^eéen^a ItluóícaL
Diretor: Prof. CLOVIS DE OLIVEIRA Caixa Postal, 18 — ARARAQUARA
Ano II
ARARAQUARA, Março e Abril de 1940
NS. 19 e 20
I
jAtonóo jAnníbal da ^f-onéeca
Ilustre pianista brasileiro
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RESENHA musical
“Resenha Musical” publicará no próximo número
o 2.° Suplemento Musical
“l.° Estudo Brasileiro” — Artur Pereira
— para piano — inédito.
Tamanho natural
Frente: “Prêmio Ondina F. Bonora
de Oliveira, 1938, Araraquara”;
O premío em seu fino estojo.
Verso: Conservatorio Dramatico e Musi-
cal de Araraquara, Curso de Piano, 1C33.
— PRÊMIO —
"Ondina Faria Bonora de Oliveira"
Em 17 de Abril último às 15 horas, na Secretaria do Conser-
vatorio Dramático e Musical de Araraquara, efetuou-se a solenidade
da entrega do Prêmio “ONDINA F. BONORA DE OLIVEIRA”
— 1938 — a srta. Annita Castellan, diplomanda de 1939. O referido
prêmio foi instituído pelo prof Clovis de Oliveira aos \alunos do
Curso Normal de Piano do Conservatorio de Araraquara, hoje o mes-
mo acha-se suspenso por determinação de seu doador.
*—• •••: •• ' ■ >V ' '
RESENHA MUSICAL
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DISCURSO
Publicamos na íntegra, o
Discurso pronunciado em
17 de Abril último pelo sr.
Prof. Clovis de Oliveira,
Diretor de “Resenha Mu-
sical”, por ocasião da co-
lação de Gráu dos Diplo-
mandos de 1939, do Con-
servatório Musical de Ara-
raquara, representando o
paraninfo, sr. Prof. Sa-
muel Archanjo dos Santos,
D.D. Membro do Conselho
de Orientação Artística do
Estado, que por motivos
de força maior não poude
comparecer.
Surpreendido pelo encargo honro-
so de representar nesta primorosa
festa, o meu nobre e distinto amigo,
sr. Prof. Samuel Archanjo dos San-
tos, que os srs. Diplomandos, em fe-
liz momento de reflexão, elegeram
para o paraninfado deste áto solene,
sinto-me envanecido pelo ensejo que
se me apresenta para, mais uma vez,
patentear a minha admiração por
vós, srs. Diplomandos, e pelo vosso
digno homenageado, membro emi-
nente do Conselho de Orientação Ar-
tística do Estado de São Paulo, per-
sonagem de projetação notável e ro-
busta influência no cenário artístico
nacional.
E é em nome do vosso egrégio Pa
raninfo, e, no meu, que nêste ins-
tante elevo, respeitosamente, meu
pensamento a Deus, pedindo bênçãos
e carismas a flux para vós que o
dignificastes com um convite que
mais parecia um artístico râmo das
flores mimosas do vosso bondoso co-
ração e o perfume dos bélos senti-
mentos que o exornam em abundân-
cia, trescalante de suaves olências e
irizado na delicada policromia de péta-
las assetinadas, do que um protocolar
ofício.
Êle vos agradece, enternecido, a
vossa expressiva prova de amisade.
*
Vós, Diplomandos de 1939, mere-
ceis os nossos louvores, pois fosteis
felizes na escolha do vosso patrono,
para este áto que simbolisa a conclu-
são do vosso curso em o nosso Con-
servatório.
Fosteis felizes, porque o vosso Pa
raninfo vos estima e é um bom na
extensão da palavra. Exemplo vivo de
lutador vigoroso e incançável, dota-
do de raros dótes de coração pela na-
tureza, êle vem vencendo, galharda-
mente, a trilha longa de uma bri-
lhante carreira artística que, inicia-
da nos bancos escolares, se elevou
à regência pedagógica das classes es-
tudantinas, alteando-se, mais tarde
à direção suprema de uma escola de
música de administração complexa e
difícil, como a do Conservatório de
São Paulo, em cuja orientação impri-
miu, com o melhor de suas energias,
um cunho artístico e moral de notá-
vel valôr que muito contribuiu para
o renome daquele estabelecimento de
ensino. Chamado pelo Govêmo do
Estado, para prestar o seu impor-
tânte concurso ao Conselho de Orien-
tação Artística do Estado de São
Paulo, tem desenvolvido vasta e pa-
triótica ação em pról do elevamento
do nível artístico do nosso Estado e
quiçá do Brasil.
Honesto sob todos os pontos de
vista, não deixando-se levar nem pela
inveja e nem pela ambição, êle é um
paradigma à vossa futura carreira
artística ou profissional.
Com a sua presença esbélta, varo-
nil, cativante; com o seu semblante
expressivo, franco e risonho; com o
seu olhar cintilante, perscrutador,
onde a severidade e a bondade se
manifestam prontamente; com a sua
voz flexível, modulável à expressão
dos afétos, suave ou vibrante, entu-
siasta ou exaltada, qualidades essas
aliadas a uma lúcida inteligência,
tem sobrepujado todas as pelejas que
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RESENHA MUSICAI
se lhe depararam em sua longa jor-
nada. A sua vida tem sido de conten-
das e de vitórias dignificantes. Mas,
como já escreví algures, para um lu-
tador honesto de vigôr e coragem não
há intempérie que o afaste da luta.
Não há barreira impediente ao seu
progredir constante e firme.
Eis, srs. Diplomandos, em poucas
palavras, o perfil admirável, invejá-
vel, do vosso preclaro Paraninfo.
Tomai-o como vosso temoneiro pe
lo roteiro das grandes aspirações ar-
tísticas realizáveis, das sublimes
virtudes e do acrizolado amôr à Pa-
tria!
*
Diplomandos de 1939!
O trabalho: só o trabalho honesto
e fecundo, produtivo e santo, póde ele-
var cada vez mais o nivel de nossa
Patria.
E à mocidade cabe a maior par-
cela desse trabalho. Pelo trabalho
vós vos tornareis dignos de vosso
esforço.
E, ao iniciar amanhan a vossa car-
reira profissional, não deixeis de en-
sinar pela música do vosso Pais, por-
que só ela poderá dar ao carater em
formação da nossa mocidade, o sen-
timento de brasilidade de que ne-
cessita. Deveis instruir pelas nossas
melodias, pelos nossos ritmos, enal-
tecendo os nomes ilustres da Histo-
ria da Música Brasileira.
Depois de vos dar êste conselho,
inspirado no mais acendrado patrio-
tismo, no mesmo patriotismo que le-
vou-me, em 1938, a instituir como
estímulo aos alunos do Conservató-
rio — do Curso Normal de Piano —
o prêmio “Ondina Faria Bonora de
Oliveira”, medalha de Ouro, o qual,
correspondente ao periodo letivo da-
quele ano, foi entregue às 15 horas
de hoje, a distinta diplomanda srta.
Annita Castelan, — assentado sobre
as côres verde e amarelo da nossa sa-
grada bandeira, àquele humilde ou-
ro, com seus reflexos, conclama que
todos os nossos empreendimentos de-
vem fundamentar-se no amor à Pa-
tria, incentivo básico para a infinita
grandeza do Brasil! — concito-vos,
srs. diplomandos, a caminhar na vos-
sa carreira com a mesma distinção e
brilho com que findais, hoje, o curso
do Conservatório.
Ide: as alegrias de vossos lares, a
bençam de vossos pais, o ósculo de
vossos irmãos, aguardam-vos!
*
Não vão muitos dias, sua Excelên-
cia o Ministro da Educação, sr. dr.
Gustavo Capanema, pronunciou um
discurso sobre o valor das artes como
fator educativo e moralizador de um
povo, e a necessidade que o Estado
tem de ampará-las.
Discurso que bem serviu de adver-
tência a todas as autoridades do país
que, nas rédeas do poder, ainda não
tinham dado às artes o lugar que
lhes competia na instrução e educa-
ção do povo.
E’ precisamente neste ponto, srs.,
que a minha alma sente-se feliz, sen-
te-se, mesmo, empolgada, pela retili-
nidade da ação governativa do nosso
município, a cuja frente se encontra
o espirito moço e culto do Sr. Dr.
Camilo Gavião de Souza Neves.
Srs., Henrique Cezar Muzzio, no-
tável critico de arte que viveu nos
fins do século XIX, no Rio de Ja-
neiro, escreveu, um dia:
“Não é preciso praticar as artes
para conhecer a sua utilidade, para
protege-las e honrá-las.”
Senhores, essas palavras me vêm
à memória providencialmente, neste
momento. Oportunas, me vêm pre-
cisamente na ocasião em que nós to-
dos, aqui, presentes, presididos pelo
nosso ilustríssimo Sr. Prefeito Muni-
cipal, assistimos neste ambiente ma-
gnificente de arte, a colação de gráu
dos alunos do Conservatório Drama-
tico e Musical de Araraquara, que
concluiram o curso em 1939.
Praticar as artes, Srs., não é pos-
sível a todos. Para praticá-las, pre-
cisa haver vocação, que de per si, é
o gosto aliado à aptidão. Em cada
(Cont. na pág. 25)
RESENHA MUSICAI
lȇg. 5
Um Quarteto de Radamês
Gnattali (*)
Num dos últimos dias de Dezem-
bro a Radio Nacional convidou-nos a
ouvir, em seu estúdio, a primeira
execução pública do Quarteto de cor-
das de Radamés Gnattali. A obra é
dedicada a Jorge de Lima e traz a data
do ano de sua execução: 1939. Inter-
pretaram-no, superiormente, Romeu
Ghipsmann, Célio Nogueira, Edmun-
do Blois e Iberê Gomes Grosso.
Dado o prestigio que desfruta o
jovem compositor, cuja obra se tem
imposto pelas excelentes qualidades
de fantasia, imaginação criadora e
técnica realizadora que a distinguem,
não julgamos desinteressante comu-
nicar aos leitores de RESENHA MU-
SICAL algumas impressões acerca
desse acontecimento musical de pri-
meira plana.
Radamés Gnattali, rio grandense
do sul, pertence à mais nova gera-
ção de compositores brasileiros, pois
está apenas entrado na casa dos
trinta anos. Seu aparecimento, co-
mo compositor, no Rio de Janeiro,
deu-se em memorável Concerto Ofi-
cial promovido pela Escola Nacional
de Música, em. 1931, e dedicado, ex-
clusivamente, a obras de vanguarda
da jovem escola brasileira. Nesse
concerto os números subscritos por
Gnattali obtiveram a mais convin-
cente consagração. Depois disso a
sua produção se tem multiplicado,
sendo um marco importante a Fan-
tasia Brasileira, para piano e orques-
tra, ouvida pela primeira vez em um
dos concertos sinfônicos dirigidos
por Villa Lobos. E’, pois, de um mú-
sico que já conquistou as suas es-
poras de cavaleiro, na crônica da ar-
Prof. Luis Heitor Corrêa de Azevedo
Rio, 7-II-1940
te brasileiro, que nos vamos ocupar,
comentando a sua derradeira obra:
o Quarteto. Dele falaremos com o
respeito que nos merece a sua indis-
cutível autoridade.
O Quarteto de Radamés Gnattali
consta de quatro tempos sem ligação
cíclica entre si. O tempo lento é o
segundo. A ambiência é francamen-
te não tonal; uma escala lidia (fá
com si natural, no primeiro tempo;
do com fá sustenido, no último) dá
origem aos principais motivos meló-
dicos. As harmonias são as mais
avançadas e pitorescas. Entretanto,
apesar dessa harmonização não con-
formista e do emprego de um modo
exótico, a música de Radamés Gnat-
tali soa aos nossos ouvidos despida
de toda agressividade, saborosa, ma-
cia, se assim nos podemos exprimir.
E’ este o segredo dos verdadeiros
mestres e o fruto de uma técnica
aprofundada e autêntica; enquanto
certas páginas musicais, com algu-
mas sétimas desastradas ou uma in-
significante sequência de segundas,
apresentam-se cheias de espinhos, es-
candalizando os ouvidos mais timora-
tos, outras, dominadas pelo tino su-
til do verdadeiro talento criador, fa-
zem passar despercebidas todas as
ousadias contidas em sua elaboração.
A música de Radamés Gnatalli — a
experiência o tem provado — está
fadada a um sucesso direto e imedia-
to, entre o grande público. Mas esse
sucesso o autor não o procura alcan-
çar simplificando a sua dialética e ba-
rateando o seu espírito. Ele tem rai-
zes na própria natureza dessa obras
tão expontâneas, valorizadas por um
* Por absoluta falta de espaço deixou de ser publicada no numero anterior.
m
Pág. 6
RESENHA MUSICAI
métier de artista tão acabado e tão <
brilhante, como é o de Radamés. .
Inicia-se o Quarteto com um dese-
nho rítmico excelentemente achado,
sobre o qual o violoncelo entoa o pri-
meira tema, largo, muito cantante:
Exposto esse tema, que aindo pas-
sa pelos violinos, cabe mais uma vez
ao violoncelo apresentar outro tema,
o segundo do tempo inicial, cujo con-
torno franco, quasi ingênuo, lembra
uma canção de roda brasileira. Den-
tro do melhor espírito de fórma, os
dois elementos temáticos, uma vez
introduzidos, são postos em conflito,
fracionados, modificados, às vezes
jungidos um ao outro, em habilíssimo
contraponto.
Em limites amplos, sem nenhum
ranço de escola, Radamés Gnatalli
soube dar aos tempos do seu Quar-
teto sólida estrutura formal, consta-
tando-se, além da exposição, uma ela-
boração temática e uma reexposição,
em cada um dos tempos rápidos do
mesmo.
O desenho rítmico que, em pp, no
I violino, inicia o segundo tempo, per-
correndo-o todo, com uma insistên-
cia raveliana, ora num, ora outro ins-
trumento, lembra um longuinquo e
impreciso bater de tambores negros,
em meio ao qual se destaca a frase
deliciosa do canto, envolta num jogo
de sonoridades que hão pode deixar
de lembrar-nos certas obras da es-
cola francesa do século XX.
0 terceiro tempo é, francamente,
um Scherzo, com a sua frase de in-
trodução ao geito de certas marchi-
nhas cariocas de carnaval a que a vio-
la e o violoncelo respondem com um ritmo que não admite equívocos:
* M .
0
r4-
r::f- i* I
t —
^ tf
•
É nesse tempo, no entanto, que o
Quarteto de Radamés Gnatalli, vai
encontrar os seus acentos mais ses-
trosbs, vasados num melodismo ter-
no, um pouco rebuscado, bem brasi-
leiro, diriamos melhor, bem carioca.
No último tempo o tema principal
apresenta uma particularidade que
serve para mostrar com que subtileza
o compositor sabe comunicar à sua
obra o carater nacional. Já o empre-
go de melodias em modo lídio era um
índice desses processos, pois é sabi-
do que essa feição modal é muito fre-
quente em certos cantos do Norte.
No tema em questão temos uma sin-
gularidade çítmica que também é co-
mum no populário brasileiro : o acres-
cimo de meio tempo, determinando o
(Conclui, na pág. 8)
I
j'
-
RESENHA MUSICAL
Pág. 7
-Chopin - As “Bailadas”
I
RESENHA MUSICAL tem o pra-
zer de publicar um belo artigo, em
forma de conferência, inédito, da au-
toria do ilustre pianista brasileiro,
dr. Annibal da Fonseca.
Minhas Senhoras, meus Senhores.
Honrados com o convite para vos
falar sobre as “Baladas” de Chopin,
a principio achamos que devíamos re-
cusar.
Não que nos fosse desagradavel a
incumbência; longe disso; a honra e
o prazer que dai nos vinham eram
grandes e ademais sentiamo-nos li-
sonjeados.
A tarefa estava porém acima de
nossas forças. Não somos literato;
tampouco orador e mesmo que o fos-
semos escasseava o tempo para co-
ordenar as idéas sobre assunto, por
tantos motivos, vasto e complexo.
Depois hesitamos. A tentação era
grande pois para o pianista nada há
de mais sedutor que entreter-se a fa-
lar de Chopin a um auditorio culto
como o que se nos depara e iniciado
nas maravilhas da pianistica chopi-
niana.
Acabamos cedendo.
Daremos uma vista d’olhos retros-
pectiva sobre alguns momentos da
vida do Mestre que ilustram mais
que qualquer comentário e ajudam
a penetrar suas intenções facilitando
assim a tarefa dos que se abalançam
a interpretar as suas obras.
Serão umas sumárias notas biográ-
ficas mas uteis contudo. E ainda que
fosse de nenhuma utilidade é tão
bom falar de Chopin! Chopin é uma
creatura privilegiada, que se faz
amar por todos os que lhe admiram
o genio. Em se tratando dele não é
possível limitar-se alguém à essa sê-
Dr. Alonso Annibal da Fonseca
ca admiração que qualquer celebri-
dade pode inspirar.
Quem lhe admira as obras dedica-
lhe profunda afeição e toma-se do
desejo de perscrutar-lhe a vida, sa-
ber o que lhe aconteceu, chorar com
seus infortúnios, regozijar-se com
suas alegrias. E isto observa-se não
só entre os profanos. Liszt, ele mes-
mo, escreve sobre Chopin um livro
onde se colhe mais de uma informa-
ção interessante, mais de uma ob-
servação preciosa. Desculpai-nos pois
se nos atardamos em sua biographia.
Diremos após, numa segunda par-
te, o que concerne às Baladas, princi-
pal objetivo deste saráu.
Sobre as “Baladas” em geral e o
que compete a cada uma em parti-
cular e isso mesmo tanto quanto se-
ja util à sua compreensão e possa
facilitar a execução da obra por ex-
celencia de Chopin.
Em 1794, um francês, vindo de
Nancy para colaborar na direção de
uma industria na Polonia, achava-se
estabelecido em Varsóvia; mais do
que isso: de tal maneira identificara-
se com a vida dos nacionais, que se ha-
via alistado nas hostes de Kosciuzko,
que pretendia resistir ao jugo da Rús-
sia que já uma vez desmembrara o
país sob Catarina II. Esse francês cha-
mava-se Nicolas Chopin e nesse ano
de 1794 foi promovido a capitão, esca-
pando milagrosamente ao assalto de
Praga, suburbio de Varsóvia tomado
por Souvaroff. Daí passou êle a pro-
fessor de francês da família Laczins-
ki, onde conheceu, entre outras, Justi-
ne Krzyzanowska, filha de um fidalgo
arruinado e Maria Walewski, depois
tão célebre como Condessa Skerbek.
Uma legitima inclinação por Justine
teve por epilogo seu casamento com
ela em 1806. Sua esposa deu-lhe desde
logo duas filhas e em l.° de Março de
1809, segundo uns, a 22 de Fevereiro
Pág. 8
RESENHA MUSICAI.
de 1810, segundo outros, deu-lhe um
filho. Cham$>u-se Fréderic François
Chopin.
A familia vivia então em Zelazo-
wa-Wola, em terras do Conde Skar-
bek, discipulo de Nicolas Chopin. Daí
passou de novo para Varsóvia, onde
Nicolas Chopin devia lecionar fran-
cês no novo Liceu da Capital e
pouco depois também na “Escola de
Artilharia e Engenharia”. O nosso
Chopin deixou pois seu berço natal
muito cêdo ; aos 19 mêses.
Desde tenra idade manifestou o
pequeno dotes excepcionais para a
Música, dotes esses que um meio pro-
pício poude desenvolver com felicida-
de. A familia Chopin recebia o que
havia de fino e intelectual em Var-
sóvia. Aos 8 anos o pequeno tocou
em público de modo a fazer lembrar
a precocidade de Mozart. Aos 10.
compôz uma marcha dedicada ao
Grão Duque Constantino, irmão do
Imperador e governador de Varsóvia.
Este a fazia executar pela sua ban-
da de música. Os sucessos crescentes
de Chopin decidiram seus pais a des-
tinarem-no à carreira artística. De-
ram-lhe como professor de Música e
piano Zywny, um violinista aliás,
apaixonado por Jean Sébastian Bach.
Mais tarde passou Chopin a receber
os ensinamentos de Joseph Elsner
para a composição. Ambos os profes-
sores reconhecendo as aptidões na-
turais do aluno, deixaram-lhe uma re-
lativa liberdade de procéssos e sou-
beram não comprimir nem estiolar
em seu talento, muito embóra ape-
nas em gerrnen.
Chopin, afóra as horas de estudo
era sempre folgazão; e muito dado,
logo formou um grupo de amigos no
colégio com os quais praticava toda
a espécie de diabruras. Entre esses
amigos de infância contavam-se os
tres filhos e a filha do Conde Wqd-
zinski, Titus Voyciechowski, Celins-
ki e outros. Assim passaram-se os
primeiros anos da infância e da ado-
lescência até que aos 18 anos, o de-
sejo de viajar apossou-se de Chopin.
Um amigo da familia, o Prof. Yorac-
ki, provavelmente um grande natu-
ralista polonês, devendo ir a Berlim
para um Congresso de Historia Na-
tural, ofereceu-se para o levar con-
sigo, prometendo aos pais todos os
cuidados com a saúde do pequeno,
já então delicada. Seu sonho dourado
ia ser pois realizado e assim partiu
êle a 9 de Setembro de 1828 para sua
primeira viagem. Destinava-se à Ale-
manha, onde contava passar os dias
nas salas de concerto. Mas que decep-
ção! Em vez dos concertos, o Prof.
Yoracki o arrastava aos debates do
Congresso e dos Museus passava aos
cenáculos científicos. Em vez de co-
nhecer Meyerbeer, era apresentado
(Continua na pagina 10).
Um Quarteto de Radamês Gnattali
(Continuação da pagina 6).
alongamento do segundo compasso,
que de 2/4 passa a 5/8:
Essa intromissão de compassos
quinários, no último tempo, oferece
ao compositor ensejo para algumas
saborosas combinações rítmicas, co-
mo, por exemplo, quando o I violino
executa o tema em 5/8 sobre um
acompanhamento dos demais instru-
mentos, em divisão binária inalterá-
vel. O último tempo é longo, traçado
com pujante imaginação e termina
coroando brilhantemente a obra no-
tável do jovem compositor que tanto
tem ilustrado a produção musical
brasileira de nossos dias.
RESENHA MUSICAL
Pág. 9
Edições Musicais
3
EL METRONOMO — Ro-
dolfo Barbacci — Buenos
Aires, Argentina:
Para os que conhecem a obra de
Alvin et Prieur “Métronomie expe-
rimental”, acharão forçosamente o
livro acima, de Rodolfo Barbacci, um
trabalho indispensável á bibliografia
dos assuntos musicais.
O primeiro capitulo “Parte histó-
rica”, é iniciado com um princípio
fundamental: “As belezas de uma
obra musical se transformam profun-
damente si se altera o movimento ou
velocidade.” Compreende-se perfei-
tamente a necessidade que os anti-
gos sentiram de possuir um instru-
mento que determinasse a exatidão
rítmica.
Seguindo a róta histórica, estuda
desde os primeiros rudimentares
aparelhos “cronometro”, “ékome-
tron ”,“ ry thmomêtre ”, “ cronometre
musical”, e outros, analisando as in-
vestigações e descobertas de Mer-
senne, Esteban, Loulié, Saveur, D’
Ons-en-Bray, Tongeau de Moralec,
Pelletier, F. Thiemé, Despreaux,
Venk, Weber, Winkel, Stockel até
João Nepomuceno Maelzel, autor do
metronomo aprovado em 1816, de to-
dos os congeneres o mais difundido.
Investiga a seguir o metronomo
atual e a sua parte técnica; constru-
ção e uso pratico e, também, os me-
tronomos posteriores ao de Maelzel.
Consagra um capitulo aos “errores y
anomalias en las indicaciones metro-
nomicas”. Assunto assás curioso e
importante, repetindo uma interes-
sante passagem do grande Beetho-
ven, narrada pelo biografo Schind-
ler: “Afóra o metronomo!, o que es-
Profra. Ondina F. Bonora de Oliveira
tá dotado de sentimento não o ne-
cessita, e o que o carece, nenhum
proveito tirará desse traste, que des-
concertará toda a orquestra”. Re-
pulsa ocassionada pelo nervosismo
momentâneo, segundo o seu biogra-
fo, tornando-se, logo, essa repulsa
em admiração. Depois admirador de
Maelzel, aconselhava particularmen-
te o uso do metronomo desse in-
ventor.
Expõe aos leitores vários meios de
suprir a falta do metronomo, finali-
zando com os “índices Acústicos” e
no mencionado capitulo, estuda dife-
rentes sistemas de enumerar sons
musicais utilizando uma nomencla-
tura bastante complexa.
Aconselha a universalização das
indicações metronomicas ou musi-
cais homogéneas.
“Uma obra de arte vista através
uma lente defeituosa, escreveu Lus-
sy, póde parecer uma caricatura,
uma monstruosidade”.
Musicalmente falando, o ritmo é a
lente que nos revela a obra de arte.
“LA NERVIOSIDAD DE
LOS MÚSICOS — Rodolfo
Barbacci — Lima, Perú.
O autor explana neste trabalho
suas observações sobre a nervosida-
de dos músicos, com muita inteli-
gência, resolvendo verdadeiros pro-
blemas psico-fisiologicos, com rara
competência e sólida cultura literá-
ria e técnica.
O sr. Rodolfo Barbacci é musicis-
ta de grande nomeada, concertista de
harpa e piano, sendo na America do
Sul, lídimo representante da gloriosa
escola musical italiana.
Pag. 10
RESENHA MUSICAL
CHOPIN — AS “ BALLADAS”
(Conti n uação da pagina 8)
a Humboldt e em lugar de ouvir os
Huguenotes ia vêr os dinosauros.
Após o encerramento dos trabalhos
do tal Congresso voltou à casa, porém
o gosto pelas viagens estava nele
despertado. No ano seguinte, em 1829,
parte Chopin para Viena. Em 11 de
Agosto dá nessa capital seu primei-
ro concerto, tocando suas “Variações
sôbre um têma de D. João de Mozart”
e em um segundo concerto toca sua
peça “Krakowiak” para piano e or-
questra e repete as “Variações”.
Grande sucesso. Além disso, nos sa-
lões do Príncipe Lichnowski, tocou
para este ouvir, a Sonata de Beetho-
ven op. 90, ao Príncipe, dedicado pelo
autor.
Após enfim uma série de triunfos,
passando por Praga e Dresde, voltou
Chopin a Varsóvia porém com a fir-
me intenção de não mais aí ficar.
Apenas não havia ainda fixado defi-
nitivamente seu itinerário e muito
menos ainda a data da partida. Quan-
to ao itinerário não sabemos ao cer-
to o que o fazia vacilar. Sôbre a da-
ta, porém, não restava dúvida quan-
to aos motivos de sua indecisão.
Eram os belos olhos de Constance
Gladkowskaia, bela moça e aluna do
Conservatório de Varsóvia e dotada
além do mais de belíssima vóz.
Pela primeira vez sentia-se Cho-
pin seduzido pelos encantos da mu-
lher. Enquanto tinha esperanças de
a encontrar nos diversos salões on-
de se fazia música, Chopin adiava
sempre sua partida e assim foi até
o dia em que solicitado pela gloria
que o chamava mais fortemente, de-
cidiu-se enfim a partir.
Vemo-lo em Breslau a 1 de No-
vembro de 1830. Pleno romantismo!
Em 12 do mesmo mês já estava
em Dresde e a 30 em Praga.
Daí vai pela segunda vez a Viena,
onde porém, já não encontra os mes-
mos encantos que tanto o prenderam
no ano anterior. Decidiu-se então a
partir para Paris, também “de pas-
sagem” como dizia seu passaporte.
Devia apenas fazer antes uma ligei-
ra parada em Munich e outra em
Stuttgart.Em 20 de Julho de 1831
tomou pois a diligência em Viena.
Em Stuttgart, em 8 de Setembro
surpreendeu-o a notícia da quéda de
Varsóvia, tomada pelos russos.
Quer a tradição que nesse momen-
to, tomado do mais nobre sentimen-
to de desespero pela Pátria infeliz,
compuzesse seu célebre estudo op. 10
n.° 12 chamado revolucionário.
Nada ha de inverosimel, pois no
momento estava compondo, segundo
se diz, exatamente sua primeira sé-
rie dos estudos, isto é, a que traz
a indicação op. 10 da qual, esse, da
revolução é justamente a chave de
ouro. Aliás não só toda essa primeira
série dos estudos mas parece que par-
te da segunda também estava pron-
ta quando chegou a Paris.
Não obstante, mesmo a primeira
só foi publicada dois anos após, em
Paris, 1833 e dedicada a Franz Liszt.
Posteriormente publicou segunda sé-
rie, op. 25 e a dedicou á Condessa
D’Agoult.
Os primeiros tempos em Paris fo-
ram difíceis para Chopin. Ainda
completamente des conhecido na
grande cidade, custou para se fazer
introduzir nos meios artísticos e já
se achava desanimado e pronto para
voltar à Polonia, quando o acaso o
fez encontrar o Príncipe Radziwill
seu velho amigo, em cuja casa em
Posen estivéra e onde se encontrava
tudo quanto havia de fino e aristo-
crático. Há mesmo do grande' pintor
Siemiradzki um belíssimo quadro in-
titulado “Chopin em casa do Prín-
cipe Radziwill”.
É então por esse seu amigo levado
à casa do Barão de Rothschild onde
faz imediatamente grande número
de admiradores e recebe bélas e múl-
tiplas propostas de lições. Ei-lo en-
fim lançado em Paris. É curioso
constatar que 50 anos mais tarde uma
aventura mais ou menos idêntica
(Continua na pagina 14).
RESENHA MUSICAL
Pág. 11
Os bons discos de Chopin
(Continuação)
Citaremos ainda um disco de Wi-
lhelm Backhaus, o H. M. V. n.c
DB2059, onde se encontra gravada
sua interpretação do l.° Estudo em
“ut” maior; assim como os dois dis-
cos do bem jovem pianista húngaro,
já um mestre, Eduardo Kilenyi, os Pa-
thé ns. P. g. 93 (ord. 25) et PAT 105
(ord. 30), que trazem as op. 10 ns. 1,
2, 4, 7, 9 e 11, e as op. 25 ns. 2 e 4. To-
davia, Kilenyi é melhor em Liszt, e
estes discos testemunham uma certa
fraqueza fisica, devida sem duvida á
duração do assento de tomada de
sons.
Nota: Ouve-se frequentemente
gravados pelos amadores certos ar-
ranjos para canto, de estudos de
Chopin, entre outros os do Estudo
“Tristesse” ou “Intimité”, ou ainda
“Gvief”, como o podemos baptizar.
A maior parte desses arranjos não
valem grande coisa, e um só é digno
de atenção: falamos do Columbia n.°
4423 (ord. 25 cm.) onde este estudo
adquire grande expressão pelas be-
las vozes russas dos “Choçurs Mix-
tes de la Chauve-Souris”.
O primeiro disco trazendo u’a Ma-
nosso conhecimento bôas edições
destacadas.
AS MAZURCAS
O primeiro disco trazendo u’a Ma-
zurca de Chopin é o H.M.V. DB
2.788 que traz a Op. 50, n.° 3
em “ut” sustenido menor (ex. 30).
De todas as obras do mestre, é aque-
la que revela melhor seu culto pelo
grande Bach: escutamos o “Canon
à l’octave” e logo ao principio, ad-
miramos a gravidade do texto e lo-
go deste teremos uma idéia. Horo-
witz nos dá dele uma interpretação
que nada deixa a desejar.
Um outro artista russo Wladimir
PIERRE WINANDY
Tradução do
Prof. Luiz Carvalhosa Garcia
Pachmann, falecido há pouco em
avançada idade, foi por muito tempo
considerado o melhor intérprete do
Polonês. Ele nos deixou, entretanto,
poucos testemunhos do seu talento
em discos: citaremos dele apenas as
duas mazurcas: em “ut” sustenido
menor op. 63, n.° 3 (uma das mais
conhecidas) e a em lá menor op. 67,
n.° 4 (H.M.V.) n.° DB1.106. Os ou-
tros discos que se recomendam para
as mazurcas são todos da marca
H. M.V. Estes discos são o D.B. 1.462,
que traz a mazurca em “ut” menor
op. 56, n.° 3, agradavelmente exe^
cutada por Artur Rubinstein; o D.B.
I. 763, da em “ut” sustenido menor,
op. 63, n.° 3, por Paderewski ; o D. A.
1.353 (lx. 25) da em mi menor, op.
41, n.° 2, com Horowitz as cravo; os
D. A. 982 e 1.305 (lr. 25) da em fá
menor, op. 7, n.° 3 e em “ut” suste-
nido menor, pelo mesmo; D.B. 2.149,
da em si maior, op. 63, n.° 1 e em
ré maior, op. 33, n.° 2, executadas
por Rubinstein sobre uma só face
(no verso: vêr Bercense).
OS NOTURNOS
O famoso noturno em mi bemol
maior, op. 9, n. 2, obrigatorio aos
pianistas que saem dos princípios é
para se recomendar aos amadores si
fôr executado por Paderewski (H.M.
V. D.B. 1.763, lx. 30). O disco de Al-
fredo Cortot (H.M.V. D.13 1.321 lx.
30) não vale nada. Para o noturno
em fá sustenido maior, op. 15, n.° 2,
optamos igualmente pela interpreta-
ção de Paderewski (H.M.V. D.B.
1.167 lx. 30) ; a mesma obra é igual-
mente bem executada, sobra um dis-
co H.M.V. bem antigo (ele data de
1926 ou 1927) pelo ilustre pianisto
belga M. Arthur de Greeff (D. 1.379
lx. 30), porém a gravação não é sa-
Pág. 12 RESENHA MUSICAL
tisfatória. Polydor, igualmente, o
gravou com o concurso de Leónidas
Kreutzer e este disco é bom (n.°
95.305 lx. 30). Os dois magníficos
noturnos: op. 27, n.° 2 em ré bemol
maior, e op. 62, n.° 1, são executados
sobre um ótimo disco de Raoul von
Koczalski (Polydor 95.172, lx. 30).
Enfim, não deixemos passar em si-
lencio uma outra gravação do op. 15,
n.° 2, do qual fazemos questão: o
H.M.V. n.° D1.721 (lx. 30) do polo-
nês Mischa Leviztki: este disco data
de alguns anos, porém sempre é ex-
celente.
Deixemos todos os outros. Qual-
quer dos discos Columbia, de Leopol-
do Godowski, um pianista russo na-
turalisado americano, não têm gran-
de valôr artístico. Este executante
é mais uma virtuose do que um mú-
sico.
AS “POLONAISES”
Qualquer disco destacado não va-
le a gravação integral de Arthur Ru-
binstein. Citemos todavia o H.M.V.
D.B. 2.014 (lx. 30), que traz a op.
53 em lá (“Polonaise” n.° 8) exe-
cutada por Cortot e o Columbia n.°
D. 13.104 (lx. 25) que nos restitui a
intepretação Marcei Ciampi da op.
26, n.°2, em mi bemol maior (“Polo-
naise” n.° 2). Notemos de passagem
que o número oficial da “Polonaise”
op. 53 é “8”, mas que certos catálo-
gos de discos a mencionam sob n.°
6. Isto é devido ao motivo, já invo-
cado, que a verdadeira primeira “Po-
lonaise” (“ut” maior, op. 3), é mui-
to desconhecida, e que a verdadeira
segunda “Polonaise”, que é a gran-
de “Polonaise” op. 22, com “Andan-
te Spianato”, é repertoriada á par-
te, sem número. De fato, aquelas que
foram continuadas, por exemplo, no
repertório inglês H.M.V., ou no Co-
lumbia, sob os n.os 1 a 7, levam nas
partituras pianisticas: as 6 primei-
ras. os n.os 3 a 8, e a última, o título :
“ Polonaise-Fantasie ” .
Da Grande “Polonaise” op. 22, ci-
taremos o “Ultrafone” n.° F.P. 1.372
(mi-lx. 30) de Cario Zecchi. O pri-
meiro dos pianistas italianos contem-
porâneos a interpreta de admirável
maneira, mas omite o “Andata Spia-
nata”.
OS PRELÚDIOS
Para os prelúdios, qualquer edição
destacada não vale mais que a edi-
ção integral de Cortot nem mesmo
as de Lostat, com uma execepção:
Wilhelm Bakhaus nos dá uma belís-
sima execução do Prelúdio em “ut”
maior, op. 28, n.° 1 (H.M.V. D.B.
2.059).
OS SCHERZOS
Estas obras tão possantes e tão pa-
téticas, executadas em muitos dis-
cos de grande beleza, outra edição
integral de Rubinstein. Para o pri-
meiro Scherzo, em si menor op. 20,
procurar o disco H.M.V. n.° B8.014
(ovd. 25) de M. Niedzielski. Para o
segundo, op. 31, em si bemol menor,
o mais célebre dos quatro, ter-se-á
à escolha entre: o Columbia da pia-
nista inglesa Irene Sharrer, execução
ao mesmo tempo robusta e sensível
(D.X. 433 ovd. 30) ; e o Columbia
n.° D. 15. 225 (lx. 30) do artista fran-
cês Marcei Ciampi (de 1930), velho,
mas de uma vivacidade admirável
e de uma execelente gravação.
O terceiro, em do sustenido menor,
op. 39, foi muito bem gravado, há al-
guns anos, por Mischa Levitzki (H.
M.V. D. 1.814 lx. 30). Mas este dis-
co, depois foi suplantado, em quali-
dade, e deste Scherzo, prefiro a gra-
vação Pathé n.° 98.071 (ovd. 30), de
Jacques Dupont. Este vale tanto co-
mo a de Rubinstein.
Quanto ao quarto “Scherzo”, o
mais bonito, dele existe um disco ad-
mirável, bem recente, o H.M.V. n.°
D.B. 3.397 (lx. 30) de Wladimir Ho-
rowitz. Este artista russo é decidi-
damente o deus dos pianistas. Seu
disco supera sem contestação possi-
vel o de Rubinstein. Mas a peça é
curta de fôlego, e é uma daquelas
das quais a composição, no dizer do
mesmo Chopin, o fez transpirar.
(Continua na pagina 22).
RESENHA MUSICAL
Pág. 13
Do sr. Benedito Valladares
Ribeiro, D. D. Governador do
Estado de Minas Gerais, re-
cebeu o Diretor de RESENHA
MUSICAL, o seguinte cartão:
“AO PREZADO AMIGO PROF. CLOVIS DE OLIVEIRA,
BENEDICTO VALLADARES RIBEIRO CUMPRIMENTA E
AGRADECE A GENTILEZA DA REMESSA DE TRES EXEMPLA-
RES DA REVISTA “RESENHA MUSICAL”, QUE SE PUBLICA
NESSA CIDADE, SOB SUA ILUSTRE DIREÇÃO.”
Belo Horizonte, 27/3/940.
“PELA SUA VARIADA E ESCOLHIDA COLABORAÇAO,
“RESENHA MUSICAL” — É UMA REVISTA DE INDIPENSA-
VEL UTILIDADE AOS QUE SE DEDICAM AOS ASSUNTOS MU-
SICAIS, APRESENTADA EM BRILHANTE ASPÉTO MATERIAL,
REVELANDO A INTELIGÊNCIA E A CULTURA DO SEU ILUS-
TRADO DIRETOR.”
Dr. CAMILO GAVIAO DE
SOUZA NEVES, D. D. Pre-
feito Municipal de Araraquara
20/4/40
Pág. 14
RESENHA MUSICAI
CHOPIN — AS “BALLADAS”
(Continuação da pagina 10).
tornava conhecido e consagrado o
seu maior intérprete.
Com efeito em 1882, a Princesa
Bibesco apresentava ao “tout Paris”
em seus salões Ignace Jan Paderews-
ki o maior pianista depois de Liszt
e que é ao mesmo título que Chopin
um grande patriota e foi o ele-
mento decisivo para a libertação e
resurreição do País que lhes deu o
berço e que ambos extremeceram.
Paderewski, como Chopin, já se sen*
tia desanimado, devido sobretudo aos
prognósticos que lhe havia feito um
grande pianista da época para quem,
foi tocar e com quem pretendia
aconselhar-se.
Este lhe disse: “Você nunca será
pianista; não tem bôas mãos, falta-
lhe agilidade e seu toque além de ás-
pero, carece de colorido!” Imaginai
por um instante a desilusão produzi-
da! Leschetitzky, porém, deu-lhe
tudo isso em dois anos e tornou-o
o mais célebre de todos os pianistas
do mundo e o mais ilustre intérpre-
te de Chopin.
Mas voltemos a Chopin em 1831.
Dessa data em diante, a situação de
Chopin estava feita e brilhantissi-
mamente. Ainda uma aventura amo-
rosa ; a segunda que se conhece : Ma-
ria Wodzinski a quem Cortot cha-
ma a “noiva de um dia”. O que é
certo é que se conheciam desde a in-
fância. Em 1835, encontraram-se em
Marienbad onde Chopin a via dia-
riamente e com ela tocava a quatro
mãos. No ano seguinte, viram-se de
novo e em Dresde retomavam o ro-
mance no ponto em que o haviam
deixado e, segundo parece, o nosso
artista a pedira então em casamento.
Ela aceitou. No dia seguinte, de-
viam, porém, se separar, partindo
ele de Dresde de regresso a Paris e
ela dirigindo-se a Varsóvia. Como ex-
pressão dos sentimentos que o as-
saltaram nesse momento, veio-lhe
um tema que ele imediatamente es-
creveu e lhe dedicou com estas sim-
ples palavras: “Pour Mlle . Marie,
Dresde, 1835”. Ela intitulou o poe-
meto “Valse de l’adieu” e ofereceu-
lhe uma rosa. Mas... “la donna é
mobile” e ela mudou de idéia. Diz
Michel Délines em seu trabalho so-
bre Chopin: “Certamente ela acabou
compartilhando da opinião do pai qué
não achava Chopin, ainda que céle-
bre, um bom partido para sua filha,
joven aristócrata. Maria contudo
prometeu a Chopin uma lembrança
eterna em seu coração e provou-lhe
isso casando-se seis mêses depois
com o Conde de Skarbek.”
0 coração de Chopin nunca se res-
tabeleceu desse golpe e à aquela rosa
que nesse dia ela lhe deu nunca mais
se separou e murcha, seca, atada
com uma fita de seda com as pala-
vras “ a dôr de minha vida” foi ela
encontrada pelos seus amigos por
ocasião dê sua morte. Noivos, real-
mente só se viram aquele dia. Isso
explica o apelido dado por Çortot.
Quanto à “Valse de l’adieu” foi
ela publicada como obra póstuma de
Chopin por Fontana e traz a indica-
ção op. 69 n.° 1.
Outra coincidência curiosa; quasi
ao mesmo tempo, Liszt via desfeitos
seus sonhos de amor e casamento
com a Condessinha de Saint Cricq pe-
las mesmas razões e da mesma fórma.
O segundo estudo de Chopin op. 25,
parece evocar, pela sua leveza, seu
caráter etéreo, imponderável, quási
imaterial, a figurinha graciosa de
Maria de Wodzinski. “Tão leve e vapo-
rosa como o sonho de uma criança”.
Assim traduzia Schumann sua im-
pressão ao ouvir Chopin executá-lo.
Com efeito, Schumann o ouviu nes-
sa ocasião. Ao sair de Dresde de volta
a Paris, Chopin fez uma parada em
Leipzig, onde foi procurar Mendels-
sohn. Este o levou direitinho à casa
de Clara Wieck, noiva de Schumann,
que também lá se achava. O aparta-
mento do “papai Wieck” nesse dia
abrigou, como diz Guy de Pourtalès,
os tres maiores compositores do mo-
mento.
RESENHA MUSICAI
Pág. 15
É provável que Chopin tenha to-
cado nessa ocasião seus “Esudos”
op. 25, que devia precisamente estar
compondo e que só foram publicados
dois anos após, isto é, em 1837, qua-
tro anos depois dos primeiros,
op. 10, publicados como já sabemos,
em 1833. Schumann nos deixou um
precioso relato a respeito do primei-
ro “Estudo” op. 25: “Mais um poe-
ma do que um estudo” diz ele e
acrescenta referindo-se à maneira
pela qual Chopin o executava: “En-
ganar-se-ia quem supuzesse que ele
fazia ouvir claramente todas as notas
que se acham escritas. Era mais um
fluxo e refluxo de harmonias atra-
vés das quais percebia-se numa so-
noridade mais acusada a melodia ma-
ravilhosa” e mais adiante: “tal qual
uma harpa eólia da qual se despre-
endessem as mais doces ondulações
sonoras e aqui e ali, jogadas espar-
samente, as notas duma melodia da
mais inefável doçura.”
É bem possível que Schumann ti-
vesse ouvido também nessa mesma
ocasião a l.“ Balada que já devia estar
composta, muito embóra só tenha sido
publicada no ano seguinte. É sabido
que Schumann tinha uma grande
predileção por essa obra de seu ami-
go.
Enfim, em 1837, Chopin encon-
trou sua grande companheira para a
vida na pessoa de George Sand, que,
aliás, a princípio, inspirou-lhe a mais
decidida repulsa.
Por assim dizer, inicia-se então,
a segunda fase da vida do glorioso
compositor, período áureo de sua
existência, em que o artista medita,
ensáia e por fim realiza suas mais
importantes produções. Pode-se di-
zer que esse período inicia-se em 1836
com a publicação da “1.* Bailada”,
op. 23, em sol menor.
Algo diremos sobre as principais
datas que marcaram sua existência,
de então até a morte. Logo no ano
seguinte, 1838, Maurice, filho de
George Sand, achando-se enfermo, es-
ta resolveu procurar um clima mais
ameno e aconselhada por um amigo
decidiu-se por Maiorca, uma das Ba-
leares, cuja temperatura, luminosida-
de e secura do ar muito convinha ao
pequenito.
Em caminho, alcançou-os Chopin,
que já não se conformava com a se-
paração e juntos foram todos insta-
lar-se no antigo convento de Valde-
mosa onde Chopin ocupou desde a
chegada uma célula tão triste e tão
sinistra que ele mesmo a chamava de
sepulcro.
Alguns de seus biógrafos dão co-
mo aí esboçada a Marcha Fúnebre
que mais tarde veio ser parte inte-
grante desse extraordinário poema
sonoro que é sua segunda sonata,
op. 35, também chamada Sonata Fú-
nebre ou Poema da Morte. Somos le-
vados a crêr que, si a Marcha Fú-
nebre aí foi composta, toda a Sonata
aí foi pelo menos concebida, pois a
unidade de pensamento revela-se tal
que impossível seria a ter-se ideado
aos pedaços.
Cont. no próximo núm.
“Revista Musical Peruana”, ns. 1
a 12, ano I, 1939, editada em Lima,
Perú
“Revista Musical Peruana”, n. 13,
ano II, 1940, editada em Lima, Perú.
— Registramos com grande pra-
zer a recepção da explendida “Re-
vista Musical Peruana”, editada em
Lima, Capital do Perú, sob a pro-
vecta direção do ilustre mucisista
prof. Rodolfo Barbacci, nosso fino
colaborador, autor de muitos traba-
lhos de musicologia, critico musical
de valor e eximio virtuose. A “Re-
vista Musical Peruana” traz em suas
paginas, mensalmente, crónicas assi-
nadas pelos vultos de maior relevo na
vida artística da America do Sul e
do paiz irmão.
“A. P. I. S. P.”, Revista da Asso-
Pag. 16
RESENHA MUSICAL
Removendo o pó do Tempo...
SUBSIDIO PARA A HISTORIA DE
ARARAQUARA
III
Numa tarde silenciosa, dois ami-
gos conversavam nervosamente. Dis-
cutiam. 0 assunto deveria ser mú-
sica, pois que eram dois músicos, o
maestro Florindo e o Júlio Porta. E,
de fato, dessa conversa, surgiu uma
aposta, uma ceia. O Florindo daria
uma música para o Porta estudar
durante um mês e o Porta daria uma
outra para o Florindo lêr à primeira
vista.
O resultado foi o que muitos já
antecipavam. O Florindo ganhou e
ganhou bonito, tocando habilmente
o bombardino.
Desgostoso, o Porta resentiu-se
com o Florindo, e, para mostrar a es-
te o quanto era capaz, aprontou-lhe
uma surpreza . . .
FOSCA! FOSCA! trechos da ópe-
ra FOSCA, vão ser executados por
uma banda sob a regência do maes-
tro Júlio Porta. Anúncios eram dis-
tribuídos por toda a parte e em to-
das as portas. Muito reclames foram
pregados nas paredes. O Porta esta-
va estusiasmado porque ía mostrar
ao Florindo o quanto era capaz!
No dia aprazado, a Confeitaria
Paulicéa, do João de Merlo, regorgi-
tava de povo. Todos os músicos da
cidade alí estavam. Um povo curio-
so, ancioso para ouvir o que o Porta
tinha preparado com tanto alarde.
Começou o concerto. Tudo ía bem.
Mas, como não há bem que sempi*e
dure, eis que em determinado sólo o
clarinete enrosca e a banda não deu
entrada, estabelecendo c o n fusão.
Atrapalhação geral ! E o maestro,
sob vaias da massa popular chamou a
Prof. Clovis de Oliveira
atenção dos músicos batendo com a
batuta na estante:
— “Da capo!”
*
Em 1903, havia em Araraquara a
bem organizada “Società Italiana di
Mutuo Soccorso”, que no desejo de
concorrer para o progresso local, re-
solveu criar uma banda, para o que
convidou o sr. João Pinto Cardoso
para organizá-la e dirigí-la. Infeliz-
mente esta nova corporação não du-
rou mais do que um ano de exis-
tência, assim mesmo bastante irre-
gular
*
Julho de 1903
Mês consagrado ao Sagrado Cora-
ção de Jesús. (*)
Preparavam-se na terra araraqua-
rense muitas festas religiosas Tudo
obedecendo à direção da sra. Branca
Corrêa, muito estimada na socieda-
de local. D. Branca compreendeu a
necessidade de ser formada uma ban-
da para dar maior realce ao movi-
mento festivo anunciado Com essa
intenção pôs à disposição do sr. João
Pinto Cardoso, uma importância
afim de ser adquirido o instrumental
necessário, o que foi efetuado.
Batizada com o nome de Italo-Bra-
sileira e formada por antigos ele-
mentos da extinta corporação do
mesmo nome, assumiu a regência o
Mtro. José Tescari.
Terminadas as festas religiosas,
fundiu-se a Itálo-Brasileira com a
sua congénere Carlos Gomes, que
atuava sob a regência do Mtro. Ra-
fael Quaranta. O fim principal desta
fusão era fazer concon*ência à “Mu-
tuo Soccorso”.
Pouco tempo durou esta união.
Uma vez separadas, tomou a dire-
ção da Italo-Brasileira, o sr. Manéco
(*) Hoje festejamos em Junho.
mm
■
RESENHA MUSICAL
Pinheiro e da Carlos Gomes, o sr.
Florindo Castellan.
A seguir, dirigiram a Italo-Brasi-
leira, os srs. João Pinto Cardoso,
João Aranha do Amaral, Jorge Ga-
latti (hoje residente e mMarilia), au-
tor da conhecida valsa “SAUDADE
DE MATÃO”, gravada em disco
Victor, n.° 34.498, e, finalmente,
João Pinto Cardoso, outra vez, nas
mãos do qual ela dissolveu-se, mais
ou menos, em 1914.
*
Por volta de 1910, mais ou menos,
o Joaquim Cândido que era um mú-
sico muito conhecido, fundou uma
pequena orquestra que denominou
“7 de Setembro”, e para integrá-la
convidou os srs. Flaminio Ramalho,
Álvaro Montéro, José Ferreira da
Silva (Zico Salomé), um sobrinho do
José Cândido — ainda menino, mui-
to admirado no violino pela sua pre-
cocidade — , Luiz Inácio do Amaral
Gurgel (Nhônhô Gurgel), Benedito
Gomes, Agenor Arruda, Raul Tobias
Monteiro.
Embora muito apreciado, o con-
junto pouco tempo durou.
*
Existiu também em Araraquara,
a orquestra do João Aranha do Ama-
ral.
Também o Angelo Bonetti (Ange-
lim), fundou uma pequena orques-
tra a qual teve os seguintes mem-
bros: Angelim, Américo Brunelli,
José Furlan (Juca), Nicola Lodá, To-
más Roda, Antonio Zerbini e um
flautista cujo nome não poude ser
lembrado.
A Orquestra Santos Dumpnt, co-
mo se chamava, proporcionava à mo-
cidade araraquarense de então, os
seus momentos agradáveis que pas-
sava dansando no Clube Araraqua-
rense, que funcionava no antigo pré-
dio demolido em 1936, para dar lu-
gar ao magestoso Cine Paratodos
*
Estamos em 1907, véspera de elei-
ções. Todos se agitavam e davam
palpites. A Banda Carlos Gomes, fa-
Pág. 17
zia ensáios para tocar nas proximi-
dades do colégio eleitoral, para o que
já tinha sido solicitada por uma das
facções.
No dia das eleições a cidade foi
acordava com estrugidos dos fogos,
que anunciavam o pleito.
A Banda Carlos Gomes foi postar-
se na rua 1, principio da Avenida 6
(hoje Italia), onde ficou preparada
para sair a qualquer momento.
Um homem chega às pressas. Era
o Faria, fiscal da Camara, que vinha
chamar a Banda para tocar.
— Ainda faltam uns músicos ! res-
pondeu o Mtro. Florindo.
Logo mais, outro fiscal, o Jacob,
esbaforido, ancioso, nervoso, vem re-
clamar a presença da Banda.
— Já irá! desculpou-se, o maes-
tro. Espero apenas a chegada de al-
guns músicos
Parecia que a banda não mais ia
sair de seu pouso, quando chegou
apressado o Nhônhô M a g alhães
(Carlos Leoncio de Magalhães), gri-
tando :
— Florindo, música! Nós vence-
mos!
E o maestro, sorrindo, erguendo
um dos braços, deu ordem:
— Vamos, música p’ros Carvalho!
Momentos após, a imponente cor-
poração festejava o vitorioso do plei-
to postada em frente ao edifício da
Camara Municipal, que naquele tem-
po funcionava no antigo prédio, já
demolido do Banco Comercial do Es-
tado de São Paulo, em 1938, sito na
esquina da rua 3 com Avenida 2.
*
Em 1911, foi fundada uma banda
que tem continuado a existir até os
nossos dias com longas fases de des-
falecimentos : a Banda Lira Arara-
quara
O seu primeiro regente foi o Ma-
néco Pinheiro, a seguir os srs. Raul
Tobias Monteiro, Zeferino Bartolo-
masi e Raul Tobias Monteiro (nova-
mente), nas mãos do qual ela ter-
minou em 1915, a sua primeira fase
de vida.
4
Pág. 18
RESENHA MUSICAI
Eram músicos da Banda, os srs.
Raul Tobias Monteiro (regente),
João Pereira, Joaquim Mendonça,
Antonio F. Ferraz, Estevam Prosilo,
Octavio Vitalis, Afonso Rogério,
Amancio Rodrigues, Francisco Pic-
colo, Bento Tages Navarro, Luiz Vi-
cente Conde, Afonso Vitalis, Pascoal
Marino, Manuel Junqueira, Braz Pi-
nheiro.
Compunham a sua diretoria os srs.
dr. Augusto Freire da Silva Junior,
presidente; João Ignacio do Amaral
Gurgel, diretor fiscal; Manuel Sebi-
danes Martins, tesoureiro; Raul To-
bias Monteiro, regente.
No Jardim Público — primitivo
Largo_da Bôa Morte, hoje Praça In-
dependência — se realizavam os
concertos aplaudidos pelo numeroso
público que alí encontravam o seu
passeio predileto aos domingos e
feriados.
Recusada pela Camara Municipal,
ao dr. Freire Junior, uma subven-
ção á banda Lira Araraquara, esta
viu suspensa a sua atividade, re-
aparecendo em 1917 com os mes-
mos componentes, porém com ou-
tro nome, Lira São Paulo Northen.
*
Em 1912 (?), falece após prolon-
gados sofrimentos, vitimado por per-
tinaz moléstia, o devotado maestro
Florindo Castellan, deixando acéfala
a direção da Banda Carlos Gomes.
Refeita da morte de seu dedicado
regente, é posto á frente do conjun-
to em 1915, o maestro Rafael Qua-
ranta. Figuraram no conjunto os
srs. Fernando Sarogó, José Lia, Ni-
coláo Lodá, Rafael Quaranta, Anto-
nio Pannacci, Miguel Sereno, Amé-
rico Brunelli, Joaquim Nunes, Victo-
rio Bonetti, Luiz Rossignamo, José
Magdaleno, Miguel Cortez, Rafael
Lia, Pascoal Scrocco, José Lodo, Hen-
rique Bonetti, Leoluca Bertuca, Ge-
raldo Angerami e José Corpo.
Eram seus diretores nessa época
os srs.Dario Alves de Carvalho, pre-
sidente; Nicoláo Lodá, secretario;
Eurico Bonetti, tesoureiro; regente
Rafael Quaranta.
Infelizmente, o maestro Quaranta
transferiu-se para Rio Preto, onde
mais tarde veiu a falecer, deixando
acéfala a direção que foi confiada
tempo após ao maestro José Bovo-
lenta que a reorganizou ; porém,
pouco tempo permaneceu nesse car-
go passando-o ao sr. Francisco Fa-
rina. E com a saída deste esforçado
elemento, a Banda Carlos Gomes
passou por uma fase amarga de
completo esmorecimento, que durou
cerca de tres anos.
Conjugando todos os elementos
possíveis, a Banda foi reorganizada
e a sua direção musical entregue ao
sr. Nino Napoli. Músico da mesma,
desde a mais tenra idade, foi sem-
pre um elemento muito dedicado a
sua corporação. Ocupou diversas ve-
zes a regencia da mesma, anterior-
mente, como o mestre substituto. Fi-
gurou na ítalo Brasileira, quando
veio para Araraquara e muitas ve-
zes, tem integrado os conjuntos or-
questrais.
E’. este o atual regente da antiga
Carlos Gomes e os seus músicos, os
seguintes; Francisco Abritta (Chi-
co), Jacyr Casanova, Miguel Janota,
Antonio Lemos, Nicolini, João Reis,
Rebelo Corpo, Gobatto, Raga (pai e
filho), Mario Malagoli, Jacinto Bo-
nini, Arlindo Latorre, Nicola Birlin-
guer, Victor Grigole, João Ponce e
Nicola Pititto.
*
Em 1915 haviam, duas bandas den-
tro do município de Araraquara.
Uma em Santa Lucia, sob a regen-
cia do sr. José Avella, a Corporação
Musical “Bento de Abreu” e a outra
em Nova Paulicéa, que denominava-
se Lira Nova Paulicéa.
*
Em 1917, reaparece a Lira Arara-
quara, porém, com outro nome, Lira
São Paulo Northen, reorganizada pe-
los srs. Flaminio Ramalho, Joaquim
Oliveira Machado e outros, receben-
RESENHA MUSICAI
Pág. 19
do auxilio diréto da Direção da es-
trada que lhe emprestou o nome.
Encampada mais tarde pelo Gover-
no do Estado, a São Paulo Northen,
a banda passou a denominar-se Lira
Estrada Araraquarense. Era diretor
da Estrada nessa ocasião o sr. dr.
Theophilo de Souza, que muito im-
pulso deu para vitalidade do peque-
no conjunto musical.
O maestro José Tescari, como fun-
cionário da Estrada nessa época, foi
o seu primeiro regente, deixando-a
algum tempo depois, nas mãos do
sr. Raul Tobias Monteiro.
Era a preferida para todas as
festas, vindo daí uma certa rivalida-
de entre as duas corporações locais,
pois que a outra, a Carlos Gomes,
sob a regencia do sr. Bovolenta, pas-
sava por uma crise monetaria terrí-
vel, dessas que fazem até calar a
voz de Euterpe.
Em vista desse estado de cousas,
por volta de 1920, provavelmente,
foi tentada uma fusão, cuja foi re-
jeitada, quando a idéa parecia tão
feliz e acertada.
Mas o sr. Tobias não permaneceu
por muito tempo á testa da Lira,
passando a regencia ao sr. Tages
Navarro, que convidou para substi-
tui-lo mais tarde, o sr. Michelino
Maizano (hoje residente em Jaboti-
cabal), que veio de Dobrada. Quan-
do a Prefeitura Municipal concedeu-
lhe uma subvenção (o conjunto já
não mais pertencia à Estrada), o no-
me da Lira mudou para a Banda Bra-
sileira, denominação essa que conser-
va até os nossos dias, sob a regência
do sr. Joaquim Antonio Nunes.
*
O conjunto da Lira Estrada de
Ferro Araraquarense, foi em deter-
minada época adida á linha de Tiro
610, sob a regencia do sr. Tobias
Monteiro. Numa excursão promovi-
da pelo Tiro de Guerra, a Taquari-
tinga, a Banda realizou um magni-
fico concerto naquela cidade.
Como lembrança da bela atuação
da Banda em Taquaritinga, o presi-
dente do Tiro, sr. Luiz Pinto Ferraz
(Lulú Pinto), ofereceu ao maestro
Tobias, uma batuta de ébano encrus-
tada em prata, com a seguinte ins-
crição :
“Ao seu maestro Raul Tobias, ofe-
rece o Tiro de Guerra 610 — Ara-
raquara, 3-3-919”.
A pedido da colonia portuguesa,
aqui domiciliada, foi aqui ouvido no-
vamente o mesmo concerto, recebem
do o maestro Tobias mais provas de
admiração e de amisade do povo ara-
raquai*ense. E’ dessa ocasião, uma
medalha de prata, que recebeu com
a seguinte inscrição:
“M. Quental oferece a R. T. Mon-
teiro em memória do concerto rea-
lizado em 20 de Abril de 1919 —
Araraquara”.
*
Dou por terminada aqui a peque-
na historia que desejei fazer com o
fim de perpetuar nos arquivos espe-
cializados, os nomes modestos de de-
votados músicos que trouxeram com
a sua arte quasi amadoristica, a ale-
gria musical á população primitiva
e á atual desta cidade florida que
exorna beleza e riqueza dentro do
Brasil; e, contribuir, mui modesta-
mente, para a Historia desta cidade,
relembrando e fixando nomes e fa-
tos antigos e modernos que apenas
tive conhecimento com o trabalho de
investigação que expuz e os quais
corroboraram para o progresso de
Araraquara.
*
Aqui fica o meu sincero agradeci-
mento a todas as pessoas que ex-
pontaneamente me prestaram infor-
mações para a composição do pe-
queno trabalho que óra conclúo.
Bibliografia: Album de Araraqua-
ra, 1915; Araraquara (o município,
a cidade e o povo), 1928, Casas Du-
prat e Mayença, São Paulo; Alma-
nak da Província de São Paulo para
1873, por Luné e Fonseca, São Paulo.
Pág. 20
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RESENHA MUSICAI
Pág. 21
Um rei que passou pela vida como um sonho
Luiz II da Baviera era pálido, al-
tivo e solitário. Disseram-no louco e
por louco encerraram-no naquele cas-
telo de Berg, em cujo lago foi en-
contrado morto, abraçado ao cadaver
do dr. Gudemos, seu carcereiro e
terrível algoz.
Mas, em verdade, teria sido louco
este rei, jovem, generoso e apaixo-
nado que amava a arte e as monta-
nhas, o silencio e a solidão?
No recolhimento dos seus parques,
ou no silencio dos seus salões, que
buscava sua alma torturada? O mis-
tério, talvez, da sua própria melan-
colia ? . . . Interrogaria, ele, na soli-
dão, como Hamlet, o abismo sombrio
do Nada? O vazio da existência? A
profunda inutilidade de tudo?
Eram longos momentos, esses, em
que seu espirito, fugindo á triste mi-
séria e da vida dos homens, busca-
va o grande seio da natureza e re-
clinado sobre ele, adormecida, talvez,
ouvindo a pura sinfonia das cousas
simples e eternas, que cantava ou ge-
mia ou suspirava pela voz dos ven-
tos e das aguas, dos passaros e das
folhas.
Louco ? Quem sabe ! . . .
Porque, poucos souberam sentir e
amar essa obra como este triste e
pálido mancebo que mandou cons-
truir sobre as altas montanhas^da
sua patria um castelo para cada~úm
dos heróis wagnerianos: Neusch-
wanstein, castelo de Parcifal ; Hoens-
chwangau, solar de Lohengrin . . .
Na tarde do dia em que pela pri-
meira vez foi recebido pelo rei-artis-
ta, — que indiscutivelmente o era
Luiz II — escrevia Wagner a uma
de suas amigas de Zurich, a senhora
Wille:
“Fui hoje recebido pelo jovem rei
da Baviera! Desgraçadamente é ele
tão belo, ardente e generoso que te-
mo seja sua vida, neste mundo tão
vulgar, como um divino sonho fugiti-
vo. Ama-me ele com fervor e entusias-
mo juvenis. Sabe e conhece tudo que
a mim diz respeito. Quer ter-me
sempre a seu lado; que eu descance,
que termine os Nibellunge. Deseja
afastar de mim toda preocupação
material da vida. Que pensais de tu-
do isto? Não é uma cousa inaudita?
Não será tudo isto um sonho?”
Mas o sonho realizou-se.
Não obstante a oposição do gover-
no e do povo que tinham em conta
de verdadeiras loucuras as despezas
que o rei ordenava em beneficio das
artes, foi Luiz II, alma refinada de
artista, que salvou o sonho wagne-
riano de um miserando desastre.
Este rei solitário, que altas horas
da madrugada erguia-se do leito pa-
ra percorrer sozinho as aleas deser-
tas dos seus parques; este pálido e
merencoreo sonhador que aos deze-
nove anos de idade, subindo ao tro-
no, revelava-se imediatamente um
sincero e fervoroso amigo da Arte e
da Beleza sonhou para Wagner e sua
obra um teatro que fosse ão mesmo
tempo ára e consagração. Este tem-
plo de arte devia surgir, magestoso
como um monumento erguido ao Gé-
nio, rico de mármores e bronzes como
um destes sonhos helenicos sonha-
dos pelos homens terríveis da Re-
nascença, afim de uma alameda de
dez kilometros de extensão!
Este sonho deixou de ser realida-
de pela tenaz oposição que ao rei e
a seus projetos artísticos moveram
não só o governo e o povo, como os
musicistas de Monaco a quem a glo-
ria do criador de Parsifal começava
a obumbrar. Luiz II não poude, as-
sim, levar a cabo seus grandiosos
projetos. Começaram - a chama-lo de
louco, delapidador dos dinheiros pú-
blicos. A inveja, a ignorância, as
mesquinhas rivalidades profissionais,
ainda uma vez patuavam a ruína da-
quilo que um nobilíssimo espirito er-
guia nas azas da fantazia para glo-
Pág. 22
RESENHA MUSICAL
ria de sua patria e de seu músico
genial.
E o grande teatro não poude ser
construído; em compensação Luiz II
mandou edificar alguns castelos que
numa lírica oferenda, consagrou aos
lendários heróis wagnerianos . . .
Em suas noites de insônia e de
melancolia, quando sua alma doloro-
sa recordava, talvez, o seu grande
amor impossível, passava o rei, so-
zinho, horas e horas a ouvir trechos
de músicas amadas que pequenas or-
questras sabiamente disfarçadas na
sombra executavam primorosamen-
te. . . Amava a solidão a ponto, co-
mo é sabido, de assistir, sozinho, á
representação das operas de Wagner,
em cujo espirito sentia fraternas afi-
nidades místicas e religiosas.
Era um louco? Era um sonhador?
Rei que passou pela vida como um
sonho, muito possuia ele em sua al-
ma daqueles lendários e puros heróis
que amava. Belo, jovem, poderoso,
nada lhe faltava para deixar na his-
toria uma dessas paginas brilhantes
que os monarcas moços e belos es-
crevem com a espada de seu capri-
cho no frágil coração das mulheres.
Não o tentava, tal gloria, porém. Ao
fausto das côrtes, ao brilho das re-
uniões mundanas, á reverencia con-
vencional dos áulicos preferia Luiz II
a solidão e o silencio das montanhas,
a sombra lírica dos parques, o reco-
lhimento beneditino dos lugares sem
ninguém ... E, acima, de tudo isso,
alta entre as nuvens, longe da terra,
próxima do céo, essa música que fez
tremer todos os corações da terra; a
música de Ricardo Wagner.
E por isto tudo, foi bem Luiz II da
Baviera um rei que passou pela vida
como um sonho.
OS BONS DISCOS DE CHOPIN
(Continuação da pag. 12).
Em edições destacadas, nós temos
as grandes interpretações de Pade-
rewki : o H.M.V. D.B. 1.273 (lx. 30),
que nos dá o prazer de ouvir a pri-
meira das valsas, a op. 18 em mi be-
mol maior; e o H.M.V. D.B. 380 (lx.
30), gravação acústica da qual o la-
do técnico é bem acabado, mas onde
a Grande Valsa op. 42, em la bemol
maior é traduzida de maneira assás
prestigiosa. Para a op. 42, a qual
quer podemos preferir o H.M.V. D.
1.379, ou o Ultrafone F.P. 1.486 em
que, respectivámente, a executam
Arthur de Greeff e Cario Zecchi. Es-
tes dois discos, o segundo sobretudo,
estão melhor gravados. Apreciamos
igualmente bastante a Polydor n.°
95.143, de Alexander Brailowski.
Gostamos muito menos dos H.M.V.
n.os D.B. 2.166 de Simon Barer e
dos D.B. 2.772, de Moritz Rosenthal:
interpretações muito pessoais e por
conseguinte, um pouco fantasistas.
A valsa brilhante op. 34, n.° 1, em
la bemòl maior, é executada de ma-
neira deslumbrante por Rubinstein
(H.M.V. D. 131.160 lx. 30). Para a
curta e viva “Valse-Minute” (op. 64,
n.° 1, em ré bemol maior) daremos a
palma a Wladimir de Pachmann (H.
M.V. D. A. 761), máo grádo uma so-
noridade nem sempre exemplar. Pa-
ra o n.° 2, da mesma op. nós escolhe-
remos Cortot (H.M.V. D.B. 1.321, lx.
30) ou Rubinstein (H.M.V. D.B.
1.495 onde ela é colocada entre o l.°
e o 2.° movimento do concerto em
fá). Vejamos agora uma valsa pela
qual um film “A Valsa do Adeus” fez
a sua celebridade. Esta valsa não é
outra senão a em la bemol, op. 69,
n.° 1. Dela podemos escolher um en-
tre dois discos: o Columbia n.° D.
13.103 (lx. 25), de Marcei Ciampi e
o Polydor 90.197 (lx. 25), de Brai-
lowski.
E, para terminar, sôbre um fogo
de artificio, ouçamos Serge Rach-
maninow executar a última das val-
sas, a ágil e ardente Valsa, op. pós
tuma em mi-menor (H.M.V. D.A.
1.189, lx. 25) engastada em um dos
discos da Sonata op. 35.
As outras gravações de valsas são
de um caráter um pouco “indus-
trial”.
Conclui no próximo número com
“As obras diversas”.
RESENHA MUSICAL
Pág. 23
Recebemos e Agradecemos
(Conclusão da pág. 15)
ciação dos Profissionais de Imprensa
de São Paulo, ano I, n. 1, Janeiro de
1940, São Paulo.
— Não podemos nos furtar de fa-
zer uma especial referencia a “API
SP”, orgam da Associação dos Pro-
fissionais de Imprensa de São Pau-
lo, pela oportunidade de sua publi-
cação, como porta vóz da numerosa
e valorosa classe jornalística do nos-
so Estado. Revista fina, repleta de
magníficas colaborações, está apta
a cumprir a nobre missão que lhe
puzeram sobre os hombros. Para-
béns.
“A. P. I.” — Boletim da Associa-
ção Paulista de Imprensa, ano I, n.°
3, Janeiro de 1940, São Paulo.
— Reiniciou a sua publicação o
boletim A. P. I., da Associação Pau-
lista de Imprensa de São Paulo, veí-
culo de divulgação da nobre entida-
de. Rico o seu noticiário, publica
muitas instruções sobre leis de im-
prensa e informações aos jornalistas
em geral. Aos seus redatores, en-
viamos cumprimentos.
— Recebemos coleções de progra-
mas das suas atividades artisticas,
das seguintes sociedades:
“Renacimiento”, Buenos Aires;
“El Unisono”, Buenos Aires; “Cen-
tro de Vinculación y extensión ar-
tístico”, Buenos Aires; “La Quena”,
Buenos Aires.
“Orquestra Sinfónica Nacional de
Lima” — Instituto de Cultura Italo-
Peruano — Lima, Perú.
“Noticiário Ricordi”, Buenos Ai-
res, n.° 9, ano 3, Setembro de 1939.
“Noticiário Ricordi”, Buenos Ai-
res, n.° 11, ano 3, Novembro de 1939.
“Serviço Social”, n.° 13, Janeiro
de 1940, São Paulo.
— Assinalamos aqui o nosso agra-
decimento aos redatores de “Servi-
ço Social”, pela gentileza da permu-
ta. Outrosim, prevaleceremos da oca-
sião para enaltecer o valor da publi-
cação que dirigem tão inteligente-
mente, publicando colaborações espe-
cializadas e dados estatisticos opor-
tunos, ao par de um fecundo traba-
lho de redação.
“Noticiário Ricordi”, n.° 1, ano 3,
Janeiro de 1940, São Paulo.
“Boletim de Associação Guitarris-
tica Argentina”, ano 1, n.° 4, De-
zembro de 1939, publicação periódi-
ca, Buenos Aires, Argentina.
— Com o recebimento do n.° 4 do
“Boletim da Associação Guitarristi-
ca Argentina”, de Buenos Aires, ve-
rificamos o enriquecimento artístico
musical da capital portenha, com
mais uma util e simpática revista
musical. O número que registamos,
traz diversos artigos de mérito e
clichês ilustrativos. Cumprimenta-
mos os seus redatores pela maneira
sábia com que o dirigem.
“O Som de Cristal”, ano II, ns. 17,
18 e 19 — Dezembro de 1939, Ja-
neiro e Fevereiro de 1940, São Paulo,
orgam da Radio Difusora São Paulo.
“Serviço Social”, ano II, n.° 14,
Fevereiro 1940, São Paulo.
“Belas Artes”, ano V, ns. 55-56,
Novembro e Dezembro de 1939, Rio
de Janeiro.
“Som”, orgam da Sociedade de
Cultura Musical do Rio Grande do
Norte — Ano V, n.° 3, Fevereiro de
1940 — Natal.
“Correio da Tarde”, jornal diário,
Araraquara.
“Folha dé Angatuba”, jornal, An-
gatuba.
“Noticiário Ricordi”, Fevereiro e
Março, ano III, ns. 2 e 3 São Paulo.
“Serviço Social”, Fevereiro e Mar-
ço, ano II, ns. 14-15 — São Paulo.
“Gazeta de Paraopeba”, jornal,
Paraopeba, Minas Gerais.
Composto e Impresso nas Oficinas
Graficas do LEGIONÁRIO — Rua
Imaculada Conceição n.° 59 — Fone
5-1536 — SÃO PAULO
Pág. 24
RESENHA MUSICAI
Dr. Orlando 0. irgel Como somos acolhidos
A’ primeira vista parece-nos ex-
tranho uma revista especializada em
assuntos musicais, comentar a no-
meação de um grande engenheiro
para um elevado cargo dentro de
suas atribuições profissionais.
Trata-se, porém, de aplaudir um
acertadíssimo áto do d.d. Interventor
Federal neste Estado, sr. dr. Adhemar
de Barros, que nomeou o notável enge-
nheiro sr. dr. Orlando D. Murgel, pa-
ra exercer, interinamente, as altas
funções de Diretor da Estrada de
Ferro Sorocabana.
Profissional competentíssimo, pos-
suidor de solida e vasta cultura, o
ex-Diretor da E. F. A., sr. dr. Or-
lando D. Murgel, se destaca pelos
seus dotes pessoais de trato fino e
lhano que geralmente dispensa ás
pessoas de suas relações de amisade
e aos seus subordinados.
Apreciador entusiasta da bôa mú-
sica, frequentador e realizador de
concertos, o dr. Orlando D. Murgel
foi, expontaneamente, um dos pri-
meiros assinantes de RESENHA
MUSICAL.
O meio artistico, social e intelec-
tual de Araraquara, perdeu com a
ausência do sr. dr. Orlando D. Mur-
gel, um dos seus elementos mais re-
presentativos e propugnadores do
seu progresso.
Ao dr. Orlando D. Murgel, apre-
sentamos os nossos cumprimentos.
Continuação dos números anteriores:
De “O Trabalho”, jornal de Ara-
raquara, 3-3-940: “RESENHA MU-
SICAL é para Araraquara alguma
cousa de nobre e sublime, digna de
orgulho dos araraquarenses, pois que
traduz o que o Brasil tem de mais
belo e grandioso falando* dos seus
compositores e das suas composi-
ções.”
Da “Revista Musical Peruana”, de
Janeiro, 1940, ano II, n.° 13, Lima,
Perú: “RESENHA MUSICAL, ns. 1
a 13, Araraquara, Brasil. Publicación
ágil, llena de interés, dirigida por el
Prof. Clovis de Oliveira. — Esta co-
lección nos produce una impresión
muy agradable, mezcla de dinamis-
mo y competência, idealiso y capaci-
dad. — Deseamos al colega larga y
próspera vida.”
Do sr. José Caldas Junior, de Re-
cife, Pernambuco, 23-1-1940: “Para
a minha coleção de revistas nacio-
nais, técnicas e de cultura, venho so-
licitar de V. Excia. o inestimável ob-
séquio da remessa de um número es-
pecime da revista RESENHA MU-
SICAL.
Na esperança de enriquecer, em
breve, de novo e espressivo valor o
meu já precioso conjunto, antecipo
sinceros agradecimentos, etc.”
Da Profra. Lucia Fanele, Diretora
do Instituto Musical “Santa Cecilia”,
(Cont. na pág. 25)
CASA GENNARI
Secção especializada em métodos, peças e instrumentos musicais.
RÁDIOS — DISCOS — VITROLAS
Rua 9 de Julho, 136-138 — Fone: 3-7
ARARAQUARA — * — Estado de São Paulo
RESENHA MUSICAL
Pág. 25
Discurso
(Cont. da pág. 4)
um de nós, pôz Deus uma determi-
nada vocação; contrariá-la é procu-
rar tédio em vez de atrativos e se-
dução, condenação e suplicio, em vez
de satisfação e júbilo.
Não basta apenas a vocação, que
quer dizer assombro, que quer dizer
força. Precisa haver vontade, para
haver sucésso.
E o Conservatório Dramático e
Musical de Araraquara, está apare-
lhado pelo esforço e diligência de seu
digníssimo Diretor, Sr. João de Ar-
ruda Lima, e de seu corpo docente,
a determinar com pacientes ensina-
mentos e observações, a vontade e
aptidão de seus discípulos.
Mas, ao Conservatório Dramático
e Musical de Araraquara, não satis-
faz, apenas, a ação escolar privada.
A sua missão nobilitante é vasta, ex-
tensa. E, por conseguinte, os seus
olhares convergem para a educabili-
dade artística do povo. Os seus con-
certos, suas audições, seus festivais,
conferências e saráus de arte, são
frutos dessa frutificante visão edu-
cacional, são afirmações potentes de
educação popular.
Conhecer a utilidade das artes, é
um principio da inteligência hu-
mana!
Protege-las, aí, Srs., a lacuna, o
caos.
O problema vital das artes, em to-
do o mundo: a proteção;
A proteção às artes, desde os tem-
pos da antiguidade classica, partiu
do Estado. E, com intermitências,
chegaram até os dias hodiernos, am-
paradas ou renegadas. Renegadas,
sim, porque dentro da humanidade
ha cerebros e corações impenetrá-
veis, insensíveis, para os quais a su-
til beleza das artes, representa fator
secundário no aperfeiçoamento inte-
lectual e moral do homem.
Araraquara, Srs., graças a Deus,
é uma realidade artística em nosso
Paiz, porque seus filhos são aman-
tes do belo, cultuam o belo, prote-
gem o belo. A existência do Conser-
vatório Dramático e Musical de Ara-
raquara, superintendido por João de
Arruda Lima — essa personalidade
dinâmica, vibrante de vontade, ini-
ciativa e perseverança, cujo espírito
penetra no sentimento de sua terra
natal, acalentando sua alma, adivi-
nha seus anhelos de harmonia, feli-
cidade e progresso, — é uma elo-
quente e esplêndida afirmação de
minhas palavras.
Dos munícipes desta Araraquara,
fidalga e progressista, a figura alta-
mente simpática do Sr. Dr. Camilo
Gavião de Souza Neves, resalta aos
nossos olhos como um dos propugna-
dores mais sincéros das artes, prote-
gendo-as com atos justos de admi-
nistração modelar, para que, em fu-
turo, o espírito artístico araraqua-
rense seja orgulho de nossa Pátria,
honrando as artes para a gloria do
Brasil !
★
COMO SOMOS ACOLHIDOS
(Cont. da pag. 24) . .
de Taquaritinga, 8-1-940: “Apreciei
muito o trabalho apresentado naque-
le exemplar, sua utilidade é tanta na
propagação da sublime arte que fiz
questão que todas as alunas deste
Instituto conhecessem tão proveitoso
exemplar.
Embora tarde, cumprimento-o sin-
ceramente grata, fazendo votos que
a RESENHA MUSICAL “pequena
lira cujas cordas vibram docemente
nos corações amantes da arte e do
progresso” — se torne cada vez
maior e conhecida em todo o Brasil.”
Recebemos, ainda, cartas das se-
guintes pessoas: Profra. Sophia
Mello Oliveira, Comendador M.° João
Gomes de Araújo, prof. Fructuoso
Lima Vianna, pianista sra. Maria
dos Anjos de Oliveira Rocha, Edito-
ra E. S. Mangione, todos de São Pau-
lo; da Bibliotéca “Calisto Nobrega”,
João Pessoa, Paraíba; da profra. Yo-
le Rodrigues, Lavras, Minas Gerais.
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RESENHA MUSICAL
Aos Leitores
RESENHA MUSICAL é a revista de
maior divulgação no Brasil.
Uma assinatura anual de RESENHA
MUSICAL custa apenas 12$000.
RESENHA MUSICAL não publicará
notícias de concertos, audições ou de
de festivais artísticos, quando não rece-
ber dos promotores ou interessado*,
convite ou comunicado, dirigido diréta-
mente à Redação ou por intermédio de
seus correspondentes.
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sabiliza pelos conceitos emitidos nas
crônicas assinadas.
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vuras especiais ou originais de RESE-
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zados, extraviados ou anteriores á data
da assinatura.
•
Resenha Músical
publicará no proximo número o
artigo “Albeniz, sua vida e sua
obra”, da autoria do ilustre
Prof. Emirto de Lima, de Bar-r
ranquilla, Colombia.
e
“BELAS ARTES”
Divulga nossa arte, nossos artistas
e suas obras
Espelho das artes plásticas no Brasil
Assinatura anual 6$ para todo o paiz
Pr. João Pessoa, 13 - Rio de Janeiro
Melhor do que uma joia
Os incontestáveis serviços que presta a eletricidade num lar, cons-
titui o melhor presente que se pode fazer a uma dona de casa,
porque, facilitando os trabalhos domésticos, embeleza o lar,
protege a saúde e, por pouco preço, torna a vida mais
confortável, pois a eletricidade é realmente barata.
*
EMPRESA DE ELETRICIDADE DE
ARARAQUARA
RESENHA MUSICAL
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Hl*' 0 7 ^ ranciéco Braga tm Boiucaiú
M.° Francisco Braga em visita ao Colégio dos Anjos, em Botucatú
MOVEIS CASTELLAN
Medalha de Ouro da Exposição de Araraquara
Rua 9 de Julho, 76 — Caixa Postal, 39 — Fone: 463
ARARAQUARA
de maio unho
A CHAVE DO BAZAR 77 É SUA!
Entre e escolha, lãs, casemiras e qualquer outro tecido do riquíssimo
estoque
Tudo é de todos na grande LIQUIDAÇÃO DE ANIVERSARIO!
Comemorando seu 14.° ano de atividades nesta praça, o
BAZAR 77
continuará com a sua famosa e costumeira venda de MAIO e JUNHO
em que os preços, de tão reduzidos, surpreendem !
Visitem sem demora o estabelecimento aniversariante
9 de Julho, 95 — Bazar 77 Telefone, 8
Domingos Schiavone
— Rua 9 de Julho, 40 —
Esq. da Av. Brasil
Ferragens e Ferramentas
Tintas — Oleos
Cimentos "Perús” e “Votoran"
Miudezas em geral.
Produtos “BAYER” para
Agricultura e Pecuaria
Telefone, 417 — ARARAQUARA
CAFÉ DE MEIO SÉCULO
R. S. Bento, 55 - Araraquara
RESENHA MUSICAL
— MENSAL
É a revista musical de maior circulação no paiz.
Fundada em Setembro de 1938 — Assinatura anual, 12$000.
Registrada de acôrdo com a Lei.
Colaboração escolhida e solicitada Suplemento Musical, especial.
Correspondentes em quan todas as cidades do Brasil.
Colaboradores Nacionais e Estrangeiros.
Diretor: PROF. CLOVIS DE OLIVEIRA
Redação: Av. Hespanha, 8 - Sala, 4 — Caixa Postal, 18 — Araraquara — Est. S. Paulo