A Festa Secreta
O pessoal do escritório
estava combinando um churrasco no grêmio no final do expediente de sexta feira.
Porém, de cara, vetaram Jonilson, por seu comportamento depois que bebia. Assim,
por tabela, não convidaram ninguém de nossa sala.
Um funcionário do
almoxarifado, Ruimar, era também a pessoa que explorava o bar do grêmio e o
encarregado do churrasco. Eu estava verificando um aparelho em uma das
prateleiras do almoxarifado, quando chegou Celinho e, sem notar minha presença,
deu uma série de instruções a Ruimar. Nessa hora fiquei sabendo do churrasco
secreto. O melhor da coisa foi que Celinho disse que Ruimar não devia falar
disso para Jonilson, e contou do veto. Ao escutar isso, pensei: Ah! Então é
assim?
Voltei rápido para nossa sala e falei com Jonilson.
- Tá sabendo que vai ter um churrascão hoje no grêmio?
- Não...– respondeu Jonilson interessado
- Quer ir? – perguntei
- Se alguém me levar.... – o grêmio era
longe e não dava para ir a pé.
- Deixa comigo, que te levo. Mas não fala prá ninguém tá?
Ruimar saiu as quatro horas e foi para o grêmio, iniciar os preparativos. O
churrasco começaria depois das 18:30.
Saímos as 16:30, peguei meu carro e levei Jonilson até o grêmio.
- Você não vai ficar? - Jonilson pensou
que eu ia ficar no churrasco.
- Depois eu volto. – menti e sai
disparado.
Segunda feira. Hora do café. Ruimar entra em nossa sala. Jonilson está quieto
demais.
- Esse crioulo passa dos limites
– falou
Ruimar rindo – Ô neguinho, cê não tem jeito não. Olha aqui a tua
conta.
- O quê é que ele fez dessa vez?
– quis
saber Esmeraldo
- Eu não sei como – começou a contar
Ruimar – mas, mal eu cheguei no grêmio e essa peste surgiu como por
encanto. Como eu tava precisando de ajuda, mandei ele ajeitar a churrasqueira e
dar uma arrumada no local. Acontece que meu armário de utensílios estava aberto
e esse corno viu uma garrafa de Drurys que eu guardava lá. Fechada.
- Nossa mãe! – falou Esmeraldo fingindo
espanto – Ainda bem que Jonilson não gosta de uísque.
- Imagina se gostasse – filosofou Ruimar
- Só tomei uns goles – Jonilson se
defendeu – E cê bem que gostou da ajuda, né?
- Que goles – atalhou Ruimar –
Bebeu até a garrafa. Lá pelas seis horas já tinha comido três pães com molho,
bebido várias latas de cerveja e, achando que a carne ia demorar muito para
assar, cortou meia peça de contra filé – que era minha e nada tinha a ver com o
churrasco dos caras – fez uns bifes e comeu ali mesmo. Quando dei fé, já tinha
perdido quase toda minha carne.
- Mas te ajudei bastante – cortou
Jonilson bem sério – Quem lavou todos os pratos e copos? Quem passou
pano no banheiro? Quem arrumou as mesinhas?
- Também.... – continuou Ruimar –
Depois que a turma chegou, ele já estava mamado. Levei a maior bronca do
Celinho, que queria saber quem tinha levado ele e daí por diante tudo deu
errado, com esse macaco enchendo o saco de todo mundo. Eu só ouvia
reclamações...
Nesse momento entra Celinho na sala com um papel na mão.
- Ô Ruimar – falou –
Além de
levar esse traste para sacanear nossa festa, ainda quer roubar? Que conta maluca
é essa?
Ruimar tinha dado a conta para Celinho de manhã cedo.
- Não levei ninguém e não tem nada de maluca.
– se defendeu Ruimar
- Ah é? – Celinho estava nervoso –
Nós demos a carne e você tá cobrando aqui 1 kg de filé. E que história
é essa de Drurys? Ninguém nem viu cheiro de uísque lá!
Antes que Ruimar explicasse, Jonilson rapidamente se levantou e vazou fora. Mais
uma vez, nos divertimos imensamente com a discussão dos dois, que logo
resolveram sair para caçar o fujão.
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