Ba Mo 24, 1144 E PR PSA AT ) ab ; ) je A, 1 ; a 7a) Daqui WEELÓOSIA CONTRIBUIÇÕES DO MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS VOLUME PRIMEIRO BOTANICA ss) — 1885 ( SEGUNDA EDIÇÃO ) RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1891 LIBRARY OF THE GRAY HERBARIUM HARVARD UNIVERSITY. BOUGHT. had PE Mig eras ERES VELLOSIA mr rm rima CONTRIBUIÇÕES DO MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS VOLUME PRIMEIRO BOTANICA 1885 — 1888 (SEGUNDA EDIÇÃO ) RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1891 a CAE ER PROLOGO DA PRIMEIRA EDIÇÃO BENEVOLO LEITOK. A força moral de uma nação não se determina só pelo numero de seus soldados ou de seus vasos de guerra, pelo incremento de seu commercio ou de sua industria, mas principalmente pelo grão a que teem attingido as sciencias, as lettras e as artes. São estas que inven- tam o canhão, encouraçam as esquadras, impellem as locomotivas, fazem mover-se as correntes electricas, desvendam os mysterios das florestas e do solo e, tornando-os em realidades, transformam-n'os em productos que se derramam pelas fabricas e pelos mercados. E” pela força intellectual e não pela physica, pois, que uma nação progride, que campêa entre as outras. Não bastam os arsenaes, as fabricas, as alfandegas, é preciso que tudo se mova pela força do genio de seus filhos, que descobrem os materiaes que dão movimento aos opera- rios, às machinas e ás pautas. A provincia do Amazonas, que, no Imperio, possue o territorio que maior cópia de productos póde fornecer á actividade humana, ante a marcha progressiva do seculo, não cruzou seus braços, pro- curou conhecer o que o silencio das suas florestas esconde, para atiralas ao mundo, e para isso teve a patriotica idéa de fundar o seu Museu, cadinho onde se apurarão as suas riquezas, para, depois de conhecidas, serem offertadas á actividade humana. Até aqui só a intelligencia exotica, de longe em longe, percorria “Os seus sertões e tirava proveito do que encontrava; agora, porém, é vI a propria provincia que mostrará o que ella de novo e de util guarda em seu seio. Fundado o Museu Botanico do Amazonas, pela lei n. 629 de 18 de Junho de 1883, em 22 de Janeiro de 1834 teve o seu regulamento; mas circumstancias imprevistas fizeram com que até Junho de 1887 esti- vesse privado de verbas, para a sua completa organização, e por conseguinte baldo de meios para trabalhar. Honrado com a confiança da presidencia, fui immerecidamente chamado para organizar e mon- tar o Museu, e, pondo toda a minha actividade em prova, entrei logo » a lutar não só com as difficuldades que se me oppunham pela falta de elementos, como pela indifferença e má vontade que sempre appa- recem, quando surge em qualquer parte uma idéa nova. Apezar dos obstaculos e da luta constante, o Museu poude fazer apparecer hoje, modesta, sem atavios que deslumbrem, envolta na roupagem lisa da sua consciencia, a Vellosia, pedindo ás suas irmãs um lugar para ella, para tambem entrar no côro daquellas que acom= panham os solos das encanecidas á luz do fóco da sciencia. A Vellosia vem temerosa offerecer o que poude respigar no des- cauço das fadigas das lutas inglorias, sobraçando pequena messe, mas que prova que descuidada não andou. O Museu julga-se feliz, por poder, estando ainda sob as faxas infantis, fazer aquillo que outros não fazem senão depois de lhes ter passado pelos archivos um grande numero de annos. A Vellosia, como a Linnaea, a Malpighia, a Bomplandia, a Adan- sonia, a Lindenia, e outras, com os seus trabalhos, vem tambem render um tributo de homenagem, perpetuando o nome do brazileiro notavel que se chamou Frei José MARIANO DA CONCEIÇÃO VELLOSO, O primeiro botanico que no Brazil chegou a ter publicado o fructo dos seus fatigantes trabalhos. (1) Na falta de um Mecenas, sirva o nome de um redivivo, e que as palmas que porventura colha, prestem para ornar o pedestal da sua gloria. - (4) Flore Fluminensis seu descriptionum plantarum prefetura Fluminensi sponte nascentinm liber primus ad systena sexuale concinnatus Augustissima Domina nostre per manus Illm. ac Exm. aloysii de Vasconcallos & Souza Brasile Pro-Regis Quarti etc, ete. Sistit Fr. Josephus Ma- rianus a Conceptions Velloso. Prosb. Ord. S. Franc. Reform. Prov. Flumin, 1790, a E - vII Se deparar tambem com fiôres no seu caminho, e não se lacerar nos espinhos que possam tolher-lhe a marcha, essas flores a Vel- losia atira viçosas sobre a fronte dos poucos deputados provinciaes que facultaram-lhe os meios de apparecer em publico. Manda tambem a justiça que ella apresente os nomes do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, o presidente fundador do Museu; o do Dr. Theodureto Carlos de Faria Souto, presidente que dotou o Museu com um edificio proprio; o do Dr. José Jansen Ferreira Junior, que pela sua honradez e patriotismo soube evitar que um golpe de morte fosse vibrado sobre esta instituição; o do Dr. Er- nesto Adolpho de Vasconcellos Chaves, presidente a quem o Museu deve a organização do seu laboratorio chimico, e o do coronel de engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer, o presidente que con- seguiu da assembléa os fundos necessarios para a marcha regular do Museu. A Vellosia não é mais do que o archivo do que houver de origi- nal nas investigações feitas no Museu, contribuindo, por meio da botanica, da chimica, da ethnologia e da historia, para o desen- volvimento das sciencias naturaes, da geographia, da industria e do commercio. Apresenta neste primeiro volume, para cumprir o que determina o art. 22 do Regulamento do Museu, na primeira parte o começo de um trabalho em que são descriptas differentes plantas medici- naes e industriaes, que em consciencia parecem ser novas, bem como a descripção de 25 palmeiras tambem novas. Na segunda par- te, infelizmente, só apparecem uns ensaios chimicos, de algumas sub- stancias alimenticias, porque, a despeito de todos os meus esforços e por motivos independentes da minha boa vontade, não consegui obter nenhum estudo de chimica organica vegetal, (1); na terceira vem um estudo sobre os vestigios de uma necropole dos primitivos habitantes do Amazonas e o folklore ou mythologia da mesma região. (1) Nesta segunda edição Supprimo essas analyses. vu o Occupando-se a ethnologia não só das leis, costumes, usos, tra= cos physicos e origem de um povo, mas tambem da sua lingua, da sua religião e dos seus mythos, vem esses artigos não só ame- nisar aquella aridez que Bernardin de St. Pierre achava na bota- nica, como cumprir as disposições dos arts, 22 e 28 do cap. XII do citado Regulamento, Agora ainda algumas palavras, não aos mestres da sciencia, por- que estes sempre acolhem pressurosos e com jubilo os esforços de seus confrades, e estão sempre promptos a desculpar algumas fal- tas, mas áquelles que não sabem o que é um banquete na mesa de Linneo, Em geral, para bem determinar-se uma planta, ha o confronto para a identificação da especie, que é feito nos grandes herbarios ; porém não se dispondo desse meio, ao alcance dos botanicos es- trangeiros, corre-se o risco de se fazer uma dupla classificação ; vale porém mais isto de que não resulta desar algum, do que dei- xar, por desidia ou incuria, plantas novas ou uteis desconhecidas. Os grandes mestres da sciencia, no fóco das luzes, teem cahido em du- plas determinações, que teem ido para a synonymia; poderá cahir nesse engano o autor destas linhas, porque grande é hoje a litte- ratura botanica, e não lhe é dado possuil-a toda; mas terá cumprido um dever. Fracos são os meios de que dispõe o Museu, mas por isso não se deve cruzar os braços, sob pena de incorrer n'um crime de leso-patriotismo, que o autor a si proprio não perdoaria. O Director do Museu *. Barbosa Rodrigues di PROLOGO. DA 2º EDIÇÃO Devo ao leitor uma explicação pela demora no apparecimento da Vellosia, que em tempo opportuno deixou de ser publicada. Vem esta edição perpetuar os trabalhos feitos no Museu Botanico do Amazonas durante os annos de 1885 a 1888. Depois de incessantes trabalhos e de lutas continuas, tendo con- seguido apresentar o Museu organizado e em condições de já poder “ser admirado por estrangeiros, levado por odios particulares e politicos, um vice-presidente deu profundo golpe de morte na insti- tuição, que se não se extinguiu immediatamente foi isso devido a esforços por mim empregados. Todavia, se não foi riscada do numero de suas congeneres, de então em diante conservou-se anniquilada, sem meios de se erguer, por não dispor de uma só verba que a animasse, por terem sido os seus meios de existencia desviados para outros fins, pela propria mão que a ferira. Sem verbas, completamente desmontado pela rapida e brusca mudança de casa, não podendo o Museu soerguer-se, suspendi a publicação da revista, que já tinha um volume em circulação e impressa a parte botanica do segundo. Tendo sahido cheio de erros o volume publicado e impresso em papel de pessima qualidade, retirei-o da circulação, esperando que o Museu retomasse seu antigo curso para então imprimir de novo a revista correcta e digna de ser manuseada. Prejudicial, entretanto, era essa demora aos fóros do estabelecimento que eu creara e dirigia, porque não só os trabalhos executados com tantos sacrifícios não appareciam, como a sciencia perdia, vendo retiradas da publicidade as novidades que haviam sido alcançadas. 2 X Dormiam as estampas do 2º volume, já impressas, o somno dos condemnados e no esquecimento as especies novas, quando passou o paiz por uma revolução politica que derrubou a parcella de invejosos que perseguiam o Museu e levou para as plagas amazonenses um homem de talento que á illustração alliava subido patriotismo. Tomando as redeas do governo, desde logo estendeu mão protectora ao Museu Botanico e procurou meios de salval-o e erguel-o á altura que merecia. Immediatamente encommendou para o estabelecimento uma typographia propria que, infelizmente, não chegou a ser montada, porque antes de chegar a Manáãos e antes de feitas as reformas que o governador preparava, fui chamado pelo Governo central para tomar a direcção do Jardim Botanico do Rio de Janeiro. Apezar disso, ao deixar saudoso o estabelecimento que tantos trabalhos me dera, mas que o queria como filho dilecto, o Dr. Ximeno Villeroy, o patriotico Governador do Amazonas, ordenou a impressão dos trabalhos que existiam terminados ea reimpressão do 1º volume. Apparecem, pois, hoje, esses dous volumes da revista, graças aos esforços daquelle cava- lheiro, pelo que rendo-lhe aqui um publico testemunho de gratidão. Chegando ao Rio de Janeiro, levei aos prélos da Imprensa Nacional a revista; mas, infelizmente, a grande agglomeração de trabalhos do Governo retardou muito a impressão. O leitor do volume notará agora a falta da Poranduba Amazonense. Cumpre-me explicar a razão dessa falta. Sendo um trabalho bastante longo, occupando mais de um volume da revista, de mais de 300 paginas, para não sobrecarregar os cofres do Amazonas, aceitei o convite, que gentil e cavalheirosamente me fez o digno director da Bibliotheca Nacional, Dr. Bittencourt Sampaio, para publicar esse trabalho nos Annaes da mesma Bibliotheca, visto tratar-se de assumpto que interessava essa repartição. De feito, foia Poranduba impressa no vol. XIV dos Annaes da Bibliotheca Nacional. Julgo de meu dever aqui prevenir o leitor de que, tendo sido apro- veitadas as estampas que estavam promptas para entrar no 2º volume, assim como as que haviam já servido no 1º, nota-se agora na parte botanica, que a numeração das respectivas estampas de Ia XIII é seguida outra vez de outras de Ia XXII. Contém, pois, a Eglogae XI plantarum novarum 35 estampas divididas em duas series. As es- tampas que formaram a 22 serie referem-se ao texto da pag. 31 em deante, intercaladas entre as duas series as estampas XXII a e XXIIbD, que foram posteriormente impressas. Tendo-se extinguido, com a minha retirada, o Museu Botanico do Amazonas, ahi ficam esses dous volumes como vestigio de sua ephemera passagem no mundo scientifico, e como prova de que, em curto espaço de tempo, rodeado de contratempos, aquelle estabeleci- mento não deixou de ter verdadeira utilidade. O leitor lerá o seu historico no segundo volume. Estas paginas resumem os trabalhos de casa, não sendo aqui consignados os que se referem a noticias do estabelecimento no ex- trangeiro, a informações e propaganda de conhecimentos, não só das riquezas, como da geographia, ethnographia, climatologia, vantagens da immigração, etc. Tendo sido modificado o formato da Revista, as estampas não puderam ser addicionadas ao texto, pelo que formam ellas um volume em separado. Com facilidade oleitor as cotejará com a parte descriptiva. O Director do Museu FJ. Barbosa Rodrigues. 415. EC GE Sa E ER LEM ih 7 no ec vER EPA ETA LEA A BCE CRT ANE BRAD META ETR E DO o AUTO Eid ME Luc quo apa io irobtal NA Dt tetos tia (vi OT o ODE fthga vigora ari TA AUS RE: RS CIDADE Mio 4, A SHTiC LELCRE puto poi FP SERIO RTCO] Es) sabio E AiTE CH) vii qa av Ey - : E so , eo mc DR o DAP Taio A anna lato o a. Em Es dE Tt: MENTES" y - pt = E nr é á =. RARO cpteriai Ae dd “ Oy é E eds E ” NEM ESA POL! hay o y p Fa x EM ' X = TRL , é REGULAMENTO N. 49, DE 22 DE JANEIRO DE 1884 O Presidente da Provincia do Amazonas, usando da attribuição que lhe confere o art. 24 S 4º da Carta de Lei constitucional de 12 de Agosto de 1834, resolve expedir o seguinte: REGULAMENTO PARA O MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS CAPITULO 1 DO MUSEU E SUA ORGANIZAÇÃO Art. 1.º O Museu Botanico do Amazonas é destinado principal- mente a estudar botanica e chimicamente a flora da provincia, e vulgarisar os seus productos; devendo colligir e ter sob sua guarda os productos naturaes e industriaes que visem áquelle fim. Paragrapho unico. Estudando a industria indigena, terá tambem uma secção ethnographica. Art. 2.º A direcção e fiscalização será exercida por um director, de accordo com o Presidente da Provincia. Art. 3.º Terá o Museu O seguinte pessoal: um botanico e um chimico, sendo um delles o director, um ajudante-secretario, um dito desenhista-photographo, e um dito jardineiro, um porteiro, e quatro serventes, de preferencia indios. CAPITULO TI DO DIRECTOR Art. 4.º O director será nomeado pelo Presidente da Provincia devendo a nomeação recahir sobre o botanico ou o chimico. Art. 5.º Compete ao director: S 1.º Propor ao Presidente da Provincia a nomeação do botanico ou do chimico, assim como a dos ajudantes e porteiro, podendo os dous primeiros servir por contracto. S 2.º Nomear e demittir os serventes e marcar-lhes o serviço, e XIV S 3.º Representar ao Presidente sobre as providencias que julgar convenientes ao estabelecimento, assignar toda a correspondencia, folhas de pagamento, e rubricar as contas, S$ 4.º Determinar ao chimico, ou ao botanico, os trabalhos que julgar convenientes. $ 5.º Redigir a revista do Museu, e promover relações com os estabelecimentos congeneres estrangeiros. CAPITULO HI DO BOTANICO Art. 6.º Compete ao botanico: S$ 1.º Fazer herborisações, colher e colleccionar as plantas da provincia, segundo os preceitos scientificos. S 2.º Classificar, descrever, desenhar e fazer desenhar as que forem novas ou pouco conhecidas. $ 3.º Organizar um catalogo methodico, onde, além do nome vulgar e scientifico, se encontrem as propriedades das plantas. $ 4.º Reunir todos os productos vegetaes, e conserval-os. S$ 5.º Ter sob sua guarda o herbario em boa ordem e conser- vação. CAPITULO IV DO CHIMICO Art. 7.º Compete ao chimico: Sg 1º Analysar qualitativa e quantitativamente as plantas, ou os seus productos. S 2.º Extrahir os principios activos das mesmas e os productos chimicos, quer para as collecções do Museu, quer para amostras que tenham de ser remettidas para o estrangeiro. S 3.º Ter sob sua immediata guarda e em boa conservação não só o laboratorio como o gabinete chimico. S 4.º Fazer experiencias com os productos obtidos. S 5.º Registrar, methodicamente, com todas as observações e considerações as analyses que se fizerem, com as respectivas da- tas. S 6.º Apresentar mensalmente o resultado dos trabalhos com o registro acima. S 7.º Fazer extractos e tinturas das plantas toxicas e medici- naes. S 8.º Requisitar com tempo e por escripto o que for necessario para o bom desempenho de suas obrigações. “4 XV CAPITULO V DOS AJUDANTES Art. 8.º Os ajudantes auxiliarão ao botanico e ao chimico nas suas excursões e nos trabalhos de gabinete, assim como se auxi- liarão mutuamente. Art. 9.º Serão nomeados pelo Presidente da Provincia, sob pro- posta do director, apresentando provas de moralidade e de sabe- rem pelo menos as linguas franceza e latina e arithmetica. Art. 10. Deverão ter a qualidade de cidadão brazileiro, e, quando não se encontrem especialistas, poderão ser estrangeiros contractados. Art. 11. Além dos requisitos do art. 9º deverão provar que estão habilitados em desenho e photographia, jardinagem e horticultura, conforme a especialidade. CAPITULO VI DO AJUDANTE SECRETARIO Art. 12. Compete ao secretario, além dos serviços que como aju= dante tiver de fazer: S$ 1.º Ter a seu cargo não só a correspondencia official, que será registrada, como fazer todas as cópias dos trabalhos do botanico e do chimico. $ 2.º Conservar em boa ordem a correspondencia. $ 3.º Fazer as folhas de pagamento e organizar as contas. S 4.º Ter sob sua guarda e conservar em boa ordem a secretaria e a bibliotheca do Museu, de que deverá fazer o catalogo. CAPITULO VII DO AJUDANTE PHOTOGRAPHO E DESENHISTA Art. 13. Ao photographo desenhista compete : $ 4.º Tirar as photographias e os desenhos que o director or- denar. S$ 2.º Conservar os clichês e desenhos por ordem mnumerica e por qualidades. S$ 3.º Ter sob sua guarda, em boa ordem, conservação e asseio, o atelier e os instrumentos, assim como os objectos de desenho. Art. 14. Poderá ter atelier particular para seu uso, devendo» porém, recolher ao Museu, onde serão guardadas, todas as chapas photographicas e desenhos a elle destinados. XVI Art. 15. Não poderá dispor de photographia alguma, nem de cópias de desenhos do Museu, sob pena de suspensão ou demissão proposta ao Presidente da Provincia, conforme a gravidade do caso. CAPITULO VIII DO AJUDANTE JARDINEIRO Art. 16, Compete ao jardineiro: S 4.º Plantar o horto e dirigir os seus trabalhos, segundo as instrucções que receber do director. S$ 2.º Fazer excursões para obter plantas vivas e sementes, sempre que lhe for ordenado. S 3.º Ter sob sua responsabilidade a conservação das plantas, a dos instrumentos agricolas, assim como o asseio e boa ordem do horto, onde deverá morar. S$ 4º Para auxilial-o terá quatro empregados que serão de pre- ferencia indios. Art. 17. Das sementes que colher e das que germinarem, poderá o jardineiro dispor para seu uso da quarta parte, não as podendo, porém, retirar sem ordem e inspecção do director. CAPITULO IX DO PORTEIRO Art, 18. Compete ao porteiro abrir e fechar as portas do estabe- lecimento, velar pela sua segurança, asseio e dependencias, e cumprir as ordens do director. CAPITULO X DOS SERVENTES Art, 19. Aos serventes compete, conforme a designação do di- rector: S 1.º Auxiliar ao porteiro no asseio do edificio. $ 2.º Auxiliar ao chimico e ao botanico nos seus trabalhos, e limpar o herbario sob as vistas deste. $ 3.º Empregar-se nos trabalhos da jardinagem e horticultura. " XVII CAPITULO XI DAS EXPOSIÇÕES Art. 20. Logo que o Museu esteja em circumstancias, annual- mente, no dia 29 de Julho, exporá os seus trabalhos e productos ao publico, por espaço dz tres ou mais dias. (1) Art. 21. Durante o anno a entrada no Museu só é permittida aos domingos ás pessoas que o queiram visitar. Paragrapho unico. Os naturalistas nacionaes ou estrangeiros e aquelles que quizerem estudar poderão ter ingresso em outros dias, mediante ordem do director. CAPITULO XII DA REVISTA Art. 22. O Museu terá uma revista trimestral, na qual serão publicados todos os seus trabalhos. Será dividida em quatro par- tes, na primeira se occupará da botanica, na segunda da chimica, na terceira da ethnographia, e na quarta de historia, geographia estatistica, etc., em que noticiará as regiões que forem percorridas pelo pessoal do Museu. Art. 23. Esta revista terá assignantes no paiz e no estrangeiro, e será distribuida gratuitamente aos estabelecimentos scientificos e permutada com outras nacionaes ou de outros paizes. Art. 24. O producto das assignaturas da revista será applicado ao custeio da mesma revista. Art. 25. Da parte botanica e chimica se tirarão em separado alguns exemplares, quando se tratar de plantas medicinaes ou indnstriaes, para serem remettidos aos hospitaes, escolas de me- dicina, laboratorios e fabricas, junto a amostras das plantas de que se tratar. Art. 26. Será escripta em francez a parte que servir para vulgarisar os productos da provincia. CAPITULO XIII DA SECÇÃO ETHNOGRAPHICA Art. 27. Todos os objectos indigenas, não só os que pertence- rem á industria das tribus da Provincia, tirados do reino vegetal, (1) A primeira exposição foi feita no dia 2) de Ju'ho de 1886, sendo nesse dia inaugurado o re- trato de Sua Alteza a Senhora Condessa d'Eu, ex-Princeza Imporial do Brazil, 3 XVII como tudo que tenha relação com os seus usos-e costumes, serão recolhidos a uma secção especial, Art. 28. Estes objectos serão distribuidos e estudados por ordem geographica e de tribus, e serão conservados sob a guarda do director. Art. 29. Sempre que for possivel se conservarão photographias ou desenhos, representando os typos das tribus em posições que sirvam para o estudo anthropologico. Art. 30. Os esqueletos, craneos, etc. das mesmas tribus serão conservados. Art. 31. Para o estudo comparativo, serão recolhidos á mesma secção, numa subdivisão especial, os objectos de louça de barro, de pedra, não só modernos como archeologicos. Art. 32. Todos estes objectos, relacionados, serão desenhados ou photographados. Art. 33. Nenhum objecto sahirá senão por troca, depois de haver uma triplicata. CAPITULO XIV DAS LICENÇAS E SUBSTITUIÇÕES Art. 34. As licenças serão concedidas aos empregados do Museu, de conformidade com as leis em vigor. Art. 35. As substituições serão feitas reciprocamente entre o chimico e o botanico; e as dos mais empregados conforme a designa- ção do director, percebendo o substituto, além dos seus vencimentos, mais a gratificação do logar substituido quando accumular as funcções. Paragrapho unico. Quando as licenças excederem a um mez, o director do Museu poderá, com autorização do Presidente da Pro- vincia, nomear um empregado interino, que perceberá todos os venci- mentos do cargo. CAPITULO XV DISPOSIÇÕES GERAES Art. 36. Os nomes das pessoas que fizerem donativos ao Museu, já de fibras, sementes, oleos, resinas, troncos de arvores, etc., já de objectos indigenas, serão registrados em livro especial e mencionados na revista. Art. 37. Sempre que for preciso o director representará ao Pre- sidente da Provincia sobre a-conveniencia de sahir ou fazer sahir os Mt XIX seus ajudantes par borisações no interior da Provincia, com segu- rança e bom resultado. Art. 38. As despezas de viagem do director e seus ajudantes, nos vapores subvencionados, correrão por conta da Provincia. Art. 39. As horas de trabalhos serão marcadas pela tabella que o director organizar, podendo começar às 6 horas da manhã e terminar “às6 da tarde. Art. 40. O director poderá impor aos empregados pelas faltas que commetterem as penas de desconto nas gratificações, de suspensão com perda de vencimento até 15 dias, propondo ao Presidente da Pro- vincia, se convier, a demissão ou rescisão do contracto. Art. 41, No caso ultimo do artigo anterior não poderá o empregado pedir indemnização alguma. Art. 42. Os empregados terão por anno os vencimentos da tabella junta, que fica dependente de approvação da assembléa, assim como, quando em viagem, mais a diaria de seis mil réis (63000) para o bota- nico ou chimico, e tres mil réis (38000) para os ajudantes. Palacio da Presidencia da Provincia do Amazonas, 22 de Janeiro de 1834. — José Lustosa da Cunha Paranaguá. Tabella dos vencimentos annuzes dos empregados do Museu Botamico CARGOS ORDENADO GRATIFICAÇÃO TOTAL Director....e.v..ec cer. PESE Ceostasasscna sides descercesrafocscaos eccevee] 1:2008000 1:200$090 Botanico.... 4:000$000 2:0003000 6:000$000 Chimico.....seeccerees 4:0003000 2:0005000 6:000$000 Ajudante-secretario 1:600$100 8093000 2:40030)0 Dito-desenhista-photographo............ SCE RE A CAE 1:6005000 8003000 2:400$090 Dito-jardineiro..... Dna Ea E elida a «o mano Sd amada ento 1:600$000 3002000 2:4003009 Porteiro .......... persa ba E PER E DR - 8005000 4008000 | 4:200300 Os serventes terão a diaria de 33000. Eclogae plantarum novarum AUCTORE J. Barsosa RopriguEs Direct. Muzei bot. Amaz, DICOTYLEDONEAE S BXOGENAE ». c. subclas. TRALAMIFLORAE . c. Ordo ANON ACEAÉR Juss. Gen. CYMBOPETALUM Bent, 1. Cymbopetalum cdoratissimum (Barb. Rod. Herd. Mus. bot. Amaz. n. 635) arbuscula mediocris ramosissima ; ramis pubescentibus; foliis membranaceis ellipticis acutissimis basi acutis sessilibus ; pedunculis solitariis supra axillaribus ebra- cteolatis unifloris primo erectis deinde elongatissimo nutantis triplo folium superantibus quam fructibus ; sepalis subreniformibus acutis minutis : petalis exterioribus lanceolatis acutissimis membranaceis herbaceis, interioribus oblongis crassis ventricosis mucronatis albis ; baceis arcuatis lateraliter compressis pedunculatis subdehiscentibus, 5-spermis, arillo bilobo magno. Tabula nostra T. Arbuscula tenuis, 2—4 met. alt. Ramuli teretes; cortice cinereo verruco- so-rimoso, novelli viridi pubescente. Folia 0",12—0,"16x0,05 —(0"06 lat., petiolis subnullis. Pedunculi 0,”3 lg., glabri. Sepala 0”012 lata, 0"006 Ig. explicata. Petala exteriora extus pubescentia, longitudinaliter laeviter carinata, interiora triplo majora, carnosa, incurva lateraliter juncta, extus penninervia sulcata, linea media prominenti in apice attenuata, 0,205x 003 lg. Thorus convexus. Stamina flava 0",006 lg. : filamentis brevitus ; antheris ? 2 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM HAB. in silvis nemorosis prope Parintins, olim Villa Bella da Impera- triz, prov. Amaz. Piráyauara kiynha in lingua tupyca nomina- tur vel Pimenta de boto. Flor. et fruct. in Maio. Obs. As Anonaceas da região austro-oriental são representadas no Brasil nelas Rollinias (embiras), Xylopias (pacovys), Anonas (araticuns), Guaterias (pinda- iybas), Duguetias ou Aberamoas (biribas) e pelas Bocageas e Cymbopetaluns. O genero Cymbopetalum foi creado pelo professor Bentham (1) e incluido nos Genera Plantarum de Bentham e Hooker (2). O professor Baillon o adoptou na sua Memoire sur la famille des Anonacées e nas Anonaceae Mexicanae Leibannianeae enumeratae (3) e o incluiu tambem nos seus Genera. Tem por typo a antiga Uvaria brasilienses de Velloso, que Martius acceitou na Flora Brasiliensis e que até hoje, se me não engano, era a unica especie que repre- sentava o Brazil, porque as outras especies que foram levadas para o geneno perten- cem ao Mexico. Vem, pois, a de que me oceupo a ser a segunda indigena.Distingue-se perfeita- mente este genero não só das Uvarias, quasi todas asiaticas e africanas, como mesmo de todos os generos comprehendidos na tribu das Uvariaceas, pelas tres petalas internas da corolla inteiramente diferentes das externas, como das dos outros gene- ros, pelo que foi levada para a secção das Mitrephoreas. Ordo CAPPARIDE AB Juss. Tribu CAPPAREAE »D. c. Gen. CAPPARIS Lim. Sub. gen. COLICODENDRON Mart. et Eich. J. Capparis urens (Barb. Rod. loc. cit. n. 507) caule scan- dente; ramulis inflorescentibus calycibus pulverulente-ferrugineo- tomentosis ; foliis petiolatis oppositis papyraceis oblongo-lanceolatis acuminatis reticulato-venosis utrinque persistenter albido v. fer- rugineo-tomentosis; alabastro suboblongo v. globuloso:; acca magna ovoidea v. subrotunda êoque pulverulento-albido v. flavido. Tabula nostra II. (1) Journ, Linn. Soc. V. 69. (2) Pags. 27 n. 28. ; (3) Adansonia VIII, 268, 298, 342 : Hist. des plant. I. 240, 287. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 3 Radix simplex, perpendicularis, flexuosa, longitudinaliter rimulosa, cortice extus tabacino, intus albido amylaceo. Folia 0,"09—0,"11xX, 0,m04-—0,06 lg. Racemi pauciflori v. triflori 0,702—0,04 lg. Pedicelli cylindracei tomentosi 0,02 lg. Flores anthesi, 07045 in diam. Staminibus inflexis subtriplo corollae superantibus ; pistillo erecto tertia circiter parte majore. Perianthiwm 4-merum. Calix retroflexus; sepala oblonga, subobtusa concava extus pilis stella- tis, tomentosa. Petala, alba, patentia, calyce duplo longiora, obo= vatata, brevi-unguiculata concava, marginibus recurvis. Discus calycis in squamulas liberas carnosas triangulari emarginatas, pro- ductus. Stamina basi subincrassata glaberrima. Ovariwm cylin- draceum, extus pilosum uniloculare: stigma conico-discodeum. Bacca 0,"06—0,"11x0"04—0,"07 lg. pulposa, polysperma. Se- mina reniformia, 0,2015>x0,"005—0,"007 1g. fusca alhido pilosa. HAB. in locis arvensis, ad Parintins, olim Villa Bella, et ad Manãos, prov. Amaz. Floret in Sept. et fruct. in Sept et Oct.. Incolis Cipó-taia nuncupatur. Obs. Entre as plantas que crescem nos logares de terras argillosas e seccas que foram cultivados, e depois postos em abandono, torna-se notavel o cIPÓ-TAIA não só pelas suas bellas flores brancas, como pelo principio acre, volatil, estimu- lante, e vesificante que teem as suas profundas raizes. Posto que as hastes participem das propriedades das raizes, comtudo não são tão energicas, nem tão proveitosas, por conterem menos quantidade de principio activo. O efeito das cascas pisadas ou reduzidas a pó, misturadas com uma pequena quantidade de agua fria, até à consistencia das papas, é o mesmo que o dos syna- pismos da Synapis-nigra ou mostarda, sendo ainda mais irritante e vesicante. Por esse motivo, os indigenas dellas se aproveitam no tratamento do rheuma- tismo, que chamam karuara, no enfraquecimento das pernas, e sempre com tão grande proveito, que levou a serem tambem applicadas no tratamento do beriberi, conseguindo-se curas extraordinarias. O autor destas linhas, tendo sido atacado pela terrivel enfermidade, que o pri- vava quasi de andar, lançou mão desta planta, e synapisando diariamente as pernas, aos poucos voltou-lhe a sensibilidade, perdeu a dormencia e desappareceu-lhe a inchação, ficando perfeitamente bom. Para fazer desapparecer o ardor que causava a queimadura, tomava banhos de outra planta, que aqui descrevo, a anti-febril Siparuna fetida ou Kaa-piti, que auxilia a cura, e no momento produz um bem-estar inexplicavel. Poucas não teem sido as pessoas que, atacadas do terrivel mal, teem recobrado a sua primitiva saude, graças às propriedades heneficas desta planta, que não posso deixar de recommendar. Pertence ella ao velho genero Capparis de Linneo, porém, pelos seus caracteres, pela primeira vez se apresenta no mundo scientifico entre as suus congeneres. Di- versas são as especies distribuidas em varios sub-generos, porém nenhuma dellas é a que agora aqui descrevo. : q Entre as especies relacionadas por De Candolle, Duchartre, Eichler, não está incluida esta, que por isto dor como nova, apezar do nome ciPÓ-TAIA, cipó que queima, ser muito antigo. E' verdade que esse nome se dá tambem a outras espe- cies, porque Maregrall, o companheiro de Pison, e medico do conde de Nassau, liga, nasua Historia rerum naturalium Brasiliae, o nome capotaya à especie que Linneo denominou Capparis cyrophallophora, que pertence à tribu Cynophallea de De Can- dolle. Não se deve tambem confundir o cipô-taia com a kaataia, que é o Plumbago scandens de Linneo, planta tambem dos alqueives do Amazonas e do Pará, porém de paragens humidas. é Os seus fructos não são vesificantes, como os da Crataeva Benthamii de Eichler, conhecida vulgarmente no Pará por Catauary, ou Cataurê no Amazonas, que não é o tapiá do Sul, a Crataeva tapia de Linneo, cujos fructos são tambem vesificantes. 4 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM ordo VIOLARIAE na. Tribu VIOLEAE p.c. Gen. CORYNOSTYLIS Martius. Corynostylis palustris (Barb. Rod. l. cit., w. 654) folia oblonga acuta ; sepala lato-ovata subobtusa ciliata ; petala 4 supe- riora adscendentia inaequalia, postica oblonga v. obovata concava, intermedia multo latiora obcordata recurva, antica longe calca- rata lamina obcordata emarginata marginibus crispifoliatis calcare lamina majore contorto. Stamina cohaesa. Stylo staminibus multo excedente. Ovario trilineato piloso. Tabula nostra III. Fruteo summas arbores scandens. Rami tereties sinistrorsum volubiles, cortice suberoso longitudinaliter rimoso, fuscicentes ; lign9 radiato Folia basiin petiolum subacuta, 0,06—0,715x0,704—0,”08 lg., subintegerrima, minute-serrata, utrinque nitidula, pinnato ner- vosa, reticulato venosa, ad lentem subtus nigro-punctata, nervis subtus prominutis. Petiolwm teretiusculum laeviter canaliculatum, 0,2012—0,7007 lg. Flores in superioribus axillis solitarii et ad apices ramulorum in racemis abreviatis. Sepala subaequalia, con- cava, mucronata, ciliata, unum semper major, 0,º012—0,"006x., 0,"009—0,”013 lg. ; intermedia, apice recurva, lineata, 0,022x 0,"017 1g. ; antica lamina longitudinaliter subplicata recurva ; ad basin quinque crispo-striata, petalis intermediis paulo majora in calcar abeunte amplum 0,”04, conicum, contorto-complanatum obtusum, nervo medio prominente, cylindraceo pedunculis subtri- plo majorem. Stamina cohaerentia ; antherae loculis sub sagittato- divergentibus, membrana terminali subrotunda, imbricata loculis minora: calcar commune, staminum anticorum antheris duplo majorem, falcatum, barbato villosum ; appendices staminum inter= mediorum brevissimae, ciliatae. Ovariwm oblongum, triaplanatum, triliniatum, barbato-villosum. Stylus elongato-clavatus, compla- natus, curvatus, cavus. Stigma oblongo-perfuratum ad margini- bus laeve. Capsula mihi ignota. HAB. ad ripas inundatas igarapé Manãos, prope Manãos, in prov. Amas. Flor. Aug. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 5 Obs. Até hoje uma só especie continha este genero estabelecido pelo Doutor Martius, em 1823, nos Nova genera et species plantarum, o O. hybanthus, o Viola hybanthus de Aublet, cuja synonimia é grande. Até certo tempo tive a planta que deserevo, como sendo a mesma do celebre phytographo das plantas brazileiras ; porém, estudando-a melhor, encontrei differenças que me levam a consideral-a, não variedade, mas especie distincta. Quando em 1846, explorou o Amazonas o Doutor Ricardo Spruce, encontrou em Manãos uma variedade de folhas menores e pubescen- tes, que não é a de que trato, que tem as suas completamente glabras, mesmo quando novas, apenas pontuadas de granulações pardacentas, que se observam mi- eroscopicamente. Entre outros caracteres afasta-se da de Martius pelos estames unidos, pelas petalas posteriores maiores, pela anterior muito emarginada, pelo esporão desta ser torcido desde o botão, pela forma e pubescencia do esporão dos estames, e pela inflorescencia em racemo terminal, sendo raras vezes axillar, e quando assim acontece, as flores se apresentam solitarias. E” um grande sipô, que se ramifica muito, sempre coberto de basta folhagem, ue cresce nos logares que se alagam, e que logo no começo da vasante se cobre de ores de um branco de leite, de aroma delicado, porém quasi imperceptivel. oro POLYGALEACEAE sus. Gen. BREDEMEYRA vwilla, Bredemeyra Isabeliana (Barb. Rod. Joc. cit. n. 69) caule scandente; ramis pubescentibus; foliis oblongis v. ellipticis acuminatis mucronatis petiolatis nitidis glabris; paniculis axilla- ribus et terminalibus ramosis, floribus parvis ovatis pedicellatis ; sepalis inaequalibus concavis, extus pubescentibus ; petalis margi- nibus ad basin ciliatis utrinque in medium pillosis; carina intus pubescente; vagina staminia ad apicem dense ciliata; ovario glabro; stylo geniculato pubescente. Tabula nostra IV. fig. B. Caulis 0,"02—0,"10 diam., ad cacumina arborum scandens. Folia 0,"08—0,”13x0,"036—0,”050, utrinque glabra, nitida, subco- riacea, vena media subtus prominente brunnea super pubescente. Paniculae amplae, compactae, ramulis crebris petentibus pubescen- tibus, Flores viridi-albi 0,m003 longi. : pedicelli parvi pubescen-= tes. Sepala exteriora sub-orbicularia, extus pubescentia, interiora multo-majora 0,”002 longa, utrinque pubescentia. Petala oblonga, truncata. Carina unguiculata, cuculliformis, plicata, intus pu- bescens. Vagina staminea ad apicem densê pillosa: filamenta brevia, inflexa. Ovariwum ellipticum, glabrum. Wructus ignotus. HAB, in prov. Amazonas in silvis inundatis, prope Manãos, olim Barra do Rio Negro. Flor. in Jan. 6 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Ops. O genero Bredemeyra de Wildenow hoje reune os generos Comesperma Labill, e o Catocoma Poep, et Endl. Admittido por Bennet em sua monographia das PoLYGALEACEAS, tendo como synonimos os generos acima, comtudo Baillon ainda acceitou o Comesperma e nelle inelue o Bredemeyra, apezar de Endlicher, St, Hilaire, de Candolle, Bentham e Hooker o respeitarem. Com effeito, teem razão esses legisladores da sciencia, considerando-o distineto, porque, em relação às especies americanas, o genero Comesperma não as caracterisa em. As especies da Australia desse genero teem em geral as petalas ligadas à carina, emquanto as americanas as teem livres. B' um genero que hoje conta mais de 13 especies, umas do Norte, outras do Sul do Imperio. São plantas das capoeiras que crescem, já nas vargens humidas, já nos terrenos elevados, sempre em logares argilosos, tendo as das terras seccas as propriedades medicinaes mais energi- cas. Não posso deixar de destacar esta especie entre as conhecidas e descriptas, pois, em nenhuma destas encontrei caracteres que se identifiquem com os da que trato. Embora se approxime da B. floribunda Willd., e mesmo da B. altissima Bennet, apre- senta caracteres que a affastam de ambas, Considerando-a nova, aqui a descrevo, impondo-lhe o nome de uma Senhora que, por sua posição e por seu amor à flori- cultura, tem animado e protegido a botanica, que deve-lhe já não pequeno numero de descobertas reconhecidas e sanccionadas pelas autoridades européas: Sua Alteza a Serenissima Senhora D. IsapEL, Princeza Imperial e Condessa "Eu. Tendo-se fundado o Museu Botanico do Amazonas sob os auspícios da mesma Serenissima Se- nhora, por dever e por gratidão, a ella dedico esta especie. O genero Bredemeyra até aqui não tem sido mencionado na therapeutica e nem St. Hilaire, nem Martius attribuiram-lhe propriedades medicinaes, que se encontram na familia a que pertence. O professor Alfredo Guilherme Bennett na resenha dos usos das Polygaleaceas publicada em sua monographia, em 1874, nada adianta sobre as do genero Bredemeyra. O mesmo acontece a Baillon, Richard e outros. Em geral as especies dessa familia teem propriedades que entram na classe das evacuantes e alterantes (polygala) e na das amargas e adstringentes, como as Kramerias e Rata- nhia. Todavia as especies do genero Bredemeyra entram na classe dos tonicos e esti= mulantes, tendo uma acção muito directa sobre os orgãos do sexo feminino. A espe- cie B. Kunthiana de Klotz, ou Comesperma Kunthiana de St. Hilaire, conhecida no sul de Minas, principalmente em S. Gonçalo do Sapucahy, pelo nome de raiz do João da Costa, é empregada efficazmente nas leucorrhéas, já empiricamente, já em for- mulas medicas. Meu irmão, o Dr. Arthur Barbosa Rodrigues, com a raiz dessa especie prepara um vinho e um xarope, procurados em toda a provincia de Minas- Geraes, como o antileucorrheico mais energico. A especie de que trato apresenta as mesmas propriedades. Gen. SECURIDACA Lin. Securidaca rosea (Barb. Rod. loc. cit. n. 19) caule fruticoso scandente, ramulis puberulis ; foliis oblongo-lanceolatis acutis gla- bris vena media supra puberula et lateralibus subtus prominenti= bus; racemis v. paniculis gracilibus elegantibus : sepala exteriora extus hirsuta ; aliae magnae intus ad basin laevissime ciliatae, in dentem subito elongatae; carina laeviter cristata, marginibus ad basin ciliolatis ; ovario glabro postice papilloso, stylo elongato in- curvo; fructu samaroideo guttato ala magna nervosa marginibus crenatis. Tabula nostra IV. fig. A. Caulis |—3 m. long. : rami gracil, versus apicem pubescentes. Folia 8 —0,"09x0,"03—0,"05 longa. Racemi v. paniculi terminales. Flores 0,13 longi: pedicell minimi, pubescentes, bracteae lineari-lanceolatze, caducae. Sepala exteriora viridia, inaequalia, ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 7 extus hirsuta, superius concavum, suborbiculare, unguiculatum extus, pubescente. Ovarium parvum, compressum ; stylus longus. Fructus corpus ovatum, 0,005x 07,005 ala dorsalis irregula- riter dentata fractura circumdantem 5—13 lata; ala altera abor- tiva oblonga. HAB. ad ripas fluminis Yauapery in Rio Negro, prov. Amaz. Incolis Pombinha nuncupatur. Floret Martit. Obs. Entre as especies deste genero citadas e descriptas por Guilherme Bennet, em abril de 1874, na Monographia das Polygaleaceas que faz parte da Flora Brasiliensis de Martius, as IS mencionadas são do Valle Amazonico, afastando-se, entretanto, de todas, a especie de que trato. Approximando-se da S. lanceolata em alguns caracteres floraes, afasta-se, comtudo, de todas pela fórma dos fructos, que, samaroideos como os das congeneres, não tem a aza erecta e alongada, e sim des- envolvida lateralmente com as margens profundamente crenadas. Aaza abortiva que emalgumas especies não forma mais que uma pequena apophyse, nesta se apre- senta bastante desenvolvida. E' esta uma das plantas que nos mostra o quanto ha ainda a estudar na flora Amazonica. Sendo uma das mais vulgares, conhecida por Pombinha, allusão às flores, despertando attenção por suas paniculas de flores roseas, como se nota em março, teem comtudo escapado à observação dos naturalistas que passam pela região do grande rio. Suas folhas quando esfregadas produzem grande quantidade de espuma, consequencia do principio aciivo do acido polygalico. Não me consta que esta especie tenha propriedades medicinaes, embora o vulgo empregue plantas desta familia em remedios caseiros, baseado talvez nas propriedades tonicas, adstrin- gentes, amargas e emeticas que as levam para a classe dos evacuantes e alterantes ordo TERNSTROEMIACEA É gnu. (O Tribu BONNETIEAE pain. Gen. CARÁIPA Aubi. Conspectus diagnosticus specierum Folia lanceolata extus glandulosa-pilosa. Pili stellati. Petiolo laevi......ccv.c.. ESMSDO OQ Be so «e 1. C. PALUSTRIS Sp. nob. Folia elliptica extus glandulosa. Pili nulli. Pitiolo rUgoso......ccesecsmerecacereeres 2a GC, SYLVATICA SP. nob. Folia oblonga extus glanduloso-pilosa. Pili claviformi-ramosi. Petiolo piloso.........cescscracaeroso . 3. C. SPURIA Sp. nob. (1) Remarqrue. Je reproduis ici les diagnoses que Jai publiées sous le titre O Tamá- koaré, especies novas da fumilia das Ternstroemiacsas, car elles étaient pleines de fautes littéraires. E L'AUTEUR. 8 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Folia ovato oblonga extus incano-pilosa., Pili conferti. Petiolo areuato-rugoso. , sw secevuse nessas «+ 4, C LACERDAEI SP. nob. Folia oblongo-lanceolata pellucido-punctata,. Pili nulli. Petiolo TUZOSO.. eseccsccscnsas E fa sie oferaleo 5. C. INSIDIOSA Sp. nob. 1X. Caraipa palustris (Barb. Rod. in Tamahoareê, spec, nov. Arbor HAB. da fam. das Ternstroem, pag. 5) floribus hermaphroditis raro apetalis; receptaculo convexo, androceo supero. Calyce S-par- tito, laciniis quinconcialibus sub-aequalibus lato-ovatis obtusis concavis intus glabris extus fulvo-pilosis. Petalis alternis liberis oblongis incurvis subaequalibus, induplicato-imbricatis, apice cu- cullato interdum lobato. Staminibus co circa ovarium evolutis insertis, exterioribus minoribus, filamentis liberis; antheris extror- sis, connectivo crassiusculo obtriangulato, apice concavo transver - saliter sulcato, loculis longitudinaliter rimosis. Ovario conico 3-Joculare, loculis 1-2 ovalatis. Stylis pubescentibus, apice exca- vato. Fructu capsulari conico trigono, putamine 3-loculari dehiscente. Seminibus 3 compressis plusve minusve lanceolatis dorsaliter angulosis. Himbryone crasso carnoso albuminoso, coty= ledonibus plano-convexis. Radiculis brevibus superibus. Tabula nostra V. fig. 4. 8" 10"x10",30—10",60 lg. ; cortice laevi, crocato, transver- saliter rugoso. Rami suberecti vel erecti, coma laxiuscula. Folia lanceolata, acutissima, brevi-petiolata, petiolo laevi, basi angustata, subtus pallidiora, microscopice glanduloso-pilosa, pilis stellatis, 0,12-0m,25x07,04-07,081g. Petioli 0",006—0",012 lg. Rami prae foliis minores, densiuscule floriferi, pilis cinnamomeis adspêrsi. Pedicelli pilosi, calycibus majores, 0=,004—0",006 lg. Bracteae late lanceolatae, pilosae. Sepala extus fulvo-pilosa, pilis ramosis, 0"004—0",005x07,003—07,004 Jg. Petala sepalis multo majora, 07,015 — 02,016 X 07,010 — 0,012. Capsulae acutae, pilosae, 07,04>x<02,02 le. in silvis humidioribus riparum igarapés Castelhana, Cachoeira et Cachoeirinha, prope Manaos. Flor. Oct. et Jun fruct. Jan. Incolis Tamakoaré do igapó nuncupatwr. 2. €. silvatica (Barb. Rod. loc. cit. et in Herb. Mus. Bot. Amaz. mn. 453) arbore excelsa 10"-20us(0,"50--1m, cortice longitudinaliter rimoso cinereo-rufescenti. Ramis erectis coma densa. Foliis ellipticis acuminatis obtusis brevi-petiolatis, petiolo rugoso 0", 010—0",012 1g., basi rotundatis, extus glandulis globu- losis obtectis, 07,13 —0",15x0",05—0",07. Flores et capsulas non vidi. Tabula nostra V. fig. B. HAB. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 9 in silvis primaecvis humidioribus ad rio Tarumã-uaçú in Rio- Negro, prov. Amazonensi. Incolis nuncupatur Tamakoarê-rete. 3. €C. spuria (Barb. Rod. loc. cit. n. 554) arbore mediocri HAB. 32— 7x 02,15—0",25 lg. ,cortice laevi flavescenti. Foliis oblongis acuto-obtusis subtus pallide pilosissimis, nervis salientibus, pilis ramosis obtectis, 0,725 —07,82x07,08— 0,17 lg. Racemis vel pa- niculis prae foliis minoribus densiuscule floriferis fuscis pilosis. Capsulis subrotundo-trigonis acutis rugosis, pilis ramosis ferru- gineis obtectis. Tabula nostra V. fig. €. adripas Rio-Negro in Amaz. Fruct. Mart. Incolis Tamakoaré- rana nuncupalur. 4. CC. Lacerdaei (Barb. Rod. ex descr. mss. Flor. Paraensis, VII, pg. 2706) arbore 40 ped. Ig. ramosa, amis alternis cine- reis rimosis aphyllis. Racemis foliosis luteis verrucosis sub 4-angulatis. Holiis ovato-oblongis aliquando ovato-lanceolatis, basi rotundata, margine ondulata, acutis, apice emarginato, subtus minutissime pilis, elevato-punctatis 6—7x3—3 !, pol. log. Ca- psulis trigonis pyramidalibus submuricato-verrucosis. Inflorescentia terminalis axillarisque paniculata panicula oblonga sordide lutea simplici breviter pedunculata bracteata folio breviori ramis alternis brevibus 4-3—2— 1 floris. Pedunculo communi brevi aliquando subnullo tetragono villoso basi articulato squammoso squammis ovatis acutis villosis primum luteis deinde castaneis. Bractea una ovatã subulata sordide lutea ulira medium recurva; bracteae aliae ovatae acutae luteae unã sub singulo pedicello sordide luteo villoso tetragono aliae ab basin singuli pedicelli oppositae insertae. Calyx hypogynus monosepalus profunde 5 partitus coriaceus villosus sordide ex luteo viridis laciniis cordatis ciliatis acutis aequalibus margine revolutis—duabus internis duabus externis quinta demidio interna demidio externa corollae quintuplo brevio- ribus petalis alternis persistentibus. Corolla hypogyna 5—petala petalis recurvis superne albis siibtus luteis obovatis villosis ciliatis basi angustioribus unguiculatis mar- gine hinc subrectis illic convexis apice rotundatis emarginatis auriculato appendiculato appendiculo a margine recta proeminente — insertio dubia partim calyci partim tubo staminifero—laciniis calycis alternis. Filamenta lutea capillaria indefinito receptaculo sub germine inserta (plurima ultra 300) corolla breviora basi in parvum tubum connata—l — antherifera marcescentia. Antherae luteae terminales medifixae ovato oblongae basi acutae apice bifidae biloculares loculis luteis segregatis a medio usque ad apicem lateris connectivi carnoso—trapezoidei insertis longitudinaliter dehiscentibus. Pollen luteum. Ovarium unicum superum luteum villosum ventricosum muri- cato verrucosum basi et apice attenuatum medio ventricosum (2 VOL. I. 2 10 HAB ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM turbinatum) broviter pedicellatum 3-—loculare loculis 2—spermis ovulis oblongis trigonis summae placentae insertis. Stylus 1 luteus villosus basi 3—gonus 3 sulcatus postea subtri- gonus. Stigma 1 orbiculatum luteum obsolete trilobum trisulcatum. Capsula 3-gona pyramidalis non pedicellata 2 poll. longa 2 */, poll. lata submuricato-verrucosa praecipue ad angulos per angulis se aperions 3 locularis 3 valvis loculis 1 an 3 spermis seminibus ovato oblongis aliquando subtrigonis summae placentae insertis perispermate praeditis corculo recto bicotyledoneo radicato coty- ledonibus orbiculatis radice simplici truncato in apice perisper- matis obvesse posito. Valvis capsularum medio non septiferis per margines super pla- centam 3 alatam sive 3—septiferam insertis— sumitati cicatricibus insertionis seminiorum praeditis. Arbor 40 ped. alta ramosa ramis alternis cinereis aphylis; ra- mulis aphylis pulvinulatis; ramunculis foliosis luteis verrucosis sub 4— angulatis. Folia perinnantia alterna ovata oblonga (aliquando ovato lanceo- lata) basi rotundata sed in medio acuta (ast in lanceolatis acutis) margine undulata cartilaginea integra reflexa lutea—apice angus- tata rotundata emarginata in aliis acuto acuminata acumine in apice rotundato emarginato—superne viridia laete splendentia canaliculata concava minutissime excavato punctata ad nervos sul- cata nervo medio plano luteo aliis indistinctis sublente villosa pilis raris minimis castaneo luteis—subtus incana minutissime elevato ponctata pilis ad lentem supernis confertioribus nervosa nervis elevatis mediano luteo lateralibus alternis prope marginem anasto - mozantibus—6—7 +/ poll. longa 3—3 !/ poll. lata—petiolata petiolo contorto arcuato rugoso superne canaliculato subtus con- vexo exstipulato circiter 1 poll. longo. « Pará: fluv. Ahuatityba prope Yambu-açu lecta ; floret Decembro Cortice adstringenti odoris sui generis. Ex Lacerdei. 5. €. insidiosa (Barb. Rod. !. cit. n. 653), arbore excelsa HAB. destas ordem 10"r—20"rx0",50—0",80 lg ., cortice transversaliter rugoso cine- reo-flavescenti intus carne-rubenti. Rumis erectis v. suberectis laevigatis, coma densa. Foliis oblongo-lanceolatis acuminatis, brevipetiolatis, petiolo rugoso, basi acuta, subtus pallidioribus, pellucido punctatis glabris, costa medio lateralibusque prominenti- bus 07,18—0", 21xX0",04—0",07 lg. ; petiolo intus canaliculato torto 07,005—0",010 lg. Floribus et capsulis ignotis. in silvs primaevis nunquam inundatis ad flmen Tarumã-miry in Rio Negro. Tamakoaré indianorum. Nota. Deixo de aqui fazer algumas observações, porquanto já largamente especies tratei no meu opusculo intitulado O Tamahoare, especies novas da das Ternstroemiaceas, da pagina 7 a 23. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM q Gen. CARYOCAR Linn. Caryocar toxiferum (Barb. Rod. loc. cit. n. 458), foliis longê petiolatis trifoliatis foliolis breviter petiolulatis obovalibus v. ellipticis acuminatis laeviter crenulatis v. laevis utrinque glabris, subtus venarum prominulis, medio majore, stipulae binis in apice petioli inter pedicellos erectis incurvatis; drupa globulosa, mezo- capio butyroso, endocarpio lignoso, muricato, in setas rigidas intra mezocarpium productis 1-spermo. Tabula nostra VT. Arbor 10» alta. Petiolo cylindraceo 02,06 longo. Foliola subcoriacea, superiora majora 0,11—13x0",067 longa, nervis secundariis suboppositis vel alternis utrinque 9—10. Drupa 02,08 in diam. HAB. in silvis umbrosis ad Tarumã-uaçú, propê Manãos, et in rio Yau- pery. Incolis Pekeá-rana nuncupata vel Uariky ad Rio Branco. Fructificat Aprili. Obs. O velho genero Caryocar de Linneo ou Rhizobolus de Gardner, e Acan- thocaryz de Arruda Camara (1), constituiu a principio a familia das Rhizoboleaceas, creada por Pyramo de Candolle, porém Bentham e Hooker, nos seus Genera, inclui- ram essa familia na das Ternstroemiaceas de Mirbel, sendo hoje uma sub-familia desta. Aublet em sua Histoire des Plantes de la Guyane Françoise, vendo a diffe- rença que havia entre as especies deste genero, dividiu-o em dois, dando para nomes distinctivos e scientificos os vulgares que tinha; assim creou o Saouari (S-foliatis) e o Pekeã (5-foliatis), divisão que De Candolle acceitou, conservando, comtudo, para ella o genero Caryocar. A especie em questão pertence aos Saouaris de Aublet, ou pekeá-ranas, isto é, teem as folhas trifoliadas. Até hoje, nesta divi= são estão descriptas 5 especies, que são os €, nuciferum, glabrum, villosum, amy- ritira e barbinerve, porém nenhuma dellas é a de que trato, como se verá con- rontando as diagnoses, pelo que a considero nova e como tal aqui a consigno. E” uma bella arvore das florestas dos rios Negro e Yauapery, de excellente madeira para construcções internas e marcenaria. Os indios aproveitam-se das cascas dos fructos, que são muito toxicas, para matarem peixe nos igarapés. Socadas as mesmas batidas em uma porção d'agua e derramada esta no rio, embriaga e mata peixes como o timbô (Paullinia pinnata) e conaby (Phyllantus brasiliensis). Os indios Maku- chys empregam o mesmo processo com as folhas. ordo ICACINEA E miers Entre as plantas descobertas nos cinco annos (de 1786-1791), em que de Palissot de Beauvois residiu em Guiné e reunidas sob o titulo de Flora d'Oware e de Benin, figura uma colhida em Chama, nas margens do rio Santo Yago que serviu de typo para um novo genero, a que o mesmo bo- (1) Posto que joven baixasse à sepultura, o Dr. Manoel d'Arruda Camara, natural de Pernambuco, e que viveu mais ou menos de 1798 a 18)2, foi o autor das Centurias Pernam- bucanas, ou Flora de Pernambuco, cujo manuscripto o onda indo parar ás mãos do meu velho e sempre lembrado amigo conselheiro Freire Allemão algumas estampas e notas incompletas, que, pela morte deste, tambem desappareceram. 12 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM tanico deu o nome de Lasianthera, e quelevou para a familia das Ampe- lidaceas, onde o conservou De Candolle (Prodr. 1. pg. 63), assim como Endlicher (Gen. Plan. pag. 797, n. 4571), entre os generos incerta sedis. Mais tarde Miers (Contr. I. pag. 27, ed Seem. Journ. of bot. II pag. 260), separando as Icacineaceas das Olacineaceas, entre aquellas foi incorporado o genero de Beauvois, pelos caracteres que firmou e que o separaram completamente dos da familia creada por Kunth, as Ampeli- daceas. O professor Baillon (Adamsonia, III, pag. 867), quando mudou o nome das Icacinaceas para Mappiaceas, entre estas incluiu o genero afri- cano, para mais tarde, porém, levando a das Mappiaceas para a tribu da familia das Terebinthaceas (Hist. des Plant., V. pags. 279 e 329), ahi o incluir. Apezar dessas mudanças, Hooker e Bentham, nos seus Genera Plantarwm (I. pag. 350) o incluivam entre as Olacinaceas (tribu Ica- cineas), onde tambem Walpers o conservou (Ann. Bot. syst. VII. pag. 567). Omeu sabio amigo Odoardo Beccario, autor da magistral Malesia (I. pag. 107), trabalho em que elle descreve plantas colhidas em sua via- gem ao archipelago Indo-Malasio e Papuano, leva o genero em questão para as Icacineaceas, serie das Mappieas, onde tambem o colloco, justificado por Adolpho Engler, que das Olacinaceas tambem separou aquellas, levando para entre ellas o genero Kummeria de Martius, que é entre os generos brasileiros o que mais se approxima do africano. Tribu M APPIE AE Becc. Gen. LASIANTHERA Pal. Beauv. Lasianthera Amazonica (Bab. Rod. loc. cit. n. 337), ra- mulis subflexuosis raró divisis alterneis cinereis pubescentibus ; foliis subcoriaceis utrinque glabris, subtus prominulis reticulatis, nervis mediis atque lateralibus prominentibus obliquis oblongo- lanceolatis longê obtuse acuminatis, base acutis, petiolo crassius- culo supra profundé sulcatq ; laminis multo brevioribus paniculis folio minoribus, pendulis, pubescentibus, calyce piloso ; petalis oblongis acutis glabris apice inflexo uncinatis puberulis ; stami- nibus petalis aequilongis basi attenuatis, ad apicem dilatatis ibique intus pilis longissimis obsitis; antheris lateraliter longitudinaliter dehiscentibus, loculis parallelis. Ovario glabro cylindraceo, glan- dula pistilloidea opposita ad basin aucio; drupa assimetrica, oblonga, compressa, uno latere crustaceo sulcata angulis 3 dis- tincte prominentibus alió carnoso. Tabula nostra VIT. Arbor tenuis, erecta, 4—5 m. alta, 0,60 diam. cortex cinereo laevis. Rami valde propendentes, ramulis subflexuosis. Folia 0», 29.. 0::,09 longa acumine 0,02 exeuntia, petiolo 0",05 longo. Pani- cula 0",10 longa, divaricata, ramis 0,01—0",05 longis. Ala- bastra obovata, 0”",002 longa. Cala obconicus 5 dentatus. Petala calyce multó majora. Drupa extus acuta 3— carinata, laevis, lucida 0" ,020—0",023x<0",011—0",013. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 13 HAB. ad igarapé de Manãos, in prov. Amazonas. Flor. et fruct. in Majo. Obs. As especies deste genero foram sempre encontradas nas regiões calidas da Africa, Asia e Oceania, e mesmo aquellas descriptas por Miquel (Flor. Ind. Bat. I. p. 793, Prod. Flor. Suppl. p. 342), que foram depois reconhecidas pertencerem aos generos Gomphandra Wall. e Stemonurus Bl. tambem são exoticas. A especie qne serviu de typo para o genero, a L. Africana, é da Africa Occidental, a L. austro- Caledonia Baill. no seu nome especifico indica a patriae a L. Papuana Bere,, é da Nova-Guiné. Restricto é, pois, o numero de especies exoticas, e nova e unica a especie que aqui descrevo que representa o genero no Brazil. Entre as Icacineiceas brazileiras, as que estão descriptas pertencem aos gene- ros Emmotum Desv. Poraqueiba Aubl. Mappia, Jacg., Villaresia, Ruiz et Pavon e Kummeria, Mart. De todos, o que mais proximo estã e mais aflinidade tem com a especie de que trato, é o ultimo que Miers antes denominara Discophora (Ann. Nat. hist. 2. pag. 118), que por uma unica especie é representada no Brazil, o K, Brasiliensis Mart. ou Discophora Guianensis Miers. O Mappia de Jaequin ou Leretia de Frei Velloso representado por algumas especies no Rio Negro (Amazonas), tem ora um disco completo, ora o tem pouco desenvolvido ou mesmo nullo, circumstan- cia esta que faz com que alguns botanicos não admittam a synonimia e considerem o genero de Velloso distincto do de Jaequin. Tomando-se o genero Kummeria, e que- rendo-se para elle levar a especie amazonica, se tem alguma aflinidade nas folhas e no aspecto das flores, delle se afasta pela falta de disco que envolve o ovario naquelle, esobretudo pela fôrma, disposição, tamanho e contextura dos fructos. A massa carnosa e pulposa, de um branco brilhante de porcellana, que cobre um lado da drupa assimetrica, que é um dos bons caracteristicos do genero Lasianthera, falta completamente no Kummeria. Além destas differenças, muitas outras existem nas flores, na disposição e di- recção da panicula e nas folhas, que seria fastidioso aqui comparar. As flores são de um branco sujo, e os fructos, quando maduros, roxo-negros de um lado e alvos como porcellana de outro. A materia corante queenche as cellulas do tecido dos fructos em contacto com o alcool, se dissolve dando a este uma bella côr de vinho. Não me foi possivel saber o nome vulgar da planta, nem tão pouco conhe- cer as propriedades que o vulgo nella encontra. ordo CLUSIACEAE Lina. UANANY, ANANY, ONANY Entre as plantas uteis do Amazonas, figura o Ananyou Uanany, da qual os indios eos tapuyas tiram grande proveito empregando a resina, em que se transforma o leite côr de enxofre que escorre das cascas do tronco, no fabrico do cerol, com que ligam os bicos das flexas, enceram as linhas, calafetam as canoas, e em todos os misteres da industria indigena. Em 1765, Fuste Aublet (1) descreveu o mani ou moronobo, dos Caraibas, e para elle creou o genero moronobea, que é acceito até hoje, não contendo sinão a especie coccinea, que é a mesma do Amazonas. Bem descripta foi então a planta, e não menos bem representada ; porêm, nas observações que faz diz: «On observe des variêtês par rapport aux fleurs. Les arbres qui croissent dans les marécages, ont la fleur plus petite ; ceux qui viennent sur les montagnes, Wont presque deux fois plus grande, et les feuilles sont beaucoup plus petites.» (1) Histoire des plantes de la Guyane Françoise, pag. 788. t. 313. 14 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Aubletachou differença no tamanho das flores, mas, não examinando talvez a especie dos pantanaes, tomou-as como do mesmo genero, quando éde um genero bem distincto. Esta observação do notavel botanico fran- cez tem feito com que muitos considerem as especies como sendo iden- ticas, quando não o são, como veremos. Como na Guyana Franceza, existem no Amazonas as duas especies que, com efeito, se distinguem logo pelo tamanho das flores e pelas côres: o uanany da terra firme eo uanany da vargem, que crescem, aquelle nos logares elevados e seccos e este nos terrenos baixos e que se alagam ; aquelle tem as flores mesmo na anthese, conicas e côr de rosa, este g lobulosas e vermelhas (coccinea). Levado por isto Aublet adoptou o nome vulgar Moronobo do primeiro para genero, e a côr do segundo para especifico e dahi Moronobea cocci- neu. Entretanto são especies de genero diverso, e razão teve Linneo filho (1) para levar o uanany da vargem para o seu genero syimphonia, dando- lhe o nome de S. globulifera. As differenças que caracterisam bem as duas especies são as mesmas que Bentham e Hooker apresentam no conspectws dos generos da familia ; por isso deixamos de descrevel-as. UANANY DA VARGEM Flores globosi. Androcei elongati lobi 5, integri, infra apicem extrorsum, 3-4 antheriferi. SYMPRONIA UANANY DA TERRA FIRME Flores ovoidei. Staminum phalanges 5, disco sub 5 lobo in- MORONOBEA * certae, singulae in filamenta 5-6 longe linearia circa ovarium spiralter torta, extrorsum fere a basi antherifera divisae. Baillon no sua Histoire des plantes diz : «La résine du latex d'une Clusiacée, rapportée longtemps au Moronobea coccinea, mais qui est plu- tótla Symphonia globulifera, c'est à dire, le veritable bois à Cochon. » Conheço bem ambas as especies que, si sem as flores, pela folhagem e pelo latex se podem confundir, comtudo ante as flores jámais se confundem. O proprio indio as distingue pelas propriedades do leite, que é muito mais proveitoso no da terra firme do que no da vargem, donde vem terem o primeiro como verdadeiro. Deste empregam a resina em cerol e daquelle em calafetar canoas. O Sr. Dr. Saldanha da Gama, na sua Configuração e estudo botanico dos vegetaes seculares (2) descreve e figura bem a S. globulifera, mas a toma como sendo a mesma de Aublet, pelo que faz a Moronobea coceinea synonima daquella, a pag. 81. (1) Supp!. 49.303. (2) Rio de Janeiro, 1872 III parte, pag. 29, tab. XIX ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 15 De Candole, no seu Prodomus, baseado na dissertação que Choisy publicou nas Memorias da Sociedade de Historia natural dz Paris, na parte 2º do 1º vol., não dá as duas especies como synonimas, porém apresenta a Symphonia globulifera, como sendo a Moronobea coccinea, sem razão alguma, e faz esta, descripta por Aublet, ser uma nova especie que Choisy denominou M. grandiflora, trazendo maior confusão. AM. coccinea, ainda depois disso, teve outro nome, o de M. montana, dado por Scklechtendal, na Linnea (1), adoptado por Planchon e Triana, nos Annaes de sciencias naluraes. (2) ordo HIPPOCRATEACEA E enar. Gen. SALACIA Lin. Sect. RADDISIA Leand. do Sacram. Syn. TONTELEA Aut. Salacia polvanthomaniaca (Barb. Rod. I. cit. n. 647), foliis oblongis acutis coriaceis; floribus 07,5—0",7 umbellatis pedi- cellatis; sepalis reniformibus 07,02 lg.; petalis subrotundis concavis, marginibus revolutis. Tabula nostra VIII * Altissimi scandens. Razi cruciati tereti, cortice cinereo. Folia opposita petiolata ; petiolum 9”,002 long. erassum supra sulcatum ; lamina oblonga, integerrima, coriacea, nervo medio subtus prominente, ner- vis secundaris utrinque immersis, supra nitida, subtus opaca. Flo- rum axillares, floribus 5-7 pedicellatis, pedicellis 02,014 lg. Sepala reniformia 0",003gl., carnosa. Petala subrotunda 0",008x07,007. Disco carnoso, ab initio rotundato, deinde ad margine tenui, diam 07,004. Staminibus complanatis, basi dilatata, erectis deinde re- curvis. Antheris transverse dehiscentibus. Ovario inter discum immerso in stylum trigonum attenuatum ; loculis 3 ovulatis. Stygmatibus minutissime trilobatis. Drupa globosa, aurantiaca, trivittata, pulpa cotonosa, alba, eduli, 07,05 lg. HAB. in Rio Negro propê Manãos, ad ripas inundatas. Floret et fructificat in mensibus Jun. et Jul. Incolis nuncupatur Tuyué-tipi v. Bochecha de velho. Obs. Entre as plantas sarmentosas que crescem sobre as arvores dos logares que se alagam, no tempo da enchente do Amazonas, ss encontra esta especie que vulgarmente é conhecida por tuyue-tipi ou bochecha de velho, congenere da uaymiyuri (bocca de velha) e a da Uariva tapii (testiculo de guariba). A uaymi- (DZVIIL pag. 182. (2) Liv. IV, pag. 204. 16 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM yurú é a Salacia grandiflora de Peyeritsch, que pelas flores e mesmo pelo fructo se assemelha à especie de que trato, porém della se afasta por ser arvore e não cipó. As especies deste genero teem uma area geographica muito extensa. São de todo o Brazil e estendem-se às Guyanas e às Antilhas. Para uma dellas, colhida no Rio de Janeiro, creou Leandro do Sacramento (1) o genero KRaddisia, como Aublet, para outra da Guyana, creou o Tontelea, que ambos posteriormente foram incorporados zo velho genero Salacia de Linneo. Todavia perpetua ainda o nome do notavel botanico brazileiro uma secção desta familia, a que pertence à especie que aqui descrevo. a E' notavel esta especie, não pelos seus fructos rugosos, de um amarello de ouro, cujas sementes, em numero de tres, em cada loculo são cobertas por uma massa branca, cotonosa e pulposa, que, apezar de insipida, se come, mas por um facto pathologico ou nosologico, que se póde denominar polyanthomania, E”, por assim dizer, uma molestia stenica, occasionada por um excesso de vida ou de succos nutritivos. Normalmente, a planta apresenta na axilla de suas folhas 5 a 6 flores regu- lares ; sahindo os pedicellos de um olho ou especie de pequeno carunculo que se forma ; porém, acontece que em alguns galhos do cipó, este facto não se dá. Em- quanto um galho apresenta as flores, outros apresentam, sahindo das axillas, uma grande massa compacta, às vezes de um decimetro de diametro, composta de flores pequenissimas, em fórma de botões. A inflorescencia, que naturalmente é uma umbella simples,torna-se racemosa pelo alongamento do olho ou borbulha (gemma), que forma um rachis, de onde cruzadamente sahem as flores solitarias, ou apre- sentando novos olhos que constituem novas umbellas. Essa modificação da inflorescencia já por si só seria uma aberração, mas esta se torna mais admiravel, vendo-se como ella ainda se afasta do typo e se metamorphosta em uma inflo- rescencia sympodica ou em uma especie de cymo. No seu estado normal as flores compoem-se de cinco sepalas e cinco petalas, alternas, de tres estames oppostos às sepalas, e tres estylos unidos em uma columna, triangular. Um disco, a principio enrodilhado e depois achatado, com as bordas adelgaçadas, circula os estames e os estylos, contendo em si o ovario trilocular, cujos loculos são triovulares. Quando dá-se a aberração, cada flor torna-se o centro de uma nova inflores- cencia, da maneira seguinte: os tres estames se desenvolvem à custa do disco, que desapparece, e em vez de se terminar em uma outra flor munida de periantho apre- senta tres nas quaes o androceo e o gyneceo são metamorphoseados em seis outras flores, todas perianthadas, tendo tres ou seis tuberculos no centro, com rudimentos de antheras polliniferas. Estas flores, assim metamorphoseadas morphologica- mente, ainda produzem a seu turno novas flores terciarias, que se originam dos tu- berculos das secundarias. Nesse mesmo cymo, que se forma, nem todas as flores originam as terciarias ; algumas ficam em secundarias com os seus tuberculos. O facto que se dá com a prolificação dos estames, dá-se tambem com os estylos que produzem flores semelhantes a cheitogamas. Essas flores, desenvolvendo-se umas mais do que as outras, nunca desabrocham, conservando-se sempre em botões pequenos de 1 a 3 m. de diam., formando sobre o periantho da flor mãe um cymo compacto. Entretanto, uma ou outra vez, das flores secundarias, ou mesmo terciarias, uma dellas se desenvolve, toma o typo das normaes, com toda a regularidade e perfeição, munida de todos os orgãos, porém duplamente menor e esteril. Com o ajongamento do olho, que se transforma em rachis, este torna-se fibroso, os pedicellos das flores mães transformam-se em peduúculos tambem fibrosos, assim como os das flores secundarias e terciarias, que progressivamente tornam-se menores. (1) Fr, Leandro do Sacramento era filho legitimo de Jorge Ferreira da Silva e de D. Thereza de Jesus : nasceu na cidade do Recife, capital da provincia de Pernambuco ; professou na ordem Carmelitana em 5 de maio de 1793: foi para Lisboa e matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde defendeu these e foi licenciado em philosophia em 1806, voltando parva o Brazil neste mesmo anno ; foi depois nomeado lente da bo:anica da Academia medico-cirurgica do Rio de Janeiro, e dava as suas lições em um dos torreões do Passeio Publico, do qual era inspector : em 1824 foi nomeado Director do Jardim Botanico. Falleceu em 1 de julho de 1829. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 17 Commummente os pedicellos não são todos distinctos, mas se coadunam em grupos, apresentando flores unidas em massa, mais ou menos desenvolvidas. O rachis chega a ter de comprimento 8 cent,, com um diametro de 7, e os pedicellos das flores mães 14 millim. com 4 no apice. O aspecto geral de toda a massa floral é o da inflorescencia do Brocoli ou couve-flor. Vejamos agora como se dá essa aberração. Como vimos, o polymorphismo começa pelo desenvolvimento do olho, a que se prendem as folhas, e pelo augmento do numero destas. Por uma especie de poly- tomia, na extremidade dos estames ha um desdobre (diremptio) em flores, e o filete se transforma em pedicello, protegido pelo periantho que torna-se coriaceo ; e nor- malmente podemos dizer que esse desdobre do estame é em 6 partes, tendo cada fileto, não uma anthera, mas sim uma flor em miniatura, perfeitamente organisada. O estylo tambem softre o mesmo desdobre e no mesmo numero de partes, origi- nando o mesmo numero de flores em tudo iguaes às produzidas pelos estames. Acontece porém às vezes unir-se o estylo aos estames duplicando então estes o numero das flores. Como disse, não pára nas flóres secundarias a prolificação : estas originam tambem pela mesma fôrma fióres terciarias, como aquellas, tambem munidas de ERRO orgãos em embryão, menos o periantho, que sempre é symetrico e erfeito. 4 No systema vascular das folhas carpellares, sahem de cada uma vasos que vão se unir aos das folhas estaminaes, e destas partem outras que se unem aos daquellas, produzindo uma metamorphose heterogenea. Este primeiro desdobre origina normalmente as primeiras 36 flores, nas quaes se produz novo desdobre, que origina as flores terciarias. Esta gamomania produz uma monstruosidade es- teril, e se faz sempre no disco ou gynobaso, que desapparece, sendo substituido pelos pedicellos das novas flores, que formam um verticilio, mais ou menos appa- rentemente trigrupado. Pelos factos que observei, theoricamente é esta a marcha da transformação da flor em cymo, mas acontece haver sempre grande irregularidade no desdobre que augmenta o numero de divisões dos vasos, já no mesmo numero de ovulos, já em numero superior e sem regularidade alguma. O estudo dos factos teratologicos, a que chamam erros da natura, e que se dão nos vegetaes, contribuem poderosamente para o conhecimento exacto da origem e dependencia de certos orgãos, o que é reconhecido por varios botanicos notaveis que dessa parte da botanica se teem oceupado. Pelos estudos das aberra- ções se vê que os ovulos fazem parte da folha carpellar e não do eixo floral, como quer Augusto de St. Hilaire. A esse resultado se chegou pelos estudos de R. Brown, De Candolle, Hugo Mohl, Brogniart e outros. Auxiliaram-me muito o estudo organogenico das flores das Orchidaceas (1) que fiz, e os immensos factos teratologicos que observei. Penso que o facto que aqui descrevo é uma boa con- tribuição para a sciencia, pois nos vem mostrar que o disco não é uma modifi- cação parcial e especial, produzida por uma inchação no receptaculo, mas sim uma subdivisão e desvio dos feixes vasculares dos verticilios carpellar e estami- nal, e d'ahi nascem os nectarios, os estaminoides e o nectar, que me parece ser tambem uma modificação da materia estygmatica. Nas flores normaes, os botões durante a anthese teem o disco com a fórma de uma rodilha, que mais tarde se achata adelgaçando os bordos, mas naquellas em que a aberração se dá, já os botões se apresentam sem disco e sem ovario, apresentando o que seria disco um verticilio, que se transforma em pedicellos de novas flores. Dos factos que observei posso concluir que os estames que rompem o Tece- ptaculo e formam os pedicellos, na aberração, não são mais do que as subdivisões que se não desviam, e por hypertrophia formam o disco nos casos normaes. Este facto confirma a opinião daqnelles que outr'ora diziam que o disco não era mais do que a reunião de estames disfarçados. Comprova-me mais isso o facto de ser a inflorescencia nas Hypocrateaceas e principalmente no genero Salacia, quasi sempre cymosa e raras vezes fasciculada. A aberração como que tende a tornar a inflorescencia da especie em questão igual à das congeneres, procurando o typo da ordem, isto é, dispôr as flores em cymos. (1) Structure des Orchidées. Rio de Janeiro, 1883. VOL. I 3 18 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Si a estructura anatomica não produz, na especie que me dá assumpto, vasos que naturalmente originem cymos, existem comtudo elles modificados, mas de tal maneira, que um excesso de vida, uma absorpção maior de elementos nutritivos, procura, talvez por atavismo, chegar ao typo primordial, a dichotomia. Um facto que mais comprova-me que a origem do disco depende muito das folhas estaminaes, é o dos discos petaloides, ou em corôas, que bem representam uma monodelphia ; a sua posição, quasi sempre entre a corolla e o pistillo, tam- bem o confirma. A monstruosidade da Salacia polyanthomaniaca veio esclarecer-me um ponto da organographia vegetal, que, se bem que em desaccordo com os maiores bota- nico, comtudo me parece ser verdadeiro: o disco não é derivado da inchação do receptaculo, mas deriva-se das folhas carpellares, e principalmente estaminaes, que, por uma modificação especial, desviando os feixes vasculares e subdividindo-os, pe uma hypertrophia que modifica a fórma. Por atrophiamento uns vasos esapparecem e formam o disco, outros pouco se desenvolvem o formam as glan- dulas nectariferas, e alguns se levantam, rompem a massa geral e tornam-se estames. A união dos vasos das folhas carpellares com os dos estaminaes, pro- duzem no disco uma modificação que faz com que elle participe da natureza do androceo e do gyneceo, e d'ahi o nectar, que parece ser exhudado pelos vasos carpellares, como é a materia viscosa do estigma. Sub. class. CALYCIFLORAR IDE (BE ordo LEGUMINOSA E sus. Tribu ADENANTHERAE Benth. Gen. ENTADA Adans. Entada Paranaguana (Barb. Rod. loc. cit. n. 50,) imermis; pinnis 3-5 jubis, foliolis 5-15 jubis oblongis obtusis emargina- tisve ; spicis terminalibus elongatis in racemo erecto densê confertis” Tabula nostra VIT. Civulis lignosus altê scandens. Folia glabra 0",10 —20 long... Pin- nae 3-5 jugae, 07,08— 0", 15 long.. Foliola 6-15 juga, oblonga obtusa-rotundata v. laeviter emarginata recta, 0,015 — 07,030 X 07,008 — 07,010 basi obliqua, inaequilatera, costa media marginibusque nerviformibus subtus prominulis, utrinque glabra, Racemis seu panicula terminalis, densus, 07,10 — 07,20 long. Spicae 07,06 — 0m,07, singulae v. saepius germinae basi, ebra- cteatae. Flores sessiles, albescentes. Calya: vix 0”",001 long. 5-dentatus, laeviter pilosus. Petala a basi libera, oblonga, erecto-incurva, concava, sub obtusa, 0",002 long.. Stamina alba, petalis demidio longiora, undulata. Antherae ovatae, basi emar- ginatae, glandulis brevi-granulosis coronatae. Ovarium sessile glabrum. Fructum non vidi. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 19 HAB. in Brasilia in igapoós ad Rio Negro propê Manãos. Flor in Jan. Incolis Gipô-oka nuncupatur. Obs. Nos logares baixos e humidos, innundados pelo Rio Negro represado pelo Amazonas, cresce esta especie, que floresce em Janeiro agarrada às arvores pelas gavinhas em que se transforma uma das ultimas pinnulas de varias de suas folhas. Muito porta à sua congenere polyphylla de Bentham, afasta-se entretanto, pelo tamanho das folhas, pela falta de pêllos nos foliolos, pelo tamanho e fôrma da panicula, pelos pélios do calice, pela forma dos e-tames e pela glandula granulosa que corôa a anthéra que é perfeitamente globulosa e nectarifera, o que chama milhões de coleopteros microscopicas para suas flores. (Cresce à grande altura. As folhas apresentam alguma sensibilidade quando tocadas. Dedico esta especie, que julgo ainda não descripta, ao fundador do Museu Botanico do Amazonas, o Exm. Sr. Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, presidente da provincia, como pequena prova de muita gratidão. O nome vulgar gipodka ou gipi-oka, para mim, significa o que espuma, o que se estende, não sendo mais que uma corruptela de yepi-og, derivado de tiguy-ok, espumar estendendo-se. Penso que não tem razão de ser o significado cipó de casa ou caseiro, derivado de gipó, cipó, e ok, casa, porque os indios sempre nomeiam os objectos dando-lhes nomes pelos quaes possam ser conhecidos. O nome de cipó de casa não determinaria, porque é geral, emquanto que o que espuma nos aponta uma das suas propriedades, como abaixo veremos. Não só os tapuyos como os civilisados do Amazonas e Pará empregam as raizes desta planta como preservativo da caspa, que quando existe, extingue-se completa- mente. Ainda as raizes, que teem o aspecto de uma mandioca, maceradas e desfeitas D'agua, produzem espuma como a do sabão. São agri-doces. No Pará as empregam na lavagem de cuias, depois de pintadas, afim de fixar a tinta. Gen. SWARTZIA . P. muralis No) sub praes. tab. scandente; foliis velutino — villosis membranaceis irilobis, lobis dentatis acutis; stipulis parvis, laciniatis villosis pilis glanduligeris ; bracteis 3-4 — pinnatisectis, segmentis linearibus pilosis glanduloso-capitel- latis; floris tubo brevi patelliformi; piloso; sepalis obtusis dorso sub apice corniculo longi instructis: petalis glabris membranaceis dorso 1-lineatis; corona basilari integra incurva crispifoliata, fauciali filis externis petala brevioribus internis minimis +-seriatis, mediana integra, incurva crispifoliata ; ovario ovato, glabro, stylis villosis. Tabula nostra XITT. db. Scandens villosissima. Ram? teretes graciles. Folia brevi petiolata mem- branacea cordata trilobata, lobis ovatis acutis ciliato-dentatis nervo medio majore, utrinque velutina, pilis capitellatis in mar- ginibus ornata, 0,030 — 0,m035 x 0,"030 — 0,"040 lg... Petiol; lamina demidio breviores velutini teretes, eglandulosi. Stipulae parvae profunde laciniatae, laciniis linearibus velutinis pilis glanduligeris ornatae. Cirri simplices. Pedunculi axillares 1-flores vellutini, teretes 0,025 — 0,"028 lg. petiolis duplo longiores. Bracteae laciniatae flores subaequantae villosae pilis glanduligeris munitae. labastra ovata, lincata, velutina, apice 5-aristata. Floris tubus urceolatus, basi intrusus, villosus, virescens. Sepala viridia, patentia, lineari-lanceolata obtusa concava, extus vil- losa, sub apice dorso corniculo complanato instructa. Petala paullo minora, membranacea, alba, lineari-lanceolata, obtusa, patentia. Corona faucialis filamentosa, filis externis petala subaequantibus, lutescens ad basin rugulosa, filis internis minimis erectis ad centrum decrescentibus ; corona mediana membranacea, integra, margine crispifoliata, incurva ; corona basilaris cupuli- formis, membranacea, incurva, crispifoliata. Gynandrophorum villosum ad apicem attenuatum. Hilamenta lata complanata, Antherac flavae supra medio dorso afiixae. Ovariwum ovatum, glabrum. Styli clavati pubescentes. HAB. in Forte do Cabedelo, prov. Parahyba do Norte. Maracujá de lagartinho vel de cobra incolis appeltatur. Flor. et frucl. Magyi. Obs. Posto que esta especie, como a antecedente, não pertença à provincia do Amazonas, comtudo não posso deixar de ineluil-a neste pugillo de plantas novas que apresento. Estando eu na provincia da Parahyba, não passei sem ver in loco a P. Barbosae que meu filho descobrira nas immediações do celebre forte de Cabedello, e correndo as ruinas deste, cobertas de vegetação, encontrei em fins de maio, crescendo sobre os pannos das muralhas a especie de que me occupo, cheia de flores e fructos. Os naturaes denominam seus pequenos fructos ala- ranjados Maracujá de lagartinho ou de cobra, por crescer o vegetal sobre os muros, entre as pedras, por onde andam esses pequenos saurios e se occultam os peçonhentos ophidios. Suas flóres são pequenas, extremamente delicadas, com as petalas brancas e transparentes e com os sepalos verdes, tendo os filamentos da corõa amarellos. 30 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Procurando identificar esta especie com as da secção Dysmodia de De Candolle, à qual pertence, verifiquei que a nenhuma dellas se identifica, pelo que a dou como nova, impondo-lhe nome especifico que caracterisa seu viver. Excepcionalmento tambem cresce fóra das muralhas, como me informaram; isso, porém, não é commum. Attendendo-se ao polymorphismo das folhas da P. fotida de Linneo ou P. polyaden de Velloso, o Marakuyá chirikha dos naturaes do Amazonas, poderão alguas consi- derar esta especie variedade daquella antiga, que na verdade algumas apresenta ; mas o distinctivo não consiste na maior ou menor pubescencia, na forma dos lobulos da folha, e sim na forma, tamanho e côr das partes componentes das flóres e dos fructos e no seu habito. Pelas bracteas, por exemplo, seria uma variedade da P., clathracta, mas a isso se oppõe a forma das folhas e das flóres ; assim tambem pelas folhas poderia ser tomada por uma P. villosa, si não fossem as estipulas, as bracteas e as proprias fióres, Companheira e mesmo socia da P. Barbosae, ambas, às vezes, crescem entre- laçadas, pendentes das muralhas do forte do Cabedello, sobre as aguas do Atlantico, onde qualquer viajante as póde encontrar. 6. P. Cabedelensis 1n0b. sub praes. tab. foliis membranaceis glabris trinerviis, extus inter nervos ad basin glandulis minimis preeditis, transverse ovalibus trilobis, lobis lateralibus oblongis divaricatis biglandulosis, inter medio truncato ; petiolis brevibus eglandulosis contortis; pendunculis solitariis petiolis triplo lon- gioribus ; corona faucialis biserialis filis teretibus sepala multo minoribus ; fructu oblongo minimo. Tabula nostra XITI c. Glabra. Rami graciles teretes flexuosi. Folia membranacea, trinervia, inter nervos prominentes glandulas duas orbicularia gerentia, triloba, lobis lateralibus divergentibus oblongis, obtusis, mucrone brevissimo armato, lobo intermedio lato, truncato, mucronulato. Petioli foliis minores, teretes, eglandulosi, contorti. Pedunculi solitarii teretes graciles, petiolis multo majores. Bracteae parvae dissitae. Alabastra pyramidalia basi dilatata. Flores viridescentes campanulatae. Twubus brevis, latus explanate, a basi intus pube- scente. Sepala subcoriacea, e basi lata oblonga, lanceolata, obtusa, apice subcucullata, recurva, extus viridia, intus albida, ad margines utroque latere membranacea. Petala nulla. Corona faucialis fi- lamentosa 4 seriatis, filis externis 2-seriatis majoribus, erectis, violaceis, filis internis bi-seriatis, minimis, incurvis, apice capi- tatis. Corona mediana incurva, membranacea, crispifoliata, den- ticulata. Corona inframediana e medio tubo emergens, annu- laris, carnosa. Gymnadrophorum glabrum, subcurvatum, tere. Antheros lato-oblongee. Ovarium oblongum, incurvatum. Styli clavati, ondulati, recurvi. Wrutus oblongus, 0,” 030—0,"035x 0,"012—0,"024 lg. flavus. HAB. arenosis locis ad littora maris, prope Cabedelo, prov. Parahyba do Norte. Flor et fruct. majo. . Obs. Nas proximidades das ruinas do historico e celebre forte de Santa Catha- rina do Cabedello, no Estado da Parahyba, crescendo nas areias das praias, encontrei esta, especie, ostentando flóres e fructos. Aquellas todas apetalas, fazem realçar os filetes roxos das suas coróas sobre o branco esverdeado das retorcidas sepalas, as quaes se destacam dos longos e pequenos fructos cór de laranja, ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 31 Comparando esta especie com as da secção Dysmodia de De Candolle, incluidas nas Eudecaloba, entre as quaes deve figurar, não encontro nenhuma que com ella se identifique. Entre as cincoenta e oito dessa secção, escriptas pelo Dr. Maxwell Mas- ters e publicadas em 1872, na sua monographia, incluida na Flora Brasiliensis, não vem ella mencionada, e, como não conheça outro trabalho posterior no qual se deserevam novas passifloras, dou a presente tambem como nova, Ordo MYRTACEZS Juss. Gen, MYRCIA D. C. Myrcia atramentifera (Barb. Rod. Herb. Mus. bot. Amaz. n. 45), folliis breviter petiolatis subcoriaceis oblongis lineari-acu- minatis supra-splendentibus subtus arguté pellucido-punctatis utrinque reticulato -venosis limbinervis, venulis elevatis: paniculis subterminalibus et axillaribus folio «equalibus v. longioribus, brunneis subsericeis multifloris; sepalis petalisque extus sericeis, Tabula nostra I Fig. A. Arbor 5"x0,"10—0",60 lg. ; rami teretiusculi, cinerei. Folia novella rubra, subtus sparsé arguté granulosa : petiolo 0"007—0,"010 lg., lamina 0,208—0,2011xX0,203—0,”"05; nervo medio supra im- presso subtus elevato, venis plurimis, teneribus, rectis prominulis, argutê pellucidis; venulis interjectis pellucidis, recticulatis. Pa- nicule erecta, densê ramos, pyramidate. Alabastra O,"001 ; bracteolis 2, lanceolatis, ovarium aequantibus, caducis. Ovarium densê pellucidum, 4 ovulatum, disco sericeo obtectum. Sepala 5, inequalia, extus sericea, celiolata, 0,001 lg., subotusa, Petala à, ineequalia ; oblongo-rotundata, 0,002 Ig. Stamina petalis duplo majora. Stylus stamina sequans, basi sericeus. Bacca ? HAB. in Prov. Amazonas eí Pará in silvis corduis vulgo Kkapoeira, prope Mandos. Floret Januario. Rumaty v. cumatê nuncupatur. Obs. Entre as plantas vulgares e uteis destaca-se a especie de que trato, muito conhecida pelos naturaes das provincias do Amazonas e do Pará, que a aproveitam na industria das cuias, porém, não é conhecida pela sciencia. Penso que Martius não a viu, nem a colheu, porque em seu Glossaria linguarum brasiliensium na parte em que falla dos Nomina plantarum in lingua tupi, diz: « Ouimati (Amazonas) Apocynew vel asclepidea follicularis? » Pertencendo ella à familia dos Myrtaceas, rocurei vêr se a encontrava descripta por Berg na Linnaeu e na monographia o mesmo autor, publicada na Flora Brasiliensis, em 18 de maio de 1857, monogra- phia organizada principalmente com os herbarios de Martius e Spruce, mas não à encontrei. Entretanto ua especie atramentifera estã incluida na divisão, do genero, Abrupte acuminate, approximando-se da M. Regeliana que, Pei do seu polymor- phismo, apresentando quatro formas variantes, de nenhuma dellas se approxima, a não ser da variedade angustifolia, sômente pelas folhas. Não sei se posteriormente seria descripta, porém, creio que não. O Dr. Nicolão Moreira, em seu Vocabulario das arvores brasileiras, publicado em 1870, diz: « genero ignorado. Tereben- thinacea ? » Considerando-a, pois, nova proponho-lhe o nome acima. Co o ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM O kumaty olfereco grande utilidade em suas cascas, que, pisadas e de infuzão - n'agua fria por espaço de 24 horas expostas aos raios do sol, dão uma especie de tintura arroxenda que applicada, sobre a madeira e expostas estas às evaporações ammoniacaes da urina, torna-se de um negro de ebano, Inzente como o xarão asiatico. Os naturaes aproveitam essa tinty para a pintura de remos e cuias feitas dos frnctos do cabuceiro ou cuxeira (Crescentia cujete) que são muito procuradas, constituindo uma industria, que infelizmente vai desapparecendo Essas cuias usam-se, em geral, para farinha e para se beber agua. Sobre o fundo negro que serve de mordente, applicam, em variados desenhos, outras tintas como o karagiru, tauá, etc, A côr negra dura grande numero de annos, embora o uso das cuias seja con- stante. O tronco que attinge 0,60 de diametro, é empregado em construcções de casas. Empregam tambem os naturaes as raspas das cascas do kumaty no calafeto das canoas, sendo mais duradouras do que a estópa. No Rio Negro, em geral, dellas se servem os pescadores. Não se deve confundir esta especie com outra do mesmo nome, que cresce em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, que é o Psidium albidum de Cambessedes, tambem conhecido em Minas Geraes pelo nome de araçd. ordo APOCYNACE ZE rimar. en. COUMA aubi. Couma macrocarpa (Bub. Rod. í. cit.m. 460), ramis teretibus cinereo-ferrugineis albido verrucosis; foliis cordatis acutis, basi in petiolum ridigissimum crassé trigonum attenuatis, venosis intus nitidis atroviridibus extus nervis secundariis ferrugineis mulio pro- minentibus ; bacca magna flava., Tabula nostra T. Fig. B. Arbor S"—1Qux,"02—0,"6 lg. Rami subteretiusculi, verrucoso-asperu- li; vamuli ternato-verticillati. Folia longa, atroviridia, rigida, ternato-verticillata, cordata, obtuso-acuminata, supra glabra, subtus mellina, nervi secundarii rigidi, prominentes, ferruginosi ; petiolo O,m010 — 0,m012 1g., ferrugineo. lores non vidi. Bacca subglobosa, 0,"080—0,"35 in diam., epicarpio rigido immatura. Semina plurima, (5—15) oblonga, compressa, in pulpa fibrosa longa nidulantia. Episperma brunnea. Embryo rectus longitu- dine albuminis. HAB. ad Rio Negro, in silvis Tarumã-uacçu. Incolis Kumi-uaçu d. Sorva grande nuncupata. Fruct. Mart. Obs. O genero Couma foi estabelecido pelo celebre botanico J. B. Christophe Fusée Aublet e publicado em 1775 no supplemento da sua Histoire des plantes de la Guyanne Frunçoise à pag. 39, acompanhado de uma estampr sob o n. 392. Caracte- risou o genero pela especie a que deu o nome de O. Guyannensis, acceita por De Can- dolle, em seu Prodromus. Aublet, que, para quasi todos os seus generos adoptou para nomes scientiticos, com alguma razão, os vernaculos, como neste caso, ouvindo pronunciar o vocabulo indigena Kumã, como francez que era, o escreveu com o som de zua lingua, de onde veio Couma, que, pronunciado por brazileiro, portuguez ou italiano, parecerá um ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 33 outro differente do indigena. O Dr. Martius, adoptando tambem o genero de Aublet, e, achando outra especie com o nome kuma, mas que os portuguezes baptisaram por sorva, achando nella difterenças, creou o genero Calophora para a especie utilis, commum em todo o Rio Negro. Bentham e Hooker nos seus Genera eo Dr. Miller d'Argovia, em sua monographia das Apocynaceas da Flora Brasiliensis, entretanto, reuniram este genero ao Couma, não apresentando a especie Guyannensis e descre- vendo outra oriunda da Bahia, o Mokugé com o nome de C. rigida, apezar de De Candolle o conservar. Martius, creando o genero Calophora teve razão porque, com- parando-se o habitus do seu Calophora com o do Couma, vê-se que é inteiramente differente. Com o habitus do primeiro, encontrei a especie acima infelizmente sem flores, sabendo apenas, por informações de um indio, que são ellas roscas, como as da utilise da Guyannensis, porém maiores. A principio tomei-a pela especie de Aublet, Nico comparando os orgãos appendiculares, o habitus, e os fructos, encontrei ifferenças que me levam a apresental-a como nova. A especie da Guyanna é uma arvore pequena (arbuscula), de folhas largamente ovaes (late ovalibus), com os fructos interna e externamente russos (bacca intus et extus rufescens), emquanto que a de que trato é uma arvore excelsa, cujo tronco mede às vezes o diametro de oitenta cen- timetros, tem as folhas cordiformes, inferiormente pardacentas, e os fructos, mesmo maduros, verde-amarellos por fôra e verde-esbranguiçados por dentro. Da O. utilis e rigida afasta-se então inteiramente. Vulgarmente é conhecida por Kuma-uaçu ou sorva grande. Dá abundante leite, rico em borracha e seus fructos são muito sabo- rosos e dóces, tendo o epicarpo um poucorijo, do qual se destaca a polpa que contém as sementes e que é a parte comestivel. Ordo LOGANIACE ZE gnar. Gen. STRYCHNOS Prog. sect. LONGIFLOR AE Pros. 1. Strychnos macrophylla (Barb. Rod. 1. cit. n. 249), alte scandens cirrhifera, ramulis patulis junioribus -pubescentibus, internodiis folio brevioribus ; foliis coriaceis ovato-ellipticis acu- minatis brevi petiolatis trinervatis supra glabris nitidis subtus pube minutissima adspersis, nervis pubescentibus ; corolla hypo- craterimorpha, tubo extus pubescenti intus villoso lobis intus sul- catis tomentoso-barbatis sub triplo longiore. Tabula nostra II. EFrutes altê scandens ; cirrhi pubescenti. Folia superiora 0720—0,22x 0,7]2—0,"13 1g., basi rotundata petiolo 0,701. lg. inferiora multo minora. Cyimae ad apices ramulorum. Calyx 0,2002 lg. Corolla tubo 0,2007, lobis 0,7003 lg., pubescentis. Stamina filamentis brevibus fauci inserta. Antherae lineari inserte. Ova- rium glabrum. Ovula 3—4. Stylus glaber fauci longitudine. Bacca globulosa, acuta. HAB. in silva inundata ad ripas Igarapé da Cachoeirinha, prope Manãos. Floreb. Septemb. Uirary rana vocatur VOL. I 5 34 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Obs. Encontrei, infelizmente, esta especie sómente com flóres seccas ; porém comparando estas, assim como as folhas, com as especies descriptas, vi que a minha de todas se affastava, embora pelas flores se approxime um pouco ao 8. rondele- tioides Spr. E' um grande cipó, cuja casca suberosa é de um amargo fortissimo, tendo, quando macerada na agua a sua infusão uma bella côr de vinho velho do Porto. O uirary ou curare que preparei com as cascas desta especie apresenta uma cor negro-esverdeada, e de todos os preparados das especies aqui consignadas, é o mais forte, produzindo mais rapidamente a morte dos animaes em que é inoculado. A materia colorante toxica é mais soluvel no alcool do que na agua; por isso os alcoolatos apresentam cor mais carregada, differente por vezes da das infusões. 2.8. ericetina (Barb. Rod. /. ct. mn. 160), fructicoso-scandens, cirrhifera; ramulis oppositis suberectis griseo-velutinis; foliis coriaceis subsessilibus ovato-lanceolatis acutis basi plerisque cor- datis trinerviis utrinque griseo-velutinis ; cymis axillaribus 3—4 floris ; floribus 4—meris ; lobis calycinis ovatis acutis convexis velutinis ; corolla hy pocraterimorpha, tubo abbreviato cylindraceo lobis subsequilongo intus densissimé lanato, lobis triangulari-lan- ceolatis acutis tubo paullo majore. Tabula nostra III. Fig. B. Ramuli graciles, internodiis folio duplo brevioribus. Cirrhi axillares, folio magnitudine, velutini, revoluti, superne incrassati. Folia 0"035xX 0,014 1g., superné nitida, leviter griseo velutina, subtus tomen- tosa, nervis nervulisque prominentibus eleganter reticulata. Cymir 2—4 florae, floribus brevi-pedicillatis. Calya tubo triplo brevior. Corollae albae, tubo paulo majore. Stamina ad faucem inserta, filamenta complanata, antheris majora ; antheris sub li- neari-lanceolatis, exsertis. Ovariwum glabrum. Stygma longé exsertum, sub truncatum. Bacca reniformiv. irregulariter oblon- ga, compressa, monosperma, aurantiaca, 0,"020xX0,7012 v. 0,2017x0,7011. Semen compressum, testa pergaminea, atro- vinosa. Albumen corneum. Embryo centralis, cotyledonibus lan- ceolatis. HAB. in sylvis coduis sive Kapoeira ad Manãos. Flor. Set. Fruct. Febr. Indii Makuchi vocant Uirary Tarerem. Nom. vulg. Yua- káka pindá v. anzol de lontra. Obs. Entre as especies brazileiras, torna-se mais distincta esta, que à primeira vista tem o aspecto de um jasmineiro. Posto que proxima às congeneres subcordata e lanceolata, ambas de Spruce ; comtudo affasta-se dellas por caracteres que tira de ambas, sem reunil-os em absoluto, circumstancia que a especifica distinctamente. As flores pela manhã desprendem forte aroma que se approxima ao das amen- doas amargas. A parte cortical da raiz é bastante amarga, e, macerada n'agua, esta apresenta a cor de bom vinho Madeira secco. Pelo constante aborto dos ovulos, o fructo só apresenta uma semente. Conforme a posição que occupa, em relação a placenta, o ovulo que se desen- volve, dá assim uma fórma ao fructo mais ou menos irregular. Em geral é reni- forme, comprimido de um lado e mais ou menos convexo de outro, porém, com a fôrma oblonga, mais ou menos regular, tambem se apresenta. Rarissimas vezes em um exemplar coberto de fructos se encontra um delles dispermo. Uma fórma que tambem às vezes toma o fructo é o de uma lentilha muito con- vexa na parte superior, ficando então, bem no apice, diametralmente opposto ao pe- ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM . 35 dunculo o estilete do stygma, ou a sua cicatriz, coincidindo assim o apice organico com o geometrico, o que se não dá nas outras fórmas, em que sempre o apice orga- nico é mais ou menos lateral. 3. S. rivularia (Barb. Rod. !. cit. n. 698), scandens cirrhifera, ramis erectopatentibus badio velutinis; foliis coriaceis ellipticis acutis supra nitentibus breviter petiolatis; cymis axillaribus bre- vibus, floribus tetrameris; lobis calycinis lato-ovatis erectis, mar- gine brevis-ciliatis ; corolla intus densissimé lanatae, lobis lanceo- latis acutis tubo equalibus ; anthera excluse. Tabula nostra II. Fig. B.—IV. Fig. C. Frutex scandens, lignosus, 0,02 diam. Rami scandentes longissimê, in- ternodiis 0=,02 — 07,03 lg. Folia basi acuta, 0,055 — 02,065X 0=,030—0=,040 lg. Cirrhi folliis minori, circinati, apice incrassati Bracteis pubescentibus. Cyme 6—9 florx, pubescente, Flores agglomerati, brevi-pedicellati. Calyx glabrescens, 0=,002 alt. Corolla hypocraterimorpha, alba, tubo extus velutino, 0,014 alt. Stamina ad fauce inserta, filamenta glabra, erecta, triplo tubo minora, a basi incrassata. Antherc intorse, lanceolate, basi mar= ginata. Ovarium glabrum, subglobosum, biloculare, loculis plu- riovulatis, 5—seriatis. Stigma subglobosum, exsertum. Bacca immatura oblonga, anticê compressa, posticê convexa, mono- sperma, 07,017xX02,013 lg. 3 HAB. inripas humidioribus ad igarapé do Curro, prope Manãos, olim Barra do Rio Negro, ubi Yurupari pindá v. Anzol do Diabo vo- catur. Flor. Nov. Fruct. Febr. Obs. A especie em questão é uma das que se comprehendem nasecção que o Dr. Augusto Sprogel, ultimo monographo das Loganiaceas, estabeleceu, adoptando mg ella o nome de Rouhamon, que é o que os indios Galibis, da Guyana Franceza, ão ao Uirary, e que Aublet, aproveitou parao de genero. Com efleito, muito ella se aproxima do Rouhamon Guyanênsis do mesmo Aublet, que Bentham faz synonimo doseu Strychnos Rouhamon, mas que me parece não o ser, apezar da autoridade de Sprogel, porque, pelo menos a figura que dá o botanico francez mostra ser especie distincta da que a Flora Brasiliensis apresenta. A fórma das folhas e das flores, a inflorescencia e o numero de divisões da corolla, entre as duas estampas são dif- ferentes e comparando-se mesmo as descripções vê-se que ellas se affastam. Pondo de parte isso, e admittindo serem synonimas, a planta por mim achada muito se approxima da que Aublet descreve e representa na sua Historia das plantas da Guya- na, assim como do Sérychnos lanceolata que Spruce achou nas cachoeiras de S. Ga- briel, no Rio Negro e no seu afiluente Uaupés. O meu Strichnos rivularia afiasta-se comtudo do do botanico francez em ter as folhas ellipticas e não sub-arredondadas ; em não serem inferiormente quasi cinzentas e sim pubescentes; em ter as flóres maiores e não serem dispostas aos pares; em ter o tubo coberto de pellos e não os lobulos da corolla; e do do botanico inglez em ter as folhas ellipticas e não oblongo-lanceoladas ; em serem sempre triplinervias, pubescentes e não opacas inferiormente ; seremas flores tetrameras e não pentameras e ter as divisões da corolla iguaes ao tubo e não menores. ; Posto que a monographia que me serve de elemento para o estudo não seja mo- derna, pois data de 1868, comtudo isso em nada penso influir, porque as especies descriptas depois, como a Crevauxii, Jaubertiana, depauperata e densiflora, descriptas por Planchon e Baillon, affastam-se tambem da que aqui me occupo. Nos fructos desta especie, acontece o mesmo que observei na antecedente, porém, nunca tornam-se reniformes, são sempre oblongos irregularmente desenvolvidos. 36 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 4. S. papilosa (Barb. Rod. 1. cit. n. 0680), scandens cirrhifera, ramis erecto-patentibus flava-velutinis ; foliis submembranaceis lanceolatis obovatis oblongisve, basi in petiolum brevem attenuatis, triplinervis, subtus pallidioribus, ad venas tomentosis; cymis axil- laribus brevibus, floribus 5-meris; Jobis calycinis Jlaté-ovatis acutis pubescentibus argute ciliatis ; corolle intus densissimé la- natee lobis lineari-lanceolatis intus papillosis recurvis tubo mino- ribus ; antheris exclusis. Tabula nostra IV. —Fig. B. Truncus tortuosus, 5—6 met. lg. Cortice suberoso, extus lenticellis cre- bis verrucoso, intus ferrugineo. Rami scandenti, longissimi, in- ternodia 0",022— 07,025. Folia 0",070x 07,020 lg., apice acuta, supra glabra ad vena media puberula, subtus raro pubescentia. marginibus puberula, petiolo 07,005 lg. pubescenti. Cirrhi apice circinati paulo incrassati, puberuli. Cymae 8—T flore, pubes- centes ; bracteolis laté lanceolatis, puberulis. Flores pedicellati, 5-—meri. Calya pubescens, 07,001 alt. medio attenuata. Corolla alba virescentia 0,007 alt. medio attenuata. Antheroe longê ex- serta, lineares, flamentis filiformibus basi dilatatis. Ovarium gla- brum, loculis multi-ovulatis. Stygma subtruncatum, exsertum, papilosum. Bacca subovata, anticê compressa, posticê convexa, monosperma, 07,015x.0",011 1g., testa pergaminea, glabra. Semen oblongum, compressum ; albumen cartilaginosum. Embriyo mini- mus, centralis, rectus ; cotyledonibus lanceolatis. HAB. in Iguarapé da Cachoeira, ad Cachoerinha do Teyú, Rio Negro prope Manãos. Flor. Nov., fruci. Febr. Obs.— Entre os Strychnos que tenho deseripto este é o que mais se approxima do S. Rouhamon Benth. pela fórma das folhas, que, todavia nesta especie são sempre triplinervias, tendo a pagina inferior e as margens pubescentes, assim como as ner- vuras. A nervura media na pagina superior é toda pubescente, tambem como o é todo o peciolo. Nas flôres as divisões da corolla são sempre em numero de cinco, sendo estas papilosas internamente, como o é tambem o stigma. O calyce é todo pubescente. A casca tem a epiderme acinzentada, porém a parte suberosa é de um pardo avermelhado, sendo esta muito amarga. O lenho é branco. As flóres, pela manhã, exhalam um aroma muito agradavel e penetrante. Os fructos teem sempre uma fórma muito irregular, predominando a oblonga, e esta é mais ou menos alongada ou arredondada, apresentando elevações, que cor- respondem sempre à posição do ovulo, que fecundado se desenvolveu. 5. 8. Manaoensis (Bard. Rod. 1. cit. n. 257) altê scandens cir- rhifera, ramulis rufo velutinis: foliis coriaceis glabris supernê nitentibus oblongis acutissimis v. acuminatis 5-—nervatis basi acutis; bracteis pedicellis majoribus spathulato-trapezoideis incurvis dorsaliter angulatis ; cymis axillaribus; foribus minutis tretameris ; calycibus glabris lobis ovatis acutis marginibus Ieviter barbatis, e tubo intus pauci lanato lobis lineari-lanceolatis, tubo bre- vioribus. Tabula nostra V. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM ST Truncus tortuosus, 0,"10—0,"15 diam:, rami cortice pauci suberoso, transversaliter rimoso, griseo; ramuli elongati, patuli, velutini. Cirrhi hamati, superne paulló incrassati, rufo velutini. Folia ra- mulorum florigerum majora, 0,"13—0,"15x.0,7048—0,"050 lg., pedicello 0,"013—0,"015 1g., velutino, illa ramulorum novorum minora, 0,"05—0,"06x.0,"014-—0,"025 lg., subtus pilis minutis- simis sparsa, nervo medio subtus velutino. Cymae pedunculis communis 0,7008—0,"010 1g. Corallae tubus 0,7005 alt. Stamina ad faucem inserta ; filamenta gracilia. Ovariwnm uniloculare subro- tundum. Stylus 0,"006 1g., Bacca flavescens, globulosa, mono- sperma, 0,7017 diam. Semina 1, oblonga v. subglobosa; cotyle- dones oblongee. HAB. in locis inundatis ad ripas Igarapé do Atterro, Manãos, olim Barra do Rio Negro. Flor. Oct., Fruct. Febr. Ohbs.— Torna-se notavel esta especie pelas suas gavinhas, que, quando os ramos são novos, não os florigeros, alcançam grandes dimensões e grossura, chegando a tor quasi dous decimetros de comprimento, com as quaes se agarram às arvores a que se apoia a planta para crescer. Encontrei esta especie representada por dous ma- gnificos exemplares já com fruetos e muitas flóres não fecundadas, porem todas sem corollas, à excepção de uma, cujas anthéras e stigmas tinham sido destruidos. As cascas do tronco, cujo lenho é branco, são muito amargas. Comparando esta especie com as diagnoses das descriptas até hoje, a nenhuma dellas se identifica, pelo que a considero tambem nova. De todas as especies aqui descriptas, é esta a que apresenta o fructo mais regular, sempre mais ou menos globoso. O albumen é córneo. G. S. Kauichana (Barb. Rod. /. cit. n. 202), subarborea, ramis elongatis junioribus cylindraceis, velutinis, cirrhis hamatis flavo- velutinis; foliis membranaceis ellipticis, apicê acutis, basi acuta, brevissime petiolatis quintuplinêrviis, superne glabris ad nervos puberulis, subtus argutê pubentis. Radix cortice ferrugineo; truncus 1,17:,40x0",015—0",020 lg.., tor- tuosus, griseus, lenticells crebris verrucosus, rami erecti, viridi, velutini, internodiis valde incrassatis, folio brevioribus. Cirrhi superne incrassati, velutini. Folia superne nitida viridia, subtus pallidiora, 07,06—0",10x07,003—0",04 lg., Petiolws 0.003—0",004 lg ., Wlores et baccam non vidi. HAB. In locis humidis ad Rio Tonantins. prov. Amaz. Indii Kaui- chanas vocant Poheceti et Makakinha namby v. Orelha de macaco tapuyas nuncupatur. Insertoee sedis (1) 7. S. gigantea (Bard. Rod. !. ct. n. 202), alté scandens, cortice suberoso ferrugineo rimoso ; ramis glabris, junioribus virescentibus, (1) As reacções chimicas destas especies as levam para o quinto grupo, de que adiante trato, ou para a secção Rouhamon, em que estão incluidos o3 uirarys dos Konibos e dos Amahuakas do Perú, feitos com o Strychnos Rouhamon ; mas, pela inflorescencia, poderão periencer a alguma das outras secções. 38 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM cirrhis spinisque nullis; follis coriaceis amplis ellipticis quintu- plinerviis acuminatis basi in petiolum brevem attenuatis. Tabula nostra III. Fig. A. Truncus cespitosus, 07,12—0,40 diam. Ramis gracilibus, internodiis in- crassatis, folio brevioribus. Folia caulinaria basi rotundata, ramea acuta, quintuplinervia, superiora majora, 07,13—0,20x 07,04 — 02,07 lg., nervis subtus prominentibus, glabris ; petiolo 07,006— 07,010 lg., currugato. Flores et baccam non vidi. HAB. in silvis inundatis ad ripas Rio Negro, Praia do Capitão, prope Moura. Indii Makuchy vocant Uirary kamaruã. Obs.— Esta planta que bem se póde chamar o gigante dos Strychnos, dá em soqueiras que, à principio, estendem galhos pelo chão, elevando-se depois ao cimo das mais altas arvores, confundindo suas folhas com a das ramagens destas, deixando só ver seus cipós que assemelham-se a grossas serpentes que se enros- cam e sobem pelos troncos que lhe ficam proximos. , A casca é de um amarello ferruginea, muito suberosa e de um amargo insup- portavel. Na camada suberosa é que reside o principio activo e toxico. S. S. Urbanii (Barb. Rod. l. cit. n. 228), arborescens; ramulis glabris; foliis amplis oblongo-ellipticis brevissime pedicellatis triplinerviis utrinque glabris acuminatis. Tabula nostra IV.— Fig. A. Arbor gracilis 4—5 met. alt. Folia 0,m22 X 0,08 lg., papyracea, nervis subtus prominentibus, petíolo 0,m004 lg. Flor. et fruct. non vidi. HAB. ad igapô v. silvis inundatis in Rio Yutahy, Prov. Amazonas. Obs. Esta planta foi achada pelo octogenario cidadão Manoel Urbano da Encarnação, quando explorou o Rio Yutahy, em 1884, chegando-me, infelizmente, às mãos o exemplar incompleto. Entretanto, pelas folhas e pelo porte, distingue-se perfeitamente das especies descriptas pelo Dr. Augusto Progel. Desde que encontre a planta completa, serã a descripção mais desenvolvida. O nome especifico per- petúa o do descobridor do vegetal, um cidadão honrado e prestimoso, que muitos serviços tem prestado à provincia do Amazonas, como explorador intrepido. E' dever de gratidão perpetuar os nomes daquelles que são uteis à pafria e à sciencia, principalmente quando já se inclinam para o occaso da vida. 9. S. lethalis (Barb. Rod. Il. cit. n. 713), fructex altê scandens cirrhifera ; foliis subcoriaceis ellipticis v. ovatis acuminatis, basi in petiolum brevem attenuatis quintuplinerviis, subtus ad venas minuté puberulis. Truncus tortuosus 0,"05—(,10 in diam., cortice crasso, rimoso, spongio- so, hepatico. Folia 0,211 — 0,715 X 0,205 — 0,"09 1g., superne nitide viridia, subtus opaca, pallidiora, prominule venulosa, petiolo 0,"01 lg. Flor. et baccam non vidi. HAB. in silvis primaevis ad Rio Tonantins, Prov. Amaz. Indii Kauichana vocant Kokoary. 10. S&S. Tonantinensis (Barb. Rod. t. cit. n. 714) frutex altê scandens cirrhifera ; foliis coriaceis ovatis acutis, basi in petiolum brevem attenuatis quintuplinerviis, superne nitentibus subtus opacis utrinque glabris, nervulis subtus prominentibus. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 39 Truncus tortuosus, 0,"07 — 0,”10 in diam., cortice crasso longitudi- naliter rimoso, hepatico. Folia 0,713 — 0,"15x.0,"09— 0,10 lg., petiolo puberulo O,"010 — 0,"012 1g. Flor. et baccam non vidi. HAB. in silvis ad ripas Rio Tonantins, Prov. Amaz. Indii Kauichana vocant Kuacikuala. Obs. Estudando as tres especies de strychnos, que vi empregadas, que infeliz- mente estavam sem flóres ou fructos, e procurando identifical-os com os conhecidos, apezar do não colher exemplares completos, todavia, com nenhum delles se identi- ficaram, apezar de sempre presumir que, dous pelo menos, fossem os que o Sr. Jobert diz serem dos Kauichanás, posto que visse fazer o curare no Caldeirão, que é habitado por Tikunas. Este meu achado vem provar que os ditos indios teem na flora da paragem que habitam, varios Strychnos, que ora empregam uns, ora outros, tanto que empre- gando à vista do Sr. Jobert só dous, à minha empregaram tres e diferentes, cujos exemplares existem no Muzeu, e com as cascas dos quaes preparei extractos para analyses e experiencias que fiz. Comparando-se os Strychnos Jobertiana e depauperata com os tres acima descriptos vê-se que não se identiticam, bastando para isso comparar-se as diagnoses, das quaes os caracteres especificos se distanciam bastante das minhas especies. Assim, O Jobertiana, que, diz Baillon, não parece ser cipô tem a haste tetragena, as folhas glabras, membranaceas com 07,20 X 0m,10, com as tres nervuras grandes divergindo logo da base, com mais duas lateraes, que se fundem nas margens, tendo o peciolo de um centimetro. O DEPAUPERATA é cipó, tem a haste rugosa, os ramos avelludados, as folhas subsesseis quasi cordadas na base, com 08,04 X 02,02, avelludadas em ambas as faces e com cinco nervuras, . Comparem-se estes caracteres com os das minhas e ver-se-ha que são distinctos. Os lenhos nas minhas especies Kauichana, lethalis, Tonantinensis são brancos, nas primeiras e amarellados na ultima. Os venenos que obtive dos indios e os que preparei pelo mesmo po que elles empregam, me deram reacções que os levam para tres grupos distinctos, da classificação que adoptei, como se vê do quadro junto. É Dos tres strychnos que entram na composição toxica dos Kauichanas o unico que fere de morte o animal é o Kokoary, pelo que lhe appliquei o nome espe- cifico de lethalis. , As experiencias que nestes dous ultimos annos tenho feito com estas especies confirmaram as que fiz em 1873, para conhecer a composição e o antidoto do curare, experiencias estas que me levaram a aílirmar nas conferencias publicas que fiz no Rio de Janeiro em 25 de agosto e 1º de setembro de 1878, nas da aula de medicina legal, da Escola de Medicina do Rio de Janeiro, em 17 de setembro do mesmo anno, assim como pela Gazeta de Noticias, de 23 de fevereiro de 1879 que: é sempre um strychnos que produz a morte do animal * e o cortejo de symptomas que a pre- cedem. As Ent que entram no fabrico do uirary indigena, por superstição, em algumas tribus, porque outras empregam simplesmente um strychnos, apenas ser- virão para activar a absorpção, sendo sua energia devida à especie da flóra do local em que habitam os fabricantes. O aspecto vernicoso que algumas especies de curare apresentam, como por exemplo, os da Guyanna, não é devido a plantas mucilaginosas, como Aroideaceas, mas sim peculiar a alguns strychnos. Preparei varios uirarys com S. Urbanii e com macrophylla, o do primeiro com cascas seccas e velhas, o do segundo com cas- cas verdes, e ambos apresentavam o aspecto de terem sido preparados com gernix, o mesmo aspecto apresenta os S. Manaoensis, rivularia e papillosa aqui escriptas. R De todas as especies e com exemplares adultos e fortes * fiz infuzões theiferas, alcoolatos e extractos, preparando tambem o curare pelo processo indigena. Feitas * Esta affirmação foi anterior à creação do laboratorio do Muzeu do Rio de Janeiro, por conseguinte, muito anterior ás experiencias dos Drs. Lacerda e Couty. * Utilisei-me sómente das cascas do tronco e das raizes. Não experimentei as folhas e as flôres, porque os indios não se aproveitam dellas para o fabrico dos seus venenos. 40 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM as experiencias em animaes, estes apresentavam os symptomas proprios do enve- nenamento pelo veneno indigena, sobrevindo a morto mais ou menos retardada, segundo a especie, acontecendo mesmo ser o veneno illiminado pela urina, depois de produzir os primeiros effeitos. Entre os strychnos atê hoje descriptos, comprehendidos a Gubleri e o Crevaunit achados pelo infortunado Dr. Crevaux e descriptos por M. G. Planchon, no Journal de Thérapeutique, que disso deu noticia à Academia de Sciencias em 22 de dezembro de 1879, não encontrei uma só especie que se identifique com as que agora apresento. Por essa razão as dou como novas. Depois de grandes esforços, outr'ora e hoje, consegui formar uma collecção, particular, de especies de uirarys ou curares, do todas as tribus brasileiras que o fabricam ou usam, assim como das da Guyanna Ingleza, Venezuela e Perú, não só em panellinhas, cabaças, canudos ou carriços de talkuara, como em flechas, de zarabatana, Jurabys é murukus. De diferentes localidades procedem os preparados toxicos pertencentes a diffe- rentes tribus o se distinguem pela côr, consistencia, fôrma do vazilhame em que são guardados, e pelos instrumentos em que são empregados. Possuo tudo classi- ficado, tendo obtido os venenos directamente ou por amigos, dignos de toda con- fiança, instruidos por mim, pelo que duvida alguma pode haver sobre as proce- dencias. Tenho apenas duvida sobre dous, quanto à tribu, e não quanto à localidade, Comparei, por meio de reacções chimicas, os venenos de vazilha com os de flechas e depois de identificados por tribus, passei a analyzal-os tribu por tribu, regis- trando por meio de pintura, à aquarella, as córes das diversas reacções em um grande quadro, acompanhadas de observações. Não podendo aqui publical-o apresento um outro que resume o primeiro, por onde se poderá ver que differentes são as especies de strychnos que entram na composição pela differença das reacções. O estudo comparativo da energia do veneno pela experiencia a que os submetti, a côr do pó, dos aleoolatos, e das soluções aquosas de cada um, assim como as córes resultantes das suas reações chimicas, com os mesmos reagentes, me fizeram dividir os curares de diversas tribus e procedencias em quatro ordens, comprehen- dendo a primeira dous grupos, às quaes denominei : TiKUNA, KAMARAUÁ, LAMISTO, TIYUAKINO € FALSOS. A estas divisões se filiam os strychnos conhecidos. A primeira comprehende os venenos mais fortes e que matam não sô quadrupedes como aves, com prom- ptidão; a segunda os que produzem os mesmos efreitos da primeira, porém, com lentidão ; a terceira os que matam os quadrupedes e não as aves; a quarta os que, como os da primeira, matam indifferentemente, com menos promptidão ; e a quinta os falsificados que ou matam, e para os quaes o chlorureto de sodium não é anti- doto, ou absolutamente não produzem a morte em nenhum animal. A Tikuna, pertence às tribus brazileiras do Solimões; a Lamisto às tribus peruanas do Rio Ucayale; a Kamaraui às tribus brazileiras do Rio Negro; a Tiyuakino, as das quebradas do Huallaga e a Falsa às tribus civilisadas de ambos os paizes. Não conheço a planta do Tiyuakino, e sim os fructos aos quaes dão o mesmo nome que tem a planta, o de A"mbiuasca, isto é, cipó venenoso. Estes fructos, não só os animaes, como os homens comem, por serem muito doces, porém, não é o strychnos brachiata de Ruiz e Pavon, cujos fructos, tambem comestiveis, diferem muito em tamanho, sendo os deste quasi do tamanho de uma laranja, emquanto que os d'aquelle tem o de uma uva. O Tiyuakino é feito pelos Tarapotinos do Tiuyako, e não desce ao departa- mento de Loreto, pelo que ahi é completamente desconhecido. O Lamisto ou Pishiuayno * e o Tiuyakino * sempre são guardados em colmos de taquara ou carriços, de um palmo de comprimento. A divisão do Lamisto comprehende os venenos mais fracos, como o de Pebas, e a do Tikuna os mais fortes. A Tiuyakino é a intermediaria. Tive oecasião de vêr varias falsificações: ora enchem uma panella ou carriço com uma substancia inocua, a qual cobrem com Tikuna; ora misturam os dous, ou mesmo fabricam o Lamisto incluindo n'elle nicotina, que extrahem das folhas de tabaco, quando não é feito só de Cocculus, Abuta ou Onomospermum, que são * O Pichiuayno, é feito no pucbio de Pichiuayaco, perto das cordilheiras. 2 O Tiuyakino é feito pelos indios das quebradas de Tiuyaco. E o 1 t Ê ER ae (= F Ls e | E Re : e E . Pi 4 Mi AP vis aoméSUNDE Prq « Y > Den ac REP LMa ao! F Ep 4 DRE a ARS ar; h | À isto ahrE O, cabo e CAE 6 " cá io CE NY y sia » a. e É co ant | nd qa fa 4 “OM pd 25 fo P n.. Berto voe ARAL E . X x a ad 4 Ee 4d Med ea) amena shit Esso ste dE DOS 4 ER MT DR TELA E To MEC, E AE z é E t A yr dA Lat To E RA PR UI É k e -8I bs ' mto mamão bum ear a emma o gm = E E E = t MID é é, = É , Ê , ração EA mea Pro re dr + “ 1 nar vivi sr a td Pufes no 6h py a TA o tho Hipa + É nibuo á eras di E DRI SERRO RS Eta Ra Ea + 11h Eu th Pssiei + cent Posta DE pmbeprédim ad ab pepia d ar DIE molda epi SE à MiSATO ai PRE : epi Rat! = 1 uboma 4a rhica geram o n”» Fa vs pal pad 5 bosta riste tt note sr Mira dai dy MDL RAT car QU sed] Cerva RIAA pas 5M AM, da MILADE ska ts O e ed Quadro das reacções dos venenos conhecidos pelo nome de « curare » 0] - A) LP TRIBUS PROCEDENCIA g a E ACIDO AZOTICO E Ra o. Z | 1º grupo P. Miranhas, pote; Tikunás, pote; Yuris,| | flecha; Omauas, pote... ...ceceseecees Rios Yapuráe Içá. ...| 4 Mahakus, pote; Mayankongs, flecha ; Faia epntido ai ú, Ipuricotós, flecha; Uakys, cabaça ; aupés adauary, 7 - , Arikunás, 'Makuchys, Uananás, flechas Tonantins Solimões, a A A Ade? ii de e côriChr de eli sujo bos & |) e kurabys, Tukanos, cabaça; Kubeuas,| Maraviá, Sipabo, Ore- SERRO ' e pardo. I 5/ pote; Pauichianás, pote; Piarrhoas,|) noco e fronteiras de ” =| cabaça; Sirychnos lethalis, planta. Venezuela, Tonantins, É |Cauichianas, pote; Cauichianas, cabaça e) Padauary, Uaupés,,.| 17 flecha; Uaupé, pote e cabaça grande. Guyana, cabaça 20 grupo Katukinos, flechas; Katauichys, kurabys ; 3 Ipurinás, kurabys......cececsecceseso Rio Purús........ ««-e«) 3 |Côr de vinho.....|Pardo amarello.. [Pardo ......e....| Ver e 8, Mahakus, * Akangatares, Tarianás, De- s) canás, pote e kurabys.. .. ....ccecese Rio Uaupés e affluentes| 4 k IH s — — Côr devioleta azu- É sd pote Sirychnos Kauichiana, RE ata mirta «|Verde escuro....|Pardo roxeado...| Ver gl ericetana e Tonantinensis, plantas,...|Rios Negro e Tonantins| 4 e o[ Lamas, carriço; Piros, Chontakiros,| Rios Maranon, Uallaga, | murukus; Yahuas, carriço ; Mayoruna,| Ucayalie Yutahy. 6 II '&( murukus; Passés, pote. Verde esmeralda É -— e verde vegetal. |Côr de telha.....| Pardo amarellado Ver HiStrychnos Urbanii e macrophylla, plantas| ..ccceccss s:ojtioiofa ato Eee es E “Konibos, Amahuakas, murukus; Tikunas,|Rios Ucayali, Negro e 3) pote; Mayorunas, carriço, Javary.. cce cec numas!) É IV Ss —. = E )Strychnos Manaoensis, gigantea, rivula- Côr de café......|Côr de telha.....|Pardo amarellado|Vei E. ria, papillosa, plantas coro... MANÃOS, ses seco cenoss dal o LA v &)Tikuna, pote; Abuta, Onomospermum, Fi) PLANEAR o ato stnelo afs alelo into alo (ata 0 010.2) ejoiaádo Rio Içã e Tonantins...| 3 |Côr de sepia ou Lol ——| pardo escuro..|Pardo escuro....|Pardo rosado ou DEAL Doo as miau miga on ou 2)] eloja nisto exconomencabicsanna) DO amarellado.....|Ver Observações Ae— As soluções foram feitas com 5 dec, de producto para 10 cent. cubicos d'agua distillada. 3B.-— A côr das reacções dadas aqui são as mais intensas, variando para mais claro, segundo a tribu. Ce— A lettra P no alto das columnas indica que as côres nellas mencionadas são dos precipitados que sempre se formam. De-— O uirary ou curare é usado sómente pelos indios do Perú, de Venezuela e da provincia do Amazonas, Os da provincia que se exqunta desta é importado daquella. O curare conhecido como sendo dos Mundurukus é dos Miranhas. Aquella tribu desconhece ste curare separa-se deste grupo por ter as reacções com o chlorureto de ouro e perchlorureto de ferro — côr de vinhe E AD O Quadro das reacç o! LI EVA TRIBUS 1º grupo Miranhas, pote; Tikunás, pote; Yuris, flecha; Omauas, pote... ..cceceneeees Mahakus, pote; Mayankongs, flecha; Ipuricotós, flecha; Uakys, cabaça; Arikunás, Makuchys, Uananás, flechas e kurabys, Tukanos, cabaça; Kubeuas, pote; Pauichianás, pote; Piarrhoas, cabaça ; Sirychnos lethalis, planta. Cauichianas, pote; Cauichianas, cabaça e flecha; Uaupé, pote e cabaça grande. Guyana, cabaça 20º grupo Katukinos, flechas; Katauichys, kurabys ; Ipurinás, kurabys........ Tikuna Mahakus, * Akangatares, Tarianás, De- ) canás, pote e kurabys.. .. ..cscceees (dp pote Strychnos Kauichiana, ericetina e Tonantinensis, plantas. ... Kamarauá Lamas, carriço; Piros, Chontakiros, murukus; Yahuas, carriço ; Mayoruna, murukus ; Passés, pote. Strychnos Urbanii e macrophylta, plantas | | o “Konibos, Amahuakas, murukus ; Tikunas, Lamisto E) pote; Mayorunas, carriço. 5) Strychnos Manaoensis, gigantea, rivula- E. ria, papillosa, plantas....ceseseremeses A S)Tikuna, pote; Abuta, Onomospermum, md) plantas...cococcrcrcccrsnsonncscanes laio [e Total. casacos svesuco na PROCEDENCI] Rios Yapurá e I Rios Parimá, 1 Uaupés, Pad Tonantins, Sol Maraviá, Sipab noco e frontei Venezuela, Ton Padauary, Uai Rio Purús Rio Uaupés e affl Rios Negro e Tor Rios Maranon, U; Ucayalie Yutal Rios Ucayali, Ne Javary..cceso Manãos Rio Içã e Tonant As— As soluções foram feitas com 5 dec. de producto B.- A côr das reacções dadas aquisão as mais intensas, Ce— A lettra P no alto das columnas i ndica que as côres D.-— O uirary ou curare é usado sómente pelos indios do jue se exporta desta é importado daquella, O curare conhecido cc * Este curare separa-se deste grupo po r ter as reacções ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 41 tomados tambem por strychnos, não sei se conscienciosamente ou por especu- lação, como acontece com o fabricado no Rio Içá, que vendem por Tikuna. Tambem se aproveita:n do vasilhame dos Tikunas ou dos Miranhas para enchel-o de materia falsificada ! Aqui dou as córes das reacções dos uicarys, com cinco reagentes, e o seu agru- pimento, deixanlo de mencionar as reacções com o iodureto de potassio, chlo- rureto de platina, bioxido de chumbo, chlorureto de baryum, sulpho-cyanureto de potassio, para não augmentar o quadro e não serem as suas reacções tão clara e distinctamente caracterisadas como as que apresento, sempre uniformes em cada grupo, variando apenas mui levemente a entonação das córes. Pelas reacções se vê, que, como provindo dos Tilunas existem dous venenos inteiramente diversos: um propriamente Peruano e outro Brasileiro. Este, pre- parado pelos Tikunas que ainda existem no Brazil, é confundido com o dos Miranhas e vae para o Perú e para as cachoeiras do Rio Branco e Guyanna In- gleza. E' o mais forte de tolos, sendo mais fraco o do Perú. As plantas com que se prepara o curare de cada grupo são differentes, entrando especies com as mesmas propriedades no fabrico. A parte empregada é sempre a casca, que: dos troncos, quer das raizes, que nas especies que conheço são sempre muito amargas. As reacções dessas especies caracterisam perfeitamente os grupos a que pertencem. A contra-prova tive nas reacções dos diversos strychnos aqui descriptos, que se filiam a diversas de grupo differente, pelo que me parece, que influencia alguma teem as plantas de outras familias, que porventura entrem na composição do uirary indigena não alterando ellas as cores das reacções, servindo talvez para modliticar, apenas, a gradação para mais claro ou mais escuro, sendo isso mesmo, creio, devido à especie que é usada, que é sempre a encontrada, como diss2, na flora do local da tribu. Em geral os indios empregam uma só Loganiacea no seu preparado, sendo raro incluirem duas, assim como em geral é tambem feito unicamente com essa só planta, entrando as vezes outras supersticiosamente, ou com o fim de activar a absorpção. A's vezes entram as Menispermaceas, pura este fim, ou por serem tidas por strychnos, pela semelhança que apresentam as folhas de algumas especies. Para mim as Menisperniaceas representim um grinde papel no veneno indi- gena, quando o querem fortalecer, isto é, quando deve servir, não só contra qua- drupedes, como contra aves. O papel das Piparaceas penso que é duplo, activa a absorpção da curarina, pela sua acção estimulante e impe le o escoamento do sangue pela ferida deixada pela frecha, coagulando a fibrina e obliterando os pequenos vasos. porque, sempre que o animal é ferido, noto que immediatamente o sangue coagula-se e a ferida fecha-se. O escoamento do sangue diminuiria a acção do veneno, e por isso o indio, coma intelligencia e dom de observação de que é dotado, ineluin no seu preparado plantas cujas propriedades conhece, que lhe dão um veneno com os predicados que deseja, que lhe facilitam a preza viva, com rapidez, si a quer para domesticar ou aprisionar, ou produz a morte, si a quer para alimento. : Vai nisso apenas a vontade, porque si quer o animal vivo, applica o antidoto, que é o chlorareto de sodio, por elle tambem preparado com diversos vegetaes, e assim obtem com facilidade os animaes, que tornam-se cherimbabos. Tanto é pela acção estimulante das Piperaceas que tornam mais violento o seu uirary, e quando este está velho, fazem um cozimento, quasi extracto, das cascas das Otonias ou Arthantes e nelle dissolvem o veneno, que recupera a sui primit- tiva força, isto é, com rapidez é absorvido e produz os seus lethaes efteitos. Por este processu tornam assim o seu veneno forte os indios Ipurinás, Katauichys, Kauichanas, Tikunas e outros. Os Lamistos peruanos, em geral, são feitos com strychnos cuja acção é seme- lhante à de algumas Menispermaceas, cujas reacções chimicas são às vezes iguaes ou muito semelhantes, pelo que teem a sua acção de entorpecimento ou cataleptisa- dora antes sobre o systema nervoso do que sobre o systema motor. O Tikuna brazileiro, pelo contrario, tendo os strychnos que o compoem muita curarina, ataca logo o systema motor, sem fizer paralysar os movimentos do co- ração, * vindo o effeito das Menispermacsas atacar o nervoso e tambem o cerebro. A acção toda da curarina tem por vehiculos os globulos singuineos que, quanto t O coração do animal que morre cararisado, ain la depois da morta e de extrahido » pulsa por algum tempo, VOL. I 6 42 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM mais redondos são, tanto mais rapidamente apresentam os efTeitos, chegando a não produzir a morte quando elles são grandes e oblongos, como acontece com certas aves, como os pombos. Dahi vem o Lamisto entorpecer, mas não matar as aves e o tikuna o fazer. Este por um lado ataca o systema motor e por outro o nervoso e nelle actua mais a acção sobre o nervoso, não tendo a curarina o poder de atacar completamente o systema. motor, por ser logo eliminado, sendo a sua acção quasi impotente nos globulos oblongos e forte nos redondos. A absorpção é mais rapida quando o curare tem a addição de certas Menisper- miaceas, porque então os principios toxicos das duas plantas actuam simultanea- mente. As Menispermiaceas teem um principio amargo toxico e sabemos pelos tra- balhos de Mr. Boulay, que certos Cocculos teem alcalis organicos crystallisaveis, entre os quaes existe à picrotoxina e a menispermina, que os professores Orfila e Goupil mostraram à evidencia que tem propriedades toxicas e se filiam ao grupo dos venenos narcoticos-acres. sendo a sua acção physiologica toda cataleptisadora, sobre o systema nervoso e tambem sobre o cerebro e coração. Os uirarys do 1º grupo que estabeleci, os Tikunas, todos são um mixto de Stry- chnos, que por si só causam a morte, com a addição de Cocculos ou Abutas ou Onomospermum, além de outras plantas, que entram mais por superstição, e os La- mistos são feitos só de strychnos, de Menispermiaceas, ou um mixto, porém cujos strychnos não são ricos de curarina ou mesmo não a teem. Como se sabe, a pedra de toque para a força do uirary são as aves ou os batra- ceos, porque si estes não foram mortos é signal que o veneno é fraco, isto é, só tem na sua composição strychnos, que não actuam sobre os globulos oblongos das aves ou é feito de strychnos cujas propriedades são semelhantes quasi à das Menispermia- ceas, São os que se consideram falsos. A'cerca da acção dos uirarys sobre os globulos sanguineos tenho um trabalho, que mais tarde publicarei, no qual minuciosamente me occupo do assumpto, mostrando que a acção do curare é toda produzida pela decomposição do sangue. A acção do Onomospermum e da Abuta tive occasião de estudar, empregando nas minhas experiencias os extractos das cascas, cujas reacções são identicas à de alguns strychnos, como as dos S. Manaoensis, papilosus, e as dos curares do Rio Içá, dos Mayurunas, de Itakoahi e do Tikuna, peruano. Empregado o curare como já tem sido por varios medicos, na Europa, princi- palmente pelos Drs. Leouville e Voisin, na sua clinica da Bicêtre, contra o tetano, com resultados vantajosos, é de meu dever apresentar estes esclarecimentos, para pôr de sobreaviso aquelles que o empregarem, por não serem a energia e as quali- dades as mesmas. Conforme a especie de curare assim será o resultado, podendo ser favoraveis em uns casos e fataes em outros. Cumpre que, obtendo-se bons resultados com um, seja este chimicamente com- parado com outro, que se queira applicar, para ver si as reacções são as mesmas, e no caso contrario ser rejeitado. A fórma da vasilha tambem não serve de guia, porque os falsificadores aproveitam-se do vasilhame verdadeiro, já servido, para o encher de substancia diversa e passal-a assim às mãos de outras tribus, das quaes o viajanto a obtem crente de que é legitima. Legitimos são comtudo os verdadeiros Tikuna, kamaraiuá, Lamisto, Tiuyakino apezar de terem propriedades diversas, porém de todos elles existem falsificações contra as quaes o medico deve estar previnido. A proposito corre-me o dever de destruir uma falsa informação, que levou o illustre Sr. Carlos Morren a dizer, nos Annalles de la Société d' Agriculture et de botanique de Gand, que o uirary da Demerara, que é o mesmo brazileiro, como ve= remos: « c'est un jus préparê avec les Catasetum, mais on ne dit pas si le suc des Orchidées y entre seul », affirmação esta que foi aceita pelo Sr. E. de Puydt, que a repete na sua obra intitulada Les Orchidees. Os Catasetuns não teem propriedade alguma toxica, e o gluten que deitam os seus grossos pseudobulbos, quando cortados, é tão innocente e util que outr'ora, e ainda hoje, no interior de algumas provincias, os sapateiros e os violeiros, ser- vem-se delle, em vez de colla, nos misteres de sua arte. As orchidéas, tão procuradas pela belleza e exquisitice de suas flores, são tão innocentes que até hoje o índio, que dá applicação medicinal a todas as plantas, ainda não descobriu nellas virtude alguma. O uirary ou curare é o extracto de um strychnos, e nada mais. Dos diferentes strychnos nasce a energia dos differentes preparados, energia não só devida à especie como ao local em que crescem ; argilloso secco, argiloso hu- ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 43 mido e silicoso humido. Pareceu-me a principio que a disposição das flores em corymbos terminaes ou axilares, a fórma das flores, principalmente das corollas, que deu logar às secções estabelecidas no generc, influissem ; mas tive occasião de verificar que isso se não dá. As plantas da secção Rouhamon, por exemplo, não dão uma só reacção ; ora dão do 2º, ora do 3º, e mesmo do 4º grupo, tudo no tempo da florescencia, devido ao local em que vegetam. As secções, pois, do genero teem especies, que, segundo a natureza do terreno, não se filiam a um só grupo. E" admiravel como, produzindo todos os uirarys os mesmos symptomas de enve- nenamento, com mais ou menos intensidade, isto é, atacando sempre, pelos globu- tos sanguineos, o systema motor, os do grupo 4º e 5º não deem as reaeções azu!- violeta que caracterisam a curarina, mas sim verdes e pardas, quando atacados pelo mesmo reagente, nas mesmas condições. As reacções côr de café, pardo es- cura, que passa ao amarello e depois ao verde indicam presença de igasurina, como a vermelha de sangue, antes de passar ao amarello côr de canario em que se trans- formam as reacções do 1º grupo com o acido sulphurico e o bichromato de potassa, parece indicar a presença de brucina ; desta vem talvez alguns curares produzirem ligeiras contracções tetanicas e vomitos. Em geral os Strychnos da secção Longiflore conteem maior quantidade de iza- zurina, do que de curarina, como os do 1º grupo conteem brucina. No 3º e 4º grupos predomina um alcaloide cuja reacção com os acidos azotico e sulphurico, com o bichromato de potassa produz immediatamente uma bella côr verde, às vezes de esmeralda, que passa depois a mais claro ou mais escuro, segundo a especie. Sendo um producto às vezes composto, é difficil no uirary indigena obterem-se puras as reacções que caracterisam os differentes alcaloides, pelo que se não póde tambem affirmar ser elle composto de uma sô especie vegetal. No do uso proprio dos Mahacus, entram duas especies, uma do 1º e outra do 3º grupo. Pelo quadro que apresento ver-se-ha que incluidos nos differentes grupos, exis- tem 44 preparados cada um com a sua reacção propria, differençando uns dos outros pela gradação da cór. Salvo influencia de outra planta, é de crer que entrem na sua, composição mais de trinta especies vegetaes, empregadas segundo o local, vindo dahi a differença de energia e o se ter vulgarisado, sem razão, haver uma especie para a caça e outra para a guerra. Todas as tribus aqui apresentadas conhecem o fallado uirary, mas servem-se tambem além do proprio, do dos Tikunas, por ser mais forte do que os que prepa- ram com as plantas que possuem. Informações a esse respeito me teem sido dadas por indios, com que tenho lidado, e que pelo seu procedimento são dignos de fé. Secretamente, à minha vista, teem elles preparado o seu veneno. e pelo seu pro- cesso o tenho fabricado com as plantas que tenho colhido. Deixo de fazer outras observações sobre o veneno produzido pelos strychnos brazileiros, porque delle largamente trato em outro trabalho em que especialmente me oceupo tambem com o seu antidoto, o chlorureto de sodium. Muito debatida foi a questão do antagonismo das substancias, quando em 1878 eu me apresentei pro- vando praticamente, em reuniões publicas, e em conferencias, que o individuo curarisado, logo que fosse tratado pelo chlorureto de sodio, escaparia da morte. Tomaram parte nella, além de varios medicos distinctos, a Escola de Medicina, a Imperial Academia de Medicina e a Sociedade Medica e como não me permitta este local tratar do assumpto, termino estas ligeiras observações com o que diz na sua Botanica geral e medica, quando trata dos strychnos, o illustrado conse- lheiro Caminhoà, testemunha ocular de muitas experiencias que fiz. Diz elle à pag. 2709: « Em nossa presença as experiencias feitas em varios porquinhos da India em casa do mesmo Sr. Barbosa Rodrigues e em presença do professor de toxico- logia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Dr, Souza Lima, os casos de cura foram admiraveis e sem excepção ! » O illustrado medico Dr. Affonso Pereira Pinheiro, tambem, na sessão publica de 1 de Setembro de 1878, presidida pelo Sr. Dr. Barão de Ibituruna, pediu que fosse inserida na acta da mesma sessão a seguinte declaração, que fez por escripto : « Tendo assistido, em Pariz, no Collegio de França, às experiencias feitas com o curare pelo Dr. Claude Bernard, e tendo ouvido dizer áquelle eximio physiolo- i que ainda não conhecia o antidoto do terrivel veneno, foi com o maior prazer e a mais profunda satisfação que assisti hoje ás experiencias feitas pelo meu intelligente conterraneo o Illm. Sr. Dr. Barbosa Rodrigues, pois vi desapparece- 14 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM rem todos os phenomenos toxicos, quando, a tempo, combatidos por meio de chlo- rureto de sodium. » Devo aqui observar que existe a crença, na Europa, de que os curares que vão do Amazonas são dos indios Mundurukus. E” inteiramente infundada. Os indios Mundurukus são habitantes do rio Tapajós, no Pará, e não usam nem nunca usaram o uirary. Não só Germain de Saint-Pierre, no seu Diccionario de botanica, como outros, o tem dito, creio que baszados em falsas informações do Pará. Outrora a Provincia do Amazonas estava unida à do Pará, e no seu mercado quasi que todos os productos indigenas que desciam do Alto Amazonas figuravam como sendo de procedencia dos Mundurukus, por constituirem estes a maior tribu do baixo Amazonas e ser a que mais serviços presta. Os unicos indios que usam o curare são do Alto Amazonas, da região que constitue desde 1852 a Provincia do Amazonas, pelo que o que tem sido usado na Europa nunca foi originario do Pará, e sim ex- portado do seu mercado, como producto commercial, importado do Alto Amazonas. Dou aqui a traducção litteral de uma lenda, complemento a este trabalho, qual os indios me referiram em tupy, denominando: O Uirary Contam que antigamente os velhos quando caçavam, viam os gaviões, antes de irem buscar as prezas, arranhar a arvore do veneno e, indo buscal-as, rapidamente as matavam. Os velhos então experimentaram : rasparam a casca da arvore e esfregaram na ponta das flechas. Depois disso rapidamente embebedavam a caça que frechavam. Disseram elles: — Será bom, talvez, fazer ferver para engrossar ; fizeram ferver e, experimentando, com mais rapidez embriagavam a preza. Fizeram depois ferver mais, coaram no turury e ficou bom para elles. Ordo ASCLEPIADACEA Lindl. sub te, ASCLEPIADEÃE «o. Tribu ANOPHOREZE Tourn. Gen. ELCOMARHIZA Barb. Rod. Calys 5— partitus, eglandolosus. Corolla urceolata, profundé fissa, intus ad basi fissura leeviter velutinis incurvis. Corona staminea inter se libera, phyllis a basi dilatatis intus bituberculosis apice incurvis, gynostemium crassé stipitatum superantia. Antherae cochleariformae lateraliter cartilaginae. Stigma convexum sub papillosum. Pollinia erecta parva basi attenuata, caudiculis graci- libus horisontalibus, retinaculis lineari-lanceolatis patentibus. Frutices scrndentes, glabrescentes ; foliis oppositis crassis ellipticis v. lanceoatis, cymis axillaribus. floribus parvis inconspicuis. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 45 Especie unica + Elcomarhiza amylacea (Barb. Rod. /. cit. n, 715), caule scandente lignoso ab initio viridi deinde fulvo glandulis sparsi, foliis oblongis v. lanceolatis acutis petiolatis carnosis ; pedunculo petiolurm duplo majore, cyma bina umbellata densiflora, pedicellis gracilibus ; calyvcis profundé fissis, sepalis lineari-lanceolatis acutis; corollae carna tubo lobis minore, lobis lato ellipticis emarginatis concavis erectis incurvis: coronae phyllis carnosis ; antheris dorso carnoso supra stigma inflexis polliniis erectis parallelis, Tabula nostra VT. Frutex volubilis. Ramuli virides. Folia 0,»:10—0,"14xX0,"35—1m055. lg. inferiora majora, petiolo 0,"015 — 0,"25 lg. supra plano subtus subrotundo. F/ores 7—9 contemporanei. Pedicelli cylin- dracei 0,"010—0,"012 le. incurvi. Calycis lobis 0,002x0."001 lg. Corolla tubo 0,»002 lg., lobis 0,72003xX0,7003 Ig. Foliculi mihi ignoti. HAB. in Rio Negro, «d igarapê Tarumã uaçu. Indit vocant Kumakaã, v. Cumacaã. Flor. Apr. Obs.-—Entre as plantas communs do valle amazonico, pelo seu emprego na medicina caseira e como amavio, figura em logar distincto a de que me occupo, conhecida, não só na Provincia do Pará como na do Amazonas, pelo nome indigena de Kumakã, Kumakai ou Cumacã. Toda a planta é leitosa, e das raizes tuberculosas se extrahe uma linda fecula, empregada vantajosamente, tal qual se obtem, no curativo de ulceras e feridas, E' muito preconisada contra: o pterigio, engrossamento da conjunetiva, ordina- riamente no canto interno do olho, pelo que ultimamente o distincto pharmaceutico o Sr. Abel de Araujo preparou a Cumacaina, que emprega com vantagens nessa afiecção. Em pequenos vidros, bem acondicionadas em uma elegante caixinha, é vendido o medicamento pelo mesmo pharmaceutico, na sua pharmacia à Rua de S. Matheus n. 14, na cidade de Belém do Grão Pará. Os resultados obtidos são magnificos, pelo que o seu emprego é aconselhado pelos melhores medicos. Se poreste lado é procurada, muito mais o é pela gente supersticiosa, que acredita que toda a planta tem virtudes sobrenaturaes : assim o juiz que assignar uma sentença com tinta que tiver em dissolução a fecula do Kumacaá, nunca a dará contraria ao rêo : aquelle que pelo coração quizer ter preso outro, ou receber sem negativa, um favor escreverá com a mesma tinta; a mulher ou homem cuja roupa for gommada com o mesma fecula, tornar-se-ha constante o extremoso amante ; as moças que entre os cabellos esconderem uma folha da planta, terão o poder de se mostrar sempre lindas,embora sejam feias, e assim muitas outras crenças que tornam notavel e paeutao a planta, não fallando ainda na virtude que tem o leite para curar beiides. Desde 1872 conhecia a planta, sem a poder classificar, por me faltarem para isso os orgãos reproductores, que nunca, por mais esforços que fizesse, pude vêr; entre- tanto em fins de novembro de 1884, tivea felicidade de encontrar florido um bello exemplar que forneceu-me os elementos de que resultou a presente noticia. Procu- rando os generos conhecidos, pelos trabalhos de De Candolle, Robert Brown, Endlicher, Decaisne, Walpers, Bentham e Hooker, o que pudesse caracterisar a planta em questão, com nenhum delles pude identifical-a, e, posto que possa estar em algum trabalho mais moderno, comtudo não trepido consideral-a como especie typica de um novo genero. 46 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM A ordem das Asclepiadaceas de Lindley, outrora incluida entre as Apocinaceas, esteve dividida em 5 tribus, por todos que della se oceuparam, porém os sabios Bentham e Hooker, em 1876, nos seus Genera Plantarum, tantas vezes por mim citado, accrescentaram mais duas: a das Marsdenieas e a das Ceropegieas, estando pois a especie de que trato naquella tribu ou na das Gonolobeas de R. Brown. E” uma linda trepadeira cujas flóres não aromaticas, tornam-se notaveis, não pelo seu tamanho e brilho, pois que são pequenas, de uma cór de carne arroxada, mas pelo seu agrupamento sempre em duas umbellas formando um cymos corpioide, tendo cada umbella, invariavelmente, 7 a 9 flóres. O nome generico que proponho, Elcomarhiza, é derivado de Elcoma, a ulcera, a ferida, e rhizos a raiz, por serem empregadas as raizes medicinalmente contra as chagas, ulceras e outras feridas de mão caracter. Estavam estas notas escriptas quando me veio às mãos a monographia do Dr. Eugenio Fournier, publicada em 1855 na Flora Brasiliensis, que veio confirmar ter eu razão, quando, como genero novo, considerava o Kumakaá. O Dr. Fournier inclue todas as especies brazileiras na sub ordem das Asclepiadeas verdadeiras e divide-a em tribus com oito subtribus, caracterisando aquellas —as pollinias em relação aos estigmas. Divide em Catophoreas, ou as que tem as pollinias pendentes sob o estigma; em Hypophoreas, as de pollinias e caudiculas horisontaes em roda do stigma, e, em Anophoreas, as que teem as pollinias erectas, com as caudiculas sobre os estigmas, A esta ultima pertence, portanto, a especie que descrevi, não sendo ella nenhuma das descriptas nos seis generos que compõem a tribu, incluindo mesmo os novos por elle creados. ordo BIGNONIACE ZE nar. Tribu BIGNO NIEAE Bojer. Gen. LEUCOCALANTHA Barb. Rod. Calyx cupuliformis, truncatus, leviter dentatus, scissus, glandul adspersus. Corolle tubus gracilis, teres, elongatus, extus ad apicem glandulosus, limbo 5— partito, lobis subzequalibus, ellipticis, obtusis, anteriore majore, corrugato. Stamina 4, inclusa, fertilia didynama, quinto sterili, ad medium tubo inserta; filamenta basi nuda; antheroe loculis divaricatis. Discus carnosus, subrotundus, gynobasicus, glaberrimus. Ovarium cylindricum, pilosum. Stylus cylindraceus, filiformis, pilosus. Stigma billamellatum, lobis dilalatis obtusis intra papillosis. Capsula siliqueformis, acuta, com= pressa, linearis, elongata, levis, glandulosa, septo valvis parallelo. Semina plana, transversa, utrinque alata; alis sobrotundis, translucidis, a latere seminis productis; hylus prominens, brevis, pa nd Embryo complanatus; cotyledones basi et apice cordate . Frutices scandentes. Rami teretes ad nodos glandulosi. Folia opposita, bifoliata, cum cirrho simplici intermedio. Foliola ellíptica, margine integra, venis subtus prominentes. Inflorescentia terminalis in racemis multiftóridus ; floribus caducis, albis. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 47 Especie unica Leucocalantha aromatica (Barb. Rod. |. cit. n. 633), ramis teretibus ad nodos glandule utrinque numerosissimis tectis, levis cylindraceis violaceis ; foliolis ellipticis v. oblongo-lanceolatis obtuse acutis nitentibus petiolatis; racemis foliis majoribus mul- tifloribus, bi-trifloribus oppositis ; corolla intus minutê velutina. Tabula nostra VII. Rami flexuosi, supra arbores scandenti, adulti nodosi, longitudinaliter argutê striati, grisei. Folia coriacea penninervia, nervis secun- dariis ex utroquê latere nervi medii 5—6, expansa, 0,090 — 0,m110 x 0,"050 — 0,m055 lg; petiolus cylindraceus, 0,702 — 0,"03 lg; petiolus divaricatus, cylindraceus, 0,m012 — 0,015 le. Cali O,M01O— 0,m015 x 0,7005 — 0,006 lg. Corolla O,"10 lg., lobis 0,m025 — 0,2030 X 0,"012 — 0,7025, tubo 0,»007 x. 0,m004 lg. Stamen in medio corollae insertum, 0,023 — 0,2030 lg., sterile subulatum, brevissimum. Anthere apice in con- necetivum elongate subtriangulatum recurvum. Capsula 0,60 — 0,80 x 0,"02 lg., mucronata. Semina O,M014xX 0,m024, ala flavescentia, membranacea, 0,”008 lg. apice subrotunda, integra. HAB. in capoeiras prope Manãos, in Rio Negro, Prov. Amazonas. Flor Jul. Obs.— Entre as plantas que cobrem as margens do Rio Amazonas, as que mais o enfeitam, dando-lhe às vezes aspecto phantastico, são as Bignoniaceas, que trepando pelos madeiros seccos, cobrindo a copa das arvores, ou cahindo sobre as ribanceiras, formam columnatas, arcos, ogivas, caramanchões de for- mas caprichosas, tudo esmaltado de flóres brancas, amarellas e carmezins que embalsamam a sombra que produzem. Para essa construceção exquisita, tecem as especies com seus imnumeros cipôs a entrada das florestas, em que não penetra o homem sinão à mão armada, para destruir a rede immensa que se forma. São essas as gigantes da familia, porque outras não dotadas pela natureza de grande desenvolvimento, apparecem pelas culturas abandonadas e pelas capoeiras que depois se formam. As especies, de que me occupo aqui, pertencem à duas divisões: uma é das florestas das barrancas do Rio Negro e outras das capoeiras do interior de suas margens. À primeira é, para mim, um genero novo, que se distingue de todos os que até hoje conheço. As flores que pelo comprimento e forma do tubo e do limbo à primeira vista se parecem com as de algumas Ana e Rubiaceas, apenas pelo tubo se approximam entre os Bignoniaceas, do Millingtonia do Linneo filho. Não é comtudo so esse caracteristico que se nota ; outros muitos, como veremos, se apresentam, que, me levam a considerar a especie como typo de um novo genero. As Bignoniaceas que Linneo e Adanson incluiram na sua ordem das Personate, só em 1789 teve os generos, que andavam diversamente distribuidos, reunidos em um centro, que constituiu a ordem das Bignoniaceas estabelecida por Lou- renço de Jussieu, porém cujos limites não foram definidos. Coube essa gloria em 1810 ao illustre Robert Brown, secundado em 1830 pelo Dr. John Lindley. 48 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Em 1837 Jorge Don, na Inglaterra, e W. Bojer, n7 França, quasi ao mesmo tempo, sem que um tivesse conhecimento dos trabalhos de ontro, fizeram appa- recer seus estudos, com pontos de contacto, ambos modificando as classilicações anteriores. N'esse mesmo tempo trabalhava tambem Endlicher, e só em 1840 apresentou a sia nova classificação, que foi em 18145 seguida d'outra de De Candolle, que resumia tudo quando até então se sabia, comprehendendo mesmo os estudos de Barttling, Kunth, Fenzal e Reichenbach. De 1850 a 1852, M. Brogniart, John Miers e Seemann, publicaram diversos estudos, porém, a ulti- ma monographia foia que em 1864 publicou o Dr. Eduardo Burean. De então para cà um ou outro artigo do mesmo Bureau, a deseripção de uma ou outra especie tem apparecido, porém nenhuma monographia moderna existe que me conste. O trabalho mais moderno data de 1876 ; é o de Benthan e Hooker, incluido nos seus Genera Plantarum. As especies brazileiras que existem foram colhidas pelos botanicos viajantes Martius, St. Hilaire, Weddell e Spruce, e tolas essas estão deseriptas. Modernamente muito se devem ter augmentado os herbarios europeus, não só pelas especies que possam ter ilo desgarradas em algum hervario, como pelas colleeções que enviaram o pharmaceutico Corrêér de Mello * (especies de São Paulo) e o meu finado amigo Dr. André Regnell? (especies de Minas) que tan- tos e tão valiosos serviços prestaram à seianeia sobre a flóra do Sul. Grandes con- tribuições houve, devidas ao zelo desses benemeritos, porém da flóra do Norte não me consta que houvesse um só. Baseado nos trabalhos que existem até 1883, époza em que Hooker publicou o seu Addenda ao Genera Plantarum, aqui don como novas as especies acima descriptas, passando a fazer sobr: ellus algumas consi- (lerações. O genero Leucocalantha é notavel por affastar-se da regra quasi geral; todo o tubo é completamente glabro internamente, mesmo na base «los estames e sua inserção, o que ainda se não notou, que me conste, emquanto que externamente é todo pubescente. Em geral é na face inferior das folhas junto às proximidades da nervura méria, sobre o calice, e poucas vezes sobre a haste, hracteas, corolla, ovario e fructo, que se apresentam as glandulas, porém no genero aqui descripto é na parte interna do peciolo primario que ellas se agrupam, e na parte externa da corolla, isto é, no apice do tubo e na base das divisões da corolla, formando dous grupos parallelos, aos lados do feixe vascular central, ! Joaquim Corrêa de Mello, que especialmente se occupon das Bignoniareas, nasceu em S. Paulo em 10 de abril de 1316. Era filho do capitão Fortunato Corrêa dz Mello, brazileiro adoptivo. Recebeu o diploma de pharmaceutico em 1836, e morren em 21 de setembr» de 1876. lira membro da Real Sociedade Botanica de Edimburgo e da British Pharmacentical Conference de Londres. Pelos seus trabalhos obteve duas medalhas de prata, uma do Jardim de S. Petersburgo e outra da Sociedade d'Horticultura de Franca. 2 O Dr. André Frederico Regnell, medico notavele botanico distinetissimo, a quem as provincias de S. Paulo e Minas Geraes devem o descobrimento de centenas de especies da sua flóra. era natural da Suecia, donde veio para o Brazil em 1843, em proenra de um clima saudavel que lhe désse a vida, que um” tuberculose rebelde ia minando. Pobre, para ter meios de viver, chegando ao Rio de Janeiro, para clinicar, defendeu these em latim, na Escola de Medicina, e tão brilhante foi a sua defeza que se lhe offereceu depois uma das cadeiras da mesma escola. Não convindo à sna saúde a demora no Rio de Janeiro, a ex- pensas do Consul sueco, em 3, Paulo, o Dr. Westin, partiu para a4i e depois para Caldas, em Minas Geraes, fixando nessa cidade sua residencia. Fallecen em 12 de setembro de 1834, na idade de 82 annos. Para chezar a essa idade passou as maiores priva ões, vivendo sempre em rigorosa (lieta, não bebendo sinão agua morna, Estudou os meios de conservar uma tem- peratura uniforme no corpo, embora o frio fosse intenso ou o calor abrazador, por meio de roupas de linho. algodão ou lã, e de ventiladores na casa. Comsigo sempre trazia um thermo- metro e um barometro, que constantements observava, obrigando-o a vestir-se ou despir-se, ea abrivou fechar as junellas e ventiladores, etc. Seria longo biographar aqui a sua vida passada obscuramente ao serviço do Br-zil. Como medico deixon um vacno, e como botanico descobriu centenas de plantas das quaos a maior part: perpetuam o sem nome, home- nagem que lhe foi prestada por varios sabios seus amigos e monographos distinetos. Nos herbarios das Universidades de Stockolmo e de Upsala estão as suas plantas, Como medico grangeou uma immensa fortuna, que em parte empregou em beneficio da seiencia e do Brazil. A expensas suas fundou uma Universidade em Upsala. que tem o nome de IRregnellia, tendo um fundo de 20):0)05 para à custa dos juros virem botanicos suecos ex- plorar o Brazil. A" custa desse peculio ja vieram ao Brazil os Des. Hjalmar Mosen e Sa- lomon Henchen, Cumpro aqui um dever de confrade e de amigo, patenteando, posto que ligeiramente, os serviços que ao Brazil prestou esse modesto benemerito da humani- dade e da sciencia, ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 49 O tulo é extremamente longo e perfeitamente cylindrico, até a divisão do limbo onde apenas se alarga um ponco, occultando completamente os estames. As antheras uniloculares tem a sua dehiscencia antes da anthese da fiór e deixam cahir pelo tubo o pollen, cuja fôrma aqui represento. As flóres são aromaticas e de um branco de leite. Apezar da inflorescencia ser em panicula, apenas desabrocham uma ou duas flôres pela madrugada, não se conservando mais do que 6 horas. As corollas são extraordinariamente caducas. O nome scientifico que proponho é derivado de leucos, branca, calos, bella, e anthos, flór. Ger, OSMHYDROPHORA Barb. Rod. Calys tubulosus, anticé glandulosus, brevissime bidentatus, lateraliter pauci fissus. Corollae tubus longissimus, cylindraceus, arcuatus, apice in fauce paulo ampliatus; limbus 2— labiatus, labio postico majore breviter bilobo antico trilobo. Stamina. 4 didynama, fila- mentis contortis glabris, infra medium tubum aflixa, exserta ; stamen quintum sterile hamiforme , antherse, loculis oblongis linearibusve divaricatis. Discus carnosus, crassus. Ovarium sessile; ovula in quaque placenta 2 — seriata. Stylus filiformis, glaber, exsertus; stigma bilamellatum. Capsula ignota. Frutices alte scandentes, glabri. Folia opposita, bifoliata v. sepius folioli terminali in cirrhum simplicem mutato, foliolis petiolw- tatis integerrimis. Flores magni, albi, specrosi, ad apicis ramorum racemosti. Obs. — Entre as Bignoniaceas Amazonenses destaca-se, pelo tamanho e pela fórma da flór, esta de que me occupo, que me parece pertencer a um ge- nero inteiramente novo, pelo caracteres que a separam de todos os que são conhecidos. As flóres são munidas de um longo tubo, tres vezes maior do que os lobulos da corolla, tendo de notavel uma circumstancia que a allasta do geral de todas as Bignoniaceas. As flóres desta familia, quer aquellas cujas corollas são campa- nuladas, quer as que são munidas de um tubo, sempre os lobnlos que formam o labio posterior são menores do que os do anterior ; entretanto nas flóres desta es- pecie o labio é muito mais longo. Entre os generos de corolla. unida de tubo cy- lindrico e longo, mencionados não só por De Candolle, Bureau, Benthan e Hooker com nenhum se identifica, pelo que propenho para o genero, da especie que ca- racterisei, o nome de Osmhydrophora, de Osmi, cheiro, aroma, lydro, agua, e phorus, trazer, allusão ao liquido que sahe dos caules quando cortados, cujo aroma se assemelha muito ao das amendoas amargas. Osmbydrophora nocturna (Barb. Rod. /. cit. n. 38), ramis teretibus ad nodos eglandulosis levis cylindraceis viridis : foliis bifoliatis cum cirrho intermedio foliolis triplinerviis ellipticis acutis supra nitentibus petiolulatis; racemis terminalibus. Tabula nostra VIII e IX. Alte scandens. Raimi flexuosi, virenti, adulti fuscescenti, longitudinaliter striati. Folia bifoliata cum cirrho simplici sepe caduco : petiolus 0,204—0,=06 lg ., cylindricus ; petiolulwus 0,"05—0,"06 lg., fo- liola elliptica, acuta, basi subrotundo-retusa, triplinervia, nervsi VOL. 1 7 oO ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM secundariis penninerviis, subtus prominentibus. Inflorescentia laxa, pauciflora, terminalis, 5—10—florae, Flos 0,º11--0,"]4 le, Calyso 0,»01 lg. Corolla alba; lobis patentibus, subovatis, ob- tusis prope basin glandulosis. Stamina O",10 lg. infra medium tubum inserta ; sterile minutissimum: antherae lobulis Janceo- latis, acutis, divaricatis. Discus subannuliformis, minimus. Ova- rum longe, conicum, lateraliter subsulcatum. Ovula in utroque loculo biseriata. Stylus filiformis. Myruclus ignotus. HAB. in silvis primevis ad Rio Purus et in locis arvensis ad Manãos Prov. Amaz. Flor. Febr. Obs.— De longa data conheço esta planta, erpregada pelos mituraes, como parte componente dos vegetaes que entram nos perfumes que fazem os tapuyos para aromatisar os banhos, e os pós que preparam para a roupa. As flôres, e principal- mente os cipós, teem um aroma forte e muito semelhante ao das amendoas amargas exudando os caules um liquido alvo e transparente, com o mesmo cheiro, que tambem é empregado para aromatisar os cabellos. Vulgarmente é no Amazonas conhecida, esta planta por Korimbô da matta, que se não deve confundir com o korimbó uaçu, do Pará, conheciko ahi tambem por Canella de yakamim, que é uma Piperacea do genero Arthante, nem tão pouco com o cipó Korimboô, ou Cipó payo que é uma Ipomoea, cujas folhas tem o mesmo aroma do da seiva da especie de que me oceupo. Cresce extra- ordinariamente esta planta, chegando a cobrir litteralmente grandes arvores, que desapparecem sob as suas folhas, e torna completamente fechado o espaço. E" uma das plantas que Linneo denominou nocturnas, pela circumstancia das flores desabro- charxem só à noite. Esta circumstancia levou-me a não poder classificar esta especie por espaço de tres annos, apezar do maior cuidado que tinha em visitar sempre um magnifico pê existente em Manãos, no sitio Cachangá. As corollas das flóres são extremamente caducas, abrem à noite e logo depois de raiar o dia despegam-se e cahem, ficando occultas entre a densa folhagem, apparecendo uma ou outra por terra sempre roida pelos insectos, que se apossam logo dellas, atrahidos pelo aroma. Da além disso muito poucas flóres, que nos racemos se abrem umas após outras. São de um branco puro, na anthese ; porém logo que estão para cahir tomam uma côr levemente amarelada ou de marfim velho. Mui raro é encontrarem-se glandulas nas corollas das flóres desta familia, quando entretanto, é vulgar vél-o sobre o calyce ; apezar disso a especie que aqui descrevo, como a Leucocalantha aromatica de que já me oceupei, torna-se notavel pela sua presença. Pouco acima da abertura dos lobulos do labio interior, desta especie, cada, um destes tem dous grupos alongados de glandulas do lado externo, que terminam os quatro feixes de vasos que percorrem o parenchyma de todo o tubo da corolla. Os lobulos do labio posterior tem a fenda que os divide só até ao meio do compri- mento das dos outros ; por essa razão os grupos de glandulas são abaixo da abertura no mesmo cyclo dos outros. Semelhantes a estes grupos são tambem os quatro que ornam a parte anterior do calyces Gen, TYNANTHUS Miers. Syn. SCHISOPSIS Bureau. Tynanthus igneus (Barb. Rod. loc. cit. n. 662) foliolis cimereis velutinis elipticis; inflorescontia longé paniculata, axibus pubes- centibus ; calyce cylindraceo v. obconico quinque dentato, dentibus excurrentibus velutino ; tubus corniculatus extus velutinus : petalis lineari-lanceolatis acutissimis, utrinque velutinis. ECLOGAE PLANTARUM NOVERUM 51 Tabula nostra X. Rami teretes. Folia 3— foliata v. cum cirrho intermedio foliolis longiore;; petiol: petiolulique laterales pubescenti, cylindracei; foliola elli- ptica, acuta, basi subrotunda, penninervia, nervis secundariis obliquis cum costa subtus prominentibus, utrinque griseo velutina tardé glabescentia ; cirrhus filiformis, apice uncinatis ad basi griseo velutinis, lignosus. Inflorescentia terminalis et axillaris, laxa, paniculata, folio plerumque multo longiores, axibus gracilibus griseo velutinis, secundariis angulo recto patentibus v. divaricatus. Cala 0,"006—0,"007 Ig. Corolla ignea, extus velutina, labii inferioris lobi lineari-lanceolati, acutissimi, recurvi, lobis supe- rioribus ad basin connatis, erectis, apice recurvis; tubus intus infraque staminum insertionem pubescens. Stamina 0,012 a basi corolla inserta, fertilium filamenta pauló arcuata glabra; anthera loculis oblongis, divaricatis. Ovariwm cylindraceum, basi incras- satum, glabrum ; stylus glabrus ; stigm4 lamellis lanceolatis, acutis. Fructus siliqueeformis, glabris, nitentibus, 0,700x0,7015 lg. HAB. inlocis arvensis ad ripas Rio Negro prope Manãos, prov. Amasz. Flor. Aug. Sept. Obs.— O genero Tynanthus foi estabelecido em 1863 por Miers, em uma memoria, hoje rara, que publicou nos Proceedings of the Royal Horticulture Society of London !, tratando das plantas encontradas por M. Weir. Mais tarde, em 1865, Eduardo Bureau, no quinto volume da Adansonia, não tendo conhecimento dos trabalhos do botanico inglez, estabeleceu o genero Schisopsis, no qual reuniu sete especies, que descreveu. Avisado por um artigo de Seeman, publicado no Journal of Botany, tendo conhecimento da memoria de Miers, foi o primeiro a respeitar o seu trabalho e no volums 8º da Adansonia, de 1868, à pags. 273, passou todas as especies do seu Schisopsis para o Tynanthus, conservando os mesmos nomes especificos que o primeiro havia dado. Até 1876, época em que Hooker publicou a parte dos seus Genera, que comprehende os desta ordem, sómente as mesmas sete especies eram conhecidas, porém como desta data ao presente tenham decorrido dez annos, é provavel que o seu numero se tenha augmentado, porém, como esteja eu no caso do Professor Bureau, isto é, não conhecendo trabalho algum que noticie novas especies, arrisco-me a dar a presente como nova quando possa ser já conhecida. Em todo o caso nunca será trabalho perdido, porque com isso aproveitara a parte geographica da botanica. A inflorescencia fórma grandes paniculas, desabrochando, entretanto 2—4 flóres apenas, de um bello amarello gemma d'ovo, ou côr de fogo. As corollas são muito caducas e não duram mais de 12 horas, e com o mais leve movimento na planta ellas se despegam. Não são aromaticas, mas pela côr e numero das flóres e do acinzentado das folhas, tornam se muito recommendaveis, como plantas orna- mentaes, para grades, caramanchões e alpendres de jardins. Gen. BIGNONIA Linn. 1. Bignonia platidactyla (Darb. Rod loc. ci! n. 670) scandens, glabra, foliis 3—foliolatis v. 2—foliolatis cirrhosis ; cirrho di- viso apice divisionis glanduligero ; foliolis ellipticis-subcordatis subtus velutinis marginibus laevibus v. laté-serratis ; racemis + Ju. n. V. 1853, pag. 179, Da ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM vexillaris multifloris,calyce longo longe-obconico obtuse-tridentato tubo corollae longitudine demidio minore posticê carinato, Tabula nostra XT. Arbuscula scandens ramosa. Rami tenui rufescenti, glabri, juniores cum petiolis petiolulis leviter pubescentibus. Folia alia trifoliata, alia bifoliata chirrifera, cirro diviso cum glandulis qui ab arboribus adheerescunt. Petiolo subcylindrico, velutino, O,"0151g.: petiolulus lateralibus cylindraceus velutinis, 0,"020—0,7025 lg., medius minore, in cirrho hbi-trichotomo divisus, foliolis minore. Foliola acuta v. acuminata utrinque velutina, 0,7050—0,"070x0,"045 —0."040 lg. Racemo axillari, laxo, 14—16 florae, folio majore. Flos 0,"00—0."11 lg. Calyy membranaceus, Ieviter velutinus, 0,"035—0,”045 lg. et 0,m01l in diam. Corolla longe infundibu- liformis, tubo ad medium cylindrico a basi dilatato, superne campa- nulato compressso antice extus longitudinaliter bi-sulcata, intus ima stamina pilosa, lobis magnis, subrenifsrmis, interdum emargi- natis convexis, recurvis, subcrispifoliatis. Stamnina infra medio tubo inserta ; fertilium filamenta arcuata, a basi complanata, con- torta, glabra; sterile breve, filiforme, apice plus minus dilatato. Discus carnosus, anuliformis. Ovariwm cylindraceum, arcuatum plosum. Ovula in utroque loculo +—seriata. Stylus erectus, gla- ber. Stigma rhomboidale, angulis lateralibus obtusis, superiore acuto, lamellis intus pubescentibus. Wructus 0,M60x0,0"12 Jg. siliqueeformis, complanatus, novellis laeviter pubescentibus, basi acutis, apice acutis; valvae dorso norvo medio angusto prominenti percurso. Semina 0,"009x0,"006:; ala tenuissima, albescenti, pellucida, obtusa. HAB. in locis arvensis prope Manãos,olim Barra do Rio Negro, in Prop, Amaz. Flor. in mense quintili. Obs.—Entre as numerosas especies de diferentes generos, que representam a familia das Bignoniaceas, no Amazonas, distingue-se a que acima deserevo, propria dos logares cultivados e que em geral orna as cercas de madeira e as arvo- res seccas, E” muito notavel esta especie, não por suas bellas flóres amarellas lavadas de carmim, na parte interna do tubo, mas pela singularidade de transformar-se o fy- liolo central, dos tres que compõe cada folha,não em cirrho ou gavinha, como se dá commummente, ou em garras ou unhas, como acontece na Bignonia unguis, Linn., pelo que tem esta no Sul o nome Unhas de gato (1), mas por se dividir em tres ramos que terminam, quando novos, em uma pequena glandula, que se agarra como uma ventosa e que à medida que a planta cresce e vigora vae-se estendendo circularmente sobre a madeira a que se apega, donde não é possivel destacar se sem rebentar os ramos. Estes ramos, mvitas vezes, ainda se subdividem, irregulirmente em dous ou tres ramusculos, todos tambem munidos de glandulas, que igualmente crescem e se alargam até um diametro, que nunca excede de um centimetro. O Dr. Ednardo Bureau, na sua magistral Monographia das Bigroniaceas, estudan- do organographicamente as especies e tratando largamente das folhas, apresenta todas as suas transformações, mas não trata desta, qua me prrece ser inteiramente desconhecida à sciencia; pelo menos não tive ainda oceasião de ver tratada essa molificação das folhas em compendio on tratado algum de botaniea, e o facto não é tão somenos para se passar por elle despercebido. As folhas são trifoliadas, porém geralmente se alternam a ser um grupo trifoliado e outro cujo foliolo central se transfbrma em cirrho glanduloso, ficando assim um grupo bifoliado e outro trifoliado. r Ro] ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 55 Por essa disposição a planta sobe sempre em linha recta até onde chega o seu apoio, começando dahi a curvar-se sob o proprio peso, a se esgalhir e a se apegar sobre si mesma, formando lindos festões. Logo que deixa de ter um ponto solido onde as glandulas se azarrem, o ramo desta se alonga e forma uma gavinha commum, em espiral, para alcançar um ponto de apoio e logo que este encontre peli glandula que leva sempre na ponta, se fixa e segura o vegetal, que assim vae se sustentando. Não é planta que cresça ou se alongue como muitas de suas congeneres ; em geral não cobre um espaço maior de 6 metros, que se veste de ramos de flores de um amarello cór de enxofre, com inflorescencia indefinida. As placas que formam as glandulas até certo tempo são sempre verdes, porem depuis seccam continuando os seus ramos verdes. para mais tarde, na parte mais antiga, tambem seccar. Essas placas como que nos lembram os dedos das osgas (geckos) como as unhas da B. un- quis nos lembram as unhas dos gatos. Pelo seu porte, suas folhas e suas flores, é uma planta que muito se recommenda aos floricultores. 2 B. vespertilia (Barb. Rod. loc. cit.n. 192 ) scandens, caule ramoso glabro, foliis conjugatis, petiolo in cirrhum trifido-uncina- tum rigidulé incurvum brevem producto, petiolulis petiolo demidio brevioribus, foliolis primo ovatis acutissimis post plantã adultã lanceolatis obtusis reticulato-nervosis, racemis axillaribus v. ter- minalibus multifloribus nutantibus, calyce laxê campanulato trun- cato crispifoliato anterioriter ad basin triglanduloso, capsulà lineari longissimã lineari longissimã com pressã utrinque longitudinaliter angulosà obtusã. Trbula nostra XIT, F'rute. altissimê scandens. Wo!ia ramorum pluriflorum bifoliata,cirrhosa, chirris trifidis, uncinatis. Petioli O,"015 lg. petiolique, medius 0,7003, laterales0,"01,cylindracei,incurvi. MoliolaO," t5>(0,"027, post. 0,7084>x0,"830. Caliso 0,01 alt. Corolla flava, infundibu- liformis ; lobis subrotundis, repandis, ad marginibus crispifoliatis ; tubo utrinque glabro, rectiusculo, depresso, ad faucem bisulcato, ad basin attenuato, infra insertionem staminum pilis brevissimi puberulo hinc subgloboso-dilatato, 0,"03 lg. Stamen sterile ondu- latum, 0,01 Ig. Staminum fertilium filamenta cylindracea, gla- bra. Anthere loculis linearibus. Discus carnosus, annuliformis. Ovariwm compressum, bisulcatum, glabrum ; Ovula in utroque loculo £—seriata. Stylus cylindricus, glabrus. Sigma lamellis rhomboidalibus, glabris. Fructus 0,"5-—0,"5>(0,2013—0,014 lg., justa complanata, 0,"002x0,"044 lg. in alam pellucidam obtusam utrinque producia. HAB. in sifvis Rio Negro, prope Moura. Incolis vocatur Andirá poam- pé v. Unhas de morcego. Flor Octobri. Obs.—Vulgar e muito conhecida, é principalmente no Sul do Imperio, a Bigno- nia unguis L. que pela conformação dos cirrhos o povo denominou Unha de guto, po- rém,comquanto essa especie tenha uma área geographica bastante extensa, comtudo não é a especie de que trato, que. como ella tem tambem o foliolo medio transfor- mado em cirrho truncado, donde lhe veio o nome dado, com mais propriedade, pe- los tapuyos, o de Andirá-poampé ou Unhas de morcego. ; j É Pelas fórmas das folhas, do calyce, do tubo da corolla, do do disco, pela inserção das flores, pela inflorescencia e pelas fórmas e tamanho dos fructos afasta-se esti especie da de Linneo ; e m:smo cosas variedules gracilis e radicans não se iden- tifica. 4 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM No Rio Yauapery, quando pacificava os selvagens Krichanás, encontrei uma outra especie, infelizmente sem flores, que pelas folhas tambem dellas se affasta. A de que trato encontra-se no Rio Negro e facil é vel-a pelos seus grandes cachos de flores côr de ouro, que depois enfeita-se de innumeros longos fructos, que ficam pendentes. Posto que os cirrhos sejam trifidos o não quinquifidos, comtudo lembram muito os dedos dos morcegos, pelo que, a exemplo do vulgo, denominei-a vespertilia, O PHYCOSTEMA oU O DISCO DAS BIGNONIACHEAS Estampas XIV e XV Durante o mez de março as capoeiras dos arredores da cidade de Ma- nãos cobrem-se de flores de uma trepadeira, descripta por De Candolle, a Lundia densiflora, que apresenta no colorido e na consistencia da corolla de suas flores duas variedades, as quaes derramam na atmosphera um aroma mellifluo e suave que a embalsama. Uma apresenta a corolla com- pletamente branca, outra côr de camurça ou de marfim velho, com o tubo pela parte externa e a fauce de um amarello gemma d'ovo ; aquella tem as flores maiores e menos consistentes. Ambas as variedades desta especie forneceram-me factos, que reprodu- zidos, chamaram a minha attenção e levaram-me a observal-os cuidado- samente. Elles vieram-me confirmar o juizo que por observação propria eu formava, acerca dos discos, considerando-os verdadeiros phycostemas. Apresento aqui o desenho ( Est. XIV ) detalhado de uma das varie- dades da Lundia desinflora, a de tubo amarello, assim como seis exemplos ( Est. XV) de flores anormaes que vão de encontro ao typo normal e que apparecem principalmente, quando cresce a planta em logares em que a terra contêm muito humus. Ha occasiões, que as suas paniculas apresen- tam essas anomalias ou monstruosidades em todas as suas numerosas flo- res. Essas monstruosidades, estudadas convenceram-me de que o disco é um verdadeiro verticilio de orgãos, em que os estames predominam, po- dendo só elles formarem-n'o. Além do que expendi sobre o assumpto, quando me occupei da Salacia polyanthomaniaca, neste mesmo traba- lho, passo a fazer um ligeiro historico sobre o disco, para que melhor comprehendam o assumpto, aquelles que não são versados na sciencia de Linneo. Quando dessa Proteacea tratei, disse, baseado no estudo que sobre o vivo fiz, que, para mim. o disco não era mais do que um vertici- lio de estames disfarçados, opinião que aqui agora confirmo, apresentando as provas em que para isso me baseio, = ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM ) Não sou o primeiro a descobrir isso, mas presumo que o estudo que agora faço vem confirmar a opinião de Robert Brown, que não foi acceita ; e mostrar que em erro andaram todos, quando só elle tinha descoberto a verdade, que perfeitamente occulta e mascarada anda, mas que, por uma traição da natureza se mostra. As anomalias e monstruosidades, para um espirito observador, são fachos de luz que esclarecem muitos factos não só da organização essencial e fundamental de certas partes dos vegetaes, como diz Brogniart, como sobre a structura particular de alguns grupos de plantas, mostrando a verdadeira natureza de certos orgãos, suas relações, e a analogia que ha entre elles, a patentear as diversas partes que os con- stituem. O nome disco, que a maioria dos botanicos classicos toma por necta- rtos, o sarcoma de Link, foi dado em 1763 por Adamson, considerando-o uma especie de receptaculo dependente do eixo. Quasi da mesma opinião foram De Candolle, Schleiden, Decaisne. Le Maut, Schacht e outros. Payer, por exemplo, diz. que a reunião dos nectarios fôrma o disco como a dos estames o androceo. Ainda Baillon, em 1886. no seu Diccionario de botancia, diz que: o disco não póde se derivar senão de wma modificação parcial e especial produzida no tecido de um dos orgãos preeristentes da flór ; queo disco provem de uma inchação do receptaculo ; e finalmente que não conhece caso algum bem verificado de disco que provenha do calice, da corolla ou dos estames. Vem pois os factos que dei da Salacia, e que agora aqui apresento, comprovar que o disco é um verdadeiro verticilio estaminal modificado. Dunal, quando mudou o nome de disco para o de torus, entreviu a ver- dade, porque para elle essa parte não era mais do que um dos verticilios dos orgãos fioraes. Torus, o leito conjugal, o logar em que se inserem os orgãos da fecun- dação, não é comtudo propriamente o disco, e sim a modificação que este soffre apresentando outras fórmas. Depois de Brown ter visto a verdade foi que Turpin, com justa razão. querendo perpetuar a opinião do notavel botanico inglez, passon a dar a denominação de Phycostema. Ainda A. Richard perguntou: «qual é a natureza do disco ? » não querendo que fosse produzido por estames. Sachs e Van Tiegehn no seu magistral Tratado de botanica, dividindo os nectarios em duas categorias. querem que o disco seja um nectario da segunda, ou antes protuberancia dos receptaculos que não são folheares. Lindley; entretanto, tambem era da opinião de Brown. Augusto de Saint Hilaire, na sua Morphologia vegetal, não admitte que o disco seja sômente a reunião de estames disfarçados, porque então po- der-se-hia tambem dizer que a corolla era um calyce disfarçado e, define-o como sendo um verticilio completo ou não, que se acha entre os estames eo ovario. Para elle é um nectario, sem dizer qual a natureza dos orgãos que o formam. Se a opinião não foi acceita geralmente, se até hoje a natureza do disco esteve encoberta. foi por falta de observação e por não ter havido occa- sião de ser ella verificada em alguma flôr, que clara e distinctamente mos- trasse os estames que ella tem em si disfarçados. Por um desses casos, antes uma d'essas revelações em que o Creador se patenteia, tive a ventura de, em mais de uma planta, vêr desvendado o 56 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM mysterio, que tem intrigado muitos botanicos, o da natureza do disco, e que me leva a adoptar o nome de phycostema proposto por Turpin, por que é o unico que verdadeiramente exprime o que elle é. Depois d'esta ligeira exposição sobre o que se pensa ser o disco e estame, para sustentar a minha opinião, mostrando o que ha de verdadeiro, tratarei das anomalias da Liwndis em questão que mais claramente me mostraram, ainda uma vez o que em outras plantas tinha observado. Todas as Bignoniaceas teem sempre quatro estames didynaimos, apre- sentando em alguns generos um quinto, rudimentar, abortado. O genero Catalpa comtudo só tem dous perfeitos, sendo os outros tres Esto aid ao estames abortados. Sendo o numero cínco o que cara- cterisa todas as divisões de suas flóres, entretanto organogenicamente é o numero dez que se occulta m'ellas, como mostrarei. São os estames que me obrigam a assim pensar, levado pela lei da symetria e da alternancia, que se mostra em todas flôres. Quando mesmo disfarçados os estames em phycostema, vemos em al- guns generos este em vez da fórma annular ou outra, apresentar às vezes cinco protuberancias, que não são mais do que os cinco estames modificados. Como disse Saint Hilaire, o disco ou phycostema só se apresenta quando a flór tem perdido a sua energia vital, e, é isso uma verdade, por que sempre que as plantas de flôres munidas de phycostema, como tenho visto, tem um excesso de vida, pela cultura ou pela natureza do sólo, principiam a apresentar flôres monstruosas, em que os estames se apresentam, mais ou menos normães, ou petaloides, modificando-se então a. fórma do phycostema, apparecendo a modificação na parte que alterna com os estames onde em alguns generos existem as protuberancias, Sendo os estames sempre oppostos às sepalas e alternando com as petalas, claro está que nas Bignoniaceas, essas protuberancias que são estami- nodios, devem tambem se oppôr a outras tantas sepalas e alternarem com outras tantas pétalas que organogenicamente estão por concreção intima- mente ligadas, não formando mais do que um corpo, mas que se distingue em algumas petalas, que por isso quasi nunca são agudas e sim lobuladas, sendo cada lobulo uma petala disfarçada. (Quando observamos as flôres das Bignoniaceas, fallando em geral, vemos sempre, como disse, o androceo composto de cinco estames, dos quaes um aborta, inseridos em uma corolla gamopetala, quasi sempre bilabiaba, cujo limbo tem cinco lobulos geralmente retusos ou emarginados e raras vezes agudos. Conforme o genero essas flóres são providas ou não de disco. Quer num quern 'outro caso, apparentemente, a fôr tem a mesma es- tructura, quando assim não é. Nas Bignoniaceas brasileiras que tenho examinado, todas anatomicamente mostram que as corollas são formadas de dez petalas que se alternam com dez estames, dos quaes cinco visiveis e cinco oceultos. Quando a flôr é ornada de um disco, eis como se dividem os feixes de vasos proprios da corolla e os que formam os estames: Da base do tubo, inteiramente unido a elle, sahem quatro feixes de va- sos que mais ou menos acima da altura. do calyce dous se destacam e formam os dous estames maiores, e logo acima destes, quando não na mesma altura, se separam os outros dous que são os dous menores. Um quinto estame de entre estes feixes tambem se destaca vindo os va- sos que o formam tambem unidos do tubo. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 57 Os feixes libero-linhosos dos vasos dos estames maiores se desligam todos da corolla, e os dous menores, parte fica unida a esta, e d'ahi o serem menores ; e quanto ao quinto dá-se o seguinte: os vasos se dividem em sete partes, ficando seis unidas à corolla, e a setima, a central, forma o estaminodio. São esses os cinco estames visiveis, porque os outros cinco destacam-se da corolla, atrophiam-se e formam o disco, não com todos os vasos que formam cada feixe, mas com menos um ou tres que se ligam à corolla e seguem, sem se ramificarem, atravessando todo o tubo até à extremidade do lobulo da corolla, formando assim, como que a nervura media da petala. Parallelos a esse vaso percorrem o tubo da corolla, dous feixes de outros vasos proprios das petalas, que se alternam com os estames visiveis, sem se ramificarem até aos lobulos, onde cada um se bifurca, a tornar cada lobulo quinquilinhado. Quando a flôr é destituida do disco dá-se o mesmo facto que observamos acima com os estames visiveis, porem quanto aos invisíveis esses passam todos para a corolla, formando tambem a nervura media das petalas, sem se desunirem. Os vasos proprios das petalas soffrem tambem uma modificação, em vez de dez feixes distinctos, só se apresentam seis, quatro seguem até ao ponto em que o tubo se divide em lobulos e ahi se bifurcam, inão um ramo para um lobulo e outro para outro, para, por sua vez, depois cada um se bifurcar e dous correrem parallelos ao estami- nodio, seguem até a divisão dos dous lobulos do lado posterior indo um para um, e outro para outro, para n'elles então se bifurcarem. Esses dois feixes com as divisões dos vasos do estaminodio são que dão a forma bilabial da corolla. Esses cinco feixes de vasos estaminaes que se concretam à corolla são geralmente marcados na base, entre os estames visiveis, por uma linha de pellos. Essa união de todos os orgãos, que formam os dez estames, com a corol- la dá-lhe maior espessura e torna os lobulos mais retusos ou emarginados. Os estames, como se nota nas corollas das flôres sem disco, organogenica- mente dividem os lobulos em duas verdadeiras petalas, que formam assim o numero de dez, que alternam com os dez estames, sendo cinco livres e cinco concretos à corolla, quando não ha disco, eu em parte destacados quando existe este. Quando tratei da Salacia polyanthomaniaca, deixei propositalmente de me estender mais sobre a formação do disco para apresentar as provas, que aqui apresento, que me levam o tomal-o como um verdadeiro phycos- tema. Estas provas, em seis exemplos dos que me forneceram a Lundia em questão, aqui os apresento, que, como outros de outras congeneres, quasi sempre apresentam factos de monstruosidade em que os estames clara- mente se mostram. Porque razão se dão esses factos com as Lundias e não com especies de outros generos ? Porque estas, sendo destituidas de disco, todos os vazos que formam os estames estão na corolla e um excesso de energia vital faz com que elles procurem se destacar do todo e tornarem-se livres, apresentando-se com anthêras, e essas munidas de pollen. Com esta separação os vasos proprios da corolla ficam isolados, divididos por conseguinte, os lobulos em duas porções, tendendo a corolla a apresentar-se com dez divisões, ou dez ver- dadeiras petalas (dialypetala), que alternam com os dez estames: Osetem- VOL. I 8 58 ECLOGAE PLANTÁRUM NOVARUM plos que aqui represento (Est. XIV) fallam melhor que toda e qualquer explicação, e bem nos provam, que, se as Lundias não teem disco, é porque sendo este formado de estames, e estes não se separando da corolla, elle não póde se formar, como em outros generos, em que não ha exemplo das corollas apresentarem mais estames do que os normaes. Entre muitos exemplos que tenho tido, apenas represento aqui seis, pelos quaes se me dará razão para affirmar que o disco é um phycostema ou um verticilio de estames disfarcados. Se o facto que aqui apresento se dêsse em especies de generos caracterisados por discos, razão alguma teria, mas reproduzindo-se elle sempre em especies sem discos, vê-se que são os estames que o formam. Nas Bignoniaceas a falta de disco augmenta o numero de estames na corolla: na Salacia dá-se o contrario : os discos se transformam em estames; (quer dizer que a natureza do disco é toda estaminal. Com a desapparição do disco e a presença de maior numero de estames com anthêras perfeitas e ferteis, as corollas tendem tambem a tornar-se dobradas, apparecendo, nas flôres monstruosas, casos em que o limbo em vez de cinco divisões apresenta dez, sendo algumas imperfeitas eirregulares, mas apresentando outras, posto que não em nuinero de dez, porém em que as divisões apresentam petalas com os limbos regulares, iguaes aos lobulos das divisões normaes, e longamente unguiculados, como se fôra de uma corolla polypetala ou dialypetala. Esse facto nos mostra além do numero, tambem a fórma das pétalas, que organicamente se soldaram à formar à corolla gamopetala, que cara- cterisa as especies da familia das Bignoniaceas, mostrando-a como o autor da natureza organizou as suas flôres, que pela adaptação em meio differente posteriormente se modificaram, como fizeram tambem as flôres das orchideas e outras. As petalas são longamente unguiculadas, e pela união das unhas se forma o tubo, como da união dos limbos a corolla, passando a ser mono- petala a flôr dialypetala. Não podia deixar de registrar aqui essas obscuras observações, para que outro mais habil melhor desenvolva e esclareça o facto, baseando-o em outras observações, porque, me parece, que ellas contribuem para expli- car a verdadeira natureza desse orgão, até aqui tido como sendo um ne- ctario, ou fazendo parte do receptaculo, continuação do eixo das flores. Si, por ventura, factos posteriores me provarem que estou eim erro, serei prom- pto em reparal-o, porém até então não deixarei de considerar esse orgão, senão como um verticilio de estames atrophiados e degenerados, para o qual o nome de plycostema & mais expressivo e apropriado do que o vul- gar de disco. Pelo que se reproduz nesta Lundia, o phycostema não ê mais do que uma anomalia, porque os factos da apparição de estames e petalas no ca- so vertente, não constituem uma monstruosidade, pois em vez de ir contra a natureza, se reproduzem de aecordo com as leis invariaveis da symetria e da alternancia. Nao ê wma dessas anomalias accidentaes que modificam a organisação propria de uma especie que constitue um facto teratologico, mas dessas que do genesis, por hereditariedade, se perpetuam disfarçando a verdadeira structura. Se essa monstruosidade nos rompe o vêo que mysteriosamente occulta- va os dez estames das bignoniaceas que se disfarçam completamente em ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM E) cinco, como é o seu caracter absoluto, poderemos considerar monstruosi- dade aquillo que nos patenteia a structura? O caracter normal não é antes a anomalia ? O facto que se nos apresenta não é mais do que um atavismo bem caracterisado. As flores das bignoniaceas foram polypetalas ; e pela lei do progresso ou aperfeiçoamento, a teleosis, de Hagkel, tornaram-se gamopetalas, confirmando assim o que diz o notavel naturalista: as flores polypetalas precederam as gamopetalas, e que o aperfeiçoamento, quer no reino animal quer no vegetal, depende do numero de orgãos, assim as flores que tem numerosos estames são mais imperfeitas das que as menos ricas destes orgãos. Para mim a forma actual da corolla das Bi- gnoniaceas é anomala, e o resultado de estudos que tenho em mão, talvez melhor me esclareça e me leve a considerar como tal tambem a forma das corollas das Gesnereaceas, Labiadas, Verbeneaceas, Acanthaceas, Gentianaceas etc., que me teem fornecido materia para estudos mor- phologicos analogos. ordo CON VOLVULACEAS x. se. Iribu CONVOLVULINAE Meisn. Sub. trib, ARGYREIEAE Choisy Gen. MARIPA Aubl, Maripa paniculata (Barb. Rod. /oc cit n. 368)—foliis coriaceis oblongis obtusé acutis supra lucidis subtus distincte nervosis, paniculis elongatis, terminalibus v. axillaribus, ramis brevis plurifloris pubescentibus, sepalis subrotundo-ovalibus leviter emarginatis cano-velutinis, interioribus emarginatis marginibus ciliatis; corolla infundibuli-campanulata lobulata, striis 5 extus sericeo-villosis, tubo alho marginibus violaceis. Tabula nostra XVIZP. Caulis volubilis, teres, elongatissimus. Folia sepe suboposita, petiolo te- reti, transversaliter rugoso, supra canaliculato, 0,7010-—0,015 lg.. limbo 0,"05—0,"18x.0,"03 —0,"09 1g., nervo medio supra in- sculpto subtus fortiter prominente, nervis lateralibus prominentibus arcuatim, venulis crebis tenuissimis. Panicula terminalis v. axil- laris, elongata, stricta, sub-aphylla, 0,"010—0,"30 lg,, rachi labra, ramis alternis v. suboppositis, bracteis caducis, floribus 0,2005-—0,7010 lg., cymosis, pedicellis 0,2003—0,"0051g. Sepaia coriacea 0,2005—6,"007 lg., convexa, dua exteriora densé cano velutina paullo minora. Corolla limbo plus minus lobata, lobulis 60 BECLOGAE PLANTARUM NOVARUM obtusis, tubo intra calycem angusto cylindrico, supra infundibuli- campanulato, 0,023 lg. Stamina corolle duplo breviora: fila- menta basi triangulari-dilalata, Jlateraliter ciliata: anthera oblonga subsagittate. Stylus stamina superantis; stigmate sub disciformi capitato. Wructus ignotus. HAB: in Rio Negro, prope Manãos ad ripas Igarapé do Aterro. M. Octo- bri florens. Obs. Os sabios professores Hooker e Bentham. em 1876, nos seus Genera plan- tarum, dão como conhecidas, unicamente nove especies, excluindo a Maripa specta- bilis de Choisy, que é a Prevostea spectabilis de Meisner. Oito dessas estão des- criptas na Wlora Brasiliensis, sendo que tres já o estavam por Choisy, no Prodromus de De Candolle, que na sua monographia inclue a scandens que servio de typo a Aublet, para o genero que na sua Histoire de plantes de la Guyanne Françoise creou, aproveitando-se para nome scientifico do vulgar que teem as especies entre os Karaibas, nome que tambem dão aos indios da Guyanna a uma palmeira. a Maxi- miliana maripa de Drude, que antes o Dr. Martius classificára como Attalea. A especie de que me oceupo cresce nos logares humidos das margens dos igarapés, sobe a grandes alturas, agarrada pelas arvores. e cobrindo as suas copas de basta folhagem orna-se de paniculas de flores branco lilases. Entre as especies, fructicosae e scandentes, minuciosamente descriptas na Flora, não existe esta, e como não conheça trabalho algum que modernamente noticie novas especies, a considero nova, até que o contrario me seja provado. ren, OPERCULINA Manso Operculina violacea (Barb. Rod. /0c. cit. n. 645)—undique glabra, foliis ellipticis acutis basi rotundatis, racemis lateralibus multifloris; pedicellis teretibus pubescentibus ; sepalis coriaceis apice rotundatis v. emarginatis, extus dense cano-velutinis ; corolla magna coruleo-viokacea extu quinque vittata, vitta extus cano-argentata . Tabula nostra XVIF. Caulis lignosus, ramosus; ramis in cirrhus terminatis. Folia arcuata 0,"10—0,17 X 0,"06—-0,"9 lg .: petiolo cylindraceo, super plano, rugoso, contorto, 0."02—0,04 lg, Racemo elongato, erecto, 0.730— 0,760 lg. Peduncul: cylindracei, multifori. Bractee primaria caduca, secundaris persistentibus ; pedicelli 0,"01 1g. Sepala convexa 0,0"012—0,014x0,011—0,015 le. Corolla hypo- craterimorpha, coruleo-violacea, plicata, marginibus crenulata, 0,"08—0,"10 in diam. Stamina inclusa ad faucem inserta, subsi- gmoidea, ad basin muricata; antherae oblonga. Discus loviter annularis ; ovario levi; stylo attenuato, levi; stigma bilobatum, lobis subglobosis. Capsula depresso-globosa, diam. 0,035, calyce Ed levis, bilocularis 2-4 spermis, vertice acuminato, 2—4 gibba. HAB. ad ripas igarapés prope Manãos, prov. Amaz, Flor. Aprili. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 61 Obs.—0 genero Opercuina foi creado por A. L. P. da Silva Manso, em 1836, na sua Dissertação das plantas brasileiras que podem promover a catharse, servindo de tvpo a Batata de purgz, que denominou: O. convolvulus, mas que o r. Martius na sua Materia medica levou para o genero Piptostegia de Choisy, denominando-a P. Gomesii, como prova de consideração dada ao Dr. Bernardino Antonio Gomes (1). Antes porém, de Manso, já Plumier em 1755 a tinha descripto, (2) como Convolvulus foliis pedato-palmatis. O genero Operculina não tem sido recebido por alguns botanicos, tanto que o Professor Endlicher o faz synonimo do genero Batatas de Rumphio ; De Candolle o inclue no Ipomea de Linneo e Bentham, Hooker tambem querem que deva fazer parte desse ultimo, todavia o Dr. Frede- rico Meissner, o ultimo monographo da familia, o considera e com muita razão, genero distincto. Com effeito attendendo-se para a conformação da flor, fôrma e posição dos estames, structura dos fructos etc., só muito forçadamente o incluiremos entre as Ipomeas, posto que faça necessariamente parte da tribu das Convolvulinaceas. O Dr. Martius levando a Batata de purga para o genero Piptostegia não consi- derou que o genero de Manso estava publicado, emquanto que o de Hofirannsegg então era manuscripto. Entre a meia duzia de especies de Operculinas conhecidas, sô a de Manso pertence ao seu genero, porque as outras apresentam mais caracteres de Ipomeas. tanto que o proprio Dr. meissner as leva para o genero de Manso, duvidosa- mente. Os caracteres desta especie não deixa a menor duvida que pertença ao verda- deiro Operculina, pelo que é a segunda especie que se apresenta. E uma planta que vem disputar um logar distincto entre as da sua familia, pelas suas bellas flóres de uma linda côr de violeta, pelos seus botões prateados, dispostos em grandes racemos, offuscando mesmo outras plantas sarmentosas e ornamentaes, pelo tamanho e numero de flóres. Se não apresenta propriedades medicinaes, tem os de encantar a vista e pres- tar-se a cobrir granles caramanchões de jardins, tendo a vantagem de conservar as suas flóres abertas todo o dia, o que não acontece com as Ipomoeas. Segundo me informam é uma» planta venenosa, não se me sabendo dizer qual parte della, o que faz excepção entre as suas irmãs, que em geral são medicinaes. Verdade ou não, ella tem n1s suas flores uma cor que a torna muito suspeita. Gen. IPOMOEA Lim. set STROPHIPOMOEA choiys. Ipomoea supersticiosa (Barb. Rod. l9c. cit. mn. 034, — petiolis pedunculis calycibusque arguté pubescentibus, foliis pro- fundê 7—partibus lobis e basi angustata lanceolatis acutissimis exterioribus triplo minoribus apice subrotundis, limbo supra arguté piloso, pedunculis foliis minoribus apice densê—5-—S8 floris ; sepalis subrotundis concavis obtusis, carolla infundibuliformia limbo lobulato, 0,055. Tabula nostra XVIII. Caulis altê-volubilis basi lignescens, ramosus. Foliola 0,"009—0,011xX 0,2016—0,=22 1g., nervis supra et subtus prominulis, utrinque (1) Antor das Observações botanico-medicas sobre aigumas plantas do Brasil, publicadas em 1812, nas Memorias da Real âcademia de Sciencias de Lisboa III. 1* pag. (2) Plantarum Americanarvim pag. 80 Tab. XCI. fig. I. 62 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM leviter argutê pubesentibus. Petiolus 0,"025 — 0,"060 lg., arcuatus, supra canaliculatus. Peduneuli 0,203—0,"6 lg, Sepala herbaceocoriacea, sub sequalia 0,"0066 lg ., interiora nitentia exte- riora paululum breviora. Corolla rosea, glabra, 5 vittata, tubo limbo subaquante lobis latis, emarginatis. Capsula ignota. HAB. in Rio Negro et in Rio Yauapery, proc. Amaz. M. Apr. Jun. et Dec. florens. Incoloe Tamakoaré-y nuncupatur. Obs.—Entre as plantas procuradas pelos indigenas, não é raro encontrar-se cultivada a Tpomoea de que aqui me occupo, o Tamalkuare-y, não só porque as suas flores, de corolla rosea e tubo carmesim, servem de ornamento, como por ser uma das que a crença popular liga virtudes, mais supersticiosas do que medicinaes. D'essas virtudes já tratei quando me occupei das Caraipas ou Tamakuarês por isso sô me resta dizer que as raizes da especie em questão são purgativas e em- pregadas contra as gonorrhºas ; sendo devida essa propriedade à resina que contem. À fecula, que tambem encerra, em pequena quantidade, é uzada sómente quando d'ella se quer tirar algum proveito, sempre como amavio. Em geral são as mulheres da classe baixa, para prenderem os amantes, que d'ellas se servem, Comparando a especie amazonense com os diagnoses e descripções das que o Dr. Meissner, na sua extensa monographia, publicada em 1869, menciona com nenhuma pude identifica-la. Comprehendida no seu sub-genero Euipomoea, na secção Stro- phipomoea de Choisy, e serie de folhas apalmadas afasta-se de todas as especies ahi incluidas pela forma de suas folhas, sempre 5 palmadas, tendo nos dous dentes externos um appendice que as torna sub 7 — apalmadas, cujo dente nunca chega a ter um terço do comprimento d'aquelle ao qual se liga, e é sempre muitoobtuso e não agudo, posto que seja cortado por uma nervura. A falta de um herbario devidamente classificado e mesmo de uma hibliotheca onde possa consultar todas as Revistas modernas, me obrigam a em duvida apresentar as minhas especies novas, mas antes passem ellas para a synonymia, se realmente não forem novas, do que por incuria continuem desconhecidas. Ordo SOLANACE Da) Juss, Trib. HYOSCYAMEA Benth et Hook Gen. DATURA Linn. Datura insignis (Barb. Rod. loc. cit n. 658) —arborescens ; foliis longe petiolatis oblongis acutis basi raro obliqua integerrimis supra sparsê minute pubentibus subtus in nervis densé pube- scentibus; floribus maximis sub nutantibus :; calyce infundibuliformi angulato arguté pubente, dimidiam corolla tubi partem aquante, regulariter 5 — dentato ;corollz tubo plicato, ad de midium angusto- cylindrico extus pubente, abinde infundibuliformi ampliato, limbo magno longé acuminato ; staminibus tubum majoribus:; antheris conglutinatis ; stylo recto cum stigmate elongato exserto. Capsula non vidi. Arbuscule 2—3 met. alta. Folia cum petiolo pubente laminam minore, 0,"19—0,"22x0,"06—0,"09 Ig, petiolo 0,06—0,14 lg, pube- scenti. Flores 0,"33 lg. Pedicelli 0,2030—0,”"035 lg. pubescenti. ECLOGAE PLANTARUM NOVÁRUM 63 Calyx 0,=135 Ig., dentibus 0,703 lg. lanceolatis acutissimis, equa- libus. Corolla 0,733 Jg., limbi diametro 0,719, roseo-sanguinea. Stamina 0,215 lg., antheris 0,º025 lg. Stylo 0,726 lg., anthere exserto. Stygma 0,"025 lg. HAB. in locis humidioribus ad ripas Solimões et Marafon. Planta spe- ciosissima. Florebat Aug. Toéê v. Thoé r. Marikaua incolis vocata . Obs. Entre as plantas toxicas occupa lugar proeminente a ordem das Sola- naceas, que fornece a atropina, a nicotina ea daturina, venenos energicos que residem nas suas folhas e nos seus fructos. A daturina é uma substancia amarga e acre, obtida das Daturas, e que se cris- talisa; é volatil, soluvel m'agua, no alcool e no ether, e excessivamente venenosa, com a propriedade de dilatar as pupillas. Este principio narcotico-acre é mais energico que o da atropina e penso que para não se afastar de suas congeneres, a especie em questão tambem deve as propriedades que possue à esse mesmo principio. Os indios peruanos das margens do Amazonas, no territorio em que este toma o nome de Maranhão, isto é, de Tabatinga para a republica do Perú, tem em muita consideração a planta que elles dencminam Toi, Thoé ou Mar:kaua, e pelas virtades que nella encontram, servem-se sempre della nos seus dias de tristeza e de alegria. Fui informado que quando os indios querem vêr um parente, um ami ausente ou morto, um facto que estã se passando longe ou se passou; quando desejam lembrar-se e assistir a uma vietoria de suas guerras; achar um objecto perdido, passar, emtim, horas agradaveis em que sô sensações bôas sintam, tomam um meio calyce da infazão de 5 ou 6 folhas, o que produz um lethargo e embriaguez durante o qual o espirito adquire lucidez hypnotica. Sabemos que a belladona, o strâmonio e o tabato produzem o nareotismo com visões, delirios, cephalalgia e sensações desagradaveis e mãs; porem, a embriaguez que occasiona o Thoe, é como a do hashisch dos arabes, o liamba ou diamba dos africanos (Cannabis indica L.) toda voluptuosa, cheia d> prazeres e bem estar, alem de tornar o individuo um verdadeiro E es Ineido. Essas propriedades narcoticas das Daturas de longa data é conhecida, tanto que as cortezas da India, segundo Acosta, para roubarem os seus amantes deitavam o pô das sementes da Datura stramonium L., a nossa Figueira do inferno, em qualquer bebida agradavel, para durante o somno lethargico commetterem os erimes. Em Paris, o mesmo pó misturado com o tabaco ou no vinho, era empregado, outr'ora, pelos ladrões, para adormecerem as suas victimas. A propriedade do Thoé de fazer ver o que estã occulto êa mesma, que segundo Humboldt e outros naturalistas, tem a Datura sanguinea de Ruiz e Pavon, tambem do Perú, porque, segundo este sabio, os oraculcs de Bochicha do templo da sol, em Lagamosa, mastigavam as sementes d'esse vegetal, assim como aquelles que procuravam riquezas ou os mysterios dos sepulchros. O nome que tinha então esta Datura era Luacacacha ou Herca dos sepulchros, com os fruetos da qual tambem preparavam a tonca, que era a bebida predilecta dos Mucsas, Sacerdotes que conversavam com os Conobas ou ates. is embriaguez do Thoéê prolonga-se tanto quanto o deseja o individuo, porqua logo que quer deixar o mundo de phantazias em que se mette, provoca vomitos e com estes cessa o effeito do vegetal. Sa perde de todo a consciencia, seo estado hypnotico é profundo, os compa- nheiros, então, provocam-lhe os vomitos. » Aquelles que tomam o Thoé, passam depois um mez em rigorosa dieta, durante o qual não bebem bebidas alcoolicas. O Thoé nos lembri a Herva da advinhação introduzida no Mexico. Como o effeito desta é igual ao do Thoé, transcrevo aqui o que disse à respeito um jornal: , « Toma-s> em differentes dóses é em poucos instantes sobretem tim adothiecimento semelhante, em todos os seus symptomas, ao sonho ml e prigo e pôde até dizer-se identico, porque o paciente com os olhos fechados às perguntas que fazem, estando em completa insensibilidade. 7 o O estado pathologico em que faz cahir a herva a qualquer que a tome, proporciona uma especie de condão de advinhar e de dupla vista. Ainda mais o sujeito perde a vontade propria e fica inteiramente escravisado ao mando de qualquer por modo 64 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM tal, que póde precipitar-se de uma janella, disparar um tiro ou cravar um punhal em si, se isso lhe for ordenado. Voltando a si, não se recorda do que fez durante o somno provocado pela herva da advinhação. O Thoé é uma arvoreta de dovs a tres metros de altura emittindo às vezes mais de um tronco fraco, molle, e medulloso com a casca esbranquiçada dividindo-se em galhos bi ou trifurcados, verdes, pubescentes quando novos, copertos de folhas alternas distanciadas, as quaes são ellipticas, acuminadas no apice, agudas na base, inteiras, com as nervuras e a pagina superior pubescentes tendo na inferior só as nervuras e seus reticulos pubescentes. As folhas superiores são menores terminando-se a base do limbo obliquamente. São pecioladas, sendo os peciolos da metade do comprimento das folhas e pube- scentes. As flôres são axillares e solitarias. O calyce é verde corniculado, curtamente quinquedentado, com cinco nervuras pubescentes e salientes na parte externa. A corolla tem o tubo, muito maior do que o calyce, cylindr.co, o limbo infundi- buliforme, 5—6 dentado, com os dentes longamente acuminados, tendo cada divisão tres linhas salientes e pubescentes na parte externa, sendo o tubo branco amarelado e o limbo de uma bella cor de rosa sanguinea. Nem as folhas e nem as flores teem aroma. O genero Datura é um dos creados por Linneo e quasi todas as suas especies são classificadas pelo mesmo sabio, mas, posto que antigo, o numero de suas especies não se tem augmentado, tanto que, apenas 12 eram conhecidas em 1876, quando Hooker publicou no seu magistral Genera plantarum, a familia das Solanaceas. A monograpia do Dr. Otto Sendtner, se bem que já antiga, pois data de 1846, sô menciona seis especies encontradas no Brazil e uma peruana, a D. sanguinca, conhecida no Perú por Floripondio-encarnado, segundo kuiz e Pavon, que a descreve na sua Klora Peruviana et Chilensis. O Dr. Otto dividiu as Daturas em duas secções : a de antheras ligadas ou adlherentes e a de antheras livres. Nesta divisão apenas cita a D. suaveolens Humb. e Bompl., antiga Brugnansia, em que está incluida a especie de que trato. Pela cor se aproxima da D. sanguinea, da qual Ruiz e Pavon não diz se as antheras são ou não ligadas, mas affasta-se pelo calyce, que não é oval, pequeno e variegado ; pelas folhas que não são glabras e luzentes na parte superior, nem angulosas ; pelo peciolo que não é duas vezes menor do que a folha; pelos pedun- culos que não são terminaes e pela altura da arvore que tem mais de quadriorgyalis. Eu aqui dou o Thoé, como especie nova ; os sabios porém que decidam. sectio ACOROLLIFLOR A p. c. ordo LAURINHA vem. Gen. NECTANDRA Roll. Nectranda elaiophora (Barb. Rod. Joc, cit. n. 040) arbor ; foliis sparsis coriaceis e basi acuta subondulata oblongis acutis supra nitidis subtus prominulo-reticulatis ; bacca magna : cupula conica sub rugosa striata, margine crasso reflevo quinquedentato. Tabula nostra XVIII. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 65 Arbor, ramis stricteis albido-cinereis, rimulosis. Folia rigida, reflexa, pe- tiolata, petiolo contorto, supra canaliculato, subtus convexo, 0,702 lg., margine ondulata, costis 7—10 suboppositis, supra immersis, subtus prominulis, 0,213—0,7215xX0.715—0,06 lg. Flores ignoti. Peduncul! axi axillares et subterminales, solitarii, 0,204—0,207 lg. Cupula verrucosa-rugosa, crassa, 0,702 alta, 0,2025 diam. Bacca oblonga, obtusa, levis nitentis; endocarpio carnoso, sulphureo, resinifero, odore fortiter therebinthinaceo. HAB. ad ripas Rio Negro, in Prov. Amazon. Incolis Namuy, Nhamuy, vel Louro, Louro Rosa, Louro precioso, Pau-rosa. Fruct. Jun. Obs.— Entre as plantas uteis da provincia do Amazonas, tenho convicção que, esta será uma das que pira o futuro bons serviços prestará não só a medicina como à industria. E' conhecida no Valle do Rio Negro pelos tapuyos por Namuy, Nhcemuy, nome dado a quasi todas as Laurineas, como pelos de Louro rosa, Pão rosa e Louro precioso que lhes dão os civilisados. O seu lenho é empregado em canôõas, porém ahi não estã o seu melhor emprego, e sim no oleo que em abundancia dá quando se fere o tronco. Este é excessivamente claro, transparente, aquoso, muito aromatico, tendo o cheiro da terebentina, ardendo como esta, dando fumaça negra e espessa. Esta propriedad> faz com que se dê tambem o nome de Gaz vegetal, porque em geral o tapuyo em vez do petroleo, do qual tem a consistencia, o emprega em suas candeias. A não ser como combustivel, ou usado contra empingens, frieiras, queimaduras e para matar os bichos da cabeça, esse oleo não tem, por ora, outro emprego ; mas creio que conhecidas as suas propriedades chimicas será de grande uitlidade, quer na medicina, quer na industria. Foi baseado nisso que mandei pelo chimico deste Museu, o Dr. Francisco Pfaff, em 1º de abril de 1887, analysal-o, mão grado meu, e contra toda a minha espectativa começou a analyse, mas não a concluio. ! Não é sô esta expecie qu> fornece oleo, ha ainda outra do Rio Autás, que tambem o dá, porém de uma cor trigueira. O principio que dá o aroma forte ao oleo estã em toda a planta desde o tronco até aos fructos. Estes, de que são avidos os peixes, principalmente o Tambaky, o tem em tal quantidade, que no tempo dos fructos, que é o tempo da enchente, a carne dos peixes fica de tal maneira impregnada delle, que se não póde comer, pelo gosto e cheiro que tem de terebentina. A pezar de esforços, não consegui ver ainda suas flores, porém na primeira opportunidade com ellas me occuparei, e talvez possa breve completar a des- cripção. : Muitas são as Nectandras conhecidas, mas penso que entre ellas não está a de que me occupo, pois que entre as 59 deseriptas pelo professor Carlos Frederico Meissner, na sua monographia da Flora Brasiliensis, nenhuma d'ellas se identifica com a minha. Posto que a monographia do illustre Professor de Basiléa seja já antiga, pois data de 1866, comtudo, tambem não encontro, em publicação mais recente especie alguma que possa identificar-se com a que aqui descrevo, pelo que como nova a offereça à consideração dos sabios. Consta-me que depois de ter sido por mim entregue ao Chimico o oleo para ser analysado, este, particular e occultamente obteve amostras das plantas e, infrin- gindo o Regulamento deste Museu, as remetteu para Europa, não sei se com flores, por isso talvez fosse alli classificada ; porém, desde já aqui protesto contra toda e qualquer denominação que por ventura se tenha dado, porquanto, quando se deu esse facto já por mim estava a planta classificada sabendo perfeitamente isso o Chimico, porque, por mais de uma vez, interassando-me pela analyse, lhe declarei que desejava publicar esta com a descripção, por ser uma especie nova. A demora da publicação foi devida ao facto de se me demorar a analyse, que nunca foi concluida. O genero Nectandra estabelecido por M. Rollander em 1778, servio de typo para Nees, d'Esembeck, em 1836, estabelecer a tribu das Nectandrece, passado depois, em 1864, por Meisner para a das Oreodaphne, e por Bailion para a das Ocoteee. * Nos primeiros ensaios achou no corpo bruto dois oleos, sendo um: mais pesado do que a agua, segundo me informou, e posteriormente obteve tambem um principio cristalisavel. VOL. I 9 66 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Endlicher no seu Genera, o conserva na mesma tribu de Nees Esembeck, porém Hooker e Bentham, lovaram-o em 1880, para a das Perseaceae, baseados em bons caracteres. E' um dos generos, que maior cópia de productos fornece à actividade humana, já pelo lado da medicina, já principalmente pelo da industria, e presumo que com o novo producto que agora apresento mais notavel se tornará. Ordo PROTEACEAE Juss. Trib. GREVILLEAE end. Gan. ROUPALA Aubi. sec. SIMPLICIFOLIAE » «, 1. Roupala Yauaperyensis (Bard. Rod. loc. cit. n. 223), foliis lineari-oblongis sub obtusis v. acutis planis utrinque pube- scentibus breve venis leviter prominulis petiolatis, racemis axilla- ribus et terminalibus densifloris folia superantibus ferrugineo pubescentibus, sepalis extus pubescentibus, pedicellis calyce ma- joribus, glandulis hypogynis triangulatis, stigmate clavato. Tabula nostra XIX. Fig. A. Árbor 4—5 met. alt. Ramis junioribus fulvo pubescentibus. Folia excluso petiolo 0,708 —0,m14x0,021—0,"036 lg., rigida, supra lete viridia, subtus fulva. Racemi axillares, 0,7=10—0,=141g., recti, terminales folia superantes, basi parum tumidulus, obtuso. Sepala lamina concava, recurva. Filamenta basi sepali inserta, apice atenuata, complanata, recurvata. Squamule hypoginos 4 carnosa, triangulare, brevissime. Ovariwm sub sessile hirsutum. Stylus calyce breviore. Stygma obtusum. Capsula ignota. HAB. ad ripas Rio Negro. prope Moura etin Rio Yauapery in locis inundatis. Flor. Nov. sec. PINNATAE 5 c. 2. ER. arvensis (Bard Rod. loc. cit. n. 695), foliis polymorphis sorratis supra nitentibus subtus tenuissime elevato-venosis glabris aliis simplicibus ovato oblongis, aliis pinnatifidis pinnatisve, liberis, acuminatis longi petiolatis, racemis folio majoribus densi- floris, pedicellis, subliberis calyce minoribus tomentosis, glandulis hypoginis oblongis, ovario hirsuto, stigmate clavato. CRB ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 67 Tabula nostra XIX. Fig. B. Arbor 4—5 met. alt. Ramis juvenilibus albo tamentosis. Folia alia indi- visa serrata basi acuta, alia pinnatim 5—7 foliata, foliolis distinctis, terminali majore, lateralibus alternis oppositis, oblongis, obtusé acutis, brevissimé petiolulatis, ramorum fertilium excluso petiolo, 0,707—9,713x0,"035—0,"067., coriacea, indivisa ovato-oblonga, serrata, utrinque acuminata, glabra, nitida, subtus elevato-venosa. Racemi axillares, sclitarii, 0.2»10— 0,213 lg.. folia superantes. Cal 0,006 1g., pedicello duplo longior, clavatus. Sepala linearia, apice dilatata, concava, acuta, interioriter mucronata, extus pu- bescentia, recurva. Filamenta supra medio sepali inserta, incurva. Squamule hypogine, oblonge. Ovarium hyrsutum. Stylus clavatus. HAB. in Rio Negro prope Manãos, Prov. Amaz. Flor. Jul. Obs.— O genero Roupala foi creado por Aublet, na sua Histoire des Plantes de la Guyane, mas como alguns autores o fazem derivar do grego pómadoy, a clava ou massa, pela fôrma do stylo, e vulgarmente o escrevem Rhopala, ropala, rupala, que se é conforme a orthographia grega, comtudo modifica a do botanico francez. Com Baillon e Hooker, conservo a primeira orthographia, porque segundo as leis da nomenclatura botanica, o nome de um genero deve subsistir tal qual foi creado, salvo o caso de uma correcção de erro puramente typugraphico, facto que se não dá aqui. Duas especies deste genero Ruiz e Pavoú levaram para o Embothrium de Linneo, O emonospermun e a pinnatum, como se vê na Flara Peruviana e Chilena e estampas 98 e 99. Pertencem a este genero alguns Kutukaneê ou Outucanhem, e as carnes de vacca, do Rio de Janeiro, porém algumas especies, com este nome vulgar são tambem do genero Adnostephanes de Klotzsch em que estã incluido o Decnekeria de Velloso, e mesmo é dado a especie de familias differentes, como tive occasião de verificar no Rodeio, provincia do Rio de Janeiro onde com esses nomes vi uma Myrsinea. O Dr. Saldanha da Gama, na sua Configuração dos vegetaes seculares do Rio de Janeiro, descreve a Rhopala Brasiliensis Kl. com o nome de Katukanheê *e a representa, porém, comparando-se a sua desceripção e figura, com as que o Professor Meisner apresenta na Flora Bsasiiensis, vê-se que a do botanico brazileiro forma uma variedade. São notaveis as plantas deste genero pela rigeza e grande duração do seu le- nho, que é muito empregado nas construcções civis em obras ao ar. Não são arvores de grande diametro, e as fibras do duramem ou cerne são grossas e em geral côr de carne crua, donde vem o appellido das especies, de Carne de vacca. Em geral só se aproveita o tronco quando novo, porque quando velho se torna ôco. As flóres pela manhã são excessivamente aromaticas. ordo THYMELAEACEA É meisn. Gen. LINOSTOMA wall. Linostoma albifolium (Barb. Rod. loc. cif. mn. 63), foliis ovalibus obtusis oppositis supremis albescentibus: pedunculis brevibus apice corymbosis; pedicellis brevissimis; calycis tubis cylindricis gracilis intus puberulis extus pubescentibus. ! Kuty ou akuty, cotia, haa, folha, cê, doce ou hkutuk ferir ka? seccar—o que fere quando secco, 68 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Tabula nostra XX. Rmuli teretes, graciles, brunneo-fusci, et lenticellis albidis transverse puncticulati. Folia 0,m30—0,m045x0,"017—0,"023 1g., petiolo 0,"02—0,"03 lg. tereti caniculato supra veridia opaca, subtus albescente, nervo supra caniculato subtas prominulo, venis paten- tissimis parallelis vix 0,001 ab invicem distantibus subtus Ie- vissimis prominulis. Panicule ramis oppositis sub angulo recto ortis, foliorum paria 2—10 gerentibus, supremis albescentis, 2—12 foris, 0,M02 1g., pedicellis, 0,"002 longis ebracteatis. Calya caducus, tubi tenui, apice vix dilatato, limbo labio expansis sub obtuso. Ovario conico, puberulo. Stylus glaber ad medium tubo attingens. Wructus crustaceus, pyramidato-pediculatus, profundé sulcato-dentatus, perianthio papyraceo persistente basi inflato inclusus. HAB. in Rio Negro, circa Manãos. Floret m. Januario Obs.— Encontrei esta especie na margem esquerda do Rio Negro, em terreno arenoso, que desapparece com as enchentes. E' uma pequena arvore copada, que se esgalha desde o sólo, apresentando em todas as summidades dos galhos, proximo aos corymbos, duas folhas terminaes branco-amarelladas que a tornam distincta. E”, muito proxima, a sua congenere calophylloides, mas d'ella se afasta no tamanho e numero de folhas, na fórma destas, no comprimento do pedunculo, na pubescencia do tubo calycinal e no comprimento do estilete. Na especio em questão as folhas são pequenas, ovaes e não acuminadas, dis- postas nos ramos aos pares em longa extensão ; os pedunculos são curtos ; o tubo do calyce pubescente na parte externa, assim como a parte externa das divisões calycinaes ; o estylo que genericamente vae às antheras dos estames menores não attinge nesta senão o meio do tubo, justamente onde terminam os pellos cotonosos, que impedem a queda do pollen para o fundo do tubo e favorecem a fecundação. Considero esta especie nova, porque não encontro outra descripta além da que já citei do Rio Negro e outra da India. A monographia das Thymelaeaceas eseripta pelo sabio Meisner, só menciona essas especies. São passados quasi trinta annos de publicação e entretanto nem uma especie foi addicionada ao genero, que me conste. Walpers, até 1868, não addiciona especie alguma em seus Amnales Botanices, e não a encontro descripta em outras publicações, como a Limnaea. Impuz-lhe o nome albifolia, porque, na época de flores- cencia, as duasfolhas terminaes dos ramos são brancas, destacando-se notavelmente das outras verdes. Bentham e Hooker nos seus Genera Plantarum, publicado em 1880 nas Thymaeleaceas, mencionam no genero de que me oceupo duas especies, uma a de Meisner e outra que não conheço, mas que deve figurar no herbario do Museu de Rew. Será a especie acima ? A Os fructos das especies conhecidas até hoje variam de uma para outra, pelo que não foi ainda o genero bem caracterisado. Aqui represento o desta, em estado de madureza, porém não secco, que torna-se notavel pela fórma curiosa que apresenta. ordo MONIMITACE ZE tina. Gen, SIPARUNA aAubil. Siparuna foetida (Barb. Rod. loc. cit. n. 686), ramis ex fas- ciculis minimis sparsim punctatis, foliis obovato-oblongis acuminatis basi subacutis brevissime petiolatis supra glabris subtus petioloque fasciculis minimis pilorum conspersis, cymis petiolo triplo longio- oa ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 69 ribus pubescentibus recurvis perigonio masc. obovoideo v. subro- tundo fasciculis minimis pilorum adspersis lobis 4 lunatis brevibus intus glabris, staminibus 4—6 et ultra exclusis, fem. oblongo lobis 4 pilorum adspersis, fructu pyriformi. Tabula nostra XXI. Arbuscula 2-3 met. alt., monoeca. Raimi foliosi; novelli trigoni, rufo- tomentosi, medullosi, seniores glabrati, virescenti. Folia opposita vel decussatim-opposita, patentia, obovato-oblonga, abrupte-acu- minata, basi-subacuta, brevissime petiolata, supra-glabra, subtus pellifera, 0",09-—0,"13x0,"04-—0,"06 lg.:; venis secundariis exillibus, cum media subtus prominulis; petiolo brevissimo, 0,"003 —0,"005 1g., sub erecto, pilloso, supra canaliculato, subtus sobrotundo. Cyma (anthemia) modo unisexualia, modo bisexualia, una unaquaque axilla, 07,010—0,7015 lg., rufo-tomentosa, sim- plicia, raro bifurca, circinata, petiolo longiora, 5—10 flora, flo- ribus subsecundis. Masc. perigonium obovoideum v. subrotundum, densissime pilosum, apertum et 4 crenatum, andreceum exsertum ett-—6-andrum. Fem. perigonium oblongum, £—crenatum, den- sissime pilosum, intusque 4—10 locellatum. Carpidia sessilia, obovalia, superneque ob pilos erectos adspersa in stylum solidum breviter exsertum singillatim desinentia uniovulata. Ovulum ana- tropum. Fructus immaturus pubet; maturus flavus, glabrus. HAB. prope Parintins olim Villa Bella da Imperatriz, et ad Manãos, in urbis viccinia. Flor. Aug. Obs.— O genero Siparuna ê muito antigo ; foi estabelecido em 1755 por Fussée d'Aublet, nassuas Plantas da Guyana Francesa, porêm, sem razão, foi para elle adoptado o nome de Citrosma, que, em 1798, Ruiz e Pavon propuze- ram, ignorando, sem duvida, que existia o do botanico francez. O sabio Renato Tulasns, na Monographia Monimiacearum, publicada nos Archivos do Museu de Pariz, corrigindo etymologicamente o nome generico de Ruiz e Pavon, o modi- ficou para Citriosma. O legislador da botanica, porém, o notavel professor Al- honse De Candolle no seu Prodromus, reivindicou para o botanico francez, por ireito de prioridade, o nome que elle propuzera, o que foi aceito pelos sabios professores Baillon, Bentham e Hooker. A posição desse genero, na familia tem sido diversamente entendida; assim o professor Endlicher o colloca na tribu das Monimeas, o monographo Tulasne (1855) e Bentham e Hooker, (1880) na das Atherospermeas; Baillon (1869) na das Tamburisseas e finalmente De Candolle (1868) creou uma novatribu, a das Siparuneas, onde o inelue. Estudando as Monimiaceas esses diversos botanicos, baseados em caracteres differentes, es- tabeleceram tribus, adoptando para ellas nomes anteriormente creados ou dan- do-lhes outros, porém distribuindo diversamente as especies por ellas, cada um baseado no que entendeu ser mais natural. Os caracteres das antheras, dos ovarios, dos ovulos e dos fructos serviram de base para a classificação. ; AS especies brazileiras conhecidas até 1857 fóram todas mencionadas na monographia da Flora Brasiliensis por Tulasne, e mais tarde, nove annos, Wal- pers nos seus Annaes, ainda as relaciona apresentando apenas mais duas novas, colhidas por Seeman, em Santa Catharina. Em 1868 De Candolle no seu Pro- dromus diagnostica todas as especies conhecidas até então, e d'ahi para cá até 1880 não me consta que novas especies tenham sido descriptas. ; O Dr. Hooker apenas cita 60, que são as mesmas de De Candolle. Na duvi- da de estar esta especie classificada, prefiro correr o risco de uma dupla classifi- cação, a deixal-a desconhecida. 70 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM A Siparuna foetida é conhecida vulgarmente por Kad-pitii, isto é, planta que exhala mão cheiro, de had, folha, planta, e pitiu, morrinha, cheiro de peixe, cheiro desagradavel. Com efleito, toda a planta, quer as cascas, quer as folhas, teem um aroma forte e mão, sentindo-ge entretanto alguma cousa que nos lembra o do oleo de limão e o da goyaba madura, E' sabido que as Monimiaceas, principalmente as Siparunas, são plantas que quasi todas teem virtudes antifebris, diureticas, carminativas, tonicas, diapho- reticas, e estimulantes, pelos oleos essenciaes que conteem além de acido citrico e tannico, pelo que a especie de que trato não se afasta de suas conge- neres e é reputada como muito medicinal e empregada como antifebril poderoso e estimulante. Usam-se as folhas postas de infusão aos raios solares ou em cozimento, para banhos. Toma-se internamente em infusão theifera (*). Contra as hydropesias e o beri-beri se tem tirado magnificos resultados, podendo por experiencia propria afirmar a sua grande virtude. Empreguei os banhos do Kaá-pitik, sempre depois de ter sinapisado as pernas com as raizes do Cipó-taia, o Caparis urens, que descrevi, misturadas com as da Mukura-hai que no sul do Imperio teem os nomes de Raiz de Guiné e de Her- va-pipi (Petiveria alliacea). Logo depois do banho sente-se grande allívio, desapparecendo a dormencia, o formigamento, o peso, as dóres e a inchação, que voltam depois menos fortes, indo assim desapparecendo paulatinamente o mal até o completo restabelecimento, Não são já poucos os casos de beribericos * completamente curados por estas plantas, que são muito empregadas em Parintins, pelo meu amigo o Coronel José Augusto da Silva, que tornou-se o benemerito dos doentes atacados d'essa terrivel enfermidade, caridosamente tratando indistinctamente todos os que do seu prestimo se utilisam. Cresce nas capoeiras ou matas de nova apparição e proximas dos logares cultivados. E' uma pequena arvore, que não attinge a mais de 4 metros de al- tura, esgalhando desde o solo, com 5a 10 centimetros de diametro. O tronco é meduloso e de madeira branca, a casca fina, lisa, sendo verde nos ramos novos, que são exparsa e levemente pubescentes. Os ramos são semi-erectos e oppos- tos, oblongos, rostilhados, com as margens lisas, luzentes na lamina superior e mais clara na inferior, onde é toda glandulosa, quando nova, com pellos compos- tos exparsos, tendo as nervuras salientes. Inflorescencia em pequenos cymos semi-scorpioides de flores masculinas e femininas. or ARISTOLOCHIACEAE Lia. Gen. ARISTOLOCHIA Lim. Set. UNILABIATAE S ECAUDATAE Mast. IJ. Aristolochia silvatica (Barb. Rod. loc. cit. mn. 625), perennis volubilis glabra ; foliis obovato-lanceolatis breviter acumi- natis basi insequalis subtus venoso-reticulatis; floribus e caule suberoso supra annulis enatis solitariis nutantibus, perianthio basi ventricoso, medio sub-arcuato cylindrato, fauce in labium carnosum oblongum papillosum geniculatum abeunte. (*) Não poucos são os casos em que tenho obtido boas curas em febres rebeldes. 2 O beri-beri no Amazonas não é molestia nova, tanto que em 1786, como attesta o naturalista Rodrigues Ferreira, grassou no Rio Negro com intensidade, sendo então tratado com banhos de Mangericão bravo. nome hoje desconhecido e que se não sabe a que planta pertenceu. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 7 Tabula nostra XXII et XXIII. Fig. B. Caules lignescentes, teretes, suberosi, sulcati, Folia 0,215—0,220x. 0=,05—0,=07 1g., 7-nervia, nervis subtus prominentibus, utrinque glabra ; petiolus glaber, cylindraceus; 0,025 lg. Pedunculi axil- lares, solitarii, elongati, bracteati, unifloro raro triflori. Perian- thium glabrum, 005 lg., basi ventricosum, pars ventricosa justã pedunculus acuta, leviter bilineata, 0,12 lg.., pars media cylindrata, glabra, 0,02 1g., annuli ins pars ventricosam produ- ctam, labium geniculatum, incurvum, oblongum, emarginatum, canaliculatum, intus papillosum, lateraliter revolutum. Columna genitalis 0,=003 lg., obconica, in lobos triangulari-acutos, 6-di- visa, lineis stigmatosis crassis, papillosis. Antherc oblonga, obtusee, parallel, basi loborum attingentes. Capsula pendula, post dehis- centia 0=11x0",08 lg., glabra, in sex valvas coriaceas extus nervo medio prominente percursas, intus transversaliter sulcatas cum totidem partitionibus extremi pedunculi continuas. HAB. in silvis primevis ad Cachoeira Grande in Rio Negro, prope Manãos. Floreb Aug. 2. A. chrysochlora (Barb. Rod. /oc. cit. n. 78), perennis vo- lubilis; foliis sagittatis, lobis obtusis v. subrotundis, supra glabris metalinis aureo marginatis subtus glaucinis puberulis ; floribus basi ventricoso utrinque puberulo, medio arcuato cylindrato bar- bato, fauce in Jabium incurvum, extus quinquelineatum abeunte. Tabula nostra XXIII. — Fig. A. Caules lignescentes, teretes, virescentes. Folia 0,"06—0,"09x0,206— 0=,08 1g., nervis subtus prominentibus, pubescentis ; petiolus sub asperus, cylindraceus, 07,03—0",05 lg. Pedunculi axillares, solitarii, pubescenti, uniflori, arcuati. Perianthium 0,11 1g. basi ventricosum, pars ventricosi oblonga, extus lineata, 007,20x 07,014 pars media cylindrata, incurvata, 0,03 lg., aunuli in parte ven- tricosam transversaliter obstructi, labium incurvum lanceolatum, acutum, anticê concavum, pillis elongatis marginatum. Columna genitais O»,005 lg. usque ad tertiam longitudinis partem superne 6 loba, lobis angustis, triangularis, intus incurvatis, lineis sti- gmatosis papilosis. Antherae oblonga, obstuss, parallele, basi loborum attingentes. Capsula pendula, glabra, longé-obovoidea, sexangularis, dehiscentiá basilari pedunculo 6-partibili,07,04x 0,15 lg. HAB. in locis arvensis ad Tarumã, in Rio Negro, Urubu-kaã incolis vocatur Flor. Sept. Obs.— A ordem das Aristolochiaceas, a antiga Sarmentacea de Linneo, é representada no Brazil, segundo o Dr. Maxwel Masters, sômente pelos generos Holostylis de Duchartre, que contém uma só especie, e Aristolochia, que conta muitas em todo Brazil, conhecidas por Melombe ou Milome, que adulteraram para Mil homens, mais ou menos consideradas pelas suas virtudes contra o veneno ophydico e propriedades emmenagogas. ; - x AS aids emmenagogas que dizem ter as Aristolochias não são baseadas em observações indigenas ; são simplesmente o resultado da tradição importada, 72 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM porque desde a mais remota antiguidade, no Egypto, se considera as plantas desta familia como tendo o poder de facilitar a expulsão da placenta e de facilitar o corri- mento lochial. As mesmas propriedades, que dizem ter, contra o veneno ophydico, tambem são fructos da mesma tradição, divulgados pelo emprego da A. Serpentaria, de que se servem no Egypto os domadores de cobras, para entorpecel-as. No Amazonas, em geral, são ellas conhecidas pelo nome vulgar de Urubu-had e reputadas excellentes nas molestias de garganta, nas inchações, etc. * São plantas dos alqueives o apenas na floresta virgem encontrei a que aqui descrevo, Considero novas as duas especies, por não se acharem diagnosticadas, nem na monographia que em 1864 Duchartre publicou no Prodromus de De Candolle, nem na ultima publicada pelo Dr. Martius em 1876, na Flora Brasiliensis, Publicações posteriores tambem não mencionam estas especies. A A. chrysochlora, pelo numero de suas flores e pelas suas folhas, de um verde metallino, marginadas de uma côr de ouro fusco, muito se recommenda aos flori- cultores como sendo uma das trepadeiras mais dignas de apreço. Suas flóres são verdes, maculadas e mosqueadas de pardo-arroxado. Museu botanico do Amazonas, em 1 de junho de 1887. 1 Tomadas em gargarejos, chá e banhos. ADDENDA Por motivos indepeidentes da minha vontade sahe, depois de um anno no prélo, o presente volume que devia sahir em Dezembro de 1887; como, porém, não ha mal que não traga o bem, favoreceu-me essa falta o poder incluir aqui uma declaração necessaria. Tendo publicado uma memoria sob o titulo O Tamakoare, especies novas da ordem das Ternstroemiaceas, na qual descrevi as que aqui na Eclogae plantarwum junto, por ter sahido com algunserros, a Revista Pharmaceutica do Rio de Janeiro, sem razão, achou que essas especies não eram mais do que as que o dr. Henrique Wawra von Fernsee apresentou na sua monographia, que chegou à Côrte do Imperio, na mesma data em que ahi appareceu a minha memoria, pelo que fui obrigado, por compromisso anteriormente tomado pela imprensa, de publicar no Jornal do Commercio de 25 de junho de 1888 a declaração abaixo que agradecido, transcrevo como a Gazetilha do mesmo jornal a apresentou ao publico. « Botanica.— E' sempre com prazer que abrimos espaço a com- municações interessantes para a sciencia, tenham por fim ventilar ponto questionado, dar noticias de estudos novos ou firmar ou defender o direito que brazileiros hajam adquirido à precedencia de descobrimentos. Desta ultima cathegoria é a seguinte communicação que nos manda do Amazonas o Sr. J. Barbosa Rodrigues, o qual tem alli, na incomparavel flora da vasta região, campo fecundissimo de estudos uteis da sua especialidade. » « A 24 de abril quiz essa redacção publicar uma reclamação minha acerca da classificação que havia eu feito, de cinco Caraipas novas, e que taes não pareceram à Revista Pharmaceutica por se presumir que estavam deseriptas na monographia que a respeito das Ternstroemiaceas escreveu na Fiora Brasiliensis o meu sabio amigo Dr. Wawra von Fernsee. VOL. 1. 10 74 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Venho agora desempenhar-me da promessa que então fiz a essa redacção, invocando mais uma vez o grande zelo com que ella se dedica a fomentar os interesses da sciencia, e do qual tenho muitas provas recebido na minha não curta vida de trabalho. « Logo que me chegou às mãos o fasciculo da Flora, publicado a 1º de abril de 1886, dei-me immediatamente ao estudo da questão e consi- dero-me feliz por me ser dado declarar de modo cathegorico que nenhuma das minhas cinco especies de Caraipas foi indicada pelo Dr Wawra. Apresenta este tão sómente oito especies e nenhuma se identifica com aquellas que, portanto, são verdadeiramente novas. « Felizmente, nem careço de entrar em particularidades ou explicações para o provar, porque para isto me fornece elementos o Dr. Wawra. Com effeito, no seu Conspectus specierum, divide o notavel botanico as oito especies em dous grupos: um de paniculas glabras, outro de paniculas tomentosas, incluindo duas especies no primeiro grupo e seis no segundo. Ora, em algum dos dous grupos, devem de achar-se as minhas cinco especies, a terem sido mencionadas por Wawra. Examinemos, pois. « As minhas especies todas teem paniculas tomentosas e folhas pubescentes ou glandulosas. Não podem, portanto, achar-se no primeiro grupo. Restam as seis do segundo, Vejamos se são identicas às minhas. « Divide Wawra o segundo grupo em duas secções pela fórma das paniculas, sendo as da segunda subdivisão, que abrange quatro especies, todas folia de wndique glaberrima. No numero daquellas não estão, pois, as minhas, que teem folhas interiormente glandulosas e pelludas . « Restam duas especies de Wawra, uma de folia hirtinervia e outra de panicula tomentella, não dizendo o autor no Conspectus nem na dia- gnose, ou descripção, si as folhas são pubescentes ou pelludas. Tambem a estampa que representa a planta, não menciona nenhuma pubescencia. Por esta duvida, e apezar de tal omissão, fica tão sómente em combate uma especie, porque a de folia hirtinervia nada tem que ver comas minhas, as quaes não teem sômente cobertas de pellos as nervuras, mas sim toda a pagina inferior. Ainda mesmo, pois, que uma especie, a C. grandifolia de Martius, se identificasse com alguma das minhas, que são cinco, quatro sahiram victoriosas, sendo proclamadas distinctase novas. « Confrontemos, no entanto, com a C. grandifolia, a minha palustris ou Pamakoaré do igapo, que se approxima daquella. Não posso presumir que Wawra não fizesse cabedal desta pubescencia, que é especial por ser formada de pellos estrelados que lhe dão aspecto particular, quando do simples tomento se utilisa o eminente botanico para distinguir algumas ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 75 especies do segundo grupo, e até para distinguir este grupo do primeiro. Ja por este lado afasta-se da de Martius a minha especie. « Dado, porém, que este caracter haja sido posto de parte, o que não é para acreditar, a confrontação de outros os caracteres não chegarà a resul- tado diverso. As folhas da grandifolia são caudato-acuminatis, e as do palustris são acutis; o ovario daquella é viltato e pubescente e o desta é laevi e glabrum; a inserção e disposição dos estames é inteiramente differente nas duas plantas; as antheras tambem muito diferentes; os ovulos teem estructura completamente diversa, não fallando da fôrma e posição das sepalas e petalas, nem de muitas outras particularidades que fôra longo enumerar, mas que resaltam bem do exame da estampa, a qual sahiu por equivoco com a denominação rwpestris em vez da de palustris. Sô o aspecto geral é commum. A diagnose comparada afasta toda a iden- tificação. Assim arredada esta approximação, ficam de pê as minhas cinco especies, cabendo-me portanto, perfeitissimo direito de assegurar que o Brazil possue 13 especies de Caraipas conhecidas, das quaes oito classi- ficadas por hotanicos estrangeiros e cinco por botanico hrazileiro. » J. Barbosa Rodrigues. 00 O Ha dO ma EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS PRIMEIRA SERIE EST. E — CymporeTALUM oDORATISSIMUM, Barb. Rod. - Flôr aberta, de tamanho natural. - Botão novo. - Pétala exterior, de tamanho natural. - Dita interna, idem. « Calyce, disco e estames, idem. - Fructo, idem. - Semente vista pela parte superior; a, a mesma, pela parte anterior ; db, a mesma, pela parte lateral e uma cortada verticalmente, tudo de tam. nat. - Uma sepala, idem. « Folhas em um galho, idem. EST. IE — CapraRIs URENS, Barb. Rod. . Flôr aberta, tamanho natural. Botões em dous grãos de desenvolvimento, idem. « Uma pétala, idem. Escama do disco. - Córte vertical de uma flôór, mostrando a posição de dous estames, e o estylo, idem. « Estigma, cinco vezes augmentado. « Ovarios cortados vertical e horizontalmente, o primeiro cinco vezes augmentado e o segundo dez. - Estylo, tam. nat. - Antheras vistas de frente e pelo dorso, oito vezes augmentadas, « Fructo cortado verticalmente, mostrando a massa ea posição das. sementes, estando algumas cortadas, tam. nat. - Uma folha vista pelo dorso, idem. EST. III — CoryxostrLIs PALUSTRIS, Barb. Rod. . Uma flôr aberta, de tam. nat. Um botão, idem. - Sepalas vistas pelo dorso, idem. . Pétalas, idem. - Estames envolvendo o estylo, idem. Y8 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 11. Ovarios cortados vertical e horizontalmente, tendo aquelle o estylo tambem cortado, tudo tres vezes augmentado. 12. Ovario e estylo, visto exteriormente, idem. 13. Antheras vistas pela parte interna, em estames unidos mostrando o esporão barbado, tudo duas vezes augmentado, 20. Uma folha, vista pelo dorso, tam. nat. EST. IV — Fig. A — SecuriDAacA ROsEA, Barb. Rod. 1. Uma flôr vista de lado, nove vezes augmentada e a mesma cortada verticalmente, para mostrar a posição do ovario e dos estames. 8. Estames, vistos internamento, 20 vezes augmentados. 81. Os mesmos vistos de lado, idem. Sem numero. Uma sepala exterior e a carina, 20 vezes augmentada. Fig. B— BREDEMEYERA ISABELIANA, Barb. Rod. 1. Uma flôr de tamanho natural e outra cortada verticalmente, quatro vezes ougmentadas. 8. Estames e petalas, vistas de frente, e de lado, idem. 11. Ovario visto de lado e cortado horizontalmente, 16 vezes augmentado. 12. Estigma, muito augmentado. Por engano na impressão ficou invertido. 13. Antheras vistas de frentee quasi de lado, 20 vezes augmentadas. 15. Fructos vistos de lado e verticalmente cortados. EST. V — Fig. A — CarsiIPA PALUSTRIS, Barb. Rod. A. Ramo florido de tamanho natural. . Flôr apetala, tres vezes augmentada. A mesma cortada verticalmente, mostrando o receptaculo e o ovario, idem. Uma sepala, vista pelo exterior, idem. Dous pellos da sepala, muito augmentados. Corte vertical do ovario, mostrando a posição dos ovulos, seis vezes augmentado. Dito horisontal do mesmo, idem. « Estame visto pelo dorso, muito augmentado. . Anthera, de frente, idem. « Fructo immaturo, de tamanho natural. 10. Córte transversal do mesmo, idem. 11. Uma semente vista pelo dorso, idem. 12. Uma cotyledone, com o embryão, idem. 13. Uma porção da folha mostrando as glandulas e um pello estrellado, muito augmentado. 14. Diagramma da flor. 15. Pollen inteiro, com o valor micrometrico '/p,. 16. Dito partido, idem. 17. Fructo secco depois da dehiscencia, tamanho natural. — cô 00 1 GO Cr Ha O Fig. B— O. siLvarica, Barb. Rod. Uma folha vista de frente, tam. nat. « Uma porção da mesma, mostrando as glandulas. w m SS Ota CO) mo 10. Ns ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 79 Fig. € — C. spuria, Barb. Rod. - Uma folha vista pela pagina superior, tam. nat. . Fructo immaturo, idem. « Córte transversal do mesmo, idem. Uma semente, idem. Uma cotyledone e radicula. « Uma porção da folha mostrando as glandulas e um pello claviforme ramoso, muito augmentada. EST. VI — Cariocar ToxirerRUM, Barb. Rod. « Calyce persistente no fructo de tam. nat. Fructo inteiro e cortado verticalmente, mostrando os espinhos da semente, idem. . Uma folha, tamanho natural. EST. VII— Fig. A — LastANTHERA AMAZONICA, Barb. Rod. - Uma flôr, 10 vezes augmentada. - O calyce, idem. - «—Uma petala vista pelo interior, idem. .- a«—Estame visto de frente, idem. .« I—Dito visto de lado, idem. - Ovario visto exteriormente e cortado verticalmente. . a«— Anthera no estame, vista de frente, mais augmentada. .« i—Dita vista de lado, idem. - Um galho de frutos e os mesmos cortados vertical e horizontalmente, tam. nat. 7. Uma semente, idem. . Uma folha presa ao galho, vista pelo dorso, idem. Fig. B — ENTADA PARANAGUANA, Barb. Rod. « Uma flôr muito augmentada e outra de tamanho natural. - Um botão, muito augmentado. - Uma petala, idem. « Ovario e estylo, idem. Anthera vista de frente, idem. Fig. C — SwaRTZIA CHRYZANTHA, Barb. Rod. . Uma flôr, tam. nat. . Petala, idem. . Ovario cortado verticalmente, idem. « Antheras de frente e de lado, augmentadas. EST. VIII — SaLACIA POLYANTHOMANIACA, Barb. Rod. . Flôr aberta e botões naturaes em um ramo e uma pequena porção dos ramos de flôres produzidas pela multiplicação dos estames. Um grão de pollen, muito augmentado. Ovario, estylo e estames cortados verticalmente mostrando o disco na flôr natural, depois da anthese e em botão, tudo muito augmentado. 20, ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM « Estame e anthera visto de frente, no botão, muito augmentados. - 4 — Anthera depois da anthese vista de frente, 10 vezes augmentadas. « t— Dita vista pelo dorso, idem. - Fructo, tamanho natural. « Dito cortado verticalmente, mostrando a disposiçãs das sementes idem - Uma semente cortada verticalmente, idem. Folha presa a um galho florigero, vista de frente, idem D — Diagramma da flôr. EST. IX — PassirLora HEXAGONOCARPA, Barb. Rod. - Uma flôr num ramo, de tamanho natural e outra cortada vertical- mente, duas vezes augmentada. Sepalas por engano, na estampa está o signal 11. 6. Petalas. 11. Ovario. 12. Estigmas. 13. Antheras. 15. Fructos, inteiro e cortado horisontalmente. 20. Folhas. 22. Corôa faucial. 23. Dita mediana. EST. X — DiLKEA JOHANNESII, Barb. Rod. 1. Flôr em um galho, tam. nat., e outra cortada verticalmente, duas vezes augmentada. 2. Botões. 4. Uma sepala. 6. Petalas. 13. Anthera. 15. Fructo inteiro e corte transversal do mesmo, tam. nat. 17. Sementes vistas de frente, de lado e partidas transversal e vertical- mente, idem. 20. Uma folha, idem. EST. XI — Tacsontra cocciNEa, Barb. Rod. 1. Uma flôr n'um galho de tamanho natural e outra cortada vertical- mente, duas vezes augmentadas, mostrando o gynandrophoro, o ovario, os estames, uma anthera e os stigmas. 10. Um grão de pollen, muito augmentado. 15. Fructos, inteiro e transversalmente partido, tam. nat. 20. Folhas, idem 22. Corda faucial. 23. Dita mediana. EST. XII — PassirLorA AMALOCARPA, Barb. Rod. 4. Sepalas. 6. Petalas. 12. Stigmas. 13. Anthera. 11. Ovario. 22. Corôa faucial, duas vezes augmentadas. 4. Sepala. 6. petalas. 14. Fructos, inteiro e cortado transversalmente, de tam. nat. 20. Folhas pelo dorso e de frente, idem. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 81 22. Corôa faucial. 23. Dita mediana, e uma parte muito augmentada. 24. Dita basilar Sem numero — Uma sepala, tam, nat. Ótima CO 9 ma co GO =] GO Gt pa COM DD a CO a) EST. XIII — PassirLora HypropHILA, Barb. Rod. - Uma flôr cortada verticalmente, tam. nat. Sepalas. 6. Petala. 10. e 12. Stigma. 13. Anthera. 15. Ovario. - Corôa faucial. EST. XIII a — Passiriora BarBOSAE, Barb. Rod. « Galho, folhas, gavinhas e botão, de tamanho natural. « Córte vertical de uma flôr, duas vezes augmentada. - Córte de uma metade da flôr mostrando as corõas, muito augmentado. - Um fructo de tamanho natural. « Côrte transversal do mesmo. AE Qi, 0.2 EST. XIIK b — PassirLorRA MURALIS, Barb. Rod. Folhas, gavinhas, botões e fructo, de tamanho natural. . Córte vertical de uma flôr, tamanho natural. - Uma bractea, tam. nat. - €4a. Sepalos visto pelo dorso e de face, duas vezes augmentadas. Petala vista pelo dorso, duas vezes augmentado. Anthera, vista de face, duas vezes augmentada. Dita vista pelo dorso, com um estame, ibidem Fructo maduro, tam. nat. Córte transversal do mesmo. EST. XIII ec — PassirLORA CABEDELENSIS, Barb. Rod. Uma folha vista pelo dorso, tam. nat. Um botão, ibidem. Córte vertical de uma flôr, duas vezes augmentado. « Corôa mediana, muito augmentada. Fructo, tam. nat. Córte transversal do mesmo. SEGUNDA SERIE Est. E. 4 — MyrciA ATRAMENTIFERA, Barb. Rod. 1. Uma flôr muito augmentada, cortada verticalmente, 2. Uma petala, vista pelo dorso, muito augmentada. 3. Uma anthera, idem. 4. Córte horisontal do ovario, idem. >. Um grão de pollen. Vol, 1 1 82 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM B — Couma MAcROoCARPA, Barb. Rod. 1. Fructo cortado verticalmente, de tamanho natural. 2. Uma semente despida da massa que a envolve, idem. 3. A mesma mostrando o embryão. Folhas de tamanho natural. Est. IE. 4 — Sraycirxos MmacroPHYLLA, Barb. Rod. Folha, vista pelo dorso, de tamanho natural, e uma gavinha. Uma flôr de tamanho natural. A mesma, duas vezes augmentada. A mesma, cortada verticalmente. Calyce, duas vezes augmentado. Anthera, quatro vezes augmentada. Fructo, de tamanho natural. Dito cortado verticalmente. NO gue go tom B — STRYCHNOS RIVULARIA, Barb. Rod. Folhas e gavinha, vistas pelo dorso e de tamanho natural. Uma flôr, de tamanho natural. A mesma, tres vezes augmentada. A mesma, cortada verticalmente. Anthera, vista de frente, augmentada. A mesma, vista pelo dorso, idem. Ovario, cortado transversalmente. Sup go to ra Est. III. 4 — Srrycinos ciganNTEA, Barb. Rod. a. Uma folha, de tamanho natural, vista pelo dorso. B — SrRYCHNOS ERICETINA, Barb. Rod. Uma flor, duas vezes augmentada. Calyce aberto, visto pela face externa, idem. Corolla aberta, vista pela face interna, idem. Dita, vista pela face externa, idem. Anthera, vista de frente, muito augmentada. Dita, vista pelo dorso, idem. Dita, depois da anthese, mostrando o pollen, Ovario, muito augmentado. Stygma. Fructo de tamanho natural, Dito, cortadado verticalmente. 13. Dito, cortado horisontalmente. a Uma folha, de tamnho natural, vista pelo dorso. 1. Outro fructo, de tamanho natural. 2. O mesmo, cortado verticalmente. 3. Dito, cortado horisontalmente. 4. Um cotyledone, mostrando o embryão. fr fed PRPEEN SON OO EU EST. IV — Srrycuxos UrBanil, Barb. Rod. a Uma folha, de tamanho natural, vista pelo dorso. CH CU MW— DRC wWwR Ha CO 0) ma ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 83 B — STRYCHNOS PAPILLOSA, Barb. Rod. a Uma folha, de tamanho natural, vista pelo dorso. b Uma folha, idem, idem, idem. Uma flôr, de tamanho natural. Dita, quatro vezes augmentada. Corolla aberta mostrando a parte interna, quatro vezes augmentada. Uma petala, vista pela parte interna, cinco vezes augmentada. Ovario, idem. Stygma muito augmentado. Córte transversal do ovario, dez vezes augmentado. 1. Fructo, visto pelo dorso, de tamanho natural. Dito visto de lado, idem. Córte vertical do mesmo, idem. Córte transversal do mesmo, idem. Embryão, tres vezes augmentado. € — SrrycHNnos RIVULARIA. Barb. Rod. Fructo, visto pelo dorso, de tamanho natural. Dito, visto pela frente, idem. Dito, visto de lado, idem. Córte transversal do mesmo, idem. Est. W— SrrycHNos MANAOENSES. Barb. Rod. A. 4. Uma folha, vista pelo dorso, de tamanho natural. B. b. Outra, idem, idem. fred fal [e] - Haste de flôres, depois da anthese, duas vezes, augmentada. - Bractea, dez vezes augmentada. - Uma flôr e ovario, de tamanho natural. « Dita, cinco vezes augmentada. . Calyce, dez vezes augmentada. « Córte vertical do ovario, dez vezes augmentado. « Córte transversal do mesmo, idem. - Fructo, de tamanho natural. - Córte transversal do mesmo, idem. . Córte transversal do mesmo, idem. - Embryão, quatro vezes augmentado. = OO O IDO CA Est. VE— ELcomarHiza AMYLACEA. Barb. Rod. Uma folha, vista de frente, de tamanho natural. Galho de flôres, de tamanho natural. « Uma flôr, tres vezes augmentada. . Corôda estaminal, vista de cima, vinte vezes augmentada. .« Corolla aberta, mostrando a parte interna, tres vezes augmentada. . Corôa estaminal, vista de lado. « Phylloide, visto de frente, muito augmentado. « Antheras e stygmas, vistas de lado. . As mesmas, vistas de cima, vinte vezes augmentada. . Pollinias e stygmas, vinte vezes augmentadas. « Ditos, soltos, vistos pela parte anterior, muito augmentados. « Retinaculo, visto de frente. ts CD GO IDO HA CW mm SO 84 ECLOGAR PLANTARUM NOVARUM Est. VII— LzucocaLaNTHA AROMATICA, Barb, Rod. à. Peciolo e foliolo vistos pelo dorso, tamanho natural. 1. Uma flôr, de tamanho natural. 2. A mesma, aberta. 3. Parte do tubo e da corolla, mostrando externamente as glandulas. 4. Anthera, vista de frente, cinco vezes augmentada. 5. Dita, vista pelo dorso, idem. 6. Ovario e stigma, idem. 6a. Dito, cortado transversalmente, idem. a Pollen, muito augmentado. B Pollen da Datura insignis, muito augmentado. Est. VIEI—OsmiyDRoPHORA NOCTURNA, Barb. Rod. a. Peciolo, foliolo e gavinha, de tamanho natural. b. Ramo e flôr, de tamanho natural. C. Diagramma. Est. EX —OsmyypRoPHORA NOCTURNA, Barb. Rod. 1. Uma flôr, aberta, de tamanho natural. 2. Corolla da mesma, vista pela parte externa, idem. 3: Calyce e filete, de tamanho natural. 4. Ovario, idem. 5. Dito, cortado verticalmente, muito augmentado. 6. Dito, mostranlo os ovulos, idem. 7. Dito, cortado transversalmente, idem. Est. X—TyxantHUS IGNEUS, Barb. Rod. . Peciolo e foliolos, de tamanho natural. Grão de pollen, muito augmentado. .« Uma flôr, de tamanho natural. . A mesma, aberta, idem. A mesma, cortada verticalmente, idem. « Calyce, muito augmentado. « Anthera, vista pela frente, muito augmentada. 5a. À mesma, vista pelo dorso, idem. 6. Córte vertical do ovario, muito augmentado. 6a. Dito transversal do mesmo, idem. 7. Stygma, muito augmentado. ST CO 1 O = Est. XE — BigxoxiA PLATYDACTYLA, Barb. Rod. a) — Folhase gavinhas, de tam. nat. 1. Uma flôr, ibidem. 2. A mesma aberta, ibidem. 3. Base do tubo da corolla, ibidem. 4. Calyce, ibidem. 5. Ovario, ibidem. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 83 6. Stigma, duas vezes augmentado. 7. Córte longitudinal do ovario, ibidem. 8. Dito transversal do mesmo, ibidem. 9. e 10. Antheras, augmentadas. 11. Anthera, vista de face. Est. KIK — BigNoNIA VESPERTILIA, Barb. Rod. a) — Uma folha, tam. nat. b) — Gavinhas e folhas, tam. nat. Estas duas figuras mostram o dimorphismo das folhas. 1. Uma flôr, tam. nat. 2. Corte da base do tubo da corolla mostrando os estames, tam. nat. 3. Córte longitudinal do ovario, e stigma, cinco vezes augmentados. 4. Córte transversal do ovario. Est. XIII — BigxoxiA vESPERTILIA, Barb. Rod. 1. Uma porção do fructo aberto, outra do que resta depois da queda das valvulas, mostrando os filamentos, e uma semente com o grão do lado do hilo, e as azas. 2. Bignonia platydactyla, Barb Rod. Uma porção do fructo fechado, outra do que resta do mesmo depois da queda e uma semente, tam. nat. 3. Leucalantha. Uma porção do fructo fechado, outra do que resta do mesmo depois de aberto, duas sementes mostrando o grão e o hilo e um grão desta- cado, tam. nat. Est. KXIW — LunDia DENSIFLORA, D. €. a) — Uma folha e uma gavinha, tam. nat. Botões em dous gráus de desenvolvimento, de tam. nat. Uma flôr, tam. nat. Dita aberta, mostrando os estames, tam. not. Base do tubo de uma flôr, com o calyce, cortada verticalmente, mos- trando o ovario, e este cortado transversalmento tres vezes augmentado. 5. Um pello do ovario, tres vezes augmentado. 6. Estylo tam. nat. 7. Stigma, tres vezes augmentado. Ha CO) ma Est. KW — FLÔRES MONSTRUOSAS DA LUNDIA DENSIFLORA, D. C. 1. Flôr aberta mostrando os cinco estames normaes e cinco unidos for- mando duas petalas, tam. nat. 2. Outra com seis estames distinctos e quatro petaloides, tam. nat. 3. Outra com seis estames distinctos e quatro petaloides. 4. Outra com seis estames distinctos e tres petaloides e uma petala. d. Outra com sete estames distinctos, duas petaloides e uma petala. 6. Outra com seis estames distinctos, um petaloide e duas petalas. Todos os estames normaes são proliferosos as figuras de tam. nat. 86 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Est. XVI — A. MARIPA PANICULATA, Barb. Rod. a) — Folha, vista pelo dorso, tam. nat. 1. Flôr, tam. nat. 2. e 8. Sepalos, ibidem. 4. Corolla aberta, ibidem. 5. e 6. Estames e antheras, vistos de face e pelo dorso, muito augmentados. 7. Ovario, estylo e estigma, quatro vezes augmentados. 8. Córte transversal ao ovario, quatro vezes augmentando. B — OPERCULINA VIOLACEA, Barb. Rod. 1. Haste com botões, flôres abertas, e murchas, tam. nat. 2. Secção vertical da flôr, mostrando o ovario e a posição dos estames, duas vezes augmentada. 3. Uma porção ao estylo com o stigma, duas vezes augmentado. 4. Córte transversal ao ovario, idem. 5. Um grão de pollen, muito augmentado. 6. Córte transversal ao fructo, maduro, detam. nat. 7. Córte de uma semente tam. nat. EST. XVII — Iromora supeRsTITIOSA, Barb. Rod. . Galho, folha e flôr, de tam. nat. Uma flôr, aberta, tam. nat. Base de um estame, tres vezes augmentado. e 4. Antheras, vistas pelo dorso e de frente, depois da anthese, cinco vezes augmentadas. 5e 6. Antheras, antes da anthese, idem, idem. 7. Ovario, stylo e stigma, duas vezes augmentados. 8. Grão de pollen, muito augmentado. A IL Bs 5) EST. X VIIE — NEcTANDRA ELAIOPHORA, Barb. Rod. 1. Folha, fructo, tamanho natural. 2. Fructo aberto longitudinalmente, idem. 3. Semente, mostrando o embryão, idem. 4. Embryão, muito augmentado. EST.XIX — A. RourpaLA YAUAPERYENSIS, Barb. Rod. A. Folha, tam. nat. le2. Flôres de tamanho natural e trez vezes augmentadas. 3. Flôr fechada, idem. 4. Petala e estame, seis vezes augmentados. 5. Estylo, seis vezes augmentado. a. Grão de pollen, muito augmentado. EST. XX — Lixostoma ALBIFLORUM, Barb. Rod. à. Folhase fructo de tamanho natural. 1e3. Flôres de tamanho natural. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 2. Flôr aberta, duas vezes augmentada. 4. Uma porção da flór, aberta, quatro vezes augmentada. 9 e 6 Antheras de frente e pelo dorso, oito vezes augmentadas. Stigma tres vezes augmentado. . Ovario, tres vezes augmentado. Fructo, tam. nat. . Córte vertical ao mesmo, idem. . Córte transversal ao mesmo, idem. CW OO TO EST. XXI — SiparuUNA FogTIDA, Barb. Rod. à Galho e folhas, tam. nat. 1le2. Flôres femeas, de tam. nat. e muito augmentadas. 3. Córte de uma flôr femea, muito augmentada. 4. Ovario, muito augmentado. 5. Flôr masculina, idem. 6. Córte da mesma. 7. Antheras, idem. 8. Fructo, tam. nat. 9. Córte verticalao mesmo. O. Dito horizontal do mesmo. EST. KX IE — AristoLocria siLVATICA, Barb. Rod. Galho e flôr, tam. nat. Córte vertical de uma flôr, idem. Antheras e stygmas, tres vezes augmentados. Córte transversal. Fructo, depois da dehiscencia, tam. nat. Crea CO 10) m EST. XXIII — ARiIsTOLOCHIA CHRYSOCHLORA, Barb. Rod. A. Folha de tam. nat. 1. Flôr de tam. nat. 2. Corte vertical da mesma, tam. nat. 3e4, Córte transversal, idem. 5. Fructo, tam. nat. 6. Córte transversal do mesmo. B. 4. silvatica, Barb. Rod. Uma folha, tam. nat. EST. EI — Porte do AsTROTARYUM MANAOENSE, Barb. Rod. EST. II — MAxIMILIANA LONGIROSTRATA, Barb. Rod. 1. Apice de um foliolo, tam. nat. 2. Porção de um foliolo, idem. 3. Spatha, muito reduzida. 4. Ramo de flôres, femeas e masculinas, tam. nat. ECLOGAE PLANTARUM NOV ARUM Flôr masculina, tam. nat. Flôr augmentada, Gyneceo abortivo muito augmentado. Flôr femea, tam. nat. Petala, tam. nat. Calyce, idem. Androceo abortivo, idem. Córte transversal do ovario, idem, Fructo, idem. Córte vertical do mesmo, Córte transversal do mesmo. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 83 6. Stigma, duas vezes augmentado. 7. Córte longitudinal do ovario, ibidem. 8. Dito transversal do mesmo, ibidem. 9. e 10. Antheras, augmentadas, 1. Anthera, vista de face. Est. KIKI — BigxoxiA VESPERTILIA, Barb. Rod. a) — Uma folha, tam. nat. b) — Gavinhas e folhas, tam. nat. Estas duas figuras mostram e dimorphismo das folhas. 1. Uma flôr, tam. nat. 2. Corte da base do tubo da corolla mostrando os estames, tam. nat. 3. Córte longitudinal do ovario, e stigma, cinco vezes augmentados. 4. Corte transversal do ovario. Est. KIIE — BigxoNIA VESPERTILIA, Barb. Rod. 1. Uma porção do fructo aberto, outra do que resta depois da queda das valvulas, mostrando os filamentos, e uma semente com o grão de lado do hilo, e as azas. 2. Bignonia platydactyla, Barb Rod. Uma porção do fructo fechado, outra do que resta do mesmo depois da queda e uma semente, tam. nat. 3. Leucalantha. Uma porção do fructo fechado, outra do que resta do mesmo depois de aberto, duas sementes mostrando o grão e o hilo e um grão desta- cado, tam. nat. Est. KIW — LunDiA DENsIFLORA, D. O. a) — Uma folha e uma gavinha, tam. nat. 1. Botões em dous gráus de desenvolvimento, de tam. nat. 2. Uma flôr, tam. nat. 3. Dita aberta, mostrando os estames, tam. not. 4. Base do tubo de uma flôr, com o calyce, cortada verticalmente, mos- trando o ovario, e este cortado transversalmento tres vezes augmentado. 5. Um pello do ovario, tres vezes augmentado. Estylo tam. nat. Stigma, tres vezes augmentado. Est. KW — FLÔRES MONSTRUOSAS DA LUNDIA DENSIFLORA, D. C. 1. Flôr aberta mostrando os cinco estames normaes e cinco unidos for- mando duas petalas, tam. nat. 2. Outra com seis estames distinctos e quatro petaloides, tam. nat. 3. Outra com seis estames distinctos e quatro petaloides. 4. Outra com seis estames distinctos e tres petaloides e uma petala. à. Outra com sete estames distinctos, duas petaloides e uma petala.. 6. Outra com seis estames distinctos, um petaloide e duas petalas. Todos os estames normaes são proliferosos as figuras de tam. nat. 86 ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM Est. XVI — A. MARriPA PANICULATA, Barb. Rod. «) — Folha, vista pelo dorso, tam. nat. Flôr, tam. nat. e 3. Sepalos, ibidem. Corolla aberta, ibidem. e 6. Estames e antheras, vistos de face e pelo dorso, muito augmentados. 7. Ovario, estylo e estigma, quatro vezes augmentados. 8. Córte transversal ao ovario, quatro vezes augmentando. Cry — B — OPpERCULINA VIOLACEA, Barb. Rod. 1. Haste com botões, flôres abertas, e murchas, tam. nat. 2. Secção vertical da flôr, mostrando o ovario e a posição dos estames, duas vezes augmentada. 3. Uma porção ao estylo com o stigma, duas vezes augmentado. 4. Córte transversal ao ovario, idem. 5. Um grão de pollen, muito augmentado. 6. Córte transversal ao fructo, maduro, detam. nat. 7. Córte de uma semente tam. nat. EST. XVII — Iromora supERsTITIOSA, Barb. Rod. A. Galho, folha e flôr, de tam. nat. 1. Uma flôr, aberta, tam. nat. À 2. Base de um estame, tres vezes augmentado. 3e4. Antheras, vistas pelo dorso e de frente, depois da anthese, cinco vezes augmentadas. be 6. Antheras, antes da anthese, idem, idem. 7. Ovario, stylo e stigma, duas vezes augmentados. 8. Grão de pollen, muito augmentado. EST. X VIHI — NEcrTANDRA ELAIOPHORA, Barb. Rod. 1. Folha, fructo, tamanho natural. 2. Fructo aberto longitudinalmente, idem. 3. Semente, mostrando o embryão, idem. 4. Embryão, muito augmentado. EST. XIX — A. RouraLA YAUAPERYENSIS, Barb. Rod. A. Folha, tam. nat. le2. Flôres de tamanho natural e trez vezes augmentadas. 3. Flôr fechada, idem. 4. Petala e estame, seis vezes augmentados. à. Estylo, seis vezes augmentado. a. Grão de pollen, muito augmentado. EST. XX — Lixostoma ALBIPLORUM, Barb. Rod. à. Folhase fructo de tamanho natural. 1le3. Flôres de tamanho natural. ECLOGAE PLANTARUM NOVARUM 2. Flôr aberta, duas vezes augmentada. 4. Uma porção da flôr, aberta, “quatro vezes augmentada. e 6 Antheras de frente e pelo dorso, oito vezes augmentadas. Stigma tres vezes augmentado. Ovario, tres vezes augmentado. Fructo, tam. nat. Corte vertical ao mesmo, idem. Córte transversal ao mesmo, idem. id ca EST. XXI — SiparuNA FogrTIDA, Barb. Rod. a Galho e folhas, tam. nat. 1le2. Flôres femeas, de tam. nat. e muito augmentadas. 3. Córte de uma flôr femea, muito augmentada. 4. Ovario, muito augmentado. 5. Flôr masculina, idem. 6. Córteda mesma. 7. Antheras, idem. 8. Fructo, tam. nat. 9. Córte verticalao mesmo. O. Dito horizontal do mesmo. EST. XXXII — AristoLocHia siLVATICA, Barb. Rod. 1. Galho e flôr, tam. nat. 2. Córte vertical de uma flôr, idem. 3. Antheras e stygmas, tres vezes augmentados. 4. Corte transversal. à. Fructo, depois da dehiscencia, tam. nat. EST. XX IEI — ARriIsTOLOCHIA CHRYSOCHLORA, Barb. Rod. A. Folha de tam. nat. Flôr de tam. nat. Corte vertical da mesma, tam. nat. fardo Córte transversal, idem. Fructo, tam. nat. Córte transversal do mesmo. B. A. silvatica, Barb. Rod. Uma folha, tam. nat. DO Cm EST. EI — Porte do AsTROTARYUM MANAOENSE, Barb. Rod. EST. IE — MAxIMILIANA LONGIROSTRATA, Barb. Rod. Apice de um foliolo, tam. nat. Porção de um foliolo, idem. Spatha, muito reduzida. - Ramo de flôres, femeas e masculinas, tam. nat. He CO TO 87 ECLOGAE PLANTARUM NOV ARUM Flôr masculina, tam. nat. Flôr augmentada. Gyneceo abortivo muito augmentado., Flôr femea, tam. nat. Petala, tam. nat. Calyce, idem. Androceo abortivo, idem. Córte transversal do ovario, idem. Fructo, idem. Córte vertical do mesmo. Córte transversal do mesmo. PALMAE AMAZONENSIS NOVAE Palmae Amazonensis novae AUCTORE J. Barsosa RopriGuES Direct. Musei bot. Amaz. 1554-1986 oro PALMAE soam mim COCOINAE qu GEONOMA win. Gen, Geonoma Beccariana Barb. Rod. (Sertum Palmarumn, MSS.() et in Herb. Mus. bot. Amaz. n. 154.) Caudex elatus gracilis caes- pitosus 6-10 foliis contemporaneis; folia simplicia bifida utrinque 19-20 nervis, triangulari-falcata acuminata longé mucronata; spadix bre- vissime pedunculatus multi-ramosus, ramo inferiore ramificato, pe- dunculo brevi cylindraceo rachi duplo majore, ramis patentibus in- curvatis apice laeviter mucronatis ; alveolis immersis in spira tristi- chis ; flores fem. calyce trisepalo, sepalis oblongis concavis obtusis marginibus arguté serratis, petalis connatis usque ad medium con- cavis subacutis. Caudices 4-10 contemporanei, 2-2750x07,006—0m,010 remote-annulati, flavidi. Folia arcuato-patentia ; lamina 0",54X0",11 1g.; nervis utrinque elevatis. Spadicis pedunculo 0,035 lg .; rachis 07,070 lg.; ramis 10-contemporaneis 0,200" ,27 lg. HAB. in silvis humidis ad ripas Rio Negro, propê Kuireru; prov. Ama- zonas. Obs. Em Setembro de 1884, encontrei esta especie sem flores ou fructos, tendo alguns exemplares apenas os espadices perfeitos, porém seccos, pelo que não pude : (4 Esta obra que ainda se conserva manuscripta, tem sido, comtudo, exposta em varias Exposições Nacionaes, e contém quasi duzentas estampas coloridas, representando as partes das plantas de tamanho natural, pelo que forma um in-folio de grande dimensão, que com- prehende todas as minhas especies novas. Nora Do ÁuTOR. 92 PALMAE AMOZONENSIS NOVAE examinar senão algumas flores femininas, já com os ovarios estragados. Apezar orém dessa falta, que mais tarde compensarei, apresenta ella caracteros que a istinguom de todas conhecidas até hoje, em vista do que ms apresso em apresentar sua diagnose para não perder o direito na prioridade da classificação. Dedico a ao meu illustre amigo Eduardo Beccario, botanico florentino, a quem o mundo sciontifico deve o conhecimento das novas palmeiras da Malasia e das ilhas da Pa- pua, publicadas em sua Malesia, trabalho de grande valor scientífico e que revela a maior erudição no autor. Gen, DESMONCUS Mart, 1. Desmoncus macrocarpus (Barb. Rod. loc. cit. n. 142.) Caudex crassus validus scandens caespitosus foliis magnis approxima- tis vestitus ; folia erecto-patentia longa, vaginã et ochreà cylindrace aculeis setulosis nigris pungentibus a basi callosis densi obtectã ; pe- tiolo valido brevissimo intus et extus aculeatissimo dorso convexo-an- guloso, rachi aculeis setulosis nigris tecto, intus bifaciali-anguloso, extus convexo, foliolis 4-5-jugis lanceolatis acutissimis suboppositis v. sparsis ad basin aculeis nigris compactis armatis, nervurá mediã utrinque aculeis magnis armatà, flagello valido inermi spinis 6-7 Jugis magnis, spatha exterior brevis laevis, interior lanceolata mu- cronata cculeis nigris erectis densé armata ; spadix longé peduncula- tus erectus ramosus, pedunculo usque ad rachis densê aculeatos, ra- chis inermis; rami 14-16 validi; flores ignotae. Drupa magna oblonga, mesocarpio succulento putamine osseo fusco. Caudex flexuosus 5-6 m. altus et 07,025—0,02030 in diam. Folia 1” ,80 =[",85 lg,. Flagellum 0,620" ,65 lg.. Foliola 0",18—0m 28x 02,03—0"04 Ig. Spinae infimae 07,020 Ig., patentes v. reflexae. Aculei vaginam investiunt erecti, pungentes, acuti 07,002—0=,006 Ig. supra petiolum erecti compacti 07,01—0=,02 Tg.. Spatha interior usque ad rachin 07,22x0",05 Ig.. Spadia ochreis inclusis. Pedun- culus totus 0,283 Ig., parte libera 07,07 lg.. Rami 0=,05—0=,08 lg.. Drupa oblonga in vertice brevissime apiculata 07,025x07,015 Ig,, rubra; mesocarpio lavo. Putamine 070,022x0"011 lg. HAB. in Brasilia aequatoriali, in silvis aboriginibus, ad flum, Yaua- pery, qui in Rio Negro influit. Indii Makuchy vocant Uaiapé. Fruct in Junio. Obs. Esta magnifica especie, que forma grandes soqueiras, a que os indios vulgarmente denominan Yacitara, de Y-acê-tára, o que prende os individuos, cresce nos lugares humidos, à margen dorio Yauapery, e muitas vezes fica dentro d'agua, subindo às arvores das margens, agarrada pelos ganchos de suas folhas. Os fructos são os maiores do genero. Cabe-me aqui a dar uma ligeira noticia da vegetação do rio Yauapery e dos re- sultados botanicos das escursões que n'elle fiz. Incumhido, em Janeiro de 1884, pelo Governo Provincial do Amazonas, por conta do Ministerio da Agricultura, de pacificar uma tribu de selvagens que habitam o rio Yauapery, afluente do Rio Negro, tribu que ha longos annos, por suas correrias, e malvadez, trazia em sobresalto as povoações do mesmo rio, dirigi-me em Março do mesmo anno para esse porto, afim de desempenhar essa commissão. NB Posto qua essa obra fosse unicamente humanitaria e não scientifica, não deixei, comtudo, de fazer alguns estudos todas as vezes que o tempo e as cireumstancias m'o permittiam. PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 93 Percorridas as margens pelos selvagens, ignorando-se o logar de suas habita- ções, sabendo-se apenas que silenciosamente accompanhavam, longe de olhares es- tranhos, as canôas que sulcavam as aguas, não podendo-se por isso navegar senão pelo meio do rio, afastado das margens, sendo-se obrigado a dormir sobre as aguas, chegando-se até a preparar comida dentro da propria canõa, não me foi possivel tentar uma só herborisação, durante minha primeira excursão, até o dia em que en- contrei os selvagers pela primeira vez. Contentava-me em vêr as lianas suspensas e as arvores esmaltadas por flores variegadas. Respeitava-as, entretanto, deixando-as guardadas pela ponta das flechas selvagens que imaginavamos existirem por toda a parte. Depois do primeiro encontro, tendo tido depois a felicidade de pacificar os sel- vagens da tribu, cujo nome, Krichaná, até então era desconhecido no baixo Rio Negro, ainda não me sobrava tempo para entregar-me à res herbaria. Durante todo o dia, ou parte delle, rodeado de selvagens,em explicações diversas, nada podia fazer. As horas que me restavam serviam para descanso e restabeleci- mento das forças perdidas no exercicio barbaro de dansas forçadas, ao rigor do sol em praias arenosas. Nas excursões que se seguiram, emquanto esperava os selvagens aproveitei o tempo correndo as mattas, sem me afastar dos poucos companheiros que ficavam de guarda à canoa, sempre ao alcance da voz de chamada, não podendo afastar-me para longe, já pelo receio que tinham os meus quando delles me separava, já para não deixar de receber os selvagens logo que se approximavam. e tranquilisal-os com minha presença. Apezar disso, porém, consegui juntar uma colleção não destituida de interesse. Seria ella maior si a epoca da florescencia me protegesse. Infelizmente raras eram então as plantas ao alcance da mão que se apresentavam floridas e dificil se tornava a obtenção de outras, que, em grande altura, só se po- deriam possuir cortando troncos a machado. Restringi-me, pois, áquillo que as margens me ofereciam, durante a passagem e não pequena foi a messe, que constitue para a sciencia uma boa contribuição. Voudar aqui, em rapido esboço, uma ideia das margens do rio e da vegetação que as cobre. O Yauapery corre em um valle de terrenos de alluvião moderna até algumas leguas acima da foz, alluvião formada pelo antigo Rio Negro, cujo leito tem-se mo- dificado pela grande diminuição das aguas. Isto faz com que a vegetação seja toda igual à desse rio e só se encontrem fiorestas primitivas em uma ou outra ponta de terra firme que se adianta para o rio. Essas margens baixas que formam vargens e que se alagam pela repreza das aguas que tudo destroem e onde não apparecem as madeiras reaes e só cresce uma vegetação rasteira, são invadidas por gramineas que, apossando-se dos terrenos, os esterilisam. Só mais tarde, quando a grande camada de restos putrefactos começa a formar humus, surgem hervas e arbustos que, transformando-se com o correr dos annos, formam uma floresta baixa, intrincada pelos cipoães de Banisteras, Ipomoeas. Jac- quemontias, Allamandas, Bignonias e Sapindaceas que-cobrem os galhos, fazendo de- sapparecer a ramagem, matando muita vezes a arvore protectora e dando um aspecto exquisito à paisagem que toma formas caprichosas de montanhas, columnas, atrios e alpendres de verdura trepadora. Ahi vêm-se as Cecropias ,o Saliv Humbold ianu, as Swartias, os Bombax (piriqui- teira) as Eugenias, os Triplaris (tachy), algumas Lucumas, as Plumerias(makuku). as Tabernaemontanas, as E unsêineãos e Rollinias, o Astrocaryun Jauary, o Bactris bi- dentula, um ou outro Desmoncus, algumas Geononas, a Clitoria Amazonum e as Clu- sias matadoras, quando a floresta vai adiantada em annos. Elevando-se deste modo o terreno, solidificado pelas raizes onde se accumulam os detritos que as aguas acarretam, começa a formação das terras altas onde appare- cemas Melastomaceas. Alchorneas, Artanthes, Ottonias e Piperomias; os Ingds, Cassias e Piptadenias e as Parkias, as Seringueiras, como as Hevea Spruceana, Brasiliensis e Guyunensis que dão a gomma elastica ordinaria, vendo-se comtudo a Hevea discolor Muell., que dá a verdadeira borracha. Unindo-se esses terrenos à terra firme, notamos a Pentaclethra filamentosa Mart., a Maximiliana regia, a Euterpe edulis, a OEnocarpus baccaba, as Qualeas, os Orchi- deas representada por varios generos, os Philodendruns, cujas raizes p'ndem das ar- vures, os Hyospathes, as Geomonas pychnostachys e acaule, em sociedade, e os Astro- caryuns mumbaca e gymnacanthum. 94 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE As madeiras cujo cerne a mercenaria,as construcções e a industria reclaman, têm como representante o pão róxo (Peltogyne), o Copaifera, os Acrodiclidiuns, conheci- dos por itaúba, as Nectandras e Aydendruns (louros e puchiris) e os Mespilodaphnes, Torna-se notavel a Boiaaçu, (Oreodaphne Cayanensis), cujas folhas de um bello tom argentado se destaca do verde escuro da folhagem. AS Leguminosas, Laurineas, Euphorbiaceas, Sapotaceas, Apocynaceas, Myrtaceas, ete., formam o docel da floresta, à cuja sombra crescem os Rubiaceas, as Marantas, as Helosis, as Voyrias, e uma multidão de pequenos arbustos, typos de diferentes familias, cuja enumeração seria longa, Finalmente, encontrei pelas matas, representados por cinco especies dos generos Couratari e Tecoma, os tauarys, cujo liber os naturaes aproveitam para mortalhas de cigarros. E” enorme a riqueza vegetal dessa região, quer a tomemos pelo lado scientífico, quer pelo commercial. Entretanto o trabalho não encontra compensação, em con- sequencia da distancia que separa os individuos. Havendo boas seringueiras,, co= pahybeiras, pão cravo, etc., não existem seringaes, copahybaes, etc. O trabalho nesso ponto poderá ser sempre bem recompensado, porém nunca com a presteza o facilidade em geral exigidas. Como recordação desses lugares que percorri, onde por vezes minha vida pe- rigou, consigno nestas paginas não só a especie acima, como outras que se acham qistribuidas por familias differentes. 2. D. nemorosus (Barb. Rod. l0c, cit.n.º 150.) Caudex tenuis caespitosus longé scadens; folia gracilia, vagina aculeatá aculeis mi- nimis erectis e basi gibbosis, conicis, ochreã densé aculeatã aculeis brunneis arguté setosis, petiolo minimo laeviter setoso costã super angulosà subtus convexà aculeis incurvis e basi gibbosis conicis ar- mata, foliolis suboppositis 4—jugis 1—2 aproximatis elliptico-lan- ceolatis acuminato-cuspidatis, flagello sparsim aculeato aculeis unci- natis basi gibbosi spinis 8—4 jugis e basi valid tumescente gracilibus subulatis; spadix longê et incluse pedunculatus parte emersã quam costa multo breviore 5—6 ramosus, rachi gracili ramos tenues; spa- tha exterior minutissime aculeata, interior longe vaginans, in basi parve setulosa deinde in parte aperta usque ad apicem rostrato acu- minata aculeis e basi gibbosi tenuibus rectis vel incvrvis dense ar- mata; florum fem. calyx annularis truncatus tridentatus, corolla triplo majora urceolata tridentata; ovarium corolla longê emergens ampullaceum stigmatibus recurvis; drupa minima coccinea. Caudex 3—6 m. altus, 02005 —0,006 diam. Folia 02,60 lg.: ochrea 0=,08— 07,09 1g.; foliola 02,115—07,165x0",015—07,030 1g., su- btus in nervurã medianã aculeata, Spatha parte aperta 07,166>x0”, 0,20 lg. aculeis brunneis 02,001—0"005 1g. armata. Spadia omnino laevis 07,002 diam,, rachi 07,06 lg. HAB in silvis ad ripas flum. Yauapery in Rio Negro. Florebat in O- ctobri. Indii Makuchy vocant Ramuá, Obs. Para um olhar pouco acostumado à observação minuciosa, esta especie seria tomada pelo D. phêngophyllus de Drude, que, em duvida, levou à synonimia desta o meo D. olygacanthus, que seafásta de ambas. O phengophyllus tem os aculeos da vagina das folhas longas e erectos, quando os da especie de que se trata são pe- quenos filiformes, com a base gibbosa. Os foliolos daquella são alternos e os desta inermes por pares, tendo a nervura media superiormente aculeada, na base e inferiormente munida de 2-3 espinhos longos ; a spatha em uma tem os aculeos erectos e incurvos, em outra recurvos; na minha especie o espadice tem 4-8 ramos, na de Drude 16-20. Existem ainda outras differenças nas flores e nas bracteas. Entre o meu oligacan- PALMÃE AMAZONENSIS NOVAE 95 thus e a que agora descrevo, além da fórma da espatha que é differente. Este or- gão n'aquella é pendente e nesta erecto, como tambem é no phengophyllus. O oliga- canthus tem os espinhos do peciolo gancheados (uncinatus) e os da vagina de 02,0[— 02,02 de comprimento. Entre as tres especies ha differenças que as separam, 3. D. caespitosus (Barb. Rod.loc. cit.) Caudex tenuis scandens caespitosus ; folia longê vaginantia, vaginá in ochream aculeolis seti- formibus brevibus basibus incrassatis tectã, petiolo brevissimo canali- culato inermi, rachi supra plano subtus subanguloso aculeis uncifor- mibus ad basin incrassatis tecto, foliolis irregulariter jugatis 10—12 utrinque lanceolatis acuminatis marginibus undulatis basi attenua- tis; spadix longê inclusus, pedunculo erecto arguté aculeato, rachi brevi inermi ramis 12-13 contemporaneis ad basin compressis; spa- tha exterior inermis, interior late-lanceolata acuta densé argute acu- leolata; florum masc calyx tricuspidatus brevissimus, petala lanceolata acuta androcaeum pluries superantia, staminibus in filamentis brevis- simis disco, insertis ; forum fem. calyx annularis truncatus triden- tatus, corolla urceolatatruncata calycem quadruplo excedente ad oram pilis ciliata; gymnaeceum e corolla longé emergens stigmatibus tridentatis. Caudezx tenuis, 3—5 m. altus, 02005—0=007 in diam... Petiolum 02,70 lg., flagelium 02,31 1g., spinae 6-juga e inferiora foliosa. Spadicis pedunculo 07,29 lg., parte libera 0=05, spatha exterior laevi acumi- nata interior 02 140=,05 lg. . Flores lutei. Drupa ignota. HAB. in silvis capoeiras in Serra do Rodeio, prov, Rio de Janeiro. Floret in Decemb. 4. D. Philippiana. (Barb. Rod. I. cit, n. 212.) Caudex tenuis ; folia gracilia vaginá primitiva pauci aculeatá, aculeis basi incrassatis patulis horridis petiolo brevissimo vel sub-nullo, rachi ad basin ca- naliculato post bifaciali dorsaliter aculeato aculeis uncinatis basi gib- bosis, foliolis oppositis aculeis distitutis, 8-utrinque contemporaneis lineari-lanceolatis acuminatis, flagello rachi aequaliter aculeato, acu- leis e basi gibbosa uncinatis, spinis subulatis 5-jugis armato ; spadix foliis quadruplo brevior 6-7 ramosus , spatha interiori lineari-lanceo- lata mucronata aculeis minimis uncinatis e basi gibbosa pauci armatã; florum masc. calyx minutissimus tridentatus, petala lanceolata acu- minatissima; fem. calyx tridentatus, corolla profunde tridentata duplo majori. Drupa ? Caudex 5º—6rlg.,07"006—0"008 in diam.. Folia 0280 lg., foliolis 0712—0=,20 X0=,016 —07032 aculeis nigris, minimis utrinque ar- matis. HAB. in silvis humidis propê Manãos, prov. Amazonas. Florebat men- sibus Setembri. Yacitara in lingua generali. Obs. A confrontação da especie acima com as que já se acham descriptas, pe- los caracteres da diagnose supra, me leva a consideral-a desconhecida da sciencia, pelo que, como homenagem ao sabio amigo Director do Jardim Botanico da Santiago do Chile, autor do Catalogus plantarum vascularium Chilensium, o Dr Frederico Phi- lippi, à elle a dedico. 96 PALMAE AMOZONENSIS NOVAE 5. D. macrodon (Barb. Rod. loc. cit. n. 614.) Caudex tenuis; folia gracilia, vaginã et ochreá minuté aculeis brunnei setiformibus obtectis, petiolo sub nullo, rachi elongato aculeis minimis e basi gibbosã reflexis in acumen subtile nigrum productis hamatam excur- rente, flagello gracilimo rachi sub triplo minore versus apicem inermi, spinis 3-jugis subulatis armato, foliolis irregulariter 7-8-jugatis pla- nis lineari-lanceolatis longissime acuminatis et cuspidatis; spadix costa duplo minor, spathã superior longê vaginans; aculeis in parte apertã usque ad apicem e basi gibbosã canescente brunneo-acuminatis reflexis pungentibus dense armatà, rachi gracili ramos tenues 8-contempo- raneis laxe et distiche exserentes inferioribus rachi triplo minoribus ; florum fem. calyx corollà triplo minor annularis tridentatus, corolla cupulliformi conica tridentata dentibus elongatis digitiformibus co- rolla duplo minoribus stigma excedentibus; drupa globosa minima coecinea., Caudea 3º—5» lg. et 0=003— 02004 in diam. , caespitosus scandens; Folia 07,50 1g., rachi 0",80 lg., flagelio 02,20 lg.; foliolis in acervos suboppositis 1-2, raro 3-4 jugis 02,10—07212x0",010—07,015 lg.. Spadia supra ochream 02,12 07,24 lg.., rami 8-10 exserentes 02,04 —0»,08, rachi o»,]3—07,17 1g.. Flores fem. 6-17 contemporanei 02,002—0m 003 lg. , in serobiculis densis dispositi. HAB. in dumetis ad marginibus lacús Yauary, propê Itakoatiara, in flum. Amazonas, Florebat Octobri. Obs. Entre as especies Eudesmoncus consignadas por Drude na Flora Brasi- liensis, cujas espathas têm aculeis a basi gibbosa conicis induratis uncinatis horrida, divisão que comprehende os D. polyacanthus Mart., phengophyllus Dr., leptoclonos Dr e setosus Mart. onde incluo o nemorosus, o Philippiana e o oligocanthus , espe- cies minhas já descriptas, não se encontra a de que trato que é bem caracterisada pelos longos dentes da corolla que excedem o estigma. A armadura das vaginas, a disposição dos foliolos e seu tamanho, o pouco comprimento do espique, o aspecto geral, emfim, a separa de todas as especies conhecidas. O nome especifico que pro- parto CREED a particularidade dos grandes dentes da corolla, semelhantes a res dedos. Gen GUILIELMA Mart Guiliclma speciosa Mart. var. coccinnea Barb. Rod. Enum. Palm. Nov. pag. 23; var. flava Barb. Rod. Joc. cit. pag. 23; Mart. Flor. Bras., pag. 363. Var. ochracea (Barb, Rod. loc. cit. nº 303.) drupa oblonga ad ba- sin truncata 07, 038x07,036; calix corolla persistentes, calycem an- nuliformem corolla multo minorem marginibus irregulariter fissis, basi drupae subconcava qua condictur corolla, epicarpio glabro lu- cente flavo-ochraceo, mesocarpio amylaceo oleoso-fibroso flavescenti, endocarpio subrotundo marginibus pororum erectis fibris reticulato; albumine corneo excavato; embryo conico minimo. HAB. in silvis primaveis flum. Yauapery, in Rio Negro. Fructi matu- rescunt April. Indii Krichanã vocant Tepire. PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 97 Destas variedades do Guilielma speciosa Mart., as duas primeiras foram reconhe- cidas e publicadas na Flora Brasiliensis. Addiciono agora mais uma terceira que os indios Krichanás cultivam para alimentação, servindo-se dellas cozidas, em massa ou em vinho a que dão o nom> de uakurô. O nome pupunha que Martius pela pro- nuncia alemã chama bubunha é uma corrupção de pipiynha ou pelle vermelha, côr de fogo, de pir, pelle epiderme e pyê, braza. A variedade mitis Dr. cultivada no Passeio Publico do Rio de Janeiro, communicada pelo Sr. Glaziou é o typo do G. speciosa Mart., que é a mais cultivada, apresentando por isso geralmente o espique sem espinhos. Todas as variedades crescem em soqueiras. Gen. BACTRIS Jacg. 1. Bactris Gastoniana (Barb. Rod. lc. cit. n. 362.) Caudex brevissimus inermis ; vaginá aculeis minimis sparsim vestitá, petiolo rachique aculeis longis subulatis armatis, foliolis utrinque bijugatis, supremis latioribus ; spadix recurvos rachi breviore, spathã aculea- tissimã ; drupa oblongã obovoidea magna glabra vertice acuto nigro- purpurea. Caudex solitarius 02,1] —0::,2x02,10—0",12 lg., infernê nudus superné vaginis aculeatis obtectus, inermis. Folia 02,95 lg., 5-6-contempo- ranea, longê petiolata; petiolo 0",35 lg. tomento brunneo tecto, acu- leis compressis nigris, horridis, subulatis, 07,03—0,05 lg., 1-5-zo- natis armato ; rachi tomentoso, supra bifaciali, subtus plano, acn- leis magnis sparsim armato; foliolis marginibus aculeolatis, lineari- falcatis, acuminatissimis 8-9 utrinque, bijugatis,jugis alternis inferio- ribus sub erectis (07",27—0",22x0",02—0",03) mediis patentibus, (07,24x07,038— 07,040) omnibus uninervis, supremis 5-nervosis (0m,27—0=,055—0",075) nervis supra prominentibus in supremis ad apicem aculeolatis. Spatha exterior lineari lanceolata, acuta, bialata badio tomentosa, inermi, 0",10—0"12x0",014—0",016 lg ; interior triplo major, arcuata, aculeis ater-brunneis minimis densê armata, acuminata. Spadix arcuatus, gracilis, pedunculo badio-tomentoso in apicem densé aculeato aculeis minimis, 0»,17>x0",002 1g., rachi multo minore crassiori, densiflori, Florum fem., post anthesin calyx co- rolla subaequalis urceolatus lasviter tridentatus inermis; corollã ba- dio lepidotã, ovario aequali laeviter tridentata, ovarium ovatum, basi attenuatum, glabrum. Drupa 0.030 07,014 1g., brevissimê rostellata, umbonata ; epicarpio tenui, fibroso; putamine osseo, fla- vescenti, oblongo, apice acuto, supra medium foraminibus evolventi- bus fibrae plurimas cum mezocarpio cohaerentibus ; albumine solido, corneo : embryo minimus, conicus. HAB. in silvis primaevis propê Manãos, ad Cachoeira-grande. Fruct, Decembri. Obs.Pelos fructos e pelo porte esta especie se approxima muito do meu Bactris oligocarpa, porém afasta-se na disposição e forma dos foliolos, pela espatha interior aculeada, e pelo p:dunculo do espadice curvo e aculeado. Entre as especies de espadices simples, que o sabio professor Drude, apresenta na sua monographia publicada em 1882, não se encontra esta. Com este caracter apenas onze especies são conhecidas, pelo que vem mais esta mostrar qne a pro- vincia do Amazonas é a que se orgulha de ter em seu seio maior numero de mem- VON 0 13 98 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE bros d'esta familia, caracterisada por Linneo como sendo à dos principes da flora universal. Devo dar a razão da denominação especifica que impuz a esta palmeira, uma das mais elegantes e propria para ornamentação de jardins e salões. Em 1886 herborisando eu e procurando alguma planta ornamental que podesse figurar na Ex- posição de floricultura que, annualmente, fazem Suas Altezas Imperial e Real a Sra D. Isabel eo Sr. Conde d'Eu na cidade de Petropolis, tive a ventura do encontrar esta especie, representada por muitos exemplares, infelizmente só com fructos. Transplantei um pé, que por não ter havido em 1887 a dita exposição, só em Maio de 1888 figurará. O facto de ter sido o achado motivado por um pedido de Sua Alteza e de ter de figurar ella em uma Exposição promovida pelos mesmos regios prote- ctores da floricultura, e symbolisando as palmeiras o poder, a grandeza e a ma- gestade, entendi dever denominal-a Gastoniana, dedicando-a ao Augusto Principe Gastão de Orleans, Esposo da mesma Imperial Senhora. 2. B. Krichaná (Barb. Rod. loc. cit. n.152.) Caudex gracilis ca- ospitosus aculeatus tomento tabacino tectus; folia 12-14 contempo- ranea, vaginá dorsaliter aculeatã aculeis basi incrassata racurvis tomento tabacino tectã, petiolo super aculeato sulcato rachi imermi super bifaciali, foliolis inferioribus 2-jugatis lineari falcatis acumina- tis longê cuspidatis superioribus connatis 9-nervatis furcatis lato-fal- catis acuminatis omnia marginibus argutê setulosis; spadix in ramis 4-partitus. Spatha aculeata aculeis brunneis. Caudices 9—10 contemporaneis, 1»—]= 40x 0",010—0= 015 subtus cica- trices internodiorum aculeati, aculeis 07,010—0",025 lg. compressis. brunneo-nigris, horridis. Folia 0",77—0",78 lg. ;vaginá 0720, lg., subinermi; petiolo 0,15 lg.; foliolis inferioribus 07,019—0",022x 0:,30—0",040 lg., parte cuspidata 0710--07,12 lg,. superior 0", 44x0m,12 lg., cum nervis supra elevatis; spadix 0”, 12 lg. HAB. in silvis primacvis et humidis ad Rio Yauapery et ad ripas Rio Negro propê Kuireru. Obs. Quando, no mez de Setembro encontrei esta especie, não vi um só exem- plar florido ou com fructos; apenas encontrei espathas e espadices imperfeitos. Apezar disso, porém, notando caracteres que a distinguem das especies descriptas por Martius, Spruce, Trail e Drude, e, tendo-a por nova como tala diagnostico. Se- gundo o exemplo do saudoso mestre o sabio Dr. Martius, que entre as Lauraceas deu a varias especies novas nomes de tribus salvagens, como os Sparantanthelium Borororum, Tupiniquinorum, Botucudorum ;procedendo do mesmo modo Humboldt Es deu'a uma Bignonea o nome de Carichanenses por tel-a encontrado em uma al- eia “de indios Krichanás, nas margens do Orenoco, dei à de que se trata o nome de Krichaná, não só por encontral-a na região dominada pelos selvagens desse nome, como por empregarem elles, o espique d'esta palmeira nas hastes das flechas que usam na pesca. 3.5B. penicillata (Barb. Rod. loc. cit. n. 213.) Caudex 1-3 m.lg. ad internodia aculeis complanatis nigris per acervos armatus; petio- lus et vagina tomentosi aculeis brunneis complanatis dense armati, foliolis irregulariter dispositis 2—5 utrinque in apicce laminá magnã bifidã, lanceolatis--falcatis longê acuminatis; spatha exterior inermis, interior lanceolata mucronata tomentosa aculeis brunneis penicillatis armata; spadix pedunculo inermi v, arguté aculeato 6—S ramosus ; flores masc. calyce brevissimo longê trifido, corolla calyce duplo ma- jore; fem. ante anthesin calyce inermi tridentata duplo corollã majore post triplo minore, corolla tridentata setulosa ante anthesin dupli- minore calyce post triplo majore; drupa ignota. PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 99 Caudes caespitosus 1—3 met. lg., 02010018 in diam., remotê annu- latus aculeis 02,010—07,035 1g,. subulato-compressis, nigris ar- matus, Folia 1 met. lg. inaequaliter pinnatisecta, petiolo et vaginá 07,40 1g. aculeis brunneis 07,010X 12,025. retrospectantibus; rachi inermi rara ad basin aculeato : foliolis 02,20x 02,50, alternis, ad basin oppositis, 07040219 inter se distantiã, foliolo summo integro, 7—8 nervato, nervis supra salientibus. Spadix patens, denique nutans, 07,20-0m,22 lg., pedunculo compresso, 07,10 — (02,12 lg; rachi 07,020— 07,022 1g.; Spatha exterior 0,10 lg., in- terior 07,26 1g,, densê aculeata, aculeis brunneis, compressis, peni- cillatis, imbricatis. Flores masc. densissime congregati fem, omnino asa qui prioribus delapsis ramorum tertio inferiore apparent. rupa ? HAB. in silvis aboriginibus ad igarapé da Cachoeira, prope Manãos, prov. Amazonas, Florebat Octobri, 4. B. formosa (Barb. Rod. loc. cit, n. 601.) Caudex solitario v. rarôó 3-4 caespitosus tenuis pauci aculeatus fusco-tomentosus, vagina atro -aculeata fusco-tomentosa; petiolus brunneus tomentosus inermis longe-cylindraceus; foliolis linearibus concinnis acuminatis sub oppo- siti utrinque 30 ferê aequidistantibus secus nervos et margines in fa- cie inferiore minutissime setosis; spadix parvus pedunculo densê setoso inflexo patente ramis 2 densifloris; spatha lanceolata mu- cronata erecta densê aculeata; corolla fem. calyce minutissimo multo major densã hirto-setulosa tridentata, ovarium setulosum ; drupa ? Caude: tenuis annulatus, vaginis persistentibus densê aculeatis involu- tus, fusco-tomentosus, aculeatus, aculeis minimis appressis, 1-—2m xX02,012—0"015 1g., internodiis 02,04-—0",006 1g., Folia 12,20lg:., gracilia 35—4 contemporanea ; vagina 07,16 lg. ad basin badio-flocoso- tomentosa, aculeata, aculeis minimis appressis ; petiolo foliis majore, 0,60 longo, inermi; rachi 0,44 lg., supra minutissimé brunneo-setu- loso, subtus inermi foliola superiora minora, 0,12x0=,006, media et inferiora aequalia, 02,25x.0201 omnia lineari-lanceolata, acumina- tissima, supra glabra, subtus in nervis setosa. Spadia parvus, 07,1 lg., pedunculo compresso, arcuato, densê setoso, ramis 07,04— 0" ,05 lg., scrobiculato. Wlores fem. virides, calyce minutissimo, annuli- formi, tridentato, inermi; corollã cylindraceã densé setosá, triden- tatàã, urceolatã. Drupam non vidi. HAB. àn silvis primaevis ad Tarumã-miri, in Rio Negro, prov. Amazo- nas. Floret Aprili. Obs. Forçadamente poderia identificar esta especie com a minha B. syagroides ou com à minha variedade da mesma a linearifolia, porque si, pelas folhas como as se approxima, pelos aculeos da vagina e principalmente pelo numero de ramos o espadice, semelhante ao do B, cuspidata Mart., a afastam da syagroides, que os conta de 5 à 8. A mesma disposição das folhas para quem conhece as plantas, pelo vivo, a afasta muito de todas as especies conhecidas já pelas formas e aspecto, já pela elegancia que ostenta chamando a attenção de quem por ella passa, pelo que ap- pliquei o nome especifico acima, que bem a distingue. 100 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 5. EB. Tarumanensis (Barb. Rod. loc. cit. mn. 266.) Acaulis : folia longissima, petiolo inermi, vagina aculeatissima, foliolis impari- pinnulatis per acervos dispositis alternis linearibus falcatis longissime acuminatis ; spadix spathã aculeatà, rachi brevi ramos 33 contempo- raneos tenues graciles quam ipsa majores densifloros exserente ; co- rollá fem. calyce aequante aculeatã ; drupa subglobosa coccinea acu- leolis nigris densa obtecta. Planta solitaria. Folia 22,60 1g., patentia et sub-erecta, irregulariter pinnatisecta, foliolis per acervos dispositis alternis, I—3—5 contem- poraneis; petiolo vaginante (vaginã 0",40., aculeis nigris, compressis 0m,01—0",04 lg. armatá) inermi, cylindraceo, 0,60 longo, rachi inermi, trigonã 1,60 1g., dorsaliter brunneã tomentosã, foliolis e basi conduplicatã, nervo medio superne prominente, inferioribus 0,02">50",60 lg., linearibus,caudato-acuminatis, medianis 07,20x.0, 45 lg. acuminatissimis, terminalibus 5 conjunctis 0",07x0",401g.., marginibus inermis. Spadia 0r20—0",22 lg,, spatha inferiore 0”, 12x 0",04 1g., tomento brunneo dense obtectá, superiore ventricosã, mucronatã, aculeis tenuibus, setiformibus. 07,004—0",005 lg., brunneis, densé obtectã, pedunculo valido, cylindraceo 0,008 in diam., tomento brunneo et aculeis minimis dense obtecto, rachi brevi 0",08 lg., ramos tenues flexuoso 0,05x0",010 lg., Flores masc, non vidi; fem. vix 07,003 1g., calyce cupuliformi, laevi, obscuré tri- dentato, corolla magnitudine; corollà capulari tridentatã, setis mini- mis armatà,germine oblongo, ad basim setulifero, apice stigmatifero. Drupa globoso-turbinatà, vertice depresso, diametro 0,012, peri- carpio coccineo, aculeolato, aculeolis atris sparsim obtecto. mezocar- pio pulposo albo, endocarpio osseo, nigro. HAB. in silvis primaevis ad Rio Tarumã, in Rio Negro, prov. Amazo- nas. Floret et fructificat Aprili. Obs. Sendo à primeira vista, pelos fructos, muito parecida com à B. acantho- carpa, de Mart., afasta-se todavia em ser perfeitamente acaule, viver solitaria, ter as folhas imparipinnuladas, o rachis inerme, os foliolos glabros e inermes infe- riormente, em ter o pedunculo do espadice muito aculeado, o calice das flores fe- meas igual à corolla o esta setosa, A' primeira vista, pelas espathas e pelos fructos toma-se-a por uma acanthocarpa, porém, examinada mais attentamente, encontram- se differenças que a levam para longe da de Martius. O professor Drude estabeleceu para a especie de Martius uma variedade, a crispata da qual suppõe a minha B. acanthocarpoides synonima, quando é especie inteiramente nova e differente, já no habitus, já em todos os detalhes dos orgãos appendiculares e repro- ductores, tendo além disso tamben diferente a côr dos fructos, amarellos e não ver- melhos. Si o notavel professor e director do Jardim Botanico de Dresda visse os exemplares vivos jamais entraria em duvidas. Não levo a considerar qualquer varie- dade, baseado em pequenos detalhes, como especie, pelo gosto de multiplicar e crear novidades ; pelo contrario, restrinjo muito, considerando mesmo o que para muitos é especie como simple variedades. Não acompanhando a doutrina evolucionista, se- ria considerado retrogrado, mas como Linneo ainda digo : Species tot sunt diversae. quod diversae abintio creavit infinitum ens. O que considero especie é sempre a que se reproduz com os mesmos caracteres qualquer que seja o terreno, qualquer que seja a latitude. Apresentando esta nova especie, aproveito a occasião para reivindicar aqui ainda uma vez a especie minha acanthocarpoides, de que é muito distincta. 6. B. bifida Mart. Palm. Bras. 105 tab. 73 C.; Kunth Enum. plant. II. pag. 265.; Spruce Palm. Amaz. 150 ; Trail in Journ. of PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 101 Bot. 1877, pag. 47; Drude Flor. Bras. vol. III. pars II, pag, 3202 n. 2. Spatha exterior lanceolata acuta tomentosa 07,140x 0,17, glabra, inte- rior incurva lanceolata badio tomentosa aculeis brunneis tenuibus in- curvis obtecta et illis triplo major; flores masc., plurimi densê con- gregati, fem, omnino obvelantes qui prioribus delapsis racheos in di- mideo inferiori apparent, calyce masc. trifido laciniis triangulari- bus acuminatis, petalãà subtriangulatã acutã v. obtusá, staminibus inclusis, fem. calyce urceolato anguloso argutê tridentato, corollã ovatã tridentatã calycis longitudine tomentosa-spinescente, ovario corollã paullo majore ovato arguté et sparsê spinescente, HAB. in sylvis Rio Negro, propê Yanauary, in Manãos. Prov. Amazonas. Florebat Novembri. Obs. Não descrevo «esta especie senão as espathas e as flores, que, tendo es- capaão à observação do Dr. von Martius, fizeram com que a descripção da palmeira ficasse incompleta. Este sabio disse flores et spatha non observati. O Dr. Spruce, que depois do venerando palmagrapho descreveu outras palmeiras amazonenses, tra- tando da especie em questão, apenas ligeiramente trata do calyce e de corolla persis- tentes no fructo, por não ter tido oceasião de vêr as flores. Posteriormente o Dr. Ja- mes Trail, que encontrou duas variedades da mesma especie, o que é vulgar no mesmo terreno, tambem não descreveu as flores, pelo que na monographia das Pal- meiras que faz parte da Flora Brasiliensis, escripta pelo Dr. Oscar Drude, este sabio professor nada disse em relação aos orgãos reproductivos. Felizmente encontrei a especie com flores, o que me permittiu completar a descripção. Por isso aqui 2 menciono. Gen. ASTROCARYUM Meyer. Muito antes de ser publicada a Monogruphia das Palmeiras do sabio Dr. Drude, que sahiu à luz em Maio de 1882 e que vem na parte II do volume III da Flora Brasiliensis, já eu tinha estabelecido para este genero tres secções, tanto que, em 14 de Julho de 1879, mostrando o manuscripto das minhas palmeiras, assim como as estampas coloridas que representam de tamanho natural as diversas partes da planta, à Sua Alteza o illustrado Principe D. Fernando de Saxe Coburgo, actual Rei da Bulgaria e ao sabio Dr Wawra von Fernsee, botanico notavel e medico do infeliz imperador Maximiliano, do Mexico, por occcasião de uma visita particular com que me honraram nesse dia, fazendo eu algumas considerações sobre o genero, apresentei-lhes a minha subdivisão, que é a que adiante apresento, por me parecer mais pratica. Vejo agora quanta razão tive para isso, porquanto o mesmo professor Drude, subdividindo o genero, achou-se de accordo quando tomou para a sua subdivisão o principal caracter que eu havia tomado. Dividiu Drude o genero em 4 secções às quaes deu os nomes vulgares de especies typicas, as mesmas que tomei para typos das minhas, e que facilmente torna as espe- cies reconhecidas por aquelles que praticamente as conhecem. Denominou-as: Mum- baca, Ayri, Tucumã e Malybo. Minha subdivisão encontrar-se-ha mais adiante. Entretanto, a ultima secção de Drude não tem razão de ser, porque as especies acaule Mart. e caudescers Barb. Rod., pertencem à sua secção Tucumá e à minha Leiocarpeae, e a terceira, a humilis, deWallace, está fóra do quadro, por ser a Bac- ris Eres Mart., vulgarmente conhecida no Pará por Yurupary Yu espinhos o diabo. Não comprehendo no meu quadro o plicatum e o segregatum, por serem da Guyana, nem o minus por ser simples variedade do Rodriguesii. Eis minhas palavras, depois de algumas considerações sobre as espathas, estigmas e androceo abortivo das flores femininas : 102 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE « Estudando este genero, tres divisões naturaes se me apresentaram sempre com caracteres que poderiam estabelecer tres generos differentes. Entretanto, apro- veitei-os para uma simples subdivisão. Quem compara o A. Mumbaca Mart., o ver- dadeiro fructo ou noz estrellada (daxpov estrella o Kdpuoy, noz), de Meyer, com um A Yauary Mart., ou com o A. Ayri Mart., encontra logo, sem fallar dos caracteres das flores, diferenças muito notaveis, não só no facies, como nos fructos. O pri- meiro tem o pericarpo dehiscente, o segundo indehiscente e setuloso, e o ultimo glabro e luzidio. Essas differenças bastante sensiveis me levaram a estabelecer um na analytico, que comprehende todas as especies brazileiras, quadro baseado nas ores femininas e nos fructos. Eil-o : Tabula analytica specierum generis ASTROCARYI 1. ASTROCARPEAE. Flores feminei solitarii, calyce et corollá densê aculeatis. Fruc- tus parvus, stylo longo et persistente, pericarpio dehiscente in lacinias irregu- lariter diviso et endocarpium submittente. 4. Epicarpio inermi, Calyce annuliformi et corollã urceolatã, Androceo abortato libero. Drupá ovatã miniata,....ccccecccre.. A. aculeatum Meyer, — —obovatã, aurantiacã............ A. Mumbaca Mart. — — oblonga coceineã............... A. gynacathum Mart, A. Epicarpio aculeato. Calyce et corollã tridentatis. Androceo abortato corollã adnato Drupã oblongã, coceineà......s.cvvev o. A. Rodriguesii Trail. = 00 — aurantiacã.......... +. A. acanthopodium Barb. Rod II. ACANTHOCARPEAE. Flores feminei solitarii, corollã aculeatá. Fructus magnus, pericarpio indehiscente, tomentoso, setuloso, setuloso ant spinescente, raro inermi 4. Epicarpio rostrato lignoso, setuloso aut spinescente, Drupá obovatà, vinoso-fuscá, setulis castaneis,. A. Ayri Mart. turbinatã, fuscescente, — | nigris..... A. farinosum Barb. Rod. — » Tubiginosã — cvs A. sociale Barb. Rod. — — fuscescente, — | brunneis.., 4, Yauaperyense Barbe Rod. obovatà; — — — nigris. ... A. rostratum Hook oblongã, fiavo-fuscescente, setulis nigris.. A. Paramaca Mart. pyriformi, dense setosa aculeatã.......... A, horridum Barb. Rod. B. Epicarpio tenui, setuloso; mesocarpio carnoso-mucilaginaso. Drnpá pyriformi, compresá, miniatã............ A. Murumuru Mart. 7. Epicarpio tenui, inermi; mesocarpio carnoso-mucilaginoso. Drupà elongato-pyriformi, aurantiacã........... A. Chonta Mart. 1. LEIoCARPEAE. Flores feminei 2—5 contemporanei; calyce glabro corolla acu- leatã aut inermi. Fructus parvus, pericarpio inermi, lucente. a. Epicarpio lignoso. Drupã obovato-globosa, luteã....s...cocc cre. A. Yauary Mart. — subglobosã v. subovatà,fiavescente viridi. A. acaule Mart. obovatà, subcoceineã......cccccescvco vo. A, Caudescens Barb, Rod, ovato-subglobosá, flavo aurantiacã....... A. Huaimi Mart. obovato-rostratà, virescenti............. A. campestre Mart. ovatâ-miniatã.....ecceccesercrro ocorre. A. vulgare Mart. obovatã pyramidato-rostellatã........... A. Weddelii Dr. ovatà conico-rostratá, flavo virescenti.... A. pigmaeum Dr. obovatã rostellatã. ......ecceccrccrco ro A. Manãoense Barb. Rod. 8. Mesocarpio lignoso, mucilaginoso. Drupã oblongá, flavescente.........ccccverooo. A, Tucumá Mart. — globosá, aurantiacã......c..ecccesccv ovo A. Princeps Barb. Rod. PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 103 sect. ACANTHOCARPEAE pub. Rod. 1. Astrocaryum Yauaperyense (Barb. Rod. Sert. Paim. Herb. Mus. Bot. Amaz. N, 141.) Caudex speciosus longissimé acu- leatus; folia patentia v. erecto-patentia 12-14 contemporanea aequa- liter pinnatisecta concinna, petiolo basi persistenti cylindraceo cana- liculato densé aculeato, rachi anticê bifaciali aculeata posticê convexa longé aculeata foliolis oppositis v. sub oppositis 132 utrinque inaequa- liter acuminatis, facie inferiore albo tomentosa marginibus aculeolis parvis hinc inde ciliati; spatha interior compacto-aculeatissima acu- leis ater-brunneis minimis ; drupa turbinata fusca aculeata. Caudes solitarius 102,— 122,x0"18 alto. Folia 8 m. lg., vaginã et pe- tiolo 2=,50,; foliolis majoribus 12,40x0",075 1g., Spatha interior 1”, 25 Ig. HAB, in silvis humidis flum. Yauapery, ad Rio Negro. Prov. Amazo- nas. Indii Krichanás vocant Kaikumaná Obs. Espero mais tarde dar uma descripção detalhada desta especie que é uma das mais elegantes, já pelo porte altaneiro, ja pela disposição das folhas longas, de um verde negro na parte superior e brancas na inferior. 2. A. sociale (Barb. Rod. /0c. cit. n. 567.) Acaule, 6 foliis erecto-patentibus-aequaliter pinnatisectis concinnis, petiolo longo cy- lindraceo refuscenti-tomentoso in dorso aculeis validissimis congre- gatis nitide armato, rachi pauci sparsé aculeata foliolis linearibus acu- tis-ruminatis secus marginis laevibus in facieinferiore tomento albido adspersis ; spadix inter folia erupens erectus, pedunculo aculeato ru- benti-tamentoso, spathá densê aculeatà ; drupa magna turbinata acu- leata rostrata. Folia 6—7 contemporanea, 42,50—5», lg.; petiolus 172,50 Ig., aculeatus aculeis in grege annulari, mediis longissimis, 07,05—02,06x07,003 lg. ad basin versus margines zonis sensim decrecentibus ; foliola li- nearia, plicata, utrinque 60, intervallibus ad basin latioribus et an- gustioribus ad apicem inferiora 0,71xX0",013, media 02,70x0",030, superiora 0",43X07,020,terminalia 4—6 in laminà conjuncta, angulo 10º, nervo medio superne argute prominente, inferne prominente, nervis lateralibus 3—5 utrinque plicas folioli referentibus. Spadia 07,60 1g.; rachi 0",07—02,08; spathá 0=,30—0=,35 lg. lanceolatá, acuminatã densé aculeatã. Flores fem. 02,008 lg. calyce corollã ma- jore, aculeato, tridentato; corollá tomentosã, setulis minutissimis ap- pressis armatã; ovario conico, tomentoso, setulis minutissimis, ap- pressis armato. Drupa turbinata 02,05x0",035 alt, ad basin indu- viis 07,018 lg. setulosis; epicarpio fusco tomentoso, setulis minimis appressis armato; mezocarpio pulposo, luteo; endocarpio 07,033 x 07027 Ig., osseo, ater-fusco 0=,002—0",003 crasso; albuminecorneo, excavato. Embryo minimus, oblongus. HAB. in silvis aboriginibus ad igarapé Tarumã-miri, in Rio Negro, prov. Amazonas. Murumurú indianorum. 104 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE Obs. Esta especie afasta-se do meu A, furinosum em ser acaule, ter o nu- mero de folhas menor, os foliolos tambem menores o sem aculeos nas margens, O pedunculo do espadico menor e menos aculeado, a espatha com as cerdas menos duras e com o aspecto do pêllo de um animal, e em ter os fructos menores, Os indi- genas, com os grélos tecem chapéos que, depois de seccos, tomam côr vermelha, co- mo se fossem tintos. Vive socialmente. 3. A. horridum. (Barb. Rod. loc. cit. N. 720.) Caudex spe- ciosus inermis foliis erecto-patentibus aequaliter, pinnatisectis con- cinnis, petiolo costâque horridi aculeatissimis tomento destitutis, foliolis acquidistantibus aproximatis lineari-acuminatis acumine praemorso in facie inferiore albidis (et intra tomentum sparsim microscopicê setiferis) secus margines remote aculeatis. Spadix erectus longe pedunculatus pedunculo corneo aculeis longis vali- dis ad apicem contortis horrido, rachi ramos plurimos exserenie inermi, spathá inferiore setis fuscis dense velutina ut pellem ani- malis referat, superiore duplo majore lanceolatã ad basin pilis tristis ad medium setis ater-brunneis dense vestitã, apicem versus aculeis ater brunneis contortis flocoosis armatà; flores fem. longe bracteati ovoidei stigmatibus emergentibus, calyce tridentato dense setuloso corollam aeque dense setulosam includente, androeceo rudimentario annuliformi, germine ovato attenuato; drupae pyriformes dense seto- aculeatae in vertice conico-rostratae, (putamine obconico e basi acutã. Caudex 2—6 m. alt. et 0»,150—0",200 in diam., annulis perminentibus, internodiis congestis, inermis. Folia 10—12 contemporanea 3 m. lg., petiolo 07,90 lg. aculeis validis 0",05—0,30 lg., horrido, costã minus aculeatà; foliola utrinque 60—80, inferiora 0,64x.0",02 lg., media 0",85xX0",035 lg., superiora 0",30x 07,13” Ig,, 3—4 con- junctanervo medium utrinque prominente. Spadia: 0,80 —0",95 lg., pedunculo tereti compresso 0",40—0",50x0",03—0",085 lg., ad basin tomento carneo obtecto, inermi versus rachin aculeatissimo, aculeis nigris, contortis,0",02—0,"03 1g., ad basin carneolanatis, pungentibus, patentibus; rachis 0,18 lg., inermis multiramosus, ra- mos densissime confertos erectos cum flore fem., basilari solitario, in- feriores breviores (07,08— 02,09 lg.,) deinde longiores (0=,12—0",13 lg.) cum pedicelo 0:,02—0,05 1g.; Spatha exteriora 0,40x 0,10 lg., utrinque dense setulosa, interiora marcida 02,60x 02,16 lg., Flores masc. non vidi. Flores fem., O7015x0",008 lg., calyce co- rollã aequante, tridentato, dense setulis contortis armato; corolla laeviter tridentata, setulis contortis aeque armata; cum androceo ru- dimentario subtridentato cohaerentibus , ovario incurvo, sub conico, setis apressis armato. Drupa 02,06 07,035 lg. ,aculeis ater-brunneis pungentibus armata, mezocarpio flavo; endocarpio 0=,46xX 02027 lg., ater-fusco, 07,002 crasso, albumine corneo, excavato. Embryo oblongus. HAB. in silvis primaevis siccioribus ad Rio Javary. Uanapo v Uikungo incolarum Fruct. Dec. .Obs. Subindo-se o rio Javary, antigo Yauary, passando-se a quarta corre- deira, que apparece no tempo da vasante antes de se chegar ao seu afiluente Uirary PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 105 encontram-se nas terras firmes e elevadas quer da margem brazileira quer da pe- ruana esta magnifica palmeira. Não attinge a altura da Chambira ou Tucum o seu congenere Astr. vulgare, porém apresenta a sua fronda magestosa sahindo por entre os galhos das outras ar- vores, mostrando os seus cachos de fructos compactos, ouriçados de aculeos pungen- tes que ferem o incauto que d'elles lança mão. Confrontando esta especie com as já conhecidas não encontro nenhuma que com ella se identifique, porquanto, mesmo o A. plicatum de Drude, que mais se approxi- ma, offerece caracteres que a afastam muito. : Considero-a não descripta e nova para a sciencia, pelo que como tal aqui a pu- blico. Sect. LEIOCARPEA E Barb. Rod. &. A. Manacense (Barb. Rod. loc. cit. N. 701.) Acaulis v. depressus inter annulos dense aculeis validis horridus, foliis longe vaginantibus arcuato patentibus-5 serialis dispositis, petiolo costã- que aculiatissimis, foliolis 3—6 natim irregulariter dispositis in facie inferiore pallidis linearibus oblique acuminatis. Spadix ma- ximus multiramosos. Spathã interiora caducã incurvã acuminatã aculeolis setiformibus armatã ad apicem horridissimã, rachi albo to- mentosa ramos plurimos dense exserente nutantes longe bracteatos; flores fem. in parte inferiore 3-4 bracteis cuspidatis suffulti ovoidei, ovarium in stylum longe conicum angustatum exserens, androcei rudimentarii annulo crasso impresso brevissime 6-dentato. Drupa ex induviis obovoidea in vertice rostellata. Caudes:, si adest, 2",20x0",22 alt., zonis 0",16 latis aculeorum dense congestorum fere 0,15 lg., obtectus. Folia 5,50 6” lIg., vaginã petiolo costâque aculeis nigris 07,01—0",16 horridis armatis, petio- lus 1,55 lg. subcylindraceus aculeatissimus; foliola utrinque 100— 120 in greges 3—6 aproximata, inferiora 0",80x0",30, media 1”, 35xX0",55, superiora, 0,23>0",015 superne nitida, in facie inferiore pallidiora, subtileter striata, aculeis marginibus fere 0",001—0»,002 lg., remote insertes. Spadia erectus, 1",40 lg.et longior, pedunculo cylindraceo, 0»,80—0r,90--0",045—0",50 lg. brunneo tomentoso, acculeis erecto-patentibus usque ad 02,02 1g., cum minoribus mixtis nitide atris per zonas consociatis vestito; rachi inermi, albo- tomentoso, 0",60xX0",70 lg., Spathâ interiore lanceolatã, ad basin attenuatà, mucronatã, incurvã, aculeis nigris 07,001—0",06 lg, dense horrida armatàã. Flores masc, non vidi, fem. turbinati fere 0”, 015 1g., bracteã cuspidatã, calyce urceolato tridentato, setis mini- mis appressis, corolla majore; corollá tomentosa, setulis minimis ap- appressis armata, tridentata, marginibus ciliata; ovario longe conico, albo tomentoso, sub inermi; androecae rudimentario laeviter triden- tato. Drupa ? endocarpio 07,037 x0",029 lg. osseo, subnigro, 0"005 crasso: albumine solido; embryone minimo, eylindrico. HAB. in Manãos ad Rio Negro, prov, Amazonas. Incola Tukumá-y uaçu noncupant. Floreb. Octobri. VOL, 1 14 106 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE Com o nome de Tukumá-y, isto é, tukumá pequeno, existem na provincia do Pará o do Amazonas, algumas variedades do Astrocaryum acaule de Martius, algu- mas, principalmente a dos terrenos arenosos, cujos individuos são sempre acaules e muito pequenos, e outros dos terrenos humidos e argillosos, que tambem acaules, comtudo tomam grande proporção, vindo com o correr dos annos a terem um pequeno tronco. á Em geral estes teem as folhas muito crespus, porém os cachos são sempre iguaes e os fructos que, sempro, são pequenos, não são comestiveis por terem o mezocarpio fihoso e seco. Confundido com tulkkumás-y encontrei a especie acima, conhecida pelos indigenas por Tukumi-y-uaçu, nome dado pelo tamanho dos fructos, que são muito grandes, Não sendo propriamente acaule, porque com o correr de muitos annos, mais de vinte, apresenta um espique, comtudo nos primeiros tempos de seu viver tem o ha- bitus do tukuma-y e d'ahi vem a denominação indigena,. Posto que habitus seja o d'essa especie, comtudo apresenta caracteres nas folhas, flores, fructos, que o tornam bem distineto. Os fructos assemelham-se aos do tukumã uaçu (Astr. princeps. Barb. Rod.) e são muito saborosos, pelo que os naturaes muito os estimam, Infelizmente com a devastação que vae destruindo todas as florestas, esta es- pecie vae desapparecendo, porque sendo acaule, não é respeitada pela fouce destrui- dora, como d'ella escaparam algumas de espique. ; Considerando-a, nova aqui a apresento à consideração dos sabios. Torna-se notavel esta especie pela disposição das folhas em cinco ordens muito regulares. 5. A. princeps (Barb. Rod. Enum. Palm. nov. pag. 22; Rev. Hort.n. 2. pag. 25; Gardn. Chronicle, Apr. 1 1876, pag. 442; Kerchove Les palmiers, pag. 242; Mart. Flor. Bras. pag. 387, n. 26, Tab. LXKXI, fig. IV.) Var. cw. aurantiacum Barb. Rod. Sert. Palm. mss. Drupa pyriformis vertice rotundato piramidato-rostellato 07,050x0",033; calyx paullô corollã majore ; epicarpio tenuissimi viridi-flavescenti laevi striato- rimoso punctato, mezocarpio carnoso aurantiaco efibroso dulci 0,008 endocarpio osseo ater-brunneo obovoideo basi acuto 0,002 albumine corneo paulló excavato 0,006. Indii eam vocint Tukumã Piririka. Var. p. flavum Barb. Rod. loc. cit. Drupa globosa compressa apice rotundato piramidato-rostellata, calyx multô majore corolla 0,050 X0",045 epicarpio viridi tenui laevi; mesocarpio carnoso flavo insi- pido 0”,004, endocarpio osseo ater-brunneo globoso compresso basi obtuso 0,004; albumine corneo excavato 0,006. Indii cam vocant Tukumà uaçú rana. Var y. vitellinum Barb. Rod. Joc. cit. Drupa oblonga v. globosa apice piramidato longé rostellata; calyx sub duplo corollae longitu- dine 0º,040x 0º" ,036, epicarpio ochraceo badio maculato tenuissimi, mesocarpio carnoso vitellino 0,003 endocarpio osseo ater-brunneo globuloso 0»,003—0" 004; albumine corneo paulô eucavato 07,005 —0",007. Indii cam vocant Tukumá purupurú.. Varê. sulphureum Barb. Rod. loc. cit. Drupa oblongo-globulosa apice brevi rostellata, calyx corollae longitudine 46xX42, epicarpio alboviridi paullô rimoso, mesocarpio sulphureo dulci 0,004 globu- CA PALMAE AMOZONENSIS NOVAE 107 loso basi acutissimo ater-brunneo ; albumine corneo excavato 07,005 0,007 Indii eam vocant Tucumã arara. HAB. in silvis Rio Negro, propê Manãos, in prov. Amazonas. Fructifi- cat Jun. vel Jul. Obs. Todas essas variedades crescem nas mattas de nova apparição (capoeiras) e nos terrenos cultivados da cidade de Manãos, sempre isoladas, não attingindo o porte da especie typica, que cresce nas immediações de Villa Bella da Imperatriz, hoje Parintins. O habito é inteiramente igual, havendo differenças apenas nos fructos. Poder-se-hiam estabelecer quatro especies como o Dr. Drude o fez involuntariamente com o Astrocaryum tucumi Mart. creando uma nova o A. tucumaoides que não é mais que a especie de Martius cultivada no Passeio Publico do Rio de Janeiro, da qual o Sr. Glaziou, que não conhece a natureza viva da especie de Martius, enviou amos- tras a Drude. Estudando-as ambas, comparei-as e encontrei diferença influenciada sómente pela cultura. O Astrocargum princeps, vulgarmente conhecido por iukuma uaçi, apresenta variedades que não escaparam à observação dos selvagens que as distinguem por nomes apropriados e caracteristicos tirados dos fructos. Assim o A, aurantiacum é chamado tukumo piririka, que significa 0 takuma que se abre ou cuja pelle (epicarpo) se fende ou se rompe; o vitellinum é o purupuri, isto é, o manchado maculado, o sulphureum, O arara, porque a côr do mesocarpo é, a da arara amarella scientificamente conhecida por ara arauna. Todos esses fructos são procurados pelos naturaes, que muito os apreciam, comendo-os com farinha. O mesocarpo é polposo e oleoso. Gen. ACROCOMIA Mart. Acrocomia micrccarpa Barb. Rod. 1. cit. n. 569.Caudex ex- celsus cylindricus vaginis petiolorumque basibus dum novus obtectus post internodiis paullô aculeatis annulis approximatis; folia multa contemporanea cernua crispata ad petiolos et rachi aculeis atris hora ridis sparsim armata densê tomento fusco ad basin obtecta; foliolis op- positis irregulariter dispositis subtus pallidioribus v. glaucis laevibus linearibus acutis ; spadix maximus nutans, spathã lignosã lanceolatã rostratã tomento denso fusco tectã; drupa minima globosa laeviter puberula monosperma olivaceo-flavescens. Caudex 5",.10x0”,25—0º",30 altus. Folia multi contemporanea, 3,50 — 4º”, 1g., in comam densam crispatam congesta ; petiolo 17,45 lg., supra concavo, subtus convexo, supra plana aculeis erectis armato 0=,01—0=,09 lg., rachi ad basin subtus convexa lateraliter concava, apicem subtus convexa, sopra carinata; foliola regulariter et equidis- tantê disposita, inferiora 0",50>x(07,006 1g., media 0”,60x0",026 lg. superiora 07,20>x(0",05 lg., 124 utrinque. Spatha exteriora mihi igno- ta; interiora 1”,X0",18—0”,28; spadix 02,30—1= 1g., pedunculi compress:, tomento albo obtecti, recurvi, 0,40 lg., aculeati, aculeis nigris, compressi, 0”,01 --0",02 armati; rachis 0,4 lg. ramos 300— 400 contemporaneis 0”",20—0",25 longos, incluso eorum pedicello 0",03—0",04 1g., mutua pressione angulatos, 07,004—0",005 in diam. Flores masc. 0",006—0,007 lg., calyce quam corolla 7-plo breviore, sepalis lanceolatis, acutis; petalis lanceolatis, subacutis, apice cuculatis ; antheris excertis; germinodio minimo oblongo, tri- fido. Ftores fem. recti v. purum obliqui 0,009 1g., 3—6 contem- 108 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE poraneis; calyce corollá triplo minore sepalis subreniformis; petalis convolutis, lati-reniformibus, acutis, imbricatis, cum androceo rudi- mentalis urceolato sex dentato cohaerentibus; ovario conico puberulo, sepalis paulló majore. Drupa globulosa, compressa, in vertice bre- vissime mucronulata, 0",03x0",281g., epicarpio cartilagineo, 0,001 crasso, mesocarpio miniato, gommoso-pulposo, 0,005 crasso, endo- carpio osseo ,0",018—0",020 diam. et 07,003 crasso; albumine solido; embryo oblongo-cylindricus. HAB. in Rio Urubu, prope Garaka in prov. Amaz. Flor Jan. Fruct. April. Mobkaya-y in lingua generali. Obs. Entre as Acrocomias conhecidas, que não passam de tres, a especie em questão é hoje muito rara e apenas quatro exemplares conheço em uma só locali- dade do Amazonas, no districto de Silves, no logar denominado « Enseada » proximo à foz do rio Urubú, Pelas folhas, espatha, flores e fructos distingue-se bem esta especie das que desde minha infancia conheço do Rio de Janeiro, Minas Geraes e Per- nambuco, onde o vulgo as distingue pelos nomes de Coco de catarrho e Makaiba ou Makayba e Mokayá. A proposito do primeiro d'estes nomes, cumpre-me aqui esclarecer um engano do professor Oscar Drude que disse que se originava por ser empregado contra affec- tiones catarrhales, quando o nome se deriva da polpa gommosa amarellenta que contém o mesocarpo que muito se assemelha, quando mastigada, ao catarrho humano. A especie de que trato comparada com as descriptas. approxima-se da glauco- phylla, de Drude, no que pude comparar, sómente pela espatha, afastando-se pelas folhas e pelos fructos. O porte é semelhante ao da sclerocarpa,de Martius e nada tem de semelhante à figura que o mesmo palmologo nas suas tabulae physiognomicae (XX IIT) apresenta, que o sabio monographo da Flora Brasiliensis pergunta se pertencerá à sua glaucophylla. Essa figura bem representa a especie que o mesmo Drude deno- minou iutumescens, (a Makauba) que é o cocos ventricosa que o Dr. Arruda Camara descreveu na sua Centuria das Plantas de Pernambuco, e que vem em sua Disserta- ção sobre as plantas do Brazil, publicada no volume IX (1841) à pags.274 do Auxilia- dor da industria nacional que se publica no Rio de Janeiro. Esta especie vi em Pernam- buco ; é de todas a mais elegante. O indigena que denomina as suas plantas por ca- racteres botanicos que lhe saltam aos olhos, distingue tambem esta. Elle denomina a uma Mokayá e a outra Mokayi-y ou Mokayi pequeno, como separa o inayá do inayá-y. O nome Mokayá é composto de mobka e yui, isto é, fructa que arrebenta, referencia que faz ao fructo, que, para ser comido, deve-so arrebentar o epicarpo. Gen. SYAGRUS Mart. Syagrus Chavesiana (Barb. Rod. I. cit. n. 267. Beccari, Mal- pighia, I, Fasc, VIII.) Caudex parvus remotê annulatus vaginis denudatus; folia erecto-patentia arcuata, foliolis per acervos 2—4 orum congregatis alternis lineari-lanceolatis acuminatis ; spadices androgini; spatha inferior inferioré bialatã tomento brunneo ad basin obtectã, superior fusiformis mucronatis; ramis plurimis tenuibus; flores masc. calyce minutissimo, petalis lanceolatis acu- tis coriaceis; staminibus monadelphis inclusis, germinodio minutis- simo tridentato; flores fem. masc. paullô minores irregulariter ovoi- dei calyce corollam convolutam includente coriaceo, androeceo magno urceolato sexdentato paullo germine minore, germine subgloboso PALMAE AMAZONENSIS NOVAE 109 stigmatibus sessillibus apiculato; drupa oblonga ad basin rotundata in vertice conico subumbonata, endocarpio utrinque acuto oblongo extus: inter foramina poroso laté vittato, intus vittis latis cum prioribus al- ternantibus laevibus nitentibus: semine trigono ellipsoideo vittato ; embryo rectus. Caudeur 2—3 met. altus vix 0,10—0",12 diam., ligno versus periphe- riam durissimo, flavo. Folia 20 contemporanea, adulta, 3,90 Ig.; vaginá reticulato-filamentosá, tomento cinnamomeo obtectã 0,30 Jg.: petiolo 0",40-—0,50 lg .: anticê sulcato, tomentoso, rachi 2,60 1g., subtus convexà, in facie superiore carinatã, sectione transversali triangulari; foliolis 90—95 utrinque, 36—38 gregariis dispositis, in- ferioribus linearibus, acuminatis, 0»,75x0",0] Ig., mediis latioribus, 0º ,87x0",041g., superioribus minimis, 07,28x0",011g. nervo medio supra elevato. Spadices 2—3 contemporaneis, 1,05 lg., pedunculo 07,80 lg., tomento cinereo obtecto, rachi 0",25 le., ramos 36—40 excerentes 02,36—0,25 l1g., bracteá tridentatã; spathã exteriori 0,75 1g., interiori 1,10 1g., extus longitudinaliter striatã. Flores masc. ochroleuci 0:,009—0"",010 lg., calyce trifido, laciniis acutis; petalis concavis, acutis, staminibus, feré duplo majore, includentibus, fem. 07,006 lg., virescentes, in spadice androgino a basi ramorum usque ad apice cum 1|—2 masc. consociati. Drupae 0,055x.0,030 —0m 038 lg.: mezocarpio fibroso, mucilaginoso; semine 0",025— 0,035x0",017—0",021 lg.. HAB. in silvis propê Manãos. Fructif. Januarii, Incolae Pupunha- rana nuncupant. Obs. Em 1873 tive occasião de descrever uma palmeira que então se encon- trava facilmente nas mattas dos arreilores de Manãos, hoje destruidas, à qual dei o nome de Cocos aequatorialis, por não pertencer ao genero Mavimiliana, para o qual a levou Spruce classificando um individuo que encontrou na foz do Rio Negro, com o nome especifico de Inajui, agora apresento uma outra, que com aquella cresce e que por poucos exemplares é hoje representada, porque a destruição que fez, quasi, des- apparecer o Cocos aequatorialis, tambem attingiu a que acima descrevo. O Cocos aequatorialis, (syagrus aequatorialis B. Rod.) '! sem razão, foi pelo professor Drude levado à synonimia do C'. Inãjai de Spruce, porque mesmo se fosse guiado pelo que publicou em 1877 o Dr. Trail, nas Descriptions of new species of palm collected in the Valley of the Amazons, havia de vêr que o mesmo Dr. Trail, se bem que apresente o Cocos inajai como de Spruce, diz nas considerações que faz « Dr. Rodrigues has gi- ven the name Cocos aequatorialis to this species. Iquote his reasons which seem to me to need no comment. » Quando o Dr. Spruce no seu herbario corrigisse o engano, não o publicou e o primeiro que o fez fui eu, em 1873, publicando em 1875 dous annos antes do Dr. Trail. A especie de que trato, vivia em sociedade com a outra, como em sociedade vivem differentes Geonomas, Bactris, ete., pelo que então me passou desapercebido as differenças que apresenta, tomando-a por uma e mesma especie. Hoje, porém, que estão fóra da floresta, crescendo nos primitivos logares, mas no meio das culturas, pude e póde-se bem avaliar as differenças que apresentam comparando-as. Não se pode attribuir à mudança de terreno, cultura, e meio difle- rente porque são filhos dus florestas e ambos soffrem a mesma acção do tempo e crescam em iguaes terrenos às vezes um individuo junto a outro. Comparando-se as deseripções vê-se bem em que uma se afasta da outra. Aqui não se dá o facto do €. Geribá do Sul, que pela cultura de centenares de annos modificou a especie ty pica que ainda se encontra, a ponto de dar logar a considerar- * Protesto, appendice ao Enwmeratio palnarum novarum, Rio de Janeiro, 1879, pag. 33 ; Le. palmicrs, Rio de Janeiro, 1832, pag. 19, . 10 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE se novas especies o que não é mais do que uma modificação devida ao novo meio eu ue, actualmente vivem, Essa modificação deu logar aos pseudo €, acrocomioides e Martiana de Drude. O nome especifico que proponho, é um d'aquelles a que são obrigados a dar os que como eu, recebem auxilio, protecção para a sciencia que cultivam, segundo se tem resolvido em congressos, Fundando o Museu Botanico do Amazonas, em lutas com dificuldades de todo o enero, deve este estabelecimento o poder fazer acquisição de muito material e po- er montar o seu laboratorio ao auxilio relevante que a elle prestou o Exm. Sr. Dr. Ernesto Adolpho de Vasconcellos Chaves, então Presidente da Provincia, facultando- me 6 facilit: ndo-me os meios de poder herhorisar e trabalhar ; é pois um dever de gratidão perpetuar o nome d'esse benemerito da sciencia, é o que faço, a exemplo de todos que trabalham e teem coração. O notavel botanico Eduardo Beccari publicou esta especie, com uma diagnose sua, feita pelos fructos que lhe remetti. Gen. ORBIGNYA Mart. Orbignya sabulosa (Barb. Rod. loc. cit. n. 484.) Acaulis; folia 3-—4 contemporanea concinna arcuata brevissimê petiolata foliolis pectinatis linearibus ad basin paullo attenuatis, ad apicem abrupté et caudato-cuspidatis obtusis; spadices longê pedunculati; masculi femi- neis multo graciliores ramos breves spiraliter dispositos exserenti flores densê onustos staminibus 9—13 intra petala oblonga acuta evolventibus; spadices fem. masculis robustiores, rachi simplici, floribus masc. distituti; drupa ovoidea vertice umbonato. Folial—2m. lg.; petiolis 0»,80— 0» 40 1g. canaliculatis; vachi 1::,20— 12,60 lg., primum canaliculata, deinde carinata; foliolis utrinque 40—55 infimis 0",35xX 07,008, mediis 0",40x02,027, superioribus 0",1x0”,008. Spadia masc. 0”,40 lg.:; spathá superiore crassê li= gnosá, lanceolatà, ad basin invaginante, mucronata, profundé-sulcatã extus fuscá, tomento brunneo adspersã, intus flavá dein castaneá, 07,25xX 0,05 1g.; ramis 14 erectis, 0,05 1g., dense scrobiculatis. Spadia fem. 0,60 lg., spathã superior crassé lignosá, lanceolatá, ad hasin invaginante, longê mucronata, profundé sulcata, extus fusca, tomento brunneo adspersa, intus flava, dein castanea 0” 20x0?,08 lg .; ramis 3—4 floribus, 17 —18 contemporaneis, 0,03 1g., Flores masc. 0,012 1g. calyce brevissimo 0,001 lg.; corolla tripetala con- vulata androeceo corollam */, aequante discum in fundo floris lati stel- latum formante, antheris oblongo-convolutis, crassis, filamentis inaequalibus circum germinodiwm longê ovatum trifidum disco in- sertum congestis , flores fem. 07,018 lg. Dracteis 2, cordatis, acutis quam sepala triplo minoribus sufulti; sepalis cordiformibus, acutis apice carinatis, petalis cordiformibus, sépalisque aequalibus, tridenta- tis; urceolo 0” 006 alt,; annulato, brunneo-tomentoso; stylus ovatus, tomentosus, stigmatus ante anthesin erectis conniventibus longé ex- certis. Drupa monosperma, ovoidea, umbonata, tomento brunneo adspersa, enduviata 0,400" ,03 lg .; epicarpio indurato ; mezocar- pio carnoso, paucifibroso, dulei, aurantiaceo; endocarpro osseo, su= kz PALMAE AMAZONENSIS NOVAE wn1 per acuminato, subtus obtuso, 0",035x(0",006 crasso, mellino ; al- bumine 0" ,020x0",011 Ig. , solido ; embryo obliquus, sub conicus, 07,005 lg.. HAB. in gregaria in pascuis sabulosis ad Rio Tarumá-uaçu, in Rio Ne- gro, prov. Amazonas. Fructificat Martio. Incolae Inayá-y vel Ku- ruá-y nuncupant . Obs. O tempo e a observação vieram confirmar o que eu disse quando protes- tei contra a expoliação que tinha soffrido em minhas palmeiras novas. Tratando de meu Cocos acquatorialis que o Sr. De. Trail denominou Cocos ingjai, depois de ter re- conhecido ser eu o classificador desta especie !, em meu segundo protesto assim me exprimi : * « Lesindiens sont três observateurs, et dans leur langage ils ont, pour «les plantes, une classification três juste. Ils font de la botanique à leur façon, mais «elle sert bien d'auxiliaire au botaniste. Ils emploient pour distinguer les plantes, « des mots tirés de la couleur, de la dureté, de la forme, de Vutilité, de la grandeur, «etc., comme un botaniste toujours un caractére saillant les guide. Dans le cocos en « question ils ne donneraient jamais le nom de Inayá-y à la Pupunha-rana, car le « premier nom veut dire Inajá petit, e le fruit de ce cocos, en outre de n'avoir aucune « ressemblance avec le inayá (Maximiliana regia), est encore plus grand. » O nome Inayá-y não me era conhecido e nunca vi ser applicado a palmeira alguma, quer no Pará, quer no Amazonas durante minha longa estada nessas provincias, até 1875 ; voltando, porém, em 1883 ao Valle do Amazonas, tratei logo de conhecer qual a palmeira que tinha esse nome, porque o Sr. Dr. Spruce não o podia ter inventado. Depois de muitas pesquizas, em Março de 1884, fui achar esse nome no Rio Negro, entre os habitantes de seu affluente Tarumá-uaçú. Apenas o soube, quiz logo ver si o nome inajá-y se identificava ao Cocos que tinha deseripto, e qual não foi meu contentamento verificando que não só não era elle dado à minha especie, que Trail quer que seja Inajái, como confirmou a minha opinião de que os indios, em seus no- mes, perfeitamente caracterisam as plantas. Ainda mais, vi que se tratava de uma especie nova que se me offerecia coberta de flores e fructos ! Com effeito, os fruc- tos da especie em questão são muitos semelhantes aos do Inayá (Maximiliana regia Mart .), porém menores, 9 que na lingua vernacula so traduz por Inayi-y. Vê-se, pois, ainda uma vez que o notavel professor de Aberdeen ligou o nome vulgar de uma especie a outra mui differente. Deu nome vulgar de uma Orbignya a um Cocos! Grato sou, comtudo, ao Sr. Dr. Trail, porque, se não fosse elle não teria eu mais esta especie nova que encontrei, levado pelo nome vulgar que m'a deu a conhecer. Ella veio dar-me mais uma confirmação: favoravel à classificação indigena. Em outros logares, como no Tarumá-uaçu, no proprio Rio Negro, os indios dão a esta palmeira tambem o nome de Aurud-y, isto é, Ruruá pequeno, e com muita razão. A planta tem na verdade o aspecto de um kuruá (Attalea), porém menor, não só no porte como nos fructos. Ambos os nomes são, pois, bem applicados a essa palmeira, semelhante ao kurui, porém menor (%y) e com fructos parecidos aos do inayi, porém pequenos. Nunca teve nem terá, pois, o Cocos (Syagrus) aequatorialis o nome de inajá-y, que foi dado por Spruce, quando o achou e publicou como Maximiliana * e por Trail, quando, dopois de mim, o levou para o genero cocos. Não sendo praxe estabelecida em botanica dar-se para nome scientifico de uma especie o vulgar que faz conhecer outra inteiramente differente, razão me dará o Sr. Dr. Oscar Drude vendo-me ainda uma vez reivindicar o direito que tenho ao Cocos aequatorialis, se não por ter descoberto a planta, ao menos por tel-a levado para o genero a que pertence, ao Cocos (Syagrus). j Depois de escriptas estas observações chegou-me às mãos o fasciculo VIII da MALPIGHIA, onde o eminente professor Eduardo Beccario, de Florença, no seu estudo Le palme incluse nel genere cocos, restitue-me o meu Cocos aequatorialis e passa para a synonimia deste o Cocos Inajui de Trail. A pag. 16 do mesmo estudo, que foi tirado em avulso, poder-se-ha verificar o que affirm». ! Journal Soc. Linu. Vol. XI. 1869, pag. 103. 2 Les Palmiers. Rio de Janeiro. 1882. Pag. 22. 3 The Journal of botany. Vol. V. 177%6,Pag. 8). Obs. 3. 112 PALMAE AMAZONENSIS NOVAE MAXIMILIANA Mart. Maximiliana longirostrata. (Barb. Rod, 1. cit. n. 900.) Caudex procerus petiolis superne persistentibus foliis amplis erectis pinnatisectis, foliolis 3-4 aggregatis in gregibus suboppositis. Spadix maximus, masculus androgynus spathã supra profunde sulcatã lon- gissime rostratà, rostrum anceps acutum ; flores masc. plurimi con- ferti graciles, calyce minutissimo, corollã subcylindricà, staminibus 6 epitalorum filamentis corollae majoribus quam antherae triplo bre- vioribus; flores fem. 5 — 10 in ramis androgynis dense aggregati ovoideo-oblongi, calyce vix */, corallam aequante, sepala mucronata, androcei abortivi cupulà !/ corollae aequante sex dentato ; drupa su- pra basin induviata oblonga sensim acuminata, putamine acuminato foramina a basi remota evolvente bispermo. DESCR. Caudes 4,5" altet 0,30 in diam., superne petiolis persisten- tibus in diametrum majorem incrassatus. Folia suberecta, con- temporana 5-6", lg., petiolo 07,90 lg., costã 4", 80—5”, lg.: foliola per gregis sub-oppositas, inferiora 0",73x0”, 16 lg., me- diana 1,16xX0",042, superiora 0,50x0",015, linearia, oblique acuta, nervo medio super prominente. Spadices 0",07—0",08 lg., pedunculo 0",40—0m,50 lg., compresso, 0,05 in diam.; spatha inte- riora extus fulvo tomentosa in rostrum 0",46— 48 longum attenuata ; rami plurimi; flor masc. 0,010 0,012 1g.: calyx 07,001 lg.; co- rolla 0” ,003 alta ; filamenta 0,"002 1g., antheras 007—0",009 lg.: Flor. fem. 07,03 alti, calyce firme convoluto, sepala dorsaliter cari- nata manifeste mucronata. Corolla petala breviter mucronata ad mar- gines eroso-denticulata androceo 0" ,06—0» 007 alt., sexdentato, den- tibus triangularibus. Drupa cum induvia 0",05x0",25, mezocarpio albo, insipido ; indocarpio 0",35x0",017, oblongo acuminato. HAB. in silvis propê Manãos. Flor. Jun et Fruct. Decem. Obs. Por diversas vezes encontrei esta bellissima palmeira, porém sempre em occasião que via-se despida de flores e de fructos. Isoladamente, vi tambem por vezes os seus fructos nas maôs de crianças, entre- tanto nunca pude estudal-a . a Ultimamente, encontrando um exemplar, na chacara de meu amigo o Sr. Te- nente-Coronel Bacury, por elle fiz os meus estudos. Espontaneamente ahi nasceu e ficou, como representante da vegetação que foi destruida quando se preparou o terreno, para a edificação e cultura. D'entre as Maximilianas descriptas, se destacava esta que vivia desconhecida, e só hoje appareceu augmentando o limitado numero de suas congeneres, achadas no Amazonas, na Colombia e na Bolivia. À A spatha d'esta especie é empregada pelos indios como panella. Para isso mo- lham-a antes de ser levada ao fogo. Os tapuyos tambem servem-se d'ella como banheira para as crianças. Os fructos cujo endocarpo é de um branco sujo, e de um gosto insipido e acre. distinguem-se facilmente dos da M. regia, que tem o endocarpo amarello e doce. Museu Botanico do Amazonas, Setembro de 1886. GENERA ET SPECIES Orchidearum novarum VOL. I. Genera et Species orchidearum novarum AUTORE J. Barsosa RopricuEs. tribo. MALAXIDEAR S PLEUROTHALLIDRAE vino PLEUROTHALIS R. Br. Hymenodanthas. S Pelaphylla a.Rrod. (1) a ** Flores solitariis. « Caule primario brevi, s:cundario clongato. * Spica foliis minore 1. Pleurothalis longisepala Barb. Rod. Icon des Orch. du Brês. Pl. 849. (*) Caule secundario ad basin uni-articulato, subtriangulare, antice su!- cato, erecto, foliis majore ; folio lanceolato, tridentato, erecto ; scapo sub-nullo; sepalis, superiore Jineare-oblongo, acuto, basi concavo apice convexo, inferioribus duplo minoribus latioribus, apice bidentato; petalis sub rhomboidalibus, marginibus dentatis, acutis, sepalis minoribus, labello trilobo, lobulis lateralibus erectis, minimis, marginibus argute denticulatis, lamellae carnosis erectis, papillosis, lobo medio linguiformi papilloso, Gynostemio clavato — mentoso, apice dentato, ! Genera et species orclhidenrmum novunon, IF, page 9. 2 Com o titulo Tconographie des Orchidées du Brésil, conserva-se ined ta a obra que contém as descripçõ s e as estampas, copiadas do natural, e acompanhadas dos detalhos bo- tanicos, Comprehende não só as especies do (Genera ct Species orchicearum novarum, como tambem as publicadas por outros autores. Tem figurado essa obra em varias exposições nagionaes, Do avToR, 116 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM HAB. perto de Uatukurá, no rio Yauapery, afluente do rio Negro, provincia do Amazonas. Floresce em abril. Obs. Os sepalos desta especie são amarellos; o superior trilinhado de escuro e os inferiores trilinhados com a base da mesma cór. Os petalos são amarellos unilinhados de pardo, com o labello violaceo. 2, P. albiflora Barb. Rod. 1. cit. Est. 860. Caule secundario biarticulato, subtrigono, folio aequale; folio lineari- lanceolato, apice tridentato, erecto, dorso carinato; spica folio triplo minore, pendula, 4—6—floribus contemporaneis ; sepalis superiore lanceolato, acuto, dorso carinato, inferioribus bi- dentatis, dorso bicarinato; petalis paulo minoribus, subtrapezoi- dalibus, obtusis; labello petalis subaequale, inter lobulis late- ralibus bi-lamellato, trilobo, lobulis lateralibus rotundatis v. oblongis, lobulo medio linguiforme, acuto, apice recurvo. Gy- nostemio clavato, marginibus clinandri serrulatis. HAB. nos grandes troncos das mattas do rio Yauapery, provincia do Amazonas. Cresce em soqueiras. Obs. As flores são inteiramente brancas. 8 ** Flores solitariis. 3. P. Yauaperyensis Barb Rod. 1. cit. Pl. 851. Caule primario repenti triarticulato, squameis ochreatis tecto; caule secundario exarticulato, folio longitudine, sulcato ; folio elliptico, apice tridentato, 0,» 014 X 0," 02, scapo minimo ; sepalis, superiore lanceolato basi attennato, sulcato, apice convexo, recurvo, in- ferioribus triplo latioribus, basi excavato intus argute granuloso connatis, apice bidentatis; petalis oblique rhomboidalibus, mar- ginibus serratis; labello unguiculato, trilobo, lobulis lateralibus acutis, erectis, laevis, lamellae carnosae, erectae, laevis; lobo medio papilloso, marginibus ciliatis. HAB. perto de Ohichiuahu, no rio Yauapery, afluente do Rio Negro. Floresce em abril. Obs. Os sepalos são brancos linhados de violeta-vinhoso, com os apices intei- ramente desta ultima côr; os petalos são roseos unilinhados de violeta-vinhoso ; sendo tambem desta ultima cór o labello. 4. P. Josephensis Barb. Rod. 1. cit. Pl. 825. Caule primario repenti; caule sccundario paulo minore folio, antice excavato, uniarticulato ; folio, lanceolato, apice tridentato ; flore solitario ; sepalis superiore ligulato, acuto, erecto, apice subrecurvo, HAB. GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 117 quinquelignato, inferioribus connatis usque medium, acutis, con- cavis, dorso bicarinatis; petalis lanceolatis, acutis, basi attenuatis, marginibus in apicem sub-serratis; labello basi utrinque unidentata, in centrum calloso, trilobato, lobulis lateralibus, minimis, argute dentatis, subrotundis, erectis, medio linguiformi, obtuso. (Gynostemio claviformi, clinandri marginibus dorso dentatis. nas rochas dos logares humidos da matta da Serra deS. Josê d'El-Rei, provincia de Minas Geraes. Floresce em Agosto. Obs. Sepalo superior verde quinquelinhado de purpura-escuro ; inferiores da mesma côr com 6 linhas. Petalas verdes e trilinhados da mesma côr; labello verde com veios purpureos e trilinhado. Esta especie é muito proxima à P. translucida, LEPANTHES sv. Longicaulae parb. Roa, «. Scapo elongato fractiflexo folio majore. 1. E. Yauaperyensis Barb. Rod. 1. cit. PI. 846, Caule secundario cylindraceo, biarticulato; folio duplo majore caule, HAB. elliptico ad basin attenuato, apice tridentato, convexo basi sulcato ; scapo filiforme, fractiflexo, unifloro, inflorescentia indefinita ; se- palis, superiore elongato, acuto, concavo, dorso corinato, apice recurvo, inferioribus connatis, apice retuso, concavis ; labello sub panduriformi, apice truncato, unguiculato, centrum pubescente, dorsaliter trilamellato. Gynostemio ad basin mentoso, clinandri marginibus cucullatis denticulatis, antice excavato. nas cascas das arvores das mattas do rio Yauapery, perto de Chichiuahu. Floresce em Abril. Obs. As flores teem os sepalos amarellados, manchados de um escuro pur- pureo. 4. * Floribus multi-contemporaneis; sepalis inferioribus connatis. 2. Lº Blumenawvii Barb. Rod. 1. cit. Pl. 822. Caule secundario cylindraceo-clavato, uniarticulato, antice sulcato, folio minore; folio oblongo-lanceolato, apice obtuso, basi, conduplicato, sulcato, erecto ; scapo triplo majore folio, erecto fractiflexo, mul- tifloro; floribus 4 a 6 contemporaneis, secundis ; sepalis, superiore apice recurvo, convexo obtuso, dorso carinato, concavo-sulcato ad basin, ad medium piloso, inferioribus connatis usque ad apicem, bidentato, concavis ad basin, ad medium compresis, pilosis, margi- 118 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM natis, geniculatis, dorso bicarinatis ; petalis unguiculatis, rhomboi- dalibus, acuminatis; labello lanceolato, recurvo, subacuto, apica carnoso-granuloso, sulcato. Gynostemio claviformi, incurvo, cli= nandri marginibus denticulatis. HAB, o Tubarão, perto de Itajahy, provincia de Santa Catharina, Flo= resce de Março « Maio. Obs. Caule vermelho escuro ; flores esverdoadas com os sepalos trilinhados na base e manchados de carmim escuro no apice. Petalos trilinhados ; labello trili- nhado na base o manchado no apice. 4 Plantao mediocris. 3. L. funerea Bab. Rod. 1. cit. Pl. 5453. Caule secundario minimo, folio triplo minore ; folio lanceolato ad basin attenuatissimo, apice tridentato, erecto, scapo erecto, apice breviter fractiflexo, unifloro, inflorescentia indefinita; sepalis, superiore lanceolato, acuto, dorso carinato, erecto, inferioribus aequalibus, ad basin coalitis, apice recurvis; petalis duplo-minoribus, lanceo- latis, acutis, apice recurvis, labello duplo majore petalis, trilobo, lobulis lateralibus minimis, erectis, truncatis, medio linguiforme, recurvo. Gynostemio clavato, apice cristato, lateraliter unidentato. HAB. os ramos delgados das arvores das mattas do rio Yauapery. Floresceem Março. Obs. Todo o periantho é cór de bórra de vinho carregado. Brevicaulae. arb. Rod. 8. ** Sepalis basi connatis lacvis. 4. EL. plurifolia Barb. Rod. 1. cit, Pl, 852. Planta mediocris, caespitosa ; caule secundario sub nullo; folio oblanceo- lato, apice tridentato; scapo duplo folio majore, apice fractiflexo, erecto, filiformi; floribus 10 - 12 contemporaneis, distichis, alter- nis, sub-secundis ; sepalis, superiore lanceolato, acuminato, con- cavo, laeviter carinato, apice recurvo, inferioribus connatis apice bidentatis, acutis, recurvis, carinatis; petalis duplo minoribus, oblongis, obtusis ; labello oblongo, laeviter subtrilobo, apice sobro- tundo, billamellato, inter lamellae pubescente; gynostemio cla- vato, apice tridentato, ad basin mentoso, HAB. GENERA ET SPECIÊS ORCHIDEARUM NOVARUM 119 em soqueiras nos troncos das arvores das florestas virgens do rio Yauapery, afluente do Rio Negro, provincia do Amazonas. Floresce em Março. Obs. Todo o periantho é branco amarellado. As folhas teem 0,705 — 0,05 x 0,005 — 0,006. As flores teem 6 mill. de extensão. Phyllocaulae parb. Rod. x. Scapo elongato fractiflexo. Inflorescentia indefinita. à. L. quartzicola Barb. Rod. loc. cit. PL. 829. Caule HAB. secundario G-articulato, squameis tecto; squameis vaginantibus, striatis atque ostio explanato ovato, marginibus ciliolatis; folio caule secundario minore, oblongo, apice tridentato; scapo triplo majore folio, fractiflexo, uni-blifloro ; inflorescentia indefinita ; se- palis superiore subrotundo, acuminatissimo, basi concavo, apice recurvo, inferioribus connatis basi usque apice bidentato, lanceola- tis, basi concavis, apice recurvis ; petalis sepalis minoribus, cunca- tis, apice emarginato dentato, erectis; labello recurvo, trilobato, lobulis lateralibus unciformibus, erectis, minimis, medio lingui- formi, obtuso, convexo, ad hasin bicalloso. nas pedras das florestas da serra de S. José d'El-Rei, provincia de Minas Geraes. Floresce em Agosto. Obs. Sepalo superior amarello-óca, trilinhado de purpura ; inferiores da mesma côr, quadrilinhados ; labello da mesma côr, quadrilinhado. 8. Scapo erecto; floribus multo contemporaneis 6. EL. densiflora Bar. Rod. Joc. cit. PL. 828. Planta pusilla, caespitosa. Caule secundario folio paulo minore, triarticu- HAB, lato squameis tecto ; squameis vaginantibus, striatis, apice dilata- tis lato-lanceolatis acutis, marginibus pauci-fimbriatis; folio oblongo, apice tridentatis ; scapo filiformi, erecto, multifloro ; flo- ribus compactis, distichis, alternis ; sepalis superiore ovato-acumi- nato, concavo ad basin, apice recurvo, inferioribus minoribus, con- natis usque ad apicem, bidentatis, revolutis, basi concavis ; petalis minimis, reniformibus, concavis; labello sepalis inferioribus paulo minore, lanceolato, sub-acuto, apice recurvo, basi concavo-striato. as arvores dos lugares sombrios e humidos da matta que circunda o cume da serra de S. José d'El-Rei, provincia de Mi- nas Geraes. Floresce em Junho e Agosto. Obs. Sepalos amarello-esverdeados, com o apice purpureo. Petalos amarello- esverdeado; labello purpura. 120 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM Y. Scapo sub nullo 1 - 4 contemporaneis. Floribus solitariis 7. E. eryptantha Barb. Rod. /0c, cit. Pl. 838. Caule secundario folio majore, teneritate tecto vaginis imbricatis, nervu- ris parallelis salientibus, pubescentibus, quinque articulato ; folio elliptico, marginato, apice tridentato ad basin contorto ; scapo sub nullo, |—3 contemporaneis, uni-bifloro ; floribus, minimis; sepa- lis, superiore lanceolato, acuto, concavo, erecto, inferioribus basi connatis, saccatis, acutis; petalis minoribus, oblongis, acuminatis- simis, marginibus serratis; labello linguiformi, obtuso, margini- bus argute ciliatis, in medium depresso, minimo; gynostemio clavato, mentoso, clinandri marginibus denticulatis, apice cristato, lateraliter unidentato. HAB. o tronco das arvores das florestas do rio Yauapery, provincia do Amazonas. Floresce em Março. Obs. Os sepalos são brancos, de apice violaceo. Petalos brancos unilinhados de violeta. Labello violaceo. STELIS sw. Patuliflorae Barb. Rod. «. Scapo folio majore * floribus monosepalis 1. Ss. plurispicata Barb. Rod. loc. cit. Pl. 847, Caule secundario cylindraceo, folio minore, uni-articulato, novo squamã invaginante acuta tecto; folio oblongo, basi attenuato, apice triden- tato, erecto; spatha brevi, lanceolata, acuta, compressa ; scapo folio majore, 1—4 contemporaneis; floribus secundis; sepalis basi con- natis, superiore majore, oblato, acuto, convexo, inferioribus subro- tundis, acutis, omnia puberulis; petalis oblato-sagittatis, obtusis, carnosis, minutis; labello petalorum eadem longitudine, carnoso, cucullato, centro sulcato, apice obtuso, marginibus lateralibus erectis; gynostemio minutissimo, clavato, clinandri marginibus sinuato . HAB. nas velhas arvores das mattas do rio Yauapery, afluente do Rio Negro, provincia do Amazonas. Floresce em Maio. Obs. Flóres verdes manchadas de purpura. 2. S. Yauaperyensis Barb. Rod. Joc. cit. Pl. 861. Caule secundario cylindraceo, biarticulato, triplo folio minore ; squamà longã, invaginante acutà tecto; folio oblongo, hasi atte- RR HAB. GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 121 “ nuato, apice tridentato; erecto; spatha brevi-lineari lanceolata, acuta; scapo folio majore ; sepalis connatis aequalibus, triangula- ribus, subobtusis, convexis, laevibus; petalis carnosis, oblatis, apice emarginatis; labello carnoso, centro sulcato, marginibus erectis, apice incurvo apiculato, gynostemio minimo, clavato, apice cristato, cristã incurvá. as velhas arvores do rio Yauapery, prowncia do Amazonas. Floresce em Abril, Obs. As flores são verdes. MASDEVALLIA Rz. Pav, M. Yauaperyensis Barb Rod. loc. cit. Pl. 836. HAB. Caule segundario nullo; folio oblanceolato, erecto, subacuto ; scapo ffolio longitudine; sepalis connatis, cupuliformibus, cum aristis longe-productis, recurvis; petalis carnosis, antice cana- liculatis, postice convexis, unidentatis in marginibus externis, apice truncatis, apiculatis ; labello recurvo, unguiculato, sulcato, lateraliter in medium bicalloso; gynostemio erecto, mentoso. em soqueiras nas arvores das mattas humidas do rio Yauapery Floresce de Janeiro a Março. Obs. Os sepalos são brancos trilinhados de purpura, com arestas amarellas ; labello branco levemente manchado de purpura; gynostemio branco na parte posterior e purpura na anterior E' uma especie lindissima. OCTOMERIA R. Br. Planifoliae E Rod. «, Floribus fasciculatis, raro solitariis, sepalis liberis, Macrophyllae. b. Pauciflorae. * Foliis carnosis. 1. Octomeria xanthina Barb. Rod. loc. cit. Pl. 842. Planta caespitosa; caule primario sub nullo; caule secundario cylindraceo, erecto, quadriarticulato, folio longitudine; folio oblongo ad basin attenuato, apice, obtuso, erecto ; floribus 1-2 coae- taneis; sepalis petalisque conformis, lanceolatis, acutis, recurvis ; labello late unguiculato, trilobo, lobis lateralibus erectis, falcatis, obtusis, lamellis antice convergentibus, erectis, lobo medio rhom- boidali, emarginaio, recurvo. VOL. I. 16 122 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM HAB. os troncos das arvores velhas das maltas do rio Yauapery, perto de Tauakuera, Wloresce em Março. Obs. Todo o periantho é amarello, menos o labello que tem as palhetas cór de vinho, Teretefolias pad. Rod, 8. Microphyllae, ** Sepalis inferioribus liberis. 2, O. Yauaperyensis Barb. Rod. Joc. cit. Pl, 837. Caule primario nullo; caule secundario triarticulato, cylindraceo- complanato, sub triplo folio majore; squameis ad basin tecto ; folio cylindraceo , antice plano longitudinaliter sulcato, acuto, incurvo ; floribus 1-2 coaetaneis; sepalis liberis, superiore lanceolato, acu- to, erecto, inferioribus oblique lanceolatis, “acutis Jlatioribus ; petalis lineari-lanceolatis, acutis, erectis; labello trilobo, cum duabus callis carnosis inter se, lobulis lateralibus, erectis, acutis, lobo medio oblongo, acciso, cum tribus carinis carnosis ellevatis ; gynostemio erecto, clinandri marginibus crenatis, rostellum, eminens, convexum. Polliniis 4-6 coactaneis. HAB. em soqueiras nas arvores dos arredores do rio Chichiuahu, no vio Yauapery. Floresce em janciro e, algumas vezes, cul- tivadas, até maio. “” Obs. Os sepalos e os petalos são amarellos e o lakello violaceo marginado de amarello. O gymnostemio é manchado de violeta. Especie muito notavel, qria BPIDENDREAE cima. EPIDENDRUM Linn. Encyclium $ hymenochila Lina. q. Lobo intermedio acutissimo v. acuminato. Lindl, 1. Epidendrum Yauaperyense Barb. Rod. I. cit. Pl. 855. Pseudobulbis conicis-elongatis diphyllis; foliis elongatis acutis:; scapo paniculato I—3 pedali. foliis minore ; sepalis oblongis, acutis ad basin attenuatis; petalis oblongis, acutis, unguiculatis, incurvis : labello sepalis paulo minore, trilobato, lobulis lateralibus alifor- mis, apice recurvis obtusis, striatis, gynostemium basi amplectens, E GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 123 lobo medio majore lanciforme, acutissimo, apice recurvo, longi- tudinaliter ondulato-striato; gynostemio lateraliter compresso ; anthera cristata, emarginata. HAB. as arvores das mattas virgens do rio Yauapery. Floresce em março | | Obs. Sepalos e petalos verdes, labello com lobos lateraes, amarellos com linhas purpureas, e o medio branco com bordos amarellos. Gynostemio amarello com linhas purpureas. 2. E. Randii Barb. Rod. l. cit. Pl. Sd1. Pseudobulbis conicis, rugosis, diphyllis; foliis clongatis, obliquo acutis; racemo foliis minore, erecto, paucifloro ; florihus magnis; sepalis oblongis, acutis, ondulatis, reflexo-incurvis; petalis obovalibus, unguiculatis, ondulatis, refexis; labello sepalis majore, trilobo, lobulis lateralibus oblongis, magnis, acutis, apice recurvo, lobo medio reniforme, emarginato, magno. HAB. as maitas de Teflé, rio Solimões. Floresce em outubro. Obs. Sepalos e petalos levemente striados de carmin ; labello branco com veias pronunciadas de carmin. As flores muito cheirosas murcham somente depois de £a 6 semanas. Especie notavel. Dedicada ao Sr. EDWARD SPRAGUE RAND, autor das « Flowers for the parlor and garden » e das « Orchideas » que descobrio-a e della fez-me communicação. Lanium Lina, 3. E. Yatapuense Barb. Rod. /. cit. Est. 834. Caulibus ramoso-pseudobulbiferis, articulatis ; pseudobulbis compressis, anceps, trifoliatis ; foliis envaginantibus, vaginis anceps, oblongis acutis, marginibus recurvis ; scapo erecto, squamato, compresso, anceps, paniculato ; triplo foliis majore; floribus minimis ; se- palis oblongis acutis, apice recurvis; petalis linearibus, acutis ; labello carnoso, lateraliter complanato, trilobo, lobulis lateralibus aliformibus, acutis, medio linguiforme, majore, recurvo, acuto ; gynostemio minimo, clavato. HAB. as arvores das praias hunidas do rio Yatapu, onde a en- contrei em 1873,enorio Yauapery, onde florescia em janeiro. Obs. Pouca attenção merece esta especie. Suas flores são inteiramente verdes e muito pequenas. Planifolia umbellata Lindi. 4. E. myrmecophorum Barb. Rod. /. cit. Est. 859. Caulibus caespitosis apice foliatis ; foliis distichis lanceolatis acutis ; ra- cemo minimo umbeilato : sepalis, superiore oblongis, concavis, 124 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM acutis, inferioribus latioribus oblique acutis; petalis Jinearibus, acutis, supra gynostemium convergentibus; labello repando, an- tice sinuato, emarginato basi, quadricalloso ; gynostemio cla- vato. HAB. o igapó do rio da Cachoeirinha, em Manãos, provincia do Amazonas. Obs. As flóres são inteiramente verdes e sem attractivos. Torna-se, porém, notavel esta especie pela grande quantidado de raizes que se entrelaçam, formando uma figura espherica, suspensa às lianas, onde cresce, servindo sempre de ninho às formigas. ORLEANESIA Barb. Rod. 1. O. Yauaperyensis Barb. Rod. /. cit. Pl. 835. Caule erecto cylindraceo, basi squamato, 4— phyllis ; foliis distichis, envaginantibus, concavis, linearibus, oblique acutis ; scapo erecto, longissimo, paniculato ramis distichis, basi squamato, squameis envaginantibus ; plurifloro; floribus minimis; sepalis, superiore oblongo, acuto, marginibus recurvis, inferioribus latioribus; oblique-oblongis, acutis, reflexis marginibus recurvis; petalis linearibus, acutis, erectis; labello obovali, subretuso, revoluto. gynostemio sub clavato, mentoso, apice cristato, antice, sulcato, Ovario pubescenti. HAB. as margens do ro Yauapery, perto de Tanakuera. Floresce em Janeiro. Obs. As flores têm todas as lacinias vermelhas, cór de vinho. Esta especie estabelece uma divisão para o genero, pois na especie Amasonica, publicada em 1887, no vol. 1º de meu Genera et species, as flóres são em umbella e nesta em panicula, cuja haste tem a base semelhante à da inflorescencia do sub genero Amphiglotium das Epidendreaceas. Pode-se, pois dividir em duas secções. 4 — Umbellatae. 8— Paniculatae. Tribu. VANDEAER Lindl. JANSENIA Barb. Rod. Perianthuim clausum. Sepala lateralia basi in calcar elongata. Petala erecta, apice recurva. Labellum corniculatum, indivisum gynos- temio continuum. Gynostemio erecto ovarium continuo sub GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 125 calcarato ; clinandriwm sub planum; stigma antico, reniformi, convexo. Pollinia 2, obovalia, cereacea; caudiculã elongatã, filiformi; glandulã minuta. Herbae epiphytae, pseudolbulbosae, pusillae. Folia erecta, carnosa, acinaciformi. Hlores solitarii speciosi albae, Aº primeira vista, este genero, por seu habitus, tem alguma affiini- dade com o Ornithocephalus Hook, porém às flores o afastam completa- mente deste, não só pela fôrma do gynostemio, como pelas pollinias e labello. As flôres são enormes relativamente à planta, o que a torna digna de nota. Pela manhã é muito cheirosa. Os auxilios prestados ao Museu Botanico do Amazonas pelo DR. JOSE JANSEN FERREIRA JUNIOR, presidente da provincia do Amazonas, o tornaram credor da homenagem perpetuada pelo nome generico desta pequena orchidea. «Jansenia cultrifolia Barb. Rod. l. cit. Pl. 857. Pseudobullo lenticulari, squameis-foliis, distichis tecto, monophyllo ; folia acinaciformi, erecta, acuta, basi attenuata; scapo minuto basilari, unifloro ; ovario trigono, elongato ; sepalis superiore for-= nicato, oblongo, acuto, concavo, inferioribus, conformibus, basi in calcar elongato ovarium magnitudine ; petalis sepalisque aequa- libus, apice recurvo, labello flabelliformi, emarginato, corniculato, basi lateraliter sub saccato; gynostemio erecto, dorso anguloso, minuto; anthera subglobulosa, uniloculari. HAB. nos galhos musgosos das mattas humidas do rio Yauapery. Floresce em Abril. Obs. As flores são inteiramente brancas tendo sómente o labello veios ama= rellos côr de ouro. CYCNOCHES Lind. Cycnoches pentadactylon Lindl., Bot. Reg. XXIX. 1843. tab. 22 misc. 26: Barb. Rod. L. cit. Pl. 866. Caule erecto 1— 3 — floro ; sepalis, superiore lanceolata, acuta, ad basin attenuata, concava, erecta, apice recurva, patentia, inferioribus latioribus paulo minoribus ; petalis reflexis lanceolatis, subungui- culatis, acutis sepalis latioribus; labello carnoso hypochilio super convexo, subtus concavo, metachilio transversaliter prominenti, epichilio lanceolato, acuto, subtus concavo. Gynostemio brevi, incurvo, cylindraceo, clavato. HAB. sobre os terrenos do rio Purus, perto de Canutama. Floresce em Março e Abril, Sepalos, superior branco amarellado largamente mosqueado de ver- melho-sanguineo, inferiores com o centro maculado transversalmente e 126 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM listrados da mesma côr; petalas mencres, porêm mais largamente mos- queadas do que o sepalo superior ; labello branco-marfim com o hypochilio amarelado. Gynostemio amarellado finamente mosqueado, Obs. E commum entre os catasetuns o dimorphismo das flores, produzindo um mesmo individuo, às vezes na mesma epocha, flores com fórmas differentes que correspondem aos sexos e mesmo ao hermaphroditismo. Assim o catasetum é o macho, o monachantus a femea e o myanthus o hermaphrodita. Não só em hastes differentes se apresentam com differentes fórmas, como muitas vezes na mesma, como tive occasião de observar. Em geral o myanthus dá no anno seguinte ao da florescencia do catasetum e monachantus, que dão simultaneamente. Na restinga do Umirisal e na do Taramú-uaçu, no Rio Negro, onde aos centos crescem exemplares de catasetum, o que aqui deserevo sop o nome de monachantus discolor, vi todos floridos representando só as duas especies, quando no anno anterior só tinha visto florescer o myanthus. O que se dá com os catasetuns, dá-se tambem com os eycnoches, como já foi observado por Skinner, em Guate- mala, e por Robert Steynner Holford Sq. e referido por Lindley e Darwin. Como verdadeiramente o unico brazileiro que a sciencia conhecia é o que Lindley descreveu em 1843, no Botanical Register, o C. penrtadactylon, encontrado depois por mim em 1873 e do qual à unica fórma diagnosticada era a do sabio orchi- dographo inglez, que é a que apresenta a forma masculina. Depois de decorridos 46 annos sem que se conhecessem outras fórmas a não ser a já conhecida, se me apresentou elle agora com sua heteranthia plenamente patente em um mesmo individuo. Depois de, em Março, apresentar a forma que aqui diagnostico, tomando-o por especie distincta, em Abril, o mesmo pseudobulho emittiu dous racemos um com quatro flores e outro com sete, todas identicas à especie de Lindley. Outro exemplar apresentou um só racemo com doze flores. As flores de fórma masculina sobre a manhã, exhalam um cheiro forte de vanilla. Gen. CATASETUM Rich. Monachantus discolor Barb. Rod. l. cit. Est. 867. et Herb. Mus. Bot. Amaz. n. 568. É Racemo magno paucifloro (3-5) pseudobulbum triplo superante erecto ; sepalis erectis, reflexis, oblongis acutis, subtus subcarinatis ; pe- talis conformibus paulo majoribus; labello magno-carnoso, ovato, saccato-cuculato, anticê acuto, lateraliter longe cirrhato. Gynos- temio minimo ecirrhato. HAB. in compis sabulosis ad Umirisal e! Tarumã-uaçu in Rio Negro, prov. Amazonas,. Florebat Aprili. Sepalos e petalos verdes ligeiramente lavrados de rôxo, labello verde com as margens rôxas. Obs. O sabio classificador das Orchideaceas John Lindley descreveu e re- presentou em seu Botanical Registero Monachantus discolor, do qual o professor Hooker descreveu uma variedade, viridiflorus, no Botanical Magazine que não é mais do que o M. Bushmani do mesmo Hooker e fimbriatus de Gardner. Estes individuos, comtudo, não representam mais do que um verdadeiro Catasetum como depois o reconheceu o proprio Lindley. O aspecto da flôór é o de um Monachantus, mas, quando comparado com a verdadeira fórma que distingue esse pseudo genero, (fórma feminina) vê-se que não ha razão para assim ser considerado. Aqui apresento a sua verdadeira fórma, monachantus, achada conjunctamente com o e GINERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 127 Catasetum em um mesmo pseudobulbo e em exemplares differentes, todos cres- cendo socialmente na mesma região. A haste dos Cutaseiuns chega a apresentar 18 flores, emquanto que dos Monachantus, muito mais forte e grossa, só chega a dar cinco, todas quasi com o triplo do tamanho e muito aromaticas, aroma este que chama para ellas grande quantidade de mangangauas (vespas) que entram bojo do labello, facilitando assim a fecundação. CYRTIOQPODIUM RE. B:. Clavis Generis « foliis plicatis rigidis... — robulhos A rare C a Macrobulhosas q scapo paniculato bra- teis magnis.......... x foliis plicatis rigidis... * scapo paniculato ; brac- teis magnis.......... ** scapo racemosu; bra- cteis magnis.......... 8 foliis solitariis v. ge- minis coriaceisnervatis. * scapo racemoso; bra- (oo GUEIS TBM IS, rea crepe II — Microbulbosae...: C. Andersonii C. punctatum C. glutiniferum C. Brandonianwum C. Josephense C. album C. Yauaperyense Quando Robert Brown estabeleceu seu genero Cyrtopodium, sô conhecia uma unica especie que immediatamente foi seguida de duas outras, cujos caracteres se adaptavam aos fixados pelo celebre botanico inglez. Ultimamente, porém, tendo eu encontrado outras que se afastam completamente das anteriormente descriptas, pela fórma dos pseudobulbos, não sabendo em que genero incluil-as e não que- rendo tocar em seus caracteres, resolvi estabelecer duas secções : uma comprehendendo as que se adaptam a esses caracteres e outra as que se afastam pelos pseudobulbos e pelas folhas, tendo entretanto as flores bem caracterisadas. A cor das flores da secção microbulhosae tambem se afasta. Todas as especies são terrestres e epiphytas, como as da secção macrobulhosae. Macrobulbosae « ** Scapo racemoso; bracteis magnis. 1. €. Josephense Darb. Rod. 1. cit. Pl. 854. Pseudobulbis coniciis vestigiis foliorum vestitis; foliis plicatis lineari lan- ceolatis, acutis, basi attenuatis, sub envaginantibus ; scapo erecto, racemoso, pseudobulbis majore, bracteis magnis. Floribus Juteo- viridis, 128 GENERA ET SPECINS ORCHIDEARMM NOVARUM HAB. os campos arenosos do cume da serra de S. José PEl-Rey, Minas Geraes. Wloresce em Julho Obs. Encontrei esta especie florescendo em 1881, (*) porém a perdi ao voltar de minha viagem, sem a ter descripto. Emprehendendo uma segunda viagem na época da florescencia, encontrei os campos queimados, obtendo sómente 5 indivi- duos, porém sem flóres. Estes trazidos para a provincia do Amazonas e ahi cultivados até hoje, não deram flores, embora todos os annos appareçam rebentos cada vez mais enfraque- cidos. Receiando a morte da planta, dou aqui esta resumida diagnose. Microbulbosae p * Scapo racemoso; bracteis minimis. 1. €C. Yauaperyense Barb. Rod. 1. cit. Pl. 832. Pseudobulbis aggregatis, conicis, 2-3-phyllis; foliis elongatis; lineari lanceolatis, quinquenervatis, acutis; scapo erecto paulo minore foliis, bracteis minutis, racemoso, multifloro; sepalis oblongis, apice rotundatis, incurvis; petalis subzqualibus, convexis, in- curvis; labello unguiculato, basi bicristato, trilobo, lobulis late- ralibus rotundatis, erectis, medio minore, reniforme, marginibus recurvis, in medium longitudinaliter concavo; gynostemio cylin- draceo, claviformi, subgeniculato . HAB. as arvores das mattas humidas do rio Yauapary, formando grandes soqueiras, Floresce em Junho. Obs. Os sepalos e petalos são amarellos côr de óca finamente salpicados de escuro; o labello é branco tambem salpicado de carmim. BURLINGTONIA Lind, 1. B. Negrensis Barb. Rod. 1.cit. Pl. 839. Pseudobulbis oblongis longitudinaliter sulcatis transverse rugosis, com- pressis, monophyllis; folio lorato, acuto, erecto ; scapo simplice, pendulo, multifloro ; floribus magnis, alternis ; sepalis superiore oblongo, acuto, apice recurso, basi attenuato-canaliculato, in- ferioribus connatis, apice acuto, conduplicatis; petalis sepalisque majoribus, oblique-oblongis, acutis, basi attenuatis, apice acutis, recurvis, marginibus ondulatis ; labello cum gynostemio parallelo, unque canaliculato, apice cuneato emarginato, lateraliter crispi= foliato, lamellis 4-jugis, carnosis, quarum anteriores multo lon- giores. Gynostemio gracilis, erecto, teres, clavato, apice bidentato, dentibus carnosis, erectis, acutis. (1) Vide Resultado botanico de uma breve excursão q S. João d'El-Rey, Minas Geraes. Revista de Engenharia, 1881. Ns. 4e5. Ériia? GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 129 HAB. as cuieiras (Crescentia cujete) da povoação de Moura, à margem direita do Rio Negro, provincia do Amazonas. Floresce em Junho. Obs. Esta magnifica especie tem as flores. grandes, de um branco sujo, manchado de carmim sujo, com as petalas raiadas longitudinalmente por fóra e finamente pontuadas de carmim sujo. O labello tem o apice manchado de carmim e a base finamente pontuada. O gynostemio é branco com a base pontuada e com linhas de carmim. As flores são cheirosas. MAXILLARIA Rz, et Par. Acaules 8 * Unifloris 1. M. monantha Barb. Rod. ?. cit. PI. 826, Pseudobulbis ovalibus, compressis, rugosis, monophyllis; foliis lineari- lanceolatis, acutis; scapo solitario, pseudobulbum majore, squa- mato, squameis envaginantibus, compressis, acutis, supremã ovario minori; sepalis, superiore lineari-lanceolato, acuto, erecto, inferioribus latioribus, patentibus, omnibus marginibus recurvis ; petalis multo minoribus, erectis, angustioribus, acutis, convexis; labello trilobo, lobulis lateralibus, subrotundis, erectis, intus pubescentibus, lobo medio lanceolato, acuto, recurvo, apice sub conduplicato, callo carnoso, compresso, pubescenti. HAB. as mattas da provincia do Espirito Santo. Floresce em De- sembro. Obs. Sepalos amarellos côr de enxofre, pontuados de carmim escuro nos bordos: petalas pontuadas, no apice, da mesma côr; labello amarello com os lobos lateraes linhados-pontuados por dentro: gynostemio carmim escuro. 2. M. Yauaperyensis Barb. Rod. 1. cit. Pl. 844. Pseudobulbis oblongis, compressis, laevibus, monophyllis; foliis lineari- lanceolatis, elongatis, basi attenuato-conduplicatis, acutis ; scapo solitario duplo pseudobulbum majore, a squameis quinque vagi- nantibus embricatis tecto; sepalis, superiore incurvo navicu- lare mucronato, inferioribus latioribus incurvis, concavis, mu- cronatis, omnia obtusis; petalis sepalis angustioribus, obtusis, mucronatis, concavis; labello trilobato, minore petalis, lobulis lateralibus erectis, oblongis callo elongato inter se carnoso ele- vato oblongo, lobo medio sub orbiculari, emarginato, recurvo, marginibus ondulatis, intus et extus laeviter pubescenti. VOL. I. 17 sh 130 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM HAB. os troncos das arvores das margens do rio Yauapery. Floresce em março e abril. Obs. Os sepalos são amarello carregado; as petalas brancas amarelladas ; da mesma cór o labello com o centro e o apice do callo amarello cór de ouro o os lobos lateraes linhados de purpura escuro. p ** Plurifloris 3. M. xanthosia Barb. Rod, /. cit.'Pl, 848. Pseudobulbis oblongis, compressis, monophyllis ; folio lineari lanceolato, elongato, oblique acuto; ad basin conduplicato; scapo 2—6 con- temporaneis, squameis 7 - envaginantibus, carinatis, acutis, prima ovarium paulo minore; sepalis, superiore lanceolato, acuto, apice recurvo, intus, convexo, inferioribus latioribus, majoribus oblon- gis, acutis, concavis,; apice recurvis ; petalis lanceolatis, multo angustioribus, acutis apice recurvis; labello elliptico trilobato, lobulis lateralibus oblongis, obtusis, erectis, callo inter se elongato, carnoso, erecto, attenuato, basi pubescenti, lobo medio subro- tundo, emarginato, pubescenti, recurvo. HAB. as arvores das mattas do rio Yauapery. Floresce em abril. Obs. Tendo eu perdido a etiqueta desta especie não posso dar a cór exacta, Lembro-me sómente que é amarella côr de enxofre com o labello branco e carmineo. QUEKETTIA Lind). Q. chrysantha Barb. Rod. 1. cit. Pl. 858. Pseudobulbis minimis oblongis, monophyllis; foliis carnosis, cylindra- ceis, compressis, antice sulcatis, acutis, elongatis; scapo erec! ; folio majore, paniculato, multifloro; sepalis, superiore erecis, oblongo, acuto, dorso anguloso, apice recurvo, inferioribus bas subgibbosis, connatis, bifidis; petalis oblongis, sub acutis, apic” recurvis, dorso anguloso; labello unguiculato oblongo, basi bi- calloso, excavato, apice acuto, lateraliter plicato ; gynostemio erecto, tereti, subclaviformi, apice auriculato; anthera sub-glo- bosa. Pollinia 2, postice excavata, caudicula minuta, lineari ; glandula minuta. HAB. os galhos delgados e musgosos dos logares humidos de Chichi- uahuú, no rio Yauapery. Floresce em abril. Obs. Esta especie por seu porte e flores amarello-douradas, é superior à sua congenere deseripta pelo fallecido Lindley, em 1835. E” a segunda conhe- cida, representando uma o sule outra o norte do Imperio. A 1º Q. microscopica Lindl. é do Rio de Janeiro e a 23, a que aqui descrevo. do Amazonas. GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 131 NOTYLIA Lind. N. Yauaperyensis Barb. Rod. !. cit. Pl. 862. Pseudobulbis minimis, oblongis; folio lineari-oblongo, basi attenuato, apice apiculato, ondulato ; racemo folio minore, nutante, pauci- floro ; floribus albescentibus ; sepalis, superiore lanceolato, con- cavo, incurvo, acuto, inferioribus bipartitis, apice oblique acutis, recurvis ; petalis incurvis, oblongis, acutis, concavis ; labello un- guiculato, sagitato, obtuso, basi sub unguis puberulo: gynos- temio cylindraceo. HAB. os ramos delgados e musgosos das arvores das mattas humidas do rio Yauapery. Floresce em abril. BATEMANIA Lina. 1. B. Yauaperyensis Barb. Rod. 1. cit. Pl. 854. Pseudobulbis ovatis, tetragonis, lucidis, sub-corrugatis, bifoliis; foltis oblongis, acutis, basi angustatis, racemus pendulus 2-4 florus; sepa- lis superiore oblongo, acuto, incurvo, concavo, inferioribus majo- ribus, patentibus, marginibus incurvis; petalis oblongis concavis, acutis,erectis ; labello trilobo lobulis lateralibus oblongis,serrulatis, medio subrotundo emarginato, recurvo, ondulato, disciin medium laevi. HAB. as mattas do rio Yauapery. Floresce em junho. Obs. — Sepalos e petalos esverdeados, manchados de carmim escuro ; labello branco. 2. Batemania Petronia. Petronia regia Barb. Rod. Gen. sp. T. 1878, pag. 107, n. 1. Estudando melhor esta especie encontrada no rio Yauapery, vi que ella pertencia ao genero Batemania de Lindley, estabelecido em 1835 e não ao genero Petronia que para ella havia creado. Em consequencia disso, aqui corrijo o erro que commetti levando a especie para a syno- nimia. tritu ARBETHUSEAE vina. SOBRÁLIA Rr. et Pav. Sobralia Yauaperyensis Barb. Rod. 1. cit. Pl. Sd. Plantae caespitosae, epiphytae, caulis tri-quadripedalis, flexuosis, ramosis teretiusculis, foliis oblongo-lanceolatis, acuminatis, subondulatis quinque nervosis; spathae exsertae, acuminatae; sepalis basi, in 132 GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM tubum connatis, longe-lanceolatis acutis, inferioribus lanceolato- trapezoidalibus, acutis; petalis longe obovalibus, acutis, basi at- tenuatis, latioribus ; sepalis petalisque omnia anthesi revolutis; labello oblongo, basi bilaminigero, apice lateraliter sinuato, pro- funde emarginato, marginibus crispifoliatis, apice recurvo; gynos- temio clavato, apice trilobo, lobulis lateralibus retrorsis, acutis, antice carinato. HAB. as arvores das mattas humidas do rio Yauapery. Floresce em junho. Obs. As flóres, embora menores que as do S. macrantha, são lindissimas e de um Jlilaz admiravel. Murcham com muita facilidade. Tritu GROBLASTEAR paro. roa. Pollen extus laeviter cohaerens in massis (polliniis) laevis excavatum, intus pulvereum granulosum facilé solutum. Anthera opercularis, termi- nalis persistens. Herbae terrestres, radicibus fasciculatis rigidis, basi corrugatis apice carnosis tuberculiformibus, amylum plenis. Folia membranacea in vagi- nam caulem circumdantem expansa. Flores spicati A especie que mo obriga a estabelecer esta nova tribu afasta-se inteiramente de todas as estabelecidas pelo sabio Dr. Lindley e em nenhuma póde ser incluida porque nem as pollinias, nem as flóres teem os caracteristicos determinados. Só pelas flóres é um pouco afim das Neottiaeas. As pollinias são pulverulentas, com o pollen completamente desageregado, porém, quando comprimido na anthera, apresenta duas massas cas, divididas, cada uma, por um sulco profundo que Ihes dá o aspecto de quatro. Este pollen assim se une sem gluten algum, ou caudiculas, apresentando exter- namente uma superficie lisa de um aspecto ceraceo o internamente a massa granu- losa, destacando-se facilmente os grãos. A materia elastica que liga o pollen das Neottiacas e-das Arethuseas ou a que fórma a rede do das Ophrideas não existe na planta de que me occupo. Os grãos do pollen isolados são pyriformes. Pelas raizes esta orchidacea afasta-se tambem das suas companheiras, pois são mui duras, rígidas mesmo aquellas providas dos tuberculos, que reproduzem a planta. O tecido celular dá-lhes um aspecto carnudo, mas é atravessado este por um feixe de tecido fibroso solido e muito duro. Todas as celulas do tecido celular são cheias de amido. A parte inferior das raizes, que são glabras, isto é, a parte que se prende à planta é inteiramente lenhosa, quadrangular e transversalmente muito enrugada, Foram estes os principaes caracteres que me levaram a propor a nova tribu para n'ella incluir o novo genero que, por emquanto, é representado pela unica especie aqui descripta, que serve de typo. GEOBLASTA Barb. Rod. Sepala superiora subcoriacea, erecta ; lateralibus erectis, cruciatis, labello suppositis. Petala translucida, inter sepalis erup ta, recurva. bo o) GENERA ET SPECIES ORCHIDEARUM NOVARUM 133 Labellum gygnostemio parallelum, trapezoideum, glandulis filiformibus apice oblique obsitum, basi villosum. Gynostemio clavato, apice auriculato, semiteres, lateraliter anguloso ; stigma magnum, convexum. Anthera fixa gynostemium continua, bilocularis; pollinia 2 elongata, extneré suleata, laevis: intus pulverulento-granulosa, extus laevis. Flores spicati. Herbae terrestres, radicibus tuberculi feris-corrugatis, foliis radica- libus, tactw mollibus, sub succulentis. Pelas folhas seria esta planta um Sarcoglottis, si as raizes sem pellos não a afas- tassem, tambem, pela sua rigidez e rugosidade. A haste coberta de squamas ou bracteas é muito semelhante à dos Spiranthes, porém as flôres são inteiramente differentes. O ovario é liso, lustroso o obconico. Pelo porte e pelo habitus, parece uma Neotiteas, enquanto que pelas flóres se liga às Vandeas, com pollinias que se não prendem à tribu alguma. O nome Geoblasta deriva-se de y 7% terra, BAustivw germinar, pela cireumstancia de ser terrestre, extherantha, e só crescer no solo duro das estradas, batidas pelos passageiros. Especie unicas Geoblasta Teixeirana Barh. Rod. loc. cit. Pl. 865. Foliis 2—3 contemporaneis, envaginantibus, extheranthis, oblongis, acutis, planis; scapo erecto squameis envaginantibus embricatis tecto, unifloro. Sepalis oblongis, acutissimis, concavis, striatis, erectis, inferioribus cruciatis; petalis minore sepalis, oblique oblongis, acutis, concavis, apice recurvo-convexo; labello basi gynostemio adnexo, erecto, concavo, basi villoso, anticê ad medium subsqua- mato, marginibus laciniatis in glandulis piliferis erectis et recurvis. HAB. crescendo nos terrenos argilosos e batidos das estradas de Cue rityba, na provincia do Paranã. Floresce em Outubro. Os sepalos são transparentes, verdes com veios purpureos ; as petalas são bran - cas com veios da mesma côr dos sepalos, e o labello é cor de vinho escuro, com os pellos do apice brancos e os dos lados pardacentos, Descrevi esta especie em 1881, logo que recebi o oxemplar secco, que me foi communicado pelo Ex.mº Barão de Capanema ; porém só completei o meu estudo no anno seguinte quando recebi exemplares vivos e completos. Esta magnifica e exquisita especie é dedicada ao Sr. Augusto de Assis Teixeira, o que primeiro a en= controu e a esforços do qual devo possuir exemplares perfeitos. Museu Botanico do Amazonas, março de 1886. FIM DO PRIMEIRO VOLUME 1 HAD . ( f | Fu é | PURA ROM Hi ' À ve 72 4 EAF: b ! ] [N E] - q ç) b I 4 4 A As Y [' | : o si + ' , ; , a | + 4 . s Tic Tá po q o [, f > Panhi ALTO) " ' CHAD TIA SE ; A, N Ac. FERE o e o E F ç Dip g SD ET i 5 4% ARES PRAIA RETO PAi IO qual EVIUIFO E fa 0) tRIFA po EIS to VOGA adj] RA Ene ONO PELO do HITS ea MARLT a Lev TA TA FILO : DEBE ja ANTE - MINE RATE TIO CREU TR FERE BIS RO PIE CURI : 2991 ) il À PRA h, CRISEO dO BU PiLo Cas syTOTi tdo Militar ol NO EIA mi, off! bb ; = DE? pela ceifa fios é UE clio ER UVA ReNTOO lc (OZ paia sa Li ET O É odio et La Ri: Ah NolgerS di Pn tati or Ms ra A - su EM ADD DAAS ARDE contida 9: COND EATON ON ERREI 7 | gra pu qu ans Ny, STA by Wi ANNUIO o! DiL A DEE E el - ' a ET inss e CRS] te oo Nora Ê PE ie fo OEA É os pa INDICE ad TED do ED 4) PEDE nes ê, PAGS. ACAULES «ocaso ecaáca Cote da dba day 129 Acorollifliorae D. C................ 64 Acrocomia Mart..... tao Erada PESC 10% — microcarpa Barb. Rod....e..c... 407 A Cnii Kd ae ne mato o sa uga duos dota o .. 22 ADRENDA SM Sosa sensenõos SE CCCÊC DA 13 ADENÂNTEERAE Benth......cescrceros 16 Anany..... adatiçõs Doja Aagao ECT ESPERE 13 Andirá murukuyão....cscesveco PRI 25 Andirá-poampé....... RN ESTE Fera 33 ANONACEAE Juss......ccicesecs 1 ANoPHOREAE Tourn......ccceress ada 44 NTRDE CR IADO: su cio ciaccu so rege rr asi 35 Anzol de lontra......... o ido alça “. 3 APOCYNACEAE Lindl............ 32 ARETHUSEAE Lindl..... aro ap si ASR ARGYREIEAE Choisy........ Ec ET 59 ERAEEIESSO JACA ES aa ds ease e o sinos 97 o Dita Marto sa cores ico ca celro e ana 100 — formosa Barb. Rod............... 99 — Gastoniana Barb. Rod............ 97 — Krichaná Barb. Rod.......... nad 98 — penicillata Barb. Rod............ 98 — Tarumanensis Barb. Rod........ 100 BaTEMANTA LindIAs cógao é caga step 131 — Petronia Barb. Rod.............. 131 — Yauaperiensis Barb. Rod......... 13 BIGNONIACEAE Lindl........... 46 PAGS ARISTOLOCHIACEAE Lindl...... 70 ARISTOLOCHEAs DINA Sc edac ac cds eadão 10 — chrysochlora Barb. Rod.....e-.... il — silvatica Barb. Rod..... PEACE ODE í ASCLEPIADACEAE Lindl........ 44 AscLEPIADEAE R. Br.,.....escoceres as AsTROCARYUM Meyer ..cccercecrera o 40 — aurantiacum Barb. Rod....... e... 406 — favum Barb. Rod..... amada dad nçs 106 — horridum Barb. Rod..... PA EIA 104 — Manacense Barb. Rod......cec.e» 105 — princeps Barb, Rod ......c..eu... 106 — sociale Barb. Rod... .ecoccvecss.e 103 — sulphureum Barb. Rod........... 106 — Yauaperyense Barb. Rod......... 103 — vitellinum Barb. Rod.,..escces o 106 BraNoNIEAE Bojer....ceccorrceschncos 46 BIGNONIA Lim...ee....e--+. PR EI at — platidactyla Barb. Rod........... 5 — vespertilia Barb. Rod....e...e.e. 53 Bochecha de velho ....ecacecescereos 15 BonnETIEAE Baill......cesrccveccos- 7 Brepemeyra Wild...ce-ecsscsrascaro > — Isabeliana Barb. Rod........er. 5 tg % BurLINGTONIA Lindl ....e-ccescervos — Negrensis Barb. Rod......cesvee 5 PaGSé Calyciflorae D. C........... enjoa » 18 | CLUSIACEAE Lindl.........cv..e. Canella de yakamim........c.ccesero 50 Cocoinao Mart .....appsrscasecas soa CapPAREAE D. Cucceccorcsrrsesseess 2 | Cocos ventricosa Arr.[ Cam....... es. CAPPARIDEAE JUs.............. 2 | CoLiconenprum Mart. e Eich,....... CAPPAR IS JLID) , «uia sivia vip iaato o DONO SDOO 2 | CONVOLVULACEAE R. Br....... — urens Barb. Rod.....ceesesscesso 2 | ConvoLvuLINEAE Meissn ............. Cararpa Aubl...c.cccsss DEAN JOS) 7 | CorrnosrTyLIS Mart ...c..cessassrcous — ingidiosa Barb. Rod.,....... o al 10 | — palustris Barb. Rod............ sê — Lacerdaei Barb. Rod.......ec.ves 9 | Couma Aubl........ Pot a a(o (é Per — palustris Barb. Rod......... Disro ole 8 — macrocarpa Barb. Rod........... — gilvatica Barb. Rod......... EE 8 FLAD UMAÇÃA ato ater Moo ot to tao O — spuria Barb. Rod........... cesso 07] PCGuia to, eis io na toto alelo ia Talatelo pote ae oO Ta CABSXOCAR ÍMIM. afe seje oiuierata fo ao joe iafato ola 14) Gxonocars Lindl..s espirros visao — toxiferum Barb. Rod,....... seo 41 | — pentadactilon Lindl.........c.ece CATASETUM RiCh.- a ncjusio vid pio eleja e aja 0 0 126 | CymeopeTALUM Benth..... PEDIDO AS CInOHDa yes Saio ro jatos sro (safe tato o tha o cisão 50 | — odoratissimum Barb. Rod......... ESP EY BRR SRUddC Erro coorte co ne rsasa 3 | CyrToroDIUM RB. Br......c.ccccccces (CLASMONTA «Jull > aura e ioloiojoncia 8 pjeto jofat ai E 20 | — graephense Barb. Rod...e.ecc.ee — odorata Barb. Rod .....ececeses 20 | — Yauaperiense Barb, Rod... ...s... D DA TORA Site to letais (ot iatolnio 007a SOIS 62 | Desmoncus nemorosus Barb. Rod.... — insignis Barb. Rod.......ecec..e 62 | — Philippiana Barb. Rod.........vu Desmoncus Mart............ ta ata ta toi 92, |. DirrEAM Benth. es toretoro lo fi 10 ne e o/A E — caespitosus Barb. Rod........... 95 | — Joahnesii Barb. Rod ......... + — macrodon Barb. Rod........secce 96 | Disco (0) das Bignoniaceas........... E ELcomarHiza Barb. Rod......ccersa AA P BPIDENDEUM DS. cen costas me ce anE — amylacea Barb. Rod.......se ce. 45 | — myrmecophorum Barb. Rod... .... EncrcLium Lindl....cccccorcccrroceo 122 | — Randii Barb. Rod....... eia cash ENTADA Adans.......... a eis joio a/6 ia ata ai 18 | — Yatapuense Barb. Rod........... — Paranaguana Barb. Rod......... 18 | — Yauaperyense Barb. Rod.........- Epidendreae Lindl................ 122 G GrosLAsTA Barb. Rod.......cc..c... 182 | GREVILLEAE Lindl.......cecereseoo — Teixeirana Barb. Rod........... 433 | Gurtigima Mart.......ccccesceccçes Geoblasteae Barb. Rod........«.... 132 | — coceinea Barb. Rod......e....cse Gronoma Willd.cesseccsncacaresceso 94 | — fava Barb. Rod..... PELE — Beccariana Barb. Rod.....cecec.. 91 | — ochracea Barb. Rod.........escos (TIDO =D Ch Sete sho rçt fará ara Sta te 19 | ==“speciosa Mart. . .vsecéreos sifhcce PAGES. 13 M 108 BRNanSREREBAn DO ERESE BEs Es: 88586888 a HymenocHiLA Lin.... HymexocauLAE Barb. Rod.....e.es.y ICACINEAE Meers........coccrvere Inayá-y...... ceara tas er araras ras JANsENIA Barb. Rod. ..cccesceses Er Kaa pitiú......... RNCUINUA data sro o a/vi5 é clara LEG) CAE Kokoary ..... a dideteto 0 elojas Korimbó.... Korimbó da matta......... Korimbô uaçú..... Lantum Indl. .soscissis2,05 spJUcenae LasiaNTHERA Pall. Bauv...e...c...s — amazonica Barb. Rod..... LAURINEAE Vent......ccoo servos LEGUMINOSAE Jus.... cce ERPANTHES SW); aivja sit a piciejo bio oii aço olavo — Blumenauii Barb. Rod.... — cryptantha Barb. Rod........... eressos — (lensiflora Barb. Rod............ — funerea Barb. Rod...... Sedandas — plurifolia Barb. Rod........ piaDiats MacrosuLBOsAE Barb. Rod.,.....v.s RI o! fios ais oraia o mid o ao apo ae SoUaDE MakaUbars =. sao matos Elo afe EtoTNça Pofotato 6, Makakinha namby........... FOCOS GOO MALAXIDEAE Lindl....... raia o ais or MAPPIRAR 'BaCC). ee pecccerr ralos ser Maracujá de cobra...... SOS EL DEE ode Marakuyá do igapó....... CEE NTDES o Maracujá de lagartinho....... Spector — PretO....ecssresces cererson ss tsasa Vol. I CEO e PAGs. 18 HH PAGS. 122 | Hyoscramear Benth. e Hook........ 62 115 | HIPPOCRATEACEAE Endl....... 15 41 | IpomorA Lin...e..... Eleone afatin ia a [sata o] 61 1114 | — supersticiosa Barb. Rode......... 61 124 | JansentA cultrifolia Barb. Rod,..... 125 K 700 | Kuacikuala: cre espe s"eiajo cru isio eu /ojo po o/olajo jo 39 94 | Kumá-uaçu............ Rnaralola ole jaja eine 32 190 E Kia dio /o q/o/nate/0 0 a aja a jo 6 juro toiniea é g 45 38 | Kumakaá-y.......cccecercseesens eiala 20 50 | Kumaty..... TRACE DUEPURE SROSCaS A 50 | Kuruã-y.......... alo ata ofafet aja jo elelotoa ge bh! 50 123 | LEePANTHES quartzicola Barb, Rod... 119 12 | LeucocaLantEA Barb. Rod.......e.. 46 12 | — aromatica Barb. Rod ........... o 47 64 | LoncicauLar Barb. Rod............. 417 187] Lrnóstoma Wall; do. scacelac as cimn atos 67 417 | — albifolium Barb. Rod............ 67 117 | LOGANIACEAE Endl............ ao 33 120 | LoxerrLoRAE Prog...... AGO SnÁRco Gs 5 33 449 | Louro...... Epa aio cia espe ta laço cópror ESA 65 118 | Louro-precioso...:....ecerecrsererees 65 4487 || »Lonro=P 08 e sia e e ui 6/00 (5 e oo mis ico ini a a 65 M 4127 | Maracujá de rato... sesioes cane oisiapis o 4 108 | Marakuyá....... POSSUOS stela ota GÉiNOS 23 4108 | Marakuyá rana.........cccessesess ic 24 37 | Marikaua ..... SCOOND ÃO GS ADSDE 63 1457 | MARIPA Aju re «iso ciotam ajaio ojo (67 lia Ei ao 59 412 | — paniculata Barb. Rod......eseses 59 29 | MAsDEVALLIA Rz. et Pav....... aco A! 27 | — Yauaperyensis Barb. Rod.......... 12 291 -MAXILLARIA Rz. 0t Pãyscoceraclosbos MO 26 | — Monantha Barb. Rod.......c.... 129 cão de — PAGOS. PAGES. MAXILLARIA xanthosia Barb. Rod... 430 MonacmantHus discolor Barb, Rod.. 126 — Yauaperiensis Barb. Rod.......... 129 | MONIMIACEAE Lindl............ 68 Maximintana Mart. .... dis rn ad é ams ÃO dit EMORONDREA so intoieia (eira sendo bio 2:00 ps paiaça >) 14 -— longirostrata Barb. Rod... ecvuaes 412 MukuUraaA ss dus seit Go 00 1 jr » 7% IM Bola vd oibla iara [oo fo ata jo oia jajoio pala? 0/0 el 010 ea a 108 | Murukuyá pixuna........cererrersese 26 Melombe ......... SEE ICO DR, É PLO Byó WA IMBPUNIDCOSS os iu eo sino vo ala a naio PR oR 103 Ml homens. e aleluia aja joia re lapis ia AA MERO TA TIO MIC DE 12 pe motora ta e o Sosa 31 Mio NAS pla jato laio fuso Ananda. Abu piia tt 7 | — atramentifera Barb. Rod.... css 31 MicrosuLBosar Barb. Rod...... coco 128] MYRTACEAE Juss.......ccccus om 31 Namuy. cccocercersaos o/9/8)s (ofaiá tola 6 (0 0 Bo] Nhanmayo ata mato ofoto ao fato iapeao loja cocsoco 65 INEOTANDRA IRON. ciais oialoielulo |o/v leio [nf (o a 0/0 64 | NoryLia Lindl...c.o--cocvos estojo aiaes 131 — elaiophora Barb. Rod..... Su 20020 64 | — Yanaperiensis Barb. Rod.......... 13 oO Ocromena BR. Brocosnensr a mecuio wars 121 | Orzrania sabulosa Barb. Rod... ...... 10 — xenthina -Barb, Rod. ss eos o owns 421] Orelha de macaco, ce sacase css awiweda 37 — Yauaperiensis Barb. Rod... «cc. 122 | OrneaNasia Bach. Rod.. cce ARA Onany/o a muita tod arfote era aja ta oa tecno Doo be 13 | — Yauaperiensis Barb. Rod...... oo TARA OpERCULINA Manso.....ccesersrecsro 60 | Osmmyproprora Barb. Rod....ceces. 49 — violacea Barb, Rod.,..s.ccereea . 60 | — nocturna Barb. Rod.,......esseves 49 OrsranNIA Mart,........ aloe iafarovalejo pato = De Ely) P Paca-rupiá ....ses Comte ves compor o 22.|] Pimenta de boto......es e cserssasusco 2 PALMAE Endl......eccsessemensesa 91 | PinNATAE D, E...... reles eh Epa 66 Palmae Amazonensis Novas, «sussa cs 89.] Pirayauara kiynha.....coserssosseis 2 PASSIFLORA LiD.... ces passasse asnas 24 | PraniroLIAE Barb. Rod....seceseso. 42 — amalocarpa Barb, Rod......c.eas 25 | Pleurothallideae Lindl.......seve 115 -— Barbosae Barb. Rod......secsose. AT) PreurOTHALUS Re Br..cccccoccconos 445 — Cabedelensis Barb. Rod......ce..« 30 | — albiflora Barb. Rod........ve. ra ME, — hexagonocarpa Barb. Rod........ 24 | — Josephensis Barb. Rod... ......... 116 — hydrophylla Barb. Rod.......... 26 | — longisepala Barb. Rod.......s.... 115 — muralis Barb. Rod........c.c.ce. 29 | — Yauaperyensis Barb, Rod........ 116 PASSIFLORAE Endl,....seceseses 21 | POLYGALEACEAE Jus .....cso 5 ParuLirLoRAE Barb. Rod ........,»» 120 | Pombinha......ccccccestreserenemeas 7 Pelaphylla Barb. Rode....cesessocos 115 | PORTULACACEAE Juss...e...s.0o 20 Phycosthema (0)............ SIS tea 54 | PROTEACEAE JusS....ercussesorapesco 6 PayLLOCAULAE Barb. Rod..cessecsoso “149 4) «Pupunha. cce csescococisorpssmaseamção MN PIKIÁ LADA. comido tro citar corel fr ço E 41) Pupunha rana........ Pr PERRqaE dtma, |, “Quexerrra Lindl..ccccccrerecrrecs 430 | QuexeTTIA Chrysantha Barb. Rod... 130 Rappia Leand. do Sacrm......cswes DERA LA MAU DL are é 676 = 10,0 ee o tejo a 0 pic 06) PERA CERRT AB o na ro e efe mnro aja Cloe rotasorm eia — polyanthomaniaca Barb, Rod...... SGHISOPSIR: BUFÓRU, és 0 es amasse cima ele co ESMEER CDA IA PRICES cfsto Minie one e o o ale oiee EPA AUDI é co seita amas o dad» = ioatida Barbo Rod. .ss= asse swewas EXNRISA TA a efe afiefate oia Sis neto DE ao Gente — Yauaperiensis Barb. Rod...s..... SOLANACEAE Juss.......... GE porva grande. -,- = e exrca me ao Ev aleção STELIS SW...... CEDO TERE oie qr aa - — plurispicata Barb. Rod............ — YauaperyensisBarb. Rod,........ SrTROPHPOMOEA Choisy......ccceceres TacsonIA Jus..... PECA SEREERS O — coccinea Barb, Rod..... cart BAABkUAPÓ sp n5c 0 ps stumpe ns Paio va ara TerEgTEFOLIAE Barb. Rod......... Sao TERNSTROEMIACEAE Endl-,.... (Miapé ss ada soon ua cs an Eat aa DEVEU E ORE AUS OPA Uanany da terra firme.,.....ecoses.o = DEN VEN EL neo pace sora o dao a Uanapo. .escocconeerenensmagasoca so. s0 DES EB ERR SE RAE A DA DC PERA T DE OCO NCUIO EE De R Paas. 15 4 RovpaLa arvensis Barb. Rod. ....... 56:] — Yauaperyensis Barb. Rod.. ... vem. =] Ed STREcHNOS PIDE. cce rdabercdo a irão 15 | — ericetina Barb. Rod........... E 50 | — gigantea Barb. Rod.......... TESTE 6 | — Kauicnana Barb, Rod......... esa 6 | — lethalis Barb. Rod........ onto 66 | — macrophylla Barb. Rod.......... 68 | — Manaoensis Barb. Rod........ im 68 | — papilosa Barb. Rod............ Esc 431 | — rivularia Barb. Rod........ Erolro di 131 | — 'Tonantinensis Barb. Rod........ 62 | — Urbanii Barb. Rod........ CONES SS SMA BIZIA SCORE D stores dese dt das 120 | — chrysantha Barb. Rod.........,... 120 | STAORUS MAR tao. e secs osne eso o fcabir 120 — Chavesiana Barb. Rod...... 01 |SZMPHONTAS scqa esa le sia DESTE Na a 23 | THYMELAEACEAE Meisn........ RO | ROC prt RR o unida Das sa e E sad 40 | TontenIA AUbL......s.co css EEOACL ERA 8 | Tukumã-arara,.scccsensecso SE LOCEO 9 BD qua caro carEc acata esenos 9 — PUDE ostra son o e Tae no 62 — UAÇU=rANA ces conssosnvosasos 9% | Takumã-y-uaçu...cccocccoroooceces 128 IE Tugue-tiprs pregos nano pin soe ESA Naa 4 E SRINANTEUS MOSS. eso scar cd desonesto 1 | — igneus Barb. Rod..... PRPREETE TIE 63 ÚU Ge E Ulrary (0) as cas sr d score sr Aa Ei e ds Cnt 13: | == EamaruÃ,; sas aado mam é se fast do 14 | = rána ns an ep oriãa SC . die) | =P arerónio sc pgs n a ENE ar os 104 | Unhas de morcego............. Pare Ss Urdu ka om sa ceia voa a pr 104 ERSSE R Paos. vandeae Lind. Aire va los ns o nionfea = PRA RA] VIOLA O UMAS ain io a a PROA 0 id o O RS ID Ajolariaye EndlX acute cos sms s 4 , A p Y Yacitara.......eccscrererrreresecacoo 92 | Yurupary pindá,ccecoccesceconseesso Yuakáka pindás:..» msn codes cvs riaho so OA ' E, E. ”, a sa é e VELLÓOSIA PS ND NS DD CONTRIBUIÇÕES DO MUSEU BOTÂNICO DO AMAZONAS VOLUME SEGUNDO | ARCHEOLOGIA, PALEONTOLOGIA 1880 — 1888 (SEGUNDA EDIÇÃO ) RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1892 LIBRARY OF THE GRAY HERBARIUM HARVARD UNIVERSITY. BOUGHT. coin fem PS AR RA a mig - “ / 4 .. ; / * Dai Ro Pad WE pa rato Ar E DSO Sa Ne RES TNÓOSI A. ii CONTRIBUIÇÕES DO MUSEU BOTÂNICO DO AMAZONAS VOLUME SEGUNDO ARCHEOLOGIA, PALFEONTOLOGIA [889 — 1888 ( SEGUNDA EDIÇÃO ) RIO DE JANEIRO IMPRENSA NACIONAL 1892 ANTIGUIDADES DO AMAZONAS A NECROPOLE DE MIRAKANGUÉRA Dans ces meubles d'outre tombe. dans ces débris des àges, dans ces essais, quelque rustiques et imparíaits qu'ils semblent, iln'y a rien à dedaigner, rien à rejeter. Derniers témoignages de la jeunesse de "'homme et de ses premiers pas sur la terre. ils offrent probablement tout ce qui reste de ces nations qui n'elévêrent ni colonnes, ni monuments. La, dans ces pauvres ustensiles, est toute leur histoire, toute leur religion ; là, est leur langue à la fois vulgaire et sacrée, et c'est dans ces rares et grossiers hiéroglyphes, qu'il faut évo- quer leur existence etla révélation de leurs meurs. Be de Perthes. Ant. Celt. et anti diluv. T. pag. 5. Quem, nos tempos que correm, sobe o Amazonas, costeando a margem esquerda, logo que deixa a cidade de Itakoatiara, antiga Villa de Serpa, vê, na época da vasante, um terreno elevado que, conforme a descida das aguas, attinge às vezes 10 metros de altura. E' composto de stractos parallelos e horizontaes, formando uma alta barranca, que se prolonga em vargem para o lado norte, vargem que se alaga na época das chuvas, deixando apenas a sua orla em secco. Esta costa é toda coberta de florestas modernas, onde se destacam gran- des madeiros dos primitivos. O terreno estende-se assim até a extincta aldeia de S. José do Amatary ou Matary, onde então se levanta mais, a tornar-se um pouco montanhoso, formando a terra firme. Nesse espaço na época das enchentes, se apresentam quatro estreitas passagens, que formam outros tantos canaes que levam as aguas barrentas do Amazonas para as escuras do rio Urubu, que corre ahi muito proximo e mais ou menos parallelo ao grande rio. A esses canaes dão os naturaes os nomes de fwros de Santo Antonio, Kainamã, Arauató, Uichytyba ou Aybu. Essas terras são hoje a verdadeira margem do Amazonas e servem de limite ao parani conhecido por Paraná do Trindade, ou modernamente do Mirakanguéra, formado pelas ilhas do Trindade, hoje Kumaru, da Capukaia e da Uakyra. 382—M — 9 - Logo acima do furo Arauató estende-se uma ilha baixa, arenosa, co- berta de pequena vegetação, que pela enchente se alaga e pela vasante apresenta uma extensa praia, conhecida pelo nome de ilha da Benta, e que serve de dormitorio a milhares de garças, pelo que os tapuyos dizem que ahi ouakare kiçaua. E' na região fronteira à ponta desta ilha que fica a necropole de Mirakangueéra. Designam por esse nome, que quer dizer osso de gente que existiu, de mira, gente, hang, osso e kucra, queexistiu, o terreno que ha seculos foi um extenso cemiterio de uma grande população que habitou nas proximi- dades, por dilatados annos. Occupa este cemiterio, verdadeira necropole, um espaço ao longo da costa, de mais de meio kilometro, e pelo interior se estende a grande distancia, fóra o que tem sido arrebatado pelas aguas ; facilmente se distinguem seus vestigios a dous metros abaixo da superficie do solo e a seis ou oito acima das aguas, no tempo da vasante. Desde a bocca do Arauato até S. José do Amatary, todo o terreno é levado annualmente pelas aguas do rio Amazonas, que o excava, fazendo com que as terras desabem, levando comsigo não só arvores da floresta primitiva, como a matta de nova apparição e os cacaoaes que estão ahi hoje plantados. A” custa dessas terras vai-se alargando o parand e augmentando-se a ponta da ilha da Benta. Annualmente, de maio a setembro, quando o rio enche, a linha, por assim dizer mortuaria, fica, nesse tempo, sob as aguas ; porêm durante a vasante, isto é, nos outros mezes, a margem se descobre, e no meio dos destroços que as aguas deixam, e na praia que se fôrma abaixo do barran- co, milhares de fragmentos de louça de barro cozido attestam o grande numero de iukaçauas, ou urnas mortuarias, que as terras destruiram com a sua queda e foram carregadas em pedaços e sepultadas no fundo do rio. Maior seis edema so Setembro (1)... ... Antes de tratar desse cemiterio, assumpto desta memoria, seja-me ain- da permittido entrar num estudo geologico que tem modificado geographi- camente o terreno, e de que ja me occupei, não só em relatorio apresenta- (1) Esta xylographia é aberta no Grumary, especie nova que descrevi com o nome de Esembechia fasciculata, madeira que com vantagem sabstitue o bucho. e = OE do ao Ministerio da Agricultura, em 1873 (º), como em artigo publicado no Diario do Grão Pari, referido tambem em outro trabalho que pu- bliquei, (?) porque os estudos que agora fiz com relação ao Mirakanguêra, não só confirmaram o que já havia dito, como ampliaram aquelles estudos anteriores. Descripto como acima o foi o terreno do Mirakanguêra, resta-nos saber se desde as primitivas épocas, ou mesmo si pela descoberta do Amazonas tinha elle a configuração que hoje apresenta, e si a necropole é de época anti-Colombiana ou relativamente moderna. As paginas tra- çadas pela mão da natureza no solo, e as da historia, pelas inscripções e seus escriptos, nos affirmam que o cemiterio começou em época anti- Colombiana e durou atê meiados do seculo XVII. Principiarei a provar isso, desfolhando as paginas que a alluvião dis- pôz em stractos ou camadas, nos afirmando sua longa existencia, as quaes nos dizem que hojeestá o Amazonas ahi deslocado pelo grande decrescimento que tem tido o volume de suas aguas. Com effeito, quando em 1639, subiu Pedro Teixeira o Amazonas, e quando com elle desceu do Perú o padre Christovão da Cunha, o grande rio, chegando às terras altas, hoje do Ama- tary, se estendia marginando-as e caminhando para o norte a passar pelas serras do Karu, Muçuminy, Yaraki, Uatâ-puku e Ponta Grossa, que formavam ahi uma grande bacia, onde se grupavam diversas ilhas, servindo hoje essas serras de balisas aos rios Amatary, Urubú, Anibá e Uatumã. Quem descia pela margem esquerda passava successivamente pelas fozes desses rios, que desaguavam em pleno Amazonas, quando hoje uns estão com o curso desviado e augmentado, como o Urubu, e outros des- aguam em canaes, fóra do Amazonas, como o Anibãe Uatumã, e por onde não se passa sinão propositalmente, formando olago Garaká, quando era antigamente caminho obrigado. O leito desse lago, depois de successivas e demoradas enchentes, alteou, e, pelo grande decrescimento das aguas, tornou-se depois enxuto, de modo que não só as diversas ilhas se uniram separando o Amazonas desses rios, que ficaram comprimidos entre as ilhas e a terra firme, como tambem, não chegando mais ahias aguas, as florestas appareceram, cresceu o humus e totalmente'se modificou a topographia (). Essas ilhas, ainda em 1655, quando o padre Vieira fundou a missão dos Aroakys, existiam, e foram mesmo até 1780, porquanto, os astronomos portuguezes dellas levantaram a planta. Tinham então os nomes de Uatapy, Arauató, Ayby, Kanakar, Panema, Uritu, Kukuar ; são ellas que, unidas hoje, formam a costa do paraná do Trindade e as ilhas Paviana e Urubu, que estabelecem os parandis de Silves e da Capella, onde desaguam o rio Urubu, agora unido ao Anibá e o Uatumã, que antes se lançavam directamente em pleno Amazonas. (*) Exploração e estudo do Valle do Amazonas. Rio Urubú 1875. (2) Ensaios de Sciencia. Rio de Janeiro — 1876. (?) O abandono do cemiterio data provavelmente de uma grande enchente que o cobriu, deixando sobre elle uma camada ou stracto de argilla e areia de quasi quatro decimetros de espessura, sobre a qual existeo humus actual. Talvez essa enchente seja a mesma que originou o exodo das Amazonas eo genesis dos Uaupés. RED = Na ilha do Ayby estabeleceu-se, no seculo passado, a missão de Itakoa- tiara, depois Serpa, e hoje cidade daquellenome; na do Matapy existia o cemiterio, e na terra firme do Amatary fundou o padre Francisco Velloso a sua missão, que foi depois dirigida pelos padres Aluísio Pateile João Maria Garçoni. Em 1744 passou esta missão a ser administrada pelos religiosos Mercenarios, mas em 1768 já não existia. Subindo para o Rio Negro os Aroakys, acossados pelos Parikis, esta- beleceram-se ahi no seculo passado os Muras, guiados pelo indio da tribu Yumâã, Manoel João, que fôra desde pequeno por elles apprehendido no rio Matauri e criado, tornando-se mais tarde seu chefe. (Como correr do tempo o venerando carmelita Fr. José das Chagas, fundou ahi uma missão, erigiu a Capella e nella teve residencia até que partiu para o rio Madeira, onde foi fundar a missão do Capukaiaroka. Ainda pouco antes da revolta dos Cabanos, elle ahi dizia missa, oia missão predilecta da sua velhice. Em maio de 1833 foi elevada a parochia. Até o anno de 1876, mais ou menos, se conservaram os Muras neste logar, sob a direcção de directores de indios. (!) Dessa data em deante, pela perseguição dos brancos aos Muras, foi o logar abandonado e desappareceu totalmente a povoação, que tornou-se deserta, invadindo as mattas todo o espaço por ella occupado. Attestam seu passado, vestigios de alicerces da igreja, de casas e restos de louça. Um deposito de lenha para fornecimento a vapores e duas palhoças le- vantadas, de Cearenses, são as unicas cousas que dão vida a esse logar, outr'ora tão habitado. Apertado, pois, o Amazonas, com a união das ilhas e elevação da costa, na margem esquerda, ficou elle com um canal estreito entre esta costa ea ilha do Trindade, correndo entre o rio Madeira é a mesma ilha a yrubaia, (*) ou mãe do rio, como vulgarmente dizem os tapuyos, para indicarem o curso ou canal principal do rio. Muito posteriormente, com as grandes cheias, o volume das aguas procurou alargar sua passagem nesse canal, e, actu- ando sobre a parte que fôra a ilha do Matapy, começou a corroel-a. Sendo ella formada de terreno argilloso, e, encontrando os stractos superiores nascidos de modernas alluviões de argilla, intercallados com outros de areia, começou a ser perfurada a ponto de separal-a em duas, abrindo um estreito canal, que annualmente se alarga e à custa desse trabalho formou a ilha da Benta, que então não era mais que uma ponta da ilha do Matapy. Hoje, carcomida a costa, as areias se depositam na parte inferior da Benta pela direcção das correntes que ahi existem, emquanto a argilla é levada em suspensão pelas aguas. (” (!) Em 1858 a povoação continha 17'casas e 90 indios, sendo 47 do sexo masculino, dos quaes 20 menores. (2) Com este nome designam os indios o canal principal do rio, onde nunca sécca.e a corrente é maior. E” costume em portuguez dizerem a mã? do rio, o rabo do rio, como qa mãi da cachoeira, o rabo da cachoeira (ytubaya ou Jeuguan). Yrobaya é o antigo Yruuay, que a pronuncia portugueza transformou em uruguay, donde vem o nome do nosso afluente do rio da Prata. Deriva-se de y, agua ou rio, e obaym, antes huuay, a cauda, o rabo, tomando o r por euphonia. (3) Notam-se, nas aluviões modernas do Amazonas, camadas ou stractus differentes ; umas de materias vegetaes e animaes, como troncos, folhas, fructos, ossos, detrictus, etc.; outras de areias e de argilla, que parecem depositos sobrepostos por diversas inundações, quando esse facto se não dá sinão pelo effeito das vasantes. a Es = Os antigos canaes,que separavam as ilhas primitivas, são hoje os estrei- tos furos, que só pelas grandes enchentes, e sob as mattas, dão passagens a montarias e igariteês, quando outrora eram largos paranàs que ahi fa- ziam do Amazonas uma immensa bahia. Das florestas das primitivas ilhas as que o machado tem respeitado, existem as seculares Muiratingas, Taka has, Cumahumas e Makakarekuias. Nesta ilha do Matapy, pois, é que existe o immenso cemiterio que as aguas poem anú com asterras cahidas. Presumo, pelas razões que adeante apontarei, que o Mirakanguéra vem dos antepassados da antiga tribu dos Aroakys, que começou a ser dispersada no seculo XVI e terminou no seculo passado, tribu cujos descendentes ainda existem nas cabeceiras do rio Ua- tumã, na Guyana Ingleza, onde os naturaes os denominam Arowack, mas que os Amazonenses pronunciam claramente Aroaks. Os Aroakys formavam uma tão grande nação, que os Portuguezes a denominaram Reino dos Aroakis, e que se estendia desde Venezuela até o Amazonas, occupando todo o littoral e indo até as Antilhas e ao centro da ilha de Joannes ou Marajó. Penso que a nação era Aroak, mas este nome foi modificado pelos povos, das differentes nações, que se apoderaram do seu territorio. Assim, em Venezuela, os hespanhões a denominaram Aroacas, nas Guyanas, os Inglezes de Arrowaks, e os francezes de Aruagues, e no Brazil os portuguezes de Aruakys ou Aruaquizes, quando, entretanto, perpetuou- se em Marajó o nome Aruan e nas Antilhas o de Aruac. O Aroaky, dos portuguezes originou-se da pronuncia Pariky, dos inimigos dos Aroakys indios, porque quasi em todas as palavras accrescentam o suffixo guttural k1y, pelo que na foz do Amazonas perpetuou-seo nome de Aroan ou Aroac e no interior o de Aroaky. Essa grande nação era dividida em tribus, que habitavam grandes ex- tensões, e que eram conhecidas pelo nome dos tuichauas que as governavam, pelo que em muitos logares os nomes destes estenderam-se às tribus. Hoje, além da historia, nos mostram a sua grande população os cemiterios que deixaram não só em Marajó como no Mirakanguéra. Dividida a tribu, teve depois por inimigos figadaes os indios Parikys, seus parentes, e Anibás, com os quaes sempre estavam em lucta nos rios Yatapú e Anibá, lucta que ainda ha bem pouco tempo perdurava. Durante o tempo da cheia. que demora seis mezes, as aguas teem pouca corrente e em alguns logares nenhuraa, pelo qe durante esse tempo de tranquillidade das aguas se for- mam grandes depositos da argilla que estava em dissolução, de materias vegetaes e ani- maes, deareias, etc.. tudo mais ou menos misturado formando uma só camada. Quando começa a vasante, anunciada pelos repiquetes, iste é por pequenas vasantes e cheias que se succedem por espaço de horas e de dias, antes de começar à vasante geral, começam esses depositos a serem abalados. A vasante geral não se faz continua e regularmente e sim com intervallos de horas. gradualmente e por assim dizer aos saltos. Por espaço de algumas horas, em geral da noite. as aguas descem rapida e seguidamente sem tempo nem motivo para dissolver a camada deixada pela enchente, por que se faz mansamente e nas horas em que as aguas estão tranquillas, pela calada da noite. A um certo momento dado, pára a descida, e começando a aragem da madrugada começam as aguas a marulharem-se e com o vento do dia, a baterem de encontro à praia,e a lavar as areias. Então as aguas revolvem a camada, as argillas são dissolvidas e I-vadas pelas correntes, e se depositam só as areias limpas que formam uma zona. As folhas, os troncos, etc., como leves, são pelo mesmo mo- vimento das aguas, levados para sua orla, e começam a fluctuar para serem deixados for- mando nova camada, quando e rapidamente se escoam as aguas. Assim forma-se um strato de argilla, um de materias vegetres e outra de areia. EEB as Toda a margem primitiva do Amazonas, no espaço que descrevi, era por elles habitada, sendo o cemiterio na extincta ilha do Matapy, hoje costa do Mirakanguéra. Tenho razões para pensar por essa forma. Ha 13 annos, quando subi os rios Uatumãe Yatapú, velhos Aroakys me informaram o que pelamaranduba de seus avós até elles chegara. Os indios de todas as tribus não sabem o que é progresso e fielmente respeitam os costumes de seus maiores. Tudo quanto fazem segue os modelos primitivos, o que é de grandes vantagens para o ethnologo, por que, desse modo, quem conhece seus habitos pôde distinguir uma tribu de outra. Seus enfeites, suas ceremonias, suas festas, seus actos funebres são sempre conservados com religiosa fidelidade. Isso facilitou-me o estudo que fiz de visu no terreno do Mirakanguéra e na ceramica que elle encerra. Pela historia sabia que o Reino dos Arua- quizes existira nessa região, e, estudando cuidadosamente sua louça, e com- parando-a com as informações verbaes que tinha dos velhos Aroakys,; cheguei a convencer-me que o que parece restos de uma população estran- geira pre-historica, não é mais do que vestigios della e da civilização que trouxe. Com effeito, quando se compara a arte ceramica da época anti- colombiana, ou a deixada entre seus descendentes, com a hodierna, que se utilisa de instrumentos, modelos e tintas, naquella época desconhecidos, vê-se quanto essa arte estava mais adeantada e quanto mais artista era o homem de então. A louça, terra cota, que tenho visto, feita pelos actuaes Assim como as ondas do mar atiram os ciscos às praias, voltando limpas, assim as correntes deixam pelas margens o deposito das materias, que trazem em suspensão, Todos esses depositos são mais ou menos segundo o tempo que levam as aguas paradas ou descendo. Si o tempo de parada é longo, ou si as aguas se escoam muito vagarosamente, o de- posito de areia é maior ; si se escoa rapidamente, o de argilla é maior, assim como o de materias organicas, que está tambem na proporção da demora e do escoamento vagaroso. Pelos degrãos que formam-se nas praias póde-se dizer o tempo que levaram as aguas paradas ou descendo. et O facto que se observa hoje, parece que explica tambem alguns depositos geologicos, em que se succedem a argilla, às areias, ao lignito à turfa, aos caleareos, ete. Dou aqui duas figuras que mostram a natureza das aluviões e a superposição das ca- madas produzidas pelas vasan es. Nos logaves, nos quaes hoje, pela diminuição consideravel que tem tido o volume das aguas do Amazonas, as enchentes não chegam e se formam as vargens, encontram-se sempre esta formação de terreno, que não estudado, parecerá , ter sido feito por depositos successivos, de materias diflerentes, em tempos diferentes, quando todo os depositos são contemporaneos, e produsidos pelas vasantes. Ex 1 r f pi CAS Cage Aroakys: alguns mesmos fóra inteiramente do contacto da civilização mo- derna, não chega nem ao menos a arremedar a antiga, a não ser pelas fór- mas, porém sem correcção de linhas e elegancia primitiva. O ceramista, nesse tempo, não só era mais caprichoso, como tinha pa- ciencia, noções naturaes de desenho, gosto artistico e mais imaginação, de- generando tudo isso em indolencia, falta de cuidado e mesmo embruteci- mento. E' verdade que ao bem estare a completa liberdade suecederam a op- pressão e o captiveiro. O viver foragido, occultos nas yabakuuras ('), ou soffrendo as algemas de captivo, quando não cahiam aos golpes de alabarda ou balas de mosquete, fez com que tudo ficasse perdido ou aviltado. Os Aroakys do Amazonas foram os emulos e talvez mesmo os contem- poraneos dos Nheengaibas de Marajó ou dos que fizeram os seus aterros se- pulchraes, cuja louça em nada é inferior à dos aterros sepulchraes da ilha de Marajó, sendo até superior em elegancia, bem que rivalise na pintura. Para mimos constructores dos aterros sepulchraes de Marajó não são pre-historicos ; foram os appellidados Nheengaibas, que não eram mais do que um ramo Aroaky. Si não fosse o estudo que fiz dos costumes Aroakys, com eerteza levaria essas reliquias para tempos mais remotos. Da analogia que en- contro que a filia a um povo emigrado, tratarei em capitulo subsequente. Na multidão de fragmentos, e mesmo peçasinteiras que se encontram, tres especies de iukaçauas ou urnas mortuarias se descobrem no Mirakan- guéra, todas de diversos tamanhos, que indicam a estatura ca idade do individuo, o que se conhece pelo comprimento dos ossos, desde o adulto até a criança de peito. Na primeira guardavam-se provavelmente restos dos chefes, dos moakaras ou pessoas de familia, mas simplesmente ossos, de- pois de haver a terra consumido as carnes: na segunda encerravam-se restos do vulgo, sendo osossos partidos e guardados, depois da cremação do corpo ; na terceira encerravam-se restos das cinzas das carnes e pó dos ossos, servindo tambem nas ceremonias funebres. Os chefes não eram cre- mados ; enterravam-se, sendo mais tarde exhumados os ossos. Sômente pessoas de familia e o vulgo soffriam a cremação, sem que nisso houvesse excepção. Depois de retirados da fogueira, os ossos calcinados eram que- brados, recolhidos a uma urna, sendo uma parte reduzida a pó para ser misturada à tinta de uruku ou kury e servir na festa funebre da familia, o korokono. Algumas vezes reduziam a ossada a pó e então era guardada em urna especial. Isso dava-se com as familias dos chefes ou dos moakaras. Estas urnas cinerarias são de formato differente das que guardam ossos do vulgo, conservando estas sempre a mesma uniformidade, posto que apre- sentando todas o-mesmo tamanho. Conforme a quantidade de ossos que deixava o funeral, assim o tamanho da urna (*). Além destas urnas havia outras, tambem cinerarias. que serviam para guardar cinzas dissolvidas em tinta. Dahi as passavam para as taças. Es- sas urnas são rarissimas. Todos os vasos que encerravam despojos eram pintados de branco com arabescos pretos e vermelhos, sendo alguns tam- ) Yabá, fugir, kuara, cova, caverna, gruta; logar em que se oceultavam os fugitivos. O quilombo e o mocambo não são mais do que yabakuaras. (2) Comparado o numero das urnas ossuarias com as cinerarias, vê-se que aquellas são em numero mais limitado, emquanto que o destas é extraordinario. EQ bem esculpidos. As panellas que continham viveres, que se collocavam junto à urna, eram tambem pintadas e esculpidas ; assim como as taças que serviam para o kachiry e para o deposito de tinta para pintura do corpo. As panellas tinham as bordas ornadas de figuras zoomorphas, assim como as azas das taças cinerarias, de que abaixo tratarei. Infelizmente, a humidade do terreno, circumdado d'agua por toda parte, principalmente durante o inverno, impede que as tintas se conservem. Re- tiram-se as urnas da terra completamente cobertas de tabatinga, perce- bendo-se aqui e alli os desenhos com as côres ainda vivas; porêm, logo que se lança agua sobre ellas para despojal-as das massas de terra que a ellas estão adherentes, desapparecem os desenhos, de modo que é difficil con- serval-os. Em geral, a parte gravada é coberta por tinta vermelha, e pela gravura veem-se então bem os desenhos. A porção, porêm, que conserva a tinta, sendo exposta ao sol, depois de secca, não desapparece. As proprias urnas quando desenterradas, pela humidade que em si con-, teem, são muito quebradiças, mas, apenas seccas, tornam-se muito rijas e sonoras, parecendo obra modernissima. Si não fosse relativamente muito baixo o terreno da necropole que, todo anno, é humido; si sua natureza, em vez de argillosa, fosse silicosa, essas urnas seriam ainda hoje um mimo de pintura, porque as tintas se conservariam perfeitamente. Quanto à religião dessa tribu, póde-se affirmar que seus individuos acreditavam na vida de alem-tumulo, porque em torno aos jazigos enter- ravam panellas, de diversos tamanhos, com viveres, instrumentos de tra- balho e, penso, que amuletos, si não tinham elles attribuição votiva, re- presentados por machados de diorito, pequeninos, costume esse que se filia ao berço asiatico e runico ('). Havia vasos ou taças cinerarias para os convivas que festejavam a partida do morto. Cheias de tinta com cinzas, nellas molhavam os dedos e desse modo pintavam-se, clamando lugubremente. E” aqui logar para uma observação : esse uso de pintura com cinzas dos mortos não seria uma applicação identica à dos christãos? Não seria como a advertencia do pulvis es et pulverem reverteris, da quarta-feira de cinzas? A analogia é grande. Pequena porção de tinta, comtudo era divi- dida, porque pequenas são sempre as taças, o que indica que o fim não era consumir os ossos, porque eram guardados, porém lembrar, que, como (1) Que à população primitiva do Amazonas descende de duas immigrações, uma asia- tica e outra normanda, cruzada, para mim é fóra de duvida, porque provas materiaes o con- firmam. O muyrákytã, os aterros sepnlchraes e os Kjoekkenmoeddings o attestam, além de differentes usos identicos, que isso corroboram, O uso de cremar os corpos e enterrar os ossos ueimados, foi dos Normandos em sua época de ferro, que começou logo depois da éra ehrista, embora mil annos antes fosse o ferro empregado pelos gregos de Homero e no Egypto. Na sua época de bronze, os Normandos não queimavam os corpos e esse uso caracterisa o fim della e o começo da de ferro. Queimados os ossos, eram guardados em urnas de argilla e mettidos nos tumelis. cairns ou stenkummel, sueco. Cumpre notar que este uso acabou justamente no fim da idade de ferro, isto é, no meio do XI seculo, no periodo dos vikkings, ou da immigração dos Normandos para as costas da Europa e da Finlandia, onde vincularam seu nome como descobridores da America, Os Celtas e depois os Gaulezes lambem tiveram o uso de quebrar e cremar os ossos, depositando junto delles prendas e amuletos. Quando a Panuco chegou Quetzalcohualt com seus companheiros, do 3º ao 6. seculo da nossa éra, que para uns historiadores eram Budhistas e para outros Normandos, já encontrou à civilização yucatica, symbolisada pelo nome de Itzamina. e ade Votan, anterior a esta, que eram ophiolatras. A ultima immigração, conhecida por Nahua, pelos novos conhecimentos e luzes que trouxeram, derrubaram com os numerosos proselytos que fizeram o Imperio de Xibalba e levantou-se o dos Nahuas, que subdividindo-se deu logar a formar-se o grande Imperio dos Toltecas. Os Nahnas introdnziram o costume de cremar os corpos e guardar as cinzas, que para e Sul trouxeram quando immigraram. ea gps e “sa n ER ps aquelle que morria, assim morreriam tambem os outros e em cinza se tor- nariam. Esses vasos eram enterrados em torno à urna, e creio que tambem as vasilhas em que bebiam o kachiry que alegrava a festa, porque junto às urnas se encontram pequenos kamutys. Para elles, como para seus descen- dentes de hoje, o morto era um ente que se perdia, cuja sombra poderia ser encontrada, e quando fosse mã era o maayua. Que a civilização que possuia o povo do Mirakanguéra estava já em grão de grande aperfeiçoa - mente, o prova a maneira pela qual a argilla era escolhida, preparada e cozida ; a boa preparação das tintas que empregavam na pintura de seus vasos, as fórmas correctas e elegantes que davam aos mesmos ; as gravuras e baixos relevos que nelles empregavam e a harmonia e intelligente dispo- sição das linhas de seus desenhos (!). Até hoje a ceramica que mais altamente attestava a civilização dos tempos idos deste Imperio era a dos aterros sepulchraes da ilha das Pa- kovas, no lago Arary, sito na ilha de Marajó, que fica muito àquem da da necropole do Mirakanguéra. Tem o mesmo berço desta, porém é de casta differente, e o proprio meio em que viveu foi outro, adoptando, talvez por contacto com os Normandos, outros costumes, Posto que oriundos do mesmo tronco, os Marayoaras faziam aterros sepulchraes, uso proprio dos Normandos e Nahuas, emquanto que os Ama- taryoaras ou Aroakys desconheciam esse costume, embora as panellas e armas de pedra mostrem o uso runico. Si aquelles foram numerosos e trabalhadores pacientes, a ponto de elevarem montanhas artificiaes, estes dedicavam seu trabalho e paciencia ao aperfeiçoamento de sua ceramica, que é muito mais artistica e de muito mais difficil execução que a daquelles. Conheço ambas perfei- tamente. Quando estudamos a evolução da ceramica entre os povos até à Renas- cença e desta aos nossos dias, vê-se que só da idade media em deante come- caram a apparecer os vasos de altos pês, pois até então sempre os seus bôjos assentavam directamente sobre o sólo, como os de Marajó e Nor- mandos. Só a Grecia, no tempo das Olympiades, época anterior à christã, apresentou algumas amphoras panathenaicas, alguns cantaros com altos pés, como a ceramica do Mirakanguéra. A India que, pelos Phenicios, levou à Grecia os modelos de alguns de seus vasos, parece que tambem foi a mestra dos oleiros do Mirakangueêra. Quando comparamos as urnas funerarias que encerram sómente as cinzas dos mortos de Mirakanguêra com as que a India usava 300 annos antes de nossa éra, como as que noticia, descreve e representa M. Luiz Rousselet no Towr da Monde, das quaes, typos foram levados à Europa por esse autor, vê-se que ha perfeita identidade de fôrma. As que elle encontrou no cimo do Satdhara, na India Central, quando o explorou, não apresentam differença das que desenterrei na costa do Amazonas. (1) Nas minhas Antiguidades dividi a ceramica do Amazonas em duas classes; a re- dg pelos utensilios domesticos e a us urnas mortuarias. Na primeira estão os amutys, as igaçauas, panellas (Nhazn pepó), fogareiros (Tatá piynha reru), fornos (Ya- pona) alguidares (Nhaen). Duas épocas distinctas se descobrem em ambas as classes : a da gravura ea da pintura, Ratendo nesta um periodo mais adeantado que é o que reune a gravura à pintura, Nessas épocas o uso de vidrar a terra cota não era usado: foi um passo que deram mais tarde na civilização e que ahi ficou, retrogradando, comtido, pos- teriormente, quer no preparo da argilla, quer na pintura e gravura, quer nas fórmas, apezar dos modelos da arte hodierna. A ceramica decahiu e decahe a olhos vistos. VOL. H 2 demo (UI mê E' sempre do berço asiatico, sem idéa preconcebida, que parece ter partido a extincta civilização do Alto-Amazonas, descoberta pelo mura - kytã e confirmada pela necropole do Mirakanguéra. Dessa immigração do Oriente, modificada pela invasão normanda, ainda temos longinquos descen- dentes, os Aroakys, mettidos nas selvas, porêm embrutecidos e esquecidos da antiga industria, que mal arremedam, attestando de dia em dia a deca- dencia do oleiro de hoje, que, preparando o mesmo vaso pelo primitivo modelo, tem as mãos tão inhabeis que não chega a imital-o no aperfeiçoa- mento, Charles Wiener, tratando da ceramica peruana, diz que o alvo dos ceramistas na America não foi o bello, pois se limitavam à cópia servil da natureza. Se isso é real em relação aos filhos do sol, não o é quanto aos ceramistas do Mirakanguéra, Onde foram elles buscar, na natureza, as fórmas que aqui deixo representadas ? São todas originaes. O facto da invasão do povo da necropole do Mirakanguéra nas terras amazonicas não estara tambem perpetuado nas inscripções de Itakoatiara e do Urubú ? Em todo o rio Amazonas não se encontra uma só inscripção a não serem estas. A razão disso? As de Itakoatiara são feitas por gravura nas rochas, hoje deslocadas e separadas, mas então em linhas horizontaes, que a acção do tempo destruiu, como facilmente se conhece hoje. As do rio Urubú são feitas tambem pelo mesmo processo, são identicas e mostram a mão do mesmo artista; embora estejam dentro do canal Ma- kuará, pelo que disse anteriormente, estiveram na margem do Ama- zonas. O Makuara é hoje a continuação do rio Urubu. Estas inscripções ficam diametralmente oppostas e marcam, uma o Oriente e outra o Occidente. Embora representem sómente restos humanos, não haverá nisso uma significação qualquer? O rosto não representará um povo ? Passa-tempo do indio ocioso, não é admissivel, porque o trabalho empre- gado não é de um indolente ou vadio. Tão funda foi a gravura, que, apezar da acção corrosiva do tempo e dos elementos, conserva-se perfeitamente visivel, depois de seculos. São conhecidas as inscripções de Itakoatiára ha mais de dous seculos. Por imitação, quando subiu o Rio Negro o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, com a commissão de astronomos portuguezes João Angelo Brunelli e Miguel Antonio Ciera, que iam para a demarcação de limites, esta passagem ficou nas mesmas rochas assignalada pela inscripção ahi feita nessa occasião, Consta de uma cruz sobre tres degrãos, da data 1754, e da palavra TROPA, cujo Testá ligado ao R, sendo a perna do R commum ao T. Esta inscripção, posto que feita por civilizados, é muito mais grosseira e as linhas não teem mais que 07,01, emquando que as da inscripção indigena ainda hoje tem 0,04 a 07,05 de largura. A compa- ração desta, que apenas tem 132 annos, com aquellas, nos affirma que as primeiras tem muito maior numero de seculos de existencia. Facto memoravel, pois, indicam as referidas inscripções, si não mar- cavam ellas a posição da necropole que fica, embora ao Sul, entre as mesmas. Resumindo as considerações que apresentei, baseado no estudo que fiz no local, com objectos numerosos nas mãos, e no que a lição da historia afirma, direi que a necropole do Mirakanguéra começou em época anti- Colombiana e estava assentada em uma ilha no meio do Amazonas, ilha O qo que se extinguiu no seculo XVII, quando começou a união das terras, que pertence ao povo conhecido por Aroakys, descendente de um povo invasor ; que supponho que as inscripções marcam a vinda desse povo ao Amazonas e que a civilização de então era superior à de hoje, entre os indios, como se prova com os objectos que vou descrever. Sendo-me impossivel fazel-o em relação a todos os encontrados, só des- creverei alguns, que servirão de typos, variando, mais ou menos, segundo a imaginação do artista. Este na arte ceramica, como em outro tra- balho já o disse (*), “foi sempre a mulher que até hoje, por tradição, ainda o é. Cumpre-me advertir aqui, que o espaço occupado pela necropole é cultivado hoje por tres amazonenses, que ahi teem cacaoaes. São tres irmãos: João, Antonio e Pedro Ferreira Gato, filhos de Manoel Fer- reira Gato e netos de Pedro Affonso Gato, o que escreveu a primeira noticia sobre o Rio Yauapery, em 1787, no tempo do governador Lobo da Almada. Estes tres individuos teem encontrado objectos a que nenhum caso ou importancia ligam (*), e continuadamente assistem à destruição de seu terreno e de seus cacaoaes pelas aguas do Amazonas. Em 1883, o presidente da provincia, Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, passou um dia examinando uma parte da barranca e trouxe dahi diversos objectos, alguns dos quaes fazem parte das colleeções do Museu que dirijo, emquanto outros foram remettidos para um museu particular no Rio de Janeiro. H Embora em meu relatorio, apresentado em 1873 ao Ministerio da Agri- cultura, Commercio e Obras Publicas, fosse eu o primeiro a dar noticias dos indios Aroakys, e, mais tarde, delles tambem tratasse na Revista Anthro- pologica, sou aqui obrigado a reproduzir o que disse sobre seus costumes, para bem se vêr que tenho razão para dizer que as iukaçauas da necro- pole da Mirakanguêéra pertenceram a essa tribu. As linhas que seguem são resultado de notas tomadas no rio Uatumã, fornecidas por velhos e velhas Aroakys, que ahi existem, e que muitas vezes, quando crianças, tomaram parte em ceremonias funebres de seus parentes. Os Aroakys, como já vimos, formavam uma numerosa tribu, tão extensa que o espaço por ella occupado era conhecido pelo nome de Reino dos Aroakys. Hoje a tribu subdividiu-se; seu reino extinguiu-se e ao mesmo tempo que elles abandonaram sua necropole, abandonaram tambem as terras que viram nascer seus maiores. Diminuto é seu numero e das duas fracções que existem, só uma é brazileira. .Esta vive nas cabeceiras do rio Vatumã, já nas divisas do Imperio, e a outra na Guyana Ingleza, para onde fugiu, subindo o Rio Negro, vivendo uma parte da tribu no seu assento primitivo, (!) Antiguidades do Amazonas (Ensaios de Sciencia, 1879), 2.º fase. pag. 9. (2) Para provar que esses individuos, todos tapuyos ou mamelucos, nenhum caso fazem dos objectos, basta dizer que urnas inteiras teem sido encontradas e por elles lançadas ao rio, em consequencia do medo que lhes causam as ossadas. Isso me referiram os proprios que cito. ESSO sie em Venezuela. Foi uma tribu guerreira e poderosa, tendo por inimigos irreconciliaveis os Parikys, sahidos de seu tronco, e os Anibás, seus vizinhos. Ainda hoje « costumam sahir a guerrear outras tribus, ? quando ven- cedores trazem como trophêos as armas e as crianças. Degollam os inimigos com facas de pão, armadas de dentes de animaes ou ferro que encontram nas malocas contrarias, que denominam mariapéda. Usam, para as suas lutas, kuidarús, massas pesadas, terminadas quasi sempre orbicularmente e esquinadas ; de gurukas, dardos longos, terminados em lança, de taboca, com a extremidade opposta armada de duas pennas de cauda de arara azul; e de arcos (bewé) e flechas. « Na volta de suas correrias, guardam as armas inimigas como trophéêos nos seus quarteis, hordapeé. Ficam estes no meio das malocas ; são redondos, tendo por parede cascas de pãos, com setteiras, por onde visam e flecham o inimigo quando são atacados. Nestes quarteis dormem e moram todos os homens solteiros. Celebram as suas victorias com dansas e libações ao som do makukaua, especie de torê curto, feito de tabocas. « Andam geralmente nús, com as partes cobertas por uma facha, kueyo, tecida de algodão tinta em urucú, de um palmo de largura e cinco, pouco mais ou menos, de comprimento, ornadas as extremidades de fios empennados com pennas do corpo da arara vermelha. Nas suas festas, ou por occasião da morte de algum dos seus, usam então do acangatare, Saquiuchy, de pennas de cauda de arara, levantadas, com a parte da testa, de pennas do peito do gavião; de brincos de penna de tucano, quenauhy; de pulseiras justas, de pennas brancas, roko e ligas, justas, de tecido de algodão, tintas como o kueyo, neguêry. As mulheres usam de tangas, da forma de aventaes, tecidas de fio de algodão e sementes de vapuhy ou missangas, quando já em contacto com os civilizados: com a mesma denominação acima usam de testeira de pennas de papagaio e yapu; de pulseiras, ligas e collares das mesmas sementes, naçauara .» Como termo de comparação, apresentei aqui a sua maneira de trajar para se vêr que perfeitamente estã o costume Aroaquy representado nas iukaçauas e agora passo a transcrever (!) as ceremonias funebres actuaes, para se apreciar a modificação que soffreram com o tempo, mas que os monumentos archeologicos perpetuam . « Queimam os mortos, e os guardam calcinados em um wrú (*) pen- durado na casa do morto. Emquanto arde o corpo na fogueira, dansam homens e mulheres em roda, ao som dos seus maracàs, uac/iy. Conduzem os ossos para a casa do finado, acompanhados pela dansa e pendurado o deposito destes continuam sob elles a dansar. Preparam depois o kachiry, e novamente começam as dansas, com libações : descendo-se então o urú, para tirarem delle os ossos para ser reduzidos a pô e misturado este com a tinta do urucú. Feita esta mistura, pintam-se com ella e continuam a dansar. O resto do pô, ou dos ossos é guardado, em pequenos potes ou igaçauas, de bôjo e gargalo, e enterrados, sem ceremonia, n'um cemiterio proprio. » (!) Relatorio sobre o rio Yatapú, pag. 58. (*) E” um cestinho com tampa, feito de uaviimã (maranta) ou tucumá (Astrocaryum tucumá Mart.) e CRE APS TAP E Lg me da Agora passo a descrever o ceremonial que desappareceu, mas que ainda alguns velhos me referiram na sua poranduba,. Logo que deixava de existir alguem da tribu, os torês estrugiam levan- do a nova e convidando a populaça a se reunir na casa do morto. Reunidos, preparavam uma grande fogueira, sobre a qual os parentes lançavam o cadaver, ficando todos em roda cantando e chorando lugubremente. Abriam-se os potes ou igaçauas do inebriante yaraky, que em vasos ou taças as mulheres destribuiam. Soavam os uachys, chocalhos de cabaça, enfeitados de pennas e cobertos por gravura e pintura de arabescos ca- prichosos. Quando a negra fumaça desapparecia com o cheiro nauseante das carnes que calcinavam e que os ossos alvejavam sobre os tições, deixavam o fogo se extinguir para então reunir o mutaba ou a ossada. Depois della recolhida ao tibuenenuté, especie de condeça, era este con- duzido para a casa do morto, seguido pelos parentes, que, pranteando, acompanhavam seus restos dansando. Logo que chegavam à casa, era por uma corda o tibuenenutê suspenso ao tecto do girão-e sob elle continuavam as ruidosas dansas. Depois desta ceremonia, novas igaçauas de uaraky se abriam, novas dansas se formavam na praça, emquanto as mulheres reco- lhiam o pô da parte calcinada dos ossos, paritê, no acené ou kamuty- uaçu e o misturavam com a tinta do urukú ou do kwry. Levado para a praça o kamuty-uaçu, coberto com seu náembê (tampa) formavam-se as dansas em torno e emquanto algumas mulheres distribuiam o kachiry ou yaraky nos yaraky-çaua, uma velha com o Tykuçavwa tirava a tinta do kamuty-uaçu e derramava nos kangoera-çaua que empunhavam os con- vivas. Nellas mettiam os dedos e mutuamente se pintavam. Emquanto existia a tinta no kamuty-uaçu, se dansava ese pintava, e quando o fundo da vasilha apparecia, era o signal da partida para o cemiterio. Um conduzia o kangoera reru, que continha osossos partidos e não pulverisados, outros o kamuty com o resto de pó e cinzas, e todos com seus kangoeras-uaçus, acompanhavam os despojos, seguidos das mulheres, que levavam dauitibis ou as panellas com os viverese as offerendas. Aberta a cova, nella desciam o kamuty, as panellas, e ahi lançavam as taças cinerarias e as das libações ; findava-se a ceremonia funebre e reco- meçavam os trabalhos quotidianos. Depois da descripção dos costumes hodiernos, restos da passada gran- deza de um povo quasi extincto, tendo mostrado que o espaço occupado pela necrópole da Mirakanguêra fazia parte do reino dos Aroakizes, só me resta descrever os objectos, monumentos funebres, que encontrei, fazendo as considerações que julgar necessarias afim de melhor provar que razões me sobram para attribuir a esses indios a autoria do cemiterio. Dividirei todos os objectos em secções, porque assim melhor serão conhecidos e nunca se poderá confundir o emprego de uns com outros, applicando nesta divisão os nomes pela lingua geral que os indios dão. Temos pois: 1.º TIukaçauas (*) ou umas ossuarias, as que encerravam ossadas completas, sem terem sido levadas ao fogo e que em baixo relevo representam differentes partes de uma figura humana com indicação de Sexo. UU) Iuká, matar, caba 01 aua, terminação verbal que, por terminar o verbo em vogal, faz caba e caua. Ea Als 2.º“ Kanguera reru (') ouurnas ossuarias, as que guar- davam ossadas queimadas e partidas, algumas semelhantes às primeiras e outras sem indicar fórma alguma humana e destituida de relevos. 3.º Kamuci (*) ouurnas cinerarias, as que continham o póe as cinzas das ossadas. Estas urnas teem a fórma de um pote e raras vezes teem indícios de partes do corpo humano. 4º Kamuci uaçu (), o grande pote no qual dissolviam a tinta e nella misturavam o pô e as cinzas dos ossos. 5.º Yaraki-çaua (*) ou taças das libações, com fórma de panellas mais ou menos ornadas, algumas com emblemas zoomorphos, em relevo. 6.º Kanguera-çcaua (Jastaças cinerarias em que se derra- mava a tinta incinerada. São ornadas com emblemas anthropomorphos e zoomorphos. 7. Dauitibá () ou panellas votivas em que depositavam os viveres para o morto. Ornadas de desenhos, por gravura ou pintura e de emblemas zoomorphos e alguns antropomorphos. s. Tykuçaua (”) especie de hydria dos gregos, que servia para derramar a tinta nas Rangueraçauas . 9.º Instrumentos de pedra. IUKAÇAUAS As iukaçauas eram propriamente as urnas fidalgas, as dos tuchauas, dos moakaras e de suas familias; distinguiam-se das do povo pela fôrma e pela ornamentação. As formas indicavam os sexos, apezar de clara e distincta- mente serem estes representados em relevo nas mesmas. Todas eram pin- tadas de branco, destacando-se desse fundo caprichosos desenhos feitos com kury, ou oca vermelha (sesquioxido de ferro decomposto) e chyba. Eram pois, todas pintadas de vermelho e preto. São as urnas brazileiras mais notaveis e que mais progresso e gosto artistico mostram na arte ce- ramica. Nellas não senota, como nos vasos domesticos,tentativas suggeridas pelas necessidades da conservação da vida, nota-se a intelligencia do indi- viduo, porque entra-se na arte, cujo dominio pertence à alma. Est. I—Fig. 1 «.— Representa uma iukaçaua do sexo masculino, vista de frente e vê-se que a intenção ahi, como em todas, é representar (!) Kanguera, ossos e rerú o que guarda, contém ou encerra. (2) Antigo kambuchi, o pôte. k (3) Pote grande. (*) Yaraky, vinho de mandioca, e caua, o que leva, contém. (*) Kanguera, ossos, e caua que guarda, encerra. (5) Nome que os Aroakys dão às panellas, (7) Tyku, hquido diluido, ea terminação verbal aua. Et Ad = AB) um individuo assentado com as pernas encolhidas, e encostadas ao peito, como em geral algumas tribus enterram os corpos dos que morrem, apre- sentando sempre a posição do corpo a que teve no ventre materno, « comme si ces peuples voulaient, par ce rapprochement philosophique de la tombe au berceau, joindre les deux termes de la vie de V"homme », como disse d'Orbigny, e não o costume de representar a posição que sempre tomam em vida, a de ficarem de cócoras. As tampas que assentam sobre a boca da urna representam a cabeça e o pescoço, ornada aquella de um alto akangatare inclinado para trás, com desenhos gravados que terminam nas orelhas, com as quaes fôrma uma só parte. Estas são furadas de lado a lado. Osolhos, o nariz e a boca são feitos em relevo. Estas partes são postas mais em relevo e aperfeiçoadas por meio de pintura a traços mais ou menos largos e caracteristicos, com tinta vermelha. O pescoço é alon- gado e ornado tambem de pinturas. No corpo ou bojo da peça, cuja fórma se aprecia na figura, vê-se na parte superior os braços curvados e as mãos, feitos em baixo relevo, contornados por um traço vermelho, que cobre a gravura que os torna mais salientes. Logo abaixo das mãos apparecem em relevo os mamellões dos peitos, pintados de vermelho, assim como abaixo destes uma concavidade circular, pintada de vermelho, que figura o umbigo. Um pouco abaixo da parte mais larga do bojo que indica os quadris, vê-se, em baixo relevo e em forma de sigma de cima para baixo, o começo das pernas, feito em baixo relevo, terminando nas canellas e perpendicularmente em alto relevo, tornando-se bem salientes os pês. Vê-se que são ornadas por ligas e joelheiras, que apertam a ficarem as carnes salientes. Como os braços, as pernas são contornadas por traços gravados e pintados de vermelho. Entre estas vê-se em, alto relevo, um penis de 0,024 de comprimento, mais ou menos conico, tendo late- ralmente e um pouco acima, duas saliencias globulosas, que indicam os testiculos. Esta peça assenta sobre um pedestal de forma cylindrica re- matado por um annel pintado todo de vermelho, em que o bôjo é ornado de desenhos, que por apagados se não podem determinar a fórma, notando-se somente que eram pretos e vermelhos. A fig. 2 representa a mesma urna de lado. A argilla de que é feita, é avermalhada, simples, bem cosida e sonora. As suas dimensões são as seguintes : A MORA sons e ts a Data E ACURA PANOS iv O MACA aonde do rata DE > BE Sa perda al à HER tato a ES a A E Diametro da bocca. ............ ERP AA AS Ui RPA A » doa: sos sites E e Sd bind E » base do pé........ E Aos Ros a E NO DT] >» da deparo MES RARE 0",15 O excesso que forma na base o maior diametro, é produzido por um annel, Comprimento das pernas................. 0P,10 Est. Ilfig 3.— Representa um fragmento de uma iukaçaua do sexo feminino. EAR amo Infelizmente não consegui recolher este especimen perfeito, porque ao tival-o da terra desfez-se em innumeros fragmentos, sendo os maiores os dous representados, que dão a fórma da mesma. Affectam, mais ou menos, a fórma das do sexo masculino, porém são mais baixas, teem o bôjo mais largo e não teem pé ; assentam no sólo como si fôra uma amphora. Teem, como as do sexo maculino, os braços, as pernas, os mamelões e o umbigo representados em baixo relevo. O distinctivo do sexo é apresentado por um sulco vertical, profundo e pintado de vermelho. Teem, como as inkaçauas dos homens, tambem tampas e são pintados de vermelho e preto, sobre fundo branco. Estas são mais baixas, as physionomias representadas teem os traços mais arredondados e delicados, apresentando perfeitamente uma feição feminil. A saliencia que passa de uma para outra orelha, passando pelo alto da testa, e que representa o akangatar, é mais estreita. Nas extremidades e ligadas a esta saliencia, que é ornada por listas om gregas, feitas por gravura, ficam as orelhas, fazendo um só corpo. Estas são circulares e furadas no centro, de um a outro lado, o que nos prova, que então, como hoje, as Aruakis tinham as orelhas furadas. Compa- rando-se as figs. £e5, com as 6, Gb e 7, ver-se-ha a differença. A fig. 7, por exemplo, que é uma tampa de iukaçaua masculina, tendo a parte superior quebrada, tem as feições verdadeiramente masculas, as faces salientes, e representa a cara de um homem mão e resoluto. As saliencias que formam os akangatares, são sempre mais elevados nas iukaçauas dos homens, porque, tambem, maiores usavam, como hoje, esses enfeites de pennas. Perfeitamente pela elevação do akangatar, e pelas feições varonis se distinguem os tampos das urnas de ambos os sexos, mesmo quando representem crianças. Fig. 6e 6b.— E' uma iukaçaua, vista de frente e de lado, per- tencente ao sexo masculino, porém, de uma criança. Nos desenhos, nos relevos, na pintura é em tudo igual às dos adultos, porêm afasta-se na forma. Em geral ellas tem o bôjo mais estreito e são mais alongados. Os ossos são guardados nellas, quasi todos partidos. Fig. 8. Representa uma iukaçaua do sexo masculino, de uma outra categoria. Tem, como as primeiras descriptas, em baixo relevo, e por gravura, os braços, as pernas, os peitos, sendo em alto relevo os orgãos genitaes e as extremidades inferiores. Sobre fundobranco, é pintada tambem de vermelho > preto, porém, a fôrma é diversa. E” alongada, o bojo é mais estreito, e o pê é obconico truncado, para poder assentar-se sobre o solo. As linhas das fórmas são correctas. As desta fôrma são maiores, attingem 60 cent. de altura, sem a tampa ; tendo o bojo às vezes 40 cent. de diametro. As tampas, posto que representem as cabeças dos mortos, cujos restos elias guardam, comtudo não são assentadas sobre os bordos e sim encaixadas na peça inferior, onde descançam sobre uma saliencia que fôrma um annel em torno da bocca das mesmas inkaçauas. Estas urnas são mais pesadas porque teem as paredes mais espessas. Alêm destas iukaçauas, ainda outras anthropomorphas se apresentam, affectando porém, uma fórma inteiramente differente. As primeiras são verdadeiros vasos, que não procuram representar a fórma humana a não ser, mais ou menos, nos tampos, senão por desenhos e gravuras, feitas sobre elles, porêm a de que vou-me occupar, não são puramente vasos de fôrmas artisticas. E A fig. 9 da Est. III, por exemplo, representa uma das, propria- mente, anthropomorphas. E um vaso oval alongado, truncado em ambas as extremidados, para assentar no solo e receber a tampa, porém que indica perfeitamente uma creatura assentada de cocaras, posição habitual do indio, como indica a gravura e a saliencia dos furos feito em alto relevo. Nestas as mãos, parte dos braços, os peitos e os orgãos sexuaes são em alto relevo. São urnas pequenas para crianças e que não são feitas com tanta arte. Ignoro a pintura que tinham, porque a unica que obtive, estava completamente sem pintura, e pelas informações que tomei, não consegui sabel-o. Ignoro a fórma da tampa, porque não encontrei nenhuma, pelo que, attenta à raridade, penso que seriam, mesmo, raras. Afig. 2, da Est. III, é ainda uma das que affectando a fórma de vaso, comtudo, não tinha os membros feitos em relevo esim por pintura. Exceptuando as fórmas, com as ligas, eos pês,o mais era feito pela pintura. Estas são urnas tambem pequenas, 07,02 a 07,03 de altura por- que não encontrei um só fragmento que indicasse que as havia grandes. Serviam para nellas se guardarem os ossos calcinados, pelo que entra, antes, no grupo das Kangueras rerws, de que abaixo me vou occupar. KANGUERA RERU As Kangueras rerus, não são mais do que iukaçauas, mas destinadas a guardarem queimados e partidos ou mesmo reduzidos a cinzas os ossos dos mortos. São por isso menores e como era a urna funeraria da plebe, era quasi sempre lisa, ornada apenas de desenhos por pintura, apresentando uma ou outra, em relevo, a cara humana, na parte superior do bojo. Algumas comtudo em vez da cara, tinham as pernas em relevo, sendo o resto feito por pintura, como acontece, com a figurada sob on. 3 da Est. III, descripta entre as iukaçauas. Posto que urna ossuaria, affecta outra fôrma e parecendo ser a da plebe comtudo essa fôrma não ê menos elegante e, pelo contrario, parece mais apropriada ao ffm a que se destina. São todas ornadas de caprichosos desenhos vermelhos e pretos, pintados sobre um fundo branco; Estes desenhos figuram gregas de linhas rectas, cruzadas em angulos mais ou menos agudos ou rectos, circulando o corpo da urna ou formando meandros exquisitos, uns de uma só côr, outros das duas combinadas artistica- mente. Nos Kangueras rerus em geral o sexo não é indicado em relevo, mas sim feito de arabescos, por pinturas, que às vezes quasi se não pode dis- tinguir. Onde notavel se torna o ceramista autor da funebre peça é na expressão da cara, que é feita com tanta arte, que pelas linhas se dis- tinguem os traços da physionomia masculina e da feminina. Sempre termina a cara, na parte superior, pela linha do akangatar, em relevo ou por pintura, ora ligado às orelhas como nas inkaçauas, ora separado dellas. As tampas dessas urnas são inteiramente differentes das das inkaçauas. Nada tem em relevo e não indicam a figura humana ; são ornadas apenas por pinturas mais ou menos exquisitas ou emblematicas. VOL. D . 3 Em EA pu Principiarei a descrever as Kangueras rerus, pela maior, mais elegante e que parece indicar pertencer a um notavel, dos que pela sua condição, não pertenciam à classe dos moakaras, Assim o digo porque se destaca inteiramente do grupo a que pertence. E' a que vem figurada sobon. 1 da Est. Te representada de lado, para melhor se ver o relevo que figura a cara. Esta urna, encontrada cheia de ossos queimados e partidos em peque- nos fragmentos, torna-se notavel pela sua fórma correcta e pelo pé, que a sustenta. Si bem que não pertença às urnas fidalgas, comtudo, a sua fórma é mais elegante e denota mais gosto artistico. Com effeito, em toda a sua circumferencia não se nota uma desigualdade nas linhas, um de- feito na correcção do desenho, e o pé que a sustenta está perfeitamente proporcional ao todo geral, Si bem quea pintura esteja apagada, comtudo vê-se, pela physiono- mia da cara representada, que pertencia ella a um homem. Sinto não poder aqui dar com exactidão as suas dimensões, mas facil será obtel-as no Museu Botanico do Amazonas, onde a deixei. E” dever meu esclarecer aqui o leitor, que as paginas que seguem a epigraphe IUKAÇAUAS e as que se referem às Kangueras rerus, não são as que foram escriptas, em vista dos objectos. Esta memoria estava completa, tinha ido para a imprensa, as suas primeiras paginas estavam impressas, quando por força maior, vi-me obrigado a suspender a sua impressão, e ao receber a parte impressa e o manuscripto, as tiras destas, da pag. 42 à pag. 56, tinham sido extraviadas. Longe pois, dos objectos a que me refiro, tive de escrever estas linhas, sem ao menos ter presente as notas tomadas in loco que me serviram para redigil-as. A urna, pois, de que me occupo, tem mais o menos 0,50 de altura sobre 0,40 no maior diametro. A fig. 4 da Est. TII, posto que sustentada por um pequeno pedestal, affecta comtudo a fôrma vulgar, que é, mais ou menos, a representada pela fig. 2 da Est. I. Como a precedente tem ella os olhos, o nariz, a bocca, as orelhas e o akangatar em relevo; sendo o mais designado por pintura, excepto o umbigo, que é feito por um pequeno circulo deprimido. O or- nato era feito por gregas. Semelhante a esta, porém, mais elegante e sem ornato algum em re- levo, vê-se uma outra representada na Est. 1, fig. 2. Esta urna tinha dous terços cheios de cinzas ossuarias, envolvendo fra- gmentos de ossos calcinados, completamente acamados. Sinto, não poder de memoria, lembrar-me de todas as suas dimensões e de suas particularidades, para aqui descrevel-as. Perdido o autographo, e sem notas para consultar, longe das peças, sou obrigado a não fazer mais do que chamar a attenção do leitor para as figuras, que melhor fallam à imaginação. Felizmente, poucas foram as tiras perdidas e pôde o leitor, dos Kamucis, em diante, ter a descripção feita com os objectos sob a vista. Devo lembrar que a Fig. 1 da Est. IV é uma das tampas dos Kangueras rerus, representada para ver a sua fórma interior. Todos os objectos figurados pertencem às collecções do Muzeu Bota- nico do Amazonas. Cabe-me aqui confirmar em relação às urnas deste formato o que anteriormente sobre o assumpto tenho expendido. Comparem-se as suas fórmas, com as semelhantes da industria grega, da romana antiga, com as dos vasos egypciacos e asiaticos e mesmo com E ES as da industria moderna, e ver-se-ha que mais graciosas e correctas não são as linhas e nem mais bem combinadas as proporções. A urna em questão mede : Pa Qro dir: Pe TES PA dd A ab PAU. UE DA a 02,15 Diamá do, boced asp es era Sara dia) E a ara de careta MORA RE Pião: de IDP. ec es asa crus Das gr Ea ata MAR Dito do Fundo tiçes Sa AE Seres A aro OE OH ES POSSUIA e fere x ars nave ea rea sat e ADA Pertence à collecção do Museu Botanico que dirijo. A fig. T. da Est. IV, representa a tampa de uma outra kanguera reru do mesmo systema, para melhor se ver a parte interna. KAMUCI Entro aqui na descripção das urnas cinerarias ou Acenê mutaba, dos Aruakys propriamente ditas *, aquellas que guardavam os restos dos ossos pulverisados e as cinzas das carnes que serviam para com ellas se pintarem, guardando no corpo uma lembrança do morto, que recordava o nada da existencia humana : Pulvis es et pulverem reverteris. Kamuci é o antigo cambuhi, * o vaso, o cantaro pequeno para se beber agua, em geral de bojo espherico e gargalo estreito e curto. Oh aspirado passou a ser pronunciado como se fôra c, vindo a pronunciar-se hamuci, Ramucim e hamuti, passando tambem a significar o vaso de guardar agua e tambem a urna cineraria. Quasi sempre o kamuci é liso, porém, as vezes é ornado de nambis, isto é, de orelhas lisas, antropo- morphas ou zoomorphas. Compõe-se de tres partes: bojo, gargalo e tampa. O bojo é sempre mais ou menos globuloso, ornado n'uns de gravura e pintura, n'outros de pintura simples. Desnecessario é dizer que sempre a gravura era feita quando a argilla ainda molle, antes de ir para a fogueira que queimava o vasilhame. Além da gravura, os kamucis cinerarios tinham, horisontalmente, no maior diametro do bojo, um bordo saliente, liso ou cheio de gravuras. Ahi quasi sempre havia a representação da cara humana. O gargalo n'uns é curto, n'outros elevado, sempre rematado por um bordo saliente de maior diametro, cortado na parte interior, obliquamente, para ahi se adaptar a tampa. Esta em geral tem a apparencia de um dos nossos pratos fundos, de mesa, e é sempre lisa, ornada de desenhos pintados. Descreverei um e, pelos fragmentos de gargalos e pelas tampas que represento, melhor idéa se fará dos kamucis. Fig. 1, da Est. V. — Representa um kamuci, dos medianos, en- contrado cheio de cinzas e ossos moidos, misturados com terra. Posto que 1 Estas urnas lembram o Luduck sou luruck bretão, espécie de tumulos, em que se encontravam cacos de vasos e cinzas, como os que existiam na ilha de d'Arz, no Morbihan, 2 De Kambu, mammar e hi, o que serve. O kamuci é um vaso pequeno pelo qual se bebe agua e - o Ra fórma parece uma mamma, pelo que os indios chamaó mamar o beber agua nessa vasilha. 0) é “ lavado pela acção do tempo, ainda claramente se vê que era pintado todo de branco, ornado de gravuras vermelhas. Na parte média, horisontal- mente, tem um bordo saliente, que occupa dous lados, recurvando-se ambos n'uma das faces do vaso a deixar entre as curvaturas um espaço, onde, por baixo relevo, está representada uma cara humana,e n'outra face as extremidades dos lados, deixando tambem intervallo ; um recurva-se e outro incurva-se. O fundo do vaso é todo pintado de vermelho. A tampa é convexa com os bordos obliquamente cortados, afim de se adaptar ao córte obliquo do gargalo e bem fechal-o. Era uso nos kamucis sol- dar-se a tampa com tabatinga ou argilla branca, As dimensões deste são as seguintes: ACURA A, 0 Meat sa ca Eno bao Cho a eve o fra ERA a 0,10 Diara sidadbocea ses esre dj Ana ro ana o atoa or Tt El o Ditordes bojo cr o fopatao é nele eloio é den OTA Dito de fundo..... E SP ALA e 0,06 ESDPeSSUTa .dePaiato ol poa ent Tola fo efe pal o eae Nero Papo 0m,08 Quanto à fôrma geral e os desenhos, melhor se verá pelas figuras. Est. II, fig. 3— 5 e5a, Est. IV, fig. 2. — Representam cinco fra- gmentos de gargalos com as suas respectivas tampas, para melhor se ver a fórma de ambos. Um tem o bordo ornado de gravuras, e dous são simples. Fig. 6. Diversas tampas dos mesmos kamucis para se ver a varie- dade nas fórmas e tamanhos. Todas são simplesmente pintadas,apresentando varios diametros. KAMUCI UAÇU Tem este nome ou Acenê iatebwry, pelo dialecto dos Aroakys, o grande pote ou vaso em que se derrama a cinza das carnes e o pó dos ossos, para nelle ser misturado com a tinta vermelha com que se pintam na festa dos mortos, como já vimos dos costumes que descrevi. Tem a fôrma de uma panella, porém com dimensões muito maiores. E” todo pintado, como as iukaçauas e coberto de gravuras, não só o bojo como o annel do gargalo e tampa. Infelizmente o unico que desenterrei não o adquiri perfeito, porque, estando todo rachado, logo que a terra que o circumdava foi retirada dos lados, desfez-se em pedaços, podendo conseguir perfeita só a tampa e um fragmento lateral. Internamente havia no fundo uma massa parda e humida, notando-se pelos lados grandes placas avermelhadas com fragmentos pulverulentos de ossos calcinados ; os desenhos tinham desapparecido,porêm via-se ainda em alguns logares a pintura branca e aqui e alli sobre os sulcos das gravuras a tinta vermelha que se destacava do branco. Num ou n'outro logar via-se que sem ser sobre as gravuras havia desenhos tambem de linhas pretas. A tampa, que eu aqui represento (Est. II figura 7), pertencente a esse vaso, tem gravada uma cercadura em torno e o altoou a parte convexa comple- tamente lisa. Nao sei, si, por pintura, haveria alguma cara ou figura emblematica, não o tendo porém em relêvo, como sempre representavam. Penso que raros ER e eram esses kamucis, porque, nos milhares de fragmentos que encontrei e estudei, nenhum tinha dimensões ou indicio que pudesse fazer suppor per- tencer a essa especie de vaso. Não tendo in loco podido tomar dimensões, não posso dizer quala sua, porém pelo diametro da tampa e pelo fragmento do bojo pôde-se calcular o diametro do gargalo. A tampa mede 07,45 de diametro e 02,16 de altura. Faz parte das collecções do mesmo Museu. KANGUERAÇAUA Naturalmente depois do kamuci uaçu seguem-se as taças cinerarias. Era nessas que a imaginação do artista dava largas à phantasia,e pela va - riedade immensa dos ornamentos, sou levado a crer que cada mulher fazia a de seu amante ou a de seu pai ou irmão, porque sempre foi a mulher à oleira. Notavel se torna a terra-cota da necropole de Mirakanguéra pela ele- gancia das fórmas de todos os seus vasos, o que a afasta inteiramente do geral dos congeneres encontrados, não só no valle Amazonico, como mesmo no Imperio. Não é a forma simples e primitiva, derivada de idéas identicas em con- dição semelhante e que espontaneamente sahe das mãos do operario, onde se nota o rudimento natural entre todos os povos, não ; o gosto artistico, já em um grão adeantado na escala da arte se nota. Não são aquellas formas chatas, pesadas, massiças, e sim bem lançadas, esbeltas e caprichosas. Jáã vimos que o pedestal foi um passo que a arte deu no caminho do progresso da ceramica, passo que ficou estacionario em alguns povos e caracterisou mesmo certas obras d'arte, passo este que se não nota em ceramica alguma antiga do Brazil e mesmo muito raramente na do Perú, mas que veem pela primeira vez apparecer na necropole de Mirakanguêra, revelando assim uma epoca da grandeza de um povo, que desappareceu, cuja descendencia vive hoje embrutecida pelas selvas, consequencia da per- seguição que soffreu dos descobridores do nosso solo, que, ignorantes e só avidos de ouro, eseravisavam os senhores da terra, sem ao menos nos lega- rem memorias que descrevessem as suas grandezas. Ao contrario, tudo quanto de bom houve, ocecultaram, para poderem justificar os massacres e o captiveiro. As kangueraçauas de Mirakanguéra nos lembram os cantaros gregos com seus pés delicados e suas azas; parecem mesmo os primeiros ensaios que a Grecia fez antes de cobrir de maravilhosos ornamentos a sua argilla. E” verdade que muito antes della, já a China, a India, o Japão e a Persia caminhavam na vanguarda do progresso ceramico, apresentando as suas porcellanas. O certo é que a alma do artista americano, immigrado, invasor ou descendente desses, na arte se expandiu, na época em que as terras do Mirakanguéra recebiam seus despojos, que hoje nos patenteia, salvando do esquecimento, essa população que ahi por longos annos existiu. O uso que faziam dessas taças levou o artista a dar-lhes uma forma, tornando-as elegantes, conservando affinidade com as iukaçauas. Nas dansas as empu- nhavam, como se empunhavam os cantaros nas festas Bacchicas, e por isso todas são feitas sobre alongados pés, sobre os quaes a taça descança, or- e O e nadas de azas, não anuliformes, como as gregas, mas representando figuras anthropomorphas e zoomorphas, como de aves, de quadrumanos, de saurios, cheloneos, etc, ou mesmo figuras phantasticas. A fragilidade da taça fez com que não tenha podido resistir ao tempo, mas as partes mais solidas, como os pés e os enfeites das azas, ahi estão resistindo esparsas pelas areias da praia, abaixo das barrancas ,que o rio leva. Essas figuras são tão caprichosamente feitas, que se conhece perfeita- mente o animal que quizeram representar. Diversos modelos aqui dou, por onde se póde ajuizar se razão tenho em exprimir-me como tenho feito. As figuras 3º e 4º da Est. III, são de um estylo mais severo, mais accom- dado ao genero do festim, propriamente funebre, emquanto queas 5º e 6º mostram mais garridice, parecem antes taças saturnaes. Já ahi, porêm, o temperamento do conviva, a sua indole, o seu coração, exprimiam a dôr ou a sua indifferença. Creio, porém, que, quanto às figuras zoomorphas que ornavam as azas dessas taças, se ligavam a alguma idéa religiosa ou de superstição, porque rarissimas são as que teem representada a feição humana. Represento na Est. IV diversas figuras ornamentaes para me- lhor se ajuizar o desenvolvimento intellectual que tinha então o povo de Mirakanguêéra. São pintadas as Kangueraçauas de branco e cobertas de bem combinados desenhos em linhas rectas e curvas, o que mostra já um passo na arte, feitos com tinta preta e vermelha. Além das taças com pés, havia outras chatas e razas, que tomavam differentes formas, segundo a phantasia do conviva. Essas são raras é poucos fragmentos dellas se encontram, sendo os mais perfeitos os que aqui represento sob on. 7. A” primeira vista nos traz à memoria as antigas lampadas ou candeias, que ainda o povo sertanejo usa, com as formas mais ou menos primitivas, trazidas para este imperio por immigrantes de differentes nacionalidades. São mais ou menos oblongas, tendo diametralmente oppostas umas especies de azas, sendo que em algumas, as do maior diametro, sempre maiores, representam caras e algumas vezes apresentando cabeças de ani- maes. Nos ornatos são todas mixtas, isto é, alêm de serem gravadas são tambem pintadas, sempre com as tres cores branca, vermelha, e preta, que são caracteristicas. Todas tres são productos mineraes, e não se poderá dizer que assim usavam por ser a tauatinga, o kury,e ochiba a unica materia de que lançavam mão, por ser a unica que existia na região que habitava o povo de Mirakanguéra, porque tambem tinham varias côres amarellas tiradas de varias ócas ou tawas, que se fixam da mesms forma e existem na mesma região. E” verdade que é a côr mais apreciada hoje pelos nossos indios, mas tambem vemos nas suas obras de madeira, argilla e algodão as côres amarellas preparadas com ócas. Sobre essas côres, que parecem ser, por assim dizer, nacionaes, vem-me à penna uma ponderação: Não serão ellas reminiscencias ou um cunho patrio legado pelos antepas- sados? Não nos recordam as côres fundamentaes e symbolicas dos povos da Asia, dos filhos do sol e das serpentes? Vejamos : O fogo, a agua, as florestas, os metaes ea terra, isto é, o que então consideravam como elementos, os quatro pontos cardeaes, são repre- sentados, pelo vermelho, pelo preto, pelo branco e pelo verde. O fogo ou o sul pelo vermelho, a agua ou onorte pelo preto, as florestas ou o leste pelo verde e os metaes ou o oeste pelo branco. São estas as côres symbo- DEE licas de Mirakanguéra, menos o verde, mas este, segundo o commentario do Li-Ki, foi o unico que soffreu modificação passando a ser côr caracte- Pistica de certas dynastias. Não será, pois, ainda uma prova que acompanha o Muyrakytã que temos nos esforçado de pôr em evidencia que foi trazido ao Brasil por uma immigração de descendencia asiatica e prehistorica ? Parece-me que sim. Aquelles que querem que a precolumbiana civilisação do Valle Ama- zonico fosse trazida por immigração peruana (que se deu muitos annos depois, sem deixar cunho algum), aqui agora acham motivos para justificar as suas ideas. As peças que vou descrever teem muita semelhança com outras das antiguidades peruanas, porêm estas são muito inferiores nas suas formas. As de que trato mostram um conhecimento intuitivo de desenho, teem cunho artistico e mesmo elegancia. Os vasos peruanos que são comtudo maiores, mesmo porque o seu emprego era outro, eram de beber agua. Mas, si semelhantes se encontraram no Perú, bem semelhantes são tambem os que se encontram nos mownds builders, do Missouri, e vestigios normandos, casados a asiaticos não são em pequeno numero no Amazonas, os quaes diariamente nos convencem que uma immigração teve muita in- fluencia sobre outra no seu encontro e talvez mesmo fusão, predominando o typo asiatico, porque sempre este no fim de algumas gerações, e poucas, absorve e faz desapparecer o outro. O cruzamento do Europeu puro com o nosso indigena no fim de quatro gerações, sem novo cruzamento, faz sumir-se o typo branco, predominando mesmo, quasi sempre, embora haja novos cruzamentos, o typo indigena, sem ser por atavismo. Deixando estas con- siderações, que, mão grado meu, me cahem da penna, passo a descrever a peça mais perfeita desta collecção, que figura com o n. 7 na Est. III. Parece que o artista quiz aqui imitar a natureza procurando, ao passo que dava utilidade ao seu vaso, fazel-o representar um animal; pelo menos pôde accommodar ao uso e representar a cabeça, o corpo e a cauda de um animal, cujo genero me é impossivel determinar. Si as apparencias da figura, pela boca, olhos e orelhas parece querer representar um marsupio, um didelphis, a cauda, comtudo, o afasta, não só pelo comprimento, como pela posição ; parece ser antes um animal phantastico. O desenho que aqui apre- sento, copia fiel de uma photographia, melhor falla à vista do que as palavras, pelo que, para melhor clareza, accrescentarei que a parte interna e ex- terna do bojo é pintada de vermelho e os bordos, a cabeça e a cauda pin- tados, sobre fundo branco, de preto e vermelho. O pescoço é ornado de uma colleira gravada e pintada de vermelho e a volta interna da espiral da cauda é igualmente gravada e pintada desta mesma côr. Os bordos, leve- mente gravados, teem sobre a gravura um desenho preto de sepia (chiba) com algumas partes vermelhas. Instrumento delicado, como a ponta de um pincel fino, tinham para traçar as suas linhas, porque sobre o pescoço e na parte inferior da cauda, na região do coccix, apresentam delicadas figuras, de linhas parallelas, sendo mesmo algumas curvas e formando quartos de circulos, que mostram não só firmeza de mão, como que o instrumento era muito delicado. Essas linhas medem menos de meio millimeiro de largura ; são como o traço de um lapis apontado. A cara é toda gravada a relevo, sendo a boca pintada de vermelho e as linhas que marcam as orelhas de uma côr preta, tendo o interior das mesmas uma curva vermelha. E' um vaso elegante, bem acabado, perfeitamente liso, que para outrem passaria por vaso de perfumes. RES A” primeira vista parece uma lychna, dos gregos, ou Lucernae, dos romanos, as primitivas lampadas de argila. A fig. 3 da Est. IV representa uma outra congenere, esta menos espessa, mais rasa, e com maior diametro e menos fundo. Não é zoomor- pha e tem quatro azas diametralmente oppostas, ornadas de gravuras de phantasia; todas semelhantes, distinguindo-se as do maior diametro por serem menores e mais alongadas e terem uma protuberancia oblonga excavada em cima. Achei-a completamenta limpa, lavada pela acção do tempo, mas pôde-se bem affirmar que, quer interna, quer externamente, era pintada de vermelho. Naturalmente a parte superior das azas e os bordos, onde é gravada, foram pintados com as outras duas côres. Posto que na forma differente da que acima tratei, comtudo é da mesma natureza ; eram taças dese trazer nas palmas das mãos e não empunhadas, como as primeiras. Ainda estas confirmam que o progresso, na arte ceramica, do povo dé Mirakanguéra, tinha attingido a um certo grão de perfeição, que no Amazonas só elle attingiu. Deixo aqui de dar, longas e minuciosas descripções, porque pelos desenhos mais facilmente se comprehende o objecto. Pertencem à collecção do mesmo Museu. YARAKYÇAUA Comprehende esta secção os vasos que serviam para se tomar as bebidas inebriantes, que animavam as festas. Teem em geral a forma de uma panella porém são mais alongados, com os bordos um pouco dobrados em angulo, de modo a facilitar a passagem do liquido para a boca sem se derramar, tendo, nos lados alongadas, azas, que servem para se tomar o vaso em ambas as mãos e ser levado aos labios. Estas azas representam sempre uma cabeça de quadrupede ou de ave, comoa da Est. IV. fig. 4º, que representa a cabeça de uma coruja, sendo algumas de formas phantasticas. O bojo é sempre ornado de gravuras, posto que seja tambem pintado. Em algumas destas representa o corpo do animal, sendo as pernas marcadas pela gravura. Como exemplo, offereço aqui a fig. 4 da Est. IV, que representa, porem mal, um testuto ou yaboty. Em geral, o que contradiz a opinião de Wiener, e si afasta dos Peruanos, não imitavam bem a natureza e, pelo contrario, tudo quanto tendia a esse fim, destoava das outras obras, não parecendo sahidas das mãos dos mesmos artistas. No vaso em questão, por exemplo, vê-se que a forma da cabeça, completada por linhas gravadas, indica bem a de um yaboty, o que certifica a pequena cauda ; porêm a forma do vaso e as pernas gravadas, além de longas de mais, não teem a apparencia desses chelonios, . e são mesmo de phantasia, porque cada uma termina em uma extremidade em mão, o que dá oito mãos ao animal. A cabeça e a cauda servem de azas. Entre as pernas representadas, feitas em pequeno baixo relevo, vê-se gravada uma caricatura humana ou de quadrumano. Dou aqui algumas figuras das azas de outras Yaraky- cauas. Est. V. figs. 5e 6. ads iss SE e DAUITIBA Davam este nome às panellas que junto às iukaçauas enterravam, destampadas, com viveres. Nas excavações que fiz nunca encontrei uma sô tampa, nem fragmentos. Não são panellas communs, isto é, lisas ; sempre são pintadas no mesmo estylo dos iukaçauas e geralmente ornadas de gregas gravadas, principalmente nos anneis horizontaes que en- feitavam a parte do bojo, cujo diametro é maior. Esse ornato gravado em toda a ceramica, quasi sempre de linhas rectas e algumas parallelas e em angulos, parece ser feito com um dente de cutia (dasyprocta), porque, estudados os sulcos, vê-se que a sua largura e forma accusam ser esse o intrumento. Quem bem observar o começo das linhas e conhecer a forma do bordo cortante desse dente, e para comparação o tiver empregado na argilla, verá que os sulcos deixados são identicos aos que os vasos de Mirakanguéra apresentam. A argilla de todos os vasos, cumpre aqui dizer, é pura, o que mostra a sua grande antiguidade, porque a louça dos tempos modernos, fabricada no valle Amazonico, é toda amassada com cinza das cascas do caraipé (Moquilea utilis), que empregam para não rachar-se ao fogo, quando são cozidos os vasos. Posto que a louça seja preparada pelo processo já descripto nas minhas Antiguidades do Amazonas, nota-se, comtudo, que é perfeitamente lisa, sem ondulações ou irregularidades, o que denota grande pericia no oleiro. Esta observação applica-se a toda a especie de vaso de Mira- kanguéra. As dauitibis, ou panellas votivas, são de varias formas e tamanhos, sendo os typos principaes os que aqui represento. Afastando-me um pouco do assumpto permitta-se-me fazer uma obser- vação, para mostrar que mais observadores e cautelosos são os indios do que os civilizados. Em geral a panella dos civilizados tem os lados erectos, emquanto que as do indios são curvos. Não dão sem razão essa forma. Elles fazem assim os bordos para evitar que se derrame o liquido, quando entra em ebulição, pelo que as suas panellas levam vantagem às nossas. As figuras 2 da Est. Ve 1 da Est. VII, representam o feitio mais vulgar dessas panellas, cujo diametro encontrei variando de OM, 10 a Om, 28. Tem sempre um annel achatado e saliente, às vezes com o bordo denticulado ou crenulado e ornado de uma grega mais ou menos capri- chosa. O espaço entre esse annel e o bordo da bocca é sempre gravado, e, entre o annel e o fundo, sempre liso e pintado inteiramente de vermelho. O bordo da bocca nem interna nem externamente indica ser preparado para receber tampa. Esta panella é muito semelhante nas formas às em que os normandos guardavam as cinzas de seus mortos e é quasi igual à que foi achada sob uma pedra, cairn, em Oremolla, perto de Abekar, na Suecia, e que figura no Museu Nacional de Stokolmo, com o n. 4.792, como se vê das Antigui- dades suecas, publicadas por Montellius em 1873. À figura 2 mostra o feitio das lisas, ornadas simplesmente de pinturas. Tem um feitio vulgar e semelhante ao que ainda hoje é usado pelos naturaes. As dimensões variam, como facilmente se comprehende. VOL. H 4 — DO «mo A figura 3 tem muita affinidade com a da fig. 1, porém o annel é collocado abaixo do bordo da bocca e enfeitado lateral e diametralmente por duas azas pequenas que terminam no maior diametro do bojo e excedem o annel. Este é todo bordado por uma grega gravada, sendo o resto do vaso todo liso. Algumas dessas panellas, em vez de azas annulliformes, teem figuras, em geral cabeças de animaes. Além dos typos aqui representados, que eram as panellasem que se coziam os viveres, havia outras menores, affectando forma de kamucis, com ornatos de outro genero e em geral menores, que supponho serem os vasos em que se offereciam ao morto as bebidas inebriantes. Quero crer nisso, porque, conjunctamente com as panellas propriamente ditas encontrei estas, que, perfeitamente limpas, quer externa quer internamente, vestigio algum apresentam de terem ido ao fogo ou ter contido comidas, como as outras visivelmente mostram. Si tinham por costume fazer acompanhar o morto de viveres, porque não offereciam tambem bebidas ? O indio que crê na immortalidade d'alma e na sua transmigração, comprovadas pelas lendas verdadeiramente indigenas, que tenho. quando enterra o seu morto à beira d'agua, com armas e viveres, é para este ter à mão com que matar a sêde, defender-se e alimentar-se, por que não daria tambem aquillo que di a vida aos seus festins e bravura nos seus com- bates? Sem a bebida inebriante o indio não comprehende a vida, como nós civilizados tambem não a comprehendemos. O que seria para nós um almoço, um jantar, uma festa qualquer sem o vinho, o Champagne, a cerveja e outras bebidas alcoolicas ? O que em geral anima as festas da civilização ? E reprovamos quando vê-se o indio bebendo cachiry ou cachaça, por não ter cerveja, cognac ou Champagne ! Ainda hoje, como os ciganos, os civilizados no Perú, na Bolivia, nas republicas do sul e mesmo aqui no Brazil, entre o povo sertanejo, fazem o velorio na vespera do enterro de seus mortos, acompanhados de libações, e mesmo cantos e dansas, fóra do imperio. Mais de um velorio tenho assistido, em casa de pessoas que teem repre- sentação na nossa sociedade. O povo de Mirakangueêra tinha a sua festa funebre, o velorio por assim dizer, e é justo que não negasse ao conviva d'alêm tumulo uma taça de licor, na crença que nessa ultima morada o prazer tambem reina. Vem confirmar isso o costume, que ainda vi em 1873, denominado, tupâna putdwa, entre civilisados descendentes de indios, educados por mãos padres, que consiste em depositar na igreja, no dia de finados, du- rante a missa, offerendas para os parentes fallecidos, consistindo essas offerendas em aves, frutas, farinha, doces, etc.. segundo o que em vida o parente gostava, o que tudo era recebido pelo vigario, que se encarre- gava de fazer chegar ao seu destino. Os missionarios, aproveitando-se da crença indigena, tiraram della proveito, e, em vez de extirpar isso, mais fortaleciam, a ponto de chegar o costume até hoje, como um ponto religioso verdadeiro entre a classe baixa. i Nas minhas Antiguidades do «imazonas, pelas observações que fiz, disse que, encon- trando sempre os cemiterios indigenas à beira dos lagos, riachos e rios, tinha isso não como facto oceasional, mas sim premeditado, pela erenca do indio de que os mortos tem neces- sidade d'agua para saciar-se. Entre os Paraguayos civilizados, descendentes dos Guaranys, ainda essa crença perdura, tanto que junto à cruz que colocam na sepultura dos seas, depositam um pote com agaa, Fa dy Sie, Ie As empregadas nessa ceremonia vão incluidas entre as panellas, por causa de sua fórma, apezar de terem a bocca mais estreita, o que as approxima dos kamucis. Dou aqui um typo. Est. V,fig. 3. São sempre gravadas e nunca or- nadas de pinturas. A gravura, além de ser feita por linhas, tem outra toda composta de pontos excavados e unidos, sem desenho algum, se- guindo sómente linhas horizontaes e parallelas. Esses furos são feitos com um instrumento perfurante, alguns indicando porém o terem sido por unhas humanas crescidas. Outros vasos não teem pontos perfurados, porém elevados, o que obtinham por meio de duas linhas que se cruzavani. Depois de horizontal e parallelamente terem contornado o vaso com um estilete qualquer, cortavam essas linhas por outras perpendiculares, guardando sempre a mesma distancia, de maneira a terem as elevações quadran- gulares as mesmas dimensões, que em quasi todos é de 3 a 5 milli- metros. E' notavel que, não sô nesta louça, como nas de todas as tribus, mesmo modernas, nenhuma apresentem a imitação da natureza nas suas pinturas, quando plasticamente procuram imitar o reino animal. Em toda a louça, nos tecidos de palha e nos de algodão, sempre a sua pin- tura é uma combinação de linhas parallelas, quebradas, cruzadas, for- mando desenhos admiraveis, porém nunca apparecendo figura, flor ou outra qualquer representação do meio em que reside o artista. E' verdade quea curva, que se presta a isso, o selvagem não a emprega, porque a esse grão de aperfeiçoamento não chega o seu progresso. E' só mais tarde, com os modelos civilizados, que nas pinturas da argilla e na das cuias empregam curvas imitando flores e animaes. Resta-me agora tratar de um vaso especial, que havia de diferentes tamanhos, mas sempre da mesma forma, e que era empregado em vasar, nas kangueraçauas, a tinta cineraria preparada no acenê iatebury ou kamuciuaçu. Pela sua forma e mesmo pelo emprego tem alguma aflinidade com a hydria grega e com o (Enochoe. Aquella posto que destinada a agua, variava no tamanho, na forma e na elegancia, e este destinado ao vinho, tinha formas graciosas e delicadas, e proprio para figurar nos festins dos deuses. Uma era pesada, grosseira- mente modelada emquanto outro era delicado fino, leve e gracioso, mas comtudo isso a forma do vaso em questão participa de ambos. Grosseiramente modelado tem a aza da hydria, mas o bojo e o bocal do cnochoé, sem o gargalo estreito. Lembra tambem a antiga almotolia, o alpê, mas a nenhuma d'essas antiguidades gregas se liga, a não ser pela lembrança que nos traz à memoria. Rarissimos são os vasos d'esta especie que se encontram, esses mesmos imperfeitos e fragmentados; o mais perfeito que encontrei é o que aqui represento, Est. VII fig. 3, infelizmente sem a parte superior e posterior. Este não apresenta a azada hydria, mas sim duas pequenas, dispostas la- teralmente representando duas cabeças que se assemelham muito à dos bactracios, posto que a bocca tenha a abertura maior. Na parte anterior tem um bico semelhante ao dos cenochoés, feito de modo que invertido o vaso represente um nariz humano alongado. Quanto ao bojo lembra tambem este ultimo vaso grego; é um espheroide. Como toda louça descripta, tambem era branco pintado. Pelos diversos fragmentos pude ver alguns com azas curvas e massiças. Br “ HI Como complemento a este trabalho, menciono aqui mais dois vasos, que, posto que não achados na necropole de Mirakanguéra, comtudo penso que pertenceram ao mesmo povo ou à mesma tribu. O reino dos Aruakys era extenso, como vimos, e dominava o Amazonas até a foz do rio Negro, por onde elles entraram, tanto que em 1669, serviram de guias ao Capitão Pe- dro da Costa Favella, quando foi ao encontro dos Tarumãs, em Aiurima, os quaes desde junho de 1657 estavam reunidos na missão da Conceição dos Tarumás, fundada pelos missionarios Jesuitas, os Padres Manoel Peris e Francisco Velloso. Dominando a foz do rio Negro, então rio Quiari, é muito natural que tivessem tambem algum assento na actual ilha dos Muras, onde foram encontrados os vasos de que vou tratar a qual fica logo acima da foz deste rio, onde começa o Amazonas a ter o nome de Solimões. Pelo systema de gravura e pintura, pelo bem acabado e pelas formas artísticas que apresentam, mostram-se congeneres dos que tratei. Nenhum outro vaso, se tem encontrado na região Amazonica, que apresente formas que indiquem conhecimento de desenho. Todos são panellões, com formas brutas e grosseiras, que revelam um grão, na ceramica, ainda muito baixo na escala da civilização, que outr'ora existiu n'esta região. Que os Aruakys residiam proximo ao rio Negro nos prova o ataque que deram à missão os Turumas em 1692 e que obrigou-os a fugir subindo o rio e se refugiar nas fontes do rio Repununi onde ainda hoje se conservam e donde desciam mais tarde a se encontrar com alguns que sahiram dos mattos e se submetteram a Frei Jeronymo Coelho, e que em 1720 os mandava com Ajuricaba chefe dos Manãos o celebre escravisador de indios, a negociarem com Hollandezes. Que n'essa residencia se demoravam provam maisos ataques que deram em 1791 e 1795 a Ayrão então aldêa de Santo Elias do Jahu, cujo berço foi a dos Turumás, mudado para outra margem do rio em 1732, pelo missionario Carmelita Frei José da Magdalena. Fugindo, os Tarumàs ahi se estabeleceram. Foi mais tarde que desap- pareceram das margens dorio Negro e Amazonas para se refugiarem no rio Uatumã, onde ainda hoje existem os seus descendentes. N'este rio os frades missionarios fundaram uma missão acima da foz do seu afiluente, Jatapu, a qual extinguiu-se em 1745, fugindo os indios para as selvas depois de, à traição, terem assassinado o seu missionario. (1) Os Muras, ciganos, piratas immundos e barbaros, que pela conquista hespanhola, abandonaram o Peru, descendo pelo rio Madeira para assentarem seus arraiaes nomades pelas margens e lagos do Solimões e Amazonas, atacando e roubando tudo, contribuiram para o desap- parecimento dos Aruakys e das suas terras se apossaram fazendo em todo alto Amazonas as suas atalaias, donde viam as prezas sobre as quaes se lançavam. Os Muras, cujo nome primitivo era Buhuraen, mas que os civilizados modificaram, outr'ora dividiam-se em diversas tribus com dialectos diversos. Assim haviam os Pirahens, Jahanhens Burahens. De todos. os Pirahens eram os mais bravos. Os Jahaahens é que habitavam as margens do Solimões. Pelos vocabularios que (!) Leia-se o que a este respeito disse no meu relatorio sobre o rio Jatapu, à pag. 53. E Nog di delles tomei vê-se bem a differença da linguagem. Os Burahens unidos e cruzados aos Jumãs adulteraram completamente a lingua a ponto de formarem um dialecto especial que participa do proprio primitivo e dos Jumãs. Corridos os Aruakys no Amatary se estabeleceram, assim como na ilha que até hoje conserva o seu nome. Pacificados em 1784, por uma notavel coincidencia, um seculo dia a dia, da pacificação que fiz dos Crichanás, começaram a soffrer a oppressão dos civilizados passando de algozes a victimas. Por longos annos occuparam a ilha em questão, mas a essa tribu não pertencem os objectos de que trato, porque foi tribu que nunca teve industria nem pouso. Hordas que se succediam em limitado espaço de tempo e em continuo movimento em nada se podiam empregar; por isso viviam do roubo e do assassinato. De monumentos encontrados mum dos pontos que lhes servia de quartel general e de atalaia, na ilha dos Muras, passo a tratar. Aqui se não trata de vasos funerarios, e sim de domesticos, por onde se vê que, se caprichosos eram com os que se serviam nas ce- remonias funebres, menos não o eram com os que quotidianamente se utilisavam. São os vasos domesticos que, por sua vez, veem attestar o que era a oleira daquellas épochas, que já se perdem, senão na noite do tempo, nas aguas que correram ha mais de trezentos annos, por sobre as areias do valle Amazonico. A historia, a tradicção fallada, a maranduba indigena, nada nos dizem; todas são mudas, uma. porque se qualquer cousa registrou, essa se perdeu; outras porque o que sabiam levaram para o seio da terra, onde sumiram-se com aquelles que a morte cerrou os labios. Só os mudos documentos de argilla que o fogo coseu e que a terra hoje abrindo as suas entranhas nos descobre, mas que o tempo ou o vandalismo humano vae a seu turno fazendo dosapparecer, nos veem desfolhar os fragmentos das antigas paginas da vida de um povo que existiu, cujos descendentes tambem quasi sem tradicções vão se sumindo, levados pela morte, pela civilização e pela barbaria. Os anciões, os porandubaçaras, esses morreram no seio da sociedade, occultando seu passado, outros no centro das florestas para dentro das inkaçauas levaram o que tinham na memoria, os moços a maior parte jazem sepultados pelos seringaes, para onde a sociedade aventureira os levou, outros, poucos, foragidos nas brenhas se entregam à barbaria fugindo às seducções do civilizador que os algema no captiveiro e os enriquece de vicios. Assim como os Aruakys desappareceram, outras tribus das quaes sô o nome nos resta, este mesmo muitas vezes adul- terado nas paginas que foram esparsas pelos missionarios e viajantes e assim como as folhas que os vendavaes arrastam das florestas pelo espaço que se perdem sem se saber o tronco donde se despegaram, assim vão as nossas tribus se extinguindo, deixando vestígios vagos, embaralhados por historiadores pouco zelosos e que sem critica acceitam informações sem a observação precisa e sem o estudo previo. Costumes, linguas tudo se confunde e se adultera e, si os filhos de hoje desprezarem estes estudos, porque para muitos é cousa sem im- portancia o se occuparem de uma raça que se tem por miseravel, apezar de muitos della descenderem, os posteros nos chamarão a contas e seu anathema será certo e justo. E' por isso que desenterro essas anti- gualhas; é por isso que não me canso de codificar o que encontro, sempre conscientemente com estudo e discernimento, Poderei muitas vezes errar, poderei affastar-me da verdade, mas não intencionalmente ou por falta de pesquizas e locubrações. Esto escripto é um exemplo. Escavações, pesquizas, informações, nos proprios logares, tantos manuscriptos como impressos, lições da historia, tudo me leva a registrar aqui minha opinião que se não é a verdadeira, outro, baseado em melhores estudos, o contrario provar. Os Aruakys, caraibas valentes, conscios do que valiam, do seu immenso reducto, no qual se tinham por seculos estabelecido, defendendo talvez as suas mirakangueras, desafiavam o poder dos portuguezes, não querendo com elles alliança alguma, quando pelo lado do norte já em plena paz vi- viam com os francezes eos hollandezes. Si não fôra a astucia e o genio do P. Vieira nunca os Nhengaibas, como os appellidaram os Tupinambas, civilizados se dobrariam ao jugo portuguez, porque pelas armas, posto que primitivas, elles sahiam sempre victoriosos, tal era o seu numero, a sua coragem e valentia. Os Aruakys, que como vimos estendiam-se desde Venezuela até ao centro do Amazonas, e que tinham do seu reino uma grande taba em Marajó, ou porque tivessem ahi o nome modificado, ou porque os portu- guezes mal o pronunciassem, o que é certo é que eram conhecidos no Pará por Arwans ou por Nheengaibas, quando por todo o canal do norte até ao Rio Negro eram denominados Aruakys. Baixa como é a ilha de Marajó, alagando-se annualmente o seu interior, vendo por experiencia que os corpos dos seus parentes ficariam parte do anno submergidos, por crença religiosa, por tradiccionalismo, ou por outra qualquer causa, foram erguendo annualmente os seus atterros sepulchraes, de maneira que os ossos incinerados dos seus ficassem seccos nas iukaçáuas e dahi os montes que se elevaram. Esses monumentos funebres dos Aruans, essas chulpas, donde desentranham-se as urnas não datam de eras primi- tivas, algumas, as das camadas superiores, são contemporaneas da conquista portugueza, porque nessa epoca os que morriam deveriam tambem ser enter- rados em vasos, como enterravam os Barês e os Manãos, mesmo depois de estabelecido o forte da Barra do Rio Negro. Em Manãos, desenterrei iukaçâuas em cemiterios destes indios, que, si a tradicção e o testemunho de alguns velhos não asseverassem serem contemporaneas da edificação do forte, dir-se-hia que eram monumentos de épocas anteriores a Christo, tal era o estado de decomposição das urnas e dos ossos que nellas se conti- nham. Entretanto estes cofres funebres de piedosa recordação, eram se- pultados em terrenos argilosos e seccos, que melhor conservam os restos mortaes. Sempre os povos primitivos da America procuraram resguardar seus despojos da influencia das aguas e dahi as chulpas e as huacas peruanas. Os constructores dos aterros, os mound-buwilders, da America do Norte, sempre tambem levantavam os seus monumentos de maneira a salval-os das aguas, tanto que sempre foram erguidos nas gargantas dos rios, nas ilhotas dos deltas e não em terrenos sujeitos a serem invadidos ou banhados pelas aguas. Si gigantes florestas cobrem esses monumentos e por isso se tem dado a elles uma origem remotissima, não devemos nos fiar nesse attestado, porque SR == exemplos temos de terrenos cobertos hoje de florestas, com madeiras de mais de um metro de diametro, que ainda no seculo passado foram povoações civilizadas. Não fallando nas antigas ruinas do Rio Uatumá, temos exemplo no Rio Negro, nos logares em que existiram as povoações de Santa Izabel eoutras que desapareceram. As terras pretas do Amazonas cobertas de grandes florestas, ainda ha meio seculo, foram malocas de indios, como as do Piquiatyba e outras muitas. Por conseguinte os mirakanguêéras de Marajó dos valentes Arauans, não foram feitos por gerações sahidas dos Andes, como é de opinião o Sr, Ladisliu Netto, quando nos diz: «Naquella ilha quer me parecer que se fixou e floresceu por largos annos a tribu mais industriosa e mais culta de quantas povoaram a principio o Brazil: e tenho que alli é que por mais tempo se tem conservados vestigios e as pallidas tradicções da civilização andina, etc., etc.» A civilisação de Marajó veiu do norte,desceu com os Nahuas e não veiu dos Aymaras, posto que filhos da mesma semente. Os Nahuas, segundo Sahagun, elevavam grandes collinas, onde inter- ravam os reis é os nobres, às quaes denominavam Teutl, isto é, morto deificado, porque acreditavam que elles não morriam, antes acordavam do somno emque viveram. Para a parentalea, para o vulgo tinham às Cak-ha, collinas sobre as quaes depois do enterro dos seus faziam sacri- ficios. São as Teu'ls e as Cak-has que formam os aterros sepulchraes de Marajós. Os mirakanguéras do Amatary, como os de Marajó, foram erguidos pela mão da poderosa nação dos Aruakys, e, si differença existe entre as urnas, essas não caracterisam mais do que costumes de duas fracções de uma nação, separadas e habitando meios diferentes. Si pela forma das iukaçauas e pela maneira de enterral-as se differençam, differença tambem existe entre o caipira mineiro ou paulista eo tapuyo amazonense, quando pertencem todos à mesma nação e resultam do cruzamento do indio brazi- leiro com o homem europeu. Si tambem compararmos a fórma dos caixões mortuarios destas provincias, dir-se-ha que o povo do Sul é de uma raça inteiramente differente porque inteiramente differentes são os os seus sarcophagos. De quatro objectos de emprego e fórmas differentes me vou occupar, todos desenterrados da ilha dos Muras. O primeiro é, incontestavelmente, sinão uma panella de cozer iguarias, um vaso de aquecer algum caldo, molho ou vinhaça, porque a parte externa do fundo isso indica, apresentan- do-se queimada e fuliginosa. Não resta tambem duvida que era pintada, porém a acção destruidora do tempo apagou a tinta, deixando sómente a gravura e raros vestígios de que as côres empregadas nos vasos mortu- arios eram as mesmas. A gravura exquisita, feita toda de linhas rectas, unindo-se em angulos, aqui e alli, tornando-se os lados mais ou menos pa- rallelos, não nos disperta considerações além das que já fizemos anteri- ormente, sobre as dos capitulos anteriores ; apenas releva notar que, sendo a peça de quatro faces, como veremos, os desenhos são semelhantes dous a dous em lados oppostos. Quanto à forma, o vaso em questão affasta-se de todos os congeneres e de todos que conheço da região Amazonica; é quadran- gular. Esta forma é muito notavel, porque em geral a circular é a constante de todos os vasos, de qualquer natureza que seja, e em todas as partes do mundo, principalmente na antiguidade. Como seja esta fórma a mais fa- cil de fazer-se, em geral da regra se não affastaram, exceptuando somente — 32 — o Japão ea China, que desde a mais remota antiguidade, de preferencia, deram aos seus vasos um contorno quadrangular, hexagonal ou octogonal. A industria ceramica moderna raramente nos seus variadissimos objectos emprega essas formas, Esta, portanto, vem confirmar a opinião que formo da intelligencia do povo deentão, do seu grão de adiantamento na ceramica e que isso não é devido à feitura autochthone e sim devida à industria immigrada, e essa asiatica. Como se vê da figura 1 da Est. VIII, o vaso tem quatro faces unidas angularmente e é dividido em tres corpos. A parte inferior, que é a menor, ê mais ou menos caloteforme, tornando-se notavel, pela maneira artistica, porque passa para o corpo medio, que ja é quadrangular. Une essa pas- sagem um bordo saliente já anguloso, todo dentado, e dahi se eleva planamente, inclinando-se para dentro o corpo medio, completamente liso. Sobre essa parte se liga o terceiro corpo então, maior, convexo, pro- longando-se nos quatro cantos em bicos, com os bordos cremulados. Esta parte ê toda gravada externamente. O bem combinado das linhas e sua correcção, dando um aspecto exquisito ao vaso, não deixam de apre- sentar muita elegancia. A boa preparação da argilla, a perfeição com que foi modelada, o polimento da superficie, a regularidade do desenho das gravuras, a combinação das gregas duas a duas em lados oppostos, mas se ligando com arte a formar um só todo em volta, tudo isso considerado nos dã uma idéa muito vantajosa da supremacia da intelligencia do oleiro dos nossos tempos primitivos. Sem um modelo, artista nenhum hoje seria capaz de crear a fórma em questão e sio de outras éras o fez copiada, o fez por um modelo tra- zido por immigração. Não se poderá suppor influxo da civilização transan-= dina porque essa norma na sua ceramica até hoje não apresentou um só vaso de fórmas quadrangulares. Imitava a natureza em que as linhas são sempre curvas. Pertence à colleeção do mesmo museu : Outro vaso fig. 2. não é menos caprichoso em suas fórmas, porém não me é dado aqui dizer o seu emprego, porque impossivel é adivinhal-o. Que tinha uma applicação dupla, segundo a posição em que era collocado, quasi que o posso affirmar ; elle mesmo o diz e o seu estudo o confirma. A fórma tambem é mixta. Dividido em dous corpos tem um a peripheria rectangu- lar, outra circular. Ella nos lembra alguns copos da India, de porcellana esmaltada, de data antiquissima, que ainda hoje se imitam e sabemos que na Asia já se esmaltava a porcellana, quando ainda na Europa a arte ceramica estava embryonaria. A verdadeira base deste vaso é o lado que tem a fórma circular, porém, voltado o vaso, perfeitamente assenta na parte rec- tangular. Esta é a superior, porque além de ter sido pintada interiormente de preto, tem superiormente gravadas duas linhas parallelas, que ornam a sua espessura. A porção circular é balda de pintura na parte interna e na espessura ornato algum tem. Além disso sempre a parte ornamen-= tada é aquella que fica sob as vistas; é mais visivel. A parte circular, que affecta a forma de uma grande taça emborcada, tem externamente uma bella gravura, de tal maneira combinado o desenho que as suas linhas se prendem a formar circulo unindo varias figuras, umas superiores e outras inferiores. A parte saliente da gravura era pintada de preto e vermelho sendo o resto branco. A parte quadrangular, toda lisa externamente, era pintada de preto. E EAD o Ve E' admiravel a maneira porque ligavam e combinavam a parte circular à rectangular, que é menos funda do que a outra. E' de um estylo severo, que mostra a austeridade da imaginação do artista. Como se vê do desenho, é um vaso de um duplo emprego, podendo ser usado um ou outro lado sem o menor inconveniente e sem tirar asua elegancia em relação à posição que se lhe der, o que ainda mostra a habi- lidade do autor. Este vaso pertence à colleeção do 1º tenente da armada Laurindo. Tratarei agora de uma peça, Est. IX, fig. 1, que supponho ser assento de algum vaso. E' solida, simples e de uma fôrma que revela gosto aperfeiçoado, por não ser uatural. Tem a fórma do espaço comprehendido entre quatro circumferencias tangenciando-se em torno de um centro commum, por conseguinte, é quadrangular sendo os angulos curvilineos. Superior e inferiormente quatro linhas gravadas marginam as quatro faces, ornando essas duas partes com um quadrilatero curvilineo. Todo o fundo é pintado de branco, porém os quatro lados são ornados de uma grega perfeitamente igual formada de tres linhas das quaes a media une-se às duas obliquamente. Estas são pretas e teem o centro contornando em baixo e em cima a parte terminal da peça e as extremidades elevando-se em angulo recto a formar duas figuras differentes, como melhor se verá na figura. À parte superior e inferior é toda vermelha. Mede : Assim como o fuso é exclusivamente um instrumento de mulher, o berbequim o é do homem, e, é deste que vou me occupar agora. Est. VII. figs. 3, 4e5. Não é a primeira vez que trato da peça mais necessaria do berbequim, daquella que movidapel a corda do arco faz giraro instrumento perfurante. Nas minhas An/iguidades do Amazonas, tratando dos instrumentos de pedra, machados, cunhas, etc., mostrei como eram elles preparados polidos e perfurados, e representei uma dessas peças, que achei pro- ximo à Santarém, no Rio Tapajós. Agora novamente si me offerece occasião de apresentar outra que não só vem confirmar a opinião que então emitti, como tambem servir para justificar o que tenho expendido sobre a civilisação do povo da necropole de Mirakanguéra. A perfeição dos iukaçauas, o conhecimento do desenho, o progresso na ceramica e na agricultura tudo isso reunido à peça do berbequim vem nos dizer que, posto que na idade da pedra, já perfuravam não à mão com o auxilio da agua e areia, mas já com um instrumento que não os martyrisava e economisava tempo, trabalho e fadiga. Não sei a que épocas remonta esse instrumento, mas o que é verdade é que ainda hoje sendo elle usado prin- cipalmente pelos ourives, ferreiros e serralheiros, pouco tem melhorado. O berbequim compõe-se de um arco, uma corda e uma peça mais ou menos como um carretel de linha, por onde, passando a corda em laçada, esta faz girar aquella, dando movimento a uma vareta perfurante que é fixa na tal especie de carretel. Comprimindo-se a vareta de encontro ao que se quer furar e dando-se um movimento de vai e vem ao arco, a corda faz rapidamente girar a vareta que perfura como se fôra verruma. E” empregado só para os corpos duros como pedra ou metal. Nestes empre- ga-se o oleo para facilitar a perfuração naquellas a agua e a areia. A peça em questão é pois aquella que se assemelha a um carretel, cujo nome technico não conheço e que mais tarde foi feita de ferro. Como não conhe- VOL. E) PROA cessem o uso do ferro faziam-na de argilla cosida ao fogo e naturalmente a vareta perfurante era de madeira. Por ella vê-se que as suas armas de pedra, e os seus machados, não eram só hastados, como adiante vere- mos, mas tambem perfurados para melhor se segurarem aos cabos. Quando um povo emprega instrumentos não tão primittivos como a faca e o machado feitos de dentes e ossos ou de pedra, mas que para aperfei- çoar estes já toma uma machina, si bem que simples, já não é um povo bruto, barbaro e selvagem. Já de si distanciou muitas familias do genero humano. Em pleno seculo XIX, no seculo do vapor e da electricidade, ainda ha hordas que este instrumento desconhecem. Prolixo sou no meu dizer, mas para sustentar uma opinião, mister é buscar provas. O objecto de que trato e represento em figura é muito seme- lhante à roldana de um moitão. As duas faces subconvexas medem 02,05 de diametro cada uma, separando-se uma da outra pelo espaço canali- culado por onde passa a corda 0” ,053 ; este espaço na parte mais fina tem 07,030. Presumo que foi pintado, porêm tendo a acção do tempo por annos exercido seu poder, apresenta-se completamente limpo, estando mesmo a argilla já gasta, o que faz mesmo desapparecer um pouco as gravuras que o ornam e facilitam o trabalho. Em ambas as faces vê-se representada a cara humana sendo em uma as orbitas dos olhos e o nariz feito de uma sô linhae a bocca por uma figura que representa um I deitado. Outra figura, por simetria, foi esculpida diametralmente opposta, na testa. A pupilla é feita por um ponto. Na outra face a cara não é tão in- telligentemente trabalhada ; os olhos e o nariz feitos tambem de uma só linha, esta comtudo vai formar o nariz na testa. A bocca é representada por uma figura semelhante à da outra face eas pupillas tambem por pontos. Si o gravador não era habil no desenho de figuras, pratico operario o era, porque, ornando o seu instrumento, não deixou de dar a esse ornato uma utilidade que facilitava o trabalho, isto é, que servia para prender a corda e não deixal-a escorregar quando por acaso a vareta perfurante achasse resistencia e tendesse a parar. Na parte em que a corda enlaçada faz girar a peça esta é ornada de uma grega composta de linhas quebradas em angulos rectos, que pelas depressões e saliencias obriga a corda a melhor se mover. Outros berbequins encontrei, uns mais chatos e pouco maiores, porém sem ornatos. Entre os muitos fragmentos de iukaçauas, kamucis e panellas encontrei um pequeno vaso, figura 8 da Est. III, cuja applicação não me é dado saber. Affecta a fórma das antigas lampadas triangulares, porêm de certo não o é, porque as tres pontas que apresenta e que parecem bicos, são fechadas, tendo a abertura superiormente em seu gargalo. Descreverei, ignorando a applicação, fazendo comtudo notar-se que a fórma que apresenta é muito especial e se afasta de tudo quanto os indios hoje fazem, e de tudo quanto, archeologicamente fallando, tem sido encontrado no Brasil, que me conste. Tem esse vaso o fundo triangular e convexo, sendo os lados do triangulo, que é equilatero, recurvos e a parte superior affecta a mesma forma porem se eleva cireularmente a formar um gargalo, que infelizmente, estando partido, se não pode precisar a altura a que se elevaria. Extremamente gasto pelo tempo não se vê pin= tura alguma ; apenas se nota que foi ornado de gravuras. Os tres cantos “tea: = ID E, eram circulados por sulcos lineares, os bordos ornados de desenhos que se não podem mais precisar e na base do gargalo tem por ornamento uma linha elevada em toda a volta. Os lados do triangulo medem 0,07 tem o bojo 0,"03 e dahi se eleva o gargalo que internamente tem de diametro tambem 07,03. A espessura é de 07",00t. Pertence à collecção do mesmo Museu. Resta-me agora tratar de um objecto que propositalmente deixei para o ultimo dos feitos de argila, isto é, de uma chicara. Est. VII. fig. 6. Dirão os que me criticarem: então até chicaras usavam as Aruakys? » Dou este nome, porque outro melhor não indica a fôrma que affecta, posto que talvez fosse de uso muito diferente. O que é verdade é que tem per- feitamente a fórma e o tamanho das chicaras da India e das chicaras de chá que ainda usamos, e como estas sem azas. Infelizmente não a en- contrei perfeita, mas pela metade vêm-se as formas e parte do seu ornato e pintura. Seria um bello specimen si fosse perfeito. No exterior tem o campo todo pintado de branco com as gravuras vermelhas e no interior todo o campo é vermelho, apresentando naquelle, por uma gravura funda, um desenho complicado, mas adequado à forma e proporcionado aos seus differentes diametros da bocca ao fundo. Mede de bocca 07,09; de diametro e de fundo 07,04. A curva que fôrma da bocca para o fundo é perfeitamente symetrica e graciosa. Tem de espessura no bordo superior 07,005, e no fundo 07,008, sendo este per- feitamente chato ou plano, porém um pouco oblongo. Pertence à collecção do mesmo Museu. Este vaso, taça ou chicara não vem confirmar ainda mais tudo quanto anteriormente disse? Não parece elle nos mostrar de uma maneira muito clara que esse grão de adiantamento não era proprio esim filho.de um outro de povo estranho às plagas americanas? O uso da chicara na Asia é anterior ao da Eu- ropa ; não foi portanto um modelo portuguez que levou o oleiro que se sepultou no Mirakanguéra a imital-o, porquanto quando elle entrou no Amazonas já o Mirakanguéra existia. Objecto moderno não é, porque o encontrou soterrado entre as urnas cinerarias, e feito da mesma argilla ; tem a mesma gravura com as mesmas pinturas brancas e vermelhas, feitas da mesma tinta. Sahiu da mesma fabrica sem contestação alguma. Para destruir tudo quanto tenho affirmado é mister provar-se que o Mira- kanguéra é moderno e posterior à descoberta do Amazonas, o que se não prova. Siha longos annos não foi descoberto, é porque o terreno estava intacto, a terra sepultou tudo em seu seio, e ainda hoje estaria desconhe- cido sio Amazonas com a sua valentia não tivesse excavado e arrebatado a terra, pondo a nú o seu seio e continuando a sua obra destruidora, mas que veiu revelar aquillo que o sigillo da morte guardava. Terminando este capitulo seja-me Jicito ainda perguntar : pela maneira porque era preparada a argilla, pela sua boa escolha, pela espessura que tinham os vasos, pela fórma artistica delles, pela maneira que cosiam ao fogo dando- lhes uma dureza e duração extraordinarias, pela pintura, pela combi- nação das côrese das linhas, etc., tudo isso não mostra que o povo do Mi- rakanguêra estava em um alto grão de civilisação ? Diz Boucher de Perthes nas suas Antiguidades celticas * : «la con-= fection d'un vase assez solide pour ne pas se dissoudre au feu, à "eau, à Pair, * Vol. I. pag. 72. ou au premier choc, dénote une certaine civilisation, parce qu'elle prouve déjá une longue expérience, et une suite d'études et de connaissance, acquises parmi lesquelles nous mettrons, en premiére ligne, celles de la matiére propre à la céramie et de la façon de la pétrer et de la modeler. » A ceramica de Mirakanguéra nos mostra o seu povo muito distante das primeiras idades do homem. A folha de um vegetal, a concha da mão e a marinha ou fluvial, as cascas dos fructos e das arvores, o gizeo gypso perfurado, e as pe- drinhas ligadas por argamassas terrosas, foram os primeiros degrãos que o homem subiu na escada do progresso, levando para isso muitos seculos. Da descoberta depois da argilla propria para a confecção dos vasos até acharem as fórmas destes, aperfeiçoal-os, dar-lhes emprego, polil-os, des- cobrir as tintas para pintal-os, combinar as linhas, desenhar emfim, quantos seculos ainda não decorreram depois disso ? As azas, os bordos que provam grande aperfeiçoamento pela dificul- dade que se venceu, como diz o sabio archeolo-geologo citado, apresentando figuras, muito maior progresso indica e era esse grão de aperfeiçoamento a que já tinha attingido o povo de Mirakanguéra, que com outras tribus hoje em estado de barbaria no valle do Amazonas não se póde comparar, porque todos estão na ceramica muitos seculos atrazados âquelle, IV MACHADOS E BAETYLIAS Os instrumentos de pedra, itawei dos Aruakys, * que encontrei de envolta com as cinzas dos mortos no meio dos fragmentos de vasos em Mirakanguera são uns de trabalho e não de guerra, e outros penso que votivos, baetylias. Assim como depositamos sobre a cova de nossos mortos grinaldas de perpetuas e saudades, assim depositavam elles objectos que junto ao morto perpetuavam a lembrança dos que delle se separavam. A não ser isso, talvez esses objectos fossem amuletos, porte bonheur para o morto, que a super- stição dos vivos no seu jazigo collocava. Esse uso, que no tempo dos Pharaós já os egypcios tinham, que a Ásia em varias partes possuia, passou para a America do Sul onde tambem entrava na crença dos mortos de Mirakanguera. 2 Sobre os instrumentos de pedra, arte-ceramica, escolha da argilla, seu preparo, fabrico de louça e instrumentos usados veja-se o que eu disse no Ensaios de scienciae nas Antigui- dades do Amazonas, Rio de Janeiro 1879. 3 Os machados de pedra pre-historicos passaram sempre entre todos os povos do mundo, como tendo uma origem celeste, assim os seus differentes nomes em varias partes são os seguintes : no Brazil e em Portugal, são conhecidos por pedra de raio. pedra de corisco, na Ásia por pedra de trovão e pedra de relampago ; na Noruega por tonder killer; na Dinamarca por Tordensteen ; na Alemanha por Thorskeile ; na Hollanda por Donder Beitels; na França por Coins de foudre e pierre de tonnerre; na Inglaterra por Thunderbots ; na Italia por Wul- mini, Folgorine, Suete, Cunei di tuoni, e na Grecia por Astpomekéxia. Em Franca encon- tram-se, segundo o Padre Lifitau em gabinetes particulares machados de pelra de natureza dilferente da do paiz. que são conhecidos pelo nome de Cerawuniasou o e Epa Dentro das iukaçauas como nas huacas peruanas, ou a seu lado en- contram-se esses penhores das saudades dos parentes, ou se quizerem esses passaportes para além tumulo. Já não é um objecto votivo que nos lembra o obolo de Charonte. Sufficientemente me alonguei sobre os instrumentos de pedra, nas minhas Antiguidades do Amazonas, pelo que passo a descrever os ma- chados que encontrei, dividindo-os em duas secções ; uma propriamente de instrumentos de trabalho, machados; outra de objectos de recordação, saudade e lembrança, ou amuletos garantidores da felicidade d'além tumulo, baetylias. Cinco foram os machados, propriamente ditos, que encontrei, todos de formas differentes e de rochas de tres naturezas. Todos foram encontrados no meio dos destroços do cemiterio, sem se poder dizer o logar em que esti- veram depositados. Não sei, mas é natural, que não fossem instrumentos perdidos, ou abandonados, mas sim que fossem de propriedade do morto e por isso o acompanhassem à sua ultima morada, levados pelos parentes. Perdidos ou consagrados aos mortos, o que é exacto é que pertencem à mesma tribu do Mirakanguera. O primeiro e o maior é um bello exemplar, perfeito, de diorito compacto de um tom acinzentado caprichosamente polido nas faces do gume, que é cortante, tendo a parte superior e o alvado granulado. Affecta uma forma oblonga mais estreita para o alvado e tran- sversalmente cortado por dous sulcos fundos dos lados, à 0,11 do gume. Este sulco é perfeitamente polido estende-se estreitando-se para as faces, mostrando claramente ter sido feito com um cordel agua e areia. Tem o comprimento total de 0,m176 sendo a maior largura que é no centro, de 0,078 ; ahi a espessura é de 0,7046. O gume pouco curvilineo tem 0,7040 de largo, o alvado achatado em cima tem 0,7020, os lados são arredondados e as faces convexas. O segundo é de um modelo inteiramente differente e por elle vê-se que o seu emprego era em mister differente. Parece antes uma cunha : E' quadrangular tendo purêm sô o alvado e o gume parallelos, sendo obliquos os lados, aproximando-se a cbliquidade para o gume, perfeitamente todo polido e feito de diorito compacto, es- verdeado cortado de linhas curvas e parallelas mais escuras. O alvado que mede 0,=064 de largura é convexo; o gume bem afiado e curvilineo tem 0,2050 ; eos lados semi-convexos teem 0,064 de comprimento e 0,"020 de largura. O comprimento maior é de 0,=068 e a espessura no centro de 0,7032. Este exemplar é perfeito. O terceiro é um outro machado, infelizmente tendo o alvado partido na região dos sulcos que o devia prender ao cabo. E" tambem polido, porém estragado. A rocha de que é feito é o gneiss. De um lado vê-se um sulco profundo. A sua maior largura, na região do sulco ê de 07,060 ; o comprimento do corpo do gume, medindo do sulco, é de 07,054; a es- pessura de 02,027; o gume propriamente, é curvilineo e de 0",054 de largura. O quarto é outro machado de diorito compacto, muito polido e lustrado, de uma cor de azeitona escura. E' chato, de uma fórma trape- zoidal alongada com os cantos arredondados. Os lados e as faces são quasi planos, sendomais espesso no centro e adelgaçando-se para o alvado e gume. Latteralmente, no meio do comprimento tem um dente fundo de 0”,006 de largo. O gume estã lascado e usado pelo trabalho. Tem de comprimento 07,060, a maior espessura é de 0,016, do lado do gume, o alvado tem A pa 07,006 de espessura e é plano em cima. O menor, que, julgo, só era empre- gado em obras domesticas e não em derrubar arvores, cavar canôas, é tambem de diorito polido. Tem o alvado, um lado e o gume rectos, porém o outro lado curvo, todos mais ou menos arredondados excepto e gume que é afiado. As faces são convexas é a maior espessura êno terço superior adelgaçando-se para o gume, os cantos são arredondados, sendo mais em um dos lados do gume a 0”,036 deste; de ambos os lados, tem uma chanfradura profunda com uma abertura de 07,007. Tem tanto de com- primento como de largo, 07,052 sendo a maior espessura de 07,018, na região das chanfraduras ; todos estes machados fazem parte da colleeção do Museu Botanico. Passando a descrever as machadinhas, que julgo não serem in- strumentos de trabalho e que pelo logar onde foram encontrados, parecem indicar um monumentofunebre de lembrança votiva, ou de superstição, não posso aceitar a hypothese que se possa apresentar de que seriam elles brinquedos, feitura das crianças, porque então seriam antes encontrados do meio dos utensilios domesticos onde fôra a aldeia. Direi, com o descobridor da civilisação celtica; «ils n'étaient pas in- sensés, et l'on ne peut croire qui, pendant des siécles, un peuple nombreux ait pratiquê une suite de cerémonies et perpetué une serie de calculs qui exigeaint à la fois travail et reflexion sans un but bien arretê ou sans savoir ce qu'il voulait faire ou dire. » Tratando aqui dos machados, não posso deixar de fazer uma observação. A forma semi convexa que davam ao gume do machado, ê hoje apro- veitada pelos civilisados, nos machados chamados americanos que levam muita vantagem aos antigos chamados portuguezes. Estes no golpear a arvore, muitas vezes ficam presos ao tronco, ou quebram o gume, por terem as faces rectas emquanto que naquelles nunca se dá isso. Foi uma lição dada pela nossa gentilidade aos civilisados. Pelo que vimos, entre o queos parentes ou os convivas levavam e deixavam na sepultura junto à urna mortuaria, figuravam as machadinhas, o ex-voto, que honrava o morto, dava-lhe felicidades ou talvez, em muda linguagem convencionada, marcasse o acontecimento. Era um mytho cujo significado hoje não podemos conhecer. Não sendo um instrumento de trabalho, que acompanhasse as armas, a comida e a bebida que junto ao morto depositavam, claro estã que tinha isso uma idéa religiosa, a crença da eternidade, e que as machadinhas ou baetylias não eram mais do que um amuleto, ou uma prenda saudosa. Si julgassem que com a morte tudo se acabava, não seriam loucos, para darem demonstrações de que aquelle que descia à terra. precisava de instrumentos para trabalhar, armas para caçar e se defender, comida para se alimentar e agua para saciar-lhe a séde. As baetylias do Mirakanguéra parecem em uso da litholatria mongolica que da Asia passou para a Europa e para a America, e relembra a machadinha que se colloca nas mãos do indio quando morre, para tiral-o das penas eternas. Quem sabesi o povo de Mirakanguéra não conservava a tradicção dos Normandos ? Wilson, nos Annnes prehistoricos da Escossia, diz que ainda nos fins do seculo passado, existia ahi a crença de que os machados de pedra se- pultados com o cadaver serviam para o morto bater com elles às portas do purgatorio que lhes eram abertas immediatamente. Se essa crença nas Pad Po = 89 =: baetylias é geral na Europa e em todaa Ásia, porque não aceitaremos tambem que os Aruakys, acreditavam no poder da pedra, quando elles indubitavelmeute tinham reminiscencia do berço asiatico ? Descrevendo as baetylias termino esta memoria escripta ao correr da penna, não sendo ella mais do que o registro fiel do resultado da minha exploração e das iáéas que o estudo me suggerio. Para não se me varrer da memoria lancei tudo sobre o papel. Esse estudo veio mais me convencer pela analyse dos factos, que razão tinha Humboldt, quando pela primeira vez, ante as antiguidades mexicanas, attribuiu a sua origem ao elemento asiatico. Se não temos no Amazonas monumentos architectonicos ou esculpturaes, por lhes ter faltado o material, que indiquem uma origem que se filie aos sectarios de Budha temos outros elementos, alem do monumento Muyrakytã que nos provam uma civilisação que se filia se não ao mesmo povo, aomenos aos seus descendentes ou a uma população que soffreu o seu contacto e a influencia por muito tempo, como os Nahuas. O estudo ethnologico e cranneometrico, que faço entre indios das tribus ainda hoje semi-bar- baras, nas suas ossadas talvez não me dismintam e antes venham con- firmar ainda mais o que a archeologia, a tradieção e as lendas me teem revelado. O grande mestre da humanidade, o futuro, descobrirá a verdade, que por muito tempo mais não poderá viver occulta. A primeira ma- chadinha ou baetylia de que vou me occupar é de todas amaior. Parece ser uma cunha em miniatura, feita de diorito compacto negro. E” esse exemplar perfeito e polido. Tem a forma trapesoide, sendoos lados a parallelos os do gume, que é maior e cortante e o do alvado que é achatado, como tambem são os dois lados. E" chata, com ambas as faces convexas eos lados semiredondos. Mede 0,7036 de comprimento, 0,7038 de largura no gume e 0,”031 no alvado. À espessura é de 0,7"009 no centro e de 0,"004 nos lados. Uma outra é menor, mais estreita, tem os lados mais largos e chatos, assim como o alvado. Approxima-se mais da forma do machado. Em um dos lados tem um pequeno sulco transversal. E' de syenito negro. E' um exemplar perfeito, bem polido com o gume cortante e curvilineo e os lados bem planos, vendo-se perfeitamente que foram gastos pelo attrito contra outra pedra. Tem a forma parallelogrammica as faces planas, adelgaçando-se para o gumee mede 0,7036 de comprimento, 0,028 de largura, 0,010 de espessura, tendo os lados 0,2010 de largura. Ainda uma outra parece ter sido anteriormente um pequeno machado, aproveitado para deinstrumento de trabalho ser uma peça de saudosa piedade. Com effeito completando-se pela imaginação, o que foi gasto pelo attrito, observando-se que o antigo gume foi gasto e que o alvado foi transfor- mado em gume cortante, vê-se que um motivo poderoso levou o seu possuidora empregar um grande trabalho, que não foi dispendido por passatempo e sim com um fim poderoso. Si o gume estivesse gasto ou partido, muito menos trabalho em- pregariam em novamente amolal-o, podendo continuar a servir, emquanto que a forma que se lhe deu posteriormente para nada pode servir, sinão mesmo como objecto de recordação. E” de diorito compacto, preto, bem polido e perfeito. Tem verticalmente a forma trapesoide. O lado superior, ou o alvado, transformado em gume cortante com os bordos lateraes arredondados, mede 0,080 de largura; o gume que foi gasto é plano e arredondado tem 0,024 de diametro, os lados que são rectos e obliquos, perfeitamente chatos, teem na maior espessura 07,006, as faces são convexas e se adel- gaçam para todos os lados tendo na maior espessura 0,010. N'um dos lados apresenta em grande entalhe, o antigo do machado, de 07,007 de largura e de profundidade. Pelos lados vê-se que não só estes como o gume foram muito poste- riormente gastos para se dar uma outra forma. Finalmente, outra tem exactamente a forma de um machado em miniatura. E" um trapesoide com lados curvilineos e chatos, à excepção do gume que é cortante, sendo o mais estreito o que serve de alvado. E" tambem de diorito polido, e vê-se que a acção do tempo muito actuou sobre elle. |” uma verdadeira baetylia, porque outro emprego não poderia ter essa joia lictrica, que mede 0,7032 de comprimento, 0,"028 de largura no gume, 0,"014 no alvado, com a maior espessura de 0,008. Posto que faça aqui ponto nesta memoria, ainda voltarei ao assumpto, logo que minhas occupações me permittam fazer nova excavação no logar, que talvez me dê novos subsídios para completar este estudo, e desvendar melhor o conhecimento do povo cujos segredos a terra ainda sepulta. Novos vasos, objectos não encon- trados e vistos, ossadas perfeitas, que servem para um estudo anthro- pologico, etc. , podem ser descobertos, e assim luz mais viva se lançará sobre os habitantes do valle Amazonico, que em cinzas residem na necropole de Mirakanguéra. Novembro de 1886. E” LES REPULES FOSSILES DE LA VALLEE DE 1º AMAZONE par J. Barbosa Rodrigues Agassiz a surnommé à justo titre la vallêe de 1" Amazone la terre pro- mise dunaturaliste, car elle fournit chaque jour à ceux qui Vétudient Voccasion de nouvelles decouvertes. C'est ainsi que son sein renferme des documents d'une grande impor- tance pour Vhistoire des reptiles fossiles, et présente au paléontologiste des chéloniens et un saurien, les plus grands donton ait constatê Pêxistence. Richard Owen a décrit les reptiles du terrain crétacê, et Leidy, ceux de Nebraska, aux Etats-Unis. Lund a remarquê leurs vestiges dans les cavernes de Lagoa-Santa, à Minas-Geraes, le docteur Capallini a dê- crit un Protosphargis, du terrain tertiaire, et le docteur Ameghino, de la République Argentine, une tortue fossile mais terrestre. En dehors de ces travaux, il n'existe, à ma connaissance, que ceux du professeur Gaudry, de Paris, sur la tortue terrestre de Perpignan. Le docteur Lund, que je viens de nommer, et M. Clausen ont rencon- tré de nombreux vestiges de reptiles fossiles, à Minas Geraes, parmi les mammiféres quaternaires dont ils ont fait la dêscription, mais ces vestiges n'ont pas étê étudiés; on sait seulement que les sauriens auxquels ils appar- tiennent ont des affinités avec les yakares ou alligators actuels. Dans les couches tertiaires, on a trouvê plus de quatre-vingt espéces de cheloniens, mais aucun d'eux n'appartient au Brésil; le plus grand, le Colossochelys, provient de Sewalik Hills. Quoique géante, cette espéce n'est pas fluviatile, mais une tortue terrestre. Au Brésil, outreles travaux de Lund et de Clausen, nous avons ceux d'Orbigny, de Weddel et de Castelnau, mais ces naturalistes n'ont parlê que des mammifeéres et des mollusques qu'ils ont trouvês dans leurs voya- ges à travers 1 Amérique du Sud. Ni au Pérou, ni en Bolivie, ni dans les républiques méridionales, ils n'ont trouvé de reptiles fossiles. Plus recem- ment, le professeur Hart ne traite que des mollusques des étages devonien et carbonifére qu'ila observês dans la région de lErerê et au Tapajóz, semblables à ceux que j'ai recueillis moi-même dans le même endroit et dans les calcaires de Bom Jardim, de "'Aripekuru et du Yamundã. Humboldt, Martius et Darwin sont êgalement muets sur ce point Les chéloniens fossiles n'êtaient jusqu'ici representés dans 1" Amêérique du Sud que par la tortue du docteur Ameghino. Je puis donc, je crois, revendiquer "honneur d'être le premier a rêveé- lerau monde scientifique les reptiles fossiles de 'Amazone, VOL, HH , 6 38291 ro Re Malheureusement, je ne puis en donner encore une notice compléte, car je ne posséde que des éshantillons imparfaits. Mais je me réserve de remplir plus tard, si les circonstances le permettent, les lacunes de cete étude, lorsque j'aurais réalisê les explorations que je projette aprés la det- cente des caux. Je prie, en conséquence, le lecteur de ne voir dans ce mêmoire que des notes jetêes un peu en dêsordre sur le papier et destinces à former plus tard le fond d'un travail méthodique, ou je consignerai le rêsultat de nouvelles recherches. CHELONIENS. EMYS QUATERNARIA Nob. JEM lo Io o Je commencerai pour faire Vhistorique de ma trouvaille. En 13885, comme mon ami M. Vingénieur Waldemar von Borel du Vernay partait pour Je Rio Purús, je lui demandai de recueillir à mon intention les êchantillons minéralogiques et géologiques qu'il pourrait ob- tenir dans le cours de ses travaux. Il m'adressa effectivement une caisse pleine de morceaux de roche, dont je dus renvoyer l'examen plus tard, en raison des études de botanique dont j'étais alors occupé. Quelques mois aprês, en vérifiant le contenu de la caisse, je fus surpris d'y trouver des fragments de bois et d'ossements fossiles, compris dans le nombre des minêraux. Ces fragments provenaient de deux localités três eloignées les unes des autres. Les uns avaient êtê trouvés sur le bord do rio 4'kiry ou Acre, et les autres. prês du confluent du lac Gapongapa à la même riviêre. Ces derniers m'offrirent un sergent ou os iliaque de tortue, recueilli dans la formation miocêne du terrain tertialre de cet endroit, au milieu d'une couche de cailloux roulés et de morceaux de bois, remplissant Je fond d'un ravin. Jécrivis aussitót à M. Waldemar von Bore! pour lui demander de plus amples informations, en attendant de pouvoir procêder par moi-même à inspection du terrain, Le chélonien auquel appartient Vos dont je viens de parler est un Elo- d'te de Vordre des Eimydes, du genre Emys, qui posséde encore des re- presentants dans la faune vivante. Mais ce chélonien était évidemment (“une espêse aujourd"hui éteinte, comme le pronvent, non seulement les di- mensions, mais encore les caractéres de ses restes fossiles. On sait que le bassin des chêloniens est formê de deux os. Chacun di- visé en trois parties qui se solidifient avec Páge, mais constituent à la nais- sance de lanimal trois paires distinctes se reliant dans la cavitê cotyloi- deenne: les ilions, les ischions, et les pubis. Css deux derniers os sont sépa- rês et sº soutiennent comme des colonnes la carapace, qw'ils rejoignent au E o plastron; ils ont à peu-prês la forme d'un y grec, t, renversé. Les ilions soutiennentles deux derniéres plaques costales de la carapace, en se reliant aux trois vertébres du sacrum, tandis que la crête et Pépine iliaque repo- sent sur les sutures entre les deux autres plaques. La plaque caudale se trouve situce entre les deux places auxquelles se rattache Pilion. Les pubis reposent sur la partie intérieure des plaques postérieures du sternum ou plastron et se divisent en deux branches : les plus grands, larges et apla- tis, descendent s'attacher à la plaque, les plus petits sont horizontaux et for- ment un angle presque droit intérieurement pour constituer la symphise pubienne. Les ischions sont completement sêparés du pubis, ils s'attachent également à une plaque; à la partie antérieure, en laissant entre cux, com- me ilest dit plus haut, une large intervalle en forme de 7. La base de Vischion se prolonge à Vinterieur en apophyss pour former prês des plaques une autre symphise. Si "on compare les os iliaques des élodites avec ceux des chersites, ou tortues terrestres, on remarque entre eux des differences. Le pubis ne s'at- tache pas au plastron, il resteelevé ets'articule à Vischion pour former le trou pelvien, quinese présente pas chez les Emydês, et Jischion se relie seulement au plastron par une petite base articulte sans se solidifier avec lui. Ce qui s'attache solidement à la carapace, c'est Vilion; il en resulte que tout Vos de la pelve a une conformation différente de celle que prêsen- tent les chéioniens du genre Emys. Ces différences, ainsi que le volume relatif des os, me font croire que Vespéce fossile dont il s'agit, bien qu'analogue aux espéces vivantes, en est néanmoins três distincte. En ce qui regarde la grandeur de Vindividu, Vetude comparêe nous montre qu'on n'en trouve jamais de si grande dimension, quel que soit leur àge. J'ai vu des milliers de tortues (Emys Amazonica), soit des riviéres, soit des lacs, aucune d'elles n'atteignait un métre de longueur, quoique cette espéce soit la plus grande du bassin de "'Amazone. Les trakayis (Emys trakayà de Spix) sont toujours beaucoup plus petites, et c'est de cette derniére espécs que se rapproche le plus Vindividu fossile, par la con- formation de Pos. Ainsi un Eyys trakaga adulte, de taille moyenne, dont Viliaque a 011 de long des bords du pubis aux bords superieurs de Vilion, posséde un plastron de 0»52 de longueur sur 0m36 de largeur. Or, comme Viliaque fossile, appartenant à une jeune tortue, ce que Won reconnait par les su- tures, est long de 0715 approximativement,(en le reconstituant au complet), Yindividu devait avoir un plastron de Om71X0"50. Sa carapace mesurait done 1,10 de longueur, tandis que celle des plus grands trakayas n'at- teint jamais 0,50. En comparaison des espéces vivantes, Viliaque fossileoffre un volume três desproportionnê. L'ilion des tortues actuelles a, du bord de la cavité cotyloidéenne à la dentelure de la crête iliaque, 07,044, et Vêchancrure, vue de face, mesure 07,015 de diamêtre, alors que os fossile donne, pour les mêmes dimensions, 07,055 et 07,030. Ce dernier est épais et fort, tandis que Nos correspondant des tortues vivantes est svelte et mince, ce qui donne à croire que Panimal dont il s'a- git devait être beaucoup plus fort et plus courageux, ayant tous ses membres plus lourds et plus solides. um UU rias Les deux piéces, sur lesquelles se base cette notice, sont complétement petrifites, et ont la couleur du diorite, tout en laissant parfaitement dis- tinguer la substance compacte et spongieuse de Vos et sa direction La plus parfaite pése 345 gr.; et "autre qui est fragmentéc, 210 gr. Cette derniére est une partie de Vischion. L'examen comparé prouve que ces chéloniens, à Vâge adulte, avaient una cuirasse plus forte qu'aujourd'hui, et que leur carapace pouvait at- teindre prês de deux métres et pourtant plus grande celle du Testudo Perpigniano. Pour les plaques du sternum qui forment le plastron, en suivant la même méthode, on voit que chez une tortue dont Piliaque mesure 07,11, la plaque ou s'articulent Jischion et le pubis a 0?,14 sur 0,10. Par con- séquent, celle de la tortue fossile aurait approximativement les dimensions de 07,19 sur 0m,14. A Yépoque quaternaire, les chêloniens contemporains des mammiféres etaient donc de proportions géantes, comparés à ceux d'aujourd"hui. 1 n'est pas douteux que ['espêceen question ait été contemporaine du Mastodon, car je posséde un morceau d'un tibia de ce dernier animal, tiré de la même couche, et qui se trouvait enveloppé dans les mêmes sédi- ments, avec quelques fragments de bois fossile. Les planches jointe à ce travail représentent les os dont je viens de parler de grandeur naturelle et me dispensent d'une plus longue descrip- tion. On voit qu'au temps de la catastrophe qui donna de nouvelles formes à la terre et fit pêrir les êtres qui vivaient à sa surface pour les remplacer par d'autres, il existait en Amérique, et surtout au Brésil, de grands re- ptiles, chéloniens et sauriens qui n'ont pas aujourd'hui de reprêsentants. Je vais maintenant rechercher les ressemblances entre Pespêce fossile et les espéces vivantes. On trouve dans le bassin de 1" Amazone plusieurs chéloniens, mais tous, sans contestation, beaucoup plus petits, comme je "ai montré plus haut que celui auquel appartenait "'os que j'ai décrit. Sans parler des tortues terrestres, ni des petites espéces qui habitent les licux marécageux, nous avons le yurara (Podocnemis expansa de Dumeril), le trakaya (Emys tracaja de Spix ou Podocnemis Dumere- liana de Wagl),le pitiú (E. gibba de Sshweige), Cakangaçi ou cabeçuda (F. macrocephala) et Parapyka (E. erythocephalus de Spix). Les plus grandes sont Je yurará et "akangaçú; cette derniére vit seule- ment dans les eaux noires du Rio Negro. L'étude comparative me fait supposer que la tortue contemporaine des ancêtres de "'homme biblique qui a êtê enfuie dans le voisinage du Rio Purús pendant des milliers d'années pour reparaitre à Vétat fossile était três rapprochée par sa conformation de "E. Dumeriliana, car les iliaques de celle-ci ressemblent beaucoup à ceux de "Emys quaternaria. COLOSSOEMYS MACROCOCOYGEANA Nob. Apreês cette découverte, je rêsolus de me livrer à des recherches dans toute la vallée de " Amazone. M. José Guilherme de Miranda Chaves, consul général du Brésil au Pérou m'apprit bientôt que dans les ravins des envi- Ee rons du Rio Nanay se trouvent de grands blocs pierreux, ayant toute "ap- parence de tortues fossiles, qui sont recouverts par les eaux des inonda- tions périodiques pendant la moitié de I'année. Au mois de mars suivant, époque de la sécheresse, je comptais entreprendre Vexploration de la rêgion mais mes occupations m'en empéchêrent, et je ne pus partir qu'au mois de novembre. Malheureusement, bien qu'à cette éêpoque les eaux du Rio Ne- gro et celles de ]'Amazone fussent três basses, je trouvai le Nanay en pleine crue et Iendroit qu'on m'avait indiquê était complétement sub- merge. Je pus cependant observer la structure gêologique des talus des ravins, encore à découvert, Je croyais déjá mon excursion perdue au point de vue de la paléontologie, lorsque j'eus la bonne fortune de recueillir, à Loreto-Yacu, dans Vétage tertiaire, des débris d'un nouveau chélonien, représenté par deux individus d'aàge different. L'étude géologique m'a dêmontré que ce chélonien appartient au mio- céne de V'êtage tertiaire;en effet,le terrain est le même que celui du pueblo de Pebas, ou le professeur Orton a découvert des gastéropodes provenant du même miocéne, selon la classification du professeur Gabb, de Phila- delphie. La zone tertiaire commence à apparaitre au rio Ytakoahy, traverse le rio Yavary, oú elle constitue avec le lignite le lit des rapides, et compose la région qui sépare cette derniére riviére du Maraion, va à Iquitos et s'étend jusqu'á Loreto. Voici quelle est sa structure : Fig. à See = === = Fis. A. à. Humus b. Sable. c. Argille cendrée, d. Lignite e. Argile cendrée. f. Lignite. g, Argi cendrée ou Von trouve les fossiles. Ln figure represente le bord du Maranon pendant 1a descente des eaux. C'est V'étage inférieur de V'argile, dans un ravin rongé par les cou- rants, qui récêle les fossiles que les eaux enlévent peu-à-peu pour les porter au fond du Maraúion. IC q J'y ai dêcouvert des fragments des os et du plastron d'une espêce de chélonien, appartenant, comme je viens de le dire, à deux individus dif- férents. Je m'oceuperai d'abord du plus àgê, qui reprêésente un individu géant, Les os que je posséde sont: pour ce dernier, deux vertébres coccy géen- nes (Pl. IV, V, VI, VII) etun iliaque (Pl. VIII, IX, X); pour le plus jeune, un fragment du plastron, et une partie du bord latéral droit de la partie antéricure du même plastron, avec Pos qui se rattache à la carapace (PL. XI.) Hs sont tous parfaitement petrifics, noirs et luisants de Tébêne, couleur due à la nature argileuse du terrain et à ses fréquentes inondations. En prenant les premicrs os et les comparant à ceux d'une des plus grandes tortues vivantes, la Podocnemis espansa, jarrive au résultat suivant. Par la comparaison des os que jai recueillis avec ceux d'une grande tortue actuelle, on arrive aux rísultats suivants. La tortue actuelle ayant, pour une carapace de 0",76x0”,61, un plastron de 07,60 x0",052x0", 006, 0», 16 de longueur de tête, 0,119 pour la mesure des yeux, 0,25 de hauteur, et une longueur de queue, composêe de 21 vertêbres, de 07,29; la tortue fossile a exactement les dimensions ci-dessous : Longueur totale......... Soon D von dado 4m 883 Longueur du plastron............ Sds TES Elauteprdm ain E - 12058 Largeur maximum de la carapace...... 37,863 Longueur de la tête............ nda AOS) Diamôtre du globe oculaire........... 0",120 Erpaisseniciduiplastronçs. E 0,600 Longueur de Iiliaque............. Sr OR TTOU Longueur de la queue. ........ Ersie br RO L'os le plus important est la premiere vertébre coccygêenne, dont les formes sont exactement les mêmes que dans la P. expansa, et qui pré- sente les mêmes caractêres. Il pêse 1 k. 663 gr., et a anterieurement 07,095 de longueur, avec un diamétre de 0,075. La fossettearticulaire a 07,115 xX0",95 de diamêtre, et 0,030 de profondeur. La tête qui s'articule à la fossette de la deuxiême vertêbre, est glanduliforme et a 0,050 de long. Le diamêtre du trou medullaire est de 0,030. Les apophyses transversales et êpineuses sont malheureusement cas- ses et ne présentent que les cicatrices. La vingtiême vertébre mesure 0,10, dont 0",7 appartenant au corps, et 0,03 à la tête glandiforme, avec un diamétre de 0,042 dans le corps et de 0",055 dans la fossette articulare. La partie postérieure est endomma- gee; elle offre cependant une partie assez grande de la partie du trou me- dullaire pour permettre de la determiner, et de prendre le diamétre ante- ro-postérieur du corps, qui mesure 0,060. Sa petrification, sa couleur, son état de conservation montrent qu'elle appartient à la même série vertébrale que la premiére piêce. La partie de Viliaque, que représente un pubis gauche, appartient au même individu, d'aprés la nature de i'os et ses dimensions. AM = Quoique Vespéce fossile se rattache au groupe Emydê par la parfaite si- militude qui existe entre la vertébre gêante fossile et celle des espê-es vi- vantes, ainsi que par los du plastron, cette piêze ostéologique s'éloigne toutefois assez des tortues actuelles pour représenter un nouveau genre, que je propose de désigner sous le nom de Colossozmys. En m'occupant de "Emys quaternaire, jai daja décrit, comme base de comparaison, les iliaques des tortues vivantes. Je me bornerai donc main- tenant, à montrer dans les dessins, la difference qui fait du fossile une es- péce três distincte, peut-être amphibie, car Vos en question a aussi des ca- ractéres communs aux Testutos. Il est malheurensement cassé, ce qui rend Vétude difficile, en ne per- mettant pas même de voir la fossette cotyloidienne. Les planches VIII, IX et X le reprêsentent en demi-grandeur natu- relle. Les fragments d'os de Vindividu le plus jeune sont analogues aux os des petites tortues que "on nomme Kunhamuku (1). Ils représentent deux morceaux du sternum ou plastron. L'un celui du milieu du plastron, montre três visiblement à Vextérieur les raies produites par les points de jonctions des écailles cornées qui recou- vraient les plaques ; Vautre, celui du bord antérieur, a sa partie exté- rieure parfaite et "on voit le sillon oú s'attachait la peau du cou, ainsi qu'on remarque à Pextéricur, ou la place d'une de ces plaques est entiêre, ceux ou s'attachaient les écailles On aperçoit extêricurement les minces sillons réticuleês, laissês par le réseau veineux de ces derniéres. Le premier a 07,021 d'epaisseur, et le second, 0,020, à la partie la plus mince. Lesos sont parfaits et laissent voir leur tissu fibreux et spongieux. Ils sont noirs et luisants. La longueur de TIécaille, au bord, est de 07,20. L'animal quoique jeune, devait mesurer 1,50 d'aprés les calculs de proportion et de comparaison, Je crois que cette espéce est la plus grande qu'on ait rencontrê jusqu'ã ce jour. Sa carapace, supportêe par quatre montants, aurait fait une belle couverture de chalet. La mer tertiaire de la vallée du Maraiion se prolongeait plus loin que le Yavary, jusqu'au rio Purús, ou vivaient les mêmes chéloniens. De la lo- calité connue sous le nom Oco do mundo (creux du monde) et située dans cette région, mon ami M. Hilario Francisco Gouvêa, m'a envoyê deux caisses, dont une contenait des os, et Vautre des êchantillons, des argiles et des roches qui forment les couches du grand ravin ou se trovvent les dé- bris des animaux fossiles. Tous les os étaient malheureusement fragmentés, mais la plupart appar- tient à des carapaces età des plastrons de tortues, toutes du genre Emys, et representant tous les àges, depuis les premiers jours aprês Péclosion, jus- qu'á Váge adulte. Il ne s'y trouvait pas un seul os du squelette. Je ferai remarquer ici une particularitê curieuse. Parmi les fragments de plastrons, ily en a un tout semblable à celui que j'aitrouvéa Loreto Yacu, aussi bien par les formes que par la grandeur, mais dela partie la- térale du côté gauche. Par Vepaisseur, la petrification, la couleur, on di- (1) Jeune fille, en tupi. On appelle ainsi les jeunes femelles. — AS — rait que les deux morceaux appartiennent au même individu, ce qui nous montre que ces monstrueux chéloniens étaient contemporains et qu'ils ont pêri dans la même catastrophe, peut-étre celle qui a soulevé les Andes. Ils diffêrent seulement par "oxyde de fer, les conglomêrats etles rognons de sulfure de fer dont le dernier est incrusté, tandis que le fragment de Lo- reto Yacu est complêtement net. Cela tient à la nature des agents ignês que ont agi posterieurement sur lesterrains du rio Puriús. L'action dela cha- leur sur le soufre et le fer a produit le sulfure de fer qui a rempli le tissu spongieux de presque tous les os, ainsi que le tissu des vegêtaux dicotylé- donés fossilles que I'on rencontre aux mêmes endroits, mélangés pêle-méle avec les débris d'animaux. La pyrite est representée par les deux systêmes de cristallisation : le systême cubique qui est inaltérable à Pair, se prêsente sous forme de ma- melons et de rognons, sur les os et sur Vêcorce des arbres. On observe le même systême dans letissu spongieux des os, mais dans le tissu cellulaire des vêgétaux on trouve la pyrite blanche, qui, au contact de Pair, se chan- ge en sulfure de fer, et rend les troncs tellement fragiles qu'ils se décom- posent sous la pression des doigts. Souvent aussi les vaisseaux sont longi- tudinalement pleins de sulfure à cristallisation cubique. Les os et les vêgê- taux fossiles sont êgalement noirs, seulement, tandis que les premiers sont durs comme du fer, les seconds se réduisent en poudre lorsqu'on les touche. Néanmoins, on en distingue tout le tissu fibreux, et les nouds et Vécorce, comme si le bois était en parfait état. Sur Vécorce des fragments d'arbres fossiles, on remarque souvent une floraison de soufre, qui lui donne une couleur jaune. Le nombre de fragments des os d'écailles montre que les tortues se trou- vaient en abondance dansla région, et leur identification nous apprend que le Colossoemys macrococeygeana allait de " Amazone jusqu'au Purús, au- dessus des chutes actuelles. Au milieu des débris de tortue se trouvaient d'autres os, dont je parle- rai plus tard. Je passerai maintenant à un autre chélonien de Iordre des Chêlydês. CHELYS (PL. XII, XIII, XIV, XV) Dans la faune actuelle de " Amazone, on ne trouve pas seulement les Emydês, dans les riviêras, et les Testutos, dans les forêts, mais encore les Chelydés, dans les marécages. Une de ces derniêres espéces, qui devient rare aujourd"hui est le Yaboti mutamutá, (1) le Chelys matamata Dum, ou Chelys fimbriata Spix. C'est un anneau qui relie les chéloniens ac- tuels aux Tryonix, les tortues les plus communes de Yépoque tertiaire, dont il se rapproche par la longueur du cou et de la trompe desnarines. (1) Escalier, en tupi. Mot formé par la repétition de mutá, marche. EST) (o La Mutamuta avait des congénêres aux époques géologiques, et elle a etê contemporaine du Plesiosaurus et du Ptêrodactylus qui ont laissé des vestiges dans les terrains crétacés de 1 Amazone. L'obligeance d'un ami, M. José Antonio Barreiros, m'a mis à même de pouvoir m'en assurer. Je lui dois deux fragmenis trouvês au-dessus du rapide Cachoeira, dans le rio Purus, qui, bien que de petites dimensions, sont caractéristiques du genre Chelys. La carapace d'un chelys, sans parler des plaques verteébrales et costales, a onze plaques marginales de chaque côté des bords, outre la plaque nuchale et la plaque caudale qui terminent la plaque médiane, et tient à huit côtes de chaque cotéê. A la jonction de la sixiême ct de la septiême plaque mar- ginales quis'articulent à la cinquiême côte, elie tient aussiá une des deux grandes plaques du sternum qui supporte la carapace. Un des fragments dont je parle appartient à la cinquiême plaque du cotê gauche, et comprend une partie de la plaque du sternum. On y dis- tingue, supérieurement et inférieurement, les sillons laissês par les êcail- les cornées, dont chacune occupe, dans lespêce vivante, la moitiê de la plaque osseuse, de facon qu'elle recouvre et protégela moitié de deux plaques. L'autre fragment est V'apophyse de la quatriême plaque de celles qui composent le coté gauche du sternum, et sur laquelle s'appuie un des ilia- ques, car le sternum du Chelis est constitué par neuf plaques, dont quatre de chaque côtê et une terminale, revêtues de six écailles latérales et d'une écaille terminale. La quatriême plaque finit toujours en pointe recourbée,qui forme avec la plaque voisine du cotê droit un rentrant três anguleux. Les deux fragments, quoique parfaitement pétrifiês, laissent distinguer le parties fibreuse et spongieuse de os, ainsi que le réticule veineux des êcailles, qui sillonne les plaques. Par suite de la nature argileuse et humide du terrain oú ils ont été enfuis pendant des siécles, ils sont devenus noirs, mais on y voit en quelques points des vestiges d'oxyde de fer. Sur Jos de la plaque, on remarque une dépression circulaire, sembla- ble à un moule, et qui etait peut-être naturelle chez Vespéce. Actuelle- ment les plaques des chelys prêsentent des saillies, mais on y chercherait en vain des dépressions réguliéres arrondies. A moins que Vindividu fossile dont il sagit ne fút três jeune, ce que je ne crois pas, à cause des sutures des plaques, Vespéce n'était pas três grande. Elle était pourtant géante comparativement aux espéces vivantes, car elle devait mesurer 1 métre, alors que les plus grands chelys d'aujour- d'huin'ont pas plus de 0,55 de longueur. L'examen comparê le dêémontre. La plaque a 0,015 d'épaisseur, mais, à I'endroit ou elle tient au ster- num, le bord recourbé mesure 07,824. L'apophyse du sternum est con- vexe à Vextérieur et presque aplatie à Vintérieur, conforme, et ayant les dimensions reprêsentées dans les figures q et b de la planche XV. La forme de la plaque ainsi que celle de Vapophyse ont une ressem- blance compléte avec les espêces vivantes et nous demontre qu'à cette épo- que, à coté des Emys colossales des caux courantes, vivaient dans le maré- cages des Chelis géants, en sociêtê avec des crocodiles monstrueux, comme celui dont je vais m'occuper maintenant. YoL, 1 Zº SAURIENS PURUSSAURUS BRASILIENSIS Nob. Pl. XVI Si, des nos jours tout est grand dans la vallée de "Amazone, excepté Yhomme, selon Pexpression de Humboldt, aux êpoques géologiques, tout y était colossal. On vientde voir que les chéloniens, comparês aux espéces actuelles, êtaient géants. Ilen était de même de réptiles d'un autre ordre, comme le montreront les lignes suivantes. Il est déplorable que plusieurs causes : [éboulement des ravins sous Vaction des eaux, le vandalisme des ignorants, le pou d'importance attachê aux choses de la nature, etc., aient empéêchê jusqu'ici de trouver dans ces régions un exemplaire complet d'un animal fossile. Les piéces que le temps conserve et qui sont épargnées par les inondations, deviennent la proie d'amateurs pour qui elles ne représentent le plus souvent qu'une valeur pécuniaire, et qui les vendent à d'autres amateurs, sans aucune in- dication utile. Passant ainsi de main en main, elles finissent pour s'égarer ou se detériorer complétement, au grand détriment des intérêts de la science. Au milieu des 'chéloniens vivaient dans les eaux tertiaires des sauriens monstrueux. Les uns n'avaient que des nageoires ; les autres, aux pieds armés de griffes, sortaient de Pelêment liquide pour venir exercer sur la terre leurs ravages. Ces derniers étaient três prochain des crocodiles de nos jours. Les plus grands Yakareês (alligators) actuels de I'Amazone n'ont ja- mais beaucoup plus de 5 métres de long. On peut diviser le corps du Yakaré sept fois la longueur de la tête. De- puis Varticulation de la tête jusqu'à celle des jambes, ila deux fois cette mesure ; et quatre fois depuis ce dernier point jusqu'àá Iextremité de la queue. La tête peut aussi être divisé en six parties, parce que la mandi- bule a six fois la longueur de la partie dentale antérieure, ou s'insêrent les dents incisives. Cette méthode a JYavantage de donner avec approxi- mation, d'aprês Jos que nous étudions, la dimension totale du reptile. Si on compare les alligators de "Amazone avec ceux de Saint-Domin- gue et avec les crocodiles Ra Nil, on remarque les différences suivantes : Le crocodile du Nil as =dents dont les deux antérieures de la mâchoire infepiatime traversent la fr q supérieure ; le caiman de Saint-Domin- gue S dents, dont le quatriême et la onziême des deux mAchoiqa sont les plus grandes. L'alligator sclerops (selon Descourtilz) ena 5; > dont les deux de la mâáchoires inferieures surpassent le museau, les autres étant égales, tandis que celui de " Amazone, alligator sclerops de Castelnau, a a dents, dont la quatriême et la neuviême de la mâchoire supérieure, et A premiére, la quatriême et la dousiême de la mãâchoire inférieure sont A tes plus grandes. La premiêre etla quatriême s'implantent dans le maxilaire supérieur. Une autre différence entre le Yakaré et le caiman, est que le premier mesure sept fois la longueur de sa tête, comme je Iai dit plus haut, tandis que le second n'a que six fois cette longueur. Toutes ces dents sont triples, c'est-à-dire que chacune en emboite deux autres; quand la premiére vient à se casser, la deuxiême prend rapide- mente sa place, et la deuxiême, la place de la troisiême. Il apparait alors une troisiême dent qui remplace çelle-ci au centre. L'os dont je m'occupe est la partie antérieure de la mâchoire droite ou sont implantées les dents; il y manque Pos qui forme la partie intérieure. Il prêsente nettement la symphise qui lerelie à la partie gauche. Cetos est long de 0,57 jusqu'au point ou il est cassé, et a le poids - de 15 kilog. 660 grammes. Tl a trois faces : supêrieure, extérieure et in- térieure. Au bord dela face supêrieure se trouvent les alvéoles dentaires. L'os est net sur la face supérieure de la mâchoire; à la face extérieure, il est couvert en quelques points, de groupes plus ou moins grands d'une masse de carbonate de chaux en forme de mamelons, qui laisse voir, dans les intervalles, les ponctuations correspondantes à ses points d'adhérence avec la peau squamiforme. A la face inférieure, tout le canal constitué par la réunion des deux os qui forment la mâchoire, est plein de mamelons calcaires. En quelques endroits, la premiére couche de I'os est brisêe, et il montre dans les crevasses ainsi formées un ou plusieurs mamelons, ce quinous montre que les groupes mamelonnês sont sortis de J'os et ne con- stituent pas une agglomération ou un conglumêrat êtranger. On aperçoit dans d'autres crevasses des groupesde cristaux de sulfure de fer, du systême cubique. La partie de la mâchoire dont je traite est parfaitement blanche, sauf quelques taches d'oxyde de fer, et présente neuf alvêoles dentaires, dont trois de dents incisives, un de dent canine, et quatre, de dents molaires. Le premier, celui de la plus grande incisive, est presque bouché par le calcaire mamelonné dont j'ai parlé ; il mesure 0,075 de diamétre, Les morceaux extra-alveolaires de la dent sont emprisonnês dans la même calcaire, qui laisse passer la couronne de la deuxiéme dent, renfermé dans la premiêére, et qui devait prendre sa place, si la vie de Janimal avait été plus longue. Le deuxiéme alvéole est entiérement dégagé, et Ion peut suivre ses parois jusqu'au fond. Cet alvéole mesure 0,048 (0=,037) de diamétre; il est oblong transversalment, et a 07,115 de profondeur. Le troisiême alvéole est complêtement obstrué par le carbonate de chaux, qui entoure la couronne de la deuxiême dent. Le quatriême, ou J'al- véole de la dent canine, est êgalement plein de calcaire, mais il laisse voir néanmoins, du côtê exterieur, un morceaux des parois de la premiére dent. T a 0=,055 de diamétre. L'alvéole de la cinquiême dent, ou de la premiére molaire, a le fond rempli de calcaire, eton ne peut y distinguer de traces de la dent. Il mesure 0,040 de diamétre. Le deuxiéme et le troisiême al- véoles des dents canines sont plus petits ; celui-lãà a 0”",035, et celui-ci 07,030 de diametre. Le quatriéme alvéole molaire, par lequel s'est opéré la rupture de Jos, est aussi bouché par le calcaire, Le plan de la symphise, irréguliêrement oblong, mesure 07,20xX07,13. O per) Cette partie du cotê inferieur est chargée d'oxyde et de sulfure de fer, disposê en cristaux d"une belle formation. On remarque inféricurement au plan de la symphise, un trou qui, chez les alligators actuels, est remplacé par un canal ouvert, se prolongeant intéricurement et formé par Vos de la partie intórieure du maxilaire. Apreés cette description de la piéce osseuse que je posséde, je vais es- sayer d'établir les dimensions de Panimal fossile, par la comparaison avec les sauriens qui vivent encore dans V Amazonie. Ona vu que la partie dentale de la mandibule est un sixiême (rare- ment un cinquiême) de Ja longueur totale de la tête. Or, d'aprês les dimen- sions que )'ai indiquês la téte du Parussaurus aurait 1,50 à 1",60 de long, ce qui donnerait pour la longueur totale de Panimal 102,50 à 11,20. Les crocodiles du terrain cretacé trouvêsaux Etats-Unis, selon Leidy, et ceux qu'a observês le docteur Lund, dansles cavernes de Minas Geraes, appartiennent aux types encore vivants, mais Jespéce dont je m'occupe s'eloigne pour ses dimensions de tous les sauriens connus, et ne saurait être identifite au genre Crocodilws et encore moins à PAlligator, dont les espéces amazoniques, le sclerops et le palpebrosus, atteignent rarement plus de 5 mêtres, quelque soit leur âge. J'ai eu Poccasion de voir, dans les lacs de Villa-Franca et de Paru, des centaines de ces sauriens ; le plus grand que j'ai observé, et que )'ai tuê et empaillê, ne mesurait que 5”,20. La conformation du maxillaire de "individu dont il s'agit, comparé à celle du Yakarê uaçi, (A. sclerops), prêésente des différences. La partie qui forme le menton est plate et allongée chez les Yakarês actuels, tandis que dans l'espéce fossile, elle est courte et demi-arrondie ; et le plan de la sym-= phise est três oblong dans Vespéce vivante, et presque rond dans le fossile. On ne sauraitnier qu'il se rapprochedu Yakarê uaçu, et par consequent, du genre alligator, dont les caractêres sont les suivants: « Dente infero utrinque quarto, in fossam maxille superioris reci- piendo », selon Cuvier. Je crois, nêammoins, pouvoir Vinclure dans un nouveau genre, distin- guant les espéces fossiles des espéces vivantes, et je propose, en consé- quence, de le comprendre dans le genre qui j'appellerai Purussaurus, de Purus, riviére du même nom, sur les bords de laquelle a êtê trouvé le fossile, et de sawrus, lézard. Les formes de cet animal, pendant sa vie, devaient être trés différentes de celles du crocodile ou du caiman d'aujourd"hui, Pun africain, et Vautre américain, car, si les différences des pays a produit celle de ces deux genres, il doit forcement en être de même pour Pespéce géologique, comme on Iob- serve pour tous les animaux des faunes anciennes et modernes. Toutefois les spécialistes decideront, et j'accepte d'avance leur juge- ment. H AMPULARIA 2 GIGANTEA. NOB. Bien que cette étude ait trait aux reptiles, je ne puis passer sous si- lence une trouvaille. qui a quelque rapport avec UEmys macrococcy- geana, car cet autre fossile appartient à la même êpoque géologique et a été victime de la même catastrophe que le chélonien. EE na. Au milieu des ossements de cette tortue. j'ai trouvé un fragment d'un grand gastéropode, qui me parait être un Ampullaria ou un Bulimus. On sait que dans les terrains tertiaires et quaternaires du Brésil, on a rencontrê plusieurs mollusques lacustres, mais aucun du genre Ampul- laria. Ce genre, qui est connue vulgairementen langue tupi, sous le nom de Urua, estreprésenté actuellement dans "Amazonie par plusieurs espéces, qui vivent dans les marêcages, les petits cours d'eau et les lacs, mais dont la plus grande ne dépasse pas 0»,11 de largeur, sur 07,15 de longueur. Les genres Helix et Bulimus (en tupis yatapy) sont três abondants à Pétat fossile dans les cavernes : Lund, Castelnau, d'Orbigny, en ont trou- vê, tant dans les terrains de transition que dans les terrains tertiaires, non seulement au Brésil, mais encore au Chili, en Bolivie etau Pêrou, sans jamais rencontrer un seul exemplaire de "Ampullaria, pas plus qu'il n'en a été recueilli dans les terrains qui ont fourni le Solarium, le Turritella, le Monoceras, le Bulia, le Fusas, le Natica, 1" Ammonite, le Rostellaria, le Nautilus, etc., fossiles. Je considére donc comme une bonne fortune de pouvoir le présenter, tout en faisant mes rêserves sur sa classification. Dans le même terrain, et presque dans la même localité, à Pebas, M. le docteur Orton a recueilli plusieurs mollusques, et, parmi eux, un Nere- tina. Quoiqu'appartenant aux Neretidacees, cette famille est três voisine des Paludinacêes, auxquelles appartient "'Ampullaria. Les Neretinas sont marines, et les Ampullarias fluviatiles; cependant la N. fluviatilis se trouve aussi dans les eaux douces. C'est un fait remarquable que la co-existence, dans le même terrain tertiaire, da 1 Ampullaria ou Bulimus dont il s'agit, avecla Neretina pupa, trouvês à Pebas par le docteur Orton. En comparant les Bulimus, les Helix et les Ampullarias vivanís avec Pindividu fossile qui me provient de Loreto Yacu, on voit que ce dernier est beaucoup plus grand que toutes les espéces connues. L'exemplaire est complêtement pétrifié ; ilest blanc comme de la chaux et parait avoir été calcinê. Malheureusement, il n'est pas parfait, mais la partie existante suffit pour le classer par approximation et donner ses dimensions.1l n'a que la spirale cassée . Je donne ici sa diagnostic. A. testa ventricosa, crassa, solida, transversim lineata; apertura ovato-oblonga, labro revoluto. Long 0,200. Larg. 0=,188. La coquille est três ventrue, épaisse, surtout à Vouverture. L'ouver- ture est ovale,avec 0=:,085x0",065 de diamétre; relativement avec espêces vivantes, cette ouverture est três petite, et approche d'avantage le fossile des Helix. La coquille est toute striée transversalement, et aussi dans le sens de la spirale, mais les stries ne sont pas profondes. Dans le sens trans- versal, on distingue quelques macules qui indiquent que, de son vivant, le mollusque etait tâchete de noir. L'épaisseur du bord de Yopercule est remarquable, il mesure 07,15. et va s'amincissant à Vinterieur. Ce gigantesque Urua donne une idée de la faune de la vallée de "' Ama- zone aux époques géologiques, ou à cotê des tortues colossales, vivaient des mollusques géants, et des Manatus êgalement gigantesques. Bá J'ai rencontré, en effet, parmi les débris dont je parle, une côte de Ma- natus, vulgairement peisxe-boi (poisson bouf), dont la chair est si recher- chée comme aliment par les indigénes. Les restes fossiles que j'ai reçus du rio Puriús m'ont offert êgalement quelques os cassês représentant des cô- tes et qui s'identifient exactement avec les côtes des manatus. S'agit-il du Manatus Guetardi, de la partie inférieure du miocêne ? C'est ce que j'essayerai d'élucider, aprês avoir réuni des éléments plus nombreux, dans un autre mémoire sur le Manatus. Parmi les reptiles connus dans Y'Amêérique je dois mentioner ceux dont parle Mr. Ameghino. Mr. Burmeister a trouvê aussi, dans la forma- tion Pampéenne, que selon Mr. d'Orbigny est tertiaire, des écailles d'une tortue d'eau douce, mais la plus grande est celle que le Professeur Gervais dit avoir vu dans la collection Seguin. Celle-cia 17,50 de longueur sur 1” 20 d'hauteur. Mr. Ameghino nous parle (!), aussi, d'une autre tortue terrestre, trouvée au Brésil, (ou 2) nommêe par le Dr. Gervais Testuto elata qui est presque de la longueur du Colossóchelys atlas, de YInde. Parmi les sauriens, le même Professeur Gervais a dêcouvert un grand crocodilo qu'il a nommê Dinósochus terror dont la longueur devait être de 10 mêtres, calcul fait sur les vertebres qui seules ont étê trouvées dans la même formation Pampéenne. On voit donc qui mon Purussaurus est à peu prês de la même grandeur que le Dinósochus et que mon Colossoemys est par conse- quent la plus grande tortue fluviatile qu'on a trouvê jusqu'á ce jour. Manãos, 1888. (1) La antiguedad del hombre en la Plata, II, pag. 204, EXPLICATION DES PLANCHES EMYS QUATERNAÁRIA PI. E. Fic. 1. Os iliaque, grandeur naturelle. A. Nium, avec la crête iliaque cassée, laissant voir la partie que s'articule aux plaques de la carapace. B. Pubis, cassé ou commence la branche horizontale. C. Ria; cassé, presentant seulement la partie de la cavité coty- oide. a. Cavitê ou fossetté cotyloide. b. Rebord de la fossete cotyloide, cassé et laissant voir la substance spon-= gieuse. c. Tuberosité ileo-pectineo. d. Crête iliaque antérieure. e. Crête iliaque postérieure; il manque dans original, mais elle est indiquée par une ligne de points. - Soutures. - Base de la branche horisontale du pubis. « Base de la branche descendante du pubis. - Fossette iliaque externe. - Montre un éclat perdu avec la branche descendante du pubis. - Partie ou s'articule la plaque au plastron. « Partie oú s'articule la plaque de la carapace. ms mas, PI. II. Fic. 1. Osiliaque vu par derriére. Les lettres designent les mêmes parties de os representé à la Planche I, sauf 7 que represente la fossette iliaque intérieure. Fic. 2. Osiliaque vu du côté extérieur. a—? comme à la planche 1. PI. KIKI. Fic. 1. Osischion, vu du côté intérieur, cassé. Gr. nat. Fire. 2. Le même vu du côté extérieur. Par la conformation de cet os il appartient à une autre espêce. E, ia EMYS MACROCOCYGEANA PI. IV. La planche represente la face antéricure de la deuxiême vertébre caudale, reduite à deux tisrs du naturel. PI. V. La même vertébre vue de côté. PI. VI. La même vue par le dos. Pl. VII. La vingticme vertébre, de grandeur naturelle, vue de face et du côte. PI. VIII. O; iliaque, du cóté gauche, vu de face, reduit à deux tiers du naturel. PI. IX. Le même vu par le dos. PI. X. Le même vu de côté. PI. XE. Un morceau de côté droit de la partie antérieure du plastron, vu de côté, reduit à deux tiers du naturel, Ilappartient à un individu plus jeune. CHELYS PI. XII. Septitme plaque du cóté gauche de la carapace, avec une portion de la plaque du sternum. Grandeur naturelle. Pl. XIII. La même, vue de face. Pl. XIV. La même, vue en dedans. PI. XV. L'apophyse de la quatriême plaque du côté gauche du plastron, a, vue en dehors; b, vue en dedans. PURUSSAURUS BRASILIENSIS PI. XVI. Fic. 1. Un morceau de la maxille inférieure, du côtê droit; vu en dessus, d'aprês une photographie. Fire. 2. Le même vu en dedans. Fire. 3. Le même, vu en dessous. Fig. 4. Maxille inféricure d'un des plus grands Yacares de Ja Vallês Amazonienne, pour qu'on êtablisse la comparaison. Estudo craneometrico de cinco craneos de selvagens do Amazonas ESTAMPA I HOMENS ADULTOS DE 30 A 40 ANNOS a 2 MEDIDAS DOS CRANEOS = : E a E-8-) 8 E A EPA SR REM s s s E! s Diametro antero-posterior maximo........ o Terora dr ais ato 130 | 184] 470 x ATT » » » JDIREO SE seda cares Cala rara ve] 168 EAR ABA | SSE 108 » panier al ou parietal maximo. ........ 135 145 138 135 142 » ou temporal maximo ........ 106 104 101 124 106 » inata ECACRDE SCE ND DC DEC DO Dae ratoie afora cosmdo 404 104 704 110 108 » basilo bregmatico ou “vertical. ...... Ata cÕrE 127 120: 425 |: E 128 » EMT TS a SUE CE SIS RI 96 92 95 5€ 92 » >» stephanico............ covas ve mos sssw» 102 104 109 at 410 » bimastoideo ............c.... one Era n e rolror o 92 95 9 116 102 » occipital maximo......cccoccesroos ea «| 110 112 | 101 102 122 Curvas o ponto nazal ao ophryon, frontal...........cceeemeero 20 25 15 x 3) Do ophryon ao bregma, cerebral...........cecersercess 103 102 100 x 105 Do bregma ao lambda, "parietal. qo tuov tida Se da ola 115 115 115 113 EE) Do lambda ao inion, oecipital. . . iu) Ro) 7 65 [o Do inion ao pin des qa Em duo Diametro do opistion ao basion ...........eccececes .“. 35 3+ o 34 32 Linha do basion à sutura nazal........... SERIO SSECEUO 102 101 o4 x 84 Curva transversal sub-auricalar ...... Resumindo alas PER pe! 330 330 32) 340 o A horZontal, tOfalss cine aum a- = conte maio doeREdara «| D92] 6] 488 x 514 » da parte anterior.......... É Sri id ste DE aca «| 260 203 343 x 330 » » » posterior...... CEPE nino ESEC rt coco] 242 | 291 | 145] 260] 484 » —oceipito frontal, total..... ERR R E deco A Smvessa 312 | 315 | 294 x | 31 » da parte anterior............ ssa estan ape omni 's f24 | AB]. 15 aC 137 » » » posterior........ aenjojajo (o et ra a ccccoco) 188] 483 | 179] 260 | 480 DRT IIACA o 2a soa mesa o s/a ce o» raio aaa 94 97 97 100 107 » bregmatica Ra Da q 7 0 0076 n/d ei aD0 a 0 to Ti 123 418 118 418 125 a alveolo; basilar... - =... 0. cenaceasos PERES EC prmo 113 | 112) 108 x 111 » —basilo nasal 102 108 102 x 108 » sib-mental 132 | 125 | 124 bad Distancia do ponto sub-nasal ao alveolar 20 21 20 id 19 » » » » ao bordo dos incisi os. 28 Ea pd XxX a » » » — ao ponto mentoniano., 69 65 64 x > Comprimento ximples da face, ou ophryon alveolar...... 97 97 1 x 107 >» Opala usa o str RAE ie o Gio ne 141 | 497 | 128 x x EEB OA CIC. emas a cow ama dx e pan a no raia | 132] 130 | 132 X | 136 Distancia da sutura nazal á BRPulhal o scene 26 sob rita a 56 59 50 x 54 Abertura nazil 25 25 27 x 25 Diametro biorbitario 42 4 40 x 37 >» bimalar 98 95 96 x 97 Intervallo de um a outro dacryon..................ecos : 14 10 14 x 4x Distancia de um angulo da pieitia inferior a oitra.....| SL 91 87 x Ti >» O » » ao mento... ss so s2 bad q8 da raiz do Darix ao to da maxilla........ 132 | 1422 | 118 x 418 Altar do nivel da apophyse coronoide ................ |= «72 6 58 x re! Linha de Virchow.. ......... ... cpu a so pe auias cara) ES NR DR x 74 Distincia alveolar de Vog | 201] 198 | 492 x | 208 VOL. 1 8 HOMENS ADULTOS DE 30 A 40 ANNOS a E MEDIDAS DOS CRANEOS º = = = = as a E E z a E a NR q E | 8 S s! co 'z = [e < Há E q 3 s s =, [a Distancia da raiz do nariz ao ponto occipital maximo.. 180 182 ATO x 176 Angulo facial de ro AS «.e| 680 70º (6º x 67º Linha de prognatismo. à ENIO Sar 23 31 x 33 » fncial.. vue reemeereeeerenearereseseraenerneetos 76 67 7 x 84 Base do triangulo... ss ccessbo on isolo/esvia 0/0 0/0000 docs Us 96 90 89 91 99 Indice facial... .alcoiejajoirieiajais ajoio o o afov ata a ofojo [alo ta o jo Rojo Ro a o | OD ON] SOFOT] 10,00] 95,5 » cephalico ...... ejojajiolo (0/8 0jo/0 e/b/b/a eo a jo oin [6/0 0/0] 0/0/0 0 BG TO 78 81 x |8 » frontal..,. TENDO O AS EPE E AO) [Mg Sp el MU x TA » vertical... E ro Soto GR Ca a aU io) 60 73 x a » OPDHRAMO ones po en asnv o cha e ro iin alas d coscucera) 81,9 | 84,21] 92,1 x 94,73 » EA sa oO DIE an OB IBHO dado dA covvv o) 42,79] BR 48.14] x 46,42 Observações O craneo Krichaná é notavel por não apresentar os ossos proprios do nariz. Falta a maxilla inferior. Nos craneos do Auainamari ou Inhamari e do Katiana faltam os incisivos; do craneo Ipuriná não me foi possivel tomar todas as medidas por lhe faltar o oceipital, ter o frontal e o nariz todo quebrado e golpeado a facão. Este indio foi morto em 1882 pelo tapuyo Leonel Antonio do Sacramento, caçador de indios do alto Purús, O craneo do Auainamari é muito notavel, e, penso que o primeiro que apresenta pe ossificação completa dos parietaes com o oecipital formando uma só peça ou um cor commum, intimamente ligado. Não se trata de uma synostose natural ou pela ida 4 porquanto estando a sutura frontal perfeitamente aberta não se nota, nem à lente, vestigio algum das suturas parieto-occipital. Claro está demonstrada a ossificação, porque a sutura sagittal chega ao lambda e ahi curva-se formando um triangulo curvelino com 0,025 de base, inscrevendo um outro osso que póde-ss tomar por um osso wormiano, não exis- tindo a sutura parieto-oceipital. Esta união das suturas produziu um grande levantamento dos parietaes. formando uma depressão funda na sutura sagittal, e levantando extraordinariamente o frontal. O craneo visto pelo lado posterior forma dous gomos semelhantes ao de um melão. As lattras q e b da Est. I, indicam que são craneos dos grupos Tapiya e Karaiba. — 59 — PIRAMBOIA Lepidosiren Giglioliana nob (1) Como os factos da vida de um naturalista não devem ficar no olvido, sendo mesmo um crime de leso-patriotismo o não vulgarisal-os, principal- mente quando elles se prendem a descobertas que interessam a sciencia, apresso-me em fazer a presente communicação. De longa data sabia eu que no valle do Amazonas existia um animal considerado peixe por uns, batracio por outros e cobra ainda por outros; que era de uma raridade notavei, sendo mesmo desconhecido vulgarmente. Empregando todos os esforços, vi minha persistencia e tenacidade coroadas de exito, pois tive a fortuna de encontrar esse animal vivo e perfeito. Esplendido exemplar ! Um bem caracterisado Lepidosiren, que veio ainda mais attestar a riqueza variada do rio-mar e concorrer com as poucas amostras imper - feitas que existem em dous ou tres museus da Europa. Notavel é este peixe, não só pela sua grande raridade, como pela sua constituição anatomica. O primeiro descoberto no Brazil, encontrou-se em 1832, em Borba, no rio Madeira. Deve-se esse achado ao naturalista Natterer, que, creando para elle o genero que ainda hoje conserva, o classificou entre os batra- cios. O segundo foi achado no rio Ucayale, no Perú, em 1845, pelo Conde de Castelnau. O terceiro, de que agora me occupo, no igarapé do Aterro, em Manãos. Depois de classificado, ainda os zoologos entraram em duvida, se o deveriam collocar entre os batracios ou entre os peixes, por ter esse animal respiração bronchial e pulmonar, o que faz com que possa elle viver .por largo tempo fóra d'agua. Deve-se ao naturalista Owen o logar que o lepidostren occupa entre os peixes. Foi, entretanto, necessario crear-se uma nova ordem: a dos Dipnes ou ichthyosirenes. Poucas são as especies conhecidas que existem : duas do valle Ama- zonico e outras da Ásia, achadas por Adanson e Arnaud. Além das tres ou quatro exoticas, só se conhecem, que me conste, duas americanas, uma brazileira e outra peruana: a paradosxa, de Natterer ea dissimilis, de Castelnau . Presumo ter de apresentar agora como paranympho, à pia baptismal da sciencia, uma terceira e nova especie, si não for uma variedade muito notavel da paradoxa, o que não creio. Essa duvida, porém, desappa- recerá, porque tendo remettido o specimen para o Real Museu Zoologico de Florença, por intermedio de meu amigo o professor Giglioli, o caso ficará elucidado. A essa especie propuz a denominação de L. Giglioliana, em home- nagem ao sabio zoologo e anthropologista italiano, director daquelle estabe- lecimento. (1) Este artigo foi publicado na Gazetilha do Jornal do Commercio, de 15 de novembro de 1886, sob a epigraphe — Historia Nutural. — 60 — Dilferenças encontro no specimen em questão quando comparado com os já conhecidos. Essas se encontram na fôrma e disposição dos dentes, na côr do corpo, e na disposição das linhas que ornam a cabeça e as partes lateraes. Não pretendemos dar aqui descripção minuciosa, o que deixo aos especialistas; apenas notarei que a paradoxa é preta pintada de branco, a dissimilis preto-azeitona sem pinta alguma, emquanto a Giglisliana é pardo-escura, irregular e miudamente manchada de preto, tendo o ventre branco com duas linhas perallelas de manchas acinzentadas. O dorso é quasi negro, por se unirem muito as manchas nesse ponto. Dos lados e sobre a cabeça existem linhas negras ramificadas, prolongando-se a ramificação que passa por cima dos olhos e que começa no focinho em zigma, latteralmente até às natatorias ventraes e a que passa sob os olhos e começa na maxilla inferior estende-se atê à cauda, marcada por linhas alternas e perpendiculares como si fôra uma escala. Mede o individuo em questão o comprimento total de 85 cent., tendo de altura no meio 9 cent. e de largura 8. Tem a cabeça de cima para baixo acha- tada ; é arredondado no corpo e lateralmente muito chato na cauda, tendo ahi a linha dorsal largamente serrulada. A cabeça mede 9 cent. e os olhos 2 mill. de diametro. As natatorias ventraes muito flexiveis teem na base > mill. de largura, adelgaçando-se para a extremidade com um compri- mento de 8 cent. As ventraes que distam das primeiras 48 cent. são maiores, mais rijas, teem 87 mill. de comprimento com uma base de 22 mill. As primeiras distam uma da outra 105 mill. e as segundas 2 cent. O anus fica do lado esquerdo, a 25 mill. da natatoria ventral. Vive esta especie, e presumo que o mesmo succederá às congeneres, nas nascentes de igarapés lamacentos, dentro de covas; tem andar e mo- vimentos semelhantes aos dos amphibios e cobras de duas cabeças, dando grunhidos sibilados difficeis de comparação. Tem o corpo coberto de uma grossa camada de mucilagem que encobre as pequeninas escamas e o torna muito escorregadio. Serve esta mucilagem para amalgamar a terra em que o animal faz os ninhos, em fôrma de tubos, como a larva nos casulos. Sou informado pelo meu velho companheiro o indio Pedro, que no rio Mahúu, afiluente do rio Branco, ha uma especie semelhante conhecida no dialecto makuehy pelo nome de Aramô. Em Manãos mostrei o individuo a diversas pessoas. A todas era desconhecido, unicamente dando-lhe os tapuyos o nome de puraque. Mais tarde, em Parintins, onde às vezes appareceu esse animal, no lago da Franceza fui encontrar os nomes de cobra peixe (piramboia) e sapo-peixe (pirakwruru). Não me foi possivel ahi ver um outro exemplar, porque os tapuyos acham que a especie é muito venenosa; temem-a tanto que afastam as montarias dos pontos frequentados pela /ramboia. O nome primitivo foi Kaaramorô (o peixe que ronca no matto). Este foi adulterado para Karamuru e Ka- ramunri. Natterer o menciona com o nome de Caraukmwru. Junto aqui uma estampa, copiada de uma photographia que representa o animal reduzido a um sexto do tamanho natural. As figs. B,C eD representam os dentes de cima, um diagramma da disposição delles e os de baixo. HISTORICO DO MUSEU BOTANICO DO AMAZONAS Não se traça a vida de uma instituição scientifica qualquer com meia duzia de phrases sonoras e bem architectadas. O escriptor que se abalançar a esse trabalho, para de futuro não ser contestado, precisa necessariamente, e em primeiro logar, recorrer à verdade historica revelada pelos documentos, e em seguida armar-se de calma e desprendimento sufficientes para que não o influencie paixão nos pontos de critica. Quando, principalmente, na existencia das instituições, a luta foi a nota predominante ; quando, para se chegar ao fim desejado, foi mister arcar com a adversidade e mesmo com o perigo, oppondo a desgostos o esforço para bem servir, então o trabalho do historiador é duplo, porquanto convem discernir entre a susceptibilidade que póde ser ferida e a justiça que poderia ser feita. Eis porque este trabalho affigura-se-nos delicado. O Museu Botanico do Amazonas, por sete annos, que tantos foram os de sua duração, teve de lutar e lutar sempre. Foi fundado entre applausos. Estes se transformaram pouco depois em resentimentos que chegaram à perseguição até seu ultimo periodo de vida. Examinemos os documentos fria eimpassivelmente, e, não nos deixando dominar por paixões de momento, digamos o que foi essa instituição cujos serviços à sciencia correm mundo em publicações varias e interessantes. Foi a Serenissima Princeza Imperial do Brazil, a Sra. Condessa d' Eu, em 1882, a verdadeira fundadora do Museu Botanico do Amazonas. Não pertence, pois, a essa bella região do norte, como erradamente se poderia suppor, a idéa da creação desse estabelecimento. Communicando seus desejos a um estadista de então foi o Dr. J. Barbosa Rodrigues incumbido de delinear um plano para que no extremo norte se fundasse tão uti! instituição. Traçado o projecto, teve este a honra de ser transformado em additivo ao orçamento da agricultura, apresentado naquelle anno à consideração da camara dos deputados. Foi um representante do Amazonas, o Dr. Adriano Pimentel, quem propoz a creação do Museu, e por seu additivo ficava o governo autorisado a despender 30:0008 com esse trabalho. AS jm Feliz ou infelizmente, esse additivo foiretirado do projecto de orçamento, não sabemos si por opposição levantada no momento ou si por pedido do Visconde de Paranaguá, presidente do conselho de ministros, o qual tendo um seu illustre filho na presidencia do Amazonas, sobre elle quiz atirar a gloria e a responsabilidade da creação proposta. Queremos crer nesta ultima versão, porquanto, na sessão da camara dos deputados de 24 de outubro de 1882, o deputado Passos de Miranda (tam- bem pelo Amazonas) declarou que a provincia faria a despeza que o governo não quizesse fazer. Ainda mais, no relatorio do Dr. Josê Lustosa da Cunha Paranaguá de 1883 foi apresentado à assembléa provincial o plano confec- cionado pelo Dr. Barbosa Rodrigues, plano que, discutido, logrou ser transformado na lei n. 629), de 18 de junho de 1883, pela qual foi o presidente autorisado «a mandar construir um edifício para um Museu e nomear desde logo seu director». Eis as bases formuladas pelo Dr. Barbosa Rodrigues: « 1.º Serão estudadas todas as plantas da flora amazonense, e as que forem novas à sciencia serão descriptas, classificadas, desenhadas e publi- cadas. « 2.º Os productosdessas plantas serão estudados chimicamente, isto é: os oleos, as resinas, os balsamos, os leites, as seivas saccharinas, as gom- mas, as fibras, serão analysadas para se conhecer o emprego que possam ter na industria. «3.º As plantas tanniferas, tinctoriaes, amylaceas, toxicas. medici- naes, etc., serão tambem analysadas qualitativa e quantitativamente, e extrahidos os seus productos. “ «4.º Das plantas medicinaes se farão extractos e tinturas para expe- riencias physiologicas e therapeuticas, para se poder conhecer sua acção e seus effeitos sobre o organismo humano. «5.º Serão pois estudadas todas as plantas em relação à sciencia, às artes, à industria e ao commercio, e se colherão sementes para semen- teiras e estudos. « 6.º Para esse fim haverá um laboratorio montado com os instru- mentos e livros precisos, e um horto em que se acclimarão as plantas mais notaveis para experiencias e vulgarisação. «7.º Haverá um hervario classificado systematicamente, acompanhado de um catalogo onde se consignarã tudo quanto occorrer sobre cada uma planta, como: o nome vulgar, patria, emprego, aberrações, factos teratolo- gicos, productos chimicos, além da classificação botanica. Completarão esse hervario amostras de caules, espiques, fibras, resinas, oleos, etc., assim como os productos chimicos que se obtiver. « 8.º Pelo hervario e pelo catalogo se conhecerá a flora da provincia, seus productos e sua distribuição geographica. « 9.º Haverá uma revista hebdomadaria que publicará, não só os traba- lhos do Museu, como as suas descobertas e descripção das plantas novas, acompanhada de desenhos, o estudo sobre os vegetaes e seus productos, assim como terá uma parte para descripção da provincia, pelo lado histo- rico, geographico e ethnographico, para tornal-a conhecida no exterior. «10. Esta revista, que parte será escripta, sinão toda, em francez, por não ser vulgar o portuguez nas nações que interessam às relações com a provincia, terá assignantes e só será distribuida gratuitamente às socie= ai — dades scientificas e estabelecimentos congeneres da Europa, em troca das revistas e jornaes que são necessarios ao Museu e que assim se obterão com economia. « 11. Para cabal desempenho terá o Museu um botanico, um chimico, quatro ajudantes, dous serventes e um porteiro. « 12. Os ajudantes, quer do botanico, quer do chimico, um servirá tambem de secretario, outro de photographo, outro de desenhista e outro de preparador. «13. O botanico serà o director, responsavel pelos trabalhos, ficando sob suas ordens e direcção todos os empregados. « 14. Haverá sempre duplicatas no hervario, para serem trocadas com as dos museus europeus.» Antes da lei n. 629, a den. 620, de 14 do mesmo mez, a qual fixava a despeza e orçava a receita provincial, consignara non. 15, do S7 doart. 2º, a quantia de 30:0003 para começo do edifício, não consignando verba alguma para pagamento de pessoal, acquisição de moveis, instrumentos, reagentes, vasilhame, livros, etc. Começa dahi o periodo da luta; nem ao menos poder-se-hia fazer a no- meação do director, pois a lei orçamentaria não concedera verba para ho- norarios desse funccionario, que, nomeado a 20 de junho de 1883, só foi empossado de seu cargo a 14 de dezembro, recebendo durante muito tempo seus vencimentos pela verba « Eventuaes ». E? necessario que os leitores apreciem a serie de desillusões que se acer- cavam dessa instituição, logo ao nascedouro. Assumindo o exercicio de seu cargo, o director tratou immediata- mente de começar os trabalhos de que fôra incumbido. Em offícios de 22 e 30 de dezembro expoz à presidencia as necessidades do estabelecimento que, emquanto não tinha edificio proprio, ia funccionar, como de facto funccionou, em um predio estragado no logar denominado Cachanga. A presidencia ficou de mãos atadas para responder aos justos pedidos que lhe eram feitos, pois a lei do orçamento a inhibia de quaesquer despezas nesse sentido. E, pois, em officio de 26 de janeiro de 1884, declarou à directoria do Museu que lhe era impossivel acceitar seus reclamos, por não haver verbas para a nova instituição. Entretanto, ao passo que assim se procedia, era expedido o regulamento n. 49 de 22 de janeiro, o qual, lido em outro logar desta Revista, dará idéa dos onus e responsabilidades que recebia o novo estabelecimento que não tinha verbas para se manter. Comprehende-se bem que esse regulamento esperou muito tempo para sua execução, que nunca chegou a ser completa. Foi então que o director, não desejando ficar ocioso, offereceu-se para pacificar a tribu dos indios Krichanás, cujas correrias atemorisavam os: habitantes do Rio Negro, especialmente da villa de Moura, cujos clamores a imprensa diariamente registrava. Essa commissão teria o duplo fim, como se exprime o Dr. Paranaguá em seu relatorio de 1884 «de estudar os productos naturaes daquella região (o rio Yauapery até então desconhecido) e empregar todos os meios para entrar em relação com o gentio». Acceito o offerecimento, partiu o Dr. Barbosa Rodrigues para o rio Yauapery, com seu simples honorario de director do Museu, não recebendo TO A meo outro auxilio, quer dos cofres gera:s, quer dos provinciaes, e mesmo sem lhe ser abonada a diaria a que tinha direito pelo art. 42 do regulamento da repartição que dirigia. O que foi essa commissão diz-nos « 4 Pacificação dos Krichanás », trabalho mandado publicar pelo governo imperial em 1885, e onde se en- contram a historia da tribu, estudos de ethnographia, archeologia e geographia, documentos diversos e um vocabulario. Por outro lado, e mais tarde, as plantas dessa região foram apresenta- das na Vellosia, revista do Museu, a qual reeditada na actualidade foi au- gmentada com grande numero de estudos sobre plantas novas. Note-se: ao passo que não havia verbas para inicio dos trabalhos do Mu- seu, já este tornava-se conhecido pelo que poderia prestar à sciencia com a divulgação de trabalhos sobre especialidades que alli se deveria estudar. Pouco antes de sua partida para essa commissão, inaugurava-se offi- cialmente o Museu, a 16 defevereiro, de modo que, por occasião da partida, já havia deixado a presidencia da provincia o Dr. Paranaguá, a quem substituiu o Dr. Theodoreto Souto. Espirito adiantado e culto, seguiu elle as pisadas de seu antecessor, aproveitando os 30:000$ votados pela assembléa provincial, não para começar edificio proprio para o Museu, esim para adquirir por compra o melhor predio que existia no barro de S. Sebastião, o que efectivamente se realizou. Na época da installação do Museu, segundo confessa o presidente de então, já ahi se encontrava «um bom numero de collecções, tanto na secção botanica, como na secção ethnographica». Não accrescentou, porém, o ad- ministrador da provincia que essas collecções pertenciam ao director, parti- cularmente adquiridas entre os annos de 1872 a 1875, quando encarregado pelo Ministerio da Agricultura correu o valle do Amazonas fazendo estudos botanicos. O Dr. Theodoreto Souto comprehendeu, logo no começo de sua administração, que um estabelecimento da ordem do Museu Botanico não podia viver sem recursos proprios. A seus esforços a assemblêa provincial votou na lein. 648, de 6 de junho de 1884, a verba de 40:0008, para acquisição de todo o material para os laboratorios chimico e botanico, para a bibliotheca, expediente, revista, etc. Eis a integra dessa lei : « Art. 1.º Fica o Presidente da Provincia autorizado a dar regula- mento ao Museu Botanico do Amazonas e fazel-o executar independente de approvação da Assembléia. Art. 2.º Annexo ao Museu será creado um curso de sciencias, divi- dido em agrimensura e agricultura, com aulas de ensino theorico e pra- tico. S 1.º O curso de agrimensura na parte theorica constará do ensino de botanica systematica, physica, chimica, trigonometria, noções de astro- nomia, topographia, zoologia, geologia, desenho de figura e paisagens, desenho topographico e descriptivo. Na parte pratica se ensinará os meios graphicos de representar as grandezas e os objectos de que se occupa a agrimensura, assim como o levantamento de plantas. S 2.º O curso de agricultura constará do ensino de pliysica, chimica, botanica, mineralogia, geologia, mecanica, anatomia comparada e physio- e — logia, agronomia, veterinaria e desenho geometrico. Na parte pratica se ensinará o modo de applicar os instrumentos agronomicos, de preparar a terra e tratar os animaes. S 3.º Para a matricula no curso de sciencias deverá o candidato provar, por meio de exame ou com certificado do delegado de Instrucção Publica, que se acha habilitado em grammatica portugueza, geographia, historia, francez, arithmetica, algebra e geometria. Art. 3.º O director do Museu será tambem o do curso de sciencias e accumulará as funcções de professor de botanica. S 1.º O numero de professores, inclusive o director e o physico e chi- mico, não excederà de seis, percebendo os primeiros vencimentos iguaes aos da Escola Normal, e os dous ultimos e demais empregados do Museu os mesmos constantes da tabella annexa ao regulamento n. 49 de 22 de janeiro deste anno. O director tera mais a gratificação de 8005, pelo exercicio de professor. S 2.º O cargo de professor do Muscu é incompativel com quaesquer outros empregos remunerados, geraes, provinciaes ou municipaes. Art. £.º Os professores e os ajudantes de que trata o regulamento n. 49 supracitado, serão nomeados por concurso e as cadeiras providas sómente depois que o Museu já estiver funccionando em casa propria e possuir os accessorios necessarios ao curso. Art. 5.º No Museu haverá umr bibliotheca, um laboratorio, um gabinete botanico, um gabinete photographico e um horto botanico, com os quaes, e com a compra de livros especiaes, instrumentos, moveis, publi- cação de uma revista, reactivos, e expediente, se despenderã num ou mais exercicios at? 40:0005000. Art. 6.º O edificio do Museu será mandado construir conforme dispõe alein. 629 de 18 de junho de 1883, e, no caso de se poder adquirir algum proprio particular dentro do perimetro da cidade com as pre- cisas accommodações e terrenos sufficientes para o horto botanico, o Presi- dente da Provincia fará a necessaria desapropriação até à quantia de 70:0008, podendo servir-se da verba de 30:0008, orçada para a con- strucção do mesmo no exercicio vigente de 1883 a 1884.» Avaliem agora os leitores a especiede perversidade na votação dessa lei. Parecia que, por meio della, o Museu ia começar regularmente seus trabalhos. Pois bem. Alei não pôde ser executada, porquanto a quantia vo- tada não foi incluida na lei de orçamento e era vedado à presidencia utilisal-a em vista de disposição terminante do art. 20 da lei de 14 de junho de 1883, confirmada pelo art. 5º da lei n. 651, de 11 dejunho de 1884. Apenas no orçamento foi consignada a verba de 7:740$, para expe- diente, verba essa que foi depois aproveitada pelo modo que se verá. E' verdade que para o pessoal existia a verba de 36:000S. Mas como fazer nomeações de professores sem casa, sem moveis, sem laboratorios, etc. ? Justamente a quantia para essas despezas dada pela lei n. 648 de 6 de junho não foi incluida no orçamento, como dissemos. Continuava então o Museu a não ter verbas para sua montagem, de VOL. H 9 — 66 — modo que, si a principio pagava-se um director e não se lhe davam meios de trabalho, agora davam-lhe verba diminuta certamente; mas não se lembravam de que não podia ser nomeado pessoal que o auxiliasse, Assim passou o anno de 1884 e até junho de 1885 as cousas se man- tiveram nesse pê, contribuindo sempre o director para dar nome ao esta- belecimento, pois em successivas viagens para a pacificação dos Krichanãs, recolhia elementos para futuras exposições, que se realizaram, e publi- cações que appareceram . ; Aqui convem abrir um parenthesis interessantissimo. Dissemos em linhas anteriores que effectivamente se realizara a compra de um edificio no bairro de S. Sebastião, em Manãos, para installação do Museu Botanico. Edificio sem condições, sem duvida, para o fm a que era destinado, poderia, talvez, por meio de obras indispensaveis, servir perfeitamente. Isso ficou demonstrado com a instal- lação do laboratorio chimico. Na época da compra do edificio, grassava na capital a epidemia da variola que ceifava grande numero de victimas diariamente. O director preparava-se para fazer a mudança do Museu do Ca- changa para o predio adquirido pelo governo provincial, quando foi a isso obstado por ordem da administração, então interina, que julgava de melhor aviso transformar o edifício comprado para Museu em hos- pital de variolosos, quando havia um lazareto. Alêm de ser irrisoria essa determinação, nella via-se um falsea- mento da lei, que indicava o edificio para certo fim do qual a mesma determinação desviava flagrantemente. Até junho de 1885, esteve ahi funccionando esse hospital, que durante os ultimos mezes se mantinha à custa de enfermos arranjados pelas ruas, (”) por não existir mais a epidemia, isso unicamente para impedir que o Museu fosse transferido. Entretanto, o Dr. Josê Jansen Ferreira, como engraçadamente se propalava, acabou a epidemia por uma simples portaria, mandando fechar o hospital, que depois de limpo, ainda conservou por algum tempo, em dependencias das lojas, um carro de enterro e no patamar da escada principal, um caixão de defunto, naturalmente para ame- drontar a familia do director que ia habitar uma parte do opulento palacete. Depois de vigentes esforços, fez-se a mudança do Museu Botanico eahi se não termina ou antes manifesta-se mais forte a luta, não ha negar que começou elle a desempenhar papel saliente. NH As singularidades na legislação do Amazonas, como os leitores teem visto, offerecem campo vasto para critica e analyse. Dirigia em 1885 a provincia o Dr. José Jansen Ferreira Junior, magistrado probo, de caracter acima de toda a excepção. (!) Havia um homem, com uma bydrocele chronica, e uma mulher, que se fôra buscar em Janauary, affectada de molestia de pelle. — 67 — Vendo elle, como já acontecera a seu antecessor, o estado a que estava reduzido o Museu Botanico, procurou fazer com que a assembléa provincial votasse fundos para que esse estabelecimento se prestasse aos fins para que fôra creado. A assembléa, que mais se guiava por instinctos pessoaes que pelo desejo de trabalhar em prol da provincia, votou na lein. 697 de 13 de junho de 1885 apenas verbas para vencimentos de um botanico, um chimico, um secretario e 2:4003 para expediente. Voltava então à baila, mutatis mutandis, o systema anterior: empre- gados sem ferramentas ; botanico sem gabinete; chimico sem laboratorio ; e apenas o secretario com papel, penna e tinta. Ainda mais: os vencimentos dos funccionarios foram levados à conta de gratificações. De ordenado nada lhes foi concedido, isto para que nenhum delles pudesse auferir vantagens de aposentadoria ou licenças, que porventura viessem a ter, ou fazer montepio. Bem singular o facto de encontrarem-se empregados effectivos, de quadro, de uma repartição superior, sem ordenado e apenas com gra- tificações ! Como se viu, não havia meios de trabalho ; nem ao menos se poderia nomear um chimico, pois a repartição não dispunha de vasilhame, de: instrumentos ou reactivos. Mas, habilmente se houve o director nessa emergencia. O orçamento anterior apenas votara 7:740S para expediente. Não tendo gasto um só real dessa verba durante o exercicio, poucas dias antes de terminado este, foi proposto reservadamente à presidencia que se uti- lisasse aquella quantia na montagem do laboratorio chimico e gabinete botanico. Sendo dada a autorisação pedida, foia encommenda feita para a Europa em outubro e cumprida em dezembro desse anno (1885). Havia, entretanto, uma outra difficuldade a vencer. Onde installar-se o laboratorio? Por que verba fazer a despeza ? Patrioticamente a pedido do director, o presidente Dr. Ernesto Adolpho de Vasconcellos Chaves cortou a difficuldade, ordenando que pelas Obras Publicas fossem os reparos necessarios levados a effeito. Foi orçada a despeza em 1:2008 e com essa quantia fizeram-se duas salas, ladrilharam-se seis, encanando-se agua necessaria, fazendo-se ar- marios, mesas, vidraças, cubas, fogão, chaminês, etc., tudo auxiliado pelo director, que não descançou um só dia. Já a esse tempo, no andar superior do edificio, estava perfeitamente installada a secção ethnographica com 1.103 objectos, em collecções variadas, de 60 tribus do valle do Amazonas, como se avaliará pelo catalogo que este acompanha. Ainda com essa pequena verba foram comprados armarios, vitrines e latas para a secção botanica, onde se encontravam plantas em hervarios, oleos, fibras, fructos seccos e em alcool, resinas, gommas, etc. Nessa época o hervario do Museu possuia 1.283 especies vegetaes, bra- zileiras, representantes de 78 familias e 322 generos, comprehendendo mais de 5.000 specimens classificadoes e catalogados. Possuia mais 800 specimen de vegetaes dos Estados Unidos e California. aee RI Reais Eis como se exprimiu no seu relatorio de 1886 o Dr. Ernesto Chaves sobre a phase brilhante que então atravessava o Museu Botanico : « Acha-se à frente desse auspiciosoestabelecimento provincial o distincto botanico brazileiro Dr. João Barbosa Rodrigues, especialista bem conhe- cido dentro e fóra do paiz. Sua permanencia alli é para mim, e deve sel-o para a provincia, ga- rantia efficaz de perseverantes trabalhos, grande incremento para a sciencia, e não menos para as industrias e commercio que em pouco tempo hão de ter desvendadas as preciosidades occultas que encerra esta grande jazida de riquezas naturaes. Emprehendimentos dessa ordem, si exigem sacrificios presentes, são comtudo promettedores de abundantes mésses, de grande auxilio ao estudo das sciencias naturaes, de immorredoura gloria para o paiz, quasi desco- nhecido por esse lido, e especialmente para a provincia do Amazonas. Si patriotica foi a idéa dessa creação, como não ha negal-9, forçoso será convir que seria um crime de leso-patriotismo abandonal-a na infancia, deixal-a perecer desalentada.. Não o fareis, estou certo, porque tendes de zelar os interesses da pro- vincia e promover o seu futuro engrandecimento. O orçamento ultimo desattendeu às mais palpitantes necessidades dequelle estabelecimento de tal modo, que chegou a supprimir-lhe o porteiro. Isso importava desorganizar o serviço que, si escapou a essa dura provação, foi devido principalmente ao denodado civismo e desin- teresse de seu digno director. Convem restaurar o quadro dos empregados, organizado de accordo com as disposições do Regulamento n. 49 de 22 de janeiro de 1883, cuja revisão em outros pontos a experiencia aconselha, segundo informou aquelle digno funccionario. Convem tambem dotar sufficientemente o orçamento de credito, para oc- correr às despezas necessarias com gratificações de viagem, expediente, agua, serventes, despezas miudas, livros para a bibliotheca e publicação da revista. São meios de acção indispensaveis ao bom andamento dos importantes serviços descobertas e analyses a cargo do Museu Botanico. Já hoje está elle dotado de um magnifico laboratorio destinado às experiencias de chimica vegetal, tendo sido realizada a inauguração, com minha assistencia, em data de 16 de fevereiro ultimo, no andar terreo do mesmo edificio, para isso devidamente preparado. Na acquisição de todo o machinismo e vasilhame despendeu-se quantia pouco superior a sete contos de rêis; e nas obras necessarias ao seu acon- dicionamento, pouco mais de dous contos, sem fallar no preço dos tijolos de marmore, que mandei fornecer dos que foram comprados com destino ao Passeio Publico, cujas obras continuam paralysadas. Do minucioso relatorio, que me apresentou o digno director do Museu, e encontrareis entre os annexos, podereis colher abundantes informações sobre o estado do estabelecimento e dos serviços realizados desde a vossa ultima reunião, apezar da penuria de recursos em que elle so viu. » Para a assembléa provincial foram de pouca monta estas e outras con- siderações sobre serviço publico feitas pelo presidente, pois não deu-lhe lei de meios, tornando-se preciso prorogar o orçamento existente para occorrer aos compromissos da provincia. Não deswmimou, porém, o director do Museu, pois, chegando da Europa o material para o laboratorio chimico, tratou de o installar a 16 de fevereiro de 1886, na presença do presidente da provincia. Pelo desenho e explicações que em outro logar serão apresentados, verão os leitores o que era essa dependencia do estabelecimento na êpoca em que este foi extincto. Faltava unicamente chamar profissional habilitado para dirigir essa secção. A principio foi interinamente chamado um cidadão francez, que em pouco tempo era dispensado. Autorizada a directoria a contractar um chimico no estrangeiro, recebeu ella um offerecimento do Dr. Francisco Pfaff, nome desconhecido no Brazil, para occupar o logar vago. Não o conhecendo, o director do Museu dirigiu-se aos eminentes pro- fessores Graebe, de Genebra, e Marion, de Marselha, os quaes deram do offertante as mais Jisonjeiras informações. Em sua carta de 13 de outubro, o Dr. Pfaff propoz condições, que não foram acceitas, para occupar o logar de director do laboratorio. Como resposta, foram indicadas estas em 21 de janeiro de 1886: 1.º Receber 5008000 mensalmente, moeda do paiz. 2.º Ter passagem em um dos vapores da Red Cross Line atê Manãos. 3.º Começar a vencer honorarios do dia da posse. 4.º Não se lhe dar ajuda de custo para viagem nem indemnização no caso de rescisão do contracto ou termo deste. Acceitas essas condições, foi lavrado o respectivo contracto em Genebra. Unicamente se alterou uma das clausulas, pois foi-lhe dado, a titulo de ajuda de custo, principiar a receber seus vencimentos da data da assi- gnaturado contracto, concedendo-se-lhe o prazo de tres mezes para se apre- sentar na repartição. Com effeito, o Dr. Pfaff chegou a Manãos a 7 de setembro de 1887 e entrou desde logo em exercicio de seu cargo. HI Perguntarão talvez os leitores muito admirados como se podia trabalhar assim: fazer expediente, arrumar collecções, limpar moveis, montar um laboratorio, conservar emfim o edificio, sem pessoal que sempre a assem - blêa teimava em negar. Responde-se facilmente à pergunta em todos os seus pontos. O trabalho de expediente, desde dezembro de 1883 at? julho de 1885, foi feito exclusivamente pelo director, que, além dos trabalhos scientificos e depois de redigir officios, pareceres, relatorios, etc., ainda deixava as minutas em crchivo, e tudo methodisado. E' certo que a presidencia destacou durante este periodo um empregado para occupar-se do trabalho de secretaria. Mas, o logar que elles exerciam era uma simples formalidade, pois, em differentes épocas dous delles mal entravam em exercicio, pediam logo licenças que se prorogavam conforme a protecção que se lhes dava. Ha um documento curioso que pôde vir a publico em qualquer época demonstrando que no Museu Botanico do Amazonas não foi encontrado em 1885 nenhum papel ou simples nota, escripto por lettra dos secretarios que haviam servido desde 1883. — (cs Só em julho de 1885, nomeado effectivamente um outro cidadão, o autor destas linhas, para esse cargo, appareceu archivo em livros escri- pturados, como diz ainda o documento a que alludimos. Isto quanto à secretaria, Os diversos trabalhos de limpeza e conservação, esses eram executados pelos filhos do director e por empregados seus, pois só em 1885 logrou o Museu ter um servente pago pelos cofres publicos. Admire-se ainda o leitor quando souber que, sem pessoal, em 1885 e 1886, foram realizadas no Museu Botanico duas grandes exposições, nas quaes se inauguraram os retratos do Dr. Josê Paranaguá, fundador do Museu, e da Serenissima Princeza Condessa d'Eu, iniciadora dessa creação. E' certo que a população do Amazonas pouco frequentava as salas do Museu ; mas os estrangeiros de passagem em Manãos tinham occasião de surprehender-se deante das lindas collecções, alguns delles levando a sua delicadeza a ponto de registrarem em publicações impressas as condições em que encontravam o estabelecimento. O tempo ainda chegava para trabalhos fóra da repartição, pois as her= borisações se succe liam para enriquecimento do hervario. Foi ainda em 1886, sob a pressão de perseguições continuas, que a di- rectoria do Museu foi chamada a collaborar em trabalhos concernentes à exposição sul-americana em Berlim. Essa collaboração foi tudo, pois no- meada uma grande commissão, seus membros não se moveram, tornando-se necessario ao director tomar a iniciativa, em companhia de seu secretario, de sahir da capital e arranjar a mais que regular collecção de madeiras, fibras, resinas, productos vegetaes, etc. para aquelle certamen industrial. O resultado desse trabalho foi impresso no mesmo anno, recebendo a commissão premios pelo que fizera só um de seus membros. Não havia treguas para o trabalho e, no mais acceso da luta, encon= trava-se sempre o Museu prompto a receber a visita do mais exigente. Não se arrefecia o enthusiasmo do director nem com as manifestações contrarias da assemblêa nem com verdadeiras picardias das administrações, felizmente interinas, como succedeu de uma feita, quando, sem consulta, sem proposta, um vice-presidente em exercicio nomeou para cargo de con- fiança, contra a lettra do regulamento, individuo estranho ao director, e doente, cujo unico trabalho era ficar em casa e pedir licença por um anno com todos os vencimentos. Fallâmos em perseguições. Enumeremol-as. À principal questão que serviu de thema para desgostar o director do Museu foi o oferecimento feito por esse funccionario para pacificar os indi- genas da tribu Krichaná. Essa tribu, ao passo que, sempre em represalia, assaltava e matava à população do Rio Negro, era origem de proventos para moradores daquellas regiões, pois a Thesouraria de Fazenda, por muitos annos, pagou grossas sommas para compra de brindes, destocamentos de campos, etc. Compre- hende-se que, uma vez pacificados os indigenas, essas verbas desappareceriam para o Rio Negro e dahi o horror à pacificação, que, entretanto, espalhava- se, fôra tentada por um vulgar ambicioso. A politica amazonense precisava desse individuo, porquanto, em qual- a = quer situação da monarchia, e o mesmo succederã com a Republica, conta- vam-se alli uns oito votos seguros de governistas inconscientes. Fazer mal nesse terreno era perigoso e portanto a politica indigena, celebre em ardis, entendia ferir o pacificador verdadeiro, atacando a insti- tuição de que elle era director. Dahi a guerra incessante, sem treguas, que repercutia na assembléa e que só não encontrava quem a animasse nos presidentes effectivos que, por isso mesmo, quasi sempre se retiravam vilipendiados. A assembléa provincial, então, era de uma audacia inqualificavel. Composta, em geral, de individuos pouco escrupulosos, salvo raras ex- cepções, de todos os partidos, quando podiam tirar de tudo partido, tinha vinganças verdadeiramente mesquinhas. Imagine-se que o director do Museu ou qualquer outro funccionario se manifestava, fallando contra ella. Longe de tirar um desforço, com as mesmas armas, ia esse representante soberano da provincia à assembléa e ahi propunha medidas injustas contra o Museu, procurando extinguir logares, ameaçando fechar o estabelecimento e outras quejandas que poderiam provocar gargalhadas, si não provocavam tedio. À provincia do Amazonas conhece bem a veracidade do que ahi fica dito. Citar exemplos seria em pura perda, porque os factos são de hontem ainda. A politica era a mola real onde assentava todo o edificio de onde jorrava o bem ou o mal sobre os habitantes daquella região digna de melhor sorte. Não se admittia que alguem pudesse deixar de prestar culto a essa deusa pervertida. Como se sabe, dos estabelecimentos scientificos é varrida a politica como elemento incompativel com estudos serios. Os funccionarios do Museu Botanico eram simples servidores do paiz e um tanto rebeldes a esses prejuizos de aldeia. Pois bem. Sobre elles cahia fe dos políticos, pelo grande crime de não ser nem um delles eleitor. Mais de uma vez sentiu-se essa influencia malefica, manifestada em desgostos, provocações, etc. Demos a ultima nota sobre este capitulo, que com repugnancia escrevemos. Na noite de 16 de maio de 1886 foi barbaramente assassinado na capital do Amazonas o capitão Custodio Pires Garcia. Apontado pela opinião, foi em pouco tempo preso respeitavel negociante de Manãos. Politico considerado, era bem de ver que a protecção seria levada até ao encontro das disposições penaes. E, pois, tratou-se logo de acobertal-o com a impunidade. O trabalho porém foi baldado, porque o laboratorio do Museu Botanico foi o logar de onde partiu a nota principal contra o accusado, pois, em exame ahi feito, encontrou-se sempre sangue humano em botinas que o mesmo accusado calçara na noite do crime. Publicado o parecer que serviu de fundamento energico à pronuncia, parecer que foi acceito por autoridade estrangeira, convinha destruil-o. O esforço foi, entretanto, em vão, porque o accusado foi condemnado pelo tribunal popular competente. O director do Museu fizera, póde-se dizer só, esse exame e confeccionara o relatorio a respeito. Ora, calcule-se como a politica dominante devia encarar esse funccio- nario ! Destruir o parecer ? seria quasi impossivel. Mas existem individuos para todas as occasiões e foi o chimico do Museu que chegara, como vimos, muito posteriormente, incumbido de refutar o trabalho. Fel-o em poucas linhas, com uma pennada, mas tão desastradamente que o parecer não veio a publico e o accusado, em novo jury, não foi mais feliz que no primeiro. Convinha, portanto, premiar o autor de tão esplendida peça e des- gostar o do parecer primitivo. Como? De modo simples. A pretexto de economia, a 5 de julho de 1888, valendo-se da lei n. 749 de 17 de maio de 1887, um vice-presidente, que acabava de assumir desgraçadamente a administração, em 24 horas mandou mudar o Museu que occupava 10 compartimentos, para wma sala do edificio do Lyceu Amazonense, accrescentandos ao castigo a separação do estabelecimento em duas partes; em museu e em laboratorio, isto para separar o botanico do chimico, já incompatibilisado por questões de serviço publico, a que não prestava attenção o segundo pois em tres annos de exer- cicio do cargo nem um só trabalho apresentou, sinão pareceres sobre ge- neros alimenticos estrangeiros, que, talvez por conhecimento proprio, eram todos bons powr la consommation. Para essa separação, o vice-presidente procurou valer-se da lei de 12 de agosto de 1834, que trata de reformas de repartições e não de creação de novas, como de facto creou com o regulamento n. 65, de 9de julho de 1888. O Amazonas, nessa occasião, atravessava periodo critico de vida eco- nomica. Pois assim mesmo onerado de compromissos, esse vice-presidente mandou gastar quasi 40:0005 com a mudança do Museu e do Asylo Orphanologico, que passou para o edificio comprado expressamente para aquella instituição. Para economisar 3:6005, que a provincia annualmente pagava pelo aluguel da casa em que funccionava o Asylo Orphanologico, gastou de uma só vez 40:0008, que gastaria em mais de 10 annos. Todo o plano, porém, era destruir o trabalho feito, desgostar o director e obrigal-o a retirar-se. Desejos sempre vãos...... O director do Museu olhou sobranceiro por todas essas vinganças que o não attingiam e continuou sua obra patriotica. De 18853 a 18880 Museu Botanico do Amazonas não soffreu grandes modificações, a não ser esse golpe de morte, que ficou acima detalhadamente descripto. Presidentes succediam a presidentes, todos cheios dos melhores dese- Jos, mas a especie de politica local manietava-os, porque um favor ao Museu poderia dar em resultado a negação da lei de meios. Foi esta a vida do Museu nesse periodo de tempo. Como ficou dito, a administração Chaves ( 1886 ) não conseguira obter orçamento. a ir Succedendo-lhe o general Conrado de Niemeyer, obteve não um, mas dous orçamentos para 1887 e para 1888. As condições do Museu melhoraram, pois nesses dous annos foram votadas verbas para pagamento de um desenhista, dous serventes, um porteiro, impressão da revista, excursões, expediente, etc., tudo no valor de 28:7008. Vide para isso as leis ns. 742 e 780, de 11 de maio e 25 de junho de 1887. Foi, porém, sob essa administração que se votou, tendo recebido sancção, a lei n. 749, de 17 de maio de 1887, que mandava transferir o Asylo Orphanologico para o predio occupado pelo Museu Botanico, pas- sando este para um dos compartimentos do Lyceu. Essa lei não teve um considerando, uma justificativa. Apresentara-a um deputado, estrangeiro naturalisado, inimigo gratuito do director, o qual só tinha o fito de fazer esse funccionario deixar a casa de que só occu- pava um dos compartimentos dos fundos. Mais: a não ser sanccionada essa lei, o presidente ficaria sem lei de meios e convinha a todo transe pôr a faca aos peitos do administrador. Em homenagem à justiça devemos, entretanto, declarar que nenhum presidente serio, nem o proprio que sanccionou a lei, executaria esse pro- ducto de odio particular. Sô mesmo um vice-presidente, sem nenhum escru- pulo e responsabilidade, se valeria dessa autorização legislativa, como se valeu. O orçamento de 1887 que dava ao Museu meios de vida foi por uma sim- ples portaria vice-presidencial falseado ea verba de 28:7008 diminuida para 13:400$000. Era o Museu Botanico o joguete da politicagem. O orçamento para 1889 não foi sanccionado. Ahi haviam sido dadas verbas no valor de 24:900$000. O presidente Dr. Oliveira Machado conseguiu fazer passar a lei de meios para aquelle anno. Mas já a verba do Museu havia sido diminuida para 22:5008000. Áo passo que se regateavam verbas minimas, as leis orçamentarias vi- nham cheias de gratificações, licenças por dous annos com vencimentos in- tegraes, subscripções, concertos de escolas, igrejas, etc., tudo de uma im- moralidade revoltante. Não ha exaggero. Consulte-se a legislação e ver-se-ha a verdade do asserto. Finalmente, em 1890, o delegado do governo provisorio da Republica nada adiantou sobre meios de vida para o estabelecimento, embora estivesse em seus intuitos dar ao Museu organização correcta e condigna. Chegou mesmo a mandar vir da Europa material para uma typographia onde se deveria imprimir a Revista. Entretanto, o resultado apparecia sempre. Assim é que, quando qualquer poderia desanimar pelos successos sccorridos, o director do Museu collo- cou-o de novo no melhor pé, reorganizando as secções botanica, ethnogra- phica e archeologica e, mais tarde, em 1889, o laboratorio chimico, que estava com o material quasi todo estragado, passou de novo para sua direcção, terminado o prazo do profissional que dirigia aquelle gabinete. Conseguiu ainda que os empregados do estabelecimento tivessem seus vencimentos divididos em ordenado e gratificação, não conseguindo, porém, que o regulamento n. 49, de 22 de janeiro tivesse inteira execução. VOL. II 10 me Mk co A Republica proclamada a 15 de novembro de 1889 não lhe deu, repe- timos, maior vida, pois dalli retirou o seu mais forte esteio, o seu director, nomeado a 25 de março de 1890 para o cargo de director do Jardim Bota- nico do Rio de Janeiro, onde hoje ainda serve. Sem elle, que seria da repartição que fundara e sustentara? Quem no Amazonas o substituiria ? Certamente muitos se apresentariam candidatos ao cargo, porquanto em Manãos não se procura em geral saber si se póde exercer um emprego, mas sim indaga-se quanto rende. A este respeito nos hão de permittir uma nota alegre, para exemplo do que afirmamos. Apresentou-se uma occasião em 1884 um individuo muito protegido ao director do Museu, pedindo o logar de secretario da repartição. — Mas o senhor que habilitações tem para o cargo? perguntou-lhe aquelle funccionario. — Posso escrever... .... — Escrever só, não serve ; imagine que mando o senhor fazer um officio em francez, inglez, etc... . Sabe que o Museu tem grandes relações com o estrangeiro.... — Sim ; mas isso o senhor póde fazer, replicou o candidato. ... Eu peço o logar, porque o ordenado me serve.... Como este, milhares vivem no Amazonas. Não lia por esta cartilha o capitão Augusto XimenoVilleroy, 1º governador, porquanto, retirando do Museu o seu director, foi a repartição extincta, como se evidencia da se- guinte portaria, de 25 de abril de 1890: « O Governador do Estado do Amazonas, tendo em vista o decreto n. 42 desta data, que extinguiu o Museu Botanico, resolve dispensar o cidadão João Barboza Rodrigues de director e o cidadão Philadelpho Camillo Pessõa de porteiro do mesmo Museu. O Governador aproveita esta occasião para agradecer ao cidadão João Barboza Rodrigues os eminentes serviços que prestou à Patria enriquecendo a sciencia com colossaes trabalhos sobre a flora indigena. Seus vastos - trabalhos sobre as Orchidêas attestam que este judicioso investigador é o legitimo herdeiro do laborioso Martius. O Governador lembra ainda as interessantes pesquizas sobre os habitan- tes primitivos da America, e especialmente do Brazil, como um dos titulos de benemerencia do infatigavel Brazileiro ; e ao despedir-se de tão digno cidadão felicita-o pela elevada prova de apreço com que o distinguiu o Go- verno Provisorio. » A despeza com o Museu Botanico do Amazonas, de 1883 a junho de 1888, foi de 108:714$726 assim distribuidos : POSSE O Age O Grao ad 45:2195968 IG84 SB. aa Ser Ud aids 8:527$724 TES BOLA der E Mi A a ET 14:04758115 1880 == NU o e O A o ad 27:8463988 2º isemestrovdo ISB7. = o sudo 8:265$611 1888 (até junho). . ........ 4:807$320 108:714$726 E As Titulos de despeza : Aluguel, compra e concertos de casa. . +... 37:4TIBOTA Miyyelsme Utensios dE carris de bis taae odca ga 3:5918880 Agua, luz, expediente. . .. PA TE 1:4488478 Laboratorio o gabinete botanico e photographico. 11:922363 Diversas despezas. RE UE DONE E Aeee (Og 465200 Posso too does ED LER e pe SRS E AE Ta TN, 108:7145726 A despeza com o pessoal e expediente reduz-se à média annual de 13:930$634 (!!), porquanto todas as outras realizadas com a acquisição do predio, concertos, conservação, laboratorio, são de 55:7228538. Está assignada essa discriminação de despezas pelo cidadão Luiz Rodolpho Caval- canti de Albuquerque, inspector da thesouraria de fazenda do Ama- zonas. Este documento é baseado n'outro, officialmente fornecido pelo the- souro provincial ao mesmo Sr. Cavalcanti, em que detalhadamente se dão todas as despezas por exercicios, sendo assignado pelo escripturario Ber- nardo Sizenando de Souza Cruz e rubricado pelo inspector Marães. IV Eis em traços rapidos, porém verdadeiros, o que foi o Museu Botanico do Amazonas durante sete annos de existencia. Foi, sem duvida, uma tentativa coroada do melhor exito e isso pro= va-se rememorando trabalhos que, em quaesquer épocas, attestarão que dalli se poderiam esperar as mais interessantes investigações. Tratemos de cada um por ordem chronologica. A primeira é a Pacificação dos Krichanis, publicada em 1885, repo- sitorio de conhecimentos sobre essa tribu temivel, soberana no Rio Negro. O ministerio da agricultura não duvidou em mandar publicar nas officinas da Imprensa Nacional esse trabalho cuja leitura a todos interessa. Depois veiu a Relação dos producios enviados para a Esposição de Berlin, folheto publicado em 1886. Ahi se encontram devida e scienti- ficamente classificados vegetaes diversos do Amazonas, uteis sob o ponto de vista da medicina, das artes, das industrias, etc. Esse catalogo, que dá noticia de grande numero de productos do valle amazonico, foi publi- cado, em allemão, no catalogo geral daquelle certamen industrial. O Tamakuare (1887), especies novas da familia dos Ternstroemiaceas, grande folheto com descripção botanica, historico, usos, etc. desse vegetal utilissimo que nem botanicamente estava determinado. 4 Vellosia (1888), revista do Museu, dous volumes com descripções minuciosas de plantas novas amazonenses, estudos de paleontologia, archeo- logia, etc. Esse trabalho foi reeditado, comose vê do volume que o leitor tem em mãos. Na reedição foram incluidos muitos outros vegetaes novos, estudos sobre uma tartaruga fossil colossal e sobre um jacarê tambem fossil, de grandes proporções. O Muyrakãty (1889), estudo sobre a nephrite, a pedra das Amazonas, sobre a qual tantas controversias se hão levantado. A Poranduba amazonense (1891), grande volume impresso pela Bi- bliotheca Nacional do Rio de Janeiro, ccllecção de trabalhos inteiramente novos, taes como lendas do Kurupira, do Yurupary, contos botanicos, astronomicos, zoologicos, cantigas, etc, Oc atalogo de pl: ntas (inedito) eo de objectos da secção ethnographica, adiante publicado, constituem ainda subsidio para se avaliar do valor da in- stituição extincta. Juntom-se a essa relação pequenos folhetos sobre plantas novas, artigos de jornaes sobre historia natural e um vocabulario completo da lingua tupy e mais de 20 de differentez dialectos (inedito) e ver-se-ha que, em sete annos de trabalho, o resultado é realmente surprehendente. Não se diga que se descurava o estabelecimento unicamente para apre- sentar as publicações acima, porque eram resultados do trabalho do mesmo Museu, baseados nos documentos que nelle existiam. Além disso, em quaesquer épocas o Museu Botanico do Amazonas encontrava-se em plena actividade, e isso o attestam naturalistas que por alli passaram e que sobre o estahelecimento se enunciaram. Diz, por exemplo, o grande e notavel Frank Vincent à pag. 362 do seu livro Around and about South America : « 1 then turned to the right, and upon high ground, commanding good views of the Rio Negro and the city, I found the Botanical Museum of Amazonas. The building is a handsome two-story structure, faced with tiles, with two wings, the one lobeled Musco, the other Laboratorio. Itisa sort of general selection ofthe product of nature and man in Amazonas—a vast province of eight hundred thousand square miles, but with a population of only sixty thousand inhabitants. The first or ground floor is devoted to a herbarium, a chemical laboratory, and draughting and photographic rooms. Upstairs are a library of works upon Brasil, and a very complete ethnographical collection, which relates to the Indian tribe of this great province, and illustrates in a very interesting manner their clothes, domestic utensils, weapons, ornaments, implements of the chase, etc. The collection number some three thousand specimens, and I was shown a complete manuscript catalogue. which «as expected soon to be published (1). The director of the museum is the famous Brasilian Botanist, ethnographer, and explorer, Dr. J. Barboza Rodrigues, from whom 1 received much kindly attention. Dr. Rodrigues is widely known, among botanists, for his discovery of more than one hundred varieties of palms and five hundred and fifty of orchids, having made these two families of interesting and beautiful plants his specialties. The doctor is very expert with pencil and water-colors, anil showed me a score of great folios full of sp!endid pictures of the various palms anã orchids which he has discovered. He has pub'ished a large number of learned monographs upon the ethnography, archwlogy, and “philology of the Indian tribes. » (1) Como vê o leitor, é o catalogo agora publicado neste volume, Ainda o Sr. Marcel Mounier diz à pag. 423 do seu trabalho Des Andes au Para: « L'histoire, qui plus est, ne fournira Ioccasion de rendre hommage à la courageuse initiative d'un homme dont le Brésil, et notamment la province des Amazones, on droit d'être fiers, d'un savant naturaliste, M. João Barboza Rodrigues, le pacificateur des Indiens Crichanas. » Depois de fallar da pacificação dessa tribu, accrescenta à pag. 425: « Les collections rapportées de ces expeditions par le naturaliste at- testent chez ses éléves une facultê d'assimilation, une bonne volontê sur- prenantes. Rien d'intéressant comme son musee érigé par le gouvernement en êétablissement de VE'tat, et dontil a bien voulu me faire les honneurs avec une parfaite courtoisie. Je conserverai de "homme et de Veuvre un souvenir ineffaçable. » A propria imprensa local, por vezes apaixonada, tendo por guias este ou aquelle individuo, teve em muitas occasiões de curvar-se ante os factos que appareciam e a 29 de julho de 1886, por todos os seus orgãos de publicidade rendeu as mais justas homenagens ao Museu Botanico que levara a efeito na provincia uma bellissima exposição de historia do Amazonas. Leiamos alguns conceitos dessa imprensa. Diz o Cominercio do Amazonas : « A grandeza dos povos affere-se em geral pelos progressos realizados nos certamens onde se exhibem productos ou resultados dos ramos varios e complexos do saber humano. Uma exposição, em sua linguagem muda, é o mais solemne testemunho de actividade e os que a realizam obreiros que encarnam o trabalho, o pensamento, a luz, em fórmas materiaes e os mostram aos espiritos avidos de conhecimentos diversos. Pode-se dizer que a mais alevantada conquista para o genio das po- pulações modernas é a realização dessas festas da intelligencia que indicam eloquente e fervoroso culto à civilisação que constantemente rompe cadeias anachronicas e desvencilha-se de moldes atrazados para apresentar-se cercada de cortejo imponente de idéas sãs e generosas. Acceitando razões de ordem subida que fazem-nos encarar as ex- posições por essa fôrma, rejubilamo-nos com a festa que no dia de hoje realiza o Museu Botanico desta capital. Por sua natureza muito particularmente caracteristica, a exposição do Museu é um acontecimento na provincia do Amazonas. Procurando reunir documentos, mappas, manuscriptos, livros, moedas, quadros, jornaes, etc., relativos à historia geral e particular da provincia, o director desse estabelecimento conseguiu vencer indifferenças e obsta- culos, inaugurando na provincia a primeira exposição desse genero, cujo interesse deixamos à apreciação criteriosa de nossos leitores. Não é uma festa em que a vista tenha o bastante para sentir-se ferida agradavelmente. Não é daquellas onde a retina enxerga impressões duradouras e fixas, mas, por isso mesmo que a apparencia não apresenta motivos para emoções de momento, é daquellas que fallam ao entendimento, porque documen- tos historicos da vida de um povo, reunidos em uma dada occasião, fallam bastante alto aos que procuram estudar a indole, costumes, modos At a de vida desse mesmo povo, cuja historia é por vezes ignorada. Ahi estã a importancia primordial da festa de hoje. » Do Paiz, da capital do Amazonas : « À exposição do nosso Museu Botanico, podemos assegurar, é um acon- tecimento eloquente e importantissimo para a provincia do Amazonas porque ella vem patentear ao mundo inteiro e especialmente ao Brazil, nossa que- rida patria, que os habitantes desta parte integrante do seu immenso terri- torio procuram caminhar na senda do progresso e da civilisação, em busca da luz e das grandes conquistas da intelligencia sobre a materia. Pela visita que tivemos o prazer de fazer ao estabelecimento em ex- posição, sobram-nos razões para comprimentar aos illustres Drs. Barboza Rodrigues e Campos Porto, dignos director e secretario do estabele- cimento, pelos relevantes serviços que lhe hão prestado . Com o mais vivo interesse percorremos todas as salas do Museu e em todas observimos o mais escrupuloso cuidado da parte dos mesmos ca- valheiros, quer na escolha, natureza e distribuição dos objectos expostos, quer no arranjo externo das salas. Tudo indica grande trabalho, per- severança e verdadeira illustração do director e seu secretario. » Da Gazeta de Manos : « Hoje realiza-se pela primeira vez nesta provincia a exposição de pro- ductos naturaes e manufacturados do Amazonas no Museu Botanico. Mais uma gloria para esta vasta região, por ver que os seus productos, quer indigenas, quer acclimados, vão sendo vantajosamente conhecidos pelo publico daqui e de fora. Estes brilhantes resultados, que, não estando ao alcance de todos, vão entretanto levando de vencida os obstaculos inconscientes dos inentendidos, por força natural da ordem das cousas, são todos inquestionavelmente de- vidos à boa vontade, à dedicação, ao sacerdocio do homem que por idéa, por indole, por vocação , se tem sacrificado pelo progresso e engrandeci- mento desta terra privilegiada pela Providencia. O Sr. Dr. Barboza Rodrigues, poderosamente auxiliado pelo seu se- cretario Dr. Campos Porto, no meio do indifferentismo de muitos, proprio de ignorantes, ha de sempre ouvir, ao menos, uma voz que proclame os seus relevantes serviços, a da verdade. » Ainda do Púiz: « Não é, sem duvida, pelo gosto ou habito de elogiar e nem é esse o nosso programma na imprensa, que tecemos alguns encomios ao director do nosso Museu Botanico, porquanto temos razão de sobra e motivos poderosos para assim procedermos. Os bons serviços ques. s. estã prestando à provincia como director daquelle estabelecimento, coadjuvado pelo seu secretario, o illustrado Sr. Dr. Campos Porto, merecem ser registrados e devidamente apreciados ; por isso está a redacção do Paiz no seu direito e satisfaz a uma justa exi- gencia social, tornando publicos aquelles serviços. A exposição annual do Museu Botanico desta provincia, que hoje se realiza, é um acontecimento bem significativo e que mostra o estado em que se acha aquelle estabelecimento. Nelle verã o publico que o visitar importantes estudos e ricas collecções sobre a nossa flora, sobre historia natural, ethnographia, collecções de mappas, jornaes publicados na provincia, livros utilissimos e raros, de moedas brazileiras desde 1621, finalmente as salas do estabeleci- mento, além de estarem perfeita e elegantemente preparadas, offerecem ao espectador os mais variados objectos de curiosidade e de estudo. O laboratorio chimico occupa tambem um logar saliente nesta ex- posição, digna por todos os sentidos de ser concorrida e visitada por todos. Com a visita, que fizer o publico hoje ao nosso Museu Botanico, terá occasião de ver que o que aqui dizemos sobre o que nelle ha digno de toda a admiração, não é mais que uma ligeira noticia que damos do seu estado, porque, de facto estã muito acima da succinta apreciação que fazemos aqui.» O Governo Imperial, por occasião dessa exposição, mandou que o Presidente louvasse o director, o que se fez com o seguinte officio: « Ministerio dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Pu- blicas. Directoria Central, 1º Secção, N. 218. Rio de Janeiro, I8 de agosto de 1886. Ilm. e Exm. Sr. — Sua Magestade [o Imperador, a cujo alto conhecimento tive a honra de levar o telegramma de V. Ex. que me foi transmittido pela presidencia da provincia do Maranhão, relativo à exposição com que foi solemnisado, no Museu Botanico de Manãos, o anniversario de S. A. Imperial a Senhora Princeza D. Isabel, soube com prazer que a referida exposição poz à nota o desenvolvimento que ha tido aquelle util estabelecimento, o qual muito deve concorrer para tornar conhecidas a flora Amazonense e as propriedades de seus productos para usos e applicação industriaes. O que V. Ex. communicarã ao director do Museu Botanico de Manãos, louvando-o em nome do Governo Imperial pelo concurso que tem prestado, no desempenho do mesmo cargo, para o progresso do estabelecimento. Deus Guarde a V. Ex. — Antonio da Silva Prado. — Sr. Presidente da Provincia do Amazonas.» Jornaes de todo o imperio e hoje os da Republica, revistas nacionaes e estrangeiras, relatorios das administrações de ambos os partidos em que se dividia a opinião, todos são accordes em merecidos louvores ao estabe- lecimento, que, em região remota, dava tão bons exemplos a imitar e indicava tão seguro caminho a seguir. Só a politica procurava entorpecer-lhe a marcha gloriosa. Sóem nome della a astucia se desenvolvia. Mas que tristeza sentirão aquelles que, lendo esse trabalho, se certificarem de que esses adversarios sô trabalhavam contra si, porquanto procuravam destruir o elemento mais firme para tornar a provincia conhecida do estrangeiro ! Foi-lhes, porém, negativo o resultado, porque seus esforços tiveram de ceder perante a pertinacia e força de vontade de quem nasceu para lutar e tem para a luta sempre disposições. O Estado do Amazonas, entretanto, é campo vastissimo para investiga- ções dos naturalistas. Em época não muito remota alli se erguerã de novo o que hontem foi extincto e então os homens, mais compenetrados do valor de taes institui- ções, certamente procurarão desbravar o caminho e não oppôr obices a taes commettimentos. " nd E" t ad dá a og fc E to. ala di TRE A geração nova, ao ler estas paginas despretencioses, aprenderá a sab vencer e, animada por tantos exemplos aqui apontados, chegará facilmen a conquistar para a sciencia o verdadeiro posto de honra, mão g quaesquer interesses inconfessaveis. F. Campos Porto, ex-secretario do mesmo Museu. GINA id) ; not núidt ee Rs lá ah, by Ee / at | é! ; pd id pie Re pao a bob DESCRIPÇÃO DO MUSEU Pelo artigo anterior, do ex-secretario do Museu, vimos como estava organizado e o que foi esse estabelecimento em sua primeira phase. Vejamos, portanto, como se achava a instituição depois da época em que se procurou extinguil-a. Depois de feita brutalmente a mudança do Museu, conseguiu esse esta- belecimento, à chegada do presidente effectivo Dr. Cardozo de Andrade, obter maior extensão de edificio para installar as collecções que se achavam, em pilhas, em uma sala escura, cuja entrada se fazia pelo water- closet. Reorganizado, o Museu occupou o lado esquerdo e parte do anterior do bello palacete construido para Lyceu, dispondo, portanto, de seis salas e duas largas e extensas varandas envidraçadas, com uma entrada nobre. A sala principal, a da frente, foi occupada pela directoria e bibliotheca, esta composta de obras sobre botanica, chimica, zoologia, geologia e pale- ontologia, acondicionadas em elegantes armarios. Ahi celebrava suas sessões a Sociedade de geographia do Amazonas. A sala da entrada era occupada pela secretaria c communicava com a da directoria e com a da secção archeologica. Esta ultima era espaçosa e ahi se encontravam, em armarios e sobre mesas, urnas mortuarias, vasos e fragmentos de louça antiga, tendo nas quatro paredes trophéos de flechas e vestuarios de tribus peruanas. Sobre os armarios viam-se craneos de indios selvagens e no centro um enorme kemuty dos Tikunas, proprio para o Rachiry e adquirido pelo director no rio Javary. Sobre outra: mesa viam-se as amostras da colossal tartaruga — Emys macrococcigyana e do Purusaurus, o gigante dos Saurios. Dessa sala passava-se para a da secção ethnographica, cujas paredes achavam-se encobertas por armarios em que, dispostos por tribus, viam-se artefactos indigenas de pennas, palha, fibras, etc., ficando em tro phéos, aos lados, arcos, sarabatanas, kuidarus, kurabys, murukus, remos, etc. Sobre os armarios encontravam-se trophéos com frechas dos indios Krichanás, pacificados pelo director do Museu. No centro da sala notavam-se duas ubás de madeira dos indios Pomarys e Uaupés. Ainda ahi viam-se objectos de uso domestico, de caça, guerra, pesca, etc. Seguia-se a esta a sala da secção botanica, occupada por oito elegantes e grandes armarios com 100 latas pintadas de verde, contendo o herbario naturalmente disposto por familias. Cada armario encerrava uma das quatro grandes subclasses de De Candolle. À cada uma dessas divisões correspon- ve Eu! MEDO ss dia uma vitrina onde, em vidros, frascos e caixas, estavam os productos naturaes das familias, como: oleos, seivas, resinas, leites, fructos, fibras, etc. Em logar apropriado encontravam-se um barometro aneroide, um de Fortin, thermometros e hygrometros. O centro da sala era occupado por duas extensas mesas, para o estudo das plantas e por uma menor para o trabalho de escripta. Em mesa especial para micrographia estavam um microscopio, grande modelo de Nachet, e lentes montadas com os instrumentos e reagentes necessarios para trabalhos biologicos. Seguia-se uma outra sala, propriamente de trabalhos, onde, no centro, havia duas mesas para limpeza de herbario o nas quaes se guardavam as prensas, caixas de herborisação, papeis de seccar plantas, armas, etc. Todas essas salas deitavam portas para uma grande varanda envidra- cada de um lado, que fechava em pateo. Ahi se encontravam amostras de madeiras em tóros. Pelas paredes ainda se encontravam objectos indigenas, como: redes, frechas, occupando o centro grandes ubãs de casca deyutahy, dos indios Ipurinas, outras abertas a fogo, outras de paxiuba barriguda (Iriartea ventricosa Mart.) dos indios Mayorunas. A varanda do fundo servia de deposito. No pavimento inferior ficava o laboratorio (!). Compunha-se este de 3 grandes salas, de um pequeno corredor e de um quarto preparado para camara escura, tendo ainda um grande vão que servia de deposito. A primeira sala continha dous grandes armarios, em um dos quaes encontravam-se dispostos as cuvetas, cadinhos, objectos de platina, etc. Em outro os objectos pequenos de vidro e crystal, como tubos de Liebig, tubos para absorver o acido carbonico, tubos de ensaio, buretes inglezas e de Gay Lussac, garrafas graduadas, pipetas, etc. Ligavam-se esses dous armarios por duas prateleiras sobre as quaes estavam arrumados diversos apparelhos e instrumentos, como apparelhos de deslocação de Guibourt, de Gerhard, de Payen, banho de ar de Stein, ete. Em uma das paredes late- raes havia um armario que continha os livros mais necessarios e os reagentes de uso diario. Em tres grandes mesas ao centro viam-se sacharimetros, spectroscopios e balanças de precisão. Entre estas existiam as seguintes : aerothermica de Dalican, Trebuchet, sensivel a meia inilligramma, hydro- statica, de duas columnas, pesando de meia milligramma a 500 grammas. Em um dos lados via-se o apparelho de Celi para estudo da electricidade nas plantas. Aos lados desta duas bancas com prensas para expressão e em um canto uma grande machina para cortar e pulverisar raizes. Nos inter- vallos, pelo chão, viam-se diversos fornos de ar e de reverbero para ana- lyses mineraes. Para os trabalhos à noite, quatro grandes arandelas illu- minavam esta sala. A segunda sala tinha encostados às paredes lateraes e dos fundos armarios envidraçados em que se encontrava o vasilhame de porcellana, vidro e crystal de todas as dimensões, taes como : nacellas, desecadores, crystallisadores, capsulas, cadinhos, retortas, balões, frascos de Durand, funis, campanulas, copos graduados, lampadas, grães, E (!) Depois da retirada do chimico, ao tomar eu posse do laboratorio que, por lei. foi annexado ao museu, achei todo o material estragado, enferrujado e tudo em incrivel desordem. Isso consta de officio que dirigi à Presidencia. asia fiolos, vasos para filtrações, etc. Outros armarios continham em frascos de vidro e terra-cotta os reagentesem ordem e divisões proprias, os prepara- dos de soda, potassa, magnesia, ammonia, ferro, cobre, prata, etc. Sobre uma prateleira encontravam-se duas balanças de Roberval e uma estufa de Weisneg. Sobre esta, em um cabide especial, achavam-se os refrige- rantes de vidros de varias dimensões. Entre uma janella e uma porta ficava uma grande cuba de agua, forrada de chumbo, com o competente escoador. No centro da sala achava- se uma grande mesa para trabalho, com os respectivos bancos. Ahi se viam os sustentaculos (supports), de varias dimensões e feitios, de madeira e de ferro com seus pertences ; por sobre a janella um grande armario-mesa, com balões, funis e covos de experiencia. Essa peça tinha grandes gavetas para guardar rolhas de cortiça e borracha, tubos de borracha, pinças va- riadas, thermometros, areometros, densimetros, pesa-acidos, etc. A essa sala seguia-se o deposito em que se guardavam garrafões de acido sulphurico, chlorydrico, azotico, etc., assim como latas e frascos de ether, chloroformio, etc. No corredor ficava a machina Carré para fabricação de gelo e um cabide para deposito de tubos de vidro. Esse corredor communicava-se com a camara escura destinada a trabalhos photographicos e diversas analyses. Ahi existia uma cuba d'agua com a competente torneira, uma mesa para trabalho e um armario com os reagentes necessarios e vasilhame especial. A camara era iluminada durante o dia por uma pequena janella de luz rubim, e durante a noite por uma grande lanterna de Carbut. Na terceira sala estava a cage vitree, para trabalhos com substancias toxicas, de + metros de comprimento, com tres portas de correr, ea forja, com todos os accessorios. A um canto uma grande cuba com esgotador, forrada de chumbo, para lavagens, sobre a qual estavam dispostos, em ca- bide especial, serpentinas e refrigerantes de vidro de varias dimensões. Entre esta cuba e a cage vitree ficava uma grande mesa - armario, de trahalho, com gavetas. Uma bem disposta combinação de tubos de borracha conduzia agua para trabalhos na cage vitree, e o gaz canalisado pelo pavimento e com o auxilio de tubos de borracha e tubos de Bunsen e Berzelius, de varios modelos, deixava que em qualquer mesa se traba- lhasse à vontade. O laboratorio tinha todos os utensilios e vasilhames necessarios e um grande numero de apparelhos montados alêm do material proprio para montar os que fossem se tornando necessarios. Um grande espaço nos fundos das salas servia para deposito de garrafões, latas, frascos e reagentes de sobresalente. Occupavam, pois, o Museu e o Laboratorio oito grandes salas e duas extensas varandas. A secção ethnographica continha 1260 objectos, a bo- tanica mais de 10.000 specimens e a chimica mais de 500 objectos. EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DO LABORATORIO A .— Sala das balanças. a.— Estante de livros, tendo inferiormente sobre o solo frascos de chloroformio e de acido carbolico. b. 1. — Mesa para escripta. b. 2.— Mesa com balança hydrostatica, grande modelo ; uma outra com força de 500 grs. e sensivel a 1 millig.; um saccharimetro e um microscopio, grande modelo de Nachet. b. 3.— Mesa com balança de analyses de Gouche e Maurice Thierry ; uma outra de ensaios, outra aerothermica de Dalican e um spectroscopio: c. 1.— Armario envidraçado contendo alcalis e, em uma divisão especial, capsulas, provetes, spatulas, fios de platina, etc. c. 2.— Armario envidraçado contendo balões, tubos para distillações fraccio- nadas, ditos para absorver o acido carbonico, ditos de Liebig. d.— Apparelho de Celi para electricidades das plantas. e.— Prensas para expressão de suecos vegetaes. f.— Grande cortador e pulverisador de raizes. g.— Diversos fornos. h.— Frascos com acidos acetico glacial e chlorydrico. i.— Cadeiras. h.— Prateleiras contendo um elaiometro, lactometro, grilles de analyses, gazometro de Regnault, apparelho de Kipp, de deslocamento de Gui- bourt, de Payen, de Gerhard, de Berjot, de Masure, de Lehosing, de dosagem de acidos carbonico, phosphorico, nicotina, etc., de analyses de terras, assucar, sebos, oleos, hydrotimetro, quinimetro, cubas, fornos, etc. B.- Sala para preparações. a.— Mesa grande com gaveta. b.— Armario com seis divisões, tres superiores e tres inferiores, em que se viam balões, funis, retortas, copos graduados, campanulas, frascos de Wolf, recipientes florentinos, torneiras de vidro, christallisadores, provetes, fiolos, colhéres, spatulas, capsulas de porcellana, cadinhos, nacellas, grães, etc. c.— Mesa-armario com tres gavetas e tres divisões. Nas gavetas existiam thermometros, pesá acidos, densimetros, alcoometros, papeis de filtro, pinças e rolhas de borracha e cortiça. Nas divisões encontravam-se balões, tiolos e matrazes, funis grandes e vasos para filtrações. Sobre esta mesa encontravam-se reunidos bicos de gaz portateis de Bunsen, pedaes para funis e outros para differentes misteres. d.— Prateleira com duas balanças de Roberval, uma estufa de Wisneg e infe- riormente frascos com preparados de soda, acidos sulfurico, chlorydrico, etc. Sobre essa prateleira via-se um cabide com refrigerantes e serpen- tinas de vidro. e.— Armario com quatro divisões contendo reagentes de soda, potassa ammonia, ferro, cobre, chumbo, ete f.— Grandes frascos com reagentes. 9.— Armario com reagentes. h.— Bancos altos para trabalho. AO “o i.— Cadeiras. j.— Cuba d'agua com bica e esgotador. h.— Alambique do Savalle. t.— Peneiras de seda o de arame, O.— Sala de trabalho. a.— Mesa com gaveta, sobre-a qual via-se uma grande caixa de reagentes, b.— Mesa-armario com gavetas contendo cuba d'agua, e grandes vasos para recebimento d'agua distillada, c.— Armario-mesa para trabalho. Ahi se viam tres bicos de gaz e lateralmente dous tubos com torneiras para levar agua à cage vitrêe. d.— Prateleiras com reagentes. €.— Frascos com ether e diversos acidos. f.— Cage vitrée, com tres desprendedores de vapor, bicos de gaz, fornos, banhos- maria, banhos de areia, de ar, etc. Sobre a cage havia um logar para deposito de substancias vegetaes » 9.— Alambique. h.— Forja. :.— Cadeiras. j.— Banco alto. k.— Machina para fabricação de gelo. !.— Cuba para lavagem de utensilios. D.— Camara escura. a.— Mesa. b.— Armario com cuvetas de vidro, porcellana e caoutchout e o necessario para trabalhos photographicos. c.— Mesa com esgotador, lanterna de Carbuts. d.— Cuba d'agua com bica. e.— Tubos e baguetes de vidro branco e verde, A” entrada da camara havia um apparelho para distillação no vacuo. FE. — Grande deposito, onde se encontravam reservas de acidos, etheres e ontras substancias em garrafões ou barricas. Z,— Gazometro. CATALOGO DA Secção ethmographica & archeologica do Museu Botanico do Amazonas [96] c ARMARIO N. 1 DIVISÃO - A Adornos usuaes, festivos, etc. Akangatare em fórma de resplandor, feito de penuas de papagaio (psitacus sp.) adaptado a um duplo tecido de palha de uarumá (marantha sp.) com tres pennas vermelhas de cauda de arara (ara macaw), dispostas como braços de cruz. Pertence a uma das tribus que habitam o rio Juruá, afluente da margem direita do Solimões: katukinas, karinahuis, kachinahuis maluás, ou à vulgarmente conhecida pela denominação de porcos, por fazer grande criação desses animaes. Este ornato foi comprado pelo Director do Museu, que não póde obter informações exactas so- bre a tribu a que pertence. Grande akangatere de pennas amarellas, de cauda de yapi (cassicus cristatus), tecidos na base com fios de hurauá (bromelia sp.), cobertos de cerol. Tem dispostas em cruz tres longas pennas de cauda de arara, uma, superior azul, duas, lateraes, verme- lhas. Pertence a uma das tribus indicadas no ornato n. 1. Akangatare de pennus d'aza de garça (ardea candidissima) tecidos na base por fios de Aurauá em cerol. Mesma procedencia. Akangatare de pennas amarellas da parte inferior da aza de arara canindê (ara arauna), tecidosem um circulo de cipó. Mesma procedencia.. Grande akangatare de pennas azues de cauda de arara (ara hyacinthi- nus), dispostas em resplandor, sendo as da parte anterior maiores, diminuindo as outras gradualmente para a parte posterior. Mesma procedencia. Tanga com a mesma forma do akangatare n. 5., porém muito menor e de pennas d'aza de arara canindê. Mesma procedencia. Tanga (mankaby) ou saia de festa de longas fibras de grelo de me- rity (mauritia flexuosu), destiado, usada pelos indios Ipurinás, do rio Purús, affuente da margem direita do Solimões. Dimensões 0:2,70x 02,50. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. og da 10 O] 12 13 14 15 16 17 = 88 Tanga de fios de algodão (gossypium sp.) torcido, pintada de uruki (viva orellana), usada pelas mulheres datribudos Pomarys, do rio Purús. Dimensões 07,30.07,15, Oferta de Manoel Urbano da Encarnação. Tanga (dachy) de cobrir as partes genitaes do homem, feita de cor- nões de algodão branco, ligados superiormente a um pequeno cylindro de madeira collocado horisontalmente apparentando pouco mais ou menos a fórma de um grande bigode e pera (ca- vaignac). Os fios lateraes cobrem os testiculos e o central o penis. Esta curiosa veste é usada pelos indios Pomarys. O é tambem pelos Apurinis, do rio Purús. Dimensão 07,10. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Akangatare simples de um circulo de um curioso tecido de varumá, tendo pendente de um fio de tukum (astrocaryum vulgare) um maraki de concha bivalve (anodontes) ligadas em pares do mesmo individuo. Indios Bahuis, do rio Jutahy, afiluentes da margem direita do Solimões. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Delicado e caprichoso collar de multiplos fios de contas feitas de con-= chas de um mollusco do genero helir, reduzidos a pequenos cir- culos de 07,003 de diametro, perfurados e passados em fios de algodão, todas de igual e exacta dimensão, tendo pendentes para a parte posterior quatro fios das mesmas contas com as extre- midades munidas de duas borlas de pennas de uropygio de tu- cano (rhamphastus toco) e dous marakis de conchas do mollusco acima, cortadas transversalmente, destruidas as divisões inter- nas, a deixar unicamente a parte superior espiralada, o que dá-lhe a fôrma, de campainha, a que serve de badalo uma conta grande de louça azul. E' usado pelos indios Kanamarys, do rio Trauaká, afluente do Juruá. Torna-se curioso este ornato pelo arranjo das contas, que são collocadas gradativamente (por nuances) do branco ao cinzento azulado. Oferta do commendador Guilherme José Moreira. 1 Duplo collar superposto um ao outro: o superior formado de dentes incisivos de koatá (atelles paniscus), perfurados na base, unidos uns aos outros e ligados por fios de algodão torcidos, pintado de urucit ; o inferior composto de 10 caninas de onça (felis sp.) dis- postos naturalmente, correspondendo os da maxilla direita do animal para o lado direito do collar e os da esquerda para o esquerdo. As pontas deste collar compõem-se de diversos tios de algodão torcidos, cujas extremidades são ornadas de pennas de arara e de um maraka feito de pequenas unhas. Indios Kana- marys. Oflerta do commendador Guilherme José Moreira. Collar semelhante ao de n. 12, porém com a parte superior de uma dupla fileira de incisivos de koatá, sem ornatos nas pontas. Indios Kanamarys. Ofterta do commendador Guilherme José Moreira. Collares de uma enfiada de dentes incisivos caninos e mollares de macacos dos generos cebus e callitriz, intercalados de sementes pretas de puká (scissus sp.). Indios Parintintins, do rio Ma- deira. Offerta do capitão Deodato Gomes da Fonseca. Collar de dous ioane de caninos de onça e um par de mollares, dis- postos equidistantemente, perfurados e ligados a um duplo fio de algodão pintado de urukis, por um outro que os enleia. Indios Kanamarys. Offerta do commendador Guilherme José Moreira, Collar de caninos de koatá, dispostos em fila perfurados e ligados por fios de fibras de Auraui. Indios Parintintins. Offerta do director do Museu. . Grande cinta-marakà composta de innumeros fios de algodão, onde se enfiam contas de sementes brancas de puki, terminados infe- riormente em campainhas feitas da parte inferior e conica do fructo do yamaru (cucurbita sp.), e de unhas de veado (cervus sp.) Esses fios são presos superiormente a uma fita de tecido de-al- godão branco. Usada nas festas dos Anambês, do baixo Tocan- tins: Dimensões 07,20x0m,70. Offerta do director de Museu. 18 19 21 = AD Uma cinta-maraká de numerosas e grandes sementes osseas de fructo desconhecide, perfuradas de um lado e cortadas de outro, seme- lhando um guizo e suspensas a uma fita estreita tecida com hkurauã. Estas sementes batidas umas de encontro às outras, roduzem um som forte e estridente. Indios do rio Purús. Offerta o director do Museu. Perneira-marakà de conchas do genero unio, ligadas a uma estreita fita tecida com algodão pintado de «wrukis, Indios do rio Juruá. Ufferta de Antonio Herculano Pacifico. Buzina cylindracea de argilla pintada de preto e envernizada ; or- nada de arabescos, esculpida, aberta de um lado, tendo o bocal no centro. E' um instrumento para viagens, pois os selvagens que o usam teem a crença de que o som chama o vento. Indios Pauhichianis, do rio Katrimany, afiluente da margem direita do Rio Branco, que desagua no rio Negro. Offerta do professor Joa- quim Pedro Nolasco de Oliveira. Tembetà de quartzo leitoso, perfeitamente polido, e de desenho cor- recto. O corpo da peça é um cylindro, um pouco adelgaçado para a parte inferior em que se termina em um largo cône truncado e invertido. Na parte superior ha um pequeno travessão por onde se suspende o enfeite ao beiço inferior do individuo. Este objecto, signal de nobreza de quem o traz, é hoje rarissimo. In- dios Chambiohis, rio Tocantins. Dimensões 02,13 de compri- mento e 02,017 de diametro. Offerta do director do Museu. Photographia colorida representando dous indios Chambiohás, do rio Tocantins. Offerta do director do Museu. Pulseiras feitas de parte cornea de nervura de pennas d'aza de mu- tum (crax sp.) e de pennas de garça que matizam os fios que apresentam, quando, enroladas nos braços, espaços brancos e pretos intercalados. Usadas pelas mulheres da tribu Karipunã, do rio Madeira. Offerta do director do Museu. Objecto feito de um só foliolo de Rurui (attalea sp.), que serve para cobrir a glande do penis dos indios Mundurukús, das campinas do rio Tapajoz. Offerta do director do Museu. Pequena frecha (*) de guerra, antes de pesca, de takuara (bambusa sp.), em parte coberta de casca de uambé ou ambé do Sul (phil- lodendron imbé), emplumada de pennas de gavião tauatô (trasa- ctus) e de mutum, artisticamente ligadas por fios de curauá, enfeitada, pouco a baixo da plumagem, de um circulo de barbas de pennas de arara, ligadas por parte cornea de nervura de penna de garça. Inferiormente termina em ponta de taboca (bambusa sp .), lanceolada, solidamente ligada a um gomo (suum- ba) de paxiuba (yriartea sp.), que se introduz na haste de ta- kuara. Dimensões 17,39 de comprimento, tendo a ponta 0,27. Indios Karipunis. Oferta do director do Museu. Frechas (ichiribi) de guerra, de haste de flecha (*) (gymerium saccha- roides) e pontas lanceoladas de taboca, de differentes dimensões, duas emplumadas com peúnas de mutum, e uma desplumada. Indios Ipurinás. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Para- naguá. Frechas de guerra semelhantes às de n. 26, porém emplumadas com pennas de arara canindê. Indios Ipurunis. Offerta de Antonio Herculano Pacifico. Frechas, uma de guerra e outra de pesca, emplumadas com pennas de mutum : a primeira de ponta lanceolada de taboca, ligada a um pequeno gomo de paxiuba ; a segunda de ponta de paziuba dentada de um só lado. Indios do rio Jutahy. Offerta de Basilio José da Silva. PA ou» à termo frecha para o instrumento selvagem, designando por ficha o vegetal de que fabricado. (2) Ubá do Sul. v.u 12 29 30 31 32 34 35 36 SE DO qm 1 Valente frecha de guerra (hamaiúa), de haste de takuara, gomo de madeira rija e grande ponta de femur (itapuá) de hoatá, A ex- tremidade superior é emplumadas de duas longas pennas de gavião real (harpia), ligadas por nervuras de pennas de garça intercaladas, presas por anneis de pennas de arara. Na base, proximo ao logar que se adapta à corda do arco, ha um enfeite de pennas encarnadas e pretas. Esta frecha é de uma tribu desconhecida dos indios hatauichis, contra os quaes foi lançada de sorpreza, no rio Mucuira. Os katauichys julgam pertencer ella aos Yumas, do rio Madeira. Dimensões: 1,42 de compri- mento, tendo a ponta 07,45, incluida a parte ossea. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Frechas de guerra, uma de haste de madeira, ponta lanceolada de taboca, bidentada, emplumadas de duas pennas inteiras de mutum ; outra de ponta de taboca simplesmente lanceolada, haste de flecha emplumada de pennas de arara caprichosamente recortadas. Indios do rio Jutahy. Offerta do director do Museu. Bonitas frechas de longas pontas lanceoladas de taboca, tres emplu- madas de pennas inteiras de cauda de mutum e uma de pennas de gavião real. Duas teem haste de takvara e duas de flecha. Uma tem a base da ponta sagittada e enfeites de pennas vermelhas de arara nos remates das pennas da parte superior. Indios Parintintins. Offertas do Dr. Raymundo da Rocha Filgueiras, Deocleciano J. M. Bacellar e director do Museu. Grande frecha de pesca de haste de flecha, terminada em tridente de parakuiúba, ligado por cordões encerados. As pontas do tri- dente são cobertas até certa altura de um cordão encerado em espiral para impedir que a frecha se desprenda do peixe sobre que é lançada. Dimensões 1,77, tendo a ponta 0,40, Eº completamente desemplumada. Indios Parintintins. Offerta do director do Museu. Fusos de fiar algodão de uma sô haste de madeira pesada, adel- gaçada para a parte superior, um com 07,86 de comprimento dexando ver uma grande quantidade de fio finissimo preparado e dous menores. Indios Parintintins. Oferta do Dr. Raymundo da Rocha Filgueiras e Deocleciano J. M. Bacellar. Enfeite de um akangatare, composto de duas pontas de fios de algodão pintados de uruki, uma terminada em penna de mutum e outra de pennas de papagaio. Indios Kanamarys. Offerta do commen- dador Guilherme José Moreira ('). Flechas semelhantes às de n. 28, uma com dentes de osso alternados, sem ponta, gomo de paxiuba, emplumado de penuas pretas de mutume. Indios do rio Jutahy. Offerta de Basilio José da Silva. Akangatare de um circulo de tecido de uarumi, tendo na parte anterior um meio cocar de pennas da aza de papagaio, ligado lateralmente ao circulo pelo mesmo fio que une as pennas. Suspenso ao circulo existe um grande enfeite de pennas de papagaio, presas tres a tres, em diversos fios, havendo no centro, tambem pendente, um maraká, de oito omoplatas de akutiruiaia, Indios do rio Purús. Offerta de Americo Chaves. (1) Na divisão À do armario n. 4 encontra-se uma preciosidade, segundo a crença indigena, objecto degrande valor, não só para o commerciante, como para aquelles que procuram a felicidade. E'a cabeça de um urRAPURU' (dentirostro do genero tannophyllus) que, em lingua geral, quer dizer pas- saro emprestado, isto é, com fórma de passaro sem o ser, Contam ique quem possue um desses passaros, quer no interior das casas, quer enterrado à porta, sempre é feliz. Corre que, quando o uirapuru anda pela matta, todos os passaros o seguem em grande cortejo, exhibindo suas mais harmo- niosas canções. Ainda nesta divisão do armario vê-se um guizo ou ghocalho de cobra cascavel (crotalus horridus), com 42 anneis, da provincia de Minas, 37 39 40 41 43 4d 46 47 48 vo ty [o] w ES GA o DIVISÃO-E Akangatare (múipoary, dos Tarianos) (*) feito de um duplo tecido de palha de tukuma (astrocaryum tucumd), ao qual se adapta um ornato de pennas vermelhas e amarellas do uropygio do tucano. Indios Tarianos e Tukanos, do rio Ucaiary, vulgarmente co- nhecido por Uaupés, afiluente da margem direita do Rio Negro. Ofterta do tenente João Pedro Moreira Arnoso Akangatares de duplo tecido de palha varumá, mais estreito e mais grosseiro que o de n. 35, um ornado de pennas de rhamphastus toco ou tucano de papo branco e outro de pennas de uropygio de ramphastus ariel ou tucano de papo vermelho. Offerta do major José Joaquim Palhetae Joaquim José Ferreira de Mendonça. Ornatos para os akangatares de n. 36. Oftertas do Major José Joaquim Palheta, padre Genesio Ferreira Lustosa e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Largo akangatare de pennas de uropygio de tucano, ligado a um tecido de malhas de fio de algodão. Offerta de Antonio Fran- cisco Liberato. Lindos akangatares de pennas erectas e sobrepostas na parte superior horizontalmente, formando quatro ordens : a primeira, inferior, de pennugem branca de filhote de wrubir (vultur sp.); a se- gunda de pennas encarnadas de corpo de arara ; a terceira e quarta de pennas da parte inferior de azas de arara macaw, contrafeitas, isto é, cuja cor encarnada, por artificio, foi trans- formada em um lindo amarello dourado. As pennas deste akangatare são ligadasa um largo tecido de fios de tukum, terminado em duas longas pontas, em forma de corda, de pello de macaco barrigudo (logotrias Hamboldtii). E' enfeite de uso dos tuchaúas (chefes). Offertas do major José Joaquim Palheta, e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Rosetas de enfeitar cabellos, pela parte posterior do akangatare : uma de pennas de cauda de yapu e tres de pennas de arara contrafeitas. Ofertas do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Pennas (mãi-pêcony, dos Piratapuyos) de cauda de arara enfeitadas de pennas brancas de garça. Enfeites de cabeça. Offertas do ma- jor José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Armações (ulrro) de talas de parxiuba : uma sobre tecido de merity e outra de cabellos humanos e de macacos. Estas peças sus- tentam dous longos e alvos kokares de pennas finas de garça, a que os Tukanos chamam malisano. Ofertas do major José Joa- quim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Armações de paxivba, sem enfeites. Oferta do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Feixes de corda (itihua, dos Tarianos), imitando tranças, de pello quariba vermelho (mycetes seniculus). Enfeites de cabeça. Ofertas do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferrreira de Men- donça. Ossos (tibias) de onça, do centro dos quaes partem cordas de pellos de macaco, terminadas nas pontas, à guiza de borlas em dous grandes endocarpos de palmeira (astrocaryum), de especie desco- nhecida. Estes objectos ligam os enfeites de cabeça. Ofertas a major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Men- onça. Feixes de cordas de pellos de macaco, com extremidades terminadas em borlas de pennas de uropygio de tucano. Estes objectos ligam enfeites de cabeça. Offerta de Joaquim José Ferreira de Mendonça. (1) Maé (arara), poary (penna). 49 50 55 56 57 o8 59 60 61 00 + Enfeite (pitayauá, dos Tarianos), em fórma de penna, feito de uma haste fina de paxiíuba, coberta de pennugem de filhote de urubu, rematada por duas pennas de cauda de yapyim dispostas angularmente, sendo o vertice ornado de pennas encarnadas e pretas de tucano. Delicado enfeite para cabeça. Offerta do major José Joaquim Palheta. Grande roseta de pennas encarnadas de cauda de arara macaw. Enfeite de cabeça. Offerta do major José Joaquim Palheta. Tangas de mulher, de missargas brancas, azues e vermelhas, tecidas com fio de kuraui, ornadas de franjas com borlas de fragmentos de lã. Estas tangas apresentam varios desenhos regulares, feitos de linhas quebradas, dispostas em quadrados, formando diffe- rentes figuras geometricas. Affectam a fórma de parallelo- grado com as seguintes dimensões : 1º 02,18 — 07,23» 07,08 — 021. Analigê, dos Tarianos, ou enfeite de cobrir o pescoço dos homens, de pennas de cauda de paviosinho, presas por um fio de tukum, Offerta do major José Joaquim Pullcta Longas tangas de homem (uácíro) de liber de turury (couratari sp.) () artificialmente encrespado e pintado de encarnado, amarello e preto, apresentando varios desenhos. Dimensões diversas, Offertas do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Collar de pequenos quadrados polidos e perfurados de conchas, ligados a fio de algodão. Offerta do director do Museu. Ligas (yuti-strô dos Piratapuyos) artisticamente tecidas de fios de kuraui, 4 pintadas de vermelho e amarello, com kharayuriú (Lundia chica) e tauá (argilla, óca) e duas de tukum sem pintura. Usadas pelas mulheres das tribus do Uaupés. Offerta do major José Joaquim Palheta, Mutiry ou pequeno sacco de conduzir a tiracollo pequenos objectos, de tecido de huraui. Offerta do major José Joaquim Palheta. Grandes cintos para homem (yecê-pyry, dos Piratapuyos), de caninos de porco queixada (dicotyles labiatus), dispostos parallelamente, perfurados e ligados por fios de pellos de macaco barrigudo e koatá. Offertas do major José Joaquim Palheta e de Frei Ve- nancio. Gaitas, 2 de ossos (tibias) de onça (yaiuá, dos Piratapuyos) e tres dos mesmos ossos de veado (yamanud), todas com tres furos para mo- dulação do som. Uma das de osso de onça é ornada de um pre- cioso maraká de innumeros hellithros do raro scarabeu herculis. Offertas dos majores José Joaquim Palheta e José Antonio No- gueira Campos Frautas de Pan (carriça, em Venezuela, ocupà, dos Piratapuyos, ta- riuamá dos Tarianos, ukampamá dos Tukanos), de diversos ta- manhos, de tabocu, tres ligadas superior e inferiormente e uma ligada apenas superiormente. Offertas do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. Buzina preta, feita de um craneo de veado, coberta de cerol, usada nas ceremonias funebres. Serve de bocal o buraco occipital, sa- hindo o som por um orificio praticado na maxilla superior. Ofterta do major José Joaquim Palheta. Anzões delicadamente feitos de espinhos de palmeira (astrocaryum E TM ligados por fios de kuraui. Oferta do major José Joaquim alheta. Braçadeiras (dekatoni dos Piratapuyos, humarinda dos Tarianos), usadas pelos tuchauas no braço esquerdo. São feitas de pellos de macaco barrigudo com pontas de fios, cujas extremidades são ornadas de pennas amarellas de cauda de japyim e encarnadas de tucano. Na base dos fios, pela parte interna da braçadeira, (1) Os Tukanos chamam padamali à arvore do turury. a 69 70 a = o = encontra-se o endocarpo inteiro de uma palmeira (astrocaryum pa perfeitamente polido. qffertas do major José Joaquim Pa- lheta, Joaquim José Ferreira de Mendonça e Frei Venancio. Ornato (nanacy, des Tukanos ou tuichaua itá dos Tapuyos), distinctivo de nobreza, de quartzo leitoso, polido, de fôrma cylindrica, per- furado em uma extremidade por onde passa um fio de kurauã que serve para suspender o objecto ao pescoço. O grosso fio de kuraui é enfeitado de sementes pretas de fructo desconhecido. Este ornato é rarissimo, não só porque vai desapparecendo, como rque dificilmente os indios delles se desfazem. Dimensões 0,212 X 07,03. Offerta do major José Joaquim Palheta. Pequeno maraká (yacanga dos Piratapuyos) feito de uma cucurbita pin- tada de preto com diversos desenhos por gravura. Offerta do major José Joaquim Palheta. Lindo enfeite de trazer pendente da cabeça pelas costas, de pennas encarnadas e amarellas do uropygio de tucano, terminando de um lado em metade de endocarpo de palmeira (ustrocaryum sp.) polido, e de outro em duas pennas amarellas de cauda de japyim. Offerta de Frei Venancio. Enfeite de trazer pendente da cabeça, composto de borlas de pennas amarellas e vermelhas de tucano, ligadas por cerol. Offerta de Frei Venancio. Brinquedos - (yuyu — migã dos Tarianos) de trazer suspensas ás mãos, nas dansas, por um fio de Auraui, São feitos de um pequeno circulo de cipó com tecido de kurauá, formando ma- lhas, partindo do circulo pennas amarellas e encarnadas de japú e arara. Estes objectos servem tambem para enfeitar a parte superior dos muruku-marakãis. Offerta do major José Joaquim Palheta. Forquilha ou porta — cigaro (yapiú dos Piratapuyos) de madeira vermelha, bem ornamentada. Dimensões 0,67=2de comprimento tendo 0,m028 a abertura onde se encaixa o cigarro de tauary (tecoma sp., couratari sp.). Oflerta do major José Joaquim Palheta. Pentes (iro, dos Piratapuyos, cdhapá dos Tarianos, kivava (*) dos Tuka- nos), de diversas dimensões, com dentes de paxiuba ligados por um tecido entre dous pedaços de flecha, presas por fios de kurauã encerados que, urdidos, formam desenhos regulares, unindo-se a delicados fios de palha. Teem alguns as extremidades orna- das de grandes enfeites de pennas vermelhas, brancas e amarellas. Offertas do major José Joaquim Palheta, Joaquim José Ferreira de Mendonça e Conde Ermano Stradelli. Cabaças com desenhos por gravura, cheia de karayuri e kapy, com que os indios se pintam para as festas. Offerta de Frei Venanecio. Bolsa de turury (manicaria savifera) cheia de pennugem de filhote de urubi, para ornamentação de enfeites. Offerta do major José Joaquim Palheta. Photographias, representando uma um tuchauà Tariano, de pé, em vestes festivas, outra o mesmo typo, em meio corpo, deixando ver os enfeites de cabeça ; outra de um indio tukano com dkanga- tare festivo. Rodelas feitas de casco de tatii (dasypus sp.) Enfeite de cabello. Ofrerta do major José Joaquim Palheta. Collar de pennas de cauda de yapi ode arara, ligadas na base por fios de Rurauá. Ofterta do major José Joaquim Palheta. Cinta de cabeça de turury e cordas de pellos de macaco barrigudo. pia para prender enfeites. Offerta do major José Joaquim Palheta. tt) Corruptela de Kiuaua, tapy. 76 =, =] 78 80 81 82 83 84 85 w to [o 4) ENC, Embrulho em forma de bolsa, de surury, cheia de harayuri, para tingir ornatos e pintar a pelle em dias de festa. Offerta de Antonio Franco Liberato. (!) DIVISÃO - OG Ahangatare (murukô) circulares de pennas brancas de coruja (striz sp.) e de gavião, dispostas em duas ordens, tecidas inferior- mente de fios de algodão e merity, que se adaptam a um duplo tecido de varumá ou yacytara (desmoncus sp.) Do cireulo de palha partem perpendicularmente para cima 4 pennas encarna- das de arara, tres na parte anterior e uma na posterior. Estes akangatares são usados em dias de festa ou commummente como guarda-sol. Akangatare de pennas brancas de azas de garça tecidas como as do n. 79 e adaptadas a um circulo igual ao do mesmo numero porém usado pelas mulheres. ) Ahangatare de pennas pequenas de orupygio de tucano, tecido da mesma fórma e adaptado a um circulo de palha com e os de ns. 75 e 76. Tangas (hueii da lingua geral, veikó dos Krichanás) para homem, tecidos de algodão, formando uma fita de 07,50x0,=05. A largura dessas tangas varia entre 0",03—0",08. Umas são completamente brancas, outras ornadas de differentes desenhos por pintura, feitos quasi sempre de linhas quebradas, porém regulares e symetricas, alguns bem complicados, o que denota o grão de intelligencia desses selvagens. Uma das pontas dessas tangas é presa a uma cinta de cipó collocada na cintura pela parte anterior, passa por cima dos orgãos genitaes, cobrin- do-os, indo-se pender a mesma cinta de cipó pela parte poste- rior, de onde fica pendente uma longa ponta, que semelha uma cauda. D'ahi veio a serem conhecidos os Krichanis, anti- gamente por quaribas, suppondo-se que possuiam caudas. Tangas para meninos, estreitas e menores. Tangas festivas, de tecido inteiramente igual ao das de n. 78, do mesmo modo pintadas, com 2/3 do comprimento dellas, orladas de franjas amarellas, encarnadas e pretas de uropygio de tucano dispostas com arte, regularidade e gosto. Em algumas notam-se pellos de cutia, tendo pendentes, lateralmente, por pequenos fios de kuraui, pennas amarellas da parte inferior das azas da arara canindê. Outras não teem desenho algum, são completamente brancas, como as que as orlam lateralmente. Tangas inteiramente iguaes às de n. 80, porém menores. Tanga de mulher (umaipó) nova, ainda não concluida, deixando ver a maneira por que se fazem as franjas da base. Tanga de mulher igual à de n. 82, avabada e já servida, de forma mais ou menos trapezoidal, de tecido de kuraui, com sementes pretas de um cissus, franjada inferiormente de endocarpos de mumbaka (astrocaryum mumbaca), marayás (bactris sp.) albumen de paxiuba e ossos proprios de ouvidos de cutia Essa franja tem fim duplo: faz peso para que a tanga fique sempre pendente e serve de chocalho ou maraki, de modo que ouve-se sempre um chocalho cadenciado à proporção que andam regularmente. Estas tangas teem geralmente 07,25 de largura na parte superior e 07,40 na inferior. A altura é de 07,15. O tamanho varia segundo a altura e desenvolvimento das mulheres. (t) Osobjectos encontrados nesta divisão são usados indifferentemente pelos indios Tarianos, Tuhanos, Piratapuyos, Malas, Uanauás (rio Apaporis), Deçanas, Baniuas e outros vulgarmente conhecidos pela denominação de Uaupés. s6 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 vo TV mi as Ird jmá 1 5 [57] de A Tanga de menina (hunhi-mukiu, em lingua geral), igual à de n. 83, com 0,º12 na parte superior, 0,220 na inferior,e 0,705 de altura. Tambem variam no tamanho, segundo o crescimento das meninas. Tanga de menina, apresentando signal de transição do estado sel- vagem para o civilisado, isto é, deixando ver no tecido algumas missangas substituindo as sementes de cissus. Tanga de menina, completamente nova, feita pela mulher do tuchaua Apataraká, dos Krichanis, para presente. Collares de caudas inteiras de tucano, com as pennas do uropygio, enfiados equidistantemente em um cordão de Auruá, conservando parte de pelle do passaro, onde existe um preservativo feito de carayurit e de uma substancia resinosa para que aquellas si não estraguem. Este collar tem 6 caudas enfiadas. Collar de pennas de cauda de yapi, mostrando na parte central duas outras vermelhas de cauda de arara presas a um fio de Rurauá. Collar de espinhos de sumauma (eriodendron sumauma), perfurados na base e enfiados. Collar de sementes pretas e lustrosas de periquiteira (bomba sp.) ornado equidistantemente de dentes incisivos de anta (tapyrus americanus) alternados com albumem de paxiuba. cortado pelo centro. Collar simples de sementes de periquiteira. Collar de unhas de maracayi (felis pardalis), dispostas equidistan- temente. Collar de incisivos e mollares de anta. Collar de infinidade de mollares de maracayá e incisivos de macacos (cebus). Collar de caninos de coati, com uma maxilla de piranha (serrazalmus sp.) pendente, maxilla que serve de tesoura para aparar cabellos, e uma outra de peixe cachorro que faz papel de lanceta para sarjar a parte do corpo dolorida ou contusa. Collar de innumeros caninos de koatá. Collar de caninos de coati e um dente da mesma especie de onça. (') Pulseiras-marakis de ossos de ouvidos de cutia. Braçadeiras de um cireulo de cipó, ornado de pennas vermelhas e azues de cauda de arara. Cintas de casca de uarumi, que os selvagens tecem no proprio corpo, não sias podendo tirar, sem que se estraguem os objectos. Cintas de cipô de enleiar o corpo, sendo abandonadas sómente quando o uso as torna inuteis. A estas cintas prendem-se as tangas (ueikós) de ns. 78 a 81. Machados de diorito, perfeitamente polidos, ligados ao cabo de ma- deira por cordões de kuraui encerados e coberto o ponto de ligação por massa de cerol. Com esses machados os Krichanás derrubavam arvores, cavavam canôas (kuriaras), preparavam remos e outros utensilios domesticos. Vidro com sal vegetal (iuirim), para adubar alimentos. Cuia (Ramekui) de metade de endorcapo de castanha (bertholetia excelsa), para agua. Pequeno cesto de forma cylindrica, para aljava de frechas. Frechas de guerra, de haste de flexa, gomo de madeira rija e flexivel, ponta de osso (itapuá, em lingua geral) humano, de onça, veado ou koati. São emplumadas de pennas de mutum ou ciganas (op- pistochomus cristatus), de um lado e de gavião tauató, de outro, ornadas circularmente na parte superior de pennas miudas ver- melhas e amarellas de tucano. As pontas destas frechas chegam a ter 0,211 de comprimento. Frechas de pesca, de uma só haste de marayá (bactris setigera Barb. Rod.), com pontas e emplumadas como as de n. 106. (!) Estes collares são usados diariamente. Os dentes que os compoem são todos perfurados na base e entiados em cordões de fios de kurauá, no n1 12 13 h4 15 116 17 118 19 120 121 122 123 124 125 126 8 [av] Irá a) PES” Frechas de caça, de haste de flechas emplumadas como as de n, 106, algumas enfeitadas de pellos de tamanduá (myrmecophaga ju- bata), com pontas de madeira, tetrangulares, pyriformes, glo- bulosas, cylindricas e obtusas. Apparelho de fazer fogo, composto de um pão de envireira (rollinia sp.), que dá o fogo de uma haste fina de madeira branca e leve ue fricciona a envireira, e de iscas ou raspas de liber de ma- eira desconhecida. Gaita de osso (femur) de koatá, com tres furos. Os indios a tocam quando so dirigem para o banho. Gaita composta de dous femures de gavião real ligado. Cada peça tem um furo e é usada nas dansas. Gaita como a de n. 112, porém simples. Gaita de colmo de taboca. Enfiado de pennas de gavião real, deixando ver a maneira de pre- paral-as o conserval-as para os enfeites. Maxilla inferior de porco do matto (taitetiy) munida de dentes com- pletos. Serve de plaina para alisar arcos. Enfiada de albumens de paxiuba partidos transversalmente. Ornatos para franjas de tangas de mulher. Pulseira circular, de unhas de gavião real imbricadas, com as pontas introduzidas nas concavidades posteriores das que lhe ficam na parte anterior. Photographias, uma representando um mancebo Krichaná em habitos de festa, outra duas mulheres da mesma tribu completamente nuas. Maraká de endocarpos de fructos desconhecidos, ligados a uma larga corda que os selvagens usam nas festas, segurando-a com ambas as mãos e conservando os braços abertos. Gaita de colmo de takuara, differente da de n. 113, unicamente no modo de ser soprada. (') Maraká feito de um colmo de takuara, coberta interiormente de um tecido de palha de uarumá, de delicado desenho, em que se combinam as cores preta e branca, DIVISÃO-D Ahangatare de um duplo circulo de tecido de uarumá, ornado de um lindo enfeite em fôrma de resplandor, de pennas de azas de papagaio, vermelhas na parte anterior e verdes na posterior, mostrando na parte central tres longas pennas encarnadas de arara, unidas por um fio de Aurauá, ornadas na base por uma pequena franja de pennas amarellas. Indios Chirianás, do rio Mamimeu, affiuente da margem esquerda do rio Negro. Offerta do major José Miguel de Lemos. Tanga de homem (tapa-rabo, dos Peruanos), de algodão tecido, com franjas de contas nas extremidades e nas quatro pontas borlas de pennas vermelhas de tucano, tendo pendentes fios de algodão ornados de pennas de papagaio. O algodão da tanga é dos ornatos é tinto de urukú. Indios Chirianás. Dimensões 1m,30 X 0m,18. Offerta do major José Miguel de Lemos. Tanga de mulher, de missangas, inteiramente semelhante à de n. 49. Indios Chirianis. Offerta do major José Miguel de Lemos. (t) Todos os objectos desta divisão pertencem aos indios da tribu Krichaná, do rio Yauapery, afluente do Rio Negro. São trophéos de sua recente pacificação operada pelo director do Museu Botanico, por quem foram ofertados os mesmos objectos, 127 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 w E, E Tanga de mulher, de missangas azues e brancas, tecidas com flos de algodão, ornada de desenho em fórma de gregas, orlada na base de uma franja vermelha de algodão com missangas da mesma côr. Fórma trapezoidal. Indios Uapichanis, do rio Ta- kutú, afiluente da margem esquerda do rio Branco. Dimensões 0m,11 X 07,23. Offerta do professor João Capistrano da Silva Motta. Tanga de mulher semelhante à den. 126, em cor e tamanho. Indios Uapichanis. Offerta do cadete Antonio de Souza Brochado Fiiho. Grande tanga de mulher, de missangas brancas, azues e encarnadas, ornada de desenhos em fôrma de gregas, de fórma trapezoidal, com franjas de algodão e missangas encarnadas. Indios Uapi- chanis. Dimensões 0,18 de altura e 02,40 de largura, na base. Ofterta do professor João Capistrano da Silva Motta. Tanga de mulher, de fôrma trapezoidal, do missangas pretas e brancas, tecida de fio de algodão, com largas franjas de missan- gas pretas em algodão, suspensa por uma cinta de enfiadas de missangas brancas, côr de rosa e vermelhas. Indios Makuchys, do rio Branco, afiluente do rio Negro. Dimensões altura 07,16; largura na base 07,40. Offerta do director do Museu. Braçadeiras ou ornatos da parte superior dos braços, de pennas en- carnadas de cauda de arara, presas na base por feixes de pennas verdes de azas de papagaio desprovidas de nervuras. Indios Chirianis. Offerta do major José Miguel de Lemos. Braçadeiras de longos fios de algodão pendentes, enfeitadas de pennas de papagaio com borlas na parte superior, no logar onde se ajustam os enfeites. Indios Chirianis. Offerta do major José Miguel de Lemos. Brincos de borlas de algodão pintado de uruki, enfeitadas de pennas vermelhas de tucano, tendo pendentes fios de algodão com enfeites de pennas de papagaio. Indios Chirianás. Offerta do major José Miguel de Lemos. r Pulseiras semelhantes às braçadeiras de n.. 128,- porém menores. Indios Chirianis. Offerta do major José Miguel de Lemos. | Grossa cinta de innumeros fios de pello de macaco koati, torcidos. Indios Chirianás. Offerta do major José Miguel de Lemos. Perneiras igualmente feitas de pellos de coatá, torcidos, formando uma longa corda, que os indios enleiam abaixo do joelho. Indios Chirianás. Offerta do major José Miguel de Lemos. Cylndro de louça, imitando perfeitamente a pedra do ornaton. 61, que os Tarianos trazem ao pescoço em signal de distincção. E" industria ingleza introduzida pela Guyana. Cnega às mãos dos Chirianás por trocas com os makuchys do rio Branco. Offerta do major José Miguel de Lemos, Grande maraki de curcubita, pintada de preto, com desenhos por gravura pintados de branco. Índios Chirianis. Offerta do major José Miguel de Lemos. Brincos de (panalayá ) de moedas de cobre brazileiras, achatadas e polidas, pendentes de uma enfiada de contas pretas e côr de rosa. Indios Makuchys, do rio Mahú, affluente do rio Branco, Esses indios fazem os brincos não sômente de moedas de cobre, como de prata e ouro, nacionaes ou estrangeiras, sendo estas dadivas dos inglezes de Guyana. Ofterta do director do Museu. Enfeite de nariz (pirata), em fôrma de crescente, de prender à parte inferior do septo nasal. Este objecto é de cobre, porém o fazem tambem de prata e ouro. Indios Makuchys. Offerta do director do Museu. - Enfeite para o labio inferior ( epicinon ), collocado na parte onde existe um furo, deixa pender diversos fios de algodão pintados de urucir, enfeitados de pennas de papagaio e tucano. Estes fios vão ter superiormente a um cone truncado feito da parte ter- minal da espiral da casca de um buzio (strombus sp.), que recebem dos inglezes pela Guyana. Termina o cone em um pequeno 13 142 143 144 145 146 147 148 153 154 155 156 [o] Eno es enfeite de contas pretas. Indios Makuchys. Offerta do director do Museu. Braçadeiras de prender na parte superior dos braços, de longos fios pendentes de algodão tintos de urukú e enfeitados de pennas de papagaio e tucano. Estes ornatos ajustam-se por corredeiras de um quadrado polido de casca de buzio (strombus). Indios Makuchys. Offerta do director do Museu. Pequena aljava (ucarynare ) de espique de paxiuba ( Iriartea setigera, Mart ) enfeitada de fios de algodão branco e de outros pretos encerados, com tampa de couro de veado, Esta aljava suspende se ao hombro esquerdo e serve para guardar as pontas moveis e envenenadas das frechas de caça. Offerta do director do Museu, Indios Makuchays. Pedaço de espelho, encaixilhado em flecha, fechado na parte posterior por uma pequena esteira do mesmo vegetal, enfeitado com cordões de algodão, por um dos quaes se suspende. Indios Uapichanás. Offerta do director do Museu. Dydima ou tipoia de trazer as crianças suspensas ao collo, de tecido de algodão representando varios desenhos. Tem extremidades unidas. Indios Uapichanis. Dimensões 12,10x 07,20. Offerta do professor João Capistrano da Silva Motta. Fuso de um disco de casco do tartaruga, com desenhos por gravura, cobertos por massa preta deixando passar perpendicularmente pelo centro uma vareta de inayá (maximiliana regia ) enrolada de algodão já fiado. Indios Uapichanis, da maloca Canauanihi, Ofterta do professor João Capistrano da Silva Motta. Pequeno Kamuty ou vaso de argilla sem ornato algum. Indios ad Offerta do professor João Capistrano da Silva otta. Pakará ou cestinho delicadamente tecido de uarumá, com diversos desenhos formando gregas pretas. Traz-se-o suspenso ao braço, e é de forma cylindrica. Indios Uapichanis, Offerta do professor João Capistrano da Silva Motta. Pakará menor tecido differente do de n. 148, branco. Indios Uapichanás. Oferta do professor João Capistrano da Silva Motta. Pakari branco, de forma quadrangular, com tampa da forma do objecto onde este se encerra e orlado de palha de um ayris paia por talas de yacytara, pintadas de preto. Indios Uapi- chanás. Olferta do professor João Capistrano da Silva Motta. Pakará semelhante ao de n. 149, porém maior. Indios Aturayus, do rio Uraricapará, afluente da margem esquerda do rio Branco. Ofrerta do director do Museu. (*) Assobio (takuri) de caça, de argilla envernizada com gyutahy-cica (hymoenea sp.) Tem a forma bi-reniforme, aguçado de um lado e com dous orifícios. Indios Apiacis, do Tapajoz. Oferta do Director do Museu. Ufuá ou clarim, de duas partes de massaranduba (Mimusops) ligados por anneis de talas de yacytara trançadas, com bocal quadran- gular, na posição dos de flauta e como esta soprado. Indios Mundurukis, do Tapajós. Offerta do director do Museu. Pares de sandalias de vagina de folha de merity, com atacadores de cordão de foliolos de grelos da mesma palmeira. Índios Maku- chys. Offerta do director do Museu. Marakã, (heuei,) de sementes de thevetia neriifolia, suspensas por cordas de fios de algodão, ligadas a uma fita tecida igualmente de algodão, A RIR em uma haste do madeira. Indios Tpuri- cotôs, do rio Uraricapará. Offerta do director do Museu Bo- tanico. Arco vapichani, de madeira vermelha, cylindrico na parte anterior, adelgaçando-se para as extremidades, e caniculado na poste- (1) Os indios trazem este objecto, como os de ns. 148 a 150, suspenso aos braços. 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 l l 4 w — O) — rior. A corda, depois de armada, é passada pela parte caniculada. Dimensões 12,65x0,020. Offerta do director do Museu. Frecha de caça (urary-ipô) (*), grossa, de pontas envenenadas, moveis, que se desprendem da haste quando ferem o animal conser- vando-se na ferida. Estas pontas teem formas dentadas ou lanceoladas e guardam-se na aljava n. 139. São emplumadas estas frechas com pennas de mutum. Indios Makuchys. Oferta do director do Museu. Frecha de caça (tamarai-ipd) para passaros pequenos, terminando o gomo em quatro pequenos cylindros de madeira cruzados. Indios Makuchiys. Offerta do director do Museu. Frechas de guerra, de gomos finos pintados, com pontas de osso formando um dente lateralmente, ligados por fios de Aurauá encerado que se enleiam especialmente no gomo. São emplu- madas de pennas de mutum. Indios Ipuricotós. Oferta do director do Museu. Frechas de pesca-com os gomos dentados disticamente. Emplumadas com pennas de mutum, Indios Ipuricotôs. Offerta do director do Museu. Frecha de caça, grossa, de ponta lanceolada de takuara. Emplu- mada como as de n. 157. Indios Ipuricotôs. Ofterta do director do Museu. Frecha de caça, grossa, de larga ponta lanceolada de taboca. Emplu- mada de pennas de mutum. Esta flecha é feita por civilisados do rio Branco, que imitam as dos indios Mahuchys. Offerta do director do Museu. DIVISÃO E Utensilios domesticos de argilla, etc. 1 Igaçaba (hapyte) de guardar kapy (bebida de festas), de azas, em forma de orelhas, pintada interior e exteriormente de preto. Indios dorio Uaupés. Ofterta do major José Joaquim Palheta. Pequeno kamuty ou vaso (céteoué), de azas, para agua, pintado como a o 159. Indios do rio Uaupés. Offerta do major José Joaquim alheta. Alguidar pintado de ad Indios do rio Uaupês. Offerta do major José Joaquim Palheta. Igaçaba de azas, pintada como a de n. 159. Indios do rio Uaupéês. Ofterta de Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Panellinha com tampa, pintada exteriormente de desenhos escuros e envernizada interiormente. Indios Katauichys, do rio Purús. Offerta do tenente Ramiro de Souza Gastão. Panella dos indios civilisados do Rio Negro, branca e ornada exte- riormente de desenhos por gravura e envernizada interiormente com yutahy-cica, onde existem desenhos por pintura. Oferta do director do Museu. Panellinha de argilla enfumaçada contendo urary ou veneno indi- ena, preparado pelos Mahakis, do rio Parimã. Offerta do irector do Museu. Todas as panellinhas de urary contidas nesta divisão passaram para a secção dos productos vegetaes. Grande pote de argilla branca com a parte superior pintada de vermelho. Indios Miranhas, do rio Japurá, Offerta do director do Museu. Panellinha de argilla pintada de branco, com os bordos vermelhos contendo urary, como a de n. 231. Indios Miranhas. Offerta do director do Museu. (1) Ipó, frecha, ly2 173 174 175 176 177 178 179 188 189 190 191 192 193 194 195 -— 100 — Pote de argilla enfumaçado, com uwrary. Indios Tikunas, do Perú. Offerta do director do Museu. Pequeno vaso do argilla enfumaçado, contendo urary. Indios Tikunas do rio Solimões. Offerta do director do Musen. Panellinha preta envernizada. Indios kubéos, do rio Uaupés. Offerta do director do Museu. Cabaça pintada de preto, contendo urary, como a de n. 235. Indios Ucquys, da serra Roraymá, rio Branco. Oferta do director do Museu. Panellinha enfumaçada, contendo urary. Indios Uaupês. Offerta do director do Museu. Vidro contendo amostra de uwrary de cabaça. Indios da Guyana Ingleza. Offerta do director do Museu. Vidro contendo urary de pote. Indios da Guyana Ingleza. Oflerta do direcor do Museu. Colmo de taboca, contendo uwrary dos indios Yahuas, do Perú. Offerta do consul Chaves. DIVISÃO F' Alguidar grande pintado de preto externa e internamente. Indios do rio Uaupes. Offerta do major José Joaquim Palheta. Igaçgaba pintada como o alguidar n. 180. Indios do rio Uaupês. Offerta do major José Joaquim Palheta. Cuia de gamaru, pintada interiormente de preto com humatê (myrcia atramentifera Barb. Rod.) Indios do rio Uaupeês. Offerta do major Jose Joaquim Palheta. Panellinhas, uma com tampo e outra não, semelhantes às de n. 163. Indios Katauichys. Offertas do Director do Museu e de D. Victoria Maria da Silva. Panella (kempotê), piutada interiormente de preto, de azas. Indios do rio Uaupês. Offerta do major José Joaquim Palheta. Trempe com tres peças distinctas, de argilla para sustentar as panellas ao fogo. Indios do rio Uaupês. Oferta do major José Joaquim Palheta. Candeia de argilla, com azas. Usada antigamente por tapuyos. Offerta 1 do director do Museu. Grande cuia de yamaru, pintada e envernizada interiormente de preto. Indios do rio Uaupés. Offerta do major José Joaquim Palheta. Pequena cuia ou cabacinha pintada e envernizada interiormente de reto, feita por civilisados do Rio Negro. Oferta do director o Museu. ! Bola de guaraná (paulinia sorbilis), dos Indios Malmuês, do rio Mauhé- açu, afluente do Amazonas, DIVISÃO G Tear em forma de arco com uma tanga em começo. Indios Makuchys. Oferta do director do Museu. RE Madeixa de cabellos de tuchaua Apataraka, da tribu Krichanã. Barbas postiças de pelle com pello de macaco. Usadas pelos indios Krichanás, Cuia de beber tipiti (camekui, dos Krichanis) de casca de cuia de - macaco (lecythis sp.) Faca de descascar fructas carnosas, feita de costella de tartaruga. Marakà artisticamente feito de taboas de uarumá, com desenhos pretos e brancos. Usados pelas crianças e por occasião das dansas. 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 es DO O ow v [6 13 — 401) — Assobios de chamar a caça de endocarpo de tukuma-uaçã (astrocas ryum princeps Barb. Rod.) Collar de duas conchas (mycetocus sp.) e de uma maxilla de pira- andirá que faz papel de lanceta. Collar de sementes pretas de periquiteira, tendo pendentes incisivos de anta. Pares de brincos de cordas de huraud. Collares de caninos de macacos e de preguiça (Bradypus sp.) Collar de fio de Ruraui simples com 4 maxillas de pirá-ândira, que servem de lanceta. Cestinho de varumá. de forma cylindrica. E' brinquedo de criança. Conchas (anodonta), para ornato de collares. Caroços de mumbaka assados, alimento selvagem. Faca de madeira caprichosamente trabalhada, com desenhos por gravura, terminando em dente de cutia. Serve para o preparo de gomo de frechas, afim de receber a ponta de osso. Indios Uaçahys, rio Carimany, afiluente da margem esquerda do Jatapú. que desagua no Yatumã. Pães de massa de mandioca, um secco ao sol, outro ao fogo. Panellas (tary) de argilla, de tamanho e formas diversas, sem pin- tura ou desenhos (ja servidas). Alguidar servido, mostrando entretanto ter sido pintado de branco interiormente e ornado de desenhos vermelhos. (*) Parte superior Instrumento do Caireé, usado antigamente nas festas tapuyas, em dia de S. Thomé, S. Antonio, S. João e Santa Rita. Encontra-se a descripção do instrumento e da festa na Poranduba Amazonense, de João Barbosa Rodrigues. (?) Frechas pequenas usadas pelas crianças (kurumys, em lingua geral) krichanis. Estão dispostas em raios sobre o objecto n. 197, que occupa o centro do armario. Grandes cestos (panakis) de um forte tecido de uarumá, com desenhos pretos e brancos. As mulheres Arichanis os trazem às costas, suspensos pela testa e nelles conduzem redes, panellas, manti- mentos, ornatos, etc. Dimensões 127,0xX02,35. Panakis menores, trazidos pelas raparigas da tribu krichaná. Photographias (em quadro) representando diversos typos Miranhas e Omaluas e uma maloca (habitação) miranha, do rio Japurã. (*) Partes lateraes Frechas de pesca, de pontas diversamente dentadas, umas de um só lado, outras de ambos, desemplumadas, com gomos ligados à haste por fios de kAurauá ornados de desenhos pretos, vermelhos e amarellos. Algumas destas frechas teem o gomo coberto de palha de milho, para que se não estraguem os enfeites. Indios Piros, do rio Ucayale, afiluente do Maranhão. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas de longas pontas de taboka, de forma lanceolada, ornada de desenhos pretos. Desemplumadas. Dimensões 1::,70—212,50, Pequeno panakir, de talas de uaruma, com testeira de tecido de kuraui e munido de uma corda tambem de kuraui para fechal-o. Apresenta desenhos pretos. Indios Uapichanis. Offerta do pro- fessor João Capistrano da Silva Motta. (1) Todos os objectos desta divisão, exceptuados os de ns. 174 e 189, pertencem aos indios Krichanás e foram doados pelo director do Museu. E (2) Impresso nos Annaes da Biblivtheca Nacional. — Typ. Leuzinger— 18) (3) Todos estes objectos foram oflertados pelo director do Museu, — 102 mu Parte anterior 217 2 Murukius-marahas (sauimá, dos Tarianos), especie de sceptro dos tuchauas Tarianos e Tukanos, do rio Uaupés, que os trazem por occasião de festa. Estes instrumentos, de imuirapiranga, madeira vermelha, rija e pesada,teem a parte superior ornada de desenhos por gravura, enfeitada de pennas azues brilhantes de papo de anambé ou uanambé (ampellis fasciata), de pennas de papo de pato selvagem (anas sp.) e de pennas de tucano, terminada em dous dentes de takuara. Pouco abaixo dos enfeites de pennas encontra-se um ornato de cordas de pello de macaco com borlas de pennas de cauda de yapyim e de uropygio de tucano, ou então dos proprios fios do pello rematados por pennas de cauda de papagaio. Na parte inferior, pouco antes da ponta aguçada, existo uma cavidade aberta na madeira, perceptivel por uma estreita fenda, pela qual se introduzem pequenos seixos que servem de chocalho. Indios Banivas, (*) do rio Uaupés. Offertas do major José Joaquim Palheta e do Dr. Alfredo Sergio Fer- reira. 218 1 Muruci-maraká, semelhante aos de n. 217, porém enfeitado por circulos de pennas amarellas e vermelhas de tucano, tiradas de ahangatares. Este objecto serviu de sceptro à menina que repre- sentou a cidade de Manãos na festa da abolição dos escravos dessa capital. Indios Banivas. Offerta de Manoel Gonçalves de Aguiar. 219 1 Ahangatare simples, chato, de forma circular, de fino tecido de uarumáa. Tribu * 220 1 Corda de pontas ligadas, de 102,0 de comprimento, enfiada por pequenas e trabalhosas contas de endocarpo de uauaçã (attalea excelsa), perfeitamente polidas, iguaes, com 0,002 de espessura e 07,006 de diametro, o que attesta grande paciencia e trabalho voluntario. Indios Parintintins, do alto Madeira. Estes sel- vagens espetam a cabeça do inimigo em uma lança, e dansam em deredor ; cantando, com as mãos presas à corda, formando um grande circulo. Offerta do agrimensor Deocleciano Justino da Matta Bacellar. ARMÁRIO N.2 DIVISÃO A 221 1 Akangatare de pennas amarellas e encarnadas de tucano, em um du” plo tecido de talas de uarumã. Indios Yaluas, do rio Ucayale, afluente do Maranhão. Oflerta do consul braziloiro em Loreto José Guilherme de Miranda Chaves. 222 1 Akangatare feito de liber de uma anonacea, com a parte lisa que as- senta sobre a cabeça, pintada de roxo, cahindo lateralmente longos fios do mesmo liber. Indios Yahuas. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. 223 2 Grandes fraldões de foliolos de tukum desfiado, sendo um pintado de pr Sçássd Indios Yaluas. Offerta do consul José Guilherme Miranda Chaves. 224 4 Braçadeiras de pequenos feixes de foliolos de tukum desfiado, ligado q a uma fita dos mesmos fios, que servem para apertar o objecto ao braço. Ahi se prendem pennas vermelhas e azues de cauda (1) Os Banquas vivem entre os rios Kerary e Kaduiuri, afll, do Uaupés. 229 230 231 232 233 8 8 vw = Sof — de arara. Indios Yahuas. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Perneiras, duas pintadas de urukiY, com a mesm a forma das braça- deiras. Indios Yahuas. Offerta do consul José Guilherme de Mi- randa Chaves. Longo collar de sementes de fructos desconhecidos. Tribu do Perú. Oíferta do Dr. Joaquim Leovigildo de Souza Coelho. Craneo de indio Icatianá (*) do rio Purús. Offerta do Dr. Raymundo da Rocha Filgueiras. Craneo de indio Inamare (*), notavel por não apresentar suturas occipito-parietaes. Estas são um simples prolongamento da sutura parietal que pouco antes de chegar à protuberancia occipital vol- ta-se formando um osso distincto, circular, facto esse inteira- mente anormal. Oferta do Dr. Raymundo da Rocha Fil- gueiras. Escudo contendo oito pequenas frechas todas hervadas, typos para zarabatanas de Indios Ipurinôs, Tikunas, Katauichys, Deçanas, Miranhas, Maiankonys, Makuchys e outros da Guyana Ingleza. Offerta do Director do Museu. Frechas de pesca, todas de pontas dentadas, emplumadas de pennas de azas de mutum e arara. Indios Kampàs, do Perú. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas de guerra, emplumadas, de ponta lanceolada de takuara. Indios Kampás. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Para- naguá. Frechas de pesca, uma de gomo simples terminado em ponta de osso, dentada, e outra de gomo cortado circularmente no terço in- ferior, afim de partir-se quando frechado o peixe. As duas porções são ligadas por um cordão em espiral, de modo a nunca ficar a haste completamente separada do gomo. Esta ultima frecha é disticamente dentada por dous dentes de osso. Ambas são emplu- madas, uma com pennas de arara caninde e outra com pennas de gavião. Indios Amauakàs, do Peru. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas, 4de pontas de paxiuba dentadas disticamente e uma de ponta de madeira rija. vermelha, armada de longos dentes em um espaço de 0,=35. Ambas emplumadas de pennas brancas de garça, ornadas de desenhos escuros. Indios Amauakás. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frecha de ponta lanceolada de takuara. Indios Amauakás. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Photographia representando quatro typos de indios Konibos, do rio Ucayale, Perú. Offerta do director do Museu. Frechas de guerra com pontas largas de paxiuba, longamente den- tadas, emplumadas de pennas de gavião real. Indios Konibos. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. DIVISÃO-B Igaçaba de argilla, sem pinturas. Indios Katukinas, do rio Jutahy. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Grande panella, sem pinturas. Indios Marauarás, rio Jutahy. Of- ferta de Manoel Urbano da Encarnação. Panella. Indios Bahuis, rio Jutahy. Offerta de Manoel da Encar- nação. (t) Alguns escrevem Catianan. (*) O coronel Rodrigues Labre escreve Auainamary. 240 243 244 245 246 247 248 15 é 404 mu Parte superior Photographia em quadro, representando dous tvpos de indios, homem e mulher Pauichianis, rio Solimões, Offerta do director do Museu. Partes lateracs Frechas de caça, de ponta de osso, emplumadas de pennas de mutum. Indios Pixivos, rio Ucayale. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas de caça, de ponta de paxiuba, diversamente dentadas, dentes grandes e pequenos, collocados de um só lado, ou de ambos. Indios Pixivos, Estas frechas são emplumadas depennas de mutum e de garça, ornadas de desenhos escuros. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas de caça, de ponta lanceolada de takuara. Indios Pixivos. Of- ferta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, ARMARIO N. 3 DIVISÃO A Mascara com grades orelhas, de liber de turury, alvejado e pintado. Objecto para festas; Indios Tikunas, rio Solimões. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Especie de samarra de liber de turury alvejado, com pinturas pretas, rôxas e amárellas. Indios Tikunas. Offerta do consul José Gui- lherme de Miranda Chaves. Akangatare de um circulo de liber de uma anonacea, com pinturas - rôxas, ornado na parte superior de pennas vermelhas de arara, erectas, com as duas posteriores enfeitadas de pennas de cauda de Yapuim (casicus hemmorrohus), pendentes, com pennas ver- melhas de arara e brancas de garça na base. Indios Tikunas. Ofrerta do chefe do policia Dr. Firmino Gomes da Silveira. Mascara usada nas festas do Yurupary, tecida de pellos de macaco barrigudo e de onça e de cabellos humanos. A parte supe- rior é enfeitada de um grande feixe de pennas brancas e vermelhas que simulam-o fogo. Esta mascara, que cobre o rosto do individuo que a traz e que tem duas aberturas por onde pas- sam os braços, é hoje rarissima e talvez unica nas collecções ethnographicas. Occultam-a no centro das florestas, onde só po- dem vêl-a poucos iniciados na festa do Yurupary. As mulheres e os não iniciados não podem avista-la, sob pena de morte. Não ha poder humano que obrigue uma mulher da tribu a ver esse obje- cto. O director do Museu Botanico,com grande difficuldade, obteve essa mascara, que, além de seu valor ethnographico, tem gran- de valor historico, pois sur posse deu logar a varias mortes de indios e à dispersão de duas missões. Na segunda parte da obra Muyrakytãi encontra-se a narração fiel desse acontecimento. Indios Tarianas, do rio Uaupés. 1 Collar de dentes incisivos de macacos, composto de quatro ordens, dispostos no sentido em que se acham os dentes nas maxillas do animal. Todos são perfurados e ligados por fios de algodão. In- dios Tikunas. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. 249 250 257 258 259 260 261 262 — 105 — Collar simples de uma enfiada de maxillares de sauis, perfurados e ligados por fios de algodão. Indios Tikunas. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Grande collar de caninos de coatà, regularmente ligados por fios de algodão. Este collar, bem como os de ns. 248 e 249, são usados, em festas, pelos chefes tikunas, que trazem o de n. 248 ao pes- coço e os de ns. 249 e 250 pendentes sobre o peito. Todos esses objectos, pela natureza do tecido, são fortes e de forma circular correcta. Offerta do Dr. J. L. da C. Paranaguá. Photographia, representando, em meio corpo, um indio com a mascara do Jurupary ('). Offerta do Director do Museu. Frechas de caça, de pontas de paxiuba, dentadas, duas de um só lado e uma de ambos. Emplumadas, duas com pennas de mutum e uma com pennas de garça com desenhos. Indios Kampás. Of- ferta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechas de guerra, de longas pontas lanceoladas de takuara, duas munidas na base de dous dentes de osso e duas com a parte lan- ceolada bidentada. Emplumadas de pennas de mutum, à exce- pção de uma, que o é de pennas de arara. Indios Kampás. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguã. Frechas de pesca, de ponta de osso, uma emplumada de pennas de mutum e outra de pennas de arara canindê. Indios Amaluakis. Offerta do Dr. Jos* Lustosa da Cunha Paranaguá. Frecha de guerra, de ponta larga e longamente dentada. Emplu- mada com pennas de garça. Indios Amahuakas. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Frechis de erça a poses de ponta de paxiuba, disticamente dentadas. Emplumadas de pennas de mutum, Indios Amahuakás. Oferta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguã. DIVISAO B Vaso para agua, em forma de puraquê, pintado e envernizado de yutahy-cica. Offerta do padre Lustosa. Kamuty de argilla pintado exteriormente de preto, ornado no bojo, de differentes desenhos, e, no gargalo, de uma grega formada de curvas. As pinturas são vermelhas e pretas, estas feitas com pó de pedra chibá dissolvido em caldo de mandioca. Trabalho da tapuya Angelica de Souza, do Carvoeiro, e offerecido por D. Maria dos Prazeres Vasconcellos. Forno pintado e envernizado, externa e internamente, Indios do rio Uaupés. Offerta do major José Joaquim Palheta. Parte superior Photographia, representando dous typos de indios Tikunas, homem e mulher. Offerta do director do Museu. Partes lateraes Frechas de pesca, de ponta de paxiuba e dente de osso. Emplu- madas de pennas de mutum, Indios do rio Jutahy. Offerta do director do Museu. Frechas de caça, duas com pontas de madeira rhombudas e uma de gomo triangular, dentalo nas duas faces. Emplumadas de (1) Foi desta a ue o Dr. Sant'Anna Nery tirou cópia para a gravura que se acha no Pays des Amazones, pag. 135, fig. 46. v. ul. 14 — 106 — ponnas de mulum. Offerta do director do Museu, Indios do rio Jutahy. Frechas do guorra, de ponta lanceolada de taboca, Emplumadas de pennas de mutum. Indios do rio Jutahy. Oflerta do director do Museu. GRUPO N.1 Armas envenenadas e instrumentos de musica 204 205 208 270 271 274 1 Grande iyaçabda (imaçama) de forma mais ou menos globulosa, de gargalo curto e estreito, pintada exteriormente de branco com caprichosos, regulares e perfeitos desenhes, por pintura, de cores vermelha, amarella e preta. Dimensões 0,42 de alt. 0,43 de diam. Indios Katauichys, rio Purús. Offerta de Francisco Lopes da Silva. Feixe de 7 murukis (biheçubuki) de muirapiranga, envenenados, em uma aljava de palha, coberta de cerol. Indios Uananis, rio Uaupés. Oferta do major José Antonio Nogueira Campos. Feixe de 9 kurabys envenenados, de haste de flecha, gomo de ma- deira (paxiuba), em uma aljava de foliolos de merity ligados por uma corda de kuraud. Indios Katauichys. Offerta de Antonio Teixeira de Souza. Feixe de 7 hurabys envenenados, de haste de flecha, gomo de ma- deira, em uma aljava de foliolos de kurua (at'alea sp.), com a extremidade inferior coberta de massa de cerol arroxeada, e a superior de uma cinta de casca de uambé (phillodendron imbé), ligada por um cordão de pellos de macaco barrigudo. Indios Baniuas, rio Uaupés. Olferta de Joaquim José Ferreira de Mendonça. Feixe de 7 hurabys iguaes aos de n. 265, de aljavas menores e pe- quenos gomos de paxiuba. Indios Banivas. Feixe de 7 kurabys envenenados, de haste de flecha, gomo de paxiuba e pontas de esporão de arraia, em aljava de foliolos de hurui, coberta de tecido de uambê e uarumá, com bocal enfeitado de cordões de pellos de macaco barrigudo e terminado inferiormente em um envoltorio de massa de cerol. Indios Akangatares, do rio Tikié, afluente do Rio Negro. Oferta. » director do Museu. Feixes de kurabys, um de 8 e outro de 9, envenenados, de hastesl» flecha, gomos de paxiuba, em aljavas de foliolos de kuruá im- bricados e ligados por um fio em espiral, com a parte inferior coberta de cerol. Alguns destes hurabys são emplumados de pennas de gavião e mutum. Indios Ipurinis, no Purús. Offerta de Antonio Herculano Pacifico. É Feixe de 7 kurabys semelhantes aos de n. 266, de gomos e aljava menores (baçubuki). Indios Tarianás. Ofterta de Frei Illuminato Copi. Feixe de 5 murukis, do haste longa de madeira, adelgaçada para a parte superior, envenenados, em aljava de talas de taboca li- gadas por fios de kuraui encerados. Indios Katukinas, rio Juruá. Oferta do director do Museu. Feixe de 5 Rurabys envenenados, de haste de flecha, gomo de pa- aiuba, em aljava igual à den. 265. Indios Katauichys. Ofterta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Feixe de 6 murukis envenenados, de haste de paxiuba, adelgaçada para a parte superior, em aljava de talas de taboca unidas supe- riormente por fios de huraui encerados, com enfeites de cordões de fibras tintas de vermelho, terminando inferiormente em um envoltorio de cerol. Indios do Rio Branco. Offerta do director do Museu. PA q e pm RR 276 271 278 280 281 282 283 284 285 286 287 to w — 107 — Feixe de murukis envenenados, de haste de madeira adelgaçada para a parte superior, em aljava inteiramente coberta de cerol. Indios Kauaiarys, rio Kaiauary, afiluente do Apaporis que desagua no Japurá. Oflerta do major Jcsé Joaquim Palheta. Pequenos murukiss envenenados, de haste finissima e adelgaçada para a extremidade superior. Estes objectos não estão em boas condições, porque acham-s> incompletos e falta-lhes a aljava. Indios ? Ofterta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Feixes de murukiis envenenados, um com 6 e outro com 4, de hastes de paxiuba adelgaçadas para a parte superior, em aljavas de talas de taboca que alternam com a parte coberta de cerol que reveste o interior. Indios Konibos, rio Ucayale. Offerta do con- sul José Guilherme de Miranda Chaves. Feixe de 2 grandos murukús envenenados, de haste de paxiubo, em aljava de palhas de milho superpostas, enleiada de cordões de fios de huraui. Indios Amauakis, rio Ucayale. Oferta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Feixes de murukis envenenados, um com 4, outro com 7 e outro com 10, de hastes de paxiuba, aljavas de talas de taboca envol- vidas superiormente por fios de kuraui e algodão, cobertos aquelles de massa pulverulenta vermelha e estes sem pintura. Indios Piros, rio Ucayale. Offertas do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá e consul José Guilherme de Miranda Chaves. Feixes de murukiss envenenados, um com 3 e outro com 6, de hastes de paxiuba adelgaçada para a parte superior em aljavas iguaes às de n. 276, porém cobertas de palha de milho para que se não estraguem. Indios Chontakiros, rio Pachitéa, Perú. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. (9) Lanças de haste de pachiuba, adelgaçada em uma extremidade, co- berta de substancia resinosa, enfeitada superiormente de largos anneis de fios de algodão branco ornado de desenhos vermelhos e pretos que alternam com outros anneis de pennas encarnadas, azues, amarellas e pretas do anambê, mutum, e tucano. AS pon- tas longas e aguçadas são mais ou menos triangulares, diver- samente dentadas, apresentando alguns dentes unciformes. In- dios Konibos. Oferta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Longa e pesada lança, de paxiuba, com a parte superior enfeitada de pennas brancas, amarellas e vermelhas, coberta em grande extensão por fios de algodão branco, terminada superiormente em longa ponta triangular envenenada. No terço inferior da hasta, no ponto em que se a empunha, é coberta de fio de algo- dão encerado, orlado inferiormente de pennas brancas e encar- nadas. Indios Mayurunas, rio Ukayale. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Craneo de Ipurini, do rio Purús. Pertenceu a um indio assassinado em março de 1883 pelo negociante Leonel, que, a golpe de ter- cado, fendeu-lhe completamente o osso frontal, interessando esse golpe a parte anterior dos parietaes. A parte fendida, em esti- lhaços, encontra-se na igaçaba n. 264. Oflerta do Dr. Ray- mundo da Rocha Filgueiras. E Ossos (femures) do individuo, cujo craneo tem o n. 228. O resto do esqueleto acha-se na igaçaba n. 264. Offerta do Dr. Raymundo da Rocha Filgueiras. Grande tambor (Zankute dos bolivianos), usado por occasião de festa. Indios Karipunis, rio Madeira. Offerta de D. Velasquez. Tamborinho. Indios Konibos. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. RE Torês (makepala (o mais grosso) ; pucy (o immediato), dos Tarianás, usados nas festas do Yurupary, de] diversos tamanhos, de pa- (1) O estudo completo sobre murukús e kurabys encontra-se no livro «L'Amasone. Notes d'un na- turaliste brésvion», de Je B. Rodrigues, ua OR om vinha polidas, Indios Tarianás e Tuhanos. Offerta de Frei Ma- theus Canioni. 288 | Kuri ou buzina de um grande strombus, bazio marinho recebido dos inglezes da Guyana, Usado em viagens e festas. Indios Ma- huchys, rio Branco. Offerta do director do Musen. 289 | Krakachã de colmo de taboca dentado. Usado em festas tapuyas. Oferta do director do Museu. 290 1 Gaita de taboca, usada na festa tapuya do Gairé. Oflerta do director do Museu. 291 3 Uluis de casco de yaboty, instrumento de festa tarianá. Offertas dos majores José Joiquim Palheta, José Antonio Nogueira Campos e do Conde Ermano Stradelli. 292 1 Vestimenta em fórma de samarra, de turury, ornada de pinturas pretas, amarellas e vermelhas, tendo na base uma franja de li- ber de tauary. A parte superior termina em grande mascara coberta anteriormente de cerol, pintada das mesmas cores do corpo e posteriormente terminada em grosso cordão de tauary, simulando trança de cabello. Nu mascara encontram-se duas orelhas oblongas, de turury. Usada em ceremonias funebres. Indios Kubeos, entre as cabeceiras do rio Uaupés e o rio Ka- duiury. Offerta do major José Joaquim Palheta. 293 1 Vestimenta de liber de turwry, de forma conica, com longas franjas de estopa de castanha (bertholetia escelsa) e desenhos encarnados. pretos e amarellos. E" munida de mangas pintadas de vermelho, tambem com franjas. Termina superiormente em uma pequena cabeça com duas longas orelhas triangulares de tecido de va- rumá. Indios Kubeos. Usada nas dansas da festa do Yurupary. Oferta de Antonio Francisco Liberato. 294 1 Kauakauá ou instrumento de marcar compasso de dansas, de colmo de taboca, fechado em uma extremidade. Indios Krichanás, O fferta do director do Museu. 295 1 Feixe de 5 kurabys, de gomo de púchiuba, em aljava coberta de cerol, Indios Uananás. Offerta de Benjamin da Silva Lucas. 296 1 Feixe de 5 Kurúbys envenenados, semelhantes aos de n. 265, porém emplumados de pennas de azas de arara, com o espaço entre as pennas coberto de cerol. Indios Katauichys. Offerta de Ame- rico Chaves. GRUPON.S Armas de caça EXPLICAÇÕES 297 1 Sarabatani (pukuna dos peruanos), curta, adelgaçada para a parte superior, de bocal de madeira semelhando dous cones reunidos pelos vertices, entunicada (*) com tala estreita de casca de raiz de vue Indios Chontakiros, rio Ukayale. Offerta do director do useu. r 298 2 Longas surabatanas, entaniçadas de largas talas cam casca de uambé, de bocal de madeira de fôrma conica, mostrando no terço infe- rior uma alta mira de cerol, com um longo lente de capivara (hylrocherus sp.) Indios Deçanas; rio Uaupés. Offerta do te- nente-coronel Innocencio Eustaquio Ferreira de Araujo e major José Joaquim Palheta. . (t) Não se encontra esta palavra nos diccionarios, Entaniçar, termo todo brazileiro, significa enleiar, em espiral, qualquer objecto com talas ou cipós. RE 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 — 109 — Longa sarabatâna pouco adelgaçada na parte superior, de pequeno Docal de cerol, entaniçada com estreita tala de urbe, tendo por mira, alguns decimetros acima do bocal, dous dentes incisivos de macaco, oppostos e ligados por cerol. Indios Katauichys. Offerta de Antonio Teixeira de Souza. Esplendida sarabatana de 32,50 de comprimento, pouco adelgaçada para a parte superior, inteiramente coberta de cerol, lisa, de bocal de fôrma annular de osso (tibia ou femur) de onça, de mira saliente de cerol, infelizmente partida. Indios Cetibos, rio Ucayale. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Grossa e longa sarabatana, adelgaçada para a parte superior, enta- niçada com tala estreita de wumbê com pinturas brancas, ama- rellas e encarnadas, de bocal de madeira tambem entaniçado e sem mira. Indios Tikunas. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Sarabatana (maybi, dos Tarianás), semelhante à de n. 297, porém mais grossa. Indios Kubéos e Tarianis. Offerta do director do Museu. Sarabatana longa e muito adelgaçada para a parte superior, estrei- tamente entaniçada com cascas de uambê, de pequeno bocal de madeira e de pequena mira perto do bocal, feita de cerol com dous pequenos dentes de cutia collocados parallela e longitudi- nalmente. Indios Kuretus, rio Japurá. Oferta do director do Museu. Sarabatana pouco adelgaçada para a extremidade superior, onde é ornada de um annel, coberta inteiramente de cerol perfeita- mente polida, de bocal formado de dous dentes de taiteti collo- cados angularmente, de modo a se ajustarem à commissura dos labios. Indios ? Offerta do director do Museu. Sarabatana semelhante à de n. 292, porém estragada: Indios Deça- nas, entre os rios Tikié e Papory, afiluentes do Uaupés. Offerta do director do Museu. (1) Longa aljava (huib-reru, em lingua geral), de spatha de uassahy (euterpe sp.) ligada por cordões de merity, contendo longas frechas estreitissimas de talas de peciolo de inoyd, hervadas em uma extremidade e enleiada em outra de monguba (bombax seiba). Indios Maiankongs, das fontes do rio Parimá. Offerta do director do Museu. Aljava de colmo de taboca, com Roiua cabaça (crescentia cujete) ligada lateralmente por talas de madeira. Esta cabaça serve de deposito à paina de sumauma (eriodendron sumauma) com que se enleiam as frechas. Acompanha a sarabatana 301. Indios Chontakiros. Offerta do director do Museu. Aljava (muryê, dos makuchys), de tecilo do uarumá, forma cylin- drica, porém comprimida no centro, coberta de cerol, fechada je tampa de couro de veado, com a parte comprimida enleada e fios de Auraui que prendem a sumauma à frecha. A tampa é ligada ao corpo por um cordão, de cuja extremidade pende uma maxilla, com dentes de piranha, que faz papel de faca para cortar a ponta das frechas. Indios Makuchys. Offerta do director do Museu. Aljava de foliolos de kAurud imbricados, unidos na parte superior, com a inferior coberta de tecido de uarumá, affectando o todo a forma de phaltus. Contém frechas envenenadas, de fibras de patauà (wnocarpus pataui). Indios Kutauichys. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Aljavas toscamente feitas, duas de foliolos de merity e uma de Auruá, ligadas por cordões de fios de kurauà, com duas pequenas bolsas pendentes de foliolos de ubinrana (geonoma sp.), contendo paina (1) O estudo Rar sobre sarabatanas encontra-se no livro « L'Amazone. Notes d'un natu- raliste bréswien», de J. Rodrigues, Sl 312 313 314 315 316 317 318 319 321 — 440 — de sumáuma para enleiar nas frechas de fibras de patauá, Acom- panham a sarabatana n. 303. Indios Katavichys. Oferta de Antonio Teixeira de Souza. Aljava de madeira leve e branca, conhecida vulgarmente por molongS- longamente eyathiforme, de base coberta de cerol, contendo frechas de fibras de pataui, envenenadas, com a extre- midade envolvida em sumúuma, ligada por fios de hurauá. Acompanha a sarabatana n. 302. Indios Deçanas. Offerta do director do Museu. Aljava de circulo de takuara enleiada de fios de algodão, com dous duplos dinmetros de talas de inayi, cruzados e ligados na parte central a uma pequena haste de madeira que serve para enrolar uma esteira de numerosas frechinhas de ira. Indios da Guyana, Offerta do director do Museu. Aljava de tecido de waruma, forma cylindrica coberta de cerol, pintada de amarello, vermelho e branco, contendo frechas de inayi envenenadas, com a extremidade envolvida em sumauma. Acompanha a sarabatana n. 305. Indios Tikunas. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Aljava (buçanino, dos Tarianos) eyathiforme, de um duplo tecido de uaruma, com desenhos, de base coberta de cerol. Acompanha a sarabatana n. 306. Indios Tarianas. Offerta do director do Museu. Aljava curta, de forma cylindrica, de tecido de uaruma, coberta de cerol. contendo frechas de inayi envenenadas. Indios Kuretus, rio Japurá, Offerta do director do Museu. Longa e grossa aljava de molongó, forma eylindrica, pintada exte- riormente de vermelho, com tampa de tecido da uarumá coberta de cerol. Acompanha a sarabatana n. 307. Indios Miranhas, rio Japurá. Oflerta do director do Museu. Longa aljava de colmo de takuara coberta de palha de foliolos de huraui, com a abertura dilatada e afunilada, enleiada em espiral por um cordão de fios de tuhum. Indios Chirianas e Abaanas, vio Marary, afluente do Rio Negro. Offerta do director do Museu. Palheta, estolica ('), ballestilia, ballesta (bani, dos Pomarys), de longa tala de madeira rija e flexivel, munida na extremidade superior de um dente e na inferior de um punho, tendo pouco acima um furo circular para introduzir o dedo. Com esta arma, os sel- vagens arreme:sam longas frechas desemplumadas, na guerra, ha pesca e ni caça. Indios Pomarys e Yamamadys, rio Purús. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Estollica curta, um pouco encurvada, de madeira solida e pesada. tendo na parte superior e convexa um grande dente ligado por cerol, de casco de tartaruga; na parte inferior existe o punho com furo circular para o dedo indicador. Indios do Perú. Oferta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Longas frechas de haste de frechas uma pintada de preto, de pequeno gomo, onde se introduz a ponta hervada; outra sem pintura e gomo longo, onde se adapta um dente de osso, Dimensões 272,40 de comprimento. A 12 dos Indios Pomarys; a 2º dos Yamamadys. Oferta de Manoel Urbano da Encarnação. Escudo imitando uma arraia com respectiva cauda, de turury, com pinturas pretas, amarellas e encarnadas, representando pouco mais ou menos as malhas do aminal. Indios Uananis, rio Uaupés. Offerta do major José Joaquim Palheta. Vestuario de turury, da festa do Yurupary, de forma conica, com longa franja de estopa de castanha, tendo o corpo pintado de parallelogrammos vermelhos e amarellos orlados de preto. Este vestuario tem mangas tintas de encarnado com franjas, e ter- mina em pequena cabeça ecylindrica, coberta de cerol. Indios Uananis, rios Içana e Chié, afluente do Rio Negro. Offerta do major José Joaquim Palheta. 4!) O verdadeiro nome indigena dado pelos Omahuas e Kokamas é estolica, 323 324 326 334 335 336 1 1 — 4 — Longa zarabatana, adelgaçada para a parte superior, entaniçada com casca de raiz de vambé, bocal de madeira, cylindraceo e com- primido no centro, de mira de cerol, com dous dentes de cutia. Rio Marayuá, afluente do Rio Negro. Obtida dos Uuupês, que a obtiveram dos Miranhas, por troca. Oflerta do director do Museu. Grande bocal de sarabatana, de madeira vermelha e pesada, Indios Tikunas. Offerta do director do Museu. GRUPON.3S Armas de guerra, remos e distinctivos l 1 Murukiz perfeitamente polido, ornado no terço inferior de desenhos por gravura, dispostos cireularmente, com a parte inferior lisa e terminada-em ponta. Collocada entre os desenhos superiores existe uma parte cavada na madeira cheia de tava (argilla amarella ou dca). E' distinctivo e usado em festas. Indios Chi- rianis, Rio Demeneny. Offerta do major José Antonio Nogueira Campos. Murukis, com as gravuras cobertas de tauatinga (barro branco), e com a extremidade superior ornada de pennas amarellas e ver- melhas de arara. Indios Chirianis. Offerta do major José Joa- quim Palheta. Muruki de madeira vermelha, semelhante ao de n. 326, porém com os desenhos triangulares menores e sem pintura. Indios Chirianás. Offerta do major José Joaquim Palheta. Muruliy maior queo de n. 327, ornado de triangulos pequenos e pintados de branco. Indios Chirianis. Offerta do major José Joaquim Palheta. Muruki delgado, toscamente ornado de triangulos. Indios Chirianás. Offerta do major José Joaquim Palheta. Longo e bem feito murukis (yauiná, dos Tarianás), dos indios Baniuas, porém sem a parte superior ornada de pennas, como acontece ao de n. 217. Incompleto. Offerta do major José Antonio Nogueira Campos. Murukiz semelhante ao de n. 330, porém menor e apenas começado. Indios do rio Uaupés. Offerta do major José Joaquim Palheta. Longo e grosso murukú, com anneis excavados na extremidade superior, terminado em ponta aguçada e angular. Indios Jama- madys, rio Purús. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Pesado kuidari de muirapiranga, esquinado, mais grosso na parte superior e com punho na inferior. Indios Yauwnas, rio Mapuhy. Offerta do pharmaceutico Barbuda. Tamarana, com a extremidade superior longamente oblonga e chata, attenuando-se na inferior, a formar um cabo quasi cylindrico que termina em ponta. A parte superior é ornada de uma longa franja de fios de kuraud pintado de roxo e com as extremidades enfeitadas de pennas de papagaio contrafeitas. Indios Tukanos, rio Uaupés. Ofterta do major José Joaquim Palheta, Longa tamarana chata, de bordos cortantes e lados esquinados, alargando-se gradualmente da parte superior para a inferior. Esta é coberta de fios de algodão intercalando-se a outros de palha pintados de vermelho e preto, com fiador de fios de algodão. Indios Chontakiros, Perú. Offerta do consul José Gui- lherme de Miranda Chaves. Tamarana de muirapiranga, longamente oblonga na parte superior, com os bordos cortantes, angulcsa nas faces, attenuando-se a formar uma comprida haste terminada em ponta. A extre- midada superior é ornada de pennas de cauda de arara e pen- nugens brancas. Indios Tukanos. Offerta do major José Antonio Nogueira Campos. 3397 338 339 340 34] 342 343 344 345 346 347 l — 1442 — Longa tamarana de paxiuba, semelhante à de n, 335, mais porém longa, com a parte inferior coberta de palhas de milho ligadas por um cordão encerado disposto em espiral e com enfeites de fios de algodão branco e encerados, cruzados, formando de cada lado um fiador. Indios Chontakiros. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Tamarana chata, com os lados cortantes, attenuando-se na parte superior para a inferior. A que serve de punho coberta de massa vermelha e pulverulenta, com um fiador de um cordão de hurauà, é ornada de tres largos anneis de fios de algodão cobertos de desenhos. O annel medio é enfeitado de pennas azues de uwanambé. Indios Konibos. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Tamarana semelhante à de n. 335, porém mais longa, com a parte inferior enfeitada de anneis de fios de algodão pintados de róxo e preto, intercalados por cutros de palha de palmeira, munida de fiador de fios de algodão. Indios Chontakiros. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Tamarana (ukaipá), com a parte superior chat», oblonga, de bordos cortantes, esquinada na parte media da face, terminando em cabo fino e anguloso, bidentada no centro, de madeira pesada, perfeitamente polida, ornada na parte superior de feixes de pennas de arara, papagaio e garça, pendentes de fios de missan- gas. Indios Makuchys, rio Mahú, afluente do rio Branco. Offerta do director do Museu. Kuidarú cylindrico, adelgaçado para a parte inferior, inteiramente canaliculado longitudinalmente por dentes de cutia, tendo em dous lados oppostos uia linha de pontos cavados, e quatro anneis na parte inferior indicando o punho. Este instrumento é de madeira negra e pesada. Indios Uanambeés, rio Tocantins. Offerta do director do Museu. Remo comprido de longa pá lanceolada, terminada em ponta; cabo quasi cylindrico, com punho em forma de crescente. Indios Pomarys, rio Purús. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Longo remo com a pá perfeitamente lanceolada ; cabo cylindrico e punho transversal. Indios Kaiauarys, rio Apaporis, que desagua no Japurá, Offerta do major José Joaquim Palheta. Remo e pedaço de pão bruto descascado, tendo por pá um outro pedaço de madeira, chata, gasta pelas aguas e pelo tempo, furada e ligada ao cabo por tres anneis de cipó. Este remo, em completo estado primitivo, era usado pelos indios Krichanás antes de pacificados, quando não tinham conhecimento dos instrumentos de ferro. Oferta do director do Museu. Remos dos indios Krichanás, já feitos com instrumentos de ferro, porém de molde tosco, affeetando, entretanto, a forma do remo civilisado. Offerta do director do Museu. Vestimenta funebre semelhante à de n. 289, porém com largas franjas de tauary desflado pendentes da altura do peito. Indios Kubeos. Offerta do major José Joaquim Palheta. GRUFON.4 Utensilios domesticos de palha Tipiti de talas de uarumá, para seccar massa de mandioca para farinha ou extrahir o caldo (manikuera) para o tucupi, um dos conilimentos indigenas. E' de forma cylindrica com as extre- 348 349 350 391 tw (1) 1 — 113 — milades munidas de grandes e fortes anneis das mesmas talas de que é feito; o annel superior serve para suspender o objecto às urvores e o inferior para por elle passar-se o tipitipema ou pão sobre o qual se collocam pesos afim de distender-se O tipiti, comprimindo desse modo a massa. Este utensilio per- tence aos indiosdo rio Uaupés, porém é adoptado por quasi todas as tribus, por tapuyos e mesmo por civilisados do norte e sul do Imperio. Offerta do major José Joaquim Palheta. Matapi conico, de grades de talas de takuara, com um funil interior feito das mesmas talas por onde penetra o peixe. E" usado nas pescarias em igarapés. Indios Tarianis. Ofterta do director do Museu. Matapis (maurachy, dos Krichanás), toscamente feitos, com a abertura atravessada por pequenas hastes ligadas às talas por um cipó em espiral. São usados como o de n. 341. Indios Krichanis. Oferta do director do Museu. Sonubara, especie de peneira, de tecido unido de grelos de tukumá (astrocaryum tucumi), para conduzir a massa da mandioca secca para farinha. E' de forma quadrangular. Indios Uapichanis, Rio Branco. Oferta do professor João Capistrano da Silva Motta. Panaki, pequeno de talas de uarumi, com testeira de tecido de kurauá, munido de corda tambem de Juraui para fechar o utensilio. Indios Uapicharcis. Offerta do professor João Capis- trano da Silva Motta. Pemakir semelhante ao de n. 211. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. Balaio de forma circular, concavo, de tecido de uaruma. Indios Deçanas, rio Tikié. Oferta de Jeronymo Costa. Balaios semelhantes ao de n. 353, porém maiores. Indios Deçanas. Offertas de Jeronymo Costa e major José Joaquim Palheta. Balaios pequenos. Indios Deçanas. Offertas de Jeronymo Costa e major José Joaquim Palheta. Balaios pequenos ornados de desenhos variados pintados de preto. Indios Uananás. Ofrertas de Antonio Franco Liberato e major José Joaquim Palheta. Balaio de forma quadrangular, de um duplo tecido de varumá, com diversos desenhos regulares, formando gregas. Este objecto tem o tecido tão bem feito que não se póde ver onde foi começado ou acabado. A mesma perfeição dá-se quanto aos desenhos. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. Balaio de forma oblonga de tecido igual ao de n. 357. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. Grande panaki, typo dos maiores usados, com a forma do de n. 211, ste objecto foi dado ao director do Museu por uma velha maior de 60 annos, que tinha as costas completamente callejadas do uso desse panakiú, que era conduzido cheio de mantimentos e ba- gagens. Pakará de tecido de wambe como o das palhas das cadeiras civilisadas. Índios Krichancis. Offerta do director do musêu. Uaturi de cipó e de forma globulosa e larga abertura. Indios Makons. Rio Negro. Offerta do major José Joaquim Palheta. Samburá de uma só folha de merity, de trazer suspenso ãos hombros. E” trabalho mnito engenhoso. Indios Uapichanis. Ofterta do di- rector do Museu. Pêra, de uma só folha de meritiy, de guardar fructos, fechando-se logo que estes são ah encerrados, não apresentando signal de emenda. Indios Uapichanis. Ofterta do director do Museu. Pequeno sambará, de forma conica, de uma só folha de merity, de trazer suspenso aos hombros. Indios Uopichanis. Offerta do di- rector do Musen. Abanos (panamui) de diversos tamanhos, de grelos de tukuma. Indios Krichanis. Ufterta do director do Museu. 15 EAN —— 366 1 Pacará cylindrico, de talas de uarumá, sem tampa. Indios Uapi- chanús. Oferta do pro essor João Capistrano da Silva Motta. 367 2 Poquenos uaturis semelhantes na forma ao de n. 361, porém de talas (o cipó. Indios Makons. Offerta do major José Joaquim Pa- neta. 368 1 Pequeno pacará de uarumá, com tampa. Indios Uapichanis. Offerta do professor João Capistrano da Silva Motta, 369 2 Pequenos cestos de occasião, de cipó, para conduzir ovos de tarta- ruga. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. 370 1 Matapi de talas e inayá, longa, toscamente fabricado. Indios Kri- chanis. Offerta do director do Museu. 371 2 Urus de tecido de talas de varumá, um com desenhos pretos e outro completamente branco; um sem tampa e outro com tampa que o envolve inteiramente. Indios Uapichanis. Ofterta do professor João Capistrano da Silva Motta. 372 2 Paharis de foliolos de kuruá, cosidos a fios, de forma alongada e quadrangular, para guardar ornatos de pennas. Indios do rio Uaupés. Offertas do major José Joaquim Palheta e Joaquim José Ferreira de Mendonça. 373 1 Vassoura de piassava (leopoldinia piassaba), ornada superiormente de tecido de varuma, com desenhos pretos. Indios do rio Uaupés. Offerta de Manoel Gonçalves de Aguiar, que falleceu em março de 1887. 374 2 Pequenos cylindros de talas de varumá, onde as crianças Krichands conduzem ovos de tartaruga. Offerta do director do Museu. 375 1 Cinta de cipó para prender tangas. Indios Krichanis. Offerta do di- rector do Museu. 376 1 Cesto de forma cylin!rica, de tecido de talas de warumã, imitando palha de cadeiras, para guardar ovos de tartaruga. Indios Kri- chanás. Offerta do director do Museu. 377 1 Réêde (makyra) de cordões de fios de tukum. Indios do rio Uaupés. Offerta de Antonio Francisco Liberato. GRUPON.S Utensilios domesticos de madeira 378 1 Ypadurupiára, grande cylindro ôco, de tronco de imbaúba (cecro- pia sp.) para peneirar-se ypadiu (erytrovilon cocca). Indios Yauaritis, rio Içana, afluente do Rio Negro. Offerta de Frei Matheus Canioni. 379 1 Haste de madeira, tendo em uma extremidade um envoltorio de turury (manicaria saxifera), dentro do qual se colloca o ypadi moido. Esta peça é introduzida no ypadurupiara, e sendo ahi batida, deixa sahir pelo turury um pó impalpavel, o ypadiú, sem ue o vento o arremesse para longe. Indios Yauaritês, Offerta e Frei Matheus Canioni. 380 3 Bancos vulgarmente conhecidos por bancos uaupês, de differentes tamanhos, de uma só peça de madeira, com pºs, pintados diver- samente. Offertas do major José Joaquim Palheta e Jeronymo Costa, 381 3 Ralos de madeira, pintados de preto, com dentes de pedra dis- ostos regularmente, formando bonitos desenhos, de diversas imensões, o maior com desenhos amarellos, por pintura. Indios Deçanas. Offertas do major José Joaquim Palheta e Ernesto Baptista Pereira. 382 Ralo toscamente fabricado, com dentes de cutia e macaco, em completo serao primitivo. Indios Krichanis. Oferta do director do useu. 383 384 385 386 387 388 [5] [9,2] (=) 390 391 392 393 394 395 396 10 94) ww [0] — 115 — Cavadeira de madeira rija e pesada, com as extremidades em forma de pá e cortantes. Indios Bafuanãs, rio Demeueny. Ofterta do major José Antonio Nogueira Campos. Banco afleetando a forma de jaboty, de uma só peça de madeira bruta. Indios do Perú. Oíferta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Pilão de tronco de madeira, cavado a fogo. Indios Krichanas. Offerta do director do Museu. Rêde (') de cordões de fios do algodão, pequena. Indios Parin- tintins, rio Madeira. Dimensões 12,0 x 12,0. Offerta do director do Museu. GRUFON.S Arcos possantes, arredondados, achatados na parte posterior e ante- rior, com as competentes cordas, de madeira igual à dos de D. 380. Indios Krichanis. Dimensões 2u,45—2m 65, com dia- metro de 0",035—0»,040. Ofrterta do director do Museu, Frechas semelhantes às de n. 108, uma de marayá (bactris setigera Barb. Rod.), de uma só peça, mostrando já a transição para o estado civilisado, pois no gomo apresenta ponta de ferro, feita de pregos. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. Gomos para frechas, pintados como os das frechas n. 108, signal de que a pintura é anterior à fabricação da arma. Indios Krichanás. Offerta do director do Museu. GRUPON.'7Z Arcos e frechas Arcos de paxiuba achatados adelgaçados para as extremidades com os bordos arredondados. Indios do rio Juruá, Ofterta do director do Museu. Arcos (itapis dos Ipurinis) de paxiuba, pequenos, achatados, com os bordos meio angulosos. Indios Ipurinis, rio Purús. Offertas do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá e Antonio Herculano Pacifico. Arcos grandes, achatados, meio concavos na parte anterior e con- vexos na posterior, feitos de paxiuba. Indios Karipunás, rio Madeira. Offerta de Arco de paxiuba, largo, achatado, plano na parte anterior e concavo no dorso. Indios Bahuis, rio Jutahy. Offerta de Manoel Urbano da Encarnação. Arcos de madeira amarellada, pequenos, achatados, canaliculados na parte anterior arredondados na posterior. Usados para os hurabys. Indios Tarianis e Tukanos, rio Uaupés. Offertas do major José Joaquim Palheta e director do Moseu. Arco de paxiuba, fino, plano no dorso, convexo na parte anterior. Aturahiis, vio Takutú, aflluente do rio Branco. Offerta do di- reetor do Museu, Bonitos arcos de muirapinima, adelgaçados para as extremidades, planosno dorso, convexos na parte anterior. Indios do alto Rio Negro. Oflerta do director do Museu. | (t) Makyra, em lingua geral, 397 398. 399 490 401 402 403 404 ww to [o = — 416 — Pequenos arcos arredondados na parte anterior e concavos na pos- terior, de madeira vermelha, escura, com as cordas passadas e unidas pelo dorso. Indios Ipurikotós, rio Urarikuera, aflluente do Rio Branco. Offerta do director do Museu. Pequenos arcos para crianças. Indios Krichanis, rio Yauapery. Offerta do director do Museu. Lindo arco de paviuba, chato, de bordos angulosos, quasi todo coberto de fios de algodão com desenhos de varias cores, enfeitado lateralmente de pennas amarellas e vermelhas de tucano. Indios Konibos. Este objecto é em geral coberto de palhas de milho, para que não se estraguem os enfeites. Offerta do consul José Guilherme de Miranda Chaves. Frechas de ponta lanceolada de taboca, emplumadas de pennas brancas de azas de garça. Jadios do rio Juruá. Offerta do director do Museu. Grandes frechas de ponta Janceolada de taboca, e uma de haste de madeira emplumadas de pennas inteiras de gavião e mutum, O espaço dessas armas comprehendido entre as pennas é enver- nizado com massa avermelhada. Indios Karipunis, rio Madeira. Offertas do Pharmaceutico Alfredo Soares da Camara e director do Museu Botanico. Akangatares semelhantes aos de n. 77. Indios Krichanás. Offerta do director do Museu. Rêde de pesca (pyçá) de fôrma mais ou menos conica, de fios de tukum. Indios Tarianis. Ofterta do major José Joaquim Palheta. Igaçaba circular, de fundo chato, bordos elevados perpendicular- mente, argilla avermelhada, sem desenhos, existindo sómente no fundo, pela parte externa, a impressão de folhas de cecropia, onde naturalmente descansou o vaso logo depois de fabricado. Na parte externa, pouco abaixo dos bordos veem-se diametral- mente oppostas, duas saliencias para descanso da tampa, que infelizmente partiu-se na occasião de desenterrar-se o objecto, A tampa aíffectava a forma de calotte, da mesma altura do vaso. Indios Manãos ou Barês. Foi desenterrada pelo director do Museu no quintal existente sobre o antigo cemiterio dos mesmos indios, na praça Tenreiro Aranha, em Manãos. Dimensões 072,67 de diam. 07,26 de altura e 07,015 de espessura. Centro do salão Modelo de antiga montaria tapuya, com vela de talas de merity, de 12,45 de comprimento, de leme em forma de esparrella, vulgar- mente chamado João de Pão ou kurumy. Modelos de remos, de fórma diversa. Modelo de harpão de piraruciz com apetrechos. Modelo de Yateka, com fixa de tartaruga e apetrechos. Modelos de gararacas ou frechas de pescar tartarugas, uma de harpão triangular vulgarmente chamada Ayb-membeka . Modelo de frecha de pescar tambaki, desarticulando-se em quatro partes, porém todas ellas ligadas por cordões de Aurauá ou tukum. Esta arma é vulgarmente chamada /yb-pe-pena. Modelos de frechas para peixes (Ramayás) Modelo de frecha para pescar (tukunarés). (1) Vulgarmente chamada pinaiauaka. (1) Os objectos de ns, 405 a 412 fazem parte do n, 405, todos elles oftertados pelo director do Museu. 429 430 431 213 l — 7 — Tados da vitrina Ubi de um só tronco de madeira, cavado a fogo. Indios Pomarys, Rio Puriis. Dimensões 07,09 de comp., 6,43 de largura. Oflerta de Manoel Urbano da Encarnação. Ubá. do rio Uaupés. Offerta de Joaquim José Palheta. Ubá de casca de yutahy, do rio Purus. Ubá feita de paxiuba barriguda de Indios Mayurunas, do rio Javary. Grande igaçaba dos indios Tikunas, do Solimões, de mais de um metro de diametro. De differentes tamanhos usam estes indios estas vasilhas, que servem para guardar o cachery para as suas festas. Ofrerta do Director. Kamutys de Jurimaguas, de diversos tamanhos e feitios, com colori- dos de arabescos differentes. Offerta do director. Lindas frechas de indios Mayurunas, do rio Javary. Mucawas, especies de tigelas dos indios Kokamas ornadas de delicados desenhos pretos e vermelhos sobre fundo branco. Offerta do di- rector. Kamutys grandes dos indios Kokamas. Offerta do director. Flexas diversas para caça, pesca e guerra, dos indios Kampás, do Ukayale. Offerta do director. Grande cachimbo de madeira, ornado por gravuras de desenhos, dos indios Konibos do Ukayale. Offerta do director. Diversos enfeites de cabeça de pennas amarallas de japii, dos indios Konibos. Dito de pennas verdes de papagaio. Estes enfeites são trazidos pen- dentes da cabeça e cahem sobre as costas. Offerta do director. Kusmas, ou camisolas de tecido de algodão, ornadas de desenhos roxo-negras, dos indios Konibos. Oferta do director. Mascaras de turury dos indios Tikunas, do Solimões. Offerta do director. “VPecto e janellas Frechas semelhantes às de n. 108. Indios Krichanis. Acham-se dispostas em trophéus sobre duas janellas e cinco portas do salão e em um grande sol no centro do tecto. Oferta do director do Museu. Redes de fio de algodão. Indios Uapichanis. Ofterta do director do Museu. Redes de cordões de grêlos de merity, duas de 42.0 de comprimento. Indios Krichanis. Offerta do director do Museu. ARMARIO N. 4 Archeologia Remo ou espada, de pá linear polido, lanceolado, de ponta aguçada, com o cabo cylindraceo, terminando em punho ornamentado, de madeira extremamente rija, carcomido pelo tempo. Encontrado- no fundo do lago das Panellas, em Badajoz e descoberto em. 432 433 434 435 436 437 438 439 440 441 442 443 444 445 446 — 418 — época de grande vasante, entre infinidades de cacos de louça de argilla, alguns com figuras authropomorphas e zoomorphas. Calcula-se que este instrumento estivesse enterrado ha mais de cem annos. Actualmente não ha instrumentos algum que affecte essa forma. quer entre selvagens, quer entre civilisados. Offerta do cadete Fabio de Mello Bacury, Grande machado de diorito compacto, de forma oblonga, polido, comprimido, com hordos cortantes, mostrando dos lados do alvudo tres dentes profundos, perfeitamente entalhados. Encon- trado no alto Purus. Dimensões 07,19 de comp. 0»,]2 de larg. e 0m»,05 de espessura, na parte mais grossa. Offerta do Dr. Ray- mundo da Rocha Filgueiras. Machado polido, de diorito, em forma de alabarda, de bordos cortan- tes. Dimensões. 0m,]2 na parte que forma a haste do centro, 0,m16 de diametro, 0,702 de espessura, 02,]2 de largura. Rio Demeueny. Ofterta do major José Antonio Nogueira Campos. Pequeno machado polido, de granito, em forma de cunha, com um dente de cada lado, de alvado achatado. Dimensões 02,09 de larg. 0,09 de comprimento, 07,025 de espessura, no alvado. Ignora-se a localidade. Offerta do padre Pedro G. Ferreira Lustosa. Machado polido, de sienito, de forma alongada, gume angular, den- tado de ambos os lados, proximo ao alvado, que é aredondado. Dimensões 0”,09 de comp., 02,05 de larg., 077,03 de espessura. Rio Mahués. Offerta de Eugenio Gentil da Motta. Machado polido, de diorito, alongado, recto de um lado e curvo do outro, de gume angular, tendo no terço superior, qne o forma o alvado, de extremidade fracturada, um circulo cavado. O alvado deste instrumento é inteiramente granulado. Rio Urubu. Offerta do Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá. Dimensões 07,11 de comp., 07,55 de larg., 0,04 de esp. Machado semelhante ao de n. 436, porém com alvado aguçado e perfeito. Parintins. Offerta de A. Valente de Menezes. Machado semelhante ao de n. 434, pouco menor e mais estreito. Lo- calidade ignorada. Offerta do padre Pedro G. Ferreira ].ustosa. Machado de diorito granitado pelo tempo, quadrangular, de alvado saliente para ambos os lados. Este instrumento veio com cabo posto por civilisado, Dimensões 0”,08 de comp., 0”,06 de larg., no gume, 0,09 no alvado, 02,03 de espess. Rio Purús. Offerta de Francisco Lopes da Silva. Machadinho de diorito, deteriorado pelo tempo, cavado no terço su- perior, a formar alvado. Rio Purús. Dimensões 02,065 de comp. Om 047 de largura no gume ; 0703 de espess. Offerta de Francisco Lopes da Silva. Machado semelhante ao de n. 439, polido, de gume partido. Rio Urubi. Offerta do Dr. José 1 ustosa da Cunha Paranaguá. Machado de diorito, de forma lenticular alongada, granitado pelo tempo. Rio Mapuhy. Offerta do pharmaceutico José Barbuda. Machados de diorito oblongos, attenuados para c alvado, polidos, de gume cortante, todos da mesma fôrma. Sul de Minas Geraes. Dimensões 07,09 de comp., 0m,45 de larg. e 0m,03 de espess. a 07,16, 07,065 e 07,04. Oflerta do director do Museu. Machado perfeitamente polido, alongado, de gume circular attenuado para o alvado. S. João d'El-Rey, Minas. Offerta do director do Museu 0m,28 de comp. 0", 10 de larg, no gume, 02,07 no alvado ; 0m,00 de espess. Monolitho cylindrico (moleta) de diorito compacto, perfeitamente polido, rhombudo na parte superior. Dimensões 0,74 de comp., 0,06 na base; e 07,03 no apice (diam.) Descalvado, S. Paulo. Ofterta do director do Museu. Machadinho de quartzo, de forma approximada a de um parallelo- grammo, de gume cortante, curvo e polido. Serra do Castello, Espirito Santo. Oflerta do director do Museu. — 9 — 447 | 91 Machados, de formas diversas, das provincias do Amazonas e Pará. Esses instrumentos se acham deseriptos e desenhados no capitulo Armas de Pedra, da obra Antiguidades do Amazonas publicadas nos Ensaios de Sciencia e depois em avulso por João Barbosa Rodrigues. 448 4 Monolithos cylindricos, de diferentes dimensões e formas, descriptos nas Antiguidades do Amazonas, o maior do Carmo do Rio Claro Minas. 449 à Monolitho cylindrico attenuado em uma extremidade. Colonia de Itajahy. S. Catharina. Offerta do director do Museu. Dimensões 0,50 de alt. 0=,06 de diam. na base, 07,01 no apice obtuso. 450 1 Machado de sienito alongado, perfeitamente polido, de gume circular lascado. Sul de Minas. Offerta do director do Museu. Dimensões 0=,22 de comp., 02,10 de larg. no gume, 02,065 no alvado ; 0=,045 de maior espess. 45] 1 Modeloem gesso do Idolo amazonico, feito pelo estatuario brazi- leiro Almeida Reis. Outros modelos deste idolo encontram-se nos museus de Berlim, Baden, Freiburg, Munich, etc., feitos pelo esculptor allemão Knieter. A descripção deste objecto encon- tra-se no Idolo amazonico, de João Barbosa Rodrigues. PARTE SUPERIOR 452 1 Vestimenta funebre com grandes franjas de tauary e mascara de cerol, enfeitadas de sementes vermelhas vulgarmente denomi- nadas tentos. Indios Kubêos. Offerta do major José Joaquim Palheta. 453 1 Photographia em quadro representando um grupo de mais de 20 Mahuês da maloca Ariman, rio Mauhé-açú, afiluente do Ama- zonas. Offertas do director do Museu. GRUPFPON.S Instrumentos tapuyos 454 2 Frechas de bico de ferro ligadas ao gomo de madeira. Desemplu- madas. 455 | Frecha de pescar tartarugas (çararaka), composta de haste, gomo ou suumba, virote e itapuá: A haste é de flecha, o gomo de paraku- uba, bem como o virote. Est> é furado na parte inferior onde se adapta à ponta do gomo, e é presoá haste por uma linha longa que nelle se enrola. O itapuá é uma ponta de ferro acha- tada e levemente sagittada na base. A linha em geral tem com- primento relativo à profundidade do logar da pesca, serve para deixar a tartaruga frechada mergulhar, conssrvando-se presa à haste, que sobrenada. 456 1 Cararaca semelhante à de n. 455, deitapui de ponta tetrangular. Este instrumento, vulgarmente chamado Ayb-membeka, serve tambem para a pescada tartaruga e dispensa o emprego do jateká. 457 1 Gararacão de pescar peixes grandes, semelhante à cararaka n. 455, rém maior, desemplumrdo, de itapuá de longa fisga de ferro identada . 458 459 460 461 462 463 464 — 1420 — Frecha (luyb-pepena) semelhante ao modelo n. 410, para maior, de pescar rambaki nos igapós. Desemplumadas, Gaponga ou caniço em que se substitue o anzol por osso de peixe- boi ou fructo de endocarpo de tukumá, Serve para attrahir o peixe à tona d'agua, illudindo, pois que o fim de quem usa o instrumento é bater n'agua para imitar a quéda do fructo. Desde que o peixe chega-se e não encontra o fructo, segura o caniço, e assim é apanhado. Haste e harpão para pesca de piriruki (Sudis gigas). Yatehá, de haste de madeira, ponta tetrangular de ferro, para harpear tartarugas depois de frechadas pela cararaka,. Chapeo desabado de foliolos de grelo de tukuma, para pesca. Uri de tecido de uarumi para guardar anzões, fios de hvrauá, linhas, cerol e outros apretrechos de pesca. Arco mauhe usado por tapuyos, como melhor. Achado entre os Kri- chancis, em cujo poder foi parar depois de alguma correria, naturalmente, em que foi victima qualquer pescador. '3 RELAÇÃO DAS TRIBUS SELVAGENS REPRESENTADAS NO MUSEU Abaanas Akangatares . Amahuakás Apiakàs Bafuanás . Bahuás. . . 3aniuás Barês Cetivos . Chambioás . Chirianás Chontakiros . Deçanás. Ikatianás . Inhamarés . Ipuricotôs . Ipurinás. Kachinahuás . Kampás. Kanamarys. Karipunás . . Karinakás . Katauichys . Katukinas . . Kauaiarys . Konibos. .. Kokamas Krichanás . . Kubéos . .. Kuretús . M:kuchys . M iankongs. . Pe NOME DAS TRIBUS RIOS EM QUE HABITAM Marary Tikié Ukayale Tapajoz Demeueny Yutahy Kerary e Kaduiny Negro Ukayale Tocantins Manimen e Demeueny Pachitéa, Tikié e Papory Purús Purús Urarykuera Purús Yurqá Ukayale Trauaká Madeira Yuruá Purús Yutahy Kaiary Ukayale Yauapery Uaupés Yapurá Mabú Parimã Parimã 56 o + d h á + A RIOS EM QUE HABITAM Oo VIR DRIRUIS ERR a Yuruá 34. Mahuês, po 1, ; Negro 35. —Makons. . ARE ar . Negro 36. Manãos . E 3 5 Yavary e Ukayalo St Mayurunas. REA Lissdeo Yutahy 38. Marauarás. ; Yapurá 39. Miranhas . . . Tapajoz 40. Mundurukús . . Ê : Madeira 41. Nahuis. . ã Mahué-açi 42. Parintintins Seo E 3 Catriman y 43. Pauichianás . .. Ukayale ; 44. Pichivos E Uaupés 45. nn sm a a & Ukayale 46. RICOS Sal Lo ado Purús ! 47. * Pomarys. º 4 Uaupés [ 48. dEBNCES 5 4 0 a à Essequibo | 49. Tarumãs . - Solimões 50. Tikunas . - : Kaiary | SN AIR ELIAOS (61 Rathh a es + Karimany | 52. Uaçahys sp Pod Tocantins | SB Uanambés . .. Içana e Chié 54. Uananás .. Bo E je Takutú 55. — Uapichanás. DÊ DS A Branco BOMMDRUA SN gls je sia da Ukayale 57. Yahuáãs. . » Jão à Icana 52 Evaleuarites.o o o E 50. pneu ago ao Purús 60. Yaunas. E AR q AP Mapuhy GR ANGU a LIS AUS dg Yuruá Alfredo Soares da Camara. Alfredo Sergio da Silva. Americo Chaves. ; Antonio Franco Liberato. Antonio Herculano Pacifico Antonio de Souza Brochado Filho. Antonio Teixeira de Souza. Antonio Valente de Menezes. Basilio José da Silva. Benjamin da Silva Lucas. Deocleciano Justino da Matta Bacellar. Deodatho Gomes da Fonseca. Conde Ermano Stradelli. Ernesto Baptista Pereira. Eugenio Joaquim da Motta. Fabio de Mello Bacury . Firmino Gomes da Silveira. Francisco Lopes da Silva. Frei Iluminato Copi. Frei Matheus Camoni. Frei Venancio. Guilherme Jocé Moreira. Jeronymo Costa. João Barboza Rodrigues (Director do Museu). João Capistrano da Silva Motta, João Pedro Moreira Arnoso. Joaquim José Ferreira de Mendonça. Joaquim Leovigildo de Sousa Coelho. Joaquim Pedro Nolasco de Oliveira. José Antonio Nogueira Campos. José Barbuda. José Joaquim Palheta. José Lustosa da Cunha Paranaguá. José Miguel de Lemos. 50. — 124 — Maria dos Prazeres Vasconcellos. Manoel Urbano da Encarnação. Padre Pedro Genesio Ferreira Lustoza. Ramiro de Souze Gastão. Raymundo da Rocha Filgueiras. Velasques (D.) Victoria Maria da Silva. Aguiar. José Guilherme de Miranda Chaves. D. Carolina Vasconcellos Chaves. Raymundo de Carvalho Pires. Francisco Rodrigues Sette. Antonio Domingos Barboza. Waldemar von Borell du Vernay. Manoel de Azevedo da Silva Ramos. Joaquim Theodoro Bentes. EN ETC. Amtitanidades do Amazonas. eos /Jnndon da ola do e E O | Les reptiles fossiles de la vallée de 'Amazone . . «cc. Lc. 41 Historico do Museu Botanico do Amazonas . +... clas 61 Roscrincaoido SMUSSUE- nte. je nMios oo Foo RR Eai q) fic Re RR RR 81 Catalogo da secção ethnographica e archeologica do Museu Botanico do ATIAZONASS sis, qo da mo cod fair o aja o jo a o Dr o 87 Relação das tribus selvagens representadas no Museu. . .. ... al Relação das pessoas que contribuiram com offertas. . . . 0... 128 . ) . - oe . . 4 My fe f H HI tua POLO TETRED] IS OL fi o 1h SEE! UM À pu! é TIS ' DSR o Là Ms Eu NTE "We as A Sp go * ro A E A t + sam é e