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Full text of "Resenha musical (Araraquara/São Paulo), n.19-27, 1940"

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^cóenl^a ^JfiuóícaL 



Diretor: Prof. CLOVIS DE OLIVEIRA 



Ano III • SÃO PAULO, Outubro e Novembro de 1940 



Ns. 26 e 27 



Santa Gecilia 
Padroeira dos Músicos 



Aos Leitores 







O 

GRANDES 

re 

■ 9 

Animado por suas màos de artista, o piano 
BRASIL reviverá os grandes mestres. É de 
mecanismo perfeito, de sonoridade impecá- 
vel. Louvam no os interpretes mais famosos. 
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"BELAS ARTES” 



Divulga nossa arte, nossos 
artistas e suas obras 
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todo o país 

Praça João Pessoa. 13 
Rio de Janeiro 




Música Popular Brasileira 



Dr. Ulysses PARANHOS 

Da Academia Paulista de Letras 
e da Escola de Belas Artes de 
São Paulo — Conferência pro- 
nunciada no Teatro do Liceu 
S. Coração de Jesus, em S. Paulo 
em 28 de Setembro passado. 



A pequena conferencia que vou fa- 
zer constará de duas partes, ambas 
seguidas de uma parte musical. Na 
primeira, falaremos sobre certas fôr- 
mas musicais brasileiras; na segun- 
da, disertarei sobre alguns elementos 
representativos da musa popular que, 
espontaneamente, assimilaram, em 
suas produções, a música nacional. 
Ouviremos, então, em aprimoradas 
execuções, artistas e amadores de 
nossas escolas de arte. 

É necessário que se confesse, desde 
já, que poucos documentos informa- 
tivos existem sobre nossa música po- 
pular, provinda da vida colonial, e 
mesmo do l.° Império. Somente, ago- 
ra, começamos a encarar o assunto 
criteriosamente e com espirito posi- 
tivo; faz-se preciso, neste ponto, 
prestar uma homenagem, muito par- 
ticular, ao esforço de um musicólogo 
paulista, o sr. Mario de Andrade, que 
muito tem feito para que se elucide, 
por um método coerente, os numero- 
sos problemas referentes a nossa mú- 
sica, — a nossa folcmúsica popular, 



— na expressão feliz de Luiz Heitor, 
atual catedrático do Folclore musical 
da Escola Nacional de Música. 

Um povo sem individualidade étni- 
ca, como é o brasileiro, ainda na fase 
confusa de transformação, oriundo 
da mescla de prêtos, indigenas, lusos, 
espanhóis, holandeses, e de outras ra- 
ças que, todos os dias, desembarcam 
em nossas plagas, deve ter por for- 
ça das circunstancias, uma música 
popular representativa das cantigas 
e dansas de cada uma das migra- 
ções que entram em sua formação, 
absorvendo da fusão delas os seus 
motivos rítmicos e a sua inspiração. 

Assim, do ameríndio, nos ficou o 
chocálho, adoção moderna, — do ma- 
racá guarani e o boré, trombeta feita 
de bambú, e muito usada entre os 
sertanejos do Ceará, e, ritmicamente 
certas formas poéticas, determinan- 
do, no canto, a adatação do rifão 
curto, depois de cada verso da estro- 
fe. Êsse processo se depara, em mui- 
tas canções, de nossos tempos; aqui 
ficam dois padrões atuais, demons- 



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RESENHA MUSICAL 



trativos do processo estilisado pelo 
indígena brasileiro: 

Cha munham muracé 
Uacará 

Cha ricó ce patrão 
Uacará 

Chc rc raça arama 
Uacará 

(Barbosa Rodrigues) 

OU : 



Vou-me embora, vou-me embora, 

Prenda minha. 

Tenho muito que fazer; 

Tenho de ir parar rodeio, 

Prenda minha. 

Nos campos de Bemquerer! 

(Mario de Andrade) 

Em nossas dansas a influencia 
ameríndia é considerável. Começa 
com o cateretê, bailado existente en- 
tre os guaranis paulistas antes da 
colonisação, e que Anchieta aprovei- 
tou na catequése, introduzindo-o nas 
festas religiosas da Santa Cruz e do 
Espírito Santo. Êste uso ainda sub- 
siste no Interior de alguns Estados 
meridionais e do Centro do Brasil. 
O cateretê, sendo cantado em versos, 
adaptaveis a situação, desenvolve a 
inteligência e a memória e foi, talvês, 
uma das fontes de inspiração de nos- 
sos violeiros e seresteiros. 

Os cabocolinhos, — nome dado a 
diversos bailados muito espalhados 
pelo nordéste brasileiro — são de pro- 
cedência indigena e objetivam cênas 
interessantes do viver da comunida- 
de ameríndia. 

Ainda aparece a influencia tribal, 
bem nítida, nos atuais córos e desa- 
fios onde é utilisado o ritmo dialogai. 

Às vezes, regista-se, nos cantos 
sertanejos, reminiscências de música 
religiosa. E ouvimos a monodia do 



canto chão nos lábios côr de pitanga 
da cabocla bonita. 

O africano também colaborou na 
gênese do canto popular nacional. En- 
tre os cantos de origem negra estão 
o acalanto, a berceuse brasileira, o 
chula e o lundú. 

Estes são os cantos de origem afri- 
cana que tem nomes especiais; exis- 
tem outros que possuem denomina- 
ção incerta , variavel, conforme o lu- 
gar de origem. 

O acalanto veio da época da escra- 
vidão: esse termo é uma deforma- 
ção glótica de acalento. Constitui-se 
de pequenos períodos com versos pró- 
prios, às vezes sem rima, e que se 
cantam, com vóz monótona, caden- 
ciada, para adormentar as crianças. 
O seu ritmo lento, é delicioso, como 
poesia e sentimento melódico: 

Dorme, dorme, filinho. 

Dorme anjinho inocente (bis) 

Dorme, meu queridinho, 

Tua mãe está contente. 

(Rodrigues Valle) 

Dos acalantos nenhum, porem, tem 
mais meiguice e ternura do que o 
“Tutú Marambá”, padrão da nossa 
canção de ninar, onde se retrata a 
doçura infinita da alma de nossa 
mãe. São de “Tutú Marambá” os se- 
guintes versos escritos por Olegario 
Mariano: 

“No berço de rendas, com brocardos de 

(oiro, 

Os olhinhos redondos de espanto e alegria, 
Ele olha a vida, como quem olha um 

[tesouro. 

— Meu filho é o mais lindo desta fre- 

T guezia ! ” 

Todos os acalantos são profunda- 
mente comoventes, possuem um sau- 
dosismo enternecedor, envolvem nos- 
so coração num véo de recordações, 
tão cheio de lembranças que as lá- 



RESENHA MUSICAL 



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grimas, sem querer, molham-nos os 
olhos. 

O chula é uma canção brejeira, de 
procedência africana, entoada nos 
folguedos de gente humilde, com ver- 
sos improvisados e meneios dos qua- 
dris, invocando, quasi sempre, cênas 
lascivas. É uma forma democrati- 
cissima do lundú. Lundu não é sinó- 
nimo de modinha, como muitos pen- 
sam. Os lundus são verdadeiras can- 
çonetas e diferem das modinhas pela 
ausência do sentimento poético, bra- 
sileiramente sentimental. Sobra-lhes, 
vivacidade, contentamento, causti- 
cidade. Em meio de um tom pican- 
te, muitas vezes, torna-se uma sa- 
tira corrosiva, mordaz, a costumes e 
tipos e que ferem profundamente, co- 
mo uma ferrotada de abelha. Isso 
sem ofensa grave à moral, o que fá- 
lo afastar do chula onde a presença 
da obscenidade é geral mente a regra. 

O lundú brasileiro, no século 
XVIII, fez um sucesso louco em Por- 
tugal. Quando o mulato Caldas de 
casaca de seda e cabeleira arripiada 
repenicava a viola, nos salões da 
Marquêsa de Aguiar, a nobresa lusi- 
tana sentia cócegas na alma e reme- 
chimentos no corpo. 

Da passagem, apontamos a exis- 
tência de lundus que se aproximam 
bastante, na sua forma, das canço- 
netas francêsas que têm o estribilho 
após as coplas e também das baladas, 
romances dos trovadores, figurantes 
nos antigos cancioneiros. 

Dia a dia, as pesquisas confirmam 
a tése de que a música popular pos- 
sue carater internacional. Isso se 
confirma, frequentemente, na músi- 
ca brasileira: Augusto de Lima ou- 
viu, no Alto de São Francisco, uma 
tirana, cuja melodia coincide, quasi 
testualmente, com o “Joyeux Labo- 
reur de Schumann e o “Fio Bôto Si- 
nhô”, batuque amazonense, recorda 



logo a “Canção dos barqueiros do 
Volga”. 

De gênero trovêsco é o lundú re- 
gistrado por Mello Morais, no seu 
livro “Canções populares do Brasil” 
com o título de “Canto do Pescador”. 
É a historia de um pescador, altivo, 
vaidoso, que, passeiando entre os ro- 
chedos e as ondas, assim fala ao 
deus do amôr: 

“Que te curvo meus joelhos, 

Não esperes, rei traidor, 

Minha canôa, meu remo. 

Minha rêdc, meu amôr. 

Os dois últimos versos repetem-se 
alguma? vezes na composição poéti- 
ca das dez quadras, — numa espécie 
de éco, motivo condutor, muito em 
moda nos lundús antigos. 

Existem alguns lundús de inspi 
ração francamente africana, visan- 
do satirisar, causticar os brancos que 
martirisavam os pobres prêtos no 
inferno das senzalas, nos canaviais 
do Norte e na cultura caféeira de 
São Paulo. A citação de duas qua- 
dras desse lundú dá uma idéia do 
que isto seja: 

Dizafôro de baranco 
No si pod' aturr. 

Ta cumendo... tá drumindo 
Manda nego trabaiá.” 

Nosso pleto condo fruta 
Vae pará no Coreção. 

Sinhô branco, condo fruta, 

Logo sae sinhô barão. 

(Eustorgio Wanderley) 

Muitos outros lundús existem nes- 
sa mixórdia afro-brasileira, recor- 
dando sertões congolêses e compa- 
rando a existência feliz e tranquila 
do branco com o cativeiro doloroso 
e atormentado do negro: — sem pá- 
tria, lar e liberdade. 

Entre os improvisadores, cantado 
res de lundús, tivemos Laurindo Ra- 



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RESENHA MUSICAI 



bello, o poeta-Iagartixa, Xisto Bahia, 
um seresteiro magnifico de voz líri- 
ca e nostálgica, Francisco Cardoso, 
Bruno Serra, e tantos outros canto- 
res anónimos, que deixaram fama 
pela maviosidade de seus versos e 
sua voz dulçurosa e melódica. 

Foram ainda introduzidos, na mú- 
sica brasileira, pelos prêtos o chôro 
e a seresta. Não são formas novas 
de música mas, simplesm'ente, um 
genero especial de música popula** 
onde um solista é acompanhado por 
instrumentos plebeus : — cavaqui • 
nho, bandolim, flauta, clarineta, 
ocarina. Alguns bordando de impro- 
viso, um contra-canto, que enfeita 
tão graciosamente a melodia que 
realmente bóie com a gente e atiça 
o coração. 

Na serenata sobrepuja a voz hu- 
mana, ferindo a melodia, dominando 
o naipe instrumental; no chôro é di- 
ferente, não se ouve a voz do cantor, 
os instrumentos comtrapõem-se as 
melodias, o cantor e os instrumentis- 
tas conjugam-se em feliz devaneio. 

A seresta ou serenata, é cantada 
geralmente ao ar-livre, à claridade 
da lua, pelas ruas afóra ou na vizi- 
nhança da casa onde dorme, emba- 
lada pelo sonho, a namorada bonita. 
A lua foi sempre a grande amiga 
de nossos serenatistas : a sua luz opa- 
lina e mansa sugere ternuras à voz 
e enche de sentimentos suaves o co- 
ração. 

Como é linda essa serenata de Ab- 
don Lira musicada sôbre versos de 
Aldemar Tavares: 

É noite: o plenilúnio 
É como um sonho. 

Assim risonho. 

Boiando pelo azul, 

Beijando o mar... 

E como é cheia de brasilidade 
tropical essa outra seresta de Catu- 



lo, oração ao luar prateado de nosso 
sertão : 

A gente pega na viola 
Que ponteia 

E a canção da lua cheia 
Vae-se ouvindo na amplidão. 

Não há, ó gente, ó não 
Luar, como este do sertão. 

Às vezes, é a inspiração anónima 
que surge, nas serenatas, como nos 
versos daquela serenata estilisada 
pelo músico Cardoso de Menêses: 

Aos frouxos raios da lua, 

Que se derramam no ar, 

Vae-se deslocando a falua 
No liso espêlho do mar. 

■e 

A influencia lusa foi preponderan- 
te em nossa música popular. De 
Portugal recebemos os instrumentos 
musicais, as dansas infantis de roda, 
as de cunho dramático, e os reisados 
e pastoris. 

O fado não se aclimatou em nosso 
meio. Em compensação frutificou a 
modinha, que embora seja reinol de 
nascimento, desnacionalisou-se, abra- 
sileirando-se sobremaneira, tanto 
que hoje é bem nossa; ela está para 
nossa música popular como lied para 
os alemães e a chanson para os fran- 
cêses. 

A modinha é um éco de nossa al- 
ma, espêlho de nosso sofrimento e, 
na sua cadencia languida, soluçante, 
adormece-nos os sentidos, como os 
movimentos ritmados de um berço ao 
som de um acalanto, cantado pela 
voz da mãe-preta. É sempre inten- 
samente sentimental, música de co- 
ração, em sua toada docemente tris- 
te. Na maioria das vezes, possue te- 
mas gemeos, porém, ambos, bastante 
melódicos, atuando em contrastes rít- 
micos, um como recitativo e o outro 
bordejando o acompanhamento, que 
o violeiro ornamenta no sabôr de sua 
veia poética improvisando. 



RESENHA MUSICAI. 



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A melodia é quasi sempre triste, 
triste o ritmo, e triste o cantador. 
E toda essa tristesa se esprime até 
por aqueles que, comovidos, ouvem 
êste refluxo da alma do Brasil for- 
mada da melancolia do indio, — sa- 
crificado a cubiça do bandeirante, 

— e da saudade do negro e do luso: 
nostálgicos da sóba africana e da al- 
deia risonha, enfeitada de flores i 
mulheres lindas, de sua província 
natal. 

A modinha é a voz de nossa terra, 

— não ha rincão no Brasil onde ela 
não exista; — multiplica-se como as 
ondas do mar. 

É um produto do nosso coração e 
corporifica-se na voz do seresteiro e 
no resoar do pinho dos violões e ca- 
vaquinhos. Mais tarde, ganhou fóros 
aristocráticos; o cravo e o piano de- 
ram-lhe a honra de acompanhá-la e, 
sob os sorrisos de D. Maria Victoria, 
e as palmas dos duques de Lafões 
entrou, aprimorada, nos salões dos 
paços reais. Mas a modinha, cantada 
nos saráos de luxo não é bem a mo- 
dinha; perdeu o seu cunho; banali- 
sou-se. 

A modinha para ser verdadeira- 
mente modinha precisa viver dentro 
do cenário de sua tradição: luar, rua 
deserta, cantador apaixonado e ou 
vidos românticos para percebê-la e 
corações amorosos para sentí-la e 
amá-la. 

Não foi despresada mesmo pelos 
nossos maiores músicos: José Mau- 
rício compôs modinhas; Carlos Go- 
mes escreveu diversas e, não faz 
muito tempo, ouvimos, na represen- 
tação da comédia, “Marquesa de 
Santos”, uma das mais formosas, es- 
tilisada por Villa-Lobos. Mas as mais 
lindas modinhas são, entretanto, as 
que não trazem certidão de legitimi- 
dade; não se sabe donde vieram, são 



de proveniência desconhecida, vêm 
da paixão e da dôr. 

Irrompem do peito, como gritos 
do destino, caprichos que refletem os 
mistérios e as inquietações da alma 
do cantador e as belezas e a poesia 
da terra. Tivemos inúmeros compo- 
sitores de modinhas que vieram, qua- 
si todos, na época imperial. Desta- 
cam-se, entre êles, Rocha Mussuran- 
ga, um músico de valôr; Padre San- 
tana; D. Baltazar Teles, Bitencourt 
e Sá e tantos outros cujos nomes 
ainda figuram, com letras maius- 
culas, nos cancioneiros de cordel. 

Houve, mesmo, entre os autores 
de modinhas, dois grandes nomes na- 
cionais: Tobias Barreto e o Marquês 
de Sapucahí, que compôs “Mandei 
um eterno suspiro” e “Já que a sorte 
destina”, que fizeram imenso suces- 
so nos salões aristocráticos do Se- 
gundo Império. 

Hoje o mais apreciado compositor 
de modinhas brasileiras é Catullo da 
Paixão Cearense, verdadeiro espiri- 
to de troveiro nortista, cuja musa é 
um tesouro de inspiração, imagens 
luminosas, e que nos dá a impressão 
perfeita da alma rústica, bondosa, 
poética da gente nordestina. 

Entre as músicas que ainda abri- 
lhantaram as nossas festas tradicio- 
nais, — Natal, Ano- Bom e Reis e al- 
gumas datas populares nortistas, — 
existe ainda muita coisa onde se en- 
contra a influencia portuguesa, vinda 
com os colonos que primeiro povoa- 
ram a terra e forjaram nosso ho- 
mem. Nas cheganças, a interferên- 
cia lusa é manifesta; o mesmo se dá 
nos reisados e cantos pastoris, que 
se entoam, em frente ao presepio, na 
semana poética do Natal. 

É enorme o acérvo de páginas de 
música anónima nas quais se nota 
a cooperação lusa, mas, existem, tam- 
bém, diversos compositores essen- 



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RESENHA MUSICAL 



cialmente nacionais de cheganças, 
reisados e cantos pastoris. 

Entre os compositores de versos 
para os bailes pastoris tornou-se cé- 
lebre uma Madre Carlinda, prima de 
Junqueira Freire e Monja no Con- 
vento de Humildes na Bahia, e os 
poetas Veiga Murici, Santos Veiga. 
Olímpio Pitanga e, ainda, o Major 
Patrício, que pôs em solfa uma bôa 
porção de versos pastoris para adap- 
tá-los a cêna teatral na sua provín- 
cia do Rio Grande do Norte. 

Referindo-nos as músicas popula- 
res, que receberam colaboração por- 
tuguêsa, é bom recordar o cito e o 
mutirão. O cito é o trabalho na roça ; 
o mutirão é o auxilio que os lavra- 
dores prestavam-se mutuamente na 
ocasião da colheita. Existe nêle lem- 
branças bem visiveis da festa da 
vindima e de certas romarias lusas. 

Há nêles especimens de lindos can- 
tos-corais e de duetos e tercetos 
cheios de sentimento fino, comove- 
dor, e que nos enche de uma recor- 
dação ancestral de gerações que nós 
não conhecemos, mas que ainda sen- 
timos presentes em nosso soma bra- 
sileiro. É o perfume da saudade. . . 
O perfume da saudade que é seme- 
lhante o de certas flores, que só se 
percebe quando de longe o recebemos, 
se eivados, o tentamos aspirar de 
perto, dissipa-se, porque a saudade 
é folha morta que não resiste ao 
olhar duro da realidade. 

2.* PARTE 

Falaremos agora, nesta segunda 
parte, de alguns elementos represen- 
tativos de nossa musa popular que 
espontaneamente assimilaram, em 
suas produções, a nossa música. 

Envolvendo às múltiplas manifes- 
tações da música popular nacional, 
brotadas da musa anónima, existem 



algumas produções de compositores 
que se impuzeram com seus excelen- 
tes trabalhos. São artistas, cujos 
nomes seria injustiça olvidar e cuja 
obra merece ser recordada numa sín- 
tese de música popular brasileira. 

Eles, na placidês do ritmo das mo- 
dinhas, e no obstinado sincopar dos 
tangos, sambas e maxixes, estão nos 
dando uma música, que, se não pode 
chamar-se erudita, está longe, tam- 
bém, das côres barbarescas da mú- 
sica oriunda diretamente das massas 
democráticas em que nasce, com> 
um desafogo de almas recalcadas, o 
em que não ha o equilíbrio da fórma. 
Representam o traço de união entre 
a musa popular e a erudita. 

Entre estes artistas, destacam-se 
Francisca Gonzaga, Marcelo Tupi- 
nambá. Ernesto Nazareth, Haeckol 
Tavares, Joubert de Carvalho, Eduar- 
do Souto e outros. 

Francisca Gonzaga é a primeira 
do grupo em ordem cronológica. Ain- 
da ha três anos, no Rio de Janeiro, 
festejou-se, com todo o entusiasmo e 
justiça, o cincoentenario da primei- 
ra representação de sua ópera “Côrte 
na roça”, onde se expande, numa ri- 
quêsa enorme, uma série de músicas 
inspiradas em motivos eminente- 
mente populares. Mais tarde, escre. 
veu a ópera-cómica “As três graças”, 
cuja música é bastante colorida e 
sentimentalmente brasileira. 

A fecundidade artistitca de Fran- 
cisca Gonzaga é enorme. Represen- 
tou 72 obras teatrais e publicou cer- 
ca de mil peças musicais, quasi todas 
acolhidas com a maior simpatia e 
sucesso. 

Figuram, entre esta coleção enor- 
me de produções, algumas mediocres 
é verdade mas, também, páginas de 
valôr e inspiradas em nosso folclore 
como às cançonetas “Cêra para o 
Santíssimo” e o “Corta jaca”, que 



RESENHA MUSICAI 



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dansado pelo Duque, nos Estados 
Unidos, alcançou franco êxito e fi- 
cou como sendo uma das músicas re- 
gionais mais típicas de seu tempo. 
O pianista-compositor Fructuoso de 
Lima Viana estilisou para piano o 
tema do “Corta jaca”. 

Marcelo Tupinambá é bem nosso 
e entre nós vive. Compositor inte- 
ressante e espontaneamente artista, 
nas suas dansas, escritas ao correr 
da pena com displicência, e expandin- 
do as belezas de seu temperamento 
nativo, revela-se Tupinambá um dos 
expoentes máximos da nossa músi- 
ca popular. Esse pseudónio oculta 
a personalidade do Dr. Fernando 
Lobo — engenheiro pela Escola Po- 
litécnica Paulista. 

Não se fixa no desenvolvimento 
de um tema. varia a fonte de sua ins- 
piração, adeja sôbre os motivos a 
estilisar e, isso, é um dos seus cara- 
terísticos como compositor dos mais 
estimáveis. Assim encontramos gra- 
vado, na sua música, a tristeza me- 
lancólica de nosso indio, a fatalidade 
típica de nosso sertanejo, e o deses- 
pero pungente da saudade brasileira, 
que se não mata, maltrata. No ma- 
tuto e nos Versos escritos na areia 
e em outras composições, todos êsses 
sentimentos de brasilidade inten- 
sa, irradiam-se por toda a parte, co- 
mo uma nuvem de fumaça batida do- 
cemente pela aragem. 

Essa nota de melancolia, essa tris- 
teza angustiosa, que se depara em 
quasi todos os trabalhos de Tupi- 
nambá, é um produto sincrónico de 
sua biotipologia e da terra natal on- 
de o céu e frequentemente pardacen- 
to e o povo pouco expansivo, mas in- 
finitamente sincero, forte, bravo e 
bom. 

Falta à música de Tupinambá i 
quentura do sol carioca, o abraço gri- 
tante da gente da Avenida, as ex- 



pansões alacres do nortista, que em- 
prestam a tudo, um otimismo, às ve- 
zes ilusorio, mas sempre bondoso e 
consolador. E isso o torna bem di- 
ferente de Ernesto Nazareth e de 
Eduardo Souto. A música de Tupi- 
nambá guarda geralmente a nota 
grave de sua gente e de sua taba, 
como na Minha Terra. Excepcional- 
mente ele expande-se com a alegria 
sadia, exuberante, farta da “Nhá 
Moça” e de outras lindas páginas, 
nue são como os dias luminosos que, 
de vez em quando, surgem, no de- 
curso sombrio do inverno. Sua alma 
possue alguma cousa da grêga. 

As dansas de Tupinambá, como 
tudo escrito para gente futil, talvez, 
passem da moda e fujam dos salões 
e dos programas dos cabarés e dos 
jantares-concertos. Mas sua música 
original, popular, buscada nas raizes 
do povo brasileiro, esta ficará na 
nossa historia, porque procede de um 
dos melodistas mais espontâneos e 
de um intérprete leal, sincero da al- 
ma nacional. 

Não deixaremos a figura simpá- 
tica de Marcelo Tupinambá sem lem- 
brar o Passo do soldado e a Redenção. 
Ambos sintetisaram a alma dolorida 
e heroica do paulista na Revolução 
de 32. A primeira escrita sôbre ver- 
sos de Guilherme de Almeida, que 
toda gente recorda com funda emo- 
ção. 

A melodia cabocla de Marcelo Tu- 
pinambá fez, nos concertos de Villa- 
Lobos, um sucesso enorme na Eu- 
ropa. 

A êste nosso músico, um crítico 
parisiense perguntou se o composi- 
tor modernista francês Dario Mi- 
lhaud, vivendo alguns anos no Bra- 
sil, não se teria inspira, do em Tupi- 
nambá. Vila Lobos, assomadamente, 
respondeu :ele copia, ele edita Tupi- 
nambá. 



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RESENHA MUSICAI 



Ernesto Nazareth é o contraste 
de Marcelo Tupinambá. Sua música 
apresenta-se sempre, vibrante e cheia 
de fagulhas doiradas de sol. 

Suas composições mais originais 
são escritas sob forma dtè dansas 
cantadas. A estrofe é substituida 
pela melodia ; a frase oral pelo ritmo. 

E são êstes os fundamentos sôbre 
que assentam suas construções so- 
noras que se divorciam dos métodos 
usados pelos compositores coreográ- 
ficos modernos, — é o seu lado ori- 
ginal e que lhe dá uma feição rítmi- 
ca muito pessoal, como se vê no buli- 
çoso e encantador “Caboré”, que re- 
presenta uma das mais lindas e ex- 
pressivas composições de seu ge- 
nero, Ernesto Nazareth é um com- 
positor pianistico, e, com êsse ins- 
trumento, traduz, com um talento 
invejável e uma maestria prodigiosa, 
o instrumental das serestas e dos 
choros, dando-nos composições atre- 
vidas de ritmo e personalidade como 
o célebre "Apanhei-te cavaquinho” e 
no “Amêno resedá”, que ouviremos 
executado por Gaó, em que, a viva- 
cidade da música, nos arrasta inces- 
santemente para os bamboleios se- 
resteiros. 

A música buliçosa, ritmicamente 
brilhante de Nazareth, encontra-se 
num paradoxo inesplicavel, uma in- 
fluencia de outra música de compo- 
sitor que não é brasileiro e cujas 
idealidades são bem diferentes da- 
quelas de nosso patrício, Frederico 
Chopin. 

Ernesto de Nazareth confessou is- 
so a um seu amigo e disse gostar 
muito de Chopin. Os traços da obra 
chopiniana deram um certo senso 
pianistico intrínseco ao compositor 
e que se revela em certos tópicos 
do Carioca, no Sarambéque e no Ra- 
mirinho. 

Possuidor de uma excelente téc- 



nica pianistica, as composições de 
Nazareth revestem-se de certa maes- 
tria, dessa linha formosa de elegân- 
cia, principalmente nas valsas, co- 
mo a “Expansiva”, “Confidencias” 
e outras, distinção nobre, que lhe 
afastam das rodas humildes, pro- 
curando centros mais altos e inteli- 
gentes. Ele proprio repelia os elo- 
gios que se faziam aos seus maxixes 
e que julgava deprimentes e humi- 
lhantes a sua personalidade e seus 
trabalhos. 

Mario de Andrade, que fez uma in- 
teressante conferencia sôbre Ernesto 
Nazareth, aponta um aspecto curioso 
na existência artística deste músi- 
co. A sua posição na formação histó- 
rica, aliás tão pouco conhecida, — 
do maxixe, cujo nome ainda não se 
sabe bem onde veio e, no entanto, 
é visceralmente brasileira. 

Apenas corre, adotado por alguns, 
que o maxixe tomou sua denomina- 
ção de um bohemio apelidado Maxixe 
que, durante o carnaval carioca, num 
clube da época, dansou o lundú de 
uma maneira diferente e nova. Imi- 
taram-no e, daí por diante, toda a 
gente começou a dansar “como o 
Maxixe”. Esta é uma versão espa- 
lhada por Vila Lobos que a ouviu 
de um antigo carnavalesco do Rio 
de Janeiro. 

Seja como fôr, o maxixe não é 
muito novo. Já entrou no cincoente- 
nario e devia ter surgido de 70 para 
80. 

O tango marca para a música bra- 
sileira a evolução da sincopa, e do 
contra-tempo da música ocidental, 
usada para exprimir agitação e que 
nos veio dos reinoes e desenvolvemos 
como o toque do ritmo negro, dan- 
do-lhe individualidade bem nacional 
e bastante diversa da usada nas de- 
mais dansas modernas, como o fox- 
trote e outras. Essa evolução da 



RESENHA MUSICAL 



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sincopa brasileira, se permitem a ex- 
pressão, se encontra esteriotipada 
toda inteira, integralmente, na obra 
pompeante de Ernesto Nazareth. 

Um outro aspeto digno de nota 
nos trabalhos de Nazareth, é a rela- 
ção do título com a natureza, dos 
ethos da música. No Brasil, os mu- 
cisistas populares crismavam sua mú- 
sica a esmo, como os pastores do 
nordeste a povoação do seu rebanho, 
— Fubá, Canéco, Bem-te-vi, Yayá. 
ou ainda mais extravagantemente: 
Tem roupa na corda. Estou com dôr 
de dentes. 

Nazareth, embora algumas vezes 
colabore nessa nomenclatura ridícula, 
na maioria das ocasiões, parece rela- 
cionar a denominação da página mu- 
sical com o argumento nela tratado. 
Assim, Está chumbado, descreve o 
ritmo da marcha hesitante do ebrio. 
Desengonçado exprime o sentimento 
de balbúrdia, de ostentação mágica, 
ruidosa, esparramada, enquanto que, 
ao contrario, o Tenebroso e o Brejei- 
ro são cerrados e escuros, como uma 
tarde invernosa. (Isso podereis notar 
ouvindo as execuções de Gaó). 

O que caraterisa. dissemos no prin- 
cipio, a música de Nazareth, é o 
contentamento, a galhofa, o prazer 
irradiante, luminosamente sonoro, 
que não se perde mesmo no Tene- 
broso, onde se divisa, às vezes, cla- 
rões de sol no meio da caligem da 
terra. 

Nazareth descende, em linha reta, 
da gente alegre do suburbio flumi- 
nense, que circunscreve a existência 
num violão cantante e no baile rui- 
doso, onde se esquecem as cousas 
tristes da vida, as dividas e os des- 
gostos e só se pensa na graça das 
dansas e no sabor da ceia suculenta 
e apetitosa. 

Entre os compositores mais ex- 
pontâneos e inspirados de nossa mú- 



sica popular está Joubert de Carva- 
lho. A sua música é cheia de melo- 
dia clara e tipicamente brasileira; 
individualidade e identifica rapida- 
mente suas tendências artisticas. 

As suas primeiras peças datam de 
1921 e, desde logo, tiveram brilhante 
aceitação e divulgação tão vasta que 
não temos memória, em nossa épo- 
ca, de sucesso igual. O fox-trot “O 
Principe” alcançou um exito verda- 
deiramenbe notável, sendo cantado 
até em Paris, no Ba-ta-Clan, com 
aplausos entusiastas, do auditorio in- 
ternacional, frequentador daquêle ca- 
baré de luxo. No domínio da música 
popular, Joubert estreou com diver- 
sas peças de dansa como “Caçador 
de Esmeraldas” e o tango “Zezé” 
dos quais os cariocas guardam ainda 
saudosa recordação. 

Mas, onde a música apresenta um 
verdadeiro sentimento de nacionali- 
dade, que traduz bem o sabôr fino, 
delicado e leve de nossas canções, 
são nas peças classificadas com o 
nome de “Brasilidades”. 

Dentre estas figuram, em primei- 
ra linha, a “Rolinha”, “Canarinho” 
e “Sacy Pererê”, páginas musicais 
que, conservando um carater genui- 
namente nacional, por se baseiarem 
sempre em nossos ritmos e melo- 
dias, aprsentam, no entanto, uma fei- 
tura bem cuidada. 

São numerosas as composições de 
Joubert de Carvalho e seria dificil 
citar todas elas. Vamos mencionar 
algumas das principais nas quais se 
manifestam o cunho nacionalista, a 
inspiração fecunda e a maneira de 
escrever desse nosso patricio, que, se 
dedicasse à música artística seria 
certamente um dos nossos melhores 
compositores modernos. 

Dentre as suas numerosas músi- 
cas é linda, e fala enormemente à 
altura a canção “Cae, Cae Balão”, 



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RESENHA MUSICAI 



escrita sobre magníficos versos de 
Olegario Mariano, e que, ao lado de 
uma sentimentalidade sincera, pos- 
sue uma visão filosófica, nitida e cla- 
ra das incertezas da vida. “Tutú Ma- 
rambá” e “Sac.v Pererê” são duas 
outras canções que obtiveram um 
êxito formidável cantada pela voz ex- 
pressiva e dolente de Gastão For- 
menti e constituem duas toadas im- 
pregnadas de espirito sertanejo e 
desse feitichismo encantador e su- 
gestivo ainda dominante na alma sin- 
gela de nossa gente. 

Entre as suas emboladas e maxi- 
xes póde-se mencionar os “Filhos da 
Candinha”, Côco pelado”, maxixe de 
de fundo intensamente carnavalesco, 
e a “Boca Pintada”, cujo ritmo lem- 
bra bailes alegres, onde se canta e s? 
bamboleia, esquecendo-se as cousas 
más. 

Ao lado destas músicas, Joubert 
de Carvalho escreveu tangos, can- 
ções e valsas, cheias de um fundo 
sentimento lírico e que refletem bem 
o nosso coração tão acolhedor de 
emoções tristes e às vezes alegres 
mas sempre sinceros. Como padrão, 
dêste gênero, aí estão “João Capê- 
ta”, “Traição”, a “Nha Maria”, 
“Gosto de você”, Para o “Amor” e 
a valsa “Castelo de Luar” que colo- 
cam Joubert de Carvalho como um 
dos bons cultores da atual música 
popular brasileira. Dêle ouviremos 
hoje, cantado pela Sra Carmen Dulce 
“Tarde Dourada” — bela canção 
brasileira 

Cheio de inspiração, dono de uma 
melodia sugestiva e emplogante, e 



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RESENHA MUSICAL 
A Revista Musical de 
Maior Circulação 



de um lirismo poético e endulçorado, 
é o compositor alagoano 'Heckel Ta- 
vares. Tem cultivado, com talento, 
nosso folc-lore, ora adatando temas 
populares, ora compondo canções e 
páginas de sabôr genuinamente bra- 
sileiro, nas quais, ao lado de uma con- 
cepção apaixonada e sincera nota-se 
um estilo cheio de brasilidade e bem 
ordenado 

Apezar de ser moço sua obra á 
vastíssima refletindo a encantadora 
música popular nortista, fonte pere- 
ne de melodias tão lindas e gracio- 
sas. Sua coleção “Raças” é uma an- 
tologia de canções de fundo africano 
onde destaca-se o acalanto “Mamãe 
Prêta”, impregnado de uma poesia 
intima, senso nostálgico e que, co- 
mo uma varinha maga, nos evoca as. 
canções de ninar entoadas pela voz 
fresca de nossa ama. 

Publicou, também, um lindo alburr. 
de música, contendo seis canções in- 
fantis sôbre temas de roda, com su- 
gestivas palavras de Ribeiro Couto 
e Manoel Bandeira. São meia duzia 
de pedacinhos de ouro, que todas 
as crianças brasileiras deviam cantar 
e dansar no recreio dos colégios, por- 
que lhes projeta, no ouvido, quadros 
nobres e impressionantes de nossa 
vida de povo novo: “Brasil, Canção 
da bandeira, O Brasil é bom. Sortea- 
do, Princêsa Izabel, Nana-Nana”. 

Para as crianças, pequenas e gran- 
des, escreveu uma outra coleção de 
composições, também de carater in- 
fantil, cuja música é uma lembrança 
do lar carinhoso, reminiscência de 
um tempo que passou e nos deixou 
a impressão de manhã lavada e doi- 
rada de sol: “Mamãezinha está no 
Céu, Menino quer saber e o Realejo”. 
Heckel Tavares tem outras páginas 
de sincera emoção e arte: “Estrela 
pequenina. Me deu uma vontade de 
cborar. Tenho uma raiva de você, Sa- 



RESENHA MUSICAL 



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biá. Casa do Caboclo”, que são gen- 
tilíssimas pela pureza da inspiração, 
correção de forma, colorido, brilho 
de expressão. Heckel ainda não per- 
deu o vicio de sonhar e ‘‘não perca 
não”, é o único vicio que não enve- 
nena o corpo e nem esfrangalha a 
alma. Ao contrario, transforma o 
coração num céo ponteado de estré- 
ias e numa mata engrinaldada de 
flores. 

No dominio da música erudita, 
desviando-se de suas tendências, 
Heckel Tavares escneveu o poema 
musical, inspirado em versos de Cas- 
siano Ricardo, André Leão, o demo- 
nio de Cabelos encarnados, onde, em 
dois quadros descreve simbolicamen 
te, a luta entre o bandeirante e o 
curupira, o combate ingente entre o 
luso conquistador e a terra virgem 
em que se defronta. É um trabalho 
interessante, na sua arquitetura mu- 
sical, procurando-se inspirar nas in- 
gênuas melodias populares, mas in- 
felizmente com pretenções orques 
trais exageradas. 

Mas, apezar disso, possue pági- 
nas empolgantes, cheias de uma poe- 
sia toda brasileira, como o alegre vi- 
vace do 3.° quadro e o cair do cre- 
púsculo do andante, ma non tropo, do 
4.° quadro, em que o colorido é mag- 
nífico, descrevendo-se poéticamente 
os funerais do dia. O final, a manei- 
ra de romance é, também, um lindo 
trecho de poesia e sentimento natu- 
rista. 

Junto aos mucisistas que estamos 
estudando, existem outros que dese- 
javamos prestar homenagem since- 
ra de nossa admiração pela contri- 
buição pessoal que deram, tão gra- 
ciosamente, e com tanto carinho, à 
música popular brasileira. O carater 
desta conferência nos impede, no 
entanto, de fazer trabalho analítico 
sôbre cada um dêles. 



Mas, apezar disso, queremos men- 
cionar vários nomes, porque esque- 
cê-los seria ingratidão. Irão em con- 
junto: a bôa companhia não faz mal 
a ninguém. 

Luiz Moreira, um compositor de 
talento e fina observação artística. 
Viajou com Abigail Maia e o humo- 
rista João Phóca, o Brasil inteiro. 
Nessa vida itenerante êle, como Vila 
Lobos, anotou o cantar e o ritmo de 
quasi toda a nossa gente, do norte 
ao sul, e transplantou-o para sua mú- 
sica apaixonada e irradiante de ter- 
nura: Meu boi morreu, cantiga nor- 
tista; Nhô Juca, samba côro baiano 
e Chico-Manuel-Nicolau, — delicioso 
e buliçoso batuque de prêtos. 

Compositor de inspiração sadia, to- 
nalidade bem brasileira, tendências 
românticas, foi Antonio Carlos Ri- 
beiro de Andrade, um dos fundado- 
res do Conservatorio. São saborosas, 
transbordantes de deliciosas melo- 
dias, suas canções “Morena se tu 
quiseras”. . . FÍôr do Maracujá, Não 
me deixes. Teus olhos. Tudo isso é 
escrito com elegancia e absoluta cor- 
reção de um grande sabedor de mú- 
sica. 

Alberto Costa, senhor de um ta- 
lento pessoal brilhante e que trata 
os seus temas com uma fantasia tí- 
pica inimitável é, apesar de médico 
de profissão, um dos nossos compo- 
sitores mais interessantes, possuindo 
nas suas músicas, laivos de escola 
russa, como no pungitivo Canto da 
Saudade. São impregnados de suave 
melancolia o seu Cysne e a Serenata. 

Ainda, no dominio da música po- 
pular, encontram-se um grande nú- 
mero de compositores que sairam do 
anonimato e fizeram sucesso, em sua 
época, pela melodia de suas canções 
e os sincopados de seus sambas e 
maxixes, — semi-barbarescos. 

Neste número figuram Alves Mes- 



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RESENHA MUSICAL 



quita, célebre pelas suas quadrilhas 
— “Soirées Brasileiras” e “Raios 
de Sol; Aurélio Cavalcanti, autor de 
numerosas valsas de motivos popula- 
res como a Cachôpa; Eduardo Souto, 
autor de vibrantes marchas carna- 
valescas, estonteantes de côr e som; 
Sinhô (J. B. Silva) e Sivan (Castelo 
Neto), dupla transbordante de ins- 
piração e brasilidade, e tantos outros 
que, nos discos, no radio, vão espar- 
ramando a sua inspiração através da 
voz simpática de Francisco Alvfcs, 
Jorge Fernandes, Gastão Formenti, 
Cândido Botelho e Carmen Miranda 
empolgando-nos com os ritimos de 



nossa natureza, que são as manifesta- 
ções expontâneas de nossa alma po- 
pular, o sentir de nossa gente, que 
sedimentados pelo tempo, constitui- 
rão, com o auxilio da inteligência e 
da cultura, a fonte de inspiração da 
nossa arte pura e elevada. 

Música pura que, no futuro, teré* 
um pouco da alma do gaúcho rio- 
grandense, do caipira paulista, do se- 
renatista carioca, e do cantador e vio- 
leiro nordestino. E o sentido glorio- 
so, imenso, do Brasil único, indivi- 
sível e com um homem tão grande, 
como é a beleza e a magestade da 
terra que DEUS nos deu! 



RESENHA MUSICAL 

MENSAL 

Diretor: Prof. Clovis de Oliveira - Secretaria: Profra. Sra. Ondina F. B. de Oliveira 

Redação: Rua Conselheiro Crispiniano, 79 — 8.° andar — Edifício Itaíba. 

São Paulo 

É a revista musical de maior circulação no paiz. 

Fundada em Setembro de 1938 — Assinatura anual, 20$000. 

Registrada de acôrdo com a Lei e no DIP. 

Colaboração escolhida e solicitada — Suplemento Musical, especial. 
Correspondentes em quasi todas as cidades do Brasil. 
Colaboradores Nacionais e Estrangeiros. 



DR. ROBERTO BOVE 
— Advogado — 

Rua Benjamim Constant, 72 - 
9.° andar — Salas 91-? 

Fone 2-4747 - S. PAULO 



W e b e r 

Weber embora fosse um menino 
vadio e travêsso, mostrou sempre ap- 
tidões para a música. A sua primeira 
ópera foi representada em Viena 
quando êle contava apenas 14 anos. 





Vinte e dois de novembro 



PROF. SAMUEL ARCHANJO DOS SANTOS 

Do Conservatorio Dramatico e Musical de S. Paulo 
e do Conselho de Orientação Artística do Estado. 
(Especial para “ RESENHA MUSICAL”) 



Para vós, contemporâneos de uma 
época de quasi completa materializa- 
ção de costumes, em que o valor do 
homem mensura-se pela primazia da 
força é atrevimento, contar-vos uma 
lenda tão singela na qual se vê trans- 
parecer o sentimento, tão delicado, 
duma Virgem Mártir — qual é SAN- 
TA CECÍLIA — padroeira dos mú- 
sicos, digamos melhor, dos artistas — 
penso será como que vos dar um oá- 
sis em pleno deserto, onde a sêde de 
bonança se evidencia tão intensa an- 
te as calamidades que, dia a dia, ve- 
mos desensolar pelo velho mundo on- 
de a sanha dos gladiadores da mo- 
dernidade ameaça ruir todo um pa- 
trimónio artístico que marca o glorio 
so passado de labores da pobre huma- 
nidade. Passemos logo à lenda: 

CECÍLIA, essa nobre da velha Ro- 
ma jurou a Deus virgindade perpé- 
tua. Destinava-lhe, no entanto, a 
vontade paterna o jovem Valeriano. 

Em obediência à vontade de seus 
pais aceitou Cecília o nobre romano. 
E, em seguida aos esponsais, cele- 
braram-se as bodas nupciais. Ao en- 
trarem os esposos em confidências, 
diz a Virgem a seu marido: “Meu es- 
poso, si hoje, no dia de nossas núp- 
cias tu me jurares nada dizer a nin- 




Imagem da Padroeira dos Músicos, 
da Igreja de Sta. Cecília, em 
São Pau!o 



guém, revelar-te-ei um grande se- 
gredo. Valeriano jurou, como Cecília 
lhe pedia, e esta continuou: “Eu tra- 



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go sempre ao meu lado um anjo de 
Deus o qual preserva meu corpo de 
toda mácula pecaminosa. Si tomares 
meu corpo com intenção de pecar 
morrerás, mas si teu amor fôr feito 
de pureza, o anjo que me guarda mos- 
trar-te-á a gloria da bemaventuran- 
ça. — Ao que Valeriano respondeu: 
“Mostra-me o anjo de que falas e 
acreditarei nas tuas palavras, assim 
como farei o que me pedires, 6 mi- 
nha doce esposa.” — Santa Cecília 
tornou-lhe: “Si acreditares no ver- 
dadeiro Deus e pedires o batismo, ve- 
rás, com certeza, o anjo que me acom- 
panha. Para isso irás à Via Appia e 
ali chegado dirás a uns mendigos que 
virão ao teu encontro : “Venho a man- 
dado de Cecília, para que me apre- 
senteis a Urbano a quem tenho algo 
a dizer. E depois que das mãos deste 
tenhas recebido o santo sacramento 
do batismo teus olhos terão a gloria 
de ver o anjo de Deus. Valeriano, em 
seguida a estas palavras, dirigiu-se 
à Via Appia onde encontrou Urbano; 
este, escutou-o com atenção; depois, 
louvando e agradecendo o Senhor dis- 
se: “O’ Senhor Jesus Cristo, semea 
dor de virtude e de bondade, recebe 
o fruto da santa semente que lan- 
çaste em Cecília, a qual te serve com 
amorosa solicitude da abelha indus- 
triosa. Seu esposo era feroz como o 
leão dos desertos e ei-lo a teus pés, 
manso como um cordeiro ! E neste 
momento apareceu-lhes um formoso 
varão, vestindo uma túnica alvíssima 



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A Revista Musical de Maior 
Circulação no país e no 
exterior 



e trazendo na mão um livro escrito 
com letras de ouro. 

Então Valeriano, deslumbrado, 
prostrou-se por terra, ali ficando na 
humildade da poeira. O varão ergue- 
o e abrindo o livro fez com que Vale- 
riano lêsse as seguintes palavras: 
“Um Deus pai de todas as creatura3, 
o qual está acima de todas as coisas 
e habita em todos os sêres.” Crês, 
tu, Valeriano na verdade destas pa- 
lavras?” — Creio! — respondeu o 
esposo de Santa Cecília, já tocado da 
divina redenção. 

No mesmo instante o formoso va 
rão, que era um anjo de Deus, desa- 
pareceu. Valeriano pediu imediata- 
mente o sacramento do batismo, re- 
cebido o qual tornou a Cecília. En- 
controu-a em sua alcova de pureza, 
conversando com um anjo do Senhor, 
o qual tinha na mão duas grinaldas, 
uma de rosas, outra de lírios, que deu 
a Cecília e a Valeriano dizendo: 

“Guardai estas grinaldas sem nun- 
ca macular vosso corpo e vosso cora- 
ção; celestes coroas, jamais murcha- 
rão elas nem perderão o perfume e 
a beleza, sendo, como são, visíveis so- 
mente àqueles que, como vós, guar- 
darem a virtude excelsa da castida- 
de; quanto a ti, Valeriano, já que se- 
guistes o bom conselho de Cecília, 
péde o que desejares que te será con- 
cedido.” 

E assim vai a lenda de Santa Ce- 
cília que se encontra no livro: “Santa 
Cecília e outras lendas” — n. 1 da 
coleção “As mais belas lendas do 
Cristianismo”. 

Donde viria o título de “Padroeira 
da música” dada a Santa Cecília ? . . . 
Sabemos que o título simbólico de 
“Padroeira da música e especialmen- 
te da música religiosa” dado a Santa 
Cecília vem de longo tempo, não sen- 
do possivel precisar uma data sem 
demorada e metódica pesquiza por 



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entre a sua iconografia e demais 
obras inspiradas nessa Santa. 

É sobremaneira lendaria a prero- 
gativa que se ihe quer dar de inven- 
tora do órgão. Pensamos que essa 
simbólica denominação liga-se aos 
seus serviços tão dedicados, uma 
sorte de catequése no tempo da anti- 
ga Roma, serviço esse que lhe valeu 
a gloria do martírio e consequente 
canonização. Assim é que, consoan- 
te reza a sua história — esoarsa 
por diversos livros — ha alusões às 
suas faculdades musicais, possivel- 
mente chefiando massas corais em 
unísonos de cânticos religiosos das 
catacumbas romanas-. 

Cecília deveria ser considerada, de- 
vido à promiscuidade de manifesta- 
ções artísticas, não somente padroei- 
ra da música como dos artistas em 
geral, pois que tanto os poetas, co- 
mo os pintores, escultores e músicos 
concretizaram em suas principais 
obras a admiração e o encanto pela 
linda Virgem mártir. 

Ha uma grande produção de obras 
inspiradas em Santa Cecília e suas 
lendas. Da Enciclopédia Internacio- 
nal de W. V. Jackson citamos tex- 
tualmente o que encontramos: “Foi 
representada por muitos pintores, e 
suas ações foram traçadas sôbre as 
guarnições da Igreja de S. Urbano, 
em Roma. Mais tarde, Cimabue pin- 
tou o martírio de Santa Cecília para 
a Igreja consagrada a esta Virgem, 
em Florença. Esse quadro passou de- 
pois para a Igreja de Santo Estevão. 
De ordinário Santa Cecília é repre- 
sentada tocando órgão e entoando 
louvores ao Senhor acompanhada por 
anjinhos. Entre as representações 
desse gênero, citaremos os quadros 
de H. Van Dyck, no Museu de Ber- 
lim ; de Guerchin e de Jacobo Cavi- 
done (Louvre) ; de Pellegrino Tibal- 
di (Viena) ; de Simone Cantarini 



(Munich) ; de J. C. Procaccini (Par- 
ma) ; de Caracciilo e de Paulo Brie 
(Nápoles) ; de Poussin e de M. Cox- 
eie (Madrid). Pode-se citar ainda: 
uma Santa Cecília tocando órgão, de 
Cario Dolci (Dresden). Uma outra 
Santa Cecília do mesmo, vê-se no Mu- 
seu Eremitério, em Petrogrado ; a fi- 
gura pintada por Rubens (Berlim) 
é a de uma jovem e bonita flamenga. 
Pelo seu lado, Paulo Veronese deu 
?. Santa Cecília tocando sistro, as fei- 
ções de uma loura veneziana (Museu 
de Viena). E. na Santa Cecília, que 
é uma das obras primas de Rafael, 
vê-se a. Santa de pé, tendo próximo 
de si S. Paulo, S. João, Sto. Agosti- 
olhos para o céu e escutando com ar- 
olhos para o céu, escutando com ar- 
rebatamento um concerto pelos aa- 
jos.” 

Contam que o francês Delaroche 
pintou Santa Cecília morta, flutuan- 
do sôbre as aguas, banhada pelos 
raios do luar”; esse quadro se en- 
contra no Museu do Louvre. 

No presbitério da Matriz de Santa 
Cecília, em São Paulo, encontrará o 
leitor amavel, trabalhos inspirados 
na vida de Santa Cecília executados 
pelo artista brasileiro B. Calixto. 
Entre as esculturas, existe o seu per- 
fil. obra do genial Donatello, que se 
acha em Londres, e a estatua de Ste- 
fano Maderno, que apresenta a Vir- 
gem, reclinada sôbre u mflanco, em 
ato de repouso, como foi encontrada 
após 13 séculos, quando foi aberto o 
seu túmulo. Dedicaram-lhe missas 
diversos compositores; citaremos 
Adolph Adam, Niedermeyer, Gounod, 
Tomás, e outras produções em sua 
honra foram escritas por Purcell, 
Haendel, a ópera. “Cecília” de F. Kes- 
sler (1810), e de Davaux (1786) soba 
denominação de “Ceciade ou Le Mar- 
tire de S. Cecile”, tragédia ornada 
de córos, representada em 1606, ela- 



Pág. 18 



RESENHA MUSICAL 



borada sôbre a forma dos antigos 
mistérios, escrevendo a música Ni- 
colas Soret. E, muito recentemente 
a ópera sacra de Monsenhor Récife, 
que foi levada com grande sucesso 
em nossos Teatros municipais di Rio 
e S. Paulo. 

Numerosas associações surgiram 
sob a denominação de Santa Cecília. 
Riemann dá-nos como mais antiga a 
fundação de Palestrina, em Roma: 
uma espécie de Congregação que go- 
zava de numerosos previlégios con- 
cedidos pelos Papas de então, sendo 
que em 1847, Pio IX a transformou 
em uma "Academia de Sta- Cecília” 
que prodiganiza grandes serviços à 
arte musical religiosa. Delia Corti e 
Gatti, no entanto contradizem o mu- 
sicólogo alemão, dando entre as mais 
antigas a “Congregação de Santa Ce- 
cília” fundada em Roma no ano de 
1584, não por Palestrina, dizem eles, 
porém pelo veneziano Alexandre Ma- 
rino, canonico lateraense, e aprovada 
em 1575 com um Breve de Xisto V. 
Em 1785, surge, em Londres, a “Ce- 
cilian Society”, notável pelas exe- 
cuções de Oratórios de Haendel, 
Haydn e outros. A “Cecilien verein 
für I Kinder deutscher Zunge”, fun- 
dada em Ratisbona, no ano de 1867, 
por F. Witt, e confirmada em 1870 
por um Breve pontifical, cuja fina- 
lidade visava combater a introdução 
de instrumentos na música religiosa, 
assim como os clássicos dos séculos 
XVIII e XIX. Seria alongar por de- 
mais o meu “artiguête” tomando o 
precioso tempo do amavel leitor em 
citações de tantas invocações que vão 
pelo mundo homenageando a nossa 
formosa padroeira. 

A usança de festejar Santa Cecí- 
lia a 22 de novembro, vem de longe. 



Dizem que para execuções de conjun- 
tos corais, constituiu-se, em 1571, em 
Evreux, na Normandia, a sociedade 
“Le puy de musique”. Em S. Paulo, 
é todos os anos cultuada fidalgamen- 
to a memória de Virgem mártir com 
execuções de música sacra; e essa 
festa, que celebra-se na Matriz de 
Santa Cecília, costumamam associar- 
se os estabelecimentos de ensino ar- 
tístico. 

Mone (F. J.) bibliotecário e pro- 
fessor de história da Universidade 
de Louvania, que possui uma obra 
em 3 vol. sobre hinos, afirma que 
Santa Cecília foi uma das santas pre- 
dilétas dos hinógrafos dos primeiros 
séculos. Entre os trabalhos que se 
ocuparam de Santa Cecília é muito 
citado um estuod publicado em 1874 
em Paris pelo eminente D. Próspero 
Gueranger, Abade do célebre mostei- 
ro de Solesmes, obra essa sob o tí- 
tulo “Santa Cecília e a sociedade ro- 
mana nos dois primeiros séculos de 
nossa éra”. 

Quem sabe si esse trabalho escla- 
rece a dúvida que muitos têm em sa- 
ber a origem da adoção do nome de 
Santa Cecília para nossa padroeira. 
Em todo caso, se não se pode afir- 
mar essa origem Ela é, de fato con- 
siderada tal. É o suficiente. 



sAuguóio ^períl \ 

TÉCNICO E AFINADOR PE PIANOS 

das maiores celebridades mun- 
diais que têm visitado Sâo Paulo 

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CONCERTOS 



♦ ♦ 



MARIO CAMERINI 

Foi magnífico o concerto realizado 
em 4 de Outubro, pelo ilustre vio- 
loncelista Mario Camerini, no Salão 
Nobre do Instituto Musical Sta. Mar- 
celina. 

O violoncelo que possúe cultores 
capazes de suavizar-lhe a aspereza, 
muitas das vezes rúde, encontrou em 
Mario Camerini, mãos, alma e inteli- 
gência, capazes de torná-lo macio, 
persuasivo e humano. 

Mario Camerini é um artista ideal 
na sua arte. Possuidor de uma sono- 
ridade grandiosa, clara e aveludada, 
tem o seu arco inflexões dulcíssimas 
ao mesmo tempo que dramatiza vi- 
brantemente os ritmos mais difíceis. 

Não abusando dos recursos técni- 
cos que possúe com largueza, Mario 
Camerini mostra-se um espírito ar- 
tístico elevado. Pelo programa exe- 
cutado firmou os conceitos emitidos 
pela crítica em suas apresentações 
anteriores, de uma maneira vantajo- 
sa, magnitizando o público que o 
aplaudia, com sua arte superior. 

Na primeira parte executou com 
modalidade clássica as Séte Varia- 
ções de Beethoven sôbre um têma de 
Mozart, o Adagio e Allegro de Boc- 
cherini, Arioso de Bach e obras de 
Valensin e Francoeur. Na 2.“ parte 
executou a Suite Espanhola de Joa- 
quin Nin, com um calor bem ibérico, 
ardente na Marciana e Andaluza, ar- 
rebatado e languido em Vieja Castilla 
e Asturiana. Concluindo o excelente 
programa com obras de Villa Lobos, 
Faure, Cassado, Camerini (Bercouse 



Popular Brasileira, que foi bisada) e 
Popper, demonstrou uma concepção 
musical que vai além dos limites das 
acrobacias musicais porque suas exe- 
cuções cheias de pensamento, pos- 
suem algo raro nos concertistas da 
atualidade. Possuem alma! 

C. de O. 



CONCERTO ORQUESTRAL DA 
FILARMÓNICA DE S. PAULO 

Na noite de 18 de Outubro, reali- 
zou-se no Teatro Municipal, o grande 
concerto sinfônico promovido pela 
Sociedade Filarmônica de S. Paulo, 
sob a regência do ilustre maestro 
Ernesto Melich. 

Lulli, Bach, Casabona e Beetho- 
ven foram os compositores ujas 
obras integraram o magn’fico pro- 
grama. 

Sem dúvida alguma, o “ciou” do 
saráu foi a execução da II Sinfonia 
de Beethoven. Correspondeu ao in- 
teresse do numeroso público, pela fe- 
licidade com que se houve o grande 
conjunto orquestral. Principalmen- 
te no Scherzo, a orquestra bastante 
hemogenea, conseguiu belos efeitos de 
sonoridade, volume proporcionado e 
riqueza de timbres. 

Onde porém a orquestra portou-se 
com mais acerto, foi indubitavelmen- 
te na Suite de Lulli, cujo Noturno 
objetivou uma requintada interpre- 
tação. Um pouco desencontrados os 



Pág. 20 



RESENHA MUSICAL 






Tomás Teran 



violinos nos “pizzicate”, não atin- 
giu a percepção dos ouvidos menos 
acurados e nem, por sorte, a influir 
com inconvenientes na execução da 
linda Suite. 

O concerto de Bach, para dois pia- 
nos e orquestra de cordas, agradou 
bastante. Prestaram seu valioso con- 
curso as pianistas Mercês da Silva 
Telles e Gilda Gusso. Ambas bem 
amparadas pela resoluta atuação or- 
questral, sob a regência do maestro 
Melich, puderam executar com extre- 
ma liberdade as partes importantís- 
simas de que estavam incumbidas. 
Técnica, ritmo e interpretação, não 
faltaram aos jovens pianistas. 

O maestro Melich continua a ser 
o mesmo regente conciencioso que es- 
tamos acostumados a ouvir. Enérgi- 
co no ritmo, delicado nas sonorida- 
des, jocoso nos contrastes e artista 
na interpretação. 

C. de O. 



TOMAS TERAN NA 
PRO ARTE 

Pro Arte, a bem organizada socie- 
dade cultural e artística com séde 
no Rio de Janeiro e com ramifica- 
ções nas principais cidades do país, 
apresentou ao público paulistano o 
notável pianista espanhol Tomás 
Teran. 

O concerto que realizou-se em 21 
de Outubro, no Salão Vermelho do 
Esplanada, reuniu uma platéia culta 
que soube fazer jús ao valôr do bri- 
lhante artista. 

Tomás Teran para essa apresenta- 
ção, organizou um programa de mo- 
do a poder demonstrar os diversos 
fluentes da arte pianística admiravel 
que suas mãos sabem traduzir capa- 
citadas por uma técnica finamente la- 
pidada. Os seus pianíssimos são sub- 
tis e os fortes e fortíssimos, vibran- 
tes e amplos. Qualidades invejáveis 
que fizeram realçar a execução fir- 



RESENHA MUSICAL 



Pág. 21 



me da Ouverture da 28.® Cantata de 
Bach, da Sonata Apassionata d-* Be- 
thoven, das Fantasias op-12 de Schu- 
mann, das obras de Debussy, Migno- 
ne , Falia, Villa Lobos, Albéniz e Gra- 
nados. 

ínfelizmente o piano não corres- 
pondeu ao valôr do artista que viu 
grandemente prejudicada sua exe- 
cução pelos inúmeros defeitos do ins- 
trumento. Porém este detalhe não 
impediu que a exuberância musical 
do ilustre virtuose se revelasse asse- 
gurando-lhe mais uma noitada vito- 
riosa da sua longa carreira artística. 

Promete-nos, agora, a Pró-Arte, pa- 
ra o mês de Novembro, um concerto 
da aplaudida cantora brasileira Alice 
Ribeiro. 

C. de O. 

• 

MAGDALENA TAGLIAFERRO 
NA FILARMÓNICA 

Magdalena Tagliaferro, a eminen- 
te pianista que óra visita S. Paulo, 
onde tem desenvolvido uma atividade 
salutar em nosso meio musical, apre- 
sentou-se em 8 de Novembro, ao dú- 
blico paulistano, por intermédio da 
benemérita Sociedade Filarmônica 
que completou assim, brilhantemen- 
te, o seu 28.° saráu de arte. 

Como era natural, o concerto da 
Sociedade Filarmónica foi aguardado 
por uma atmosféra de desusado in- 
teresse, entusiasmo e simpatia, ’*a- 
zão porque ao Teatro SanCAna, 
afluiu uma assistência numero«a 
que soube dispensar à notável vir- 
tuose os aplausos mais significa- 
tivos. 

O programa constituído por óbras 
de Schubert, Beethoven, Bach, Sehu- 




Tomás Teran 



mann, Mignone e Debussy, foi orga- 
nizado sob diversas modalidades afim 
de evidenciar as riquíssimas qualida- 
des pianísticas e interpretativas da 
emérita pianista, qualidades essas 
que o nosso público soube compreen- 
der e aplaudir. 

Destacaremos do seu programa, a 
Sonata op. 90, de Beethoven, exe- 
cutada com muita finura e simplici- 
dade; o concerto em dó, de Bach, in- 
terpretado com admira vel justeza de 
fórma. Onde, porém, Magdalena Ta- 
gliaferro jogou com seus valiosos pre- 
dicados de artista consumada foi no 
Carnaval de Schumann. O público 
acompanhou religiosamente a exe- 
cução desta importante óbra da lite- 
ratura pianística, cujas miniaturas, 
pela novidade da interpretação, tor- 
naram-se quadros vivos que a técni- 
ca prodigiosa de Magdalena Taglia- 
ferro, pincelou com as nuances mais 
delicadas ou mais jogosas, dando-lhes 
ambiente, corpo e alma. 



Pág. 22 



RESENHA MUSICAL 



Magdalena Tagliaferro teve opor- 
tunidade de patentear, com o concer- 
to realizado para a Filarmônica, que 
o seu temperamento brilhante e a 
sua musicalidade excepcional, ao par 
de uma técnica não menos maravi- 
lhosa, a tornam uma das maiores 
pianistas dentre os grandes intérpre- 
tes contemporâneos. 

Com a execução de Mignone e De- 
bussy, findou o concerto sob uma ova- 
ção prolongada da assistência, para a 
qual concedeu numerosos extras. \ 
Sociedade Filarmônica dirigimos nos- 
sos aplausos pelo êxito do grande 
concerto que promoveu e que, nos 
anais artísticos da Paulicéia, figura- 
rá como mais uma das suas contri- 
buições valiosas para o progresso da 
arte musical entre nós. 

C. de O. 



ALICE RIREIRO NA 
PRO - ARTE 

Acompanhada pela ilustre pianis- 
ta Maria Amélia de Rezende Martins, 
apresentar-se-á ao público paulista- 
no no mês corrente, antes de iniciar 
uma excursão ao sul do país, pro- 
movida pela Pró-Arte, a festejada 
cantora brasileira Alice Ribeiro. 

Mais uma valiosa realização da 



Com este numero de 

RESENHA MUSICAL 
Coração Santo — Peça infantil para 
piano — Clovis de Oliveira — 

seu III Suplemento. 



Pró-Arte, em benefício de seus as- 
sociados e dos artistas nacionais que 
sempre tem preferido para suas ex- 
cursões culturais artísticas sem des- 
prezar os elementos estrangeiros 
radicados no país que contribuem di- 
rétamente para o desenvolvimento e 
progresso do nosso meio artístico, 
pela cultura sólida e vasta de que 
são possuidores. 

Eis a razão pela qual a 
Pró-Arte vem apresentando subse- 
quentemente artistas nacionais e es- 
trangeiros residentes no país. 

Transcrevemos as palavras inspi- 
radas com que o professor ilustre, que 
é o sr. Murilo de Carvalho escreveu 
apresentando aos riograndenses do 
sul, a laureada cantora Alice Ribeiro: 

“Desminto o velho provérbio: 
“Longe dos olhos, longe do coração”. 
Porto Alegre, ha tantos anos longe 
dos meus olhos, nunca esteve tão 
perto do meu coração como agora. 
É com aleiria que escrevo estas pa- 
lavras para apresentar aos meus pa- 
trícios a minha discípula Alice Ri- 
beiro. Alegria aumentada porque se- 
rá durante as festas do segundo ceii- 
tenário da fundação da cidade de que 
me orgulho de ser filho, que ela vai 
cantar pela primeira vez, no Rio 
Grande do Sul. Nada direi do real 
talento de Alice Ribeiro. Ides ouvi- 
la. Ides julgá-la. Os vossos aplau- 
sos nos darão a melhor das recom- 
pensas. A Pró- Arte, que a leva, me- 
rece todos os louvores. Dirigida pe- 
la competência e pelo devotamento 
da excelente pianista Maria Amélia 
de Rezende Martins, graças aos seus 
esforços, muitos artistas, principal- 
mente brasileiros, têm podido apare- 
cer nos Estados. E a escolha desses 
artistas é sempre feita pelo critério 
exclusivo do valor de cada um.” 



RESENHA MUSICAL 



Pág. 23 



ODETE DE FARIA 

Odete de Faria, a pianista patrí- 
cia que tantos êxitos já tem alcança- 
do e cujos méritos todos são unani- 
mes em reconhecer, acaba de obter 
mais um expressivo triunfo, com o 
recital, que ha alguns dias levou a 
efeito, para os associados da Socie- 
dade de Cultura Artística de Piraci- 
caba. 

Fazendo a apreciação desse con- 
certo, durante o qual Odete de Faria 
foi entusiasticamente aplaudida, Al- 
ceu Viegas, crítico do “Diário de Pi- 
racicaba”, salientou, logo de inicio: 
“Apresentando um ótimo programa, 
em que figuravam páginas de ricas 
sonoridades e inspiração profunda, 
como “Cantata” de Bach, a “Sonata 
em si menor”, de Liszt, a nossa reci- 
talista soube traduzir, com precisão, 
toda a riqueza melódica das partitu- 
ras e o pensamento dos grandes mes- 
tres. ” 

Referindo-se, ainda, à interpreta- 
ção dada à “Sonata em si menor”, 



Dr. Amam Egydio de Oliveira Fillm 

Cirurgião - Dentista 
Aparelho Raios X - Diatermia 

Rua Libero Badaró, 561 • 3.0 and. • sala 59 
Fone, 5-4971 Sáo Paulo 



AOS ASSINANTES 

Lembramos os srs. assinantes 
cujas assinaturas vencem com o pre 
sente número, o obséquio de envia- 
rem por cheque ou vale postal, a im- 
portância de 20$000, correspondente 
a uma assinatura anual, evitando 
assim a interrupção da reméssa des- 
ta Revista. 




de Liszt, obra que é considerada co- 
mo verdadeira enciclopédia da pia- 
nística de todos os tempos e que exi- 
ge dos que se abalançam a executá- 
la, uma organização sem falhas, fri- 
sou o nosso coléga que “essa obra 
prima do compositor húngaro teve em 
evidência, por parte de Odete, toda a 
sublimidade e graça, que são a sín- 
tese dessa reliquia musical.” 

Aludindo, também, às outras peças 
que constituíam o programa dessa 
audição, quiz Alceu Viegas colocar 
em relevo que todas elas tiveram, em 
Odete, uma intérprete digna do me- 
lhor apreço, digna, portanto, dos 
aplausos calorosos que recebeu, e que 
a obrigaram a conceder um “extra”. 

Odete de Faria embarcou ha pou 
cos dias, para o Rio Grande do Sul. 
afim de participar dos festejos do 
bi-centenário de Porto Alegre, ali 
devendo realizar algWs concertos, 
para dar cumprimento ao contrato 
que firmou com a Prefeitura da Ca- 
pital gaúcha. 




A respeito da Música Sacra 

Uma medida que se impõe 



Desde o pontificado de Pio X, que 
a questão da música sacra se impôz 
na liturgia da Igreja. Esse Pontí- 
fice que era uma alma nobilíssima 
de artista, subindo ao trôno pontifi- 
cal com a experiência própria das 
suas pequenas igrejas paroquiais, que 
êle, em pessoa, dirigira antes de che- 
gar ao histórico patriarcado de Ve- 
neza, preocupou-se imediatamente em 
sistematizar essa parte importante 
das cerimonias e das funções religio- 
sas. 

O Papa Pio X havia observado, ao 
seu tempo, que nas igrejas humildes 
e também nas monumentais das ci- 
dades, se andava, pouco a pouco, in- 
filtrando o péssimo hábito de utili- 
zar como acompanhamento das ce- 
rimonias e dos ritos de fé, música 
por vezes profana e, muitas vezes, 
realmente vulgar. Pio X interveiu, 
então, com a sua conhecida energia 
e, com um “motu proprio” propôz- 
se a extirpar o máu costume profano 
e fazer reflorescer para ornamento 
do verdadeiro espírito cristão, a tra- 
dicional música sacra da ortodoxa li- 
túrgica e o maravilhoso canto gre- 
goriano. 

Aquele enérgico e oportuno “motu 
proprio” fez muito bem à vida das 
cerimonias da Igreja. 

Após anos, já no pontificado de 
Pio XI, o Santo Padre, voltou com 
um novo “motu proprio”, ao assun- 
to reafirmando as normas relembra- 
das por Pio X, dando, além disso, 
ordens aos bispos e aos “ordinari” 
para que o canto litúrgico tivésse do 
novo um galhardo impulso e fosse 
reposto no seu antigo e puríssimo es- 



tilo, porquanto ressurgia a tendên- 
cia para reproduzir-se, em muitas 
igrejas católicas de todo o mundo, 
o reprovável hábito de enxertar mú- 
sicas e cânticos profanos nas cerimo- 
nias religiosas. 

Mas, agora, como acontece em to- 
das as coisas desta terra, mesmo 
quando se referem às relações dos 
homens com a Divindade, passados 
muitos anos daquela severa admoes- 
tação, sucedeu um novo relaxamen- 
to resurgindo a tendência para re- 
produzir-se, em algumas igrejas ca- 
tólicas, o reprovável costume de in- 
cluir música e cânticos profanos nas 
cerimonas religiosas. Segundo te- 
mos conhecimento, em algumas loca- 
lidade do interior do nosso Estado, 
indivíduos que se rotulam maestros 
e compositores, vêm transgredindo 
essas ordens de relevante importân- 
cia religiosa, social e artística, na di- 
reção dos córos, fazendo executar 
suas próprias composições em fôrmas 
de Missa ou de outras fôrmas, sem 
nenhum valor musical ou artístico, 
revelando a existência de um abuso 
que precisa ser reprimido co mener- 
gia pelas dignas autoridades eclesiás- 
ticas, porque o povo precisa compre- 
ender, na música, as profundas be- 
lezas da música sacra e do canto gre- 
goriano penetrando os segredos da 
música religiosa de alto estilo -ecal 
ou instrumental e não sentir-se in- 
fluenciado por uma arte de modali- 
dade inferior, mescla de profano, ig- 
norância e vulgaridade. 

(Transcrito do número 
anterior, a pedido) 



Sinfonia 



Pensamentos sôbre a IX. a 

de Beethovem 



Gustavo A . STERN 



Ao M.° George Kaszás 
Especial para RESE- 
NIHA MUSICAI, 



Era um certo dia de Maio de 1824. 
quando pela primeira vez, ouviram 
homens, no teatro “Kárntertor” em 
Viena, a Nona Sinfonia. Deviam ter 
sentido uma profunda emoção, pois, 
nessa hora, esclarecia-se a todos a 
sua própria luta pela vida. Cada um 
deles, combatendo os poderes entra- 
nhos da sorte, sentia-se empolgado: 
isso importa a mim. 

Nunca haviam sido formados de 
uma maneira tão elevada, o desafio 
e a luta entre a humanidade e o des- 
tino, desde a época de Esquilo. Eles 
fremiam, pois ouviram, no primeiro 
movimento da sinfonia, o homem 
oprimido combatendo o cáos; sentiam 
a luta dele como a sua própria e con- 
cordaram. 

Ele sai corajosamente no segundo 
movimento, com cornetas para caça, 
mas é derribado pelos tímpanos; re- 
petindo a corrida, fica cada vez aba- 
tido pelos tímpanos. 



Porém, no terceiro movimento, o 
homem esquece o destino. Lá se acha 
um homenzinho a sós, numa vasta 
planície e está sentindo o que é ve- 
dado aos deuses : O amor, o sofrimen- 
to e a grande dedicação dos mortais. 

Tudo está suavemente movido e, 
muito baixo, penetra de fóra no cor- 
tejo eterno, o aviso do destino; mas 
sempre, quando o tímpano se anun- 
cia, a pele soante é subordinada pela 
mão estendida. Tão longe está o des- 
tino. 

Agora começa um dueto de ho- 
mens, cheio de paz, com olhos diri- 
gidos para cima, para as nuvens do 
destino; uma só vez é relembrado o 
homem das lutas que estão à espera, 
fora; mas, tudo está ainda pacífico. 

Agora, após um período tão sua- 
ve, de repente reaparece o cáos; os 
tímpanos estão delirando, o ceu tro- 
veja, — com uma pergunta proble- 



Pág. 2(> 



RESENHA MUSICAL 



mática resalta o violoncelo — e a 
tempestade renova-se. 

Mas, o momento de grande trans- 
formação mundial acordou os cati- 
vos; são êles nécios? são êles escra- 
vos? Impacientes, sacodem a cadeia: 
Querem a liberdade. Ainda, porém, 
continuam lutando a luz e as trevas 
e, enquanto os cativos resmungam, 
volta à lembrança a felicidade com- 
pleta; hesitantes, advertem violonce- 
los e baixos. É como se os instrumen- 
tos tivessem achado a voz humana 
e falassem antes dos homens se apro- 
ximam. Iniciou-se uma longa conver- 
sação dos dispertados para a liber- 
dade, uma reunião de creaturas que 
indagam, consultam e desafiam. 

Parece aproximar-se, de distância 
mágica, uma idéia nova, e, enquanto 
os baixos acabaram de falar entre 
si quasi com palavras, sentem-se du- 
ma vez reunidos e começam a zumbir 
a nova e grandiosa melodia. Cheios 
de saudades, seguem os violinos e 
cantam harmoniosamente juntos. 
Mais uma vez, intervem o destino 
para impedir a nova canção. 

Mas, agora, levanta-se a voz de um 
homem, entre os instrumentos falan- 
tes; a primeira palavra dele é: Ale- 
gria — e a segunda; Oposição. 

Basta. Calai-vos poderes obscuros; 
a grande transformação mundial 
chegou. E segue, essa única voz hu- 
mana, o grande côro dos outros; se- 
guem, os solistas fieis, os versos es- 
colhidos da ode de Schiller “À Ale- 
gria”. 

Escutai, aproxima-se lá uma pro- 
cissão curiosa, acompanhada pelos 
triângulos. Um herói marchando para 
a vitória. Ele conseguiu a grande 
obra, nunca realizada até agora: o 
tímpáno, antigo instrumento bélico, 



entrou aos serviços dos homens e 
associou-se ao júbilo. 

Emocionado e sensibilizado, fica 
o côro calado; sómente os baixos 
grossos falam uma lingua nova e agi- 
tada até que, acompanhados com 
largos acordes dos trombones, pri- 
meiramente os homens, depois as 
mulheres, exigem uma solene união 
de toda a humanidade: sêde irmana- 
dos aos milhões! 

Agora, seguem todos, sem gravi- 
dade humana, sem força; alegres da 
liberdade, constroem por si mesmo 
um poder elevado, predicam um pai 
amado nas alturas do firmamento. 

Da multidão cantante, separam-se, 
devagar, as vozes dos solistas, repe- 
tindo o côro da alegria, elevando e 
diminuindo com êle a sua voz; mas, 
a vasta multidão, a grande massa, 
quer bradar; a época do indivíduo 
passou; um segundo arriscam as vo- 
zes femininas entrar no quarteto dos 
solistas, mas em seguida a melodia 
se perturba, se perde e os homens 
libertaidos deliram; fica definitivh- 
mente abolida a barreira entre deuses 
e homens. 

Sic itur ad astra! 



PROFESSOR DE ALEMÃO E 
INGLÊS 

Professor da alta sociedade 
paulista ensina o alemão e o 
inglês particularmente e em 
pequenas turmas. 

R. Conceição, 34 — 3.° andar — 
apto., 5 — Fone: 4-7931 
S. PAULO 




ôinteée da TLécníca '■ píaníóiíca 

Profra. Ondina F. BONORA DE OLIVEiRA 
Especial para “RESENHA MUSICAL" 



A técnica propriamente dita pode- 
mos dividir em : Agilidade, Flexibili- 
dade e Sonoridade. 

Da agilidade: desde que a claví- 
cula. o braço e o pulso estejam intei- 
ramente livres da tensão dos mús- 
culos, em completa liberdade e os de- 
dos fortificados — o que se conse- 
gue com os diferentes exercícios co- 
mo sejam: notas simples, duplas, 
terças, sextas, escalas, arpejos, exe- 
cutados da maneira mais simples pos- 
sível e depois gradativamente com 
variações — , se obtendrá a agilidade, 
isto é, destreza no tocar. 

Porém, agilidade não significa só- 
mente tocar com ligeireza ou melhor, 
com velocidade. É indispensável aliar- 
se à agilidade: flexibilidade, sonori- 
dade e dinâmica. 

Da flexibilidade — movimentos 
brandos flexíveis, delicados e elegan- 
tes. Quanto aos movimentos, a maior 
simplicidade para maior beleza e arte. 
É conveniente evitar as quédas brus- 
cas ou pesadas das mãos. Os movi- 
mentos suaves muito importam nu- 
ma execução porque fazem parte da 
maneira de bem tocar. Os dedos tam- 
bém devem estar aptos para com agi- 
lidade e flexibilidade ferir as teclas 
denotando sempre firmeza, precisão, 
sem forçar o seu jogo normal quan- 
to a posição. Deve-se apoiar as notas 
com o auxílio do próprio dedo, sem 
recorrer ao braço afim de não alte- 
rar a posição natural e o que é mais 
importante ainda, a sonoridade que 
ficaria seriamente prejudicada. 

Da sonoridade, esta absolutamen- 



te, não póde e nem deve ser confun- 
dida com agilidade. O andamento de 
um trecho musical, salvo indicação do 
autor, não deve ser alterado em fa- 
vor da sonoridade. Esta deve ser ex- 
pontânea, em qualquer andamento. 
Se a sonoridade fôr posta de lado, a 
execução se tornará sem expressi- 
vidade, e mesmo as pessoas leigas 
notarão a lacuna. A sonoridade é ob- 
tida pelo maior número de vibrações 
da corda correspondente a nota apoia- 
da, não esquecendo-se que unicamen- 
te os dedos conseguem com seguran- 
ça êsse objetivo quando ao seu jogo 
estão aliados os movimentos lógicos 
dos braços e dos pulsos. A sonorida- 
de béla, subtil ou ampla, é resultado 
de um desenvolvimento táctil sensí- 
vel em relação diréta a sensibilidade 
física do executante. 

A agilidade, flexibilidade, sonori- 
dade e dinâmica fazem parte inte- 
grante da bôa execução. 

A pessoa que tóca deve sentir para 
poder externar os sentimentos, se- 
jam êles tristes ou alegres. 

Realçar, dar nuances á execução, 
eis uma das qualidades essenciais 
para um artista de valôr ou que se 
desenvolve na carreira pianística num 
crescendo constante. 

Saber dar vida às notas, traduzir 
com clareza, calma e expontaneidade 
os múltiplos sentimentos do coração, 
é qualidade nata e quando não, é uma 
das maiores dificuldades que pódem 
encontrar na Arte Musical um ar- 
tista, mesmo possuidor de uma me- 
cânica invejável. 



MICROFONE 




BABY STAUBER 

unia vienense que conquistou 
São Paulo 

Uma pequena que conquistou o co- 
ração bandeirante, na Rádio Cultura 
— Alguns dados de sua vida — Ou- 
vida e admirada pelo Duque de Wind- 
sor e por Lady Mendle — Novidades 
que trouxe para o nosso Rádio — 
Filha de grande artista — O que 
pensa das nossas coisas. 

Palavras de Baby Stauber a “Re- 
senha Musical” — Reportagem de 
Genésio Pereira Filho. 



Ha 4 ou 5 mêses, que a Ránio Cul- 
tura, emissora PRE-4, desta Capital, 
vem apresentando ao seu microfone, 



uma artista menina-e-moça, que con- 
quistou o coração bandeirante. 

Ela é vienense, nasceu nessa Áus- 
tria cortada pelo calmo e azul Danú- 
bio, é filha desse país que nos brin- 
da com tão lindas e sublimes valsas., 
a música qoe recebeu mesmo o nome 
da terra de sua origem. Música que, 
outróra, imperou nos salões, nas dan- 
sas elegantes da vida de côrte, ou em 
toda festa nobre. Que reinou no tem 
po em que o “frou-frou” punha ares 
bonitos nas pequenas casadouras e 
em que se dansava afastado, em que 
o contáto dos corpos era substituído 
pelos rodopios de gaze, deixando to- 
dos felizes e, envoltos em atmosfera 
de sonhos . . . 

Foi dessa Áustria que veiu a me- 
nina-e-moça que ora encanta S. Paulo. 
Foi de lá que nos veiu Baby átau- 
ber, uma moreninha de sorriso fa- 



RESENHA MUSICAI. 



Pág. 29 



cil e bonito, de ritmo estranho no seu 
corpo elegante. 

‘Microfone” quiz ouvi-la para seus 
leitores. E, foi na própria Rário Cul- 
tura. numa tarde de outubro es- 
tranhamente frio, que fomos pro- 
curá-la. Estava em ensáio, com seu 
pai, que é quem a acompanha em 
harmônica. 

E lhe perguntamos: — Onde come- 
çou seus estudos e onde suas primei- 
ras apresentações? 

— Iniciei meus estudos em Viena, 
minha terra natal. Aí, na Embaixada 
Brasileira, cantei e consegui sucesso. 
Depois, em Paris, no Castelo de Ver- 
sailhes. cantei para o Duque de 
Windsor e para Lady Mendle, que 
muito me apreciaram. Iniciei-me aos 
sete anos e, em Paris, meu pai era 
chefe de orquestra e o foi por muitos 
anos. É muito conhecido aí. 

E, de fato, Rodolfo Stauber tem 
agradado muito nesta capital. Tem 
parte importante no êxito que sua 
filha consegue. 

— Sua mãe? 

— Ah ! Chama-se Joana. Joana 
Stauber. E, ainda sobre meu pai: 
no navio em que viemos, um repór- 
ter gostou muito do seu desempenho. 

Baby, que é pol’glota, pois fala o 
alemão, inglês, francês e checoslová- 
quio, é assim. Procura desviar o as- 
sunto para os seus, não desejando 
ser o centro da conversa. Entretanto, 
forçámo-la : — Vieram . . . 

— ... Diretamente para o Brasil. 
Chegados a Santos, rumamos lógo 
para São Paulo. Aqui estamos ha 
mais ou menos 4 meses. 

— A permanência aqui será por 
muito tempo? 

A pequena passa as mãos pelos ca- 
belos negros, onde uma pequena me- 
cha aloirada se sobresai (lembrando 
o loiro materno) e nos responde: 



— Estamos muito satisfeitos com 
a Rádio Cultura. De modo que, a nos- 
sa permanência em São Paulo é por 
tempo indefinido. Tenho tido contáto 
com muitos artistas. Apresento dois 
programas, um às terças-feiras, “Re- 
vista Relâmpago”, e outro aos sá- 
bados, “Gongo Mágico”. Ambos são 
novidades para o Brasil. 

— Sua impressão sobre o nosso 
ambiente artístico? 

— Ainda não poude aquilatar bem, 
pois aqui estou ha pouco tempo. Po- 
rém, já posso afirmar que é formi- 
dável. 

— Nossa música? 

— Impressiona-me. Acho o seu rit- 
mo notável, vibrante. Por exemplo: 
o samba. 

Foram essas as palavras que tro- 
camos com a pequena austríaca. Ela 
continua na Rádio Cultura, cativando 
cada vez mais a simpatia do nosso 
público. 

o 



ENTREVISTAS AO MICROFONE 

RESENHA MUSICAL vem de 
inaugurar em S. Paulo, interessante 
sistema de entrevistas com os ele- 
mentos do rádio paulistano, feitas 
diretamente ao microfone. 

As perguntas são feitas no mo- 
mento, sôbre a vida e gostos do ar- 
tista entrevistado, e, fdas propria3 
respostas são tiradas outras pergun- 
tas. 

Dando início à série de entrevis- 
tas que pretende realizar, “RESE- 
NHA MUSICAL” realizou a primei- 
ra, estando todas a cargo do seu 
redator radiofônico, sr. Genésio Pe- 
reira Filho, nosso brilhante colabo- 
rador. 



Pág. 30 



RESENHA MUSICAI 




Nhô Totico 



A primeira foi realizada com geral 
agrado, no dia 21 de Outubro, às 9 
horas (da manhã), pelo microfone da 
Rádio Tupi de S. Paulo, (PRG.-2), 
com o diretor do programa sertane- 
jo, diariamente apresentado àquela 
hora, sr. Ochelsis Laureano. 

A VOZ DO BRASIL 

A Rádio Nacional anuncia a cons- 
trução de uma grande emissora de 
ondas curtas; potência: 50 kw. ; 11 



antenas direcionais, sendo para a 
Europa, África, América do Norte e 
América do Sul. Os planos já se 
encontram em poder do ministro da 
Viação; essa emissora, que será po- 
deroso fator de nossa propaganda, 
apresentará, em suas irradiações, mú- 
sica e arte em geral, propaganda do 
nosso sólo, dissertações sôbre nos- 
sas datas e acontecimentos de relevo, 
tanto na nossa história política e 
militai’. 

* O programa sertanejo da Tupi, 
desta capital, conta, agora, com estes 
elementos: Laureano, Mariano, Joa- 
nico e Arnaldo Meireles. 

* A Rádio Educadora Paulista, após 
paralizar suas irradiações, para re- 
forma, agora se apresenta na fre- 
quência de 890 quilociclos. 

* A PST-3, diariamente das 21 às 
22 horas, em ondas curtas e na fre- 
quência de 7.340 quilociclos, está ir- 
radiando diretamente do Pavilhão da 
Feira Nacional de Industrias, divul- 
gando serviço oficial e música sele- 
cionada. A PST-3 é emissora da rêde 
da Superintendência do Ensino Pro- 
fissional. .Às 2.“ feiras não ha irra- 
diação. 

* Novamente esteve, na PRG-2, 
Pedro Vargas, o conhecido intérprete 
da música hispano-americana. 

* Irmãs Rosetti, segundo noticia a 
imprensa de Jaboticabal, são dois 
ótimos elementos da PRG-4, daquela 
cidade, numa dupla caipira. 

* José Carlos Lisboa, orienta o rá- 
dio-teatro de estudantes, na Rádio 
Inconfidência, de Belo Horizonte. Têm 
apresentado peças de Wilde, Piran- 
dello, Ibsen, Dannuzio, 0’Neill, Co- 




RESENHA MUSICAI 



Pág. 31 



ward, Somerset Maughan e autores 
nacionais. 

* Um dos maiores acontecimentos 
radiofônicos, na Paulicéia, ultima- 
mente, foi a visita de Hugo dei Car- 
ril, o companheiro de Libertad La- 
marque em “Madreselva”. 

* Nhô Totico fez uma temoprada 
no Rio, com grande sucesso. Após es- 
sa sua estreia no Rio, regressou à 
Cultura, onde continua apresentando 
“Vila da Arrelia” e “Escola de D. 
Olinda”, programas, que prosseguem 
atraindo grande assistência ao Pa- 
lácio do Rádio. 

* A Rádio São Paulo inaugurou, 
tm 11 de outubro, o “Programa do 
Automobilista”. 

* Fala-se, em Avaré, na organiza- 
ção de uma estação rádio-emissora. 

* A Rádio Bandeirante, PRH-9, 
apresenta diariamente, às 8,30 horas, 
o “Programa de Eugenia”, sob a di- 
reção do dr. Castro Carvalho. 

* A Rádio Cruzeiro do Sul apre- 
sentou, no dia 13 de outubro, um pro- 
grama em homenagem a Maruja 
Águiar de Mariani, poetiza uruguaia 
ha pouco falecida. Tomaram parte a 
srta. Fani Luiza Dupré e o prof. 
Shanchez Sáes. Essa homenagem foi 
no “Programa do Livro”, que Cid 
Franco dirige. 

* Del Rio é uma das atrações da 
Rádio Cultura. É interprete de mú- 
sica hispano-americana. 

* O auditório da Rádio Cultura fi- 
ca diariamente lotado. Apezar de ser 
o maior auditório de São Paulo, veio 
provar que o povo paulistano gosta 



do rádio, quando ha bons programas, 
pois tal auditório ainda é acanhado 
para a assistência que, todos os dias, 
procura o Palácio do Rádio. 



* A legislação sôbre Rádio, em nos- 
.so paiís, passa por completa revisão, 
num exame feito por uma comissão 




Rosina de Remini 



de representantes do D.I.P., Minis- 
tério da Viação e representantes das 
emissoras. A mesma comissão deverá 
apresentar, em conclusão, o ante-pro- 
jéto de um Código Brasileiro de Rá- 
dio-Difusão. Da entrevista que o sr. 
Paulo de Carvalho, presidente .ia Rá- 
dio Recorde, concedeu à “Folha da 
Noite”, local, em 15 de outubro, des- 
tacamos: “Efetivamente - disse-nos 
de inicio s.s. — acaba de ser orga- 
nizada essa comissão, da qual somos 
um dos membros. Não era mesmo de 
se estranhar que o governo federal 
tomasse uma medida nesse sentido, 
visando unificar as leis que regem 
a radiofonia no Brasil. Nada menos 
que quatro decretos e cerca de oito 
portarias regulam a matéria. São 
os decretos ns. 20.047, de 26 de mar- 




Pag. 32 



RESENHA MUSICAL 







ço de 1931; 21.111, de 1 de março 
de 1932; 24.655, de 11 de junho de 
1934; 24.771, de 14 de julho do mes- 
mo ano e ainda o decreto-lei n. 1 .949, 
de 30 de dezembro de 1939, que re- 
gulou as atividades da imprensa e 
propaganda, discriminando as fun- 
ções do Departamento Nacional de 




Laureano 



Imprensa, em relação a esta, ao ci- 
nema, ao teatro e à radiotelefonia. 

Além disso, pesam na balança, co 
mo dissemos, — continuou s.s. — 
inúmeras portarias da Comissão Téc- 
nica de Rádio. Um ponto digno de 
ser ressaltado também é que, pela 
primeira vez no Brasil, o governo pro- 
cura ouvir um representante das es- 
tações de rádio, a respeito da legis- 
lação que as rege. ’ E mais adiante: 
“ — Ha, por exemplo, o caso dos lo- 
cutores estrangeiros. Segundo pare- 
ce, para o próximo ano apenas será 
concedida permissão a quatro esta- 
ções brasileiras pata organizarem 
programas em língua extrangeira. 
com locutores extrangeiros. Até ago- 
ra a nossa legislação não cogitara do 
assunto.” 



* Rosina de Remini regressou a es- 
ta Capital, duma vitoriosa excursão 
ao norte e à Argentina. 

* O Brasil, em estações emissoras 
vence numericamente Alemanha, In- 
glaterra, França índia e Argentina. 
Com 72 emissoras, no continente so- 
mos os primeiros. 34 emissoras es- 
tão localizadas no Estado de São 
Paulo, 1 em Mato Grosso e outra em 
Goiás. E, do Espírito Santo para o 
Norte, existem 8. 

* Heloisa Helena declarou que “o 
cigarro é para mim, um ótimo re- 
constituinte cerebral”. 

* Pablo Zarre, cronista colombiano, 
escreveu que Pedro Vargas é “o can- 
tor feio que, cantando, encanta as 
mulheres e as faz sonhar lindos so- 
nhos de amor”. 

* Em nossa última secção, nas le- 
gendas da página ilustrada de “Mi- 
crofone”, por um lapso de revisão, 
em vez de “Vicente Celestino”, saiu 
“Celestino Paraventi”. Aí fica a re- 
tificação. 



. . . Nos Estados Unidos, vendeu- 
se, no ano findo, mais de 10 milhões 
de rádios. Para o presente ancv cal- 
cula-se a venda em 11 milhões. 



A voz do mundo 

A Teatrolândia da BBC, de Lon- 
dres, vem apresentando as melhores 
produções teatrais do West End. As- 
sim, já foi apresentado Up and doing. 



Fique sabendo que. . . 



* ' 






# 



RESENHA MUSICAL 



Pág. 33 



sucesso de Saville Theatre ; bem como 
Thunder Rock, êxito também, mas co- 
mo obra séria. 

*** A mesma emissora londrina 
apresenta, semanalmente, o progra- 
ma “Querida Mamãe”. Os soldados 
britânicos lêm ao microfone da BBC 
a carta que enviarão à sua mãe. Esse 
programa nasceu da leitura de uma 
carta de um soldado a seu mano. O 
sucesso fez com que fosse creado um 
programa especial. 

*** Todos sabem que os sinos, nas 
guerras, são usados para fins mili- 
tares. Velhos bronzes de tradicionais 
templos são usados para a defesa da 
nação. Assim, os intervalos inter-pro- 
gramas eram marcados, pela BBC, 
com os sinos da igreja de St. Mary-le 
Bow em Holborn. 

Agora, esses intervalos são assina- 
lados com as notas si, si, dó, repre- 
sentadas, na nomenclatura inglesa da 
música, pela BBC ; antes disso, ado- 
tara-se o “tic-tac” de um relógio, a 
que jocosamente, os ouvintes, haviam 



chamado de “os passos do fantasma 
com tamancos”. 

*** O serviço de onda curta da BBC, 
para a América Latina, é dirigido 
nas frequências .seguintes: norte do 
Amazonas: — 9,51 meg. (31,55 m.) 
GSB; sul do Amazonas: — 9,51 meg. 
(31,55 m.) GSB; 11,86 meg. (25,29 
m.) GSE; 15,14 meg. (19,82 m.) GSF. 
GSF emite até 23 hs.; GSE até às 
23 hs.; e GSB até às 23,30 hs. (Hora 
do Brasil). 

RECEBEMOS E AGRADECEMOS 

“Boletim em Português”, da BBC, 
de Londres, números 126 e 127. 

(Convites, consultas ou qualquer 
comunicação para esta secção, em 
em nome do cronista, devem ser diri- 
gidas a RESENHA MUSICAL, — 
Rua Cons. Crispiniano, 79, 8.° and.). 

Genésio Pereira Filho 






RESENHA MUSICAL 

Apreciada pelo mais importante diário de 
informações comerciais de São Paulo, “Comer- 
cio e Industria” — , em sua edição de 5-11-940, 
publicou sobre a nossa revista, um brilhante 
editorial, assinado pelo seu ilustre Redator- 
chefe, sr. Moacyr de Barros Mello. 



“RESENHA MUSICAL” 

Quando verificamos que, na im- 
prensa especializada, uma publica- 
ção, pelo esforço de seu diretor e 



acolhida de seus leitores, consegue 
triunfar, ficamos sobremaneira sa- 
tisfeitos. Satisfeitos, sim, porque te- 
mos visto dezenas de pessoas, tam- 
bém bem intencionadas, que se sa- 



Pág. 34 



RESENHA MUSICAI 



crificaram para obter leitores para 
sua publicação, e, às vezes, não ob- 
têm o resultado merecido: perden- 
do a coragem, ou porque não dispõem 
de recursos, abandonam o trabalho, 
quasi sempre com alguma mágua, de- 
cepcionados. 

E é por isso que, como dissemos de 
início, quando nas lides jornalísticas, 
vemos o triunfo de uma revista, já 
sabemos dos sacrifícios por que pas- 
saram os seus fundadores ou o seu 
diretor. 

Ainda, agora, recebemos um exem- 
plar da magnífica publicação “RE- 
SENHA MUSICAL”, editada e diri- 
gida pelo Prof. Clovis de Oliveira, in- 
telectual bastante apreciado em nos- 
sa terra. 

O número, em apreço, se refere às 
festividades havidas na redação da 
revista, por ocasião do seu II aniver- 
sário, quando se inauguraram, tam- 
bém, as suas novas instalações e o 
retrato do Dr. Getulio Vargas, DD. 
Presidente da República. 

Trata-se de uma publicação estri- 
tamente dedicada à música, à arte 
e à literatura. 

Está consagrada em todo o Brasil, 
como sendo uma revista indispensá- 
vel a todos quantos se dedicam à arte 
de Mozart, Bach, Beethoven, Chopin, 
etc. 

“RESENHA MUSICAL”, como 
bem frisou o Professor Clovis de Oli- 
veira, seu diretor, “pequena que era, 
se avoluma, cresce, agiganta-se sob 
o incremento e influxo de um ideal 
que não lhe é fictício, porque origi 
na-se dele, viverá dentro dele e o 
defenderá sempre, difundindo-o tan- 
to quanto possível : Nacionalizar, ins- 



truir e educar, pela música e pelo 
idioma do Brasil. 

Quem esse ideal abraça, persis- 
tente e dedicadamente, não pode fa- 
lhar, ao contrário, vence, como ven- 
ceu o nosso confrade Clovis de Oli- 
veira. 

Conta, ainda, “RESENHA MUSI- 
CAL”, com quadro de colaboradores 
dos mais brilhantes em nossa terra. 

O número que temos em mãos e 
que se refere aos meses de Julho a 
Setembro deste ano, além de ótima 
colaboração e noticiário, insere, em 
sua capa de frente, o retrato do in- 
signe e pranteado campineiro, o gran- 
de maestro CARLOS GOMES, que o 
mundo inteiro conhece e consagra. 

Ao Professor Clovis de Oliveira, 
pois, os nossos efusivos abraços, por 
tão brilhante vitoria, que vem alcan- 
çando e votos por que continue a es- 
palhar pelo Brasil afóra, através as 
páginas de “RESENHA MUSICAL”, 
os bons ensinamentos e a incentivar 
os artistas brasileiros a trabalharem 
para dar ao Brasil o fruto do seu 
labor e ao mundo a prova do que so- 
mos, na arte musical. 

Moacyr de Barros Mello” 



Leia e assine 

RESENHA MUSICAL 

A Revista Musical de Maior 

I 

, Circulação no país e no 

exterior 



Do Folclore Colombiano 



As Festas de São João 

Prof. Emirlo de Lima 
Bai’ranquilla, Colombia) , 
especial para “Resenha 
Musical” — Tradução de 
Genésio Pereira Filho 



Em outra crônica, referimo-nos ao 
inveterado costume que têm quasi 
todos os povos de nossa América Es- 
panhola. de eleger, por especial pro- 
tetor, a algum santo titular da Igre- 
ja. 

Os moradores do Bairro Sur, desta 
capital, têm a São Roque não só- 
mente como muito milagroso e com- 
placente, senão como um patrono, 
cuja proteção recebe a cidade, desde 
sua remota fundação. 

E. claro está, quando se aproxima 
16 de agosto, dia deste Santo, au- 
reolado de bondades e de ações ex- 
traordinárias, toda a cidade se move 
ao conjuro das vozes da tradição e 
dos écos das recordações; e as con- 
ciências religiosas e populares se des- 
pertam, adejadas por doces rememo- 
rações do passado. 

As buliçosas festas roquenhas se 
verificam ao largo da ampla ruh, 
onde se acha localizada a suntuosa 
Igreja de São Roque, administrada 
por Sacerdotes pertencentes à Or- 
dem Salesiana. O programa destes 
festejos se elabora com antecipação 
e na confecção do mesmo, intervêm 



respeitáveis senhores do comércio e 
de atividades industriais e sociais, 
aconselhados por elementos popula- 
res, chefes de grupos obreiros, conhe- 
cedores do bairro e das possibilidades 
folclóricas dos habitantes que mo- 
ram neste setor. A primeira cousa 
que se combina, na divisão ordenada 
do programa, é a parte encomendada 
à cúria: missas solenes, novenas, 
procissões, comunhões especiais, pa- 
negíricos a cargo de notáveis ora- 
dores, etc. 

Logo, segue a distribuição das ten- 
das e estalagens improvisadas ao 
largo de toda a rua da mencionada 
igreja. Bazares, vendas de comestí- 
veis e resfrescos, pequenas ferrarias, 
minúsculas tendas repletas de telas 
vistosas, sapatos, chapéus e outros 
objetos de vestir, restaurantes tro- 
picais, cantinas creadas à última ho- 
ra, mesas de jogo, etc., tudo isto 
se aperta em fileiras intermináveis. 
E, em frente a estes estabelecimen- 
tos de vida efêmera, se estabelece 
uma numerosas quantidade de agou- 
reiros, oradores populares, parolei- 
ros, pregoeiros, adivinhadores da sor- 



Pág. 36 



RESENHA MUSICAL 



te, narradores de historietas e ane- 
dotas e gente desejosa de seduzir os 
incautos, com suas narrações arre- 
piantes, com o fim de conseguir uns 
centavos, para continuar a festa. 

Como número terceiro dos festejos, 
figura o seguinte: no final da Rua, 
se erige um enorme aparato, feito de 
madeira ordinária, sôbre o qual apa- 
rece a Imagem de São Roque. Este 
aparato, chamado pelos habitantes 
da cidade “Castilho”, destinado a ser 
consumido pelo fogo, forra-se antes 
com foguetes, luzes de bengala e ou- 
tros cartuchos cheios de pólvora, obra 
dos senhores Altamiranda, mestres 
da pirotécnica local. Na noite da quei- 
ma, acodem a presenciar o luminoso 
espetáculo, milhares de espectadores 
ansiosos de emoções fortes. Fazem 
sua aparição, duas ou três bandas, 
que executam marchas ardorosas e 
em meio de um entusiasmo e de uma 
algaravia que raiam ao indizível, > 
encarregado de colocar fogo à mecha 
principal do castillo. cumpre sua mis- 
são. Os moços cantam de gosto, as 
donzelas lançam olhares e sorrisos 
de satisfação e os velhos suspiram, 
ao rememorar os tempos já idos, ern 
que iam com a companheira tomar 
parte nestas zambras “roquenhas”. 

A quarta parte do programa se re- 
fere à apresentação da tauromaquia 
local, durante oito dias consecutivos. 
Esta semana, consagrada à arte de 
lidar os touros, é indispensável aqui, 
porque a afeição a este espetáculo es- 
tá muito arraigado no temperamen- 
to dos filhos desta costa. As corridas 
se efetuam das 4 às 6 da tarde, na 
Rua da Igreja e os moradores se vêm 
obrigados, para defender suas casas 
das acometidas dos touros e dos atro- 
pelos dos espectadores, a construir 
sendos estacadas, frente às suas re- 



sidências. Durante estas lidas tau- 
rinas, sóe haver contundidos e feri- 
dos; mas, também a meúdo, o gran- 
de público que assiste a estas tardes, 
sóe contemplar assombrosas evolu- 
ções por parte dos improvisados lou 
reiros locais. 

A parte quinta das festas roque- 
nhas, interessa diretamente ao fol- 
clorista. E é a contribuição especial 
que prestam a estes festejos os nu- 
merosos trovadores, copleiros e mú- 
sicos ambulantes, instrumentistas 
boêmios que perambulam noites in- 
teiras no bairro, com guitarra ou o 
tiple nas mãos e seguidos de seus ad- 
miradores, improvisando versos e me- 
lodias, alguns dos quais resultam 
verdadeiramente felizes. Lastime-se 
que a maioria destas improvisações, 
as leve o vento. Por acaso, de tarde 
em tarde, algum viadante, observa- 
dor perspicaz ou admh*ador destas 
manifestações vernáculas, faz uso de 
seu lapis, para tomar ligeiros apon- 
tamentos. 

É bem sabido que, em toda nossa 
América Espanhola, dois dos princi- 
pais elementos, que hão de figurar 
sempre nestes festejos populares, são 
as abundantes comidas e bebidas, 
confecionadas saborosamente por 
competentes mestres da arte culiná- 
ria local. 

Cada região, comarca, setor, etc, 
tem suas bebidas e pratos prediletos. 

Apresentamos, em ordem, o menú 
corrente dos restaurantes típicos, que 
funcionam na Rua São Roque, duran- 
te a semana de festejos: 

Pasteis 
Butifarra (1) 

Pão recheiado 
Pescado em Escabeche 
Saladas 



1) — Nota do tradutor: “espécie de chouriço ou linguiça; pão dentro do 
qual se mete presunto e salada”. 



RESENHA MUSICAL Pag. 37 



Perú recheiado 
Galinha recheiada 
Fritos de arepas 
Carabanuelas (2) 

Filhós. 

Tudo isto, está claro, acompanhado 
de mazato, garapa gelada, chicha de 
arroz, essência de can.ela, cerveja, 
rum branco, rum velho, vinho, ani- 
sado e uma grande quantidade de re- 
frescos, feitos com diversas essên- 
cias. 

O PAU DE SEBO 

Como acontece em certas povoa- 
ções da França, o povo costeiro da 
Colombia gosta muito desta diversão. 

A vara de prêmios, entre nós, a 
forma uma vara muito alta e redon- 
da, untada de sebo, em cujo extre- 
mo se colocam guloseimas, vidrinhos 
de perfume e agua florida, bolsinhas 
com dinheiro, garafas de cerveja e 
outras coisas, para que os alcancem, 
trepando por êles, os afeiçoados a 
este esporte, que, no geral, são mo- 
ços hábeis nestas manobras. Com o 
objetivo de alcançar os prêmios, sem 
tantas dificuldades, costumam os ra- 
pazes encher os bolsos de areia fina 
e, durante a ascenção enchem as 
mãos desta terra, e, assim, segundo 
êles, agarram melhor e escorregam 
menos. No geral os primeiros que 
trepam pelo pau não chegam ao ex- 
tremo. A enorme quantidade de se- 
bo que é posta impedem a ascenção. 
Mas os últimos em trepar alcançam 
sua presa com relativa facilidade e 
não menos emoção. Tudo isto se faz 
também com música e entre furiosas 
aclamações e constantes alaridos por 
parte da grande massa assistente des- 
te desporto. 



OUTROS ESPETÁCULOS 
EMOCIONANTES 

Em outro sítio estratégico da rua, 
colocam-se vários barris, cheios de 
aparas de madeira. Depois de empa- 
par devidamente este material infla- 
mante de uma grande quantidade de 
petróleo, a um sinal combinado, os 
encarregados de fazê-lo põem fogo 
ao conteúdo dos barris. Consequência 
desta operação, são as enormes cha- 
mas que se formam em seguida. E, 
agora começa o verdadeiro espetá- 
culo forte. Os saltadores, já alinha- 
dos convenientemente, do outro lado, 
umas vezes com fortuna, outras em 
estado bastante deplorável. Depois 
do espetáculo, comenta o público 
quantos feridos e quantos queima- 
dos houve e quais dos concorrentes 
foram os mais valorosos. Os triunfa- 
dores são convidados a libar abun- 
dantes copos e os espectadores os 
aplaudem freneticamente. 

OS BAILES PÚBLICOS 

Esta parte do programa dos fes- 
tejos é também importantíssima. 

É curioso verificar como trata sem- 
pre o povo desta costa atlântica, de 
estabelecer distintas classes sociais 
entre êles. É este um costume que 
vem de tempos pretéritos. Todos os 
velhos costeiros recordam, por exem- 
plo, que faz uns lustros, durante as 
festas do Carnaval, enquanto uma 
parte dos empregados de navegação 
e dos artesanos de bôa educação, se 
.(ivertia e msalões arranjados espe- 
cialmente para ela, a outra classe 
obreira, menos considerada social- 
mente, não tinha abcesso a estes sa- 
lões. E, para o povo de baixa esfera, 
que era a última classe, construia-se 



2) — Nota do autor: croqueta de yuca ou batata recheiada e carne ou 
pescado. 



Pág. 38 



RESENHA MUSICAL 



por um contratante (o qual, para to- 
dos os gastos deste salão fazia uma 
coleta no comércio) um Salão Públi- 
co, situado na Rua de São Roque. 

Pois bem, durante as Festas a que 
fazemos hoje menção, ao tempo em 
que muitos elementos populares or- 
ganizam bailes e tertúlias em suas 
casas, é indispensável também a 
construção e o conseguinte ajuste da 
um Grande Salão Público, onde en- 
contram os pares populares, amplo 
campo para suas evoluções coreográ- 
ficas ... E, a uma distância de vá- 
rias quadras, se coloca também a 
Dansa da Cumbiamba, à qual os ele- 
mentos de menor categoria social as- 
sistem. Baile enervante, de ritmos 
africanos e melodias turbadoras, i 
Cumbiamba se prolonga até o ama- 
nhecer, entre demonstrações de ale- 
gria, gritos desafinados, incessante 
golpe do tambor e dos movimentos 
violentos e espasmódicos. 

o 

Com vossa permissão, amáveis lei- 
tores, trazemos, agora, outros écos 
de uma noite roquenha, captados 
frente a um grupo mosqueado de 
espectadores. 

A hora é radiante de júbilo e de in- 
quietudes. 

Brotam do conglomerado vozes so- 
noras e alegres. Acercam-se os hu- 
mildes trovadores, rapazes sadios do 
bairro, os quais, nesta hora enervan- 
te e apaixonada, vêm disparar as 
suas frechadas e galanteios, ou a con- 
tar-nos suas aflições e angústias. 

Revoltosas e expansivas, desfilam 
ante as retinas dos assistentes à fes- 
ta, as filhas do povo, enfeitadas de 
suas melhores galas. São objetos de 
estribilhos sazonados com pimenta, 
por parte de um poeta desconhecido, 
que se acha próximo de nós. Ameu- 
dam os brindes e as bebidas. O am- 



biente se abraza mais e mais. Aper- 
tam-se os pares. As bandas executam 
músicas violentas. O tambor retumba 
incessantemente. Da face dos espec- 
tadores, correm grossos fios de suor. 
Ouvem-se, então, não muito distan- 
tes, os estalidos dos fogos de artifí- 
cio e os écos das vozes dos pregoei- 
ros, que não cessam de proclamar a 
excelência dos produtos que ofere- 
cem à venda. 

Repentinamente, aparece em um 
alpendre um moço de bairro, que sa- 
be tocar a guitarra com regular des- 
treza e, possuído de grande fecundia. 
começa a improvisar com graça. Os 
assistentes disputam o palmo do ter- 
reno. rodeam o cantor e o aplaudem 
frenéticamente. Uma morena, com 
ademan comunicativo, lhe pede que 
cante novamente. 

NosBo homem lança um sorriso 
triunfal e, com um ar muito gitano. 
começa a trovar de novo: 

“Cuando quise no quisistes 
Eram mis penas tus glorias 

Y hoy que vós queréis 
Otra reina em mi memória.” 

E prosegue, entusiasmado: 

“No canto porque me oigan 
Ni porque mi gracia es buena 
Canto por divertirme 

Y darle alivio a mis penas.” 

“Los ojos de mi chinita 
Son ojos negros y azules 
Se parecen a los cielos 
Cuando se ocultan las nubes.” 

Agora, olhando a uma camponêsa, 
de negros olhos e oferecendo-lhe seu 
instrumento musical, lhe diz: 

“Quieres afinar la guitarra 
Con el más dulce son 
Con un son tan dulce 
Como tu corazón.” 



RESENHA MUSICAI 



Pág. 39 



Nêsse interim, um espectador lhe 
pede uma copla, a mais sentida, mais 
expressiva. Ele não tarda um instan- 
te em oferecer esta copla: 

“En la balanza de amor 
Me puse a pesar firmeza 
— Qué importa que el fiel sea 

[bueno 

Si la falia está en la pesa? 

o 

Existem outros detalhes, que con- 
tribuem ao bom êxito dos festejos. 
Por exemplo: a música dos concur- 
rentes aos desportos, os caprichos da 



indumentária feminina durante os 
bailes públicos, as novas composições 
musicais que são estreiadas, a deco- 
ração com que se engalana o Grande 
Salão Público, os chistes e as histo- 
rietas que contam os hazmereires (3) 
dos folguedos ,a combinação das lu- 
zes com que adornam a Igreja, a or- 
ganisação do trânsito de veículos pela 
rua onde se efetuam os números do 
programa elaborado, a ordenação do 
movimento desenfreado que agita 
convulsivamente aquela multidão 
que salta e grita, extende-se pela 
ampla rua, cheia de ansiedades que 
repercutem e se enlaçam de paixões. 



3) — hazmereires (nota do tradutor): “bobos, tolos, alvos da rizoti*’. 



Músicas novas 



RESENHA MUSICAL recebeu: 

HOMENAGEANDO A 
SUPERIORA 
J. Capocchi — 1940 
Ed. Música Para Todos 
— São Paulo — 

Um hino muito bonito para ser 
cantado pelas colegiais, à duas vozes 
iguais A letra é de Ikopac. O Maes- 
tro J. Capocchi é autor de outro hi- 
nos escolares e religiosos. Homena- 
geando a Superiora veiu aumentar 
valiosamente a rica e numerosa cole- 
ção de suas obras. 

Seis SONATINAS — 
CLEMENTI — 

Rev. Souza Lima — 

Edição I. M. C. 
n. 3.0Ò7 — São Paulo 

As SONATINAS de Clementi são 
como que um medicamento indispen- 



sável a todos iniciantes nos estudos 
pianístico e que atingem, vamos assim 
dizer, o l.“ gráu de seu adiantamen- 
to. Sôbre o valôr das mesmas, nada 
mais teremos a acrecentar às tan- 
tas apreciações feitas durante mais 
de cem anos à preciosa obra de Cle- 
menti. Apenas temos a salientar nes- 
ta nova edição da Impressora Mo- 
derna, de São Paulo, a excelência da 
moderna e minuciosa revisão feita 
pelo notável virtuose brasileiro 
Souza Lima. Podemos afirmar, sem 
receios de errar, que esta é a me- 
lhor edição nacional das SEIS SO- 
NATINAS DE CLEMENTI. 

Xisto BARRETO 

(Todas as obras para 
esta secção, devem ser en- 
dereçadas para Xisto Bar- 
reto, Resenha Musical — 
Rua Cons. Crispiniano, 79 
— 8.° and. São Paulo). 




A Maizena Brasil S/A 



CAIXA POSTAL 2972 SÃO PAULO 

Peço enviar-me, GRÁTIS, um Livro de Receitas com Maizena Duryea 

Nome 

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VARIAS... 



MUSICA POPULAR BRASILEIRA 

, Como adendo a linda conferência 
que publicamos no presente número 
sôbre MUSICA POPULAR BRASI- 
LEIRA, pronunciada pelo ilustre 
membro da Academia Paulista de 
Letras e da Escola de Belas Artes 
e nosso brilhante colaborador, dr. 
Ulysses Paranhos, transcrevemos o 
excelente programa que a ilustrou: 

1) Marcha (abertura), pela Orques- 
tra da A.E. A.S., sob a direção 
do Maestro Elias Machado; 

2) Discurso, dr. João Castellar Pa- 
din; 

3) 1.* Parte da Conferência, Dr. 
Ulysses Paranhos; 

4) Ilustrações musicais ao violão 
por um grupo de alunas da pro- 
fessora Julieta Corrêa Antunes: 

Igualdade ilusória — João Car- 
neiro ; 

Borboleta do Natal — autor igno- 
rado; 

Um fado — autor ignorado; 
Tayêras — autor ignorado; 
Batuque — Jamil Andraus; 
Gondoleiro do amor — autor ig- 
norado ; 

Chôro — autor ignorado; 

J. Carvalho — Tarde dourada; 

5) Intermezzo — pela Orquestra; 

6) 2.® Parte da Conferência, — 
Dr. Ulysses Paranhos; 

7) Canto pela sra. d. Carmen Dulce 
Marcondes Machado: 



J. B. Julião — O coração é um 
colibri ; 

M. Tupynambá — Canção da gui- 
tarra ; 

H. Tavares — Casa de caboclo; 

H. Tavares — Maria Rosa; 

M. Tupynambá — Versos escritos 
na areia; 

J. Carvalho — Tarde dourada; 

8) Sólos de piano pelo sr. Odmar 
Amaral Gurgel (Gaó) : 

E. Nazaret — Expansiva; Cario- 
ca; Amaeno resedá; Bregeiro; De- 
sengonçado; Confidências; Atrevido; 
Travesso; Apanhei-te cavaquinho; 

9) Canto pela sra. d. Celina Sam- 
paio (da Escola Vera Janaco- 
pulos) : 

M. Andrade — Róseas flores de- 
vorada ; 

F. Mignone — Improviso; 

Felix Otero — A flôr e a fonte; 
F. Braga — Engenho Novo. 

Os acompanhamentos ao piano fo- 
ram feitos pela srta. Haydée Mene- 
zes. 

DOM JOÃO BATISTA SCALABRINI 

RESENHA MUSICAL foi distin- 
guida com honroso convite para as- 
sistir a solene comemoração do Cen- 
tenário de nascimento do grande 
Bispo de Placência (Italia) e fun- 
dador da Pia Sociedade dos Missio- 
nários de S. Carlos, Dom João Ba- 






Pág. 42 



RESENHA MUSICAL 



tista Scalabrini, que realizou-se em 
2 de Outubro, às 20,30 horas, no sa- 
lão do Círculo Iitaliano. 

Do ótimo programa constaram nú- 
meros musicais a cargo das srtas. 
Henriqueta Peracchi, Lina dei Vec- 
chio, Margarida Nagy e Norma Cai- 
xe e srs. Armando Zóboli e Vasco 
Bianucci. 

O sr dr. Attilio Venturi fez por 
ocasião uma conferência sôbre a per- 
sonalidade e a obra de D. João Ba- 
tista Scalabrini. 

Numa das partes do programa três 
orfãzinhas do Orfanato Cristovão 
Colembo recitaram lindas poesias. 



Maestro Armando Lameira 

Deu-nos a honra de sua visita em 
30 de outubro, o Maestro Armando 
Lameira que se fez acompanhar pelo 
nosso prezado amigo e brilhante co- 
laborador, prof. dr. Artur de Macedo. 

Durante estes últimos meses visi- 
tou com êxito todas as cidades do 
norte e nordeste do país, realizando 
antes de vir a S. Paulo, dois impor- 
tantes concertos no Rio de Janeiro. 

O ex-aluno de Carlos Gomes, que 
frequentou o Conservatório de Be- 
lém, no tempo do saudoso e imortal 
compositor campineiro, completou 
seus estudos em Milão, com De Ao- 
gelis e Galli. 



Melodia 

Genésio PEREIRA FILHO 

(De “Cantos do Infi- 
nito ”, em preparo) 

Minha alma tinha vibrações de um 
estradivárius . . . 



Uma noite me disseste 
Que amavas a música, 

Que ela era a tua loucura 
E na obseção dos ritmos te sublima- 

[vas. . . 

Contaste-me que a música 
Aos céus te transportava 
E que em ascése vivias 
Quando uma serenata corria pelo 

[éter 

Ou quando uma valsa ouvias. 

Disseste ainda que amavas o violino, 
Que as vibrações de suas cordas 
Te faziam sonhar, 

Te faziam imersa em mundo subli- 

[me. . . 

Mas, o que não percebias 
Era que meu sêr soluçava, 

Pois se a música amavas, 

Não sentias os acordes que minha 

[alma 

Para ti guardava, 

Na vibração louca de um amor sem 

[éco. . . 

Não sondaste o violino 
Que eu tinha no coração, 

Não amaste as melodias de Cremona 
Que eu trazia para ti. 

Não percebeste que minha alma 
Tinha vibrações de um estradivárius, 
Que eram todas para ti 
E que já em mim perecem sem éco. . . 



Instituto Interamericano de 
Musicologia 

Realizou-se em 24 de Outubro, no 
Salão da Associação Cristã de Mo- 
ços, de Montevidéo, uma conferên- 
cia do sr. dr. Ralph S. Boggs, cate- 
drático de folclore da Universidade 
de Carolina, Estados Unidos, que dis- 
correu sôbre o têma: “O folclore nas 



RESENHA MUSICAL 



Pág. 43 



Américas”. O ilustre conferencista 
foi apresentado pelo sr. prof. Fran- 
cisco Curt Lange, DD. Diretor do 
Instituto Interamericano de Musico- 
logia. 

* Em 31 de Outubro, no Salão No- 
bre da Universidade de Montevidéo, 
promovido pelo Instituto Interameri- 
cano de Musicologia, o sr. Prof. Jos- 
sué Teófilo Wilkes, fez uma conferên- 
cia sôbre o têma: “Investigações so- 
bre a rítimica no Cancioneiro popu- 
lar argentino”. 



Audição de Alunos 

Com o concurso de um grupo de 
talentosos alunos, o sr. prof. Samuel 
A. dos Santos, realizou em sua resi- 
dência, em 26 de Outubro, uma audi- 
ção escolar. 

Tomaram parte no fino programa 
organizado, que constou sómente de 
números de piano, as srtas. Anezi» 
Serrati, Angela Cipic, Alice Sabagg, 
Joaninha F. Chiabotti, Nilce V. de 
Oliveira e o jovem Roque Amaral 
Gurgel Bueno Todos os números, sem 
exeção, lograram agradar o auditório, 
e os executores revelado grande pro- 
gresso pianístico e musical. 

RESENHA MUSICAL que se fez 
representar, agradece o convite en- 
viado e felicita o ilustre prof Samuel 
A dos Santos, pelo sucesso de sua 
1.* Audição de Alunos. 

Conservatório Musical “Carlos 
Gomes” de Campinas 

Dentre os poucos estabelecimentos 
de ensino artístico existentes no in- 
terior do nosso Estado, acha-se na 
vanguarda pelas suas realizações, o 



modelar Conservatório Musical “Car- 
los Gomes”, de Campinas, sob ins- 
peção preliminar Estadual. O referi- 
do estabelecimento de ensino artís- 
tico, realiziu em 31 de Outubro, uma 
brilhante audição infantil, na qual to- 
maram parte inúmeros alunos dos 
diversos cursos instrumentais do 
Conservatório. 

Vamos dar aqui o nome dos que fi- 
guraram no lindo programa: Léa Zi- 
giati, Mildrede Fernandes, Eunice 
Nogueira, Dirce Paulo, ClariceA. de 
Oliveira, Maria Stella Maia Grena- 
dier, Paulo Porter, Zica Amaral, Ma- 
ria H. Leme Franco Jorge, Edith Fer- 
raz de Abreu, Teresinha de Vito, Ru- 
bens do Amaral, Virgínia Nice Fer- 
raz Vilaça, Dirce e Nidia Jacobucci, 
Corrêa Rosa, Ivaní Corrêa, Pierina 
Maria H. Fonseca Sampaio, Dirce 
Tulio, Arací Tré, Arnaldo Peseiote, 
Lizete Marcondes Machado. 



Noivado 

Recebemos a participação do noi- 
vado da exímia pianista profra. Yole 
dos Santos Rodrigues, ilustre profes- 
sora do Curso Musical do Colégio 
Kemper e nossa digna representante 
em Lavras, Estado de Minas Gerais, 
com o sr. Diogo Dias Paes Leme. 

RESENHA MUSICAL agradecen- 
do, deseja felicidades aos jovens noi- 
vos. 

E. di Cavalcanti 



Com a presença de numeroso pú- 
blico, realizou-se em 15 de Outubro, 
a inauguração da primeira exposição 
do ilustre pintor E. di Cavalcanti, 
após o seu regresso da Europa. 



Pág. 44 



RESENHA MUSICAI 



A fina mostra de arte que esteve 
franqueada ao público pelo espaço de 
quinze dias, conseguiu despertar a 
atenção do meio artístico da Pauli- 
céia, pelo valôr das télas expostas. 




Frutuoso Viana 



Depois de percorrer algumas cídii- 
des do interior paulista, Campinas, 
Pirajuí, Araçatuba e Marilia, seguia 
para o sul do país o aplaudido pianis- 
ta Frutuoso Viana que dará concer- 
tos em Porto Alegre, Pelotas e Rio 
Grande. 



Igreja N. S. de Fátima 



Em 24 de Novembro, sob a dire- 
ção abalizada do prof. Frederico De 
Chiara, será cantada uma Missa da 
autoria do Maestro João Gomes de 
Araújo, na Igreja N. S. de Fátima, 
no Sumaré. 

Prestará o seu concurso a êsse fes- 
tival um côro de 250 vozes, que será 
composto pelas alunas da Escola Nor- 
mal “Caetano de Campos”. 



AUDIÇÃO ORFEÓNICA 



Como foi largamente noticiado pela 
imprensa diaria desta Capital, reali- 
zou-se em 25 de Outubro, às 16 ho- 
ras, no Salão Nobre do “Circolo Ita- 
liano”, uma audição orfeônico- in- 
fantil, promovida pelo Departamen- 
to de Educação, dedicada à impren- 
sa e aos educadores. 

O programa constituído de contos 
educativos e que esteve a cargo do 
Orfeon do Grupo Escolar “Eduardo 
Prado”, sob a regência do Maestro 
Fabiano Lozano, Chefe de Música e 
Canto Coral, foi o seguinte: 

1) Meu professor — F. Lozano; 

2) Amigos — Folclórico; 

3) Brincar e cantar — Folclórico; 

4) A casinha branca — Folclórico; 

5) Jagunço — Folclórico; 

6) O bem-te-vi — F. Lozano; 

7) Dádiva do coração — Folcló- 
rico; 

8) O filho do jangadeiro — F. Lo- 
zano : 

9) O pequenino vendedor de jor- 
nais — L. Beethoven; 

10) Pela Pátria - A. Carlos Gomes. 

Sob a admiravel regência do prof. 
Fabiano Lozano, os pequenos esco- 
lares após a leitura dos contos infan- 
tis que precederam os cantos e por 
cujos assuntos se achavam ligados 
entre si, cantaram de maneira segura 
e encantadora as dez pequenas joias 
que compuzeram o lindo programa. 

RESENHA MUSICAL agradece o 
honroso convite do sr. dr. Romano 
Barreto, dd . Diretor do Departa- 
mento de Educação, para assistir a 
. eferida audição, à qual se fez re- 
presentar. 



RESENHA MUSICAI 



Pág. 45 



MAESTRO FABIANO LOZANO 

visitou o Orfeon Infantil do 
Grupo Escolar “João Vieira” 

Visitou o Grupo Escolar “João 
Vieira de Almeida”, desta Capital, 
em fins de Outubro, o ilustre Chefe 
de Música e Canto Coral do Depar- 
tamento de Educação, prof. Fabiano 
Lozano. 

O fim principal de sua visita foi 
ouvir uma demonstração do Orfeon 
Infantil do referido Grupo Escolar, 
que obedece a criteriosa e competente 
direção da profra. Nair de Oliveira. 
Foi executado um ótimo programa 
musical, durante o qual foi oferecido 
um fino ramalhetes de rosas ao digno 
visitante. 

A reunião agradou sobremaneira 
ao ilustre visitante, que teve palavras 
de entusiasmo pelo que lhe foi dado 
ouvir. RESENHA MUSICAL, espe- 
cialmente convidada fez-se represen- 
tai'. 



PUBLICAÇÕES RECEBIDAS 



“Gazeta de Paraopeba” — jornil. — 
Paraopeba, Minas Gerais; 

“Revista Bridge” — n.° 7 — Setem- 
bro - 1940 — S. Paulo; 

“Cultura” — revista do Centro Nor- 
mal de Cultura, n.° 2 — Setem- 
bro de 1940 — Limeira; 

“O Democrata” — jornal, Jabotica- 
bal ; 

“Belas Artes” — Agosto e Setem- 
bro - 1940 — Ano VI — n.° 61- 
62 — Rio de Janeiro; 



“Comércio & Indústria” — boletim 
diário de informações de São 
Paulo — Diretores: José dos 
Santos Júnior e Moacyr de Bar- 
ros Mello; 

“Ciências e Letras” — órgão da Aca- 
demia de Ciências e Letras, de 
São Paulo — Tomo VII - 1940 
— Ano IV — Diretor: Dr. Ma- 
nuel Viotti; 

“Tribuna de Batatais” — jornal — 
Batatais — São Paulo; 

“Música Viva” — orgão do Grupo 
Música Viva — Ano I - n.° 5 — 
Outubro - 1940 — Rio de Ja- 
neiro. 



ANIVERSARIO DA INDEPEN- 
DÊNCIA DE HONDURAS 

Em regosijo pela passagem do ani- 
versário da Independência da Repú- 
blica de Honduras, 15 de Setembro, 
o Cônsul de Honduras, sr. prof. Emir- 
to de Lima ofereceu ao Governador 
do Departamento do Atlântico e de- 
mais autoridades civis e militares co- 
lombianas, uma brilhante recepção 
da qual transcrevemos o programa 
musical : 



Primeira parte 

1 — Hino Nacional de Honduras, 

Cantado pelo Côro do Colégio 
Atlântico e violino por don Víc- 
tor M. De Andreis. 

2 — Hino Nacional da Colombia, 

Cantado pelo mesmo Côro. 

3 — Palavras do Cônsul de Hondu- 



ras. 



Pág. 46 



RESENHA MUSICAI 



Segunda parte 

1 — Tu alma, Lied de Eduardo Sán- 

chez de Fuentes (Cuba), 
Interprete: Barítono Paco de la 
Riera. 

2 — Mirra, de Guillermo Bustillo 

Reina (Honduras) 

Valle de Lepaguare, de Froy- 
lán Turcios (Honduras) 

Ave Maria dei Mar, de Rafael 
Heliodoro Valle (Honduras) 
Intérprete : Senorita Carmen 

Cajeli. 

3 — Balada Mexicana, de Estanis- 

lau Mejía (México) 

Intérprete: Senorita Margarita 
Olano. 

4 — Marujita, de Maria Luisa Es- 

cobar (Venezuela) 

Intérpretes: Coro dei Colégio 
dei Atlântico 

Solista: Srta. Flor Tovar 
Violino: Don Víctor M. De An- 
dreis. 

5 — Caneión Brasilena, de Francis- 

co Mignone (Brasil) 

Intérprete: Barítono Paco do 
la Riera. 

6 — Dulce, pequena mia, de Emirto 

de Lima (Colombia) 
Intérprete: Senorita Margarita 
Olano. 

7 — Zamba de Rosarito, de Felipe 

Boero (Argentina) 

Intérprete. Sefiora D R Matilde 
Florido. 

8 — Preludio, de Pedro Humberto 

Allende (Chile) 

Intérprete: Senora D a Matilde 
Florido. 



RESENHA MUSICAL 

póde ser adquirida em 
qualquer casa de música 
ao preço de 3$000. 



FALECIMENTO 
Maestro Sílvio Motto 

Faleceu em 9 de Novembro, às 22 
horas, nesta Capital, o conhecido 
maestro Sílvio Motto, competente e 
estimado professor do Conservatório 
D. e Musical de São Paulo. Deixou 
viuva a sra. d. Ada Cantagno Motto 
e dois filhos: Renato e João. 

O féretro, com grande acompanha- 
mento, saiu da residência da família, 
à rua D. Inácia Uchôa, n.° 1, para o 
cemiterio de Vila Mariana 

RESENHA MUSICAL, ao trans- 
mitir a infausta noticia aos seus lei- 
tores, o faz profundamente pesarosa 
porquanto o maestro Sílvio Motto 
foi um dos seus grandes amigos, dos 
primeiros a apoiarem o aparecimen- 
to de RESENHA MUSICAL, tornan- 
do-se posteriormente seu assinante, 
logo que esta revista entrou em nova 
fase de vida. Admirado sempre pe- 
las suas invulgares qualidades de ci- 
dadão e pela cultura musical brilhan- 
te que possuia, o maestro Sílvio Mot- 
to possuia largo círculo de admira- 
dores e amigos. Professor dos mais 
afeiçoados ao magistério, labutou du- 
rante longos anos no Conservatório 
desta Capital, tendo passado por suas 
mãos um plêiade de jovens que atual- 
mente divulgam a arte musical com 
a mesma bôa vontade e confiança, 
herdadas do mestre incansável. Ins- 
pirado compositor, deixou numerosas 
óbras das quais muitas publicadas pe- 
las principais editoras do país. 

À distinta Família enlutada, RE- 
SENHA MUSICAL apresenta senti- 
dos pézames, que torna extensivos a 
Direção e ao Corpo Docente do Con- 
servatório D. e Musical de S. Paulo. 



I 



PA G I N A 
INFANTIL 




Precocidade de João Sebastião Bach 

João Sebastião Bach, para apren- 
der a música, teve que lutar com os 



Passagem do 
batalhãosinho 

— Clovis de Oliveira — 

(para piano — duas mãos) 




“A mais linda estilisação dos nossos 
batalhões infantis”. 

Nova Edição — Preço 3$000 

Pedidos á Redação de “RESENHA 
MUSICAL” ou ás melhores casas de 
musica. 



seus parentes e irmãos, ardentemen- 
te. 

O seu irmão mais velho Cristovão 
Bach, que era um excelente organis- 
ta, enciumara do talento musical do 
menino e procurou por todos os meios 
impedir-lhe o desenvolvimento. Ocul- 
tou-lhe das vistas uma importante 
coleção de músicas para cravo, de 
compositores notáveis. 

Sebastião, que era uma criança 
muito viva, descobriu o livro que os 
irmãos esconderam em um armário 
velho e, cautelosamente, levou-o para 
o seu quarto. Aí procurou copiá-lo. 
sem véla, apenas à luz dos longos 
crepúsculos do verão e da lua. Mas 
quando copiava com entusiasmo, pa- 
recendo-lhe ouvir uma orquestra di- 
vina, o garoto é surpreendido pelos 
irmãos que o invejavam. Imediata- 
mente toma a cópia e o original e os 
destróe em frente mesmo do pequeno 
João. 

Mas nenhum obstáculo impediu que 
o talento do pequeno músico se desa- 
brochasse. E é daí então que procura 
com mais ardor o estudo musical e 
vamos encontrá-lo aos 18 anos, mes- 
tre da Côrte de Weimar. Foi um gran- 
de organista e um dos maiores com- 
positores de todos os tempis. 





Pág. 48 



RESENHA MUSICAL 



Alfredo Luiz 

Aluno da profra. sra. Ondina F. 
Bonora de Oliveira, Alfredo Luiz Ca- 
rona da Silva, vem apresentando 




reais progressos em seus estudos mu- 
sicais, podendo, embora com três me- 
ses de estudos, apenas, executar ao 
piano lindos trechos para encanto de 
seus pais, o distinto casal Pinto da 
da Silva, e de seus amiguinhos. 

Alfredo Luiz comemorou em 14 de 
Outubro, mais uma data natalícia, 
completando oito primaveras. 

Bravos ! RESENHA MUSICAL 
felicita efusivamente o pequeno pia- 



PIANO 

Vende-se um piano alemão para 
estudos. Bom estado. Informa- 
ções na Redação de RESENHA 
MUSICAL 



nista e publica o seu retrato para tor- 
ná-lo conhecido de todos os meninos 
e meninas, amiguinhos desta “Pági- 
na Infantil”. 

RESENHA MUSICAL 

homenageada pelo orfeon infantil do 

Grupo Escolar “João Vieira de 
Almeida” da Capital 

Em 28 de Setembro passado, às 
ln horas, à convite do DD. Diretor 
do Grupo Escolar “João Vieira de 
Almeida”, sr. prof. Hermelino Gon- 
çalves Corrêa, a direção deste mer- 
sário de arte, visitou aquele impor- 
tante estabelecimento de ensino pri- 
mário desta Capital. 

Recebidos pelo sr. Diretor e auxi- 
liar, os Diretores de RESENHA MU- 
SICAL, sr. prof. Clovis de Oliveira e 
Sra., percorreram o lindo edifício e 
admiraram suas modernas instala- 
ções, depois do que foi dado ouvir o 
Orfeon Infantil do Grupo, que pres- 
tou, por ocasião, uma significativa 
homenagem aos ilustres visitantes. 

Foi executado o seguinte progra- 
ma: 

Hino Nacional Brasileiro — Fran- 
cisco Manuel) ; 

Hino João Vieira (arranjo de Nair 
de Oliveira) ; 



C h o p i n 

Chopin gostava muito de traçar 
caricaturas e mais ainda em repro- 
duzir os gestos e atitudes dos pianis- 
tas mais em moda. Quando menino 
êle macaqueava os professores do co- 
légio; enfiando na cabeça uma pena 
fingia o Pastor Tetzel a predicar ns 
igreja. 




RESENHA MUSICAL 



Pág. 49 



Tutú Marambá; 

Sino da Capéla — João Gomes Ju- 
nior; 

Nosso Brasil — recitativo, — me- 
nina Maria Ramos; 

O sininho — 4 vozes; 

Baile na flôr — João Gomes Ju- 
nior; 

Felicidade — B. Netto; 



te entusiasmo em beneficio da arte 
musical entre os escolares. 

Entre os aplausos dos ouvintes e 
das colegas, a graciosa menina Nor- 
ma Pinto leu o delicado discurso que 
transcrevemos : 

“Exmo. Sr. Diretor Hermelino 
Gonçalves. 




Orfeon Infantil do Grupo Escolar “João Vieira de 
Almeida”, da Capital 



Os toureiros — recitativo — me- 
nina Maria Rosa; 

Sabiá — João Gomes Junior; 

Os gatinhos — 4 vozes; 

Patria — recitativo — menina 
Ivete Giraldes ; 

Barcarola — Ao mar — Ofembach. 

Todos os números foram muito 
apreciados pelos presentes que não 
negaram aplausos ao Orfeon e a sua 
inteligente, competente e esforçada 
jegente, srta. profra. Nair de Olivei- 
ira que demonstrou cabalmente os 
resultados de seu vibrante e eficien- 



Exma. Professora Auxiliar da Di- 
reção. 

Exmo. Professor Clovis de Olivei- 
ra e Exma. Esposa, dignos Diretores 
de RESENHA MUSICAL. 

É de alegria e festa a nossa reu- 
nião. 

Alegria e festa, por termos a opor- 
tunidade de cumprimentar-vos neste 
risonho dia de vossas visitas ao nos- 
so caro Grupo Escolar e a criançada 
estudiosa. 

Como musicistas que sois, sabeis 
perdoar as nossas falhas e bem as- 



Pág. 50 



RESENHA MUSICAI 



sim sentireis a sinceridade de nossos 
sentimentos nestas palavras que vos 
dirijo. Elas não aumentam a gloria 
dos vossos nomes, mas a nossa ale- 
gria em vos receber, enchem de en- 
tusiasmo os nossos corações que já 
compreendem o que é Grande e o 
que é Bélo. 

Na nossa modéstia oferecemos da 
nossa alma, estas flores ungidas de 
nossos beijos que com juvenil entu- 
siasmo vos oferecemos neste dia fes- 
tivo pedindo a Deus que faça os nos- 
sos gentis visitantes felizes, muito 
felizes, para alegria de nossos cora- 
ções.” 

Usou da palavra a seguir o sr. prof. 



Hermelindo Gonçalves, DD. Diretor 
do Grupo Escolar “João Vieira”. 

Afim de agradecer as palavras bo- 
nitas da pequena escolar e as refe- 
rências do Diretor do Grupo, falou 
então o sr. prof. Clovis de Oliveira 
que disse da magnífica impressão 
que levava e formulou votos para que 
o Orfeon Infantil daquele Grupo, con- 
tinuasse a progredir cada vez mais, 
para exemplo aos congêneres desta 
capital e do interior. 

Após as palavras do Diretor de 
RESENHA MUSICAL e do Diretor 
do Grupo, que encerrou a sessão, foi 
batida uma chapa fotográfica do ex- 
plêndido conjunto vocal. 




Ensino de Piano 

Curso Infantil Espe- 
cializado 

Profra. Sra. 

Ondina F. Bonora 
de Oliveira 

* 

Rua Dona Elisa, 50 - 
(Perdizes) 

Fone: 5-5971 
S. PAULO 



FINADOS 



O tumulo, o objetivo desta data, 
vem de proclamar o zenith dos maio- 
res sentimentos universais. O dia 2 
de novembro que desde as épocas re- 




Tumulo de Francisco Manuel 
Cemiterio Catumbí — Rio 



Extratos de um Discurso 
do saudoso Prof. AMA- 
RO EGYDIO DE OLI- 
VEIRA. 



motas fôra escolhido para os vivos 
entenderem-se com os mortos, não 
podia passar em pecaminoso esque- 
cimento. 

“Se os chinezes no dia de hoje, fa- 
ziam os espíritos ou as almas, as v-, 
lentes sentinelas de suas muralhas 
inexpugnáveis; se os Drávidas pro- 
curavam nos mortos qualidades béli- 
cas que experimentavam; se o S. 
Odilon, nos ano mil, encorporou-o no 
Calendário Católico, organizando as 
romarias evangélicas, perpetuando 
os feitos dos mortos, é claro que nós 
não poderiamos esquecer-nos dos 
mortos que são a égide das refor- 
mas sociais exigidas pela luz suavís- 
sima do progresso, dando uma prova 
cabal da grandesa de sentimentos 
que professamos. Negamos em ab- 
soluto o fetichismo e as vilanias de 
preconceitos, que as doses quinadas 
das antigas opressões vieram exta- 
siar-se ante a potência do exemplo 
de abnegação que havemos dado pro- 
vas! Não. Nós só aceitamos a luz 
que espanca as trevas; a paz que 
equilibra as forças onipotentes da 
terra, do mar e da exhuberancia da 
natureza que sobrepuja o escopo de 



Pág. 52 



RESENHA MUSICAI 



fidalguia que foge espavorido as cre- 
dencias do rei Leal ! Sim ; aceitamos 
a justiça, o direito, como liames es- 
senciais da estabilidade do Univer- 
so!” 

“Mas, a justiça humana é tardia, 
porém certa, porque é a verdade saí- 
da das páginas da historia. 

Onde pairam as grandezas do3 an- 
tigos potentados, que ufanavam-se 
de ter o destino do mundo encerrado 
em suas mãos? Eles jazem no eter- 
no esquecimento. Os fracos, suas 
vítimas imoladas nas chamas das fo- 
gueiras, revivem no desenvolvimen- 
to das nações e eles, pobres míseros 
de seu poderio, ficaram alroquelados 
nos doestos malditos dos filhos da 
Luz. 

Uma geração ficou e outra seguiu. 

Uma estafou-se com a lei viva dos 
Cezares e outra arvorou-se com o di- 
reito da razão dos Antoninos! Uma 
glorifica-se com a crueldade de Fe- 
lippe — o Belo e Gregorio VII, outra 
ergue os manes de Jeronimo Nocau- 
ley, de João Hus, que a sanha inqui- 
sitorial tragou na voragem de um 
vulcão. 

Uma bebeu no martiriológio a 
constância e a perseverança, nifi- 
cando a patria, a família e a socie- 
dade, como átomos indissolúveis da 
humanidade e outra encafuou-se na 
casta, no previlegio, nos tronos °om 
resplendores de sua corôa, morreu, 
extinguiu-se, submersa na poeira que 
os seus galardões e ouropéis produ- 
ziram ao esbandalhar o cétro em 
suas próprias mãos. 

A ultima está morta fatalmente, 
porque traz em suas tradições .« n> 
bresa e os reis e outra vive forte e 
possante com divindade de suas es- 
peranças, avançadas e vencedoras 
com a democracia e com o povo! 

Deixemos, pois, as lagrimas de 
sangue, vertidas sobre as montanhas 



de luzes — que são as ciências — e 
caminhemos firmes e resolutos com 
suas vidências pregando o evangelho 
do futuro que é o sentimento do bem, 
da caridade e da igualdade. 

Obreiros que dormis o sôno eter- 
no, que fostes o consolo dos aflitos; 
o balsamo suavisante das feridas mal 
saradas, recebei a saudade que pun- 
ge o nosso coração como expressiva 
veneração em considerar-vos os nais 
finos brilhantes da corôa da Huma- 
nidade. 

Veneremos a saudade: que a Hu- 
manidade está de luto!” 



Prêmio "Pró Música”, 
para violinistas 

Promovido pela Sociedade Propa- 
gadora da Música Sinfônica e de Câ- 
mara, do Rio de Janeiro, deverá rea- 
lizar-se na segunda quinzena de De- 
zembro, em data e local que serão 
previamente comunicados aos con- 
correntes e ao publico, um concurso 
violinístico para a disputa do valio- 
so Prêmio “Pró Música”, que conr- 
tará de um violino Guido Pascoli. 

As inscrições serão recebidas até 
o dia 30 de Novembro próximo. A 
Redação de RESENHA MUSICAL 
dará todos os esclarecimentos aos in- 
teressados. 



Composto e impresso 
nas oficinas gráficas 
do LEGIONÁRIO — 
Rua Imaculada Con- 
ceição, 59 — Telefone 
5-1536 — S. PAULO 



Edições Músicais 



ENSAYOS SOBRE LA MUSICA 
NASCA — André Sas — Separa- 
ta da Revista do Museu Nacional 
de Lima, Perú, Tomo VIII, n.° 1. 



Antes de tecermos alguns comen- 
tários à cerca da valiosa óbra “Ensa- 
yo sobre la música nasca”, falare- 
mos, embora rapidamente, sobre a 
personalidade de seu autor, o ilustre 
maestro André Sas. 

André Sas, nasceu em Paris, em 
6 de Abril de 1900. Fez seus estu- 
dos musicais na Academia de Músi- 
ca de Anderlecht — Bruxelas e no 
Real Conservatório de Bruxelas. Lau- 
reado por diversos primeiros prê- 
mios, recebeu particularmente con- 
selhos e ensinamentos de Johan 
Smitt (violino) e Maurice Imbert, 
de Paris (Harmonia, Contraponto e 
Fuga). Dedicou-se primjeiramente 
ao magistério musical, ensinando vio- 
lino na Escola de Música de Forest- 
Bruxelas, atuando seguidamonte, 
como solista na Sociedade Nacional 
de Compositores Belgas, da qual é 
hoje Membro Honorário. 

Veiu para a América do Sul, em 
1924, contratado pelo Governo da Re- 
pública do Perú, para reger as clas- 
ses de violino e dirigir os Concertos 
de Música de Camara na Academia 
Nacional de Música e Declamação de 
Lima. Sua operosidade no campo ar- 
tístico musical peruano tem sido uma 
continuação de sua atividade inicial 
nos centros de arte do Velho Mundo. 



Prof. Clovis de Oliveira 



Pela cultura, inteligência e trlaba- 
lho — três qualidades brilhantes 
que orlam rica e invejavelmente sua 
vida, dando-lhe as láureas da admi- 
ração pública e o respeito do meio 
intelectual americano — André Sas 
é membro honorário de inúmeras aca- 
demias e instituições de arte espalha- 
das pelos continentes. Tem publica- 
do muitas obras para piano e violi- 
no e mantem, ainda inéditas, muitas 
outras. 

Segundo a opinião abalizada do 
prof. Rodolfo Barbacci, nosso bri- 
lhante colaborador, residente em Li- 
ma, André Sas é um dos maiores mu- 
sicistas com que conta o Perú pre- 
sentemente. 

André Sas depois de ter fixado 
residência no Perú, voltou suas vis- 
tas para o estudo do folclore perua- 
no, investigando com argúcia e sa- 
bedoria os motivos e instrumentos 
musicais. Como resultado de uma 
dessas afanosas investigações, o es- 
tudo “Ensayo sobre la música nas- 
ça”, que publicou na Revista do Mu- 
seu Nacional de Lima, Tomo VIII, 
n.° 1, e, agora, em Separata. 

O autor inicia seu trabalho agra- 
decendo o erudito Diretor Geral dos 
Museus Nacionais do Perú, dr. Luis 
Valcárcel, por haver facilitado o exa- 



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RESENHA MUSICAI 



me, sem restrição alguma, dos instru- 
mentos pre-incaicos que se acham 
expostos aos olhos do público que 
visita diariamente o Museu Nacional 
de Arqueologia de Lima. 

“Entre os instrumentos construí- 
dos no Perú, desde a época pré-his- 
panica até nossos dias, os da civili- 
zação nasca são indubitavelmen e de 
um modo geral e desde o exclusivo 
ponto de vista musical, os mais in- 
teressantes”. E somente deles e uni- 
camente dos sucetíveis de reproduzir 
uma melodia, o autor faz uma rela- 
ção longa e preciosa. 

Segundo o autor, seu principal ob- 
jetivo foi estabelecer que a música 
dos Incas não foi a única que encar- 
tara os ouvidos peruanos pré-colom- 
bianos. 

Depois de vários argumentos so- 
bre a arte musical dos Incas, relata 
os únicos instrumentos cantantes co- 
nhecidos pelos antigos peruanos :Ke- 
na, flauta vertical e Antara flauta 
de Pan. Ambas de metal ou de ter- 
racota ou, ainda, construídas com ca- 
nas ou óssos. E a Ocarina, feita ge- 
ralment com terracota. A seguir o 
sr. André Sas estuda em análise téc- 
nica, vinte e oito antaras, inclusive 
as escalas que cada uma delas ainda 
são capazes de reproduzir, embora 
mutiladas pelo tempo. É neste ponto 
que a óbra de André Sas torna-se 
inestimável, substanciada por exem- 
plos musicais e táboas comparativas, 
inclusivé ilustrações. 

Podemos apreciar o admiravel es- 
tudo do prof. André Sas, como um 
importantíssimo prelúdio — bem as- 
sentado nas suas bases técnicas — 
às futuras investigações que serão le- 
vadas a efeito na República perua- 
na, cujo povo na opinião do autor, 
“é um dos mais artistas da América 
toda e, talvez, do mundo”. 



PROGRAMA - GUIA PARA O 

Curso Fundamental 
de Piano 

José Capocchí — 1940 
Ed. Musica Para Todos 



Os proprietários da Casa Música 
Para Todos editaram um programa 
para o ensino do piano, dedicado ao 
Curso Fundamental. 

Assunto especializado, a organiza- 
ção de um programa de ensino musi- 
cal, devia competir exclusivamente 
às escolas de música, porém, até ho- 
je essas escolas, com algumas res- 
trições naturalmente, nunca cuida- 
ram de organizá-lo devidamente com 
obras nacionais ou revisões de pro- 
fessores brasileiros, motivo pelo qual 
a Casa Música Para Todos resolveu 
incumbir o sr. José Capocchi para 
reunir num plano mui bem traçado, 
o material de ensino para o curso fun- 
damental do piano. 

“Todos os professores de piano, 
não sómente os particulares, mas es- 
pecialmente os professores de colé- 
gios, farão obra de patriotismo, pas- 
sando a adotar este programa que 
inclui em grande maioria métodos 
impressos no Brasil, programa que. 
aliás, nada deixa a desejar sob o pon- 
to de vista técnico”. Com estas pa- 
lavras é apresentado ao público pela 
casa editora, o pequeno opúsculo. 

Adotar livros didáticos de autores 
nacionais ou revistos por professo- 
res também nacionais, é criar uma 
independência que carecemos pelo 
progresso da arte musical e, mesmo, 
do comércio editorial, entre nós. Eis 
a razão pela qual a iniciativa da Mú- 
sica Para Todos, é louvabilíssima. 



f^uccíní na intimidade 



Puccini era natural de Lucca, on- 
de nasceu a 23 de Dezembro de 1858, 
sendo seus paes o maestro Miguel 
Puccini e D. Albina Maggi. 

Entre os antepassados do autor de 
“Boheme” e de “Gianni Schicchi”, 
contaram-se vários musicistas, quer 
executores, quer compositores. 

Desde a mais tenra infanda, Puc- 
cini cultivou a musica, demonstran- 
do magnifica aptidão para a execu- 
ção do orgão. Em 1877 a municipa- 
lidade de sua cidade natal instituiu 
um curso para a composição de um 
hino sobre a letra “I figli dTtalia 
bella”. Puccini apresentou-se ao con- 
curso e a composição com que con- 
correu não foi premiada, voltando ele 
a seu estudo. Em seguida a este pri- 
meiro concurso compoz Puccini um 
“motteto”. 

Um dia em que, a pé se dirigia pa- 
ra a cidade de Pisa, afim de assistir 
a uma representação da “Aida”, foi 
tal sua impressão sobre a velha ope- 
ra de Verdi e o seu desejo de conhe- 
cer o grande compositor, que essa 
idéa ficou firme em seu cerebro. A 
sua familia, entretanto, não queren- 
do afasta-lo dos estudos já iniciados, 
resolveu pedir o auxilio da rainha 
Margarida, que foi solicita em con- 
seguir uma matricula para Puccini, 
numa escola de Milão. O jovem 
maestro ficou contentíssimo, pois 
Verdi alí se achava. Decorrido o pri- 
meiro ano e terminada a pensão real, 
que era sómente para aquele prazo, 
Puccini com o auxilio de um seu tio, 
estudou os dois anos que faltavam 
para a terminação do curso prelimi- 



nar, matriculando-se, em seguida, no 
Conservatorio de Milão, no qual fez 
intima amizade com Mascagni, Cata- 
lani, Bazzini e Ponchielli. Nesse tem- 
po, Puccini escreveu um “Capricho 
Sinfônico”, que causou grande sucés- 
so, sendo proclamado como verdadei- 
ra revelação, tanto que a casa musi- 
cal da Viuva Lucca, de Milão, a com- 
prou para edita-la. 

Saboreando aqueles aplausos, Puc- 
cini sonhou com um publico bem 
maior do que o que elogiava o seu 
“Capricho”, e no firme proposito de 
agradar às multidões, compoz, sobre 
o libreto de Ferdinando Fontana, a 
opera “Villy”, que foi lida em pre- 
sença de Arrigo Boito. 

O empresário Stefanoni po-la em 
cêna, a 31 de Maio de 1884, perante 
um publico numerosíssimo. O sucés- 
so foi completo e Puccini foi obriga- 
do a comparecer à cêna 18 vezes con- 
secutivas. O final do primeiro áto 
foi repetido tres vezes. 

Morrendo, logo depois, a sua pro- 
genitora, Puccini ficou inconsolável e 
desesperado, só encontrando lenitivo 
no trabalho. Nessa época produziu a 
opera “Edgard”, drama lírico em 4 
atos, representado no Teatro Scala, 
sem sucésso. Compoz pouco depois a 
“Manon Lescaut”. As sucessivas 
obras de Puccini nasceram na sua 
quinta de Torre dei Lago, situada 
entre Lucca e Viareggio. Foi na- 
quele tranquilo logar que viu a luz 
“La Boheme”, opera em 4 atos, so- 
bre libreto de Giacosa e Illica e ex- 
trahida da “Vie de Boheme”, de 
Murger. 



Pág. 56 



RESENHA MUSICAL 



Apresentada no Teatro Regio, de 
Turim, no dia l.° de Fevereiro de 
1896, sob a batuta de Toscanini, al- 
cançou um sucésso fantástico. A se- 
guir foram musicadas: “Tosca”, 

drama lírico em 3 atos, de V . Sardou, 
lllica e Giacosa, representado no Tea- 
tro Costanzi de Roma, a 14 de Janei- 
ro de 1900, sob a direção de Leopol- 
do Mugnone; “Madame Butterfly”, 
tragédia japoneza em 3 atos, de lllica 
e Giacosa, representada perante um 
público hostil, no Scala de Milão, no 
dia 17 de Fevereiro de 1904. Repre- 
sentada novamente, depois de ligei- 
ramente modificada, a 28 de Maio 
daquele ano, no Teatro Grande, de 
Brescia, obteve enorme sucésso; 
“Fanciulla dei West”, opera em 4 atos, 
representada pela primeira vez no 
Metropolitan de Nova York, a 10 de 
Dezembro de 1910. 

As mais recentes operas de Pucc 1 - 
ni são: “La Rondine”, escrita sobre 
libreto de Adami, representada no 
Teatro de Monte Cario, no dia 28 de 
Março de 1917, sob a direção de Ma- 
rinuzzi; O Tríptico: “Soror Angéli- 
ca”, em um ato. de Forzano; “II Ta- 
barro”, em 1 ato, de Gold; e “Gianni 
Schicchi”, que alguns criticos julga- 
ram como obra prima. 



Puccini foi um grande amigo dos 
humildes. Durante os anos que vi- 
veu em sua quinta de “Torre dei La- 
go”, manteve a mais cordial cama 
radagem com pescadores, caçadores 
e barqueiros dos arredores. Gran- 
de amador de caça e da pesca, as 
horas que seus trabalhos e estudos 
lhe deixavam livres, empregava-as 
ele em excursões pelos arredores, ou 
em passeios cinegéticos por entre as 
moitas de caniços do tranquilo lago. 
Conta-se que certa vez caçava ele no 
lago em companhia de um dos seus 
tantos simples e rudes amigos. 



O dia estava lindíssimo, o ar cal- 
mo, o lago tranquilo como um espe- 
lho. Tudo, portanto, autorizava a 
crer que a partida seria coroada pelo 
mais brilhante sucésso. Sómente ha- 
via um inconveniente: a caça estava 
proibido. Puccini e seu companheiro 
tinham tomado lugar num pequeno 
barco, e deslisavam silenciosamente 
sobre as aguas do lago, o olhar aten- 
to, o dedo pronto no gatilho da es- 
pingarda. A embarcação penetrava 
por entre uns espessos caniços, na 
linha divisória entre as províncias 
de Pisa e de Lucca, quando, de re- 
pente, a vegetação abriu-se e surgiu 
a proa de outro barco. 

Tripulavam-no dois carabineiros: 

— Alto lá! 

— Estamos bem arranjados! — 
murmurou o companheiro do maes- 
tro. 

— Que estão fazendo os senhores, 
pelo lago, de espingarda em punho? 
— perguntou severamente um dos 
policiais. 

— Passeavamos — respondeu 
candidamente Puccini. 

Bem. Tenha a bondade de me dar 
seu nome. 

— Giacomo Puccini, musicista... 

O “maresciallo”, perfeitamente 
impassível, escreve em um “carnet” 
o nome do maestro. Gengino deu, 
igualmente, seu nome e sobrenome, 
feito o que os dois caçadores foram 
deixados em liberdade. 

Pouco tempo depois deste inciden- 
te, recebeu o maestro a intimação 
respectiva. Puccini e seu compa- 
nheiro tiveram que responder à 
“Pretória dei Bagni San Giuliano”. 
por infracção à lei que proibe termi- 
nantemente a caça durante o perío- 
do de seu encerramento. Gengino 
está preocupado ; Puccini alguma 
coisa, também . . . De resto o autor 
de “Manon” entregou sua causa a 
dois advogados muito eloquentes, em 



RESENHA MUSICAL 



Pág. 57 



quem depositava a maxima con- 
fiança. 

No dia dos debates os dois advo- 
gados falaram durante horas pro- 
vando a “gaffe” dos dois zelosos po- 
liciaes, que tinham tomado por caça- 
dor clandestino o maesti-o Giacomo 
Puccini, uma das nascentes glorias 
do teatro lírico italiano e seu respei- 
tável companheiro Gengino. O acu- 
sados, como era natural, foram ab- 
solvidos, o que deu lugar a uma ma- 
nifestação de regosijo por parte dos 
numerosos admiradores do maestro, 
e à seguinte arguta observação de 
Gengino: 

— Ah, nada como a sabedoria! Si 
o maestro fosse um pobre diabo co- 
mo eu, acabaríamos na cadeia tanto 
um como outro. Mas é justo. Ele é 
um sabio e por isso merece a absol- 
vição. 



Outra característica do tempera- 
mento pucciniano era a eterna insa- 
tisfação do maestro a respeito de li- 
bretos. Quantos e quantos calhama- 
ços de papel não foram lidos, discu- 
tidos, aceitos, em parte ou de todo e. 
finalmente, postos . . . à margem ! 

Depois de sucésso de “Edgard”, o 
grande músico tornou-se intransi- 
gente para com o “símbolo”. 

— Não — dizia — nunca mais me 
apanham em semelhante esparre- 
la. . . Ferdinando Fontana, depois de 
“Villy” impuzera-se ao maestro, 
completamente. Puccini, sentia mui- 
ta vez, trabalhando, que o convencio- 
nalismo dos personagens estava em 
irritante contraste com sua própria 
sensibilidade, que era clara, aberta, 
sincera. Daqui sua libertação... 

E eis, alguns anos depois, a “Ma- 
non”, isto é, o triunfo... sem sim- 
bolismo! 

Certa vez... tratava-se de “Tos- 



ca”, Giacosa e Illica tinham posto 
mãos à obra; depois da grande pro- 
va da “Boheme” não era licito pôr 
em duvida a impressão que o novo 
libreto causaria sobre o espirito do 
maestro. Mas sucedeu justamente o 
contrario. A primeira edição de 
“Tosca” pareceu não satisfazer com- 
pletamente o maestro. Procurou Giu- 
lio Ricordi, o conhecido editor musi- 
cal italiano a quem disse mais ou 
menos o seguinte: 

— Parece que a respeito da Tosca 
nada faremos. Renuncio ao libreto. 

Mais tarde, porém, arrependeu-se. 
Chamou Illica. Expoz-lhe suas idéas 
e i> arrependido que estava em ter 
renunciado a musicar aquela opera. 

— Mas — respondeu o poeta — 
quanto a mim, com o maior prazer 
t’á cederia; ha só um obstáculo. É 
que o libreto já não está comigo. En- 
treguei-o a “fulano”. . . 

Fulano, por sua vez, não parecia 
estar muito satisfeito com o libreto. 
Para obriga-lo a desistir definitiva- 
mente era necessário uma obra de 
demolição que Illica levou a efeito, 
atrozmente. E uma bela manhã o 
poeta apareceu em casa de Puccini: 
— Não percas um minuto — gri- 
tou ele ao maestro — corre à casa 
de Giulio Ricordi: Fulano acaba de 
lhe devolver o libreto da Tosca. 

E foi assim, que “Tosca” voltou 
às mãos de Puccini. 



Era, como se vê, dificil de contes- 
tar a respeito de libretos, o autor de 
“Gianni Schicchi”. 

E quando alguém lhe perguntava 
que é que desejava, o que aspirava, 
o que queria, enfim, muito tranqui- 
lo ele respondia: 

— Quero um libreto que consiga 
comover o mundo! 

Pouca coisa, como se vê. 



" 



Departamento Social e de Informações 

d e 

"RESENHA MUSICAL" 



Brevemente dará início às suas 
atividades, o Departamento Social 
“RESENHA MUSICAL”. 

De suas futuras atividades, cons- 
tarão conferências e recitais para os 
assinantes de RESENHA MUSICAL. 
Estas realizações artísticas, serãc 
oferecidas sómente aos assinantes 
que participarem do quadro do De- 
partamento Social. Não poderão fi- 
gurar no referido quadro, pessoas 
que não sejam assinantes de RESE- 
NHA MUSICAL. 



AOS CONCERTISTAS 



RESENHA MUSICAL avisa a to- 
dos os concertistas em geral (pianis- 
tas, violinistas, violoncelistas, etc), 
que o seu Departamento Social se 
prontifica a preparar seus concertos 
em São Paulo. 

Uma vez entregue ao Departa- 
mento Social de “RESENHA MU- 
SICAL”, a organização dos concer- 
tos, os srs. artistas poderão livrar- 
se desse exaustivo trabalho, evitando 
desperdício de tempo e de energias. 

Peça-nos informações a respeito. 



AOS ESTUDIOSOS E AMANTES 
DA MUSICA 



RESENHA MUSICAL facilitará 
aos seus assinantes, leitores e ami- 
gos, todas as informações que dese- 
jarem sôbre compra de livros, méto- 
dos, músicas, rádios, vitrolas, discos, 
instrumentos musicais e acessórios. 
Para esse fim, possue um Departa- 
mento de Informações, do qual fa- 
zem parte “virtuoses”, professores, 
músicos e técnicos. 

Procure conhecer o serviço :ápido 
e completo do nosso Departamento 
de Informações. 



AOS ESTABELECIMENTOS DE 
ENSINO ARTÍSTICO 



RESENHA MUSICAL, afim de 
facilitar aos estabelecimentos de en- 
sino artístico do interior do Estado 
de São Paulo, que estão sujeitos ao 
Decreto Estadual que regulamenta o 
ensino artístico e que ainda não pro- 
videnciaram o seu registro no Con- 
selho de Orientação Artística do Es- 






lado, pelo seu Departamento de In- 
formações, se prontifica a dar todas 
informações necessárias, assim co- 
mo providenciará o encaminhamento 
dos papeis. 

Escreva-nos, que o Departamento 
de Informações de RESENHA MU- 
SICAL, está apto a prestar todas as 
indicações necessárias. 

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tístico nacional: 



Alonso Anibal da Fonseca (pia- 
nista) ; 

Artur Pereira (compositor) ; 

Barroso Netto (compositor) ; 

Frutuoso Lima Viana (compositu! 
e pianista) ; 

Francisco Manuel da Silva (com- 
positor) ; 

Luiz Heitor Corrêa de Azevedo 
(musicólogo e crítico) ; 

Samuel Archanjo dos Santos (mu- 
sicista) ; 

Raul Laranjeira (virtuose do vio- 
lino). 

Brevemente, Série B. 



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ÇÕES DE “RESENHA MUSICAL” 

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sica Brasileira, Historia da Música. 
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Departamento de Informações de 
RESENHA MUSICAL, que este lhe 
endereçará todas as informações de- 
sejadas. 



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