Diretor : PROF. CLOVIS DE OLIVEIRA Redatora : PROFA. ONDINA F. B. DE OLIVEIRA
R. Cons. Crispiniano, 79 - 8.® andar — S. PAULO
ANO IV
SÃO PAULO — ABRIL — 1942
NÜM 44
Aos Leitores
Onde os
CRANBES MESTRES
revivem ...
Animado por suas mãos rie artista, o piano
BRASIL reviverá os grandes mestres. É de
mecanismo perfeito, de sonoridade impecá-
vel. Louvanvno os interpretes mais famosos.
Encha seu lar de harmonias com esta cbra
prima que é o orgulho da nossa industria.
Pianos Brasil S. A.
Rua Stella, 63 — Tel. 7-5214 e 7-2274 — S. Paulo
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Redação: Rua Cons. 0 Crispiniano,
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A Itliióíca ^Relígíoéa no BraóíL
SARAIVA FILHO
Da “Sociedade de Cultura Musical
do Rio Grande do Norte”
Podemos afirmar, com uma base fundamental,
que, com a catequização dos nossos caboclos,
iniciada pelos corajosos e intrépidos jesuítas,
que desembarcaram na terra de Santa Cruz,
nasceu também, o ritmo da melodia religiosa,
que hoje, enriquece de uma maneira formi-
dável os arquivos corais das igrejas dos Brasil.
A vasta documentação apresentada pelos
ilustres escritores Mario da Andrade, Renato de
Almeida, e outros nomes que se inte-
ressam por dados históricos da Arte dos Sons,
retrata com uma perfeita nitidez, a grande
obra desses missionários santos, que se desti-
naram a dar a sua própria vida, em favor da
educação dos nosos caboclos selvagens.
Como disse Renato de Almeida, no seu pre-
cioso livro “Historia da Musica Brasileira”,
“tudo isto ficou nas crônicas e nada influiu”.
E de fato. Se não fosse, atravez da Historia
do Brasil ,cujos personagens influiram a deze-
nas de historiadores patricios, nos comentários
civicos e patrióticos, sobre o mágestoso edifi-
cio cerebral desses missionários dinâmicos, em
cujas paginas douradas se edifica uma epopéia,
a Historia da Musica Brasileira, talvez, tives-
se ficado esquecida, como dezenas de persona-
gens que hoje vivem sem nenhum comentário
sequer.
Atravez da Historia do Brasil, encontramos o
nome de Frei João da Cunha, homem de ca-
pacidade extraordinariamente elevada, que
apresentou em publico o monumental drama
MISTÉRIO DE JESUS, de autoria do grande
Anquieta, o batalhador forte da alfabetização
do Brasil.
Teria ficado na obscuridade dos fatos, o
nome do padre Álvaro Lobo, se não fosse a
Historia do Brasil que retrata os seus traços
bibliográficos e a sua cultura fisica ainda
quando o Brasil, era uma colonia portuguesa.
Pois bem, esse nome está gravado e colorido
nas paginas históricas da Musica Brasileira. Foi
ele o autor dos belos dramas ONZE MIL VIR-
GENS, DIALOGO DA AVE MARIA, MAR-
TÍRIO DE SÃO SEBASTIÃO e muitos traba-
lhos de valor, que, pelo descuido dos nossos
patricios, somente os nomes deles são lembra-
dos constantemente pela capacidade culta de
Renato de Almeida e Mario de Andrade, como
exemplos de religiosidades musicais.
O padre jesuita, assim, trabalhou sem se
cansai*, em elevar o sentimento dos primeiros
povos brasileiros, em conjunto com a “Carta
de ABC”, ainda hoje adotada pela criançada
que se destina a enfrentar a Vida e as conse-
quências do mundo.
Naquele tempo, quando se fundava uma es-
cola, era entregue ao aluno uma folha de pa-
pel com a pentagrama. Os hinos de aula repre-
sentavam o pelo-sinal dos alunos. E enfim, o
ABC da musica era o segundo livro de leitura.
Por falta de conhecimentos instrumentais,
dos jesuitas, o canto coral servia de base para
o ensino musical. Todos cantavam bonitas me-
lodias e hinos marciais que encorajavam cada
um a começar a pesada e facil tarefa de
aprender a ler e escrever.
Neste momento, relembro, a mais acertada
frase, que já vi em matéria de educação, de
autor desconhecido:
— “Não ha uma educação perfeita, sem
uma alta cultura musical”. — E, ahi está um
exemplo: — o Brasil, educado, patriótico e
valorisado entre dezenas de paizes cultos do
globo terrestre.
Em primeiro lugar, devemos isto aos jesuitas
catequisadores dos primeiros irmãos patricios.
que vieram com uma unica arma. que foi o
Crucifixo do Senhor, pendurado ao pescoço,
contra á ferocidade da ignorância.
Nos diversos desempenhos de suas funções,
sempre partia aquela onda negra de batinas,
em conquista de novos horizontes. Os casebres
de palha, as tabas e as próprias estradas lon-
gas, eram visitadas constantemente por aque-
las almas sagradas, que iam plantar uma se-
mente de cultura, para ali, nascer, não somen-
te uma, mas dezenas de arvores floridas e vice-
jantes, que são hoje representadas pelos seus
preciosissimos frutos: as inúmeras bibliotécas
existentes em todo o País.
Atualmente o Brasil, grande em terras, cul-
tura e Artes, independente das outras nações
amigas, ainda sente a perda daqueles pastores
d’alm£u\ que se bateram fortemente contra a
inevitável ignorância de outrora.
É de notar, que a vinda de D. João VI. para o
Brasil, não somente a Musica, como também
todas as artes, tomaram o seu posto de sentinela
indormida. A fundação da Escola de Belas Ar-
tes, Imprensa Oficial, Biblioteca Publica, Jar-
dim Botânico e outras entidades de valores reais,
foi trabalho de D. João VI, que apezar do seu
ostracismo, ainda possuia um espirito culto e
belo, isso talvez pela educação de seus mestres
na velha Europa, ou para recordar o seu pala-
cete em Portugal, que naquele tempo vivia as-
sistido pelas maiores celebridades artísticas.
Dentre as aventuras do monarca, nasceu
uma bela incentivação pelo gosto artístico no
Brasil, trazendo desta maneira um ambiente
verdadeiramente musical.
*
★ *
Um fato interessante, ocorreu, quando D.
João VI, assistiu pela primeira vez uma Missa
no Brasil. Naquela manhã de sol e radiante,
na Igreja de Santo Inácio de Loiola, seria rea-
lizado esse ato religioso, em Ação de Graças,
ao qual compareceram s. magestade e seus
dignos auxiliares.
Ao acenderem as primeiras velas do Altar-
Mor, ecôou um côro de vozes, pelas arcadas,
dos altos da referida Igreja. E lá, em cima,
achava-se um grupo de meninos entoando os
cânticos sagrados para o introito da Santa
Missa.
D. João VI, espirito observador, ficara abis-
mado com aquela melodia suave, igual á de
Handel, Bach, os grandes compositores de mu-
sicas religiosas alemãs.
No decorrer do Santo Sacrifício da Missa,
aquela musica encantava maravilhosamente a
Casa de Deus e a todos que, com penitencia,
oravam aos pés do seu Patrono Santo Inácio
Loiola.
Aquela musica que deixou tanta gente admi-
rada, era de autoria do padre José Mauricio,
nascido na cidade do Rio de Janeiro, no ano
tíe 1767. De origem de uma familia mestiça
José Mauricio, foi uma das maiores glorias
musicais brasileiras.
Alguém disse, certa vez, que “a sua Musica
é extatica, não pelo jogo forçado de recursos
ricos, mas pela inspiração ardente e fervorosa,
que se elevava e transfigurava, no canto reve-
lador. Daí a grandeza e sinceridade. Para ele,
a musica era uma voz de liberdade que lhe
comunicava o espirito com Deus. n’uma fusão
misteriosa e indefinível.
2 — RESENHA MUSICAL
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Direita, 2 e suas filiais
José Maurício Nunes Garcia, tocava cravo,
viola, violino e era o Mestre da Capela da Ca-
tedral, nomeado com honras, pelo seu protetor
El Rei D. João VI, que apezar de apreciar tan-
to as qualidades reveladoras do modesto musi-
co, esse, durante a sua vida, nunca siquer
pediu-lhe um favor. E assim, com o Padre José
Maurício, findou-se a primeira década dos mis-
sionários educandos, que tanta Gloria deu ao
nosso querido Brasil.
Com a morte desse ilustre sacerdote, oue dei-
xou mais de duzentas composições, a musica
sentiu um profundo abalo, principalmente a
religiosa que tinha tido um grande progresso
durante a sua vida.
E agora, vive o Brasil, com o seu novo ritmo
fervoroso e quente, com a sua musica de com-
passos diabólicos, tomando um rumo diferente
e entrando para um periodo de Profanação!
Possuimos muitos compositores de renome
no alto magistério da Musica, mas todos se
absteem de fazer musica religiosa, tão util à
Educação do Povo.
Porque?. . .
Faltam os missionários santos.
Falta um novo José Mauricio.
Irene Mauricia de Sá
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RESENHA MUSICAL — 3
4 — RESENHA MUSICAL
jA Vareja
(Especial para
"Resenha Musical")
O repertório de bôa música para piano
é inesgotável. A nenhum outro instrumen-
to, quasi todos os grandes autores têm
confiado tantos dos seus mais profundos
sentimentos. A explicação disso não se ba-
seia por motivos sociais (divulgação e apa-
rentemente, o fácil manejo do instrumen-
to) mas, sim, por noção artistica: o cim-
balo de Bach, a espineta de Mozart, o pia-
no do tardio Beethoven; o piano de cauda
muitíssimo nuançado de Mendelssohn,
Sohumann, Chopin e finalmente o piano de
cauda para concertos de Liszt e ainda de
Debussy e Stravinsky, e, também, de Ra-
chmaninow, todos esses pianos guardam
o segredo que seduz o autor a confissão
dos seus mais profundos sentimentos mu-
sicais. Sómente o Quarteto de cordas e
oportunamente, a “vox" humana, podem
vangloriar-se do mesmo.
E como pode ser explicado este segredo
num instrumento, cujo efeito baseia-se em
grande parte, mecanica e material o que
deixa ao pianista o momento dizemos: o
carinho — até para a produção do tom?
Num instrumento o que aumenta as alte-
rações (do diése e ré bemol) que aparen-
temente só conhece " variações ” dinamicas
do pp até ff? A técnica manual muito de-
senvolvida mas não ligada ao sentimento
interpretativo da maior parte dos virtuoses,
do ^píaníéia
De HENRY JOLLES
e escolas de música não descobre-nos este
segredo. Poderá ela ser contrária aos seus
colegas seculares dos séculos passados?
Bem raro e cada vez mais raro, encontrar-
mos artistas, técnica musical e artistica-
mente bem dotados em gráu de igualdade
que conseguem se incorporar neste segre-
do de atrair o ouvinte. E aqui desVenda-se
o véu: o ouvinte compreende, que em ge-
ral o piano não pode falar se não houver
sugestão mas o piano póde sugerir tudo
que existe em cores (tons) ou possibili-
dades de formação. Se, por exemplo, tira-
se do órgão todas as variações (registros),
devem ser introduzidas no piano e as pon-
tas dos dedos dos painistas, em contacto
com sua alma (genio) o — aí onde a peça
« exige — com seu coração devem sus-
tentar sua grande responsabilidade peran
te a óbra; os dedos formam a última ini-
ciativa para equilibrar a beleza e verdade
de uma óbra, como seja um Retardando ”
de viver efetivamente como é prescrito, e
tantas coisas mais. O que não pode tudo
•pairar sobre nós numa sonata de Beetho-
Ven: corneteiros, violinistas, orquestra
completa, órgão, a "vox” humana, timba-
le, ferrinhos, e mais aqueles contrapontos
confiados a cada mão, tons do cosmo de
perto, de longe e outra coisa mais. Os
compositores, muitas vezes, mesmo, com
RESENHA MUSICAL — 5
—
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instrumentos insuficientes, conseguiram
esse poder do piano e assim se explica
a riqueza que deixaram, que é tãõ variada
e tão grande, de maneira que hoje, talvez,
nenhum pianista terá a capacidade de go-
verna-lo com a mesma perfeição. O segre-
do do encanto está na sugestão. Não que
o ouvinte precisa sentir essa sugestão de
um tom de flauta, mas sim precisa sentir
a cor (tom) da idéia musical que faz con-
seguir a forma expressa. Cada ouvinte sen-
sível é capaz para isso e a pergunta ó
mais se um artista nos nossos tempos
achará a tranquilidade equilibrada para
mergulhar profundamente na óbra à criar
e para poder intefpreta-la. Pois o piano é
uma fada, porém, uma fada pérfida. Por-
tanto o problema é bem claro: numa épo-
ca em que a música volta a arte aplicada
— depois de 300 anos (e porque não, por-
que opor-se a tal conhecimento?) é pre-
ciso conservar e sempre avivar espiritual-
mente as óbras, em nosso caso as óbras
para piano daquela época, e fazer madu-
rar a sugestão aplicada ao instrumento
até a interpretação da idéa artística.
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6 — RESENHA MUSICAL
lAma J niereóóanie Sugeóião
— Comentário —
Ao diretor de “Resenha Musical” escre-
veu o prof. Rodolfo Barbacci, professor de
música em Lima, Perú, uma interessante
carta, que vai transcrita e traduzida logo
adiante.
Leia o nosso leitor, com atenção, o que
diz o ilustre professor peruano e, forço-
samente, lhe dará razão. E, por certo, não
deixará de se inscrever no número daque-
les que, doravante, hão de estabelecer o
intercâmbio de programas e curiosidades
musicais.
De fato, todo historiador tem na heurís-
tica um fator, essencial para bem interpre-
tar os fatos passados e suas repercussões
remotas e presentes. Sem uma bôa docu-
mentação êle será obrigado a ficar no cam-
po bem perigoso das hipóteses e das con-
clusões dúbias. Outra segurança terá seu
mistér, se à sua disposição estejam docu-
mentos, que são fontes seguras, onde se
irá abeberar.
Há as mais disparatadas manias neste
mundo, em matéria de coleções. Conheço
pessôas que colecionam moedas, selos, cai-
xas de cigarros ou de fósforos, programas
de cinema (!), carimbos, livros raros, te-
las, curiosidades várias, desde as mais
insignificantes até às mais exóticas e dis-
genésio pereira filiho
parataddas. E, em muitas dessas manias
há puramente o gôsto, a “mania”, sem
qualquer fundamento util. Em outras é bem
diferente o caso. Ao lado do deleite há a
utilidade. E bem andou o prof. Rodolfo Bar-
bacci, lançando a ideia de se colecionar
programas de concertos e curiosidades mu-
sicais, com uma “mania” sã e util, tanto
mais util quanto mais for correndo a areia
do tempo...
Passemos a palavra a êle, que nos dirá
melhor do assunto:
“Lima, 9 de novembro de 1941
Estimado colega prof. Clovis de Oliveira:
Recebi com muito prazer 10 exempla-
res de “Resenha Musical”, na qual figura
a tradução de meu artigo “Defesa do Crí-
tico Musical”, pelo que fico muito agra-
decido.
Com a presente envio-lhe alguns progra-
mas de concertos, que lhe servirão para
redigir algumas notícias das manifestações
musicais de Lima.
Tenho uma idéia que, quiçá, poderá in-
teressar-lhe desenvolver para a Revista.
Quase todas as pessôas mais ou menos
acomodadas e cultas colecionam algo;
muitas, selos, outras, fotografias, algumas,
livros raros, primeiras edições, objetos di-
versos etc. mas a ninguém ocorre, espe-
cialmente aos músicos, colecionar progra-
RESENHA MUSICAL — 7
mas de concertos e de bôas manifestações
musicais, já sejam antigos ou modernos.
Considero que o colecioná-los, além de
satisfazer essa inocente mania de colecio-
nadores que todos temos e que vem ex-
plicar ainda bem os psicólogos profissío-
nais, constitue uma fonte de instrução e
curiosidades musicais mui dignas de se
ter em conta; através dos programas an-
tigos ver-se-ia como procediam os grandes
compositores e executantes, quando apre-
sentavam obras longas, em várias tempos,
não as tocando todas seguidas, senão in-
terrompendo entre tempo e tempo, para in-
tercalar outras obras, às vezes a cargo
de outros executantes; que ainda os maio-
res e mais apreciados solistas (Liszt, Ru-
bini, Chopin, Paganini, etc.) não gostavam
de oferecer “ recitais ”, ou seja, audições
musicais exclusivamente a seu cargo, e
buscavam a colaboração artística de algum
outro artista, para variar o programa, cos-
tume que foi abandonado depois e, parece,
por exemplo de Liszt, que, dizem, foi a
primeira personalidade artística que ofe-
receu um “recital”; ver-se-ia, também, nos
programas antigos, a importância tipográ-
fica que davam a tais ou quais obras, qual
era a ordem preferida, que obras tocavam
preferentemente os executantes célebres,
com que frequência, etc. — Estes progra-
mas seriam coleções de documentos vivos
para a história da música e poderiam co-
lecionar-se em duas formas: programa
original (impresso que era distribuído ao
público). Cópia çléstes ou dos publicados
pela imprensa.
Creio que mereceria interessar-se aos
músicos americanos, que, atualmente, têm
a sorte, única no mundo, de poder ocupar-
se da arte, tranquilamente e ganhar-lhe
ainda nisto a dianteira oficial aos músi-
cos europeus, estabelecendo um serviço de
troca, no princípio com programas atuais
e, quando a difusão o permite, também
com os antigos.
Não excluo a idéia futura de que se fa-
çam reimpressões fotográficas de progra-
mas célebres, que se editem coleções deles
(possivelmente com comentários, quando
os necessitem) e creio que a alta cotiza-
ção e interesse que encerraria um progra-
grama de concerto poderia favorecer tam-
bém o movimento cultural dos pequenos
ambientes: sabendo que os programas de
concertos circulam entre todos os músi-
cos do continente, seria incentivo poderoso
para apresentar concertos fora do comum:
audições de obras novas, concertos histó-
ricos, de novidades, ciclo de audições
“monográficas” (classifico assim a “his-
tória do Lied”, da “Canção do Berço”, das
“Obras inspiradas nas crianças”, na
“agua”, nas “flores”, em “obras literá-
rias”, “pictóricas”, etc., sôbre o que escre-
vi há vários anos um artigo na revista
musical “Clave”, de Buenos Aires: "For-
mação de programas de concertos”.) Não
excluo tampouco que o comércio tipográ-
fico poderia obter também seus benefícios
no sentido da especialização na impressão
de programas de luxo, adornados com
exemplos musicais, com fotos e biografias
de autores, impressos em forma original e
recortando o papel a capricho e a fantasia.
Não conheço ninguém que se ocupe disto
e nem alguma publicação; desejaria ser
eu o iniciador e que VV. SS. anunciem
aos músicos pela primeira vez esta nova
“mania colecionadora”, que seria assim
classificada em seu início, mas que depois
constituiria, especialmente para os jovens
estudantes de música uma fonte de inte-
rêsse para conhecer a história das mani-
festações musicais de sua cidade, de sua
pátria, do mundo inteiro”.
Assim, pois, podem ver os nossos leito-
res o quanto é interessante esta sugestão
de Rodolfo Barbacci.
Resta que os nossos músicos não fiquem
no simples aplauso e no louvor a Barbacci.
6 preciso agir.
8 — RESENHA MUSICAL
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10 — RESENHA MUSICAL
Humanismo na Arte
HEIJO DUARTE
“Em verdade, há no fundo de qualquer desen-
volvimento das artes algo mais elevado do que
às próprias artes em si; há a explicação dês-
se seu desenvolvimento evolutivo natural e ló-
gico; há a própria filosofia da arte”. É com
estas luminosas palavras, que Licínio Cardoso
abre a sua, muito sua, “Filosofia da Arte”,
destinada, segundo Azevedo do Amaral, a om-
brear com “Os Sertões" de Euclides da Cunha,
como “as duas mais fortes expressões do pen-
samento brasileiro”.
Porém, mais sutil ainda, mais prenhe de
significações, é a continuação do período aci-
ma exposto: “acima da “forma”, acima da
“idéia” que uma obra de arte encerra, “há
ainda a beleza de uma harmonia mais elevada,
há o domínio superior de uma lei evolutiva”.
O ambiente gerando o meio, influe decisi-
vamente como expressão evolutiva ou involu-
tiva — e o clima teocrático, alimentando mas
tiranizando todos os valores artísticos dos po-
vos bárbaros, responde até certo ponto, pelas
manifestações construtivas, se não únicas, ao
menos principais e cujos vestígios ainda nos
alcançam — os templos, quanto à arquitetura
— as imagens quanto à escultura.
f! asim na Grécia, como em Roma; no Egito
como na índia e na Árabia como no Império
dos Maias.
' Certo, há exceções grandiosas e por demais
eloqucntH^ principalmente na Grécia e em
Roma. Naquela o antropomorfismo, como de-
rivativo lógico e natural de um incipiente in-
dividualismo; o primórdio talvez do humanis-
mo no mundo; nesta, a lição utilitária do en-
genheiro, evidenciada nas construções de cará-
ter público e útil. como consequência espon-
tânea do uma função social elevada e carac-
terística.
Com o incremento do cristianismo nascido
e vivificado à sombra escura dos cemitérios,
através de martírios e sacrifícios, retoma a
%
arte o seu caráter coletivo por influência do
novo dogma, imposto este, pela nova teocracia,
perdendo asim o caráter do bom senso e da
simplicidade, para estampar então em tôdas as
sua$ manifestações, um infantilismo espon-
tâneo, mas severo, que lembra a sua origem nos
corredores tenebrosos e húmidos das catacumbas.
Eis como podemos chegar até a explicação
dos ornatos trabalhados, horríveis por vêzes,
mas simbólicos sempre, e que exprimem ao par
de um trabalho acurado a influência avassa-
lante da fé indiscutida e inabalável. Ao mis-
ticismo de então acresce o nenhum conheci-
mento das letras. A religião deve ter sido em
seus primórdios qualquer coisa de horrível, de
belo-trágico, por isto, é que o simbolismo ex-
presso através dos ornatos, gravita sempre em
tôrno de figuras de histriões, serpentes, figu-
ras alegóricas dos vícios humanos, figuras' dia-
bólicas, anjos e reis. A alma coletiva do século
quatorze e quinze, corporifica-se neste simbo-
RESENHA MUSICAL — 11
lismo de duendes; resumindo nas suas polimor-
fas facetas um período místico-heróico, de
cultores do Irreal, de adoradores do Terror.
Nenhum rudimento de ciência exata e pura,
ousou quebrantar a escuridão do pensamento
medievo.
É com o Renascimento que surge a huma-
nização dos santos do cristianismo, como na
Grécia no século quarto surgira o antropo-
morfismo politeiro e que a progressão notável
da riqueza ajuda e estimula. As expressões ar-
tísticas, isto é, as várias formas da represen-
tação das emoções, ganham individualidade,
vivendo vida própria e independentemente da
arquitetura, com uma floração tanto mais sa-
dia quanto mais afastada da teocracia absor-
vente e côncava. A pintura torna-se uma arte
complexa e completa, sobrepujando a escultura
graças ao desenvolvimento atingido pela
técnica.
Chegamos assim aos nossos tempoô. Os fácies
da nossa arquitetura, já se não prendem às
leis da composição, quase sempre “formas
construtivas obrigadas”, e repelem inteira -
mente o ornato — pois o humanismo hodierno
ó essencialmente socialista. Domina o útil, mas
o belo náo é desprezado. As linhas horizontais
e simples indicam um sentido de vida menos
escravizado aos preconceitos e sobretudo mais
repousante e mais liberal. O nível intelectual
das massas, já permite a compreensão do sim-
bolismo sintético e matemático, expresso linear-
mente ou em superfícies. Prescinde inteiramente
do simbolismo torturado e analítico dos nossos
antepassados.
Eis os sinais do nosso século.
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12 — RESENHA MUSICAL
A & ümoLogía cio “^prevo"
JOAQUIM RIBEIRO
Osório Borba, jornalista, de boa têmpera, es-
crevendo sóbre o “frêvo” chamou a atenção dos
estudiosos para o étimo de tão curioso vocá-
bulo.
A sua crônica, que é interessantíssima, an-
tes de ser lida por mim, já chegara aos meus
ouvidos, pois aquele bicho Oura-idre, de que
fala Rabelais, já me informara de que, nela, eu
era denunciado como “frevista” entusiástico.
Não é mentira. Essa dansa recifense tem pa-
cinios inconfundíveis e eu me confesso um
apaixonado dela. O frêvo, antes de tudo, é
um chamamento coletivo e talvez por isso exer-
ça essa “mágica influência” sôbre os que, como
eu, amam o povo nas suas realizações espontâ-
neas e ingênuas, primitivas e sinceras, de sabor
nitidamente folclórico.
Osório Borba, com agudeza, analisando a ori-
gem do vocábulo e confessando que ignora se os
pesquisadores da língua brasileira já fixaram o
étimo, aponta frêvo como evidente corruptela
de “fervo", por sua vez simplificação de “ fer-
vura”.
O problema, entretanto, já tinha sido, dis-
cutido por um ilustre pernambucano e eruditís-
simo conhecedor da língua nacional, o sr. Ro-
dolfo Garcia, que no seu bem feito “Dicionário
de brasileirismos”, publicado na “Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro” de-
clara ser frêvo “metatese de fervo, por fer-
vor”, afirmando ainda ser termo de criação
recente.
Lembra também, uma versalhada publicada
em “A Província”, (1913), que diz assim:
O frêvo, palavra exótica
Tudo que é bom diz, exprime,
É inegualável, sublime,
Termo raro, bom que doe...
Vale por um dicionário
Traduz delírio, festança,
Tudo salta ,tudo dansa,
Tudo come, tudo roe . . .
* * *
O localismo do vocábulo afasta a origem ne-
gra. Os vocábulos negros, de regras, possuem
áreas geográficas amplas e não se fixaram ex-
clusivamente numa órbita urbana.
RESENHA MUSICAL — 13
O fato de frévo se batismo enuinamente re-
cifense, urbano por excelência, nos permite su-
gerir um étimo algo literário. A expressão
“marcha frêvo” deve se entender “marcha
ligeira *\ como de fato é, aceitando-se frêvo
como coruptela de frívolo, cujo significado geral
é ligeiro, volúvel, etc..
Êsse étimo, que surgiu só é admissível e de-
fensável, enquanto estiver assentado que o frê-
vo é criação exclusivamente urbana do Recife.
Do ponto de vista linguístico as mutações
frívolo, frivo, frêvo são aceitáveis. A queda da
última sílaba explica-se pela tendência contra
os endrúxulos. A mutação i, e tem exemplos
numeros: scribo* escrevo; avaritia, avareza; con-
silium, conselho, etc..
O campo das etimologias fertiliza a ima-
ginação.
O joven escritor Josué Monteio explica frê-
vo como corruptela de febre, o que, sem dú-
vida, não fere a fonética, mas tira a saúde de
tão sadia coreografia pernambucana...
Qual das conjecturas guarda o segredo da
origem? divergência impede uma solução defi-
nitiva. A linguagem parece ciosa de seus mis-
térios.
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14 — RESENHA MUSICAL
CONCERTOS
CONCERTO DA ORQUESTRA DE CAMARA DA SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍS-
TICA — Sempre nos é dado a felicidade de gozarmos um bem na terra. Eis uma verdade digna
de nota. Sim, porque esse bem não é apenas o usofruto do metal sonante, que, como sangue
circula pelas veias da humanidade. Também, podemos gozar esse bem quando ele é arte, mksica
como que uma ventura divina, uma benção do céu, ele, como verdadeira arte em sua fineza
subjetiva, alteia a alma do homem. E, esse bem, assim pensado, e, assim acolhido, foi-nos
oferecido pela Orquestra de Camara da Sociedade de Cultura Artística, sob a regncia de
Sousa Lima, no Teatro Municipal, executando um modelar programa.
Prestou seu valioso concurso o brilhante pianista Fritz Jank, que executou o Concerto
de Mozart. Fritz Jank é um artista que sempre agrada porque reveste sua execução de muita
seriedade tanto técnica, como interpretativa. O Concerto de Mozart, teve em sua mãos a ver-
são exata, cuidada, que esse virtuose, como magnifico interprete nos apresentou.
C. cie O.
MARINA MENDES LEITE — Uma estréia auspiciosa a da jovem pianista Marina Men-
des Leite que apresentou-se em concerto promovido pelo Departamento de Cultura, colaboran-
do com a Orquestra Sinfónica sob a regencia do maestro Bellardi.
Escolheu para a sua primeira exibição nesta Capital, o Concerto de Mozart.
Fesumindo o nosso conceito a cferca dessa futurosa pianista, podemos dizer que agradou-nos
sobyemaneira sua execução vivaz coadjuvada por muita precisão ritmica.
A Orquestra do Departamento teve nessa noite uma atuação brilhante.
O maestro Armando Bellardi que vem se firmando de modo saliente na direção de gran-
des obras sinfónicas, teve, por sua vez, a oportunidade de colher mais aplausos para sua
carreira.
C. de O.
CONCERTO DE CAMARA DO DEPARTAMENTO DE CULTURA — O Concerto do De-
partamento de Cultura, realizado a 24 do corrente, apresentou os notáveis conjuntos de
Camara Trio São Paulo, Quarteto Hydn e Coral Paulistano, cujos podemos citar como os
m
mais destacados do paiz e, talvez, não exagerando, da America do Sul.
O Trio executou Mendelssohn, op. 49 e o Quarteto Haydn, Beethoven, op. 132. Consegui-
ram esses dois conjuntos uma realização proporcional às realidades técnicas dessas obras,
cujas dificuldades foram vencidas e substituidas por exemplar liberdade de execução, dentro
da mais absoluta homogeneidade, conseguindo arrancar do numeroso auditorio, prologadas
palmas.
O Coral Paulistano que, dia a dia, mais se impõe à nossa admiração, executou sempre
vivamente aplaudido excelentes óbras em l. a Audição, dentre as quais dos autores João Seppe,
Cantú, e outros.
C. de O.
RESENHA MUSICAL — 15
CONCERTO SINFONICO COM O SOLISTA HEINZ JOLLES — A 24 do corrente, O
Departamento de Cultura promoveu mais um de seus concertos sinfónicos, este sob a regencla
do maestro Guarnieri, apresentando o eminente pianista Heinz Jolles.
Naturalmente o interesse maior consistia na parte em que participaria o ilustre pianista
que, apresentado sem nenhuma propaganda, teve a ouvi-lo uma assistência atenta que não
negou seus entusiásticos aplausos a estupenda execução do Concerto em lá menor, de Schumann.
A orquestra do Departamento colaborou de modo notável, correspondendo a regencia do
maestro Guarnieri.
Heinz oolles, é um dos pianistas de grande escola. Possue uma maneira peculiar de tratar
o teclado como se ele fosse um veludo; transformando-o mesmo, num veludo. Matizes admi-
ráveis, seus dedos nos apresentam delicadamente. Seu temperamento é maravilhosamente
musical. A sua execução é daquela que se gravam em nossa memória e que nunca mais es-
vae-se, porque dá-nosprofunda satisfação musical.
C. de O.
DUPLO SEXTETO VOCAL BRASILEIRO — A benemérita Sociedade de Cultura Artística,
realizou a 28 do corrente, o seu 493.° Saráu de arte, apresentando o Duplo; Sexteto Vocal Bra-
sileiro, sob a regencia do festejado maestro Fidélio Finzi.
O programa, composto ecleticamente, pendeu mais predilétamente para as composições
madrigalistas de séculos passados, cujas tiveram execução notável por parte de seus intei-
pretes e do maestro Finzi.
Falando das execuções, cumpre-nos pôr em destaque as das peças brasileiras, de entre as
quais 44 Estrela é lua nova”, de Vila Lobos, foi aplaudidíssima.
Se ha reparos a fazer quanto ao Sexteto Duplo, um notámos que deverá ser corrigido: a
irriquietabilidade do maestro. Logo, não é propriamente ao conjunto vocal. Isso é cousa de
menos, não resta a menor dúvida mas que chega a tirar o aspéto solene de quando a execução.
O maestro Finzi, é um ótimo regentd coralista e o seu grupo vocal, melhorou surpreendente -
mente. Muito bem andou a Cultura Artística ao contratar e apresentar aos seus socios o
Duplo Sexteto Vocal Brasileiro.
Prestaram seu valioso concurso os conceituados artistas Mirella Vita (hai pista) c Fiitz
Jank (piano).
C. de O.
RECITAL DE PIANO DE ESTELINHA EPSTEIN em 30-4-42 — Um publico dos mais se-
letos compareceu ao Municipal para ouvir o concerto da jovem e talentosa pianista patrícia,
Estelinha Epstein.
Alguns dias atrás terminava ela uma luminosa “tournée” pelas capitais do Norte do país,
onde, obteve justa e merecida consagração.
O reinicio de suas atividades artísticas na Capital bandeirante se realizou sob os melho-
res auspícios.
A execução da SONATA op. 53 (Aurora) de Beethoven e a SONATA EM SI MENOR de
Liszt. do ponto de vista técnico não deixou nada a desejar. Faltou-lhe, todavia, o sentimento
e o “amoroso” que caracterizam tais peças, mormente, a segunda.
Estelinha Epstein, artista de valor incontrastavel, é arrebatada, vigorosa, energica. Por
isso é ela incomparável nos trechos que demandam qualidades dessa natureza.
Pelo mesmo motivo ainda, seu êxito foi total em LESGHINKA, dansa caucasa de Liapou-
now, página vigorosa, que traduz bem o temperamento eslavo.
Apesar de substancioso o programa, a encantadora artista foi obrigada a tocar mais
quatro peças, também apreciadas.
Artur Melo God<>i
16 — RESENHA MUSICAL
&clíçõeé Ofiuóicaíó
CLOVIS DE OLIVEIRA
#
RONDó BRASILEIRO — Efislo Anedda
I. M. L. — S. Paulo — 1942:
Um Rondó Brasileiro! Estranho. Até
dá-nos a impressão que o autor é estilista.
Mas esse resaibo humorista em nada pre-
judica a obra em si, escrita para os pia-
nistas e, por isso, essencialmente pianís-
tica. Revista pelo mestre Agostinho Can-
tú, o Rondó Brasileiro, de Efisio Anedda
explora o ritmo nosso e temas nossos. Tal-
vez esta tenha sido 1 a preocupação única
do A., afim de dar ambiência e satisfazer
o título com que batisou-a possivelmente
de antemão. Sem embargo o Rondó Brasi-
leiro é recomendável aos pianistas em ge-
ral que nele encontrarão um arsenal de
belos efeitos.
O GAROTINHO ALEGRE — O URSO DO
CIRCO — JOÃO MINHóCA — Agostinho
Cantú — I. M. L. — 1942 — São Paulo:
O professor Cantú demonstrou sempre
através de suas composições possuir um
espírito excelentemente dotado de humor.
Não desse humor comum tomado no sen-
tido láto do termo, mas desse humor fino
que espiritualisa com graciosidade suas
obras. Assim foram concebidas estas três
pecinhas em clave de sol, para piano, onde
as crianças encontram um colorido novo,
um característico novo. Estas três peci-
nhas são indispensáveis no catálogo esco-
lar dos conservatórios e dos professores
porque didaticamente são ótimas, fáceis e
ricas de novidade musical.
EDIÇÕES G. RICORDI & CIA. (S. Paulo):
SONATA — Beethoven-Casella
Esta peça muito conhecida pela deno-
minação “Ao luar*’, é uma das obras mais
divulgadas e apreciadas do mestre de Bon.
A Sonata op. 27, n.° 2 (p. piano), encontra
guarida no programa de todos pianistas
modestos ou ilustres. Criou-se a cerca
dessa obra uma ambição que todos os que
tocam piano desejam satisfazer: execiitá-
la. Portanto andou bem a Editora Ricordi
publicando avulsa em revisão de Casei! a
e tradução do texto de Lorenzo Fernandes.
VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA BRASI-
LEIRO — F. Mignone
Alexandre Levy escreveu para piano
“Variações sobre um tema brasileiro”, uti-
lizando o vulgarisado “Vem cá Bitú”.
E o fez de modo extraordinário. Até hoje
é uma peça que se houve com muito agra-
do e que desafia com suas sequentes di-
ficuldades a técnica dos bons pianistas.
Reeditando esse episódio da vida pro-
dutiva de Alexandre Levy, Francisco Mi-
gnone compôs para violino e piano, uma
obra de grande valor "Variações sobre uni
tema brasileiro” e para tanto usou o mes-
mo “Vem cá bitú”. Mignone com essa
oferenda deu ao violinista possibilidades
para demonstrar seu acabamento técnico
bordando o tema com riquíssimas dificul-
dades. Não satisfeito extendeu ao acompa-
nhar tais problemas técnicos que exige do
nhador tais problemas técnicos que exige
do pianista largos recursos em seu instru-
SONATA — F. Mignone •
Não são numerosas as Sonatas escritas
pelos compositores brasileiros. E, é pena
que tal aconteça porquanto é uma forma
musical que permite-nos conhecer com
mais amplitude as qualidades artísticas de
um compositor e os seus conhecimentos.
Francisco Mignone, escreveu uma Sonata
para plano. Esta obra vem enriquecer
assim o vocabulário brasileiro do piano. O
pianista encontra em suas páginas chance
bastante para patentear sua ascendência.
De muito efeito, os seus três movimentos
(Moderato, Andantino e Moderafo) são va-
riegados.
RESENHA MUSICAL — 17
j
Microfone
Genésio Pereira Filho
!•
TABAJARA VIDIGAL
Conta a Rádio Cruzeiro do Sul, PRB-6,
com um novo locutor, Tabajara Vidigal.
Nesta ligeira nota, posso dizer que a
“ coração ” deu um “ dentro ”, contratando
Tabajara. Conheço-o desde 1937, quando
êle era locutor da Rádio Clube de Jaboti-
cabal — PRG-4 — onde eu dirigia a “Hora
de Arte”. Em Jaboticabal, desde a funda-
ção da sua emissora, Tabajara foi um dos
mais apreciados e queridos locutores.
Ativo, sempre se atirando a arrojadas
iniciativas, é um elemento de valor e ne-
cessário nas horas de “agitação”. É um
entusiasmado.
De Jaboticabal Tabajara foi para Ribei-
rão Preto, atuando na PRA-7. Tendo esta-
do nessa cidade em março último, pude
verificar o bom nome lá deixado pelo pres-
timoso moço. Poços de Caldas, pela sua
rádio-transmissora, também obteve o bri-
lhante concurso de Vidigal.
E agora, ei-lo entre nós, tentando a con-
sagração definitiva.
Conhecendo-o há muito, só posso prever
para êle um belo futuro.
A VOZ DO BRASIL
/
— Ao microfone da Rádio Difusora vem
atuando Jonas Garrett, um locutor já bern
conhecido no interior, tendo atuado em
PASSAGEM DO
BATALHÃOSINHO
— CLOVIS DE OLIVEIRA —
(para piano — duas mãos)
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batalhões infantis”
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MUSICAL” ou às melhores casas de
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Jaboticabal, Marília, Rio Preto e Uberaba,
nesta última cidade estando, ao vir para
esta capital.
Jonas, posso afirmar por conhecê-lo bem,
é um locutor de mérito, que poderá Vir a
ser um grande nome no rádio brasileiro.
— No dia 28 de abril aniversariou Fran-
cisco Bruno Sobrinho, locutor de “Está-
dio”, da Cosmos.
— Faleceu Fernando Lopes Gonçalves,
que em Jaboticabal foi cronista radiofô-
nico. À família do extinto — amigo e cole-
ga admirável — os pêsames do redator
desta secção e de “Resenha Musical”.
— Em 17 de abril fez anos o sr. Alceu
Camargo Silveira, locutor da Difusora.
— A Cruzeiro do Sul, às 19,45 de tôda
segunda-feira, apresenta Guilherme de Al-
meida em “Momento Cinematográfico”.
18 — RESENHA MUSICAL
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20 — RESENHA MUSICAL
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A Escultura Francesa Contemporânea
GEORGES GRAPPE
i Conclusão n.° anterior)
# Por certo nem todos os escultores, seus con-
temporâneos, seguiam os erros de um acade-
mismo vazio de substância e de boa fé. Seria
injusto confundir com os que o praticavam, ar-
tistas tão nobres como Dalou, Alphonse Le-
gros, Paulo Dubois, Falquére, Eugene Guilhaume,
Bartholomé; os quatro últimas nos. seus me-
lhores dias. Mas era muito naturalmente, entre
os jovens que o creador da “Porta do Infer-
no" devia abrir caminho. De ano para ano
as encomendas foram vindo mais abundantes,
para o artista. Necessitava de praticantes para
executar certos trabalhas. Cercara-se. também,
de colaboradores nos quais reconhecera talen-
to e éstes se sentiram em tão magnífica esco-
la que, pouco a pouco, se foram tornando seus
discípulos ou mais exatamente, seus copistas.
Nunca, com efeito, as lições de Rodin foram
didáticas. Estimulava cada um, no curso dês-
se ensinamento, elevado e familiar, na carreira
para a qual o sentisse instintivamente feito.
No primeiro plano dos seus discípulos acha-
va-se um dos seus companheiros de mocidade,
Jules Desbois, que se bem que não tivesse o
gênio do seu grande amigo, não deixou de ser
um dos mais notáveis escultores de sua gera-
ção, sentia-se nêle o filho das margens do Loi-
re que mostrava muitas vêzes, em obras co-
mo “A Miséria” o “Padeiro e a Morte”, uma
certa rudeza nativa bem emocionante. Mas o
seu maior prazer, devido às suas origens ange-
rinas, era traduzir a medida e a graça e ex-
primir algumas das mais belas qualidades de
nassa raça, uma plenitude de formas, uma per-
feição de modelado que fazia pensar nos nos-
sos escultores da Renascença e do século
XVIII: sua “ Lédá” é deslumbrante de mo-
cidade.
O mais ardente, o mais apaixonado de todos
êsses artistas que trabalhavam à sombra do
grande mestre, o que manifestava a seu res-
peito um ruidoso entusiasmo, contrastante pelo
seu ardor e uma certa jatància, com o de seus
camaradas mais silenciosas, era Bourdelle, nas-
cido em Monteaubau, de uma família de esculto-
res de madeira e talhadores de pedra.
Depois de uma permanência de dez anos na
Escola de Belas Artes de Toulouse e de uma
estadia em casa de Falguiére, entrou para o
atelier de Rodin e desde então não teve outro
desejo do que tornar-se seu êmulo. Por muito
tempo maravilhado do seu talento maravilho-
so, não pensava senão cm o imitar e no dia em
que declarou: “Trabalhei para Rodin e não
com êle”, mostrou-se esquecido, para não di-
zer ingrato. É que, com o tempo compreende-
ra que não poderia igualar o mestre no seu
próprio terreno e portanto lhe convinha se-
guir um outro. Vivendo na familiaridade do
Titã, acabou por surpreender a única fraque-
za do poderoso artista, vendo-o às voltas com
essa construção monumental que se chama “A
Porta do Inferno”.
De um golpe, Bourdelle compreendeu o par-
tido a tirar dessa descoberta e sem romper com
o seu ilustre guia, colocou-se com um reclame
literário mais vistoso do que concludente, co-
mo chefe de uma escultura concebida em fun-
ção da arquitetura. Precisamente nessa época
construia-se o teatro dos Campos Elíseos e o
escultor dirigiu-se a êle para executar uma fri-
sa: “Apoio reunindo as Musas. Êsses altos re-
levos nada têem de comum com o que se po-
deria chamar “a escultura contratada” da Gré-
RESENHA MUSICAL — 21
cia e da Idade Média. Nada existe neles que
lembre os frontais de Olímpio. Da mesma for-
ma o seu “Héraclés” e a “Virgem da Alsácia”
se bem que tenham sido concebidos com a
pretensão de continuar, pelo renovamento, a
estatuária egênica e gótica e apesar de sua ati-
tude movimentada, não deixam de ser um pou-
cô frios. Quando se olha o seu “Mickiewicz”
constata-se até que ponto o seu desejo de atin-
gir o heróico ultrapassou as meios com ele sou-
bera outrora tão bem exprimir fê-lo sua ma-
gistral “Alvear”.
Os mais verdadeiros discípulos de Rodin, os
que conservando a própria personalidade, se-
guiam as lições do Mestre — e até o fim o ad-
miraram como na sua primeira lição, foram
entre outros escultores de menor grandeza po-
rém excelentes, como Lucien Schnegg, Dejean,
Haloce, Joseph Bemard Escoula, Camille Clau-
del, Três admiráveis estatuários cujo reno-
me até hoje, está espalhado pelo mundo in-
teiro: Despian, Maillot e Pompon. Depois de
terem trabalhado sem barulho, ao lado do mes-
tre, para ganhar a vida, realizaram, a pouco
e pouco, em três gêneros diferentes, a tarefa
para que se sentiam destinados. Certamente,
nenhum dos três possuia a imaginação cria-
dora de Rodin que, ao prestígio de uma téc-
nica soberana ajuntava os de uma precisão nas
assentas, perfeitamente humana. Mas, no ca-
minho escolhido por cada qual, êsses herdeiros
de Alexandre conquistaram seu reinado.
Pompon, falecido há poucos anos, consa-
grando o seu grande talento em continuar a
obra de Barye, revelou-se o mais magnífico es-
cultor de animais que a arte conheceu desde
o desaparecimento do autor do “Centauro e o
Gapite”,
Aristides Maillot, nascido à margem do Me-
diterrâneo, continuou bem o filho dessa Hel-
lade que propagou às margens dêsse mar o
sentido da beleza. Revela-se nele um senti-
mento bucólico parecido com o dos velhos can-
tores de idílias da Beócia e da Sicília, Hesíodo e
Teócrito. Seus nus, um tanto pesados às vêzes,
possuem uma grandeza sadia que comove pro-
fundamente. Até nas suas menores figuras, de
um encanto tão humano, se sente vibrar a al-
ma dêsse catalão, impregnado das virtudes do
sol e das grandes lições de Rodin. Suas “Fo-
monas” e suas “Floras” transpiram o perfume
das ervas de junho, à hora do corte embria-
gador.
Há em Despiau uma sobriedade de inten-
ção e de expressão que mais do que qualquer
outra impressão, prende diante de suas obras.
Os meios mais simples lhe bastam para tra-
duzir o que tem a dizer, Da sua longa familia-
ridade com Rodin, reteve, principalmente, a
lição de que em face do modêlo o artista deve
obedecer à natureza, sacrificando-lhe tudo o
mais. A verdade da escultura consiste essencial-
mente em interpretar a vida segundo certas
leis inflexíveis das quais ninguém transgride
sem sucumbir. Quando o artista inicia o seu
trabalho não deve ceder à literatura nem ao
efeito. Se quer exprimir a grandeza, se preten-
der crear um corpo de uma beleza divina, é pe-
la plástica que deve alcançar êsse resultado.
Traduzir a dôr, num rosto, é, antes de tudo, ne-
gócio de planos, rigorosamente, judí ciosamente
estabelecidos. É a exatidão da construção que
dá à flor de pedra a alma de um modêlo. A
“Landaise”, “ Antonieta”, “Joana”, “M. Líe-
vre” todos esses bustos de Despiau, são de uma
.verdade inimitável. É à luz deslumbrante de
suas formas, tão harmoniosamente, tão severa -
mente distribuída que a “Mulher Indolente”, o
“Apoio”, o “Monumento aos mortos” de “Mont
de Marsau” devem o seu acento penetrante e
inesquecível.
Assim, a escultura francesa, no caminho real
onde, há tantos séculos, ela penetrou, continua
sem desfalecimento a sua ascenção incompará-
vel. O grande impulso que recebeu da obra de
Rodin deu-lhe uma segunda mocidade e uma
ple idade de artistas novos, nutridos das gran-
des tradições do passado e possuidores de uma
sensibilidade moderna, continua a tarefa dos
seus predecessores. Aos primeiros ilustres que
terminaram a sua missão, pode-se, desde já,
acrescentar os nomes das jovens escultores:
Drívier, Gimond, Wléric]<\ Belmondo, Pommier,
Guénot, Par agre Dideron. Não há a temer que
o facho tombe de mãos esgotadas nem que ele
se apague.
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RESENHA MUSICAL — 23
VARIAS...
8.0 SALÃO PAULISTA DE BELAS ARTES — Da ilustrada Comissão Organizadora do
8.° Salão Paulista de Belas Artes, srs. João B. Ferri, José Maria da Silva Neves, João Del Nero,
Paulo Valle Junior e Teodoro Braga, recebeu esta revista, um atencioso convite para compa-
recer ao ato inaugural realizado a 11 do corrente, na Galeria Prestes Maia, Salão Almeida Jr.
AUDIÇÃO DE ALUNOS — Realizou-se no salão nobre da Fabrica de Pianos Brasil,
nesta Capital, uma esplendida audição dos talentosos alunos dos profs. Climene e Artur
Kauffman.
VISITA RESENHA MUSICAL DR. LUIZ WETTERLI, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
CORAL E SINFÓNICA DE SÃO PAULO — Acompanhado do sr. Benedito de Morai* esteve
em visita a Redação desta revista, o sr. dr. Luiz Wetterli, ilustre compositor brasileiro e ex-
aluno de Alberto Nepomuceno, fundador do Conservatório Musica} de Santos e da novel Asso-
ciação Coral e Sinfónica de São Paulo. Crnoj lembrança de sua visita, o preclaro patricio dei-
xou consignado no livro especial o seguinte termo;
AOS TRIUNFANTES VENCEDORES DA INTERESSANTÍSSIMA E MUITO INSTRU-
IVA 44 RESENHA MUSICAL”, OS DISTINTOS PROFESSORES SR. CLOVIS DE OLIVEIRA
E EXMA. SENHORA, OS MEUS SINCEROS E CARINHOSOS VOTOS DE CONSTANTE E
MERECIDO DESENVOLVIMENTO.
S. Paulo, 17-IV-942
(a.) Luiz Wetterli
ASSOCIAÇÃO CORAL E SINFÓNICA DE SÃO PAULO — Recebemos do sr. dr. Luiz
Wetterli, d. d Presidente da Associação Coral e Sinfónica de São Paulo, um exemplar dos
Estatutos dessa nova entidade musical, com a seguinte delicada dedicatória: 44 Ao ilustre Dire-
tor da “Resenha Musical” sr. Clovis de Oliveira a Associação Coral e Sinfónica de São
Paulo, com reconhecimento pela bôa cooperação inicial, carinhosamente oferece, Luiz Wetterli
— S. Paulo, 17-IV-42”.
PUBLICAÇÕES RECEBIDAS: — BOLETIM DA B. B. C., DE LONDRES, INGLATERRA,
NOTICIOSO CATOLICO INTERNACIONAL, BUENOS AIRES; REVISTA MUSICAL, MÉ-
XICO; ORIENTACION MUSICAL, MÉXICO; MUSIC EDUCATORS JOURNAL, CHICAGO,
S. U. A.; CARNEGIE ENDOWMENT, NEW YORK, U. S. A.; NOVA LURDES BRASILEIRA,
NITERÓI.
ATENEO MUSICAL DO MÉXICO — Foi nomeado Socio Correspondente dessa importan-
te instituição em nosso paiz, fundada em 1929, por ocasião do Congresso Nacional de Musica
do México, sr. prof. Clovis de Oliveira, diretor de RESENHA MUSICAL, que, também, foi
convidado para colaborar e representar no Brasil a revista “ORIENTACIÓN MUSICAL do
México.
24 — RESENHA MUSICAL
I
Edição facilitada de peças celebres para piano
Minueto do boi
Marcha Nupcial
Minueto em mi bemol
Mazurka, op. 7, n. 1
Escosseza
Valsa do adeus
Marcha Turca
Gavotta
Canção de caça
15® Prelúdio, op. 2#
1 — UAYDN ....
2 — MENDELSSOHN
S - MOZART
r-, — CHOPIN .
5 — BEETHOVEN .
6 — CHOPIN . . . .
7 — BEETHOVEN .
8 — GLCCK ....
<> — MENDELSSOHN
m - CHOPIN ....
EDIÇÕES 1. M. L.
SÃO I» A U I. O
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