LIBRARY OF PRINCETON NOV 1 0 2004 THEOLOGICAL SEMINARY PER BR7 .U54 Zn i t a s . Digitized by the Internet Archive in 2016 https://archive.org/details/unitas2111inst PREÇO: 10,00 ANO 21 — N." 1 JANEIRO — 1959 Vigésimo primeiro 2 Miguel Rizzo Religião e Sepultura 5 M. R. Notas e Comentários 9 J. Goulart Segundo apêlo de Albert Schweitzer 13 Conheça a sua Híblia 22 Júlio A. Ferreira Noções de psicologia Religiosa 27 Samuel Figueira Concepção cristã da raça 33 Visser’t Hooft Métodos de Evangelização 3fi Oscar Arruda Uma escolha má 39 Religião de Palavras 43 Sabatini Lalli Curiosidades Biográficas 49 Sinais Perigosos 56 Lauro Bretones THFOI OGiCM SEMINAR' CURSO SUPERIOR DE RELIGIÃO PATROCINADO PELO INSTITUTO DE CULTURA RELIGIOSA As aulas começam em março próximo e serão ministradas em um dos salões do Instituto Mackenzie, aos domingos à tarde. Eis, em síntese, o programa das matérias; I . Evolução das religiões — Elas estão passando por acen- tuadas modificações. O estudo dêsse fenômeno será feito nas aulas com abundância de pormenores. II. Cristianismo primitivo — A religião que a maioria da cristandade hoje representa está longe de ser igual ao cristianismo pregado e exemplificado pelos fiéis nos primeiros séculos da era cristã. Êsse tema será amplamente discutido nas aulas. III. Cristianismo positivo — Existe um tipo de religião que se espraia em especulações teológicas estéreis e até perniciosas. Não é êsse o cristianismo de Cristo. Qual será? Essa resposta os alunos do Curso terão clara e muito exemplificada. IV. Experiência religiosa — O cristianismo possui um sis- tema doutrinário fascinante. No entanto, êle não é só doutrina. Essas se refletem na experiência individual. O estudo dessa parte da religião cristã será amplamente de.senvolvido nas aulas. OB.SERVAÇÕES O curso é de três meses e vai de l.° de março a 31 de maio. Os alunos receberão aj>ostilas da matéria dada. O Instituto de Cultura Religiosa dará um certificado aos tpie terminarem o Curso. Durante o jjeríotU) das aulas os alunos terão de ler vários livros. As pessoas (jtie desejarem inscrever-.se ne.sse Curso, devem fazê-lo imediatamente. Lendo aqui seus nomes e enderêços, nós lhes daremos notícias mais pormenorizadas a respeito dêsse traba- lho. Êle é feito com o intuito de preparar pes.soas para levarem avante um grande movimento de renovação espiritual no Brasil. Peçam informações pelo telefone: 51-7199. As aulas .serão dadas pelo Secretário-Executivo do Instituto. • Verifique se a sua assinatura está vencida ou por vencer pròximamcnte. Mande-nos logo a im- portáneia de Cr$ 100,00 para que lhe possamos continuar a enviar a re- vista regularmente. • Ao enviar qualquer importância, faça-o em nome do Instituto de Cultura Heiigiosa, e não cm nome pessoal de qual quer dos diretores. ÚNITAS órgão Oficial do Instituto de Cultura Religiosa Diretor — MIC.UFL RIZZO JR. Redator — LAURO bRETONF.S Colaboradores permanentes: Jorge Goulart, Adauto Araújo Dourado, W. J. Goldsmith, Camilo Ashear, Oscar Arruda, Alceu Maijnard Araújo, Odilon Nogueira de Matos, Mário Barreto França, José Borges dos Santos Jr. e Samuel Figueira EXPEDIENTE • Envie-nos suas im- pressões sõbre a revista. Elas são de grande ajuda. Estamos procurando fazer o melhor. Mas gostaríamos de saber como nossos lei- tores estão vendo a sua revista. Escreva-nos. • Pedimos tambãm seu auxilio para o aumento do número de leitores da revista. Procure oferecer a um amigo uma assinatura anual a titulo de experiência. O Bei>. Miguel Bizzo Júnior, Diretor desta revista, atenderá somente às terças e quin- tas-feiras das 14 às 17 horas, à Rua Barão de Tatui, .'■>28. Assinatura anual Cr$ 100,00 Número avulso ” 10,00 Sócios do Instituto: Mensalidade — Interior Cr? 20,00 S. Paulo, Rio, Recife . . ” 25,00 Endereço : Rua Barão de Tatiií n.° 528 — Caixa Postal 7.203 — Tel 51-7Í99 SÃO PAULO — Brasil VIGÉSIMO PRIMEIRO Miguel Rizzo Júnior Com êste número entra esta revista no vigésimo primeiro ano de sua publicação. Ela surgiu para executar um programa cuidadosamente elaborado. E não se afasta dêle. Para que se tenha uma idéia das diretrizes que nos orien- tam, transcrevamos alguns trechos do artigo com que a revista se apresentou ao público: “A realização da vida ideal depende de dois elementos essen- ciais — princípios verdadeiros e dinamismo eficiente para trans- formá-los em realidade viva na conduta. A ausência do primeiro desses fatores chega a inutilizar es- forços sinceros e até abnegações robustas de muitas almas nobres que almejam alcançar sucesso na formação de uma personalidade moral inteiriça. Não só no terreno espiritual, como em todos os setores da atividade humana, os sucessos reais depende?7i, em grande parte, de princípios exatos. A exemplificação dessa tese é facílima, por- quanto são incontáveis os fatos que a comprovam. Ai vão algu7is dêles. Segundo a apreciação de lun critico 7nilitar arguto e fra7ico, os insucessos reiterados de várias expedições 7nilita7es que se di- rigira7n a Ca7iudos se explica7n, em grande parte, por tun êrro de principio. Os co7nandantes de algu7uas das expedições que ali pe- lejara7n havia7n organizado o pla7io da ca7npa7iha e77i 7noldes clás- sicos, 710S quais a distribuição das tropas piessupõe combates de e7ivergadura co7n adve7sários ta7nbé’77i organizados de acordo com a 77ies7na técnica 7nilitar. Não sendo ésse o caso que se verificava nos adustos sertões da Bahia, forçoso seria adotar-se ali outro cri- Janeiro de 1959 — 3 tério para a organização da investida sobre aquela cidade, hoje lendária. Deslembrados dêsse pormenor importantíssimo, emperraram os condutores das expedições na técnica dos combates clássicos. Re- sultado: as maiores abnegações de oficiais briosos; os sacrifícios, às vezes inaturaveis, de soldados heróicos; e tudo o mais que se fêz ali, no fragor da luta, não pôde evitar derrotas retumbantes e ver- gonhas. E elas se explicam, em grande parte, pela tresloucada rein- cidência no uso de inadequados princípios estratégicos. Outro exemplo: na Idade Média, aceitava-se o princípio do direito divino dos reis. Eram êles considerados ministros de Deus e, como tais, intangíveis e abroquelados contra qualquer possibili- dade de êrro. Suas ordens e caprichos eram inatacáveis. O prin- cípio era escandalosamente falso. E quem poderá descrever os males sociais e políticos que, tragicamente, recairam sobre a infeliz humanidade como resultado dessa concepção falsa do direito? Ainda outro exemplo mais comezinho e chocante. Suponha- mos que um indivíduo aceite que dois e dois são cinco. E’ um prin- cipio errado. Poderia êsse indivíduo negociar? E’ possível que che- gasse a fazer algumas transações. EJ certo, porém, que, em dado momento, êle não lograria acertar as suas contas por maior que fôsse a energia intelectual e o tempo que a isso dedicasse. Essa hipótese é absurda, dirá alguém. Pois não é. Na vida moral e espiritual indivíduos há que aceitaram, como diretrizes da conduta, erros tão berrantes como o absurdo matemático acima aludido. Decorre de tudo isso que a fixação de conceitos exatos da vida moral é imprescindível para a formação condigna da perso- nalidade. A vida religiosa não escapa, de maneira alguma, a essa exi- gência inflexível: doutrinas verdadeiras, não há negar, são essen- ciais para que haja verdadeira piedade. Os efeitos de doutrinas errôneas, como se pode exemplificar fartamente no Brasil, se refle- tem de mil maneiras na orientação do espirito, dos afetos, das es- peranças e do destino humano.” Depois de fazer uma série de considerações a respeito do programa com que nos apresentávamos em público, dizíamos: “A estrada que vamos percorrer é longa. Acidentada, talvez. Mas os 4 — ÚNITAS nossos pés não vacilam, nem nos fraqueja o ânimo porque nós já a vemos iluminada por clarões que procedem do Infinito”. Há vinte anos que nós a estamos pahnilhando. Dupla tem sido a nossa tarefa: proclamar os princípios exatos da conduta e apresentar estímulos para que êles operem na formação do caráter. Não nos preocupa a exposição ou a defesa dos sistemas dou- trinários específicos dos vários corpos eclesiásticos que trabalham no Brasil. Concebemos o cristianismo em têrmos do reino de Deus, exatamente como o fêz Cristo. Onde houver quem faça a vontade de Deus, ai está um súdito do seu reino. Esforçamo-nos para que êsse domínio espiritual abranja a maior área possível em nosso pais. Até hoje trabalhamos muito para consolidar a obra que ini- ciamos com esta publicação. Entramos agora numa fase nova: a do aperfeiçoamento. Vamos fazer o possível para que esta revista entre em um período de acentuado progresso. Os leitores que nos acompanharem perceberão por si mes- mos como é que essa etapa da vida deste periódico vai carac- terizar-se. Esperamos que ela se apresente de modo a receber aplausos de todos quantos acompanham com simpatia Jiossos reiterados es- forços para progredir. )•( 0 alcoolismo é um vício dos cristãos, desconhecido dos maometanos. )•( CURIOSO O “Anuário Estatístico do Brasil” (oficial) informa que “ha- via no Brasil, em 1955, 4.777 pastores protestantes e 7.031 padres Romanistas. Três Estados já possuem mais pastores que padres. O Estado do Rio, tinha 427 pastores e 226 padres; Santa Catarina tinha 326 pastores e 233 padres; Espírito Santo, 200 pastores e 98 padres. Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Acre estão em igualdade de número de pastores e padres." RELIGIÃO E SEPULTURA M. R. Quem estuda as religiões do pas- sado encontra logo alguns carac- terísticos dela bem salientes. Um dêles era o apêgo à sepultura. Os povos da Roma Antiga encaravam a morte não como a dissolução do sêr, mas como transformação da própria vida. Essa crença provo- cava logo uma questão. Em que lugar passaria o homem sua segun- da existência? Eis o que Fustel de Coulanges escreve sôbre o as- sunto: “Cria-se que o espírito imor- tal, uma vez saído dum corpo ia animar um outro? Não; a crença na metempsicose nunca pôde en- raizar-se no espírito das popula- ções greco-italianas; também não era essa a mais antiga opinião dos Aryas do Oriente, pois que os hi- nos dos Vedas estão em oposição com ela. Cria-se que o espírito su- bia para o céu, para a região da luz? Também não; o pensamento de que as almas entravam numa morada celeste, é duma época re- lativamente recente no Ocidente; a habitação celeste era considerada apenas como a recompensa para os grandes homens e para os benfei- tores da humanidade. Segundo as mais antigas crenças dos Italianos e dos Gregos, não era num outro mundo que a alma ia passar a sua segunda existência; ficava perto dos homens e continuava a viver debaixo da terra”. Acreditava-se que na segunda existência a alma permanecia associada ao corpo. Os ritos praticados junto às se- pulturas, mostram claramente que, quando se metia um corpo no se- pulcro acreditava-se que ao mes- mo tempo se metia lá alguma coi- sa que vivia. Virgílio, que descreve sempre com tanta precisão as ce- rimônias religiosas, termina a nar- rativa dos funerais de Polidoro com estas palavras: “Encerramos a alma no túmulo”. Expressões se- melhantes se encontram em vários outros escritores. Havia 0 costume de, no final da cerimônia fúnebre, chamar três vê- 6 — Ú NIT AS zes a alma do morto pelo nome que era usado em vida. Desejava-se- -Ihe que vivesse feliz debaixo da terra. Dizia-se-lhe três vêzes — “passe bem”, acrescentando: — Que a terra te seja leve. Na antiguidade acreditava-se tão firmemente que um homem vivia mesmo depois de sepultado que nunca se deixava de enterrar com êle os objetos que lhe poderiam ser necessários. Entre êsses, vestidos e armas. Derramava-se vinho so- bre o túmulo para lhe apagar a sêde. Deixavam-se ali alimentos para matar-lhe a fome. Degola- vam-se cavalos e escravos, pensan- do que seriam úteis ao morto. De- pois da tomada de Tróia os gre- gos, de volta para seu país, leva- ram consigo uma bela cativa. Aqui- les já estava debaixo da terra. Po- lixena foi morta sôbre o seu tú- mulo para fazer companhia ao herói. E’ fácil de perceber que a sepul- tura tinha um valor especialíssimo para os povos que cultivavam tais crenças. Para êles a alma só se fixava na morada subterrânea se o corpo ficasse ali coberto de terra. A alma que não tinha túmulo, não tinha morada. Andava errante. Ja- mais teria repouso. Peregrinava sempre sob a forma de fantasma, sem nunca receber oferendas e os alimentos de que tanto necessitava. Desgraçada, tornava-se dentro de pouco tempo malfazeja. Atormen- tava os vivos, mandava-lhes doen- ças, devastava-lhes as searas, ater- rorizava-os com aparições lúgubres para os lembrar de que lhe de- viam dar sepultura ao corpo. Daí é que vieram as crenças nas almas do outro mundo. Não era para a ostentação de dor que se realizava a cerimônia fúnebre. Era para ga- rantir o repouso e a felicidade do morto. Suetonio conta que, pelo fato de não ter sido enterrado o corpo de Caligula com cerimônia fúnebre, sua alma andou errante e apareceu aos vivos até o dia em que se de- senterrou o corpo e lhe deu sepul- tura segundo as regras do ritual. Os homens da época temiam menos a morte do que ficarem privados de sepultura. Os atenienses mata- ram generais que, depois de uma vitória no mar, não tinham dado sepultura aos mortos. Êsses gene- rais, discípulos de alguns filósofos, destiguiam a alma do corpo e não acreditavam que a sorte dela es- tivesse tão ligada ao fisico. Acha- vam que pouco importaria que um cadáver se decompusesse na terra e na água. Mas a multidão, em Atenas, acusou os generais de im- piedade e fê-los morrer. Pela vi- tória, dizia-se, tinham salvo Ate- nas; mas pela sua negligência ti- nham perdido milhares de almas. Os pais dos mortos, horrorizados com o longo suplício que as almas iam sofrer, compareceram ao Tri- bunal em trajes de luto e recla- maram vingança. Nas cidades an- tigas a lei punia os grandes cri- minosos com um castigo reputado Janeiro de 1959 horripilante: era a privação de se- pultura. Periodicamente os parentes do morto levavam-lhe refeições ao tú- mulo. Ovidio e Virgilio fazem des- crição minuciosa dessa cerimônia. Os túmulos eram cercados de gran- des grinaldas, de plantas e de flo- res. Sôbre êle se colocavam pas- téis, frutas, sal, leite e vinho. Essa cerimônia fúnebre não era apenas uma comemoração. O alimento era mesmo para o falecido. A prova disse é que o leite e o vinho era derramado sôbre o túmulo, mas abria-se um buraco para que os outros alimentos chegassem até ao morto. Num dos parentes poderia usar para si os alimentos consa- grados aos mortos. Entre os gregos, na frente de cada túmulo, havia um lugar des- tinado ao preparo do alimento. O túmulo romano tinha uma espécie de cozinha para uso do morto. Plu- tarco conta que, depois da batalha de Platéia, o povo da cidade se comprometeu a oferecer alimento aos mortos. Luciano afirma: Os mortos nutrem-se dos manjares que colocamos sôbre seu túmulo e be- bem 0 vinho que lá derramamos; de modo que o morto a quem não se ofereça coisa alguma está con- denado à fome perpétua. Essas crenças parecem-nos muito falsas e ridículas. No entanto, exerceram seu império durante grande núme- ro de gerações. Um hábito notável da época re- laciona-se com essas supertições. — 7 Ninguém desejava morrer sem deixar filhos que tratassem de co- locar alimento no túmulo. Quem não tinha filho adotava um. Um oradorateniense explicando a ne- cessidade que um cliente seu teve de adotar um filho dizia que, se não houvesse adoção, ninguém fa- ria sacrifícios em honra ao morto e nem lhe ofereceria os repastos fúnebres. Tal a importância que os próprios tribunais davam ao fato. A adoção só era permitida a quem não tivesse filhos. Como se vê, o bem-estar da alma do morto, segundo essas crenças, dependia inteiramente do cuidado com que seus parentes promoves- sem cerimônias especiais para tal fim. Em certos setores da vida espiritual do mundo ainda há ves- tígios dêsse êrro do paganismo. Em nosso meio mesmo, muitas pessoas pensam que devem promover ceri- mônias para garantir a salvação dos seus parentes que já partiram para o Além. O advento do cris- tianismo, durante séculos, modifi- cou êsse conceito pagão relativo à paz dos mortos. Mas no decorrer dos tempos a mesma idéia voltou a incorporar-se às crenças de mui- tas pessoas até hoje. Além do apêgo à sepultura as religiões antigas tinham outro ca- racterístico que as torna comple- tamente diferente das de hoje. A religião era doméstica. Por mais estranho que pareça, os deuses não aceitavam adoração de todos os ho- mens. Não se apresentavam mes- 8 — ÚNITAS mo como sendo deuses do gênero humano. Na religião primitiva cada um dos deuses só poderia ser adorado por uma familia. A reli- gião era puramente doméstica. Não raro, duas familias viviam ao lado uma da outra mas tinham deuses diferentes. Se um moço de uma família pede em casamento uma jovem, essa, antes de deixar a sua casa, terá de abandonar o fogo paterno e, depois disso, ado- tará 0 deus do esposo. Deixa o deus da sua infância para se colo- car sob o domínio de outro que ela não conhece. A praxe seguida nesse particular é para nós muito estranha e pode ser sintetizada assim: A partir do casamento a mulher nada mais tem de comum com a religião doméstica de seus pais: passa a adotar a religião do marido. O casamento era pois um ato grave. Sem a renúncia da re- ligião paterna, a mulher não pode tomar parte nas cerimônias reli- giosas do novo lar que vai consti- tuir. O ato religioso do casamento não era celebrado, invoncando os deuses do Olimpo, Júpiter, Juno e outros. Não. A cerimônia não se realizava no templo. Era cm casa e 0 deus doméstico é que presidia ao ato. Como estamos vendo, a religião antiga longe, muito longe estava de ser universal. Jamais passou pela mente daqueles adoradores a idéia de que se pudesse ter uma religião para tôdas as famílias da cidade. Muito menos para a po- pulação do país. E’ preciso notar ainda que algumas das religiões antigas jamais pretenderam ser universais. Nem poderiam ter essa pretensão, porquanto algumas pe- culiaridades delas eram de tal for- ma locais que não seria possivel pretender que se espalhassem pelo mundo. Estudando êsses fatos, fàcilmen- te verificamos como o cristianismo é diferente de tôdas essas religiões. Jesus Cristo ordenou que se pre- gasse o evangelho a todos os po- vos. E êle está sendo pregado. Já existem traduções do Evangelho em cêrea de duas mil línguas. Não faz muito tempo, foi êle traduzi- do para duas línguas de tribos in- dígenas do Brasil que pela primei- ra vez tiveram expressão escrita. Só a relião cristã pode ser uni- versal. NOTAS E COMENTÁRIOS CARIDADE Não empregamos, aqui, a pala- vra, no sentido comum de genero- sidade, de espírito caridoso, de dar esmolas. S. Paulo, numa passagem célebre dos seus escritos, disse: “Ainda que eu distribuísse tôda a minha fortuna para sustento dos pobres, se não tivesse caridade, nada me aproveitaria”. É dessa ca- ridade, no original ágape, que é mais do que dar esmolas, que fa- lamos. Diz-se que caridade é a ex- pressão concreta do amor. Nem sempre, porque muitos dão esmola sem sentir pelo próximo a menor afeição. As palavras mudam de sentido. Têm sentido literal e têm sentido figurado, analógico, abstrato. Cos- tuma-se até empregar um tempo com o intuito de expressar o con- trário de sua significação etimo- lógica ou usual. Morais regista, na definição do termo: “Ironica- mente, fizeram-lhe a caridade, isto J. Goulart é, algum mal, dano, tanto por pa- lavras, como por obras”. Caridade, no sentido moral, é o sentimento, o espírito com que fa- zemos as coisas; é a expressão de nossa boa-vontade para com o pró- ximo; é benevolência, tolerância, compreensão, a disposição de olhar o melhor lado, de não julgar apres- sadamente e com má vontade. Somos geralmente muito desca- ridosos. É conhecido aquêle apólo- go espanhol. Se o homem monta o burrico e deixa o menino a pé, to- dos censuram; se os dois montam, se vão a pé os dois, se carregam, afinal, o burrico, sempre a opinião pública encontra motivo de censu- ra, de zombaria, de ridículo. Os governos são a maior vítima de nossa falta de caridade. Se é apressado ou se é lento nas suas decisões, se é parcimonioso ou se é generoso, se é tolerante ou se é rígido, sempre a oposição ou os menos aquinhoados encontram mo- tivo para desmoralizá-lo ou preju- 10 Ú NIT AS clicar os seus planos. A imprensa, muitas vêzes, é cruel, confundindo os fatos passados com os presen- tes e criando, não raro, situações perigosas. Parece que precisamos todos, nas condições a que chegaram as coisas, no nosso pais, de exercitar mais a virtude da caridade. Prcci- PACIÊNCIA Esta é outra virtude que preci- samos de cultivar. Costuma dizer- -se que o brasileiro é preguiçoso. Foi Monteiro Lobato quem fixou o tipo na figura do “jeca tatú” aco- corado junto do seu rancho deixan- do o tempo passar e convicto de que “plantando dá”. Mas, por outro lado, um tanto contraditòriamente, se diz também que o brasileiro é impaciente, apres- sado, improvisador, como o menino que entrerra a semente e vai logo verificar se ela brotou, ou o moço, de quem, diz Amoroso Lima, que “a análise, exigindo demora e pa- ciência, repugna ao seu espírito imediatista, que não quer apenas, mas quer já”. E quer, diz ainda êle, cm linhas gerais que tudo abranjam. Haverá nisto generalização, por- que é muito difícil determinar a característica de um povo, ainda mais tratando-se de país tão gran- de como o nosso e tão diversifica- do nas suas regiões, no seu clima, na sua produção e nos elementos samos ser razoáveis. Precisamos de examinar as questões com espí- rito desarmado de paixões, e pre- conceitos. Precisamos admitir a boa-fé do nosso oponente. Precisa- mos perdoar as ofensas e agravos. Não estamos na hora de cobrar, etsamos na hora de ajudar e de cooperar. psíquicos de uma raça ainda em formação. Tem-se de admitir, porém, que somos um povo impaciente, que gosta de improvisar monumentos e de aparentar feições que sòmente povos seculares podem possuir. No domínio da instrução, todo o mundo quer diploma, mas não se conforma com estudos prolongados, nem com pesquisas demoradas. Queixavam-se há pouco alguns mestres universitários, de que no Brasil não existe a mentalidade científica, a coragem de labutar persistentemente num laboratório, nem o govêrno se interessa por ofe- recer aos poucos que se animam a investigações os meios necessários, as verbas e os instrumentos. Se considerarmos a crise atual da produção, afetando tão grave- mente a economia nacional, ou a industrialização violenta do país, sem se levar em conta a matéria prima estrangeira e a criação de mercados correspondentes, verifica- -sc que há falta de planejamento a longo prazo e de medidas basea- Janeiro de 1959 — 11 das em custosos e prolongados la- bores. Um exemplo significativo é o de Brasília. A mudança da capital está assentada desde a Constitui- ção de 91 . Entretanto, ou tudo ou nada. Ninguém se animava a em- presa tão difícil. Se a construção se viesse fazendo aos poucos, den- tro de um plano bem elaborado, não estaríamos agravando as nos- sas finanças com a improvisação de uma cidade suntuosa, faraôni- ca ou babiloniana, às pressas, com importações caríssimas e num rit- mo exagerado, “às caneladas”, co- mo diz o presidente. De modo que u’a medida convenientemente, apro- vada por todos, necessária, se tor- CENTENÁRIO DA IGREJA PRESBITERIANA O Brasil atravessa uma crise de crescimento. A população se avo- lumou, mas a produção não corres- pondeu a êsse fenômeno, surgindo daí problemas graves que exigem o concurso de tôdas as correntes interessadas na grandeza da pá- tria. Com a nação cresceram as igrejas evangélicas que boje cons- tituem um elemento ponderável da nossa estrutura social, o que se ve- rifica até mesmo na representação do protestantismo nas assembléias políticas. A Igreja Precsbiteriana conta conm cêrca de duzentos mil mem- bros, incluindo-se menores e ade- na um motivo de temores, de opo- sição, de perigos e de males. A pressa. A impaciência. A falta de continuidade, o mal que vem con- tribuindo até para o abandono de empresas em avançado adianta- mento. Precisamos de cultivar a paciên- cia, de aprender a preparar o ter- reno, de semear e esperar os fru- tos. Precisamos despojar-nos de tôda a vaidade e de trabalhar com afinco e com plano, com planos que tenham prosseguimento e continui- dade. Mas também, por causa dis- to, não vamos atrapalhar. Se há alguma coisa boa, contribuamos para o seu sucesso e para o seu aperfeiçoamento. rentes e está procedendo, inteli- gentemente^ nestes dias, a uma rea- valiação dos seus recursos e no levantamento da obra por ela rea- lizada no decurso dêste século de vida heróica e produtiva. A im- prensa, a literatura, a instrução, os métodos imprimidos à obra, os re- cursos financeiros, a extensão dos campos, as suas relações interecle- siásticas e intercontinentais, tudo está merecendo estudo por parte da comissão promotora das come- morações. Até um museu expres- sivo da vida da Igreja, de suas tradições, de seus vultos eminen- tes, de seu desenvolvimento, está sendo carinhosamente montado. Como parte das comemorações de- verá reunir-se, no próximo ano, no 12 — Ú NIT AS mês de julho, 1959, em S. Paulo, o Concílio Mundial Presbiteriano que deverá reunir centenas de delega- dos. A Igreja Presbiteriana, ao lado de suas irmãs, mais ou menos da mesma idade, pode, sem orgulho, enumerar um rol de fatos compro- batórios de sua contribuição ao progresso da nação, tanto no ter- reno da educação religiosa e moral, como no da instrução, em que foi pioneira de muitas medidas, na obra hospitalar e beneficiente, e, sobretudo, na formação de uma consciência sadia e patriótica de seus membros )*( DESCOBERTA ACIDENTAL “No ano de 1879, afirma H. Van Loon, um fidalgo espanhol, 0 marquês de Sautuola, empreendeu uma excursão às cavernas de Altamira, situadas nos montes Cantabros, na zona setentrional da Espanha. O marquês levava consigo uma filhinha de quatro anos. Não se interessava pelos fósseis que o pai procurava, a pequena resolveu fazer uma exploração por própria conta. Existia, na ca- verna, uma parte muito baixa que nenhum adulto se dera ao incô- modo de inspeccionar. Que necessidade havia de sujar inutilmente as roupas? Mas, para a menina, essas rochas suspensas nada significavam; ela arrastou-se até o ângulo menos elevado e acen- deu a lanterna. Levantando os olhos, achou-se, porém, face a face com os dum touro e, transida de horror, gritou pelo pai. Eis como foi descoberta a primeira das nossas famosas pinturas prehistóri- cas... por uma criança travêssa, em busca de distração”. (“As Artes”, pág. 33) 2.° APELO DE ALBERT SCHWEITZER o PERIGO DE UMA GUERRA ATÔMICA “Atualmente devemos contar com a possibilidade ameaçadora de de- sencadear-se uma guerra atômica entre a União Sociética e os Esta- dos Unidos, conflito que só poderá ser evitado se as duas potências decidirem entre si renunciar às ar- mas atômicas. “Como chegamos a essa situa- ção ? “No ano de 1945, os Estados Uni- dos conseguem fabricar a bomba atômica, partindo da desintegração nuclear do urânio 235, e lançam uma sôbre Hiroshima no dia 6 de agôsto de 1945 e outra sôbre Na- gasaki, no dia 9 de agôsto do mes- mo ano. “A posse dessa bomba atômica confere-lhe uma superioridade mi- litar sem igual sôbi-e todos os de- mais povos. “A partir de julho de 1949, tam- bém a União Soviética dispõe de uma bomba atômica. E, aliás, seu efeito é tão grande quanto o da bomba atômica norte-americana, aperfeiçoada durante o período de 1946 a 1949. A paz entre as duas potências é mantida na medida em que cada uma tem respeito pelas bombas da outra. “No dia 3 de outubro de 1952, a Grã-Bretanha faz explodir, na ilha de Montebelle (na costa nordeste da Austrália) sua primeira bomba atômica. “Para novamente ganhar a su- perioridade, os Estados Unidos re- solvem deixar Edward Teller tomar conta da produção da bomba de hidrogênio, a qual, espera-se, supe- rará em muito a bomba de urânio. “Uma primeira experiência é fei- ta com ela em maio de 1951, em Eniwetok, e uma segunda no atol de Elugelab, no Pacífico, em ou- tubro de 1952. No dia 1.” de mar- 14 — Ú NIT AS ço de 1954, explode em Bikini — uma das ilhas vulcânicas perten- centes ao grupo das ilhas Marshall, no Oceano Pacífico — a bomba de hidrogênio aperfeiçoada. Nessa ocasião, descobre-se que seu efeito expressivo é muito maior do que se estimava nos cálculos. “Ao mesmo tempo que os Esta- dos Unidos, também a União So- viética se empenha na fabricação da bomba de hidrogênio. Ela faz explodir a primeira no dia 12 de agosto de 1953. OS TELEGUIADOS “As duas potências também fa- zem concomitantemente um maior progresso. Ora, sucede que a in- venção da bomba atômica, com a qual os Estados Unidos se ocupa- ram durante a segunda guerra mundial, aplicar-se-á aos teleguia- dos, com os quais já trabalhava a Alemanha nessa época. Com isso, não mais é obrigatório que unica- mente poderosos aviões de bom- bardeio transportem bombas até o local onde estas devem explodir. Dispõe-se agora de teleguiados, os quais, impelidos de rampas de lan- çamento, podem ser enviados a al- vos distantes, precisamente calcula- dos. “Chamam-se teleguiados aciueles projéteis transportados por um fo- guete, isto é, por meio de um cor- po voador que leva consigo o com- bustível que o propele. Êste com- bustível consiste numa mistura de substâncias que produzem gases de combustão, os quais escapam com uma velocidade extraordina- riamente grande, através de uma abertura estreita em forma de bico. ininteruptamente trabalha-se para descobrir misturas de combustí- veis ainda mais eficientes e mais simples de manejar. “O projétil carregado pelo fogue- te pode ser de tipo comum ou ser munido de uma ogiva de bomba de urânio ou de bomba de hidrogênio. “Dizem que a União Soviética dispõe de foguetes que alcançaram até 1.000 quilômetros, esperando- -se em breve outros que alcancem 1.800 quilômetros, se é que já não existem. Fala-se que os Estados Unidos já possuem foguetes com um alcance de 2400 quilômetros. “Ainda não se sabe com certeza se já existem os assim chamados foguetes intercontinentais, capazes de sobrevoar o Oceano Atlântico, isto é, com um alcance de mais de 8.000 quilômetros. Presume-se, no entanto, que os problemas referen- tes à sua produção são solúveis e que sc trabalha para isso, tanto no Leste como no Oeste, e que o Les- te parece estar, nesse sentido, à fientc do Oeste. “Embora ])areça ainda não ha- ver teleguiados intercontinentais, os Estados Unidos já devem estar prevendo que, no caso de uma Janeiro de 1939 — 13 guerra atômica, suas cidades, si- tuadas desde a costa até bem no interior, possam ser atingidas por teleguiados lançados por submari- nos. “Os foguetes movimcntam-se com uma velocidade incrível. Afir- ma-se que 0 foguete intercontinen- tal, para atravessar o Oceano Atlântico, necessita menos de meia hora, e sua capacidade de carga oscila entre 1 e 5 toneladas. ANTEVISÃO DO CONFLITO ATÔMICO “Como se desenrolaria uma guer- ra atômica hoje desencadeada? “Em primeiro lugar, tratemos da assim chamada guerra atômica de âmbito limitado. E’ que, no ínti- mo, certas pessoas têm a esperan- ça de que as hostilidades poderiam surgir numa guerra atômica com um âmbito mais ou menos limita- do, na qual ainda não se fizesse uso das bombas atômicas aperfei- çoadas ou de poderosas bombas de hidrogênio, mas apenas de teleguia- dos de curta ou média trajetória. O extermínio causado pelos tele- guiados, poderia, assim se espera, manter-se dentro de certos limites e igualmente propiciar ainda uma paz oportuna. “No que se refere à limitação lo- cal de uma tal guerra, pouca es- perança há nesse sentido, pois ela é realizada com teleguiados que alcançam até 2.400 quilômetros. Também não deve ser menospreza- da a destruição por êles provoca- da, pois o efeito dos projéteis atô- micos usados é igual ao de uma bomba de Hiroshima e muito maior é seu poder de destruição quando dotados do uma ogiva de bomba de hidrogênio. “É pouco admissível (lue os ini- migos desistam, desde o principio, de lançar sôbre as grandes cidades bombas de urânio aperfeiçoadas ou bombas de hidrogênio por meio de bombardeiros. “Uma grande possibilidade exis- te a favor disso, isto é, de que nu- ma próxima guerra atômica sejam empregados tanto os teleguiados como os grandes bombardeiros. A guerra feita com o lançamento de grandes bombas não pode ser subs- tituída pela de teleguiados, mas sim por êles completada. “Quanto ao efeito das grandes bombas de hidrogênio, deve-se di- zer que o diâmetro das bolas de fogo resultantes da sua explosão, pode abranger vários quilômetros. O calor é avaliado em 100 milhões de graus. Pode-se daí calcular a quantidade de pessoas aniquiladas — era tempo ínfimo — na cidade atingida, tanto pela pressão da explosão, como pelos destroços, pelo fogo, pelo calor e pela primei- ra e violenta irradiação radiativa. A mortal intensidade radiativa, provocada pela explosão, espalhar- 16 — Ú NIT AS se-á por uma extensão de cêrca de 45.000 quilômetros quadrados. “Perente uma comissão do Par- lamento, um general americano te- ria feito a seguinte declaração: ‘‘Se, de 10 em 10 minutos, forem lançadas 110 bombas de hidrogê- nio sôbre os Estados Unidos, mor- rerão ou ficarão feridas 70 milhões de pessoas. Além disso, milhares de quilômetros quadrados ficarão inutilizados para uma geração in- teira.” Então, os países como a Grã-Bretanha, a Alemanhã Ociden- tal e a França podem ser destruí- dos com 15 ou 20 bombas de hi- drogênio da mais recente fabrição. No que diz respeito às medidas de proteção em uma próxima guerra atômica, dizem que o presidente Eisenhower, após um ataque simu- lado com bombas, na qual também foram experimentados medidas de proteção, teria assim se manifesta- do: “Aí só adianta orar!” “Realmente, não se pode fazer muito mais do que, em relação a um ataque de bombas, dar instru- ções para que tôdas as pessoas que se encontrem no local se joguem no chão, atrás de uma parede, pre- ferivelmente forte, de pedra ou con- creto, com o rosto voltado para baixo, e para que, se possível, cubram com uma toalha a nuca e as costas. Assim, pessoas que não se encontrarem na região de com- pleta destruição, em certas circuns- tâncias poderão escapar à morte pela irradiação. Também é impor- tante que se faça chegar aos so- breviventes, se possível, água e co- mida que não sejam radiativas, e que êles sejam retirados o quanto antes da zona infestada pela ra- diatividade. “Está fora de cogitação a cons- trução de abrigos com grossas pa- redes de concreto para tôda a po- pulação de uma localidade. De onde se tiraria o local e os meios exigidos? Onde arranjariam os habitantes, no caso de um bombar- deio, 0 tempo para procurar pro- teção em algum abrigo antiaéreo? “Numa guerra atômica não há vencedores. Só vencidos. Nela to- dos sofrem, com as bombas e os projéteis atômicos do inimigo, o mesmo que a êste foi causado pe- las armas atômicas da outra víti- ma. Resulta disso um permanente aniquilamento, ao qual nenhuma suspensão das operações ou armis- tício pode pôr fim. Quando se tra- ta de armas atômicas, nenhum povo pode dizer ao seu inimigo: “agora é a vez das armas decidi- rem”, mas sim “agora vamos co- meter juntos 0 suicídio em que nos exterminaremos mutuamente”. “Com razão, um parlamentar in- glês declarou que quem emprega armas atômicas tem o mesmo des- tino de uma abelha, que quando pica, sucumbe por sua vez infali- velmente, desde o momento em que fêz uso do ferrão. “Uma guerra feita com armas atômicas de hoje, no sentido de Janeiro de 1959 — 17 manter uma liberdade considerada perigosa, não pode dar os resulta- dos que dela se esperam. “Aquêles para quem ela será fei- ta deverão, no seu decorrer, estar mortos, ou mais tarde definhar. Em lugar da libe^•dade caber-lhes-ia o extermínio. “As nuvens de poeira radiativa, que se seguiriam a uma guerra atômica entre o Leste e o Oeste, poriam em dúvida a sobrevivência dos homens no mundo inteiro. Essas potências não precisariam nem empregar, para isso, todo seu es- toque de bombas atômicas e de hi- drogênio, calculado em 50.000 uni- dades. “Uma guerra atômica, portanto, é um absurdo e uma crueldade ini- magináveis, que de forma alguma deve tornar-se realidade. “Infelizmente há o perigo de que a guerra fria se transforme numa guerra atômica, perigo êsse hoje muito maior do que foi até agora, devido à invenção dos teleguiados e às possibilidades por êles abertas. AMPLIAÇÃO DO PERIGO “Em tempos passados, os Esta- dos Unidos tiveram como princípio permanecerem os únicos, ao lado da União Soviética, na posse de armas atômicas. Não havia inte- rêsse em equipar outros países com bombas de urânio ou de hidrogê- nio. Êsses também não saberiam 0 que fazer com elas. Mas, com a invenção dos teleguiados, de me- nor ou maior alcance, modifica-se a situação, pois com êles, os paí- ses que estão ligados aos Estados Unidos podem fazer algo que, no seu interêsse e no dos Estados Uni- dos ,seja julgado necessário. Assim, os Estados Unidos renunciam ao princípio de não entregar armas atômicas a outras mãos. Uma gra- ve decisão. “Do seu ponto de vista, compre- ensível que os países da NATO queiram colocar-se numa posição tal que, com essas armas moder- nas, possam defender-se da União Soviética. Para esta última, porém, êsse armamento significa uma ameaça que até agora era inexis- tente. “De agora em diante, surgem condições até agora inxistentes, para o desenvolvimento de uma guerra com armas atômicas em solo europeu entre os Estados Uni- dos e a União Soviética. O terri- tório da União Soviética, compre- endido entre a Alemanha Ociden- tal e as cidades de Moscou e Cra- cóvia, pode ser bombardeado com teleguiados de um alcance médio de 2.400 quilômetros. Os teleguia- dos de alcance médio que a Tur- quia e o Irã aceitariam eventual- mente dos Estados Unidos para defender-se da União Soviética po- deriam ser perigosos para as cida- dades dessa potência, até bem no interior. 18 — Ú N I T A S “Assim ,a União Soviética pode estar se sentindo numa situação em que tenha de repetir uma ma- nobra do cêrco empreendida con- tra ela, com base na existência dos teleguiados. “A importância estratégica do Oriente Médio implica em que, tan- to a União Soviética quanto os Es- tados Unidos, enquanto defendem os países daquela zona, tratam de fazer com que êles fiquem compro- metidos, apoiando-os financeira- mente e fazendo chegar armas (ini- cialmente do tipo comum) às suas mãos. Em tôdas as querelas que lá levantam, aquelas duas potên- cias aparecem, aberta ou secreta- mente ,em posições opostos. Assim, acontecimentos que se derem no Oriente Médio podem tornar-se fu- nestos para a preservação da paz. O Oriente Médio tomou a si o pa- pel que os Balcãs desempenhavam antes da Primeira Guerra. “O perigo de uma guerra, que cresceu com o aparecimento dos teleguiados, tornar-se-á ainda maior pelo fato de que, provavelmente, uma guerra atômica não se desen- cadeará com base na declaração de guerra por parte de uma otência, mas em virtude de um aconteci- mento qualquer que sobrevenha or acaso. Culpa disso terá, de ago- ra em diante, a importância atri- buída ao fator tempo. “O ofensor repentino terá sobre o que é atacado, vantagem que lhe emprestará uma superioridade qua- se equivalente à vitória. Ser-lhe-á possível logo no comêço inflingir perdas ao inimigo, que diminuam extraordinàriamente a capacidade de combate dêste último. “Sente-se assim, de ambos os la- dos, a necessidade de estar diària- mente e de hora em hora à espera de uma agressão, para através de uma defesa instantânea e vigoro- sa, fazê-la malograr no que fôr possível. Essa urgência da defesa mais rápida possível é que traz consigo o grande perigo de a guer- ra atômica estourar por acaso. A rapidez com que se deve decidir o que significa um ponto visível no aparelho de radar, pode possibili- tar um êrro fatal que, sob certas circunstâncias, poderia originar o desencadeamento de uma guerra atômica. “Segundo o general americano Curtis Le May, deve-se realmente contar com essa possibilidade. “De fato, 0 mundo correu há pou- co tempo um perigo dêsse tipo. As estações de radar da Fôrça Aérea norte-americana e as da costa do país informaram que esquadrilha desconhecidas de bombardeiros do- tados de velocidade supersônica se aproximavam do país. Em conse- quência disso, o general que che- fiava 0 destacamento de ataque aos bombardeiros deveria ter ordenado o início de um bombardeio de con- tra-ataque. Contudo, êle não pôdt Janeiro de 1959 — 19 se decidir a isso, com o que assu- miu uma pesada responsabilidade. Logo após, verificou-se que as es- tações de rádio tinham sido víti- mas de um êrro técnico. 0 que po- deria ter acontecido, se estivesse no comando um general um pouco menos avisado! “Em tempos vindouros, o perigo de guerra, ocasionada por um êrro, será muito maior. Os foguetes su- persônicos, devido a sua pequenez, só serão visíveis tàrdiamente no radar, daí serem as possibilidades de defesa muito limitadas. Restam apenas alguns segundos para deci- dir se 0 que foi observado no apa- relho é realmente foguete, e pôr em andamento a defesa necessária. Esta consiste no envio de foguetes defensivos, que devem fazer explo- dir os foguetes inimigos antes que êstes alcancem seu alvo, e em en- viar esquadrilhas de bombardeiros para aniquilar as bases de lança- mento do inimigo. Tarefas seme- lhantes não podem ser entregues a um cérebro humano. Êste traba- lha devagar demais. Elas têm que ser chefiadas a um cérebro eletrô- nico, mantido em contacto com o aparelho de radar. Se êsse infor- ma que se trata realmente de fo- guetes, o cérebro eletrônico, de acôrdo com as informações trans- mitidas pelo aparelho de radar, calcula, em questão de segundos, a trajetória e a distância dêles e faz partir os foguetes defensivos. Isso tudo se processa autmàticamente. “A que ponto chegamos: nosso destino vai depender de um cére- bro eletrônico e dos enganos de que êste possa ser vítima. Êle só pode decidir automàticamente. O poder do cérebro humano, de avançar re- fletidamente em tôdas as direções e sentidos, não lhe foi concedido. Sua decisão é rápida, mas não tem a profundidade e a certeza da do cérebro humano. Além disso, o cé- rebro eletrônico está na absoluta dependência do fato de que no seu tão complicado funcionamento, tu- do, até as mínimas coisas, deve estar em absoluta ordem. “Não faltam, portanto, possibi- lidades de, por um acaso qualquer, tombarmos uma vez numa guerra atômica, da forma mais estúpida. “Também não deve ficar fora de cogitação uma outra piora de nossa situação, que se relaciona com o fato de os Estados Unidos estarem em vias de fornecer armas atômi- cas a outros países, confiando-as àqueles de quem julga poder supor que não as usarão imprudentemen- te ou conforme a própria vontade. As outras duas potências atômicas têm a liberdade de fazer o mesmo. Mas quem é que garante que, den- tre êsses povos agraciados, não haverá também, uma vez, um in- digno dessa honra que ao entrar na posse de tais armas, fará com elas o que bem lhe parecer, sem se preocupar com as conseqiiên- cias? Quem é que pode impedi-lo? 20 — Ú N I T A S Quem é que pode induzí-lo a re- nunciar ao uso de suas armas atô- micas, quando as nações, de volta à sentatez, resolverem conjunta- mente renunciar ao seu uso? “Cavou-se um buraco no dique. Isso quer dizer agora vigiar, para que não haja, em conseqüência, uma ruptura fatal. “Que é de se supor que tais preo- cupações se concretizem, conclui-se da declaração que 9.235 cientistas enviaram no dia 13 de janeira de 1958 à ONU, a respeito da cessa- ção das experiências nucleares. Nela figura a frase seguinte: “En- quanto as armas atômicas estive- rem em poder das três grandes po- tências, é possível estabelecer-se um acôrdo visando ao seu contrô- le. Se as experiências continuarem e a posse dessas armas fôr conce- dida a outros governos, o risco de se desencadear uma guerra atômi- ca, decorrente da existência de go- vernantes irresponsáveis, será mui- to maior”. “Portanto, o perigo de uma pró- xima guerra atômica é tão amea- çador que se torna uma necessida- de urgente a renúncia às armas atômicas. A ESTRANHA POSIÇÃO DOS E.U.A. “Os Estados Unidos, na questão da renúncia às armas atômicas, as- sumem uma estranha posição. Não pode ser outra senão a de intervi- rem convictamente em favor de sua supressão, mas ao mesmo tem- po querem, no caso de isso não se tornar realidade, colocar-se, junta- mente com os países da NATO, nu- ma situação, do ponto de vista mi- litar, das mais propícias. Por isso, os Estados Unidos insistem em que aqueles países se decidam a acei- tar o quanto antes os teleguiados que lhes está oferecendo. Mais ainda, querem estar numa situação em que mantenha a paz intimidan- do o inimigo. Contudo devem ter conhecimento de que a maioria dos países da NATO não demonstra muita pressa em se tornar possui- dor, das armas que lhe foram ofe- recidas, pois seus dirigentes têm que enfrentar uma corrente de opi- nião contrária cada vez mais forte em seus países. “Seria de grande importância que os Estados Unidos, nessa hora cru- cial para a humanidade, se decidis- sem a pensar esclusivamente na necessidade de renúncia às armas atômicas e, em conseqüência disso, em evitar uma guerra atômica. A teoria da manutenção da paz por meio da intimidação do inimigo, mediante armamento atômico, não pode mais ser levada em conta na época presente, com um perigo de guerra tão intensificado. LÕ E ABRAAO “Eis aí tôda essa terra à tua vista. Rogo-te que te apartes de mim” (Gênesis 13:9). Os zagais de Abraão, o patriarca, Brigavam com os zagais de seu sobrinho Ló. O bom velho o olhar extende, abarca Os campos em redor e o chão maninho, E diz a Ló, com mostras de carinho: — Das terras que ora vês, toma e demarca O sitio em que se praza armar teu ninho, Que o meu irei jazer noutra comarca. Xão desejo que os meus e os teus pastôres Vivam nessa contenda repulsiva. Leva o teu gado em paz para onde fôres. Será melhor que conversemos, Ló, A fraterna amizade, embora viva Cada um de nós para o seu lado, só. Benedito R. Aranha CONHEÇA A SUA B r B L I A 3.8 LIÇaO GÊNESIS: OS .Vtenção, aluno: Você leu, nesta semana, os onze primeiros capítu- los de Gênesis? Não? Que pena! Perdeu uma boa ocasião de o fazer e anulou o propósito dêste curso que é de levá-lo à Bíblia. Sim? Que bom! Entendeu-os me- lhor? Foi para isso mesmo que * O livro de Gênesis está dividido em três partes ,a saber: Primór- dios — Patriarcas — Descida para o Egito. Estudada a primeira, caps. 1 a 11, como fizemos em aula anterior, passamos ao período dos Patriarcas. E’ o que vai do capí- tulo 12 até 0 36. Se alguém qui- ser recurso mnemónico para saber PATRIARCAS Rev. Júlio A. Ferreira organizamos o curso: “Conheça a sua Bíblia”. Ninguém a pode co- nhecer. Conheço a minha, mas a sua não será conhecida se você não se esforçar nesse sentido. Creio que posso ajudá-lo, mas não posso fazer a sua parte. * dos capítulos, basta Icmbrar-se que 36 é múltiplo de 12. Não deve ter sido difícil guardar que os primór- dios vão de 1 a 11, pois que um número lembra o outro. Vêde o esquema das viagens no periodo dos Patriarcas. Do capítu- lo 12 ao 36 de Gênesis temos três biografias de Abraão, de Isaque e Janeiro de 1959 — 23 de Jacó. Os diferentes riscos re- presentam diferentes viagens. Pri- meira: Abraão vai da terra de sua parentela (Ur) para uma terra da qual diz Deus: “Eu te mostrarei” (Canaã). Segunda: Abraão man- da buscar esposa para o filho; é a viagem em busca de Rcbeca. Creio que todos se lembram dessa via- gem. Comovente história do en- contro junto ao poço, quando o ser- vo de Abraão ficou em silêncio para ver se Deus faria prosperar o seu caminho ou não. Disse, lá consigo, que a moça que lhe desse de beber a êle e aos camelos essa seria a candidata ao filho de Abraão. Critério interessante do de escolha. É boa qualidade revelar cuidado pelos outros. Após a expo- sição do propósito da viagem e da decisão de Rebeca, segue-se a ter- ceira viagem, indicada pela flecha rumo a Canãa de novo: vai Rebeca ao encontro de Isaque. Sabemos que dois filhos teve êsse casal: Jacó e Eaú. Quando Isaque era já ve- lho, Jacó enganou o irmão, patro- cinado, infelizmente, pela própria mãe. Esaú ficou irado, e quis ma- tar a Jacó. Fugindo, Jacó vai a Padã-Arã, na Galiléia, a região dos parentes. Nessa viagem tem êle uma visão de Deus, em Betei. Na ida. Betei; na volta, Jaboque, vale onde se dá o encontro com o anjo, antes do encontro com o irmão. No intervalo dessas duas viagens, tam- bém assinaladas no gráfico, êle se I enriquece, luta contra o próprio so- I gro. Enganara o pai; enganara o irmão; enganara o sogro — seu nome era: Enganador. Jacó retorna a Canaã. Feita a apresentação do quadro, passemos a um pequeno balanço de informações a respeito de cada um dos patriarcas. De Abraão temos vários inciden- tes narrados. Procurámos resumir dêstc modo: Abraão e a promessa — 12 ” e as peregrinações — 12 " e Ló — 13 ” e Melquizedeque — 14 ” e o Pacto — 15 ” e Hagar — 16 ” e Sara — 17 ” e os anjos — 18 ” e as cidades impenitente.? — 19. ” c Abimeleque — 20 ” e Isaque — 21 ” e 0 sacrificio do filho — 22 ” e a viuvez — 23. A promessa é de que nêle, Abraão, seriam benditas tõdas as nações da terra: teria êle descen- dência como areia do mar e estré- ias do céu. Levado para Canaã, morava, com diz a Escritura, em cabanas; era um estrangeiro. Ali estava em obediência à palavra de Deus. Recebia a inspiração de dei- xar os seus e ir para uma terra distante, desceu ao Egito, o que era natural, pois que no Egito es- tava então a capital do mundo. O incidente com Ló é muito conheci- 24 — ÚNITAS do; avançaram para o Vale do Jor- dão, perto do Mar morto, planície fértil. Ambos tinham rebanhos e era preciso que êles decidissem a respeito da divisão das terras; es- tava havendo luta entre os seus auxiliares. Abrão tem gesto de generosidade: se tu escoilheres a direita, eu escolherei a esquerda. Ló escolheu o parentmente melhor. Melquizedeque, rei de paz, recebeu dízimos de Abraão. Segue-se a ce- rimônia da circuncisão, como o marco do pacto feito entre Deus e 0 patriarca. Abraão intercede por Ló, por sua família, pelas cidades impenitentes; contudo a maldade era tal, que não foi possível evitar a destruição destas. Sodoma e Go- morra, símbolos da destruição fi- nal. Abimeleque foi um rei visi- tado por Abraão. Abraão infeliz- mente , apesar de tôda a sua gran- deza de alma, mostrou-se humano; caiu na fraqueza da mentira. Depois dêsses acontecimentos cumpre-se a promessa. Deus lhe dá o filho. Deus vem depois a pe- dir-lhe 0 filho. Êste é 0 ponto cul- minante na biografia de Abraão; sua significação vamos destacar depois. Vamos passando à biografia de seu filho Isaque. O exemplo de Isa- que como pacifista é o ponto cul- minante na biografia dêste, porque êle foi realmente um exemplo de pacifismo. Sua biografia é menor; menor em extensão e menor em importância. Os vultos de seu pai Abraão e de seu filho Jacó são tão notáveis que, de certa maneira, a figura de Isaque fica um pouco apagada. Entre parêntesis: Conta- -se que Mendelson, o banqueiro, era muito conhecido, sendo seu filho sempre apresentado como o filho de Mendelson. O neto se tornou musicista célebre. O filho, que ago- ra era velho, passou a ser apresen- tado como 0 pai de Mendelson. Cer- ta vez perguntaram-lhe quem era. Respondeu: “Eu, a princípio, era filho de meu pai; depois passei a ser 0 pai de meu filho; eu mesmo não sou ninguém”. Isaque a prin- cípio era filho de Abraão; depois passou a ser o pai de Jacó. Jacó é, de fato, um vulto notável. Notável primeiro por suas malandragens; notável depois por sua conversão. Repassemos rapidamente a bio- grafia de Jacó comprando o di- reito de priniogenitura com um prato de lentilhas, ganhando a bênção do pai quando arranjou um guisado mais depressa. (A mãe, protecionista, depois deve ter fi- cado arrependida quando vê o fi- lho partir para tão longe), indo para região onde estavam os pa- rentes, trabalhando, conforme os costumes da época, para receber de seu sogro as filhas em casamento, enganando o próprio Labão, ao qual deixa sem aviso, vem afinal ao vale de Jaboque, o vale da de- cisão. O rio Jaboque é um afluen- te do Jordão. Riacho sem muita significação, passou à história por causa do encontro de Jacó com o Janeiro de 1959 — 25 anjo. Quase mesmo à passagem do Jordão, quase à entrada de Ca- naã, teve Jacó êste encontro. Nes- te incidente o mais significativo de sua vida, percebeu que de nada va- lia sua atitude enganadora, pois que, cedo ou tarde, chegava o ajus- te de contas. Pediu com grande insistência, a bênção dos céus. Encontra-se e reconcilia-se com o irmãos. Às eauHflHpc Hos pais que não mais encontrou somou-se logo a saudade de Raquel a esposa querida, que veio a morrer. Não há felicidade completa aqui na terra. De nada vale ser engana- dor. As mais caras esperanças es- tão além. E assim, em lugar de Jacó que passa aos bastidores, surge no pal- co dessa história, José , seu filho. Mas, êste já pertence a outro pe- ríodo. Apresentadas, em síntese, as bio- grafias dos patriarcas, desejamos destacar algumas lições essenciais. Abraão é o exemplo de fé. E’ chamado o pai da fé. O pedido do sacrifício de Isaque, devia parecer- -Ihe absurdo. Mas Hebreus 11:18 dá-nos 0 segrêdo dessa história. Abraão creu na ressurreição. Êle não discute; obedece. Todos conhe- cem o incidente tão tocante; vão para o monte Moriá, em Jerusalém. O filho pergunta: aqui está o cute- lo, aqui a lenha, onde é que está a vítima? E a resposta de Abraão é: “Deus proverá”. É o homem da fé, chamado “pai da fé”. Sua figura vai ocupar o resto da Es- critura. O momento cruciante é êste. Demonstrou fé em muitas circunstâncias da sua vida, mas nesta hora êle demonstra fé “cris- tã”. Romanos 4 mostra a signifi- cação da fé na vida de Abraão. Ro- manos 4:17: Deus dá existência às coisas. Mateus 22:31-32 confirma- -nos a impressão. Vamos passor a Toortno Isnane é um exemplo de pacifista, o inci- dente mestre está principalmente no capítulo 26. Expressão interes- sante: “e cavou outro poço”. O que aconteceu foi o seguinte: Êle ca- vava um poço porque o rebanho sem água não podia viver, mas vi- nham os vizinhos e criavam uma situação. No cap. 26 de Gênesis a expressão “E cavou outro poço” aparece várias vêzes, porque vá- rias vêzes os inimigos avançaram sôbre o que era dêle. Para não questionar, êle deixava o poço e cavava outro. O final foi êste: De- pois de tanta paciência teve recom- pensa. Os inimigos o procuraram e quiseram fazer amizade com êle, porque viram que Deus o abençoa- va. Êles disseram: Temos visto que o Senhor é contigo. Jacó é um exemplo de conversão. Já temos enunciado essa grande li- ção na vida dêste patriarca. O su- plantador, o enganador transfor- mou-se num príncipe com Deus. Êle teve primeiro o nome de Jacó e depois o nome de Israel. Jacó, o enganador, deixa atrás um irmão 26 — ÚNITAS enganado e vai à frente encontrar um sogro a quem vai também en- ganar. Apesar das promessas que fêz a Deus em Betei, êle, até a Deus tenta enganar, sempre utili- tário . “Se Tu me abençoares, se Tu me acompanhares nesta via- gem, se Tu me fizeres prosperar, então”. . . Na volta seu espírito é outro. Gênesis 32:26: “Deixando ir por- que ja a alva subiu; porém êle disse, não te deixarei ir se não me abençoares. Disse-lhe: qual é o teu nome? E êle disse: Jacó. En- tão disse: Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens prevaleceste”. Foi um encontro com Deus. Enquanto a pessoa não se encon- tra realmente com Deus, não deu o passo definitivo na vida, e o mais significativo. Nada tem significa- ção sem a conversão, o encontro com Deus, a decisão feita, de uma vez para sempre, de servir aos pro- pósitos divinos. Leiam-se os textos: Gênesis 28:4 — “E te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua semente contigo, para que em herança possuas u terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão”. Gênesis 30:27 — “Então lhe disse Labão: Se agora tenho achado gra- ça aos teus olhos, fica comigo. Te- nho experimentado que o Senhor me abençoou por amor de ti”. Gênesis 43:13-14 — “Tomai tam- bém a vosso irmão, e levantai-vos, e voltai àquele vai'ão. E Deus puUeio&o vüS dê misericórdia diante do varão, para que deixe vir covosco vosso outro irmão, e Ben- jamim; e eu, se fôr desfilhado, des- filhado ficarei”. A grande lição dos patriarcas é esta que a nossa vida deve ser di- rigida por Deus. E’ o Senhor, Todo Poderoso que traz a bênção e que trás a vitória; Êle nos guia pelos nossos caminhos. ’ Finalmente Gênesis 46:3. No fi- nal da vida de Jacó Deus está lhe dizendo: “Não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação”. Deus transformara Abraão em uma família ;agora diz que transformará esssa família em uma grande nação. Estudaremos a gestação dela na próxima aula. iMOÇOES DE PSICOLOGIA KELIGIOSA Dr. Samuel Figueira TEORIAS PSICOLÓGICAS DO FENÔMENO RELIGIOSO (Continuação) D) CARL JUNG. Para Jung, a religião é uma autêntica função do psiquismo, sob a dependência espe- cifica do inconsciente coletivo. Esclareçamos. Jung, um dos mais brilhantes discípulos de Freud, é o teorizador do inconsciente coletivo. Para êle, não basta distinguir na psiquê, o consciente — porção relacionada diretamente com o “eu”, e o incons- ciente, — 0 “amplo fundo indeter- minàvelmente grande”, porção no- turna da personalidade; no incons- ciente, êle distingue duas camadas: uma relacionada com as experiên- cias pessoais, contendo os impul- sos recalcados, lembranças adorme- cidas, e algumas expressões senso- riais não suficientemente fortes para atingir o consciente — é o inconsciente individual; resta po- rém, além dessa, outra camada con- tendo, não mais as experiências in- dividuais, mas as grandes expe- riências da espécie. E’ o chamado inconsciente coletivo. Para citar um exemplo, à guiza de ilustração, na análise do nome pessoal, temos um elemento individual — o pre- -nome, e um elemento coletivo — o sobre-nome. Assim como o preno- me é a expressão do presente, o sobrenome é depositário do passa- do, um traço de união que liga o indivíduo aos seus antepassados, e exprime a herança de caracteres que remontam a troncos familiares longínquos. Pois bem, o nosso pa- rentesco é também uma realidade 28 — Ú N I T A S no setor psicológico — é o incons- ciente coletivo. Apenas uma dife- rença gigantesca separa o paren- tesco biológico do parentesco psi- cológico: enquanto o primeiro tem um âmbito relativamente restrito, o segundo é universal. ARQUÉTIPOS O conteúdo do inconsciente cole- tivo é constituído pelas chamadas “imagens ancestrais”, que Jung também chama imagens arcáicas ou arquétipos. Que são essas ima- gens? São resíduos da memória da espécie, idéias que se encon- tram em diferentes povos da terra sem terem sido transmitidas pela tradição, nem pela propagação. 0»çânio-lo: “É um fato que certas idéias se verificam quase em tôdas as partes e em todos os tempos, e que até podem aparecer de per si e espontãneamente, com intei- ra independência da tradição e da migração. Não são concebidas pelo indivíduo, mas ocorrem e ainda irrompem na consciência indivi- dual”. (Psicologia y Religion, pág. 21). Como exemplo, cita as doutri- nas cristãs do pecado, da redenção, a encarnação do Verbo (o Homeni- -Deus), a cruz, a concepção ima- culada (do Filho de Deus), a Trin- dade, etc., e acrescenta que as dou- trinas cristãs referidas “não são exclusivas do Cristianismo, se bem que êste lhe tenha dado tal desen- volvimento e perfeição de sentido que mal se pode comparar com as de outras religiões. Com freqüên- cia encontramo-las em religiões pa- gãs...” (Op. Cit. pg. 76). A vinda do Messias, por exemplo, constituía uma esperança universal. Suetônio testemunhou: “Uma antiga e cons- tante tradição, derramada por todo 0 Oriente, anunciava que em de- terminado tempo devia surgir da Judéia 0 dominador do mundo” (Vida de Vespasiano, apud Castelo Branco — A Divindade de Jesus, pg. 101): Castelo Branco cita ainda vários testemunhos insuspeitos sô- bre o assunto. Voltaire: “Desde remotíssimas eras, grassava entre indus e chins a crença de que um sábio viria do Ocidente. A Euro- pa dizia que o sábio viria do Orien- te. Tôdas as nações assentiram a necessidade de um sábio” (Op. Cit. pg. 102). Volney: “As tradições sagradas e mitológicas dos tempos anteriores à era cristã, haviam le- vado por tôda a Asia a esperança num sublime mediador, o qual de- via vir Juiz supremo, salvador fu- turo, rei. Deus, conquistador e le- gislador, a inaugurar na terra a idade do ouro e a redimir os ho- mens do império do mal.” (Op. Cit. pg. 102). Roselly de Lorgues apre- senta-nos, num livro antigo e rica- mente erudito, um documentário maciço e exaustivo, provando como os grandes temas do Cristianismo são encontradiços nas religiões pa- gãs. A noção do pecado original. Janeiro de 1959 — 29 por exemplo, é universal. “Perpe- tuada no antigo Oriente, encontra- mo-la igualmente na África, no continente americano e nos arqui- pélagos do Oceano Pacífico. Em tôda parte reinou noção de que a condição do homem havia sido mu- dada por uma falta. Os chineses. . . os indus... os parsis diziam: “Em qualidade de filho de Meschia e de Meschané, Adão e Eva), o homem nasce impuro”. Todos os povos concordes com Platão, reconhece- ram que “a natureza e as facul- dades do homem foram mudadas e corrompidas desde o princípio, no tronco de que descenderam” (Jesus Cristo Perante o Século, g. 328). Sôbre a encarnação do Verbo, diz De Lorgues: “Tradições derivadas dos tempos ante-diluvianos se ha- viam espalhado por todo o Oriente, e anunciavam um redentor divino. Os povos confiavam que êsse me- diador havia de reconciliar com o Céu a humanidade. Todos espera- vam por um deus que deveria en- carnar-se, e apesar de seu poder, sofrer tôdas as misérias, persegui- ções, as necessidades humanas,... enfim a morte. A predição de seu nascimento milagroso do seio de uma virgem estava tão acreditada que, em quase tôdas as teogonias se encontra a encarnação de um deus” (Op. pg. 329). Cita a seguir, vários povos nos quais se encon- tram essas tradições. Os egípcios, os indus, os chineses ,os tibetanos, os japonêses, os povos bárbaros da América, os germanos os druidas e outros: “Os hindus e os bramas ensinavam que Buda nasceu da vir- gem Maha-mai. Em geral, no Ti- bet, no Japão e na China, vivem os povos na persuasão que um deus, querendo salvar da corrupção o gê- nero humano, se encarnara no seio de uma virgem. A êsse Deus cha- mam uns Che-Kia. . .” (Id. pg. 330). A redenção pela morte de um deus — eis outro tema universal. Na China, os livros likigki anun- ciavam um herói que deveria repôr tudo na ordem primitiva, e me- diante seus próprios padecimentos abolir os crimes. E’ o Santo. Os Kings falam dêsse personagem misterioso. Êle existia antes do céu e da terra. Posto que muito excelso, sua natureza é semelhante à nossa. “Tren-Gien será o deus- -homem; andará entre os homens, e os homens não n’o conhecerão. Ferí o Santo, rasgai-o com açoites, ponde 0 ladrão em liberdade ...” Em todos os países, acrescenta De Lorgues, quer civilizados, quer bár- baros, existia a crença de que um deus-homem haveria de resgatar, com seu sangue, a criminosa hu- manidade. Esquilo, um dos mais profundos mitólogos reuniu na fi- gura de Prometeu todos os parti- culares da vida do Redentor, e deu à Grécia o espetáculo de um deus que condenava à morte outro deus. Platão, fazendo o retrato simbóli- co do Justo, diz: “Virtuoso até à morte, êle passará por injusto e perverso, e como tal será flagela- 30 — Ú NIT AS do, atormentado, e por fim posto na cruz” (Ibid. pg. 336). Jung rotula essas crenças de arquétipos, ou imagens, são as “imagens cristãs que não são ex- clusivas do Cristianismo”, e que “com freqüência encontramos em religiões pagãs”. Como se explica a universalidade dessas imagens ou arquétipos ? — Enquanto os religiosos consi- deram que o âmbito da revelação não está estreitado no campo do Judaismo ou do Cristianismo ape- nas, e mostram como Deus revelou considerar povos pertencentes à chamada gentilidade, isto é, povos não judeus nem cristãos, como no caso de Nínive, cidade à qual Jeo- vá mandou um mensageiro espe- cial; Jung, à luz de sua doutrina do inconsciente coletivo, acha que há em todos os homens, uma dis- posição comum para cristalizar as figuras representativas (as gran- des idéias, as noções comuns de di- vindade, anjos, demônios, e até de dogmas, como a Trindade, a reden- ção, e os já citados) não segundo conceitos intelectivos, racionais, mas dc acordo com um padrão uni- versal, coletivo, irracional. Es.'?a disposição se tranrunite por heran- ça. Faz parte da estrutura psíqui- ca do homem. Assim pois, não te- mos sòmente caracteres somáticos e psíquicos gerais, comuns a tôda a humanidade, mas também cren- ças, noções gerais, categorias lógi- cas. Tentando esclarecer o processo de formação dos arquétipos, Jung compara ao sistema exial de um cristal que predetermina a forma- ção cristalina na água-mãe, sem possuir o mesmo existência mate- rial. O sistema axial determina a forma concreta do cristal. Assim como o cristal, possui o arquétipo um núcleo de significação invariá- vel. Jung acentua pois, em sua dou- trina mais um aspecto do paren- tesco universal. Como o diz Ramon Sarró, “mercê de uma profusão deslumbradora de exemplos, o lei- tor vai percebendo o seu parentes- co com tôdas as culturas. Desco- bre que uma região de si mesmo que ignorava, é uma espécie de re- ceptáculo dos grandes temas que têm comovido a Humanidade. Tem a visão grandiosa de sua afinidade com os vedas, os egípcios, com os antigos incas e com os antigos germanos, com os chineses e com os africanos... Esta camada de sua psiquê comum com a humani- dade de todos os países e de tôdas as épocas — é o inconsciente co- letivo” (El Yo y el Inconsciente, pg. 23, de Jung). Como vemos, a psicologia dc Jung trouxe mais uma dimen.sâo à realidade psicológica encarada de modo unilateral por Freud. Para Freud, a análise do inconsciente é a revelação da bestialidade huma- na; para Jung, “existem nêle for- ças latentes de aperfeiçoamento. Janeiro de 1959 — 31 bases de tôda crença, da moral o do sentimento religioso”. Para Jung, o velho Heráclito des- cobriu na antiguidade, a mais im- portante lei psicológica de todos os tempos, que é a da “harmonia dos contrários”, isto é, uma fôrça ca- paz de regular e harmonizar o ra- cional e 0 irracional. Assim pois, a neurose não é libido recalcada, como quer Freud, nem instinto de afirmação pessoal reprimido como quer Adler, mas sim “religiosidade reprimida”. “Os deuses negados se convertem em fobias, obcessões, delirios” (El Yo y el Inconsciente, pg. 24). E’ a rutura desta harmo- nia entre o racional e o irracional, o combate dos conteúdos irracio- nais pelo racionalismo — o que res- ponde em geral pelo mecanismo das neuroses. Para Jung, o racio- nal e o irracional são duas faces inalienáveis da vida psiquica. Com- bater o irracional — é um dos erros palmares do racionalismo que êle ataca nos seguintes termos: “Para certa mediocridade intelectual, ca- racterizada por um racionalismo ilustrado, uma teoria cientifica que simplifique as coisas constitui um excelente recurso de defesa, devi- do à inquebrantável fé do homem moderno em tudo que leva a eti- queta de “cientifico”. (Psicologia y Religion, pg. 75). Enrique Bu- telmann, prefaciando a citada obra de Jung, diz: “Condicionado histo- ricamente, Freud “vê como sua época o obriga a ver”. Em outras palavras, não podendo libertar-se 00 materialismo cientifico dos fins do século XIX, concebe o incons- ciente de modo oxclusivamente ra- cionalista e intenta explicar tôda criação espiritual à luz de sua ima- gem mecanicista do universo. Dai sua teoria da sublimação, e o con- siderar tôda a cultura humana como mera derivação do instinto sexual. Dai também sua valoração negativa dos fatores irracionais. O irracional porém, existe; é um fato psicológico. Portanto como tal hemos de considerá-lo, cuidan- do de não violentar sua idiosincra- sia... 0 contrário equivale a um arbitrário estreitamento do campo da experiência.” (Id. pg. 12). Assim entendido o conteúdo do inconsciente coletivo, torna-se in- tuitiva a teoria da religião. E’ a submissão a poderes superiores, um fator dinâmico inconsciente que se apodera do sujeito e o di- rige, uma fôrça que irrompe e do- mina 0 individuo. Em sua expres- são textual, “religião exprime a particular atitude de uma cons- ciência transformada pela expe- riência do numinoso”. Numinoso vem a ser “a propriedade de um objeto visivel ou o influxo de uma presença invisivel que produz uma especial modificação da consciên- cia”, constituindo “uma condição do sujeito, independente de sua vontade” (Ibid., pg 22). Como se desperta essa fôrça que muitas vêzes dormita em nosso ín- 32 — ÚNITAS timo? Na experiência individual, “essa condição está coordenada com uma causa externa ao indiví- duo”. Em que se baseia Jung? — No estudo de amplo material no campo da mitologia, do folk-lore, da in- terpretação dos sonhos, e da psico- patologia. * * * Inegàvelmente, Jung teve o mé- rito de revelar mais uma dimensão do fenômeno religioso: a sua radi- cação no inconsciente coletivo. No- temos que Freud fêz derivar a re- ligião do inconsciente individual. Ambos, porém, foram unilaterais porque encararam aspectos isola- dos da religião. Os espiritualistas tradicionais vincularam a religião ao consciente, de modo exclusivo. Basta assistir uma cerimônia reli- giosa num povo bárbaro para se chegar à evidência do dinamismo inconsciente que a anima. Mas não é possível também dissociá-la de sua raiz consciente, principalmen- te nos povos mais civilizados. O grande êrro dos teorizadores da religião tem sido monopolizar o seu significado, tentando simplifi- cá-la às custas do sacrifício de sua complexidade estrutural. Jung, por exemplo, restringe o campo da ex- periência de modo arbitrário, ne- gando a influência da vontade no fenômeno religioso, o que conduz ao determinismo. Por outro lado, sua teoria tem o mérito inconfundível de focalizar a importância de fatos da mais alta significação, como os que servem de base à concepção dos arquéti- pos, as crenças universais. Toda- via, negando a confluência do ra- cional na gênese da religião, che- ga a conseqüências extremas como 0 determinismo religioso. Como veremos mais tarde, Fromm atribui um papel funda- mental à razão na origem e evo- lução do sentimento religioso. Assim pois, na harmonia dos “contrários” encontraremos uma visão tridimensional do fenômeno religioso associando o que há de verdade nas teorias de Freud, Jung e Fromm, isto é, reconhecendo as fontes no inconsciente individual, no inconsciente coletivo, e na pró- pria razão. São valiosas contribui- ções ao conhecimento das raízes do fenômeno religioso. (Continuaremos) • • A CONCEPÇÃO CRISTà DA RAÇA A despeito de tôdas as provas científicas que destroem o precon- ceito racial, as relações entre as raças ainda permanecem críticas. Daí a necessidade de reafirmar a concepção cristã, porque só o espí- rito cristão porá abaixo o separa- tismo e implantará a fraternidade universal. Essa concepção aparece na exposição que transcrevemos, do Secretário do Conselho Mundial de Igrejas, preparada para os es- tudos recentemente publicados pela UNESCO. “A respeito da concepção cristã da raça existe uma crescente coin- cidência de opinião entre os pensa- dores cristãos. As igrejas têm cri- do sempre na unidade fundamental da humanidade. Quando homens de ciência convocados pela UNES- CO declararam “que todos os ho- mens pertencem à mesma espécie, à do homo sapiens, e desdendem de um mesmo tronco comum” (decla- ração de setembro de 1952), os que conhecem o N. Testamento recor- darão as palavras de Paulo, escri- tas há dezenove séculos: “Êle é o que de um só fêz nascer tôda a geração dos homens, para que ha- bitasse a vasta extensão da terra” (Atos 17:26). Mas, não se pode negar que em vários períodos da história das igrejas cristãs a fôr- ça dessa convicção fundamental foi gravemente debilitada por cau- sa da aceitação de ideologias ou doutrinas que estabeleciam uma hierarquia racial. Assim, a atitu- de da Igreja ante o povo judeu, que nos primeiros séculos da era cristã esteve totalmente fundada em razões religiosas e teológicas, se converteu desde a época de Constantino o Grande, e especial- mente durante a idade média, em uma estranha combinação de jus- tificáveis motivos teológicos e do mais anti-cristão anti-semitismo. O 34 — ÚNITAS resultado foi, segundo demonstram as leis da época, que os judeus fo- ram considerados como uma classe inferior de seres humanos. Ade- mais, quando as nações ocidentais entraram em contato direto com os povos da África e chegaram a exercer sôbre êlcs sua supremacia, certos teólogos pretenderam jus- tificar essa dominação baseando-se na maldição que Noé lançou con- tra o filho de Ham, segundo a qual êle havia de ser “um servo dos ser- vidores de seus irmãos” (Gênesis 9:25). Mais recentemente temos conhecido o infeliz fenômeno de um movimento que pretendeu com- binar 0 cristianismo com o racismo nacional-socialista. Felizmente, po- demos dizer que essas aberrações encontraram decidida oposição e que hoje é dificil encontrar um teólogo sério ou uma autoridade eclesiástica que defenda tão fra- cas armações teológicas construí- das “em defesa da má causa”. A declaração da importante conferên- cia ecumênica reunida em Oxford, cm 1937, reflete essa concordância geral ae opinião ao manifestar que “não há razões para estabelecer nenhuma diferença entre as raças quanto ao seu valor intrínseco. Por tôdas vela igualmente, pois que to- das foram criadas por Ple para pôr a seu serviço o s dons singu- lares e distintos de cada uma” (The Churches, p. 72). Devemos esclarecer, contudo, que a concepção cristã de raça tem ca- racterísticas distintivas, podendo dizer-se que é mais teocêntrica que antropocêntrica. A afirmação de Paulo, citada anteriormente, prin- cipia com estas palavras: “O Deus é o que de um só fêz nascer tôda a geração dos homens”. Nessas pa- lavras está a diferença entre um vago cosmopolitismo que considera as raças e nações como puros aci- dentes e a concepção cristã que as admite como parte da estrutura da vida humana, que é um dom do Deus. A igreja cristã não defende nenhuma forma de racismo. “Con- tra o endeusamento ou antagonis- mo racial ,a igreja deve lançar-se como contra uma rebelião de de- sobediência a Deus” (The Chur- ches, p. 68). Mas isso não signi- fica que ela defenda um inter-ra- cismo abstrato. Enquanto “raça” corresponde a um conceito puramente biológico, não há razão para atribuir-lhe um significado espiritual. A côr da pele não tem relevância alguma do ponto de vista dos valores cristãos. Mas no transcurso da história os principais grupos denominados ra- ças têm sido os portadores de ex- periências específicas, experiências históricas, e criaram determinadas formas de cultura. E’ útil recor- dar que a ciência moderna nos en- sina que as chamadas raças não ião compartimentos estanques nem entidades imutáveis, o que nos ajuda a evitar o perigo de consi- derar absolutas as características culturais distintivas de tôda raça. Janeiro de 1939 — 35 Contudo, essas características exis- tem, e não atendê-las ou negá-las em atenção a uma conformidade geral é tão errôneo como negar às pessoas o direito à função especí- fica de seus próprios dons e facul- dades. Nesse sentido é verdade que, segundo manifestou a Confe- rência de Oxford em 1937, “cada uma das raças da humanidade tem sido beneficiada por Deus com dons distintos e singulares” e que “o cristão olha as diferenças raciais como parte da vontade de Deus para enriquecer a humanidade com uma diversidade de dons”. O reco- nhecimento dessas diferentes facul- dades não significa uma diferença de raças quanto ao valor intrinseco das mesmas. Essa situação não é estática. Po- dem produzir-se novas situações como se produziram no passado e existem hoje em algumas partes do mundo, onde várias raças se têm unido numa nova síntese. Essas misturas devem ser bem recebidas e respeitadas como uma contribui- ção para a vida comum da huma- nidade. O grande evangelizador africano Aggrey gostava de repe- tir a parábola das teclas brancas e pretas do piano que, juntas, pro- duzem música harmoniosa. Parábo- la exata se é entendida não com relação à côr mas à função. As di- ferenças raciais são autênticas mas relativas, já que vão endere- çadas ao cumprimento do destino da humanidade como um todo. Em última análise, os homens todos pertencem a uma só raça humana, que Deus criou e deseja salvar.” )•( JESUS CRISTO “Cristo é a expressão visivel do Deus invisivel. Êle existiu antes da criação, pois foi através dêle que todo foi feito, seja espiritual ou material, visível ou invisível. Através dêle, e para êle, também, foram criados o poder e o domínio, a autoridade e a posse de tudo. Êle é tanto o Primeiro Princípio como o Prin- cípio de Sustentação de todo o esquema da criação. E êle é a cabeça do corpo que é composto do povo cristão.” Paulo aos Colossenses MÉTODOS DE EVANGELIZAÇÃO (O método preferido pelo I.C.R.) Oscar Arruda A excelente revista devocional “No Cenáculo” de maio-junho de 68 traz diversas meditações sobre o tema “Porque amo a Igreja”. Amo a Igreja porque é uma oportunidade para se conduzirem jovens à vida cristã. Na Igreja encontramos Deus e estreitamos amizades preciosas que nos ajudam a viver num mundo melhor. Jesus ia, todos os sábados, habitaulmen- te, ao templo, legando-nos assim um exemplo de assiduidade no que se refere ao nosso comparecimen- to na igreja (Lucas 4:16). O ser- mão, as preces, os cânticos exercem inegável influência nos que ali comparecem com espírito receptivo. Amamos a Igreja pela influência sensível que ela exerce mesmo sôbre aquêles que se esquivam de atravessar as suas portas abertas: pois é evidente que êstes não po- dem fugir da santificadora influ- ência que ela tem sôbre a comuni- dade em que vivem. Como as ove- lhas têm necessidade do redil, nós temos necessidade da Igreja. Na igreja executa-se um trabalho de equipe no plano da vida espiritual. A companhia, a proximidade dos irmãos, robustecem a nossa devo- ção, ajudam-nos a mais facilmente realizarmos em nós a presença do Mestre. A Igreja é dedicada à ado- ração de Deus: nela se revelam as escrituras, é nela que renovamos as nossas fôrças para sermos tes- temunhas de Jesus na sociedade em que vivemos. Todos êstes, não há quem o ne- gue, são argumentos válidos, que nós acolhemos de todo o coração. Todavia, o I.C.R., desde a sua fundação há mais de 20 anos, vem dando preferência a um método de Janeiro de 1959 — 37 sua criação e que consiste em evangelizar fora das igrejas; com efeito, suas prédicas, suas confe- rências, suas reuniões artísticas se fazem sempre que possível, prefe- rentemente, em lugares neutros: salões, clubes, sedes de sociedades recreativas ou culturais, teatros, etc. Uma infidelidade àqueles enun- ciados? Uma contradição? Igno- ramos se no passado já se tentou a análise dêsse procedimento, a jus- tificativa dessa preferência. Pois surpreendeu-nos gostosamente en- contrar numa revista estrangeira justamente essa análise e essa jus- tificativa. A revista CHRISTIANITY TO- DAY, n.° de 29 de setembro de 58, traz interessante artigo assinado por Stuart Bartoh Babbage a res- peito do método de evangelização que êle diz ter sido descoberto pelo evangelista Allan Walker, homem de impressionantes dotes oratórios, autor de livros notáveis sôbre ques- tões evangelísticas. Tendo realiza- do uma campanha de evangeliza- ção na Austrália, chegou à con- clusão da excelência do método evangelístico do I.C.R., que êle comenta e defende da seguinte ma- neira: “As reuniões evangelísticas de- vem-se realizar em “território neu- tro”. Fizemos uma significativa descoberta na Austrália. De uma extremidade a outra dêsse país, ve- rificamos que os auditórios eram sempre duas ou três vêzes maiores quando as reuniões se realizavam, não em templos, mas em salões, teatros ou edifícios públicos. Cons- tatamos isso de uma maneira tão consistente que já agora nos re- cusamos a planejar evangelismo em parte alguma a não ser em ter- ritório neutro, pois é certo estar- mos interessados em pessoas que estão fora do alcance das igrejas. Essa descoberta foi-nos muito sur- preendente e por isso resolvemos descobrir a sua psicologia. Porque é que certas pessoas mostram-se prontas a comparecer aos salões públicos e todavia evitam entrar nas igrejas? A principal razão é que muitas pessoas não gostam, acima de tudo, de serem chamadas de hipócritas. Alimentam a idéia errada de que entrar numa igreja é professar a fé que aí se cultúa. Não lhes agrada parecerem cristãs perante pessoas que, conhecendo- -Ihes a vida irregular, sem dúvida as apodariam de insinceras ou in- congruentes. Ficam, portanto, para fora. Também, entrar numa igre- ja é lançar-se no estilo de culto aí seguido e é então que nasce o mêdo de se embaraçarem ignorando como proceder através do desenrolar dos atos dêsse mesmo culto. Assim é que, de preferência a serem obser- vadas estar de pé ou sentar-se em momentos inoportunos, ou a fo- lhear canhestramente um hinário ou um livro de preces, que outros conhecem tão bem, essas pessoas acham melhor ficar de fora. Não 38 — foi talvez, outra, a situação que Je- sus divisou quando, de preferência a falar nas sinagogas, êle prega- va ao ar livre. Essa mesma des- coberta fê-la, talvez, João Wesley quando, em seus dias, saía para fora das igrejas, ao encontro de pessoas distantes. Então, como agora, parece certo que, se quere- mos ganhar homens para a igreja, devemos procurá-los e argui-los N I T A S onde êles se encontram, isto é, fora das igrejas. E’ certamente muito lógico dizer-se que é um desper- dício de tempo pregar nas igrejas com o fito de alcançar pessoas que não vão às igrejas.” Termina o articulista; “Aí está um atraente comentário e uma con- clusão desafiadora. Essas observa- ções são dignas de séria reflexão.” )•( RAPOSAS NO SANTUÁRIO Havia cinqüenta e dois anos que a cidade de Jerusalém jazia na sua desolação. Era um montão de pedras soltas. Em um local ou outro se viam manchas de casas pobres. Eram refúgios dos cristãos. O recinto do templo transformara-se em ninho de rapo- sas.. Num dia em que chegou ali o Rabi Aquiba, com alguns com- panheiros, um dêsses animais fugiu do local sagrado exatamente de onde outrora se erguia o santo dos santos. Os peregrinos rom- peram em chôro convulso. O Rabi procurou consolá-los dizendo que o que estava diante dos olhos dêles era o cumprimento das palavras de Jeremias que dizem: “Pelo Monte de Sião, que está assolado, andam as raposas” (Lamentações V:18). Êsse fato está narrado no Talmud de Babilônia (Maccoth, 24 B). No itinerário da vida a época dos privilégios é seguida pela do acêrto de contas. Que maravilhosos privilégios teve Jerusalém! Não se tendo utilizando dêles convenientemente, chegou para ela o dia da destruição. Além de ser fato histórico, êsse caso também é um símbolo. Na vida individual acontece o mesmo: depois das grandes oportunidades, chega o momento ou da recompensa ra- diosa ou do castigo implacável. ESTUDOS BÍBLICOS UMA ESCOLHA MA (Gênesis XIII:11) A capacidade de tomar decisões na vida é um dos grandes dons da personalidade. Qunado o homem, dominado pelos maus sentimentos se escravisa e vai perdendo êsse poder, diminui-se muito a seus próprios olhos. O poder de pesar os motivos, de considerar os prós e os contras é um dos elementos que distinguem o homem do animal. Êsse poder de escolha traz consigo grande responsabildade. Um dos perigos mais constantes de errar no exercicio dêsse dom esplêndido se verifica quan- do 0 homem deixa penetrar em sua alma, como forças determinantes das suas escolhas motivos menos nobres. 0 caso que vos apresento é um exemplo dessa triste verdade. ♦ ★ •i' Abraão saira de Haran com seu sobrinho, desejoso de possuir a t erra santa que lhe fôra prometida por Deus. Chegando nessa região e tendo sido ela sassolada pela fome, transferiu-se Abraão com sua fa- mília para o Egito. Lá esteve alguns anos e, depois de muitas experiên- cias doces e amargas, voltou a Canaã. Enriquecera-se muito. Saía con- duzindo grandes rebanhos. Seus pastores tiveram desavenças com os de seu sobrinho Ló. 0 velho Abraão propõe-lhe então uma medida para encerrar as contendas. Separar-se-iam. Ló aceita e escolhe uma parte da terra em que devia residir. E essa escolha tem algumas peculiarida- des que exemplificam bem a seguinte tese: MOTIVOS INDESEJÁVEIS NA DETERMINAÇÃO DA NOSSA VIDA I — A proeminência dos interesses materiais. Ló, achando-se numa oportunidade especialíssima de sua vida, tomou uma decisão levada mais do que tudo por essa ordem de interêsses. Viu que a terra era boa, pro- :dutiva, num local que lhe poderia garantir futuro financeiro e esque- i:eu-se de muitas outras coisas que não poderiam ser olvidadas. Es- 40 — Ú NIT AS queccu-se de que Abraão era velho, que era seu tio, que lhe tinha feito muitos beneficios e que, por isso tudo devia caber-lhe a parte melhor. Tôdas essas considerações de ordem moral desapareceram do espírito de Ló, no momento em que falaram os interesses metálicos. Essa situa- ção era mais grave ainda pelo fato de já ser Ló bem rico. Não era propriamente uma necessidade que êle tinha de procurar riqueza para o seu sustento. Era a ganância que não se satisfaz com o que possui. Quantas pessoas há que agem dessa maneira no mundo moderno? Que só pensam em têrmos de lucros e de perdas ? Que vivem perpètuamente a calcular as probabilidades de aumentarem seus haveres ? II — Desrespeito pelos direitos alheios. Isso era alguma coisa mais grave. A terra era de Abraão. A êle é que Deus a prometera. Se Ló tivesse considerado essa circunstância, se a tivesse alegado perante o velho tio, se tivéssemos alguma palavra sua que reconhecesse êsse di- reito de Abraão, se êle se recusasse a escolher e se submetesse ao que Abraão lhe houvesse dado, sua personalidade seria muito mais simpá- tica, mereceria bem mais respeito. Mas êle rechou os olhos aos direitos do tio. Êsse é um mal horrível em nossos dias. Se nos dermos ao trabalho de ler a literatura que propaga o so- cialismo e as doutrinas terroristas que visam abolir as atuais formas de govêrno do mundo, notaremos que a nota que elas ferem continua- mente para abrir caminho na opinião pública é quase sempor a mesma. E’ a alegação de que uma grande parte da sociedade atual se locupleta de riquezas precisamente porque não tem respeito pelos direitos da classe que trabalha e que produz riqueza. Uns produzem e outros ex- ploram. _ - Sem entrar no mérito dêsses sistemas que vão coordenando for- ças sociais em seu favor, podemos afirmar que as suas alegações são provas de que o espírito de Ló aí está vivo e prejudicial na sociedade moderna. Êsse espírito é que está criando um dos problemas políticos que desafiam a capacidade dos grandes estadistas modernos. III — Desprezo pelo fator religioso. Abraão era uma fôrça reli- giosa. Era o homem que levantava altares. Sua companhia, era uma influência espiritual recomendável. Mas Ló, por amor a seus próprios interêsses, prefere scparar-se do tio e habitar nas cercanias de Sodoma cujos habitantes eram perversos. Parece que o desejo de viver em um ambiente que favorece o desenvolvimento de sua religião não o preocupou muito. Koje êsse é um mal que domina grande parte da sociedade hu- mana. Até mesmo entre os crentes não há nesse particular o escrúpulo Janeiro de 1939 — 41 que devia haver. Quantas vêzes na elaboração de nossos planos, não cogitamos bastante se êles vão ou não melhorar a nossa vida espiritual. Às vêzes, como que duvidando que êles expressem a vontade divina a nosso respeito, nem chegamos a orar convenientemente pedindo sôbre êle as bênçãos de Deus. Sei de uma pessoa que ao ter de transferir residência de um lugar para outro, estava indecisa sôbre se devia ou não dar êsse passo, por- que o lugar para onde ia não tinha trabalho evangélico. Essa mostrava relacionar seus planos da vida terrena com os interêsses religiosos. * * * E’ bom determo-nos um pouco no estudo das conseqüências da escolha má de Ló: a) perdeu tudo que possuía. b) foi feito cativo de reis estrangeiros. O próprio Abraão, de quem êle se separara sem consideração alguma, é que foi libertá-lo. c) veio a depender de Abraão. Êste é que intercedeu a Deus por êle, para que não fôsse destruído com os habitantes de Sodoma. d) apesar de tudo não pôde mais salvar a sua própria mulher da corrupção do meio a que êle mesmo a atirou. Parecem excessivas tôdas essas penas, mas, a cada passo, a socie- dade moderna nos apresenta fatos semelhantes que mostram os efeitos dos motivos que orientaram a escolha de Ló. E’ necessário examinar também o procedimento de Abraão. Per- cebeu o espírito que dominava o seu sobrinho e não se irritou. Foi ge- neroso. Teve amor à religião. A frase que se acha no contexto “E os cananeus habitavam então a terra”, frase que tem dado tanto trabalho à alta crítica, arece ter uma ligação íntima com o procedimento de Abraão. Visto como estavam na terra pessoas que eram de outras cren- ças, êle não quis dar perante elas um testemunho mau de sua fé. Por isso mesmo cedeu tudo a Ló. Tinha, ao contrário de seu sobrinho, muito respeito pela religião. Deu também mostra de muita fé. Dava a me- 42 — Ú N IT A S Ihor parte a Ló, certo de que Deus não o deixaria sem auxílio. Na sua atitude, pois, havia muita fé. Que é que lhe aconteceu em virtude de tudo isso? Diz a Escritura que um anjo lhe apareceu e que as promessas que recebera de Deus fo- ram rnovadas: Uma grande bênção, na realidade. Ninguém pode esperar hoje essas manifestações do poder divino. Mas uma vida orientada por motivos nobres quais foram as do velho patriarca tem ainda recompensas — no beneplácito da consciência e na paz íntima — tão altos e tão deleitáveis como as que encheram a alma do ancião de Hur dos Caldeus. )•( INFLUÊNCIA PÓSTUMA Gibbon, analisando a personalidade de Trajano, mostra como êsse imperador era ambicioso c como estendeu o mapa da suas conquistas. Seus sucessos foram rápidos. Aproveitando-se da fra- queza de certos povos desunidos êle os venceu. Marchou depois para o Oriente e desceu o Tigre, sempre alcançando triunfo. Das montanhas da Armênia foi até ao golfo Pérsico. Gozou da honra de ter sido, entre os generais romanos, o primeiro que navegou naquele mar longínquo. Quase que diàriamente o senado recebia notícias de novas nações, conquistadas e soube, deslumbrado, que os reis do Bósforo, da Ibéria, da Albânia e muitos outros se subme- teram no domínio do Império. Até nações como a Armênia, Me- sopotâmia e Assíria foram reduzidas à provínvias de Roma. Êsses são os fatos objetivos. Mas Gibbon não se limita a narrá-los e procura encontrar, na alma de Trajano, a fõrça que o estimulava. Não foi difícil dcscobrí-la. O imperador romano ficou deslumbrado com a personalidade de Alexandre o Grande, com os elogios que êle recebeu, transmitidos ao mundo por uma plêiade de poetas e historiadores. Quis, então, imitar o famoso conquista- dor da Macedõnia. Suas grandes energias foram concentradas nesse propósito dominante. Alexandre, quando estendia por tôda parte suas conquistas, decerto não imaginava que um dia seu exemplo pudesse estimular com tanto vigor outro conquistador a seguir-lhe os passos. A vida de todos os homens, tem, como a de Alexandre, uma influência póstuma que pode ser boa ou má. RELIGIÃO DE PALAVRAS Sabatini Lalli Falando a respeito das “pala- vras”, alguém disse: “Inventa sunt verba ut non manifestentur sensa” “As palavras foram inventadas para que os pensamentos não se- jam manifestos”). A extraordiná- ria eapacidade de falar ,o maravi- lhoso dom da linguagem articula- da e inteligente, eoloca o homem numa posição de preeminência en- tre os seres criados. Através da linguagem o homem não só está em condições de expressar os seus verdadeiros pensamentos, senti- mentos e desejos, mas, também, — oque é profundamente trágico para sua vida e para o seu destino — , está em condições de ocultar os verdadeiros pensamentos, senti- mentos e desejos elaborados nos mais íntimos recesso de sua cons- ciência. O homem é capaz de men- tir, é capaz de dissimular! A linguagem do homem, mesmo quando honesta e sincera, é inade- quada e, por isso, freqüentemente, o homem é impreciso, obscuro e confuso no modo de dizer, sobretu- do quando se trata de focalizar os grandes problemas que envolvem a vida humana. A observação dêste fenômeno é comum mesmo nos li- vros. José Ortega y Gasset, notá- vel pensador espanhol, falando a respeito do bom livro, disse: “Um livro só é bom à medida em que nos permite travar um diálogo la- tente com 0 autor, à medida em que percebemos que o seu autor sabe ibaginar o leitor e à medida cm que o leitor sente, nas entreli- nhas, que 0 autor quer acariciá-lo ou dar-lhe uma bofetada”(i). Vale dizer, que um livro só é realmente bom, quando, pela clareza e obje- tividade da linguagem sem sub- terfúgios, comunica idéias vivas e provoca reações emotivas favorá- veis ou desfavoráveis. São pala- vras ditas com um propósito defi- nido, são palavras que têm ende- rêço certo! Nossa época se caracteriza pelo desprestívio da palavra. O grande 44 — ÚNIT AS filósofo da terra de Cervantes, ci- tado atrás, disse que o desprestí- gio da palavra é uma decorrência natural do hábito que os homens têm adquirido de falar “Urbi et Orbe”, isto é, a todos e a ninguém! A palavra se tem prestado aos mais desencontrados objetivos e, ao ser proferida pelos homens públi- cos, pelos líderes, não leva ende- rêço certo. Os oradores do nosso tempo “usam da palavra sem res- peito nem precauções, sem perce- ber que a palavra é um sacramen- to de mui delicada ministração”(2). Principalmente os políticos dos nossos dias, os homens cujas mãos dirigem os destinos do mundo em nosso século, pricipalmente êles, lançaram a palavra no mais obs- curo ostracismo, tornaram-na desa- creditada. Esta é a tragédia do nosso século! Entretanto, os polí- ticos não estão sozinhos. Acompa- nham-nos muitos religiosos e mui- tas religiões! Em sua Primeira Carta aos Co- ríntios, 4:20, Paulo emprega esta expressão: “O reino de Deus não consiste cm palvras, mas em vir- tude”. Parece-nos que, já nos dias de Paulo, a palavra não gozava de muito prestígio, pois, era pela pa- lavra que muitos chamados cris- tãos ocultavam o seu pensamento, era pela palavra que mentiam, era pela palavra que a hipocrisia to- mava corpo dentro e fora da Igre- ja! Muitos dos homens a quem Paulo se dirige professavam a re- ligião de palavras, não a religião da Palavra! A religião de palavras é vazia. Uma jarra vazia é um recipiente que não contém coisa alguma ou, quando muito, está cheio de ar. Se a jarra é de porcelana oriental c de fino lavor artístico terá, pelo menos, um valor decorativo. Assim é a religião de palavras: vazia! Se a forma externa que uma tal reli- gião apresenta no seu culto, é rica em formalismo e aparatos rituais, essa religião tem, também, apenas o valor decorativo: é bonita, fas- cinante, mas... vazia!... Por ou- tro lado, a jarra além de ser bo- nita, pode estar cheia e, no entan- to, pode ser considerada vazia. Ima- ginemos um homem que, devorado pela sêde, atravessa um deserto inclemente. Ao longo do caminho arenoso, depara-se êle com uma linda jarra cheia de... areia! Di- gamos que em vez de areia a jan-a contenha veneno ou outra substân- cia que não lhe possa matar a sêde atroz. Apesar de cheia, a jarra continua vazia, terrivelmente va- zia! Assim é a i-eligião de pala- vras. Ela não dessedenta a alma humana, não lhe oferece alívio nem conforto no longo e penoso cami- nho da existência sôbre a terra! A religião dos gregos, incorpo- rada cm muitos oráculos, alguns dos quais muito famosos, por ser uma religião de palavras, caiu em desprestígio dentro da própria Grécia. O desprestígio do Cristia i Janeiro de 1959 — 45 nismo, em muitos aspectos, se ex- plica, porque, tràgicamente, muitos dos seus representantes o trans- formaram numa religião de pala- vras! Adulteraram-no, extraindo- -Ihe do culto singelo a espirituali- dade vivificante. Há pessoas que se dizem cristãs, mas vão às Igre- jas, levando um coração comple- tamente vazio. Vão apenas para cumprir uma formalidade social! Mas a virtude, o poder da religião cristã, está longe da vida, longe dos atos, longe dos negócios! Dir- -se-ia que, desgraçadamente, tais pessoas são apenas objetos de ador- no, ou pela riqueza dos trajes ou pelo ridículo das atitudes! Além de ser vazia, a religião de palavras “incha”. Notemos a semelhança gráfica entre o verbo “inchar” e “encher”. Quando comparamos dois corpos, um inchado e outro cheio, isto, é revestido de uma en- carnadura firme e consistente, bem nutrida, estabelecemos logo a di- ferença: 0 primeiro é doente e o segundo é sadio. Na passagem já citada, Paulo diz: “Alguns andam inchados, como se eu não estivesse para ir ter convosco” (Vers. 18). O verbo empregado para disignar o estado de “inchado” é o verbo “phisiáo” e quer dizer: “encher-se de orgulho ou de vaidade”. A re- ligião de palavras não nutre, não dá consistência espiritual à alma, mas torna o espírito enfermo, in- chado! Em sua obra “Historia de la Religiosidad Griega”, Martin P. Nilsson nos conta que a cerâmica ática, do Século VIII A.C., repro- duz cenas de enterros pomposíssi- mos e, segundo o mesmo Autor, ês- tes enterros refletiam o orgulho pessoal e familiar do que ia ser sepultado. Além disso, o assombro- so número de ofertas valiosíssimas encontradas na Acrópole, ofertas feitas à deusa Atena, constitui um atestado inequívoco do orgulho e da ostentação de uma grande par- te dos habitantes da Grécia. Em cetras formas de Cristianis- mo, notamos o mesmo fenômeno observado na religião dos gregos. Não é de admirar, pois, que São Paulo encontrasse êste mesmo pro- blema entre muitos dos chamados cristãos gregos de Corinto. Falta- va a estas pessoas a verdadeira ex- periência da conversão e, assim, conversavam, na nova religião, os vícios e os hábitos da religião de origem! Além de ser vazia e de inchar, a religião de palavras “mata”. Como podemos justificar na Igre- ja Cristã da atualidade a existên- cia de muitas consciências insensí- veis? Notemos que consciência insensível é sinônimo de consciên- cia morta. São consciências sepul- tadas na “letra”, na “palavra”. A “palavra” é um sepulcro sonoro que tem a capacidade de narcoti- zar a consciência. Foi a religião de “palavras” de escribas e fari- seus que matou a consciência de muitos israelitas! Foi esta a reli- gião de palavras que Cristo estig- matizou com o seu verbo canden- 46 — ÚNITAS te. A “letra mata, mas ...” 0 nosso Cristanismo, em muitos pon- tos, tem sido um Cristianismo de adjetivos. Temos adjetivado o subs- tantivo ,isto é, temos retirado da palavra viva e operante do Evan- gelho a essência, o poder, a virtu- de, o “dynamis”. Por isso a nossa religião tem sido só de palavras. . . Entretanto, o Evaneglho é a re- ligião não de “palavras”, mas da “Palavra”. É a religião da Pala- vra que Deus falou, do Verbo fei- to Substantivo! O conteúdo dêste Substantivo é de carne e se cha- ma Jesus Cristo! Não é a religião da palavra abstrata, mas da pala- vra viva, que comunica poder, vir- tude, “dynamis”. É a Palavra que redime! Esta é a religião de que todos os homens precisam. A religião cristã, antes de ser um sistema de doutrinas, antes de ser dogma, é uma pessoa, é Jesus Cristo! O ter- mo “religião”, vindo de “religare”. do Latim, segundo alguns autores, nos dá a idéia de uma nova rela- ção do homem com a divindade que êle cultua. Segundo o Evan- gelho, em Cristo e por meio de Cristo, o homem é colocado numa posição privilegiada diante de Deus, volta a gozar os benefícios daquela comunhão que manteve com o Criador antes da queda. Quem restaura o homem, quem o faz voltar de novo à primitiva po- sição, não são, primàriamente, as doutrinas ou os dogmas, mas Cris- to, a Palavra Viva, o Verbo Reden- tor! As doutrinas são necessárias, mas devem ser sempre observadas à luz da Palavra Viva, porque, dis- sociadas desta Palavra, elas for- jam, elas criam a religião de pa- lavras! (1) La Rebelião de las Masas, págs. 5-6. (2) Idem, Idem, pág. 6. ■ )•( PRINCÍPIOS IMORTAIS DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR “Mulheres, adaptai-vos a vossos maridos, para que o vosso casamento seja uma unidade cristã. Maridos, assegurai-vos de que estais dando a vossas mulheres muito amor e simpatia. Fi- lhos, o vosso dever é obedecer a vossos pais, pois em vossa idade é essa uma das melhores coisas que podeis fazer para mostrar vosso amor a Deus. Pais, não deveis sobreearrcgar vossos filhos com correções para que êles não desenvolvam um sentimento de inferioridade e frustração”. Paulo aos Colousenses FALSA PRÉDICA Karl Barth 0 falso profeta é o pastor que agrada a todo mundo. Seu dever é dar testemunho de Deus, mas êle não vê a Deus e prefere não o ver porque vê muitas outras coisas. Êle segue seus pensa- mentos humanos, conserva-se interiormente calmo e seguro, evita hàbilmente tudo quanto incomoda. Não espera senão poucas coisas ou mesmo nada da parte de Deus. Êle pode calar-se mesmo quan- do vê homens atravancando seus caminhos de pensamentos, de opiniões, de cálculos e de sonhos falsos, porque êles querem viver sem Deus. Êle se retira sempre quando devia avançar. Êle se compraz em ser chamado pregador do evangelho, condutor espiri- tual e servidor de Deus; mas só serve os homens. Sonha, às vêzes, que fala em nome de Deus; mas não fala a não ser em nome da Igreja, da opinião pública, das pessoas respeitáveis e da sua pe- quena pessoa. Êle sabe que, desde agora e para sempre, os cami- nhos que não começam em Deus não são caminhos verdadeiros, mas êle não quer incomodar nem a si mesmo e nem aos outros; por isso é que êle pensa e diz: “Continuemos prudentemente e sempre alegres em nosso caminho atual; as coisas se arranjarão afinal.” Êle sabe que Deus quer tirar os homens da impiedade e que a luta espiritual deve ser travada. No entanto êle prega a “paz”, a paz entre Deus e o mundo perdido que está em nós e fora de nós. Como se uma tal paz existisse! Êle sabe que seu dever consiste em proclamar que Deus cria uma nova vontade, uma nova vida; mas não, êle deixa reinar o espírito do mêdo, do en- gano, da vaidade, de Mamon, da violência. Eis a muralha cons- truída pelo povo (Ezequiel XIII:10). O muro oscilante e rachado. Êle 0 disfarça pintando de cores suaves e consoladoras da religião para o contentamento de todo mundo. Eis aí o falso profeta. (“Christianisme Social”, outubro de 1958) A VERDADEIRA VIDA CRISTÁ Não há dúvida de que a vida cristã verdadeira, seja pública ou secreta, sempre é fecunda e, onde quer que seja, essa vida terá influência sôbre os outros para o bem. Os que buscam a verdade ao contemplar a realidade de vidas tais como essas, inevitàvelmen- te serão atraídos à Fonte da Vida. Considerem êstes exemplos. Uma vez, dois pregadores foram ao Bar para pregar aos homens que ali estavam. O primeiro era brilhante e eloqüente. Depois de pregar por alguns minutos, um hindu começou a bombardeá-lo com uma série de perguntas que o obrigaram a calar-se a fim de respondê-las, o que não conse- guiu fazer a contento. Por fim, não tendo satisfeito ao pergunta- dor, voltou-se para o seu companheiro e disse: agora êste irmão responderá! O segundo pregador não era nem um bom orador nem bom argumentador, mas era um sincero cristão e um homem de oração. O hindu, aproximando-se, cruzou as mãos, inclinou-se ante êle, fêz-lhe uma reverência e, dirigindo-se ao primeiro pregador, disse: não tenho nenhuma pergunta aazer a êste homem pois co- nheço sua vida e vi nela o Cristo, pois, encontrei, por seu inter- médio, 0 caminho da Salvação. Mas estou de acordo com você, por- que com suas palavras você apresenta o Cristo vivo, mas com sua vida diária o nega. Mas valeria que sua bôca estivesse sempre fechada, pois que a mim e aos outros nos afastou de Cristo. Oxalá que houvesse conhecido seu companheiro há mais tempo, e então eu não teria estado tão longe do meu Senhor por tanto tempo. Bem, “Der aid da ust áid’’ (Quem chega devagar chega seguro). Também nisso deve haver algum bom propósito. Ao ouvir isso o pregador eloqüente partiu para casa com a cabeça baixa, enver- gonhado, e o novo convertido se pôs ao lado daquele homem de Deus e passou a dedicar sua vida ao serviço do Senhor. Sundar Sing CURIOSIDADES BIOGRÁFICAS...., EDGAR POE E’ um dos gênios mais brilhantes da literatura universal. No entanto, sua vida é saturada de experiências as mais dramáticas. Teve que sair da Universidade de Virgínia por causa da sua paixão pelo jôgo e pelo álcool. Foi expulso da Escola Militar de West Point porque, des- respeitando as regras daquele estabelecimento, dedicava-se a escrever poesias nas horas em que devia estar nos exercícios militares. Ficou órfão muito cedo. Foi adotado por um rico negociante. Êsse, finalmente, revoltou-se contra seu filho adotivo. Passou a espancá-lo, expulsou-o de casa, deserdou-o e recusou-se a prestar-lhe qualquer auxí- lio financeiro. A história do casamento de Edgar Poe é uma das mais românticas da literatura. Casou-se com a sua prima Virgínia Klem. Não tinha di- nheiro algum naquele tempo. Bebia álcool puro. Sua única irmã morrera louca. Muita gente o considerava também louco. Tinha o dôbro da idade da sua jovem esposa. Êle estava com 26 anos e ela com 13. Se- gundo todas as previsões, o casamento terminaria em desastre, mas não aconteceu isso. Foi um romance que se extendeu por tôda vida. Parece que Poe adorava sua jovem esposa. O amor que lhe dedicava inspirou algumas das poesias mais belas da língua inglêsa. Um dos poemas que escreveu é elogiado sem reservas pelos críticos literários. Intitula-se O CÔRVO. Temos dêle ótima tradução feita por Machado de Assis. A última estrofe reflete a angústia permanente que acompanhava o poeta. Diz assim: E o côrvo aí fica; ei-lo trepado No branco mármore lavrado Da antiga Palas; ei-lo imitável, ferrenho. Parece, ao vêr-lhe o duro cenho, 50 — Ú NIT AS Um demônio sonhado. A luz caída Do lampeão sôbre a ave aborrecida No chão espraia a triste sombra; e fora Daquelas linhas funerais Que flutuam no chão, a minha alma chora. Gastou êle escrevendo e reescrevendo o poema O CÕRVO, dez anos. Depois vendeu o original por dez dólares. Um ano para cada dólar. João Barrymor, o famoso astro cinematográfico, ganhava mais do que isso em um minuto de trabalho. O manuscrito original só custou dez dólares, mas foi recentemente vendido por dezenas de milhares de dólares. Coisa estranha. Enquanto o autor estava vivo e passando fome só lhe deram aquela quantia pequena e agora depois de morto seu tra- balho rende uma fortuna. O poeta viveu numa casa pequenina em Nova York, cercada de macieiras. Isso há cêrca de cem anos. Alugou-a por três dólares men- sais, mas não conseguiu pagar nem essa quantia. Sua esposa ficou tuberculosa. Êle não podia comprar alimenta- ção para ela. Às vêzes comeram aquela flôr que se chama “dente de leão”, apenas fervida. Quando os vizinhos descobriram a situação em que estava aquela pobre família, trataram de socorrê-la. O admirável é que mesmo nessa situação o casalzinho vivia na mais sincera amizade. Os últimos dias de Virgínia ela os passou num colchão de palha, sem lençóis e sem cobertor para aquecer-se . Quando ficava muito irregelada, Poe lhe esfregava os pés para aquecê-los e a mão de Virgínia lhe esfre- gava as mãos. Um velho capote militar que o poeta usara quando es- tava em West Point, era colocado sôbre a enfêrma e ela acariciava um gato para que êle lhe dormisse aos pés. Quando Virgínia morreu, Poe compôs algumas das poesias mais sentimentais da sua vida. Êsse é um caso cm que as mais duras prova- ções da vida não conseguiram desfazer o afeto que fascinou duas almas. NICOLAU II Êle era um dos homens mais ricos que a Europa já conheceu. Quando morreu possuia terras que valiam cinqüenta milhões de dólares. Suas jóias foram avaliadas cm oitenta milhões. De tudo isso tirava êle um milhão por mês. Isso corresponde a vinte quatro dólares por segundo. Durante quase um quarto de século, êle governou a Rússia com mão de ferro. Em 1917, depois de três anos de morticínios inúteis, seu Janeiro de 1959 — 51 exército se revoltou recusando-se a prosseguir cm massacres horripilan- tes. Assim foi que, no dia 14 de março de 1917, um grupo de generais procurou o Tzar da Rússia no seu aposento particular de um trem especial e declarou-lhe que êle tinha que renunciar ao trono. O Tzar levou um choque terrível. Tornou-se lívido. Os generais pensaram que êle ia morrer num desmaio naquele momento. No próximo dia, às 11,15, êle assinou sua abdicação a lápis e disse: “Dou graças a Deus porque de hoje em diante poderei viver como sempre desejei, em minha casa, na Criméia, cultivando flores. O Tzar e sua família passaram os últimos meses de vida em dois quartos numa casa velha em um bairro de uma cidade que fica ao pé de um monte. Ali esteve como prisioneiro dos revolucionários e era obrigado a comer com os camponeses. Não lhe davam nem açúcar, nem café, nem creme, nem sal e nem manteiga. Só se alimentava com pão prêto, sôpa de vegetais muito rala, duas vêzes por dia. As janelas da casa ficavam fechadas e os prisioneiros não podiam abri-las. Um dia a mais jovem princeza, Anastácia, abriu um pouco a janela para res- pirar. Um soldado alvejou a janela imediatamente. A família do Tzar tinha licença de andar no jardim minúsculo cinco minutos por dia. O filho menor do Tzar estava muito doente. Não podia andar e o pai o corregava nos braços. Os soldados que os guardavam andavam por ali quase que nús e diziam gracejos inconvenientes ao Tzar, e cantavam cânticos indecorosos junto às janelas durante a noite. Um dia um dos guardas apoderou-se de uma bolsa da imperatriz, tomou o dinheiro que ali estava e disse-lhe: “Vós não precisareis mais de dinheiro de ora em diante”. O Tzar era um homem fraco e não se lastimava. Mas sua esposa, dotada de espírito muito arrogante, fazia votos ao céu para que um dia pudesse vingar-se daqueles animais. Logo depois da meio noite, no dia 16 de julho de 1918 o capitão dos guardas acordou o Tzar e disse-lhe que rebentara uma revolução na cidade e que êles deviam esconder-se depressa num celeiro e esperar até que os automóveis viessem buscá-los para pô-los em lugar seguro. Quando a imperatriz chegou ao celeiro, uma casa imunda coberta de teias de aranha, carregando o seu filho pequeno e doente, quiseram dar-lhe uma codeira porque ela estava desmaiando. Justamente nesse instante, entraram correndo alguns soldados e gritaram: “Vossos amigos fizeram o possível para salvar-nos mas não conseguiram. Nós aqui estamos para vos matar. Mal acabaram de pro- nunciar essas palavras um soldado alvejou Tzar e o feriu bem no cora- ção. No instante em que êle caiu os soldados começaram atirar nas 52 — ÚNIT AS mulheres mas por estarem muito excitados, erraram os alvos várias vezes. Então as pobres mulheres corriam em tôda a direção tentando esconder-se umas atraz das outras e procurando mesmo ocultar-se atrás dos travesseiros. Além de atirar os soldados apunhalaram as mulheres. Poucos minutos depois o único som que se ouvia naquele sinistro local era o ladrar de um cãozinho que ia de cadáver a cadáver naturalmente procurando encontrar o da sua dona. Um dos soldados atravessou o pobre animal com sua baioneta. A soldadesca, então, cortou os corpos da família imperial em pedaços atirou gazolina sôbre êles e os queimou,. Poucos dias mais tarde os soldados revolvendo as cinzas do local acharam muitas pedras preciosas. E’ que a imperatriz e suas filhas ti- nham escondidos diamantes, rubis e jóias caríssimas em suas vestes. Êsse assassinato não foi ordenado oficialmente pelo govêrno russo. Êsse chegou mesmo a prender alguns soldados revolucionários e executou cinco dêles. O morticínio da familia imperial foi um impulso de vingan- ça de pessoas que decerto haviam sofrido muito sob o despotismo ce- sarista. Os carbonizados restos da familia imperial estão agora enterra- dos em Paris. Como foram parar lá? Em janeiro de 1920, o Cônsul Americano na Sibéria, a pedido de um amigo, transportou uma -"aixa rústica atada com cordas e a levou até um comissário britânico, em Changai. Êsse a encaminhou à Europa. O Cônsul Americano não sabia o que estava dnetro daquela caixa. Como o trem em que viajou era muito incômodo, muitas vêzes pôs os pés sôbre ela para descançar. Quando chegou ao fim da viagem, ficou surpreendido sabendo que ali estavam, mutilados e carbonizados, os restos do Tzar e da sua família. A caixa foi levada até Changai e de lá para Paris. Aí foi aberta. Entre outras coisas encontraram dentro dela o dedo da imperatriz que estava ainda com o anel de casamento. INABILIDADE FINANCEIRA O leitor porventura já investiu dinheiro em algum empreendimento que fracassou ? Se isso lhe aconteceu, saiba que muita gente de grande renome sentiu os desgostos que uma experiência dessa pode produzir. Eis alguns exemplos. Mark Twain tinha talento suficiente para fazer a humanidade rir. Mas fracassava no mundo financeiro, laslimàvelmente. O pior é que não reconhecendo a sua deficiência, empatou dinheiro em várias inven- ções. Eram de máquinas (jue, segundo êle julgava, iriam revolucionar a indústria gráfica. Depois de fazer várias tentativas nesse sentido. Janeiro de 1959 — 53 verificou que tinha perdido nesses empreendimentos cêrca de cem mil dólares. Ficou de tal forma empobrecido que, certa ocasião vendeu os móveis da sua casa ficando apenas com o fogão. Mas a experiência lhe foi útil. Quando estava nessa triste situação os seus amigos do país inteiro lhe ofereceram dinheiro para pagar as dívidas. Apareceram che- ques de tôda parte mas êle, já transformado pelas experiências duras que tivera, devolveu todo o dinheiro que lhe foi oferecido e lutou heroica- mente para pagar, por si mesmo tudo o que devia. Não gostava de fazer conferências mas viajou por tôda parte onde se fala inglês, vi- vendo em hotéis e sujeitando-se a todo o desconforto. Nisso gastou seis anos da sua vida fazendo conferências. Assim, saldou todos os seus débitos. O general Grant, depois de sair vencedor da Guerra Civil, foi pro- curado por alguns aventureiros que quiseram negociar com êle. Usando do nome do general, êsses velhacos levantaram dinheiro por tôda parte num total de dezesseis milhões de dólares. Veio logo a ameaça da fa- lência. Para não ser envolvido nela, Grant vendeu uma fazenda que tinha, as casas que possuia em Filadélfia e Nova York e mesmo a espada e os trofeus que constituiam os mais caros presentes dos seus amigos. Ainda assim ficou em penúria, justamente no momento em que um câncer lhe dominava o organismo. Nessas condições êle escreveu as memórias da sua vida. Fêz isso para não deixar a viúva sem recursos. O câncer era na garganta. Em dado momento êle não pôde mais ditar e terminou a obra, escrevendo-a a lápis. Coisa curiosa. Foi precisa- mente Mark Twain que, já refeito dos seus insucessos financeiros, pu- blicou o livro de Grant e isso levou às mãos da viúva do grande gene- ral quase meio milhão de dólares. O grande Daniel Webster uma vez ficou em apuros por não poder saldar a conta com o açougueiro. Oliver Goldsmith, o famoso novelista inglês certa ocasião foi prêso porque não pôde pagar o aluguel do quar- to. Balsac sentia arrepios quando tocavam a campainha da sua casa. Quase sempre era algum credor. Carlos II, rei da Inglaterra, individou-se tanto que teve que ven- der tôdas as terras que possuia nos Estados Unidos, e que hoje constitui o estado de Pensilvãnia, por setenta e cinco mil dólares. A viúva de Abraão Lincoln contraiu tantas dívidas que teve de vender suas roupas e jóias preciosas para livrar-se dos seus compro- missos. Coisa pior: vendeu até as camizas de Lincoln, que tinham as iniciais dêle gravadas com arte. Brummel foi uma influência social na vida da Inglaterra. Ensinou elegância ao príncipe de Gales e projetou-se nas altas camadas do país 54 — ÚNITAS como símbolo da elgância. No fim da vida, sobrecarregado de dívidas, usava vestes rôtas, roupa imunda e era ridicularizado por todos quantos o consideravam outrora como o rei da elegância. Morreu, afinal, num asilo de louco». Não resta dúvida de que a arte de organizar bem as finanças par- ticulares tem importância capital na vida humana. GENERAL MARK CLARK Na última guerra mundial foi êle o conquistador de Roma. De- sembarcando em Salerno, no dia 11 de setembro de 1943, levou a cabo uma das mais difíceis operações de tôda a guerra. Churchill declarou que a operação anfíbia foi a maior que os aliados empreenderam. Eis 0 que seu filho disse a respeito dêle: “Papai nunca teve um inimigo na vida. Pode enfurecer-se com um homem, pode aborrecer-se por algo mal feito; mas não fica odiando o homem em si”. Para comprovar êste ponto, Bill contou a seguinte história: “Papai”, disse, “deu-me certa vez, como presente de aniversário, um belo relógio de ouro. Um ano ou tanto mais tarde alguém o roubou de meu paletó, no ginásio. Estávamos es- tacionados nessa ocasião no Forte Lewis, em Washington. Papai man- teve as lojas de penhor das cidades vizinhas sob constante observação. O ladrão foi apanhado quando queria empenhar o relógio. Papai proce- deu as acusações de forma. Isto significava que seria julgado por uma côrte marcial e expulso do exército com baixa desonrosa. Êle sabia que uma exoneração dessa espécie era uma mancha preta que acompanha- ria 0 homem até a sepultura, e seu coração não dava para tanto; retirou as acusações e disse ao comandante da companhia daquele soldado que resolvesse o caso como achasse melhor”. O General já esteve no Brasil. Na Itália nossas forças lutaram no setor comandado por êle. Eis um traço bem característico dêsse gran- de homem, escrito por um escritor contemporâneo.” O General Clark é um homem modesto. Nunca se vangloria de seus feitos. Certo dia Bill Clark, seu filho, estava no quarto de seu pai quando êste trocava de roupa. Ficou surpreendido em ver uma enorme cicatriz nas costas de seu pai — uma cicatriz com vinte centímetros de comprimento e larga como um dedo. Ficou surpreendido porque o ge- neral nunca a mencionara. Quando indagou sôbre ela, replicou casual- mente, “Oh, fui ferido por um estilhaço na última guerra”. Foi tudo, não deu detalhes nem contou bravatas. Bill só veio a saber a história daquela cicatriz seis meses mais tarde. Revolvendo umas velharias no sotão, descobriu que seu pai fôra condecorado e recebera uma citação Janeiro de 1959 — 55 por bravura cm combate. Quando seu filho Clark lhe entregou, certa vez, um boletim da escola com média 99, seu pai perguntou-lhe se estava satisfeito. “Sim, e o senhor?” O general respondeu: “Bem, não é 100, não é? Bill repli ou: “Papai, o senhor não ficaria satisfeito com me- nos de 110”. O PLANO RAPACKI “Um raio de luz na escuridão. Em dezembro de 1957, o ministro do Exterior da Polônia, Rapacki, (por sua própria conta e não, como se queria supor, por incumbência da União Soviética), fêz a propos- ta de que a Polônia, a Tchecoslo- váquia, a Alemanha Oriental e a I Ocidental deveriam ficar fora do I alcance das armas atômicas. Se i êsse plano fôr aceito e em conse- I qüência fôr aucentada ainda a área I livre da ação das armas nucleares 1 na Europa, de modo que paises li- I mitrofes também reivindiquem para ( si êsse privilégio e o consigam, en- i tão muito se conseguirá com isso I para a manutenção provisória da I paz. Começa-se assim a afugentar i o espectro do isolamento da União I Soviética. “Com essa proposta tão sensata, a opinião pública européia está ple- namente de acôrdo. Nos últimos meses, ela reconheceu e decidiu que a Europa não deve absolutamente tornar-se o campo de batalha de uma guerra atômica entre a União Soviética e os Estados Unidos. E ela não se deixará dissuadir. Pas- sou o tempo em que êste ou aquê- le país europeu ainda podia plane- jar em segrêdo, manifestar sua ca- tegoria de grande potência pelo fato de fabricar armas atômicas para si próprio. Em vista da po- sição que a opinião pública da Eu- ropa tomaria diante de uma tal iniciativa, seria inútil proceder a preparatórios secretos para a sua realização. “Passou igualmente o tempo em que os generais da NATO e os go- vernos decidissem sòzinhos sô- bre a instalação de rampas de lançamento e armazenagem de armas atômicas. Em vista do pe- rigo de uma guerra atômica, que poderia desencadear-se em conse- qüêneia, não mais é levado em con- ta o procedimento político até ago- ra usado. Só são validos os acor- dos que sejam sancionados como tais pelos povos.” PÁGINAS FINAIS SINAIS PERIGOSOS L. B. O govêrno acaba de elevar os niveis do salário mínimo em todo o pais. Como sempre acontece, essa medida veio tarde. Tor- nou-se uma medida inócua, porque os preços de todos os gêneros foram aumentados muito além da capacidade econômica das classes desfavorecidas. Em face dessa medida governamental, os grupos indiístriais começaram a sua política de economia, dispensando operários e trabalhadores de todos os níveis. No Rio de Janeiro foram dispen- sados, dias após a publicação do decreto governamental, 50.000 operários. Em S. Paulo, calcula-se que haverá, dentro de poucas semanas, 100.000 desempregados. Começou, ou melhor, recomeçou a onda de desernpregos. Para a economia yiacional isso representa urna redução danosa. Cairá a produção e, em consequência, haverá nova onda de urnento de preços. Mas o sacrifício mais grave recai sôbre êsses operários e sobre suas famílias. Eamilias numerosas — pois um operário obedece à natureza e a Deus, e não usa recursos ilícitos e imorais na limitação de filhos — vão padecer necessida- des por alguns meses até que seus chefes consigam um novo ern- prêgo, e sempre em situação inferior. Crianças vão passar fome, sujeitas às moléstias naturais e conhecidas. A tristeza e pranto voltarão ao recinto désses humildes lares. Mas, por estranho que pareça, o mais grave de tudo isso é que as elites brasileiras não têm capacidade de liderança e não estão Janeiro de 1959 — 57 à altura de pôr um fim a ésse regime vergonhoso. Os donos do poder econômico nunca perdem, não podem perder em suas rendas. Êles são incapazes de ajudar a nação e o operário, de que depen- dem, a solucionar ésse gravíssimo problema que gira dentro de um circulo vicioso. A ganância não lhes permite fazer um peque- no sacrifício: o sacrifício de ganhar um pouco menos. Não. Pouco lhes importa que milhares de famílias fiquem, de uma hora para outra, desamparadas do fundamental à sobrevivência digna. Pouco lhes importa que crianças venham a morrer de fome ou que pe- rambulam pelas ruas implorando socorro à caridade pública. Êsses problemas não lhes passam pela consciência. Na verdade, êles não têm consciência para isso. Êsse é o espetáculo triste e vergonhoso a que assistimos nova- mente. O leitor perguntará: que é que tem o cristianismo a ver com isso? Que é que tem o cristianismo a ver com isso? — é a per- gunta que também fazemos à nossa consciência cristã. Nôs somos cristãos e estamos convencidos de que a solução dêsse problema está na dependência de uma séria atitude dos brasileiros: a acei- tação de Cristo como Salvador pessoal de todos os brasileiros. Mas os nossos dirigentes não pensam em tomar tal atitude, pois isso haveria de contrariar, fundamentalmente, seus interêsses. As classes operárias, por sua vez, não acreditam mais nesse tipo de cristia- nismo que não se interessa pelas suas necessidades básicas — as necessidades do almiento, do calçado, do vestido, do abrigo mo- desto, do direito à educação, da dignidade de viver. Nós ficamos tranquilos porque apontamos a solução definitiva, as elites e os operários não aceitam essa solução pelas razões apontadas, e os problemas continuam a agravar-se. Mas há alguém que está à espera de uma oportunidade para dar a sua solução definitiva a êsse problema. Se as coisas conti- nuarem dêsse modo, os comunistas vão tomar o poder no Brasil. Chegará a vez de o Brasil cair nas mãos dos comunistas, como acon- teceu com a China. Êles porão fim a essa situação vergonhosa. Os operários serão transformados em escravos do Estado, mas terão 58 — ÚNITAS pão e abrigo, e as elites irão para os campos de fusilamento ou de trabalhos forçados. Nós perderemos a liberdade e as esperanças, e o direito a uma vida decente e digna, como entendemos. As classes dirigentes, as elites, pomposa e impropriamente de- nominadas “as classes produtoras” (classes produtoras são as classes operárias), são agentes do comunismo internacional e totalitário. Essas classes, que detêm o poder no Brasil, estão criando as condi- ções para a implatação do comunismo no Brasil, direitinho, à se- melhança do que fizeram as classes “produtoras” da China e de outros paises. As elites dirigentes do pais são comunistas contra a sua vontade. Vamos dar ao leitor outro exemplo de como se processa a de- composição do Brasil. Quem abre os jornais, sobretudo nas edi- ções de domingo, fica revoltado com as exibições de luxo, pompa e miséria moral, das elites, das “classes produtoras”. Há um jornal considerado sério, aqui em São Paulo, que publica duas seções, de oito páginas cada uma, dedicadas exclusivamente às “classes pro- dutoras”. Senhoras e Senhores graves ali aparecem, numa parada de super-luxo, de pompa, de miséria moral. Que a classe dirigente exiba, nas páginas dos jornais, sua miséria moral e seu sentido fútil da vida, é já um triste espetáculo para um povo pobre e necessitado de tudo; mas, tolera-se, desde que estamos em um re- gime democrático no qual cada um tem o direito de mostrar-se como é. Mas é intolerável que essa classe dirigente pretenda fazer “caridade” à custa da miséria do povo. Pois a classe dirigente pro- cura justificar, cristãmente seu luxo, sua pompa e sua miséria moral, organizando festinhas ein favor de um pósto de assistência à infância, de um orfanato, de um sanatório, ou de um clube de futebol qualquer. Isso é um insulto à desgraça, ao sofrimento e à miséria da maioria. Será possível evitar uma desgraça fatal ao Brasil? E’ possível. Tudo depende de uma ação conjunta, decidida e corajosa dos ver- dadeiros cristãos, Uma ação sobre o govérno, seus departamentos Janeiro de 1939 — 59 competentes, sôbre as casas legislativas, uma ação de esclarecimen- to e politização do povo, uma ação de vigilância e de critica. Isso dá resultado. Ou tomamos essa resolução, ou corremos o risco de perder a missão divina de que estamos revestidos. Uma ação dêsse tipo requer coragem. Coragem para ser cris- tão em um mundo sem Cristo e sem Deus. Coragem para ter fé, em um mundo incrédulo. Coragem para manter a esperança de dias melhores em um mundo no qual todos perderam a esperança. E’ preciso ter coragem de ser cristão. Mas, se nós nos considera- mos realmente cristãos, isso significa que Jesus nos chama para dar testemunho da fôrça e da superioridade do seu programa e do seu Reino. Estamos nós à altura dêsse momento decisivo? Comentário Broch. Cr$ 250,00 HISTÓRIA GERAL DA BÍBLIA — Galdino Moreira e Jorge Lyra Enc. 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