qa mm pen E am mm ” a pira) Ih 4 Hu 4 E = - CET Ex EI Ee: es nsR ue 4 md ms e coa dora Toa ; Celt e niole ss 2040 ge as seta fla to IRA RA broa e mi ça ú Rita q e Ir RR q q a EN - E o ai = o E e 44 7 H L ) : ah H War Dovietadado rogrereagatas” ; apo popa po poupe bodas Apiai Pita emana ar ARA ARENA CIR ih il NH) LIDE ATI Lea Ape S A PAST d a iodo RP ee Rae ag GARRA DST sto Ledo [ota boato a fá à 1 : 4 or, Eos HANNA o Mu nt a bd 4 Bana pa a e a su w ambi res - HE t em Eat dA b Bh o j N! E ielote ent 4 j aperta H ed Rara ato Hc nidiiaa cat pe MPT retro RO dg id hr rc! od da ? iu ç atetatiisioç 1 1a satA sa rsráeie sto ie SAIA SI AAS nrstip a teto teca de mana bi Frtese TR ri geme PIA AAA ii Fróes bebé Diria 2 se , =E1+ TT $: 78 ES SRA pipe pre Pa ax EV + FEET: - PetrsoPogo stobpt-isieto citados Sta Be Cisate tiro) Ra ES esseees: Feleceleteio RSRS re Vaturaes e Sociaes Rena DIRECTORES — WENCESLAU DE LIMA Director da Eschola Medico-Cirurgica do Porto ARDO SEVERO — ROCHA PEIXOTO da Academia Polytechnica E voromE PORTO “TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL 8o, Rua da Fabrica, 80 1896 = E Enpenheiro ul a — Naturalista adjunto ao Gabinete de Geologia ENA CA É My LE CU o Pd fo ) 1%, TA B) Es to E b4| Ro ' j 7) pr id | q A Pd da RD Nm aid A e ] y ç VA f A A 4, / h Nus “e ia m”, A “ y lp b Me A h tre y MU dos “ ] [a E) ; A RÃ 7 pi % PARE , MR va E E a É, RO inpdicr MEMORIAS ORIGINAES ES ARCHEOLOGIA Pag. “FIGUEIREDO DA GUERRA — À estatua callaica de 7 RE DO Vianna! 192 € 194 MARTINS SARMENTO. isto pára, a irchedlogia : A proposito das estatuas callaicas . . .. 181 = A estatua do pateo da morte . . . Ei 189 € I9L SANTOS ROCHA.—A arte nas estações Mic dos E concelhos da Figueira. cri A 1 E she Necropole prehistorica da Campina nas visi- E nuAncas de Parg eus e e 57 — —>— A necropole prótohistorica da Fonte Velba, em ER Bensafrim; concelho de Lagos Mui. 145 “O rito da inhumação nos dolmens da Serra do Esbo Mondesor cu q en ; 179 ETHNOGRAPHIA ADOLPHO COELHO. e fradiiões Ran portugue- zas. À caprificação . .. UPAS no 113 CRYSTALLOGRAPHIA “ALFREDO BENSAUDE., —Alzuns topicos de uma theo- rta das anomalias opticas dos crystaes . .. ma ; ZOOLOGIA PAULINO DE OLIVEIRA — Eastonia Locardi, ». sp. . 38. oraistrcio de Viana. coca o 23-39 € 146. MRaea O VE 1 LE SE e Sr a Ene tro: sU | Rd fo Dé Nat era "a RE , E > % e k Se Aid Ea pi E x Nora AU pop És e am É q e o y tá Ee ” Ria e ç e ; ps e a 1 á Li o e py Er VI ME is x ) eim Lars REA Um p 7 g A à ; : di? da Tr RR ; VE q POL e pa , Í i 4 K f v : BOTANICA GONÇALO SAMPAIO. — Estudos de flora ESA Vas- cularessdo PORLos oe Co dO e o quan En 150 e di an PDA canada : MELLO DE MATTOS. — Questões aquicolas. . . . | q0e PAUL CHOFFAT. — Nouvelles études. sur la géologie du bassin du Congo. RES Sana SRA SANTOS ROCHA, — Notas archeologicas, BIBLIOGRAPHIA A E D. LUIZ DE CASTRO.— Productos agricolas das colo- ns mas portuguezas (Bibliotheca do Portugal eAgricola). de Rocha Peixoto. . . . . «4 ROCHA PEIXOTO. — O archeologo portuguez. . — — Promenade au Gerez. Souvenirs or su one, de Paul Chotiat ds Ss o RR E = E d'oeil sur la géolosie de ja oane RASA d'eAngola, de Paul Choffat Eis na a = Opostobranches du Por a de Baulihio dei É Olimemras : É e qro a o derpetolow ne. don idolo É du Ear de Bar- bozaidã Bocase pm sa -—— “Révision de la faune malacologique des íles de St. Thomé et du Prince, de Albert Girard . ——— | Deéscription de deux Enea nouveaux de Vile as E Fernando Po, de Albert Girard , 2 (Rs HE | ——— — Mémoire sur un poisson des grands profondeurs . de VeAtlantique, Le Saccopharynx ampullaceus Ri et observations sur o a de a | Albert Gard) ne = Segundo appendice no | Catalogo Ro peixes a Bo de Felix Capello, de Balthasar Oso- SÃO Nac q ifie A ma RD e, À PEIXOTO, - ge prehistoricas do. o da Pigueira, de Santos Rocha. .. - Note : sur Vexistence d'anciens glaciers dans Es ela vallêe du Mondego, de Nery Delgado . . a Note sur les tufs de Condeixa et la découverte de Chybpopotame. en Portugal, de Paul Choffat “Congresso vwilicola nacional de 1895. Relato- rio geral da Real Associação central da agr “cultura portugueza sata RA Papo a Z Reptis e amphabios da eis as aberica e es. pecialmente de Portugal, de M. CEO de x” . 1d o . prof Spas rdias POR . Dj . o S. Meunicr sa NOTICIAS Ê EIXOTO — Ostreicultura E p A pesca. a vapor . PERA a q o — O museu municipal da Figueira Ea ee o museu do Tastituto de Coimbra .. ; Um laboratorio maritimo nos Açores OS MORTOS — Marquez de Saporta .. “Possidonio da Silva . e she . . y o kt ME) , o A o E N O n/ PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL mr || DIRECTORES > WENCESLAU DE LIMA Director da Eschola Medico-Cirurgica do Porto. ERICARDO SEVERO: 0 ROCHA PEIXOTO : Eaventicito civil per Naturalista adjuncto ao Gabinete de Geologia a Ret ud os ua da Academia Polytechnica Volume quarto — N.º 13 | ú E (11 SERIE N.º 5) | mu, b PORTO TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL a 8o, Rua da Fabrica, 80 1895 Eastonia Locardi, n - spo ao M. Paulino d ( ai Mello de Mattos . Ra Notas archeologicas, por Santos Rocha. Revistas. o Archeolo go Portuguea, por R. Pp. a DE A ARTE ESTAÇÕES NEOLITHICAS DO CONCELHO DA FIGUEIRA E =x |xisTIU à arte na epocha neolithica? O snr. Mortillet 3 nega-o formalmente. Todavia, na sua obra Le Préhistorigue, trata largamente da architectura dolmenica, e men- | ciona na epocha neolithica muitas variedades de pontas de * serta e de dardo, algumas que elle proprio considera muito — bellas, os punhaes de silex da Scandinavia, que reputa ver- * | dadeiras obras primas, muitas e bellas louças ornamentadas, variados adornos do corpo e àté a representação de hachas — e do pé humano; e tudo isto é do dominio da arte, no rigo- - Toso sentido da palavra. De facto, as pontas, os punhaes e outros instrumentos e utensilios seriam egualmente uteis e — apropriados aos seus fins sem a pureza de trabalho e cle- . | gancia das fórmas que n'elles nota o illustre paleoethnologo : “as louças não careciam de ornamentação, nem o corpo hu- | mano de collares e de braceletes. O rude fabricante procu- * ou n'elles mais alguma cousa do que a utilidade : procurou A 7) Vais | O bello, tal como podia então comprehendel-o e executal-o. VOL. IV 1 “a Nes = 2 REVISTA DE SCIENCIAS : «L'art, dizem Elie Pecaut e Ch. Baude, c'est tout ce que ne sert à rien qu'ã être gracieux, ou beau, ou admira- E ble. C'est ce que lhomme fait de beau, uniquement pour le plaisir de faire une belle chose». Ora o bello não existe só. na imitação e interpretação da natureza. Póde contestar-se a belleza do Pateo dos Leões ou da Sala dos Abencerragens . da Alhambra de Granada? Cremos que não; e comtudo alli' a linha geometrica rege toda a construcção e toda a decora- ção! Todos reconhecem que existiu uma arte arabe, exal- tada com justa razão pelo insigne Le Bon: e todavia o pe- riodo mais brilhante d'essa arte foi quando a linha geome- trica predominou nas suas obras. o Para nós os simples dentes de lobo ou linha em zigue- zague e as linhas em xadrez ou losango, que se encontram a nas louças e nas placas de suspensão neolithicas, sendo mo- a tivos de decoração, pertencem tanto ao dominio da arte | como as imitações da flora e da fauna nas obras do antigo Egypto. Esses ornatos, embora singelos e grosseiros, encon-. tram-se até nas obras d'arte phenicias; e os que estudam esta arte não hesitam em comprehendel-os na esphera das artes decorativas, como expressão d'um sentimento esthe-. tico. Na introducção da monumental obra Histoire de Part dans Vantiquité, de Perrot e Chipier, ao passo que se nega sentimento artístico nas obras do homem primitivo, fallan-. do-se da esculptura das cavernas, diz-se: — « En eflet, si la. Vhomme décore de figures d'animaux le manche de ses ou- - tils et ces objets que on a nommés, un peu au hasard, des. bâtons de commandement, ce n'est pas par necessité, Dins-. trument ne devenant pas plus efficace et plus commode par le fait de cette ornamentation ; cest pour se donner un plai- sir et un luxe...» Ora se este prazer e este luxo, que nada accrescentam á utilidade do objecto, fazem entrar as repre- sentações da natureza viva na esphera da arte, não podem excluir dºesta as decorações de phantasia. E” o que aquel- ENA a p- f E y Dra po PRE PR RO SGA ES NATURAES E SOCIAES 3 E O ss “Jes auctores na verdade reconhecem, quando dizem: «Vers la fin de ce que "on appelle /'á âge préhistorique, le got de Vornement est fort développé; mais cet ornement appartient tout entier à ce que [on appelle la décoraiion géométrique. Le rêgne végétal lui-même n'a fourni presque aucun motif. —* Comme Veffort tenté par lhabitant des cavernes pour co- — pier les formes animées, cette décoration prouve, elle aussi, que ceux qui Pont imaginée et qui en ont fait souvent un heureux emploi ne se contentaient pas de I'utile, mais qu'a — “leur maniére et dans la mesure de leurs forces ils cherchaient E “Je beau. Un secret instinct les travaillait et leur inspirait le — élégance, Crest encore Vart qui commence, ou plutôt qui | recommence; mais, cette fois, pour ne plus se perdre et s'in- — terrompre, pour durer et se relier aux développements fu- turs. Les procédés et le style de la décoration géométrique presistent dans toute [Europe centrale, jusqu'au temps oú d abord les relations commerciales entretenues avec la Grêce et PEtrurie, puis plus tard la conquête romaine, feront par- “tout pénétrer et prévaloir les méthodes et le got de Part “classique». | — Mas que a plastica não é estranha á arte neolithica pro- vam-n'o as imitações das hachas, como nas fig.“ 442.º e 580.2 do Musée “Préhistorique dos srs. Mortillet, e as representações de pé humano e de outros objectos da natureza descobertos até ao presente. O sr. Cartailhac, que na sua obra sobre a prehistoria da Hespanha e de Portugal affirma que a arte na epocha neolithica não reproduz a natureza viva, desviando- se assim da these absoluta do sr. Mortillet, é o proprio que nos fornece dados em contrario do seu asserto, Referindo-se á ceramica encontrada na Cueva de la Mujer (Hespanha), cita um fragmento desenhado por Mac-Pherson, cuja orna- “mentação descreve n'estes termos: — «au-dessus d'une bande “de pointillé, il offre un dessin assez analogue aux représen- tations du soleil de Vimagerie populaire; des rayons circons- EN te désir de donner aux objets dont ils se servaient une certaine E e 4 REVISTA DE SCIENCIAS crivent un cercle dans lequel sont trois points en triangle, le tout rapellant, avec beaucoup de bonne volonté, une figure humaine. Ce qui rendrait cette hypothese vraisemblable, c'est que les veux sont incrustés d'une paillette de mica». Mais adiante representa uma pedra esculpida em fórma de hacha encabada, existente no Museu de Lyon, que contem uma figura humana, e outra do Museu da Universidade de Coimbra que contem uma figura de animal, assim como um vaso de barro tambem com a configuração d'um ana proveniente da caverna de Carvalhal. Duvida-se que estas tres ultimas pecas sejam da epocha neolithica? Pois bem: aqui temos outras. No Musée Pré- historique dos srs. Mortillet a fig. 521.º reproduz uma ca- beca de móca, feita de pedra, verdadeiramente neolithica, que representa n'uma extremidade a cabeca d'um animal; a fig. 581.º duas gravuras da planta do pé humano, feitas no supporte d'um megalitho; e a fig. 580.º tres gravuras que manifestamente representam serpentes, encontradas em ou- tro megalitho. Que diremos então d'essas celebres esculpturas em re- levo nas paredes Jalgumas grutas da Marne, em que os sabios teem visto não só a figura humana, mas o sexo fe- minino e até uma divindade?! O sr. barão de Baye, na sua obra L'Archéologie Prehistorique, descreve uma dºellas por estas palavras: «Le nez est Porgane le plus énergiquement accusé, sans proportion avec le reste de la figure, ébauchée de la façon la plus naíve. Au bas de la figure et comme pour en déterminer le contour, ou voit un collier; la partie mé- diane se compose d'un grain d'une grande dimension, jouant en quelque sorte le rôle d'un médaillon. Sur la partie cen- trale du sujet, une hache emmanchée est représentée en relief». | D'outra diz o seguinte: «La tête est circonscrite par une courbe considérable dessinant la région frontale et les deux cotés de la face. Le nez, dont la proéminance est frap- NATURAES E SOCIAES 5 DD Pimmemesarção mini praça leio srrsenosni rural pra q 1 ami pante, joue un rôle démesurément exageré dans cette figure; la glabelle n'a pas été indiquée. Il prend sa naissance au centre de la ligne courbe qui donne les contours du front et des arcades sourcilliêres, puis il descend à une petite distance du coller qui décrit la figure dans sa partie inférieure. De chaque côté, à la partie supérieure du nez, les yeux sont fi- gurés par deux points noirs fort réduits et mal proportionnés avec la grandeur de la figure. Ils ont été formés par Pintro- duction d'un corps noir dans deux trous pratiqués dans la “craie». Em seguida descreve o collar'e os dois seios que es- - tão representados n'esta figura. “Mais duas d'estas esculpturas, embora menos comple- tas, existem nas referidas grutas; e auctoridades como Broca e Bellucci não duvidam considerar tres d'ellas como repre- sentações d'uma divindade feminina, o que da em resultado a existencia d'uma arte religiosa. Semelhante á mais rudimentar d'essas esculpturas cita o sr. de Baye outra do megalitho do bosque de Bellehaye, descoberta por M. Brongniart, e muito semelhante a uma das mais completas; é a do megalitho de Collorgues, proximo de Uzés (Gard), descripta e representada pelo mesmo escri- ptor, que conclue por estas palavras: «Cette évidente ana- logie entre deux sujets provenant de localités si éloignées est éminemment digne de remarque. Au point de vue de Part, 1] existe une commune Inspiration. Les deux représentations visaient un même but, eles avaient une pareille destination. Elles indiquent une origine identique, un rapport réligieux, ou, au moins, une fréquentation certaine». Mas ha ainda outra mais recentemente descoberta no megalitho do bosque do castello da tyarenne, a dois kilome- tros d'Épône (Seine-et-Oise), de que o sr. Cartailhac deu no- ticia em 1894 á Academia das Inscripções e Bellas Letras de Paris. A Revue encyclopédigue (4.º anno, n.º 92, pag. 307), que relata este importante acontecimento, dá as indicações seguintes : — «la représentation d'une figure humaine réduite 5) REVISTA DE SCIENCIAS ORESTES a ERA a : Shea À Es: à sa plus simples expression, mais absolument reconnaissa- ble avec le front, le nez, le contour du visage, puis, un col- lier à trois rangs de grosses perles, et au-dessous, des seins | petits, rapprochés et saillants. Nous avons donc lã un nou- vel exemple de ces images que Ion considére comme repre. sentant des divinités féminines, signalées, il y a vingt ans, par M. de Baye, dans les grottes artificielles de la Marne». Sem sahir da obra do snr. de Baye não faltam exempla- res em favor da nossa these. Lembraremos apenas uma her- muainette, que elle cita como existente no museu de Stockolmo, feita de chifre de veado, que apresenta uma figura com as fórmas nitidas d'este animal. | De resto, o illustre explorador do Marne não ue sÓ as referidas esculpturas de divindades e as das hachas no dominio da arte: tambem as obras aprimoradas de muitas pecas do mobiliario neolithico. Referindo-se, por exemplo, ás pontas de setta, diz: «L'ouvrier y affirme un art HeSR testable et une grande habilité ». As explorações archeologicas em Portugal não teem sido absolutamente estereis quanto a representações artisticas das cousas da natureza na epocha de que tratamos. No jazigo neolithico da Folha dos Barradas, encontrado dentro da quinta regional de Cintra, descobriu o sr. Carlos Ribeiro 5 uma interessantissima peça de calcareo, a que chamou clava, que, entre outros ornatos puramente geometricos, apresenta esculpida, em relevo, a figura do crescente; e em um dolmen de Alcalá, que pertence ao fim do Geo como se in-. fere da presença d'uma lança de cobre no meio dos artefa- | ctos de pedra, encontrou o sr. Estacio da Veiga uma la- mina de schisto branda, tendo esculpida em relevo uma fi- gura humana a meio corpo, com a cabeça coberta por um É objecto de fórma conica, segundo refere o distincto explora- dor do Algarve e parece verificar-se pele desenho que elle publicou. A É, pois, licito afirmar, em face dos dados colligidos ; - ã NATURAES E SOCIAES 7 “até hoje, a existencia d'uma arte neolithica, que, em logares muito distantes, se elevou até á imitação da natureza viva c às concepções religiosas. N'essas esculpturas da divindade, a que nos referimos, está sem duvida já manifestado o germen do anthropomorphismo, .que mais tarde, em epochas histo- ricas, provocou as bellas obras de esculptura religiosa da Grecia e de Roma. Os proprios dolmens, com a sua estreita galeria d'ac- cesso e a sua sala, soterrados em monticulos, são talvez. uma imitação das grutas que a natureza offerecia ao homem primitivo para sua habitação ou para guardar os seus mor- tos. Sem duvida a sua ignorancia não lhe permittia construir d'outra maneira com semelhantes materiaes e sem o auxilio “de instrumentos de metal: e por isso não seria por mero gosto d'imitação que elle preferiu aquella fórma a outra qual- quer. Só um sentimento artistico muito desenvolvido podia, . “com o auxilio dos metaes, levar muito mais longe as imita- -cões da natureza na architectura, como aconteceu em povos historicos, taes como os egypcios, entre os quaes a columna parece já representar o tronco das arvores, e muitas vezes representa um feixe de hastes de lodão, cujos botões, aper- tados por um laço, se reuniam para formarem o capitel (lo- tiforme), e onde o capitel campaniforme chegou a transfor- mar-se em palmeira; ou como os gregos, que não só reves- tiram o capitel corynthio de folhas d'acantho, mas, segundo certas tradições, representaram, nas caneluras dos fustes, as pregas dos vestidos, e, nas volutas jonicas (!), os toucados das matronas gregas. | € Entretanto, na essencia, parece predominar em uns e outros factos a influencia da natureza, que é o factor prin- cipal para aquelles que consideram a arte sob um ponto de vista restricto. (1) É certo, porém, que as volutas jonicas já apparecem indica- das nas esculpturas antiquissimas dos rochedos da Cappadocia, Perrot e Chipier, cit., tom. 6.º, pag. 15. 8 REVISTA DE SCIENCIAS = a = N'aquella tosca architectura do homem neolithico pode- ria até notar-se uma certa representação do pavimento ro- choso e das abobadas naturaes das grutas.. Não são raros, tanto nos paizes estrangeiros como em Portugal, os dolmens com o pavimento interior feito de la- ges. Nós já temos descoberto tres; e um destes, o da Ca- becinha, encontrado na Serra das Alhadas, está hoje recons- truido no pateo do Museu Municipal da Figueira. No Al- garve (necropole de Alcalá), em dolmens, que pertencem talvez á aurora do cobre, descobriu o sr. Estacio da Veiga / cryptas formadas por camadas horisontaes de placas de. schisto, que, tornando-se gradualmente salientes, apresenta- vam na face interna da construcção uma curva que dava ideia da abobada de silhares divergentes, abobada que ap- parece aperfeiçoada e completa em certos monumentos dos tempos heroicos da Grecia. Diminuido por essa curvatura o espaço a cobrir, o cons- tructor aproveitava para a mesa do monumento algumas la- ges mais pequenas do que as exigidas pelo emprego de sup- portes monolithicos. Advertiremos, comtudo, que se esta rudimentar abobada . já é privativa dos primeiros alvores do cobre, não o é a sub- stituição dos supportes monolithicos por muros d'alvenaria secca. | Nós encontramos um megalitho, pertencente ao neoli- thico puro, em que parte da camara era fechada por um d'esses muros. : Mas seja como fôr, o que parece manifesto, pelo menos, é que o espirito humano já então procurava por esses pro- cessos simplificar o trabalho, evitando o emprego dos gran- des e pesados monolithos, e ao mesmo tempo tornar as construcções mais proporcionadas com os materiaes, e, por conseguinte, menos desgraciosas. Póde dizer-se que as mais interessantes manifestações da arte neolithica, isto é, as que tendiam a reproduzir a na- ad LR A inlthe o Di: Apis fa q “SR q ue "a o Ed ai MD a ; AE a go cm do ga Sa a a ERR TES te SÃO bs |: eae a 1 age Toa, y 4 . d a , DE SR AE PEN RD NATURAES E SOCIAES (O) tureza viva, não teem apparecido em grande numero, e as- sim não apresentam um certo caracter de generalidade, como as que se limitavam à decoração geometrica. Mas, sendo a paleoethnologia uma sciencia muito moderna, é já bastante que ella nos offereçca exemplares desde a Scandinavia até ao sul da Peninsula Iberica, e que entre esses exemplares figu- rem sete esculpturas de divindades femininas, todas do 'mesmo typo fundamental e provenientes de logares diversos. “Estes precedentes felizes auctorisam. a esperar resultados futuros mais abundantes. | Se vinte annos mediaram entre a descoberta das quatro “esculpturas das grutas da Marne e a da ultima que mencio- námos, hoje, que a febre das explorações archeologicas vae tomando incremento por toda a parte, póde o acaso n'um "momento multiplicar os desejados thesouros da arte primi- Fuga O e Pela nossa parte vamos fazendo quanto podemos para tentar a fortuna. Algumas legoas de terreno teem já sido methodicamente exploradas por nós; e, se ainda não fomos recompensados por uma d'essas emoções que produzem as grandes descobertas, tivemos pelo menos o prazer de reco- lher por nossas proprias mãos alguns objectos que reputa- mos de muito interesse para a questão que se debate. Nós vamos occupar-nos d'elles antes de tratarmos das outras manifestações artísticas que são communs a quasi todas as estações neolithicas. Não se pense que temos a pre- tensão de fundar theorias: queremos apenas reforçar o as- serto de Estacio da Veiga, que ha alguns annos proclamou a existencia d'uma arte neolithica em Portugal, manifestada nas decorações e na reproducção da fórma humana. Nenhuma opinião antecipada nos guia na interpretação d'esses objectos: n'este momento ainda sentimos em face d'elles as mesmas impressões que nos causaram á primeira vista. Se alguma opinião antecipada tinhamos, quando os des- IO REVISTA DE SCIENCIAS cobrimos, era a de que não existira a plastica na epocha de que tratamos, como tinhamos lido nos mestres; e foi porque as nossas impressões estavam em diametral opposição com esta these que procuramos indagar se na archeologia pre- historica não haveria exemplos de reproducção artistica das fórmas animaes na referida epocha. Póde ser que interpretemos erradamente os nossos acha-. dos, e que a verdade esteja muito longe de nós. Mas em- | quanto não nos demonstrarem que nos nossos exemplares não existem os principaes caracteres anatomicos, que devem | decidir e sempre teem decidido n esta materia, e emquanto | não nos provarem que ha n'elles menos semelhança com a fórma humana do que n'aquelles em que sabios de primeira ordem teem reconhecido essa fórma, nós não podemos con- vencer-nos do nosso erro. . Na segunda parte do livro que estamos publicando so- bre as antiguidades prehistoricas do concelho da Figueira já | démos noticia d'uma lasca de silex retocada, proveniente da estação neolithica da Varzea de Lirio, representando um perfil da cabeça humana; e advertimos desde logo que o de- senho que offereciamos d'esse objecto não reproduzia com exactidão o original. Todas as pessoas que viram este, são perfeitamente concordes em que existem nºelle os caracteres anatomicos que determinam uma semelhança notavel com a figura humana; o que é muito importante para a classifica- ção do objecto, porque todos esses caracteres lhe foram da- dos pelo trabalho dos retoques, e, por conseguinte, pela mão do homem. Alguns, porém, não concluem da semelhança anatomica que a fórma fosse intencional, isto é, que fosse uma manifestação artistica. Isto provem, a nosso vêr, da NATURAES E SOCIAES II ê “intransigência da opinião estabelecida ácerca da ausencia da - arte na epocha neolithica, opinião formada muito precipita- * damente, e que ha de ter o destino de todas as generalisa- "ções intempestivas. Se a peça pertencesse á ultima epocha - do periodo quaternario ou a qualquer epocha historica, nin- — guem hesitaria em vêr n'ella uma obra d'arte ! Acceitar-se-ia "facilmente que antes da pedra polida o homem era capaz de imitar por essa fórma a sua propria figura; mas recusa-se- | lhe capacidade para, em epocha muito posterior e com uma E civilisação evidentemente mais avançada, executar semelhante E obra! E porque? Porque só do homem quaternario teem "| apparecido artefactos imitando a natureza viva; razão que não é exacta, como dissémos, nem póde ter as honras d'um " argumento serio, visto que do facto puramente negativo do = não apparecimento de semelhantes objectos não podia de - | modo algum concluir-se que elles não existissem. — Reduzido a uma fórma logica, o argumento é o se- E puinte: | “— À arte neolithica não reproduziu a natureza viva. —Maso po da Varzea de Lirio representa a a humana. 7 | — Logo este objecto não é um producto d"aquella arte. Éfalsaa permissa maior, como resulta das descobertas á feitas. Ainda que não estivesse provada a falsidade, a “proposição carecia de ser demonstrada, provando-se que — foram já exploradas todas ou quasi todas as estações neo- = Jithicas; que essas explorações foram feitas com escrupulosa | attenção; e que n'ellas não se encontraram objectos alguns “dºaquella natureza. Por conseguinte a conclusão não póde — admittir-se. | E se porventura se argumentasse do mesmo modo, a ; proposito de todas as obras d'arte que apparecem nas esta- “ções neolithicas, não só teriamos de negar todas as escul- pturas e gravuras que mencionámos, mas nunca poderia * chegar-se a provar a existencia da arte, por mais numero- ra REVISTA DE SCIENCIAS sos e evidentes que fossem os exemplares recolhidos nas ex- . plorações. E” preciso não perder de vista o criterio archeologico de que o fim é que dá a fórma aos productos do trabalho hu- mano ; de sorte que, pela fórma, é que deve interpretar-se o fim. Por isso, se a fórma do objecto tem os caracteres da . figura humana, não é licito admittir que o fim a que o ar- tista destinou essa fórma fosse outro que não a representa- ção do homem. Para que phantasiar outros fins, se o proprio objecto dá suficiente noção do seu?! Quando se vê na parede d'uma escóla, traçada por mão infantil, uma linha descrevendo al- gumas curvas em que se nota a fórma da cabeca humana, da arcada supraciliar, do nariz, bocca, barba e pescoco, al- guem porventura duvida que esse grosseiro esboço repre- sente o homem, e que o auctor teve em vista esta represen-. tação? Não. Pois a peça em questão apresenta todos estes detalhes, e com tal exactidão que não soffrem com ella con- fronto essas rudimentares esculpturas descobertas e preco- nisadas em França, nas quaes não apparecem figurados do rosto humano senão o nariz e os olhos! | : Se houvesse uma interrupção qualquer na ordem dos. caracteres por nós assignalados, poderia talvez contestar-se o valor artistico do objecto. Mas não: tedo o contorno é executado com: fidelidade, de modo a excluir outro pensa-. “mento, E A” curva da parte superior da cabeça succede-se a do | frontal; à deste, a arcada supraciliar; a esta, o nariz; a este, os ois labios ; a estes, a curva da barba, e, depois, a curva anterior do Golias ao passo que no bordo opposto da lasca, e na altura correspondente a esta ultima curva, está for- mada por meio de retoques a curva posterior do collo. Os que não viram o objecto, hoje depositado no Museu Municipal da Figueira, notando falta de conformidade da | NATURAES E SOCIAES 13 descripção com o desenho, falta contra a qual tinhamos pre- 'venido o publico, negaram tambem a obra d'arte. D'este numero foi o sr. Fonseca Cardoso no artigo com que hon- rou o nosso humilde trabalho no n.º 10.º d'esta Revista. Sua ex.?, dispensande-nos muita benevolencia, que em ver- dade não mereciamos, classificou a peca como raspador dis- coide, cuja base alongada, mesmo pedunculada, servia para fixar o utensilio a um cabo de osso ou madeira. D'este modo o instrumento seria destinado a operar pelo bordo convexo, em que nós reconhecemos a curva da parte supe- rior da cabeça. Mas, sem quebra do respeito devido aos mais eruditos, ousamos afirmar que a hypothese é insustentavel. Aquele bordo não é uma aresta retocada, comó as que caracterisam os raspadores de todas as epochas da idade da pedra. Pelo contrario é uma porção da superficie irregular e angulosa do nucleo de que a lasca foi separada, e cuja largura, corres- pondente à espessura do objecto n'esse lado, varia entre 0,7007 € 0,"902, com a circumstancia de as arestas dos bor- dos d'aquella superficie serem vivas e irregularissimas, apre- sentando fortes saliencias : e com semelhantes caracteres não conhecemos raspadores, nem sabemos como o objecto po- desse raspar. Por outro lado essa hypothese tem, a nosso vêr, o defeito de deixar sem explicação precisamente o que se pretende explicar, isto é, os retoques dos bordos lateraes, onde nós vemos o perfil do rosto humano e o collo. -* Parece-nos pouco rasoavel que, existindo n'um lado da “peça trabalho minucioso do homem, em vez de interpretar-se esse trabalho, procurando a intenção do artista, se imagine que não foi semelhante trabalho que elle quiz aproveitar, mas uma outra parte do objecto, onde se não encontram caracteres de nenhum dos instrumentos e utensilios conhe-. cidos na idade da pedra, Era preciso então dizerem-nos para que serviriam no supposto raspador aquelles retoques, em que se acham anatomicamente representados, o frontal, a 14 REVISTA DE SCIENCIAS. arcada supraciliar, o nariz, os labios, a barba e o pescoço. | Seriam tambem para raspar de lado com o instrumento? Não; porque nos raspadores as arestas são abatidas conti- nua e regularmente. Não ficam n'elles fortes saliencias, umas agudas e outras arredondadas, nem profundas cavidades, que seriam improprias para operar em qualquer superficie plana, concava ou convexa, pois que nem deixariam ajustar: o instrumento ao objecto dad, nem as aupsaidis d'este poderiam ficar lisas. | Não interessa á questão saber se os objectos colligidos na Tunisia, pelo Dr. Collignon, a que se refere o sr. Fon- seca Cardoso, são raspadores ou pontas de setta. Esses “objectos não apresentam os caracteres anatomicos do perfil do rosto humano, como o nosso exemplar; e, se fossem. iguaes, se tivessem o bordo convexo no estado do nosso, nós não veriamos na respeitavel auctoridade dºaquelle ilus-- tre homem de sciencia motivo bastante para chamar-se ras- pador ou ponta de setta ao que não podia ser uma cousa - “nem outra, Ainda se as cavidades que se acham em seguida à ar- | cada supraciliar e junto á barba fossem regulares, poderia, em vez d'um raspador discoide, ver-se no objecto um pequeno: - raspador concavo, para as agulhas e alfinetes cylindricos | d'osso. Mas o artista nem esta duvida nos deixou: as curvas | são muito irregulares, e a que fica junto á barba tem no | meio uma saliencia correspondente ao labio inferior. Por. outro lado ficariam sempre sem explicação os retoques que põem em relevo a extremidade do nariz e o labio superior, . e os que se seguem da convexidade da barba para o pes-: coço, assim como os que se encontram na aresta opposta | da lasca.. - | Este objecto, porém, não é o unico. Encontrámos outro | por occasião das novas explorações feitas no rico megalitho | do Cabeço dos Moinhos, e que é descripto e desenhado na Ê terceira parte do nosso alludido livro, que em breve vae ser: NATURAES E SOCIAES 15 — publicada. N'ºesta peça, que tambem é de silex, o frontal * eleva-se quasi perpendicularmente, e a arcada supraciliar | está apenas ligeiramente indicada; mas a curva da parte — posterior da cabeça, o nariz, os labios e a barba acham-se | representados com bastante exactidão, salvo quanto ás di- a mensões da barba, que não estão proporcionadas. O nariz | tem pequena saliencia no bordo da peça; mas a cavidade & d'uma lasca extrahida na face, junto ao bordo, o põe bem - em relevo. Por modo analogo se acha representada a bocca. “A figura olha á esquerda do observador; e o contorno foi- - lhe dado por meio de retoques. É Este objecto suscitará provavelmente tantas duvidas — como o da Varzea de Lirio, por causa do mesmo precon- 4 ceito de que a plastica não existia na epocha de que trata- mos. Mas nós pensamos que a coincidencia dos caracteres - amatomicos em dois silices, que não dão indícios de serem * objectos de utilidade, ou de terem outro qualquer destino, — é um argumento poderoso em favor do caracter puramente — artístico d'estas obras. - - Nós temos procurado nos instrumentos Meotidiico: das - nossas estações, quer sejam perfeitamente acabados, quer - | simples esboços, alguns retoques que descrevam alguma fi-. * gura semelhante áquellas. Mas debalde ! Nas pontas de setta "ou dardo, nas lanças, nas serras, nos raspadores, nos pon- — ções, emfim em todos os objectos conhecidos como instru- “mentos do homem neolithico, onde os retoques são pratica- dos em larga escala, ainda não encontrámos, sequer, um. exemplo d'este trabalho ter produzido casualmente a reunião d'alguns dos caracteres do perfil do rosto humano. E toda- "via, se em dois objectos menos trabalhados, esses caracte- | res se apresentam reunidos em grande numero, era natural * que nos mais trabalhados e com um destino conhecido tam- "bem apparecessem, se o facto fosse um resultado da natu- | reza do trabalho, isto é, produzido pela irregularidade de al- * “guns retoques. | 16 REVISTA DE SCIENCIAS Em nosso juizo, para repellir a hypothese da casuali- dade, basta verificar a coincidencia nas duas peças de aos relevos do nariz e labios se seguir inferiormente uma curva perfeitamente semelhante á da Cedo e não outro qualquer contorno. E cousa ainda mais notavel: em ambas as escul- pturas o relevo da barba prolonga-se um pouco na face do silex por meio de retoques profundos ! | Nem nós podemos bem comprehender as razões porquê seja preferivel explicar semelhantes peças pela casualidade do trabalho, a vêr n'ellas uma fórma intencional. O que do- mina o trabalho humano é a intelligencia, a vontade ou o sentimento, e não o acaso. Será commodo invocar este, para não desarranjar as opiniões preestabelecidas no assumpto que se debate; mas não é conforme à razão deixar assim de in- terpretar a obra humana pelo homem. Afóra estes objectos possuimos um, muito interessante, recolhido no megalitho do Cabeça do Facho, que exhuma-. mos de um tumulus da Serra de S. Bento, freguezia de Maiorca, ao sul do Casal do Matto, povoação que fica na estrada da Figueira a Coimbra. E” uma placa de schisto cinzento polido, que apresenta o contorno da planta do pé humano, tendo uma face plana, e, na opposta, esculpidas as curvaturas caracteristicas da sola do pé, comprehendendo o calcanhar, que se acha nitidamente em relevo. Não estão representados os dedos por divisões ou traços abertos na pedra; mas o contorno formado pelo conjuncto d'elles está bem indicado pela circumstancia de essa extremidade da placa ser obliqua, sendo a parte mais saliente a que corres: ponde precisamente à face ou curva Interna do pé. Parece- nos manifesto que representa a planta do pé direito. . Este objecto tem diversas fracturas, algumas das quaes foram restauradas; e mede no comprimento o”, 14, na maior largura da parte correspondente ao caicanhar o”,06, e o”,0065 na extremidade opposta. A rocha de que é fabricada não pertence à região. NATURAES E SOCIAES 17 “Aqui temos, pois, reproduzida pela esculptura, uma parte "| do corpo humano, que já se tem eua gravada nas pe- ER dras.dos megalithos. E A duvida não é mais admissivel: a arte neolithica repro- | duzia a natureza viva! E O fim com que este objecto seria collocado dentro do monumento não é do dominio d'este escripto. Nós examina- remos o problema quando o livro que estamos publicando | chegar ao ponto de descrevermos a exploração dos megali- | thos descobertos pela cumiada da Serra, entre os das Carni- E cosas, já conhecidos do publico, e o Casal de S. Bento. A decoração geometrica está mais abundantemente re- “presentada no mobiliario das nossas estações. | Nós temos encontrado, em restos ceramicos, pequenas "+ cavidades arredondadas abertas na pasta e dispostas em li- has paralelas: outras vezes incisões transversaes recor- tando o bordo dos vasos; e n'alguns exemplares filas de pe- quenos sulcos parallelos, como tudo se vê nos objectos das BERRO 1540, 155.0 E 155,0A, estampas KI e XII, da “nossa deferida publicação. “Nºoutros, como são os recolhidos nas novas explorações do Cabeço dos Moinhos, vêem-se grupos de pequenos tra- E: "cos alinhados, formando algumas filas parallelas, que descem | da proximidade do bordo do vaso para a parte inferior — deste, ou grupos de pontos gravados na pasta, tambem en- "| fileirados, e ás vezes sem uma coordenação regular. Em fragmentos de placas de suspensão, feitas de schisto | apparece a linha contornando o bordo da peca, ou formando "| no meio o zigue-zague ou dentes de lobo; e ás vezes vêem- "se gravadas duas linhas parallelas, parecendo cruzar-se com 2 IS REVISTA DE SCIENCIAS outras em angulo agudo, ou fazendo talvez parte d'algum ornato diverso, que não é possivel determinar, por falta dos restantes fragmentos das respectivas pecas, Algumas d'estas singelas ornamentações encontram-se esculpidas em certos objectos, e não simplesmente gravadas, No megalitho do Cabeço do Facho appareceu um fragmento d'alfinete d'osso, em que a cabeca, reduzida a uma placa muito delgada, termina por duas hastes -parallelas, cada uma das quaes se acha decorada com um orifício circular. No grande monumento descoberto no Cabeco dos Moinhos en- controu-se uma peça de collar, feita d'uma lamina de dente de javali, que tem a fórma aproximadamente quadrada, apre-. sentando dois bordos oppostos guarnecidos de protuberan- cias triangulares, semelhantes aos dentes de lobo. Emfim, al- gumas cabeças d'alfinetes d'osso, provenientes d'este ultimo monumento, são formadas por anneis d'osso, em que se em- butiam as extremidades das hastes. Mas em muitos fragmentos ceramicos, recolhidos no mesmo monumento, a decoração ostenta fórmas mais com- plicadas. Certos vasos, que provavelmente tinham a fórma de callote espherica, eram guarnecidos, em todo o seu con- torno, por linhas pontuadas e parallelas, que começavam o,201 abaixo do bordo, e parece que não desciam a mais de meia altura do vaso, seguindo-se outro ornato pontuado, cuja fórma não podemos classificar. O bordo, muito espesso, ter- minava por uma superficie plana com a largura media de o,"013, decorada por grupos de seis linhas pontuadas e pa- rallelas traçadas obliquamente, de modo que cada grupo for-. mava um angulo agudo com o immediato. Outros tinham uma fórma e ornamentação semelhantes ás dos bellos vasos das grutas de Palmella. O bordo reintrante e largo de 0,”"022, era guarnecido d'um xadrez, formado por linhas que se cru- zavam obliquamente em Gi ás arestas do mesmo bordo. O corpo era decorado, proximo do bordo, por linhas conti- nuas e parallelas; em do por quatro e cinco filas paral- NATURAES E SOCIAES 89) lelas de dentes de lobo; e para a parte inferior por linhas “pontuadas e tambem parallelas. Esse megalitho, o mais rico de todos os que até ao pre- sente temos explorado, offereceu-nos ainda dois fragmentos d uma outra obra d'arte. E' uma figura esculpida em relevo na face d'uma placa d'osso, figura de que não restam senão duas faxas rectili- neas formando um angulo, talvez parte d'um quadrilatero. Todos estes objectos pertencem manifestamente ao neo- lithico puro, pois que nos monumentos e estações em que foram recolhidos não appareceram vestígios dos metaes. Com a aurora do cobre, na região por nós explorada, a decoração das louças não parece ter progredido, como re- sulta das nossas pesquizas no outeiro de Santa Olaya, fre- “guezia de Maiorca. Na verdade a ceramica alli só ganhou em dureza: a sua ornamentação é ainda inferior á mais sin- gela dos vasos do Cabeço dos Moinhos, se exceptuarmos a Yum fusaiudlo. Mas encontrou-se lá um artefacto, cuja decoração póde fazer pensar que n'aquella epocha houve manifestações ar- tisticas mais graciosas e aprimoradas. É uma pisaa rectan- gular d osso, alongada e polida, que apresenta n'uma das fa- ces, e a ponção, uma cercadura formada por uma li- nha em zigue-zague ou dentes de lobo, emmoldurando outro ornato, que consiste em duas faxas onduladas que se cruzam regularmente, deixando no meio espaços circulares, cujo cen- tro é figurado por um ponto. N'ºesta peça é sobretudo muito notavel a circumstancia de que nos pontos em que as faxas se cruzam só uma d'estas fica visivel, occultando à outra! Este ornato apparece, segundo lemos em Perrot e Chi- plez, nas obras d'arte phenicias, copiado da arte assyria, servindo para emmoldurar outras figuras. Será com effeito o nosso exemplar contemporaneo do comeco do cobre? Não ousamos affirmal-o, posto que o tenhamos reunido + 20 REVISTA DE SCIENCIAS a outros objectos, que reputamos d'essa epocha, existentes. em uma das estantes do Museu Municipal da Figueira. No. deposito explorado estavam misturados productos da indus- tria primitiva com outros de diversas epochas historicas e de povos muito differentes : tudo fôra arrojado de cima do. outeiro e confundido no mesmo entulho ! 7 O que mais surprehende é que o referido ornato parece traçado a compasso ou com outro instrumento semelhante : tal é a precisão com que as curvas estão gravadas em redor do ponto central de cada espaço circular | Se passarmos da decoração propriamente dicta ás fór- mas dos objectos do mobiliario neolithico, é fóra de duvida. que estas adquirem muitas vezes uma elegancia notavel, que as colloca tambem na esphera da arte. É vêr a série consi- deravel de pontas de setta e de dardo recolhidas por nós em. seis dos megalithos explorados, e que se acham no referido Museu, para adquirir a convicção de que o artista não só. tinha certas noções ácerca da symetria e da proporção, as- sim como da belleza que resulta do emprego da curva, mas sabia executar com grande habilidade as fórmas que esco- lhia. Nada mais digno de admiração do que essas graciosas pontas triangulares, com as arestas lateraes rectilineas ou ligeiramente curvas, de base concava ou biconcava e pedun- culada, cujas faces, trabalhadas por minuciosos e delicados retoques, se tornam connexas, se considerarmos que estas. verdadeiras esculpturas dos tempos primitivos eram execu-. tadas com pedaços de pedra ou osso, que serviam de cinzel. Nós exhumamos do megalitho da Cabecinha e deposi-. tamos no Museu uma ponta de lança triangular, que é uma obra prima da arte primitiva na pureza dos contornos e na perfeição do trabalho, e outra do mesmo typo, que pelas. suas dimensões excepcionaes é talvez exemplar unico nos museus da Europa. Mede esta ultima peca no comprimento 0,"52, e completa devia medir 0,"54 aproximadamente; e na largura da base o,"12, e com os angulos externos, que já. aa A AS RE AS ig | q E Ea PRI a SD DR O IT ada a e di EAR a Ed irado Rs Medina + ni E, NATURAES E SOCIAES 21 não existiam quando foi descoberta, devia medir mais de 0,"13. Uma lamina de silex com taes dimensões, direita e reduzida á espessura d'alguns millimetros pelo trabalho dos retoques, é caso para surprehender até aquelles que estão muito familiarisados com o trabalho da pedra na epocha de que tratamos. ; - Estes objectos hão de ser opportunamente descriptos e desenhados no iivro que estamos publicando; e por isso nos limitamos aqui a mencional-os sómente sob o ponto de visto que nos occupa. | Na ornamentação do corpo humano a arte já tinha creado alguns singelos modelos, como resulta da comparação dos objectos de adorno por nós colligidos nos megalithos com os de muitas outras estações neolithicas de Portugal e dos pai- zes estrangeiros. Os longos alfinetes d'osso e os pentes in- dicam um certo toucado; as contas e objectos furados, a existencia de collares; e as grandes argolas de osso, a de bra- celetes. Muitas contas são de ribeirite, materia que devia ser considerada como preciosa, e que era indubitavelmente uma das mais ricas da joalheria primitiva. Da mesma subs- tancia alguns pendentes; outros de crystal de rocha ou de osso. As grandes placas de suspensão eram de schisto, al- gumas com ornatos grosseiros gravados a ponção; mas re- colhemos uma que é-apenas um seixo achatado. As fórmas de todos estes objectos, assim como as das cabeças dos al- finetes são variadas, mas nada graciosas: apenas se distin- guem a trapezoidal, discoide ou elliptica e a fórma excepcio- nal do objecto feito de dente de javali a que já nos referimos. A polidura representava um papel importante n'esta arte dos tempos neolithicos. Todos os objectos de adorno, que acabamos de mencionar, são polidos. Polida, em parte, é tambem a grande ponta de lança e a esculptura do pé hu- mano. Por essa operação, quando executada com esmero, os proprios machados tomavam um aspecto muito bello, às ve= 22 REVISTA DE SCIENCIAS zes até luxuoso. Nós possuimos alguns, feitos de rochas vis- tosas, em que entra o quartzo e a fibrolithe, que nos pare- cem verdadeiros objectos d'ºarte. . . . b Muitos vasos de barro tambem eram alisados e polidos: ou brunidos externamente, adquirindo algumas vezes um certo lustro, antes de serem adornados, como provam os fragmentos que temos recolhido; e não é raro apparecerem exemplares brunidos e lustrosos em ambas as faces. « Avec le tour, dizem Perrot e Chipiez, la rotation de axe et la pression de la main sur la galette de terre humide suflisent à répartir également les parcelles de la matiére ; tant que le potier ne possêde pas ce simple et merveilleux instrument, le polissoir lui est indispensable pour corriger les défauts du modelage et pour effacer, sur la panse, les traces des doigts ». Emfim a pintura a liso não era desconhecida. Alguns vasos são pintados a aguarella, preparada com oxydo de ferro ou com uma substancia negra. Provavelmente este oxydo serviria tambem á tatuagem, assim como uma espe- cie de talco cinzento, que recolhemos em um dos megalithos ultimamente explorados. Taes são os elementos recolhidos até ao presente na re- gião que temos explorado. Elles concorrem, a nosso vêr, para provar que o sentimento da arte, tão viva nos ultimos tempos do periodo paleolithico. não se extinguiu com a nova civilisação. As suas manifestações são menos variadas e me- nos expressivas do que na epocha anterior; mas bastante para demonstrarem que o homem não deixou de cultivar essa elevada faculdade do seu espirito. Figueira da Foz. Santos RocHa. - SER Sah! EEE ASA É MATERIAES PARA A ARCHEOLOGIA DO DISTRICTO DE VIANNA. Parece-nos conveniente, antes de comecar este capitulo, fazer algumas observações, tendentes a dissipar a confusão, em que temos visto peccar a nomenclatura dos monumen- tos. de que vamos occupar-nos, e tendentes principalmente a definir a que havemos de seguir n'este escripto. Adoptando uma denominação popular muito nossa, cha- mamos anta ao que os archeologos estrangeiros chamam dolmen, vocabulo composto de duas palavras pseudo-celti- cas, dol==meza e men = pedra, meza de pedra. A meza do dolmen é um enorme monolitho, quasi sem- pre dé faces toscamente planas, montado sobre o tôpo d'uma serie de lascões inteiricos, postos de cutello e fechando por tres lados um recinto irregularmente quadrangular. A anta assemelha-se pois a uma pequena caza, cuja porta póde ser representada pelo lado aberto, e o tecto pela meza. (Quanto a esta, não é necessario olhal-a duas vezes, para comprehender que ella nasceu para morrer na posição, em que primitivamente foi collocada: a sua deslocação, além d'exigir o emprego de forças gigantescas, poria em perigo as paredes lateraes da construcção, que, ainda vamos a tempo de o notar, são d'ordinario sensivel e parece que intencio- nalmente desaprumadas, estreitando para o tecto e recebendo d'elle a solidez d'uma obra cyclopica. 24 REVISTA DE SCIENCIAS D'aqui resulta — 1.º, que, segundo a propria etymologia da palavra, não póde haver dolmen sem meza; 2.º, que a meza é um verdadeiro tecto cuja immobilidade é determi- nada pelo fím para que elle foi destinado e pelo seu mesmo . nezo; 3.º, que a entrada para a camara do dolmen se faz lateralmente, como a duma caza qualquer. Pois, não obstante estas caracteristicas tão salientes, é corrente vêr dar o nome de dolmen a uma construcção, que não reune nenhuma d'estas condições, por exemplo, a um monumento sepulchral quadrilongo, fechado pelos seus qua- tro lados e tampado com differentes pedras, postas ao tra- vez do seu diametro pequeno. E? claro que esta sepultura não tem meza, e que a entrada para ella só se póde fazer, não pelo lado, como no dolmen, mas de cima para baixo, como quem desce a um poco, e levantando qualquer das tam- pas, cuja remoção é tão facil, como foi a sua collocação no acto do enterramento do morto. Aos monumentos d'esta especie, quaesquer que sejam - as suas dimensões, daremos o nome d'antellas (ou antinhas), — nome que temos razões para considerar tão popular como o d'anta, bem que menos vulgarisado. Mas a confusão, que criticamos, ainda não pára aqui. A” antella, principalmente se é de pequenas proporções e construida no centro d'um cómoro de terra de fórma mamil- lar, dão tambem os archeologos o nome de tumulus, mas este nome designa egualmente o cómoro de terra, de sorte que o leitor fica muitas vezes em duvida, em face de certas descripções, se faliando-se de tumulus, se trata do conti- nente, se do conteúdo; da sepultura, se do monticulo que a cobre. Nós, quando fallarmos do monticulo de terra, servir- nos-he- mos do termo, d'origem popular, como todos os ou- tros — mamõa (ou mamoinha). Assim, anta, antella e mamôa designarão cousas abso- lutamente distinctas, e toda a confusão se torna impossivel. NATURAES E SOCIAES 25 O empire casa emsememm mr meremm Lara Dos mouros. — Esta anta, uma das mais perfeitas, - senão a mais perfeita que possue o Minho, encontra-se na freguezia de lontinhães, n'um pinhal chamado da Bar- TOZa. No seu Portugal Antigo e Moderno, o snr. Pinho Leal gaba-se de a ter descoberto e ninguem póde levar-lhe a mal esta vaidade, reflectindo que um monumento antigo, se des- conhecido dos archeologos, é pouco mais ou menos como se não existisse. Ora a Lapa dos mouros era tão desconhecida, ha alguns annos atraz, que o snr. Pereira da Costa a não menciona'no tratado especial que publicou sobre as antas do nosso paiz, e o snr. Vilhena Barboza, consultado por aquelle sabio ácerca das antas do Minho, suspeita, sim, que as ha- veria d'antes, mas declara não ter conhecimento de ne- nhuma. | Se a memoria me não falha, chegou-se mesmo a negar a existencia de taes monumentos n'esta nossa provincia. O primeiro desengano veio com a Lafa dos mouros, cuja gravura, feita sobre um dezenho do nosso amigo Cezario Pinto, appareceu, ha annos, no Boletim dos architectos e ar- cheologos portuguezes. | Nas descripções que se tem dado da anta de Gontinhães afirma-se que ella assenta sobre uma eminencia de terra ar- tificial. O seu exame superficial assim o persuade; mas quem se dér ao trabalho de despejar a terra do interior da camara reconhecerá os dous seguintes factos; — que os supportes da anta assentam, não em terra movida, mas em terra virgem, salão; que a altura dos supportes não é de metro e meio, como a sua apparencia inculca, mas de tres, o que torna o monumento duplamente grandioso. Do primeiro facto vê-se que a anta não assentava sobre uma eminencia artificial. A terra alli accumulada tinha um “fim muito outro que o de lhe servir de base; e de mais para mim entendo que toda aquella terra compôz uma mamôa, que cobriu primitivamente todo o monumento e foi mais 26 REVISTA DE SCIENCIA $£ tarde arrazada até metade da sua altura por um motivo. qualquer (1). Acho inutil descrever a Lapa dos mouros. Para fazer. ideia exacta d'uma anta é preciso vêl-a; mesmo uma photo- graphia deixa impressões muito incompletas. | A anta olha para o sudeste, e na mesma direcção corre tambem a galeria, de 4,"20 de comprido, que não segue em linha recta, mas quebra um pouco para nascente. Camara e galeria teem sido revolvidas muitas vezes pe- | los sonhadores de thesouros. A unica cousa que lhes esca- . pou foi — um fragmento de machadinha de diorite, quebrada na sua secção longitudinal e conservando uma parte do gume ; uma ponta de setta de silex avermelhado; metade d'uma conta d'azeviche, de fórma oblonga, perfeitamente polida, | quebrada na direcção do seu orifício e mostrando que elle foi aberto por dous furos comecados nos pólos oppostos, e coincidindo tão mal no centro da conta, que pouco faltou para se desencontrarem; alguns fragmentos de louça gros- seira e requeimada : alguns fragmentos de telha romana. Carvão e cinza encontravam-se a meudo. O achado de telha romana parece-nos importante, por mostrar que as antas do Valle do Ancora ainda estavam em uso depois da conquista romana. A Lapa dos mouros não tem tradição especial. Como diz o seu nome, é obra dos mouros (lêde, pagãos). Os tra- balhadores que a exploraram á minha vista fallavam em vêr voar pelos ares a sua ferramenta, a anta e o proprio pinhal, logo que a excavação chegasse ao ponto critico de provocar (1) Tem-se escripto tambem que a eminencia de terra, em que assentava a anta, era socalcada por uma pequena parede e que tudo isto fazia parte do monumento, dando-lhe alguma cousa sui generis. À pa- rede não tem nada a vêr com a anta e com a mamõa; é como muitas | outras paredes, que se encontram no pinhal da Barroza e em outros pi- nhaes visinhos. us cu o = e ASA pe a e TS DRE o» do PRM". po. NATURAES E SOCIAES 27 uma tempestade infernal, etc., mas é esse o caso obrigado no desencanto de todos os thesouros, segundo reza o Livro de S. Cypriano, o Pae Sancto e outros do mesmo jaez, e sem applicação local determinada. ANTA DO PINHAL DO SANCTO DE VILLE. — Ville, uma fre- guezia um pouco desprezada pelos chorographos, fica entre Gontinhães e Riba d'Ancora, O pinhal, onde se encontra a anta, estende-se pelo de- licioso valle, a que o rio Ancora dá o nome, e não dista mais que um tiro de balla do pinhal da Barroza, que lhe está fronteiro, e à vista. “Na orla do pinhal ha uma fabrica de telha, e, segundo as informações do seu proprietario, a anta é conhecida por Cova dos mouros. Uma outra noticia, soffrivelmente confusa, é verdade, queria que na anta tivesse apparecido um sancto, em tem- pos que já lá vão, — successo que daria origem á denomina: ção que hoje tem o pinhal. Um villense, a quem pedi a his- toria circumstanciada d'esta lenda. que me interessava vi- vamente, declarou que nunca ouvira fallar de tal, e eu perdi a esperança de poder averiguar cousa de geito sobre este particular. O monumento está muito arruinado. Ninguem se lem- bra de o ter visto com a respectiva meza; mas existe, exis- tia pelo menos ha dous annos, o individuo que tinha apro- veitado parte dos seus supportes para um lagar. Por essa “occasião — contava-me um informador — tinha apparecido uma « panella» dentro da anta, e alguns outros objectos, que ainda existiam em poder do achador. Interrogado elle, respondeu-me que a panella era «uma historia» (em quasi todo o Minho, como se sabe, uma his- toria, uma patranha, ou uma serie de petranhas, são termos synonimos); que só encontrára um objecto de tres esquinas, tendo uma pollegada no seu diametro transversal, sem nin- 28 REVISTA DE SCIENCIAS guem poder nunca decidir se a cousa era de pedra, se de metal. Pela descripção que alles me fez, o mysterioso objecto, que podia bem ser um punhal de rocha dioritica, estava par- tido e despontado. Inutil acrescentar que ninguem sabe delle. A anta de Ville conserva ainda uma das pedras trazei- ras (!), um supporte Inteiro e outro traçado pelo meio ; mas, apesar d'estar tão consideravelmente mutilada, nenhuma du- vida póde haver de que é monumento do mesmo typo, que a Lapa dos mouros, supposto que de mais pequenas di- mensões, | Em compensação, a mamõa de Ville póde dizer-se per- feita, e mostra á ultima evidencia que cobria toda a anta. Hoje ainda a sua altura orça por tres bons metros, e attinge quasi a extremidade do supporte, que ainda se conserva in- teiro e no seu primitivo logar. É sem duvida porque o monumento ficava soterrado dentro da mamõôa, e porque a extracção das pedras que o formavam deixou no centro d'ella uma profunda depressão, que se engenhou a denominação de «cova dos mouros », O que veremos repetir-se n'outras partes. - A anta de Ville teve com toda a certeza uma galeria, de que actualmente não existe uma só pedra. A sua orienta- ção era a mesma que a da anta da Barroza. Contra a minha espectativa, a exploração d'este terreno volvido e revolvido produziu uma ponta de setta de quartzo branco, outra de silex escuro d'uma delicadeza extrema, e uma machadinha inteira, de materia pouco differente da en- contrada na Lapa dos mouros. Um pedaço de schisto, mostrando visivelmente ter ser- (1) Não lhe chamo supporte, porque aqui, como na Lapa dos mouros, à extremidade superior da pedra, que fórma a parte trazeira da anta, não toca na meza. Ha uma abertura de palmos, e esta disposição parece-me intencional. A parte trazeira da anta da Barroza é formada por uma pedra só; a de Ville por duas, uma das quaes já não existe. NATURAES E SOCIAES 29 vido de polidor ou afiador, pertenee de certo á mesma epo- cha d'estes instrumentos de pedra: não é a primeira vez que os tenho encontrado juntos. Dentro da «cova» ha grande quantidade de fragmentos de telha moderna, que para ali foram despejados com toda a probabilidade da telheira proxima; mas entre elles appa- recem outros muito mais antigos e fazendo lembrar os que tenho visto nos altos dos montes, onde existiu alguma velha capella, de que hoje nem alicerces restam. Esta particulari- dade trouxe-me à memoria a problematica tradição do sancto de Ville, não sendo impossivel que a anta, já sem meza e coberta por um telhado, tivesse servido em antigos tempos “de nicho a qualquer sancto. | Entre nós, que eu saiba, o caso seria novo; não assim no estrangeiro; e o certo é que o nome de « pinhal do Sancto. de Ville» tem por força uma origem legendaria, e que não ha por ali outra legenda, a não ser a que se localisa na anta. Cova DA MOURA. — À «cova da moura » está fronteira á anta de Ville, da qual dista quasi tanto, como esta dista da Lapa dos mouros. Temos, porém, de passar para a margem esquerda do rio pela antiga ponte d'Abbadim, e d'entrar na freguezia d"Ancora.. - Atravessado o logar que péga com a ponte, chamado pelo povo E'spra, mas devendo chamar-se A'spra na opinião d'um chorographo da terra, a nascente d'elle, (logar), e um pouco a norte d'umas «alminhas», que existem n'uma en- cruzilhada do sitio denominado Cornêdo, encontra-se a bouça de Fraião, cheia de mato e de pinheiros. Ahi a «cova da moura». Não é facil atinar com a razão, porque a gente do Valle do Ancora, quando se lhe pergunta por monumentos que fa- cam lembrar a anta da Barroza, indica este, do Fraião, em- quanto que o de Ville parece condemnado á mais ignobil obscuridade. Em Ville ao menos ainda restam algumas pe- 30 REVISTA DE SCIENCIAS dras; no Fratão nem uma só, e apenas por inducção se póde decidir se aqui houve uma anta, se uma antella. A primeira hypothese é a mais provavel. As mamõas das antellas são sempre de menor elevação, que a das an- tas; (1) a da «cova da moura » chega a ser descommunal, mesmo comparada à de Ville. | Ha tambem n'ella uma particularidade, que a distingue de quantas tenho visto até hoje. Em geral, a mamôa é com- posta de terra vegetal, misturada com pequenas pedras, e em todo o caso de terra, que facilmente se vê ter sido acar- retada d'outra parte, e accumulada n'um plaino, ou n'uma. ligeira lombada natural. A do Fraião parece ter sido um massiço natural de terra barrenta, a que a arte deu depois a fórma semi-espherica (aqui póde-se dizer cónica), commum a todos estes monticulos. Procurando, porém, no centro da mamôõa, terra vegetal não falta, nem no logar, onde devia ter existido a anta, nem na direcção, em que devia seguir a galeria, regulando-nos pelas antas da Barroza e Ville. A «cova da moura» tem sido explorada por vezes, e foi-o methodicamente pelo snr. capitão Costa até á profun - didade de 7 palmos, como verifiquei no córte em cruz, que os meus trabalhadores pozeram a descoberto. Eu mandei cavar alguns palmos mais abaixo, para me desenganar, como desenganei, que a mamôa era de terra virgem, e rasgada só (1) A elevação necessaria para cobrir inteiramente a caixa de pe- dra que fórma a sepultura. Esta caixa tem ás vezes de profundidade dous metros e mais, outras vezes nem um. Identicas diferenças no compri- mento é« largura. Por via de regra, as paredes da antella assentam no nivel natural do solo, mas casos ha (como em Sancta Maria de Pedraça, Basto) em que a sepultura foi construida abaixo d'aquelle nível, sendo então a mamôa de tão insignificante elevação, que só um observador muito perito a póde descobrir, e ainda assim guiado por outros signaes, que não vem a proposito especificar agora. É NATURAES E SOCIAES | 31 “emenda mea o meme (SA Un iiça to gi du A PEA O Ea (UA SI ES SE AR a o necessario para conter a camara e a galeria, que decerto ' foram em seguida cobertas de terra movida. | Apenas encontrei algum raro fragmento de louça muito aa grosseira, e um fragmento de telha romana, como na Lapa “da Barroza, e que vem confirmar as conjecturas, que já - acima expuz, sobre o uso relativamente moderno das sepul- turas do Valle do Ancora. | “A O snr. capitão Costa, conforme me assegurou o meu | amigo José Caldas, encontrou uma machadinha de pedra, hoje, se não me engano, na Secção Geologica. Um dos meus trabalhadores, que dizia ter tambem sido E: empregado pelo snr. Costa na sua exploração, fallava de se “ter encontrado então um objecto «de metal verde de tres esquinas ». Apurei mais tarde que o bom do homem mentia, | e com certa coragem, pois que se inculcava como testemunha "ocular do achado. | E “Não acredito, porém, que elle tivesse arte para inventar noticias d'estas, e estou persuadido que, ouvindo a noticia do «objecto de tres esquinas» encontrado na anta de Ville, | ea que nos referimos atraz, ellé me contou o seu conto, - aecrescentando-lhe os pontos que lhe vieram á cabeça. * Guimarães, 1882. - (Continua). HF. MARTINS SARMENTO. EASTONIA LOCARDI, n. sp. On ne connaissait aucune espéce de | Europe, dars le genre HEastonia, Gray outre VE. rugosa, Chem. Nous la. possédons depuis longtemps du Portugal et elle nºest pas rare dans le sud. | Je viens maintenant de recevoir de Silves trois valves d'une nouvelle espéce du même genre, três difiérente de Vespece ci-dessus nommée, envoyées par non ami Mr. Dr. Manuel de Mascarenhas Gaivão. Les caractêres sui- vants déduits de la comparaison de deux valves des deux espéces et de la même longueur (58 mm.) pourront les faire facilement distinguer. La nouvelle espéce est beaucoup plus solide et lourde. Le poids de la valve de 58 mm. est de 18 gr., tandis que dans VE. rugosa, Chem. il ne surpasse 8 gr. Impressions musculaires plus profondes. Côtes rayonnantes moins saillantes et moins nettement dessinées. | La forme est três différente. Plus convexe, beaucoup plus raccourcie et moins applatie. Les bords supérieur et inférieur sont plus arrondis. Ces différences dans la fora, lui donnent un tout autre aspect. Long. 58 mm., haut 49 mm., épais. de la valve 19. ES a qe Re a ca e É 7 vi dl ad ki j ad cin RR Pon my do ; o, o me o RNA bj Ti U Ê iii j (0 NATURAES E SOCIAES 33 gua Er k, | . Hg m., Nas I E. rugusa, “Chem. long. 58 mm, O 38 mm, nerd oe de la valve 14 mm). “Je me fais un plaisir de dédier cette nouvelle dapêce à é K Arnault Locard, de Lyon, qui a enrichi la science ma- bh, lacologique avec un grand nombre de magnifiques ouvrages. go e o à lui sa de E as toute ma reconnaissance y “sieurs espêces du Portugal de ma Elec aussi bien que ima. considération pour ses piu connaissances conchy- liologiques. ne M. PáuLino D OLIVEIRA. >. / Ê o f g [ / VARIA Nourelles études sur la géologie du bassin du Congo En 1888, la description de ncmbreux matériaux rapportés d'An- gola par M. Lourenço Malheiro (1), nous amena à résumer les connais- sances géologiques relatives au versant occidental de !'Afrique équa- toriale. A cette époque, les données géologiques sur cette région prove- naient en majeure partie de personnes n'ayant pas fait de la géologie une étude spéciale; ce n'étaient donc que des observations isolées ou même des échantillons récoltés au hasard, sans être accompagnés d'obser- vations. Depuis lo trois géologues de profession ont dolar différents territoires de cette vaste région. M. E. Dupont (2) a porté ses observa- tions sur le cours inférieur et le cours moyen du Zaire, ) pes à son con- fluent avec le Kassai. M. Jules Cornet (3) a accompagné expédition du capitaine Biat dans les territoires de la Compagnie du Katanga, c'est à dire, dans la région comprise entre le Lualaba et le Luapula supérieur, bornée au (1) Choffat et de Loriol. Matériaux pour Vetude siratigraphique et paléontologique de la province d' Angola. Génêve, 4º, 116 p., 8 pl. (2) Ed. Dupont. Communication sur la géologie du Congo. (Bulletin de la Société belge de géologie, de paléontologie et d'hydrologie, tome 1, 18883, p. 44-51). — Letires sur le Congo. 8º, 724 p., 11 pl. Paris 1889. (3) J. Cornet. Die geologischen Ergebnisse der Katanga- Expedition. (Petermanns Mitteilungen, 1894, 1 carte). Les formations post-primaires dy bassin du Congo. (Annales de la Société géologique de Belgique, 1894, 87 P., 1 pl). Les gisements métallifêres du Katanga. Mémoires et publications de la Sociélé des Sciences, des Arts et des Leltres du Hainaut, 1894, 56 p.; 2 pl.). NATURAES E SOCIAES tio Nord par le 9º parallele et au Sud par la ligne de faite Congo-Zambeze, territoire qui fait partie de l'ancien royaume du M'siri. Il y a séjourné de novembre 1891 à janvier 1893. Le troisiême observateur est M. Maurice Barrat (1), qui de juillet à décembre 1393 a étudié la région de "Ogooué, dans le Congo français, entre le cap Lopez, Franceville et Libreville. Ses observations ont donc eu lieu au Nord et au Sud de VEquateur, bien au Nord du champ d'action des deux savants précités, mais on possêde quelques observations sur les régions intermédiaires; celles d'un voyageur allemand, M. Peschuel- Loesche et celles, encore inédites, de deux agents de la colonie fran- çaise, M. Barrat nous en donne les principaux résultats. | ll est acquis depuis un certain nombre d'années que « la partie du continent africain, qui s'étend au Sud de la région saharienne, est consti- tuée io par des massifs déprimés, formés de couches archai- ques (?) et paléozoiques fortement plissées, recouverts de couches pres- que toujours horisontales, s'étendant sur des espaces immenses et con- “sistant le plus souvent en conglomérats, en grês plus on moins cohé- rents, en schistes argileux, etc. » Les observations des explorateurs précités nous renseignent non seulement sur des questions de détail sur les régions observées, mais elles ont permis de fixer les traits généraux de la séologie du bassin du Congo. A la fin des temps primaires aurait émergé un vaste continent re- liant VAfrique australe à VInde, à "Australie et peut être à une partie de "Amérique du Sud. Des Assento partiels se produisirent, lais- sant entre eux des buttoirs (horste, massifs surélevés) ne prenant pas part “au mouvement d'aflaissement. Telle est la grande ligne de faite qui sépare V'Afrique en deux grandes régions hydrographiques, ligne qui de Visthme de Suez longe la côte occidentale de la mer Rouge, passe entire le Tanganica et le Nyassa, puis se confond avec la crête de partage Congo-Zambeze, jus- qua la rencontre des chaines paralleles à la côte de |" Atlantique. Le bassin du Congo forme donc une vaste dépression comprise entre ces deux massifs et ceux qui le limitent vers le Nord. | Les agents atmosphériques agissant sur l'ensemble du continent, charriaient des matériaux jusque dans les dépressions, ou ils se dépo- (1) M. Barral n'a encore publié que deux notes préliminaires, dans les Comptes-rendus de VAcadémie des sciences. Elles ont pour ltilre: Trois coupes géologiques du Congo français, et Sur la géologie du UVongo fran- cais, 22 et 29 octobre 1894. 36 | REVISTA DE SCIENCIAS E nd ti A tio SEO ui SE E salent plus ou moins horisontalement, en discordance sur les terrains primaires. Ces dépôts ont donc à peu prês le même àge des deux côtés de la grande ligne de faite dont ;l vient d'être question, et pourtant ils pré- sentent des différences assez notables pour ne pas permettre le parallé- lisme entre leurs subdtvisions. Sur le versant sud-est, ces couches ont reçu le nom de formation de Karoo, dans laquelle les géologues anglais ont distingué les étages suivants, énumérés de bas en haut: les conglomérats de Dwycka, les schistes d'Ecca, les schistes de Kimberley à végétaux, les orês de Beau- fort à reptiles et végétaux. Au sommet se trouvent les couches de Storm- berg, contenant aussi des reptiles et dont les végétaux donnent lieu à des couches de houille. Ce dernier étage est considéré comme triasique; c'est à lui qu'appartiennent les grés de Sena et de Téié. Les depôis formés dans lancien lac du Congo sont loin d'être aussi variés. M. Dupont, et aprês lui M. Cornet, y distinguent deux di- visions qui pour le moment ne peuvent pas être parallélisées avec I'une ou Vautre des divisions des grês de Karoo. Ce sont: le systême de Kundelungu, formé par des psammites et des grês rouges à grain fin, recouvert en discordance par le systeme de Lubilache, formé par des arkoses, des conglomérats et des greês friables de couleur blanche. Les fossiles y sont extrêmement rares, et sauf erreur, ne consistent qu'en un exemplaire rappelant les Ampullaires, trouvé par M. Dupont dans le systême supérieur, Il existe pourtant des fossiles sous le même parallele, sans tenir. compte de la mention douteuse faite par Livingstone d'un tronc d'arbre provenant de Pungo-Andungo, Nous avons mentionné deux troncs pro- venant de Cazengo (!), et en 13893, un habitani de Cabinda apportait à la Société de géographie de Lisbonne un échantillon de bois fossile, et afirmait qu'ils sont nombreux dans cette contrée. Enfin, nous avons aussi mentionné les petits fossiles des grés bitumineux de Libungo (2), que se rattachent peut être à la même formation. Mais il est à remar- quer qui ces trois localités se trouvent à !'Ouest de la chaine qui limite Vancien lac du Congo. Une autre différence entre ces dépôts de grês au Nord et au Sud (1) Choffat et de Loriol, p. 36. (2) Idem, p. 39. Cest donc à tort que M. Barral dit: « Enfin des élu- des paléontologiques de M. Choffat sur la province d'Angola démontrent que les dépôts fossiliféres les plus anciens qui aient été signalés sur la côte oc- cidentale d'Afrique appartiennent à Falbien et au Vraconnien. » NATURA ES E SOCIAES é ri RE dela grand ligne de faite, consiste en ce que le systêéme du Karoo con- * tent de nombreuses intercalations de rockes éruptives, tandis qu'au W Nord de la ligne de faite, on ne connait de ces intercalations qu'au Sud * du Tanganica. | “Nous avons vu que le systeme de Lubilache repose en discordance sur celuí du Kundelungu. Il y a plus, sur une grande surface située sur | la rive gauche du Lualaba, il repose directement sur les roches primai- res, ce que M. Cornet attribue à une dénudation des couches de Kun- | delungu, destruction antéricure au dépôt des couches de Lubilache, et É qui, sur d'autres points, n'aurait affecté que la partie supérieure du systême. Cette destruction correspondrait à une période ou le régime lacus- | tre aurait fait place à un régime fluvial, autrement dit. à un premier E - écoulement des eaux du lac du Congo, tandis que le creusement du lit | du fleuve à travers la bordure occidentale a eu pour résultat I'écoule- ment definitif de ces eaux. Les terrains anciens formant les chaines de montagnes du pourtour présentent aussi quelques afileurements dans le bassin lui-même ; ils se trouvent sur les points ou les vallées ont creusé leurs lits à travers toute Vépaisseur des grês horizontaux. Les observateurs antérieurs avaient deja donné des coupes à tra- vers la bordure occidentale, permettant de se faire une idée plus ou moins vague des terrains qui la forment sur les chemins les plus par- courus entre le paralleéle de !'embouchure du Zaire et celui de Mossa- || medes, mais les études actuelles entrent dans un démembrement des | terrains anciens. Celles de M. Barrat nous les font connaitre sous V'égua- G teur, celles de M. Dupont, le long du cours moyen du Zaire et celles - de M. Cornet au centre du continent. A M. Dupont est le seul qui ait rencontré des terrains fossilifêres dans les terrains paléozoiques. Ce sont des calcaires corraligénes parais- sant appartenir au Dévonien. M. Cornet donne une classification détaillée des roches anciennes formant la limite méridionale du bassin du Congo, mais comme il n'y a = pas rencontré de fossiles, il évite le parallélisme prématuré qu'entraine- 4 rait emploi de termes stratigraphiques connus, et établit sa classifica- -— tion en employant des noms géographiques de la contrée. E Ce n'est pas ici le lieu d'entrer dans le détail d'une classification | compliquée, basée sur des différences pétrographiques, nous nous bor- 3 nerons à citer ses divistons générales pour le Haut-Congo: A, terrains | anciens métamorphiques; B, terrains anciens non métamorphiques; C, formations post-primaires; D, terrains détritiques superficiels, Comme roches éruptives, JYauteur cite des granites, pegmatites, RT diorites, syénites; il fait remarquer qu'il n'a pas trouvé trace de roches éruptives modernes, tandis que MM. Capello et Ivens citent un échan- tillon de phonolithe provenant des limites méridionales du bassin du Lualaba. Le doute émis par I'auteur sur la détermination n'est sans doute pas fondé, mais n'y aurait-il pas eu transposition d'étiquettes, comme cela s'est produit pour les fossiles tertiaires de Mossamedes (!) donnés comme provenant du Katanga ? Sous le nom de formations post-primaires, l'auteur entend les grés horizontaux, ce qui nous fait voir une différence notable entre les traits fondamentaux de la gévlogie de VAfrique australe et ceux de | Europe, puisque ces grês horizontaux appartiennent probablement en partie au systême carbonique. Les terrains détritiques superficiels sont classés dans trois catégo- ries: 1º Les produits d'altération sur place, que Vauteur compare à la latérite de V'Inde; 2º Les dépôts des flancs des vallées et des plateaux voisins, consistant en alluvions argilo-sableuses avec lits de galets, et indiquant les différentes phases de l'abaissement du niveau du grand lac primitif; 3º Les alluvions du fond des vallées, qui sont encore partielle- ment en voie de formation. M. Barrat termine sa derniére note en faisant ressortir Videntité compléte de constitution entre la contrée qu'il a étudiée et celle qu'a étudiée M. Cornet, malgré la distance de 3:000 kilometres qui les sé- pare. Ses conclusions résument 'état de nos connaissances stratigraphi- ques sur ces vastes territoires : «Les terrains du Congo peuvent être divisés en quatre groupes principaux: 1º I'Archéen proprement dit n'étant pas encore signalé d'une façon certaine, nous attribuons au Précambrien et au Silurien tous les terrains métamorphiques et cette formation de schistes ampé- liteux, de phtanites et de dolomies, si analogues aux roches de Bretagne et en parlie atteintes par le métamorphisme; au Dévonien et au Carbo- nifêre inférieur, la formation calcaréo-schisteuse du Congo et du Koui- lou et comme équivalent dans 1'Ogoové, les schistes argileux et les ar- koses à ciment calcaires; 3º les grês rouges et blancs (horizontaux) comprendaient peut-être le Houwiller, tout le Permo-trias et même Pinfralias; 4º les terrains fossiliferes, allant du Crétacé au Moderne s'étalent le long du rivage au pied du plateau africain. » Au sujet de ces derniers terrains, mentionnons un fait important pour la connaissance des dépôts crétaciques du littoral, c'est la décou- (1) Voyez Choffat, Colonies portugaises en Afrique. (Communicações da Commissão dos trabalhos geologicos, vol. 1, p. 343). NATURAES E SOCIAES j 39 is ME, dee o E 1 E ermppágues menedesipnço a mote reempçao cmrene-miimo $ j q verte à Libreville d'un calcaire que deux fossiles permettent de rappor- A ter au Turonien. Ce fait confirme les indications assez vagues de strates | supérieures au Cénomanien, contenues dans les récoltes de M, Malhei- | ro (!) dans la province d'Angola. ; De nouvelles études sur le Crétacique de VInde et de Natal (2) * donnent une importance toute particuliêre à la connaissance des fossiles e cénomaniens d'Angola, | La faune cénomanienne de "Inde méridionale montre qu'il y avait communication entre la mer de ces parages et celle qui baignait le Sud de la France et le Nord de V'Afrique. Cette communication ne pouvait pas avoir lieu directement, car “la faune contemporaine du Nord de V'Inde est absolument différente de celle du Sud; elle devait avoir lieu en contournant VAfrique. Or les seuls témoins connus pour le moment consistent dans les dépôts céno- maniens d'Angola et de la baie de Corisco, car c'est à tort que la partie inférieure du Crétacique de Natal a été Re EnoniE au Cénomanien; elle est beaucoup po récente. a Lisbonne, le 8 avril 1895. PauL CHorrarT. (1) Loc, cit., p. 26. (2) Franz Kossmat. Die Bedeulung der súdindischen Kreideforma- bon fur die Bewrlheilung der geographischen Verhaltnisse wahrend der spateren Kreidezei. (Jahrbuch der K. K. geologischen Reichsanstalt, 1894, vol, 44, p. 459 à 478). Questões Aquicolas (RESPOSTA A UMA APRECIAÇÃO) O snr. Augusto Pereira Nobre, no numero de janeiro passado dos cAnnaes de Sciencias Naturaes, aprecia os dois trabalhos que esta Re» vista me fez a honra de publicar nos seus ultimos numeros. É possivel que o snr. Pereira Nobre me negue o direito de apreciar essas suas producções, assim como affirmou que não tinha que discutir o seu projecto de estação aquicola no rio Leça; mas, embora me ar- risque a incorrer nas censuras do snr. Pereira, vou, certamente com pre- juiso dos leitores d'esta Revista, seguir pari-passu a critica dos An- naes, devendo desde já advertir que a confusão com que estão feitas as apreciações do snr. Nobre hão-de evidenciar-se n'esta resposta, que se limitará a seguil-o. Isto posto, diz o snr. Pereira Nobre que bem differentes fins teem os dois projectos de Laboratorio em Leça e em Aveiro e mais adeante classifica os assumptos concernentes á piscicultura em « estudos ácerca de pesca, cultura das aguas e sciencia pura» esquecendo-se, porém, de fixar os limites de cada uma d'essas classes que, em todos os traba- lhos sahidos dos laboratorios estrangeiros, estão ligadas e tão cheias de dependencias que entendi, no meu projecto, reservar logar para ellas todas, como o snr. Pereira poderia observar até n'um relance d'olhos, lendo a legenda que acompanha a gravura da minha memoria. Em seguida, o snr. Nobre estranha que eu recorra aos trabalhos do snr. Baldaque da Silva e não cite estatisticas que elles não conteem, embora se esqueça de que no meu estudo, publicado no n.º 12 d'esta “Revista, em pag. 200, me pronuncio contra uma affirmação do mesmo snr. Baldaque. Demais o snr. Pereira, que se tem especialisado em es- tudos zoologicos e que é agora editor e redactor de uma revista de sciencias naturaes, ainda até hoje nem ali, nem, que me conste, em NATURAES E SOCIAES 41 neem somam imo cpepsem. him toy sai toninto agp ção outra mm gema = comme mo + me um uam pm o ça 0 ts mt e tr meme mem oco “qualquer outra publicação, apontou os erros que dá a entender que exis- “ tem no livro do snr. Baldaque da Silva em que parece que creio cega- “ mente, diz o snr, Nobre. Devo, porém, notar que, não sendo zoologo “e tendo a meu cargo serviços officiaes bastante complicados e muito - trabalhosos, só na região em que exerço o meu mister é que posso apre- “ ciar o que diz o snr. Baldaque da Silva, no seu Estado actual das pes- “cas em Portugal e ahi encontro aquella publicação conforme com o que vejo. Demais o livro do snr. Baldaque da Silva, tendo que abran- “ger todo o paiz, não podia demorar-se a descrever minuciosamente cada região especial a que se refere; e esse é o motivo, decerto, porque se não occupou mais detidamente da ria d'Aveiro que, para um estudo demorado, demandaria um livro, pelo menos, tão volumoso como o do - snr. Baldaque. Um trabalho de tal natureza, de resto, exigiria que se - lhe consagrasse não alguns instantes, furtados a outras occupações, mas o estudo demorado e consciencioso de um naturalista, que não — existe aqui, e que fizesse para a vasta região alagada d'Aveiro o mesmo que o snr. Pereira Nobre, ha muitos annos, está fazendo, principalmente para o estudo conchyologico, na região littoral que abrange alguns ki- “lometros para o norte da Foz do Douro. ; Depois o snr. Pereira accusa-me de desconhecer a importancia que, para a pesca maritima, determinou o porto de Leixões e apresenta uns dados estatísticos relativos ao incremento d'esta industria, n'aquelle lo- “cal, nos ultimos annos, Ora o systema de pescarias, nas costas do norte do nosso paiz, póde comparar-se com a lavra que os mineiros chamam de rapina, devendo accrescentar-se que, além d'isso, é uma rapina mal — outilée. Os barcos, sem coberta, não conteem apparelhos frigoríficos, nem tanques para a conservação do peixe vivo, que, de resto, o consu- “ midor não exige, como succede no estrangeiro e principalmente na Hollanda. Por isso os pescadores vão ao acaso lançar as redes ao mar, — e, se podem, regressam a casa poucas horas depois, sem que, na sua - aleatoria viagem, fossem guiados por indicações como, por exemplo, as que o governo norueguez fornece aos pescadores nas ilhas Loffoden ou - sem serem avisados dos temporaes, como succede em Inglaterra com a National life-boat institution. Se o mar se levanta, o porto de Leixões presta então relevantissimos serviços, salvando as vidas de todos aquel- les que, em vez de quererem volver a suas casas, a elle se abrigam, "como se evidenciou na medonha tempestade de 1892. Ha tambem os — vapores de pesca, cujas vantagens parecem ser problematicas segundo “a opinião da Commissão de Pescarias, que veem trazer um importante contingente ao augmento da pesca; e por fim, se o snr. Pereira Nobre se dístrahisse um pouço dos seus estudos conchyologicos observando o “viver dos poveiros, haveria de notar que a arribada a Leixões de qual- 42 REVISTA DE SCIENCIAS quer lancha, determina, no regresso dos seus tripulantes à Povoa, gran- des ralhos e não sei se algumas contusões entre os habitantes do bairro piscatorio, por isso que os poveiros deixam sempre em Leça e Matho sinhos o producto da pesca vendida. Por isso deve concluir-se que o augmento da pesca, no porto de Leixões, além do incremento determi- nado pela pesca a vapor, está na razão directa dos riscos que corre a vida do pescador no mar, o socego d'elle em terra e talvez a integri- dade das costellas das consortes, no regresso á Povoa, A pesca na ria d'Aveiro attenuaria incomparavelmente os riscos do pescador e forneceria amplamente o paiz, durante O inverno, de peixe d'agua salgada. | Ainda os dados estatísticos apontados pelo snr. Pereira nada pro- vam, isolados como estão, sendo preciso distinguir, em primeiro logar, a percentagem que cabe aos vapores de pesca, em seguida a que pro- vem de arribadas forçadas, em que o peixe, por não poder ser conser- vado, tem que ser vendido, e o resto é que indicaria o producto colhido pela povoação piscatoria local. Se da comparação d'esse resto com o producto da pesca na região littoral d'Aveiro proviesse augmento sensi- vel, colheria o argumento do snr. Pereira Nobre, porque as estatisticas que citei, as unicas que contem o livro do snr. Baldaque, são anteriores ao desenvolvimento das pescarias a vapor que, a estabelecerem-se aqui, provocariam graves desordens entre os habitantes da região d'Aveiro, embora se reconheça que uma empreza d'essa ordem daria bons lucros, ccmo deu outr'ora a pesca do alto, em lanchas, a qual teve de ser aban- donada por causa do repetido mau estado da barra d'Aveiro, antes das obras executadas pelo snr. general Silverio Augusto Pereira da Silva. Mais adeante, o snr. Nobre attribue-me o intuito de ayultar o va- lor das pescarias desde a Torreira até Mira e diz que, se fizesse o mes- mo para a região que vae desde o Douro até á Povoa de Varzim, subi- ria o valor do pescado a mais de trezentos contos. Ora querer incluir n'uma região hydrographica uma faxa de ter- reno em que desaguam no mar, além do rio Douro, os rios Ave e Leça, para a comparar com a região hydrographica do Vouga é ignorar por completo (!) a importancia da ria d'Aveiro, com relação ao transporte da pescaria maritima das praias indicadas na minha memoria, e demais, quando aquelles valores não entram em linha de conta na comparação das estatisticas que aponto, no quadro de pag. 25 do nº 9 d'esta Re- vista. Passa depois o snr. Pereira Nobre a justificar a sua insistencia a (1) Vid. A. Nobre. An. de sc. nat., pag. 58. É “ a r NATURAES E SOCIAES | 43 favor do Laboratorio no Leça, lembrando a escolha do governo francez com relação ao Laboratorio maritimo de Boulogne-sur-mer, mas es- quecendo-se"de que foi a pesca interior, n'uma região congenere da ria d'Aveiro, que determinou: o estabelecimento do Laboratorio d'Arca- chon, o que mereceu do zoologo Paul Bert umas palavras de louvor, que em outro logar, transcrevi (1) e das quaes se deprehende que o La- boratorio d'Arcachon é bem mais antigo do que o de Boulogne e até do que outros "de fundação anterior á deste. . Parece me, portanto, que houve precipitação por parte do snr, No- bre, quando affirmou ique o governo francez não fez caso das regiões alagadas identicas á ria d' Aveiro. | - Em referencia á cultura das aguas, a que seguidamente allude, affirma o snr. Pereira Nobre que as do rio Leça são excellentes, mas não explica porque é que estão”deshabitadas, e depois acha que, na es- colha de uma estação aquicola, é um erro olhar para a importancia da corrente d'agua em que ella se estabelece. Confinado nos seus estudos zoologicos, vê-se que o snr. Pereira desconhece por completo (2) que a polluição das aguas dos rios com as lavagens de minerios, a ma- ceração dos'linhos e os dejectos de fabricas e povoações é um mal difi- cilmente remediavel entre nós e tanto maior quanto menos importancia piscicola tiver:uma corrente d'agua.Com effeito, quando haja poucos interesses lesados, pequeno será o numero de reclamações contra um estado de coisas que se pratica impunemente por falta de polícia e sem impedimento talvez das auctoridades, apezar dos preceitos contidos nos artigos 441.º e 443.º do Codigo Civil, no art. 6.º do Decreto n.º 8 de 1 de dezembro de 1872, nos artigos 219.º, 228.º e 290.º do Regulamento do serviço hydyaulico, no paragrapho unico do art. 238.º do Regula- mento das capitanias dos tortos e por fim no art. 38.º do Regulamento dos serviços aquicolas. Por isso, em contraposição ao snr. Pereira e at- tendendo aos: habitos do paiz, entendo que deve preferir-se, para uma estação aquicola, aquelle rio em que haja maior quantidade de interes- ses piscicolas já creados, por quanto maior será abi a reacção contra qualquer tentativa industrial mineira ou hygienica de corrupção das “aguas e os interesses creados serão os primeiros a políciar, sem onus - para o estado, o que para elles é um logradouro commum. Logo depois acceita (3) o snr. Pereira Nobre que as aguas salga- das da ria sejam tão uteis para a fecundação dos peixes como as do (1) Vid. Engenheria e Architectura, pag. 19, col. 1.º (3) Vid. An. cit, pag. 54 e 57. (3) Vid, An. cit. pag. 15. 44 REVISTA DE SCIENCIAS ' Leça embora ache que o Laboratorio no Leça está mais perto do mar e por isso em melhores condições do que Aveiro. Este assumpto só póde ser decidido por meio de uma analyse das condições physicas e chimicas das aguas colhidas nos dois locaes e em epochas e circumstancias diversas, acompanhando essa analyse do exa- me das influencias d'ellas nas condições biologicas e physiologicas dos animaes. Nem a brevidade com que respondo ao snr. Nobre, nem as) minhas occupações ofliciaes me consentem que me dedique a este es- tudo, para o qual careceria, de resto, de uma longa preparação ante- rior. Parece-me portanto que bastará, por emquanto, notar que as aguas, que o snr. Pereira anteriormente afiirma que existem n'um poço de terrenos alagadiços, no laboratorio que projectei, eram colhidas em local em que a corrente d'agua ha quatro annos deitou por terra, infra-excavando-o, um pegão d'alvenaria d'uma ponte, que está a pouco | mais de cem metros a jusante do local destinado á abertura do aquedu- cto para conducção das aguas d'alimentação do laboratorio e onde, ha poucos dias, a cerca de 200 metros para montante do mesmo local, in- fra-excavou e demoliu perto de vinte metros de muro do dique da Cambea. Uma corrente d'agua salgada que se manifesta por estes effei- tos, até prova scientifica em contrario, póde ser acceite sem escrupulo. pelo snr. Nobre como igual á do mar, porque outra não é. Por outro lado não ignora decerto o snr. Pereira Nobre que, se o porto de Lei-. xões já evidenciou a sua importancia sob o ponto de vista humanitario como porto de abrigo, ainda está por organisar como porto commer- cial, Em estudo se acha este assumpto, de que, já em tempos, tractou O fallecido general snr. Nogueira Soares e de que ha pouco a Revista de Obras Publicas e Minas publicou um projecto notabilissimo dos snrs. engenheiros J. Thomaz da Costa e J. J. Pereira Dias, Executado esse projecto, que ignoro se já foi apreciado pelo conselho superior de obras publicas, a agua do mar entraria no rio Leça através de uma eclusa e, como o desejo de cada portuguez é que o porto de Leixões tome um incremento de tal ordem que, em breve, não bastem as duas eclusas agora projectadas e orçadas e dentro de pouco seja preciso executar as ampliações para o mesmo porto indicadas pelos dois notaveis engenhei- ros acima referidos, concluir-sce-ia que a agua salgada do rio Leça, agora recebida já da bacia de Leixões, em breve só entraria no rio atravez de uma eclusa e em determinadas horas. Demais convem observar que os 1:350 metros que dista do mar o Laboratorio d' Aveiro são contados a partir do local em que quebram as vagas com violencia e, accrescentando- se á distancia de Soo metros, que o snr. Nobre designa para o seu Laboratorio no Leça, a que vae desde a antiga praia até ao musoir do molhe do sul, em que quebra o NATURAES E SOCIAES 45 mar, vê-se que a estação aquicola do Leça ficaria a cerca de 1:500 me- Ee tros do mar agitado: portanto, em circumstancias identicas, com rela- - ção á distancia, ás do mar em Aveiro. Reduzido pois ás devidas proporções o que o snr, Pereira refere, emquanto á qualidade da agua e à distancia d'ella do mar, convem " apontar a objecção que em seguida lhe suggere o meu estudo. ; “Duvida o snr. Pereira Nobre que o Laboratorio de Aveiro consiga * repovoara ria e apoia a sua affirmação n'uma transcripção de uma me- * moria do snr. Fonseca Regalla, transcripção que extranha não vêr no E meu lrabalho ácerca do Laboratorio maritimo d'Aveiro. Embora me a “custe, devo confessar que lamento não ter referido a passagem que cita | osnr. Nobre e que seria mais um argumento em favor do Laboratorio em Aveiro, como de resto o foi para o snr. Regalla para demonstrar a necessidade de regulamentar a exploração da ria. Com effeito, attribue- — se ao moliceiro a devastação da fauna da ria e outro nome não tem Rd exploração que aqui se pratica nas aguas; mas ha quem contraponha a este modo de pensar a ideia de que o ancinho faz na ria um traba- — ho identico ao do trawl e lembre a opinião de alguns naturalistas | inglezes, como Yarrell, Buckland e outros, que asseveram que é de - grande utilidade para os peixes o trabalho dos arrastões. Com relação ás duvidas que suggere a opinião dos inglezes já largamente escrevi na Engenheria e cArchitectura (!) e por consequencia limitar-me-hei a ap- E plicar o que já por duas vezes publiquei (2). Um estabelecimento cuja probidade scientifica não possa ser posta em duvida, como é aquelle E cuja creação propõe o snr. Rocha Peixoto, será a unica estação capaz - de justificar as medidas que sé tomem ácerca da regulamentação da apanha dos moliços, a que já na camara dos senhores deputados se chamou uma dragagem inconsciente, que attenua o assoriamento a que está sujeita a ria d Aveiro. Só o veridictum d'uma estação da compe- “tencia do Laboratorio marítimo d'Aveiro poderia indicar, com precisão, se ha epochas em que a apanha dos moliços não seja nociva na ria e quaes ellas são e só com a certeza das decisões scientificas é que o go- - verno poderia manter integralmente os regulamentos e decretos, cuja “execução é obrigado a fazer sustar todas as vezes que lhe fazem vêr que é preciso obtemperar ás imposições da politica local, por isso que — essas imposições se basciam na aflirmativa da impossibilidade na appli- — cação dos preceitos legaes a uma dada região hydrographica. Apezar | do desconhecimento por completo da bacia hydrographica do Vouga, com que me brinda o snr. Nobre, depois de aqui exercer o meu mister (1) Vid. Engenherid e Archileciura, 2.º anno, pegs. 299, 206 e 314. (2) Vid, Revista de Sciencias Nalurues e Socides, n.º 11, pag. 132, ” 46 REVISTA DE SCIENCIAS de engenheiro ha perto de oito annos, posso assegurar-lhe que, se ap- parecer aqui com o regulamento dos serviços aquicolas, em que colla- borou como membro da Commissão central permanente de piscicultu- ra, ouvirá dizer, não só a pescadores mas a gente illustrada, que aquelle regulamento não serve para a ria e apontar-lhe-hão argumentos e factos que o deixarão desorientado e lhe provarão que só com experiencias executadas, por assim dizer, á vista dos seus contradictores, é que po- derá convencel-os da proficuidade do regulamento approvado por de- creto de 20 d'abril de 1893. Ora esses mesmos argumentos e factos, que apontarem ao snr. Pereira Nobre, são os mesmos que exporão a s. ex.ºS os ministros das obras publicas ou da marinha ou até a El-Rei e estarão convencidos da veracidade do que affirmam, de modo que os poderes publicos, desajudados de factos e experiencias que provem á evi- dencia o contrario, não teem remedio senão usar de brandura, attenuan- do os rigores das disposições legaes que decretaram. A seguir, falla o snr. Pereira no parque modelo, proposto pelo snr. Baldaque da Silva, « auctoridade constantemente citada » por mim, escreve e insiste o snr. Nobre; mas como já em pag. 200 do n.º 12 d'esta. Revista apreciei a ideia do snr. Baldaque, apezar do snr. Nobre a isso não alludir na sua critica, julgo-me dispensado de repetir o que então expuz, embora seja obrigado a dizer alguma coisa com referencia á pro- posta que faz o snr. Pereira Nobre do ensino da piscicultura na Escola Industrial de Aveiro. Em primeiro logar convem notar que, accedendo a uma bem fun- damentada representação da camara municipal o snr. conselheiro Ber- nardino Machado, então ministro das obras publicas, creou em Aveiro, junto do Asylo-Escola districtal, uma aula de desenho industrial e não uma escola industrial como diz o snr. Nobre. Acha-se essa aula instal- lada n'uma sala que, apezar de espaçosa, em breve não chegará para os alumnos que, em grande numero, a frequentam, e, como todas as de- pendencias do ensino industrial, se encontra debaixo da superintenden- cia da direcção geral do commercio e industria. | - Por outro lado os inconvenientes de estarem os negocios da pesca dependentes de dois ministerios já foram por mim largamente expos- tos em pag. 202 do n.º 12 d'esta Revista, onde se vê o receio com que expuz o alvitre de reunir as duas commissões de pescarias e cen- tral permanente de piscicultura. O snr. Nobre, porém, acha que a Com- missão central permanente de piscicultura já está em demasia sobrecar- regada, embora não sahisse por emquanto do campo theorico, e alija para a repartição do ensino industrial o ensino da piscicultura n'uma região da importancia d'Aveiro, sem explicar como é que a Commissão central, que depende da direcção geral d'Agricultura, havia de superin- NATURAES E SOCIAES 47 tender no ensino ministrado n'esta escola, que, certamente, havia de corresponder aos fins indicados no numero 11.º do art. 4.º do regula- mento dos serviços aquicolas, em qué collaborou o mesmo snr. Nobre. Havia no alvitre do snr. Pereira, como se vê, um sem numero de diffi- culdades praticas: mas uma linha lhe bastou para resolver este as- sumpto dizendo ainda n'essa linha que existe em Aveiro uma escola que ninguem ahi conhece. “a De passagem lamentarei que o snr. Pereira Nobre, que extranhou "| que eu não citasse um excerpto de À ria d' Aveiro e as suas industrias "| não lançasse mão do mesmo livro para examinar a «relação por certo q incompleta emquanto ao numero de peixes e mariscos que habitam e habitaram a ria permanentemente ou accidentalmente », como escreve E — osnr. Fonseca Regalla (!), que, não tendo que estudar as faunas que E habitam o littoral, os fundos maritimos e os rios que desaguam na ria || «Aveiro, apenas indica 53 especies, das quaes 49 ainda são vulgarissimas. | D'enyvolta com a pesca aproveitada nas redes e com as algas que o mar Á arremessa á praia em seguida aos temporaes, nos rios, nos lodos e nas pedras d'esta região hydrographica ha, porém, interessantes exemplares a estudar. Ora uma região que mede 5o kilometros de norte a sul, “que não teve por emquanto a sorte de possuir um naturalista que n'ella - - fizesse o mesmo que ha muitos annos praticam o snr. Pereira Nobre e | outros para alguns poucos kilometros de littoral junto ao Porto e que — todos os que a veem despreoccupadamente consideram riquissima, ape- nas merece do snr. Nobre estas palavras: «a ria e só a ria empobrecida.» E é a isto que o'snr. Nobre chama: «um confronto dos dois locaes sob o ponto de vista dos estudos de sciencia pura ! » - É Voltando-se para o meu trabalho, inserto no n.º 12 d'esta Revista, | | escreve o snr. Pereira: « nada teria que responder a tal apreciação senão | encontrasse ahi referencias á Commissão central permanente de pisci- | cultura a que pertenço, além de outras méramente pessoaes.» (2) Ora devo dizer que se o snr. Nobre faz parte da Commissão cen- tral permanente de piscicultura em virtude do n.º 8 do art. 2.º do De- P creto de 30 de setembro de 1892 e igual numero do primeiro artigo do regulamento geral dos serviços aquicolas, taâmbem um dos directores d'esta: “Revista, o snr. Rocha Peixoto, faz parte da mesma Commissão Fr e em virtude das mesmas circumstancias que concorrem na pessoa do snr. Pereira Nobre. O snr. Rocha Peixoto não encontrou, porém, que objectar ao meu trabalho, não sendo de presumir que a Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes, além da honra que me faz em publicar TOS “ma (1) Vid. 4 ria d'Aveiro e as suas industrias, pag. 39, E. (2) Vid, An. cit, pag. 56. 48 REVISTA DE SCIENCIAS os meus estudos, não os sujeite ao exame dos seus directores e princi- palmente d'aquelle que mais de perto lida com questões a que se refe- rem os mesmos artigos, Vejamos, porém, em que é que me tornei aggressivo para com a Commissão central permanente de piscicultura, Escreve o snr. Nobre logo depois do que acima fica transcripto: « N'este artigo attribue o... Mattos á Commissão de piscicultura reso- luções que ella nunca tomou quando affirma que: « Nada haveria que di- zer ao estabelecimento destinado para Aveiro pela Commissão central permanente de piscicultura.» (!) Ora, por mais que procure semelhante phrase no meu trabalho, publicado no n.º 12 d'esta Revista, não a en- contro lá e imagino que o snr. Pereira Nobre confundiu «os intuitos da Commissão central permanente de piscicultura» expostos pelo snr. Bal- daque da Silva, inspector dos serviços aquicolas com resoluções que ignoro se elle tomou. Ora a respeito d'esses intuitos é que escrevi: « Nada haveria que objectar a este programma, se não encerrasse a no- ticia do projecto de uma piscina industrial para Aveiro.» Ora a confu- são do snr. Pereira Nobre é tanto mais para lamentar quanto encontra- ria n'essas phrases a resposta ao que escreveu em pag. 54 do seu jor- nal, « À ideia da construcção de um parque modelo foi igualmente apresentada pelo snr. Baldaque da Silva. (A agricultura nacional, pag. 56, 1894) auctoridade constantemente citada plo - Mattos.» Depois avisa-me o snr. Nobre, por eu mostrar des de conhecer «cs motivos que levaram a Commissão a escolher o rio Ave» de « que a Commissão de piscicultura não se negará a dar todos os esclareci- mentos pedidos, quando estes lhe sejam requeridos nos termos compe- tentes, accrescentando, porém, que essa escolha resultou de decisão mi- nisterial em face do parecer da Commissão central, dado sobre o inque- rito de uma sub-commissão especialmente para esse fim nomeada » . Na sua resposta, que não devo por emquanto considerar senão como opinião individual, vejo que o snr. Pereira Nobre se esquece de que o art. 4.º do regulamento dos serviços aquicolas, em que collabo- rou, diz que: «a Commissão central permanente de piscicultura é consi- derada commissão technica de estudo, propaganda, ...»; que os nume- ros 2.º e 12.º do mesmo artigo determinam que se divulguem, por meio de publicações, o que se refere ás especies mais uteis a applicar nas aguas do paiz, os processos de aquicultura e pesca, os meios de conser- vação dos rios e que se diffundam pelo povo, publicando-os nos jornaes, os preceitos e regras que interessam a piscicultura; que o art. 20.º do (1) Vid. Am. cit., pag. 56. NATURAES E SOCIALES 49 O DES tio PT o E DO O A A E NO DA SNS aeee eo remeaioras ms tm am apriráca - mesmo regulamento incumbe ás commissões regionaes o estudo, pro- paganda... etc. Demais, estas disposições estão em harmonia com os intuitos do art. 3.º do Decreto de 30 de setembro de 1892 que creou a Commissão E de piscicultura, porquanto ess? artigo auctorisa a commissão a divul- gar, por meio de publicações especiaes, os processos de pesca, repro- — ducção e aproveitamento dos animaes, peixes, molluscos c crustaceos, Ee Ora depois de intuitos vulgarisadores tantas vezes c tão claramente E — expostos nos dois diplomas apontados, como é que o snr Nobre estra- | nha que se lamente que a Commissão central não vulgarisasse os tra- balhos em que assentou a sua opinião, trabalhos. por certo, de grande merecimento e que serviriam de modelo para corrigir quaesquer alvi- tres concernentes ao estabelecimento de estações aquicolas? Nem tão — pouca importancia teem, de resto, esses alvitres, quando o proprio snr. “Pereira publica, sem commentarios, na sua revista uma communica- ção do silvicultor snr. Carlos Pimentel, que propõe o rio Cavado para séde de uma estação aquicola. Ora, se fos:en conhesidos os trabalãos | “'scientificos da Commissão central permanente de pi-cicultura, a que “ alludi no n.º 12 d'está Revista, com certeza que o mesmo snr, Pimen- tel não estamparia, sem modificação alguma, no terceiro capitulo do seu recente livro Estudos florestaes, a communicação que publicaram os Eli a E A do edi o E da Ea o a E e a Td 2d ' ) S ; ; F j (1) Vid, Revue des Deua Mondes, pag. 111, tomo LIV: (2) Vid, An. cil., pag. 60. (3) Homenagem do Centro Commercial do. Porto ao Infante D. Hen- rique, 52 REVISTA DE SCIENCIAS Ainda com risco de vexar o snr. dr. Ribeiro (?), cuja modestia se afligirá por se vêr envolvido n'uma questão em que a sciencia pouco lucra, devo lembrar que elle operou como costumam proceder os ho- mens de genio. Tendo noticia dos trabalhos de Coste, no Collége de France, quiz verifical-os e, não tendo á mão peixes d'agua doce, com a confiança que só dá o muito amor pela sciencia e o desprezo pelas can- ceiras e vigilias que lhe acarretaria o seu intuito, lançou mão dos pei- xes d'agua salgada e fez com elles experiencias que só vinte annos de- pois realisou, com exito, em Arcachon, o professor Kunstler. Póde o snr. Nobre afirmar que os decretos, que nomearam os nossos piscicul- tores officiaes, lhes conferiram o prívilegio com que a natureza dotou o. snr. dr, Ribeiro? Acha po. ém o snr. Augusto Pereira Nobre que, para vulearisar os trabalhos do snr. dr. Ribeiro e para exprobar as selvagerias na pesca, chegam as communicações que inseriu no lJnstituto de Coimbra e no Boletim da Seciedade de Geografhia, que ambos se destinam ao limi- tadisssmo publico constituido pelos socios d'aquellas aggremiações, ou bastam as notícias que publicou no Commercio do Porto e “Primeiro de Janeiro que, folhas diarias como são, esquecem quando acabamos de as ler, se é que não pegamos n'ellas, como succede com a maioria dos leitores da vltima pelo menos, que, em geral, só olham ali para as noticias. Demais os diarios estão condemnados a desapparecer exce- pto nas bibliothecas publicas, em que raros serão aquelles que irão sa- cudir-lhes o pó, que os annos, socegadamente, ali depositarão. Aveiro, 19 de março de 1895. Merio DE MaTtros Engenheiro. (1) Já se achava completa esta noticia quando os jornaes annunciaram a morte do snr. dr. Abel da Silva Ribeiro. Este deploravel acontecimento veio desgraçadamente tornar inuteis as precauções que tomei ao fallar da importancia dos trabalhos d'este grande homem de sciencia, a quem, por um acanhamento justificavel, estando elle vivo, não dirigi os elogios que merecem os seus notaveis trabalhos, Sei que esta Revista se occupará d'el- les, largamente, n'um dos seus proximos numeros. o TS PO DO VE DE SAD» 1 o JR DONE y Ta. » 7 b-, cá ca A “E - +: 4 NATURA ES VI AQUILEGIA, L. A. dichroa, Freyn. Vulg.— erva pombinha ; Aqui- legia; Ars. Hab. —Logares sombrios: Valla- dares, S. Gens, Grijó, Vallongo, Recarei, Alfena, etc, Peren. 4-6 (v. v.) VIL DELPHINIUM, L. D. peregrinum, L. d. cardiopetalum, Lge. Vulg.—Esporas bravas. Hab. --Margens do rio Douro: Atães,. Foz do rio Sousa, Forno da Cal, etc. Ann. 6-9 (v. v.) PAPAVERACEAS 1 PAPAVER Tournf 2, rhseas, L. Vuls. — Papoila vermelha. Hab. — Campos: Cabedello, Araí- nho, etc. Ann. 5-7 (v. v.) P. Dubium, L. Vulg.— Papoila longa. Hab —Campos: Guinfões, Araí- nho, Amarante, etc. Ann. 5-6 (v. v.) P. hybridum, L. Vulg.—Papoila pelluda Hab. - Campos: Valbom. Ann, 4-6 (v. 8.) IL GLAUCIUM, Tournt G. lnteum, Scop. Vulg.— Papoila pontuda ou Cor- nalheira. Hab. — Areaes maritimos: Cabe- dello, Matosinhos, etc. Bisan. ou peren. 5-6 (v. v.) MI CHELIDONIOUM, Tournf CG. Majus, L. Vulg.—Saruda; Celidonia maior; Herva andorinha; Herva das verrugas, E SOCIAES 197 Hab. —Muros e bordas dos ca- minhos em todo o districto do Porto: Gaya, Lordello, S. Gens, Campanhã, etc. Peren. 2-5 (v. v.) FUMAREACEAS 1 HYPECOUM, Tournf H. procumbens, L. Te grandiflvrum, Coss. Hab. —Campos das margens do rio Douro: Cabedello, Araínho, Avintes, etc. Ann. 3-6 (v. v.) LE CORYDALIS. DC. C. claviculata, DC. Hab. —Sebes: Leça do Bailio, etc. Ann. 4-8 (v. 5.) HI FUMARIA, Tournf F. spiçata, L. Hab. — Campos: Cabedello, Araí- nho, Perafita. Ann. 2-6 (v. v.) FPF. muralis, Sonder. Vulg.—umaria; Herva mola- rainha ; Salta-sebes. Hab. —Campos e muros em todo om qistrictoldo “Rorto Gayaj Ss: Gens, Matosinhos, Ermezinde, Val. longo, etc. Ann. 2-3 (v. v.) F' capreolata, L. Vulg.— Fumaria; Herva mola- rinha ; Salta-sebes. Hab. — Campos e ribadas (rara): Leça do Bailio, Avintes, etc. 4-5 (Wi) BRASSICACEAS [ RAPHANUS, L. R. Raphanistrum, L. Lusit.—Saramago. Hah.—Nos campos de todo o districto. Ann. 2-10 (v. v.) I98 REVISTA DE SCIENCIAS II RAPISTRUM, Desv. R. rugosum, All. Hab. —Aforada, Ann. 4-6 (v. v.) HI CAKILE, Tournf. C. maritima, Scop. Lusit.—Eruca marina. Hab. — Areaes maritimos. Foz. Ann. 5-10 (v. v.) IV BUNIAS, R. Br. B. Erucago, L. Var.—cAspera, Retz, Hab. --Arainho. Fonte da Vinha. Ann. 5-7 (v. v.) V ISATIS, L. «SJ. lusitanica, Brot. Hab. —Cabedello 4-5. Ann. (v. v.) VI BISCUTELLA, L. B. laevigata, L. Hab. —Quebrantões. Peren. 5-6 (v. v.) VIL TEESDALIA, R. Br. TT. nudicaulis, R. Br. Hab. —Campos e montes de todo o districto do Porto. Ann. 2-5 (v. v). VIII CAPSELLA, Vent. OG. bursa-pastoris, Mnch. Lusit. —Bolsa do pastor. Hab. —Terrenos cultos de quasi todo o districto do Porto. Ann. 3-8 (v. v.) IX LEPIDIUM, L. L. heterophyllum, Bth. Hab. —Arrelvados: Leça da Pal- meira, Boa Nova e Amarante. Pe-. ren. 4-6 (v. v.) L. graminifolium, L. Hab. —Devezas. Peren, 7- Pis S.) L. latifolium, L. Lusit.—Herva bimenteira. Hab. —Freixo. Peren. 7-8. L. Draba, L. Lusit. E dá fome. - Hab. — Arainho. Peren. 5-6 (v. v.). L. majus, Darrag. Hab. — Serra do Pilar. Peren. 3-4 (vs) X SENEBIERA, Pers. 'S. coronopus, Poir. Hab. —Cabedello. Ann. 5-6 (v. v.) Ss. didyma, Pers. Hab. — Arainho, Foz, Paranhos, Povoa de Cima, Campanhã, etc. | Ann. 4-8 (v. v.) . XL CAMELINA, Criz. O silvestris, Wallr. Lusit.—Gergelim bastardo. Hab. —Arainho de Valbom, Ann. 5-6 (v. 8.) XI MALCOLMIA, R. Br. M. littorca, RBr. Hab. — Areaes maritimos em Car- “reiros, Matosinhos, etc. Peren. 5-7. (ve v.) M. patula, DC. Hab. —Areaes do Douro: Arai- nho, Valbom, Foz do Sousa, etc. Peren. 5. -7 (v. v.) XIII SISYMBRIUM, L. ss. Lagascase, Amo. Hab. — Cabedelo. Ann. 4-5 (v.s.) NATURAES E SOCIAES 199 Ss. oflicinale, Scop. Hab. —Serra do Pilar, Mente Pe- dral, Boa-Vista, etc. Ann. 5-6 (v.v.) Ss. Sophia, L. Hab, — Margens do Douro: Avin- tes. Ann, 5-6 (v. v.) Ss. pinnatifidum, DC. Hab. — Amarante: Serra do Mas rão, Peren. 5-7 (v. v.) XIV ERYSIMUM, L. E. linifs22em, J. Gay. Hab. —Margens do Douro: Arai- nho, Valbom, etc. Peren. 4-5 (v. v.) - XV CHEIRANTHOUS, R. Br. C. Cheiri, L. Lusit.—Goiveiro amarello. - Hab. — Cult. nos jardins. XVI MATHIOLA, R. Br. M. incana, L. Lusit. —Goiveiro encarnado, Hab. —Nos muros e rochedos: Foz. Leça da Palmeira, Villa do Conde, etc. Peren. 4-7 (v. v.) M. tristis, R. Br. Hab. -Nas margens do Douro: Arainho, Jovim, etc. Peren. 4-7 VE v=) y XVII BARBAREA, R. Rr. B. praecox,R. Br. Hab. — Arredores do Porto. Bi- san 5-7 (v. 8.) XVIII NASTURTIUM, R. Br. N. asperum, Coss. Hab. — Nas margens do Douro: Arainho, Avintes, Valbom, etc. Ann. 6-7 (v. v.) N. oflicinalc, R, Br. Lusit.—cA grião. Hab. — Terrenos encharcados;: Aforada, Quebrantões, Matosinhos, S. Gens, Rio Tinto, etc, Peren. 3-7. (v. V.) XIX ARABIS, L. A. Whaliana, L. Hab. —Serra do Pilar, Arainho, etc. Ann. 3-4 (v. v.) A, hirsuta, Scop. Hab. —Margens do rio Douro: Fonte da Vinha, Espinhaço, etc. 4-5 (v. v.) XX -CARDAMINE, L. C. pratensis, L. Lusit.—Cardamina. Hab. —Gaya, Leça de Palmeira, S. Gens, etc. Peren. 3-6 (v, v.) C. hirsuta, L. Lusit.— Agrião menor. Hab. —Nos muros e terrenos cul- tos e incultos em todo o districto do Porto. Anon, 2-5 (v. v) XXI ALYSSUM, L. A. campestre, L. Var.—Collinum, Brot. Hab. —Arainho. Ann. 3:4 (v.s.) A. maritimum, Lamk. Hab. — Rua da Restauração, Leça da Palmeira, etc. Peren. 4-8 (v. v.) XXII DRABA, L. D. muralis, L. Hab. Serra do Pilar, Arainho, etc. Ann. 4-5 (v. v.) D. verna, L. Hab. —Margens do rio Douro: Arainho, Avintes, etc. Ann. 2-3 (v, V.) 200 XXHT COCHLEARIA, L. C. Danica, L. Hab. —No littoral: Castello do Queijo, Boa Nova, etc. Bisan, 4-7 (v. v.) XXIV RORIPA, Bess. R. pyrenaica, Spach. Hab. —Gramide e Valbom. Peren. 6-7 (v. v.) R. nasturtioides, Spach. Hab. —Margens do Douro: Avin- tes. Bisan. 5 6(v.s.) XXV ERUCA, DC. E. sativa, Lamk. Lusit.—Eruca. Hab. — Margens do Douro: Que- brantões. Ann. 5-6 (v. s.) XXVI SINAPIS es. alba. L. Lusit -—-éMostarda branca. Hab. — Terrenos relvosos: Afo- rada, Cabedello. Ann 5-7 (v. v.) Ss. arvensis, L. Hab — Campos: Repouso, Arai- nho de Valbom, etc. Ann. 5-7 (y S.) XXVIL BRASSICA, L. B. sabularia, Brot. Hab.— Terrenos cultos e incul- tos: Arainho, Avintes, margens do Leça, etc. Ann. 3-6 (v. v.) B. napus, L. Lusit.— Nabo, Nabiça. Hab. —Cultivado nas hortas. F3. oleracea, L. Lusit.—Couve. Hab. — Cultivada nas hortas. REVISTA DE SCIENCIAS B. pseudo-erucas- trum, Brot. Hab. — Campos: Quebrantões. Ann. 4-5 (v. 5.) XXVIII ERUCASTKUM, Spen. E. incanum, Koch. Hab. — Terrenos cultos e incui- tos: Cabedello, Aforada, Avintes, etc. Bisan. 4-7 (v. V.) . RESEDACEAS I RESEDA, L. K. media, Lag. Hab -— Margens dos campos em. todo o districto do Porto: Gaya, Rio linto, Leça do Bailio, etc.. Bisan. ou peren. 4-7 (v. v.) R. Phyteuma, L. Hab. —Margens dos campos; Cus- totas (rara). Bisan ou peren. 5-7 (So) X. Virgata, Bss et Reut. Hab. —Margens do Douro (rara). Bisan ou peren 5-7 (v. v.) 'R. lutoola, L. Lusit.-—Lirio dos tintureiros. Hab. —Terrenos cultos e incul- “tos: Aforada, Avintes, Valbom. Ann 4-9 (V. V.) IL ASTROCORPUS, Neck A. Clusii, J. Gay. Hab.— Terrenos seccos de todo o districto do Porto: Gaya, Rio. Tinto, S. Gens, etc. Bisan. ou pe- ren. 4-7 (v. V.) NATURAES CISTACEAS IT CISTUS, Tourn. C. hirsutus, Lam. Lusit. —Saganho. Hab. —Montes e margens dos ca- minhos em todo o districto do Porto: Foz, Gaya, S. Gens, etc. Peren. 5-7 (v. v.) 'C. salvisefolius, L. Hab. — Terrenos incultos: Serra do Pilar, Valladares. Serra de Val- “longo, S. Gens, Matosinhos, etc. Peren. 4:6 (v. v.) CO. crispus, L. Hab. Margens do Douro (raro). Peren. 4-6 (v. s.) CGC. albidus, L. Lusit.— Roselha grande. Hab. — Terrenos tncultos entre a Foz do Sousa e Corvoeiro. Peren. 4:6 (v. 8.) OC. ladaniferus, L. Lusit Esteva Hab, --Montes: Paião. Peren. 5-? (n. v.) W H. vnlgare, Gaertn. Hab — Terrenos seccos: Serra do Pilar, Monte Pedral, S. Gens, Rio Rino etc; Perens 5 (v. v.) HELTANTHEMUM, Tourn. KZ. variahile, Amo. Hab. — Terrenos incultos de sal ide sa . o oo A Pe Co cid CO -— Wa ad "as a a + à ag NATURAES E SOCIAES 207 PERIODO PALEOLITHICO — Acha-se representado por um instrumento chellcano e diversas moldagens. PERIODO NEOLITHICO—listoria do trabalho da pedra, desde o mais rudimentar até ao mais perfeito, comprehendendo exposição de martellos ou percutores, nucleos, las- cas percutidas, laminas de faca, umas simplesmentes lascadas, outras retocadas, ponções, raspadores, retocadores, etc. A collecção das peças perfeitas é quasi"toda proveniente dos megalithos, contendo magnificos exemplares de pontas de lança, de setta e de dardo, facas, serras, peças de collar, e uma serie de cento e cincoenta machados approximadamente, alguns d'elles de dimensões extraordinarias, como um proveniente de Villa Velha de Rodam e outro da Fi- gueira. Esta bella collecção é, na sua maior parte, regional. Em osso ha uma grande serie de pequenos artefactos, taes como alfinetes de cabello, agulhas, restos de manilhas e de pentes, ponções e pendentes de collar. Em ceramica alguns vasos restaurados e numerosos fragmentos"de outros, abrangendo exemplares semelhantes aos das bellas louças das grutas de Palmella. Muitos fragmentos de esqueletos humanos e restos de comida, offerecida aos mortos, com ossos de coelho, boi, porco, etc; e diversas moldagens, primorosamente feitas no museu da Saint-Germain-en-Laye. Pertence tambem a este periodo o tumulo-dolmen, de que já/ acima fallamos. PRIMEIRA EDADE DOS METAES — A este periodo se attribuem os fragmentos, de mós-dormentes para moagem de cereaes, de ceramica, objectos em chifre de veado, collar com seus aecessorios, e objectos metallicos que se acham em uma vitrine especial com o numero 10. Uma grande parte d'estes objectos é proveniente dos depositos de Santa Olaia (Figueira). EPOCHA LUSO-PHENICIA — Objectos recolhidos na necropole da Fonte-Velha, em Bensafrim (Lagos), que são um cippo com inscripção em caracteres ibericos, contas de vidro esmaltado; — restos de ossos humanos e a planta das explorações levantada pelo rey. prior de Bensafrim, snr. Antonio José Neves da Gloria; dois quadros representando os re- sultados das explorações feitas em a necropole de Campina, proximo de Faro, resultados que por emquanto indicam que pertence à plena epocha do cobres A esta secção segue-se a sala de comparação por onde se vê a intima afinidade que existe entre grande numero de peças do mobiliario do selvagem dos nossos tempos e as do mobiliario do homem neolithico. “Contém diversos artefactos dos povos selvagens actuaes da Africa e da America, ar- tefactos grosseiros fabricados em paizes civilisados, assim como exemplares anatomicos e de conchyologia para o estudo do selvagem da idade da pedra, sendo dignos de particular exame, um machado de pedra, ainda hoje usado por certos indios do Brazil, alguns exem- plares de ceramica, provenientes da celebre necropole de Pacoval, lago Arari, ilha de Marajó (Amazonas), e fragmentos de louça romana, muito grosseira, que se approxima das louças primitivas. Em seguida entra-se na secção de archeologia historica EPOCHA PRE-ROMANA — Fragmentos de ceramica e restos de argamassas, pro- venientes dás citanias de Briteiros e do Castro de Santa Luzia (Vianna do Castello). EPOCHA LUSO-ROMANA — Esculptura: Dois cippos, ornados com baixos rele- vos, figurando um d'elles um portico d?ordem jonica, encimado por dois frontões, cujo timpano é occupado por uma rosacea ce folhas, tendo no intervallo dos frontões esculpida 208 REVISTA DE SCIENCIAS uma corõa; busto proveniente das Alhadas. Epigraphia: Uma inscripção encontrada n'um penedo da Serra de Castros, freguezia de Maiorca, que diz: VNODE e os dois cippos de que já fallamos. Ceramica e vidro: Amostras de grande numero de materiaes de cons- trucção, telhas, tifolos, manilhas, etc.: fragmentos de vasos de todas as dimensões e al- guns d'elles restaurados, comprehendendo amphoras, restos de dolios, pesos e alguns vasos, com ornatos em relevo, havendo n'esta secção uma bella amphora, quasi inteira, de estylo greco-romano, proveniente de Valencia del Cid (Hespanha); urnas cinerarias de barro com seus respectivos operculos (tampas), que nºalgumas são representados por outros vasos invertidos; cimentos, argamassas e mosaicos ; amostras de argamassas e mosaicos ; amos- tras de argamassas e apparelhos de alvenaria romana, incluindo o opus-signinum, eimento hydraulico, restos de frascos, restos de mosaicos, provenienjes de Tunisia, Algeria, Algar- ve, concelho de Monte-mór-o-Velho e Figueira da Foz, sendo os das duas ultimas loca- lidades em calcareo e a maior parte dos outros em marmore; diversos vasos de vidro, taes como os da especie alabastrum e vasos de libações. Metaes: Diversos bronzes, consistindo em fibulas, pregaria e fecharia, pontas de lança e restos d'outras armas, bem como facas, pregos ce chapas de ferro diversas. EPOCHA DA INFLUENCIA ARABE — Ceramica : Exemplares de louças com re- flexos metallicos; azulejos e outros barros esmaltados de estylo mosarabe; vaso arabe en- vernisado e fragmentos d'outros vasos pintados, provenientes de Santa Olaia (Figueira); alguidar, restaurado em parte, proveniente do Algarve ; collecção de azulejos hispano-arabes: EPOCHAS DIVERSAS — Esculptura em pedra: Cabeça pertencente à epocha wi- sigothica; baixo relevo representando um leão, attribuido aos seculos XII ou XIII; baixo relevo em marmore attribuido aos fins do seculo XV; algumas esculpturas attribuidas ao seculo XVI; umas provenientes do concelho, outras de Monte-mor-o-Velho, taes como: estatuas, brazões, fragmentos de architectura e baixos-relevos, sendo digno de exame de- talhado o retabulo de Seiça, restaurado na Batalha, e que contém, no centro, a Virgem e os Doze Apostolos, com duas pilastras ornadas no genero platresco. Esculptura em ma- deira: Algumas talhas do seculo XVI, provenientes do convento de Seiça, tornando-se no- tavel uma figura de cherubim ; outras provenientes da capelia ou convento de Santo An- tonio desta cidade e uma columna proveniente de Tentugal. Epigraphia : Uma das lapides que D. João IV mandou collocar em diversas villas à Immaculada Conceição, sendo a ex- posta proveniente da villa de Monte-mór-o-Velho e tendo a data de 1645. Ceramica: Hecce-Honio, de barro, proveniente de Hespanha e attribuido ao seculo XII. Sacra Fa- milia, attribuida à escola hespanhola, feita de barro e diversas louças de Talavera de la Reina, Saxe, Coimbra, Vianna, Inglaterra e China; numerosas restaurações de vasos attri- buidos à epocha de De João II, fins do seculo XV. Metaes: Padrão de pesos em bronze, de estyio manuclino, tendo a data de 1499; ferros da picota, de Monte-mór-o-Velho, es flo Renascença ; bacia de barbeiro. em latão, estylo Rinascença. Carranca de ferro repu- xado, de Hespanha; uma ponte de virote não vulgar); instrumentos de cirurgia do se- culo XVII, Quadros: Pintura em vidro, attribuido a Albert Durer e proveniente de Hes- panha; quadro da escola flamenga, pinturas gothicas em madeira; «Magdalena», pintada em cobre, attribuida ao seculo XIV; quadro de Pedro Alexandrino, representando Nossa Senhora do Monte-Carmo, Armas: Espingardas de morrão; bacamartes de abordagem em bronze e em ferro; espingardas de fuzil e espada. Tecidos : Tapeçaria de Tavira, grande tapete, imitação de Gobellins representando uma paysagem, proveniente da fabrica fundada por D. José, perto de Tavira; tapete de Arrayolos; diversas peças de vestuario, do seculo XVII e XIX; exemplar de estamparia ingleza, commemorando a batalha de Trafalgar, tendo o busto de Nelson e a nau «Victoria». Adornos femininos: Collecção de leques, pentes e enfeites de cabello. Pergaminhos diversos do seculo XVI, illuminados, salientan- do-se o frontespicio do Livro dos Irmãos da Misericordia de Buarcos, fundada no seculo XVI Numismatica: A collecção, que é valiosissima, foi offerecida pelo rev. abbade de Quinehães snr. Fortunato Casimiro da Silveira e Gamas NATURAES E SOCIAES 200 A quarta e ultima sala do museu é a que encerra a secção industrial; muito curiosa “e interessante pois comprehende os principaes artefactos que o concelho produz. Abraçando uma proposta já emittida é nosso voto que a camara Ed municipal da Figueira ligue á instituição o nome do seu fundador, de- nominando-a Museu Santos Rocha, R.P. O MUSEU DO INSTITUTO DE COIMBRA Passam tres mezes sobre a inauguração das novas installações do Museu archeologico do Instituto de Coimbra, effectuada, com uma luzida solemnidade, em 26 d'abril do corrente anno. Aos bons esforços de alguns socios do Instituto e nomeadam.ente do snr. Costa Simões se devem as reformas necessarias para a conveniente e legitimamente ap- petecida distribuição dos materiaes que o estabelecimento possuia e bem assim dos que, com o desafogo obtido, podiam ser expostos pelos seus possuidores. Na impossibilidade d'uma visita que habilitasse a Re- vista a dar uma noticia desenvolvida do que o museu encerra, traslada- mos os seguintes informes que nos offerece, n'um jornal diario, um vi- sitante auctorisado : 1.2 sala (Costa Simões)-—-Ha uma notavel e importante collecção romana: marcos milliarios, inscripções commemorativas e tumulares, fragmentos de pavimento de mo- saíco, objectos de curiosidade, etc. Entre as lapides notamos sete que foram encontra- das em 1773, 1774 e 1878, nas ruinas da antiga muralha da cidade, onde haviam sido empregadas como material de construcção, e que refutada já como lenda infeliz dum frade bernardo a origem alana de Coimbra, suggeriram a ideia a escriptores d'este seculo (Frei Francisco de S. Luiz e dr. Augusto Filippe Slmões), de que aqui fosse outrora uma povoação romana, por certo a cidade que, no Itinerario de Antonio Pio, figura com O nome de Eminio. Ha da epocha portugueza documentos notaveis de epigraphia, desde os primeiros tempos da monarchia, esculpturas, baixos relevos, fragmentos de deeorações ar- “chitectonicas, e curiosidades apreciaveis e de grande valor historico No centro da sala ha uma montra com instrumentos prehistoricos, muito raros e interessantes, offerta feita pelo socio, snre dr. Antonio dos Santos Rocha, da Figueira da Foz, enthusiasta pelas excava- ções archeologicas. 2* sala (Ayres de Campos)- Ha abundantes e variados trechos de obra da Re- nascença (sec, XVI)—Uma intcressantissima collecção de espelhos de fechaduras e outros trabalhos antigos de ferro forjado , de merecimento artistico ou importancia historica—Uma quantidade de padrões de azulejos variados e exemplares de vidraria, etc. — No centro da sala vê-se, n'uma vasta montra, uma variada serie de productos de ceramica conimbricense, Curiosissima, d'uma importancia unica para a affirmação das phases porque esta industria tem passado desde os principios do seculo preterito. É constituida por objectos pertencentes aos fanaticos colleccionadores snr. Antonio Augusto Gonçalves e dr. Teixeira Carvalho. — 210 REVISTA DE SCIENCIAS Em volta da sala ha peças de faiança, de diversos centros de fabricação, muitos dos quaes são reputados en1 alto valor e estimação. A nova installação do museu archeologico de Coimbra deve-se á sollicita obsequiosidade e erudita competencia do snr. Antonio Augusto Gonçalves, actual conservador, e uma das mais sympathicas e lucidas individualidades que a arte portugueza conta na sua limitada ala de de- votados. R. P. UM LABORATORIO MARITIMO NOS AÇORES « À ideia de fundar, em qualquer dos portos de pesca da ilha de S. Miguel, um laboratorio de zoologia maritima e estação experimental de piscicultura annexa, não póde deixar de receber o applauso de todos os amigos da sciencia, pelo interesse especial d'aquella região insular sob o ponto de vista da Historia Natural; e a iniciativa particular, que aventou o pensamento e lhe garantiu os primeiros elementos de viabili- dade, decerto encontrará tambem o appoio do governo e das corpora- ções locaes pela utilidade pratica e immediata que de semelhante es- tabelecimento resultará para o archipeiago.» Assim encetava um largo, erudito e brilhante artigo (!) o nosso ilustre amigo e talentoso publicista, snr. Armando da Silva. Em grande parte se deve ao distincto jornalista que, a um tempo, vota um interesse muito dilecto ás sciencias historico-naturaes, a creação d'uma estação zoologica nos Açores. É grato registrar este facto, talvez unico entre nós, d'um homem de lettras, já consagrado justamente por faculdades que o marcaram com um especial destaque, interessar-se vivamente pelo estabelecimento d'uma instituição scientifica de real merito, installada . em região onde os serviços e utilidades especulativas e economicas são manifestas e desajudada inicialmente de recursos que não fossem os bons desejos do iniciador e dos collaboradores que teve a fortuna de en- contrar. E assim é que já se obteve um edificio do estado, uma biblio- theca muito valiosa, bastante material e a acolheita dos que se interes- sam, mais on menos particularmente, por semelhantes trabalhos. Tam pouco —o que tambem é raro e, portanto, para registrar — o emprehendimento do distinctissimo amador é despido de qualquer in- teresse pessoal: o snr. Armando da Silva não quer a estação para se (1) Novidades de 15 de fevereiro de 1896. Lisboa. NATURAES E SOCIAES 211 coliccar e em logar que lhe convenha! Move-o, com uma dedicação honestissima e com uma reflectida e ampla concepção, um interesse pa- triotico conjugado com a evidente necessidade scientifica, frequente- mente proclamada, de estabelecer n'aquella interessantissima região um centro de investigações cujos resultados authenticos e efficazes se podem presumir antecipadamente pelo que, do meio açoriano, é já elucidativa- mente conhecido. Este proposito de Armando da Silva, felizmente não contrariado, lembra, pelo seu alto espirito, pelo desinteresse e pelos elevados senti- mentos que, desde o começo, presidem á iniciativa, o emprehendimento mallogrado de Mello de Mattos, relativamente a Aveiro e do qual os leitores da Revista teem sufficiente conhecimento. Capitulo pittoresco, est'ultimo, para a historia d'estas coisas no paiz, quando o desenfado ou causa justificativa decidam, quem isto es- creve, a esmiuçal-o em publico. Do artigo destacaremos as passagens que se nos affiguram mais in- teressantes para a justificação da iniciativa: | «As condições do meio açoriano augmentam o interesse que a ex- ploração dos oceanos, desde as descobertas dos ultimos trinta annos, adquiriu para todas as sciencias biolegicas. Os antigos chronistas insu. lanos são unanimes em celebrar a riqueza piscosa das aguas territoriaes dos Açores. O padre Cordeiro é até d'uma prolixidade caracteristica- mente fradesca na descripção da abundancia do peixe nos mares parti- culares de cada ilha. «A icthyologia é, porém, um dos ramos da historia natural do ar- chipelago cujo estudo está mais atrazado. Drouet cita 31 especies de peixes dos Açores apenas, e a sua lista tem sido successivamente repro- duzida sem alteração pela maioria dos escriptores que se lhe seguiram. Hilgendorf classificou por sua vez os peixes na memoria de Simroth so- bre os vertebrados açorianos, -mas serviram-lhe de base os especimens do museu de Ponta Delgada, que então, em 1886, formavam já, incon- testavelmente, um rasoavel nucleo, mas ainda muito incompleto. À lista mais numerosa de nomes vulgares, que existe publicada até agora, não vae tambem aiém de 86, o que demonstra simplesmente que alguns, por deficiencia da faculdade de distincção dos pescadores, devem cons- tituir denominações genericas, e é claro, além d'isso, que elles não po- dem ser suílicientes, na estreiteza da sua significação local, para eluci- dar o naturalista, e nem as suas paragens, habitos e epochas da desova teem sido observados. A baleia e outros cetaceos apparecem tambem frequentemente nos mares dos Açores, e sabe-se quanto a osteographia dos mammiferos marinhos tem despertado a attenção dos zoologos con- temporaneos. A respeito dos animaes inferiores a carencia de informa” 212 REVISTA DE SCIENCIAS ções é a mesma. Os molluscos estão, relativamente, bem estudados. Em 1857, Drouet determinou 75 especies. As explorações do principe de Monaco forneceram a Dautzenberg ensejo de acrescentar a lista ge- ral com novas especies na sua Révision des mollusques marins des cAçores, e ainda ultimamente o snr. Girard se occupou dos cephalopo- des açorianos n'uma monographia especial. O grupo dos crustaceos é talvez o que está melhor estudado e conhecido, devido aos trabalhos de Th. Barrois, Chavreux, Dolefus e Guerne. No catalogo de Barrois são citadas 111 especies. Dos echinodermes possuimos uma lista organisada pelo mesmo illustre professor. Sobre'as esponjas deve ter sido publica- do, na magnifica collecção dos resultados das campanhas da Hirondelle, um trabalho de Emile Topsent. Mas as outras classes dos celenterados, — até os acalephos, que tão habitualmente matisam com as suas côres variadas os mares das ilhas, e os proprios anthozoarios, apezar da ele- gancia primorosa dos seus ramos, —estão completamente por estudar. » Depois d'este resumo historico e passando em revista os trabalhos realisados nas mais importantes estações maritimas da Europa, o nosso illustre amigo - passa a explicar a importancia economica da estação. Um excerpto. « E” .egualmente facil de esclarecer a utilidade da estação aqui- cola annexa. Ha alguns annos já que os pescadores michaelenses come- çaram a queixar-se de que lhes escasseava o peixe, e o facto tem mesmo immediata explicação, além de outros motivos secundarios, nas modifi- cações das costas e na alteração dos fundos, resultantes das grandes obras do porto artificial de Ponta Delgada. Na ilha do Fayal identica causa produziu, da mesma maneira, identico resultado. Evidentemente se impõe, portanto, e necessidade do repovoamento das aguas jurísdicio- naes do archipelago por meio dos processos da fecundação artificial, e para isso é indispensavel, em primeiro logar, o conhecimento da topo- graphia dos fundos, sua geologia, propriedades physicas e chimicas das aguas, direcção do vento e da maré, e seguidamente experimentar quaes as especies que convem multiplicar ou adaptar, estudando o seu genero de alimentação e as suas condições de existencia e de reproducção. A cultura das aguas doces é tambem uma tarefa a encetar.» A Revista, noticiando a proxima inauguração dos trabalhas scien- tificos iniciaes, exprime os seus votos pela prosperidade da estação, tam nobremente concebida, tam affanosamente levada a termo, e cujo pro- motor tam legitimamente merece as mais effusivas felicitações. Red RR osmortos MARQUEZ DE SAPORTA “E tam legitima como 9 enternecedora a homenagem prestada pelos * geologos. portuguezes ao eminente sabio francez, marquez de Saporta, ; * recentemente extincto na sua casa senhorial da Provença e a quem “Portugal deve um particular interesse e uma sagacissima occupação no A “estudo da antiga flora nacional. Em nome d'uma esclarecida corporação “scientifica o nosso presado amigo, conselheiro Wenceslau de Lima, abre “o ultimo tomo das Communicações da direcção dos trabalhos geolog- Vcós; historiando a obra do illustre paleontologista que. der eo varios “annos, n'um labor acrysolado e ininterrupto, collaborou tão notavel- mente no estudo do solo portuguez. Ne, ' De ascendencia peninsular, marcada nella já a tendencia para as Eestipações historico-naturaes, o marquez de Saporta reunia, a um * fogoso temperamento de obreiro. faculdades excepcionaes para os estu- “dos a que dedicara, enchendo-a, toda a vida. Datam de ha trinta annos e “as suas primeiras publicações geologicas e veem de longe as relações — qué mantinha com a paleontologia portugueza. Nos ultimos cinco an- nos, porém, estreitaram-se de tal sorte, que, a bem dizer, os votou “exclusivamente ao estudo da nossa flora mesozoica. “Antes, um outro geologo estrangeiro (Heer) encetára o inventario com estudos parcel- Jares das floras jurassica e cretacica, principalmente. Dilatando-se, po- - rém, a area das investigações pela descoberta de novos jazigos, coube ao eminente extincto o estudo da opulenta serie dos maferiaes recem- colligidos; no ultimo volume publicado, — Nouvelles contributions à la Jflore mésozoique, Lisbonne, 1394 determina elle e descreve mais de tres centenas de especies, numero este que constitue uma das mais vas- 214 REVISTA DE SCIENCIAS tas contribuições europeias para o conhecimento da vegetação da era secundaria. À homenagem do seu illustre biographo e collaborador já convi- dado para ulteriores investigações, é escripta com uma elevação e com- petencia que ennobrecem os dois, pormenorisando amplamente o alto trabalho scientífico do sabio francez, no que diz particularmente res- peito a Portugal. Brilhante, nobre e agradecido, este magnifico tributo merecia-c a fidalga physionomia do sabio-illustre que a morte colheu no proprio dia, no momento em que estudava as nympheaceas — as ve- lhas predecessoras da sagrada flor do Lotus! — como radiantemente nota quem subscreve o sympathico preito. R. P. JOAQUIM POSSIDONIO NARCISO DA SILVA 1806-1896 Certo que foi uma vida cheia de serviços á architectura e archeo- logia nacionaes a d'este bom velho em quem o respeito pelas antigui- dades, os esforços para a sua conservação e a propaganda com o exem- plo e a sinceridade, assim resumem, singellamente, a estatura d'esta sympathica individualidade portugueza. Deve-se-lhe o restauro, a salvação e o conhecimento de muitos monumentos nossos e uma vasta obra erudita e de inguerito ácerca dos despojos historicos legados. A paixão, a cultura obtida em dilatadas via- gens e as convivencias — as suas estreitas relações com Domingos An- tonio de S>queira, por exemplo—explicam a actividade, o valor e a am- plitude dos seus trabalhos, R Certamente que na obra de Possidonio da Silva se nos deparam defeitos de educação, de escolas, do temps: elle morreu com go annos! Em nada desmerecem, porém, o seu papel vigilante, conservador, mais ou menos justamente interpretativo, as perdas que elle evitou, as ruinas a que accudiu, a fiscalisação que permanentemente exerceu—clamores, sequer! — esse apostolado, afinal, a que votou a sua intelligencia e á sua energia. É d'elle a creação (t863) da cAssociação dos archeologos e, im- plicitamente, a organisação do Museu do Carmo, ou seja O primeiro nosso museu de antiguidades nacienaes. Verdade = - Ee EE 252 Aa e Pe EE Eca És df a a + paes ; JF x Et ta JE ta ecra ins nos e getidad fi te a a ele dai po do E = = p “VAR NATURAES E SÓOCIAES 215 dee sá Eq Com a biographia do snr. Costa Goodolphim (Lisboa, 1894) e com a promettida conferencia do snr. visconde de Castilho, fica certamente traçada, em merecido relevo, essa sympathica figura da sciencia nacio- nal. Pormenorisadamente ella dispersa-se nas tres series do Boletim da sua cAssociação e nas suas numerosas memorias, das quaes destacare- mos as que particularmente importam á indole desta Revista : Mémoire descriptif du project de la restauration pour Véglise monumentale de Belem, à Lisbonne, etc. Lisbonne, 1867. Mémoire sur la véritable signification des signes qu'on voit gra- vés sur les anciens monuments du Portugal. Lisbonne, 1868. — Descripção da lapide que tem uma inscripção romana, a qual está exposta na sala de visitas da Bibliotheca Nacional. Lisboa, 1870. Souvenirs du congrês international d'anthropologie et d'archéo- logie préhistorique en Bologne (1871). Lisbonne, 1872. | Notice historique et artistique des principaux édifices réligiena du Portugal (Exp. de Vienna, de 1873). Lisbonne, 1873. Elementos de archeologia. Lisboa, 1878. Notice sur les monuments mégalilhiques du Portugal. Paris, 1870. “Notice sur la découverte d'une ville romaime en “Portngal. Pa- ris, 1882. Communication sur les haches de bronze trouvées en “Portugal (Congresso de Lisboa, 1880). Lisbonne, 1883. “Ne Dao Sd - A CAPRIFICAÇÃO - F, Anorpno CogLHO. mo recebido | as seguintes. publicações, se oceupará na sua secção biblio- / ao Led ias naturaes, n. o o 3, a MI. Pórto, Aa Co qe TR a vol. II Lisboa, 1896. | | o à dos archeologos unread n.º s 6: 7 34 de Seograpii à de Lisboa, e os p7- 12, vol. II. (ro cespanola de Historia, Natural, cuad, a ; ana clpigadas | portuguesas é ê his a Medrid. so Ro es ma Mature d de Paris, n.º 5 vol. mw Pa- E | e j É uiaiçõo de Paris, a, os 68 vol ml Paris, as é Guologique de st Perto 1 nºa2, , vol, xr, cÃbstracts of the profeddiaE of lhe + Gentgica So | 661-62. Londres, 1896. | o Proceedings of the Linnean Society é London, n n.º de don, 1896. - List of the Linnean Society J London. London, 189596, A REVISTA RR replamente qua anno, em fasciculos de 48 RR ne E a PORTUGAL : - Anno ou serie de 4 numeros Numero avulso EA RD o O ço CR Numero ago SRA e accresce o Ei dê: correio. E RE ça - A correspondencia relativa á. ado RE as 5 deverá ser dirigida a ROCHA PEIXOTO, Õ “Iytechnica — PORTO. DO AS | 0] p, Pp RR Dad! NAM MCZ ERANS E li LIBRARY Wu, 3 2044 118 681 881 II] DIGEST OF THE LIBRARY REGULATIONS, No book shall be taken from the Library without the record of the Librarian. | No person shall be allowed to retain more than five vol- umes at any one time, unless by special vote of the Council, Books may be kept out one calendar month; no longer without renewal, and renewal may not be granted more than twice. A fine of five cents per day incurred for every volume not returned within the time specified by the rules. The Librarian may demand the return of a book after the expiration of ten days from the date of borrowing. Certain books, so designated, cannot be taken from the Library without special permission. AW books must be returned at least two weeks previous to the Annual Meeting. Persons are responsible for all injury or loss of books charged to their name. o a EE CSS SEE apabspesera;ecelatetas Lib Teles Totas teia áraigia! alento E RecRP EE ias: FEries cetenies Rs Essiisiore Essteses - a2=5 EE Seas: E Ê 4 Y at : Att tetainiol-deinto. fSlsferio FE: Edi Fo: Res ESSE ss É) SEE rÉIS. cinta leds == = Is te+ cs ss bet Pr e seo, J3T: + Da e cRSItTETET TSH SS ess! 2F+ oi = = TIfss o sds ts NERI E de Ri ; tea : Coe bip RR ; ! Miva DT Rei RT rustdo if : . R die Pa jados so buert ) Pote ! ; ] j EE E BO A abotied Tre CP: