A Vida do Garanhão

I

Em março de 44
Nasceu um garoto comilão
Que desenvolveu sua tara
Lá no distrito de S João

III

Aos treze anos de idade
Responsável e cheio de horário
Conseguiu na fundição
Entrar como estagiário

V

Após alguns anos passados
Ganhando mais um pouquinho
Passou logo a desenhista
Mesmo sendo um garotinho

VII

Ô barbudinho danado
Que gostava de prancheta
Nela sempre um desenho
E na cabeça uma buceta

IX

Tentando ser honrado
Deixando a farra de lado
Não querendo ser falado
Tornou-se homem casado

XII

Com uma vida famosa
De carro e muito prosa
Vivendo num mar de rosas
Numa vida não nervosa

XIV

Mas, como a carne é fraca
Um dia lhe fez bem
Ficando no vai-e-vem
E não disse nada a ninguém.

XVI

O garanhão assustado
Vendo aquele cabra macho
Saiu escondido por baixo
Pulando lá no riacho

XVIII

Aquele coração tão grande
Que cabia muito amor
Agora ficou pequeno
Depois que passou o pavor

XX

Triste lá no seu canto
Pensando sem porquê
Procurando solução
Prá continuar a viver

XXII

Tá mostrando uma tristeza
Como um barraco de zinco
Deitado em sua prancheta
Esperando os 55

XXIV

Quando estiver bem velhinho
Tens muito a recordar
Das tristezas e alegrias
Do riacho a te molhar

XXVI

De um garanhão já acabado
Com o saco todo arriado
Cansado de se esbaldar
E de tantos filhos deixar.

Solrac – 10/04/84



II

Mais tarde já na cidade
Com vocação de conquista
Estudou em muitas escolas
Querendo ser desenhista

IV

Com carteira assinada
Como menor empregado
Sabendo o que queria
Mesmo sendo levado

VI

Aí veio a adolescência
E já de barbinha na cara
Procurava as mocinhas
Para mostrar sua tara

VIII

Com seu jeitinho calado
Ainda um garotão
O seu futuro mostrava
Que seria um garanhão

XI

Depois da lua de mel
Com um destino cruel
Espalhando filhos no mundo
Tornou-se marido infiel

XIII

Nessa vida beleza
Nunca via o mal
Namorava todo dia
Uma doce colegial

XV

O pai da moça era bravo
E queria satisfação
Veio na portaria
Prá falar com o garanhão

XVII

Com este susto danado
Que o fez perder a noção
Teve o coração inchado
Subindo muito a pressão.

XIX

Agora o que o preocupa
São as leis do dia-a-dia
Criadas pelo governo
Para a aposentadoria

XXI

Trabalhar mais treze anos
Para ele é o fim
Agora pergunta a Deus
O que ele fará de mim

XXIII

Vamos em frente, garanhão!
Tudo vai melhorar
Pense só no seu futuro
Depois de se aposentar

XXV

Aqui vai meu conselho
Prá quando o dia chegar
Volte lá prá S. João
Para uma vida só recordar

http://cloneclock.blogspot.com/