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LIBRARY of the

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Dr, António Gomes Da Rocha Madahll

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Se g vnd a Parte

DA HISTORIA

ECCLESIA S TIC A

DOS ARCEBISPOS DE B RAGA, E

Varões 111 ullres do Arcebifpado , '

S GIRALDO PRIMEIRO

ARCEBISPO DE BRAGA DEPÕES DE SVA

reííauração,& fefcnta & cinco na ordem.

. C A P I T O L O. I.

NJCIMENTO, E CRIJC^ÃO DE

S.GimldojanteSiÇf depois de ^ligiofoydignidades,

que teue atèfir Arcebispo

de 'Braga^.

O M E c, A A

íegunda parce delbhiftoriacõ os princípios do reino de Por

tiigal apartado dos reinos dcCaíklb.,&: Leaõ, pellocaía- mento do Conde D. Henri- que, côa Rainha dona Tarcja,

filha delRey dom Alíonío o íeifto de Lcaõ,& Caftclla. Co- meça cambem com a Igreja de Braaa rcftaurada , a cidade re- fticuida,&pouoada, tirada do poder , òí fogcição dos Mou- ros , honrada cora Prelado , fk Arcebifpal, primeira, que todas as Metropolitana;, ds

A Hefpanha,

(^apítolõ I.

D. Afo. fo Henr.

Cl,

Heípanha affi na inlHcuiçáo, como na refl:auração,'depoes de lançados os Mouros delia. Começa finalmente com a vi- da,& infignes obras de va- rão cáoíanto, & de cão raras virtudes, como foiogloriofo S.Giraldo,honrada naçãoFrá- cera,gloria deita Igreja de Bra- ga , luz de codas as de Heípa- nha, verdadeiro ramo da in- fiçne aruore daReligiaõ do Pa- triarcha S.Bento/crcil em pro- duzir íancos ,fruico com que fépre ornou a Igreja de Deos. Gom cão felizes princípios, o damos a efta hirto ria, na qual trataremos de todos os Prela- dos , que teue a Igreja de Bra- ga , depões que Portugal co- meçou a fer reino por íy, dif- mébrado da coroa deCaftella, com a qualíe tornou a vnir no anno de i jSo.era tepo delRcy dom Felippe o prudente. t A cauíajque ouue pêra fe difmébrar ell:e reino da coroa de Caitella,apontaremos bre- uemente, feguindoa Duarte Galuão naChronicadoreino. clReidom Affonfoo VI, de Callella,chamadoEmperador, que t6mou Toledo, teue con- tinuas guerras os Mouros, { niiTMigos dénpíla lantafè cá- ; tíl€!lisa,dequceíl:aua occupa-

q:r

daHclpanha :diuulgoufe a Fa- ma dcrtas em prezas, & nioui- dos delia grandes (cnhoresef- trangeiros, de naçoês diuerfas , vierão ajudalo,&: íeruilo com as armas em guerra tão juíla, pêra ferem participantes detao gloriofas vitorias. Entre os ca- ualcircs mães principaés,que vieraó a ell:a conquilta , fciaó oCondedomReimaõdeTo- lofa,(!rande fenhor em Franca^ Si o CódedomReimãode S. GildoProuença , & D.Hêri- quefobrinho dcíle Conde de Tolofa , filho íegundo de fua irmã, & delRey de Vngria, quem cracafada, conforme a melhor opiniacS, poftoquc al- guns o fazem neto do Duque Roberto de Borgonha,hij dos filhos de feo filho. Forão eftes illuílres caualeiros recebidos honradamente delRey Af- fonfojCÕ o qual andarão fem- pre nas guerras, que teue com os Mouros , efpecialmente Henrique, que em difcrição, ôc valor excedia aos mães , &c fes feitos, & obras iníígnes na guerra, asquaesaííi aqui- rio os ânimos de todos , que oamauaõ, iS^cfli-mauaõ mui- to.ElRey os tinha a todos em grande conta, & íc àço por o- brigadoahonralos, & P^gar-

ihc

3. p. d4 Monarc,

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i

I

/

S. Ciraldo

lhe os ícruiços que lhe hauiaó feito. Eli) premio delles deter- minou darihe em caíamcnto trcshlhas que tinha-, huma chamada uona Vrraca, cazou com o Conde D. Remiáo de Toloíã,outra por nome dona Eliiira , com o Conde D. Rci- máodeS.GildaProuença •, a terceira dona Tareja deopor molher a dom Henrique ío- brinhodo Conde de Tolo fa, dotandolhecom cila, con ti- tulo deCondado aBeira, Entre Douro ÒL Minho , &i Trás os montcs.comabúas terras de Galliza^atè o Caltcllo deLo- beira , ik. a conquiRa das mães terras de Portugal, Celebrado o caíaméco o Conde do Héri- quc,Sv:rua molher aRainha do- na Tareja,entraraó de poíle das terras que lhe foraõ dotadas^ poios annos de io5>4. Emol- trádo par cicnlar afeição à Igre- ja,& cidade de Braga , que era aprincipalj & cabeça de todo feo ertado , tratarão de a hon - rar,&: ampliar com nouos edi- fícios,& enriquecer com mer- cês , ordenando que íe elcí^cíle Prelado que a gouernaíle, & reduziGeaoíer, & mageftade antiga de Metropohtana , & Primas de toda Hcípanha. O Prelado q lhe deraó foi oglo-

rioío.y. Gtraldo cuja vida , ^ obrai marauilhoías começa- mos a cícreuer.

3 FoiS, Giraldo natural do BifpadodeCaors emQ^uercina Fráça,á(: não deCátuatiaemIn glaterra, como algús imagina- raõ.Seos pais forao nobres , mui grandes íeruos de Deos: logo que caiarão, prometerão dcihc oflerecec o primeiro trui to que lhe delíe , dedicandoo a húmolteirOjperaque nelle ler- uiííè a fua diuina Maç^eltade, Tanto que naceo lhe puzeraò nome Giraldo, ôc pouco de- pões o leuaraõ a híí moíleiro da ordédeS. Bento, chamado Moiíaico no meimo Bilpado deCaors doCógrcgaçáodo in^ ftgne raollero da Cluni. E aly o offereceraó a Deos peraque o íeruifle quando folie tempo. O Abbade , & Móges do mo- fteiro o receberão, guardando com elle as ceremonias , que S. Bento manda em fi-ia regra, quando trata como aódcfer recebidos os filhos dos nobres. He o mofteiro Moifáico hum dos mais graues,que cem a Re- ligião de S. Bento, fogeito a S. Pedro de Cluni, aíTi cm anti- guidade, por ler fundado por Clodoueo o primeiro Rey de França , que recebeo a ley de

Ai

Chrilio

Fr'. Ant. de Tcpcs cêc.jata. Chrfft. io86.í".4

(^afitolo L

ChriftojComo por authof ida- de, & nunifiro de Religiofos, quechegauao a oitenta, alem de outros mukos^que refidiáo em Priorados, que lhe cftauaó fogeitos.

4 Nefte moíleiro tão prin- cipal tomou o habito S.Giral- do,nos primeiros annos de fua idade.Hia crccendo em virtu- des, & na obferuancia regular, de modo , que a todos exce- dia com grandes ventagés. Era mui diligente cm tudo o que íe lhe encomendaua , ain- da,qucfoírem coufas leues, & de pouco momento. Guarda- uaíe de offcnder a Deos, podo toda a vigilância em naó com- meter pecado algij , com que caifle da graça da Mageftadc diuina. Trataua o corpo com grande aípereza, & rigor, & guardando cfte pêra cõíigo, c5 todos os mães era brando , & de condição mui fuaue. Final- mente rclplandeciãonclleem graò fuperiorahumildadejpie- dade, paciência, & as mais vir- tudes , entre as quaes tinha o primeiro lugar acaftidadcjCÕ priuilegio particular do Cco, que lhe cócedeo de pureza virginal em quanto viueo,

5 Ale das virtudes moraés, que nefte lanto fe achauaõ,lhe

í não ^faltaua grande íciencia. Eraõde ordinário naquclleté- po os morteiros de S-Bentoas vniueríldades , onde feapren- diáo as letras ; fahiaõ iníignes nellas os fogeitos, que na mef- ma religião tinháo talento pê- ra as íeguir; tal fahio o glorio- foS- Giraldo. Conhecendo os monges deMoifaico feo gran- de talento , não confentindo, queeftiueflè cncuberto,omã- darão por Viíltador dos moí- teiros, que Iheeraó fogeitos. peraque nclles rcformaííe o q mais cõuinha a boa obferuan- cia da regra. Breuemente mo- ílrou o fanto nefta vifita o grande cabedal de letras,&: vir- tude,quc Deos lhe dera, forq com feo exemplo, &: doutrina deixou os moílciros , que lhe foraõ encomendados , taõ re- formados,como conuinhaao inftituto,& regra , que profeí- fauaó. No moílciro defanta Maria Aurienfe,ou Dourada, hum dos Priorados do mortei- ro Moifaico no Arçcbifpado de Tolofa,fe dcteue macs, aííi porq nos principies fazia aly maior relíftencia o demónio à fua boa doutrina , como por- que fahia muitas vezes pella comarca , & prêgaua nellaem diueríos lugares, com grande

)ro-

S. Giraldo

i

proueito das almas dos que o ouuiao, comque cobrou em toda a terra tal nome _, Si fama^ que obrigou ao Arccbiípo de Toledo D. BemardOjquando poraly paílaua de Roma, ao trazer coníígo a He(panha,pe- raque a doutrina , vida, ôc le- tras delie ínnto luzilfem , & reíplandcceílem em toda ella. 6 O primeiro Arcebilpo , q teue a cidade de Toledo depois de ganhada aos Mouros por Elrey D. AíFonfo o VI. foi D. Bernardo j Francês de nação, religioíoda ordem de S. Ben- to,profedo no mofteiro de S, Pedro de Cluni, Abbade, & Reformador do moíleiro de Sahagum emCaí]:clla,Legado, & N úcio A poftolico porHeC panba^dosSummos Pontiíi- ces,qac em feu tempo goucr- naraó a Igreja. Erte illuftre Prelado tanto q entrou no go- uerno do Arcebiípado,tratou logo de remedear os abufos,& dannos , que em Hefpanba le auiaó introduzido com a en- trada dos Mouros , & com a licença das armas . Andando nefta occupacao começou o mundo a íe alterar, & acender em guerras , pretendendo os ChriíHos conquiftar a terra fanta,& tiraladas maõs,& po-

Rode

Xim ,fol.

^.dahifí, de He ff,

der dos infiéis. Foiauthor de- lia grade emprez^Papa Vr- bano 1 1. O nuéto era lantilíi- mo, & o Pontífice concedia grandes indulgências a todos os Eccleíiafticos, &i Seculares^ que fo fiem na jornada. O Ar- cebilpo D Bernardo como era Francês, & de valor, amigo particular do Papa , determi- j nouirempefloaaeílaconqui- fta,6s: feiras as preparações ne- 146. ceílarias, fe pos no caminho \^^/^^''*"' deRoma. Chegou àquella ían- tacidadejbeijou o ao Papa Vrbano,& íe ofterecco ao fer- uir na jornada da terra fanta- O íummo Põtifice o recebeo com grandes demoftraçoés de amor,agradecendolhe a vinda.- porê por rezoés de mayor vti- lidadepcraa Igreja deTolcdo^ onde era neceflària a peíToa do Arcebifpo,não confcntiojque fizefle a jornada, & lhe man- dou q fe tornaflea Fíeípanha, comutandolhe o voto de ir a lerufalem, cm que rcedificaíTe a cidade de Tarragona em Ca- talunha,iníígnc no tempo dos Romanos, a qual auia pouco tempo fe ganhara aos infiéis com o valor , & induflriados Condes de Barcelona. . 7 Defpedido D- Bernardo do Papa , pos em execução o

A3

lue

Capítolo I.

i

tjiie lhe auia mandado : edifi- cou a cidade de Tarragona, grandes deípezas, 6c cuftode íuaíazenda, posncllapor Ar- cebispo a Berengario Biípodc Vique, em virtude do poder, que tinha, como Legado da Apoítolica. Paílando por Frá- ça/ez a HcCpanha grande íeroiço 5 & íoi trazer coníígo monges mui calificados, & pcíloas grauiílimas daquelle Reino, peraqnelIafloreceíTem, & a illullraílem. Auiáo defcai- do muito as íciencias em Hg{- panha com as guerras , & en- trada dos iVlouros, porem ef- tes varões infignes^que confi- go trouxe D.Bernardo, as i^- raõ pouco a pouco reftauran- do,atècom otempo virem a terá perfeição^ em que hoje as vemos.

8 O principaljCm quem pê- ra eíle efleito pos os olhos o Arcebiípojfoi em S. Giraldo, tirou o do morteiro Moifaico, & conhecendo as muitas par- tes j, que nelle auia, ofez Chan- tre da de Toledo, na qual dignidade moftrou bem quáa acertada tora fua eleição. Veio por companheiro de S. Giral- do frei Bernardo, religiofo da meíma ordem, aquém tambê fes Arcediago de B rasa, &: de-

gran-

pois veio a íer por feo des mericimentos Biípo de Coimbraj& chronifta da vida, &c milapres do mefm.o íanto. Xrouxemaii configOjàlemde outras peílbasgrauifiimas , q referem Mariana , Ycpes , a Maurício Bordino natural de .^ Limoges,a quem fcs Arcedia- f"*? go de Toledo( foi depois Bif- pocic Coimbra, & por morte de S. Giraldo Arcebifpo de Braga)efte, como diremos em fua vida, íoberbo com tantas dignida'.fcs, veio a dar cm gra- des del'atinos,comoforaõ, pre- tender a cadeira Arcebifpal de Toledo, eílãdo ainda nella D. Bernardo, & o qmais hc,ade S.Pedro, leuantandofecom o Summo Pontificado, como em feo lusar efcreueremos . Era grande o poder, que neftc tempo tinha cm Helpanha o Arcebifpo D. Bernardo, aíll com o fauor dos Siamos Pon- tifices,de quemcraLegado àla- tere , como a valia delRey D. Aííonfo o VI. de quem foi mui eftimado. Aproueitando- fe de ambas eftas coufas def- punha no efpiritual ,& tem- poral das Igrejas, &:ordenaua nellas tudo o que lhe parecia, não fem queixa de muitas a q rirauafuaiurdição, & preemi-

Míirmn. \ Tyes vbi

nencias.

S. Giraldo.

I y c.vU.]

nencias ,agoraapropriandoas a íy, agora a outras, cujas não craó,con-jo bem lhe parecia.

CAPITOLO II.

HE S. G I 11 A L DO

eleito Jrcebifpo de Braga, parte pêra Roma , donde trouxe muitos priuilegios da Apoflolica.

PvCciaõ os me- recimentos de S. Giraldo, 6d pediaõ maiores dignidades , q aque poíIuiaemTolcdo:elles o Icuaraõ , & puzeraõ na ma- ior de Hcfpanha , ifto he , na Igreja Primacial deBraga.Efta- ua cila então vaga pella depo- íiçaõ , & rccluíaó do Biípo D. Pedro , o qual, como em fua vida fica diro , foi priuado da dignidade , & prezo em hum móílciro , onde paílbu os an- nos,que Iherellaraõ de vida. Quiíeraõ elReyD,Aífonro,& o Conde D.Henrique fco ge- ro, dar nouo Prelado a efia Igreja, ordenarão, que Te fizef - íc eleição dellcj votou o Cle- ro , & Pouo da cidade, & de

confentimento comum íahio eleito Arccbiípo S. Giraldo^ dccLijaeleiçáo, pello queco- nheciaõ de lua vida , & ianti- dade, tiueraõ particular íatisfa- çáo elRey D. Aflonío , & o Cõde D . Henrique , &: a apro- uaraõ,& lhe deráo leu coníen- timcto,fazédo o mefmo oAr- ccbiípo D.BernardojComoLe- gado da Apoftolica. Con- fta o que temos dito do huro fidei do Cabido defta Igreja , -o qual tratado da morte doBif- po D.Pedro, & eleição de S. Giraldo , tem as palauras fe- guinres . Pofl cuius decejfum, Clero^if Populo ^oUtibus, nec «^ Ò'' Archiepifcopo Toleta- no, l^ Rege Alfonfo , Comitecjj Henrico^fimul eoncordamihus, Gerardus ■<uenerabilis Mona- chusjn Epifcopúpr^eleãus eíi^ at^ canonicè prtceleãus in Br a charenfi cathedra folenniter e^ intronifatus. Querem dizer o que temos referido, i Dondeconfta, queS. Gi' raldo foi eleito canonicamétc, & não pofto na Igreja de Bra- ga pello Arcebifpo de Tole- do, como alguns imaginarão. E fc aílirtio, & confentio em fuacleição/oicomoLegado da Apoftolica, com as vezes, q tinha dosSummos Pontifices,

Tefes d. c.^. ann,

10. 0.

A4

pcra

Cafitoío L

diã. c 4.

anutioio

I lYAH.de Trtm.

pêra fazer íemelliantes aâ:os, & não como Arcebifpo de ToledcjCm rezáo de direito ai pum da Primazia , que não ti- nha.E ainda que frei António deYepes com menos noticia das hiilorias defle Reino^diííe que D. Bernardo fizera Arce- bifpo de Braga a S. Giraldo, contudo não pode negar^que iftoforaem virtude do poder de fua Legacia , & não como Primaz de Hefpanha,que não cra.Donde fe exclue o direito da Primazia de Toledo, que alguns quizeraú fundar nelle aóto da eleição de S. Giraldo, pões ccnfta , que o confenti- menco, que a ella deo D. Ber- nardo foi como Legado da Se Apoílolica,^ não como Pri- maz de Hefpanha , pões eftes foraõfempreosArcebifpos de Braga , como em outro lugar diílemos.

3 Tornando ao noíTo fanto^ depões de fer eleito, recufou grandemente aceitar a eleição, porque como era humilde, ti- nhaíe por indigno da dignida- de^quelheoftereciaõ : obriga- do porem com rogos , a acei- tou. Tanto que íe vio com a obrigação de Pafl:or,& com o encargo da noua Prelazia, tra- toucom muito cuidado de a

reílituir no elpiritual , & tcra- poral,ao cftado antigo,& tirar os vícios , que com a entrada dos Mouros feauião introdu- zido. Acodio com doutrina, «&: exemplo de vidaa reforma de fuás ouelhas.Poso peito a vio- lência, que algíías pefloas po- derofaslhe fazião, retendo os bens de fua Igreja injufta, & facrilegaméte, contra os quacs mortrou bem feu grande zelo, & valor, porque não recu- perou o ja aquirido por feo anteccíibr D. Pedro, tirandoo das maõs dos ,que o poíTuiaó, mas ainda aquirio de nouo muitas propriedades , rendas, & iurdiçcês,que ouuedoCõ- de D.Henrique, & da Rainha Dona Tarcja fua molher, & de ou trás pelToas nobres , co- mo adiante diremos . Soube por informação de pcíToasan tigas, & porefcrituras do Ar- chiuo defta Igreja , a grande preeminência, & dignidade, q tiueraõ os Arcebifpos delia em tempos mães antigos, & co- mo fora a lus,& luftre de to- das as de Hefpanha : determi- nou ir a Roma pedir peíToal- mente ao Sumo Pontífice o vfodo pallio, como entaõfc coftumaua , & alcançar de ca- minho a reformação , & re-

ftau ração

S. Giraldo.

ftauraçãodos priuilegios an- tigos da lua Sé. Chegado a Ro- ma foi bem recebido do Papa Paíchoal II. religiofodomel- mo hahico deS.Bento,& pro- fcílbno moílcirodeS. Pedro deCluni. Por monge damef- ma Congregação,' & pella fa- ma,cjue auia chegado a Ro- ma da muita virtude, & fanti- dadc de S.Giraldo^lhe fes o Pa- pa muitos fauores, & honras, as quaes le colhem bem das palauras de híía carta , que ef- creueo ao Conde D, Henri- que em fauor do mefmo fan- to,3char(eaú no huro;^í/g/ do Cabidodellá Sè,& dizem aíli.- Commcnemus eti-am , ar ipfum fratrem noflrum Gerardií 've- neratione debita compleclaris, atq^ adrecuperanda ipfius Ec- clefi^ hona^deuotus adiutor exi- íías . Qaerem dizer, também ''VOS amoejiamos^ que trateis areuerencia, Iff 'veneração di- uida, a nojfo irmão Giraldo^ tf que lhe deis toda a ajuda pêra recuperar os bens de fua Jgre-

4 Foi efta jornada de S. Girai doa Roma no principio do Pontificado do Papa Pafchoal Il.uofim do anno de i09S>. ou entrado o de iioo. O Papa lhe conccdeo o pallio,

& todas as graças , que S. Gi- raldo lhe pcdio pêra recuperar aantioa dij^nidadedefua I^re- ja. Veílciíto da terceira Lição da reza do Santo, no Breuiario Bracharêfe^cujas palauras tra- duzidas em português dizem allí Foi eleito canonicamente naquelle tempo S. Giraldo em Arcebifpo de Braga , i?* consa- grado por authoridade Apo- JioUca ) tf indo logo a Roma , foi recebido com honra do Pa- pa Pafchoal ^ de quem alcan- çou o pallio , comfeo priuilegio, tf recuperou inteiramente a dignidade Metropolitana da Se de Braga , interrompida pella defiruição,que os Bárbaros f^e- raÓnella.Ò racímo confia do liur o fidei, o qual tratando da ida a Roma de S. Giraldo , diz 35 palauras feguintes traduzi- das em português. OSãtolua' rao Giraldo ^difcreto^ fabio^ tf prudente foi a Roma, pêra al- cançar a honra antiga,tf recu- perar a dignidade, de que Bra- ga algum tempo carecera J^ cÓ- firmada com o fello Âpoflolico^ fe tornou perafua Igreja. y Alcançadas as graças re- feridas, & a honra da Prima- zia antiga, fe defpedioS. Gi- raldo do Papa,& vindoaHef- panha,achou na cidade de Pa- |

iencia

Ereuiat, Decemb.

foi, 49.

IO

Capítolo III.

Icnçia congregado Concilio Prouincial, por ordé do Car- deal Ricardo Biípo de Albalõ- ga, Legado da Se Aportolica. Aly moílrou os Breiies, que trazia do Summo Pontiíice, os c|uaes foraõ lidos em prc- zençadosBifpos, 8c Abbades, que eftauão preíentes. Logo ordenou o Cardeal Legado , queosBifpoSjque antes eráo íulFraganeos,& íogeitosaMe- tropoli deBr3ga,conheceíTem aS. Giraldopor feo Metro- politano , & íuperior . To- dos lhe prometerão obediên- cia, & lha náo deo D.Gon- çalo Biípo de Mondonhedo _, por fe não achar nefte Conci- lio. Alguns dias perfiftio na meíma tenção , ate que o Pa- pa Paíchoal IL lhe efcreueo afperamente , mandandolhe, que deíTe obediência a S. Gi- raldo/como o tinhão feito os raaes fufFraganeos. Tudoifto fe colhe de efcrituras, que cll:aõ no Archiuo defta Igreja.

CAPÍTOLO in.

OBRAS OVE S. G I-

raldofes na reformação de feo Arcebifpado . E cuida- do, que tette de conferuar os priuilegios de fuá Igreja.

EPOES,que

S. Giraldo veio de Roma , co- meçou logo a entender na re- formação de todo o Arcebif- pado 5 dando principio a cila pella emenda da vida , & mu- dança dos coftumes de leos fubditos, cujalaudc cfpiritual trazia diante dos olhos. Com palauras , & obras enfinaua o pouo, & tal era fua doutrina, ôi pregação Apoftolica , que fazia celebre feo nome por to- das as Igrejas de Hefpanha, onde onoraeaua5,não jàcõ o nome de Arccbifpo D. Gi- raldo, mas com ode Arcebil- po íanto, ou de S. Giraldo. Ellaua naquclle tempo toda a terra de Braga mui cftragada no vicio da íenfualidadc, & eraõ tantos os exceíTos, que auia neíle particular, que não

tinhaó

S. Cirdldo,

II

tiaháo os homens refpcicoa parentas cm grão muichcga- dojdeque le leguiaaucr ince- rtos publicos,& os poderoíos, quenáo auiaõ tido Prelados, queos callig^iflem com o ri- gor neceílario , cllauão taõ el- quecidosde fuás obrigações, que nem cratauaó do remédio delias, nem reípeicauáo com areuerencia, & íogeiçaó dc- uidaaos Paílorcs, &c Minií- cros dalgreja.Chegauaiftoao coração de S. Giraldo,& de(c- jaua curar ellàscbagaSjpondo- Ihe jíendo nccefiario,ferro,& fogo. E pofloquc era piadofo nacuralmence, & compadeci- do decondiçáojcontudo quã- do a neceíli Jade o pedia, caíli- gaaacõ rigor os pecados pur blicos Viole ifto bem em hxx cafo , que lhe fucedeo na viUa de Guimarães , o qual palFou delia maneira.

t Hum priuado do Conde D. Henrique , & dos princi- paes de fua Corte , chamado Egas Paes^maes limpo no fan- gue,q;ie nos coftumcs, tinha, auia muitos annos ^conuerfa- ção illicita com hãa parenta fua dentro no quarto grão, grande efcandilo, & diílolu- ção.Soubeo S. Giraldo , & em ifegredo o reprendco muitas

vezes , & Ihepedio com lagri- mas qniíefle emendar a vi- daj Òí tornar febre íy,tirando- (edo perigofo elladoemque andaua^ com tanto eícandalo detodoopouo. Foraóasa- moelbçoés de pouco fruito, porque cada dia crelcia mães a culpa,. *k ao mermopaflo o eí- candalo, íem fazer cafo clle pecador dos rogos , &: períua- loés do Santo. Vendo ellefua pouca emenda^tratou de o re- duzir com as armas Ò3. Igreja, mandandoò, como a defobe- diente, elcómungar^ & euitar por toda a parte. O incelluo- ío^que com eíle caíligo íe ou' uera de reduzir a melhor cita- do, efquecido de Dcos , »3i de fua conlciencia, ertaua taó per- tinaz,que nenhúa conta fjzia das cenluras. Sucedeo que aí- ííllindo o Ccuide dom Hen- rique ém Guimarães , man- dou chamar a=: peíloas mães graues de Portugal, pêra tratar comellas negócios de impor- tância . Acodio logo o Santo Arcebifpo, & auendo de dizer mida de Pontifical, cm híja fe- fl:a,em prefença do Conde D. Henrique , & da Rainha dona Tareja , reuellido nas veíli- duras Põtiíicaes,entrou à mif- fa,& virandofe pêra o pouo,

VIO

12

Captolo 111.

vio a Egas Paes junco ao altar, perto do Conde D.Henrique, &i fem ir pordiante,diíre.L^«- ctfbra da Igreja a Egas Paes, porque he pecador publico , isf por tal eflá lançado da Igreja^ como membro podre , ip" Je afsi nãofor\ nem eu irei por diante com ofacrijicw , mm "Vos anui- reis mi jfa.

3 Víbora pizada não Vomi- ta fnaes peçonha, do que lan- çou pelia boca o mifcrauel E^as Paes, afrontando ao fan- to Afcebiípo,& dandolhe em cuipa atreuerle a efcõmungar, & lançar da Igreja a hum ho- mem fidalgo, & de tantas ca- lidadescomoasfuas.PorêDcos Noílb Senhor,que atenta pcl- lahõra defeosíeruos, & quer, que fe temáo as ccnfuras , & queferefpeitem os Prelados, ordenou, que o demoniojque lhe tinha ocupado a alma, lhe entraílb também no cor- po : feio o mao efpirito aííi,&: derribando© no chaõ,o tratou demaneira , que logo nos gc- ílos,& vizagés,que fazia, mo- flraua bem,quaes eraõ os tor- mentos, q padecia. Leuarãono como morto/ora da Igreja, & o íanto Prelado continuou a miíTa com muita quietação : acabada cila o Conde D. Hen- (

rique,a Rainha dona Tareja,& os fidalgos,quealy fe acharão, lhe pediraú com muitos ro- gos, íe compadecefle da mife^ na daquelle homem, rogaíTc a Deos lhe defle faude, èc o liu r afle do mao eftado , cm q andaua.S.Giraldoaucndocô- paixao dellc, efquecido das in- jurias, &:afront3s,quc lhe auia feito,pofto de giolhos, com as mãos Icuantadas, ícs oração a Deos. O mefmo foi chegar ao Ceo a petição do Santo , que fair logo defpachada. Sahio o Demónio do corpo do mife- rauel Egas Paes,o qual,cobran- cío inteiro j uizo,prometeo aos pès do fanto emenda de feo pe- cado,& deixado o mao eftado, em que andaua , foiaíTolco das ceníuras, & fe exercitou da \y por diante era obras virtuofas, nas quaes acabou a vida fanta- mcntc, tendo grande refpeito, & reuerencia a S.Giraldo , co- mo àquelle , de quem rccebe- ra,affi a vida temporal do cor- po, como a efpiritual da al- ma.

4 Dous irmãos grandes fc- nhores na comarca de Braga eftauão indurecidos no mef- mo pecado de luxuria , & vi- uiaõ com grande efcandalo. Araoefton os ,& reprehédc os

S. Gi-'

S. Gimldôé

13

I

S,Gii'aldo,não cjuiíeraõ ciiié- daríc. Onde não obrarão os remédios humanos , acudio a poderola mão diuina^caíí:ipã- doaambos, naõ nos cor- pos,mas nas almas , porq deíles chegou a tanto eílrcmo de pobreza^q a pèfoieõ fi- lho íeu a terra de Mouros, on de morreo milerauelmenre a- fogado . Outro morreo de morte fubita^indo em bua jor nada contra infiéis, j Vêdoofanto Atcebifpo, que muitos dos Bifpos fuiíra- ganeosdefua Igrcia, lhe náo queriaõ obedecer, nem acudir comalogeiçáo deaida^come- Çou a proceder com cêluras cótraellesj & como efte meio não aproucicaíle contra a cõ- tumacia em q eftauaõ , recor- reo a A poítolica , & pedio fauorao PapaPaichoallI. co- tia os contLimaces,& em cfpe ciai contra D- Gonçalo Biípo de Mondonhedo , o qual não íò o não queria reconhecer co mo aMetropolitano,mas ain- dalhenão queria reftituir a Igreja de S. Martinho de Du- mc,q lhe tinha ocupada, Pro- ueo o Papa no cafo,deípachã- do bulias ao Biípo rcbelde,pe- raq fem replica algua, deílc lo- go obediência ao fanto Arce-

biípo feio alli obedecendo aos midadoô Apollohcos, & não íòelle mas todos íèus íuceíío- rcs Ihederaõa melma obedié- cia.O meímofizera-9 os Bif- pos de Aftorga , Ltigo , Twy, Orenfe , Lamego ^Coimbra ^Por- to ^^Vifeu. Lançaremos aqui húa traduzida em português, peraq íe veja a forma em q fe coftumauáoa fazer. Obediícia do Bifpo de Orífe, 'Eu D, Diogo, q agora fou ordenado Bijpo da Igreja de S. Martinho de Orenfe^prometoa fogeiçaÓ^isf reuerêcia ordenada pellos fantos. Padres, conforme o tem decretado os Cânones , à Igreja de Braga,i^ a [eus Pre lados, em prefença dofenhor Ar cehifpo Giraldo,ao qualmefo- geito pêra fempre,i:f íjlocójir- mo apondo as mãos [obre o altar 6 Durou muitos annoscíla íogeição,&r obediêcia,q os Bif pos de Gallizadauaõaos Arce bifpos de Braga , porq muito tcpo depois da Igreja de Cõ- poftellafer leuãtada Metropo litana pello PapaCalixto II. & lhe fere aííinadas Igrejas fuf- fraganeasjOs Bifpos delias pe- dião confirmação de fuás e- leiçoés , & dauão obediência aos Arcebifpos de Braga, final euidcnte da Primazia defta

B Igf^j^

H

delia ígreja.como prouamos no tratado delia. 7 Foi vigilantiííjmo S.

Giraido em recuperar as ter- ras, queeraõfogeitasaBraga, ôc porque D. Pedro Bilpo de Artorga , tinha ocupadas as Igrejas de Bragança , de La- dria, & Aliftc , que pertcnciaõ a Braga,lhe pedio^qucas refti* tuiíle.Masnáo o querendo fa- zer,recofreo aoPapa Pafchoal II. a cujas letras Apoftolicas ouue finalmente de obedecer. Não íòeftas,mas outras mais aquirio o fanto, fazendo oííi- cio de viofiláte Paftor. Foi mui deuoco de S. Nicolao, &i gra- de imitador Je íuas virtudes, fundoulhe nefta húa ca- pella, que he a em que agora clH feu corpo,&: cliamão por efle refpeito de S. Giraido , de- pois que nella eftà o fa- gradodepoíi- co.

Qapitolo IIII.

%h^

CAPITOLO. IIII.

DE ALGVNS MILA-

grés, tf obras marauilhofas^ qS. Giraido f es fendo ^iuo, y' doações, q lhe foraó feitas

fe'^^ Vm cafo.muidicjno j§IÍ H ;^ de fer fabido , conta (j^^^ D. Bernardo Bifpo deCoimbra, Chro- niftadefteSáto, em o qual fe deícobrCjComoDeos caftiga- ua viíiuelmente aos q íe atre - uiaõ ao injuriar. Húa molher nobre chamada Thoda , viu ia em hiã Caftello duas legoas de Braga,era rica/ermofa,& m deuota de S. Giraido. Pos nel- la os olhos home baixo por geração, mas poder o fo por ri- quezas, da cala doCóde D. He riq,cujo nome craOrdonho,o qual mao termo, & dcma- fiado atrcuimêto , a tirou por força de fua ca fa,pretendendo roubarlhe a honra,có preteif- to de a receber por molher. Thoda, q eftaua violentada, denenhú modo queria con- ferir em femelhãte cafamêtOí Andauão Ordonho,&: cUacó diferentes penfamentos. Or- denho como podcrofo prepa raua grades feftas pêra o dia do cafaméto, A dózella fora

de

S. Giraldo.

15

deoeífeicuar , cncoracndan- doíeaS- Giraldo, em prendeo hum feico nocauel. Tratou húa criada fua, de quem mui- to fe fiau3j trocalíem os veíH- dos,&; tomaíleeilaas jóias, & ricas fedas, com que íe vellia, & Ihedeíle os íeus trajos hu- mildes de Iauradora,pera com elles laircom feu intento. C5- tentOLi o partido a criada, aíli pello am or, que u. fenhora ti- nha^ como pello queinteref- fauadcproueico: fezíea tro- ca, & eftando j á Thoda vefti- da em hábitos feruis, tomou hum cântaro à cabeça, & fin- gindo hia bufcaragoaà fonte, íc íàhio de caía. Entrando Or- denho na camará onde imagi- naua acharia a Thoda, ven- doo engano , q Ihetinhafei- to,impaciente,&: raiuolo, dei- xando a criada por morca,má- dou grande numero de cria- dos,& amigos,em feguimen- to da cafta fugitiua , a qual não poderiaó deixar de dar lo go, pello pouco, que auiadef- aparecera. Chea de medo, & aflição a Tanta donzella , lem- broufe de S. Giraldo cm quê tiuha grande . Pofta nelle toda íua confiança , como fe o tiuera prefente, alfi lhe ro- gaua de coração a liuraíTc da-

qucUe aperto. Ouuio a Deos por merecimentos do lanto, 6c com milagre euidente os homens,queandauaõ em feu íeguimento , & a bufcauáo tendo a dinncc, a não viraõ, nem conhecerão, como íefo- raó cegos, Sahio Thoda ao ter ceiro dia das brenhas onde ef- tiucra,&indo vifitaraS. Gi- raldo,lhe deu conta do fucef- fo, apregoando , que por fcus merecimentos a liurara Deos daquelle perigo, porque fem- pre o chamara com deuação interior quando via junto a (y os que a bufcauão . O fan- to Prelado a recebeo com ale- gria , & confolou, & cila em reconhecimento dofauordo Ceo,q recebera , fe foi a Igre- ja de Braga, ôc no altar delia òfFereceoà Rainha dos Anjos ricasjoias,& lhe fes doação de algija fazenda , deixandofe ficar viuendo debaixo da pro- teição , & orações de Saõ Gi- raldo.

z Paífou adiante Ordonho c6 fua pretenção louca, deu em perfeguir a Igreja,& ao Pre lado delia , por lhe parecer , q de feu fauor, & cmparo vinha a Thoda não o querer aceitar por marido. Procuraua por todas as maneiras a vingança.

B 2, Indo

,:|..

I6

£aptolo IIII.

IndoS. Giraldo viíitarfeu Ar- cebifpadoj chegado ao Caftel- lodeLanhoíOj aonde Orde- nho moraua,náo náo íahio ao receber, como fc coftuma, & tinha de obrigação, mas fu- bindo ao alto de hua torrc,aíli defacou ahngoa em injurias, & afrontas contra o fanto Prelado, que o obrigou a ful- minar contra elle ccnfura de eícõmunháo, náo tanto por caftigar ao atreuidoj quanto pêra daquella maneira por fre- io a outros femelhantes, de que não falrauão muitos na terra. Mas náo fc contentou o Cco com efte íò caftigo , por- que naqucUe mefmo lugar on deOrdonhofeatreuera a por a boca íacrilega em S. Giraldo, dentro de poucos dias, certos inimigos feus,lhe tirarão a vi-' da com violência , & cruelda- de,

3 Outro milagre conta D. Bernardo Bifpo de Coimbra, como teftimunha, q fe achou a elle prefente. Sucedeo , que vindo S. Giraldo de viíitar al- gúas Igrejas de feu Arcebifpa- do ,rccolhcndoíe pêra Braga, chegou à ribeira dorioCaua- do , o qual naquelle tempo hia groflo deagoas,& furiofo de corrente. PaíTaua fium bar-

co cõ muita gente na hora cm que o Santo aly chegaua , mas tanto que foi no meio do rio, carregarão com tanto peso as agoas , que dcfefperando o barqueiro de opoder tirar fo- ra, fe lançou a nado, deixan- do© à violência do rio. Os miferaucis, que viáo a morte diante dos olhos,acudiraó aS, Giraldo,a quem tinhaõ à vifta, pedindolhe os ajudaíTe, & fauorcceíTe naquelle perigo- O Santo compadecido dellcs, com os olhos no Cco,fc« ora- çáo a Deos. Coufa marauilho- fa'Vioíelogo correr o barco direito à praia, & parar nella, fem ninguém o leuar , ou fuf- tentar 5 até faltarem todos cm terra , igualmente alegres, que agradecidos àmercc,q de leu mi lagrofoPaílor tinhaõ recebido. 4 Vindo o fanto Prelado de Orêfe pêra Braga com feu cÕ- panhciro D. Bernardo , che- gando a hum lugar, que cha- maõ Rio caldo , fes noite , & deixoufealy ficar :ao outro dia madrugou, & faindo da po- uoaçáo. começou a chouer ta- tá agoa com trouoês , & relá- pagos, que fe viraó todos em manifefto perigo da vida.Cha- mauáo pello Santo, pedindo- lhe, que rogaííe a Deos por

elles

S. Giraldo

\7

ellcs,peraqueos liuraílcdctáo grande tormenta.- O íanto os conlolou a todos , & os aílc- gurou,que não tinhão,quc temer, dizendo^queíò lhe da- ua pena aucrfe de molhar a íuacapella, queeráoos cofres emquelcuauaos ornamétos, &huros,& algúas relíquias; mandou q foflem entoando os falmos penitenciaés , foi coufa marauiIhofa,que chega- do à pouzada correndo agoa em fiojtoda via os cofres aííí chegarão enxuto$,como fe gotachoucra.

6 Outros milagres obrou N.Senhor,por interceíTaõ de ícu leruo S. Giraldo, q o Chro nilla de fua vida D. Bernardo deixou dccfcreuer por breui- dade.Teue eftefanto cfpirito profético, porque reuelou aos feus,que lhe auia de fuceder na Igreja de Braga Mauricio Bif- po de Coimbra,o qual deu ao principio grandes moftrasde bom Prelado , mas tudo def- dourou depois com fua ambi- ção, como diremos em íua vi da.Vindo D. Mauricio a Bra- ga pergútaráo osConcgosa S. Giraldo o modo cõqoauiao de recebcr,relpõdeo. Recebeyo CO muita honra ^^ CO húapro- ciffao mui foltne^porq depois de

minha morte de fer 'vojp) Prelado. Hcvíim prouauel, q fe achou S. Giraldo noCócilio Lateranenfe,q Ic celebrou em Roma no Pótiíicado do Papa Pafchoal II. noannodenoi. como fe colliije de híía carta do mcfmo Pontiííce, que efta no cartório defta Igreja , cuja data he no anno referido,emq chama a S.Giraldo,& aos Bif- posfuffraganeosaBfaga, pêra o Conciho: & de crer he , que o fanto acudiria a Roma , & não faltaria com fua prefença naqucllc fagrado ajuntamcn-

6 Entre as mercês q o Con- de D. Hériqucfes a Sede Bra- ga,& ao íànto Arcebifpo , foi darlhc húa reliquia do braço de S.Lucas^q trouxera de Có- fíantinopla,quando no anno 1 103 .quatro depois de ganha- da por Gofredo de Bulhão a fanta cidade de ler u falem , foi com outros Principes a ajudar aos nouos conquif- tadores . Trouxe na volta muitas relíquias de Santos, entre as quaes vinha hiá bra- ço de Saó Lucas Euangelífta, que pellafama defcu esforço, éí grande caualaria , lhe foi dado em Conftantinopla,& a rogo òeS. Giraldo deu parte

B3

da

18

Capitolo II II.

da prcciofa relíquia aSè de Bra- ga,^ qual elk receheo em mm grande dom (Taó palauras da Chronicaj tf pos entre as mais do thefouro defua Igreja. 7 Morrco o Conde D.Hen- rique no anno de II II. man- doufe enterrar na Se defta ci- dade de Braga pella affeiçáo , q fempre lhe teuc , & pclla po- uoar,como diíTe a Teu filho D. AíFonfo Henriques na praci- ca,que lhe fcs antes de morrer. Trouxcraõ no de Aftorg3,on- de falecera, & foi fepultado feu corpo em húa capella defta q crtá nasClauftraSjda inuoca- ção deS.Lucas,& fc chamou a capella dos Reys^ onde cfteuc muitos annos , fua molher a Rainha donaTareja, ate que o Arccbiípo D. Diogo de Sou fa os tresladou pêra a capella maior , que fundara de no- uo , como em fua vida dire- mos.

7 Algíías doações fizcrao eftes Principes a de Braga,a qual com a aíTiftencia do fan- to Prelado hiacada dia flore* cendo, & crecendomais. Do- taráolhe o Couto de Moure, algrcjadefanto Antonino,í?«: outras terras.Coníirmaráolhe denouoa jurdiçáo deBragâ^ & fcn Couro , q dantes lhe

fora concedida pellos Reys de Leaõ,& Caftella,como confta das doações j que feguardão no Archiuo dclíaSè. Ocupa- uaõfe eftes Principes na reftau- ração das Igrejas de ícuReino, & pouoaçáo das terras def- habitadas,dádo íingulares mo- ftras de religião , éc piedade.

CAPITOLO V.

O M O FORAM tresladados a Compoftella os fantos corpos de S, Fruituofo Arcebtfpo de Braga , i^ dos gloriofos Martyres Cucufate, Sylueflrejip' Suí^ana)

S T E furto,& tresladaçáo das rcliquias dos fantos referi- dos, íucedeo no tempo cm que S. Giraldo gouernauaefta Igreja,& aíTi hc próprio defle lugar tratar del- ia. Se Bem na primeira Par- te,deixamos dito algua coufa. Nas Sès de Braga, &Compo- ftella hús cadernos de per- gaminho antigo, que trataó defta tresladaçáo,& dcllcs fera tudo o que diremos.

TlTo

■•43'"7

S. Giraldo

19

^ Noanno de iioi. D. Dio- go Gclraires vitimo Bilpo, & primeiro Arccbifpo de Com- poftella,deccrminoucomo vi- gilancePallor vilítar asigrejas, & ouclhas, que por doações dos Reis de Leaõ , tinha efpa- Ihadas por toda Helpanha^EÍ- tauáo muitas deftas cmPortu- gal, & entre ellas os moftei- ros ÒqS Fruituoío ,S. Vitou- ro, Correlliá , &c outros, que eraó fogcitos a mefma Igre- ja de Santiago, com a metade da cidade dcBraga.Saindo pois D.Diogo Gclmircza vifitar, chega: io a Braga naõ achan- do ahi ao Arcebiípo S. Giral- po, que deuia fer auzenteem Roma, ou na viíltação de feu Arcebifpado , paíTouao lugar dcS. Vitouro, pouco diftan- te da cidade , onde hoje ve- mos a Igreja defte ranto,& vef tigios de auer aly pouoaçao nos tempos antigos. Ncfte lu- gar tinhão os Biípos deCom- poílclla caías donde fahiáoa fazer fuás viíítas. As primeiras foráo as igrejas de S. Vitouro, & S.Suzana,ondejaziaó os cor posdos fantos Martyres Vi- touro,Cucufate, Sylueftre, & Suzana. Evendo,qcftauaõcõ pouca veneração, defcjando Icuar comfigo preciofo the-

íouro jdeícubrio a algús Clé- rigos criados de fua caza o ani- mo,quc tinha de por na Igreja de Santiago as íagradas relí- quias , peraque ncllaeftiuef- fem com a decência deuida. Encomendou íegrcdo , por q opouo lenão aiuoraçaflc, & ouucíTc algúa nouidade. Buf- cou ocafiaó acomodada , & as portas fechadas , depois de dizer miíTa , fe abrirão as fc- pulturas, onde a fama publi- caua, que ertauaó os fantos corpos: & depois dccauarem, deraÕGom húa grande arca de mármore cu riofamen te laura- da,leuaraôna a cafado Bifpo onde foi aberta , & dentro fe acharão dous cofres de prata, emqeftauáoos fagrados cor- pos, &: a cabeça do S. Vi- touro.

3 Feita efta diligencia em S. Vitouro , paífou a outra Igreja, que cftaua junto, cha- mada fanta Suzana, diflèmifla, & com as vcftitiduras (agra- das chegou com muita reue- rcnciaafepiiJturadeS- Cucu- fate,& Sylueftre martyres , & tirou delia os fagrados corpos, & emuoltos em finas coalhas os mandou leuarcomas mais relíquias. O mefmo ks ao cor- po deS. Suzana , o qual tirou

§"4 d^

20

Capitolo V.

do fepulchrooncleeftaua,dei- xando ncUe algúas relíquias. Deu graças a Dcos pella mer- cê que lhe tinha feito em lhe diícubrirtaõ preciofo thezou- ro, & lhe fuccdcr taõ ventu- rofamente oqucdefejaua. 4 Paílbu adiante, & inten- tando leuar também o corpo de S.Fruitufo por lhe parecer, que não eftaua com a decên- cia deuida,& que merecia me Ihor lugar , que o que tinha na Igreja onde jazia . Dous dias depois deabriros fepul- chros de S. Vitouro, S.Sylue- llre , & fanta Suzana , fe foi ao mofteriodeS.Saluador , que eftaua pouco diftante dahy, & depois de dizer mifla de tifical, chegou a íepulturado fanto Arcebifpo, q era o Pa- trão de toda aquella terra , & tirando o fagrado corpo com muita rcuerencia , & fegredo, o leuou comfigo deixando nelle hua pequena reliquia , q muitos annos depois o Arce- bifpo D. Agoftinho deCaftro mandou por em hua cuftodia deprata,& guardar nafancrif- tia do mefmo mofteiro.Náo pode porem dormir aquella noite com temor de fe defcu- brirofurto, & lho tirarêdas maõs os moradores da terra.

& perder o que com tanta cautela, & fegredo tinha aqui- rido, canto pode a conícíen- cia do alheio. Madrugou,&eõ muita preíía fe recolheo a fua villa da Corrclhá pofta nas riberas do rio Lima dentro dos Icmites de Portugal. S Não fe pode fazer o furto com tanto fegrcdo,que íè não fofpeitalíe, & diuuigaflelogo. Tanto que o Bifpo cntcndeo o que paílaua, temendo al- giía força , mandou a Có- nego Arcediago de Cómpo- ftclla, chamado Hugo, peffoa de grade confiança , que logo tomaíTe as fancas reliquias , & as paífaíTe da outra parte do Minho, a cidade de Tuy, pri- meiro lugar do Reino de Gal- liza: feio aííi,& por caminhos defuiados , o mais efcondido, que pode, chegou a ribeira do rio,o qual dccia tão furio - fo com as enchentes do inuer- no , que fe julgou por coufa impoíliuel podelo paflar.Po- rem obrou aqui adiuinami- fericordia hum grande mila- gre, porque tanto que as fa- gradas reliquias chegarão a ribeira á vifta das agoas, logo, reconhecerão os fagrados hof pedes , que hauiaõdc receber em fy , quebrarão os ventos.

& per- I

S. Ciraldo.

21

& perdendo íua força acor- rente do rio,ccrreotaó bran- do como Te naô ouuera alce- raçáoalgíáanelle. Tomou o Arcediago húa barca , paliou comaslantasreliquias,&col- locouasemhum moíkiroda inuocaçáodeS. Bercholamea nos arrabaldes da cidade de Tuy, & encomendandcas a ccrcoClerigo decõíianç3,tor- nou com prefla à Correlliá, onde o efperaua o Bifpo, o qual informado do fuceífojôi liure do cuidado j por en- tender, que eílauáo em lugar feguro as lanras relíquias, fe paliou aGallizaj& foi pêra íua Igreja, mandando leuar dian- teas fagradas relíquias a hum morteiro junto de Santiago. Dahi fe deu otdê, quefoflem pêra a Igreja Cathrcdal, onde fe receberão com grandiíTima folénídade, & com muita de- cência foraú collocadas em di- uerfos lugares. A S.Fruituofo deraõcapella partícular,aqual he Parrochía,& título deCar- deal , & tem o Santiííimo Sa- cramento. A S.Cucufate me- terão cm outra capella da in- uocaçáo do Aportolo S. loaõ Fr.lero,' Euan^clifta. A S.Sylucflre Ic-

\Rom m -'^^ II 1 ' A n 1

mAmfcr.^ uarao acapclla dos Apoltolos ' S.Pedro,&S. Paulo, & hoje

altar particular, q lhe confa grou o ArccbiípoD. loaõ de S. Clemente noannode ij89. Ocorpoda Virgé & Martyr íantaSuzana, le paílou ahú mofteiro,que cm outro tem- po foi dos Templários, &c eflà emhúaParrochiado nome da meíma Santa, titulo de hum dos Cardeaes da Igreja de Cõ- poftella. O corpodeS.Vitou ro foíDeos ícruido ficafle nef- ta cidade, no feu antigo fepul- chro, íò a cabeça, que nelle fal ta, parece cftà aqui neíla ca- pella de lànta Suzana. 6 Defta memoria conftaõ as varias tormentas, quecorreo a Sè,& cidade de Braga,com a pouca piedade dos Reinos, & Igrejas eftranhas, porq híjas lhe pretenderão tirar, & to- mar a Primazia , que em fua crcaçáo lhe deu o Apoftolo Santiago , na peíToa de feu primeiro difcipolo S.Pedro de Rates,outrasas terras, & Bifpa dos fufraganeoSj que de tem- po antiquiílimo lhe pcrtéciáo pellas repartições dos Bifpa- dos, feitas em tempo dos Suc- uos , & Godos : outros final- mente lhe roubarão as reli- quias,& corpos fagrados, em- par o, & dcfenfa vnica das ci- I dades , pêra aíTi lhe leuarê to-

do

á2

Capito lo VL

do o milhor que tinha. Porê íe contra o furto das relíquias náo; pode preualecer fdeícui- do-Jraode dos Rcyspaflados) contra os iiiais fe armou , òí apezar da enueja, logra hoje os titulos , & terras, que por tantos caminhos Ihequiíerão, ou emulos, oucubiçofoSjV- furpar.

- CAPITOLO VI.

D A GLORIOSA morte de S. Giraldo\

Emuicftédi- dooArcebif- pado de Bra- ga, & nos tê- pos paíTados ofoiainda ma^s , porq com- prêdia o Bifpado de Miranda, que depois le defmébrouem tempodelRey D.Ioaõ o ÍII. Acudia S . Giraldo, primeiro à viilta da lua Igreja , & cidade, Ôí depois hia repartindo, con- forme os tempos , a viíita das Comarcas , indo a todas pcf- foalmente,& vedo tudo com os olhoSjpera aíli comprir me Ihorcom feuofficio, & obri- gações. Não reparaua no tra-

balho do corpo , nem no pe- rigo dos caminhos, atraueílan do ferras , & montes afpcrif- íímos^quaes faõ as fragurasdo Geres, Barrofo,Maraõ,íkTras os montes , porque traua do proueito de fuás ouelhas. Faltauáolhc por viíítar asMõ- tanhas de Barrofo , não quis que os moradores daquellas ferras ficaílem fcma confola- çáo de fua vifta- Tomou o bordão , & foife là.Era a ocu' pação de todo o dia pregar, cnfinar, dedicar , ôiconfagrar Igrejas , chrifmar grande nu- mero de pouo,&tanto fc em- prega uanefte trabalho, qfu- cedia muitas vezes andar em jejum todo o dia. O mao tra- tamento,quc daua ao corpo, foi caufa de lhe fobreuir húa febre, com que chegou a Bornes , pêra ahi confagrar huma Igreja , que de nouo fc edificara. Feita a confagra- ção 5 & dado o facramen- todaChrifmaamuita gente, foicrecendo tanto o mal, que ofanto fenão pode leuãtar da cama pêra ir a Igreja. Mandou que o Icuaílem as portas delia, pêra da hy ouuir miíla, & ver celebrar os officios diuinos. Pcdio húa cruz , & com mui- tas lagrymas a adorou , fk. Ic

abraçou

S. Giraldo.

23

abraçou com cila , recebeo grande deuaçáo, & reueren- cia o íantiílimo íacramenco da Eucharirtia •, & conhecen- do, que era chegada íuahora pedio, que lhe deílem a Eltre- iTja vnção, & trouxellem cin- za,pcra o lançarem íobrc cila. OsClerigos,& Pouo, vendo, quenoíanco Prelado auia íi- naés euidentes de morte, & q auiaõde ficar orfaõs,andauáo fem JLiizo dando vozes, &di- xcáo^Piíy fantifsimo , nao dei' xeis nejte deferto aos filhos^ que creafies^ i^ domnnajies. 2. Andando todos nefta afflicçáo íobreueio de repente húa febre aguda a hum Dia- cono,& o apertou demaneíra, q ficando como fora de fy, & cm extafe , vio cm efpirito a gloria,queefl:aua preparada a feuPrelado S.Giraldo, porque fe lhe moítrou hum coro de Anjos, os quaes tinhaõ nas maõshúacoroafermoíílUma, & lhe diziaõ.reí ? eíia he a co^ roa CO q a manha ha de fer co- roado teu fenhor por nojjas mãos. Damos te moUras de lia ^ porque como as deViuerJJ tor- nar emtí/onfoles os filhos def- tefanto Prelado , ò^ os conui- des^tf exortes^ quato em ti for ^ a imitalo , y feguilo., peraque^

depois de mortos , merecao go- ^arcom elle agloria^ que ha de ter pêra fempre. Enquanto o Diácono perleuerou nefta vi- lão, pareceo aos prefentes > q o íanto Prelado era morto i porem elle acordando, como de hum pcfado íono,lhe diíTe, queeftaua ainda viuo, vol- tádoíepcraa parede começou, em prelcnçade todos ,a lançar maldições fobre o Demónio, dizendo. Apartate daqui mal- dito ^tf condennado ^ reconhe- ce a [entenda , que contra ti foi dada^nao cuides^ que com enuè' ja me às de tirar, o q mee^d concedido no Ceo^por mifericor-^ dia. A cfte tempo o Diácono, que tinhaõ por morco,leuan- touâvos > & chamou pellos de cafa , acudirão todos a ver o que queria,ellc lhe declarou a vizáo referida , & diíTcquea tal hora auia de fair defta vida aalmãdofanto Prelado, co- mo os Anjos lhe auiaó dito. Com tão alegres nouas tem- perarão todos a trifteza,conhe cendo,que teriaó muiprefto no Ceo hum pay,que de ia os auia melhor de fauorecer,& emparar.

3 No dia feguinte tornou o fanto a receber o fantiífimo Sacramento com muita hu- mildade

24

Capitoio VI.

mildade,<&: fumiflaõ , depois leuácando a mão lançou a bé- çaõacodos, & lhe deu a paz. Mãdoulhe naõchoraílera por êlle,qiiando fuaalma fe apar- taíTe do corpo, nem leuancaf- fem pranto, mas q louuaílem a Deos,&: lhe pediílèm , que Tua alma, q fahia das prizoés do corpo , foííe gozar da bé- auenturanca eterna. Pedio, ík. rogou a todos , quefugifsé por todas as viaSjnãofò da in- continência dacarne^mas ain- da do excedo do comer,& be ber,pellos dannos,quea alma recebe deftes dous vícios. Di- tas eftas, outras palauras de grande edificação, &exéplo, tornou a lançar a béçaó ao po uo , que concorria em gran- de numero, aíli por veré a feu Prelado naqudllahorajcomo pêra fe certificarem do põto em que o Diácono diíTcra a- uia de morrer. Conhecendo o fanto , que eftaua no fim da vida, mandou que o tiraf- fenidacama aonde jazia, & o láçaíTem em outra de cinza, que ti nkão preparada : pofto nclla , leuantou os olhos, ôc mãos aoCeo, &c cantou os íalmos Pcnitenciaes cõos Cie rigos , & nomeio delles deo o eípirito ao Senhor,aoscinco

.Lctl.

vit

25.

de Dezêbro do anno de 1 109. dia de S. Niculao Bifpo, com quê tinha particular deuaçáo. j AGí? í-ceo fahio do corpo do fan- l^^-^j^o ^ tohucheiroluauiiiimo.Leua- toufe juntamente hum cão grande pranto de todos os q eítauãoprefentes, que rom- piaõ o Ceo,não dando lugar a força dador, que occupaua os corações, a comprircm o q nerte particular o fanto lhe aula encomendado. 4 Dom Bernardo Chronif- tadeS. Giraldo aíTiítioafua morte gloriofa , & os C le- rigos, & familiares de cafa, compôs c5 muita diligencia o fanto corpo,& lançandoo em húa tíjba, leuando em guarda, como preciofas relíquias , os ornamentos Pontificacs, & vertidos, & cilicio , que o ían- to continuamente trazia,par- tiraÕ todos pêra Braga. Era o caminho por onde auiaõ de paííar mui afpero ,aíli em re- zaó do tempo , por ler o co- ração do inuerno , como por aucr nellepaífos mui perigo- fos . Acudio húamolher no- bre por nome Aííandra , & deo gente baftantc pcra leuar, & acompanhar o íanto dcpo- íito ate o rio Tâmega , onde concorreo tanta gente, pêra ir

com

S. GtYaldo*

I com elle, que foi neceílario fa- zer o íaiuo hum inligne mila- gre pcra auerem de paílar to- dos,qual foi deter o no íua cor rente , em quanto paíTauao as fagradas relíquias , Sc a gente que as hia acompanhando, dandolhe caminho feguro^ &c apè enxuto, por cntreas agoas, como em outro tempo o dera o mar roíxo aos filhosde lírael, quando lahiraõ do Egypto. Outro milagre acontecco no mefmo rio pellos merecimen- tos do fanto, & foi^que dous moços paflando emhúa bar- ca fe foraõ com ella a pique ao fundo . Mas foi Deos fer- uido, que logo então fahiraó à praya liures do perigo, quan- do todos os juigauão por mor Cos.

S O concurfo da gente, queacudioaBraga, tanto que chegou a noua, que vinhaõas fantas reliquias , foi innume- rauel , porque naõ íó os luga- res vizinhos fe defpouoauão, mas ainda alguns Bifpos fuf- fraganeos vieraõ acompanha- dos de Abbades,& Clérigos, vifitar o fanto corpo , & rcno- uar as lagrimas,& fentimenco da perda de tão amorofo,Ã: fo- licitoPaftor.Entrádo cm Bra- ga foi leuado a , & poftd'

25

diante do altar mor,dedicado a Virgem Noíla Senhora,^ tra- tando os Cónegos de lhe dar íepulcura igual a feus mereci- mentos, vcolheameniona, q eíbua na capella de Saõ Nico- lao, queolantoArcebifpo fú- dara,hú rico ícpulchro, o qual fora ali trazido milasroíamcte do moíkiro de Tibaes,&cra ti do emgrãdcreucrécia,porauer íídodcpcílto de algum corpo lanto, ou por outro refpcito,q nos agora ignoramos. Neftc íe pulchro foraõ collocadas as fan tasreliquias , poucos dias de- pões defua morte.ObrouNoí- ío Senhor por ellas muitos mi- gres, como o fanto os auiao- brado em vida , os quaes re- feriremos coma breuidade que o Chron íl:a D. Bernardo os eícreue (guando S, Giraldo goucrnaua o Arcebifpado de Braga, eraó Summos Pontí- fices Vrbano lí, ôc Pafchoal II. fenhor de Portu- gal, o Conde D, Henrique.

c

CAPI-

26

Captolo VII

CAPITOLO VII.

DOS MILAGRES que S. Giraldofes depões de júa morte

Orno a fama dos milagrcs,q Deosobrauana fepulcuradeS. Giraldo foíle tão celebre, acodiaa cila gran- de numero de neceíTitados a pedir faude pcra diucrfas enfer- midades .Hú Cíerigo,chamado Segundo, tinha mui mal trata- da a canela de húa perna, fcm pêra o mal achar remédio, que Ihefofledeproucito. Achouo contudo nafepultura do fan- to, onde tantoquechegou,co- brou perfeita faude. Hiáamo- Iher trouxe filho endemo- ninhado a capelia do fanto, pe- diolhe com lagrimas faude, alcançou a logo , Çz ficou o filho liurc do aílombramen- to. Hum clérigo de Pano- jas viíítando a lepultura do

fanto , foi faõ de húa aguda dor de cabeça, que o atormeta- ua, & a que não poderão apro- ueitar todos osremedios huma nos,de que víara.Hum moço, filho de hum cidadão deBraga, afogandofecom húa cfpinha, que fe lhe atraueíTara na gargá- ta fem efperançade vida, a lan- çou logo , pellos merecimen- tos de S. Giraldo a quem fua máy o encomendara. 1 Húa molher paralítica, & tolhida de todos os membros, trazida a capelia dcS. Giraldo, com a lingoa f que tinha liurej fe encomendou ao fan- to, & logo alcançou faude , & fefoi pêra fua ca fa. ho- mem perdera a vifta de olho de certa poll:ema,que ncllelhc naccra,trouxerãonoa fepultu- ra do fanto , & logo a cobrou em prefença de muita gente, teftemunha do milagre . Húa ,molher de Entre Homem , & Cauado,padecia doença de af- ma, &de modo lhe tomauaa refpiraçáo de dia,& denoite , q feafogaua.Veioquafi morta a capelia de S. Giraldo , vigiou nclla húa noite , leuantandofe pella manhã tão íã , como fe nunqua tiuera o mal , que tan- to a afflígia.També veio outra ,molhermuÍ!éfcrraa,& tolhida,

*;>

S. Giraldo*

27

ôc leuou pêra caía a íaude, ale- oi-e, êc contente. Húa molher a qué o De^Tionio trataua mal, cirandoa de cala , ôí leuandoa por montes, & valies, íeai lhe dar repouío , nem quietação, velando húa noite nacapella de S.Giraldo ^ ficou de todo (am, & deíaílombrada . Perdera hu olho cerco moco do lu^ar de Sequeira, & tinha tolhidos os pès, Sc maõs , leuaráno Teus paisacapellado íanco, & com oraçoés,ô«: lagrimas lhe alcan- çarão íaude,òc te foraõ conten- tes pêra caía.

3 O auchor da vida deíle ían co,a quem íeguimos neíta rela- ção^acaba cem milagre,que Dcos NoíloScnhor cbrou nel le, por merecimentos do mcí- mo íanto, & diz aflj. Eu Ber- nardo natural de Fráça, depões, que fahi do moíteiro Moiíaico coínS Giraldo,ícmpre ofegai atèeftaíui Igreja, & por clle me foi dada a diíinidadede Ar- cediago, quepoikio. Depões

defi

ua morte.

por

meus

peca-

dos, mcnacco na garganta húa poftema taõ grande, que mea- fogaua, as dores eraó agudiíli- mas, os membros fe me enco- lherão,»!'incharão. Mandei, q me leuaílem a capellado fanto. Meio morto me abracei fua

ícpultura 5 pedindolhe o coração laudcjàqcò a lirgca não podia , Icgoníc íobicuco húa toík , com qaricbcritcu a poílema , & a lancei pclla bo- ca^ficandoliufedo mal, que co nhecidani encerra mortal.

4 Outros muitos milagres obraDeosNoflo Senhor por virtude de húas cadeas , com q o lantofcoiiíorm.e diz a tradi- ção antiga) andaua cingido. Achaõ r;elias os doentes remé- dio pcra varias enfermidades tanto que as cocão,& feenco- rticndão ao fanto na fua capel- l3,acndc clláo penduradas , & metidas em caixilho ,com grades de ferro, demaneira, que poílaõícr tocadas^& não lima- das. O Arcebifpo D.Fernando da Guerra , como tão deuoto do íanto ^ foi oquecollocou, fobrc as duas colunnas altas, no lugar^& forma em que ho- je eftà,íeu íagrado corpo, man- dando de nouo dourar o fc- pulcrho. Dura a obrarão freíca, &r pêra ver , como fc honrem íahiradasmaõs do oíficial. laz o meímo ArcebiíJ30 D.Fernan do íepultado aos pès do fanto, defronte do altar de S.Niculao, como em fua vida diremos.

5 Os quecícreuemda inílg- ne collegiada de fanta Maria da

Cl

Oli-

28

Captòlo VIL

Oliueira de Guimarães, lançaõ íeu principio, & fundação ao goueruodogloriofoS. Giral- do.Náo com o nome, ôc apel- lido, queagoratcm,mascom o do Saluador^fanta Maria^Sc outros íancos,que foraõ orago do mofreiro , de cujas rendas ella fe inilituio.

6 Foi efte moíleiro faiida* do pella Condcíía D. Muma dona , Aia dclRcy D.Ramiro o 11. de Leaõ, pcUos annos de 92.5?. & quanto agora íe pode coniciturar, debaixo da regra, &diíciplinadeS. Bento. Éra dos que chamauáo dobrados^ iíto he,de Religiofos , &c Reli- giolas, que dentro das mefmas parcdes,mas em diuerfos clauf- tros, em forma, que não peri- gaíTe a honelhtlade Chrilhm, Sc Religioía, fe ajuntauaõ na ntefma Igreja a celebrar os offi cios diuinosjcomo foffria a fimplicidade, & íingelezada- quclles tempos , &c eftranba a- goraa malícia delles. Teueem Portugal,Galliza,&: Leão, no- taueis riquezas efte mofteiro, & ellas por ventura Uiederaó a caufa de vir totalmente a fal- tar. O como, & quando , não efcreucm noíTas hiftorias,nem nos,forad'ellas,achamos rafto algumd'iíTo. O certo he,que

de íuas cinzas, feieuantou ain- ílgne coilcgiada de Santa Maria deGuimaraes :&por eftes mef- mos tépos em q era Arcebifpo de Braga S. Giraldo. Se teue lo- go,ou não , forma de coUegia- da,nos nãoatreueremosaafíir- mar, porem quem aífi o eícre- ucfle, teria em feu fauor a de- uação , que a efta Igreja teue o grande Rey D. Artbnfo Hen- riques, ao qual como taõ libe- ral pêra o culto diaino,naõ le- ria muito acreícentala, ôc hon- ralacomfemelhantc prcroga- tiua.

7 Chamou fedaO//Wr<í,pel- lo iníigne milagre,quc aly acó- tecco em 8. de Setembro do an- ! no 1342.. Reinando em Portii- ; gal D. Aífonfo o IIII.a<:foi,re- ': uerdccer íubitamentc húa oli- j ueira jàfec3,queeftauanapor- ' ta da Senhora. Efta he aquclla fanta Maria da Olmeira^ a. quê elRey D. Toaó o primeiro de boa memoria agradecia a fua memorauel vitoria de Aljuba- rota,& onde em acção de gra- ças, fe mandou,armado de to- das as armas, ôc a cauallo , pe- zar a prata. Tem hoje Prior grofias rendas, Chantre , The- loureiro, Mcftre Eíchola, dous Arcediagos, de Sobradello , & villaCoua ,Aciprcftc, & 14.

Corie-

S. Giraldo.

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Coneeos Prebendados. A villa he das mães nobres do Reino, alfi por íer pátria de S.Damaío, fk do grande Rey D. Aftonfo HenriquesjComo pclla calida- de de fcus moradores , edifí- cios, ares, &: riquezas , de que pudéramos dizer muito, fea breuidadecom q efcrcucmos, nolo fofFrera.

CAPITO LO VIII.

DOM MAFRICIO

Burdino, 66 Arcebifpo de Braia.

V M dos Mó- ges da Ordem de S. Bento, q o Arcebifpo de Toledo D. Bernardo trouxe de França, co modiílemos na vidacIeS. Gi- raldo, foi D-Mauricio natural de Limoges,o qualdeu grandes moífras ao principio de virtu- de , & letras , com as quaes me- receo,que o Arcebifpo D.Ber- nardo o fizeíle Arcediago da íua Igreja , dignidade , que na- quelle tempo íe daua a peíToas de grandes partes. Proccdeo no nouo beneficio muita fa-

Baron to^

tisfação.& pcdiaõ fcus mereci- mentos outros maiores . Va- gou a dcCoimbra por nior- te áo Biípo D. Crefconio.Foi logo cIciEo pcra aquella digni- dade Pontifical A' confirmado nella pello Arcebilpo D.Ber- nardo , em virtude do poder, que tinha, como Legado da Se A poilolica, pellos anos de 1100 Mudou o nome com o nouo Bifpado, & chamandofe dan- tes Biirdino,fe chamou depões Mauricio, como aífirmaõ Ba- ronio, & Mariana. Se bem pa- íz.i»n. rece mães prouauel fer Burdi- \]y^',f no o appeliido de lua ramilia, lo.c.n, como ainda hoje íc chamáo delia muitos em França ,& to- do o nome, Maurício Burdino Começou a gouernar mui- ta doutrina , & exemplo,edifi- candoa todos , & dando mof- tras de grande Prelado. 2 Era mui freaucntada na- quelle tempo a jornada da ter- ra fanta, determinou D. Mau- ricio acompanhar nella oCon- de D. Henrique, quando por ajudar aos nouos Conqiiif- tadores de lerufalem , queeí- tauão em perigo de perder a cidade , íe partio a Palerti- na , na mefma ocaííaõem que o faziáo Guido de Lul^nha- no , & outros Príncipes do

C3

Norte

30

Norte , naó longedos annos II 03. leiíoLi cõfigo Maurício húa companhia de Clérigos ían ta^&Iurtroía, & entre outros

C^fitolo VIIL

foi D. Tello então Arcediago de Coimbra, & depões fúdador do Real mofteiro de fáta Cruz, como abaixo fe dirá. Efteue em Icrufalem três annos, & cornando a fua Igreja foi bem recebido nella ,&:a souernou íanta,& prudentemente,veio a Braga a vifitaraS.Giraldo feu Metropolitano, & Monge da íua ordem, & do meímo mof- teiro Moiíaico. Perguntarão ao fanto Prelado os Cónegos , òt peíloasdeíua cafa,como ò a- uiaô de receber » refpondeo, que toda a honra, porq auia de fer feu Paílor, & fucederlhe na dignidade Primacial de Bra- ga depões de fua morte. Sahio verdadeiraaprofecia,porc[mor to S.Giraldo,oCabido,&:Clero elegerão por feu Prelado a D. Mauricio,no annode iiio.cõ- forme a melhor conta, dando- Ihe em Coimbra poríuceílbr a D. Sancho. Eleito D.Mauricio, foi a Pvoma pedir ao Summo Pontífice confirmação de fua elcíÇvio.&; o paílio.Cõcedeoihe o que pcdiao PapaPaíchoal II. & o reccbco muita aWria. Deteufife cm Roma todo o an -

nofeguinte d e iin. & parte do de iiiz.porquefeachouno Concilio Latcranenfe onde fe ajuntarão muitos Prelados de Hefpanha, & de outras Pro- uincias , chamados pelloPapa Pafchoal, três annos antes , & não fc poderá celebraratè o an- node iiii.pellasdifcordias ,q ouueentreo Papa,& Empera- dor Henrique V. & poucapaz de que gozaua a Igreja. Cõclui- d os os negócios, que tinha em Roma,tornou pêra a fua Igre- ja,& trouxe as relíquias dogío riofo Martyr Santiago Interci- fo,as quaesfecollocaraõ nefta Sena forma, que logo fe dirá.*' 3 Chegando a Braga, come- çou a entender no gouerno de fuás ouelhas, auendofe nelle com muita prudência. Fes al- gúas eoufas em grande prouei- to defta Igreja, como foi a con- córdia que celebrou o Bif- po de Çompoftella, o qual co- mo enrraíTe militas vezes no dertrito de Braga , & fobre iflo tiueífeduuidas com os Arce- bifpos , tratou com elle lhe deífe em feudo todas as cerras, que poíTuia no Arcebifpado de Braga onde quer que efti- ueflem, &queo reconheceria como a fenhor próprio , & di- reito dellas-Celcbroufe ocon-

traco

'^D-QyMauricio

31

traco,& ficou o Arcebiípo D. Maurício com as Igrejas, ík terras, quepertcnciaóaCom- poílella, das quaes íe leuancou depões o feudo em tempo do Arcebiípo D.Payo , com.o cm lua vida diremos . 4 A doação mães celebre, & demaes honra delia Igreja, que pêra ella ouue,foi a que lhe fes a Rainha Dona Tareja molher doCondcD Henrique,da jur- dição , & íenhorio da cidade de Braga, & feu termo, no mo- do, òí torma , que lha tinha concedido, & dado cm tempos mães antigos,clRey de LeaóD. *AÍToníooV. feu bizauo. As paiauras com que a Rainha fas a doação , mollraõ bem a grá- deza, & preeminência da Igre- ja de Braga. Lançaremos aqui a Efcritura, traduzida emPortu guês, tirada da que eílâ noar- chiuodefta Igreja.

DO A C^ AM DO COVTO

de Braga^feita ao Arcehifpo D.

Mauriciopella Rainha Dcna

Tareja^ na era de 1x48.

qiie heanno deChrif-

tO II 10.

7om, 2.:

E baixo do Império de Deosomnípotete/u Ta-

reja a mães humilde criada^ das a mym me pagão os feruiços de-

criadas de Deos, filha do Empe- rador de Toledo^a "Vos gloriojif- fima Maria May de Deos ,faço huma ojferta pêra fempre em Chriflo. As Efcritura^ ant/goí, tfprefenteSy affirmao^ q a Igre- ja de Braga he may de todas as Sès da Prouincia , i^ por ijfofe lhe deue mayor honra aporem o inimigo antigo tendo enueja a fanta Madre Igreja, fes que os meus Meirinhos ^nao tcdorefpei- to aofantuario de Deos, entran- do com mao armada na Igfeja^ Ò7' Clau^ros^deflruirao quafi to- dos os bens delia. E dii^ndome algúas pefoas boas ChriHaSyO facrilegio , i^ abominauel feito, que eflaua cometido^ achei q era confelho proueitofo pêra minha alma^dar^i^ doar a mejma Igrè ja parte dos lugares , is^ terras^ que ao redor da cidade pojfuia, lembrandome daqmllo , que dí(^ Remi todos njof^os pecado; com efmolas^l!f do Euangelho^q di;^, Pella medida por q medirdes, por ejfa recebereis. Por tanto eu a fobreditd Tareja, offere^o , if dou a Piifsima Maria May de Deos ,cujalgreja eflá fadada na cidadeMetropolitana de Braga, a qual cidade eflá entre os rios Cauado, isf rio Dejle, Os Coutos ao redor, CO t)illas,if homes,que

«,2.

C4

uidos

nidos^ do mi fino modo.qite elliey D Affonfo meu -vi'^auófe cre , q os deo aníignmente , à mejma Igreja , peraque nenhúa pejfoa daqui em diante, fe atreua a en- trar com ijiolencia nefles limi- tes . Jfaher^pellos termos de Pe- dra Fitta,dahia Monte mayor, dahi pellos cume dos montes ate S. Ferifsimo , ÍT" dahi a monte Caluelo,Í!f dahi como dece entre Pitões, tf Dume , Í5f dahi como deuide entre Dume , tf Palmei- ra,tf dahi a S. Pedro de Mer- lim,tf dahipello caminho , que corre a Frojjos , tf dahi a rio Torto , tf dahi a Pena Figuei- rola , tf dahi como deuide entre Samuel , tf Cohmnas , tf dahi pellos termos entre Gondi^lue^ tf rio Torto , tf dahi per Aru- gio, entre Ferreiros , tf Gondo- mar,tf achareis ahi Pedra Fit- ta , tf dahi a Pena Mourifca^ tf dahi em direito por mon- te f^nhofobre S.Saluador de Lo- mar^ tf dahi a outro, entre Ef- porots^tf Arcos, tf dahi ao mo- te de Santa Martha, tf acaba aondeprirneiro começamos. Tu- do o quefe contem nefies limites, offereço liuremente , peraq tudo o que até aqui pagarão os mora- dores ao Fifco ^eal^deiie prefen- te dia p.igmm a -vos D. Maurí- cio Arcebifpo de Braga , tf a

Capítolo FUI.

njoffosfuccejjores, tf aos Cléri- gos do mefmo lugar , peraque a- proueitc eftiis coufa<s pêra o "Pef- tido,tffujlsntaçao dos Clérigos^ tf pobres, queferut ahiaDeos; peraque em quanto elles recebem o mantimento corporal, eu alca- ce a '^oida eterna , porfucu ora- ções. Afsi que, dcflepref ente dia, tf daqui por diante ,fejâo tod^ts efiiu coufíts acima ditas, da Igre- ja de Santa Maria, tf Ihefejao entregues , tf confirmadas pêra todofempre. Se algum poderofo, ou nao poderofo, nobre, ou não no hre , de no jfa geração, ou eííra- nha^temerar lamente tentarVir cotra eíie tefiameto ,tffegunda, tf terceira 've\ amoefiado , fe nao emendar , dando fatisfa- cãofuffic iente , feja priuado do corpo , tfjangue de NoJ^o Se- nhor leju ChriHo. E alem dijfo pague de^liuras douro , tf efte tejiamentopor mym feito, tf cor roboradono CÓfelho,femprefeja firme. Foi feito efteteUamentoa ^inte,tf noue de Outubro , Era tí^í? 1 148, Euferua de Deos Ta- reja corroboro efie teUamento com minha mao . He bem de adiiertir, que fe nao faz me- moria nefta doação do Conde D Hérique marido da Rainha D. Tareja, afíi por cila fcr a fe- I nhora proprietária de Portu-

<T^al

T>.cPíãauricío.

33

galjComo pello Conde naqucl- le tempo andar auíence , Sc o- cupado na guerra dosLco'7.eíes. Aindaque o religioíoPrincipe, por ter tainbem parte nefta o- bra de tanta piedade, libera- lidade , dous annos mães a- dianteemdoze de Abril ^ pou- cos mezes antes de íua mor- te, quis fazer outra das mcf- mas terras, & Couto, & qua- íi do mefmo teor, em que elle,& íua molheraRainhaD. Tareja andao aílinados,) unta- mêce com muitos Grandes de fua Corte,& D. Diogo Bifpo de Santiago, AífoníodeTuy, Gonçallo de Coimbra, Diogo de Orenfe,& Pedro de Lugo. 6 Foieíta jurdiçáo , & do- minio da cidade de Braga , Sc leu termo, concedida à igreja dclla,por elRcy D. Affonío o V. de Leaó, antes defte Reyno fer apartado da coroa deCaftel- la ^ èc doada outra vez pella Rainha dona Tareja ruâbifne- tn,&: outro íy confirmada por clRcv Dom Affonío Henri- quês ao Arcebifpo D. Payo. Poííuicaõna os Prelados fe- c^uintes muitos annos íem cõ- trouerfia, nem contradição al- gúa . Acê que a cobiça delRey D. Affonío II. por fobre no- me o Gordo^ a começou a in-

quietar de mandira, quedahi em diátc padecerão os Arccbif- pos deBraga muitos trabalhos em a defender , & conferuar na forma q hoje a tèm,& coníer- uaõjComo iremos moftrando no difcurío deita hilloria , & he a mayor q tem Prelado algu de Heípanha.q chegaffe a nol- ía noticia.

7 Ouuc o Arccbifpo Dom Maurício no anno de 1 1 14. húa bulia doPapaPaíchoal II ema qual lhe confirmou os limites, & diuizoés antigas doArcebií- pado , com os Biípados vifi- nhos,afll,&do meímo modo, qforãonotêpo dos Sueuos. Confirmoulhe mães tudo o q tinhaaquirido ,(5.: ao diante ouueffe de aquirir, He a data em S. loaõ de Latraõ no anno decimofeifto de feu Pontifica-' do,&nodeChrifto iii4.con- íeruafe no cartório delia I gre-

8 Era grande o poder que õ Arcebiípo de Toledo D. Ber- nardo tinha nas Igrejas áçHcÇ- panha, a âuthoridade A poí- tolica de que víaua como Le- gado dos Summos Pontífices* Ampliaua eíle poder mães do queconuinha, & fazia inju- rias aos Prelados , & aggrauos as Igrejas. A de Braga tinha ma

yores

lib.z.foí, U.

£apitolo VIII

yores queixai como mães offé dida; íoube delias o Papa Paí- ckoal lí. por informação do , Arcebiípo D. Maurício. Aço- do logo ao remédio, paílando hum brcue dirigido ao Arce- bifpo D.Bcrnardo,em quelhe mandaua, que não víaíle mães do officio de Legado Aportoli- co na Prouincia de Braga^nem na pefloa do Arcebilpo delia: afii o dizem claramente as pa- laiiras com que acabaoSum- mo Pontifice ,& íaõasquefc fegucm, Idcirco te ab iniiinãa fuper Archkpifcopum , U Pro- uincia Bracãrenjem cura hga- tionis a!-fo\uimus , Tit liberius ip fe -valeat inProtúnciafua mjU- tiam exercere.

9 Os aggrauos que D. Ber- nardo auia feito ao Arcebiípo D.Mauricioapõta o breue , & nos os referiremos como nelle fe declaraó, & deuiaó fer mães porq o Sumo Pontifice , diz q muitas vezes o auia amoeftado íobre aggrauos , q tinha feito a IgiejadeBr3gai& parece,quea huns hiaõ íucedendo outros, multiplicandofe cada dia. Exi~ mio primeiramente da obedié- ciadaMetropoli de Braga ao Bifpo de Coimbra , contra os Breues Apoftolieos, que man- dauaõ lhe obcdeceííe como a

íeu vcrdadeiroMctropolitano. Na igreja de Lugo íogeita , ôc íuftr ,ganea a Braga , íem con- íentimêto do Arcebiípo , tirou Bifpo, di pos outro , ôc o mefmo fez no moftciro de S. Pedro do Monte-Deu confen- timento peraque íe tomaíTem, Sc alheaílem os bens da Igreja de Braga, &gafl:ou, & coníu- mio muitos com íua família, & criados , eftando mães tépo nclla do que dcuiaeftar. Final- mente por toda a Prouincia de Braga vfaua de poder aufoluto^ fem reipeito algú ao Arcebiípo Dom Maurício, & nos Biípa^ dos de Aítorga , & Salamanca, íem elle fer ouuido, limitou as Parrochias,&defpos nefta ma- téria como lhe pareceo . Por eítes aggrauos, que a bulia rela- ta, izêrou o Papa ao Arcebiípo D. Maurício da jurdiçãoApof- colicado Arcebiípo D.Bernar- do, como fe veda bulia q cftà no cartório deita Igreja. IO Contra o Bifpo de Co- imbra D. Gonçalo, que com o fauor do Arcebiípo D.Bernar- do recuíaua dar obediência a Braga como íufFraganeo,ouu e D. Maurício breue do Papa Paf choal II. em o qual lhe manda, que íe dentro de corcnta dias íe não fogeirar , & der obediccia

6i.

.foi:

ao

T).(iMauricio.

35

lih.i.fol, éi.

aoArccbifpofeu Metropoli- tanOjO ha por {ufpenfo do of- oííicio Pontifical , ellranhan- dolhe muito náolhaaucr jàda doj tendolhe mandado que o fizeíTe. O breueeílá no archi- uo dcíla Sè.

CAPITOLO IX.

DE COMO DOM MAV- riciopretendeo o Summo Po- tificado , {íf do fim, que tem mUapretençao.

j Orão ate aqui louuáuds to- dasas acções de Maurício, &el leaualiadonel- las por prudente , & vircuofoj fenáo,que a ambição das que fe feguem , cfcureceo as paíTa das,^ o trouxe a fazer obras in dignas de quem era , com que totalmente fe veio a perder a fy , & a meter em grandes in- quietações a Igreja de Deos. 1 Os defgoftos , q entre ellcj Sz o Arcebifpo de Toledo D. Bernardo, cada dia paílàuão ,o leuaraõ a Roma . Foi o prin- cipal proceder o mefmo Arce- bifpocontra D.Mauricio,por

fe não querer achar cm \\ú Cõ- cilio Prouincial,que pcllos an- nos de 1 1 i4.cclcbraua na cida- de de Palencia ; & aceitar tam- ali a renuncia , q do leu Bií- pado de Lugo fizera o Biípo D Pedro, mandando cõfirmar o nouo eleito naquella Igreja pello Bifpo de Côpottella D Diogo Gelrtiirez ,a quem efta confirmação de nenhu modo pertencia, tirandoa, & priuan- do de a fazer, ao Arcebifpo D. Maurício , cuja de direito era, por fer Metropolitano daquel- la cidade.

3 Deu com toáas eftas quei- xas,&: agrauosD.Mauricio em Roma j& pêra ferem melhor Guuidos , & caftigados , quiz acompanhalos com fua peííoa, Teue nefle particular grata au- diência do Summo Pontífice Pafchoal ÍI.& perfuadido,quc aífi feria no demaes,raelluraua muitos crimes (falfos ,ou ver- dadeiros ^ diífocuraua pouco) da peíToa do mefmo Arcebif- po. Dizia,que nhíj cuidado ti- nha de fuás ouelbas, das quaes muito tempo auia andaua au^ fente ^ por não" querer obede- cer a o que fua Santidade lhe mandaua, acerca da feparação da Rainha dona Vrraca j & el- ReyD.AíFonfofeu primOjqué ,

como

36

Cafitolo IX.

como inceíluofos íe caiarão, i & viuiaõ caiados, contra os fa- grados Cânones , diirimulan- do nelle particular D. Bernar- do j que como ArceBifpo de Toledo, & legado Apoftolico, onãodeuia fazer, antes inftar por todas as vias^ feapartafsé. Acreícentaua , que o Arcebif- poera velho, inútil pêra o goucrno, de que em parte fc tinha deícarregado , mas cm criados feus, homens manifef- tamcnteíimoliiacos, de perdi- dos coftumes,& de quemjfc fc lhes não hia a mão , fc pod/a bem temer tornariaó o Arce- bifpado de Toledo a pcor cíía- do,do quctiucra eftando de- baixo da loieiçâo dos Mou- ros.

4 Como lhe pareceo tinha bem entabolados feus intc- tos, pofta de parte a mafcara, começou a pedir publicamen- te o Arcebilpado de Toledo. EftranhoulhooSummo Pon- tificc,dizêdo,a volta diflb, mui toslouuores de D. Bernardo, porque na verdade os auia em fua peíroa,& contrapcfando as culpas, ^ fe lhe empunhao, outros fcruiços maiores , que tinha feito algrcja. Alédcnao auer,quêemtudo, & por fu- do carcceíTc de vícios , & fer j

milhor aquelle em quem os menos fe achauao. Deíefpera- doMauricio de poraquialcá- çar o que pretendia, & defeja- ua, viando da ía.^acidade de (eu engenho,lançou por outro ca- minho 3 & foi o q agora dire- mos.

j Auião de longos tempos pretédido os Emperadorcs de Alemanha as inueil:iduras , & padroados das Igrejas Cathrc- dais , & Abbadiasde fculmpe rio, fcm ate então o poderem alcançar, pella refiftcncia,que os Papas lhe fazião, Tomarão mães a peito efta demanda os Emperadorcs Henrique IIII. & Henrique V. fcuíilho.Op- purcraófclhe os Summos Pon- tifices defeu tempo, & mães q todos Pafchoal lí. procedendo contra clles cenluras are os priuar do cetro,(S«: coroa Impe rial. Dcceo Henrique V. com efta pret cnção a Itália , trazen- do coníigo grande exercito, entrou emRoma,masreconci- liandoíe aly com o Sumo Põ- tifice Pafchoal II. recebeo de fua mão a coroa do Império. Durarão contudo pouco na amizade, porque logo Henri- que tornou a íua antiga dcmã- da, & com ella voltou fegu nda vcs a Romaí onde defefpcrado

dT

Dom Aíauricio.

i7

de negoccarcoufa boa como mefmo Pontifice , por Ikc dar aquellapena,& cambem por de caminho moftrar como o não tinha por vcrdadeiroPapa, quis outra ves coroarfcdc no- uo, & da máo do Arccbifpo de Braga D.Mauricio,quecom ellc valia muito, & andaua mui to mães alienado ào Summo Pontifice. Acabado o auto da coroação , fahio o Emperador com exercito de Roma , & fes grandes dannos nas terras, da Igreja. Masvindolhe noua de Alemanha, que andauáo em fuaauíencia as coufas daquella Prouincia mui inquietas , & corria riíco perderfe, pellosin- íuItos,qnenella (cfaziáoiaco- dio logo a rocorrela, & deixou liurc Ttalia do aperto em que fua petfença a tinha poílo. é'. Morreo entretanto o Pa- pa Poíchodl II. em dezoito de laneirodoanno dciiiS. Foi eleito Gelazio II. & pofto na cadeira de S. Pedro. O Empe- rador tendo noticia de fua elei

I ção, entendendo q naó auia de negocearmelhor com clle,do q com íeu anteceíTor , tornou a Roma com máo armada, & fc fczfenhordellaj&o Papa Ge- lazio fahiofugindo pcraGayeta

* donde era natural.Com o me-

do das cenfurasem queandaua^ &comalgunslinacs,& prodí- gios,q vio em Alemanha, de q conccbeo grande medo , de- terminou pedir afloluiçáo da eícomunháo em qne eílaua,

6 por ter de fua máo quem lha deífe.-comatreuimento dia- bólico, íes Papa de Roma a Maurício, & elle aceitando a dignidade , fe chamou Gre- rio VIII. & continuando em feu defacinojcreou Cardeaés,& defpachou negócios Ecclefial- ticos, como íefora verdadeiro Ppntifice, tendo o fauor da i^- m^\2iào%Frangi^ams^ que fe- guiáaa parte do Emperador, como públicos inimigos de Ge iazio.

7 Sentio muito o Papa cftcatteuimento, & pudera el- lc íer o motiuo de perder Bra- ga fua antiga dignidade , fe Deos Noílo Senhor náo aco- dira por fua caufa, & puzera os olhos em fua innocencia, Su- ccdco nefte tempo , que duas dignidades da Igreja de Com- poftcllaforaô alerufalem, leuauão ordem pêra de cami- nho tratarem Gelazio de íe leuantar em Metropoittana a- quella Sè.Tanto que o Papa os vio,tomou a máo,& dilfej^cw fe/ , cjHt <-Dindes a extinguir a

,

Bar to (in.Chrif.

1 1 1 ?. d*

an i I . o.

j.an 110^ c.z & Atl

Br and- f.

Cafitolo IX.

Pont. Ro tlrigo Xt-

(Igreja Metropolitana deBraga^ \ i^ ajublimar a de Compofiella. Aíuitd^^vec^es tratei eíia maté- ria cora o Papa meu antecej^or., bufcado os meyospor onde iflofe poderia confeguir -.agora parece, que temos hoaocca/íao,poes Mau riciofe leuantou contra a Igre- ja Romana fuamay. Com ifto lhe dcuefperanças deter cíFci- to o que deícjauaõ. PoréDcos o ordenou de outra maneira, & não permitio, que Metrópole táo antiga, & ennobrccidacõ as virtudes^&: fangucdetátos, & táo Tantos Prclados^glorio- fos martyrcsdefua fagradafè, fc cxtinguilíe, & acabafle, cm da^ino de Portugal , & de toda Hefpanha.

8 Deípachou outrofy hum breue o Papa Gelazio ao Arcc- biípo de Toledo D. Bernardo, & aos mães Bifpos de Hefpa- nhájCm queosauizauados de- íatinos dcMauricio, dizendo^ que Guiara vfurpar o titulo de Papa,com o fauordchumEm pcradorcirmatico,& que cfta- ua efcomungado pelloPapa fcu antcccílor, quedeflemordéaq breucméte ic elegeíle cm fcu lu gar outro Prelado, que gouer- nafíe a de Braga, òí mandaf- fcm denunciara Mauricio por publico efcomungado em to-

das as fuás Cathredaes.Defpa- choufe clíc breue no anno de 1118. E logo em virtude dellc, fefcz eleição em Braga deArcebifpo, &: fcproueoem lugar de Mauricio, D. Payo Mendcz, como em fua vida di- remos

9 O Empcrador Henri-

que partio pêra Alemanha , & deixou cm Roma íeu ídolo o AntipapaMauricio, muienco- médado aos Frangipanes ^ddú gos da fua facção. Com a auzen cia do Empcrador começarão a enfraquecer as forças do An- tipapa,& deíeus fautores, & o Pa pa íc foi pcra Roma, porem naô íeatreuco a durar ahi,porq não achou o fauor, que lhe era ncceíTario , ôc fe retirou rif- co de fua vida , ficando Mauri- cio na cidade , defpachando ne- gocioSj& creãdo Cardcaes,co- mo íe fora verdadeiro Ponci- ficc.

10 Parecco a Gelazio, que naõ cõuinha aauthoridadc de Princepe da Igreja , andar p>cr- petuamenteem recontros, ôc batalhas^antes ouue porneceí- fario meter cerra em meyo , ôc irfe pêra Fráça,onde cm ou- tros tempos os Summos Pon- tifices foraõ recolhidos, & em* parados pellos Rcys Chriflia--

niffimos

Dom Adauricio.

39

Bar.ann,

Chhip.

Iizute.

nilíimos daqueilcRcyno. Or- denou o melhor ^ pode as cou fas de Roma, & pondoíe a ca- minho peraFrãça,tomou por- co na viíia de S. Gil,onde íc re- colhcoem hum mofteiro de- dicado ao mcrmoranco,& dahi pardo pêra o moíleiro deSaó PedrodcCluni j da ordem do PatfiarchaS. Benco^cm q tcue algú defcáço. Porê como era vc lho,(S(: os trabalhos oauiáo qucbrátado mtiito, vcyo a doe cer nomeímo mollciro da en- fermidade, que lhe tirou a vida noanaodeChrirto 1119. II Foi eleito em íeu lugar

pêra a cadeira de S. Pedro, Gui- dOj Arcebiípo de Viena em Frá- ça,quereintitulou Calixto II. Tantoqucíubioao SúmoPó- rificado ,logo o Empcrador Henrique tratou por feus Em- baxadores rcconciliarfc com a Igreja:aGcitou o Papa a recon- ciliação, & feita concórdia en- tre ambos , o aílolueo de todas as cenfuras cm que tinha en- corrido aíTi elle^como feus fc- quazes,naõ entrando nefta cõ- políção o Antipapa Maurício, a quem não quis perdoar. Polias as CO ufas cm paz, com grande alegria de rodaaChrif- tandade, foubcoSúmo Pon- tiíicc, que cftaua Maurício na

cidade de Sucrí,& quc,cm com panhia de alguns Cilmaticosa- migos feus, íahia pcllos cami- nhos aempidir os perigrinos, que hiáo a Roma : pêra reme- diar cites infultos^fes ajuntar à gente, que lhe pareceo necef- faria, & mandando diante alguns fc^ldados, ao Cardeal de S,Chrifonogo,Ioa5 deCrema, foi elle marchado os mães, & pondo cerco à cidade, bre- uemente a entrou , prendeo ao Climático Maurício, & caf- tigou aos que foraõ complices em feus dczatinos. Em quan- to d urou o cerco padcccoMau riciograucs afrontas, òc inju- rlas,quc lhe faziaõ os cercados: conhecendo , fcr clle a caufa dos trabalhos , que padeciaõ. Não confentio o Papa, que o mataílem, pcrdoádolhe a vida, pêra fazer penltencia.Deu vol- ta aRomajOndc entrou triíí* fando , Icuando diante de fy ao mifcrauel Antipapa, pofto fo- bre hum Camelojcom o rofto pcra traz, pêra mayorafrõta,& ludibrio : òc fem lhe dar outro caftigo o condenou a cárcere perpetuo raandandoo meter em húa torre do morteiro de Monte Caííínojdepoes foi Ic- u^do por ordem do Papa Ho- nório 11. fuceííor de Calixto

Dl

ao

40

C apitoio IX.

\c,T.deof fi Indt c. tnfuferdc. leji. 7fpesto.6 jaf. IC7.

Dfiari

' Ni* 'hro

du Condi

D.Henr,

ao moftciro da Trindade da Caua , onde outros Antipa- pas tinhaõ fido recolhidos. A- qui viueo,*^ morrco em peni- tencia, chorando os erros da vida paíladajcntre aquelles Tan- tos religiofosjdigniífimos fi- lhos de leu Padre o grande Pa- triarcha S. Bento. Hccfl-c mof- teiro da Caua,no Reino de Ná- poles, fundação de S. Alferio. Falaõ delic os Summos Pon- tífices Honório, & Eugénio, ambos terceiros do nome, & mães largamente o Padre frei António Yepes, Mandou o Summo Pontifice Calixto pin tartodaefta vitoriana fala do Paço Apoftolico, cm que cof- turaaua ouuiros Embaixado- res.E na fròtaria por cites dous vcrfos. Ecce Calixtus honor patrUyde-

cus Imperiah, Nequam Burdinú damnat , pa-

cem^ reformat. Chamalhc^í)«r4 dapatria,por fcr filho de Guilhelme Conde de Borgonha,& irmão (fcgun- doa hirtoria Compoílcllana^ de D Ramon , ou Raimundo, Conde de Tolofa ,primeiro ma rido de dona Vrraca , filha de D. AfFonfo o VI. de Lcaõ , & irmã da nofla Rainha dona Ta- reja,molhcr do Conde D. Hé-

riquc. Chamalhe decus impe- riahy porquedeciadosEmpe- radores de Alemanha, & era mui parente do que então go- ucrnaua Henrique V. Dis^que reformou a pas. ?or que no Cõ- ciIio,qucemRomafes ajuntar pêra reformação da Igreja, fe acharão por Embaixadores de Henrique V". o Bifpo de Efpira, & o Abbadc de Fulda , famofo moftcirodcS. Bento em Ale- manha: os quaes,em nome do Empcrador ,renu nciaraõ a pre- tcnção, que tinha, de nomear os beneficiou Ecclefiafticos nas terras do Império , com o que feaíTentoua pas entre o Papa, & Emperador , fe bem não foi de muita dura. Gouernou D. Mauricio a Igreja de Braga por efpaço de S.annos, fendo Póti- fice Pafchoal II. ôc gouernãdo cm Portugal o Conde D. Hériquc,& a Rainha D. Tareja fua molher.

U)

^h^

CAPI-

Santiago Intercifo,

41

CAPITOLO X.

SANTIAGO INTER'

ci[oManyr.

Ntrc outras re liquias, quede Roma trouxe oArccbiípoD. Maurício , ík collocou ncíta , foi o corpo de Santiago Intcrciío^glorioío martvr de noíTa lài^rada reii- í^iaõ . Naceo. em Per lia na ci- dade de Elape, Ò3l melhor no- breza daqucUeReyno. Proteí- fcudc mininoa íè Cathelica, como a prcfeflauáo íeus pays. Cazouíc, & comhúaíeui-jora também Chriftã, nobre por fangue,& nobiliUima por vir- tudes. Suas grandes partes , & cftremada prudência, o deraoa conhecer a clRey Uccgcrdes, atíeiçooufelhe,& nada fazia,(e- náo de íeu cõíelho; mas como o Rey era gentio j & fabia do feu vahdo fcr Chriílaõ, pouco a pouco o foi perfuaduido a deixara Chriito , & oíTcrccer publicamente incenfo aos ído- los. Sentirão , quanto íc não pòdc imaginar, eftelaftimofo fuccíTo, fua mãy, & molher.

afearáolhocó palauras,6v:ainda com obras, não o admitindo a fua conucrlaçáo,tratandoo deíprezo, &i comoaapoíiata de noíla íanta fè. z Abrio o nouo idolatra, & antigo Chriftão os olhos, co- nhecco feu erro,»!^ parecendo- Ihe pouco choralo com lagri- mas, fe foi ao Rey , &: em lua prefença , abjurando primci- roa idolatria, profeílbu noíla fanta fê. Entrou cm fúria o bár- baro,& conuertendo cm ódio oamor ,&efFeiçuo, com que atèalivia,& elimiaua a San- tiagOjO mandou logo defpsda- çar com hum nouo género de crueldade . Tomaraõno os

, miniftros, & em fua prefença o foraô ( daqui fe chamou In-

; tercifo ) retalhando , Si defpe- daçando por todas as juntas de feu corpo. Compadeciáofe ospreíentes^&chorauaoa vil- ta de tanta dcs humanidade . Mas o fanto martyr aproueitá- dofcdas palauras doSaluador, lhe dizia nao qui^ejem chorar fobre elle , cboraffera fobre fy mefmos^aquem efperauao tor- mei&tos eternos.

3 Foraõ muito pêra efcreuer, d>c ponderar os vários collo- quios com que o íanto mir- tyr ofFereciaao talho cadahú

d1 de

Lue- 23

42

Capttolo VIL

cíeíeus membros, quando lhos hiaõ corcando,podenfe ver cm SurioA Vilhegas,que miuda- mente os referem. Mas como nem com erte , nem com ma- yores tormentos , o bárbaro o pudeflc fazer retroceder na , lhe mandou cortar a cabe- ça,com que feu bemauentu- rado efpirito voou liure ao Ceo em 17. de Nouembro do anno4io,

4 Recolherão os Chriftãos as preciofas relíquias , & porq cmElape entre Gentios , não podiaõauera merecida fepul- tura , as entregarão a hum no- bre Romano por nome Cyril- lo i peraque as leuafle coníígo a Roma , aonde eftiuctaõ,atè o Summo Pontiíícc Pafchoal lí. as dar pêra efta Sè, com outras muitas,ao Arcebifpo D. Mau- rício Trouxeas, 6c collocouas em húa arca de prata , que por ventura pcraefte eíFeito man- dou fazer , cm quanto lhe não lauraua capella , & fepultura própria, mas os fuceíTos de fua vida, & aufencia delia cidade, lhe eftoruaraõ taõ fantos intc- tos.Atè que achado o fagrado corpo o Arcebifpo D. Agofti- nho de Caftro,nella mefma ar- ca , pello modo que em íua vi- 1 da diremos , com foléniíTima

prociíTaõ de todo o Clero do Arcebifpado, que então eftaua junto em Synodo,otresladou dothefouro da Se ao altar do Efpirito Santo, a húa íepultura de madeira dourada, éc bem laurada, onde tem o letreiro feguinte*

Aqui eílã o corpo de Sant-iagò Jnterc'ifo,Perfano de na^ao, que de Roma trouxe pêra efta Janta Igreja de Braga, o Ar- cebifpo D 'Maurício ^pellosan nos de 1 1 10. ^ no da era do . Senhor 1 60C. o collocou nefte tumulo o Arcebifpo D. frei Agoftinho de lESF de boa Memoria , no Synodo que ce- lebrou no mes de Outubro do dito anno/ftando te então no thefouro defta , no cofre grande das relíquias. Ficou a fagrada cabeça do fanto martyr fora de fua fepultura, cncalloada cm hum relicário de preço,que fc guarda no the- fouro, peraque defta maneira pofla fer leuada nas prociíToes , & algíjas vezes a enfermos, em que obra muitos , & mui no- taueis milagres. Celebra a Igre- ja de Braga cfta trcsladaçáo a iz»de Mayo , & o dia próprio do fanto a zy. de Nouembio, em q o pocm o Martyrologio

Romano

Ntce.Fc rlif. hijí.

.'l.l^.C.ZO

Surjo 6. 2J'-!Voue Baron. m netis ad mar t. Ra, 27. No- uèb. & to

AÍArtjr. Port. 2 . d<: May o

T>.Vajo (/Mendei.

43

Romano. Eícreuem de Santia- go Interciío,Nicctoro Calix- to, Surio , o Cardeal Baronio, o Marcyrologio Português, & outros

D. P A Y O MENDEZ 68. Arccbiípo de Braga.

CAPITOLO XI.

COMO D-PjrOEN-

trou nefla Igreja , Iff defen- deofuas prerhinencias.

Otauelfoifem pre a .venera- ção com que ella Igreja de Braga vene- rou ^òc trouxe fobre a cabeça as coufas da Igreja Romana. Scí^uia õ Empcrador Henri- que V. &cõelle grande parte de Italia,&: Alemanhaja vos do AntipaBuirdino, obedecialhe a principal nobreza de Roma, lançando de fy,& deixando ir defterrado a Cayeta , & logo á França , o verdadeiro Summo PontificeGelazioíI. Braga tudo como fe lhe não tocarão íaó de perto os acrecenta men- tos , & honras òq^Izu Perlado Mauricio, tão pouco fez pel- lofeguir, ou lhe obedecer, q

entaõ mães que nunca obe- decia aos mandados do Sum- mo , & verdadeiro Pontihce Gela2.io, pcríeguido,(S<: dciter- rádo.

Foi alTi , que declarado por intrulona cadeira de S. Pedro Mauricio, &c fulminada contra elle íentcnça de cícomunhaó por Gelazio^como contra ver- dadeiro A ntipapa , Òi ciimati- co, o condenou cm perdimen- to de todas luas honras ^Òc be- nefícios , &c inhabilitação perá quaelquer outros , qporalgij modo pudeíle vir a ter.Seguia- íelogoprouer denouo Prela- do a elfa Igreja, & efcolhcr pê- ra ella húa tal pefloa , com que tiueílc íéguro^que admitiria a vos deBurdino, nem delpre- zaria os mandados Apoítoli- cos. Não íaltauaõ entretanto algús , que como macs expe- diante,lheacon(elhauaó extin- guiíle de todo a dignidade Epií copal em Braga, pêra que neílc exemplo atemorilaíle aos Pre- lados vacilantes, 6i:neutraes,de que auia muitos ,& caíligaíle, náo os defatinos de Mauri- cio, mas também os dos rcueis feus fequazes. Leuado efteuê ao fazer Gelazio , mas, ou por guardar a coufapera melhor j tépo, ouporqadiuína proui- *

D4

denciâ

44;

dcnciaonáo permitio, fecon- tcncou poc então com dar por vasrae Ih Cadeira, Si eícreueo aos Prelados deHeípanha^diri- gindoobreucaofeu legado D. Bernardo Arcçbifpo de Tole- do, trataíle de lhe dar íuceflbr. 3 Fora ate ali o que gouer- nara crte Arccbifpado , em no- me deD. Mauricio,oArccdiago D. PayoMendez, peíToa por geração, & valor,de grande íideração. Nelle pos logo os olhos o Cabidcjôc fem lhe fal- tar algú dos votos, fahio eleito cm Arcebifpo.Náo fe atrcuco a contradizer o cõmnm con- fentimento D Bernardo, mas he certo, quebéquizera feef- colhefe outro, em quem nas matérias de fua Igreja, achafe menos refiílenciajquando pre- tendcfleíoicitala á de Toledo, o qi:e mães que tudo trazia nos olhos. Foi cfta eleiçaonoanno 1118. aquellc meímoemque Gelazio entrou noSúmoPõ- tificado,&.' Maurício, com Jio- me de Gregório VIU. cm fua deíatinada pretençáo. De tudo temos certilFimos documen- tos nefte Cartório , & em que não deuiaaduirtir quem feso Catalogo dos Arccbifpos, que fe pos na fancriftia^quando co- meçou a contar os annos do

Capitoio XL

ArccbifpoD.Payo,do de mo- em que Maurício não tinha ainda dadas moftr as algúas de íe querer rebelar contra os Su- mos Pontífices , pellas quaes ouueíTe de fer priuado de fua Igreja, & proccderle a nouac- leiçáo , vilto como a primeira acção em qíe começou a ma- niteftaí por rebelde ao Papa, 6z da parcialidade do Empcra- dor Henrique V. foi cm lhe dar a coroa do Imperio,cmS. Pedro de Roma,ainda cm vida dcPafchoal Il.noannodeiiiy como íe pode ver no Cardeal Baronio,

4 He bem verdade, que na terceira parte daMonarchia Lu fitana tem o P. D. fr. António Brandão Chronifta raòr deftes Reinos,a doação que a Rainha D. Tareja molherdo Conde D. Héiique,fcs da villada Lou rofa à Se de Coimbra, cm 15. de Março de 1 11 5. na qual D. Payo Mendes confirma Ar- ccbifpo de Braga dizendo, Pe- lagius Archipifcopus Brachar. confirmai, juntamente D. AíFonfoBifpodeTuy,D.Dio go de Orcnfe ^ D. Gançalo de Coimbra. Mas nefta doação ha fem duuida, vicio manifeílo, nacido da efl:ampa,& em que^ por occupaçoés de maior im

tom. 12.

lmr.<^, c. i'

portancia |

T>.Tajo ({Mendexc

45

porcancia, o autor náo pode aduertir , como cora cjidencia le colhe, do que poucos capi- tolos abaixo efcreue de D. Pa- yOjdizcndo ler eleito Arccbií- poanno 1118. &: náo quando o puzera o Catalogo da lan- crillianoanno mó. Saluoíe no tal anno quis ter rcfpeito náoao tépopútual de íua elei- ção,mas ao da aufencia deMau ricio,quádodeixouBraga. AíTi q a eleição íe fes no anno 1 1 1 8. & napeílba deD. Payo Men- dez, irmão dos iníígncs capi- tães D. SueiroMendezda iVJa- yao bõ,&D.Gõçalo Médez o lidador, filhos de D Mendo GonçaliiesdaMaya, & de D. LorgundaSoctres, comolcco- IhedoCõdeD. Pedro, í5<:d'hria efcritura, que ella noarchiuo deíla Igreja, em que D. Payo doa a de Braga certos cafaes, que pofluhia , & diz ouuede (eu irmão Soeiro Mendes, ao qual foraó dados pella Rainha D. Tarcja,

5 No macs,concorrião gran- des merecimentos pêra a noua dignidadeem D- Payo, deva- lor,virtude, & prudência, febé alguns o quiferaõ depões arguir de pouco lerrado,não attentan- do como naquclla idade os no brcs não profcflãuão de ordi-

nário letras, as armas fy , porq fe fazião valer,& ellimar,3Índa no Ecclellaibco^ pellas conti- nuas guerras,que noílos Reys tinhao contra os infiéis. Ale da fimplicidade,& bondade da- quelles tempos não pediré ta- tá Iciencia nos Prelados, quan- ta hoje lhes hc neceíTaria pêra gouernarem a malicia , & am- bição deites*

6 Tanto que foi eleito, &CÕ' firmado pella Se Apoílolica, no annodc 1 1 1 p.partio pêra Se- gouea ,a íe íagrar.por naõ auer então Bifpos em Galliza, que o pudeíTem fazer. Sagrouo o Ar- cebifpo D. Bernardo , que na- qucUe tempo tinha a authori- dadc de Legado A poílolíco em toda Hefpanha. O Papa Calix- to II- lhe cócedeo o pallio, por hum breue dado no terceiro an no de fcu Pontificado,& no de Chriílo 1121. declarando as feftas folennes em queauiade V far delle no facrificio da mif- ía.

7 Nomefmo breue confir- mou o Papa ao Arcebifpo a jurdição da cidade de Braga, com rodo feu termo, como ji a tinha confirmada o Papa Paf- choal ÍI.E também confirmou a diuifaõ antiga do Arcebifpa- do , & os fuííraganeos da Pro-

uincia

46

Captolo XI.

Bar to,i z

<J».I123- «M 2.

7om. fi-

■7ior. foi, z.vcrfo.

uincias de Galliza,á: Portugal, que dantes tinha, declarando que eraõ os Bifpos de Aftorga, Lugo, Tuy, Mondonhedo, Orenfe, Valabria, Brctonha, Porto, Coimbra & as i cidades, queaindanão tinhaõ Bifpos, a íabec Vifeu , Lamego. ídanha, que hoje he a Guarda . Vfao Summo Põtificeno principio do Brcue de húas palauras de grandes honra pcra efta Igreja, que traduzidas em português, dizem aíli. Calixto Bifpo fer- uo dos Jeruos de Deos . Ao ije- nerauel irmaoPayo Arcebifpo de Braga ^ Isf afeusfuccejfores, que forem injiituidos canonicamente ■perafempre. A Metropoli de Braga foi injigne antigamente^ esclarecida nos Reynos ds Hef- panha^com muitos títulos de dig- nidade,tf hóra^ como o declarao osindicios de tão antiga nobre- í;^r2 , isf os tefiemunhos de efcritu ras antigas. Logo continua o Papa dizendo, qucfoi ocupada d os Mouros^Ã: que perdeo cm feu tempo muita parte da gran- deza,que tinha , &: que agora felhetornauaareftiruir. Con- firmalheos Birpados fuiFraga- neos, q referimos acima, & lhe concede o vfo do pallio.Traz efl:ebreueBaronio,eftáa!l] mef mo no cartório defla Igreja*

8 Entrou logo cm duuidas com o Arcebifpo D Payo , o Bifpo deCompoftella D. Dio- go Gelmirez , pedindolhe, que iherellituiíTeas Igrejas, & ter- ras, que dentro de Portugal ti- uhadado em fcudoafeu antc- ceílor D.Mauricio, como em íua vida diflemos. Naõ refpon- dia D. Payo a e0a demandajco- mo queria o Ccmpoftellano, nêcrataua reilituirlhe as Igre- jas , & terras da contenda, alle- gando por íy rezoês ,que iufti- ficauão bem fuacaufa. Contn- do por ceifarem duuidas, ad- mitio compoíição.Louuaraòre em árbitros, q iulgaflem a cau- fa, & foraó pêra iflo eícolhidos osBilposdeLugo,& Orenfe. Limitarão dia certo pêra ouui- rem as partes, Ã: darem fen ten- ça. Nomeavaôa cidade de Tuy pêra erte efFeito como lugar mães acomodado aos litigantes. Chegou o dia, acodiraõ os lu i- zes ao lugar decretado: pore m D. Payo,queeftaua em Valen- ça, da outra banda do Minho, náoquispaíTaraTuyjfendo pe ra iíTo requerido , antes refpon- deo, que cada fc deixaíTccõ oqiie tinha, porque ellc aiTi o auiadcfazer.Enfadado D. Dio- go Gelmires com a rcfolução do Arcebifpo D. Payo , cnrron

por

yafeusto l.Chron.

por Portugal, tS: cornou a re- cuperar tudo o que lhe perten- cia,& llie tinha ocupado a Igre ja de Braga. Depões íe lhe tor- nou a rellituir no tempo do Papa Innocencio III. comoa- diance diremos . De tudo o que temos dito relação a hifto- riadeCompoítclla.

CAPITOLO XII.

COMO SE OV V E EM

outras duiiidcLs ^ que tem com o Arcebifpo de Santiago D, Diogo Gelmires^if o mães , ^ pajjou atèfua morte.

Oannofeguin tcde IIZ3. co- mo quer Baro- nio^oudeiii4 como ou^ tros cem Mariana , citando o Papa Calixto no mofteiro de Cluni da ordem deS, Bento, foi ter elle o Bifpo do Porto D. Hugo, q fora primeiro Có- nego de CompoftelIa,a lhe pe- dir cm nome daquclla Igreja, a quiíeííeleuantar em Metrópo- le 5 aíTi por honrar a fepul- turado fagradoApoftolo San- tiago, como poc fatisfazeràs

T>.Pajo (iMende;^.

47

1 .

multas inílancias,que nclta par te lhe fazia íeu lobrinho elRcy D. Aiíonfo o VII. cujo pay o Conde D. Ramon de Tclofa, ôc irmão de lua Santidade , ali jazia enterrado. 2, Pediaíe ao Summo Pon- tífice o que clle mães que to- dos deíejaua , mas porque as maiores inltancias erao lobre íe paliar aCompoftellaa Me- trópole de Braga, em calligo dos delacinos de Mauricio leu Prelado, duuidaua cócederlho, ate que deixando o Biípo D. Hugo aprctenção, quanto no quetocauaa Braga, inllou íc paflaflem a Santiago as premi- nencias de Merida, Metrópole antigamente da Lufitania , & q ' acê aquelle tcmpo.depoesde íer deftruida pellos Mouros, nun- ca rtlaes fora rertaurada . Vcyo graciofamentc na íupplica o moPontifice^pa,lIarãpíe osbre- ues ncceíTarios a cfte negocio, alTinaraófe nelle fuíFraganeos a nouaMetropoIc,& diz o Padre loaó de Mariana, foraó dos an- tigos de Merid3,Salamáca, A ui - la,C,amora,Ciudad Rodrigo, Coria,Badajòs, & dos que ao preíente eraõ de Braga , Tuy, Lugo, Orcnfc, Mondonhedo, Aítorga. I 5 Grande duuida fc nos faz

ãlU-

Martan, lih, IO. Ct

12.

48

I aílhiarcnle logo eiicáo tantos fuífraganeosaCópoítella. Em particular dos deGalliza ate- mos ainda maior,porquefem- pre osachamosjfé interrupção nenhúa^depoes q lhe foraõ refti tuidosnotempodeS. Giraldo pello Papa Palchoal II. como efcreuemos , dando obediên- cia em fuás eleições aos Arce- bifpos de Braga^alcm de o mcf- mo Calixto II. híj anno mães adiante deftccm qeftamos,os confirmar na obediência deita Igreja, como nos confta da bula, que nerte particular paf- fouao Arcebiípo D.Payo,lcm nem leucmente acenar nclla lhe tinha tirado os taes Biípa- dos, ou applicadoosa Cópof- tella. Saluo fe clles lhe dauão crta obediência como a Primas, no que não vira o Padre Ma- riana tão facilmente. Aííi que, nos Bifpados de Galliza , não cremos fe fes por hora mu- dança algíja , antes ficarão a Braga de cuja obediência ícm- pre foraõ.

4 No de C amora , fomos também obrigados a fentir o meímo,& crer, que por nenhú modo fe apphcou delia ves a Santiago, nem feus Arcebifpos tratarão diíTojantes todas as cõ- I tendas febre efta Igreja foraõ j

Capttolo XIL

entre os Arccbiípos de Tole- do , & Braga, depões de fua primeira ereiçao,q cahio no ce- po da Legacia do Árcebifpo D. Bernardo , o qual como pode- rofo, Ã: valido dclRey D. Af- foníooVII-aqucria pêra fy, reílllindolhe , & procurandoa o de Brag3,por fer erigida no território de outra* fua fuffra- ganea, qual era a de Aftor2a,co mo finalmente lhe foi julgada pot Eugénio III. & a reteuc por muitos annos adiante, ate que veyo a fer de Santiago , de cuja Prouinciaao prefente he. Tudo confta das bulas jque nef- tc C arcorio fe conferuaó. j Occrtohe,quefò Aui'

l3,& Salamanca feaílinaraõ por cntaó a Compoftclla, tirandofe de Braga, acuja obedicncia,pa- rece, pertenciaó, por não fer a- inda Merida reftituidaa fua an- tiga dignidade, depões de aíTola- dapcllos Mouros-Lifboa,Euo ra,Vifeu, Lamego, Egitania,ou Guarda, antigamente da foiei- ção de Merida, eftauâo ainda então fem Prclados,& quando osvieraõa ter,forão primeiro da Bracharenfe, ou como Me- tropolitana, ou como Primas, fobreque ouuc grandes duui- das com o de Compoftclla , fc- gundo a hiftoria o irá relatando

Fr.íeroH, Romano in mana*

fcTtBt,

polias

D.Pajo (íMende:^.

49

pollos nerte lugar , (cria con- fundir os tempos ,&: ícm trui- to. Como cambem dar noticia daocafiaõ porque os Biípados dcGalliza deixarão de lerfufr fraganeos a eíla Igreja, matéria em c] os Chroniftas Eípanhoés tiueraõ grandes deícuidos , ou porfaira de verdadeiras infor- mações, ou deinduftria,conio algús dos Portuguezes lhe que- rem achacar,

6 Mas cornando â ereiçaó da Aíetropole Gompollellana, peraque começaíle logo mães auchofizada, nomeou o Sumo Pontiíice Calixto lí. por Le- gado íea nas duas Prouincias de Braga , & Compoftclla j ao Arcebifpo D.Diogo Gelmires, que ate ali ciuerafò o titulo, & dignidade de Bifpo. Sentio o Arcebifpo D. Payograndemê- tc ambas eftasduas refoluçoês do Summo Pontiíice , porque na primeira fe tirana de luajur- diçáo a Igreja de Santiago,com as fuás íuffragancaSj &.' na fcgu- da fe lhe daua por fuperior,quê ate ali tinha fido feu fubdiço. Com ell:e fentimento náo quis ir a Concilio, q o Arcebifpo deCõpoftella fez jíjtarnamef- ma Cidade, fendo pêra iíTo cha- mado- E procedendo contra cl- le com cenfuras , appcUou dei-

las pêra o Sumo Pontiíice Ca- lixto n. o qual tomando co- nhccimenco da caufa, mandou por íuas letras fobrcllar,atè ap- pafecerem ambos per fy , ou ÍCLjs procuradoresjna Cúria Ro mana. Náo teue por então íim o negocio, porque o Papa Ca- > lixto, poítoque em tudo fa- uorccia , & honraua a Igreja Compoítellana, contudo me- lhor informado, náo queria ti- rara de Braga fuás preminen- cias antigas , antes trataua de lhas coníeruar, como fes,ordc- nando pornouo Brcue, que o Bifpo deTuy Payo: & Bernar- nardo de Coimbra, AíTonfo de Aíl:orga,& o Bifpo de C^amo- ra fuíFraganeos antigos da Igre- ja de Braga,a rcconheceílem CO mo antes, & IhedeíTcm obe- diência como a fua Mecropoli* tana.Donde,có cuidécia,fccon firma o que nos números atras deixamos efcrito,accrca de não fere tirados por Calixto os Bif- padosde Galliza j a cfta Igre- ja" 7 Maiores foraõ ainda os

defgoílos , que ouuc entre o Arcebilpo , & a Rainha D.Ta- reja. O d'ondc naccflem , não achamos em memoria, bem poderia fcr lhe deflc cauíà a def- abrida condição de D. Payo

E

O

5o

Capttolo XII.

O certo he, que a Rainha o mandou prender , fcm embar- go de fua dignidade, & teuc prezo ate o Summo Pontifi- ce Calixto II. a obrigar por cé- furas em fua peíroa,&: no Rey- no ,ao por cm liberdade. Foi executor dos mandados Apoí- tolicos o Arcebifpo de Santia- go, como confta dos Breues que nefte cartório fe guardaõ. Morreo o Papa Calixto II- no annodeizz4 ôc fucedeolhe o Papa Honório II. em cujo tempo pretende© o Arcebifpo de Santiago, que fe lhe refti- tuiíle a Igreja de Coimbra fuf- fraganea em cutro tempo, de Merida. Morreo D. Bernardo Bifpo delia, Ôc foi eleito pello Cabido D. Migucl,confirmou a eleição o ArcebifpoDom Pa- yo, como de Prelado fcu fuf- fraganeo , em virtude das bul- ias da reftituição de fua Me- tropole,em que eftaua nomea- da a Igreja de Coimbra por fufFraganeade Braga . O Pa- pa Honório , queauia paífado outro Brcue em contrario ao Arcebifpo de Santiago, fen- tio muito a confirmação, que D. Payo fes da eleição de D. Miguel, auendoque fizera gra- ne inj uria ao Arcebifpo de San- tiago , & defpachou hum Bre-

uc contra clle , em que o rc* prende com palauras afperas deite exceíTo, 6c lhe manda, que appareça pellbalmente em Roma, a dardefcargo das cul- pas , qlhecmpunhaõ,aíiinan- dolhc pêra iflfo dia- certo. Era D. Payo de condição liure, &c mao de dobrar , não obc- deceo logo ao emprazamento, o qual atalhou-a morte do Põ- tifice Honório , que cahio no anno de mil cento, & vintano- ue. Succdeolhe o Papa Inno- cencio fcgundo , que também lhe mandou, que appareceíTe peífoalraente em Roma. Não confta , que foíTe , deu ia fer ef- cufo do caminho pello mef- moPontifice, auendorefpeito ao zelo com que D. Payo tra- taua de conleruar o direito de fua Metrópole , perdoan- dolhe os erros, que cometia no demaííado fcruor de que vfaua , o qual chegou a ter- mos , que tentou fogeitar a Igreja de Lea5,&fazela fuf— fraganea lua, de que fe feguiraõ duuidas , ôc contendas muy pezadas . Tão accza era apai- xãocomque trataua dascou- fas de fua Igreja , & tal o a- nimo com que nellas proce- dia. 8 Celebrou outroCon-.*i

cilio

D.P^j9 (iMende^.

51

Tepes tâ, M-Chrif.

14.

cilioD.Dioi^o Gelniires. na fua Igreja de Cópoftella , & como Legado da Se Apoftolica man- dou chamar a D. Payo, pera- qnc folFea ellc , como os mães Prelados das Prouincias dcMc- rida , Sc Braga, iogeitos a fua Leizacia. Acodirão todos: íò Dom Payo náo foi cm pcl-- foa : porem enuiou Procu- radores , que em íeu nome af- fiílilTem, com que o Arcebiípo de Corapoftclla íc deu cmâo por facisfcito.

9 Deixadas porem eftas,

& outras femelhances conten- das, com que por toda a vida foi moleftado o Arcebiípo D. Payo 5 Sc aquém íoube leliílir com o valor de feu animo .- el- lepriuou também muicocora o grande Rey D. Henriques, como íe ve das grandes mer- cês , que a ^fua pelToa fez , ôc doações com que enriquiceo efta Igreja. Fora o Arcebiípo Capelíão mor, Chançarel da Rainha D. Tareja , como o achamos aíTmado cm certa doa ção,quea meíma Rainha fi- zeraao aiofteiro de Monte de Ramo noBiípadode Orcníe, que ellaíundara, cuja data he 10. Kalend. Sepc. Era ii6z. que vem a ícr 13, de Agofto, anno de Chrifto 1 1 14. onde có-

firma. Pdagius Brachar. Ar- chiepifc- Capellanus , i^ Cancel- larius RegiiM. Eihs duas dig- nidades,por morte de fua máy, lhe confirmou elRey D. Atto- fo, Sc as ficou íeruindo por to- do o tempo que viueo,

10 Confirmoulhe tam- bém a jurdiçáo, & Conto da Cidade , Sc diz , que náo terá nella outro poder ^ que o que eíle , Sc ícus íuceflorcã lhe qui- fer em coníentir. Digamolo as palauras domcímoRey .£í in ciuitate tua Brachar enfi nul- lam poteflate.mbabeam ,pr-^ter "voluntatem tuam , i^ pr^ete r foliintatemfuccejforum tuorum. He a data Era 1 1 66. annos de Chrifto I iz8. guardafe no Car tório defta Igreja. No raef- mo anno, alem de lhe confir- mar tudo o jàdado , lhe doa de nouo o Caftello de Penafiel, & a Igreja de Aretim, Veiga de fo, Sc outros muitos lugares, que fe acharàõ na carta, q defta mercê lhe mandou paílàr.

11 Aquirio mães D. Pa- yo pêra fua Igreja outros bens que ouuc de peífoas particula- res ,como foi o Couto daFeito- fa , que antigamente le chama- ua de Domes, o qual lhe deráo SefnádoRamires, Sc fua molhet luftezéda Soares,he a data na era

Ez de

lih z.me- mor, foi, lo.verft

52

Cafitolo XIIL

Tom, z. mentor, foi. 25^

2 te me

mor. foi. 208 va^ fo.

de mil cento,& fcírenta,& ou- to,queheanno de Chrifto de 1130. cílàa eícrituranoarchi- uodeltalgreja. A Rainha D. Tareja lhe deu o Couto de Faloés.O Infante D. AíFonfo a Igreja de Moure,& o Couto de Regalados, & outras hetda- dcs de t^ue faz menção o liuro jíí/éideíiaSè.

Í2. Não era folicito D- Payo em defender a jurdiçao de lua Igrcja,& lhe aquerir no- nas terras,& vaflallcs , mas tã- beni o era em vifitar feu Arcc- birpado,& acodir com a pre- fença a todas as neceíTidades delle. Sagrou a Igreja de S. Vi. touro nos arrabaldes dcJla cida de,aplicandolhe todos os dizi- mos, & quintos da freiguezia. Tambê íagrou a Igreja deCou cieiro no termo de Regalados, como fe moftra dos letreiros q nellas fe vé, & de híja efcritu- ra,quecftà no archiao da Re- lação. Durou no Arcebifpado ate oanno de 1137. emqfalc- ceo^ rendo de Prelazia 19. nos Pontificados de Gelazio, Calix- fOjHonorio, & Inocêncio, to- dos fegundosdonon)e,reynã- do em Portugal a Raynha D. Tareja , /k íeu filho o grande D. Affonfo Henriques .

-'CAPITOLO XIII.

D A ORDEM DOS Templários ^l!f de D. Gal- dim Meíire do T emplo ^natu- ral de Braga,

01 oAtcebií- poD.P.yoo ^-

liuro dos

primeiro, que dosqejià fes cfmolas aos "f """'^

, 1 . ■.ao toml/9

Caualciros da y,/,^^,.

ordé do Templo: rccolhêdoos détro na cidade deBraga,deolhe cafa na ermida de S. Marcos (que hoje hc hofpital ondefe curaõ pobresj &i rendas com quefeíuftentaíTem. A ordem fe inílituyo pellos^ annos de 11 18. Delia cfcreuê vários au- thores, qrefcrimos nas Remif- foés ao Decreto. Era o intento defta Caualaria guardar o fanto Sepulchro, & os mães lugares fagrados da terra fanta, por cu- ja defenfaõ, & das peíToas, que os viíitauáOjíazião guer- ra continua aos infieis-Toma- raõ aíTento junto ao Templo deleruíalem, donde Ike ve- yo o nome de Templários .

Foraõ

c.genera- lis «87

D. Galdim Adeílre dos l^emplarios.

53

EJfatmas ds^ Orde dcChr,f to l-p idíi rrfor, da reottt,i.

K7.1I.

Foraõ crccendo cm numero, &aiuhoridacle, goucrnando- íc porconftituiçoés ordenadas porS. Bernardo debaixo da re- ora de 5. Bento, viando de man CO branco,& cruz vermelhaje- nicihaateádos Caualeiros de S.Ioaõ.Todos os Reys daChrif tandadc os enriquecerão com grollas doações- ElRey D. Af- fonío Henriques primeiro Rey de Portugaljlhefes muitas mer ccSj&concedeo grandes priui- legios , aproueitandoíe de leu valor, ÔC esforço nas guerras, que tinha com os -Mouros. A primeiracaía, que o> Templá- rios tiueraj nefte Reyno , íoi fanra Maria de Oliual na villa de Tomar, & o Caílello delLi, alem doutras cafas/^ Bailiados, quetinháo em diuerfos luga- les. Todos dauáo obediência ao Meílre, c|ue re(edia em íe- ruíalem , o qual fe inticulaua Gram Me^re por diferença dos que reíidiáo por ellas , & ou- tras partes, ôí fe chamauão tá- bem Meíires . no anno de iiie.tinháoaíTentonefte Rey- no, com terras próprias fobre as quaesfaziaÕ concerto, & ef- crituras , como de muitas nos confta.

z Durou efta Ordem. ate o anno de 1311. emo qualfen

doSummo Pontiíice Clemen- te V. foi extinta no Conci- lio de Viena j&: acabou deco- do, fendo Rey de Portugal D. Dinis. Dascmzas delia, como outra Auc Fénix, naceo entre nos a ordem militar de Clirif- to , inftituida por elRey D Dinis , & confirmada pello Papa loaõ XXII.no III. an- no de feu Pontificado, que foi o deChriftoi3i5?. como fe vedas definições ^ ôc eftacutos da melma ordem.

3 Entre os Meftres do Tem- plo, que ouiie em Portugal de mães nomc^ ieaíímalouo inllsne caualeiro D. Galdim Paes, filho de Payo Ramires, neto de Ramires Aires, bifnc- to de Aires Carpinteiro, todos três fidalgos bem conhecidos no Conde D. Pedro. Sua máy fe chamou Guntroda Soares, da familia dos Correas, por quem veio a cmparcntar com o noíTo D. Galdim (de que el- le muito fe prezaua ) o inílgne Meftre de Santiago D. Payo Corrêa , taõ celebre nas hifto- rias Porcuguezas, ôc Caílelha- nas.

4 Era natural deíla cidade deBrasa.&nellafe conferuaa- inda hoje hua rua com o nome de D. Galdim, em que he tradi-

Titot.

7itol.^G

^^

Capitolo XIII.

çáo naceo. O grande Rey dom AíTonfo Henriques o armou caualciro,& deuia fer emoca- íiaõ , cm que nas guerras , que fazia aos Mouros,© viíle obrar algum iníígne feito d'armas ,co mo então íe cultumaua. Era (como acima o aduertimosj mui frequente por aquellcstê- pos a jornada dePaleftina_, & como a cfchola de toda a valé- tiaChrillá acodiaõ aly os mães valerofos , & esforçados , pêra íe empregarem em guerra caô íanra: Foi hum deftes D. Gal- din) Paes,mas feito caualeiro do Templo, gaflou por làcin- co annosj acJiandoíe em todos osencontros de mayor perigo, fendo lempre dos primeiros, q rompiaõ a batalla , & dos viti- mes que fahiaõ delia. 5 Tornando a Portugal , co- mo o Reyno todo cftaua cheio das grandes façanhas com que em Palerti"a ;fizera immortal leu nome/oi recebido delRey Dom AfFoníp Henriques pelo mellior,^& mães certo focorro, que então contrg os Mouros lhe ppdQravir Feio logo Mef- tre Gcs Templários Portugue- íes,náo .a.\iíolutp,mas com fub ordin5çá<í>aodoT^pIo de Ic- ruiakm^aquem ©txedecia toda aordt :deulhe muitos Caftcl-

los decõíideração, peraque elle com os íeus os poíluiíle, &i de- fendeíle,&: licença pêra edificar outros nas fronteiras do<-. ini- migos,que também folíem da fua ordem. Dos edificados por D.Galdim fe nomeaõ Pombal, Tomar, Cardiga, Almourol, & Idan-ha , ainda qye neftc vitimo temos grande duui- da , porque como elRey D. Sancho filho, & fucceíTor del- Rey D. AfFonfoHériques , foi o que ganhou a cidade da Ida- nha aos Mouros , & a doou a cincodeluIhoEradc 1137. que faõannosdeChrifto 11 99 Aos '5^-,, Templários, fendo jáMeílre iz.c.zé, fcu nefle Reyno D. Lopo Fer- nandez,quefucedeoa D- Gal- dim , mal lhe podia ellc edificar oCaftello, naõ fendo ainda a terra fua,& o q he macs certo, tendo paííado dcfta vida. 6 Alem do CaftcUo de To- mar, que fundou o Meftrc D. Galdim , ôídefendeo no anno de Chriflo 1 190. do exercito do Miramolim ,que tinha em fy corenta mil homens de caua- lo,& cincoenta mil de , edi- ficou também dentro nelle a capella. que hoje ainda dura, & (e chama a Charola^de graue,& magcftofa architeótura, cora titolo de S.Thomas de Can-

BrAnJtto

'4''' t2i

tuaria

I

D.G^Uim Aíefire d(^s templários.

55

ULiaria, o qual por acjuelles meímos tempos, correndo o aiinodeiiyi. aos 19* de lanei- ro,fora Martyrizado pella de- feníaõ da liberdade Ecclellaíli- ca.Em honra defte lanro,affir- mão algús, que aquella nobre villa fe começou a chamar Tho- mas, hoje com mudança vkima letra Tomar, deixan- do o antigo nome de Nahan- cia , porque acê \y era nomea- da.

7 A rnayor parte do que dei- xamos relatado fe contem em hum letreiro, que eftà no Caf- cello de Almourol, ôc diz alli. Em nome de Chriflo Era 12.09, Mestre Galdimde nobre £era- cao foi natural deBra^a, em to- po de D. Jffonfo illufirifsimoRey de Portugal afilho do Conde D. Henrique, tf da Rainha D,Ta- reja. Efle, leixando a mundana caualaria, em hrene tempo ref- plandeceo como hum luzeiro, por que fendo caualeiro ,fefoi a le- rufalem , ijf por cinco annos 'paJfoH a '-vida em continuas ar- moí com ofeugrão Mejire, (sf c6 outros freires ^em muitas bata- lheis-Foi contra oRey de Egypto^ y de Suria, isf quando Efcalo- na foi tomada , elkfoialy pref- tes.lff prefente . Da hy indo a I Antiochia , pelejou muitas ^e-

':^s contra o poder do Soldao, Í!f depões de cinco annos , fe tornou ao dito fi^r, q^c o criara ^ i;ffi- 'z^ra caualeiro , àf. fendo feito procurador da cafa do Templo de Portugal , edeficou efles Caf- tellos , Pombal , Tomar , O^e- 1 ^ir,Cardiga,ísf efe que chamao AlmoUrol,Era 1Í09 annos. Mejire Galdim^ nacido em Bra- ga fjhe cabeça de G.tíli^:t^ edifi- cou efleCaflello deAlmourol cóos freires feus irmãos. Rei ponde cfla era ao anno de Chrillo 1171.

8 Logrou efte caualeiro

largos annos de vida, porque fa zendofe menção deíle no go- uerno da Rainha Dona Tareja máy delRey D. Aífonfo Hen- riques, pellos annos de iiié. chegou ao de 1195". em q mor- reojgouernando clRey Dom Sancho o I. & fendo Ar- cebifpo defta cidade D. Martinho Pires,

Srarid.t9 ÍIÍ9.C, II.

E4

CAP.

Capitolo XIIII.

'■\jV

I

D. IQAM PECVLIAR

primcirodo nome 68. Ar- ccbifpo de Braga.

CAP ITOLO XIIII.

SVCESSOS D E SV A <vida , atèfer Bifpo do Por- to. Dafe húa br ene noticia da fundação do real mofteiro de fanta Cru^de Coimbra.

.a;.r.2.I^-g»,^ja2aKMiW O CataWo

o

dos Bifpos do, Porto dilíe— mos , que fora natural de Fra- ca o Arcebifpo D.Ioaõ,o mcí- mo difle depões o Chroniíla fr.Amonio Brandáo,& nas me morias antigas onde d'elle fe fi- la , a ffi o achamos , fe colhe bem do liuro dosTeftamcntos de (anta Criiz^ cujas faõ as pa- lauras feguintes traduzidas de latim, Aiiia checado a Coimbra hum mancebo chamado loao ^ por [obre nome Peculiar ^ tf clara- mente mosírou fer Pecúlio do Se- nhor^poes tanto que chegou dcts partes de França^ ordenou com fita doutrina, If exemplo bum mofleiro em S. Chriflouaó.

Mondiu,

i De opinião contraria íaõ algús Religiofos doutos da or- dem dos Cónegos Regrantes de Santo Agollinho,aos quaes parcceo couza noua dizcrfe , q D. loaõ fora Francês, por fer tidofempre por natural dcfte Rcyno , ôc nacido em Coim- bra; fcm embargo das palauras, q temos referido dohuro dos teffcamcntos , porque nellas fe não affirma ler natural dePra- ça, mas fomente vir dei à, oq I poderia acõteccr por ir cftudar I àqucllas partes, como o faziaõ entaõ de ordinário os Portu- I guezes , ou por não auer na- I quellcs tempos eftudos ge— I raes em Hcípanha , ou por fe- j rem mães famofos os de Pa- ' ris , Tolofa , Mompelher , Ôc ) outros daquellegrandeRcyno. Alé diílo, como íe poderá cha- mar natural de França, ôc vin- do de nouo a Portugal , quem nelle achou tantos parentes em Coimbra^cm Montemor o ve- lho, & outras villas daquella Comarca , como D. loaó ? en- tre os quaes não eraõ os de me- nor conííderação os Rabaldes, então bem conhecidos. Sobre tudo tmha o ArcebifpoD.Ioaõ irmãos fcus de pay,& may em Coimbra^que feachaõ confir- mando como nobres, varias

doaço

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J). ío!^Teci4k^r3 L

57

Joaçoêí feitas ao real molleiro de íatua Craz,<S«: íe gaacdáo em leu archiuo . Salão íe elles tá- bem vieraó de França com os meímosincciícos de deixarem o mundo, o que per nhúa via íe colhe das lobredicas elcrica- ras , pões nellas íirmáo como meramente feculares. 3 Todos ertes fundamen- tos fazem,com grande proba- lidadc, natural dcftes Reynos a D.IoaóPeci)liar,mas nem ain- da aíTi nos parece tem tanta for ça como as palauras, que acima referimos , das quaes^quafi cuidencia/e colhe,íer não Por- tuguês, mas Francês, cujos pa- rentes, & irmãos poderiaõ a- codiraPortugaljdepoes q nelle o viraõ Mertre Eíchola de Co- imbra ,Biípo do Porto, & Ar- cebifpo de Braga, & viucr nclle a foro de nobres,como o feriaõ também em França, que a tudo iílo, & muito mães, chegou a valia, &: fauor, que fempre a- chou no grande Rev D. Aííon- fo Henriques. Mas nem pello fazermos Francês , o julgamos logo por hum daquelles, a quê configo trouxe o Arcebifpo de Toledo D. Bernardo, porque eftes foraó muito mães antigos no tempo , dz Religiofos de S. Bento, D, loaõ veyo ainda fe-

cular,& depões muitos annos, como fe conuencedo teor de fua vida^ & do tempo, «5»: idade em que falecco. Alfi que, me- tendonos no fio da hiltoria. 4 D. loaó Peculiar íedeu de pequeno ao eftudo das letras, &: lahio eminente letrado em hum,(5«: outro direito. No té- po , q.ie leu grande talento lhe prometia maiores dei pachos, -tocado de húa luzfobrenatural, vendeo feu património, & da- do o preço a pobres, fe fahio de lua pátria, com animo de vifi- tarocorpodo Apol^olo San- tiago em Galhza. Comprida a Romaria, rccolhendole à ci- dade de Coimbra , viuia aly grande exemplo, em hum mo- do de ermida, que clle próprio fúdara Depões edificou o mof- tcirode S. ChrilVouaó de La- fões,é o qual foi o feu primeiro Prior , & depões Abbade, loaõ Cirita, como conftadaeícricu- ra do Couto,que elRey D. Af- fonfo Hériques mádou paíTar ao mcfmo íanto varaõ loaóCi- rita,& a feus Ermitães , no mes de Outubro doanno de 1137. ondeaffirma,q os Ermitães da- quella cafa tomarão a regra e- remitica de loaõ Bifpo do Por- to, fundador delia. Suas gran- des virtudes o faziaó defejar de

muitas

58

Capito/o XI III.

de muitas Cadiredaes pêra Pre- lado delias, mas por vizinha o merecco , &.leuou a Sc de Coimbra , dádolhe o Meftref- cboladoj dignidade, que dizia bem.com íuas letras . Era nef- re tempo Arcediago na mefma SèD. Tcllo filho de Odorio, & Eagenia , cidadãos da me- lhor nobreza deCoimbra^grá- dementezeloío do culto Duii- no, & augmenco do citado re- lisiofo.

S Efte, vendo em Portugal, ou de todo acabado , ou perto defeacabarjO in^itutodos Có- negos Regulares, fundado na primitiua Igreja por S. Mar- cos, & reformado dahy a mui- tos annos por S.Agoftinho, & om que floreceraõ tantos , & cão airinalados varões por co- das as Ses do ReynOjdelejando rcftauraloj comunicou cfte feu penfamencojcom outros doze varões em que lhe parecco a- chariafauor, & ainda compa- nhia, pêra o que pretendia . De alguns achamos os nomes, de outros fe pcrdeo a memoria. Foi o primeiro o noíTo D. loaó Meftrcfchola, o fegundo D. Miguel Prior da meíma Se, os mães D. Thcotonio Prior da Matriz de Vifeu, D. Odorio Prior de Santiago de Coimbra,

D. Sefnando Prepofito de fan- ta Maria Dalcaçoua de Monte Mor o velho, D. Pedro, que depões veyoa ferBifpodo Por CO, como delle efcreuemos- 6 Todos aprouaraõ feu intê- toa D. Tello, masíobre todos ihofacihcou oMeftrefcholaD. loão, oíFrecendofe logo pêra em cudo o acompanhar jcomo a experiência Ihomoftraria.Af- fencado pões em varias juncas o modo,quc nefta empreza era bem tiueífem, rcfolucráo fun- dar na cidade de Coimbra, fora dós muros, & cm íicio acomo- dado, huminofteiro com cicu- lo de Santa Cruz, onde todos viuclíem em comunidade, & na mayor reformação^ que lhe folie poííiuel , não mudando, nem o nome, nem o habito,ou eftado de Cónegos , mas m.e- Ihorandoòj&cornandoôa fua primeira infticuição, como em Icalia, & França fizcraõ oucros varões illuftrcs,a quem defejauão imitar* 7 Efcolheraõ o íício onde

encão chamauáo os Banhos del- Rey,porfer copiofo de agoas, & ficar nos arrabaldes da cida- de. E foi facil aucllo delRey D. AíFonfo Henriques : & do Bifpo D. Bernando húa quinca fua , que nclle cinha , chamada

I

CÁtal, 2. f, cap. 3,

com-

D. loãÕTecuhar, I.

5?

I

comummente o jardim do Bif- p9. Com eíles bons princípios, ôi poftas ju a ponto ascoufas neceílariasafLindaçáOjemiS.de Iunho,veíporados Apoílolos S. Pecíro,& S, Paulo, correndo oannode 1131. íe lançarão o; fundamentos do nouo moftci- ro , debaixo da inuocaçao da fíinta Cru\, & veyo a crccer tá- to , pclla liberalidade, 6<z pieda- de de fcu fundador elRey D. Affonío Henriques^que em 14 de Feuereiro do anno feguinte, puderaó entrar nelle^com a boa forte do fagrado ApoftoloS. Matthias, cuja ferta íe celebra- ua , os doze varões Apoltoli- cos, começando feunouiciado, & fazendo dahi a hííannofua proíiílaõ , os q ainda naó eraõ profeflos, debaixo da regra deS. Agoftinho , nas maõs , & pre- fençadoBiípo D.Bernardo,cõ grádec ócurlo de toda a cidade, não cabédo entre tanto de pra- zer os que fe viaó pedras funda mentacs de hum edifício taó rcligioío, & gloriofo. 8 Peraque a noua reforma comcçalTelogocõfirmada pel- lo Summo Pontifice, aindaque naquelle tempo baftaua a con- firmação dos Ordinários, quis ofanto varaõD.Tello,emcò- I panhiadonoíToD. loaõ, par-

tirfe a Roma , pêra também a volta difto fazer o íeu nouo mollciro immediato a SèApof tolica.Tudo lhe fuccdeo cotno queriaõ, Sc parece lhe mcteo Deos na mão o coração do Su- mo Pontifice Innocencio II. tãofauorauei fe lhe moltrou, taesforaõ as graças, que Ihecõ- 1 cedeo , taes os breues de reco- mendação pêra elRcyD.Aífõ- foHenriques,queindacntaõ fe intitulaua Duque de Portugal, &:'pera o Obifpo de Coimbra D.Bernardo, cuja copia traz Penoto, & como de fua data pa 7<. uc,^9 recèjforaõ efcritos aos vinte, & cinco de lunho, anno de noíTa Redemção 113J. 9 Voltarão com eftc bom defpacho a Portugal os dous companheiros, & voltarão por França , pêra aprenderem no mofleirodeS. Rufo de Cóne- gos Regrantes, cabeça da Con- gregação do mefmo nome, fi- to no Delfinado,que entaõ flo- recia em grande fantidade,as cc remonias, Ôc Ritual , que pre- tendiaõ introduzir no feu Mof teiro de fantaCruz.Fizeraõ por eílaocafiaó detença alguns mc- fes , cm que D. Tello fe come- çou achar mal , fofpeitas ouue que de peçonha,& como a gé- te daquella idade era dcmaíia-

damentc

6o

.V

Capitolo XIÍII.

íJamcntccredula,eípalhouíe fa- ma,queeniS. Rufo lhe fora d^ daij preualeccndo cntáo mães, quando o viraó morrer dentro cm poucos mefeSjdepocs deítia chegada a fanta Cruz , de húa políema,que]hercbêcou.Cou- fa hc , que fenao pode crer de Mofteiro tão fanto,&: Religio- fos tão perfeitos, nem nos (abe- mos como fe pçrfuadio Péno- to ao-efçrcuer ,fc bem diz,quc de fantqCruzde Coimbra lhe foi a informação. C^riginoufc- lhe,fcm duuidaamorte,do mao tratamento da jornadaA' con- tinuas penitencias com que af- flígia feu corpo . Acabou em fanta Cruz entre os braços dos feusjcom aquellas palauras de Chrifto Noífo Saluador na bo- ca in manus tuas Domine comen dofpiritum meum , varau verda-f deiramente perfeito, & digno pay de filhos taõ fantos , quan- tos o Ceo por todas as idades feguintes lhe foi dando. Eíleuc feu corpo na capella do Efpiri- to Santo por muitos annos, dahi foi tresladado pcra oCapi- tolo, eftà no Oratório delle,da parte do Euangclho,em fcpul- tura alta,& de pedra lafpe laura da com artificio, io Baftauaatcqui perafe .entender como na fundação

do real mofteiro de íanta Cruz tiuera fua boa parte o noílb Ar cebiípo D.Ioaó: mas fora ne- garmoslhe o que íe lhe deue, íc opriuaramosda gloria defeus mães auantejados íucceflbs . Allique^côfua boa induftria, èí fantos trabalhos , foi cm ra- to crecimcnto , que veyo a fer hua das mães notaueis comu- nidades Religioías de toda Hef- panha, ou queiramos confide- rala quanto a íàntidade,& eru- dição de feus fogeitos, ou qua- to às muitas riquezas,que pof- fuyo, ou também quanto aos mofteiros de que foi cabeça,^ teue debaixo de fua jurdição. Não ouue nefte Reyno Cathre dal , em que os Religiofos de fanta Cruz não foíTem Prela- dos, ouue muitas por Hefpa- nha, & fora delia, onde os da- ua a conhecer,& fazia eleger fua grandefama. Pudéramos aqui fazer grande Catalogo dos que chegarão a noíTa noticia, mas feria fora de noíTo intento. II Como a caía tão fanta quis oCeodepofitar nella os íâ grados corpos de tantos íantos Martyres , Virgens, & Confef- fores,quantos fe adoraõem feu nobiliílimo,& riquiílimo San- tuário. Não faiando nos que jazem por fuás cia u ft ras, & ce- |

mitenos

D.IoaoTectíliar. L

6i

micefios,aquemrcípeitaua vi uos o grande Rey D. Aftonío Henriques, corao íejà osvira gloriolos na bemaucncurança. Dezia,que pêra cèr por fanto a qualquer Cónego Regrante de fantaCruzJhebaílaua lo velo no fea coro affiftir aos officios diuinos.O que elle tambe fazia veftidonafua íobrepeliz, fem outra ditFeréça dos mães Cone

Í5

12,

fef

gos^qierora qualquer

dellei,

Nas riquezas lhe deu tan- to,quepode cíepocs fancaCruz darhúa Cathredal inteira a efi:e Reynojqualhea de Leirii , & grande parte da de Portalegre, com as rendas de Arronches.- fundar quaíi toda a Vniueríi- dade de Coimbra, a qual, como agradecida, quis por eíle refpei- to, foílcofcu Chancellario o raefmo D. Prior de fanta Cruz, Alem de ficarem cambem co- mo próprios reus',todos o; frui tos, q das letras feforaõ colhé- do em Portugal pões cora fuás dcfpezas fe pagaõ os meíl:res,q aseníinaõ, fem por iíToneíte real eonucnto fe fentií falta, ou no que toca a mageftadc com que (eleruc nelle o culto diuino,ou no bom prouimen- todefeusReligiofos,& grande- za de feus edifícios, comqnea I nobiliílima c\dade de Coimbra

fefazenuejar de todas as maes do R^eyno.

13 Coma noua reforma do citado Ecclehaílico,entroduzi- da no morteiro de íanta Cruz, começou outra de molheres, a quem chamauáo Concgas : ti- nhão a habitação ali júto,& du rafiõ por muitos annos.Guar- dafe hoje em S. Cruz húa certi^ dâoác híja daquellas primeiras profeílas, por nome D. Munia'. DeftaCõgregação cremos foi aRaiuhaD. Mafalda ,molher dei Rey D. Aiíófo Heriques, con- forme a húa memoria,q ada no mefmo moftciro. E diz. Obijt Dona Mafalda^ inclyta Regina Portugália, cóiux D. Alfôji^ Por tugali^e Registe ano nica S. Cru- éis^ Nonis Dectbris, Hs f abe de grande veneração no mefmo mofl:eiro,a image do S Crucifi- xo,qaoutradellasConeg3s,em cerca petição malencaminhada, \:cipoaciconefcitis,quidpetatis. Algus lõges temos,q a cfta nof fa cidade de Braea trouxe o Ar- cebiípo D.íoaõalgííasConegas de Coimbra , a quéfiídou caía na rua,q por cífe re fpeito fc cha ma hoje das ConegM, he a q fae do capo da vinha pêra S, Frui- tuoío , porq ale de aíli o dizc- re os antigos, efta parece a me- lhor diriuação do nome da rua.

Afaí, to, H.22.

62

Capítolo XV,

Do eciiíício/c o ouue , nenhúa memoria ha ao prefente.

CAPITOLO XV.

HE ELEITO D. IO AM

Peculiar Bifpo do Porto , i^ Arcebifpode Braga-, ohras,q fes no Arcebifpado.

A defte parti- cular efcreue— mos noCatalo go dos Bifpos do Porto o que então pudemos defcubrir do ArcebilpoD loaõ acerca daql- la IgreJ3.Heccrto,q feus gran- des merecimentos, entre todos aquelles€xcellcntes varões, fú- dadores de S. Cruz_, o fizeíáo o primeiro na opinião dos ho- mês. Memorias achamos , q a ci dade de Coimbra o hia deftinã- do pêra Bifpo feu,perfalecimé- to de D. Bernardo, mas como efteviueíTe largos annos, anti- cipoufeao tomar pêra fy a cida de do Porto , vagando aquella cadeira por morte do Bifpo D. Huí^o. Era então morador no mofteirodeGrijòdosfeusmef- mos Cónegos. O anno põtual- mente defta eleição não o fabe- remos dizer , parece foi o de

1137- porque na era de Cefar 1 1 7;. que lhe refponde, em três de laneiro hum Goto Soares faz doação ao mefmo Bifpo D.Ioaõ da Igreja de fanta Ma- ria de Manhonccllos,& lhe cha ma eleito do Porto ,comotá- bem fe aífina o mefmo Bifpo na doação, dizendo. Ego loan- nes Ponucalenjis EccUjicc humi- lis eleãuSjConfirmo. 2. Hum anno mães adian-

te, no de mil cento Ôc trinta, & oito, confirma elRey D- Af- fonfo Henriques ao Bifpo D. loaõ a doação da cidade do Por to , com palauras de notauel piedade , & animo verdadeira- mente hberal. Defte próprio anno hea doaçã , que o Bifpo fez aos frades de Cifter noua- mcnte vindos a efte Reyno, ôc moradores emS. Chriftouão de Lafões no Bifpado de Vifeu, da ermida de S. Donado jun- to ao mar, & perto davillade Cabanoêsjhojc Ouar, no Con- dado daFeirarconfirmou eiRey D. AíFonfo Hêriques efta doa- çaõ,&fes Couto ao moft:eiro de S.Chriftouão,em Outubro daqueíleanno,dura ainda hoje debaixo da jurdiçãodo moftei- rOjfegijdo o qucefcreuemfeus Chroniftas. 3 O mcfteiro contudo, q

D-Ioao^ecnliar. L

<53

oBifpoD.Ioaõ mães fauore- ceo íoi ode Grijò, aíli poríer da íua ordem^como por íua re- formação , Sc edifícios , ferem obra própria de lua induftria. Izencouo da jurdição Epif- copal dos Bifpos do Porto, em cuja Dioceíecae:il><:.cõcedeolhe outros priuiIegios,c]depoj:s lhe cõíirmou feudo Arcebilpo de Braga,&fez cõfirmar pellaSé Apoftolica, pelloc] alife tem, èi venera fua memoria como de íingular bemfeicor. Parece, que náo chegou a ter a cadeira do Poito três aanos inteiros. FaíTelhe iiaciaella Se o vitimo de Nouembro decadaauno, huanniuerlario por hu mara- uedi de ouro {vaUa quinhentos reisjqdeixou ao Cabido fobre a Igreja deS.Tyrfo deMagneco. 4 Mal fofreo a cidade doPor- tirarélhe pêra Braga tal Pre- lado_, mas não lhe foi poííiuel impedir a eleição, pellogofto, quenellaleuaua o grande Rey Dom Aftonfo Henriques. Cõ- posfecomfua perda, òí pello menos com a vizinhança tem- perauaasfaudades,quedelle lhe íicauão. Foi cfta eleição por mortedo Arcebifpo D. Payo Mendez, no fim do anno de

I' ii39.Antesdeentrar em Braga partiojcomo era coftume da-

qlles tcpos,pera Roma, a pedir o pallioa íua Santidade.Leuou cm fua c5panhia dous dos ícus ConcgosRcgrantes do mortei- ro de íant3Cruz,D. Pedro, que foi pouco depões Bifpo doPor- to, tk D. Mendo por ventura o primeiro Biípo de Lamego depões de fua rertauraçap, de q abaixo falaremos, aíTi pêra com fua fanta conuerfaçao aliuiar o trabalho de tão comprida jor- nada, como pcra pedirem ao Pontince Innocencio 1 1- con- firmação dos muitos , & gran- des priuilegios , que eiRey D. Afíbnfo Henriques tinha con- cedidos a S Cruz, Deo o Papa Innocencio de boa vontade o pai lio ao Arcebifpo, porq oco nhecia de outra vcz,q emRo ma ertiuera c5 D.Tello. Pedio- Iheo Sumo Pontiíice quizeíle acharfe no Concilio,q entaõ fe celebraua em Roma,& era o II dos Lateranêfes. Feio onoíloAr cebilpocõ aquella erudição, q fua fama pregoaua. Teuetãbé defta vez muito conhecimento em Roma,có o efclarecidoAb- badedeClaraual S. Bernardo,q por to da a vida lhe ficou grãde- mente affeiçoado,alli pello bo acolhimento , que em Portu- gal fizera aos feus Rcligiofos, como pella vida, & intentos

Pi de

BeUn itt ChronoL tm^Cbrif»

64

Capitolo XIIII.

de & outro fe parecerê mui CO. Efcreuerãofe dali por diáte, íe bem entre as cartas impreíTas do fanto íenao achaõ as doAr- ccbifpoD.loaórculpados ^as ajuntarão pêra a cftãpa, porq auiaalgúas, q vio ,.& leoo Pa- dre fr.Luis dos AnjosChronif- ta dos padres Erimitas de San- to Agoílinho jcomo o deixou cícrito cm híTia memoria 5 que eftà em noíTo poder. j Recolhido a Portugal o Arcebifpo, depões de bem entrado o anno de 1140. com os fcus dous companheiros D. Pedro , & D. Mendo, deman- dou logo a Coimbra, & ao Teu moftciro, de fanta Cruz,& co- mo lhe vinha cometida a exe- cução dos priuilegios Apofto- licos, concedidos ao mefmo moíieiroc|uis logo nas primei- ras Têmporas dar ordens em íanta Cruz aos feus Religio- fos, no próprio tempo em que as daua na lua Se o Bifpo de Coimbra^oquetambé fes ou- tras vezes , acodindo pêra iílo de Braga , por efta fcr húa das principaes graças , que o Sum- mo Pontífice Innocencio con- cedera a fanta Cruz. Naceraõ daqui alguns defgollos entre os dous Prelados^ mas como o de Coimbra cntendeo a obriga

çáo do Arcebifpo , alli por de Legado Apoílolico,como por Religiofo de fanta Cruz, facil- mente fe acomodou o quca rezão pedia.

6 DeCoimbrafcveyo o Ar- cebifpo meter em Braga, & en- tão deu mayores mollrasda- quellc fobrenome,q fua muita charid3de,fem duuida, Ihealcã- çara, ifto he o de Peculiar ^ ou Pegulh ai, como WiQ chamãoas efcrituras antigas defta Igreja, como fe diflcramos Ouilheiro, ou PaJloVj porqaíTife empre- gou no de íuas ouelhas, co- mo fe todo fora delias, 6i nada de íy mefmo. Apaícétaua as do púlpito a doutrina, no pu- blico cõ cxêplo, nasnccellida- dcs particulares a efmola , & quando aíli o pedia a ocaííaõ, não faltaua o ca ftigo. Ama- uaóno feus fubditos como a pay,& nãoacabauão defe dar os parabéns de quão acertada lhe faira fua eleição*

7 Aclaamosdellc feita memo ria em muitas doaçoês,&: efcri- turas de grande authoridade, não fera pofliucl contalas to- das , diremos as principaes. No anno de 1 142. aíTinou , & confirmou aquella celebre ef- critura em que elRey D. Af- fonfo Henriques fes feuda-

tario

D.IoaÕTeciiliar. I.

65

Catal.dos Bifpos do Porto, z-

tario a Apoílolica o fcu Reyno de Portugal, prometen- do por (jiSc (eus dclccndentes pagarlhc todos os aiinos qua- tro onças de ouro, como por muitos tépos íe pagarão. Con- íirmáocomelle D, Bernardo Bifpode Coimbra, D. Pedro Biípodo Porcoj& não D.Do- mingos,como feacha no padre fr. Bernardo de Brito, &c nos em outra parte aduertimos.Elle heíemduuida também o Ar- cebiípo deBraga^q firma na car ta do mefmo Rey D. AfFcnfo HériqQesjporqfazafabera to- da fua pòrtcridade, como no capo de Ourique ellando pcra dar batalha aos cinco ReysMou ros,lhe apareceo ChrilloNoflb Saluador crucificadOjíS: o macs que naquelle notauel teftemu- nhofe conte m. He íua data em Coimbra a 8. de Outubro do annode 1152,

8 Sagrou,depoesdeeftar em Braga, fucceí!|uamentc quatro Bifpos do Porto, D. Pedro Ra- baldes feufobrinho, D. Pedro PitoéSjD. Pedro Senior^D. Fer- não MartinZjtambem feu fobri nhojcfte vitimo na era de Ce- far i2.i4.annodeChrifto 1176. Sagrou maes a Igreja de S.Ioaó deTarouca,mofteiro da ordem deCifter noBifpado deLamego,

o primeiro,q ouue ncfte Rey- no daquellaReformação.VeíTe de hiáa pcdra,q eftá na porta da nieínia Igreja , & tem a leitura feguintc.£r4 1Z07. decimo qiún to Kalcdaí Ittnij^dicata fuitEc- clejia isiaper manus lomis Bra- charenfis Jrchiepifcúpi , tf Pe- tri tertij Portucahnfis , i^ Me- nendi Lamecenfis, Í5I' Gondifalui Fifenfis, Epifcoporú.O anno de Chriíí:o,querefpódeaeri:a era, he o de n 6%

9 Achoufe outro fy o Arce- bifpo elRey D. AíFõío Héri- quês no cafamêto defua filha D. Mafaldaj& afliílio a elle na cida dedeTuy ódefetratou.Efcreue DuartcGaluão na Chronica do mefmo Pvey,qfalaraõa D.Aííó fo Henriques pcra eftc cafamê- to.por parte do Conde D. Rai- mundo de Barcellona, fobre o qual vieraõ acõcordar^q o C5- de folie a cidade deTuy^onde o efperaria elRey,& ali teriaõ vif- tas ^& aflentariaõ fobre o cafa- mêto o q parece íle a ambos. Partio elRey D. Affonfo pêra Tuy,ac5panhado de muitos fe- nhores Hccleíiafticos, èc fécula resdoReyno,leuou conlígo a Rainha fua molher,e fuás filhas. Chegou aTuy a dez do mes de Ianeiro,& dahi a oito dias o Conde D.Raimundo com mui

Chrt. dei Rcy D.

ria

F5

luzida

é6

CaptoloXIIIL

I luzida gence. Sahio elReya re- cebeIo,acompanhado dos gra- des do Reyno. Hiaõcotnclle o noflo Arcebifpo de Braga D* loaõ, D. Mendo Bifpo de Lamego, D. Ilídoro Bifpo de Tuy, D.Pedro Códc de Aftu- rias , o Conde D. Ramiro , o Conde D. Vafco, D. Gonçalo de Souíà , D. Pedro Paes fcu Alfers , & outros ricos homés^ & cauaieiroscom muita gente. Quando o Conde chegou, cl- Rey o reccbeo com muita hõ- r3j& gazalhado, trazendoo cõ- íígo ate o paço: aly defcaualga- raó , & foráo logo pêra onde cftaua a Prainha, & fuás filhas, de quem o Conde foi bem re- cebido.

IO Ouuc no paço grande feflaaquelledia, em que entra- rão mafcaras,& danças.Comc- çoufe a tratar o caíamcnto da Infanta com o filho doCondc, & íe effeituou aos i^.dc Janei- ro , no qual dia eílando ahi jú- tos muitos fenhores,Prelados, &caualeiros de húa parte, & da outra: foi lida à Rainha & infantas húa procuração de D. Raimundofilho do Condc,em qucdaua poderá fcu pay,pera- que em fcu nome pudeíle rece- ber por molher a Infanta dona MataldafilhadelRey D. Affó-

Chronie, í

fo Henriques. Vilta a procura- ção elRcy tomou fua filha pcl- la maõ,5í aleuou diante doAt'^ cebilpo de Braga D. loaó, o qual a recebco com o Conde, por virtude da procuraçâo,que tinha, & logo elRey lha entre- gou peraque a leualle cõfigo ao lugar aonde íe auiaó de celebrar as vodas. O noíTo Arcebifpo de Braga a acompanhou, & ou- tros muitos fenhores. II Bem fabemos,qDuar

te Nunez de Leaô contradiz cfte cafamento, & o tem por ■ddReyài»^ £ílfo,dizendo, que nemelRcy \1f'"'^' D.Aítonlo Henriques teuetal foi. ^6, filha, nem que a tiaeílc a cafou em Barcelona; trazendo algijas conieituras pcra prouar cfte intento. Porem facilmente fe conuence com a eícritura, que eltá no archiuo da defl:a Igrc ja de Braga_,no \\\.\xofidei a qual traz o Chronirta frei António Brandão, & com ella, & outras rezoês mui folidas confirma a verdade dcftc cafamento. Não deuiaelle durar muito, & por ventura que não chegaria aíc confumar, por rezáo da pouca idade da Infanta, & fua morte, qdahia pouco tempo fobre- ueyOjOu por outras rezoés,quc com juizo aponta o mefmo Chronifta. i

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l

I

cerco, & tomada de Lifboa,an no 1 1 47. iV ali benzeo os cemi- térios em qauiaõ deter enter- rados os caualeiros , qae mor- riaó nos combates, & as pedras, que nos mefmos lugares fe lan- çarão nosfundamétos das Igre jas de S.Vicente deíora, & fan- ta Maria dos martyres , pello arande Rev D. Aftonfo Hsn- riques.ChamouaBragaaCon- cilio Prouincial alguns dos Bif- pos íeus fuffraganeos anno 1 148. perfente o Legado de Eu- génio III, pêra com cllesdeli- bcrar íobre a ida do Concilio de Rems^a que eraó chamados pel loraeímoSummo Pontiíicc. Deuia íer a reíoluçáo a golto de Eugenio,viftos os grandes pri- uilegios, que naquelle Agofto concedeo ao noílo Arcebiípo, ^fualgreja, confirmandolhe de nouo todas as graças de Paf- choai, Calixto, Innocencio, & Lúcio, fegundos do nome, &: as doações feitas por elRcy D. Aííonfo Henriques, &: macs Reys feus anteceflores, nomea- do na bulia propriedades fitas nas villas de Trancoío, Marial- ua , Cernancelhe , & outras da Beira.

13 Eraõos Bifpadosfuf-

fraganeos naquelle têpo, Tuy,

Orenre,Lugo, Aílorga Mondo nhedo, Bretonha , Vallabria, C.amora^Vifeu, Idanha,Lame- gOjCoimbra, Porto. Porédos que íe acharão no Concilio a q chamaua o Arcebifpo, pelía o- cafiaõ,que diíTemos/ò acha- mos nomeados Odorio de Vi- feu, & Mendo de Lamego. Odorio heaquclle mefmo^que acõpanhou a D. Tello na fíjda- çáo do real mofteiro deS. Cruz, ^ranà, donde foi tomado peta Bifpo ^'«'■•"•^• deVifeu,oprimeiroque teuea- quella cidade depões de ganha- da aos Mouros. Mendo també foi o primeiro de Lamego, re- ftaurado à dignidadcEpifcopal, antes da qual reftauração,aíIi húa,como outra Igreja, per ten- cia5 a Coimbra. 14 O Arcebifpo D. loaõ foi o que diuidio as rendas deíla Igreja, que ate ali eraó comuas entre o Arcebifpo, ^ Cabi- do , cometendo efte ncgoceo a dons Arcediagos feus, Mendo Ramires, & Pedro Odorio , os quaesdiuidindoas emtrcs par- tes jderaó duas à meza Arcebif- pal, a terceira à Capitular. A ef- critura fc fez adpreces tnclyti Regis Alfonfi ^pyfsimipatris pa trU , por rogos do efclarecido Rey D.AíFonfo,amorofiirimo pay da patria,no anno 1 1 (íj.

morai;, fol.^. verfo.

F4

ij Ia

68

Ca pi tolo XV.

e.iztui.

'n

10.

j i; na vida do Arcebil-

po D. Payo deixamos efcrico como em feu tempo entrarão nefte Reyno os caualeiros Té- plarios^a quem elle dera o hof- pital de S. Marcos, &: rendas de que pudeíTem viuer. Agora o Arccbifpo D. loaõlhe largou também a dizima,que fe lhe pa gaua nas feiras da cidade de Bra- ga,& Teus arredores, como coi- ta do liuro dos Meftrados, q fe guarda na torre do Tombo. A pontafe ali o anno defla mer- cê , & diz a efcriturafoi no de

\6 Outras muitas obras res ncfta fua Igreja eftegrande Pre jado, &pera ellas teue poíTcs, anirnOjiSc tempo,porquc a go- uernou muitos annos , fe al- guns com grandes moleílias, q lhe caufou o Arcebifpo de To- ledo D.BernardOjpretendcndo a Primazia de Hcfpanha, pró- pria derta Igreja , mas debalde, pella generoíidade, com que o Arcebifpo fe lhe opos,naâ obf- tante a valia, que entaõ tinha com osSummos Pontiíices^& authoridade de Legado, com q fe fazia temcrj& tefpeitar: Mas difto diííemos o que bafta- ua no tratado da Primazia. 17 Entre eftas obras, &

os muitos annos , que ja

tinb;

de idade,veyo a cair cnfermo,de | modo , q nos oito vltiraosan- no5 íe naóleuantou da cama, fe- não em braços de feus criados. Faleceo compridos jàos cento de fua idade, & recebidos todos os Sacramentos da Igreja, cm três do Dezembro de anno de 117J. tinha gouernado3<í. Se pultaráno na fua , onde totalmente fe perdeo a memo- ria de feu jazigo . Concorre© nos annos em que foi Arcebif- po, com os Põtiíicados do Pa- pa Innoccncio, Celeftino, Lú- cio, todos feguntJos do nome, Eugénio III. Anaftalío III I. Adriano IIIL& Alexandre III. Viftor IIII. Pafchoal IlI.Calix- to IIII. Era Rey de Portugal D* Aífonfo Henriques.

CAPITOLO XVL

A M THEOTONIO

primeiroPrior doreal Cáutto de S.Cru^ deComhra , natu- ral doArcebifpado de Braga,

Aceo o gloriofo S.Thcotonio na comarca de Va- lença, na frciguc zia de Ganfcy

na aldeã, que hoje chamão Tar

dinhade

S. Theotonio.

70

.13, «.4

dinhaJcjiio íicio onde ha pou- cos aiiiios íe edificou Iiúa capei la, com inuocação do melmo íanto,& fe cre íer o próprio on demorarão íeus pays OuecOj & Eugenia. Aprendeo as pri- meiras letras em Coimbra, de- baixo da dilciplina do grande feruo de Deos D. Tello,de que falamos na vidado Arcebif- poD. loaó: encregoulho íeu tio D CreíconioBifpo da mef- ma cidade,que o tinha em caía, ôc hia criando pêra o que Deos Noílb Senhor ao diante o tinha deftinado.

i Morto pellos annos de ro5?8.oBiípoD.Crerconio,par íou o fanto de Coimbra a Vi- íeu, onde quaíl todos os Cléri- gos daquella Igreja craõ feitura de feu tio, por ainda naqlle tépo pertécer a cidade de Vifeu aoBií pado deCoimbra,a que depões dcfua dertruição pellos Mou- ros , a tinháo encomendado os Sumos Põtiíices, ôc Princep^s defteReyno.

3 Aqui em Vifeu íe ordenou de todas as ordens facras,5<: ve- yo aíer taò eftimado,q os da ci- dade© importunauáodecõti- nuo peta feu Prior,ajudandoos grandemente o Bifpo de Coim bra D. Gonçalo , que fucedera a D.Crefconio. Mal vinha no

quelhe pcdiaó S. Theotonio, mas porque entêdeo íeraquel- laa võtadediuina. Ouuedefe acomodar aos rogos, ôc impor tunaçoés de tátos. De cada vez os da cidade fe cõtentauao mães de fua eleição, & elle , que cada dia fe fazia mcrecodor dcma- yores dignidades. Tudo òque tinha era de pobres, ôc peregri-^ noSjchamauáo comummente a íua caía ofeyo de Abrahao ^ por ler mui femelhante o aga- zalhado, quenella fe fazia aos pobres , ao que naquelle lugar ^.^^^j^^ fez o fanto Patriarcha ao pobre «,22, Lazaro, fegundo fe refere no fagrado teifto.

4 Enuejaua o Demónio ver emtaúboa opinião ao Santo, pr;u'ndia defacreditalo,aíIi os q de preíença o conheciáo, como com os a que tinha chegadoíua íama.Eícolheo pêra ifto duas liiolheres , que com preteiftode piedade,o bufcauao com frequência, ate que cada hiía quando vio melhor oca- íia5,ouue de declararlhe feus m* tentos . De ambas fahio vitorio fo , & nas mãos da fegúda^ por lhe não fer poíTíuel efcaparlhe de outra maneira, deixou parte de feus veftidos, fejà não foi o que do fanto Patriarcha lo- feph conta fanto Ambroílo

lib.de lo' feph. Pa-

nao

70

CapitoloXVL

não querer leuar conílgo^ nem feruiríemaes decoiiía em que a deshoncfta ouueíle cocado^co ino itifccionada com o veneno da luxuria.

j Por fc defuiar de feme-

Ihantes encontros, & muito mães pella dcuação,que fempre teue aos fantos lugares , aonde Chrifto Noílo Redemtor vi- ueo, & morreo, encomendado o feu Priorado a hum Sacerdo- te grande feu amig05& de vida exemplar, por nome Honório, íefes peregrino alerufalcm.Bé cuidamos iria em companhia de leu meilireD. Tello quando acompanhou ao Arcebifpo D. Maurício cntaó Bifpo de Coim bra, mas como dcfta peregrina- ção nos não coníia pontua- hdade o tempo, não oufamos affirmalo.Foij viíítou os fagra- doslugares,tornou aPortugal, &aVifeu, onde tãtoqotiue- raõ os daqlla cidade,Iogo o tor- narão a importunar côo cui- dado da mefma Igreja. Ellc po- rem recolhendoíe na própria caía com Honório, deixandoo como principal da dignidade, feruia deCura,ocupando- fe todo na pregação do Euan- gelho^& doutrina dos mães ru des,de que tirana nocaueis pro- iicitos erpirituaes,& grande re-

formação dos coltumes. C Veyo nelTe tempo a ci-

dade de Viíeu a Rainha Dona Tareja viuua do Conde D. Henrique,a qual como Prince- ía taõcatholica,pordar cxéplo a feus vaíTaloSjCuftumaua cada diaouuirmiíTaem publico na Igreja mayor da terra onde fe achaua. Indo pocs em certa o- calíaõ pcra eltc mcfmo eíFeito a de VifeUjComo tiueíTe neccf fidadc de tcmpo,mandou pedir a S.ThcotoniOjq na fanchriftia íepreparaua pcra dizer miíía, quiíeíiè por aquella vez apreíTa la,viíla fua ocupação. Dizei (rei pondeo o fantojá Prainha , que amilía ha defer de outra ma- yor fenhcra que cila sCdiziafe aquelledia.de NoíTa Senhoraj & que não lofreeílas prcfias,q fe tem neceíTidade de tépo, em fua mão efta irfe quando for feruida. Efpcrou com tudo a Rainha, òí o fanto não alterou nada em feu coftumado modo de celcbrar,ante^ foi continua- do com grande pauza, & deua- ção,da qual compungida aCa- thclica Princeíâ,tendoporgrã de culpa a que cometera cm lhe mandar tal recado, na mef- ma fanchriftia lhe foi pedir per dão, comos olhos arrazados em lagrymas.

Tfí-

S. Theotonio.

71

7 Ficara no^ fagrados lu- gares de leruíalé^o coração a S. Theoconio , mães Ihelahiáo da memoria 35 coníolaçoés ef- piricuaes , que ali recebera do CcOjmorria por outra vez tor nar a elles: em íim náo poden- do niaes íoírer taõ grandes fau- dades/e ouueíegúdavez deem- barcar pêra letuíalem . Quilo Deos honrar, & acreditar nefta viagem , pêra que os que com clle hiáo na meíma nào conhe- ccílcm o preço de íuas grandes virtudes. Foi o cafo,que em cer ta paragem do mar Mediterra- neo^os tomou húataõefpanto- la tempeílade de ventos , chu- uas/^-*: toruoes,qne totalmente fedauáojà todos por perdidos. Scguia,no raeyo defta affliçaõ,a nào pêra onde quer que a lan- çauaõ os ventos , $c as ondas, monllro marinho de hor-

riuel grandeza: hnpíalho ainda

c mayoraos naurragantes o me-

do,& criao que lo elperaua co- lher a nào degeito pêra os tra- gar. Animaua entretanto Saõ Theotonio aos miferaueistten- doos a todos poftrados , cha- mando pella diuina mifericor- dia^q os Uurafle daquelle nau- fraciio. Tudo foi hum, acabar ofantodeorar, & toruarenfe os ventos, & mares a meíma fe

renidade , náo pouco , <S«: pou- C0jcomocuftumáo,mas íubi- tamcte,&: de repete, demaneira q veítigios apareciaó da té- peltadepaílada:tinha5na os pa( fageiros niaes por fonhadajq verdadeira. Leuátaraõentaõas mãos aoCeo5& vos emgrira,da uáo graças aoSenhor,ô«: jútamê te a leu kruo, & chamandolhe lanto, & mil vezes fanto,con- feíTauaõ receber de fua maõ as vidas,a nào, & quanto nella le- uauaó.

8 Emlerufalemfe recolhco com os PP. Cónegos Regran- tes , a cuja conta cílaua a guar- da do fanto Sepulchro •• roga- raõno pêra ali ficar por feu có- panheiro,& como eftes eraõ íeus mefmos deíejos, aceitou o ofFerecimenco humilde ac- ção degraças,& com protcfta- çaójque naõ merecia viuer en- tre tantos,& cão notaueis íer- uos de Deos. Acrecentou po- rem fcrlhe neceíTario tornar a fua pátria pêra diípor de huma Igreja , que lhe eftaua encomé- dada,&dar ordem a venderfc feu pacrimoniojcujo preço dc- terminaua gaftar na fuftêtação dos peregrinos daquella íanta Cidade. Ordenauaaííi Deosef- ta refolução do Santo,pcra por eíle caminho dar à execução

íua

72

Captolo XVL

fuadiuinaprouidencia , o que de S. Theotonio ncíla vida ti- nha dccerminado. 9 Chegou a Portugal na-

cjuella meíma ocaíiaõ em que o feruo de Deos D. Tello trataua de fundar o mofteiro de fanta Cruz de Coimbra, & como quem conhecia bemaS.Theo- tonio,elle foi hum dos primei- ros a quem communicoUj & rogou pêra efta fautaempreíã. Vinha mal o fanto em aceitar ferlhe companheiro,como quê tinha poftos os olhos no mof- teiro do fanto Sepulchrojonde deixara toda fua afFeiçao. Mas como efta era a võtadc diuina, não lhe pode refiftir,& aíTi ou- ue d*acõpanhar na fundação de fanta Cruz a D.TelIo, & fer o primeiroPrior daquella illuf- tre,5^ fanta comunidade. IO Foraõrariílimososexé- plos com que em todo o géne- ro de virtudes,6«: por todos os annosde feu gouerno, refplan- deceo. Era o primeiro no coro, nos officiosde humildade , no | feruiço dos pobres, no gazalha- dodos peregrinos: em íim em tudo o que íc podiadefejar no mães fanto, & humilde Religio fo do conucnto. Rcfpeitauáo- noelPvey D. AíFonfo Henri- ques, & a P.ainha D. Mafalda

fua molher,como a pay :pediáo lhe de giolhos a benção,& dei- la fe valiaó como do melhor re- médio em fuás mayores enfer- midades.Sò com o tocar oRey, farou húa ves de húa febre peri- go ia , & que o tinha grande- menteapertado^o que também fucedeo a Rainha eftando de parto, fem poder por muito tempo lançar a criança, dando- Iho Deos felicifsimo, logo que S. Theotonio fes fobre cila o íi- nal da Cruz. Dcucnfe a fuás o- raçoês as milagrofas vitorias, que dos Mouros alcançaua o mefmo Rey.Por cilas venceo a batalha do campo de Ourique, tomou Leiria,Santaré, Liíboa, outros muitos lugares, que cftauão em poder dos Bárba- ros,& coma felicidade, &faci- lidade,que contaónoírosHifto riadores.

Pagaua o religiofo Prin

II

cipe as oraçoés,que por ellc,& pcUos feus fazia o feruo do Sc- nhor,cõ applicar ao moftciro de fanta Cruz algíías das terras ganjiadas , òc com outras am- pliflimas doações , quedo pa- trimónio real lhe fazia. Fíjdaua alem dillo outros morteiros do mefmo inílituto, como foi o de S.Vicente de Lifboa,pcra cu ja fabrica mandando de Coim- bra

S. Theoíonio.

71

braaD. Honoriohú dos fun- dadores de íantaCruz com boa copia de dinheiro^ toi no cami- nho catiuo dos Mouros, & leuado a Eluas, que ainda entaò c!l:3ua em íeu poder. Soube S. Theotonio do delaítre,& poí- to em oração com feus Rcli- gioíos,peraqDeos lhe reíticuií- íe o coniDanhciro. Subitamen- te, & íem outra força o larga- rão os MouroSjCom mães do- ze catiuos, & todo o dinheiro, que auia quinze dia^ Ihetinháo tomado.

li Trcsannos antes que

Dcos o leuaíe pêra íy, rcnúciou o Priorado de ÍantaCruz, & deu à quelics Rciigiolos cm feu lugar a D, loaõ Theoconio/eu fobnnho, & feu grande imi- tador no excrcicio das virtu- des . Ocupauafe então de dia, &denoice, na contemplação das diuinas perfeições , todo porto em cxtaie , & fem dar das coufa? da vida. Quando tornauaem fy,vinha ainda tão roubado dos goítos do Cco, q nem os olhos íabia tirar delle, acè que, mães confumido das faudades de ver a Deos , que dos annos , ainda que pafla- ua dos íctcnta, lhe appareceo o ApoíloloS. Pedro, &: oconui- dou para breu em ente lhe fcr

companheiro na gloria. Mof- troulhe, alem diílo,huafermo- ia efcada , qye do moíleiro de tanta Cruz chcgaua ao Ceo, pella qual flhc dizia )^ fubinaó os íeus Rehfziolosà bemaucn- turança, depões de bem purifi- cado; no exercício da mortiíi- çáo,que tanto entreelles lepra- 1 ticaua.

13 Em fim chegados os 18. de Feurciro em húa ícfta fei- ra, a hora de prima, deu a alma a feu Criador , correndo o an- no de noíla redenção 1162. como temos por mães proua- uel, ficando íeu corpo fobre a cinza, 6c cilicio,em que fe man- dara lançar,toruado retrato da aloria. Achoufe em o enterra mento elPvcy D. Affonfo Héri ques,&yizia,q por mães , q íc apreílaflem em dar feu corpo a terra,primeiro fua alma goza- ria de Deos.

14 Nâofoipoííiuclcnterra- réno , fenão dous dias depões, tanta foi a gente,q acudio a ve- neralo, «S: tocar nelle feus rofa- rios.Collocarãno no Gapitolo do mofleiro, onde debaixo do altar efteue muitos annos,atè q no de 1630. opaííáraõ os Reh- giofos a outra fepultura de mayor riqueza , & mageftade, lauradade jafpcs fobreomef-

mo

74

Capitolo XVII.

mo alçar do Capitolo, pondo- Ihe do lado do Euangdho , i>a^ parede, que lhe reíponde, & çpjdh da meíma obrada do fcruo de Decs D.Tello:& da Epifto- lajadolegundo Prior de fanta Cruz-,& íuceíTor do Tanto, D. loaóTheotonio. DeS. Thco- conioeícrcuéas Chronicas do Cõde D.Henrique, &d'clRey D.Affonfo Henriques. Fr.Dio CO do Rofario, Sandoual,fr. António Brandão, &: particu- larmente huReligiofo Cçne- go Regrante de íanta Cruz feu contemporaneOjde qué toma- rão todos : tem reza particular nosBreuiarios deBraga^Euora, òi lanta Cruz.

CAPITOLO XVII.

O B.D. GODINHO 69.

Arcebifpo de Braga.

Vue nos tem- pos antigos en- tre as villas de Barcellos , & Efpozéde dei- te Aicebirpadojhummofteiro de Cónegos Regrantes,chama- ÁoS. Saluador do Banho , hoje comenda de Chrifto ,em que floreccraú grandes Ternos de Deos. De muitos ha memoria.

òí (cccníeruãocxéplos de no- taucl edificação no cartório do real mofteiro de íanta Cruz de Coimbra ; porem de nenhú mayorcs, que do B- D. Godi- nho^Arccbilpo, que veyo a fer dcfta cidade, navacancede D. loaõ Peculiar, aííi mcímo rc- ligiofo d*aquellc habito,íegúdo o q acima deixamos relatado, z Naceo o B . D. Godinho

nelle Arcebifpado , & ao que parece, naõ muito longe deBra ga : íeus pays foraõ nobres , & bem arrendados. Não lhe íabe- mos mães filhos , mas nefte lhe recompenfou Deos ven- tagem tudo o que puderaõ de- fejar no numero dos outros. De fua mininice nos conlla a paílou debaixo do emparo da Virgem Senhora nofla,a quem tomou por máy logo naquel- les primeiros annos :ô>:dadif- ciplina do Arcebiípo D. loaõ Peculiar. Mal achaua no mun- do, & entre íeus parences,com- modo pêra viuer conforme aos confelhos da Icy Êuangelica, onde o leuaua oferuordefeu efpirito , & a boa doutrina, & exemplos do ArcebifpoD. loaõ. Determinou entrar em Religião , Sc deftas , na que mães via floreccr , cm virtu- de^ ÒC fantidade, qual entaõ

era

B. D.Godinho.

7S

era a dos Cónegos Regrantes dcS. Agoftinho.-adipor cfta- lern por aquelles tempos Teus mofleiros nos primeiros fer- uores deíua fundação: como pot fere habitados de fogeito; pclla mayor parte entrados na idade , & quetinhão efcolhido aquelle infticuto , nao por re-' mediode vida, mas por defen- gano da vaidade,dequem fo- giáo.

3 No mofteiro teue me- nos,q deliberar. Viíínhaua c5 o do ^<:Z«/;(?: conhecia os Reli- gioíos , queaUi morauáo: edi- ricauaónofeus exempIos,con- fundiao fua penitencia,& com húa violenta luauidade o conf- trangião afazerfelhe cõpanhei- ro. Logo em nouiço deu argu- mentos do que viria àferpello tempo adiante. Alli fe lhe pe- garão os coftumes, & cercmo- niasdaRehgiaõ, como fe na- cera Cónego Regrante. Não a- uÍ3 outro macs modefto,maes cóporto,maes humilde, & em procurar as mortificações do corpo, maesferuoroío.Todo o têpo,qlhefobejauadas obriga coes precifas da cafa^gaftauajOU no Coro, ou naCcla,lendo^me ditandojOrando. Nenhií lugar tinha nelle a ociofídade , trazia fempre na boca , & na execu-

ção aquella fentença de que faz j menção Caíliano. Que a bum Rdigiofo ocupado , tenta humfò demónio , a humociofo^ muitos. 4 Neftes fantosexercicios viuia,quando os fcusConegos, vagandolhe aquelle Priorado^o elegerão por ícu Prior. Logoíe vio, fe deixou fentir o ftui- to de tão acertada eleição. To- dos procurauão aíTcmclharfe- Ihe por virtu de , todos retratar em fy feus exemplos por imita- ção. Frequétauafe o Coro en- tão mães que nunca: guarda- uafe o filencio com tal rigor, que fe tinha por facrilegio di- zer qualquer palaura fora de tempo : não fe fabia , que cou- fa era communicar por palrura na prefença , ou por cartas na aufencia,a feculares. Taõ fecha- da viuia aquella bemauentura- da comunidade ao comercio mundano.

j Ate qui fomos feguin-

doaChronicad'elRey D. Af- fonlo Henriques, & a tradição, que de velhos a moços fe vay conferuando entre os Padres Cónegos Regrantes da Con- gregação de fantaCruz. No q daqui por diante acrecêtão nos fera forçado fazer algum exa- me 5 peraq melhor fe conheça a verdade , & fe tenha perfeita

Itb lo.inj

Gz

noti-

7^

Capitolo XVIL

noricia de quem foi o noíTo B. D. Godinho . Dizem pões» queeílando gouernaiidoo feu morteiro doBanho,com aqucl- la inteireza, ôc perfeição, que arriba acenauamos , por dar híí ral Prelado aos Religiofos de S. Vicente, cujas acções, ^acref- ccntamencos trazia tanto nos olhos eiRey D. Affonfo Hen- riques , o obrigou , fem lhe ad- m itir elcuza algúa , a aceitar a- quelle Priorado ; no qual aíTi fe auantejou íobre fy mefmo, q o gou erno do Banhojhe ficaua quando muito em nouicia- do ,do quealy foi. Três annos, 6c não mães , o fazem Prior de S. Victnte,náo porque o gran- de Rey,ou os Religiofos fubdi- tos , íedeícontencaíTem de feu gouerno , mas porque vagan- do o Bifpado de Lamego por morte do Bifpo D. Mendo ja- quclle Cabidoj conhecendo o preço de fuás virtudes, o ele- geo por íeu Bifpo, &c reteue os três annos feguintes , ate fer iTiudado pêra cfla Primacial, na vacante de D.Ioaó Pecu- liar.

6 Nada duuidamos feria

D Godinho Prior de S. Vicen- te, tomado pêra aquelle cargo, do molleiro do Banho, & dahi , eleito em Bifpo de Lamego,

porque aíli o eícreue aquellc religiofo Cónego também Re- grance,&: feu contemporâneo, que pellos annos ii88.reynan- doD. Sancho o primeiro, ef- creueo oRclatorio da fundação dorealmofteirodeS. Vicente de fora.Porêq efte foíTeo nof- fo B. Godinho não parece po- de eftar com a verdade da hif- toria.

7 Pêra procedermos cla-

ro na proua defta verdade, he neeeíTario aduirtir ( acima o efcreuemos ) como faltando por algum tempo a dignidade Èpiícopal na Igreja de Lame- go pella entrada dos Mouros em Hefpanha, & aíTentOjque naquella cidade fizeraó alguns mães poderofos, com titulo de Rcys : o grande D. AíFon- fo Henriques depões deganha- da outra vez aos bárbaros ,a ref- tituioa fuás antigas preminen- cias dandolhe por Bifpo a D. Mendo religiofo, ao que pare- ce, de fantaCruz de Coimbra. Achamos fuás primeiras me- morias em humConciHo,que em Braga celebrou o Arcebif- po D.Ioaó Peculiar,pellos an- nos mil, & cento, & corenta & oito, como era lua vidadif- femoSj&vãocõtinuandoatè o de mil, & cêto & fetêta Sc três,

e m

f.iy.M.lj

S. D.Godinho,

77

Brãdlin.] ,11' c.^

Brãd liu, IZ.CJ

cm que entrou fcii fiicceílor D, Godinho, ãiVi mefmo Cónego Rcgrantc,& Prior de S. Vicéte detora_, o qual vai cõfirraando as eícrituras reaes de íeu répo, ate o anno 1 189. em que Deos o leuou pêra ly : porq no mef- mo aniioachamos confirman- do na doação/] clRey D. San- cho I. fezdaviila d'Aluor no Algarue, ao moftciro de íanta Cruz de Coimbra, onde entaõ eftaua, a D.Martinho eleito de Braga, a D.NicoIao Bifpo de Sylucs,aD. íoaõBiípo deVi- feu:a D. Godinho Biípo de La- mego ,aD. Martinho de Co- imbra^a D. Soeiro de Lifboa, a D. Payo d'Euora, E logo no mefmo annoachamo? também vaga a Igreja deLamego,na doa ção, que Egas AíTonfo gouer- nadorda comarca de Lamego, & fua molher D. Sancha Paes fazem de certas pefqueiras no rio Douro ao Abbade de S. loaõ da Salzeda , mofteiroda ordem de S. Bernardo. Con- clue a doação. Faãa charta era izzj.Regnante Saneio^ S.R&g' ni eins anno ^ quando capta fuit Ciuitds Syluis^translato de Eplf copam Portiicalenji in Br acha - renfem Metropolim^Martino Ar chiepifcopo^Sede Lamecenjiija- cante,iç.Ç^onáQ a era 11x7. ao

anno de Chrifto 1185». Entra logo depões de D.Godmho na igreja dcLamegoD.Ioaõ_,& vai gouernando até o anno 1194. òc deite poi diantecntra D. Pe- dro, &c.

7 A ííentado aííi o tempo, em que D.Godinho entrou em Lamego.,&oqdurou naquella preiafia,reíU moílrar, que nao podia de nenhú modo fer o noílb B. D. Godinho de Braga. E feja a primeira demoílração, acharêfe D. Godinho áç, Lame- go, & o B. D. Gí)í//W;odeBraga cúfiimando ambos no mefmo tépo asmefmas doações Reaés com outros Bifposdo Rcynd, como então era coftume , & o foi muitos annos adiante. Não ícrà poííiuel fazermos aqui ção de todas, eícolhamos duas, das quaes ícja a primeira^ aqueelRcy D. Aftonfo Hen- riques fez a D. Payo eleito Bif- po d'£uora,da dizima dos quin tos,que naquella cidade íe lhe pagauáo . Faãa charta menfe Decembri era 1x2,3. que faõ an- nos de Chriíio iiSj-. Confir- mão o mefmo Rey D. Affon- fo , D. Godinho Arcebiípo de Braga, D. Martinho Bifpo de Coimbra, D. Fernando Biípo do PortOjD.Ipaõ Bifpo de Vi- feu , D. Godinho Bifpo de La-

Brãdjift, 12 <•. 8.

Cf 9.

ArchiHo dd Se d' Enora líH i.doi ori- ginaespag 2.

BrãdJJu. 11.^.37,

G3

mego

78

Capitolo XVIL

ArchiHo \de SantA Cru^ Im. dos tefta.

Num. 6.

Imcgo, D. Soeiro eleito ác Lil- boa,& outros Eccleriaftiços,& ofíiciacs da ca fa Real. Seja a fe- gunda , a em que elRey D.San- cho o I. tendo pouco macs de hiá mes de Reynado, confirma a fanta Cruz todas as mercês, que feu pay D. AíFonío Hen- riques lhe tinha feito . Faóla chanamenfelanuario era 1x14. que faô annos de Chrifto 1 1 86. Confirraaó o mefmo Rey D- Sancho, a Rainha D. Dulce fua molher, D. AíFonfo feu filho, & as Infátas D.Tareja,& D.Sá cha allí me imo fuás filhas. D. Godinho Arcebifpo deBraga, D. Martinho Bifpo do Porto, D. Godinho Bifpo de Lamego, D.Ioaõ Bifpo de Vifeu,D.Mar tinho Bifpo de Coimbra. D. Payo eleito d" Eu ora,D.Soeiro eleito de Liíboa,& outros mui- tos fidalgos.

8 A fegunda dcmonftração, com que fazemos euidcnte fe- rem os dous Godinhos de Bra- ga, & Lamego não o mefmo, mas diuerfos he, que o D. Go- dinho de Lamego durou mães naquelle Bifpado , que o noífo B. Godinho nodcBraga,alcã- çandoo de annos . Tão fora ef- teue de virdaquclle, pêra efta Primazia. Acima deixamos a doação da villa d' Aluor feita a

fanta Cruz por elRey D. San- cho o l. onde confirmarão en- tre outros D. Martinho eleito de Braga, immediato fucceífor doB. D. Godinho^ & D.Go- dinho Bifpo de Lamego . E íe alguém nos quifer arguir , que cm Lamego poderia auer dous Godinhos , fucelíor do ou- tro, dos quaes o primeiro viria pêra efta Igreja, & íeria o noílo B. Godinho ^ rcfpóderlheemos. que importaua primeiro ver, éc confultar o cartório da Igre- ja de Lamego,& o Catalogo de íeus Bifpos, onde não anda mães, que hum Godinho fuc- ceflor de D. Mendcjôt: antecef- for de D. Pedro, fegundo orde- namos acima os meímos Prc- lados.

9 A tei ccira dcmonftração defta verdade he tomada do re- latório, q pellos annos de 1 1 88. feefcreueo da fundação do real mofteiro deS.VicêtedeLiftDoa. Conta ali o Author ( foi tgmbé Cónego Regrante & contem- porâneo de D. Godinho Bifpo de Lamego), & vai nom cando pella ordem da fucceflaõ todos os Priores daquella cafa, ate o anno em que cfcreuia, Roar- do, Otha , Gualthcro , Dauid, Cuifuccefsit in prior atu ( faõas fuás mcfmas palaurasj quidam

Cano-

Num. 6.

3. D. Godinho.

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I

Canontcus de Balneo , nomine Godinitts^quipofi cxtitit Epifco- pus Lame ccfis Ecchfi^. Ao qual focedeo no priorado hu Cónego do Banho ^pornome Godinho,que depões foi Bijpo da Igi^eja de La mego.Ehe(cmáuuidão Godi- nho de quein imo? falando ; do qual, por íer morto, fala pel- los termos e:ví/r/í,íem acrcfcé- tar delle/ora também Arcebif- po de Braga,o que não era pof- liuel calar, pões vinha em canto credito do feu molf eiro,por ref peito do qualdiílbfòraBifpo de Lamego, E que neftc anno de 1188. foíle morto cfte D. Godinho Prior de S* Vicente, & Bifpo de Lamego , fas grande conieitura acharmos logo vaga aquellalgreja,na doação de Sa- cha Paes ao Abbade de S. loaõ daSalzeda, feita era 1 1x7 - anno deChrifto 11S9, como acima referimos. Por onde deixando o Godinho de Lamego . como Prelado, gue nos não pertence, tornemos com a narração ao morteiro do Banho: porque delle,fem duuida, tirou efte Ca- bido,& tomou pêra Arcebifpo de Braga, no mefmo anno de 1 175. cm que falleceo o Arcebif po D.Ioa5,aoB. D. Godinho. lio Entrou nefta cidade cm I zi. deDezébro do mefmo an-

7o,urer,

mcmor.

M14.

7o,i.rer

nOjdia do gíoriofo Apoftolo S. Thome,mas delia fe partio lo- go a Roma , onde o Sumo Põ- tifice Calixto IV. o fagrou , & deu o pallio , com licença pcra poder viíitar os fagrados luga- res de lerufalcm. Gaftou ncfta aufencia algíja parte do anno 1176. no qual jàcftaua em Bra- ga, recebendo comfoléniUuTia prociílaõ a cana de braço do gíoriofo, & infigne Martyr ■^memor. S.Vicente, padroeiro de Liíboa, /"'-H com queelRey D. AíFonfo He riques, depões de dcfcubrir a- quellc preciofothefouro , quis honrar, & cnriquicer efta Igre- ja, & cidade,pello muito , que ícmpreaeftimoUv CpUocouíô a prcciofa relíquia entre a* mães do thefouroda Sè,& parece foi a tresladação em 4. de Mayo, porque neftc dia a celebra elta Igreja. Obrou nefta ocaííaóo gloriofoMartyr iníigne mi- lagre em certa donzella , a qual Matj. eftando ardendo em febres , & defconfiadados médicos , bei- jando a fanta reliquia,fubitamê te fe achou fa- li No maesjfoi o B. D Go- dinho hu viuo retrato ác todos os fantos Prelados feus antecef- fores. Viãofe nelle juntas as ex- cellcncias em que cada fe a- uantejou. Raramente dcfpiao

Brcftiít" rtií Bya' carenfe 4

G4

:ilicio

80

CafitoloXVÍIL

ciliciojiios jejúi era cfcrdco, & continuo, nas diíciplinas , & outras aíHicçoés da carne^perpe tuo inimigodeíymcímo. Nú- qua veíliolinhOjOu dormio em cama, em que o corpo não fcn tiíle mayor moleflia defcafan- do, que vigiando. Suas rendas repartia todas com os pobres. Emfcugouerno ncnhúa don- zella íe teueporoifá, nenhíja viuua por delemparadaj ncnhú miferauel por fem. remédio. De todos foi pay, abrigo, ^ em pa- ro. Acreditou o Deosem vida^ ^ depões da morte, com mila- gres; parte dcllesforaõ logo no principio de ícu gouerno , co- mo íe na terceira lição doBre uiario Bracareníe aos 4. de Ma- yo. Quem omnipotens Pater in imtio fui Archiepifcopatus^ em- dentibus <virtutum miractdis ho norare dignatus eU . Treze an- nos ^ pouco menos, ceue cfta mitra^por todos elles ha gran- des memorias íuas, porque to- dos faraó em grande vtilidade deíeusíubditos. Coílumoufe muitos tem.pos ria eleição de nouo Prdado, pedir efte Cabi- do a Dcos ofi-i^effe tal ^qual fora o B.D.Godinho de, boa memoria ^ dandolhe efte íobrcnorae pel- las raras uirtudes, &: obras fan" tiflimas com que o mcreceo.

Ediíicou muitas Igrejas,& mof teiros no Arcebiípado :conta- íe cm cfpecial o mofteiro de S, Martinho dcCaftro,fe bem pa- rece foi feu reftauradof , & não fundador. Falleceo nefta cidade a 30. de Tulhodo anno II 88. Os Padres Aiuaro Lobo, & António de Vafconcelos da Companhia de IesVs , o c5- taó entre os fantos defteReyno. Gouernaraõ por efte tempo a Igreja de Deos os Sumos Pon- tífices Calixto IV. Lúcio III. Vrbano ÍII. Gregório VIII. & Clemente III Foraõ Reyesde Portuíral D. AfFcnfo Henri- quês , 6i ícu filho D. Sancho o primeiro.

D.MARTINHO PIRE2

1 1. do nome 70: Arcebi f-

po de Braga*

CAPITOLO xvin.

HE ELEITO J^ISPO do Porto: Arcebifpo de Bra- ga : 'vay a R.omafobre nego- ceot defua Igreja.

V A N D O

elcrcuemosavi dadeS.Fruitno fo, falando nos mofl:eirGs,que

por

Lobo tn manufcr, Vafdcel. in iefcrip LiiJitAniç

; 1 .p f .90»:!

D. (íMmmho Tirez, IL

81

por efte cntreDouro & Minho fundara debaixo da regra de feu P. S, Bento, contamos entre os mães o de S. Miguel de Re- foyos, dondcjdiíícmos,fahiraõ dons Arccbilpospcraefta Igre- ja. O primeiro D.Martinho Pi- rez, cuja vida começamos aeí- creuerro íe^undo D.Fernando

KJ

da Guerra , de quem eícreuere- mos ao diante. E porque neíte particular não tínhamos outra noticia , mães que a que acha- mos nas Conllituiçoés dos Pa- dres de S. Bento, que entaõde nouo reformadas iahiaõahiz, nos remetemos logo às vidas particulares de cada deftes Prelados, pcra nellas dizermos com mayor particularidade, o q acerca delle ponto foflemos defcobrindo.

i Fazendo contudo a di-

ligencia poíliuel por codas as memorias defte cartório , nijca entre ellas encontramos coufa, que leuemente acenaíle ferem eftcs dons Arcebifpos do habi- to de S.Bento.Náoduuidamos porem feriáo cõmendatarios de S.Miguel de Refoyos^ & goza- riáo das rendas da meza Abba- cial , pellas quaes fe chamariaó fcus Abbades, òí profeíTariaõ pêra o fer a regra de S. Bento. Porque ainda que não feja ne-

ceíTario, ferem os cõmendata- rios da mefma profiflaó, d'on- dcheo beneficio regular, co- mo o enUnáoCaíladoro, Sar- neníe,Rebuffo, Garcia, & ou- tros. Contudo quando aíli o mandaíTc o Summo Pontifice, como por ertes tempos , em q foi o Arcebifpo D Martinho, & depões o Arcebifpo D. Fer- nando, o mandaua, então fe- ria ncceíTario profeífar a P^eli-

2Íão, a quem pertencia© bene-

- ' I r r

neficio, legudo o eiilina o mel-

mo Garcia,

3 Nem têduuidafer maeS antigo daremfe os benefícios regulares em comenda , do que oheoanno ii88.em quelcua- mos efta hiftoriacporque o co- meçou aentroduzir Leaó IIII. cu j o Pontificado cahio en trc o de 847. ôi 855. íebem não po- de fofrereftecoftameClemete V.& otirou totalméte da Igre- ja,pelos grandes males , q delle fe feguiaõ. Mas neiftofoibaf- tante pêra o não entroduzir outra vez Vrbano VI.& Boni- fácio IX. feu fucceílbr,encrc os annos de 1378. & 1403. & fazer oscommendatarios perpétuos Paulo II. o qual sedo nefte par- ticular aduertido peio Cardeal deHoftia,Bifpo de Plazcncia D. IoaõdeCaruajal,refpódeo,

que

Cajfad de

R gun 8. Satn.fuf.

De infr- m. q. sj. Rebnf de pacif pof />/.«. 59. Gxrr, de Bcnef. p.

28.

Ca», ejuií f lures 2l|. q.l.

ExtrdU. i.d:Fr(b'

82

Cafitolo XVIIL

Mib i-tit.

z.pcq.

que do tempo de Cglixto III" íeii quaíiimniediatoanteceílor, ate o feu,eftauão dados a Cléri- gos íecLilares macs de quinhê- tos benefícios regulares, co- mo largamente o cota Renato Chopinono feu Monaftico. 4 Deixado logo por aue-

riguar o ponto , fe foi , ou não foi Religiofo de S. Bento o Ar- cebifpo D. Martinho , náo ti- rando por iílo,nem dando ma- yorauçáo nelleaos Religiofos domefmoPatriarchajComo no Arcebifpo D. Fernando da Guerra, o que não padece cÕ- contradiçáoalgúa he, que len- do Deaõ de Braga D. Marti- nho, o eíegeo poríeu Bifpoo Cabido doPorto,na vacantc de D. Fernão Martíz anno ii8y. pela grande fama , que de fua virtude, letras, & gouerno cor- ria pelas mães Cathrcdaes do Reyno.

j Logo que fe vio Bifpo

tratou de en nobrecer a fua Igre ja,com as dignidades de Deão, Chantre , Meílrefchola , & Thefoureiro ^ que via lhe falta- uão , vnindolhe parte dos dez ArcidiagadoSjqueauia naquel- la Sè,& outra parte àmeza Põ- tifical, na forma, q diílemos, quando no Catalogo dos Bif- pos doPorto,lhee(creuemos a |

vida. Separou mães na mefma Sèas rendas da meza Pontifical, & Capituíar.-ficando efta com híía parte, aquella com duas,co mo emBraga o tinha feito oAr- cebifpo D. loaõ Peculiar , òi confirmado o B. D. Godinho, defcarregando por efta manei- ra os Bilpos da fuftcntaçao dos Cónegos ,que naquelle tem- po fofriaõ mal viuerem em co- munidade, pretêdendo cada hu fua prebenda, pêra a gaftar a feu modo. Duraõ as memorias do Bifpo D- Martinho na Igreja do Porto ate o anno de 1185?. em que faleceo em Braga o B. D.Godinho; porque logocn* taõ,apertandoas faudadcs com osCapitulares deftc C abido pe- lo feu antigo Deaó , o elegerão poríeu Prelado. 6 Tanto que foi confir-

mado pela Aportolica, Bi re- cebeo em Roma à fagração , & pallio da mão de Clemente III. gaftando nefta auzencia macs de dous annos, fe veyoa Braga. As primeiras memorias,qdclle achamos, faõjà no anno 1197. em que confirmou a cartado Couto,que elRey D.Sancho o I. eftandona cidade do Porto fez a D. Pedro Pirez Prior do moftciro de Cónegos Regran- tes de S. loaõ de Longouares,

termo

D. (íMmmho Tirezj IL

83

1

Cart. ãa Comp. de JESrde Ceimbt

termo da villa de Monção, co- mo cm paga,ííy: agradecimento de lhe fazer a Torre de Melga- ço. Coníírmáo com o Arce- biípo^D. Martinho Rodriguez Biípo do Porto, D. Pedro Bif- po de Lamego, D. Nicolao de Vifeu , D. Soeiro de Lirboa,D, Payo deEiiora. Veyoertcmoí- teiro pelos tempos adiante á vnirfepor lulioIII. ao Colle- gio da Companhia de IesV de Coimbra,noanno 1551. vagan- do por morte do -íenhor D. Duarte filho natural delRey D. íoaõ IH. leu comenda tario, Arcebifpo de Braga. 7 Logo que entrou na ci-

dade,tratou com todo o cuida- do de reter na fojeiçáo defta Igreja,todos os Bifpos íuftra- gancos , que lhe coftumauão dar obediência . Teue íobre a matéria grandes duuidas com o Arcebilpo de Santiago , oqual pretendia tirar à de Braga cinco Igrejas fuffraganeas , Lil- boa,Euora, Viieu , Lamego, Coimbra,com preteifto de per tencerem nos tempos antigos, a Merida, cujas preminencias foraõ transferidas, & encorpo- radas na deCom.poftella. 8 OppoíTe o Arcebifpo D. Martinho com grande animo a efta pretençáo,atê que demitin

doaoCompoftcllano o direi- to,6(: polle,qi]e tinha nas Igre- jasde Salamanca,Auila,Liíl:»oa, & Euora, inftou com valorem não largar as da Guarda, Lame- go , Vileu , &i Coimbra , indo pefloalmenteaRoma onde cor ria a caufa,como a feu exemplo o fez também o Arcebifpo de Compoftella. ò>: làeílaua,quã- donoanno 1199.0 Sumo Pon- tífice Innocencio III. os con- certou a ambos, deixando aBra- ga,Vi(eu,& Coimbra,6<: julga- do àCompoílella,aGuarda,& Lamego , por nos tempos , em que Merida florecia, lerem da fua prouincia. Ediz o Summo Pontifice no Breue , que então /«/73 paliou, que na de Vifeu não prouara o Compoílellanobaf- tantemente pertencer a Meri- da, iSj q a de Coimbra lhe deí- xaua pela de Iria Flauia, mudada a Compoílella , ^ íempreda fojeiçáo de Braga. Neílaoca- íiaó, foi quando o mefmo Ar- cebifpo de Compoílella largou ao de Braga o fenhorio deame- tade defta cidade, & das Igrejas deSaõ Fruituofo ^ & Saó Vi- touro.

9 Mas porque nem ainda eftes cõcertos fe tinha por mui- to fegura a paz entre os dous Arcebifpos, fe íenáoatalhaflem

\to.i.m!m

as

s^

!

Cdptolo XIX.

as duuidas , que de ordinário fe mouiáofobreo trazer o Bra- chareiífe Cruz Icuantada por Galliza j no Arcebiípado deS, Tiago , quando hia viíítar as lerei as fuíFragancas ,&c oòcS. Tiago pelo Arcebiípado de Bra í^a , quando paflauaaviíícar as Igrejas de Lifboa,Euora,Lame- go,& Guarda,ordenoumaes o Summo Pontífice , que cada hum delles , nellas occaííoés pudeííe leuar a Cruz Icuanca- da diante de fy , íem contra- dição algúa do outro, o que le guardou em quanto as Igre- jas de Galliza foraõ da Prouin- cia de Braga , >?<: as de Portugal jànoineadaSjdadeCompoftel- la. Com ella concórdia íe aca- barão por entaõ todas as con- tendas , que por muitos annos ouueemRoma entre eílasduas cidades^ondcos litigies, & du- uidas mui perhadaSjíechama- uáo jájcomo em prouer- hio^deMandas de Bra-

pojlella.

i^

CA PITO LO XIX.

DE COxMO SE OVVE nos trabalh&s ^quefadeceo ejie ReynOfl^ defua morte.

Oraõ parte dos annos cm que gouernou oAr ccbiípoD.Mar tinlio , fobre- mancira calamitoíos. Começa- rão os infortúnios por Ecly p fedo Sol, raõ horrendo, & eí- p3ntoío,queos homens fcper- íudiaõ fer chcízada a fim do míj- do racolhiãoíe as Igrejas pêra nellas acabarem,chorãdo amar- gamente fcus pecados : íêgui- raóícao Eclypíc/omes ,pell:e, & guerra ,de que acabou a ter- ceira parte da gête.Atribuyáofe eílcs males a pecados públicos, em que os homens viuiaó fem temor da diuina juftiça ; parti- cularmente culpauão aos Reys de PortugalA Caftclla D.San- cho o I. & D. AfFonfo o IX. eftc por tomar por molhcr a íua prima com irmã a Infanta D. Tareja,ícmdifpeníàção al- gúada Apofl:olica,aquclle por lha dar,fendo filha fua-Có-

temolo

Dw.rt. N.ín.dc- Le.Cron JelRey D Sanch I.

T>. Martinho Ptre:^ 11.

85

temoio as mcímas palauras daChronica.

Chro dei ^ Tanto que ambos for ao ca- HtyD.Sã !^4í/c»í(fal3dcD,AffoníooIX. ^^'^ "^l &da Rainha D. Tareia) qut Pina. pi -^0 mes de r euereirojogo em Portugal^ i^ CafíeIla,por quaes quercac^o que fojfe de aduerfa influencia da Ceo ^ ou por qual- quer outros pecados da terra,fo breuierao taagrandes^ t/^rfe ueradcus inuernad.u^i^ chuuu^ que durar ao [em ce[far^atèoIu- nhofeguínte^com qfe: danarão^ isf perderão muitivs nouidades^ pao^loinlw^a^eite^tffruitas^^ ai gihis^q ficarão, fobreuep ta- manha praga ^ If multidão de dermes , qdtõ a terra todas as cômeraÓ,Í!fl>eyo fobre ilfofem algíia hum'dudenatural^tao grã de Eííio^iffecuraporqucturas do Sol, que durou até meado Ia- neiro do anno que ijinha. CeJIâ- do o B.ftio fobreuieraó grandes peflenemia^.isf outras dores ef- pantofãs , isf de mortal perigo: efpecialmete em terra de S.Ma ria do Bifpado do Porto, onde a peite foi tão crua,Íp'danofa^que em grandes pouoa<oeSi Iff luga- res de muitoápeffoM^efca^ame teficauão três ijiuas. 3 Na terra de Braga par ^ ticularmentefe acha^que nos ho mens^ilf molberes ouue intrinfe

cos males, de tãto^ls' tão raiuo- fo ardor^q lhes parecia ^que ar- diaÓ, Isffê comiãoafy mefmos, Ijfafsi CO taespadecimêtos,fem aproueitar cura, ou remédio ai- gú.piadofamcte morriao. Epor que dcvs mortaes ptrfeguicoes , q podiaó y.h\algúa não ficaf epor paJfar,ome nefle tepoemPortu gal, durado eíie cafamtto, tanto falicimento de mantimentos , q muitos morrião de fome, If por fujlentarem as ^idaspor algúa maneira, comiaÔ como befta4 os gomos das lombas, nem leixauao eruas-verdes dos campos, Vxo{c gue depões a Chronicaoccr- co,& tomadadc Alcaccr,Syl- ues,& outros lugares doRey- no,porIacob MourOjRcy de Seuilha,í^ côtinua; D.ts quaes tribulações ;, fendo informado CeleUinolH. (Gouernou do anuo npi.acê.i i9^)q então e- ra Papaenfi^ôma, cuidando, q poderiao fevpor maldição de Deos,t!'porpíden^a da çtijp^t l!f pecado, ep^ q. çs Re^i^auao pôr efe cafaimpo ,pçK fer feito entre taocSjútas parípes se dif- penfa^ãç , i^f outro preceito da Igrejdperaç desfa^i^r;^ enuioH deRomapor l^elegadoa Hefpa- nha,i^Pçrtu,galprincipalmtte, D . Guilhelmo Diácono . Ca rdeal do titulo 4^SMngelo,o,qualcoos

H 4rce-

86

Capitolo XIX,

\ Arcehifpos, Priores ^if Abba- des Bentos do Reyno de Portu- gal,i:f Leão ^que mandou ajun- tar Je^Concilio em Salaman- ca finde foi acordado hudiuor- cio , i^ apartamento dos ditos Reys D. Affonfo^lsf Rainha D. T areja , nt qui^eraÓ dijpenfar em o cafamcto feito entre el- les.EporqelRey ^ ^ a Rainha nao obedeciao, nefe qui^eraó lo go apartar, puferaÔ muieftrei- to interdito em ambos osReynos^ por '-vigor do qual as gentes ne- fies tepos nao entrauao naslgre JM, nemfe di^ao nellcís mijfa^, nem officios diuinos , nem dauao fepultura aos corpos mortos em lugares fagrados : o qual inter- dito durou anno, 'Í5f mes^ Isf três dÍA6:no cabo do qual tt- poo dito Rey , í^ Rainha , obe- decendo ã SéApojlolica^fe apar tarao.

4 I3 fe deixa bem ver o cui- dado , com que o Arccbifpo D. Martinho attédcria ao pro- uifticiKo 5 & remédio de fuás ouclhâs cm taõ gfãdes tribula çocsjaíTiftialheríáàdminiftra çãodos Sacramentos porfua pcíToa,defpendia Comellasto .j da fuafa2êda,& quando não i podia dbúcfa maneira, empc- ; hhaua a prata da íbâ , & de muitas igrejas do Arccbifpa-

do,como o achamoscm iébrá ça nos papeis defte Cartório. Elle foi o principal Prelado, q com feu exemplo trouxe aos mães de Portugal, & de Leaõ, aoCõcilio de Salamanca ; clle o q lhes perfuadio decretaflcm o diuorcio,& apartaméto dos Reys: elle o que mães apertou comccnfuras obedeceflem,& comeffeitofcapartaíTemjindo fobrc cfta matéria, mães ainda que fobrc as de fua Igrcja,aRo ma: ate finalmente a ver con- cluída : & leuantado o açoute da diuina luftiça , q eftaua fo- breeftcReyno. Acõpanhou depões do diuorcio a Rainha D-TarejaatèCoimbra,& dali tornado a Braga,& às obriga- ções de feu ofíício, ordenou é de feu Arcebifpado fauda- ueis conftituiçoêSjCom q por muitos annos fe gouernou. j Tiucraõ fim as calami

dadcs do Reyno, diuorcio dos Reys, pelos annos izoi.fê do Sumo Põtifice Innocê- cio III. Nos mães q reftão de vida ao ArcebifpoD. Marti- nho,atèo de izopem q Dcos o leuou pêra fy,alguasmemo- rias fuás achamos, aindaq não cmtodos.Node izoi.mãdou clRey D. Sacho o L pouoara villa deMontemor o nouo em

BridJits, IZ.22.

Al

en-

T>.(íMartinho PireZj.IL

%7

f.^o.verf

"Brãd lia. 12.C. ^1.

Alentcjo^óv: noforal, que lhe deUjConíirmão o ArcebiípoD. Martinho, D. Maitinho liifpo do Porto^ D. Pcdío Biípo de Lamego, D. Soeiro Biípo de Liíboa,D.Pnyo Bifpo dcEuo- ra , & outros fidalgos. No de iio8. aforou o mclmo Arce- bifpo D. Martinho os Mani- nhos deS.EÍleuão de Chaucs aos filhos, 6c netos de Martim Aífonfo, SíC Mendo Aífonfo, com obrigação de lhe pagarem de dez hum,& fcus netos de 8. hum. EmAbnl era 1147. que íaõ annos deChrifto. izo5),faz elRey D. Sancho o I. mercê de certos cafaes na Anadia a hum fidalgo por nome Guterre Nu- nez,airináo clRey ,cõ a Rainha D.Vrraca fi.iamolher, & feus filhos, & Martinho Arcebiípo de Braga,com os mães Prelados acima nomeados ,aosquaes fe acrefcentaji Martinus Egita- nenfs Epifcopus, Martinho Bif- po da Guarda. £ he fem duui- da a primeira doação real , em quenotêpodos noflos Reys, juntamente com os Arccbif- pos de Braga, achamos Bifpo daquella cidade. 6 Pomos efta diftinçaÕ

comos Arcebifpos deBraga,^or que não ha duuida confirmar efle mefmo Bifpo D. Marti

nho,na carta de doação,que el- Rey D.Sancho o I. cllando em Coimbra,no mes de Outubro, era 1243. annos deChriíto iioy fez a D.Aríonío Viegas, & a lua molher D Mayor Paez,davilla de Louroía,júto ao Caftcilo de Lafões : confirmaonella, alem de outros fidalgos, D.Pedro Biípo de CGÍmbra,D. Nicolao deVifeUjD. Soeiro deLiíbca,D, Soeiro de Euota^Dommis Mar- tinus Egiíanen/is j D.Martinho da Guarda. Dizemos daGuar- da , òí não da Idanha , porque noanno de ii?9- cm qo mef- mo Rcy D. Sancho fundou, & deu foral à cidade daGuarda,en- tcndemo5 paíTou logo a ella,c5 Breuedeinnocencioin. a Cathredal com todas fuás pre- mi nencias,chamandofe, por cf- tc refpeito,os feusPrelados Egi- tanenfes,cÕ o nome da Idanha, latino,a (abciiEgítania^cu Egi- dttania , ou , fegundo outros, Egidita.

7 Confultouo Arcebifpo D. Martinho o Papa Innocen- cioin. fobrealgiTias coufas to- cantes ao bom eouerno de fcu

O

Arcebifpado,& a fim dedcftcr- raralgunsabufos _>que ncllcfc auiaó entroduzido. Refpon- deolhe o Siímo Pontífice com as decifoés , que fe acharão nos |

12.C-» ^6<'

H z

Ca-

88

Capitolo XX.

iDereleb. M.f.

D: ohfir

icmn.

Bz.oH. t o hyAnna \ an.Chr,/.

C:i^ko\osyConJiIium,ljf Conjiliii nofirum , que refere Abrahaõ Bzouio. Viueoacè o anno de iioí?.em que hleceo entre os meles de Abril, & Outubro, porque no mefmo anno , & mes de Abril o achamos afii- nado na doaçáo, que pouco ha referimos ^ & no Outubro fe- guinte, a leu immed'ato fuc- ceíTorD. Pedroso primeiro do nome , confirmando no tefta- mcntodelRcy D. Sancho o I, com titulo de Eleito àz Braga. Gouernou efta Igreja perto de lo.annos , nella foi fepultado, &dura fua memorÍ3jComo de infignc bemfeitor, & mui zelo- fo do bem de feus íubditos . Eraõ Síjmos Pontífices poref- tcs tempos. Clemente, Celeíli- no, & ínnocécio todos tercei- ros do nomc,& Rey de Por- tugal D.Sancho o primeiro.

^r^^

CAPITOLO XX.

D. PEDRO V. DO NO^

mt.-jo. Arcchifpode Braga.

AÕforaõ mui- tos osdias,quc vagou ella Ca- deira, depões da morte do Arcebiípo D. Martinho. Elc- gco logo em feu lugar o Cabi- do a D.PedrO) pella grádc noti- cia , que tinha de Icus mcrici- mentos . Procurou a confir- maçáo,& pallio de Roma, peí- loTheíoureirodefta igreja, a quem pêra iílb mandou à San- tidade de Innocencio IN. Poré vieraõas bulias tão embaraça- das , & fe foraõ as duuidas jque fobre ellas fe moueraó , impli- cando demaneira, que por to. do o tempo de feu gouerno fe- náo chamou fenáo Eleito , não chegando nunca a fe fagrar. 2. No mes de Outubro, da era de 12.47 anno de Chrifto 1209. fez elRey D. Sancho o I. tellamento , nclle deixou em primeiro lugar por teitamen- teirofeu ao Arcebifpo D. Pe- dro, aquém chama Eleito de I

Braga

D, Tedro V.

89

Braga , & lhe cõmereo cm par- cicular,&:ao Abbade de Alco- baça D.Fernanc]o,a lacishçáo dealgLins cxceílos,&compo- líçaó com as partes , aquém poderia rèr dado algum dano. Dizem as palauras do teílamê- to, traduzidas em Português. Saibãfe mães , que a todas eséas cotífasfe deue dar comprimento pello Eleito de Braga^pello Ab- bade de Alcobaça , pello Prior defanta Cru^^ pello Abbade de SantoTyrfo^pello Meflre do Tc- plo , pello Prior do Hofpital^por D. Affonfo ^ i^ por D. Gonçalo Mende^,(sf por Martim Ferna- de^^tfpor D. Lotirenço Soares., i^f por D- Gonçalo Soares . E mães adiante. E eu D. Jffbnjd, filho dofobredito Rey D.Sancho, Í!f da Rainha D, Diílce.prometo firmemete nafè de lESV Chrif- to^de cumprir^ i^ attentar por todoó estai coufu^fe ■'viuer mães, que meupay: íff que níio empedi- rei^nem confentirei empedirfe a menor de elLís,l^ diUofis eu orne nagem nas mãos de meupay , (sf também jurei nas mãos do Eleito de Braga, do Bifpo de Coimbra, do Abbade de Alcobaça , que cú- prireijjf terei particular cuida- do de todds eji.i-s coufas. Eu Pe- dro Affonfo., eu Gonçalo Medes ^ eu Martim Fernandes. eu Louro

ço Soares,euGonçalo Soare^^pro metemos firmemente de fazer- mos executar todas eíias coufas, por qualquer modo quepuder- mosjjf jàdtsio temes feito ome- nagem nas mãos dei Rey D. San- cho nojjo fenhor ^ nas mãos do Eleito de Braga^do Bifpo de Co- imbra,Í!f do Abbade de Alcoba- ca.iff queremos, que faltando no fohreditofejamos tidos, i^ aui- dospor tredoresp' aleiuofos. 3 Deixou também nefte

íeu teftamento clRey D. San- cho 5 àlgreja de Braga hum Le- gado Jedous mil raarauedis,if- tohe, de dous mil, e quinhêtos cruzados . E em execução defta fua vitima vontade (quanto a fatisfaçáojq íedcuiadar as par- tes agrauadas , depões de Deos Noílb Senhor o leuar pêra (y ê Coimbra no Março de izi i .) o Arccbifpo D.Pedro,^: o Ab- bade de Alcobaça D. Fernando, reítituiraõ ao Abbade do moí- teiro da Salzeda Ja ordem de S, Bernardo, as herdades, q elRcy lhe tomara emArmamar,Lam3 redonda, Saõ Ioaninho,& Co- uilhã j como confta de húa ver ba do liurodas doações da Sal- zeda ,que eras o Chronifta fr. António Brandão. Em diade Natal era 1^48. annos,deChrir- to 1 zio. eftando o mefmo Rey

Br aã. li ff, is.f.34,

ll/l.lZ.C,

34.

H3

D.

14^

90

Cafttolo XX.

/d. Sjnchoaindaviíio emSaii- careiTi , perdoou ao Biípo de Coimbra D.Pedro_,& ao Con- uencodelai.taCruz, acolheita queliiecoliumaiiáo dar em A- guim A' diz, que o faz por rcf- peico do Arcebiípo de Braga D.Pedro,a quem chama Eleito^ &c de D. Gomes Ramires Mef- tre dos Templários em Portu- gal.

4 Começou elRey D- Af- fonfoll.donorae, & de alcu- nha o Gordo^z reynar no Mar- ço deiiii.&Iogoem 30.de lu nho defte mefmo anno , citan- do em Coimbra,doa aos Caua- leiros d' Euora,a villa d' Auís, donde dali por diante fe cha- marão Caualeiros d' Auís.Có- fírmáo na doação o noíloD. Pedro Eleito de Braga . Marti- nho Biípo do Porto, D. Pedro deCoimbra^iMicolaode Vifcu, Payo de Lamego, Martinho da Guarda, Sueiro de Lifboa^Suei- ro de Euora.Confirmaõ,outro fy^os nicímos a doação , que o proprioRey fas a Egídio lulio, filho do Chançarel luliáo, das villasdeCeruela,&: Figueiró.

5 Chegou o anno iziz. em que sinda, por grande parte d' ellc,ha nefte cartório memorias do Arcebiípo D.Pedro,íemprc

com nome de Eleito .

que Y

.ca-

rece lhe ficou^pcllo muito tem- po, que cll:eiic por auer a lagra- çáo, depões de noReyno lhe po rem duuidas íobre as letras, co- mo acima diílemos.Nclle , pc- ra as defem.baraçar, & íe poder fagrar , fe foi a Roma , ôc na jornada, parece, acabou a vi- da , no primeiro de Nouem- bro. O lugar certo de fua mor- te não pudemos alcançar. As teftemunhas , que fe tomarão por ordem do ArcebifpoD. Eíieuão da Sylua feuimmcdia- to fucceílbr,nas inquirições fo- bre a Primazia, nem dizem que morreo fora do Rcyno , nem dentro nelle ; íò affirmaõ go- uernoucfta Igreja quatro an- nos,com nome de Eleito. Foi ArccbifpOjCom o Sumo Pontí- fice Innocencio III- ôc com os Reys de Portuga 1 D.San- cho o primeiro, &c D. Affonfoo íegundo.

DOM

í). EHeuao Soares da Sjlu>

■Is

91

Arch.Re

dM bulias folio.

DOM ESTEVAM

Soares da Sylun 71. Arcebií- po de Braga.

CAPITOLO XXI.

F A I A RO M A A O

Concilio Lateranenfe 4. de- fen^de nelle a Prima'^a dejfa Igreja

N Ciamos a ef- creucravidade hum Arcebií- po, a quem a SàcidadedeHo norioIII. eícreuendoa elRey D. Alíonío o I I.deftes P.cvnos, chama ^latorem Ecclefafiica li beríatis, reãitudinis ^elo fer- uentem, nolentem^^ yererifaciê hominis .plufquam Dev.Virum li- teratura .,1^ honeftate confpicuu' c^elador da Ecclejiajlica liberda- de , abrasado no ^elo dajuHiça, tf que naofabia.nem queria^rej- peitar mães aos homens ^q aDeos: yaraó etninente hm letras , Í!f fantidade. Heeftc o grandeD. Efteuáo Soares daSylua,illuíl:re por geração, & illuftriíTimo por íuasacçoés. Sea pay fe cha- mou D. Soeiro Pirez Eícacha.

filho de D.Pedro Eícacha de Cujaes jdafamiha dos Syluas. Sua mãy íe dezia D.FroyL- Vie gas, filha de D-Vrraca Aiendez de Souza,& de D. Egas Fafcs de Lanhozo_,fidalgos de c] ha grade memoria no Conde D Pedro. Foraõ irmãs íuas D.Elleuainha Soares,6e D.TarejaSoares,eíla caiada com Pêro Martins, acjlla com D' Marcim Fernandes de riba de Vizella. A primeira dig- nidade que lhe fabemos, he à de Mertreíchola naSè de Coim- bra, delia o trouxeraó os Capi- tulares defta lí^reja^pcfa feu Ar- ccbiípo,na vaca cede D. Pedro, cuja vida no capicolo paíTado eícreuemos.

í AuiJa a Confirmação,

Sagraçáo , &: pallio, começou logo o Arcebiípp, como zdo- (o , que era, a entender com al- guns Priores de íeu Arcebiípa- do j aííi reculares,como regula- res, que lhe não qucriaó obe- decer. Foi o primeiro o dain- figne Collegiada de Guimarães, com o qual correo grandes de- mandas , q vieraó a entrar em compoílção no fim do Ponti- ficado de Innocécio III, o qual, eílando o ArcebifpoemRoma, cometeoeílacaufa adous Ar- cediagosjhíá de C amora,outro de Aftorsa. lutos cftesemBe-

Ittul 3 :

H4

nauente

92

ncuence do Rcyno de Leaõ, af- ícntaraõ em zj. de Outubro de liió. cerca concórdia entre o Arcebiípo, Pnor,& Cónegos, de Guimaraés.íbbre a fojeição, que dciiiáo guardar a cila Igre- ja, que pouco depões confir- mou Honório IH. SucceíTor de Innocencio,em IO. delaneiro, primeiro anno de Teu Pontifi- cado, ík de Chrifto iziy O mermonzeraò depões Gregó- rio 9. Alexandre ÍÍII.oi outros Summos Pontifices, Durou ci- ta compofiçáo até as couías to- marem outro modo degouer- nojdeque agora não importa dar relação.

3 Os outros P liores, que

recuzauãojcõ preteiílo de izen- çáoapoftolica, obedecer ao Ar cebifpoD. Eíleuão,craõ os dcs Mofteiros da Coita, então de ConegosRcgranteSjhoje de re- ligiofosdeS. IcronimOj&ode S. Torcadeafílmefmo de Có- negos Pvegrantcs , agora vnido ao Cabido da Collegiada deGui raaraes , o primeiro na melma villa,o fegundo hua*pequenale- goadiftancc delia. A ambos ef- creueo o mefmo Síjmo Ponci- íice ínnocencio III. cftranhan- dolhe negarem a obediência ao Arcebifpo de Braga, mandan- dolheobedeção,affi , &dama-

Capttoio XXI.

neira , que o faziaõ as outras Igrejas doArccbirpado. Temos neíle Cartório o breue , delle fc tirou o cap. Cum non liceat^ de pr^fcript. em cuja rubrica, que vulgarmente diz Priori de Cof- tajjf de Sanão Donato, ic ha de ler , i^ de Sanão Torcato , co- mo jàaducrtimt)s na primeira parte dcftahiftoria. 4 Foi, depões de dar prin-

cipio a eílas contendas com os Priores fobreditos, chamado a Roma pelloSummo Pontífice ínnocencio III. peraaffiftirno Concilio Lateranen Te ,q pêra o anno III j.cftaua publicado na- qlla cidade. Achoufe ali , entre outros Prelados deHeípanha, tãbem prcfcnte o Arcebiípo de Toledo D. Rodrigo Ximenes, peílba de grande authoridade, letras , & muito valido do Súmmo Poncifice , & Reys de Caftella,& Leaõ. Não quis efte

grandePrelado perder a boa oc-

^ " ' ^ - f j

caiiao,que entre mãos tinha, de

dar fim a hua antiga contenda,

que por ry,&: por Teus antecel-

íores,tiuera com os Arcebifpos

de Braga, fobrc a Primazia de

Hefpanha. Fez, primcramente,

citar pêra a cauíaao Arcebifpo

D.Elieuão Soares da Sylua , ^

aíli mefmo aos Arcebifpos de

S. Tiago^ Tarragonas^ Narbo

cioo.ti,^

na,

1). Eííeuao Soares da Sjliiãs

93

na, & concra todos em preíeií- ça do Sumo Poiíciíice, & mães Prelados daqlle grauillimo ajun- tamento , proposgraues quei- xas em rezaõ de o não quercré conhecer por Primaz, a(íl elles, como os maesBiípos de Hel- panha: fazendo hum compri- do arrezoado, com grande co- pia de palauras,,& aparentes re- zoés , no qual pretendia mof- trar a todo o Concilio , como à fua Igreja de Toledo, a!li por antiguidade, como poradios, queemvaria> occalioés, &té- pos',reus Prelados exercitarão, alemdoimuitosbreues,que ío- bre a matéria tinháo paliados vários Su mm os PonnhceSjper- tencia a dignidade Prmiacial. E vendo, que nos ouuintes acha- ua fauor,& applaufo , paliando adiante,dizia contra Braga, que náo era de efpantar pretender leu Arccbiípo D. Elleuáo le- uantatíe contra Toledo, pões ti nha inda freíca nos olhos, & imitação, a proteruia com que feti antecelTor D. Maurício fe cppuzera aos verdadeiros Su- mos Pontífices Gclazio, &Ca- lifto , perturbando, elh dia- bólica ambiçáo,toda a Igreja de Deos , & cometendo outros exceflos,pellosquaes a máy dõ- detalmonítro íaira, iílo hè. a

Igreja de Braga , quando entre as de Hefpanha tiuera atôHaU gúa premuiencia , merecia bem perdcla , peraque nella apren- dellem as demaes com Teus Pre lados , a Viuer íojeitas, & obe- dientes à Romana,<5«r a náo ap- I perecer por loberba, o que por ! humildade dcuiaõ venerar. Pal- ! ÍQu daqui a defauchorisar a , Igreja deCompoftcUajcliegan-: I do a ncgarlhe ter em fy o corpo do glorioío Apoftolo S.Tiago, : &:qucíò velhas, & gente igno- rante,criaó,(5c: pubhcauáo leme ; Ihance patranha , como tambê o cra,tèr vindo o fagradoApof- tulo aHeípanha, 6l pregado nellaatèdeChrilto.

5 No liuro, que fizemos da Primazia de Braga, molha- mos com graues authores, que não pareciaõ rezoês eílas de Arcebifpo taõ graue, & taô dou

i to, como D. Rodrigo Xmie- I ncs,decujamodeília,nemuna- \ ginar fe pode,cometeria tão grã j deexceflb : ali meímoacrecen- j tamos, c] aquellas palauras eraõ , fem duuida,íuppolbs,& indig- nas de tal peíToa, & dignidade:

6 q íò diria as quéfaziaõ ao dacauía, &não as que depões defiia morte,em defcrcdito feu, fe elcreueraó,& láçaraõ no Ar-

1 chiuo de Toledo , onde depões

as

C.2 j. }tr

.^o.per to

94

Capitoio XXI.

\e.corã de

\rejlititítitt

\int.

as achou D. Garcia dcLoayra. Reípondeo o Arcebilpo D. Eí- teuão concertando por nega- ção cucío o q tinha dito o Ar- ccbifpo deToledoj& o mefmo fizeraõoArcebiípodcS.Tiago_, & o Bifpodc Hucfca, cm no- me do Arcebiípodc Tarrago- naauíente. Naõmoftroii logo o Arcebifpo de Braga as rezoés em que fe funda ua a Tua Prima- zia^contra a deToledo, por não argumentar ali feni fruito,& querer, como prudece, moftra las em autos publicos,& mani- fcftalas ao mundo^pera no cafo fe dar vitima determinação pcK laSè Apoftolica, a quê perten- cia.

6 Corrco a caufa na Gu-

ria Romana, cm quanto ahifc detiueraõ os Arcebifpos :ou- uenella muitas altercações, mo ucraõfe muitas duuidas , deofe tempo às partes pêra fazerem fuás prouas , & fe reformou ao procurador do Arcebifpo D. Efi:euáo,como fe nas Decre- tacs. E ainda , que fe fez muita diligencia cm tempo do Papa InnocencioIII. pêra fccõcluir em final , todauia dilações , & outros eftoruos, a lançarão no Pontificado de Honório III. onde juntas as inquirições, &c prouas de ambas as partes, de-

pões de arrczoarem largo febre a matéria os melhores luril^as daquclle tempo, dado o feito por còclufoj&: elperando, fem duuida nenhúa, a fentença cm feu fauor efta Igreja , por juf- tas caufas,que a iílo o moucraó, pòs fdencio na demanda o Su- mo Pontífice Honório III. def- pachando dous breues aos dous Arcebifpos(os maes,oudcfem- pararaõ a caufa,ou defcfperaraõ da juftiça) de Braga,& Toledo, pellos quaes lhes fazia a faber, como de confelho , & parecer dos Cardeaes da Igreja Roma- na,ordenara fenão trataííe macs daquella matéria Os breues pu/- zemos em latim no tratado da da Primazia, agora poremos o Português de hum delles, porque ambos faõ do mefnio eftylo.

7 Honório Bijpojeruo dosfer- iios de DeoSj ao <uenerauel irmão Ejhuao^ Arcebifpo de Braga^ isf aos amados filhos o Cabido da mejma igreja ,faude , ip" bençdo Apoftolica. Como quer que o nof- fo ijenerauel irmão Rodrigo Ar eebijpo de Toledo ^pretendendo^ qfe lhe deuia o direito da Prima- ria de Hefpanha , fobre ijfo con- teftajfe foUnemente com Uofco demanda, diante do Papa Inno- cencio de boa memoria^ nof^opre-

decef-

Cf2j'«».4

mxem^g^

D.Eãeuao Soares da Sjluo-j

95

deceffor, finalmente correndo a cauja muito ttpo diate de nós, (em conclufaó Jèndo -vòs, isf o mefimo Arcebijpo pref entes : de húaparte, i^ outra, renuncia- fies maesprouAs, l^ re^es, ijf inUancia nospediíies ambos, 7jJenttceaJ?emos a caufa dfini- tiuamtte. Pore nós con/ider an- do CVS circtmjlancict^ das coufM, i!f dos tempos , com confelho de no(?os irmãos JobreUâdo depre [ente, nos pareceo nao proceder a dar [entenda definitiua.Pori á injlancia das partes aguarda- mos em noj^a mao os autos, ijfpa peis, cerrados debaixo de noffa bulla,isf tâbêoi entregamos ás partes , infertos na mefma bul- ia. Algúspapeis, qfe rafgarao, foi por consentimento daspar- tes,porquepor "vifta delLis^m- nhúa coufafa^iaÓ ao bem deíia caufa. Dada em S. loao, 4e La trao ai^.de laneiro nofegun- do anno de noffo Pontificado. FoiodeChriílomS. , , 8 Animo tiuempsçíie^Qr aqui as rezoés,cõ que o.Arce-, biípo D'Eftcua5 fez claro dia- tedoSumo Ponci(ice,pertiecer à fua Igreja a Primazia dgycf-: p3nha:& a facilidade, &cneí;- giacó que rcfpondeo às que por fy allejraua oArccbiípòD. Rodrigo Ximcncs:mas como

cilas íaõ todas pcra doutos , ôc na lingoa vulgar perdem gran de parte de fua cííicacia,& em- baraçáo a leitura os tciltos, &c autores , que fe allegaó, de- forçaaucmosde remeter os cu riofos ao noíTo tratado , q de- fla matéria fizemos em lingoa latina-,alÍ3charà6 vários, & cia riíTimosfudamentos, porque vejáo,q pretender outra qual quer Igreja ferPrimaz dasHef panlias, hc manifefta injuria, ôc violência , que fefaz acfta noífa,

9 Com efta refolução do Papa Honório III. fc não tta - tou mães daPrimaziade Hcf- panha, quanto à propriedade, ficando os Arcebifpos de Bra- ga cõ o direito, q dates tinháo, illefo,& inteirOjVzandodo ti- tulo,& prerogatiua de Prima zes ,nomeádofe taes,&cõfer dofe na poíTe de o fct,atè o dia de hoje, como largamêtc fo- nvos raoftrãdo pello difcurfo do mefmo tratado.Dóde fc çõuêcc quaõ errados andarão muitos dos autores Caílclha- nos,& algijs dos eftrangeiros, \ q dclles o tomarão quando ef c^ueraõ, que aqui noConci- lio Lateiancnfe,& porfentcn- çadelnnocêciolll. fora jul- gada a Primazia dcHcfpanha á

'^""'"^ Igreja

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96

Capitolo XXII.

igreja de Toledo, fendo a ver- dade, <quc Honório III. íuceí- for de Innoccncio, pos filcn- cio ncfta cauia , & deixou ca- da íiumdos dous Arcebiípos no direito j & pofíe em que eflaiia» conio íevèdobrcue atraz referido.

CAPITVLO XXII.

DO ASE AO ARCEBIS- PO ú Couto deEruededopor elRey de Leaoidejgoflos que teue com elRey D Affonfo o ll.fobre a Uberdade Eccle- JiaHicA,

r it ' . .1 ..

; ' I " I

A quando o Sumo Ponti- fíce Honório III. dctermi- minou acau- la ria Prirtluzia entre Braga ^dé Toledo, na for ma quecfère*' ueníòs ,-ô 'Arccbíf{)D D. Eftc- uâõdeúia èftar ém Portugal, porquênò M>r$<ido meíhio anno iziS. aíliftia em Sanca- ^tm,'iitiát^ CO tti D; Marti il h c^- R í ^ib êd P òr tó, D. Suciro d^; Líft)'c^à,1>- Siitiro d^EuorajDi '■ Payo-détartíé^é/b. Bef th<!)'láT' . fa^eu tfc^hféuvD.K^àii^tírthõ^^

Cl

Guarda,aíli na acarta, porq el- Rey D. AftonfooII. contir- maaomcfmoBiípo D.Marti- nho do PortOjO CoutodeGó domar,que feupayD. Sancho tinha dado àquella Igreja. 1 Logo noianeiro dcizi?. O acharrios cm Braga trocado certas cafas íuas na rua doSou to , Sc firmando na eícritura StephanusDtipatientia Bra- charénfis Archiepifcopus, Apo- Jiolic<eSedi^ Legatus. EHeuao^ por padecia de Deos Arcehifpo deBraga^if Legado da Apo ílolica . Não laberemos dizer fc vcyo dcRoma efía dig nidade » ou fc ao Rcyno lha mandou o Sumo Põtiíice Ho norio ni.pella grande confiá- ça,q fazia de fuás letras, &pru décia . Èrtimouo tábê muito dRcyD.AíFófo o IX.deLeáo. & põr fcu rcfpeifo,elVádo em Manhòncellos da Comarca de ,Chaucs,emIunhodci2.i9.do- ou a cila ígtcja oCouto de Er ucdfcdòjdcfancxádoodafuaco , roa r<jali& cncorporandoo na 'Sede Braga, onde atè agora fc cõÍÈrua porforça d^cfta doaçáo \ ôèdõnfirmação, que delia lhe ^ fiieraõos Rcys Íuccc0bres de D. Affonfo o IX.eòítio fo^ ràâ D. Sancho cftádo em Bur |- gm em 1. de Mayo^cra 1 3 14.-

annos

Cata. dos

blfpoS do

Ptrío 2,

to. ^.rer.j^

'.mem p4g' \z,vf^adl,

.1*7-

D. Ejleuao Soares da Sjlud,

97

annosdcChrifto riSrí. D. Fer- nando feu filho eftãdo em C a- mora?, de Agofto , era 1339. deChriíto 1301. E depões em Valhedoíid 10. de Mayo,era i34<j. deCnrin:oi3o??.D. loaõ o primeiro nas Corres de Soria ij, de Setembro, era 141 8. de Chriílo 1380. E outros, cuja piedade tanto macs ledeiieeíli mar, quanto confirmarão eíta primeira doaçaõ nos tépos em qcõos noílosR.eys de Portu- gal, & feus vaílalos, ardião em guerra.

3 Hebe verdades^ jàoCou to de Eriíededo fora doado a eí- ta Igreja pella Rainha D.Tare- janiolher do Conde D.Henri- que, notépo que era Senhora de muitas terras em Gailiza, & Leaõ, íegúdo o que na meíma cartadadoaçáoatfirma o Rey doador, eh uiiindolhe Viíauò fu3,pore!le íer filho da Rainha D.VrracahlhadelR.ey D.Atfó ío Hêriques,& neta da Rainha D.Tareja. Poré como coma apas,q entre eiRey D.''Feínan- 1 do deLeaõ,& clRcy D. Afton- 1 fo Henriques fe celebrou , de- pões do defaftre de Badajòs^ eftas terras tornaflem, per for- ça do cõcerto,a coroa de Leaõ, foi tãbécõ ellas oCouto de Er- uededo^q lhe pertécia,cedendo 5

de feu direito a líreia deBca^a por não impedira p.is. Pore- mos aqui a própria .doação na lingoa latina, em que fefer, co- piada do original, que nefte Ar- chiuo fe quarda , & depões a cõuertcremosem lingoa Por- cugucza.

4 Notumjit omnibus tâpr^- fentihits^quamfíiturís per hanc chartã. Ego Adfimfus Dei gra- fia Rex Le^ionis , Is^ Galleti^^

concedo Eccle/ta BracharenLi

■j'>

ly

'-vobis dono Stephano eiufdc Ec- cle/i^e Arcbiepifcopo , Iff l>eUro Capitulo jllâ uillâ deEruededo, cum tGtis fms pertinentijs , Í7' cíi fiio cauto , (icut: ipfam aproauia mea habiiiUis^ i^ do ^-oohis illa^ at^ concedo liberam , isf exepta ab omni regali onere. Itaquod homines , qui ibidem morantur^ ^el morabuntur^ de Cctttero. non '-vadant in appellidú^nec adcaf- telhtmfaciendum^nec dent niibi^ nec meo Ricbo homini , nec meo Merino pedidum, fm c colleãam. Sed inperpetuiim a JnpradiSpis ommbMjjf ab omni regali onere (it libera Jjf exepta Jjf hoc facio oh remediu anim^-e mtce^ i^ prop- i ter honor o ^^ amore<ueí{rú,Í!f quia de ucbis multa confido qua tum ai animam^ i^f corpus. Et prícdiclú cautú cocedo per totós términos ipjius yilU, isf impono

I tale

^.rertí

7'

9.8

Ca pi tolo XX IL

tale cautum : quodji quis ipfum cautum diruperit.autmde a 'vo- hs aliquid contra '-veflram 'VO- luntatem aceeperit ^peãet mtlle morabitinos , i!f loobis emendei damnum^quod intulerit , de qui- bm Rex Legionenfis medietatt habebit ^ íjf aliam med;etatem Ecclejia Bracharenfo. H<ec au- tem concefsiOy atquè donatioya- leat inperpetuum , fcilicèt tem- pore meo , i^ omniumfucce^orú meorú ^propter quod ipfampro- prijs manibus roborauí , íít* eam fect próprio fygilbroborari.Fac ta charta apud Baromcello mefe lunif. Era MCCLVU. pr^sfen- tibus, i^ concedentibus Baroni- bus mets , Domno Martino San- ti/,Domno loanne Fernande'\^ Domno FernandoFernadi,Dá- no Rod eriço Fernandec!^ dtCal- dellis^Dóno Petro Pelagij AHu- riano^ls^ alijspriffentibus-.àf cedentibm DÓnoLaurentio Au- rienji, Domno loanne Ouetenji^ Domno Martino eleSlo Mindo- mfi. Cancelar io,t^ noíiroExif- tente, Domno Petro Petri Ar- chidiacono Salmanticenf. 5 Saibão todos os pr tf entes , i:f futuro s^que efla carta 'virt^ que eu D. Affonfopor graça de Deos Rey de Leão ^ Í!f de Gallt- c^a, doo á igreja de Braga ^ i^ a VosD.EUeuaofeu Arcebifpo^tf

ao yofo Cabido ^a ijilla de Erue- dedo com todas fuás pertençam ^ tf com todo ofeu Couto, afsi có- rnea tiueftes de minha Fifauò, i^ yola dou,ls^ concedo liure,tf ica^enta de todo o encargo Real^ per maneira, q os homens, qnella morao , ou ao diante morar e,nao fejao obrigados a acudir a algíi chamado jou a fabrica de algum Cafiellos,nc me pagarem a mim, nem a meu Ricohomen , nt Mei- rinho algum pedido^ ou colheita^ masperajempre feja efla terra liure,tf isenta de todas asfobre- ditas coufa^,if de todo o tributo Real :iflo faço em remédio de mi' nha alma , ^ pello amor q "Vos tenho Js^ pella cÔfianca,qde l>os faço acerca d^alma^& do corpo. E o tal couto^qnjos cencedofeja pello s termos,^ limites da mef- mayilla.E emponho taes encou- tos^quefe alguém deuafar o mef mo Couto,ou cÓtra yojfa Vonta- de delle tirar algúa coufa,pague por ijfo mil marauedis,l^ t>os ponha o dano,q't>osder,dosquaes milmarauedis auera ametade el- Rey de Leaô^l^f a Igreja de Bra ga outra ametade. E quero , que efla doação <valha perafempre, afsi em meu tempo ^como de todos os meus fuccejfores , pelloque a afinei de minha mao própria, tf de meu próprio fello . Foi

feita

T>. Efleuao Soares da Sjlua.

99

feiTci eíla carta em Baroncdlos nomes delunbo/ra MCCLFII. fendo preftntes^l^ outorgadoa os meus Barões D. Martinho San- ches,D,IoaÓ Fernades , D. Fer- não Fernâde^, D. Rodrigo Fer- nandc:^ de C ai deli as ^ D, Pedro Paes dits 2í(lurias^ i^ outros , q também foraó prefentes, tf con- firmarão, D, Lourenço Bifpo de Orenfe,D,Ioaó Bifpo deOuied)^ D.Martinho eleito deMódonhe- do,nof?o Chãcartl^lsf afsifiente, D.Pedro Pires Arcediago de Sa tamanca.

6 Entrando O anno de 112.0. começarão oscépos a correr aJ ueríos ao noííoÀrcebiípo,pel la malicÍ3,&: ambição dos pri- uados,&Coníellieiro;dclRey D.Aííonlo II. aquéchamào o Gor í/o.Eraefte Príncipe pouco afFciçoado h Igrejas, & pelicas Eccieliallicasdeíeu RcynOjpa- reciáolhe d.nnaUadaniente ri- cas , òc poderoías. Tccoulogo carregalas tributes , & aue- xalas com leys.Cahio a princi- pal força defta tormenta fobre a Igreja de Braga , & feu Arce- bifpoD. Elleuáo. Auiíou acl- Rey de íeiís exceíTos, & da im- piedade de feus miniftros/er- uio o auifo de lhe tomare a j 0- rirdição dcfta cidade, deuaílàrê ícus Contos derribarem âs ca- [

ías,q tinha na cidade de Coim- bra , onde entaõ alTiftia a Cor- te,queimarê fuás herdades , & vinhas/ocreftaréfuas rêdas,& por remate de tudo,defterrarê- no ,& defnaturalizarcrano do Reyno . Acudio então D. Ef- lleuáo ao Papa Honório líl. peraq defle remédio cõueniéte a tantos males. Defeucófclho declarou por eícomCigados aos miniftros do Rey, pcs interdi- to em todo o Reyno,& proce- de© cõ outras furas , aíTi co- mo o tépo, & occaííoés o hiaó pedindo*

7 Pcríeueraua tudooRey em fua contumácia , não daua pcllosauifos do Sumo Pótiíi- ce, q varias vezes fobre eíla ma- téria lhe eícreucoj chegando a lhe negar em íuas cartas a heçao^ Í!ffaude Jpoíiolica, & enuian-- dolhecm lugar delia ejpirito de maesfaÓ confelho^ exagerádolhe quãto corra fua cóíciccia,&;íua authoridadc Real pcrfeguia a igreja, aucxaua feus miniílros, dcftcrraua de feu Rcyno a híi Arccbifpo , nobile Eccleji^c Dei mtbrum^tao nobre ^ Í5f t ao prin- cipal membro de toda a Igreja de D COS. Encomendalhe outro fy,qaparte de fua familiaridade os mãos Còfclheiros, q o per- ra rbão,rciiogc as íeis pubiica-

I2. das

lOO

Capitolo XX IL

das cótra a liberdade Eccleíiaf- tica , refticua à Igreja de Braga o que lhe tem vfurpado , cha- me ou era vez ao Rey no,ao Ar- cebifpo D. Eíteuáo, & o hon- re como pcdiaõ, & mercciaó, fcu zelo , fua nobreza, fuás Ic- tras,& fobrc tudo fua virtude. Mas porque nada difto baftou pcra as coufas tomarem outros termos,& o Rey , & feus mi- nirtros moftraré qualquer e- menda, ou acudirem ao Arcc- bifpo pcllo menos parte de fuás rendas, pcra íe poder íuftê- tar, íe rcfolueo o Sumo Ponti- fice em lançar por todos os Bif- pos luíFraganeos de Braga, Ã: por todas as Igrejas da mefma Diocefe,& Prouincia,hij fubíi- dio charitatiuo,com que o Ar- cebifpo fc pudeíle fuítétar a fy, & a fua família com luftre , & acudir às dcfpezas da caufa com poder. E tãbé peraq feus emu- les não tiueíTcra em fua pobre- za que defprez3r,antes na alíif- tencia,& fauor do Sumo Põti- fice,& mães Prelados feus fub- ditos, muito que temer. Pretê- dia aíTi mães animar aos outros Bifpos de Portugal, àdcfenfáo da liberdade Ecclcfiaflica , fem temordeperderéo feu, pões, em cazo, q aiTi focedcíTe na ca- ridade,& liberalidade do Sumo

Pontiíice,& tantos outros mi- niltros dalgreja,achariaõiguaí, ou mayor latisfaçáo.Encomê- dou fua Santidade a execução deíle fubíídio aosBifpos de Pa- lencia,& Ofma^ ao Deaõ de Palcncia, por brcuc feu da. do em Roma , cm S. loaó de Latraõazr. de Dezembro do anno dcChrifto iiii. quinto de feu Pontificado, poloemos aqui em latim,porqueasforças dclle ficaó declaradas nefte paragrapho.

8 Honorm Epifcopus,feruus feruoru Dei, Palentino^isf Oxo- menfi Epifcopis , íít' dileão filio Decano Pakntino jalut em ^ i^ ApoUoUca benediãiont. Certa- tibuóprojufiitia , íj/pro Eccle- fiaTlicalibertate^latesJuíiitUy ac honons Ecciefiaftici amato- res,nonfolum charitatis obtttu, fedetiãquadam rationefimilim- dinis^tenenturlíberaliúrfubue^ nire , "Pt/ubuenientes, opprejjos^ If aliorum onera comportantes laudabiliter impleant legeChrif- tiy caufam^propriam nibilomi- nus profequantur , dum pari et i ardenti 'vicinofuccurum. Cum igitur ^enerabilí-sfrater Bra- chartfis Archiepifcopus abilluf- tri Rege Portugalenjí^t^ eitpsco plicibus.perfecutionem horribi- literpatitur, itaquod cogatur a

domo

to,7.»rer. memor.

T>- Eííeuao Soares da SyluíL^

lOi

domo própria exttlare, nos debi- to compatuntes affeãu^ne perje- cutores ipjiusjtbi tanquampenu- riampiUienti^ '-uakant injulta- re , 'Vel idí inclinari co^atur ad aliquamminus idoneam paãio- nem^fibi dignum duximus proni- dere in Ecckfijs in Bracbarcnfi Pronincía.,i^ DUceji cófiituti-s, iPtfic onm diuifum inpliires,com portetur commoddt; 'uniuerjts, acipfe^pluribiisfuJtiiíJuffragijs^ coniianter inc^ptum propofitum projequatur, ^^%j-> '~oà fejsí ^ab èinsperfecut'!One defiiiant , dum y i der ':nr,quod contra ipfum ne- queant prsuakre,ac ex perfecu- rionefiia.phis àbosons afferat^ quam infiram detrimenti. Vn- '■venerabilibus frairibu'S nof- trts Jtiffraganeís Ecclefi<€ Bra- charenfis^ l^ diUãisfilijs Abba- tibws^Prioribiis^ Decanis^ isf a- líjs EccIeftarúPr^ Lt tis^conjlim tis in Prouincia, ijf Di^cejime- moratis , noUris dedim:^ li ter is inmandatis^i:>t in eorum Eccle- fjs commtiniter fubuenientes op- prejfo pr^dião Archiepifcopo , acfuis, cógruãmpromfionem af- Jignent^adijciendoeidt^quidquid graticcpoterunt^'^elhonoris:ita- quodfibi aptid Deum msritiim, ijf apiid homines campar ent no- menbonnm. Ne ita^j^ pr^fatum Archiepifcopum (ine confolatio-

nisfo latia relinquere t^ideremin; Difcretioni'peflr<eper Jpojioli- cafcripta mandamiis^ quateniis fi diãi fttffraganei , ^JT" alij eidt, utfupernps esi exprejum,iuxta mandatum noflrum negkxerint prouidere , t^w eos ad idper ce- furam ecclefiaUicam^ appellatio- mpo^pofita^ Vompe!la:is. Quodii nonomnes his exequcnii^s potue- ritis intereJ?e/uo "Pefiriím/a ni- hilominips exequatis , non objlã- te conHitutions Concil/j gene- ralis, qiia cauetur^ne quis yUra duas dietas^extra fuam di<ece[im perliterM Jpojlolicas ad judi- cium trahipofsit, Datum Late- raniXlI.Kakn.Ianuar. Pon- tificatus nofiri anno j. 9 Efcreuco outro fy^o Su- mo Poncificeaos Bilpos de Pa lenda, Aíí:orga,& Tuy, em ii. dclaneiro do mefmo áno izií. fe vieíTem logo a Portugal, de- claraííem a elRey A' a Icus - felheiros por eícomungados, i^ apcrtaílem o interdito , ôc as macs ceníuras eccieíiaíticas , quando oRey de todo íe não emcndaíTe, & íacis fizefle os da- nos, & perdas , qucfelheem- punháo. O mefmo repctio no dia feguintc ao próprio Bifpo de Tuy .Si ao de Aftorga , taô apertado cfcreuia , & procedia nefta ma teria. Com ella ordé.

to.t y-r. m-n* fui"

I 3

& cx-

I02

_^ III - , ^-

CapitoloXXII.

& exprcílo mádado de fua San- tidade, íc vieraó a Portugal os Bifpos nomeados deTuy, &c Palencia (do de Aílorga não temos eíla noticia ) ôc parece acíiaraõ jàaclRcy mães bran- do , ^ com auimo de íeaccõ- modar ao que o Summo Pon- tífice, & a rczaõ pcdiaõ. A pri- meira couza em que fe enten- deo, foi em chamar outra vez aoArcebiípo à fua Igreja, de em fe lhe reílituirem íeus bés. Com effeito ferecolheo a Bra- ga o Arcebifpo, & nella eítaua quando no Agofto de izzz.te- ue cartas do Summo Pontífi- ce, efcritas da cidade de Alatro em iC'deIunho, pellas quaes lhe dauaamphíTima licença,pe ra poder aíloluer a clRey , & ao Rey noj de quantas cenluras lhe foraó poftas , & elle refer- uara à Apoftolíca : no que fem duuida deuia de enteruir algúa emendada parte delRcy, ou pello menos tratarfe de cõ- certo. Eque o o uueíTc, qual- quer que elle íoírc,conieitu ra- mos de húa doação feita pello mefmo Rey, a D. VicêteDeaó deLiíboa, de certo preílimo- niOj & diz , que lho da por a- mor de Dcos, da bemauentu- rada Virgem Maria,(í;^ pello fer uiçOy que delle DeaÔ recebera no

concerto que fe^^com o Arcebif- po de Braga D, EUeuao. Fcíie a carta em Santarém na fcfta da Aílumpcáo denoda Senhora ij-.de Agoílo, era iz6o. annos de Chríílo lazz-coníirmáo D. Eíteuáo Arcebifpo de Braga, D.Pedro Arcebifpo de Com- poftella, D. Martinho Bifpo do Porto, D.Martinho Biípo da Guarda , D. Sueiro Biípo de Tuy, D. Bertholomeu Bifpo de Vifeu , D. Pedro Bifpo de Coimbra^ D. Pedro Bifpo de Lamego, D. Sueiro Bifpo d* Euora,& outros fenhores Ec- cleííafticos,&: feculares. IO Hebem verdade, que

no brcue,que o meímo SGmo Pontífice efcreueo aos Abba- des de Cellanoua,& deOílcira, da ordem de S. Bento, & refor mação de Ciíí:er,no Rey no de Gallíza, ^' Bífpado de Oreufc, em I C. de lunho deíle anno izii. emqueeftamos, lhe en- comenda venhão a eíleRcyno, amoeílem a elRey,& lhe eílra nhem deixarfe eftar tanto tem- po cenfurado, & fobre tudo lhe cntimem lance de feu ferui' ço, &: aparte de fua peflba,ao Deaõ de Liíboa D. Vicente , ao de Coimbra D.Ioaõ , & ao Chantre do Porto D. Pedro, $C 3 ellcs fe íayaõ logo daCortc |

fo-

*D. Efieuao Soares da Sjlua.

103

íopena de per Jimenco de ícjs benefícios, & inhabilidade pê- ra q uaefcju cr outros , alem da efcomunháo mayor, em que logo cncorrcriaõ, quando não obedcceíícm. Porem como o cõccrco em Portuízal, ou o tra- carie dcile, foíle quníi no mef- mo mes , em que efte breue fe paí!bu,náo podia o Sumo Pó- tihce ter ainda noticia delle em Rom:?. 0

CAPITOLO xxiir.

D O FIM QVE TIFE-

rao eíUi contendas entre el- Rey 5 ÍT" o Arcebijpo , tf de fua morte.

Efies termos eíiapaõ oRcy, oReyno,&: o ArcebifpOjquã dcDeosfoiíer Ilido leuar pêra fy ao mefmo Rey na cidade de Coimbra a ij. de Março de 112,3, antes de poderdar aratisfaçáo, queou ja porcfcritura , ou ao menos de palaura , tinha prometido. Pcré naõ eftoruou tamanho accidente, o qucertaua capitu- lado,anres elRey D. Sancho o

II. filho, & fucceílor do Rey morto,aindaque moço, & em menos de 17. annos deidade, querendo entrar com béçoes, tSi boa eílrea no Rey no, paíla- dos os dias , que eraõ deuidos ás exequiaSj& nojosRcaes,mâ- dou tiueíieeffeito o concerta- do entre íeu pay5& o Arcebil- po. E logo no mes de Junho íeguinteíefezdecudo cfcritu- fa^aqual temos aqui neíle car- tório em lin^ua latina, pollae- mos íòem Porcuguez. 2. Correndo demanda os tí- pospajfados entre o Senhor Rey D. Ajfmfo II de Portugal de hâdparte^llfofenbor Arcehifpj de Braga D. Efleiíao da outra ^ fobrej tf por re'^h de certos ga- 1 dos, tf dinheiros , dos quaesfe ; di^a elRey esbulhara a cert.í^ \ Igreja ^tf mosteiros^ tf fobre ai i gÚM ca^í^tf njinháfjj' outros \ danos dados ao mefmo Arcebif- \ pOytfá Igreja de Braga , tf ao i Tbefoiíreiro delia ^por re^^ao d<i6 ' quaes coufu elle Arcebifpofi^- ra publicar fentenças de interdi- tos contra o Reyno, tf ''varias i efcomunhoes contra o mefmo ^ey D.Affonfojtf contra feus minif- tros ^tf aUiados , tf contra as peJJoci4 de certos Clérigos Jsf c6- traalgú^is terras, tf Concelhos y parte em nome , tf por authori-

u

dade

I04

CapitoIoXXIJI.

dade ddle Ar cebifpo aparte por \ decreto do Summo Pontífice : Í!7' hora fendo o ditoRey falecido da ijidaprefente , omiepor bem el- Rey D. Sancho IlfeufilhofaT^er com o dito Arcebifpo amigauel compofíçao , na forma feguinte. 3 Primeramente jurou el-

Rey , iff com elle os fenhoreí de fua Corte, aosfantos Euagelhos^ que compriria a^ coufas feguin- tes^ comuem afaber , que pellos gados , ip" dinheiros y forças , (^ esbulhos feitos y daria afatisfa- çcio,quejuflofor ajui^,i^ aua- luamento de D. SueiroPrior dos frades Pregadores em Efpanha, iff do Arcediago de Braga D. Garcia Mendes , ijf de Fernão Perece hantre ^ que foi de Lif- boa,ajuramentados ^que com boa procurem aueriguar a "Perda de no que toca aos gados , Í!f di- nheirOjijf logo determinem ami- gauelmente quanto fera bem, que o Senhor Rey de ^i^ em que for' ma : Í5f ambas as partes fejao o- brigadcís a eBarempello quefen tencearem. Prometeo também o mefmo Rey^que elle daria aoAr- cebifpo por todos os danos , que porjeupay lhe foraÓ feitos, a el- le,iff a fua Igreja , féis mil cru- í^ados de ouro da moeda Portu- guerra , i^f corrente : i^ que nos mefmos lugares lhe fará edificar

outras cafas femelhantes as qUe fe lhe derribarão. 4 Prometeo maes^quefara depojitar em AgoaLeuada trin- ta mil cruzados de ouro ijelho^ perafatisfaçao do dinheiro , l^ gados tomados aos mofieiros^ ^ Igreja6,lf das cafas derribadas ao Arcebifpo, i^ Thefoureiro de Braga ^ip" qeUes trinta mil cru- zados fe depofitariao nas mãos dos ajuramentados, . E D- Du- rando Martin^ por mandado do Senhor Reyje^menagemao dito fenhor Arcebifpo , que elle defenderia o mefmo dinheiro, isf aos três depofitarios delle, atè difporcm do dito dinheiro. E os mejmos três ajuramentados de- pofitariao cinco mil cruzados no mofteiro de Santo Tyrfo^ou nou- tro lugar, qual elles no Rey no ef- colhefiem. Eo Senhor Rey deue- riafaa^er, que o tal dinheiro ahi fe receba , o que fenao fizefie,os juramentados os entregar iaÓ ao fenhor Are ebifpo, pêra que elle os defpenda, como elles mandarem. E que o mefmo Rey mandaria fa ^erjufiiça ao mefmo Arcebifpo dos Barões ,Iui^s ^ ist outros quaefquer, que danificarão m coufvs do Arcebifpo, i^ da Igre- ja de Braga. E de Pêro Garcia, i!f de Ruy Mende\, faria cofor- me lhe aconfelhafie o mefmo Ar- \

ccbifpo

T>- EHeuao Soares da Sjluã^

105

Icebifpo^ fem perjui^ feu , Iff do Senhor Rey^tf que o Senhor Rey perdoaria ao Arcebifpo^ao Btfpo do Porto^aoThefoureiro de Br a ga ^ isf ^ todos 05 que for ao da parte do Arcehifpo^que a elle^ísf afeupaypor catifa dejl as dife- renças òffenderaÓ. y Jlem difio o mefmo Senhor Rey depo fitou no mofleiro de f an- ta Crw^outros "pinte milcrw^i' dos de ouro a>elho , dos quaes o Prior defantaCrwsJja defuprir tudo o que mandarem três lou- uados^tf nao puderem chegar os trinta mil cruzados de Agoa Le uada,Í5i' pêra ijhfe obrigou com juramento o mefmo Prior de fan ta Cru^.Os Barocs^a quefe deu juramento por parte do Senhor Rey^foraÔ D. Pedro loao mor- domo da Corte ^D . Martim loao Alfers^D.IoaÓ Mendes ^D.IoaÓ Fernandes, D. Rui Mendes, D. Garcia Mendes, D. GilFafques, D .Poncio^D .Henrique D, Abril Pires^D Fernão loao ^ D. Gon- çalo Mendes Chan^arel do Se- nhor Rey.

6 O fenhor Arcebifpojurou aosfantos Euangelhos^que tinha diãte^que fendo primeiro depor- tado o dinheiro acima dito no lu- gar de Agoa leuada, do qual de- po fito cofiar ia por afsinados dos mefmos juizes ^que fendo o Arce-

bifpo fat is feito de féis mil pecais de ouro da moeda portugue^^a, atras declaradas , logo fem mães demora afolueria a todo o Rey no , i^ leuantaria c6 ajfolui^ao geral ^todas a4 fentê^as,que deu, ip* fe^dar afsi de interditos, co- mo de ef comunhões mayores , ou menores , contra quaefquer lu- gares , i^ contra o Reyno^ Con- celhos, ^pejfoas afsi deClerigos, Ist frades , como de leigos , Í!f quaefquer outros ,que a efiadif- cor dia der ao occafiao, quer as di~ tas [enteias fof em dadas por elle fenhor Ar cebifpo, ou pello fenhor Papa ^ quer por jui^^s,ou mmif- tros de ambos ^ou de cada hú, l!f iJ?o com direito,oufem elle, quer ijalidas,quer inualidas , iff que perdoaria ao Senhor Rey,lff aos que for ao com elle nefia difcor- dia: deixando enterrar aos efcô- comungados emfagrado, tfos q quebrarão o interdito, com con- dição,que os tornariaó a defen- terrar,i^fepultariaÓ outraye^ comodeuiaó, if qda dita<^ol- uição daria letras patentes, fella- das com feu próprio fello, a todos aquelles, que aspediffem. Dada emCoimbra no mes de Iunho,Era MCCLVI. confirmandoa o fo- bre dito Rey , tf Ar cebifpo com feusfellos . For ao prefentes D^ Pedro Prior de Alcobaça , D.

Rodrigo

O

Io6

Capitolo XXIII.

Rodrigo Prior do Hofpital^D, Amhricio Prior de Tarouca , MeUre loaÓ DeaÓ de Coimbra, MeHre Vieste DeaÓ de Lisboa, D Thefoureiro de Bra^aJ. Cha trede Coimbra, D.PMefhe do Templo em Portugal , D. Suei- ro Prior dos Pregadores , MeJ- tre Pedro Chantre do Porto, G. Arcediago de BragaJ. Thefou- reiro da Guarda. 7 Comportas aífi as cou-

Tas tocantes ao Arccbifpo,fíca- uão ainda outras muitas , per- tencentes às Igrejas, 6c pcílbas Eccleííafticas do Rcyno , q lo- bre maneira andauáo auexadas por elRey D. Aftonfo o II. Ôc íeus minillros . Tudo quis el- Rey D. Sacho fe cÕpuzeíle , & tornaíTcafeii lugar. Primeira- méte aflentoufe^q clRey pode- ria receber as colheitas, q de té- pos antigos íc lhe fohiãodar nas Cathredaes, Morteiros, 6c mães lugares pios , com tanto, que quando porelles paííaíle, náaíofreíTe lerlhe feita algíía in juriapcUos Teus; nem os que pagaílemas tacs colheitas foí- fem obrigados a leuaremnas fora dps lugares dõde as paga- uão.Que ncnhuas Igrejas pello S.Ioaó pagafléforo algiijOUjCO CO dizem as mefmaspalauras do cpntrato, /,o/?e»í Sanjoanei-

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rííí,nem os leigos vaílalos del- Reyouzaílèm, ou vendcUas, ouarrendalas por algum tem- pOjComo tinháo introduzido os Padroeiros leigos. Que nas cidadesEpifcopaes, 6c nosCou tos das Igrejas, ondeouucíTe juizes Eccieíiafticos , elles ou- uillem as partes, & que por ne- nhijaviaelRey íe entremeteria em as julgar , faluo naó cum- prindo os juizes Eccieíiafticos com fuás obrigações , mas que nas peíToas priuiligiadas , por nenhú modo fe entremeteria clRey,oufeus miniftros. Que elRey ficaria obrigado a defen- der as Igrejas, quando fofle re- quirido pellos Prelados delias. Que largaria aos Bifpos as ren- das, que foíTem Cameras fuás, & que nas em que fe duuidaííc fariaguardar jurtiça.Q^ue fenão entremeteria nos bens dos Cie rigos,& Prelados mortos. Qup nos morteiros, ou Igrejas não mãdaría íe lhe fuftentaílem ca- uallos,& azemelas de feu feruí- ço,aues ,caés ,&c. Que não Je- uaí]aria,ne pefquiíària dos Clé- rigos, 6c Religiofos , nem dos cartigos , que lhes dauão feus Prelados por feus defeitos, fal- uo quãdo as culpas pertencef- ao juizo fecular. Prometeo mães el Rey, q mandaria emé-

dar

Q)

ÍD. Eífetíao Soares da SjluO-i

107

ttiapped,

\ r Jcrfft.

dar as inquirições dosReguen- gos feitas por feu pay,notocã- tc às Igrejas, & moíleiros. Q^ue ordenaria a íeus vaííallos , & pcfloas de leu feruiço , t] pou- zádo nas Igrejas do Padroado, náoauexaílem os Clérigos ^ &c Cazeiros delias. Todos eftesar- tigos jurou clRey, & os Gran- des de lua Corte, que andáo aí- íinadosnelles jComo fe do próprio originaljqnefteCarto- rio (e guarda, & ostrasoChro- niíla mor fr, António Brandão na quarta parte de ína Monar- chia- Feíieo juraméco no mef- moanno, mes , de dia, que os artigos entre elRey,&: Arccbií- po.

8 Com iílo ceíTaraõ por

entaõ as duuidas,& o Arcebif- po ouue plenária íatisfaçáodas perdas , & danos , que lhe fo- raó dados jentregandofelhe lo- go íeis mil cruzados em ouro velho, dos quaes cõprou húas caías na cidade de Coimbra , & outras propriedades , declaran- do na elcritura da compra a fa- zia do dinheiro, que elRey lhe mandara pagar. Leuantou ou- tro íy,todas as ccnfuras^com q oReynoauia muitos tempos eftaua opprimido , repicaraõfe os íínoSj^S: fizeráofe prociíibés de alegria, & dizem as memo-

rias defteCartorio^^rcíT/íío fo^ dosaquclles diás outras tantui Pafcoasde Flores. Acõpanhou depões difto o Arcebilpo D. Efteuão a elRey D. Sancho o II. nas guerras , que emprêdco contra Mouros, em efpccialna tomada de Eluas , onde o fer- uio,náo com a fazenda, mas muito macs ccmapeíroa, & com as armas. Ahi eftaua cm lunfio da era 1164. annos de Chrifto iiió. quando o mef- mo Rey,depoes deganhada El- uas,fez doação a AíFonío Me- des Sarracinis , & a fua molher D. Sancha xAluaris,de certo tri- buto,q fe lhe pagaua no Cou- to de Paredes. Coníirmaõ com o noíTo Arccbifpo outros fc- nhores do Reyno. 9 Chegou oannode i2z8. vitimo da vida do Arcebifpo D.Efteuão.Aos cinco deAgof- to na caza do Cabido defta Sè, & na preíençado Deão, Chan- tre, Meftrefchola, &c Theíou- reiro fes feu teftamento ^ em q deixou por feus herdeiros, & teftaracnteiros de toda fua fa- zenda, queeramuigroíra,aíli de moueis, como de rais , aos Arcebifpos , ôc Cabido de Bra- ga , com muitos legados pios, fuffragios,& anniuerfarios per pctuos,por fua alma. Entre ou-

Brãâ.liíi, I4.C7.

tras

108

Capitõlo XXIIII.

nas peças de ouro, Bi prata^q j deixa àfuaSè,encareííe niuico húa Cruz de prata^ com a aíl;ea do meímo feitio dourada , que fes,pera trazer diante de fy_,co- ino inílgnia da Primazia,& en- comenda a feus fucceíTores a tragão tambem,pera o raefmo cífeito. Sdiò as palauras Itt cru cem argmteam^ optimé deaura- tam, ^ fabricatam,qua egofeci cum fuo haflili argênteo cooper- to, marido fuccejfori bus, meis, yt femper portetur coram eis. Má- doufe enterraríainda q moreí- íe fora de Braga) diáre do The- íourodaSè, defronte do altar ( hoje tudo eílà mudado ) da Madalena, onde tinha laurada fua fepultura,

' IO Parece fes efte teftamê- to na ocaíiaõ de algua jornada, porque em iy.deíle meímo A- gofto , o achamos na villa de Trancozo , onde eftando no fim da vida por húa doença mortal^ que íhe fobreueyo,or- dcnou hum codecillo, em que deixou alguns legados ^ & de- clarou outrascouzas de ícu tei- tamento, em ci podia auer du- uida, he a data fabbado a tarde i7.dcAgoílo,cra izóó.qnefaõ annos dcChrillo xzzS. Acha- raõfe prcfcntcs o Abbadc de Brazea,D. Pedro Fernandez,

Meftre Fernando, EílcuãoPi rez_,*S,: EReuaó loaõ, Cónegos de Braga,o Prior deGuimaraés, & outros. Faleceo aqui meímo em Trancozo aos z/. de Agoi- ro fabbado vefpora de fanto Agoílinho Doutor da Igreja, cujo filho , & Cónego Regrá- te de fanta Cruz de Coimbra,o fazem os Religiofos daquella iagrada Congregação. Seu cor- po fe trouxe a Braga, & foile- pultado no lugar, que jadiíTe- mos. Gouernou ij. annos nos Pontificados de Innocecio , & Honório terceiros do nome, &: Gregório nono. Rcynando em Portugal D.Affoníofegú- do,&: feu filho D. Sancho Ca- pelo.

CAPITÕLO XXIIII.

h D O

D. SANCHO

nome.

OVS Arce- bifposdcílcno me puzemos no Catalogo, que lançamos no fim do liuro da Primazia ambos com duuida fe o fcraó defta Igreja. O primeiro,de quê

agora

í

T>> Sancho.

109

in maHH fcript.

ajioranos cabe falar , fizemos immediacofucccíTorcíoB. D. Godinho, feguindo uiftoao Padre ír.Icronymo Romano, o qual neftc mefmo lugar lhe da dous annos de Prelazia, an tesdc lhe fucedcr o ArGebifpo D.MarciíihoPircz. Poré cóíi- fideradas as coufas,bc qirafi ciiidcnce , não teuc cfte lagar, ncra podcfíeiheaílinar outro qualquer , cm que o façarrtos prcdcccíTor dcD.EÍlcuáò^oa- fcs da Sylua. P&rq|ije^^íGí- raldo íuccdco Dr N^lauiiido , a D. Maurício D. Pajró Mcrl- dez, a D. Payo,jD.Ioaâ^Pccu- liar,&: aefte(regundor<ícpocni as ccílemunhas, perguncadas na inquirição daPrimazía,em rc m po de CT. Efteuáo , de que cantas vezes falamos) oB. D.Godinho , loeo D. Marti- me.afoi.1 ^"0 Pitcz j D. Pedro chama- do o Eleito^Sc D. Efteuáo, os quaes,dizcm, conhecerão to- dos . Nem puderaó paíTar por D.Sancho, quando naquelle nicyo tempo oouucííc, pões í hum dos artigos a que depu- \ n hão, era quantas Arc&bijpos fiorecerae, entre D, loaÔ Pe- culiar,^ D. EfieuaÔ.Os mães Authorcs, que falaõ cm D. Sancho, o confunde com ou- tro D.Sancho fegundo do no

to, r. rer

me, fc por ventura o ouuc, ôc de que tios fallarcmos a feu tempo.

X OChroniíía mòrdc- ftcs Rey nos frei António Brã dãOi arrependido de fazer im- mcdiato fucccífor de D. Efte- uáo Soares da Sylua ao Arcc- bifpoD. Sylucftre Godinho, dizqucaD. Efteuaõ fucedeo D. Sancho j ôc prouaocõhíja

' cfcritura original, que achou no moftciro de S, loaõ de Ta- rouca , feita cm Fcuereiro era de rnil duzétos Sc fetéta annos dcChrifto mil duzétos &trin

; t3-& dous, na qual fe diz , era fjsnhor de Penoias. Fernão Fer- nande^^ t^ Arcebifpo de Bra- ga D. Sancho . Granule força tíosfez por algum tempo cfta efcritura,& confeíTamos, que por cila, & pcUa authori4adc de qucma traSjcftiucmos qua- leuados ú admitir por Arce- bifpo dcfta igreja, & fuccflbr de D. Efteuáo a D. Sancho, fenaõ ,quc examinadas mães de vagar as memorias dcfte cartório , per lienhum cafo o fofrcm. No capitulo feguintc veremos, como hum anno antes do cm que aquella doa- ção de S.Ioaó de Tarouca faz ArccbifpoaD.Sáchojcra Ar- cebifpoD.SylueftrcGodinho,

Brãã lití, 14. c. 7.

«.8.

K

&

no

Capitola XXV.

ôi no pmprio de 1231. em q cila Íj2 pgflóu, te,niQ5 nos aqui hum breue do Sumo Ponciíi- ce Gfcgorio IX. paíTadono Mayo íeguinte ( he a efcricu- radadaem Fcucreiro ) ôc dcri- gido també ao Arccbifpo D. Sylucftrc Godinho,fobre.ma- terias do Bifpo deCoimbra D. Pedro, de q no capitulo vinte ôc cinco fallarcmos. Afliq D. Sancho não tem por agora lu- gar , pode fcr fuccefior do Arcebifpo D.Eftcuaó,&ante ceíTor dp Arccbifpo D.Syluc- ftre Godinho. Na cfcritura de S. loaó de Tarouca fenáo ou- ue erro da parte do Notário, por ventura,q efteja o Sylue- i\te Arcebifpo j ifc. por abrc- uiaturajcomoíeefcreueramoi por todo o nome , a letra primeira , S. ôc que cm lugar de fc ler Sylueftrci fe leo San- cho. Quando não, mães fède- ucmos cm matérias íemelhan- tcs às efcrituras authcnticas deftenoíTo Cartório, que às dos alheos. D elle Prelado «enhúa outra memoria ha nos archiuos de íla Igreja.

D. SYLV ES T R E

Godinho 73. Arcebifpo de Braga.

CAPITVLO XXV.

SFCCESSOS DE SV A yidaatè partir pêra Roma, fobn o remédio deíle Reynd,

ÓOi.tj;>:

4\^

ORTOem

z7.dc Agofto de 1118. o Ar cebiípoD.EÍ- teuão Soares, pouco tmcrao q deliberar os eleitores na peíroa,q fc lhe de- uiadarpor fucceíTor. Logo fe vcyoaos olhos , & defejos de todos D. Syluertre Godinho, por fanguc,letras,& valor,dig niííimo deíla Primacial. Foi fua elciçãOjOU no cabo do an- no izz8. ou no principio do de iii9.Partio pêra Roma,co mo entáo fe coftumaua, pou- co depões de eleito, a pedir as bulias, procurar a*fagraçáo,&r pallio,tudo ouuc, ôc facili- dade,da mão do Sumo Põtifi- ccGregorio IX. o qual, por fe feruirde fua induítria^gran deprudécÍ3,em negócios per-

tencentes

2). Sylueílre Godinho.

Ill

Uo.i.rcy, \ metn foL

rencentes ao bem da Igreja , o deceueem Itália , acè meado o annodeiz3i. Ncílc, &cm 5. de Agofto, eíbndo em Riece clcreueo, & Fez a íabera todos osBiípos {ufFraganeoí deBra- gajComo íagrara,& dera o pl- lio,ao íeu Metropolitano D- Sylueíhe Godinho^ encarte- gandolhe muito o reccbeííem com honra, &: veneraílcm íojciçáo..)

1 anno cm ponto auia tinha chegado o Arcebiípo a PcrtLigaljquando o mefmo mo Pontífice , o occupou em hum negccio, ali às árduo, & difticuicolo , &:ar;ado a gran- des m.oleftias ,&r mfortunio? ,a não cair em peíloa taõ delira, & cíperimentada Entre os Ec- cleíiafticoSj que no tempo dcl- Rcv D. AíFonfo o II. fe moí- craraô menos zelofosdos man- dados Apolíolicos, & appai- xonados do mefmo Rev, &c Teus miniflros,nas contendas^ que ouue com o Arcebiípo D. Eílcuão Soares da Sylua, Az q demos relação , foi o princi- pal o Bifpo de Coimbra D. Pc- dro. Mandou, que em fua Sè, & por todas as Igrejas de fcu Biípado,renãogu3rda(rem as ccníuras poílas pello Arcebií- po , & não obftantc , que tu-

do o maesRcyno cllaua inter- dito,(ò cmCoimbra^com gra- de ícntimcnto do SunimoPõ- tiíice, íecelebrauáo publicamê te os oíficios diu i nos, ,3w como craoKtgaf em quede. ordiná- rio reíiJia aCorte, & os que ihederaô caufa , ficauao dcf- prezo em?mayor e{candalo,& o Rev.corh os feus, em mavor contumaci.i.

3 Vicraõ as couías a fe

compor em tempo deíRey D.Sancho o íegundo , na for- ma, que no cap. Z3. deixamos eícrito. Porem como a exor- bitância , & rebeldia ào Biípo de Coimbra fora tão notória, ^ efcandaloía , não parecec ao Sunimo Pondííce dcixala fcm caftigo , mandou o emprazar peraRoma,& têdooaliem lua prefença , não contumas ,:mas arrependido , lhe mandou dar todos os cargos, que contra cllcauia. Reiukou da repoíla. cfcrcuer o Summo Pontífice mem.fol. ao nofío Arccbifpo , da cidade .^"^S^ dcEípoIeto em 2,j. de Mayo, anno íeifto de íeu Ponticado, &deChr!Ílo mil & duzentos 6c trinta & dous , em q lhe or- dena deponha, &c priue de fcus bencficiosatodos,q naqilalgre jaforaó c5 o Bifpo de Coim- bra ê fenão guardar o interdito,

to. i.rer.

Ki

&

112

Ca pito lo XXV^.

macs céfuras Ecclcfiafticas , & a codos, que dcpocs da rebeldia foraõ prouidos cm quaefquer bcneficios^pellofobredito Bif- po, porque codas fuás nomea- ções, eleições ,&collaçoé3 da por nullas, & de nenhú vigor. Mandalhe outro fy,q aos dcfa- poflados, & priuados defcus benefícios, & prebédas os tor- ne logo a meter de poíTe , fem admitir niíTo appellaçáo, &q cm quanto o não faz , peraquc os esbulhados tenhão donde fc poder fulíentar, IhcaíTine nos bês da mefa Capicular,& macs Igrejas, renda com que honra- damente,& conforme a quali- dade de fuás pcíToaSjfe mante- nhaõ.Em efpecial lhe encomê- da tire do goucrno do Bifpado, aos dous Gouernadores, q por ferem fobrinhos íeus , deixara o Bifpo D. Pedro. E vindo a fallar na pcííoa do Bifpo , diz afli '.Licetautt memoratus Epif- copus non iudicium^ fed mijeri- cordiam pqfiulans , in mambus noíiris fpontanea cejferit 'vo- luntate^lsfnosfeneãuti^acfim- plicitati compatientes ipfius^non dum adpícnam eius , quam re^ quirit excej^us tanti temeritas, duxerimm procedendum , lS''c. Donde claramente fc colhe , q nefte anno de 1132. eftaua o

Biípo deCoimbra D. Pedro cm Roma , onde renunciara o Bif- pado, ôc por ventura fora pri- uado delle , aífi por fua muita velhice, como pellas culpas , q fc lhe empunhaõ . O que de- pões lhe íucederia,& onde aca- baria a vida, naõ podemos Nos adeuinhar. O certo hc , q macs quatroános adiátcdode 1117. cm que começa a achar menos fuás memorias, o Chronifta mor fr. António Brandão^ era clle aindaBifpo de Coimbra. E dcftcdc ii32.emqeílamos,fc pode começar a cotar ogouer no de feu fucceífor D. Tib ur- ciojfe a contenda da depofiçáo naõ tcuc mayores dilações. Do breue referido fc tirou o cap. Tama/e excef. Pr^l. 4 Entrado o laneiro da era 1171 .de Chrifto iz 23. cftando o Arcebilpo em Chaucs , deu foral aos moradores do Couto de Eruededo, onde lhe aíTina as propriedades, &aruorcs de que lhe auiaõ de pagar foro,faz mui to cazo das Amoreiras, & ma- da , que per nenhíja via fc ven- da a fua folha pêra fora doCou- to, & que do íírgo, que fe criar , lhe pagarão íua parte em cafulos.Nos dous fcguintcsan- nos ate o de mil duzêtos ,& trin ta & cinco, nenhúas memorias

acha-

lÍM.l/\»

to,^. rey.

mem,fol.\ 27. ver/.

Br/id.liu.

T>' Sylueílre Godinho,

"3

írk l Lh, ■■ 14 c*. o

achamos do Arcebiípo D. Syl- ueílre, nerte annoem3i. de Março, faz elRey D.Sancho o II. doação a ordem de S.Tia- go, & a ícu comendador (foi de pocs Mel^rc j D. Payo Percz Corrêa, Sc outro íy , ao Gon- uenco de Alcácer (eílaiia então ]iac|uellavilla, di parece efteue depoesnadeMertoIa,oq ho- je eíiàem Palmella ) da mcíma ordem , da vilia de Aljultrel no Algarue, Confirmáodos PreladoSjD.SvhieftreArcebií- po de Emga, M^ítre Vicente cieiro BiipodaGLiatda,^^' Chá çartl áâ Corte, MeílreTibur- cio eleito Biípo de Coimbra, D. Fernanao Biípo d*Ei!ora, D. Pa) o de Lamego, D. Gii de Vifcu.

5 No anno iijíJ. doao

mcfmo Rey em 7. de Janeiro, cttandocm Coimbra, ao mof- tciro de S. Cruz a villa de Ar- ronches em Alentejo , confír- máo o Arcebiípo de Braga D. SylLieflrc,D.PaYo de Lamego, D.Gilde Viieu,D.Fernandod' Euora.Fcz outro ry,no primei rodeNouembro de 1137. cõ- poííção com o Abbade de Tan- ta Maria de Moreruela,moíl:ei- rodeCifteremGalliza, fobre a terceira parte dos dizimos da Igreja de líFanes ,chamalhe na

eícritura o Abbde, Pr/ma^das Hefpanhoé . Alljna cambem a doação da villa de Mercola por clRey D.Sancho o II. con- dição , que mudem pêra ali os Caualeiros de S.Tiago(a quem a doa ) o íeu Conuento de Al- cácer, he a data em laneiro, an- no de Cbriílo de 1139- coníir- máo com elle D. Pedro Biípo do Porto, D. Payodc Lamego. D. Vincentcda Guarda, D. Ti- j burcio de Coimbra. ! 6 Corriáo grandes conré- ! das na cidade do Po 1^0, entre o j Biípo D.Pedro Saluador,& os I Padres Pregadores, que elle ah trouxera, reíultou das defaué- j ças,que o Summo Pontífice Grogorio IX.por qucixas,que na materid teue,ercrcueoao Ar cebifpo D.Syluertre procural- fe de os com por, & amocrtafle ao Biípo defiHiíle das violen- ciaSjque fazia aos frades , quan- do naó, oapertaííecom cen fu- ras. He o breuc efcrito em Ana- nha em 24. de Sctébro no vn- decimoanno de feu Pontifica- do,! 238. de nolíaredéçaõ.Qua do porem chegou às mãos do Arcebiípo era entrado o de iz35>. Defejou grandemente o Primaz, que oBifpo naó appa- receííe em juizo , auizou o do rigor de fua comiflaó, & porq

Omefm» 8.

Fr. LmSi àe Souft hiji.de S. Domifígt Itur.^, c,

K3

nao

114

Cafitolo XXVI.

\ nao quiz aceitara paz , antes a dcfprezou^mandou o finalnie- te muitos outros Cónegos, apparecer em Bragajdefembar- gou 3 obra do mofl:eiro,leuan- tou as cenfuras poftas a quem nellas trabalhafl'c,arè q íinalmé te vencido mães o Bifpo da pa- ciência dos Frades , q do medo d" outras penas , tornou com ellcs à amizade antiga, $c lhe foi dahi por diante am igo ver- dadeiro.

CAPITO LO XXVI.

VAI A ROMA, MORRE em Itália.

Omosatèsora

o

dilatado a ina- yor de todas as períeguiçoés, q cfte Reyno padeceo na matéria da liberda- de Eccleíiafl:ica,& boaadminif tração da juftiça de feus fubdi- tos , depões que deu na maõ de Reys Cacholicos, & naturaes, pêra a contarmos ícm inter- rumpção. Naciáo os males, delRey D- Sancho fe auer de todo cntreíjado , a homens pouco tementes a Deos , &

que íò tratauáo de íc adian- tarem em riquezas, & poder,& de íe conferuarem cm íua valia, conuertendo em intereííe par- ticular as calamidades publicas do Revno. Trazião ellestaes, como fcnhores da vôtade del- Rey, em feruiço, & ao lado do mjelrao Príncipe, homens em tudo femelhantesafy nacon- fciencia, & trato. Quê fe quei- xaua,ou não era ouuido , ou a queixa aproueitaua pouco, por que o remédio pendia delles, & auia de correr por íua mão. Afll padecia a terra grauiíTi mas calamidades, & injurtiças*. Fa- zia o eftado maesmirerauel,ver que nas apparencias não falta- uá.o a clRcy D. Sancho partes de bom Gouernador, porem na execução dos negócios de mayor importancia,era tão re- milío , que parecia não tinha membros pcra obrar , & nada fabia querer, ou defejar, fenão ao modo , &c arte de feus vali- dos, os quaes, faindo fora dos limites dapriuança,)ànãoeraõ validos, mas amos,& fenhores auíolutos da vontade do Rev. Pareceriaõ os males ,que imos a contar,fingidos,& íonhados, íe não acháramos a parte , que delles coube a eíte noíTo Entre J Douro,& Minho, efcrita pel- i

Ic

D.Sjlueílre Godinho,

115

Tr. Ltíis

\de Sottft

\h>flJ<: S.

DomiK

li»' 3.,

39

Matth 24.12.

Luc. \2, 49.

lo Biípo do Porco D. Pedro í Saluador,que os vio,&r ajudou a padecer, diz elle allí fconuer- tido oLuim em Portugues)em húa carta pêra os Padres Prega- dores juncos em Capiculo na cidade de Burgos ^ a fim de lhe períuadir,quciraó edificar na ci dade do Porco.

2. Pedro por mercê de Deos chamado Bifpo do Porto, aos "Pe- neraueis Varões , ijf em Chríflo charifsimos^o Prior Prouincial, tf Definidores, tf a todo o Ca- pitulo, íjueeftáperaje celebrar na cidade de Burgos ifaude , if emferuico do Senhor perfeuera- '^aatè o fim. Cerrandofejà o dia do mundo , Í!f eflando quafi no cabo ^poes com o poder, tf for- ças j que a maldade tem tomado nelle, naosòfe esfria a char ida- de de muitos, mas de todo fe y>ai perdendo, tf apagando : tf não fe podendo efperar , que aquelle fogo , que o Senhor (veyo pegar terra fe torne a acender , pe- raquecom ijehemente ardor a- ■hra^e as almas.fe não for auiua- daJ^Mbanado com o ar y tf af- fopros defuafanta pai aura. Por ifio ajfentamos^tf temos por cer- to,que criou, tf leuantou a Pro- mdencia diuina a '^oj^a ordem em taes tempos , pêra por meyo delia tornar a inflamar em feu

amor aquelles,qa malícia do pes- cado trás enregelados y tf enmor tecidos. Afsi não ha palauras, q pojfaô declarar, o muito, que tem crecido os excefios, tf defafora- mentos ,maes,que em tod<ts as ou trás partes de Portugal , nefi:e nojfo Bifpado , tf- nas comarcas de Braga , tf Lamego , terras, onde fe "Viue longe do trato , tf confolaçaÓ dos yojfos Religwfos.

3 Podemos d/^r, que "Vai tu- do cuberto de enchentes de peca- dos . Porque andaó leuantados infinitos Jalteadores, ^uefem te- mor de Deos,nem refpeito de ho- mens, fac^em dos Mofieiros , tf Igrejas dedicadas ao culto , tf

feruico diuino , couas de latrocí- nios, cafiellos defoldadefca , ef- trebarias de feus caualos , ca^^ publica de molher es infames^ tf perdidas. Efaqueado os caches, tffa^édas dos Clérigos, tf lama dores, tf ate dos frades, matão à efpada os mefmos ca^^eiros, dian- te dos altares , ou os queimaó c6 os Clérigos. E não baslaÓ pêra refrear tamanhas exhorbitan- cias, nenhúas diligenciai Eccle- Jiafticas de monitorias , tf efco munhoes .

4 Quem poderá ouuir fem muita dor, que chegaó a arreba- tar as crianças dos peitos das mãySftf húas pafaô de eftoca- J

K4

das

Il6

Capítolo XXVL

Ecd.^.l

da^fiutras arrebcntao nospene- dosfiutras affogaó nos riosje os pays depões de roubados de todo, naó acodem a refgataLts com al- gúa cou^deyalia^por pouca^ qtiefeja , ou lagrimas ,isf ro- gos? Quem naó ha de tremer, i^ pafmar,de naô 'valer às mocas ^ ferem qttaf mininoá , ^ muito longe dos annos de ca^r , pêra efe apare dejer , co barbara vio- lência ^forçadas, l^f dentro d.is Igrejas affrontadcu por muitos home s juntos em alcateas, â exe- cufaÓ de taÓ enorme , i?" befiial fenfual idade ? Todos e fies ma- les paJ?aÓ entre nós yif à noffa yifia, i!f njtndofobre elles inju- rias de pobres, lagrimas de inno- centes, Í5f nenhum confolador , como fe queixaua Salamaô. E fobretudo naófermospoderofos, pêra reffiir à forca mayor da gente danada, tf peruerfa, por eftarmos de todo ponto defem- parados, de que nospojfa yaler^

j Acodiaõ entretanto os

Prelados, & Clerezia do Rcy- no, a Dcos cora rogos , ao Su- mo Pontífice com queixas , a elRcy com laftimas.a feus va- lidos cómemoriaes.Fechauafe o Ceo, naõ era o Summo Pon- tífice,fe bem cuidadozo do re- médio, ouuido em fuás cartas ,

& obedecido em Tuascenluras. O Rey,como rcmilío, & froi- xo.crípondia com promelfas , cjue todas paílauaõ em defcjos. Dos priuados eia toda a culpa, faziaõ dos males cabedal ,& dos infortúnios da republica gran- gcaria.Sahio emtão em campo contra elles o Arcebifpo , de- clarouos porpubiícos cícomíí« gados, pos interdito na Corte, & em todos os mães lugares do Reyno. Mandou , pêra ma- yor jultificaçáo fua ler publi- camente os cargos , que o Su- mo Pontifice Gregório IX. da- ua a clRey, entre os quacs lhe eftranhaua muito confentir, q as juíliças feculares prendeíTem qualquer molher , q por qual- quer caufa, quefoílc, cntrafle cm cafa de Clérigo, porq cõcf- te preteifto de prêder as dclin- quenteSjOs roubauao nas fazê- das,&; ínfamauáo na honra. C Com tudo, ou por não

paíTarem adiante as ccnfuras, ou porque aífi eftaua melhor a feus priuados, efcreuco clRey eiládo em Guimarães, húa car- ta ao Arcebifpo,em q lhe pro- metia eftar com clle a cõcerto, & dar fatisfação aos dQnos,quc fc Ihecmpunhão. Headataa ly. deNouembro era 1^76. de Chrifto iz38.temos o original

lat

mo

D. Sjlueííre Godinho.

117

btino ncftecarrorio, o Portu- guês dizalli. D. Sancho por gr^ ça de Deos Rey de Portugal ^ a ■■vos D. Sjluefire pella mefma^ Arcebífpo de Braga ,faude.Sa- hei^que eu prometo firmemente, por efia minha carta aberta,qiie quero feja teHemunha da ver- dade , de fa^erguardar^i^ por em execução os artigos da liber- dade EcclefiaUica conteúdos no Refcrito ApoHolico , que come ça deita maneira. Gregório Btf- po^feruo dosferuos de Deos , ao illuflre Rey de Portugal , defeca efpirito de melhor confelho. Se pe':^reii com madura confidera- cao ,quam efpantofa coufafeja cahir na indmacco diurna , Í5^ nai mãos de Deos ^iuo^certo he^ que njosguardarieis de offender fua Efpo^aa Igreja [agrada^ a- quirida comfeu próprio fangue, 1 if trataríeis os miniftros delia com mães refpeito, i^c. He cfte o breuc, que o Summo Ponti- ficetinhaercricoaclRcy,&: no qual vinháo infcrtos os aggra- uos,quefaziaaIgreja5 & cíeq |lhc pedia fatisfaçáo. Algúa pa- rece deu elRey ao Arcebifpo, comofe vè,da concórdia, que aqui temos , celebrada na mef- ma villa dcGuimaraés,entre os dous,era liyí.deClirifto 1138. lE fe fenaô aponta o mes, fe-

ria fcm duuida no dcNouébroj ou Dczcbrolcguintes,vil\oco mo a carta paliada íe clcreucra no de Outubro. Por força dcf- ta concórdia ouue o Arcebifpo os Coutos dcGouuaés, & Pc- dralua, &: a Gamara da Tou- guinha,coma igreja dePonte deLima,& outras muitas pro- priedades cm Adaufc. 7 Tornarão pouco depõe? os que mandauão o Rcy^ao fcu natural, & elle aosconCentir, crcceraõ es defaforos , & ícm nenhúa efperança de remédio. Parcceo mães expediente aca- bar de hija vez, com a tirannia de táo pcruerfos validos, & a infcnfibilidade de Rey táo ca- tiuo. De comum coníentimé- to , depões de tratado o nego- cio em muitas juntas de Prela- dos, & fcnhorcs fcculares,íc re- lolueo, pediflem cm nome do Rey no a fua Santidade, ao In- fante D. AfFonfo irmão fegu- do dei Rey, que em França vi- uia, & era Conde de Bolonha, náo pêra tirar o Reyno a D. Sancho , mas pêra o goucrnar com juftiça, & melhores con- felhos em fua vida , & depões fuceder por fua morte, náo té- do D. Sancho filhos. Nomea- rão logo procuradores dcftc rcquirimewto, foraõ por parte

do

Ilíj

■' ■■

Captolo XXVL

do ellado Eccleííaítico o Arce- ccbiípo P. Sylueltfs Godinho f^. , 1- (poenioutfos ciradaíiícce D. \d-iReyDl loaõ Egasica íucceíior j òí o ÍSmcIjzA Bifpo de Coimbra D. Tybur- cio.Por parte da nobreza Ruy GomezdeBriteiros,& Gomez Viegas. Partirão do Reyno no I; âimo 1241. chegarão a Roma, i j í íe vacantc;por morte do Pa- paCeleílino ÍIII Acharáoíe na jeJeiçáo de InnocenciOjalli mef ini04jd!0 qual íoraõ bem ou- iuidos ènx íea fequirimenco,& ■remitidos ao Concilio sèraL que pêra a cidade de Leaõ de França clhua publicado, onde Ihedariaídeccnfenrimentoda- iquelles Padres, a refolução, q maesconiiiefle. ;8 Nefta jornada de Roma íperaLeaõj antes de fairdelta- ília, acabou o noíTo Arccbiípo a vida,tomandoo a vltniia doe •caem CiaitàCaftcllana,húa das dos pouos Falifcos , & perten- ce tes agora à Prouincia deToí- cana^ Aqui fez fcu tellamcnto em 5. delulhodexH^-í-^^^ixou por fcu teítamenceiro ao Car- deal de S Corme,& S. Damiáo D. Egydio , ôá mandou j q feu corno foíleleuado a Roma, ôc fcpultado no molkiro de S. Vi ceiite , & Anaftazio,da ordem ,deCifl:crjdonde, fendo Abba-

de/ora tirado pêra Sumo Põti- íice Eugénio III. diícipiilodo grandeS.F)ernardo,& aquêdc- dicou os fcus adnrsiraueis liuros deconfderatione. Morreo de- pões de recebidos todos os fa- cramentos da Igreja , em 8. do meímo meSj& anno^tédo go- uernado cfta Igreja 16. Sepul- taraõno por cntretanto,os có- panheiros ali mefrrto em Ciui- ú Caftellana,&cllesfora5 pro feí^uindo íua jornada ate Leaõ. Noueannosem ponto depões de fua morte o fez tresladar a íepultura de feu teftamétOj fcLi íucceílor o Arccbiípo D. loaõ Fgas^eftando cm Roma.aucn- do para iflo breue domef- mo Siimmo Pontiíicc Inno- ccnciojpafiadocmy. delanci- ro, o vnJecimo anno de fcu PonticadojíSt' deChrifto Nof- fo Saluador iij 5- Fez também antes de partir de Ron-a o Ar- ccbiípo D. loaõ Egas hum có- trato com o Abbade , & Reli- gioíos do moílciro deS.Vicé- iCyík A naílazio confirmado pella Sc Apoílolica^ em o qual o nioUrciro fe obrií»oo a fazer certos anniuerlaiios todos os annosjpeíla alma doArcebifpo D. Sylueftre, pcra os quaes lhe

deu renda,obiij^'andoos,& fo-

., -''

geitanaoos na execução , ao

S. Gualter.Çffr. Rodrigo.

Biípo Cardeal de Oítia,pera a- uerem cópriméco.Na clcricu- turadoconcraco íe faz men- ção da morcc doArccbifpoD. Sylaertrc, & fe diz, foi no dia, mcz, & anno em que a puze- mos.Foraõ cm íeu tempoSii- mos Ponciíiccs Gregório IX. CeIeftino,&: Innocenciolllí. Rey de Porcugai D- Sancho Capello.

CAPITOLO XXVll

S.GF JLTER.E FREI Rodrigo da Ordem dos Me- nores,

LORECEO por cftcs anos o gloriofoS. Gualcer difci- pulo,&com panheiro do Seráfico P.S.Fr a- cifccEraltalianode naçáo^en uiadoaefteReyno,peIlo mcí- mo fanto Pacriarcha,em cora panhia de outro varaõ Apofto lico por nome fr.Zacharias,o qual fundou, &: cif à fcpultado no morteiro dcAlenqucr,on- de Deos por cllc obra muitos milagres. 2, S. Gualtcrpaflbuaeftas

partes de Entre DourojikMi- nho^ por ordédelRey D. Af- foníoolí. & juntoavilla de G tiimaraés na Serra^aonde cha máo Villa Verde, fez Tua habi* raçãocomfeu companheirc, emhíia pobre cazinha. Depões íc edificou oConuentOjquc ali tem a Ordem^ não no fiiio em que hoje o vcmos,mas em outro, que primeiro teue,atê o mandar derribar clRey D. AfFonrooIIII. por vizinhar muito com o muro, & poder dar entrada aos inimigos, cm rcmpo de guerra. 3 Ficou ncfta primeira mu-» dança o corpo do glorio fo Gualter no oratório de Villa Vcrde,& dali pretendcrâá os Cónegos da Collegiada traze- loperaella, porem nunca o puderaó moucr , pormaesy q o pretenderão cora força, &ar tificio , o que os feus frades a- cabaraõ com facilidadc,quan- do de todo fe refolueraõ ao trcsIadar.Manou de fua fepul- tura por muitos annos hum prcciofo lÍGor,rcmcdio fauda- ucl pêra todas as enfcrmida - des. Acudia ao recolher infi- nita gente,q por fe moftrar a- gradecida começou afeftejar fua memoriaaz.de Agofto,& andando o tepo a inftituir era

M9

I

1

ua

|20

Capitàío XXVI L

íua honra confr3ria,5i edificar capclla própria, pêra aqualfo raó trcsíadadas fuás rcliquias o primeiro Domingo de Ago fto , cm q agora íe celebra fua fçfta. A trcsladaçáo fez D.Ful- gcncio Prior deGuimaracSjfi- Iho JoDuquc de Bragança D. Gemes . Na fepulcura íc lhe pos a vcrfo fcguinte* Guaberi tezit hoc ^emrahilis

ojfafépulchrum. Efla fepuitura tem emjy os of- Jos do. 'vène^rauel Gualter. Pu- zcraõalcm deftcEpicaphio no alto da fcpukura outro letrei- ro os moradores da villa^que diz. ' '

i,.Mté<jmhero£>. P.D.Vi- c-tnmfin. Patrono, inftaurati -r^fefii .ruoto IIII. anno que r.MDLXXFII. P.V.F.C. A S, Gualter difcipulo de S. Fra cijco Patrão deGuimaraês,por "poto quatro ye^es renoua do^ no tTohuÍ* anno de i^yj.o Pouo de Guima rats mandou por eíla fepultu- ra. EícreúemdeS. Gualter as Chrònicas da Ordem, Gon- zaga, Brandão, Eftaço, & ou- tros.

4 A ntcs que nos fayamos

do mòfteiro do Guimaracs,íe

ra bem darmos qualquer no-

:ticia, de outro fctuode Deos,

Iquc ncUc florcceojcni tempo

lÇhr0n.i. Ip. Itu, 6,

;<•. 2 7. &

130.

Jortug Men,j,

BrãdJtu. Í3 Cl}»

iflaço tta.dePor

delRey D.Ioaõoprimeiro5& I jaz enterrado na mefma villa, cíiamauafe fr. Rodrigo , cele- bre em fua idade, pello admi- raucl efpirito de profecia, cõq Deos o illuftrou. Mandauáo- Ihe de todos osRcynosdcHef panhaconfultar as duuidasde fuás coníciencias as principaes peílbas delles. Entrccftasfoia Rainha D. loanna deLacerda viuua delRey D. Henrique o II.de Caftella, & may delRey D.Ioaó o I. DefejauacftaPrin ccfa, que elRey feu filho ^ na- quella grande Cifma, quccn- taõ fe começou a leuantar na Igreja de Deos entre o verda- deiro Sumo PontificeVrbano VI. & o Antípapa Clemente VILacertaffea qual dos dous clle,&fcusReynos deuiãodar obediécia. Mandou íobreifto peíToas de cõfiança a Guima- rães a fim de pergutarê a fr.Ro drigo,qual tinha por legitimo fuceíTor de S.Pedro,fe a Vrba- nojfc a Clcmcte? Antes de lhe falarê > ou perguntarem coufa algija os Embaixadorcsjvendo os diante de [y.Á Rainha (dif- (c)que ca ijos mandou hefal lecida.VoJ?o Rey mo obedecerá ao 'Verdadeiro SummoPontiji' ce-.cájligaloa Deos feueramen- te, Aíli aconteceo , que clRcy

D.

D. loaÕEgas IL

121

Aíaúáit* lib. ij.c*

H!jí. ri'

D.Ioaõ o primeiro deCaftel- lafeguio as partes doAncipa- pa Clemente , perdeo o Rcy- iio de Portugal, íobre que cõ- tendia, & a famofa batalha de Aljubarrota-morreoda queda de hum cauallo em Alcalà de Enares fendo de idade de 3^. annos.

j- Acerca da fepultura de

Fr. Rodrigo eícreue Gonzaga eftar na Colle<íiada deGuima- raés, na naue de Iesvs, alta da terra, & embebida em hum arco da parede, ao voltar pê- ra Sancriftia. Abriofeaíliftm- do em Guimarães, &c napre- fença do Arcebifpo D. frei Agoílinho de Caftro , eífa fe- pultura,achoufe détro pouca terra ^ & hum oíTo da cabe- ça de hum home. OuaquijOU cm qualquer outro lugar defta villa, que o feruo de Deos te- nha fua fepulrura, teraõ fcm duuida nelle feus moradores perpetuo incerceílor diante da diuina prefença , pões efte he o particular officio dos fan- tos cujos corpos re- mos,& venera- mos entre nos.

c:^..i;.

D.IOAM EGAS II.DO

nome, & 74.Arccbifpo de Braga.

CAPITOLO XXVIIL

FAI AO I. CONCILIO

de Leaoy recebe em Paris o juramento cio Infante D. Af fonfo eleito Gouemador def- te P<eyno'

Ogo, qemCi uità Caftella- na leuou Deos NoílbSenhor perafyao Ar- cebiípo D. Sylueílrc, o Bifpo deCoimbra D.Tiburcio,Ruy Gomes de Briteiros,& Gomes Viega3,auizaraó ao Reyno, &c a Braga de fua morte. Ouuecó a noua extraordinário fcnti- mento , alli pclla perda de tal Arcebifpo , como por fer em occaliaõ , em que de íua prudência, valor, & induftria pendia o remédio de tatcs ma- les. O mayor cuidado por en- tão foijdarfclhc fucceílbr,que pudcííe leuar aquclla cmpre- za adiante. Nem foi neceíTa- rio trazeréno de fora , nofeu mefmo Cabido o tinháo,& de

L caía

1^3

í

CafitoloXXVIII.

\^it,^.

caía , &c criação do Arcebifpo D.Sylueftre.Era D.IoãõEgas, ou Viegas, filho de Egas Hen- riques , & de D. Tareja Gon- çaluez de Ccrucira. Neto pella

Iparce do pay, de D. Henrique Fcrnandez,& de D. Ouroana; pella da mãyjdc D. Gõçalo Vie gas de Cerueira,& de D. Vrra- ca Vafques^de quê falia oCõde D. Pedro, no titulo dos dePor- toCarreiro. Outros quatro ir- mãos fabemos ao noílb Arce- biípOjGomesViegas^por febre nomePeixoto,Góçalo Viegas, o Alcoforado,Reimaõ Viegas, o q tirou de cafa a elRey D.Sã.- choCapello aDonaMeciade Haro , & a paíTou a Caftella: Lourêço Viegas,dc alcunha o MaíTa Madeira, todos peííoas illuíbes,& que nas guerras do Rcyno obrarão façanhas de grande valor.

i He certo,qja no cabo do anno ii44.D.IoaõEgas era Ar cebifpo eleito dcfta cidade:po- réa fagraçáo,& pallio,não pa- rece tcue , fenaó pcllo Março do auno feguinte. E como de- fejaua proceder coni clReyA' feus validos juílifíeado, pcdio primeiraméteafua Alteza,qui zeílc tornar fobreíy, & ver o elbdo.a q a elle,& aoReyno ti nháo chegado feus priuados.

Aos q mãdauaõ ao Rcy fallou rambe por muitas vezes,pon- dolhediantedos olhos os ag- grauos^cÕ q cada dia,maes ^ 6c mães feauexauãoas lgrejas,ó«: pelfoas Ecclefiafticas : a tiran- nia,cóq publicamétefc vendia nosTribunaes ajuftiça,quádo achaua cõprador: a crueldade, qíc caftigauáo vícios mcno res, quando cõafazêda ícnio podia comprar a mifcrieordia. Mas eraó por demaes as amo eftaçoés ,úde a ambição, co- biça eraó fenhoras das vonta- des. Aífiq.védo o Arccbiípo, q rogando,né amocftando aproueitaua coufa algúa, decla- rou de nouo a elRcy, òi. a feus miniftros por cfcomíígados, confirmou o interdito por to das as Igrejas doReyno,&: fain dofe de Portugal fe foi a Leaõ de França,ondc ja achou o Su- mo Pontifice Innocécio IIH: Ali, depões de o enformar de nouo dos males,q paírauão,&: cõtinuauáo entrenós, íe veyo vltimamcnte a rcfoluer,q o go uerno de Portugal fe entrega í- fe ao Infante Conde de Bolo- nha,como fe pedia,& q aParís onde então eftaua , foliem O Arcebifpo , o Bifpo de Coim- bra, & os mães Embaixadores a tomarlhe o juramento, &

cmena-

D. JoaÕ Ezc^s IL

I2J

ofncnage,como procuradores doRcyno,&: aceitantes do contraco.Do Brcue de iua Sa- tidadsíe tirou ocap.Grandi,de fupphnda neglig. pr<elat. in 6. O juramento íe deu , 6c rçce- beo na forma feszuintc. 3 J rodos os que efta efcri- tura Virem ^Mesire Io ao C apel- ido dofenhor Papa^lsf Deão da Igreja de Chartres.^Mestre Lu- ca-s Deao^Í!f Mefire Pedro Carp celario de Paris, Pedro Garcia Thefoureiro de Braga , Sueira Soares Chatre^Fr. Pedro de Poi- tiers,Cufiodio da ca^a dos fra- des Menores de París^Fr. Hen- rique Teiitonlco^ Fr. Martinho de Vakntinis^ Fr. Pedro Jffbn- fo Hefpan hol da Ordc dos Pre- gadores,Fr . Domingos de Bra- ga da Ordem dos Menores, Ruy Gomes de Briteiros ^ tf Gomes Fiegas Caualeiros, Pedro Ho- nor ico, isf FjleuAO Annes '-va- rões nobres camareiros de D. Af fonfo Co de de Bolonha faiide em ofenhor . Atieis defaher , que o illufire ^-uaraÓ D . Affonfo Con - de de Bolonha ^tf filho de D.Af fonfo Rey de Portugal ^de Íncli- ta memoria , eivando em nofa prefenca jurou aosfantos Euan- gelhos^cni qposfua mao^dando- Ihe o juramento o Venerauel Pa dreD.Ioao Arcehifpo de Bra-

ga emfeu nome , ^ loaó Mar- l tin^ CapellaÓ do ijenerauel Pa j dre D. Tiburcio Bifpode Coim- bra em nome do dito Bifpo , íjo madou,pera efle effeito/Ófeufel lo^ nao podido afs iflirpor caufa de enfermidade na forma fegu inte- 4 Eu D. Affonjo Conde de

Bolonha , filho de D. Jffonf de illusire memoria Rey de Por- tugal^prometOj tf juro febre ef- tesfantos Euangelhos de Deos, que por qualqu er titulo ^ que al- cançar o Reyno de Portugal , guardarei , tf farei guardar a todas díComunidades, CÓcelhos^ Caualeiros , tf aos P o tios , aos Religiofos , tf Clero do dito Rey no , todos os bons coUu— mes , tf foros , efcritos , tf nao efcritos , que tiuerao em tempo de meu Auo^tfde meu yifauó,tf farei quefe tirem todos os mãos coflumes , tf abu^s introduzi- dos por qualquer occafiao^oupor qualquer pefoa em típo de meu pay , tf irmao , tf p^rticular- m ente, quando fe cometer homi- cídio, qjenaohuc dinheiro aos '"vizinhos do morto ^ quando he 'manifefio, quem foi o matador. j Também farei j quanto

for em minha mão , que por to- do o Reyno fe po-ahão jui^i^s juf- tos , tf tementes a Deos , con- forme o eu melhor alcançar , tf L 2. eh-

J24

CafitoloXXVIIL

elegerão , ou por ^oto do pouo, ou de outro modo licito ^ if con- forme a ley de Deos , l^ mo por dinheiro,oupor opprejfaô dospo uos^oupor -valia de algum po- derofo fenhor damefmaterra^ if o que fair eleito tratara de fa^erjufiiça inteiramente a to- dos JegundoDeos,Í!ffua confcit cia ^f em ex ceie ao depejfoas , ^ pêra eUefim fe mandara deuaf- far todos os annos dos ditos jiú- ^es ,£7' os culpados ferao castiga dos Jegúdofuoó culpas merecere.

6 Também prouerei, que JefacajuJ}iça dos homectdai^em

efpecial daquelles^queper Jy^ ou por outrem prendem^roubão^fe- rem^matao chngos , ou religio- fisjjf a pena fera tal , que f que aos mães por exemplo.

7 Defenderei ^iif com par- ticular cuidado conferuafei os moUeiros , lugares pios , Cléri- gos ^ ip' Religiofos , t^ fuáifa- ^ndoó^ quanto for em mim ref- títnirei^ Í!f farei, quefe lhe ref- titua tudo o que ate agora lhe foi mal leuado , feja qualquer pejfoa j que lhefi7;ejfe o dito da- no. Darfelheà afatisfaçao das perdAs^tf injurias, que por qual- quer modo lhe fejao feitas por quaefquer pefoas , ou fejao pa- droeiros,ou herdeiros, conforme o que julgarem, que couem ãpa^

do Reyno,i^ Arcebifpo de Bra- gafi Bifpo de Coimbra ^if os ou- tros Prelados j Religiofos, l^ mães homts bom, que naoforem fofpeitos , nem culpados. 8 Mandarei, quefe desfa-

rão as quintas,^ c afãs feitas de nouo em tepo de meu irmão D. Sancho, que for e emperjui-^ de outrt^iff principalmete daslgre jas,mojieiros, ip' mães Religio- fos,fem lhe faler prefcrip^aÒ de tempo.

í> Tambêprometo,qdefen derei as Igrejas , if Mofteiros^ efpecialmete daquèlles^qporfeus delitos, ou de feuspays te perdi- do juridicamente o direito dopa droado das mefmas Igrejas j:an- to que diHo me coftarpor infor- mação dos Prelados.

Prometo de euitar todos os

10

ef comungados, q me constar, q o faÔ , i^fe os taes moTtrart con- tumácia,l:^ permanência naqlle mao eílado, depões de os terpri- uados das mercês, q de mim tiue- rc, lhe darei mayor caíligo ^con- forme o arbitrarê os Prelados , ÍP* deue fa^^er todo o Príncipe ChriUão.

í i De cofelho dos mefmosPre lados fe faixara tabepena aos q penhoraó , ou fa^em injurias aos que os efcomungao , isffem auer eceiçaÔ de pejfoas fe dará

a exc"

D. loaÕEzas II.

125

a execução o caHigo. \z Mães prometo de tião

receber colheitas em quantida- de de dinheiro certo, nem majo- res do que meu Auo recebia , Ijf jíiofó hiia a^es no anno,tf qua- do paj^ar peitos lugares onde (ts pagão jO farei com breuidade^i^f guardarei 0 que nejlepa?'ticular deixou ordenado o Papa Gre- gório nono à inílancia do Arce- bífpo de Braga Jjf far cisque em todo o Reynoje cumpra.

1 3 Emmendarei^ljf procu- rarei , quefe emmende^ confor- me julgar em os Prelados /ejpei- ta ndo o efiado do Reyno , i^ a quietação delle , todos os males, que atègorafef^eraÓ em Por- tugal ^Isf naopermitirei^que da- qui em diãtefe com et ao f em caf- tigo , dos quaes trata o Decre- to do Papa Innocencio IIII. di- rigido a mim^i^f aos Prelados.^ Communidades^ÍP' maespejfoas do Reyno.

1 4 Também prometto de cumprir^ ^ tratar fielmente., quanto for em mim, ogouerno, isf adminiUraçao do Reyno , iP" mães coufas , peraquefou elei- to , l^ farei ^ que faça jufiiça com todo o cuidado , (^ que não perualeçãoosmaos , que a cada

Ihumfe de o que hefeu^fem ref- peito a grandes, ou pequenos, po-

bres , ou riquos. Serei mui obe- diente fempre a Igreja Romana minha may\ccmo coniã a Prín- cipe Cathclico^ lif tratarei quã- to puder de a honrar , tf exal- tar , fem nifto auer duuida , ou encano.

1 5 Em todos 05 negócios^ que tocarem ao efiado do Reyno, pe- direi tambt o conjdho dos Pre- lados, ou daqueíks^ que fem dif ficiildade puderem fer charda- dos,tf nuio nno auera engano.

16 Porem por eUefegredo, ouconfelhonão entendao os Ar- cebifpos, tf Bijpcs, que o Con- de fera obrigado , quando cuuer de fa^^r aosfeus mercê de ter- ras,ou d nkeiro^pedir o parecer dos Prelados , porque nisto fe- guirào que for mães acertado, tf afsi lho concedem os mefmos Prelados . Todas eJtas coujas eu fijbredito Ccnde cumprirei, refguar dando meu direito, tf do Reyno de Portugal, de modo^ que tudo ofobreditc permaneça firmementCytffc guarde,tf ctí- pra em tudo, tf por tudo.Achsi-

fe cfte jura meto era híia buUa^ quecftà no Cartório del- ta 5è.

L3

CAP.

126

Capitolo XXIX.

CAPITOLO XXIX.

DO QVE SFCCEDEO ao Arcebifpo depões de en- trar mjle Reino o Infante Gouernador ^até a morte dei Rey D.Sancho.

EITO oju- raméto em C. de Secêbro era íiSj.deChrif- co i2.4y. com a lolénidade acima referida, fe defpidio o Infante da Rainha de França D. Branca fua da,& de feu filho elRey S. Luis , & com o Arcebifpo , òc os mães Portuguezes^q no ado alTifti- ráo jfepartio a Portugal, & noFeuereiro feguinte eftauao nelle,&: o Infante confirmaua os priuilegiosda cidade de Li(- boa, depões deaefperimentar fiel em feu feruiço. Cõfirmao também o mefmo priuilegio

0 Arcebifpo D.Ioaõ,D.Tibur cio Bifpo de Coimbra, D.Gõ- çalo Comendador de MertO" la Caualleiro de S.Tiago.

1 Pella muita gente, que com o Infante Gouernador fe

iáçaua , vio bem elRey D. Sa- cho não fer poderolo a lhe fa- zer refiftencia , fe não fo iTe a- judado de forças eftrangeiras, folicitouas , òí alcançouas em Toledo delRey D.Fernádo íeu primo, mandandoemfuacõ- panhia ao Infante D. AfTonfo íeu filho primogénito , com a gente de guerrajque então lhe pareceo baílante pcra a em pre- za Entrarão em Portugal pel- la Comarca deRibacoa, que então era de Caftella, fazendo todos os danos q podiaõ. An- tes quefaiíTe a fuadefenfa o In* fante Gouernador,cfcreueo ao CaftelhanOjintcirandoo do di- reito, & juftiça , com que en- trara a goucrnar efteRcyno, comoelRey feu irmaõ per ne- nhíá cafo fora priuado do ef- tado,& dignidade Real , antes nella feria tido^ & conferuado com a Mageftadc , com que ate life tratara, quando fe qui- !zefl"e aquietar, & tornar pcra o Rcyrio , onde era tão defeja- do de todos feusvaílalos . Mas porque a nadadifto deferião o Infante de Caftella, &r os Ca- pitães de feu exercito, efcreue- raõ logo o noílb Arcebiípo,&í o Bifpo deCoimbra D.Duraó^ fucceíTor de D.Tiburcio , quê pouco auia era^Ilêcido, aos

Guardiães

-.1

2). loaÕ E^as II ,

127

jRui de Pi na íhron, âelRej 'KSan

Guardiães deSaõFranciícoda Guarda, òi Couilham ( deuia c.rtar perto del-tas cerras o exer- CKoCalUlhano,aindaqaChro D.Santh nica Q fa2 ja não longe de Lci-

''^'^' ria) mandandolhe, por virtu- de dcíua comiflaõ/ieclarallcín ao Infante, a feus Capitães por efcomungados , quando náoquizeflem deliftir das ar- mas,& violência, que faziaõ ao nouoGouernador. A forma do monitorio traduzida em Português, dizia. 5 JoaÓ por permiJJaÓ di-

uina, Arcebifpo de Braga , Í5f Durão pclla mefma,eleito Bifpo de Coimbra , aos Religiofos •'va- rões^ Í!f amados em Chri[to , os Guardiães da Guarda ,i^ Co- tiilham da ardidos frades Me- nores ,afeus ConuentoSy hf aos fieis, defejaojaudô , Isf c^ue aca- bem a "tilda na cofi^ao de Chrif- topella just'^a. Somos informa- dos, que os nobres 'varoes D. Diogo Lopes ,D .Rodrigo Gomes de Galliza, D. Ramiro Froyle, D.Rodrigo Froyíe ^àf D. Fer~ nandianes de Lima ^ tinhao en- trado em Portugal com D- Af- fonfo filho primogénito delRey de Cafiella,i:f Leão ,pera effei- to de empédirem aprouifaÔ A- poíiolica. 4 Nós deputados peilo su-

mo Pont ifice por executores del- ia^ mandamos a '"vojfa deuaçcô em yirtude de [anta ohèdienc a, que chegando pejjoalment e ao lugar, onde os fobreditos eflaó, cu mandando ai [lo <-jofos Re- ligiofos , amotfleis da parte do Papa nofo fenhor, íf da nojfa, afsi aos fobreditos^ como a feus yajfalosjs' mães gente que tra- ^em em focor ronque procure re- premirfe afy, i:f aos feus, do im- pedimento, que põem aoproui- mento feito a efe Reyno de Por- tugal, i^ a feus pouos ,dapefoa do Conde de Bolonha. E a fo- br edita monitoria tereis cuida- do,como dito he,de fa^er publi- car emprefença dos mefmos , tf de outros, que afsijliré, ou quadó não puderdes emprefença ,fejá nos luz ar es aonde efiiuerem. 5 Bem cafo,que nao queirao de/ijlir depões de amoedados, os denunciareis com nojfa authori- dade por publicas efcomúgados, na Guarda,ou em outras terras onde puderdes ir. Auendo ref peito, quejà em muitas cidades do Reyno de Caflella, i^ Leão, temos publicada a bulia Apoílo- lica , diante de todo apouo , i^ geralmente fi-^mos as aduertt- cias no Cafô necejfarias. Alem difto 4 D. Fernandianes , i^ a D. Rodrigo Froyle, os quaesjà

L4

êm

I2S

CafitoloXXIX,

em outro ttpo entrarão co tnao armada pella Comarca de Bra- ga^^violaraÓ as Igrejas, ronha- rao os bensEcclefiafiicos,^ fo- raÓpor ejie refpeito efcomunga- dos pello fenhor Legado o Jrce- bifpo de Braga nojjò anteceJ?or^ l!f ajfoltos depões por feus Co- mijfarios. E por mayor injlan- cia , que ^ijfopu^ejfe ellefobre- dito Legado , i^ o Arcebifpo de Compofiella^nao qui^erãofatif- fa^er aspemts, a que ficarão o- brigados. Nos 'Vidando dejuf- tica renouamos a antiga efco- munbao , mandandouos , que Oi declareis de tere encorrido nel- la^pella caufa allegada. Tam- bém ijos mandamos com o mef- mo preceito de obediência , que fadais ler aprefente carta , que enuiamos ao Infante D. Affon^ fo,no lugar onde eíiiuer , if que da no (?a parte oamoeíieis , que com diligencia execute o q nella fe contem : (f guardeis a dita carta depões de lida , em tesle- munho da amoeflaçao feita^fe- gundo cujiume , como na mejma carta njos he ordenado . Dada em Leiria a lo. de Feuereiro. Coniicnceíe da data deíla car- ta não eftar ainda tão perto de Leiria o exercito Caftclhano, comoefcreueni noíías Chro- nicas. Doutra maneira, peraq

era neceflario ir bufcar caõ lon ge os Guardiães da Guarda, ò«: Couilham , pêra fazerê cfta diligencia. Mães perto eítauao os deCoimbra,Santarem,Alé- quer^ô<: outros. 6 Como quer que foílc, o Infan te de Caftella, & feusCa- pitaés, vendo a juftiça do In- fante Conde, voltarão a To- ledo jaconfelhando, &auer- tindo a clRey D. Sancho fc pufefle por outra via com feu irmaõ, pões a das armas impc- diaó as ceníuras Apoftolicas, contra as quaes nenhum dos léus fe atreuia a menealas. Co- tar daqui por diante a fidelida- de com que algús fidalgos Por- tuguezes roátiueraõ a voz del- Rey D. Sancho , nao queren- do entregar ao Conde as forta- lezas, que delle auiaõ, não he de noflo argu raétOjCÍláo che- yos 05 liuros , chca a memo- ria de todos os fcculos,onde fc lem , & ouuem , com enucja das mães nações . Com tudo, porque nos dous principaes cercos de Ccroíè&o da Beira,& da cidade deComíbra temos aduertencias pertéccntes a cfta hiftoria, não lerá fora do argu- mento delia , dizer como no de Ccrolico, que dcfendeo D. Fernão Rodriguez Pacheco,

quando

!D. loao Egas II.

129

quando com a truta, que na praça do Call:ellolhe lançou a Águia , prefenteou ao Conde de Bolonha^ que cercaua a vil- la, Si a tinha em grande aperto. Fazendo comeíte ardil leuan- tar o cerco , & ir fobre Coim- bra. Aílill:ia ahi o noíTo Arce- bifpo,&: oBifpode Coimbra, pelejando contra os cercados com efcomunhoés,peraque fe cntregaílem,em quanto oscer cadoreso faziaõ com as armas. ConrtanoSjde hum priuilegio dado por efte refpeito pello mefmo Rey D. Sancho, a efta Villa, cujotèor,conuertidò de latim em Portuguez , he o íe- guintc.

7 D. Sancho pella graça

de Deos Rey de Portugal ^ata- dos os de meuReyno,a quêm eíia fninha carta chegar, [aude. Sa- bei , ({ue meu "pajfalo D. Fernão Rodrigue':^Pacheco , que de mi- nha mão tinha a for tal e^ de Cerolicó, a defendeo com agente damejmayilla , do mao termo, y' cerco j que Ihepos o Conde de B olonha , tf os que com elte re- helarao , infamandonos diante do Senhor Papa. Mas como não pudefié tomar a fortaleza , def- truirao toda fita Comarca^ijf a cercarão por muitos dicts : lan- çando entretanto muitas maldi-

ções Jisf efcomunhots fobre os cer cados, tf defenfores da for tale- ^fiArcebifpodeBraga^tf Bf. po de Coimbra. Ate que com o bom engano do Capitão f allu- de ao ardil da crlita) o Con^ de leuantou o cerco. Pello que eu elRey D. Sancho recebo a dita yilla de Ceroltco debaixo de meu empar o , tf doufiia Âlcaidaria ao fohr edito D. Fernão Rodri- gues Pacheco^ confirmandolhe todos os foros, tfpreuilegios, q tem dos Reyes meus antepajfa- dos. Cone edolhe outro fy , queos feus Peaísfejão auidos emjui^ por Cauakiros , tf os Caualei- ros,por Infancots,tf meus Ipaf falos.E lhe dou e^ta carta aber- ta, peraque a tenhaÓ em tefier munho defta ^verdade. Feita em Toledóa2,.deSetebro^erà 1x84 deChrillo 12.46. SanchoReycÓ firma defua mao. Dona Micia Rainha confirma, D,LopoDias de Haro cofirma,D . Diogo Dias Lopes de Salí^do confirma , D, Rodrigo Gpnçalue^^Giram con- firma,D. Martim Gil confirma^ D.Pedri) Annes confirma , Z)„ Gonçalo Mende^ confirma, D. Egas 0)04 confirma, Fr, Miguel confirma, Fr. Vicente a efcre^ ueopor mandado dei Rey 8 Pudéramos cora a au-

thoridade dcfta carta/c iios fo

130

Capitulo XX JX.

'^ina chro

ra licico diuirtirnos agora pouco,moftrai aos noílbs Hif coriadores modernos , os le- uesfundamencos com cjue ne- gaóocazamécodelRey D.Sá- cíio jcoma Rainha D. Mecia Lopes de Haro , pões aqui a achamos com clle em Toledo, & cõíirmando com nome de Rainha, a meíma carta. Veyofe fem duuida a Toledo fazer vi- da com o mefmoReVjdo qual viuia apartada, pelia violên- cia deíeusvaffallos, depões q í/e ASi'j contra vontade lua lha tirarão choz.ci de cafa, ^paflaraó aCaílclla, como Icconta emfua Chroni- ca. Foi. eíla fenhora filhado Góde de Biícaya D. Lope Dias de H aro, ^ de D. Toda de cht.tin: TantaGadeafiia molher^netade dsChrifi D.DiogoLopcs deHaro o bõ, '72^.7 ^Ifers , q foi da bandeira Real na batalha das Nauas de Tolo- za. Cazou primeiro com D. AluaroPerezdeCaftro,&: de- pões dcUe morto, cora elRey D.Sancho,viuia ordinariamen te derta fegunda vez , que viu- uou , na cidade de Na j ara, nos Paços de feu Auo D. Lopo DiasdeHaro , ôccdifiaouno mofteiro de fanta Maria daOr dem de sS.i Bento daquella ci- dade,a capella, que chamao da Cruz,aiàclauílíado conuen-

Fr. Am.

10

tOjOndcíb mádou enterrar em húarica fepultura, fuíí^entada por quatro leoés de pedra , os eícudos de Portugal nospei- tos. Eftà íobre a iepultura o vulto da Rainha, toucada ao antigo de Biícaya. ínílituyo naquella fua capella féis cape- Uaes j três Reiígioíos , ôc três Clérigos, os quaes todos os dias dizem miíTa por íua alma, & íechamáo naquella cafa vul garmente,oí CapeUaes da Rai- nha de Portugal. Tem junto a fy em fepulturas próprias dous outros irmãos íeus, D. Lopo Dias de HaroBifpo deSigué- ça, Sc D. Diogo L opcs de SA- zedo.

9 Ouuemos eíle priuilcgio da maõ deLuis Ferreira deAze- uedojC] foiGuarda mor da Tor re do Tóbo,peíIbataõ conhe- cida por fua rara erudição, nas antiguidades dcfi:eReyno,cer tificandonos a mandara lançar naquelle Archiuo elRey D, loaõ o IL no tépo, que elRey D.ManoeljfendoaindaDuquc de Beja , com licença do mef< mo Rcy, daua aquella fua villa a D. Diogo da Sykia feu Ayo, de primeiro Conde, que de- pões foi de Portalegre.

10 DeCerolico paíTouo Infante a cercar Coimbra, dc-

fendiaa

í). lo^cO Egas 11.

13 [

terchbii

fédiaa D.Martim de Freitas Al caide tnòr da cidade. Êllando no cerco fallecco cili Toledo cl Rey D. Sancho , fello íaber o Infante a D. Martinho, poré ellcjdeixaiido a bom recado o Caftello.fe foi a ToIedo,& dctndo abrir a fepulcura doRey defunto, na prelença de muita géte, pofto de joelhos lhe me- teoas chaues de Coimbra na mãojdizendo: De^òs fenhor as ouue^a 'oós mefmoas torno a entregar. Veyo depões D.Mar tinho de Freitas a morrer nefta cidade de Brasia, indo a viíítar o corpo do Aportolo S.Tiago aCompoílcUa. Jazia na capdla de S.GiraldOjhú pouco afaga- do da íepultura do Santo^ den- tro na parede dacjuellemefrao lado. Tinha a pedra, q fechaua o leu moimento crés flores de LiSjMudaraófe feu? oíToSjquá- do em cepo do Arcebifpo D. Agollinho deCaftroacapella feazulejoii, pêra outra fepul- tura porta no chão ao da antiga. De(graça grande bulir- fe , naó pêra fe melhorar, mas pcra (e cegar,na fepultura de humtaõ famofo capitão, ôc de quem pudera Vcleyo Pa- terculocfcreuercom verdade, o que de Homero diíTe com lifonja : In quo hoc maximum

eft^quodne^ ante illum.qutille imitar etur, ne^poH illum^ qui eum imitaripofsit, iuuentus efi. Porque foi tal a lealdade de D. Martinho de Freitas, que nos tempos paliados não teuccxê- plo, nem nos feguvntcs ate agora imitação.

CA PI TOLO XXX.

CONT ÀSE O MÃES da njida do Arcebifpo D. loaó.

Acifico o Rey no com amorcedel- Rey D. Sancho, & fucccflao do Conde de Bolonha, entédeofe de propollco na conqailta do Algarue , cm que o Arccbiípo acópanhou fempre a íeu Rey. Com elle o achamos no cer- co, ôi tomada de Faro j como fe veda doação, que ah fez o mefmo Rey no primeiro de Março, era 12.8S. &deChrif- to 1250. a D. Martim Fernan- dez Meftre de Auís j & a fua Ordem, da villa de Albofeira, na qual confirmou o Arcebif- po D. Ioa5,D. Aires Bífpo de Lifljoá , D. Egas de Coimbra,

í

I

ij 32

Captolo XXX.

Brad lí!u

D. Egas de Lamego , D.Iuliáo do Porco,D.RòdiigodaGuar da, D. Martinho d*Euora, D. Pedro de Vifeu.-" z . DeFarcíeveyoo Ar- c^bií^ocom a Corte,a Coim- bra , & ali eftaua,& confirma- ua a doação feira pello meímo Reya4- doAgofto feguinte, ao ícu grande valido , &z Chá- çarei D. Elleue Annes da íazê- da, que em Faro fe tomou ao Mouro Aboazalij& a fua mo- Iher Zaíorona . Em Coimbra parece recebeo elRey a carta do Summo Pontífice Innoce- cio Ilíl.efcrita em Perofaazy. de Dezembro de izj-i.Em que lhe encomêdaiia muito orde- nafle aos grandes ,,&podcro- fos defeu Reyno , que per ne- nhúa via impcdiííem ao Arce- biípo deBraga,(a quem chama Aicchi^^o Primití) &aos Bif- dos íeus ruíTraganeoSjCaftiga- rem os Religioíos dos moftei- roSjque lhe eraô fojcitos , o q íaziaõ j ou capa de Padroei- ros, ou com qualquer outro prcteiil:o,qucreihes offerccia Fizemos menção defte breue, i Ôí puzemos fua copia, no tra-

r.zè.n.i] tado daPrimazia,afim de mof- trarmos ,porclle,& porou- ttos , como os Summos Pon- tífices vzaraó chamar Prima-

I

^Êí aos Arcebifpos de Braga. Da obra, que por eil:e breue íe fez, naõ temos noticia ,algúa deu ia fer,porq ainda naquelle tempo fauorccia elRey as Igre jas,'S<: feus miniftros , o q de- pões deixou de fazer, como a hiftoria o ira contando. 3 No lunho de izj-3. re-

ndia o Arcebiípo na fua Dio- ccici & aíTiítia na villa de Gui- marães, , pêra onde també el- Rey fe paliara. Mas no xMa- yodeiij'4. le achaua nas Cor- res de Leiria com os Bilpos do Reyno,D.Iuháo do Porco,D. Egas de Lamego , D. Rodrigo daGuarda,D.EgasdeCoimbra, D.Aires dcLiíboa, D. Marti- nho d'Euora,D.Mattheus ciei to de Viíeu. Foi fem duuida a matéria principal deftas Cor- tes,aquictar elRey D, Affonfo a feus vaflalos , no particular de feu cazamento a Rainha D. Brites filhadelRcy,D.Af- fonfo o fabio de Cailclla.&: de D. MayorGuilhêdeGufmão, de quem a ouuera fora de ma- trimonio. Sentia por eftremo o Reyno, q feu Rey fendo ca- zado legitimamente com a Condclla de Bolonha D.Matii dcjViucndo ella , fe cazaííc a Ce- gúda vez,cõtra as leis diuinas, & humanas, &c6tra o cxêplo,

que

T>* loaoEzas II'

133

.'9.B.2

que Jeiíia aos Reys cftrangei- rosj & a fua poíleridade. Sen- tia outro Ty^as ceníuras cio mo PontiBce, porqdetodo, &em todas as ífjrcias tinhaõ ccllado os ofiicios diuinos.Te miaíe dos arauilTirnos caíli- gos ,com queembreueaDi- uinaluíijça tomaria vingãça de matrimonio tio íacrile 20. Porque^ dcziáojZ' ^í) cajamen- to dos Reys D. Affonfo ,if D. T areja, por ferem primos, tf ca:?^aremfem bencao , Isf difpt- facão do Summo Pontífice ^fe feguiraó fomes ^peUe ,gHerras, if outros males , de que arada boje não efta mos hm conuak- cidos j qttacs os não podemos te- mer, emcafamento taoefcan- dalofo ? onde buRey CathoUco^ filho da Igreja Romana, 'viue- do , l!f deixando fua primeira molher , tem das portas a den- tro, i^ com titulo de Rainha, a outra , que na rea lidade, he a- dultera , ^ cujos filhos per ne- nhum cafo podem Jucceder na àoroa defies Reynos. Sobre tu- do,mouiaú compaixão no po uo as lagrimas de iiiía Gondef- fa , rica 110 dote , real no Íaw- gue,defprezada do marido, ^ que jàem lua vida via poíluir íeu Rey no, a quê nelíe não ti- nha outro direito maes^q ator

pe arfeiçáo , comquc era ama- da/de quc,íò por aceitar cm fe mclhãce ocafiaó íer cfpoíajde- uia ler auorrecida. E ill:o,náo por outras culpas ,que por ca- recer de geraçáo^a qual, pões a idade não era ainda táta, Deos liTc podia dar: viílo como cm íua diuiíia mão eííao não íò os corações dos Reys , mas também os filhos , porq íe per petua íeu nome, & ícii im- pério-

4 ' Conjeituras tcmosauer neflasCorres letrados (fempre os Reys os tiueraõjdc íeu gof- to,ói pacecer)os quaes quize- raõ períuadir aoReyno,dcfpê faria o ^úmo Pontífice no íe- gíidomatrimonio delReyjCÓ aRainhaD, Brites,auédco por bó,& valiofo, & annullãdo o primeiro da Cõdeíla de Bolo- nha-jno qual punhao mildeíei tos, íe uáo verdadeiros , pello menos apparentes,& q pêra a íimplicidade, e ílngeleza daql- lestêpoSjpoderiaó fcr cridos. Emfimarefolução das Cortes foi,q aRoma fe mãdaíle húPrc lado deletras,&authoridade,o qual na prefença do Sumo tihcc rcprcfentaíTe todas as re zoes, q fe ofFerecião em fauor defte fegijdo matrimonio,vií- to como delle depédia, grande

M

aumen-

134

CapitoloXXX.

au mento, exaltação de noí- fa Santa fé,vnindolc por vin- culo tão ellreito as forças de dous Reys taõ poderoíos,co- mo o deCaflella, & Portu- gal contra a perBdia dos Mou roSjOs quaes por clía viajnáo feriaó laçados de toda Hzí- panha,mas cóquiftados no CO ração de Africa. l Seguiofe logoefcolhe- rem pêra a embaixada aoAr- cebiípo todos os queaíTiftiaõ nas Cortes. Efcuzauafc, mas porfiauaelRey^em elleauerde ler^pello muito que de fuás le- tras_,& authoridade fe^ome- tia. Aceitou finalmente, não comefperanças de algum fucceflb na pretenção , mas por lhe parecer, que informa- do por cllefua Santidade de quanto o Rcyno eftranhaua a ícu Rey femclhante cafaraé- tOjfe aueria nas cenluras mães brando,& nas penas macs có- palíuo, Aíliq O Arcebifpo fe partioaRoma, fallou ao Su- mo Poncifice, reprefentoulhc asrezoes, quepodiaó alliuiar o cafo da parte do Rey, & do Reyno. Não ró,não foi ouui- do, mas de nouo , fe efcreueo ao Arcebifpo de S. Tiago (a el- Ic foi, de principio cometida j eftacaula) tornaííe a Portu-

gal ) declaraíTe a elRcy por ef- comúgado , & ao Reyno por interdito , fem defiftir ate cl- Rey de todo não mandar pê- ra Caftella a D. Brites , «5<: fa- zer vida com a CondeíTa D. Matilde. Eftranhou íobrc tu- do ao Arcebifpo aceitar tal embaixada , mandandolhe, q logo fefaiíTe dePvOma,&fe vieíTe a fazer refidencia entre fuás ouelhas.

6 No tempo, que fe ap-

parelhaua pêra a partida, falle- ceo em Roma a 13^. dcDezê- brodoannomil duzentos & cincocnta & quatro o Sum- mo PontificeInnocécioIIII, E foi em feu lugar, depões de 2.Z. dias,pofto o Cardeal Rey- naldo, que fe chamou Ale- xandre IIII. Masnemcòelle teue melhor defpacho o Arce bifpo. Mandou refolutamen- te,que as fentenças de leu An- teceflor fe cumpriílem à rif- ca,& o Arcebifpo eíFeito fe íayílcde Roma.Obedcceo:& ou foíre,q os muitos annos de idade, & trabalhos da jorna- da,ou o sétiméto de ver a feu Rey, &c pátria em tão mifera- uelcfcadoilhe tiuefsê eftraga- daa faude,quãdojà chegou a Valhedolid, per nenhú cafo podia paíTar adiante. Fez feu

tefta-

D. (iMartinho Giraldcs III.

135

teftamenco ,&: nellerepartio fua fazenda, & bens pacrimo- nines, entre léus irmaós. Dei- xou ao Cabido, & a alguns Cónegos particulares, muitos legados de peças de ouro, prata. Ordenou fe fizeílem dous anniueríarios, hum por íuaalma , outro pclla do Ar- ccbiípo D, Sylucílrc,em cuja caía íe criara , ôc que pcra iíío fc armaíiem dous altares na entrada áo Coro, debaixo do Crucifixo, hum de húa par- te , outro da outra, com púl- pito , pêra delle íe lerem as li- ções dos defuntos. Ordenou mães, em hum dos altares fe puzelfcmas rcliquas deSanta Caterina , que tinha engafta- das em húa cuftodia de prata,

6 no outro, o dente de San- to Anaftazio, que trouxera de Roma , & q a inuocaçaó dos altares leria deftaS. Virgé,& martyr , & de Santo Anafta- zio, cujafefta fc celebraria a 23 de laneiro , depões da de S. Vicente, com quem o ajú- tauaalgrejaRomana. Nosal- tarcs aucria também feus Ca- pcUaês , que por fua alma , pella do Arcebebifpo D. Syl- ueftrCjdiriáo mifía.

7 Acerca de feu corpo, &fepultura, mandou o en-

terra ílem na lua Sè, no meyo do Coro diante da eftante cm fepultura humilde, igual com a terra, ou na entrada do Co- ro diante do Crucilíxo, pêra oOccidence, quando alfi pa- recefle melhor a íeus teflamé- teiros o Deaó D. Giraldo , & os Arcediagos D. Pedro Gar- cia , & loaó Paes . Na campa dalcpukura ordenou fe pu— zeíle a fua figura aberta na pe- dra , feu nome a roda. Fal- Teceo^depoesdeaífi ordenadas fuascouías jcm 16 Ac Nouê- bro^do annodenoíTa reden- ção mil & duzétos & cincoc- ta Si cinco, quaíidozeannos depões de eleito pêra eíla Pri- macial , feado Summos Pon- tifices Innocencio, & Alexã- dre , quartos do nome , Reys de Portugal D. Sancho fegu- do, & D.AíFonfo terceiro. Seu corpo foi tresladado de Valhedolid pêra Braga, & fepultado na jun- to ao altar de Saõ Sebaf-

tiao.

^^.

Mi

CAP,

136

Capitolo XXXI ,

CÁPITOLO XXXI.

£>. MJRTINHO

Giraldes 111. do nome 74. Arcebifpo de Braga.

A B I D A na cidade dcBra- gaamorcedo Arccbilpo D, loaõjlhe deu logo eíle Cabido por fu^ ef- lor a D. Martinlio Giraldes , varaõ qual o pediaó as neceíli- dadci daquelles tempos . Os primeiros três anos de fua Pre íazia nos falrao nelle Cartó- rio memorias fuás . As primei- ras cõ que encontramos faó no foral do Coutode Valucr- de cm terra de Chaues feito pello melmo Arcebifpo pri- meiro de Outubro, era 1 297. & deChriftoiíjP.fendo jui- zes de Chaues Pedro Redon- delo, Mendo Aires , òi Godi- nho Ma rtinzjteftcmu nhãs al- guns Conigos de Braga, & ou trás peflbas da caía do Arcebif po. Asfegundas memorias faó noforalda villa de Monção, queelRey D.AíFonfoIII.lhe

paílou em iz. de Março, era 12.99, & deChriílo izói.eflã- do na villa dcGuimaraês.Cõ- íirmaó nefte íoral , alem das pcílbas reaes ,officiaes daCor- tc , & da Milicia, o Arcebifpo D. Martinho , que fe chama Elei to , D. Aires Bifpo de Lif- boa , D. Martmhode Euora, D. Egasde Coimbra, D. Ro- drigo da Guarda,D.Mattheus eleito de Vifeu^D. Egas de La- mego , D. luliao do Porto . Foi erte D. luliaó o íegúdo do nome, & conforme acftefo- ral, era inda viuo mães hxx an- no adiante do que nos lhe de- mos de vida no noíTo Catalo- go, 6«: aíli parece fuccdeoíua morte, ou na vacante de Ale- xandre IIII, ou no principio de Vrbano IIII. feu immedia- to fucceíTor. No Dezembro feguinte achamos tambê húa carta do mefmo Rey D. Af- fonfo o III.pcraelle,cfcritana era mil & duzentos & noucn ta & noue , & de Chrifto mil duzentos & fefenta & hii : na qual lhe pede aja por boa a eleição, que o Cabido da Se do Porto fizera, na pcíToa de Meftre Vicente pêra fcu Bif- po. A carta he em latira, con- uertidaem Português vem a dizer.

Jffonfo

Z.p.c.ll.

2). Martinho Gir alães II r

IS7

f.iiCllt

z ^ff(^>^fi P^ ^^^^ graça de

Deos,Rey de Portugal ^ao Reue- rendijsimo em Chri[io Padre, Isf amigo charifsimo Martinho ^pel- la mefmagraça ArcebifpodeBra ga ,faude, Isf affefio de '-verda- deiro amor . Sabei , que Mejlre Vicente eleito doPono^l^ o Ar- cediago de fia yojfa SèD. Pedro Garcia^yieraópor ordo do Ca- bido do Porto emnados a nós , fa^ndonos afaber , como efian- do vaga a mefma igreja doPor- to^ojeu Cabido per todos os Vo- tos ele crera a Mefire Vicente em Bifp o . E porque a nós nos pertence opadroado damefma Igreja^ nospediao humilmen- tequi^eljemo; dar confentimt- toa tal eleicãOy efcreuendouos^ isf rogandouos , como fademos, aqueiraes tambcauerpor boa, l^ Canónica. Dada em Coim- bra por mandado delRey em i. de De^bro. loaó Soeiro afeca^ era 1199-

3 HeefteD. VicéteBif-

podo Porto, aquellecuja vi- da eícreuemos nonoíToCa- talagOjOncíe cíiílemos feco- nieçauaõ a achar memorias íuas pellos annos ii6i. E to- da via, ellejà era cieiro no de iz6i. por onde lhe naõ pode pertencer o breLie,que ali dif- 1 lemos Iheefcreuera Innocen-

cio IIIÍ. no vndecimo anno de íeu Põtiíícado, & de Chrif to í 15-3 .oito antes de fer elei- to , pertence porem a íen im- mediatoantcceílor D. luliaõ lí.

4 No anno feguinre de

ii6z. em 17.de Março, eílan- donos feiís paços de Braga, deu foral aos moradores do \mm,felc]

\to.i.Ter,

Couto de S. Mamede, em Ri- ba Tuajda Comarca de Vila- jeal , onde lhe vai crpccifican- doascouías dequclheaõdc pagar foro5& aponta o pefca- do marifco, onde quer que fc to maíTe, tirando nas peíquei- ras das Lagens mas, que rc fer- ua todas pêra fy . Ordenalhc, que nao poíTaõ vender os bés do dito Couto, faluo afeus aícendentes, ôi defcendentes, irmãos, primos, &c outros do meímo auoengo, ou à Igreja de Braga, ík à do niermo Cou- to. Prohibelhe outrory,q não crie m no Couto fidalgo algij, nem lhe poíTaõ doar algua propriedade dcllc, nem a Rc- ligiofo,ou aoutro qualquer, que more fora do Couto, j Succedeo nefte mefmo anno de iióz.em Frãça a mor te da CondeíTa de Bolonha D. Matilde , molher legitima delReyD.AíFonfooilI.tédo :

160. ver/

M3

138

CafitoloXXXL

jaclRey da Rainha D. Brites aos Infantes D. Dinis , & D. AíFonfo.Períeueraua com tu- do o Rey efcomungado , & o Reyno interdito. Pareceo neí- ta ocariaõ aos Prelados doRey no pediréa fuaS3ntidadc,qui- zefle difpeníar com elRey , & a Rainha,peraque Icgitimaraé- te íecazafl'em,poestinháo pa- réteíco détro no quarto grão, alem do impediméto de íe cà- faré durando o primeiro ma- crimoniodeiRey, Pêra Te tra- tar o modo, com queíe faria afupplica, 5i repreíentarião a fuaSátidadeaí rezcés,& mo- tiuos , que no cafo auiaõ , por ordé do Arccbiípo vieraô to- dos os Biípos , que logo no- mearemos a Braga , onde no mes de Mayo efcreueraõ alTi ao Summo Pontiíice Vrbano IIII. traduzido o latim nalin- goagem Portugueza. 6 Ao Santifsimo Padre ^Í!f fenhor, Vrbano por dhiinapro- uidecia Sumo Pontífice da Igre ja Romana^if ao Reuertdo CoU legio de [eus irmãos : Martinho por authoridade do mefmo fe- nhor^ Jrcehifpo de Braga,Egas Bifpo de Tiiy , Vicente do Por- to ^EgM de Coimbra ^Marti- nho d^Euora. Rodnzo daGuar- da , Matthetis de Vifeit^ Pedro

de Lamego^ miniftros humildes deUcís Igrejas ^i^ os Cabidos dei las juntamente com o de Lisboa^ nos posiramos a 'vofios fantif- fimospes , Isf beijamos a terra em ■'vojfa prefença. Saberá 'V. Santidade, que D. AffonjoRey illuftre de Portugal , no princi- pio de feu gouerno , por euitar graues, Isf euidentes perigos , q ameacauâo a feu Reyno , fendo ainda •■viua a nobre Condefa de Bolonha fua molher^ fe cafou a nobre (enhora D. Brites, filha dei Rey de Caitella^if LeaÓ,que ainda naó chegaua a idade de c6 trahir matrimonio , tf era fua parenta em quarto gr ao ^por cá- fanguimdade^tf delia témjâa- uido dous filhos. E como por efie refpeito eftejaô os lugares deíie Reyno onde elleje acha prés ete, nao fem grande detrimento das almas^tf efcandalo do Clero^if Pouofojeitos a interdito Eccle- fafiicOj que mandou promulgar o Papa Alexandre de boa memo ria fofio antecejjor^a insiancia (comofe affirma)damefma CÓ- defa. Agora que he jáfallecida^ íjf elReyfe não pode apartar da companhia da Rainha fem dano certofeu,tf perigo do Reyno^lsf deUruiçao de muitos : pedimos a 'vofia piedade com os joelhos em terra,queperafe euitar taogra

77

D. Quartinho Giraldes III.

139

de mal ^ llf [e grangear o pro- veito comum, não/ó delRey, tf da Rainha , mas apa^de todo o Reyno ^feja feriado difpenfar com elles , peraque licitamente pojfaó Viuer cajados^ isf tambc eomosfilhosja aiiidos,tfpora- iter , antes que ejla defpenfa^ao fe effeitue ,peraque pofiaÓfuce- der no Reyno por morte de feu pay , iffej^'0 auidos por legíti- mos , pêra tudo o mães. Temos efperança,tf ainda certe^a,que fera efla obra de merecimento a '^ojfa Sãtidade diante de Deos, i^ afua Igreja,if ao Clero , tf mães pouos defle Reyno de gran de fruito. Dada em Brap-a no mes de May o anno de NoJJo Se nhor. 1161.

7 Ouuio fua Santidade

graciofamence aosPrelados do ReynOjdifpeníou com elRey, pêra cfte fcgúdo matrimonio, com todas as mães cia u fulas da fupplica. Leuantaraõíc as cen- furas, 6c o Reyno começou a gozar da paz eípiritual,de que auia tantos annos carecia. Se- não , q ou a ambição do Rey, ou a cubica de íeas miniftros, dentro era poucos annos,tor- naràô as matérias da Igreja, &c Tua liberdade ao peor eftado, em que nunca ate ali fevira. Nem foi poíliuel poderfelhc

das portas adentro do Reyno dar remédio, ouuefledebuf- carde fora , Sc acudirê os Pre- lados todos juntos prefencial- menre ao Summo Pontiíice: leuou o> aiflbjCom (uaautho- ridade, Sc exemplo,© Arcebif- po D. Martinho , foraõ , D. Egas Bilpo de Coimbra, D. Rodrigo da Guarda, D. Vicen- te do Porto _, D. Martinho de Viíeu. Os de Lamego, tS^ Euo- ra , D.Pedro, & D. Martmho por cQarem doétes , & os não poderem acompanhar, máda- raóleus procuradores. Chega- rão todos breuemente a cidade de ViterbOjOnde entaõ refidia o Summo Pontífice Clemen- te IIII. Ouuiraõfe em publico conííftorioas queixas dosPre- lados Portuguezes , Sc dcraò muito que íentir aííi a lua Sã- tidade, como aos eminentilíi- mos Cardeaes.Tratauaíe com eíficaciado remédio, fuípêdeo porem a morte de Clemente emip.dcNouembrode iz68. E muito mães a pouca confor- midade, com que os Cardeaes foraõ dilatado a eleição de no- uo Pontífice ate o primeiro de Setembro de 1171, emqfayo eleito Gregório X. 8 Nelte tempo ali mefmo em Viterbo o Arcebifpo D. M 4 Martmho.

I40

Capitolo XXX 11.

Martinho.Fez feii teftaniento em 2.4- de Agoílode iiyi.nel le inrtitLiyo morgado per- petuo nos íílhos,& dcfceiídé- tcsderuafobrinhaEluiraPaes. Mandou fe lhe fizeíTem nefta muitos anniueríarios, pêra os quaes deixou rendas,& pe- ças ricas . Seu corpo mandou íecnterrafleno cemitério do moileiro de S. Domingos da mefma cidade. Foraó prefen- tes, &tefl:emunhas D. Mat- theus Bifpo de Coimbra (D. Egas , q lhe precedeo,foi elei- to Arcebifpo deCompoftel- laj& morreo também em Ita lia, como diremos) D.Pedro Garcia Arcediago de Braga, DomingosPiresMcftrefchola deita Sê, Fr. Pedro de Alcha- no Penitenciário do Papa , Sc outros . Morreo logo den- tro em poucos dias . Gouer- nouefta Primacial 16. annos, nos Pontificados de Alexan- dre, Vrbano , & Clemente IIILdonome,fendo Rey de Portugal ( D.AfiFonfo

\ o III.

^^

CAPITOLO XXXIL

S. G O N C^A LO DE

Amarante daOrdt dos Pre- gadores.

01 fértil deSá cosoPótiflca do do Arce- bifpo D. Mar tinho Giral- àcs. Florccia muito emPortu- gal a Religião do Patriarcha S. Domingos , & logo cm ícu principio deu dous Santos ao Ceo, cujos fagrados corpos eftão ncftc Arcebirpado,hum foi S. Gonçalo de Amarante, outro S. fiei Lourenço Men- dez,de cujas vidas daremos ai gua relação por pertencerem aeftahiftoria,

z Mal fe pode aucriguar c5 puntualidadc o anno em que nacco o bemauenturado S. Gonçalo de A marante : da pátria nos cõfta fcr o cafal do Paço,da Parochia AqS. Salua- dor de Tagildc, j unto ao Rio Vizella,termo,c meyalegoa d' Guimarães. Os pays foraó de fangue nobre. Logo de criaça o menino feaíFeiçoouas cou-

fas

Gonçalo de Amarante .

141

25. C" 36.

couías diuinas , onde via as Imagens de noíTo «íaluador j & da Virgem Senhora noíía, lâfelhehiaó os olhos,era por demaes fazerlhe tomar o pei- to, fe primeiro o não leuauão a Igreja. Os diasqueamáyj oiiaamaproíiauáo cm o terê em caía , paíTaua enjeium , &c chorando fem ceflar, ate que de todo fe defimaginauão , q aquelle era o vriico remédio pêra comer , & deixar o cho- ro.

3 Aprendeoalèr, & os

principios da Gramática com facihdade. Pêra paliar adiante, & le habilitar pêra o Sacerdó- cio,© entregarão feus pays ao Arcebifpo D. Sylueftre Go- dinhojCLijavida referimos em feu lagar. Debaixo da difci- plina de tão grande Prelado crecco,&: íe fes merecedor de todas as dignidades Eccíeílaf- ticas . Ou por não vagarem outras mayores aoArcebifpOj ou por clle fe contentar com ã Abbadia de S. Pavo de Vizcl la vizinha a Tagilde,o confir- mou em feu Abbade. Toma- da a poíTe^ não tinha coufaq nãoíoíIedospobres.Nomacs de fua vida crà aos freigucfes hxx retrato de todas as virtu- des ,& aos Parochos dai Co-

marca hum exemplo, porque íe retrataflé,ou efpelho do Ceo em que fe compuzefsê, porq na houeftidade foi íem- pre puririíTimOjnascoufas la- gradas religioío , nas profa- nas retirado,em fim íanto co- nhecido 5 &c refpeitado por tal.

4 Defejaua grandemente viíltar os lugares em quek o- braraóos mifterios de nofla redemção : pêra o poder me-

lhor fi

dou a fuí

orrazer, encomendou alua igreja a certo fobrinho fcuj acè ali de vida exemplar, mas na auzencia do tio o mancebo fe começou a eftragar : & as rendas , que dantes fuftenta- uão miieraueis ^ fe viraõ dcf- pendidasem vaidades,^ con- uerfaçoês deshoncftas. j Paífou por Roma S.

Gonçalo, adorou ali os cor- pos dos Gloriofos Apofto- los S. Pedro, &S. Paulo, & outros fantuarios daqlla no- biliirima,& fantiííima cidade. Em lerufalem efteue cator- ze annos , não auia arranca- lo de terra tão bemauenturá- da. Voltou contudo a Portu- gal,& achou ao fobrinho con firmado na Abbadiá,ou porq falfamêcc prouou a morte do tio, ou porque a larga auzecia [ "— ' de'

142

de proprietário pareceo baílã- te caufaao Arcebifpo pêra lhe darnouo Abbadc. VrtihaS. Gõçalo desfeito do caminho^ & da penitencia, pobre/emc- dado, & tão outro do que fo- ra , que fe atrcueo o fobrinho ao defconhccer,&: ainda a tra tar mal de palaura^ôi peior de obra. Mandouòefpancar pel- los criados, & amcaçar,qiie íe infíftia cm fc fingir fcu tio, lhe cuftaria a vida, tão fora eftaua de o reconhecer por tal,ou re- ftituirlhe a Abbadia. 6 Menos era nece/Tario

pêra o fanto deixar aqlla prc- tençáo, dcfejaua defcarregar- fe das ouelhas próprias , pêra de todo ficar hure no feruiço das alheas.Com eftes intentos edeficou junto de Amarante na margens do Tâmega , &: freiguezia de S. ViriíTimOjhíja ermida em honra da Virgem Senhora Noílarnascoftas dei- la hua, mães choça , que cela, donde, à imitação do grande Bautifta,faya a pregar penité- cia, com admiraucl fruitodas terras vizinhas. Offereciaôlhc os Pouos grandes efmolas,a- ceitatiaas pêra fuftentaçao de muitos pobres, que lhe acu- diaõ. '7 Eftandonefte género de

Capitolo XXX IL

vida,por reuelaçao da May de Deos Tefoi aoHoípital de Gui maraés , da Ordem de S, Do- mingos, ondeentaõalíiftiao bemauenturado S. Pedro Gõ- çaluez Telmorde fua mão re- cebeo o habito dos Pregado- res,í^ com fua licença voltou àfua ermida,& continuou no exercício de pregar, ík ajudar aos fieis , cada dia maiores fcruores,& como fe então de nouo começara. 8 A obra em que parti-

cularmente fe occupou , foi a Ponte, que fes lançar fobre o Tâmega , no paíTo em q ain- da hoje permanece . Hra ali o rio perigofo , & no vao pe- recião, muitos mormente em tépo de Inuerno , & grandes chcas. Doyafe o Santo, de quantos por ventura tomaria a morte em mao eftado , ou pello menos fem o aparelho neceííario pêra cm hum mo- mento paflarem à outra vida. Publicou o nouo cdificio,acu diâo efmolas , meftres ,oífi- ciaés,gente de feruiço,& qua- fi todo o neceflario pêra a o- bra.Puzeraõlheas mãos com toda a diligécia,crefcia a olhos viftos , como quem tinha ao feruo deDeos porarchitedo, pagador , & em fim obreiro

pêra

S. Gonçalo de Amarante,

loãiZ.^

pcra que uao foíle a ponte o- braíòdcfuas maõs.

9 Entre eftes aplaufos do Pouo,o chegaua o Ceoal- gúas vezes a eftado , que não tinha que dar aos trabalhado* rcs.Húa lhe faltou a agoa.&vi nho,repreíentou ancceílida- de ao que as fabe , & pode remedcar todas , feria com a- qnellas p.ilaurasda Senhora, 'vinamnon habent; eifque, fu- bitamente cm as pronuncian- do, cheo de húa celeftial con- fiança , leuantando o bordáo a que íeencoftaua, ferecõel- le duas vezes , & em lugares diÍTercntes,a hum penedo, fe- guen{eaos golpes duasfótcs, húa de vinho preçioCo, outra deagoacrirtalina, bebem os circúftantes , & como de lico res milagrofos : lem entretan- to eltancarem as fontesjantes, como le colhe da hiíloria,atê a de vinho durou por alguns tempos , & a de agoa ainda

I hoje corre : bufcaóna os fieis pêra remédio de varias enfer- midades,& lanando fe ella, ou bebendoa, cobraõ de ordi- nário a faude que perderão.

10 Não he inferior o mi- lagre , porque Deos mães de húa ves o remediou na falta do conduto . Tinha paõ , &

não tinha que ajuntar clle, & por diáte aos feus oííiciaês, que faria ? chegafe abeira do Tâmega, leuanta os olhos ao Ceo,pedeaDeosabrafua mãOj & remedee aos que por feu a- mor naquella obra o ajuda- uaõ. Fas após iflo oíinalda cruz fobre as agoas com a põ- ta do bordão, eifque começa o rio a feruer , & a apparecerê por elle cardumes de peixe, q hús fobre os outros fc vinháo a beira d'agoa , & como em competência intentauão fal- tar de voo no regaço do Sáto. Vio o Pouo a marauilha ^ fuf- pcndeofea obra,& todos ato» nitos,não fabiaó tirar os olhos de tão fermofo cfpe(5taculo.. Chama S. Gonçalo aos oífi- ciaés/alos pefcadoresda noua, milagroíà pefcaria, laçauão em terra ferras,c ferras de pcí- cado.Era fegúdo milagre, não bulir entretanto cõfigo o pei- xe,animal por natureza indó- mito j & efpantadíço. Efpe- raraõ ate o Santo, tendo ja de fobcjo pêra muitos dias , lhe lançar a benção^ com cila, ou feíumiraó no fundo, ou to- mando por diucrfas partes , defappareceraó. A ponte du- ra hoje forte j maciça, & bem fundada,todâde cantaria

i,pro-|

mete

144'

Capitolo XXX 11.

Oiece durar pormuicos annos, coiíio a que teue na fíidação cal meftrcjói na conícruaçáo cai procedjor.

1 1 Chegoufe encrecanco

o dia em que Deos cinha de- cerminado dar ao fcu g-rande íeruo o premio de fuás eícla- recidas vircudes. Soubeopõ- cualmcnte por reuelaçao da Virgem Senhora nolla.Prcpa- rouíc pêra elle com todos os :racramécos,& quando jàauia de fayr fua bendiciíllmaalma do corpo,Ihe apparecco a mef ma Senhora, éí em fuacópa- nhiaaleuouagozar da bem- auécurança.Ficou o corpo no GracociodaMáy de Deos,por que ndle quis acabar a vida, mas caó fcrmoro3& cheirofo, que no ar do rofto parecia Anjo, &i na fuauidade pa- raiíc. Acudirão CS pouos vi- zi nhos a Tuas exéquias, celebra raõnasencrc prancos, &íÚq- grias . A fepulcura foi no mef- mo Oratório dafreiguezia de S.Vcriílimo,em dez dclanei- ro no anno iiys». fendo Arce- bifpo delb Primacial D.iMar- tinhoGiraldcs. 12, Hequaíl prodigiofaa

deuação, que por todo elle Entre Douro & Minho íeté , com cíleglorioío íanco.fò das

címolas,que a íuaíepulcura íe oftereccnijíe iaurou o moftei ro de Amarante , q clRey D. íoaú o IIÍ. mandou entregar aos Religioíos da iua melma Ordem , onde jaz enterrado na Capclla mor debaixo do preíbyterioà parte do Euan- gelho.O tumulo tem a ima- gem do fanco emcima^de efta tura perfeita , cílà fechado grades , & íempre alumiado. Melhor diflcramos fera fepul tura de S. Gonçalo, a villade Amaráte pões maés fe chama S. Gonçalo de Amarante , co- mo fefora tudo hd nome , q o fcu próprio de Amarante. O raolkiro em íy he rico: de bó,& alegre edificio. A Igre- ja grande,&airofa.O pouo, q por todo o anno a frequenta, mòrmencenafeftado Santo, fem numero. De S. Gonça- lo efcreuem os Chroniftas da fua Ordem_,osdoReyno, o Flosfandorú o.Martyrologio Português , o Padre Antó- nio de VafconccUoSj Duarte Nunes de Leaõ, ôc outros.

CAP.

S. Fr.Lourenfo j\dendf^,^c.

145

CAPITOLO XXXIII.

S:FREI L O V RE N-

co Mende^, tf outros três Religiosos da Ordt dos Pre- gadores.

ACEOefte Santo cm Por tugaljda famí- lia dos Cha— ciíis , celebre nos tempos paliados v Foi em feus primeiros aiincs mance- bo váo , amigo de ver, & fer vifto.Trouxeo DeosNoíTo Se nhoraoertado Reiigiofo pel- la pregação de S . frei Pedro caiu CS Telmo , & de fua mao reccbeo o habito de S.Domin gos no Mofteiro de Guima- rães,onde o fanto viuia. Com elle parece veftio juntamente oefpirito do íeu fantiííimofiá dador.tanto fe lhe pareceo no feruor da pregação, 61 no pe- regrinar por vários lugares a conradeiníinaros ignorares, no eílranhar pecados públi- cos, no trazer os pecadores a penicêcia,na deuaçáo do fagra- do Rofario,emfim em tudo o q podia efpercar, & ajudar aos fieis na perfeita guarda da lei diuina.

z Obraua entre tanto Deos por fcu feruo muitos, & efpã- í tofos milagres,a deus mortos deu vida, a hum Sacerdote ce- go de hum olho , vifta perfei- ta,& a outros muitoscôfumi- dos no alento, & forças cor poraés,íaudc,íem rafto das en fermidades paliadas. 5 Elle foi o que fundou a

ponte a quechamáo de Caucz iobreo Tamega,por dar reme dio a muitos, que naquella pa ragemfe afoga uáo, nemfalta- raóaquias marauilhas q nou- tro femelhante edifício obrou o gloriofo S.Gõçalo de Ama- rante , como nos em fua vida dilíeraos . Crcciafò com a ben ção do feruo de Deos o paõ, o vinho,&a carne na meíàdos oíííciaes : & com meter o feu bordão na agoa íe vinhaõ ao redor dcUc cardumes de pei- xes,&detodaacafta , q o rio cria, de que os trabalhadores tomauão quantos pêra fua fuf tentação eraõ neceflarios, 4 Andando junto avilía deChaucsihc entregou húAn jo en forma human3,híja caixi nha de varias reliqiiias, que diíTc tirara aqucíia hora de cer- ta cidade de Chriftãos,que os infiéis acabauão dcentrar.Má- doulhc macs, qucascollocaíTc

c,iz%n,

V

N

no

146

Cafitolo XXXIII.

Soufahif

ior.de

I DomdtH

|4f.i)-. er i6. Brand,

25.

Ej7aç9

f no moftciro de Guimarães on de hoje (econ(craáo,ôc faõ ti- das em grande veneração. En- traõ nclbs o lenho da Cruz, partículas das mantilhas do me nino IesV,vco da Virgem Se- nhora Nofla^dos fantos Apof- tolos quafi todos^de Santa Ma ria Madalena, S. Lourenço, S. António, S. Agoftinho, S. le- ronymOjS. Domingos S.Frá- cifco S. Bento, S. Bernardo, Santa Luzia, Sanralnes,i5c das onze mil Virgens.

5 Vcyo a falecer o Santo (conlumido macs das muitas pcnitêcias com qucfc affligia,

6 dos grandes trabalhos, que na doutrina dos pouos pafla- ua, quedos annosjnavilla de Guimaraésioanno de Tua mor te fe não íabc ao certo, como nem o dia. Sepultaraõno no Hofpital_,cm que viuiaó os frades antes de terem conucn- to próprio , dahy o treslada- raõ pêra o morteiro aonde ho- je clH fobrc o retabolo doAl- tarde S. Thomas de Aquino em hij arqucte dourado com o verfo feguince.

Híc fita Laurenti Mendes funt

ojfa Beati. Eícrcuem delle oPadre fr.Luis de Soufa, &: frei António Brá- dáo. Efl:aço,& outros*

6 De outros trcs gran-

des feruos de Deos , & filhos deíle mofteiro de G"uimaraês faz menção o Chronirta frei Luis de Soulà, o primeiro íc chamou frei Gonçalo de Gui- marães , Mcftre em Theolo- gia , &i famofo pregador. Pe- dia com inftancia aDeos Nof- fo Senhor , que quando o ou- uefle de leuar pêra íy,o tomaf- fe a vitima doença em hum de três lugares, no altar, no coro, ou no púlpito. E foi o mefmo Senhor feruido , que de todos cílcs três participaíle muito. Acabaua hum dia defefta folé- ne de dizer miíra,& a tempo, que logo lhe foi neceflario iríe ao coro , ajudar aos mães cá- tores Eílando ali, fucedeo,to- marhum repentino accidentc ao pregador, que per nenhum cafo o deixaua fubir ao púlpi- to: acudio â neccffidade frei Gonçalojfem outro aparelho, que o do coro pêra o púlpi- to- Meteofe, pello difcurfodo do fermão nos bens da gloria, repreíentandoos tanto ao vi- uoscomo fejáos vira, ou go- zara.Efta conrideração,ou,pe- ra fallarmos mães ao próprio, as faudades deftes bens,ofo- ra5 aíTi tirando dos fcntidos, que totalmente dcsfaleceo ,

Tira-

18,

S. Fr. GiL

147

Tiraraóno do pulpico em bra- ços j & pouco depões foi leua- do a íepukura.

7 O oucro rcligiofo Te cha- niaua cambe fr. Gonçalo, mas com lobre nome de (anta Ma- ria , leigo cie proíinaõ , & taõ períegLiido do DemoniOj que mães dcixaua de lhe appare- cerem figuras horriueis,&rae donhas. De codas íe ria, & co- das vencia , cora as defprezar, & fe humilhar, acè quccheyo deannos, Sc mereci. nencos íc foi a gozar da beraauencuran- ça. De oucro Religiofo leigo cujo nome náo pudemos del- cubrir , ha aqui cambem ncfte moííeiro grade memoria.Cõ- cáoíedclle raros exemplos, & os mayores em maceria de cha ridade pêra os enfermos aíH de cafa,comodefÓra. Viíícaua dia a cerco Clérigo enfermo,&: quafi no vlcirno da vid3,cõ-- folauao, &aluoraçauao pêra em breue ver a Deos , & en- cre oucras coufas lhe dezia , q ambos naquella jornada auiao de fer companheiros ,& en- cerrados no mcímò dia. Olha- ua o Clérigo perafy , & viafe ir eípirandojolhaua pêra o Re- ligiofo , viao faõ , òc bem dcf- pofto. Efperar prazo de vida maescumprido,nãoofofl:riaa

cntermidade, menos odeíen- gano dos Médicos, nem o Re- ligiofo lho premeria, antes o animaua, peraaparcida. Em- íim pollo nas maõs de Deos, acabou fua carreira. Enterra- uáiio em S. Domingos , faya abuícalloa Comunidade , & comclla oíeruode Deos de q imos fallando, íe náo quando por hum accidence,que no ca- minho o palpou , elle íe corna peca caía, & indofc direito a cella do Prior, lhe pede o ou- ça de confiílaõ, &aííolija de léus pecados. Tudo foi hum, confeííarfe, & parcirfe fua al- ma pêra o Ceo em maõs dcA a jos , & o corpo nas dos Reli- gioíos peraafcpulcura,poucas horas depões de encerrado o Sacerdoce.

CAPITOLO XXXIIII.

S:FREI GIL CONE. go de Braga , díí Ordem dos Pregadores,

O R Cónego defta perté ce cambem a cfta hiftoria o

gIoriofoS.fr.

Ni

Gil

14^

CafitoloXXXIIII.

Gil,nacural da viUa deVouzel- la,Birpadode Viícu,filhodcD. Rui Pires de Valladares, Alcai- de mor de Coimbra, òc mor- domo mor delRey D.Sancho o primeiro, e de D. TarejaGil, matrona de igual nobrcza.Ti- ueraõ eftes fidalgos outros fi- lhos ,mas o de cjuc Dcos mães fe pagou foi fcm duuida Gil Rodriguez,(]ueaíri íe chama- ua o Santo antes de Religioío, ao vío daquelles -tempos cm que os filhoscomauáo por ío- brcnome os nomes próprios dos pays .

z AprendeoFilofofia,&

Medicina cm quefayocminê- te.Teuc muitos benefícios fen do ainda moço: três Conezias poíluyo êtres Igrejas Cathrc- daes, nefta deBraga, na deCo- imbra,& Guarda, & dous Prio rados,odcSâcaiê,& Coruche. Aproueitandofe o Demónio da natural inclinação , que Gil Roíz tinha de íaber , & pene- trar os fcgrcdos da natureza, o tentou. & perfu adio deixa fie a deChrifto, & fe obrigaíTea iíTo por efcrito de feu pró- prio fanguc, porque clle lhe fe riamcftre, & o tornaria con- fumado difcipulõraíli fc con- certou com clle , &por cfpa- ço de cinco anrios , otcucem

humascouas junto aToIedo donde íayo famoío nigromá- te.

3 Por ganhar mayor fa-

ma de fabio deixou a pátria, òc fe foi a Paris, praça naquel- le tempo , & theatro dos me- lhores ingenhos de Europa. Eivando ah, & fazendo cfpan- tofas curas pclla arte de Medi- cina, ajudada da diabolica,lhe appareceo a des horas dentro em fua caía^ hum caualeiro ar- mado,o qual brandindo fobrc ellca lança,o auiíaua emendaf- fe a vida.PaíTou a vizaõ, ella o medo , & bons propoll- tos , que então fentio, porem tornando a fegundar, com mães violência, cntaú feren- dco de todo, òí queimou a liuraria infernal. Pêra melhor poder fer outro, fe tornou a Hefpanha, onde na cidade de Palencia tomou o habito áó^ Padres Pregadores, em que no principio de fua conuerfaõ fes admiraueis penitencias. Foi húa delias veftir hija larga , &: pezada cinta de ferro , que largou depões da morte. Efta hea porque DeosNoflb Se- nhor na villa de^íantarem tem obrado , &: obra cada dia, tan- tas , òc taó notaucis maraui- i

lhas. . ^1

De

S. Frei Gil.

149

numera

4 De Palencia O mudarão ao rnofleiro de Saiuarê. Ma- dou cerra, mas náooefpirico de ferfernpre o mefmo no o- dio deíeii corpo, Aquipre- tendeo o inimigo infernal ef- pancaio com medonhas ,& ex traordinarias viragés,& com a dcfeípcraçáo ae íeu remédio, perfuadindoo , que pcra taes pecados como os íeiís, nãoa- uia perdão na mifericordia di- Liina.-moftrandolhe muitas ve zes o efcrico quclhe dera. Mas o feruo de Deos , ôc verdadei- ro penicence,chorando eíla,S: as mães culpas ^ com perennes lagrimas, & tomando porin- terceílora aVírgê Senhora nof ía,ouue finalmente de recupe- rar o Teu elcritOjComo auia re- cuperado o perdão de feus pe- cados.

5 Tornou depões a Paris eíludar Theclogia,&: agraduar fenella de Doutor, fizeraõno entáomeílre damefma facul- dade,e lhe ordenarão a leíTe em Hcfpanha , onde deu princi- pio aos muitos, & eminen- tiílimos lecrados^que na fagra- da família dos Pregadores, da- quellc tempo atè hoje, flore- ceraÓ.

6 Morto oferuo de Deos, frei Gomes Sueiro C he o de q

dillemos fora arbitro entre el- Rey D. Sancho II. & o Ar- ccbiípo D. EfteuáoSoaresda Syluaj também Porcugues,& primeiro Prouincial deHefpa- nha, companheiro do grande Patriarcha S. Domingos : foi por voto de todos osReligio- íos pofto no mcfmo officio o Santo fr.Gih cxercitauao com manfidáo , &:zelo, cíle con- tra íy , aqlla em fauor dos fub- diros. Naõ fe vio pay' mães a- moroío, nem máy mães foli- cita de feus filhos,do que eile o era dos feus frades. Amauaõno por cfte refpeito,fobre manei- ra,(Si pro urauaôferlhe em tu dofemelhantes. 7 Naõ eraõ os prouei- tos de tal Prouincial , Sc de tal mefí:re,dos que o gozauão das portas adentro , comunica— uáofe fora ao mães Reynoa quem pregaua , & doutrina— ua como o pedia fcu inftitnto. Foi a mayor força das prega- ções, Sc doutrina na Corte dcl ReyDom Sancho o II. do no- me, a quem os validos traziáo efquecido das obrigações de Rey , 6c entregue a ca ças , jo- gos ,& outras dilicias que cam- bem abrangiaõ aos vaílalos, corrompendo , &: eftragando a feueridade , & generoíldadc

N3

Portu-

I50

Capttolo XXXIIII.

çap,

28:

Porcugueza , com delcredito dasarmas,& Chnll;andade,em que tanto íefaziaõ valer, «Sii ef' timar. Nada obrarão os ccti- nuos bradosdo feruo de DeoSj antes pcjorádo cada diaoRcy, &i indofe de todo a perder o Reyno, ouue finalmente de Ter depofto não da dignidade- mas do gouerno,que íe entre eouao Infante D. AíFonfo leu irmaOjComo jaem outro lu- gar diííemos. Intimou efta fen tença ao Rey depoílo o fanto fr.Gil , porque nelle fe achou animo,& valor pêra lha fazer a laber, antes pêra lha fazer te- mer pellas muitas cenfuras do SummoPontificc Innocencio III I. de que vinha acompa- nhada.

8 Tinha alguns annos

de Prouincial, quando fclhc deu fucceílbr , mas pouco tac

dou,q não folie de nouo elei- to pêra o mefmo otficio : não íabiaõ viuer com outro Pre lado os Padres Pregadores de Hefpanha.Aceitou eíta fegun da carga , mães pêra ficar fe- nhordery,& fem quem lhe fofle à mão nas muitas peni- tencias que fazia, q por man- dar a outros.

9 A medida deftes ricTores, le lhe cómunicaua oCeo:Eraó

1.-

continuas ascxtalesem queíe via roubado do vfo dos lenti- dos exteriores, & como engol fado nos goftos da bemauen- turança. Os milagres q Deos por elle obraua , eraõ íem nu- mero , obedecialhe todo o gé- nero de enfermidades , ík ti- nhão os pouos tanta nelle, que por onde quer que paíTa- ua, lhe fayaõ áseftradas, ôc ruas com os enfermos, & re- ccbiáo faiide.Tcueem vidaj& tem agora depões de morto, a mefma graça, que o gloriofo S, Brás , pêra farardos males dagarganta. Foraõ muitos os caíos milagroíos, qncíte par- ticular acontecerão aos q cha- marão por fcu fauor;como aentender a primeira Oração das três, que fe cantaÕ na lua mifla.He tãbem auogado dos que pretendem alcançar per- dão de feus pecados , porque dis. Deus^ qui beatum Aígidiú confeJ?orem tuumàpeccatifub- ieãione reuocaUi^ ei perpatrati fceleris yeniam impetrandifpe- cialem gratiam tributs: da eius meritis tuamhic confequi mi- fericordiam , ijt noflrorim ex- cej?uum deteflatione , perpatra- tafcelera redimamus. Per Do- minum noUrum,^c. Grande confiança , & confolaçao fi- ca

S. Fr. CV/

i$i

Fr, Luís \de Soiifa Uwr.z,c

30,

fica aos pecadores, que nelte Reyno nacerem,cle coni eftei- co alcmçaré o perdaõ de íeus pecados,c]uando fe cjueiraõ va lerdo fauor, & valia de na- tural íeUja quê Dcos, pêra me- lhor os deípachar^deucíTaboa graça , & permicio caiííe em muicos, & muito horrendos, pêra como çurigiaõ bemacu- tilado , faber acudir ao remé- dio das almas enfermas , Por naõ tornarmos aos milagres do fantOjacrefcentamos, que depões de morto , refufcitou três defuntos, hum na villa de Vouzella, & parente leu , ou- tro em Liíboa, o terceiro na villa de Eftremos , como na Chronicade S. Domingos fe pode ler.

10 Por eílas grandes ma- rauilhas obra das quall co- mo por natureza, veoaíero nome do Santo celebre, & fa- moío, náo íó por eftes Rcy- nos , fenão ainda pcllos eftra- nhos . Mas elle lembrado de quem fora emfeus primeiros annos , & efquecido de quem ao prefente fevia^ trataua de tazer penitenciado paílado, & com tanto rigor,eííando nos 80. annos defuaidade,co- mo feentaõ começara a feruir a Deos. Naõ pode a natureza

debilicada,&: coníumida,refii- tir a tanto trabalho,veyo a fal- tar,& enfraquecer,cayo oSaa- to enfermo , & entédendo fer chegada a vitima hora , pedio, & recebeo os íacramentos da Igreja,com entranhaucl deua- çáo. Depões mandandofe tirar do leito,& lançar em terra fo- bre húa manca pobre,aIcgre,& concête^ chorando muitas la- grimas os íeus ReligioíoSjfe foi fazer companhiaaChrifto feu Redemtor , q naquelle dia íu- bia triíifante aos Ceos. Faleceo no leu mofteiro de Santarém, andando o anno denoda re- denção no de ikjJ. 1 1 Ficou feu corpo hu re- trato do que fera depões de gloriofo, enterraraôno no ce- mitério c6mú,com grandilsi- mo concurfo de todo o géne- ro de 2ente,nê em tamanho a- juntamente, ouucquemnao pretendeíTe ir pêra lua cafa ri- co cõ algúa relíquia do Santo. Seis annos depões no de 1271. o tresladaraõ,& collocaraó em Capella própria, he a q no arco do cruzeiro, reípondeà porca traueíTada Igreja.Pobre,& pe qucnafepultura,perafantotão rico em virtudes,& grande cm merecimentos. Delle efcreueo o mcftre fr. AndredeReíende,

N 4 & fr.

152

Capitolo XXXV.

lih z.f.

de nobtl lc.)3 a \nu, 106 yvfg^ ad I165.

Ôi fr. Luís de Soiiía na Chro- nicadeS. Domingos.

D. PEDRO IVLIAM,

ou Hifpano V. do nome,

ôi y^.Arccbifpode

Braga.

CAPITOLO XXXV.

SEV NJCIMENTO, efludos , y dignidades atè fer Summo Pontífice.

Acco Pedrolu liaõ na cidade deLifboa, na ficigucfiadeS. Giaó (outros dizêdeS.Mamcde)d5de,ou do nome de fcu pay Iuliaõ,pare- ce tomou o íobrenome. Hif- pano lhe chamarão por Ter de Portugal, hum dos Reynos de Hefpanha. Acabados os eílu- dos das ietras humanas, fayo de fua pátria, com animo de eftudar as outras fciencias ma- yores. Sua inclinação oleuou a Mcdecina,airi por fer naqlles tepos, & nos mães atrazados, occupação de nobres , como poraífi lho ordenarê fcuspays. Pêra a eíludar,ercolheo a Vni-

j uerfidade de Mompelher em França. Dali,acabados feus curfos/e recolheo outra vez a Liíboa,onde naquella lhe foi dado hum beneficio, por refpeito do qual,5,: por híã an- niuerfario lhe doou húas ca- fas fuás , que ainda hojepof- fueaquelle Cabido. Efcrcuco emLiíl^oa o liuroq chamão Súmulas da Logica^q cm mui- tas Vniuerfidades de Hefpa- nha , & fora della,fe leraõ, co- mo hoje nas de Portugal , & outras efcholas da Cõpanhia fc lèo curfoConimbricenfe,& nas de S. Domingos asSúrnu- las de Soto, & por ventura , q hum,& outras entrarão em lu gar das de Pedro luliaó. Eícre- uco também vários proble- mas Philofophicosa imitação de Ariftoteles, & na fua própria (âculáãáecerpa^ regras geraes de Medicina, donde depões to mou muito a cfcholaSalerní- tana. Compôs raaes hiáliuro de vários remédios intitulado Thefouro de pobres^ P^'^^*-] "^^' le tiucfle efta forte de géte me- dico , que fem defpczas a cu- ra íle.

z Todas eftas obras fíze- raó no Reyno,& foradelle,fa- moíoa Pedro luliaõ, & lhe trouxeraó acafa,ícra ellc as pre

tender

2). l^edroIuliaÕV.

I5J

tcndcr,as mayores dignidades ecclefiafticas da Igreja Catlio- lica. Digamos primeiro da pri meira dcHe(panha,ifto he,do Arccbifpado deBraga,no capi- tolo íegLiince diremos doSu- mo Pontificado. Morco o Ar- ccbifpo D. Martinho Giraldes na cidade de Viterbo noanno de iiyi. mo u ido cfte Cabido das srandes letra? de Pedro lu

o

liáo o elcgeo pêra feu Prelado, no principio do anno 1272,. Faziáo nella occalíao menos cubicadas as dignidades eccle- fiafticas do Reyno , a cubica delRey D. Atfoío o III. & per- tinaciajCom que tudo queriaô meter na Coroa Real fcusmi- niftros.Náo ballauáoqueixas, nem cê{uras,pera os compor, ou moderar, aíTillião por eftc tcípeito na Corre Romana,&: lolicitauão o remédio , quall todos os Biíposde Portugal, & íebem o Papa Gregório X. q denouo era eleito,e(creuia a elRey,& lhe mandaua feus Le gados , a nada diferia , & cada hora fe hiáo as couías da Igre- ja totalmente a perder. Fazia tudoifto ao eleito D.Pedro Iii liaó recufar a carga,& cfcolher ãtesviuer entre os feus liuros,q obrigações de almas alheas, I & occalioes de quebrar com

clRey,& feus validos, que grã demente íe lhe moftrauáo af- fciçoados. •...;.• 3 Mas como cfta rcfolu-

ção refpcitaua mães ao par- ticular,que ao da pátria; & tã- bcm, porque efta era a vitima determinação delRcy, quede- fejaua mandalo authorizado com a dignidade de Primaz ao Concilio de Leaó ( publicarafc naquellc comenos, pêra o an- no de 1274.) ouucnnálmente de aceitar. Avnica memoria, quedellc achamos antes de fe partir a França ao Concilio, hecmií. de May o, era 13 II. &i de Chrifto 1273. confir- mando a doação feita em San- tarém por elRcy D. AíTonío o III- a feu genrOj& Alfers D. Gonçalo Garcia,de certas her- dades em S. Eftcuaó , diz a fir ma . Petrus lulianus eleãus Bracharenjis^confirtnat . h (em duuida,que ainda antes da có- firraaçãoj &fagração fcpar- tio ao Concilio, onde deu ra- riííimasmoftras de fuaéminé tcfabiduria. Eftando aqui lhe dcuoSumrao Pontifice Gre- gório X.oCapello de Cardeal, com o BifpadoTufculano,no ' mefmodia,cm que também faziaCardcaes ao Seráfico d^ jà^ torda Igreja S.Boaucntug -^^

á trei

Brãd.ltã

-ãjM

154

Capitoio XXXV,

:r^\

15.C.4Z.

a fr. Pedro de Tarantazia Ge- ral da Ordem dos Pregadores, &: pouco depões Summo Põ- ciíicelnnocencioV.oqucnáo he vulgar recomendação do noílb Arcebifpo, fer efcolhi- do pêra aquella dignidade, dous varões cão eminentes em lctras3& virtude. 4 Mas porque dos Au-

thorcs antigos nenhum, nem ícuementc, acena fer D. Pedro luliaó Arccbifpo de Braga , ôc nós também, comalgúa du- uida o contamos entre nof- fos predeceíTores no Catalo- go , que puzemos no fim da Primazia , ncceííario fera a- pontarmos aqui alguns dos fundamentos porque agora o admitimos.Scjao primeiro,a- quella doação (fica no nume- ra paflado) feita por elRey D.Aífonfoo III. a feu genro, & Alfers D. Gonçalo Garcia, que trás o Chronifta mor Fr. António Brandão, & anda no liuro do mefmo Rcy , que fe guarda na Torre doTõbo,fol. lio.Seja o fegundo húa carta, que o mefmo Arcebifpo, fen- do jàCardeaI,efcreueo da cida- de de Perofa ,aos Officiaes de Braga , em que fe aflina Eleito X)iBraga. Achou crtacarta,en- trex.smaes papeis do moftei-

ro do Pedroío,oDoutor loaõ de Barros natural do Porto,& defembargadordelRey,na oc- cafia5,que por ordem do Car- deal D. Henrique, Cõmenda- tario daqucllc morteiro, pu- nha em ordem fcu cartório, como elle próprio o certifica na carta ,queefcrcue ao Car- deal, & põem no principio do liuro, em que recolheo codas as efcrituras autenticas, perté- centes aos bens d'aquella cafa. Guardafc cfte liuro no Cartó- rio da fazenda do Collcgio da Companhia de Iesvs de Co- imbra. He a matéria da carta moftrarafua Alteza, como os ingc4ihos dosPortuguezescul tiuados, preftaraó ícmprc pê- ra muito, principalmente fora dofeu natural. E entre outros, trás por exemplo ao noíTo D, Pedro Iulia5,á: Summo Pon- tífice loaõXXI.comc ça aíli a carta.

5 Ao mui Serenifsimo Prín- cipe ^l!f mui illuUrifsimofenhor^ o fenhor Infante D. Henrique^ eleito Arcebifpo yi^ fenhor de Braga, Prima^dasHeJpanhas, ^ adminiUrador do MoTteiro do Pedrofo j o Doutor loaÓ de Barros cidadão do Porta , hu- milde Jeruidor de fua Alteia, E depões de outras coufasacre

centa.

T>.TedroIulíaÕF.

155

centa. Da cidade de Lisboa foi natural o Papa loaÓ XXI. que primeirofe chamou ^Meítre Pe- dro Hifpano^tf primeiro foi Fi fico^i^ fe\(is SumuLís da Lógi- ca ^ que hoje fe lem , isf afsi ou- tras muitaó obriis. Do qual Pe- dro Hífpano/u achei nesie Car- tório húa Epiflola fellada com feufello , que elle efcriuia fendo Cardeal /jlando em Perujio^aos Officiaes de Braga^ fendo tam- bém eleito Arcebijpo de Braga. He efte Doutor loaõdcBar- roSjO que elcreueo âDifcricao de EntreDouro,tfMinho^^c\\ã grande noticia, que teue dos prinòpací cartórios de léus moftciros , onde fez a meíma diligencia^que nojdo Pedrofo. Anda efta obra arè agora (òdc luáo , fer digniíTima da ef- tampa.

6 Seja o terceiro , os Au- thores,que nos certiíicáo dei- ta verdade, pellas grandes di- ligencias , que nella fizeraõ . Dos impreíTos^o Doutor frei António Brandão Chronifta mor deftcs Reynosem todo o capitolo32., doliuro ij.daMo narchiaLulítana.Dos náoim- preílos,o Doutor loaõ de Bar- ros,que agora acabamos de al- legar , & que em fua mão teuc a carta do mcímo Arcebifpo

Cardeal cícrita aosOíficiacs de Braga. O Padre Cofme de Ma galhacs da Cópanhia de Iesvs, natural delia cidade,o q elcre- ueo íobre S.Paulo, fobrcosCa ticos de Moyíes, fobre o liuro deIoruè,& luizes, diz elle alTi é híía brcue memoria dos Ar- ccbifposdefta Igreja. Petrm ex Archiepifcopo Èracharenf \ l^ poUea Cardinali Tufculano^Pa pacreatus eJl,ifIoanes ziyoca titsa P latina ^e Onufriom Chro nico OLcccnciado Galpar Al uarezLouzada elcriuáodaTor re doTõbojtáo erudito nas an tiguidades do Reyno,&: em cf pccial nas delta Igreja. Eícreue naformafcguintc aoChronilta M. Gil Gonçales de Auila na carta cm q lhe vai pondo por ordem os Prelados de Braga. A D.IoaÓfuccedeo immediata- mente o Arcebifpo D. Martim GiraldeSjfegúdofe acha em húa bulia de Alexandre IIIL Por fua morte entrou aquelle gran- de^ls^ infgneyarao Pedro Hif. panojqnaceo em Lisboa^isffuc- cedeo a D. Martim Gira Ides fendoCardeal^iSf depões foi Pa- pa loao XXI.

7 Mães difficuldade tém a- ueriguar em que anno entrou ncfte Arcebifpado, ôc fc era então Cardeal da Igreja Ro-

mana,

JS6

Ca pi tolo XXXV'

Brãd liu IJ.C.36.

rnana,oa ofoi dcpocs ? O que nos aqui embaraça,hc aquclla cloaçáo,que íica nos números 3.&4. dclReyD.AíFófooIÍI. a feu genro D. Gonçalo Gar- cia,em 11.deMayode1273.oii de anda alTinado com titulo de Eleito de Braga. Logo no an- nofeguintede 1^74. achamos outra^feita pcllo mefmo Rey de certos caíaes j unto a Azam- buja, acfte fcu propiiogenro D.GõçaloGarcÍ3,& a fua filha D.Leanor, onde cúíirmão D. VicêtcBifpo do Porto,D.Do- mingos eleito de Lamego, D. Mattheus de Liíboa, D. Du- rando d'Euora, D. Vafcoda Guarda, D- Bertholameu de Sylues. E fe diz. Ecclefa Bra- chnrenfis^lpacat.Ecckfia Conim bricenjh,'vacat EcclefiaVifen- fs^njacat.O que pode mal ci- tar com a carta, que de Per o- facfcreueo depões de Cardeal, & ainda eleito, aos Ofiíciaes defta cidade, o Arcebifpo D. Pedro luliaõ. Porque o Con- cilio em q lhe foi dado o Ca- I pello , começou pello mes de May o de 1274. &auia de du- rar pello menos aquellc anno, & parte do feguinte. Nem he de crer íe íayria nefte tempo o

I Cardeal , da cidade de Leaõ, & fe viria a Perofa.Saluo fc diíler

mos, o fez mandado a algum negocio pello Summo Ponti- íicc, logo que começou o C5 cilio , fe lhe deu o Capcllo, & que dentro do mefmo an- no de 1274. voltou de Perofa a Leaõ,renunciouo Arccbifpa do de Braga,fes a faber ao Rey no da renuncia , & cm Braga fe deu vagante ,como diz a doação do anno 1x74. Mas pa rece muita prcíla em matéria de tanta importância , &: que inclue lugares taó diílantes,& mezes tão poucos, quantos vaó de Mayo,atè Dezembro. 8 Com tudo elle parece

foi aíli , que de Portugal fayo Arcebifpo de BragaD. Pe- dro IuIiaÕj& que não reteue o Arcebifpadãmaes,qucarè lu- Ihojou Agofto do anno de 1 2-74^ ou porque fc contcnta- ua com a noua dignidade de Cardeal, & Bifpo Tufculano: ou porque via lhe não podia fcr o Arccbifpado de Braga de proueito,poes elRey tinha la- çado mão de fuás rendas , de- pões da morte do Arcebifpo D. Martinho Giraldes, quefe fayradoReyno a requerer co- rra elle, & morrera cm Viter- bo, fegundo o que lhe deu de- pões em culpa o Papa Gregó- rio X. Nem pêra ifto dcue pa- recer

T>.TedroIuliaoF.

157

Kccr poucos crés mezes , me- » nos cie crcs ballauão , pêra fe- melhantes negócios fccóclui- rem. Teuelogoelle Arccbií- pado pouco mães de dous an- nosjdeixandoopor renuncia, na cidade de Leaõ em Franca, onde no meímo ano de 12.74. o Síimo Põtiíice Gregório X. lhe deu por lucceííor a D. Sa- cho, o qual alfi ília noConci- liojcomo éiua vida diremos,

C A P I T O L O XXXVI-

.HE ELEITO SFMMO

Pontífice 5 chamafe em fua ajlumpçdo loaÓ XXI.efcre- ue a elUeyfobre a liberdade da Igreja nejle Reyno^morre dentro de poucos me^es.

OrtcGresorio X. ( o qdcu o CapcUodeCat dcal ao noflo Arccbirpo)na cidade de Arezzo,da Prouincia deTofcana,ê 3.deFeuereiro de ' 12.76.lhe foi logo dado,décroé dcs, dias por fucceílbr o Car- deal Fr. Pedro de Tarantafin, Religiofode S. Domingos, & quecm fua coroação fequis chamarInnccccioV.Durou a- tèosiz.delunho do meímo an

no.E cmfcu lugar elegerão brc j uemece osCardeaes a Adriano V.M.1S nêa receber aíagração chegou^porq aos 17. do Agoi- ro ieguinre^elcádo emViíerbo, paílba deíla vida , nío tendo mães , qordens de Euangelho. L Entrados no meímo an- no a terceira ves os Cardcaes é conclaue, em 13. de Setem- bro, tinhão eleito em Summo Pontiíice ao noíío Cardeal D. Pedro luliaõ, que fe quis cha- mar loaõ XXí.Foi lua eleição feftejada vniuerfal applau- fo de toda aChriftandade,pot- q todos pconofticauão a léus merecimentos aquella fu pre- ma dignidade, todos o deíeja- uãonella ,porq cada hi^ife ti- nha por interelIado,& fc pro- metia grandes felicidades na- quelle Pontificado. O q íobre todos o feftejou foielRey D. Affonfo o III. Mandou por to do oReynofazergrãdesdemõf traçocs de alegria , enuiadolhe logo feus Embaixadores , os quacs a voka dos parabéns ,lhe íizefséa iaber o miferauel cila doemqosSúmosPõcificesfcus predeceílbres tinhão deix"ado eíleReyno^cõcêfuras,e outras pcnasEccleííafticas,do qual fua Santidade porPay vniuerfal da Chriftandadco & por natural,

"""Õ de-

^58

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Capitolo XXXVL

deuia compadecerfe. Refpon- deo a eiReypor palauras ge- Eacs o Summo Pontífice, di- zendo,que nenhúa coula tra- zia niaes nos olhos, que com- por as coufas de Portugal, fc- náo, que pêra o poder fazer era ncceíTario , que clRey le- uantaílea mão das violências com' que trazia opprimida a liberdade EcclefialHca, & pu- zeíle termo aos miniftros nef- te particular, porque defeus exceflbs eftaua cheya a Cúria Romana, & de feus exemplos poderião apréder outros Reys daChriftandade,quádo viflé,q com o de Portugal, ondeafè tanto fíorccia , fc paííaua com diíTimulação.Com ifto lhe da ua também conta, de como dcterminauâ conquifíar a le- rufaleni, ajuntando em huma fantaLigaos Principes de Eu- ropa , entre os quaes o tinha a clle, &a feus vaílalios, pello demaes importância, aíTi pel- lacalidadede fuás forças, co- mo pclla generoíidade deíeu animo , & prudência mili- tar.

5 Perfuadiofe el Rey,com cftas palauras do Summo Põ- tifice, que tudo o paílado a cerca das cenfuras p3raua,& fc podia Icuantar o interdito;

não aduertindo, que nem o 5'úmo Pontifice ordenauatal, nem que o ordena0e, era fcm aqucllacondiçáo, queellctá- bécefíaíle de aucxar a Igreja, lhe reftituiíle todo, o q lhe tinha V furpado Eraõ àqucl- le tempo mortos cm Viterbo os dous Bifpos de Coimbra, eleito de Cõpoftella D. Egas, & D.Rodrigo Bifpo da Guar- da. Apertauáoosoutros,que ficarão , com o Summo Pon- tífice, & clle com clRey, fem nunca poder acabar nada. Atè que mandou ao fcu Núncio, que em Portugal tinha,Fr.Ni- colaoda Ordem dos Menores intimaíTc de nouo aelReyas bulias dos Summos Pontífi- ces feus antcceíTorcs Gregório X. & Innocencio V. as quaes queria eftiuefsê cm feu vigor. AíTi o fez o Núncio , não na prefença dclRey , & de fua corte, mas também por todas as cidades do Rcyno , como nolo certifica hum inftrumê- to publico , que aqui temos, & vai relatando dia por dia, as acções do Nuciofr.Nicolao. 4 Eftaua entretanto o Su- mo Pontifice cm Viterbo at- tendendo ao gouerno da Igre- ja Catholica. Mas qorqoEm- perador de Cõftantinopla Mi-

guel

D.TedroIuIiaÕF,

IS9

guelPaleolego^o que noCõci- lio próximo de Leaó tinha da- do obediência ao Summo Põ- tifice Gregório X. com coda a mães Igreja Grega , começaua denouoa vacillar,eícrcueoIhe híía elegance carca,animandoo aperfeuerar no que promece- ra,ô«: conuidandoo,a querer ta be.ra entrar na li^a dos Princi- pesde Europa a cerca da recu- peração da terra fanta, 3 Repartia alem difto o

Summo Poncificeíuas rendas com grande liberalidade entre todo o género de neceílka-- dos . Prouia os beneíicios Ec- cIcíiaílicGsem peíloas conhe- cidamente bencmciitas , íem refpeitar a outras cai idades , que às da virtude , íciencia . Emíimellefeauia no tocante ao gouerno publico , Òc do- mcitico , com fatisfação: fcbé no trato 3 & authoridade de íua pcfioa , guardaua às vezes menos grau idade, por fcr de cõdição pouco altiuo, &váo & ter muito da bondade, & ííngileza, tão própria dos Por- tuguezes daquelle tempo. Ef- tranhauão os Romanos ^ co- mo aente mães dobrada Pon- tifice cão humano, íícando- Ihe menos aceito , poronde o deuerão mães cílimar. Deu

iftooccaíião aos Authores,q depões lhe eícreueraõ a vida de o tratarem em íeus eícritos com menos decoro , fendo o principal Platina, aquelle,que do Pontiíice, aquétcuema- yores obrigações , deixou ef- critas mayorescalumnias.Mas nem aíTijUie pode negar o mui to de letras, & virtudes , que o Ceo lhe comunicou. 6 VeyoamorrcroSum

mo Pontífice ali mefmo na ci- dade de Viterbo, pouco mães de oito mezes, depões de íer eleito, & no tempo que,re- gundo ellc frequentemente di- zia, pella fciencia da Aílrolo- gia, em que era eminentiíTi— mo, fc prometia largos an- nos de vida. Puderaò nefte particular bem defenganar a- quclla cão certa, òi tão appro- uada experiência por todos feus predeceflores , que não chegaria nunca aosannos de S. Pedro , como nenhum del- les ate fua eíeição, tinha chega- do. OrdcnãdooalliDeoSjCO- moaAíexãdre fecundo cfcrí- uia o Cardeal Pedro Damiaõ. Vt humano generimetum mor - tis incutiat: Iff qitam defpicien- dafit temporalis njita gloria, in ipfo glori<e principatu eui— denter ofiendat: quatenus^dtim

O % pra-

l6o

CapUvloXXXF.

Zot4ÍU('

an,Chrif 1277

faa

dum praciputis hominum tam angujli temporis compendio mo- ritur , tremefaãus quifqué ad pr^eflolandi fui obitus cuítodia prouocetur : iff arhor humani generis , dum ca cumen , ac "Per- ticemfuum tamfacilè corruif- fe conjtderat,flatu concujjafor- midims^infuts 'vndiquè ramuf- culis contrcmifcat.Ajim de áte- mori^ar os homens comos aj?ó- bramentos da morte ^ moUran- dolhe a olhos ofislos no mães al- to da gloria mundana^ quão ap- pre fiada corre afe acabar ipoes 'Vendo durar tao pouco o mayor dos homens, qualquer outro de menor condição tenha donde a- prenda afe njellar, Iff acautel- lar^cótra as incerte^ da mor- te. E quando fe 'vira aruore da humana geração ajsi quebrada nos ramos mães altos , tema^ trema a mejma tormenta nos mães baixos.

7 Falleceofcomojàcó-'

nieçauamos a dizer ) na cida- de de Viterbo cm 20. deMa- yo de mil Òi duzentos & fcten ta & fetCj oito mefes , & oito dias depões Summo Ponti- íice. Originoúfelhe a morte de cair fobre clle, & o apanhar debaixo a ruina hum quar- to, que edificaua nos paços Pontificaes de Viterbo. Na

meíma^noite do defallre , na- uegando cerco mercador Flo- rentino ^ pello Mediterrâneo, vioemíonhos húhomé agi- gantado , negro , de medonha acatadura , o qual com hu ma grande maça , que nas m áos trazia, defcarregaua fobre húa coluna, que lurtcntaua hum grade edificio,& a poucosgol- pes o fazia vir abaixo. Acordou todo medrofo , & fobrefalta- do o Florentino ^ aduirtio no fonho, & no tempo dcUe , & depões ou uindo da morte do Summo Pontifice, ficou en- tendendo fora pronoftico , &c reprefentaçãojdo que lhe íuc- cedera. Seu corpo foi encerra- do na Cathedrai de Viterbo» onde cambem jazem outros Summos Pontifices. Dclle ef- creuem Platina , Onufrio,Ge- nebrardo , Chacon j Mariana, Ilhefcas, Zouio , & outros. Reynãuâ ainda ncftc têpo em Portugal^ D.AíFonfoo III

^^

CAP-

D. Sancho.

I6i

CAPITOLO XXXVII-

D. SANCHO 76. ARCE- hifpo de Braga,

g O M duuida deícrArcebil- po de íia cida- de puzemos no Catalogo da Primazia aD.Sancho,a que chamamos II. do nome. Fize- molo cambem ali immediaco rucccílbrdoArcebifpoD.Ioaõ Egas,& predcceílordeD. Mar- tinho Giraldes. O lugar con- tudo, que lhe cabe, he o em q agora vai. D cu lhe efta mirra o SiímoPonciíice Gregório X. aíTiftindo ainda no Concilio deLcaõ, quando a renunciou o Cardeal D-Pedroluliaõ. No breue que o mefmo Pontífice efcreueoaclíley D.AfFonío o III. de Belquadro na França, quando íe vinl-.a recolhen- do a Italiajhe chama:í///é^í?/- lio deão Bracharenji, & aos maesBifpos àoKcy no Jrmaos. E deuia fcr a caufa de lhe não chamar também irmão , não ter ate aquclle tempo ordens facras, A Isiúíis outras memo-

rias ha Tuas ncftc Cartono, ne- nhúas paflaõ do anno xiyj. em que ou renunciou,ou aca- bou a vida, com pouco m.aes de 1 3 . ou 14. meies de souer- no, lendo Summo Pontificc Gregório X. EJley de Portu- gal D. ArFonfo III.

CAPITO LO XXXVIII.

D.ORDONHO 77. AR- ccbijpo de Braga.

%9t^^^^A ove A no- ticia auia ncf- ta Igreja doAr ccbiípoD.Or donho, & aíli falta iioCatalogo antigo da Sá- criftia,nera nòsdelle fizemos menção no da Primazia, Com tudo não baduuida foi Arce- bifpo deita Igreja:& poílojao que parcce,nclla por Innoccn- cio V. Começou le a ter noti- cia delle por húa carta q omef- tre Gil Gonçales dcAuilaChro niíladaMagcftade dclRey D. Felippe III. de Portugal , Sc IlII.deCaílcIlaefcrcueo aoAr- cebiípo D.Agoftinho de Caf- tro,e q diz ^morreo,e foi enterra do naSè de Salamaca^ ãno izyo-

O3

A mef-

l62

Capitulo XXX FUI.

z Àmcímaaduertencia

nos fez em outra íua clcrita em Madrid a 3 o.dc Dezembro de 1634. com aquella pontua- lidade, com que nos vay en- uíaiidotudo o que lhe parece pode feruir a etta noíla hilio- ria , no que alé das obrigações comuas em quelheeílá toda Heípanha,pellos liuros com queaièmcnriquecida,noslhas deuemos mui particulares,pel lo muito que de fua rara eru- dição atê agora nosaproueita- mos,& aproucítaremos aodiá te. A carta foi eícrita na occa- ílaó , em que acabaua de recé- ber,&: lera primeira partedef- ta hiíloriaj que entiío tiram<)S a luz, & lhe mandamos: diz affi.

3 Be^ a TJ. S.lllnflrifsi'

ma la mano por la memoria que a tenido 'U. S. llhãtrifsima de lahimildadde miperfona^y ef- mdios , remitiendome la hiíto- ria defu Satã Ighjia^dignapor la eminência defu efcritiira^ de andar en manos de Pontífices, y Reyes. Leila toda,y repare ^que no ay en ellapalabra^que no ejlè enriquecida con muchos foles , y Iw^es^y acabando cotanfagra- da ktura me acorde de lo qiiefe decreto en tiempo que gouerna- ua la Iglefiapor los anos de 116.

S .Vrbanoprimero de aquejle no bre^ en que comenco la iglefia a tener raií^es. , y próprios , con el parecer de los Obifpos , yfa~ bios^que le afsiíiian, mando, que lo que rtditafien , fe diuidiefe en dos partes Ja Ipna^ quefe apli cajfe para él culto diuino ^y la otrapara los que iuan efcreuie- dolas hãtoria^s de la Iglefia. De aquife collije , Icts muchíts coro- n(í4,que dejufliciafe les deuen a 'V.S. llluftrifsima ,y quefe Icts daran en la Iglefia de los San- tos.

4 ^engo mmy cumplida - ticia , de que en el Claujjro de la fama Iglejia de Salamanca ejlâ fepultado en "Pn arco cerca dei altar de Nuejira Senoradela Eíirella 'vn Jr^obifpo de Bra- ga , quefe llamaua D. Ordoiío, y enfiis Àrchiuos Vi muchos ve- \es fendo fu Archiuifla, lona ef- critura en pergamino c6 ynfel- lopendiente, deijna donacion, que ha^e,paraque aquelCabil- do le diga en cada <xm ano ( pa- recem e , qpor elmes de Agoflo) Tina mifa de Requien. La ra- ^n de lo que donò^y en que ano^ y dia murio^fe <uerà en yn libro becerro, que aquella Iglefa tie- ne efcrito en pergamino enfu Sa cri/tia, o CÓtaduriamayor.Re- ciba 'V.S. Illuflrifsima mi bue

animo

1). Ordonho.

165

c.^o.n.l

animo jj? dentro de poços me^es l legara a los "Pm hrales defu grã palácio, el Theatro EccleftaUi- co de la fantaiglefia de Oiiiedo^ yidiU de fusObifpos^ y cof^ts ma- raudlofas defu cmdad ^ v Obifl- pado,y de Dios a -v.S. Illufirif jma ladichofa Tida que mere- ce^paraque nos dè, como el otro arbol dei paratjo^en cada mes a)n fruto.paragran bien de los que defean faber loque fue nuef- tra Iglefia en las edades p afea- das. Madrid Dei^iembre 30. 1644.

jT O Theatro cie Ouiedo, de quefalld, ciperamos , ate Ce nos comunicar, cõaluoroço, & lemos com goítOjôí admi- ração, logo que o recebemos com outra carra do mefmo Chroniííaem iz. deMayode 163;.

6 Da primeira cartado M. GilGonçalcs deAuila cícrita aoArcebilpo D. Agoíliníio de CaftrOjCÓrta fer a morte de D. Ordonho no anno de 1 2.50.CÕ forme íeacha em húa efcritu- ra do Archiuo da Igreja de Sa- lamanca, na qual íemduuida ha vicio grande j porque por aquclles annos , & mães cinco adiante,gouernou eftalgrejao Arcebiípo D.Ioaõ Egas, fegíí- dooqueem fiia vida efcreue- '

mos. Ale diílo, em muitas ef- crituras dos annos iiyíí. atèo pc 12,79. ícachão delle grandes memorias. Todas vio,& de to das nos aduirtio,ccrtiíicando- nos o fizera primeiro aoM. Gil Gonçales deAuila, o Lecencca- doGafpar Alares Loufada. No Doutor Chronirta mor deíles ReynosFr. AntonioBrádáo an da o foral da vila deCrafto Ma rinhojdado porclRey D.Af- íonío o III. a 8. de lulho , era 1315.& deChrifto 1177. emq firma o Arccbifpo D. Ordo- nhojçom muitos outros Pre- lados. Aqui temos neftc Car- tório certa eícritura pafladaa i3.deSetembrode 1176. que começa aííi. Nouerinfuniuer- fi prccfentes literas infpeãuriy quod nos MagiHer IhomM Ca- pellanus ^iSf fubdiaconus Domi- ni Pap^ , Isf ThefaurariusJ}as recepi litreras Reuertdi Patris DominiOrdoni fub hacforma^ ^c. Aííique o Arcebiípo D. Ordonho gouernou cftalgre- jado anno ii76.atè 1x79. Mor reo em Salamanca/endo mo Pontificc Nicolao III. í5<: Rey de Portugal D. Dinis. íaz naClauftrada mefmaSèJíjto a capella de noíTa Senhora da

Eftrclía.

7 Alguns mefes antes de

04

Dcos

I<54

Cafnolo XXXIX,

Dcos Noíío Senhor o Icuar pe ra íy, falleceo cm Liílioa a i6. Fcuereirodío meímoáno iiyí? clRey D. Aífonfo o II I. arre- pendido grandemente daop- preíTaÓ5& danos, que viuédo, tinha dado as Igrejas ,& Prela- dos de fcu Reyno , alguns co- pos naquelles breues dias da vi rima doença , outros mandou a fcu filho,ô«: íucceflbr D. Di- nis ratisfizeíTe, pêra o que lhe tomou juramento o faria aíli. Deixou a efta Igreja hum le- gado de 1500. liuras , valia en- tão cada húa pouco menos de oito vinteis. Foi fepultado no moíteiro de Alcobaça, onde depões cambem fe enterrou a RainhaD. Britis fua fcgunda molhcr.

CAPITOLO XXXIX.

D.FREITELLOjS.AR cebifpo de Braga,

Epoes do Ar- cebiípoD.Or- donho, acha- mos, que foi leu fucceílor o Arcebifpo D. frei Tello , cu- j jas memorias comcção no an-

no de 1280. cm que deuia ícr eleito,& confirmado pellaSè Apoftolica. Criouíe na Reli- gião do Pacriarcha S. Francií- cOjde que era frade proíeílo,& ncUa deu fempre grandes mof trasde virtudc^pelías quaes me reçeo fubir a eíla dignidade. Tanto que entrou nogouer- no , como trazia diante dos olhos a reformação de fcus fubditos 5 tratou logo de os por no caminho de codas as virtudes, com a pregação , &: muito mães como exemplo de fua vida. Sayo a vificar o Ar ccbifpado peílbalmenie , fabé- do bem quanto importa apre fença do Paftor , pêra o das ouelhas. Acodia a todas as ne- ccííídades aííi corporacs co- mo cípirituaes com o gofto, que o falia hu pay as de hura filho, que muito amaíTe. 1 Acabada a viíitação, re- colhe o fe a Braga, onde enten- deo em outra obra de igual nc- ccíridade,qual foi chamar a Sy nodo todos osBencficiadosdo Arccbifpado, pêra íe celebrar na mcíma cidade. Ncllc fe re- formarão muitos abuzos,&fe fizeraõalgúasconlHtuiçoés de nouo j ncccllàrias ao bom go- ucrno.Ordeuou com particu- lar decreto fe feftejaflb folcn-

ncmence

T>. Fr.TelL

16$

Fr. Luís

de Seuft hi/í.deS, DomiH' gosAtMX.

«emente em todo o cerritto- rio o dia doPatriarcha S.Fran- cílco, ao qual daquelle cempo íicou grande deuaçao nos mo*- radores do Arcebiípado. 3 Noannode 12.86. eftá- do jútos em Braga com o Ar- cebiípo D.Tello os Bifpos de Coimbra.D.Almirico, D.Vi- cente do Porto, DiFr. Berco- lameu do Alsarue. D. loaõ de Lamego,D.Ellcuaõ deLifboâj & outros Prelados cõcederaò certas indulgências a quê vill- tafle oconuencodeS. Domiii gos deTui,da ordem dos Pre- gadores, que entaõ fe ya edi- ficando de nouo, pêra com as efmolas crecer a obra. A caufa queouuc, pêra fc ajuntarcru em Braga tantos Prelados do Reyno ^ com o Arcebiípo D. Tello/oiperaconlultarem,& tratarem entre fy o remédio^ qfeauía de dar aosaggrauos, que recebiáo as Igrejas, & peí- foas Ecclelíafticas com as vio- lencias,que lliefaziaò osminif- tros reaes: porque parecendo, que com à morte delíley D. AíFoftfó III. & nouo gouer- nodefeu filho D^Dinis toma- íiáoas coufas algum meyo de concórdia j fotaó peyorando tanto, queouueraò os Prela- dos do Reyno ji coiluinha a-

cudir , & fazer inftancias ael- Rey peraquc leuantafle os ag- grauos 3 que padeciáo as Igre- jas j & quando o náo fizeíTe^ recorrer ao Sumo Pontífice, como em tempo delReyD. Aftonío III. íeu pay,o tinhão feito.

4 Náo forãò porem ouui dos dclReyD. Dinis, pello que forçados de tantos males ,quá- tos padeciãô as Igrejas doRey no, íe reíolucraó vltimamente â ir a Roma, & requerer dian- te do 5'ummo Pontífice a juf- tiçaiqcm Portugal náoachâ- uaõ . Foi o primeiro o noíTo Arccbiípo/eguiraõno osniaes Prelados, & pondoíe a cami- nho, le prefentaràõ diante do Papa Nicolao III. & Ihcdcrão 40. artigos contra elRcy D. Dinis, todos de aggrauos,for- ças3& violências, que fazia às Igrejas, & pcflbas EccleíialH- cas,com pfeteifto de coft ume, & vfo do Reyno,pera fazer íe melhantes coufas . Entre as queixas principaes , que fc c5- prcndião nos 40. artigos, a q cm èfpecial tocaua a efta cida* de de Braga, era o artigo trinta cm q os Prelados dauão cargo a clRey , que lhe comaua , & occupàuaas tendas, & frutos das Igrejas de Braga, Lamego,

"""^ &Vi

^MMHiMMH

166

Capitolo XXXIX.

&C. Vifeii , & que na cidade de Braga , cujo domínio , & íe- nhorio pcrtccia a mefma Igre- ja, elle por auchoridade pro- pria,puzera hum Corregedor, &:miniftroíeu. j CometteooPapaacau- ía , a quatro Gardcaes, peraq a vilíem,& examinaílem, ouuin do a D. Martinho Chantre de Euora,&aD.IoaóMíz Có- nego de Coimbra (que depões foi Bifpo de Liíboa , &c Arce- biípo de Braga, como diremos em fua vida) procuradores del- Rey D. Dinis, com poderes de fazer concórdia , & compoíl- çáo fobre os 40. artigos, com o noíTo Atcebifpo , & raaes Prelados de Portugal , que eí- tauaõem Roma. A eftcs deu também oPapa poder pêra era nome dos Prelados auzentes, ôí das igrejas do Rcyno, faze- rem compoíiçáo firme,&eííi- caz. Finalmente depões de ríiuitas diiuidasj& controuer- fias, os quatro C.ardeaesluizes da cauíâ, os vieraõ a compor, & concordar , fazcndofe logo hum iníirumcoto publico, q aíGnaraó todos , ôc foi confir- mado pello PapaNicolao III. de que paílbu Bulia, que eftà, na torre doTQixibo,& Carto, rio deíla Igreja.-

6 O modo porque íefes a concórdia , & o que elRey por feus procuradores reípon deo a cada hum dos artigos ,de que le tirara as concordaras em que faláo as Ordenações do Reyno em vários lugares, não he defte referilo. Achaoíe eftes artigos em Zouio , ôc os trazGabriel Pereira de Caílro. Sonos pcrtéce aduertiroque elRcy refpõdeo ao artigo trin- ta dos aggrauos feitos à Igreja de Braga. A repoílafoi, que el- Rey nada do conteúdo no arti- go f^era, antes refiituira o que elRey D. Affonfo feupay lhe to- mar a^ip' que na cidade de Bra- ga nao pudera nunqua justt^M, nem officiaesfeus^není os poria em nenbú tempo. Foi cfta con- córdia feita, ôí confirmada no annodeiiSíí.nofegundo an- no do Pontificado do Papa Nicolao III I. aos íeis dias do mes de laneiro , como confta dos breucs delia, que eftaó no Cartório delia Igreja:

7 Eílando ainda em Ro- ma o Arcebifpocom os mães Preladosjcõtinuando na copo íiçaú dos 40. artigos de nouas duuidas qouuc , fe formarão outros II. capitoIos,osquacs- fe-examinaraõ, Sc viraó pellos luizes deputados , & fobre cl-

Zouio Gabriel Pereira manu reg.i.f. fine.

to »2 .foi, 69.

1

es

T>. Fr. Te Ho.

167

Gah. Pe- reira m manuRe gta.

\zi íe tes rambem concórdia entre os Prelados, & procura- dores dei Rey D. Dinis, íirmá- doíe4 compolíçáocomcícri- tura publica, que elH noCar- torio delia Igreja, & na torre doTombOjdondea tirou Ga- briel Pereira , & a lançou com os onzeartigos,& repoíla a el- les no feu liuro de Manu Re- gia.

8 Concluído cfte negocio de tanta importância, & quie- tação pcra o Rcyno , íe torna- rão peracUedeípediJosdo Pa- pa, o Arcebifpo , & Prelados feus companheiros. Foraó re- cebidos có graníe alegria del- R.ey,da nobreza, & do Pouo, porque feviaõ jàliureí deef- comaa[io2s,& iaterditos,que durauáo Iiauia muitos annos, òí começarão a gozar da paz, que por meyoí táo forçofos tinhaó alcançado. Não durou porem muito tempo, porque a perturbarão outras duuidas de noao,&: fizeraõ menos glo tiofa a memoria delRey D. Dinis ,aqué Zouio porefte refpeito trata menos decen cia daq fcdeuea peíToa Real, mormente de liú Principe táo Catholicojcomo clle fempíe foi. Recolhido a Braga, pQÍÍbu pouco depões â villa de Gui-

marães,onde lançou a primei- ra pedra do mofteiro , queaU tem a Ordem de feu Padre S. Franci(co,acõpanhandoo nef- ta folennidade o Bifpo de Tuy D.Fernando, que deuia en- tão de tèr renunciado , corria a cfte tcmpooannode noíTa redenção 1290. 9 Outras memorias acha- mos no Árchiuodefta Igreja, doArcebifpoD.Tello,as quaes chegaó ate o anno de mil du- zentos &: nouenta & dous , q foi o vitimo de fua vida. Mor- reo aos vinte & três de Março do mefmo.alino , auendo do- ze que gouernaua efta Igreja, com grandes finais de lantida- de, & moílras de verdadeiro Rcligiofo imitador da humil- dade do Patriarcha S, Francif- co. Coníla dos liuros dos an- niucrfarios defta Igreja. Fo- raó Summos Pontífices por aquelle tempo Martinho, Ho- nório,^: Nicolao, quartos do nome. Rey de Portugal D. Dinis.

CAP,

168

Capitolo XXXX.

CAPITOLOXXXX.

D. MARTINHO D B

Oliueira^quarto do nomtyl^ 78. Arcehif^o de Braga.

Taboa dos Ar ccbilpos deita Igreja, & car- ta, q referimos muitas vezes do Lecenccado Gafpar A lures Louíada,& outroCatalogo de máo do Padre Coime de Ma- galhães , põem por lucceííor do Arcebiípo D.ír.TclIo a D. íõaôMíz:porem, nêhum,nc outro lhe alímáo ccmpoemq cntraíTe no Arcebíípado , ou morreííe nclk, & a taboa deita Igreja lhe aíílna dez mezes devida, no mefmo arino de iipz.emquemorrco o Arce- biípo D. TcUo. Contudo ain- daque na eleição, que nefta fe fez de Prelado em hiáa quin- ta feira , oito de May o , da era de 1330. queheannodc 1192,, por morte de D.freiTellojfof- fe nomeadoArcebifpo de Bra- ga, D. loaó Míz, a tal eleição naõ teuc eíFeito , como clara- mente íc proua dos muitos an

nos,que depões deite de IZ92.. foi Biípo de Liíl^oa, &c dahi .nudado pcra eíta Cadeira de ôraga. A rezaó de não lèr ef- feito a eleição nos naõ confta: deuiafer, ou por falta de ida- dcj da parte do eleito, ou por algum defeito, &c nullidade da dos eleitores, pello que fica da ro , que nefte lugar (c lhe o pode dar o de Arcebiípo. Te- loà quando de Liíboa for mu- dado pêra Braga, como em fua vida diremos. Vindo pocs ao imniediatofuccelTor de D. Tcl lo,D. Martinho de Oliueira. z Naceo na cidade d*Euo- ra, & foi filho mães velho de Pedro de Oliueira, o primeiro que fe chamou deíle appelli- do, iSi deEluira Annes Pefta- na fua molher , de quem teue mães cinco filhos , Pedro Fer- nandcz de Oliueira , Mem Piz de Oliueira , Dona Suzana de Oliueira, molher de AfFonfo Annes deBritto, Maria Pirez, & Caterina Pircz. Aprendeo fendo moço as letras huma- nas, &c depões eíludouas fcie- cias mayorcsjcm que fayogrã de letrado. Era conhecido no Reyno por feus merecimen- tos , & eftes o leuaraõ a digni- dade Primacial de Braga, Ellá- do vagaeflaCadcira por mor-

caf. 41.

te

^.Ádartinhode Olmim IIIJ.

Cata.Jos hífpos do Tono f.\

raChron D Dims

tc do Arcebilpo D. frei Tcllo, &auendo deícr elciça peíloa, que eiiçheflc o lugar , depões de os Conexos íuzercni clei- çáo cm D.Ioaõ Maitins , que não çeue effcico como diíle- nios no capitolopaflado 5 en- trado em outra eleição de no- uo ,rayo nomeado Arccbifpo D. Martinho de Oliueira, co- nhecendo bem os Cónegos, que na fufficicncia , Sc cali— dades dcluapctíoa cabia bem adignidade pêra que o clegiaú. Logo que foi eleito mandou a Roma pedir confirmação, & Pallio ao Summo Pontifice, & depcej de lhe fer concedi- do tudojVeyo a Bragaa tomar poíledanouadignid3de,&; co- meçou a entender na refor- mação de feus fubdiros , vííi- tando oArcebifpado peíToal- mence , &c fazendo officio de verdadeiro paílor, com gran- dilíimo proueito de Tuas oue- Ihas, como em breuetépofc deixou ver. Dcffcaoccupação o tirou elRcy D. Dinis , quã- donoannodeii97. quis, que o acompanhaíle na jornada, que fes aCaftellaa verfe com clRey D. Fernando o IIII. na villade Alcanhices, 3 Era a jornada em que

fcauiaõdevercrtes dousReys,

169

- ' ' I rin wiMni < ^

de importancia^íl', ambos tra- tarão de Icuar acompanha-- : mento , qualconuinha a íuas reaes pclloas . Foraõ com cl- Rey D, Dinis a Rainha Ssnta líabcl fua molber, a Infanta D. Conílança , Sc o Infante D. AffonÍQ feus filhes . A- companharaõno o noílo A r- cebiípo Dom Martinho, D. loaó Bifpo deLiíboa, & D. Sancho do Porto , D. Vaíco de Lamego, os Medres do Té- plo, ècde Auís , &: outros fi- dalgos illuftrcsdo Reyno. elRey de Caftella vicraó a Rai- nha D. Maria fua máy, o In- fante D. Henrique feu tio ,& tutor , â>c os Infantes D. Pe- dro,&: D.Felippc feus irmãos, D, Diogo de Faraó fenhor de Biícaya, D.Sancho filho do Infante D.Pedro, D. I02Ó Bif- po de Tuy , D. loaõ Fcrnan- dez Adiantado mor de Galli- za , Sc outros fidalgos, Sc Ri- cos homens de Caíklla. Nef- tas viftas fe aíTentaraópazes entre os dous Rcynos , por efpaço de corenta annos , ôc fe celebrarão os cafametos del- ReyD.Fcrnando com a Infan- ta D. Confiança, filha dclRey D.Dinis,& Jo InfanteD. AíFó fo feu filho c5 D. Brites irmã do mefmo Rey D. Fernando,

P a quem

170

Cafitolo XXXX.

r?rr

Chrotãel Rey D, T>tnis. c ai»

a quem recebeo emCoimbra. Ajunraraõfe ta bem à coroa de Portugal na Comarca de RibaCoa^as villas do Sabugal, Alfayates, Caftelrodrigo,villa Mayor, Caftelbom, Almeida, Caftelmclhor, Monforte, & íobre Guadianaerh Alentejo, outras, que fe podem ver no Chronifta Rui de Pina. 4 Tanto que le íccolhco

aoReyno o Arccbifpo D. Mar tinlio,& le vio em Braga, á^í' pedido da Corte, tornou de nouo a entéder nogoucrno de fuasouelhas . M uitas memorias achamos fuás pcreftesannos noCartorio defta Igreja em ef- crituras decõcordias^doaçoés, òí permutaçoés,cóalgúsmof- teiros,& peíloas particulares do Arcebiípadojtodas era pro ueito, & vtil idade de fua Igre- ja, & em ordem a atalhar du- uidas,&defauenças,dequecra febre maneira contrario.Chc- gado o anno de 1301. fcs a- jijtar Synodo de todos os Be- neficiados do Arcebifpado, pê- ra nelle reformaralgi3ascoufas, quefemiíTo fenáo poderiaõ melhorar. E por vèr que eraó nccefiarias conftituiçoés, & Icys , porque fe gouernafle os Ecclcliafticos, & fedecidiíTem as caufaSjentcndeo nefta obra

com calor, & fayo cila pcr- fcitiíTimajforaõ logo approua das por todo o Synodo , & as porque o Arcebifpado fego- uernou muitos annos.No an- no de 1304. cm 28. de Março, doou elRey D.DinisaoBifpo do Porto D.GiraIdo,o moftei ro de S. Pedro de Canedo , da OrdédeS.Bento , na terra da Feira , confirma na doação o no íToArcebifpo D. Martinho^ loaõ Bifpo de Liíboa,Efteuão de Coimbra ChaçareldelRey, Fernando d'Euora,Giraldo do Porto,Egas de Vifcu,Vafco da Guarda,Ioaõ de Sylues. $ Durauaõaindaasduui- dascntrco eftado Ecclcílafti- co,& eiRey D.Dinis, as quacs não tiueraó íàm com as con- cordías pafladas , porque de nouo naciaõ aggrauos, & cre- ciãocom o tempo. Queixa-* uãofe os Prelados dos minif- tros reaes , por fe entreme- terem na jurdição da Igreja, cm alguns cafos cm que no- toriamente não pertencia o co nhecimento aoluiz fccular. Deraõ vinte &dous artigos de queixas,a que eiRey refpódeo, & fobreelles fefes concórdia, que foi a quarta, q fe celebrou elReyD.Dinis,na qual tcue grande parte o Arccbifpo D.

Martinho

^.Adarúnho de Olmeira III f.

171

Martinho ^ Sc nelia alííílio D. Efíeuáo Bifpo deCoimbra, ôc D.EÍieuao Dcaõ de Braga, ÔL Eu ora , Riiy Paes Prior de Guimarães, mellre íoanne das Leys , & outros . Celebroufe em Lifboa nos paços reaesjao primeiro de Agoltode 1309. Os artigos cítao no archiiio defta Igrcjaj & da corre do bo os tirou Gabriel Pereira, ôc os lançou no fcu liuro de Manu Regia ^ onde fe podem ver.

6 Acliaõfe memorias dcf- te Prelado ate oanno de 13 13. Em que Deos foi feruido cha- malo pêra íy , pêra lhe dar o premio de feus trabalhos, mor reo aos ly.de Março do meí* mo anno,comofe vedo liuro dos anniuerfarios defta Igre- ja,depoes de a ter gouernado raaes de vinte annos. Foi Pre- lado fuauiflmio, ôcdehuma- niíTima condição , inimigo de vingança, & amigo de toda a concórdia, &c paz. Era por ef- trem.o liberalj«S«: dadiuofo, fes grandes mercês ao Cabido dcf ta Sè,a que era mui aíFeiçoa- do. Vniolhealguas Igrejas, en- tre as quaes tem o primeiro lu garaquechamão Villarinho daCaftanheiraemTralosmó' 1 tes. Foi mui valido delRey

D. Dinis , ôc tcuegroílas ren- das de bens pacrimoniacs , ern os quaes inltituyo hum mor- gado , que chaniáo da Oliuei- rafí qual herdou Pedro Fcrnã dez de Oliucira irmão feu, q cazou com Mor Mendcz , de quem ouueMartim Mendez de Oliucira , Lianor Mendcz,

6 Mecia Mendez de Oliucira, E hojeopoíluem osdeícen- dentcs dcílafamilia. Teuchú filho natural , que fe chamou D. Rodrigo de Oliucira , & foi Bifpo de Lamego. Eíte inf- tituyo outro morgado, que chamão do Sobrados , pêra o qual chamou Pedro Fcrnan- dez de Oliucira feu tio^ irmão do Arcebifpo D. Martinho

, feu pay , òc o poíluio junta- mente com o morgado de O- liueira, & ainda hoje anda na mefmacafa» Gouernaraõa I- greja de Deos,cm quanto teue o Arcebifpado, os Papas Ce- leftino V. Bonifácio VIÍI Be- nedido XI. & Clemente V. EeraReyde PortugalD. Di- nis.

7 No tempo do Arcebifpo D.Martinho de Oliueira, cor- rendo o anno de noíla Reden- ção mil trezentos & cinco. Foi pofto na cadeira de S. Pedro o Papa Clemente V* o qnal |

Pi íe

172

Capitolo XXXXL

\ fc deixou ficar cm França, & reíidio na cidade de Auinhaõ, o que tamben fizeraõ fcus fuc ceflbresjporfetenta annos cú- tinuosjatê Gregório XI, que outra vez Te paflou aviuexa Roma.Caufou a rcfoluçao de Clemente V. grandes nouida- desna Igreja Catholica Im- porta ter efta aduertencia,por que muitas vezes ,atè o anno 1371. nos íerà neceíTario a- companhar aos noíTos Arce- bifpos ate a Corte Romana, masnáoatè a cidade de Ro- ma, que os Sumos Pontifices tinhaõ trocado pella deAui- nháo, quanto à relidencia.

CAPITOLO XXXXl,

D.IOAM MARTINZ de Soalhaens, terceiro do no- tne:,if y9.Arcebifpo de Bra« ga.

Aceo D. loaõ Martins depro genitores no- bres, chamou fe feu payLou

renço Martins, &: fua máy D. Fruela Viegas, parcte mui che- gado por efta parte de D. loaõ

caftiZi

Egas Arcebifpo de Braga, de quem cm íeu lugar tratamos. Criouíe na Corte, & caía real, onde o primeiro officiojquc teue , foi CapcUão dclRey D. Dinis . Logo fo] prouido cm huma Conezia áâ de Coimbra : & conhecendo el- Rey o grande talento que ti- nha pêra tratar negócios de im portancia, o mandou a Roma por feu Agête, jíjtamête cõD. MartinhoPirczChãtre d'Euo- ra, peraque ambos em feu no- me fizeílcm concórdia com os Prelados do Reyno, que na- quellaCorte andauão fobrc os artigos de queixas j qiiederaõ àSéApoftolicadasoflrêfas,quc fefaziáo às Igrejas. z Coma boa diligencia

do Agente D. loaõ Martins & feu cõpanheiro, teue a con- córdia fucceílo , & oReyno a quietação que defejauaõ. Le- uãtoufc logo o interdito pello mcfmo D.Ioaõ Martins deSoa lhaens,comoconfta de hum liuro do mofteiro deSãtaCruz de Coimbra, onde fe achao as palauras feguintes. £^^1328. Pridie Kalenddi luli/^rekuatú fuitinterdiãum in Regno Por- tugalU^ Domino Pap^e Nico- laojegnante Dho Dionyfo,pr<e fidente in Ecchjia Collimbrien-

~~~7

T>'IoaÕ Adartin^^de Soalhaes IIL

173

fi Epifcopo Díio Aimerico , iff Prwremonajlerij Sanã^e Cru- éis Pelagio , ^ Prior e Laurt- tio Petri ifi Eccle/ia Leirin,^, àfpr^edióiú reUuatttr interdie- tum per Dominum íoannem de Suilhíih Canonicum CoUintbri- enfem. Quer dizer . Na era de i3i8.qheánodcChriito 1190. ãos.io. de Iiinho fe huantou o interdito no Reyno de Por tu- gaUfendo PapaNicolao^tf rey nandfl D.Dinis, prefedindo na Igreja de Coimbra o Bifpo D. Aimerico , fendo Prior do mof- teiro de Santa Cru^ Payo , U" Pricr d.a Igreja de Leiria Lou- renço Pire^^if esie inter dito je IcikitotipcrD.Ioao de Soalhaes Conegc de Coimbra,.

3 Foi creícendo na renda, ÓJ benefícios : o achamos Conepo deLiíboa no anno íc- guiiite ácit9i. como conlta do tcftamento de D. Domin- gos Iardo,Biípo de Liíboa, q clU no Cartório do mofteiro de íantoElov.dameímacida- de , em o qual o kz k\x tefta- mcntcirojuntaniente Pa- yo Domingues, Deaõ d'Euo- ra,&alio nomea por Cóne- go deLiíboa.

4 Por morte do Bifpo D. Domingos Iardo,eíl:ando vasa a Sc de Liíboa , foi cieiro

pello Cabido pcra aquela Ca- dcira,a{lí por íe achatem nclle todas as partes ncccíTarias pêra a Prelazia , como por intcruir elRey D. Dinis na mefma clei- çáo,pedindo ao Cabido o no- mcaíle, pêra daquella maneira lhe agradecer os feruiços , que cm Roma , & noRcyno lhe tinha íeito. Tatoque onuecô- firmaçáo Apcltclica do Biípa do, começou logo a entender nogoucrno de íua igreja, & coníirmoUjdeconfcntim.ento do Cabido, húainftituiçáo do Hoípitalde S.Paulo (depões íe deu aos padres Lcy os) q fes o Bifpo D. Domingos fcu an- teceílor , ^ diz, queporferfeu amigo o confirmaiia. Coníia de hija prouifaõ,queertà no racf- mo m olheiro de fanto Eloy. Poucos annos depões no de ii5?5. elRey D. Dinis lhe ícs mercê ào padroado da igreja de fanto Efteuáo d' Alfama em Liíboa, declarandojqiie lhe fa- zia a doação, por rezao de íua pcílba , & àos feruiços , que lhe auia fcito.PedindoIhe de- pões o Bilpo D. loàó Mar-- tinz, que lhe confirmaílè a doação, que da mefma Igreja tinha feico a fua , & Bilpos fcus fucceíTores , elRey a con- firmou em TrancozoaS. de

P3

lulho

174

CafitoloXXXXL

lulhodaeradc ijjj.dcChrir- to iz^j.

j No anno de i Z95>. fuc-

ccdeo aucrelRey D. Dinis de fazer j ornada a Ca ftclla , fobre as pazes daquclle Reyno,com o de Aragão, que clle queria traçar pefloalmente,por euicar as guerras , que traz a diícordia cncrc os Principcs. Antes de fe partir ordenou feu teftamen- to, deixaua nelle porgoucrna- dorcsdo Reynoao Arccbifpo de Braga D.Martinho deOli- ueira , de quê tratamos no ca- picolo paílàdo , & a D. íoaó MartinzBifpodcLiíboa, por ter de ambos muita coníiáça, & os julgar por dignos de grã' des cargos . Atè o anno de 13 13, em quemorrcoo Arce- bifpo de BragaD. Martinho re gcoD.Ioaõ a cadeira Epifcopal de Lifboa, grande vtiUdade d'aquelia Igreja: chamauáno porem outros lugares mayo- res,& dcfcjauáo codas as Igre-^ jas doReyno tclo por feu. En- trou oCabido de Braga na elci- çáo de Prelado,& como ou tra vez otinhão nomeado,ain- daq fem efFeitOj foi facil agora virem todos os votos cm o chamarem, & trazerem pêra Braga. Aceitou a eleição, & boa vontade dos Cónegos, a-

I gradeccndo muito auerenno bufcado entre tantos Prelados doReyno^pera Arccbiípo feu. Vcyo pêra Braga , & tratou de aucr confirmação Apoftolica, & o Pallio , & ainda no anno de 131;. 33. deAgofto anão tinha^porquele nomeauaElei- toíòmcnte, como confta de húa elcritura,que eftà no Car- tório defta Igreja , por quefe moftrn,q negandolhe o Prior, & Frades do mofteiro de S. Pc dro de Rates obediência , não querendo^queos vifitaflc pre- tendendo izençáo fundada em priuilegios Apoílolicog , el- Rcy D, Dinis fe mandou en- formar a petição do Arccbif- po (quealife chama Eleito) pcllo Meirinho mor de Entre Douro, & Minho D, Fcrnaó Rodriguez , o qual tomando informação, achou , que eíla-* uão cm poíle os Arccbifpos de Bragadeviíitaraquellemoftei ro, & mandou a codas as luf- tiças rcaes, que lhe não c mpe- diííem, antes o deixaíTem vzar delia, & IhcdcíTem todoofa- uor , que pcra iíTo foíTc neccf- fario,

6 Como tinha groífasi ré- das de bens patrimoniacs , & muitos padroados de Igrejas, quis fazer vinculo de mor-

IH I ■■! ■■■■■■«■I 111 I ■■ ■■ III I ..IH II I .— . ■■

gado

1). loaÕ i2^artms de Soalhaes III.

175

gado pcrpecuo em toda ella fa zenda, pêra deixar a ícus paré- tes , ôc pelíoas que o ícruiaõ . Chamou pêra ell:e morgado a VaícoAnnesjRodrigoAnnes, Sancho Annes, loaóAnncs, & GuimarMartins^a quê cha- ma criados feus , deuendo fer pefloas de mayor obrigação, & parentclco^porqucdealgús confia, que foraõ por elle legi- timados^ como fe do Con- Q,'&t'tt. dcD.Pedro.Pedio noannode 59' I 1318.3 elRey D. Dinis lhe cõ- firmafleos morgados, que ti- nhafcico.Náo ledeícuidou po rcm dos bés eternos fe le mof- trou cuidofo de difpor dos tê- poracsemfauorde lua família, porque mandou edificar ncfta iS'é húa capclla , pcra aqucUe tempo de obra mui prima, &no meyo delia húa fepultura pcra depofito de feu corpo , quando Dcos o leuafle def- ta vida, dotoua de boas rédas, entre as quaes lhe vnio pêra feniprea Igreja de Alharis em terra de Chaues, a qual ouue- ra pêra efle crfeito de hum fi- dalgo por nome Martim An- nes de Soiría,& de fua molher D. Branca, dandolhe por pra- zOjCm troco della,o Couto de Eruededo. Deixou por admi- nillradores defla Capclla aos

I

Cónegos, & Cabido defta Sè, dandolhe todos os rendimen- tos delia, com obrigação de certos anniuerfarioSj&miíTas, que todos os annos fe cum- prem inteiramente. 6 Erao Arcebifpoaefte

tempo mui velho, &osan- nos ,& enfermidades,que acõ- panháo a velhice, o deixauáo malcõprir com a obrigação, officiode Prelado, & por efla rezão auia as quebras na jufliça, que íc achãó onde os Prelados , ou faõremiíTos, ou inúteis pêra o gouerno. Quis pcraremcdearos males, que íe fentiaó cm todo o Arcebif- pado, fazer Coadiutores, que em feu nome goucrnaíIem,& pêra iíío no meou Vafco Mar- tins Meílrefchola defla Sè,fo- brinho feu , & a Bcrthola- meu loaô Chantre delia , dan- do a iflb o Cabido feu conlen- timéfo.Foraó mayores os ma- les , que em Braga fe viraó no tempo dos dous Coadiutores do quecraõ antes de o Ar— cebilpo lançar de fy o gouer- no, porque não auia cafligo pêra os dclitos,nem prizão pe ra os culpados , tudo em Bra- ga eraõ brigas , mortes , eftu- pros,& outros infukos,sé pc- ra os caíligar auerjuftiça,nc

P 4 peíloa

176

Capitolo XXXXL

j peílbaqlieaexccucaíle. Final- mente cílaua o Arccbilpado em eftado que neceííitaua de peíToa de grande valor pcra o reformar. j 8 Cficgaraõeftas queixas ao Papa loaóX^XII.&dcuiadar- Ihas el Rey D.Dinis , por acu- dir ao eftado defta Igreja, To- mou o Papa conheciméto da caufa^^ defpediologo bre- ue dirigido a D. loaò Bifpo do Port05& a D. Gonçalo Bifpo eleito dcVifeu,ordenandolhcj que fe informaííem fummaria mente do que paflaua em Bra- ga,& noArcebifpado,& conf- tandolhe, que eraõ verdadei- ras as queixas , piiuaflèm logo dooíficiode Coadjutores ao Chantre, & Meftrefchola da Sè,&cícolheíléhúa pefloaEc- clellallica, que tiucíTe as ca- lidades ncceílarias pêra efta ad miniflração : lhe deíTem o cargodeCoadiucor no cfpiri- tual 3 & temporal do Arccbif- po Dxloaõ^vilioo cflado em que eftaua por rezao de fua ve- lhíce,& doéça: aducrtindoos, que íeriacouía 2certada_,&: cõ- uenientcJcroCoadiutor no- meado , Bifpo,pera aíli poder acudir a todos os ad:os pcrtc- centcs a ordem Epiícopal. He a dará do Brcue em Auinhaõ a

vinte & cinco de Março anno y.de feu Pontificado^que cayo nodeChriílo 1313. 9 Apprefentado oBreue

aos dous Bifpos Cõmiílarios, vieraó iogo a Braga , pêra em pcílba tomarem informação das defordens^ exccflbs,que nella auia: acharão ferem ainda mayorcs, do que fcauiaõ refe- rido ao Papa . Priuaraõ aos dous Coadiutores da adminif- tração do Arcebifpado, mãdá dolhecom graues penas , que mães fe não intermetefsê nel- la. E auédo que ncnhúa peíToa Eccieííaílica do Reyno pode- ria melhor fazer aquelle offi- cio,qucD. Gonçalo Pereira Bifpo de Lijfboa,aíIi cm rczáo da authoridade,que nellc auia, pella nobreza de feu langue, como pella muita virtudc,co- nhecidas letras , oc grande ex- periência de que era dotado, o efcolhcraõ pêra Coadiutor do Arcebifpo.Logo o íizcraõ cer- to da nomeação, efcrcuendo- Ihecomoo tinháo eleito pêra o cargo, per virtude das Bul- ias A poftolicas, quelheforaõ aprefentadasjmandandolhe, q aceitaflè o ofiicio,&; que vicílc logo acodirao remédio dcftc Arçobiípado. He a data defta cartaemBragaaosi4.deIulho |

T>. Icão Q^artins de SoalhaesIIL

177

doannode 132.3. em Cabido, cm pre(ença de muitos Cóne- gos, que ali íenomeaó. Obe- deceo, &c acudio logo o Biípo D.Gonçalo Pereira aBraga co- mo em íua vida diremos . 10 Pouco tempo viuco

depões diftoo Arcebiipo D. loaõMartinz/obreiíeolhc húa enfermidade, que breuemente lhe tirou ávida , no anno de 13x5. Mandoufe enterrar na íua ca pell3,quc fundara na Sè, jííto ao cruzeiro no braço e(- querdo,hoje fcrue deThcfou- ro,&Sácritlia depões que no annodeijii.o Arcebiipo D. Diogo deSoufaa paíTou pêra ali,porfer a Sancriftia antiga mui pequenajS: efcuraja qual eftaua da outra parte do cru- zeiro,entrando pêra aSè pel- I3 porta traueíla a maõ direita. OsoíTos de Arcebiipo Te me- terão em hum tumulo de pe- dra encaixado na parede da ca- pella,&razocom cila, &: nel- le fe abrirão IS letras quan- do fefe? a tresladaçáo, que di- zem aíTi.HMf translatafuntof- fa Dhi loannis de Soalhais Ar- chiepifcopi Bracharenjis anno fahttis 1 5 1 1 .Concorreo o Ar- cebiipo D. loaõcom o Papa loaó XXII.Era Rcy de Portu gal Dom Dinis.

D.GONC^LO PEREÍ-

raSo. Arcebiipo de

Braga.

CAPITOLO XXXXII.

DE SV A GERAC^ÂM,

tf dignidades Ecdejiajii- cas.

Ntramos a ef- creuer a vida do Arcebifpo D. Gonçalo

g^^^^B!^ Pereira Illuí trifimo progenitor da caza de Bragança, cujo Tangue fe tftendeo por grande numero de Reys,& Principesda Chrif- tandc. Foi filho fecundo do C onde D.Gonçalo Pereira,& de íua primeira molher D.Vr- raca Vafques , ^ irm.áo de D. Vafco Pereira de quem defcê- dcm osnobiliííimos Condes da villada Feira, familia ánti- quifl]ma,& illuftriílíma nelle Reyno, cujo principio, & trõ CO procede dos Reys deOuie- do , & Leaõ. Criou fe no paço com os fidalgos da fua idade, em quanto foi moço, depões que teue annos pcra cftud3r,o

mandou

178

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Cafttolo XXXXIL

mãdou o Conde feu pay aVni ucríldade de Saíamanca , pêra aprender todas as boas letras. Ahi ouuc dehúafcnhora por nome D. Tarcja Pirez Valari- nha, filha de PedroValarinho, hum filho, qucfechaniouD. Aluaro Gonçaliies Pereira, o qual entrado na Ordem de S. loaõ do Hofpkal , veyo de- pões por Tuas grandes partes, a fer eleito Prior do Crato por morte do Prior D.EfteuaõVaf qucs Pimentel , fendo de ida- de dei 8. annos. Teue muitos filhos, entre os quaes o de ma- yor nomefoi D-NunoAlures Pereira, Conde de Barcellos, & Gôdeílable deites Reynos, peííoa de grande valor, &cf- forço,como tcftcmunhaõ as proezas iníigncs, que fes na ba talha de Aljubarrota,& em ou trás com Caftelhanos, Cazou com D. Leanorde Aluira,dc quem ouuehúa filha, que fe chamou D. Brites Pereira, & cazou com D. AfFonfo filho baftardo delRcy D. loão o I. o qual foi o primeiro Du- que deBragança,de quem pro cedem os Duques daquclla

cafa

2. Depões que D.Gonça- lo Pereira acabou em Salamã- I ca feus eiludos , em que fayo

confumado letrado na facul- dade de leys,& Canones,fc ve- yo perq Portugal,onde todo o Reyno o efperaua,pera lhe dar as dignidades, &honras,que merecia . Inclinoufe ao efta- do Eccleííaftico, & quis fe- guir a Igreja, por lhe parecer ertc caminho macs feguro, & certo. O primeiro beneficio queteue,foihíjaConeíia na Sc deTuy,qucouuepor rcnun- cÍ3çáo,que neJlcfcs D.Sancho Pirez, quando o elegerão, & chamarão pcra o Biípado do Porto; a renucia fc Íqs cm Co- imbra a 4. de lunho da era de 1334. que faó annos de Chrií- to 1 29Ó. tomou poíTe nos on- ze de lulhodo mcfmo anno: rcfcdio , &c honrou aquella Igreja algum tempo com fua prefença. Pcdiaõ léus mereci- mentos outras dignidades ma- yores,a que foi íubindo com os annos , Sendo vago o Dea- do da do Porto lhe foi da- do, & delle tomou poíle , & feruío aquella dignidade mui- tos annos, acreíccntada com rendas por niercc do Bifpo do Porto D. Efteuão, o quallbe vnio hua Igreja de mnito por- te na terra da Feira , chamada S.Saluadorde Canedo,Iogroua cm quanto foi Deaõ. Mas de-

pões

^. Gonfalo pereira

17)

pões pcllo cepo adiante íc ve- yo a deíniébrar^& deÍLinir da- õlla dignidade. Foi noannode 1314. a Aainháo,ondcenc35 re/ídiaõ os Summos Pontífi- ces. Ali o Papa loaõXXII.tê- do grade informação das mui- tas qualidades de íangue^letras^ &vircude,que nclleauia,oeí- timou, & honrou rempre,dí- dolheerandes beacficios j ôc groílas peníôes , com que ve- yo pêra oRcyno cheyo de ren- das Ecclchaílicas,& confella o mefmo Arcebifpo na inltitui- çãodafuacape!la,^«^o Suma Pontífice ofes , i^ UuMtoii de «4</íí,aomeaudore por creatu rafua. Aqui mefmo no Por- to foi Vigairo Geral do Bifpo D.Fraduloj&oachamos íer- uindo eílc oíficio pello; an- nos 1309.

3 Sendo vago o Bifpado

de Lifboa, puzcraó nclle os o- Ihos os Capitulares daquella Se spcra lhe darem a dignidade vaga, & terem entre fy peíToa taó illuftreem letras, e fangue* Foi ptouido noannode Í3Z1. a 2 1 . de Agofto , ôc depões de ter bulias de côfirmaçáo Apof tolicas/entendco no gouerno de ícu Bifpado , & fes nellc o- bras,por efpaço de quatro an- nos, q o gouernou, que tcraõ

íemprc viua fua memoria. 4 Chegauaíèoannodc

132J. emqueauia efta Igreja de Braga de poíluiraboaíorce de ter por fea gouernador aD, GonçaloPereira.Ellaua em ef- tado o Arcebilpo D Joaõ Mar tinz de Soalhacns,que não po- dij gouernar por fua muita ida <ie,Ôc indifpouçoés.Tmha fei- to íeus Coâdiucores a Vafco Martins feu fobrinho Meftref- chola da S^.^^%: ao Chantre del- ia , os quaes deuendo de pro- isrcõ julliça, onio faziaõaf- íi, antes confenciaõ por coda a D iocefe grandes infulcos.Foi neceíTario acudir oPapa na for ma, que dilTemos acraz, man- dando por feu Brcuc aos Bií- pos do Porco , ôc Vifeu ^ que tiraíTem do gouerno do Ar- ccbifpado aos dous Coadiu— tores , & que nomeaílé pelToa de letras, Ôc parte>,qualcon- uinha pêra aquella adminiftra ção.Pondo os olhos os Dcle- gadosdo Papa em todos os fo geitos do Reyno, acharão que a nenhúpodiáo melhor efcd- Iher,quc ao Bifpo de Liíboá D.Gonçalo Pereira, ao qual nomearão , ôc chamarão pêra cftaadminiftraçao:& faõ mui to pêra pôdcraras palauras'cõ j que o fizeraó , cfcreucndolhe

fnp. cap'

ISO

to 2,rer_

memoYr

'i)erf.

Capitolo XXXXII.

deBraga a Lifboa,ciTi 1 4.dc Iii- lhodoánoi32.3.dizeani.Noí

itaâ,amdmtes,quodBracharc, jisEcclefia taliju^ recuperam^ nis indigebat authore,qui indif- cretadirigs,ti' inale faãa rcfor mans^inDirmtenominis Apof- tolici plantando Ecciejiam diri' gat : projiernat, ac defiruat audaciampr^euerforum , inter omnes perfonas EccUJiaslicM , li?' Pontificalt dignitate fulge- ttSy qU(í4 nosira confderationis attingit intuitus regni Portih galU^ac ProuincU Brachart- fis , nullun} Jiquidem meditatio noflrapropenja , qiu prediais ytilitispr^ejje n)aleat ^acpro- deffe.quam yos reuerende pater domine Gondicaluefilyfiponen- fs Epifcopefupra diãe , qui de- nitiaram potentia , Pontifica- tus honore, acfangiiinis nohili- tate polletis , quem literarum fcientia^ circufpeãio "vigil , Isf experta folertia , ac alU mul- ti6 ''uirtutes 'VOS reddunt muU típliciter infgnitum.VcYn a di- zer. Que pêra os intentos q na- quella Coadiutoria^Í5^ gouerno, fepertendiao^ de arrancar nji- cios , Iff plantar '-virtudes , ne- fe lhe reprefentana mães a propofito ^afsipor Çuadigmdade, letras Jan ff ueÃs^^oirtíide^como Ipcrfua circunfpeccão ^prudên-

cia^ l^ outros dotes da nature- ^a^cÔ que a todos fe auatejaua. Chegado a Braga,começaraó logo com íua prelcnça a fugir os vicios,dádo lugar a que en- craíícm as virtudes, qo nouo Coadiutor vinha planeamos aHimosde todos .Auia caftigo pêra os mãos, premio pcraos bons , com que fe vio em brc- ue tempo o Arccbifpado re- duzido a melhor forma, viuê- do todos conforme a Icy de Deos,&: fua obrigação.

5 Pouco macs de anno

6 mcyOjViueo depões o Arcc bifpo D.Ioaó Martins deSoa- Ihaens, porque no de i3zj. foi Deos íeruido leualo pcra fy. Logo grade alegria detodos foi eleito em feu lugar D. Gó- çalo Pereira/abendo be o mui to proueito , que rcfultaua a todo o Arccbifpado de o tcrê por Paftor.No anno feguintc de r3x(í.llicvieraõ Bulias de íirmação Apoftolica , ôc em Liíboa recebco o Pallio, em hua tcrçafeira 17- de lunho do meímoanno. Partiologo pc- ra Braga, onde com a fuaui— daííc de feu gouerno era gran- demente amado , ôc refpei- tado.

6 Eílaua cm boa paz , go- 1 uernando fua Igreja, quando j

' lhe

T>. Gonçalo Fere ir a^.

rsi

L

lhe íobreuieraõ grandes dílcor dias,& diííençoés ciReyD. AlíonfooIIIÍ. (^ auia lucedi- do no Reyno a elRey D. Dinis íeu pay, (obre matérias dcjur- diçáo da Igreja de Braga.Tcn- toii clRey por cabaliaé^ na ci- dade de Braga pêra efcreucrem nas cauías aihí:ccíe(Íaílicas,co nioíeculares,*?^ cambé portei- ros,que fizcílem penhoras, Sc outras diligécias,contra as doa çoês,& poííe antiquilfima em queeílauáoos Prelados de a- prcíentar tabaliaés ,.& portei- ros pêra todos os feitos, & pe- nhoras aíliEcclÊriafticasxomo íecularcs.Acudio logo aCoim bra onde clRcy D, AÀFõío tinha í uaCortCj &apre ícntou ag- grauo da lérezao, ôc injuftiça, q fe lhe fazia, pedindo a elRcy, q mãdafleleuantaraqlla força, violécía j ^ q feus tabahaês não cíliueflem raaes era Braga pões era contra todaarezáo:& nouidade,q núcaosReys feus anteceílorcs intétaraõ. iE pro- teílando, qo naõtomaua por juiz pões o não podia fer, & que o informaua pordef- caroo de íuaconíciencia, lhe moíírou varias doações dos Reys paílados/citas a Igreja de Braga,porq conftaua pcrtécer aos Arcebiípos por tabaliaés.

6 porteiros na mefma cidade.

7 A cite aggrauo íeajútou outro,q fesao Arcebiípo cílã- do em Coimbra Correge- dor delRey nas terras de Entre Douro,& Minho, por nome AíFonfo Diaz, pondo juiz na cidade de Br3ga,Ã: mandando, que todos os moradores do lu gar , q tiucílem cauíasjas pro- puzeílem diátcd'aquellejuiz, ôc não do aprefentado pcllo Arcebifpo.E pa fiando mães a- diantc entrou na cidade, Sc dou publicar correição nella, & que todos os que tiucíTem queixas dos officiaes da juftiça foílem a clle, & q os proúeria. Ertaua auzente o Arcebifpo,a- cudiraóíeus miniftrosadefen dera jurdição.-era então Vigai- Eo Girai D.Ioaõ PaesMeílref- chola daSè de Braga, & pro- curador do Cabido o Cónego loaõ Sylueftre,ambos em pef- foaforão àcaza do Concelho onde cftaua o Corregedor , ôc lhe requererão , quefc faifie da cidadc,& não fizeíTe nella ado algíi de jurdição , nem cmpe- dilfe ao juiz,& tabaliaés do Ar ccbifpo fazeré feu oííicio,pocs a jurdição deBraga era toda da Igreja,e ncllanaotinhaõcoufa algÍ4aosReys,néfcusminifl:ros. Pouco deu o Corregedor por

Q

eftas

182

Cafitolo XX XX 11.

eftas rezocs do Vigairo Geral, & procurador do Cabido , & rncnos ainda pcllas cenfuras q cominarão, fe paílaíTe adiante com íuacençaõ, antes elle os éprazou pêra a cerco termo ap parecer ê em peíToa, diante del- Rey_, pões fendo fcus vaílallos, hiáo contra lua jurdiçáoreal. Teue noticia doq paíTauaem Braga o Arcebifpo, òc acodin- doa coda a prefla a fua cidade achou ainda nellaao Correge- dor , deííftir da correição,& aggrau os, q fazia àlgreja.Logo o mádou declarar por publico cfcomungado,paí]ando cartas por todo o Arccbifpado pêra fer notório a codos,qefi:aua ce furado porvfurpara jurdiçáo da Igreja deBraga. Foi paflada cfta dec larator ia a 1 4. de Março dei34i.

8 Não fofreo eiRey , que eftas tempeftades foílcm por diante,& pofto que fentio fer declarado porefcomíjgado o feu Corregedor, contudo en- formado melhor da juftiça da Igreja de Braga, & obrigado das inftancias,que lhe fazia fo- bre iflo oArcebifpo,paírou aluara ao mefmo Corregedor Alíonío Diaz, cm q lhe man- dauadeixaíTc vzar a Igreja de Braga da poíTe era q eftaua, &

q naõinnouaírc couía aigúa, fc cntremetcíle a exercitar jurdiçáo nacidade. O alua- ra íc guarda no Cartório defta Igreja , & nelle fc faz menção de grades feruiços,q oArcebif po tinha feito ao Reyno,&: de outros, q clRey efperaua rece- ber delle.Cõ ifto ccílaraõasdu uidas fobrea jurdição a q o Ar ccbifpo acodio grade valor. 9 No áno de 1318. aos 7. de Outubro ajuntou Synodo do Cabido , òí Clero do A rcêbif- padosnos feus paços Arccbif- paes. Nelle,depoes de tratar o q cõuinhaaobêde fuás ouelhas, reprefentou aoClero as grades necellidades em qeftaua , por rezáo dos gaftos , q auia feito na dcfcfaõ de fua Igreja, & feus direitos , pedindo o quizeíTé a- judar cõaígúfubfidio. De boa vontade vicraõ todos em lho conceder, por ferem as r ezoés mui juftificadas . Acharaõfc prefentcs nefte Synodo Payo CorreaAbbadc do morteiro de Póbeiro, Lourenço Nunes de Fonte Arcada, Eftcuão Garcia de SandcjCodos da Ordê de 5. Beco, & os Priores Marcinho Domingues do mofteiro deLã dim,EfteuãoPircs deOliucira, loaõ Nunes dcRcquia5,todos da Ordem de S. Agoftinho.

CAP.

*D. Gonçalo Tereiros.

183

' Pin,chre] [ãeD.Af.

Cat. dt

os,

■Si/p. do \Tort. 2.

CAPíTOLO XXXXIII.

SERVIC^OS QVE FES aoReynoJendo Arcchifpo de Br aza.

Es oArcebif- po D.Gonça- lo Pereira raui tosferiiiçosao Reyno,com o valor de í lias armas, porq era tãogranckCapitãOjComo Pre lado. Succdeo correndo o an- nodeChtiílo 1336. entrarem por ordem delReyD. Affonfo XI.de Callelia.pclloReyno de Portuíral, com máo armada, D. Fernanao,RuydeCalT:ro , &D.Ioaó de Caftro íeu irmaó Capitães do Reyno deGalliza^ roubado, &defbaratãdo quá- toachauãojcom muita íolda* defca, atè chegarem a cidade do Porto, fazendo em todos os lugares por onde paíTauão o cftrago que podião , fcm os vencidos terc refíítencia.Aco- diologoao Porto o Arcebif- po, & juntandofeahicomo Bifpo do mefmo lugar D.Vaf CO, & com o Meftre de Chrif- to D. frei Efl:eaáo[ Gonçalues, refizeraõ mil & quatrocentos homens de peleJ3,encre infan-

tes , Si caualos, com os quacs os contrários não quizeraõ co meter peleja, antes volrando as coAas ,leíoraõ recolhendo com macs prefla da que trou- x^raõ.Masicguindolheosnof- fos o alcance,lhe íizeraõ largar tudo , èc cuftar a caualgada mães do q cuidauão,atè qcõ a morte de D. loaõ deCaftro feu Capitáo,& de trezentos folda- dos,cm encontro que tiue- raõ duas Icgoas & meyadeBra ga, fe foraó recolhendo a Gal- liza bc de fcon tentes da cntra- da,q tinhaõ feito em Portugal, kuádo nouas aos feus do esfor ço do Arcebiípo D. Gonçalo Pereírajôi dos maesportugue- zes^que o acompanharão, z CÔtinuauáo as guerras en tre Portugal, &Caftella,& p or q os ânimos de ambos osReys D. Affonfo o IWhÔi D. Affon fo XI. eftauão muidcfunidos, defejaua o PapaBenedióto XII reduzilos acõcordia,conhecé- do o dãno,qrefukaua aChriftã dadc de difcordias femclhãtes. Enuiou pcraifto húLegado feu por nome Bernardo, Bifpo de Rodes, peffoa de muitas letras, ^ eloquência , que depões foi Cardeal. Efcreueo a ambos os Reys , pcdindolhe encareci- damente deixaíTem as armas

qz

Qc a-

184

Cafltolo XXXXIil.

& abraçaílein a paz, moftran- do comrczoês cíficazes , que ifto era o quccoiiuinhaá luas confciendas,rcputaçáo , & comum de toda a Chriftan- dade. i

5 Chegou o legado a Hcf- panha , & em Seuilha,a onde eftaua elRey de Caftella,lhea- preíèiítou o brcuc j que trazia de fua Santidade , & cómiflaõ para o negocio da paz , ou ao menos de tregoa? por algum tépo.Veyo depões á Braga on de clRcy D. Afíonfo de Por- tugal eftâuà,a io. de Outubro do annò de 1337. ElRey o te- cebeo com rnuitacortezia> & elle em prefençadoArcebifpoj 6i outros fenhores , q aliefta- uáo,l he deu a carta do Papa, q elReylogoabriOj&leocó o Arccbifpo. Lida difle ao Legã- do,q podia propor a matéria a q vinha, ôi tratar do racyo da pazjou tregoas,na forma de fua inftrucçãO)& cõmiíTaõ.O Le- gado começou grande cle- i ganciadepalauras,amoftraros bês da pa2,& danos da guerra, pedindo em cõclufaõ a clRey ouuclTe por de nomear por fua parte algús fidalgos, &pef- (cas de coníiança,q entre elle,

1& clRey deCaftcliatrataíTem a concordia,q fe prerédia. Pêra if

todifleelRey , q nomcaua ao CondeD. Pedro fcu irmáo,oq efcreucooliurodas familias,c aoArccbifpo de Braga D.Gon calo Pereirai,& q elRey de Caf tella nomeaíle por fúa parte òu trás peíroas,quc em certo tcin po,Ã: lugar íe ajuntãífcín pcra efteeíFeito.

3 Parecco aqlle meyo acer tado a elRey de Caftclla,& chc gado o têpo em q òsEmbaixa- dorcs de Portugal auiaõ de fcr na villa de Alcala, q pcra o tra- to da paz era aííinadá, não po- de ir a cila o Conde D. Pedro, por cítara cftc tempo doente, foi contudo ò Arcebifpo no mes de Outubro, onde fc ajú- taraõ com elle os procuíado- ircs dclRcy deCaftelIa,os quacs com tão dcfarrézoadas condi- ções tratarão da paz,q o Arce- bifpo Èf(:andalizado delias , ôc entrado dapaixáo,lhcs diílè, q pcra fe não perder tépo,apon- taíTê coufas q foflcm pêra con fétir , porq doutro modo não ellaria ali macs hiã hora.Ospro curadores deCaftella fay raõ cn tão fegúdos apontamccos, ainda menos de admitir q os primeiros,dc q auizou o Arce bifpo a elReyD.Affófo dePor tugal,e elle lhe ordenou q logo 1 fe vieífe , & não trataíTe maesj

de

D. Gonçalo Pereira— i

185

Tina Cio:

FtMílC,^>\

de concertos de paz,poes3scõ j diçoésnáocraõquaes conui- nháo ao credico do Rey no.O Arccbiípo voltou logo:& aiii daqueporentaõ não ceueeífei toa paz ^.feveyo finalmente a concluir em Seuilha aoi. dia de lulho do anno de 1340. alegria de todos. As condi- çoêsdella náo reíerimos aqui, por náo pcrtcnccré a ella hi- iloria,& aiidarerw na Chroni- ca doReyno^ondc le pode ver. 4 cm outra jornada de mui ra importância pêra a Chriltá- dade, acõpanhou o noflo Ar- ccbiípo a eiRey D. AfFonío o IIII.iS.: ncUaraoftrou íeu ef- forço , ÒL fes illuílres feitos d' ^rmas. Paliou elRcy cm pef- íoa a CafteJla^raouido dos ro- gos daRainha D,Maria fua fi- lha , que em peíloa lhe vcyo pedir ajudaíTe a clRey D. Af- fonlo (cu marido na guerra, q lhe fazia AlboacêRev de Mar- roços , & Belamerim j o qual comgrande exercito era entra claemHeípaiVha,&: tmha po- fto cerco aTarifa.Foraó acom panhando a clRey o noíTo Ar cehifpOjD.AluaroGonçaluez Pereira Priordo Crato íeu fi- lho,D. Gil Fernandez de Car- ualho, oMeftrede Santiago^o Meftrede Auís, &IfOpoFer-

nandez Pacheco fenhor dcFcr rcira.Goncalo Gomez de Sou íà,&: outros fidalgosj&fenho res , & por Alfers da bandeira Real G onçalo Corrêa de Aze- uedo,netodo Mellre dcSan- trago D. Payo Corrêa Era tão grande o exercito do Mouro, que pareGcndo impoíliucl al- cançar delle vitoria, íc pos em Goníèlho dos Reys de Porcu- gal,& Cartella,íc feria acerta- do largar avilia deTarifa,com , tanto <| Oi.Mouro fe rayííc de Heípanha. Poréouue queni valerofanlente reííftiOj&per- fuadio com rezoês efficazes,q fe náo entregaíTe a villa aos , Móui os , & íc lhe oíFcreccíTe baralha. Oefte uoto foi o Arce biípo, cujo valor, & esforço animaua os mães . Do mèimo parecer foi também elRçy D. ': Affonfo de Portugal mouido do animo^& esforço, qu€ vio nos Portuguezes,q o feguiaõ, & diáte de todos dilTe. EunaO fahí do mmReyno de Rortugal^ '■pêra cófentir, que cidade,'úUla^ '; neCaJlelloem terra deChrífiaos onde eíioitjfeperca^nempor mi- nha honra õfofreria,antes bem efloupreííespera offerecer meu corpo á morte, afsi como lESV Chriflo^ cuja he eUa emprega , o fes por nos, iff pêra emjua^vjr- Q 3 tude

?l:S6

CaphotoXXXXIIL

tude , i!f esforço guerrear com forte coração eUes inimigos de fuafantafc Catholica , cobiço - fos de nojfofenhorioint cuido, q tenha aqui home de meu Reyno, if de meu Confelho^qafsi o não approue^if aja por bem: que por Je cobrar Tarifa ^enfarei o que pella mães principal cidade de meus Rejinos pudera fa^er. 6 Comertarefoluçáodcl- Rcy fe deu a batalha,& íc ven- ceo5,3. de Outubro de 1340. ficando dcíbaratado clRey de Granada, & clRey de Marro- cos.Chamafe a batalhado Sa- lado^^ot fedarjunto ahum Rio deftc nome i ou a batalha dcBelamarim por fcr ali deíba ratado clRey de Marrocos, & Belamarim,Alboaccm. Foraó os Mouros,que morrerão tá- tos,que íe lhe não pode achar numcrOjO certo hc,que paíTa- raÕ de quatrocêtos ôc cincoé- ta mil , faltando fòdos Chri- ftáos pouco mães de vinte, nianifeftòs fmaes de milagre doGeo".

f t: Tái-jibê feruio muito a in duftria ilefte illuftre Prelado peraa quietação doRcyno,em tcpo q o Infante D.Pedro an- daua leuantado contra feu payi elReyD.AíFonfooIIir. pella morte de D. Inês de Caftro , a j

qucelPvCy com menos pieda- de mádara tirar a vida, por ter amores com o melmo Infáte. Scntio elle como manccbo,& aííeiçoado,eftcaggrauo,& tra toude tomar vingança dos q foraó os principaes autores da quellamorte.Procurou,& in- tentou logo tudoaquillo q pudcíTe deíTeruir, & defgoftar a feu pay,atepriualo,íefoíle poíliuelj do Reyno. Côagête quetinha,&com outra q ou- uede D. Fernando de Caibo, & de D. Aluaro Pires , irmãos de D Inês, &:dcfcus parétes, entrou com mão armada peU las comarcas dcEntrc Douro, & Minho , &c Tralosmontes, ôc nos lugaresjq eraó delRey, fazia grandes roubos , mor- tes , & dannos ^ fem perdoar a nenhú eftado.Hia marchan- do com grande poder contra a cidade do Porto» quando a- cudio muita preílà o noíTó Arcebiípo, aquém clRcy ti" nhaencomêdadoaquella pra» Ç3,a metcrfe nella com muita gente d'armas. Eporque a ci- dade não era ainda cercada de muros,como agora he,o Arce biípo pêra melhor a dcfcder, á cercou demaneira , q podeílc defendcla^detcrminando antes morrer jq entregalà. Refpeita-

ua

\

'D.Gonçalo Féretro^

,i^

187

Chros, I

2Ó.

ua o Infante D. Pedro ao Ar- ccbirpo,& cinhal/ie grande af- fciçáo,pello<^uelabçndo que çltauadccroua cidade por lhe náo arriícar a vida ^ ôc honra, uãocjuis por cerco ao Porco, &: íe foiarrcpcndido da defo- bedieneia,& defgraça cm que anclaua com feu pay. 7 PoLico tempo depões

defte fucceflo , foi ao lugar de Ganauezeá, oito Icgoas do Porco, pêra onde a Rainha D. Brices íua mãy par tio logo, (5«: por meyodo Arccbirpo,&de outras pcíToas,que niílo inter uicraõ,elR.ey , Ôc o Infante íi- zçraõ conçordÍ3,óí ti celebra- rão na mançira íeguiiitc. Que o Infante perdoaíTe a todos os que de cppfclhojOU de feito fo raõ culpados na morte de D, Inês , (í^elR.ey a todos os que o deíTcruiraó por caiií^ do In- fante,& q elle dahi cm diante foíle obodiece a elRey fcapay, i como a bom filho., j& b.om :< ; v.aflalo conuinha , Si que lan- !g çâíTe de fuacaía , ôc cerras to- dos os malfeitores, quceonll- £»ò trazia, )& que em codos os Ipg^res dpRcyno, poronde aiidalíe, & eftiuelTe , vzafíe de toda^ jurdiçáoj&ppdér alto, j & baixo,&asfcntéças,:& car-. S ras,que deííe , fe paflàííem cm

feu nome,& crouxcíTc conú- go Ouuidores,q foííemfeus, ôc fe chamaíTcm por elle , os quaes cncêdcriaó fobreosCor regcdoresj&quacfquer outras julliçasíleaes.Cõ citas, & ou- tras condições , fe concluirão as pazes entre elR.ey , & o In- fante por meyodo Arcebifpo D.Gonçalo Pereira, o qual fua autoridade , & prudência as tratou,&: eíFeituou gran de alegria dos Reys, ôi quieta çáodoReyno. 8 Elias eraõ as obras, que na guerra em feruiço de feu Rey , & de fua pátria , fazia o noíTo Prelado. Naõ eraõ me- nores as que na fua Igreja , & cidade exÊrcitaua,porq aqucl- la cnriquiceo de ornamentos, cfta illuftrou edifícios. Foi naturalmente liberal, & dege- .nerofa condição, 6c com tal largueza repartia com todos fua fazend3,quc veyo a dizer fe dellc por prouerbio , quando cm. algum fclouuaua efta vir- tudCjO que do grande Alexan- dre fe àiziã Jiberàl como D.Go calo Pereira. Por dia foi cão amado de todos, que o craziaÕ no coração. Suacaf3,& fami- ;lia, era fobrc modo luftrofa no apparaco, numerofa na imultidão, ôc nobre na calida-

Q4

de.

tis

Capitolo XXXXJIL

!

deA' iirnpcza de fangucdos q nelía fcruiaórde fnodo,^ pare- cia Brag3j naõ cidade particu- lar de Prflado , mas Corte, &

; Paço de hum grande Rcy. 9 Fundou húacapella ju- ro a Sèj pêra fcpultura fua , de

'obra,pcraaqUelletépo, dcat" rezoado primor. Dotou a de muita renda , & ordeuou que ouucílc ncUa íeis Capcllaés,^^ cada dia rezaíTem õ officio Di urno cm coro,& lhe diíleílcm mifla todos os dias-. Quis que ncllesíacriíicios tiuefle parte o Papaloaõ XXII. a quem re conhece, grandes obrigações, Sc dia , qucnenbu í*apa macs dircrcFoqbeelleic fcntou na Cadeira de S. Pedro. Quo ( faõ as palauras formaos da inftitui

; ção ) nonfedit excellemioris dif. cretlonis in Cathedm -Pifcato^ ris , .ctÈÍmfaãuram-is^ creatU" ram mei. no mmerito^recognof- CO , i;f qttl me,pQÍi Deum^de ni- kilofccit. - Dis que he creacura

fua,&: que de nadaó fcs , dí-q téobcigação rogara Deos lhe dêcõprida vida,& ijcmauentu

; rado goucrno.Quer cambem,

q aproucitê as miílàs pclla al- ma delRey D. Dinis defunta

. (de quem confcíía, recebecíí

muicas mercês ) & por clRey

D.Affcnfo o IIILÍeu íilho,&5!

pellos mães Reys dePortugal, que lhe focedcrem^pcllos Pre- lados feus fucceflorcs, & por todos feus parentes. Deixou renda aoCabido pêra lhe fazer hum anniuerfario no dia de fua morte na fua capella,& pe ra ir em procilfaõ a cila algíjas fcftas do anno, & lhe dizerem refponfo por fua álma.Or denoii por adminiftrador o Deaõ deftaSèjCom clauíula,q feria natural defte Rcyno de Portugal ,-& Portuguez por parte do|í)^y,ou may , & náo o íendc,'náo poderia cèraad- miniftrâjçáoda capeUaj&r paf- ' faria logo ao Chantre,tédo as i me fma& cal idades de Portu— ;guez,& natural do Reyno. ^ Fes efta iríftituiçáo coníen tiniento^,í3i:authoridade doCa 'bidojâos 27.de Abril de 1334. annos . Mandou que o ^ntcr- raflem no meyoda c;apclla,de fronte do altar rnòr, tíà ícpul- tar<a, que-cinha ordehado , ôí que ninguém fe enterraífe na capellâ , íaluo fcfldõ Arcebif- 'po de :Bí&Aa*^^ioíÍ2ÍlÊfn ?o aab

i<3 Vilieo-mifítos alinos d^ pôesídetb infticui^áo,porqud Xq3íÒíí& memorias íuas atè a ■anub dílt54á. èfigiiò qual dc*- •uia ir^ra p Geò lograr o pre- 'mio sàsliíak obras ,• depões de [

^i-

auer

aucr 3i.annos,qucgou'crnauà cfta Igreja. Foi mui ícntida íuà morte, porque perderão ilelle osfubditos paftor,& pay, & os pobres remédio, & fuften- taçáo. Deraõlhe fepulturà ho meyo da fua capella, onde jai em hum tumulo de pedra le- uantado do chaõj èc laurado de figuras de rclcuo , cmcima á fua imagem veftida de Pon- tifical. Ao redor de letras an- tigas hum letreiro , que diz aíTi.

Jquija^o Arcehifpo D. Gon- çalo Pereira^ auó do Conde- eflabre de Portugal Nuno Mures Pereira^do qual pro- cede o Emperador Carlos V , l^ em todos os Reynos de Chrifiaos de Europa , ou os Reys , ou Rainhas delles ,0 u ambos. E eíie letreiro fepos em Março dei^ij. fendo ad miniílrador da fua capelld D. Carlos Deão deUa Sé.

i i Ò modo da defccnderi- cia do Arcebifpo D. Gonçalo pêra fe verificar , q foi fcu def- cendentcò EmpcfddorCarlos V. como di2. ú letrciío,he fácil de moftrar,como o fora tam- dar relação de outros mui- tos Reys, que dellcdefceiidem

D. GonfMo Tereira

iSf

fc pertencera a cfta hiftoria a- ucrigualo . Baftciios raoftrar como procedeó delleo Empe rador Carlos V. na maneira ícguinté.

D. Gonçalo Pereira pay.

Filho. D. Aluaro Gonçal- uez Pereií-à.

Neto. D. NunoAlures Pe* teirâ.

Birncta.b. Brites JPercirà molher dcD. AíFonfo primei- ro Duque de Bragança.

Terceira neta. D. Ifabcl cá- fada com ò Infaiite D. Ioaõ,fi- Iho dclRcy JD.Ioaõ o i.

Quarta neta. A Rainha D. Ifabcl molher 4clRcy D. loaõ II. deCaftclla.

Qiiintancta>b. ifabel Rai- nha Cathòlica,molherdelRey b. Fernando de Aragaõ.

Sexta neta.D.ioána Rainhti de Caftella cafada Felippe í.

Septinio neto. O Empera- dor Carlos V.

dítauo iicto.D.Felippe II. Rey deCaftclla, & primeiro de Portugal.

Nono.ElRcyb.Felippelíí. Rey deCaftclla ,& fegundo de Portugal.

Decimo neto.ÈlRey noífo Senhor D. Feíippe IIII.de Caf tclla,& III.déPortugal,qDeos guarde. ,^. j

No

19©

Capholo XXXXJIIL

! "

to.-^.rer.

mcm.fol

No tempo qiiegoucrnou efte Arcebiípado D. Gonçalo Pereira, eraõ Summos Ponci- fices loâõ XXII. Bencdiéto XII. Clemente VI. &Innocé- cio VI. Rey de Portugal D. AfFonro.IIII.

CAPITOLO XXXXIIII.

D.GF I LHELME 2i.

ArcebifpG de Braga.

01 de nação Francês, &im mediato fuc— ceíTor doAr- cebifpoD.Gó calo Pereira, prouido em Bra- ga pelloSumo Poncificc Cle- mente VI. De Auinháo,onde parece refidia ao tempo de feu prouimcto, nomeou por feus Vigairos Geraes em Braga, a Guilhelmo Piloto,Leccnciado em leis , & a Pedro Margarita Cónego de fanta Getrudes de Potiers, foi a nomeação cm ij.dclulhodo annodei349. E com efFcico os dous vieraó exercitar feu oJfficio^porcj lo- go no Feuercirofcguinte col- laraõ a Giraldo Domintrues por Reitor da Igreja de (anta

Maria de Iarâs,na Comar^cade Valença.

i Do que fcs por todo o

tempo^quegouernou o Arce- bifpado^ncnhúa memoria ha ncílc Cartório, faluo , que al- cançou delRey D.Pedro hum aluara, pêra o feu Corregedor de Entre Douro,& MinhoAl- uaro Paes, em que lhe manda não entre por correição em Braga. Diz aiVi. D. Pedr o pella gra^adeDeos Rey de Portugal^ tf do Algarue , n "vos Aluaro Paes Corregedor por mim En- treDoiiro,i^Minho,ouaoutros quaefquer , que In depões de t>os forem Corregedor es, faude. Sa- hde^que eu^quercdofa^er gra- ça ^i^ mercê ao Arcebifpo D. Quilhem deBraga^ tenho por be^ i^ mãdouost que não correjades nenhúa coufa na ditacidade^em quanto inha mercê for ^ tf ai nomfaçades . Em teflemunho dello mandei dar ao dito Arce- bijpo efla inhà carta , dada em Santarém 12. dias deDe^m- br 0. El Rey o mandou Uurarpor MeUre Ãffofo d(ts Leis,'veedor da fa Cbancellaria. Gomes Go- çalues afe^,érade 1^96. Ma- gisler Alfonfus. Reípoudc ao annocícChrifto 1558. 5 Daqui por diante nada

íabemos mães do Arccbifpol

to 2 rer,

mtm.ftl

3Í'

D.

^

2). loaÕ Cordolaco- 1 1 1 1 .

I^L

memfot.

D.Guilhclme, que auer entre clle,iSv: VaícoDomingues Chá trederta Se, grandes , & peíà- dos defgoílos pclla maldade do meínioChantre , q també períegLiio miiico aos Arcebif- pos D. loaõCordoIacOjó.: D. Lourenço. De Braga foi tranf- ferido D.Guilhclme aoArce- bifpado de Aries na Prouen- ça. Eraõ Summos Pontífices por eíle tempo, Clemente, & Innocençio, ambos feiílos do nome.Rey de Portugal D. Pe- dro o Cruel.

CAPITOLO XXXXV-.

D.IOAM CORDOLACO

IlII.donomeJjf ^í. Arce- bifpo de Braga.

Vccedeo a D. Guilhelme,e- ra també Frã- ces (outros o fazem Caftc- Ihano, & lhe chamão D. luan Martines de la Syerra.]-\úd.i&i outra coufg poderia fer,ou pel lo pay,ou pella máy)&: defcé- dére dos Códes de Àrminhac, cafabem cor'-'ecida naGallia Narbonefa. Foi primeiro Bif-

po de Orenfe , como fe ve do Catalogo,que nos enuiou dos Prelados daqlla Igreja, o Dou- tor Francifco de la Carreta do Campo, Cónego na Magiftral da meímaSèjVaraõ por íua c- minente fciencia,& cftremada erudição , digniffimo de vida mães larga. Diz a íí». Sucedioal O bifpo D. Aluar o -Jueproueido en este Obifpado por el Papa Clemente J^I. en Auinon^anq de Chriflo 1 3 j I . EnlM bulíeis def- taprouifon,que eflan enelAr- chiuo^ caderno diuerf.fol 5)3. le llama el Papa D, luan Cordola' co,y di^ era doãor en leyes ^y folamente ordenado de Prima Corona. Fue muy denoto de la Virgen Santifsimay le doãò en eíia Iglefia lafieíta defu purif fima Concepcion. ísíofejifue ef- te elArçobiJpo de Braga.quedel mifmo nombre murió ano 1 373 . fegun el Catalogo defu illuflrf- fima elfenhor Ar^obifpo de Bra ga , en el tratado de la Prima- ^ia: yo tengopor cierto , que es el mifmo.

t De Orenfe o promo-

ueraõ a efta Primacial, porem nella nenhuas outras memo- rias fuás achamos , que no an- no de 136/. a 18. de Outubro eítando em Chaues , dar em feudo a Gonçalo Pires deMei-

ra.

to,y rer mem.ftl

38.

I62

Cafitolo XXXXVL

ra,& a feu filho Elleuaô Gon- çalucs , o Caítcllo de Eruede- dojcom tanto cjuc confentií- íeo Sumo Pontífice. Na carta aílínáo o Arcebiípo, mas cm Caftelhanojdizcndo , elAr^o- bifpo. Oliuerni Franchi Abba- de de Villa Coua, Macroío de Mote Falconi, Aípicaldo Gui- lhelme,todo3 da família do Ar cebifpo.

3 Com elRey D. Pedro

priuou pouco , antes foi delle pcrfcguido, & prefo, por ma- lícia do Chantre deílaSèVaf- co Domingues, primeiro no Caítello de Coimbra , òc de- pões no de Leiriaj donde pare- ce fugio aos íeis mezcs de pri- záo , pêra a cidade de Burgos era Caíklla. Mas ali achou ou tro Rey D.Pedro o cruel, que por entender feguia as partes de fcu irmão D. Henrique , o mandou tambê fechar em húa torre,onde eííeue atè el Rey D. Henrique entrar noRcyno^ôi: o mandar foltar. Aqui cm Bur goseílaua,no primeiro dcMar çode 1 367. quando fez Viííra- dores dcfte Arcebifpadoa Do- mingos loaõ Cónego de Bra- ga, & a Affonfo loaõ Abbade dalgrejadeTrasmiras. Pouco depões renunciando o Arce- bifpado/oi feito Patriarcha de

Alexandria , & Arccbilpo de Tolofa, ondefalleceoa3. de Dezembro do anno 1373. Del- le entendemos falaotellamen to do Arcebifpo de ToledoD. Pedro Tenório , quando diz, que dí:ís fuás pedr cts preciofaSjisf aneis,algús lhe dera o Patriar- cha Alexadrino^ porque foi feu contêporaneo,& grande ami- go. Gouernauão a Igreja Vr- bano Y.òí Gregório XI.Rcys de Portugal D. Pcd;o , & D. Fernando.

CAPITOLO XXXXWl.

D. V ASCO 83; AB.CE- hífpo de. Braga.

oiD.VafcoBif ^ po de Liíboa ^ poucos me— zes. Ainda cm x8. de May o dei 371. gouernaua feu anre- ccíTor D.Fernando,& jàem 13 dcAgoftodo mefmo anno a SantidadedeGrcgorioXI.pro uia no mefmo Bifpado a Aga- pito Colona Bifpo de Breícía, cidade dos Venezianos, o que depões foi Cardeal por Vr ba- no VI. ConftatudodoBreue

^.Lourenço.

193

de Gregório XI. cujacopiace mos em noílo poder , ^ nos entiioUjCom outras dcligccias pertécétcs aoCartorio d'aqucl laSèjO Cónego MattlieusPei- xoto Barreto , pcfloa bem in- celliecnte neftas matérias. Efta- ua vago por então o Arcebií- pado de Braga, pella mudança de D, íoaô Cordclaco ao de Tolofa , deufc a D. Vafco cm 13.de Agoílode 1371. Mas go- zouo fòarè 18. do Nouembro íeguinte em que falleceo. 2. CuidauáopeíToas doutas, &: nos aduirtíraó poderia fer o Arcebifpo D.VafcOjOqfoi pri meiro Bifpo da Guarda, & III. do nome entre os daqlla igre- ja, a que híías vezes chamáo de Toledo , outras de Menefes , & dizé foi també Bifpo de Co imbra,dc Liíboa,Gouernador perpetuo doBifpado d'Euora, ÓJvltimamente Arcebifpo de Braga, q renuciou , 6c íe reco- Iheo a viuer c5 os Frades de S. Francifco de Coimbra,cm cu- ja Igreja velha jaz fcpulcado. Poré como D. Valco daG uar- dacomeçaíTe a fer Bifpo da- quella cidade em tempo de Vr banoVI.fucceflor deGrecrorio

o

XI. emcujo Pontificado mor reo o no (lo D. Vafco, mal po- deria icr o meímo.

Chrcthdt

3 No padre ir. Luís ae Sou- 1

rrr - i r>. ^l)roH,dt

la4craz menção de outro D. \s.Dem, Vafco Arcebifpo de Tolcdo,o /'•'"■■ ò-"" qual deílerrado de CalUlla por clRey D.Pedro o cruel^íc vcyo a Coimbra pellosannos de 1360. ôcaliidous mães adia te em 7. de Março acabou a vi- da recolhido no motlciro de S.Dominsos onde fe mádou enterrar. Tambc cíle quize raõ outros còfúdir o noífo D. Vafco,não aduertindo fallece- ra8.ou9.annos primeiro,q o deBra pado.

deBra^aentraflc neíle Arcebif

1

D. LOV R ENC^O 8(í. Arcebifpo de Braga.

CAPITOLO XXXXVII.

D O Qj^ E FEZ RM

froueito deita Igreja nos pri

. melros annos dejeugouerno.

Adapudemos defcubriracer ca da geração do Arccbiípo D. Lourenço, fòpor húa verba defeu tcíbmé to fabcraos foi natural da villa daLourinham Arccbifpado de Liíboa,c eítár fua máy enterra da no adro da Igreja de Sátiago R. de Torres

194

CaptoloXXXXVIL

Vedras , fcr o iwmc de húa de íiias aiiòs Maria Vicente a Io- ga da fonte, & ode hum fcu tio loaõ Percs.Scndo minino, per hua grande pancada, que na cabeça lhe dcraõ, ficou to- talmête íurdo de hum dos ou- uidos. Valeofe, pêra cobrar fau de , da intcrceflaõ da máy de Deos.Foiíe à íua cafa dcNaza- reth,vifinhada Lourinham,&: cõtinuando ah por algús dias, veyoaalcáçaraíaudeq perdera, i Indinoufe de pequeno, às letras, & foi nclle taõacczo odezejo de faber, que o tirou da pátria , & leuou por Rey- nos cllranhos , a fim de ouuir mertresfamofos.Auiaoscntáo de grande nome nas Vniueríi- dades de Mompclhcr,Tolofa, & París,ondc continuou por alguns annos . Paliou depões a Italia,& cm Bolonha foi dif- cipulo de Baldo,aquellefarao- ío lurifconfulto de quem dc- zia laíam, que nadaignoraua. 3 .. aViuiaõ pcraquellc tépo os Sumos Pontificescm Aui- nhán,aqui eftaua, & jàfeíto fa cerdote,quando àquellaCor te foi a cleiçáo,q na peílba do Bif po de Sylues no AlgarueD. Martinho , três annos depões da morte doArcebiípoD.Vaf- co^ fizera o Cabido dcíla cida-

de,pcra feu Arcebifpo . E ou, q nos votos ouue diícordia, ou da parte da cidade, &: Rey- no reclamação, por D. Marti- nho fcr Caftclhano (era natu- ral dcC.amora,& o q não mui tos annos adiante,fcndojáBif- po de Liíboa, o pouo amoti- nado laçou da torre da abai xo ) não parecco à Santidade de Gregório XI. aprcuar,& confirmar aquclla eleição. E por tirar aostlcitorcsdenouas duuidas , & cóprazer a clRcy D.F crnando, q afli lho pedia, nomeou cm Braga a D. Lou- renço , & fagrado da fua mão em 14. deIancirodcI374.dá- dolhcjuntamcntco pallio, o mandou ao Reyno. 4 Demandou logo a Corte, achou aelRey naAtouguia, onde foi dellc bem recebido, & ouue hum aluara cm q lhe cófirmaua codas as mercês fei- tas a fua Igreja, por elle,& por todos os Rcys feus antepaílà- dos.Hcofcguinte. D.Fernan dopellagra^a deDeosRey de Portugal ^ y do Algarue, a to- delas jufli^as de nojfos Reynos, qeíia carta adirdes Jaude.Sa- bede^qNos queredofa^er gra- ça^^ mercê à D. Lourenço Ar- cebifpo de Braga ^mandamos, q Ihefejao guardados todolospre-

uilegio s.

I

mem.fol.

36.

^.Lourenço.

195'

to z.rer ■.memf(.l. j 5*, verf.

fíileglos, cracas ^ i^f Irberdudes, qmforao dad^ à ditai gr eja de Braga.fellos Reys que ame nós foraó, ijfpòr nosjao dadxó^ i^ outorga dai. E em teítemimbo de^io Ihetnâdamos dar eíta nofia carta. Dante na Atonniia ii.

o

dicíi de Agoflo /elRey o mandou porLourUo Anes FogaçajeWVaf Jah^& Fedor da fua Chancela- ria. Vafco Annes afi^^^^eya de MCCCCXII.annos. ' Latir etiiis loanes Fogaça. Refpõdé acra, ao. aniipde Cluilio 1374. o mcfmo cm que foi eleico ,. & íàgrjdo Arcebiípo. 5 Não íe pôde facilméce ex- plicar o muico, q erri prol de íuas ouclIliç,& do téporal dei ca micrajtraSalhou os primei- ros dous annos de Teu ^ouer- no. Digamolocõas paiauras, q elle iiiefmo,pera declinar a calúnia de Teus inimigos , foi obrigado àó dizer na prefença do Sumo PótifíceVrbano VI. mudado íò & lacim na lingoa- Portugucza ,' Expoefe a '-p. Sãt idade da parte dal>oJfa crea tura Lourcço Arcebifpo de Bra ga,q depões ^qfoiprouido naqlU Igreja^por 'VolJapredecejfor de boamemoria.Grefforio XI. au- mentougrandemeteadita Igre ja^i^ bès pertencites a^Jua me- í?;a,que na^acante de três an^^

nos o Deão .,1^ Cabido tinhíw dif f pado. O brigou ejla ijofía cfea- tiira^a -uiner honeíiamente a muitos Clérigos , que nem de no- me conhecido a h\)nej}idad€iV-i^ iiefcjà agora com reUgiad-em' muitos mosteiros de S. Bsto^if- Coneoros remi ar es de Santc A- goliinho^a qucfe perguntaj?em d'' antes de q regra eraÓ.,níwfa- berião refpóder .-Pella prega cn o deita "vofií criaPMra.Jabem os mães prof, idos myUerios denof- fafantafè^ vs qnc feus primei -^ rosprincipiosãte agon^fabiM. Tirou Beatifsimo 'Padre ejla 'vojfa criatura de mãos de pode rrfos ^q mal ^ i^ mdeuidamente lhos retinhâo ^ijf comi ao , entre mosteiros ^Jgreja-s^ i^ prados de grande ^alor^maes de mil ^ q hoje poj^ue a Igreja de Braga , ainda qnaofem tradição. 4 muitos dos mefmos nobres - qcó preteiHo depadroeiros, leuaudo colheitas / jantar es, penfoe safa- ras ^ agafalhandofe nas Igrejas ^ tirannic^andojeus cafeiros , isf ãllegando, pêra ofac^erem,poJIe immemoral, tirou delia , tf os obrigou com cenfura-s anaope- diremj)u reter em .,0 que nao era f eu, nem lhe pertencia. 6 A outros,qporfua authori da depart icularfa^iao penhoras nos bes das Igrejas, t^mofieir os,

Ri

leuandolhe

196

CafitoloXXXXVin.

leuandolhe cruzes , cálices , Cít" outras pe^oí doferui^o dos alta- res ^ ejpancando, ferindo ^í^ prendendo aos Abbades ainda Rfligiofos sfe per 'Ventura fe punhão em refiUencia , àfsiate- mori-^Uji^f enfreou compena^^ {íf cafligos , q de todo defiflirao de tantos ^ <^ tao manifefiosfa- crilegios.Porem Santifsimo Pa dreforaÓ innumeraueis os peri- gos,em qpor efie refpeitofe ijío efla yojfa criatura. Em to deis as partes 'via a morte diante dos olhos , etn todas o bufcauaofis q fe tinhãopor offendidos^ de dia^ de noite , no publico , nofeere- , em cafa ,fora delia , como o poderei mães exagerar ? nosfa- grados altares ..onde fe bufca^l^ participa a <vida, ahi era eu bufcado pêra a morte. Foime ne ceffario cer carme de homes d*ar mas ^per a minha defenfaÓ,(s^pe ra temor daquelles , que afabe- rem conhecer o bem que de mim receberão , liurandoos de tatos roubos JJ facrilegios , elles pró- prios me ouueraó de guardar. Gaíiei nifto minha f a^da^mal- quifieime^porq "pedomè cercado d^armas^sedoSacerdotédeDeos^ ÍSi'pííflor de [eu rebanho , cu^aí injígmas próprias fio a mafidao, i^ apa<:ynuitos mejiilgauaó^ou tros me auorreciao^como a mer-

cenário fiu a ladrão. 7 Macs diflc ainda o Ar-

ccbifpo ao Sumo Pontífice, mas o referido bafta pcra ía- tisfazermos ao argumêco def- tecapitolo, no feguintc dire- mos como nãocótcntes fcus inimigos.com odcíaucorizaré das porcas do Rcyno pêra dé- tro,o caliíniaraó diante do Su- mo Poncificc Gregório XI. a- c]ucllc mcfmojq lhe fizera mer ec do Arcebifpado de Braga.

CAPITOLO XXXXVIII.

DE COMO O SVM.MO Pontífice mandou deuajfar do Arcebifpo , ist do que da- qui refultou.

EM fe deixa entender , & oappontoutã bem o Arce- bifpo âoSumo Pótificc naquclíe fctí arrezoa- do,o que fariaõ tantos nobres, quantos fe viaõ fem os bens defta Igre]a,q táto têpo, & tãta injuftiça puíluiraõ.Deraó gfãdes queixas fuás a eiRey D. Fern3hdo,& a fcus miniftros,

èccO'

T>.L

oíirenco.

197

mor, foi.

&: comonelleas primeiras in- formações, eraó as q raacso - brauáOjdecerminoulogo quc- brarlheuodósos prítíilcgios de ília Igrcja.tomarlhca jurdição de Braga , & pedirão Summo Pontifice otiraflecotnlmcnte do Arcebiípado , mandando deuaílar âc ínas colpas, das cjuaes jànáoduuidaua.Eraéas- principacSjí/í/e o Arcebifpo 'vi- uia deshomfiamente. Efpanca- iiapor qualquer coufa, c^' feria aos Clérigos , Cít" logo immedia- tamentefe hiapór no aharjem fac^er efcrupulo , ou conf ciência da efccmunhao , tf irregular i- dadè/l encorrera. Quedeixaua .'Uiuer à fua^oníade os eccle- Jiaílicos. Que repartia porfeus parentes os bens da Igreja , a- quelles mefmos^que com capa de (^elo tirara a outros pojfui do- res.

t Bem quizera o Summo •Pontífice Gregório eícufar a deuaíía , que fobre o Arcebif- po fe lhe pedia,porque be fof- peitaua auianos cargos calum nia,& no Arcebifpo difteren- tes procedimétos. Porem não lhe fendo poííueloutra coufa, nomeou por Vificadores deftc Arcebifpado , & da peíToa do ArccbiípOja D. Pedro Teno- » rioBifpocncão de Coimbra,

& elcico de Toledo,& a Vafco Domingues Chantre deBraga^ coni*poderes de tomarem ter- ceiro companheiro , íé aíii lhe pareceíle Eleg^aõellcs {quem duuidàfoia perluazaõdoseni- migos doArcebifpo?)a D. Mar tinhoBíípo deSy]ucs,aquelle, cuja eleição pcra Braga annul- lou o Suramo Pontífice. 5 Não faberemos dizer, fe por medo da peíToa do Arce- bifpo , fe por aíli o querer el- Rey, quando os Vifitadores Apoftolicos ouueraõ de en- trar em Braga, trazião con- figo ao Meirinho mor de En- tre Douro,&Minho LopoGo mes, com muita gente d' ar- mas. Foi cfta entrada no A<!oí CO de 1377. (Sj fòfoube delia o Arcebiípo,quãdo vioaosdous Bifpos dos muros adentro fi- xar editaes. por mefas , ôi per- guntar teílemunhas . Pos cm primeiro lugar contraditas ao Bifpo D. Pedro Tenório , dl- •^ndo esiaiia efcomimgado^ por celebrar publicamente no tem- po do interdito ^que em Coimbra ejhuapojlo, Isf ellenao qui^ra guardar jpelloque nao podia fer eleitopera aquella comijjao ec- ckfiafiica. Contra o Chantre Vafco Domingues oppos,^Hd também efiaua efcomungado^tf

R3 mo

to 2.rer.

memfeU

51.

198

CafitoloXXXXVIIL

nao podia fer eleito , <-uiUo como tinha ferido a muitos Clérigos, morto a outros, f eito prendtr ao Arcebifpo então de Braga^ago- ra Patriarcha de Alexandria T) JoaoCordolaco^ outros in- fultos defla calidade.Conuão BiípodcSylues difle, que elle lhe era manifeHamentefofpeito^ Í!f não podia fer feujui^jpellas duuidas , que entre elles ouuera fobre o Arcebifpado de Braga, iy' paixões ^qu a dahifefeguirao. 4 A nada deferirão os três VilítadorcSjprocederáo na c5- miílaõ,& quando veyo a 9. (Jo Outubro fcguinte declararão ao Arcebifpo por priuado do í!ouerno,mandandolhefe faif* íe logo do Arcebifpado , & fe Iheconfifcafieíuas rendas,aííi pêra os galtos daquella alçada, como pêra outras penas, em que também fora condenado. Apoílouííe da cidade o Meiri- nho mor Lopo Gomes , pon- do nella officiaes por elRey,& priuando de feus oíficios aos do Arcebifpo. Procedeo con- tra elle, & cótra os três cõmif- farios com cenfuras o Arcebifi- po, mas como a nada obede- ceírem,antcs procuraílê auel- loasmaõspera o prendcré,paf fou a Roma , onde de pouco tépo era morto Gregório Vn-

decimo, & eleito Vrbano VI- o qualouuindo ao Arcebifpo lhe deu por juiz aD.íoaõ Car- deal de lãnta Sabina. Correoa ca ufa todos os termos ordina- fiosjfcntenceoufe na forma fc- guinte, & com as palauras , q tiradas do proceíTo latino di- zem aíli.

j- Nos loannes miferatio-

ne diuina tituli Sanãa Sabin^e pr^esbyter Cardinalisjudex, ^ comifarimpr^fatus , habentes pr<e ocultsfolum Deum, de iuris peritorum conflio , £?* afenfu, per bane noflram diffinitiuam fententiam in hisfcriptispronú- ciamu^^decernimmji^ declara- mw,pr<efatum Reuerendum Pa trem dominum Laurentium Ar chiepifcopum Bracharenfcm te- pore promotionisfiu adpr<efa- tam ecclefam Bracharenfem , i^ abinde citra,fuife , ÍP' ejfe bonum^l^ circunfpeãumjnfpi- ritualibus^isf temporalibm , ac Pr<elatu bon^fam^, <uit(e lau- dabilis^lp' honeflte conuerfatio- nls : pr^fatof^ dominós Petrú, num Ar chiepifcopum Toletanú, Martinú Epifcopum Syluefem^ i!f Valafcum Cantorc Bracha- renfem^contra prtefatum domi- num Laurentium Archtepifco- pum Bracharenfem, mal è/per - peram,iniqué,at0^iniuílèfuife,

to, 2'rer mem,fol

^. Lourenço.

199

tf eJfe^roceJJum , acfententia- tumjj' dijjiniíum^eorumjjpro- cepis , ^fententias cajptndas^ i^ r euo candor for e^i^ quatenm de faãoprocejferunt^cííjfamus, tf reuocamus^tfc. a dizer, que oAfccbifpoD. Lourenço, alli anceSjComo depões dePre- lado, fora fempre varaõ bom, & circunfped:o nocípiritual, & temporal: de vida honcílaj ôi louuaueiscoftumesrque os juizes Cõmiílarios procede- rão em Tua cauíà contra jull.i- ça, pello q caírauaõ,& annuila uáo todas íuas fentenças. Acre centa mães, que por jullos rcf- peitos os não condena nas cuf tas. Deufe aícntença na pre- fença doSummoPontifice a 1 4. de Feuereiro de 1 3 79. 6 Veyoíecomefteboni

defpacho , & outras cartas de recomendação do Papa pêra elRcy,de Koma a Braga o Ar- cebiípo , chamou a Synodo a Clcrelía , 3 íim de nelle publi- car a Sentença, & moftrar a to- dos manifeíta fua innocencia, masjà o não pode fazer fenaD em \G. deNoucmbrOjdaera 1419. &deChrifto i3Si.alien táona prefença dos Abbades, Prioies, Religioíos , Chantre, & Cónegos de Guimarães, & de todo o feu Cabido , no jar-

dim de feus paços , onde fe fa- zia o Synodo, por boca de frei Rodrigo, daOrdédos Prega- dores.Mcftrc na facrradaThco- logia ,fez publicar a fentença acima referida , que foi ouuida com aplaufo , & feftejada no Arcebifpado com alegria'. 7 Faltaua contudo ainda

reflituirre outra vez por elRey D.Fernando aoArcebifpo, a cidade de Braga, que pelloMei- rinho mor de EntrcDouro,&: Minho Lopo Gomez, lhe fora mandada tomar. Paílou pêra areftituição o aluara feguinte. D.Fernadopellagraçade Deos Rey de Portugal^ tf do Algar- ue. A quantos eUa carta D ir em ^ fa^^mosfabert que nos queren- do fa'^r gra^a , tf mercê a D. Lourenço Arcebifpo de Braga ^ tf a louuor^ tf honra da Virgc Maria nojfa auogada, tf defe- jor , em cuja honra a igreja de Braga he edificada , tf dotada peitos Reys de Portugal nojfos antecej^ores^tf porfalua^om de nojfa alma, refiituimoslhe , t^ entregamoslhe ajurdiçom da di ta cidade de Braga ^ tf de feus Coutos , que a aja , tf poffua liuremeute^fem embargo ne- nhum ^pella gui^ , que lhe obe^ deciao , tf refpondiaÓy anteque por nos, tf de nojfo mandado lhe

to.2 rert\ mem,foí

20O

Cafttolo XXXIX.

fojfe tnmada^i^f encomendamos aos moradores da dita cidade^ l^ coutos , cjlkèfejãoohediêtes, tf lhe refpondao ^pellagui^t <j lhe obedeciao,ijf refpondiao an- te (Jpor fws^ifde nojjo madado fojfe tomada a dita jurdiçom. Dante nos Seai^s 7. dia^ deOu t libro. ElRey o mandou. Affbm Ficcte afe2^,era de i ^.lo.annos. ElRey. Refpondcacraaoan- nodeChriftoijSi.

CAPITOLO XXXIX.

C OMO D E CONSE-

Ibo do Arcebifpo, na grande cfma,qneoiiuena Igreja Ca fholica^ elRey D. Fernando feguioãí partes doy>erdadei' ro Pontífice Vrbano feiílo^ if do quefe^emferuiço del- ReyD. loaó o primeiro na pretenfao do Reyno.

Stando dcrta vez eiiiRoma o Arcebifpo D. Lourenço teiie principio acjLiclla nabalhofa , & perigo- raciínia,que por4o.annos tinuosaffligio gtandeincnte a

Igreja de Deos: diílemos dei- la no noílo Catalogo dosBií- pos do Porco, mas aqui fcu próprio lugar j peraqueíecn- téda quanto na eleição do ver dadeiroPontiííce, a quem os noíTos Reys dcuiáo dar obe- diência, trabalhou o Arcebif- po D. Lourenço. O caio foi, qucarrependidos os Cardeaes da eleição^q cmVrbano Scifto fízeraõ, por morte de Gregó- rio Vndccimo, mas ja depões de fua coroação, por fe teme- rem de fua afpereza, ou como elles lhe chamauão piUicida- de^Çc fayraõ deRoma,& na ci- dade deFíídi elegera^ nouo tiííce, a quem puzeraõ nome Clemente Sétimo. Perfeuera- raõ contudo Roma,Italia,Alc manha, & outros Reynosda Chriftandade na obediência de Víbano, òi feus fucceíTores Bonifácio IX.Innocécio VII. Gregório XII. Alexandre V. loaõXXIII. E Martinho V. em cujo Pontiíicado vltima- mente fe acabou efta conten- da. Clemente VIL paííandofc a viueraFrança, na cidade de Auinháoera obedecido, &c o foraó íeus fucceíTores Bene- diaoXIII.&: Clemente VIIL de França, de quaíi coda Hel- panha,& deEícocia.

2-p,C,Z2

Lr.nõ

2). Lourenço.

20l

z Eraõ por eílcs tempos

as ordinárias embaixadas dos Rcys Ghriltaõs entre íy, que- rer cada hum períuadir ao ou- tro legui lie aquella parte , & obedeceíle àquclle Pontífice à queellc íeguia,& obedecia. A- chouem Portugal o Arcebif- po quando chegou dcRomaj Embaixadores dclRey D. Hê- riquco II.dcCafl:e!l3,quecom inltancia pediáõ aelíleyD.Fer uando, mantiueíle neutral entre os dous Príncipes Vr- bano,& clemente, (Si manda f- fe por em depofito todas as rédas A poftolicas ,pera depões íe entregarem ( ifto mefmo fe tinha ordenado em Caftella) àquellc a quem a Igreja decla- ra íTe por verdadeiro Pontífice. Oppofe a cfta determinação todas íuas forças oArcebif- po, & não foi pouco vcncella, vindo encil berra c5 ointereíTe, que de fe retcrem as rendas tifi caes,podia recreccr ao Rcy- no. Fez com elRcy , que logo refolutamente dcíTc obediên- cia a Vrbano VI. & mandaíTc a todo o feu Reyno o tiueíTc por verdadeiro Pontificc,no q ficaria aos maesPrincipesChrir taõs em exemplo, & eícuzaria as importunações do Pontífi- ce de Auinhão,dequcnáo

dia auer duuida fcr intruzo. 3 Outra embaixada veyo pouco depões a cftc Reyno dos de Caltella, cujos cííeitos pretendeo também muito ef- toruaro Arcebiípo. Pedia el- Rcy D.Ioaóoprimeiro,filhoj & íucceíTor de Henrique II. viuuo de pouco tempo, por molher a Infanta D. Brites fi- lha vnica, & herdeira delRcy D.Fernando, & da Rainha D* Leaiior lua molher. Via o Ar- cebiípo os incónuenientes def te caíamento,& como por el* le íe hia azando entrarem no Reyno Reys cítrangeiros , faltarê os naturaes. Praticouo a êl Rcy , & aos de feu coníc- Iho , contudo o cafamento fc fez j mas com os fucceílbs , q o tempo moftrou, & o Arce- bifpo muito d'antesadeuinha- ta- Acompanhou a Infanta atè Badajòs, lebctxi a Chronica o não nomea i como nem a ou- tro Prelado do Reyno. Os fc- nhores fecularcs, alem da Rai- nhaD.Leanormãy da Infanta, foraõ D. loaõ Meftie de Auís, irmão delRcy,o CorideD. Al- uaro Pires de Caíiro Condef- table de Portugal, D.Gonçalo Telles Conde Islciua, D. loaõ Conde de Viahna,D.Ioaõ Fer nandcs Conde de Orem , &

outros

Dnarte]

Nmet i Chro.del Rcy D., Fermdi \

202

Capholo XXXXIX.

+

#•

\ T):tAYte\ i T<Títms ^Ckro ãel

:i Cron. vR ynof.

outros muitos Hdalgos. 4 ■•'.V' Ivlorrco noOucubro de 1 3 Sj .na cidade deL iltoa clRey D. FernaHdo. Entrarão com íua mòiiíè,emPortugaI osdeí- coiuos,dec]ue noílas Ch tóni- cas andáô cheas : pareceo ne- cciTario pêra os t cmcdcar dar o Reyno titulo de defenfor ao MeíVre de Auís D. loaõ, filho baftafdodclRcy D. Pe- dro. Efte éonhccendo bem as grandes partes do Arctbilpo de Bragayo temeu lego per feu prineipal conlt-lhciro,jun- tamciícccooBifpode Coim- bra ( tinhijo fido do Pbrcó', & ao diante íci Arcctviípó de Lif4 boa, .?c 'Cardeal do titulo <^tS. PeJfoadí-viHcuh ) D. loaód* Azábuja^ôi oChaiiGard môr Itíaó dás- Regras i Giíuefe o Arcebiípo nos negoiceos âo Meílre tão zclofo qoíinto fe- ra fácil colligir aquélèrahif- toria dcfte grande Rcy. f Aíiirtiocom cllrema-

do valor ao cerco de Liíboa^ .quando fobrc ella veyo com •podetofaarma^ílapor mar , & grande exercito por terra, eb Rcy DiíoaóoL Gaílelb, tomou à fija conta preparar os natiios^ôi.' Gjlles,quc auiío de defender abarra* & porq nin-. "•^uem feerGuíaífedo trabilho.

20 'li u «

elie era o primeiro em trazer por fua própria peíToa á ma- deira , 6i outros materiacs ne- ceflarics à obra . Sobiafe ou- tras vezes íobre hum caualo, armado de todas armas, oom o roxctc por cota , òc com húa lança na mão obrigauaatodos atrabalhar naquclla grande ne ceilidade. Aos Clérigos que íe lhe clculauáo com as ordens, rcípcndia, qtie também elle era Clérigo^ & aos Rehgiofos^^we era Arcebjfo.^ tf Prima\^ ij/ cem Tudoje níío dauapor efcttfo^ como CQJcuspropriosolhos loiao. Montou tanto efta íua diligé- cia,que em breuiífimo tempo laçou ao mar dozcGallèsjfora outro graõ numero de nãos, (^ galleotas,em que os inimi- gos acharão grande tcfiftcn- cia.

6 Nas cortes de Coimbra^ celebradas cm hí3a quinta fei- ra,leis dcAbiii do anuo 1335. onde o Reyno deiiberaua fo- brea juftiça dos que o prctcn- diaòjlogo depões doCondcf- table D. NunoAluers Pereira, elle foi o que mães apertou os trescftados tomaílem por Rey aoMeftre deAuísD. loaó, fazendo primeiro íabcdorcs deíle leu voto aoBifpo daGuar da D. Vafco , ao de Eu ora D,

loaó

T>. Lourenço'

201

Cr OH iel^

loaójSc ao de Lamego D.Lou- renço,que ali com o deCoim- bra D. loaõ de Azábuja, cráo prcfemcs.

7 Onde porem o Arce- bifpo moftrou a grartdegenc- rolídade de feu coração, & in* uenciucl esforço de feu braço, ícina mcmorauel batalha de Aljubarrota,Ou\xío2ic\Kçy de coníiííaójdeulhe o Sandílímo Sacramento da Euchariftia,c5 municou ao exercito as indul- gências , cjue o Sumo Pontí- fice Vrbano VI tinha concedi dasjos que pclejaíTem contra os cirmaticos ( quaes então c- raô auidos osCallelhanos por íeguirera as partes do Antipa- pa Clemente VlIJencomcn- dou a todos^qucao romper da batalha, & pcllo difcurfo delia diirefiTem muitas vezes Verbú carofaãum efi. E como aigús não cntendcllé o q as palauras latinas íínificauáo,& outros, tornandc4has em português, por ignorácia, ou graça diíTcf- Ter fua finificaçao. Caro Jeito he ejle. A Icgres,<S«; contêtes 3 cfperança da vitoria,refpon- diáo : Caro feito he ^ mas Deos no lo- tornará hoje de bom ba- rato ^

8 Após as acções de bom paftor , paíTou o Arcebifpoas

de bom caualciro. Entrou na batalha, & pellejcu entre a ca- uallaria,como íe toda fua vida exercitara a guerra. Leuaua ío- bre otnurriáojeni lugar de pe- nacho,húa imagem de prata da Virgem Senhora nofla, que â' quineftc theíouro leconfcr- ua,& diante delya cruz Pri- macial, com que coítumaua vifitaras igrejas: húa,& outra inílgnia lhe íeruio a elle de de- fenlaó, aosnoílcsde anim.o, & aos inimigos de terrorj& ef panto. Híj, que íe lhe chegou mães , & lhe pode dar pc lia fa- ^^'"'^^ cehúagrandecutilada,perded joaõf t. logo alli a vida. Vencida pellos "/>• 4* noíTos a batalha,& pollos em fugida os Caftclhanos , fe re- co Iheo do capo à caía denojfa Senhora de Na^areth, a quem de mi nino tinha grande deua- çáo, pêra ali dar graças a Máy de Deos pella vitoria, & íe cu- rar da ferida , mães por fua in- tciceíTaõ, que pella indulhia dos médicos. Em quanto aqui cfteue mandou enmadeirar a Igreja, & cícrcuco aquclla ce- lebre carta ao Abbade de Alcobaça D. frei loaõ d'Or- ncllas, q também fe auia acha- do na batàlha,a qualquizemos pôr aqui com fuás próprias pa lauras,& he a feguintc.

Dom

;o4

Capitolo XXXXIX,

9 DomAhbadejcnhor^tf a- mit^o desnuoítrafomana^ que Deos andou ccmncjco^i^fVímos a Deospor nòs^tf ejcontra os cif- maticos^nom hey mai^fabído de yos. Aprouue a Deos, ^ a [an- ta Maria, que M ribeiradcis do fan?re do meu giliiàs ^ feiom ia yedada^s,ifjos meflres '-vom de bemperamelhor, ist euojimo bem em mim, café "oier em cai- ^oja darei, a kuareioitra polia mefma reqeUa : i^ crede loos amigo^ ca quem eflapejpegou^ca nom a leuou enxehrei \,nem ira contar em Cajhlla o foalheiro o cruzamento da mraha cara. Ho te oiue letra Js' mej?age do Con- desirabe, a mafoí afaber,ca o Reyde CaftelLi fiuera em San- tarém coma home trefual. do, a malde^a feu 'viuer , apuxaua poliu barbcvs : tf a bofe bom a- migo/nelhor he ca ojaga elle^ca nem fagermolo nós, co home q(ts fuás barbai arrepella, ma lauor faria dds alheai. Tamem anha- \ dia quel feya embarcar na fro- ta, que ia':^iafobre Lisboa,pera nom leuar caminho de terra', fo- ros 'Ventos lhe fgeffem per ai- goa^ o que qa Ikefigemospor ter ra,de bofadairo nos liurariaÓ. Mas af~í,ou afsi,defeiconi- 'vai elle hojpedado , q nom tornara tanaginha a ouuir campas do

'vojfo moUeiro. Iam Vas d\4L mada.i^ Antom Fafques feu ir maofiuerao aqui Domingo , em fembra com Mem Rodriges, tf fuoma Lisboa ^per a auer algum geito de empecer aos CaHellaos, que ia'^m na frota , mes eu lhe dixe que nom hiom elles deqa enxotados de geito, q efperajíe outro ruxóxo. Bem me diJ?erom da fadiga que tomajles emtra- ger tam toflemente a ojojlo mof- teiro os fidalgos que morrerom na lidejucts almoá feiom em fol- gança , ca padecerom mor te por bem de feu Reyno. Quando eu Vi nhapara cáafadigadopellofan gre , que non queria eflar, 'Vos dixe eu qa fendo crianço '■viera oitra cegada por esias partes^ a qa cobrara o oiuir , q porhúa porrada fe efcandalefcera. Ago- ra Deos loiuado^por aprafmo da Virgem eíleue logo a corretea^a. Pus eu em mentes de lhe ama- nhar o telhado por baixo do laf- tro da madeira^ feia -v. m. de madardes das fojfdi coitadas porhu milborfe puder auer ,e no qeuDos forprefiadio sêpreje rei a 'VoJfo madar. Feita foi a xxlci de AgoUo^era Mccccxxiiij. Voffo amigo D . Lourenço . Jrcebifpo Primas. faó JeChriilo í^S6. ro Achariíófe nefta baralha

dous

D.Lourencd.

20$

, , doiis ArccbifposdeBraíía, hu tkron.dsi' S ^'^ prcícntc oera D. Lourc- ■^^ -D. ço, de quê imos cfcreucndo, ^'""^' outro q depões o foi D. Mar- tim Aftonío Pires daCharnC' calque em todos os feitos, aííi deguerra^comodepazjíeruio grade valor , & conftancia ao mefmo Rey D.Ioaó. 1 1 Tratou poucos tcpos

depões da vitoria clRey caíar- fe com a Iníanta D.Felippa.fi- llia doDiiqucdeLencaltre cm Inglaterra. Andaua então o Duque por Hefp3nlia,com a psrcéçío doReyno de Caftel- l3,qae dizia vir lhe por fiia mo Iher D.Cóílança,filha dclRcy D. Pedro o Cruel,a que fcu ir raio DHenriquCjComa vida tirara o Reyno. Aífiftiaó a Du queza,& Infanta cmCella no- ua mofteiro deS. Bento, no Rcyno de Galliza , & fudaçáo de S.Rozédo Bifpo de Dumc. Ali lhe raádou elRey pêra eftc fira , por feus Embaixadores ao ArccbifpOjaVafco Martins de Mello, & a loaõRodrigucz Chrt»J»\ de Sà. Breucmcntc,& cora fe- licidade concluirão o cafamc- to,& trouxeraó ao Porto a Rainha , onde fc recebeo com clRcVjleuandoa de redca o Ar- cebiípo â porta da Igreja, na form3,qjà contamos no nof-

Jíejno f. 9é,

foCatalogo dosBilpos doPor to , cfcreuendo a vida do Bif- po D. loaõ o III. do nome. Depões acompanhou o Arco- bifpo a Rainha a Coimbra, li Duraua ainda por cftcs tempos a rebelião dealgúas ci- dades,5<: villas doReyno con- tra feu Rey, mantendo a voz deCaftclla. Eraódas princi- pacs Braga, & Guimaraes,am- íías fe vieraó a obediência dcl- Rey,por induftria do Arcebif po. Por lhe gratificar tãono- taucl fcruiço , & cambem por honrar comfua prefença, & da Rainha fua molhcr cfta ci- dade , publicou clRcy nella Cortes pêra o fim doaiino 1387 Foi para ver a magnifi- cência, & cuidado, com que o Arcebifpo acudio ao fcruiço das peíToas Rcacs. Os vários jogos , & inucnçoês , com q os Cidadaõsfeftejaraó os Rcys, deráo muito que falar aos daquellc tépo, & aos dcftc que admirar.

A chroni] CA inds a '. cimít,cap* ie«.

Dm A Nu. onde aci- ma,

Chron.d» Reym e, 132./. 2.

CAPI-

2G6

Capitolo L.

Fr. Lm

' de Soiifn \

CAPITOLO L.

DO QFE MÃES FEZ

o Arcebifpo D. Louríço até

fita nwrte , l^ da erei^aoda

JgrejaCcllegiada deValeça.

Ode c6 a paz doRcynovi- uer o Arcebis- po em deícan ço nefta Tua ci dade,&acudiràs obras própria méce defeu officio. Reformou oClero,a quéaslicéças daguer ra tinháo dado demaílada iiber da de. Reparou os edifícios íà- gradoSjprouédoos de ornamê tos,& baixella^ de q neceíTita- uáo,ou por roubo dos inimi- gosjcu por defcuidodos nata racs . Em Guimarães ajudou muito aos Padres Pregadores na tresladação dofcuCõuéto, pêra o íicio q hoje tê.De efmo las íuas íe fez a facriília, coro, i^ grade parte daígrcjaiCõtáo no aqlies religioíos por hu dos lensiiiíignes bcfeitorcs,& acre cencão, q nao era affeiçoa- doàOrdê,m3s tambéaosReli giofos particularcsia cjue trata ua aífabiljdadc, èc chaneza. i AloLiasdunidas íedcuiao morer entre o Prior, & Cabi-

do deGuiniaraés,& p Arcebif po íobre matéria de jiirdiçáo, porq eileíe queixou àSátidade dcBonifacio IX.deauerifenta do aijlla Collegiada da jurdi- çáo deliaPrimacial^graça,deq fònaciaóduuidas , Òc outros dcícõcertos,q a cada paílbmo leftauáoos ArccbiípoSj&cn- quictauáo a própria Collegia- da.Reípódcolbc oSiJmoPõtiíi ce fizera tudo à inftãciadelRcy D.Ioaõ o I. de Portugal. Mas q védoagoraosinconueniétes defta fua conccíTaôícaflaua, òl annullaua tudo oq ncfta mate ria eílejÂ: feus predeceíTores ti nhão concedido, mandando, & ordenando , q aquelia Col - Icgiada dtGuimaraéç em tudo, por tudo obedeceflc á Igre- ja de Braga , aííi como quaU quer outra Igreja do Aícebif- pado. Paíloufc cfte breue em S.Pedro de Roma a iS.dela- neiro anno feifto defeu Pon- tific3do,&deChriíloi35)j. 3 Vêdofejà velho ordenou feu teftamcntoemS. de Ago- ílo , era 1419. que faõ annos deChriílo 1391. Inftituionel le híía capelia, na que então chamauáo dos Reys ^ por alli eftarem enterrados o .Conde D. Henrique, i& a Rainha D. Tareja íua molher, & asjora

charnão

!

mem.fol, ' 37-

^.Lourenço.

Z07

.-,

chamáo.de D.Lourenço. No- meou por feus admi morado- res o Mellreíchola,& Arcedia- go do Couto derta Se, docoua de grandes rendas. Os capellaês rezáo todos os dias o ofíicio di uino em coro, &: cátáo outras raiílas, q por da inílituiçáo lhe íaó ordenadas. Aqui man- dou laurarfuafepulturajpódo no alto do moiméto a íua ef- tacua,veíiida em Pontifical, &: laçada fobre clle. He tradição, q entrando a ver a obra,&ad- uet tindo q o retrato não tinha pello roílo a cotilada,q recebe- rá na baralha,& de q tãtoíc pre zauajpcdmdo húa cfpada , lha deu por aqlla parte por onde a t i n I)a,d iz cdo : Agorajy^qfica ao natural, A ferida molíra não fcr obra de oflicial. Ordenou a Vafco Louréço (era filho íeu j qpera efla capella lhe trouxeJ?ê feu corpo ^em cac^oqmorrejjefo^ ra de Braga nestes Reynos,nos deCaflella^Leao ^N auarra, Ara gao^Fraça^ Frades, Alemanha^ Itália^ Tofcana^ ou Roma. Sáo palauras do teftamento. 4 Deixou mães em cada hu anno li.anniuerfarios pellasal mas de feu pay,& mãy, cujos nomes não declara, & polia de feu tio loaõ Peres , Ôc fua auò Maria Vicéte a longa da fonte.

os quaes fc diriaõ na capella, 6 tinha inftituido na Lourinhã. Pcraaqui mefmo manda tref- ladé o corpo de fua mav, q ja zia no adro da igreja de Sátia- go de Torres Vedras , & o de íuaauòMariaViccnte.-Dcixou també a D. Branca,cazada FernãoGonçalues,a quintada Charrua,cõ outras muitas pro priedades.Viueo ainda alguns anos depões de ordenar aífi feu teftamento , & teue lu^ar de prouer de ornamétos, o^ prata a fua capella de Braga.como a- chamos fez na era de i43j.an- nos deChrifto 1397. porénef- tc o leuou Deos pesa fy , com grandesíaudádes de todosfeus lubditos, q fobre maneira o a- raauão. ElRey D. loaõ de boa memoria fez tambê grande íé tímento por fuamoire,afhr- mando, q lhe ficaua mencs o\hiO,porqos dous da fua ca rí:?,deziaelle, erao o CÔdeJlable D.Nuno Alures , if o Arcehif- poD.Lour€ço.Septíhãi'ãôno na íua capella , onde o letreiro ícguinte.

Aqtiijaí^D. Lourenço natural da Lourinham, Arcebifpo de Bragada qfoi promouido na era de i^ii. i^ morreona era de 143 f, Gouernou por efta conta 24.

S z entre

208

Ca pi tolo LI.

Br ai liu .

annosécreosdeChrifto 1374. &1396. fendo Sumos Ponci- íícesGregorioXI.VrbanoVI. &i Bonifácio IX.Reys de Por- tugalD.Fernãdo,e D.Ioaõ ol. j Teuc principio em feu

tempo a CoUegiada de Santo Eíieuao de Vallença^wWa íobrc a margem do Rio Minho,frõ- teira à cidade de Tuy. Os an- tigos lhe chamarão Contrasta &comeíl:c nome achamos a mandou pouoarclRey D.San cho o I. íeu filho D. Afíbnío o Il.elbndo em Guimarães lhe paílou foral em li. de Agofto anno 1117. Mudou o nome de Contrasta cm Valleca^ por aíl) o mádar elReyD. AíTófo o III a que chamamos Códe deBo lonha_,quádo outra veza reede ficou, obra lua parece os mu- ros, & barbacam da villa, nota ueispor fortes, & acabados. 6 Mas cornando a Colle-

giada de janto Esteuao^ cila cc- ue íua origem em alguns Có- negos de Tuy,os quacs tendo por mães iam a julliça dosSú- mos Pontifices Vrbano VI. & Bonifácio IX. a quem obede- ciaõ os Portuguezes,& por in truzo no Pontificado Clemê- techamado Vll.aquéíeguiáo os mães ReynosdePíeípanha, obrigados de lua confciencia.

&i tauorecidos delRey D.Ioaõ ol.quc íofria mal Bifposdc outro Reyno exercitarem jur- diçáo no feujfc paílaraõ a Val- lença no anno 139^. (outroscf crcuemfoinoanno 1378, fen- do Sumo Põcifice Vrbano VI) ôc alli na Igreja de Santo Efte- «áofoímaraõ hum nouo capi- toloj rezando cm comunida- de fuás horas , por aíli lho or- denar o Arccbiípo de Satiago,

6 deBraga,D.IoaõGarcia riqucjfendo adminiftrador dcf ta Comarca,como cm fua vi- da diremos . Pagauãofe cftes Cónegos das prebendas, q cm Tuy Iheforaó logo focrefta- daSjpellas rendas,q o Biípo,& Cabido de Tuy tinhao é Por- tugaljcm i30.Igrejas,qàquel- la Igreja doara enttre Minho,e Lima clRey Thcodomiro dos Sueuos.

7 Elegerão logo cftes Cone gos por fua cabeç3,& adminif- trador das Igrejas^ahu D. Tu- ribio, cõtra o qual procederão céfuras oBifp© cie Tuy D. loaõRamircs de Gufmaõ,& o q depões lhe fucedeo, D. loaõ Fernádes de Soto Mayor:mas como tinhaó por fy aos verda deiros Sumos Pontifices, & a proteição delRey dePortugal, CQtinuauaQfeguros,indosépre

fufti-

SandoKal Amig.d; j 7uy pag. 178.

Fr. (jonfãlo a^arinhoyÇfc.

209

Duarte

Nít.chro d' IRey D.AgS.

íurtitu indo aos ^oueriiadorcs mortos, outros que de nouo clegiaó j acè que íinaiméce pos íílencio a efta caufa , & dezan- nciKou ini^erpewum do Bifpa- do de Tu y, toda a Comarca/j hoje he de Valença,o Summo Pontifice Eugénio IlII. à pe- tição do Infante D.Pedro Re- gedor deílcs P^cynos na me- nor idade delP^ey D. Afíonfo o V. íeu fobrinho, mandan- do pcra efte eftcito por léus embaixadores aRoma Ruy da Cunha Prior de Guimarães, Sc hei loaó ProuincialdoCar- mo, que depões foiBifpó de Ceita/3.: vltimamentedaGuar da.

8 Pcrfirtio aCollegiada al- guns annos no gouerno" dei ces feusadminiftradores^com toda a Comarca de Valença. Depões inftituindofedenouo BifpOjem Ceita Iheforaõ alli- nadas cftas terras, como eícre- uercmos na vidadoArcebifpo D. Luís Pires. Ate qíinjlméte vieraõ a fer defte Arcebiípado cm têpo do Arcebiípo D.Dio go de Sou ía^pcllo modo, que em Tua vida fe dirá. Tem hoje aCollegiada quatro dignida- des, C/^rf/^fr^, T/;g/ô«re/>í),iVíf/- trefcholã^Sochantre: as Cone- zias por íeré muitas, & de pou

co rendimento,reduzimosem .noílo tempo a numero de 18. 5> Tcmdeíuaviíitaçáo3i. ígrcjas,nas quacscntraó as de Fianna, tf Caminha. Viíita o Thcíburciro 18, no antigoCõ dadode Valadares,Craí]:o Lo- boreiro, (k Melgaço, Tem a- qui o Arcebiípo ícu Vigairo do qual Ic não appella íenão pêra aRelaçáo de Braga. He ce- lebre neíta villa a Ermida do Bom Iesv, allipelladcuaçáo, q os naturaes, Gallegos lhe tem,como pella deucza emq eftà edific da.

CAPITOLO LI.

FR.GONC^ALO MA RI.

nho , fr. loaÓ do Bafio Jr. Gualter^da Ordem dos Me. nores.

.^ OuernáJoef- S^ ta igreja, pcl los annos de Chriflo 1392. o Arcebiípo D.LourençOjpaíTaraõ dosRey nos deCaftella ao de Portugal, alguns varões eminentes em íantidade, da Ordem dos Me- nores , com intentos de nel- la reformarem fua religião, cm que muito tinha deícaido

S 3 aquel.la

2íO

Captolo LI.

Chro. de S, Frãc p.^.liHr.

Chro. f.

^2.

aquella pobreza, com que de principio fora iallicuida. Clia-. mauáoíe os principaesfíeiGõ- çalo Marinho, & irei Diogo Aires natural das Aílurias, Co- meçarão eíla rcforma/p.ndan- donouos inoílciros, & rece- bendo nelles os religioíos,que dos fundado3,aliqueriaõ vi- uer,ou os íecularcs ,3 quem Deos noíTo Senhor eraíerui- do infpirar vida íanta, & peni- tente.

z Bufcauão peraeí^asfú-

d açcés lugares apartados de to do õ trafego humano,acharaõ nos accomodadinimos a íeus intentos no Arccbiípado de Braga. Foi o primeiro a ermida quechamauáo noíla Senhora de AíoJIeiró , húa legoa aparta- da da villadeValença,^ do rio Mmho, pêra o rr-cyodia: ali entre montes, & grande cl pef- fura de aruoredo, fundarão a noua colónia do Ceo,debaixo da inuccaçáo da niefmaSenho ra,&: com taõ boaeftrcIla,que de entaó pêra ca floreceraó sê- pre nclla filhos digniffimos de feu fantilfinio Patriaicha.Não hc poíliucl contarmolos a to- dos , de lo fe fará conjeitu- raperaosdcmaes, Chaniauafe frei loaodo Baito \ú2.o ^!^ idio ta na profillàó , mas fapicncií-

ílmo na dettreza de faber leuar almas a Deos. Logo em vida, &i muito m.aes depões de mor to^o tomou todaaquellagétc por auogado, òc intetcellor diante da diuina mifericordia, & a clle recorrem em fuás en- fermidades , tirando de íua fc- pultura terra,ô.: trazendoa era nominas,ô<: relicários ao pef- coço pêra alcançarem faude, como railaíiroíamcnte alcan-

çao.

3 Cõt ãoíe entre cftes,dous Guardiães do mcfmoConuê- to: hum dos quaes foi liure de hi3aâ cõpridas , & enfadonhas qiiarcans, que grandemente o mokítauáo, prometendo de por, como pos, fobre a íepul- tura doleruodeDeos híia ca- pa de niirmore, peraque com ella leeíiicmaíle dos mães re- ligiofos.O outro, obrigado de dous milagres , que nelle fize- ra,© tirou da íepultura antiga, & coUocou na parede da clauf tra , q delia deuide a Igreja,na parte que refponde á Capella mor, da banda do Euangclho.

4 Daqui paflaraõ os dous Reformadores às villas deCa- minha,& Viana, em que fun- darão dous outros moftciros. O padre frei Diogo Aires o de Santa Maria dalnfua hu quar

G onzugt Prouin, j de S.An I ton.Con- ttent.i.

to

Fr. Gonçalo AdarmhoyÇfc.

211

Prou, de I S.yíiiton

CoKH. 2.

todíílegoa da villa de Cami- nha,jà décro doOcceano,pou CO abaixo da fos doMinhojlii- gar alias cccomodado pêra a concerapbçáo das couzasdi- uinas.iVías talcádolhe aiiagoa, ôc lentindo ízrande trabalho em a vire buícara villa, obrou a Máy de Dcos pcrcllerelpei CO hum nocauel milagre. Apa- receo cm íonhosao leu Icriio, & moftrandciheo lugai: emq íc acharia aíioa, lhe mandou- cauaíle nelle. Cauou , & com pouco trabalho entre aquclles penedos j & areal , deícobrio húa fermoía fonte de agoa do- ce,quc de cntaõ pêra ca tempre pcríeuerou abundante pêra o Í5:rt]iço5&; regalo daC|UcllcsRe hpioíos. Outra marauilha íoe de coivcino acótecer nelteMol tciro,& he ,<|ue por mães pi- cado , Ôc aleuantado que ande o mar, por mayores c]ue íejáo as tormentas 5 & tempeíbdes, mães Ic ouite qualquer cf- trondo dentro da igreja, (em- preaos que nellacftao lhe pa- rececftaromar em calmaria, & o ar em íerenidade. Aqui to mc;5 o habito o padre fr. An- dré da Infua , natural de Lií- boa , que depões foi Gèíal da Obícruancia, varaõ por mui- tos titules eminente. Vcvo o

padre fr. Diogo Aires a morrer no Moíleiro de Santa Cathe- rinadaCarnota Arcebiípado deLíll)oa,cheyodedias,& me recimentos .

j Em Viana aondecha-

máo o Monte quaíi mcya le- goa da villa pêra a parte do Norte, fundou o íanto varaõ frei Gonçalo Marinho o Con- uento deS.Francifco, mora- da por muitos annos de gran- des leruos de Deos. Aqui,por o íltio íer qual elle o dezejaua, ôc buícaua pêra feus íantos in- tentos, & vida retirada, fe dei- xou hcar, viuendo na terra o corpo, no Ceo côa alma, &: íaudadcs, ate q Deos foi ferui- do leualo pêra ly. Enterraraò- no no meímo Conuéto,ondc agora ellà o altar de S.Gonça- lo dcAmarante,mandandolhe por lobre aíepultura hua fer- moía campa , o primeiro Du- quede Bragança D. AfFonfo, que cm vida o tratara familiar- mente. Dali o paflaraõ pêra a clauíÍ:ra,& na parede, que pe- ga com a Igreja , por baixo da porta porque a cila fe entra, em lugar alto, & eminétcjcol- locaraó ícus oílos o feguin- te letreiro. Sepultura de frei Gonçalo Marinho, varão fanto. Edificou eflemofleiro^ip' outros

Cloro, p, 3 /. I. c, 23.

GoHzagx Prou. dl S.Auton, Cotiue,^.

S4

muitos

212 f

Ca pi to lo LII.

muuos,annoii9S. Outros Re- lieioíos de náo menor fanti- ciacie jazem naquella clauítra, dequs nos contarão gtandci exemplos, cjuandoali eftiuc- mos noanno de 1634. como do irmão leigo frei Gualter , o qual andando íaõ, & bem deí- poílo, mandou abrir acoua em que três dias depões foi en- terrado, íem duuida por Deos Noílo Senhor Ihereuelar íua morte. Dis íobre a campa. Jqiiija^frei Gualter. 6 Foi o clclarecido varaõ

frei GonçaloMarinho qupnto ao mundo , fcnhor de muitas terras em Galiza, & Portugal. Scguioas armas, & eíleue def- pozado húa filha de Aires Gomes da Sylu3,& defua mo- Ihcr Dona Vrraca Tenório. Mas comomorrcíle Aires Go mes , ícndo a efpofada muito minina.lha necou, com acha- quede fer ainda criança, ícu tio D. Pedro Tenório Arcebifpo dcToledojO q deu ocaílaó a fr. Gonçalo Marinho de deixar o mundo,& íe fazer Religioío Menor, viuendo, ík morrédo na forma^que deixamos efcri-

M.ííc//ií7| to.EícreuédelleaChronica de

GcnzalÁ S. Fianciíco , & a delRey D.

Frou. de\ loaõ O I. & Gonzaga na Pro-

r -,_ iumciadcò. António.

Lontiet.^»*

i

ChronJe S.Ffanc.

C.2.3'

Duarte Nm . àe LeaÕcro

CAPITOLO III.

D. I O J M GARCIA Manrique V. do nome^Zj. Arcebifpo de Braga.

01 D. Ioa5 GarciaManri- quc filho de Garci Fernan- cfez Manrique Adiantado de Caílella,tronco q^majo dos Duques dcNajara,&de ou [^rcehif. trás caías illuftres de FJefpa- /y^f^' nha.Tcue naSé deToledo húa Gom, Conczia, & o Arcediagado de ■^^■^«''^ Talaueira. Dacjui o tomarão pcra Bifpo de Orcnfe no anno i3í;j-. pormortedo BifpoD. Fr. AfFoKÍo, Rellsioío de S. Franciíco, o qmorrcoprezo no caftello de Almodouuar, onde o mandou meter elRey D. Pedro o Cruel , por íeguir as partes de leu irmão D. Hê- 1 rique. De Orenfe foi pro- mouido a Siguença no anno 1374. Eftando aqui fallecco em Toledo feu tio irmão de feu pay oArcebiípoD. Gomes Manrique em 19.de Outubro de 1375. Deuidiofe na eleição o Cabido, efcolberaõ huns ao

nuliro

D.IoaÕ Garcia (íMamique V^

2\Í

Carihdy

mefnao D. loaõ Garcia Man- rique , outros ao (eu Dcaõ D. Pedro Fernádes cabeça de Vac- ca , q depões foi Biípo de Co- inibra,peíIoa de grandes mere- cimentos. A dauidaleiiou a caufa a R.oma,íeguio3D.Ica5, Sc ra5 encomendado dclRey D. Henrique o II. de Caftella, que quis pêra mães oautori zar naquella Corte , o acõpa-

eõp. hijf. nhaíTe o feu grande priuado

.2f

D. loaó Ramires deArelhano fcnhordos Cameros. 2. Mas nem tão apertadas diligencias foraõ baftantes, pê- ra o Sumo PontiíiceGregorio Xí. que então preíedianalgre ja de Deos^& naquellc meímo tempo tinha paííado a cadeira Apoitoiica de Auinhão a Ro- ma,ondeeíliuera por mães de fetentaannos fcenclinaraD. loaó, antes julgando fua elei- ção, & a de leu competidor por illegitimas nomeou defcu poder abíoluto , por atalhar a mayores duuidas na cadeira deToledoao Biípo deCoim- bra D. Pedro Tenório , varaó por muitos ti tulos dignillimo daquella Prelazia. 3 Pouco tardou, que D.

loaõ não foíTe eleito Arccbif- po de Santiago, Ia o achamos I nomeado neita Pfelafia pellos

annos 1379 o meímo em que a 3 o. de Mayo cm S. Domin- gos da Calçada falleceo de pe- lonha , que cm hús borfcguis lhe deu elRey Mahomad de Granada , elRey D. Henrique o II.de Caftella cujo grade fau tor contra feu irmão D.Pedro na pretençáo do Reyno fora fempre D. loaõ , & Ouuidor Geral de fua real audiência. Fi- cou muiencomédado doRey defunto a feu filho , & fuccef- íor D. loaõ o í. alem de fer tá- bemhumdos tcftamenteiros delRey. E na verdade clRey D. loaõ oeftimou sépre mui- tOjôc no teftamento , que en- trando em Portugal por mor- te delRcy D. Fernando, com cuja filhaD. Brites herdeira do Reyno era calado, fez na vil Ia de Ccrolico da Beira, tendoa de cerco o deixou nomeado por hum de feus teftamentei- ros, gouernador do Reyno, Sc tutor de feu filho D. Hen- rique o III. que ficaua meni- no . Gouernou com cfFeito a Caftella , aífi por força defte teftamento, como pellasCor- tes de Madrid, & Burgos. 4 Teuc fempre no Arce- bifpo D- Pedro Tenório grann decontéda, & ouucraõas dif- fenfoés âcfíies dous Prelados,

Garéay 'cõp.hifi,

1?.

GaribAj

cÕp. hi/lm ItK ij.f. 24.

214

Ca pi tolo LII,

Narh. vi\ daàt D,\ Pedro le\ tior.lm.it

íe Deos fua particular pro- uideiicia as não moderara, de atalharajde fer em grande dan- no dosRey nos dcCaltella. En- concraraõle demancira , que o deSantiago fez prender ao de Toledo, mas tanto afeu rifco, que até pcllas ruas fe canraua a vingança,que delia injuria to- maria 5 quando fe vifle (oito o Arcebifpo D.Pedro Tenório. Dezia a cantiga, entendendo por Ferrecuelo ao deSantiago, & GQxMachagds ^íoàtToháo. Echado le ha el agras Ferrecuelo ai iMachagas, Peroji Machagas fefueha Ferrecuelo es en rebuelta.

5 AlllaconteceOjquc as reuoltas dosdous obrigaraõa D. loaõ a fe íàyr de Caftcll3,& paílarfc a PGrtugal,dizíaelle,q pornãoíofreramuitavalia,&: foberania de D. Pedro Tenó- rio, & o aggrauo , q clRcy D. Henrique o III, lhe fizera cm mandar prender ao Duque de Benauente,que feguro real,

6 à períiiafaõ fua Je viera me- ter nas maósdelRey, de cujo feruiço andaua fora . Outros diíreraô,qíc paííaraaefteRey- no por tratos fecretos, que clRey D.Ioaó o I.de Portugal tinlia em deícruiço dcl Rey de Caftclla,tudo por fe vingar de

D. Pedro Tenório leu grande priuado.

6 Como quer que folie,

ellcveyo a Portugal, &cano Reyno foi bem recebido del- Rey , que o cftimou fempre muito, ôí lhe ouue as princi- paes Prelazias , q em feu tépo vagarão. A primeira que lhe fa bemoSjhe a Adminiftraçáo da Comarca de Valença, da qual nocapitolo paílàdo diflemos fe defmcmbrara doBifpadode Tuy.Ellc foi o que particular- mente meteo aqueíles Cóne- gos em ordem, & deu forma à Collegiada de Santo Efteuáo. Elleoquc inftituyo os dous Arcediasados deCerueira , & Lnbruja , que hoje eftáo nefta Sè.Reteuepor todaavidaeíla Adminifl:raçáo,&:a gouernou por hum Vigairo Geral. 7 Depões vagando por

morte do Arcebifpo D. Lou- renço eftc Arccbifpado, o fez elRey D. loaõ nomear nclle. Se por eleição do Cabido , cu por graça doSummo Pontí- fice Bonifácio IX.ifíb não fa- beremos determinar, O certo he , que elle foi Arcebifpo de Braga,&: por tal o nomeaóGa- ribay, Mariana , Fernão Pcrez, & outros . Delle contudo ne. nhúas memorias achamos porj

todo

Sid.Tgtef

de Ipíj f. [j^.ven '

to.^, rer, 55). verf

GartbAy cÕp. itijl,

44.

MarUn. liu.i^.c, i-& 2

Fernãg P et. Ciar, {'''aron, e, '

T>JõaÕ Garcia jSdanrique V.

215

todo elleCarcorio. Mas o pou CO cépo,q teuc o Arcebifpado, não deu lugar a poder fer dou tra maneira. Fálecco o Arccbií po D. Lourenço noannode mil & crezencos S>l nouéta & fere. Logo em 31.de Agofto, era de mií & quatrocentos & trinta & íeis,oá; dcChrirto mil ài trezentos & nouenta & oi- to,temos aqui híj aluara paf- íadoà iníiancia do Arcebiípo D. Aíirtim Atíonfo da Char- neca por clRey D. loaõ o í. eftando no Porto , em o qual chamaao mcímoD. Martinho Arcel^ifpo deito ^ if confirma- do de Braga.E no capitolo íc- íjuinte veremos , comofalle- ceo em 25. de Março anno 1416. Por onde íò podia fer D. loaõ Garcia Manrique Arce- biípo de Braga parte do anno 1 3 97. em que bleceo D. Lou- rcnço,&: parte do de 1398. cm que foi eleito D. Martinho. 8 AledoArcebilpadodeBra ga,ceue primeiro o Biípado de Coimbra, mas també efte ti- nha renunciado em 13. de Ja- neiro doanno de 1400. em q fc faí^rou o altar mavor de Sa- til Maria da Olmeira em Gui- marães- Fes cfta fagraçáo D. íoaó Biípo de Coimbra,de li- cença do A rcebifpo de Braga

Eftaço <*K tig.ãePor

D. Marttim AíFonfo Pires da Charneca, fendo prcfentes D. íoaõ Garcia Manrique Arce- bifpo de Compoíklla , D. Rodrigo 'Bifpo de Cidad Ro- drigo, achandofe cambem nel la,5<: honrandoa com fua pre- fença elReyD. loaõ o í. a Rai- nhaD.Felippafuamolher/eus filhos os Infantes D. Duarte, D. PedrOjD. Hêriquc,D.Ioaõ ôc D.ííabel.

9 mães da vid3,& mor- te do Arccbifpo D. loaõ nos faltaô as memorias. He certo acabou a Vida nefleReyno/o radagraçadeíeu Rcy D.Hcn riqueo III. deCaftcUa, mas mui valido delRcy D . loaõ o I. de Portugal Foi home pi- qucno do corpo, de pès,^ ca- ''p<"hht^, beça muito grandes jde grande \^^^*'* entendimento, ainda que não de muitas letras. Foi generofo de coração,altiuo de penfamê tos, liberal de palauras, grande cortefaõ . Seruiofé fempre cotnfauílOj porque fe preza- uadc quem era. Foi Atcebif- podcBragano Pôtifícado de Bonifácio IX. Rejr- nando emPorcu- gal D. loaõ. oí.

GAPÍ-

Gaytb CO

2l6

Capiiolo

CAPíTOLO LIII.

D.MARTIM AFFON- Jo Pires da Charneca F. do nome 88. Arcebifpo de Bra- £a.

Eucpor paya AíFoníoPircs da Charneca, Caftclhanodc nação, & que poi fugir as crueldades dclRcy D.Pedro de Caftella, Icpaf fou a eftes Rcynos. Sendo an- tes de Sacerdote, mádado por Embaixador a França, Icaííei- çoou acerca donzela de (o- bf c nome Miranda^ òí trazcn doa a Portugal ouuc delia a Martim Aííonfo de Miranda, a Fernaõ Gonçalucs dcMiran- da,& a D. Margarida primei- ra molher do primeiro Capi- tão de Ceita D. Pedro de Me- neies Conde de Viana, a D. Leanor molher de Aires Go- mes daSylua Alcaydemòrde , Mote mòr o vclho,& aD.Ma- rja molher de GonçaloPercira deRiba de Vizela. Quis fe cha- maflcm íeus filhos de Miran-

I" da^ por conferuar nellcsi o ap- jcllido de fua máy , como de

LIIL

familia nobre- Akuns efcre- uem,foráo eftes filhos auidos de legitimo matrimonio. Nos íeguimos o que achamos cf- cnto no huro das famílias dc- fte Reyno.

1 No epitáfio, que cm

Aia fepultura lhe foi pofto, & de q diremos abaixo, íediz,foi gouernador òt\Kty D.Duarte, que parece quer dizcr,ouMor domo mòr de fua caía, ou feu Ayo: porque goucrnar por clleoReyno , por morte del- Rcy D. loaõ ícu pay , ou em vidado mcfmoRcy D.Duarte, depões de ton ar o cetro , não tem fundamcto em noíTas hi- ftorias.No mcfmo epitáfio fe diz foi dos principaes confelhei TOS do mefmo Rey D. loao. Ef- colhcoo por fcr doutor, &de grande prudcncia,aquirida aviueza, ôi defírczadefcuen tcndimento, pello vzodos ne gocios , & pello grande cabe- dal de letras , que nelle auia. Acompanhou a elRey na ba- talha de Aljubarrotajcomo aduertimos na vidado Arce- bifpo D. Lourenço. Em ne- nhum feito d'armas fc achou o mefmo Rey, que o não ti- ueííe a feu lado, chamauaõlhe vulgarmente,^^?»^^^ dei- Rey. Fez no tépo das guerras

muitas,

^D.Q^^rtim jdffonfo Pires da Charneca V^ 217

to z. rer

viSín.fel, 10^,

muitas, & muinocaucis entra- das psUo Reyno de Galliza, fempre com honra,& prouei- co dos íeus.

3 No Arcebifpado entrou por rcnunciaçaõ do Arcebil- poD. loaõ Garcia Manric]ue, cjue o rctCLie pouco mães de anno, &: meyo. Iaem51.de Asoftode 1398. cftaua Arce- biípo confirmado, como coi- ta de hum aluara, que líiepaí- fou elR.ey D. loaõ o I. pêra po der refazer o Caítello deita ci- dade, d^ por nclle Alcaidc,(em por iíTo prej udicar a algum di- reito que elRey nclle pudefle aucr : não parque os Rcys ti- ueílemali^um direito em Bra- ga, ou em ícu Callcllo, mas porque o prctêdiaô ter,impe' dinjo ao". Arcebiípos ci- tas cautelas,. víar de lua ple- nária jurdiçío, & indoos dif- pondo a lhe Ijrgarem a cidade, como em eíFcico a largou o Arccbifpo D. Martinho, & nos logo diremos. O aluara porcótcras primeiras memo- rias 5 que deite Prelado acha- mos cm Braga, quizemos por aqui- D.IoaÓ por graça de Deos Rey de Portugal^ do Âlgarue. A quantos e(ia carta vir^ ^fii^e I mosfaber^qnoí damos licença^ \ ^ lugar a D. Martinho Eleito

Confirmado do Ardebifpaio de Braga , que elle poff.i mandar reparar ^isf correger o C.ijhllo da dita cidade de Braga ^ isf quepofifa hipoer hum Alcaide de jiia mão , protefi-ando por ejlo níwfer feito per jui^io a nos ^nem a nojfosfiiccejlores , a algum di- reito, fe no ditoCaUello auemos. E porem mandamos, quepojfa fa-^er eflofem outro em 'yargo ne nhum,qite Ihefobre ello feja f) if- to : l^f emtefiemunho deHolhe mandamos dar efla noj?a carta. Dante na cidade do Porto t)of- tumeiro dia de Agoíio . ElRey o mandou. Fafe o Annes afea^j, era mccccxjcxvj. annos El- Rey. Refpõde ao anno deChrif to de mil trezentos Sc nouen- ta ôc oito»

4 Quemfoíre o primei-

ro fundador delleCaílello,qae hoje dura cm Brag3,(cnáo po- de facilmente aueriguar,já nos pareceo obra do Conde DHê rique , ôc outras vezes delRey D. Dinis . Em hija pedra delie cftá o letreiro feguince. O moi nobre Rey D, Fxrnan do madoufa^^r eUe Casiello. EraMCCCcxiij. Eíla era de mil & quatrocen- tos ôô treze , refponde ao an- no de Chrifto , de mil êc tre- zentos & fectcnta & cinco.

T Porem

218

Ca pi tolo LI II .

Porem a obra parece mães an- tiga , & mandada refazer , &: não fazer de nono porel- Rey ]). Fernando . Nas bar- bacans , òc baluartes , teue grande parte o Arccbiípo D. Diogo deSoufa, porque no baluarte , que fica íobre a fon- te do Gaualinhò eílao as fuás armas cm humefcudo, &as doReyno noutro , coma es- fera , cmprcza delRey D. Ma- noel. O eícudo das armas do Arcebifpo D. Agoll:inho,que elH na porta da Alfandega,ar- fimadaaoCaftclo, foialipof- to,poríer a Alfandega obra do meímo Arcebifpo. $ As letras lhe dcuiaõ che- gar pouco depões dcpaflado cftc aluara. Sagroule , òí ve- yoíea Braga, & era i j.de No- uembro derte mefmo anno de miltrezêcos & nouenta & oi- to, chamou a Synodo . De- clarou nelle a neceíTidadecm que ao prefentc íe via de di- nheiro. Deulhe o Clero ame- tade de todos os fruitos,& ré- das de hum anno de qualquer mofteiro , Priorado , ou Igre- ja de todo o Arcebifpado^que vagaíTcm nos féis annos pri- meiros feguintes . E porque poderia acontecer vagar e pou- cosjlhc concedeo macs ouuef-

íede todos os benefícios, di moll:eiros duas dizimas daquil íoem q eftauão taixados , pa- gas em quatro annos a híí por corenta. Firmarão eltaconcef- faõ os Abbades de S. Bento dos Morteiros de Pombeiro^ San- de , Refoyos , Trauanca , Ti- baés, Adaufe,PaIme, Caruoei- ro,& os Priores Cónegos Re- grantes de Santo Agollinho, deLandim,da Cofta,d'Oliuei- ra, de Villanoua deMoya , de CraftodeBarbaês,deCaramos, de Freixo deMancellos,do Sou to,dc Baldreu. ,

6 Pcrfcuerou os quatro '.

annos íêguintes em Braga, grande vtilidade do Arcebil- pado . Em quinze de lulho de mil & quatrocentos & hum, lhe deu a omenagem do Caí— tello de Eruedcdo (qucdd" xauao Alcaide mor Gonçalo Rodriguez) VafcoMachadoj a quem o Arcebifpo chama efcuideiro. No cato defíe racis- mo annOjfe foi a Lifboa,& de- uia fer chamado por clRcyD, íoaõ, o qual tanto* quefç vio fenhor deftes Reynos , pêra Gs conferuar femrebelliaõ,& deixar padficos a feus defcecfc- dentes, tratou de vniraflia coroa todas as cidades , 6<for.-| talezas,& de fua maõetitfi-i

galas

te 3. rer,\ mem foi,'

T>.Q!M'^rtimjiff'on[oFires da charneca 21.

CatítLdos Biffos do Porto 2

Ieiicregvilas a homens , que lhe pudeflem Tazer prcico omena- gem de as manterem feu ícrui ço. Ecomonaõ cftiuefle cm vío pedirem eíla a peíFoas Ec- cleíiarticaSjdas cerras,que pro- priamente craõ da Igreja , aíli foi difpondo as couías ,q com vcilidade da raefma Igreja , & recompeníà , que lhe eftiuef- íe melhor jas pudeíTe meter cm fua coroa. Duaseraõas prin- cipaes cidades, que ainda tinhaõ debaixo da jurdiçáo tê- poralda Igreja^ Braga, ôc o Porco . Parcceo a elRey ( & aíTi foi ) que no Arcebifpo D. Martinho acharia menos reílf- tencia , Sc que por ellefacilica- riaa D. Gil Bifpo do Porco. Traçou o negocio, 6c cora fa- cilidade o concluyo, aíli por- que o Arcebiípo defejaua dar- ihe gofto, como polo que lhe promecia em troca. Veyo o negocio afe concluir,auidos to dos os confentimentos nccc'- flarios , tirado o do Summo Poncifice , que elRey fe obri- gou a auer, na villa Je Coina ArcebirpadodeLiftoacm lo, de laneiroanno mil quacrocê tos êc vinte, cílando preícn- tes,& confirmando o contra- to elRcy,a Rainha D. Felippa fuaniolher, D.Duarte feu fi-

lho primogénito, Ô«: os In- fantes D. Pedro, D. Henri- que, & o Arcebifpo. E como tcítemunhas D. loaõDeaõde Liíboa , Feríiandalures Caua- leiro de Chrifto, ôí do confc- Iho delRey^ & outros. 7 Foraó coufasnotaueis,

as queexceituou o Arcebifpo neíte contrato. Primeiramé- te diíTcfe não entenJeriaõ nel le os mães Coucos da Igreja de Braga , ôc nomeou em par- ticular os de Pedralua^ Filiar de Áreas , Domes , Capareiros, Cabaços , Cambefes^ Arentim , Moure, t^ outros Entre Dou- ro,^ Minho ^ ^ Tralosmon- tes . Exceituoii m^cs Jhe da- riao cada dos laiiradores de Braga^t^jeu Couto cada an no carro de lenha de Car- ualho, itf hua mojlea (he tãbé Cãtro) de palha triga^pojlo tudo emfeus pa^os. Que todos os offi- ciaesde qualquer officio,qfoJfem feriao obrigados afa^r, refa- \er ^ Is' reparar os paços Arce- bifpaes , trai^ndo emfeus car- ros , ou as co^as madeira^ pe- dra , cal, ^ outras achegas ne- cejfarias . Que todos os laura- dores do Couto jeriao obriga-' dosa lhe podar, cauar^ 'vin- dimar as fuás (vinhas , concer- tar a louça , fac^r o <vinho ,

to 2. rer, mem.felj 38.

Ti

encubalo

3 20

Cafitolo LIII .

encuhalo em fuoé adegas. Seme- ar lhe os feus prados^ de Santa Eufemea , tf do Auelal, fegaro pao ^polo na eira , malhalo , iff recolhelo nos Celeiros. Que qua- do elRey de Portugal njiefie a Braga lhe daria cada hum dos moradores de Braga , i^ Cou- to húa boa galinha^pera quan- do jantajfe com el Rey . Que quando entrajfe de nono no Ar- cebifpado cada hum dos mef- mos lhe daria fua efcudella , ou trincho . E que por hum anno inteiro lhe dar iaó de graça ca- ma^ Í!f cafa , pêra fua família. Que no açougue fe daria ao Ar- cebijpo roda a carne necejTaria, ijf da quefcajjefe daria a ter- ceira parte aos Conegos^lsf Ter canários , ÍP' a mães a outra geme da cidade. Qtie Bragafe não alhearia nunca da coroa Real. Que emfeu Cajlellofe não poria por Alcaide mor fe não hum de cem homens , que o Ar- cebifpo apprefentaffe a elRey ^ ^ quea eUe fe lhe daria de or- denado outro tanto ^ quanto ti- uejfe^omayor Alcaide dos Caf- tellos de Entre Douro , ^ Mi* nho. '

8 O que elRcy cíeu em

troca a Igreja de Braga pella jurdição da cidade, & leu ter- mo, foraõ todas fuás rendas

reacs nas caías da rua noua de Lifboa,que todas lhe pagauáo foro:&na villadeViána 1394. liuras de boas& antiga moeda, que eraó entaó as rendas reaes daquella villa. Deufc poílc ao Arcebifpoda rua noua de Lif- boa em 30. de Nouêbro,cra de mil & quatrocentos & quaré- ta &; dous , que faõ annos de Chrifto 1404. por feuprocu* rador Affom Eíieues. Pcdiofe confirmação a Bonifácio IX. porem nos achamos a que em tempo do Arcebifpo D. Fernádo paífou Engcnio IIII. em zá. delunhode 1436. Du- rou efte contrato ate o go uer- no do Arcebifpo D. Luis Pi- res, como cm fua vida dire- mos.

9 EftandoaindaemLif -

boa em 24. deDezcmbro defte mefmo anno 1404. prefentou na Igreja de S.Martinho de Pa droíocmBarrofo, a loaõGõ- çalucs, & diz, que difpenfa elle na conftituiçáo, que man da, yt nullus ad regimen parro- chialium ecclejiaruadfummi ya leat ^nifiquod legerit , ijfcan- tauerit ^faltem ad pedem liter4 fciat intelligere. Que nenhúpof fafer eleito parocho de Igreja curada JenaÓ o que pello menos fouber entender ao ph da letra

te.\, rer, mem foi, l6.

lo.i.rer. mem.fol, 12 6, ver/

l

*D'Q!M^^rtim A ffor}[o Tires da charneca V. 221

o que Ver ^ y cantar , porque ncUc lupriaõ?iS boas partes, Ã: exemplo, o dctci to daí ciên- cia'

10 Na era de 1443. &de

Chriílo 140J. em hua íegun- da feira i o.de Agofto teue Ca- bido com íeus Cónegos, & de leu conrentimento,cm2.o. do mel mo mes aftorou a Gonça- to.-i.rer. lo Pcrciía, a cjuem chama^jf [ |»ríw/»/.j dos mães nobres^ tf mayores do Reyno de Portugal^ o Cartel lo dcEriicdedojj&í?^ 60. liiiras de loa moeda antiga , de dinheiros Jlfonfins^ ou granes^ ou barbu- díís (chamadas afli por terê de húa das partes húa cara , com barba comprida) cu dous mar- cos de prata, pagos em cada híi anno Noantiodc 1411. eítaua em Sanratem,& alicòllaua na Igreja de Paadim ( hoje noíTa Scnhcra da Graça) do Cou- to de Tibaés, a Riiy Martins , que deuia fer taõ letrado como loaõ GclçalyeSjdc quem falia- mosno numero paliado, por- que também diípenfa cora el- tox. rcY^ jg ^^ mefma conftituiçáo.

\iii.vaj 11 EmBragaa líí. deMa- yode 14 13. pcdio por autho- ridade de julHça hum treslado á:i do3çáo,que clRey D. Affó- fo Henriques fizera ao Arce- I biípo D. Payo Mendes , era de

í<?.3 rir. ]mem fel j iStVerf.

mil cento & fctenta & hú,em 18. de lulho do Couto de A- goíleni em Chaues. Deuíeihe o treslado naprelença do hon- rado padre , i^jenhor (faõ pa- lauras áo inílrumétojD. loao Bfpo doPorto, Tentecarrego de nofij Senhor Rey^Entre Douro ^ if Minho. No anno 1414. em 1 9. de Agoílo proueo aqui meímo em Braça húa das ca- pellaniaSjOu bcncíicios da San ta Maria de Chaues, cm Gon- çalo Gonçalucs, por morte de Gonçalianncs vitimo poílui- dor. A cinco de laneiro de mil quatrocentos & quinze (foi a vitima acção, que fabemos íi- zcfie nelta cidade) em Braga declarou por huma prouifaó fua,de que Igrejas auiao as dig nid3des,& Cabido de leuar la- tuo% , & de quaes a mcís Ar- cebifpal.

it PaíTou depões a Lií-

boa, onde fez Teu tcíbmento^ 6i inílituyo nelle o morgado da Patameira ^ em q nomeou a feu filho mães vclhoMartim AíFonfo de Miranda, êc a feus defcentes. luntouíc pclloté- po adiante cftc morgado ao òcOliueira^ porcafamentode Heitor de Oliueira , com D. Violante , dcfcendenie do Ar- cebifpo , que o veyo a herdar.

ta- 3. rer mem fel.

ffstm.folm

T3

Falle-

222

Captolo LIIII.

Fallecco recebidos codos os Sa cramctos na mcfma cidade em zj. de Março de i4i(í. annos. laz enterrado na Igreja deS. Chriftouáo,onde tem o letrei- ro fcpuinte.

Aqui ja'\^o muito horadofenhor D.Martinho Arcehifpo, que foi de Braga , Gouernador \ delRey Duarte: l^ principal confelheiro dei Re y D. loao. O qual foi com elle em a grão batalha real^ l^ em todas íts entradas de Caíéella . Ven- f com fua gente entrou duas fve^es em Galli^a^tffu em todolos feitos , que o ditofe- nhor ouue das o cometo de fua demada ata o fim. O qual finou era de mccccxví,<í«- «05<íxxv. dias de Mar ^0. A era defta fepulcura náo^e a dcCefar, mas oannodcnoflfa redenção. A pala ura T?^»/? pa- rece vai outrofi^ o macs do epi- táfio deixamos declarado . Gouernou eílcArccbifpadoig. annos. Foi Arcebifpo com os Summos Pontifices Gregório XII AlexãdrcV.&IoaÕ XXII Rcy de Portugal D.Ioaõ o I. 13 Depões de chegarmos a- qui a eftampa, aduirtimos, que certo liuro.defamilias,q entre outros vimos ,chama ao pay do Arcebifpo D. Marti- | |

nho, Affonfo Peres de C amo- ra., ôc acrefccntafer Afluriano^ ist dos Mirandas das Afiurias, de quem trata D. Mauro Caf- tellaFerrer na hiftoria de San- tiago. He bem verdade, q pcra o julgarmos por Miranda Af- turiano , temos grande con- tradição no cfcudo d'armas,q cmPortugal tomarão fcus def- cendentes , tão differentc do q trazem os Mirandas das Aílu- rias ,a íabcv,em campo defangue cinco meyos corpos de donzelas cada húa com fua yietra de cor de ouro no peito, a que arrimaó as maÓs^ os de Portugal em ca- po de ouro húa afpa yermelha^ entre quatro flor es de lis derdes.

lin>3te.i^

D. FERNANDO D A

Guerra 89. Arcebifpo de Braga.

CAPITOLO LIIII.

SVCCESSOS DO AR- cebifpo D, Fernando, atè fer eleito em Braga,

Eue por pay o Arcebifpo D. Fernando da Guerra, a D. Pedro daGuer

ra

D.Fernando da Guerra.

22$

ra filho baftardodoInfátcD. Ioaõ,& neto delRey D.Pedro, a que vulgarmente chamaõo cruel, & de D. I nes de Caft r o. Sua mãy fe chamou D.Tarcja filha de loaõ Fernandez An- deiro Cõde de Ourem, a qual de feu marido D. Pedro da Guerra, alemdonoíTo Arce- bifpOjOuue a D.Luis da Guer- ra , Biípo da Guarda , & a D, Incs da Guerra , fegunda mo- Iherde Aluaro Pires deTauo- ra O velho , fenhor do Moga- douro,& de outras cerras. Sé- pre de pequeno moílrou D. Fernando íer planta generofa, & promeceo de fy o íogeico em que depões veyoadar.Seu tioelRey D. loaõde Boa me- moria,! he foi tão afFeiçoado, q todasas dignidades de feuRey- no lhe pareciaõ curtas aos me- recimêcos de tal fobrinhojcn- caminhouo pello Eccleííafti- co, porque ali o leuaua íua in- clinação. Era íobrc maneira ^iOiôc mui fcienteem todasas cetemonias Eccleííafticas. 2. Feio com tudo feu Chan- çarel mor , ôc primeiro Rege- dor, que ouue nefte Reyno, dignidade, q toda a vida con- feruou,aindadepoes de Prela- do. Vago o Bifpado do Porco I por morte do Bifpo D.AfFon-

fo Aranha, por fazer mercc à- quella cidade,a qnem tanto ef- cimauâjofes elRey D. loaõ nomear nella, mas logo fe vio náo pararia ali , nem fer a ten- ção delRey mães que polo eni caminho de outras mitras de mayor importância. 3 A primeira vez, que no Bifpado do Porco o achamos nomeadojhe na era de i4;4.an ncs,&deChrifto I4i6.emi4. de Março , no liuro das Vrea- çoês, em que por hum aíTen- co dos do Gouerno foi aceito vefinho,&: cidadão, PedreAn- nes Abbade de Sidielos, capel- laõ do Bifpo , & de quem eile fazia grande cota. No melmo annotoi a mudança do mof- ceiro de fanca Clara de Encrá- bos os Rios , pêra a cidade do Porto, no lugar em que agora eftá,-!^ com a íolennidadc,que Nos jàcfcreuemosiaíliltindo na prociílaó , que pêra iílb íe fes,elRey D.íoaôol.o Inbn- te D. Fernando , oCondc de Barcelos D. Aííbnfo, ambos filhos do mefmo Rcy, D.Fer- nando da Guerra, D. Louren- ço Bi fpo de Malhorca, D. Ni- colao Bifpo de Marrocos , & outros fenhores do Reyno, q fe podem ver na carta,que def- tc fucceflo paíTou ei Rey em

T 4 Cintra

CtitaLãot t Bifpos Porto , P.

224

Capitolo LIIIL

\to.x,rer. mem.fol.

64.

Cintra àiot deMayoclei4i6.

annos.

4 Morreo o Arccbifpo

D. Martim Aftonío Pires da Charneca em z$ de Março de 14 16. & como poraqiiellcs pos ordinariamente os Síímos Pontífices proiiiaõas Prelazias dctodaHefpanha,5«:ao prefen te vagaua o Sumo Pótificado, aíTi por morte de loaõ XXI I, como por rcnunciaõ deGre- porioXII. determinou elRey D. loaõ o I. mandar a eira ci- dade,& Arccbiípadoao Biípo D.Fernando peraqueogouet- nafic, & defcndcíle dos males, que pociaõ lucederjó»: porque cila prouifaó he em grade au- thoridade,& credito do Arcc- bifpo DJernando,& conte m cm (i taõ grande nouidade co- mo he mandaré osReys goucr- nar as Igrejas Cathredaes antes de ferem prouidas cm Roma, nos pareceopoílaaqui. Anda laçada nopiitricirotomodef^ ta Igreja.

^ Do^ João pella graça de DeosReyde Portugal ^if do Algarue, '"^nhor de Ceita . A quantos ef' carta'zuremfa^e- mosfaherl^^ *^^'s conjiderando^ que qiiant' ^IgMs dignidades^ Arcebifpdos ^ Isf Bijpados de fiops l^nosjaô^^agcs , aos

Reys nojfas antecefores , ^ a nos pertence das ditífs dignida- des auera guarda , cuíiodia , ^ defenfom, por nom padecerem detrimento ^ nem '-violência , ou oprejfom algúa^atà que Ihefeja proueudo de Prelado, tf por qua to a Igreja de Braga Prima^ yagou^lf aprouifom delia fe po- deria delongar por algum tem- po,por mingoa de nom auerpaf- tor na Igreja de Deos , que del- ia por hora aja deprouer^tfpor que outrora ditalgreja^i^ Ar^ cebifpado eílà em comarca a cer ca do ejlremo , ^ outrofiantre muitos fidalgos grandes ^ i^ por os quaes em algús tempos emfe- melhauel cafo a dita Igreja rece ben grades danos ^ Isf agora eJ?o mefmo poderia ligeiramente, re- ceber if padecer ^nom tendo al- ga em efpeciaiguarda/uHodia^ ou dejéfom delia aporem nospel- lo carrego^ que delia temos, If a nos pertence , confiando da bo- dade , if defcriçom de D. Fer- nando Bifpo do Porto , no (fofo- brinho,que el he tal,quepoderày tf faberà bem auer aguarda^ tf custodia , tf defenfi)m dello, ciferuiço de Deos^tfprolda di- ta Igreja , ccmo cumpre: quan- to em nos he lhe cometemos a guarda , tf custodia, tf defen. fom da dita Igreja^ tf Ar cebif- pado

D.Fernando da Guerra.

22$

pado , que el em nofio nome pof- fa proceder , if punir , fegundo que à tal guarda , isf defenjom pertence. Em testemunho deito mandamos fer feita eila carta^ afnada pornoj?a mãO,ifaJJela- da do noj^o feio pendente. Dada em noffa -villa de Santarém ^em onc^e dias de lunho^ElRey o ma- dou^Fafco Rodrigues afes , era de mil iff quatrocentos^ tf cin- coenta ip* quatro annos{quc faó annos de Chrifto mil , & qua- trocentos & defafleis) ElRey.

CAPITOLO LV.

ENTRA NA CIDADE de Braga , doa o mofleiro de Filiar de frades aos Cóne- gos a^ues de S. Io a o Euan- geliíta. Ajunta os Bifposfuf- fraganeos,tf maesClere^ia, fundafe a Collegiada de Bar cellos .

O I entre tã- tono Conci- lio Conftan- âí cieníe cm ii. deNoUembro

S^*Í5Í3§3E2£S

dei4i7. eleito Summo Pon- tífice Otho Collona Diácono Cardeal do titulo deS. lorge

in Vclabfo j que cm íua alíun- ção fe quis chamar Martinho V.Cõfirmou logo no princi- pio do anno íeguinte a eleição que da pelíoa de D. Fernando tinha feito o Cabido de Bra^a, pêra íeu Arcebilpo,palloulhe as letras , concedeolhe o pal- lio, que ja o tomarão em Bra- ga reformando o cliado Ec- clelíaftico,& Regular, 3 quem as guerras pafladas tinhão.grá- demeiíte delcompofta. 2. Ouuc no pripçipiode

íeu goueruo breuede íua San- tidade pêra poder conuerter. cm Igrejas leculares muitos mofteiros de religiolos,onde fenáo viuig regularmente, ôc dar outros a oucrasrehgioés diferentes , ou vnillos a calas mayores da mefma religião. Mãlfe podem contar todos. Da fagrada ordem dçS.Ben to- foraõ S.Saluador de Pontear- í:^í/íí,quc fes Arcediagado. S,. Martinho de Sande^ ,S, Maria deAdaufe^quçícs parçochias, cm que também conuerteo S' Maria de Cer^edelQ.,S^;Marid_ de Gundar ,$ .S aluado^. de Gut- Ihofrei^ S. Maria deValboa, S.. Pedro de Morufe, S\ Mana de Ermellô^^todos mofteiros de re ligiofas da mefma Ordem. O mefmofezaoutrosdc Cone^

g

os

226

Capítolo LV»

rim 60

gos Regrantes , como S. Sal- nador de Barbar ,S. Maria de Souto ^ S. SilueUre de RequiaÔ^ iíto he de requie pcUo aprafi- ucl íício cm que eltaua funda- do,mudádo o vulgo a palaura latina requiem cm Re quiam. 3 Concudo a obraj& doa- ção, que melhor íayo aoAr- cebifpo D.Fernando, foi a do moíteirodeS.SaluadordcVil- lar de Frades , Fundação como diflemos de S. Mdrcinho,&: habitação de muitos, de gran- des feruos dcDcos da Religião deS.Béto. Vcyo nefte mollci- ro por malignidade dos tépos a faltar a diíciplina religioía, não auiajà quem o habitaííe, & de todo o tinhão defcm- parado feus rcligiofos. Suce- deoiílo pellosannos 14^5'. na quellamefma occafiaó^q meí- treloaõ, hum bmofo medico dclRey D. loaõ o I. Affonfo Nogueira filho de AíTófeanes Nogueira,Alcaidemòrde Lif- boa, depões BifpodcCoim- bra,&: de Liíboa,Martim Lou rençojfamofo pregador , dan- do dcmão a vaidade mundana, tratauãode fe apartar do trafe- go fecular,occupadbstodosna cultura deluasalmas.Teueno cicia deftcs grandes varões Bifpo do Porto D. Vafco íc

o

gundo do nome, chamouosa iua cidade,deulhc cm S.Maria de Campanhã , cafa em q mo- raflem, mas como pouco de- pões foíle tresladado pêra o Bifpado d'Euora, acharão os feruos deDeosno Prelado, que lhe íocedeo, menos fauor, mui to porem no Arccbifpo D.Fcr nando, o qual conhecendo fuás raras virtudes , lhe oíFcrc- ceo o mofteiro de S. Saluador de Villar de Frades.Foraófc pê- ra elIe,<S(: de íua mão aceitarão a doação,que do mofteiro lhe fez,com macsdozc Igrcjas,en tre as quacs cntraua também o mofteiro de S. Bento da Var- zea,da mefmaOrdem de S.Bê- tOjfúdaçáodcD. SuciroGue- dás j põdolhe de obrigação, que o Reitor do dito moftei- ro, quando pella comunidade fofle eleito, antes de víar de feu ofíicic, viria tomara cófirma- ção pello Arcebifpo de Braga, a quem pagaria real de pra- ta 3 como air\da hoje fc via. 4 A.qui em S.Saluador,co- mo cm fua primeira cafa de propriedade, começou eftare íigiofa congregação dos Cone gos azues, a q eftc Rcy no cha- ma de S. Eloy , feudo cila pro- priamente do nome de S.Ioao Etiangeliiia^quetsl lho deu,ou

aqucUc

Catal.dof Btfpos do Porte» 2.

Cõie Pi

Pedro tit

D.Ternando da Guerra.

227

12.» 66

aquelle medico famolo meftre Ioaõ(dcpocsBifpodcLamego, &c Vireu)feu fúdador cm Por- tugal,pela muita deuaçáo,que teue ao íagrado Euangelilla, coma mcfma regrn,& habito, que a de S. lorge cm Alga, de quem jàfalamos em outro lu- gar: ou a Rainha D. Ifdbel mo ihcrdelReyD. AfFonfo o V. íua grande bsmfeitora , pella mefmadcuação ao SantoEuá- gelifta. Coftumaua dizer eíla Princeza, que íe vinte filhos lhe dera Deos, a vinte puzera o nomedeío^a, & comefíci- to alli o fez a três que ouue, D.ÍOíza, que morreominino, DJoaÓ , q luccedeo a feu pay, ôc foi o II. do nome. D. loana q morreo fantamenteno moí teiro de IesVs de Aueir o. Da- qui tiueraó também íeu prin- cipio os mães moll:eÍTos , que por todo o Rcyno polTuem: daqui os eíclarecidos Varões, que nelles floreceraó. E aqui ncfte de Villar de Frades acaba- rão ocurfo de Tuas vidas os grandes fcruos de Deos Vafco RodriguezChãtre deita Sede Bragaj o Abbade ÒqS, Bento da VarzeajDiogo Annes,Gon ; calo Dias Abbade deGaluello,:; ^& os padres loaõ de Naza— ^ reih, Manoel da Confolação,

de que pudéramos dizer mui- to,fecom noíla penna não te- mêramos efcurcccroluílroío deíuasclclarecidas virtudes, j- Continuou o A rccbif-

bo D.Luis Pires como íuccef- íor não lo da Primazia , mas muito maesdoamor,& deua- çáo, , que aos padies de Sal- uador de Villar tinha oArce- bilpo D.Fernando,com os en- riquecer , òi prouer de todo o neceflario pêra a vida hu mana. Vniolhe .a efte fim a Abbadia de S.Maria dcGcyos,& o mof teiro deManhcnte,aíG meímo da rtlimaô de S. Bento j ou- trasannexas luas , com que o de Villar de Frades ficou hum dos maesticos, & melhor do- tado^ de Eotic Douro, &c Mi- nho. Na doação, que aos Co- ncgos deS. loaõfcs o Arccbif po D. Fernando doipoíleiro de Villar anno de 1439 dis que o da,& doa,^í)r remédio dejua alma, tfperaque rogue a Deos por ella -^ llf\ pella do;> Arcebif- posfeus dnpece fores -isffiiccef- [fores, ^JAfn.bempellM defem iintepajfadõs. Mas comonas- couías humanas fempre ha du -uidas, algúasfe leuantaraó en- tre o Arcebifpo D. Fernando, & oArcebiípoD.LuisjComos- Cónegos de Villar de Frades,

em

228

Capitolo LV'

cm que vlciniamentefe vieraó a concordar na forma da pri- meira doação, que tinha feiro o Arcebifpo D. Fernando aos Cónegos de S.Iorgc em Alga, domofteirode Viliar de Fra- des no annodci439.& condi- ções, que lhe pos nella. 6 Sendo o Arccbifpo D.

Fernádo raó obrigado a elRcy D. loaô o primeiro pello pare- cefcosquecom elle tinha, &i pcllas grandes mercês, & hon- ras, que deile recebera , era cõ- tudotáo zelofo da jurdiçáo, Òc liberdade Ecciellaílica, que ajuntou cm Braga muitos Pre lados, contra os mandados do mefmo Rcy,&: foi o caío,que chegarão grades queixas a Ro- ma contra clRcy D. loaõ o I. q pormuitos,&:diucrfos mo- dos auexaua as Igrejas , Prela- dos, & peíToas Eccleílaílicas,q morauãoem leu Reyno,pon^ dolhe penas como ícforaó lei- gos ,& querendo lhe pagaíTem colheitas j& impoíiçoês da ca- ridade que tiueflem de dinhei" roipaó,& vinho,&que outro íi tinha mãdado com pena de morte, & perda de bens, que ninguém nefteRey no publi- caflc letras Apoftolícas íem li- cença do mefmo Rev . Sen- tio muito oPapaMartinho V.

todas citas coulaSj&í cõmeteo ao Arcebifpo D. Fernando, q chamados os Bifpos feus fuf- f raganeos, trataíle de fe oppor a citas violências, mandando à corte Romana peíToas idóneas pêra tratarem delias. He o bre- uepaílado em Roma em 13. de Abril no nono anno de feu Pontificado, quccayo no de Chriíl© 142.6,

7 Conuocou oArccbifpo, & ajuntou léus fuíFraganeos, & algúas outras peílbas Eccle- íiafticas, a que também efcre- ueoíèachaílemprefentes , pê- ra confcruaçáo da jurdiçáo da Igreja- Veyo D. DuronBif- po do Porto (de que não fa- lamos no Catalogo daquella Igreja, por não alcançarmos naquelle tempo memoria dcl- le5& o dcfcubrirmos agora no Cartório delia) D.GarciaBifpo de Lamego , tresladadonoua- mcntea Igreja, & Bifpado de Vifeu.D. loaó Aífonfo admi« niftradordo Bifpado de Tuy, na partede Portugal,D.Fernã- do Bifpo de Coimbra, & os DD.Abbadcs,Priorcs,& Prelaj dos deite Arccbiípadoj&Cle- reliadcllG. Ali ordenarão to- dos, q fempre no mes de Ma- yo fe ajuntaílem nelta cidade de Braga^ou no lugar, q o Ar- [

cc

bifpo

^.Fernando da Guerra.

22^

tcl. rer.

112.

24.

ccbilpo nomcaíTej pêra trataré deílas opprcflbés,& do reme- dio,que nellas fe podia dar,pÕ- doeícõmunhoês, èc grandes penas aos que deíobedeceíTem, ^ contribuindo todos pcra os gaftos q íe oífreceíse. Foi feita crtacócordia,e eíbtutoemBra ga,nospaços doArccbiípo,aos 11. dias do mes de Dczébrodo snnodeChriftode i^tC.Qò^- táo'codaseftascouías maesco piofaméte do primeiro tomo do Cartório deftc Arcebifp.i- do, das quaes fes também me- moria Abfaham Bzouio nos fcusAnnaeSi

8 Como elReyD.IoaÕ era Príncipe de tanta cbriftanda- de, '5c valor, mandou facilmen tcceírar das opprelToés, 5c mo lellias,que fcus officiacs fazião ao Clero, em q deuia ter grade parte o Arcebifpo D. Fcrnado pella authoridadej& valia,quc tinha com o mefmo Rey , & a quem elledaua tanto credi- to. Cómeteo elRey todo efte negocio ao arbítrio do Sum- mo Pontífice Martinho Qnm to, que depões de alguas alter caçoes approuou a concórdia q {efes porauthoridadc Apof- tolica , como affirma o mef- mo AbrahamB allceado.

zouionoiusar

9 Nefí:as,& outras obras an daua o Arcebiípo occupado , quando Deos foi íeruido ieuar pcrafyemLífboa a quatorze deAgoílo de 1433, o mefmo Rey D. loaõ o primeiro de boa memoria^tomouo eíla no ua ellando na fua cidade de Braga,& como amaua a elRey íobrc quanto fe pode encare cer, acodio iogo a toda a pref- fa a Li Íbo3,onde fes os Ponti- tificaes de íuas exéquias , com o mayòraparato^q ate aquel- le tempo fe fizeraó as de ou- troRey derteReynOjnem por ventura dos que depões delle fc fefruiraõ.Com a mefma ma- geíladeíe trouxe feu corpo a enterrar ao Real moíleiro da Bac«lha , que elle tinha funda- do , dando o mefmo Arcebif- po ordem, S(: di fpondo a pom pa,& celebridade do caminho, com incrciuelgfandeza,&no- taueis paftos de fua fazenda.

10 Ainda em vida delRey D. loaõ, feu filho o Conde de Barcelos D. AfFonfo, que de- pões foi o primeiro Duque de Bragança , cafado com D. Bri- tes filha do Condeítablc D. Nunalurcs Pereira, determi- nou hõrar a villa deBarcelos de que tinha o tituIo,cõ Iciiantar nella hnma Igrej a Collegiada

V na

Riij deFi ttítiiAchro ddR,yD,

2iO

Capitõlo Ly .

naforma que jáa auia em Gui- marães, eomunicoa a traça o ArcebifpoD. Fernando, & de fcu parecer foi difpondo as coufas naforma que dezejaua fícaílem,mas atalhou a morte feus intentos , deixando poré encarregado a fcu filho herdei- ro o Duque D. Fernando Je- uaíle elia obra por diante , fe- io o Duque conforme a gran- deza de íeu animo, & golto de feu pay defunto . Ordenou , quea-inuocação dalgrcjafoíTe da Virgem Senhora Nojfa He a mayor dignidade da Colle- giada, o Prior, a quem dotou degroílas rêdas.Infttiuyo ou- tro iy humThcíoureiro,ram- bem grande prebenda. Pou CO depões criou cinco Cóne- gos, hum dclles com nome de Cura , que ajuda ííe a adminiC- trar os Sacramentos aos frei- guezes,Meftre Efchola.&Cha tre,ficando todoscftes benefí- cios da aprefcntaçáo dos Du- ques de Bragança, & as digni- dades da confirmação dos Ar- cebifpos de Braga, os Cone- xos confirma o Prior da Col- legiada. Nas rendas do Prio- rado ouue depões mudança, porque a metade delias íe apli- carão ao Thefoureiro da Ca- pclla dos Duques (que cm tu-

do he feruida como aReal)mas ainda afli he beneficio groíío, & deauthoridadc. Os cftatu- tosdefta Collegiada ordenou o Arcebifpo D. Fernando , q confirmação paílou o SCimo Pótifice Paulo Il.anno de mil quattocétos & fctenta & qua- tro.

II làquepor ertaoccafião entramos na villa de Barcelos, fera bê, antes de fairmos delia, dar noticia da notauel maraui- Iha , que aqui de tempos anti- quifiimoscoftumaaconte.cer. Efiá fora dos muros pêra a par te do norte,ao fair da porta da villa, hum fermoío terreiro, no meyo do qual fe ve edifica da a Ermida , que chamáo do bom IesV, por nella fe venerar a imagem de Chrifto i^oflb Saluador , com aCruzascof- tas , cm figura de grandiííima piedade, &deuaça5, Hecfta laidaporrezão da Ermida, & íltio , a mães apraííuel , de to- da a villa , aqui pões nefte ter- reiro, pello circuito da Ermi- da , hora em mayor , hora em menor difiancia , aparecem pellaCruzdeMayo, & pella Cruz de Setembro , forma- das na terra muitas Cruzes «Jc cor preta, & queíe deixáo bc deuifar . A feitura he de Cru-

zes

^D. Fernando da Guerra,

231

zes ordinárias, o tamanhoda hafte raayor de húa braça, os braços em boa proporção, fe moítraõ à flor da cerra,ca uandoa,váo aparecêdo fcmprc da niclma maneira. efta ma rauilha por teitcmunhas todo oReyno. Elcreuénaaucliorcs de grande fê. Os incécosdadi- uina proiiidencia ncftes, òc fe- mclhantcs prodigios, não po- demos nos alcáçar, o certo he, que nos pouos donde ha ma- yor piedade , ahi coftumaó de ordinário acontecer.

CAPITOLO LVI.

CONT ASE O M A ES

da njlda, do Arbebifpo D. Fernando.

Endiaónoan- node milqua trocentos , ôc trinta & cin- co,as difFcren- ças,q ouue entre o Papa Euge nio IIII.& osCardeacs,& Pre- lados,q fc ajuntarão no Cóci- liodeBafílcajOscjuaes manda- rão recado ao Arccbifpo D.Fer nando pêra també íe achar pre Tente, mas ellc , q lhe pareciáo

melhor as partes do Papa Eu- génio , íe eícufou deíla jorna- da,o que não obftance,oCon- ciho lhe màdou depões ascou- fas , que aiiíe tinhaódecreca- do,dc que ha memoria no pri- meiro tomo dos huros defteCar cotio , naforma feguinte, i SacrofanélagenerahsSy- nodips Bafilicfis in Spiritu San- eio legitime cogregata^ttnitierfa Ecclejtã reprejentãs^yenerabi li Archiepifcopo Brachartji fa- lutê,if omnipotetis Dei benedi- élione.Quãto maioriqulsinEc-^ ckjia Dei pr^flat authoritate, tâto ipfimEccleJicc^i^i' fanai Co- ciUj generalis illâ reprefentatlsy Canones,isf decretaferuare, ^ per alios ^quantú infe ejljerua- rifacere obnoxim exiítit. Proin de te. qui magnú , ^ honorabile EcclefíC mêbrú es , ijf in regno Portugália primm prcclatus /e quirimm^l^ monemits^yt decre- ta noítrapro reformatione Ec- clejt<6 SpirituSâão afiifiete edi ta^lst pr^ecipue decretú de elec- ttonibus^cú omni diligentia ma- na teneds , tuearis, ac cujlodias, l^ inProiiincia tua inuiolabili- terferties , acper alias feruari^ per cêfurãEcccleJjaUicâ,i^ alia júris remedia , facere íiudeas. Datum Bafílea quarto idut Au- gufii^anno a Natiuitate Domi-

te.\>fol.i

Va .

m

232

Capitolo LVI o

,

ni milUfmo. qtiadragefimo tri- gefimofexto.

B.de Batiferis. Em Port V G VEs. 3 O f agra do ^tf geral Synodo de Bafilea ^congregado legitima mente em o Efpirito Sato.o qual reprefenta a Igreja l^muerfal^ ao yenerauel Arcebifpode Bra- gafaude^ÍT' benção de Deos to dopoderofo. Co quata mayor au thoridade algàprejide na Igre- ja de Deos ^tato mães deueguar dar^ isffa^er guardar poios ou - tros ^quatoemfiforfis Cânones ^ isf decretos da mefma Igreja,Í!f do Sagrado CÓciliogeral^qa re prejenta. Por tato ai^ós^qjois grade, isf illujlre mthro da Igre ja^ tf o maior Prelado do Reyno de Portugal jt>os requeremos y if amoejlamos^q guardeis ^l^ defc dais.i^f fufteteis, tf façais guar dar imuolauelmente aos outros em-voj^o Arcebifpadofis decre- tos dèjhCocilio Jeitos co afsifit cia do Efpirito Santo ^principal

Imite o decreto^ q tratadas elei- ções , tfproctireis , que todos o guardtyohrigandoos c6 ccfuras EcclefiaiticAs^tf c6 os outros re médios de direit^vDado em Ba- filea aos des deAgoíio do anno do Nacimento do Senhor , mil tf quatrocentos tf trinta tf féis. B.de Batiferis.

4 No anno de mil & quatro cecos & trinca &c íetc foiaqlla inteiice jornada, que por alii o querer elRey D.Duartc,&pe- ra calbgo dclle Reyno,empré deraõ osPorcugueícSjCÕcra a ci dade de Tanger em Africa, fen do capicão mor o Infancc D. Henrique, irmão domefmo Reyjcaando cõíígooutro In fancc leu irmão por nome D. Fernando A var icdade da guer ra,a peite q deu no noílo cxer cico,a multidão, &c poder im- méfo dosinimigoSjCÓfocorro dos Reys de Fes,Marrocos,Be- ics, & Tafilece, vieraõ a fazer defcófiar aos no lios , não de tomaré a cidade, mas de poderê fair do cerco era q a tinhaõ,ou honra, ou vida. Védoíe redozidos de catorze mil cõba teccs,q cm Lifboa fe embarca- rão, a menos de três m,il dosq podiaõ tomar armas , traçarão de cõdiçocs de pas Salàbé- çalàfenhor de Tãgcr,&como ellc era o venccdor,deuas a feu gofto.Foraõ,q pêra noíToexcr cicoíair do cerco, & fe embar- car cora fegurança , lhe dariaó a cidade de Ceica , poucos an- nos anccs tomada aos Mouros por elRey D. loaõ o I. porem cm quanto ella fe lhe uaõ cn- cregaua cora cffcito , ficaria

o -

me

^JD. Fernando da Guerra,

253

RuidtPi

tmvAchro \deíRejD. \DH»rt. c,

^0,

era ícu pocier,como em refés, o Infante D.Fernando, Sc pêra íegurança da embarcação clle daria feu filho macs velho, pci lo qual lhe ficariaõ també ou- tros quatro fidalgos Portu- gueles.

j Feira a entrega do Infan tea lyalàbemçalà, ôc tornados os noíTos a Portugal, chamou clRey D. Duarte o Rcyno a Cortes na cidade de Lciria^pcra Tc determinar o que feria bem fazer naquclle aperto. Todos votarão, que Ceita íeentre- gaíle ícmduuidaaoMouro,& o Infante fe reígataflc. Porá- qui foi o Rcy, os Infantes feus irmáosja Nobreza, com todos os Procuradores das Villas, &c Cidades . A d\c parecer fc incli naraò macs os Eccleílafticos; Náo foi deftc voto o Arccbif- po D. Fcrnando,coni amar (o- bremaneira ao Infante, aflipel- io parentefco , que entre cUes auia, como por particulares obrigaçoés,quc lhe tinha : an-^ tcs fc oppos toda a liberdade acfta rcfoluçáojdcclafando ali grauiíli mo ar rezoado,os raaks que de íe entregar Ceita aos Mourosjfe podiáo feguirá Ghriftandade.Que pelio refga- te do In fan te fc defle quanto o Bárbaro pediíle, & q peta tão

jufta redenção íc védeílcm ate os próprios filhos, & quando emnadadifto vieífeSalábéça- lájCntaõ ielhcfizcífe de nouo guerra,peraq apertado de nof- las armas, largaífc ao Infante. Foi a reíoluçáo, q o Infante de fua própria vontade fe deixou ficarem Befberia,approi3ando o parecer doArcebifpo D-Fer- nando,raas ficou em hu eftre- modemiíeriaSj&trabalhos/o fridos animo inuenciuel,& generoío , porq aífi como na vida o deixou Deos chegar ao macslaftimofo, & miíeraucl cftado em q fe podia ver hum Principe,aíritambena morte o quis honrar, &: engrandecer grandes milagres, & com a gloriofa memoria com q hoje íe apregoa, íS<: apregoara ília ef- tremada paciência. He venera- do feu corpo no RcalMoíiei- ro da bataIha,onde os fieis por íuainterceíTaõ achaó o remé- dio de fuás neceííídades. 6' Naõ fo i eftc fe r u i ço o que o Arcebifpo fes ao Rcy- no de Portugal , outro imos a contar,naó de menor confide- ração. Defgoftos,^: intereíles particulares traziaõ dcfunidò da obediência de feu irmão o Infante D. PedroRegete deftes Reynos , ao CÕde de Barcelos |

RaidiPi tiítnachra

delReyD,

V3

depões

^^34

Capito/o LVI

depões primeiroDuqucdeBra j gança^D. AíFonfo. O menos I eranáolhe obcdecer,amotina- uaibe os pouos , & íolicicaua aos Príncipes eftrangeirosa lhe fazerem guerra. Ia o Infante D. Pedro vinha com feu exercito embufca do irmão, quando o Arcebifpo D. Fernando re- dozindo primeiro ao Conde ao que a rezao pediâjOS fez am Rujàepl bos amigos^cantandoentretã- namchro to , comoaponta RuydePi- "d AfoH, Jii^j^qlle verfo do Salmo i^x. \or,c,6z,\ Quam bonum, isf quam iocundú habitarefratres ínfnum . Rc- colhcudofe a Bragaricoconi a paz, ôí loimores cie todo o Reyno, dequcaUÍ'd'pouca,ou nenhiía efperãça. Neftc mef- mo particular tinha jàfcito al- gúas deligécias o ArccbifpoD. Fernando, quando gcuernaua aRainhaD.Liaiior. 7 Paíibu o Infante D. Pe- dro fendo Regente defteRey- no(cra então eií:adidadc de Bra gadclRey^ por força do con^ tratodeque fizemos menção na vida do Arcebifpo D. Mat- tim Affonfo Pires da Chamei ca)hum priuilcgioao Areefaif- po D. Fernando , pello qual lhe couta as perdias com fet^ ouos , & que ningué as púdef^ fe caçar no termo delia cidà-

Chron, c,

37"^ 4'

■.j3 .«.6

de , pondo penas a qualquer peíloa,que o contrario fizefle, que pagaíle por c^â^ perdigão, perdi^.ououo^ q tomafieT?/»- te reaes braços, & outro fy lhe couta , húa legoa do rio Deite, meya legoa acima da ponte de Guimarães, i^ meya legoa abai :vo,pcraquc ninguém fofle ou- zadopefcar naquellc deífrito, pondo lhe de pena por cada peixe,quc fe comaíle des reaei brancos i concedendo também ao Arcebifpo, que pudeífe poi: feus couteiros,comolheparG- ceílc. Foi dado eíte priuilegiõ cm a villa de Santarém, e ferir o por Ruy Paes Godinho , no anuodcChrifto de mil ôc qua- trocentos ôc quarenta & três. 8 iij-vVcs o Arcebifpo D. Fernando duas vezes Synodo ncftá cidade , de que íeíul-- taraõ grandes vtflidades .' As vezes, que foi aLifboa fcmpxe continuou a pofle de trazerà cr uz;Ieuantada,tendo grandes contírxáas fobro iíío , com o ArGebifjio D. Pedro de Nófo> nhay&cdm outros Prelaxíoí, qucHcpoes lhe fuccederaâl •-•-■ ^'fsDií.lNJoanno-de 1455-,^»^* ceo em Liíboâ a 3 . de Magoas 1 Príncipe D. Ioaó;q depàlisfóí RèV^&O íí.do iiome.Fbrbáii tízado âos 1 i.dò mes nâiSy^ê

Cartono. ' l/tf /.8 8.

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D.Fernando da Guerra.

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Lííboa pclloArcebifpoD. Fer- nando da GuerraCDiíarte Nu- nes disobautizou oBilpodc Chro del\ Ceita D.Ff. loaó Relieioíbdo

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Carmo, porêcom menosccr- teza) que em cópanhia de três Biípos , do Cabido, & Clere- zia,íayo a receber aoPrincipe, a quem Icuaua nos braços, de- baixo de bum rico pallio,o In- fante D. Fernando irmão dei- Rey D.Affófo, & pay delP.ey D.Manoel , em companhia de D. Henrique tio delíley, S>í da Infanta D. Cathcrina íua irm^, & de D Felippa irmã da Rainha , & Marqueza de villa Viçoza.Asquatro varasdopal lio leuauáo,a.s de diante,D.Pe- dro de MenefesConde deViíla Real , 5c D. Vafco d' Attaide, Prior do Crato , & as outras o Marques de villa Viçoza, & D. Fernando Conde de Arra- yoUos , (eu filho niaes velho. O íaleiro leuaua D. Fernando de Meneies: &i o gomil, & pra to da offerta Lionel de Lima. Foraõ padrinhos o Infante, & o Prior do Crato, & madri- nhas a Infanra,& a Marqueza, c^,:D.Britcs de Vilhena. IO He tempo de ver-

mes o que em acrefcentamen' ramentodaruaSê,&: paçosAr çcbifpaeSjdeixou feito ell:e grã

1

de Arcebiípo. No chelouro íe vcm,í^ durão hoje algúas pe- ças, que bem mortraolerê da- ':<iiuas de íua mão: tal he a cruz grande de prata dourada, tem de pezo 59 marcos , no feitio parece não ter igual , grauou nella as íuas armas , & leu no- me. Na memoria dos anrigos achamos a fama de douí riquif íímos Pontiíicaes,quejáo tê- podetodotêgaftadojs.Laurou \ nos paços aiala que chamão j ãcS.Giraldo\ & mandou pin- \ tar no forro , & paredes delia, ? a vida do fanto , de quem era cíeuotiílimb . Laurou rnaes a ; caza grande , que diamaõ do ] ouro , coimoi mollraõ as fuás armas. GoHocou na capella de ; S. Nicolao, (St no modo em q hoje fe venera,o corpo doglo riolo S. Giraldo , & aos íeus pès íe mãdou enterrar em húa íèpukura Icuátada quatro pal- mos do chãojquejdepoes mã- j dou igualar com o.pauimenco \ o Arccbifpo D. Agoííinho át Caftro,qaandotresladou pêra [ aquella capella os oíTqp dos Ar , cebifpos D. Diogo da Sylua^ôc D. Manoel de Soufa. Na cam- 1 paeílàeículpidaa figura do Ar [ cebifpo D.Fernando de Pon- tifical ,& ao redor tem o Ictrci l ro fcguinte.

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V4

A^ui

236

Capitolo LVIL

Aquija':^ o muito nobre fenbor D. Fernando Arcebifpo de Braga,i:f bifneto delRey D. Pedro^^ fnou aos XXV}. de Setembro de mcccclxvíj. Foi Arcebifpo de Braga 49. an- nos , & aiino & mcyo fcu go- uernador, goucrnádo a Igreja deDeos Martinho V. Eugénio IIII. Nicolao V.CaliftoIII. Pio lí. Paulo II. Sixto IIII. Reys de Portugal D.Ioaõ o I. D. Duarte, D. AíTonfo o V. II Fizcfãolhc cm fua vi-

da muitos Bifpos fcus íufFra- ganeos^o juramento dcfideli- dadcjde CoimbraD. Fernando anno 1413. D. Aluaro Ferrei- ra , a quem também fagrou com aíTiftçncia de D. Aymaro Bifpo de Ceita,& D.Andrcde Mcgara a <í. de Mayo de 143 1. D. Luis Coutinho em 1444. De Vifeu, cm 1419. D. Gar- cia em 14431 D. Luis. Do Por- tOjD. Vafco I. do nome, an- no mil quatrocentos & vinte- humj D. Luis Pires anno mil quatrocentos òc cin- gocntaÃ: qua»

'd'

-^m <

CAPITOLO \N\h

DAS IGREI AS, Qv E em t>arios tempos foraofuf- fraganeas a eíia de Braga, àf como deixarão deojer.

Oderia íer,q cm outras oc- cafioés nos fi- ca íTcmacs a to tratarmos a matéria dcftc capitolo,mas co mo ao gouerno doArcebifpo D.Fernando lancem noffos ef- critores fua vitima rcfoluçao, peraelle a ouuemos deguar- dar,& dizer junto o que cfcri- to por partes ficaria menos cia ro, que às vezes a ordem dos tempos cauía confufaõ, &né fcmpre ascoufas tem feu lu- gar na hiftoria^quandofucedc- raõ,mclhor fe contaó entre ou trás da mefma calidade ; feruc afemelhançadealiuio, onde a rnuica dil]:inção caufa algííâs vezes enfadamento. z Sabida coufahcjcorno

logo de fua primeira criação efta noíTa Igreja ( não falan- do na dignidade Primacial) tc- ue ou trás, q comoaMerropolc

lhe

D.Fernando da Guerra.

217

lhe foraõ fogcitas , hcaõ co- tadas muitas , pello difcurfo deftahilloria. Por lhe obede- cerem todas as de Galliza , lhe chamarão os Sumos Poncih- ccs, & Concílios anciãos Gal- lecumetropolim. Entrauaõ ncf- ras o Porto,Dumc,IriaFlauia, Tuy,Li(go,Orenrc, Módonhe do , Briconia , Valabria5& ou- tras.Fora dcGaliiza no Reyno deL^aõ,& na Luíicania teue Aftoraa, Salamanca, C amo- ra, AuilajEminiojOu Águeda, Coimbra, Vifeu , Idanha, ou Guarda , Lamego ^ Liíboa j & Euora, & na Africa Ceita, não todas juntas, mas em diuerlos tempos. Hoje retém Por* to, Vircu,Coin)bra,& Miran- da,c'jja Diocefe a poucos an- nos íayo deíle Arcebifpado, Acabarão de todoDume, Emi mo, Bntonia & Valabria. 3 Aditiculdadetoda eftà

em acertar com os tempos, em queertas, ouaquellas leforaó perdendo. H porque digamos logo o que 30 certo nos conf- ta,não ha duui da, q pella erei- çáo da Igreja deCompoftclla cm Metropole(quando Calix- to II. corrédo o anno deiii4. paílou a ella todas as preeminé cias da Igreja deMcridaMetro poíeda Luíítania) ficou Bra^a

íem as que por cila eíbrdeí- truida,lhe dauaó obediência Salamanca , a<: Auila, & naó muitosannos depoes,íemC^a- mora , & lem o direito das macs da Luíítania , em que ti- nha entrada Compoílella , a íaber,Vircu,Coimbra , Lame- go, Guarda,Eijora,Liíboa,das quaes demitio oArcebiípo D. Martinho Pires ,elbndo em Roma,ao de Santiago todas as que não eraõ Coimbra, & Vi- icu , íobreque ouue fentença Apoíl:olica,como em fua vi- da diilemos.

4 O padre loaõ de Ma-

r jana-teue pêra íy , q logo nef- tcs Icus píincipios ficara Com poíklla, por breuede Calixto II.com Aítorga ^ & côas mães Cathredacs pertencentes aGal- liza , mas na vida do Arce- biipo D.PayoMédes,lhe moí- tramoSjComo no próprio té- po cm que fe inftituya a Me- trópole de CompoftcUajneíTe confirmaua o nieímoSummo Pontificeas Igrejas deGalliza,

na obediência de Braga.

o

j Outros mouidos defte

argumento, que contra Maria na fizemos, lançarão a dezane- xaçáo ^ & defmembraçáo das Igrejas de Galliza da de Braga, aostemposdclRey D-Fernan-

i8.».7

12.

C.I2,tl.}

do

238

Capitolo LVII.

cío,& D. loaõl, AíTinaópera ella duas cauías. A primeira, a grande Clima, que então auia na Igreja^ícguindo os Reys de Portugal hum , os de Caftella outro SúmoPcntiííce, prohi- bindo os Antipapas de Aui- nháo aos Bifpos Caftelhanos de íua obcdicncia,qualquerfo jciçãojque por qualquer mo- do deucílcm ao Arccbiípo de Braga; & os Síámos Pontífices de Roma , aos Biípos Portu- guefesjaqucdeuiaóao Arce- bifpo de Santiago , como a rc- belde,& cifmatico. A fcgunda, as guerras^quecontraosReys de Caftella D. Pedro,D. Hen- riquelI.D.IoQÕl. D. Henri- que III. & D. loaõ II. trazião os de Portugal D.Fernando,& D. loaó feu irmáo , & fuccef- for, as quacs^como foíTem tão períiadas,& duraíTem tanto po,naõfofíriaõos Reys, que Prelados cftranhos excrcitaf- fem jurdiçãoalgúaemfuas ter ras, & como feguião a Pontí- fices diucrfos', cada qual fauo- reciaaos de íua obediência , òí procuraua empecer aos ou- tros.

6 Acrefcentauafe aiftolc- uantar Bonifácio IX. à petição dclReyD.Ioaõo I.a Sede Lif- boa cm Metrópole pellos an-

nos 13 90. tirando porcftavia da obediência de Sátiago a meí ma Igreja de Lifboa, ^ as que lhe daua por fuffraganeas,Euo- ra. Guarda, Lamego , ao qual quizeraõ pagar os Reys deCaí tella , & Papas de Auinhaó na mefma moeda em que f oraó defraudados , prohíbindo às I- grejas dcGalliza não obedeccf- íem a Braga, &: obrigandoas a ter por Metrópole a Santiago. 7 Nada duuidamos fere

todas cftas rezoés baftantes , viftas as calamidades daqucUe teitipOjpera fazeré outras ma- yores mudanças ,poré mui- to antes do Rcy nado dos Reys D.Fernando,& D.Ioaõ,falta- uaõ na obediência de Braga. os Bifpos de Aftorga , & Gaíliza, porque os achamos cm vários Concílios Prouinciacs celebra dos pellosBifpos de Compof- tella, o que não fizeraó fe não foraõ fcus fuffraganeos : dire- mos fò de três, dous delles ce- lebrados cm Salamanca , pcllo ArcebífpoD.Pcdrodel Padrõ, o terceiro em Cópoftclla, pel- loArcebifpoD. Martinho. No primeiro pellos annos 1310. cm que rcynaua cm Portugal cl Rey D. Dinis, fc acharão dos Bifpos dcGalliza,Ií?4ú' de Tu y, loao de Lugo, Rodrigo de

donhedo.

D.Fernando da Guerra.

239

''JfíWAí»! donhedo,com loaõdcLiíboa, mm/cru Vaíco da Guarda^ Pedro de A-

áe 7uy f.

SiiJgle. de luy.f, 168.

uila , Diogo de Plazencia. No fcgundo, mães dous annos a- í^í?i/ diante, no de mil trezentos & j doze,a fora osja nomeados D.

AíFonfodeAítorga, D. Gon- çalo de enamora, D. AlTonío deCidàd Rodrigo, D. Domin- gos de Plazencia . O terceiro no anno de mil trezentos & trinta & fcte, Keynando D. Aífonfo o líll. em Portugal, ofendo Arcebilpo de Braga D.Gonçalo Pereira. Acharaôíe nelle D. \^a(co de Orenfe, D. Garcia de Tuy,D.Ioaó de Lu- go , D. Aluaro de Sylucs , D. Pêro Fernandes deCaftro Per- tigueiro(val o melmo, q juf- tiça mayor) da terra de Santia- go.Aflique, muito primeiro que rcynaííem D. Fernando, & D. loaó, tinha perdido Bra- ga os futíraganeos de Galliza, O quando pontualmente, nos náodeixáo aueriguar as mui- tas coufas , que fe ojferecé em contrario , quando queremos efcolherefte,ouaquellc tem- po.

8 O que nos parece he, que o não dcuemos anticipar tan- to , como Mariana, pondoo naerciçáoda Igreja de Santia- jgo em Metrópole', nem pro-

longar de maneira , que o lan- cemos ao ReynadodclRey D. loaõ o primeiro, & goucrno do Arcebilpo D.Feruando,co mo íazem noílbs hiftoriado- res , ncíle meyo,fem duuida, foi cila deímcmbraçáo , mães checada aoPontiíícado de Eu- génio III. fucceílbr deCalixto II. o que fez aCompoílelIa Metrópole , que afaílado del- le. Porem he bem de notar , q ainda depões de perderem a ef- ta Igreja a fujeiçáo de íuííra- ganeos os Bifpados de Galíiza, acudião íeus Prelados a dar o- bediencia a eft a nc íla de Braga, tendo por Metropolitano ao deSantiago, & o que mães he por competidor, & preten lor da Primazia de Hefpanha, 6: como tal citado cm Roma pêra no Concilio Lateraneníe defender feu direito, íirman- dofe tal em efcricuras, onde também firmaua o de Toledo com o mefmo titulo, como fe moftra por duas , q diz achou na Igreja de Oréíe o Padre Fr. leronymo Romano,3 primei' rapaíladaera 1339. que faõ de Chrifto 1301. em 10. deSeté* bro, na qual elRey D.Fernan- do o empra^do^ citando cm AuiÍa,coníirma os priuilegios da mcfma Igreja de Orenfe,

tH mAMU

fcrtft.

]

unta-

240

Capitolo LVH.

2.

juntamente com D. Gonçalo Arcçbifpo de Toledo, & D. R.odrigo Arccbifpo de San- tiago, que ambos íenomcaõ Primais deHcípanha. A íe- gundadoanno 1301. cm que o meímo Rcy fazendo Cor- tes em Medina , díi outro pri- uilegio a Oreníe, firmado pci- los mefmos Arcebiípos,&cò o mefmo titulo de Primares. Moftramos no noíTo tratado da Primazia cíta foieiçv^o por muitos exemplos, dos quaes argumentauamos,que náo po diaõ acudir delia maneira ao de Braga , como 3 Metropoli- tano , pões tinháo o Teu pró- prio de Santiago, mas o faziáo, como a Primaz^ , deixando en- tretanto ao de Toledo , &' ao de Santiago, com o nome de Prima^^s íòdc titulo, & não de realidade.

9 Reftanos dizer da Igre- ja deCeita cm Africa, que tam- bém foi da íoieição dcftanof- ía.Logo que elRey D. loaõ í. ouue por força d arm.as cfta ci- dade, tirandoa do poder dos Mouros oanno de 1415. deter minou honrala com Cathe dral. Porem eílcs feus inten- tos não ouueraócíFeito, fcnáo jàgoucrnádoeftes Reynos na menoridade de D. Afifonfo o

V. o Infante D. Pedro,& fen- do SummoPontiíice Eugénio IIII. o qual no anno de 1444. a petição do mefmo Infante lhe deu por primeiro Bifpo a Fr. loaõ , Prouuicial que cn- taõ era da íàgrada Religião do Carmo, & Bifpo , que depões foi da Guarda, fazendoo jun- tamente Primaz de toda a Afri ca, como o achamos intitula- do,& a feus fucccíTorcs D. luf to Baldino, D. loaõ Ferras^ & outros . O território , que fc aífinou a cfta Igreja foraõ a- quellas duas adminiftraçoês, a de Valença do Minho,q per- tencia a Tuy,& a deOliucça,q pertéciaaBadajòsjComoadiáte mães claramêteeícreucremos. ComoefteBifpadofi

10

cou immediatoa feApoftoIi- C3,appellauafe das fentéças de feus Bifpos im mediatamente a Roma , auia nefte particular grandes incóuenientes, vioos, & remedcouos o Summo Pó- tifice Xifto IIII. & porhua bulia fua dadanoãnodç 1475 fez Ceita fufifraganca a Braga, quanto ao que tocaua as ter- ras,que tinha Entre Douro, & Minho na Comarca de Valen- ça,que era tudo o que fíca en- tre os dous rios Minho,&: Li- ma , encomendando por ou-

tro

D. Fernando d^a.\Guèrra.

241

cro breuç a nieíma Igreja, & o

íeu Bifpo ,aos Arccbiípos de

Braga. Ncfta íojciçãoaBraga

perleucrouCeica,3tê deixar de

_ íer fua a adminiftraçáo deValê

ça,sSi: íe cncorporar na Igreja

de Bragado »q lucedeo fendo a-

inda Arccbiípo D. Diogo de

Sou ía,& Bifpo deCeita D.

riquc religioío Menor , coma

na vjda de D. Diogo de Soufa

cíjcreuercítios. ^ ,}uAj , -;

' u O Biipado dcMirãda leud

toa de nbuo o Súnio Põtificc

íPaulo í II.iiD anno dc.i:j45-, ti-

randoo codo defta Dioceícjíé

doArcebifpoD,MdnocldcSou>

vidaguard ■(^ neftepardeular ie pi^dedizcr.

ypera ctt|a vma guar Oanios o

CAPITOLO LVIII.. >

3r;cfií:..r:: hodA ■fiE ALGFI^ AS^PES^

\ rfoa^nçiauejs^qporefles tem-.

l :,.posfalle<:e.ra6 em Braga . i^._^ ; no Arcebijpado^parficular': - mente da primeira Duquesa,

i ,de Braganf^a D.ÇonJiançai

\ J de Nçrânha defafffia,mema-: rJ^{'^ii^,.dp.Jo,anne OrpollK^.r .^\

Quer^nando- effca' igreja o. AreebifpoD. Maríijti Afto foPrires,'& eor

rendo oanriode 1400. citan- do cm Briaga clRcy D. loaó o ; primeiro,- íallcGco nclla fcu fi- lho macs velho o Infante D. Aftonío.Macco cftc. Infáce na villa de Sanrarem cora grande alegria de todo o Reyno- Em leu bauciímo ouucjuftas reaes, emqfairaóajuftar clRey feu pay ,0 Condellablc D^ Nuno Alures Pereira, & outxos fe- nhores j&íidalgos dcicãUdadc. Deunaquellcs primeiros an- nos grandes cfperanças de fy, 05 feus jo^osTcraõ brincar padas ^^ com outros ácfpo jòs de iiiimigos , de que a caía. de íeu paycílaua chca.Mas foi Deos feruiqlcKleualo perafy cm idade de dez. annds^A2'<de De ízchibrodo annojqaScima dif- íemos de mil & quacrocétos* ! Enícrcacíõhxjrna Sè^ dnire as duas cQlíii3nas,quedcujdem a i Rauc do mbyò cia doBuange- lliq,cQnie^abdo do cruzeiro. Sua iirriâ a Infanta D; rlíabcl f molher.de3;clippe V. Duque fde Borgòííha?> j&i Conde á& \ Frãd^;aqÍJdGbaimaEa0joB(?f», I lhe niaíidioijk' fepulihtracra q ího>eeftàí,áldeiri3s .davcojunna, a,ique,arí"ima.Qaltai: dcNoíTa Sen hdrâ.jd0jRofario, por bai- do poipitc>í& deftottttícíó '•de primèiroiefteuc enterrado.

O tu-

i242

Capitolo LFIII,

z O tumulo hc de cobre dourado j lauradoàfdção de Icico dos ^ agora fieèottumáov Hc coda a obra fcmcadade hú' bofquc ricamentcabcrcoamc yorclcuOjOndeosramoSj&ío íhajés fazécuriofas, & vifto-- fas íaçarias.Suftetaõ o tumulo quatroLcoésdosquatrocátos^ cercaohú letreiro de letras de ouroaísótadasíobrc negro, ^ por fere de pinzel as gaftou o tép«3 de maneiraj^feiiáo po lêr.Gobreo fobrcccoíu' dentado cm quatro balauílcs, cm ciíjí foce interior fc o cl Gudo das armas de Portugal com cciroa porciriía, & com muitos Gaílclloffpclla orla. Outro cfcudo feívèali tambê quartckdt), ondrjà fenão de- uizáo maes,q algúaj: flores do Lis laz foJbíc o meÍOTo tumu^

ÍlojVctVida' de roupas: roçagan- tes , a iiiiagê do -infante ra rc-' prefentação daidaçle em que morrta',íencoftâá cabeça lo^^ bre três afiiiofaçíds-^olhe guar^ dão dous AnJQS ;j''ínÍLde cada parte ,&acs^pês;búp3chorri-i nho de adniiraud priímor. 3 - : No annoidcfi^tí I ; emi Dczebtà- falleceoí. traina villai dcChaues o primcàbrDuquÃ

1" deBragãçà D*Aííonro.Eoi 6-: IhodclRcy D. íoaõnJ-. anidíà-

antesdecafar.Amouíbbrcma neira eiRey D.Ioaô eftc filho, pcllo muito que le lhe parecia, alTi nasfeiçoés do rofto,como no brio,& valor das armas . Os Infantes feus irmaõs orcípei- tauãocomoapay,& de todos foi grande amigo, faluo do In fantc D.Pedro, com que tcue algus defgoRos , por aceitar o gouerno doRcyno na menor idade dclRcy Ó. Affonfo feu fobrinho, contra o teftameto delRcy D- Duarte feu irmáo,q deixaua por goucrnadora aRa inha D.Lcanor fua molher. E contudo o Infante D. Pedro, fendo Goucrnador,refpcitan- do a íeus grandes merecimen- tos , o fez. Duque de Bragan- ça. iíVJ O fO.

^4 Acompanhou a eiRey

feu pay , & aos Infantes feus-

irmáos na jornada de Africa,

& tomada deCcita,onde fc ou

uceomofilhodequéera. Ah

"em premio de feu grande cf-

forçoj &notaueis feitos d'ar-

mas, que obrou * Ibe deu cl-

; Rey feu pay as quinas do Rcj^

;nopoílas em aípa, como as

t trouxcpâõfeus deímidctcs ps-

Duques' de- Bragaèçsi- , ate ã?

; dar cm cfcudo elRèy" D. Ma-

^ nocla feu fobrinbop Duque

' D.IemcsjquandofoTiJciígna-

.-_ N.A

do

«!'

D.Fernando da Guerra

243

f, ztr.iSi

do Príncipe fucccflor dcíles Reyiios.

j Gafou a primeira vez

com D, Brites Pereira filha do Condeftablc D. NunoAluers Pereira, &c de íua molherD. Lianor Daluim, celebrou efte cafamento com grandes fcftas clRey íeu pay eílandoem Lei- ria, ouue com cila o Condado de Barcellos,que feu fogro lhe largou , as villas de Chaues,&: Guimarães^ com íeus termos, toda a terra de Penafiel de Baí- to , Montalegre , a Piconha , Portelo, Barrozo, cora ou- tras quintas Entre Douro , òc Minho. TeuedaCondefla D. Brites a D. Affonfo , que foi Conde de Ourem , & Mar- ques de Valença , feito por cl- Rey D. AfFonfo o V. & pri- niciroMarques,que ouue nef- tcsReynos, mandado por el- P^ey D. Duarte feu tio ao Con cilio de Gonftancia , como ef- creuemos noCatalogodosBif pos do Porto . Morreo man- cebo, & por cafar,anno 14(30. na villa deTomar. Ouue mães a D. Fernando,que em vida de feu pay foi Conde de Arrayo- los, Marques de villa Viço- za,&porfua morte herdou fua cafa , & foi o fegundo Duque de Bragança. Ouue outro fy a

D. Ifabel , que caiou com feu tio , meyo irmão de feu pay,o Infante D. loaõ.

6 A Condeffa D. Brites Pereira falleceo em Chaues ,dó de pello Condeítable feu pay foi tresladada pêra o moftei- rodcNoífa Senhorado Car- mo de Lifboa, queelleedifi- caua , & ahi jaz fepultada, & nãocmGuiniaraês no moliei- ro de frades Menores , como efcreueo o Padre António de Vafconccllos da Companhia de IesV. Viuco a Condeíía D. Brites com grande fama de fan tidade.Era muito cfmoier,mui to penitente , grande deuota, bemfeitora dos Religioíos, &Religiofas. Occupauafeem fazer , & laurar por íuas maós as alfiyas, S>i peças , que*auião de feruir nos altares , no que depões a imitarão fua bifne- ta a Rainha Catíiolica D. Ifa- bel , & fuás trefnetas a Em- peratriz D.Ifabel, molher de Carlos Quinto,&aRainhade Portusal , -O. Catherina mo- Iher dei Rey D. loaõ o Ter- ceiro.

7 Morta a CondcíTa, ca- iou o Duque D. AfFonfo com D. Conftança de Noronha fi- lha de D. AíFonfo Conde Noronha , &i Gijon no Bifpa-

Indefcrip lujit paç

P7.

do

M4

Capitolo LVIIL

do de Ouicdo, filho baftardo delRey D. Henrique o II, de Caílella, & de D. líabel filha também baíbrda delRcy D. Fernando de Portugal . Teue nelte Reyno efta Senhora três notaucis irmãos, D. Pedro de Noronha Arcebiípo de lÁÍ- boa , grande priuado delRey D. loaõ o primeiro, D. Fer- nando de Noronha Camarei- ro mor delRey D. Diiarte,que por caiar com D.Kabel de Me neíesfilhadeD. Pedro de Me- neies , Conde de villa Real, & primciroCapitaó deCeicnJier- dou a capitaniada meíma ci- dade, & Cõdado de Villa Real, que foraõ de feu fogro. D. San cho de NoronhaCóde de Ode mira,&renhor de outras terras, em que os Condes defteappel lido tiueraófeu principio. Mor reo o Duque D. Aííonfo em Chauesnoanno, & mes que difiemos;, íem aueu filhos da Duqueza D. Conftança fija molher, foi enterrado na Igre- ja Matriz, & dahi tresladado ao moílieiro de S. Francifco , que fica fora da villa , & pare- rcee, que depões de ícr dado aos religiolos da Prouincia da Piedade, onde a fcnhora D. 'Catherina Duqueza de Bar- gança , & filha do Infante D-

Duarte, lhe mandou laurar a ícpultura , em que hoje eílà. O mofteiro fe muda agora pe ra dentro da villa, deuem de mudar con(\2P os Religiofos

ri r

a lepultura do Duque D. Af- fonío , na qual delejamos fc ponha hum tal epitáfio , que venha a dizer defcenderem delle por linha legitima os mães dos Principes de Europa. 8 A Duqueza D. Conf-

tança fe recolheo viuua a ví- uerna villa de Guimarães, nos paços, que alifundouo Du- que feu marido, ondemere- ceo a força de obras virtuofas , a opinião de fantidadc pojrque feu nome he hoje conhecido por toda Hefpanha, & fre- quentada fua fepultura dos q defcjaõ achar remédio em fuás enfermidades. Em noíTo po- der temos hum inftrumento feito por mandado, & autho- ridade publica noannodcmil & quatrocentos & oitenta & oito,aos vintatres dias do mes delunho', na villa de Guima- rães, em que fecontaó mui' tas, Òí mui notaueis maraui- Ihas , que Deos Noílb Senhor por ella obrou , dando vida á defconfiados,faudenos olhos, 3 quem os tinha quafí per- didos de enfermidade, pês, &

maõs

-.»

D. Luís Tires,

245

maõs aalIeijacloSj& dcílaíor- tc outras muitas , que aqui pudéramos referir. Doanno, &dia de Tua morte, não pude- mos alcançar a certeza. O inf- trumenro de que acabamos de fallar feito no annodcmil ôc quatrocentos & oitenta & oi- to, foppocm fer faliccida de pouco tempo. laz no moftei- ro de S.Frácifco na capclla mór ao das efcadas do altar, tem o letreiro feeuinte.

Alfonji Dticis hoc coniuxCo-

fiança Noronha

Conditur in tumulo. 9 Entre tantos titulos de no brcza,í?í alteza podem mui ter íeu lugar o grande fcruo de Deos chamado em fua idade loanne o Pobre . Foi Catalão de nação, & defcendente da caza dos Condes de Vrgel . Abriolbe Deos os olhos pcra conhecera vaidade mundana, & feguir o eftrcito caminho da penitecia.VeyofeacfteRey nOjVcíliofe de íacco, efcolheo híj3 pobre choça jútoanofla Senhora da Várzea, entre Bra- gaj & Barccios, & ali de noite, & de dia affligia feu corpo , continuas mortificações , & recieaua feu cfpiriro com acõ tcmplaçãodas couías diuinas. Não paíTauafeu comer de paõ.

S>c agoa, dormia na terra nua, andaua femprc defcalço^ & dcfcuberto, ate que cortado dos trabalhos, deu o erpirito nas maõs de feu criador,corré- dooanno de 1444. Trouxe- rãono em feiís próprios hom- bros, com grande concurfo de todos os lugares vezinhos, a enterrarão moíleiro de Vil- lar de Frades, os reUgiofos da- quellacafa, & nella junco às grades, lhe deraó fepulcura, co- mo a varaõ , que em vida me- receo,& cm morte conferua a opinião de fantidadc. -

DOM L VIS PIRES

í?o. Arcebifpo de Braga.

CAPITOLO LIX.

COMO FOI BISPO

do Porto,d'Euora, i!f Arce- bifpo de Braga . E como em feu tempo tornou Braga ao domínio teporal deflalgreja.

O Arccbifpo D.Luis Pires ef- crcucmosjano Catalogo dos Bifpos do Por-

f.tX,iC^

X5

to

II

■.<,-.

i

246

to , por olleo ter íido naquel- kcidade,oquealidiíl'enios hc o que em íurnma Tc fegue. f Entrou o Arccbiípo D. Luís no Biípado do Porto, na vácãriciâ de D. Gonçaliaunes de Óbidos, pellos annos de 145;. porque no mefmo an- no aíTiíUo por ícu procurador Fcrnand'Aluarcs Cardofo^nas cortes , que em Liíboa fazia a fcus pouos elRey D. AíFonío o Vcomo aíTirtiraó parte por fy, parte por fcus procurado- res,- o Arccbiípo de Braga D. FernádOjD.Iay mes de Liíboa, D. Luis da Guarda^D. loaõ de ViíeUjD.Ioaó de Ceita,& Pri- maz-de Africa , D.Ioaô de La- mego, D. Aluaro do Algaruc, D. Aííonfo de Coimbra. 2. Toraadaapofledefua

Igrcja,inftituyo logo nclla à 9. de Setembro de 1455. o Arce- diago dcGliucira,a quem vnio a Igreja de fanta Eulália de Oli ueira,com obrigação de viíitar a comarca da Feira quando os Preladosa iíTo omandaíTcm. Foi outra rczão de inftituir ctta noua dignidade (aííi oa~ pota na eicrituro^ iwo auer na quella m.acs q^ítCr, Arcecjia,* go d ò Porto, ôííeriJcceíTario outrOjquè pude^nella feruit nos Pòntificaes.lfei diffòf B

Capitulo LIX .

raquei*as procilToês fófséem numero igual as dignidades, três dehua,& três de outra parte. ^^•^«^

3 Gofti Ter de fua condi-

ção afauel,& grande agazalha- dorde todos, teuc contudo c5 os do oouerno do Porto mui- tos delcontosjôi quaes clle os ílnifica na carta , que fobre ií« to lhes efcreuco, & nos re- ferimos. Mas vieraõfc a com- por pello Biípo deSylucs no Algaruc D. Aluaro , Legado de fua Santidade neftesRey- nos , o qual pêra iflb vcyo aoMofteirode Grijòdc Có- negos Regrantes de S. Agof- tinho,ondc também fc aehou o Bifpo D. Luis, & porquê os mães culpados craõ Ferna- d'Alures Chançarel,& Alfers , da cidade , Pecir'AfFonfo ] Aueleda, juiz , Diogo Rodri- guez,& AíFonfo Vafqucs, or^ dcnou o- Legado, queellcs pé- diíTem perdão ao Bifpo', qutí amorofamente os recebeocfft; fua graça, & tratou dali por diã: te com roda a beneuolécia,foi j a fcntença cm ao. de Nouen5>- i brodei457. '-• j

4 Mães fete annos adiaiíft ' fe acha ainda noPorto mcmò- ■. ria do Bifpo D. Luis , parccêq aííiftiõ no gouerno daquelíaj

Igreja

f.y3««

'D.Lu

Igreja aré o de j 464. fazendo muitas obras nos paços Epií- copaesjcomoíe pellas íuas armas , q faõ húas barras atra- uefladas, brancas, 6,: negras, & dando àSãcriítia riquiíiimos ornamentos,queindahojedu raó,&: tem íeii lulhc entre os de mães preço. 5 Ncíic anno de 1464.

parece foi tomado pcra Bifpo d'£uora , mas pouco o deixa- rão ali viuer léus merecimen- tos: três mães adiante falleceo o Arcebiípo D. Fernando da Guerra, em cujo lugar foi elei- to pcra Arcebiípo Primaz. ceo íua preíença a opinião de íuafama. ouueíe neífa Prima- zia como queiíi naícera pcra ella. A mauãono os b6s_,teniiáo no os msos., &■ com i^íusl de- liberação, que por náo efpera- rem o caíiigo de fuás culpas, fc fayao do Arcebirpàdo , dei- -xsndo , Í€ et^aò Eccleilarticos, os bene^cioR vagos, qiie logo pelloArG^bitpo craõ pròuidos -em qiveiti íftelhor os admiiiif- traííe. :<-:onn

•tíiur Navéda do Arcebiípo -ID;Martinhodeixamosercrito, Gomc:e|R"eyD.Ioaõo primci- cío ouueí^a^íe fua mão a cidade <kí^raga^:largandolhc em rccó- í-^nÍ£ a rua noua de Lilboa, &z

loires 247

os direitos da villadc Viana, fcíle cfte cõtrato áno de 1401. Edcantaõ até os tempos del- R.ey D. Aífonfo o V^ leu neto, Si goucrno do Arcebiípo D. Luis Pires , períeucrou na co- roa Real. Mas, ou foííe,que el- Rey D. Affonfo entralíe cm efcrupulo de reter a cidade tan tos annos da Igreja, ou que os rendimentos da Rua noua de Liíboa, &villadc Viana lhe pareceílcm de mayor cotia, & proueito pêra fua coroa , tra- tou de desfazer o cõtrato , & tornar aBraga a feus primeiros poííuidores, Ô«:auer outra ves o q por ella fc tinha dado em trocaaos.Arcebifpos . Naõfc fes neftc particular muito de ' rogar o Arcebiípo, facilmente veyo no que elRcy queria , fe pclloque ciníiáo crefcido de in tercíTes a Rua noua , & Viana fua alteza lhe deíTc algúa mo de rada rccorapenfação. 7 . ApoBtaráofe varias, concluiofe ioíTem às terras , que juntq ao Guadiana ro— raó do Biípado de Badajos , & do tépo. Papa Vrbanò VI.. & reyiiado delRey D. loaõ o primeiro jtinháo faido dellc, auenda pouco foraõ applica- dos ao nonoBifpadodc Ceita, eregido por Eugénio IIIL na X 4 peiíoa

248

Capholo LIX»

c^c^n y

peíibade frei loaõ Prouincial de Noíla Senhora do Carmo, Rcligiofo de grandes letras, & vircude,pcJlas quaes foi depões melhorado ao Bifpado daGuar da. Por é tirarem fccftas a Ceico (eraõ Oliuença^CápoMayor, Ougel3,& outros lugares) não era menos, cjuctirarlhe toda a fuftancia j & íícar aquclle Bif- pado meramente cm titulo, & fcu Bifpo pouco macs que de Anel.

8 Pcraqucaífinãofoíre,pa rcceo expediente dar em troca ao de Ceita , todas as Igrejas, & terras, que entre Minho, &: Limaforaõ jàalgíía hora dos BiíposdcTuy,&pclIas mef- mas rczoés que as de Badajòs (jà o deixamos cfcrito na vida do Arccbifpo D. Lourenço jfe ti nhaõ apartado dellcjno mcf- mo Põtificado de Vrbano VI. GouernauaÕfc citas terras , & Igrejas ate ali poradminiílra- doresparticuIarcs,quc tinhaó feu aflento na Collcgiada de S. Efteuãode Valença defronte de Tuy,& fícauaõ como terri- tório de nenhíi Bifpado, na formiaqiíehojcoíâõasdoPre lado de Tomar. Alliqueafu- plica (efes à Santidade do Su- mo Pontífice Xiílo IIII. afil- ie pot fatisfazer a elRey D. Af-

fonlo o V. ÔJ por lhe parecer mor vtilidadeda igreja , veyo niílo facilmente , ficando Bra- ga com Oliuença,Cámpo Ma yor5& Ouguela: Ceita com o que hoje pertence a Comarca de Valença.

9 Mães fcs ainda o Sum- moPontifice XiftoIIII. que pcra atalhar as muitas appcl- laçoês 5 que do Bifpo de Cei- ta,fe interpunhão a Roma nas caufasde íeusfubditos os de En trcLima,*.^ Minho,poraqucl- la Igreja fer immediata a Ro- ma,iS<: náo reconhecer Metro- politano,ordenou noanno de 1475. que oBifpo de Ceita fof- fe fuíFraganeo a Braga jco mo o fci muitos adiante ate cilas coufas tomarem outro modo de gouerno. Mas difto iàáií- femos acima,& diremos outra vesem feu lugar.

10 Com eftas condições, & clau fulas fe concluyo o cõ- trato,na villa( foi depões cida- de)d'£luas , ondcclReycftaua em ii.de Março de 1471. feté- ta annos cm ponto, depões de Braga fair do domínio tempo- ral de feus Arcebifpos. Con- fírmouoelRey, & o procura- dor do Arcebifpo , òí Cabido Gonçalo Annes, Arcediago de Oíiueira, na Igreja do Porto

fecretario

/. jí.»

^D.Lms Tires.

249

/«.3 rer

fccretario do mefmo Arcebif- po. Oito dias depões o con- firmou cambem o PrincipeD. loaôcftandoemLifboa. Pêra asduuidas,quefobreclle fe le- uancaílem,íe deraõ no meímo contrato por juizes oArcebif- po de Santiago, &oDeaóda- quella Sè,ôí quando elles efti- ucflcm auzentes^as duas ma- yores dignidades, que íe íeguif- lem,& reíídiflcm á quelle tem- po. O Summo Pontífice Xi(~ to IIII. lhe deu fua authorida- de , & confirmação em 18. de Dezembro do anno 1473. II Porrezãodaadminií-

traçáo de Oliaença , que fe a crccentou aertalgreja^íe infti- tuyo nella o Arcediagado de Oliuença pello meímo Arce- bifpo D. Luís em 13. deSetê- br o de 1474. applicandolbea duodécima parte das rendas, q o Arcebifpo auia de auer na dita adminiftração. Depões ou ue mudança, como diremos na vida do Arcebifpo D. lor- geda Coíla II. do nome. O primeiro Arcediago foi Luis Gonçalues Farto, a quéa infli- tu i cão chama Clerizo de ordts menores ^l^ natural do Bifpado d^Euora . O contrato, íenao fora taõ cõprido , ouueramos de por aqui . pello muito que

poraqi

>?'

importaua aobcmdefta Igre- ja, & àgloriofa memoriadel- Rey D. Affonío o V. faberfc delle,& vcreníe fuás formaes palauras. Contudo baflcpór luas forças, copiadas com as mefmas palauras com queef- caõ eícntas.

I i Que elRey tira , ^jf def-

memhra de fy.í^ da coroa de feus Reynos todo o fenhorio da cidade de Braga, Isffeu termo: todaajurdi^ao Ciuel^tf Crime, altajj/ baixa , mero^ tf mixto império ^l^ toda a correiçao^que hora elle^lsf ci Coroa de feus Rey nos tinhão, llf tem na dita cida- de,i'ffeu Caíiello^icfnofeu ter- mo, tf ncvs pej^ods delles , tf a dâ^tf trefpajja no dito Arcebif- po , peraque O)^ delia, afsi, tf da maneira^ que elle Rey 'D\a- ua,tf melhor Je elle melhor apu der auer.

1 3 E qno dito Senhor Rey, tf na Coroa de feus Reynosfi' cara na dita cidade^ tffeu ter- mo, tf nos moradores delles, tf delinquentes, a alijada somente do Crime, com f eu exercido, da qual conhecera po rfy,oufeu^ of- fciaes emjua Corte , por appel- lacaÔ,ou aggrauo. tf mães nao. E que não poderá o dito Senhor Rey, nem os que depões dellefo- rt, alhear defy,tf defuaCoroa,

tf dar

250

Capitolo LIX .

if dar a pejjba algúa , qual— quer, quejeja a dita jur dição no crime, domcdo^que lhe fica, moi femprea í^eteràewfy,^ emfua Coroa.E quefe dandoa^u doan- doa^ ou alheandoa por qualquer outro modo quefeja^ ^ requeri- dos dentro em trinta dias a não tornarem a encorpar ar emjy, if fua Coroa ^ pello mefmo cafo apercão^ÍP'feja realmente tor- nada comfeu y^, l^ exercido j ao dito Arcebifpo^ i^ a fua dig- nidade^ ^ a [eus fuccefiores, pê- ra fempre.

1 4 Oue nM poderá por na í dita cidade, oufeu termo. Cor- regedores, Ouuidores , nem jui- zes,nem Alcaides , nem outros officiaes , qdo ditofenhorio Ci- uel, ou Crime ajao de "V^^ar .Ne tirar officia es alguns na dita ci .dadefob qualquer cor , quefeja, nem direSle ^ nemindireãé ^ ísf q tudo isio fique a difpofifiao do Arcebifpo.

1 5 Que nunca j4 mães na dita cidade, ^feu termo entre, oupofião entrar Corregedor, Ou uidor ^Commijfiario^nern Meiri- nho delRey^ nc outros ofiiciaes , mayores, ou menor es, per Via de correição ^^ ^^r delia, i^ por cada nje^,que o contrariofi-^- rem encorrao emfentenca de ej- comunhão mayor\, refiruada ao

Sumo Pontífice. E o Arcebifpo poffa aggrauar as cenfuras , co- mo yirfermaes conueniente. 1 6 Efe acontecer, que o di- to fenhor Rey, ou algum de feus fuccefores J>enhao a Braga, não poderão conhecer ^em quanto nel la efliuerem , nem emfeu termo de algúa coufa ,faluo no crime ^ ^ íUo per appellação , ou ag- grauQj como dita he^if mães

não.

vj porem, que iHofe nao

entenderia em ca-:^ de treiçao, porque então poderiao conhecer delle o dito Senhor Rey perfy, oufeus officiaes,pornoua aução.

1 8 Que qualquer das par- tes, q contra eíle contrato 'vier emparte, ou em todo,paguepor cada ''ve^á outra, dom mil cru^^ 'i^^.dos , mas depões de lhe fe- rem julgados pello Arcebifpo , y Deão de Santiago, ou emfua au ^encia,pellas duas Dignida- des mayores , i^ refidentes à- quelle tempo na dita Sè.

19 Mandaraófemprcos Rcys defteReyno guardar fir- me , ôc iuuiolaucl efte concra- CO , fem macs entrar cm Bra ga, ou em feus Coutos alçada, íaluo, quãdoa confentira6,ou pedirão osArcebifpoSjporaíli conuir aobemda juftiça.

2.0 ElRcy D.Manoel pal- iando

D.LmsPires

2Sl

fando por cíl:a cidade o aiino i;o4Cjuando fe recolhia de vi ficar o corpo de Santiago em Compoftella, nem vara alça- da quis trouxcflem cm Bra- ga os oíííciaes de íua Corte,an CCS referuio , em quanto nella efteue,cora os doArcebirpo,q entáo era o Cardeal D. lorgc daCofta, como era íua vida diremos. Vindo por eftas par- tes com alçada em tempo do mefmo Rey,noanno 1496.?^ rodeGouuea , & no de iji^- lorge da Sylueira,mandando- Ibc notificar eftecontraco^paí faraó por Braga, & feus Cou- tos, fem nella,& nclles exerci- tarem jurdiçáoalgúa,ordenan dolhoaífi fua Alteza. II Meu pay D.PedfodaCu nha,fendoPreíidéte da alçada, q por mandado dclRey D.Se- oaniaõviíitauaasComarcasda Beira,Tralosmontcs,(S: Entre Douroj& Minho, també naõ entrou ncrta cidade, cm al- gudefcusCoutos,por,aírilho mandar o mcfmoRey portres cartas fuás, que eftáo cm nof- fo podcr,efcritas , as duas pri- meiras em Cinrra a 8. de lu- Iho 5 & primeiro deSctébro, a terceira em Coimbra a ió.de OutubrOjdoanno ijyo-Ou^ tras,queo mefmo fcnhorRcy

' cícrcueo a D. frei Bcrthola- meu dos Martyres, encaõ Ar- cebifpo, fc guardaó nefteCar- torio.

^■t— I IIIIIM.» I ■!■—■■■ I !■ ■■■ .■■IM.— n

CAPITOLO LX.

POEMSE O MAES^ que pertence ao Arcebifpo D. Luis até fua morte.

Oncluida; as ' couías dcfte contrato, ap- piicoufcaou- tras também de importância o Arcebifpo. No mcfmó anno de 1471. fez prazo aos moradores dcEruc- dedo , ordcnandolhe o que a- - uião de pagar dos maniuhos,q rompcílcm. No de 1477. fez concerto com o Clero do Ar cebirpado,doqfclhcauia de dat a ellcsou afcus Viíítadores, quando vifítaflem as Igrejas doArcebifpado,& fobre as lu tuoíàs, votos, & dizimos de certas fearas, fobre q aula gran dcs htigios.Foi cfta concórdia cõfirmada por letras Apofto- licas da Santidade do Papa Xi- ftoIIII. emRomaa 13.de Fe- ucreiro do anno dei478. VIII.

Z dT

2 st

Capitolo LX.

i6,c

foi.

»7'

dcfcii Pontificado. No mcf-

moannode 1477. aos 13.. de

Dezembro fes omcnaocm nas

o

maõs doArccbirpo, Fernão de Soufa da Alcaydaria mor do Cafttllo doCouto deErucdc- do.Coiifta que era homem fi- dalgo, & criado do Arcebiípo por quanto aíTi fc nomeadi- . zendo^ fíw Fernão de Soufa fi- dalgo de linhagem^i^ criado do Arcebijpo meufenhor , quepre- fente eíTalrecebo delh^íst defua maO' afua torre , ^ fortalecia do Couto de Eruè^edo^lif Ihefa çopor èlla preit&^^-if- omemt- gem , i^fc. Foraõ t.efl^munhas Vâfcò Leite , Áliiaro Leite, cidadãos do PortOi& outros. ,Par(ícc-que cílc: fidalgo Fer- náodeSonía, era filho fegutt- ^do de laaódé Magalhães , íc- nhor da Ponte cfa Barca, & ter r a de Npíbr cga, 4" e '^a (o u rém ; Viana com D.líabel filha de loaó^arbofail p ob ^obt. •..ujx j^^:^Jiú!-•iJKõuco dcuia de dufilí nefte cirgoFernioíde Souía^ porque tio aniidde r479. áos i 15. deDezembiOsihc fes ome-^ : nagem do meínid-Gartcllo^dc ' Exuededo Seballiaô Lo pes ícii eíciíHcirò, dcq"ucfofaõ telíe- mijhhasLuis Gonçalues Fâí-- CO, Arcediago déOliuéça-,ái * outrc5s°~t.T^bonnKob 'jWf

, ,^^

3 Alguns annos antes de lua morte teue o Arcebiípo D. Luís defgoltosjque lhe en- curtarão a vida'Foi o cafojque moraua cntaô na cidade deBra ga contra vontade do Arcebif pojhum fidalgo pornomeFer não de Lima Alcaide mor de Guimaracs,o qual era filho ter cciro de Lionel de Lima pri- meiro Bifconde de Villanoua dcCcrucira,& fenhordas ter- ras de Coura,& Valdeues.Sua molher fc chamauaD.Conftã ça filha dcDiogoLopesdeAzc uedo fenhor de S.Ioaõ deRey, &c das terras de Aguiar, & Pen na. Seus irmãos eftauáo apa- tetados com todos os fidalgos mães poderofos , porque Dv loaõdcLimareu irmão maes velho, com o titulo de fcgun- do Bifconde, puíluya todas as terras de feu pay.Sua irmã D. Maria de Lima era cafada com Vaíco Fernandez Coutinho, filhodeFcrnaó Coutinho íe- nhordas^ terras deBafto, 6c Montcíongo. D. Ifabcl daSyl- ua fua ÍTmã,era cafada loaó Fernandez de Soufajfenhor Bayão, &da Ericeira. Outra irmã few por nome D. Inês dd SotoMayor , erá cafada com LopòGomes d'Abrçu,fenIióí de Regalados, iiarn o . . ?

Fia

D. Luís Tires.

2SS

4 Fiado no poder próprio, & de cantos parentes , íenho- res da mayor parte de Entre Douro^& Minho,tracaua Fer- não de Lima de encontrarão Arcebiípoem tudo quáco po Jia/azendo por íy, 5c gente de íua câfa, grandes aggrauos aos moradores da cidade , & mães vaílailos doArcebiípo. Por ou tra parte, íe queixaua também Fernão deLima dasferarezoés, que lhe fizera o alcaide mor de Braga. Dizia, que contra toda a rezáo, & julíiça, llie puzera fogo aíuas cafaSsq lhe roubara, & lhe retinha húas azemclas carreí^adas de fato, & lhe fizera outros roubos, & afrõtas.Suc- cedeo, ou fofleacafo, ou de propoííto, q criado do Ar- cebiípo de cima do caftello da cidade onde eftau a, a tirou huafetta, ôi dando em hum efcudeiro de Fernão de Lima por nome loaõ velho , que ef- taua junto a parede da vinha do Arcebifpo(onde agora cha- máo o campoda vinha)o ma- tou com ella: feruio efta mor- te de acender mães o animo de FernaúdeLima,& dar lenha ao fogo da vingança, que lhe ardia no peito. Recorreo logo

Ir

aos rriounaes lupremos : deu I queixas a clR.cy,& ouue ptoui

foés,& mádados pêra íeré pre zos os culpados na morte, cm qualquer lugar onde foíTc acha dos,&:por quacfquer juítiças reaes, á que foílem moílradas as prouifoés.

j Eítauãonefietepoosomi ziados, metidos nocaftcllode Braga,onde nãopodiaõ entrar as juifiças ,fem efpecial ordem delRey. Vedo Fernão deLima, q não podia cõfeguir feu inté- tOjajCitou muita gête de todos os cócelhos jíjto a Brag3,<5*: mão armada entrou na cidade, & depões defazer nella muitos infulcos,pos cerco ao caftello, pêra tirar delle por força aos omiziados . Eraõ eíles Vafco Góçalues fobrinho do Arcebif po,AluaroVaz alcaide mor do caftello,AluaroMartins feu fo brinho,Aluaro d'Araujo,Ioa5 de Cedofeita, & outros mui- tos criados doArcebifpo. 6 Soube dcftaviolécia,&das duuidas,q auia Fernão deLi ma,& o alcaide mor deBraga,o Duque de Bragãça,&: Guima- rães D.Fernando ,quis tomar nellasalgií meyodeeõcordia, & pêra iílo mádou a LopõVaf quês efcudeiro de fua cafa , &c Òuuidor de fuás terras nas Co- marcas de EntreDouro,& Mi- nho, &:Tralosm5ccs^peraqem^

X

íeu

2 54

Capitolo LX,

nomcjcomo Fronteiro nior,(^ o Duque era neftas duas co- marcas , lhe requcreílem fe a- quiecaílem , ^dcfirtiflem das injurias, & dannos, que huns aos outroSjCom canta oprcííaó do pouo,faziáo.Cliegoua Bra ga o Ouuidor, & começando a tratar o negocio à que vinha, pareceo a Fernão de Lima,que era boa occafiaó aqucUa de fc aproueitar do braço, & poder do Ouuidor, perarõper o caf- tello, & prêder os omiziados, na formadas prouifoés ,q lhe aprcfentauadc fua AIreza:& q náo o queredo fazer,lhe rcque rid,que íe foííe embora, & nao impediíle a execução dos man dados rcaes, proteftando auer por clle, ík por íeus bens , to- das as perdas, danos, & roubos que do Alcaide mor , & raaes omiziados , parentes, &: cria- dos do Arcebifpo , auia rece- bido.

7 Ouuio com atenção ef- te requeriméto o Ouuidor do Duque, refpondeolhe, que el- le reprefentaua ao mefmo Du- que, & queemfeu nome,co- mo Fronteiro mor, que era neftas comarcas ,a quem per- tencia acudir a todas as fron- teiras dellaSjfora certo , queel- Ic Fernão de Lima fe entreme-

tia com muitos foldados,& gente d'acmas à tomar o caf- tello deBraga, quceftauaaíer uiçodclRey,& do Príncipe, pondolhe cerco , &: eftancias pêra o combater, & que clle como Ouuidor do Duque, a quem pertencia faber,que po- deres tinha pêra combater a fortaleza com gente armada: lhe não podia confentir q pu- zeíle cerco nella , íem efpecial ordem dclRey , não auédo no caftelloquem defobedeceíTe a feu real feruiço, & que porel- Ic Fernão de Lima ter junto te, & foldadefca pêra entrar por força no caftello,clle Ou- uidor ajuntaria tanta gente, quanta lhe folTe ncceflana pê- ra impedir a entrada do caftel- lo , & lhe requeria , q elle def- pediíTe logo dali fua gente , & leuantaílè o cerco da fortaleza, fem a mães combater , & não o fazendo, proteftaua dar con- ta do cafo a elRey , òc lhe man- dou, quedeixafle a violência de que vzaua, & o poder das armas , & requereíTe ao Cor- regedor de EntreDouro.& Mi nho roíle prender os omizia- dos ,& q lhe daria para iíTo to- do o fauor,ôi: ajuda ncceílaria, acodindolhe cinco, ou íeis mil homens das terras do Du-

q

ue

D. Luís Tires,

255

que,dizêdo macs,^clRey naó auiade {crferuidodeelle. kn- do peíloa particular, íeni ordé de jultiça,con^barer 2,0. ou 30. homens que ali eftauaOjtodos incmigos léus ^ & apodados a morrerem,antes qucfeentre- garenijà conta de prender qua tro, ou cinco, que eraó os ho- miziados.

8 Comcfterequirimen-

to leuantou o cerco Fernão de Lima, polloque não dcíiftio defazeraggrauos aos criados, & vallallos do Arcebiípo, dos quaesclle íc queixou a elRcy, dandolhe conca dos procedi- mentos de Fernáo de Lima, & das violências qafua ígrcja,& vaíTalos tinha feito: de tudo el- Rey mádou deuaílar,& fe paf- íàrão prouifoés peraFernão de Lima com fua molher , & fo- gra íairem da cidade de Braga, em quantonella eftiueflea al- çada. E pcraque ouueííe iguaU dadc, rogou elRey ao Arcebif- po fc foíTe íora da cidade, pêra» que melhor pudcílera os mi- niftros da Alçada proceder no caftigo dos culpados, & man- dou aFernão de Lima,quc por fy , ou feu procurador apare- ceíTc na corte a dar rezao dos delitos,que íe dezia ter comc- I tido contra o Arcebiípo , feus

criados,& vaíTalos. 5> Ncfta occupaçáoj& de- fcnfaú de fua authorídade , & vaílalos, o tomou a morte, Sz recebidos todos os Sacramen* tos fc foi a gozar da bemauen- turançano mes de Março do anno de 1480. foi Arcebifpo perto de catorze annos, mães algum tempo, do que nos lhe demos no Catalogo dos Bif- pos do Porto. Seu corpo foi fepultado na Cathredal,ondc jazcõos Arccbifpos íeusan- teceíTores : pareccncs, que na capella de S. Benco,que eftá de baixo da efcada de pedra , que fobeperaoCoro , porque no alto da capella da banda defora fe vem efculpidas fuás armas, q como diflcmos , faõ hi^as barras atraueíTadasjbrancas, S>c negras , cm o alto hum P.Y. que era a emprefa de que vza-

ua.

10 ForaõSummos Pon-

tifíccs no tempo quegouerna- ua efta Igreja o Arcebifpo D. Luis , Paulo fcgundo . & Xif- toIÍIL &Rcy de Por- tugal, D. AfFon- foV.

ÇAPI-

256

Capltolo LXI.

CAPITOLO LXI.

D. IO AM MELL O V. do nome/91. Arcehifpo de Braga.

OID.Ioaõdc

Mello filho ter cdfo de Mar- tim Aff õfo de Mello o moço guarda mòrdelReyD.DuarcCj irmáo de Rodrigo AíFoníode Mello Conde de Oliuença,fua mãy fe chamou, D. Margarida de Vilhena, filha de Ruy Vas Coutinho fcnhor de Ferreira, & Meirinho mor defte Rey- no. A primeira dignidade, que Ihefabemos , hea de Bifpo de Sylues,& porque delle temos pouco mães que dizer, &tam bem por que foi o primeiro Bifpo , que daqucUa Igreja foi tomado peraefta,nãofcià fora de occafiaó dar mos aqui qualquer noticia de feus Bif- pos.

z SuccedeoalgrejadeSylucs a outra,tãbé Epifcopal no Al- garue,a que osConcilios anti- gos chamauáo FJ?onoha , ella- ua ondengora he Eflombar^Xn-

gar de trezentos viíinhos , da outra banda do rio de Sylucs, em diftancia de húa piquena legoa. Os Mouros lhe muda-i ráo o nome cm Exuba. Fize- mos jà memoria de feus Bif- pos em vários lugares defta hiftoria, & dados Bifpos do Porto.De Ithacio grande per- fcguidor do hereje Perciliano. DeVicentc,que aífiftio no ciliodc Eliberi anno de 33;. cm tépo de Conftantino Mag no.DeSaturnino,qucfe achou no primeiro Conciho de To-, ledo, anno 400. De BeHito, q fe achou noíegúdo , anno ^6/. De Pedro, que fe achou no ter ceiro,ãno ^89. De Saturnino, queaíTiftio por feu procura- dor, & Diácono SagarcUo no oitauo,anno6;j. DeAgripio queaífiítio porDanielfcuPref bytero no decimo quinto , an no 6'^?,. Do mcfmo Agf ipio^ que alfiftio no decimo feifto por Chriftis feu procurador, anno 693.

3 Acabou fcíii duuida a

dignidade Epifcopal em VíTo- noba,com a entrada dos Mou ros em Hefpanha,& como el- Ics a foraó dcixando,&; paflan- dofea morar aSylues,ali quize raó osRevsChriftaõs q íc collo caíreaSèCathrcdal,nãologo,q ,

n.io.

l.pc, 80, n>2'

Cdtaltdos Bifpos do Pon.i.f. CS.

Cata! àti \ Bifpas Porf.i.pÁ

CIO,

ganhou

T>.Io^decMelio.F.

257

I2.C. zS

SrãíLliu.

Chrandtl Rej D, AJfoH, 3.

ganhoa a cidade elRey D.Fcr- nandodeCaftella aosMouros, mas pouco dcpocs. O primei- ro Bifpo de Sylues, que acha- mos nomeado cm tempo del- Rcy D. Sancho o pri meiro de- ite nome cm Portugal, fendo Arccbiípo dcfta Igreja D.Mar tinho Pires, pelbs annosdc i ipi.fechamaua D. Nicolao. O fcgundo D fr, Roberto da Ordem dos Prêgadorcs»a quê clegeo D. Aífonfo o X.Rey de CaítelUfilho dclRey D. Fer- nando , & mandou pedir Teu confencindéto^pcra entrar no Bifpado ,$elRey de Portugal D. Affonfo o cerceiro , como fenhor do Algarue, & padro- eiro daquellas Igrejas,no an- nodeiiH-

4 Duarte Nunes deLcaõ naChronicadelRcy D.Affon fo o terceirojcm hum Catalo- go ^ que ali põem dos Biípos de Sylues , de diz Ihcfoi man- dado peliòBifpo da mcíma ci- dade D- Francifco Cano, fem fazer menção do Bifpo D. Ni colao,pocm era primeiro lu- gar D. fu. Roberto da Ordem dos Pregadores . Depões vai nomeado os macs Bifpos,atè D. Francifco CanOj pella ordé fcguinrc. 5 DbmGonçalojD.Gar-

cia,-D. fr.Bcrthoiamcu frade /)ominico, D. ir. Domingos, D.IoaõSoaresj-D.Aífoníianes^ D. Pedro primeiro do nome, D. fr. Aluaro Paes frade Me- nor , o que cfcreueo de Plan* ãu Ecclefi£,D. Vâ(co, D.loaò fegundo^D. Martinho primei ro,D. Pedro IID.PayodcMei ra.D.Aluaro II.D. Martinho II. que depões foiBifpo deLif- boa, & lançado da torre dos línos abaixo /como cfcreue- mos na vida do Àrcebifpo D. Lourenço.D, Rodrigo,D. Fcr nando I.D.Luis, D. Gonçalo II.D.AluaroIII. que depões foi Bifpod'Euorâ, D. loaõ dtj IA Mdlo ÍIÍ. que foi o noíTo Ar cebifpodcBraga.D.IoaõIIÍI. de alcunha o Madureira , ou Camello, que depões foi Bif- po de Lamego , por trocar D'FernandoCoutinhó,D.Fer nando Coutinho, que de La- mego foi pêra Sylues,foi Rege dor da caza daSupplicaçáo,D. Manoel de Souza, que depões foi Arccbifpo de Braga i cuja vida em íeu lugar eícreuere- mos,D.MaftinhodePortugaI, que fora Bifpo da Ilha da Ma- deira , ôc Primaz do Oriente, morreo antes de ter letras de Sylues^D. loaõ de Mello V. q depões foi Arccbifpo d'Euora,

y1 D^

258

Capitolo^ LXIL

5

D. leronymo Ozorio bom Theoloczo,& eminente na lin goalacnia,como o moftraõas muicas,& varias obras^queef- creueocD.AíFonfo deCaftel- braneo_,q depões foi Bifpo de Coimbra , & Vizorey defte ReynojD, leronymo Barreto II.D.FrancircoCanojD. Fer- não Martins Maícarcnbas II. depões Inquiíidor Gêral,o fc- nborD. loaõ Coutinho VII. depões Bifpo de Lamego , ^ agora nomeado Arccbiípo d' Euora,D. Francifco de Mene- ies,q tinha íido Bifpo de Lei- ria , por fua morte eftà nomea ipo pcra aquellalgrcja o fenhor Francifco Barreto defcmbarga dor do Paço, & do Confclho Geral do Santo Oíficio.

6 Z)e Syhics fc paíTou aSê Cathredalpera a cidade de Fa- ro no mefmo Algarue^por fcr mal faõ áquclleíitio, & fchir de todo defpouoando.Fezfe a Mudança no gouernp do Bif- po D. AíFonfo de Cafielbran- cOj por morte do Biípo D.Ie- i:onymòOzorio;& dccncão pêra féíTdê cm Faro os Pre- lados daquclla Igreja; de cuja Oiocefc hc todo o Reyno do Algaruc.'." ^ifiG o

7 A mudança pWaHraga do ArccbifpoD. loao de Mello,

foi anno de 1480. por mor te do Arccbiipo D.LuisPíres. Nefte mefmo anno o leuou Dcos pcra fy dentro em 4. me zes,mas depões de paliadas aslctras,& o q temos por mães ccrto,antesde tomar poífcdo Atcebifpado. No Algarue dc- ucauer muitas memoriasfuas, aqui nenhíias achamos , ne o tépo lhe deu lugar pcra asaucr^ Os Catálogos daSancriftia,& RclaçáOj& o Padre Cofmcde Magalhães o ccntáo entre os Arcebiípos de Braga. Era Síí- moPótificeXiftoIIILERcy de Portugal A AíFonfo V.

CAPITOLO LXIL;

D. lOAM GALVJM

VI. do nome , 9i. Arubifpo de Braga.

OMIoaõGal uáo Arcebif"^ po de Braga» foi filho de Ruy Galuáo eícriuáo da fazenda,& depões fccrerario delRcy D. AíFonfõ o V.& de fua molher Branca Góçaluez. Teuc outro irmão por nome DuartèGaluuo ho- mem

D . íoaÕ Calmo VI.

2 $9

mêdoutonas letras humanas, & q Cfjpos por mandado dcl- Rey D.Manoel, ou reduzio a mclíior cftylo ávida dclRey i)^íFonfo Héfiques,& acjué omeímoReyD.iVIanoclraã- dou tratar negócios de muita importância com oSumoPõ- tiíice Alexandre VI. & como Emperador Maximiliano, & Rey de França,& vltimaraen- te o Rey dos AbexinSjcha mado Prcíle íoaõ, em corapa nhiadoEmbaixadorMatheus, q de tinha vjndo a cftesRey- nos. Morreo Z)uarte Galuáo na Ilha de Camarão, celebre pello deíafio , q pêra cila fize- raó Fernão Gomes dcLemos, & Simão d' Andrade , mas muito mães por íer a primei- emd.iJtHi j.^ fepulcuraífcus oíTos íc crés- ladaraõaPorcugal)de hu varaó tão iníígnc,& de q osRcys de- ite Rcyno fizeraõ tanta cota. Corria cncãosnno de i py. t Seruio tambcmD.IoaÕ Galuaò alguns tempos de fe- crctario,& cfcriuaô dapurida de dclRey D.AfíonfooV.Foi outro fyPrior mor dcS.Cruz, &cftando feruindo cftés car- gos foi eleito Bifpo de Coim- bra no anno de 1461, O Sum- mo Pontifico PioII.quclhe paffou as letras o fez juntamé

Jaaí de Bar, Dt-

iDua.Gd \uãochrsnt [delRejD. \AfHen. ,^.58.

to.x.reY:

te feu Legado nefte Rcyno , a fim deelic comíuainduíbia auer , &c arrecadar da Clerezia dcftcReynoas trcsdizimas de íuas rcndas,que o papa lhe pc dia , õc parece por aluitre do mefmo Bifpo cftando na Cor te de Roma.

3 P-orem a eílategacia fc

oppuferaõos Prelados de Por tugai procurando irapedila, 'T^|^[| primeramentccomelRcy,'& ad^t logo cora o Summo**Pontiíi- cc,efcuzandofe de darem a fua Santidade o que lhe pedia, pcl los muitos fubíídios com que tinháo acudido aos Reys dc- ftcsReynos nas guerras paíTa- das. Mandarão a Roma íobre eftc negocio D* AíFonfo de Pa radinisThefoureiro mòr da Sc de Seuilha, varaõ naquelles ce- pos celebre em letras^ & cm prudência. Efcrcueraó por cl- íe ao Cardeal de Santa Rufina Guilhelmo de EftoutcuillaBil pode Oftia, & Arccbifpo de Ruam , que valia muito com Pio II. peraq quizcíTc fcrlhes interccíTor nefta caufa. A carta aífinarão o Arcebifpo de Bra- ga D. Fernando,quc fe intitu- la ncIlaPrimaz,& oArcebifpo de Liíboa, porem foi feita em nomedetodoocftado Eccle- fiaftico de Portugal, onde di-^

Y4

zcm,

26o

l *iv^-

Captolo LXII,

■:

!^

zcni,& íc qucixáo , que a elle che<?ou, Collimhricenfis Epif- copus^quipompoja quadamela tione , Legatum fe dictt ad h^ec regna mij^um^cumpoteíiate Le gati de latere^l^f ommbm mina turjifu<e non ajfenferint <^olun tati.E depões íefenté por fua Sáiidadc comttcr cfta Legacia cõtáo grande dcfcredito dos Prelados deftcRcyno , imeni tam ohfcuri generis , imbecillis atatis^in^ts difcretionis, isf c6 Jili/t a hum Prelado moço , de baixa geração, & de nenhua prudenGÍ3,&: confelho. Algúa couía teue a carta de apaixona da, porque os cargos cm que clRey D.Aífonfo occuparaao pay doBirpo,& a elle próprio, outra cêfura mcreciaô \ fc não que o aluicre , que dera ao Sú- moPontiíiceJhc azedou os a- nimosjcomo ordinariamente acontecCj&: fe tem por cm pregado o caftigo em femclhá Fcs pefíbas, que nos males cõ- n^ús^bufcáo intercíTcs particu lares. O fim , & fucccíTo defta l.cgacia não achamos em me- moria^parece coh.tudo,que pa roUjpeUo menos não paflou dosi3.deNoucmbro doanno de 1 464. em que na cidade de Ancona faliecco Pio II. 4 No macs ,0 Bifpo D.

loaó feruio Icmprc muito aelRey D. Affonfo o V. tanto com a fa^endajcomo côa pef- íoa. Acompanhouo na jorna- da,que fez aAfrica,quando to mou Arzila, & Tágereno A- gofto de i47i.Pellos quaes fer uiços,&por muitos,que d"an tes lhe tinha feito, lhe fez mer ce,pera elle , & pêra os Bifpos de Coimbra fcus fucceíTorcs, do titulo de Condes de Arga- nily citando o mcfmoRcy em Coimbra a 25'dc Setembro de i47i. Opadraô defta mercê dizafli. ^^^ ao-fioM j Dom Affonfo por gra^à deDeos Rey de Portugal, t^dos Algarues da quem ^ Í^ dalém mar em Africa^^c^Com oPrin cipt meu f obre todos muito pre- f^do^ Isf amado filho primoge- nitOyherdeiro, fademos faber à quantos eítacar ta '-V irem ^ que cÔJiderando nos os grandes ^mui tos^lst muieUremadosferui^os^ que recebidos temos ^ t^ ao dian te efperamos receber deD.IoaÓ Galuao Bifpo de Coimbra , do nojfo Confelho^ ifc. em ejpecial ncís nojfas njílla y i^ cidade de Arc^ila^i^Tangere^em as par- tes d\4frica,onde nos muigra- demente^i^ com muita deligen- cia^ mui bem feruio , Isf que- rendo remunerar em algúa par

Cdrt.d/t' SedíCo'' tmb arcA i.SAe,u\ decoufdi

te

tefeus afsinados jeruiços , como eonuem a todo o yirtuofo Prín- cipe , temos por bem , i^ quere- mos ^afsi por honra,l^ memoria fua , Í!/ da fita linhagem , como por mayor prerogatiun, Iff pre- minencia da fua Cathredal Igre ja^qtie daqui em diante pêra to- do fempre, a dita fua Igreja., ale da dita dignidade Pontijical, aja^íjf tenha a dignidade de Co dado, isf que elle dito Bifpo , ijf porféu refpeito, tf memoria ^to- dos feusjuccefiores Bifpos de Co imbra ^feyxojsffe chamem , Isf intitulem Codes da 'Uilla d' Ar- ganil,Is^ ^lle em efpecial. 6 E afsi os ditos fucceffo

resfeus ajaoj:enhaoJs' '1^'^em de todas as liberdades, priuilegios, franquec^ts^if preminen.cicts,hÓ rcvs^ infigmcts^afsi^i^ taoper- feita^l^ cumpridamente,i^ me Iher ,fe melhor fa'^er puderem^ como por direito , ou coílume os tem , ip' delles ^^ao , ou podem 'Veiros outros Condes das nof- \fos Reynos. 7 E porque as cousas da-

d.ís por honra > ip" dignidade, nãO deuem traçar conjigo dimi- nuição algua^dojãaquirido, i,'f ganhado, queremos , (jf manda- mos, que por caufa da dita dig- nidade de Conde, fua Cathredal Igaeja, nem elle dito Bifpo, nem

'■D.Iao Gaim Õ VI.

261

fuccejforesfeus Bifpos de Coim- hra, terras Jugares,lpillas,quin- tas j coutos Jurdiçoes , homens, nem^oajfallos da dita Igreja, nlwfejâoa nos, nem anojosfuc- ceffores, nem a Coroa dos no^os Reynos, em coujaalgúa daqui em diante maesfujeitos,teudos, tf obrigados , doqueferiao fefim- plefmentefojfem Bifpos deCoim bra,ísf do qneforao ategora em tempo defeus antecejfores. Em lembrança, fè,tffirmidão per- petua das quaes cou'^,apre' ciente fa^er mandamos, afsina- dapor nos, tf por o ditomeu fi- lho primo genito herdeiro, y feU lada de noffofello de chumbo, da da em adita nojfa cidade de Coimbra a zj. dias de Setebro. Gonçalo Fernande^afei^ do an no de 1471. ElRey. Príncipe. Seruio crta mercê ao Biípo de o fazer raaes pontual , com o fcr tãto, 110 fcruiço delRcy, alTiftiolhe íempre nas guerras, queteuecomos ReysCatlio- licos D.Fernandoj&D.lfabcl, fobre a prctençáo daquellaCo roa,<quc dezia virlhe por di- reito , por eftar defpozado a Princeza D. loanna a quem vulgarmente chamáo a í^«/e-

te Senhora.

8 MortooArcebifpoD.

! loaó de Mello foi pello mef-_

mo

262

r - -^- *"

Caútolo LXIL

\RHydiPi .fía c,6, ]jiez.cnd.

mo Rey D. Aftonío nomea- do em Arccbiípo de Braga , o que deuia acõtecer no fim do onno 1480. ou no principio dode 1481. Em Feuerciro de 1482,. afliftia coma Corte em Montemor o nouo, onde en- tão elbua elRey D.Ioaõ II. ôc lhe fuccedco cerco defgoftocÕ o Marques daquclla vilIaD. loaõ^filhode D. Fernando í'e- gundo Duque de Bragança. A Chronica lhe chama Arccbií- po de Braga, não porque ti- ueflejà letras, & Pallio , mas porque deuia Ter confirmado pelloSumrao Pontífice Xi(- tolIII.OdeígoftocótaóRuy de Pina,& André de Rezende comas palauras fcguintcs. 5) Em Feuereiro do amo

de 14S2,. ouue em Monte Mòr, entre D loaÓ Marques daquel- la ^illayip' D.IoaÔ GaluaoAr cehifpo de Braga^grande difere ^ajobre as cafas de hum criado do Marques, que ao Arcebifpo dauao de apofentadoria , fobre AS quaes o Marquês publicame- telhe difiepalaurds dejcompof- tds,de queoArcebifpofe omiepor muifentido, ^fe queixou a el- Rey D. João , que moUrou dijfo grande defpra^^r. E porque o cafofora emfua Corte, if entre taespejfoi-vs^elRey entendeo logo

nelle, per a o que ajuntou os de Jeu Confelho, i!f letrados fem fofpeita , com que elRej,\ auida primeiro certidão do cafo^acor- dou que o Marques logo na quel le dia da publicarão JefaiJJe da 'villa de Atonte Mór^isf delle a cinco díAílogofeguintes^fepaf- fafie alem do Tejo^atè fua mer- cê. O Marquês comprio o que Ce lhe mandou, mo firando contudo^ que o auia por grande abatimí- tojjf aggrauo,

10 Noannofcguince vc- yo o Arcebifpo D. loaõ Gal- uão a efta cidade de Braga, & aos ly.dias do mez dcOutubro de 1485. indo falar ao Cabido, lhe declarou o pouco dinhei- ro com qucfe achaua pêra as letras do Arcebifpado, qnão poderia pagar,fcm ellcs oaju- daré por viadccmpreftimo_,& feruiço ;pclIo que Ihcsrogaua o quizefsé fazer, & que pcra fc- gurança, alilheprcíentaua hií aluara delRcy ,cm qabonaua oempreítimo. A ilio rcfpon- deo o Cabido , que viftas fuás ncccífidades , auia por bem de lhe empreílarjfcgundo a for- ma do dito aluara dclRey, tu- do o que montauão as ren- das do Arcebifpado dcfd' oan no de 1482.. até odei4S3. que deuiaõ fer os caldos ,q por não

ter

to. z.fol

ter letras não eraó ainda fcus. | ir Em 13. dias do próprio mes de Outubro fc achou o Arcehifpona viila deGuima- \ raés na cafa do Thefouro da Igreja Collegiada àcS. Maria de Oliucira , cm prefença das Dignidades , & Cónegos lhe diíle, que clle era porto em gra de falta de dinheiro , pêra a ex- pedição das letras Apoftolicas da prouiíaõ derta dignidade Arcebifpaljrogandoíhes como a filhos, & amigosjque lhe fo- correflem, aííi por viadecm- prcrtimo , corao com o que podiaõ montar as colheitas de leu? beneficies em tempo de dous annos , ao que rcípõdeo o Cabido, que elles auida a cõ- fideraçáo da grande neceílida dededinheirOj&delejando de o feruir^aíli por fua grande no breza, como por outros ref- peitos , lhes prazia de o ferui- rem com trinta mil reaes bran cos da moeda corrente de dez pretos por real,naõ por via de emprertimo^mas pura,&gra- ciofamentCjpello feruircomo conrtadoi. tomo dos liuros derte Cartório, íi NomesdeAgoftodo

anno de 1 483 . fez o Arcebifpo procuração ( não deuia ainda ter entrado em Braga) a Vafco

^D.Iao Galuaõ VL

26:

Martinz de SouíaChichorro do Confelho dclRey,&: Alcai- de mor da cidade de Bragança, pcraqueem íeu nome tomaí- lejuramento a Pêro Pinto ef- cudeiro fidalgo da caza do mef mo Arcebiípo,da fortaleza, & Couto de Eruededo , que Pê- ro Pinto em nome do Arce- bifpo, &i da Igreja de Braga ,a- uia de ter cm guarda , & defen- der, & fazer delia preito , & o- menagem fegundo o foro. Si coftume de HefpanhajComo o fez nas maõs do dito Vaíco Martinz de Souza, &rconfta dos liuros do Cartório do Ar- cebifpado. Na procuração fe aíTma o Arcebiípo eleito, tf confirmado.

1 3 Sem aguardar as letras, & confentimento do Su mmo Pontifice,& fem terpallio co- meçou a exercitar emBraga os a6tos que temos referido, & ai guns outros de jurifdiçãoEc- cleííaftica. Asrezoés^quc pêra iíIbteue,alédofauor delRey D.Ioaõ o II. deuiaó ferfunda- das no confelho ^ que deu o grande lurifconfultoOldrado, q fe refere nas fuás obras , no-

no em ordem,debaxo do titu- lo de ekãione , onderefolue,q os Arcebiípos eleitos concor- deméte pello Cabido de Braga [

podiaõ

1 0,1, foi. 20.

OUrad. conf^.

2Ó4

Capkolo LXIL

j jr, f «Cifra j

4e eUa»

' Car.de S. Crtt^i Al

ma^. !«• t»ac. u far- ({/"Co imh.efe» ttrm. ,

r. 14, i3.

H*

podiaó gouernar o Arcebiípa- do antes d' as bulias fe paflaré eraRoraajô.: affirma q efte era o coílume deíh Igreja, & le ti Ilha praticado cm vários Pre- lados,pcllas rezocs , afunda- mentos de direito, qne fe po- dem ver no mefmo Òldrado. Porem o Papa Xiilo lílí.qen taõ prefidia na Igreja de Dcos, o íentio de maneira, q lhe não quis paliaras bulias, pelloque, nem tomou poíle derta Igre- ja,nem gozou os rendimen- tos delia 3 & teue ainda outro mal , que ficou ícm o Biípado de Coimbra,, por fer confir- mado nelle o BiípoD. lorpe Dalmeida,& era Prior de San- ta Cruz D. loaõ dt Noronha, que foi o vigeíimo quartoPre lado daquelle mofteiro. Afli fi cou o Arccbilpo D.Ioaó Gal- uão pobre, & com o rendi- mento de húa Igreja^ que ellc mefmo le tinha annexado. 14 No Cartório de Santa Cruz fcachão varias efcritu- ras do annoMCCCCLxxxiiij. em que D. loa óGaluaófe cha- ma Prior daquella caza , & do moíleiro das Donas àtSi. loaõ de Santa Cruz ,de que nos fi- zemos menção na vida de D. lonõPeculiar.PorêaEradeíks inftrumcntosdeue eítarerra-

dajporq no ãno de 1461. na tradição, qdiflcmos fazião os Prelados do Reyno diáte del- Rey D. Aííofo o V. à Legacia do mefmo D. loaõ Galuão,fe valiaô muito da priuança,& authoridade, que com clRey tinha o Prior de Sara Cruz D. loaõ de Noronha,quefucede- raaD. loaõCaluâo. Saluo fe ellc foi tomado outra vez pêra Prior deSantaCruZjO que não achamos noCatalogo dos Prio res daquella caza,de q faz men çáo Pcnoto na fua hiíloria tri- partita.

I j NaÕ nos confta o lu-

gar,nem o próprio tempo em que morreo o ArccbiípoD. loaõ, mas confl:a,que era mor to no mes de Agoltodc 148;. porque nclle mandou elReya Vaíco Martinz de SoufaChi- chorro alcaide mor de Bragan- ça , & Fronteiro mor da Co- marca de Tralosmontcs, com muitos fidalgos , & gente de pê,& decaualojcom híía carta aPcro Pinto Alcaide mor de Eruededo cm quedizia. ^«^ foSenhor protme leuar hora def- U mundo pêra Jy ao Arcehifpo D João Galuao, de que ouuemos aque!lefentimento,que he rez^o^ pello amor que lhe tínhamos: tf por quato a nojfo feruiço cúpre

eUa

to, I, rer. mcm fol.\ 49. -ver/l

to.^.fel, 21.

Z). loao Galmo.

26$

eíia fortale^ de Emededofer logo entregue ao Chicborro, "Pos encomendamos , {p* mandamos^ cpiHaaprefenteJha entregueis logo. He a carta elcrira em Al- cobaça a 1 3 . dias de Agofto do dicoannode 148^, \6 Pêro Pinto não quis com tudo entregar a fortaleza, dado por rczão,q o não fazia porfer cafo de menosvaler,por quãto c!Ie a não recebera delRey,mas do Arcebifpo, & de Braga, a quê tinhafeito preito,& orne nagé de a não entregar a outra pclíoa^q quádo a Igreja deBra ga lha quizefle Ieuátar,q então deixaria a fortaleza liuremête. Co elta rcpofta mádou Vafco Ivlarcins de Souza aBraga,aon de em Cabido elegerão ao Co nego EítcuaõFalcão^cõ procu- rações baftantes pêra irentéder neftascouzas-.clleo fez to- da a fegarança,& cautela,leuã- tando a omena^é do couto,& fortaleza a PeroPinto,& entre gandoa a Vaíco Martins Chi- chorro,c5 protefl:o,&: feguran ça,q tãto q ouueíTe Arcebifpo eleitoJogoclRcylhc mãdaria entregar a fortaleza de Erucde- do , pões nella não tinhão os Reys de Portugal jurdiçãoal- gúa^ances era inteiramente vni lda,&:encorporada ncfta Igre-

ja,& SèdcBraga,deqantiquir ílmamente ellaua em poíle do tempo dos Reys de Leaõ,& de todas eílas contendas, &reío- lução, mandou o Cónego ti- rar os inílrumétosnccefiarios . 17 Foi D. loaõGaluão inti- tulado Arcebifpo deíb Igreja 4 annos pouco mães , ou me- nos,fendo SúmoPõtifiCe Xif- to I IlI.&Innocécio VIII. Rey de Portugal D. AíFonfo o V. nofeu vitimo annOj&D.Ioaò ofegundo.

CA PI TOLO LXIII.

DE ALGVNS RELI- giofos defanta Vida^da Ordc dos Menores ^qíie nomofieiro de S. Francifco de Ponte de Lima flor ecer ao ^ if da erei- çâo da Collegiada de Viana.

O tempo do Arcebifpo D. loaõ Gaíuaõ, fjdou navilla dePõtedeU- mao mofteirodeS.Francifco, o primeiro Bifconde de Villa noua deCcrueira,D.Lconcl de Limajfilho de FernãoAnncsde Lima,fenhor das terrasde Val- deues,&; Coura , & de D. Ta- reja fua molher , filha de loaõ Gomes da Sylua Alfcrs mor

Z ' dJ"

2 72

Capitolo LXIII.

delRey D. loaõ o primeiro. Onde íe mandou enterrar Tua molher D. FelippadaCu- nha.Hiha de Aluaro da Cunha IcnhordePombeiro. 2, Floreccraõ cm todo o tempo grandes fcruosdeDeos neftc morteiro. A tile íe reco- Iheo , & nelle jaz fepultado^o grande varaó íi.Pedro da Car- nota, depões de íer Prouincial da Prouincia de Portugal da Obfcruancia. Viíítou fempre a , arrimado ao íeu bordão. Nãoconfentiaa ícus compa- nheiros leuarem algum modo de prouizaõ pêra comerê.Quá do chcgauaaalgú lugar,fe nel- le auiaConuentoda Ordem, ou de qualqiieroutraReligiaó, ali fc hia ; quando não, pellas ruas pedia de cfmola , o q auia de comer. Recolhido ao mof- teiro de Ponte de Lima, to do o tempo, que lhe fobejaua do Coro,& de feus exercícios cf- pirituaes , gaftaua cm fazer a horta,cllecauauaaterr3, plan- taua a hortaliça , & a bcneíi- ciaua/em fcfrcr, que algú ou- tro o aj udaflc. E tudo com tá- ta alegria , como fe naquellc humilde exercicio , feruira os mães honrados cargos de lua Religião,

ri

3 Outro leruo de Deos

viueo lambem aqui, &mor- reo por eftc tempo, chaniàua- fe íi.Saluador^Qia leigo,&: ícm letras, mas masmuiallumiado no entendimento.-grandeami go dafanta pobreza, & da ob- íeruancia religiofa . Aparccia- Ihe muitas vezes o Demónio, aífi na Cella , como na Igreja, em varias,& horriucis figuras, mas entre ellas o viíitaua aMãy de Deos , dizialhe entáo o íeu humilde feruo , fe m perjigui- ^oes do Demónio hão de ren- der. Virgem Senhora, ijeruos, não <iJos pe^o , que mas tireis, mas , que mas dobreis. Ficará a efcuridade do inimigo infernal Jeruindo defcmbraa'vofaale- gre^ tffermofa'VJna. 4 Ncítcmcfmo tempo

rcue principio a Collegiada da infignc villa de Viana, por in- dulbia, & zelo do Bifpo de Ceita D. luftoBaldino^a cujo Bifpado ainda então perten- cia toda a Comarca dcValen- ça.Começou primeiro na ígrc ja de S, Saluador, júto a S. Be- to das Freiras. Pouco depões fe fundou a Igreja noua, & fe mudarão a cila os Cónegos; faõ por todos fcis , com Aci- prefte, que hc a principal dig- nidade , & Thefoureiro. A Igreja eílà bem ornada de ca-

pellas

D.Iorge da £oíla Cardeal.I.

267

pellas , &c altares , duas íaõ as principacs, a do Sauciílimo Sa cramenco, onde íeruetodaa noL7rcza da villa , a [dos ho- mens do mar. Celcbráofe nel- la as fcflas com aparato^ & ma- gcílade, porque pêra tudo ha ornamentos, praca3& mães fer iiiço, & grande dcuaçao nos Vianezcs.

D.IOPvGE DACOSTA

I. do norac,93. Arctbiípo de Braga,&:Cafdealda Igre- ja Romana.

CAPITOLO LXIIII.

S EV NACIMENT 0^

dignidadesEcclefiãUicaSy Í!f ojjicios^que teue na cafaReai

OãnodenoíTa redêçãoi40<í. (endo Rey de Portugal D. loaú o primei ro de boa menioria,na prouin cia da Beira^na vi.ila de Alpcdri nha doBifpado da Guarda,na- ceo o Arccbifpo Cardeal D, lorge da Coita, feu payfccha- mou António de Gulmaõ, & fua máy Maria daCofta.Tiue- ra5,alê do Cardcal(aqucm os

Authorcs ordinariamete cha- mão de Alpedrinha) outros fi- IhoSjD.Martinho da CoílaAr cebiípodeLiíboa^D. lorgcda Cofta Arcebiípo de Braga, D. Catherina da Cofta, q foi mo- IherdePero de Albuquerque, irmão do Còde dcPenamacor. D. liabcl moihcr de loaó de Sotto May or , íilhodcD. Pc- dr'Alures deSoto Mayor C6- dc de Caminha,D. Eiuira mo- ihcr de D. Chriftouão de Car- dcnas ,& D. Margarida Vas da Cofta moihcr de Lopo Alurcs Fcyo, a q mandou por em fua fepultura o letreiro feguinte* Aqui ja^Margar ida Fa^ mo- Iber de Lopo Alures trma do Cardeal D. lorgCytf de dons Arcebifposjm de Lisboa D. Martinho daCoHa, outro de Braga D. lorge da Cofia. May de dous Bifpos do Por- toD.DiogOytf D. Pedro da Cofia. z Aprédédo ainda a lèr,paf- fou por Alpedrinha cerco peri grino em hábitos de Ermitão, o qual chegando n porta da cholaondeominino andaua, pregado os olhos ncllc,diíre pe ra o mcí\.rc. Di^ei aospaysdef- teminino, que 0 criem com io- do o cuidado , porque ha ain- da de ^ir a fer Cardeal . Ou-

Zi uiraõ

2Ó8

Cafitolo LXIIIL

s

1

uiiaó ao Ermkaó os outros

njininosdaeícola, & fazendo

feita do ditOjO começarão dali

poi cSiace a chamar cão impor

tunamente Cardeal^ que as

pedradas Te podia liurar delles.

Mas O dito áo Ermitão bem íe

j , I viofora maesq ditoacafojteue

I 1 os annos còpriméto,& deu

\ I ío! peitas de íair da boca de al-

Y \ gumAnjo.

I \6 Depões dcapréder na terra

\ \ as letras liumanas,refoiaParís,

|; Icómúeíchola dos Portugue-

\ I zesnaquciiecépOjOndefcu pay

í , ! o íuítécou, a elle , & aos dous

j^ j irmáos,D.Martinho,& D.Ior

I ' ge,como os melhores de fcus

i nacuraes,q naquella Vniueríí-

I dadecíludauão, argumetobaf

r 'te, pêra o termos pornobre,

1 villo como de Portugal aParís

í íò hiaõ por entaõ eftudar rao-

I ÇGS de conhecida nobreza , &

; aquénollbs Reys fuftétauáo

i oídinariamente defuafazêda:

! ajudadecuílo,qD.Iorge, &;

Dãm^da. fcus irmãos, por feréjalédeno

cklRsyD,' btes,rícos,efcuzaraõ. He bem

Man. f. veri-aJe,q Damiaõ de Góes , o

BiípoD. leronymo Ozorio,

Chaco, &Onufrio Pauino, &

outros authores daquelle té-

' po^dizé delle , q naceo de pays

humildes. Mas cábê fr Bertho-

de rei/MS lU 1,

\ Omfi C:

lameu Póce, R elieioío de Cií-

ter deixou eferito , q o Cardeal D.Iorge por iíTo tomara o ap- pellido áçCofia,^ tinha poríua máy,porq era dcfcédente del- Rcy Costa^^ay deS.Catherina Virgê,& martyrpntes acrefcê ta,q por iílb mefmo trouxera a roda da mcfma Sáta no eícu- do de fuás armas, como tabé a trouxerão os Arcebifpos fcus ir máos,(S«: os defcêdentes de fua irmáX).Margarida.Cótudo tra zer por armas a roda, ou foi de uaçáoqtcuecóS. Cathcrina, ou por memoria dalnfanta D Cathcrina^comoabaixofc dirá. 4 Os princípios de fua boa fortuna fecõtaõvariamête. A muitos ouuimos, qfêdo mini no fc fayo de fua pátria, &foi ef tudar a Liíboa , ondc,3 poucos dias de fua chegada,outro mo- ço o ferio hiáa pedra na cabe ça,defronte de certa janella do paço, cm q então cftaua a Infa ta D. Cathcrina filha delRey D. Duarte, a qual cópadecédo fedo minino,o madou bufcar, 3c curar diãte de fy,aíFciçoãdo felhe logo de maneira por fua viueza,&boa graça,q tudo o q pello tépo adiante pode auer por fua author idade, & valia clRey D. AfFonfo o V. fcu irmãojfoi pouco, pêra o hon- rar,& enriquecer..

Porem

Fida de^ D Pedro' [ I

da Coftíi. i

jy.lorge da QoUa Cardeal.L

26ç

$ Porem cftc modo de or denaras felicidades doArcebif- po Cardcal,alé de encontrar o queremos dico, encontra ca- bem os tempos^porq naccndo noanno de 1406. quando ain- da o pay da Infanta D. Cathe- rinaclRey D. Duarte, não era cazado.nem ofoi dahiaalgús annos, mal podia a Infáta vilo a alcançar mininocniLifboa, ^aíFeiçoarfelhe naquclla ida- de. O certo he,que nabeneuo lencia ^ èc fauor defta Infanta teue principio fua boa fortu- na,não em Liíboa,mas na villa de Santarém , onde então fer- uiade Aciprefre, ouuindolhe hua pregação (era exceléte pre- gador) a q tãbéaiTilíioelíley D. Aftonfo toda fuaCorte. 6 Pedioo logo a Infanta

aelRey pormeíbe, & a pou- cos dias o fez feu capellaó mor, & elRey feu cõfeílbr, &c de feu Confclho,cargos cm q femof trou digniílimo de outros ma- yorcs. E foi a ííi, que vagando o Arcebifpado de Lifb oa a In- fanta o fez nomear nelie. Sedo Arccbifpo , por feu coníclho, & grandes a j udas de fua fa- zcnda^emprendeoelRcy as quiftas dcAlcacerCeguer, Ar- ziila, & Tanger, pelios annos 1458. & i47i.nasquacscãbê fc

achara coma peílba, feelRey Ihoconfentira.

7 Pretendeo, graue.s,& cficacesrezoêsjdiuertir a elRey do cazamenco da Princeza D. Ioanna(heaq oshirtoriadorcs Caííclhanoschamãoa Bekra- neja , & os no lios a Excel lente Senhora) aibâ dclRey D. Hen- rique o IIII. deCaílclla , &de fua irmã a Rainha D.Ioána, & das guerras q por cfte rcípeico fez aos Reys Catholicos. Mas íõ depões, q fevio o mao fuc- ceflb delias, entendeo elRey q no Arcebifpo acfiara fcmpre a verdade pura , & limpa de to- do o intereíle^por onde os ou* tros lha corrõpiaõ,&: cfcõdiáo.

8 Quizera lambéleualocõ- íígo a França na jornada, que fazia àquelle Reyno,a pedir ío corro a elRcy D. Luis o vnde- cimo do nomCjContra os mef- mos Reys Catholicos,mas co mo efta fua refolução encon- traua á MageftadeReal,&demi nuianocsforçoPortugues baí tancearaayorescõquiítas, tra tou o Arcebifpo de fc efcuzar, &deíl\iadir a elRey da jornada fazédo pêra eíf e effcito em fua prefcnça,& dos de feu cõfelhp híJellegãtearrezoado.Ouuiraõ fe fuás rezoês,mas como mui- tos cftauão empenhados na [

Z3 ida

270

Capitolo LXIIII.

idareieitararunas no publico,íe no particular todas aslouua raój&approuaraõ. Reíulcou daqui, queoArccbirpoficou, & elRcy Te partio a França, dergofto,& contradição do Reyno : ondeadeuinhauaó a- charia boas palauras, obras ne- nhúaSjprometidasdeprincipio pelloFrãccs,mayores ainda do q íe lhe pediaõ, ou efperauáo. 9 VendoreelReydetodo defenganadoemfua pretéção, tratou de renunciar o Reyno cmfeu filho o Príncipe Dom loaõjordenandclhe por carta fua fe fizeíle logo jurar , & Ic- uantarporRey, porque elle Tc hia a leruíalemsoxide determi- naua acabar rcligioío , como fcmpre dezejara. Sahiofe com cífcito cícondido, da Corte de França,auirando a clRcy Luis de feu propofito.Fcllo bufcar, achado, o mandou a feu Rey- no, jà com animo de tornar aogoucrho, & femaqucllcs bons dezejos da vida religio- fa. Aportou em Cafcaes, pou- cos dias depões de jurado o Príncipe por Rey. Tomarão- nocftas nouas andandofe re- creando junto ao mar nos pa- ços de Santos,acompanhauáo no o Duque de Bragança D. Fernando fegundo do nome,o

Arccbilpo D.Iorge,& o Bifpo d'£uora,& Guarda, D.Garcia de Mencíes,aos quaes pergun- tou como auia de receber a íeu pay.Tomou a mão o Duque, & refpondeo , como Senhor? como voíTo Rey, como voílo Senhor, &comovoflb pay. o rofto moftrou oPrin cipc recebia o confclhojpo réabaixãdofeahiáfeixinhoco- mo q queria brincar cUe , o lançou contra a corrente daa- goa.Notou oArcebifpo como prudente, & fagas a acção , & conieiturando delia quãodc- fagradauel lhe fora a reíolução do Duque, chcgandoíelhe a orelha lhe diííe. Vedes 'vosfe- nhor aquella pedra, pões efpero eu emDeos,que me não ha de dar na cabeça. Deu com tudo na do Duque, que vcyo depões a m orrcr degolado por fenten- ça do mefmo Rey D. loaó o II. & na do Bifpo,que em Pal- mclIa,como entaipado em húa cifterna , com grandes fofpci- tas de peçonha , acabou a vi- da.

Aqui começou oPrin

IO

cipe a defcófiar do Arcebifpo, & o Arcebifpo a fe vigiar do Príncipe , porem fua priuança com elRey fempre foi em cref cimento . Procuroulhe o ca-

Dfiarte, Nunesna Chro, dei Rey. D. Affonj».

r.

■Mo

^D. Jorge da Cofia Cardeal.!.

271

Duarte, ■; ,Nutt, vb /upra

Re fjenàe r.i8.

pcllo de Cardeal com o Sumo . leras palauras,Icuado da paixão, PoiKificeXiftoIIlI. Deulho " fua Santidade com titulo dos Santos Martyres Marccllo, & Pedro, no anno de 1476. em 18 de Dezembro, rcccbeò cm Liítoa grande feita , & ap- plauío de toda a Corre, que grandemête dezejaua vello na cadeira de S.Pcdro,& fe oCar dcal tiuera mães qualquer cou za de ambição fem muito tra- balho {eu o alcançara, como a baixo diremos.

Sintia o Principc ver

II

tanto auance na priuança, & dignidades a hum homem de quem náo goftaua,^: íinifica- uao entre íeus validos. Sabiao elRcy , & prccuraua modos, com que depões de íua morte não ficaíTe o Cardeal àdifpo- zifaó do filho : o mães feguro era aufcntarfedoRcynOjmas nem elRey le atreuia a largalo, nem fabia como o fazer, ate que íaindofc hum dia o Prin- cipe a paíTear com ellc a caual- lo,eflando a Coi te cm Almei- rim , ofoi Icuandoaté a pon- te de Alpiarça no caminho de Santarém :alli no meyo delia, o começou a reprender afpcra- mente dandolhe cargos peza- dos , & náo fofFrendo defcar- earfedelles oCardeal. Entre ou I

h

loltou as íeguintes. ^íue^vai agora na morte de Cardeal'^ tomallo^^ mandallo deitar por quatro lacayos de hua ponte a- baixo,Íjf di^er^que cayo delia. Comeftes ameaços do Princi pe fe acabou de refoluer o Car deal na jornada de Roma, ío- breque com elRey auia dias andaua deliberando . Mas por fe não fair como fugido , & ir coma authoridadequefua peíroa,& mcrecimétos reque* riaõ/e lançou fama, que clRey o mandaua ao Summo Ponti- fice com negócios de impor- tância, & que de Roma o cha- maua íua Santidade,como pa- rece chamou, íegundo o que da entender o epitáfio de íua fepultura , que abaixo pore- mos. Leuou com íígo grande caza de criados , & recamara, porque pcra tudo tinha rédas, & todos folgauão de o acom- panhar , & ir feruir. Entrou em Roma, ôi com elleaboa fortuna, que fcmpreem Por- tugal o acompanhou.O Sum- mo Pontífice Xiílo IIII. foi o que mães feltejou fua vinda, como quê por fama cohecia tanto de fuás raras virtudes. Seu Sobrinho oCardcal lulia' no de la Rouore trauou iogo^ Z 4 com

272

Capitolo LXV.

comelle cal amizade, que fe pudcraô bem contar os dous, entre os pares dosamigos macs celebres. Pafciodo Reyno pê- ra Roma , andando o anno de

H79'

12. De Roma fe carteou

fcraprecom o Príncipe, com entender lhe não tinha boa tade,como lho íínificouem húa de 4.dc Feuereiro de 1480. onde depões de lhe dar nouas do q paliara no cerco de Rho- ócs^éc paílaua no de Otranco, conclue. Senhor emiio la Fer- não de Sequeira meu ejcudeiro^ iff familiar , homem muito yof- fojeruidor de 'vontade^ ^ deq eu muito confio. Vojja Senhoria lhe de comprida fè, porque nom ttai la por outra coufa , porque eu faÔ homem de muito boafè^ ; iff por tal me tenho em as cou- j !^<tí doferuiço delRey yojjopay^ \ i^ njoffcvs^posioque me yosfem- ■pre tiuej?eis, & tenhaespor ho- l me doutra ley: pêro faço eu meu \ officio.porfentir quanto esta em I baixada releua a ■^ojfoferuico, I Í2' à ay.S,. fique recebello emfer \ ui^o ,fenao recebermoa Deos, o qual acho , que he , o porque ho- ' mem todaiís cou^is deuefa^r, . por mio perder galardão^ Veyo \ fcmduuidaeftc rcrnãodeSe- ' queira ao Príncipe D. loaõío-

bre a armada, que uo anno fe- guintedei48i.elRey D.Afto- ío íeu pay mádouao PapaXíf- toIIII. pêra defeníàó de Itá- lia contra o Turco, de que foi CapitaõGéral D.Garcia deMc nezes Biípo d'Euorajque com hua elegante oração na prezc- ça de todos os Cardeaes,oíFe- rcceo a í ua Santidade, a clRey, ao Príncipe feu filho,& a todo o Reyno de Portugal , pcra pe lejarem,& deftruiremao Tur- co inimigo comum do nome Chriílão.

CAPITOLO LXV.

HE O CARDEAL D. lorge eleito Arcebifpo de Br a ga , isf como elRey D. Ma- noel pretendeo tra^elo a efle Reyno.

A na vidado Arcebifpo.D. loaõGaluãocí creuemos,co- moXiftoIIII. lhe não quizera paflar as letras do Arccbirpado, o que vendo ciRcy D.IoaõII.porterdaíua parte , fe congraçar com o Cardeal , o nomeou em A rce-

bifp o

^D.Iorge da Cofia Cardeal.L

271

ReMnde ChroiÀel- Rcj D,

loMÕ. 1 C,

57'

bifpo deBraga no áno de 1486. dando o dcLill)oa,q oCardcal pêra efte efFeito renúciou,aíeu irmáo D. Martinho daCofta. Ambas asnomeaçocs foraõde aofto ao Sumo Pontífice In- nocécio VIII. pelloc] amaua ao Cardeal , & a fuás couzas, morméte depões t] feruio de Legado ao Senado de Veneza, & DuquedeFerrara,ondcaca bou couzas de grande impor- tância. Acrefcentouo também nefta occafiaó deCardeal Prcl- bytero, a Bifpo de Alba L5ga. i A boa graça , & fauor,

que em Xirto í III. achou teue com Innocencio VIII. feu fuc ceílbr, a quem deo feu voto na eleição , & conciliou o dos Cardcaes amigos. Mandoulhe elRey dar a obediência por D. Pedro de Noronha feu mor- domo mor, & Comendador mor de Santiago , leuaua con- íigoao Doutor Vafco Fcrnã- dcz de Lucena do feu Confc- lho , grande letrado, & muito bom orador , & por fecretario da embaixada Ruy de Pina, o que cfcreueo as Chronicas do Reyno^com muitos outros fi- dalgos,^,: caualeiros, queacõ- panhauãoao Embaixador.Foi o dia em que fe deu a obediên- cia ao Summo Pontificc ,dc

j grande fefta pcraRoma, porq todos, por acompanharem ao Cardeal, quizeraô ter parte ncl la. Alcançou delia vez grades graças pêra elRey , & pcra o Reyno. A bulia daCíuzada pêra à guerra de Africa:Iiccnça pcra nos Caítellos das frõteiras íe dizer mifla, fem obrigação de acudir as Parrochias , O mefmo nacafa doCiucl. Gran des priuilegios pêra os Capel- laés delRey , da Rainha, & do Principe. Licença pêra fe vni- rem em hum os muitos Hof- pitaes,queauia em Lifboa,dõ- de teue íua origem o de todos os Santos daquclla cidade , taò celebre em toda Heípanha. O me imo pêra os d'Euora,&Sá- tarem.

3 O que fes na eleição de

Innocencio VIIÍ fes na íc— guinte, ondeie quizcra,pude- ra auer oSummo Pontificado, porque logo no primeiro ef- crutinio fayo fegundo cm vo- tos, mas declarãdofe pello Car dealD.Rodrigo dcBorJ3,Hef- panhol de nação , o fes eleger (chamouíeAlexandre VI.) Su- mo Pontifice,íicandolhc por efte refpeito aíFeiçoadiííimo , ôc dandolhc todas fuás vezes nosReynos dePortugal,acer-

j í cado prouiraento dos benefí-

cios

k

274

Ca pi tolo LXV,

cios que vagaíTem , & difpcn- façoés, que pcra eUcs íe pedi í- fcm Foi couza digna de coníí- deração, & muito falladana- queiles tempos, que perfeguin do Alexandre VI. ao Cardeal luliano de laRouore,taõ gran- de amigo do noíTo Arcebiípo; cile com tudo fc ouue dema- neira, que nunca por cila cau- fa perdeo , nem 30 amigo,ncm a beneuolenciadõSúmo Pon- tífice, tanta era fua prudência, ôc com tanto rcíguardo íc ía- bià airer em matérias tão peri- goíás. DcílcrroudcRomía,^: priuou de todas fuás rcndas,& premincnciaso Papa Alexan- drc^ao Catdealluliano, fazen- do mercê delias aoCardcal Cof ta: aceitouas,mas cm proueito de feu antigo pofluidor , a quê ss paflaua todas^onde quer que rcfedia^ fem referuar nada pêra ly , com o que pode viuer , fe períegu ido j rico, & fem as mi- fcíias cm que de força (e vira, fc Deos lhe não deparara hum tal amigo. Ia antes das eleições dos Papas Alexandrcjôi lulio, tinha oCardeal D.Iorge no tificado de Innocencio VIII- Enoannodc 1488. renuncia- do oArcebiípado de Braga , q retcuc defta ves quaíidedous annos.cni feu irmão D.íor<je

da Coíla, grande imitador de íuas virtudes.

4 Morreo no Pontifica- do de Alexandre VI.elRev D.

«

loaõ o II. em zj. de Outubro doanno 14.95. Mas antes de Deos o Icuar pcrafy, como pijílimOj& chriílianiínmo, q era;,reuoluendo em fua memo ria as coulàs , que mães lhe ag- grauauáoa confciencia, man- dou por efcríco pedir perda 5 a Roma ao Cardeal , â Rainha fua molher,a Infanta D. Brites fua tia,com palauras de muito arrependimêto; deulho o Car deal,& com lagrimas ,mandan dolhe fazer cmRoma celebres exéquias, & gaílando em mif- fas , & orações por fua alma muita de fua fazenda , porque fempre o amou,& eíl:imou,co mo a feu Rcy,^ fcnhor, & fi- lho de hum pay de quem tan- tos benefícios tinha recebido* Quando ouuio fer morto,dif- [c^morreo o melhorRey afilho de melhor homem do mundo.

5 Entrou no ReynoelRey D. Manoel , &: como fempre foíTeaffciçoadoao Cardcnl/en tia muito fua aufencia. Efcre- ueolhe ícquizcfíe viraPortu- gal,onde ocfperaua com aluo- roço, & receberia com hora. Lcuou eita carta Francifco Fer

Chrâtdel- Rtj D. loao Zt iS.

nand

ez

^D.Iorge da Cofia Cardeal./.

27S

Chrodd.

Man.ptl C.S,

nandcz raeílre delRey » ôc de- pões Bifpo de Fczjcom ordem pêra o mefmo Cardeal, como Embaixador do Reyno,dar o- bedienciaem nomedclRey ao Summo Pontiííce, legando o conca Damião de Góes, ainda quCjOU por erro da imprcflaò, ou por deícuido da memoria o chama alli A rcebilpo de Lií- boa , tendo elle renunciado em feu irmão D. Martinho da Cofta. Bem fc deixa ver a ma- gcílade com que o Cardeal re- preícncaria efta acção em Ro- ma^onde era taõ podeíoío, &c bem quifto. Deu a obediência cm publico confiftorio , foi, & veyo acompanhado de to- da a Corte, &i alcançou por ef- taviadoSúrao PontificcAle- xandreVI.notaueis graças pê- ra elRey , & Reyno. Foraõ as principacs as linhas, & dcmar- caçoes,que íe lançarão na con quirta dos noílos Portuguc- zes, & Caftelhanos,& difpcn- far íua Santidade os Caua- leiros das Ordens Militares, AuísjSantiagOj&Chriflo pê- ra ao diante puderem cazar, íem embargo do Voto folen- nedecaftidadc, que Telhe co- mutou naconjugal ^ paíToufc obreuenoanno 1496. Porem , tiâ fua vinda pos algúas diffi-

culdades nacidas de achaques, ôc velhice, de que poderia dar boa rezaõ Pêro Corrêa fidalgo dacaiadelRey, que pep o a- cõpanhar fora enuiado a Ro- ma.

6 Inftaua com tudo el-

Rey D. Manoel em fua pre- tençáo, mormente depões de falecido o Summo Pontífice Alexandre VI' com quem o Ca' deal valia tanto.Mas como íe íeguiíle depões da de Pio 1 1 1. (q durou íò vinte , & féis dias) a eleição do Cardeal luliano dela Rouore no Pontificado, cmqueteuc a mayor parte o noílb Cardcal,pello muito, q oamaua, de todo fe tapou a porta a eftas efperanças del- Rey. Dizem que logo alli no Conclaue,indolhe o Cardeal a beijar o , o tomou lulio fe- gundo { aíli fe quiz chamar o nouo Pontífice ) nos braços. EWjdiíTe, amigofereio Papa no nome^^vos o f éreis na realidade, ^ E aíTi foi, porque todo o tem- po que durou a vida ao Car- deal , correrão por fua maõ os negócios mães importátes da Igreja. Ouue de lulio fegundo breues notaueis pcraefta Igre- ja : a ncnhú Prelado delia fecõ cederão fcmclhantes. Porin- duftria,& valia fua ouue tam-

bem

27^

Captolo hXV.

f,é7»»>

I.

bemelRcyD. Manoel do mef- moSummo Pontífice licença pêra os Caualleiros de Auís, SancÍ3go,& Chriílojpodcrem teftar de feus bens, com clau- fuia de darem dentro em qua ' tro annos ao Meftre ametade dos rendimentos , que tiueíTê da Ordem.

7 Na vida do Arcebifpo D. lorge da Cofta, irmão do Cardcal,veremos,ccmo pellos annos de 1488. renunciou nel- Ic oArcebifpado deBrag3,cõ licença delRey D. loaô o fcgu- do , retendoo defta vez qua- íi dous annos: mas fallccêdo o irmão em Roma nodeiyoi. tornou a entrar nellc,até o re- nunciar fcgunda vez no Arce- bifpo D. Diogo de Souza,ou- tros quatro annos adiante no de ijoj-.

8 Temos dcfla fegu nda vczjque foi Arcebifpo, algiías memorias, Efcreueo de Ro- ma aos Gouernadores do Ar- cebifpado , & Protonotarios Apoftolicos loaõ Fernandez Chantre,&Conego de Coim. bra. Arcediago de Santarém, Coneço naSè deLifboa, & Prior das Igrejas da Golegam, & Almada. E Luis Gonçaluez Farto Arcediago de Oliuença, fobre certoprazo, que pedia

lhe mandafle fazer o Alcaide mor de Braga, & Caualeirodo habito de Santiago Aííonfo da Cofta feu paréte,pGr aíli o tèr ordenado o Arcebifpo D.Ior- ge,em gratificação d os muitos feruiços , quedo Alcaide mor tinha recebido efta cidade, ate chegar por fuajurdiçáo, ira Roma, com grandes gafto§ de fua fazenda . A carta por falar na ida do Arcebifpo D. lorgc a Roma, de quenãoauiatão perfeita no ticia,quizemos por aqui, heafeguintc. 9 Reuerendos Protonota-

rios amigos , o Cardeal i/os en- uiamos hen^aÓ, ^honra^O Al- caide Affonfo daCoíia he home, que tem muito bemferuido o Ar cebifpo meu irmao,queDeos aja, ^ alem defio , nos lhe fomos em grande obrigação, como cremos, quefabeis. Requereonos^ que lhe manda (ternos faT^er prao^ , ^ aforamento yde huns ca:{aes,que di^.que o Arcebifpo noffo irmão, queDeosajaJhe tinha feita mer ce, o qual pra^fe lhe naofÍ7^' rapor refpeito ,l!f negligencia dosofficiaes. E que yindo o dito Arcebifpopera eflaCorte de ca- minho Jjf afsi também decà^ef creuera ao Doutor Sebajliao Lo pesfeu Proui^r, que Deos aja, I que Ihefi^^eJ^e o praí^^o dos ditos

cac^aes

D.Iorge da Cofia Cardeal

I.

277

cac^aes , t^ afsi mefmo efcreue- raa Rodrigo Âlure\ Chaga- rei ^ em cujo poder di':^^ que he o rol, de quaes, tf quantos eraó. Poreíia ~oos mandamos ^tf en- comendamos,que iPos informeis do dito Hodngo Alíire^, ijf a- châdo,que he ajsi.como di\ , lhe facaesoditopraí^^na maneira^ ^form.t , que o dito Arcebifpo lho mandaua fa^ér. E ijTo msf- mo de húprado^que disque ahi temos .porque quer emo s ^que tu- do aja, tf frua liuremente^fem Jer obrigado em nojja uidapor ello pagar Cúu^a algua , o qual alem do que dito he ^ em ,tí çou- [ í^.íí , que lhe cumprirem auereis \em-t?oJIa êfpecial encomenda^ como cou^a nojfa própria , isf ■pejfoa a q fomos muito em grã- de obrigação. E lhe entregareis o Caflello de Braga^comfua te- ça,proles^ proueitos,tf inter ef- fes,tf com tudoaquillo^que elle ' o.tjifha ,Í!f pífjfuja, em -vida do Arcebifpo nofv irmão,que Deos aja. E afsi o campri^fem outra dmiida^ que a elloponhaes. Fei- ; ta em Romaa.i^. de lunho de ' j ^oz.annorGeorgms Cardina- \li.s Portugalenjis, - -?-''?7r.r-: ' IO O prato íe fez ao mef- mo AfFenfo daCofta por Va(- : CO Gil Arcediago de Fontarca- da,a quê o comeceo loâõ Fer-

nandeZjConcinha os pradoii de Orjacsja Loura, & a vinha de Santa Eufemia, cjuc corna da porta de S-Fiaiicilco , atècn- teliarcoma porta do Souco^ ao longo do muro, & íe efté- dia pof grande elpaço pcra a- banda doNorre. Plantou a ma yor parte delia o Arccbi(poD. Iorgej& dizia era a melhor pe çado ArGcbiípado. Hoje fc chama ainda o terreiro,que fi- ca entre omofteiro das Rcli- giofas do Saluâdor,& o Semi- nário, CíIw^í? da 'Vinha. O Ar- cebifpo D. Diogo de Souza, porlhcfcr n-eceítaria cfta pro- priedade, perafcrmofuradaci dadcj & nouos edifícios , que nella hia abrindo, cm 3. de De zebro de 15^08. deu cm troca ao alcaide mor Aííonío da Go íb,& lhe fe^; prazo de outros cazaes,& propriedades, por cU la, & pella Loura , & prados deOrjaes, na veiga de Pcnfo, qlíoje piôíloem nefta cidade íciisdefcendentcs. 11 FesclReyD.ManoÊlpel- los annos 1/04. aquélla fua tão pia , òi religiofa jornada a vifitarò corpo doApoftolo Santiago, em Compoftellaj tornou de volta por Braga, òi quando ouuc deeutrar no termo, & deftrito da cidade, o

Aa

Pro-

278

Ca pi tolo LXFI.

Prouiíor (io.Arccbiípacio , & Gouernador ddk pello Car- deal auzcntc_,Pero Bralio^o foi aduerrifjt] íua Alteza ( era ifto i)a Póce de Prado} encraua dali por diante na jurdiçãodcBra- ga^queos RcysTeus auosjlcra f eícruarê nada pêra fy, tinhão dado toda aVifgéSenhoraNof ía,&: porque na piedade, & li- beralidade elle íem duuida vé- cja a (eus progenitores, pcra exemplo dos que dclle nacef- fera,deuia íua Alteza mandar às juíiiças de fua Corte abai- xaíleni as varas , & feruiríe das juiliças do ArcebifpaCar deal,no q fariagrandc íeruiço aefta Igrcj3,& ao Caideal par ticular mercc ,f portjue como era codo criatura íua, íentiria muito procederem feus.ofH^ ciacs(o q elle não poderia dií- fimulíir ) contra os minillros defuaCorte, quando emBra gaquizeíTcm exercitar algum 3<ító.dc jurdição.,alem do q bem denouoellaua capitula- ' dD'eútrcerP.ey D.Aííonfo V. ; feutÍG,&: oArcebifpoD.Luis Pirbs.OuuiocíReycomrofto apra^iucl o rcquirimenco do Proiit&r,& porque conhecia ao Caídeal por grande dcfenr; for da? liberdades (,& izcçoes de íua Igreja, qucrend<?lhe na*

quelle particular dar goíto , mandou logo a íeus officiocs abaixa liem as varas, ôc que fer uillem íòas juíiiçasdo Arcc- biípo , & íe náo mctciíem no Cafi;ello os prczos,que coníl- go trazia,& dcixaua cmPrado*. comoconítado inflirumêto, q em forma autenticajdefte ca zo fc paíTou, & íe guarda por memoria neíle Cartório.

CAPITOLO. LXVr.

DAS DIGNIDJDE^^

rendai^ Isf cafa , que teue o Cardeal^ da Capella que fun douá Infanta D. Catheri- na , morgado que insUtuio^ Í!f de fita m orte.

;.:':\i?V,05 v-n:'\cv

■■ •)

Ejà tempo de cfcreu ermos, as muitas^ & rcndofasdis'- nidades, cõq^ os Reys , & Summos Ponti- íices honrarão) & enriquece^'i raóao Cardeal D.íorge, foraõ- as mayoreSjOue fe fabc ter peA foa algtía Eccleííaílica, náo fa-í landó no Summo Poncifíce;*. Xiíto IIII. o fez .Cardeal dos) Saanros MattyresMorccllo,5,2 '

Pedro

T). lorge dd (^oíía CardealJ.

279

Pedro,q he titulo ckPrcíbyte- rOjdepoesomelhoroUjInnocê cio VlII.aBiípo Albanéíè. Ale xádrc Vi. à BilpoTuículano, lulio II. aBiípo Porcueníc,ou de Oítia, òc S.Rufina. Teue os dous Arcebifpndos, que então auia eniPortugai Braga, & Lif- boa,os Bifpados de Vilèu,Por to,& Ceita, os Deados de Bra- ga, Lifboa, Porto, Lamego, Guarda , Viícu , Sylues , Bur- gos, com o ícu Chantrado,ce- ue cito Abbadias da Ordem de S.Bcnto,dez das dos Gonesos Regrantes deS. Agoíl:inho,íeis da Ordem de S. Bernardo , em queentraua a deAlcobaça.Te- ue em Roma ^roílb bene- ncio dcS. Maria TransTibe rimjquehe titulo de Cardeal, &prouè outros muitos bcne* ficios : teue em Veneza hija ri- ca Abbadia, &a villade Arpa- nica , com todas as íuas rêdas, & jurdição.-outraAbbadiacm Nauarra,tudo ifto no mefmo tempo.porque o ToíFria aíli a- quella idade,rem ninguém lho contradizer.antes folgando to dos de o terem por Prelado, pcllo muito que defpendiade efmolas em fuás Jgrejas,pellas peças com que as enriquecia, pellas izençoes , & priíiilcgios com que as honraua. Do que

a cila de Braga coube grande parte, como leve em ícii the- íouro,&avchiuo. 1 Críaraõle em fua cafa gra- des homcs, òí naõ fallado nos dous Arccbifpos feus irmãos, nos dous íobrinhosBifposdo Porto D. Diogo, & D. Pedro daCoíla , de íua família foi D. lorge de Mello , em quem re- nunciou a Abbadia de Alcoba ça , & fez Biípo da Guarda, íie o que jaz , & fundou o mof- reirode Religiofas deS. Ber- nardo em Portalegre. Foi tam bem criado {&\i o Deaõ defta D, Pedro da Guarda, que vi ueo em tempo do Arcebifpo D Diogo de Souza, peíToa, q em rendas , & caía reprefen- taua outro Arcebifpo. Allu- dindo a eftes , & femclhantes criados, fallando do Cardeal D. lorge diíle Garcia deRezcn- de(aindaque em mãos verfos) nas mircclania3,que fez, & an- daõ no fim da Cíironica dcl- Rey D.Ioaõ. o II. Eum Clérigo natural Da 'villa. de Alpedrinha^ Vimos cafer Cardeal, Cardeal de Portugal, Em pouco tempo ji^ aginha. Teue dous Arcebifpados Abbadias,^ Bifpados, Fe^ dous irmãos Arcebifpos,

Aai

Pa-

2SO

Capitolo LXVI.

Zud.CÕt»

Parentes, amigos Bifpos^ i^ criados mm honrados. 3 Por íctnoítrar agrade-

cido ao muito que da Infanta D.Cathcrina recebera, tomou por ar mas a roda de S .Catheri- na , aindaq Lodouico Conta- reno,author Italiano,noliuro que fez de vários exemplos, ôi leronymoGarimberto na vi- da dos Sunimos Pontífices, ef- creuão,que o fez por deuação, que teuc à Santa Virgem , & martyr. Laurou também cm memoria da mefma Infáta,em Santo Eloi de Liíboa , a capei- la de SantaCatherina,onde em hum fermofo fepulchro de ala baftro,mádou por feu corpo. Outra capella fez também cm Alpedrinha da inuocação da mefma Sáca,& a cila parece,an- ncxou o morgado de Pacas )ú- to a Liíboa , 6i da Atalaya na Beira,aq chamou LopoAlurcs Feyo íeu cunhadoj marido de fuairmáMargaridaVasdaCof- ta,& os filhos, & defcetidentcs deentrambos. Perafuafepul- tura laurou em Roma, cm San ta Maria do Populo , mofteiro dosEremitas de Santo Agorti- nhojcnitra capella de Santa Ca therina,<lc obrafingular, onde fepultou a feu irmão oArce- bifpo D.Iorge daCofl:a,como

em fua vida diremos.Aqui,vi- uendo ainda,leuantou a fepul- tura^em que hoje jaz^com o Ic treiroíeguinre.

Geor^us Epifcopus Albant- fis^Cardinalis Olyxbonenjis, fe moríàlem animo -"voluit , iji- tienspofuit.

4 Vey o (Jahi a poucos an- nos ã morrer,macs de velhice, q de outros achaques. Sentio Roma fua morte, porque nel- le perderão os Summos Pon- tifices confelho,os pobres em- pato , os eftrangeiros abrigo. lulio fegu hdo íeu vnico ami- go, fez cal fentimêto,como fe ainda o perdera na fortuna par ticular, mandoulhe por na fc- pultuta o feguinte Epitáfio.

Georgim LuJítanusS.R.E. Cardinalis Vlyxbonenjis ^firtu- tisjisf doãrin<c ergo in Regiam adcitm , ac multis^ domi yforif- que ^prxclaris facinoribus edi- tisy ad Regni procurationtpro- ueBus , a Xiflo IIII. in Sena- tum adleãus , Romamque ad- citm ^ magnam ingenij^pietatis , prudenfu^ laude adeptus, fub lulio fecundo Pont. Max. quem Ipnice dikxityiS' obferuauit^an- num agens fecundumfupra cen~ tefmum , obi^t MDFIII. de- cimo quarto Kalendas Septem- bris.

QilSl

D. lorde da CoHa. II.

o

28l

Quer dizer. lorge Português, Cardeal da Janta IgrejaRoma- na ^isf de Lisboa ^porfua Oiir- tude _, If doutrina chamado ao Paço^iSf tendo feito dentro , ijf fora doReyHo^ grandes couc^as^ foi tomado por confelheiro d^el- Rey, i!f eleito Cardeal por XL Uo IIII. do qual , fendo chama do a Roma , alcançou naquella Cúria , grande louuor de enge- nho ^ piedade , U prudência : falUieo em tempo do Papa lu- liojegundo , a quem njiúcamen- te amou , i^ < refpeitoif , em 1 9. de AgoHo j do anno '•. de mil (p" quinhentos ijf oitp , tendo de idadecemo iff dom . P^nuino diz, que mprreo aos 19. de Setébro. Gquernou efta Igre- ja pouco tiiaes de oiçoánnos, nos Ponçiácadps de., Xiílo IIII. ínnocencio VIU. Ale- xandf <? ^I. Pio III. lulio II.SendoReycs dePor- tugalD.íoaõoícfUvi Ofe gundo, & E>i!7R^ ' ManoçLíiOijp,:

Hno3itíí)vaid:333'i t.;;

.., .,.,,. , ... .u^^y^ GÁlrvoí

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. on Ê r.-, - í omoD ^ctí cib^í." -niboiíuo

r.-i 1 . ' '

CAPITOLO LXVII.

D.IORGE DA COSTA II. do nome j 94. Arcehijpo de Braga.

EVE o Arcc- bifpo D. lor- ge da Cofta a mefina pátria, & os mefmos pays i que o Cardeal D. lorge da Cofta fcu irmão , aindaquc alguns os fazem fòirmaôs pel la parte da máy. Era D, Jorge mães moço,q o Cardeal.Ertu dou também ma Vlliucfíidade dcParís.Eoi de grande enge* nIio,5<:rara mcmoria.Nenhíáa outra dignidade lhe fabemos primeiro , que a de Arecbifpo dç3ragaf..Oaue o Aròcbifpã*- do por fèítuiiciação,qne ncllc fez oCardfs^l feu ir mSoj de féíitimenío dclRey D. Idaá o Ilyôi licèilçado Sumo Pcmtifi cc Iiinoccncio VIII. pdíltís an- itos de ôoiTa reden^a hSS- ty A primeira acção áia^de q ocfte Cartório achamjòs me- moria , He chamar a Synodoâ ClcrcíiadjoArccbifpâdo noDc zebro do mefmoanríoHSS. I

^#.3. revm mem.ftl.

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em

282

Capitolo LXVÍL

#9,2» fC.

■mcmfoL

em cjue prcíídio o ícuVigairo Geral Scbaftiaõ Lopes, Cone» eodeLamecTo.DoutoreniCa lionês, ou pello Arccbilpo ci- tar auíente da Diocefe, ou por fe achar naquellcs dias enfer- mo. Em i6. de Agofto do an- nofcguinte 1489. íc acollieo aos paços À rcebifpaes,fugindo da jultrça,hú Gonçalo de Rè- mclh€,homéde do Arccdia godo Couto Diogo Gomes, raandouo logo oArccbifpole uar ao Caftelloivcvo com cm bargòs dizendojquc os Paços Arcíbifpaes eraóGouto,&lhe valiâò V Vfòfe o ponto pellos DeteVnbarpadorcs doArcebií- po , depões iebua larga inqui rição,qije fobre a matéria fc ti rouyéc final mête^íoi j ulgado, queo prezo fe tornaíle aos pa ços y poriqúe náoaqia duui- da íeieEa.CoutOi.'p, t o•m^n^^ 5 ; ; iddEoi o anno 'dê 1 4^ò.<:t'' Icbreneílfi Rcyuo.peUo cafà- òncòtadoif^rincípeD. Aflbri ía-íttíibikíclRey D. ioaõ o IV camDáPrinceáa ©tifâbcl filliá tiostBdèyç Catheiicosícelebra'» uáféfcmrBuoia; onde acudi-» »aô>çaà3®o$ fcnhores'doRey->- iKr^ aiflfirficcleííaíiicôs-, como líccular^è Boi paTtienlarmente •c5u>idaÍxay^c!haróadbxfelRÍ3^y

raefol.-J^

0:4rcebiípo.E)ilGiFge*'.' Leuótí [< & o Príncipe fc foraó diante a

conlígo táò iiluítre acompa- nhamento , quedos Icnhores doRcynofoiomayofj &aos de Callclla , que acompanha- uáoaPrinceza , deu por mui- to tempo que faiar. Deixou entretanto por Gouernador doArccbiipado ao Licenciado Luis Gonçalucs Farto , Arce- diago de Oliucnça,que em to das as memorias dcílc , & do fcguintc anno, fe nomcatal. 4 DcEuorafoicõclRcyj& o Príncipe aEftrcmòs a vi- fitara Prínccza. Quando chc- chrljel gou àqUclla villa íoubea Prin ^í^ d ceza da vinda de fuás Altezas, íayoa recebellos no topo da efcada, & em clRey fubindo, cila fe pos de giolhos, pêra lhe beijar a mão, mas clRey, com muita cor tez ia, lha não quis dar,& a alIeuantou,& deu lu- gar ao Principe,qíife ambos os giãíhos mui inclinados hu ao outtò;feâbtaçabô. Acaba- das as viáfas j ouucdRcy por bem,qucalcmda folennidade do reccbimeritojcom que em Scuilha recebera por procura- dor o Príncipe à Princeza , a tornaírealiarcce&er nas mãos do Arcebifpo DJorgcda Co- fia, como logo a recebeo. Ao i outro dia , quarta feíra,elRcy,

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D. Jorge da -^oBa 11.

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(Rezende 'Chro.del'

Euora,& aPrinceza denoitc como Duque de Bragança fc foiapoíencar no moltcirodc S.Maria do EfpinhcirOidaOr- dem de S. Ieronymo,pera on- de à quinca feira íe íoraõ el- Rcy,a Rainha , & o Principe, com toda a Corte, & à perca da Igreja do moílciro, o mcf- mo Arcebiípo lhe deu as ben- ções pclla Igreja ordenadas, j Aquiem Euora,pieíen tctodaaCorce,iS: por todo o tempo, q durarão as feftas dos cafamétoSjCrouxc íemprcdiá te de íy a Cruz Primacial, lem contradição ncnhúados mães Prelados do Reyno,q em Euo raaíliítião. De cudo mandou tirar inftrumentos por Notá- rios públicos, cujos originaes íe guardaõ nefte Cartorio,co- nio jàoefcrcuemos no trata- do da noíTa Primazia. è Breuemèntc vio oRey- noconuertídas em triílezaas grandes feftas defte cafaroen- to , pella defeftrada morre PrincepeD.Al¥óro,na villa de Santarém. Ouuc de cornar pe ra Caftella a PrinccfaD. I fabcl, acõpanhoua elRey , & coda a CortCjVcftidos delucOjde Sa- carem atca pbhtcdoSor,òn- de deípcdindofc delia pou- cas palauras, & gratidiillma

crifteza,a deixou. Daqui âcõ- panhada de muitos fenhorcs, fidalgos Porcuguezes , foi dormir a Auís , & dahi a Oli- ucnça, onde no eftremo do Reynojcom húabreuej& pru dêtcfala do Arcebiípo D.Ior- ge,foienrregue ao Meítre de Santiago, & a oucros fenhorcs de Caitella^que jàaerpcrauâo. Tornaraófc os Portumiezes , íaluo D.Ioaõ dcMenezesGo- uernador da caía do Principe, querxm outros fidalgos, te a Corte dos Rcys Cacholieos, paysdaPrinceza, por ordem dclReyíemprca ícruio, & a- eompanhóu.

7 Gaftou o Arccbirpo ne- fta aufencia da fua Diocefe ate *' ^' T/l oannoaci49i. no lunhodo 48, wr/: qual cílaua outra ves em Braga, ondeà petição do Lc cenciadò Luis Gonçalues Fâr- coArccdiago dcOliuêça.vnio àqucUa dignidade a Igreja de Sáiíca Chriftina Longos , êomluas annexas, por refpei- to da qual fe chama agora cftc Arccdíagado de SantaChrifii- na, como efcrcuemos na vi da do ArccbifpoD.Luis Pires. Foi a occaíiaô defta annexa- çáo,a queagora diremos -Deu o ArcebifpoD. lorge em fua vida ao Bi fpo de Lamego D,

c jl^.n.i

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Gomeã

284

CapitoloLXnL

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Gomes de Miranda todas as rendas, cjue cinha a mefaArce- biípal nas villas de Oliuença, Campo Mayor, & Ouguella. Auiaõíe os rendeiros doBiípo emas cobrar táoíobejos,que atè as que pcrccnciaõ ao Arce- diago dcQliucça^arrccadauáo, dizendo,que cambem o AtcC' bifpo as cócedera ao Bifpo de Lamego. MorreooBifpOjpe- dio o Arcediago LuisGonçal- ues Farcoao Arcebifpo O.Ior geiatisfaçáodos danos, & per das , que o Bifpo lhe tinha da- do,& como era home de gra- des fcruiços a efta mitra , & muito valido do Arcebifpo, por lhe fatisfazer,& pello acre centar , vnio à fua dignidade, a Igreja deS.Chriftina.Demi- nuiolhe porem as rendas de Oliucnça, porque aucndo de auer, por bem da fua inftitui- çáo,dos frutos, q ali tinha cila Igreja^de doze hú,ordenou t i uelTe lo de quinze hú. E do af- fento , que nifto . fe tomou fe fez inftrumento publico cm Braga , a fcis de lunho , de mil & quatrocentos & nouê- ta & dous,aílinado pcllo^rce bifpo>& peliai Dignidadcsj& Cónegos da Sê. 5 Pcrfeuerou em Braga os quatro annosfeguintesjporio

dos clles temos aqui memo- rias de lua aíliftencia. Emi9- de lulho de 1493. lhe encomé dou o Súrao Pontificc Alexá- drcVI.no primeiro ãno defeu Põtificado , a D. Fernando d* Almeida , a quê fazia Bifpo de Ceita, poriportedcD.Iufto Baldino,& encomendalhoco mo Bifpo de Igreja fuffraga- nea a Braga, qual era Ceita do Pontificado de Xifto IIII. co- mo jà diíTcmos em ourro lu- gar, onde aduertimos, que pel los inconuenientcs qucíèfe- guiaõ de irem as appcllaçoés das fentenças dos Bifpos de Ceita a Roma por fere im me- diatos a A poftolica, fe fize- ra aquella Igreja fuíFraganca a Braga pella Santidade deXifto IIII. No primeiro de Março de 1494. lhe largou os dizimos, que comia de Santa Maria de larás, termo de Ponte de Li- ma, Violante AfFonfo viuua de Eíleuão de Barros. No de i4í>(>. chegou a Braga a alça- da do Licenciado Pcro dcGoo uca natural de Vifcu , que ve- yo a fer Defembargador do Paço, mandado por clRcy D. Maneei a cftas partes de Hn- treDouro,& Minho.Oppof- felhe o Arcebifpo , & eícre- uco logo aelRey , qucixan-

toti. rer^ 8i-

10.

mem.fol.

dolc

^DJor^e da Cofia .IL

285

io.z, rer.

mem.fol 12,0.

doíc da violência, & aggrauo, quellic fazia, & Icmbralidclhe as penas do concrato/eito en- tre elReyD. Affonfo o V.& o ArcebiípoD.Luis Pires, cm q ficaria encorrendo , fe por vé- tura , mandaíle ao Preíídente entrarem Braga. EfcreLleoIo- goeiRcy a Pcro deGouuea, que pcrnhúa via intentaíTeen trar em Braga ,& fe guardaíle

0 contrato feito por elRey feu auò. He a carta dada em Pai - mellaja ló.delunhodc 1496. 9 A muita valia, que em RomacomoSummo Pontí- fice Alexandre VI, tinha o Car deal D. lorgeda Coíla, &:as grandes partes do Arcebifpo D. lorge j lhe faziaõ crer , que íe o tiueíTe conligo , facil- mente lhe aueria o capelo. Tantolhcfoubcefcreuer ncf- ta matéria, que finalmente o leuou 3 Roma,& crèmos,que entrando o anno de 1499. Efteue naqueíla Corte ate o de

1 yoi . & quando o Cardeal feu irmáo efperaua o fimdefcus dezejos,entáoo leuou noflo Senhor pêra fy.aso. de Agof- to do mefmo anno ijoi . En- tcrraraõno na capella,q oCar- deal feu irmáo tinha laurado pêra fua fepultura^em SátaMa- ria do Populo, morteiro dos

Eremitas de SantoAgoftinho.

10 Tcmoí nerta cidade gran des argumentos de fua liberali- dade Ellefoi o q madou fazer à abobeda, que chamáo da Se, com o cirado.quelhe fic^i por cima, obra de grande magelta- de, pella graça, & fermoíjra,q da à porta priacipal:<S«: de gran dccòmodidade pêra osCone- gos, que califados do trabalho doCorOjtcm donde poíí^ó re- crear os olhos.com a fermofa, & efpaçofa vifta, que daquclle eirado fe defcobrc - Obraíua parece também a Igreja deS, Vitouro , como íe ve das fuás armas, que tem fobre a porca- da,&: a Ermida de S. Gonçalo do campo de Santa Anna, & a de Santa Cruz do Monte,me- yalcgoa defta cidade.

11 Por armas trouxe a roda de Santa Catherina , co- mo o Cardeal feu irmáo , & pcllas mefmas rezoés,que elle. Seu fobrinhoD.Pttl roda Coi- ta Bifpo do Portais dcLeaó, & Ofma , partindo o efcudo, pos de húa parte a roda cita letra.

Sy e^a meda Eí^echiel viera. Comfu profapia remota, T Ju'valor conociera, muy cierto eíiá que dixera Spiritus '^iu erat in rota.

Eda

Ez^ech c,i.n,zo.

286

Capholo LXVIIL

\ Genfct 2

%.

E da outra, as fcis coftas de pra ta, que os Golias trazem em campo vermelhojcom a letra.

Sy Adan Viera Us cofiillas Dejie efcudo^que aqui 'Veisy T fnó grandes marauillas^ Dixerapormasfubillas Hoc os ex ofsibmmeií. Gouernou eflalgrejaquaíl tre ze annos, fendo Summos Pon tifícesinnocécio VIII.& Ale- xandc VI. lleys de Portugal D. loaò II. & D.Manoel.

CAPITO LO LXVIII.

DO BE AT O FR.QON'

^ãlo de Chaues, da Ordem de CiJler^Ahbade de Santa Ma- ria de lunicis.

Vue no termo de Mõtàlegre Comarca de Chaues, hum morteiro de Ciíter chamado S.Maria de lu nias,quepello tempo adiante vcyo a fcr Igreja parrochial,ío ieiraporéao morteiro de Oíle racm Galiza^&BifpadodeO- reníc. Floreccraõnellc varões I de grande virtude,o de que te-

mos macs clara noticia , por viuer cm tempo do Arccbif- po D. lorge da Corta , fe cha-^ maua frei Gonçalo deChaues, fobrenome que tomou da vil- la onde naceo, porque ofeu próprio era freiGóçalo Coe- lho. Deixou o mundo, & to- mou o habito de Ciftcrj no morteiro de OíTera, vczinho a Portugal, por aquella parte deChaucs. Ouuefctaõferuo- rozo , & apontado na obfer- uanciadefcuinftituto,qa pou cosannos de religião foi eleito Abbadede luniasj&fucceíTor de D.Fernando.Entrou na Ab badia em cinco de Feuereiro , de mil & quatrocentos & no- uêta & nouc annos,durou no cargOjatè o primeiro de Feue- reiro, de mil & quinhentos & hum,em queDeosoleuou pe- ia fy . O dia em que falleceo, vinha de S. Maria deCell3,prio rado fogeito aluniasjmas da da 4e Galliza , pcra o feu mof- tcirode lunias, jàcom reuela- çâo de fua morte, que Deos aqucile dia lhe comunicara no facrificio da miíTa , & coman- doohúa grande neueno alto da íerrajnorreo enterrado nel- la . Não fe labe fe o pezoda meíma neuc, fe por algum ac- cidcnte , ou enfermidade , que

trouxeílc

o \Bçatojr.GGncíiÍQ deQoaues.

287

lo.OElob

trouxcííc , íabele porem , que no idcIqio ponto em que ef- piroUjfecomeçaraõ a dobrar por ly os finos dclunias ,& Cella, & os Rcligioíos daquel Ics dous Moftcirics^achorar, &i cer por cercaamorccdefcu (anco Abbade, íem terem ne- nhúa noticia de (cr morto, i Savraóem cómnnida- dea biílcallo pella íerra: acha- ráno no mães fragofo delia, poílodegiolhos ,cuberto de ncuccomos olhos no Ceo, &3S maós leuancadas , como !clè achou Santo. Antão ao bcmauenturado S. Paulo pri- {rtciroErmicáo.Lcuaraõnocn trc alegria, &: lagrjmas de fau- dadcSjQ enterrará Igrcija delu- nias. Acudio a lhe beijar a máo infinidade de pouo, obrando cntrccáto DeosNoíTaSenhor muitos, òi grandes milagres pof feu feruo. Celebra o mo- iteiro dcOíTera,& o de lunias! o celebrou, em quátoniíoeftc ue arruinado, com oificiopar ticular,{eu bemauécurado trá fuo,em lo.deOucuiroycomo o certifica o Padre fr. Chrifo- llomoHenriques no feu Mo- nologíoCifterfienfe, ai n da, q feu fallecimêto foi no.prirnei- r.ode F^uereiíOjComo. dif- femos. [>eHt;,ercrcuéft.iAnto

.-!!

nioYepesnaChionicadeS 1^^ ^^ to. Jlíi o mefmofr. .António '1137. c.

Yepes,como ffChriíoílomo fiériques, & o Padre Doutor fr. Jngel Manrique , lente da cadeira de Veípora de Theolo gia naVniuerfidade de Salamá ca , em húa carta em que fala deílegrándeícruo Senhor, lhe cha^mão fempre S. Gonça- lo de Chaues. Poraqucllas ter ras he o feu nome vulgar S. Gonçaluo. acodem os luga- res vifinhos a venerar fuaca- bcça,q eailunias fe lhe moftra

4 /d 28»

em certos aias

do

anno.

DOM DIOGO D

Souza i. donomc,9y.^r- cebifpo de Braga.

CAPITOLO LXÍX.

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qfemfoi por ge->

" ra^aoo Arcehifpo D. Diogo

de Soú^a^q dignidades teue

,::-ate fer.. Arcebijpo. de Braga.-

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M nada foi in- ferior na grã- deza do ani- mo,' & mere^ cimentos pro ! prios o ^rccbifpo D. Diogo

28S

Capkõlo LXIX,

'JeSoiizaao Cardeal D. Jorge da Corta, cuja vida acabamos de eícreucr,&a lhe faltara no brcza,de que procedia, ainda aííi íc poderá contar por hum dos mães notaucis homens de fcu rempo. Mas porque nada lhe falta írc,& de todas as par- tes foílè perfeita fua fortuna, teue por pays a loaõ Rodri- gues deVa(concclos,renlior de EiguciròjÃ: Pedrógão, & à D. Branca daSylua, filha deRuy Xjomcs da Sylua, alcaide mor de Campo Mayor,&:Ouguel- la, fidalgos da melhoF,& raacs conhecida nobreza doReyno. z l^oop de piqúéno deu

moftras cio muito qucviriaa ícraodiatJte,& porque a incli nação o leuaua ás Ictras,por a- qui o encaminharão feus pays. A grámacicaj&Rbèloricacftu ■dou no Reyno, as outras fciê- ! eias may ores , pareCc, ãprédeò cm Salamanca , èc Paris , &c lábio táo coníiimado ncllas, que páílíndo depões aR^oma, craauidopor hum dos macs celebres letrados dãquclIaCu- ria. ERimaiiâotóíiífo^oOlr* dealDJorge daCQ|]iâ/&:o dtu a conhecer a todo^ os Princ»!- pesi&: fcnhores, <^uè èntaoalí rcfidiaÕ5&: reouu£.cmRoíi3a de maneira, queelReyD. loaõ

o íegnndo, quando mandou dar a obediência ao Súxno Põ- lifice Alexandre V I. eleito na moitedeInnocecioVIIi.no- meando por Embaixador aD. Pedro da Sylua comendador mor de Auís , lhe ordenou Ic viflc cm Roma D. Diogo de Souza , & por fua ordé go- ucrnaíle aqlla embaixada, por- que,pclla latisfaçáo , que delle tinha, cl peraua o faria gran- de honra íua,5i do Rcyno.

3 Ainda o lucceflb foi me- lhor, quea cfpcrança , dcufe a obediência ao Sumo Pontífice toda a grandeza , porq co- mo D. Diogo era mui conhe eido cm Roma, folgarão de o acõpanharacllc, &aoEmbai- xadorD,Pcdro,todosos fenho rcs Romanos, & eftrangeiros: noq tábelh fes muito D. Fer- nando d' Almeida Biípo,q de- pões foi deCeita,irmáo doEm baixadoripeflba q tinha mui- tos amigos na meíma Corte,) ondeauia dias andaua, ;

4 AJíóavontadc^qoÉm- baixador D. Pedro da Sylua fmificara ter clRey D. loaõ o fcgundoaD.Diogo,'& a que o mefra:o Rey por fiias cartas - lhe moftraua, o tirou de Ro-j

majfcm ferem baftances as im» I portunaçòcs dosariiigos, a va

viC.

^SD togo de Souz^a.I.

2S9

Chrt,del' Rey D. looÕo //.

liados Cardeaes,a beneuolen- cia do Súnio Pótiíice,pcra nd- laodecerem . Parcioíc como meímoEmbaixador em fua panhia , chegou a Euora,onde encáo rcfidiaelRey, Nomeou logo fua Alteza a D. Diogo de Souza porDcaó da fua capella, com expeílatiua de msyores dignidades, Seruindo cfte car- go í u ccedeo, que eftádo clRey Quuindo miíla, leuantandofe aoEuangelhojíelhefahio húa chinelb do pèraduirtio oDeaõ, & como era toda a cortefia, a- codio com prefteza a calçar- Iha com o joelho no chao-Né o repente do fucceíTo ^ nem a Magellade Real,fizeraô cfque- cer ao prudente , aduertido Rey , do refpeito, q ao cftado Sacerdotal fe deuia.fugio com o pè, & carregado no íembrá- te,mandou aoDeaõ pêra íua ca fa como prefo, eftranhádolhe náo faber guardar o decoro às ordés que tinha. Ouue depões naCortegrádcalterc3çáo,qual dosdous andara mães aduerti- do, fe o Deaõ no que fizera, fe clRcy em lho náo íofrer , & cftranhar. O certo he , que na corteíia deD.Diogo eftauaó bêaqlles arremeílbs,& na pie- dade delRey D. loaõoll. re- geitaios,& eftranhalos.

S Vagou noanno de Í45)/. o Bifpado do Porto por mor- te doBifpoD. loaõ da Azãbu ja, nomeouo logo clReyD.Ioaõ naquella dignidade^ & foi fem duuida a vitima mitraj q pro- ueo em feus Reynos.Fcllejou a Corte,onde então aíTi ília D- Diogo, a eleição, porque de todos era amado , & todos o dezejauão ver onde o leua- uaO feus merecimentos , po- rem quem mães a feílejou ^ foi a cidade do Porto . Re— cebeuo em fu entrada com no taucis feftas, não daquellc dia,. mas de alguns adiante,cm que fe continuarão. 6 Das primeiras couzasem que cntendeo foi em tresladar pêra a St do Porto as precio- fasreliquias do glorio fo mar- tyr S.Pantaleaõ,padroeiro da- quella cidade, que de alguns annos cftauáo,&: fe venerauáo na igreja de S. Pedro de Mira- gaya.Qiiêas aM trouxe, & quê foi efte grande martyr ,diíic- i^,y^^^, ^^ mos em feu lugar próprio. 'Pon.t.f, Auianos deMiragaya refiften- '^'^^' cia , mas tudo o Bifpo com- pôs, deixando ali hum braço do Santo, & trcsladãdo o macs corpo com foléniílima pro- ciflaó à fua em li. de Dezé- brodei499.

CataLdoi

Bb

Cobrou

I

290

Cafitolo LXIX.

7 Cobrou também a va- lia da prara,que el Rey D. loaó o I. tomara ciaquella ígreja pê- ra as delpezas degucna , Òc a- caboucoraclRey D.Manocla pagaflecoda muko à rifca^, As crés mil libras de prata,que pel lajurdiçáo da cidade prorac- teo em cada hum annoclRey D.Ioaõ o I. aos Bifpos do Por to, que íepagauáo ordinaria- mente mal , fes coníignar cm rendas mães paradas,oqfoi degrade vtilidade ao Bifpado.

8 Mas peraquc não parc- ceíTe lhe nacia o zelo de arre- cadar efta fazenda^ deintereíTe próprio , toda ella empregou em riquiflimas peças pcra fua Igreja, como foi Pontifical perfeitiílimOj&requiíTimOíiSi: o retabolo da capella môrjq íè desfes na fabrica da noua, feita pello BifpoD.Gõçallo de Mo- raes. Fes mães a cruz de prata grande,^ hua mitra de cuílo, que inda hoje fèriic nos Pon- tificacs-

9 OuLic de tempos anti- gos nacidade do Porto priui- legio_,alcai:çado por fciis Prcla dosjcuja era fua jurdiçáo, dos primeiros Reys dePortugalj^: confirmado por D.Aflonfo o V. que não pudeíícm ali mo- rar homens fidalgos,népeíroa

algija outra poderofa,&: todos os que paílaflem caminho, fizeíicm lòdeteça de três dias, no cabo dos quaes íeriâo obri- gados a fe íair , fobgraues pe« nas, que pêra iflo lhe eraõ pof- tas. Naõ parcceo ao Bifpo D. Diogo fe dcuia conferuar fe- melhante priuilegio, aííi porq os fidalgos, & pcíToas podcro- fas eraó as q emnobrcciãoas ci dades,como porq a do Porto, por feu fitio, ares, & riquezas, era a dczejada pêra habitação defemelhantespeíToas. Aífiq a licença fe pcdio a elReyD.Ma noel , noanno de 1/03. Eelle folgou de reuogar o priuilc- gio,& deixar liure a toda a pcf- foa gozar dos cómodos de tão rica,& nobre cidade. 10 Feso mefmo Rey aoBif po D.Diogo Capellão mor da Rainha D. MarÍ3,fua molhe r, por tal o achamos nomeado cm muitas efcrituras do anno de 150Í. por diante. Cometia- Ihe tãbê os negócios mães gra- nes do Rey no,& folgaua de fc guir em tudo fcu parecer. Va- gando por morte do P.ipa Pio III. o Sumo Pontificado, & do eleito lulio II. que cm Car- deal fora tão particular ami- go, & cm Summo Pontifice fizera tanta cftima , quanta

cícre-

T>.T>iogo de Souz^a.I.

291

eícreiíemos doCardeal D. lor- ge.Quis elRey maiidarlhe bei' jar o pè, & por peíloa, q íou- bcíle reprcíencar eíta acção honra do Reyno,&: bencuolé- cia de lua Santidade . Logo fe IheoíTcreceooBiípoD. Dio- go, aííi pellos merecimentos de fiia peíro3,como por íer grã de conhecido do nouo Siámo Pontífice. DeulheelRey por companheiro o Doutor Dio- 20 Pacheco de íeuConfclho, homem de letras ,& valor, n Não fe pode dizer quaõ aceito foi o Bifpo ncfta occa- ííaó da embaixada à Santidade deIuIioregundo,&: de quanto luftre , &c proucito a coroa de Portugal, porque não falando nas honras com que o Sumo Pontífice o reccbeo, & noa- companhamento , que a Cor- te Romana lhe fes , nenhúa de quátas ccuías leuaua a feu car- go deixou de negocear faci- lidade. Foi contudo 3 princi- pal os vinte mil cruzados de que felizeraõ as comendas no nas, fitas nas Igrejas do padro- ado real , & Preladas do Rey- no. Inftaua elRey com eíSca- cia tiuefle effcíto efta graça, pello que dcfejaua gratificar, & pagar a íeus vaflalos osfcr- uiços, que tanta fidelidade.

&C prodigalidade defeu fangue, lhe faziaõ nas frõceiras de Afii ca, & naconquirtado Orien- te, então por cllc nouamcnte defcuberto. Mas ruporto,que efta mercê fe não pode eííei- tuar no tempo, que o Bifpo eftaua em Roma, depões con- tudo fe cffeicuou no Pontifica* do de LeaõX.

II làcfcreuemos navida do Cardeal D. lorge da Cofta como clRey D.Manoel preté- dcra trazelo deRomaa Portu - gal, pêra no gouerno de feus cftados fe aproueirar de feu grande confelho, & experiên- cia , mas nem a idade do Car- dealjncmasemprefa? de lulio 1 1. em que andaua todo meti- dojfofriaóefta mudança. Renú ciou porem defta ves oArce- bifpado de Braga por entêder fer aquelleogoftodelRey, & fe lhe deu por fucceíTor o Bif- po D.Diogo, FeíTe a renuncia cm Roma no anno de mil & quinhentos, ô»i cinco. Refer- uado pcra fy o Cardeal qua- tro mil cruzados de penGó. No Bifpado do Porco íe no- meou D. Diogo da Coíla ío- brinho do Cardeal D. íorgc da Cofta , difpcnfando o Papa nos annos , por não ferem a- inda os neccflarios pêra Bifpo, l

Catal.Jos' Btfpos da.

Bbi

ÔCâO

392

Capitolo LXX.

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^ao- ArceUrpo deu de boa vontade o Palio, com licença pêra fc recolher a Portugal . Êmbarcoiife no porto deOl- tia , lançou ferro em Liíboa, niâsfoiadefgraça, queindo- felhe pellodiícurfoda viagem ajuntando outros nauiosjacer tou (fem o Afcebifpo o faber) vir inficionado de pefte jq fíu momento , depões de dcí- carregar, fe ateou por Liíboa, & foi a mayor,& maesfuriofa, q auia muitos annos fe tinha padecidonaqlla grade cidade. Morreopòuo íem numero, os grades deípejaraò a toda pref- fa)& elRey íc paíTou a Alme- rim,ònde oArcebifpo o infor- mou do fucccílb da cmbaixa-- da , & apprefentou os breucs das graças que trazia.

CAPITOLO LXX.

DO QVE FE S O A R- cebifpo D. Diogo de Sou^a na fuaSè depões de entrar em Braga.

Mefma occa- fiaõ da pefie trouxe o Ar- cebifpo à fua cidade, era

grãderaccecíperado,& deíeja- do, porq aléde não verem em muitos anos os de Braga,a léus Arcebiípos,ao q lhe agora en- traua pellas portas,amauáo, & refpeitauaó fobre todo encare ciméto.EmCoimbra o fahioa receber o BifpoD. lorge d' Al- meida,irmáo do grande D.Frá cifco D'almcida,primeiro Vi- forey da índia. No Porto fes o mefmo a cidade , & Cabido, porq oBifpoD. Diogo daCo(- ta,q lhe fuccedera, não era ain- da entrado. Braga naquelle dia, ôi nos feguintcsjfcouucdema ncira, q por muitos tépos adia te,fe não íilaua noutra couza, com tanta admiração , como nas feitas que recebera ao Arcebifpo.

z Ajuntou logo Syno- do no aimo de mil & quinhen tos & féis : & nellc pedi o , ôc lhe foi concedido hum fubfi- dio caritatiuo, pello Cabido , & clereííado Arcebifpado, & foi o fundamento, tclo man- dado elRey aquellc annopre- fente a dar obediência ao San- to Padre , em que fizera mui- tas , Ã: grandes dcfpezas , & q na expedição das bulias def- teArcebifpadogaftaraoito mil ôc quinhentos cruzados, os quaestomara empreftadosem

bancos

^fDiogo de SouZjaJ.

293

têfít.iido Cartório

bancos de mercadores gra- de fadiga de câmbios, qucia- hiaõ em muito mayor contia. Aíiique entre as defpczas da embaixada, 6c expedição das letras,ícf uiços, & palliOjícgun do a taixa em que cite x-^rcebif- padoertauaemíloma, Gcaua cm diuida de doze mil cruza- dos , aforaa peníáode outros quatro mil emcadahú anno, que o Papa rcíeruara íobre os íruitos das rendas do dito Ar- cebiípado, pêra o Arcebifpo Cardeal fcu predecelTor. Foraõ teftcmunhas Fernão de Maga- lhães fidalgo da cafa delR.ey, Ff. lorge pregador,o Licencia- do Fernão Louréçododefem- bargo do dito Arcebtrpc,&: o bacharel Ruy Gomes Lente de Cânones em Lifboa,& outros muitos. Foifeito oinftfumé- to por Aluaro Pires Notário Apoftolico, Abbadc deCref- pos.

3 A primeira ves, que vi íítou a Tua Sè.aduirtio fera ca- pella mor, ainda que béobra- daj toda via notauelmente pi- quena pêra tão grande corpo, éc peratáo íolénesPontificaés comQ fe nella celebrauaõ^&co mo era g;eneroro,& magnani- mo_ tratou de fazer outra;he a lmcrm35que hoje dura, muito

acabada,aíFi por fora^como por détro.O q fobretudo lhe da erande fermoíura, he o re- tabolo todo de pedra branca dourada em partes, figuras da mefma pcdra^tanto ao natu ral jc] por vcturanefte género he o melhor de Heípanha.

4 ladiíícmos na vida de S. Vidor gloriofo martyr, &c fantilfimo Arcebifpo delia ci- dade,como na occaria5,qne fe desfazia o altar mor, foraóa- | chadas nelle fuás preciofas relí- quias, &defeus dons compa- nheiros S.Alexandre, & S.IVÍa riano,as quaes, fem duuida,fc tornarão a collocar ao altar no uo,fe bem a memoria, que ali fomos feguindo , o não dizia, por ventura pello fupor co- mo couza cerca.

5 A cfta capclla , & altar mòr,tresladoaú Arcebifpo,da capella a q chamão dos Reys (& agora fe chama doArcebii- po D.Lourenço ) os oíTos do Conde D. Henrique^ pay ,& tronco dos Reys de Portugal, com os da Rainha D. Tareja fiia molher , que ali jaziaõ fe- pulcados. Fiuns , &: outros fe

I coUocaraó no mefmo tumulo a parte do Euangelho com o letreiro feguinte,que faz me çaõ do corpo do Conde.

Bb3 A

XtftC.lOl

294

Cafitolo LXX,

D.O.M. Domino H enrico, Hungarorum Regisjilw^ Portugãllu Co- miêi, Dominus Diegus Sou fa Archiep. firó ciar Ifs imo ^ à que Ponugalli^ U.eges ef- fe^regnim^ accepiffeconf- tat^de republica Chrijliana, patna^Jua optimè merenti^ pofiuit ann. á Chriít. na. -MDxiij. Vai. A Deos de toda a bódade^ iy" grandeza. D.Diogo de Són- ica Jrcehifpo , letiantou eslafe- pulmraa D.HÍrique^jilho deh- Rey de &tmgria,Conde de Por- tugd^no qualeUe Reym^is^feus Reys tiuerao principio . Noan- noiyi^.

Muitos annos adiante , fendo Arcebilpo D. Agoftinho de CaftrOjíe duuidou fe naquelle tumulo , vifto como o letrei- ro não falaua ncllcs , «ftauão també os oílos da Rainha D. Tareja,quãdo,pello aueriguar, omeímo Arcebifpo D. Agof- tinho de Caftro^cm x8.de No- aembroanno ijpS. prefcntcs alguns Cónegos _, Fizicos ^ & G;urgioês, abrindofc primei- ro o tumulo,mandou fazer as diligencias, & exames rcauiíí- tos j cooftou por todos, eiva- rem ali dous corpos , hum de honicm, outro de mclhcr.en-

uokos em fendacs dedamaíco alienado, mandou os o Arce- bifpo apartar, ficando os do Conde na própria lepukura, & paflando es daRainha a oU' tro tumuIo,q da parte daEpií- tola defronte de do Conde ti- nha mandado laurar pêra fy o Arcebifpo D. Diogo , em que depões, porbós rclpeitos, não quis fcr enterrado. A fepultura fe concertou primeiro do mo do que hoje eíH , com a ima- gem da Rainha lançada fobre ella, o letreiro diz.

D. O. M. Regina Tarefi<e Alfcnfi Caíiel- U, if Legionió Regi^Jmpe- rator^s nuncupati , filtre, Co- mitií Hcrici yxori^ Didacws á Soufa ArchiepifcopiPsBra- char.Hifp. Primas M.P.an. àChriflonato. MDxiij. Quer dizer. A Deos de toda a hôdade^t^grandec^a. D. Diogo de Sowi^a Arcebifpo de Braga, Primas dcvs Hefpanhas, leuatou efla fepultura à Rainha D. Ta- reja afilha de D. Affonfo Rey de Cajiella, ip' Leão , chamado o Empe?'ador , molher do Conde D. Henrique, no anno i j 1 3 . Fcfle a trcsladação no anno de iS^^. como conlia do letrei- ro acima referido. . 6 E porque logo digamos,!

antes

D. Dmode Souz^a.L

295

i

c^\tn.io^

ances de entrarmos no thcfou rOjCudo o percencécc às obras da , cambem mandou fazer denouoo enmadeiíamenco , òc forro das três naues,& cru- zeiro, a quem o tempo tinha de todo deíbararado,& pêra em búa obra fazer duas , man- doucortara madeira no fou- co, que vizinhaaacom a ci- dade, onde abrioarua noua, cuja porta íc chama por eftc rcípeito do Souto , como lo- go diremos .Fez també as duas torres do relógio, 5í:iinos, por que no remate delias eftáo as luas armas, & os orgaós gran- des,quela5 hús dos melhores, que ha ueíte Reyno, onde dou porás fuás armas. Fez tá- bem a caía do thefouro, & Sá- chriília, dacapella do Arcebif- po D. loaõ Martins de Soa- •lhaês,collocaado leu corpoo^ no modo que hoje eíl;à,&: nos jàdiílemos craíua vida . Fez a clauilra, a caía daliuraria , as caías do Cabido , &amifcri- cordia velha . Mandou por as figuras do Anjo Cnílodio,S. Pedro , & S. Paulo , & alguns Arccbifpos fancos , todas de. vuitojio frontefpicio da por- ta,

7 íN o thefouro fc não y è

peça de preço, ou cllima, que

não foíle dadiua fua , íeria tra- ; balhofcm goftoillas nomea- do a todas , bafta dizer em ge- ral , quecí'jm a prata, & orna- mentos, que elle deuje po- dia bé fcruir húa das mães gra- ues , & ricas Ses de toda Hef- panha.

8 Imprimio duas vezes o

Breuiario Bracharenfe , ambas na Vniuerlldade de Salamanca porloaõ de Porres^acaboufe a vitima irapreíTaõem iz.de A- gofto ijiz. Fez também Cóf- ticuiçoês pêra eftc Arcebifpa- do.

CA PITO LO LXXI.

D O MÃES ÇiVE FES em acrefcetammto da cida- de de Braga.

O material dos edifícios daci-i dadepodecaojs; bem dizer foi o ArcdDifpo D.Diogo propriamente o feu rei^aurador , & reedificador . : Abrio a porta noua nos mu- ; ros da cidade , & fcs a fonte, \ & caminho jCitoa racíbia por ta,noannodeiiJi.comoc6f- ta do letreiro latiao , que cfta^l

Bb4

aberto

29^

Capitolo LXXL

aberto na mefma porta . No meímo anno abrio a porta, rua de S, loaú.Node 1518. fez o paço do concelho. Fez ou- tro ly as barbacans , & baluar- tes deftecaílelloj porque fo- brc o baluarte da fonte chama da do caualinhoy eftáo as luas armas , &c a esfera delRey D, Manoel , & armas do Reyno, cada cfcudo de por fy,com letreiro de letra grade. Reftau- rou também a fontcj & cami- nho detrás de S. Marcos , a fonte de noíla Senhora a Bra- ça» a de S. Pedro de Maximi- nos, ôc o chafaris de Santia- go , quando vão pêra S. Frui- tuoío.

i, Quafi quanto ha fora

dos muros , faõ edifícios íeus, & delles adentro toda a rua noua , &ado Souto^que atè feii tempo foraõ bofques de carualhcs , & caflanheiros , & hoje hc o melhor , & macs kl ílroíoda cidade. Abrio todo otcrreiroj que vay da porta do Souto, ate noíía Senhora a Srnnca , & em tal proporção, &:diftancia, qfe pode contar -pella melhor praça, & fayda de quantas ha pellas villas , & cidades de Portugal. Sua he, & edificada por elle, a Igreja de Santa ^?í.íí4,no meímo terrei- j

\

ro, junto da qual mandou Ic- uantarem muito boa ordem, as pedras , & colunas , que os Romanos quando fcnhorea- uáo Braga, leuantaraó a diuer- íos Emperadores.-peraquena- quellas letras tiucÂem os cu- riofos em que gaftar tempo, fe fizeííèm peritos nas anti- guidades de lua pátria. Man- dou també laurar a capellade noíTa Senhora a Braça , peraq aquelle ncbre p3Ílco,no fim do qual eftà o edifício , foíle, náo apraziuel à vifta , & de recreação aos íentidos, mas bem prcuekoío aalma,c5a- quelle Santuário , onde le pu« deíTe íazer oração , & ganhar as graças, que ah de ordinário faõ concedidas. He a imagem fobre maneira magcftoza , òc deuota,agaz3lha com os olhos a quem a , & parece lhe of- fereceo filho,que tem nos bra- ços.Scruemnalcus confrades com riqueza, & apparato,tem muita prata, &cul1:ozos orna mentos. Em noíTo tépo fe fez efía ermida muito mães capaz, com as címolas dealgús deuo- tos, azulejandofe a capella,có outras bemfeitorias de pulpi- t05alpedre,coro,& retabolcs, que agora não importa efpcci- ficar. Celebrafe íua fefta à cin- co

I. />• f .3.

J). Diogo de SouzjiJ.

297

Ufte.iy

CO de Agofto. Tem o appelli- do de noíla Senhora a Branca^ pclb brancura da neuc, com q em Romaappareceo bráquca- do o monte Eíquilino, onde a Senhora queria felhe fundaf- ícaquellefcrmofo templo^cha mado por cila occaííaõ Sanóla MariaadNiueSf a cuja imita- ção oArcebilpo D.Diogo, pel la deuaçáo,que àquclla Senho- ra tiaha,do tempo que era Ro maeítiuerajmandoulaurar ef- ta ermida.

5 De vários hofpitaes i cu ja renda mães- Tcruia aos que os adminillrauáo , do que aos pobres , & neeellitados pêra quem fora eregidos, fez hú,no anno de 1508. a que chamáo de S. Marcos por ali fe venerar o corpo de S. IoaõMarcos,dif- cipulodeChriftojComo em ícu lugar diíTemos. He cíle Hofpital nobre,rico, Sc fe cu- ra nelle grande numero de en- fermos. Tcue ate agora junto aíTi a Igreja de Santa Cruz, a quéfas nobre húacelebrecõ- fraria,que a lerue , mas ao prc- ícnte vay laurando gran- de magnificência ^ outra Igre- ja noua,maes acima , Ôc à maó cíqucrdados que entraõ pella rua do Anjo , pêra onde fe ha de mudara velha.

4 Laurou cambem a câ-

pella de Iesvs , pera.fua íepul- tura, na mifericordia velha, deulheferuentia pella clauftra, &C pos nclla capellaés , que to- dos os diasrezaíTem juntosj& emcoro,ooflBciodiuino. He o feu adminiftrador o Arcedia go deVermoim híja das digni- dades defta Santa Se. j Não contente com af-

íiemnobrecera luacicíade,buf cou quem também com a pe- na, & eftylo , a fizeíTc famoza, dando noticia aos prcfentes^ ôi vindouros de fua primeira fundação. Foi elle o grande fr. Angelo André de Rezende (aí- ie intitula, ôc naõ fr. Lúcio André de Rezende, na obra, q logo diremos) da Ordem do5 Pregadores , a quem por dou- ciíTimo em todo o género de antiguidade, confultauao, co- mo a oráculo, os mayorcs le- trados de feu tempo , & eícri- uia o Emperadoc Carlos V. Encomendoulhe o Arcetifpo cftaobra, ^elle, como quem o tinha por fautor , & Mece- nas de todas as boas letras, den- tro em dez dias , lhe mandou hum poema de mães de trezé- tos verfos da fundação de Bra i/'*' 91. ga, tão polido,& apuradojtáo cheyo de erudição, & outras |

elegan-

298

Capitõlo LXXI.

elegâncias poéticas ,qual o po dia fazer o mellior poecajdos que hoje veneramos. Cómu- nicounolo oChantre d'Euora Manoel Seuerim de Faria , co- mo tão rico , & curiofo de fc- melhãtes antiguidades. Tinha íeu lugar na primeira parte, & no primeiro capitõlo deftahif toria , onde tratamos da fun- dação de Braga, mas foi a def- graça, que de muito guardado não apcreceo íe não agora , & ainda , que pudera aqui ter feu lugar, contudo como osver- fos íaõ tantos , de força de interromper oíiodahiftoria. Porventura iraõ, ou no prin- cipio,ou no fim,defl:a fcgunda parte, com húa breue explica- ção, de que tem boa neceíTida- de, pella recôndita erudição, de que eftáo cheyos. 6 Entre tanto baftc faber, quedanellcs o Author,aTeu- cro íilho de Telamõ, irmão de Ayax , hudos principaes Ca- pitaés,q vencerão Troya , por fundador deita cidade.Na car- ta com q lhe ofterecc efcc poe- ma, lhe chama Pontijicum de- cuS^ Hijpanu^fidus fulgentif- jimiim , bonarum 'uigilinrúfau tor ^'zmicumfcribentmm confu- gium^como fe diflera,hõra dos Ponciíices, eftrella re(p:andc-

cent-e de Hcfpanha , fautor, & vnico reíugio dos que eícre- ucm. No exórdio do poema, defprezando os Deoíes , que no principio de fuás obras os Poetas da Gentilidade coftu- máoinuocar,como Apollo, Bachojôd outros femel ha ntcs, o chama a elle,peraquc lhe inf- pire hum nouo furor , comq á volta da fundação da cidade de Braga , cante também feus louuores. He o que contem os verfos fegnintcs. Sed mihi nec Clar^ tripodas, Nífeea^ njatum ^ Niimina iam cupiam :<vires m carmina prtebe

Hejperij facer Orbis honos:te Numinis injlar

AccipiOy da magna loqui,da "Pê- ra cotbtirno

Grandifono memorarei tuds l^ dicere laudes.

Ellc foi o primeiro , que ncfta cidade abrio elludos públicos, & feu parece o edifício em q hoje lemos padres da Com- panhia, como o moítraó as íuas nrmas , que eftao nas coi- tas do gerai dos cafos. Dcpccs trouxe mellres pêra elles oCai dcal D.Hérique,&:lhcanihou rêdaelfauel D.fr.Baltafàr Um po.Entregouos aCõpanhiaD. fr.Bertholameu dosMartyrcs .

Ao

••

D. Diogo de Souzji, I.

299

7 Ao accrecentaméco da cidade pertence também a rcí- tauraçáo do moftciro de S.Sal uador de Montilhos,edificado pello grande Arcebifpo de Bra ga.S. Fruituofojcomoem Tua vida íica referido. Crefceoa- quclle moftciro cm mageftade de edifícios, &: rendas quanto facilmente fenão pode crer, Foihumdos mães nocaueÍ!>,q por Hefpanha teuc afagrada Ordé de S. Bento , tudo arrui- nou a fúria dos Mouros, & do paíTado íò deixou a Igrcja,que hojcnelle vemos, laurada em cruz, & cõiz.colúnasdeniar- more,quea fuftentáo.Náo pa rcce foi a própria do moftciro, aífi por íet muito piquena,co- mo por fer pouco acomodada ao culto diuino,& íeruiço dei Ic.Cremosferiaa fepultur ado fanto, ik fora do corpo da an- tiga^ porq alTi íe coftumauaõ a edificar naquelies tempos.

8 Alfiqeftando ja o mof- tciro de S . Saluador arruinado de todo,& reftádo pouca me- moria de fuás antigas riquezas, o Atcebifpo D.Diogo, porfe não perder fantuario de tanta veneração em tempos paíTa- dos, chamou pcraelleosReli- giofos Menores da Prouincia da Piedade, leuantandolhe o

edifício em que hoje viueni,& acomodádoihe o melhor que podefer,a Igreja,quenos dif- lemos foi fepulturadeS.Frui- tuofo. afli porelle a edificar, como poralieftar feu corpo, ate nos íer roubado pêra Cõ- poftela.Tudo confta de hu le- treiro,que eftà na meín)a ígrc ja , de letra gótica , cujas pa-- lauraSjC efcricura o íeguinte. DidacusSou^ Archiepifcoptis^ hanc Ecclefiam a diuo Fruãtio- fo, antequam Hifpania a Mau- rn expugnaretur , conditam^cú tedificíjs adiacentibm afe con- Jíruãis, in mondflerium redegit anno Chriíii ií3^,XII.diemc' fis Decembris . A línificaçao em Português , pello que te- mos dito ,íecícufa, náofeef- cufa porem aduertir o erro em que alguns cairaõ, atribuindo ao Arcebifpo Cardeal D. Hé- rique edificar efte moftciro, & cntrcgaloaos padres da Pie- dade, fendo tudo obra do Ar- cebifpo D. Diogo de Souza, p Mas peraq a Parrochia, que tinha annexa,não foííe de impedimento aos Religiolos, ah j unto fe edificou outra, titulo JeS.Ieronymo, quehc camcra Arcebirpal,ondc íe ad- miniftraõ os Sacramentos aos freiguezes. A íaida da cidade

~

pêra

300

Capitolo LXXI.

pcra o mofíeiro he aprafiuel, leu fitio de viíla alegre , porq fcnhorea todo o valle de Pra- do, hú dos melhores, & mães ricos Entre Douro, & Mi- nho. Os padres da Piedade o conícruaõ retrato doParai- zOjOs cidadãos, &: pouo deBra gao eftimáo comohumdos macs deuotos fantuarios da ííua cidade. E aos vinte RcUgioíos, que o habitáo, outros tantos retratos do Seráfico padre S. Francifco,acodem, femprc oneceíTario pcraa vida. Dire» mos das virtudes de alguns no capitolo 73.

10 Puderanos efcuzar to- do efte capitolo as palauras , q por loaó Freire, entre outras m4JÍcas, mandou dizer a clRey D. Manoel na occafiaõ da alça- da de lorge da Sylueira,de que logofallaremos,porque ncllas tinhamos húa breuc cifra, de quem foi neíle particular. Saõ as que fe feguem. Direis afua Altei^a, como me deu efle Arce- bifpado^ femmeu requirimentOy nem lembrança delle^ tf por ejta mercê fer tamanha, tf tão obri- gatória, trabalhei sepre depões ^ quefou Jrcebifpo, cem as for- çrf4 do efpirito , tf do corpo, tf afsi da facs^enda , de guardar, qUaHto a mim foi pofsiueljegun

do a fraqueja da carne, tf do tempo , tudo o que deuo aoferui- ço de Deos^tf defcargo da con- [ciência de fita Alteia, que me aquiposjjf afsi da minha , tf o que tenho feito acerca dajuHi- ça defia Igreja , afsi no efpiri- tual , como no temporal , jj" em defpender fuás redíHj que eu tei- xo o teílemunho de tudo aos de- fora^tf a Deos, que Verdadeira menteofabe. Eporemnaolei- xarei de dii^^er, como he ^verda- de, que todo o meu tempo,tffa' ^nda, defpendo em meu officio, fem me lembrar ,fe nao opaÔ de cada dia y nem ejpero, que por minha morte me achem heran- ças compradas , ne thefouro ef- condido . Guardeifempre o quê deuia a todos , a ninguém tiro jufiica, nemfa^enda, tf quan- to , ou quão pouco aproueito a todos com o meu, elles o digao. E quenãofounefle Arcebifpa- do mães que hofpede depou- cos diaé,tfpor iffb não leixo de pagar a poui^ada quaa bempof

fi.

áW^

CAPI-

jD. Diogo de SouZiA. I.

301

CAPITOLO LXZII.

CO UO DEFENDEO

a jurdicao defia cidade: a- crejcentou o dijlrito da Dio- ctje^ defua morte.

lurdiçáoda ci dade defédco, & confcruou fcmprecõgrá deinceireza.Su cedeo em feu tempo vir aos lu gares de Entre Douro, Mi- nho com alçada, »Sí grandes po dcres,Ior^e daSy lueirajteue no ticia o Arcebiípo , que queria entrar nefta cidade , & exerci- tar nella aólos de jurdiçáo. Não confentio que entraíTc, néíeus miniftros,& oíiiciaes. comoem etíeito naõ entrou. E por ceílarê outras duuidas, recorreo logo a elRey D. Ma- noeljdãdolhe queixas porloaõ Freire , criado de fua caía, das femrezoés,& aggrauos,que fe Ihepretendiaó fazer, deuaíTau- dolhea izéçáo,& liberdade de fua Igreja.ElRey ouue por bc^ viftas as rezoés , & contratos, que raoftraua , de ordenar a lorgedaSylueira, nãoentraf-

fc nefta cidade, ouíeus Cou- tos , nem fizeílè algum a<ílo, qprejudicaíTe a fua jurdiçáo, Sc Arccbifposdclla.Hcatarta feita em Euora a (í.deNouem- brodeiyií?.

z Moueofe também de- pões no anno de i ji8. em té- po delRey D.Ioaõ o III. a pri- meira duuida fobre poderem os Rcys conceder reuiftas dos feitos ciueis,que nefta cidadefe determinauaõ aíinal,a q o Ar- cebifpo D. Diogo fe oppos c6 grande zelo, & liberdade , em forma,que não teue cffeito , o que entaó fe pretendia , efcre- uêdo de Braga a clRey em car- ta de ii. de Março do mefmo anno, dizendo^ que a jurdicao, hffenhorio, que tinha eHa Igre ja em Draga , níio era por mer- cê 5 nem doa^tw, que algum Rey defie Rey no ^ Ibeji^ejfe, mas an- tes que ouuejfe Reys em Portu- gal ^jà eíia Igreja tinha a fu- prema jurdiçáo ^como 05 Reys de C afiei la tinhaó em f eu Rey no , tf no mefmo tempo , que osReys de Portugal ardiaó em tanta guerra os de Casiella.pojfuya pacificamente o fupremofenhO' rio^à Vífia de húsjsf outros. Que os minifiros reaes entendefiénM cousas qfua Alte^a^^ os Reys [eus antecefioresy der ao defua

Ce

coroa

3Õ2

Cafitolo LXXIL

2- to

106.

foi.

.»8

coroa á^pej^oiâ, que qui^erao^tf àipójfuyao agora por fua mercê ^ y dóacao^if quepoUoque os Ar cebijpostenhao feito cotratopor duas 've':^es comos Reys de Por tugalfobre a jurdi^ao , naÓ oji- c<;^eraÓ comojogeitos nefia parte à coroa real^mas como liures^lsf ic{entos,tfpor ijfofe tratou ^i^ confirmou tudo pello Papa , co- mo jur dição Jojeitad^vniuerjal Igreja , t^ nt.o a cBe Reyno^ nomeando o Sumo Pontífice jui- r^stm Caíiella,pera decidirem as duuidAS , que pudejfem nacer defie contrato afeito com tantas ej comunhões, tf cenfuras, cÔtra toda a pefioa que o quebraj?e,pel lo que pedia afua Ãlte^a,fendo ajufiica tao ciar a, o nao qui^f- fe canfar em fim defeus dids^que por fua idade nao podiao fer muitos, pões nao eraferuiço de Deos , nem de fua Jlte'^a ^ nem bom galardão do que elle Arce- bijpo merecia a e^es Reynos . Ccnfta mães largamente efta carcadoi.tomo defte Cartó- rio.

3 A crefceraõ mães em feu tempo a efta mitra as terras, q hoje pertencem àComarca de Valença. Como fahiráo da de Tuy , & entrarão na de Ceita, diílclnòs em leu liigar.Foio cazo^ q como as vilUs de Oli-

uéça,CápoMayor,& Ouguel* h, cíliueflem tão dirtantes da cidade de Braga , & feu goucr- iTo foíTe demaziadamcnte pe- nozo,aíí) aos Arcebifpos, co- mo aos demaes fubditos , qde lóge acudiaõ a efta Relação era fuás cauzas/endo Biípo deCci taD. fr.HéricjuCjrcligiofo dos Menores , tratou elle o Ar- cebifpo D.Diogo quizcíTetro caraquella Igrcji as terras, que tinha entre Lima,& Minho,cõ as que Braga poíTuya cm Alé- rejo , porque a hija,& a outra ficaua bem a troca,cm cfpecial à de Ccitajpocs fe Ihedauão das mayores, Ôc cm lugares macs vizinhos. 4 Parecco conuenientc ao BifpoD.fr.HenriqucGquco Ui. Arcebifpo lhe cometia, vcyo na troca,6i: deu a ella feu con- fentinicnto , per húa efcritura feita cm Braga a 20. de Setem- bro de ij-iz. omefmo deu o S^rcnilíimo Rey D. Manoel, qm cujo nome íe fes a fuplica á Santidade Lcaõ decimo, no qual também não ouuc duui- da,paflbu ofiat,ôc cxpediraõfe as letras aos zj. de lunho de 1513. tomoufc poflc por efta Igreja em j.de Agoftodomef mo anuo, &: de então pcracà pertêcc a Comarca de Vaiéça,

«tile

to,z. rer, tnem ftU

D. Dio^o de SouZj^. L

30$

Chro. dtl Rcj. D lonoo

acfte Arcebifpado,& ao deCei ta as terras,q foraõ da Diocçfe deBadajòs. Poréeftas não per feueraõ naqudla mitr3,cõa no uacreiçdodoBirpadodeEluas, onde fe encorporaraõ,cõfignã doíeporellasnoBifpadodoAl garuejmil,& quinhécos cruza dos pêra o BiípodeCcica em cada hum an no. j Tancas,&: tao infignes o- bras qo Arcebifpo enrique ciafualgreja^ofaziáo por todo oReynocclebre^&famoro.Ço mo a peíloa tão caliíicada,o.ef- colheo , & nomeou clRey D Manoel por teftaméteiro íeu, juntamente com o Conde de Villanoua dePortimáp D. Mar tinho de Caftello branco. 6 Não foi menos cuidadofo tjoaíTeo da própria peílba , do luftrcj&grandeza de fua caíã.q dos edifícios, & obras matcria- cs,em q fe moílrou tão mag- nifico.Scruiaíe com faufto, & magcftade,nê depões da real, auiafamiliamaesluzidajqafua, oscapellaês eraõ muicos,& to- dos letradoSjOS pagés,& cfcu- deirosjtodosgéte nobre,&em graó numero. Os Defembarga dores de fua Relação grãdeslc- tradoSjO q ali fe diíinia, & alie taua,eraõdccifoés pcraosmaes tribunaes do Reyno,Baftauafa

bcrfe,q tal, ou tal cafo fe fentc ceara emBraga,pera paífar co- mo em couía julgada, & fcm duuida.

7 Pella confiança, q auia

de fuás letras ,& de feus minif- tros, quando fe leuantou a du uida entre elRcy Henrique 8. de Inglaterra, & aRainhaD.Ca thcrina,dizcndo elRcy , q não podia fcr fua legitima molher, & fedeuia fazer entre cllesdi- uorcio, ElRey D. loaõ o III. ( q era fobrinho da Rainha ) à imitação da Imperatriz D.Ifa- bel fua irmã, qmãdou ver ci- ta caufa pellos Prelados de fcus RcynoSjiS,: letrados da Vniuer íidadc de Salamanca, & Alcala, encarregou com grandes pa- lauras ao Arcebifpo D. Dio- go , que ajuntafle configo to- dos fcus letrados, peraquea- pontaífcm as rezoês da juíliça por parte da Rainha,5«: no que foíTemcõformeSjllio mandaf- fc mui declaradamente por ef- critojcom feu parecer , pêra o enuiar a Roma. He a carta ef- critacmSetuualpcllo fccreta- rioPerode Alcaçoua Carnci* tamiJos ro,em 1 6. dias do mes de A bril Y^^^rf^ do anno de mil & quinhécos !/#/.é4. & trinta & dous. 8 Depões da morte doArce- bifpoD. Diogo, quãdo lhe fuG

r

Cci

ccdco

304

Capitolo LXXIL

ChyoKéda Ordem l> V lur. ^,

cedco noArccbifpado o Infate D.Hcrique^todosfeus criados, & officiacs ficarão em fcus pto prios officios, & recebidos na caza do Infáte,/Jí)r^M/ííWO(di' zu)foube sepre ter criados ^q o po diaofer na caT^ do mefmo Rey. 9 Com fcr cftc no exterior, era no interior d'alma, varaõ verdadeiramente humilde , ôc felicito de íua faluação^ por tal ojulgaua aquellc grade feruo de Deos fr.Francilcoda Serra da Gata,religiofo da Prouincia da Piedade. Tratauao muitoo ArccbilpOjpcllo grande con- ccito,& confiança,quc de fuás orações fazia , entendendo o muito, que Deos fe Ihccõmu- nicaua.Foife hum dia ter com ellc ao mofteiro de S.Fr uituo- fo,dandolhe conta como defc- jaua renunciar o Arcebifpado, a fim dcfe aparelhar melhor pe ra a morte,no q queria primei ro faber, por feu meyo a von- tade diuina.Paflados algúsdias tornou a viíltar a fr. Francif- cOjíc cllc o auifou» q daquella hora íe aparelhaííe,porque fos quatro diasde vida lhe ficauáo. FelloaíTi ©prudente Arcebif- po , & ao quarto dia, cõpoftas íuas couzas,dádolhe oar,mor rco de hu accidête de parlezia em íS. delunhode ij"32.. vin-

te & fetc anflos depões de fer eleito Arcebifpo defta Igreja. Publicada que foi fua morte pella cidade,tal prantõ,& alari do de toda a forte de gente, fe leuantou nclla , que he tradi- ção confl;ante,ouuirle na villa de Prado,húa legoa diftantc de Braga.Scpultaraõnona fuaca- pella, em húa fcpultura Icuan- tada } Sc na pedra que a cobre eftâ a figura do Arcebifpo as inngniasPóti6caes,& nocir cuito do tumulo cfte epitáfio. JifHija^D. Diogo de Sou^, Ar cehifpo deBragaJilho deloaÔ Rodrigues de Vafconcellos^ fenhor de Figueiró,^ doPe- drogaò , l^f de D. Br anca da da Slyuafua mother , o qual elRey D. loao o II. mandou por embaixadora Alexadre Papa VI. a lhe dar fita obe- diência,l^ el ^ey D. Manoel^ tendo o feito capellaomòr Rainha t> . Mariajua molhe f^ omadou dar fita obeditciaaó Papa Mio II. ^ elRey D. loaÓ o lII. oféscapelíao mór da Rainha D. Catherinafita molherfi qualfes eflà Capei- la pêra fuafepultura. Viueó Lxxij<í»«í)5, i^faleceoa 18. dioí do mes de lulho de mi. ^Chro» da Pouco tempo depões pedindo i^j^^^^^j. hum criado do Arcebifpo ao '^o.

mefmo

D. Dio^o de Souz^Ã, I.

305

mefmoreruodeDeoSjquizer- fe fazer por fua alma particu- lares orações, cllelherefpon- deo^qdado^o Arcebifpo titiera trabalho ^eflaua comdopella mi fericordia de Deos,em lugar. II Foraõ Sumos Pontífices no tépo cjue o Arcebiípo D. Diogo gouernou eíla Igreja, lulio II. Leaó X. Adriano VI- & Clernéte VII.Reys de Por- tugal D. Manoel^í^ D, íoaõ 03. u Tcue o Arcebiípo D. Dio gohú filho por nome D. Pe- dro de Soufa, Cónego, & Chá tredcftaSè, do qualfoifilho D.Diogo de Soufajínqui/idor de Liíboa, do Confclho geral, Bifpo de Miranda , & vltima- mente Arcebiípo d'Euor3.

CAPíTOLO LXXIII.

D.BERE N G A R TA

Abbadejfa de S. Clara de Vil ladeCÓde^lSf algiisReligiofos da Prouincia da Piedade.

Olíemprede grade religião omofteirode S. Clara de vil- la deCõde.Te ue por fundadores, &: ao q fe cre,amoertados porreuclação diuina,aD.AfFófoSãches,filho baftardo dclRey D. Dinis, & a

fua molhcrD.Tareja Martins filha do Cõde D. loaõ AfFófo de Menezes ,& netadelRcyD. Sacho de Callella,q nelle eítáo í'epultados.Aqui,alc de outras religiofasde grade exõplojflore ceo pellosannos de iji8. D.Be- rcgaria, cuja humildade Deos noílb Senhor quis illuílrar c5 húa prodigioía marauilha. z Tinha D. Beregaria grades dotes da natureza , pêra feruir os mayores cargos do cÕueto, todos os encubria entre excr- cicios, &occupaçoês humil- des,porq defejaua cõtétar fòa feu diuino Efpozo. Era em oc- caíiao, q o mofteiro fcruia, de andaua todoreuolto cõaelei- çáo de noua Abbadeíla : auia muitaspretéíorasj&í pêra todas auia apaixonadas .Chegou odia da eleição, jutas as rcligioías em Capitolo,porcada húa eíperar, & ver onde carregaua a raayor parte dos votos, quis no pri- meiro efcrutinio perder o leu, & não fe lhe reprefentãdo cm^ quê mayor certeza o perdei íe,q cm D. Beregaria, nella,cõ eáacõfiança , votarão todas. Regulados pello minillro Pro uincial os votos,Í3yo, feni lhe faltar ncnhu , D. Berengaria, AbbadeíFa. Palmadas, & fo-

brefaltadas as rcligiofas com

'

Ce 3 tal

30Õ

Capitolõ LXXIII.

tal noLiidade, reclamarão logo a eleição, mas como acouza hia traçada pella prouidencia diuina,aquclla,qd'antes náo íònáo pretendia,masnemcon fcntiria anomeaflcm peia tal cargo, como fe nelle entrara por paixáo,& oppoíiçáo, aííl ledeu por achada ao fuílentar. 3 Perfeucrauáo contudo

«s rcligiofas em fua contumá- cia, ate qu.c chamado híía vez aíerua de Dcos a Capitulo a Communidadc , acudindolhe poucas,&: eflas mães pêra zó- bar delia, que pêra lheobede« cerem, pofía no fcu lugar , le- uantando primeiro os olhos ao Ceo,& depões correndo clles o pauimentodo Capito- lõ, cheya de hua noua confi- ança com voz poderofa diflc defta n' ancira. Jr»?ás, que nefie Capitolõ efiaisfepultadiis , ^os mefereis teUimunhas^como nncct pretendi ^nem dec^ejeifer Abba- dejfa^ eleger ãome contra minha 'Vontade cts que agora me nao querem obedecer i peraque ellds entendí.o , como todo ejle nego- cio he de Deos , eu em [eu nome^ Isf no meu, fe como Prelada "pos pofo mandar^ ^uos ordeno , ^ mando ^ quet^os leuanteis dej?aá [epulturdí , ^ me -venhais obe- \ deccr ^peraque confundidas c6

■voj^o exemplo^ que me defpre "i^ão^t^recu^ãopor Abbadejfa, entrem emfy^ if reconhecaofeu erro.

4 Couza marauilhoza' que no próprio momento fe Icuantaraó quantas rcligiofas naquelle Capitolõ eftauáo fe- pultadas ; forãofe direitas a Ab bàdefla, & fazendolhe fua vé- nia mui profúda , lhe beijarão a mão,Ã:feoíFercccraõ pêra tu do o que lhe ordenaíTe. Efpa- Ihoufe a marauilha pello mof- tciro , acudirão as freiras aoCà pitolo j & rcconhecêdo as de- funtas, & muito mães fua con tu macia, pedirão perdão delia, que a humilde fcruadeDeos D.Bcrengariai de boa vontade deua todas.Efcreué eílecazo Gonzaga, fr. Luis dos Anjos, & â quarta parte das Chroni- cas de S. Francifco.Eftà pinta- do na Igreja do mofteiro on- de fuccedco.

5 No capitolõ 71. nos pe- nhoramos , pêra nefte dizer- mos algiía couza dos rcligio- fos,q viuer35,& falleceraõ no mofteiro dcS. Fruituofo, 6c porque ali começamos afal- iarde fr.Francifcode Gata , dos primeiros, q o pouoaráo, delle diremosem primeiro lu- gar. Eraefte fetuo deDcos lei-

GmzagA

ProH. dt

TortaCÕ.

uem, 13,

Fr. Lmis

^ dos Anjos

\jard. de

'.Port.fol.

1224.

\jDaza

ehron. de

IS.Franc.

I

4 p.llH.l.

c,2^, an, IJ18.

P. Aluar, Lodo in manufcr.

^fDiogo de SouZja.L

307

igo de profillaó.Seu comer naó pa fla ua de húa tigela de caldo, no qual, por lhe tirar o fabor, lançaua de ordinário cinza , &c agoâfria.Nuncacomeo carne, nem peixe, ou bebeo vinho, lejuauao Aduento^ôdCorcf- ma a paõ, ^ agoa , & ainda da agoa fazia auftinencia. Todos os dias fedifciplinaua duas ve- zes, gaitando em cada difcipli-^ na húa hora, que era o tempo cm que repetia a paixão de S. loaõ, que íem faber latim , fa- bia de memoria. Da meya noi- te ate as quatro , gaftaua infa- huelmente em oração. Procu- raua oDemonio diuertilo nel- la,aparecendolhe de varias ma- neiras, húasfazédo diante del- le grandes tregeitos,outras tó- mandolhe o manto, ate q vê* dofe derprezado,o ouue de dei xar. Conhecia os penfamétos, & parece tmhaluz docftado, em que cada hum andaua Deos.PedindolheaquiemBra ga certo fecular húa A ue Ma- ria, lha negou , dizendo. Nao yos ha cCaproueitar ^porque mo efiais emgra^a de Deos . Con- fundido o íecular a repof- ta,rcconfcflou,& entrou pou- co depoes,religioro naProuin- cia da Piedede , & nella viueo, & morreo com exemplo.

6 Teuedomde profecia, como vimos no quelhefuc- cedeo o Arcebifpo D, Dio- go deSouza,& agora veremos em outros dous cazos també marauilhofos. Determinaua o Eniperador Carlos V. cõquif- tar Tunes, era a empreza peri- gofa. Qujs nefte particular fa- ber aImperatrizD.Ifabel a tade diuina, conhecia dePor-». tugal ao feruo de Dcps fr.Frail* cifcojmandouo confultar por hum criado feu,dequem mui- to cõíiaua, antes de lhe dizer palaura, nem íinificar ao q vi- nha. Direisy refpondeo,^ J»í- peratric^, quejiheferuido Deos Nojfo Senhor- d^ oEmperador ir a Tunesy^ que o efpere triú- fante. A vitoria confirmou a certeza da profecia. DiíTe mui- tos annos antes de fua morte o anno pótualméte , & a hora em q Deos o leuaria pêra fy na fcfta do Gloriofo Apoftolo S. Mactheus. Coucorreo, pêra fe achar a fua morte, infinita gente ao mofteiro do Bofquc da villa de Borba, & como tu- do fe cumpriflb aííí, & da ma- neira , que o tinha profetiza^ do, lhe beijarão todos depões de raortOjO pe,& cocarão ncl- Icfeus ròzarios , & outras pe- ças , que coníigo Icuauáo , A

Ce 4 Duque

308

Capitolo LXXIII.

in

Lcbo \ maur.fí r.

\

Duqueza de Bragança D. loa- «a de Mendoça fegunda mo- Iher do Duque D. Iemes,a In- fanta D. Ifabelmollier doln- faiice D, Duarte, & filha do meímoDuque^pcdiraõj eguar daraó,húaatunica,outraQmã to do feruo de Deos,pcra ncl- Ics fc enterrarem. 7 Aqui viueo muito tépo, & pregou muitas vezes, outro grande íeruo de Deos,chama- do fr. António de Nebrixa, na tural da mefma villa deNebri- xa cm Andaluzia.Foi pregador Apoílolico , & com ter tanto das partes naturaes,peraeftemr nifterio, toda via, muito mães' pregaua,&: mouia coma vida, & exemplo. Comia heruas, & nunca remitia couza algúa dcfta penitencia, foi amiciíli- mo dos pobres, 5^ quãdo não tinha que lhe dar,Ihedauao manto, ou a túnica. SédoGuar diáo do Seixo lhe pedirão pê- ra 15. deMarçOjhúa pregação, que fe auia de fazer por cauza da grande reca,em huma pro- cifla5,aceitoua,mas diflelogo: a chtma fera tanta nejfe dia , quão pouca fera a gente ^([116 Vi- rá à pregação. Choueo dema- ncira, que nem elle pregou, a gente pòdefair dccaza. Fal- Icceo no moílciro deLouIè no

Algarue, onde feu corpo he rido em grande veneração. O Bifpo de Sylues fez grandes di ligcncias fobre fua vida, virtu- des, & marauilhas,queDeos por elle obraua.

8 Fr. Marcos de Portale- gre também foi outro gran- de feruo de Deos. Aqui em S. Fruituofo lhe fallou a imagem do Sarafíco Padre S.Francifco, & no conucnto d'Aueirolhe aparccco o mefmo fanto Pa- tiriarcha. Teue reuelação, que morreria na mefma hora em que Chrifto NoíTo Senhor fu bio aos Ccos . DiíTeo muitos annos d*antes ,& fempre trou xe na boca aquellas pala uras de S.Lucas na A fceníaó do Se- nhor, ^videntibus illís eleuatM eU^ziè quecumprindofeapro fecia , & chegando ao fim de feusdefejoí), citando no con- uento de villa Viçoza,cúhua íeuc doença , em quinta feira da Afcenfaõ, dando o relógio hua hora depões de meyo dia,, fe foi achar prezente às feftas, que naquclle próprio tempo celebrauão na gloria os Bema- uenturados , em memoriado triunfo de íeu Redentor.

9 Fr. Diogo deHira reli- giofo de grandes virtudes , tá- aqui morou neftemoftei-

ro

i,n. 9.

Daz,ti p. .76.

^fDiogo de Souz^.L

30^

ro no tempo doArcebiípo D. Agoftinho de Cafl;ío,& edifi- cou muito efta cidade, fcus raros exemplos. Nunca comia carne, nunca peixe, nem bebia vinho , contcntaualc com al- guns legumes, & pouca fruta* Foi fobremaneira modeílo, &c compofto.Delle fe conta, que depões de entrar na religião caviooroftoamolher algíãa. macs defpia o cilicio,ou dei- xauaâ diíciplina década dia. Eftandonocóuento de Azu- rara defronte de vilb de Con- de, orando na Igreja de noite, fairaõ delle taes labaredas, que que os vezinhos do coniiento imaginando andaua o fogo ã- teado na Igre j a, acudirão de- preíTa a dar rebate aos frades, os quaes , indo à mefma Igre- ja,naõ acharão nella mães, que o feruode Dcos fr.Diogo,to- do eleuado na cõííderaçáo cíos bens eternos. O mefmo Ihea- cóteceono mofteiro do Bom Iesv de Barcelos. Deu remate aíuavidacoma oíFerecerao feruiço dos cmpeftados na ci- dade de Coimbra, o antiode i 600. laz enterrado ao dos degraos da Ermida de S. Sebaf- tiaó, defronte da pona,ondcef tauaacazada Saúde.

O Irmão fr. Thomas

JO

de Santatem leigo, & bem na- eido, foi foldado na India^ & de grandes feruiços. Deixou o mundo,& naProuincia da Pie dadc viueo,& morreo com o- piniaõ de grade feruo deDcos. Andando nas obras do moftei ro de Ourem, que elle princi- piou,& acabou , cahio cm híá forno de cal ardendo , fcm, leuemente, felhechamufcaro habito.Outravesandandando húcauouqueiro cortando pc- dra,indofr.Thomas pêra con certar hua cunh3,no tépo que decia o golpe do marrão o apa nhou pella cabeça, fem lhe fa- zer dano algú. Morreo aquiem S, Fruituoloa 7 de Março dia do Angélico Doutor S. Tho* masjCm que naceo, & fes pro- fiíTaó.

1 1 Não ha muitos annos falleceo tambê cm S. Fruituo- fo o irmáo leigo fr. Manoel de Guimarães, natural da mefma villa,de quemfe contaõ notã- ueis exemplos de charidade,pe nitcncia , paciência , Òc outras virtudes próprias de hum reli- giofo.Contaua o Deaó D. Baí- thefarVaz Fagundes,que Deõs tem, que fendo ainda viuofr. Manoel, na mefma noite em que morrera o Cónego Fran- cifcodaCõfta, iníigne bem-

feitor

l^ *-

3íl'0'

Cafholo LXXIII.

'feitor dosPadres de S.Fruituo- ío,ou Tonhara, ou com cíFcico lhe aparecera emronhos,o mcf ^ mo fr. Manoel, & IhediíTeraj jàfenhorhe morto o Cónego Fr a cifcc da Coíla , nojío grande bê- feitor, TIOS agora aueis de ficar emfeti lugar ^ tffa^rnos (ts ef- molas , que elle nosfa^ia^o que elleaceitaua, & cúprio depões melhor. Efpertádoo pellame- nhã hum feu page,antes de ou trás palauras,lhe difle ertas : ef-^ ta noite morreo o Cónego Fran- cifco da Cofia, como fentirao pef delo^ptllds efmolas , qlhefac^ay as reitgiofos de S.Fruituofo,ao queoDeaójdepoes decotar o íouho que tiuera, refpondeo, quepera aquellas , l^ outras fe- meihantes. necefsidades^ lhe de- ra Deos renda , ip' boa '-vonta- de.

1 1 SendoGuardião de S.

Fruituofo a primeira vez o Pa drefr. Pedro de Lordelo, em tépo do Arcebifpo D. Aleixo, abrindoíea coua dehumreli- gioro fallecido auia fete annos, pcra fe enterrar nella outro , q de nouo fallecera/e acfiou feu corpo inteiro, & quede fydef- pedia hum cheiro fuaniísimo, mandou logo o Guardião fe- char a coua , ôc aos frades aui- zou não cõmunicaflem nacía

aos reculares,& nem agora, os que ao prefente viuememS. Fruicuoío,nos fouberaó dizer o nome deíle relieiofo, nem qual era a fua coua.Tanto dcf- cuido ha entre tanta fantidade: trazem os exéplos de feus ma- yores viuos na imitação , ne- híja rezaõ fabem dar delles,pe- ra fe porem em cfcritura. 13 Mas que falíamos no Padre fr. Pedro de Lordelo, por muitos titulos nos eftà merecêdo fazermosaqui qual- quer memoria de fuás muitas virtudes.-temos delias particu- lar noticia , pellas varias occa- fioés cm que o tratamos, de- ucmoslha,aíli pella particular aíFeiçãOjqueanoíTascouzastc ue , como por fer natural de Lordelo neíte Arcebirpado,& fallecer cm Braga . Foi todo o tempo, que viueo religioío, homem de grande exemplo,as ordens,& coftumes da fuaPro uincia,guardaua particular, c5 miudeza,& fu perior fazia guar dar nimiedade.Sépre em to das as couzas hia diante defeus fubditos com cxeraplo.Foi ao Capitolo Geral , que fe cele- braua em Roma , a , fcm outro 3lforge,que a prouiden- ciadiuina. E)a mefma maneira foi outra vez ao Capitolo de

Toledo

^.hCenrique.

311

Toledo. Vifitaua a Prouincia ainda eftafegundavcZjque foi Prouincial, carregado de cátos annos, & achaques , também a pè,&: como o cinha feito fen do de menos idade, & mães ro bufto.

14 Teue particular deua-

çáo com o SantilTimo Sacra- mento, &coma Virgem Se- nhora noíla. NaCcilajdcque raramente íahia^ ou meditaua, ou lia,fem eftar hum momen- to ociofo. Com fcrámeíma afpercza pêra coníígo , era a meíma charidadepera feus lubditos.Com os enfermos fe címeraua mães ríella,vifitauaos a toda a hora,acudialhe cm to- da a neceiTidade,cõrolauaoscm toda a afflicção , aíliftialhe em todo o perigo, finalmêtc nuca do principio da doença , ate Deos os leuar pêra íy jou de to do conualecerem, oachauaõ menos. Foi homem de graue prefençajrnoftraua o rofto íê- pre alegre, fem lho alterarem nenhúas aduerfidades . Teue nos cargos públicos brio ,& valor: na vida particular hu- mildade,& fogeiçaõ. Falleceo cm S.FruituoíOjCanfado do trabalho da viíita,em ir deMar ço de 1634, Como a varaõ no 1 tauel,lhe puzeraõ os religiofos

feu nome na pedra da íepultu ra,o que naócoftumaõvzar com outros.

DOM H E N R IQVE

69. Arcebifpo de Braga,Car-

deal da IgrejaRoma-

na,&:Rey dePor

tugal.

CAPITOLO LXXIIII.

D O Q^ E FES ATE renunciar o Arcebifpado de Braga.

OIoArcebif- po D. Henriq filho dclRey D. Manocl,& de fua fegúda molhcr a Rainha D. Maria, fi- lha dosReysCatholicos D.Fer nando,& D. Ifabel. Naceo na cidade deLi{boa,no vitimo dia do mes de Ianeiro,do annodé mil & quinhentos & doze,foi bautizadopor D. Iorged'Al- meida Bifpo de Coimbra , & foi o filho, que nas feições do roftojfe pareceo mães com el- Rey feu pay. Em moço,aprê- deo bem latim , ouuio Grego, Hcbraico,Mathematica,&: Fi-

loíofia,

Góes M chronmàel Rey D. j Aíano.^* p.C,2J»

312

CapitoloLXXniL

I ^/ õ. m I vtni He a I rkt.

lofofia, depões quecnnrouem mayor idade,(e applicou de co do aTheologia, & lição dos íancosPadres/m queaprouei- rou milito^ & dellcscompois I.úas homilias pcra feu próprio vfo,nas c|uacs reduzio^em for- ma de meditações, os Euange- lhos , cjiie por todo o anno fc lem.Elhs laõas homiliasjCjue

0 rdigiofo varaó frei Luis de Granada, em graça do mefmo Infante D.Hérique,imprimio em lingoagem Portugueza,& depões a Vniucrfidade d*£uo- ra traduzio em latim mães co- piofamente. Em idade de 14. annos tomou o habito cleri- cal,& a primeira dignidade, q tcue foi a de Comendatario , ^ perpetuo adminifirador do mof- teiro de Satã Cru^de Coimbra, por rcnunciaçáo do Cardeal D. Aífonfo íeu irmaõ , & em feu tempo fe reformou era ob feruancia,aquclle moflciro, &c fez o In íantc D. Hérique mui grandes defpezas nas obras da mefma cafa.

1 MortooArcebifpoD. Diogo de Souza, como acima cfcrcuemcs^foi promouido o Infante D. Henriquej,ao Arcc- bifpado de Braga, fendo de zi. annos , pouco mães , ou me- nos.A primeira memoria, que

achamos íua^conlta de híia car ta^pcra os juizes,<^ Vrcadorcs, Ã: procurador deita cidade,cm que lhe conta de como era prouido noArcebifpadodeBra ga, pclla Santidade de Cleméte VII. como macs largamente conftaria pellas bullas^queauia de apprcícntar Diogo Fogaça, fidalgo da cafa delRey , & íeu capelláo,ao qual mant^aua to- mar poíle delle Arccbifpado, di encomendaua, queemCa- mera o notificaflc aos fidal- gos, caualeiros,cfcudciros, & pouo defta cidade. He acarta cfcrita em Euora^cm i(í.de la- neirOjdei534.

3 Qoerédo clRey D. loaó o III. nas Cortes , que fez cm Euor3,em 13.de Junho de mil &c quinhentos &: trinta & ciii co j jurar por Princepc deftcs Reynos ,a íeu filho herdeiro DManoelspellos tresEítados_^ como fcmpre fora coftumc; por o Princepc nâo fer de ida- de^pera per fy receber, & acei- tar juramcnto,clíleyD loaó o ílí.como feu legitimo admi nií^rador,pel!a grande confiá- ça , que tinha de feu íjmàoo Cardeal InfáreD.Aífonfo,Ar- cebifpo de LiíLoa, ^ adniinií- trador do Bifpado d'Euoraj& Comédatario do moíleirode

Santa

D. Henrique,

313

Santa Cruz de Coimbra, osor denoUj&confticLiio balíances procuradores ,peraque ambos juncamcnce,& cada hu per íy, pudeílcmaceicar^&rcccber dooutro^& dos Infantes fcus irmãosjDuqucs^McftreSjMar quczes. Condes, Prelados, Al- caides mores,&fidalgos,& dos procuradores das cidades^ & vi!las^(^ pêra iíTo foraó chama- dos,os preitos, & omenagês, defídelidade,& obediécia, que de direito , oucoftume, íede- uiaõ^ou cullumauáo fazer aos Princepes primogénitos, her- deiros dos Reys. Foi ali nada ef ta carta por elíley,& felladacõ oícu íellodechúbo,na cidade d'Euoraaii.deIunhodexj'35'. Breueméte niorreo oPrincepc D.Manoel, porq nacêdoemAl uito,o i.de Nouébro de 153 1, não chegou a viuer 4. annos. 4 PoreítaSj&outras rezoés, efteue algusannos oArccbifpo D. Henrique,depoesde toma- da poíre,fem vir a Braga Efcrc ueo aos Regedores delia cida- de,como a defcjaua viíítar,& o Arcebifpado écomedãdo mui to,q no reccbiméco ío nao fi- zeílc defpeza,em q o pouo re- cebeflc opprcílaô,& q partiria d7iuoraem3. dias domes de I lulho de r ^37. A iB deuia acõtc

cer , porq entrou nefta cidade dcBr3g3,no principio d' Agof- todo mcfmoanno.Do Porto em 2.-7. delulho cfcreueo aos lui zes,&: Vreadores de lia cidade, por Diogo da Fonfcca (eu Apo lencador, peraq fizeíTcapofen- taméto de íeus criados,a q a car ta chama moradores defna cafa. $ Ordenou logo o Arccbif- poCõíl:ituiçoés,apuradas por homens muito doutos, pellas quaes ainda hoje fegouerna ef te Arcebifpado: foraó lidas, & publicadas acordo, & cófe- Iho do Cabido deíla Sé, & dos beneficiados, òi Clereíla do Ar ccbifpado,em prcfêça de todos elles no Synodo ,q o Infante celebrou na Igreja MetropoH- tana,aos i4.dias domcsdeSctê bro de i J37. & foraó impreíías cm LiíboaporGermáoGallar dcFrãceSjCm 30 domesdeMa y o de 1 5 3 8. & todo o dinheiro q lherêdeooSynodo,ordcnou qfe gaftafleeracazamêtcs de orfas,& na fabrica das efcholas publicas,q mandou cõtinuar, c por nellas muito bõsmeftrcí. 6 Festábéimprirair,perab5 gouerno do Arcebifpado,hij Sa cramêtalemlingoagê Portu- gueza , traduzido das obras de Clemente Sanches de Vcrcial, bacharelem íeis, Arcediago de

Dd

Valdei-

314

Capitolo LXXIIIL

Valdeirasna Igreja de Leaõ,foi cí^e liuro impreflo nafta cida- de dcBraga^por loaõBeltraó,& Pedro de laRocha,mercadorcs de !iuros,& íeacaboudeimpri inii aos ij.dias do mes dcFeuc íciro de ijjp. He repartido em trcs partes , na primeira fe tra* ta dos Artigos de noíTa fanta Fè,&dcclar3çáo do Credo,Pa- df e noílb , & Aue Maria , dos dez mandamentos J&: dos fetc pecados mortaes , & de todos os outros, em ^ osliomés po- de pecar, & das kxc virtudes, &L das obras de Mifcricordia. Na fegunda trata dos Sacfamê tosem geral, & em cfpecial dos três primeiros, Bautifmo,Cõ- firmaçáo, & Comunhão. Na terceira parte tratados outros qtiarro Sacramentos,? cniten- cia,Efl:remai^nçáo,Ordem,& Matrimonio. Diz o author def te liuro Clcmête Sanches, q o conjcçou de eícreucr em a ci- dade de Sigiiença aos 3. dias do mes de Agcfto, do anno de 1 4^1 .& q acabou de o cfcreuer no ãno de 1413.no fim do mes de Março,na cidade de Leaõ. 7 Dcfpachou o Arcebifpo D. Henrique todos os criados, q foraó do Arcebifpo D.Dio- go de Souza feuanteceflor,co- i mo fe foraõfeusproprios,pro

uendoos de oííícios ,& tomá- doos perafeuferuiço, fazédo- Ihe muitas outras mercês. Buí cou pcra o goucrno doArcebif pado,os milhores letrados, & officiaes,q auia, eminentes cm todo o género de faculdades, òc de maneira os trataua , q por neceíTidadcjdcixafsé de fa- zer o q cntédiaõ. Alem de ou- tros fogeitos trouxe pêra ler as letras humanas neíla cidade de Braga , ao iníignc loaõ Vafeo Framcgo de nação, natural da cidade deBrugcs,como teftifi- ca o mefmo author em o pro- logo, q fez noliuro,qimpri- mio das antiguidades dcHef- panha,aondc não acaba de dar fim aos louuoics do Arcebif- poD. Henrique. E clle veyo NicolaoClenardo tábê Framé go, & Sacerdote, que tinha im preíTo a arte de Gramática He- braica , & Grcga,porondcna- quelles tempos fe aprendia . Depões eníinou cm Salaman- ca as letras humanaSjtendo pri meiro ido a Marrocos-, pcra pregar aos Mouros a Catho liça, mas vendo o pouco frui- to , que ali fazia , íc tornou a Hefpanha , a continuar fua antiga occupaçáo. 8 Succedeo,fendo o Infã te Arcebifpo de Braga.,híía grã

de

D. Henrique.

ÍI5

de cílerilidadetpcra remédio da qual ordenou, cjuedas par- tes de França vicílcmaos por- cos de entre DourOj&Minho, muitas embarcaçoésde paó,& o niádou repartir pello preço, q la ci)rtara,& aíli mandou fa- zer muicas címolas a pobres, q o náo podia ó cúprar , & tabc mandou muito paóa Tralos- montes,peraq pelbmefma or déíerepartiíTe, &pellos íeus vidtadores ordenaua,q fe fizef íem clmclas^quádo vificauão, Mandauo ci iar muitos enseita dos, q náo tinhâo outro reme dio. Tinha rol de algúas peflo- as iióradas.S: pobres a quê fa- zia cada mez certas címolas. Vi fitou peíloalméte quaíí todos CS lugares defta Prclazi3,& to- dososofficios de Prelado exer Citaua por fy,biutizando,& le uandoo SantilíimoSacranien to doAlcarjaos enfermos. Qua I do fe tomou o cabo dcGuè, I deu grade foma de dinheiro, pe ra refgatar catiuos , principal- mentemininos, pello perigo, que tinhaõ de perder a fè. 5> Vifítou tábé a Igreja de Gnimaraés,q auia muito têpo, qfe náo vifitaua, inquirindo por fy próprio a vida de feus fubditos,caftigando cófeueri- dadc pecados públicos, prin-

cipalméte-dcgétcEcclcíiaílica, em q auia grande foltura^vzá- do tábé de rauita clemência òs culpados/m q íetia conhe^"* cimento de íeus erros.Venceo d demanda dos votos , q fe pa- gão em varias partes dcíteArce bifpado , á meia Arccbifpal,co"' grande cuidado, &:diligécia,q niílo pos pêra alcaçár juíliça, na reuiíiaqouucjeftando jàeí ta igreja defempoífada, por fe tença, qfereuogoujÃ: roieíta caufa de mi Jta impoftacia.En nobreccoa cidade obras pu- blica5,abrindoa rua,qchamáo do Infante, q vai parar no rio Dcftc. Proueo eíla Sc de prata, & ricos ornamentos. IO Por algíís refpeicos,q pê- ra iíTo aueria,íe foi o Arcebiípo Infáte outra vez aLiíl)òa,6<i da qlla cidade efcreuco a Fernão Figueira feu Defébargador na Relação deBraga,a carta qanda no primeiro tomo dos liuros defta Relação às folhas jo. & entre outras couzas lhe diz Eu pra^do a noJ?o Senhor, determi no de mefagrar cedo , poríj faó perto de 2.7. annos,l!f como che- gar a ejia idadefao obrigado a me confagrar dentro de três me y6'5.Foi cita carta efcrita a 14.de lancirOjporlorgc Coelho feu fccretario,no anno de i y 5 9.

Ddz

Por

3i7

CmidohX^V.

II "'■■ ;Por letras de Paulo lll., foiprpuidouo.qfiScio dclçi-^ quiridor Geral de0es Rej/--^ Qos y Q qual cargo renunciou, nelle D^Diogo da Sylua Birpo, de Ceita ,& Primaz deA6:iç^. (o ^foíicni Liíboa aos 3. diai do itics de lulIiQ.do anno de rj5j?;)ÍQÍertePreIado o primei- ro Inquiridor Geèral, que ou- ue iieífcs Reynos , como direr. mos,quando tratarmos de íua vida- Tcue nefte officio o Ar- ccbifpo D. Henrique grande trabalho; por nác^eilarêascou zas naquelle principio or- denadasjô,; auia grandes cótra- diçoêSjaíTi pot parte do Nun* ciOj comodefauores.deRoma^ q cora negocio, & poder alcá- çauáo os Chriftaõs nouosjto- dauia ofauor deDeos,&del- Rcy íeuirmáo,preualcceo o zc lodo InfáteD.Hérique. AíTcn touíe a Inquiíiçáo nos Eftaos deLiíboa, & Te íizeráo muitos autos dafè, & foraó cõdena- dos grade numero de hereges. 1 1 A vitima memoria, q ha doCardealD.Hêiique neftcAr cebilpado, he húa carta fua^ef- critaem Lifboaem zz.de lanei ro de 1 5'4o.aos Regedores dei- ta cidade, naqualnomea as peí íoas q naquelle anno auiáo de feruir de juizes, &Vreadores.

CÁPi.TO.tO Lxxy.

DO ^E LBE SVCCE^

deo depões de renunciar o Ar cebijpado de Braga , atèfua , morte.

O I logo elei- to pcra Prela- do daSèd'Huo ra, que dantes eraBifpado,& por íeu refpeito fc fez Arcebif- pado,aondc guardou o mcímo modo de reformação, & lar- gueza de címolas, q tinha vfa- do, fendo Arccbifpo de Braga. Fudou na mefma cidade o Col legiodo EfpiritoSantodaCó panliiade ÍesV, onde ha de or dinarioiyo. fogeitos . Aefte Collegio anncxou a Vniueríi- dade , que ali crigio^cujo Rei- tor quis qfofle o do mefmo Collegio, & os meftres,osRcli giofos "da Companhia. Ha na Vniuerfidade três cadeiras de Theologia Efpeculatiua , duas de moraljhuada Sagrada Efcri- tura , quatro deFilofoíia,oito de letras humanas, húaefchola de lèr,outra de efcreuer. As ar- tes tem Z4. partidos , a Theo- logia moral vintafeis de doze mil reis cada hum. Pêra ou- |

uintcs

D. Henrique,

317

uintes daTheologiaefpecuIa- tiua, fundou cambem debai- xo da adminiftração da Com- panhia ,o CoUegio da Purifi- èaçáodezS. collcgiaes Sacer- dotes feculares, que ali cncraõ por opoílçáo . Foraõ nefta Vniiíer (Idade meíhes , varoés eminécilTimos, & íò os qnos conhecemos, poderão honrar amaesfamofa de Europa, r Edificou em Valuerde híí morteiro da Prouincia da Pie dade,cõ o modo, &íumcuoíI- dadc,q íofre aquella Rehgiaõ. Em fim fez outras gradezás na qlle Arcebifpado, q deixamos aos hiíloriadores , a quê cocar cfcreuer a vidados Pfelados,q ouuenaquella íânta Igreja. 3 Foi pfomouidoà digni* dade de Cardeal do titulo dos Santos quatro Coroados por Paulo III. na decima quarra creaçáo,q fez dosCardeaes jno annodeChriftodeij4Ó de no Xllí.de feuPontificado. Vnio ao CcIIeaiodeS.PaulodosPa

o

dres daCompanhia de Braga, q mofteiro deRorís,cóauchorf-í dade do Sumo Pontífice , pcra remir ifto a obrigação, q ti nha a Igreja Primaz de pagar ao Collegio dous mil , & qui- nhé tos cruzados por tcpode zo.3nnos,emquácoíhcnãoda

uáo outras rédasequiualéces, na qual péra5,& encargo vinhaõ muito mal os Arcebiípos de Braga.

4 Morrédo em Roma o Dt* pa Paulo Ill.em lo. de Nouc- brodoannodei/49. entrado osCardeaes emCõclaue aos 2.9. do mefmo mes, o doutor Bal- thefar de Faria^ q eftaua naq Ha Corte fazédo os negócios do Rcyno como embaixador, fez lébrança aosCardcaes,q encra- uão noConclaue(foraõ 41 )das muitas partes, q auiano Car- deal Infante D. Henrique pêra íe fiar delle o SúmoPócificado, como peíloa q cinha encrado em outros efcrucineos,Ieuádo femprc muitos vocos,& q em chegara a 2.9. Naõ defconté taua eílapropofta ao Empera dor Carlos V. a clRey Fran cifco de França,cóforme refpõ dcraó a LorençoPires de Tauo ra embaixador delRcy D.Ioaõ na Corte do Emperador,& ao Licenciado Brás d'Aluide,q re lídia cm França,em fcruiço do meímo Rey.ElRey D. loaõ fe ouue niftocom hum pruden- dente defcuido,entcndcndo, q néa fua auchoridade,né à repu tacão doCardeal feu irmão,cõ uinha preceder oSúmoPõtifica do, entrar nelle por meyo

Chro. dd Rej D. loaÕ o 3, P4f.fÇ. & e. 68,

Dd3

de

3IS

Capito/o LXXV.

de diligencia, &; induílria hu- mana :c5cudo tcjje o Cardeal no Cõclauc muitos vocos pc- ra fuccder a Paulo líí. &em lu li^III. que cntaõ foi eleito Síí mo Pontífice muitos dezejos de o Cardeal Infante lhe aju- dar a ieunr aquelle pezo. Criou o Legado de laterc nos Rcy- nos de Portugal , no anno de

/ Morrco clRey D. íoaõ oIII.emLiíboaa i/.de lunho dia de S. Bernabe , do anno de IS 57' nomeou por tutor , & gouernador deftcs Rcynos a RainhaD.Catherina,atè oPrin cipe D, Sebaftiaõ íer de idade de vinte annos. A Rainha cf- colhco peraaajudar nogouer no ao Cardeal D.Henrique, & ambos foraó fcmpre mui con- formes no que conuinha ao fcruiço de Deos , òc proucito do Rcyno.Nei1:etépofez oAr cebiípo Infáte edificar a forta* leza de S.Giao no rio dcLifboa do híj por cento,das mercado- rias, q fahião daquclla barra. £ conhecendo a Rainha, q o pe- zo do gouerno eramuy traba- Ihofo, tratou de o reníjciar por ruasindirpollçoês,&algúasou trás cauzas, noArcebifpoCar- dcal. Procurou a cidade de Lif- 03,quea Rainha náo deixaflc

o gouerno, & pêra iílo lhe fez húa pratica no annodei;(íi. que nos pareceo lançar aqui, aíli porque as couzas antigas femprc os doutos, & curioíos eftimáo fabclas , como també porque na mefma pratica fc trata muito do Arccbifpo Car dcal. Dizia ali. '6 Poflo que a ci dade de Lis- boa { que todos aqui juntos re- prefentamos ) tenha por certo ^q V. A. com muita dehberaçãofe mouerá a determinarfe deje re- colher ( de que V. A. nos deu c6- ta)ip' deixar o regimento deíles Reynos : contudo faô tantas , i^ tao grandes ds obrigações ^ que V.A. tem aos reger ^ ífgouer- nar^ atè os entregar pacíficos 4 elRey nojfo Senhor feu neto^ que comparadas as caufas porque fe "Vojfa A. moue^para deJíHir da gouernanca delles ^com as que o- brigão â perfeuerança nella^pa- rece geralmente a todos , que no que V.A,di\^ que f áspera def- cargo defua confciencia , a en- carrega: ilf no que ef colhe, per a fegur idade de fua faluaçao , a põem emperigOjíjf no que Ihepa rece , que ferue a nojjb Senhorio deferue : por cj como ellefejaau- thordapas^ if canferuador da ordem , cf pacificador de efcan- dalos , parece que he com grade

efcan-

T>.tíi

anrt

efcandah^tf offenfafuaj íjffua diuina bondade^ obra que ta- tá occajiaó a defqrdensjj' efcan daloSj tf outras nouidades , a q eflãofogeitoA (vs alterações , i^ mudanças de regimentos Jsf que deue V. A. de temer muitofua jufía indinacão, porque comfa- ^er mercê a todos ^ as pode ata- Ihar^ tf remedear .' E pões da perfeuerança de V.Al. nagouer nanca defies Reynos tantos hcs fe conferuaOy tf tantos males fe impedem aparece claramente, q a continuação deV. A. norezi- mento delles^he obra a Nojfo Senhor muito aceita , tf tanto de mayor merecimento , quanto he mayor achar idade de qpro- cede^tf o frui to delia he mães geral ^tf mães comum atados. 7 E ainda qV. A. jint apor fua indifpojtçao ^ idade ^ tf traba- lho''^ter menos for casado que re- querem [tu grande animo J^ he- róico efpirito ,não ajfegurapor ijfo mães fua faluacao ^deixar de todo o regimento , poeí notoria- mente faó mayores os danos, que todos ejies Reynos recebem de V.A.deJiflir da gouernança dei- les^que algúas faltas ^que pode- rão fentir da deminuição , q V. A. fente em juas forcas corpo- raes^tf efpirituaes.Quato mães 1 que esi a diminuição fe recompe-

que. 319

fa^co a muita authoridade^pru dencia , tf experiencia,qV. A. tem deTtes Reynos^ de modo,que dado V, A. ordem aogouerno^ c6 o refguardo^que a fua difpofic ao he necejfario Juafalua^ao^nem ficará emperigopor algua falta de fua difpof^ão, tf fua determi nação Je de mayor perigo ^poes priua eíles Reynos do frui to de fua gouernança , com que eflao quietos ^tf confolados, tf ospoe em receos de alteracots pouida- des^tf defafofegos , pêra remé- dio dos quaes obriga Nojfo Se- nhor aos q tem renunciado tudo {fufpendendo os effeitos de fuás profijfocs ) a aceitar agouerna- ca dos Reynos ^que Ueixarao. 8 £ ale de parecer esta deter- minação de V. A.perigofa para fuafaluacão^não refpode à mui- ta obrigação^qte a eíiesReynos, por Ihefer encomendada, tf en- carregada com tanto amor por elRey nojfo Senhor ^que Deos te, Senhor^tf Rey nojfo , tf delles, tf com re(^ocs de tanta confian- ça,que bem moíirou terlhes ma- yor amor aindaque V. A. pões pa ra elles terem de fcanfo^encar re- gou a V. A. do trabalho de os re- ger,tf gouernar: nemfatisfas à fogeição , tf perfeita obediecia, CJ que de todos elles foi aceitada, tf ohedecida,na6 somente como

Dd4

tutora

120

Capitola LXXV.

tutora delRey nojfo Senhor feu neto l^ (TonernadpradefeusRey nos mas com tanto amor comofe foranatural Senhora delles: ^ af si como eft a cidade em nome de todos eUesRtynos^como cabe- ça delles, foi a primeira, que re- conheceo efla mercê, com iperda- deira,isf leal obediência, afsi em nome de todos eUes Reynospede aV.A. com toda a humildade, if deuidc acatamento, que quei- ra defiHir de fita determinação, t^ de nouo offerecea V. A.fua fogeiçao, Iff tudo o mães ,que d?- ue,pera V. A.reger,i!f gouernar Cites Reynos como até aqutfe^. E pões o Cardeal Infante tem calidades\ ^ virtudes , que V.A.l^ todos conhecemos, ten- do V.A. tal ajudador pêra feus trabalhos , tf ficando a authori- dade do renmento em V.A- co- mo a fempre teue , eftes Reynos njiuirao empa:^,<U' affojfego, ate elRey noffo Senhor fer de idade pêra perfy os poder re- ger,tf gouernar,tf quandopel- lo tempo V. A.'vir, que fuás for' cds iPão em tao grande desfalle- cimento , poderá difpor , tf go- uernar] dcmaneira com que fa~ tisfaç^já obrigação defuafal- nação , tf efies Reynos recebam com o apartamento de V. A mer nos dcfconfolaçao, tf a cauja de

F.A. fique per a todos maesjuf- tificada,tf melhor recebida,fen do pellos três Eítados' em cortes aceitada , tf aprouada : tf fe por cima de taa argentes coufcii V.A. eíiâ emfuarefoluçaOftf não quer mudar defua determi- nação, nemfufpender, nem dila- tar a execução delia , atèfepo- deremjac^r Cortes, tf nellasfe ajfentar a ordem, que aV. A. pa- recer.que conuem : a cidade pei- ta muita obediência que teue a V.A. lha nãoou^a impedir , tf fofrerà o que V. A. ordena , tf pões aV.A. afsi lheparece,tf o direito afsi o difpoem , tf orde- na, receberá mercê emV. A. ro- gar, tf mandar ao fenhor Car- deal^quc aceite atutoria delRey noffo Senhor, tf o regimento,tf gouernança defies Reynos ,por feu mui alto, tf mui efireito, tf deuido parentefco , que tem com elRey nofo Senhor , tf por fer próximo tranfuerfal,tf lhe per- tencer ,fegundo a difpoficão de di reito, tfpella muita experiên- cia de fuíts grandes, tf excellen- tes ijirtudes : tf po^o qnepel- las coui^as acima ditas ^ tf por afsi parecer a V.A.feja certo, q todos os três Eítados do Reyno em Cortes lho haÓ de pedir por merce,contudoà cidade parece, que pêra rhayor fatisfaçao de

todos

T>.m

todos j i^ defcargoJeUy deue de aceitar logo o dito regime to, l^ gotiernança, com declaração, q chamarão a Cortes , tanto que o tempo der lugar a ijfo, ^ nel- las praticará , (ff aj?entará a^ (OU^i'S^ que pêra o bc comíi def- tes Reynos aparecerem necejfa- riAí ,atj..fi_s entregar a elRey nojfo Senhor, pêra jua Alteia os reger ,llf gouernar por fy ^ como todos efperamos^i^ defejamos. 9 Náoobllanteainfhn-

cia^quefeza cidadcde Liíboa, <^ 3 que lhe hzeraó os trcs Eí- radoi deitei Rcynos , como a Rainha ertauarefoliua em dei- xar o gouerno.MiasGorces,que íe fizeraó em Lifboa rio anno de ijói. o reauncioii no In- fante Cardeal, que elle aceitou comzclodoíeruiço de Deos, & delRey íèu Cobri nho,fazen- do primeiro grande ínftancia coma Rainha, q continuaíTe nogouerno, aíTi como até a- quelle tempo o fizera, &náo quizcííe fazer aquella mudan- ça, reprcfentandolhe pêra if- ío todas as rezoés , que auia.* mas não aproueitando nada, Veyo o Arcebifpo Cardeal a a- ceitar o gouerno cm quarta feira 13 . dias do mes de Noué- bro de 1561. jurádo,como era coftume.de o entregar a clRey

enrique. 321

D'Sebafi:ia5,como foíle de ida de de i4,annos, oque íefca grande contentamécodelRey, ^ da Rainha,com muita fatif- façáo dosvaílalos deftes Rcy- nos. Todo o tempo que go- ucrnou(foraõ feisannos) o fez fempre com grande juíliça,5«: igualdade.

I o Morreo por ertes tem pos D. Fernando de Vafcon- cellos Arcebifpo de Liíboa,fi- lhodoCpndedcPenela,5<: por rezáo do gouerno do Rcyno, foi o Arccbiípo Cardeal tranf- ferido pêra aquelle Arcebifpa- dojcom authoridade do Sum- mo Pontifice Pio IIII. & re- níjciou od'Euoracm D.Icaõ de Mello,Birpoqueerado Al- garue^pcíToa de conhecida vir- tude,& grande prudécia. Che- gado eiRey D.Sebaftiáo a ida- de de 14. annos o Arcebifpo Infante lhe entregou em Lif- boa o goucrno^que foi em dia deS. Sebaftiao io de laneiro do anno de mil Si quinhentos & fefenta & oito , às três ho- ras da tarde, fazendolhe a fala fegumte. \ 1 1 PoUo que efie diafeja de '. mim o mães defejado, ijf dema- yor alegria, que pode fer ^ em que <-ue]0 aV ,A.em idade dei^.an- nos , af?mtado em fua cadeira

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'y.i>.

Capito/o LXXF.

Real, com muita prudência, i ç^lo de yirtude no feruico de nof Jo Senhor, lhe entrego ogouerno de fks fcíis Reynos ^quietos ,if pa cificos , no efiado em que diaÓ. Toda nDia conhecendo asfaltas^ isf negligencias^ qnellepormim pajfarao , me torno muito a co- nhecer^ antes deter auidoper- dão delias de V.A.que tenho por certo ^ que não negará a quem conJiança,i^ humildade^ lho pe- de : tf tamht porque tudo o que f^ , tf deixei defa^r ^ foi por me parecer , que era o que mães cumpria ao feruico de F, A. tf bem defeus l>afalos^fogeitos^tf naturaes , fer/i outro particular ref peito. Efe ainda afsi ^contra minha tencaoJenho ap^^frauado, if danificado a alguém^ eflou prestes para em quanto em mim for^fatisfa^er^tf afsi com eUa fatisfacaS da minha parte , tf perdão de V. A. tornarfemeà a dobrar a alegria , tf com nouo efpirito^ darei graças a noJfoSe- nhorpelloí mercês, quefe^aV. A. tf a ejiesfeus Reynos, em tc- po de tanta necefs idade, tf tra- balho ,fem lho poder impe dir tao fraco injlrumento como eu^ por quem elle as quis obrar. Pões de nof o Senhor tendes eíies bes^ nãofe deuem de encobrir per a fe lhe dar loimor deuido. Eu da mi

nha parte j fe nelle me cabe ai-

guapas deuo offerecer a F.A, em

fa tis facão de minhas faltai, Pel-

lo que mandei por em hum papel

o quefefe^^iem efie tepo, pêra V.

A. o faber particularmente, tf

lhe dar re^o de mim : farmea

V. A. mercê , depões que daqui

Jefor, de o querer mandar ler

parantefy.

Repoíla de eiRey D.Sebaf-

lliaõ.

Tenho ^Senhor, mulhí

iz

entendi do, quão bem tendes g^o- uernado eíies Reynos ytf a obri- garão em queniUo 'Vos fico, a qual njos tenho em mercê ^ ^fi' rei fempre lembrado de tudo ^pê- ra o conhecer, tf gratificar , co- mo fou obrigado . E pões Deos mefe\ mercê de chegar a idade de tomar ogouerno de meus Rey nos, o aceito , tf efpero nelle me dará graça pêra oferuir niffo, como demimfe deue efperar , principalmente com a merce^que a Rainha minha fenhora^mefa^ de me querer ajudar , tf afsi 'vojfa ajuda , de que me efpero muito aproueitar , tf com taes guiai não poderei errar. 13 Deu então Pantaleaõ Rebelo efcriuão do fecretario aufente,oícllo aMartimAf- fonío de Miranda, camareiro do Cardeal , o qual o deu na

raao

maõ ao Cardeal, & o deu na máoaelRey, beijandoo pri- meiro: clRey o entregou a D. Aleixo de Meneies íeu ayo, (k. elledahi 3 pouco o entre- gou, afaftado d'elRey , a Pan- taleaõ Rebelo, &: logo lhe deu o Cardeal o papel dobrado, &c lhe beijou a máo,&clRcy tá- beiAi o deu a leu ayo. 14 Entregue elRey D. Sebaf- tiaõ do gouerno deite Reyno, deíejoío o Arcebifpo Cardeal de Ic afartar dos tumultos da Corte,pera mães liurementeíe cccuparnos ofíicios Eccleíiaf- ticos , fendo morto ncfte tem põem Euora o ArcebiípoD. loaó de Mello , íe tornou ou- tra vez peraaquelle Arcebifpa ào, por letras que pêra ilTo lhe paflou o Papa Pio V. Parece, q aprouidencia diuinaoguiaua a icr Prelado de todos os Arce- bifpados, peraqne(como fe ta de S.Bahlio Magnoj os hon raílecom lua prefença,^ com feu exemplo os reformaííe, & fantifícaíle. Quando fcelegeo em Roma por Pontiíice o Pa- pa Pio V. cfcreueo S. Carlos Borromeu ao A rcebifpo Car- deal ale2:randofe comelleda- quella acertada eleição , aonde no mefmo fim da carta , diz ^ que fe efpanta da Sabedoria

32S

'lib,\,c,í%

enrique.

Chriflam, com que o mefmp Ar- cebifpo Cardeal lhe efcreueo^co- foladoo da morte de feu tio o Pa paPio JJJJ. Anda efta carta na vida deS. Carlos,que compôs o Licêciado Luís Munhòs , foi efcrita em Roma a z6.de Fcue- reiro , do anno de mil & qui- nhentos Sc feíenta &c féis. í; Nos annos, que efta vi- tima vez eíleue em Euora por A rcebifpOjhabitaua ordinaria- mente em húa cella do CoUe- gio dos Padres daCompanhia, dizendo todos os dias miflà, tratando familiarmente com peíToas rcligiofas, & denotas. Pondoíe hum dia a cafo o to- go nos paços Arcebiípaes , & chegando junto da caía em q o Arcebifpo Cardeal dormia, lembrandoíhe,que tinha nella a imagem de hudeuoto Cru- cifixo,a quem colíumaua en- comendarfe , não tratando de por em faluo nenhúa de ou- tras coufas de grade eíl:ima,& riqueza, que na mefma cafa a- uia , paliando pello mcyo das chamas , trouxe a imagem cò- íígo, faindo milagrofamente do meyo delias. BfelulioSo- lino,& Valério Máximo não ràieM* acabaò de íouuar,& engrande- ximMb.^ cer a iníígnc piedade de que vfa raõ aquelles doús irináos , na-

turaes

Solínt II.

324

Capitolo LXXV.

^F'i'-33

turac^dcSiciliaAmphinomo. & Anapio,os quaes abrazado o Kiongibcllo os lugares vi- zinhos jCom hum grande in- ' cendio, que de fy iançauajaco dindo a ícus pays velhos, & forças pcra cfcaparem da mor te, os tomarão aos hombros, Ôc por meyo das chamas,os ti- rarão do incêndio, & puzeraó era faluo , deixandofe o fogo vencer de húa piedade taõ An- gular, & cuja memoria queria pafia fie aoslcculcs vindouros: foi o que diíle Claudiano. Fr^nauitMídciber ^thnam, Lfcderet excpli ne mommmta

Q^uanto mães fez no mefmo argumento de piedade, & re- ligião o Arcebifpo Cardeal.' A- codio ao Santo Crucifixo pê- ra o hurar dofcgo, deixando abrazar tudo,quanto tinha de preço naquelle apofento ^ tra- tando fò,com rifco de fua pro pria vida,dc faluar a imagé do author delia . Fizeraõfe deftc

Icazo vários, & elegantes Epi- gramas, qucandaôimpreíTos, huns em eftampas, outros na memoria dos rcligiofos da panhia doCollcgio d'Euora,os maesd'elleí cóaluraõaEneas, quando liurou fcu pay Anchi- íes do incédiodeTroya. Guar

dafe a imagem no mcfmo Coi lcgio,na cape Ha dos nouiços^ onde he venerada com parti- cular deuação.

1 1 Defte modo hia palian- do a fanta velhice,o Arcebifpo Cardeal, cumprindo inculpa- uelmente com todos os car- gos de fua obrigação: quando por pecados derte Reyno, foi Deos feruidocaftigalocom a perda dclRey D.Scbaftiaõ,em Africa,dia deS. Domingos, quatro de Agofto,do anno de ijyS. deixando a feus vaflalos j eterno fentimento, & eterno defejo, fendo os Portuguezcs deíbaratados, mortos, &cati- uos no campo de Alcácer. Vi- nha o Reyno por direito ao Arcebifpo Cardeal, como a v- nico filho delRey D. Manoel, q então viuia. Eitaua no mof- teirodc Alcobaça, quando che gou a noua, Partiofc logo pcra Liíboa, aonde com fuavifta (que como deherdeiro,podera enxugar as lagrimas ) fe viraõ de nouo repetidas , em que o mefmo Arcebifpo Cardeal os acompanhaua. Nem quando o leuantaraó porRey,nem nas cortes jquc no mes deAbrildo anno de 1579. fe começarão na cidade de Lifboa , & depões por rezão de pefte/c mudarão

pcra

D.^iogo da Sjlua.II.

325

pêra Alrneirim,c[uis coníentir lhe veftiísé oppa de brocado, como em fcmelhances a(5los coíUimauaó os Reys íeusante ceílbrcs, antes vfou íemprede habko clericaí _, & cm quanto foi Rcy^nunca íez vertido,por não gaitar cóíigo o que lhe pa rccia lAÕ neceílario pcra remé- dio de catiuosjoríaos , viu- uas.Faleceo cm Almeirim o vi timo dia <io mes deIaneiro(em q narceo)do anno de i j-8o.quã poa Lua padecia hum grande Ecljpfej reinando húanno,cui CO me{esj& cinco dias. Viueo 68. annos.foi feu corpo íepul tado na mefma villa de Almei- rim, &ahieíl:eueacè o anno de i;8i,emo qual íeu iobrinho clReyD.Fclipe o I.dePortugal o mádou trcsladarperao Real mofteiro de Bele, Quando abri raó a fepultura pêra tresladar o corpo, o acharão mtciro, pare- ce,qcomona vida foiráo in- teiro na juftiça, &taó amante da purcza,& caftidade, permi- tioDeos^qocurfodo tempo naopodeílèdeminuic a intei- reza daquelle corpo. 13 Asacçoês,qo Arcebifpo Cardcalfez íêdoRey_,as que íé- dogouernador, &: Reynando feu iobrinho elRey D. Sebaf- tiaó, contarão os Cbroniftas,

a quem o fio daquella hiíloria pertence. Poderiaó bem coniC' çar com o que diíTc oPrinccpe dos hiítoricos , & políticos CornelioTacito,quedão prin cipio a húaempre^i^chea de "fia nos cafos , de guerras atrozes, if aluorocos , morte de Prince- pes , contendas ciiiís , tremores da terra , contagiao do ar -.pro- dígios , l^ finaes no Ceo, pre- fagios daí mifericts^lp' calamida des,qnesie Reyno depões acóte-

rer^o.Maspaíícmosaconrara vida de D. Diogo da Sylua.

CAPITOLO LXXVI.

D. DIOGO D J STLVA,

fegundo do nome 9j. Arcebif- po de Braga.

Arcebifpo D. Diogo da Syl ua foi filho baf tardo de loaó Gomes da Syl ua comendador da Ordem de Chriílo,que era irmão deRuy Gomes da Sylua , o primeiro feníior da Chamufca^&Vlme, familia das mães antigas, & il- luftres deftc Reyno. O Padre Gonzaga Geral da Obferuan- cia , & Bifpo de Mantua . na hiftoria da fua familia, às fb- |

\f»AS

hijlo

Ee

lhas

326

CapttoíoLXXVI.

29.

folhas 94;. affirma que foi D. D Diogo da^^yluajdo lugar do FundáojCcrmo da vilbdcCo- uilhã, Bi ípado da Guarda, & que naqucllas paites fundou o moíieiro de Santa Maria do ScixOjdos rcligiofos çlaProuin cia daPiedade^no anno de i jzó. emhúa ermida de grande ro- magem , em que viuia de- noto ermitão. Nao fabemos o fundamento,que o Bifpo Gõ- zaga pêra iílb liueíTe , deuia de íer que loaoGomes da Sylua, teria a comenda naquelle def- trito , & nclla naceria o Arce- bifpo D.Diogo, de mãy,natu- ral daquellas partes. 3 Eftando íeruindo a eí-

Rey D. loaó o III.de fcuDefé- bargadordos aggrauos , &de fcu Confelheiro, o tirou Deos pcra a religião, pella maneira fe guintc, Vio diáte defy hij grade pratOj cheo de cabeças, mãos, & pernas,orelhas,& braços de homens juftiçados , logo oú- uio híía voz,q diíTe. EUa he tua 'X'/í/<í. A uifado D.Diogo defta fortc^dadoq entendia quaõ 3- ceito era a Deos o caftigode malfeitores _, como mortrou Moyfes aTribu deLeui depões da matança , q tinbáo feito no pouoemcaftigo da Idolatria, dizédo. Núc cofacraUis manm

'Veflras Deo , agoraconjagraf- tes yojpts mãos a Deos.Cóvido lhe deu o Senhor a entéder,co- mo íc náo queria ícruir de feu talcnto,era dará morte amal- feitores,mas cm dar a vida efpi ritual , aos q pcllo pecado a ti- nháo perdida , pello que dei- xando o dcfcmbargo, fe viftio do burel dos frades Menores, na prouinciadaPiedade,oude viueo íantamétCjdando cm cu do txéplo de perfeita religião. 3 Sétio,quanto fc náo pode dizer ^oDemonio efta mudan- ça, & pretendeo por todas as vias,fazelo tornar atras : apare - cialhe em varias formas, perfc- guia o, & maltrataua o de cóti- no. Híí dia cm figura de híj li- brè,entrando na íua cellajcom medonhos latidos, fearremef- fou a clle, tomandolhc a cabe- ça, & tendoo aíli por efpa- ço,atromêtado grand emente, náo menosdo mao efpirito,q do mal,q lhe fazia. Indo dia por entre híjs v alies camihhan dOjCm cõpanhia de fr. Diogo da Beira, frade leigo > home de feruorofo cfpiritOj& prouada humildade, fc lhe arraucíTou diante huma voz mui íenti-- da , &c laftimofa , que repctío por três vezes. Trijle de mim! que farei ? E da terceira acref-

cen-

D. Diozo

da Syli

ua

IL

117

cento u y que caminho ei de to- mar ? Malauenturadoo que da teftimimhofaljo. E logo fazen- do noar cerriuclíomidefa- parccco.Elpaiitadodavoz, &c áo eítrondojfrei Diogo daSyl ua perguntou ao companhei- ro, que podia íeraquillojHg^ diOe ^húa alma ^quenefte ponto fahio da 'uida , ij' no tribunal dhúno ^por aquelle crime, foifen tenceada ao inferno. 4 Entre cilas batalhas aíli interiores , como exteriores, lhe dana Dcos taiito esforço, & taes vitoriasjq cm brcue tê- po vcyo a fer homem morti-. ficado,& perfeito. Contentou tanto cila íua mudança, & fan tavida,aelReyD. loaóõ III. que o tomou ptírfeu confcí- for j& fez Bifpo de Ceita , Pri- maz de Africa, &i o nomeou por primeiro Inquiíidor Ge- ral dcíles Reynos. Chegarão as letras cftando na cidade d' Euora,em cinco dias deOutu- brojdoannode 1536. foi a bui la pafiada pelloPápaPauloIII. em 13. dcMayo do meímo an no- Logo dahi a poucos ánnos o nomeou por Arcebifpo de Braga, trocando efte vitimo cargo com olnfanteD.Héri- que,como diílertios em fua yida,o q foi era 3 . de lulho de

i;39.E he bem deaducríir nas traças da prouidcncia diuina,a qual ordenou foíTe o primei- ro Inquiíidor Gèral,à cuja co- ta ellàa defenlaõ da íê,hú Ar- cebifpo deBraga,alTi como ou tro. o sloriofo S.Pedro dcRa tes Martyr.tora ó priúieiro, q a pregara em Portugal, j Seguirãofe depões

Arcebifpo D- Diogo daSylua, &ao Infante D.Henrique^no officio de Inquifidor GèralD. Manoel de Menefes Bifpo de Coimbra (que tinha fido Rei- tor daquella Vniueríídade , & Bifpo de Lamego j por bulia do Papa Gi-egorioXÍII. pella qual o fez coadjutor, & futu- ro íucceíTor doCardeal D -He rique, paíTada no annodemil <5j quinhentos & fetenta & oito, em 14. deFeuereiro, & aceitada em 13 dias de lunho^ do mefmo ãnno*. Tomou o Bifpo juraméco no moftcirò deBelé,eftando prefentc oCar deal Infante , &c por morrer o Bifpo na batalha deAlcacarc, fucccdeo depões no officio de Inquifidot Geral D. lorge d' Almeida Arcebifpo dcEiílíoa, Abbade de Alcobaça, por bul- ia dê Gregório XIIL pafiada em iy.deDezembrOjde iS79- a quem fuccedeo o Cardeal

ÊTT Ãíbêr^

328

Capitõlo LXXVL

Alberto do titulo deSátaCruz cm lerufalem, Archiduqutdc Auftfia, filho do Emperador M3ximiliano,porbulla do Pa- pa Xil^o V.dada era xy. de Ia- neírOjde 1586.3 qual foi aceita da pclloArchiduqucem 13 .de Março,do mcfmoanno.Suce- deolhe D. Ahconio de Mattos de Noronha Bifpo de Eluas, por brcue de Clemente VIII. paíTadoera iz. dias do raes de Iunho,de 15- 96. & aceitado em 8. dias de Agoílo , do mefmo anno.

6 SuccedialhcD.Iorgcde AtaideCapelláo mòr,&:Bifpo, q tinha íído deVifeUjpor bulia de Clemente VIU. & o relc- uou depões dcftc cargo o mcf mo Papa, por aigúas occupa*- çoés , q o mefmo D. Jorge de Ataide lhe manifeftou.Succe- deo depões D. AlexãdrCjPrior da Igreja Collegiada de Gui- marães s filho de D. loaõ Du- quede Bragança, & da fcnho- raD.Catherinajfilha do Infán te D. Duarte,por brcuc de Cie mente Vllí.dado cm Roma a z9-deIulhode róoz.o qual foi aceitado emLifboa o primeiro dcOutubrOjdo mefmo anno, a quem fucedeo D. Pedro de Caftilho^Bifpo que fora deLei ria, òi. Prclldcntedo Paço , &

Viforrey,&Capelláo mor de- ite Reyno, por brcue de Cle- mente VIlí. paflado cm Ro- ma az5.deAgoftodoannode 1604. 4 foi aceitado em cinco de Ianeiro,do anno de lóoj.íe guiofe D. Fernão Martins Maf carenhas Bifpo que era do Al - garuc , òi fora Reitor da Vni- uerfídadc dcCoimbra,por bre uedc Paulo V. paífado em. 4. deIulho,dc 1616. que foi acei- tado em o fim de Agofto, do mefmo anno. Sucedeolhco fenhorD.Francifco deCaílro, Bifpo da Guarda,quc tinha fi- do Reitor da Vniucrfidadc de Coimbra, & Prefidentc da me fa da Confciencia , por breus deVrbano VIII -tomou pofle na InquifiçáodeCoimbra,cm dia do Eípirito Santo, 19. de Mayo do anno de mil &: feif- centos,& trinta. 7 OBifpodeMantua D. fr FrãcifcoGonzaga,na hifto« ria que efcreuco da Religião Seráfica, conta por primeiro Inquifidor deftes Reynos{o que também faz Mâris nos feus Diálogos) a D, frei Hen- rique religiofo da fua Ordem, & Bifpo de Ceita , aquel- le,que na armada de Pedro AluresCabral,no áno de lyoo. paíTou à índia, com outros

ÍZOl.

pag.}6t,

Barrosde

\ CAcl ultb'

J.f.i.

reli

D. 'Diogo da Sylua. 11.

329

*r'

religiofos íeus companheiros, a fim de pregarem nclla o Sa- grado Euaiii^ellio.Mas foi, (cm dunida^crfo das inforinaçoés,

porque IcconTundiraó A' tro- carão D. ff. Henriqi!e,com D. fr.Diogo,por ambos ferem re- lieioíos da mcfmafamilia.am- bos Biípos de Ceita, & quaíi ambos do meímo tempo. 8- Eítimaua tanto clRc)'

D.íoaõoIII ao ArccbifpoD. Diogo da Sylua, que quando ouue devirpern Braga efcre- ueo aos Vreadores, fidalgos, & caualcircs dcAa cidade em íiia abonaçáojdizendo: fowo /)^í//- ra (íojamo Padre^ qHÍ^eJfeJ)ro iier a D. Diogo da Sljua neUe Jrcebifpado , porjnas grandes yirtudes, Í5f encomenda muito, que feia de todos obedecido , ^ acatado^como era re^ao.porque emfeu carrego, faria o que deiúa a bompaflor, acrefcenta elRey, que ter ia diflo muito contenta- mento ^Í!f do contrario , que nao efperaua , muito dcfpra^er , iff defeniiço. He a carta eícrita em Liíbca pello fecretarioPero de Alcoiiaça Carneiro, em 6. de No-jembrodei540, Guarda- fe no Cartório da camera dei- ta cidade , & nenhúa outra ha em que CS Reyscncomendaf- fem aos Arcebifpos/cnáo efta.

de outra , que cfcreueo o mef- mo R.ey em íauor do Cardeal D, Henri<]uc fcu irmão , que foi eícrita em 19. de laneirodo annodei534.

9 Como D. Diogo da

Sylua entrou noxArcebiípo de Braga cortado das enfermida- des, naícidas da muita peniten- cia^quc íeifipre fizera,aceío cm deíej os de ver a Deos , & apa- relhandofc com todo o cuida- do pcra a vitima horajalTiílcn- dolhe os fcus religiofos, deu a almaafeu criador, cm o mcz deDezébro doannode i5'4i. auendo 14.me7.es, que tinha o Arccbifpadojdos quaes rcíidio emBraga noue,fcndo de idade de j6. annos. lazía íepultado ncflaSè, defronte da portada capcUa mor , donde o mudou o Arcebifpo D. Agoftinhode Caftro, pcraaCapelladeS.Gi- raldo , em que hoje eíl;á,man- dandolhe por o letreiro feguin te.

D.Fr, Didaco a Sylua Archiep, Primati^D. F, Aug. M.P. Qi\a:QÍzcT. AD.fr. DiogodaSyl ua Arcebifpo Prima^D. F. , Agoíimhopos eíiafepultura. Era Sumo Põtifice no tcpoq D. Diogo da Sylua foi Arcebifr po de Braga Paulo III.ERey de Portugal D. loaõ q III.

£c3

CAPI-

330

Cafttolo LXXVIL

CAPITOLO LXXVU.

D. DF A RTE FILHO delReyDJ0a60III.9S.Ar cebifpo de Braga.

Vm. annoaii CCS de fcr jura- do por Rcyi trcs antes de cazar (cazou nodci5i4.)ouiícclRcyD,Ioaó o III. hum filho natural^aqué chamarão D. Duarte. Naniav ouuc lempíc notaucl fcgredo, mas pclla uiformaçãOjque to- mamos dos rchgioíos do mof- tciro da Coita > parece coufa ccrta/er hlhí do Carranca, Al- caide de Liíboa, pcíToa hon ra- da, c|uc era moça dacamerada Rainha D. Lcanor, molhcr ter ceiradelRcy D. Manoel, por nome D. líabel Munis. Tan- rc que o fenhor D. Duarte te- ue idade conueniente, o entre- gou clReyaosPadrcs da fagra- darchgiaõdcS. Ieronymo,no moftciro S. Marinha daCofta, junto a Guimarães , fendo ali- Prior fr. Pedro da Butbuda,pe racjue debaixo da difciplina do Padre frei Digo dcMurça Dou

tor por Louaine iciigioío de gráo talento naquelles tépos. Reitor que depões foi da Vni- ueríldadedeCoimbra/e criaíTc com toda a religião , & pieda- de. Andou femprt no habito da Ordem , ajudaua às miflas, & fe occupaua no mães ferui- ço da cafa,quanco lhe era orde- nado por feu Ayo o Padre fr. Diogo.

z Aquincftemoftciro(foi primeiro de rcligiçíos Cóne- gos Rcgrates/údado pella Rai- nhaMafalda molherdelReyD. AíFonfo Hériques anno 1139. deo a OrdédeS. leronymoo Duq de Bargáça D. lemes an. iji8 ) aprendeo a Icr^ &efcre- uer , atè que fendo de idade„de catorze annos jmandou clRey D.Ioaó pêra fua companhia ao fenhor D. António, filho do Infante D. Luis, & efcolhco meftrespera lerem latim Rhe- torica , Filofofia , & depões Theologia. LcolhcaRhetori- ca Ignacio de Moraes , & a Fi- lofofia o Doutor Cayado , & leraó Theologia meftre Ro- meu , & meftre Margalho , q depões foraó cathedraticos da Vniueríidadede Coimbra .Foi confumado muíico, & range- dor em todos os inftrumétos, caualgaua mui airofojafli a gi-

neta

T>. Duarte.

331

neta,comoa eftardiota, tendo pormeftrc a hum grande ca- ualeiro do habito deChrifi:o,q foraAdail cm Africa,^: depões foifrade leigo no mefmo mof- teiro,& íe chamou fr. Fernan- do de A nciaês, peílba de grade virtude.

3 SahioofenhorD.Duar- tebom Filofopho, & Theo- lopo,& nas letras humanaste uc tanto cabedal , que come- çou a elcreuer na lingoa latina a hiftoria dos Reys de Portu- gal , mandando a Roma a vida do grande Rey D. Aftonío riqucs, logo que a tcue acaba- da, peraque viílaj & examina- da pellos may ores homens , q andauaõ naquella Corte jpu- deílecontinuar(quãndo con- centaííejcó as maes.Moftroua oEmbaxadordelReyD. loaõ o III. aos q na matéria tinháo milhor juizo, caílando o Au- tor, peraque com mayor liber dadea cenfuraírem-.porem ella fahio louuada de todos , & ra- ro foi o que lhe pos outra ta- cha,quea muita elegância^ vi- cio { fetal fe pode hamar ) de engenhos juuenis, que com o tempo, & exercício facilmen- te fe modcra,&: apura.

4 EmquantoofenhorD. Duarte efteuc mo morteiro da

Cofta, nunca entrou cm Gui- marães , nem foi a outra parte algíja,nem ainda a ver íua may (defejãdoo elle rríuito) quecl- taua recolhida no mofteiro de Santa Clara do Codeçal da ci- dade do Porto : mas não pode alcançar licença dclRey pêra iflo^nem teue modo de ir efcú- dido^ como intentou por ve- zes . Mandoulhe hum retra- to feu, feito da maõde fr.Car- loSjgrande pintor naquelles pos. Sua máy depões dccftar alguns annos no mofteiro de fanto Clara do Porto , por rc- zoes,que pêra iíTo ouuc, a ma- dou clRey leuar pêra o moftei ro de Santa Clara da cidade da Guarda.

5 Èftando ainda o fenhor D.Duarte no mofteiro daCof ta,& ocupado nos exercidos, quediíTemos^mas Prior de Sáta Cruz de Coimbra,& Ab- badede S. Miguel de Refoyos de Bafto, da Ordem de S. Ben- to,& de S.Martinho de Cata- mos ,& de S. loaõ deLongo- uares de Cónegos Regrantes, vagou, por morte do Arcebif- po D. Diogo da Sylua,efte Ar- ccbifpado, faltaua a idade pêra elle ao fenhor D.Duarte : fora fácil aelRey feu pay 'uer doSu mo Pótifice Paulo III. fupple-

Ee4

mento

-) 2 ''

' Cafitolo LXXVIL

mento dcsannos, mormente | pêra hum ta! íogcico, onde aiê do faneue Real , auia outras cal idades ,quc oraziaõ merece- dor daquciías , 6c outras ma- y ores graças . Com tudo foi íuí pendendo o prouimento, are íe poder ordenar de Diáco- no, cm idade deu. annos , & então o nomeou por Arcebií- po de Braga,auendo quaíí três annos, que cfta Igreja eftaua vaga 5 pallandolhe as letras, & fuprindolhcosannos oSura- moPoníicicc Paulo III. q en- tão preíedia na Igreja dcDeos. Eemlaneirode 1543. efa ícu Prouiror,& Vií^airooèral.Se- baíliaó Gonçaliiez , fe no- mcãii3, pellofenhor D.Duarte f.lho (ielRey D.IoaÓ^ eleito Ar~ cebijpo , ^ fenhor de Braga. G Coníirmado Arcebif-

pojquiselRcy feu pay velo cm Liíboa,& q ali em fuareal pre ícnça^^dillelle a primeira miíía, & recebeílea íagração. Partio de Guimarães em 12,. deAgol- to de mil quinhentos òi qua- trcnta&:trcs,& quis fazer ca- minho por ellacidade, peia dar mcftrasGefy aos que taõ ale- gres ellauão de o terem por pafloryclperádo recuperar ncl- ;| le outro Cardeal D* Henrique tio íeu,ué!queiin tjnh.iõ çran-

desfaudades, òc íabiaô felhe parecia muito-Fez íua entrada pella porta qchamuo do Sou- to 3 &: foi coufa notaucl ,'quc ao entrarlhe diíTehúa velha as lagrimas nos olhos. E <vos filho entrais pella portapor on» de nao ccTiumao entrar os Arce bifpos,poes lograreis o Arcebif- pado pouco tempo. 'Dç.zhovoí- que ordinário era entrarem os A I cebifpos a primeira vc2,pel- la por ra,ou Noua,ou de Maxi nj mos , caminhojque ate li ú- nháo tomado os dcmaes , que ella conhecera, & de q ouuira falar. A nda cfte dito em boca dos velhos dcfta cidade , & fe tomou logo entaócomo em pronoftico da brcue vida do nouoArcecebifpo, como o de outra velha fem.eniãte,o tinha íído da dcFelippeCóde de Frá- des,Rey deCaftella^pay doEm perador Carlos V. I 7 Pouco tempo federeue emBraga oArcebiípo,masnef- fefe ouue demaneira^quefem pre fua memoria fera immor- taljtaesfpraóas faudades com queadeixou. Apertaua elRey fcu pay pello ver , efperaua o em Cintra,onde o mandou ir. Porem antes que chegaíTe re- iicnouas,q a armada do Tur CO decia a Heípa iiha,ôc fe pa f- |

fou

Chro.dtl. Hcy D. loitoo 3,1'

D.T>ííartc^

333

fou a Liíl)oa,pera dali acudira cidade de Ccica, quando aífi foílc ncceflario, mas Acm por ilío cjuis mudaíle oArcebiípo o caminho, ôc deixaflc de che gar a Cintra , &c defcanfar ali olous dias,acê terça fciraj qua- tro de Setembro,cm que o cf- peraua no morteiro deBcmíi- C3,da Ordem dosPrêgadores. Chegou pcllas trcs horas da tarde, á«: canto que ouuc no- nas de fua chegada,íahio o In- fante D, Luís, com os mães fi- dalgos , que ah fe acharão , ao topo da elcada.qucíae ao Cava po, & como ccue vifta do Ar- ccbifpo,deceoa toda a preíTaa reccbelo. Apeoufe oArcebif- po,&: chegandoíe com toda a corteíiaaoInfante,lhe quisbei jara mão , o qual fugindoíhe c5c!b,&deíbarretado,olcuou nos braços, fempre com gran de bencuolêcia, & moílras de amor.Falaraõlhc depões os fi- dalgos , daualhoí a conhecer o Conde da Caftanheira D. António d'Ataidc,que deCin tra viera com cllc, todos pre- tenderão beijarlhea mão, a to dosa negou, eílandoentrctan todcfcuberto.

8 ' Entrou a falar a clRey (cu pay, em cópanhia do mcf- mo Infante, poftroufedegio-

lhos,& elRey, cirandolhe qua Cl coda a gova,o abraçou,&lc uancou , pergunnandolhe co- mo vinha. Si outras coufasjq femelhantes viílas trazem cõ- íígo.Dah fc foi com o Infante pêra outra cafa, 5^ depões de hora ôi mcya » foraó ouuir as veíporas, cilas acabadas parti- rão cm companhia delRey pe ra Liíboa , onde chegarão noite , Sc com tochas. ElRey fcm fc deter em outra parte, íe foia cafa da Rainha, â qual a- choucõa Princefad.eCaílella D.Maria fua filha, cfpsrando ao Arccbifpo na primeira ca- mará, ah lho oíFereceo o In- fante, & cllc porto de giolhos lhe quis beijar a mão, que fua alteza lhe náo quis dar^ por- fiou niíTo algiá eípaço, ate que aRainhaofezleuancar. Quis fazer o mcfmo ao Príncipe, & Princefa, cambem de giolhos , o que elles não confentiraõ,fa zendolhcnoleuantar fuás me furas.Guardou osmefmos ter mos com a Infanta D.Maria,q cambem ali ertaua com a Rai- nha,porê ella ao pedir da mão, fe afartou atras,com húa grau de mefura,em retorno da que o Arccbifpo primeiro lhe fi- zera. 9 Subido depões elRey,

334

Capitolo LXXVIL

& a Rainha ao cfl:radoj& íicá do a húa ilharga ciçlle, macs a- baixOjO Iiifancc, & o Arccbif- po, vieráologoasCamareiras mores da Rainh3,& da Princc za,a lhe falar; todas lhe quize- raõ beijar a mão,a todas a ne- gou/emprecom o barrete fo ra , fazcndolhe acada híía del- ias j ao defpedir , fua cortezia. iftofe recolhcíapj & o In- fante acompanhou ao Arcebif po atê o por na íua cafa. Ao au trodia foi viíitado de todos os tituios j & fidalgos da Corte, guardado nomodo de ostra tar,o regimento , q elRcy feu pay lhe tinha dado, fcm pre táo boa mancira,&afabilidade, q a todos honraua,& a ningué cícandalizaua. Rcuiaõfcnellc clRey feu pay,a Rainha, oPrin cipe, Princefa feus irmaõs, os Infantes, & Infanta íua tia. Chamauãolhc vulgarmêtcrfí deliciai da Corte de Portugal^ ôc na verdade o era , aíTipor fua magcftofa^&graciofa prc- fcnça, como por fcr grande cortczáo , ôc lido em todo o género de hiftoria, & na con- ueríação fácil , & dcfaíTom- brado.

1 o Todas ertas boas par- tes, & macs cfperãças ^ que de (y prometia cortou a morte,

com húa breuc doença de dez dias j foraõ no principio bexi gas,depocs outros males , que a ncnhú remédio obedecerão. Faleceo aos 1 1 .do mes de iNo- uembrodei543. em idade de ii.annos mal cumpridos -.cn- tcrraraõno no molteiro de Be lem,abaixo da íepultura doln fantcO. Duarte leu tio, hum pouco afaftadodella.ElRey de nojo,&rcntiméto,fc recolheo cinco diasjfcm ihc falar é,macs q os íeus officiaes. i''cftio por dòhúcapús , pelote de arbim cardado, a I^ainha tomou húa vafquinha do mefmo arbim cardado , & híj volante com- prido de cor negra. Trouxe ei- Rey a carapqça quinze,ou vin te diasjtirou o capíís dia deNa tal^& poscapa aberta, & bar- rete redondo,& cípada emuer nizada,com bainha de couro. 1 1 O fcntimento no mães Reyno, foi igual ao ícgeito,q perderaó,filho, & táo amado, de hum pay, a quem querião tanto , elle moço , na fíor da idade^querido, &eltimadode todos. Coubeamayor parte das lagrimas à fua cidadc,&Ar ccbilpado,como2qlles,a quê mães tocauaa perda. O grade Poeta Francilco dcSàdeMi- randaí^honra, & gloria dcftc

Pvcyno

^.Duarte.

335

Rcyno , ^ qucjas encerrado na Igreja de Carfazedojiúa le- goa deita cidade) eícfeuendo de Entre Douro,ò«: Minho,.& da íua quinta da Tapada^ a íeii irmão Mcm de Si, qucentáo ícíedia em Liíljoa, ôc íe achou preícntea morte ta 5 Icntida, lhe cfcreuco entre outras cou- ias, os verfos íeguintcs , cho- rando cambem a morte do fe- nhor D.Duarte . fêgundo a in terpetraçao dos q aduertiráo no terapo,& occaliaó,em que aquella carta fora efcrita. ViUes húa claridade. Que de te correo Como rayo em tal idade. Tantofaber^tal bondade Nummometo efcureceo. Alma bemaiienturada^ Daquelle moço tãO nobre^ Chegafle à altaajlomada^ Tudo tepareceo nada^ Quanto fe dali defcobre. Chamalhe claridade,

if rayo , com ã[\izaóâs exha- laçoés, que denoite apparecé no Cco , Ôc acabáo logo , pel- lapreflacom que acabou, de- pões de fahir de Braga ,& íe partir a Liíboa^ durando íò de doze de Agoftó,atè ii.de No- ucmbro. Faz mençáo âc feu faher , tf defua bondade , por- que húa,«S«: outra coura,era ncl

ie eminente. Da o titulo de bemaueturada afua alma^Vot- que na vcrdade,as virtudes, q obrou, a criação, que ceuc , o conhecimento com que mor- reo da pouquidade defta vida, nos cítáoaílegurando da glo- ria, que Deos lhe communi- carÍ3,dondeeftarà vedo, quão pouco deixou no Priorado de Santa Cruz , nas Abbadias de Lorigouares,Caramos, & Re- foycs no Arccbifpado de Bra- ga, 5^ noutras may ores digni- dades,q o erpcrauào,em com- paração do bem, que hoje pof lue,& fe acena nos vltimos três verfos referidos. Era Su- mo Pôtiíice Paulo III. Rey de Portugal feu pay clRcy D. loaõo III.

CAPITOLO LXXVIII.

DO BISPO DE LAME- go D, AgoHinho Ribeiro na- tural de Braga, tf de algús religiofos de eminente 'virtu de da Ordem de S. lerony- mo^nattiraes doArcebifpado

M ncnhíía par te podiaõ ter melhor lugar os Religiofos da Ordem do

Sagrado

5 o

Capitolo LXXVIIL

I SogradoDcucor S.Ieronymo, que cem oArcebiípo D.Duar te^a quéclles ajudarão a criar, velíido em fcu meímo habito, & no ícii moíiciro de Saca Ma rinha da Cofta erri Guimarães, mòrmcnre ílorecendo quafi todos em feu tempo. Porê el Ics pcHa humildade, que fcni- prc profcíiàraõ,nos daraõ licé- ça,pera dizermos primeiro al- gíía coufa do Bifpo D. Agóí^i- nho Ribeiro , que com todos elles viucOjfe bem todos o al- cançarão cTcannos. í NacecooBifpoD.Agof tinhoem Bra^a. Feito Sacer-

tt'oz.0 no defcuhr.

itn. ç. da apre,pello pouco remédio de

\ccita c. iz.

iiloMier- vida, que nclla tinha , ou pcra melhor dizer, porque por ali íe encaminhaua fua boa fortn- na,fe foi a Lifboa , onde a cafo o encontrou nua eílalagem, com o breuiario empenhado pella poufadoj hum Antaõ Pe- reir3,que cftaua pcra fe embar- car pêra a Ilha das Flores , & IlheodoCoruo.Rogou o fe fe queria embarcar com elle,fci- lo de boa vontade,& nolíheo doCoruo foi o primeiro Vi- gaíro,qucteueaquelIa Igreja, ali pos tamlpem clcola de en- íínar mininos. Andadosalgús annos tornou ao Reyno, & fe fez frade de Santo Eloy. ElRev

D.IoaóoIII. o nomeou por primeiro Bifpo de Angra, que no auno â^ mil & quinhecos, & trinta & quatro,em três de Dezembro, o Sumo Pontífice PouloIII, leuantaraem Bifpa- do,defanexandoo do daMadei- ra ,em queentãoera Arcebif- po, & Primaz do Oriente D. Martinho dePortugal.Gouer- nou a Ilha com grande prudé- cia por alguns annos , delia o chamou o mcfmoReyD.Ioaõ pêra Reitor da fua Vniueríida- de de Coimbra, ík he aqucllc, de quem nos diíTemos no nof foCatalogo dos Bifpos dcPor to,aíIinaua fempreo Bifpo de ^«^^r^.Eftando ncfta occupa- çáojfci tomado pêra Bifpo de Lamego. Fallecco em Liíboa, & jazcncerrado no feu mof- teiro de S. Bento de Euxobre- gas,com o letreiro feguintc.

Sepultura de D. JgoUinho Ri- beiro,religiofo deTie habito, Bifpo que foi deAngra^lsffe gundoReitor da Vniuerjida- de de Coimbra , tf Bifpo de Lamego falleceo anno 1/40.

3 Teuenaquclla Sede An gra por íucccílbres, quantoa- gora nos podemos lébrar, D. Rodrigo Pinheiro, Bifpo , que

2»f add,

aoc. 37» f.451.

lepoes

D. Duarte.

337

Chrotitde ft liur, 2 .

depões foi doPorto, ôc cuja vi- da nos jaeícreucmos. D.Ior- gc de Santiago Dominico. D. Manoel d' Almada, o que rcf- pódeo à carta do fecrecario da Rainha de Inglaterra Nabol. D. Nuno Alure% Pereira. D. Gaípar de Faria. D. Pedro de CaftilhojBiípo qucfoi de Lei- ria.Capclláo mor , Inquifidor môr,&: Viíorey dcíiesReynos. D, Manoel de Gouuea irmão do Padre Meftre Inácio Mar- tins da Cópanhiade IesV , de boa memoria , qfoi eleito de Portalegre. DJeronymo Tci- xeira,Bilpo depões de Miran- da. D. Agoftinho Ribeiro, D. Pedro da Cofta natural doPor to, CoUegialdeS. Pedro , Ca- thredatico de Theolosia cm Coimbra, Cónego na Douto- ral d'Euora.D.IoaÓ Piméta na turalda Ponte da Barca defte Arccbifpado,Collegial do Col legio real de S. Paulo, Cónego na Doutoral de Lamego, Bra- ga,&: na de Coimbra. D>fr .An tonio da RefurreiçáoDomini- co, lente de Prima na Vniuer- fidade de Coimbra, que hoje viue.

4 Vindo agora aos reli-

giofos de S. lerony mo, tem o primeiro lugar o Padre fr Dio go de Murça, natural daquella

viila na Comarca de Villaieal. làdiílemos , como fora Ayo dos íenhores D. Duarte, & D. Aíitonio^no moíleiro daCof- ta. Foi também Commenda- tario do mofteiro de Refoyos da Ordem dcS. Bento, com cuja reformaçaú deu princi- pio , ôc abrio caminho à dos outros mofteiros da meíma Ordem de S. Bento, em que hoje fe viue taÕ religiofamen- tcFundou naVniucrlldade de Coimbra, fendo fcu Reitor os Collegiosde S. leronymo da fua Ordcm,&; o do Patriarcha S. Bento. Rejeitou por mui- tas vezes as mitras , que fe lhe ofFereciaó , dizendo, que aíTiz faria le foubeíre,& pudeíle dar conta da fua alma . Morreo, & eftà fepultado no mofteiro de Refoyos defte Arcebifpa- do , em que foi Coramenda-- tario.

5 Frei Eras de Barros,

chamado na Religião frei Brás de Braga, primo do grande hiftoriador loaõ de Barros, foi natural defta Cidade , & Religiofo de tanta prudên- cia , capacidade , & virtude , que o tomon clRey D. loaó o terceiro pêra reformador do mofteiro de Santa Cruz de Coimbra, & Saõ Vicente de

Siguen,^,

Ff

Liíb oas

3>8

Capitolo LXXVIII.

Lifboa;fruitodcfiia induftria, & exemplo faóa virtude, & religião, com cjuc ncllcs , & nos mães de Cónegos Regran tcs dcfte Reyno, íe viuc de en- tão accgora. Quando vio^que não podia tornar ao de Santa Cruz as rendas de fua mcza Abbacial, que comiaõ os In- fantes D. AíFonfo, & D.Hen- rique, filhos dclRey D. Ma- noel , como DD. Priores da- quclla cafa, deu pcraluitrea elRey D. loaõ o III. como taó amigo de letras, que delias fun daíle, ôcdotaíTe, como fun- dou, & dotou a Vniueríídadc de Coimbra.E parece , que cm premio defta grande obra, or- denou a diuina Prouidencia, que o mefmo Rey cambem das rendas pertencentes a San- ta Cruz leuantaíTe por autho- lidade doPapa Paulo III .aígrc ja de Leiria em Cathedral, nomeando nella por primeiro Bifpo frei Brás de Braga. Acei- tou fò com animo de por em ordem , & eftabelecer as cou zasdaquella Igreja, como fez com Conftituiçoês , que de- pões acfeccntou,& imprimio de nouo cm Coimbra no an- node KjQi.oBifpo D.Pedro de Cadilho r depões renun- ciou, & Ce rccolheoaomof-

teiro da Pena cm Cintra,ondc cm húa pobre cclla , como o macs pobrcreligioíopaíTauaa vida. Succedia muitas vezes chamalo elRcy a Liíboa , pêra alguns negócios de importân- cia : fazia f^ caminho pello mofteiro de Bclé a pedir a ben çáo ao Piouincial, S>i fe era dia de capitolo de culpas , entraua a dizer a íua com â mefma hu- mildade, que íe cntaõ entrara na religião. Mandou no mof- teiro da Pena abrir a íua fepul- tura cm vida , & pêra ver co- mo lhe vinha, ou pcra aíli me- lhor aprcnder.a morrer fc lan- çaua muitas vezes nclla, atè que Deos foi feruido de o le- uar pêra fy , achandofe a feu enterramento os Infantes D. Luis,& D. Henrique, quefo- bremaneira o amauão. 6 Foraõ feus fucceííores

no Bifpado de Leiria D. fr.Gaí par do Cazal rcligiozo dosEre mitas de S, Agollinho ; tinha fido Bifpo da Madeira, Sc de- pões o foi de Cçimbra. D. An- tónio Pinheiro Bifpo que fo- ra de Miranda , grande prega- dor, & grande valido delRcy D. Henrique, & D. Fchpc o primeiro. D. Pedro de Cafti- Iho , Bifpo que fora da Ter- ceira, de quem ha pouco fat- iamos.

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D.T>uartc^

339

StgUCH.C. ''}2t

Íamos. D.MartimAftoníoMe xia Biípo que foi depões deLa mego^& Coimbra^Goucrna- dordo Rcyno.D.fr. António de Santa Maria dos Eremitas de Santo A^ottinho , & neto delRey D.Ioaõ oll. D.Fran- cKco deMcncíeSjRcformador da Vniucrfidadc de Coimbra,

6 Bifpo depões do Algarue,o fenhor D. Dinis deMcHo Dc- fembargâdor q foi do Paço,& nomeado 32:0 ra deVifeu,ofc nhor Pcro Barbofa Prior de Auís , agora nomeado Bifpo daquella Igreja.

7 O outroTcligiofo aquê elRey D.Ioaõ o Ill.encomé- dou a reforma do Cõucnto de Tomar, «S»: da Ordem daSan- tiílima Trindade , fe chamou fr.AntoniOiVlonís,deulhe por companheiro ao Padre fr, Mi- guel de Valéça,natural daqucl h villa , & dcfte Arccbilpado. Foi de vida inculpauel , & de grandes letras. Por húa,& por outra couza o tomou por fcu confcííor a Rainha D. Cathe- rina niolher delRey D. loaÕ iíl.o Infante D.Luis, a Infan- ta D.Maria fua irmã, a Infan- ta D, Ilabelíua cunhada, mo- llier do Infante D. Duarte , *& fuás filhas à fenhora D. Maria Princeza , que depões foi de

Parma,& a fenhora D.Cathc:- rina Duqueza de Bragança.

8 . Da villa de fSarcellos foi natural oPadrc fr.Francifco de Barcclos,em quem concorre- rão grandes dotes de fangue,&: letras , os mayores porem fo- raòdehumildade,& pobreza, em quefoi perfeitiflimo,& de que refere grandes exemplos o Chroniftada Ordem fr. lo- fephdcSiguença.

9 No mofteiro de Santa

-Marinha da Cofl:a,cm Guima

raés{he bem acabemos efte ca

pitulo exêplo canto da por

taXalleceoem idade de 9o.an-

nos o Padre fr. Cypriano , &

fer taó velho de ncnhú exer

cicio da Religião fc daua por

cfcuzo.Foi pregador A poíioli

co,& grande contcmplatiuo:

recebia grandes coníolaçoés

do Ceo no altiílimo factificio

da raiífa. O vitimo dia, que a

diíle fc recolheo do altar à cci-

la,& poftodegiolhos , enco-

i^ado à mezaaquceftudaua,

abrindo o breuiario,pera rezar

a feifta , fubitamente cfpirou.

Acharaõno menos na raiífa da

Tcrça,em q jamaes faltaua,os

Rcligiofos foraõ dar elle na

cella,na poftura q diíTcmos, a

cabeça encoftada fobrea mão

efquerda,a máo direita apon*

Ff 2, tado

Siguenti. 43-

SigutUtè, 43»

340

Capholo LXXIX.

tando com o Índice no pri- meiro verficulo.da feifta, cjue diz : Defecit infiliitare tuú a- nintii mtacomo í]nificando,q (JepurríS faudades de feu Re- dentor, fc fora fua alma ao Cco aonde a tinha.

' CAPITVLO LXXIX.

DOM MANOEL DE

Sou^a 99. Arcebifpo de Br a

g^-

Oraõ os pays do Arcebifpo D. Manoel de Soufa^Ruyde Soufa fenhor de Bringel, Veador da Rainha D.Ifabcl ,molher delRey D. Afíonfo oV.&i depões Almo tacc mor delRey D.Ioaõ ÍI. & feu Embaixador em Caftclla, &defuafcgúdamolherD.Brá ca de Vilhena, filha de Martim Aífonfo de Mclloo fegundo; de modo, que por ambas as partes eradcfccndctedas mães antigas, & principacs famílias do Reyno.

i O primeiro benefício, que lhe fabcmosfoiaAbbadia doSaluadorde Taboado, no Bifpado do Porto, na Comar-

.',. f

cadcRibatamega,aqualreníí ciou em íorge deCarualho,cf- molerdo Infante Cardeal D. Henrique, o qucfoiem Feue- reirodoanno de ij^jS. (fendo Bifpo do Porto D. Baltheíar Limpo) por ncftc tempo fa- zerem a D.M,anoel de Souza, Bifpo de Sylues, como deixa- mos efcrito no Catalogo dos Bifpos do Porto.

3 DoannodcijjS. atèo de 1544. cfteue no Bifpado de Sylues no Algarue, onde fez obras conformes à cahdadc,^ zelo de talPrelado.Neflc têpo o nomeou clRey D. loaô o Ill.pera Arcebifpo de Braga, q vagara pellofenhorD-Duar te, que como diíTcmos atras, falecera cm Liíboa a 1 i.deNo uembrodcij44.

4 A primeira memoria, que achamos fua, he húa car- ta , que efcreuco ao Cabido delia fanta Sè, lobreapoíTc, que mandauá tomar do Arce- biípado , pcllo Doutor Seba- ftiáo Gonçaluez,he a carra ef- critaem Euoraaos 5>. dias do mcz de lulho deij-4j.Tábéaos ii.de Agoftodo mcfmoáno, & da mefma cidade, cfcreueo aoOunidor, & Vreadores de Braga,GÍzédolhe, íjosofficiaes mecânicos poralgúas d/ffere^as

3./l.<'.3J.

cap.^j.

qite

D. (iManoel de Soupi .

141

que ouuer alfobre as taixM , nao yjauao de j eus officios^ temor dttf penas , que lhe for ao po fias, pello que mandatta-^ qos deixaf- fem -vfar delles níf forma , que ateli ofa^iaÓ,fem encorrere rííts penas. '^ão dcuia inda ter letras Apoílolicas , porq cm ambas as cartas fe incitula Arcebiípo eleito. Dali a poucos mefcs ef- creueo da cidade do Porto,cm 15 de Dezébrodieftc mez dc- uia fazer a entrada em Braga) agradecédoaos juizes,& Vrca dores a lébrança , q tiueraõ de o mandar vifitar por lorgc de Brito cidadão delia, ík lhe en- comendaua muitoa juftiça,& eniparo das viauas , oifios,6>: peíloas mileraueis.Giiardaõíe cilas carras no archiuo da Ca- mará dcfla cidade. j No têpo,q o Arcebifpa- dode Braga cfteue vago por mortedoArcebiípo D.Diogo daSyltia, determinou elRey D.Ioaõ o III, fazer Birpado,& cidade,a villa dcMiranda^q era hua das Comarcas doArccbif- pado dcBraga^cujo V^igairo rc íidia nacidadedcBragáça.Mo ueofeelReya efta obra, pella didancia do difl:rito,q ania, 6c grande multidão das ígrejas,q naquellas partes fe auiaó de vi , Í!tar,por ferem as terras afpe-

ras, & tambcm pêra álíi acco- modar alguns fogeitos, que a Rainha D.Catherina trouxera coníigo de Caliclla. Chegou a dcfrncmbração doBifpado no tépo doArccbiípo D. Maneei de Souzaj& foi feita por Pau- lo IIL no annode#ij'4j. cm ii.de Mayo, novndecimoan no de feu Pontificado , como confta da bulia, queanda nos liuros defta Relação. Foi elei- to pêra primeiro Bifpo D. To ribio Lopcz cfmoler daRai- nhaD.Catherina,varaô de mui tas letras , 3c conhecida virtu- de. Depões fc fcguiraõ os que referimos no Catalogo dos Bifpos do Porto, aiê o fenhor D.íorgedeMello,quc hoje he Bifpo daquella Igreja , & no- meado pêra o dcCoimbra. 6 No mes de^goftodoãno feguintede i;46.fcz oArcebif- po doaçaó da rêda de S. Jorge dcFauayoSjCÕ todos fcus dizi- mos,& couías^q adita Cama- rá pertenciaõ(aucndoo fua tidade aflí' por bê)aPedro de Al caçouaCatneiro,fecretariodel Rey D.IoaõoIIL&afuamo Ihcr D.Catherina de Souz3,fo brinha do Arccbifpo , filha de feu irmão D. Diogo dcSouza, Alcaide mor de Tomar, ôc na doação fe dão porfíjdamêto os

Ff 3

fer-

342

Capitolo LXXIX,

to, l.fol.

, to. foi,

í'53-

íeruiços,(]UcPcdro deAlcaço- uaelperaua fazer aSêdeBra- ga_,por a calidadcdeícu oíficio, í;(:pefi"oa. Porem o Arccbiípo D Balthcfar Limpo íeu fuc- ceíTor lhe tirou eílaCamara de Fauayos, cgncertandorccõ eU lc,& dandçlhc cm lua vida íe* íenca mil reis,como confta da concórdia, & dcfiftiracnto,q de tudo fez o mcfmoPcdro de Alcoçaua Carneiro. ,7 Lançou o Arccbifpo hij fubfidio nerte anno de 1546. por todo o Arccbifpadojq lhe foi concedido pellos beneficia dos dclle , & quercndofc exi- mir,& ifcntar da contribuição D. Pedro de Mello comédata- rio doMofteiro deRefoyos de Lima, com pretexto de que o feu mofteiro era ifent.0 da jur dição ordinária, & não tinha obrigação de pagar íubíídio, foi julgado por fentença no Tribunal daLegacia,que era o- brigado apagalo, & que em fuás rendas fefizeíle execução, pêra cõtribuir comaparte,q lhe fora lançada. A mefma iíen çãopretendeo o Prior deGui- maraés Gomez Afifonfojalle- gandorezoés de liberdade, & não ter o Arcebifpo jurdição na Collegiada de Guimarães. Com tudonão lhe valerão ef-

tas ercuras,& foiconftiangido a pagar por fentença do tri- bunal íuperior da Legacia. 8 Foi o Arccbifpo D. Ma- noel de Souza , homem gene- rofo de animo , 3c de muito faiifto,& pompa,&todasfuas obras eraõ feitas com grande mageftade, ordenando em feu tcmpo,que ouueíle ordinaria- mente touros/eftas,& jogos, a que clleaíTiftia , Sc honraua com fua prcfcnça. E porque as audiências, & juntas dos Def- cmbargadorcs íefaziao , hora em cala dos Vigairosgèraes^ho ra em outras partes.ícz as caías do Auditório, & Relação em q hoje fe defpacha, na por- tada(q hedeobracópofta) pos as fuás armaSjCcmaCruzPri- macial de duas afpas,& no bai X0 03 difticos feguintes. Illuflrand<e^rhís caufa, jit ijé

<vndc petantur. lura^nec inflabili dentur,lpt an

te loco. Soufa pater , dominuf^ r^rbis^

magnuf^ Sacerdos, luslituEmanuel/iobileJlruxit

opus. Querem dizer. Pêra engran- decer a cidade , i^fefaber o lu- gar certo onde auiaó de ir buf- caro tribunal da juftiça , que an tes era incerto, mandou o gran

de

í

D. (iManoelde Souz,a-3

343

de Prelado,pay^i^ fenhor dejta cidade , £) . Manoel de Sou^a , le uantar efie edijicio.

9 Tinhao Arccbiípo D. Diogo de Souza imprello o BrcuiarioBrachareníe, como em lua vida deixamos elenco,^ mas porauerannos ,(^iltolc! fizera, & pedirem os tempos nouaimprellaõ, aíli por falca de volumes ,como por fer ne- ccííario emendar, Òc reformar algúas ccufas,& acrecétar ou- tras de nouo^pera íc fazer me moriadealgus lautos, de que o Breuiario Romano manda- ua,que nouamente íerezalle, conjo íe diz no Prulogodo meímo Breuiario, ouue hnal- nientedc íe fazer por ordédo Arcehilpo. Acaboufe de im- primir nefta cidade por íoaõ Alures , & loaô Barreira im- preíloics delílcy, noanno de ij45).aosx7. de luííio, noue diasfcomo logo diremos) de- pões da morte do Arccbiípo.

10 Procurou deícubrir as reliquias lagradas do Arcebif- poS Martinho , quedo tem- po^que os Mouros tinháo en trapo em Hefpanha , eívauao cfccdidas no mofteirode Du- me Em leu tempo íeacharàõ, & as deixou fechadas cm hum fepulchro^dccro do altar mòr.

pêra a íeu tempo as tresladar pêra efta fanta SêjComo dei xamos eícrico na primeira par te delia hiltoria. 1 1 Fez também hija ermi- da da inuocaçáo de nolla Se- nhora dentro na horta dos Pa ços Arcebiípaes , como c611:a Uo letreiro, que mandou por na portada da mcfma ermida, que diz a 111 . Anno 'vigejímo quinto impertj Diuiloannis ter tij LuJitanuRegis .D .Emanuel de Sou^a Archiepifcopus Bra- charenfis^HiJpamarumPrimíVs^ eiujdem Regisfaãura , hocfa- cellumpojuit in honor emMari<9 J^/r^m/í.Vem adizer. No an- no z^. do reynado delRey D. loaoo lll.de Portugal D. Ma noel de Sou^a Arcebifpo deBra ga^Prima^ d^uHeJpanhas^ fei- tura do mejmo Rey\fe^eíla ca- pella em hora da Virge Maria. Cahia cfte tempo no fim do anno de i J46.0U principio de 1547. Efta ermida fe mudou depões pêra o poftigo,qcha- mãode Santo António, por ter a fua imagem no alto da porta , ficando o nome do mefmo Santo. A fcgunda vez fe mudou em noíío tépo, pê- ra a vitima parte do cápofcha máolbe dos Touros ) a quem íae ao campo da Vinha, fican-

ff.75.«.t

Ff4

dolhe

344

í.27.«.3

Capitolo LXXIX,

dolheaporta pêra o mefmo campo dos Touros, & o cor- po lançado pêra dentro da hor cados Arcebifpos. 11 Os negócios da dcfé-

íaõdefta mitra, & couto do Arcebirpadoj& outras demã- das,que trazia o Cabido,fo brearcuiíítaçáo dasígrejas,q craõ de fua viíítaçáo , & das Dignidades, o deuiáolcuara Liíboa , porque daquella cida deeícreueo a Camará de Bra- ga , em 16. de Dezembro , de mil & quinhétos & coréta & oito,nomeando os juizes , & Vrcadores^queauiaõde fcruir no anno feguinte. Naõ lhe fal taraò em Liíboa contendas fo bre andar naquclla cidade com Cruz leuantada, a quercííílio com grande valor,continuan- doapoíTeemquefemprcefti- ueraó os Arcebifpos deBraga, como mães largamente efcrc- uemos no tratado da Prima- zia.No próprio anno fe partio de Liíboa pêra Braga, ondejà eftaua no mes deMarço,&: te- ue duas cartas, húa delRey D. loaõIII.outra do Cardeal In fantc D. Hcnriqucjfobre o certo,que queria fe fizeíTe,cn - tre elICjtS; os Cónegos na con téda das reuilítaçoés . Mas por que o Arcebifpo via ao feiíCa

memipag

bido muito longe defla côcor dia,indollie falar fobreclla, de pões de lhe mandar leras car- tas delR.ey ,& do Cardeal , fez também íe lhe lefle outro pa- pel , que de caía trazia efcrito, &c dizia.

13 Se entanto nao dejeja- (0^3. nr, raapac^^ perayojfofocego^ls^ meu repouT^^nao yiera^ como a principio '-vim, 4 efla cafa Capi tular/ogaruos^tf encomendar- uos , com afias ijontade, como Tiifles^que tine fieis por bem de nos comprometermos acerca das reuifltaçoes . Mas não qui^eíies aceitar minha tendão ^quefe não foipella ''Ventura á 'vojja <^on tade,pareceme, queemnenhíia partefe poder ia caluniar de mà.

1 4 Jfsique, <vendo eu^que contra minhas juUi ficadas re- ^es,sefa^erdes comigo nenhú cÓprimento^nem me refponder- des^a quanto nefia cafa Vos dif-

fe^rdenafles feguir <-voJfa opi" nião , mandei mofirar a elRey nojjb Senhor ^ por modo de ag- grauo^ijofias re^cs^por mepa recer também necejjario efcrc- uerlhe das [em reboes, q da "poj- fa parte auia. ElleeHandotaÔ occupado como 'Vedes^Vw tudo, ^ o remeteo ao Cardealinfan- te^que me efcreueo,Íf ^aos efcre ue a ijos ^fobre o meyo da con

cordia

D. Q^Mmoeíde Souz^a^

345

cordia^que tcmou^pella qual eu ejlarei de muito boa '-vontade, quando tos queirais fac^^r o mejmo.

1 5 Efe algú de Dos outros emfeu coração tem afmtado in tereJIe próprio , ou amor dejy mejmo^ou ódio particular ^maes qdefejo defia pa^.isf cocordia, pello amor deDeoslhepeco quei ra defy expedir taespenfamen tos,if que resolutamente ref po- dais todos comigo , dadograçds aDeos,qem tal tcpo nola trou- xe,per a podermos aj^ocegar nof- jusconcienc.iaâ. Enao^ospare calque por coufa ^ que nenhú de <vosJi^eJfe contra ejle negocio^ ainda qfoj^e em meu ódio , qme lembra , ou ei de ter lembrança delia em nenhú tepo^porque naÓ he ejfa minha condição,^ que o fiira , des agora -vos perdoo tO' d (U,lsf quantas offenfas tenhais feitíU cótra mim,Íff contra efta jlncerà , l^ boa <vontade^ como fe nunca mMfiç;er£ÍSj if de no- vo me offereço a Ws^fífc^er to- dos os prazeres ^q me requerer- des^que<-vos cumpr ire, como de* uo,&fou obrigado ^tratadouos, como até quifi\^ como Pa- íior^tf amigo loojfo , í^elo'^o da .concordia^ip' muito defejofo da pa^, queDeos ponha entrcvos^ j i^fmim.

i6 O fruicodeílas rczoés foi,q os Capitulares vieraõ no q o ínfanteCardcal ordenaua^ beijado logo ali a máo ao Ar- ccbiípo, ptlla boa vontade ,q lhes moítraua,í<:corrédo com elle dali pordiãte,em boa paz. 17 De Bragaoleuaraòou eros negócios aoPorto,cidade de qgortaua muito,mas toma doo ali a vitima doença veyo a morrer em i8.de lulhodo mcfmo anno de 1549. tédo de Arccbifpo cincOjpouco mães, ou menos.Mandoufe enterrar na clauftra do moílciro de Sa- to Eloi,dondc,com3 pompa, cj fe lhe deuia, o mandou tres- ladar o ArcebifpoD. Agoíli- nho de Ca ftro, pêra efta Se ,& capelladeS. Giraldo,ondcjú- to com os Arcebiípos D.Fer- nando daGucrra,& D.Diogo da Sylua,deícança em paz. acarnpaeftcletreiro»

D. Emanueli a Sou^a Ar chie- pifiopo PrimatiD.fr. Jug. M. P' Quer dizer, a D.Manoel de Sou^ Arcebifpo Prima^,D. fr.Agoflinhopos eitafepultura.

Goucrnou Braga, fendo Sijmo Pontificc Paulo IIL E Rey dcPortugal D. Icaõ III.

DOM

346

Capitolo LXXX,

]

DOM BALTHESAR Limpo loo. Arccbiípo de Braga,

CAPITOLO LXXX.

(IVEM FOI D. BAL- thffar Limpo^ que cargos te ne.if o que fe'^ antes defer eleito Arcebijpo de Braga.

Sagrada Reli- gião de No íTa Senhora de MòteCarmcl lo^nos deu pe ra eítaíanca Sc o^rcebifpoD. Balthc fnr Limpo. FoiPrior do Carmo emLifboa^Prouincial, ÒL Lente deThcoIogia nas ef- cholaspublicas daracfmacida de antes, qpor elRey D.Ioaõ IILa Vniuerfidade íc mudaíTe a Coimbra, no anno de mil &c quinhentos , òi trinta & qua- tro. Naceona villadcMoura ( & não na cidade de Beja, co- s./)f.3í.; mo por outras informações ! diíIcmosnoCatalosodósBif-

IO pos do Porto ) Arcebifpado d'Euor3,de pays nobres, & q I íogo de pequeno o inclinarão I .fls letrns,& habito,quedcpoes

profeírou,& honrou com íua í vida, 6»: dignidades.

2 Eícolheoo a Rainha D- Catherina pcra ícu confeíTor, & clRey D.Ioaóo IILfeu ma rido pêra Bifpo do Porto, va- gando aquella Igreja por re- nuncíação , que delia fez o Bifpo dom Pedro daCofta, quando paffóu a Caftella por Capelláo raòr da Empcratriz D.Ifabclmolherdo Empera- dor Carlos V. Porem parece couzafem duuída, que pêra entrar o Bifpo D. tr. Balthe- far na cidade do Porto, fe não cfperou pcllo anno de mil & quinhentos & trinta Òc noue, cmquea i/.deAbtiio Bifpo CauiJos D.Pedro tomou poíTedoBif- plvT/j.í pado de Leaõj porque em lo. j'^. 34'Ç? deAbril,doannode mil&qui nhentos,& trinta òi fetc,dou'.í mães atras, íeuVigairo Gerai PedroBeliagoa em certa con- firmação da Igreja de S. Oua- ya de Sâgucdo,lhe chama elei- to do Porto.

3 Dcmodo, qucoBifpa D. fr. Baltheíâr no Abril da 1537. era eleito do^Porto , & no lunho fcguintc ,fãgrado, & reíídente na mefma cidade, porqaífio achamos allinado na confirmação da Igreja de Scalhaés,em que colou a Gó-

çala-

'na addi cão.

T>.'BaIthefar Limpo,

347

«.3.

çaloAíFonío por renunciação I do Abbade D. Ambrofio de Vaíconcclos,&à prcícncaçáo de D.Ioaõ de Menezes Conde de Penella.

4 Fes no anno de 1/3 9. o Coro da do Porco , & to- dos os liuros de canto chaõ, q nelíeferuem,como fe nas fuás armas , & do feguinte le- treiro.

Laudentnomen eim^in chorot m tympano^ijfpfalteriopfal lant ei. Dominiis Balthajar Limpo fecit Rege loanne ter tio Portugal. Anno Domini MDxxxix.

5 A ífi vaõ correndo por todos ellcs annos feguintcs as meraojias dcfte Prelado . Em Abril dei 140. vnio as Igrejas de Santa Maria de Mofteirô,S. Martinho deFajoens aomof- teiro de Rcligiofas de S. Ben- to do PortOjde cuja apprcfcn- taçáoeraó. Em i. de Outubro do mcímoannofez Synodo, em ^ publicou as Conílicui- çoês, que durarão ate as do Bifpo D.Marcos, porque ho- je fe goucrna o Bifpado. Re- formou oCenfualdoCabido, & pos em ordé excellente to- das as Igrejas daquclla mitra, o que rendem, & de cujo pa- droado faó , no que efcuzou

muitas demandas, & fez grade Icruiço ao publico. Criou denouonoannode 1541. oAr cipre ftado da Sè, com obriga- ção de mandar trazer por fua conta os fagrados óleos de ou- tros Bifpados, quando o Bif- po os náofagraííe cm quinta feira da Cea do Senhor , & de dizer miíTa na Cathedral dia de S.Erteuão Protoraartyr,&: de SantiagoApoftolojPatraõ das Heípanhas.

G Publicoufe noannode i;4i. na cidade de Trento o SagradoConcilio Tridentino, teu efe a primeira fcífaó enn3. deDezembrode ij45',deftean no por diante, acè o de 15-49. faltou no Porto o Biípo D.fr. Balthefar,porfermãdado por clRcy D.Ioaõ o terceiro alTif- tir no Concilio , como peífoa de tantas letras, & authorida- dc. PaíTou o Concilio deTrê- to a Bolonha , cidade de Itália, tcuefc ahanonafcííaõemzii de Abril dei J47. 7 Mudado o Cõcilio a Bo- lonha, mudaraõfe também elleos Prelados^quclhcquife- raóaífiftir. Dos Hcfpanhoes não foi nenhú^ por não def- goftarcm ao Emperador Car- los V-q fofria mal aquella mu- , dança. o noíTo Bifpo D.ff*

Ber-

343

Capitolo LXXX,

Bakhcfar curou pouco deites rcrpcicos,& niacs não fakaraó íilguns que lhos quizeraó per-

luadif.Parcioíc a Bolonha,

po-

36.

rcrn como ah via procederem as matérias do Conciho fria- mente, defejaua auifar em pre- ícnçaaSantidadede Paulo III. peraque acudiíle com o remé- dio que conuinha . Teueboa occaííaáo pêra o fazer intiman doihc o Padre fr. lorge de San* Fr. Luís tiago da fagrada Ordé dos Pre- deSoH<,a gadorcSjhú dos Theoiogos, q

D0m.i.p, f^l^cy mandara ao Concilio, iib,^, f. & fez depões Bifpodc Angra, quaõ neccíTaria era fua prcíen- ça em Roma ( donde elle vol- taua) pêra ajudar a Balthefarde Faría/eruia de Embaixador na prctençáo do Tribunal do Sá- to Officio pcra elle Reyno, cm que trabalhaua muito , 6c alcançaua pouco. O mefmo lhe perfuadia por carta Tua tá* bêdcRoma onde ficaua oDou tor Gafpar Barreiros natural de VifcUj & Cónego naquella Sè. ôi na d'£uora peíToa co- nhecida por fua muita erudi- ção. Eraíimouue oBifpode partirfe a Roma, onde teuc tan ta liberdade em auiíar ao Sum mo Pontífice Paulo III. do q conuinha ao bem do Cõcilio, ôc felicidade no negoccar o tri

bunaldafanta ínquihçâo,que a elle particularmente fe deuê todos os bens, que daqui pel- íos tempos adiante íeforaó (c- guindo.

8 Naõ queremos dizer,

quepellainduftriadeftc gran- de Prelado, fe concede© pclla SèApoftolicaa primeira vez cfte lagrado Tribunal, porque jàa conceíTaó cftaua feita qua do elle chegou a Roma , porc com claufulasquc ou nos pri- meiros cinco annos fe não pro ccdeífe contra osChriftaõs no uos , ou cUes íe podcflem faií do Reyno dentro de hum an- no pêra terras de Príncipes Chriftaõs , qual deftas duas mas quizeíTem: no que elRey D.Ioaõ o III. por nenhú caio vinha offerecendoa fua Santi- dade, que antes perdoaria aos culpados nos primeiros dez annos a conSfcação de fcus bcns,q'.ie dcixarfe de proceder nos cinco contra ellcs, ou dar- lhe licença pêra fairem doRcy- no , porque em híja , & outra couza pretendiaõ íò viuercõ liberdade , & tornar outra vez aoludaifmo. Neftecíladoan- daua o negocio,quando o Bif- po o tomou entre máos:o mo do que nelleteue contara mi- Ihor Gafpar Barreiros na car-

ta.

2). "Balthefar Limpo.

Chrojel' Rey D.

Je.tQ ^.f,

ta,quefobrc eftas mater ias cl- creuco a elRcy D. loaó o líl. ézi.dcOutubrodoannoi;47. Cõmanicounola áu corre do Tombo o Leccnciado Ga (par Alurcs Louíadaem30.Q?Ma- yodcióij.

9 Poré como a carta trata <i à-fcurlode coda eíta pretéíáo, ^ 3t-,na couías de q codos os qlerétília obratciao nocicia, lerá labcr,í?^quíentádoíe dei te Rcyno,íêÍicêçi»,inces cócra võtadcdelRey D, íoaoUI. cu- jo elcnliao de puridade era, a Biípo de Vileii D. Miguel da Sylua,írmáodo Condede Por calegre D. loaõ da Sylua , pella corieípondencia quecõ o Su- íno Poiuiíicc Paulo ÍIÍ. fendo ainda íecular, ciuera em Roma quando ali foi embaixador dei Rey D.Manoel, foi promoui- do pcUo mefmoPõcifice a dig- nidade de Cardeal Presbytero do ciculo dos íancos Apolío- loscmi.deDezébro doanno 1541. pouco depões defair de Portugal. Nafceo deíla pro- moçãoj&auíencia mandarlhc clRey confifcar todos íeus bés patrimoniacs,&: focreftarasrc das Eccleíialiicas de Vifeu , & nidieiro de Santo Tirço de riba vi'Auc da Ordem de S.Bé to , cujo coracndacario era,&

349

.«r

outros benefícios , ícm nunca deferir ao SummoPontiíice^ã por todos oscaminhos prcten dia fe encregaflem aoBifpoCar dealíuas rédas.Atèquc come- çando o negocio a entrar em concerto, oftereceo clRey a fua Santidade mandaria entregar ' aoBifpo o que ate ali tinha vé- ^dojíe fua Santidade Ihccon- ceu>(]'e o Tribunal do Santo Oíncr, pçj.3 [ç^J^ Reynos. ,A- ccicou opap-j Q oíFcrcciírien- to, cobra>>5fe 35 rendas do Biípo, & o Sinimo Poncificc concedeo o Sa^^do Tribu- nal , mas com as -ondiçoés, qiie acima referimos . de que elRey ficou grandemeihç def- goftofo.

IO Antesdifto pella mui ca amizade, que o Cardeal /\- lexandre Farnes, fobrinho de Paulo III. tinha com o Bifpo D. Miguel da Sylua , perfua- dioao tio pcdiíTe pêra elle a el Rey o Bifpado de Vifeu , cujas rendas daria ao Bifpo D. Miguel , ficando com

1 r ^

O nome de Biipo, Dom Miguel da Sylua comos inte- reííes , & que aííi fe declara í- feaelRey, que como taõ Ca- chohco viria niíTo facilmen- ce , tendo por cfta via o Bifpo o que era feu, & cóferuandofe

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are-

3 5G>

Oríandin

■híft Soa

Capitolo LXXXL

arcputaçáo dclRey,cõprouer noutro íojeico oBifpado de Vi feUjde q por eftar dcínaturado doUcyno náo cõfentia gozaf- íc o Bilpo D.Miguel. O Padre Nicolao OrlandinoChronifta da Companhia de Iesv cfcrc- uc foi ellc aluitrc do Patriar- cba Santo Ignacio de Loyola, quecncáoallirtiacm Roma,^ hc cettoq fobre clleeícre'^^ ao Padre meftrc Simão P^dri- gxxctM^ dos fcus pritr-^iros CO panhciros^mcftrcd' Píincipc D.roaõ,& còkíín: dc/Rey,pe- rd^ íua Altczp^ accitaíTe , co- mo aceitou OBiípo Cardeal D. Mígu'A da Syluavcyó a fa- lecer cBiíRoma crri cinco delu- níiodoannodeiy^ójiíá aiino &fósdiasantcsdelRcyD.Io3Õ o 3, íâz ícpulcado ctti SátaMa- rwTransTiberim,o vitimo /eus títulos, porq depões dopri meiío dos Santos Apoftoloi, teuíode SãtaPíaxcdes,&: vlti mâmchre,o de SátaMariaTrãs Tiherim.Coni eftas aducrtcn cias Garrcfàfâcil a carta, & fer- ; uiràtámbeni de désfaler aS fa- bulas com que Pâfartiocrco, &f cfcreueo entrara ©Tribunal do SantoOffició nèfté Reynó, dizendo fora o priiUtirb ^ qué o trouxera a èlléSáauedra filho loaó Peres déSaãuedra , &

de Anda de Guzmão naturacs de Cordoua , òc Vinteqwatro delaem.

* '"

CAPlTGLQ LXXKl.

POEMSE A CARTADO ConegoGafparBarmros ttn queje relata quamo o Bifo D. Báhhefar Limpo ^aba- Ihou por alcança^ J>^^^ efle^ Reinos o T^àmal da fama InquifníO,

Enhor:4oszò. defie Mayopaf fado èfirem a F. A. fobre ai - gúas coufití,q meparutrao ferui^o deDèòs^if féu^a Cerca do regimento doBif. pado de Vifeu,prferfftíbro da- quèlla Igreja ^ofídè t^nho huaCo ne^a , í# outros beneficios ^ If porfer natural da ttrra^a òbti- ga^ãõ dd^almefa^^t^bt lem- brar aV.A (PS diteis coufas, tf por^atê agora não tenho fabido ft r. A.ofiue efla carta ^q lhe ef- criuia^modenxarei de Ihematt' dàr CO eUa a copia delia , peraq mande proúer acerca 'da lebran^ ça,qlhefa^ia então fe Ihepafe* cer afsiferui^o de Déos. z Naqudla carta di^a tam ,

bem

T>. 'Balthefar Limpo»

351

hem aV.A. como o Papa lhe ma- daua por Estephano de Búfalo as coufiu da Inquificao cocordi- das^ qtamhl hiajohre o depo fto dosfntitos de Vijeu , a qual ida de EHephano foi impedida por D. Miguel da Sylua^parece dolhe.qpor tile ter recebido mer cedeF. A. Í5t afsi do Cardeal quando lhe leiiou oCapello^qnao infjiiria acerca deites fruitos pajfadoSyCÓ tanta quítura como elle queria ^maiormc te te do lace, milreis de rcda^deqlhefeç^mer ce o Cardeal, pello qual ref peito fe quereria antes formar côa 'votade qachafe em V. A. nefle negocio ,qc6o que lhe cúpria a elles,Í!ftendolhejd adito Car- deal Farnes dado dinheiro ^mu- dou opropofito, iifejcolheo outro emfeu lugar ^qfe chama o caua- leiro Fgolino,q agora la yai : o qual eíiãdo pêra partir co as bulias^ l^ breues da Inquifccio^ coforme ao auifo^qV. A. teuepor Francifco Ferreira folicitador deBahhefar de Faria, fuccedeo t>irt cartai de V. A. q declara- uao nao eflarfatisfeito do defpa eh o, por quãto nao auiaporferui CO deDeos dar liceça aos Chri- ílaos noucs qfefaifi fora doRey no,pella informação , q tinha de fe i:> ir efa7^rludeus^i:fq antes lhes allargaria de^annos de co

fifcação de bens. E porq eujà a cerca dijfo tenho efcrito ão Car dealfi qualme te mandado ^q ale do q lhe ejcre ue Balthefar deFa ríajhe efcreua eu também o que cápajfa , podefer q naoejlarà na Corte pêra comunicar co V. A. o q acerca disio lhe efcreui,de treminei efcreuelo aV.A. nejla, peraque fendo efla lembrança co ueniente^ feja V. A.feruido. 3 V.A mandou Balthejar de Faria a esta Corte fobre as cou- fcts da Inquifçao, pellos muitos fauores,q nellafa^ia o Papa^ a algús Chrifiaos nonos partícula resyi!f depões fejêguio irem la dous Núcios,tf auer fempredif fereca acerca difo^ijf defgojlos entre V. A. t^fua Satidade , t^ querido V. A. obuiar todos eíies incouenittes ^pornao andar cada dia neíias dijfereças^i^ ter ain quifição liure, madou cometer ao Papa^q Ihaconcedejfc como em Cajlella,^ qlhe daria as vedas de D . Miguel , fobre qfua Sati- dade lhe tinha algúas 've^es in (lado.Fedo o Papa eíle partido, como auia muitos dias^q os Chri flaos nouos requeriao outro per- dão,ijfoPapa naolho queria dar por lhe parecer,q offcderia a V. A.dío o tepo difpoTto , i^ difie q lhe CO cedia alnquifiçao como em Caflella^mas qera necefiariopor

O

jer mui'

352

Capitolo LXXXL

muito rija perdoar autraVe-^a efles homens , peraque elles de- pois não tiuejfem algúa efcu^a^ isf afsipor auer tão pouco tepo^ que foraó feitos Chrifiãos,iíf a^ mdaporforça , como elles alie- gauão,que parecia jufloperdoar lhes pêra mães não ente der ftiffo, isf deixar tudoliure a V.A. Os Chrtftaós nouosperaauertoper dão ^qtãto tinhão trabalhado , não curarão defe queixar por en tão da Inquifção cerrada , ttdo tacitamête bufcado o remedia q contra ella auiao de ter ^ qfoi efle;dÍQ^er qfe querião ir doRey- noycomo dijlerao^ ^ começarão aporem effeitofeV. J. lhe não atalhara,de modo qrefultou da qui^ os Chriíiãosnouos perdoa- dos,06 rtdcLs de Fifeuauidoiyijf V. J. fem Jnquifção , que pedio pões o P^pa lhes daua anno pêra Ce poder em fair do Reyno, ccmq ellajícaua dejnecefiaria^ não efiando elles nelle. 4 E quanto a os remédios, q b Papa bufcou pêra fe naofai- rem , que [ao darem fianças afe não irem a terras de infiéis , i^ aujfardiJ?o aos Príncipes Chri- flaos por breueSymuito bons re- médios erão,fefe elles poderão ef Jeituar^if feos Principes todos forão tãotemttes aDeos como V. J.porq eíià o Duque de

Ferrara^ que recebe em todas as fitas terras quantos de la <i;em, com húaprematica^que cada hu permaneça na lei em q começar a t>iuer em fitas terras, fe ludeu, ludeuje mouro, mouro, l^ nef- t a parte nenhúa conta tem com Deos ,fe não com os tributos, q lhe pagão, i^ de Ferrara fa^em elles tão boa cota, como deFe^os de Salonique, ^maeshadede^ annos como V.A.jáfaberâ, que tem auido hum priuilegio do Pa pa de Leuantifcos, com que pode cada n^e^que quiserem paf ar em Turquia , (Isf que naopoj^aô fer acufadospor coufas dafe Je- não diante do Papa , com que ou fes immediatos a fy: quãto mães que fem eUe priuilegio, prometo a Deos^i^ a V.A. que por todos ; os lugares deltalia,quer daJgre ja, quer de outros fenhorios afsi podem fer ludeus ,fem lhe irem a mão, nem peffba algúa nijfo atentar, como em todas as terras do Turco.

5 Afsiquefe neflas terras oU' uejfe o í^elo dafe, que ha emPor tugal, muito bom remédio fora, porq não ou^ariao de yir a ter- ra,onde foubeffemq tinhão cer- to o cafligo como la, tffe V.A. 've,queauendoem Portugal ef- te ^lo que digo^^por não auer os tempos pajfados Inquifição

elles

T>. ^dltheftr Limpo»

35S

elles tinhíio Synagogas piiblicd^ entre (wqlheforao defcubertas^ que faraó aonde mo hainqui fçi/.o? E iflo que digo aV. A he tr.o publico, que nao ha lugar em Itália ^que mo tenha ludeus Por tugnejes de final , i^ eu ^i aqui em Roma dom mancebos de Vi- Jeu Chrifiãoínouos , bem conhe- cidos^ CO final ^vermelho no pei- to^ andar '-vendendo trapos nje- lhos ^corno os outros ^ip' difio aui fei a Balthejâr de Faria,Í!f qua do os bufcamos pêra os fa'^er prender^ porque teHemunh.u a- uia aqui^cj q befe podia prouar feri primeiro ChrisiaÓs^acheios idos, porij parece ^q pajfiauão pa - raaMarca^lff os duts^íjaquife entretiueraÔ,nao quiferaô eflar ociofoi fem bolir com o trato ^af- fique quato ejie remédio nao pa- rece bem por eílas reboes. 6 Quanto a darem fianças de naofe ire a terras de infiéis , da- lasaÔfiacilmente,porq em Itália como digo, yiuc muito afua yon tade^llJ" ale diUo depões de dart a ditafiança a x. ou xj. annos, ou menos, a quem auia de lebrar fe eftaó nas terras , donde auiao de mandar os inflrumetos, ou co mofe auia cada ann o de fa^^^er eUa diligencia, fobre a qual fo- ra necefiario trazer F. J.por todof efia^ terr<ts efpias , quefo'

ra mayor trabalho, àf defpc^a, do q la lhe cuíla a Inquifiçao, quanto mais , qnifio ouuera mil euafoês^^emfim a principal he que comofofiem fo?'a do Reyno, nJioouueraÓ mais de lembrar a n'>nguí.O refpeito porque V . A. confentio fir efle Bi/pado aFar ne soantes de fie negocio da Inqui (icaó fer acabado ^ eu o naóíei mu eu creo^quefe F.A retiuera efle ^onfentimento, ate lhe dart tud. concedido d fua 'vontade^ que o defpacho jora milhor,por^ que CO os defejos , que tinhaó de auer eUes fruitos de Vifeu, con- decenderaj ao q V. A. qu'^era. 7 Fin do o recado de F.A. de comi naj queria aceitar a In- quificao, da maneira, queofoli- cita dor de Balthefar de Faria a leuou,fe fufpcdeo a partida def te caualeiro Fgolino^if o Papa fe par tio pêra as terras da Igre ja^có qfe nao pode negociar cou faalgúa,pelloqfr. lorge de Sa- tiagofepartio de Perofa ,pera Bolonha.,isflaauifouaoBifpo do Porto dos mãos termos em q efla uai efliPs coufits daInquifiçao,tf do dejgoflo,qF.Apor ifio tinha, o q eu tambê efcreui ao dito Bi f- pOyÍP' lhe difie quão necejfario meparecia dar ca húa chegada, maiormente pois o Concilio de j Bolonha nao era tao importante »

Ge 3

que

3 54

Capitolo LXXXL

que dellefe mopudejje aufentar quinze dias, ou Vinte. O qoBifpo do Porto logofe^tf crea V,A. que o trouxe Deos a ejla Corte^ porque do dia que chegou a doiis dias ffoi f aliar ao Papa o qual lhe fe^i^muito ga^alhado^ip" hÔ- ra^mas o Bifpo lhe f aliou primei ro no Concilio com tanta líber - dade^ ousadia, misturada tanta prudência, que o Papa fi- cou atónito por não ter as ore- lhas acujlumadas afemelhantes liberdades de f ai lar das coufas do Concilio. Deceò Às da Inqui- fc/iO^i^f lhe reprefentou a perda das almas de tantos mininos, i?* mancebos chrifiaos nonos, que de Portugal fe <vinhão circun- cidara Itália aparte dos quaes elle yira em Venea^a^t^ lhe cóf- tauaauer muitos em Ferrara, i!f Ancona , l^ noutros lugares de Itália, (sf nas terras da Igre ja , lembrandolhe quão catholi- CO era F.A.t^ osferui^os q elle, ifjeus antecejfores tinhaó fei- to a Deos em Africa , tf na ín- dia, onde auia tão poucos diasjq porjua induíiriafe bauti^raó tantos milhares de almas de in- fiéis^ i^ de como V. A. não tinha niUo outro interej^e da fazenda dos ChriHãos nouos,maes,q ^e- lo dafaluação defuas almas^ tf que clhajlefua Santidade , em

quão mãos tempos queria efcan- dali^ar hum taÓ ijirtuofoRey, que tanto merecia fer tratado defua Santidade doutra manei- ra; fallado também no Cardeal, tf nos trabalhos em quefe qui- c^era meter por feruir aDeos,i^ quefe lembraffefua Santidade, que da perdido de todas ejèai almas auia de dar conta aDeos, que elle 'viera do Concilio aqui a defcarregar fua conf ciência, afsi a cerca deitas cowa^^j como do dito Concilio. 8 £ como o Bifpo traz^ia bo T^lorecreceolhe tanto a indina- ção nejla pratica , que tomou a Balthefar de Fariapor teíiemu nha,queprefente ejiaua,por an- te o qual lhe diffe,que o auia por citado pêra diante de Deos ,pera fua Santidade dar contas afsi deflas coufas do Concilio, tf In- quifi^ão,como das quefefeguij^i deftes efcandalos , que queria fa- í^gr a elRey , porque tinha por Jem duuida não os auerV. A. de confentir, tf que tinha letrados que lhe aconfelhauão, que boa conf ciência podia prouer em cou fa tãojujla , tf de tanto ferui^o a Deos , quando fua Santidade não qui^ejfe a iUo condefcender . Dic!{endolhe mães quefe fua Sa- tidade não pu^ejje Inquifiçao em Roma, tt em toda Itália^, q

fegun-

^fBalthefar Limfo.

355

fegimdo (ts coufa hiao de mal em pejor , Deos auia de permitir a diflrui^ao de Italia^comopermi tio a de lerufalem, l^ dos Gre - gosporfiuu dijfoluçocs ,1^" peca- dos incorregiueis ^porque notó- rio era eíiar Itália chea de Iu~ deus, que primeiro foraÓ Chrif- taosj^ de huteranos^l^ de ou- tríts heregiiispeyores^notoriívs a todo o mundo ^ cts quaesfua San- tidade nao queria mandar caf- tigar^ nem o deixauafa^r aos Cardeaes ,quepera ijfo deputou em Itália.

5) Dizendo maes^que O

Cílio da maneira , que fefa^ia, importaria pouco.quefe Icbraf- fejua Sâtidade donome^que In- nocencio III. deixou , ^ de outros Santos Pontífices, que ta- to trabalharão pella reforma- rão da Igreja. Finalmente , que apr atiça foi taljjf tão larga, q o Papa ficou mui atalhado, ijfdif feao Bifpo , que era , rara auis, if que lhe agradecia muito to- das aquellcts lembran^íts , dan- dolhe muitas 've^s agradecimt tos por ellas,ls>' Iheprometeo , q elle faria em todds as coufas em que lhe fallara , o quefojfe re- ':{ao., mandandolhe que dejfe in- formarão de tudo o que lhe dijfe- ra aoCardeal Crecenció^ao qual logo o dito Bifpo foi , i?" com a

mefma Uberdade com que foi ao Papa o reprehendeo , pellosfa- uores quefaí^ia a efia gente, di- c^endo qDeos o auia de deíiruir, porque elle era o que impedia ef- tes defpachos , i?* muito bem o fabia elRey nojfo Senhor ,fa^e- dolhe lembranças do officw, que tinha, ip" da morte do Cardeal Ardinelo , i^f Sadoleto que tão pouco auia que morrera) , quefe guardajfe de hu oçoúte de Deos, com outras muitas coufas , que feria largo priocefio efcreuer a V. Â.com que logo começarão ejias eoufas ir em melhoria , {ít* pouco apauco,lhefoi o Bifpo ti- rando pontos, que juntos ^ fora diffi culto fo, conuemafaber , ti- roulhe,que a Inquifrãofofefem a clanfula de fe poderem os Chri ílãos nouos Jair do Reyno^isf de pões lhe tirou outro, que feproce dejfe logo , porque elles dauãoa ef colher de duas coufas hiia , cu que daqui a cinco annosfepro- cedeffe como de antes ^ou que em annofe não procedejfe na In- quif^ão. A todos efl es pontos o Bifpo fayo : efcreueo ao Papa, Isf a Farnes muitas fve^es , tf a CreCencio, ^ debateo a cerca delias afias, dizendo ao Papa^q ihemandajfe dar Car deães le- trados^^ audiência publica, isf quefuUentaria quão maosdef

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pachos

r

356

Captolo LXXXI.

pachos efies trao^com que lhe ti- rarão o anno em quefc não auia de proceder, Í!f dos cmco tira- rão três, ficando doitsannos, nos quaesfe procedeJ?e como in ca:ceris cnminibiis.

I o Naofe contentou o Bif- po CO iJs'o mas tornou outra '"oec^ ao Papa , ^ dijfepor derradei- ro a Farnes,^ a Crecencio^que

fe não auia defofrer querer fua Santidade fa-^r muito hemos feits negócios , i^ auer as rendas de D. Miguel, tf que a Inquiji- cão ficajje por dtfpachar ^ con- forme a 'Vontade de F. Ã. que os defenganaua m.oauia V. A. mandar dar apojfejjf afsi o dif je a Farnes, que fe elle em Por- tugal quer ia fer bt defpachado do feuconfdho, defpachajje bt efie negocio , alias que lhe não fuccederia bem , ate que <uefpo- ra dos fantos , por final refolu- ^aÓjhe mandou o Papa di'x^er^q fefi\çjfe tudo o que elle qui\ef- fe.

I I Mem difio mandou ao Bifpo^que em todas as coufas em que lhe falara acerca do Conci- lio dejje huns apontamentos ao Cardeal Theafino , porque elle queria proucr acerca de todas aquellas cou^as^pera o qual lhe prometeo mandar logo chamar o Cardeal Santa Crw^^ Prefi-

dente do Concilio , porqne elle o queriafa^r como cumpria pe ra boa reformarão da Igreja, pra^a a De os, q^^fj^ ^jsi : o q logofe^o dito Bijpo , i^ comu- nicou tudo com o dito Cardeal Theafino, Í!f lhe deixou huns lar £05 apontamentos , que eu «t?/, das coufai mães necefiarias , isf importantes pêra a dita refor- mação , tão contente ficou o Pa- pa delle. Crea F. A.que tem o Bifpo do Por to taÓ grande f ma , que tem dado muita honra a F.A. y ao Reyno ,lsffefe^ no Concilio muita conta delle. O Papa folgou muito de elle ir a Bolonha, pella boa informação, que delle tinha, l^ também por- que nenhú Bfpo Efpanholfoi la por amor do Emperador, ip" ale diíio deixou muito contentes to - dos efies C ar deães, com quem c6 municou, tf mui fatis feitos de fuás letras, tf bom ^elo da hon- ra de Deos , tf reformação da Igreja. Alem da honra, que lhe fe^o Papa,tf bom defpacho da Inquifição j lhefe':{^outras mui- tas graças-.ellefepartio pêra Bo lonha esta terça pajfada deixou- me ejfa cartapera F. A. em que lhe da conta de tudo , tf lhe ef creuepor efie caualeiro Fgoli- no, afsi qa Inquifição <vai liure mente f em claufula algúa.

De

T>. "Balthepir Limpo.

352

^\

12.

De tudo o que F. A Ji^r neík negocio fe auerà Deos por bem feruido, pões he de tanto feu feruico ,^ de tatá importância pêra afalua^ao d.u alm.ts de tan tos innoc entes ^ de quantos la ef- taopoflos em 'ventura defem pays fugirem com dles^^ os Vi rem circuncidar a Itália^ tf bt claro tem Nojfo Senhor moílra do quão pouco lhes aproueitou o dinheiro, que df^mfoi .dejp:^ nos muros ^llf baluartes de PU- ^ncia, que de Portugal fahio pões lhe deu o caíiigo y que taes couc^as mereciâo. Senhor V . A. não te outro remédio, fenao t>Jar do poder ^que como digo Deos lhe deu ao menos a experiência lho tem moftrado ate Agora na re- terão d(is rendas de D. Miguel, no qual negocio 'vfa do poder de Rey^i^ffe^^ o que não fizera fe o tratara como até qui tratou ef- te da Inquijiçao, no qualfe mof- trará húa pequena de força, muitos annos ha que V.A. tiue- ra tudo acabado, if eUiuerafo de negocio ^ que tantos defgof tos lhe tem dado. Ef aliar eu af- fia V. A. que he mães do que de- mãda a qualidade de minhapef foa,i:f author idade, najce do ^ Iorque tenho afeuferuiço , i:f a Sãtalnquifção^ondeferui oCar deal quatro annos, atè o tempo ^

que me mandou dar os agra- decimentos ao Papa da fua pro- moção a Cardeal,i^ também if- to deuo a V.A: porfer meu Rey natural. Nofo Senhor conferue a <-utda , ^ o eilado de V. A por mui largos annos, de Roma azi. de Nouembro de i ;47.

Gajpar Barreiros.

CAPITOLO IXXXll

PARTE DE ROMA, D. Balthefar Limpo , chega a Portugal, he eleito Ar ce- bijpo de Braga , treslada pê- ra fua o corpo deS. Pedro de Rates, i^ mandafe enter- rar aos pés domejmo Santo.

Ao fcdauaa- inda o Bijpo por contente, com fc ver af- íí deípachado na pretcnfaódo Santo oífício, queria, & folicitaua igualmen- te o fucccflb da reforma- ção, por cujo refpeito fepe- dira,& ajuntara o Sagrado cilioi mas ncltc particular co- mo osBifpos,& Cardeaes craó os macs intcrcfladoSjd: os pri- meiros por onde cila auiadc

começar

358

Capiíolo LXXXIL

começar, pouco 5 ou nada íc lhe defciiajcomo também ao outro ponto emquc trabalha* ua muito, de fe meterem por Itaha Inquifiçoés, onde íe cal- tisaííem os Chriftaos nouos, oue de Portugal lahiaóiudai- zar. A tanto íceftendiá o zelo dcllegraõ Prelado : mas nem por ilío na vitima defpedida beijando o pèa íua Santidade deixou de o aduertir de ambas eftas duas couzas, na forma, que a clRey efcreueo na carta, que deixou nas maós do Có- nego Gaípar Barreiros, cujas palauras íaó.

2, Padre Santo^ que efpera- Cãs terão os Príncipes da refor maçíio.^ nem o mundo ^ em tempo que --vemos , que eflando o Con- cilio ^l^ reformação por acabar ^ quer 'V.Sat idade fà^er os Car- deaes , que agora queria criar? E que efperan^afe terá da refor maçãO em tipo que os Car deães ^ que tem muitoó Igrej44 Cathe- draes, asrenunciao empejfoas^ que Deosfah o quanto JaÔ pêra ifjo , tf fomente deixao o curar das almcís ^ficandolhes referua- dos todos osfruitos? E queefpe- rançitfe terá da reformação em tcpo quefendo ij. Santidade in- formado por outras pejfods ^ tf por mim da grande quantidade

dealmcís , que por muitos annos for ao ChriUãos em Portiigai ^ agora eJlaojudaiT^mdo^ circun- cidandoje nas terrds da Igreja^ tf dahife^ãopera ds do Tur- co ? Epedindolhe eu ^quepu^e- felnquifcão naquellas partes, on defe efies delitos cometem , tf pajfajfe hum breue , peraquefe impedi ffe a embarcarão daquel- les , ij. Santidade atègoranao proueo nijfo^tfc. 3 Partio pouco depões o Bifpo pêra P ortugal, mudado, ao que parece, o confclho de aíliííir cm Bolonha, onde as coufas do Concilio hiaõvaga- rofamentc. Bahhefar de Fatia em húade 17. delaneirodoan no 1548. faz a fabcr a elRcy co mo a partida do Bifpo íeria no outro dia 18. do mefmomes, & entre outras lhe dizeftaspa lauras. O Bifpo fe parte infa- liuelmtte a manha iB^deBe-qua tromefes depões de eUarneUa Corte j andou nella fempre mui bem acompanhado , com de'^de cauallo conjigo^tf mui bem tra- tado ^tf fica aqui c6 tanto cre- dito^que fácil mente o poderá V. A. por no lugar que quit^er.Ou- uefe comfua modefiia de manei- ra^ que fe enxergou nelle pouca cubiça,tendo fempre ni(fo,o ref guardo, que conuinha aoferuiça

de

D. "Balíbefar Limpo.

359

4 Chagado oBifpo aoRey- no,^ logo à eidade do Porto aondeainda gouernaua em íí. delulho de 1550, t^ouco de- pões íoinomeadopera aígrcjá dcBraga,por morte doÂrcebif po D.Maiioel de Souza j^ co- mo diíícmos fjleceo em i8.de lulhode i|4S>.Pdíroulhé as le- tras, & dculhc o Palio o Sum- nlo Pohtifice lulio III. com quem em Trento fendo Car- deal, & Preíideiuè dtj Cõcilio ttíueeftreitaamizade. O Piot-to o largou com ftntimentOjBra O réccbeo com aluorôço, pDt(^ O conhecia por paydos pobreSi zdoío do bem do ef- tado Eccieíiaftico, & graõ rc- forttiador de cuftiimts j coufa de que entaõ necellitaúa efte Arcebiípado. logo o come- çou a viílcar por íy , crtendá- do com brandura os vicios,& quândo doutra maneira náo pòdi3,com rigor.

5 Sempre eftranhouaos Arcebifpbs de Drágá nEo terê na fuá cidade o feu primeiro Arccbifpo S. Pedro de Rates, podendoo fazer c6 facilidade,

6 dizid quando airtdâ eftauá no Poreo , que fo pfcra o tres- ladar , èc collocat aonde fbíTe refpeitadbcomò rrièrcciaõfuas

prerogatiuas ledefcjaua Arcc- bifpo delia Igreja. Aíll foi que na primeira viíita, que noan- no de 1551. fez por aquellaCo marca,certificado muito bem que naquella Igreja de Rates eíbua oS.Martyr,& Apollo- lo de Hefpanha^mandou con- certar hum caixão de veludo Carmcíí, & partindofe to- do o fegredode Braga chegou a RateSjdonde tirando o Sáto corpo fe recolheo com elle á cidade caminhando toda a noi- te. Tinha deixado ordem ao partir lhe tiueílem armada a Igreja de S.Pedro de Maximi- nos,& quea certo final feu íe repicaflem todos os línos cidade; chegado pões ainda de noite a Braga parou côas San- tas reliquias na Igreja acima dita, entre muita cera, & perfu mesrdeufe repique geral, & co mo era fora de horas, óuiie na cidade grande riiedo , & âluo- roço, porque poucos fabiao da occaíiaõ. Mas logo que fo- raó certos da chegada do feu Santo, & primeiro paílor aòo- diraõ a Maximinos ab v\'ltar, & adorar . fteparoufe ao ou- tro dia húa fòlemiVe prociflaó, com todas as ihuéhçoés de ale gtia,& faindo Cathedral foi receber as fagfâdás reliquias.

era--

36o

Caj?itolo LXXXIL

trazencíoas em hum andor bc » appaiamcntado as Dignidades da Sèjpuíeraõnas íobrc oaltar daCapclla mor, oiideforaôvi íicadas,^: veneradas por todos os dias ícguinces deinnumcra- uel multidão de gente. Trata- uafe entre tanto do lugar on- de íeri.i mães accómodado col locar éfc, íobre todos parccco milhor a capella do Apoftolo S. Pedro pofta na parede do cruzeiro da parte do Euange- lho poc eftar defembaraçada. Mandouao Arcebifpocóccr- tar muito bem^ abriolhe fan- criÍLÍa,3<: traçou o altar de ma- neira,q[uea3 íagradas relíquias feruilíem de retabolo-.pera iílo Te fez húa fcrmofa fepultura de pcdta branca_,&: dourada Icuan tada cm alto com o letreiro, q jápufemos na vida do Santo. Felíeatresladaçãoa 17.de Ou- tubro de mil ôc quinhentos, & cincocnta & dous, mil , & quinhentos &: retcannos,de- pccs dogloriofomartyrio do Santo Prelado, tantos cíkue na fua Igreja de Rates. 6 No mes de Dezembro

doanno de 15-53. auifou oCar deal Infante D. Henrique ao Arcebi(p'o D.Balthefardeco- mo pellofauto Padre fora crea doLcgadoalateredeíies Rey-

nosjS: (cnhorios de Portugal, dizendo ao Arcebilpo. Pedia Deos^q me graça pêra ofer- tar em efie cargo , if mandai a todos os pregadores, bt curaó^q nás pregações , ^ eíia^oes en- comendem húa Aue Mariapor mim.Tambem njos encomendo muito , que me fadais a faber o que 'VOS parece ^ acerca do que deito fa^er , í^ não fa^^er. O fobrefcrito da carta diz: Ao Reuerendo fenhor Arcehifpo D. Balthefar Limpo Arcehif- po de Braga Prima^. E no al- to da carta : Reuerendo fenhor Arcebifpo. Bem conftadefta cai ta a authoridade, que o Ar- ccbifpo D.Baltheíar tinha ncf te Reyno, pões parcceo o- brigaçáoao Cardeal D. Hen- rique darlhe logo cota da mer ce,queo Papa luho III. lhe fi- zera. Confta tábem o modo,

6 cftylo , com que os Infan- tes de Portugal cfcrcuiaó aos Arcebifpos de Braga-, nemfc dedignou de lhe chamar Pri- maz o Cardeal D. Henrique,, íendo entãoArccbifpo d'Euo- ra,& tendo tantos outros titu lo3,& qualidades.

7 Nomefmoannodei5j3. applicou réda perpetua aos cf- tudos que agora tem, &emq

eníináo os Padres da Compa-

nhia

'DfBalthefar Limpo.

l6i

nbia de Ies v,5*^ q ja começara o Arcebilpo D.Diogo dcSou za,& promouera^crazédo meí tresdc íora o CardealD.Hériq ícdoArcebirpo,como cmíuas vidasdiUemoSjdeterniinádoas liçoês q feauiaódeièr deCano ncs,Theologia,Filoíofia,c Grá matica, no qdcpoes ouue mu- dança , quanto à de Cânones.

8 Ordenou noanno de ij;j pcra melhor gouerno defta ci- dade, que ícruifle húaíò pef- foa o officio de Almotace pel- los mezes,q pareceííe aomef- mo Arcebilpo, prouendo nef- tc cargo a Hérique Sodrinho. Ordenou també q os moços, «Sc moças defta cidade , & feu ccrmo,q não tiueííem pays,ou íoííem tão pobres , que pudcf- íem mal gouernar aos 6lhos, feercolheíTc emCamera dos Vrcadores,qual parcceíle,para q tiueíle cuidado de proucr ne- íte parcicular, (J^ircõpclIeíTeaos moços , & moças a qferuiíTé, ou a tomaré oucromodo de vi da,q melhor eíliucílc , & não querendo elles cííprir oqlhc foííe mandado , o Vreador os pudeíTe lançar fora da cidade, & feuterrao,&:aíIi íeu pay,(3«: niãy , ou outra qualquer pcf- foa,que lho impediíTe.

9 No mefmoannodeijjj.

em 23 . dias do mes de Nouc- bro nos Paços Arcebifpaes lhe fez preito, ò»; omenagé da for- taleza,!!^ caftcílo do couto de Erucdedo loaó Limpo fidal goda caía delRcy,& irmão do meímo Arccbiípo,dizendo, q o recolheria no d\iQ:,6c no bai- xo delia de noitCjOu de dia, muitos,ou poucos , vindo oArcebiípo ao dito caílello de pasjou degucrra,& q a não en trcgaria a nenhúa outra peíloa de qualquer grao,dignidade,<Si; preeminência, q folie fcnão ao mcíhioArccbilpOjOu a feu ccr torccado.comoconíta dos h- uros doCartoreo defta Igreja-

10 Sempre fedeu por pago o religiofo Arcebifpo fe o Ceo lhe concedefle,pcllo fer uiçoqfeza ellaígreja,í3,£aS. Pe drodcRates,fepulcaríeaos pès doglorioloraartyr: iftopretê deo por toda a vida,& alcãçou finalméte na morte, vindo a ia lecer de So.annos neíla cidade em 3i.deMarço,no deChriílo dei5f S.oito depões de fer elei- toArccbifpo dcBraga. O raaes qinílityonefta capella íica relatado na vida de S. Pedro.

11 Foraó Sumos Pontiííces em feu tcpoIuhoIII.Marcello II.&PauloIIII.&ReydePor tugalD. loaõijj III.

34-

clef de Braga l.

Hh

DOM

362

Capitolo LXXXIIL

DOM FREI BERTHO-

lamcudos Martyres. loi.

Arcebiípo de Braga.

CAPITOLO LXXXIIL

DE S EV NACIMEN- to , if fuccejfos até entrar em Braga,i!ffe partir aoCo cílio Tridentino.

A freigucíia dos Martyres da cidade de Lifboa^corré- do o anno de 1514.3 poucos dias do mes de Mayo,naceo o Santo Arcebií- po dcBraga D. fr.BerthoIamcu dos Martyres: foraó feus pays Domingos Fernádes,& Maria CoríéajpeíToas de grade chrif- tande,& dotadas dos bens da fortuna.Troixe logo a criá- ça pronofticos do que pello po adiante auia de vir a íer.-por q lobreas coftas da mão direi- ta^ vinha como marcada com hija cruz de quatro pontas flo reteadas , como as q trazê os CaualeirosdeAuís,íinal q por toda a vidallie durou/e pro curaua ainda fendo menino en cobrilo. Eftando no colloda máy,,primeiro qfo 11 beíTc falar, híá certo peregtijf^o{o íucceílb

da profecia moftrouq poderia leralgúAnjo)pregádoosoll-ios nelle,vS«: acriácinha feílejádoo, &c caricia ndoo os feuSjdiíTe pêra Maria Corrêa 5 criai fe- nhora ejfe filho particular cui dado^ porq nelle criais a yojfa honra ^i!f a de todo efie Reyno. z Antcsdecjjpriri4. annos por gaftar o melhor da fua vi- da na cafa de Dcos,pediOj& re cebeo o habito do gloriofoS. Domingos ,deraõlho no raof- tciro deLifboa,em dia do gra- de Arcebiípo deTuron S.Mar tinho.do anno de iji8. Vinha decaía de ícu pay tão coftuma do à penitécia>&: taò apodado a fer viuo retrato de íeu ían toPatriarcha,q os trabalhos da religião lhe foraó eflranhoí, de muita diíficultade correr pcllas virtudes, q o auiaõ de le. uaràqucUa perfeita íemelhan- ça. Fez fua proíiflaÕcõ os vo- tos de todo oCôucnco em 20, deNouêbro de iji^.faltando- Iheaindapcraos 16. annos os mczesjque correm de Nouem bro,atè mayo em que nacera. 3 Era occafiaõ em que era S. Domingos de Lifboa fe co- raeçaua o curfo de Artes : en- trou nelle por ouuinte , & no cabQ daFiloíofía cftudouTheo logÍ3,ícpre aualiado por grade

cngc-

^.fr,Bartholameu dos ojM^rtjres.

363

engenho em húaj& outra cié- cia,& por maycr religioío.Sé do ainda diícipulo daTheolo- gia,deíendeo noCapiculoFro- uincial celebrado em Guima- rães no aunode 1532,. ascon- cluíoés lógicas com raraagu- deza^& eípanuo daquelies pa- dres jC[ue ali craó congregados. Leo na Ordem Filoíoha,&

Theolooia mães de 10. annos

T -

contínuos, Nodci/yi. junta-

dofe Capitulo Geral em Sala- manca a Prouincia o efcolhco por Preíídente das cõclufoés de Theologia, que a íua conta tinliáo defender três religioíos Portugueíes .Ganhou no auco fama de íabio , de comedido: não fc vio igual prefteza de en genho nas íoluçoéi dos argu- mentos, nê outra femelhante modefl;ía,& brandura em àéé der Tuas opiniões, O meftre geral fr.Francifco Romeu lhe deu aliem Salamáca o grão de Meftre daOrdé,cõ palaurasjq a qualquer outro o fariaõ de mães ellima: fr. Bertholameu o aceitou maespor obediecia^q por outro reípcitojcomo quê nêatèlio dcíejara, dali por diátedetcrminaua aproueitarfe dos priuilcgios,q oacõpanhão. 4 Após efta eleição de Ca pitular , o elegerão tãbem por

Definidor da Prouinciajcargo qadminiftrou com intcircía, òí humildade. O Infame D. Luís itmão dciRey D. loaó o III. o pedio para meílre na Sa- grada Theologia de íeu filho o íenhor D. António j não foi polliuel àOrdé negatlho,efta- Ihe obrigadillmia, & cada dia recebia de íua real máo nouas mercês, Paílou a Euora aonde entaõ reledia a Corte, para efte effeico,& no íeu Conuéco cor nou ao trabalho da leitura. Qw uiáno juntaméte os Padres da Companhia de Iesv , q entáo naquella cidade começauao a edificar: foi hum dcUes o Pa- dre Pedro de AíFonfeca , que pello tempo adiante íahio le- trado famoío.

S Da lição d'Euora o tira

raõ os votos dos religioíos de Bêfica, elesêdoo em íeuPrior. Não quis oíerenillimo Inran- teempedif a eleição; paflou a Benfica o filho , por não per- der a doutrina ,& exemplo de tal meftre. Foi para o nouo elci toaquellacaí'a(hedas mães re- formadas daOrdem) hiiânoua eíchola de virtudes*Sò para íer o primeiro na obfcruãcia de feu inl];ituco feenxergaua neiie íer Prior,no maescra diícipulo, & fubdito de todos. Acodiãolhe

Hh

como a

364

Capitolo

LXXXIIL

meftre de efpirico, & aprouei- tauáoíc muito de íua fanca con uerr3çaó,& deftreaa em tratar as almas os Infantes D. Luis, & D.Hêrique, irmãos delRey &:areuexêploofaziaõ rábcm outros fenhorcs: &:fòefta pe- na tinha de viuerjuntoaLif- boa ohumildeRcligiofo.Quc ria, fe poíTiuclfora, enccrraríe de todoj procurauao,mas náo lhe focedia, porque a fama de fuás excellenres virtudes o da- ua cada dia macs,& macs a co- nhecer.

6 Gouernaua nefte tê- pooReyno na menor idade de feu neto clRey D. Sebaftiaõ a Rainha D. Cathcrina: & co- mo era fcnhora em cujo peito ccuc femprtfmclhor lugar a vir tude,& religião, que outros quacfquer rei peitos, & prero- gatiuas, querendo dar Prelado a Igreja de Braga digno de taõ eminente lugar ( eftando vaga por morte doArcebifpoD.Bal theík Limpo,)logo íc lhe ve- yo aos olhos oPrior de Bêfica fr.Bcrcholameu dos Martyrcs. Têdoocmfuaprefença depões de lhe fignifica r o grande con- ceito,q de fua peíToa tinha,náo íabédo o humilde Religiofoa- ondc hiaõ parar taõ defufadas abonaçoés , finalmente o no-

meou Arcebifpo dcBraga. Pri- mas das Hefpanhas , eltando entre tanto o nouo eleito co- mo fora de fy,náo cõgofl:o,& alegria de fever fublimado a tão altaDignidade,mascoma cõíidcração do baixo cõceito, q fêpreformauade fy raefmo, julgádofe por indigno de qual quer lugar honrofo , quanto mães daqlle,o mayor de todos os Eccleiíafticos deHcfpanha. 7 Tomou, & vfou de to- das as artes, & meyos,quantos então lhe deixou achar o fobre falto, para fe cfcufar dânoua dignidade. Diílc quanto pode da infufficienciadc fua peífoa, da qualidade, &oííicios dcfcus parentes, & com canto aíFeito, & determinação, como íc em fe defacreditara fy , & a elles, lhe fora não menos , q a falua- ção. Depões fazédo difcur- fo pellos fidalgos Eeclcfiafti- cos,q então florecião noRey- no , podiaõ encher melhor aquelle lugar, foi hu por hu no meandoos a fua Alteza,apãtan do muitas,& viuasrczoêspof q lhe deuião fer preferidos, òi elle cfcufo do que nem mere- cia , nem fe atreuia em boa cõ- fciécia aceitar. A refolução foi, qucaRainha odefpedio,& dou cuidar mães de vagar na

repofta

T>.fr.Bartholaweu dos (^Martjres*

365

rcpofta,que era bem lhe deílc, pões em lua eleição pretendia íò o fcruiço de Dcos Nollo Se nhor,& delRey leu neco,a que defejauaenllnar queminiftros deuia depões eícolhcr , quado embora tiucíle o goucrnode 1'eus Reynos , pcraiemelhan- ccs dignidades.

8 Perfcueraua co tudo o humilde Religiofo conftance cm Tua dcterminaçâo,quando armandolhe por outra parte, porq lhe náo poderia fugir, o feu Prouincial o Padre fr.Luis de Granada (varaõ por fuás vir tudcs aílaz conhecido)tcndoo diante de íy poftrado em terra no Coro de S. Domingos de Liíboa, prefcnte toda a mães Cõmunidade,lhe mandou cm virtude de fanta obediência, & com pena de cfcomunháo,ip- fo fa(ílo, que fem mães efcu- fas,nem replicas aceitaíle lo- go a eleição , que em fua pef- foa fazia a Rainha pêra Arce- bifpo de Braga, porque iíTo era oqucconuinha ao fcruiço de Dcos,aobemdoReyno,a fua pcíToa , & a Ordem de S. Do- mingos,&: muito mães a Igre- ja pcraquc era efcolhido.

9 Apertado defta forte o verdadeiro obedicntc,ou ue fi- nalmente de aceitar. Dado o

fy, feguiraõfc os abraços do Conuento,as vifitas dos fidal- gos,& outras importunações, que pcUas não acoítumar , nc poder íofrer, fepaflou ao feu mofteiro de Azeicáo,onde ef- tcueatè lhe ferem paliadas pel- loSúmp Põtifice Paulo III I.as letras do Arcebiípadoe m 7. de laneiro de mil & quinhentos, cincoenta & noue. Sagrou- fc em S. Domingos de Liíboa a três de Setembro do mefmo anno. Na mefma Igreja lece- beo aos oito o Pallio da mão do Arccbifpo de Liíboa D.Fcr nando de i^aíconcelos de Mc- nefes,diantcdo altar de IesVs. Emhmpartiopara Braga aos zi.aondechegoudia deS.Frá- cifco quatro de Outubro , & foi recebido com grande aluo- roço defta cidade. 10 Trazia piquena fami-

lia,mas degcnte digna de tal Prelado. Da OrHemjcntre ou- tros , efcolhcoa dous rcligio- fos, hum o Padre fr loaódc Leiria,que por todo o tempo, q viueo Ihegoucrnou fua cafa, & outro o Padre fr. Henrique deTauora,o q o acõpanhou ao Concilio de Trento,&: depões veyoaferBifpo dcCochim,& Arccbifpo de Goa. Quãdo en- trou pellas cafas Arccbifpaes,

Hh3

dizem

366

Capltolo LXXXIIL

Cice Th

dizem que as lagrimas nos 1 olhos, & cófideraçáo nos mui tos íancos,quc as habitaraó,re pitioaqucUcrcntirricnio, que lebre as de Pompeio, quando vicraó a fer dcMarcoAntonio, repetia o pouo Romano: O do mu4 antiqua , quám difpari do mino dominarisl Como cacha- do a íua , &i engrandecendo a vida de fcus antigos morado- res. A íTencada fua cafa, & dada forma à juftiça,&: bom gouer no da cidade , inítruindo pri- meiro a todos com fuás prega- ções,cm que era continuo to- dos os Domingos, & dias San- tos , começou no fim <Jc Ja- neiro íeguintc de ij6o. a viíi- taroArccbifpado , exercitan- do por rodas as villas, & luga- res, ate pellas mães remonta- das,Sccícondidas aldeãs, o of- ficio de bom paftor/emlhc cf capar neceííidade , ou efpiri- tual, ou temporal, a que não acodiíTe.

1 1 Recolhido da viíita à ci dadcjinftituyo em feus Paços duas liçoês de cafos^pcra dou- trinados Clérigos, queachou fobre maneira rudes, &idiotas. Daua ordenados aos eftudan- tcs pobres doArccbirpado,& aos da cidade filhos dos cida- dãos, & officiaes certa reção.

pcraquc a pobreza lhe naó fof- íe impedimento às letras .Nef- tc meímoannode ijfio.elcre- ueooCathecifmOjaonde de- clara por eftylo fácil, os mifte- rios de noíTa fanta fè, & põem atgúas praticas das principaes fcllas do anno, pcraque nas ef* taçocs os Parochos as lefiem aos freiguefcsjcottio ainda ho- je fccofíuma,íupprindo efta lição a falta de prcgadorcs,que então era bem notauel por to- do o Arccbifpado .De feu con- felfio , Ã: perfuaíaõ cfcreuco também o Fios Santorum, ou vidas dos Santos, que caé pel- loanno fr -Diogo do Rofario, feu condiícipulo,& Ja mcfma religião, fazendolhc oArccbif- po os gaftos da impreííaõ-, foi obra notauel, &: de que fe tem fcguido grande fruito pella pie dadc, & deuação, com queef- feita. Deu també ncftc mcf- mo anno principio às duasfú- daçoês do Collegio de S.Pau- lo da Companhia de Iesv dcf- ta cidade,de que foi o primei- ro Reitor o Padre Inácio d' Azcucdo , que com outros Rcligiofos da mefma Com- panhia padecco gloriofa mor- te pola fè,na viagem do Braííl, como adiante veremos, ã &do moftciro da fua Ordem de fan

ta

D.frfBartholameu dos (i^aríyres.

s67

ca Cruz de Viana, que íem- prc viuirà íua memoria.

CAPITOLO LXXXIIII

COMO FOI AO CON- cilio Tridentino , Ò^ do que pctjfou neUa jornada.

Sdiucrfosfuc- ceros,&gran- dcvariedadeda fortuna, que crouxeraõtáo perturbados os tempos nos Pontificados de Paulo , &c lu- lio ambos terceiros do nome, foraõ caufade fc impedir a có- tinuaçáo do Sagrado Cócilio, que na cidade de Trento efta- ua principiado.Quis leuar por diante efta cmprefa,como tão digna de feu grande ^elo oSíí- moPontiíice Pio IIÍI. Logo quefevio fucceíTor dcS. Pe- dro, publicou bulias de conti- nuação em 29. deNouembro de 1560. foraò intimadas aos Prelados de Portugal ofeguin- te anno de 1 561 . Tardou cm fe partir a Trento o noflb Arcc- bifpo os dias que vaõdo prin- cipio de Ianeiro,atéa fcgunda feira depões da Dominga da

■'4

Paixão 24. de iMarço. Deixou por Gouernador doArcebif- pado ao Padre fr. loaõ de Lei- ria, leuando coníígo ao Padre fr. Henrique de Tauora, de quem falamos ^ o Doutof Pedro Tauares feu defembar- gador , capellão , ôc pouca macsfamilia.

2 No fa ir da fua Diocefe, como defpedindofc delia, os olhos arraiados cm lagri- mas j&: giolhos por ccrra,diíl'c aquclias palauras doSaluador, quando orou por feus difcipu los. Pater Sanãe , egopro eis 'i,^,ii, rogo , quos dediJHmihi^quia tui funt , ftrua eos in nomine tuo. Depões lançandolhe a benção, continuou feu Gaminho,emq fcmpre guardou a mefma for- ma de caminhar. Nas terras aonde 3u ia moftciros da fuaOr dcm,ou dos Padres Menores, fe hia íò com feu cõpanhei- rojos criados mahdaua a eíla- lagem , ordcnandolhc o cfpe- raíTem ao dia feguinte ao íair dapouoaçáo, íem difere nu- ca cujos craõ. A noite paíTaua em fanta diíTimulação entre os Rcligiofos , contente com a reçáo dos demaes , fc a cafo não accrtaua de fer conhecido como emalgúas partes Ihea- contcceo. Domingo de Ra-

Hh4

mos

I

36S

Capitolo LXXXIIIL

mos eftciie no feu mofteiro de enamora, onde vificou aquel- Ic milagrofo Crucifixo , ^ em voz alta,6«: temeroía,diíIeao vlficadorque vinha reformar o Conuenco: Rege eosin <vir- ga férrea. Em Palencia o obri- gou a feueridade do Prior a di zcr quem cra^ porque lhe pe- dia cõ rigor a patente de frade, êc com que ordem audaua fo- ra do molleiro. Em Burgos o deu a conhecer hum correojq ali lhe chegou delRey D. Se- baftiaõ, eftando ellc c5 os fra- desagafalhadocomo qualquer da caía, & deitas couías lhe fo- raõ acontecendo muitas com grande alegria de fua aIma,fo- breque depões tinha muitoq contar, & comque paíTar o en fado do caminho. 3 Em quanto andou por

França lhe naõ fahiaõde ordi- nário as lagrimas dos olhos pella grande diftruição, que nas couías fagradas daqucUe tão Catholico Rcyno, tinhão feito os hereges Hugonotes, em eípecial naProuinciadeLin guadoc,&: Prouença. Entrou em Itália pello porto de Mon- geneuM _, onde a induftria hu- mana achou paflagem aos Al- pes , por hãa decida , cofta Ín- greme , &c como talhada a pi-

que^que por efpaçode húalc- goa, cubcrta quaíí íempredc neue, vem a parar em híi lugar a que chamão Santa Sufana. Daqui paíTou 3 Turim, a Mi- lão, &aos i8.deMayojàcfta- ua em Trento, gaitando por eíta conta no caminho cin- coenta,& fcisdias,cm que pel- la cítrada,quc leuou fc andarão 331. legoas.

4 Qms entrar dcfconhc- cido cm Trento, feio a pè,en- coítado ao feu bordáo:porcm da cítalagem,ondc fc rccolheo, o foraõ tirar dous Arcebifpos da íua Ordem , o de Modena, ôc Verona : hofpedaraóno a- quella noite com grande libc- ralidade,na manháíeguinte em que teue cafa propria,fe paf fou a cila, porque efla foi a cõ- diçáocÕ que aceitou a alhca. Viíltou logo osCardeacsLega- dos, Hercules Gon2aga,&Ie- ronymo SeripandoReligiofo, & Gèral,queauiaíídodos£re- mitas de SantoAgoítinho:fef- tejaraõno fobre maneira, ôc trataraõnofemprccom gran- de amor, & bencuolcncia,rcf- pcitando fuás letras , & fanti- dade, com particular goíto,& reuerencia.

5 Por fc cfperarem ainda osBifpos, queauiaõdeaííiítir

ao

D.fr.^artholameu dos (^^^rtjres.

3<í9

ao Concilio , & fere chegados poucos, tendo não mães, que quinze dias de Trento , deter- minou o Santo Arcebifpo dar húa checada a Vcneza.vifto co mo íò diftaua dali pouco mães de vinte legoasrleuouo a curió íldadcdever, & viíítar osgran dcs Santuários , que nclla ha. Na volta fe achou dia de San- to António em Pádua, onde aínítioàs vcrporas,& miíla do Santo;vio fcu corpo fagrado, Sc fua fagrada lingoa, que bei- jou, &: venerou com a piedade que deuia a humSanto íeu na- tural,& á quê fcmpre teue tão particular deuação. 6 Reftituido a Trento , & aberto oCõcilio,os Padres o fi zeraólogoReuedordos liuros: íeu hc o trabalho do índice dos prohibidos,quc ali (c ordenou. PcllasdemaesfeíToés moftrou femprc grande zeloj erudição, & authoridadc,particularmcn te naquellas em que fe tratou da refidencia dos Prelados , & prouimentos dos bencíiciosj que tcra annexa cura de almas. Pretêdeomuitoa reformação do citado Ecclefíaftico,& aué- do no Concilio quem por li- lonja quis difer,que os illuftrif fimoSj&ReuerendiíTimosCar dcaes não tinhaõ neceííidade

de reformação, chegado o leu tempo de votar diíle muita graça,& corteíia rindo pêra os meímos Cardeaes, Illtííirifsi- mi, ÍS^ Reuercdifsimi Cardina- les egentillujirifsima, tf reitere difsima reformatione : depões acreccntou , qcomo elles eraó as fontes de qbebiaó os outros PreladGS,fe a agoa não fofle pu ra,tudoomacs feria lodo na Igreja.

7 Chegarão entre tanto

os quatro de Agoílo , em que a Igreja celebra a fefta do glo- rk)fo Patriarcha S. Domingos, quis fe moftrar nella o fanto Arcebifpo verdadeiro filho de tão grande pay.Conuidou pa- ra o mofteiro do fato, por hof pedes feus a todos os queda mefma Ordem arufliaõnoCõ cilio. EraÕ féis Arccbifpos,dc- fafete Bifpos, vinte & oito meftres , com o Geral da O.r- demfr. Vicente luftiniano.Ca pitulou o Arcebifpo nasvef- poras, como o de mayor dig- nidade, &authoridade: fes o Pontifical do dia feguinte , os mães cantarão, &: aíTiftiraõ no altar,& eftante. O jantar foi fem faltas, nem dcmafias , co- mo dado por hum Arcebifpo taõ fanto ,& religiofo. Foraõ tambê hofpedes os BifposPor

fcí

cug

uc

370

Capitolo LXXXIIII.

tucueíeSjodeCoimbraD. ir, loaG Soares ,o cic Leiria D. rr. Gaípar do Calai, ambos da ia- í^rada Ordé dos Eremitas ácS. AgortinhorD.Iorge deAcaide, que pouco depões íoi Biípo de Vireu5& capclláo mor da Ma- geíiadcdelRey D. Felipe o pru deiKe,oDoucor Diogo de Pai- iiaTheologodelRey D.Sebaf- tiâo.

8 Defejaua o Santo Ar-

ccbií po antes de íe recolher a Portugal, beijai o pca (ua San tidade,ôi vifitar os corpos dos fagrados Apoftolos S. Pedro, & S.Pauio, comos mães San- tuários de Roma.Teue boa oc caíiaõdeo fazer cftando aqui em Trento, no tempo qucfe aíTinou pcraafcflaóz4. porq eílando elía publicada pêra i y. de Setembro deite meímo an- no de i5<53.fe lançou por legí- timos impedimentos aos ii. de NouembrOjtempo bacan- te pêra o Arcebifpo cumprir eftefeudefejo. Partioaos 18. de Setembro em cõpanhia do Cardeal de Lorena, que fobre maneiralheeraaffeiçoado.Em Bolonha difleniifla no altar de leti Padre S, Dominsos fobre luns íagradas relíquias. Qnerc- dofe encobrir aos Reliaiolos o Prior que o tinha vilto,^:

em Brexa lhe tinha eícapado com aquelle íeu íanro disfar- ce,o conhcceo logorfellcjouo, & agaíaihouo ,comoelIe não quilcra, mas era deuido aíua peíroa,& Dignidade. 9 Em 2-9' de Setembro dia do Archanjo S-Miguel entrou em Romaa pèjcomfeu com- panheiro.Foiíe direito a S. Pe- dro in Vaticano: ali depões de adorar os Santos Apoftolos, eílaua efperando o auifaíTem os íeus dapoufadaem qucfe auia de recolher eíperauao grande aluoroço o Embaixa- dor dclRcy D. Sebaftiaõ na- quella CorteD.Aluaro deCaf- tro^filho do grande D. loaõ de CaftroGouetnador da índia. Mas comoenttou com tanto rdencio,náo lhe valerão aoEni baixador vigias,nem podcíair a recebelo com o grande acõ- panhameto,quelhe tinha pre- parado. Por inculcas vieraõa dar com clle em húa capella de S.Pedro dous criados feus: da li o tirarão com prefupofto de o leuarem ao fcn mofteiroda Minerua, porem enganado o trouxcraõa caía do Embaixa- dor. Quando D. Aluaro le vio com clle, beijandolhe amaõ, não acabaun de lhe dar queixas de entrar daquella maneira em

Roma

'•B-i.

D.frfBartholameu dos Q^artyres.

170

RGma,ondecllceftaua porEm baixador^ &c por grande íerui-- dor Teu. Mal o pode perfuadir a fer ítu hofpedc no jantar da- quelle dia: feio com condição, cjue auiadeir dormir aMiner- ua Mas deixandoo lafefoi oEmbaixador queixara fuaSá tidade doArcebiípo, o qual por lhe fazer graça, mandou pcllo (eu fihco mòrdarlheas boas vindas, & incimarlheem virtude de fanta obediência, que logoíccornaíle a cafado Embaixador: (entioo em eltre mo, mas obedeceocomo ver- dadeiro filho de obediência, io Qnjs logo no outro

dia beijar o a fua Santidade, recebeoo cõgrandiírímas ÍÍ2- nificaçoés de beneuolêciarou- uiao, èí falaualhe fcmprccom a boca chea de rifo. Pretendeo o Arcebifpo que fua Santida- de lhe deííe logo licéça para fe iragaíalharcorn os feus frades da Minerua, & lhe íeuantaíle a obediência, que lhe tinha pof- to de fer hofpede do Embaixa- dor: rcfpondeo , que como if- to era em prej uizo de terceiro parecia neceíTario ouuilo pri- meiro. Succedeo entrar nefte tempo o Embaixador,aquem o Summo Pontífice, íem que oArcebifpo opduertiíre,ngni-

ficou por meneos não confen- tiílecm o largar, como cm rea lidade não coníentio, acrecen- tando fua Santidade, ijue fe queria ter ao Arcebifpo de Bra- ga contente da poitfada lhe pu- fejfe na mefa húpaÓ, ísf dous ouos ^porque dejla maneira fe ef- queceria logo de feus frades por quem tanto fufpiraua. II Ao diafeguintevifitou o Arcebifpo as ellaçoês de Ro- ma com ordem de fua Santi- dade pêra lhe moflrarem todas as rehquias,& coufas,que nel- las auia pêra fe poderem ver. Depões o chamaua cada clia a feu Paço, ficando íò com ellc por muitas horas:teueo algúás vezes por hofpede de mefacÕ lugar bem chegado a fy , fauor que fazem osSummos Pon tifices a grandes Principes.Pra ticaua entre mefa dos grandes feitos de armas dos Portugue^ Íes,defu3s conquiftas, & naue gaçoês , ôc tinha tão prontas noíías vitorias , como o macs apaixonado de nofla nação . Nos louuores delRey D. Se- baílião fe cfprayaua com mor gofto,concluindo , quefe não ejpantauafer tao inteiro najU' fiiça, tão ^elofo nafè , pões era Rey Português.

' CAPI-

172

Ca/itolo LXXXV.

CA PITO LO LXXXV.

DESPEDES R O A R- cebifpo D. fr. Bertholameu do Simmo Pontifce^i^ tor- na a Br aza.

Es oSumoPõ tificePioIIIL cm Rorna^ & ordenou ai— gúascoufasem glande vtilidade da Igreja^ tu- do por aduertencias do Arce- blípo. Reformou fua família, ilí dcsCardcacsj&maes fcnho fes.daquclla Corte. Mandou q Ciuiíoa prefença eíHueíTem os Riípos aíIentadoSj,oqueatèen táo fenão víaua , com grande ícntimcncG de todos os Prela- "dos,mormente Franccfes , & Alemães. Concedcolhe pêra fua peííoaj& perao Arccbifpa- do muitas graças. Finalmente, quando feouue de partir ou- tra vez pêra TrêtOjI-he deu pê- ra ocaminho húa mula a mães regalada de fua eftrebarÍ3,cm q clle paííeana por Roma , cha- mada n Águia, que fempre cõ- fcruou pcra andar nella , mas por não ellar ocioía emBraga,

íeruia de acarretar cal, & a^oa pcra as obras do Collegio da Companhia, & em Viana pê- ra as defeu mofteiro, & de- pões tirada a albarda fc punha de fclla quando era neceflario vfar delia o Arcebifpo. Na vi- tima defpcdida tirou do dedo anel de grande preço , & o mcteo no doArccbifpojem fi- nal do muito que lhe ficaua af- feiçoado, & eftimaua fua ami- zade, &:com cfle íc enterrou o Arcebifpo, & peraeftceíFeito

0 conferuou toda a vida

1 Tcuc grandes, & faudo- fas dcfpedidas o fanto Cardeal Carlos Borromco com o nof- fo Arcebifpo, conhcccraõfe Io go como fantos em Roma, & como taes fc trataraõ,& efcrc- ueraó em quanto lhes durou a vida. O mefmo fes o Cardeal D. fr. Miguel Grislerio da fua Ordem, q depões veyo a fero Sumo Pontifice fcguintc , &: fe chamou Pio V. He efpanto como , ainda naquellamayor dignidade, lhe deferia, pêra lhe aceitar a renúciaçáo o não quis nunca ouuir, como nem Pio Iin. porque comcçando- Ihc húa ves a falar niíTo lhe ma dou cm virtude de fanta obe- diência , não fofle por diante, nem tornaíTc macs a fcmclhã-

tc

T>.fr.Barthôlameu dos ç^dartyres.

i7i

c,x6.

vU,

te requerimento , porq perdia tempo, trabalhaua debalde.

3 Foraó ly.dias osq o Arce biípoícdcteucemR.oma,qpor fere entre tacos fauorcs, lhe pa reccraó muitos annos. Sahio em Jó.de Outubro do mcímo annodei^ój. diílenaqlla ma- nha rniíla íobre a fepultura do Cardeal deAlpedrinhaD.Iorgc daCoíla/cu predeceílor noAr ccbiípado:jaz no Populo,mo- íleiro dos Padres Eremitas de S Agoftinhojqellequafl edi-

».' ficou grande magnificccia, Ã:nosdiflemos jvíem fuavida.

4 Q^uis o Arccbifpo Icuar as jornadas direitas a Loreto, pcraali viíitaraquelleSituario da milagrofa Camará ,cm que Deosouucpor bébzerfe ho- me nas entranhas da puriíTima Virçé Maria Senhora noíTa.Fi- caualhe cm caminho Monte Falco , onde venerou o corpo da gloriofa Santa Ciara, q cha- maó dcMõtcFalco/rcira xAgo (linha, vioo tratauel^Ã: tão fá- cil de dobrar,& menear,como fecftiuera viuo. Em Aísíscele brounoaltar do Seráfico Pa- dre S.Fráciíco, Ã: beijou aqlla terra fantificada os pès on- defe viraó impreíTos os íínais de noíla redenção. Outros fan tuarios foi viíítando,q por brc

uidade deixamos . Em Loieto íe tranfportou de maneira na coníideraçaõ dos myllerios, q ali pallaraõ^q de todo perdeo o vfo dos fentidos. Náo le po- dia, nem lábia deípcdirde táo bcmauécuradolagar,acadapaf lo volcaua pêra trás o roíto,<& lançaua os olhos onde lhe fica ua o coração.

$ DiíTe miíla em Matua pel lo Cardeal Hercules Gonzaga, qdoMjyo paflado era falecido, & ali jazia íepultado.No vi ti- mo de Outubro entrou outra ves em Tr eto,fcftejado de to- dos aqllcs Prelados, como que de nouo trazia osfauores,&be neuoléciadoSúmo Pontífice. Perfeucrou cm fua mefma in- teireza,&: refolução nas mate- riasdoCócilio,atè de todo o da por fechado, q foi cm 4. de Dezébro dcftc meímoánodc i5^3.Logoem8.deDezêbro íe partio aoReyno, defpedindofe toda a cortcíla dos amigos q alidcixaua. O mcfmo fizeraó oBifpo de Leiria, & o Embaixa dor D.FernáoMartinsMafcare nhãs, porq nã.o quiferaõ per- der fua alegre,& íanta cõucrfa- ção. O Biípo D. loaó Soares como dcterminaua viíítar os tos lugares de IerufaIé;tomou outro caminho, mas nao o

Ii

quis

374

Capitolo Lxxxy^.

qtiis fazer fem a béçáo do fan- to Arcebilpo,q die lhe trocou humílcic em íaudoíos abraços, ôc muitaslagrimas derramadas nadeípcdidadeparte a parte. 6 Na volta porMilao vifi- taraõ os (epulchros do grande Doutor da Igreja S.Ambrofio, S.Pedro Martvr ,& do Beato Amadeu, irrnáo doJ. Conde de Portalegre D. Diogo daSyl- ua,q jaz no moftcirode Santa Maria da Paz,qellefúdou.Eni Nillà da Prouêça,cidade marí- tima,& das principaes do Du- que de Saboya, foraó lançar a- goa benta íobre a fepultura da InfantaD.Breatiz íilhâ dclRcy D. Manocl,&: Duqucfa deSa- boya,q ali jaz enterrada. Vifita raõtábêo Duquefcu filho, q então ali fe achaua íuaCortc. Paflaraó de Niíla a S.Maximi- nos cidade aíTàz conhecida pcl lo dcpofitoqem íi têda fagra daMadalcna,adoraraóno coto da a humildade. EmAix cidade principal na mefína Prouéça, deu a conhecerão íànto Arce- biípo Ecclefiaílico,quccm Tréto o tratara :.o Cabido lhe mandou preféte dcfruitas, &: poT noite, depões de eftar a- '^afíalhadò-jO felícjou cavarias ifhançQnefas muito canta- das ,tòcfes'ao diuinOj&quaes fa

bialhepoderiáocõtentar. Em Auinháo cidade do SúmoPòti ficc,lhc ícz grade recebiméto o Biípo de Fermo Vicclegado de fuaSantidadcrquiferao ali deter algús dias , mas a cõpanhia, & prcíTa q trazia lhe valerão en- tão por cfcufas, fendo a vcrda* dcira a grande humidade com que fugia toda a aura popular, dcaplaufo mundano. 7 De Narbona tomou oEm baixador D. Fernão Martins Mafearenhas a poíla. O Arce- bifpo,& macs cõpanhia fc vic raõ a Monfcrracc,& naqlladc- uotiílima cafa tcuc deuotifli- moscoHoquioscõaRainhados Anjos.Decédoa Belpuche pc- raalifazcrnoite,chcgou pouco depões aMageftade de iRcyD. Felippc oPrudéte,qdasCorccs de Moção paflauaaBarcelona: acõpanhauao feu grande priua doRuyComes daSyluaPrinci pc de Eboli por cuja indufttia ioubcdo ArcebifpojÃ: lhe dou dar as boas vindas. Por'cíla merce,& porlcuar'nouas fuás a elRey D. Sebaftiaõ,lhe foi bei jar a mão o Arccbifpo-.foraõ cx traordinariososgafalhados qcl Rey lhe fes,cõ quãco oArccbif polhcnáofalou nucafcnao por Alteza, & pcllostermosjcomo dlc depões diíTe a RuyGomes,

com

T>.fr,BarthoIameu dos ç^artyres.

37 5

x.jp.^44

com que leíalauaaos Rcys de Portugal, porque a Majelbdc (dizia cllelera própria dcDcos, & não dos homens^ por macs emíiiencc que toflc o lugar em que o próprio Deos o> íubli- mou.O Principe Rui Gomes o vcyoeípcrar à rua , com to- do o bom que cncáo acompa- nhaua a elRey,né con fentio q dormi íTcfenáo nas mefmas ca- ías em que eiRey eftaua agafa- Ihado , acompanhandoo íem- pre ate o oucro dia o defpedir. 8 Tcue muito que ver em C^aragoçanaauciquilíiraa, & nobiliííima caía doPilarja pri- meira em quea mãy de Deos, viuendo ainda em carne mor- talíoi venerada dos homesTé aqui em Caragcça a glorioía VirgéMartyr Santa Engracia natural defta cidade de Braga, fuasprecioías relíquias, & 18. cõpanbciros íeus q cila pa- deceraóríaóos depofitarios de taÕprecioío thcfouro os Reli- gioíosdeS.Ieronyrao. Vioos, & venerouos o Arcebiípo particular affeito de íua alma, notando muitas das particula- ridades , q na vida da mcfma íanta deixamos referidas. 5) Não era rezão que paf-

faíTc tal filho por tão junto à pátria de íeu bemauenturado

pay S. Domingos, & não ado- rallc aquclle primeiro berço de íeu nacimento:tudofcscm Calcrucg3,beijaua híía, &cem mil vezes a terra may , & cria- dora de tão cíclarecido Patriar cha.Ao paííar por Aranda,íeh- do holpedc dos íeus frades , o leuaraõa ícpultura de íeu fun- dador o Biípo do Porto D-.Pe dro da Cofta, íobrinho doCar dcal de Alpedrinha, o qual íen do capcllaó mor da Imperatris D. líabelmolher doEmpera- dor Carlos V. fora depões Bif- pode Leaõ, & vltimamente de Oíma, a cuja Diocefe perté ceaqiicllavillarali lhe contarão grandes virtudes. daquellc gra- de Prelado, & quaíi todas as q nò> eícreuemos cm fua vida. Ouuioas com fantas cnucjas, porque as mães pertcnciaõ a caíamentosdeorfans, cmpa- ro de viuu3s,couíâs que o Ar- cebiípo íempre trazia nos d- Ihos, & coração. I o Quis cm Salaraãca agaía- Iharícdcíconhecido no íeucol legio de S. Efteuao, mas ordc- nouDcos pêra cóíolação,& e- dificação daqlla íanta, & íapié tiílima comunidade q logo o conheceísé.Fcftejarãnocomo íc polias portas lhes entrara íeu grádcPatriarcha S.Domingos.^

CettaLdes Btfpos do P«rt.2.p, c, 34. er /Í4a addf.

lii

Deu

376

Capitolo LXXXVI.

Deu em quanto ali Te deceue, ordésaos Religiofos, praticou aos nouiços , òi deixandoos a todos bem íaudofos , lançan- dolhc por vitima defpedidaa benção, feveyo recolhendo a Portugal. Entrou em Bra- ga trcs annos depões de fair delia, fe os queremos contai de Coreíma a Corefma, tantos , vaõ da fegunda feira depões da Doniinga daPaixaó, em que oannode 1561. íepos a cami- nho,atè oSabado antes da mef maDomingadoanno dei5(S4 cm que finalmente acabou fua jornada.

GAPITOLO LXXXVI.

DO MÃES QVE LEE fuccedeoatefiM hmauentu-L. rada mortes

A 5 acabauão de crer os ci- dadãos deBra ga tinháo dos muros a- dentro afcu tão defejado Ar- cebiípOjporquccomo entrou na noite do Sábado, fem fer fé- tido, ainda que era eíperado,fi- cou fua chegada incerta,quan- doao Domingo pella manhã

clle apparccc no púlpito , dan- dolhe as boas eftadas com húa pregação, que foi aualiada pel- la melhor , qatèli lhe tinhâo ouuido. Pregou tambênoDo mingo de Ramos,fcz o oíficio de laua pès, pregou o manda- to na quinta feira , a Refurrci- ção na Pafcoa, & húa das oita- uas, tudo como fe viera deal- gíja recreação, & não de jorna da tão comprida. 2, Occupouíelogocomo edifício do Seminário, & fem duuida foi cftc de Braga o pri- meiro q depões do Concilio Tridcntino fe edificou. Ouuc grandes, & varias diííiculdades, na contribuição das Igrejas ; rodas cõpos,&: aquietou com Íuauidadc-Deulhe por Patraõ, Sc auogado ao príncipe dos A- poftolos S. Pedro , & tomou tanto a fua conta cfta obra , q no temporal por ventura não têfemelhantc nas deftaquali- dade^Sc no cfpiritual rcfpódeo fcmprc aos fatos intétos dcfua primeira fúdação. Saó os collc giaes 44. em numero, ouuem aos meflres doColIegio da C5 panhia de Iesv , & os Theo- logos aos Padres Eremitas de S. Agoilinho i tem emcafa, lem das conferencias , & dif- putas ordinárias , hua lição de

canto

T>.ft\BarthoIameu dos (^Martjres.

177

canto todos os dias. Vcftem roupetas pretas , lobas roxas, becas verdes , com léus barre- tes redondos. Viuem nomcf- mo Seminário os moços do CorOj& faõ depões de certos, annos de feruiço admitidos às becas dbs Collegiaes, cm que entrados continuaó o tempo detetminado. SairaõdcfteCol legio pcrao gouerno das Igre- jas doArcebiípado, & pêra va- lias religiões fujeitosgrádcs,tu do fruito do muito zelo, & in duílria do fanto Arcebifpo D. frei Bcf tholameu dos Marty- rcs.

3 Acabado cftc trabalho

ào Seminário , entrou em ou- tro mayor, de dará execução os decretos do fa2rado Con- cilioTfidentino,no particular da vilí tacão das Igrejas, ou da viritaçãodoCabido,ou dasOr dens militar es^ôi regulares .Co mcçou pellas parocliiaes da cidade. Ouue fobre efta fua rc- folução grades defgoftos nos Capitulares aquém pcrtêciao; mas nem iílb foi baftantc pcra ceder híí ponto do começado^ aílí daqlla primeira vcz,como da fegunda, quando repetioa mermaviíita,atèqa contenda veyo a dar na cõpoíição , que hoje vemos ,deqrcfizcraõcõ

cordiascícritas,que ícguardáo pontualmente entre os Pipia- dos,&Cabido. Não forao me- nos os inconueniétes c] Tc lhe oíFercccraõcomas Igrejas das Ordens,declinando todas a vi- íiraçãodo Prelado, pella exen- çáo q ate ali pretendiaó gozar. Mas como o Sagrado Conci- lio as fojcitaua tambéaos Or- dinários , cilas foraõ .'viíltadas, efpantandofc todos do valor, com que o fanto Arcebifpo re líftia,á<: fe oppunha a hum in- finito tropel de difficuldadcs. 4 Publicou pcra o Setê-

bro de ijóíí. Concilio Prouin- cial ncíla cidade. Acodiraõ a el le prontiílimamcnte todos os íeus Bifpos fuíFraganeos , D. fr.Ioaõ Soares Bifpo deCoim- bra,D.AntonioPinheiro deMi rãda,D. Rodrigo Pinheiro, do Porto; Vifeucftauaentãovago. Entrarão em Braga no fim de Agofl:o,&jijtosjà todos os Sy nodaescmS. deSetêbro fcfta donacimcntodaVirgê Noífa Scnhora^nefta mcfmaSé, & Igreja Primacial fcteuea pri- meira feífaõ do Concilio. Du- rou efpaço de fetc mefes . Oi decretos foraõ de grandiíTuna vtilidade a toda a Prouincia, &como tacs approuados pella SèApoftolica,depoesdegrãde

Iii

exame

i3.7«

Cafitolo LXXXVL

J./.C.IJ

exame naquclle niefmo tri- bunal de Cardeaes , infticuido pêra declara'ção,& duuidas oc curencesíobfc o íagrado Con- cilio Tridentino. diflcraos delle,quando tratamos dos de mães.

j SeguiofeoànnodcijfíJp. mcmorauel ncfte Rcyno pcK las grandes calamidades , que ncllcouue- A maior foi a da pelte,tomaraõ os primeiros re bates ao fanto Arcebifpo em viíitação entrado o anno de i570.Rccolheoíc logo delia, &: com todo ocuidado, & vi- gilância j proueo no remédio dosferidos,mandando'os curar na cafa da faude, que ordenou fefizeíle na deuezado Arccbif po,& na preferuaçáo dos laõs, acodindo cm pcíloa, & a toda a hora , como fe na vida de ca- da hum lhe fora a própria j ad- miniíhaualheos SacramétoSj vifítauaoss & curauaos ^daua- lhe em abundância oneceíTa- rioj&taÓ confiado andauana diuina proteiçáo pello mcyo dos corpos mortos , fem prc- feruatiuo algum, como ícfota pêra a fuaSè acompanhado do Teu Cabido. PretcndeoelRcy D. Sebaftiaõ, & o Cardeal D. Henrique, antes lho manda- rão por cartas repetidas fe faif-

fe dacidadcjatè abradar o mal: foizdo,6i prouidenciadePrin cipes ,qu€ íabiaó cílimar a pef- loa,^ virtudes do Arcebilpo; mas daqui mtímo tomou o bom paftor occaíiaõ , & reío- luçáo do que fes , beijando ^a maõ a fuás Altezas pelfo cui- dado,que delle tinhão^ efcreué dolhe, queje o ejlado emqDeos ospuftray os obrigaua a cuidar de tão inútil yajfallo^ a qua- to o deuiao obrigar a elle as oue- Ihas^de que Deos^fi^rapaflor^ entregado! he não corpos ^ moa almas yis/' obrigãndoo a dar a vi da por ellas. Deixoufc ficar na cidade, & por fuaboa dihgcn- cia, ou o que he mães certo, por fcus grades merecimétos,

0 mal ceflbu cm breue , & du- rou muito menos tempo , do que em outras pouoaçoêsde menos confíderaçáo,&frequê cia , do que então era , & hoje he a cidade de Braga. Ha defta peftc memória na pedra do cruzeiro da ponte de Guima- rães,onde fe o íeguinre,«S'6- do Arcebifpo de Braga D. frei Bertholameu dos Martyresjou- uepeíle neíia cidade , o anno de

1 sjo. ísf^s empefladosforao ira i^idos a ejla deue^a.

6 vifitou ao mefmo Rey DiSebaftiaõ em Coimbra quá

do

D.fr.^Bartholameu dos oylí^rtyres.

379

Àdê,

\

doaliveyo no anuo dei 571. prêgoulhc no mofteiro de Sá- ta Clara febre o Euaneclhodo Cencuriaõ,por clRey lhe íini- ííeargoftariadeo ouuir,foiâ matéria do íermaõ louuar a grande íè dos Porcugueícs^ a deu3çáo,& zelo de (eus Reys, quanto oíFereccraò a Deos de íuas rendas entre ChriíHos, quanto derramarão de fan- gue nas cmprefas contra in- fiéis.

y Pcrderaõfc no anno de

I j-74. quafi todas as nouidades por Entre Douro ^ & Minho, & Trasosmõtes , oLiue por cf- fe refpeito no anno fcguinte ^^ ^nS' gt^iide fome pellas mcfmas terras. Teue noticia delia o ScreniflímoRey D. Se- baftiáo : remedeoua,com má- dar a Caffcella comprar quatro mil moyos de paój & cnuiou ao Arccbifpo D. fr. Bcitthola- meudoze mil cruzados em di nheiro , peraque os rcpartiílc com os pobres. A carta he mui to pêra notai, particuilarmen- teneftes tempos. tct.rer. g Reuerendo cm ClmUo Pa- dre Arcebifpo Prim^dmigo.Eu elRey ^os enuio muivo faudar^ como aquelle, de cujo <virtuo^

Iacrefcentdmento muito mepra- '^eri4. Por ter fabiAo a gande

memfoU

6s

eíierilidade-y i^ falta depaó^q o anno pajjado ouue nefas Co- marcas de Entre Douro ^ip' Mi- nho , is^ nas de Trasosmontes^ if parte da^ da Beira,^ otra- halho^tf necefsidade, quepade- cem os moradores^ íf pejjbas po br es das ditas C ornar cas.E con- doendome dijfo tanto ^comohere '^ao, tf defejando de lhe dar ne- fie trabalho todo o remedw^qfoj fepofsiuel y tenho madado a Ca- ítella húa pejfoa de confiança^ afazer contratos com mercado reSf peraque tragao a ^cender a eíias Comarcas quatro mil mo- yos depaÓ j parte delle ate 15; de Mar^o^ if outra parte tefini do dito meí. E peraque os mer- cadores folgue, mães de ofa^er^ isf o ijendão a preços mães mo- derados Jhe mando dar por if- fo de minha fazenda oito mil cruzados . E eUa pejfoa leua or- dem ,pera fe pedir faqua defiá cantidade de paÓ, a elRey meii tio fendo necejfario. E alem di- flo tenho tambe ordenado de ma dar logo outra pejfoa com do^ mil empados em dinheiro de q faço efmola aos pobres mães ne- cefsitados deliam Comarcas , os quaes fe hao de entregar a 'Vos, i;f aos mães Prelados delias pê- ra por yo/^a, tf fua ordem fe re- partirem pellos ditos pobres ^ tf |

li 4 efia

3SO

Capltolo LXXXVI.

jflapefoa partirá com efle di- nheiro dentro de dès dias ^^ an- tes dijjb nuolo quis efcrtuer , pe- raqiiefnifiqueis aopoiío , isf po- bres , quanto defejo de lhes acu- dir ,ís^ dar remédio emfeu tra^ kalhojsffe animem, i^ confolê cem ijjo em algúa maneira. Gaf- par defeixas afe^emJlmeirim ai^,de Janeiro de i^is- Jorge da Co^ía afe^efcreuer. Rey. O íobreícrito dcfta carta diziar^o Reuerendo emChrifio Padre D. fr.Bertholamett dos Martyres Arcebifpo, ^ fenhor de Braga Prima^das Hefpanhas do Con- felho^^c.

9 No annodeij-7<5. foiaf- íiftir na cidade do Porco a CapiculoProuincialda fuaOr- dcm publicado naquclla ci- dade, pcllo gofto ,queleuaria de ver a lua Pr ouincia toda j ú- ta.Foi muito pêra ouuir a pra- tica que aos Capitulares fesdo intento de fcmclhantcs ajuta- mentos , & da obrigação, que como a raaes velhos , a mães doutos , a raaes authorizados, lhe corria de precedcré cm exê plojOsqueemcans , letras ,ã: goiíerno lhe íicauaó tanto a- trss. Pregou, durante o Capi- tulo,cm.S.Domingos:ouuioo todo o Porto: feguiofe ao fcr- balo,o rnacsno-

maoí^randcal

taucl foi a conuerfaó de hCia pecadora pt;'bhca,que naquel- la cidade auia.

Seguiofe no anno de

IO

1578. a perda delRcy D, Scba- íliaõ,& doReynOjchoroua,& anteuioa muito primeiro o to Aícebifpo,ô«: ainda que pro curauaremedeala, náolhefoi poíTiuel, pella determinação, & refolução com que clRcy entrou na cmprcza. Nas altera çoés do Reyno, & rezoes del- le,efteucfcmpre neutral. Por fugir parcialidades fc foi pcra Tuy cidade deGalhza, onde com o Bifpo do Porto D. Si- mão dcSà, foihofpcde do Bif po D, fr. loaõ de Torquema- da/egundo o que em outro lugar cfcreuemos. Aqui ceue húapcrigofa doença, cauíâda íem duuida da defcompoíi- ção do Reynor conualcceo de vagar,& ouue tempo entrctã- to pcra as coufas tomarêaíTen to, fuccedendoncfta Coroa elRcy D. Filippe, como filho da Imperatriz D. líabclirmã deiRcy D.IoaõoIII• l I Recolheofe a Braga, & pouco dcpoeí foi chamado a Cortes, que o mefmo fenhor Rey conuocaua em Tomar : nãoquiícraaíliftir, mas clRcy por cartas fuás lhe íinificou

quanto

CataUos Bifp. do Por,2'p4r 3S.

D.frfBartholameu dos xi^M^rtjres.

351

f.27.».4»

C7-J.

Difcrip, de Poru

quanto eftimaria velo, &C to- mar de luamaõ o jaramento acoflumado.Emíim abalou de Braga, entrou cniTomar com a cruz Primacial diante , & cila aruorada foi falaraclRcy, ^ íahio quantas vezes o fez de fua caía , mandando de tu- do paílàr inftrumentos, que fc lançarão nclle Cartório, de q nos j à fizemos menção no tra tado da Primazia j onde tam- bém referimos a entrada , que fez coma mefma Cruz pella cidade de Toledo , quando íc vinha recolhendo de Trento a Braga , le bem as j ornadas por onde veyo parece que foraó diíFcrentés da eftrada de Tole- do, Dà tudo por tcftemu- nha de vifta deite cafo o Lecé- ciado Duarte Nunes deLeaó aoCõde de Portalegre D loaõ daSylua mordomo mòr,& dos cincoGouernadorcs deftc Reyno,aoqualo ouuio mui- tas vezes contar com grandes abonaçoês da conftancia com que o Arcebifpo defendia as pccminencias de fua IgrcJ3,fen do por outra parte taõ humil- de , & taõ contrario a toda a vaidade humana. II Acabadas as Cortes

inftou grandemente com fua ^4ageftade foflefcruidodclhe

aceitar a renuncia do Arcebií- pado,& fazer com fuaauthcri dadcRcalaouueíIeoSíjmo tificeporbem.AíTi foi,queEl- Rey veyo no que lhe pedia, &c em Roma procurou o eíFeito, repugnado a mayor parte dos Cardeacs,&: ainda o Summo Põtifice Gregório XI II. a qué mães Icuou ao confentimêto a vontade declarada delRey,q a fua própria-, como quem fa- bia de quanta importância era hum tal Prelado, ao aâiualgo- ucrno da Igreja. Foilhc inti- mada juridicamente por bum breue Apoftolico a aceitação darenuncia,emxo. deFeucrei- rodoannodc ijSz- citando vi íítandoemBarrofo.Dalifc pac tio logo a Viana, em bufca do fcu moíteiro de Sanra Cruz, onde tinha determinado paflar o reítante de fua vida , não le- uando outra pcnfaõ , que a de mil cruzados , qnc ainda à for- ça lhe fizeraò aceitar. Entran- do pellas portas da Igreja diíTe banhado em húaccleítial ale- gria, hxc reqtties mea in fecu- lumfíCCuUi hic habitaho, quo- niam elegi eam ^querendo dizer que naquella cafa moraria, & morreria contente, pocs pêra cíTe fim a efcolhera. A vida q ali fez foi como hua repetição

daquelles

3»2

Capitõlo LXXXVL

cíaquclles annos, que antes de Arcebiípo viueo rcligioío,tão obíeruante de toda a diícipli- na rcízular.como Ic nelle não ouueraó caas ác velho , nem dignidade de Primaz. Particu- laridades, & mimos le intenta ua o Prior fazerlíios , fentiafe, & mortificauafe grandcmétc, alem deosnáoaceitar.Difpcn- façoés nas ordens de caía , & gouerno da comunidade, nem as admittia cm fua pcílba, nem jà^pcUa pena q nilío lhe <Jauíío,oufaua ncnhu Prelado offerecerlhas. Era o primeiro em todos os aótos de obediê- cia,& mães. appreíTado nos mães penoíos-

13 Os quatro annos pri- meiros depões de íc recolher a Viana, prègauafempre os Do- mingos, & dias fantos pcllas freguefias do tcrmo,&por não fer penoío aos Iauradores,fc rc colhia a comerão Conuento. Era pcra ver o fanto Prelado occuparfctodo poreftcsluga rinhos em cnfinar o final da Cruzj&: o Padre noíTo aos me ninos , tomandolhc elle pró- prio a mão , & formandolhe com ella as Cruzes^ajudãdoos a formar, & pronunciaras pa- lauras fagradas;ellcs lhe tinhão cobrada tara affeiçáo,&deua

ção^qucao caminho o vuihão receber ,& repetira doutrina paílada: leuaualhc ícmpreo toalgij mimOjOucouladede- uaçáo peramacs os cípertara irem por diante. Ningué o via neftes fantos exercícios jq não derramalTe njuitas lagrimas de confolaçaõ. E na vcrdade,que outro efpeótaculo podia auer maeí grato ao Cco , mães cf- pantoío aos homens , que Primaz das Hcfpanhas cníi- nando paftorinhosjCÍcpocs de tantos annos de Cadeiras, de- pões de com fuás letras, & pru dcncia cfpantaraqucllcgrauif- fimo ajuntamento, que na ci- dade de Trento o ouuío,&: fc- guio com tanto applaufo, co- mo fc nelle vita refuícitados os mayores lumes da Igreja Catholica.

14 Oito annos pouco mães, durou neflc feu retiraraéto de Viana, todos cõtinuo cxcr- cio de virtudes , ou pelias que exercitaua em feus achaques, & enfermidadcs,ou pelias que obraua , dcixandofc todo go- ucrnar pclla vontade de quem tinha por fuperior. Trazia de continuo na boca aquellas pa- lauras do Saluador ; non 'ueni f acere 'voluntatetn meam , fed

eius^qiú mifiit mt^c, Q^rcn-

J

D.frfBartholameu dos a^Martjres.

383

do íiniíícar , que ícnáo retira- ra àquelle íeu morteiro^ pcra fazer a fua voncadc/cnáo a de Deos pay , & fenhor feii . A infermidadc particular de que finalmente morteo , foi a que os Médicos charaaóAngurria: caufaualhcgrauiílimas dores, foíFrias com grandilTima pa- ciência, & femprc com os di- uino5 louuorcs na boca. i j Logo que nefta cidade íe foubc fer a doença mortal, acodioaVianà o lUurtriíTimo fenhorD.fr. Agoftinho deCa- ftro Arccbifpoadlualjcom os principacsPrebcndados do Ca bido,& cidadãos de Bragada vi litaloA dcfpcdirfe dellc. A to- dos agafalhaua com os olhos, comas palauras, &comâalF4 bilidadcde feu afpedo. Admi- niftroulhe o fenhorArcebiípo o Sacramento da exc rema Vn- çáo,rcfpondendo ellc fcmpre a tudo com perfeito juizo, & aduertencia^fcndo nos Salmos Pcnitenciaes o que dizia hum vcrfo, & os prefentes outro. Sc íc paílaua,ou mudaua algú verficulo,ou crraua fyllaba^ a- codia logo emendando , & fa- zendo tornar a repetir. Final- mente chcgandolhe a vitima hora, entre fuauillímos collo- quios,& faudades da pátria

bemauenturada , pêra onde íe partia, deu fua bêditiíTima al- ma a íeu Criador húa íegunda feiraió.delulho de i;9o an- nos , entre as íete, & as oito da carde,eíbndo cm idade de 76. annos,& dous mefes , fefenta, ôc dous perfeitos de religião, vinte & três de Arcebiípoa- dual,& oito,& algús meies de pões deauer renunciado. 1 6 O fanto corpo fe deu a fepultura com infinito con- curfo de gente,aífi da villa co- mo dos lugares veíinhos, que todos acodiraõ a beijarlhe a máo,& a tocar fuás preciofas relíquias. Feso o fficio funeral o mefmo fcnhorArcebifpoD. fr. Agoftinho. Enterraraóno metido em hum caixão forra- do de veludo no presbytcrio da Epillola, mandandoo guar dar a villa com gente de armas por cfpaço de 3o*dias,peraque a caio lho nãoroubaífemos defta cidade, como taõ pró- prio feu.Alicftcuc o fanto até oanno de 1609. quando aos 14. de Mayo com grandiílimo triunfo, ôc grandes fcftas, cm qucViana moftrou fua riquc- fa,& nobreza, foi tresladado à noua fepultura cm que hoje cftà no mcfmo presbytcrio, mas da parte do Euangcího^

metido

3S4

Capholo LXXXVL

metido o tumulo na parede, aííftindoacreslfldação oBif- po de Fez D.fr.Iorge Queima do,3s Dignidades, & Capitula res dcrta Sè, infinita outra cle- rcíía^o melhor de Braga, & de todo Entre Douro,& Minho, & Galliza, os Gcraes, & Pro- uinciaes de quafi todas as Reli- giões doReyno,rem outro nu mero fem numero de nobre- za, &pouo.Na fcpulturaíeiè o Epitaphio fcguiutc*

Deo OptUnoMaximò- Trater Bnrtholom^iu de Mar- tyribmOlifyponenfís, JOomini- Cíinus j Hífpanmruhi Primas^ Adíim tèr tnagnus hicfitm eU. qui ad Bracharenfem fedem a cellajyt aiebàt^ tanqun aregfto adcrucem raptm^cum fecunda poU Apoítolos^ dijpenfandyé Eâ- clefce gratia inter ai ios , 'VtSol inter minores Jlellás ^ ditíAnitm fulfjfet ^Summió Pontijícibus , 'Pntribuf^ Concilij Tridentini fpeãabilis^probatusyip' chariis- ingrauefcente atatejpote abdi- catafede^cellam monaUery hu- im^ quod condiderat^ libem re- petíjt\, lybi^tffanãeijixit^ dl- leãtts Deo^isf hominibus, Isf di nina patiens^ab ofculo Domini ajfumpttts efi heupauperúpa' ter^ rel/gioforum^amator pu-

dicitM^oemulãtime martyr, pro fejsiene doãor Jal terr^e ^ lucer- naardens,tf lucens, rarum ije rorum Epifcoporum exemplar^ tf Velut ddepsfeparatus a car- ne. Vixitannos 76. àprofefsio- ne Dominicana 6z. à conftcra- tione Epifcopi^z, a regrefuad ordinem S.ob^t anno Dhii^^o. die 16. J»/^, requiefcatjnpace^ Amen. itoufiaí.-

Em Português' A Deos de toda a bondade , l^

grande^. Aqui ja^fr. Bertholameu dos Martyres ^natural de Lisboa re ligiofo da Ordem de S. Domin- gos ^ Prima^ da>s Hefpanhas, Adam três "Pe^es grande ^0 qual tirado da cellapera a cadeira^ i!f Arcebifpado de Braga , que ! como elle di\ia^foi o mefmo que do Reynopera a Cru^,refplan- deceo entre os mães Prelados^ como Sol entre eflrellas^naquel' la graça de btgouernar a Igre- ja, própria dos Apoflolos. Ama- do dos Summòs Pontífices , í^ ejlimado dos Padres do Conci- lio Tridentino -.carregado de idade deixou de boa 'Vontade o Arcebifpado ^l:f tornou apouoar alegremente a cella^que efcolheo nefie Conuento^queelle tinha e- dificado^na qualpajfouoreflan te da ijida^amado de Deos , If

dos

T> .fr,BarthoUmeu dos (^artjres.

85

dos homcs^l^ "Viucdo em cotinuo trato coo Cco,por mejo de altas cotcpla^otsjsf arrebatamentos da alma: foi leuado a elle de en- tre os brados , i?" ojculos do Se- nhor. Ày Verdadeiro pay dospo bres^i^ Religiofos , amador da purec^a^martyr em defejos, dou- tor ^(^'mejlre naproJiJ?ão,fal da terra^tocba abrafada^Í!f refplâ decete^raro efpelho, Isf treslado dos yerdadeirosBifposiisf entre todos como a banhajjfgrofiura^ apartado da carne.Vmeo 7Ó. an nos^6z religiofo 3 2. . Jrcebi[po,8. depões^ tornou pêra aOrdefals ceo no do Senhor de i f#o . aoi 1 6 de lulho.Defcafe em pa-:^. Ame.

CAPITVLO LXXXVII.

CONT AMSE ALGV'

mas ^virtudes dofanto Ar-

cebifpo.

lis^^ãl Efta darmos algua

IJJtvhl breue noticia dasgrá

b^SsD des virtudes dcfte

grade A''cebifpo , & primeiro

daqllas<^ tocáoaDcos,& a fcus

íantos,depoesdas q tocão a fua

pcíroa,ft:às do proximo:o tra

balhotodo fera em efcolher-

mos,náo o q auemos de cotar,

masoqdcforçaauemos de pai

farcm íiIécio,porq todas faõ de

calidade,q ale de merecer êcfcri

tura,lc reprefentaó à pena ,cõ

prerogatiua de primeiras. 2. A Deos teue íemprc tal a- mor,& rcfpeito , q o tratar toda a familiaridade,era ccu la prodigioía,como o tcmia,& reueréciaua. Dizia, q o amor^l^ temor deDeos eraÓ as duasa^as CO qa almafubia a elle , Ò^ qfe nao 'voajsc iguais núcafe leua- taria da terra: Muitas vezes foi viflo cm oração, todo em nouellado , í?^ tremêdo como íe padeceíTefiio degrade fez ão. Perguntado por peíToas a quê cõmunicaua fua alma , daqlle accidêtc. rcfpôdia, Ò^^tte »^í> ha de temera húDeos/e que ha de fer julgado? Outras vezes fea- brazaua tãto,& acedia cm dcfe jos,& faudades do amor de feu Criador,qtotalmétedes falecia, ôc ficaua como fora de fy. Are pêra o frio corporal comaua por remédio a oração, a quem chamaua afuafogueira.Todos feus negócios rratou féprecõ Deos,6i: mayor perfeuerã- ça osde mayor difficuldade-Da puriífima fóte de fua diuiniíTi- macÕuerfação, tirauaaprudê- cia q os encaminhaua,& aca baua.Pcdialhedecótinuo, q fe elle algíá dia, deflc defpacho, q nãofoírcguiadoah5ra,& glo- ria fua,oulhe fecaííe obraçoda pona,ou lhe prédefTc a lingoa,

Kk pêra

386

,Capitolo LXXXVIL

perac] não pudeíleíalár, ef. creuer.E parece,c] Dcoslhocò cedeo,porq todos feus proui- mêtos, codas íuas fentéças fo- raõ recebidas íemprc,atè da cjueilcsa quem enconcrauáo, & condenauáo. 3 Ermerauaíe na deuaçáo,&: veneração do Sátiílimo Sacra - niéco,dizia todos osdiasmif- ía,nas doeçascomúgauaa meu dc,&.neílediuiniíljmo medi- caméto tinha o principal reme dio de fuás enfermidades . l.c- uauao muitas vezes por fua meíma peflbaaos enfermos,& mães frequêcia,(]uãdo anda uavificando. Tinha grade cui- dado_,q os vafos,& ornamécos fagrados fofsêquaes cõuinha, pêra o q daua muitas, & groí- ías cfmolas.A Virgê Sãtiífima Senhora Nofla amaua afFei- todefilho,& feruia vigilan cia de fiel criado.Inuocauaa particulares orações, & todos os dias a dcuaçáo de feu ro- íario. AoApoftolo S.BerthoIa nieUjde cujo nome fcchama- ua,aoAnjo de fua guarda, Sdde feu Arcebifpado encomédaua frequécia a (y,& a fuás Que- lhas,peraq as guardaíré,& defê deíTé.O rhefmo fazia aos fan- tos Arcebifposifeus predeceífo res,pcdindolhcfauor,& ajuda

pêra lhes fcr íemclháte na vida, a 111 como o fora na dijinidade. 4 No trataméto de fua pcf- íoa foi a mefma pobreza,o ha- bito de q víaua ainda Arcebif- po,cra ordinariamête velho,^: por arte lhe faziao tomar algii nouo,quádo aqlle não cfta- ua pêra apparccer.Rcmendaua por íuas próprias mãos o ve- rtido interior.SédolheneceíTa- rio trazer híja das pernas empa rada híía bota , por caufa de ccr*tacnfermidade,deixou ficar a outra a mcya de eftarac nha,dizêdo, ^padecejfe o frio, pões nãopadecia os achaques da côpanheira. Níica vfou de ou- tra cama Arccbifpo, qa q tcuc religio(o,tres taboas por leito, hii colchão, duas mantas,hum chumaço,nataboa que lhe fica ua na cabeceira,eflas duas letras S.B.fobre q fe lançarão vários juizos em quáto cUeas não' de clarou. Queria dizer Surge be- fiia,pov tão mal empregado ci níia o defcanfo , q ali daua ao corpo. Nuca depões djreligio fo ate a hora cm que raorrco, lhe puderaõ pcrfuadir vcftiflb linho.

j Raramctcdefpia o cilicio, oupalfaua noite em qfenão diciplinaífe , ate derramar fan- gue. lejuaua todos os jejús da

fi

ua

^.fr.Bartholameudos c^artyres.

387

fuaOrdscóa mcfmacllreiteza, q íe nclla víajalé deftes acrecé- taua outros de própria deiia- çáo. As dilicias de fua mefa,c- ra5vaca,&: peixe ordiíiario^da qui não pallàua/cnáo poí en- fermidadcfoi certo , q menos gaftou íua pcHoaos aiinos de A rccbifpo , q o menor ca- pellaúdefuacaía. Ascaualga- durasdcfuacllrebaria, quádo ellc,ou os fcus ícnaõ fcruiaõ delias , andaiiáo no fcruiço da cafaj trazendo agoa, lenha , & outras coufas neceílarias , Sc quando diftoauiaq fazer mandauaas trabalhar is obras doCoUcgio daCompanhÍ3,ou do Seminário. Cõefte regalo tratou a Águia taó efl:imada,q cm Roma lhe deu o Sumo tifice Pio IlII.Viaa muitas ve- zes có a carga às coílas,& dizia: E "Vos Águia cuidaueis q Dos a- uia de njderfer mulaPótifical^ pões por ^ofo bico aueis de ga- nhar a re^íw^que opaó doArce- bifpo hepao depobresyi^ mofe come ociofo,

6 Pcra fuás ouelhas tcue cm todo o tépo entranhas de ver- dadeiro pafl:or,â quê fem cafti go podia emendar , nuca o ca- ll:igou,por maesenormcs q fof femasculpas,& pecados .Pedir lhe pcrdáOjS: moftrar ar repê-

dimcco.era Hcar perdoado. A- cóteceolhe muitas vezes dar de repete nas vifitaçoés os Ec- cleíiafticos culpadoSj& o co nhcceré, porfe cõellcsamcfa, praticádolhe dafermofura das vir tudes.da abominação,&tot pezados vicies, i^ quando lhe parecia os tinha rcdidos^en tão fe lhe daua a conhecer, o f- frecédolhe o perdão, íua amifa de,& authoridade pcra tudo o qUiefoíTeneccílario. Porefte modo emmédou a muitos , q ou tarde,ou nííca tornariaó ao caminho da ley Diuina. 7 Vfaua no rcprêder Jc diri uaçoés, ôícquiuocaçoés ,aííi por melhor intimar ao repre- hêdido feus erros , como por arguméto da quietação defcu animo,q mães fe alterou, por mayores qfoífêas cccaíioés-A híá Sacerdote fulano dcBcnaui des tachado de beber muito, & de viuer foltaméte, àiííe reprê dêdoo.Demaneira qtfosfoisfu lano deBenauides ^ chamar anos eu fulano de bene bibis^isf de ma yiuis, o q daqui por diate Vos cQutJbe malh bibere^íjfbení fiue re. Ao Bailio dcLeíla, chamou em outra rcprchcnçáo, nao Bailio, maís-^adiOi pclla pou- ca conta q tinha das'Igrcjas q lhe eraõ dadaí cm comenda.

Kki.

Acerto

38S

Capítolo LXXXVIL

Acerco juiz de fora, q todo fe gouernaua por húa molhcr deígoucrnada na Iióra,&côciê c\3i,á\&:basia qfois^lff ~Pos cha maojuic^^defora, quanto melhor yosfora efi ardes fora dejui^: emmendahios^ijffenao} Béenté deo o j ulgador o amcaçaua elRey, & não feruio pouco pe ra fua emenda. Tiroulhe a oc- cafíaóda villa, ÔJ tcrmo,peraq auillnhançalhcnáo foíTe ten- tação de recaída. 8 As culpas, q macs fentia, caftigaua,eraóas q tocauáo na imunidade da Igreja. Ao Ouuidor de Chaues mandou crtar toda húa manha de hum dia fanto a porta de certa Igre- ja,cujas porcas quebrara , pcra delia tirar preío, hií ma- chado às coftas em corpo, & defcubcrto. làfe Ihctocauaô nas preminencias defualgreja, & na dignidadePrimacial,aqui parecia,lcndo verdadeirametc humilde decoração , a mefma fobei ba,& vaidade. No Conci lioTridêtino decerminou,&aí (\ o cfcreueoa fua Sácidade, de fe não achar em junta algLÍa,fe não ouuefledc preceder no vo to,& lugar aos raaes Arccbif- pos,q não toflemPrimazes,& cóeffeico hs precedeo,atèqrua Santidade ordenou, por cuitar

inconueniéces , fcaíTcntaílem, &c votaílcm pellos annos da fa graçáo , os q foílcm iguais na dignidadejCÍcrcuédolheo qui- felfcaucr aíli por bê, faluas to- das as prcrogatiuas dei ualgre- ja,a quê poraquelladetermina çáofua não pretêdia prejudi- car. Acima dilíemos oqpaílbu em Tolcdos& em Tomar ío- bre efta matéria. Niáca aceitou cartaaindaque foíTedepeílbas Reaes,le nofobrefcrito lhe náo chamauaõ Arccbifpo Primaz: tal fc intitulou cm todos os liuros,q tirou a luz, Igualmen te defendia a jurdiçáo têporal dcíla cidade, òi dos Coutos pertencêtes à mitra. Sabido hc oq lhe aconteceo D. Pedro da Cunha meu pay,ao têpo q com mor alçada comoprefi- dente delia, viíltou as Comar- cas da Bcira,Tralosmontcs, & Entre Douro, & Minho. Tra- zia ordê dclRcy D. Sebaftiáo pêra entrar em todos os luga- res fcm cxceição : chegou ao CoutodeDornellas da jurdi- çáo dcfla Igrcja,intêtou deuaf falo,& tomar conhecimêto de caufas ciueis,&crimes,como em outras partes fazia»Acodio logo o Arcebifpo cartas ao Prefidêtc,& cêfuras aos oííi ciacs/c intenraííê ir pordiãte.

Pa-

T>.fr,Barthclameu dos Q^artyres.

3S9

Parou o PreíiJente em quáco allielle,coniooArccbirpoaui- lauáo a clRevj a reíoluçáo foi, <.] todo o procelíado fedeu por nulIOj&osCoutos íicaraó in- cautos , comocoufa qucnaõ perceaciaà jurJiçío Real. 9 Acabemos ellc capitulo a mayor de codas as vircu- des dofátoArcebiípOjiftohe, a caridade, òi efmolas, q v- íou c5 os pobres. Tudo diria- nios cm íiúa palaura ledilíera- mos,q todo era da pobreza. A mayor,& melhor parce de fuás rêdas Icuau.ao os pobres. Re- partias na porca, pellas cafaSj-S.: por codo o lugar onde fabia,ou lofpeitaua auia ncceífidadc.Da uaa cunic3,a capa_,o máco,a ca ma, & tudo quanto trazia fo- bre ry,quádoíeacliaua fem otj tra coufa q dar. Ametade do q íc lhe punha na meza pêra íua peíloa hia pêra os pobres , o q tábé guardaua lendo hofpede em caíàalhea,pedindo primei- ro licença a que o hofpedaua. Prouiafe em cercas feiras de pa no,aí1i de linho,como de Iam, pêra os veftir. Do Algar ue man daua trazer figos,&pafias pêra os enfermos , & o q nuca ceuc cuidado de fua pefloa,fò cuida ua das dosme{quinhos,& mi- fcraueis .

10 Acrefcécaualhe muitas ve zcs Deos o q cinha depucado, & apartado pcra a fuílêcaçao dos pobres, parcicularméce de- pões q ceue menos q dar, & vi ueo recolhido nofcu moftciro de Viana. Ao cepo, q pêra ali foi,cinha ainda q defpédcrofeu efmoler j-oo. cruzados , encre- goulhos,foios o Arcebifpo rc- parcindo acres cruzados cada dia ao menos. Durou a reparei çáo pordousannosincciros,& por efta cota crefceo a macs de dous milcruzados,pera fuprir as efmolas ordinárias ; quanto mães q daU fahiáo oucras excra ordinárias ,de dez, vinte cruza- dos,néera poíIiueImenos,por q o Arcebifpo em quáco cinha q dar , nuca foube cer as máos fechadas , ou negar couía q fe lhe pcdiíle. Outra vez não ce- do jàq defpêder, achou grade cõcia de dinheiro ali aonde co- flumaua por oq reparciaaos pobres, & por íer no coro dos Rcligiofos duuidou fe o pode- ria gaí]:ar íem li céça do Prior, porévédoellc,& os do cõué- co,q nada lhe percéciaaqllc di- nheiro, lhe tirarão o efcrupu- lo,dando muicas graças ao pay das mifericordias,q por cantas maneiras fabe remediar as ne- celUdades dos teus pobres.

Kk3

CAPI-

390

Capitolo LXXXFIII.

CAPITVLO LXXXVIIL

OBRAS MARAVI- l bojas que Deos obrou por in- ter cejjao do Santo Arcebif- po ^opinião q ouue defua fa- tidadey liuros que compôs.

CrcdicouDcos a fantidadc de fte grádç ícr- uo fcucõ al- guas obras pro digiofas,que por elle foi ferui- do obrar, aíO era vida como depões de morto. Efcreucre- mos algúas , que iodas não he poíTiucl, & fòasqucfecontão davilladcViana fariaõ grande volume. Eftando recolhido nofeu mofteirode SátaCruz lhe reuelou Deos aotempojq dizia miíTajComo certo home laurador fe hia defefperado a enforcar, por lhe defaparecerê dous bois, todo o remédio de feus filhos. Mandoulhe logo acabada a miíla a cantidade de dinheiro ncceflaria, pcra com- prar outros, diíle o achariaó no campo raes,& taes íi- naes,& a corda debaixo dobra ço. Reccbeoo miferauela ef-

mola j ôc com cila a confiança na diuina proteiçáOj& arrepê- dimenco de culpa taõ precipi- tada.

t Híía molher das hon-

radas de Viana, perfeucrauaa* uia cinco dias nas dores do par to 5 fcm alento, nem íínacs de vida,mandoulhe do moífeiro o Prior a túnica, q eftaua laua- da pêra veílir o Arcebifpo,ve- íliraólha , &comelIaa faude, porque logo a recuperou, & dali a hum mes perfeitos os noue, pario híí filho viuo, ôc faõ. A híí home a quem a ef- quinécia tinha quafi afogado^, cingindolhe a garganta com a correa do fanto Arcebifpojar- rcbentou o inchaço, ôc ficou fora de perigo. Outro qucce- gaua totalmétc de hum olho, refandolhe fobre elle o Euan- gelho,& fazendolheofmal da Cruz, dentro de noue dias co- brou a vifta perfeita . Com o meímo remédio farou a hum menino,a quem por cego tra- ziaõ pclla mão, foi depões Sa- cerdote,& bem conhecido pel lo milagre, que nelle fe fez. o final da Cruz , que de lotige fez fobre humVíTode grandes habilidades ,que configo tra- ziaó certos efi:rangeiros,& da- ua fofpeiras de andar nelle o |

De.

D.frfBartholameu dos (iMartjres.

391

Demónio, o matou íubica- mcnce.

3 Era ofanco Arcebifpo aosfeus Viaiicfesem occafioés de cempeflades, & perigos do mar, o mães cercoÃ' prouado remédio de todos. Aelleaco- diaõ pcraque lhes faluaíleas vi- das,& as fazendas. Viraõ mui- tas vezes por lua interceflaóa- bonançaríeihe o têpo,efcaparê dos naufrágios , & piratas , & tomarem o porto alegres , &c contentes, ainda quando os mães dellros pilotos de(efpera uaõdcofazcr.

4 Teue a vida do fanto Arcebifpo íobre o teftimu-- nhodcíuas efclarecidâs virtu- des, o das peííoas de mães au- thoridade, & prudencÍ3,queo conhecerão, & trataraÕi Sum- mos Põti(ices,Reys,Cardeacs, Birpos,reIigiofos, doinefticos, & crtrangeiros ; & em tanto grão, que fòefte juizo vniuer- fal baftaua pêra o igualar aos mães famofos Prelados, q pel- lodifcurfo doanno celebra a Igreja CathoIica.Os Summos Pontífices Pio Ilir. Pio V.Gre gorioXIII- deferiaõ muito a fcus requerimentos,& confia- uâo mães de fuás orações. Os Padres do Concilio Tridenti- ro, o fanto Cardeal Carlos

Borromco,o vcneraraô,& eíti maraõ como fanto. A Rainha D. Catherina mouida de íua fantidade o nomeou em Arce- bifpo de Braga, PoreíTemef- mo refpeito o Infante D. Luis o deu por mellre a feu filho o fenhor D. António. Os Reys D.Sebaliiaó, & D. Henrique, Ihefaziaóafaber os negocies de mayor importância em q entrauão , pêra os comunicar com Dccs, & lhe alcançar feu fauor. ElRcy D. Felippe o Pru dente deu o Bifpado de Porta-' legrc a D. Diogo Correa,logo quelhediíTeraõera fobrinho, éi fc criara em cafa do íanto Arcebifpo, porque não podia deixar dcícr bom Prelado, que tiuera tal criação. Ena verda- de aíTi noBiípado de Ceic«, co- mo no de Portalegre, o Biípo D.Diogo fe ouue de maneira, em efpecial na caridade pêra com os pobres , que em tudo foi hu perfeito retrato de que aíliofoubecriar, &inílruir, com a doutrina, & com o cxé pio. Tinha fido primeiro Có- nego neftaSè,& vifitador de- fte Arcebifpado. O meftre fr. Luis deGranadajpeífoa de tan- ta authoridade, & fantidade,o igualaua com osAmbrofios,

o

Chryfoftomos, & Grego rios Kk4 d7

392

C^pitolo LXXXVIIL

do tempo antigo. O Embaixa- dor D. Fernão Martins Maf- carcnhas,que vio bem íeu mo d o de vida na cidade de Tren- to, & na volta , que fez a Por- I tugal, are Narbona, dizia, <^«e taespodião fer os mães celebres Prelados da Igreja^ mas mo de mayorfant idade que o Arcebif- poD.fr, Bertholameu dosMar tyres. De varias partes de Eu- ropa vinlião muitos cftrangei ros aefte Reyno, fópor verê, & conliecerem hum Prelado, "de que a fama apregoaua tan- tas marau ilhas. Hoje em Por- tugal,& por codas fuás cóqui- ftas quem o quer nomear, Ihcchamao Arccbifpo fanto, porque fc entende fala de fr. Bertholameu dos Martyrcs , naforma que em Pádua cha- maõa fanto António o San- to, dandolhe Deos a mcfma prerogatiua do íancofeu natu- ral

5 Dos liuros queefcre-

uco vieraõ à eftampa dous, hum chamado StimulusPaflo- rum , cm que fe forma a híi prelado de bemgouernar fuás ouelhaSjOutro oCathecifmo da doutrina Chriftam^ o primeiro mandou imprimir em Milaó o íanto Cardeal Carlos Borro- meo : o fegundo elRey D.Se-

baíliaó em Liíboa, ordenando aos cíerigos dosMellrados das Ordens militares Santia^jo , A- uí^s , & Chrirto, oleílemaos Domin<zos.& dias látosaíeus freigueíes . Do íanto /'Vrcebil- po fr. Bertholameu dos Mar- tyres efcrcucohú volume elegante eftylo o Padre fr.Luis de Souza Chronifta da Or- dem dos Prêgadorcs,quea vil- lade Viana mandou imprimir a fuacufta por Niculao Car- ualho, anno de mil & feifcen- tos,& dczanouc. Duarte Nu- nes de I.eaõ na Difcripção de Portugal, o Padre António de VafconccIos,& outros. G EraõSummos Pontí-

fices no tempo do Arccbif- po D. fr. Bertholameu, Pau- lo IIII. Pio IIII. Pio V. & Gregório XIII. Reys de Por- tugal D.Scbaftiaõvnicodono me,© Cardeal D.Henri- que , & D. Fe- lippe o I.

CAPI-

D.frfBartholameu dos a^artjres.

393

lilf,lo,c,^

CAPITVLO LXXXIX.

MORTE DE FER- nao Viegas , Í5^ feu filho lu í^arte , tf de outros Religio fosda Companhia delESV namraes de Braga , isf do Arcebifpado.

Padre Seba- ftiáoGonçal- ues da Copa- nhia de IesV natural dcPõ- te de Lima, na hill:oria,q cfcre ueo das Prouincias da India,& anda acè agora íò de maójCon- taa gloriofa morte de Fernão Viegas natural dcfta cidade de Braga , cazado em Goa , A: de feu íilho o mães velho por no meluzarte, que então era de idade de catorze annos . Diz fo raó mortos pelafenoAcliem, com três outrosPortuguczes, cujos nomes não aponta , no anno deijíí;. gouernando a índia D. Antão de Noronha. Puzeraõnos primeiramente à torreira do foljfem lhe darem de comer,ou beber, mas vedo o tyrano, que nem aquelle género de cafl:igo,nem com as

muitas promeílas , que lhe fa- zia de riquczas,& honras, dci- xauaõafé, vltimamente lhes mandou a todos arrancar com grandillimas dores, asvnhas dos pès,& maõs, &: depões af- íctear : mas como neftes tor- mentos Deos lhe conferuaíle as vidas peraconfuzáodaquel les idolatras,vltimamentelhes mandou cortar as cabeças , o que fuás bemauencuradas ai mas fe foraõ receber a coroa de feu n-crecimcnto. Tcuc Fer- não Viegas outro filho religio fo da Companhia nas partes do Oriente por nome Ama- dor Viegas , Sacerdote, z Emij.delulhodo an

no 1 570. padecerão rambéglo riofa morte na viagem do Bra fil junto à Ilha da Palma, trin- ta & noue religiofos da Com- panhia, cujo Prouincialera o Padre Inácio de Azeuedo, na- tural da cidade do Porto, & primeiroReitor defteCollegio de Braga. Cahio efta bemauen turada companhia nas maõs, &r furor do pirata, & herege Arrocheles laqueforia ^ o qual com vários géneros de cruel- dade, lhes mandou tiraras vi- das , porque hiaõ pregar oEuã gelho às partes do Braíil,& fe- I guião, & defendiaó a authori-

dade

3y4

Capitolo LXXXX.

dadcdoSúmo Pontífice Ro- mano. Eraô três deites bema- ucnturadcs Religiofos laatu- racs dcfla cidade de Braga,cha- maiiafc loaõ Fernandez , q não era ainda Sacerdote , mas cítudaua pêra o fcr , os outros dons eraó coadjutores terapo raes (aíTi chamão os Padres da Companhia aos Religiofos lei gcs, que cntraô pêra ler uir nos oííícios dacafa) chamauáofc Brás Ribeiro, & Pêro Fon- toura.

3 A todos cftes Religiofos V io entrar no Ceo ornados c5 a palma, & coroa de mar ty rio abemaucnturada Virgem fan- ta TercjajViuédo ainda na cer- rarem o raefmo dia em q triíj- faraõ. Tratafeem Roma com. grande calor de fuacanoniza- çáojôc nelles Reynos, &: Pro- uincia doBraziljíe tem feito as diligeciaspara iíTo neceíTarias, tm q nos também demos nof foteftimunho. Agora pude- ram c^sacrccen taro qucrefcre oPadrcSebaftiaóGonçaluez, com quem acima alegamos. Conta elle, que achandofe prc fente a eftc martyrio Simaõ Cabreira, morador na villa de Tana na índia, por ir embarca do com os mefmos íantos,vi- ra que os quatro foldados que

por mandado do laqucíoria fe oceuparaõ cm macar,& lançar ao mar os gloriofos íoldados de Chrifto , ficarão depões de-* fta crueldade íubitamente ce- gos, fem nunca mães verem a iuz do Soljpor tirarem injufta mente as vidas aos q eraó dig- niíTimos de viuer,pcra bem de Cantos.

CAPITVLO LXXXX.

DOUlO AU AFFON- fo de Menefes VH, do nome^ 101. Arcebifpo de Braga.

Indaquc o di- reito Canóni- co por juftas razoêsprohi- ba, que os fi- lhos efpurios,& illegitimos fc ordenem,todaviadeftcs mef- mos ouuc muitos varões in- íígnes cm todo o género fíc virtudes, & letras ,& ainda có- fticuidos em fupremas digni- dades jcomo teftificão graues Authores. Taes foraõo Papa loaôX.teaõV.Clcmcte VII. & outros Sumos Pontífices, que no Decreto fe referem.De RcySj&Emperadores pudera-

mos

CÂf.\%de

'filjsfrif-

it/ib. pátr» y.Glof. I.

ÁÍAceby, lib.i.Sof tartítc.lt yloelms, Hbti x,c,t

c, 2. difi.

Sé,

B.IoaÕJffonfoVII.

395

mos contar largo numero, &perac]uc náo vamos mães longe j gartando o tempo em relatar as hiftorias antigas, ba- ílenos por hora os grandes ReysdeNapolesD. Fernando, & Manfredo,Hériquc II. Rey dcCaík41a, outro Hérique,&: Tancredo Rcys de Sicilia, la- coboRcy de Chipre, Ramiro I. do nome Rey de Aragão, Si- gifberto Rey dosNormandos, aquando não ouueraô eftcs baftaua por vnico exemplo o nollo grande Rey D. loaó o I. chamado de boa memoria.

2 Entre pcíloas taõ inlíg- nes tem feu lugar o Arccbiípo D. loaóAtíóío dcMeneícSjCu ja vida cfcicucmosjfoi filho de D. Fernando de Meneies, dz Vafconcelos (que era filho fe- gundodeD.Aííonío ol. Cõ- dede Penclla) Biípoqforade Lamego, & depões Arcebifpo deLifboajCapelláo mor del- Rey D loaô o III.&: Priordo moíleiro de S.Vicente de íora, da Ordê dos Cónegos Regran tesdeS. Agoftinho : íua may ouuimos dizer a homens an- tigos,& fidedignos , fe chama- ua Maria de Brito , natural da villadeEftremòs , peflba no- bre, & de honrados parentes.

3 Onde naceo o Arcebif-

po D. loaó íe náo pode laber ao certOjfò dizia elle q D. Ma- noel de Sou ia Arcebifpo de Braga forafeu padrinho da pia. CrioLife em Coimbra em cafa de feu tio D. Jorge Dalmeida Bifpo daquelle Bifpado, q era primo com irmão de feu pay D.Fernando. Foide profilíaó Canonifta, &c alem deftacien- cia,em quefahio bom letrado, fabia as letras humanas,& a lin goa Grega com grande perfei- ção. Depões que chegou a to- mar Ordens, teue muitos be- nefícios em varias Prelazias dc- fte Reyno: foi Prior de Almei rim , ouue a conezia^que a ca- fa de Penclla apprczenta na de Lifboa, a qual depões renú- ciou, tirando de pcnfaõ. perto de feifccntos mil reisjteue macs

0 Arccdiagado da terceira ca- deira da de Lifboa,de modo que felhe faziaõ des mil cruza dos de renda.

1 Morreo feu pay o Arce bifpo D.Fernando, & deixou por teftamentciro a feu filho D.Ioa5,que com todaa pon- tualidade,& preftezacomprio os lesados, ôi fatisfez as di- uidas : rccolheofc então a hua tias annexasdaíuaconezia , & fallecendo oDoutor Francifco doVallc feu cQadjutor,tornoa

outra

39<^

Captolo LXXXX,

cunavezaferuira de Lií- boa, onde íoi fcmpre muito reípeitado.

j Nofubíidiodosduzc-

ros mil cruzados, que o Eccle- ííaílico deu a clRcy D. Scba- íiiáo pcra a guerra de Africa, em c]ue ouue o infeliccfucccf- ío, que todos choramos ,elle foi o recebedor ^ auendofe na execução em forma,que parc- ceo não tributo pago por for- ça 5 mas feruiço offerccido vontade- Nas Cortes, q a Ma- geílade dclRey D. Felippe o prudente fez em Tomar , teuc o oííicio de efcriuão do Eccle* llallico , & eftando nellas ^foi nomeado Arccbifpo de Braga pclb renunciaçãodeD.fr.Ber- tholameu dos Martyres como acima fica dito. Reccbeofe a eleição com applaufo,& villta de todos os fcnhores^que eraõ prefcntes , fendo o primeiro o Duque de Bargança D. loaÕ. Paíloulhe as letras oSummo Pontífice Gregório XIIÍ. Sa- grouCena capclla Real deLif- boa,& com grande ãpparato, alTiftindo na tribuna o mef- mo Rey,que o nomeou , feu fobrinho o Cardeal Alberto xArchiduque de Auftria, quo morreo depões Conde de Flã- des , & ficou gouernando efte

Reyno.

6 Eícreueo de Lifboa àCa- mara deBr3ga,agradccendolhc o contentamento com que fe lhe dera a poíleda cidade,»?.: en trc outras coufas áiz-.Encomt- douos muito os pobres , ^ os^ menos podem^Jíntafe najujli^a^ que Ihef^erdes^o defejo, que te- mos de Ibefer feita perfeitamt' te^ llfc. he a data em i o. de Mar çodc ij8i. z^m2í{cloaQ eleito Arcebifpo Prima^.

7 PaíTados os primeiros dias de Abril do mefmo anno,fc partio peraBraga, entrou naci dade do Porto aos zi.paíTou o rio Douro cm hu batel , que o Cónego AfFonfo Ferras lhe ti- nha preparadojtoldado ,&ef- quipado; o Bifpo do Porto D. Marcos o foi também receber da outra banda de Villa noua. Aportou junto de S.Pedro de Miragaya, ôc â portaiíoua o recebeo o Cabido, & Clereíia, Religiões de S. Domingos, & S. Francifco, & ambos vieraõ debaixo do palio , q traziaõ as Dignidades, & Cónegos mães antigos . Efteue no Porto dia, & meyo,& foi hofpcdc do mefmo Bifpo D.Marcos , que auia íò treze dias, tinha entra- do na mefma cidade. Entrou era Braga dia de S. Marcos zj.

~d;

de Abril, crouxeconíígo gra- de acompanhamento de géce, &c toda de muito iuftre, & ca- lidade.

S Tratauafe nas ocalíocs de honra faufto , & grandeza, cm efpecial na mefa,(í daua cf- plédida a ícus hofpcdcs, & no dia dos Pótificaes aos q lhe af- líftiáo. Achoufeahúdeíies o Doutor Liiis de Crafto lente de Vefpora deCanones na Vni ueríídade de Coimbra de fua particular obrigação,^ ou fof Ic pellolifonjcar, ou peilo mo derarjlhe diííe^ q fcefpantaua como íuaíenhoria lUuftvilli' magaftaua tanto naqUesdiaç, por-^o não azia adi o feuBií- po de Coimbra D. GaCpar do Caiai, fendo tão rico, &grádio fo;eu fcnhor(lhe tornou oAr- ccbirpo)»^1í7yô« D, Gafpar^fou domgajlar^i^dotnnao tef-^íe- ílejoufeo dito pclloReyno,cc lebrandoo primeiro nal''niuer íídadc o Doutor Luis de Cra- fto. Fora d'aqui era mui par*- cojcomia pouco, & cfcaírame te bebia vinho.os májarescraô ordinários, na mcfa lhe não cn traua galinha, fe não quando mal diípofto rjcjnaua todas as quartas, & feffcas feiras , ainda q ncllas caiíTe dia de Natal. Ser uiofe o Arccbifpo a baixela

T>.Io^oJffonfoVII,

397

de qvfaua fedo particular. os pobres era caridofo , &c có' paUiuo.-acodia com pontuali- dade a fuás neceílidades ; feio parecer neíla parte menos libe ral fer immediato fucccíTor do Arcebiípo D.fr. Bertholameu dos MartyrcSj que tudo gafta- ua OS pobres , mas na reali- dade a tacha naceo mães da có- paraçáo entre os dous,q de al- gum defcuido que ouucíTc no Arccbifpo D. loaó. 9 Tinha cinco annos pouco mães, cu menos de Pre lanagal'^ados na viííta,& refor mação delia, quando receben- do húa carta delRey D. Fclippe o prudcnce^em q o rcprehedia de algúas çouias q paííauão no Arcebifpado iComofoíTc pef- foa de grade opinião, afii o ícn tio, q de puro dcfgoíto yeyoa adoecer, & morreoera 14. de lulho Domingo do Anjo do annodcijS/. fendo de idade de 6^. annos. Nada difpos de fua íepultura, deixandoa nas mãos , ô£ eleição do fcu Cabi- dojclle como agradecido,© fe- pultou nacapella mòrdeftaSê, onde jaz fem letreiro algú.

Foraó Sumos Pótiíices em feutépoGrcgorioXIII &Xi- ftoV.Rey dcPortugal.D.Fclip pc o primeiro defte nome.

1.1

CAPI-

39 «

Capitolo LXXXXL

CAPITVLO LXXXXI.

DA TRESLADACAM da^ reliquiiís doB.Romeoit^ da morte que pellafé pade- ceo em Marrocos Fernão Gi- nès natural de Monção ^ com o litros féis companheiros.

O fim da pri- meira parte de fta hiftoria,oii de falamos de S. Bento. S. Ioa<3jôi: S. Odon,ficoii porlc- brar húa particularidade dcq ti uemos dcpocs informação. Erta iic o nome do cópanhci- ro de S.Odõ,a quê alii chama-' mos loaõjComo lhe chama to- da aquclla tcrra,pello que logo diremos, auendoo de chamar Romeo, que cfte era , ou o fctt próprio nome, ou o poiq era* nomeaao,por vir das partes de Itália com habito de romeiro. Fez lua morada naErmi da de S.' loaõ de Penas, frciguczia do mofteirodeRefoyos de Limai onde uiueo,& morreo opi--; niaõ de grande Santidade, pel-^ la qual cauza o pouo lhe ficou chamando vulgarmêteS.Ioaó de PenaSjpor naquclla Ermida de S. loaõ Euangclifta viucr,&

eftaríepultado. Obrou Deos por ellc grandes marauilbas,&: a terra de lua fcpultura deu íau- dca vários enfermos de varias, & perigozas enfermidades . z Seu fagrado corpo fendo Arcebifpo D. loaõ Affonfo de Menezes no anno de i58z. foi daqlla Ermida de S, loaõ trcs- ladado à capella mòr do moftei ro dcRcfoyos,pcllo Prior da- quellcs PadrcsConcgos Regtã tcs D.Mauricio , & coUocado da parte doEuangclho cm cor refpondcncia da fepultura do Conde Medo Affonfo, que à- quellc moftciro deixou coda fua fazenda, conforme o Ictrci ro de fua fepultura. Hoc Comitis Mendi requiefcút oJSafepulchro, Qui templo huic omnes ipfe dicauit opts. Obifít anno Dom. ii4z'M^y~ Na fepultura do B, Romeo fc pos o Epitáfio feguinte. ^jII Romeus hoc tumulo tegitur 'vin tutibus heros. »íjov.í '•■ ju^aú Incfytus, Anfonij ghrianiainlà

3 ámio dçiíjig j.sêdoEm baixador pella Mageftade dclt RcyD.P clippeo LdcPortugal; na Corte dcMqleiMalucoRey deMarrocos,D.Frácifco daCp fta,foráó porordêdo mefmp Xarife Melei' Maluco mortos

pella

pclla íece moços^qúccm íua caza (e ciiauáo , & eíle eítima- ua muito. Viuiaõ eílcs esfor- çados Cauaiciros de Chriílo vnidos todos entre íy,& apo- dados a guardareiíi iioíla ían - ta ley ,atè morrcré por ella^qua do pcra iflo íc oíFereceíle occa- ííaõ.Pcraq Deos os confortaf- íê neltes Tantos propoíitos , fe exercitauão de contiiio,à imi - raçáo dos trcs mancebos de Babilónia, cm efmolas, jejíjs, oraçoês,&; outras varias peni- tencias. Dezejauão outro íy fa zcr participante do béda fê, q perdcra^a Elcfie grande ami godé todos, & manifeftando- íecó elle, íhe pagou aquella ían ta obra em os manifeftaraoAl caideAmar,q.delles tinha cuida do. Deu conca o Alcaide ao Xa rife, o qual faindo de fy fu- f ria,& braucza, os mãdou logo aliyir prezos , & ouuindode fua própria boca feréChriílaõs os condenou à morte, ordena do. , q dentro em fcii paço-lhe deílemgarrotea todos, & fcus corpos foííem laçados em hu poço do fcu jardim , onde fe lançauaõ os que emfef>rédo, por nao cau lar aluoroço na ci- dade, mandaua matar. 4 Chamauafe o primei-

ro Francifco daEfperança de

Tf. lojo Jfor?fo VIL

399

idadededoze annos,hiho de pay Elçhe Caftelhano , òi na- tural de Malega, 6i may Mou- ra nacido cm Marrecos. O fe- gúdo Simão de Freitas de Sctu ualíiUio de Gafpar de Freitas, &íua molher Maria Cayada, catiuou menino de dozean- nos na batalha d' Alcácer. O terceiro António daSyluatã- bcm deSetuual filho de Antó- nio Elteues, & Maria Cardo- za, foi catiuo no mar de treze, pcra quatorzeanncs.O 4 loaõ natural deParíí, crioufcemLií- boa,ô*; de 14.0U i j.annos acÕ- panhou clRcyD. Scbaftiaõ , & ali íoicatiuo. O j. Domingos natural da villa dcGouuea,q foi catiuo da meíma idade, &na mefma baialhadcAlcacer. O fcxto Amaro natural deCo- lares junto a Cintra filho de Sylueltrc Gonçalues,^ Fian- ciícalorge.

$ O fctimo , 6i vitimo

foi o noílb Fernão Ginès , a quem pofto que alguns fa- zem de Bayona , com tudo as informações, qucnefte par ticular tiuemos , 'moílraõ fer natural da villa deMonção:a- cõpanhou tábéaclRey D. Sc- bafl;iaó,6>:dcpocs fendo catiuo doXarife,&: muito fcu mimo- zo veyoa acabar o mefrao

pene-

400

Caúitoío LXXXXIL

género de morte, cjue íciis cõ- panhciros . Qnando cftauaõ pêra lhe dar o garroce,compa- dcccndole dcUe o Algos por íer grande íeii amigo^d: finifi- candolhe, que le não atreuia a matàlo, he , áxííç, porque nao entendeis quanto he m me ejpe- r a, depões da morte ^apreJ?aiuos^ i^fefois Verdadeiro amigo ^dei- xai a compaixão ^isf f alfa pieda- de^ que me tolhe a)er mães de- prejja a meu Criador. 6 Tcue ordem O Embai-

xador D, Francifco , pcra da- quele poço fe tiraréos corpos dos fece caualcirosdeChriílo, & recolhédoos era fuacaíacó grande veneração efperauaa- char modo , com que os paf- faííe a Portugal: porem o que fenáo cíTeituou cm fua vida, fefez depões dcJua morte. Foi ocazoque morrendo cmM^r roços o Embaixador D. Fran- cifco da Cofta, auendofc de trazer ícu corpoaoReyno,má dou íua Mageliadc,que em leu lugar vicflem os dós fere vale-= roíos Toldados de noílaFê.Dc- fta maneira foraõ trazidos a Liíboa a caía de D. íoannaHé- riques,molher doEmbaixador D Francifco, & dahi Icuados por ordem de fua Mageftadc ao moftciro de S.Francilco da

cidade, onde hoje cíião. A ver- dade deíle cazo efcreucraò ao Screniílimo Cardeal Alberto Goucrnador deites Rcynos o Embaixador D. Fráciíco, & o Padre fr. António da Concei- ção da Ordê da SâciíTima Trin daderalemdos proccíToSjquc delle mandou tirar clRey D. Fclippe pello Doutor Lourc- çoMouraõ doícuDcfcmbar- go do Paço,q finalmctc foraõ mandudc s a fua Santidade em ordem a fua canonização. Ef- crctiédellesleronymode 'f""^<"i cloça na lornada d Amca,& o todooiué. Padre António dcVafcõcelos, ^•*/^<"»f' | & Duarte Nunes de Lcaõ na %i'a.Mi

deícripçãodc Portnsal. 'nesàtfcr.

' ^^^ dtPortH»

DOM FREI AGOSTl.| nbodcCaftro 103. Ar» ccbifpo do Braga.

CAPITOLO LXXXXII. ;

I

SEVS PAYS, N ACl. monto ^ criação antes, i^ de- p0€s defer religiofo^ ilf dos- cargos que teue na religião.

" . ■— ' ' ' ■■ I . .. . p^.

ftinho filho le gitimo dcD; Fernando CaftroGouer

II.. I n -ai

nador

T>.fr,^gofiínho de £aHro.

401

nador da caía do Ciucl de Lif- í boa,<3c dona Maria deAyala, fi- lha do Conde deMonfanco. Nacco na cidade dcLiíboa aos i6.de OLicubro do anno de mil &i quinhécos , 8c trinta 6c lete, chamouíc antes d'entrar naReligiaó D. Pedro. De pou- ca idade o mandarão feus pays a Coimbrajeiítendcndo, q da- uáoniílogoRoaelíleyD.Ioaõ oííí. qnáo auia muito tinha fundado aqueliaVniuerfidade, & como taó amigo das letras, folgaua que femelhantes fojci tos íe empregaílcm no exerci- cio delKis.

z A perfeiçooufeem breue

tépo noseftudos daGrámati-

ca,comas hçoêsdemcftre An

tonio natural do Concelho de

Coura, nefte Arcebiípado^ foi

depões o primeiroBiípodeEl-

uas,&: fc chamou D. António

Mendes, varaõ entre outras vir

tudesjiníígncem fingileza, &

defprezo devaidades. De ellc fe

conta , que à hora da morte fe

lhe não acharão mães que no-

ue vintêis , taõ defapegado vi -

ueo,& tão pobre morreo dos

bens defta vida. E como feja

certo, que aconuerfaçáo dos

bons pegue virtude àquellcs,

que os trataõ, aD. Pedro fe lhe

pegou tanto de feu racftrc, q

em breucs dias dando de mão a tudo o que lhe promeciaõ a nobreza de feu nacimcnto, o cftado de feus pays,&: valia de feus parentes, íe foi a pedir o habito de S.Fraiicifco no Cô- uento de Santo António de Coimbra, da Prouincia da Pie dade. Eícuzaraõfe os Rcligio- fosdelhodararefpeito da fra queza de compreiçao , que moiiraua ter , menos robu- fta pêra a vida , que entre el- les fe profcfla . Com eíla re- foluçáo, por lhe parecer o que mães lhe conuinha, efcolheo, &c pedio o habito dos padres Eremitas de Santo Agoftinho, & o recebeo em Coimbra em idade de dezafeteannos da máo dogrande fcruo deDcos frei Luis de Montoya , que com o padre frei Francifco de Villa franca da mcfma Ordem, vi- lltaua , & reformaua efta Pro- uincia , trazidos pêra ilío de Caílella por ordem delReyD. loao o terceiro. Mudoulhe o padre frei Luis o nome de Pedro em Agoftinho , qua- í5 anteucndo quam femclhan- te auia de fer a íeu bemauen- turado padre, & fundador. O mefmo padre o trouxe con- íigodoCollegio de Coimbra ao moftciro de noíTa Senhora

LI 3

da

402

Cafitolo LXXXXIL

O

daGraç3deLiíl)oa,aonde paf- íado o anuo de approuaçáo profcí]bu,& cíludou Arres,&: depões Tlieologia em Coim- bra, táo applicado fcmprcao cíludo da perfeição quanto ao das lccras,dc modo,quc no ca- bo de íeus curfos fe achou não menos con fumado na ciência, que perfeico nas virtudes. 3 Era frei Agoltinho de

ly.anncs de idade,quandoaca badosjàfeus eftudos fc lhe deu cõuenco em villa Viçoza, on- de logo os Rchgiofos o elege- rão pêra feu Prior , nofcguin- tc biennio os de Coimbra pc- ra Reitor daquellc Collegio,& a Prouincia toda pêra Prouin- cial. Sendoo alcançou delRey D.Sebaftião licença pêra irem Rcligiofos da fuaOrdéa Ilha de S. Thome da Mina , aonde ate então ncnhijaReligião auia cntrado:5<: com eíFcito os má- doUj&eftiueraõla alguns an- nos fazendo muito leruiço a Deos , ate que o mefmo Rey entregou cfta miílaó aos Rcli- giofos da Ordem deChrifto por fer de terras, que rendem pêra o Medrado. No mefmo tempo tratou também man- dar Rcligiofos a índia, & foraõ doze, que com ordem do mef mo Rey partirão deUfboa cm

Março de 1571. & faô mui fa- bidosos fruitos delia miílaõ, pcllos grandes íeruiços que os rcligiofos de S. Agoftinho na- qucllas partes fizera5,& fazem a Deos, & a elRcy , dos quaes roi noceíTario fazerfe aqui mê- ção pclla gloria, que dclles re- fulta ao Prelado, que a cfta mif faõ deu principio. 4 Acodio a todas as obri- gações de feu oííícío de Pro- uincia! cõ tão conhecido zelo, ôi prudencia,qucfem embar- go de não fer mães que de 34. annos quando o acabou , qui- zera com tudo clRcy D.Seba- ftião ficara fcmpre fazendo o de Vigairo Geral da mefma Prouincia, do que clle fe efcu- zou dando rezoés , que a fua Alteza parecerão baftantes. A- inda no fcguinte biennio o tor naraó a eleger, não pêra PriordoConucnto tíc NoíTa Senhora da Graça dcLiíboa, mas pêra Vifítador: tanto efti- mauão teremno por Prelado. Aggradcceo.aos padres a hon- ra que lhe fazia5,com fe fazer naquelle biennio Vigairo do coro,pcra tambê daquella ma- neira dar,como deu,methodo de falmear com os aíTentos, ôc pauzas com que hoje fe fal- mca ncfte Reyno de Pottugal,

que

-D. Agojiinho de Caflro.

403

que dclle fc diz o tomarão to- das as mães Religiões, & coros bem gouernados.Foi também após iílo eleito peraDefinidor do Capitulo Geral, queíece- Icbraua cm Roma , aonde tra- tando íe de reformaras conrti- tuiçoés antigas da Ordem, to- do âquellegrauiflimo ajunta- mento oelcolheo , com algíjs outros adjuntos , pêra nego- cio de tanta importancia_,&: fe- io tanto a goíto de todos , & proueito da Religião, que por cilas conflituiçoés, a que cha- mão nouas , le gouerrta hoje todaafamiliaErcmitica» S- - Nelic mefmo tempo côrtftandoaoSummo Ponti- ficc Gregório XIIÍ. dos gran- des danos , que os hereges nas partes de Alemanha fupcrior tinhaõ feito em alguns Con- nentos deRcligioíos , & pclla relaxação em que pello mef- mo rcfpeito fe viiiia cm ou- tros, dezejandoacodir a aqucl ks Prouincias com o remédio nêceílãrio a tão gj^andes males, julgou a empreza por digna da prudência de fr. Agoftinho, de aííi cometcndolhe a parte, quetocauaaOrdêdcS. Ago- ílinho,ofez Prouinciaí, & Vi gairo Geral da Alemanha fu- pcrior peraque vifitafle, & re-

formaíleaquelles Conuentos, dandolhe pêra illo todos os poderes, que negócios de tan- to pezo rcqueriaõ Ouuefe ne- fta perigoíj occupação fr. Ago ftinho com tanta inteireza, & zelo, reformando cofbumes, dcftruindo abuzos,rccdifican- do moíteiros , que auiaõ der- ribado os hereges, dando pru- dentiííimas leyí pêra o gouer- noefpiritualde todas, &cada hua daquellas Prouincias, que o Emperador Rodolpho , & todos os mães Príncipes de Alemanha fe deraõ por mui bem fcruidos dclle, particular- mente contentou tanto a Em- pcratriz dona Maria irmadel- Rey Filippe o prudentCjquefa zendoo feu pregador, o trou- xe conílgo a Elpanha féis an- nos depões que faira de Por- tugal»

6 Mal tinha ainda deícan

çado de tão comprida jornada quando fegunda vez foi eleito por feus Religiofos em Pro- uinciaí dcfta Prouincia : no qual tempo clRey D. Philipc (que então auia fucccdido na coroa deílé Reyno , & cífaua nellc) fabcndo das difcordias, que auia entre os Religiofos de Santo Agoftinho da Pro- uincia de Caftella ^ o mandou 1

U4

que

404

Capitolo LXXXXIIL

que foííecópolas poderes, que peraiílb lhe alcançou do Papa, & Geral da mcImaRe- lioiaó. Tudo fez com fuaaco- ftumada prudência, zelo, &i, deftrcza, diuidindo a Prouin- ciaem duas , remédio cntaó o mães accomodado pcra o efta- dopreíence.

7 Quizera por eíle bom íuccefib íua Mageftade fazelo Vigairo Geral perpetuo de to- das asProuincias dcHeípanha, porem frei Agoílinbo com quem a ambiçáo podia me- nos, que o amor de íua pró- pria quietação, deu contra iflo tantas, & tão boas rezoés,que o Cacliolico Rcy accitandoas, dcfiUio no quetocaua as ou- tras Pfouincias , mas não no quetocaua a efta de Portugal, da qual fem que elle fe pudeí- fc eícuzar o fez Vigairo Geral, alcançádclhe arapliílimos po- deres de Tua Santidade.

8 Ouuc pouco depões ou- tras differenças taÕ porfiadas entre os Religiofos da Prouin- cia de Aragão da mcfma Ordé de Santo Agoílinlio como o foraó as de Caftclla,nome3uão os Aragonezes a elRey pêra as compor certo Biípo de cuja autoridade, &c prudência, íe prometiaõnnuito. Porem lua

Mageftade fazendo conjeitu- ra do paliado ao por vir, có- meceo também eílas à prudé- cÍ3,& valor de frciAgoÚinho, que então efperaua em Ma- drid ao feu Padre Gêral,poral- fi lho auer ordenado ^ nem foi aconjeituravam, porque em brcuilímio tempo as couzas da Prouincia de Aragaõ efta- uão compofl:as,& quietas , os religiofos na pa z , & concór- dia q dcllcs pede feu inílicuco.

CAPITVLO LXXXXIIL

BE ELEITO ARCE- bifpo Prima^^yfuafagra^ao^ caminho pêra Braga^entra- da nelUy í^elo^ tf prudên- cia com que fe applicou ao gouerno efpiritual de fucu ouelhas.

Stãdofr.Ago- ftinhogoucr- nãdoafuaPro uincia dcPor- tugal com ve- zes de Vigairo Geral j & gran- de fatisfacão de feus fubditos fuccedeo vagar o Arcebilpado de Brage : occaíiaõ em que cl- f Rey D.Felippb niollrou bera

qu

ao

I^fr. jigoflinho de C afiro.

405

quão prcrcntes tinha fcus me- recimentos,pois logo, & íem penfaóalgúa , que de nouo lhe acrecentaíle , o nomeou pcra Arcebifpo . Dculhea noua de-

1

ftaíua promoção oSercniílí- mo Principe,&Cardcal Alber- to, que então goucrnaua eftes Reynos no vitimo dia de Dc- zébro do anno de mil & qui'- nhentos oitenta & lete fmi- ficandolhc quanto mayores dignidades íua Magcílade, & cllclhcdezejaiiáo. 2.. Chcgaraõlhe as bulias, que breuemencc procurou, &i tomaraóno anojado a mor re de íua máy, mas ícicas as cxc quias, foi logo (agrado no mo Itciro de noíla Senhora da Gra çadc Lilboa pello Arccbiípo da mefma cidade D. Miguel de Caftro acs 5 .de laneiro de mil & quinhentos,& oitêta& no- ; ue. Fez nelle dia mui grandes efmolas jhiías por calas parti- culares de gente enucrgonha^ da;outras à portaria doCon- uento, aonde fedeu abundan» temente de comera todos os ■pobres que a cila vieraó ; ou- tfas por todas as c-adeas da ci- dade, com a mefma abuncían- cia com que fe repartiaó na portaria, íSí fc defpenderaó nefle particular maes" de qua-

tro mil cruzados. No reíei- torio comerão com ellc, & o Arcebiípo fctc outros Prela dos , & o melhor da nobreza do Reyno , íeruidos com o apparatoi, & grandeza que cm íemelhantcs dias fecolluma. Teue no principio da meza em lugar de lição elegante Pa- negírico do padre tr. Simão Coutinho Orador conhecido de íua mefma religião. 3 Pouco depões pattio pêra Braga repartindo pelLb cami- nho grandes cfmolas Era To» mar no Gonucnto da Ordem de Chrifto rcccbco o; pallio , damaõ de fcu Bifpo deancl, com grádcfolénidade,&: mui- tas lagrimas,que derramou na coníídcraçáo -do que ncllc fe fínifica. D^hfaindocomCruz leuantadafczieu caminho por Coimbra, aonde não foi logo aSè porduuidas que o Bif- po teucfobrè o. modo do rc- cebimentD;quecomaa feuMc tropolitanolhe deuk fezer , mas coict grande mulrídaõde gente decaiialo,qucíahio a re- ^ cebelo yfeJÉoidircitoiao Gollc- ■; gio de Ndíía Senhora da Gra- í ça, qucnaqucllc dia fez todas as demonílraçoés de alegria, -. que Iheforaõ polTiueisi como a quem tocaua a bõra cm quc^

via

40 6

CapuoloLXXXXIlL

\

via ofcu.

\

.habito com tão par- ticular rczão , como era auelo dado ao Prelado cjuc o vcftia, &lho í^nificon em híja cele- bre oroção cem que o rece- beo, DelicjCcmpoílas-asdu- iiidas, lahio a viíitar a Igreja Cathedral , na qual foi recebi- do do Bilpo D. Affonío de CalUl BrancOjÃ: Cabido com a fclennidade deuida Lo- go continuando feu caminho chegou ao Porto, aonde era crperado.com grandes feitas, ruas atinadas, & luminárias, porque a efcuridade da noite ( que jà- vinha entrando ) náo cícõdeíTe o ornato dellasi&das portas ^a cidade debaixo de ;palJ!o ( cujas varas leuauaó os ■principacs da tcr^ra) acompa- nhado do Cabido, foi Icuado em prcciílaõ àSê,'; & feira o^ ração íerccoiheo nos paços do Bifpo,quenelles com gra- des Unificações dcaliíoroço o cíperaua , porque ^ a lua gota não o deixara lairem peíloa a recebdo iChcgoir finalmen.- men te à Braga era oito dcMar ço d&niil& quiahécòs, & oi^ -tenra & iTOiíe , aoiidEi o Cabi- do, âíTctlJade o receberão com ap pia uío ■J& fe íias q u e cu íl 11* anãoí<5ííaíbem fazer aifx;u5j?i:e iadoíjo Vu . '.!!,;i'.>' /,

4 Em Braga applicando- fe ao paiío dcíua5 ouclhas Jho procurou por todas as vias, como hum dcs maesfoiicitos zelolos,& prudentes Prela- dos dos muitos que teucella Igreja. Aduertindo, quedas frcigueíias de Braga íò naSè cflaua o SantiíDmoSacramcn- to , &c confidcrando , que em cazos repentinos poderiaõ pa- decer falta os enfermos das ou trás ordenou que cm três mães foíle collocado, & a todas deu renda baftante peraquc dian- te do Senhor pudcflefempre auer húaalampada aceza. Tam bem peraqueno Arcebifpado não ouueíle falta da palaura Diuina, í^ipudeíTe auer copia de pregadores feculares , iníli- tuio no Collcgio de Ncílà Se- nhora do Populo f de que fc dirá mães abaixo ) duas liçoés continuas de Theologiaefpe- culatiua, onde os fojeitos,que por pobres deixauão de ir a outras Vniueríídades mayo- res , fe fizcflem aptos peta o púlpito. O fruto que daqui fe íeguio vem, <k. aggradecen^i íeus fuccelíorcs , & goza coía grande proueito toda eílaDio- ccfc. <

5 Viíítou peíloalmente o

-Arcebifpado quanro lhe foi III ^ ■».«■

polliuel.

D.fr.^gofiinhode CaHro.

407

poiriucl, & onde não podia ir, mandaua viíícadores de mui ta facisfaçáo , & notaiiaíc nd- le,<jueani nas vifi caçoes, co- mo tora delias , quando Te lhe falauacm culpas alhcas as ou- uia de modo , que quem as di- zia náo fabia decerminarfe fe o tinha por fy , fe contra fy. O que fazia com grande prudên- cia, afli por atalhar à demafia com que as encarece, quem cuida , que he bem ouuido, como por tirar o medo a quê as cala ^ & deminue , fe o faz por não fermolefto. Também quando cm femclhantes maté- rias fe lhe falaua cuftumaua moftrar , que tinha noticia delias , porque deita maneira fenão atreueíTem adizerlhco que não era. No caftigo dos que achaua culpados não era mui to executiuOjUcm appref- fado , & porque fefcntia ta- char neíte particular, diíTc por vezes, que nunca fe arrepen- dera, porque os íucccílbslhe tinhãomoftrado,<|uéa bran-J dura, & prudência dos auizos obrigaiia mães que o caftigo, alem de ceflarcm os efcanda»^ los , que de ordinário nacem mayores decaftiaos mal re- cebidos,quc de culpasdiííimu Jadas. \r;f;iÍ3oi Õlc'^'

6 Ajuntou duas vezes Synodo Diocezano,& requi- rido do primeiro delles fez ftituiçoés pcra ogouernodo Arcebiípado, às quacs fe re- mcteo^nas reportas, que deu às petições , que o clero lhe tor- nou a fazer no legundo, dizé- do^que nellas tinha ordena- do o que pediaó : pofto que atalhado com a morte, nã-ó chegou aimprimilas,mãs não perderão : em noífò poder as temos , acrecentadas^ de al- giãas cousas , que os tempos pcdiaõ,& jàcom approuação pêra fe poderem imprimir. Re formou também oBreuiario Bracharenffe,b& fe remete àrc formação dclle nas mefmas re poftas do fcgundo Syiiòdo ,• mas dcfte trabalho não acha- mos nenhúa copia, falta que nos obri|>bu a trabalhar de no^ no, ate de todo íairmos com ellc a lu^ & anno paíTado de mil & fcifceiítos , & tfinta &C quatro. '•' onov^vi;^

7 Quando auiá' de daí ordens clle mefmo €xamina- ua pêra as de Epiftola, náo de latim, mas ainda decanto, &:com tanto rigor, que ate

\ por erros (íeíyIlabas,rcproua- •ua. NáòJaua ordens geracs mães que húa vez no anno^'

pellos

^ *■ at_

405

CapitoloLXXXXIIL

pellaj têmporas cie Setembro-, nem o íegundo Synodoque celebrou pode acabar com clle as dcílc duas vezes cada anno, porque cntendeo , que não a- uiaaíalta de Sacerdotes qlhe propunhão.

8 Teuc particular cuida-

do das religiofas de fua jurdi- çao jcomofe viono muito q trabalhou por trazer pcracfta cidade as que viuiaõ no anti- go mpfteiro deVittorinho da Ordem de S. Bento. Eftaua cfte moftciro diftantcdavilla de Pente de L ima , pofto que no termo dcUa , tão expofto a defcortezias de mãos homens, que cada dia auia^ matéria de queixas ncfte particular. Deu- íeo Arcebifpo por obrigado a trazer as religiofas delle pêra pouoado , conforme ao que nefta matéria difpocm , & c n- comcndaaosBifpos, & macs l^reladós o Sagrado Concilio Tridentino.Tratou com cilas propondolhe os bens cfpiri- tuács j & tcmporacs da mu- dança, as obrigações que ti- nbáo a fair de lugar onde os rifcos,5^ perigos eraõ grandes,, as comodidades nçnhíías. In- ftandQçomcftas3.& mui- tas outras razoê^ » repetidas por varias vezes ^èm doze an-

nos continues naõ potie al- cançar , fcnáode mui poucas, quizeílcm vir na mudança. En tretantolhes hia apparelhan- do em Braga o Conuentoaq deu titulo do Saluador ; òc quando o teue em modo, que pudcíTe fcr habitado , tra- tou de as fazer vir por força; & porque cntendeo que po- deria auer leíillencia, aíli da parte delias , como de fecula- res podcrofos, apoftados aim pedir a mudança, pedío ajuda de braço fccular. Mandou pc- ra cfte cffeito clRcy D- Fellip- pe o prudente Defembar- gador do Porto, & varias ou- tras juftiças 5 que cxccutaífem tudo o que o Arcebifpo lhes ordena lie.

5> Com ifto, &c5 mui-

ta outra gente de Braga , & grande numero de caualgadu- ras apparelhadas com filhoes em que as religioíai vieíTetn, fcfoiaoConucnco deVitto- rinho V mas o cfl:rondo,& apparatodcfta refoluçáo pode mudar as q a cncontrauáo. An tes fe vieraõàs portasdoCon- uentoadefendclas , & foinc- ceflario quebraremfelhc com machados : o mcfmo íe fez às de outra caza pêra onde fe ti- nhaõ retirado; o que vendo

^'fr. oAgoHmhode ^afiro^

409

fe recolherão ao coro, & nelle íe deixarão Hcar crés dias intei- ros, íerncm codos cliesalgúas das mães obftinadas cjucrcrcm comer bocado. Porc vcnccoas a paciência do Arccbilpo,q em codoaquclletépo, íofirédo as delcomodidadcsdo iugar^&as íérezcês das q não obedcciáo, fcnão íayo doConuento,atê q coracalligodehúa , ou duas, que mudou pcra outros mo- íiciros da meíma Ordé,& jur- diçáo,as tirou de fua antiga morada_,trazendoascó grande, & honroío acópanliamêco pc ra onouoConucco em q ago- ra viuem neila cidade , agrade- cidas àmerce,q então recebe- rão, & íentidas de logo que fe tratou de mudança a não fabe- conhecer, Hcfruito, a gran de Religião q neítc moííciro fe profcHa, da paciência, 5c in- duilriadeD.ír. Agortinho,&; em fua vida começou a ve- lo^^z feftejalo, dando por bem empregado tudo o q pêra efte fim, ou defpendeo de fazenda, ou foffrco de moleílias. I o També lhe pareceo diíFo n3ncia,qiie profeirando as Re- ligioíasdeNolla Senhora dos Remédios dcrta me fraa cidade, a Terceira Regra de S. Francif- co,trouxefl'em, como traziáo.

habito aHonado,<Sj não pardo, cor própria de íua Religião. Ordenoulhes mudaflé de cor nos hábitos, <k veí^iflem par- do. E porque a falta de dinhei- ro náo impediílea execução, o mandou dar pêra hábitos^ a todas as que o quizera5,&: al- il com gofto cõmú, & lem re- fiílécia de nenhiía, fcintrodu- ziooqera em vtilidade de to- das. Agradeceolhocõdadiuas hberaes o Arccbifpo. Delias fe puderaõ ajudar peraafóte da crafta, & portada da Igreja.

CAPITVLO LXXXXIIII

ESMOLASSE OBRAS quefec<^na cidade ^ i5f Arce" bifpado de Braga , cuidado com que afsiíiia na , iff procuraua deje coferuarem pa^comofeu Cabido.

Eco zelopru dente, Òc cui- dadofo fe em- pregou na re- formação dos cuftumics, também com li- beralidade magnifica repartio cfraolas,fez obras, icuantou edifícios aflàz importantes ao bem publico , & commum. Pêra os pobres enfermos que

Mm le

4IO

CapitoloLXXXXIIIL

que íecuraõno holpital deS. Marcos deíb cidade,comproii cem mil reisdejuro,c|uenelle mefmoíeencorporaram. Ou rros cem mil reis de juro deu a Mifericordia pêra os pobres a que cila coíluma acodir.Pera fe cazarcm quatro orfans po- bres cada anno, deixou com- prados outros cem mil reis de juro, de que faó adminirtra- dores os Arcebifpos de Braga. E em quanto viueo autorizou íemprcosíeus Pontificaescõ doces de oifans j que naquelle dia fe rccebiaõ naSê, húa em cada hum, fazendo fempre of- ficiodeparocho o feu cfmo- Icr. Pêra dotes de filhas de ci- dadãos pobres de Braga, tinha determinado deixar trezentos, & vinte mil reis de juro, dos quaescada anno fe recolhe/Tc húa em qualquer dos Cóuen- tos da mefma cidade , porque efle era o dote que então fe pe- dia;&: quádo -Deos o leuou ti- nha jà poftos na mão de feu Thefoureirodes mil cruzados pêra efta obra. [>ocou cem mil reii de juro àsReligiofas deVa lençado Minho,& outro tan toaoConuentodas Religioías de Murça com padecido da po brcza com que nelles fe viuia, Ascfmolasdecadadiaforaõ

tas , que nas que fc puderaõ faber , defpendeo mães de tie- zétos,& leíenta mil cruzados, ale das ocultas q íòelleíabia. 2, Pêra os Religioíos de lua Ordê dos Eremitas de S. Ago- ftinho fúdou aquiemBragahú Cõuêto,cuja primeira pedra fe laçou aos 3. de lulho de x 5P<>. Deulhe o titulo de Nojfa Se- nhora do P£»/>w/o,pelladeuaçâo q fempre tcueãimagê(hecradi ção córtáte a pintou S. Lucas) da máy deDcos,q em outro da fuaOrdéfe Venera em Roma. Dotoulhe i4.mii cruzados,pe ra fcifcctos mil reis de jurOjOU rêda, obrigação , entre ou- tras,de húa miíTa cotidiaua pel laalmadelReyD.Felippe,q lhe dera o Arcebifpado (perpetuo teflimunho de feu agradecido animo) & officio de noue li çoés,cõ asraiíías de todos osSa cerdotes do Cõuêtoaqlle mef mo dia,pellas almas dos Arce- bifpos qforaõ,& foré deBraga. Dcpocsde fundadojvniolhc as Igrejas de S. Payo da Ponte do Porco, S. loaõ de Semelhe^, S. Eulália de Godinhaços , Santa Locaya de Britciros j ôc Santo Eíleuão de Regadas. 3 Sobretudo tomou àfua conta o edifício do Cóucnco, dandolhc pri^icipio pellas cer- cas,

^■fr. (^Agoftmhode £afí:ro.

411

cas, dizendo cjucria fazer pri- meiro o que os Rcligiolos não poderiaó depões acabar. Plan- tou pêra fombra húa grande, &fermola deueza, cujas ruas cmnobrecem varias fontes de agoa:leuancounella fctedcuo- tilfimas ermidas dos paílosda paixão de Chrifto Noílo Se- nhor: fez pêra luftenraçáo pu- mares, vinha, Ã: horta , obras todasdignas de Tua prudência, & grandeza, fk quebem pro- metem qual feria o edifício do Conuento , fe a morte o; não atalhara. Dcixouo com tudo enriquecido comiuíprecioío thclouroderchquias , que de Roma,&: Alemanha trouxera, todas ricaméte ornadas;,ba en- tre ellas húa admirauel Cruz deduasafpas naforma da Pri- macial 3 toda do faiuo lenho, tem de comprimento macs tíc palmo , cora as afpas , & largura neíla meíma propor?

4 'Pcra^melhorpTGruimcn-! tôdacidadc mandou feer no CaftoHp a alfandega com apo- íentosíji&: feparaçãq baítantc pcra que õs' mercadores de fo- ra podèífeHiiagaaálhanfc afy, & fuás fazendas, fem pagarem outr òsí direitos mães, que o al- lugucrdos pezos^.&medidaç

porque vendem ; & que deite Ic pagaflc alfandegueiro a cuja obrigação cftiueilè guar- dar tudo o que na alfandega entrafle.Heeíta franqueza, ícguridade a que trás a Braga grande numero de mercado- rcSjCom qxic fica dos raaes bem prouidos lugares doRey- no. Ornou a também cem va- rias fõtes de agoa. Na porta do Souto fez húa de três taças, aí- íàz.fermora,&: viftofa:fcz a do campo das hortas, a da rua no

: ua acrecentando a que fizera

I D.. Diogo de Souza : a de S.

; Vicente, a da coutada dos Ar- ccbifpos :fez os açougues , o campo dos touros , & tantas QUttas obras, que por ellas me

'; Feceo dizerfe, que D. Diogo de

^ áj?t<5^4 pudera fa^er de B raga cidade , mas D. fr.iAgoUinho

fi^ra dslla Corte. - ^oièu t- i\ •. i ^0,. : E porque n3Ó'òíiueíre

\ cm Braga qiicm náo fica fie de- uedor á íua liberahdadc, fez pcfa gazalhado dos Arcebif- pos o quarto da galar ia,nobrc edifício , & o melhor áos pa- ços Arcebifpacs^ &:guarne-. ceo outras cazas dcUes.Cha"

\ ijioua fypera melhor íeruiço da mitra homens viil:os em an tiguidadcsjcom cujainduftria a tombou as Igrejas ; pos cm

Mmi

ordem

412

Capitolo LXXXXIJIL

ordem a fucceflaõ dos Prcla- j dos feusanEeccílbres,cfcreueo dçlles húa curiofa taboa ,que mandou por na íancriftia da Sè, onde notou a vida que ti- ueraójOsannos quegouerna- raõ,&: o dia cm que morrerão, de que nòs grandemente nos aproueitamos por todoodif- curfo dcíla hilloria.E confor- me a cita taboa mandou pin- tares meímos Arcebifpos, & laó os q le na fala grande,oii de os puzcmosj acreccntando algús queao trabalho d efte in- rignePTcladofceíconderad. '■ 6 Nenhúa de tantas , & tão íàntas ocupações em qfcrc- I partia,era baflanrc pcra lhe im^ pedir aaífiílêcia da fua Sê.Pro^ curauaíèrapre acharfc as vef^ 1 porás, ^tniflas do«.'dias folê^ i ncs ,às miíTas dcs Damingos. ; do Aduéto^ÃiCoreímavas ma-f, ; tinasdcNatal,& oííicios todos da Somaha Santa. Redundaua fua alíiftéciacm grande rcfòr- maçãaiio coro,& cercmonias Tagradas^pórq comoera deftrif ! íimoiiellas', & nos'tonos do coro, fabia' notar os erros q fe comttia<D,& cmendalosíía fua cadeira^femipTccó aqcoridade, &r magcflàdejdondenaciaeftu darê dada híí dos miniftros do: áltar , &i coro emfiias obriga-r.

çoés , & cnfayarenfe primeiro quando em fua prefcnça auiaõ de dizer , ou catar aigúa coula. Tendo Bifpo dcancl, daua có^ tudo pclToalmentc ordens_,pcl la deuação q tinha aos a(5tos Pontificacs, & era tão obfcrua te,do qas rubricas difpocmjq do que alife manda cantar não fofíria fe rezaíle couza algúa, donde nacia acabarfe algúas vezes o oíficio mui de noite. Achandofcnas proci^^oés ttín gatiuasdo Cabido cntoaua; a Orapronobis como cada hu^ dos qucnellashião. ':,

7 Do ornato, òí autori-

dade da fua tinha tão parti- cular cuidado, quáto moílraó as obras que nella fez. Elle foi oqueá fagrou tomando eífca refoliTçâo', por nella fc nao^^^ Gharcm-Aaíligiosinem memo? ria da íagraçãõ antiga ;fe bclhe diziaõ^gus não fcr.poíBuel fâi car em^ètaó notauel fcmclhi te ceremonia : cfcolheo perjt eftc aidla odia 28. idc lulho à^ t0í. qucimandourcgJLiardafi fe por todos ók aJBÍnosy toiíce) dcruJo 40i, dias de:- í iiíiulgeaeià a quem naquelle d vií taftc.'pos no ai caãtmièr varias afdlquiasi CO mo CO n fiij da pedia «q o e toa dou porá porta pririMfcpáitcora \ o letreiro fcguincc ?ob nti: cl

uv:<íji<.i

i. íl!

Anno

413

JnnoDominiij^i. die^ve- roz8. Itãij Dns.fr, Aug.de. h- fu Ordinis Eremitarum fanai Aug. Archiepif. l^ Dns. Br/t- chara Augufl<e^ Hifpaniarum Primai , hanc Eccle^am in ho- nor em btat4 Alaria FirgintscQ, fecrauit^i^ in ahari maior i has reliquia^ r&pofuit.De lignofan-, ã^e crucisydefpinea coronaDãi^ defndonefiinó^de mappal!>ltima. uriK , de ntirrha Dni , def^eno: inquo natus jactiít ., de capais ^ , camifea^i^ t>efie beata Mari^ Virginis.Item relíquias fanão-, rum martyrum Stephani,LaU\ rentif^ Fincentif,AnaJiafij^Cle- mentis ^ Sebafiiani , Dion'fij , Blafjy Valentim^ Chriflopho- ri,Mauritif,Cofm<e,Í!f Damia- ni , l^f fanãoram confejforum Gregori/ , Aug. Nicolai^ Mar- tini, Rochi , Isf Nicolai de Tor- lentino^i^ fanãarum ''virginú^ tf Martyrum Catharin<e^ Aga th^, ApolloniíC^ {?* Sufana , ^ fatiã^Mari^e Magdaleuce Qua- draginta item dies informaEC' defiti confueta cunãtsfidelibm ipfam Ecclejjamin die anniiter- fario denote '■vifitantibiisdc ye- ra induigentia concefiti

Z Porque lhe parccco, q

auia inconucnicnccs cm eftar oSaniidinioSacrameco no ai

tar mor , cÕmunican<íooc.om oCabido, opaílona capclla particular , ornandoa duas alampadas de prata pcradous lumes de azeite , A; 4qus ou- tros caiviíeiros afli mcfmodç prata pêra dous lumes àc cera, iquc contiiiuaraentCigli ardei- íem, «Sc peraque quando íaiíTe fora aos enfermos/ofíecõaau toridade que fe efpcra de hua -táo graue : ordenou que ou uefle Tem prc doze tochasjcom prando pcra todos eftes gaftos cem milrcis de juro , q Iheap- ;plk;ou jÇÓ quea capella ficou ;baftantementcfabricada:Fezo ;pulpito,que hc todo de jafpcs iVçrmcihos jcom grades de brõ 'ze, peça náquelle género rara^ &grandioía. Pos no cruzeiro de húa,& outra parte dous grã des retabolos de boa obra, to- dos dourados, no do braço di- reito a quem entra, a imagé de Ciirirto crucificado, nodoef- qucrdo a feu Padre Sãto Ago- ftinho. Oruouas capellasem que eftão os glorio fos corpos á&S. Giraldoj S.Martinho de Dume, & Santiago Intercifo. Deu hum caliz de ouro,& ou trás varias pççâs, que nothe- fourofeguardáo. O Coníiderando q os Cabi dos foraõ inílituidos peraq ou

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ueíTe

i<T 1 - «I -aua^jM

4*4

sCapitolohXXXXIUk

(Kíc^íTénéííciefo peíToàs- àutori-^

padas ycôffí cujo exÉmplo í"c

Icon fcruaíícj & crcèeííc ^a difci^ 1

t piina eccleTiaftica/<8<: de que os-

Preladó^pudcíTé ajudaríc nos'

Imíníftcriòs íàccrdofâès> dctcr-

mín^ificiiíànto lhe foíle poííi-,

juel-ercu':^-âr-'dcmandas com o

'fèu Cabídoy pórqUe não acõ^

:tecc'ífe^^^àe perdido' com cilas

o bera-da paz,o pouò rcccbef-

efcatjdálo , & ètlêpcrturba-

^çáo.Trataua òá Gapicularcs to

'dos com bcneuolcficiá de ir-

Imáo^ & amor dcpay. Nos

:dia5em que fazia Pontifical os

tfazia^a fua caza , & tomia cu

todos ã liúa raczà : ô{, tudo

tanto góíío> que èntaõfolga-

;u<a lhe aíliftiflem a c|lla os cida-

:daõs Braga, pêra mães o íí-

nificar : além das doçainas , &

charamelas, que fetángiaõ em

quanto biaó comendo as igua

rias . Sabbndo que acodiaõ mal

^às hòrás menores de nofla Se-

nhorà,pórquenáo cráõ pór if

ío apoht3dòs,não tratou de os

obrigar com rigoícs,raàs de os

dèfpertar com dadiíias , dan-

dolhes cem mil reis de renda,

Ique fe repar ti íTcm entre osq

: acódifíbrriarczalas. Achando

' na V i íltaçáo cu 1 pado íértoCa^

pitular graue , eòhlultou que-,

caftigò lhe daria j aflentan

TTT

i dòíeque merecia cárcere pu-

" blico, elle fchi refponder, fe2>

quefe falafle em outra couza,

I julgando, que pêra peíToas tao

;gfàues, como pêra elle eraò

' as de feu Cabido,báftaua falar-

Te cm as caftigar , & afli foi, ^

, fabendoooCapitular culpado^

tratou pêra o diante de fuá

emenda.

I o Naõ obftante efta be- neuolencia , como fempre nas comunidades faó diuerfos os pareceres, rebentauaõ de quan do cm quando cccaííoés defgofto.Pcdio aos fcus Capi- tulares lhe dcixaíTcm laurar na húa capclla pcra fua fepul- tura : elcuzaraõfelhe dizendo^ quea capcila que fua lUuftrif- fima lauraflca não poderia dei-* xar de fer taõ grandiofa, comd eraõ todas fuás couzas , &c quó não era rezaó confentiííem na outra,- que lhe acanhaífc a mayor,efcuzainuenradafò pe fa o cxcluirem. Cõtudo não fe dando por enténdido,repli- ííou que a capella feria de mui pouco apparato , &: q porella lhes cobriria a Igreja toda dd azulejo" : nem afil vieraó no q pedia. Logo entaõ começou a tratar da fundação do moílei^ rode Noífa Senhora do Popw lojperafeentçrrar nelle. Aigúa

mSSBiSimmtàt

vez

D'.jr.u4goflinhode Caííro.

415

vez mandandolhe o Cabido i dizer, que pão trataíTe de diri- uar a agoa de cerca fonte cm q cinha gofto,& ao Cabido não hianada, pofto que Te íentio doiecado, com tudo refpon- dco , queyriâo aueriídefgorto, que o obrigaflc a foftentar de- mandas com o ícu Cabido.

C ' ' i. i' \

> r 1 ^;

CAPIT-VÍO LXXXXV.

BO TkJr AMENTO

de fua pefoa , tf ca^d , da

grande piedade que teuecom

i as teliquidó dpsfdntos^defua

morte i Í!f>do grande nome

que deixou. :: i~!o:.

.D om^v ..oO ísiv

RatauafeoAr ccbiíponocx terior como príncipe , no interior como frade. Era o ítíruiço de fua ca- zaauconfado, &C mageftofo, auia nella pagens ,efcudciros, capellaes,ík oíííciaes mayorcs coraocoftumaauer nascazas de grandes fenhores. Seruiafc no publico ao foro do lugar em que Deos o auia pofto-,no fecreto fe auia como o mães íiumilde fogeito da fua Reli,-.

giaõ- Era no comer mni par- co, &fobre iílo caó mortifi- cado , que nunca approuou, nem reprouou couza que lhe puzcíícm diante , porque não pudcircraífus criados^ncma- deuinharlhc o goílo pêra lho Éizctcm, nem o deígofto,pera lho atalharçcn. Depões de co- mer recolhiaíc na lua Ca mera, & nclla gallaua algúas horas emfeus cxercicios religiolcs,

de que íò elle fabia, prohibin- do; que por então ninguém emraáeaihefalar. A lua cama era como de frade ordinário, fem cortinas, oupauilhaõ,cm quanto a faude lho permitio. 2 Com tratar a feus cria-

dos fcmprt como íenhorj ôc Gom húa tal grauidade, que nenhum delles tinha confian- ça pêra lhe falar em mães, que no que clle lhe perguntaua, lá- bia com tudo moftrarítlhea tempos , humano, & afabil falandolhc pclio modo, ôí lin- goagemdecada hu, grangean- dolhe aliuiosjcõpadtcédofe de feus, trabalhos. Quando vinha de vifitar o fanto Crucifixo de Burgos,chegandoa Medinade Rio Seco, vil la dos Almiran- tes de Caftclla , foube que na- quclle dia fc.faziaó nella gran- des feftas i jantou , &: acaban-

Mm 4 <^o

41

CapitoloLXXXXV^

do de janrar mandou a feus criados q lhe fechaílem a por- ca,5i fe toíTcmtodosavcllaSj, òi elle íe íicou íò.Em acha- que grande , que padcceo fcis meies antes quefallcceíTe, & o náodeixaua , nem dormir, ne eftar deitado na cama, ficauafc íòj pafíandoas noites aíTcnia^ do em huacadeira,& pedindo? lhe os feus religiofos, que con íentiíTe que pello menos algíi criado o ficafle acompanhan- do, não lhes dcferio dizendo, q feria darlhes pena. Por eftes, èc fcmelhantes termos era tão amado detodoselles,comoo moftraraõ na fua morte, na qual fuccdeo(o que raramente acontece cm cafas deprincipes Ecciefiafticos ) que íem aiicr em fuacafa, nem irmão , ou fobrinho, ou outra fcraelhan- tepeíloa que pudeíTe atentar por fua fazenda, & auendo cento , & tantas de feu feruiço não fe achou menos cm fua morte peça algua ainda de pouco valor , porque a dor q todos tinháo de o perder , lo Ihcdeíxaua os olhos pêra cho- rar.

3 No principio de fua ca - fi fez que todos os familiares delia comeíícm em tinelo, comia com cllesal^íías vezes.

Porem como craõ muitos, 6Íc idades, qualidadci'!, <5j condia çoés differeccs, pode durar ifto pouco. Mas aiildâ entaõ or» clenou,que da fua cozinha fc deíTe de comer a todos, & que ate de vinho tiucííem ração certa. Fazia que todos fe con- feííaírem nas principaes fellas doanno, & então elle mefmo lhe daua o Santiífimò Sacramê to. Não confcntia que dadas as Aucmarias, cntraflc,ou faif- fedeícu paço pcííoaalgiãajmã daua logo fechar a porta , & a chauc entregaua ahumcapel- lão de confiança , o qual pella manhã , dia claro , a abria. Era com ifto a reputação de feus criados, &cafa, comoa de humConuentodeRcligio- fos bem reformado.

4 Admira uel foi o afFeito com que venerou, & procu- rou íe veneraílem as rcliquias dos fantos. Nascortes doPa- pa,&Emperadorj& mães prin cipesde Alemanha tratou íò de ajuntar muitas, parte das quaes pos no altar mor da fua Se, quando a fagrou, parte no fancuario que deu ao feuCon- uento deNoíTa Senhora do Po pulo, como acima fica dito.

5 Achando em Braga fa- ma, que naquclle furto, de q

f(

oi

jp.fr'u4gofiinhQde Ca^ííro.

4Í7

foiaucoro ArcebifpodeSan- 1 tiago D. Diogo Gilmires , &: nos j à falamos na vida de S.Fru tuoro,&: na de S. Giraldo, fo- raõ leuados peraGailiza não os corpos de S, Fruciioío, & fanca Siifana^irmá dcS Vitou- ro^raasainda os de Santiago Incercifp^S. Martinhode Du- me,& S. Vjçouro , não lhe fof ffço o zelo aquictarfejComo muitos outros Arcebirpos an- t^ce flores feus o tinliáo feito, ai)tes o obrigou a efcreuer fo- t>re cfta matéria a fua M jgefta- d<s i pcdindolhe efcreueíre,& obrigaíTe aquelle Cabid.oare- ftituir a Braga, p cjuçcom tão pouca juiíiçalhe rinhap, rou- bado : feio aííi. fua M^geftade, ín.as nem por efta cartai, nem ptpraquccomella foi do Ar- cebifpo , fizeraõ os Cónegos de^aíitiago mães quecertifica- Jo, quede S. V^itouro naôauia niqufHa mães que a cabeça, (je'S. Martinho deDiimc,& Ãantiagólntercifo relíquia nc nhiia : repoflacom que fe co- meçou a peírltiadir, que os cor |)j9>d.cft^]dons grandes Tantos cftauão^ni Braga , como dan- ,tçs eftiueráõ. Mas como não podia 3tin^ij,ã0níJe,bufeauaos cm diuerfos iugares, até que J Dcos NoíTo Senhor foi fetui-

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BOt;J

dodefcabiiriUo^pella manei- ra feguinte.

6 Auia na de Braga, ^

ha ainda húa caixa grande de barras de prata, que vai era al- gúas proç^ífoês leuada nos bra ços de clérigos, pellas reliquias que em ly tem , porem quaes eftas foflcmíenão lábia. Que

rendo hurn 4'? ^^^ ^^,P9'i ^^"' turaalgúas tinhaó opornedc cujas eraõ,dentro de hum fac- co de tafetá fQuito bem, atado foidarcom,hú eíctito quedi- zia: Inte^runt corpus fanai la- cobi Imercifii Alegre çom o preciofo tliefourp , ^ .:^nin)a- do cpm a fehcidade doGjccef- fa, le foi a Igreja de D ume on de p BrcuJafip .Pracharcníe di- zia fora .enterrado S.. -Marti- ; nho: ali finalmente deícobrio as fagrad^ reliquias peljo mo- do, que i\a vida do niCjítnp fan \ xo dcixari5Qs,rfi(çr.it0)._0.(rneí- 1 rno lhe aco^tcceo cQrr> os? pj^ : fosdeS. Vitonroj fQÍÍ^<3 lua Igreja , q^e difta ,pi> WPS pa^- .íps de Braga,', ..&{, maodii^çjp á- ' ÍPíira fepultqr^^que fc;^i^a fer cjp ranto.mgítyrjach^ujdérro; todps os o^G% áç^huxx\]çpti^o hMfnano,mpnps a cabeçf^ /Jfjp' Q Cabido jde Santiago por car- ta «çpníeíTçw cftaua ,4>aguellaí Sê/Naõ duuidou fer ^qpelle pi

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, ,zf¥^oh'LXXXXV,

75.

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corpo (íò -fânto Cachccume- no,& como a cal lhe mandou fobre a ícpu Icura em que efta- u,a leuantar hum tumulo de madeira o letreiro fcguinrc: Diui Fiãoris martyris Bracha renjis corpus^fub hoc tumulo Ji- ttim efl: Pertence todo cíle fuc ceíTo ávida de S. Viçou ronque vai lançada no primeiro tomo, onde acerca de nos ferem fur- tadas fuás relíquias pelloArcc- bifpo D.Diogo Gclmires nos fomokcotn aopiftiaõ comua, & com a que nefle particular cfcréué noíTos hiíloriadores. De como os outros dous fa- grados corpos de S. Martinho, & Sâtiágo Inccrcifoforaó tref ladados , & collòéados , diíTe- nios cm feus próprios luga- res. ' ifíilçnBiii: ; 1,^-1 n

j Do corpo de S. Giraldo dezcjòu muito ijígúa relíquia, õ tr^òii^eflb conílgo pcUa mui- tkdètíiçáoquéfempre lhe te- utl Paféceolhc a poderia tirar ■põfhiiíphi buraco, qte nòfeu fçpuldirb, ou a dcuação , ^u o'necèíridade tinhaõ abertòrtÒ catí'íò'^pòr clle as contas nos fhgrirdõá'<?flos.Ciitii prcceíftó ■d^d^^veV cfte-buracòj-fubiopbr Buâ cfòáda^de-^Hfáro^^à fépiilEàFà doSâiicb,queeft3%VaIco,fnas Toíi y-iiíãrau í 1 h3,tíèé'ÍTad achbli

:co

buraco, íinal deIle,por macs que o buícou,& chamou quê lho moftraíle , cercificandoo todos,que íem duuida ali efti- uera , & agora milagrofamen- te íc fechara. Cau faua a lébrã- ça defte cazo grande íentimc- to no Arccbilpo, nem delk fc podia lembrar fcm grande dc- uaçáo,& lagrimas, q derramã- ua, temer ofo fc por ventura o Santo teria por ofFenfa aquel- lafua piedade. E como quem tratauadc oappíacarlhe man- dou guarnecer todaacapella, & fepulchro , aífi como ago- ra cftà : deixou também renda peraquefempre diante delle ar àcfíc húa alapada jinílituiolhe confraria,& certos dias da Co refma fazia que feihè cautaf- fem completas , a que fc acllát uaprcfcntc. /íicJjO

8' Foi também mui dcuô- co da Paixão de Chrifto Nòf- foSenhor. Efta deuaçaóoic- uou cm romaria ao SantoCrb cifixode Burgos, onde cambe deixou perpétuos teílcmu-" nbos de fua liberalidade , olí c- reccoà Tanta imagem hija ar- niaçáb de veludo negro , & hííá grande alam pada deprafa^ com-bàftante rédá pêra o azei j cedcíla^ ^ pcrafc lhe dizer tCM j das as ícftas feiras híja miflací-.i

:' tada

D.fr.Agoflinho de Caííro.

419

tada. Nunca dizia rriifla da Pai- xão,que não derramafle mili- tas lagrimas : ouuindo íer- maó dos Paílos , fo raó tantas as que chorou , & tão grande o abalo, que nelle fez,que fain do como coílumaua a acom- panhar a procilTaõ lhe deu a pouco cípaço hum accidente^ de que o leuaraõ qualí alhca* do pêra caía ,& dellc dizem' íe lhe originou a doença de que morrco. .,

S> Foi, i& herido por hum dos grandes exemplos cie pa- ciência, que ouue emnoílos tempos. Seiído fcnhor de Bra- ga,& que como tal podiamui CO à lua vontade tomar latis- façáo deaggrauos, que nella fe IhefizeíTem, não faltando al- guns, que fel heatreuera5,tão fora efteue de os caftigar, que antes aos delinquétes em quê fe pos boca, fez particulares raercespor todas as vias que pode, Âítrataua tão depro- polítodefta virtude, que pê- ra lhe náo elquecer , trazia ef- critode íua letra em hum re- E^ifto do Breuiarío : Nunca me mingarei de aggrauos que fe me facão. ^(-.;' ■/ oií.: 10 Elfcfoi, pello muito quezelauaa pureza de noíía fanta , o que perfuadio, &

leuou confluo à corte delRev í D FelippelegundodeftcRey- noos dous grandes Arcebif- pos D. Theotonio de Bragan- ça d'£uora,& D. Miguei de Caítro de Lilboa , a encontrar o perdão geral de que com fua Macíeílade trataua a ^ente da nação, ôi pode por entaõ im- pedilo. Perguntou íelhe na vi- tima doença donde queria lhe trouxclTem o fagrado Viatico, fedafuacapella ,onde fe diria miíTa, fe da Sê: refpondeo que da , peraque acompanhan- do© íuas ouelhas , viílem co- mo morria na da Igreja Ca- tholica. Entrandolhe pella por ta o diuinillimo Sacramento orecebeo com a confiíraõda Santifiima Trindade, dizen- do em voz leuantada : Benedí- camiis Patrem , Isf Filium cum SanãoSpiritu. Depões aggra- uandoíe mães a enfermida- de , pedio a Extrema Vnção refpondendo íempre ao Sacer- dote , & falmeando com os q alTiftiaó, ate que repetindo muitas vezes os SantiíTimos nomes deÍEsv, & Maria, o leuou Deos pêra fy a zy.de No uembro de mil & feiíccntos, & nouc, tendo de idade 71. an- nos, & do Arcebifpado 21. |

Tan- 1

Varaõ verdadeiramente gr

de

420

Capitolo LXXXXV.

deemfuasacçoês , & que por muitos títulos mereceo cha- mirélhe vulgarmete D.Agofii nho de boa memoria. Dizê q íe achou por ília morte encrefeus papeis húa carta em q Tua Ma- gertade lhe oíFerccíao officio dcVizorey defl:esReynos,deq elle íe efcuzou , & em que nu- ca falou; íepultaraõno na Igre- ja velha do feu mofteiro do Populojatè íc edificar a noua, pêra cuja capclla mayor de- pões de 19- annos otreslada- ra5,& collocaraó em hum ni- cho, q fica da parte do Euáge- Iho/endo prior o padre fr.Bcr tholameu de Saldanha. Aqui Ihelaurou a fua cidade de Bra- ga de obra de madeira a fepul- rura em que ao prefentecftà, com eíle epitaphio.

IlluflriJ?^ D. D.fratriAugufií- no de CaflroAugufiintfi, Archk pijco , ac Domino Bracharenfi^ Hífpaniarum Primati , olim in fuperiori Germânia iuj?u Ctefa- ns Rodulphill. Eremitica fa- mili'e refortnatori , huiiis mo nafteriij fimdãtori^ac dotatori^ ^iropietate , ^ prudentia in- figni^ magistrattis Br achar (6 Au guflcc paíiori fuo clementifsi- mo ob innumera beneficia liben- ' ti animo fieri curauit^anno Dni

lúiS.IllufiriJ?" tfReiiercdiJ?^ D.D.Roderico de Acanha Ar- chipr<efule.Obijt Brachar<c die ij. NouembríSiCoo. annos na- tus 72. Quer dizer. Ao IllufirifsimOyiíf reuerendif- fmo fenhor D, fr, Agoflinho^ Arcebifpo, is^ fenhor de Braga, Prima^das Hejpanhaí , refor- mador antigamente da família Eremitica na alta Alemanha, por mandado do Emperador Ro dolphofegundo do nome^ funda- dor, Isf dotador defle mofieiro, 'varaó infigne em piedade, ijf prudência-^ o GouernodaAugu- íia cidade de Braga afeuPreU" do clementifsimopellos grandes beneficias que delle recebeo^ com animo agradecido lhe mandou fa^^r eíiafepultura, no anno de 1628, fendo Arcebifpo o Illuf- trij^^ tf Reuerendi]?^ fenhor D.Rodrigo de Acunha. Morreo emBraga aos z^.de Noucbro de iCo^f&ndode idade de -jz.anns. Eraõ Sijmos Poncificcs no tempo que o Arcebifpo D. fr. Agoílinho gouernaua cftc Ar cebifpado Xifto V. Vrbano VÍI. Gregório XIIII. Innocé- cio IX. Clemente VIII. Lcaõ XI. & Paulo V. Reys de Por- tugal D.Felippe o I. & D. Fe- hpe IL

DOM

D.fr.Alexo de ç^enez^es.

421

DOMFREI ALEIXO

de Menezes 104. Arctbil

po de Braga.

CAPITOLO LXXXXVI.

. n ■■('■}'■ S EV NJCIMENTO, efpirito com que tomou o ha- bito na Religião de S. AgoiU - nbo^'PÍdaqnellafe^,iS' como foi eleito Arcebifpo de Goa^ iffe embarcou pêra aindia.

Aceo D. frei Aleixo eiiiLií- boaaosij de Janeiro doan no de 1559. Seuspays foraó D. Aleixo de Menezes Ayo delRey D. *S'e- bailiaõ (filho do Conde de tanhedc)& dona Luiza de No- ronha.Ciioufe noPaço em panhia , & fauorcs do mcfmo Rey,qlhecraaffeiçoado. Mas rodos cíles Fauorcs pudcraó o- brigalo mencs,q o elpirito do Senhor, côo qual fendo ainda pouco maesde ij-.annos pedio o habito de S.Agoftinho, que felhe deu noCóuenco deNoí- {3 Senhora da Graça deLiíboa a0524.de Feuereiro de 1574. pormaõdo Prouiiicial o Pa- dre ir. SebaRiao Tofcano.Os

pays/í eípcrauaó receber neiie o galardão do muito queàco- roa dcítcReyno mercciaó,quã do fouberaõ entrara RcUiMofo o íentiraõ em forma, que che- garão 3 fechar janelas,conio fe lhe morrera feu filhe. O que vendo híí fidalgo cunhado ícu, compadccendoíe dciles - íc foi ao Conuento , di eftranhãdo aoProuincial auer recebido hia filho de tais pays , fem cíperar feu confenrifTiento, apertaua refolutamcnte lho mádafle Io go entregar, &c vendo que o Prouincidfe efcuzaua, dizcn- do,que leni culpas não podia priuar daRcligiaó a nenhú no- uiço, quanto mães afr. Aleixo cm quê os merecimentos eraó taõ conhecidos: replicou^ que pcllo menos o deixaíTem ver- ie com elle,entêdcndoj que co mo a menino poderia facilmé te diífuadilo de fcus Religiofcs intêtos. Cõcedcoíhoo Prouin ciai, mas foi debalde, porq por mães q o tio, jàcõ ameaças, promeíTas,jà magoas , q lhe propunha de fcus paystra- tou de o diuertir, não pode a- cabalo ellc. Antes o reloluto moço foube dizerlhe tacs cou zasdoamordcDeos,í^dcfpre zo do mudo,q o tio não la- grimas arrepédido cio q auia te

Nn tado.

i'

422

CaptoloLXXXXVI.

lado, lhe diíleq fazia muito bê, c]aefoíre Religioío jàí^Deos Ihedaua eípirito de o ler. £ deípedindoíe,& tornando aos pays donoiíiçolhcs afíirmou com juramento que o abala- rão canto as couzas , que frei Aleixo lhe diíTcra , que fe não íora cazado logo ouucra de pc dir o habito pcra lhe fazer cõ- panhia.

2 Acabado o anno de no- uiciado profeíTou no mefmo Conuentoaos 27.de Feucrciro deijyj. & depões diflo ficou íeruindo nos oflicios decozi- nheiro,refeitoreiro, & outros fcmelhantes a eftes, prezando- fe íempre muito de os fazer humildadcjatè que fendo de dezoito annos o mandarão feus Prelados ao Collegio, que tem em Coimbra a eftudarFi- lofofia , & Theologia , aonde dandolc não menos aos exerci cios do efpirito , q ao efludo das letras crecia juntamête na íabedoria,& na graça deDeos, & dos homês, dos quaes era reputado ,9 quando vinha as ferias a Liíboa os meílres de nouiços foigauão de o leuar, Si ter configo, porque delle fe pegaflealgúa coufa aos noui- ços Falaua com clles de efpiri- to,& cato affeito q fcmpre

os mouia a lagrimas de deua- çáo.No mefmoCollcgio táto q foi ordenado de SacerdotCj húa iníigneReligiofa (das q cha máona fuaOrdéMátelletas,& cuja vida por admirauel cUe depões efcreueo{leuadada mef ma opinião , q fe tinha delle o pcdio ao Prelado do Collegio pêra feu meftre, & confeíTor. 3 Sahio em fim do Col-

legio depões de acabados os curfos de Theologia tambéin- ftruido nella,como o moftrou no Synodo de Diampcr, q cUe fez fò, fem ajuda de ncnhú ou troThcologo, como teftimu- nha o Padre frei António de Gouuea no liuro da jornada da Serragem o qnal anda cfte Sy- nodo.Exercitoufe logo no of ficio de Pregador com grande fatisfação, & edificação dos ou uintes. Depões foi cleitoPíior do Conuento de Torres Ve- dras , após iíTo do Conuento de Santarém, logo do Conué* todeNoíTa Senhora da Gra- ça de Liíboa , & vltimamente o fizeraõ definidor j em todos cftes oíficins fe moftrou íem- pre mui amif;o dos virtuofos, &zelofo do auméto,& credito da fua Religião. Offeíeceulhe fua Mageftade o Reitorado da Vniuefíidade de Coimbra ,

efcu-

JD.fr.jikxo de c^enez^es.

423

elcuzoule dizendo que ícnão acrcuia a viuer fòra da fua cel- la , 64 que aquelie oíficio auia mifter alliltencia peííoal. De- pões lhe mandou o niefmo Rcy D.Felippe primeiro dcílc Reynoprouizáo de pregador íeu, & cambem a não aceicou, lenaõ quando pefloas dogo- ucrnodoRevno lhe diíTeraõ. queviíle, que cngcicarreme» Ihantes mercês poderia pare- cer foberba. Os (eus cuidados todos íe encaminhauaó d fal- uação, & pêra bem delia tra- taua com grande eíficacia, que fe íizcílc na lua Prouincia hu Conuenco de Recollecítj, aon- de elledezejaua acabar ávida. 4 Porem neíle tempo era que mães trataua de retirarfe, ordenou Deos quea elRey D. Felippe o prudente lhe pare- celle que pêra conferuaçáo do ertado da índia, conuinha por na Prelazia de Goa homens de qualidade, aos quaes rcfpei- taflem os fidalgos , ôc ouuiílé de boamente os Vizoreys: vio que na peííoa de FreiAleixo a nobreza concorriaõ virtu- de, prudencia,&: letras. Com o que Te refolueo em manda- lo por i^rcebifpo a Goa. Or- denou queíeus miniftroslhe íailaílem niflo , & íe lhe falou

mui apcrcadaméte húa,& mui tas vezes , até que o mefmo Rey obrigado do conceito q dclíc tinha lhe efcreuco cfta carta.

; Frei Aleixo de lESFS, eu elRey "Vos enuio muito afau- dar. Vendo eu o muito que con- íífm pronerfe o Arcebijpado de Goa empej^oa de partes^ lepras ^ '■virtudes , irreligião , que pe- de hiia Prelazia em que tanto ferui^ofe pede fa^er aNoJfo Se- nhor no acrecent amento de fua fantafè^tf.quefeja de tal qua- lidade , que com autoridade de- tiida pofia cumprir com fua brigado no efpiritual , tf aju. dar a meus Via^reys , me pa- receo elegemos pêra iflo pella muita fatisfação^ que tenho de ^os , tf entendo que tendes to* das eHcís partes , tf porque fen- do afsi nâo he re^^lo , que por ne- nhuns outros refpeitos de menos momento ijos efcwj^eis^como en- tendi , que o fadeis , 'Vos enco- mendo que aceiteis a dita Pre- lac^ia ,fem duuida algúa , por- que dl fio me auerei por muito feruido , como mais em particu- lar Dolo dirá Miguel de Moura do meu Confelbo do E fiado , tf meugouernador deJfeReyno. Efcrita no Pardo ati.de No- uembro de 1^94.

Nni

Epoílo ^^^

424

CafitoloLXXXXIIL

6 E pollo que nem ain- da a efta carta íe rendco ir. Alei xo ercuzandofecorn odcfem- paro, em q íicaua íua máy en- carregada de netos orfaós , ôc íò (em filhos , nem irmãos , q a pudeííem ajudar a leuar a carga dos trabalhos,& q nefte cazo a elle obrigaua a Icy de Dcos â acodirlhe : com tudo mandoulhe vltimamente cl- Rey,quc aceicafiê, que elle to- mauaafeu cargo as eouzas de fua máy , pello que lhe foy forçado obcdecefc Ecomo el- Rcy> õc íeus miniftros cntch- diaõ , que de fua ida àquellas pattes dependia naquclla oca- liaóo remédio delias, deraõfe tal diligencia na expedição das bullas,quepode fagrarfea zC. de Marçõ^que foi o dia de Paf- coadolcguintcanno de ij^j*. ôc receber o Pallio a 19. do mefmomez. O Pallio lhe deu em oConuento de Noíla Se- nhora da Graça oArcebifpo de Liíboa D.Miguel deCartro, auédo o (agrado oPatriarchaq então eftaua por Collcicorde lua Santidade nefteReyno.

7 Fezlhe elRev raerce de Iheacrecei^tar o ordenado do Arcebilpado cm mães dous mil cr uzados,do q fea uia dado afeus anceceflorcs,&em huns

dizimos , que valiaõ mães de outros mil cruzados: Sc que os Vizoreys em todo o Arce- bifpado de Goa não apprefen- taífem Clérigos, em benefí- cios alguns Ecclcfiafticos, íe- náo os que elle appontafle: ôc que felhc deflem rnil cru- zados pêra cUc repartir en- tre os Cónegos , ôc mães mi- niftros da fua Sê, como lhe pa receíTe^de modo , que lhes fi- caflem pcra fcmprccrecendo nellcs as fuás rendas: ôc queaf- fi cftas do Clero, como as fuás fc pagaíTem em Bardez liures dos V^izorcys , com poderes, de por,Ã: tirar officiaes,como lhe parece(rc,o q foi grande bc pêra remédio das vexações , q nilto padeciaõ oj ArccbifpOs. 8 Embarcoufenomefmo annodei j9f. nanao noíía Se- nhora da Vitoria , na armada, de que foi capitão mor loaõ deSsldanha, & logo na viage começou a dar moftras da muita caridade de que depões vzoucom os pobres,fcndoIhe ocafiaó húa doença, que deu em quaíi todos os homens da fu4 nao.Curouos o bom Pre- lado,náo fòcom os fauoresde fua prcfcnça vifitandocs a to- dos peíToalmente, ôc muitas vezes , mas ainda com os re-

ealos

D.fr.Alexo de t^Menezj^s.

42 5

galos , que podia dar de íy o delcommodo de húa tão lar- ga viagem. PeJa iíTo comprou à lua cu lia as galinhas rodas, q íc acharão na nao , òc cftas or- denou íerepartiflem aosenfer mos por mão dchumRcli- gioío da fuaordemja quépc- ra iíTo deu o cuidado de enfer- meiro.

CAPITVLO LXXXXVII.

DAS COVSAS Q^FE fe^no Arcebifpado de Goa, emferHico de Deos ^ if dei- Rey.

Hcgou a Goa cm Se embfo de i$9S' íendo VizoreyMaC' htiasdcAlbu- querque. Conuocou, & cele- brou logoSynodoProuincial, que foi de grande importância pêra reformação de coílumes. Em quanto ellaua cm Goao feu exercicio era pregar na fua St todos os Aducntos, & Ço- rcfraas , & fora delia nos Có- ucntos^s dias dos fcusoragos, & muitos outros com grande fruito, &: confolação dos ou-

umtcs ; nem por lerem os Icr- moés Icmpre de duas horas,& a terra de muitas calmas, fecn- falliauáo por iííodcoouuir. A ndaua táo exercitado no ofli cio dcprcgar^tS: tuiha dclle táo grande zelo,que fc por ventu- ra lucedia faltarnafuaSè prê- gador,porquc não íicalTem a- quellediaas luas ouclhas fem pafto , fobiafe ao púlpito, & Dcos lhe daua tanto que dizer de repente, <S«: com tanta fatis- fdçáo de todos, q muitos dos melhores ouuintes diziáo,quc mães o queriáo ouuir daqud- la maneira , que quando mães aparelhado.

1 Sem embargo dede con- tinuo oflncio de pregar aíli ília na Sc Domingos , & dias Tan- tos, & denoitc as mães das ma- tinas dos frades de S. Frácifco, com os quaes em os feus pa- ços tinha porta por dentro. Na Corefma acodia a confclfar os forçados das gallès & os prezos das cadeas,& a huns,& outros fazia praticas accom- modadasaoelladoem qucef- tauáo. Aos pobres da cidade daua húa hora de audiência ca- da dia, & ainda pella Corelma os ouuia de confiíTaõ na Sè,pc raquemclhorpudeflcmdarlhc | conta de fuás neccílidades, ^ |

Nn3

:lle

426

Cafitolo LXXXXIIIL

clie rcmcdiarllias. Quando co- mia queria , que à lua villafe lhes cnfinallc a doutrina Chri- ftam,^rdepoes fe Ihesdauaa to dos crmola,& a doze dcllesdo mefrno que elle comia. & mui tas vezes íabendo que por fal- tade dinheiro, ou por algum outro refpcito fe lhes não auia aparelhado , fe ficaua fcm co- mer, por mandar dar aos po- bres o que fe fizera pêra elle. Podia acodir atodas cftas oc- cupaçoés, & a muitas outras do íeruiço deDeos,& delRey, porque fe contentaua dcf- cançar íòmentc trcs horascm cada noite, & aííi no rcftantc occuparfe no que entre dia lhe poderia Icuar o tempo. 3 Também coníídcrando quaõ geral era naquellas par- tes a deuaííidáo das molheres de toda a forte de eftado , 6c quaõ grande o prejuizo, que diífo refultaua ao feruiço de Deos , ordenou dous differé- tes recolhimentos \ hijdcAr. rependidas , cm q fe rccolhef- ícm as que chegaíTcm a perder fe; outro de donzellas pobres, que pêra o feruiço delRey foi o macs importante, ^aíTi pêra cfte alcançou de fuaMasefta- de mil cruzados de renda. Or- ^lenoulíles que trouxcflem ha-

bito de íanto Agoftinho,aco- diífem ao coro_,cantaíTem nel- le, tiueílem certos dias dicipli- na , & fe ajunta liem cm cora- munidadc ate que cazaflèm, ou tomaílem outro eftado. Neftc recolhiméco deixáo fuás molheres, & filhas os homens que vão pêra fora , dando o neccífario pêra fuftétaçaó del- ias Entregou ogouernoà mi- fericordia, o confefsionario aos Rcligiofos de S. Agoíli- nho.

4 Fundou tambcm orno- fteiro de Santa Mónica deGoa tomando pcra fuás primeiras Religiofas alguas das donzel- las do recolhimento, de quca- cabamos de falar , ao qual deu regra, & habito de S. Agofti- nho,& húastaú fantas con- ítituiçoês, & difpoíição do go uerno, que he , & fera fempre fium raanifeílo arguraêto do zelojdeuaçãoj&prudéciadeftc prelado. A praticatlhcs efpiri- tualmente acodia em quanto ! eftcue cm Goa com tanto go- flo, como fe ncnhua outra oc cupaçáo tiucíTe. Entregouas à obediécia do Ordinario,mas alcançou brcue dcfua Santida- de, peraque os Sacrfmentos lhes foílcm adminiftradospel- los Rcligiofos de S. Agofti-

nho.

D.fr. oAlexo de a^M^nezjes

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tinho, & ellcs mcrmos lhes diíTeíTcm miíTa. Tem moílra- do a experiência fcr priidence- mence repartida a adminiílra- çãodertegoucrno. $ O de que mães traçou

cm quácoellcje naquellas par teSjfoia conuerfaõ dos iníieis, & reducçáò dos Cifmaticos àfè de GhriíloNoflb Senhor, & obediência da Igreja Roma- na. A Sacocorà tratou de ir em peflba por refpcito dosBiduís, que viuem naquella ilha ( ho- mens, que adoraò aGruzde ChriftojComo defcendenres q faõ dos Chriíiaós , que nella deixouoApotiolo S.Thome, mas à volta delia adoraõ tam- bém a Lua, & tem mil outros erros ) & eíleue apparclhado pcra fe embarcar nos annos de Goi.^Coi.. mas fempre teuc impedimentos do feruiço del- Rev^que o não deixarão fahir fora de Goa,& aííi por náo di- latar o remédio , qucdezejaua dar aos erros dcquella gente, mandou cm fcu lugar dousRc ligiofos deS. Agoftinho com todos os recados neccíTarios pêra fere fauorecidos do Rcy, os quaes aucndo trabalhado muito ft tornarão fcm fruito pclla dureza, & barbaria da- quella gente mas náo fcm me

recimcnto pello zelo com que o auiáo procurado. Melhor fuceíTo ceuc na conuerfaõ dos Maleàs pouos gentios , que fe cílendem pello alto das ferras do Malauar. A cftcs mandou dous dos que fcauiaõ reduzi- dos nas mel mas ferras, & deu- Ihcs Deos tal graça, que quan- do voltarão ji deixarão húa Igreja Icuantada , & a muitos deilcs bautizados, & dos mães vinhão parfuadidos fariaõ bre uementc o mefmo. Acodio também com remédio da fal- uaçáo por meyodcdous Re- ligiofos deS. Agoftinho , que lhes mandou aos Chriftaós, q chamáodeS.Ioaõ, & viuem nos confins da Arábia dezer- ta, debaixo dajurdiçáo de Rev mouro, &: nas m aos de- ftes Icpuzeraõaqjelles Chri- ftáos com o feuPatriarcha, pê- ra que os allamiaífem,& tiraf- lemdos erros cm que viuião, aparelhados a tudo o que elles lhes dificíícm , até darem co- mo cm oíFeito deraó obediên- cia ao Summo Pontifice Ro- mano Paulo V. Suftentou na os Catholicos defcendentes dos Chriftaõs qauiaóidoera focorro do Preftcloaõcom D.ChriftouaódaGama, man- dandolhes Sacerdotes , que os

^ -

Nn 4 gouer-

28

Capitolo LXXXXVIL

gouernaíTem , couza que fen- do de antes tétada de muitos íodcllefoi alcançada,pella pru dencia , &C Icgredo cora que a foube encaminhar. 6 E nem por feapplicar

tanto as couzas cfperituaes fc cíquccia das temporaes pertê- centes ao bem publico, & co- mum , íabendo que a carida- de porto que anteponha aquel las , com tudo não deíprcza cftas .Aconfelhauãofecom el- le cm tudo os Vizoreys, por- que eiRcy conhecendo bem o talento do Arccbifpo, alli lhes mandaua que o íizeflcm. Go- ucrnou por varias vezes o eil:a do da índia-, húa em quanto o Vizorey Ayres de Saldanha fc dcteue cm Cochim aonde ap- portou forçado dos téporaesj outra na auz encia,que o mef- mo Vizorey fez indo vilítaras partes do Norte. A terceira quando o Vizorey D.Martim AíFonfo de Caílro foi a Mala- ca,& defta vez por occaíiaó da morte do Vizorey ficou go- uernando por tempo de qua- tro annos,atè que entregou o goucrno a André Furtado dcMcndoça. Achou aquclle citado mui pobre, pello empe nho com que auia appreftado a armada cm que fora o Vizo-

rey fcu anteceflbr a Malaca, os cncmigos com a perda delia fo berbos , ôc alentados, artelha- ria pcra fe defenderem delles nenhúa, nem ainda cobre de q íepudeflc fundir. Com tudo o íuftcntou mui género famê- te liurando duas vezes a forta- leza de Malaca,& húa a de Mo çambiquc de cercos de Olan- dezes , porque como era mui bem quifto pedindo dinheiro empreftado, todos com mui- ta íacilidade lho dcraÒ , que pode remedear as neccflida- des doertado.

7 A vitoria,quefe alcan-

çou do Cunhale deuefe à in- duftria com queD.fr. Aleixo, não fòcntreteue os Mouros, que o tinhão cercado , & ar- mou contra .clles osChriftãos do Malauar,mas ainda deu cacs rezoês ao Conde da Vidiguei- ra Vizorey D. Francifco da Gama, que o obrigou, aque cõtra voto de quafi todos cm- pfèndeíTea deftruição defte enemigo deDeos,S: do nome Português. Do muito que ni- fto fez naceo a fama que ha eii tre mouroSj&Gentios daqucl las partes q o Arcebifpo quan- do eftiuera naqucUas partesdo Cunhale enfeitiçara todo a- qucllclugar,per3que naopu-

ò^{{c

2)./r. oAlexo de ^íMenez^s

429

delTcfcr defendido. Em quan- to souernou não aceitou , ainda os prezétcs que os Reys vizinhos coftumáomíídaraos Vizoreys. O Rey de Ormus quando llic mandou o cofre decriftal,queeftà noConuê- to de Noíia^Jenhora da Gra- ça de Liíboa , de que abaixo di remos, como quem lhe fabia o cftylo Iheenuiou a dizer que lho mandaua peraque elle tam bem o deíle àciucUeConuen- to. Emfimquaódeíentereíía- damente procedeono íeruiço delRey fe vio bem pella pobre za em que le achou, quando fequis partir peraoRcyno-

CAPITOLO LXXXXVIII.

Dl F F ICVLDADES que rcmpeost ^ pensos em queje iPio por reduzir osCif- maticos, que 'viuiaÓnaí fer- ras do Malauari i^ dosíih cej^os que teue.

Scuzauanos do trabalho de cf- creuerdcftajor nada o liuro 6 imprimio o Pa- dre fr. António de Gouuea,de-

poc? Bifpo de Sirenc/cnão pa receraque conuinha ao credi- to de tal Prelado, &agloriade Deos refumiremfe aqui brcue mente algúas couzas das mui- tas que naquclle liuro fc cf- crcucm.

2, Auia entre os Malauâ- res huns Chrifta5s,que fc cha- mauáo de S. Thomc,como de ccndentes qucctaô, dos que cftc glorioío Apoftolo cnfí- nou por aquellas partes ; porê dcChriftaõs não tinhaõ mães quconome,poes naprofiflaó eraó hereges Ncftorianos-, da- uáo obediência ao Patriarcha de Babylonia , negandoa ao Pa pa; & fobrc iíTo vzauaÕ táo mal dos poucos facramcn- tos que conhcciáo , que todos os dauáo,^ rccebiácâmonia-' camente.Deftes, & de fcus er- ros tiucraó os noíTos Portu' guezcs noticia dcfque entra- rão na índia pella vizinhança que as ferras do Malauar , cm queclles viuGm, tem com as noflas pouoaçoés,&: dcfdc en- tão procurarão vniíos confí- go em húa mcíma , & obe- diência do Papa verdadeiro Vi gairo de Chrilto. Começarão os frades de S Franciíco, con- tinuarão os RcligioíosdaCõ- panhia de Iesv: inrtaraõ macs

que

430

Capitolo LXXXXVIIL

que todos os Bifpos a cujo de- ílridogqucllaconueríaõ per- tencia, mas com pouco, ou ncnhu fruito, & menos ef- pcrança de o poderem colher, pclla grande aíTeição, & perti- nácia com que aquella gente viuia pcgadaaos erros , q pro- fcílàuaõauia macs de milan- nos.

3 Com tudo D. fr. Aleixo quanto macs Ifie diziaõ difto, tanto macs fe acendia dcze- jos de alimpar aquella femen- teira do glorioío Apoftolo S. Thonie da zizania dos erros, que íobre cila femcara o inc- migo. E como a hum dczcjo grande nenhiía couza parece impoífiuelleuado dclle fe re* folueoir pelToalmcnte à ferra do Malauara pregarlhes a ver- dade da , que deíconheciaô, &re começou aparelhar pêra a jornada, mandando fazer pu blicas orações , & dizer miílas pollo fuccílo delia- Foraõlhe a mão osPreladosdasReligioes, oCabido da fuaSc^aCamara da cidade de Goa, &c ainda por cartas a de Cochim com o feu | Bifpo propondolhe todos o pouco fruito que fe podia ef- pcrár da jornada, os manifc" ftos perigos a que fe punh3,a » íy, aos que conngo leuaííc, &c

porventura ao eftado da ín- dia,© qual fazendofe algum a- grano à peílba do feu Arcebif- po , náo poderia deixar de acu dir a caftigalo/ítando por en- tão com bem poucas forças,pc raemprender nouas guerras. Ouuiaoso Arcebifpo, Ã:ref- pondia que o Papa por brcuc feu lhe tinha encomendado o cuidado daquellas almas , & q ertâdo ellascm tão eftrema ne- ceflidade eípiritual não fatis- fazia à obrigação, que tinha de lhes acudir , fenão pondo por cilas a vida,ainda que feus pro prios pecados o fegurauaõ , q a náo poderia perder nacm- preza, porque iflb era fer mar tyr, &: o martyrio o concedia Deos cm premio de grandes fcruiços , que cllc lhe não ti- nha feito. Com tudo como naqucUa conjunção vicíTem nouas, que os Reys do Mala- uar andauão diuididos em gucr rís^jdefíftiopor entaõdaem- preza, aífi porque o Vizorcy em nome de fua Mageftadc lha impedio refolutamentc,como porfe perfuadir que em tal po mal poderia alcançar os cf- feitos que tanto dezejaua. 4 Entre tanto naodefiftio de procurar com cartas o re- médio daquellas almas, cfcrc-

uendo

^ -■-

D./r. oAIexo de (íMenezfs

431

uendo muitas, tSd mui cheas de caridade aos que asgouerna- uáo , acè que vendo crecer de cada vez mães os danos , fem reparar, nem nos inconuenié- tesda guerra, que aindaduraua, nem nos protell:os,&: requiri- nientos que lhe faziaó noan- node mil& quinhentos &; no ucnta & oito , a ícce de Setcra bro íe embarcou, dizendo que de Deos (cujo próprio fora íê- prc com fracos infírumentos obrar couzas grandes , & rc- fiaiirar as perdidas , quando mães irrcniediaueis pareciaó) fiaua^que por feu meyo acudi- ria a tantos milhares de almas táo dciuiadas do caminho de fua íaluaçáo.

^ Chegando às ferras do Malauar começando a querer viílrar aquellas Igrejas , náo padeceo contradições, mas re- íilkncia , & perigos. De húas eralançado fora,de outras mal reccbido,em outrasameaçado^ tudo por ordem dos Caflaria- res(afli chamáo aos feus Saccr dotes ) daqucllesChriftáos, os quaes juramentandofe entre fy a morrer antes que deixa- rem a lei à^S. Thomc (efte era o nome , que dauaõ aos erros cm q viuiaõ ) procurauaõ por todas as vias impedirlhe avi-

lltaçáo.Na Igreja de Paru, po- uoação das mães nobres da- quella Chriílandade íahio lo ao receber gente armada: & fe bemlheouuiraõ quietamente a pregação, todauia tanto que oArccbilpo quis chriímar(Sa cramenco queelles totalmen- te deíconheciaõ) leuantandofe todos comas armas nas maõs, & vozes em grito bradauáo,q os dcixaííe viucr quietos nas fuás terras , & ley em que íeus pays os auiaõ criado, &: fe tor- nalíe pêra donde viera, por- q aqucUa ceremonia da Chrif- ma naó parecia Sacramétoin- rtituido porChriílo mas fmal inuécado pcra os fazer catiuos dos Portuguezes. Montarão taò pouco comD.fr. Aleixo as ameaças , que antes de no- no com animo mui foílegado, tornou a eníinarlhcs a doutri- na do mefmo Sacrameco, que recuzauáo , & vcndoos ainda rebeldes, & furioíos arrebata- do de hum vehemente efpiri- to íe leuantou da cadeira em q eftaua , & andando pêra clles dizia." t^ia he a loerdade q Chri- fto enjinou^^ S. Thome pregou nejiiis terras , Ip" deliam me mo hei defahir, até <volaperfua- dir, ou compalauras , ou com o Cangue. Com eftas , & outras

leme-

432

Capito/o LXXXXVIIL

fcmelhantes rezoes venceo D. ficiAleixo cíle perigo, deixaii- doos a todos não ío palmados doferuor,6í cfpiritocom que asdiziajmasaindaem parte ré- didosjpocs coníenciaõ,que na quelle niefmo aólo alguns mi ninos foíFem çliriímados. 6 Entre todas cftas contra diçoés , perigos, Ôc refiftécias continuaua D. fr Aleixo com avifitaçáo das Igrejas fazcn- dofeà imitação dcS. Paulo, tu do pcra todos os moradores daquellas ferras , pcllos ganhar peraChriílo. Com os Chri- íbós moftrauaíc piadofojviíi- tando Teus doentes, 6c repar- tindo com elles dos mimos^ôi regalos, que jâcom eílc animo íeuaua , a^afalhando amoro- lamente os mcninos,dizendo, que daquelles era o reyno dos Ceos -.celebrando os oíficios diuinos, como celebrou os da Somana fanra na Igreja de Car turte cora tanta folénidadc, CO mo íe eftiueíTe, não entre Gê- tios , di Ciímaticos nas ferras dcMalauar , mas entre os Ca- tholicos deuotos no foíTego dafuaSè. Com os Gentios fe fazia admirauel na riqueza dos Ponrihc3es,com quecoftuma ua celebrar, porque fabendo,q feleuauáo muito aquelles in-

fiéis delUs apparencias exte- riores, de Goa trouxera confi- go os ornamentos mães ricos que tinha. Com os Reys da- quellas terras era mui dadiuo- ío , prezenteãdoos com cou- zas que noMalauar fceftimão, que delias íeauia prouido em Goa com dcfpeza de dezoito mil pardaosj que elle coftuma ua dizer eraó os que melhor defpcndera. E foi eftc piadofo artificio de muito prande im- portancia pêra a rcducçaõ da- quelles Cifmaticos,que dcfaju dados por hiáa parte dos Reys Gentios , por outra obrigados daliberalidadedeD.fr. Aleixo pouco a pouco fe hiaó aíFeiçoa do, & affeiçoados recebiaõ a doutrina que lhes prégaua. 7 Porem o que macs im-

portou foraó as marauilhas, q Deos NoíTo Senhor por todo ot^podefta vifita obrou cm confirmação defuafc. Cele- brandofe em Diamper Sy- nodo,aqtodos osChriftaós de S. Thomc por fuás cabeças concorreraõ,conuocados pel- loArcebifpo,pera fe tratarem nellc as couzas,que fc auiaó de fcguir,& crer dali por diante, ouuealgunsdelles,quecõgrá- de determinação tratarão de o perturbar , dizendo fer falfo

quanto

D.fr.Akxo de Q^enez^es.

433

quanto nelle íe dccrecaua,& q náo auiaõ cie dar obediência ao Papa , fcnáo ao Patriarcha de Babilonia^Sí dandoíe hunsaos outros as mãos de íeajudaré, íc refolueraõ cm entrar détfo da congregação do Synodo^ «Si refirtirliiirementea íeus^c- cretos . Entraraój&: fcndd tão grande a furÍ3,&: paixáo^que fc lhes conhecia de tora, com tu- do tanto que puzeraõ os eihos noArcebiípotahnedoIheí pos Deos no coração, que fcm po derem falar palauraíeíairaópe ra fora, & logo tornando cada hum íobre íy mefmo por não auercaiefFcicuado o que que- riáo, armados de hííanouafu- ria tornarão a entrar, & que- rendo falar fc acharão outra vez ocupados do medo, que primeiro os auia impedido. Dous dias perfeueraraó neftas entradas, & íaidas,atèquc ao terceiro palmados de que o medo tanto mães os acanhafr fe, quanto mães contra clle fc esforçauaõ , cairaó na conta de íeus danados intentos , & rcíolutos afeguirtudo o que noSynodo fe cnfinaua,con- fcílaraó publicamente fua cul- 1 pa , com tudo o mães que na- qiielles dias lhe auia aconte- cido.

8 Ordenandole nomcí-

moSynododc Diamper húa foléne prociílaõ em acção de graças pclla felicidade que íeauiaõ concluido as couzas dellcj fucccdeo fer tanta a chu- ua, que os queícuauaõ dian- te a Cruz não fe atreueraó a fabir. fora da igreja-, & como aauella sente hemuiieuadade agouros, logo daqui tomarão ccaíiaõ alguns dos mães fracos nafè, pêra dizerem, qucnaõ era aceita a Deos a vniaó dos Chriíbós de S.Thome com os Portuguezes » & que bera moftraua na chuua com que lhe impedia a prociíTaó, como náo queria que aquella vniaô felhe atribui ífe , ou agradecef- fe: antes ogloriofoS. Thome com a mclma chuua acodia íem duuida pclla íuaIcy,náo querendo que lha tiraíTem da- .quellas terras, em queeilea enllnara. Ouuião ilio- os ou- trosChriíláos com fentimcn- to , & o fmiíícauão pondo os olhos no Árcebifpo , o qual com raoftras deindinado mã- douliúa, & outra vczfaiflea Cruz,&fê cmbargo,q a chuua cõtinuaua,& feengrolíaua,tã- to q a Cruz fahio, logo ceííou ferenandoícosareSjdemodo q nêaofahir fe molhou aCruz,

Oo

nem

454

1

CafttoloLXXXXVIIL

n.ememquátoa prociílaõdeu codas íuas voltas ,cahio pôr co das as ruas por onde paflaua íiúafògotadeagoa, com que os rebeldes náo íó calarão con fuíos,mas ainda côpungidosfe arrependerão.

9 Naõ foi menos admi-

raucl o modo porqDeos crou xc a outros ainda rebeldes, ou vacilares ao grémio de fua Igre ja.Foi o cazoquecm Pallipo- raõ fendo oArcebiípo Icuado dos Chriftaòs daquelle pouo em procilTaó áígrcja,quádo fe virou pêra lhes dar a bençáo , certos Chrilkôs, quealli efta- \ião rebeldes ao Synodo,& ou tros ainda duuidofos doqnel- lefedcterminara^viraõcm íeu rofto húa tão extraordinária Mageftade, que lhes parcceo couza ( como clles diziáo ) da outra vida- Atemorizados a noua marauilha abrirão os olhos,& abraçarão de boa vó- tadc tudo o que oArccbifpo Ihescnlínaua.

io Vencidos finalmente

osCifmaticos daqucllas ferras, cõeftasj& outras marauilhas, que DeosNolTo Senhor obra- ua em confirmação das verda- des,que D.fr.Alcixo lhes prê- gaua,& aquclle piedofo ar- tifício de qucvzauapcra lhes

ganharas vontades_,tQdos acci caraõ tudo o quenoSynodo feauia decretado, & íc lhes af- íencaraóas couzas delle tanto no coração, que não ceflauão de as agradecer a Deos autor principal , &: ao A rcebi fpo in- ftrumento de tanto bem, o q moftraraõ na cõformidade que todos lhe pedirão quizef- íe ficarfe com elles gouernan- doos ; nas faudades com que de muitas Icgoas o vinhão a bufcar, pêra le defpediré delle; nas muitas lagrimas que derra- marão ilaftimas q diziaó,quã- dode todo o viraójà cmbar- carfe pêra Goa j &c lobre tudo na ponrualidadecom que acu- diaó aos preceitos do Synodo, Obrigauáno as faudades ^ que dos Chriftaòs de S.Thome le- uouo Arcebifpo a pretender muicode veras renunciar o Ar cebifpado pêra íc ira viuer en- tre cllcsífenão que Deos Nof- fo Senhor difpos as couzas de maneira q eftes feus bons dezejos não puderaó vir a cíTeito,

CAPI-

.

D.fr.Alexo de o^enez^es.

435

CAPITOLO LXXXXIX.

COMO DA índia

*veyo chamado pêra Arct - hi[fo de. Braga , tomou pof- fe do Arcebíjpado , i?* tem- po ^uerefidiOMlU,

Endofc o Ar- ccbifpo Dom Agoítinhode Caílrovellio, 6ícnfcrmo,& dezejandodcícançar emoíeu moftciro dcNoíla Senhora do Populo j pedio a íiia Magcíta- de,quc iheaceitaíle a renun- cia da micra , nomeandolhe ai gúsPrcIados,que poderião fuc cedcrlhenclla, ã: entreellesa pcíIoadcD.frci Aleixo. Acei- CQulha fua Mageftade referuan dolbc dez mil cruzados de pé- faú ( que não ouue cffcico,por que fci pouco o que depões viucoj&nomeou pcraquelhe fucccdelíc D.frci Aleixo, que cftaua ainda cm Goa. Chegou lhe la o recado delR^ey , & po- fto que mandou fazer preftes pêra a viagem o intento não era embarca rfe, mas obrigar a I feus criados, quefe vieflcm pe

raoRcyno, peraqueíicjnda- fecUeíòcom osíeusRciigio- fos, pudcílc com algum dclles ir a viíltar a caza Santa, & aca- bar finalmente a vida na con- uerfaõ dos Cifmacicos , Òi in- fiéis , que viuiaó no Rcy no de Pcríla. O que nao ceuccffci- co, porque rias nãos do anno fcguincc lhe mandou fua Ma- geílade , quefc.ertiueíTc aiíida na índia , íe vieíTe logo pêra o Rcyno porque conuinhaaííi afeu feruiço.

i Rcfoluendofe jàemo- bcdecer tratou de fazer vi age, & fe achou laó pobre^que naõ tinha nem com quepudeíTe' embarcaríe ; m^s taõ amado de todos , que logofc Ihcof- ferecerão mães de trinta mil cruzados , tão graciolamcnte, que pode bemdeporocícru- pulo que fe lhe oíTerccia de aceitar dinheiro , que fe elle na viagem morreíTe , não poderia nunca pagarfe. Com elle fe lhe appreftou a viagem, & ainda fobejaraó mães decincomil- cruzados j que mandou en- tregar a hum Gon (idente íeu . E cuidando algus quereria fc lhe compraífem dclles aigúas pe- ças , que trouxeflb pcra fuás tias, & fobrinhas , como lhe auião aconfelhado , no fim

Ooz quando

436

Captolo LXXXXIX,

quando íe defpidio.da fua Igre ja os mandou reparcir pcllos pobres,^: viuuas, cjue íc ajun- tarão a chorar o dcíemparo em que fem clle íe imaginauaõ.Fcz na dçfpcdida húa pratica na fua Sé,cma qual pode confiada-, mente dizer o que ^S". Paulo aos de MiletOjhoje Melaflbr^r^e- tumyi^ aurum , aut <i?eflc nul- lius concupiui , fçut ipfijcitis: Dculbcs a benção, ôc cmbar- coufeò vitimo dçianeiro , & chegou a efte Rcyno aos zz. de íunho do mefnio anno.Ti- nháo íído fcus anteccíTorcs D. fr.Ioaõdc Albuqucrq»da Pío' uincia daPicdade,primeiroBif- po de Goa, D.Gaípar , que foi Cónego d'Euôra. &.foi o pri- meiro ArcebifporD- lorgc Tc mudo: D.fr. HetídquedeTa uorajdaOrdenv.dos Pregado- res: D.fr. VicêtedeAfôfecá da mefma Religião. D. frei Mat- theus da Ordem de ChriíW, Succcderaólbe D. fr. Chriiior uáo de da Ordem de S. le- ronymo: D. fc. Manoel Tf l- leSjProuincial d^^Qrdem de S-. Domingos , qa€ morrep, na vi^rm: D . frei Francifco dos Mqrcyres frade Menor , que ainda hoje eftâ no Ileyno,Pro uiucial da Obíeruímcia. ,, : 5nt; r,à4uitod-«uídou de acei-

tar o Arcebiípado de Braga ^ conhderando que lho carre- j gauáo de penfoés, èi que com o que lhe íícaua náo poderia acodir aos encargos da mitra, &c neceílidadcs dos pobres , &aílj o quelheconuinhacra recolherfe cm híja cella do uento cm que fe auia criado, &neftcs difcurfos fcgaflaraõ alguns mezcs , ate que podc- do macs com elle a obrigação cm que ficou aos acrcdorcs fia índia, aos quáes fe não açqi- taíleo Arcebifpado não poçfc- rianunca pagai, & cfperando, que fua Mageftade cem a in- formação que elle lhe defle do que achaua no Arcebilpado', ou lho aliuiaria das penfoés com que lho carregara , ou a elle da carga da Prelazia , fe rç- folueo cmaceitala. Vicraô le- tras, $c rccebeo o pallio em NoíTa Senhora da Graça de l.iíboa,da mão áo fcuBifpo de Anel D. frei lorgc Q^uci- mado no terceiro Domingo de lulhodo feguinrcannodc mil íeifcenros & doze. E pçxn- dofc logo a caminho chegou a Braga aos 8. de Agofto,;prè- gou a primeira, & vitima vez na lua dia de ícu Padre.Saq- to AgoflinhoemzS. da-OTcl-

mo mez, «Ssranno

Come-

T>'fr.Alexo de o^Menezfis,.

437

4 Começou logo a vili-

caracidadejôí dar(como cábê o fizera cm Goaj húa hora de audiécia todos os dias aos po- brcsdclla,& vedo quaõ pouco era o <^ tinha pêra o muito ^ pedia a ueccííidadc dcllcs , tra- tou de ir à Corte a repreíenta- lo a íua Maacftadc,& lhe man dou pedir licéça pêra lílb. Não deixou com tudo por entretá- todcacudiràs neceíhdadesdos pobres com liberaliniraa máo peduido pêra iíTo empreitado, cjueachaiidadc (da ^jualdiíle S. Paulo, que cípcra tudo) lhe daua clperançds o poderia pa- gar. PediOjôi viooliuro das eímolas fecretas , & peíToas a que feu antccelTor as coíluma- ua dar cada mcz,& fendo cilas muitas , &c grandes , ainda D. frei Aleixo as acrccentou , aíH no numero das peíToas, como nacantidade. Semelhantemê- teacodia às efmolas ordinárias da porta, & a outras extraor- dinárias que por petição fccre ta fc lhe fàziaô. O que fe dei- xaua bem ver pello muito,que os pobres lhe frequentauáo a porta. Quando íabiaó, que a- uiadelahir fora craõ tantos os qucfeajuntauáoa pedirlhecf- mola, huns com petições por cfcritOjOutros vozes,q náo

cabiaónos patcos, eícada,&: fa la. A todos acodia co.m muita largueza, & com tapcà^llgnifi- cação de amor,que húa vcsde cendo pclla cícada acompanha do de alguns requerentes dos penfionarios , que lhe vinháo pedindo,queihesquizeire dar pagaras pcníoés atrazadas, voltandofe pcra o címoler , & aponrando pcra os pobres lhe à\í\ç. Padre a tsies dai tudo, que eu tfioufeguro , que me mo ha de pedir Deos conta dijfo^ pões com ejlaipenfocs lhe tirão o feu remédio. Falaua nclle o zc lo da caridade defpertado com a prezença dos pobres, que co mo filhos amaua: q cm eííeico ordé tuihadado peraq fcfof- fem pagando as pêloés, tirado as dos dous annos primeiros perfuadido q asnão deuia,&rnc íleslhefalauáo osrequercces. S Os ofíiciaes q lhe corriao com a fazêda daõ fcjq paflauáo de oito mil cruzados as efmo- las ordinárias de Braga cada an no,alédas cxtraordinarias,que por petições fecretas mádaua dar: & q em quanto tcuc a mi- tra deBragaauzétc,&: prczétc, têdo maes,& tédo mcnos^íem pre focorrco as efmolas do mefmo modo . Comia todos os dias com doze pobres^ôí às

O05

quintas

4S8.

ÇdPÍtolo IjXX X X IX ,

cpinta? feiras -recolhenHoíe eom cllíiSLCin húa camará lhes lauauaicisrjoclhos os pês, Ôc íjios bcijaua rezando entre- tanto os Salmos Graduaes ,cò dous capeilaés , que pêra iflo Iheaíliíijaó, alem de outro, que cambem le achaua prczcn- te pêra lhe miniftrar agoa lim- ; pa , exercício a que deu princi- j pio era Braga , dandofe por o- brigadocomo melhoramen- to da micra a melhoraríe em çxercicios de paftoral caridade. , A viuuas da íua cidade de Bra- ga, que lhe pcdiaó ajuda pêra cazamentQS de filhas, deu al- gúas vezes atoupa dafuacama íccretamente , outras vezes os pratos da íua meza. 6 Aeodiaà muito ordi nariamence, em a qualachan- .dofe húa vez a húa prociílaô que le fazia do Sancillirao Sa- cramento, & vendo que hum clérigo que hia diante incéfan- do o não fazia coma policia q pedem as ceremonias Ecclcfia- rticas , o chamou,& ocnílnou como,& as q deu ia faz cr. -mas tomátio o clcrigo mal a liçao. cllc deixando o lugar em q hia fcfci ao do clcrigo, & toman- doJhe o thuribolo o defpedio, &íe ficou incéfando diante do SantiíTjmo Sacramêto todo o

caminho da prcciflaó grau . de edificação daqiidle ajunta-; mento. Porque vio que não . hia muita gente a acompanhar \ o SantiílimoSacr3merito,quã : do era leuado aos enfermos , mandou que o não leuaíícra ; fem lhe darem a clle recado. : Dcufclhejíàhio a acompanha- lo,& pegou da campainha,ô: a foi,Ô«: veyo tangendo da Se ate acaza do enfermo ^ à qual íu- bio,villtou,& coníolou amo- rofamcnte o doente,&tornou outra vez diante tange ndo do mefmo modo a campainha. O mefmo exercitou outra vez. £ fobrc iílo fez partido as charamelas, peraqfoíTem fem prc diante do Santiííi mo Sacra mento tangendo quando fofie leuado aos enfermos j & foi oc cafiaõ de fc aílencarem todos os nobres da terra na irmanda de do Santilllmo Sacramento, peraque pudeíTe fair tãoacom panhado de todos comoggo- ra fac.

7 Chegou breueraenceli cençadelRey D. Felippe o II. pêra ir à Corte, & fe posaca*- minhoaos13.de Feuereirode i6i3.proteftando húa, & mui tas vezes ,que o que o leuaua fora da Tua Igreja era o reme-» dio dos pobres delia. " '

CAPI-

■- I '

^•fr- oAlexo de ó!Menezjes

439

CAPITVLO loo.

DO Q^FE LHE SV€CE- deo com. ofeu requerimento na Corte ^

Hegou o Ar- cebiípoàCor teCquecííaua encaõ etn Ma dridjlogo íua Magcflade oiloube^ «Si o man- dou viíicar pcllo fcu grande priuado o Duque de Lcrma D.Francifco deSandoual , & Rbjas,&: indolhc D. frei Alei- xo beijar amaó.clRey lhe fez extraordinárias honras , das quaes húa foi láçarlhe o braço pelio pefcoço, &c chegalo mui to a íy, & depões declarou à ai guns dos feus macs validos, q

0 fizera, porque o contaâ:o daquellelanto(afli acoftuma- uanoraealo) lhe foíTe remé- dio pêra húa dor de cabeça queeftaun, Difielhe, quefoíTc a velo muitas vezes, & deu re- cado , que quando o Arcebif- po de Braga vicíTe logo Ihea- briílem todas as portas.

1 Na primeira ocaííaõ, q tene de receber dellca benção.

que foi oDomingo dcRamos, lhe mandou dizer que folie a íuacapella a benzcUos , por- que queria receber a palma lua .máo Q_jizera eícuzarfe por íc íorrar das duuidas, que poderia aucr fobrc o leuantar uaCcuz Primacial. Mas oCa- peliáo mòr o (egurou q Cruz auia na capelia pêra aqualles aftos^ ji & que a auia de ter le- uantada.Em fim aceitou, & te ne com ifto ocaíiaÕ de moftrar (ainda que em couzas poucas) o zelo com que acodia pella jurdição de íua Igreja, & a de- ftreza com que lábia dar faida ás difficuldades mayorcs. Fez abêçáo dos Ramos a Cruz Primacial leuanrada fcmpre , acè que le defpio dos veftidos Pontifícaes : mas quando de- pões fe lubio ao altar pêra la- çar a benção , vendo que lhe náotrazião a Cruz a mandou pedir aoCapelláo mòr que pre íentecftaua, &C perto delRey, de cuja partefaueiídolhe dado conta do recado do Arcebif- pojlhe refpondeo,quc a capei- la de fua Mageftade "era nullius DUcefis , & que nella , nem íc aquiria^ nem fe perdia poííc, & que aíTi fcm Cruz deuia lan çar fua Senhoria abençãc A- quietoufecomo quem cila

O04

ua

440

Capitolo 1 00.

uarerduto no que deuia fazer, &: ditos os vcríos da benção, cjuando íg ouuc de virar pêra o poiío, tirou o barrete como íe tiucra prczcntc a Cruz, & le- uantandocoma máo-eíquer- daaCruz peitoral, lançou a benção, comprindo comefte modo juntamente com o que elRcy lhe mandaua , & com o queá íuajurdição de Primaz deuia.

5 Quanto mães elRey o

cõmunicau3,tanto macs o ref- pcitaua , que como fua Magc- ftade era táo pio ,& rcligiofo, não perdia com elle por apa- recer , & fe deixar tratar à vir- tudcjconio cõmúmente perde com os que o íàõ menos . As confultas que doconfelho fe Iheleuauáo, logo cm fcgredo as remetia a D. fr. Aleixo, pe- raqueclle por efcrito Ihedif- feflecomo feria bem defpacha las , & com o feu voto íe con- formaua. E querendo o Arcc- bifpo darlhcas rezoés do pare cer que feguia, lhe fez fua Ma- gcílade da fua mão hum bilhe te em que dizia: Nh<z>os can- feis em darme re^ts ^fó do que y os parecer me anilai, qde'Pos fo^ queferafempre juíiijícíído. 4 Propôs o requerimen- to com que fahio de Braga a

fuaMagefla Je pcdindolhe qui- zeíTc aceicarlhe a renunciado Arcebiípado, porquefenãoa- treuia a ver padecer os pobres, naõ podendo, cbmo não po- dia acodirlhes , cm quanto o náoaliuiafle da carga das pen- foés,que lhe auia pofto,&: que aííimefmodeclaraíTc fuaMa^ geftadc, que elle não cftauao- brigado ao pagamento delias, fenáo do tempo em que deu feu confentimento,qfoiííoi]s annos depões depaíTadas as le- tras . Reípondcolhefua Magc- ftade a efte vitimo ponto,paf- fandolhe decreto qfobreefti- uefle no pagamento dos d[ous annos. Aoda renuncia lhe não defirioporqdeterminaua fcr- uirfc dcile, ôc não conuinha ficaííefem as rendas doArce- biípado , em quanto não va- gauão outras que fe lhe deííé. Conftou do intento delRey, pellapreífa, com que logo o nomeou por VÍ7.orey dcílc Reyno,& deVizorey antes do tempo acabado, o chamou pe ra a íua Corte pcra preíldir no Confelho defte Rcyno, & en- tretanto lhe foi dando varias officioSj&rendasdc queviucf fe,&tiueíre que dar a pobres. Feio Capellão mor defte Rey- no, & Gouetnadordo Priora-

í)./r. oAlexode ^^lenez^es

441

do do Crato, porque com hú, õc oucco oííicio ciueQc não íò as rendas dos ordenados ,mas ocaíiaõ de acomodar os mui- -tos criados , de cjuc í'e auia en- carregado , & de cujas como- didades por inclinação natural trataua com fingular cuidado. Dculhe o Priorado deGuima- raés ,com releruação da côn- grua , pcra quem cm feu lugar rcfidilk naquella Igreja, ô^af- íimefmolhe nomeou pêfoés decontianos Bifpados de La- mego , & Coimbra tudo eftá- do ieruindo de Vizorrey-, íe deaigúasdeíbs mercê» náoche gouagozaratalhãdoliíea mor te o comprimento delias. Mfis tudo o que vagaua íe lhe liia dando j porque detcrminaua clReyaliuialo da carga doAr- cebifpado, pêra íe íicarmaes íem efcrupulo ieruindo delíe. 5" Mui difficukofofelhç

fezao Arcebiípo aceitar o car- go de Vízorrey,a0j pella obri- gação que tinha de rcfidir na fua Igreja de Braga, como por outros intentos de feu efpiri- to,que ochamauaó peradif- ferençes ocupações. Efcuzou- fe em quanto Ihopermitipa obediência, que aos Reys íe deuc. Vendo com tudo q íua Magcftade inílaua, & queao

Reyno poderia im portar go- uernaloelle, peílo muito, que elRey, Sc íeus priuados lhe de- fíriaõ, deu conta a Santidade do Papa Paulo V. nao pcra a - uer a licenças que efiaclRey a pedia, mas coníelho fobreo que deuia fazer. Foi a repoíta do Summo Pontífice ílnifícar- Ihe o goít,o que teria de q acei- ta íleo cargo,quc íuaMagefta- de lhe daua , corno fc vcràdo breue feguinte, quetraduzido em Portuguez diz aífi.

Paulo Papa F. Fenerauei irmão. Sande^l^fben' çao Ápojhçlica. Soubemos cogo- Jto da eleição , que p noJ?o cha- rifsimo em Chrijle filho Felippe Rey Catholico doó Hefpanhoó^ fe':^ de ■um pêra VÍT^rey dejfe feu nohilifsimo Reyno de Portu- gal. Porque confiamos, que com aumento dos "vojfos Jouuores^if bemdos pouos y quegouernardes ' na admim^ração dejje cargo' refponder&is ao grande conçei- to. que élRey tem de 'vojja 'Uir- : tude , .ip';prudençia^ Pedimos a ' Deos que aumcte étn^vos os mui ■. tos , ijf cvarios d&e-$ de fua divi- na gr a^a , Í!f <uos mandamos a benção ApoHolica.Dado emRo- ma emfanta Maria May or de- baixo do anel do Pefcador o

pri-

44^

Capitolo loi.

primeiro de lunho deiGi^. 6 Quieto com cftebreuc

em feus eícrupulos , beijou a mão a clRcy, íe veyo gouer nar eíle Rcyno . Mães refuíou ainda o ofHcio de Preíidcredo Confclho de Eftado, aíli porq não era de tempo ccito, como era o de VizQrey , como porq entendia , que não conuinha à autoridade doReyno, que no Confclho doEftadodelle, que rcfidc júto da peíToa Real prcíidiíle mães que fua Magc- iX^ác , como fcmpre cm Efpa- nha íc ooftumou , & lhe rcf- crèueo fobrc iflo muitas vezes. Ouuefc com tudo de render ao mandamento dclRcy, mas nem ainda aili deixou o Rey- no de íentir efta refoluçãojco- mofíniíicaraõ os três cftados nas Cortes » que fe fizerarj em Liíboa no anno de mil íeifcen tos &dezanouc.Partiofe pêra à Cortefque cntaó cílaua em Valbadolid^& fe paíTou logo a Madrid jaonde fez o officio de Prefídent-c do Confclho, ate -queDeos oíciJOUj &eratan- tõo rcfpcito com que iiefte ófHcio foi tratado de fua Ma - -■geftadc,quècm húas fellas pu- blicas, paífandoelRey perao feulugar, por junto dos Con fclhos , fcm fazer honra parti-

cular a nenhildellcSjtanro que chegou aode Portugal aonde o ArccbifpoPrefidcmeeftaua, lhe tirou mui cortefmcntc o fombrciro.

CAPITVLO loi.

VIRTVDES EMQ^E

mães refplandeceo,fua mor- te, í!/ enterramento.

lueo Dom fr. Aleixo cm quã tocfteucnafua Religião mui cõformc a feu inftituto, amigo da pobre- za,& humildade , inimigo de particularidades , dado a obras de caridade , ôc fcmpre cm tão grande temordcDeos.quc ocõfcflbr que lhe ouuiofuas confiílbés por tempo d^ cin- co annos cõtinuos,afiirma, que em todo cfte tempo íe lhe não acuzou nunca de couza,q pareceííe pecado mortal . De- pões que da Religião o tirarão pêra Arcebifpo de Goa, fabcn- dobcm,quccõmonouocfta- dojlhccorriaõ nouas obriga- ções ,fe relolueo em fazer hua vídanoua, como fe colhe de

húa

T>.fr. oAlexode (iMcnez^es

443

húa carca lua pêra o Arccbilpd D. ir. Agoílinho de Caftroa quem como a pay, que o fora leu na Religião ^ daua particu- lar conta de íy;&: porquea íua vida íe parccelk o leu efta-' do tratou de le exercitar cm virtudes verdadeiramente pó- tificaes.Húa delias FoíozcIq em que ardia da propagação^ da jComo Prelado que per* iílo fora eleito, mas defta fica j à dftobaftantemence acima, 1 , Outra 3 vigilância pa- rtoralcom que tratauado bé, & remédio das almas, que lhe ellauaó encomendadas: por ve zes arrifcou como paftor por amor delias a vida. Saben- do que na ferra do AíTarim vi- uia gente ChrilH, que nunca vira ororto não iode feu Pre- lado, mas nem ainda de mini- ftro algum feu , &: poucas ve- zes deS>3cerdote,que lhe mini ílrafle o Sacramento daPeni- tencia,& qucera o lugar táo af pcro de íubir, que ningué po- dia chegara elle, fenão, ou aju dado de cima com cordas, ou a , & defcalço por naoref- ualar.Efcolheo dous pagés fo- mente mancebos folceiros (q dos cazados não confcntio q ningué fc arriícaíTe com elle) & humcapelláoqueoajudaf-

Ic nos minilleriosSacerdotaes, & com elles íe p05 a íubir caminho táocheode riícos, &: difficuldades , como quem fazia mães cazo das obrigações do officio, queda própria vi- da. Chegou em fim fem dano ao alto da lerra, & nella chrif- mou a muitos, confeffou a to-' dos,& deixou remediada aqlla gente com hila Vigairaria, que infticuyo ali de nouo. 3 Hum íoldado lhe efcre ueo efcrito,em o qual, nem ícaílinaua^ nem fe daua a co- nhecer ,(S<: pedialhenelle ,que às onze horas da noite fò, «& defacompanhado quizeíTc íaif a ouuilode confilfaõ em hum valle mui defuiado da comuni- cação da gente; &: podendo o Arccbifpo duuidar fe leria o ef critodealgií daquelles infiéis, que ou pelloodio que cem à Chriftandade, ou pellofenti- mento do defprezo com que lhe trataua os fcus pagodes, quizeíTe tirarlhe a vida ; ou fe feria de algú defatinado Chri- ftão, que poraquclleartificio fe quizeífe vingar dealgíj cafti go recebido, ou de algum go- íl:o que lhe tiueíTe atalhado. Conílderando com tudo, que cambe poderia ferdealgiáa o- uelha dcfgarrada,que preza de

algum

444

Capltolo

lOl.

£il2;úreccvo humano náo nu- dclíc aparecer j às m cimas ho- ras,& dcíacorapanhadOjCO-. moo íoldado o dczcjaua, íe faíiio a bufcalo, vencendo o zelo palloral os receyos da morte. Achou ali^ que o efcri- to era de pecador, que por medo da juftiça , & dos ini- migos fora dilatando a penitê* ciaj impedindclheo nãoapa- parecer, náo fe coníeíTar, com nocaucl danode íua concien- CJa; conícíToufe com grande contrição, & pcra o diante Ic- nou os remédios neccflarios. 4 NosmaIes,quepediaó

remédio apprcílado náo vza- U3 de recados, mas acodiaipef- foalmentCjfem repararem ref- pcitos de fua própria cftima- çâo, como quem dencnhua couza fe prczaua tanto, como do oííicio que tinha. Em Goa fabcndo por informações fc- cretas , que hum homem no- bre com húa molhcr que não era fua , & de que auia muitos annos vzaua mal, cftauao cm húa caza humilde çraucmen- te doentes , fcfoi a viíícjlos,&: foubc com tanta claridade ar- guilosdomao eftadoemque viuiaõ, & perigo em que clta- uãode perderem com os cor- pos juramente as almasjq am-

bos lhe pedirão os ouuiílc de conhíraó. Mandouos Iopo af- (\ doentes apartar, & por cada hijm emiua caza.SoRrcraõno como arrependidos do paíTa- do, &c reíolutos na emenda cm que toda a vida perícucra- lão.

/ i j Com amefma rcfolu- çáo,& zelo acudio ao remédio de húa moça nobre , cuja máy fc tinha ja perdido. Pcfloalmé- te, & por força fe foi a tiratlha de caza; & por mães q a máy por húa parte íc la fliimaua com a dor da afronta cm que fe via, por outra íc cmpcnhaua cm promcflas de noua vida , náo pode nunca dcbralo, íabendo q femclhantcs promelTas craõ remédio duuidofG,& fua com panhia perigo certo pcra a ho- neílidadc da filha •, em fim ti- roulhadecaza, lhe deu bre ucmente eftado, com q a máy náo íe emendou, mas lhe fi- cou fempre agradecida. 6 A cfta paíloral vigilan

cia com que aos feus fubditos procuraua o remédio da alma, por não fjltar a ncnhú oííicio de bom paílor,ajuncoua libe- ralidade, com quclhcsacodia às neceílidades do corpo , co- mo acima fica dito> fempre húa tal brandura de coraçáo,q

náo

D.fr.jdkxo de^Q^enezjes.

445

naó lhe cocauaô menos os tra- balhos de ícus lubJicos, do que pode toear a hum- amo- roío pay , os que feus filhos padecem . No caminlib , que fez de Braga pcra á Corte de Madrid, em hum lugar , que chamáo Carrazedo certa viu- ua honrada lhe fez pccição , dizendo , que o Thezoureiro de Tua Senhoria, por diuidas em 'que feu marido ficara á meza ArTzebifpal acxccutaua, & lhe maítdaua vender as;: ca- ías cm que viuia , òí hCia vi- nha, que era a que íò- tinha pcra remédio de três filhas donzcUas . O bom Prelado íem mães itifocmaçáo , todo enternecido com lagrimas da viuua a dcípachou , dizendo, que Ihequitaua tudo . O que vcndoofeuVigaiioGêfal,que oacompanhaua, fe chegou a elle , & Ihediflc. Fojfa Senho riafabe a efmola que da a efia a)iuua ?paj[a de duremos mil reis, 0/)£)/>re(diílco Arcebif- po ) ^ carregada ^iuua com três filhai ; if que remédio lhe ai de dar com dn^entos mil reis! quanto mães, que os mo tens, fe- na6,queos deties , i^ nao tens com que ospo(?As pagar , Í5'' ficdi com a pobre ca^^tf pohre <vinha.

7 Em MadriAvindo do

Confelho acompanhado dos requerentes , que tirihaõ ne- gócios nelle,vio que o feu por tciro aucíido dado entrada a cbdos , deixaua de fora a hum pobre homem, que tinha tam bcai negocio: & foi taó gran-

'. de o fencimento, que diflb te- uc oArcebifpo, que naó po- dendo diíTimulalo leuantoua voz, & diaiíte de todos diílc ao porteiro ; deixai entrar ejfe homem , porque o Vifles mal at- uído lhe fechares aporta ? Eu o mandarei 'vef ir, per4que lha nao fecheis outro dia. Ouuioo primeira, quea todos , man- douo veftir , ôc dcfpachouo muito bem. Na mefma Corte de Madrid dizendolhe feus pa- rentes, que deuia fua Senho- ria por autoridade da dignida- de Arcebifpal , &: officio que fazia de Preíldcntc, mandar ar mar as caías, pões aíli o faziáo todos os mães Prelados . Bom

feria ij^o , armaria (diíle) <upa redes mortas, fi^ deixaria nuas as 'viuas? entendédo poreftas os pobres . Ate de íuas.obri- gaçoês o fazia cíqueceríe a cõ- paixáo que tinha dos ncceílita- dos. Porque íe não foíTe fera címola hija viuua, que emLif- boa faindo clle do Conuento

de

Pp

44^ Capltolo:

dcNtoiíIarSenhora da Graça, 6? chegou a pedirlha ^ tirou oa- iiel do dedo dizcndolhc : ide jenhora a)endeyv^que algna cou c^/vosdaraóporelle. S '! - Foi notauclmcntc cf- quccidodcaggrauos próprios, virtude, que nos cíficios,qiw tcuc lhe grangeou grande cre- dito . Tracouo mal de palaura cm fua prcfença , cftando ain- da na índia humioldado; po- rem caindo depões no que co- metera veyo lançar fclhe aos pès , & pcdirlfic perdão. Não o alcançou com muita ia- cilidade^ masaindafoi tratado db Arcebifpocom tanta affa- bilídadc,quc aíTentandoo jun-» toa fy lhe diíTc -.façamos hum concerto, fa-i^i '^os o que ^os eu digo , llf dia^ei quanto qui- Tardes. Hua peíToa das princi- pacsdo Reyao, que porag- grauos^que lhe tinha feito pre íumiao teria contra (y em fcus requirimentos , &lando com o Duque de Lerma,cuja en- tão era a priuança, lhe pedio, que fobre os feus requerimen- tos fcnão quizeíTc informar com o Arccbifpo, porque o tinha por feu capital imigo. Efpantado o Duque pergun- tou ao requerente (e conhecia a letra do Arccbifpo, rcfpon-

lOIi

pondcolhe que íy^ mandou vir a confuica que o Confclho tinha feito íobre os delpachos dertc fidalgo , rubricada por le tradc D. frei Aleixo a quetò clRcy a remetera, dculha a ler, & dizia : He pequeno o defpa- cho pêra osferuiços de talpef- foa. Ficou o fidalgo confufo poraucr preíumido,que fe Ic- brarradeaggrauos , quem tão cfquecido viuia dclles. So- bre hum Clérigo, qucderaa elRey capitulos delle,ao tem- po que fc embafcaua pêra o Reyno a fim de lhe efcapar ef- crcueo ao Arccbifpo D. frei Agoftinho de Caílro,pcdin- dolhe com todo o encareci- mento o quizclTe fauorecer porque lhe eftaua mui obri- gado. Deu ao mefmo clérigo a carta , porque vifle quaó enganado viuia cm fuás ima- ginações.

9 Foi mui dado às peni-

tencias ; & pofto que as ef- condia quanto lhe era poííí- ucl , fabiafe entre os criados, que mães intimamente o cõ- munícauad, que o feu dor- mir era de mui poucas ho-- ras da noite , & cífas fobre híja taboa,que tinha acabe* ceira, da qual depões, que eK les fc deita uaõ, fazia cama, Âr

ST

D.fr.Alexo de ç^enez^es.

447

& pella manliaá antes que cor nafiem a tinha poíb cm íeu iugar. Eíperaua que todos os de íua caza fc rceolhcílem > & entaò na mães retirada caía q tinha fe diciplinauaas quartas ôi fcftas feiras. lejuauaos Ad- uentos,& mães jejuns da íua Relii!Íaó.Por íua morte rcuol- uêdoosfenhotes doGolifèlho hum contador de quevzaua pera^feuá fegrcdos, pêra verc íe eílaua nelie o pallio Arccbif- paI,ascurioíídades que acha- rão dentro foraõ cilícios , & diciplinas.

IO O amor que tinha à

virtude lhe fazia por eftremo a^maucl a R.cljgia5 que liia 'enfi nou. Ellimaua , ôc zelaua íeu crcdito,& aumencojcomo ca- daqualdos mães zeioíos Rc- hgiofos delia. Q jando pêra dar aliuioà natureza feretirauaàs quinta;, a íuâ recireaçío era ef- creuer couzas da fua Religião, ôc aííi deixou eícrito húíiuro das vidas dos Religiofo;s mo- dernos j que na R^eligiaõ de S. AgolíinhodaProuinciadePòr tugal florcççrao eiii virtudes^ Ôi vida rcligiqra.o qual anda a tèagora dctuão,mcrecendo to a eftãpa , aííi por feii autor, como por feu argumet^co^nel le fala do Fadr-c ir. Rafad da

Madre deDeos,naturaI de Vil- la de Conde » que em Goa to- mou o habito, ôc foi morto pella fènaSundaem3. de Ou tubrodei^oy. comooallcga o Bifpo de Syrene fr. António de Gouuea,nas relações da Per fia.Eícreueo mães húdcféforio da fua Ordem^ que tainbé não chegou a imprimiríe.Mandou da índia ao Coniiéto de KoíTa Senhora daGraça dcLiíboa em que íc criou hiá cofre todo de criílal adrairauel por fua obra, Sc gtaadcza,cm ó qual naquel leGonuentofc guarda oSan- tiííirao Saetamentojhúa Cruz de prata dourada mui grande, &c toda guaifiecida de pedras finas , que he também peça ra ra, &c outras muitas peças de menos valor. O meímofeza oiitros Gonuentos delia Pro- uincia de Portugal, grangean- dolhe legados de ranta impor- taiicia.que fodellcs viué algus. Em Braga vnio ao Cóuêto de NoflàSenhotadoPopulo fú- dado por íeu antcceíTor algreja de S. André deMolares obrl gação de híja lição de Efcrituíà Sagrada codoj os dias* Emfim em tudo o q podia Icuantaua, acreditaua, ôc enriquecia aos I fcusRcligiofos,como agradeci 1 do ao habito q d.cUes recebera.

44 8 Ca pi tolo

y Difpofto com clías , &c muitas oucías virtudes (que nos íeruos do Senhor codas an dáoíemprc liadas) foi Deoslcr uido Icualo pcra íy com húa : morte digna de íua vida. An- dou muitos dias de fofíren- do com muita paciência as mo leííias da enfermidade, & dizê- do todos os dias miflajna viti- ma que diíle no Domingo de Paíior bónus íe achou cào de- bihtadój que lhe foi neccílario aíTentárfe algíías vezes, antes que acabafle^&celebrando ícm prc elte íanto lacrificio com muita deúação , aqiaclla vez o cclcbroii com muito mayor, comoiqt^em prcfentia auer de [cr o vitimo. Treze dias cfteue na canfia , & em todos cUes fc coryfcilou,& comungou mui tas vczes.Quando jios médi- cos ddconharaõ de fua vida, hum religiofo defeu habito fc chegou a dizerlho,&: elleihõ' aggradeceô muictí, louuahdõ- ihe por lanço de boa amiíade o deléngano com que lhe fák- ua. 'Mandou lóg;© chamar' o doutor Medo da Mota do raeí moGoníelho de PoítugaLde quem elle fiaua muico,& com cllc fez não tcftàmcnto , mas appoqtaraentos pêra delcargò demitia cõnciencia, como os Re

lOI.

ligioíos collumáo, nomean- do as diuidas que tinha, declfl- rando , que os íeus cícrauos nunca os tiuera poreíTes,{e náo por liurcs^ ôc que por taes deuiaõfer tidos, pedindo que o feu corpo fc dcpofitaíTe cm o Conuento de S. Felippe de Madrid, ôc que dahi foUe tref- ladado ao Conuento deNof- fa Senhora do Populo deBra- gajaondc agora ellàcomdlo- po diremos.

IO Sem embargo de fe tèc confcflado , ôc cúmungado na meíma doença tantas vezes,fê tornou a coníclíar de nouo ralmente,^ pedio,q le Ihedef- fe o Santilímo Sacraméto por viatico,&: auédoo recebido grandes finaes de verdadeira triçáo^pediojôi: fe lhe deu a ex- trema ynçáo 5 refpondendo el le mefmo ao Sacerdote, ôc lo- go leuantando em voz alta o ' cântico Nunc dimittisferuum tttum Domine f orepetio com dcuâçáç muitas vezes. Cha- mou feus criados todos , & nomeandoos alguas vezes pel- lo nome de filhos, íe defpedio . delles liinçandolhes a benção, i Defpedido começou a abraçar ' com húa imagem de Chri-Í fto crucificados faíandolhe, ; & cncregandolhe mui amo*

rofa-

D.fr.yílcxo de ç^enez.es.

449

amotoíameiíce aalma. Encre c lies amores , que a Chriílo dizia, 6i abraços que liie daua toi clle íeruido leualo pêra o delcaníodcíuaCTloriaaosí. de Mayo de mil ^feifceiícos & dcíaíete . Pouco ances que el- piralleouuiiido osprancos,q os criados começiuaó a íeuaii- tar,m3ftrou qus íeencrifte- ciacotii i/lo, 5.: pedio que nin gué llie choraíTe a morce, por- quecllscoiifiauana milericor diade Dcos,que por cila palFa uaa melhor vida. II Q_n7.era6oí Senhores do Gólelha embalfamarUie o corpo , 6c tijera3 pêra iílo jú- toos mueriacs iieceirjrios.Cã tudo mudara í de parecer dize do, t^ue qmmfe atreueria tocar o corpo que tinhão por fanto;oii porqueo nio deixaruiê àproiii- dencia diuina,qiis poderia guar dalo incorrupto ? Eíteue amor- talhado hum dia inteiro, íem- precomaGrus Primacialle- uantâda, & com amelmi ía- hio a encerrar. E poltoqquá- do o acompanhamento come çou a ordenarfc quizeraõ os í clerigosda parrochia,qt]e oca pclláo , que leuaua a CruzPri- macial foíle diante delles, acha raó tão pouco fauor na pre- tenfaó , que logo fe deccraó

delia. Ernhm o enterramento íc ordenou, & fahio com a Cruz Primacial leuancada diá- tc da tumba, & procedeo mui devao-ar, & bem ordenado, íem auer ninguém que le atre- ueílc a perturbar a poireem que de tempos antiquiííimos eílà a Primazia de Braga. Le- uantada ficou a raelma Cruz fobre a fepultura por muito tempo , & do mefmo modo crteue fobre o cumulo no pri- meiro dia das exéquias. Foi de- poíítado feu corpo em híja ca- pella , queeftà na fancriftia do Conuenco de S. Fclippc de Ma drid, &: debaixo de duas cha- ues (das quaes hiáa fe entre- gou ao Prior do Conuento, outra ao Duque de Villa Hec- mofa.queera o que íicaua prc íidindo no Coníelho de Por- tugal) o deixaraõfechado em hum caixão de madeira, forra- do todo de veludo negro^,rbm nelle fe botar cal, ou geâo, ncmalgua couza, febem por fora fe cobrio todo de cer- ra.

li Quando aos Religió-

fos de S. Agoílinho delia Pro uincia de Portugal pareceo, que eracempodeellar ga- itado o corpo do Ar cebifpo,lo 20 cracaraõ de q os oíTos fe lhe

Pp5

tref-

450

Captolo

lOI.

tresiadaflem pêra o Conuento (ieBraga,quc não quizcrão^nê falcar à periçáo de quem tanto lhes mercceo , nem perderem a honra de o terem entre fjr. Correo o negocio pclla ordé, & diípoííçáo de hum Religio- fo Português , o qual fazendo abrir a coua, & caixão cm que eftaua cnterrado^prcfentes vá- rios ,& grauesReligiofos do Conuéto de S. Felipe acharão o corpo incorrupto a dez de Março de i6zi. quatro annos dcpoesdefua morte^como nos coníta da carta que cfcreuco o mefmo Religiofo ao Prouin ciai defta Prouincia,onde tam bem vinháo aílínados osmaes q alii aíEftirão. Acrccêtou efta marauilha o dezcjo de maesde prefla o tresladarcm pêra Bra- ga,como fe fez trazendoo , & collocandoo era hum tumu- lo de madeira bem laurada, q feJJ^e leuantoli nacapella ma- yá.: do Conuento de Noíía Se nhorado Populo dctrodehú arco grande, que fica da banda da Epiftola, por fe ter entendi- do dofundador do Conuento feu anteceílor, cuja he a capei- la mor, que folgaria,que D. fr. Aleixo a quem amaua como filho quizeflb entcrrarfe com clle. No tumulo le efcrcuco o

feguinte epitáfio. 1 3 lUuJlriJio Isf Reueren- dijl° D. D Jr. Aleixo deMe^ nec^es AuguUinienJi^ Archiepif- copo, ac domino Bracharenfijn diarum olun^posiea Hifpaniaríi Pnmati^Orientis gtibernatori^ Lufitanu Proregi^Supremi Co Jiljtj Prafidi, Catholíc^Majelia- tts Archicapdlano^ ChriHiano- rumD. Thom^ apud Malaua- ricos ad Romance Eccleji<€ obe- dientiam reduãori^iJirôreli- gione,acfdei ^elo illuflri,grati clientes memoriam pofuere an- no Domini i6z8. IllufirifsimOj ac Retierendifsimo Domino D. Roderico de Acunha Archipra- fuh.Obijt Matriti^.Maij iGij annumagens ^8. Quer dizer. Ao Illufirifsimo^ijf Reuere- dijs imofenhor D. fr. Aleixo de Meneses , da Ordem de S. Ago~ ftinho, Arcebifpo y t^fenhor de Braga^Prima^primeiro da In dia , depões das Hefpanhoí^ Go- tiernadordo Oriente^ Fí^orey de Portugal^ Prefidente do Co Jelho Supremo, Capellao mor da Mageflade Catholica , Prega- dor , que redu^io á obediência da Igreja Romana os Chrifiaos de S. Thome^ que ^oiuiao noMa lauar,^ara6 illuUre na Reli- gião , i^ c^elo dafl :feus ijaf- falos emfmal de agradecimen- to

'D.oAífonfo Furtado de ofendo ça. 451

to lhe pu^^rao efta memoria noanno do» Senhor i6iS. fendo Jrcehifpo o Illus'lrifsimo,tf Re tterendifsimofenhor D.Rodrigo da Cunha. Faleceo em Madrid a ^.de MayodeiSiy, tendo ^2. annos de idade.

Concorreo nos annos,que foi Arcebiípo de Braga com o Sumo Pontífice Pauio V. Era Rcy de Hcípaiiha D. Felippe III. do nomc,& II. de Porcu- í!al.

DOM AFONSO FVR-

cado de Mcndoça,

105. Arccbilpo

deBracra.

o

CAPITVLO loz.

DO NACIMENTO

do Arcebifpo D. Jfonfo^is^ de algúas dignidades, q teue.

O Arcebirpo D.fr.Aleixode Meneies lucce dco ncíla dig- nidade o Ar- cebiípo D. A fonío Furcadode Mcndoça, o qualnacco na vil- la de Monte Mor o nouó cm j Alentejo no anno de mil Sc

quinhétos & fefenta &hú.Foi filho legitimo de lorgc Furta- do de Mcndoça Commenda- dor das Entradas de Padrões, Sc da Repreza da ordem, & milicia de Santiago , & de D. Mecia Henriques. Seus auòs paternos foráo António Fur- tado de Mcndoça , & D. Mar- garida de Noronha, filha de Áíonfo Peres Pancoja fenhor de Santiago de Cace, Os auòs maternos foráo D. Pedro de Soufa Alcaide Mor de Beja fe- nhor de Beringel,& doPrado, & D. Violante Fíériques filh a de Simão Freire de Andrade^ fenhor da Bobadella. t Crioufe em caza de feus pays nas Entradas a te idade de dez annos, dahi veyo a l.iíboa aonde eftudou os principies de latim ^ & acabou eftc ellu- do na Vniuerhdade de Coim- bra com particular cuidado,^: applicaçáo, ajudado de híi en- genho natural, muito efpcrto, &futil,&dchiáa memoria mui fácil cm aprchcndcr, &c perce- ber, & mui tenaz j & fcgura em reter , conferuar o que elludaua,& aífi fahio mui latino , ôc huraanifta. Cora a racfma applicaçáo eftudou na mefma Vniuerfidade,& fegra duou na ciência dos Sagrados

Pp4

Cânones

452

Capitolo io2.

Cânones, que profeflaua,a!can çaiido meretinimamente, de- pões dos grãos inferiores, o de Lecenciado por exame pjiua- áo^&í o íuprcmo grão de Dou tor com grande íatisfaçao, & applaufo da Vniueríidadejfen' do Collcgiai do Collegio de S. Pedro, onde viuco alguns an- noscom grande recolhimen- to, & exemplo, cítudandocõ cuidado,não íò a ciência deCa- nones , que profeílaua , mas a Theologia moral, de que te- uc muita noticia, & também da hiíloria geral do mundo, que íoube,não de qualquer maneira, mas enfiada, & con- tinuada de feus principies ^acè feu tempo.

3 Sedo eftudante na Vni- ueríídade de Coirabia, o fez feu coadjutor , d>í futuro fuc- ceflor no Dcado da Se Metro- politana de Liíboa ícu tio Afó lo Furtado de Mendoça,a qual coadjutoria tcuc por muitos annos, ate que no de 1^09, a largou, 6(: entrou nella feu fo- brinho odoutcr Afonfo Fur^ tado de Mendoça, que hoje poííue oDcadoc&ncíle mcyo tenipofoiprouidopor íuaSá tidade àinítancia de fuaMa- gçftadc , do Chantrado da in- |j íígncGoilegiadadcGuimaraés,

que logo-Tínunciou com tre- zentos ,& oitenta aii! reis de penfao , & também foi proui" do de outra psnfaõ de cento» & íeílenta mil reis noArccbif- pado d'Euora , & de cento, vc vinte mil reis no Bifpadode Lamego.

3 Comefta coadjutoria,

& renda , fe recolheo a Liíboa onde fcruia feu beneficio , ate que no anno is^l- Vagando o Reitorado da Vniucrfidade de Coimbra , foi com geral íatis- façao propoífo pellaVniuer- fidadc entre outros fojeitosa fua Magcílade , que foi ícr- uido degelo pêra efte cargo, o qual tcue ate o principio do anno de 1605. procedendo ncllc com grande inteireza, òc comgrande propenfaõ a aju- dar,& fauorecer osfojeitos be- neméritos da i^niuerfidade,fa- zcndofe com eíles procedimé tos amado dos bons, temido dos mãos, & refpcitado de to- dos.

5- No mes de lanciro, de

160;. foi promouido porel- Rcy D. Felippe o íegundo do lugar Ecclcfíaftico de Confc- Iheito do Eirado no Coníclho de Portugal, que relkle ante fua mageftadc, & naquellc tê- po cltaua com a Corte cm Va- I

Ihcdolíd,

'D.Qyéfonfo Furtado de Q^endoça. 45 3

Ihedolid, & dalii a pouco tem- po íc mudou com a Corte pê- ra Mídrid, onde agora cltà. 6 Neíle ofíicio procedco com o meímo zelo do feruiço de Deos , & de í ua Mageítade, & com grandc,& exemplar in teireza , 6c limpeza , votando nas matérias, que íeoíferece- raõ com grande cabedal de Ic- trás, experiência de negócios, noticia de coufas , auendo- íe cora tanta feueridade, que poreftacauía veyo adelcon- tentar a alguns validos, & com^ preteillo de ler de importân- cia no tribunal da melada Cõ- ciencia , òc Ordens , foi feito Preíidentcdelle,o qualofficio exercitou com as mcfmas par- tes, & procedimentos,doan- no de <ío8 atê o mes de Ago- fto do annode i6o5>. em que foi nomeado^por fua Magelta- de pêra oBilpado daGuarda,do qual tomou poíTe no mes de Feuereiro de 610. fagrandofc no principio de Março ,& o começou a gouernar peílbal- menteemy. de Abril do mef- moanno. ouííj

7- Nefta primeira Prelazia fe difpos com grande cuida- do,<5<: valor a reduzir o gouer no do Biípado aos aiitigos Ca nones,&ao5 decretos do Sa-

grado Concilio Tridcntino, pêra o que cm primeiro lugar, eícolheo minillros de jultiça calificados em letras virtude, prudência, & inteireza,& del- les ordenou híia meia dedef- pachojcompofta de Vigairo Geral, juiz dos refidos, juiz dos calamentos , procurador da meia Pontiíical,& promo-

s ror , todo? Dcfembargadores

'■ da mefa, & o promotor com voto deciíruo nas caufas ci- ucis, & nas crimes ouuiíTe a Relação dos„feitos, &infor-. maíle, ôí não efliucíTcprcfen- te quando fe votaííe nellas. r

;8 Ordenou,que em todas

' as cau fa^iuds , Èc nas cxirr es mães grauss^k votaííe per té* çoés eícricas cm latim,peraq'je

^llife viílem , & cx^ninaílem os ptoccílos, & íe eftad-áflem os pontos de direito com to- cto o cuidado, & applicaçáo.

; 9=0 e^T.í-AcfceentoU' os orde- nados 3 todos os mrniítros ,

: dandolhos rnui compctenres pêra fe fufl;entarra,femfor ne- ccílario aceitarem coiu^^algúa,

; nem ainda por empr^ítimo ^ :

5 6d jurauão em fuás máõs, que '. nãoâccitatiao de peíToaalgúa dadiuas j;ou peitas , nem ainda

'; em minima cantidade , & lhes ;

■dizia muitas vezes , que fe ti-

ueílem

454

Capitolo io2*

ucííem ncccíTidades lhas com- municaíTem, que elle quanto Ihcfofle po(ííuel as ajudaria a remediar , & que por raaes , q as partes lhe deflcmem todo hum anno,não vinha a mon- tar o que elle lhes daua de acre- centamcnco do que dantes ci- nháo, fendo cercos , que náo auia deíoíFrer húa mínima cul- pa neíla matéria, &c aíTi o fa- zia.

IO Vríltoulogopefíbalmc te a cidade , & outros lugares mayorei do Bilpadoj & a vifi- tadas outras Igrejas cómcteo aVifitadoresjlecradoSjinteiros, prudentes, & zelofos com re- gimento muito miúdo, que acudia a tudo o que fc podia ofFcreccr nas vifítaçoes, & ordem, que náo recebe flem gazalhado cios parcchosjÃ: bc neíiciados, & com obrigação

Ide juramento muiapcrtado,q nenhúa dadiua cm pouca, ou em muita cantidade recebcílê, cm quanto andaíTcm ocupa- dos na viritaçáo;:i35ii;t •- i^iac]

ia; :rMui particular £o\ õ ciii'. dado^fie zelo com que tratou que no Bi íp ad o ou u eíleSa ce r- dotesvirtuofoSj& exemplares, òi fiiflicicntes , limpqs de gcl^ I ração, mandado fazer cxaó^as í diligencias, fccretas , & publi-

cas nos que auiaõ de fef proui- dos de benefícios curados, co- adjutorias , economias, & ri- gurofos exames naciencia, & os que náo eltauão no tem- po dos exames tão íufficientcs como era neceflario, tendo fuf ficiencia que pudeflem paf- íar, lhes mandauaporclaufu* la nas cartas, que dentro cm certo tempo tornaíTem a exa- me do que fe tirou grande frui to , &: em breue tépo fe achou oBifpado prouido de muito bons Clérigos , aífi dos que achou ordenados,como dos q cmfeu tempo foraópromo- uidos,& peíroalmentcaiTiftia aos exames de Ordens facras, pondo muito rigor nos que auiaõ de íer promouidos aOr- demdcEpiítola, por ter ente» dido , que como hua vez craó admitidos a efla Orde , fc dcf- cuidauaõcleeftudarcm,& aíli ou era neceíTario dctclosde- poesmuito tempOjpera ferem ordenados de Euangelho,& Mifla , OU admitilos com me- nos fufHcienciaiaeftas ordens, o que tudo era em grande pre- juízo dogouerno, & fcruiço das Igrejas do Bíípado. II Com o mefmointen

to íeapplicou áscoufas do Se- minário, ao qual achou im-

.- ..

perfeito,

^.^AfonÇo Furtado de Q^endoça. 45!

perfeito , com poucos CoUc- giacs, & alTi prouco os que fc podiaõ fuftcntar com as ren- das dcllc , ficando algúacoufa pcra as obras , & lhes deu lo- bas,& beccas,& cícolheo cacs íojcicos, Òi taõ bons racftrcs de Humanidadc,Gram maciça, Mufica^ái calos de cõfciencia, <^uc cm brcuc tempo fairaó de ftc Seminário muito bons Cie rigos,& R.cligioíos; & os eftu dances aífi do Collcgio, como dcfora,€faõcm Coimbra ap- prouadoscõ louuof peraou" uirem ciências.

13 Sendo todas cftas cou- fas ncccíTarias , & proueicofas pcra a reformação doBifpado, & bom gouerno deiíe, cncen- dia que ncnhiá bom cffcico Tc podia confeguir de todos cftes meyos, fem aucr leis , & con- ftituiçoés ncfte Bifpado, as quaes não ouucra depões de ce icbiado o Sagrado Concilio Tridentino, & ainda muito po antes , porquanto as viti- mas, que fecinháo feito foraó ordenadas auia perco de cem a nnos pello Bifpo D. lorge de Mello Ccu antcceíTor, & deftas auiataópoucos volumes , que eraõ raras as Igrejas cm que fe achauáo. E ainda q o BifpoD. Nuno de Noronha fcu immc-

diato anteceíTor, tinha conuo- cado Synodo , & começado a entenderem fazer Confticui- çocs , não pode leuar ao fim eilc inccnco com a morte, que o atalhou.

14 Pcllo que tendo efteuc gocio por tão importante co- roo era, entrou nelle com do- brado efpirito, efcolhendo mi niftros de pr udencia,& letras. E com cUcs por efpaço de cin- co annos contínuos fez asCó- fticuiçoés,aílifi:indo femprca ellas com engenho, cabedal de letras , & experiência, ly Depões de feito cada

liuro dos cinco , cm que cftaó diuididaSjfeenuiaua ao iníígne doutor Franciíco Soares daCó panhia de IesVs , lente de Pri- ma , que cncáo era da Sagrada Theologia na Vniueríídade de Coimbra , varaú confumadif- íimo nas diuinas letras , de qucdeixou compoftos tantos liuros,quc elles fazem hua boaliuraria de Theologia,- & muito mães confumado , & eminente cm virtude,& fanti- dade, de que temos raros exc- plos,&: íinaes.Elle reuia , & a- pontaua o que lhe parecia com fua grande doutrina. iC Apuradas, & reuiftas as Conílicuiçoés , conuocou

456

Capitolo roí.AK^."- :

I

Sy nodoj, no qual foraÕ pubh- cametc approuadas pelloCa* bido,:& Cicro , fem as quere- rem macs ver , nem examinai mas oBifpo íeaproueitou de maneira dcfte geral applaufo, que cntaõas quis macs íomc- ter à céfura doCabido^ & Cle- ro obrigando, que elege fiem dous procuradores doCabido, &c doDs doClero, os quaes, & feus miniftros,cóferio ou travcz as Confticuiçoés , & ascenfurou^d: acrecencou, o que de nono fc difle nelbs juncas, que fc continuarão na cidade da Guarda com grande facisfaçaõ de todos. Mas a dila- ção que nifto ouue,& fua mu dança pcra Coimbra, foi cau- fa de não ficarem ifTipreíTaSjiS;; as imprimia depões o Iliuftrií- íimo,&:Reuerêdiírimo fenhor D.Francifco de Caftro feu íuc ceíTornoBiípado da Guarda, & Inquifídcr Geral, que hoje hè,o qual com o feu coftuma do zelo, Ã: prudência, tratou logo da impreí]'aõ,& mandou lançar à margem as cotas, & ai legaçois de direito, & côa fua natural modeftia conícíía no Prologo o muito, que ícu an- teccíTor tinha trabalhado per íy,&rcus miniftrosnefta obra, & o que clle fizera nella.

17 Em todo o tempo que D. AiFonfo Furtado fc deteue naquclle Bifpado, fez cctinuas címolas em todo-cUcjaíli às munidadcs dosReligiofos , & Religicfas, caías daMifericor- dia^ & Holpitacs,comoapcf- foas particulares cm vifítaçao, & fora delia, Òc nos lugares cm que fe achaua. Em muitas feftas do anno fazia alem das címolas ^ordinárias , muitas publicas C indo clle muitas ve- zes em pefloa pcllas portas) c- raõ cilas de muita conlldcra- çáojóí deípeza. > jíí^íí

18 Com cftas obras de ju ftiça , & caridade , & com efte exemplo de vida, & trabalho na adminiftração de feuoííi- cio, deixou o Bifpado da Guar dabemgouernado, & refor- mado, & em tal difpoííçao das coufas do gouerno , que com muita facilidade fe podia goucrnar.E por achar quando entrou nellc mui relaxadas as coufas , foi ncceflàrio aperra- las com o rigor da juftiça , (k poreflacaufa parccco aalgús macs rigurofo, quepiadofo, comoconué,que o íeja quem quer reformar, porque do c5-

trario fe ícpue dano nota-

uelàs Prclazias,&

Reípublicas.

CAPI.

1

D . oÂffonfoFurtãdGde Aíc não ca .

457

CAPITOLO IO

:>•

HE ELEITO BISPO

de Coimbra , Ít* d&poes Ar- cebijpo de Braga^ éf dogra de ^elo , (y prudência com quefe oiiue nesiasPrehJias.

Afrandonefte tempo oBií- padodeCoim bra por mor- te de D. Aíon fo deCaílelbranco/oi nomea- do neile per eiRey D. Felippe o Il.deílc Reyno,paíraraõle as letras em Roma em 5. de De- zébrode 1615.& tomou poíle daquclle Bifpado, & Condado de Arganil, no principio deNo uébro do anno de i6i6-Hú Re lÍ2Íoro2rauiírimo,& eminen- te, Ihcpcdio encaõ híáa coufa faâiiuel , mas não conucnien- te^ diílelhe,q (cm embargo, q naquclla pretcnçáo cõcorriaõ apedirlhe o bom dcfpachoas mayores peílbas do Reyno,&: muitos parentes íeus,a <] dcaia todo orerpcico,& agorafuaPa ternidade a quê reconhecia ma yores obrigações, o náofaziaj porq ainda que o pudeíle fazer fem pecar, tndo o gouerno

pedia outra couía,& o exéplo, qdalireíultaua era prejudicial em matérias femelhances : re- plicoulhc o Religioío,q pêra tirar todo o cíccupulo aueria breue de lua Santidade: refpõ- deo,qreícrcueria ao Papa, que não conuinha executarlc o bre ue-.toinou oReligiolOjqelRcy pediria aoP^pa , q o mandaílc execiita,r, tS^eícreueriaafuaSe- nhorii encomédandolhç mui- to,q o ex-eciitaíTe. Refpondcoj q íolgaria muito , q tudo iíTo ouucííe,pera ter occaíiaôdcrer uiraoPapa,& aeiRcy nefta ma tcrÍ3,como dcícjaua, & procu raua Fazer em todas , não exe- x:utand(p,né admitindo cm leu tempo coufa, que encontra ííe o gouerno ^ & o feruiço de íua Magcftade Catholica, & o de fua Santidade.Cófufo oRc ligiofo fedeíLarretou:& difle: pões por ijíofenbor ides caminha do tão deprejsa nasPrela^iasgra deSj ly não aueis de parar fenao nds mayores J^ nos m^^qres offi cios do Reyno^'

z NeílaPrclaziafedeceuetão poi!co,qcra li.deNouêbrode j(jiS.GÍiiauajacÍeito,& trasfcri do para ArcGbifpodcBragaPri mas dasHefpanhaSj&cmMai ço de 6i9.tinh3 poílc doArce- biípado, &no fimdcMayo,

Qq " do

45«

Capitolo

103.

do mcfmo aiino entrou a 20- ucrnala. E aíli náo temos que dizer do gouerno do Bifpado deCoimbra, era quenáo ou- ue macs que húa continuação do zelo, cuidado , & inteireza emadminiílrar juíliça ícm rei peitos , per íy , & leu: mini- ilros,& hús preparatórios pê- ra redifporem como cóuinha as coufas do gouerno daquel- le Bifpado. -

3 Ainda não tinha bem vifto a fua cidade de Braga,quá do por carta de fua Mageftade clRey D.Fclippeo II. foi cha- mado para as Cortes do Rcy- no , que fua Mageftade cele- brou cm Liíboa, emlulhodc mil feifcentos & dczanouerlo- go fepartiocom arrezoado a- cõpanhaméto, leuádo por to- do o caminho villas,& lugares por onde étraua acauaIlo,aruo rada aCruzPrimacialde Braga.

4 Chegado a Lifboa pou- cos dias antes de fc celebrarem as Cortes , fe começarão a mo ucrduuidasfobrea Cruz Pri- macial, por que os miniftros Cafkelhanos fe oppunhaõ a v- zar delia o Arcebiípo deBraga, com aquella pertinácia, com q contra todo o direito,& rezaõ ncgaõ a Primazia, a que Deos a deu , que he a fanta Igreja de

Braga. E aindaque no próprio Reyno de Portugal parecia , q fòeíb reíiftenciade Caftelha- nos teria,náofuccedeoaííi,por que era ajudada dcalgunsPor- tuguezes , mães lembrados de rcípeitos particulares, que do bem publico do Reyno, mas aimado o Arccbifpo de feu va lor, fe refolueo a trazer publi- camente polas ruas de Liíboa aruoradaaCruz Primacial co- mo fez todas as vezes , q íahio de cafa , & a leuou aíTi aruora- da ate entrar pellos Paços , õc falas Rcaes ;& ainda que lho quis impedir o Pacriarcha de Indiasjq fazia o oííicio de Ca- pcllâo mor, ôc depões morreo Arcebifpo de Seuilha; com tu- do náo podepreualecer, & o Arcebifpo trouxe fuaCruzPri maciaíaruorada por todas as ruas deLiíboa,as vezes q íahio fora de caíàjnáo vzando de co- che , ou liteira por não perder põto de fua prcminecía , ôc fobre apoíTedefte adio publi- co de trazer Cruz,ouuefcnté- ça do CoUeitor Apoftolico, q entaó era 0<5tauio Accorõbo- ni,q nos laçamos no Tratado da noíla PrimazÍ3,& juntamé te trazia o roxete deícubcrto por codas as partes jfem mace- íeteporcima^ & lançaua ben- ção

I^-oAjfonfoTurtadode Jidendo^a.

459

çaõao pOLio cm íinal da j urdi- çáo Primacial , que tinha em todaHeípanha, 5 E lendo eftacaufa mui

controuercida, cm queouue proccdimentos,«Sí ceníuras de parte a parte , o foi muito mã- es a do lugar das Cortes, que lua Magcílade celebraua, por- que eftando o Arcebifpo apo- zentado no Conuento de S. Franciíco da Cidade^em hum dia antes do cm que as Cortes íc começarão pcllasonzc horas da noite loi ter com clle da par te de Tua Mageftade o Conde de Villa noua D. Manoel de Caílclbranco , q fazia naquel- las Cortes o officio cíc Efcri- uáoda puridade, òc IhedilTe que lua Magellade auia porfeu feruiço , que o Arcebifpo de í.iíboa^como mães antigo dos Arcebilpos do Reyno lhe dcf- fe o juramento nasCortcs^ao que o Arcebifpo rcípondeo, queaqueliaacçaõde dar o ju- ramento lhe compc til a ellc co mo a Primaz , não fomente de Portugal, mas de toda Heípa- nha , &: que íuaMageftadc lhe deuiamandar guardar feu di- reito, & não confentir , que fe lhe fizeíTeaggrauojdr corna- do ao outro dia oConde com repoíla de lua Mageftade.q

íirmaua a reloluçáo,q tinha to mado , como fc lhe tinha di- to de fua parte, o Arcebifpo refpondcoporefcrito do qual lhe hcou húa copia authcntica, & outra deu ao Conde para a dar afuaMagcftade(como deu) no qual em etíeito vinha acõ- ciuir, que elie era oPreladoprm cipal de Portugal , ^ o Arce- bifpo Prima^^ mo daquelle Reyno mas de todaHefpanha,i^ qemfeu refpeito naoauia^ qtra tar dePrelado mães antiguo na fagração, porque elleprecedia a todos na dignidade de Prima^ deHefpanha^isf q eflando^como e(iaua, prefente , chamadopera Cortes por fuaMageUade nenhu outro Prelado o podia preceder em lugar, nc em acção algúa^ (^ qfa^edofe <u Cortes f em fua afsi Uccia[emqelle nao podia afsifiir naofe lhe dado o qlhe era diuido dejufliça)protefiauaferênullíts, O efcrito fe deu a fua Magefta- dCj&faládoIheoArccbifpo lhe diííc, que lhe deffe licença para ir a lio ma a tratar de fua pre- minencia de Arcebifpo Prima^ de Hefpanha , if defe aueri- guar a caufa da, propriedade^ que atè agora eflaua fufpenfa, hf parada ,por breuedoPapa Honório I II. Í5^ que ejle era o tipo em que a Igreja de Toledo

tinha

Qqi

46o Ca pi tolo

tinha mães ijalia, pões era Ar- cebifpo de Toledo o Infante D. Femandofilho defua Magesia- de^a quem elle Arcebijpo nao podia fãT^erfombra idíO quecl- Rey rcfpondco dandolhc fa- cisfaçoés do cjuc mandara , & no que cocaua á ida deRoma o confíderana.

6 Poucos dias depois fcre- colheo oArcebifpo aSacaucm. E elRcy lhe mandou pedir por ordé fuajq leuou o doucorFrá cifco Pereira Pinto deputado da racfa da Concicncia,& Or- dens, que quizefie leuancar as ccnfuras, q tinha promulgado contra o Arcebiípo de Lifboa, ao qual também tinha ordena do, que Iciiantaíle as fuás, ao q fe obedcceo de parte a parce^& o Arcebifpo fc partio para Bra gajeuádofcmprcantefyaruo rada a Cruz Primacial por to- dos os lugares doArcebifpado. E ainda que em Santarém foi notificado da parte do Arccbií po,q a não leuafie, não não obedcceo, mas anullou Tuas furas, de q fixou éditos na dita villa , & fe fixarão outros por parte doColIcitor, & dali por diante em todos os macs luga- res do Arcebifpado de Lifboai & na vilb,& Prelàfia deTomar cõtinuou a mcfma poíle de en

104.

rrar aCruzPrimacial aruora dadiátedcfy.Eporq moílraí- fe claramente que cilczeloda coníeruaçáo da dignidade Pri- macial na Igreja de Braga não tinha rcfpeito algú a interelíe particular,mas procedia defua coílumada juftiça,inteireza,& do bem publico doReyno,fen do depões transferido ao Arce bifpado de Liíboa^antes de ter letras» & poíle daquclle Arce- bifpado, entrou a Cruz Pri macialde Braga aruorada , por todos os lugares do Arccbifpa do de Lifboa, & pella meíma cidade, & com cila aruorada en ttouno Palácio Real,&a teue aruorada na cafa do Gouer no. onde tomou juramêto de hu dos Gouemadores do Reyno, cm prefença de toda a nobre- za, & miniílros dcllc. E eflan- do nomeado pcra o Arcebif pado de Lifboa , nos efcreueo hiía carta defua mão própria, cm que nos pedia como a fuc- ceílor feu na Primazia de Bra- ga: que depões i que efliuejfemos de poffe do Arcebifpado de Lif- boa , lhe auiamos de fa^r mer* ce , querer ir àquella cidade , l;f trazer ante nos aruorada a Cru^Primacial, outras pa- lauras diurnas de feu fraude ze- 1 Io,valor,& prudência. I

No

T>.QÂfforífo Furtado de ^^Aíendoça. 46 1

7 NoArcebifpadódcBra- ga eí^eiíe macs de íete aniios, & o goueríiou , ^reformou com a líicfma vigilância, cui- dado, & trabalho , com aílí- fiencia de bons miriiftrõs , af- ííftindo continuamente a to- dos os negócios , de juiliça/ não Eccbriaílicavmas tam- bbfn d^ feicúlar da Cidade de Braga-,- & feii termo-, ^ íias de nviíitbs eoãit<3^s t^ue os Ar- c^bifpò^ Wxm^tt^ 'fâôíenhó- f-es ,'cóttttíída a ju'pdi0o re^l, criãiinâi , Sf ciuil, tíii milKòs- dclks-, k^G^óini á ciuil'e-Tri to- dos, {cm r'e'cufÍoiá fiípccior al- gii fiii: pirocedéo íe ttix fcu tem- po c'om grande inteireza , & cuidado, iió (iuétócauaa jur- diçáo fecular/miníftrádofe j ú.- ítiça inteiramente, com igual- dade entre podcroÍos,(5^fracos procedêdofe contra os culpa- dos íém excciçáo de peíToa. 8 No efpiritual era ainda ma yor a applicação, & trabalho, porq depões de reforma r a Re laGão5&: dar a ordem, cjue con- iiinhá pcra o defpacho íer tão inteiro, confiderado, & breué como fempre procurou j & de dar regimento ao Seminá- rio , & aos CoUegiaes , o deu também vtiliíTmio para as vi- ííraçoés , reformando gran-

des abufos , que auia nellas : ^ elle peflbalmentc foi vifi- taras villas de Viana, Valen- ça , Ã: Caminha, Ponte de Li- ma , Monção , Melgaço , &: outros lupares daaaella Co- marca , & .depões as villas , ó<: Comarcas de Villa Real,Cha' ues ,& Torre de Moncoruo^ prouendo o que conuinhaao bemdas àlíií3s,& gôuerno ef- piritual, cóm grande zelo, dei- xando vtihílimos crtatutos , lios liuròs das viíitàçoés , òi reformados os cófturnesjefpe- cialmcnte nos Eccleííafticos, que muito refgúiardo pro- cèdiâõ ehi fcu te m po,melhora dos , quando náo de todo,nos coftumes , ao menos na cau- tela que faltaua. Defpendip ne- ífas vifitãs grande quantidade de dinheiro com os pobres, &: com as Religiões , Mifericor- diaSj&Hoípitaes j & coftu- maua dizer , ({m dt todM à- qutlhuHxTcis rècehiaÓ os Arce- bifpos YtndcU , Ist que a ejfe ref- peito fedeuia efyHola aos pobres delLu , a qual não era. ra^ao^ que somente fe limitajfe às cida- des em que os Prelados refidiao. Fez vifitar por feus Viíítado- res ás ígrejas, &C freiguezes da Villádè Guimarães, vencen- do com grande trabalho , &

QS[3

defp

eza

462

Capitolo 103.

Jcfpeza a porfia , com que o Cabido , Camera, pouo da- quella Villa o impediraõ,& de pocs a viíítou dle peíloalmeií- tedctcndofe ali muito tempo, &: fazendo copiofascfmolas, deixando a todos quietos, & confolados.

9 Nas Ordens , prouifoês de beneBcios,& cm tudo o mães guardou o que tinha fei- to nas outras Prclafias, com o mefmo zclo,& inteireza, & a- inda mayor , quanto mayor era a ncceífidade de reforma- ção nefte ArcebirpadojaíTiftin do peíloalmente aos exames para Ordens dcEpiftola, & de Miíra;& naõrepodcpaflãrcm filencioa obra que mandou fa zcr na Relação acrecentandoa, & rcformandoa com pintu- ras, & geroglificos , quenella hoje fe vemj & o que íobre tu do fe deue cftimar nefta obra he o Oratório que nelía fe le- uantou, & capellaõ pêra dizer miíTa todos os dias, antes de feentrarno dcfpacho da Re- lação, & Confraria , que iníli- tuyo da inuuocaçao do Efpi- rito Santo, com felíafolennc cm hiáa das oirauas do Pente- corte em cada anno,& com acompanhamento, officios , I òi miílas por cada irmão de- |

funto , tendo porcoufa indig- na,que ouueíleOracorioconi mifla nasRclaçoes fecularcsdo Reyno , & q falrafieneíla fua, que era £cclchartica,&: feculac j untamente. A íua deu pêra Pontifical três mil cruza- dos.

10 A eftas occupaçoéà

do officio paftoral de Prelado, & paílor acreceraõ outras da milícia mui próprias da incli- nação natural , & valor defte Prelado , & aífi na cidade de Braga, onde lhe compete co- mo a fenhor temporal, como na villa de Viana,a rogo de fua Magcíladc,coniinuou a fuper- intendencia dcíles exercícios militares , demaneira , que em breuc tempo cftaua a gente de- ílra começando fem exercicio algum, & tinha prontos mui- tos,&: luzidos foldados , & exercitados para qualquer có- fliâ:o,em dcfenfaõ da lanta Fê, & das IgrcjaSj& Chriftaós dc- ftas terras, fe os infles, ouhe rejes inimigos donomcChri- lHo,as acometeíTcmjComo fe temia, não faltando por iíTo às obrigações de Prelado por fy, & feus miniflros,que con- tinuamente traba- Ihauaó nel-

las .

- .. - -, . .

CAP.

T>.(íAffonfofiirudod€ Alendoça.

46;

CAPITVLO 104.

HE ELEITO AR CE. bifpo de Lisboa , Cít" Goucr- nador doRejmo; contafe o que

I>: niffofe^ate fua morte.

Ouernádo eftavigilancia, zclojvalor, & cuidadojascou fasefpiricuaesj òc íeculares^aííi da paz, como da guerra, no nics de laneiro de i6i(5. eftando em Viana,foi nomeado por fua Mageftade na vacarttedoArcebifpoD.Mi gueldeCaftro, pêra Arcebif- po de Lifboa,com os intentos que depões feviíaó, de o que- rer occu par naquclla cidade no oficio de hum dos Gouerna- dores do Reyno, como acon- teceojporque antes de ter bu^ las Apoftolicas doArcebifpa- do dcLiíboa, no mes de lulho logo reguinte,lhc mandou fua Mageftade patente de liúdos Gouernadores do Reyno , em companhia de D. Diogo deCa ítro Conde de Bafto , que na- quellc tempo íeachauanaCor te de Madrid, & do Conde de Portalegre D. Diogo daSylua, qucaélualmenteeftaua no Go

iierno . Tendo pões gouerna doo Arccbifpado, & Prima- íia de Braga ícte annos,(Sw algús mezesjíeparcio delia com gra- de fentimento de todos , em o primeiro dia de Setembro de iGtC. & tomou pofledogo- ucrnoemij. doinefmomcs: continuou com fcu compa- nheiro o Conde D. Diogo ào, Sylua, ate o Abril do anno fc- guintc,em q o Conde D.Dio- go da Sylua fc retirou do go- uernOjÂ: depões diflb, o con- tinuoufô , ate Abril de mií & feifcentos & trinta. I Entrando no principio neíla ocupação j com aquella boa faudc de que fempre go- zou , &C com hija natureza , q parecia incanfauel , a veyo a perder com os graues, d>í mo- leftos negócios daquellc tem- po ^ a que feapplicaua de noi- te, & de dia, demaneira , que hum anno, & meyo antes que falcccííc, fc enxergou íiclle grã de quebra de forças , grande falta de faude, quefeacrecen- taua com as continuas vigias, paíTando muitas noites fem fe lançar na C3ma^& muitas mães lançado neílavcfticío aííi co- mo andaua de dia, & aíTi ame- nhecia, como que fe foiag- grauando a doença, & creccn-

do

Qq4

4^4

Capitoio 104.

do os achaques , dcimâneira, que na SoiTiana Santa deíjoV depões de lauar os pès aos po- bres, em quinta tcira mayor na íua Metropolitana , íe lançou na cama , ôc nunqua niacs íi Icuantouddlla, &fa- lecco íantamente com todos os Sacramentos, ôi teftamen- co aos 1. dias de lunho, de mil & feiícentos & trinta , fendo deidade de 70. annos, & aigús niezes , tendo gouernado o Rcynò três annos, 6i perto de oito iTOèz-es , &CO Arcebifpado três annos, & hum mcz , por- que fc paílaraõas letras emRo ma, em trcs de Dezembro de 616^ & tomou poffe deile em dousdc Mayodc627.& opal- lio em dia da Afcençáo do Se- nhor do meímoanno. Foi fe- pukado na capella mor da íua Metropolitana de Liíbpa, em 3. de lunho de mil & feif- centosíSd trinta, 3 Tratou fcmpre com vi

gilancia, qucairmo gouerno cípiritUaljComo temporal, as coufas fe fizcíTcmjComo cum- pria ao íeruiço de Deos,& del- Rcy. Eparecendolhe, queas ca(às do Arcebifpado não ti- nhãó agrandezí^, que conui- nhaahum Prelada, querefi- dia na cidade de l.ifboa, JMetro

poli de todo o Reyno , man- dou Gõm grande Uberálidade fabricalas de nouo , & aíli a quinta dos Arcebifpos , que eíwmão do Chorrilho, jutito aomofieiro de S. Bento de En xobregas,o que fe fez com ta- tá magnificência, que aííírma- raõ osArchite6tos,&: meftres, que correrão com eftas obras, que chegarão a fe gaftar nellas perto de CO rêta mil cruzados. 4 Não fecontáo outras

cfpccialidades de leu gouerno» aíii no do Reyno , como do Arcebifpado, porque dema- neira fe confundirão, & impe- dirão as coufas de hum com as do outro, Ôi tão infelice foi a- quelle tempo todo , que a ne- nhua coufa fe pode acudir,co- mo conuinha,nem fazer mães que perder a boa faude , que Deos lhe dera, & breuemente a vid3,que pode fer conferuàra por mães tempo , fe a empre- gara fò nos minifterios efpiri- tuaes ,queprofeflaua , exêplo mui digno dcconíideração pe raos Prelados fe efquecerem das cou fas temporacs , & fe ap- plicarem às pirituaes , & à fal uação das almas dcqueDsos os fezPaftores.

Foraô Summos Pontífices no tempo do Arcebifpo D.

Afonío

'D.oAffo/jfo Furtado de Q^endoça. 465

Atunlo Furtado Paulo V-Gre rrorio XV. & Vrbano VIII. Keys de Portugal D. Philippe o II. &o III do nome.

CAPITOLO 10;.

MORTE DOS PADRES

Miguel Carualho, i^ Fran- cifco Pacheco daCompanbia delESFS. E defr. Gonça- lo de Amarmte daOrdem da Satifsima Trindade dos Des- calços.

Endo Prelado derta Igreja D. Afofo Far- tado de Men- doça padecc- rai illul^re morte em lappaõ douí religiofosdaCompanhia de IesV: lium o Padre Miguel Carualho natural deita cidade de Braga : outro o Padre Fran- cifco Pacheco natural de Pon- tedcLyma, villa deíle Arce- bifpado. Foi o Padre Miguel Carualho filho de Gonçalo Carualho, & CatherinaDias pcíloas de muita chriftandade, & mães ditolos por fere pays de tal hlho, do que o puderão fcr por qualqueroutra qualida

dctéporal. Teue Miguel Car- ualho outros irmaõs,queain- dahojeviué ncfta cidade. Na- ceo noannodeijjp. criaraõ- nologo de menino feus pays pêra Dcos. Entiou naCom- panhia aos iS. annos de fua idadc,no dcChriílo i J97. co- meçou o nouiciado emCoim- bra,onde cábé clludouFilofo- 1tÍ3,& fe embarcou para a índia no de 160Z. CÓ60. outrosRc- ligiofos da fua Relipiaó. Da In dianauegou a lapaó, não lo- go que foi do Rcyno , mas al- guns annos adiante. Fez a via- gem da China pellas Filippi- nasem trajos de lecular, pel- las grandes cípias , que o Xo- gíím Emperador de lapaõ ti- nha portas contra os Religio- fos pregadores do Euangelho. Padeceo na viagem naufrágio, fugindo de húa nao Ingrcza , q lhe foi dando caça por mui- tos dias.

z Entrando em lapaó fe

retirou a húa Ilha chamada A- macuza, pêra alli fe dar todo aoeftudoda lingoa. Tanto, q delia teue noticia ball:ante,ôc a pode falar, entregoufe com grande feruoràconuerfaõ da- quella Chriftandade. Andan- do nefte íanto cxercicio , vin- poà cidade de O mura a con- te ílar

466

Capitolo 104.

íeílar alguns ChriftaõSj foiço nliecido , ôz prezo por prega

do viuo no lugar a cjuecha- mão Foco. Eraó os cõpanhei

iordofsgracioEuangelhoem j | ros o Padre frei PedroVtfqucs

zz. de í uiho do anno de mil & íeifcentos &i vinte & três, dia dagloriofa pecadora Santa Ma ria Madalena,com quem fcm- prc teue particular deuação , Do cárcere efcreueo varias car tas j em que não acaba de dar graças aDcos peila grande mcr ce que lhe fazia cm o ter pre- zo, & auer de padecer por feu nome, òc honra. Aííírma hiía, & muitas vezes , que de puro gofto não podia cuidar em feu marcyrio fcm ficar ahenado dosfentidos. Foi o tempo da prizãode treze mezes, paíTa- dcs em grandes miferias , pella eftreiceza do cárcere ,& cruel- dade das guardas. 3 , Chegarão os vinte de .^goftode i62.4.em quealgre ja lagrada celebra a fcfta do glo riofo Abbadc de ClaraualS, Bernardo. Nefte dia, por man dado dos Gouernadores de Nangazaqui , a quem o Xo- gíim tinha deputado pêra o ca j Itigo dos que em lapaó entraf fcm a pregara de Chrifto contra fuás prematicas^na nief iria cidade deOmura onde efta ua prezo, fahio quatro ou- tros Religioíos a fer queima-

da Ordem de S. Domingos, fr. Luís Sottelo,&fr. Luís Sazan- da lapaõ , da Ordem de S. Fran cifco , òí moço lapaòj que os íeruia, & era da TerceiraOr dcm chamado fr. Luís. Padece- rão todos cftes gloriofos va- rões amarrados a columnas,»5«: abrazados a fogo lento , com notaucl conílancia cantando entre tanto Salmos , & hym- nos em louuor de Deos, de cu ja maõ taó grande mercê rece- biaÕ- Suas cinzas ,porque não foliem veneradas dos Chri- ftáos , lançarão os Gentios no mar, mas ainda efcaparaó al- guns oíTos, que como precio- las relíquias fe guardarão , & vencraõ.

4 O Padre Francifco Pa-

checo nacco, comojàcomc- çauamos a dizer, na villa dePó te de Lima, feu pay fc chamou Garcia Lopes Pacheco/ua máy Maria Borges de Mefquita, am bos da melhor nobreza da- quellaVilla. Sendo mininoole uouconíígo para Liíboa loaõ Pereira de Mefquita irmão de fua máy. Eftudando alli no Collcoiode Santo Antaõ cn- trou na Companhia fendo de

idade

T>. Q/íffonfo Furtado de ofendo ça . 467

idade de dezanoueannos. Foi nouiçoem Coimbra, &daili acabados os eíludos de Rhcco iica,& Filofofia, fc embarcou pcra o Oriente com outrosRc ligiolos daCorwpanhia, no an no de mil & quinhentos& no uenta ^ hú, & na nao do Ca- pitão mor Ff ancifco de Mello, Achou la no íeruiço daquel leEftado quatro irmãos feus.

5 Occupoufena índia no eftudoda Sagrada Tiíeoíogia,

6 cxercicio do púlpito, em quanto náo nauegou pêra a Chin3,a Fim de paílar a lapão. Deteuefe em Machão quatro annos , lendo Theologia,&: fa zendo particular clludo na lin goalaponeza, pêra logo en- trar naqucllas Ilhas apto à pre- gação do Euangelho. Entran- do em lapaõ o mandarão feus fuperiores ás partes doCami, náofem perigo da vida, pcllo naufrágio em, que no caminho fevio. Tornou delapaõa Ma chão a fer Reitor daquelle Col legio por três annos. Elles aca- bados íe tornou à fuamiíTaõ, & acompanhou ao Bifpo D. Luis Cerqueira , Rcligiofo tã- bera daCompanhianogouer- no daquclla fua Igreja do la- paõ

feifcentos &catorze,Cobuza- ma Empcrador do lapaõ, le- uãtou crqeliílima pcríiguiçâo contra os Chriílaõs, derribou as Igrejas , dellerrou os Sacer- dotes, ôc Religiofos, mandan- do com graucs penas , que nc- nhú foflc ouzado a tornar a feus Reynos a pregara ley de Ghrifto. Sairaõíe com ifto de- fterrados todos os Padres da Companhia , huns pcra iMa- chão, outros pêra a Manilha. Aos de Machão acompanhou o Padre Frãcifco Pacheco, mas veftido de mercador fc tornou com outros Religiofos a fua antiga eftancia,ondecô infini- tos trabalhos íuftcntou aFc. Morreo nefte comcnos o Em- pcradorCobuzama,entrou no império feu filho Xogúra, & entrou com elle a mefma fú- ria contra os Chrifi:aõs . Pêra os emparar, &fuftentar na Fè, foi eleito Prouincial o Pa- dre Franciíco Pacheco, & go- uernador pcllo Bifpo D. Dio- go Valente a ífi mefmo daCõ- panhia, que fuccedeo ao Bif- po D. Luis Cerqueira, ôi fe de tinha emMachao por náo po- der entrar em fua igreja, Ád- miniftrou eftcs officios qua- tro annos,no cabo dos quaes.

6 Entrado o annodemilj i fendo accufado por apo-

ftata

468

nSsc^

Capitolo 105.

SI

llata chamado Cuzajamo^ foi prezo por Toícamoiido Gouernador do Reyno doTa caco, <k metido na Fortaleza de Ximabara.

7 Hum anuo quaíí in-

teiro fe deteue aqui^ ate que o Gouernador de Nangazaqui o mandou trazer com outros Religiofosjàquella cidade, pê- ra alli íerem queimados viuos. Acharão no caminho aoPadre Balthezar Torres, natural de Granada, (k ao irmão Miguel Toio lapa (3 ,que do cárcere de Omuraeraô trazidos pêra o mefmocffeito . Entrarão coa- dos emNangazaquí comgrá- dcacompanhamento dejufti ças, &foraõ logo leuadosao lugar do martyrio, a que hoje osChriftaõs chamão por rc- uerencia o monreSanto. Acha raõ dentro de híía eftacada tre- ze columnas de pao,das quaes tirarão logo quatro , por qua* tro Chriílaõs, qucfe aparta- rão da fêaquella noite. Pedi- rão os outros Rcligiofos aoPa dreFrancifco Pacheco, como aProuincialfeu , quizefe en- trar primeiro naquelle thca- tro : feio humilde, & dezejo- fodomartynV. Amarrados às columnas lhe puzeraõ fo- ^o , lançando nclle quanta

lenha podiaõ , com o que em breueefpaço ,,rçnouados co- mo Phcnisperegrinasno fogo em que o amor da fè, mães q a crueldade do Tyrano, osa- brazaua,dera5 feus purilFimos efpiritos a Deos em io.de lu-; Ifiodoanno i6z6. 8 No morteiro do Calhao junco â cidade dos Reys , ou de Lima naProuinciadoPeríí, falleceo pellos annos de mil feifcentos & vinte, o grande feruo de Deos fr. Gonçalo de Amarante , natural da mcfma villa deAmarante.Foi em feus princípios marinheiro , mas vendo os perigos daquella vi- da , fc recolheo ao porto fegu ro da Religiaõjtomando o ha- bito da Santiílima Trindade, na família dos Defcalços. Te- mos de fuás raras virtude* hua breue recopilação em hu pa- ragrafo do Capitulo,quc a fua Ordem celebrou cm Toledo pellafefta do Eípirito Santo do anno de mil Ã: feifcentos & vintcfete : traduzido do Ia tim na lingoagcm Portugue- za,dizani.

í? No mffoConuentodo

Calhao da Prouincia de Lima^ perto da mejina cidade dosReys morno o ■veneraudfr. Gonça- lo , leigo ^oii conuerfo, efclareci-

do

í), Rodnq;o da Cunha,

469

dope! los muitos milagres , que fe\ em <uida , is' em morte^ad- mirauelno dom da profecia. Co nhecia ospenfamentos .Gaflaua os dias^ em ajuntar efmohis pê- ra o Conuemo^ Is" em cts repar- tir aos pobres. As noites gafla- ua em oracao . Ainda e fiando aumente acodi* aos pobres , ist enfermds i Deu muitas ''ve':^e$ fattde repentina a -vários en- fermos, Eflando nO mofleiro do Galhao , if napre^ma degrí'. de multidão dépottájm no mef- motempotiiflo emLimafefuir a húa molher enferma , i^ eom fa^er eíias ^ If muitas outnts marauilhAs em Vida, avinda de- pões da morte as ol^-a mayores. Morreo eflando regando ns ho* rasfagr^záts , ficando empe na. poftura em que re^aua. Seu cor po está hoje inteiro^ i^ incorrup to,collocad0juto ao altar mér. Fi^eraófe. grandes prouan^cis dejuas -virtudes , iíT? maraui- lhas pelh Arcébifpo de Lima. ArcIcmíaoprezéceyComo nos, conllta! de boas' informa- ções cincoentaãliipa . . ..das de prata- diá •' : oicefuaíepul-i

^•p.pri J

fe-

CAPITV.IíiO 106.

DOM RODRIGO DA Cunha , 106. Arcebifpo de Braga,

ACEO D.

Rodrigo dd Cunha na ci- dade de Lif-- boa, mes de Secèmbro anno de mil quinhentos & íetcnta& íete, na freiguezia áà Madalena: feu pay Ic chamou D. Pedro da, Gunha Gapitaõ niiòf daquella cidade ^fua mãy Dj-Maria da SyUia . Em Liíboa aprendco- Gramática, & Humanidade no GoUegio de S AdQitaõ 6v c- lho da Companhia de Iesv.' No dd Coimbra a. Rihttorica, fendo feu:meflrre o iíifi^ne va- rão o Padr« Diogo^Monceiro, aquém Oeos NjíTo 5enhor leuou pânaíyi o ann o paíTado ide mil feifccnEos & ' trinta & iquatror, eheo desnoosj & merecimiontos. A.prcndeo na merma-V^niuérfidiadede 0^ imbra ;aá íagraidosiGanoneí?, iefta lida alguns annoetioColr legio Real de S. Paula-: Nefta i

Rr

cicncia

470

Capítolo

io6.

ciência tomou o grão de Dou cor j fendo ííeu padrinho D. Andrcd'Alroada lente de Pri- ma jubilado, honra dcHcf- panha.

z Tornou a Liíboa, on- de feruio oTribunal do Santo Officio oito annos, quatro de Deputado, & quatro deln- quifidor, nomeado porD. Pe- dro dcCaftilho InquihporGè ral,&: Virorey dcftes Reynos. Ellando ncfta occupaçáocl- Rcy D. Filippe o feguiido , o nomeou por Biípo de Porta- legre . PaíTaráoíc as letras cm Roma» em íeis de lulho do anno de mil de fcifcentos & quinze, fendo Summo Pon- tífice Paulo V. Sagrou fe na ca fa ProfeíTa de S. Roque de Lif- boa, no fegundo Domingo de Nouembro do mçfmo an- no pello Colleitor de fua San tidadc Odrauio Acaramboni, Bilpode PoíTembruno. En- trou em Portalegre a quinze deFcuereirodo annofeguin- tede mil & feifcentos & dcza- fcisjdia da trasladação de San- to António- Pouco mães de trcsaniios efteuc naquclla ci- dade , 'porque foi nomeado pcllo meírao Rey D. Filippe por Bifpo do Porto, que va- Çj^fa pellò Bifpo D. Gonça-

- hl-* ^ , í .^

lod'Morais. Paífoulhe as le- tras o Papa Paulo V. no mes de Nouembro de mil &c íciícé tos &: dczoitoj entrou na cida de do Porto, em catorze de Abril de mil &feifccncos & dczanoue. No mes feguintc de Mayo foi chamado a Cor- tes^ que fez na cidade de Lif- boa o mefmo Rey D. Filippe o fegundo aos três eftados do Reyno 5 nellas fez o officio de Secretario da juntaEcclefiaíli- ca, eleito pellos Prelados, que alli íc acharão. Achoufc tam- bém no juramento, que ícfez ao Principe D. Felippe o ter- ceiro, que Deos guarde largos annos,em 14 de lulho do raef mo anno.

3 Sendo Bifpo do Por-

to lhe mandou a Mageftadc dclRey Felippe o fegundo ot- ferccer o Biípado de Vifcu , q vagara por promoção do Bif- po D. loaõ Manoel ao de Co- imbra. Efcuzoufe com caufas, ík rezoês taôjuítas, que fua Magcftade fe ouue por bem feruido. Vagando o Arccbif- pado de Braga por mudança d ( D. AíFonfo Furtado de Me doca para o de Liíboa , lhe fez mercê elRcy D. Pclippc o ter- ceiro de o nomear paraArcc- biípode Braga. Chegoulhea

nona

D.%cdrigo cla)(^mha.

471

nouacnm. de Março do an- nodemil&ícilcécos òtvinta leis, dia de S. Gregório Mag- no. Paííoulhe as lecras a San- tidade de Vrbatio Víll. em vincefccedc laneiro de mil & leiíccacos &viiitafece, dia de ■S, loaõCliriíoftomo. Foraó- Ihe entregues em noue de Ma- yo dia deS. Gregório Nazian 2cno, tomou o palliona do Porto da mão do Biípo de NicomediaD.fr.Antonio dos Santos , dia ài Aícençãb de Cíiriíto Nofib Sjluador/em treze do meímo mes. Entrou em Braga cm húa quinta feira à carde dez de Iiinho,ondeos naturací deita cidade o ferte- jaraõ pellos oito dias féguin- tes , com varias inuençoés de jogos , fk fellas , com culio, &app3racograndioro, dando moftras da alegria geral , com queo rcceb.raõ , das quaes fe imprimirão dous tratadosshíí em Braga, outro no Porto. 4 EmFeuereirodcrail& feiíccutos & trinta & cinco,o nomeou o meímo Rey D.Fi- lippe o terceiro por Arcebif- po deLiíboa, vagado por mor te do Arccbilpo D. loaõ Ma- noel, que poucos dias lograra aquclla mitra, fendo paílado a dia da de Coimbra. Ouuede

f í aceitar poralgãas conuenien- jcias, que na peíToa delle Ar- cebiíoo EX.iRodricTo concor-

í o

riaojó: não|par entender, que ou na di3nida,ue , ou nas ren- das íe^íiclhoraua. ^riírScruindo o Tribunal do SatoOificiapaíIou oPapaPau lo V.o btciídcontra os eohfcf (orsi , que íolicitaõ naconíií-' íaó., o que foi pellos annos de mil &c (eifcentos «5,: oito: & porque na pratica ouuc duui- das de confideraçâo, efcreuco íobre ellas aigúas reíoluçoês, que fe imprimirão no anno de mil &feifcentos ôc omc-.Sc fegunda vez em Valhadolidj no anno de áiil & (eifcentos ôc vinte, com addiçoésdo Pa dreDoutor fr.Scraíino dcF rei tas Reíigiolo da OrdêdaMef- ce , Cathedratico de Vefpora de Cânones naquclla Vniuer- íidadc,& a terceira vez na mef ma cidade, ôc com addiçoés mães copiolas do mefmoDou tor no anno de mil ôc feifcen- tos ôc trinta ôc dous. 6 Eftando em Portaíe-

gre por occaíIa5 do lubileo, que o Summo Pontífice Pau- lo V. paíTou no anno de mil ôc feifcencos & dezanoue pa- ra toda a Chriftandade efcre- uco a reíolução de aigúas que- |

Ktt

iloés

472

Cãpítolo io6.

ftoês , que raoílrauão dilSi- culdade, ôc tiiihão ueceírida- de de explicação na raaceria dos lubílcos, imprimindoíc cm Português ,na cidade de Coimbra porNicuIaoCarua- Iho anno de mil & feiícentos ôc vinte j as quaes durando ainda o mefmo lubilcole re- colherão, & imprimirão cm lingoa Caftelhana na villa de Madrid. Eftando no Porto, ôí paflando o Papa Gregório decimo Quinto outro lubi- leo no anno de mil & feiícen- tos & vinte hum, acreccnto u eíle tratado, & oimprimio de nouo na raefma cidade , por loaõ Rodrigues Impreíror,an no de mil ôc feiícentos & vin ta ôc dous . Foi leuado a Fran- ça pcllo Padre Paulo de S. Hi- lário da Companhia de lESV,

6 impreílo naqucUe Rcyno em lingoa Frãccza,& no Col- Icgio de Santo Antão daCópa nhia de lES V deLiíboa íe trcf- ladou também cm latim* Ef- creueo depões no Porto a hi- ftoria Eccleíiílica daqlla Igre- ja,comas uidasdefeusBiípos, imprefíapor loaõ Rodrigues anno de mil 6i feiícentos ôc vinte dous.

7 Em Braga imprimiofo bre as loo. diftinçocs do De-

creto os Commcntarios , que tirou a luz nameíma cidade anno de mil ôc feiícentos ôc vinte noue. Efcrcueo ©tra- tado da Primazia da Igreja de Braga, fobre todas as mães de Heípanha ; imprimiofc anno de mil ôc feiícentos & trinta ôc dous. Efcrcueo alem difto cm dous tomos a hiftoria Ec clcííaftica da mcfma Igreja,có as vidas de fcus Arccbifpos,& varões íantos,&: emincntcsdo Arccbifpadoi.-mprimioíea pri mcira parte oannopaíTadode mil& íeifcctosôc trinta &qu3 cro,afegunda ncfte annodc mil ôc feiícentos ôc trinti ôc cinco. Eílà parafe imprimir ofegundo tomodos Cómé- carios ao Decreto. Mandou reformar o Brcuiario Bracha- renícpor fcr muito antigo, & aucr falta de volumes ,aínítin doaelte trabalho peflbalmétc com Capitulares graucs,& de letras , com quem o commu- nicou por efpaçode mães de dousannos. Acodio pcllaau' toridadc da Primazia de Bra- ga,na occaíiaó que fua Mage- ftadc, qncDeos guarde quis, qucD.Francifco de Bragança Coníelhciro então de Eítado, na Corte de Madrid, vieífe pê- ra eftcRey no com titulo ,&

autori-

'T>.Rodri(rodA Cunha.

475

autoridade dePatriarchacielle. | Efcrcueoiogo a fua Magefta- 1 de,ínoftrando o prejuízo que a efta Igreja de Braga fc fcguia daquelle Pacriarchado , porq no Reyno naõ auia , nem po diaaucr outro Patriarcha , ou Primaz mães que Arcebifpo de Braga. Parecerão bem eftas, &outras rczoés , qu€ apon- tou a lua magcftades & náo te ue eííeito a noua dignidade. 8 Tresladado a Lifboa,lhe fucccdco' ficfta Primazia de Braga o íenhorD.SebaftiaÓde Matos de Noronha Biípo de Eluas , fogeito digniíHmo de- fta mitra. Foi filho de Rui de Matos de Noronha ^-& fobri- nho de D. António de Matos deNoronha Biípo de Eluas,& InquifidorGêral deftcReyno. Naceo em Madrid a z r . de Fc- uereiro do anno de mil & qui nhentos & oitenta Sc féis. De pões que acabou feus éftudos, & recebeo o grão de Doutor em Cânones na Vniucríidadc ] de Coimbra, feruio o Tribu- nal do Santo Oíficio na mcf- ma cidade, onde foi Inquifi- dor. No anno de mil & feifcé- tos & dezoito vifitou por par te do Santo Officio a Comar- ca de Entre Douro, & Minho, & as villas de Aueiro,Villa

Real. & a cidade de I.amegr^ Foi depões Deputado imCon fclho Geral do Santo 0'<ficio, &:. nomeado por Bifpo de El- uas no anno de mil òc íeifcen- tos &c yinte & cinco , èc con- firmado pcllo Papa Vrbano VÍII. nòfíbfcnhor, cmdcza- fcis de Março de mil &: feifcê- cos & vinte féis. Sagroufe no Domingo daSantiíCma Trin dadedomefmoanno nalgrc ja de S. Martinho de Madrid mofteiro da Ordem de S.Ben to. Nefte anno de mil & feif- ccntos & trinta &: cinco foi transferido a efta Primacial de | Braga, que ainda náo tèm Bulias Apoftolicas.

9 Fci:aõantcceirores feus no Bifpado,& cidade de Eluas (leuantada em Cathrcdal pel-

10 PapaPio V. aos nouc diasdc lunhodcmil & quinhentos & fetenta , reynando D. Sc- baftiaõ) o Bifpo D. António Mendes de Carualho natural de Coura defte Arcebifpado. Eiliudou na Vniuerfidade de Paris , & dali o trouxe clRey D.Ioaõ o terceiro, quando fu dou a Vniucrfidade de Coim- bra, para lente de Gramática. Sagroufe no mes dcSetembro do anno de mil & quinhen-' tos & fetenta & hum, foiv

A

•474

Capiícia

io6.

'^õ Apoftolico, .cjn querçf- plài-^^cccraó muitas virtudes prin ' pâlmenteá da caridade, cmc|iio<nacs ícaucmajou. >

I o O íègu ndo Bi fpo foi D. António de Matos de No-; ronha, que então refidiaeoi. MadripI , ô( era do Confelhó

'■ Sixpi&no dalnquifíção dcH^í ' panhajfoi confirmado naquob

íe Biípado pçlloPâpa Innocé-í ' eip IX*aos ij. deNouembro ^ de íjáií^Sagroufc no Real mo-

ftcirordaiaDeícalçasdeMadrid, qiie fundou a Prinoeíá dePor tugalD;;Ioanna mãydelRey P.Sebaftiaõ; foiCoj-Dmiílario^

daBulla.daCruzad3,& Inqui- íídor geral deftcs ReyAos-

II -■-■■^r.Q terceiroBifpo foi D-Raií Pifes da Veiga natural de Villa Real do Gon felho ialdoSaittoOíEcio,& Defcm

bargador do Paço. Sagrou fe no Coliegio de Santo Antáò da Coajp.aniiia. Socedeolhe D. frei Lourenço de Tauora. I' CapuchoMiniltroPiouinciaíi> Ijqvie auia fido naíuá Ordem, I òc B,itpodo Funchal , na Ilha da Madeira. Sagrouíc no mo-^ ; íiçiro da Madre de Deos de j Liíboa,no anno de mil Ôc fcií- ! centos ôc dezafetc.por rcnun ciaçáo,quc íezdoBiípado no- meou tjjiaAlagcltadc nelleao ícnhor D. Scbaltiaó de Matos agora eleito pêra efta Prima- cial de Braga, onde íc cípera façaasníeímas obras iHuítres no goucrno cfpiritual, ôí tem peral do Arccbifpado, q fem- pr e fez cm todos os lugares, ôi dignidadcs,que me- litiíTimamente ocupou.

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