F2515 .B252 Barbosa, Júlio Caetano Horta Relatório do Serviço de Conservação da Linha Telegraphica no periodo de Junho de 1913 a Setembro de 1914 F2515 .B252 ^©tr.missâ© ds Jíinhas Jslsgraphiças jlísíraísgicas ds 5wâí:3-€rss59 a© jHmszonsis (Publicação pi. 30) ANNEXO N. 4 RELATÓRIO DO Serviço de Conservação da Linha Teleppnica no período de Jnnho de 1913 a Setembro de 1914 APRESENTADO AO SNR. CORONEL Cândido Mariano da Silva Rondon Chefe da Comraissão PELO 1.° Tenente Júlio Caetano Horta Barbosa Ajudante da Commissão e Chefe do Districto de Conservação 2132 EIO DE JANEIEO 1916 .• RELATÓRIO • i -\'.«* •-.- - — ,- — •> ~-r , ; •« *• íl ST e •-.•-7 — -»,- ~ ^,-.^_ ,» juv- —..«._. t 3 rr"T err» wo íí;w v,w ju a^- jL»L»íir-aDlLiOaffl JuSiraTS2i,CaS ás JS[aíÍ0-'Cir©ss© ao jKmazottas (Publicação n. 30 ANNEXO N. 4 RELATÓRIO DO Serviço de Conservação la Linha TeleppMca no período de Junho de 1913 a Setembro de 1914 APRESENTADO AO SNR. CORONEL Cândido Mariano da Silva Rondon Chefe da Commissão PELO 1.° Tenente Júlio Caetano Horta. Barbosa Ajudante da Commissão e Chefe do Districto de Conservação ETO DE JANEIEO 212 1916 RELATÓRIO APRESENTADO AO SR. CORONEL CÂNDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, CHEFE DA COMMISSÀO DE LINHAS TELEGRAPHICAS ESTRATÉGICAS DE MATTO-GROSSO AO AMAZONAS, PELO 1.° TENENTE JÚLIO CAETANO HORTA BARBOSA, AJUDANTE, ENCARREGADO DA CONSERVAÇÃO DA LINHA CONSTRUÍDA Apresento-vos o relatório resumido dos serviços executados no Districto de Conservação, creado por vós em Junho do anno findo. Logo após vosso acto ofificial creando esse dis- tricto e nomeando-me seu chefe, dirigi circulares aos encarregados das estações, secções e núcleos, com instrucções e regulamento para o serviço, sendo aquellas análogas ás existentes nos demais districtos telegraphicos. Determinei que os guardas-fio se apresentassem diariamente aos encarregados das estações, para saberem do estado da linha, e fizessem percorridas mensaes, ordinárias, além de tantas extraordinárias quantas fossem necessárias para a boa conservação da linha. Para maior fiscalização, determinei que os guardas nas percorridas, recebessem senhas assi- gnadas pelos telegraphistas e que as permutassem com os seus companheiros dos trechos visinhos, ficando aquelles telegraphistas responsáveis pela 6 verificação de que essa troca fora feita, communi- cando-me sempre, na volta dos guardas, se rece- beram ou não aquellas senhas. Logo que os tele- graphistas notassem qualquer defeito nas linhas, deveriam requisitar do inspector encarregado da secção a sahida immediata do guarda ; ou mandar este, directamente, fazer a percorrida, caso aquelle estivesse ausente da sede da secção. Os guardas deveriam ainda conservar limpos tanto o caminho por baixo do fio como também os desvios, tudo de accordo com as vossas ordens. Recommendei aos encarregados das secções, especialmente, a substituição dos postes, mas, esse serviço não poude, por diversos motivos, ser atacado com a energia que era para desejar. Durante o anno em que chefiei o serviço de conservação não houve interrupção alguma, de duração, mas apenas poucos accidentes facilmente removidos. Mandei também organizar o mappa carga das estações e secções. Aos encarregados dos núcleos indigenas trans- mitti, em circular, todas as vossas instrucções. Recommendei-lhes a mais escrupulosa moralidade e justiça no trato com os indios e estabeleci punições severas para os transgressores. As colónias indigenas só poderiam ser visitadas durante o dia com a presença do encarregado e dos respectivos capitães, que também deveriam acompanhar sempre os encar- regados dos núcleos nas suas visitas de inspecção. As familias colonizadas não deveriam ir ás casas das civilizadas, senão acompanhadas por seus chefes, conforme determinastes. Com a expulsão da Commissão, a bem da mora- lidade, de um telegraphista e de um camarada, que transgrediram essas ordens, punição de que todos os demais empregados da Conservação tiveram conhe- cimento, por circular, consegui manter a ordem e moralidade nesses núcleos. Os indios aldeiados em Ponte de Pedra pedi- ram-me para se mudarem de lá, allegando que as terras daquelle núcleo não eram boas para planta- ções. Queriam mudar-se para Barão de Capanema, verifiquei, porém, que esse desejo era mais o resul- tado de uma seducção do telegraphista encarregado daquella estação, que uma necessidade real, pelo que não accedi. Em Novembro do anno findo, mandei chamar o grupo do capitão José Ladino para auxiliar a limpeza da linha na 2.a secção e outros serviços extraordinários na estação de Utiarity. Esse grupo antes de terminar os serviços retirou-se, obedecendo ás ordens de seu chefe que era um máo elemento, já muito trabalhado pela nefasta influencia dos seringueiros. Retirando-se, este capitão desenca- minhou também alguns indios do núcleo de Utiarity e principiou a commetter furtos de animaes e bois da Commissão, ameaçando ainda alguns funcciona- rios. Mais tarde mandou um emissário a Ponte de Pedra convidar os indios lá aldeiados a se retirarem dalli. Ordenei, então, ao encarregado daquelle núcleo que prendesse quem quer que alli se apresen- tasse com taes intuitos e mandei prevenir aquelle capitão que o faria apresentar á Inspectoria de índios em Cuyabá se não se corrigisse. Como sabeis, esse é um indio já completamente civilizado, sendo 8 ha muito tempo empregado em extracção da borracha, e que sabendo, por experiência própria, da amizade e protecção que dispensaes a todos os índios, prevalecia-se do facto de ser Pareci para commetter actos que elle tinha consciência serem criminosos e que, por isso mesmo, não ousaria commetter se tratasse com particulares. Felizmente depois do aviso que lhe mandei, elle se aquietou. Na primeira secção, a cargo do inspector de 4.a classe em commissão Américo Leite, foram substituídos 20 postes, estando já distribuidos mais 32, todos de madeira de lei. Foram substituídos 173 isoladores e diversos pára-raios. Foram cons- truídos 12 ranchos para abrigo dos guardas nas percorridas e da turma de limpeza da picada, sendo 1 no Rio Alegre, 2 no Agua Verde, 1 no S. António, 1 na Varzearia, 1 na cabeceira Uazúliatiá, 1 nos Parecis, 3 no Sumidouro, 1 na cabeceira dos Lobos e 1 no Córrego Grande. Foram reconstruídas as pontes dos ribeirões S. António com nn\5; Sumi- douro com 12 metros e Aguassú com 20 metros; e estivados, no Sumidouro, na extensão de 50 metros; no S. António, 11 metros; no Aguassú, 10 metros e na Cabeceira dos Lobos, 36 metros. A limpeza da picada foi feita em toda extensão, inclu- sive nos brejos do Sumidouro, que havia muito tempo não era feita, e foi aberta uma estrada para alambrado, na extensão de 5 km. em Ponte de Pedra. Esta secção é conservada pelos indios Parecis do núcleo de Ponte de Pedra. Eu tinha particular interesse em fazer construir o estivado do 9 Sumidouro não só para facilidade da conservação da linha, como pela vantagem que elle traria, per- mittindo o transito por ahi aos industriaes do N. de Diamantino, que evitariam a grande volta a que eram obrigados, por Arroz sem Sal. Foi pois, com satisfação que recebi em Cuvabá a noticia de aue tínheis accordado com a firma Ferreira & Gonçalves aquella construcção e a ordem de ir até Diamantino firmar o respectivo contracto. Do Diamantino fui até o Sumidouro com o Coronel José Pedro Gon- çalves mostrar-lhe os serviços que deveriam ser feitos e tomar dados necessários para projectos da ponte sobre aquelle rio. Começava, porém, com rigor, a estação das chuvas e áquella firma não convinha assignar o contracto sinão depois das aguas ; mais tarde, tendo se dissolvido a sociedade daquelles Srs., ficou sem effeito a promessa daquella construcção. Diversas vezes já tinha sido tentado construir-se aquelle estivado, indispensável para a boa conservação da linha, mas, ora por ser occasião das chuvas, ora por falta de recursos, foi isso sendo sempre também adiado. As construcções por emprei- tada são sempre mais dispendiosas que as adminis- trativas, uma vez que estas sejam administradas com escrúpulo e interesse de economia, como é praxe na Commissão de Linhas Telegraphicas ; a occasião era favorável pela baixa da borracha, que tinha dei- xado muitos trabalhadores desoccupados. Resolvi, então, mandar o inspector Celestino Rodrigo de Moraes construir aquelle estivado não, porém, como sempre fora tentado, isto é, collocando-se o madei- ramento directamente no solo, e sim fazendo-o elevado. Dei-lhe minuciosas instruccões verbaes e 10 por escripto. A collocação do madeiramento directa- mente no solo tornar-se-ia penosíssima, acarretaria grande despesa pelo preparo do terreno muito acci- dentado e, provavelmente, não permittiria terminar g serviço, não só por já ser principio das chuvas, como pelas moléstias que não tardariam a apparecer com a permanência dos trabalhadores nos brejos. O estivado deverá ficar elevado um metro, approxi- madamente, e repousar sobre vigas que se apoiam sobre esteios distantes de 2 em 2 metros, todos amarrados, e, de 2 em 2, escorados de ambos os lados. Por essa forma mesmo com a inundação do rio os trabalhos poderão proseguir. Na data deste já está iniciada essa construcção. O primeiro trecho desta secção estava a cargo do guarda diarista João Vicente, que, por diversos motivos, esteve afastado delle até Janeiro do corrente anno, pelo que sua conservação muito soffreu. As percorridas neste e no 2.0 trecho da i.a secção não podiam ser rigorosamente fiscalizadas, pela impossibilidade dos guardas atravessarem o brejo do Sumidouro. Em uma viagem de inspecção, que fiz em Abril, verifiquei que o guarda João Vicente não percorria todo o seu trecho, pois encontrei a linha fora dos isoladores em 3 pontos seguidos, além de notar falta de isoladores em vários postes e a falta da limpeza regularmentar por baixo do fio. Reprehendi e multei esse guarda em 15 dias, tornando publico, por circular, essa punição e mandei que elle desse immediatamente começo á limpeza da picada e substituísse os isoladores e postes que exigem essa providencia. 11 A casa da estação de Parecis foi reconstruída tendo sido consolidados seus alicerces e pavimen- tada a ladrilhos. As casas dos guardas carecem de reconstruccão total. A da E. Ponte de Pedra, comquanto de cons- trucção recente, também carece de concertos. Pre- cisa ser de novo rebocada, ao menos nas paredes externas, e elevado o ponto do telhado. A casa para o encarregado da secção está ainda em construcção, tendo eu dispensado o carpinteiro que lá estava para conseguir outro mais activo e por menor salário. A segunda secção esteve a cargo do inspector AJario de Mattos Topin que, adoecendo, foi substi- tuído em Outubro pelo inspector Salathiel Cândido de Moraes Castro. Esta secção também foi limpa em toda extensão, tendo, como na i.a, sido aceirados todos os postes. Reconstruiram-se os estivados dos Rios Sacre, Papagaio e Burity. Construiram-se diversas casas para os indios, destocou-se a estrada para automóveis em diversos pontos. Em Utiarity foram construídas 4 boas casas ; em uma destas foi hospedado o Coronel Roosevelt, e para ella, posteriormente, transferida a Estação Telegraphica. No córrego 13 de Maio foram construídos 2 ranchos, 1 de 6m x \m e 4m,6o de altura, outro de 8m x 6m. No rio Sangue também foi construído um pequeno rancho na margem esquerda. Mandei cons- 12 truir um bom rancho na cabeceira dos Macacos que serviria não só porá abrigo dos guardas, como de deposito de gazolina para automóveis mas como seria de madeiramento de lei e coberto a zinco trans- portado de Aldeia Queimada ou Tapirapoan, ainda não foi iniciada a construcção. Eu tencionava empregar os automóveis na distribuição de postes e transportes em toda essa secção, fazendo-os, da Cabeceira dos Macacos seguirem pela Linha até a cabeceira da Ferrugem e depois procurarem a cabe- ceira do Carandazinho, onde, tomando uma estrada carroçavel que se abrira em 1909, procurariam de novo a Linha Telegraphica. Com esse recurso seria fácil a construcção definitiva dos estivados de Carandazinho e Chiquinho. Para que os automóveis pudessem chegar ao rio Sangue, era necessário consolidar os estivados e pontes do Membeca e do córrego 13 de Maio. Todo o serviço neste Córrego foi concluido, ficando o esti- vado com 465 metros de comprimento, tendo sido empregados 54 esteios lavrados para segurança dos taludes das sarjetas de im,5o por om,5o de profun- didade e na extensão de 300 metros. Ahi foram construidos 2 pontilhões, um com 30 metros e outro com 15 metros de vão por 3m,5o de largura. Ficando tudo de accordo com o pre-estabelecido. Esse esti- vado e pontilhões foram construidos por baixo do fio, sendo abandonado, assim, o lugar do antigo, que, como sabeis, era por um pequeno desvio. Esses serviços, bem como os demais que vou citar, foram dirigidos pelo inspector Salathiel, que mais uma vez confirmou o juizo que delle fazeis como auxiliar — trabalhador, enérgico e competente. No Ribeirão 13 Membeca foi construído um bom curral de 20 x 15 metros e grande cercado com porteiras. No córrego Esperança foi construido também uma solida ponte e estivado. A ponte do rio Cravary teve o taboado substituído. Substituiram-se 98 isoladores, além de muitos postes, cujo numero não posso precisar. No rio Sacre foram mudados a ponte de embarque, o arame e as carretilhas da balsa. As balsas dos rios Papagaio e Burity soffreram concertos. Esta secção foi muito sobrecarregada de ser- viços extraordinários pela passagem da Expedição Roosevelt-Rondon, pelo serviço de transporte e construcção de canoas, já para aquella expedição, já para substituir as das balsas do juruena, do Juhina e do Formiga. A estação de Utiarity foi o centro em que se reuniram as tropas, bois, carretas, géneros e material enviados de Cuyabá para a Expedição Roosevelt- Rondon. Nos rios Sacre e Utiaritv foram abertas grandes áreas, que permittem admirar, facilmente, a gran- diosa belleza dos Saltos Bello e Utiarity. Sobre a direcção do inspector Celestino, foram construídas em Utiarity 6 canoas e um grande batelão, com capacidade para 400 arrobas, todos para a Expedição Roosevelt-Rondon. O batelão era de arapíitanga, tendo im,5o de bocca e 5m,/0 entre os bancos de proa e popa ; 5 das canoas eram de cajueiro, com a capacidade, cada uma, de 40 a 70 arrobas ; outra canoa que serviria para explorações na vanguarda, era de fiuva do brejo. Para o mesmo 14 fim, foram construídas no rio Arinos 5 canoas de cajueiro e jequitibá, sendo estas com capacidade de 30 a 70 arrobas. Na margem esquerda do rio Papagaio, foi aberta uma estrada de cerca de 4 km., para attingir o ponto em que devia ser feito o embarque da turma que descesse aquelle Rio. Das canoas construídas para a Expedição Roosevelt-Rondon, 2 foram transportadas para o rio Formiga, afim de ser armada uma balsa, em lugar da que se havia perdido alli. Dispenso-me de chamar vossa attenção para esse difricil serviço de transporte na grande extensão de 122 km., feito pelo pessoal da secção, que, além da sobrecarga dos serviços extraordinários citados, contruio ainda a ponte e estivado do rio Sauêuiná, na 3.a secção. A casa de estação de Barão de Capanema está em más condições. Construída em Janeiro de 1909. a titulo provi- sório, tem servido até hoje. Seu madeiramento está perfeito ainda, mas a cobetura está em péssimo estado. Não consegui recobril-a. Mantive como encarregado desse serviço o inspector Celestino, que a principio esteve tirando postes no rio Sangue e depois foi mandado construir canoas para a Expe- dição Roosevelt-Rondon, em Utiarity e no rio da Duvida. Recentemente encarreguei o inspector Sala- thiel dessa reconstrucção, dando-lhe instrucções verbaes e a planta da nova casa. Ella deverá ser coberta com folhas de zinco, ficando o soalho elevado om,6o do solo ; terá 2 salas, 15 um quarto, uma varanda e um amplo corredor, que servirá de sala para a apresentação e redacção dos despachos particulares e uma cozinha. Depois de construida a estação, far-se-á a casa para os guardas. Recommendei também que fosse atacada logo a reconstrucção dos estivados de Carandazinho e Chiquinho. Esta secção, bem como a i.a, conti- nuaram sendo conservadas por turmas de índios P areeis. A terceira secção soffreu muito com a insta- bilidade de seus encarregados. Primeiramente, esteve á sua frente o guarda fio Joaquim Sol, que, adoecendo gravemente, retirou-se, licenciado, para Cuyabá, onde veio a fallecer de beri-beri. Substi- tui-o pelo guarda diarista Rosa, que também adoecendo, retirou-se para Cuyabá. onde pediu demissão. Em Novembro o tenente Marinho assumio a chefiia da secção, de onde retirou-se grave- mente enfermo, vindo a fallecer em caminho para S. Luiz de Cáceres, sendo, então, substituído pelos sargentos Lyra e Torraca. Nesta secção também a picada foi roçada em toda sua extensão e os postes aceirados, sendo substituidos 14 destes e 91 isoladores. Foram feitos concertos nas pontes do Roceiro, Dois Veados, Dois Macucos, Mutum, Primavera, Contra Ordem, Camararézinho e Camararé, e nos estivados do Córrego Aldeia, Dois Macucos, Primavera, e dos Rios Juruena, Camararé, Juhina e Formiga. Para facilitar o trafego na rampa do córrego de Aldeia, foi feita uma exeavacão na extensão de 20 metros. 16 Construiram-se 2 ranchos no Juruena, e outros no Junina e no Formiga, uma balsa no Formiga e uma no Junina ; foram feitos concertos nas balsas do Juruena e do Juhina, e na ponte de embarque e desembarque do primeiro desses rios. O deposito, a estação e a casa do Estado Maior, de Juruena, foram recobertos. Na margem do rio Juruena foi aberto um caminho de 700 metros, por 8 de largura. Foram mudados para a margem direita do Juruena a estação telegraphica e o deposito. As casas que foram construídas para esses fins têm : a primeira 1 1 metros por 6 de largura e é dividida em 2 salas ; a segunda é de 7 metros por 4 metros. Conti- nuam as construcções para a mudança do pessoal do destacamento, guardas e inspector. A quarta secção estava a cargo do guarda José Pedroso e a quinta teve diversos encarregados, como se vê pela relação de alterações do pessoal de conservação, annexa a este. A picada foi roçada em toda extensão destas secções. Foram reconstruídas 4. pontes, sendo uma sobre o rio 12 de Outubro, 2 pontilhões e 6 estivados e substituiram-se 19 isoladores. Construio-se um rancho no córrego do Espirro. Sob a direcção do guarda Pedroso, foram construídas, no rio Ananaz, 2 canoas, uma com 40 palmos de comprimento e outra com 35, por 2 1/2 de bocca. As áreas em que estão as estações tele- graphicas foram todas roçadas. 17 Todas as secções e destacamentos fizeram roça. Na Primeira Secção foram feitas 1 1 pelos indios Parecis sendo a maior no Rio do Sangue com 400 braças em quadra. E' necessário tratar-se da medição de núcleos de Ponte de Pedra, aproveitando-se as mattas do córrego de Flor ou Corre Agua, pois, actualmente, esse núcleo ainda não tem terras próprias e as que circumvizinham a estação não se prestam á plantação por serem arenosas e sem matta. Os indios têm feito roças naquelle córrego, mas em terras de Orlando, Irmãos & C, que têm procurado impedir as derru- badas, pretextando prejuizo de seus seringaes. As terras da margem esquerda do rio Sangue já estão vendidas, convindo á commissão adquirir as da margem direita, para alli construir roças grandes que abasteçam a Primeira Secção. Na Segunda Secção foram empregados 60 rolos de arame farpado para cerca de roças, e foram feitas duas em Utiarity, uma com 45.000™' e outra com 589.00o"1" além de outras menores no Sacre, Buritv e Tomba Boi. Foram ainda feitas algumas roças na Estação de Nhambiquaras, no Espirro e Commemoracão. Os núcleos dos indigenas de Ponte de Pedra e Utiarity, estão em prosperas condições. Ultima- mente têm sido feitos esforços por parte do telegra- phista Laurentino A. de Sant'Anna, encarregado do primeiro afim de que os Parecis localizados no rio Preguiça se mudem para aquelle núcleo. A deficiência de verba não aconselhava empre- 18 garem-se grandes esforços para maiores concentra- ções de indios nesses núcleos, antes de estarem preparadas grandes roças que garantissem aprovi- sionamento sem muita despesa. Os telegraphistas, que accumulam as funcções de encarregados de núcleos e professores de meninos, têm se esforçado com verdadeiro interesse para bem continuar a merecer vossa confiança. Têm sido escolhidos para esses lugares os telegraphistas casados, ficando suas esposas encarregadas das meninas. Em Ponte de Pedra continuou o telegraphista Laurentino com sua familia. Foi nomeado para Utiarity o telegraphista Saturnino de Arruda Lobo que, em Novembro, tomou posse da estação e reabriu as aulas para os meninos. Em Dezembro sua esposa deu a primeira aula para meninas e, em Janeiro, a esposa do tele- graphista Laurentino inaugurou também a escola para o sexo feminino em Ponte de Pedra. A's meninas é administrada instrucção primaria e o ensino de costura, crochet, etc. Para a inauguração das escolas para meninas encontrei boa vontade por parte do Major Libanio Koloizorocê, capitão do núcleo daquelle lugar, e de todos os demais Parecis. Em Ponte de Pedra, porém, o respectivo capitão Fanché, oppoz-se muito, tendo, finalmente, cedido, mas não com muita vontade, a principio. As aulas funccionaram com boa frequência e muito aproveitamento. Em Utiarity estão matriculados 17 meninos e 6 meninas e em Ponte de Pedra 15 meninos e 4 meninas. 19 A difficuladade em conseguir pessoal idóneo para servir nas estações e secções é devido mais ao terror que causa o sertão, que, propriamente, ás privações que elle acarreta. Muitas vezes depois de vencido o próprio receio em trocar a vida da cidade pela da solidão, em que se verá cercado de hypotheticos indios bravos e animaes ferozes, o candidato a emprego na Com- missão desiste do seu intento, pelos conselhos de amigos que, em geral, desconhecem inteiramente toda a região, além dos limites da capital do Estado. Esses conselheiros criam então a perspectiva de massacres, de fome pavorosa, de moléstias morti- feras e, ainda, a impossibilidade da retirada para lugar povoado, em caso de necessidade. Um telegraphista depois de nomeado e de ter recebido adiantamento de vencimentos para a viagem, principiou a encontrar motivos que justi- ficassem seu arrependimento, sendo finalmente dispensado. Outro, transferido do Rio Grande do Sul, também chegando a Cuyabá pedio demissão. Tor- nou-se necessário aproveitar, então, a disposição dos que se apresentassem mesmo sem as precisas habi- litações. Admitti, assim, os Snrs. Alfredo Ildeburque Carneiro Leal, Luiz Ortiz d'' Ávila e António Fran- cisco de Oliveira, que aprenderam as noções indis- pensáveis e praticaram telegraphia na Estação de Vilhena, a principio com o telegraphista A. Souza Lima, e depois, com o telegraphista Sólon Cunha, que por sua vez havia praticado na própria Com- missão. São dignos de elogio estes dois auxiliares 20 que muito se interessaram pelo bom andamento dos serviços e se dedicaram ao ensino d'aquelles seus companheiros. O Sr. Carneiro Leal está encarre- gado da estação de Juruena, o Sr. Ortiz de Barão de Capanema e o Sr. Oliveira de Nhambiquaras. Além desses telegraphistas, que, aliás, tiveram muito pouco tempo de aprendizagem, admitti o Sr. Francisco Celestino de Sant'Anna que, tendo habi- litações de telegraphista, estava, comtudo, ha muito afastado de tal serviço, empregado como tocador de tropa da casa Orlando. Com pessoal bisonho, como vedes, sem pratica sufficiente, não era possivel exigir-se um serviço irreprehensivel. Entretanto, o serviço normal foi sempre feito regularmente. Já o mesmo não se dava quando chegavam do acampa- mento os portadores, conduzindo grande remessa de avisos. As estações tinham falta de material e sobretudo de sulfato de cobre o que impedia fazer-se o serviço directamente com Cuyabá ou com uma translação apenas, em Vilhena ; hoje, porém, esse material está distribuído. Eu pretendia construir pontes pensis nos rios Sangue, Burity e Formiga, mas não tive occasião, como se tornava preciso, de ir áquelles Rios para os indispensáveis estudos. Penso, porém, que taes construcções são necessárias e de grande vantagem para a conservação da Linha. Fazendo-as para passagem apenas de tropas, cavalleiros ou pedestre ellas ficariam muito económicas e de fácil cons- trucção. O fornecimento de géneros para o districto de conservação fez-se regularmente. A casa Orlando entrega em Parecis e Ponte de Pedra o fornecimento 21 da i.a, 2.a e 3.a secções, sendo os destas duas trans- portados para as estações de Barão de Capanema, Utiarity e Juruena. Aproveitando a conducção para as praças que seguiram de Cáceres para Juruena, fiz também um pedido de géneros a casa Dulce, pois, além de serem os preços dessa casa mais baixos que as da casa Orlando, tínhamos mais facilidade no seu trans- porte até Utiarity. Interessei-me pelo abatimento nos preços pelos quaes a casa Orlando fornecia os géneros para a Commissão, tendo conseguido uma reduccão em todos elles, conforme vos communiquei em occasião opportuna. E' de notar que o kerozene, que era pago á razão de 45 $000 á lata, passou a custar 2 2 $000. Só nas facturas para o fornecimento de um trimestre para as 2.a e 3.a secções a economia foi de 1 içoolooo. A todos os meus auxiliares sou grato pela boa vontade e esforços que empregaram em prol dos serviços que lhes estavam affectos. Entre estes é porém de justiça salientar o inspector Salathiel Cândido de Moraes Castro, incansável trabalhador e muito capaz, o telegraphista Germano José da Silva, fiscal do trafego telegra- phico, os telegraphistas Sólon Cunha, Laurentino e Lobo, o guarda José Pedroso e o inspector Celestino, que prestou óptimo auxilio na construcção das canoas e pela boa vontade e enthusiasmo com que acolheu minhas ordens de construir o estivado do Sumidouro. 22 Em Maio percorri toda a secção de transporte de Tapirapoan a Aldeia Queimada, tendo tomado providencias para se ultimar a construcção de todo o material, que ainda lá existia, para Utiarity, o que nesta data está terminado. A cooperação intelligente e muito efficaz do sargento ajudante Álvaro de Moraes, encarregado desse serviço, muito concorreu para esse fim. Devo também communicar aue encontrei sempre por parte da casa Orlando a melhor boa vontade em attender os diversos pedidos que tive de lhe fazer e, especialmente, para transacções de movimento de fundos do Rio para Cuyabá, bem como de Cuyabá para Cáceres, ou Corumbá, sem exigir pagamento de commissões. O estado sanitário, se não foi bom, também não póde-se classificar de máo. Bastava, ás vezes, a transferencia de estação para os doentes se resta- belecerem, como aconteceu com os telegraphistas Sólon, Ortiz e António Francisco. Infelizmente temos a lamentar a morte de alguns companheiros. O guarda Joaquim Sol, durante a expedição do Rio Ikê, apanhou forte impaludismo de que não se tratou convenientemente e, indo para Juruena, appareceu-lhe também o beri-beri. Retirou-se imme- diatamente para Cuyabá, onde, quando maiores 23 pareciam ser as suas melhoras, soffreu uma recahida que o victimou. O tenente Marino de Mesquita também foi victima de beri-beri, adquirido em Juruena. Logo que tive noticia de seu estado facilitei-lhe a retirada dando-lhe conducção immediata. Elle, porém, demo- rou-se ainda naquella estação e quando chegou a Utiarity, onde já o esperava um automóvel para seu rápido transporte a Tapirapoan, não podia mais andar, tendo sido transportado a braços. De Aldeia Queimada foi elle conduzido em rede até Tapira- poan, para onde também eu já havia mandado uma lancha esperal-o. Falleceu em viagem, antes de chegar a Cáceres. Outro victimado foi o telegraphista José Martins d'Assis, que, estando em Barão de Melgaço quando enfermou, foi immediatamente licenciado para que se tratasse e teve facilitada a necessária conducção ; ao chegar, porém, a José Bonifácio sentio-se bem e pedio-me para ficar alli, no que accedi. Verifiquei, porém, depois que continuava doente e ordenei-lhe, então, que se retirasse para Cuyabá, mas já era tarde. O telegraphista Júlio de Carvalho foi victima de um accidente em Ponte de Pedra. Estava elle de pouso nessa estação, de viagem para a estação de Pimenta Bueno ; á noite armou a rede em um moirão existente no deposito da secção, onde também armara a sua o inspector Américo Leite. Mais tarde o moirão partio-se e, cahindo, dcu-lhe forte pancada no craneo, causando-lhe a morte. 24 junto a este a relação das alterações occorridas eom o pessoal da conservação e o quadro estatístico das estações. A renda arrecadada pelas estações da Com- missão em 191 3 foi de 2 :2i6$6oo e em 1914, até Setembro, foi de 2 1457 $985, importâncias essas que foram recolhidas ao i.° Districto telegraphico com sede em Cuyabá. Rosário, 22 de Outubro de 1914. Júlio Caetano Horta Barbosa. J