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PROFECIA

POLITICA,

Verificada no que está succedeíicfo aos Portuguezes pela sua eéga affeiçao aos Inglezes ;

Escrita depois do Terremoto ão ànno de i7$5->'e publicada por jrdem superior no amo :de 176a % em Madrid.

-Traduzida do Hespai<fkòl.

Augurium ratio est & conjectura fotirri. Ovni. Trist. L. 1. EU& -t.

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-"Na Typo3RAFia Rollanbiaha« 1 8 o 8.

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EDITOR «ESPANHOL..- :

J. endo chegado ás minhas rnaos este escrito por huma rara casua- lidade , o puncipieia lêrsem mais objecto que o da minha própria instrucçaõ ? crendo açha-r-nel- le senaó huma relação simples , e nua dos dam nos que causou o ter- remoto de 175-5- era* Portugal, e algumas reflexões vagas sobre © seu governOo Fiquei porém adrni- redo de vêr, contra o que espe- rava j quaõ bem discorre seu au- íhor sobre o systêma politico dá- quelle reino; descobrindo a raiz, e causa de todas as suas misérias^ e demonstrando naõ terem estas a sua origem no physicó dos seus -contratempos , mas sim no dama©

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moral da sua constituição , que mo he outra, senão a dedeixsr- se cegamente governar pelos In- glezes ; sem reparar que estes lhe vendem a sua protecção a preço d'huma escravidão, como o temos visto bem comprovado no mani- festo que ultimamente se dêo á iuz por ordem da nossa Corte.

-Deste principio inferio o su- thor , ha seis itmos , todos os damnos, e calamidades que neces- sariamente deviaõ resultar a Por- tugal ; c que por desgraça desta monarquia sevanjá verificando. O que me move© a publicar este es- crito , com o titulo de Profecia Politica , verificada no que está sue- cedendo aos Portugueses pela sua cega affeiçati aos Inglezes , &c.

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Jtl pezar de ter o reino de Por- tugal feito hum grande papel na Europa desde o finado reinado de D. Pedro II. , sem embargo naõ se conhecerão com individuação os negócios desta monarquia. A Provi- dencia me conduzio a este reino no anno de 1752., & desde log.pcn.a- char-me.no -centro da desordem po- litica da Europa.. Vi huma monar- quia anniquilada por huma serie contínua- de revoluções, pertur- bada com oçcultas. seitas , c em- pobrecida pelas suas próprias, ri- quezas.

Hum povo privado da devi- da instrucçaõ : huma nação cujos costumes a fazíaõ pouco civilisa- da : hum estado governado por usos asiáticos , . naó tendo de Europeo mmê o nome , de monarquia se-

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naó a forma, e de potencia senão a sombra.

O que porém tinha mais des- truido este estado no nosso sécu- lo, era a cega confiança que tinha n'huma naçaõ ambiciosa , cobiço- sa da grandeza, e do poder, que ofterece ao principio humamaõ para soccorrer , e que opprime de- pois com huma infinidade de bra- ços.

A Inglaterra desfrutava por in- teiro as minas de ouro do Bra- sil; e Portugal naõ era mais que o ecónomo das suas próprias ri- quezas. Este estado se via cheio de Inglezes opulentos, que pos- suiaõ todas as riquezas do Reino, e nada ficava aos Portuguezes de propriedade, &c.

Finalmente as causas physi- cas concorrerão com- as moraes : os elementos suppríraõ ao que alcançou a politica , abrio-se a terra, e destruio os que a des- truiaó..

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Isto supposto, digo r que o Reino de Portugal pode tirar hu- ma grande vantagem das suas des- graças ; e somente para provallo, se compoz este discurso.

Acaso haverá quem julgue que be mui succinta a relação do ter- remoto , que serve de appendicej mas persuado-me, que para satis- fazer a ânsia que tem a Europa de huma noticia individual deste successo , basta pôr-lhe á vista os factos , tendo podido fazer alguns volumes , do que reduzo a pou- cas folhas.

Que espectáculo da vicissi- tude das cousas humanas nao offe- rece á vista hum Reino inteira- mente trastornado , huma capital sepultada nas suas próprias ruinas, milhares de casas abrazadas ,:_ hum povo inteiro entregue ás chamas, quarenta e cinco mil pessoas mor- tas~~repentinamente , destruída a fortuna de duzentos mil vassallos, e por fim huma perda immensa , e quasi incomprehensi vel !

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(8) A imaginação naõ tem de trabalhar , porque todo o trabalho he da penna; o mal está, em que nesta espécie de relações , que pa- recem exageradas, costuma-se sa- crificar o principal ao accessorio; eu porém reduzi este suecesso ao, suecesso mesmo.

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DISCURSO POLITICO.

Das utilidades que Portugal , pode- x ria tirar das suas desgraças

JN em sempre he a politica a

-causa única das revoluções dos es- tados.-Terríveis fenómenos mudaõ Ás vezes a face dos impérios. - de-se dizer ,'/ que ás vezes estas irregularidades da natureza sao precisas ? ^ porque podem contri- buir mais que qualquer outra ^ou- sa á destruição de certos syste- mas , que se dirigiaó a invadir o universo.

Se os .governos ambiciosos (■fatio dos que tudo referem a si próprios , que vendo-se sós no mundo , naõ tem outro objecta', senão empobrecer a todos univer- salmente ? nem outro principio,, senão a dominação gerai.) naõ

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fossem commummente impedidos por causas physicas , converter- se-hia a terra n'huma mansão pe- rigosa. Entaó poderia a politica íazer-se senhora absoluta do mun- do : os estados fracos ficariaõ sem recurso algum ; o povo que che- gasse a ser superior a outro, con- servaria sempre a superioridade : entre este estado , e o da monar- quia universal, naõ mediaria in- tervallo algum : creio que em cer- to período de tempo seria escra- vos globo, da terra : tudo se per- deria entaõ, e todos os governos seriaõ anárquicos.

Fallando somente dos meios políticos , com independência das causas extraordinárias, he en cer- to modo evidente , que hum es- tado, ao qual outro chegou a ser superior , naõ torna a si quasi nunca. Procede isto dequeosys- tema geral da Europa se funda sempre na vantagem actual ; e que o estado que chegou a adquirir

( M > esta vantagem , augmcntãtião as- sim as suas forças verdadeiras , e relativas, chegada vêr-se em cir- cunstancias de nao perdella nun- ca.

Parece que na politica somen- te existe no nome a moderarão. Os soberanos costumaõ querer ser sempre tudo o que podem ; e pou- cos exemplos ha de que podendo hum estado ser superior a outro f o rraõ tenha feito.

Por maia que se estabeleça para todas as nações hum direito de gentes politico-, e civil, go- vernará seaipre Doiundo entre os homens a lei do mais forte; por isto disse hum dos grandes poe- tas do nrçsso -século :

O primeiro -Rei ã$ mundo foi hum Soldado^ nas suas empregas sem- pre afortunado.

-Masaistodirád: O que! he

preciso que se abra -a terra, que

■trastorne províncias, que sepulte

cidades inteiras, para dissipar a

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cegueira de algumas nações 5 c tSar-lhes a conheceres seus verda- deiros interesses ? Sim , sem temor o digo, he necessário por algum modo. Parece que ainda nos ele- mentos ha huma espécie de ins- tincto , para impedir que certos povos ambiciosos se apoderem da terra. Vcja-se como a physica tor- na a estabelecer ás vezes certo ni- vcl nos negócios poliricc s.

Com amicipsçaô de muito tempo minava secretamente huma tiaçaõ ambiciosa o poder de seus visinhos j a sua industria , e o seu commercio lhe tinhaõ adquirido a superioridade sobre muitos esta- dos. Huma maravilhosa , e bem combinada polirica, que.guiava to- tíos os seus desígnios, a tinha in- sensivelmente, elevado ao poder supremo por veredas extraviadas preoceupaçoes de moderação que tinha sabido estabelecer ; hum sys- tema de pacificação com que tinha deslumbrado os olhos; as immen-

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^as riquezas do Brasil que pos- suía inteiramente ; huma forte ma- rinha ; o adiantamento das artes; o estado florecente das .ena nu fac- turas : N estes saõ os < instrumentos de que se sérvio para dominar va- i-los povos.

tinha tudo disposto para cativar parte da Europa ? quando o fenómeno.. acontecido' em Portu- ga! frustrou todos os seus projec- tos.

Mas huma perda de mais de sessenta milhões de cruzados , a suspensão das artes , e das fabri- cas, como também a interrupção das riquezas do Brasil, acabaõ de atrazar pelo menos hum século a dominação, a que se que aspi- ra -a Inglaterra.

Poderia pois a politica ter diminuído até este ponto as forças deste reino , e>ver-se-hia res- tabelecido sem este fenómeno o equilíbrio da Europa ? Na verdade era quasi. indispensável hum acon- tecimento .extraordinário.

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Deve suppôr-se como regra geral , que os abusos introduzidos n'hum governo desordenado por espaço de muitos annos , destroem insensivelmente a sua constituição, e regularmente corrompem todos os ,seus princípios : o caracter da naçaõ, que segue sempre o sys- tema -geral, se une com os seus vicios políticos : os estados estran- geiros , que occasionaõ esta des- ordem, querem aprovei tar-se dei- la , augmentando-a continuamen- te ,-e-o mal chega a naõ ter re- médio.

Quando os principies d'hum estado chegarão a corromper-se , saõ quasi inúteis as novas leis.; porque a reforma do primeiro abu- so he sempre a origem d'outro a- buso; e por mais que se faça, se consegue trocar hum mal por outro mal, e subsiste sempre a cau- sa da desordem do estado. Como este governo se acha n'huma si- tuação precária, quantos tratados,

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e quantas negociações fazem com elle os outros estados , se conver- tem sempre em seu prejuízo , ca- da qual se aproveita da sua fra- queza , e he o alvo. a que atiraõ todos os estados da Europa. Hum governo pois que se acha nesta si- tuação , e que ameaça ruina por todas as partes , naõ pode deixar de tirar muita vantagem d%uni tras- torno.y ou d'fautáa revolução,, e quiçá he d único remedia que lhe fica para renascer das suas pró- prias cinzas : assim como as en- chentes dos rios que trasbordaô, saõ algumas vezes necessárias para fazellos tornara entrar no seu lei- to natural, donde íinhaõ safa ido , assim também ha casos em que pa- ra restabelecesse hum estado , he preciso quedem parte se anniquile,, e que isto seja por meio de algum acontecimento extraordinário.

Succedido o fenómeno , der- rama-se huma nova luz nos enten- dimentos . ,■ e destruídas as preoccu*

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pações por meio do golpe funes- to experimentado no governo po- litico , e civil , descobrem-se as -desordens, que o costume, e á se- rie de huma infinidade de causas estranhas com que estavaõ unidas, naõ deixavaó ver.

Naó estamos naquelies sé- culos^ em que os legisladores mu- davao a constituição dos estados corruptos com a força do seu entendimento.

Como cada nação formasse então hum ^mundoá parte , ou por melhor dizer, como cada estado se considerasse a si mesmo no universo, e que o systemad'buma naçaõ fosse unicamente relativo a ella mesma., achava o legislador grande facilidade para a reforma. Mas depois que se unio comsigo mesmo-a Europa ; isto he^ depois que os interesses políticos d'hum estado viérao a ser os interesses políticos d'outro estado, abrirão os olhos todos os governos sobre

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r menor mudança que medite fazer qualquer dos seus visinhosj e co- mo os vicios, e defeitos dos mais fracos, entra õ na composição da- quellas cousas que contribuem a formar os mais fortes y resulta que naõ se permitte aos estados , e governos fracos sàhir de sua fra- queza, e debilidade, porque d& sua mediania , ou pequeno poder depende a grandeza das mais prin- cipaes , e poderosas monarquias. Por isto hum governo corrupto* está necessitado a naõ sahir dos limites que lhe signala a sua pró- pria desordem ; naõ servem para sahir delia os meios de que poder riaõ valer-se os grandes ministros: porque o mais que podem fazer hoje em dia , naõ he anniquilar os vícios do systema actual, mas sim usar de remédios palliativos para conter a desordem, e arrimar hum espeque á maquina, ( permitta-se- me esta expressão familiar) para, que naõ se desfaça totalmente^. £:

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( 18) caia por terra ; e isto succede por- que huma multidão de causas com- plicadas , e accidentaes , que nem saó da sua inspecção , nem está em sua maõ desviallas , os fazem pa- rar, e lhes tirão a liberdade de o- brar de mil maneiras.

Hoje em dia tudo he com- binações na politica , e o que neu- tro tempo se chamava grandes ras- gos de estado , ou de politica , naõ he a propósito, nem^ervede cousa alguma; e naõ occorrendo algum acontecimento extraordiná- rio, huma monarquia que se vio huma vez abatida , permanece aba- tida para sempre.

Cromwel , e Richelieu se ve- riaõ hoje em dia precisados a pa- ramos primeiros passos , naõ obs- tante o seu grande talento , e ca- pacidade ; e por mais que medi- tassem com madureza os seus pro- jectos, e preparassem as suas má- quinas , logo se descobririaõ os seus desígnios , e a sua politica ;e

is suas ' primeiras tentativas frudò se levantaria contra elles para fa« zellas inúteis, e aquellesdous su- blimes entendimentos seriaõ mui pouco a propósito hoje em dia pa- ra os gabinetes dos príncipes. naó assassina a politica , mas ma- ta lentamente : hoje todo gover- no mina, ouhe minado; e geral- mente fallando, o mal vem sem- pre de longe : do mesmo modo como succede com aquellas enfer- midades inveteradas , que quando, se querem remediar , naó he tempo.

Hoje em dia se prepara a mi- na de qualquer estado , e gradual- mente o levao a ella , subminis- trando-ihe insensivelmente os meios de destruir~se y de maneira que

chega a arrumar-se- com arte

a politica dos antigos Romanos opprimía as nações, tazendo-as mostrar-se no mundo em todo o seu esplendor, de maneira que naó co- nfaeciaõ a sua própria ruina senaó

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quando naõ tinhaõ remédio pa- ra evitalla ; eis-ahi em duas pala- vras qual era a situação de Por- tugal antes das suas ultimas des- graças, principiando pela do hor- rível fenómeno-, que foi o espan^ to, e a admiração da Europa. An- tes destas desgraças estava a monarquia Portugueza nos últimos extremos : tinhaõ-a oslnglezes de- baixo da sua dependência , e in- sensivelmente a tinhaõ conquista- do , sem se exporem sos riscos das conquistas : eçtavaõ os Porta* guezes atados ao carro da po- litica Ingleza : naõ lhes ficava meio , nem recurso algum para* romper as suas cadeias, e em vez* de poder rompellas , fortalecia Portugal mais e mais cada dia as- que o sujeitarão- ao systema da Grã-Bretanha.

Jamais puzéraõ melhor os In- glezes por obra a máxima que os inclina a destruir, ou ao menos a debilitar todos os demais systemasr

para dar forças ao seu. Nao tinha alma, digamo-lo assim, o gover- no Portuguez : estavaõ os seus membros todos sem vigor: cada parte esperava para mover-se que lhe viesse o movimento da Ingla- terra ;e n5huma palavra , estava tu- do sem esperança,, nem remédio.

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jás cousas physicamente ■■necessárias faltavao a Pêrtugal.

& sessenta "«mios a esta par» t€ foi o grande systemados ingle- ses y para sujeitar as nações que devem contribuir ao seu engran- decimento, têlías na dependência das cousas physícas necessárias.^ destruindo a sua agricultura.

O methodo de que se sérvio o governo Inglez para este fim , por singelo que seja , naô deixa de en- cerrar em si hum systema comple- to de tyrannia , pois indirectamen-

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te se dirige á monarquia univer- sal. Este methodo pois foi o de ofFerecer, e fornecer aquellas cou- sas em que consiste a primeira subsistência dos povos, osquaes intenta pôr debaixo da dependên- cia , por muito menor preço do que poderiaõ elles mesmos têlias no seu continente. Foi Portugal o que primeiro cahio no laço , deixando-se prover das cousas mais necessárias , e desde aquelle pon- to perdeo-se o seu estada civil ., e politico, e sahíraõ as suas ri- quezas do seu domínio. Resultou disto, que dependendo esta mo- narquia da de Inglaterra para as cousas physicamente necessárias, se fez sua escrava jj aturai; e resul- tou também , como consequência necessária da escravidão, reduzí- rem-se a nenhum valor as terras de Portugal, e achar-se sem pro- ducções o continente, no que, como se deixa ver, perdeo o es- tado muitos milhões na cultura das

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(*3> terras: deixou-se de semear: dí-

minuio-se o numero de lavradores, e minora cada dia esta classe de gente, que deve reputar-se como a base do governo politico, e civil; de maneira, que as colheitas tem sido escassíssimas no reino, e a~ bundantissimasem Inglaterra, aon- de os Portugueses levaõ o seu di- nheiro. De tudo isto nasceo , que se perdeo a harmonia nas ordens do estado , o equilíbrio nas classes, e por consequência naõ pôde sos- tér-se, faltando o apoio principal, o estado recebeo a ferida na raiz a mais essencial. .

Varias vezes ouvi perguntar, porque tendo Portugal tantos meios de ser poderoso , era o Reino mais fraco da Europa ? Naõ víao os que faziaõ semelhante pergun- ta , que esta monarquia estava en- tregue a hum povo que a devo- rava , a hum povo que naõ lhe deixava cultivar as suas riquezas ^nacionaes, e qua a obrigava a cor-

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(*4) , ., ,

Ter após huma riqueza fingida, da .qual tirava toda a utilidade aln- glaterra.

Naõ tinha Portugal no anno de 1754 mercadorias de sua eo* íheita : naô produzia o seu terre- no senaõ alguns fructos : os dous terços das cousas physicamente necessárias lhos subministravaõos Inglezes ; e a tal estado tinhaõ-es- tes reduzido Portugal, quequasi

0 tinhaõ conquistado, sem mani- festai lo ; demaneira, quenaõlhes faltava senaõ tomar posse, cousa .que teriaõ executado facilmente , se elles naõ tivessem opposto a si mesmos varias considerações par- ticulares , tiradas do systema ge-

01 da Europa.

r*5) § ii.

O commèrèio mniqullado em Pó?* tugãk

Oênbòra a Inglaterra do coinmer- cio dos Portuguezes 9 passava tu- do pelas suas mâõs : erao os In~ glezes feitores, e abastecedores de -Portugal , e tendo-se apodera* do de tudo^ naõ havia negocio algum que naõ se -fizesse pelo seu canah Desde que a corte de Lon- dres tomou taõ grande ascendente sobre -a de Lisboa ^ e desde que a Inglaterra se derramou (diga- mo-lo assiíti ) em Portugal , nao ■fora 6 outra cousa os habitantes deste reino 3 senaõ huns testemu- nhas ociosos do grande commer- cio , que se fazia em sua própria casa , e huns tranquillos especta- dores j, que naõ fízeraõ papel ai- g*am no seu próprio theatro, con- -eiitando-se com olhar da platêa

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para a trágica scena da sua pró- pria destruição.

Os Ingiezes iaõ ate Lisboa para tirar-lhes o commercio do Brasil. A carga , e o sortimento das suas frotas , eraõ dos Ingie- zes , as riquezas que traziaó á Europa, o eraõ igualmente, naó tendo de Portuguez este commer- cio senaõ o nome ; e entre tan- to, naõ obstante o immenso com- mercio que se fazia em Portugal , se debilitava miseravelmente es- te estado, porque todo o provei- to o levava a Inglaterra. Desap- pareciaõ os Ingiezes depois de te- rem feito a sua fortuna, levanJo huma grande parte das riquc/as do reino , o que o empobrecia continuamente y pelo que tei ia si- do melhor que naõ se fizesse ccmmercio algum , do que deixar a sua utilidade a huma naçaõ es- tranha. Hoje em dia he o com- mercio que impõe leis á politica, dimanando delle o poder de hum

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estado; e quantas vantagens che- ga a lograr huma naçaõ sobre ou- tra nesta parte , se dirigem á ruí- na da que as concede, de manei- ra ? que naõ ha meio , nem mo- deração ; ou destroe ? ou he des- truído aqueliepovo, que faz o •cornmercio com h tim a naçâÔ so- mente.

§ ffi. , ,

Da nenhuma

industria -de :Púf<

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oder-se-hia diz^r dos -Porta- guezes , o quç dizem vários au- thores de certos povos da Africa; isto he5 que náõ "tem artes: quê tem em abundância metaes precio- sos 5 que recebem iirimediatamen- das maôs da natureza : que to- das as nações cultas se achaõ em estado de negociar vantajosamen- te com elles : que lhes podem fa- x,er estimar muito cousas de. ire-

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«hum valor, e receber delles ou- ■tras de excessivo preço.

Vem de muito longe esta -inacção de Portuga] ; mas sempre a originou a Gra-Bretanha. Crom- wel , por meio de hum tratado vantajosíssimo á sua-naçaõ, anni* quilou em certo modo a monar- quia Portugueza , antes que exis- tisse ; fez-se este tratado entre as duas nações, quarenta annos an- tes do descobrimento das minas; istp he., antes que Portugal fi- zesse papel na Europa, c" nelle se estipulou, que a Inglaterra ha- via de subministrar os géneros pa- ra se vestirem os Portuguezes : desta maneira cortou Cromwel o nervo do systema politico desta naçaô , e com hum golpe ar- rumou o seu governo. Desde en- raõ ficáraó desterradas as artes do reino , destruirão se insensive4- jnente as manufacturas, entorpe- reo-se a industria , que a final chegou a ser nenhuma : o alento

que se dava aos Inglezes , rece- bendo os seus tecidos , abateo a actividade natural dos Portugue- zer. cahio a naçaõ tfhuma espé- cie de Vethargo : a ociosidade , e a preguiça se foraõ apoderando dos corações rmô deixando nel- }ç$ asilo ás (temais paix6è§ , eau- gmentoa-se a indolência dos Por- tuguezes á proporção do augmen- to que recebia a avareza dos In- glezes. Os panos ,-e lenharias que* a Grã-Bretanha subministra- an- nualmemte aos Portuguezes; de- vem avaliasse arn vinte milhões* de cruzados por anno; naõ igno- rando ninguém, que a França na© vende annualmente em Portugal cincoenta peças de pano.

Sendo o vestido , e o alimen- to duas cousas igualmente neces- sárias em qualquer naçad , segue^ se forçosamente, que subminis*- trando-as aos Portuguezes , con- seguio a Inglaterra tellos na maior; dependência-, e sujeição.

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§ IV.

.M00 systema de política em Por~ tugak

JL endo-se subtrahido este reino da dominação de Espanha , se lan- çou nos braços dos Inglezes, cren- do que necessitava no mundo de hum allUdo de reputação, cujas forças marítimas pudessem deslum- brar a mesma potencia, cuja do- minação acabavao de sacudir ; mas he de admirar, que huma só- reflexão , que devia offerecer-se desde logo aos Portugueses , naõ- os conduzisse a finalizar a- obra, para o que naõ tinhao outra cou- sa que fazer, senão dar hum pas- so para traz, e examinar as cau- sas dáquelle mesmo suecesso.

Toda a Europa sabe que o projecto , a execução , e o bom exko da revolução de Portugal ,

foi obra dos Portuguezes sos , «m soccorro algum estranho. Sabe-se

igualmente",- que naõ servirão , riem tireraõ efFetto quantos meios

lhes tinha submiflistrado- a Ingla- terra. Sendo isto assim , como po- diaô suppôr os Portuguezes que a Gra-Bretanha havia de ter bas- tantes forças para impedir que tornassem a entrar na aommaçao de Espanha , naÓ teado podido tirallos delia a mesma Inglater- ra > Por ventura, he mais \mtt 'fazer que huma mçaõ se liberte da dominação de outra , do que estor- var que torne ao poaer oa mes- ma ? Sem embargo , aproveuando- «e a Inglaterra daquella espécie de embriaguez, tudo prpmetKo , para tudo conseguir, bao infini- tas as reflexões que se me spre- sentaS agora por todas as partes : quando huma naçaõ recobra a sua liberdade politica, he huma pro- va certa de ter-se corrompido o governo, que a tinha em escrava-

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«o;- c-por conseguinte, que nad se acha no seu primeiro esta- do^ de vigorj neste caso, a na- ção , que alcançou por si mesma a liberdade . he bastante forte para conservalla , e de nada lhe servira o seu primeiro esforço, senão se lhe segue outro para con- servasse livre sem soccorro de hum alhada poderoso : d'ourra sorte torna a cahir por outro la- do na mesma escravidão de que samo. ^

As allianças nao sa6 outra cousa senão comrnercios- políti- cos; e o alliado que entra com mais poder he o que saca delias mais proveito. Depois da revolu- ção de Portugal, tem sido este reino mais escravo da Inglaterra do que nunca o foi da Hespanh*: parece que os Iftglezes nao ofFe- recêrao a Portugal, na sua revo- lução, huma rnaõ amiga, e libe- ral , senão para opprimillo depois $om< imraa, infinidade dq braços:

X 33) . - t) que se vio logo , pais a tinai

os destruirão com o peso do seu ^vstema económico.

Antes do acontecimento, que arruinou otimamente Lisboa, na© tinha Portugal vo7xdeiiberativa por si mesmo: todas as suas resoluções as dictava o gabinete de Londres^ e também os .passos que haviaô de dar nas cortes estrangeiras os Ministros Portuguezes, os pres- crevia a Inglaterra. Naõ tinha Pot'~ uigal tropas de terra , nem de^ mar : tinha perdido aquelle mo- vimento de politica, sem o qual cahe qualquer governo na ukima debilidade. Que systema taõ in- feliz ! Descançai em mim , dizia aos portugueses a Gra-Bretanha.; fiai-vos nas minhas armadas oa- vaes , e naõ façais a ninguém a guerra , que -eu a faixei por vós. Naõ ha politica mais eirada que a de manter-se constantemente em paz, quando todas as poten- cias 4a Europa estão em^uerra^

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e assim , ainda que as perturba- ções que sobrevem nas demais na- ções, naõ interessem pessoalmen- te r he preciso tomar aiguma par- te , a naõ ser que os inconvenien- tes da guerra sejaõde mais peso que os da paz. Engana-se muito hum estado quando cie que as victorias que se conseguem a 200 léguas do seu continente , naõ o interessaõ em. nada, pois no mun- do politico suecede o mesmo que no physico, em que o primeiro mo- vei dá hum movimento geral.

Ha na politica huma força ínotriz geral 5 que se derrama, e estende por todas as partes : es- ta força , ou he directa, ou indi- recta , e por reflexão , e em qual- quer parte da Europa que augmen- te ó seu poder hum estado , di- minue necessariamente o de algum outro. Por esta ra/aõ , he do in- teresse de todos os estados man- ter o equilíbrio, porque delle de- pende a sua segurança , e a dis-

tribuiçao geral do poder 'politi- co-, interessa "-a todos os reinos e republicas da Europa.

Nas guerras geraes -convém roais aos estados pequenos do que aos grandes, tomar parte nellas, ainda que seja somente para poi- se da dos roais fracos contra- os mais poderosos ; e sem esta po- litica adquirem estes cada dia mais, e mais forças , e absorvem final- mente aquelles ,; porque jamais falta ás grandes monarquias hum, ou outro pretexto para declarar a guerra aos estados , com quem até entaõ nao tiveraó desavença algu- ma. Os estados 'poderosos naÕ.a- tacaô os que saõ menos podero- sos , sehaõ porque estes nao esta3- em estado de deíender-se. -Erã pois máo o systema politico de Portugal, porque tinha interesse a Inglaterra em que naõ -fosse boixie

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§ V.

'Que a or:gem das riquezas de Por- tugal era ma , e viciada.

LA sessenta annos a esta parte <S3Õ as minas de ouro o manancial das riquezas de Portugal. Sendo isto certo, naõ ha necessidade de -ser grande politico : bastará sa- ber calcular para fazer parente , X]ue hum estado quejixa toda a sua administração nas minas, de- ve perecer indefectivelmente. O ouro, e a prata saõ huma rique- za fictícia, e imaginaria: saò hu- raa representação , ou signaes mui duráveis, como convém á sua na- tureza : quanto mais se mui tipi i- caõ , mais perde do seu valor , porque representaõ menos cousas. ^ Logo que se conquistarão o Peru, e o México, abandonarão os íispanhoes as riquezas natu- raes pelas de representação , ou

nsignal , que por si mesfflas se én- viíeciaõ : o ouro, e a prata eraó até entaó mui raros na Europa ; e senhora a Espanha repentina- mente de huma quantidade des- tes dous metaes, concebeo espe- ranças que jamais teria tido sem elles ; sem embargo de tudo is- to , naõ deixou de duplicar-se o dinheiro na Europa, o que se co- nheceo por ter-se auginentado do dobro o preço de quanto se com- prava : em dobrado tempo tor- nou-se novamente a duplicar o di- nheiro , e diminuio também o seu valor de metade , o <jue succedeo desta maneira.

Para tirar o ouro das minasv e para preparallo como convinha , era necessário algum gasto: sup- ponho que este fosse na propor- ção de hum a 64: assim pois as frotas que traziaõ á Espanha a mesma quantidade de ouro , tra- ziaõ hum género que na realida- de valia ametade menos, e cus-

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, ( 3*-) tava amerade mais; e se se segue

a conta de dobro em dobro , a- char-se-ha a causa do menor po- der que originarão as mesmas ri- quezas.

Neste razoamento se encon- tra hum extracto da historia da de- bilidade de Portugal. Filippe II. (diz hum author politico) fez a famosa quebra que todo o mun- do sabe, depois do descobrimen- to do México. Filippe IV. (diz outro escritor da mesma classe ) se vio precisado a fazer moeda de muita liga , para supprir aos empenhos do estado.

Mas ainda que este vicio phy- sico naô estivesse na natureza das mesmas riquezas, huma refle- xão politica bastaria para curar os Soberanos da mania ( digamo-lo assim ) de ter estes funestos the- souros. Se os que descobrem a- bundantes minas de ouro quizes- sem considerar , e subir até ao principio das cousas, encontrariam

patpavelmente a ruína, e anrnqui- laçaõ. do seu poder nas mesmas minas. O- ouro he o mesmo po- der , porque subministra aos es- tados os meios de augmentar as suas forças. Se hum Monarca que descobrisse minas abundantes qui- zesse ajuntar dentro do seu rei- no todo o ouro que extrahisse dei- las, sem dar porção alguma aos demais Soberanos , poderia elie ter mais dinheiro que todos os demais juntos, e poderiaõ as suas immensas riquezas levallo á mo- narquia universal ; mas , que suo cederia ? Armar-se-ina contra elie toda a Europa para destrusllo , antes que elie pudesse destruir os demais ; e se para evitar a sua mi- na meditada por todos os estados 5 lhes desse parte do producto das suas minas., cahiria por outra par- te no inconveniente que tinha que- rido evitar ; porque fazendo-o pas-^ sar aos demais governos^ augmen- tando continuamente a massa das

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(40). ..

suas riquezas, diminuiria neces- sariamente o seu próprio poder , e no espaço de hum século naõ se acharia em proporção de força relativa com os demais governos da Europa. Se os exemplos fos- sem capazes de emendar os Sobe- ranos , nenhum haveria que naõ estabelecesse por máxima funda- mental o naõ permittir abrir as minas, visto que se pode pro- var que desde a creaçaô do mun- do , todos os estados que fixáraô «este ponto a sua administração, <:ahíraõ na debilidade , e na im- potência. Pode pois ter-se por má- xima certa, -que as riquezas das minas devem repurar-se por qui- méricas para os estados que as possuem , <los quaes pode dizer- se, que propriamente fallando, naó saõ mais que os ecónomos , ou dis- pensadores de seus próprios the- souros , pertencendo somente o terreno, e a substancia aos povos industriosos que as fazem valer.

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Tomemos o mesmo Portu- gal por exemplo : o preto que trabalha nas minas de ouro do Bra- sil , deve o seu vestido atingia* terra, que lho subministra: logo estas minds saò relativas álngla* terra , até que seja pago o vesti- do: para trabalhar as minas he ner cessar io hum cabedal para pretos : supponhamos que este cabedal he de vinte milhões de cruzados^ o seu juro que he de 320 , ou 400 contos de réis , e que deVe sahir das minas, diminue por for- ça a somma da sua extracção. Ao- crescente-se a isto a subsistência de quasi cem mil pessoas entre pretos, e brancos, que dependem das minas do Brasil ; subsistên- cia que naõ vem do mesmo esta- do, e que he preciso recebella dos estrangeiros: ajunte-se tam* bem ao referido o vestuário 5 e as demais espécies relativas ao luxo que subministra a Inglaterra aos habitantes do Brasil : e ac-

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erescentem-se por fim as necessi- dades geraes da naçaô, que tendo deixado perder as artes desde o descobrimento das minas j se vio obrigada a prover-se das nações estrangeiras; do que tudo se in- fere , que o ouro que se extrahe das minas he relativo aos demais governos : que riqueza pois pô- de ser aqueiia, cuja posse envol- ve em si a ruina do próprio esta- do l

§ VI.

Que a fazenda real de Portugal es- tava inteiramente arruinada.

caba-se de ver que as rique- zas de Portugal traziaô comsigo hum vicio physico, o qual arras- tava necessariamente o estado a huma destruição geral das suas rendas rcaes.

Nos annos de 175^ e 17J4 se reduziaõ todas as tique/as de Portugal em espécie y ou dinhei~

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ro physico y a oito milhões de cruzados ; e ainda huma grande parte desta somma era de moe- da, cheia de liga, por cuja ra- zão naõ queriaô" acceitalla os es^ trangeiros : circunstancia única , a .. que deve atribuir se orno ter fi- cado aquelle reino sem hum real em espécie ; o que porém he mais extraordinário , e quasi parece in- . crivei , he que o Rei^ de Portu- gal ,. possuidor das minas de ou- ro mais abundantes 9 Monarca que toda a Europa crê taõ rico , e taa endinheirado 5 se visse precisado no fim do antio de i?i3 a tomar emprestado de huma irmandade oitocentos mil cruzados para soe- correr as suas necessidades. He também certo que nos dez annos anteriores acfde 175 4 tinaa feita Portugal bancarrota énr quasi to- das as nações da Europa , e que á Inglaterra devia vinte mi- lhões de cruzados; de maneira que naquelle anno tinha, chegada

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( 44 >

rortugaí a estar insolvente. O go- verna naõ tinha erário , nem ha- via hum real no thesouro publi- co: qualquer naçaó que o tivesse querido atacar, o teria certamente dominado , porque naõ lhe er* possível- soportar as despezas da primeira campanha.

- He verdade que nada disto deve a^mirar-nos se subimos ao primeiro principio, pois vimo* x\ue as artes, as manufacturas, e até as cousas da primeira neces- sidade faltavaõ inteiramente em Portugal. Naõ he possível que Ihi- ja hum systema de fazenda real n'hum reino onde a despeza ex- cede á renda : nos estados suece- de o mesmo que aos particulares , que naõ podem deixar de arrui- nar-se quando gastaõ muito mais do que tem, e este era pontual- mente o estado de Portugal. Pro- duziaõ as suas minas de ouro 24 milhões cada anno, e recebia de mercadorias estrangeiras 28 ; do

( 45 ) quç resultava que de todo o pro-

dueto das minas , naõ ficava hum real no reino; e além disto fazia- se Portugal devedor de quatro mi- lhões annualmente : dir-se-ha tal- vez que esta destruição , e falta de dinheiro naõ diziaõ respei- to ao Soberano, mas sim aos par- ticulares \ ao que se responde , que se engana lastimosamente a- quelle que pensa , que houve em algum tempo hum Rei ricode hum povo pobre: as rendas reaes naõ tem senaõ dois movimentos, hum que as leva ao Príncipe , e o ou- tro que as torna a trazer aos vas- sallos: quando estes se vêm obri- gados a prover-se das nações es^ trangeiras pa^a o seu alimento, e vestuário , esgótaõ continuamen- te as rendas reaes, e a final vem a sueceder que nem os vassallos, nem o estado , nem o Principe tem riquezas.

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(4ó) § VII.

Reflexões sabre o influxo que tinto ao as minas de ouro do Brasil no sys- tema geral da Europa.

tem embargo da grande illustra- çaõ do nosso século, e das luzes, e noticias que se adquirirão na po- litica,* póde-se dizer que de ses- senta annos a esta parte ha como huma espécie de encanto em qua- si todos os gabinetes da Europa, que naõ deixa conhecer aos sobe- ranos os seus verdadeiros interes- ses. -Falia -se continuamente dos ne- gócios geraes: tem cada naçaõ hum conselho politico: sustenta cada estado poderosos exércitos: decla- rasse a guerra, faz-se a paz, torna- se a principiara guerra, etorna-se também a fazer a paz: combina- se incessantemente o poder dos estados, calcula-se o seu poder, rne- de-se, digamo-lo assim, a força

( 47 ) politica de cada governo; e sem embargo de tudo isto , nao se eo- :ontra o ponto fixo do poder ge- ral , e vem a ser, a meu parecer, quenaÓ se repara que em tanto que as riquezas do Brasil se inclmaó todas para hum.. lado, ha de cahir precisamente parah>este lado o poder politico da Europa. Os an- tigos governos tinhaõ mais recursos que os nossos, porque nelles po- dia muitas vezes a virtude por si elevar- o seu poder até ao mais alto gráo? e hoje em dia se arrui- naria necessariamente hum estado que nao tivesse mais que virtude; deve .entendesse , que se falia a- qui -daquella virtude politica \ que •formou o caracter das primeiras republicas,

,No século em que vivemos -mudou inteiramente de semblante .a politica: o Reino que- he mais rico .por si mesmo, chega de ne- cessidade a ser o mais poderoso,, isto he conforme a nacuresa da

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(48) mesma cousa ; e hc necessário que seja assim n'hum século em que lia nações inteiras, que se vendem a outras para fazer a guerra , em que para ter grandes amigos , po- derosos alliados , hábeis generaes, e bons soldados, naõ he preciso senaõ pagallos : n'hum século por fim, cm que se vende t> valor , e em que tudo lie mercadoria, até a mesma honra: o que tudo he pre- ciso que assim sueceda , abrindo, como abre, o ouro , quasi todos os gabinetes, desenredando, como desenreda, todas as negociações, « labyrintos políticos, e fazendo, como faz , quasi todos os trata- dos : n'huma palavra , a força de hum estado depende hoje em dia do cheio, ou do vazio dos seus cofies de dinheiro, e o poder po- litico mede-se pelo numero dos milhões.

Antes que se descobrissem as minas do Brasil, tinha a Inglater- ra feito os maiores esforços , pa-

(49) . *a fazer hum dos príncipaes papeia

da Europa; mas como. estivessem ainda sepultados na terra -os mate* riaes que haviaõ de servir ao edi- fício da sua grandeza, cornava a cahir sempre .no 'seu primeiro es* tado -de debilidade-: foi pois para a Inglaterra o descobrimento das minas como hum a revolução 9 e aquella monarquia , que até então tinha caminhado ás apalpadellas, teve logo regras ? e princípios se- guros para o seu poder , e fixou desde aquelle tempo o ponto em que havia de estribar o seu engran- decimento. Estavaõ todos corno a- tónitos-, e admirados ? ao ver que hum dos reinos mais pequenos da Europa 5 com hum continente «, e li uma poyoaqat> inferior á de ou- tros muitos estados , dava a lei aos 'mais vastos -governos 5 e vem a ser, que^oaõ se reparava que o mesmo estado tinha adquirido por via da sua industria , a chave do mais rico thesouro do universo %

C que com a inteira posse do ou- ro do Brasil, fazia inclinar a seu arbítrio a balança nos systemas po- líticos da Europa : este he o eni- gma do poder, e grandeza , que até agora nos sorprezou tanto.

Faila se continuamente da constituição do governo de Ingla- terra , que na verdade deve con- siderasse como huma das melho- res, principalmente n'hum sécu- lo em que a combinação do po- der politico , e civil dos outros estados he inferior ao seu ; mas interiormente , este formoso sys- tema , que tanto se exalta., nao influe quasi nada na pratica do seu governo,, e póJe-se dizer, que he a republica ideal de Platão , que nunca existio senaõ no pen- samento daquelle filosofo: nao se pôde negar que he o mais bello espectáculo de theorica qué ha no universo : mas he lastima que nao produza nos Inglezes as virtudes próprias de hum cidadão , ou que

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âo menos nao lhes tire òs vtàòf que saõ causa de naõ te lias. Que** rer que tenhaõ sempre os homens a republica ria sua imaginação , e diante de seus olhos 5 que sacri- fiquem Continuamente os seus in- teresses particulares ao "befn ge* ■Tal da sociedade^ he pedir-lhes cousas impassíveis; e nliunia pa- lavra , he ter ctfnhéciment® algsm do côraçaS humairo , e ig- norar a força, e exteíssaõ das pai- xões. Os legisladores que formaô systeruas para os homens , 'deve* riaõ ( quanto o permittíssem aquel- íes primeito^ princípios 5 qtie nao he justo 9 nem possível abando- nar ) accommodar-se á fraqueza humana; e nâõ o fazendo assim , enfraquecem 5 e se inutiMsaô os mesmos systemas.

Bem" podem pois exagerar se ©s eíFekos 5 qtie produz aiibetd a-, ■de : por mais que se faça, ese<iíga, naõ se pode assegurar , queexístf «o mundo «cnae o seu ftome X beai

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êxdrrnnada , naõ he outra cousa senão huma sombra sem corpo., e huma formosa quimera , sobre a qual se fabricaõ os mais bellos edifícios de raciocínios políticos.

A servidão sim que he anti- ga , e inveterada enfermidade, de que está infecto quasi todo o gé- nero humano, e he como a idola- tria pratica da religião civil dos estados : podendo-se dizer que tem cada governo o seu bezer- ro d'ouro, perante quem dobra o joelho.

Quantas disputas se levantaõ hoje em dia no nosso mundo po- litico sobre a independência dos vassallos de hum estado, compa- rada com a independência dos de outro, sao somente sobre os dif- ferentes gráos da que cada hum tem; pois desde que os homens se sujeitarão a leis politicas, a- penas se pode dizer que deixou de haver escravidão, de hum, ou d'outro modo , em parte alguma da

à

C >~3 ) terra, e a que tem os Inglezo? he de mui disíincta natureza das outras nações , porque sao escra- vos da sua própria liberdade.

A agricultura da Gra-Breta- nha facilitou aos seus habitantes muitas vantagens ; mas estas te- riaô sido quiméricas sem as minas de ouro do Brasil , sem cujo re- curso, por mais que se tivessem esforçado os Xnglezes sobre aquelv te importante ponto r o mais que teriaõ conseguido, teria sido fa- zer circular as riquezas da nação , mas nao augmentallas até taô .al- to gra'o.

O trigo nao produz ouro , mas o ouro produz trigo , por- que facilitando as cornmodidades dos lavradores , á agricultora hum movimento, que naõ tinha antes da introducçaô daquelle m^ tal. Estabeleça-se? por exemplo, huma somma de 50 milhões era hum estado que se forme de no«- r, e introduzir-se-ha. sensivd>

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(J4) . , mente nelle huma agricultura re- lativa, a esta somma ; e se se do- bra o capital, augmentar-se-ha á proporção o producto das terras.

Assim como se foi espalhan- do na Grã-Bretanha o ouro do Brasil , a terra foi produzindo mais, e mais : este augmento fez baixar o preço do juro dodinhei- ío; e os colonos que tiveraõ mais facilidade de adcjuirillo , a tive- raõ também maior para fazer va- ler as terras, Accrescentou-se de- pois huma nova circulação de ri- quezas á primeira, e vivificou mui- tas partes da agricultura que esta- vaõ paralyticas, e sem movimen- to. Augmentou-se finalmente o consumo á proporção do dinhei- ro que havia em espécie, e á pro- porção daquelle augmento fez-se riquíssimo o estado.

Esta mesma abunianciasub- ministrou aos Ihglezes os meios de fazer da sua agricultura hum obje- cto de commereio : este commercio

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lhes facilitou formar hurna podèra* sa marinha-, , e sobre esta marinha estabelecerão os fundamentos de todo o seu poder.

Obstar~se-ha talvez , que ain- da que o Brasil naõ tivesse sub- ministrado as suas riquezas. á In- glaterra ? lhe teria procurado as mesmas vantagens a sua própria agricultara ; mas atrevo-me a dizer, que se engana manifestamente o que assim pensa > e o provarei com a- seguinte reflexão* Por multipli- cados que sejaé --os -meios de que se valhaõ os mais hábeis governos para se apoderarem das- riquezas dos seus visinhos, que nao tem minas, he indispensável que estas mesmas riquezas , depois d?hurft certo período de tempo, tornem ao mesmo paiz donde sahiraõ , sem o que perder-se-hia a Europa em poucos séculos , succedendo mui- tas vezes que pela debilidade , c pelas crises ( digamo-lo assim ) que padecem os mesmos estadas > tor*

(5-0 »aÕ a entrar nas suas riquezas.

Os estados que tem minas saã os únicos que podem dar , sem recobrar jamais, porque naó tem meios para isto. Os progressos das artes em Inglatrrra nascerão dos mesmos princípios , que os da a- gricuitura, tendo posto em movi- mento o ouro do Brasil a indus- tria dos Inglezes, que tinha esta- do entorpecida até que chegou aquelle metal, que sérvio , como huma chuva de ouro , para regar as manufacturas Inglezas , e que as fez brotar novos ramos com ex- traordinário vigor.

Desde aquella época fabricou incessantemente a Inglaterra para Portugal , e ajudando-se ao mes- mo tempo do seu bem combina- do systemade artes, e manufac- turas, chegou a ser huma das mais poderosas monarquias ; mas com esta. differença , que o mais que podia ter conseguido com a sua Industria só.., teria, .sido causar ai-

gumas mudanças, e prejuízos tios systemas políticos da Europa., de- pois do que se teria visto preci- sada a conter-se nos seus antigos Hmites ; mas eooi o ouro do Brasil^ e o consumo de suas manufacturas em Portugal, pode levar adiante as suas vastas ideas, e ambição. Ha cousas taõ extraordinárias na politica , .que quasi saõ incom- prehensiveis , .porque se oppóe-m ao senso commum , < e á razaõ r hu- ma -delias :he , ..porque alguns. .es- tados d-a .Europa, que ,-.-estaõ.'-álerta incessantemente .-para .prevenir .o rninimo prejuízo -que. -lhes queirao occasionar outras potencias yc-cui-' daõ até dos-apice-sdos-'Seus'iíitercs- ses-, movem disputas sobre-ass-um- ptos de- nenhuma- entidade , e im- portatVeia,ou rompem talvez a. guer- ra por mui leves motivos , por que razão estes mesmos estados deíxàõ^ deixarão gozar pacificamente a In- glaterra de todas as riquezas do .Brasil .? Quando se descobrirão -es-

Cf 8) tas minas, devera ter sollicitadoa

França, que era huma das poten- cias mais interessadas naquelle des- cobrimento, obrigar Portugal por todos os meios possíveis a fechai- las , ou ao menos a repartir com ella o seu produeto. O que sem duvida enganou os Francezes , foi o calculo que fizéraõ dos poucos meios que tinha Portugal para be- neficiar as minas , naõ se tendo per- suadido que o poderia executar hum estado despovoado, e dos mais pobres da Europa \ mas deveriaõ ter considerado ao mesmo tempo, que a Inglatetra havia de subminis- trar aos Portuguezes quanto neces- sitassem para beneficallas , como fim de levar todo o produeto. Com- mettida esta falta , restava ainda aos Francezes o recurso desobri- gar Portugal a repartir as suas ri- quezas novamente descobertas com as outras nações , pois somente com a repartição delias, feita pro- porcionalmente entre os estados

Europa , se teria iitipedido a mal , que depois se vio , de terem vindo parar todas aquellas rique- zas n?hurn estada ; e o descobri- mento das minas teria sido indilFe* rente para a 'Europa 9 naÕ tendo resultado outro efifei to no sy&terra geral , senaõ o de augmentar as riquezas, com proporção relativa a todos os estados. Desde o des- cobrimento das minas teráô sabi- do do firastí novecentos e ses- senta milhões de cruzados 9 como pode demonstrar- se pelas listas de cada huma das frotas que viéraô á Europa , as quaes se a eh a6 tias mãos d^ f todos ém Portugal , eto* do este immensd capital passou quasi por inteiro ^Inglaterra ? e com elle fund áraõ os Inglezes o colosso tdo seu poder , e grandeza^ com que alimeritáõ a sua arrogân- cia , e tem como admirada a Eu*- ropa,

Perguntar-se-ná talvez x e que se fez de taõ enorme quantia |

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pois he cerro que nao existe hoje em dia em .Inglaterra ? Ao que res- pondo , que a mesma razaõ de naõ existir na Gra-Bretanha , be a cau- sa do poder, e abundância deste reino. Sc se exarninaô as listas ge- raes dos gastos da Inglaterra , lei- tos desde o anno 96 do século pas- sado, ve-r-se-ha que subioa seis- centos e oitenta milhões de cru- zados o que consumio no extraor- dinário de guerras estranhas , sub- sídios , tenças, exércitos, e arma- das. Sem embargo disto, augmen- tou depois continuamente o capi- tal da nacaõem dinheiro: o que dimanou do ouro do Brasil , que a tudo supprio.

Os Portugueses déraó meios á Inglaterra para conceder avul- tados subsídios a Saboya-, para comprar alliançasem Allemanha, para manter numerosos exércitos, para formar huma formidável ma- rinha ;e nluima palavra, para obrar, negociar, penetrar ^e averiguar os

( 6i ) .negócios do mundo politico-, e para nelle fazer o principal papel

As minas do Brasil facilitarão aos Inglezes os primeiros elemen- tos-do seu commercio, pois co- mo ninguém ignora , o continen- te de Inglaterra produz mui pou- cas matérias primeiras; e a naá ter acudido continuamente á Gra- Bretanha o ouro de Portugal, pa- ra buscar , e -comprar nos paizes estrangeiros o necessário para as manufacturas Inglezas. , jamais te- riaõ estas, chegado ao estado flo- :. recente em que hoje as vemos.

Nao he dizer isto , que an- tes da dita época ^naõ tivesse a In- glaterra industria , e commercio próprio; mas esta industria, e es- te commercio tinhaó limites., ern vez que depois da posse das minas depuro do Brasil, naó osconheeecv He pois evidente que 'a naõ ter a Grã-Bretaoha o recurso do Brasil, teria de sejeitar-se, ou a ar- minasse desde logo , gastando

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roais do que as suas rendas lhe permittissem , ou a permanecemos limites em que a teve sua pobreza por espaço de dez séculos.

Do que deixamos dito nao deve inferir-se que naõ faça mais que passar pela Inglaterra o ouro do Brasil: sahe huma parte , efi- ca outra dentro dos domínios da Grã Bretanha ; mas he taõ com- mum nelles amoeda Portugueza, com© a do próprio paiz , e taó conhecida em Londres a eifigie do Rei de Portugal como a do de In- glaterra.

O governo Inglez paga as suas tropas com cruzados , e o serviço da monarquia se faz qua- si inteiramente com o ouro do Brasil.

Tem-se usado em varias oc- casiôes de distinctos meios para atalhar o extraordinário poder dos Inglezes; mas nunca se empregou o único que, pode produzir bom cffeito ; de maneira que parece te-

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( 63 )

retn convindo os mesmos inimi- gos da Inglaterra em submimstrar- lhe os meios de adquirir mais tor- ças , a fim de polia em estado de atacar vantajosamente as outras potencias da Europa.

Nós pasmamos de ver que resiste , e resistio a Inglaterra a tantos esforços dos seus inimigos ; mas naõ reparamos, que nunca *e acertou em dar-lhe o golpe onde convinha; e como os estados sao como os corpos humanos , que tem partes solidas, e mortaes , e par- tes que naõ o saõ , todas as re- tidas, que naõ se daÕ naquellas, podem curar» se com o tempo.

Assim pois naõ se deve pen- sar em abater o formidável poder da Inglaterra , em quanto naõ se destruírem os princípios, por on- de se elevou; isto he, em quanto naõ se dividir o produeto do Brasil, ou naõ se fechar o manancial das suas riquezas.

O estado lastimoso ús ror-

<ugal ^poís do terremoto do a imo ee i7jy, parece que heo raais pro- porcionado, para fazer abrir os o Ihos aos .Portugueses , corno tam- tem as outras nações da Euro- pa •• ha instantes decisivos, con- jecturas , e acontecimentos im- previstos de tal natureza , que se na habilidade para servir-se dei- Jes , e naó os deixar perder., po- dem con verter-se em universal pro- veito. SaÕ muitas as nações oue tem interesse em reflectir sobre a situaçaõ de Portugal , menos ar- nnnaao com as desgraças que o

ceo fez chover sobre elle, do que com o seu máo systema politico, o qual se conviessem em mudal- os Portuguezes , ajudados de a.gumas potencias amigas, pode- na renascer aquelie reino das suas próprias cinzas.

ra^SIfnd°IStOCerto> conside- rando bem as cousas politicas, pd- de-se assegurar que nada perdeo lortngalnas suas espantosas de*.

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graças, causadas pelo terremoto.; a destruição de muitas casas , e edificios, a de huma infinidade ue mercadorias pertencentes quasi to- das aos estrangeiros , o incêndio dos trastes r e a perda de alguns vassallos ociosos, que nem erao la- vradores, nem artífices , nao por dem formar hum vasio no systera* geral do governo: assim pois, qual- quer potencia que faça conhecer .aos Portuguezes que quasi tudo o que perderão era fructode pai- zes estrangeiros, lhes mostrara que somente perderão os mate- riaes da sua própria ruína, e is- to mesmo lhes manifestará que tem ainda outra maior calamidade de que lihertar-se ; mas para poder persuadillos he preciso primeiro que tudo curar aquella nação das suas antigas preoccupaçÔes poli- ticas ; e se isto nao se logra, se- rá huma perda sem contrapeso , tanto pelo que respeita a Portu- gal, como ás outras nações da .bttr

;.

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(66) topa, i excepção .dos Ingleses, que saberáó desiorrar-se de tudo com as minas do Biasil.

Deve pois principiar-se a dis- sipar em Portugal o fantasma po- litico, que lie a base daquelle mi- nistério,, persuadindo-lhe que pô- de existir o Reino , e ser flore- cente, e poderoso independente da sua alliança com a Inglaterra- e se esta verdade naõ se Jhe per- suade,., seráõ inúteis quantos pas- sos se dem pelos ministros estran- geiros em Lisboa a favor daquel- Ja corte.

Ha certas cousas na politica que se tem sempre por seguras , so porque liuma vez se crêraó' quando Portugal se eximio do do- mínio da Hespanha , podiaá pare- cer verosímeis as razões de bus- car a protecção da Inglaterra ; mas estas razoes naõ subsistem nem se quer na apparCncia , por- que o mundo politico mudou in- teiramente de face ; mas á íngla-

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terra impotta-lhe manter a illj- Tdò .até da obrigação forçada e^

que está de apoiar com torças ?ertos estados , cuja rmna caba- ia também aSua , soabepersua- dir a Portugal, que f este lhe man- cas vanV^o^ «ue lhe tem concedido sobre as outras nações, ella o protegera, Jlasuaparte.todasasvezesque

aWa- potencia pensar em inva. diUo, oumokstallo-, masbemis.

Sr ir mui pouco versado nos ne-- «ócios para cahir neste laço-,. * La naó conhecer, que soomte resseda Grã^Bretanha _ e nao o rportugalh.oqued.ctaaqueH

las refiexóes ,. oquefaz^e ará proteger aos Portugueses,* com- Sa^uaalliança a qualquer pre-

L, e naÓ hum principio de des- fnteresse, de generosidade, ou de

conveniência reciproca» .

Procurou também a Inglater- ra com extraordinário cuidado por

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lan rcl ° sempre da sua parte e .par, ,1 b d a uniaõ com I? ^ Jha , porem até o mais apaixor». jo pode conhecer depois daíral t^açadePor/galnoCcv °\ * '> ? > .V*e os desígnio* oue

a Hespanha pel0 espaço

damenr^ í° ^ ° minimo f"«- dksf, aIn;e,rriente convencido

Por aquelle momento Z ti?,»

£fr::-.^-td

'tquistar Portugal, se tivesse sido essa a sua antiga máxima de! po- litica, como suppóe â Inglaterra ?; Com dois mil homens que ti- vesse feito entrar no reino, se te- ria apoderado delíe ; mas portou- se a corte de. Madrid de mui dis- tincta maneira : tomou parte na desgraça dos Portuguezes : dêo or- dens para soccorrellos-, para en- viar-lhes viveres, dinheiro, &c; época mui notável na Europa , e que deve destruir para sempre a -preoccupaqaõ geral de que/anhe- la , e anhelou a Espanha a occa- siaõ favorável de apossar-se da- quelle antigo pedaço separado da sua monarquia,

Naô he de admirar que hu- rna naçaõ , que se exime da obe- diência do seu Soberano , torne todas as precauções necessárias para naõ tornar ao estado de que sahio ; mas quando 9 e onde se terá visto , que por evitar hum perigo duvidoso , ou imagitiario5

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C7o) se recorra a huma ruina certa, e real ? Póde-se assegurar, que Por- tugal, por evitar a sua perda , se perdeo miseravelmente , pois os •Inglczes, com pretexto de proteger aquelle reino , o privarão, e privao do seu commercio , e da sua indus- tria, tiráraô-lhe, e tíraõ as suas riquezas , destruirão lhe , e des- troem lhe os seus exércitos-, e an- niquiláraõMhe, e anniquilaõ a sua marinha. Que maiores males lhes poderia fazer o inimigo ? A inda que .Portugal tivesse tornado a entrar em poder da >Espanha , teria per- dido tanto o seu estado politico? Quando hum governo se a- podera das riqúezasde outro , ten- do-o na mais absoluta dependên- cia das cousas physicamentc neces- sárias, naõ somente perde quan- to se tem insinuado, mas tamhem a liberdade civil , que existe no nome; e assim pois teria sido me- lhor para Portugal teilo qualquer potencia conquistado com as ar-

*nâs, porque neste caso teria

pensado nos meios de romper, e

libertar se das cadeias, em vez que

bo outro naó hz roais que arras-

callas,, e soportar o seu peso com

paciência, (

Está cheia a historia de nações

que sacudirão o tjugo "do? que as conquistarão á força de armas ; mas quasi nunca se vio sahir hurna na- çaõ daquella espécie de escravi- dão em que a poz outra, destruin- do as suas artes, e o seu commer- cio , porque tendo- lhe tirado as. suas riquezas lhe cortou o nervo do seu poder civil ^ politico.

Í9aó podia ,, nem devia a In- olaterra^ por causa dliuma infini- dade de considerações tiradas do systema geral ., valer-se da força 7 e das amas pára destruir Portu- gal , e assim lhe foi preciso ser- *vir-se para executallo, d5ÍTuni sys- tema económico de princípios des- truetivos : era precizo manifestar este systema sob o aspecto ? e ap-

(72)

■parencias mais vantajosas , e fazer que o adoptassem os Portuguezes sem embargo de ser-Ihes por ex- tremo prcjudicial.Conscguio-o ta 6 telizmenre a Grã-Bretanha á força de artificios, e daquella eloquên- cia , que lhe he natural quando se trata dos seus interesses, que che- gou a encantar Portugal com as máximas seguintes, com as quaes reduz.o este reino á mina , e fa- talidade em que o temos pintado.

I. Que o ouro he huma merca- doria como as outras.

II. Oue Portugal, cujo terre- no he naturalmente estéril, „ao pôde produzir o que fe necessita para a subsistema dos seus halitantes.

III. Que a agricultura era imi- ti ne.quelle Remo , c que cstavao obrigados os demais estados da I ropa a sitbmimstrar-lhe as cousas physicameiit* necessárias.

IV. Que Portugal voo tem necessidade de exercito de terra , nem de esquadras de mar ; e que toda a

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( n )

Ègropa esta interessada em' fnant eh 4o no estado em que se acha,

V. Que o ouro que se tira das minas àa America , conduzido d Eu* repa j e levado depois ao Oriente pe- , lo commercio da índia , se consome como as outras mercadorias.

VI. Que por mais^que digaS ? os Portugueses saÕ mais ricos hoje em dia, que antes do descobrimento das suas minas*

VIL Que Portugal nao rtem ne- cessidade de manufacturas y visto que com o seu ouro pode ter todas as merca- dorias fabricadas mais baratas do que podiaô fabricar- se no seu Reino.

VI IL 'Que ainda que os Por tu- guezes quizessem estabelecer manufac- turas y nao o poder iao conseguir, por- que o clima do paiz he opposto ao estabelecimento delias.

IX. Que he conveniência o fa- cilitarem os Inglezes a Portugal qs meios de extrahir o seu, ouro , pois sem isto os negócios da Europa ir iao muito mal

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(74)

y\. Que desde a alUança de Por- tugal com a Inglaterra se introduz w entre os Pcrtuguezes hum luxo , que he infinitamente proveitoso d nação.

XI. Que Portugal nao pôde pas- sar sem o auxilio dos outros estados da Europa , e especialmente da In- glaterra.

XI í. Que a frequência dos es- trangeiros cm Portugal, he necessá- ria , que esta he a que fez mais so- ciáveis os Portuguezes , e os pojz de nivel com as outras nações culta r.

Xill. Em fim, que he neces- sário na ordem geral das cousas , que algumas nações estejao inteiramente ociosas, em quanto outras trabalhão, e que assim o tem ordenado aP revidem ia.

Estas máximas encerraô hum corpo completo de meios seguros, e ínralliveis para arruinara monar- quia Pcrtugueza, e assim produ- zirão o seu eíFeito. Vou pròvallo demonstrativamente máxima por máxima.

Qundo n'hurn estado^se ad-

**

minem semelhantes maxiíftas, tu^- do vai perdido, e ninguém con- cederá que nao tendo hum povo mo- do de governar-s.e , e este viciado > seja preciso seguilio.

De hum século a esta parte temos visto vários governos apon- to de perecer pelas desordens in- troduzidas na sua constituição; mas também os vimos emendaiias , e com a sua reforma fazerem-se na- ções poderosas. Será pois possível cue esta regra seja boa para todas as outras naç<k&> e somente pa- ra Portugal ?

Naõ ignoro que quando hum ^ovo tem estabelecido hutn certo modo de conduzir- se , he hum pou- co peiigoso mudallo;mas naõ he es- te o caso em que se acha Portu- gal : este Reino está cheio de gen- te, que vio nascer este systema, ^ que padece os damnos deiie. Naõ ha sessenta annos , que esta naçaõ se conduzia por máximas diametralmente oppostas.

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lodo o mundo sabe, que es- -te povo se manteve mais de mil .annos com a sua industria , e valor , sem o soccorro de mina al- guma de ouro. Que nova fatalida- de pois se derramou sobre elle ? que encanto he este? que illusaõ? Se as antigas máximas foraõ boas .até Pedro II. porque haõ de ser más agora ? Alguém me respon- derá, que hoje está o escado so- bre outro pé, e systema que na- quelle tempo ; se porém este sys- tema hemdo, se se dirige á destrui- ção da uberdade da nação , que duvida poderá haver cm dcstruillo ?

Em matéria de governo poli- tico , e civil 9 he máxima segura de estado , que se quando corri- gindo os abusos, saõ maiores os inconvenientes que resultaó , he forçoso deixallos como estavao ; mas quando elles saõ superiores aos inconvenientes, nao deve haver a menor duvida, em que seja pre- ciso reíormallos , porque 110 go-

(77 ) verno succede o mesmo que em todas as outras cousas do mundo? que o maior sempre arrasta o me- noiv

§. V1ÍL

Que o ouro he hama mercadoria co- mo as outras.

Segundo o systenia que se acab& de expor, o ouro hehuma merca- doria , da qual se desfazem os Por- tuguezes em beneficio dos Ingle- ses, como os Hollandezes da sua\ pimenta com o restante da Eu- ropa.

Se se considera o ouro como metal , he certo que he huma mer- cadoria ; mas também está deter- minado ? que as suas qualidades o fazem -superior a todas. O ouro representa tudo : he o signal da ri- queza, e do poder: dura mais qus as outras mercadorias, e muito tem- po depois de consumidas estas , \$&~ conserva no mesmo estado.

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(72) Destas breves leflexóesse de- duzem consequências mui funestas para a nação que se desfaz do ou- ro , pois facilita ás outras- os meios mais seguros de fazellas superio- res , e mais poderosas.

Em nenhuma historia se lè, que hurna nação se tenha servido desta, ou daquella mercadoria pa- ra destruir hum Reino; mas a ca- da passo se achaó exemplos , de que. o ouro d'hum estado que pas- sou a outro ,. servia para subju- gallo.

Se o ouro he mercadoria tal , se he hum género como os outros, por que razão todos os príncipes da Eurooa fizéraô leistaõ rigoro- sas para impedir que saia dos seus estados? e pelo contrario, por- que animaõ , e daó recompensas aos que de outras nações o intro- duzem nas suas ?

Os Portuguezesincorrem aqui n'huma contradicçaõ manifesta : he çejtis-simo , que a primeira maxi-

C 79 ) . r tm do governo politico hs r que o dinheiro naõ saia do estado : to- dos os soberanos do mundo con- cordaõ sobre este ponto , ainda que em outras cousas do governo naõ sejao uniformes*

N'hum reino rico, e opu- lento em si, que tem grandes en- tradas , e cuja posição, e com- mercio se avarrtajaõ sobre as na- ções que commerceao com clle , pode muito bem es-t^belecer-se o fazer do ouro mercadoria ;. por- que se hum primeiro giro o fa# sahir fora , torna logo a entrar por outro giro ? e quasi sempre com augmento. He mais hum ra- mo , que estes estados accrescen- taõ ao seu commercio,

M»s nlium reino ,. que pela situação dos seus negócios deve a todo o tirando , e ao qual nin- guém deve nada ; que nao tem senaõ huma porta por onde sahe o seu dinheiro, cujo ouro vai sem remissão augmentar as riquezas de

\

outras nações, em tal reino nao; deve ser considerado este metal como mercadoria.

§ IX.

Que senda Portugal estéril por na- tureza , naS pode bartar para a subsistência dos, seus habitantes.

kJe fosse verdade o que os par- tidários do systema- Ifiglez asse- guraõ sobre a esterilidade de Por- tugal , eu confesso que seria hurtv dos fenómenos mais extraordiná- rios da natureza,e hum caso novo na mundo : isto he , que depois de ter produzido a natureza dois mi- lhões de homens n'hum continen- te , se negasse a dar-lhes a pre- cisa subsistência.

Naõ conhecem os que fabri- cafí taes systemas, quaó absurdas saõ as suas proposições. A con- servação tem huma intima relação com a-creaçaõ: a primeira he sem-

(St ) .pre" consequência da segunda.; -e este systema he superior a tu- dos os systemas, porque he o da natureza mesma. Se suppomosque Portugal padece hum a estei;ilida-: de -natural', he preciso também suppor, que, sempre a padecei,; porque a qualidade pbysica nun- ca se altera tanto , que cause ta- manhas :revoíu.ções,, de sorte que huni paiz que tenha produzido a -subsistência .necessária^ deixe de- pois de produzi 11 a.

Além de que seria hum ca- so mui extraordinária, que todos os historiadores tivessem convin- do de nao dizer~nos , que- este rei- no na (5 podia dantes subsistir por si mesmo ; mas suecede muito re-lò contrario, pois nos dizem que ion- -ae de ser escasso de alimentos, abunda delles ,para sortir os seus lisinhos.

Se alguma influencia se espalhou em Portugal, ioi certa- mente depois do tratado de Croín-

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Wei ; antes dc^ta época tinha em 6i este reino aquilio de que* pre- cisava ; de sorte que o ar que o esterilisou, veio de Inglaterra.

Naõ ignoro que o terreno de Portugal he menos abundante de certas causas, que alguns outros paizes da Europa ; mas também sei, que a sua supposta esterilidade tem a sua raiz no s-ysterna de agricul- tura de Inglaterra. Depois que com a arte se achou o meio de sjpprir a natureza, e que a agri- cultura , como todas as outras par- tes da administração, se sujeitou á razão do calculo, todos os pai- zes do mundo se podem fazer fér- teis até hum mesmo grão,; por exemplo : hum estado, cujo terreno he três vezes menos bom que o de outro, naõ tem mais do que aug- mecttar do triplo a cultura das suas terras, c porá o seu produeto ao nivcl com as que saõ três vezes melhores. Este he o systcma de agricultura dos Suissos. Quantos

(»3) estados ha na Europa m^nos fér- teis que Portugal, que sem em- bargo daó-com abundância a sub- -sisiencia aos seus habitantes?

::§ x

Que todos os estados devem sortir -Portugal do que necessita.

Jtixpõe-se -a -tantos riscos hum po- vo, que recebe de outras nações as cousas necessárias para a sua sub- sistência, que por muitos que re- sultem do meíhodo contrario, de- ve-se-lhe dar a preferencia. Go- mo todo governo se acha tfhutna posição violenta , cada governo (ainda em tempo de paz ) deve con- siderar-se n'hum estado de guer- ra respectiva , e pôr-se em esta- do de naõ precisar das outras na- ções. E assim como o objecto dos vassallos he a sua fortuna parti- cular, o de hum estado deve ser •o se-u engr^ndecimemo^geraL

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. ( *4 ) .

A primeira máxima da guer- ra he ter mantimentos : huma pra- ça atacada , que carece delles, naõ se pode sustentar; e naó ha ne- cessidade ae empregar as armas contra ella , porque está perdida sem remédio.

Sem muito exame se conhe- ce a difierença, , que ha entre as nações que podem subsistir por si mesmas, e as que rirão a sua -primeira subsistência das estran- geiras. A -França, e a Inglaterra -existiriaõ ainda que o resto do mundo se anniquilasse respectiva- mente a ellas. A razaõ he mui singela, porque estas duas nações -tem dentro de si as cousas mais necessárias para a vida , e nao ■devem este beneficio tanto á sua natural posição , e terreno , quan- to á sua politica , e agricultura.

Nao basta a hum povo ter metaes com que acuda ás suas ne- cessidades , necessita ter ainda no seu território as cousas de primei-

ra subsistência para a vida. A bticn Imperador da China apresentou hum particular hunias pedras pre- ciosas ^ que tinha sacado de huma mina y mas -aquelte Príncipe *a marido^ fechar dizendo, que naõ queria que o seu povo se occu- passe nrhuma cousa, «que por si mesma naõ .-era boa nem para co- íiier, nem paia vestir.

Ha huma grande diferença entre as cousas necessárias, e os -meios de ad-quirillas. Estes estaõ sujeitos a huma infinidade de ac- cideates; e com os mesmos com que se .concede algumas yezes^u- rna cousa, naõ se pôde lograr ou- tras vezes, '

Por mais que se altere o sys- tema geral da F.uropa , qualquer estado que tenha em si as cousas de primeira necessidade , achará sempre dentro de si próprio os meios de reparar os golpes , que lhe dêm os seus visinhos. Bas ta- lhe para sua defeza despertar ©

!

( 86 ) valor dos seus povos, e Ievan- tal-los se estaõ abatidos ( cousa fá- cil de executar quando se trata da vida , e fortuna delles); mas o que naõ se pode recobrar de re- pente , he a industria que a na- ção tiver perdido. Saõ precisos alguns séculos para que torne a alcançar por si mesma numa sub- sistência, que está costumada a re- ceber de tnaó estranha; e terá de vencer para este fim , naõ somen- te as circunstancias politicas, mas ainda as mesmas paixões dos ho- mens ; porfie quando a ociosi- dade, a preguiça , e a aversão ao trabalho lançarão raizes n'hum po- vo , naõ saõ cousas que se cor- rijaõ em hum anno. He impossi- vel reformar de repente huma na- ção: saõ precisas algumas gera- ções: e neste tempo ninguém po- de impedir a hum estado ambicio- so que ponha em execução os pro- jectos perniciosos que tiver me- ditado.

(*7)

I Por mais que se combmefei

os differentes modos de governo^

por mais que se estabdeçaõ no- vos, sy&temas de politica v será sempre verdade que se achará em .hutna situação precária todo o po- vo , que naó tirar do seu próprio território o que lhe he physica- . .mente necessário: as melhores leis seráõ inúteis > supérfluos todos os regulamentos de policia ., e o seu ooverno politico, e civil hum en- te de razão.

As superfluidades se .podem muito bem receber dos estrangei- ros, porque sem ellas pódern pas- sar os povos; mas o " preci sãmen- te necessário deve achar-se den- tro do estado.. Nào ha systètna de politica que possa supprir a sua .falta; quero "dizer , a privação do paó j e do vestido.

Do que fica dito se deduz ^ que naó se, precisa difama grande revolução para ver arruinado o go- verno de PoftugaL.Bastaquedua%

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(S8) ou três colheitas faltem á "Ingla- terra ; porque o supérfluo desta província heo que abastece do ne- cessário a Portugal. E na verdade que naô será nenhum milagre ver esta falta de colheitas na Gra-Bre- tanha.

§ XI.

Que Portugal nao tem necessidade de exercito de terra , nem de esqua- dras de mar ; e que toda a Euro- pa está interessada em mantello na situação em que se acha.

JtLu me persuado facilmente qut o systema presente da Europa he favorável ás máximas com que se governa hoje em dia Poirugal ^ mas deixará de ser hum grande des- acerto do governo deste estado o ter deixado perder a sua milícia^ nao ter nem exercito 5 nem solda- dos; n'huma palavra, nao ter for- ças com que defender-se? Pcisua- diraõ-se os Portuguezes ? que o

(*9\ , systema da Europa ha de ser sem- pre o mesmo? Nao poderá pade- cer huma revolução geral esta par- te do mundo? Na6 poderáo mu- dar os interesses dos seus prínci- pes? Desgraçada a politica", que mo as cousas sena6-.no ponto actual. Este defeito encheo a ter- ra de males, e derribou mais d'hurn trono ; porque quando as cousas tem tomado hum certo curso* nao parece que pode chegar o caso de mudar-se;e ólha-se sempre co- - mo impossível qualquer outro sys^ tema que se aparte do que ha»es* tabelecido. .

Mas para vero contrario lenv- bremo- nos somente do que succedea na Europa de hum século a esta parte, e veremos que tudo o que a politica julgava então como im-. " possive! succedeo depois. Segundo estavao então as cousas, parecia impossível que a Borgonha chegas- se a ser província da França ^ e muito menos o ELoussillpn. Tanir

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pouco parecia regular que adquiris- se huma parte íaõ considerável d* Flandres, porque tudo isto pare- cia contrario aos direitos de cada principe em particular , eao equi- líbrio geral da Europa. Do mes- mo modo parecia impraticável , que a Alsacia pudesse obedecer a ou- tros príncipes , quenaô fossem os seus antigos Senhores , pois esta desmembraçaõ , ao mesmo tempo que diminuía as forças do Impé- rio > augmentava a? âa potencia a que se aggregav*. Quem havia de crer, segundo os mesmos princí- pios, que hum principe da casa de Bourbon havia de oceupar o trono de Hespanha, quando rodos os políticos estarão prognostican- do ,. que se isto chegasse a suece- der , a liberdade da Europa ficava destruída?

O mesmo systema tinha per- suadido como huma cousa imnos- siycl, que alralia pudesse ser do* minada por hum dos ramos da ca-

(9*), sa de França, quando os interes- ses desta monarquia , .eosde Hes- panha chegassem a ser huns ; e pelos mesmos princípios se jui- pavacomo imaginaria a adquisiçao da Lorena para a França. Esta é- poea se considerava- como a aa es- cravidao universal da Europa : es- tas ideas fazia6 que a pragmática sancçaÔ de Carlos V. fosse olhada como o fundamento do equilíbrio da Europa } e naÓ obstante tudo isto, os bens da casa de Aus«aA se víraó divididos. Nada dorete- rido parecia que devesse sueceder; mas sem embargo , tudo suecedeo. Se hum politico no meiado do século 'passado tivesse prognosti- cado as alterações acima declara- das , seria tido por hum visioná- rio, ou por hum louco. Mas os interesses dos príncipes daquelle tempo riaô sao os mesmos que os~ dos príncipes actuaes. Os gover^ nos que naquelle tempo applicar vaõ todos os seus esforços.a,dHUfc

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ti!

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( j* ) puir o poder de certos estados, ho- je procurao por todos os meios possíveis o seu augmento , e prós- peridade.

Os soberanos naõ saó infal- íveis em matérias de- politica e enganao-se grosseiramente os que se figurão que naô podem errar : muitas vezes se allucináraõ sobre os seus próprios interesses, e es seus erros occasionáraõ funestas consequências para os seus esta- dos. Na historia moderna achaÕ-se bastantes exemplos do que vou di- zendo. A casa de Áustria se vio muitas vezes abandonada daquellas potencias , que tinhaõ mais interes- se em naó separar-se nunca delia; N'òutras occisiôes a Hollanda se unio com a França para abater as forças de huma potencia maríti- ma , que em boa politica devia procurar ver aagmWrtadás.

Todos sabem que a Inglater- ra naó pôde ter outro svstema que o de obrar de concerto' com a

( 93 ) Hollanda para oppôr-se ao engran- decimento da França; e sem em- bargo houve tempo era que os Lnglezes, e os Francezes se uni- rão para arruinar inteiramente a- quella republica.

Toda a Europa está ingres- sada em que o Turco naõ adian- te as suas conquistas; e todo o mundo vio que a maior parte dos Soberanos lhe deixarão lazer mui- tas. Os Venezianos nas guerras, de Cândia, 'e da.Moréa, se víraõ .abandonados ao furor dos Musul- maos. Em summa , os systémas daquelles tempos nao existem; e aos de agora chegará o dia em que lhes sueceda o mesmo. E que suecederá então a Portu- gal, se entre tanto naõ cultiva as. suas terras , e naõ adianta as suas manufacturas.

(94)

§ xir.

*Que o ouro que se tira das minas da America , conduzido á Eurcpa , e levado depois uo Oriente pelo canal ac cemmercio da Índia , se consome como as outras mercadorias.

ntes do descobrimento das mi- nas do Brasil , fazia a Europa com pouca diflerença o mesuro coni- inèfcio, que hoje em dia faz com as índias Orientaes : aquclle com- bíercio se fazia do mesmo modo que o de agora: istohe, levando metaes que se trocavas por mercadorias; que he o modo com •que em todos os tempos commer- ciou esta parte do mundo com à- quella.

He pois evidente, que se a Europa naó tivesse achado o modo de remediar os inconvenientes da- quellecommercio7já naõ se acharia

( 9P

*ieíla huma onça de ouro , nem de prata: he pois evidente, que ex- trahindo sempre riquezas d'huma espécie, e naô as supprindo com outras da mesma natureza , ha de chegar o caso de se esgotarem to- talmente , nao obstante , a expe- riência provou o contrário.

O estabelecimento das com- panhks da índia antes do desco- brimento das minas de ouro do Brasil , nao diminuio a somma fixa9 e permanente das riquezas.Fizéraó- se estes estabelecimentos sem que delles lhe resultasse mudança^ al- guma ; porque a Europa conside- rada como hum corpo , tinha iiurn recuso geral, que contrape- sava os inconvenientes do com- jnercio da índia, e era, como o he ainda hoje em dia *, o produc- to dus minas de Espanha,

Sempre se fez com prata "o commercio da índia , e até de mui poucos annos a esta parte naô se levava ouro algum. 'Assim naS

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- < ?6 ) se ia perder na índia o metal de

Brasil, como se suppõe no sys-

tema Inglez , pois pelo contrario

íkava na Europa,, e anniquilava

pela mesma razaõ Portugal.

Desde o Reinado de Philip- -pe II. teraó sahido das minas de Hespanha mais de três mil milhões •de patacas , e com este cabedal taõ enorme fez a Europa o commer- cio da índia -, pois de todo elle talvez naó passara'õ de cincoenta milhões os que ha hoje em dia cm Hespanha.

Póde-se saber com pouca dif- ferença o prbducto das minas de ouro-, e prata da America ; mas naõ a diminuição destes metaes, porque varia muitíssimo.

A maior parte dos estados da Europa evitaó com pragmáticas o seu consumo. O luxo , as modas , os caprichos de certos povos saõ causa de que se use mais o ouro, e a prata n'hum século que neu- tro. Nos reinados anteriores tudo

■(97)

era irso,e agora tudo lie doura- do. Já naõ se usaõ os trastes de ouro, e prata que foraõ de moda durarite muitos annosy e até os templos contribuem a haver va- riaqaó tias riquezas do nosso mun- do politico 5 porque he positivo que consomem mais -prata n?hmís tempos que n'outroSo

pelo preço das mercado- rias, e do trabalho pessoal se po- de calcular o augménto do oura D3 Europa, separadamente do com- m e rc i o da I nd i a 5 qu e h e a se pui- tura das nossas riquezas.

Trabalhei muito tempo pa« -ra descobrir a proporção que ';hâ entre o augmento das riquezas de hum estado 5 e o relativo aíígmeií- to do preço do seu trabalho pes* soai , e descobri ( ao menos me pareceo descobrir ) que n5huma monarquia , como por exemplo, a França, isto he, n'hum reino otv de o primeiro capital das rique* m$ fosse de cento e oitenta trai

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( 98 )

íhões de patacas ; o numero dos seus habitantes de dezesete mi- lhões; onde as classes de gente estivessem divididas com o mes- mo methodo ; onde o

governo

tivesse os mesmos princípios; on- de a actividade dos vassallos es- tivesse no mesmo gráo ; o com- niercio no mesmo periodo; se o clima for com pouca differença se- melhante , que houvesse o mes- mo luxo , o mesmo gosto , as mesmas paixões, &c. digo que o augmento de vinte milhões , ac- crescentados a primeira massa ge- ral, faria que subisse hum quin- to mais. o preço do trabalho pes- soal.

Resulta disto, que sendo ex- acto o meu computo, seria facii descobrir em que parte da Euro- pa estaõ hoje os thesouros do Bra- sil, e bastava para isso comparar o preço da industria de todos os estados antes do descobrimento das minas Portuguezas,com o que tom hoje era dia-

C 99 ) ,; , Poder-se-hia descobnf Cúít&

este thermometro politico o gráo das riquezas de cada nação 5 e cal- cular por conseguinte o do" seis poder.

Se o ouro: do Brasil .passas- se somente pelas oiaõs dos Euro- peos sem deixar-lhesfructo algum como se suppõe no systerna Xn- glez, fixaria hum equilíbrio inal- terável no preço do trabalho pes- soal , e jamais augmentaria 9 nem diminuiria a industria ; mas to- dos sabemos que -succede o con- trario.

Para provar a dissipaçá'6 des- te metal ? diz^se^ que desde o descobrimento das minas de ouro do Brasil f o maior luxo formou novos ramos de oommercio y que contribuirão para que a Europa se desfaça da excessiva quantidade desta mercadoria da America-;, mas naõ posso persuadir-me , que este novo commercio tenha seguido a proporção do ouro , porque a&

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iTiais das vezes se tem poraugmen-

5 to de commercio o que he mera-

mente effeito da sua variação. O commercio sempre gira sobre si mesmo , e as suas alterações saó xjflasi sempre no modo , e naõ no seu cabedal , pois lhe tocaõ mui- to menos do que se crê. Se se for- ma hum novo ramo, toma-se lo- go por augmento o que he somen- te variação , sem reparar em que estes novos ramos oceupaó o lu- gar dos antigos.

Os caprichos , os gostos , as modas, e as fantasias, que saó o manancial continuo das novas es- peculações de commercio, se suc- cedem humas a outras; mas naõ se augmentaõ : sempre se estabe- lece o novo commercio sobre o antigo , porque se se forma hum ramo , destroe-se outro.

Cada naçaõ tem huma espé- cie de medida geral de gastos , da qual naõ acerta a sahir. Pôde yarialla de muitos modos y porque

( lor) sueccáe que as cousas- frívolas- oe- cupaÔ o lugar das úteis , e he cons- tante que as nações que gastao mais em superfluidades y econorai- sao mais no necessário.

Em todo o orbe se dérao sempre a ma5 a prodigalidade.^ e- a avareza ; quando hurn-a guarda por hum lado, a outra despeidi- p por outro.

Qm por mais que- se diga \ os Por- ' tuguezes sao mais ricos hoje \ em dia , do que antes do descobrimen- to das minas do BrasiL

alsa^ supposiçao 9 p&is as rique- zas sao relativas. A mesma quão.- tidade de ouro j e prata ?< que faz que hum estado seja mui rico em hum tempo , pódè fa&er que se- ja mui pobre n'outro?: porque ã' riqueza de hum povo consiste -na proporção que tem comparada

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som a dos outros, ou no preço das suas próprias mercadorias. Se somente houvesse hum estado no inundo, seria indifferenre a dimi- nuição, ou o augrnenro dos seus metaes. Nunca seria mais rico , nem mais pobre, porque naõ ha- veria nenhum que fosse msisrico, nem mais pobre que elle. Pode chegar hum estado a ser ameta- de mais pobre do que era , aug- mentando-se em dobro as suas ri- quezas, e hasta para isto que aug- mentem os outros assuas com ex- cesso a esta proporção , sendo mui indifferente em si , que o cabedal geral das riquezas da Europa se augmente, ou diminua, isco he, que o total tfham século seja de dois mil milhões , e de vinte mil n'outro; porque no primeiro caso a njçaô que possue a maior par- te dos dois mil milhões, será taô rica como a que tivera maior par- te dos vinte mil no segundo. A occssiva quantidade de metaes

( JoO sx5 serve de embaraço ? e o rrie&- mo papel podem fazer vinte mi- lhões como vinte mil:

Pelo que diz respeito a Por- tugal y engana muito a- compara^' çaô que se faz do estado actual das suas riquezas com o estado eii* que estavaõ ha dois séculos , se- parado tío das riquezas das outra?- potencias daquelle tempo. A com- paração deveria ser das riquezas daquellè tempo com as de agora*, feita com as riquezas que agora tem a-Europa. Se se observaõ nes- ta comparação todas estas propor- çc&s relativas, vêr-se-ha que a mo- narquia Portuguesa he hoje em dia mais pobre que nunca, Rofn- peo o equilíbrio o descobrimen- to das suas minas r e se empo* breceo a si mesma , porque enri- que ceo muito as outras nações. He evidente que o reino he surnma- mente pobre r e disse doutra parte, que o estado deve aos es- trangeiros cousa de viate milhões

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oe cruzados : apenas haverá sek efiectivos em todo Portugal; com que ainda ihe>faltao qtiarorze mi- lhões para chegar a ter hum real próprio. O seu povo he o mais miserável da terra, as mercadorias as mais caras, e no continente ha províncias cujos habitantes jamais víraõ em moeda de ouro a effigie do, seu 'Soberano. Ouvirão dizer, ou lêraô que Portugal tinha mi- nas, de ouro : mas desfruta© me- nos as riquezas do Brasil que as vassallos dos outros Príncipes da Europa.

§ XIV.

Que Portugal páde com o seu ouro ter as mercadorias fabricadas por melhor preço, que aqueíle por qm elle as poderia fabricar.

JLíSte lie hum laço que a Ingla- terra armou a Portugal , repetindo- líve incessantemente , para que JSbitais.de raaiw £a :t uc as 2 Nós ;

yôs daremos das nossas por mcltet preço, que aquelle por que pode- ríeis JbbÀctàk*. Bsta -'economia- prejudicial teve 9 e tem como en- cantado o ministério r e sobre este ponto ^eai iyiçr-i n^i - adiantou

mais,

! Qt>ando-se.:-queria estabelecer

alauma manufactura se principiava por calcular -se - se poderia fabri- car taó barato como em Inglater- ra , donde se tirava o .género fa- bricado,r ecomo se- vi s se- que- era sempre mais caro o- trabalho -pes- soal,di*i^se que ganhava a nação em servir-se 'das -manufacturas In- .-glezas-,- e «qúe, pela mesma razão naõ se estabelecia© em PortugaL íHecousa^notavel que entre os mui- tos ministros que -se suecedêrao desde o estabelecimento desta po- lítica ? que fez adoptar manhosa- mente a corte de- Londres à de ^Lisboa, nenhum ? notasse-, que -preço do trabalhador 'nacional era :©usa> imaginaria > :.que .pe-

jjf*ffli

lo contrario o augmenro do tra- balho pessoal formava maior cir- culação , e que o ouro ficava den- tro do JReino. He mui estranha que naó se visse que huma pata- ca por dia , dada a hum obreiro do paiz, nao sahindo do estado, podia combinar-se cada instante de infinitos modos com vantagem sua; e que hum real dado a hum artífice estrangeiro causava huma perda efectiva : sendo certo que toda combinação vantajosa da moe- da se acaba- no. instante em que sahe do estado. íJDesditosa a nação cujo ministério vive taó atrazado, «o systema eccnomicOo

*■'( 107 >

§ '."XV.

\'Que o clima se oppce ao estabeleci* mento de manufacturas em*Põf-

t,

Imbuído hum governo de rnâxi* mas erróneas ? acha sempre pretex- tos para oaó fazer o que devêns, e ria'6 os achando na politica 5 vai buscallos no elima0 Se dous / ou três ministros Pottuguezes^ que se- guirão caminhos errados para esta- belecer manufacturas , ou alguns particulares sem engenho , sem ta- lentos , e sem capacidade , naõ' sa- hiraõ bem do projecto destes es- tabelecimentos 9 actribuia-se a cul- pa ao clima 9 e naô se lerabravâo que tendo tido eíFeito nos tempos antigos os mesmos estabelecimen- tos , podiao teilo também ■depois, pois o clima d'hum século se dif- ferença pouco de outro. He çvr* 4$mèk conforme isto, que se se

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C ff» ) --tivessem tomado medidas exactas,

adequadas , - se íeriaò estabele- cido manufacturas em Portugal co- mo nos outros reinos.

-Ainda se viaõ noannode 1754 em differentes províncias as relí- quias dos teares, que até meiados do século passado puzéráõ a mo- narquia Portugueza em estado de oaõ necessitar das outras ; e co- mo nos poderemos persuadir que as laas daqueMe clima , que du- rante tanto tempo contribuirão a manter as manufacturas , se consi- derassem depois como hum obstá- culo , quando se pensou em res- rabelecellas ?Busque-se pois a cau- sa dess^ fenómeno na politica da Inglaterra , e descobrir-se-ha a sua origem nos manejos secretos da corte de Londres com a de Lis- boa.

Haverá 36 annos que tendo resolvido no reinado de D.Joaó V. hum hábil ministro Português estabelecer > manufacturas naquel-

1 Ie' Reino , tomou medidas adequa- das para ser hemsuccedidonasua empreaa. Escavaô vencidos todos os obstáculos , e ia cedei á po- litica, a imaginada ingratidão do

< terreno } quando dous--.mil.- gui- néos dados- a tempolhe restituirão a sua - antiga maligna influencia. Qppoz^se sempre desde entaõ o clima ao estabelecimento das ma» nufacturas j.naõ devemos! porém at- tribuir esta mudança ao ar., mas

i sim ao dinheiro , ou á cobiça»

■"Que he grande^mofitúgem ú dar álti-

glaterra meios a Bortagal .para

extrãbir- o ouro do t Brasil , e qut

sem* este recurso estafiâõempemr

estado, os negócios da Europa.

JL ode succeder que ríssemos tudo

-pelo contrario: he verdade que o

augmento deste metal alentou mui-

i m a. indimna -geual : ., e que pelo

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novo consumo de que foi causa ^ augmentou também vários ramos do commercio universal. Mas com- pensão acaso estas vantagens ou- tras infinitas desordens .., que cau- sou na Europa.

Se retrocedemos ao principio: de todas as nossas guerras de ses- senta annos a esta parte, descobrir- se-ha a sua origem nas riquezas do Brasil , porque huns príncipes que antes do descobrimento destas mi- nas se viaõ precisados a manter- se nos estreitos limites da impos- sibilidade, que lhes prescrevia a sua natural pobreza , ricos depois com os thesouros do Brasil , inquieta- rão toda a Europa.

He também verdade , que an- tes desse descobrimento tinhaò guerras os povos da Europa , mas eraõ de distincta natureza das nossas. Vencida humanaçaõ esta- va acabada a guerra , porque naõ tinha meios de refazer-se : era ver- dadeira a sua perda: o seu pro-

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fúo sangue era o que se derrama- va : com as batalhas se dava fim ás batalhas, e entre nós nascem aa guerras das mesmas guerras»

Desde que se vio a Europa inundada das riquezas da Ameri- ca, pudéraõ os Príncipes satisfa- zer mais facilmente a sua ambiqaõ« Estimulada esta paixão pelos mes- mos meios de polia em movimen- to^ causou mais dissensões que nos tempos antigos : formarão as mi- nas de ouro na nosso mundo po- litico hum novo manancial de ca- lamidades humanas , pois houve príncipes, desde que hetaõcom- nuim aqueíle metal , que tivéraõ meios de comprar nações inteiras parai enviallas a destruir outras, e era todas .partes acharão os so- beranos instrumentos mercenários da sua ambição.

Náõ me deterei neste assum- pto, cuja grande extensão podia dar-mo para escrever muitos vo- lumes^ e assim direi somente que

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nas nossas ultimas guerras se pa- garão quasi sempre com prata do México as tropas Francezas em Itália , e com ouro do Brasil as do Duque de Saboya 5 e as In- glezas.

Pode- se ter por certo , que •se as minas do novo mundo naó tivessem produzido taõ immensas riquezas y jamais se teriao visto na Europa estas guerras que des- truirão tantas nações , causarão tantas inquietações^ e arruinarão tantos povos , porque naõ saõ as guerras como os outros negócios da politica ? e naõ se põem ex- ércitos em campanha com syste- mas theoricos, mas sim com cou- sas effectivas 5 e reaes.

Antes que regule hum Mo- narca as operações da guerra , he preciso que conte com o seu the- soureiro, sendo a fazenda o prin- e o exercito o accessorio* pois antes de se irem matar os homens ^ querem saber por que

preço. A falta de dinheiro poe hum exercito na maior consterna- ção ; e pelo contrario 9 a vista do ouro avigora os soldados , e he quasi sempre a alma das viera- rias. Pela riqueza da caixa mili- tar se deve. calcular o gráo de va- lentia da tropa.

He impraticável ó projecto de diminuir a ambição de quasi to- dos os príncipes* eo único meio quç poderia pôr limites aos seus insaciáveis dçsejos d.e se engran- decerem, era o de huma certa mie-- dida de riquezas.

Sobre a quantidade de rique- zas geraes se funda -a das calami- dades humanas, e quanto maior seja aquelia* tanto maiores seráo os males do mundo. Pode-se as- segurar que seria a Europa mais feíiz se nao se tivessem desço- to ta6. abundantes minas- Se se tivessem- mudado menos as for- tunas dos estados, nao teriaõ si- do taõ frequentes as revoluções

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nao se teria familiarisndo tanto a* gente com os homicídios , e com- os outros horrores que' acompa- nhaó sempre as guerras. Have- ria por conseguinte mais quieta- ção nos espíritos ( pois os ho- mens hefdaõ as paixões de seus pais ) mais bondade , mais recti- dão , mais franqueza no trato ;; 'menos vicios, menos corrupção r e por conseguinte mais honra , mais probidade , e n5huma pala- vra , mais virtudes.

§ XVII.

Que desde a aUiançn dos Porticzue- zes com a Inglaterra^ se estabe- lecei) em Portugal hum grande luxo que lhe he necessário.

uem entrar nas discussões susci- tadas entre os politicos sobre o lu- xo, direi unicamente que nao he igual a sua utilidade para todos os povos.

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0 luxo he nalgumas monar- quias da Europa hum negocia de estado \ entra na politica, do go- verno \ e vem a ser huma das mais firmes xolumnasda coroa ■■;■ mas pa- ra isto saõ precisas algumas cir- cunstancias particulares, e muitas causas segundarias. Em Inglaterra^ por exemplo ,, onde está estabele- cido o Iuxo.no fructodo trabalho do lavrador , augmentao poderia monarquia, e he huma mó!a mais- oaqueiíe governo , que. novo- vigor ao- estado politico.- Para con^ seguir isto 5hç indispensável que o estado tire quasi tudo da sua própria colheita; ehe regra geral infallivel ,. que quando humana- caõ naõtem as primeiras matérias do seu luxo r lhe he sempre pre- judicial , porque a vantagem da trabalho pessoal naô pode contra- pesar aquclle primeiro inconve- niente.

Nao saó os pó>os ricos os, que devem temer mais/os ef&itos-

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do luxo, porque em geral tem em si recursos com que compensaõ os seus prejuízos ; mas os estados- pobres arruinaõ-se , porque lhes- faltaõ meios de supprir os pre- juizos que continuamente lhes cau- sa.

Ha hum meio seguro para saber se se deve favorecer o lu- xo n'hum estado , e vem a ser o de examinar se o povo tem den- tro de si, e facilmente as cousas physicamcnte necessárias^ porque he preciso desterrallo quando he precária a primeira subsistência. He verdadeira , e segura máxima politica, a de que as artes úteis sao primogénitas dns artes agra- dáveis, e que he necessário 'que precedao aqnclhw a estas, e as- sim se estabelece hum erro quan- do se corno regra geral , sem dis.tincçaô aiguma , a de que o lu- xo he necessário em todos os es- tados monárquicos.

Se pode. chegar a ser uiil-a

% "7')f alguns estados por alguma dispo*

siçaõ particular, causa por outro lado tantos prejuízos a outros mui- tos governos , e estes prejuízos tem tantas consequências para a sociedade , que talvez de dester- rallo do mundo resultaria univer- sal beneficio.

Por mais que a politica quei- ra tirar vantagens até dos vícios mesmos, nunca pôde contribuir a corrupção i grandeza de hum ^povo j e suppor que naõ faraó gran- des progressos os vícios n'huma na- ção, que tem bum grande luxo, he naó conhecer a cadeia que une as paixões entre si.

Os homens se pagaõ muito clasextenoridades, e o governo po- litico depende por algum modo do vestido dos vassajlos.

A5s vezes huma estofa, con- fundindo as classes , e estados das pessoas , causa ao estado hum pre- juízo universal.

A deosa Minerva } inteaca»-

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ao estabelecer na terra hum go- verno perreuo, quiz que cada clas- se de homens se distinguisse com hum vestido diíFereme.

GíFerece-nos a historia neste assumpto huma anecdota mui no- tável, que prova que o luxo foi sempre o principio da corrupção de todos os governos.

Refere Suetonio : « Que sò- » mente intentou JulioCesar apo- •» derar-se da liberdade da sua pa- » tria, porque nao sabia de que » maneira pagasse as dividas que » tinha contrahido com o seu ex- » cessi-vo luxo. Muitos tomarão » meramente o seu partido por » íalta de meios para manter o »- luxo em que se tinhaõ empe- » nhado, e porque esperavaõ ga- » nhar na guerra com que manter » o seu primeiro fausto. »

Ao mesmo tempo que sedi- irnnue o luxo n'hum estado , se li- smtaõ os desejos dos cidadãos , porque desapparecem infinitas su-

(119)

perfluidades,que dantes se repu* tavaõ como outras tantas cousas necessárias ; e livres os homens deste confuso tropel de. fantasias, tem menos vivas as paixões.

Naõ consiste b prejuízo que do luxo resulta a hum estado em que se introduza junto do Prínci- pe, e dos grandes. Odarrino pro- cede de que fazendo-se geral o contagio. , passe aos que natural- mente deveriaô ter somente o phy- sicamente necessário. Quando ã delicadeza, e o apego i commó- didade transcende á plebe, entaS sim que tudo deve reputar-se por perdido.

« Quando o luxo se apodera » de huma naçaõ ( diz hum Au- » thor) chega a ser hum mal qua- » si incurável Assim como a de- » masiada authoridade he nociva » aos Reis, assim o luxo-he n©- » eivo a huma naçaõ. Habituan- j> do~se a considerar como preci- » sas as cousas mais supérfluas ?

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» hwentaõ-se cada dia novas pre- » cisões , que destroem as fami- » lias, e impossibilitaõ os parti- » culares de contribuir aos gas- » tos necessários para o publico. »

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A isto accrescentarei

quando o luxo chega a apoderar- se de huma naçaõ , acaba se a har- monia entre as classes. Os que pe- la sua situação estavaõ dantes con- demnaçlos a hum trabalho forte , e penoso, debilitados pelo luxo-, arrojão de si hum peso que lhes parece naõ poderem soportar , e immediatamente se estabelecem hum sem-numero de oíficios , e profissões frívolas.

•Para que hum estado naõ de- caia , he forçoso que a parte do povo, que tem a seu cargo a prin- cipal subsistência , esteja isenta da corrupção , que certo luxo traz sempre comsigo. Esta falta de ad- ministração civil he a causa de que tantos declinem insensivelmen- te ; e por fim pereçaõ, sem que

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se possa sinalar a época da sua qué- *da.

Em Portugal todo o género de luxo concorria a debilitar a mo* -narquia, porque tinha a sua prin* eipal origem íóra do reino,

Í XVItt

Que Portugal nao fade deixe f ne- cessitar dos outros estados da Èés ropa , e especialmente de Íngla>

terra.

%Aie desgraça succcde® â este reino , que nao pode obrar por si mesmo, e que para manter- se necessita dos outros estados ? Len- do a historia de Portugal vê-se 5 que o edifício daquella monarquia se eriglo (i) sem o auxilio das ou- tras nações,

( i ) A verdade da historia he que o Rei de Castella e Leão D. AtTonso VI. casou sua filha D. Theresa com Henrique de Lorena , que tinha vindo coino aventurei*

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( íit )

Todos sabem que Afíbnso Henrique, primeiro Rei de Por- tugal , conquistou aos Mouros, Lisboa , Mafra , Cintra , Óbidos , Beja , Elvas , Coimbra , Évora , C^c.

Sancho primeiro unio a Por- tugal hum novo reino , e restabe- leeeo as cidades de Valença , e Montemor. Sancho II. tomou aos Mouros a província do Alemtéjo. Aífbnso III. conquistou Odemi- ra , Monforte , Valença do Minho , Viana , Castro , Portalegre , ^i/- A? Viçosa , £ Monção. Diniz fun- dou varias cidades novas j e

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ro servillo na guerra contra os Mouros , é lhe assignou em dote tudo o que esn Portugal tinha ganhado sotoffi os lUouros com o titulo de Conde , e com condição que fosse vassallp dos Reis de Castella , e vies- se ás Coites do reino , e á guerra com suas armas , e gente , todas as vezes que fosse •visado : as primeiras conquistas deste Con- de Henrique , e de seu filho D. Affonso primeiro , que tomou o nome de Rei de Portugal , se tízeraó sem duvida , com au-i xiliu das armas do liei ds CastelU.

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havia cousa de trezentos ahfiòs> que aquella monarquia se tinha formado na Europa, mantendo-sè sem ajuda dos estrangeiros , quan- do Joaô primeiro emprendeo a con-' quista de Africa. 'Elte por si formou o projecto , e somente com os meios que extrahio de Portu- gal , o pôz em execução* foaõ IL fez conquistas -sem 'mais soccor- ro que o de seus vassallos : e 'es- tava tao longe de valer- se dos de outros estados para effeituar os seus designios, que sómeotepor* que Christovaô Colombo" era es- trangeiro 5 naó -quiz adóuttftr ò-offe- rccimento que lhe fez da Ameri- ca. He certo que as grandes , e decisivas determinações de estado: daquella monarquia se tomarão sem assistência dos dernais pol- vos.

O descobrimento do ouro do Brasil foi o que chamou os estran- geiros a Portugal , pois antes da- q.ueUa época úm havia naçaõqufc

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( I24 )

coubesse o caminho daquelle rei- no.

Em quanto duráraõ as dis- putas de Portugal com os Mou- ros, naõ houve potencia que inter- viesse nos seus negócios particu- lares: mas apenas descobrirão os Portugueses tamanho thesouro , logo todos acudirão a reparti lio entre si. -

§ XIX.

Que o trato dos estrangeiros fez mais sociáveis os Portugueses , e os igualou com as nações cultas.

oucos vocábulos ha , cuja signi- ficação seja mais vaga que a da palavra sociedade. Desta se tem or- dinariamente huma idéa geral que confunde sempre a ordem das cou- sas , flgurando-secommurr.mcnte , que para que hum povo seja mais sociável y hc preciso que seja tao alegre, e festivo como outro j sem

nunca deter-se ern reflectir , que ha alguns delies cujas virtudes, moraes, e civis procedem da sua' simplicidade , e lisura. E assim ás vezes se reputa por mais sociável huma nação , que na realidade se tornou mais barbara do que dan- tes era ; pois naõ ha diwida que sempre vai decahindo hum po^- vo, que chega a extraviar-se da vereda daqueUas virtudes , que por largo tempo tinhaõ sido como a base do seu principal caracter.

A palavra sociedade sem- pre voluntária. O que para hum povo he sociedade ? he commum- mente libertinagem para outro; Hurrí Author Chinez reputa por hum prodígio de continência , que hum homem chegue a ver-se cara & cara n'hum quarto separado com huma mulher, sem violalla. Que legislador poderia estabeleceria fre* quencia de ambos os sexos naquel- le paiz ?

Com a frequência dos estran*

( n* )

geiros em Portugal, huma multi- dão de costumes , modas , enfei- tes , e divertimentos públicos des- conhecidos, antes naquella monar- quia ,. concorrerão a promover o gosto daquelle povo , que saloio entaõ pela primeira vez do reti- io em que tinha vivido desde o tempo dos Mouros. Viraõ-se re- ciprocamente, e entaõ notáraô-se naquelle governo huma infinidade de excessos, e irregularidades ci- vis.

A separação dos dois sexos impede no Oriente a extincçaõ dos governos poli ticos : e com effei- to, em que viriaõ a parar aquel- le.s. estados mal seguros, se os o- dios> as inimisades, os zelos, as idéas fantásticas , os caprichos , n'huma palavra , as paixões gran- des, e pequenas das mulheres pu- dessem entremetrer se no systema do estado ? Tudo se perderia ir- remediavelmente : de sorte que es- te costume preserva aquelies es-

( ™7 ) , r

ta dos de males maiores que todo o beneficio 3 que poderia seguir-sc- lhes das melhores leis.

Ninguém ha que ignore que os Portugueses tinhaõ dos Mou- ros os seus- antigos- costumes- ;■ e que o seu governo politico tinha por norma aquelles mesmos cos- tumes. Ainda que nesta monarquia Christá naõ houvesse serralhos, havia naõ obstante huma clausu- ra civil de mulheres f connaturali- sada naquellâ Baçaõ.

O- único meio que encontra Platão para conservar os costumes de Hum povo , he o de apartar dos nacionaes os estrangeiros. O ca- so naõ he averiguar se os^ usos r e costumes de huma naçaõ estra- nha saõ melhores 5 mas sim saber se estes usos convém ao povo em que os querem introduzir.. Ao mes- mo tempo que hum modo de a- presentar-se nas concurrencias , de explicar-se, de ves;tir-se > de à- jjinta^se ,, introduz novos gostos

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* C I28 >

n nim> povo ; produz nelle sempre

novas paixões. Como huma naçad adopte os divertimentos, as mo- das, os adornos doutra, mui ce- do conrrahirá também os seus vi- cios, e defeitos. '

A origem das paixões he em. todas as partes a mesma : e assim sempre que se empreguem os mes- mos meios para exeitallas, póde- sq ter a certeza de que resultarão os mesmos effeitos. Isto suppos- to, quando pelo trato dos estran- geiros chegap a corromper-se em algum povo os costurpes , ficao por conseguinte as leia sem bas- tante vigor para poder manter o, governo politico.

Aponte-<;e-me hum gover- no sequer no mundo que naõ te- nha decahido pela corrupção dos costumes. As máximas dos Roma- nos, e naõ as suas conquistas fo- ?aõ as que formarão o seu gran- de poder, pois naõ somente at- tçndiaõ os censores da republi-

(120

ca aos excessos capitães, mas tsm- bem aos roais mínimos descuidos. -Este era o segredo da grandeza daquelle povo;; e a decadência da republica se seguio iromediatamen- te á de pravaçaõ dos costumes dos seus concidadãos.

Nao faltará quem diga que os Romanos vivi a 5 sob hum go- verno que tinha por principio furr^ damentaí a -virtude-, e-que naõ a requerem os estados monárquicos -modernos. Mas se /a virtude naõ he nos nossos governos taõ abso- lutamente necessária, os costumes o saõ~ sempre. Porque como , ou por que regra se poete presumir que possa hum estado chegar, a fazl*r-se poderoso, nem ainda a conseguir manter-se em certo gráo de mediania, quando domina neí~ le a corrupção geral; quando naõ conhece a moderação dos desejos^ a sobriedade, nem a# temperança;, ^quando a delicadeza , e o delei^ te cativa todos os corações ; quan-

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ào o fausto, a preguiça, a ocio- sidade, e o abandono prevalecem como vícios da moda ; quando os deleites dos sentidos, e as com- modidades da vida humana saó os únicos bens a que todos aspi- raó ?

Esta, esta he z pintura de Portugal desde que com o trato estrangeiro chegou aquelle povo a ser o que se chama sociável.

§ XX.

Que a disposição das cousas requer que estejao ociosas nações bit eiras , em quanto outras tralcâhao, por- que assim o resolveo a Providen- cia. Div ma.

V/uando se demonstra evidente- mente- a falsidade do systema •que estabelecerão em Portugal os ínglezes ; quando se aperraõ , e se deixaó sem sahida os seus par- tidários, reduzindo-os como i a-

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górria , c deixando-os sem saroí?

que replicar : fazem-se fortes re« correndo ao •■seu •ultimo árgumen* to. Assim o dispêz , dizem elles ,f a Providencia: e ficaâ ufanos dan- do já por sua a victor ia/ Os po- líticos que discorrem assim pó- denvse comparar aos máos^poe tas cómicos , que sempre recorrem a alguma deidade ~, quando insta a solução das suas composições thea- traes. Chegando hum ministério a a d o p ta r se mel h a n te s modo s de discorrer.., vem -ser inúteis todas as máximas de governo -assim po- litico como civil.

Segundo este plano da Pro- videncia, o povo mais idiota po- deria T^êr-se ta 6 bem governado como a naçaõ mais illustrada ; sen- do esta cabalmente a doutrina dos.Musulmaós, que vivem per- suadidos que hum rígido destino dispoz todas as cousas de modo, que nada tem de fazer a politica.^

Haverá quem possa sugpar

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que tia sábia mente da Providen- cia, atalaia vigilantíssima da con- servarão de todos os governos , tenha cabido a idéa de que hou- vesse na terra hum que continua- mente se estivesse destruindo a si próprio ; que se abandonasse gostoso a voracidade d'outrcm ; que se debilitasse, se abatesse, e se prostrasse; que continuamen- te Fosse consumindo elle mesmo o seu poder politico, ^ civil.

Antes que Portugal descobris- se as suas minas , os seus natu- raes , achando-se sem mais recur- so que o commercio, e a cultura das terras, eraõ trabalhadores, e industriosos : do que se infere que somente necessitaõ hoje <£m dia do estimulo da emulação. Sem du- vida devia ser a Providencia a que naquellcs tempos passados manda- va que trabalhassem; e conforme o systema Inglez a mesma Provi- dencia he quem agora quer que este. povo esteja ocioso. Naó he

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isto morar das cousas mais sagra- das, e pretender reduzir a syste- tua a Providencia mesma ?

Sem embargo , todos os es- tados da Europa, como se. a to- dos resultasse o maior beneficio da anniquiiaçaõ da industria da na- ção Lusitana, adoptarão , e abri- garão o systemalnglez; ou o que em substancia vem a ser o mesmo, naõ houve quem se oppuzesse a elte. Erro que causa admiração ter-se commettido n'hum seeuio taô illustrado como o nosso !

Seja-me licito retroceder hum pouco , e deter me a considerar nesta espécie de geral lethargo huma cousa , que naõ creio tenha havido até agora nenhum author poiitico que a tenha notado : e permitta-se-me ao mesmo tempo que ponha presente a historia do nosso mundo , o gordiano da Europa, qm até agora ninguém desatou , e que descubra , n'huma palavra , o enigma do systema ge- ral.

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( 134)

Formou Henrique IV, Rei de França, o grande projecto de es- tabelecer na Europa huma paz fi- xa , e permanente : e ainda que o seu desígnio fosse digno d' hum bom Rei , contribuio mais a acre- ditallo de amante da humanidade, que de intclligente no conheci- mento dos homens.

O abbade Saint-Pierre, author Francez , que muito depois publi- cou hum plano semelhante de pa- cificação , escreveo sobre o mes- mo assumpto cousas muito boas, mas somente para serem lidas ; ten- do-se comparado o seu projecto com huma arma, que pelo bem acaba- do delia, se conserva em algum ga- binete de curiosidades , sem que possa servir para outra cousa ; pro- põe o dito author ajunta d'huma dieta geral que arbitrariamente im- pedisse tedaías guerras : c sobre este principio se engolfa n'hum mar de vantagens, que resultariaõ á Europa ; como se a formação

(135) d5huma dieta, pudesse mudar a na- tureza ; diminuir as. paixões dos homens ; desterrar a ambição ? e transformar os príncipes de homens em anjos.

He isto fazer o papel de po- litico, ou o de apostolo ? Cha- ma-se isto n'huma palavra , pre- gar o evangelho , a cujas leis ha por desgraça nossa tao poucos que se sujeitem.

Naõ percebo como haja quem possa persuadir-se que hum a dieta geral ^eria sufficiente para obrar semelhante milagre, quando a ca- da passo estamos rendo nos nos- sos congressos , que huma cadeira collocada fora* do seu lugar cor- respondente , hum criado d'hum plenipotenciário maltratado por ca- sualidade r rompem as negociações mais importantes da Europa.

Além deste aaõ faltarão ou- tros engenhos delicados 9 que te- nhaõ formado outros projectos de pacificação, fazendo para istoxal-

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ctilos do poder de cada estado; das suas riquezas respectivas ; das suas forças; -do valor, e espirito mar- cial dosdiffertntes povos; da in- fluência que o clima pode ter para infundir-lhes mais , ou menos alen- tos &c. , pondo , digamo-lo as- sim , contrapeso a algumas mo- narquias parareduzilias a equilí- brio com outras. De maneira que se pode dizer com razaõ , que ainda que semelhantes systemas manifestarão até onde alcança o entendimento humano; nem por isso deixarão de agitar o mundo novas revoluções , e discórdias a pezar de combinações taõ bem dispostas.

Tampouco os vínculos do sangue bastarão para subministrar, por; via dos matrimonia , remé- dio mais proveitoso a mal tama- nho , abrindo caminho á tranqui- lidade geral ; porque se isto tivesse podido conduzir a semelhante fim, haveria muito tempo que osso-

beranos da Europa gozariao de hu^ ma profunda paz, sendo, como saô ,. quasi todos parentes huns dos outros.

Pelo que diz respeito aos tratados, que alguns considerarão como o melhor meio para afiançar a tranquillidade publica , sou de parecer que naõ ha meio algum que seja mais inefficaz que os mes- mos tratados, pois de cem annos- a esta parte apenas houve hum que tenha tido inteiro comprimen-, to. Nunca falta huma. porta secre- ta , ou interpretação por onde a? char sahida ; e qiiasi.se poderia julgar que a maior parte desses tratados tinhaõ sido dictados"por probabiiistas, sese attende ás-res*- tricções mentaes de que abundaõ» Além disto , os Soberanos saô sempre considerados como meno~- res: todos sabem que naõ podem fazer cousa alguma contra o in- teresse do seu estado , naô igno- rando tampouco ninguém que d

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que n'hum tempo he vantajoso ,

deixa de o ser rfoutro. Agora sim \ quem duvidará que segundo esta máxima, naõ se podem annullar to- dos quantos tratados se concluirão no mundo ?

Fica pois o meio das ar- mas, pois ha hum século que se principiou a crer , que meramente com a guerra se pode conseguir a paz. Hoje em dia principinó as hostilidades : toma-se a expedição de muitos correios como huma prova de que os ministros entra- rão na lide ,. e viéraõ ás maõs : e depois de ter precedido huma infinidade de despachos , deixaó ambas as partes a cargo de cem mil homens o terminar os escri- tos. De hum século a esta parte cançáraõ a Europa tantos sítios r e batalhas, que se delles pudesse resultar a paz, ha muito tempo que viveríamos quietos: mas a ex- periência nos demonstra que de- pois de trinta batalhas dadas, no?

(" I39 ) t.^

achamos com pouca dilrerença mesma situação que dantes.

He de admirar que entre tan- tos homens grandes , que trabalhai sobre o systema geral de pacifi- cação y nao tenha havido nem se quer hum que tenha dirigido as suas miras para a industria , a qual? desattendida em alguns estados y e aperfeiçoada em outros até o gráo mais alto r occasiona conti- nuas variações no sys tema gerai da Europa»,

Ponto he este, que se algu* ma vez se considera > foi unica^ mente olhando-o como causa ac- eessoria , e naô como principal.

Nos tempos primitivos em que o lavrador era soldado , e a soldado lavrador; em que as artes ainda toscas, incultas , e imper- feitas, de nenhum modo influiao no poder dos estados, teria sido cousa mui inútil querer buscar hum systema de pacificação na indus- tria dos povos j mas desde que a

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C 140 ) guerra tira desta todos os seus ar- bítrios; desde que naõ saõ os ho- mens que pelejaõ, mas sim as ma- quinas ; desde que o soldado de- ve á industria as armas, as rique- zas o estado, e os recursos o Prín- cipe, depois que a industria su- gerio meios de construir cidades ambulantes, que atravessando o Oceano, passaó a novos mundos para fazer novas conquistas ; de- pois que as artes , e officios che- garão a ser os interesses mais es- timáveis das monarquias; depois que as que possuem mais cousas desta espécie, vem a ser as mais florecentes ; desde então para , digo , pode cada nação por si fundar a sua segurança na pro»- porção relativa da industria geral. Fazendo hum3 séria reflexão , com- prehender-sc-ha claramente que a industria de alguns povos, at* trahindo a si as riquezas dos de- mais , fez inclinar o svstema da

Europa para a parte que mais as favorece.

( I4I )

Em quanto Luiz XIV. Rei de França, naõ promoveo, e aug- srientou a industria dos seus vas- sallos , ninguém lhe attribuio o pensamento da monarquia univer- sal. Naõ ha duvida , que aquelle projecto de conquistar o mundo foi unicamente bum fantasma politico, inventado pelos seus emulas;, -mas- ninguem fallou de tal projecto qui- mérico, em quanto aquelle Prínci- pe naõ augmentou as artes em seus domínios : porque he hum axioma certo de politica, que hu- Ria naçaõ , que pela sua industria attrahe a si os thesouros d outros estados , ha de chegar a termo de poder-lhes dar a ler.

Hum author mui célebre diz, que a historia do luxo das nações seria huma obra mui curiosa , e importante ; mas a da sua pregui- ça , e ociosidade o seria muito mais. Alli se descobriria a uniaõ, e raiz da maior parte dos grandes suecessos que tantas vezes mu--

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( 14* ) Al1. r

dáraó a face da terra. Alh se fa- ria patente como hum povo indus- trioso se foi apoderando insensi- velmente das riquezas d'outro, que o era menos, e aproveitando-se da sua ociosidade , lhe minou todo o seu poder. ISPhuma palavra, des- cobrir-se-hia a historia geral das revoluções do mundo.

Todo povo deve adiantar a sua industria quanto possa. Esta máxima he das mais importantes, e delia depende unicamente a se- gurança de todas as nações. Hu- ma vez que a industria fixar as ri- quezas das nações , conforme cor- responder a cada huma delias , conseguir-se-ha insensivelmente a- quella tranquillidade geral , que se procura estabelecer em vao por meio d'outros systemas: de modo que se pôde dizer , qi\e todas as li- nhas da industria do nosso mando po- litico devem dirigir -se a hum centro \% e que deste ponto fixo depende todo o equilíbrio da Europa j pois o centro

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X 143 ) ] «wãÕ he outra cousa senão a abundância

das tpusas necessárias d vida , de que nasce a tranquilíidacle geral.

Paliemos agora circunstancia- damente do motivo por que Portu- gal se acha sem riquezas , e aclare- mos , se he possível, o principio •da sua ruina. Além das causas ge- raes por que este reino devia ern- pobrecer-se necessariamente, havia outras que lhe era^ particulares, Suppondo huma naçaõ composta de dous milhões de habitantes, que naõ tem manufacturas próprias, pó- de-se calcular que gastará annual- mente vinte milhões de cruzados a razão de i o cruzados cada indivi- duo, Tium por outro, que por for- ça haô de passar a mãos de outras potencias. Naõ obstante qsíq cal- culo, sabemos que Portugal (que cabalmente se acha no caso) gas- tava mais de quarenta milhões de cruzados neste ramo. E que naõ sabia fazer com muito , o que outras nações fazem €.qo) "pouca.

A causa de taõ grande difrerençâ he a que vou explicar.

Os Inglezcs empregavaô mais de cem navios grandes somente para o commercio de Lisboa , e do Porto, que fazem hum capital de quasi dezeseis milhões de cruza- dos , cujo juro pagava Portugal á Inglaterra a razaõ de trinta por cento por anno ; porque hum ca- pital de navios, que se gasta con- tinuamente, e que he forçoso re- novar cada vinte annos, naõ pode deixar de levar estejuro, cuja som- rna sobe a quatro milhões oitocen- tos mil cruzados a cargo de Por- tugal. A marinha Inglezaoccupa- va para este commercio mais de vinte mil marinheiros, cuja subsis- tência deve Sohir por forçado fun- do com que a Grã-Bretanha com- mercea em Portugal ; o que pela parte mais diminuta faz hum ren- dimento de dous milhões e quatro- centos mil cruzados.

O frete das fazendas, aba-

tido o juro dos navios, e o sa- lário dos marinheiros , se pode regular em quatro milhões ; e a commissaõ da venda em hum mi- lhão e duzentos mil cruzados. Es- ta partida naó admira aos que fo- rem instruídos do modo como os Inglezes fczem este commercio ; pois he constante, que osPortu- guezes nada recebem em direitu- ra de Inglaterra , e que vem a~ quelles até á mesma tisboa ti/ar- lhes das mãos a commissaõ.

Todas ^estas sommas juntas formão hum total de doze milhões -e quatrocentos mil cruzados que paga Portugal á Inglaterra todos -os annos y o que augmenta de hum trinta e cinco p>of cento o preço das cousas que necessariamente se gastaõ em Portugal. Isto bem en- tendido sem contar o que im por- tão as expedições das mercadorias^ porque aqui naõ se trata senaõ das sommas que os Portugirezes podiao forrar indo por si mesmos buscar

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á fonte as cousas que necessitas- sem. Defeito de economia , sobre o qual está fundado o maior lucro que os Inglezes tiraõ de Portu- gal.

Até aqui naõ vimos senaõ os damnos que padece Portugal pela forma do seu commercio ;mas o fundo delle he ainda muito peior. As nações mais incultas da Ásia , os povos mais estúpidos , n'huma. p^avra , os mesmos Iroquezes tem . melhor systema de commercio que os Portuguezes : os Turcos em troca de muitas das suas primei- ras matérias , e de algumas das suas manufacturas vem quasi a e- quilibrar a sua entrada com a sua sabida , e o mesmo vem a suece- der com os Chinezes, e Japone- zes. Mas entre a Inglaterra, e Por- tugal toda a perda está da parte delta nação. As lás que os Ingle- zes compraÕ neste reino v©ltaó pa- ra elle depois de fabricadas com hum lucro para a Inglaterra de qua-

( 147 ) trocentos por cento sobre o sen

primeiro valor. Isto he, que cada parte desta mercadoria que tiver occasionado a entrada de hum mi- lhão no reino , depois de fabri- cada , e vendida em Portugal ^ faz que saião delle cinco milhões* Naõ obstante ser tamanha es- ta perda , ainda he maior a que occasionao as sedas, porque este reino compra de maõs, estrangeiras a primeira matéria fabricada , e assim saõ immensas as sommas que os Inglezes sacaõ do que intro- duzem deste género no Brasil-, e em Portugal. Tampouco saõ me- nores as que tiraõ das estofas de pelio, como cameloter, durantes &c. O algodão fabricado ihes também infinito proveito 5 pois he constante , que quatro onqas des- ta matéria , cujo primeiro valor intrínseco he de menos de 8o réis, depois de trabalhada em tela fina se pode vender por mais de qua- tro patacas.

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Naõ me parece ser necessá- rio advertir, que todas estas mer- cadorias fabricadas naõ deixaõ tan- to beneficio aos mercadores parti- culares que as vendem em Portu- gal , como ao geral da naçaõ on- de se fabricaõ. Os grandes ga- nhos para hum governo cstaõ feitos desde logo que a matéria ioi fabricada. O fabrico sérvio pa- ra occupar huma infinidade de vas- sallos, e empregar muitas mãos; .0 que conttibue a dar huma no- va circulação ás riquezas do paiz, a aperfeiçoar a agricultura , e por conseguinte a augmentar a povoa- ção.

O ramo de quincalharia , e o seu commeixio em Portugal, he outra fonte de riquezas para a In- glaterra. Rum arrátel de ferro fa- bricado se vende aos Portuguezes por cincoenta vezes mais do que vale no seu primeiro custo , e a relojoaria de Inglaterra he bas- tante para empobrecer a Portugal,

.f 149-5 ; .

Hum mostrador de relógio r erat1 que haja cousa de . dois vinténs de matéria r se vende muitas ve- zes em Lisboa por mais de dez- eseis mil réis : isto quer dizer 7 que hum capital de quatrocentos mil réis em Inglaterra , ou no com- mercio de relojoaria destinado pa- ra Portugal, aos í nglezes de ga- nho' cousa de quatrocentos mil cruzados.

Em fim , até o papel em que se escrevem •%$ leis deste reino , serve da instrumento para empo- brecello. Oslnglezes, osHollan- dezes, e os Genovezes estiveraô- na posse de vendello aos Porto* guezes trezentos por cento mais caro do que o seu primeiro va- lor,

O luxo de que temos fat- iado , he outro dos mananciaes; mais copiosos para os Inglezes, que andaõ buscando pelas outras- Rações os meios de estimular a vaidade dos Portuguezes : : de sor*-

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te que cada moda estrangeira he hum novo imposto sobre as rique- zas do estado; e o capricho y a velleidade , e a inconstância dos povos he huma nova mercadoria para a Grã-Bretanha.

A desordem do commercio de Portugal influc também no seu governo politico; e assim vê-se, que a Inglaterra o vestuário para a tropa : de modo , que se arruina o estado por aquella par- te que o deve defender; e ainda naô pára aqui o abandono, por- que até as mesmas munições de guerra as subministrnõ os Ingle- zes , e he hum artigo dos mais vantajosos para o seu commercio.

Naõ quizeraõ cahir na con- ta os Portuguezes de que as som- mas immensas,de que se despojao para estas provisões , saõ as pri- meiras brechas por onde foi ata- cado o. seu governo politico : po- dendo-se demonstrar o mesmo do abastecimento da marinha j pois

( 1*1 > .

os mastros, velais , enxárcias, pez, alcatrão , e demais aprestos, en- riquecendo taÕ- consideravelmente a Inglaterra ,. vaó continuamente destruindo Portugal.

Parece incrível o deleixo que temos referido; mas ainda he maior o do commercio económico. Bas- tava este para anniquilar Por- tugal. O commercio de grãos pôz nas mãos dos ínglezes a chave deste reino : o trabalho do lavra- dor Inglez se converte em rique- zas physicas, e reaes; e cada co- lheita vale á Inglaterra huma mi- na de ouro.

Mas para que nos canqamos em individuar estas matérias, quan- do huma palavra he bastante para dar huma: idea da desordem geral da monarquia Portugueza ? Tome-se huma nota dos géneros que introduzem os ínglezes em Portuga! , e ver-sc-ha que tfhuma somnia de quarenta milhões de cruzados , apenas ha dous de gri-

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meiras matérias: todo o restante he o producto da industria.

A difFcrença do juro legal do dinheiro entre Inglaterra, e Por- tugal he outro dos desconcertos- que padece o seu commercio. ris- te grave darrmo tem a sua raiz na falta de confiança^ que tem fempre huma naçaõ, que naõ entende bem os seus interesses. Por exemplo : o dinheiro naõ vale em Inglaterra senaõ.a dous e meio por cento de juro , e em Portugal vale a dez. Vista esta desigualdade conhece- se que naõ saõ precisas nenhumas mercadorias para despojar este es- tado das suas riquezas ; pois so- mente o credito de vinte particu- lares Inglezes o podem conseguir. Supponha-sehumasomma de cinco milhões tomados de empréstimo em Londres, e girados depois so- bre Lisboa; estes deverão causar huma extracção taõ exorbitante , que o capital da divida será pa- go pelos juros, cada dez annos ,.

ficando a divida sempre em p&, Este methodo he excellente para dobrar o preço das mercadorias^ e huma arte para multiplicar ao in- finito os proveitos que os Jngle- zes tiraõ de Portugal ; porque quanto menos recebe huma n&çaé a fiado da outra, tanto menos ca- ra compra a industria delia. O pra- zp naó he outra cousa senaõfeum arbítrio seductivo de commcrcio ^ pois ainda que o juro naõ se es- tipule em certos contratos de cre- dito j sempre vai embebido no pre^ ço da mercadoria.

O que mais aniquilou a ino- narquia portugueza foi o estabe* "cimento de tantos Ingleses na sua capital. Lisboa está juncada dei- -les ^ assim como das suas merca- dorias. Quando hum Inglez que- bra em Londres 5 embarca -se pa- ra Portugal a £mde refazer-se daâ suas perdas ; e quando hum Ir- landez pela sua miséria naô sabe <qae fazer na sua pátria > em ve&

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âc k a Londres fazer serviços

para que alli o enforquem , to- ma o caminho de Lisboa para pro- var melhor fortuna.

He certo que todos os go- vernos da Europa fazem o que po- dem para attrahir a si os estran- geiros. Esta he huma máxima ex- ceilente ; porque os estrangeiros multiplicando o numero dos habi- tantes, contribuem-a aperfeiçoar a industria , e "augmentaô o consu- mo dos géneros. Mas para isto he preciso que haja industria que a- perfeiçoar, e géneros que consu- mir; e huma e outra cousa falta em Portugal. Nunca se discorreo nesta monarquia., que sendo a sua situação inteiramente distincta da dos outros Reinos da Europa , de- via governar-sc por máximas intei- ramente distinctas.

Antes do terremoto se conta- vaõ quinze mil estrangeiros em Portugal. Isto hc huma bagatclla, pois naô ha cidade capitalna Eu-

topa que naõ tenha muitos mar& Naõ obstante este curto numero causava grande damao a este rei- no j porque como nelle naõ hou- vesse com que alimentar-, nem vestir os seus próprios habitantes^ c em o a s ua ag ri cu 1 tu r a 5 as s u as ai> tes , e manufacturas naõ podiaõ es- tar em mais deplorável estado y era preciso receber d'outras nações as cousas necessárias : deste modo os quinze mil estrangeiros que sub- sisti ao no estado , lhe eraõ pesa- dos em vez de lhe serem úteis ; porque faltando nelle com que ves- tir-se, e alimentar-se, era forço*- so que o estado cem as -suas ri- quezas contribui se ao seu susten- to , do mesmo medo que ao das seus -habitantes náturaes.

O que allucinou o governo Po r tu gu e z nes te p o n t o v h e a per- suasaõ em que está de que os es- trangeiros tiraõ a sua subsistência da sua própria industria ; mas naõ cepãra que o valor desta subsis-

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icncia sáíiio do estaco; e que 9. sua industria naó faz mais que restituir ao governo o mesmo que -este lhes tinha antidpado. He cer- to que os estrangeiros correspon- dem., e cumprem como estado em tudo aquillo que tomaõ delle..; mas deixaô em descoberto o estado £omsigo mesmo, pois o produeto do que temaó d'outras nações , he para ellas, enaõ p<ara aquella on- -de immediatamente se consome, -O mesmo luxo destes estrangei- tos he também gravoso a Portu- gal , porque a primeira compra das -matérias que o fomentaõ se fez com o ouro desta potencia.

O damno que a Inglaterra fez 6 Portugal fazendo-lhe abandonar a sua industria , e a sua agricul- tura, ainda he maior do que nos podemos figurar ; pois he regra geral , que' quando hum estado destroe n'outro estado as artes me- cânicas, com o mesmo golpe an- niquila as liberaes ; o que trans-

í 157 )

4orna sempre qualquer systerma da ^politica. A prova se neste rei- no , pois desde que a Inglaterra formou o. projecto de destruir a >$ua agricultura , o entendimento dos seus naturaes se reduzio á es- terilidade , como o seu terreno^ e por mais que a Europa se te- ^nha illustrado com tantos desco- brimentos, a ignorância desta na- ção foi sempre em augmento, ao 4tiesmo tempo que o systema In- glez foi cobrando novas forças 5 ,e em quanto a nova luz das scíen- cias se vai espalhando sobre a ter- ça , Portugal permanece nas trevas da sua primeira ignorância. O Norte, aquelle paiz opaco onde tudo he matéria, fez gran- des progressos. -nas- sciericias^ eo influxo destas alcançou todas as nações do mundo, mçnos Portu- gal , onde naó pôde penetrar ; e assim se pode dizer com verdade, que elle he o paiz inculto dos po- &os cultos da Europa,*

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Esta ignorância naó he effei- to certamente do seu clima, pois Talvez he o mais a propósito da Europa para produzir grandes en- genhos ; como com efTeito os pro- duzia nos tempos de JoaÕ II., e do Rei Duarte, tanto que forao a admiração do universo.

Assentemos pois , em que as sciencias entraó no piano de hum bom systema politico; e assim ve- ja-se como por tdlas cultivado com tanto esmero a França-, e a Inglaterra , adiantarão tanto nas artes liberaes, e adquirirão tanta distincçaó entre as outras nações da Europa.

Na6 he fácil conceber como a monarquia Portugueza pôde ca- hir no abatimento em que se a- cha , naõ tendo padecido nenhu- ma daquellas grandes revoluções que transtornaó os estados ; mas cessa a causa da admiração, se se considera que he impossível , que dei.xe de decahir huma naçaõ igno- rante.

O império das sciencias an- da sempre acompanhado do impé- rio da terra. Nas quatro famosas revoluções do mundo, que saõ o século de Alexandre , o de Au- gusto , o dos Médicis, e o de Luiz XIV. , em que as- artes , e as sciencias renascerão do nada? em todas as quatro mudou a ter- ra de semblante; o que prova que as revoluções das sciencias andao sempre unidas com as da politi- ca ; de sorte , que seria mui fácil provar que as nações que mais cul- tivarão as sciencias, e as artes? saõ as que sempre se avantajarão ás outras. As sciencias pois saõ, sem que o pareça , as que tacita- mente dirigem os princípios da politica. Supponha-se, ainda mais, huma naçaõ inteiramente ignoran- te da geometria, e será impossí- vel achar nellà a menor ord^nv no seu governo politico, e civil; e pelo contrario, vemos que em todos os estados, onde houve grandes filo-

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sòfos , floreccraõ ao mesmo tempo políticos insignes.

He cousa digna de notar-se, ■que quasi todos os famosos filó- sofos, poetas, sábios oradores, pintores, arquitectos, litteratos, advogados, engenheiros, generaes, políticos &c. foraõ contemporâ- neos em França no reinado de Luiz XIV. Parecia que aquelle Prínci- pe tinha semeado huma nova se- mente de engenho , e talento uni- versal na nação, que produzia ho- iricns grandes ^m todas as mata- rias.

Nos reinados precedentes ti- nha estado a França n'huma escu- ridão, e trevas continuas; mas na- quelle tudo foi Juz , e claridade, e nunca se tinha conhecido Trin- ei pe mais hábil na arte de fazer cousas grandes.

Por certo que nao pôde deixar de causar admiração o considerar, que este monarca nao somente en- riquecia os vassallos próprios, que

C 161 ) mostravaó talento , mas também procurava saber quaes eraõ os qae sobresahiao entre os vassallosdos outros Soberanos da Europa, para* recompensallos com o louvável fim de dissipar a ignorância, que se tinhs derramado no universo , imi- tando o grande Hercules, que em- prendeo elle aHmpar a terra de monstros. He cousa sabida , que Colbert , por ordem do Rei* seu amo, ao enviar-lhes regalos, lhes escrevia , que visto que o Rei naõ era seu Soberano, lhes pedia.* que levassem a bem fosse seu bem- feitor.

As sciencias necessitaó abso- lutamente de recompensas , e naa se conhecem muitos meios , que se- jaó mais a propósito para promo- ver o gosto dos homens para as b-eílas artes, fora do de satisfazer a sua cobiça , porque he tal a es- tructura do coração humano , que os vicios mais vis sa6 os que mui- tas vezes servem de alicerce á& grandes virtudes*

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Todas as partes que compu- nhaô o governo politico , e civil de Portugal , tinhaô experimenta- do os effeitos desta ignorância ge- ra!, e cada raraodelle estava co- mo impedido, e paral\*tico. Este defeito de administração tinha des- truído ainda até a esperança de ter grandes reformadores ; porque co- mo se pôde presumir, que possaõ nunca formar-se homens de estado nlwm. Reino , do qual estejaõ co- mo desterradas as sciencias y e on- de naô se viaja para adquirillas?-

Os governos políticos se vaõ aperfeiçoando, ao mesmo tempo que as sciencias de especulação c.ommunicaõ novas --luzes aos en- genhos y e ao mesmo tempo que se enviaõ sujeitos para viajar, e ver as outras coites.

No systema geral da Euro- pa , que tem a sua origem na das bel las artes , ha huma progressão contínua; de sorte, que se hum estado naõ procura manter-se por

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esta parte rfhum grão igual ao^ outros, ficará sempre atrazado. Ha- via muito que se esperava em Por- tugal hum Colbert ; mas pergun- to, poderia produzir aquella mo- narquia hum talento semelhante? Decida-se esta questão.

Avinda dos grandes ministros se vai preparando muito de ante- mão ? e nao he cousa que se effei- tue de repente , pois ás suas lu- zes devem ter precedido outras lu- zes , q«e lhes sirvaS de guia., e he precisa huma preparação locaL Na.6. foi Colbert que intentou o magnifico sistema , que deo tanto poder ao Reino -França; e^ de- ve-se-lhe somente a execução do que Henrique IV. tinha deixado- delineado. Se aquelle ministro" naó tivesse achada aberto o caminho, talvez nunca teria descoberto meio para effeituar taó grandes cousas, visto que rara vez o mesmo esta- dista que inventa, chega a pôr em execução.

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( 1*4 ) Como em Portugal na 6 se* tivesse cuidado de que floreces- sem as sciencias , naó se tinha tampouco disposto cousa alguma para ô systema politico, nem de- lineado plano algum de governo; nem se quer alguns esboços que fossem a propósito. E ainda que tivesse nascido hum Cblbert em Portugal, nunca teria havido hum; Henrique IV. que o tivesse pre- cedido &c.

Finalmente, dos mesmos Por- tuguezes depende abrir hoje em dia. os olhos á vista do seu peri- go > e até as próprias desgraças podem offerecer-lhes meios para sahirem do seu deleixamento po- litico. Que mQmento taõ decisivo para aquella nação ! Antes deste acontecimento, qualquer reforma que tivesse intentado a sua poli- tica se teria fundado em falso ; porque quando os princípios dlium governo chegarão a corrompcr-se ; quando a constituição delle se foL

( i6y.) amoldando, e formando segundo os abusos ; quando as preoccupações antigas concorrerão para crear no- vas faculdades productivas; quan- do li um excessivo luxo se apode- rou da naçaô ; quando máximas depravadas occupáraõ o lugar que devêraõ oceupar as boas ; quando o povo perdeo a vereda dos seus antigos costumes; enraõ , digo > todas as leis , por sábias , por prudentes , e acertadas que sejaõ, saó inefficazes , e de nenhuma uti- lidade. O único remédio he , que a Providencia suprema arroje, di- gamo-lo assim , hum raio que des- trua tudo.

Portugal se acha hoje em dia , como hum povo, que acaba de nas- cer; pois a desdita geral igualou: as fortunas dos particulares. O ter- remoto afroxou o luxo , princi- piando pelos seus próprios alicer- ces. Huma calamidade publica une commummente os corações, e os unimos entre si. Que cousas nau

( i66)

pôde fazer em semelhante caso

hum reformador ? O leitor pode

infetillo melhor , do que eu ex-

piicailo.

Mas aquella monarquia , em vez de aproveitar-se de tantos, e taõ grandes recursos, como as suas desgraças lhe subministráraõ suc- cessivamente para sacudir o jugo vergonhoso que a oppritne , se foi pelo contrario sujeitando mais , e mais a elle , e apertando mais a cadeia que lhe prende a sua liberda- de. E costumada a Inglaterra des- de muito tempo a converter em beneficio próprio as maiores des- graças alheias , medita concluir o edifício do seu poder sobre as cinzas daquelle infeliz reino , a- proveitando-se para isso da mes- ma cegueira, com que a naçaõ Por- tugueza se entrega ao ambicioso arbítrio da Ingleza.

( i«7 ) KELAÇAÕ HISTÓRICA

do Terremoto de Lisboa.

xNaõ houve no mundo monarquia mais exposta ? que a 'de -Portugal, a grandes revoluções, pois se se abre a historia politica daquelle reino, encontraõ-se a cada passo successos extraordinários ; e se se passa á sua historia natural ? no ta-se que naõ houve nação algu- ma na Europa , que tenha pade- cido mais raros fenómenos.

Vio-se Lisboa varias vezes destruída por causas sobrenaturaes. Do interior da terra sàhíraõ fogos soterraneos , que a abrazáraõ quasi inteiramente ; espantosos furacões derribarão os edifícios , e trans- tornarão inteiramente aquella ca- pital: no século decimo-quinto hum terremoto arruinou huma gran- de parte dos edifícios daquelle po- vo.

< i68 )

Dificilmente se poderá deter- minar a razaõ das causas por que estes fenómenos saó mais frequen- tes em Portugal do que n'outras par- tes, a naó serque se queira dizer que procede de que em Portugal ha huma estação , sentindo-se mais calor do que frio. Naó pode a ter- ra estar exposta a enfermidades co- mo o corpo humano ? Naõ neces- sita da alternativa do frio, e do calor ? Acaso huma estação sem- pre igual naõ pode ir preparando de hum a c.tro século as causas destas revoluções physicas ?

Como quer que seja , ha- via mais de dous séculos que Lis- boa naõ experimentava nenhum destes fenómenos, quando no dia primeiro de Novembro de 175-5 tornou aquella cidade a ligar a in- terrompida serie das suas primei- ras desgraças (1).

( 1) Quanto a diíer-se que nos dous sé- culos antes do presente , naõ houve ter*

( i69)

Peias 9 horas e 20 minutos da manha sentio-se hum espanto- so estremecimento , que derribou a maior parte das Igrejas y e mui^ tos edifícios , palácios , e casas particulares. Acompanhou este tre*» mor de terra hum ruido tremendo, que parecia sáhir do centro da ter- ra , ainda que procedia s<5mente da queda dos edifícios $ e hura instaure depois principiou a cida- de a arder toda envchammas.

Ainda que eín varias rei aqdeU se , publicou que tinhao sido in- cendiários òs que tinhao lançado o fogo, carece de probabilidade* Por mais viciosos qu-e sejaõ os ho^

remotos em Portugal engana-se o autbòr^ pois neste houve htim no anno de 1724,1 e no anno de 1700 houve outro: no sé- culo anterior a 27 de Outubro de 1 699 , houve hum , e no aóno de i óoo houve outro : e no século precedente houve hu<n a 27 de JúJho de 1598 , outro a 7 de janeiro de 1575 , outro a 28 de Janeiro de 1551 , e outro a 7 do ifleswro mez anno de 1531,

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C 170 ) mens, por mais cobiça que tenhaõ de adquirir riquezas pelos cami- nhos mais breves, sempre subsis- tem aquelles primeiros instantes de susto, que naõ dependem dos mesmos homens , e nos quacs a avareza, e a ambição emmudecem á vista de huma morte próxima* E he cousa evidente, que jamais houve instante mais critico, pois o primeiro vaivém do terremoto foi tamanho, que se receou hum transtorno gerai.

O certo he , que o incêndio se originou ao cahirem as ca- ías , que como cada huma delias ti- vesse lume, o communicáraõás ma- térias combustíveis. BuSta reflec- tir sobre a natureza do elemento do fogo , para persuadi r-se que teria sido hum fenómeno dnda ruaior que o do terremoto , se tendo desabado de hum golpe tan- tos milhares de casas, naõ tives- se o fogo pegado em alguma parte.

Ainda que o movimento foi

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inteiramente universal \ sem êtíi- bari*o ? fez-se muito mais sensível nalguns bairros do que neutros. Para a parte do Tejo colheo em certo modo o terremoto a cidade ao soslaio 5 mas a ^ua maior vio^ lencsa foi desde a Moeda até á paragem onde está a forca 9 e foi- se minorando em duas aks , que corriaõ hum a até '«Belém , e a ou- tro até ao Beato António. :De$âe ® espaço , que media-entre a casada raoeda , ea forca 5 subio até ao castello -que está situado na maior altura de Lisboa ye por conseguin- te a maior parte da antiga cidade -dos Mouros*

■■Emmerâ-çàfi ios 'mortos \

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1 he possível determinar o nu- mero das pessoas que morrerão em Lisboa neste terremoto ; sendo a razaó principal disso ? que aqioelh cidade tinha enumeração ce¥- í-a da sua .povoação j outro dos

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rnuitos defeitos da administração cio governo, e o que até o armo de 1748 se dizia acerca da povoa- ção de Lisboa, se fundava unica- mente no erro do povo, pois se assegurava commummeme, que na- quella capital havia quinhentas mil almas.

Mas houve hum Inglez , que apostou huma grande quantia de dinheiro, que naõ chegavaõ a Tre- zentas mil ; e desde logo se créo que a mesma corte de Londres ti- nha tido parte na aposta , sendo a curiosidade deste particular hum pretexto politico de estado. Com effcito importa muito a hum governo , estreitamente unido com outro, saber com certeza a sua povoação , pois este he o mais se- guro norte pari guiar-se em todos os projectos poluicos.

Como quer queseja, por meio desta aposta se logrou fazer humi enumeração pontual dos moradores de Lisboa casa por casa , e $c

( 173 ) . . ' averiguou que naõ havia tnais de duzentas e sessenta mil pessoas com pouca differença , contando os estrangeiros.

Mas como o governo naõ fe& caso desta indagação , nem tam- pouco se registou formalmeiKs, para que no vindouro constasse ã; povoação daquella cidade , foi pa- ra o estado politico como se naô se fizesse , sem que houvesse mais que alguns particulares, que fossem informados pontualmente do nume- ro de habitantes de Lisboa , sub- sistindo assim sempre o erro -po- pular ; pois quasi todos os recur- sos que poderiaõ ter ficado ao go- verno Portuguez eraõ defeituosos em si, ou por natureza, ou por- que os inutilizou a mesma desgra- ça, e transtorno do terremoto.

De sorte, 'que. -este. próprio fenómeno oceultou para sempre o verdadeiro cumulo de males que occasionou, sem que possa jamais saber-se , nem naquelle reino , neca

,

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3

( i74 ) em nenhum da Iiuropa o numero cabal das pessoas que perecerão bo terremoto. Naõ ha duvida que cada particular nao ignora quan- tos parentes lhe faltarão cntad ; mas repito que o esrado naõ che- gará nunca a saber em geral os vassallos que perdeo.

Nao obstante r o ministério o teria podido conseguir, obri- gando a cada particular a dar hu- ma razaô exacta dos mortos, que lhe pertenciaõ. Mas por outra par- te a politica se oppõe a esta enu- meração , porque seria informar assim ao mesmo tempo as outras potencias do quão despovoado ti- nha ficado Portugal j sendo-o tanto dantes.

Varias relações , que pouco depois se enviarão de Lisboa, es- critas as mais delias por ministros estrangeiros , assegurava^ que o numero dos mortos era de cem mil; mas conhece-se que o terror fpattko dictou semelhantes relações.

( m3 , .

naó sendo estranho que hum in- dividuo que acaba de sah.ir de pe- riao raô grande, tudo por perdi- do e escreva no mesmo conceito. Com somente reflectir que a extensão daquella cidade he sum- mamente dilatada, e que todaei- la está cheia de jardins, e se pa- da por ai ws montanhas , se infe- re quão estranha catástrofe teria sido que tivesse perecido a terça parte dos seus moradores 9 para o que seria necessário que a terra, tragasse .toda aquella capital. _ A maior mortandade foi nas igrejas, pois fundindo-seas abobadas ^se- pultarão a maior parte dos con- correntes. Por fortuna na 6 > era ain- da a hora precisa , em que se cos- tumaõ dizer as missas cantadas em Lisboa, em. cujas Parochias principiao senão is dez horas , pois o primeiro vaivém do tremor ée terra principiou ás nove e vin- te minutos pouco mais , ou me~ aos, A esta circunstancia se deve

i

( *7« ) o ficarem em Lisboa trinta mil pes- soas mais com vida.

Outra circunstancia foi cau- sa de perecer gente da nobre- za ; e nem também mu ira da se- gunda classe. Está geralmente es- tabelecido em Portugal o uso de que as pessoas de alguma distinc- çaõ tenhaõ em sua casa Oratório para dizer missa ; e a gente da visinhança, que carece desta com^ modidade acode áquellas casas em que a ha, pois os donos naõ re- cusaõ a entrada a ninguém: rara vez principiaõ estas missas antes das. onze , de sorte que ás nove cada hum está ainda em sua casa. Outra circunstancia salvou a muitos indivíduos; e consiste em que naquelle reino, comotaó tem- perado , está a gente no campo até o mez de Novembro, sem vir á cidade para ouvir missa nos dias de festa, porque tem também Ca- pellas nas casas de campo.

Finalmente, segundo as re-

■{■177} . '

laçoes que parecem mais etâcm f

e feitas por sujeitos sem interesse pessoal em augmentàr ^ ou dimi- nuir a perda , suppôe-se que o numero dos mortos foi de vintes cinco a trinta mil indivíduos : e até se comprehendcrá que he o mais a que se poderá estender , se se.calcular a perda dos Portugue- ses pela dos estrangeires. Geral- mente se Sabe que todosv os mi- nistros, á excepção do de Hespa- nhã, èaínraô livres do perigo- ^ o de França , que naô perdeo fiem se quer hum criado, teve tempo, para tirar todos os seus trastes.

Quiçá naõ houve desde o principio do mundo desgraça ,dt~ gamo-lo assim , mais feliz. No bairro âo Remvteres 9 que he o que mais padeceo, e cujo transtorno foi mais geral , perecerão três, ou quatro estrangeiros , e assim dos demais bairros. Advertio-se en- tão qu^ o mais forte da desgra- ça o experimentou a gente com-

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-irarm-do povo; salváraó-se todas as. pessoas réaea, e a maior parte da- nobreza ? e apegas houve in- dividuo algum de caracter, que naõ tivesse a fortuna de ver- se envolto naqueila catástrofe las- timosa ; mas se o numero de pes- soas que pereceo naquella occa- siao foi menor do, que provavel- mente se devera temer , o das casas., e edifícios arruinados foi maior do que se podia pensar .j pois em toda a cidacle foi geral, e quasi igual no vaivém ; e ainda que o damno for maior em alguns bairros do qut noutros , sem em- bargo he constante que o estraço foi universal quanto aos edifícios. De modo, que de quasi vinte mil casas que compunhaõ esta capi- tal , apenas ficáraó tres mil que se podessem habitar com segurança* pois ainda que muitas .naõ tenhaõ sido inteiramente destruídas, co- mo os seus alicerces se resentiraõ tanto , ao menor impulso poderão vir ao chaõ.

( '179 ) : *

:hto supposto- , . pôde- se' fàfc~e* hum juizo prudente da perda na- cional relativa aos edifícios , deste trmdo. Pelo palácio real. Pátrias cal , alfandega ^sete-casas^e thea- iro real, dez milhões de cruzados. Esta perda embora poderá cha- mar-se quimérica, naõ tornando. il restabelecer os edifícios ; mas pe- lo contrario acabará de arruinara nação , porque os principaes ma- tefiaes ^kveráó vir de p a izes es- trangeiros

Quanto á raina das casas dos particulares , He indefinivel a grife to fixo ? mas considerando que fa- raó humas 4oze mil as arruina- das, póde-se regular a sua perda em pouco mais de quatorze mi- lhões de patacas , avaliada tum* por outra em duzentas moedas; mas: o real, ou o quimérico desta perda depenlerá do modo de reedificai la §3» como temos dito.

-Tampouco he fa^H regular a valor dos trásies que se queima-

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tta : o certo lie , que depois do reinado de Pedro II , e dodesco- hrktícrkp das minas de ouro, se tinha introduzido em Portugal hum grande luxo de trastes ; d? sorre que cada palácio era hum tíiesouro particular, tanto em pin- turas, e tapeçarias, como em ou- tros effeitos preciosos ; e assim póde-se prudentemente discorrer quão immensa terá sido esta per- da.

A do dinheiro de contado naõ pode ser das maiores , pela pobreza em que se achava este Reino; comprehendido o do erá- rio real , e o dos particulares na- cionaes , e do Brasil ( que alli chamaó commummente Mineiros" ) poderá ser ern tudo de dez mi- lhões de cruzados.

Acrescente-se a esta partida a de jóias, pedrarias, e prata la- vrada , tanto da coroa, como de particulares, de igrejas , e com- munidades , e achar-se-ha huina

X iSr) sonrma que excede toda imagina- ção; pois além de ser a corte de dsboa a mais rica da Europa em pedras preciosas, e terem pereci- do todas, á e&cepçaõ dasque tra- ziaô naquella hora as pessoas reaes sobrç si ; as duas ruas , onde mora-. vaõ os mais ricos ourives de pra- ta, e de ouro^ foraõ as* que mais soffrêraó no tremor , e no incên- dio.

A perda que nesta desgra- ça sofFrêraó as naçâes estrangei- ras he mais fácil de regular ; por* que como cada bumsabia qual era o seu cabedal antes deste aconte- cimento,, naó he preciso mais que juntar as partidas particulares para saber a sõmma geral. Esta pois che- ga, conforme hum calculo segu^ ro que se me mostrou , e sem exageração alguma,, a quarenta e eito milhões de patacas , tanto em dinheiro, como em mercadorias^ repartidas deste modo :

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A Inglaterra, Irlanda ., e

Escossia. . •■ 3a

Hamburgo. ......... 8

Itália. 5

Hollanda. ......*.. i

Suécia c 5

AUeroaiiha . . . oj

França. . i

O damno que disto se se- guio a tantas nações , o resarciráo facdmente com a sua industria «, cornmercio , e actividade; mas os infelizes Portuguezes, que estaõ privados de tudo isto , naõ hr>ó de achar ta5 fácil o remédio ao seu tua!. Naô obstante podiao ain- da convalecer de perdas taõ MH •roensas , se para isto soubessem ap- plicar os meios convenientes.

Estes saõ fáceis, e se redu- zem a dous únicos pontos y que saõ empregar com vigor a indus- tria dos seus habitantes , e naõ ad- mittir os saccorros dolosos , e in- teresseiros das nações estrangeiras.

( *g3 ) r ., :'& Portugal recorre aos liigtezes

para restabelecera sua capital; se contra o seu próprio interesse fe- cha os ouvidos á voz da razão , tudo vai perdido ? e em vez de resarcir-se das suas calamidades ^ se engolfa mais nellas para sempre. Os Inglezes saberáó entaõ recorra pensar-se com usura das suas per- das á custa dos Portúguezes.

Trabalhem estes para que o ouro do Brasil oao passe á Ingla- terra , e para que sirva somente para remédio de seus males y- e en- tão conhecerão que naõ sao incu- ráveis ; e que com a melhor ad- ministração dos seus thesouroSí po- derá restabelecer-se a sua monar- quia no antigo estado de poder , em que algum tempo se vio.

O zelo , e a compaixão me sugerirão ^stas reflexões a tavor desta monarquia infeliz. As razoes em que se fundão, creio que per- suadirão a todas as nações euro- peas; á excepção da Ingleza 5 e

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( 1*4 )

da Portugueza : a<juella pelo setr interesse, e esta pelas suas preoc- cupações, e pelo seu erradomodo de^ pensar em matérias de poli- tica.

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1

( 2*5 )

ÍNDICE.

Advertência doEO-

tor HespanhoL ■--.-- PREFACIO. - - - - -

DISCURSO POLITICO. Das utilidades que Portugal poder ?a tirar dai suas des- graças. - - - - - -

§. I. As cousas physicamente necessárias faltavao a Por- tugal, ------

§ II. O commercio anmquilado em Portugal. - - - ' -

§ III. Da nenhuma industria de Portugal - - - -

§ IV. Mdo systema de politi- ca em. Portugal. -

§ V. Que a origem das rique- zas de Portugal era.md , e viciada. - - - - - -

§ VI. Que a fazenda reul de Portugal estava inteiramente arruinada.

§ Vil. Refieocoes sabre o in?

21

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17

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- - 42

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{ i«6 ) fluxo que tinhao as miras de ouro do Brasil m systema ge- ral da Europa. - - - - 46

§ VIII. Que o oura he huma mercadoria como as outras. 77

§ IX. Que sendo Portugal es- téril por natureza, nao po- de bastar para a subsistência dos seus habitantes. - - .- 80

§ X. Que todos os estudos de- vem sortir Portugal do que necessita. - - - - - 83

§ XI. Que Portugal nao tem necessidade de exercito de ter- ra j nem de esquadras de mar ; e que toda a Europa estd interessada em mantello na situação em que ?e acha. 88

§ XII. Que o ouro que se ti- ra das minas da Âmerka , conduzido d Europa , e leva- do depois ao Oriente pelo ca- nal do cêmmercio da Índia 5 se consome como as outras mer- cadorias, ------94.

§ XIII. Que por mais que se

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104.

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( 187 )

diga y os Portugueses sao mais ricos hoje em dia , do que antes do descobrimento, das minas do Brasil - - l'Oi

§ XIV. Que Portugal pode com o seu ouro ter as mercado- rias fabricadas por melhor preço 9 que aquelle por que elle as^f aderia fabricar, -

§ XV. Que o clima se oppoe ao estabelecimento de manu- facturas: em Portugal. - %

§ XV í. Que he grande vanta- gem o dar a Inglaterra meios a Portugal para extrabkr o ouro da Brasil, :e que sem : este recurso estariaõ em peior estado os negócios da Europa. 1&9

§ XVII. Que desde a allianca dos Portugueses com a In- glaterra, se estaheleceo em Portugal -hum grande luxo que lhe he necessário. - - 114 § XVIII. Que Portugal naS pode deixar de necessitar dos outros estados da Europa y e

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(188) especialmente de Inglaterra, 121

§ XIX. Que o trato dos es- trangeiros fez mais sociáveis os Portuguezes , e os igua- lou com as nações cultas. - 124

§ XX. Que a disposição das cousas requer que estejao 0- ciosas nações inteiras , em quanto outras trabalhai), por- que assim o resolveo a Pro- K vidência Divina. - - - - 130

RELAÇÃO histórica do ter- remoto de Lisboa do anno de 1755* ------ 167

Enumeração dos mortos. - - 171

LIVROS Imprejfbs por Francisco RollAnp,

Imprcssor-Livreiro em Lisboa , a& Largo êo

Loreto.

A,

tias moderno, com 24 Mappas. ( Aventuras de Telemaco , em. 8. -Amigo do Príncipe , e da Pátria , ou o bom

Cidadão, em 8. Í779. Adeiiá de Senange , ou Cartas do Lord

Sydenham , traduzidas em Vulgar , em S. Adágios , e Provérbios , da Língua -Portug.

em 8. Arte Poética de Horácio , trad. e illust.

por Cândido Lusitano > em 8. .Bom Lavrador , e Boa Lavradora, em 8. 3 V. Belizario de Marmontei , em 8. Gollecçaó de Peças importantes , &c. em 8.

1806. Choupana índia, em 12. 1806. Costumes dos Israelitas, e. dos Christãos,

em 8, 3 Vol. Collecçaó de Historias , Anecdotas , em S. . 3 vo!. 1799»- ; * * Coiiecçaõ de Decretos , e Edifaes , &c.

em 4. 1808. Calendrier de Lisbonne pour 1'an de 1808,

em 12, ;' -

Diccionario da Língua Poitugueza , em 4, Desgraças da Inconstância 3 em 12. 2 Vol.

1807. Diálogos dos mortos , em 8. Diccionario abreviado da Bíblia , em $• Desvarios da razaó , &c. em 8. 3 Vol. Eneida ds Virgilio, por João Franco Barreto ,

em 8. 2 Vol. 1808.

Escolha de Anecdotas , antigas , c moder- nas , em 8. 1 806. Emma , ou a Filha do Desgosto, em 12

2 Voi. 1807. Emília , e Affonso , noveila, em 8. Evangelho em triunfo , em 3. 8 Vol. Escolha das imitares Novel las , e Contos

moraes , em 8. 7 Vol. Elogios dos Reis de Portugal , em 8. Escola fundamental de ler , escrever, e con^

tar em 1 2. 1807. Elementos da Civilidade , em 8. Fabulas de Esopo , em â. - Filosofa por Amor , ou Cartas de dous A- inaiues apaixonados , em 12. 2 Vol. 1806. Historia Romana, em 8. 4 vol. 1806. Historia de Bonaparte , em 8. 4 v"l. Historia Geral de Portugal por M. La Clede,

em S. 16 Vol. Historia de Portugal por Damião António,

em 8. 20 Vol. Historia Universal de MiMot, em 8. gr. 9 Vol. Historia Ecclesiastica de Ducreux , em 8. gr.

1 1 vol. Historia de Theodosio o Grande , em 8. Historia da Virtuosa Portugueza , em 8. Historia da virtuosa , e infeliz Clara Har-

iowe , por Richardson , em 8. 6 Vol. Historia galante do Joven Siciliano , em 8.

Historia de Carlos XII., Rei de Suécia,

em 8. 2. Vol. 1807. Historia de Mafoma , em 3. 1808. Irma , ou as Desgraças de numa joven Orfa #

Historia indiana, em 8. 4 Vol. iík>4«

í-içdes da Natureza, em 12. iSoj.

Livro dos Meninos , traduzido ào Francês, Laura de Anfrifo , em 8. Ajulher feliz , dependente èo mundo , e da fortuna , em S. 3 Vol. 1807.

Mil e íiuma Noites , Contos AraMcos duzidos em vulgar , em 12. 8 Vol.

Mil e hum quarto d'hora, Historias da Tar- taria , em 12. $ Vol. 1806.

MedícinaDomesticadeBuchan, em 8.10V.

Misce lia nea curiosa, e proveitosa, em 8. 7 Vol.

Noites Romanas no Sepulehro dos Scipiões,

l em 8. 2 Vol. 1808.

Noites dToung , Tradúcçaô" de Vicente Car- los d'01iveira , em 8. 2 Voi.

Noites Clementinas , em 8.

Naufrágio de Sepúlveda, Poema de Jeronym© Corte-Real , em 8.

Noticia da Mythologia , ou Historia do pa- ganismo , em 8.

Numa Pompilio,por Mr.Florian, em 12, 2 V.

Origem , e Orthograíia da Língua Portugue- za , em S.

Oíiicio da Semana Santa , em 12.

Obras escolhidas de Garaccioli , em 8. 9 Vol.

Obras de de Miranda » em 8. 2 Vol.

Obras Poéticas de Valadares , em 8. 2 vol.

Panegyricos , e Discursos Evangélicos , 4. vol.

Paulo, e Virginia , em 12. 1806.

D. Quixote, traduzido em Portuguez, em 8. 6 Vol.

. 2 vol. 1 806*.

Rimas de Manoel Mathias, em

Reflexões sobre a vaidade dos Homens, em S.

Secretario Portuguez , aug-mèntado com

dois Supplemuntos 8. grande. 1801

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I

í!

Sciencia dos Costumes , ou Filosofia morai» em 8. 1788.

Syntaxe Latina , explicada segundo o moder- no systema filosof. 8.

Tratado completo de Anatomia , por Mr. Sabatier. Em 8. 6 vol.

Tratado das doenças Cirúrgicas, em S. $ vol.

Tratado das Aguas das Cal dais. 8.

Tratado das Obrigações da Vida Çhristã , em 8. 2 vol.

Thesouro de Pregadores por Fr. António de Pádua e Bellas , em 8. 2 vol.

Theatro Estrangeiro , em 8. 6 Num.

Viajante Universal , ou Noticia do Mundo antigo , e moderno , em 8. 45 Vol.

Viagens de Antenor pela Grécia, e Ásia, em 8. 6 Vol.

Vida privada , e publica de Luiz XVI. Rei de França , em 8. 2 Vol.

Vade mecttra do Medico , ou Breve Resu- mo de Medicina Pratica , em 8.

Vida de D.Joac5 de Castro, por Jacintho Frei- de de Andrada : com estampas , 1786.

Victor, ou o Menino da Selva, em 12. 2 Vol. 1807.

Verdadeiros Interesses da Pátria , em 3.

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