a tesoura, de cada lado. (compará- vel a uma unha de caranguejo) possue no macho da Stegomyia sobre toda a aresta interior um pente continuo de fortes cerdas espinhentas reforçadas, notando-se ao mesmo tempo a ausência do grupo de trez estyletes sólidos postado na culminância opposta ao grande gancho principal, como se percebe no Culex fatigans (fig. 28). Também parece- me faltar inteiramente na Stegomyia aquella subtilissima peça laminar, transparente, em forma de remo indio, que no Culex fatigans se vê inserta numa proeminência visinha do canto interior da tesoura. O colorido das principaes peças chitinosas apresenta-se fu- liginoso na Stegomyia. amarello, côr de âmbar no Culex fatigans. Ha um farto appare- Ihamento de valentes cabellos ligeiramente curvos pelo lado exterior das pernas da te- soura, tanto no caso da Stegomyia. como no do Culex. Copula sexual. Diz o « Rapport » da commissão medica franceza, textualmente, ápag. '>s7; Accou- plement. Deux tois seulement mnis avons eu loccasion dobserver Taccouplement: il a lieu presque toujours dans la nuit et à lobscurité. doíi la rareti5 des observations de ce genre ". Peço confrontar por outro lado o que eu disse a este respeito no meu segundo trabalho, pag. 52, onde empreguei os termos: . Circumstancia que, porém, ainda nflo tornei publica é que a co- pula de Stegomyia pode ser provocada ad libidinem, em qualquer hora do dia. mediante uma simplíssima experiência, que nilo \i negar uma única vez. Se se tomar uma das nossas gaiolas de isolamento contando somente machos de Stegomyia. ou apanhados em liberdade ou criados no captiveiro. e se se introduz uma fêmea da mesma espécie, esta njío ter;i tempo de voar grande di.>^tancia sem ser logo apercebida e segurada por 102 PoiMiunurcs biológicos — Stegomvia fasciat a um macho. Isto se dai";í tantas vezos, quantas se repetir a experiência, sobretudo quan- (.]() se tiver o cuidado de escoliíer, por exemplo, como loyar de observação, uma janella exposta a um brando sol de tarde. — Tive occasião de realisar esta experiência peran- te nílo poucas pessoas da classe medica, entre ellas um distincto bacteriolooista quando, vindo do Maranhão onde com denodo tinha dirigido o serviço sanitário durante o diffi- cil período de peste, veio ao Pará, de passagem para o Rio de Janeiro. Facillima como é de ser provocada assim a qualquer hora do dia a copula sexual da Stegomyia no captiveiro, frequentíssima é também de ser obser\-ada em liberdade, aqui no Pará, dia por dia, e não me consta que as cousas estivessem diversas lá no Rio de Janeiro. Aliás encontra-se, em corroboração das minhas observações no Pará, no Relatório da commissão medica ingleza, relativamente ao Pará a significativa declaração: «The time of chief activity is in the middle of the da^', from about twehx to two p, m., they then bite freely. and are seen to copulate on the wing in numbei-s. » ( pag. 55). Se a Stegomyia fasciata pica normalmente de noite. No Relatório da commissão franceza lê-se, á pag. 691 : « Divers auteurs ont consi- dere la Stegomya fasciata comme un moustique essentiellement diurne, que ne piquerait jamais ou presque jamais la nuit. Cest lã une erreur qu'il est indispensable de détruire >. Apezar do tom positivo d'esta asserção, continuamos com a mesma inabalável convicção a assegurar o contrario, sustentando a nossa maneira de vêr já exposta em nosso segundo trabalho anterior publicado em janeiro de 1904 ( pag. 82 da presente reimpressão), Declaro-me solidário, incondicionalmente, com as sensatas palavras emitti- das a este respeito pela commissão medica ingleza no Pará (Report of Yellow fever expedition to Pará), pag, 55 e seg. no Capitulo « Habits of Adult », iniciando logo no alto com a memorável sentença: « This species in Pará is solely a day gnat ». Se erro ha, elle lavra do lado da illustre commissão franceza, no Rio de Janeiro, tão completa e patentemente n'este como no caso da sua asserção -íicerca da pretensa raridade da copula sexual na mesma Stegomyia, e acerca da preferencia « da noite e da escuri- dão» para esta, como para as demais funcções as mais importantes da existência de tal espécie. Duas series de factos cm apoio do nosso modo de vêr, I) No meu segundo trabalho pag, 04 ( pag. 82 da presente reimpressão) já com- muniquei, que no meu gabinete de trabalho, no Museu do Pará, sou raras vezes picado de Stegomyia, quando tenho de trabalhar de noite com luz eléctrica. Esqueci porém de constatar ao me.smo tempo, que o mesmo gabinete está diariamente infestado de Stego- myias, de ambos os sexos, tornando me deveras difficil ás vezes o trabalho diurno. Como esse aposento dá para um angulo reentrante do edifício, cuja abertura corres- ponde quasi justamente ao quadrante E — S, varrido pelo vento dominante, as paredes que formam os lados desse angulo funccionam, de facto, como uma espécie de funil, condensando e canalisando para a minha janella os mosquitos diurnos e nocturnos M Flg. H'£, - Vi--ta |,liiitnt;r,i|iliiiii ilr iini;i IV- inia ilr Tacitiorhynchus fiilviis, nííimisaiitr, il('|iiiis lii' nviliMnlii. :i |iiisliira de ovos, nu siípcrfirii' ira.i;iia ili' uma bacia rasa di' vitlru. Fraco aufiiuriitci. Os ovos sSo curtos, angulosos, |iaivc<.'ni|o grãos du cmiiinho cuiYjiièo. •'íK. Mt. — Esboço sihitnintico, visaiulo 1'xplicar a arriiniíiçãn c a^rn|inm<'iito lios ovos no moiniMito do saliin-in iln ovo|posUor da fcmca, conforme oli- scrvaçõcs nossas. ij;. SI. ll"i-. 'iviis do Taciíiorhyitchus fiil- ims, \ Uiii-, com íuignicn- to mais forte. ( Vista plio- tograiiLica}. Fig. S7. — rorinenores do a|>|iarelho de fe- chaincnto do ovo de Tacuiorhyitchus fulvus,w i"'|u rumlio. .\ii!;mento mais forte. t _ > * 1 '■ 77 Fig. S5, - Desenlio ilos contornos do um ovo, feito com auxilio da camará Incida. Noto-se a estructuru mariçinal o o rollia- muuto. ,«i«. — Dcs.Miho il.i imlii delirado de um ovo de Taeniorhynchus fiilvus, paiii mostrar a estructura especial da |iellicula ovular. Lado esiiuerdo — serrilhado mar- ginai, eonio so vè lateralmente na |ieri- plieria, eoni o tubo de niicri>sco|iio levau- ta'lo; lado direito — ;ts|iecto ipie se obtém com o tulio abai.xado. Augmento mais con- sideraviíl. l"c' nei H( )1Í l\'M»^^l U l>^ li 1 1\' u^-^ Piiimonorc^; hiologíicos — StC!,'omyia lasciata 103 arrastados pela correnteza acrea, de maneira que eniram-mc para o gabinete quantas Stegomyias produzirem as rocinhas circumvizinhas. Ora, sendo d'esse modo continuamente assediado de dia por Stegomj-ias fêmeas, que me picam innumeras vezes, dando-me incessantemente provas irrefutáveis da sua constante presença, porque n;lu me pica, de noite, nVste mesmo quarto, Stegomyia alguma, ou somente uma ou outra por excepçflo rara, sendo a enorme maioria dos mos- quitos picantes, que voando entram pela janella n'estas horas, composta de espécies syl- vestres como Taeniorhynchus e Panoplites ': Entretanto ellas alli estão, n'aquellas mes- mas horas, n'este mesmo quarto. EstÊlo sentadas pelos cantos ; repousam ; não picam porque não querem e pm-que não precisam! II) Apezar de constante attenção minha e de meus collegas nas nossas residên- cias particulares em verificar casos absolutamente seguros de Stegomyias fêmeas, apa- nhadas em flagrante no acto de chupar sangue ou com os indícios de tel-o feito, durante a noite escura, ainda jamais conheceu-se um único onde n'um mosquiteiro regularmente fechado se mostrasse uma tal Stegom\'ia, que provadamente se tivesse introduzido na escuridão da noite. Sempre são exemplares fêmeas de Culex fatigans que encontramos nos mosquiteiros como resultado da pesca da noite anterior. E todas as vezes que parecia ter-se apresentado finalmente um caso authentico, o exame minucioso das cir- cumstancias ensinava que uma tal Stegomyia podia ter-se introduzido perfeitamente an- tes de se fechar o mosquiteiro, e aproveitado para picar as horas do crepúsculo da tarde ou da manhan. — N'inii (iiiilnciite replecto de Stegomyias e depois de diinos de observação por pessoa! exercitado iiieí/iodiea e especiala/eiite dirigido sohre este quesito, e iieii/iiuu caso plenamente averiguado de invasão provadamente nocturna n'um mosquiteiro por fenwa de Stegomyia. — não deixa de ser um facto significativo, que forçosamente deve impressionar ! Tanto mais deve impressionar, quando se lê no relatório da commissão medica franceza no Rio de Janeiro textualmente : « Ce moustique s'attaque à Thomme après la chute du jour, dans ta luiit et Ic matin a\ant le lever du soleil ; nous 1'avous éprouvt' personellemeid. II est extrêmement facile de sen rendre compte si Ton examine le ma- tin de bonne heure le moustiquaire dun lit occupé par un malade, dans une salle oíi les Stegomyas ( 1 ) ont accès. Pour peu que cette moustiquaire ne ferme pas herméti- quement, on y trouve le matin des femelles gorgíes de sang qui y ont penetre et out pique pciulaiit la uuit.'> (2) Como querem ns illmos. doutores emissários do Instituto Pasteur em Paris pro- var sob a fé da sua plena responsabilidade scientitica, que estas Stegomyias lá no Rio de Janeiro «ont pique pcndant la nuit», quando aqui no Par.1, nós. conscientes da mesma responsabilidade plenar. devemos, á vista das nossas positivas averiguações du- rante annos, declarar a picada nocturna como excepção ? (l) Surprehende devíras que os illmos. redactores do '. R.ipport escrevam persisteniemeiítc ■>;.,•■'"■■>'•, p^r todo o trabalho, quando o autor do ijencro. Theobald. Monovtraph ol" Culicidae. li*il, Vol. I. pa^. JS3 o ch.imou «Ste- gomyia', niriLíuem tendo o direito de substituir tal nome etymoloLiicamente bem formado, por outra maneira de escrever. viciada e compativel de interpreta(,ão toda errónea. ( 2 ) t-)s ijryphos são nossos. — O. 104 Pormenores biológicos — Stegom\ia fasciata Nno negamos a possibilidade de picarem fêmeas de Stcgom^ias de noite — mas accentuamos que é indispensavelmente preciso que se encarem estas cousas debaixo do seu aspecto real e que se nào insinue significação diversa da que cilas de facto pos- suem. Se a fêmea de Stegomyia pica de noite, n'um quaiio illuminado — (pois nego que ella o faça normalmente n'um quarto completamente escuro) — é antes de tudo e em primeira linha simplesmente, porque ella estará illudida acerca da phase do dia: toma por dia a claridade artificial, desperta e retoma as suas occupações diárias, que culminam principalmente na procura de alimento — maxime no caso, que a caçada n'esse sentido durante o dia anterior não tiver sido acompanliada de successo. Baseio-me n'uma observação que frequentemente tenho occasião de fazer com o Culex fatigans. Ora, este mosquito embora estricta mente nocturno, também é susceptível de enganar-se pelo mesmo modo, como a Stegomyia, que é diurna. Na nossa officina photographica, que é um pequeno chalet isolado no jardim, composto de duas peças, uma exterior para copiar, imprimir, etc, outra interior para o processo do re\'elamento e da lixagcm das chapas — esta camará obscura propriamente dita, é repleta sempre de innumeros Culex fatigans. Ficando, de dia a porta aberta, em horas quando não ha trabalho photographico para fazer, pouco ou nada se nota da presença d'estes mosqui- tos, que estão quietos, pousados por todos os cantos. Apenas fecha-se a porta, estabe- lecendo-se completa escuridão, excepto a pouca luz vermelha que vem atravez da dupla janella, principia a actividade de centenas de Culex fatigans, voando, dançando e cantando, tal qual como se fosse noite. Estou certo que idênticas observações tenham sido feitas já innumeras vezes por outras pessoas, por aqui pelo Brazil fora, ao ingres- so n'uma peça onde reina escuridão. Lavra assim o nocturno Culex fatigans, com a noite artificial durante o dia, no mesmo engano, como a diurna Stegomyia fasciata, com o dia apparente durante a noite. O caso é palpavelmente o mesmo. Entretanto ainda não ouvi ninguém tentar a parado- xal doutrina que a fêmea de Culex fatigans depois de ter chupado sangue, invertesse o seu modo de vida, tornando-se diurna ! Origem e pátria da Stegomyia fasciata. Conheço a argumentação dos autores que querem que a Stegomyia seja de ori- gem americana; estriba-se sobretudo na relação da viagem de Christophoro Colombo. Sem querer contestar que a moléstia que victimou parte da tripolação das caravellas dos conquistadores tenha, de facto, sido idêntica com a febre amarella. constitue isto uma prova positiva de que a mesma moléstia não tenha existido antes na costa d "Afri- ca ? De certo que não. Quando muito poder-se-á objectar que falta um documento his- tórico que nos conte da existência da Stegomyia na Africa em tempos precolombianos. Mas da ausência de um documento histórico acerca de certo facto jamais se poderá deduzir a não-existencia do mesmo facto. Ha evidentemente muita cousa que já se passou n'este mundo sublunar, da qual nunca historiador humano nos deixou resenha, e que nem por isto é menos verdadeira. Encaremos um pouco mais de perto esta questão. A Stegomyia fasciata é, como sabemos, um mosquito affeito ás grandes cidades, aos centros populosos, do littoral e Pormcnfucs biolo<,'icus — Stcgomyia fasciata 105 tias regiões visinhas. Ora pergunto eu, onde esta\am estas grandes cidades que os in- vasores europeus tivessem encontrado, no littoral atlântico desde as Antilhas até a foz do Rio da Prata? Quaes os pontos onde os indígenas americanos se tivessem conden- sado em populosas residências permanentes ? Nao as havia e isto não nos surprehende de forma alguma attendendo á Índole e ao génio especifico do indio. O indígena ame- ricano foi, em todos os tempos, o que clle 6 ainda hoje : ciumento da liberdade incoacta, não tendo o habito nem a tendência para agrupar-se e concentrar-se em residências collectivas realmente consideráveis. As suas tabas constavam de algumas dúzias de casas, na maioria dos casos nem chegando a cem n'uma mesma localidade circumscri- pta. São antes aldeinhas do que aldeias. Comparáveis ás formigas e abelhas, o cresci- mento numérico sempre traz para elles como consequência a emigração de enxames, o desmembramento. Forma-se nova taba, meio dia, um dia, dous dias mais rio acima, mais rio abaixo, mais mata a dentro, que por sua vez voltará ao estado de tapíra devido ao génio irrequieto e nómada do indio, antes que ella tenha adquirido qualquer incre- mento e dimensões algo consideráveis. Não são propriamente sociáveis na sua moradia: se n'elles existe o espirito da sociabilidade este se manifesta somente por occasião das festas, das emprezas bellicas, nos grandes êxodos, etc. Durante taes occasiões transitórias e passageiras sim, costuma haver agglomeração de gente, mas toda aquinhoada, quando muito, em acampamento que nem provisório se pode chamar; nem mesmo com abarra- camento é realmente comparável. Passadas estas occasiões toda a multidão se dissolve, como por encanto ou por um sopro de \-ento. Ora, taes cousas não são do gosto da Stegomjia fasciata. Que vemos por outro lado na Africa? — Um dos mais frizantcs característicos ethnologicos da raça preta é exactamente o seu espirito de sociabilidade fortemente desenvolvido. Nas relações de todos os viajantes encontramos a cada passo expressões de sorpreza e de admiração pelo agrupamento de habitações attingindo dimensões nu- méricas rebeldes a um i-ecenseamento rápido. Lá se encontram frequentemente centros com 10, lõ e 20 mil habitantes effectivos, aos quaes entretanto se appHca apenas a qua- lificação de «aldeia». A' noção de cidade, conforme praxe africana, não con-espondem senão centros que possam apresentar um múltiplo de taes cifras. Eis uma situação que quadra admiravelmente com o que a Stegomyia fasciata quer e precisa. E' o optimum para as suas condições de \ ida : clima quente e húmido, reunido a aggremiações hu- manas deveras importantes. O que eu queria archivar em breves palavras aqui é que um confronto cuida- doso da situação ethnologica, cá e lá, — e esta certamente constitue factor de relevante importância neste assumpto — por sua vez depõe com \antagem innega\el em prol da origem africana da Stegomyia fasciata. Uma 0 o\os respectivamente, depois de um intcrvallo de 5 para ( 1 ) Outras localidades amazonicas e guyanezas onde es(e mosquito foi colleccionado pelo pessoal do nosso Mu- seu, são Óbidos, — Prainha, — .Vrayollos, — 03'apoc, — .Vmapá. 108 Pormenores biológicos — Taeniilunclius fasciulatus 6 dias desde a ultima raçilo de sangue. (1) Xo dia 27 de julho finalmente appareceu mais um fio, contendo 60 ovos, com intervallo de 7 dias. Das 4 fêmeas nenhuma sobre- viveu mais de horas ao acto da postura. Das respectivas larvas notei as primeiras no dia 2') de julho, o que dá um intervallo de 4 dias desde a postura. Sobre outros casos refere esta sj-nopse: Tempo decorrido entre ultima ração de sangue e a postura dos ovos : 1.0 caso : . . . . 6 ^ .> dias 2° caso : 3." caso: 4.0 caso: 5." caso : 6." caso : 7." caso : o 7 6 4 V2 7 5 1.0 caso: . . . . 4 V2 dias 9.0 caso: 10.0 caso: 11.0 caso: 12.0 caso: 13.0 caso: 14.0 caso: 5 6 7 5 6 4 15.0 caso: I6.0 caso: 17.0 caso: 18.0 caso : 19.0 caso: 20.0 caso: 21.0 caso: 5 dias ó » 6 » 6 » 5 » 7 » 5 » Tempo decorrido entre a postura dos ovos e o primeiro apparecimento de no\as larvas : 1.0 caso: 2.0 caso: 3.0 caso: 4.0 caso: 4 dias 4 » 4 » 5 » Resulta d'ahi que a média para o intervallo entre a ultima raçcão de sangue e o apparecimento da postura do fio de ovos no Taeniorhjmchus fasciolatus costuma ser 5 V2 dias; a do intervallo da postura dos ovos e o primeiro apparecimento das novas larvas 4 '/•> dias. Comparando estes valores com aquelles que eu dei á pag. 46 do meu 2.0 trabalho, temos: Ovos. Larvas. Culex fatigans 1,8 dias Stegomyia fasciata 4,5 » Taeniorhvnchus fasciolatus . . 4,5 » Culex fatigans 3,5 dias Stegomyia fasciata 3,7 » Taeniorhjmchus fasciolatus . . 5,5 » D'este confronto parece resultar, que o Taeniorhynchus fasciolatus, — que na sua Índole é um mosquito innegavelmente sylvestre embora venha, nas horas crepuscu- lares, frequentar as casas, — tenha um desenvolvimento relativamente mais lento, que o das outras espécies, que sabemos ser verdadeiras pestes domesticas. Quanto d'esta lentidão deveria ser posto na conta de eventuaes effeitos desfavoráveis e retardativos de condições exteriores anormaes não podemos, na ^•erdade, precisar com a exactidão de- ( 1 ) Seja dito de passagem, que fiz as mesmas experiências, que empreguei em Stegomyia fasciata e Culex fatigans ( veja segundo trabalho ), para averiguar a influencia do sangue sobre a postura dos ovos e a durac.io da vida em comparação com outros alimentos, também com diversas outras espécies de Culicideos sylvestres. assim como o T. fas- ciolatus. Quatro fêmeas de T. fasciolatus entradas em 25 e 2S de agosto respectivamente, tratamento com iiu-l e agua, morreram 'depois de 1, 3 — 1, 5 dias respectivamente, sem deixar postura alguma. De duas outras, entradas em 1." de se- tembro, tratadas com sueco de carne fresca, morreu a ultima em 15 de setembro, não tendo deixado prole nem uma, nem outra. Fig. «4. — Cordões e frag- mentos dl" (.'cirdões iliMivos dl' Taeniorhynchtis fasciolatiis, vistos de ladii. ripiii fr;iL'0 augniento. Dispiisirãn semelhaiiti:' a uma carturbeira tira-collo. Fig. 6!>. — As|iert(i c|Uo, a augniento fraco, a|ire- s(>nta um grupo de al- guns ovds de Tae- niorynchits faseio- latus, com as tampi- nlias abertas, e com a superfície granulosa. Desenho semi-schema- tico. x. Fig. «7. (tiiti-.j irdã [•'ig. 65. — Um riirdão fivs- camente depositailo ile Tae- niorhyncliHS fasciolattts , com augmeuto um [louco mais forte. Vista lateral. li'' Tiicitiorhyiichns fasciolatiis, nas nus- nias condiròes, augnien- to um tanto mais forte. Saliiram (juasi todas as larvas. Fig. 7tt. — Di'si'nho, um tanto sclieniatico do aspecto exterior de uma joven larva de Taeniorhynchus fasciolatus, dos dois )irinieirus dias. Xute-se as antennas descoui- mnnalmente compridas e o siplião respira- tório anal em fónna de capacete militar. F lg. 75. — Desenho scheniarico do polii delgado de um ovo de Tae- niorhynchtis fasciolaíus, pa- ra mostrar a estructuia granulosa da pellicula ovniar. Lado esquerdo — aspecto da margem, com o tuho do microscópio levantado; lado direito — aspecto frontal com tubo abaixado. Augmento mais forte. Note-se o calibre relativamente grosso da granulai,-iio. Fig Hl ri'spiratorlo Fig. 79. larva fase medi — Vista iihotographica de imia nova lie Taeniorhynchus iolatus, do 1." dia. Augniento Fig. efi. — Um coi'dão de ovos do mesmo mos- ipiito, mostrando já a.s tampinhas de grande parte dos ovos relienta- dos, dando a conhecer r)ue as jovens larvas já sahiram. yiphão de unia larva do 1." (lia de Tacniorhynrhiis fas- ciolaíus. phiitogra- ]diadii com augmento mais tiirte. Além da lórnia e.xquisita a modo de capacte mi- litar. iKilani-se os gan- chos robustos na par- te terminal do tubo. Ta.eiiiorlivrLcl^ijis fa.sc: (Fig. 64-71; 75-79; 81). c-^ Kt I Fij;- 72. — C'>rilri'i iIit.vos. iinvii, ih' Taeitiolhynchus Arribalsagae, \\>^'^ iIimí- ma, com traro auiíiiuMitu ( pliotograpli.j. Fi}t.7».— Outro cor- ilão, nnvn, do outro imliviíluo lio Tae- itiorhyitchus Ar- ribalzai^ac, visto uui tanto oMiqua- iiieuto. Mesmo aug- miMito. (Pliotog). Fig. 77. — Desenho especial) rela- tivo aos porincuon-s dá parte anterior e da caliova de uma d'('stas jovens larvas. Fig. 78. — Desenliii da i'xrr<'midade caudal de uma larva do 1." dia de Taeniorhyiichus fasciolatus. Note-sc a cliaufi-iduni t<'nniiial nos folliolos liraiicliiaes, os ;.'anclio?, e espinhos das fileinis situadas na base do segmento anal >■ do tnlxi respiratório. Flg. 71. — Igiiaes elc- nicntos. do um outro ovo, vistos de lado e de frente. Fig. 68. — Alguns ovos de 7"r//.i'«<-//«s /rtsc/tf- latus, idiotographados com auguicnio um tanto nuiis loric. K' muito caiactcri>tica a tVirma de gar- rafa de chaiiii>aguc. Na peri|dicria pcrccbcm-se om muitos logares as vcsiculas traus|)arentes rela- tivamente grandes. A maior parte dos ovos )á dei- xou sahii- as larvas, faltaiido-lhes a peça retloiida do pólo rombo. Fig. 74 — Uni cor- dão de ovos de Tacniorhynchtis Arribalzai^ac, no niouicnto logo após a postura. A dif- feienva do colori- do, do cinzento es- curo ao liraneo, in- dica a idade rela- tiva da respectiva ala, sendo ijue os ovos, no momento de serem postos, têm ainda a eõr alva, escurecendo gradualmente no decorrer dos 20 minutos seguintes. Vista inteiramente frontal ; augmento fraco (photog.). Fig. 7<). — Trez elementos marginaes participantes na estructiira granu- losa da pellicala ovular. Yi.itos de lado, com forte augmeato. Fig. .H«. — Vista photographiea de uma larva ile Taeiíiorhynchiis Arri- balsagac, da mesma idade, ti tulo anal com uni principio de pn>la|>so, deviílo a pressão da laminula de cobrir. Na calvva pen-eU-m-so ni- tidiunente as |Kissantes escovas ei- liaa's do apparelho buccal. Mesmo augmento como da fig. 79. )lc:iti„is — X. Arriba.l2;a.g:a^e. (Fig. 72-74; 80) Pormcnuics biulugicos — Tacniurli\ nclius fasciulatus 109 sejavel, mas também não creio dever attribuir tudo a uma possível fonte de erros inhe- rentes a uma pesquiza artificial de laboratório. Ovo. Dimensões do ovo: 0,oy""" de comprimento (valor médio de 3 ovos medidos) e 0,14""" (valor médio de 6 ovos medidos). Como demonstram as nossas figuras 64, ()5, 66 e 67. os (J\os de Taeniorhynchus fasciolatus silo depositados em fios compridos, de dupla serie, comparáveis a uma car- tucheira de tira-collo, como usam os Boers. A figura 04 dá uma vista photographica, com augmento muito fraco. Maior um tanto é a ampliação das três outras vistas. Nas figuras 64 e óõ o fio representado é ainda todo fresco. Diverso o caso nas figuras 66 e 67, onde pelas tampinhas pelo lado de fora se advinha que as jovens larwas já sahiram da respectiva casca o\ular. (Veja o esboço fig. 69). Todas estas figuras representam o fio em vista latteral. A forma do ovo de T. fasciolatus é a de uma garrafa de champagne ou de um pão de assucar, como ensina a nossa figura 68, que dá uma vista photographica de al- guns ovos com augmento maior. A côr é um fuliginoso escuro, que com a idade c na casca vasia costuma ceder a um amarellaceo côr de âmbar. Examinando a estnictura exterior da pellicula ovular, recorremos ás nossas fi- guras explicativas 75. 70 e 71. A primeira representa a ponta delgada de um ovo. visto com mais forte augmento. Nota-se que a margem toda é guarnecida de elementos, re- lativamente grandes, transparentes, verrugosos, iguaes entre si, contíguos uns aos outros, e de uma forma característica mammíllar assaz diversa da dos existentes nos ovos dos mosquitos anteriormente tratados. As figuras 70 e 71 são destinadas a orientar sobre os pormenores destes elementos, com augmento assaz forte. Na vista lateral assumem. aqui e acolá, um aspecto por assim dizer cordiforme; o aspecto frontal de cima dá um disco com um diminuto circulo ao centro, correspondente á projecção da ponta do mam- millão. Pela pressão sobre o cobra-objecto estes elementos podem ser separados do substrato e isolados. Na figura 7õ. a metade direita, dá idéa do aspecto d'esta cstruc- tura, na vista frontal, com o tubo do microscópio levantado. Em somma, são facilmente reconhecidos os ovos de Taeniorhynchus fasciolatus por muitas particularidades. Os fios fluctuam sobre a agua com o lado convexo para baixo, ficando os ovos d'est'arte em pé, como no caso do Culex fatigans. Só posteriormente elles se deitam so- bre o lado. rompcndo-sc o fio finalmente depois da sabida das larvas. Larva. E' muito característica a lar\a nova de T. fasciolatus. Convidamos o leitor a apreciar as nossas vistas microiihoiographicas de duas larvas do \fi dia, fig. 79 e SO. (esta ultima aliás relativa á joven larva de T. .\rríbalzagae). feitas com augmento regu- lar, bem como o esboço, na verdade muito schematico da fig. 76. Um distinctivo dos 110 Pormenores biológicos — Tacniorhynchus fa>ciulatus — T. Arribalzagae mais salientes são as antennas extraordinariamente compridas, como as não vi ainda em larva culicidea alguma. (í\g. 77) Depois é o siphão respiratório anal, que assume feitio descommunal, tendo a forma de um capacete militar (figs. 79, 76, 78) ~ uma campana semi-espherica na base, sobremontada de um tubo cylindrico antes ténue. Na extremi- dade livre d'estc siphão ( fig. 81 ) é um circulo de singulares ganchos relati\amente fur- tes, que lembram os anzóes compostos para a caça dos crocodilios e os projectis com- postos empregados na pesca moderna das baleias, e que se abrem a um momento dado. Pela fig. 78 fica-se inteirado acerca dos pormenores da região anal da larva. No pecten tem uma fileira transversal de umas poucas escamas cm forma de ganchos denticulados. Os folliolos branchiaes, de um oval lanceolado, possuem na ponta arredondada distai um pequeno entalhe. Forte tufo de cerdas compridas guarnece o canto interior do mesmo segmento anal ; fortes cerdas notam-se também ao longo do corpo, mormente na região thoracica. Infelizmente esqueci então em 1903 de orientar-me devidamente sobre o habitus da placa labial, e hoje não tenho mais á mão o material necessário para fazel-o. Com pezar registro aqui o infortúnio que tive, em criar as larvas de Taenioryn- chus fasciolatus atravez de todo o cyclo de desenvolvimento. Nunca consegui conservar vivas as novas larvas além de uns 3, no máximo 4 dias ; depois morrem sempre com uma regularidade irritante. ( 1 ) Não podemos assim apresentar desde já esclarecimentos relativos á larva adulta e á chrysalida d'este mosquito. Todavia esperamos preencher ainda esta lacuna, aperfeiçoando-se o methodo da criação artificial por um lado, e dando maior desenvolvimento ao coUeccionar das larvas culicideas sylvestres nos seus escon- drijos naturaes por outro. 7. — Taeniorhynchus Arribalzagae Theobald ( 1903). ( Mosquito adulto, alado, veja a nossa Estampa colorida II, fig. 8 ( fêmea Ç ). fig. 9 (cabeça do macho 5 ). — Ovos e seus pormenores. (Est. G, figs. 72, 73, 74; 80). Esta espécie de mosquito, limitada ao baixo Amazonas, é toda nova, pois somen- te no anno passado foi descripta pelo prof. Theobald no Vol. IV (Suppl.) da « Mono- graph of Culicidae » pags. 261 — 263 sobre exemplares coUeccionados no Pará pelo Dr. Durham, da commissão medica ingleza que aqui esteve estudando a febre amarella. Novo material proveniente do Pará e seus arredores foi enviado por mim ao mesmo eximio especialista, estando eu de posse de exemplares identificados por elle (co-typos) ainda antes da publicação do mencionado volume supplementar. Limitando-se o autor em dar apenas alguns esboços relativos ás escamas, e tendo faltado assim até agora figura do habitus exterior deste mosquito na litteratura scientifica, a nossa estampa vem inquestionavelmente preencher uma lacuna. { 1 ) Esta situd(,ão nos faz lembrar as bellas palavras de Réanmur, com as quaes o illustre naturalista inicia o capitulo sobre o • Cousin piquant » nos seus admiráveis « Mémoires pour servir á l'histoire des insèctes > : « Les cousins sont nos ennemis declares, et des ennemis trés-fàcheux. Mais ce sont des ennemis bons a connaitre . . . . . il y a mème tel moment de leur vie oú, après avoir fait oublier á l'observateur qu'ils le persécuteront un jour, i7 !t(i fonl ressentir des inquietudes pour leur sort ». PurmciKjres biológicos — Tacniorliynclius An il)alzagae 111 Este mosquito trde á primeira vista já seu próximo parentesco com a espécie anterior. Participa com cila tanto na posse da fita clara na tromba, como na do anel claro, luzente como madrepérola, na p.irtc distai da foima de todos os 6 pares de per- nas. A diffcrcnça para com o T. lasciolatus reside principalmente no colorido ruivo- bruno uniforme do thorax c na ausência de ornamentos claros na margem e nos lados dos segmentos abdominaes. Também nos seus costumes o T. Arribalzagae é fiel aparentado e companheiro do T. fasciolatus. Entre as colheitas de mosquitos sylvestres vivos provenientes das matas de Murutucú c outros arredores da cidade de Belém vem individuos de ambas as espécies misturadas. Todavia apparece o T. Arribalzagae entílo representado na mi- noria e também nflo estende tão facilmente as suas excursões crepusculares até a peri- pheria da cidade. Procura picar na penumbra da mata sombria durante o dia, da mes- ma forma e de sociedade com o T. fasciolatus. Parece que até agora não foi colleccionado este mosquito, senSo pelo mencio- nado Dr. Durham e o pessoal do nosso Museu, e por ambos somente nos arredores do Pará. Raro não é, como bem prova a circumstancia de eu ter tido a disposição para as minhas experiências, durante a nossa campanha em 1903 nos mezes de Agosto até Novembro nada menos de 44 fêmeas vivas. Em 7 casos obtive criação, o que nova- mente corresponde de perto á proporção de 1:7. Escolho outra vez um caso instructivo dentro dos annotados no meu diário de observações. Entrando 2 fêmeas de T. Arribalzagae no dia 26 de Outubro de 1903. uma tomou sangue de cobaya no dia 27. Morreu uma no dia 30 de Outubro, ficando uma somente. Esta acceitou sangue no dia 4 de Novembro, todavia não se enchendo de todo. Tomou ainda sangue nos dias 9 e 11 de Novembro. Appareceu um fio de 42 ovos no dia 21 de Novembro e tendo a fêmea tomado uma ração de sangue de cobaya ainda uma vez em 23 de Novembro, appareceu na bacia d agua no dia 4 de Dezembro um fio regular de 2X38 — 76 ovos. Morreu neste mesmo dia. tendo durado nada menos de 38 dias no captiveiro — o que considero um caso de todo excepcional. Larvas só alcancei 4 vezes. Inter\-allo entre ultima ração de sangue e postura dos ovos: 1.° caso: 4 \. dias 2." caso: õ » 3.° caso: 5 » 4.° caso: 4 5.° caso: 4 ' ,, 6.0 caso: 4 7° caso: 4 ' j > íntcrvallo entre postura dos ovos e primeiro apparecimeniu de larvas: 1." caso: õ dias 2.° caso: 4 3.0 caso: 4 » 4.0 caso: 4 » 112 Pormenores biológicos — Tauiiiorhynclius .Viriljalzas^ac — T. ful\'us D'ahi resultaria na média um intervallo de 4 ' ., dias entre a ultima ração de sangue e a postura dos ovos, e de 4 Vj dias para a sahida das novas larvas desde a postura dos ovos. Tivemos adiante: T. fasciolatus : ovos — 5,5 dias; larvas — 4,5 dias; e agora T. Arribalzagae : ovos — 4,5 dias; larvas — 4.25 dias. E' bem possivel que n'essa serie maior de experiências o valor du primeiro in- tervallo tenderia a augmentar, approximando-se assim entílo mais dos valores indicados para T. fasciolatus. Em todo caso fica ainda d'esta vez de pé um lapso de tempo maior para estas duas primeiras phases de desenvolvimento de mais este Culicideo genuina- mente sylvestre, em comparação com as médias para Culex fatigans e Stegomyia fas- ciata, mosquitos domésticos declarados. Ovo. Semelhança tamanha entre os mosquitos alados faz suppor de antemão seme- lhança não menor nos ovos e nas larvas. De facto não posso distinguir entre ovos e lar- vas de espécie anterior e ovos e larvas de T. Arribalzagae. Referem-se a esta espécie as nossas vistas photographicas (figs. 72, 73, 74 e 80). Os fios, numero, forma e tama- nho e aspecto dos ovos, tudo é idêntico, tanto que poderiam ser tão bem de uma como de outra. Na figura 74 vê-se um fio inteiramente fresco, mostrando ainda a côr alva da porção mais nova, ao passo que o colorido vae escurecendo com a approximação da parte opposta que foi posta a primeira. Também partilham as larvas de T. Arribalza- gae (fig. 80) da mesma fragihdade, como as de T. fasciolatus. Nunca consegui crial-as além de 4 a 5 dias de edade. Não sei dizer onde moram as larvas, no seu estado livre, na natureza. Futuras pesquizas hão de trazer luz neste problema. 8. — Taeniorhynchus fulvus Wiedemann 1 1828 ). ( Veja Estampa H. : fig. 82 : fêmea pondo ; figs. 83 — 87 : ovos e seus porme- nores ). Lastimo que a adversidade de um accaso não tivesse permittido de incluir uma figura colorida deste grande, deveras bello e notável Mosquito, descripto desde muito tempo, embora deficientemente. Do original, incompleto em suas extremidades, não se conhecia a proveniência exacta, que é a região amazonica e as Guyanas. Uma serie de exemplares frescos, por nós enviados d'aqui ao prof. Theobald, em Londres, deu a este excellente profissional ensejo dará completar a diagnose e eliminar as lacunas e os de- feitos da descripção original, como se vê pelo Vol. IV ( supplementar ) pags. 257 — 258. E" entre os nossos mosquitos uma das espécies mais \olumosas. Caracterisa-se além do seu tamanho distinctamente pelo bello colorido geral amarello, côr de ouro, que se estende sobre todas as partes, inclusive boa parte da margem anterior das azas, contrastando aqui na aza com a margem distai, que é occupada por uma distincta Poimcnoros biológicos — Tacniorhynchus fuivus ll3 mancha ennciErrecida. ao passo que o restante brilha em hellissimo effeito iriante. Como pretas destacam-se também ostensivamente as articulações mediaes de todos os 6 pares de pernas, os tarsos, a ponta d,! tnimha e a dos palpos. O dorso do th(jrax e a mar- yem posterior dos anncis abdominaes também deixam ver certas zonas de uma tinta um pouco diversa, mais escura do que o bello amarello dourado {^eral. O exemplar orifíinal de Wiedcmann ( Culex fuivus) traz como pro\eniencia simplesmente ' Brazil •. — O exemplar, descnpto depois por Walker com o nome de Culex flavicosta, reexami- nado e descriplo por Theobald c conserxado no British Museum, ú indicado como tendo vindo da « RegiAo amazonica ». Um exemplar na collecção Bigot declara simplesmente «Tropical?», nem ao menos transparecendo qual das partes do mund(j devia ser consi- derada como pátria. No baixo Amazonas (Pará e arredores) tem sido nos últimos annos colleccio- nado por Uurham c (".oeldi, em muitos exemplares. Um exemplo encontrei ultimamente n uma colheita de mosquitos, feita por nossa incumbência, pelo preparador da secção entomoloííica. Snr. Adolpho Ducke, em Tabatiníía. h^iram também recentemente col- leccionados indivíduos d'esta espécie na Guj-ana In.ickv.a. — Obvio é. que nada constava absolutamente do modo de vida do Taenorhynchus fuivus. Podemos dizer que os no.ssos exemplares foram apanhados de preferencia cm derrubadas novas e capoeiras, cercadas de mato alto, no Murutucú, e sempre de dia. Ao atravessar, em horas cálidas e ao sol ardente, taes clareiras no mato, esse mosquito mo.stra-se para o excursionista e caça- dor, impertinente e pica severamente. Ovo. Uma fêmea de T. fuivus, apanhada no Muruiucú, repleta de sangue humano, no dia Ui de Julho de 1903, entrou em gaiola separada de criação, enchendo-se nova- mente de sangue humano no dia 1'), ás 9 ' ,., h. a. m. Na manhan do dia 24 foi encon- trada boiando agonisante no espelho d'agua da bacia de vidro, tendo diante de si uma postura de 78 ovos, singularmente arrumados e exquisitamente conformados. \'ejamse as nossas figuras .S2 — (S7. O arranjo dos ovos é \isi\el pela fig. K). Reunidos dous a dous apparentemente. com o lado largo, em figura de losango, — estes noxamente encostados uns aos outros, nasce o fio do o\ipositor. Mas em vez de ficarem reunidos, desagregam-se por um lado os losangos, para logo se afastarem também os dous ovos de cada losango e tomar cada um rumo próprio e independente. Dimensões: 0,498""" de comprimento (\alor médio de 4 ovos) e 0,2^>"'" de largura ( \alor médio de 4 ovos). Deveras exquisita, fora do commum. é a forma do ovo, como se vê pelas figu- ras NL*, iS4, 85. Silo curtos e largos ao mesmo tempo, no seu conjuncto offerecendo o aspecto de grilos de cuminho. O lado bojudo, convexo é a face dorsal; o quasi plano é a face \entral. O ovo inferior na fig. s4 corresponde á fig. .Só na .sua posiçAo lateral. O ovo superior da mesma fig. S4 porém a.ssume posiçAo dor.so-venti"al. Seu coloiido é um negro retinto. Quanto aos pormenores da cstnictiira exterior da l^cllicula ovular orientam cabalmente as no.ssas figuras (S5, 86 e 87. A margem mostra uma granulação composta de 114 Purmcnorcs biológicos — Taenimhynchus fulvus — Mansonia titillans elementos transparentes arredondados, iguaes entre si, e relativamente grandes. Levan- tando o tubo do microscópio, o aspecto frontal da superfície do ovo é como o mostra a metade direita do nosso desenho (fig. 86) representando o polo delgado visto sob augmento maior. Não deixa de dar na vista o mechanismo de rolhamento do ovo, no polo opposto, rombo, (veja fig. 87): E' largo e chato. Larva. Infelizmente gorou a criação toda ; nao consegui obter uma lar\a sequer, de maneira que me vejo na impossibilidade de informar desde jcá a seu respeito. Provavel- mente também a larva de T. fulvus nos reserva surprezas. Se tomássemos por critério o agrupamento, a forma e o tamanho do ovo para decidir acerca da posição systematica do Taeniorhynchus fulvus, evidentemente razões de sobra haveria para duvidar de que a collocação d'esta espécie ao lado de T. fas- ciolatus e T. Arribalzagae fosse acertada. Lá temos duplos fios de ovos estirados, em forma da garrafa de champagne; aqui encontramos ovos soltos, curtos e largos com a forma de grãos de cuminho. O agrupamento inicial dos ovos em fio do T. fulvus (que aliás tem organisação inteiramente diversa) no momento da postura, é uma phase tran- sitória de tão curta duração, que não se pôde ver n'ella senão, quando muito, uma pal- Hda lembrança do fio solido em forma de cartucheira das duas outras espécies dos mencionados Taeniorhynchus. Supponho, que também a larva será mais ou menos di- versa. Creio não me enganar, suppondo que cedo se reconhecerá a necessidade de re- mover esta nossa espécie para um novo género, eliminando-a da communhão de formas agrupadas ao redor do Taeniorhynchus fasciolatus e T. Arribalzagae. Aliás já o tama- nho avantajado do mosquito adulto, o colorido sui generis. além de diversas outras par- ticularidades bem notáveis, nos levam a augurar para este distincto Culicideo paraense uma posição systematica em género separado. N"esta emergência o novo nome de Chrysocottops não assentaria mal ao futuro género chefiado pelo actual T. fitlvus. 9. — Mansonia (Panoplites) titillans Walker (1848) (Mosquito adulto, alado veja Estampa colorida III. fig. U. fêmea; fig. 12, fêmea, de lado, em posição de repouso; fig. 13, macho (1); ovos e os seus pormenores. Est. J. figs. 88 — 92). j^ Outro mosquito crepuscular aqui do Pará, a tal ponto semelhante, em habitat, costumes e aspecto, ao Taeniorhynchus fasciolatus que, para saber-se ao certo a qual das duas espécies pertence um individuo capturado, será, por via de regra, preciso re- ( 1 ) Também o macho d'esta espécie nunca foi, ao que eu saiba, figurado por autor anterior. Theobald PI. 30 dá somente a fêmea. é' 38 Fig. 8S. — Feriiea ár Mansonia titillans, vista de cima, no princi- pio da poslura dns sciis ovos, na siiperficie da aijiia, n'iuna bacia rasa de viilro. O ovopo>itor mnilo pmlnisii, os ovos mais novos ainda alvos, os inais antij;os assumindo colorido já mais cscuro. Fraco auiínicnto. Fig. 90. — Agrni)amcntos nal nracs de ovos de Man- sonia titillans, pouco t(iM[iii drpiiis da postura. na superfície da b.icia de oli-erva(;ão. Mesmo aug- niento. Fig. »2. — Parte terminal de um lios dois pólos de um ovo de Mansonia titillans, aujrnienlo micro^co|lil■o mais forte. A estruetura e>i«l. 1'. - - ile Mansonia titillans, \ i>- los com am^miiitii mais forte. Ncite-se a sua forma eanicterislica : ilois eôiu'^ muito esiirsídos. reunidi>s lH>la base. l\l£iii«oiiiíi (1 \aiiopliteís) titillrLn.s. Pormenores biológicos — Mansonia (Panoplites) titillans 115 correr ao vidro de nuí^mcnto. Na verdade, uma vez reconhecido, cncontram-se diffcren- ças golpeantes que um confronto entre as nossas fiííuras respectivas nas Estampas líl e II melhor ensinará do que um longo commcntario. Dous silo entretanto os distinctivos que á primeira vista pcrmiltem reconhecer indivíduos da espécie Mansonia titillans: as grandes escamas escuras que emprestam ás azas um aspecto singularmente sombrio, e que fazem parecer como que preto o mosquito, quer voando, quer em repouso; em se- gundo logar a ausência d'aquelles anneis claros, na fêmea, perto da articulação distai, qi:e são substituídos na Mansonia por uma multidão de salpicos amarallaceos em campo brunaceo. Mansonia titillans também vem frequentar, ao cahir da noite, as casas aqui no Pará na peripheria da cidade, ( 1 ) entremeando com indivíduos de Taeniorhynchus fasciolatus; entretanto apparece menos frequentemente. Na mata húmida e sombria ata- ca todavia o transeunte mesmo de dia claro, como aliás 6 costume de quasi todos os Culicideos haematophagos nocturnos que eu conheço. Esta espécie tem sido colleccionada: na Guj^ana Hollandeza e Ingleza; nas Ilhas Trindade. Jamaica e Antigua; no Pará e baixo Amazonas (Durham. Goeldi); (2) no Rio de Janeiro (Lutz, Moreira, Goeldi). Ha ainda duas outras espécies assaz parecidas : Mansonia pseiido-titillans Theo- bald ( 1^*01 ), do baixo Amazonas ( Austen t, caracterisado por não ter senão as typicas escamas largas de Panoplites ao longo das veias e M. amazonensis Theobald ( 1901 ), igualmente do baixo Amazonas ( Au.sten ; Goeldi ), notável pela sua ornamentação dou- rada da parte anterior do thorax. Muito característica para a Mansonia titillans é a predilecta posição que assume no repouso, a qual se acha figurada na fig. 12 da nossa Est. III. Compare-se a fig. 2, Est. I, de uma Stegomyia fêmea, em repouso. Em vez de separar o par de pernas do meio do das posteriores e de levantar este ultimo em curva li\remente para o ar, a Mansonia junta estreitamente a parte femoral dos três pares de pernas, e emquanto o resto do primeiro par é então dirigido para a frente, conservam-se em estreita juncção o resto do 2.° e 3.° pares, dirigidas para traz, tocando no chão. Ganha assim a fêmea de Mansonia um exquisito aspecto anguloso, inteiramente desusado entre outros mos- quitos, e que sempre me impressionou. Convenci-me de que ella facilmente consegue passar desapercebida n'essa posição em que se faz de pequena e enroscada, e não he- sito cm reconhecer ahi um artificio e manobra de mimetismo. Muito pouco se sabe até agora do cjxlo de desenvohimento nas diversas espé- cies do género Mansonia (antes Panoplites). Em 1901, no Vol. I da sua obra o profes- sor Theobald deu na p;lg. 22 ( fig. 14 ) uma iliustração de ovos que elle declara serem os de um Panoplites da Africa Central, sobre a autoridade do Dr. Daniels. Recente- mente, 1900, elle poude accrescentar Vol. IV ( supplementar) pag. 270 uma micropho- tographia de uma chrysalida da mesma Mansonia uniformis de Theobald. fornecida pelo Dr. Low. Eis ahi tudo que consta até hoje relativo a este assumpto. (1) Conforme o meu sci;undo trabalho «Resumo, etc. » p.ii;. 64 da (da edição original) e pag. Sj desta re- impressão. (2) Uutras localidades amazonicas e t;uyanezas. onde esta espécie de mosquito, foi colleccionada pelo pessoal do nosso Museu, são: Ubidos. — .Alemquer, — Paraná do Paranaqu.lra. — Prainha. — .ArrayoUos, — Rio Xingu, — Faro. — Teffc. — Rio Japurá. — Tabatinga, — Rios Puriis e Acre, — Amapá. H6 Poi-menuros l)ioli);:;'icos — JNIansonia ( Panuplitrs) tililkins Ovo. Nos mezes de agosto, setembro c outubro de l')03 fiz experiências com õ fêmeas vivas de Mansonia titillans. ( 1 ) Uma que tinha sido apanhada na residência directorial, ao cahir da noite, ao jantar, no dia 31 de agosto, foi encontrada pondo na manhan do dia 3 de setembro. ( fig. !S e foi encontrada pondo ovos na manhan de 27 do mesmo mez, depois de um intervallo de 2 dias depois da segunda ração de sangue e de 7 de- pois da primeira (fig. 93). Eram cerca de 5(í ovos, uma vez a postura completa. Poudc acompanhar a funcção da postura com toda a folga, conseguindo tirar tanto photogra- (1) Conter K. 1'. Folt, M..sqiiitoes of Ncw-Yoik StíiU-, 1<>M. paií. .'76. >■ h\ii wood mosquito». ( j ) I iiur I espécie IdiilhiiioSiViia />Oí/íVen lie lailfllillDSOIIia lltll- siia, para demoiis|i;i|- n es- triicliira csiiccitica da pcllicnla ovular. IViceliem-.-e os csplnlios mariíiiiaes por toda a linha de eoiiloriie. oliliinianieiite dirigidos p.-ira a trenle. 78 Fij;. l«0. - Tina ]iei|iuMia por- ção da |)eriplieria de uni ovo dl! Innth. Ltitsii, desenhada com lorli-.-imo ani; nlo, nios- (rando dois opinhos. l'"ig. «J. — |)ois ovos frescos de lanthinosoiua musica, vi>- tos com maior aii^mento. Com- parados com o> de Mniisiiiiia nota-se <)ne. devido ;í cur- valiiia mais forte da linha do lontoriio dorsal, parecem monos angulosos c mais arrcdondado.s. ( Vista photo};. ). S. !»!>. — Tolo dejoado de um ovo de lanUiiiiosoma Lutsii, dese- nhado com aiiiíinento mais forte jiara salientai- a estrnetura especifiea da pcllicnla ovular. Mesmas condi- ções como na tio-. 9(i. .\pezar da íirande semelhanya, nota-se (|ue os espinhos marginacs são visivelmeiito mais a-riidos. Fig. í>^. — Vista photo,i;rapIíi- ea de dois ovos frescos de laittliinosonia Lutsii , nas mesmas eondivòes que a fi:;. 114. Confrontando os ovos do andias estas es|x>cies. notnni- se. ao lado de uma conside- rável seuielhaiiva fcend. eoni- tudo aliiuniius (lifferençjis. Fig. «7.— lvs|)0(;o lia [larle terminal do alidomen de uma feiuea cie laufhiiwsonia musica, com o nioehanismo ovo|H>siior cm completo estailo de pio- ào. Vi>ta lateral. Desenho feito do natural. trus servindo uma fcinea durante o neto da postura. laiitliiiioísoiiiíi iiiub^icci— I. Liitxcii. (Fig. 93-97). (Fig. 98-100). Pormenores biológicos — lanthinosoma Lutzii lig 11 lanthinosoma Lutzii Theoha/d ( IWI i ( Mosquito adulto alado, veja nossa Estampa colorida IV, fig. 16 ( fêmea ). — Ovos e os seus pormenores Est. K, fig. 'W — 100. Este bellis.simo mosquito, facMlimo de conhecer, quando ainda em bom estado e nao ainda roçado e dcstituido de escamas, pelas duas visto.sas fitas longitudinacs, na margem do thorax, formadas de pcllos amarello-dourados, somente em 1901 foi des- cripto pelo prof. Theobald, .sobre material trazido pelos Drs. Austen e Durham do baixo Amazonas e do Pará. Desde entílo foi colleccionado por nós em innumeros exem- plares n'estas mesmas regiões, ( 1 ) sendo positivamente um dos mosquitos mais frequen- tes aqui e além d'isto foram exemplares para o Museu Britannico apanhados na ilha da Trindade, na Guyana Ingleza e em Surinam. E' um mosquito indigena, que convém conhecer, já pela abundância em que costuma apparecer em certos logares e em certas épocas. Manifesta prova d'i.sto é cer- tamente a circumstancia de que, n'uma única collecçílo de mo.squitos organisada em dezembro de 1903 — janeiro de VX)4 me vieram nada menos do que 247 indivíduos de lanthinosoma Lutzii, de maneira, que chegava para prover todos os Museus. E' idêntico cm hábitos o costumes á espécie anterior. Ovo. A semelhança com J. musica estende-se como era de suppor, também ao ovo. (Figs. 98, 99, 100). O tamanho é o mesmo, é também o formato, como o demonstra o confronto entre as microphotographias (figs. 98 e 94). Realmente a única differença leve, que eu fui capaz de descobrir depois de muita procura de distinctivos cathegori- cos, reside talvez na estructura exterior da pellicula ovular. Tornamos a encontrar os mesmos espinhos, virados obhquamente para a frente ( fig. 99 ), como na espécie ante- rior (fig. 96), todavia aqui se me afiguram como sendo por via de regra, de ponta sen- sivelmente mais aguda. Procurei representar o feitio d"estes elementos marginaes do ovo de Janth. Lutzii pelo desenho (fig. 100). feito ao microscópio com maior augmento. Não ob.stante este pormenor, julgo que seria uma tarefa desesperadamente diffici! de attribuir ovos com certeza a esta ou áquella destas duas espécies de íanthinosona. num caso onde ovos de ambas fossem inteiramente misturados. Larva. Os meus esforços no intuito de obter larxas dos ovos postos em captiveiro fo- ram frustrados da mesma maneira, como em tantos outros casos. Evidentemente tam- bém a larva de janth. Lutzii se approximará da de Janth. musica em alto gi-au. Conti- nuam por ora ignorados portanto os outros pormenores da historia do desenvolvimento de J. Lutzii, exceptos os relativos ao ovo. ( 1 ) Localidades amazonicas onde espécimens d'este mosquito foram durante os últimos annos coiicccmn ilo; pelo pessoal do nosso Museu são: ( )hidos. — Parani de Paraiiaqu.ira. — 1'rainha, — .\rayollos. — Rio .\in.;a. — Teflfí, — Kios Purús e .-\cre. 120 Pormcnorc-s biológicos — liiMdtia ( 'riithoposopon) ni\ipes 12. — loblotia (Trichoposopon) nivipes Theobaid {,vm) ( Mosquito adulto, alado, veja nossa Estampa colorida V, fig-. 21 ( fêmea ), e fi- yura 2L' (cabeça de macho); larva, pupa e seus pormenores Est. L, figs. 101 — 105). E' um mosquito de tamanho avantajado. Embora á alyuns respeitos .semelhante ás duas espécies de janthinosoma .supracitadas, ou a a]8;umas espécies de Sabethes e Megarhinus, loblotia nivipes di.stingue-se n'um exame mais cuidadoso, sem demasiada difficuldade, além do colorido da face superior, visivel na nossa Estampa, pela bella côr amarellacea creme, luzente do abdómen e os tarsos todo brancos do par médio de pernas. E' um Culicideo silvestre. Os exemplares que serviram ao Snr. Theobaid para a sua descripção original tinham vindo da Ilha da Trindade, onde o Snr. Urich achou o logar de criação em poças dagua em plantações de cacáo; desde então coUeccionei e criei-o frequentemente aqui no Pará , Lutz encontrou-o no Rio de Janeiro e em São Paulo, conforme Theobaid Vol. IV pag. 334. As imagines de loblotia, criadas por nós no captiveiro em 1903, nunca quizeram acceitar sangue. Sustentando-as com mel e agua, viveram em 4 casos annotados no meu diário de observações 5 — 4 dias, 5 dias ( duas vezes), 9 dias respectivamente, sendo este o míiximo de duração de vida observado por mim aqui n'esta espécie de CuHcideos. Ovo. Nada sei até agora do ovo de loblotia nivipes por experiência pessoal porque nunca cheguei a observal-o. Nem as fêmeas deste mosquito apanhadas em Uberdade chegaram a pôr no captiveiro, nem as fêmeas criadas de larvas trazidas da mata. No volume IV ( supplementar ) pag. 334 o Snr. Theobaid diz « The eggs are laid singly in smali numbers on the surface of the water ; the rather large larva escapes the next da}' ». Larva. Durante os mezes de setembro e outubro de 1903 obtive muitas lar\as de loblo- tia nivipes, que foram trazidas da mata de Murutucú em boccaes de vidro, nos quaes eu mandei entornar cuidadosamente a agua contida no coração ôco das Bromelias, no pé das folhas de bananeiras, cm depressões de páos cabidos, etc, emfim cm pequenas poças d'agua de chuva, formadas, conservadas espontaneamente lá fora, sem interven- ção humnna alguma. Desenvolvem-se ;is larvas satisfactoriamente, conservando-se nesta mesma agua ; morrem porém substituindo-a por agua pura do encanamento. Evidente- mente a larva de . loblotia é uma dessas que exigem uma agua rica em substancias humosas, detritos orgânicos de folhas em maceração, etc. Como a imago, é grande natui'almente também a larva. \a fig. 101. as duas no centro .são vistas de cima, as duas á esquerda são vistas pelo lado inferior. A cabeça é arredondada, apparecendo n'ella como distinctivo assaz fácil de re- ter a antcnn;i, de tamanho médio, cylindrica, tendo n;i ponta distai uns cinco estyletes í*» Í>«s Jd Fig. MU. — Vista pliiil(im-a|iliii-a t\v ((iialrd lar\as adultas, i;or(las c ln-iii iuitiiila> o de unia cliry.-alida ( ]iiii)a ) de loblolio ( Tiirho/>nso/>on ) nivi/H-s, liaco aiinMiciito. Nas duas larvas do meio. a vista (' dorsal; nas dlul^■ ao ladt) fs(|uordo. vista alidiiiiiiiial : a din^alida ú tomada luii i)oiico oljlii|uamciil(', <|nasi om vista latoral. farartciisam a larva, alétii doM-u tamanho e calilírt- eonsidc lavcis, as escovas ciliares da cabeça modestamento desenvolvidits e certos |X)rmenorcw nus ex- crescências ehitinosas da rcfíi.ão anal ( no oitavo segmento e no siplião re.-piratorio ). I'ig. I04. — Dcsenlio feito com camará Incida, da parle al)oral de uma larva juvenil, meia, de loblotia nivipcs. Fig. 10:{. — ('oriiun<'(o do airni|iaineiilii natural da piara laliial i nuMituni l. no ci^Mlm, e das duas niandibulas. };uarncci- da.-i de fortes dentes c ganchos, ( pelos doi.s hulos I ao redor da aber- tura buccal, de uma larva crescida ile loblo- lia I Tric/io/>ioso/>on I nivi/tcs. riiiito^raphado com au^ruicnlo micros- cópico rej;idar. Fig. lOa. — Desenho da anlenna da Inrva adulta de loblotia niriprs, feito com grande auj;- niento. Camará imida. Fig. I05. - ■ l>eseidiii. leilo na> luc.-mas condin-ies que o prccedeulc. ilo siphilo anal de uma larva grande, adul- ta, de loblotia nivi/>cs. loblotiei ("rrie^lioproisopoii) iiivipes. Pormenores biolojjicos — loblolia (Triclioprox.pfin ) nivipes IIM chitinosos (fig. 102). Ha outrosim cumo peça bastante característica a placa labial, que cm larvas adultas por via de regra mostra 7 + 1 + 7 dentes aguçados na margem an- terior: — é triangular e curta ( fig. 103, em baixo). Parece que uma ligeira variação no numero do.s dentes é cousa que cahc nos limites do po,ssi\ ei nesta espécie, pois de 3 larvas jovens, que tenho deante de mim, uma conta distinctamente 8+ 1 +8 dentes, bem como duas adultas mostram a formula 0+ 1 + 6. Singularmente reforçada parece-me também a armaçAo mediana da mandíbula: 4 dentes fortes ao lado esquerdo- do gancho grande e um possante dente ainda pelo lado direito (fig. 103). Ricos tufos de cilios largos e rijos nas margens do thorax. Quanto ao lado aboral da larva de loblotia nivi- pes temos os seguintes signaes notáveis: o siphão é curto, cónico e de contornos for- mados de linhas qua.si rectas (figs. 104 e 105). Xas larvas jovens (fig. 104) tem algumas fileiras longitudinaes de ténues cilios. reunidas em grupos de dous e trez; na larva adulta (fig. 105) o siphão é ornado com 2 tufos bem vigorosos, muito approximados, de cerdas possantes, rijas, insertas um pouco aquém da metade, pelo lado interior. Entre o siphão e a parte terminal do segmento anal acham-se uns tufos menores. Na margem pos- terior do segmento anal ostenta a larva nova (fig. 104 i uns 6 grupos de cerdas longas, das quaes o interior conta 8, diminuindo o numero de cerdas de dentro para fora, não possuindo o ultimo mais que 2. Na larva adulta nota-se uma reducção no numero das cerdas desses grupos ( fig. 101 ) a duas e uma ; attingem porém então um comprimento extraordinário, igualando bem os 3 últimos segmentos abdominaes em extensão linear. Os folliolos branchiaes são de um lindo oval alongado, sem outros caracteres dignos de especial menção. Pupa. Massuda, corpulenta como é de esperar para um mosquito tão grande, a sua feição geral é visivel na nossa figura 101, á direita, que dá uma vista photographica lateral de uma chrysalida fresca e viva. As tubas respiratórias thoracicas são curtas e largas, um pouco como na Stegomjia. Na cabeça, região dos olhos, tem dous cabellos eriçados e isolados. A margem dos dous últimos segmentos abdominaes é guarnecida de cada lado por um \-igoroso tufo de cilios, contando eu de 24 a 26 em cada um dos últimos e de 14 a 16 nos penúltimos. Os segmentos anteriores tem um único cilio no mesmo logar. São singularmente curtos e rechonchudos os remos anaes : n'uma pupa do sexo feminino, que serve-me de cotejo durante a redacção das presentes linhas, não são muito mais compridas que o ultimo segmento anal, que por sua vez é bem 3 vezes mais largo do que longo. No vol. IV, supplementar, pag. 334, o prof. Theobald deu em 1^X)3 notes on thc life-hi.story > de loblotia nivipes, acompanhadas de duas figuras (1*)0 e 101) relativas ;l cabeça e á parte anal. Mas como o eminente especialista não dispoz, como ellc confes- sa, senão de uma única larva « in an immature state « e ainda * the specimen some- w hat shrunken >, figuras e descripção sahiram imperfeitas, que com estes elementos só difficilmente se chegaria a reconhecer com segurança a larva \ iva desta espécie. So- bretudo o siphão anal sahiu desastrado na fig. 1*)1. 122 Pormenores bioloj^icos — Limalus I )urhami 13. — Limatus Durhami Theobaid [ l^XDl ). ( Mosquito adulto, alado ; veja nossa estampa colorida \'., fig. 20 ( fêmea ); larva e pupa e seus pormenores Est. M, figs. 106^ 113). Ha apenas trez annos que o prof. Theobaid, no appendice ao Vol. II da sua nota\el « Monograph of Culicidae », pags. 349 — 351 deu a primeira descripção d'este muito notável e bello mosquito, sobre material ido d'aqui, do Pará. colleccionado pelo dr. Durham. Desde então foi criado e colleccionado em amplas series, por mim no Pará, e parece, a julgar pelo que diz Theobaid no recente Vol. supplementar ( 1903 ) pagi- nas 333 — 334, foi observado também recentemente no Rio de Janeiro. Até agora não constam outras localidades, senão sitas em território do Brazil, ficando como pátria pre- dilecta a região amazonica. ( 1 ) Faltava até agora uma illustração do habitus de Limatus Durhami; julgamos prestar mais um serviço á sciencia, preenchendo esta lacuna por um desenho com inex- cedivel cuidado feito sobre material fresco e \\\o. Caracterisam a imago de Limatus Durhami ( fig. 20 da Est. V ) os seguintes dis- tinctivos : pernas proporcionalmente muito compridas, uma tromba igualmente bem com- prida, e sobretudo a rica ornamentação polychroma do thorax. onde brilha uma figura em cruz em uma luzida côr de ouro, sobre fundo que ora puxa ao roxo e azulado, ora ao purpúreo. O abdómen mostra um violeta ennegrecido, apparecendo uns salpicos brancos aos lados de cada articulação de segmento. As azas são um pouco sombreadas, como costumam ostentar principalmente muitos membros do género Culex. Quanto ao habitat e ao modo de vida, posso informar que o Limatus Durhami acompanha fielmente a loblotia nixipes em todos os pontos essenciaes. E' igualmente um carapanã sylvestre, diurno. Muitas vezes a mesma pocinha dagua de Bromelia ou de Banana-sororóca continha ao mesmo tempo larvas de loblotia e de Limatus. Durante os mezes de agosto, outubro, novembro e dezembro de 1903 criei centenas de larvas d'este mosquito, obtendo as imagines. Estas imagines criadas no captiveiro todavia não acceitaram sangue e também nunca puzeram ovos. Sustentando-as com mel c agua vi- veram na média de 2 a 8 dias; comtudo notei que uma imago durou ló dias, outra 17, outra 19, outra 22 e uma mesmo 32 dias, a maior duração de ^•ida observada em indi- víduos captivos d'esta espécie de Culicideo. Ovo. Como acabo de declarar, não tive a ventura de encontrar os ovos. De pocinhas de agua sylvestre não os obtive, e as fêmeas criadas no captiveiro não quizei-am picar e chupar sangue, nem pôr ovos. A alimentação com mel de abelha não produziu postura alguma. ( 1 ) Temos exemplares colligidos no Uyapoc pelo pessoal do nosso Museu. 31 Fijí. II O. — Desenho ta com aiiL;-mciito mais fortp. Kolliolo^ \n:\\\- chiaes de forma ellipsoidal estirada; si- |)hão eiirtn ; pecleii do f)ilavo sefímenlo inriiiado de poucas escamas, do aspecto ili' iiiM espinho simples, não ramificado. Fij;. im. Õntra clirysalida de Líiiiatus Diirhaiiii, em altiliide mino» lor- (,'aihi, mais natural. Km Indo nas mesmas con- dições ipie na fi;r. 1 \'2. Fig. lOB. — Larva achdia de Liiiiatiis Dtirhaiiii ; vista photoirraphiea iiini fraco aiifrmento. Notável é, á pri- meira vista, o coni|innicnto conside- rável e a fornia esbelta. Siphão res- piratório anal curto. Fig. III. — Desenho da parle aboral de uma larva adulta de Liiliatus Durhaiiii, para mostrar a forma do siphão anal. Fig. 107. — ( rhaini, incsnias Fig. lOO. — Placa labial I nieulum I de uma larva crescida de Limattis D ti- Dttrhami ; pholoi;ra- nas phada com forte auj;- niento microscópico. Fig. 1 1 a — Chr^-salida | pnj>a ) de Liiliatus Dtirhami, vista photojrraphica lateral, com fraco auirmenlo. .\ bainha qiic sorvo do invo- htoro li tromba do mos- quito alado, acha-sc um tanto afastada da sua |Hisi- vAo natural, encostada á linha niiHliana do thora.x. Tubas ri'spiralorias no dor- .so do thora.x relativann-nto ourln-s e insisiiiificanlos. Desenho da aniouna da ida do Liiliatus Du- Fig. lOS - larva cresc rUaiiii, feito com aufrinenio forte. Liiiiritti^^ 1 ^i irl innii, Pormenores biolo<.'icos — Limatus Durhami 123 Larva. Innumcrns larvas, desde meio maduras até adultas, foram-me trazidas em aj?ua, da mata. Sempre cresceram facilmente, nAo exií,nndo cuidado especial algTjm. Deixan- do-as desenvolver na mesma airua oriífinal, rica cm detritos de folhas, flores, etc. vin- gam quasi todas. O aspecto geral da larva de Limatus fornecem as nossas microphotographias fgs. 106 e 107. E' comprida e esbelta, em comparação com a larva de loblotia nivipes. A forma da cabeça é mais rectangular, bem curva somente na margem frontal. Muito exquisita configuração têm as antennas (fig. las), que são reduzidas a um cylindro tão curto que c preciso procural-as, tão facilmente escapam d vista. Com forte ampliação, somente, apparecem na parte terminal uns dcntesinhos curtos, curvos e largos, os quaes evidentemente substituem os costumados estyletes que, nas larvas dos outros mosquitos, lá se costumam encontrar. A placa labial da lar\a de Limatus Durhami ( fig. 109 ) é uma peça em forma de pá de arado, estreita, com 8+1 + 8 dentes na margem anterior, tanto quanto posso ver das minhas respectivas preparações microscópicas. A guarnição de cerdas marginaes thoracicas é farta, porém relativamente ténue, (figs. 106 e 107). Cilios menores, reunidos em 2, 3 e 4. assentam sobre as margens dos segmentos abdominaes, que apparecem singularmente estirados. Relativamente á reg^^ão anal as seguintes informações: o siphão é curto, cónico, porém os contornos externos formados de linhas curvas em forma de coxa ou de S. (fig. 111). Em comparação com o da larva de loblotia nivipes ( fig. 104 ), é de base mais estreita. Possue sobre os lados externo e interno umas fileiras longitudinaes de cilios que são reunidas em grupos de dois nas series internas, isolados ou aos pares nás externas ( fig. 111). Assim ganha o siphão respiratório da larva adulta de Limatus Durhami um aspecto que se assemelha áquelle que encontramos no siphão da lar\a ju\enil de loblotia nivipes ( fig. 104 ). Cerdas com- pridas e rijas cercam, como no caso de loblotia, a margem posterior do segmento anal. O pecten é formado de escamas em fúrma de um único espeto cuno (fig. 110). São poucas, uma meia dúzia talvez. Os folliolos branchiaes são regularmente oblongos, compridos, (figs. 106, 107, 110 e 111) sem outros signaes especiaes. Pupa. O habitus geral é demonstrado pelas figuras 112 e 113, ambas vistas lateraes. E' comprida e franzina em comparação com a chrysalida de loblotia. Os tubos respirató- rios thoracicos são ténues, tubulares e compridos. Os dous ultimes segmentos abdomi- naes têm. como n'aquella tufos vigorosos de cerdas na margem exterior. Curtos e de pouco desenvolvimento superficial são novamente os remos anaes. Não posso reprim r um sentimento, de que ha entre larva e pupa de Limatus Durhami não poucos traços de parentesco com larva e pupa de loblotia, relati\amente mais do que com quaesquer outros géneros e espécies. Aliás também já o prof. Theo- bald em 1901 e 1903 tinha collocado Limatus e loblotia em próxima visinhança no sys- tema dos Culicideos. 124 Pormenores biológicos — • Mcgarhinus sci)aratus 14. — Megarhinus separatas Arribalzaga (isoi) (Mosquito adulto, alado, \eja nossa Estampa colorida \', fig-. 19 (macho cf ). — Ovos, larva, pupa e os seus pormenores Est. N, figs. 114—129). A este gigantesco e sobremodo bello mosquito já ti\e occasião de referir-me no meu primeiro trabalho (pags. 7 e 8 desta reimpressão). Foi colleccionado até agora em Cayenna, Guyana Franceza — Alanáos — Pará (Walkcr, Goeldi) — Baixo Amazonas (Austen) — Rio de Janeiro (Lutz) — RepubHca Argentina (Gran Chaco). Não é raro na região amazonica. No correr dos últimos annos não somente me trouxe numerosos exemplares de diversas localidades o nosso preparador de entomolo- gia, o Sr. Adolpho Ducke, como obtive ovos e larvas de uma chácara visinha do pró- prio Museu. Affirma o Sr. Ducke que a picada d'este mosquito, que elle teve occasião de experimentar, é bem dolorosa, comparando-a á ferroada de uma caba (Vespidea). Larvas vivas e uma chrysalida obtive também com agua do ôco de um pão das matas de Murutucú (Pará) em 29 de agosto de 1903. Morrendo a pupa, formou-se outra no dia 4 de setembro, que já no dia 5 forneceu uma imago. Esta, sustentada com mel e agua, viveu até o dia 14, — portanto 9 dias — sem acceitar sangue (o que se experimentou por diversas vezes). De outras ó pupas que obtive no mesmo dia 29 de agosto, saíram, já no dia 30. trez imagines, do sexo masculino. No dia 2 de setembro metamorphoseou-se mais uma larva em pupa. No dia 9 saíram mais duas imagines, — justamente por occasião de uma ^■isita do Exm. Sr. Governador do Estado, Dr. Augusto Montenegro ao Museu acompanhado dos illustres personagens mencionados nos pareceres do frontespicio. Suas Exs. tiveram occasião de ouvir o zumbido d'estes dous gigantescos carapanãs e fica- ram impressionados pelo sonoro contrabaixo desta voz. Ovo. Um acaso poz-me de posse dos ovos e das larvas de Megarhinus separatus, que tinham sido depositados num caldeirão abandonado, com agua de chuva, n'uma roci- nha não longe do Museu. Os ovos, (fig. 114), 19 ao todo. fluctuavam horizontalmente sobre o espelho d'agua, reunidos em 4 grupos, de 4, 5, 6 e 4 ovos juxtapostos, lembran- do o agrupamento dos fios em f(5rma de cartucheira tira-coUo, como os conhecemos nas espécies Taeniorhjmchus fasciolatus e T. Arribalzagae. Talvez ti\'essem formado a prin- cipio um só grupo ou fio, o que augmentaria a semelhança. Os ovos já tinham deixado sahir as larvas ; mostravam uma dehiscencia longitudinal interessando um terço mais ou menos do polo não verrucoso (fig. 115). Os maiores que eu tenho encontrado até agora na familia dos Culicideos, são perfeitamente visíveis a olho nú, pois medem nada menos do que 1,02 '"'" na média, portanto o dobro de um ovo de Stegomyia, por exem- plo. Muito exqui-sito e descommunnal o seu aspecto e configuração. São comparáveis a uma clava, da qual um pouco mais da metade mostra a superfície toda occupáda p<>r uns tubérculos que á primeira vista parecem an-edondados. Submetti esta cstnictura es- pecial da pcUiciiIa ovular, na f(')rma do costume, a um exame mais detido. Com aug- Fia;. I2M. -Desenho da lenião iiiílciidr, lia mesma larva, hiideiidii a illnstrar porme- iiiircs da tidta rcsjiiratdria no dorso do Ihorax, e dos tntos de eerdas raniilicadas no |iri- mciro segmento abdonnnal. 111. — Qnatro grii|>os na- Inrars de ovos àcMegarUiiius scpaiatiis, vistos com aiij;nieii- to muito fraro (doljro do tama- nho natnral |. ."», I ni í;iii|Xi d'esles ovos de Mcga- yhintis Sfpíiiattis, photofiraiihados eom an- ginento mais forte. As hirvas já sahiram, con)0 se vê pela fenda longitudinal contra o |"'ilo delgado. Dois teryos do ovo eoheitos de umas saliências verriicosas relatixauiente grandes. A forma do ovo lembra uma antiga clava. Fig. 124. ~ Desenho, traçado á camará lú- cida, do siphão anal da larva adulta de Megarhintis separattis. ''■^nijéiê^ym^ 09 1, / ■■ •^ \ w /■ t Y ^^ ' / (/ • 1 ^% -- i.>v' ' / a^.í' './ . í 'ítn -y í-i '/ /"j . j './ Fig. 116. — Uma pe- iiurua parte da zona marginal de um ovo. para demonstrar a e.structura especifica da pellicula ovular; desenho feito com au- gniento mais forte. Vê-se que as piotn- berancias são uns sa- quinhos alongados, de superfície áspera. fmmf^- Fig. 136. — Alginis des- tes elementos espinhen- tos da mesma annavão, vistos e desenhados com anipliavão mais forte. \^- \ Fig. 125. — Aspecto da armaçiío espiídienta da mar- gem posterior do ultimo segmento anal. desenho feito com a camará lúcida. Fig. 121. — Placa labial (mentumi de uma larva adulta de Mega- rliiniis scparafus, i)hMtiigraphada com forte augmento micro.scopico. Fig. 117. — Dese- nfio ilc uma d'e3- tas salicni'ias em f6rma ile sacco fei- to com torto au- gmento. Parece que são ô<-iis, porque nota-sc |ielo lado distai um orifício. Evidentemente tra- ta-se de uma in- stalla(,ão hidrostá- tica, servindo as saliências com as as[)critlades para o ar penetrar nos in- Icrstícios e impe- dir a submersão do ovo. ' Fig. 120. — Dese- nho da antenna da larvade Mcgarhi- Hus separatas , feito com au.KÍlio da camará lúcida. Ni egarliinij Fi;;. l'-iit. — Ivshoço ilo ter- cciíi) friii|)o áv cciilas o>pi- riliriilas l;ili-i:ii's dci Ihiirax ■ 1:1 laiAa ailiilia ili- Mci^a- r/iiiii/s scpcnjtiis, liiin COMI 1'ariiara iiii-iila. Fig. IIS.— Larva adulta de Megarhinus se- paraftis,\\>\í\ com fraco aiifiineiilo. pois é uigaiitcsca. Fóriíia rclalivan.oiite mais cunci- formc do ijuo liica Ma> iiir^ina^ priipurçòi- da liiíiira anterior. N.ilain-M' os piiichos <• dontcs n>l)ii>tos c valentes. <|nc v»"Mn a giiar- iieci-r laleralnieMle a alierliira luiceal. Fig, Fig, 127. < lirv~aliila i piipa i de Mci;arhiiiiis scpara/iis, fnico aii- jrmenlo, vi-la lateral. Folliuli» liran- eliiae.» da região anal piu fórina de largos remos índios. 11 J>. \ mesma larva, visla lateral. O |h>scoi,'0 é estendido uni tanto demais, 1' ifinalmente houve lun pro- lapso do intestino pelo anus — phenoinenos anormacs sobrevindos iHist-mortem. Fig. 149. — l>osenlio de um tufo da- mesmas cpnla.s, e.xamiimdo com augmento mieroscopieo assaz forte. «eparattis. Puimenorcs hiolooicos — Mcgailiinus scparatus 125 mcntu maior vê-se, como ensina o nosso esboço {lig. 110). que da superficie uniforme- mente granulosa saem em distancias regulares e equidistantes uns prolongamentos em feitio de sacco. Emprego esta comparação, porque maior ampliaçAo ainda fez-me vôr que elles têm um orifício na parte exterior (fig. 117), o que me faz desconfiar que silo ocos. Ora, sendo ainda toda a superficie semeada de asperesas, comprehende-se, como por todos estes meios e recursos é obtido um sem numero de cantos, dobras, sinuo- sidades e cavernas, onde o ar pôde achar um ponto de apoio e esconderijo, alcançando- se um perfeito apparclhu hydrostatico, nimiamente idóneo para garantir a fluctuação segura do ovo no espelho d'agua. A tendência de formar excrescências com o fim de auxiliar a funcção hj^drostatica attinge aqui nos ovos de Megarhinus separatus eviden- temente um dos seus extremos. — tanto quanto me consta, sobrepujado somente ainda no caso do ovo dos Anopheles. Larva. A colossal larva (fig. ll.S vista dorsal, fig. 119 vista lateral) mede nada menos do que 17 — IS""". Ella possúe um habitus característico, pois em vez de ser mais ou menos c^iindrica como em todos os outros casos, assume a forma de um cone estirado ; o mais largo ú a região do thorax, e os segmentos abdomínaes vão successivamente diminuindo em largura da frente para traz, de maneira que o segmento IX, anal. ape- nas tem a metade do segmento I. Também não quero esquecer de communícar que até o colorido é notável na larva de Megarhinus separatus. pois ú de um bonito tom rosa ou carmim pallido, que dá bem na vista. Na possante cabeça merecem ser notadas as antennas longas, cjiindricas, suave- mente curvas (fig. 120). Vejo em sua extremidade dous estyletes cónicos e duas cerdas finas; um par de duplas cerdas observo também insertas no primeiro sexto, pelo lado interior. A não ser o tamanho dí\erso, a antenna larval de Megarhinus separatus asse- mclha-se em certos respeitos á de loblotia nivipes (fig. 102). Muito extiMordinaria é a placa labial da larva de Megarhinus (fig. 121). Parece uma coroa. A formula dos dentes do exemplar adulto que tenho diante de mim. é 8+1+8. Agora, o que empresta um cunho singular a este mentum é a circumstan- cia de serem os dentes, sobretudo os grandes medianos, assaz obtusos. Cousa que tam- bém não se vê nas placas de outras larvas culicideas, é a circumstancia de serem al- ternativamente compridos e curtos os dentes. Numerando os dentes de um lado I. i. 2, 3. 4, 5, 6, 1, (V, - o 2.0 e 7.° são os maiores, seguindo-sc-lhes os 3.°, 6.° e 8." com compri- mento médio, ostentando emfim os restantes 1.°, 4.» e 5.» menor importância. Ora. na relativa obtusidade dos dentes, como na diversidade alternativa do tamanho a placa labial de Megarhinus adquire uma singular semelhança com a da larva adulta de Clii- rononnis, culicideo não haematophago, como ensina um confronto com a figura âS pag. 125 do precioso li\rinho de Miall op. cit. Respeitável arma de ataque para segurar e soltar partículas alimentícias é ou- trosim a mandíbula (fig. 122) com os seus formidáveis dentes, dos quaes vejo existirem 4 somente. O que no thorax (fig. 118) chama principalmente a attenção são os espinhos grossos, robustos, le\-emente curvos, por sua \C7. espinhosos a modo de galho de pi- 120 Pormcnoicí biológicos — Megarhinus scjiaratus nheiro, implantados nos mesmos mamillões de cada segmento, onde se inserem também com a sua base vistosos pellos tenuemente plumosos (fig. 123). Taes espinhos repe- tem-se aliás também, pelo menos um a um, nas margens dos segmentos abdominaes. O siphílo respiratório bem visivel só na vista lateral, fig. 119, é recuado para a frente. E' de forma cónica estirada (fig. 124) de contornos rectilíneos, não muito grande; dous tufos de pellos plumosos acham-se insertos na parte basal, interior. A beira posterior do se- gmento anal é occupada por uma fileira continua de escamas spiniformes e diversos tufos valentes de muito compridas cerdas, como se vê pelas figuras 125 e 126. Digno de nota é que os acostumados folliolos branchiaes parecem faltar, sendo substituidos por umas protuberâncias hemisphericas na sua ponta livre, pouco proeminentes (formação anormal, post-mortem, devida á turgescência na formalina, é o prolapso do intestino pelo anus, como se vê na pag. 119). Pupa. A ella se referem as nossas figuras 127 — 129. E' por sua vez gigantesca, me- dindo, mesmo curva como é, ainda 15'""' pelo menos de comprimento. Tornam a appare- cer dous cabellos ténues na região dos olhos, como os encontramos na pupa de loblo- tia, com a qual offerece, a mais de um respeito, pontos de contacto. As tubas respira- tórias thoracicas (figs. 127. 128) são compridas e tubulares. No meu exemplar, que é do sexo feminino, os remos anaes são largos, obtusamente acuminados, de contornos menos circulares, apparentemente assymetricos. \'i.stoso é o par de tufos de cerdas, implantado no dorso do primeiro segmento abdominal (figs. 127, 128, 129). Aliás esta , desenhando-os, como bilateralmente achatados (fig. 6S, c). Nao sflo assim na nossa larva: os espinhos secundários sRo insertos todos ao redor do eixo. O que me surprehendeu um tanto, foi a noticia acerca do ovo de Toxorh\ticlii- fi's iiiiniiscricors Walker, que o Sr. E. E. Green em Cejiilo observou na agua de um toco decepado de bambu: «The eggs are laid singly. They are of a regular ovoid shape and float on their sides on the water, rupturing accross the aequator into two equal halves to liberate the young larvae ». No nosso Megarhinus separatus amazonico vimos que os ovos sao 1) postos em fileira, uniserial, semelhante aos fios de ceiíos Taenio- rhynchus 2) que a dehiscencia é longitudinal. Nos seus caracteres larvaes e pupaes, ponderados no seu conjuncto, o Megarhi- nus assume inquestionavelmente uma posiçjlo bastante isolada em relação aos outros Culicideos haematophagos aqui tratados. Ha factores que me parecem apontar por um lado para os Anophelinae, por outro para os géneros nao haematophagos Chironomus Corethra, Mochlonyx e Tanypus. Com todos estes coincide em relação d forma trian- gular, cónica, da larva, sendo a semelhança maior com a larva de Mochlonyx e Ano- pheles, sobretudo quanto á configuração da parte anal. Com Chironomus, jíí ti\e ensejo, de frizar o aspecto e conformação parecidos da placa labial ( Miall loc. cit. fig. 38 c ; Felt loc. cit. pi. 49, fig. õ e Meinert loc. cit.. Est. U, fig. 79). 15. — Sabethes longipes Fabricius (Mosquito adulto, alado; veja a nossa Estampa colorida V, fig. 18. fêmea; 18 a. fêmea voando, vista de lado). Os bellos mosquitos que fazem parte do género Sabethes. e aos quaes j;í alludi no meu primeiro trabalho (pag. 9 desta reimpressão), possuem o seu distinctivo o mais saliente, perceptível a olho nú mesmo e a grande distancia, nos seus remos, que. forma- dos de escamas normalmente alongadas, ornam maior ou menor extensão aboral da parte tibial das pernas, sobretudo do par mediano. São dos mais vistosos da familia, formando com os Megarhinus e Limatus a aristocracia. Interessante é. agora, que todos elles são do Brazil, e sobretudo amazonicos. O conhecimento das espécies d'e.ste género era uma embrulhada medonha at«i bem pouco tempo, devido á escassez de material nos museus europeus e ã confusão produzida pela incerteza, sobre a diversidade do aspecto dos dous sexos. O Museu do Para contribuiu para crear luz n'esta escuridão. Mediante farto material fresco remetti- 128 Pinmciiurcs biológicos — Sabctlics luní,ni)cs do daqui, (1) o Prof. Theobald che.quu a rever a synopse, estabelecida orig-inalmente em 1901 sobre paupérrimo e péssimo material antigo, reformando por completo o res- pectivo capitulo no Vol. IV (supplementar) 1W3, pags. 321 — 330. Removendo para um género novo, Sabetkoides, espécie confusus Theobald uma espécie sem remos em ambos os sexos (quando antes tinha sido ora tomada por Ç de Sabethes remipes ou de Sa- bethes nitidus). ficam conforme o actual estado de saber permanecendo quatro espé- cies no género Sabethes, assim descriminadas pelo Sr. Theobald : Pernas medianas somente com remos. I Remos todo pretos S". remipes Wiedemann. \ Remos brancos no apex S. iiitidiis Theob. Todas as pernas mais ou menos com remos, com escamas brancas nos remos como com esca- mas pretas S. longipes Fabricius. Sem branco nas pernas S. Liitsii. Theob. nov. espec. Já se vê que o nosso espécimen figurado Est. V, fig. 18, paraense, fresco e \"ivo, não podia ser attribuido a outra espécie senão a S. longipes Fabv. — Os mosquitos do género Sabethes são frequentes no mato, até no próprio Bosque Municipal, no Utinga, no Murutucú. Perseguem a gente desde a entrada na mata até a sabida, mas não é commum verificar-se ao certo que um realmente picasse. O espécimen que ser\iu de modelo para a nossa Estampa colorida, entrou com bonito tempo de sol no dia 20 de outubro de 1903, ao meio dia, do jardim, pela janella da residência directorial, quando nós almoçávamos. Foi apanhado n'um tubo largo de AÍdro. Embora morresse horas depois, deu perfeitamente tempo para apreciar o seu ex- quisito porte no vôo e de fixal-o por um desenho, cuja absoluta fidelidade garantimos. Emquanto que as pernas da frente estão levantadas em forma de S., é arreado o par médio, provido dos remos largos, e levantado outra vez em audaciosa volta por cima do abdómen, alcançando a projecção das pontas quasi a margem posterior do thorax, é sustentado o terceiro e ultimo par de pernas. Este vôo tem summa elegância, tanto mais que o magnifico mosquito, como se quizesse ser adm-rado, paira fixo no ar, aqui e acolá por dilatados momentos, vibrando somente as azas. Que fêmeas de Sabethes aceitam sangue verificamos com certeza com diversos indivíduos, asíBim como com um apanhado perto do forno do Hxo, no dia 25 de novem- bro de 1903. Picou a mão offerecida na tarde do mesmo dia. Infelizmente conseguiu fu- gir, sem ter procedido á postura, no dia 1 de dezembro, depois de' 5 dias passados no captiveiro. De sete outros indivíduos viveram, com mel e agua, não querendo acceitar sangue (senão com excepção de uma) no captiveiro, respectivamente: 5 dias, 2 dias, 2 dias, 1 dia, morrendo sempre sem pôr ovos. Nem da fêmea do dia 25 de novembro de 1903, que finalmente ainda .se escapou, nem da de 17 de dezembro, que tomou sangue humano no mesmo dia, consegui postura, morrendo esta ultima, já no dia 29, — 2 dias depois. (l) Proveniente do rio Trombetas, — de Óbidos, — de .\lemqiier, — de Itaituba (Tapajós), — Faro. — Teflc. — rio lapurú. — Tabatinfja. — tiyapoc, e colieccionado pelo pessoal do nosso Museu. i'ormcnoiL's biológicos — Sabctlios l.mgipes — Cellia (Anoph.) arsfvrotarsis 129 Ovo e larva. Acabo de referir que baldados foram os meus esforços de esclarecer a historia natural d'esta espécie. De todos os géneros tratados no presente trabalho permanece unicamente o género Sabetlies, refractário ao descobrimento do cyclo evolutivo e en- volto ainda cm completa escuridão. Entretanto será S(5 questflo de tempo e de paciên- cia ; dia virá. em que também cahirá o panno que nos veda o completo conhecimento da biologia d'estes mosquitos, que já por sua exquisita configuração e extranha belleza do seu colorido tentam e provocam para taes estudos. 16. — Cellia (Anopheles) argyrotarsis Desvo/c/y (1828) (Mosquito adulto, alado veja nossa Estampa colorida II, fig. 10 ( temea ) ; fig. \0 a tarso do ultimo par de pernas da espécie typica « albitarsis » ; fig. 10 b idem da va- riedade «albipes»; ovos, larva e os seus pormenores; vide Est. O., figs. 130—137). Este nosso principal representante brazilico e sul-americano em geral da tribu dos Anophelinae, famigerada como transmissora da malária, é conhecido pelo povo do interior do valle amazonico pela designação trivial indigena de anorocóca^. O nosso povo paraense não o confunde com outros mosquitos, ( 1 ) distinguindo regularmente en- tre « carapanãs » e « moroçocas ». (2) Confira-se o que escrevi no meu primeiro trabalho, pag. 10 e seguintes da presente reimpressão, acerca das generalidades. Creio que o próprio Sr. Theobaid, tendo de decidir qual das {Ilustrações a me- lhor, a d'elle PI. I, figs. 1 e 2, feita em pequena escala e com material morto, ou a nossa fig. 10. Est. II, executada com abundante material fresco e vivo e na escala grande de 10 : 1 neste como nos outros casos sem hesitar votava pela nossa, o que é aliás natu- ral pela maior somma de especial attenção dirigida na representação absolutamente fiel e exacta dos nossos principaes Culicideos paraenses e brazileiros. Quanto ao cyclo de desenvolvimento de Cellia (Anopheles) argyrotarsis, por dila- tado tempo não tinha conseguido penetrar no seu conhecimento. Quiz o accaso que eu nunca obtivesse as larvas, em estado livre, dos arredores da cidade, ao passo que soube, pelo cuidadoso Relatório da Commissão Ingleza ( Drs. Myers e Durham ) que os seus membros tinham achado abundantes larvas d'este Anopheles nos arredores da cidade, sobretudo em poços, perto de Santa Izabel, onde anteriormente se tinha retirado barro para as ollarias circumvisinhas. Cellia argyrotarsis é entretanto hospede não muito raro na peripheria da cidade. Em nossa casa, no Museu, já apanhamos bem umas 3 dúzias de exemplares, talvez, du- (\ ) u que ja náo acontece pelo littoral ^lo Sul do lirazil. Xa Hahia por exemplo Icmbro-me pcrleitamente. que o termo de «muriçoca» é applicado indilferentcmente a qualquer mosquito que pica. diurno ou nocturno. Entretanto, no Ceará e Rio Grande do Xorte sei que applicam os nomes triviacs de • sovella • e • perereca ' especialmente para o .\nopheles. (2) Refere o Sr. .\. l>ucke. entomoloij;ista do nosso Museu que, no baixo .Vmaronas, ret,nâo de .\lcraquer, at- tribuem a fumaça do esterco de gado queimado o effeito de enxotar os outros mosquitos, sendo por^m esta praxe sem el- feito contra o .Anopheles. l3o Pormenores biológicos — Cellia (Aiiopliclc-) argyrotarsis rante estes ullimos annos. ( 1 ) E' sempre de n(j:te, piMnciíialmente ao an(_)itecer. que es- tes iiulixiduos \êm entrando pela janella, de mistura eom exemplares de Taeniorhynehus fasciolatus e Mansonia titillans, comportando-se em yeral do mesmo modo. Frequente comtudo nílo se pôde chamar este Anopheles pelos lados do Museu, felizmente. )á estava desesperando de conseg;uir observações originaes sobre o cyclo de desenvolvimento de Cellia arg-yrotarsis, quando, ainda durante a redacção do presente trabalho, a persistente applicação do meu methodo de criação poz-me, nos últimos dias, de posse dos dados desejados. Ovo. Uma fêmea de Cellia argyrotarsis \ar. albipes foi apanhada, em minha residên- cia, durante o jantar, ao cahir da noite, picando pessoa da minha família, na noite do dia 1 de fevereiro de 1905. Repleta de sangue, foi posta em gaiola, com agua e uma tâmara pendurada. Tomou outra ração de sangue humano na tarde do dia 4 de feve- reiro, no dia ó outra de sangue de cobaya e ainda outra, do mesmo sangue, no dia 8 de fevereiro. Na manhan do dia 13, pelas oito para 9 horas encontrei-a pousada sobre a agua, pondo ; já existiam 8 ovos então. Durante a manhan o numero dos ovos aug- mentou ainda até 33. Pelas duas horas da tarde a fêmea morreu, sem causa exterior perceptivel. O agrupamento dos ovos era, o que se vê na fig. 130, Est. O, fielmente apanhado nas primeiras horas pelo apparelho micro-photographico, com augmento fra- quíssimo. Ha uma lembrança do arranjo estrellar, como o observou e desenhou Grassi para o Anopheles maculipennis na Itália (Tav. IV fig. 3). Sóniente uma meia dúzia de ovos fluctuava fora, isoladamente. Dimensões: 0,424""" de comprimento (valor médio de 3 ovos medidos) e 0,185 '""' de largura (valor médio de 3 ovos). (2) São muito exquisitos no seu aspecto os ovos de Cellia argyrotarsis, como se pode ver pelas nossas figuras photographicas Est. O, figs. 131, 132 e 133. Representa a figura 131 quatro ovos vistos pelo lado inferior, com fraco augmento microscópico. E' preciso distinguir duas partes no ovo de Anopheles: 1 ) o corpo propriamente dito. 2) os appendices lateraes, em forma de aza. O primeiro apresentase todo escuro, como corpo opaco ; os segundos, serrilhados no sentido transversal, transparentes, destacam- se como campo claro. Ganhei a convicção de que estas azas são compostas de tubos compridos, juxtapostos e vasios, isto é, cheios de ar. e que para preencherem a sua funcção hydrostatica apresentam aqui um desenvolvimento extremo, todo sui generis, de uma tendência cujos vestígios, ora mais ora menos accentuada, encontramos a cada passo nesta memoria no esfiitío da í'striíctiir(i i'sprc/f/ca da pcllicula ovular. Estas azas acompanham o ovo pelos dois lados, como estofo grosso, e servindo como as abas de fluc- ( 1 ) Surpreende-me o facto de que, durante a presente esta^;ão chuvosa de 1904— 1905. este .\noplieles repenti- namente apparece no quarteirão do Museu e adjacências com mais frequência, sendo notado espécimens quasi todos os dias. Até de dia claro ja' se olservou um. picando na officina taxidermica. (2) Para o ovo de Anopheles maculipennis Nuttall e Shipley dão 0.7 — 1.0'"'" no comprimento, e o,lò""" de maior latijura. Howard entretanto só dá 057 """ de comprimento. — Infelizmente Christophers e Stephens não dão no seu trabalho as medidas relativas ;is suas espécies de .Vnoplielides da índia. Embora variáveis dentro de certos limites as di- mensões do ovo, todavia não as considero cousa supérflua de meiKáu. o VilS. tHH. Tiii siiiiii larva (I (■ ( 'cllia a ri^y ro- tarsís, viVlo c ili'si'- iihado com forte aug- iiHiito microscópico. Fig. i;i5. — Esboyo mi- ri(i>i(i|iic(> lia aiitcnna (la ici\<'ii larva de ( vllia argyrotar- sis. ('amara Imiila. i:CI. t Quatro ovos frescos ile Ccllia artiyrotarsis, ]ihot(itrra|iliailos com aiii;jniiilu mais forte. \'ista inferior, la> e superior ■> de\-em ser tomados com a necessária re- serva, pois por múltipla discussão anterior tivemos occasiílo de apprender como regra, que o lado convexo do ovo corresponde á face dorsal do embryão da futura larva, e o lado mais ou menos plano á face ventral. Guiando-nos por esta orientaçAo, vemos que o ovo bóia, vulgarmente, de costas para a agua, e de barriga para cima. Faz annos j;i, conheciam-se os ovos do Anophcles maculipennis da Europa e da Americíi do Norte, devido a Grassi, Nuttall, Shipley, Howard e outros. Desde então fi- caram conhecidos os ovos das não poucas espécies de Anopheles indígenas da índia, devido aos esforços de Christophers and Stephens ( 1 ), reproduzindo o Sr. Theobaid no recente Vol. IV (suppl.), pag. 15, as respectivas figuras. Temos portanto meios para a comparação directa do ovo da nossa Cellia argyrotarsis — até este momento desco- nhecido, e pelo menos por ninguém descripto e figurado — com o ovo de Anopheles europeus, asiáticos e norte-americanos. O ovo da nossa Cellia argyrotarsis var. albipes distingue-se de todos os outros até agora descriptos, pelo extraordinário desenvolvimento longitudinal e lateral das azas hydrostaticas, de modo que o diâmetro transversal está para com o eixo longitudinal na proporção de 1 : 2 ', « . Ao passo que as azas são, a julgar pelas figuras dadas por Grassi, Nuttall, Shipley e Howard, no Anopheles maculipennis. quando muito da metade do comprimento, quasi nada sobresaindo lateralmente, occupam - ^ ou mais dos lados do o\o da C argyrotarsis, produzindo nas vistas dorso-ventraes inferiores e superiores possante bojo de cada lado, de maneira que contribuem poderosamente a modificar o aspecto dos contornos do ovo. Entre os Anophelides da índia, estudados debaixo d'este ponto de vista por Christophers and Stephens, ( Theobaid pag. l.')'i têm na verdade compridas azas também os ovos de M\ zomyia ( .\noph. ) culicifacies, e M. maculipalpis. (1) i'l,i.;s|iir:ui'in i'f Inliiii \'i.ii.h.'l n i Viniril lír.iiip^. Rep^Tt'; !'■' the Malnria Commiitf l32 Pormcncrcs biológicos — Ccllia (Anopheles) argyrotarsis mas estas azas somente denotam fraco ou mediano desenvolvimento lateral. Azas largas têm ahi o M. Turkhudi e leyporensis Theobald, pag. 41, fig. 6, mas são também aqui curtas no sentido longitudinal. Em summa, nao ha ovo algum de Anophelide até agora conhecido, que possa ser contundido com o o\-o de Cellia argyrotarsis var. albipes. Larva. ■ A joven larva de Cellia argyrotarsis var. albipes, ao sahir do ovo, é uma crea- tura diminutíssima, pois mede sem as compridas cerdas anaes apenas 0.63""", e com ellas 0,94""". A sua feição vê-se pela nossa Est. O, fig. 134. Dos ovos postos em 13 de fevereiro de 1905, a primeira larxa foi observada em 15 de fevereiro, dois dias depois ; uma segunda em 16 de fevereiro. O habitus geral d'esta larva concorda bastante bem com a figura que Nuttall e Shipley dão (Est. II, fig. 3) de um « verj^ young larval state » de Anopheles maculi- pennis, bem assim com a figura dada por Howard, loc. cit. ( fig. 18 ) de uma » young larva » do mesmo Anopheles. Todavia em nossa larva a cabeça é muito mais larga e também possuem um comprimento bastante maior as cerdas anaes. Quanto aos pormenores da cabeça tenho de constatar que vejo na margem fron- tal da nova larva apenas 4 cabellos frontaes, simples á primeira vista e com fraco augmento, bifurcados ou trifurcados ao exame mais detido com mais forte ampliação, concordando em geral com a fig. a da fig. 65, pag. 111 do vol. suppl. de Theobald. L Estes cabellos frontaes adquiriram importância recentemente na systematica das larvas do grupo dos Anophelinae, acontecendo que elles em diversas espécies da índia mostram uma configuração arborescente e mais ou menos complicada com- posição. ( Christ. and Steph. loc. cit. pi. II, Theobald loc. cit. pag. 18, fig. 4)|. Em relação ãs antennas ( fig. 135 ), póde-se definil-as como sendo da forma de um cone truncado, de moderado tamanho, munido no vértice de dois ganchos refor- çados styliformes, tendo no meio uma cerda ou flagello, do comprimento quasi da antenna propriamente. (.Compare fig. b, 65 pag. 111 de Theobald ). Devo aqui abstra- hir de dar descripção e figura da placa labial da larva, porque eu não podia sacrifi- cal-as para o fim da dissecção. Entretanto pelo que vi a feição não differe muito da in- dicai-la pelos autores para as larvas de outros Anopheles. As fortes cerdas lateraes dos segmentos abdominaes, no animal muito joven ainda apparecem, com fraco augmento, como simples pellos ; com o emprego de am- pHação mais forte nota-se entretanto o inicio da formação dos plumosos, que vemos voltar constantemente nas illustrações de lar\as adultas das diversas espécies de Ano- phelinae. Aos lados e ao dorso da margem posterior do penúltimo segmento abdominal (fig. 134) vê-se um pente de elementos espinhentos chitinosos. escuros, que lembram as formações muitas vezes encontradas como « pecten » nas outras larvas de Culici- deos. Reproduzimos um esboço de um d'estes elementos com forte augmento microscó- pico ( fig. 137 ). Compare-se a figura 1 ti b, Est. I\\ da obra de Grassi. relativa a estes espinhos na larva de Anopheles maculipennis. Engraçada e divertida é a mania destas larvas, já n'esta tenra idade de poucas horas, e observadas numa gotta d'agua ao mi- Pormc-norcj biulogicos — Ccllia ( Anophclcs) ar^nrotarsis l33 croscopio, de virar a cabeça para as costas com frequência. Fazem isto como se esta posição fosse a predilecta, vendo-se que não lhes custa nenhum esforço. A larva adulta não conheço ainda por própria obsen^ação. O prof. Theohald tinha já em 1901, n'um appendice ao Vol. II da sua obra, pa.íí. 353, dado uma noticia muito resumida acerca da lar\a do Anopheles argyrotarsis var. albipes, extrahida de uma carta do Dr. Grabham, da ilha da Jamaica. Agora elle ac- crescentou um capitulo inteiro no Vol. IV ( suppl. ) de l'X)3 (pag. 110 seg.), sobre estas larvas, com figuras dos pormenores relativos aos cabellos frontaes, antennas e dos fol- liolos, agrupados em forma de leque, dos segmentos abdominaes no dorso da larva adulta, e com extensa descripção do habitat e modo de vida, enviada pelo Dr. Low da ilha Dominica. Importante do ponto de vista biológico, é digno de leitura também pelo lado da medicina. Entretanto lá nada se diz acerca dos ovos, nem da phase inicial da vida lar\al. Reproduzo aqui algumas phrases do Dr. Low relativas á lar\-a e cujo conteúdo eu pude verificar aqui no Pará: «The larvae die quickly under artificial cultivation if the water is alluwed to become foul. This stage lasts fifteen to eighteen da\-s and the pupal stage two days... (Imago). It is difficult to keep them alive in captivity though feed on blood ». E' digno de nota. que tudo quanto se sabe hoje acerca do c\ico evolutivo da Cellia argyrotarsis se refere á variedade . tanto aqui no Pará, como nas An- tilhas e na Guyana. Quanto á espécie typica « albitarsis Theobald ■>, (conforme nossa Es- tampa colorida II, fig. 10 e \0 a) transparece por uma noticia do Dr. Low, communi- cada por Theobald, loc. cit. pag. 110, que ella é mais rara em Dominica e na Guyana Ingleza. Tenho a impressão de que isto se repete também aqui no Amazonas. Fica por- tanto ainda a elucidar por cuidadas investigações futuras, a biologia de C. argyrotar- sis-albitarsis, liquidando-se a contro\ersia sobre a validade especifica de ambas, — con- trovérsia a que allude o Sr. Theobald loc. cit. pgs. 15 e 16 contra o Coronel Giles. N'esta occasião não posso esquivar-me de formular uma queixa contra o tal termo <> a/biprs >, que em vez de ajudar o discernimento de certa forma e a retenção do nome. contribue antes para confundir, tanto mais que tem de navegar ao lado do termo « albitarsis » pela espécie typica. Não são afinal das contas ambas tanto « albipes » como « albitarsis » ? Porque não recorrer a uma designação que elimine, de uma feita, a confusão, escolhendo por exemplo « tarsi-maculata - ? Conviria liquidar assim esta questão de nomenclatura, tanto mais que no caso que se verifica ser « albitarsis » menos frequente por toda a parte do que albipes (tarsiinaciilata ), effectuar-se-ia forçosamente uma inversão no actual modo de encarar as cousas, tomando a segunda, ( até' agora considerada variedade ) como typo da espécie, e a primeira { até agora tida por typo da espécie ) como simples variedade. l34 i'u]mcnores biológicos — Chironomu^- calliyraphus Cliironomus calligraphus nov. spec. (Ovos, larvas e seus pormenores. Est. P., figs. 13numu> liuloprasinus \3j de ganchos, os sacos transparenlcs cm certa zona da região ventral dos últimos seg-- mentos ( « protubérances rétractiles en forme de boudin » Meinert ) e o tufo anal ( soie anale » Meinert ). Sem pretender enti-ar cm mais detalhes, limito-me a frizar que a larva de Chironomus aftasta-se, no seu aspecto, das dos mosquitos haematophagos antes tra- tados, por um que de vcrmiforme bastante accentuado ; também a comparação com as lag-artas de certos Lepidopteros, principalmente das Xoctuidas, nflo iria mal. Quanto á chrysalida do nosso Chironomus paraense posso dizer que elle 6, como aliíís as outras todas, vermelho san.gue, contrastando esta côr com a dos dous tufos brancos de cabellos sitos no alto da cabeça. A substancia vermelha é hemoglobina. Conf. Miall op. cit. pa- g;ina 130 seg-. A respeito da postura dos ovos, respectivamente ao seu agrupamento, Miall no seu útil livrinho (1903), pag-. 147 descreve e fig;ura os cordões de diversas espécies de Chironomus europêos, accentuando a existência de extranhas diff crenças. Semelhantes costumes têm outrosim os membros do género Tanj-pus, e curioso é que o nosso Chiro- nomus paraense se approxime bastante, no arranjo em zig-zag, ao disco de ovos figu- rado por Miall pag. 153, fig. 44 para o T. maculatus. Todavia não se trata de um Ta- nypus no nosso caso, mas positivamente de um Chironomus, o que não é difficil de asseverar ;í vista do habitus profundamente diverso das larvas de um e de outro. As espécies brazilicas dos géneros Chironomus, i 1 ) Corethra, Ceratopogon e outros, todos Culicides aparentados, não haematophagos, são ainda muito mal conheci- das; por assim dizer nada se sabe d'ellas, nem pelo lado systematico, nem pelo lado biológico (2). Ainda fica muito a fazer n'este terreno para as gerações futuras, que, Summo Divino Numinc. prestarão mais attenção ao estudo da natureza do que a actual. 1 ) Chironomus lioloprasinus nov. spec. Goeldi ( 1905 ) imago o^ : 5,5 "'"'. Palpos de 7 artículos cylindricos ; I curto ; Aspecto de todo o cu.i.o l meno> :. .aix-.... m->'- - II e III compridos, iguaes quasi ; IV, o preta; os palpo.«, côr de âmbar l, o thorax hrumiaci-o ), „■„ • 1 as azas ( hvaliiias, iridescentes ) 1 de um rerdc aiiinrelln- mais comprido. ; • , > ■ / '^ ceo na< extreiíiRiades, mais retinto ( prasiiiiis I no iiorso A}ltei/ll(!S plumosas equisetaceas de 12 ar- ^If* últimos se-rmentos abdominae*. ticuloS, ( 2 verticillios de cabellos em cada Thorax: lininnapeo, com ?, estrias escuras longitudinaes ,,.„ \ A 1 1 u .. uma tecla mediana, 2 curva-^ latcraes concavas. um) dos quaes os 11 basaes curtos, o 12.f muito comprido. ( 1 ) Existe, na verdade, um Cbiroihniiiis brasil iiusis, descripto, j.í em 1S.J.S, por Wiedemann. é provenitiue jo- rém de Montevideo e a desciipç,io é de tal maneira curta que me fica duvidoso se havcr.T quem possa, com se;;urans'a, reconhecel-o. Ha outrosim mais trez espécies provenientes nominalmente do Drazil : Ch. ffnu^^incus Macq., Ch. insigiiis \\ ie. ( Leipzig 1902 Vol. I, pag. 181 — 207) e da America do Sul constam-me 31 espécies ao todo ( con- fer Hunter « Catalogue of the Diptera of South- America ». Part. I : Xemocera : Tran- sact. American Entomolog. Society Vol. 26, 1900, pag. 282 — 283. Vig. 1J2. — Larva j;i crocida <\c Chiroiioinus calligrafflius, vi>ta roíii fraco aniiiiicMlo. l'olu lado anal, face abdominal, apcrcebcin-sc uns .saccos finos, traiisparcnlrs, ijUL' têm a mc.sn)a tiinc(;ão respi- ratória, como os folliolos bran- chiaos da rciiiào anal das larvas dos Abis(|nitos typicos. A larva de Chiioiionius, M'çsta pliase ilc vida, já liabita n'nma i;alcria pro- tectora, jior cila fabricada coni trajínicnlos de alijas, etc, e por isto de côr verde. Fig. ISSÍ. - Ccrln poi(;ão i\i- \\\\\ d'este,s cordoe,*! de Cliironoinus, vi.«ta com aii- fiiMCMto microscópico iiiai> forte. Os ovos no spu a-rrupainenlo nahiral inos(rain nni colorido c-vcrílcado devido ao sen conteúdo <• acham-se j;i em adiantada phasc de di'.scnvolvimeiilo, transparecendo distinctaniente a se;;inenla(,-ão da» larvas. Os ovos são acanjados na massa frclalinosa e vi.sco.sa dos çorJOcw, seiíie- lliantes em Indo aos ipie labricani a.s fêmeas dos sapos ( línfoiddes |. i^. Ií{^. — Trez eortlòes de ovos, na libcrdad(í frescamente postos na siípcrficic d'aL;na de um tan- (pic lX)r ChiroiioiDiis colligra- p/itis, niosipiito uiio chupailor de san,;;nc c desprovido de proboscida própria ]iara furar a pellc de ou- tros animacs. Vê-se o arranjo ex- ipusito em linhas de /ijí-za.;;. Fraco angmcntt), vi>ta photographica. Vifí. l n. — \'isla photof;ra|)hica de uma aza do mesmo " meruini". com aniphação ainda mais considerável. i«ara auxiliar o ri^ conhecimento dos pormenores systeniatieos. photoirraphada com forte. Vista ventral. Cabeça da inc.-ma larva: iHiíuiento mais l'iS. lio.— .(oven larva, apenas sabida do ovo, do Cliirononiiis iii/li- />iis, pliotoiíraphaiia com aujíiuento microscópico moderado. Noia- se na frente um par de pés. com cainhos curvos em roda; outro par cn- contra-se no ultimo segmento abdominal. Fis. Ii;i.— Vista pholotiraphiea de um •• mcrnim". ( Ilacmalomyidium paraen- se O. t diiuinulissimo Diplcro hacmalophairo. as>az ineomnuníativo na regiilo amazonii'a, espirialmeuto no lilloral o na zona sujeita :is marés. >,i1o é mosquito I Cnlii-ideo I propriamente dito, mas uma popiena mosca. Augmonto microscópico assaz forte. CHiroiioiin 1^^ e.'illÍLi:r.'ii )1 lu^^ O. — tFig. 138 — 142) /'^ ^ Piirmcnun.s bioloigcos — M 8^ Iiruim : j37 "Miruim" — ( Haematomyidiíim paraense nov. gen. et spec.) (Insecto adulto alado e pormenores da aza — figs. 143 e 144). No caso do insecto em questilo trata-sc, na verdade, não de um Culicideo (Mos- quito), mas sempre de um Diptero, de uma mosca minúscula. E' haematophago «confesso e relapso >, um verdadeiro flag-ello e peste em muitos pontos do littoral, nos arredores do Pará, muito afamado e conhecido por todos. E' diurno, atacando a qualquer hora e deixando sempre ao redor da picada uma inflammaçao assaz considerável. Seu diminuto tamanho lhe permittc atravessar perfeitamente as malhas de um mosquiteiro usual, de maneira que nAo ha contra elle garantia alguma. Entra nas casas e dias houve já em que apanhamos, em poucos minutos dúzias delles com tubos de ensaio. Sua frequência periódica parece-me estar em relação com as marés, pois é na baixa maré que o «me- ruim > por via de regra se faz sentir com as suas invasões. Não consegui obter por ora a definitiva determinação scientifica do «miruim», que entretanto está affecta á solução por parte dos autorizados Dipterologos de além- mar. ( 1 ). O « miruim > é uma diminutissima mosca, menor ainda que o « piúm > amazonico e o pendant meridional d'este, o conhecido e temido < borrachudo >>. Pelas antennas com- pridas, nas quaes conto 14 artículos em forma de pote, cada um com alguns poucos cabellos insertos na parte distai e arrumados em fileira transversal, elle lembra de certo modo os Dipteros nemoceros do parentesco de Cecidomyia e Tipula. .A. aza, de ( 1 I Resolvi n.a ultima hora ilenouiiiiai- e docixvcr suniiiiariaiiiente o miruim > paraense para .acabar final- mente com esta afflictiva situarão de incerteza que já por demais tempo dura acerca da sua posiçilo systeinatioa. Haematomyidium »oz>. genus, («//(« ^ sangue; Kiíòiíir = pequena mosca). Dirainutissimas moscas nematoceras, haematophagas, diurnas, (menores ainda cm calibre do que as espécies de Simuliuml; úe cs/afi/ra rechonchuda, curta e grossa; de cabeça grande, redonda; de pinhoscide curta, styliforme; pal- pas pouco maiores de õ articules, dos quaes o 2." e o 3." compridos; niiteiiiins loniças de 14 articulds." dos i|uaes os distaes alongados, pouco encabcllados; alidonirn curto, largo e grosso, ovóide; (i\fis fuiiginosas, annuvliidas, largas e ar- redond.adas, de ncrvatura simplificada, lembrando a das .Mycctophilides { Sciara ) por um lado e das Cecidoinyi.as p. r outro lado, guardando posição intermediaria entre ambas. Vena subcostalis ( II ) extendendo-sc até além da mèlaile da margem anterior costal ; vcna radialis (III) simples, atravessando longitudinalmente toda a íiza e termniando na m.ar- geni exterior; vena média iVi. igualmente simples, desde a sua origem no canto humeral até a sua terminação; vena cubitalis l\il\ bifurcada no ultimo terço distai, i õ infere fig. 1441. — Macula anterior costal preta-fuliginosa e oiuro- sim toda a margem anterior fuliginosa. — Até agora uma única espécie, iieotropica. — Tvpo : //. paraaise (iaO.')| — do Pará. — Haematomyidium paraense nov. spec. Goeldi (1905). Hal)itus geral da imago fcruiuina ( Ç ) visivii na figura 143. Colorido cm vida um azulado cinzento. .V aza é atravessada de cima jiara baixo, por (jnatro séries de grandes espaços claros redontlos ( janellas ) em campo geral li- geir.amente escuro. Estas conspicuíus janellas disseminadas sobre os intervallos entre as vei.as da parle distai da aza conforine o .schema 2, 3, 3, 3 (de fora para dentro», cnotU\ da articula- ção tibio-femoral, Tm forte espinho lanceolado pelo lado externo da tibia. na articulação tibio tnrsal. L)imeiisòes: Com- primento total l,r)4 """. — Compiimento da aiitenna, o,.') """. _ Largura do thorax y,4 "". — Comprimento do abdó- men 0,93 °'"'. — .Maior largura do abdómen ii.4S '""'. — Corn|)rimi'nto da aza ii,s:í ""°. — Largura da aza i'.3ti "". Peciueiia mosca invadindo as casas, impcrtinentissiun» chupadora de sangue; picada dolorosa, prixluzindo regu- larmente uma zona circular intlammada bastante grande. Fre i. e. merii =: mosca e i- ( abrev. de mirim) = pequena. ( Dcscripçào mais detalhada será dada opixirtunamente ). l38 Pormenores biológicos — eu l'.liil — l',lo.'i i e cun- PormtnuiLS biológicos — l'iúm — Distribuição geographica iSq sima aza, com a sua cxtranha curva pt)Stcro-interior c a «vcna analis», curva cm forma de S, que por si só seria sufficiente para logo trahir um membro do género Simulium. Quanto ao « borrachudo » do Brazil meridional declara o Dr. Lutz loc. cit. pag, 7, que este igualmente entra no género Siniiil/iiiii. communicando ter achado por lá mais três espécies. Tanto quanto me consta existe até hoje uma única espécie descripta do Brazil (é o S. ii/gr/iiiaiii/s Macq. (.1838) do Estado de S. Paulo), permanecendo as outras ainda indescriptas. No nosso « piúm - amazonico ha concordância genérica com os caracteres das espécies norte-americanas por exemplo, de Simiilium, que encontro figuradas na bclla obra de Felt «Aiiuatic insccts in Xew Vork State >. Est. 34 fig. 1, — Est. 36. fig. 7.— Est. 37, fig. 8. As larvas de Si mui i um, como se vê pelos autores norte-americanos sao aquáticas e adherem, parecendo com Actinias marítimas ou com certos Rotiferos, a pedras, plan- tas aquáticas, ctc. nos rios de alguma correnteza. ( Miall op. cit. pag. 176, fig. 59 — Felt op. cit. Est. 34, fig. 9). Não me tendo sido possível descobrir até agora a lana do « Miruim > nem do « piúm » nem o seu escondrijo e paradeiro predilecto, n^o me vie- ram ainda por e.ste lado dados que auxiliassem a definitiva collocação destes insectos no systema. Absolutamente nada ainda me consta na literatura scientifica actual sobre este assumpto. Synopse resumida sobre a composição de algumas coliecções de Mosquitos feitas em diversos pontos da região amazonica pelo pessoal do Museu durante os últimos annos. Tendo sido objecto de constantes recommendações nossas aos emissários do Museu, de prestar a máxima attenção aos Mosquitos dominantes em cada uma das lo- calidades visitadas no interior, veio se encontrar em nossas mãos, no correr dos últimos três annos, um bello contingente de colheitas locaes de Culicideos. Creio opportuno o momento, para dar em succinta synopse uma idéa da composição d'estas colheitas, sy- nopse que não deixa de merecer interesse a mais de um respeito. Aliás a semelhante serv .-...ailn-^ i-m .ilfinetes e no álcool. ( Uma ?órie de eo-tvpos foi roniettido ao Briti>h Miiíeum em Lt.mlres, deste piiiiu . alto-amazonico. eoiiio do luiniíi.i paraense ). - Fifiuras ilhislrando os pormenores senlo publicadivs opjwtunaiuenle. \ B. — As esiiceies de Siintiliuin norte-anurieanas já estão bastante heiu estudadas, eonio se ve jK^la obra de teit \ciiiatie Inscct.s in New York State ( lili« 1 \m^. H:iG — :iNS. Conheeeni-se lá nada menos do que nmas 40 e^l^ies I importando o total das espécies do -loUo inteiro aetnalniente deseriptas approximalivamente em Ni ». entre as «iimes nl<'niiia^ eomo N. pkli/ies e .s'. pcconiiii tem uma iiiiportaneia «wnomiea eomo uiimisios da eriaçao de }njdo. (>as bai- xmlas do ])anul>io. na Kuropa, é desde nuiilo e.l.l.r.' pra-a o Sinniliuni tohinibasvhciiíel. O uosso • pmiii > alto-ama- zonico parece ai>pn,ximar-s.., eomo |.osso concluir da chave synoptica I I-VIt loe. cit. pag. 3o4 seg. ), de certa espécie cubana ( S. qnadrivittatum i lulo colnrido ^'eral escuro e a ornaiiientavào thoracica. E' assa/ surprchcndcnte (pie .nlre os antifrosnaturalisiasexploradoresdovalleiimiizoniconeuhumtives.se provocado um estudo acurado e a determiiuivào do «piúm» por parte de um espwialista. Entretanto mio dcLxiim de íallar delle ( conf. Bales Naturalist on the Uiver .\ina/.ou , Heprint 1SÍ)2, pap. 170 seg., Herbert Mn.lh ■ Brazil. the Vmazons and the Coast ^ i)iiv'. 3:U etc. ) Bates contenta-se em declarar que o • puím .. tjlo mokvtiidor no Kio .■soIiiirhs, amazouicivs. 140 PurmcLiorci biológicos — Distribuição geographica tentativa não se poderá contestar um merecimento : — é a primeira vez que alguém ousa abordar o problema ca distribuição geographica dos nossos principaes Culicideos hae- matophagos, em relação á uma certa e determinada zona do território brasilico. No fim alludirei á algumas das principaes conclusões, que d'ahi se podem tirar. Limito-me na presente lista a umas 10 espécies das mais importantes, deixando de lado o que as respectivas colheitas possam conter em outras espécies de Culicides de alcance secundário. 1. Rio Trombetas. { Oriximinã ). Data: julho, 1903. CoUeccionador : A. Ducke. Sabethes 2 individuos. 2. Óbidos. Data : julho, 1903. Collec. : A. Ducke. lanthinosoma Lutzii 1. Panoplites titillans 3. Taeniorhj-nchus fasciolatus 1. Data ; janeiro, 1904. Collecc. : idem. lanthinosoma Lutzii 39. PanopHtes titillans 3. Sabethes 1. 3. Alemquer. Data: julho, 1903. Collecc: A. Ducke. Anopheles argyrotarsis 9. Panoplites titillans 12. Sabethes 1. 4. Paraná de Paranaquára. Data: maio, 1903. Collecc: A. Ducke. lanthinosoma Lutzii 2. lanth. musica 1. Panoplites titillans 7. 5. Prainha. Data: maio, 1903. Collecc: A. Ducke. lanthinosoma Lutzii 3. Panoplites titillans 1. Taeniorhynchus fasciol. 1. 6. Almeirim. Data: abril, 1903. Collecc: A. Ducke. Megarhinus 3. 7. Arrayollos. Data: abril, 1903. Collecc: A. Ducke. Anopheles argj-rotarsis 3. lanthinosoma Lutzii 3. Panoplites titillans 3. Taeniorhynchus fasciol. 4. Poimcnorcá biológicos — Distribuição geographica 141 8. Rio Xingu {Providencia). Data : dezembro, 1903 — janeiro, 1*X)4. CoUecc. : I. Bach. Anopheles argyrotarsis 11. lanthinosoma Lutzii 247. Panoplites titillans IM. Culex serratus 3. 9. Rio Tapajo:: ( Itaituba ). Data: agosto, 1902. CoUecc: A. Ducke. Sabethes, muitos. 10. Faro. Data: julho, 1903. Collecc: A. Ducke. Panoplites titillans 3. Sabethes 1. 11. Teffé. Data: setembro, 1904. Collecc: A. Ducke. Anopheles argyrotarsis 4. lanthinosoma Lutzii 8. Panoplites titillans 14. Sabethes 7. Megarhinus 5. Trichoprosopon nivipes 2. — («Piúm> muitos). 12. Rio lapurã. Data: novembro, 1904. Collecc: A. Ducke. Panoplites 2. Sabethes 1. Melanoconion atratum 17. 13. Tabatinga. Data : outubro, 1904. Collecc. : A. Ducke. Panoplites titillans 1. Sabethes 4. Melanoconion atrat. 2. Taeniorhynchus fulvus 1. 14. Rio Purús e Rio Acre. Data: março — junho, 1904. Collecc: Dr. J. Huber. Anopheles argyrotarsis (muitos), lanthinosoma Lutzii (muitos). Panoplites titillans (muitos). «Piúm» (muitos). 15. Oyapoc. .\. Porto Fiscal: Data: junho, 1, e uma excur.iião nas mattas e capoeiras traz a desagradável consevaveli«ente em todo o baixo Tapjijoz (rio de agua escura) os mosquitos são extremamente raros (menos a Slegomi/ia nas casas da cidade de Santarém I; Ainijiliclis nunca vi. No interior do Estailo do Amzonas é em geral mais o jiium qne incommoda a gente, do >iue os mosquitos, em- bora também estes sejam muito frequentes, O Aiii>i)liilcs enconlra-se ali quasi em toda parle na matta geral, |H>rem iiunci cm tamanha quaniidade como nos campos alagados do bai.xo Amazonas c do Aricarv. Um logar exce|H-ionaliiienle infes- t.ado é Tabatinga : a malta geral tem poucos mo.iqiiitos e nenhum piíiin, mas o forte com seus eilificios ein minas e suas capoeiras nunca limpadas é um fi>co de (uagas de primeira ordem. Nunca me esquecerei da quinzena alli passada, lauto 144 Pormenores biológicos — Distribuição gcographica Durante os últimos annos me esforcei outrosim por organisar tabeliãs phaenolo- gicas tendo por fim colligir elementos para julgar da frequência numérica das diversas espécies de Mosquitos em relaçRo ás varias estações do anno, tomando por base de observação naturalmente o Museu e os seus arredores. Reconhecendo todavia que este material, que exige maior lapso de tempo, se acha em phase ainda por demais fragmen- taria hoje, resolvi transferir a sua publicação para occasiao ulterior. Eu tinha igualmente a principio nutrido o plano de accrescentar aqui ainda um capitulo especialmente dedicado á anatomia interna e a histologia comparadas das ima- gines e das larvas das nossas espécies de Mosquitos paraenses as mais importantes, mormente de Stegomyia fasciata e de Culex fatigans. Dependendo porém a realisaçao de semelhante projecto sobretudo da faculdade de poder dispor de ampla liberdade de acção em matéria de illustrações, tenho de resignar por ora, todavia pronunciando a esperança, que me seja ainda dado fazer d'este estudo assumpto de uma publicação especial no futuro. PARÁ, Fevereiro de 1904. mais 1)116 para ooUeoeionar insectos e plantas era oliiigado a percorrer as capoeiras envez de permanecer a maior parte • lo (iia debaixo do uiosípiiteiro. Xo forte mesmo os mosquitos s.ío de dia tanto frequentes que á noite e alem d'elles ha de dia ainda nuvens de pium. Entretanto o logar não é pantanoso; parece envez que o estado decadente do forte é o princi- pal factor de tamanha frequência destes sanguinários aniuiaes. Felizmente parece não haver ali Anoplicles. Embora fora dos limites da Amazónia, quero ainda fallar sobre os Mosquitos observados n'uma viagem nocturna no mangue do littoral do .Maranhão, da fazenda Pirv-mirim á Alcântara. Embora alli não houvesse agua dflce, fomos as- saltados por verdadeiros enxames de mossquilos. os quaes indubitavelmente se geriram no.s pântanos de agua salobra. Belém do Pará, 13— Março de 1905. Adolpho Ducke. Conferencia sobre Stegomyia e a febre aman.'lla 145 IV stegomyia fasciata, o mosquito transmissor da febre amarella, e o actual estado de conhecimentos sobre a causa da mesma moléstia. (Conferencia realisada perante o Congresso Internacional de Zoologia em Berna ( Suissa ), agosto, 1904 ). ( * ) « Reruni nahira sacra sua non simal tra- < dit ; initiatos nos crediímis. in \v-.tiViiiIc> < eius haeremus >. Séneca, n. f]u. — 7. Hl. 2. « ntiji (Vi lyiiiaç y.ui róiroi- ot iiinnr « tOTiv lUTOOL, UÚ.U xiii ror iftnr/.nT « }U/Qí rcii' r«ç (tiTiuç tlnth' « ru)í' Ti yuo lUToiTy uaoi y.ouii'oi, i^ « nfolífiyot, l.íytnaí ti nfoi ifiotui; xui « Titç ito/àç txiid^n' uiioTni /.uii-Júrni', « xui Ti'11' Jifoi ifrnuti; 770(tyii((TíríttrTi'if « 01 /uiiiKJTUTdi n/fòoy Ti/.tiTtiniy tiç « Tu^ uo/jç tu: luTtiixúç y>. ( De sanitate veio morboqiie non solura mediei, sed et physici est cansas quadanite- iins leferre nam et mediei, quicuníiue elegantes, vel cuiiosi simt. de natura quid- •juam dicunt et iniiuipia inde sumeie digiian- tur, et inter eos qui natune studio incura- bunt, lepidissimi iiuirjue fere in medieoriim principia desinunt ). Aristóteles, Caj». XXI. rifm òrunroi]:. ( De re^iiinuione i. 1 ). Colleccionamento mcthodico que já dura alguns annos, do.s numerosos Cu- licides ou mosquitos haematophagos da regido amazonica, ensina-nos que devemos con- siderar como principalmente molestando o homem e portanto merecedores de attenção do ponto de vista sanitário, as espécies: 1) Anopheles arg\'rotarsis e a variedade, mui- tas vezes encontrada simultaneamente e nas mesmas localidades, Anoph. arg}T0tarsis — : albipes (Theobald). 2) IMansonia (Panoplites) titillans e M. amazonica. 3) Taeniorhyn- chus fasciolatus. 4) lanthinosoma Lutzii. 5) Culex confirmatus. ò) Melanoconion atra- tum. 7 ) Stegomyia fasciata. 8 ) Culex fatigans. 2). As 6 espécies enumeradas em primeira linha, ao lado de algumas outras, ás quaes somente a.ssiste um papel mais secundário, perseguem o homem, umas mais durante o dia, outras mais durante a noite, mormente ao ar livre : na mata. no campo, no cipoal e no brejo, ao passo que as duas ultimas, Stegomjna fasciata e Culex fatigans ( ' ) Vertido pela primeira ver do original allemão para o portnguez. 14Õ Conferencia sobre StegDmyia e a febre amarella tornaram-se flagellos domésticos propriamente ditos, molestando sobretudo <> morador das cidades. A sua vida, com todo o seu cyclo evolutivo, se desenrola dentro e ao redor das habitações humanas. No mais a StegomNia fasciata é um animal predominan- temente diurno, com pronunciadas inclinações photophilas, ao passo que o Culex fati- gans deve ser chamado da mesma forma um insecto nocturno. A actividade de ambos se substitue, reveza e completa actualmente na cidade do Pará em regular c^^clo diário. 3 ). Ao lado das espécies que se tornam penosas pela sua indole sanguinária e a sua impertinência, pelo seu numero e a dôr phj-sica produzida no momento da pi- cada, e que se deixam rubricar em hierarchia especial, uma importância sanitária inde- clinável desde já se percebe nitidamente nas seguintes 3 espécies : 1 ) Anopheles argy- rotarsis — em relação á Malária, 2) Stegomyia fasciata — em relação á Febre amarella e 3) Culex fatigans — em relação á Filariase. 4 ). O Anopheles entra menos em conta para a cidade do Pará, do que para as zonas baixas e paludosas no interior do Estado, para o sertão. Attento a que o Anopheles, conforme observações pessoaes nossas, raras vezes, ou só esporadicamente se apresenta na cidade e sua peripheria ( cerca de 8 — 12 exemplares durante os últi- mos 2 a 3 annos ) creio poder predizer positivamente que dos diversos casos de molés- tias febris, as quaes são reunidas pela medicina indigena debaixo da noção coUectiva « iuipaliidismo », a maioria vae ser reconhecida como jazendo f(5ra da concepção « ma- lária», quando submettida ao microscópio e á investigação methodica do sangue. O que se encontrar por ahi de « malária » genuína e propriamente dita, terá sido adquirido por \ia de regra no interior do paiz e trazido de fora. 5). Não tendo sido cabalmente investigado até agora em espécie alguma de Culicideo do Novo ou do Velho mundo o problema da alimentação na sua interferência na duração da vida e na fertilidade das fêmeas, nem tão pouco o problema da copula na sua reacção sobre a haemaphilia das fêmeas, iniciou-se no Pará durante o anno de 1903, com Stegomyia fasciata e Culex fatigans, uma longa serie de experiências, pela qual ficaram definitivamente investigadas estas relações pelo methodo experimental e conforme um plano methodico e um questionário minucioso, servindo-se de cerca de 220 indivíduos adultos de uma espécie e approximativamente 260 indi\iduos da outra es- pécie. 6). Entre os resultados dessa investigação, que forma o assumpto de uma me- moria circumstanciada, publicada no idioma portuguez, faz alguns mezes, chamo a attenção especial para os seguintes : Conforoiuia subic Sligomyia v a fibrc amarella 147 a ) mel e sueco assucarado formam, para o iiuliviíluo feminino da ima^^o de ambas as espécies mencionadas de mosquitos, uma alimentaçflo vantajosa no sentido de prolong^ar a durai;Ao da \ida ; outro porém será o julg^amento, tendo-se em vista o in- teresse da conservação da espécie, pois este modo de alimentação exerce visivelmente uma influencia rctardativa sobre o processo da reproducçao, isto é, sobre a postura dos ovos. Mediante exclusiva alimcntaçAo com mel foi possível reter a postura dos ovos até além de 100 dias. para deixal-a subitamente realisar-se pela interpolação de alimento sanguíneo; b ) a sucçAo do sangue tornou-se para as fêmeas das mencionadas espécies de mosquitns um postulado necessário e indispensável para a postura de ovos capazes de se desenvolver. Eu digo expressamente: «tornou-se» porque diversas razões levam-me a suppõr que temos ahí uma innovação de adaptaçílo relativamente moderna, cujas vantagens poderiam ser encontradas por um lado na maturação accelerada dos ovos ovariaes, por outro lado porém principalmente num accrescimo quantitativo dos próprios ovos ; c ) Tá com uma única ração de sangue torna-se sensível o effeito favorável para a postura, tendo comtudo esta por effeito somente uma soltura parcial e fraccionada dos ovos. Um esgotamento propriamente dito da provisão de ovos só succede depois de duas a trez rações de sangue em intervallos parallelos á rapidez da digestão. d) Digno de nota é que também imagines femininas não fecundadas podem pro- ceder á postura de ovos depois de alimentação sangiiinea. Os ovos assim fornecidos todavia provaram em todos os casos serem inaptos a se desenvolver; designo-os como pseudo-parthenogeneticos. e ) Assim se acha portanto demonstrado por processo experimental, pelo menos em relação ás duas espécies de Culicidcs precita das. uma relação de dependência entre a postura normal dos ovos e o chupar sangue n'um vertebrado superior — relação de dependência que deverá ser reconhecida como phase de transição para o parasitis- mo definitivo. Será assumpto de investigação especial examinar se esta relação de de- pendência poderá ser constatada, e até que grão, também em outras espécies de mos- quitos que molestam, pela sucção de sangue, o homem e os vertebrados superiores. f) Na Stegomyia fasciata não pôde pairar duvida alguma, que também os ma- chos se tornam incommodativos ao homem sorvendo gottasinhas de suor na superfície do corpo. Para uma perfuração effectiva da epiderme, porém, a sua tromba é demasia- do fraca. Ora, as fêmeas, n'este sentido melhor apparclhadas. não se contentaram com o chupar de suor e de serum e passaram a perfurar habitualmente e avançar em deman- da directa ao sangue dos animaes-hospedes. E', d'est'arte, bcllissímamente demonstrada nesta espécie o caminho histórico e o percurso evolutivo percorrido pela haemaphílía. E' digno de attenção outrosim. do ponto de vista sanitário, que ao longo do littoral do Brazil a impertinência da Stegomj-ia nas imagines de ambos os sexos se comporta vi- sivelmente proporcional á altura da temperatura, respectivamente á intensidade da transpiração. 7 1 Ao contrario da opinião até agora assaz divulgada, que suppõe a pátria da Stegomyia fasciata ser a região antilhana. ligando o seu primeiro apparecimento com 14'S Conferencia sobre Stegomyia e a febre amarella a viagem da descoberta de Colombo, eu nào hesito, pur diversas razões que resultam cm primeira linha de um exame critico da actual distribuição geographica do género inteiro Stegomjia, em estabelecer esta outra de que a pátria, proveniência e centro de dispersão d'esta perigosa espécie de mosquito deve ser procurada na Africa. A sua dis- seminação sobre a costa neotropica atlântica explico-me ( tal como em nilo poucos ou- tros transmissores que hoje no Brazil se costumam attribuir ao inventario apparente- mente indígena de moléstias) pelo trafico de escravos em tempos passados. 8). No que diz respeito á phase actual da questão da febre amarella, a suppo- siçílo hoje já universalmente acceita, e baseada em experiências realisadas em Cuba pelos médicos norte-americanos Reed, Caroll e Agramonte — a saber que esta molés- tia deve a sua origem á picada da espécie de Culicides Stegoiiiyia fasciata, achou agora todo recentemente também no Brazil e na Sul-America inteira applauso geral, tanto que na imprensa destes paizes interpretações discrepantes e duvidas somente isoladas se arriscam. O sentimento da certeza n'esta conclusão encontra no Brazil o seu re- forço principal pelos ensaios de repetição da experiência cubana da transmissão artifi- cial por uma commissão medica no Estado de S. Paulo, por um lado, e por outro lado pela commissão medica ( Drs. Marchoux, Salimbeni e Simon ), enviada pelo Instituto Pasteur de Paris ao Rio de Janeiro com o fim de estudar a febre amarella. 9). No seu «Rapport», publicado em novembro de 1903 nos «Annales de llnsti- tut Pasteur", sobre os resultados dos seus estudos, a mencionada commissão estabelece outrosim ainda os seguintes resultados, conclusões e conjecturas: a ) Para provocar febre amarella, o mosquito deve primeiramente ter-se infec- cionado, chupando sangue de um doente amarillico durante os trez primeiros dias do curso da moléstia (pag. 729, Conclusion 17) e o serum do doente do terceiro dia é vi- rulento ( pag. 728, Conclusion 1 ). b ) A Stegomyia infeccionada é perigosa somente depois de um intervallo de 12 dias desde a resorpção de sangue virulento (Conclusion 18) e o seu perigo augmen- ta na proporção da differença do tempo que decorre entre a auto-infecção e a re-picada (Conclusion 20). c ) A picada de duas Stegomyias infeccionadas pode dar origem a um caso grave de febre amarella ( Conclusion 19). Mas a picada de mosquitos infeccionados não causa infallivelmente a febre amarella («ne donne pas fatalement la fièvre jaune» ) ( Conclusion 21 ). d) A opinião popular de que a infecção da febre amarella se effectua de noite, explicar-se-ia pela circumstancia da fêmea de Stegom3na, depois de ter chupado sangue pela primeira vez, inverter a sua vida até então diurna, para tornar-se d'ahi em diante um insecto nocturno ( pag. 693 ). Por uma conclusão complementar necessária resultaria dahi que as fêmeas de Stegomyias infeccionantes deveriam ser procuradas e encontra- das única e exclusivamente entre os indivíduos que picam de noite. Conferencia sobre Steyumyia e a fel ire amaicUa 14O e ) tambcm a copula se realisa de noite e na escuridílo, sendo raras vezes e difficilmente observada (pag. 681) e, em geral, as mais importantes funcçòes vitaes d'esta espécie se realisam sob a protecçilo da escuridão nocturna ( « c'est surtout à la faveur de Tobscurité et pendant la nuii que saccomplissent les fonctions les plus im- portantes de 1'existence de Tespèce » (pag. 6<%). f) Embora se confesse que a missílo findou negativamente neste sentido, que outra vez nem no mosquito próprio, nem nu sangue poudc ser demonstrado o ' agens » da febre amarella ( « nous navons réussi jusquá présent de mettrc en evidence Tagent de la fièvre jaune > ) (pag. 730. Conclus. 30), todavia pela marcha toda da investigação, do questionário e da argumentação resalta com nitidez impossivel de desconhecer, que a existência e a actividade de um parasita do sangue, ( — como causador organisado e animal de moléstia, com marcha evolutiwi temporariamente determinada e duraçAo dada da incuhaçílo. ligado á transmissão por certos indi\iduos femininos de Stegomyia infec- cionados— ) formou a supposiçflo, opinião e ponto de partida, pendentes no ar — , di- gamos em summa, suppoz-se uma relação de analogia exactamente congruente entre Stegomyia e Febre amarella, como ella de facto existe entre Anopheles e Malária pelo intermédio do " Plasmodium malariae- e entre Culex fatigans e Filariase pelo inter- médio da Filaria sanguinis hominis. 10 ). Conscienciosos estudos originaes sobre os pormenores do modo de \'ida da Stegomyia fasciata por um lado; a occasião pessoal de observação exacta e de accom- panhamento desde o primeiro principio até o êxito infelizmente letal de um caso typico de febre amarella por outro lado ; outrosim o aprofundar a literatura medica a mais recente (, 1 ) bem como a anterior sobre a febre amarella e finalmente o raciocínio cri- tico e o exame do que cheguei a vêr pessoalmente durante 20 annos num meio consi- derado mais ou menos como clássico a respeito da febre amarella e a ouvir de fonte merecedora de fé, — tudo isto levou-me á inabalável convicção de que exactamente em algumas d'aquellas questões biológicas concernentes ao modo de vida da Stegomyia, que são de alcance na presente discussão como pontos essenciaes e cardeaes, a verdade é diversa do que poderia parecer pela exposição da commissão medica franceza. E tal qual como divergem os meus próprios resultados biológicos relativos ao mosquito da febre amarella, também em relação á etiologia da febre amarella \ejo-me impellido para uma concepção diversa, que tentarei precisar cm termos breves: 11). Em primeira linha direi que ou também me confesso adepto do conheci- mento de que é na Stegomyia fasciata que temos de procurar o transmissor e dissemi- nador da íebre amarella ; ( 1 ) N"esta occasião não posso deixar de Irisar, que o sulstancioso e e\celleiite • Report of the Vellow Fcver- Expedition to Pará l<>5i> editado pela ♦ School nf Tropical Me<;licine ■ em Liverpool ( li)i>.' 1 e redigido pelos médicos inglezes Drs. Durham e Xlyers ( dos quaes o ultimo succumliiu como victimi do seu zelo profissional "1 me foi de valor de todo especial pela sua exposii;âo sóbria e objectiva. 150 CVinffix-ncia íibix- Stcyc myia c u k-bie amaic-Ua 12). Ao contrario porém da moderna corrente de opinião, que o ■ agens > da febre amarella deve ser reconhecido n'um parasita organisado do sangue em analogia com a relação entre Anopheles e Malária ( Plasmodium malariae ), sinto-me impellido á supposiçao de que uma tal analogia, que quadrasse total e completamente, nao existe e que o « agens » deve ser antes supposto na forma de um veneno orgânico, n'uma toxina, que em primeira instancia normalmente possue a sua sede e ponto de partida nas glân- dulas salivares de Stegom^ia fasciata e é inoculado ao homem mediante a picada-. ( 1 ) 13 ). Cada picada isolada é venenosa em geral e como transmissor normal age e serve por si só cada individuo feminino de Stegomyia no momento da picada. Cada picada é uma infecção parcial; a infecção total é alcançada pelo effeito sommado de to- das as picadas isoladas, isto é, de todas as infecções parciaes. 14). O veneno inherente ás glândulas salivares da Stegomyia é fretado pelo sangue da peripheria para as partes internas e o figado, seja na luta contra este ( o que julgo mais provável ), seja como alliado d'elle ( podendo talvez transformar por sua vez em toxinas novas, venenosas) fica incitado a uma actividade anormal, que acha a sua expressão interna e externa num icterus de alto grau. (Conforme o julgamento unifor- me, no exame cadavérico, o figado intensamente amarello, gordurosamente degenerado, é tão regularmente o primeiro phenomeno, que prende a attenção. como o amarellar mais ou menos extensivo da epiderme costuma contar entre os signaes nosologicos con- stantes em certa phase da moléstia — , tanto que, com toda a razão, foi até aproveitado para a própria nomenclatura da moléstia. 15 ). Se nas descripções de envenenamentos occasionados pela mordedura de outros animaes venenosos, portanto pelo secreto das suas glândulas salivares, se elimi- ( 1 ) Para definii e circiimscrever de modo mais exacto a minha opinifio e maneira de ver em opposição a's tendências actualmente em moda nos círculos médicos, eu desejava aqui fiizar e archivar uma vez por todas, que eu ;wi'»oí me cppcnbo d acceiUi(ão de um punuita do sangue cm geral, do que á de um parasita do sangue rehUivamentc tão grande e proporcionalmente bem desenvolvido, como nos casos da Malária e da Filiariase. A prudência ainda aconselha a reservar espaço para a possibilidade de no fim das contas eventualmente uma d'aqHellas diminutíssimas formas de bactérias poder entrar em acção, e que. se não podem ser vistas directamente como individuos isolados pelos nossos actuaes meios de reconhecimento ópticos e outros, comtudo em massas compactas podem assumir forma e feição accessiveis a percepção pelo sensório. Semelhante possibilidade transparece também por não poucos trechos do valioso relatório da commissão medica ingleza ( Dr. liurham e I)r. .Myers ) relativamente aos seus estudos realisados no Para'. Lofjo n'uma dos primeiras pai^inas encontra-se a phrase: « That a vellow fever microbe exists there can be no question •. ( pag. 3). Falla-se lá de certa es- pécie de bactéria, que por um lado foi encontrada nos diversos orijãos de doentes amarillicos, por outro lado no próprio mosquito Steiiomyia e parece que a regularidade do seu encontro não falhou de produzir impressão no animo dos mencio- nados autores. Se, por um lado, pela concessão de tal possibilidade o ponto de vista rigorosamente theorico se desloca de alguma forma, eu, pelo outro lado. o lado pratico, não consigo entrever uma deslocação muito essencial da situação. Todas as questões, por exemplo, attinentes ao terreno da prophylaxia e da defensiva, niío seriam affectadas pelo veredictum. qualquer que seja o seu theor. Também o que ha de especifico na minha supposição sobre o modo da transmissão e da disseminação da febre amarella não viria a soffrer a menor modificação, quer como causa final resultasse uma toxina orgânica ou uma forma de bactéria infinitamente pequena. Cuiiferoncia subrc Slc!,'')myia e a foljre amarclla Ijl nam os phcnumcnos locaes (os quacs, pnjporcu malmente ao tamanho da ferida e á quantidade do veneno injectado, naturalmente predominam, as vezes), a fácies nosolog-i- ca restante e fornecida pelos phenomenos geraes ganha uma certa semelhança difficil de desconhecer, com a febre amarella (Confer sj-mptomatologia da mordedura de cobra (ophidismo) em Scheube < Krankheiten der warmen Liinder > 1^XJ3 (pag. 4õO — 461) pag. 453, Especialmente o icterus parece apresentar-se como phenomeno usual de acompa- nhamento, o que, ao ler da respectiva litteratura medica (vide por exemplo Scheube, loc. cit. 3. Aufl. 1003, pag. 4íil seg.), nRo deixou de impressionar-me de modo todo durável. Que se compare o que lá se refere em relação á s^-mptomatologia da mordedura de escorpiões (pag. 4ò3 — 464), de certas aranhas (por exemplo Latrodectes mactans)pag. 465, e de carrapatos (Ixodideos) (pag. 465-466). \6^. Mas também outros envenenamentos com matérias orgânicas e anorgani- cas fornecem um quadro nosologico no qual o icterus e a destruição haemolytica se apresenta de um modo imponente no primeiro plano ; basta, por exemplo, lembrar os en- venenamentos com phosphoro. 17 ). A erupção da febre-amarella num recem-chegado — o qual, se de um as- pecto florescente, cheio de sangue e fortemente transpirando, possuirá particular força de attracção para a Stegomyia — parece em geral effectuar-se de modo que depois de precedida por uma infecção total de Stegomyia, que poderá extender-se sobre semanas e mezes, o escapamento se reahsa mediante um embaraço gástrico (catarrho intes- tinal, resfriamento, etc. ). A situação é assaz bem comparável á de uma arma de fogo carregada e armada, onde a detonação se faz em consequência de um pequeno tra- balho mechanico no gatilho: se este não se realisar. também a detonação ficará sem se fazer : a arma, carregada e aperrada, poderá enferrujar — é a immunisação natural. 18). O embaraço gástrico affectará em ultima instancia as funcções do figado e assim a toxina, fornecida pela intoxição mediante a Stegomyia e armazenada, pode- ria ser instigada á \irulencia e auxiliada em seu effeito destruidor. 19 ). Deve-se portanto distinguir entre intoxicação e phenomeno de acompanha- mento. A primeira se effectuará de dia. ao passo que o ultimo será apanhado, por via de regra, de noite. Assim se resolve o problema dos assim chamados <> Diários de Petró- polis ^ ( precisa S(3mente juntar-se ainda a supposição. já em si prova\el, que contra a intoxicação adquirida de dia nos quarteirões commerciaes da cidade do Rio de Janeiro, age regularmente e com successo a formação de uma anti-toxina favorecida pelas mu- danças climatéricas), problema que tanto quebrar de cabeças causou e em favor do qual opour le besoin de la cause» a commissão franceza no Rio de Janeiro violentou os factos, fazendo d;i fcmea de Stegomyia um animal nocturno. Mas o que se adquire 152 CoiikTrncia sobre Stt-^omyia e a ivYnx- aniarella de noite, nflo será tanto a infecção da própria febre amarella, como a matéria inflam- mavcl para a explosão e a occasião para o escapamento da catastrophe. Assim o compromisso entre o empirismo popular e a realidade dos factos fica, por um meio simples, removido para o foco de uma claridade comprehensivel. A relaçno mutua entre intoxicação e antitoxina, como ella se me afigura, pode- ria ser com vantagem comparada com uma conta-corrente, onde no Deve e no Haver lançamentos diários sao escripturados, guardando entre si quasi o equilíbrio; effeitos sommados em relaçilo á quantidade e ;í duraçfio de tempo, em ambos os lados. Um pequeno saldo diário a favor da antitoxina approxima, para aquelle que reside continua- damente n'um ambiente de febre amarella, a chegada da immunisação; a relação in- versa porém se inicia, por exemplo, por um embaraço gástrico, repetindo-se caso e ef- feito da gotta d'agua, pela qual o copo repleto é levado a transbordar. Que o deficit efficiente quer de um lado, quer do outro, não precisa ser lá muito considerável, é demonstrado nitidamente pelo facto de que nos taes « Diários de Petrópolis » jamais se estabelece uma effectiva immunisação. 20). Pelas considerações antecedentes não tenciono absolutamente negar a pos- sibilidade da infecção de uma pessoa san por um doente amarillico pela transmissão di- recta mediante a picada de Stegomyia. Pelo contrario, a minha própria opinião da natu. reza e do modo de originar-se a febre amarella carece d'esta possibilidade e supponho mesmo que a uma tal toxina assiste uma virulência augmentada e um effeito potenciado. Ligo com este modo directo de transmissão os casos com duração minima de desenvol- vimento e as epidemias propriamente ditas, alastrando cyclicamente, ao passo que ex- plico pelo caminho lento da intoxicação fraccionada mediante os effeitos reunidos das picadas isoladas, a génese abrupta e salteada de focos da moléstia de todo novos, sup- posto naturalmente : 1 ) que a Stegomyia exista na respectiva localidade; 2 ) que lá sejam dadas as condições de existência climatéricas necessárias para e sua reproducção des- embaraçada. 21 ). Na marcha nosologica da febre amarella distinguem-se : primeiro, um esta- gio inflammatorio-congestivo ; depois, um estado de remissões, que se delimita contra o outro pela queda da temperatura. Ora, constitue uma conhecida particularidade d'esta moléstia, que a entrada da mencionada remissão não observa regra certa alguma de tempo, podendo tanto apresentar-se depois de 2 a 3 dias, como depois de decorrido o dobro d'esse tempo. N'esta irregularidade caprichosa reside, ao nosso vêr, mais um va- lioso argumento para a supposição de uma toxina, porque no caso de existir um para- sita do sangue em estricta analogia á Malária, deveríamos esperar que a sua existência achasse a sua expressão externamente visivel e perceptível por uma periodicidade tem- porária, mais ou menos nitidamente pronunciada, e por um periodo incubatorio submisso á regra e á lei. ConfciL-iKia sobie Stcgtjinyia c a fcbix- amaiclki i "^ 22). Deveria ser pussi\el, por um trabalho cuidadoso c paciente preparar « cn massc » de thoraces frescos de Ste<íomyia, onde se acham localisados no quadrante antero- inferinr as glândulas salivares, a secreçRo destas glândulas salivares em estado de re- acção plcnar <.■ em quantidades taes que fossem sufficientcs para permittir experiências directas physiolog-icas e therapeuticas e fizessem mais nitido o processo de intoxicação, em escala augmentada. Taes ensaios seriam de um interesse de todo especial em dupla direcção : 1 ) em relação á questão do comportamento do sangue ao encontrar-se com a secreção das gjandukis salivares da Stegom^áa ; 2 ) em relação ao comportamento do figadu nu caso da injecção directa com a dita secreção. 23). Um dos principaes periódicos de medicina do Hrazil, o « Brazil-Medico », hebdomadario publicado no Rio de Janeiro, traz n'um dos últimos números que me veio ás mãos ainda pouco antes do meu embarque para cá, um artigo com a noticia de recentes ensaios curativos, accompanhados de successo, em doentes amarillicos me- diante injecção de « serum anti-crotalico » e de « serum anti-bothropico >, portanto me- diante inoculação de serum curativo obtido e attenuado de \enen() ophidico e dirigido contra a mordedura e a peçonha ophidica. Também os homeopathas os mais affama- dos do Brazil apontam com orgulho para os resultados favoráveis que dizem ter alcan- çado de ha annos e em tempos de epidemias intensas, na luta contra a febre amarella pelo seu especifico denominado « crotalus » e preparado com a secreção da glândula salixar \enenifera da cascavel. Poderá pensar-se a este respeito como se quizer, não se consegue libertar-se n'esta emergência da divisa « Similia similibus » e se no campo tanto dos allopathas como dos homeopathas se aponta para a applicação de taes sub- stancias medicamentosas manipuladas com veneno ophidico, por emquanto como resul- tado de reconhecimento meramente empírico, será permittido constatar que a theoria hoje em dia já está preparada para apresentar a respectiva explicação, e que a minha supposição da febre amarella como uma intoxicação pela secreção das glândulas saliva- res da Stegomyia recebe, deste lado empírico, significatixa alliança. 24). Se a minha theoria, achada mediante meios de todo independentes, vier a receber, como e.stou convencido, pela sciencia medica, em tempo não muito remoto a sua confirmação nos seus pontos essenciaes, vejo, qual astro clemente, luzir por cima da humanidade soffredora a fundada esperança de que a frágil embarcação em busca de prophylaxia e defensiva efficazes estribadas em princípios scientificos inderrocaveis, abandonando o dominio das ondas no mar largo do accaso, ache o verdadeiro canal e entre no porto seguro do .saber positivo. 25). Do ponto de vista pioplivlactico ficará de pé, como regra fundamental, depois como dantes: «O ultimo caso de febre amarella coincidirá com a ultima fêmea de Stegomyia. Exterminac este transmissor dentro e ao redor das cidades, e esta mo- i'l ( niilVrcncia mImi- Stt-ninvia r a K'l)n- ainairlla lestia se extinguirá pi.r si mesm;i . A Ix-brc ;im;ii-cll;i síiincnte não se exting-uirá n'a- quellas cidades, onde e emqiianto não se quer ! - Pleno applauso merece o procedi- mento radical, baseado rl'esta orienta(;ão scientifica, que, applicado recentemente por parte do chefe do serviço sanitário federal do Brazil, Dr. Oswaldo Cruz, em relação ã cidade do Rio de Janeiro, com brilhante successo, seguindo o exemplo e o preceito das « mosquito-brigadas » postas em scena pelo benemérito medico e hygienista inglez, Ronald Ross. Original allemão redigido a bordo do vapor < Argentina », durante a travessia do Brazil a' Europa, em jullio de 1904. Traduzido pelo autor em princípio de março de 1905. CO cu ^Cc3 t- C3 (^ O -O to o a- 5 cr tf) o (O O- "u C "C O- c/o O o T3 C M O > n 3 O. O VJ "^ ^ ;z v- ca *" c- M ca J2 W M •«^ *>. (9 (« E i» V- o X X b« _a» ti 01 3 "5 M O O n ir> ■^ \r\ ^ bC ú ò. 0- "õ" 3 O Q. íí b. W •O '§ o- 'w O D. E ■a BI O) E cá" V E o u ca ^ o E, ^-^ ^ — o^ Ot-*o 5 2 5 CS s '« u u o U) V) «) <« c« R »- <«• >^ . ■ >. >. E E E o o o U u bí > ca o. C/l _M _C0 In »> cn u u u (Q (O CS •«rf -«rf •*-« 0 O O u u u >>>>>. b£ bi£ b« u u u < < < 01 CA tf) V D V w a> u f J= J= C. C. O. o o o c c c A (Q CQ coo bo bo bO E C E ca E u E CO V CO CO CO r- S -2 E S^ E íá >^ E, -^ ^^ o*^: ■o*- ^o 4> a> CO CO CO jO N N tf) tn t t cO CO ^^ ^^ m VI ui &) o* u CO (O cO ^ H H E- E- xO t^ 00 CT- ^ b£ bC ^ iil iu ílI iC ,/ / / o ■o ,o '_r Vi o ,_ c '1/ o" — r^ -5 0/ 2 ç 'w Cv > •o ,_^ » o CO CQ 1) Ol .£ E E .Si ti E ' — — ■ — ' cx- c~ f^. tf) tf) X C c c CS rt — -V* -^^ -•^ ^— ^ ■*- ■" ■♦^ ca ti tf) tf) tfi E v lU ii 3J ■«-» ■ c. c. c. o 3 o c C c tfí K! « w 3 CL CL c (4 "■^ ^■^ ^^ rt _2 ta 4t c c C a> o o O tf) tf) tfl c c c eu « « 3 s s s y ^. (N ro ■^ '- »- •^ ■^ bc bC .M bè tu ó. (C 0. c/; CU ^fc3 O (/) O 5 cr CO o CO Ck) CS O- õ c CO O E IO 3 (S E u c B O u »< ■ — ■ c. a o*- > > ,^a E c E « C O O. c o o. s a o CA O o O u u D. a. O o n JZ JZ E •J o ,— ^ ^ ca ca h t: F (U í> n a c a. b< bC t/l c c o o cn ^~ 3 cn cn C 0) 4< •4^ (^ li n bí C« (« ^ O) O) S c» 00 ^^ bà bÇ ^ ÍL. il- ÍI_ ^ i 4 ^í ^ ^ í^<^ ^ ^ -^^^V^^^ ^ -v «A^^^ ■^^í^, á0ií^i ^ ^ ^ <* iy s -is S«1 ^N = 5 ^ ^r^ ?<-,<^ y v\ -.ftíí -V -'^--s^ ^~ ^ '1l ^^^^^^mÊsmmm >^ifi^, A ^ ^^^^^e^t ^Ê^^0^0. R'^'^: ./^ ^^.- ^^ ^f />Ar^^K^*#\A ^ #k^ ãk -,;Si.-^/^^|[^■ ^li^-^tSÃftSÍ?^!. :>.':^Mi^Ss íí^^A ^« >^*- >^4l^ '7^;^^ í:^ -»o =: ^^^^' ^^^ SMITHSONIAN INSTITUTION LIBRABIES 3 9088 00722 6236