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Full text of "Resenha musical (São Paulo), n.41-52, 1942"

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Diretor : PROF. CLOVIS DE OLIVEIRA Redatora : PROFA. ONDINA F. B. DE OLIVEIRA 

R. Cons. Crispiniano, 79 - 8.® andar — S. PAULO 



ANO IV 



SÃO PAULO — ABRIL — 1942 



NÜM 44 



Aos Leitores 




Onde os 

CRANBES MESTRES 

revivem ... 



Animado por suas mãos rie artista, o piano 
BRASIL reviverá os grandes mestres. É de 
mecanismo perfeito, de sonoridade impecá- 
vel. Louvanvno os interpretes mais famosos. 
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Rua Stella, 63 — Tel. 7-5214 e 7-2274 — S. Paulo 



AVISO 

O presente numero não é 
acompanhcido de/ 
SUPLEMENTO MUSICAL 

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RESENHA MUSICAL é a revista mu- 
sical de maior divulgação no Brasil e 
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tantes em qualquer cidade do país ou 
estrangeiro. 

ANÚNCIOS: FONE 5-4630. 

Redação: Rua Cons. 0 Crispiniano, 

79, 8.° andar — S. PAULO. 



A Itliióíca ^Relígíoéa no BraóíL 



SARAIVA FILHO 

Da “Sociedade de Cultura Musical 
do Rio Grande do Norte” 



Podemos afirmar, com uma base fundamental, 
que, com a catequização dos nossos caboclos, 
iniciada pelos corajosos e intrépidos jesuítas, 
que desembarcaram na terra de Santa Cruz, 
nasceu também, o ritmo da melodia religiosa, 
que hoje, enriquece de uma maneira formi- 
dável os arquivos corais das igrejas dos Brasil. 

A vasta documentação apresentada pelos 
ilustres escritores Mario da Andrade, Renato de 
Almeida, e outros nomes que se inte- 
ressam por dados históricos da Arte dos Sons, 
retrata com uma perfeita nitidez, a grande 
obra desses missionários santos, que se desti- 
naram a dar a sua própria vida, em favor da 
educação dos nosos caboclos selvagens. 

Como disse Renato de Almeida, no seu pre- 
cioso livro “Historia da Musica Brasileira”, 
“tudo isto ficou nas crônicas e nada influiu”. 

E de fato. Se não fosse, atravez da Historia 
do Brasil ,cujos personagens influiram a deze- 
nas de historiadores patricios, nos comentários 
civicos e patrióticos, sobre o mágestoso edifi- 
cio cerebral desses missionários dinâmicos, em 
cujas paginas douradas se edifica uma epopéia, 
a Historia da Musica Brasileira, talvez, tives- 
se ficado esquecida, como dezenas de persona- 
gens que hoje vivem sem nenhum comentário 
sequer. 

Atravez da Historia do Brasil, encontramos o 



nome de Frei João da Cunha, homem de ca- 
pacidade extraordinariamente elevada, que 
apresentou em publico o monumental drama 
MISTÉRIO DE JESUS, de autoria do grande 
Anquieta, o batalhador forte da alfabetização 
do Brasil. 

Teria ficado na obscuridade dos fatos, o 
nome do padre Álvaro Lobo, se não fosse a 
Historia do Brasil que retrata os seus traços 
bibliográficos e a sua cultura fisica ainda 
quando o Brasil, era uma colonia portuguesa. 
Pois bem, esse nome está gravado e colorido 
nas paginas históricas da Musica Brasileira. Foi 
ele o autor dos belos dramas ONZE MIL VIR- 
GENS, DIALOGO DA AVE MARIA, MAR- 
TÍRIO DE SÃO SEBASTIÃO e muitos traba- 
lhos de valor, que, pelo descuido dos nossos 
patricios, somente os nomes deles são lembra- 
dos constantemente pela capacidade culta de 
Renato de Almeida e Mario de Andrade, como 
exemplos de religiosidades musicais. 

O padre jesuita, assim, trabalhou sem se 
cansai*, em elevar o sentimento dos primeiros 
povos brasileiros, em conjunto com a “Carta 
de ABC”, ainda hoje adotada pela criançada 
que se destina a enfrentar a Vida e as conse- 
quências do mundo. 

Naquele tempo, quando se fundava uma es- 
cola, era entregue ao aluno uma folha de pa- 




pel com a pentagrama. Os hinos de aula repre- 
sentavam o pelo-sinal dos alunos. E enfim, o 
ABC da musica era o segundo livro de leitura. 

Por falta de conhecimentos instrumentais, 
dos jesuitas, o canto coral servia de base para 
o ensino musical. Todos cantavam bonitas me- 
lodias e hinos marciais que encorajavam cada 
um a começar a pesada e facil tarefa de 
aprender a ler e escrever. 

Neste momento, relembro, a mais acertada 
frase, que já vi em matéria de educação, de 
autor desconhecido: 

— “Não ha uma educação perfeita, sem 
uma alta cultura musical”. — E, ahi está um 
exemplo: — o Brasil, educado, patriótico e 
valorisado entre dezenas de paizes cultos do 
globo terrestre. 

Em primeiro lugar, devemos isto aos jesuitas 
catequisadores dos primeiros irmãos patricios. 
que vieram com uma unica arma. que foi o 
Crucifixo do Senhor, pendurado ao pescoço, 
contra á ferocidade da ignorância. 

Nos diversos desempenhos de suas funções, 
sempre partia aquela onda negra de batinas, 
em conquista de novos horizontes. Os casebres 
de palha, as tabas e as próprias estradas lon- 
gas, eram visitadas constantemente por aque- 
las almas sagradas, que iam plantar uma se- 
mente de cultura, para ali, nascer, não somen- 
te uma, mas dezenas de arvores floridas e vice- 
jantes, que são hoje representadas pelos seus 
preciosissimos frutos: as inúmeras bibliotécas 
existentes em todo o País. 

Atualmente o Brasil, grande em terras, cul- 
tura e Artes, independente das outras nações 
amigas, ainda sente a perda daqueles pastores 
d’alm£u\ que se bateram fortemente contra a 
inevitável ignorância de outrora. 

É de notar, que a vinda de D. João VI. para o 
Brasil, não somente a Musica, como também 
todas as artes, tomaram o seu posto de sentinela 
indormida. A fundação da Escola de Belas Ar- 
tes, Imprensa Oficial, Biblioteca Publica, Jar- 
dim Botânico e outras entidades de valores reais, 
foi trabalho de D. João VI, que apezar do seu 
ostracismo, ainda possuia um espirito culto e 
belo, isso talvez pela educação de seus mestres 



na velha Europa, ou para recordar o seu pala- 
cete em Portugal, que naquele tempo vivia as- 
sistido pelas maiores celebridades artísticas. 

Dentre as aventuras do monarca, nasceu 
uma bela incentivação pelo gosto artístico no 
Brasil, trazendo desta maneira um ambiente 
verdadeiramente musical. 

* 

★ * 

Um fato interessante, ocorreu, quando D. 
João VI, assistiu pela primeira vez uma Missa 
no Brasil. Naquela manhã de sol e radiante, 
na Igreja de Santo Inácio de Loiola, seria rea- 
lizado esse ato religioso, em Ação de Graças, 
ao qual compareceram s. magestade e seus 
dignos auxiliares. 

Ao acenderem as primeiras velas do Altar- 
Mor, ecôou um côro de vozes, pelas arcadas, 
dos altos da referida Igreja. E lá, em cima, 
achava-se um grupo de meninos entoando os 
cânticos sagrados para o introito da Santa 
Missa. 

D. João VI, espirito observador, ficara abis- 
mado com aquela melodia suave, igual á de 
Handel, Bach, os grandes compositores de mu- 
sicas religiosas alemãs. 

No decorrer do Santo Sacrifício da Missa, 
aquela musica encantava maravilhosamente a 
Casa de Deus e a todos que, com penitencia, 
oravam aos pés do seu Patrono Santo Inácio 
Loiola. 

Aquela musica que deixou tanta gente admi- 
rada, era de autoria do padre José Mauricio, 
nascido na cidade do Rio de Janeiro, no ano 
tíe 1767. De origem de uma familia mestiça 
José Mauricio, foi uma das maiores glorias 
musicais brasileiras. 

Alguém disse, certa vez, que “a sua Musica 
é extatica, não pelo jogo forçado de recursos 
ricos, mas pela inspiração ardente e fervorosa, 
que se elevava e transfigurava, no canto reve- 
lador. Daí a grandeza e sinceridade. Para ele, 
a musica era uma voz de liberdade que lhe 
comunicava o espirito com Deus. n’uma fusão 
misteriosa e indefinível. 



2 — RESENHA MUSICAL 




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José Maurício Nunes Garcia, tocava cravo, 
viola, violino e era o Mestre da Capela da Ca- 
tedral, nomeado com honras, pelo seu protetor 
El Rei D. João VI, que apezar de apreciar tan- 
to as qualidades reveladoras do modesto musi- 
co, esse, durante a sua vida, nunca siquer 
pediu-lhe um favor. E assim, com o Padre José 
Maurício, findou-se a primeira década dos mis- 
sionários educandos, que tanta Gloria deu ao 
nosso querido Brasil. 

Com a morte desse ilustre sacerdote, oue dei- 
xou mais de duzentas composições, a musica 
sentiu um profundo abalo, principalmente a 



religiosa que tinha tido um grande progresso 
durante a sua vida. 

E agora, vive o Brasil, com o seu novo ritmo 
fervoroso e quente, com a sua musica de com- 
passos diabólicos, tomando um rumo diferente 
e entrando para um periodo de Profanação! 

Possuimos muitos compositores de renome 
no alto magistério da Musica, mas todos se 
absteem de fazer musica religiosa, tão util à 
Educação do Povo. 

Porque?. . . 

Faltam os missionários santos. 

Falta um novo José Mauricio. 



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RESENHA MUSICAL — 3 






4 — RESENHA MUSICAL 






jA Vareja 



(Especial para 
"Resenha Musical") 



O repertório de bôa música para piano 
é inesgotável. A nenhum outro instrumen- 
to, quasi todos os grandes autores têm 
confiado tantos dos seus mais profundos 
sentimentos. A explicação disso não se ba- 
seia por motivos sociais (divulgação e apa- 
rentemente, o fácil manejo do instrumen- 
to) mas, sim, por noção artistica: o cim- 
balo de Bach, a espineta de Mozart, o pia- 
no do tardio Beethoven; o piano de cauda 
muitíssimo nuançado de Mendelssohn, 
Sohumann, Chopin e finalmente o piano de 
cauda para concertos de Liszt e ainda de 
Debussy e Stravinsky, e, também, de Ra- 
chmaninow, todos esses pianos guardam 
o segredo que seduz o autor a confissão 
dos seus mais profundos sentimentos mu- 
sicais. Sómente o Quarteto de cordas e 
oportunamente, a “vox" humana, podem 
vangloriar-se do mesmo. 

E como pode ser explicado este segredo 
num instrumento, cujo efeito baseia-se em 
grande parte, mecanica e material o que 
deixa ao pianista o momento dizemos: o 
carinho — até para a produção do tom? 
Num instrumento o que aumenta as alte- 
rações (do diése e ré bemol) que aparen- 
temente só conhece " variações ” dinamicas 
do pp até ff? A técnica manual muito de- 
senvolvida mas não ligada ao sentimento 
interpretativo da maior parte dos virtuoses, 



do ^píaníéia 



De HENRY JOLLES 



e escolas de música não descobre-nos este 
segredo. Poderá ela ser contrária aos seus 
colegas seculares dos séculos passados? 
Bem raro e cada vez mais raro, encontrar- 
mos artistas, técnica musical e artistica- 
mente bem dotados em gráu de igualdade 
que conseguem se incorporar neste segre- 
do de atrair o ouvinte. E aqui desVenda-se 
o véu: o ouvinte compreende, que em ge- 
ral o piano não pode falar se não houver 
sugestão mas o piano póde sugerir tudo 
que existe em cores (tons) ou possibili- 
dades de formação. Se, por exemplo, tira- 
se do órgão todas as variações (registros), 
devem ser introduzidas no piano e as pon- 
tas dos dedos dos painistas, em contacto 
com sua alma (genio) o — aí onde a peça 
« exige — com seu coração devem sus- 
tentar sua grande responsabilidade peran 
te a óbra; os dedos formam a última ini- 
ciativa para equilibrar a beleza e verdade 
de uma óbra, como seja um Retardando ” 
de viver efetivamente como é prescrito, e 
tantas coisas mais. O que não pode tudo 
•pairar sobre nós numa sonata de Beetho- 
Ven: corneteiros, violinistas, orquestra 

completa, órgão, a "vox” humana, timba- 
le, ferrinhos, e mais aqueles contrapontos 
confiados a cada mão, tons do cosmo de 
perto, de longe e outra coisa mais. Os 
compositores, muitas vezes, mesmo, com 

RESENHA MUSICAL — 5 



— 




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instrumentos insuficientes, conseguiram 
esse poder do piano e assim se explica 
a riqueza que deixaram, que é tãõ variada 
e tão grande, de maneira que hoje, talvez, 
nenhum pianista terá a capacidade de go- 
verna-lo com a mesma perfeição. O segre- 
do do encanto está na sugestão. Não que 
o ouvinte precisa sentir essa sugestão de 
um tom de flauta, mas sim precisa sentir 
a cor (tom) da idéia musical que faz con- 
seguir a forma expressa. Cada ouvinte sen- 
sível é capaz para isso e a pergunta ó 
mais se um artista nos nossos tempos 



achará a tranquilidade equilibrada para 
mergulhar profundamente na óbra à criar 
e para poder intefpreta-la. Pois o piano é 
uma fada, porém, uma fada pérfida. Por- 
tanto o problema é bem claro: numa épo- 
ca em que a música volta a arte aplicada 
— depois de 300 anos (e porque não, por- 
que opor-se a tal conhecimento?) é pre- 
ciso conservar e sempre avivar espiritual- 
mente as óbras, em nosso caso as óbras 
para piano daquela época, e fazer madu- 
rar a sugestão aplicada ao instrumento 
até a interpretação da idéa artística. 



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6 — RESENHA MUSICAL 



lAma J niereóóanie Sugeóião 



— Comentário — 

Ao diretor de “Resenha Musical” escre- 
veu o prof. Rodolfo Barbacci, professor de 
música em Lima, Perú, uma interessante 
carta, que vai transcrita e traduzida logo 
adiante. 

Leia o nosso leitor, com atenção, o que 
diz o ilustre professor peruano e, forço- 
samente, lhe dará razão. E, por certo, não 
deixará de se inscrever no número daque- 
les que, doravante, hão de estabelecer o 
intercâmbio de programas e curiosidades 
musicais. 

De fato, todo historiador tem na heurís- 
tica um fator, essencial para bem interpre- 
tar os fatos passados e suas repercussões 
remotas e presentes. Sem uma bôa docu- 
mentação êle será obrigado a ficar no cam- 
po bem perigoso das hipóteses e das con- 
clusões dúbias. Outra segurança terá seu 
mistér, se à sua disposição estejam docu- 
mentos, que são fontes seguras, onde se 
irá abeberar. 

Há as mais disparatadas manias neste 
mundo, em matéria de coleções. Conheço 
pessôas que colecionam moedas, selos, cai- 
xas de cigarros ou de fósforos, programas 
de cinema (!), carimbos, livros raros, te- 
las, curiosidades várias, desde as mais 
insignificantes até às mais exóticas e dis- 



genésio pereira filiho 



parataddas. E, em muitas dessas manias 
há puramente o gôsto, a “mania”, sem 
qualquer fundamento util. Em outras é bem 
diferente o caso. Ao lado do deleite há a 
utilidade. E bem andou o prof. Rodolfo Bar- 
bacci, lançando a ideia de se colecionar 
programas de concertos e curiosidades mu- 
sicais, com uma “mania” sã e util, tanto 
mais util quanto mais for correndo a areia 
do tempo... 

Passemos a palavra a êle, que nos dirá 
melhor do assunto: 

“Lima, 9 de novembro de 1941 

Estimado colega prof. Clovis de Oliveira: 

Recebi com muito prazer 10 exempla- 
res de “Resenha Musical”, na qual figura 
a tradução de meu artigo “Defesa do Crí- 
tico Musical”, pelo que fico muito agra- 
decido. 

Com a presente envio-lhe alguns progra- 
mas de concertos, que lhe servirão para 
redigir algumas notícias das manifestações 
musicais de Lima. 

Tenho uma idéia que, quiçá, poderá in- 
teressar-lhe desenvolver para a Revista. 

Quase todas as pessôas mais ou menos 
acomodadas e cultas colecionam algo; 
muitas, selos, outras, fotografias, algumas, 
livros raros, primeiras edições, objetos di- 
versos etc. mas a ninguém ocorre, espe- 
cialmente aos músicos, colecionar progra- 



RESENHA MUSICAL — 7 




mas de concertos e de bôas manifestações 
musicais, já sejam antigos ou modernos. 
Considero que o colecioná-los, além de 
satisfazer essa inocente mania de colecio- 
nadores que todos temos e que vem ex- 
plicar ainda bem os psicólogos profissío- 
nais, constitue uma fonte de instrução e 
curiosidades musicais mui dignas de se 
ter em conta; através dos programas an- 
tigos ver-se-ia como procediam os grandes 
compositores e executantes, quando apre- 
sentavam obras longas, em várias tempos, 
não as tocando todas seguidas, senão in- 
terrompendo entre tempo e tempo, para in- 
tercalar outras obras, às vezes a cargo 
de outros executantes; que ainda os maio- 
res e mais apreciados solistas (Liszt, Ru- 
bini, Chopin, Paganini, etc.) não gostavam 
de oferecer “ recitais ”, ou seja, audições 
musicais exclusivamente a seu cargo, e 
buscavam a colaboração artística de algum 
outro artista, para variar o programa, cos- 
tume que foi abandonado depois e, parece, 
por exemplo de Liszt, que, dizem, foi a 
primeira personalidade artística que ofe- 
receu um “recital”; ver-se-ia, também, nos 
programas antigos, a importância tipográ- 
fica que davam a tais ou quais obras, qual 
era a ordem preferida, que obras tocavam 
preferentemente os executantes célebres, 
com que frequência, etc. — Estes progra- 
mas seriam coleções de documentos vivos 
para a história da música e poderiam co- 
lecionar-se em duas formas: programa 

original (impresso que era distribuído ao 
público). Cópia çléstes ou dos publicados 
pela imprensa. 

Creio que mereceria interessar-se aos 
músicos americanos, que, atualmente, têm 
a sorte, única no mundo, de poder ocupar- 
se da arte, tranquilamente e ganhar-lhe 
ainda nisto a dianteira oficial aos músi- 
cos europeus, estabelecendo um serviço de 
troca, no princípio com programas atuais 
e, quando a difusão o permite, também 
com os antigos. 

Não excluo a idéia futura de que se fa- 
çam reimpressões fotográficas de progra- 



mas célebres, que se editem coleções deles 
(possivelmente com comentários, quando 
os necessitem) e creio que a alta cotiza- 
ção e interesse que encerraria um progra- 
grama de concerto poderia favorecer tam- 
bém o movimento cultural dos pequenos 
ambientes: sabendo que os programas de 
concertos circulam entre todos os músi- 
cos do continente, seria incentivo poderoso 
para apresentar concertos fora do comum: 
audições de obras novas, concertos histó- 
ricos, de novidades, ciclo de audições 
“monográficas” (classifico assim a “his- 
tória do Lied”, da “Canção do Berço”, das 
“Obras inspiradas nas crianças”, na 
“agua”, nas “flores”, em “obras literá- 
rias”, “pictóricas”, etc., sôbre o que escre- 
vi há vários anos um artigo na revista 
musical “Clave”, de Buenos Aires: "For- 
mação de programas de concertos”.) Não 
excluo tampouco que o comércio tipográ- 
fico poderia obter também seus benefícios 
no sentido da especialização na impressão 
de programas de luxo, adornados com 
exemplos musicais, com fotos e biografias 
de autores, impressos em forma original e 
recortando o papel a capricho e a fantasia. 
Não conheço ninguém que se ocupe disto 
e nem alguma publicação; desejaria ser 
eu o iniciador e que VV. SS. anunciem 
aos músicos pela primeira vez esta nova 
“mania colecionadora”, que seria assim 
classificada em seu início, mas que depois 
constituiria, especialmente para os jovens 
estudantes de música uma fonte de inte- 
rêsse para conhecer a história das mani- 
festações musicais de sua cidade, de sua 
pátria, do mundo inteiro”. 



Assim, pois, podem ver os nossos leito- 
res o quanto é interessante esta sugestão 
de Rodolfo Barbacci. 

Resta que os nossos músicos não fiquem 
no simples aplauso e no louvor a Barbacci. 
6 preciso agir. 



8 — RESENHA MUSICAL 








C^llma Áe campo ou Ác montanha f 




cm plena (Capita l c com toL o 
conjjotto Ias catando- cidades, só no 

^Jatditn — <^À-MÍiica, 

* ou no 



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10 — RESENHA MUSICAL 







Humanismo na Arte 



HEIJO DUARTE 



“Em verdade, há no fundo de qualquer desen- 
volvimento das artes algo mais elevado do que 
às próprias artes em si; há a explicação dês- 
se seu desenvolvimento evolutivo natural e ló- 
gico; há a própria filosofia da arte”. É com 
estas luminosas palavras, que Licínio Cardoso 
abre a sua, muito sua, “Filosofia da Arte”, 
destinada, segundo Azevedo do Amaral, a om- 
brear com “Os Sertões" de Euclides da Cunha, 
como “as duas mais fortes expressões do pen- 
samento brasileiro”. 

Porém, mais sutil ainda, mais prenhe de 
significações, é a continuação do período aci- 
ma exposto: “acima da “forma”, acima da 
“idéia” que uma obra de arte encerra, “há 
ainda a beleza de uma harmonia mais elevada, 
há o domínio superior de uma lei evolutiva”. 

O ambiente gerando o meio, influe decisi- 
vamente como expressão evolutiva ou involu- 
tiva — e o clima teocrático, alimentando mas 
tiranizando todos os valores artísticos dos po- 
vos bárbaros, responde até certo ponto, pelas 
manifestações construtivas, se não únicas, ao 
menos principais e cujos vestígios ainda nos 
alcançam — os templos, quanto à arquitetura 
— as imagens quanto à escultura. 

f! asim na Grécia, como em Roma; no Egito 
como na índia e na Árabia como no Império 
dos Maias. 

' Certo, há exceções grandiosas e por demais 
eloqucntH^ principalmente na Grécia e em 



Roma. Naquela o antropomorfismo, como de- 
rivativo lógico e natural de um incipiente in- 
dividualismo; o primórdio talvez do humanis- 
mo no mundo; nesta, a lição utilitária do en- 
genheiro, evidenciada nas construções de cará- 
ter público e útil. como consequência espon- 
tânea do uma função social elevada e carac- 
terística. 

Com o incremento do cristianismo nascido 
e vivificado à sombra escura dos cemitérios, 

através de martírios e sacrifícios, retoma a 

% 

arte o seu caráter coletivo por influência do 
novo dogma, imposto este, pela nova teocracia, 
perdendo asim o caráter do bom senso e da 
simplicidade, para estampar então em tôdas as 
sua$ manifestações, um infantilismo espon- 
tâneo, mas severo, que lembra a sua origem nos 
corredores tenebrosos e húmidos das catacumbas. 

Eis como podemos chegar até a explicação 
dos ornatos trabalhados, horríveis por vêzes, 
mas simbólicos sempre, e que exprimem ao par 
de um trabalho acurado a influência avassa- 
lante da fé indiscutida e inabalável. Ao mis- 
ticismo de então acresce o nenhum conheci- 
mento das letras. A religião deve ter sido em 
seus primórdios qualquer coisa de horrível, de 
belo-trágico, por isto, é que o simbolismo ex- 
presso através dos ornatos, gravita sempre em 
tôrno de figuras de histriões, serpentes, figu- 
ras alegóricas dos vícios humanos, figuras' dia- 
bólicas, anjos e reis. A alma coletiva do século 
quatorze e quinze, corporifica-se neste simbo- 



RESENHA MUSICAL — 11 



lismo de duendes; resumindo nas suas polimor- 
fas facetas um período místico-heróico, de 
cultores do Irreal, de adoradores do Terror. 
Nenhum rudimento de ciência exata e pura, 
ousou quebrantar a escuridão do pensamento 
medievo. 

É com o Renascimento que surge a huma- 
nização dos santos do cristianismo, como na 
Grécia no século quarto surgira o antropo- 
morfismo politeiro e que a progressão notável 
da riqueza ajuda e estimula. As expressões ar- 
tísticas, isto é, as várias formas da represen- 
tação das emoções, ganham individualidade, 
vivendo vida própria e independentemente da 
arquitetura, com uma floração tanto mais sa- 
dia quanto mais afastada da teocracia absor- 
vente e côncava. A pintura torna-se uma arte 
complexa e completa, sobrepujando a escultura 



graças ao desenvolvimento atingido pela 
técnica. 

Chegamos assim aos nossos tempoô. Os fácies 
da nossa arquitetura, já se não prendem às 
leis da composição, quase sempre “formas 
construtivas obrigadas”, e repelem inteira - 
mente o ornato — pois o humanismo hodierno 
ó essencialmente socialista. Domina o útil, mas 
o belo náo é desprezado. As linhas horizontais 
e simples indicam um sentido de vida menos 
escravizado aos preconceitos e sobretudo mais 
repousante e mais liberal. O nível intelectual 
das massas, já permite a compreensão do sim- 
bolismo sintético e matemático, expresso linear- 
mente ou em superfícies. Prescinde inteiramente 
do simbolismo torturado e analítico dos nossos 
antepassados. 

Eis os sinais do nosso século. 



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12 — RESENHA MUSICAL 






A & ümoLogía cio “^prevo" 



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Osório Borba, jornalista, de boa têmpera, es- 
crevendo sóbre o “frêvo” chamou a atenção dos 
estudiosos para o étimo de tão curioso vocá- 
bulo. 

A sua crônica, que é interessantíssima, an- 
tes de ser lida por mim, já chegara aos meus 
ouvidos, pois aquele bicho Oura-idre, de que 
fala Rabelais, já me informara de que, nela, eu 
era denunciado como “frevista” entusiástico. 

Não é mentira. Essa dansa recifense tem pa- 
cinios inconfundíveis e eu me confesso um 
apaixonado dela. O frêvo, antes de tudo, é 
um chamamento coletivo e talvez por isso exer- 
ça essa “mágica influência” sôbre os que, como 
eu, amam o povo nas suas realizações espontâ- 
neas e ingênuas, primitivas e sinceras, de sabor 
nitidamente folclórico. 

Osório Borba, com agudeza, analisando a ori- 
gem do vocábulo e confessando que ignora se os 
pesquisadores da língua brasileira já fixaram o 
étimo, aponta frêvo como evidente corruptela 
de “fervo", por sua vez simplificação de “ fer- 
vura”. 

O problema, entretanto, já tinha sido, dis- 



cutido por um ilustre pernambucano e eruditís- 
simo conhecedor da língua nacional, o sr. Ro- 
dolfo Garcia, que no seu bem feito “Dicionário 
de brasileirismos”, publicado na “Revista do 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro” de- 
clara ser frêvo “metatese de fervo, por fer- 
vor”, afirmando ainda ser termo de criação 
recente. 

Lembra também, uma versalhada publicada 
em “A Província”, (1913), que diz assim: 

O frêvo, palavra exótica 

Tudo que é bom diz, exprime, 

É inegualável, sublime, 

Termo raro, bom que doe... 

Vale por um dicionário 
Traduz delírio, festança, 

Tudo salta ,tudo dansa, 

Tudo come, tudo roe . . . 

* * * 

O localismo do vocábulo afasta a origem ne- 
gra. Os vocábulos negros, de regras, possuem 
áreas geográficas amplas e não se fixaram ex- 
clusivamente numa órbita urbana. 



RESENHA MUSICAL — 13 







O fato de frévo se batismo enuinamente re- 
cifense, urbano por excelência, nos permite su- 
gerir um étimo algo literário. A expressão 
“marcha frêvo” deve se entender “marcha 
ligeira *\ como de fato é, aceitando-se frêvo 
como coruptela de frívolo, cujo significado geral 
é ligeiro, volúvel, etc.. 

Êsse étimo, que surgiu só é admissível e de- 
fensável, enquanto estiver assentado que o frê- 
vo é criação exclusivamente urbana do Recife. 

Do ponto de vista linguístico as mutações 
frívolo, frivo, frêvo são aceitáveis. A queda da 
última sílaba explica-se pela tendência contra 



os endrúxulos. A mutação i, e tem exemplos 
numeros: scribo* escrevo; avaritia, avareza; con- 
silium, conselho, etc.. 

O campo das etimologias fertiliza a ima- 
ginação. 

O joven escritor Josué Monteio explica frê- 
vo como corruptela de febre, o que, sem dú- 
vida, não fere a fonética, mas tira a saúde de 
tão sadia coreografia pernambucana... 

Qual das conjecturas guarda o segredo da 
origem? divergência impede uma solução defi- 
nitiva. A linguagem parece ciosa de seus mis- 
térios. 




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14 — RESENHA MUSICAL 



CONCERTOS 



CONCERTO DA ORQUESTRA DE CAMARA DA SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍS- 
TICA — Sempre nos é dado a felicidade de gozarmos um bem na terra. Eis uma verdade digna 
de nota. Sim, porque esse bem não é apenas o usofruto do metal sonante, que, como sangue 
circula pelas veias da humanidade. Também, podemos gozar esse bem quando ele é arte, mksica 
como que uma ventura divina, uma benção do céu, ele, como verdadeira arte em sua fineza 
subjetiva, alteia a alma do homem. E, esse bem, assim pensado, e, assim acolhido, foi-nos 
oferecido pela Orquestra de Camara da Sociedade de Cultura Artística, sob a regncia de 
Sousa Lima, no Teatro Municipal, executando um modelar programa. 

Prestou seu valioso concurso o brilhante pianista Fritz Jank, que executou o Concerto 
de Mozart. Fritz Jank é um artista que sempre agrada porque reveste sua execução de muita 
seriedade tanto técnica, como interpretativa. O Concerto de Mozart, teve em sua mãos a ver- 
são exata, cuidada, que esse virtuose, como magnifico interprete nos apresentou. 

C. cie O. 

MARINA MENDES LEITE — Uma estréia auspiciosa a da jovem pianista Marina Men- 
des Leite que apresentou-se em concerto promovido pelo Departamento de Cultura, colaboran- 
do com a Orquestra Sinfónica sob a regencia do maestro Bellardi. 

Escolheu para a sua primeira exibição nesta Capital, o Concerto de Mozart. 

Fesumindo o nosso conceito a cferca dessa futurosa pianista, podemos dizer que agradou-nos 
sobyemaneira sua execução vivaz coadjuvada por muita precisão ritmica. 

A Orquestra do Departamento teve nessa noite uma atuação brilhante. 

O maestro Armando Bellardi que vem se firmando de modo saliente na direção de gran- 
des obras sinfónicas, teve, por sua vez, a oportunidade de colher mais aplausos para sua 
carreira. 

C. de O. 

CONCERTO DE CAMARA DO DEPARTAMENTO DE CULTURA — O Concerto do De- 
partamento de Cultura, realizado a 24 do corrente, apresentou os notáveis conjuntos de 

Camara Trio São Paulo, Quarteto Hydn e Coral Paulistano, cujos podemos citar como os 

m 

mais destacados do paiz e, talvez, não exagerando, da America do Sul. 

O Trio executou Mendelssohn, op. 49 e o Quarteto Haydn, Beethoven, op. 132. Consegui- 
ram esses dois conjuntos uma realização proporcional às realidades técnicas dessas obras, 
cujas dificuldades foram vencidas e substituidas por exemplar liberdade de execução, dentro 
da mais absoluta homogeneidade, conseguindo arrancar do numeroso auditorio, prologadas 
palmas. 

O Coral Paulistano que, dia a dia, mais se impõe à nossa admiração, executou sempre 
vivamente aplaudido excelentes óbras em l. a Audição, dentre as quais dos autores João Seppe, 
Cantú, e outros. 

C. de O. 



RESENHA MUSICAL — 15 




CONCERTO SINFONICO COM O SOLISTA HEINZ JOLLES — A 24 do corrente, O 
Departamento de Cultura promoveu mais um de seus concertos sinfónicos, este sob a regencla 
do maestro Guarnieri, apresentando o eminente pianista Heinz Jolles. 

Naturalmente o interesse maior consistia na parte em que participaria o ilustre pianista 
que, apresentado sem nenhuma propaganda, teve a ouvi-lo uma assistência atenta que não 
negou seus entusiásticos aplausos a estupenda execução do Concerto em lá menor, de Schumann. 

A orquestra do Departamento colaborou de modo notável, correspondendo a regencia do 
maestro Guarnieri. 

Heinz oolles, é um dos pianistas de grande escola. Possue uma maneira peculiar de tratar 
o teclado como se ele fosse um veludo; transformando-o mesmo, num veludo. Matizes admi- 
ráveis, seus dedos nos apresentam delicadamente. Seu temperamento é maravilhosamente 
musical. A sua execução é daquela que se gravam em nossa memória e que nunca mais es- 
vae-se, porque dá-nosprofunda satisfação musical. 

C. de O. 

DUPLO SEXTETO VOCAL BRASILEIRO — A benemérita Sociedade de Cultura Artística, 
realizou a 28 do corrente, o seu 493.° Saráu de arte, apresentando o Duplo; Sexteto Vocal Bra- 
sileiro, sob a regencia do festejado maestro Fidélio Finzi. 

O programa, composto ecleticamente, pendeu mais predilétamente para as composições 
madrigalistas de séculos passados, cujas tiveram execução notável por parte de seus intei- 
pretes e do maestro Finzi. 

Falando das execuções, cumpre-nos pôr em destaque as das peças brasileiras, de entre as 
quais 44 Estrela é lua nova”, de Vila Lobos, foi aplaudidíssima. 

Se ha reparos a fazer quanto ao Sexteto Duplo, um notámos que deverá ser corrigido: a 
irriquietabilidade do maestro. Logo, não é propriamente ao conjunto vocal. Isso é cousa de 
menos, não resta a menor dúvida mas que chega a tirar o aspéto solene de quando a execução. 
O maestro Finzi, é um ótimo regentd coralista e o seu grupo vocal, melhorou surpreendente - 
mente. Muito bem andou a Cultura Artística ao contratar e apresentar aos seus socios o 
Duplo Sexteto Vocal Brasileiro. 

Prestaram seu valioso concurso os conceituados artistas Mirella Vita (hai pista) c Fiitz 
Jank (piano). 

C. de O. 

RECITAL DE PIANO DE ESTELINHA EPSTEIN em 30-4-42 — Um publico dos mais se- 
letos compareceu ao Municipal para ouvir o concerto da jovem e talentosa pianista patrícia, 
Estelinha Epstein. 

Alguns dias atrás terminava ela uma luminosa “tournée” pelas capitais do Norte do país, 
onde, obteve justa e merecida consagração. 

O reinicio de suas atividades artísticas na Capital bandeirante se realizou sob os melho- 
res auspícios. 

A execução da SONATA op. 53 (Aurora) de Beethoven e a SONATA EM SI MENOR de 
Liszt. do ponto de vista técnico não deixou nada a desejar. Faltou-lhe, todavia, o sentimento 
e o “amoroso” que caracterizam tais peças, mormente, a segunda. 

Estelinha Epstein, artista de valor incontrastavel, é arrebatada, vigorosa, energica. Por 
isso é ela incomparável nos trechos que demandam qualidades dessa natureza. 

Pelo mesmo motivo ainda, seu êxito foi total em LESGHINKA, dansa caucasa de Liapou- 
now, página vigorosa, que traduz bem o temperamento eslavo. 

Apesar de substancioso o programa, a encantadora artista foi obrigada a tocar mais 
quatro peças, também apreciadas. 

Artur Melo God<>i 



16 — RESENHA MUSICAL 



&clíçõeé Ofiuóicaíó 

CLOVIS DE OLIVEIRA 

# 

RONDó BRASILEIRO — Efislo Anedda 
I. M. L. — S. Paulo — 1942: 

Um Rondó Brasileiro! Estranho. Até 
dá-nos a impressão que o autor é estilista. 
Mas esse resaibo humorista em nada pre- 
judica a obra em si, escrita para os pia- 
nistas e, por isso, essencialmente pianís- 
tica. Revista pelo mestre Agostinho Can- 
tú, o Rondó Brasileiro, de Efisio Anedda 
explora o ritmo nosso e temas nossos. Tal- 
vez esta tenha sido 1 a preocupação única 
do A., afim de dar ambiência e satisfazer 
o título com que batisou-a possivelmente 
de antemão. Sem embargo o Rondó Brasi- 
leiro é recomendável aos pianistas em ge- 
ral que nele encontrarão um arsenal de 
belos efeitos. 

O GAROTINHO ALEGRE — O URSO DO 
CIRCO — JOÃO MINHóCA — Agostinho 
Cantú — I. M. L. — 1942 — São Paulo: 

O professor Cantú demonstrou sempre 
através de suas composições possuir um 
espírito excelentemente dotado de humor. 
Não desse humor comum tomado no sen- 
tido láto do termo, mas desse humor fino 
que espiritualisa com graciosidade suas 
obras. Assim foram concebidas estas três 
pecinhas em clave de sol, para piano, onde 
as crianças encontram um colorido novo, 
um característico novo. Estas três peci- 
nhas são indispensáveis no catálogo esco- 
lar dos conservatórios e dos professores 
porque didaticamente são ótimas, fáceis e 
ricas de novidade musical. 

EDIÇÕES G. RICORDI & CIA. (S. Paulo): 
SONATA — Beethoven-Casella 

Esta peça muito conhecida pela deno- 
minação “Ao luar*’, é uma das obras mais 



divulgadas e apreciadas do mestre de Bon. 
A Sonata op. 27, n.° 2 (p. piano), encontra 
guarida no programa de todos pianistas 
modestos ou ilustres. Criou-se a cerca 
dessa obra uma ambição que todos os que 
tocam piano desejam satisfazer: execiitá- 
la. Portanto andou bem a Editora Ricordi 
publicando avulsa em revisão de Casei! a 
e tradução do texto de Lorenzo Fernandes. 

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA BRASI- 
LEIRO — F. Mignone 

Alexandre Levy escreveu para piano 
“Variações sobre um tema brasileiro”, uti- 
lizando o vulgarisado “Vem cá Bitú”. 

E o fez de modo extraordinário. Até hoje 
é uma peça que se houve com muito agra- 
do e que desafia com suas sequentes di- 
ficuldades a técnica dos bons pianistas. 

Reeditando esse episódio da vida pro- 
dutiva de Alexandre Levy, Francisco Mi- 
gnone compôs para violino e piano, uma 
obra de grande valor "Variações sobre uni 
tema brasileiro” e para tanto usou o mes- 
mo “Vem cá bitú”. Mignone com essa 
oferenda deu ao violinista possibilidades 
para demonstrar seu acabamento técnico 
bordando o tema com riquíssimas dificul- 
dades. Não satisfeito extendeu ao acompa- 
nhar tais problemas técnicos que exige do 
nhador tais problemas técnicos que exige 
do pianista largos recursos em seu instru- 

SONATA — F. Mignone • 

Não são numerosas as Sonatas escritas 
pelos compositores brasileiros. E, é pena 
que tal aconteça porquanto é uma forma 
musical que permite-nos conhecer com 
mais amplitude as qualidades artísticas de 
um compositor e os seus conhecimentos. 
Francisco Mignone, escreveu uma Sonata 
para plano. Esta obra vem enriquecer 
assim o vocabulário brasileiro do piano. O 
pianista encontra em suas páginas chance 
bastante para patentear sua ascendência. 
De muito efeito, os seus três movimentos 
(Moderato, Andantino e Moderafo) são va- 
riegados. 



RESENHA MUSICAL — 17 



j 



Microfone 



Genésio Pereira Filho 



!• 



TABAJARA VIDIGAL 

Conta a Rádio Cruzeiro do Sul, PRB-6, 
com um novo locutor, Tabajara Vidigal. 

Nesta ligeira nota, posso dizer que a 
“ coração ” deu um “ dentro ”, contratando 
Tabajara. Conheço-o desde 1937, quando 
êle era locutor da Rádio Clube de Jaboti- 
cabal — PRG-4 — onde eu dirigia a “Hora 
de Arte”. Em Jaboticabal, desde a funda- 
ção da sua emissora, Tabajara foi um dos 
mais apreciados e queridos locutores. 

Ativo, sempre se atirando a arrojadas 
iniciativas, é um elemento de valor e ne- 
cessário nas horas de “agitação”. É um 
entusiasmado. 

De Jaboticabal Tabajara foi para Ribei- 
rão Preto, atuando na PRA-7. Tendo esta- 
do nessa cidade em março último, pude 
verificar o bom nome lá deixado pelo pres- 
timoso moço. Poços de Caldas, pela sua 
rádio-transmissora, também obteve o bri- 
lhante concurso de Vidigal. 

E agora, ei-lo entre nós, tentando a con- 
sagração definitiva. 

Conhecendo-o há muito, só posso prever 
para êle um belo futuro. 

A VOZ DO BRASIL 

/ 

— Ao microfone da Rádio Difusora vem 
atuando Jonas Garrett, um locutor já bern 
conhecido no interior, tendo atuado em 



PASSAGEM DO 
BATALHÃOSINHO 

— CLOVIS DE OLIVEIRA — 

(para piano — duas mãos) 




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batalhões infantis” 

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Jaboticabal, Marília, Rio Preto e Uberaba, 
nesta última cidade estando, ao vir para 
esta capital. 

Jonas, posso afirmar por conhecê-lo bem, 
é um locutor de mérito, que poderá Vir a 
ser um grande nome no rádio brasileiro. 

— No dia 28 de abril aniversariou Fran- 
cisco Bruno Sobrinho, locutor de “Está- 
dio”, da Cosmos. 

— Faleceu Fernando Lopes Gonçalves, 
que em Jaboticabal foi cronista radiofô- 
nico. À família do extinto — amigo e cole- 
ga admirável — os pêsames do redator 
desta secção e de “Resenha Musical”. 

— Em 17 de abril fez anos o sr. Alceu 
Camargo Silveira, locutor da Difusora. 

— A Cruzeiro do Sul, às 19,45 de tôda 
segunda-feira, apresenta Guilherme de Al- 
meida em “Momento Cinematográfico”. 



18 — RESENHA MUSICAL 






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A Escultura Francesa Contemporânea 

GEORGES GRAPPE 



i Conclusão n.° anterior) 

# Por certo nem todos os escultores, seus con- 
temporâneos, seguiam os erros de um acade- 
mismo vazio de substância e de boa fé. Seria 
injusto confundir com os que o praticavam, ar- 
tistas tão nobres como Dalou, Alphonse Le- 
gros, Paulo Dubois, Falquére, Eugene Guilhaume, 
Bartholomé; os quatro últimas nos. seus me- 
lhores dias. Mas era muito naturalmente, entre 
os jovens que o creador da “Porta do Infer- 
no" devia abrir caminho. De ano para ano 
as encomendas foram vindo mais abundantes, 
para o artista. Necessitava de praticantes para 
executar certos trabalhas. Cercara-se. também, 
de colaboradores nos quais reconhecera talen- 
to e éstes se sentiram em tão magnífica esco- 
la que, pouco a pouco, se foram tornando seus 
discípulos ou mais exatamente, seus copistas. 
Nunca, com efeito, as lições de Rodin foram 
didáticas. Estimulava cada um, no curso dês- 
se ensinamento, elevado e familiar, na carreira 
para a qual o sentisse instintivamente feito. 

No primeiro plano dos seus discípulos acha- 
va-se um dos seus companheiros de mocidade, 
Jules Desbois, que se bem que não tivesse o 
gênio do seu grande amigo, não deixou de ser 
um dos mais notáveis escultores de sua gera- 
ção, sentia-se nêle o filho das margens do Loi- 
re que mostrava muitas vêzes, em obras co- 
mo “A Miséria” o “Padeiro e a Morte”, uma 
certa rudeza nativa bem emocionante. Mas o 
seu maior prazer, devido às suas origens ange- 
rinas, era traduzir a medida e a graça e ex- 
primir algumas das mais belas qualidades de 
nassa raça, uma plenitude de formas, uma per- 
feição de modelado que fazia pensar nos nos- 
sos escultores da Renascença e do século 

XVIII: sua “ Lédá” é deslumbrante de mo- 
cidade. 



O mais ardente, o mais apaixonado de todos 
êsses artistas que trabalhavam à sombra do 
grande mestre, o que manifestava a seu res- 
peito um ruidoso entusiasmo, contrastante pelo 
seu ardor e uma certa jatància, com o de seus 
camaradas mais silenciosas, era Bourdelle, nas- 
cido em Monteaubau, de uma família de esculto- 
res de madeira e talhadores de pedra. 

Depois de uma permanência de dez anos na 
Escola de Belas Artes de Toulouse e de uma 
estadia em casa de Falguiére, entrou para o 
atelier de Rodin e desde então não teve outro 
desejo do que tornar-se seu êmulo. Por muito 
tempo maravilhado do seu talento maravilho- 
so, não pensava senão cm o imitar e no dia em 
que declarou: “Trabalhei para Rodin e não 
com êle”, mostrou-se esquecido, para não di- 
zer ingrato. É que, com o tempo compreende- 
ra que não poderia igualar o mestre no seu 
próprio terreno e portanto lhe convinha se- 
guir um outro. Vivendo na familiaridade do 
Titã, acabou por surpreender a única fraque- 
za do poderoso artista, vendo-o às voltas com 
essa construção monumental que se chama “A 
Porta do Inferno”. 

De um golpe, Bourdelle compreendeu o par- 
tido a tirar dessa descoberta e sem romper com 
o seu ilustre guia, colocou-se com um reclame 
literário mais vistoso do que concludente, co- 
mo chefe de uma escultura concebida em fun- 
ção da arquitetura. Precisamente nessa época 
construia-se o teatro dos Campos Elíseos e o 
escultor dirigiu-se a êle para executar uma fri- 
sa: “Apoio reunindo as Musas. Êsses altos re- 
levos nada têem de comum com o que se po- 
deria chamar “a escultura contratada” da Gré- 



RESENHA MUSICAL — 21 




cia e da Idade Média. Nada existe neles que 
lembre os frontais de Olímpio. Da mesma for- 
ma o seu “Héraclés” e a “Virgem da Alsácia” 
se bem que tenham sido concebidos com a 
pretensão de continuar, pelo renovamento, a 
estatuária egênica e gótica e apesar de sua ati- 
tude movimentada, não deixam de ser um pou- 
cô frios. Quando se olha o seu “Mickiewicz” 
constata-se até que ponto o seu desejo de atin- 
gir o heróico ultrapassou as meios com ele sou- 
bera outrora tão bem exprimir fê-lo sua ma- 
gistral “Alvear”. 

Os mais verdadeiros discípulos de Rodin, os 
que conservando a própria personalidade, se- 
guiam as lições do Mestre — e até o fim o ad- 
miraram como na sua primeira lição, foram 
entre outros escultores de menor grandeza po- 
rém excelentes, como Lucien Schnegg, Dejean, 
Haloce, Joseph Bemard Escoula, Camille Clau- 
del, Três admiráveis estatuários cujo reno- 
me até hoje, está espalhado pelo mundo in- 
teiro: Despian, Maillot e Pompon. Depois de 
terem trabalhado sem barulho, ao lado do mes- 
tre, para ganhar a vida, realizaram, a pouco 
e pouco, em três gêneros diferentes, a tarefa 
para que se sentiam destinados. Certamente, 
nenhum dos três possuia a imaginação cria- 
dora de Rodin que, ao prestígio de uma téc- 
nica soberana ajuntava os de uma precisão nas 
assentas, perfeitamente humana. Mas, no ca- 
minho escolhido por cada qual, êsses herdeiros 
de Alexandre conquistaram seu reinado. 

Pompon, falecido há poucos anos, consa- 
grando o seu grande talento em continuar a 
obra de Barye, revelou-se o mais magnífico es- 
cultor de animais que a arte conheceu desde 
o desaparecimento do autor do “Centauro e o 
Gapite”, 

Aristides Maillot, nascido à margem do Me- 
diterrâneo, continuou bem o filho dessa Hel- 
lade que propagou às margens dêsse mar o 
sentido da beleza. Revela-se nele um senti- 
mento bucólico parecido com o dos velhos can- 
tores de idílias da Beócia e da Sicília, Hesíodo e 
Teócrito. Seus nus, um tanto pesados às vêzes, 
possuem uma grandeza sadia que comove pro- 
fundamente. Até nas suas menores figuras, de 
um encanto tão humano, se sente vibrar a al- 



ma dêsse catalão, impregnado das virtudes do 
sol e das grandes lições de Rodin. Suas “Fo- 
monas” e suas “Floras” transpiram o perfume 
das ervas de junho, à hora do corte embria- 
gador. 

Há em Despiau uma sobriedade de inten- 
ção e de expressão que mais do que qualquer 
outra impressão, prende diante de suas obras. 
Os meios mais simples lhe bastam para tra- 
duzir o que tem a dizer, Da sua longa familia- 
ridade com Rodin, reteve, principalmente, a 
lição de que em face do modêlo o artista deve 
obedecer à natureza, sacrificando-lhe tudo o 
mais. A verdade da escultura consiste essencial- 
mente em interpretar a vida segundo certas 
leis inflexíveis das quais ninguém transgride 
sem sucumbir. Quando o artista inicia o seu 
trabalho não deve ceder à literatura nem ao 
efeito. Se quer exprimir a grandeza, se preten- 
der crear um corpo de uma beleza divina, é pe- 
la plástica que deve alcançar êsse resultado. 
Traduzir a dôr, num rosto, é, antes de tudo, ne- 
gócio de planos, rigorosamente, judí ciosamente 
estabelecidos. É a exatidão da construção que 
dá à flor de pedra a alma de um modêlo. A 
“Landaise”, “ Antonieta”, “Joana”, “M. Líe- 
vre” todos esses bustos de Despiau, são de uma 
.verdade inimitável. É à luz deslumbrante de 
suas formas, tão harmoniosamente, tão severa - 
mente distribuída que a “Mulher Indolente”, o 
“Apoio”, o “Monumento aos mortos” de “Mont 
de Marsau” devem o seu acento penetrante e 
inesquecível. 

Assim, a escultura francesa, no caminho real 
onde, há tantos séculos, ela penetrou, continua 
sem desfalecimento a sua ascenção incompará- 
vel. O grande impulso que recebeu da obra de 
Rodin deu-lhe uma segunda mocidade e uma 
ple idade de artistas novos, nutridos das gran- 
des tradições do passado e possuidores de uma 
sensibilidade moderna, continua a tarefa dos 
seus predecessores. Aos primeiros ilustres que 
terminaram a sua missão, pode-se, desde já, 
acrescentar os nomes das jovens escultores: 
Drívier, Gimond, Wléric]<\ Belmondo, Pommier, 
Guénot, Par agre Dideron. Não há a temer que 
o facho tombe de mãos esgotadas nem que ele 
se apague. 



22 — RESENHA MUSICAL 



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PÓDE SER LIDA NAS SALAS DE LEITURA DAS PRINCIPAIS 
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RESENHA MUSICAL — 23 








VARIAS... 



8.0 SALÃO PAULISTA DE BELAS ARTES — Da ilustrada Comissão Organizadora do 
8.° Salão Paulista de Belas Artes, srs. João B. Ferri, José Maria da Silva Neves, João Del Nero, 
Paulo Valle Junior e Teodoro Braga, recebeu esta revista, um atencioso convite para compa- 
recer ao ato inaugural realizado a 11 do corrente, na Galeria Prestes Maia, Salão Almeida Jr. 

AUDIÇÃO DE ALUNOS — Realizou-se no salão nobre da Fabrica de Pianos Brasil, 
nesta Capital, uma esplendida audição dos talentosos alunos dos profs. Climene e Artur 
Kauffman. 

VISITA RESENHA MUSICAL DR. LUIZ WETTERLI, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO 
CORAL E SINFÓNICA DE SÃO PAULO — Acompanhado do sr. Benedito de Morai* esteve 
em visita a Redação desta revista, o sr. dr. Luiz Wetterli, ilustre compositor brasileiro e ex- 
aluno de Alberto Nepomuceno, fundador do Conservatório Musica} de Santos e da novel Asso- 
ciação Coral e Sinfónica de São Paulo. Crnoj lembrança de sua visita, o preclaro patricio dei- 
xou consignado no livro especial o seguinte termo; 

AOS TRIUNFANTES VENCEDORES DA INTERESSANTÍSSIMA E MUITO INSTRU- 
IVA 44 RESENHA MUSICAL”, OS DISTINTOS PROFESSORES SR. CLOVIS DE OLIVEIRA 
E EXMA. SENHORA, OS MEUS SINCEROS E CARINHOSOS VOTOS DE CONSTANTE E 
MERECIDO DESENVOLVIMENTO. 

S. Paulo, 17-IV-942 
(a.) Luiz Wetterli 

ASSOCIAÇÃO CORAL E SINFÓNICA DE SÃO PAULO — Recebemos do sr. dr. Luiz 
Wetterli, d. d Presidente da Associação Coral e Sinfónica de São Paulo, um exemplar dos 
Estatutos dessa nova entidade musical, com a seguinte delicada dedicatória: 44 Ao ilustre Dire- 
tor da “Resenha Musical” sr. Clovis de Oliveira a Associação Coral e Sinfónica de São 
Paulo, com reconhecimento pela bôa cooperação inicial, carinhosamente oferece, Luiz Wetterli 
— S. Paulo, 17-IV-42”. 

PUBLICAÇÕES RECEBIDAS: — BOLETIM DA B. B. C., DE LONDRES, INGLATERRA, 
NOTICIOSO CATOLICO INTERNACIONAL, BUENOS AIRES; REVISTA MUSICAL, MÉ- 
XICO; ORIENTACION MUSICAL, MÉXICO; MUSIC EDUCATORS JOURNAL, CHICAGO, 
S. U. A.; CARNEGIE ENDOWMENT, NEW YORK, U. S. A.; NOVA LURDES BRASILEIRA, 
NITERÓI. 

ATENEO MUSICAL DO MÉXICO — Foi nomeado Socio Correspondente dessa importan- 
te instituição em nosso paiz, fundada em 1929, por ocasião do Congresso Nacional de Musica 
do México, sr. prof. Clovis de Oliveira, diretor de RESENHA MUSICAL, que, também, foi 
convidado para colaborar e representar no Brasil a revista “ORIENTACIÓN MUSICAL do 
México. 



24 — RESENHA MUSICAL 



I 




Edição facilitada de peças celebres para piano 

Minueto do boi 
Marcha Nupcial 
Minueto em mi bemol 
Mazurka, op. 7, n. 1 
Escosseza 
Valsa do adeus 
Marcha Turca 
Gavotta 

Canção de caça 
15® Prelúdio, op. 2# 



1 — UAYDN .... 

2 — MENDELSSOHN 
S - MOZART 

r-, — CHOPIN . 

5 — BEETHOVEN . 

6 — CHOPIN . . . . 

7 — BEETHOVEN . 

8 — GLCCK .... 

<> — MENDELSSOHN 

m - CHOPIN .... 



EDIÇÕES 1. M. L. 



SÃO I» A U I. O 




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Rua B. de Jaguara, 980 — Tel. 3-7211 

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Matriz — - São Paulo 

R. ANTONIA DE QUEIROZ, 183 

Fone: 4-1522 

Filial — Rio de Janeiro: 

R. DO OUVIDOR. 123 — 1° ANDAR 

Fone: 22-9051 



Of. Gráf, “Legionário" — Rua Imaculada Conceição, 59 — Tel. 5-1536 — S. Paulo