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Full text of "Almanach de lembranças Luso-Brasileiro para ..."

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A 



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ALMANACH 

PE LEieefliii 



LUSO-BRASILEIRO. 



/^'i'i 



Les longs ouvrages me font peur ; 

Loin (i'épuiser une malière, 

On ii'én doit prendre que la fleur. 

LA FONTAINB. 



r o 




^ DE 

LEMBRANÇAS 

LUSO-BRASiLimO 

PARA 1857. 
COM 410 ARTIGOS E 106 GRAVURAS, 

POR 

ALEXANDRE MAGNO DE CASTILHO, 

•ACU^REr, FORMADO KM MATIJEMA riCA >A UMVERSIDADE DE COIMBRA, 

CAVALLEIRO DA OROEX DA COKCEIÇÃO, 

aRUHRO DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PARIS, 

OA ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL P0RTUE7ISE, 

l>A SOCIEDADE DOS ANTIQUÁRIOS DE 8ANT0>0HER, 

DA DOS AHI608 DAS LETRAS E ARTES DB SÍO UlCVtL, 

DA SOCIEDADE AORICOLA lIADEIRRrfSE, 

DO CENTRO PROMOTOR DA IHSTRVCCÁO DB LEIRIA, 

RO IXSriTUTO CONIMBRICENSE, 

DA ACAOKHIA DE BB0DR8, 

DO INSTITUTO AKRICANO DE PARIS, 

BA SACtEBAH PROMOTORA OA AORICOLTURA MICHARLENSK, 

ETG. . ETC, ETC. 



JLESB®A 
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL 

RUA DOS CALAFATES K.° 1 13. 

1 «5G. 



Port 431 í.£ 



HMVAIID-COLLEGE LtBRARY 

CeUNT OF SANTA EULÁLIA 

COLLÉCTION 

eiFT OF 

JOHN B. STEISUN, ir. 



EXTRACTO 



DE CORRESPONDÊNCIA RELATIVA AO 
ALMANACH DE 1856. 



F. S. T. (Rio de Janeiro) — Espinhou-se V. S.* todo 
comigo por eu chamar brasileiro, a pa^. 341 do prece- 
dente Almanach, ao Sr. António Cyro Pinto Osório I Náo 
se consuma, meu querido senhor. Náo quer que seja 
brasileiro ? pois será portuguez. E portuguez é que é 
na verdade — ou que loi — pois me consta que já aba- 
lou cara onde tâo nem recebido seria, portuguez como 
brasileiro, porque lá náo se faz obra senão pelo mérito do 
individuo. Olhe : cá aos olhos dos homens tinha-o elle 
bastante como poeta, mas V. S.* diz que embirra com 
poetas, e lá n*isso está no seu direito. O que é certo é 
que se eu tivesse chamado brasileiro ao Mattos Lo- 
bo ou ao Diogo Alves, não me houvera isso rendido 
maior rabecada. Muito nervoso é V. S." ! DoucheSy meu 
amigo I E* o melhor remédio para nervos I . . . . 

A: A. L. (Porto).— São muito lindas as charadas figura- 
das que se dignou enviar-me, porém náo me é dado pu- 
blicaras. Entre nós ainda se não trabalha bém em ma- 
deira. Se V. S.* visse o que me fizeram com aquillo ! . . . ■ 
Realmente é preciso habilidade para gravar táo mal ! 
assim também eu o sabia fazer. Pois olhe, náo foi por fal- 
ta de tempo 1 Levaram-me por aquelle horror três ve- 
zes mais ao que houvera custado em Paris, e sahio três 
vezes peór do que o fizera qualquer com uma enxó.- Pa- 
guei por honra da firma, e por- honra da mesma ná» 
ttmlambuzo com aquelles borrões quatro ou cineo pagi- 
nas do mea livro. 

5 



S. S. (Londres). — A' espirituosa e amável compa- 
íriota em Londres envio os meus agradecimentos pela 
caria com que se dignou honrar-me em 27 de Maio. A 
poesia que a acompanhava já chegou tarde para ser 
publicada no Almanach de 1857. O que d'isso me con- 
sola é que já n'e8te volume se acha uma pagina embel- 
lezada com o nome da apreciável authora, que ao seu 
mérito litterario reúne o mais acrisolado amor pátrio. 
Bem haja ! náo serão os nevoeiros e a fumarada <ie Lon- 
dres que aos olhos d'um portuguez (nem d'uma portu- 
guezaj eclipsarão o bello sol da sua terra, que alU mais 
do que em outra qualquer parte lhe luz na mente de 
contínuo. A. todos alli acontece o mesmo que á dislincta 
escriptora — achar-se só ri aquella Bahylonia — Ainda 
bem que a saudade a chama ao torrão natal, e que n'el- 
le espera proximamente achar-se. Sirva-se S. Exc.*, 
quando isso aconteça, communicar-m*o, e então de viva 
voz lhe submettere'i algumas respeitosas observações 
sobre- a sua linda poesia Helena e Carlota, 



A. J. P. (Braga). — O' Senhor I pelo amor de Deus nâo 
me quebre a cabeça com luas e^prognosticos de tempo 1 
Já a esse respeito 'disse quanto tinha que dizer. E* pos- 
sível que as di^;ersas phases da lua tenhão alguma in- 
fluencia no tempo ; sim senhor. Está provado que chove 
mais vezes entre, a lua nova e a lua cheia do que entre 
a lua cheia e a lua nova immediata ; sim senhor. O que 
porém é absurdo, estúpido, e contra todas as regras da 
physica, da lógica e do bom senso, é acreditar que com 
antecipação d'um anno se possa determinar o tempo que 
hade fazer. E muito boa noute. 

Vender-se-hiâo ahi mais 80 dos meus Almanachs se 
predissessem o tempo f Pois deixaVos vender. Não ha 
interesses de qualidade alguma que me levem a mentir 
ao piihlico. Tomara eu poder illustraro bem, em vez de 
o fazer ainda mais tolo 1 . . . . 

6 



J. P. G. (Coimbra). — Cá me vem lambem este senhor 
-com o juizo do anno I Isso é que alem de estúpido e ab- 
surdo, chega a ser piegas. E' a maior de todas quantas 
semsaborias podem sahir dos prelos, e chega a ser cons- 
ciência o profanaVos com taes puerilidades I . . . . 

F. P. S. (Bahia). — Ahi tem quantos queira. ' 

J. C. S. (Évora). — Tiradas certas liberdades .poéti- 
cas, agradará por certo a sua mimosa poesia, e nâo of- 
fenderá castos ouvidos. Agora que as senhoras andão 
menos decotadas, náo seria máu que a poesia as imi- 
lasse I • • • • 

Um Bejense. — Pois senhor, fico sabendo que dizer 
d'um homem que bebe muita agua é fallar em politica I 
e é insultaFo 1 se fosse dizer que bebe muito vinho, ei>- 
tendia eu, mas muita agua 1 1 1 Era todo o caso, engana- 
se, meu rico senhor. O cavalheiro a quem me quiz re- 
ferir a pag. 236 do prec.edente Almanach, nâo é esse 
que V. S.* diz ; é outro — baixo, ^ordo, que falia com 
igual volubilidade, e que nos cincoenta intervallos 
de cada um dos seus discursos é capaz de despejar um 
chafariz. Náo contesto" o mérito d'est'outro por quem 
V. S.* quiz romper uma lança contra mim, como.se eu 
tivesse dito uma só palavra' em seu desabono, ou que 
-podesse chocar o seu melindre l Nâo ha duvida que é 
uma de nossas illustrações politicas, uma intelligencia 
superior^ um portugue*z ás direitas ; ora, se bebe tam- 
bém muita agua, como V. S.* diz, o que devemos é dar- 
Ihe os parabéns por ter chovido tanto este anno. 

F. J. -C. L. (Maranhão). — A' sua carta de insul- 
tos e improí)erios, por eu não confessar que os actuaes 
poetas brasileiros sâo muito superiores aos portugue- 
zes, só respondo ... . que o maior defeito dos azurra- 
gues é não chegarem d'um a outro hemispherio 1 . . . • 



C, F. (Buenos Ayres). — Diz V. S.* que ao ler a cha- 
rada a pag. 242 do Almanach de 1856, juraria (jue a pa- 
lavra d'ella era patamar, e que ficara admiradissimo - 
ao ler, a pag. 6 do de 1856, que era patarata 1 Pois meu 
senhor, mais admirado ainda fiquei eu ao ler isto í 
E' patamar, é, sim senhor. Ora, quer saber a rasâo do 
tal erro ? eu lhe conto. Muita vez me succede continuar 
a trabalhar mesmo com visitas; ao fazer,^ a pag. 6 do Al- 
manach precedente, a relação das palavras das chara- 
das do anno de 1855, estava comigo o maior patarata da 
península, e distrahida a minha attençâo para as suas 
pataratas, escrevi patarata em vez de patamar] .... 
Nunca mais torno a escrever uma palavra ao pé do tal 
parlapatão. Vejâo no que me melleu !.. .. 

S. P. R. (Montevideu). — Mais de vinte pessoas me 
lêem perguntado o mesmo, isto é, qual a palavra da 
charada que vem a pag. 211 do Almanach de 1856? Co- 
mo a todos tenho respondido, pondo nas minhas cartas 
a competente estampilha, já n\e anda por mais de cinco 
tostões a tal charada. Nâo sei se os vale. A palavra é 
arrabil, que era um instrumento pastoril de cordas, co- 
mo uma rabequinha, instrumento em que fallou Sá de 
Miranda. Foi para fazer a cabeça em agua aos leitores 
que eu marquei a divisão das syllabas — duas e duas — 
em vez de — duas e uma — Aqui acabo porém a mysti- 
ficaçâo, dizendt)-lhes a verdade,, e prometto nunca mais 
me Uivertir assim, que não é bonito. 

A. J. C. (Faro). — Pergunta V.. S." em que se funda o 
Sr. Cabedo para suppôr aterra bi<;uda em vez de re- 
donda, quando diz 

De teu vértice no seio ? 

Vértice é um bico, diz V. S.®» e eu assim- o foi mct- 
ter no bico ao poeta, que em vez de ealar o bico, me 

8 



disse que a penna lhe não largara isso do bico, c era 
talvez por estar com o bico, que o compositor o fizera 
dizer vértice em logar de vórtice. Entende a^ora ? 

Foi talvez pela mesma rasão que mais abaixo lhe fez 
dizer — Às vagas da solidão — em vez de — Os vagos 
da solidão. 

E como é que o revisor deixou passar aquillo ? eu sei 
rá ! Estaria também com o seu bico^ 

V. S.^ é de Faro e tem bom faro. 

F. T. R. (Guarda). — Óptima empreza para quem qui- 
zer perder uns poucos de contos de réis. 

A. R. (Brapança). — Parece-me pouco justo, e poufo 
nobre, o declamar contra uma classe inteira, só porque 
um de seus membros s.e houve mal. E de mais nâo é es- 
te o logar próprio para semelhantes verrinas. 

Anonyma Lisbonense. — Chegaram já tarde os seus 
artigos. Fique-se sabendo que no mez de Março de 
1857 estará concluído o Almanach dft1858. Os pontos 
aífastados para que tem de ir, obrigáo a esta ante (ti- 
pação. 

M. S. C. (Penella). — A sua poesia nâo deixa de ser 
engraçada, mas os versos é que estão ratões ; n'uns h« 
duas e três syllabas de menos, e n'outros estão de co- 
guUo. Isto de fazer versos errados nâo tern desculpa. O- 
meio de o evitar é fácil. Péga-=se n'úm bocadinho de 
papel da medida d'um verso certo, e serve elle de me- 
dida para todos os outros. Siga V. S.® este conselho e 
verá que lindas poesias que. lhe sahcm. Lá o.pensamen- 
to nâo quer dizer nada!.... Em a cousa rimando, é 
quanto oasta. 



CHARADAS 



Do Aimanaeli de 1950, 



Pagina 107 — Carapinha. 

» 114 — Balaclava. 

» 123 — Pregador. 

» 141 — RiLHAFOLLES. 

» 173— JWacella. 

» 176 — Emília. 

» 201 — Santo-Offick). 

» 21! — Arrabil. (*) 

» 217 — Repuxo. 

» 235 — POMONA. 

» 254 — Parafuso. 

y> 263 — Moda. 

» 276 — Romaria. 

» 309 — Calmaria. 

» 322 — Redemoinho. 

» 346 — Satyro. 

» 359— Capinha. 

» 365 — Anadia. 

» 372 — Parafuso. 



( 

syl 



*) Sahio errada no Almanach de 1856 a divisão das 
labas, que é — duas e uma — e uào — duas e duas. 

10 



Senlioras cujos nomes emliellczãoi 
e iionrâo an paginas <l*e«te 
Almanacb. 



Alcina Amélia Freitas Costad'Abaujo Queiroz. 

D. Anna Amália de Sá e Mello. 

D. Antónia Gertrudes Pusich. 

D. Maria C. de Carvalho C. de V. A. 

D. Maria do Patrocínio de Sousa. 

D. Maria José da Silva Canutó. 

D. Maria Peregrina de Sousa. 

D- Maria Rita Colaço Chiape. 

D. Mathilde Coelho Pestana. 

Obscura Portuense. 

D. Sybila Stephana. 

Viscondessa de Balsemão (D. Cathahina}. 



11 



0>o <x^ 



AUTHORES 



Cujos nomes lionrão as paginas 
cl*este Aimanacli. 



JXm A.» Íj • 

A. de Cabedo. 

A. Girão. 

Anonymo. 

Anonymo (Benguellense). 

Anonymo (Rrasileiro). 

António Cypriana d'01iveira (Brasileiro), 



^^ , ^-o^ 



12 



Oh- 



*t 



António da Cunha. 

António Emílio de Sousa Freire Pimentel. 

António Feliciano de Castilho. 

António Gil. 

António Gonçalyes Dias (Brasileiro). 

António Joaquim da Rosa [Brasileiro). 

António Joaquim Fernandes Salazar. 

António Lino Leão de Yasooncellos. 

António Macedo e Silra. 

António Maria do Amaral Ribeiro. 

António Pereira da Cunha. 

António Vieira (Padre) 

Arduenna [Brasileiro). 

Augusto Cezar da Silva Mattos. 

L A 

Ba# > ' ■ ■ I I II ■ ■ M-<» I l .i ^ iiiiil M ihM— ièMlUi.aMÍi»— « 1 T I I I 1 I I f ^S^Ê 

13 



f>— "f 

Bluteau. 

Caetano Brandão (D. Frei) 

Carlos d'01iveira Fragoso (Brasileiro). 

Cezar Augusto Marques (Brasileiro). 

Chateaubriand. 

Duque de Saldanha. 

D. M. R. C. C. 

F. S. Constâncio. 

Faustino Xavier de Novaes. 

Francisco Alvares de Souza Car\alho. 

Francisco António Rodrigues d'Azevedo. 

Francisco (Frei) de Monte Alverne (Brasileiro). 

FranaÍ8ao José da Silva CoÚares (Bra&ileiro). 

g^ — —o^ 

14 



J T 

Francisco José Pereira Palha. 

am 

Francisco Manoel do Nascimento. 

Francisco Pereira Barbosa Nogueira. 

Francisco Raphael da Silveira Malhão. 

Francisco Raphael d'01iveira (Brasileiro). 

Francisco Rodrigues Lobo. 

Graciano José Gomes. 

Honório Pereira Serzedello. 

Inhato-Mirim (Brasileiro). 

J. C. Nogueira dos Santos. 

J. G. Lobato Pire». 

J. P. de C. 

J. P. Rebello de Carvalho. 

João de Lemo». 

João Félix Pereira. 



i 

«>o- ' ♦ 

15 



é 



_U! 



^ 



Manoel Fulgencio Gomes. 

Manoel José de Sá e Mello. 

M. L. C. (Brasileiro) 

Olympio da Silva e Castro (Brasileiro). 

ProTidencias. 

S. P. M. Estacio da Veiga. 

Thomaz de Carvalho. 

[Thomaz Polycarpo dos Santos Mooráo (Brasileiro). 

Tisconde da Pedra Branca (Brasileira). 

Visconde de Sá da Bandeira. 




17 



2 



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tmm 



DOS ARTIGOS CONTIDOS iVESTE ALMANAClf. 



A 



Abaixo as rodas. . . 193 

Abaixo o ouro . . . 26^ 

Abençoar a meza . . 147 

Abysmo 377 

Academia dos árcades 165 

Academia franceza . 166 
Acção de certos medi- 
camentos sobre ain* 

(ellígencia. . * « 309 

Açougue 228 

Aíagio árabe . . . 14i 

Adeus 382 

Adivinhar 39 cartas de 
um baralho pelos 

noves fora. . . . 234 
Alboni e a remissão 

dos peccados. . . 365 

Alexandre Dumas — 

Victor-Hugo — Lord 

Palmerston. • . . 143 

Alexandria .... 226 

Algodão na Argélia :. 341 

Alho 92 

Alma a Deus .... 99 

Almanachs populares. 277 

amigos e inimigos. . 96 
19 



Amor ..... 
Anagramma feliz . 
Andar de cabeça para 

baixo. . . *. . 
Anecdotas verdadei 

1Q9« • * • * • 

Anjinho 

Antes e depois . . 

Anthesterias . . . 

Antipathias . . . 

Antropophagos . . 

Apologo .... 

Aqueducto da Carior 

Aquillo é que são cor 
reios . ^. . . . 

Archiduquezas aus- 
triacas .... 

Ariosto e o Duque de 
Ferrara .... 

Armadilha do arma- 
dilho^ 

Arroz *..... 

Arvore de Plínio . 

.Irvore d'oiro . . 

Ascensão aerostatica 
no Rio de Janeiro 

Assumpção . . . 

Atlas geógraphicopor- 
tuguez ..... 



201 

8S 

181 

3.Í4 
9á 
3á() 
2á() 
137 
367 
251 

205 

170 

223 

121 

200 
23S 
152 

127 
279 

170 






Atmosphera .... 
Auge da miséria . . 
Àvesinha (A) e o mos- 
teiro 



154 Camões, Joáo Caetano 



150 



258 



B 



Baile (O) 

Bairáo 

Banquete real . . . 

Barómetro de saiigue- 
sugas 

Barthoiomeu do Quen- 
tal 

Basta uma espora . . 

Balalha entre corvos e 
falcões 

Bêbado (O) e a taver- 
neira. • • . . . 

Beguinos e beguinas . 

Benguella eon.°3. . 

Bispo estudioso. . . 

Bitumes . . . . . 

Blaise Pascal. . . . 

Bolsa 

Brama ...... 

Brulote infernal. . . 

BussacO 



327 

200 



C 



Caça (A) . . . 
Caixa brasileira. 
Camões e Garrett 



e Castilho . . . 

Camões (Luiz de) . 

Camões no Hospital 

Campo Elysio . 

Camponeza (A) . ' 

Cançoneta Anachreon- 
tica 

Cantigas Açorianas '. 
Capital folgazona . . 

- Carrilhões. . 
378Carteira (A) dos Bar- 

^ badinhos . . 
169 Carvalhos monstruosos 
Casa (A) Quadrada de 

— Nimes . . 

364 Casamento . .* 105* 
4 mS^^^^P^^iro fértil . ! 
i49Castetlo da Pena em 

Cintra .... 
381Castello dos Mouros 
837 em Cintra . . . 
250 Castigo da gula. 

<a?I n*í ^^^^^° russiano *. 
2l6Cathedral de Stras- 
157 burgo. . . 

275 Cavalíeiro de muitas 
281 ordens .... 
359 Caveira de burro ! 
162 Cemitério Israelita dê 
Eupatoria . . 
Chacal 

Charadas, 107, 127, 140* 

185,190,201.203,209, 
223. 236. 251. 280 
300, 323, 333 344! 
355, 362. 373, 382 



347 
25:^ 

dm 

89 
370 

23 1 
379 
322 
2Ci 

235 
101 



308 
113 
348 



303 
il3 
376 

285 

372 
196 
134 

296 

321 

294 

205 
328 
159 
217 
287 
353 
383 

20 



Cholera chrismada. . 155| 
Cholera na Caxoeira . 316 
Christo julgando os ho- 
mens 125 

Ciganos 325 

CÍTilisaçâo das ilhas 

Sandwich .... 153 
Cobras do Indosfâo . 142 
Coincidência notável. 327 
Columna Vendome. . i44 
Cometa de 185*. . . 164 
Como se roondáo plan- 
tações de linho .. . 145 
Com uma cajadada ma- 
tar dous coelhos. . 219 
Concerto mysterioso . 298 
Conselho (um) d*esta- 

do 99|E 

Conservação da carne 186 

Conservação do leite. 109|E 

Contagio (le títulos. .' 321 
Convento da Penha no 

Brasil 241 

Convento de Balsamâo 341 

Convento de Mafra. . 278 

Cor 171 

Coragem de um brasi- 

leirinho 311 

Coroa (Uma). ; . . 314 

Coroa bem ganha . . 148 

Correcção gregoriana. 108 

Corridas de touros. . 273 

Corte e cortezâos . . 356 

Cortejo celestial . . 297 

Cortezania .... 196 

Cruz (A) 179 

21 



Dá Deus nozes... bem 

sabem a quem . . 182 
Dahlia azul .... 88 
Descoberta dapolvora 312 
Deus e Newton . . . 349 
Divisibilidade da ma- 
téria 157 

Dois inimigos e a ima- 
gem de S. Joronymo 287 
Dous Samsõeg . . . 25C 



E 



Ecce agnus dei . . . 239 

Echo 189 

íc.lipse 263 



Ef ónomia politica . 

EíTeitos do raio. . . 

Elogio de um baixo 
profundíssimo . . 

Embalar (O) do infan- 
te 

Emprestem lá a ami- 
gos 

Encommenda dealbar- 
das 

Enigmas . 87, 133. 

Epigrammas. 207,230 
e 

Epitaphio de Gilberto 

Epitaphio de João Ba- 
ptista Rousseau por 
Piron 



222 
369 

152 

104 

178 

307 
299 
32« 
346 
224 



88 



Epitaphio verdadeiro 2C9 
Escada grande e por- 
ta pequena. . . . 194 
Escripta enigmática . 155 
Escriptura Santa . . 373 
Espectáculo medonho 

e divertido . . • 358 
Espelho formado pela 
superfície inferior 

da agua 87 

Espirito e matéria. . 237 
Estimulo para littera- 

tos 184 

Estragos de amor . . 114 

Estreita de soccorro . 232 

Estrella do Sul . . . 117 

Estufas 312 

Eu vivo só do passado 83 

Existência de Deus . 183 
Exportação da laranja 

em S. Miguel . . . 143 

Estasis d'um beato. . 180 



Festa do cuco . 
Festa dos chouriços 
Figos (modíJ f^cil 

os melhorar) . 
Filhos das águias 
Filtro económico 
Flor ou beijo. . 
Florista poeta . 
Fogo no rio . . 
Folha de Flandres 
Fontes volcanicas 
Formiga (A uma) 
Fugi ás Vénus . 
Fugir .... 
Futureiro (O) . 



F 



Febrífugo económico. 

Fecundidade das mu- 
lheres em Lima . . 

Feitiço contra feiti- 
ceiros 

Fernando VII e as suas 
damas .... 

Ferraduras . . . . 

Ferreiro de Gretna- 
Green . . . . *. 

Festa das garrafas. . 



188 

95 

250 

276 
286 



123 
211 



de 



14G 

82 

3-24 
97 
305 
95 
236 
136 
273 
301 
109 
234 
283 
380 



G 



Genro (O) de Piristra- 

tO ....... lOó 

Gloria (Uma) de Mon- 
ção 245 

Gravura 270 

Gruta de Cambezes . *103 

Guerra do estandarte. 259 
Guilherme o conquis- 

.tador 102 



H 



Harém (O). . . . 
Homem (O) dos ane- 
xins 



282 
192 



Homem grande besU 

depáu 28G 

Hora (A) aberta. . . 334 
Humanidade de Luiz 

Av.. .- . • • • t5D0 

Hurrah 100 

Hymno ao Senhor. . 33õ 



I 



Ilha de S. Thiago . . 

Imitar com ura cordel 
o som do trovão . . 

Império. . . . . . 

Improviso escripto 
n'um álbum . . . 

l&cognita (A) defen- 
sora da rosa ama- 
relia 

Indulgência . . . . 

Industria das abelhas. 

Industria do caran- 
guejo 

Industria fabril. . . 

Influencia do celibato 
e do casamento . . 

Influencia e proezas 
de mulheres . . . 

inscripção falsa. . . 

Intenaente entendido. 

Irmãos (Aos] de São 
Martinho . . . . 



J 



Jaga de Cassange 
23 



2õ9 

ii2 

173 

310 



26S 
358 
116 

329 
361 

.360 

267 
215 

345 



138 



Jornalismo nos Esta- 
dos Unidos . . . 
Justiça de Solimâo. . 



K 



L 



Lá extralrida das fo- 
lhas dos pinheiros . 

Lago de enxofre. 

Lamentações. . 

Leandro *e Hero. 

Letras maiúsculas. 

Lição a invejosos 

Lição a oradores par- 
lamentares. . . . 

Lição de civilidade . 

Lição para meninas 
espartilhadas. . . 

Lingua portugueza . 

Lord Byron .... 

Louça (modo. de a gru- 
dar) 

Luiz ae Camões. . . 

Lyra. « • . . > . . 



M 



Machinas para tudo . 
Magnanimidade do 

Príncipe de Conti. 
Maior (A) peça d'arti- 

Iheria ..'.., 



1-21 
116 



Kangourou .... 370 



350 
86 

3:w 

319 
271 
240 

33;? 

268 

í)3 
134 
17á 

109 
253 
195 



205 
293 
271 



Maior (O) sino do 

mundo 196 

Maledicência portu- 

tugueza 90 

Mandrião brasileiro . 290 

Manopla desaíiante . 129 

Manteiga 202 

Marido feliz .... 176 

Mármores d^Ariíndel . 278 

Massillon 309 

Martyres (Os) do mun- 
do ..190 

Matraes. .* . . . .216 

Máxima de Vandick . 200 
Médicos na China . . 160 
Meia volta á direita . 208 
Memoria (Á) do tenen- 
te general Sepúlve- 
da. ...... 124 

Menuro-lyra . . . 336 

Metal de voz ... 158 

Metamorphose . ... 340 

Metrónomo e panhar- 

monico ..... 248 

Microscópios delato- 
res. . .... 352 

Modelo de emprega- 
dos 257 

Modo de- restituir o vi- 
ço a uma flor murcha 383 
Mo'do fácil de melho- 
rar os figos. . . . 324 

Moloch 174 

Mondombes .... 122 
Monte S. Miguel . . 368 
Monte Seni ou Se- 
gui 364 



Morte (A) 

MDrteiros de quinze 

polegadas . . . . 

Mulher (A) . . . . 



293 

263 
225 



N 



Nacionalidade . . . 
Nada sabemos . . . 
Naipes (Os) separados 

e unidos .... 
Namoradeira (A) e o 

jogador 

Nâo te humilhes. . . 
Nascer e morrer. . . 
Neutralidade. . . . 
Neve preta .... 



146 

289 

315 

120 
349 
255 
356 
244 



O 



Obra bem escripta . 

Obreias 

Odes de Anachrcon- 
te 221, 

Oiro (Abaixo o). . . 

Óleo de zambujeiro . 

O que é o Times . . 

Orelha de Dyonisip , 

Orelhas grandes e pe- 
quenas 

Ortigas 

Ourives da prata, feliz 
e esperte . . , . 



160 
308 

295 
362 
212 
332 
244 

176 
366 

137 
24 



p 



Paço real em Cintra . 

Pagode 

Paixão (Uma) . . . 
Papasaio {Á um) . . 
Papel nos Estados 

Unidos ...... 

Pasquins 

Pássaros dançadores. 
Paviula do Ceará . . 
Pedra do diabo. . . 
Pegureiro enigmático. 
Pegureiros do Jura . 
Pensamento . . . . 
Perigo da Vaccina. . 
Perigos da gordura . 
Perigos do casamento 
' csca • • • • • • 

Petrarcha 

Plantações de linho 

(como se mondáo) . 
Poeta arithmetico e 

religioso .... 
Poltrão (O) . . . . 
Pontes pensis . . . 
Prato do meio . . . 
Prejuízos do Minho . 
Presente de intendeià- 

te 

Preservativo contra o 

bolor 

Preservativo de calo- 
tes 

Primeiro periódico 

russo 

25 



98 
289 
227 
249 

128 
!281 
276|Q 
249 

85 
136 
206 
111 
303 
105 

91 
277 
204 



Principaes monumen* 

tos ae Portugal . . 

Pulga no ouvido . . 



145 

118 
215 
178 
302 
376 

254 

107 



198 



2G7 
194 



g 



Quadrúpedes da Aus- 
trália 

Quarentona (Aj. . 
uem sáhe aos seus 
nâo degenera. . 

Que queres ? . . 

Questão de cáo . . 

Quinta do Salema . 



2tl 
230 

324 
374 
318 

ál8 



R 



pul- 



in- 



Raposa (A) e as 
gas .... 

Realejo. . . . 

Recordações dos 
dios . ' 

Rei (0),oréu, eos cor- 
tezàos 

Rei (Um] padeiro . . 

Relógio descommu- 
naí. 

Relógios 

Relojoaria nos Esta- 
dos Unidos. . . . 

Remédio contra es« 

caldaduras. . . . 

203|Rcmedio para aphtas. 

Remédio para a mor- 
pbea 



204 
129 

133 

163 
212 

8il 
357 

100 

330 
120 

210 



Remédio para dÒr de 
dentes 

Remédio para fazer 
dormir 

Rendas. ..... 

Repente de um estu- 
dante 

Resposta a tempo . . 

Rimas forçadas . , . 

Jtio (O) Cajeiri . . . 

Rio das Amazonas . . 

Rio das mortes . . . 

Rodas (Abaixo as). . 

Romaria á Hespanha . 

Roínaria ao Senhor da 
Abelheira . . . . 

Rosas (As) . . . . 

Ruinas de Messenia . 



S 



Sabonete a um eccle- 
siastico . . . , . . 

Sacerdote feito verbo. 

Salva a redacção . . 

^aive .*•••. 

Sangue frio .... 

S. Rartholoraeu e Ni- 
colau Tolentino . . 

S. José apedrejado . 

Sapateiro descalço . 

Sapateiro (O) risonho. 

Sarcophago . . . . 

Sardinhas 

Saudade . . . . . 

Senhoras em Lima. . 



{SenhoTia (A) no sècu- 
270 lo passado .... 
Sol entre nuvens . • 
255 Só lhe falta fallar . . 
283 Soneto do Marechal 
Saldanha . . . . 
Sonho de uma viuva 
(Epigramma) . . . 
Sorte grande da Mise- 
ricórdia. . . ^ . 
Suicidio de inglez . . 
Sultão philan tropo. . 
Suor de nova espécie. 
Supplemento burlesco 



175 
305 
140 
197 
288 
191 
193 
357 

141 
158 

300 



362 
306 
331 

265 

328 

156 
379 

8! 
9(; 

224 



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84 
378 
108 
161 
330 

318 
145 
207 
125 
180 
199 
213 
284 



Tempera do aço . . 

Terrível erupção do 
Vesúvio. .... 

Texugo. ..... 

Theoria dos balões . 

Tijolo 

Times (O que é o). . 

Torquato Tasso. . . 

Toupeiras 

Traça e mais insectos 

Tragedia julgada pe- 
lo Padre Braz. . . 

Trágico fim de Ricar- 
do II de Inglaterra. 

Trasladação de Santo 
Anfoniô 

Traz-os-Montes. . . 

Trez (As) ratazanas . 

Triplice acróstico . . 



208 

313 
344 
131 
183 
332 
364 
265 
257 

346 

168 

159 
274 
158 
101 
26 



Trombas marinhas. 
Tumulo de uma rola 



106 
151 



U 



Ultimaasneíra . . 
Unidos até á morte. 



252 
177 



V 



Vá bugiar 

Valente do Fundão . 

Valha-nos Santo Oví- 
dio 

Valor e generosidade 
dos francezes. . . 

Vapor monstruoso . . 

Vaticano 

Vassoura inspiradora. 



252 
94 

195 



Veau (Lc) d'or . • . 243 
Velas de cebo . . . 29á 

Veneza ^Òi) 

Vida (A) pelasciencia 187 
Vide monstruosa . . 324 
Violeta (A) .... 218 
Virgem de meigo sur- 

rir 

Viuva (A) de João de 

Sequeira .... 
Volcáo da ilha do Pico 
Voto (Um) no Porto . 



175 

233 

292 
123 



X 



229 
242 
264 
130 



Xadrez 186 



Z 



Zurrillio isi 




27 



CORRESPONDÊNCIA 

DE 

ALGUMAS ERAS COM A VULGAR. 

Anno do Período Juliano. 6569 

— da Primeira Olympiada 2632 

— da Fundação de Roma, segundo Varão . 2609 

— da Época de Nabonassar 2605 

— do Principio da Monarchia Portugueza . 760 



* 



COMPUTO ECCLESIASTICO. 



Aurto numero 15 

Cyclo solar . . . . : J8 

Indiccâo Romana 15 

Epaeta IV 

Letra Dominical , . • D 



TÊMPORAS. 

Março . ' 4. 6, 7 

Junho 3, 5. 6 

ScpUmbro . 16, 18, 19 

Dezembro 16, 18, 19 

29 



FESTAS MOVEIS. 



Septuagesiraa 

Cinza ' 

Pasrhoa. ...... 

Ladainhas 18, 

Ascensão 

Trindade 

Corpo de Deus 

Coração de Jesus .... 
Advento 



8 de Fevereiro. 
25 de Fevereiro. 
12 de Abril. 
19 e 20 de Maio. 
21 de iMaio. 

7 de Junho. 
11 de Junho. 
19 de Junho. 
29 de Novembro . 



QUATRO ESTAÇÕES DO ANNO. 



Primavera .... Começa a 20 de Março. 

Estio » * a 21 de Junlío. 

Outono » a 23 de Septembro, 

Inverno » a 21 de Dezembro. 



BENÇÕES. 



Prohibem-se desde 4.** feira de Cinza até ao 1." Do- 
mingo de Paschoa e desde o 1." Domingo do Advento 
até dia de Heis. 

30 



DIAS DE GRANDE GALA. 



1 de Janeiro, Dia d'Anno Bom (Boijamâo). 

29 d'AbrÍl, Dia em que S. M I. o Sr. D. Fedro IV De- 
cretou e Deu a Carta Constitucional (Beiiamáo). 

31 de Julho, Juramento da Carta e Nascimento de 
S. M. - 

16 
dro 

29 de Outubro, Nascimento de S. M. o Sr. D. Fernan- 
do CBeijamãoJ. 



ae Juiiio, Juramento da Carta e Nascimento de 
L 1. a Senhora Duqueza de Bragança (Beijamão). 
; de Seplerabro, Nascimento de S. M. F. o Sr. D. Pe- 
V. (Beijamão.) 



PEQUENA GALA. 

17 de Fevereiro, Nascimento da Serenissima Senhora 
Infanta D. Antónia. 
16 de Março, Nascimento do Ser. Sr. Infante D. João. 
12d*AriL Domingo de Paschoa. 

30 de Maio, Dia do Nome de S. M. o Sr. D.Fernando. 
11 de Junho, Corpo de Deus. 

19 de Junho, Ss. Coração de Jesus. 
4 de Julho, Nascimento da Serenissima Senhora In- 
fanta D. Isabel Maria. 

10 de Julho, Nome de S. M. I. a Senhora Duqueza de 
Bragança. 

21 de 'Julho; Nascimento da Serenissima Senhora In- 
fanta D. Maria Anna. 
23 de Julho, Nascimento do Ser. Sr. Inf. D. Fernando. 

31 de Outubro, Nascimento do Sereníssimo Senhor 
Infante D. Luiz. 

4 de Novembro, Nascimento do Serenissimo Senhor 
infante D. Augusto. 

1 de Dezembro, Acclamaçâo do Senhor D. Joâò IV. 
2.5 d© Dezembro, dia de Natal. 
31 de Dezembro, dia de S. Silvestre. 



/ 



ECLIPSES DO SOL E LUA. 

25 de Março. 
Eclipse total do sol (invisível em Lisboa}. 

\S de Septemhro. 
Eclipse annular do sol (invisível em Lisboa]. 



Harés* 



Conhecem-se as horas das marés pela idade da lua, 
designada para todos os dias do anno pelos algarismos 
que se achão á ilharga dos dias do mez. Procurando 
essa idade na tabeliã seguinte, ter-se-hão as horas de 
preamar e baixamar em um dia qualquer. Supponha- 
mos que se desejâo saher os preamares e baixamares 
de âO de Septembro ; procurando este dia na folhinha, 
acharemos que é o dia 23.® da lua, e procurando na 1." 
columna da tabeliã o n.® 22, acharemos na mesma Unha 
horisontal o que desejamos. 

Quando na tabeliã das primeiras marés se notáo ma* 
rés da tarde, as marés da manha d*esse dia s&o as se- 
gundas do dia antecedente, como acontece no dia 30 da 
lua, cujas marés da manha sâo as segundas do dia 29. 

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Ouart. m. 11 19 t. 




18 Ouart.m. 4 13 m. 




^1 


Lua nova 5 3.'> m. 




âdLuanovBlO 49 t. 






Ouart. cr. H 37 l. 




l.Ouart. cr. 7 43 t. 




5 


Lua cheia 5 53 (. 




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Ouarl.m. 5 4 1. 




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Lua nova 3 48 t. 


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Quart-cr. 3 39 t 




3 Quart-cr. 4 5* m. 




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Luacheia 4 31 ra, 


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lO^I.UBclieifl 3 40 (. 




10 


Ouart. ni. 10 13 l. 




18 Quart. m. 8 37 t. 


S. 18 


Lua nova 4 ST. m. 


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25 Lui. noia 9 5Í t. 
i . Ouart. rr. aoB .S7 t. 


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Ouarl.cr. 8 33 m, 
Luacheia 3 33 t. 




9Luacheia 8 52 m. 




10 


Ouart, m. 5 10 m, 


1 


n:<íuart.m. 11 24 m. 


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17 


Lua nova 9 1 t. 


24;Luanovo 7 37 ni. 





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Ouart. cr. 1 3t m. 




30 yuarl.cr.ll 41 l 




3 


Luacheia 8 31 ra. 




!l T.ua cheia 1 31 m. 






ouart. ni. 3 30 1. 




Ifi Ouart. ni. 10 33 i. 


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Lua nova 3 19 1, 




aiiLuanova 3 11 t. 


34 


Ouart, cr. 4 67 1. 




30'0uait, cr. aos 3« t. 




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7 Lua f Leia i ÍG t. 


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I5:0uarl.ra. 6 33 in. 




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Lun nova 10 25 ni. 


1 '21 [Lua novo 9 37 t. 


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Ouart, cr. 6 tu. 


■?J29[yuart.M. 3 43 m. 


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Luacheia 9 35 t. 



TÀBELLA DOS INCÊNDIOS. 



T0RRB8. 



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13 
14 
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16 
17 
18 
19 
20 
21 
22 
23 
24 
25 
26 
27 
28 
29 
30 
31 

32 
33 
34 



P08T0B DK GUARDA. 



Beato António 

S. Vicente 

Graça , 

Sé 

Conceição Nova 

S. Nicolau 

Soccorro 

S. José 

Pena 

Bemposta 

S. Seb. da Pedreira 

Monserrate. 

Santa Isabel « . . . . 

Convento Novo 

Necessidades 

S. Francisco de Paula. . . 

Santos o Velho. .^ 

Paulistas 

Chagas 

S. Roque 

N. Senhora dos Martyres . 
S. Paulo 

Belém 



Escholas Geraes. 

Calçada do Monte. 

Loyos. 

Carmo. 

Praça da Figueira. 

Mouraria. 

Santa Martha. 

Freiras da Encarnaç&o. 

Cabeço de Bola. 

Largo de S. Sebastião. 

Arco das Amoreiras. 

Juuto á Igreja. 

R. de Buenos-Ayres. 

Livramento. 

Pampulha. 

Inglezinhas. 

Na mesma Igreja. 

Rua das Flores. 

Travessa da Queimada. 

Administração Geral. 

Ribeira Nova. • 



Junto á Igreja. 



36 



n^Q^miinilia ip(Diai!9<&v3aiv» 



JAMEIRO. 

1 16.°) — Ovinia. ^CtKCUMCisÁODoSEKnoa (4. St, 
p. 33 e 34 e r de Janeiro. A. bi, p. 33). Grandt Cola. 
Beijamão. Ind. em variai Igrejai. Ftsta na Graça, Bar- 
rtiro e Seixal. 7iid no Ccnv. do Desoggravo em Iodai 
ai quintoi feirai do anno. e cnmo a da Porciuncula na 
Tgrna dm Betigioiai do Sacramento na 1.* qutnia fei~ 
Ta dê cada.mex. 

2 (7.") — Seita. S. Izídoro. B. M. Princípio a Sov. 
ii N. Senhora dn Jesus. Principião as 13 tettat feirai 
de S. Franeitco de Paula na sua Igreja.com Ind. Prin- 
íipto a Kovena de N Senhora da Dirino Provtdíníia. 



JANEIRO. 

4 (9.®) —Domingo. S. Gregório, B. S. Tito, discí- 
pulo de S. Paulo. Ind, Plen, em S. Amaro no l.** Do- • 
mingo de cada mex. 

5 ( 10.° j —Seflfun da. S. Simeâo Estelita [A, 51, 5 de 
Janeiro), S. Apoíinaria, V. S. Telèsphoro, P. M. Vespe^ 
ras de instrumental na Sé, e ao escurecer começào as 
MatinaSy tamhem de instrumental. 

6 (11.°) — Terça ií< Dia de Reis (A. 51, 6 deJan. A, 
53, p. 38. A. 55, p! 117. A. 56, p. 100). Ind. no Loreto. 
Benção no Menino Deus. Grande festa na Sé, a que as- 
sistem SS, MM. 

7 (t2.°j — Quarfa. S. Theodoro, Monge. Ahrem-se 
os Tribvnaes e permitlem-se os casamentos solemnes, 
Ind. na Madre de Dius na 1.* quarta feira de cada mcz. 

8 (13.°) — Quinta. S. Lourenço Justiniano, Patriar- 
cha de Veneza. 

9 [U.^] — Sexta. S. Julião, M. Festa na sua Fre- 
guesia, em que foi abolido o D. S. G. 

10 (\^.'') — Sal>hado. S. Paulo, 1.° Eremita. S. Gon- 
çalo de Amarante {A. 55, p. 119. A 56, p. 104). 

Lua cheia ás 8 horas e 31 minutos da manhã, 

11 (16°) -— Domingo fl.° depois de Reis). Nossa Se- 
nhora DE Jesus. S. Hygino, P. M. Festa em Jfsus. Ind. 
em S. Domingos para os Irmãos dos Passos no 2.° Do- 
mingo de cada mez. 



12 [il.°) — Segunda. S. Satyro,"M. 

13 (18.°) — Terça. S. Hilário, B. 



S8 



\ 



JANEIRO. 

U 19.») — Quarta. S. Félix, Martyr. 

15 (20.®) — Quintn, S. Amaro, Abb. Festa em Santo 
Amaro, Conceição Yelha^ e Convento do Desaggravo, 

Í6 (21.®) — Sexta. Os Santos Martyres de Marrocos. 
S. Marcello, P. M, Começào oz dias de S. Engracia na 
Sé de Liiboa, para desaggravar o SS. Sacramento, pe- 
io desacato na Fréguezia du mesmn Santa, na noute de 
15 para 16 de Janeiro ; ha Procissão dentro da Igreja» 
famhem se desag grava no Conveniinho [Campo de S. 
Clara), havendo sermão na mesma noute do desacato e 
festa com sermão durante os 3 dias). 

17 (22.®) — Sahbado. S, Antão, Ab. S. Leonilla, M. 

18 (23.") — Domingo (2.° depois de Heis). SS. Nome 
DE Jesus. N. Senhora, da Divina Providencia. A Cadei- 
ra de S. Pedro era Roma. S Prisca, V. i\l. Festa prin- 
cipal do Sagrado Coração de Maria no Mosteiro daEn^ 
carnação. 

Quarto minguante ás 4 horas e 13 minutos da manhã. 

19 (24.®} — Segunda. S. Canuto, Rei de Dinamarca, 
Martyr (^. 52, p. 245). 

50 25.®) — Terça. S. Sebastião, M. Festa de instru- 
mental em S. Sebastião da Pedreira, feita pelos marci-^ 
neiros, de quem o Santo é Patrono, e em S. José. Foi 
abatido o D. S G. na sua Fréguezia, na ilha de S. Mi- 
guel e em Lamego, e o D. S. D. em Braga, Pinhel e 
Funchal. 

21 (26.®) -— Quarta [Jejum no Patriarchado). Santa 
Ignez, V. M. 

39 



JANEIRO 

22 (27.**) •— Quinta, ^ S, Vicente, M. Padroeiro de 
^ Lisboa 6 do Algarve (A. 52, p. 54}. S. Anastácio. Festa 

* em S. Vicente ae Fora e na Sé, festejasse S, Sebastião 
na sua Igreja, com instrumental, 

23 (28.®) — Sexta, Os Desposorios de Nossa Senhora 
com S. José. S. Raymundo de Penafort. S. Ildefonso. 

24 (29 ®] — Sahhado, Nossa Senhora da Paz. S. Ti- 
luotheo, B M. O B. Marcolino, D. 

25 (1.°) — Domingo (3.° depois de Reis), Convers&o 
do Apostolo S. Paulo. Festa e Lavsperenne na sua Fré-' 
guezia em que se aholio o D, S, G, 

Lua nov4i ás 10 horas e 49 minutos da tarde. 

26 (2.*') — Segunda, S Polycarpo, B. M. S. Paula, V. 
Festa a S, Sebastião na Fréguexia de 5. Paulo^ 

27 (3.®)— Terça. S. João Chrysostomo, B. e Dou- 
tor da Igreja. Festa a Nossa Senhora da Piedade sm 
S. Paulo, 

28 (4.*») — Quarta, S. Cyrillo, B. A B. Veroiiica, A. 
Trasladação de S. Thomaz d*Aquiuo. O B. Matheus de 
Agrigentõ^ B. Começa a Nov. das Chagas de Christo. 

29 (5.**) — Quinta. S. Francisco de Salles. B. S. Pe- 
dro Thomaz, C. Festa e Lausperenne nas Silesias a S. 
Francisco de Salles, 

30 [Q,^) — Sexta. S. Martínha, Y. M. S. Jacíntha. 

31 (7.0) _ Sabbado, S. Pedro Nolasco, C. S. Cy ro, M, 
(Jejum, excepto nos Bispados d* Elvas e Vixeu,) 

40 



SlftNO DE 




Piseis. 



1 (8/ 
I. M. S. 1 



FEVEREIRO. 

.^) — Domingo (4.** depois de Reis), S. Ignacio, 
B. M. S. Brígida. O B. André de Conti {Á. 51. 1 deFev.) 
Quarto crescente ás 7 horas e 43 minutos da tarde. 

í (9.*^) — Segunda ifi Purificação de N. Senhora 
(A. 51, 2 de Fevereiro, A, 52, p. 64). Festa nos Terc. do 
Carmo e na Sé, 

3 (10.°)— Terça, S. Braz, B. M. O B. Odorico, F. 
Festa a S, Braz na Conceição \elh.á, em S. Luzia e nos 
Martyres. 

4 íli.°) — • Quarta. S. André Corsino, B. S. José de 
Leonlsa. 

5 (12.®) — Quinta. S. Águeda, V. M. Os M^rtyres 
do Japão, S. Pedro Baptista e seus Comp. ãíatinas na 
Igreja das Chagas á festa do Orago, 

6 (\3.°) — Sexta, ^s Chagas de Christo. S. Doro- 
Ihea, V. M. O B. António de Amandula. Festa e Lauspe- 
renne na Igreja das Chagas e Te-Deum de tarde, 

7 (14.®) — Sahhado, S. Romualdo, Ah. S. Ricardo, 
Rei dTngI aterra. Festa a S. Urbano Martyr na Igreja 
das Chagas. 

41 



FEVEREIRO. 

8 (15.°) — Domjwgo da Septuoaesima. S. Joáo da 
Matta, Fundador da Ordem da SS. Trindade. Começào 
os Domingos da Madre de Deus, 

Quarto minguante á 1 hora e 43 minutos da manhã. 

9 [\^.^) — Segunda. S. Apolónia» V. M., A d voga (f a 
eontra a dor de dentes, Fe$ta e Lausp^ nas Monicas. 

10 (17.°) — Terça, S. Eseholastica» V. S. Guilherme^ 
Duque d'A4uitania, A. 

It (18.°) — Owarta. S. Lazaro, B. Os 7 Fundadores 
dos Servitas. A B. Joanna Yalesia. 

12 (19.°) — Quinta. S. Eulaiia, V. M. 

13 (20.°} — Sexta, S. Gregório IT, Papa. S. Cathari- 
na de llicci, V. D. A B. Viridiana, V. F. 

14 (21.°) — Sabbado. S.Valentim, M. Vésperas da 
Trasladação de S. António na sua Igreja. 

15 (22.°) — Dominga da Sexag,esima. Trasladação 
de S. António. Os Santos Faustino e Jovita, MM. Festa 
em S. António da Sé. 

16 (23.^) — Segunda. S. Porpyhrio, M. 

17 (24.°) — Terça. S. Faustino, M. O B. Nicolau de 
LongODárdis, Minirao. Fax 12 annos a Seren. Sr.^ In- 
fanta D. Antónia. Pequena Gala. 

Quarto minguante ú 1 hora e 43 minutos da manhã. 

18 (25.°) — Quarta. S. Theotonio, 1.° Prior de San- 
ta Cruz de Coimbra. S. Sime&o, B. M. 

42 



FEVEREIRO. 

19 (26.**) — Quinta. S. Conrado, F. O B. Álvaro de 
Córdova. 

20 (27.*») — Sexta, S. Eleutherio, B. iM. 

21 (28.'') — .Sa^bado. S.Maximiano, B M. S. Ange- 
la de Miricia, V. F. 

22 (29.*^)— Domingo da Quinquagesima. S. Marga- 
rida de Cortona. A Cadeira de S. Pedro em Antiochia. 
Ind. das 40 horas na Sé c em S. João Nepomuceno por 
oeeasiào da Exposição do SS. Sacramento até á terça 
feira depois de Completas, 

23 (30.**) — Segunda [Jejum). S. Pedro Damião, B. 

^4 (l.**)— Terço. S. Matinas, Ap. S. Prelextalo, B. 
{A. 51, 4 de Março. A. 53, p. 70. A. 55, p. 153.) 

Lua nova ás 11 horas e 21 minutos da manhã. 

25 (2 **) — Quarta feira de Cinisa [A, 51, 5 de Marco, 
A. 52, p. 85. A. 53, p. 71. A. 55, p. 170). S. Cesáreo, ír- 
luâo de S. Gregório Nazianzeno. Jejum até áPaschoa, 
menos aos Domingos, Prohihem-se as benções matri- 
monia es desde este dia até ao \,° Domingo de Paschoa, 
Benção da Cinza na Sé, com instrumental. Sào pro- 
hibidos os espectáculos públicos n'es(e dia eem todas 
QS sextas feiras da Quaresma, 

26 (3 °)— Quinta, S. Torcalo, M. Arceb. de Braga. 

27 (4 **) — Sexta, S. Leandro, Arceb. de Sevilha. 

28 (5.*M— Sabbodo. S. Romão, Ab. O B. Thomaz de 
!ora, 2." Trasladação de S. Agostinho. 

43 



MARÇO. 

1 (6 °) — Domtnso {l." da Quaresma). S. Adriio. 
«artyr. S. Roíendo, Portuguei. A B. Mathia de Naía- 
íeis, F. {Â. 51, 1 dí SIarço.) procUsão em S. Aníào ae 
fojàl. Filia Franca, e Cascaes. 

2 [T,t] _ Segunda. S. Simplício, Papa. 

3 (8 ")_ Terça. S. Hemeterio, M. S. Cunegundes. 
Ouarlo tretcenle ás 4 horas e 54 minuíoí da manha. 



k O")— fluarlailemporiuj. (J. 55. p.lM) S. Co- 
simiro.S. Lúcio, P.M. 

5 (|o.«) — Qufnlo( Têmporas)- S, Tlieophilo, B. ii( 
Ceíarea. O B. JoSo José, F. 

C til.") — Smío- S. Ollagsrio.B. S. Colleta, V. S 
Marciano. U. M. Pi-oítiiõo dos Pawos da Grasa. 

7 íia.") — Sllbl.fldo(^ílnpnrflí).S.Tlll>n!aId^Aq^ll■ 
no, Ut. daJgrej». SanUs Perpetua e íehcidade. MM 



MiRÇO. 

8 (13.') — Domingo [1^ da Quaresma). S. João 'de 
Deus (A. 54, p. 101). Proeissão em Sacavém, 

9 {\à.^)^ Segunda. S Francisca Romana, V. S. 
Catharina dt; Bolonha, Y F. 

10 (15.®) — Terça. S Militâo e seus 39 Comp , MM. 
Começa a Nov. de S. José. 

lua eheia ás 3 horas e 40 minutos da tarde. 

11 (16.®) — Çwarfa. S. Cândido, M. Faz 3õ annot 
S. Á. a Ser. Sr.* D. Januaria Maria. 

12 (17.®)— Quinta. S. Gregório, P. e Dr. da Igreja. 
(Serração da velha), (Â. 55, p. 171). 

13 (18.®) — Seoría. A B. Sancha, V., Infanta de Por- 
tugal. S. Rodrigo, Afl. S. Eufrásia, V. 

14 (19.®) — Sahbado. Trasladação de S. Boaventura. 
S. Mathilde, Rainha. Faz 35 annãs S. M. a Imperatrig 
do Braxil, D. Therexa Christina Maria 

15 (20.®) — Domingo (3.® /ia Oworwma;. S. Zacha- 
rias, P. S. Longuinhos. Soldado, M. Proc. dot Passos 
em Oeiras e Alverca ^ e na^Árruda. 

16 (21 .®) — Segunda. S. Cyriaco, M. Fa» 15 annos o 
Ser, Sr. Infante D. João. Pequena Gala. 

17 (22.®)— Terça. S. Patrício, Ap. da Irlaada. 

18 (23.®) — Otiarfa. S. Gabriel, Archanjo. S. Narci- 
so, Arceb. de Braga. O B. Salvador da Horta, F. 

Quarto minguante ás 8 horas e 27 vi^inutos da tarde> 

4S 



MARÇO. 

19 (24.®) — Quinta, S. José, Esposo de N. Senhora 
(A. 54, p. 112). Festa e Lausp. na sua Frég. Festa na 
Igreja do Hospital de S. José, em Belém, ecom Jubileu 
para os trmàos no Most. da Encarnação, Foi abolido o 
X>. S. D. nas cidades do Porto, Lamego, Guarda^ Beja, 
Castello-branco, Funchal e Prelazia de Tíiomart e o 
D. S, de G. nas outras dioceses, 

20 (!25.°) — Sexta, S. Martinho Dumiense, Arceb. de 
Braga {A. 53, p. 110). O B. João de Parma, F. [A. 55. p. 
176) Proc. dos Passos em Be.lem e wo Desterro. Prin- 
cipia a Primavera (A. 51, 21 de Março. A. 55, p. 176). 

21 (26/')— Sabbado. S. Bento, Ab. Festa no Most, 
da Encarnação, Com» a Noo. de S. Catharina de Sena. 

li 

22 (27.**) — Domingo f4.*' da Quaresma). S. Benve- 
nuío, D. S. Emygdio, B. M. S Ambrósio de Sena, D. 

23 (28.**)— Segunda. S. Félix e seus Comp., MM. 
Matinas na Fréguexia do Sacramento, . 

24 (29."} — Terça. Instituição do SS. Sacramento. 
*S. Marcos, M. S. Agapito, B. Festa de instrumentai e 

Lausp. na Frég do Sacramento, em que foi abolido o . 
Z>, S. G, Ind. como a da Porciuncula em todas as Igr. 
em que estiver o SS. Sacramento, ou tiverem a sua in- 
vocação ou do Corpo de Christo. Festa em S. Clara, 

25 {{.°) — Quarta, Çí Annonciaçâo de N. Senhora 
{A. 51, 25 ds Março. A. 53, p. 122. A. 55. p. 198). hidul- 
gencias. Festa de instrumental e Lausp, na Frég. da 
Encarnação e nos Most. da Encarnação e S. Joanna, 

Lua nova ás 9 horas e 52 minutos da tarde. 

26 (2.**) — Owtiía. S. Ludgero, B. S. Theodoro. B,| 
Martyr. S. Braulio, B. 

46 



MARÇO. 
-Sexta. S. Roberto, Bispo. 



.0 Menino Deus, Prot. doi Pastos n 
do Tojal. Siio prohibidot os espeetactiíos pvhlicoi det- 
dt hoje alé Domingo de Paschoa tncluiiti^. 



. S. BatblDa, V. S. Ben)amim, Dii- 



,.Vg.7, 



-Quarla. AaChsgnsdeS. Calharias de Se- 
'" {A. t\,\ de Abril. A. bb. p. i8i). 
'"'• ■">■ 57minuloi depois do meio dia. 



ABRIL. 

2 [9.^] "Quinta. S. Francisco de Paula. S.Maria 
Egypciaca. Festa e Lausp, em S, Francwco dePaula^ 

3 {10.°) — Sexta, As sete Dores de N. Senhora. 
(i4. 53, p. 108). S. Ricardo, B. S. Benedicto, F. S. Pan- 
cracio, B. M. Festa e Lausperenne na Ermida das Derem 
e nas Igrejas onde houve Septenario, Festa e Senhor 
Exposto na Guia, Festa de instrumental em S, Antónia 
da Sé, Festa em S. Joanna. Faz 26 ânuos S. A. a Ser^ 
Sr.^ D. Adelaide Sophia^ Esposa do Sr. D, Miguel de 
Bragança. 

4 (11.**) — Sabbado. S. Ii^doro, Arceb. de Sevilha. 
S. Zozimo. 

5 (12 *>) — Domingo de Ramos (i. 51, 13 d* Abril. A^ 
55, p. 184). S. Vicente Ferrer, D. Festa na Sé com ifw- 
trumentaí. Procissão de tarde na Madre de Deus, Cam^ 
po Grande, Loures e Almada, Principião as férias, 

6 (13.**) —Segunda. S. Marcellino, M? A B. Cathari- 
na de Pallancia, A. 

7 (14.**)— Terça, S, Epifânio, B. M. 

8 (15.**) — Quarta feira de Trevas [A, 51. 16 d' Abril, 
A. 52, p, 128). Offieio nos Martyres, S, Roque, Sé, ete. 
Fax 2! annos que chegou a Lisboa S, M, o Sr, D. Fer» 
nando, 

9 {\Q,^) — Quinta feira de Endoenças (3< desde o 
meio dia até ao meio dia seguinte) {A, 51, 17 d*A&rt7. A, 
52, p, 229. A, 53, p. 113. A, 55, p. 186). Trasladação de 
S Mónica. Festa ae instrumental na Sé, 

Lua cheia ás 8 horas e 52 minutos da manhã. 

48 



i 



ABRIL. 

10 {{1.°)" Sexta feira de Paixão {iíb(''féao meio dia) 
U. 5{,6eíSde Âhril.Á. 53, p. 114. yi.õi. p. 134. A.òõ, 
P»i88). S.Ezequiel, Propheta. O B. António, M, D. Pro" 
cissào do Enterro na Graça, em Jesus, nos Clérigos Po» 
bres, nas Francezinhas, i^m Belém, 

11 (18.°) — Sabbado d^Alleluia (A. 51, i9 d'AhriL 
A. 55, p. 189). S. Leão I, P. OB. André do Monte Real, A. 

12 [i^."*) — Domingo de Paschoa {A. b\, ^0 d^Àhril, 
1.52,p. 125. ii.53, p. 116. A. 56, p. 190). S. Victor, M. 
Portuguez. O B. Angelo de Clavasio. Festa na Sé e nos 
Mariyres. Benção Papal. Pequena Gala. 

13 (20.")— Seotinda (1." Oitava da Paschod). S Her- 
menegildo, M. A B. Margarida do Castello, V. D. Foi 
abolido o D, S. D, no Funchal, e o de guarda nas outras 
dioceses, 

14 (21.*»; Terça (2.» Oitava da Paschoa). S. Tiburrío 
e S Valeriano, "MM. S. Pedro Gonçalves Telmo. Foi 
abolido o D, S, D. 

15 (22.**) — Quarta. S. Basilissa e S. Anastácia, 
Martyres. S. £utyehio, Martyr. 

!6 {U,*^) — Quinta. S. Engracia, V. M. S. Fru«'tuoso, 
Arceb. de Braga. 

17 (25.°)— Sexta. S. Aniceto, P. M. S. Elias. Mongn 
Portuguez. 
Quarto minguante ás 11 horas e 24 minutos da manhã. 

R (26.°) — .^abdrtdo. S. Gualdino, B eCardeal. OB. 
dré Hilbcrnon, F. 

^ 3 






ÀfiRIL. 

19 (27.°)— Pominoo da Pasehoela [A, 53, p. 121). 
S. Hermogenes, M. O B. Conrado Miliano, F. Festa á Se^ 
nhora das Angustias em S. Francisco de Paula, Com^ 
munháo dos meninos nas Fréguejíias do Sacramento e 
da Aíagdalena. 

20 (28/') — Sequnda. N. Senhora dos Prazeres e da 
Pena. S. Ignez de Montepoliciano» V. Festa eLauspe- 
renne na Fréguezia da Pena em que se aholio o D S..G, 
Foi também abolido o D. S. D. no arcebispado de Bra* 
ga. Festa em S, Christovão. Procissão de manhã por 
voto ; sahe da Fréguezia de Santos para a Ermida dos 
Prazeres. Acabào as férias, 

21 (SO:**) — Terça. S. Anselmo, Arceb. de Cantuaria. 
Começa aNov, deS, Catharina de Sena. 

22 (30.°) —Quarta, Santos Sotero e Caio, IJIM. S. Se- 
nhorinha, V. Portugueza. 

23 {ZU^) — Quinta. S. Jorge, M. Defensor do Beino. 
Festa e Lausperenne em S. Jorge, onde foi abolido o 
D, S, de G, Procissão da Saúde, 

24 (1.°) —Sexta. S. Fiel de Sigmaringa, M. F. S. Ho- 
nório, B. Começa a Nov. de S. Cruz no Castello e a de 
N, Senhora do Resgate. 

Lua nova ás 6 horas e 37 minutoB da manhã. 

I • 

25 (2.°) — Sabbado. S. Marcos Evangelista. 

. 26 (3.°) — Domingo do Bom Pastor {A, 52, p. 144). 
Fugida de Nossa Senhora. S.Pedro de Rates, l.°B. de 
Braga. S. Cleto e S: Marcellino, MM. 

27 {à.^) — Segunda. S. Tertuliano, B. S. Toribio. 
Arccb« de Lima. O B. Jacobo de Bicteto. 

50 



29 (6.°) — Quarta. S. Pedro, M. Ih S. Hugo, A6, An- 
uiveriario da Carla Constitueionat. Grandt Gala. Bei- 
itttnão. Fax Si annoi S. A. a Seren. Sr.' D. Mariú The- 
Ttxa, Yinva áo St. D. Feiro Cnrlo» e do Sr. D. Carlot 
Uaria, de Heipanha. 



QttBito crescente Í9 11 horas s 4t n 



1 {8.") — Sexta. S. Filippo é S. Thiago, Ap. S. S«- 
gigmundo. Foi abolido o D. S, G. no Funihal e o dti- 
pentado nas ovtrai dioctses [Á. 51 , 1 d< Jfato. À. 55, 
p. 209;. 

2 (9.*') — Sabbaáo. S. AubeUcío, B. A. B. Mafatda.V. 
Infanta de Ponugal. 

51 



MAIO. 

3 (10.*^) — Domingo. MâTERifiniiyE de N. Senhora. 
Invenção da Santa Cruz {A. 53, p. 154 J. Festa na Igreja 
dos Martyres a S. Maria Egypciaca pela Real Irmanda^ 
de dos Archeiros e ao Patrocínio de S. José na Igreja da 
Estrella. Festa de N, Senhora do Resgate na sua ermida 
aos Anjos (é d'arfayal). Festa do Senhor Jesus dosPer^ 
does na Fréguezia da Magdalena. 

4 (11.*^) — Segunda. S. Mónica, Mâi de S. Agosti- 
nho. Começa a Nov. deN, Senhora dos 5Iartyres, 

5 (12.®)— Tcrfa. Conversão de S. Agostinho, S. 
Pio V., Papa, D. S. Angelo M C. 

6 (13.°) — Quarta. S. João anteporiam latinam. 
S. João Damasceno. 

7 (14.") — Quinta. S. Estanisláu, B. M. Começa a 
Nov, de S. João Nepomuceno, Festa da Coroação de cs- 
pinhos de N. Senhor^ em S. Joanna. 

8 (15.®) — Sexta. Appariçâo de S. Miguel Archanjo. 
Festa na sua Igreja. 

9 (16.®) — Sahbado. S. Gregório Nazianzeno, B. 
Lua cheia á 1 hora e 34 minutos da manha. 

10 (17.®)— -Domingo. S. Antonino, Arceh. de Floren- 
ça, D. Festa ao Patrocínio de S. José em S. Alberto. 

11 (18.®) — Segunda. S. Anastácio, M. 

12 (19.®)— Terça. S. Joanna, Prinjiipe de Portugal 
{A. 53, p. 161). Festa no seu Conv. Começa a i^ovena da 
Ascencao. 

52 



MAIO. 

i3 {20^) — Qiiarla. Nossa Senhora dos Mártires. 
S. Pearo Regalado, F. O B. Alberto de Bergamo, D. 
Festa nos Martyres, Começa a Aov. de S. ikita de 
Ca£€ia. 

U (21.^) — Quinta, S. Gil, D. {A. 54, p. 163.) S. Bo- 
nifácio^ Ia. o B. Francisco de Fabiano, F. 

15 (22.**)— Sea?ta. S. Izidro, lavrador. O B. Egydio, F. 

16 (23.°) — Sabbado. S. João Nepomuceno. M. San- 
to Ubaldo, o. S. Simão Estok, C. Festa e Lausperenne 
em S. João Nepomuceno," 

Quarto minguante ás 10 horas e 33 minutos da tarde. 

n (24.®)— Domingo, S. Paschoal Baylâo, F. S. Pos- 
sidonio. Começa a Píov, de S. Filifpe ATery. 

18 {'iò.^) -- Segunda {Ladainhas). S. Venâncio, M. 
S. Érico, Rei de Suécia. (A. 51, 26 de Maio), 

19 (26.°) — Terça (ladainhaí). S. Pedro Celestino, 
Papa. S. Ivo, F. ' ' 

20 (27.°) — Quarta {Ladainhas, Jejum), S.Bernar- 
dino de Sena, F. A B. Columba de Riete, V. D. Embar- 
ca o Cirio do Cabo, 

21 (28.°) — Ò«*nta g& Ascensão. S. Mancos, M., 1." 
B. d*Evora. Fesia no Sacramento, em Santa Mar lha, e 
no Conv, de Santa Clara. Fax-se a Hora na Igreja dos 
Mártires e no Sacramento. Festa, Lausperenne, ejnd. 
aa Ermida da Ascensão aos Paulistas. São prohihidou 
hoje os espectáculos públicos [A. y,Í9 de Maio,^ í. 55, 
p. 222;. 

53 



MllO. 

22 (29.®)— Sexta. S. Rita de Cássia, V. S. Quitéria, 
V. M e oito irmãs portriguezas (A, 53, p. 170). S. Hele- 
na. S. Ato, B. Portuguez. A B. Èmiliana, V. F. Festa de 
instrumental na Ermida da Oliveira. Principia a Nov. 
do Espirito Santo. 

23 (1 .°) -- Sahhado. S. Basilio, Are. de Braga. 
Lua nova ás 2 horas e 11 minutos da tarde. 

24 (2.°)— Domnoo. S. Afra. M. O B. João do Pra- 
do, M. Trasladação de S. Domingos (;4. 54, p. 173). Pro- 
cissão do Corpo de Deus no Salvador. 

25 (3.<*) — Segunda. S. Gregório, P. S. Urbano, P. M. 
Desemoarca o Cirio do Ca^o, 

26 (A.°) — Ttffça. S.FilippeNery, Fundador da Con- 
gregação do Oratório. Festa na Ermida da Yictoria pe- 
los Congregados de S. Filippe Nery. 

27 (5.°) — Quarta. S. João, P. M. O Venerável Beda. 

28 (6.®) — Quinta. S. Germano, B. 

29 (7.°) — Sexta. S. Máximo, B. 

30 (8.°)— 5abbado [Jejum]. S. Fernando, Rei de Cas- 
tella. S. Félix, P. M. Nome de S. M. El-Rei. Peq. Gala. 

31 (9.®) — Domingo de Pentecòstps oo Paschoa do 
EspittiTO Santo. S. Petronilla,V. O B. Diogo Salomão, D. 
{A. bi, 8 de Junho. A. 52, p. 179). 5áo prohibidos hoje 
os espectáculos públicos. Festa de instrumental na Sé. 
Sahe da Fréauexia de S. Pedro em Alcântara o Cirio de 
N Senhora aas Mercês e volta na terça á noute. 

54 



JUXHO. 

I (10.") — Segi(niia(I.'Oílaoa). g.Firmo,M.ÒB. 
laeobo deStrepa. Comrça a Tre^iena de S. António IA. 
5t, i dejitnho). Foi um dot diai tanlnt áispfníaàa» 
abolidos no Funchal e na Prelaiia de Thom/ir, e dos 
diat lanios de guarda abolidoí nat ovtrat dioceset. . 

3 (U."}— Terça (2.» Oitava). S. lUrcellino, M. O , 
B. Sadoe e seus í8 Companlieiros. MM. Foi um âot dias 
tantos dispensados aboUdos peia BtiUa de ÍSU. 

3 (t2.")-0«or(rt (remporns. /pjiim). S. Paula, V. 
Marljr. S. Ovidio, B. de Braga. PHntipia o Oííacnrin 
do Corpo de Uetis. 

4 13.°) — O""'". S. Franoispo Caraciolo. S. Qoiri- 
no, B. M. Trasladação de S. Pedro, M. U. Prtníipio o 
Oilatario do Corpo de Deus nas Franctzinhas e no 
ifosieiro da Eiir. 



JUNHO. 

5 (ih.*^)^ Sexta [Têmporas, Jejym). S. Mareiaac» 
MartvT. S. Bonifácio, B. M. O B. Pacifico, F. 

6 (15.°) — Sabhaào { Têmporas, Jejum). S. Norber- 
to, B. S. Paulina, V. M. Matinas na Encarnação. 

7 (16.*») — Domingo ha SS. Trindade (í4.51, 15 de 
Junho. A. 54, p. 190). S. ttoberto, Abbade. 

Lua cheta ás 4 horas e4t) viin%tos da tarde. 

9 

8 (17.°)— Segitnda. S. Salustiano, C. S Severino, B. 
O B. Francisco de Patriciis, Servita. Festa na Frégue^ 
sia da Encarnação, da Irmandade dos Clérigos Pobres, 
a que assiste como Juiz o sr. Cardeal Patriarcha. 

9 (18.°) — Terça. S. Primo e S. Feliciano. Marty- 
res. Santa Melania'. 

10 {[9.°) — Quarta. S. Margarida. Bainha de Esco- 
ria. Festa e Procissão do Corpo de Deus nos Martyres e 
do Desaggravo, pelos escravos da Irmandade do SS. 
Sacramento, no Mosteiro da Encarnação, Principia a 
Novena do Coração de Jesus. 

11 . (âO.°) — Quinta. ^ Corpo de Deus [á. 51, 19 de 
Jvnho. A. 52, p. 191, 367.. Â. 55, p. 238). S. Barnabé, 
Ap. Festa nos Conv. de S. Clara e de S. Joanna. São 
prohibidos hoje os espectáculos públicos. Procissão da 
Cidcide. Pequena Gala. 

12 (1\.°) ^ Sexta {Jejum no Patriarchado). S. João 
de S. Fagundo. S. Onofre. O B. Guido, F. Principia a 
Nov. de N. Senhora^ Mãi dos homens. 

56 



JUXHO. 

i3 (22.°) — 5flbbadoí< S. António de Lisboa; F. [Â. 
52. p. 260. il. 53. p. 191. Â. 55, p. 243.) F«ía de instru^ 
mental na sua Igreja a que assiste a Camará Munici" 
pai. Foi A. D. S. í>y em Braga, Bragança, Casiel- 
lo Branco, Elvas, Guarda, Portalegre, Porto e Fun-- 
chaL 

i4 (23.®/'— Domingo. S. Basilio Magno, Bispo. S. Eli- 
zeu, Propheta. 

15 (24.°) — Segunda. S. Tito, M. Começa a Novena 
de S. João Baptista, 

Quarto minguante ás 6 horas e 33 minutos da. manhã. 

16 (25.°) — Terça. S. Jo&o Francisco Rcgis. S. Àu- 
reliano. Bispo. 

17 (26.°) — Çiiflrfo. S. Thereza, Rainha de Lefio. 
Porlugueza, S. Manoel e Irmâas, 5iM. O B. Paulo de 
Arezzo. 

18 [21.°) — Quinta [Jejum). S. Marcos e S. Marccl- 
Huo, Irmãos Martyres. A B. Osana, V. F. Procissão do 
Corpo de Deus, de tarde, na Sé de Lisboa* 

19 (28 °) — Sexta lí< SS. Coração de Jesus. S. Julia- 
na de Falconer, V. S. Gervásio e S. Protísio, Martyres. 
A B. Miquelina, V. F. [A. 53, p. 181.) Assistem á festa 
no Conv. da Estrella SS. MM., Grã-Crvses e Commen^ 
dadores. Festa nas Francezinhas, no Conv, de S. Cia* 
ra, e nas Religiosas do SS. Sacramento a N. Senhora 
dos Afílictoi, Proc. de tarde £m Jesus. PeqUena Gala. 

20 í29.°)--SabSado. S. Silvério, P. M. S. Macário. 
Começa a Nov. de S, Pedro, ' 

57 



JUNHO. 

21 (l^**) — Domingo. Nossa Senhora, Mãi dos Ho- 
HKifS. S. Luiz Gonzaga. Principia o V^rão {À, 51, 22 
de Junho, Á. 55, p, 259). 

Lua nova ás 9 horas e^l minutos da tarde, 

22 (2.®)— Scflfttnda. S. Paulino, B. O B. Filippe de 
Placencia, A. 

23 (3.'»;— Terça f Jffjtim). S. João. Sacerdote. S. Edel- 
trudes. Rainha de Bretanha. 

24 (4.'>) — Quarta V& Nascimento de S. João Baptis- 
ta (A. 51, 24 d« Junho. X. 52. p. 204; A'. 53, p. 203, A. 54, 
p. 201. A. 55, p. 252). Festa em S. /oáo da Praça, Penha 
de França t Lumiar, Almada, Alcochete, etc, ' . 

25 f 5.**) — Ottínta. S. Guilherme, Ab. S. Febroni», 
¥• M. b. Tude, Advogado contra a tosse.^ 

26 (6.*») — Sexta, S. João e S. Paulo, Irmãos Marty- 
res. S. Pelagio, M. 

27 (7.«) — Sahhndo (Jejum). S, Ladisláu, Rei d'Hun- 
gria, O B. Benvenuto, F. 

28 (S.^) — Domingo, Pureza de Nossa Senhora. S. 
Leáo II, Papa. 

29 (9.<») — Segunda )}< S. Pedro e S. Paulo, Apósto- 
los [A. 53, p. 208. A, 54, ». 206). Festa e Lausperenne na 
Igreja de S. Pedro em Alcântara, nos Inglexinhos, Lu- 
miar, Cintra, e Seixal, 

Quarto crescente ás 3 horas e 43 minutos da manhã. 

30 (10.°) — Terça. S Marcai, B. Festa na Graa. 

' 58 



S (lí.") — Puífa. Visitação i>E S«!S» Senho**. 
Feita na Igr. de S. Roque, enjo Oraga é a Visitação, e 
nai SHesias. D. S. D. abolido no Funchat. 

3 (13.°] — Sixia. S. Jacintho, M. S. Heliodoro, B. 

4 ( It.") — Sabiado. S. Isabel. Rninha de Portugal 
(À. 52. p, W, 73, 105, 181. ,1, 53. p. St3, 372) Frita na 
i»a Frig.. ande foi abolido n D. S. G. Fai 58 anuo» a 
Seren. Sc* Inf. D. Isabel Maria. 

. M. O B. Miguel 



6 [IG.') — Segunda. S. Domingaa, V. M. Começa a 
ITov. de S. CamiUo. 
5« 



JULHO. 

7 (17.*') — Terça. S. Pulcheria, V. S. Cláudio e seus 
Gomp., MM. Começa a liov, de N. Senhora do Carmo. 

Lua cheia is 6 heras e 8 miautos da manhã. 

8 (18.**) -r Qnaria. S. Pracòpio, M. O B. Lourenço 
de Brunduzio» F. 

9 (19.°) — ^uinía. S. Cyrillo, B. M. OB. João de 
Colónia, M. D. O B. Nicolau e seus Comp. MM. 

10 (20.°) — Sexta. S. Januário e seus Comp, Marty- 
res. S. Amélia, V. Princ. a Nov. de S. Justa Dia do no^ 
me de S, M. I. a Sr.^Duque;sa de Bragança. Peq. Gala. 

11 (21.°)— Solbado. S. Sabino. Traslad. de S. Bento. 

12 (22.°)— Domingo. Nossa Senhora, no Patrocikio. 
S. João Uualberto, Ab. S. Nabor e S. Félix, MM. 

13 {^.^) — Segunda. S. Anacleto, P. M. Fax 10 oii- 
nos a Ser. Sr.^ Princexa D. Leopoldina, filha de S. if. 
o Imperador do Brasil, 

14 (24.°)— Terça. S. Boaventura, B. Cardeal, F. 
Quarto minguante ás 11 Iteras e 19 minutos da tarde. 

15 (25.°)— Ouaría.S. Camillo de Lelis. S. Heqfi- 
que, Imp. Festa na Magdalena a S. Camillo de Lelis, 

16 (26 °) — Quinta. Triumpho da Santa Cruz. Nos- 
sa, SF.NUORA DO Carmo. S. Sisonando, M. O B. Cesláu. D. 
Festa a N. Senhora em S. Nicolau, nas religiosas de 
5. Alberto, e no Convento da Estreita. 

17 íil.'] — Sexta. S. Aleixo. Com. a Nov. de S. Anna. 

60 



JULHO. 

18 (28.«) — Sahhado. S. Marinha, V. M. S. Frederi- 
co, B. OB. Simão deLipnics, F. 

19 (29.") — Domingo. Anjo Costomo do Reino. San- 
tas Justa e Rufina, MM. S. Vicente de Paulo, Fundador 
da Ordem da Congregação da Missão e das Irmos da 
Caridade.. Festa e Lausp. na Frég. de S. Justa, Festa h 

'Procissão no Sacramento. Faz 23 annosS. A. o Sr, Con- 
de de Âquila, Marido da Sr.** Infanta D. Januaria. 

20 Í30.")— Segunda. S. Jeroriymo Erayliano. S. Elias, 
Propheta. S. Margarida, V. M. 

21 (1.®)— Terça. S. Praxedes, V. Faz 14 annos a 
Seren. Sr.® bif. D. Maria Anna. Pequena Gala, 

Lua nova ás 5 horas e 35 minutos da manhã. 

2i {2.°) — Quarta. S. Maria Magdalena. Festa e 
Lausp na sua Frég.^ em que foi abolido o D, S. G. 

23 (3,<>)— Çwinío. S. Apollinario, B. M. S. Libório, B. 
A B. Joanna Vanna, V. D. Faz 11 annos o Seren. Sr, 
ínf. D. Fernando. Pequena Gala, 

54 [h."") — Sexta [Jejum). S. Christina, V. Martyr. 
S. Francisco Solano, F. 

25 (5 "") -^Sahhado. S Thiago, Ap. S. Christovâo, M. 
Festa e Lausp. em S. Christovâo. Festa em S, Thiago, 

26 {f^.^)— Domingo. Sant'a?ína, Mãida Mãi de Deus. 
S. Synifronio. S. Olympio e 8. Theódulo, MM. Festa de 
instrumental nas Fniras de S. Anna e nas de S. Joan- 
na Festa e Procissão ho Magdalena. í>sfa em Demftca. 
Começa a Nov. de S. Domingos. 

61 * 



17 (T."! — Seaii«da.S PantaleKo, Dedico «M. A B. 
Cuorgundes, Y. 7. Foi aliolido o D. S. G. «a tidade do 
Porto. 



23 (9.") — Ouaría. S. Mnrtha, V. S. Ola-vo. Bei da 
Koruega, M. Feita em S. tlariha. Priníipío o Nov. de 
S. Caetano. Fax 11 annoi S. A. a Seren. St.' Printesa 
S.Isabtl, /ilfiii n>«ú vtllia deS. U. olmp«r. do Brntil. 

30 (IO.") — Quinta. S. Rufino, Marljr. 

31 (11.°) — Scalo. 9. IgOBCio de Loy«T«. Juramento 
da Carla Constitucional. Fai Aã annoi 5, H, J. a Sr.* 
Dvqutxa de BTagança. GTande Gala. Bttjamâo. 



1 1X2."] — Saibado IA. b\. Ide Agotto] S. Pedro 
d Tintvta. Os MU. de Chellas. 



AGOSTO, 

2 (13.*) — Domingo. N. S. dos Anjos. S. Esteráo, 
P. M. Faz 33 annot S. Á, a Seren, Sr,^ Prineexa de 
Joinmille, 

3 (U.®) — Segttndã, inve&ç&o de S. EstevSo, Pro- 
to-Martyr. 

4 (15.*) — Ter§a, S. Domiogos. FeHa im Santa 

5 (16.*) — QuetTta, N. S. das Netes. Festo no Soe- 
corro, onde se abolio o D, S, G. bem como o dispensa^ 
do no Funchal. 

Lua cheia ás 5 horas e 52 minutos da tarde. 

6 (17.*) -^Quinta, Transfiguração de Christo. Sant** 
lago. Eremita. Festa no Salvador/Princ. a Nov. da As^ 
sutnpção. D. S. G. abolido na Frég, do Salvador enas 
Cidades de Pinhel e Angra, 

7 ( 18.*) — Sexta, S. Caetano- S. Alberto, da Ordem 
do Carmo. S. Severino, Martyr. O B. Vicente •d*Aqui- 

I la, da Ordem de S. Francisco. Principia a No%eiva de 
i S. Jioque, 

\ 8 (19.*) — Sabbfldo [Jejum), S. Cyriaco e scu« 
j Comp. MM. S. Severo, Presbytcro- 

9 (20.* ) — Vomingo. S. Romão, M. O B. João de Sa- 
lemo, da Ordem de S. I>omingos. 

10 (21. *j — Segunda. S. Lourenço, Martyr. S. Filo-r 
mena. Virgem Martyr, Princeza. Festa e Lausperenne 
na Fréguezia de S. Lourenço ^ em que foi abolido o dia 
tanto de guarda. 

63 



AGOSTO. 
í 1 (22.®) — Terça. S. Tiburcio e S. Suianna. MM. 

12 (23.®) — Çuarfa. S. Clara. V. F. Festa na iia 
Igreja e nas Francesinhas. 

Qaarto minguante ás 5 horas e 4 minutos da tarde. 

13 (24.®) — Quinta. S. Hypolito e S. Cassiano, MM. .j 
S. Helena, V. M. O B. Pedro de Moleano, F. 

14 (25.®) — Sexla (Jejum). S. Eusébio. S. Athana- 
6ia, y. O B. Sanches, F. A B. Juliana do Busto, da Or- 
d«m de Santo Agostinho. 

15 (26.®) — 5a bbado. ^ Assumpção de N. Sbnhoua.! 
Festa de instrumental na Sé. Ind. em varias IgrejasM 
Festa nos Clérigos Pobres. Procissão nas Flamen'< 
gasao Calvário. Festa na Ermida da Assumpção, na-} 
Rua da Prata. Festa de instrumentaU SS. Sacramenfofi 
Exposto, e Feira, em Calhariz de Bemfi,ca. Proeiuão no\ 
Barreiro. Festa na Peninha em Cintra. Jubileu no ÁV' 
cebispado de Braga e por 8 dias no Patriarchado. 

16 (27.®) — Domivgo. S. Joaoiiim, Pii de N, Senho-J 
RA. S. Roque. F. (A. 54, p. 252.) S. Jaeintho, D. Festn 
na Igreja da Misericórdia. 

17 {IS.'') — Segunda. S. Mamede, M. A B. Enii-j 
lia, V. 1). Festa e Lausp. em S. Mamede 

18 (29.®)— Tcfca. S. Clara de Monte Falco» V. A.| 
S. Lauro, M. 

19 (1.®) — ÇMartG. S. Luir., B. F. Começa a ^'ov. di] 
S. Agosfinho. 

Lua nova ás 3 horas e 48 minutos da tarde. 

6i 



AGOSTO. 

20 l^,^)-- Quinta. S.Bernardo, Abbade e Dr. da 
Igreja. 

21 Í3/*) — 5««ta. S. Joanna Francisca, V. S Anas- 
tácio, M. S. Umbellina, Irma de S. Bernardo. Principia 
n Novena do Coração de Marial 

22 (4.^) — Sahhado [Jejum]. S. Thimotheo, M. 

* 23 (5.°) ^Domingo. S. Filippe Benicio. S. Liberato 
•e seus Comp., MM, O B. Jacobo de Mevenha, D. 

U (6.*») — Segunda. S. Bartholomeu, Ap. [Á. 5!, 24 
de Agosto.] Foi um dos dias santos dispensados aboli- 
do pela Bulia de 1844. 

25 (7.<*) — Terça. S. Luiz, Rei de França, 

26 [S.^]-- Quarta. S. Zepherino, P. M. 

27 (9.*») — Çutnta. S. José Calazans. S. Rufo, Bis- 
po Martyr. 

Quarto crescente ás 2 horas e 29 minutos da tarde. 

28 (10.°) — Sexta. S. Agostinho, B. e Dr. da Igreja. 

29 (11.**) — 5abbado. Degollaçâo de S. João Baptista. 

30 (12.®) — Dominfifo. Sagrado Coração dk Maria. 
S. Rosa de Lima, V. D. Principia a Nov. de N. S. das 
Necessidades. Festa na Ermida do Campo Grande e no 
Mosteiro da Encarnação. 

31 {\S.^) — Segunda. S. Raymundo Nonnato, Car- 
deal. Festa em Santa Mariha. 

6õ 3 A 



1 (14,°) — Terça. S. Egydio. Ab. Frínefpia a !fov. 
de S. íVifoIdu lulenJino (A..bl,&deSept. A. 53. p.36S). 
Começão ai férias. 

2 (15.°) — 0>m'^ta. S.Eslevio.S. Brocardo, C. 



Santo Agoatinlio. Oa Santos das Cónegos Regrantes 

. S. Joio, M. S. ÁnH- 



SCTTEMBRa 

8 (íl.°) — Terça, Natividade de Nossa Senhora. 
S. Adnâo, M. Festa e Lausp. na Ermida da Victoria, 
Festa nas Necessidades, àorete, Luz, Guia, Linda a 
Velha, etc, P. 5. de G. abolido pela Bulia de 1844. 

9 (22.®)— Çwoffa. S. Sergia, P. A B. Seraphina, 
Virgem, da Ordem de S. Francisco» 

10 (23.**) — Quinta, S. Nicolau Tolentino, A, 
Quarto minguante ás 10 heras «13 minutos da tarde, 

li (24/*) — Searta. S. Theodora, Penitente. O B. 
Bernardo de Offida, F. 

12 (25.**j — 5aò5ado. S. Auta, V. M. 

t3 (26.**) — Domingo. Santíssimo Nome de Maria. 

S. Filippe, M. Festa nas Francexinhas. Festa a N. S. da 

-Graça e a N. S. da Guia nas suas Igrejas. Festa d'ar- 

raiâl na Crux Quebrada. Festa dos cereeiros a N, S. 

Franca na Frég. de S, Thiago, 

14 (27.**) — Segunda. Exaltação da Santa Cruz. 
Festa nas Francezinhas e na Igreja das Religiosas de 
S. Alberto. Foi abol. o D. S, D. na cidade de Miranda, 

15 (28.*»)— Terça. S. Domingos em Scriano. S. Ni- 
comedes, M. 

16 (29.**) — Quarta ( Têmporas, Jejum). Trasladação 
de S. Vicente, M. S. Cornelio, M. Fax 20 annos S. M'. o 
Sr. D. Pedro V. Grande Gala. Beijamáo, 

17 (30.**) — Quinta, S. Pedro de Arbues, M. As Cha- 
gas de S. Francisco. 
67 



SEPTEMBRO. 

18 [i,^) — Sexta {Temporat, Jejum), S. José de Cu- 
pertino. S. Thomaz de Villa Nova, B. 

Lua nova ás 4 horas e 56 minutos da manhã. 

19 (2.°) — Sahhado {Têmporas, Jejum), S. Januá- 
rio, B. M. 9. Constança, M. 

20 (3.®) — Domingo. Festa das Dores de Nossa Se- 
nhora. S. Eustachio e seus Comp., MM. Começa aNov, 
de S. Miguel. Festa em S. Nicolau, na Ermida das Do- 
reSy e em Santos o Velho. >■ 

21 (4.®) — Segunda. S. Matheus, Ap. eEvang. S. Ifi- 
genia, Princeza. 

22 (5.®)— Terça. S. Maurício, Martyr. Principia o 
Outono (A. 51, 23 de Septemhro, Á. 55. p. 327). 

23 (6.®) — Quarta. S. Lino, P. M. S. Tecla, V. M. 

24 f7.") — Quinta. Nossa Senhora das Mercez. Fes- 
ta nas Mercês, em que foi abolido o D. S. de G. Offiçio e 
Missa pela alma de S. M. o Sr. Duque de Bragança. São 
prohibidos hoje os espectáculos públicos. 

25 (8.**) — Sexta. S. Firmino, B. M. S. Herculano, 
Soldado M. O B. Pacifico de S. Severíno. Começa a 
Novena de Nossa Senhora do Rosário e de S. Francisco 
de Âssiz. 

26 (9.°) — Sabbado. S. Cypríano e S. Justina, MM. 
(74.53, p. 290.) AB:Luiza, V. 

27 (10.°) — Dominí/o. S. Cosme e S. Damião, Mar- 
tyres. 

68 



SEPIEMBRO. 

28 {11.°)^Seai<nda. S. WenceElíu, Duque de Bo- 
hemia. S. Bernardino da Feltro, F. O B. Simão de Ro- 
chas. Feíia da Dedicação do Jgreja ParocMal do Sa- 

Quarto crescente ás S horas e 33 minutos da manhi. 

29 (13.') —Terça. S. Miguei Archanjo (À. M. p. 293!, 
D. S. ae G. abolido na Frég . dot Ánjot. e D. S. D. abo- 
lido na de S. Miguel. Fesía em S. IHxgutl, na Frig. dn 
Sacramento, no Hasttiro da Encarnação, em S. Pauln, 
« na Frég. dos anjos. 



OUTUBRO. 

1 ÍM-") — Quinta. Sanloa. Veríssimo, Manimn e 
lulít. Irmãos MM. Portug. (J: 51, * deOvt. A. 53, p. 21)5). 
S. nemigio, S. Feiía e Lauip. na Frég. de Santot, «m 
que ^ai abolido o dia tanto de guarda. 
69 



OUTUBRO. 

2 (15.^} — Sexta. Os Anjos da Guarda [Almanachòà^ 
j).297). 

3 (16.'') — Sabbado. S» Cândido, M. S. Maximiano, 
Bispo. Trasladação de S. Clara. 

Lua cheia as 2 horas e 32 minutos da tarde. 

4 (\1,^) — Domingo, Santíssimo Rosário de N. Se- 
nhora. S. Francisco de Assiz. Festa nas Freiras dê S. 
Clara, nâs de S. Ânna, no Soccorro, e a S. Miguel em 
Santos o Velho. Procissão do Rosário nas ReíigiosaÈ 
do Bom Successo. Festa nas Religiosas ^o SS. Saara^ 
mento^ ás Necessidades, no Contento de S. Joanna, e 
em S. Nicolau, instituida pelo Sr. Manoel Ribeiro da 
Silva, 

5 (18.®) — Segunda. S. Plácido e seus Companhei- 
ros, Martyres» 

6 ( 19.°) — Terça. S. Bruno. Cometa a Nov, dê San-^ 
ta Thereza. 

7 [iO.^] — Quarta. S. Marcos, Papa. OBemaven- 
turado Matheus Carrerio, da Ordeiu de S. Domin« 
gos. 

8 (21.<>) — Quinta. S. Brígida, Viuva., Prínceza de 
Nerícia. S. Pelagia, Penitente. 

9 {i^.^) — Sexta. S. Dyonisio, B. de París. Santos 
Aodronico e Athanasia, Martyres. Foi abolido o dia 
santo de guarda no Funchal e o dispensado nos su^ 
burbios. 

70 



OUTUBRO. 

10 (ia.**) -*- SaòTíado. 8. Francisco de Borja, Pa- 
droeiro do Reiuo e Conquistas. S. Luiz Beltrão. Ftíhc, 
a Nov. de S. Pedro de Alcântara, 
Quarto minguante ás 5 horas e 16 minutos da ^anhã. 

il (24.°) — Domingo. Nossa Se?íhora dos Remédios. 
Patrocinio de S. José. S. Firmino, B. Primeira Trasla- 
dação de S. Agostinho. Festa na Sé. Festa e Lauspe- 
renne nas Freiras do Rato. Começa a Feira do Cam^ 
po Grande, 

12 (25.°) — Segunda. S. Cypriano, B. M. S. Seraphi- 
no, F. Festa das Palvn>elôas na Penha de França. 

13 (26.°)— Terça. S. Eduardo, Rei de Inglat-erra. 
S. Daniela seus Comp.s MM. 

U (27.°) — Quarta, S. Calisto, P. M^ Fax 40 €inms 
S. A, o Príncipe de JoinvilUt Esposo de S. A. R» a Ser. 
Sr,* PrincesíA D. Frantcisoa, 

15 (28.°)— Quinta. S. Thereza de Jesus, V. C. F«- 
ta no Convento da Estrèlia. Começa a Novena de S. Ra- 
phael. 

16 (29.°) — Sexta. S. Martiniano, M.. A. S. Gallo, Ab. 

17 {i.^)^Sahbade. S. Hedwiges, V., Duqueza de 
Polónia. 

Lua nova ás 9 horas 1 1 minuto da tarde, 

18 (2.°) — Domingo, S. Lucas Evangelista. 

19 (3,°) — Segunda. S. Pedro de Alcântara, F. Festa 
em S. Pedro j em Alcântara. 

71 . 



OUTUBRO. 

20 (4.**) — Terça. S. Iria, V. M., Portugueza. S. João 
Gancio. D. S. de G. abolido no Arcediagado de Santeh' 
rem e Prelazia de Thomar. 

21 [b.^] — Quarta. S. Úrsula e suas Comp., VV. MM. 
Festa dat 11,000 Virgens em S, Martha, " 

22 (6.^) >- Quinta, Dedicação da Basílica de Mafra. 
S. Mana Salomé. O B. Gregório Gelli, A. 

23 (7.^) — Sexta. S. João Capistrano, F. S. Romão. B. 
S. Jo&o Bom, A. 

24 {S.^]^Sahhado. S.Raphael. S. Fortunato, M. 

25 (9.®) — Domingo, Santos Chrlspim e Chrispi- 
niano, Irmãos Martyres. Festa da« 11,000 Virgens em 
Santa Joanna. 

26 {\0.^]^ Segunda. S. Evaristo, P. M. O R. Boa- 
ventura de Potenza, F. Faz 55 annos o Sr. D. Miguel 
de Bragança. 

Quarto crescente á 1 hora e 31 minutos da manhS. 

27 (11.°) — Terça [Jejum]. Os MM. d'Evora. S. Eles^ 
báo, Imp. da Ethyopia. 

28 (12.°) — (?uarla. S. Simão e S. Judas Thadeu, 
Apóstolos. 

29 (13 °) — Quinía. Trasladação de S. Isabel, Rainha 
de Portugal. S. Feliciano, M. S. Eusebia, V. M. A B. 
Bemvinda', Y., da Ordem de S. Domingos. Faz 41 an- 
nos Sua Magestade El-Rei D. Fernando. Grande Ga^ 
la. Beijamão. 

72 



OUTUBRO. 
(U,°) — Stata. S. Serapilo, Bispo, da Ordem do 



NOVEMBRO. 

1 (te.") — Domingo. Fest* bb tom» os S*ntos. Jm- 
bUeu no Areebupado de Sraga e por 8 dia* no Fatriar- 
chado. Fula ao Senhor Jfsvt da Via SacTa, em S. En- 
graeia, i dt tarde Procisião por voto, p'lo lerríniolo 
a« 1755. Feita e Procãsâo poT voto em Cacilhas. São 
jrrohibidoí hoje oi eipee'aeuloi ytiblicot (J.51,l«4 
de Novembro ã,54, p. 3í5). 

3 in.") — Segunda. COÍfifF.ífORAÇÁO DOS DE- 
FUNCTOS. S. Victorino. Martyr. São hoí> prokxbidnt 
ot etptctacMlot publtcoí (.4. 51, 1 de Nov. A. 5i, p. 3S9< 
^.ã3.p. 3»;]. 

Lu* cheit is 8 horas e 31 minutos da m«ohS. 
73 



ÍÍOVEMBRO. 

. â {\S.^)^ Terçú. S. Malaquias, Brepo Primaz da 
Irlanda. 

4 (I9.®j — Quarta. S-. Carlos Borromeu, Arceb. Car- 
deal. Fax 10 annos o Serenissime Sr, Infante D. Au- 
gusto Pequena Gala. Faz 46 annos S. A. p Serenissimu 
Sr, Infante D. Sebastião, filho da Sereníssima St,^ D, 
Maria Therexa. 

5 (20.*^) — Quinta, S. í acharias e %, Isabel, Pais de 
S. João Baptista. Fax 12 ànnos S, A. o Seren, Sr. D, Pe* 
úro Filippe, Duque de Penthievre^ filho de SS, AÁ, RR^ 
o Sr, Principe d€ Joinville e a Seren, Sr,^ Prineexn D. 
Ftancisca, 

6 (21. °) — Sexta. S. Severo, Bispo M. S. Leonardo* 
Principia a Novena de S, Gertrudeè. Oficio e Missa por 
alma.do Sr, D, João IF, falleciào n' este dia. 

7 (22.°) — Sahbado, S, Florêncio, B. Principia a 
Novena do Bemaventurado Gonçalo de Lagos, 

8 (23.®)— Domintí o. S. Severiano e seus Compa- 
nheiros, Martyres. 

Quarto minguante ás& horas^da manhã, 

9 (24.») — Segunda. S. Theodord;M. Os Santos da 
Ordem de S. Domingos. 

10 ^25.**) — Terça. S. André Avelino» Òs Defunctos 
da Ordem de S. Bomingos. 

« 

11 (26.^) —Quarta, S. Martinho, Bw {A. 61, 12 d« ffov. 
A. 52, p. .S38. A. 53, p. 335. 336. A. 54. p. 336, 337. A. 55. 
p, 36i e 365.) Festa na Fréguexia de S, Thiago, 

74 



.Jfs^OVEMBKO. 

12 (27.*) — Quinta. S. Martinho, P. M. S. Diogo, da 
Ordem de S. Francisco. 

13 (28.*») — Sexta. Santo Eugénio, B. de Toledo. Os 
Santos das Ord. d« S. Agostinho, S. Bento e SS. Trin- 
dade. 

14 (29.^) — Sahhado, Trasladação de S. Paulo, Pri- 
meiro Eremita. O B. Gabriel, F. O B. JoãoLicio, 1>. Os 
Santos da Ordem do Carmo. 

15 {30.'*) — Domingo. PátAocinio ôb N. Sínhora. 
Dedicação da Basílica do SS. Coração de Jesus. Santa 
Gertrudes Magna. O Beato Alberto Magno, D. Festa no 
Convento do Coração de' Jesus [Jejum excepto nos 
Bispados de Coimbra $ Aveiro e no Priorado do 
Crato). 

16 (1.®) — Segunda. O B. Gonçalo de Lagos» A. San- 
ta Ignez> V. F. S Valério. A B. Lúiza Narzi, V. Comera 
a Novena de 5. 'Catharina, 

Lua nova ás 3 horas e 19 minutos da tarde. 

17 (2.*) — Terça, S. Gregório Thaumaturgo, B. 
IB (3.*) — Quarta. S. Romão. 

19 (4.®) —Quinta. Santa Isabel, Rainha de Hungria. 

20 (5.*) — Sexta. S. Félix de Valois, Fundador dos 
Trinos. 

21 (6.*) — Sabbado. Aprisèwtaçao du Nossa Sk- 
?fHORA. Indulgências em varias Igrejas. Foi abolido o 
dia santo dispensado no Funchal. 

75 



NOVEMBRO. 

22 (7.®) — Domingo. S. Cecília, V. M. Grande festa 
de instrumentai nos Martyres, á qual assistem SS. MM, 
{A. 51, 22 de Nov. A. 52, p. 348.) 

23 {H.^)-- Segunda, S. Clemente, P. M. S. Felici- 
dade, Martyr. 

24 (9.®)— Terça, S. Jo&o da Cruz, C. S. Estanisláu 
Koatsk. S. ChryBogoDo. 

Quarto crescente ás 4 horas e 57 m^inutos da tarde. 

25 (10.°) — Quarta, S. Cathariíia, V. M. Festa na sua 
Frég., em que foi aholido o dia santo de guarda. Prtn- 
eipia a Novena de Santa Barbara, 

26 fil.<>) — Quinta, S: Pedro Alexandrino, B. M. 
A. B. Delfina, Viuva, da Ordem de S. Francisco. 

f1 (12.*») — Sexta. S. Margarida de Sabóia, Viu- 
va, D. O B. Leonardo de Porto Maurício. Os Santos 
da Ordem de S. Paulo, 1.^ Eremita. Princ, a Nov, de 
S. Nicolau, 

28 (13.®) — Sabbado (Jejum). S. Gregório RI, P. S. 
Jacobo de Marca, da Oraem de S. Francisco. 

29 (14.<») — Pomiwflfo fl.® do Advento). {A. 51. 30 
de Nov,) 8. Saturnino, Martyr. Os Santos das 3 Or- 
dens de S. Francisco. Principia a Nov, de Nossa Se~ 
nhora da Conceição, n^ sua Igreja, Loreto, Anjos, etc. 
Prohihem*se asbençôes matrimoniaes até ao dia de 
Reis, 

30 {iò.^) — Segunda. Santo André, Apostolo. Foi 
abolido o dia santo 4c guarda na sua Fréguexia, 

76 



ctpnicoH:iio. 



1 (16.°) — Terça. S, Eloy, B. £ o Santo don Ourt- 
cm; futqa-te na sua Copelío, no flua da Praia, quan- 
do para lá t>ai o Lautperenne, o que anda por e 
tempo (iimonath 61, I ■"- " '— ' 



í 117.°) — Ouaría. S. Bibiana, V. M. OsDefuncloa 
das 3 Ord. de S. Francisco. Fas 32 annoi S. U. o Im- 
perador do Bratil. 



4 (19.')— Seila. S. Barbara, V. M. S. Tedro Chry- 
«ologo, B. Officío deS Cecilta no( Martyr.es. Foi aboli- 
do o dia lattlo de guarda na eidade de Faro emburbiot. 

5 120.") — Sabbado. S. Giraldo, Are eb. de Braga. 
S. Sabbas, Ab. A B. Uabel Bona, V. F. Foi abolido o dia 
tanto dt g-uarda em Braga e subHrliioi. 

6 (ai.») —Domingo (í." do Adcenlo). S. Sicolíu, D, 
Fetta na sua Frége;ia. 

77 



DEZEMBRO. 

7 (22.®) — Siígunda {Jejum], S. Ambrósio, B. e Dr. 
fta Igreja (i. 52, p. 51). Matinas na Sé. 

8 (23.®) — Terça, ^ Nossa Sekhorà i>a Conceição. 
Padroeira do Reino e Goi^quistas (4. 51, S de Dez. A. 
53, p. 315j. Âs$i$tem SS. MM, a festa de Pontifical na 
Sé, e são obrigados a assistir também com os seus man^ 
tos todos os Grà-Cruxes e Commendadores da Conceição^ 
que se acharem na Corte. Benção Papal. Festa na Con^ 
ceição, Nova e Velha, no Convento da Estrellat nosln^ 
glexinhos, Loreto, Freiras de S. Ânna, Anjos, S, loti- 
renço. Santos o Velho, S. José, S^ Christovào, S. Joanna» 

Quarto minguante âs 6 horas da manhã. 

9 (24.®) — Quarta. S. teocadia, V. M.. 

10 (25.®) — Quinta, 6. Melquiadies, P. M. Trasllada-^ 
cão da Santa Casa do Loreto. 

11: (26.®) — Sexta. S. Dâmaso, P. S. Francisco, G. 

12 (27.®) — Sabbado, S. Justino, Martyr.^ 

13 (28.®)— Domingo (3.® do Advento). S. Luzia, V. M. 
O B. João Marinonio..Fe«fa em S. Luzia, nas Chagas, e 
a If. Senhora da Conceição, na Guia. 

14 (29.®) — Segunda. S. Agnello, Ip. 

15 (3<>,®J — Terça. S. Eusébio, B. Martyr. 



16 {l.^)— Quarta [Têmporas, Jejum), A* Virgens 
d*Africa. MM. O B. Sebastião Magi, D. Trasladação de 
S. Maria Magdalena dePaz^i. Prineip. a Nov. do Natal., 



1^ 
I 



DEZEMBRO. 

17 (2.®)- Çutnta. S. Lazaro, B. S. Bartholomcu de 
S. Geminiano. 

18 (3.'*) — Sexta ( Temporat, Jejum). Nossa Senhora 
do ô. S. Esperidiâo, Carmelita (í^. S. de G, aho^ 
lido na Frég, de Remfica, e D, S^. D. a&ottdo no 
Funchal), 

\9 (4.®) — Sabbado (Têmporas, Jejum). S. Fausta,. 
Mãi de Santa Anastácia. 

20 (ò.^) ^ Domingo (4.® do Advento). S^ Domingos, 
de Sílios, Abbade. • 

21 (6.**) — Segunda, S Thoiné,.Apostoro.. Pestana 
sua Frég , oi»de foi ahoUdo o dia santo de guarda. 
Prineipta o inverno, 

22 (7.**) — Terçã. S. Honorato. Martyr. 

23 [S.'*) — Quarta. S. Sérvulo, Advogado contra a 
paralisia. S. Victoria, V. M. Fax 51 annos S. A. 
a Sereníssima Senhora Infanta D. Ánna de Jesus. 
ÍSaria. 

24 (9.^)— Quinta {Jejum). S. Gregório, M. ifatinas 
na Sé com instrumental. Férias até aos Reis. 

Quarto crescente ás 6 horas da manhã. 

25 (10.**) — Sexta. >J< Na^cimeutO' de N.. Senhor Je- 
su-Christo. Jubileu no Arcebispado de Braga e por 8 
dias no Patriarehado. Festa de instrumental ePontt/t- 
cal na Sé. Festa no Loreto, S. Roque, etc. Pequena Ga- 
Ia. São prohibidos hoje os espectáculos públicos (A, 51, 
25 de Deis. A. 52, p. 377. A. 55, p. 396). 

79 



DEZEMBRO. 

26 pi.'*) — Sahbado (1.» Oitava). S. Estevão, Proto 
Martyr. Festa e Lausperenne na sua Igreja, D, S, G, A. 

27 (12.*») -Domingo (2.* Oitava), S. João. Apostolo 
e Evangelista. Co&Xuma ser festejada na Frég. da Hag-- 
dalena no ultimo dom. de Dex, a Senhora da Conceição 
e Caridade^ vestindo-se uns poucos de orphãos. 

28 (!3.**) — 5«gt/nda (3.* Otfara) Os Santos Inno- 
reutes, MM. I>. S, D. A. Está patente ao publico a San- 
ta Casa da Misericórdia. 

29 (Í4.®J — Terça. S. Tlioraaz, Arcebispo de Cantua- 
ria, M. Festa nos IngUxinhos. 

30 (15.°) — Quarta. S. Sabino, Bispo Martyr. 
Lua cheia ás 8 horas e 35 minutos da tarde, 

31 (16.®; — Quinta. S. Silvestre, P. [A. 5.1, 31'dcDc- 
semhro]. Pequena Gala. Dia santo dispensado abolido 
j)ela Bulia de 1844. Assistem SS. MU. ao Te^Deum de 
instrumental na Sé, em acção de graças pelos benefi^ 
cios recebidos no decurso ào anno (ainda quando ne- 
nhum beneficio se recebesse). Te-Deum em todas as 
Cathedraes e Collegiadas. 




80 



&LMANAGH DE LEMBRANÇAS. 



I DE JANEIRO. 

SULTiO PHlLAfiTROPO. — Foi ha pouc 
■lo á morte em Constantinopla um pobre infeliz por 
me de pequena gravidade. Pungia-o a idéa do dei 

fiaro em que deixava oito innocentes rilhinhoa, e 
■mentos lhe arrancava a deBesperaçâo, que os ouvi 
*s irmSas da caridade do hospital frsncei. situado nas 
imniediaçues do car- 
Keie: conimovidas as 

solveram aua fos- 

ulorar o perdío de 
Xbdul-Medijd : diri- 
girarn-se e si as ao pa- 
ço, e depois de have- 
rem exposto ao Sul- 
lAo O objecto de sua 
respeitosa e carido- 
sa visita, assim lhes 
respondeu o joveii 
i Soberaoo:(Conceda 
t a grafa que me pe- 
! dis: poderia eu recu- 
! sara ao santo lelo 

I ~— que inspirou o vosso 

lobre pensameDlo? É bella a religião, innáas, que sabe 

abraçar uma vida toda de sacriScios como a vos- 

inde muitas vezes á minha presença; para vós, 
injos de misericórdia, estario sempre abertas as por- 
1 as do mau palácio. > 



A FESTA dos chouriços.— Em Konisberg, na Prús- 
sia, costumâo os carniceiros oíferecer aos padeiros, no 
i.° dia do anno, um enorme chouriço de sangue, o qual 
percorre em prociss&o toda a cidade. Em 1558 íizerào 
um com 198 varas de comprido e que era levado por4H 
pessoas. O de 1563 foi conduzido por noventa ^uma, ti- 
nha de comprímeAto 596 varas, e pesava 434 libras I o 
anais bonito áo9 carniceiros marchava na frente, em ar 
de tambor mót, levando á roda do pescoço muitae vol« 
ias do clieitriço, serpenteando o resto pelos hombro» 
dos outros eamiceiroSf ene marcbavâo três a três. N^uma 
ckronica dos costumes da Prússia, lê-se o seguinte : — 
«No 1.° dia do amn» de 1601, os carniceiros levaram em 
prociss&o pela cidade um chouriço de sangue de 1:005 
varas de comprido ; conduziram>no depois ao Paço, e 
offereeerara 130 varas ao Príncipe. Esta festa estava 
em esquecimento havia .18 annos. Acompanhava-se o 
chouriço ao ^m de tambor e pifaro : um marchante, 
ornado de plumas e fitas, armado com uma bandeira 
branca e verde, marchava á frente do cortejo : os 
carniceiros que o se^uiâo, vergavâo com o pezo do 
semelhante moaetruosidade.» 

RELÓGIO 0E8COMMUNAL. — Acaba de constniir-^se 
faa pouoo um relógio de fabulosas dimensões para o pa- 
lácio do parlamento in^ez. Tem quatro mostradores, 
cada nm com vinte e dois pés de diâmetro ; as rodas sAo 
todas de metal fandído ; a pêndula tem quinze pés de 
comprimento ; o ponteiro grande corre sete polegadas 
em meio minale ; o sino que dá as horas tem oito pés 
4'atiura e pesa quinze toneladas : só o badalo tem de 
peso ans quatro quintaes* Se cahiese, como um dia suc-^ 
eedea ao da campainha da nossa camará dos depu- 
tados 1«... Quantos mataria? 

[A. 52 p. 320, A. 54 p. 115, A. 55 p. 986.) 



3 DE JANEIRO, 

CU VIVO SÚ DO PISSADO. 

Goz^umadoma as doçoiasMil triste, que triste cousa 
Goze do musdo o prazer. Viver assim I . . . pois não é ? 
Quem xi'eUe tiver venturas. Lidar sempre n'uma lousa. 
Quem no presente viver: Pondo um cadáver de péi 
Se é feliz, afague a vida ; Mas tem prazer, na veraade. 
Se a tem de flores florida* _^sse culto da saudade ; 
Viva» 



e folgue, o tempo é seu? Tem prazer por entre o fel ; 
As horas sâo-lhepropiciaç; Se a turba Ih o i^âo descobre, 
Durma,acorde entre caricias, -- ' - •» ^ 
Conte 08 dias por delicias. 



Que 08 não posso contar eu. 



Se o julga estéril e pobre, 
L tributo d*alma nobre. 
Desinteressado e flel ! 



Alimente-se d*esperanças 
Quem no futuro mda crê ; 
Quem da sorte nas mudanças 
Inda um surriso prevê ; 
Sonhe^ embora luz distante 
Quem índa umsonhobrilhante 
Pode n'alma acáleâtar; 
Creia, e goze d*esse sonho, 
Queeun^esse 
Nenhuma íé hoje ponho. 
Nem posso o soilho sonhar. 



Sem presentee sem futuro. 
Olho ao longe a antiga cdr: 
O pó dis{)eTso levanto 
Do que foi, do que amei tanto 
N*un8 tlias -que já 4á y^o ■ 
TSãB Fuinafi assentado. 
Eu vivo só de passado, 
E é d'esse pó levantado 
Que sustento o coração. 

83 



Nem só se ama o que inda viva 
Quando a lembrança ficou ; 
N'ella o amor sobrevive 
Ao encanto que acabou : 
Passa ás vezesfi^um momento* 
A ventura ; e o pensamento 
Surge, melhor nrometheu; 
pliumina as mortas cores, 
«icaíit(f risonho Finge viço á8 murchas fi/^res. 

Empresta vida aos amores, 
Faz do nada um novo céu. 



O meu dia é mais escuro , Eecompondo o que passara» 
Nero8onho8,nemluz,nemflorIJSngana o desejo assim; 



Goza só do que gozara 
N'aquelle engano :sem fira, 
N'aquene mundo d*outa:*ora, 
N'aquella cândida aurora. 
Que ao peito deu vida já; 
Na imagem nada lhe esquère« 
pinta tudo o que endoudece» 
E tão real lhe parece. 
Que hesita se luda será I 



Vivo assim! do pranto e riso, 
Do (jue eu gozei e soffri, 
Do inferno, do paraizo 
^m que eu contente vivi ! 
Vivo só de recordar-me, 
QQemaisQ8opoudedeixar-me 
O mundo, o tempo, a razão I 
Depois da fria verdade. 
Em perpetua soledade 
Cultivo a flor da saudade, 
Cultivo-a no coraç&o. 



É vida que tem tristeza. 
Mas tem doçuras também ; 
Do passado a natureza 
NSo muda ao menos ninguém: 
O que foi, lá jaz qual i5ra, 
E eu posso a cada hora 
Evocaro em fructo e flôrl 
Doce, amargo, e feio,e bello, 
En<;he-me d*almaoanhello. 
Vive só por meu desvelo, 
E eu vivo só d'e«te amor I 



4 DE JANEIRO. 



J. de Lemos. 



SABONETE Ã UM ECCLESIASTICO. - A um grande 
Principe de Itália pedio um ecclesiasti- 
co seu vassallo que lhe fizesse mercê de 
certa igreja. «E quanto rende essa i^e- 
ja?» perguntou o Principe. «Sereníssimo, 
respondeu o pretendente, rende oito- 
centos até mil escudos.» «Bem está, não ó 
muito o rendimento ; e quantos frégue- 
zes tem?» tomou o Principe a perguntar. 
£ como o pretendente dissesse que não 
sabia, o desx)acho, com ultima e severa 
resolução, foi este. E vós sabeis a conta 
dos escudos que haveis de comer, e nSo 
sabeis o numero ás almas que haveis de 
curar? Pois nâo sois digno de ter igreja, 
nèm de apparecer diante de mim ; Ide- 
vos embora. » 

Oxalá que todos os que fazem seme- 
lhantes provimentos fizessem este exame ; e que ao me- 
nos o fizessem os que os pretendem e sào providos. 




P.® António Vieira, seriiôks, VII, 



84 



& DE JANEIRO; 

A PEDRA DO DIABO. — Vé-se aa parle mais alia da 
abobada da cathedral de Colónia (aqui apresentamoa 
a perspectiva da cidade viala do Tia, desenaando-se no 



Anrdo o magesloso templo] um buraco de ires ou quntn 
pés de diâmetro, caueado pela queda d'um3 pedra-.Gra 
TOu-ae-lhe uma inseripçãa á roda, pela qual se eab 
que foi o Tento que a tez cahir na noute de 30 de oulu 
bro de 1404. ficou a pedra uo patiiuentci dti igreja, ni 
85 



pé da capella em que se venerâo os ires corpos trazidos 
de Milão em 1162, e que a tradição diz serem os dos 
Magos (Á, 51 , 6 de Janeiro). Ghama-lhe o povo : Pedra 
4o diabo^ por haver sido este em sua opim&o que a ar* 
Tancou para destruir a capella^ o que houvera conse- 
guido se os Santos Reis lhe não houvessem feito serâir 
uma direcção obliqua (A, b% p, 38), ^ 

6 DE JANEIRO. 

LAGO DE ENXOFRE.— No Southemer Califomian 
encontra-se a seguinte descripção de um lago de enxo-> 
fre, descoberto no território deUtah (Califórnia). « Dis- 
se-me o nosso interprete indio (|ue nas immediaçôes de 
Corn-Creek, a distancia de 33 milhas de Fillmore, exis- 
tia um lago de enxofre. Logo depois de almoço pozemo- 
Bos a caminho em busca do lago prodigioso. Sahimos 
da estrada, e descobrimoVo a duas milhas e meia do 
campo, na direcção de S. S. O. O gaz hydrogenio sul- 
phuroso que d'elle se exhalava era tão forte, que por 
momentos nos entonteceu. O valle, ou antes abaoia, tem 
perto de uma milha de diâmetro, e toda a sua superfí- 
cie está coberta d'uma crosta composta de enxofre e de 
alúmen, fortemente impregnados de acido sulphurico. 
Ouvimos distinctamente um ruido subterrâneo, que mui- 
tos dos nossos attribuiram a fogo interior ; mas escaT&n- 
do no sitio d'onde parecia provir, vimos erguer^SB um 
Jorro d*agua de 18 poUegadas de altura. Esta agua con- 
tinha algum acido sulphurico ; o ruido que ouvíramos 
era causado pela evaporação d'este gaz. Em alguns pon- 
tos via-se grande quanticíade de enxofre, e em outros 
encontrava-sè peúrà hume. Caminhando sobre a^ella 
-ei*08ta cedia elia sob os nossos pas8os% A pouca distan- 
cia do lago crescem pinheiros e cedros de considera-^ 
veie dimensões, porem nas margens nâo se vô o menor 
vestígio de vegetação. 

86 



7 DE JANEIRO. 

BSPELHO FORMADO PELA Sl/PERFiaE ri^FERlOR 
DA AGUA. — Quando olhamos pára um lago ou um tan* 
que, a guperfieie extecior da agua as$emelha--9e a uni 
espelho cm que perfeitamente se representão os oTaje- 
eto6. O que nem todos sabem porém é que essa super- 
ficie yista pelo outro lado os reflecte de igual modo, só 
com a dilTerença de que a imagem assim é mais distin- 
eta. A experiência é i«ciL 

Enxa-se d^agua^bem cristallina um vaso de vidro bem 
Uso ; ate-ee a um fio qualquer objecto de côr bastante 
viva, por exemplo, um bocado de lacre incarnado, o 
mergnlhe-seno vaso, suspendendo-o perpendicularmen- 
te ; olhe-te depois para dentro obliquamente, atravez 
das paredes do vaso, de maneira que so distinga bem 
a euperfieie inferior do nivel da agua, e n'eUa appare- 
cerà eiarisffima a imagem do objecto mergulhado. 

Vê-se por esta experiência que as sereias (Â, 51, 12 
éTAbril) e outras divindades aquáticas nenhuma preci- 
sAo tinfifto de sahir cá fora para se mirarem nas aguas. 

8 DE JANEIRO. 

ENIGMA. 

Movo-me como um relogio,Wo logar onde nasci. 
Sem ser a relógio igual ; É onde espero morrer, * 
Conservo muitas raízes, Mas o meu maior amigo 
Porém nâo sou vegetal. - p^unca me deseja ver. 

Ainda vivendo oe culto, ' 
AlU mesmo meprovocâo, 
Que 08 bens ou males do mundo. 
Ou mais ou menos, me toc&o. 

José Daniel Redrigws da Costa, 

87 



9 DE JANEIRO. 

EPITAPHIO DE JOÃO BAPTISTA ROUSSEAU PCB 

PIKOfi. ANAGRAMMA FEUZ. 

Era Itousseau (nao se confunda com o seu homonymo 

Jofio Jacques Bou»- 

eeau] de tão baiia ei- 

iracçio, queatéd'el'' 

la se envergonhava, 

e por isso houve um 

tempo em que substi- 

tuio o seu nome pelo 

; de Vernieíití, em que 

alguns maldizentes , 

segundo refere Seu- 

^rfai, acharam o aua- 

E' este o cpilaphío 

que para a sua campa 

escreveu Pirou, que 

hÍD que nas ultimas duas 

linhas resume a vida 3o célebre poeta, 

Ci-gU Villuslre et malheurevx Rousseau t 
Le BrahaM fat ta lombe U f arti son bereeatt. 
Toici Vabrigé de ta vie, 
Qui fat trop longue de moilié ; 
* II fut trente ani digne d'envie, 

El Ireníe oní digne de pilié. 
. [A. 53 p. 158, Ã. 65. p. 25a. A. 5G p. 246] 

10 DE JASEIBO. 

DAHLIA AZUL. — Pela Sociedade de MorlicuUura de 
Edimburgo foram offerecidos quatro contos de réis, e 
pela de Dublim oito, a queni apresentar uma cebola de 
datiliaazul (i. 56p. 173J. 



11 DE JANEIRO. 

CAMPO ELYSIO. — No principal cemitério de Lisboa, 
a Camará Municipal que escolha» e faça assignalar á ro- 
da com gradaria, verdura, ou como melhor lhe parecer, 
uma porção de terreno, reservada para os finados céle- 
bres por qualquer e^ecie de mérito, passados, con« 
temporaneos, ou futuros. Uma das seducçôes de tal 
obra é não requerer despezas, ou só mui ténues. 

Povoado para lo^o o chão, de cyprestes e palmas, 
cedros e loureiros, immediatamente se comece a inqui- 
rir e perquerir onde ha ahi por todos os recantos do 
reino e províncias ultramarinas, terras do Brasil, ou 
quaesquer outras partes, restos mortaes de portuguez, 
íllustre por si mesmo, ainda não perdidos, mas que te- 
nlião estado em desmerecida obscuridade ; e a estes, á 
custa do publico, arlhes faltarem piedosos descendentes 
que lhes esmolem um pouco de mármore, em troca da 
Honra que lhes herdaram, se conceda hospedagem e 
aposentadoria aqui onde de juro lhes pertence. Uma pe- 
quena pedra que só viessem achar com o seu nome en- 
talhado pela nação agradecida, lhes fora maior lustre, 
e para mais invejas, que em qualquer outra paragem 
sarcóphagos de pórphido ás costas de leões e carrega-' 
dos d emblemas. Ainda mal aue não occorreu este pen- 
samento aos nossos maiores i o desabar dos conventos 
e o transformar das cidades, não terião feito perecer 
tantas reliauias memorandas. O Tolentinó, fallecido já 
n'este século, quando razões de parentesco, alem de 
todas as outras, me obrigaram a procuraFo para lhe dar 
um tumulo, já o não pude desencantar; a elle, como a 
Bocage, o cemitério de Nossa Senhora das Mercês o ti- 
nha confundido, e perdido, |)ara sempre. Que amplíssi- 
ma colheita se não pode ainda hoje obter, apesar do 
mui vandálico desbarate d'estes nossos tempos 1 ama- 
nhã, será menor; depois d'ámanhã, menor ainda; pas- 
sados mais alguns annos, nenhuma : porque os mostei- 
89 



ros e igrejas, ás dezenas e aos centenares, se vendem, 
rom sepulchros e tudo, ];)ara salas, para theatros, para 
botequins, para oavalhariças 1 passeia-se em banquetas 
de ruas lageadas com epitaphios ! despejaram-se mau^- 
soléus, para se venderem a inglezes I em sarcóphaaos 
«e vioja lançar a lavadura para os animaes immundos 
que o filho pródigo guardava ; immundos sim, porém 
juenos immundos que os filhos pródigos de nossos pais» 
que assim os estamos deshonrando, e a nós com elles, 
e a nossos filhos comnosco \ Acudir, acudir ao que ain- 
da resta I um Campo Elysio, sequer como expiação ! (Á, 

5õ. p. 2ta; 

António FeUciano de Castilha, 



12 DE JMEIRO. 



MALEDICÊNCIA PORTUGUEZA. — É amaledicenein 
um dos maiores defeitos dos portuguezes. Somos nós os 
primeiros a denegrir-nos, a tornar bera publicas as nos> 
sas faltas, a assoalhar até as. nossas misérias pela im- 
prensa, edim de que lá fora se nâo ignorem !... Isto no- 
tou ha mais de um século (prova de que já é peccado 
velho) o nosso Francisco Rodrigues Lobo, quancio disse: 

«Ouvi qualquer estrangeiro 
Fallar de seus naturaes ; 
Dá d' elles tão bons signaès. 
Que o náo tem por verdadeiro. 



Fallcm-vos n'um natural, 
Dizeis faltas que não tem : 
Mente o outro para bem. 
Nós mentimos para mal. > 

(Á. 53. p. 314; 



90 



13 DE JANEmO. 

PERIGOS DO CASAMENTO. — Acoiselhando Nereu, 
eunucho de Flavia (neta do Imperador Domiciano), a 
8tt»s«nhera que permanecesse solteira, expoz-lhe aftsim 
as caasaqueaeLas que do oasomento reaultâo pajra Sk 

i.^' Troca q i^ppeUido de seu pai nela do marido. 

2.^ Dá maior poder a una estranho ao que seus pais 
tiverihft. 

3.^ Fa2*9e escrava d'elle e coma tal será tratada. 

4.^ Styeita-se a quem ihe pode* piohU^ir o eorvespon- 
der-se com oa próprios parentes^ 

5.^ E até com os criados* 

6^' Se e marido é nelo^o, prodúlDiF-JhQ^vaTere ouvir; 

7.^ Interpretará mal todas as suas palavras e acções* 

8.^ Be bumaao e «kffaveiL tomar^se^ha 4^^i» cruel 
e crr9«8eira« 

9.* Trocará muitas vezes a ama pela criada. 

10.^ Se a mulher recakitrav>. ainda tm cima levará 
bordoada. 

11.^ Terá a pobre menina» com tanto oarinho edu- 
cada por seus irais, de &uppQrtar o&mil defeitos de seu 
marido, e d'elles será continuamente victima. 

12.^ Passará na gravidez, e com todos os incommo- 
dos que a acompanhao, os mais bellos annos da vida. 

13.^ Receará que seja a mesma a hora do parto e a 
da morte. 

14.* Sobre vir-^lhe-h ao no futuro mil enidséoe, quer 
o8 filfaoe sejâo sadios e de boa indoie» quet sejâo. mo^ 
lestos e ruiu». 

Ete. eto. ete. 

Tudo isto assim é ; mas a estes qnatorze ineosvenien^ 
tes, e a todos estee et ccíteras contra o easamento, se no** 
derifio oppdr quatorse Aail vantagens e quatorie mii e% 
eceieras a favor; não desanimem pois as raparigas, • 
Táo casando!... 

91 



14 DE JANEIRO. 

ANTES E DEPOIS. 



Passei, vi, gostei, e disse 
Um adeus de confidencia : 
Retribuio-me risonha ; 
O que suppóes?Innocencia! 

Quando sahia da missa, 
Vali-me da concurrencia 
Entreguei-lheumbilhetinho, 
Ella pegou : Innocencia I 

Dançando fronteiro a élla, 
Pa quadrilha na influencia, 



Pedi, chorei; prometteu-me 
Uma terna conferencia : 
Não faltou, porém de longe ! 
Que te parece? Innocencia, 

Empreguei para rendera 
Minlia apurada eloquência ; 
Apertei-anos meus nraços; 
Ella deixou : Innocencia ! 

Jurei que por seus encantos 
Daria minnaexistencia : 
Apertei-lhe a môo — E ella ? «Porque não casa comigo ?» 
Efla, apertou: Innocencia IjEntào que tal I Innocencia f 

Cahi na arara, cazei-me ; 
Commetti essa imprudência* 
Os agradinhos fugiram ; 
Agora então? — Paciência f. .. — 

Inhato-Mirim* . 
(Brazileiro) 

ALHO. — Esta raiz, mais usada em temperos, e até co- 
mo conducto,pelos rústicos do que pela gente da cídatle, 
tem, segundo dizem, grandes virtudes. Cura de lombri- 
gas, de scorbúto, de nervos, de hystericos, etc. ; mas 
uma casquilha de lei antes quereria morrer dez vezes 
de hysterico de que uma só cheirar a alho. Galeno lhe 
chamava a triaga dos pobres camponezes, e Plinio 1U« 
attribuia a singular propriedade de curar a doudice. 
Horácio é o Cardeal diabo da canonisaçâo do alho : es- 
creveu contra elle uma ode fulminante 

92 



15 DE JANEIRO. 

LIÇÃO PARA MENINAS ESPARTILHADAS. — A mo- 
lestiâ mais frequente no Rio de Janeiro é a phtysica 
pulmonar; são aella principalmente atacadas as senho- 
ritas de 15 a 25 annos. Varias caxisas podem concorrer 
para tâo funesto resultado» mas n&o deiía de figurar» 
talvez em 1.^ linha, a exaggeraç&o que se tem introdu- 
zido no apertar das cinturas. Esta pratica desnaturai» já 
demasiados annos conservada; tâo oppostaás condições 
do verdadeiro J)ello; tâo diversa do modo como os esta- 
tuários da antiguidade qualifícavâo a formosura do cor- 
po humano; ^em razão de existência; continua a existir : 
e a moda tyrannica» minotauro de nova espécie» nada 
menos exige que o holocausto annual de muitas virgens 
gentis. São os médicos» hoje» alli obrigados a passar um 
attestado da enfermidade a que succumbem os seus 
doentes : ha um espirituoso facultativo, que sempre que 
nas mãos lhe morre uma phtysica, formula assim o seu 
attestado : Certifico que a Sr.** D. Fulana, tendo vivido 
^esp artilhada, morreu de estreitamento decintu^ 
ra. Entr« os casos deploráveis de semelhante 
exaggeraçã-o, conta-se um» occorrido ha poucos 
annos, e mui sabido n'aquella corte. Uma das 
mais lindas frequentadoras dos bailes jacta va-se 
de reunir a mil outros dotes uma cintura» que poderia ser 
abraçada por duas pequenas m&os. Achava-se ella no 
Baile dos Estrangeiros, pai do actual Cassino, em uma 
noite de triumphos» quando um dos seus pares, no gi- 
rar d<e uma j^oíka» Ifae disse que n'uma roda de amigos 
^eus estavâo os olhos fitos n*ella e na menina Fulana» e 
os votos se dividiáo sobre qual das vespas levava a pai- 
ina á outra : alardeou de que elle propozera uma apos- 
ta a um divergente» .que a acolitara. Respondeu a me- 
nina que se uma sua amiga se prestasse a decidir a apos- 
ta, ella se náo opporia. Concordou-se então em que no 
dia seguinte as duas esbeltas irião almoçar a casa de 

93 




uma amiga communl, onde As cintótas serião medidas 
uor esta. Retirada a imprudente ao seu aposento, lan- 
çou ibãf) de uma cinta de couro de um irmâosínlto, de 5 
ânuos, e deixando^ft meia kor» embebida em agua, a 
afivelou eus torno de si, e deitov-se. Na seguinte ma-* 
nhâ^ tardando a apparecer, n&o respondendo, arromba- 
da a port«« effereceu-^se aos o^hos o triste espectáculo 
da pobre raidosÍBJia, estendidai no cb&o (para onde; 
com a ftffiieçk>, rolara do leito)« mortay com a face ne- 
gra, màos e pés i^xos, e uma ^hysionomia de desesjtch 
Faç&o, qae retelaTa as horrírets angustias por que a in* 
íckz passara, quando, apertado progressivamente o cia- 
to tom o calar e a secevra, e impossibilitada de o de^ 
scfirelar, eliku p«rdida pouco a pouco a respiração e a 
eircvlaçfto, exhalata o ultimo alento L 

16 DE JAIíEmO. 

«M VALENTE DO FlM)ÃO.— Houve entr'of a na víl- 
>fl do Fundão um homem dotado de animo forte e cora* 
gess varonil, o qual teve sempre a sua espada eomo uni- 
ea Bmta ofiensiva e defensiva. £m vários recontros pro- 
vou elle sobejamente qufto dura era a sua tempera. Na 
hora extrema chamou um filho que tinha, e disse-lhe : — 
«Lego^ie a minha espada, de que espero que faças o 
mesmo uso que eu sempre fiz.» -^O filho não accei- 
tono legado, por carecer 'de forças para o cumprir. ?en-^ 
do o pai qne o rapaz rejeitava aofferta, acrescentou : — 
«Já que não és capas ae cingir esta arma, determino 
que seja enterrada comigo, pois quero ainda jogar a es* 
padano inferno com o diabo. » 

DfAo lhe foi feita a vontade, e só a s6ceo h&v«rá podi« 
do o v^Qte bat^-ie oon Satanaz. 

Joié dá Ctmha Nevctírro de pAiva, 
tCovilhâ) 

94 



17 DE JANEIRO. 

PoTOue desprezas esta flor t&e cândida* 
' SymDolo puro dos altectos meus? 
Terás tu zelos?. .. pensarás^ Elisa, 

Que rivalisa 
À graça tua co*os encantos seus?. .. 

Porque recusas eom desdém tio gélido 
Dar pois guarida a tâo singela flôr? 
Cuidas alnm, formosa Elisa minha, 

Que esta fiorinHa 
Possa roubar-te meu tfto certo amor? 

Se tu não amas esta ílôr symboiica. 
Nem para ella queres ver-mc olhar, 
Mata-me, ao menos, um desejo ardente. 

Vem docemente 
Esses teus lábios sobre os meus pousar. 

5. P. M. Estado da Veiga, 

i8 DE JANEIRO- 

Í-ECUNDIDADE DAS MULHERES EM LIMA.-F pro- 
verbial. Dizem provir de um tubérculo muito parecido 
com a batata, e da chicha (espécie de cerveja de mi- 
lho tostado). Nunca se encontra uma limana (os homens 
em Lima sAo limões) sem «ste acompanhamento : um fi- 
lho de três annos, pela mão ; outro de dous, escarran- 
xado n'uraa trouxa que traz ás costas ; outro de um an- 
no, ao peito; e outro, na massa dos possiveís, no ventre. 
Os filhos que têem para cima de três annos vão sósi- 
nhos e pelo seu pé. j^^^ ^„,^„.^ j^^^„, 

(Almeida] 
95 



19 DE JiNEmO. 

SUOR DE PíOVA ESPÉCIE. — DiscutiaD enlre si dois 
individuoB, um dos quaes tingia o cabello ; com o c«lor 
do tempo e ãs discussão coms-tlie em bica, a este, pe- 



U cara «baixo, nm fio, que nem por isso era lá dos mais 
claro? : < Homem, lhe disse o outro, Chrísto suou sangue 
no horio, porém vossê sua pás de sapatos. » 
Escusado é dizer qual dos dois na gravura é que tiu- 

ge o e abei lo. 

AMIGOS B mmOOS. — Os nossos maiores inioiieos 
96 



20 DE JàSEIRO. 

O BISPO ESTUDIOSO. — ECts mandado para Bíaiio 

de uma das nossas dioceses um cccleaiastioo dos mais 

iivstruidos, e que toda a sua 

vida levava a lere a estudar. 

Procurando-o cert» rústico 

um seo negocio, tesponoíSo- 
]he sempí-e : t 9. Esc' hoje 
Dia lhe pode Tallar porque 
está estudaudo.! Voltava Dn 
dia i mm e dia to. e sempre a 
mesma resposta ; ale que 
por fim enclamou: < pra, se- 
nhores, era bem bom que 
nos mondassem para cí ou- 
tro Bispo que }i tivesse aca- 
bado os seus estudos I > 

FILHOS DAS ÁGUIAS.— 
Para conhecer ee slio legi~ 
timos ou espúrios, usa a 
águia de uma curiosa ex- 
periência. Susnende-as nas 
garras e os obriga a olhar 
coip olhos fixos para o soV, 
observando se a algum lhe 
enfraquece a vista, e a es~ 
SB o eageita e o tem por adulterino, e sá reconhece 
eomo próprios os que attentamente flx&o o rei dos 
astros. Assim o assevera Aristóteles e deu tamb^n) 
logar este assumpto para alguns versos de Lucauo na 
sua Pharsaliii. 

Apesar de tão respeitáveis euctoridades li custa um 
pouco a acreditar, n &0 será poesia 1 

07 



21 DE JANEiftO. 

PAÇO REAL EM CINTRA. — Foi D. Joio I que prin- 
cipiou a edificar este palácio para sua habitação. Se-«> 
gundo varias tradições» era morada d'alguma alta per- 
sonagem no tempo em que os mouros occuparamLisDoa, 
senão a Alhambra dos próprios Rqís n'6Ste paiz. 

O terreiro deMeca — o jardim de lindo-rava, onde 
existião ainda no século passado quatro larangeiras — 
a casa de banho, que lhe está contigua, e em que a agua 
é distribuída por grande numero de tubos repartulos 
em todas as direcções — tudo indica, e nos traz involun- 
tariamente á imaginação, que este recinto foi habitado 
pelos árabes. Do tempo d*£l-Rei D. loão 1 é a sala dos 
cysnes, primeira do palácio ; a da audiência^ ou cadei- 
ra de 1). Sebastião, por ser ahi que elle dera a ultima 
audiência antes de partir para Africa ; a das pegas, no* 
me que provém de ter sido aquelle Monarcha encontra- 
do por sua esposa, D. Filippa de Lencastre, na occasião 
em que abraçava uma dama, e de haver mandado pin- 
tar o tecto todo de pegas, de cujo bico sahem as pala- 
vras = For b<?m=como fiymbolo de sua intenção., 

A capella é também obra do mesmo Rei, bem como a 
cozinha, célebre pelas grapdes cheminés de forma có- 
nica, anteriormente guarnecidas de azulejos pelo lado 
exterior. 

D. Aifonso y» que nasceu n*este palácio, continuou a 
sua re«dificação, e igualmente D. João II e £1-Rei D. 
Manoel, que mandou fazer a sala das armas, ou dos bra- 
zôes, onde se vêem 72 veados, do collo dos qnaes pen- 
dem outros tantos escudios com os brazôea das princi- 
paes famílias portuguezas. 

Existe n'este paço um fogão de mármore com relevos^ 
de Miguel Angelo, e consta que fora offerta do Papa 
Leão A a El-Rei D. Manoel, sendo removido do Paço 
d' Almeirim para o de Cintra. O aposento mais notável 
d*este ediOcio grandioso, irregular, e a maior parte d'ea* 

98 



tylo árabe, é a sala onde esteve em eaptiveiro D. ÁíTou- 
so VI por espaço de 8 annos. Vê-se ahi o ladrilho do 
l^avimeoto gasto pelo continuo andar doeste infeliz es- 
1^060 e Rei. A uniea janella que tem conserva perfeitos 
vestígios dasr grades de ferro que enoenraram o 2.*^ Mo- 
Bareha da actual dynastia. 

Anianio da Cunha. 
(Cintra) 
• 22 DE JANEIKO. 

UM COWSELHO 1>*ESTAD0. —Domingos Viílela Bar- 
bosa, Marqnaez de Paranaguá, distíneto mathematico, 
politico e poeta, era devidamente apreciado pelo Sc- 
i ilhor D. Pedro I, a quem recusou a pro|>osta çraça, uni- 
[ et nt seu reinado, do titulo de Duque. O Imperador 
' eoneediu ao venerando anci&o ufma liberdade, de que 
^r veces mui graciosamente se aproveitou. Um? oe- 
casião em que no Conselho d'£stado, recentemente crea- 
do, se discutia calorosamente um ponto grave, em aue 
Villela, com o peso da sua palavra, arrastara os colle- 
gas para uma opinião diversa da dò Monareha, este, fal- 
tanao em ultimo locar, fez um resumo do debate, e con- 
duto dizendo : — «Tenho entendido que a opinião do 
« Conselho é n'esCe sentido, mas estou resolvido a p^o- 
i € ceder d*est'outro. » E levantou a sessão. Sabido o Im- 
perador da sala, curvou-se o Marquez sobre a mesa, • 
•screveu sobre o papel que tinha ante si : 

Sim, Senbor ; não ha no mundo 
Um nome mais bem achado I 
Não é do Estado o Conselho, 
^ É um Conselbo... de estado. 

ALMA A DEUSr. ^ Dieendo-se perante Lnít xiv que 
o Cardeal Maz^arino acabava de dar a alma a Deus, ex- 
eiftmou um eortezfio : « Do ^ue tu duviéo 4 de que tile 
IWa (uceUasse, » 

99 



m DE JAEEmO. 

RELOJOARIA NOS ESTADOS UNIDOS.— Empregada 
cidade de Gonnecticut, nos Estados Uunidos, um miln&o 
de dollars no fabrico de relojoaria fina da America, .-e 
occupa 1,300 operários, que. fabricão 800,000 relógios 
por a&no. Bristol possue 14 manufacturas em que se 
empregáo 400 pessoas, que fabricâo ^,000. Plymouth 
com 3 manufacturas e 175 pessoas, produz 70,000. Auso- 
nia, com 2 manufacturas e 140 pessoas, 112,000 ; Wias- 
tead, com uma só manufatura, emprega 40 pessoas e fa- 
brica por anuo 30,000 relógios; Southampton, com â 
manufacturas -e 45 pessoas, 40,000 cada anno ; New-Ha- 
ven, emfim, com 3 manufacturas e 400 pessoas, fabrica 
annualmente mais de 370,000. Já se vê pois que se os 
americanos do norte nllo souberem ás quantas andâo. 
não será por falta, nemde relógios, nem de relojoeiros, 

^ 24 DE JANEIRO. 

HURRAH. — Todas as vez^s que os nossos amigos -e 
alliàdos (bons amigos e excellentes alliados I) os ingle- 
zes, se reúnem e pretendem applàudir um acontecimen- 
to qualquer, soltào, em voz unisona, e de dentro da ar^ 
ca do peito, uns três ou quatro hurraJis^ que equivalem 
i^s vivas que nós davamoB quando ainda nâo estáva- 
mos cançado^ de tanto enihusiasmo politico, É «sta 
a derivação d'aquelle vocábulo de origem slava, com- 
posto deouti:«os dous que signiíic&o p<iraiso. Persua- 
dem~se os slavps de que o homom quo .gloriosamente 
morre pela pátria vai direito para o céu, e por isso 
nas batalhas, e jio ardor da. peleja, soltão os combaten- 
tes esse grito, da mesma forma que os turcos bradáo 
Állah, Gomo e quando, porém, o mesmo tef mo fosse 
adoptado para commemorar acontecimentos notáveis, 
mentindo assim Á sua arigem, é o que náo sei, e que 
desejaria que alguém me explicasse, 

' 100 



S5 DE JANEmo. 

tríplice acróstico.— Sio ae úi o acróstico fle 
ordinário Benio no priocipia de cada verso, e ainda as- 
sim é grande a difflculdade de taes compoBi^es, qae 
BUBCfl tiveTara grande voga, porque o eentido n'ello8 sà 
muilorarafi vezes eorre betn. e 



í 



I, i de uma dilllcul' 
dade tal, que bA procuraádo 
vence1'B se avalia. 



>s cinco Besuíntes versos, três veies se acha repe- 
a palaTra JESUS — no principio, no melo e no fim. 

íttler euneto mican* Igniit »tr^era cmll 
Eipellil tenébras R tolo Phííbuí ul orbE. 
%ic tvcH renovai Je Sut taUifiníi iimbraS, 
Li ci/tcansquí limul Vero prtíeorái» motU 
Safnn juttitia ?,e»fpTohat etie bsaliS 

3C DE JANEIRO. 



Rita aldeia de lãO habitantes, chamada: ibornieano. 
Em i796 deitou'Se ahi e lerra um enorme carvalho jJ. 
&3 9.252), que depois de convertido emcarvio, den 
acuradas d elle. 

Havia outro no mesmo sitio de que jA entio nío res- 
tava aeniio o tronco, de tamanha aimensao.que dentro 
se lhe fes uma casa que servia de residência para uma 
família de 5 ou 6 pessoas. Ainda hoje slli se v&em enor- 
mes roiíes, que bem desotio qnal fosse a cirrumfere»- 
«ia do nionetruoto gigante vegetal. 
101 



â? BB JAKEmO. 

eUILHfiiaiB o CONQUI&TADOR. — Fbi tâo fdTore- 
eido da íoTtvoía» em quanto títo> qtianto infeliz dopois 
de morta. Assim que expirou, seu êlbo Henrique (de«- 
pois de seus irm&os Roberto e Guilherme, Henrique I 
de Inglaterra) pavtio de Hermentrude^ (onde o Dlonar- 
cfaa falecera), acompanhado por quasi toda a uobrdca, 
abandonando o cadáver a criados, qu& do palácio rou- 
baram çrata, m<^flia e armações, e até de seu próprio 
Testuario despojaram o Soberano, deixando-o inteira- 
mente nú no ehâo^ onde permaneceli até que um ami^ 
go áel o conduzio á sua custa pars^ Gaen, afim de ahi 
ser enterrado na Âbbadia de Santo Estevfto. Ao prin- 
eipiar oófficio dedefunctos, declaxava-^senastmmedia- 
çôes um grande incêndio, e os mooaes, mais soUicHos 
pela conservação da sua Abbadia, do que pelos restos 
maniniádos de seu magnânimo fundador, e sem o me- 
nor respeito por táo solempe acto, fugiram da igreja 
Srecipitadamente, seguidos pelos sficulares, e ncou 
eserta a eça do poderoso Guilherme, até se extinguir 
o incêndio e regressarem os frades. Beu-se de novo 
principio á solemnidade, e ao acabar o sermão de exé- 
quias, e já quando o sarcóphago aguardava na sepul- 
tura o corpo do finado, avança Fitz Arthur, cavalheiro 
mkhnando, e em alta voz exclama: €A'ppello de vós, senho^ 
rM, para o grande dia de jtiúo final, em que vos ae* 
Cttf arn de haioeráes dado sepultura ao Duque nes la-' 
ret áe meus pais, que elle usurpara, ^naando esta 
igreja em parte do meu património, » Para acalmar a 
impressão produzida por taes palavras, fai preciso que 
por tres libras esterlinas comprasse Henrique a sepul- 
tmra, compromettendo^e a pagar cem libras de prata pe- 
lo chão onde seu pai tinha iilegalmente, 35 amios antes, 
fondado aquella Abbadia, para obter dispensa do Pa^ 
pt afim de casar com sua prima Mathilde de Flandres. 
Durante o tempo todo da negociação, esperava á bei-* 

11^ 



ra dò sepulchro o cadáver do grande conquistador de 
Inglaterra pelo pagamento immediato das três libras 
esterlinas, e pelos sete palmos 'de terra qne tinha de 
occupar. 

Desejoso em 1542 o Bispo de Bayeux de yer os restos 
de táo grande Monarcha, mandou remover a pedra que 
os cobria, e achou o corpo inteiro, e tâo bem conser- 
vado, que d'elle tirou uma copia fiel, que fez collocar 
na parede fronteira á sepultura, a qual se conservou 
até 1562, que os calvinistas tomaram Caen, e um ma- 
gote de soldados a arrombou, julgando encontrar alli 
um thesouro ; só acharam porém o corpo do cong^uista- 
dor, envolto em tafetá encarnado, o que deu origem a 
que despeitados dispersássemos ossos pela igreja. Mr. 
Le Brás teve na mâo o de uma coxa, e assegura que foi 
Guilherme de extraordinária corpulência. Em 1642 os 
monges de Santo Estevão juntaram os ossos do seu fun- 
dador, € para elles construíram um tumulo do feitio 
d*um altar, no mesmo logar em que existira o primiti- 
vo monumento. 

Que lição para os vaidosos em todas aquellas vicissi- 
tudes I '* 

Syhila Stephana. 

28 DE JANEIRO. 

A GRUTA DE CAMBEZES.— Ha n'esta fréguezia, per- 
tencente ao Concelho de Monçáo, uma cova circular, 
Sue terá dous a três palmos de* circuito, e pela qual só 
e gatinhas se pode entrar: d'ahi a poucos passos ap- 
Sarece uma sala turca, e logo n*ella uma escada de pê- 
ra que dá para uma escada subterrânea, que ainda ho- 
je se não sane onde leva, pois só com luz por alli se po- 
de andar, e esta a certa distancia apaga-se por falta 
d*ar. Talvez a essa estrada se ache ligada alguma re- 
cordação histórica do alto Minho em eras remotas. 

103' 



29 DE JASEraO. 

ctuçlio. 

N'esle ber^o da innocencia \V&a, filho, eutre as delii^ías 
DeBcança o corpo gentil t peteusomDo.aospésdeDeus; 
Dorme, dorme. caro infante, Vai gozar entre os anjinhos, 
BelUflordo meu Abril. |A.par dog eleitos seua. 

TenraClor.inda na iQfancia.^ormeem paz, cândido Uriol 
Grato Bomnodorme aqui, iDorrae empaz, mimosaflor I 
JiqueaoraiaTdaeiíBiencia^orme, dormel no leu berço 
Tuàoemrodatesurri. IVélaumÁnjo do Senhor t 



30 DE JANEinO. 

PEBIGODÃGOBDUBA. — Pas80u-3e ha dias, i en- 
trada daEiposiçioUDíverBal em Paris, um cbbo que deu 
bastante que rir. Vai uma senhora para entrar, masá por 
tal modo gorda, e tem de mais a maia tantos folhos no 
vestido, que sà com grande difflculdade. e encolhendo- 
se muito, a recebe o loroiquete, por onde só uma pes- 
soa entra : mas depois nem í mio de Deus Padre pode 
Mhlr, e ahi lhe ficáo umas 20,000 pe«soeB na coUa, im- 
pedidas de dar 
um passo por a- 
quelie montanha, 

Eior aquelle esco- 
ho, par a que Ha 
barricada: a mu- 
lher soluça e cho- 
ra , 08 que váo a- 
Irai empurriio- 
na e ralliâo, o a 
que de fora vSem 
acomediaiiemâs 
: gargalhadas.cfax 

I pigramma. Felii- 
ÍDieule apparece 



corta o nó gor- 
dio ; que fai? alira-se á mulher, pega s'ella com unbas 
e denies, iça-a por cima do tomiquele, e assim 6 moda 
de guindaste atira com ella a quatro passos de distancia. 

CASAMENTO. — E', diz Alexandre Dumas, uma es- 
pécie de fortaleza sitiada : os que estAo de fura querem 
entrar, e os que est&o da dentro elmejio por sahtr. 



31 DE JANEIRO. 

TBOMBAS MARINHAS. — É um phenomeno que nos 
paizes do norte aò ao verio, e depois de excessivos 
calores, se apresenta. Chamavâo-lhe os gregos prester 
(liquido inflammado), porque do interior das trombas 
sahera muitas vezes relâmpagos e um cheiro de enxofre, 
que bem mostr&o a parte que n*eUas tem a electricidade. 

Apresent&o as trombas marinhas diversos aspectos ; 
manifestáo-«e porém as mais das vezes pelo modo se* 
gttinte. Apparece o mar agitadíssimo, por baixo d'uma 
Bttvem carregada, n'um espaço circuíar de 200 a 250 
metros ; procura a agua o centro doesse espaço, e agita- 
se em torno a elle com um rápido movimento de rotação, 
procurando aproximar-se da nuvem, e tomando a forma 
d'uma espécie de trombeta, collocada perpendicular 
ou obliquamente. Toma ao mesmo tempo a nuvem uma 
forma semelhante, mas inversa, e une-se gradualmen- 
te a sua extremidade á extremidade superior da co- 
lumna ascendente. No ponto de juncçáo não passa 
d*um metro o diâmetro da columna. Consiste n^este mo- 
mento a tromba em Uma columna d'affua e de vapor, 
que se prolonga do mar até á nuvem, delgada no meio 
e larsa nas duas extremidades. Move-se com o vento. 
Náo aura em geral senão poucos minutos ; tem-se visto 
porém algumas durar perto d'uma hora. No Mediterrâ- 
neo chegaram a ver-se 16 trombas ao mesmo tempo. 
Antigamente disparavâo-se tiros de peça contra ellas, 
com medo de que encontrassem navios e os submergis- 
sem, ou pelo menos os damniíicassem ; o maior perigo 
porém das trombas marinhas consiste nas grandes raja* 
das de vento gue se levanta nos sitios próximos; sopra 
em todas as direcções, e faz virar navios pequenos, se 
por ventura navegâo com muito panno. Nâo e raro ver 
uma tromba d*agua entrar pela terra dento, sahirem Ãe 
dentro d'ella immensos relâmpagos, e resolver^se em 
chuva. NOs Lusíadas se descreve este phenomeno. 

106 



1 DE FEVEREIRO. 

PRESERVATIVO CONTRA O BOLOR. — Ha mil obje- 
ctos de frequentíssimo uso que o bolor rapidamente 
ataca e deteriora, como por exemplo, a colla, a tinta, o 
couro, os cereaes, os livros, etc, etc. Perfumes, e so- 
bretudo óleos essenciaes, sâo magniUcos preservatiros 
contra elle. 

Metta-se um pouco de óleo de terebenthina em um 
raso em que haja coUa, ecubra-sebem, que indefinida- 
mente se conservará. 

Uma pequena quantidade de óleo de alflizema, ou um 
pouco de cravo, mettido na tinta, impede-a de abolo- 
recer. 

Calçado e arreios preservâo-se com óleos essenciaes , 
e especialmente com óleo de terebenthina, que é dê to^ 
dos o mais barat<9L 

Algumas gottas d'este mesmo óleo basitão em uma 
bibliotheca para a pôr ao abrigo do bolor. 

Do mesmo modo se conservâo os cereaes. 

Por meio de óleos essenciaes se conservio também 
collecçôes zoologieas.-Uma bexiga cheia de essência de 
terebenthina, e suspensa no local em que se ache uma 
d^aquellas colleceões, bastará, não só para afugentar os 
insectos, mas at^ para matar as espécies que mais es^ 
traços ahi costumâo fazer, 
{Lexa-se o artigo tohre holor apag, 86 do Álm, de1854j 

2 DE FEVEREIRO. 

CHARADA. 

Pretedo o Rei — 1 
.Sou d* elle irmáo— 2 

Poeta pobre. 
Muito ratão. 

1t ií ir 

107 



af BÉ FÊVÊREina 

GDRREGÇÃO GREGORIANA. -- Se cada anuo tivesse 
exactamente 365 dias e 6 horas, claro está que o dia de 
mais que de 4 em 4 annos se dá aos chamados bissextos; 
restabeleceria a ordiem; e nenhuma outra alteração ha- 
veria- a fazer no calendário ; é porém de 365 dias*, 5 ho- 
ras, 48 minutos e 49 segundos a duração exacta do an- 
no, isto é, de onze minutos e onze segundos menos , d*on- 
de se seeue que havendo-se suppostõ, desde o 1.*^ anno 
da éra enrista, que se compunha cada anno de 365 dias 
e 6 horas, se foi progressivamente commettendo um er- 
ro, que no fim^ de certo numero de séculos devia produ^ 
zir o errado ausmento de uns poucos de dias. Foi o que 
aconteceu. Em 1582 contavão-se já dez dias inaís do que 
devia sef, motivo pelo qual determinou o Papa Gregó- 
rio XIII, por uma Bulia especi&i, que áquelle anno se ti* 
rassem dez dias, ficando só de 355. A Inglaterra, a Rús- 
sia, e outros estados protestantes, náo' quiaeram sub- 
metter-se á determinação do chefe da igreja ; hoje 
porém é a Rússia o único paiz' do mundo que, mais por 
obstinação do que por outro motivo, se recusa a ado- 
ptar unia tão bem entendid» reforma : é por isso que 
as- suas datas são sempre diíferentes das nossas: para 
as reduzir á data verdadeira é preciso- juntar-lhes nojo 
onze dias. 




SALVA A REDACÇÃO. — De um sujeito muito ins- 
truído, mas que en^ fallando não atava nem desatava» 
e era mesmo uma miséria, dizia outro : « Fulano é um 
grandor-homem, salva a redacção. » 



4 DE FEVEREmo. 

MODO DE GBIJDÁR LOUÇA. — Nío indicaremos nuiP' 

nama facilidade e de geral ulili- 

simples ; 

Calcinem-Be cascas d'oglrB» 
ereduz&o-se apó finl3BimD,gue 
se triturara sobre mármore ; 
misture -Be -lhe depoÍB uma cla- 

mi-fluida se pe 
de bem aiustaac , 
da louçn quebrada. Mal se co- 
nhecerA O lognr da união e D- 
caria bem adhercnles as par- 
tes assim pegadas. 

[ CONSERVAÇÃO DO LEITE. 

• — Deite-se, em ((uanto fresco, 
em uma garrafa, tape-se bem. 
e mergulha-se duranie um 
quarto d'liora em agua a ferver. Conservar-se-ha fres- 
quíssimo pelo espaço d'um atino. Tome nols quem te- 
nha de faier alguma r' " •■-- ■ - - " 

dure, almoçar lodos qi 



S DE FEVEREIRO. 



A nu FOMUGA. 

Onde Tais diligenle formiga. 
Onde vais d'esse modo açodada T 
TSo pequena, Uo frágil. coiladaJ 
Como podes com tanU fadigai... 
109 



Onde vais, a vergar, carregada 
Com um peso que te é superior... ? 
Gomo podes com elle transpor 
Ás peorinhas que encontras na estrada ? 

£ é apenas um grão d^alvo trigo 
Que conduzes por um sol que abrAZ« ; 
Mas Samsáo com as portas de Gaza 
Pode acaso igualar-se comtigo ? I... 

Se na estrada, que segues otisada. 
Encontraste íiel companheira. 
Tu lhe falias, e ella, ligeira, 
Toma parte na carga pesada f 

Tu lhe falias ?... oh sim I vós fallais^ 
Mas d*um modo por võs b6 sabido !..'. 
Se ha perigo, por vós é sentido, 
£ fallando, ao perigo escapais !... 

Assim juntas, com o fardo pesado. 
Caminhando com todo o fervor. 
No celleiro ides ambas depor 
Esse mimo por uma encontrado ( 

E voltais á tarefa contentes, 
O celleiro, que é pobre, engrossando. 
Sem que o brilho do sol, fulgurando, 
Vos esqueça do inverno ás torrentes I 

Ha um Deus l... tndo e&tá a acclamaro ! 
Tudo manda soa^ leis acatar L.. 
Seu poder — se se ousasse negar — 
Vosso instineto bastara a provaFo ! 

A» A* MJm 

(Porto) 



110 



6 DE FEVERmaO. 

rSNSilENTO. 

no ALBOM DA EX.°" SE.**. .. 

 virgem da planitie do Guanabara, esbelta, gracio* 
u, e elegante eomo a palmeira do deserto, pede ao bar- 
do da montanha qae oQtr'ora celebrou as glorias da pá- 
tria, eanton qa heróes da religi&o» e evocou a sombra 
doa Reis para julgaVos diante do sea tumulo, uma ins- 
piração, um pensamento, para enriquecer o seu albuml..* 
fi o alande tem as cordas estaladas, como está o cora- 
çào quebrado pela dór ! ... £ os olhos que admiraram o 
âsul dos céus e a formosura da natureza, estão con- 
demnados á escuridão eterna... Uma inspiração, um 
pensamento» para enriquecer o seu álbum!... £ o teu 
álbum, ó virgem, não é tâo rico de inspirações, e t&o fe- 
cundo em pensamentos? O ouro, a prata, a seda, os em- 
blemas, as decorações, fazem do teu álbum um j^rimor 
d*arte. Cada descripçâo é uma composição poética ; a 
máxima d'um sábio é uma homenagem consagrada a ti, 
ó virgem, único objecto de tantos cultos e tantas adora- 
ções. Um dia este álbum passará a outras mãos, e elle 
só despertará a recordaç&o d'um passado d^illusões, de 
mentiras e frivolidades, que não tomarão mais a exis- 
tir I .. . Antes que a aurora com seus dedos côr d^ rosa 
eorra as cortinas do leito do bello astro do dia, á nirm-* 
pM Be precipita no jardim, e com suas mãos de alaoas- 
tro rega a flor mimosa, encanto de seus olhos, idolo do 
seu coração ; de tarde o rústico jardineiro arranca a 
haste da filha da primavera, que já não embalsama o ar 
com seu perfume, nem attrahe a attenção pela riqueza 
4o seu aatit e pela belleza de suas cores I . . . 

Oh I como é formoso este céu dos trópicos, abrilhan* 
tado pelo Cmseiro do Sul t Que estrella tão luminosa I 
É um orilhante que o Todo-Poderoso cravou na aboba- 

IH 



1 



da do firmamento ?.É um doestes anjos que presidem Aos í 
destinos dos homens?... £ o astro desprendeu-se do ,\ 
horisonte, traçou uma ellipse, e sdmio-se no espaço f... "j 

O virgem 1 O nouri dos christâos ! orgulho de teu pai hy 
doce reminiscência dos amores sagrados de tua mâi 1 1 
Todos estes encantos que te cercão, estes votos lança- - 
dos a teus pés, estes protestos de amor, estas seduccôes 
da grandeza, esta auréola em aue o mundo te envolve» * 
s&o para ti, ó virgem, a voz melodiosa da serpente» que 4 
nos desertos de Êdon attrahe com os seus mágicos ac- • 
centos o inexperto viajor para o dilacerar com suas 
garras. 

E amanhã? E o teu coração? E teus pensamentos ? 

Não, não esqueças esta sentença do bardo, que conhe- 
ce todos os mysterios da vida e os segredos ({'álem-rtu— 
mulo : — Deus e Virtude. 

Fr. Francisco de Monte Álverne, 
(Brasileiro) 

7 DE FEVEREIRO. 

IMITAR COM UM CORDEL O SOM DO TROVÃO.— Pe- 
gue-se em um cordel, não muito grosso, e que não te- 
nha um só nó ou aspereza no seu comprimento de três 
ou quatro varas. Passe-se no meio á roda da cabeça 
d'uma pessoa, de modo que corra por cima das duas 
orellias, sobre as quaes o fará esta fixo com as duas 
mãos ; esticar-se-ha então quanto possível o cordel de 
um e outro lado, puxando por elle com toda a força, fa- 
zendo firme a unha do dedo poUegar, sobre o meio do 
Índex, e ouvirá distinctamente a pessoa em quem se 
opera o estrondo do trovão, que gradualmente se irá 
aifastando. 

Para não ser molestado com a fricção do cordel, po- 
de-se fazer a operação com luvas. 

112 



10 DE FEVEREIRO. 



3sviaM(i>s m m!m, 



Mi 



Jseravfeis insensatos, 
Escravos da formosura 1 
Curvados a seu aceno, 
Buscais vida no veneno 
Que vos leva á sepultura 



I 



Nos seus braços reclinados, 
Beijando empemos carinhos 
Divinas faces mimosas, 
Libais o néctar das rosas. 
Sem reparar nos espinhos ! 

«Ohlloucosl vede a verdade; 
Conhecei essa illusâo. 
Por que viveis seduzidos» 
Embalde contra os sentidos 
Austera brada a rasão i... 

IS^da alpapça ; tudo cede 
Ao amoroso desmaio : 
Lumiando o par gentil, 
Brilha amor como um túzil, 
Mas ao fuzil segue o raio. 

Lá do monte da esperança 
Cresta o íbgo verdes fraldas, 
-E de quanto possuia. 
Só conserva a phantasia 
SéccaSj dispersas grinaldas. 



Suspeitas, tyrannás serpes. 
No peito cravando os dentes. 
Com seu sançue se alimentão; 
Das chagas chamas rebentão. 
Daschamasnovas serpentes. 

Em furor e desespero 
Começa o triste a chorar 
Vendo a estrada que seguio. 
Morde o laço em que cahio. 
Sem o poder desatar!.... 

A razão, pára vingar-se, 
Mais augmenta o seuQagicio, 
Com semblante inexorável. 
Muda, surda, imperturbável, 
Assistindo ao saerificio. 

4 

Tudo é dôr, tudo agonia, 
E quefxumes contirh o fado! 
Suspiros e pranto ardente, 
Desè^ero no presente. 
Saudades pelo passado I 

Té que vai desabroxando, 
Pelo pranto dTatflidçftò 
Regada continuamente. 
Do desengano a semente 
Nas cinzas do coração. 

114 



Ergue apNlanta altiva fronte, iSó seuspés tocáo na terra ; 



Mas de tristonha apparencia; 
Folhas, tronco, é toda lacto; 
Tem mirrado, raro fructo, 
Esse fructo é a experiência. 

Das minas levantado, 
Vê-se o espirito surgir ; 
Vem com passo fatigado, 
Como guerreiro cançado, 
À* sua sombra dormir. 

Eis acorda I e então cedendo 
Da fome a cruéis assomos, 
Álbuns ramos segurando, 
Yai colhendo e vai tragando 
Os amargos negros pomos. 

Comeu, ergueu-se, é j á outro ■ 
Foi-se do rosto a meiguice ; 
Do tronco um ramòquebrado 
Serve ao triste de caiado : 
Eis a imagem da velhice.. 

Está tudo terminado ; . 
Está completa a sentença ; 
Áos fogos succedem geios, 
Que annunciâo nos capellos 
A idade da indifterença. 



Os olhos tocâo na luz 
Entregue a culto profundo» 
Lá vai fugindo do mundo, 
Cjdhir nos braços da crui. 

Lá expira.. .mas dizei-lhe 
ámor/vereis n*umtran8porte 
Como seus olhos scintitlâo. 
Como juntas seaniquillâo 
Todas as forças da mortel.,. 

E* que amor inexorável 
Nos seus planos iracundos. 
Se os mortaes torna captivos 
Nem minora o mal dos vivos. 
Nem respeita os moribundos. 

Restaura as forças da vida, 
Nâo nos consente morrer ; 
Porque lá nas sepulturas 
Seus tormentos e torturas 
Não se podem padecer. 

Envenenado^ farpões 
Nosmanda em s^inspir^) terno; 
Cinge áos olhos mago véu, 
p pelos jardins dx) eé\x 
Nos encç^^m^nha ap inC^rno. 



Lá vai p velho trilhando, 
Lá vai, desacompanhado, 
O canúnjio da existencja^ 
Nutrido pela experiência, 
Ào deseagano arrimado. 



115 



Fug^, humanos I... fugi 
De seu veneno traidor... 
$em culjto, 4e^samparados, 
Supião-^se, ao tempo yotadofí. 
Altares, templos de amor... 
lattrinao José da silva Hahello. 
(Brasileiro] 



11 DE FEVEREIRO. 

JUSTIÇA DE SOLIMÃO.— De Solímâo, imperador tur- 
co, se conta uma graciosa sentença. Emprestara certo 
judeu a um christáo avultada quantia, sob a condição 
de que os juros haviâo de ser tirar-lhe do corpo em dia 
determinado duas onças de carne. D*ahi a tempos satis- 
fez o christáo a divida, negando-se porém ao pagamen- 
to dos juros. Subio de ponto a altercação; até que fo- 
ram ter com o Soberano p&ra qne solvesse a duvida. Ou- 
vido o caso, mandou vir uma navalha bem afiada, met- 
teu-a na iflao do judeu, e assim lhe disse : «Justo é que 
vos pagueis por vossa própria niâo ; escolhei do coipo 
d'e8se christáo a parte gue quizerdes, porém cuidado, 
que se lhe arrancais mais ou menos de cTuas onças, vos 
mando cortar a calseça.» O judeu não quiz estar pelos 
autos, e o christáo deíi graças á giria do Monarcha. 

Parecia-se com Salomão, no nome e na astúcia. 

12 DE FEVEREIRO. 

INDUSTRIA DAS ABELHAS. — Um dos objectos mais 
curiosos da ultima eirposiçáo de Paris era um enxame 
de abelhas. Os favos de mel achaváo-sé em uma espé- 
cie de viveiro de vidro, de 4 a & palmos cúbicos. Ahi 
se vião todos os movimentos d*aquelles animalinhos, e 
«e assistia a todos os trabalhos de sua antiga monar- 
chia. Communicaváo elles com o ar livre por um tubo 
de vidro e zinco, o qual ia direito ao tecto, que atraves- 
sava, da galeria da agricultura. Por alli entravào e sa- 
hiáo. Ao voltarem para casa, vinh&o as abelhas untadas 
com o poUen das flores por que se haviáo roçado lá fora. 
Uma nuvem delias volteava de continuo á roda do ori- 
fício do tubo. De noute iáo todas para casa, e de dia só 
uma quarta parte se ausentava ao mesmo tempo. 

fH. 51, 9 de Marco] 

116 



tS DE FEVEREIRO. 

ESTRELLA DO SUL. — Dissemos no Almahach de 
1856 ser este nome dado a nm magnifico diamante re- 
centemente achado no Brasil, e apresentado & Academia 
das Scienclas de Paris; diamante defuma agua puríssi- 
ma e de forma dodecaédrica. Acrescentámos que pe- 
sava 244 quilates e perderia metade do seu peso quan- 
do fosse lapidado, valendo ent&o para cima de 2 milhões 
de cruzados. No palácio da industria esteve em 1S55 
exposto esse diamante (o mais bello sahido das minas 
do Brasil) entre muitos outros peoueninos satellites, 
vindos do mesmo paiz, e que em ve2 ae serem por aquel- 
le illuminados, perdíáo pelo contrario a par (Telle toda 
a sua luz. Envtada a Estrella do Sul a Amsterdam, e 
confiada ahi ao mesmo lapidario que o anno passado 
soube dar tanto brilho ao ôélebre Koh-i-Noor (monta- 
nha de luz], que outr^ora sérvio de ornato ao throno de 
Lahore, promptamente a transformou também em um 
brilhante dos mais bellos ; representa este uma ellipse 
cujo eixo maior é de 35 millimetros e o menor de 29, 
sendo de 19 miHimetros a sua grossura. Fieou, depois df^ 
lapidado com 125 quilates, e inferior por conseguinte ao 
Regente, que pesa 136 ; é porém' superior, tanto pell) peso 
como pela forma e pelo brilho, ao Koh-i-Noor, que íicou 
reduzido a 122 quilates. Este ultimo é mais comprido 
do que a Estrelia do Sul, mas é tão chato que isso lhe 
faz perder grande parte do brilho. O Regente, que a to- 
dos leva a palma, e quadrado, e um pouco arredondado 
nos ângulos ; tem 30 millimetros de comprido e outro 
tanto de lar^o, mas se é menos comprido do que aquel^ 
les, é todavia mais grosso do que ambos. 

Para Sua Alteza o Regente reservamos um artigo es- 
pecial. 

Recommendamos aqui a leitura do que acerca 4e dia^ 
mantes em geral escrevemos no artigo correspondento 
a 24 de abril de 1851. 

117 



14 DE FEVEREIRO. 

POETA ARITHMETICO E RELIGIOSO. — Com a iaboa 

2ue adiante apresentamos e com os 7 algarismos, 1, 2, 3, 
, 5, 6, 7, poderá qualquer fazer quantos versos queira 
em louvor da Virgem Santa. 

Tenha cada letra do alphabeto o vaior que na pagina 
£efi;uinte lhe corresponda. 

Tome~se um numero composto de cineo algarismos, 
porém com a condição de que os dous últimos hâo de ser 
iguaes ; darão elles as palavras de que o verso se compo- 
rá, pelo seguinte modo. Supponhamos que se tomcru o 
numero 14633. O al^rismo 1 servirá para a Tabeliã I ; o 
algarismo 4 para a Tabeliã II ; o alearismo 6 para a Tabel- 
ia lll ; o algarismo 3 para a Tabeliã IV, e o ultimo para 
a Tabeliã V. Appliquemos o algarismo 1 augiaeniado de 
uma unidade, ou para melhor dizer o numero % ao 1.^ 
numero da Tabeliã I, e continuemos a contar até 7. ponr- 
do o dedo sobr« a série dos números da mesma tabeliã ; 
pararemos em 17, cujo equivalente no alphabeto do 
principio é S ; tornemos a contar de 1 até 7, e a<;haTe- 
mos 1, cujo equivalente é À ; tornemos a contar até o 
mesmo numero e aeharemos 7, cujo equivalente é G, e 
assim por diante. Formaremos a palavra Smraéa, Si- 
gamos exactamente a mesma marcna com o z.^ algariji- 
mo 4 do numero 14633, augmentado também d'uma uni- 
4ade, servindo-nos da Tabeliã II ; acharemos a palavjra 
Mãi, Continuando do mesftio modo, formaremos o v^erso 

Sitgrada Mãi, em tudo assombro eterno. 
Quando <a palavra se acha terminada, nlbo só ella o àli, 
mas <se inadvertidamente continuássemos» achaxiamoe 
um zero, o que equivaleria a dizer alto lá. 

tiuando o alf^ansmo é 7., não se augmei\ta de uma uni- 
dade ; principia-se a contar na Tabeliã pelo numero i. 

0s 9umer^ ilili e 66666 darião estes dous versos ; 
Sagrada (mroraj alegre, sempre pura. 
Gloriosa fonte, em tudo ahrigo certo^ 



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15 DE FEVEREIRO. 

A NAMORADEIRA E O JOGADOR.— Beprehend ia as- 
peramente uma namoradeira a seu irmio nor ser jogador 
como nunca se vira. e melancholicamentelhe exclamava: 
— Ora, dize-Die, quando has- 
I de tu deixar de loparf 
9 — Ouando tu deixares de na- 



k. FAUSTO EXCESSIVO DE RI- 
3 CARDO II DE INGLATERRA.— 

í Sustentava por dia dez mil pes- 
soas. Trezentos criados lhe ser- 
viSo á meza, e outras tantas 
criadas se empregavao no ser- 
viço da Rainha. Havia de ter 
esta mais trabalho em dar que 
íuxer a todas ellas, do que as trezentas em servírem-ua. 

*16 DE FEVEREIRO. 

REMÉDIO PARAAPHTAS. — Sío as aphtas doença 

incommoda, de que nío poucas pessoas se queixão na 
estaç&o raliBosa. .^.lacão os lábios, o interior da bAcca 
e a língua, a ponto de difScuItarem muitas vezes o co- 
mer e o fallar. Um remédio para ellas, experimentado 
e muito prompto, é mel rosado com tanto oe óleo de vi- 
tríolo quanto oaslc para lhe dar um pouco de acidez. 
Se as aphtas são nos lábios, untio-se com este mixlo 
por meio de uma taragatSa ou rama de pcnna. Se sio 
, dentro dabflcca, cliupa-se uma pequena porrão, eeon- 
serva-se por muito tempo o bochecho de saliva que ella 
excita. Um dia, e ás vezes menos, basta para dar cabo 
do ma. . 

120 



17 DE rfiVEflElEO. 

ARMADILHA DO ARMADILHO. — Armadillio é o no- 
me que na índia se dá a um animal que gosta muito de 
fonnigas, e que para as apanhar usa d'e8ta engenhosa 
treta. Deita-se ae costas nos atalhos e caminhos por 
onde ellas costum&o andar, e estende a cauda, que á 
bastante áspera, sobre o ventre, chegando com ella á 
bôcca ; as formigas top&o com aquelle vulto, trepâo por 
elle, e vão morrer no papo do seu inimigo. Usa ainda 
de outra astúcia, segundo refere o Padre Nieremberg. 
Quando chove, deita-se de costas, e nas grandes con- 
chas que tem, colhe bastante agua ; assim. se deixa ficar 
um dia inteiro, até que passe a chuva ; chega depois 
o veado sequioso, acha aquella poça d'agua limpa 
e ciistallina, mette a bôcca para beber, e de repen- 
te fexa o meu amigo as conchas, prende ao veado Dei- 
cos e nariz, e ahi vai este á desfilada, n&o só preso pele 
teiço, mas também pela excrecencia da physionomia, 
até que o cançaço lhe tolhe as forças, e deixando-se 
cahir ao chão serve de presa ao armadilho. «Qm uM ae- 
cedens ad potum^ immergit huecam, ttthc claudit se chir^ 
quinchus, labra etnares eomprehendens cervL Hicdis- 
eurrit hine inde, nunquam laxai príedam chirquinckus, 
donee fatigatum interimat angtisHa spiritus^ » 

18 DE FEVEREIRO. 

JORNALISMO NOS ESTADOS UNIDOS. — O numero 
total dos jornaes, mais ou menos periódicos, nos Estados 
Unidos é de 2,800. e de 422 milhões e 80,000 exemplares a 
circulacáo annual de todos elles, o que é devido á com- 
pleta liberdade de imprensa, e ao nao se exigir nem 
fiança nem sello. para essas obras. Sâo quasi todos de 
grande formato, impressos em typo miudo, e custáo 
.termo médio, 1 eent, ou 10 réis. Quem deixará de ler 
n*um paix em que a letra redonda é tão barata I... 

121 



19 DE FEYEMIRO. 

MONDOMBBS. —E' uma raça de pretos que habitfiò o 
I>ombe Grande e Pequeno, sít;uados, o primeiro umas 
10 léguas ao sul de Beu^elU, e o segundo confinando 
com a cidade pelo lado do interior. HaBltavâo Benguela 
la €(uando foi aeseoberta e conquistada polr Manoel Cer" 
veira Pereira em 161 7> e ainda hoje estão no mesmo 
atrazamento em que entSo se achavào. Às mulheres tra- 
jâo um panso d^ algodão, qué primeií^o tingem com tcb- 
cúla, tirándo-lhe assim a côr primitita : trazem braços, 
peitos e f>ernas, nús* e ao pescoço uns collares, ou an- 
tes chouriças, da grossura de quatro poUegadas, e ás 
vezes mais, feitas de enfiadas de marcas,^ semelhantes 
ás que servem para botões á& coUetes, formadas com a 
casca de certo marisco, ou caracol, e toscamente aiv 
redon<ladas e furadas por elle ; sáo côr de cinza e 
chamâo-lhes : dongo. Nas pernas, desde o pé até á ai» 
tura d'um palmo, usáo d*umas manâhas de cobre, da 
grossura de um quarto de pollegada, enroscadas em 
volta da perna, em forma de espiral. Cambem us&o, 
em seus extravagantes toucados, e na proporção de suas 
posses; de enfeites de botde» amarellos ennzios peque-» 
nos. Homens e mulheres eostumáo trazer granae por- 
ção d*ar^olas de ferro delgadas nos pulsos. O signal 
característico de belleza entre as mulneres é terem os 
peitos muito compridos, e para isso os puxão e ligão ao 
corpo com um cordel. O trajo dos homens é muito mais 
simples. Embrulhão o ventre e as nádegas n*um panno 
também tinto em tíieúla, e-nsâo ás vezes d'ou^o aos 
hombros a modo de capa. Trazem o cabello por tal mo- 
do enpastado com cebo, e aparado por maneira tal, que 
parece um hanúett o qual estremece tocan4o-se-4he. Os 
rapazes rapão t cabeça, deixando s6no alto umapeque- 
■ta tmmfa. Ás raparigas, em quanto don^ellaSf usáo noa 
btaços è pernas de manilhas feitas de palha séeca, em 
formar de trança eu torcida, e cobrem (k cabeça com 

12fi 



uma pelle de cabra ou d'outro animal semelhante. Un- 
táo todo o corpo com leite azedo e tacúla, de sorte que 
deitâo de si um cheiro que é de matar a seis passos de 
distancia. Reduz-^e toda a industria dos Mondombes a 
vir vender á cidade, gallinhas, ovos, lenha, carvão, 
capim, tomates, feijões verdes, farinha de mandivi, e 
uma espécie de bandejas de palha, conhecidas pelo 
nome de quindas. Depois da ultima batida que s* deu 
a este gentio, no governo do Conselheiro P. A. da.Cu- 
nha« toniaram«-8e muito paeilioos e inofl^aaivos. 

10 DE FEYERBIRO. 

UM VOTO NO PORTO. —Km consequência de um vo- 
to antiquíssimo, ia até não ha muitos annos o cabido da 
Sé da Porto, ^ em certo dia do anno (ignoro qual), em 
procissão aos claustros» repetindo umas poucas de ve- 
zes seguidas , 

Boa aentey bon gente. 
Confessar e commungary 
Que tudo o mais i vaidade : 
Deus vos \eaoe a }fom logar I 

Reeara depois um responso diante d*uma capellinha 
dos mesmos claustros, por alma do fundador do voto, 
mas para que Os assistentes se não rissem, lá engrola- 
vão aquillo os Srs. Cónegos de modo tal, que parecia 
latim. 

A propósito : Porque não hão de ser em português to- 
das as resas da igreja?— Sobre isto dissertaremos ou- 
tra vez, pois vale a pena. 

FERREIRO DE GRETNA-OREEN. -- Acabou o eéle- 
bre estabelecimento matrimonial do ferreiro de. Gretna- 
Green, na Escócia, estabelecimento em que largamente 
falíamos a pag. 367 do Almanach de lS5à. 

123 



21 DE í'EVEREIRO. 

A MEMORIA DO TENENTE GENERAL SEPÚLVEDA. 

ACRÓSTICO. 

agestosQDadrâo, soberbo busto, 

gratidão da pátria alça7-*te deve 

o Pantheon dos heróês> oh grão Sepúlveda. 

teu nome immortal brilhar merece 

ntre os grandes varões, queaLysia honraram. 

er devem com assombro eras vindouras 

mmortaes feitos do teu braço forte, 
grão libertador da oppressa Lysia 
econheçáo em ti. Só tu rompeste 
rilhôes pesados, que a traição mais impia 
m seus pulsos lançou. Em váo pretende 

loria tanta roubar-te a ini({ua inveja. 

br a foi tua a redempç&o da pátria. 

otor foste o primeiro, origem d*esta 
_ _ mpreza portentosa.' Aos teus clamores 
c^ acudio Lusitânia o jugo infame , 

Í55 espertou do lethargo em que jazia ; 
gq dormira, talvez, inda em seus ferros, 

^Q e, qual trovão, tua voz não a acordara, 
sta sublime acção de patriotismo, 
rincipiada por li, podem, sim, outros 
ItimaVa, mas toda é tua a gloria, 
ouros te enramem pois a heróica fronte, 
aloroso guerreiro : os teus triumphos 
screva, em letras d*ouro, a sabia historia, 
ando~te o alto logar que te compete, 
par dos Gamas, Albuquerques, Castros. 

Por tema tesiefnunha di tão alia feitos. 

124 



22 DE FEVEfiEIRO. 



porliid'um sapa- 
teiro, e notando 
] que mal a via se 
J punha este sem- 
1 prearir, enfada- 
I do lhe petgun- 
l touurndia: «Ora 

1" não me dirá por- 
que ri sempre 
quando eu pas- 



aã DE FEVEREIRO. 

CURISTO JULGANDO OS HOMENS. — Iticlinard Deus 
os céus, e avisinhar-se-lia mais _ã (erra para castigar 
seus habitadores : debaixo dos pés trará um remoinho 
de nuvens negras, escuras e caiigiiiosas : das ventas 
]he sabirão fumos espessos de ira, de indignação, de 
íuror : da bãcca, como de fornalha ardente, exhalarãum 
volcio de fogo Iragador, que tudo accenda em brazas 
e converta em carvões; atroará os ouvidos attonitos com 
osbrados medonhos de sua voz, quesáo os trovões; ce- 
gará avista comofuiilardoB relâmpagos alternadamen- 
te aceesos, abríndo-se e (ornando-se a cerrar o céu, teme- 
roeacnente fendido ; disparará finalmente as suas setlas, 
que são os raios e coriscos ; abalar-se-hSo os montes, 
retumbarão os valles, ilTundar-se-liáo 3(é aos abystnos 
08 mares, descobrir-ae-ha o centro da terra, e appori^- 
i^erão revoltos os fundamentos do mundo. 

Pnilro Aiitottio Tíi-irii. 

125 



24 DK FEVEREIRO. 

INFLUENCIA É PROEZAS DE MULHERES. -- Foi por 

cauda de uma mulher de Thebas que dez aimos houve 
gtietf 8t entre thebanos e phocenses. 

Por oUtf a se eiterminaram messenios e lacederaonios. 
* Causou Helena a guerra de Tróia. 

Davidí por amores de Bersebé, chorou de dia e noth 
te, Tio tetalhado o seu império* e succumbio &s iras de 
seu filho Salomão. 

Holòphernes foi degollado .por Judith. 

O Príncipe de Sachem é morto pelo irmão de Dina* 

Ãmon é assassinado n*um banquete pela feroz Taraar. 

Por càusa de Lucrécia acabaram os Heis em Roma. 

Deu Virgínia em terra com o dominio dos decemviros. 

Laodicea por ciúmes assassina Antiocho, Rei da Syria. 

Lucila envenena" seu marido Antonino. 

Fredegonde mata o Rei Chilperico. 

Ciúmes de mulher dâo fim ao império dos godos. 

Annibal, o invencível, foi subjugado pelas mulheres. 

Hercules, o vencedor de hydras e leões, fiou aos pés 
de Omphale, Ràiiiha de Lydia. ' 
• Ai^hulesj o héróe da Iliada, vestia-se de mulher, só 
para estar com outras ao soalheiro. 

S^ráaâapaló, o devasso de Babylonía, substit^ió a 
coroa por uma touca. 

Samsâo, o valente, ajoelhou perante Dalila. 

Foi a pedido dê Herodias que Herodés mandoU de- 
goliár a S. loão Baptiáta. 

Salom&ci Gonstr^io 700 quartos paria 700 mõabitás. 

Niilo ft)i inorto por ordem de Semiràmis. 

Marco António, antes de vencido por Octaviano, já o 
havia sido por Cleópatra. 

N'uma palavra poderiâo enxer-se volumes e Volúines 
em tal cat)itulo. 

Francisco Álvares de Sousa Carisiilhà. 
(Ilha do Pico) 

126 



25 DE FEVEREIRO. 

ASCENSÃO AEROSTATICA NO RIO DE JANEIRO. — 
Já por mais de uma ves temos fallado em balões (A. 51 
36 de j%nho. A, 52 p. 160 e 371. A. 53 p. 39 e 148;, e por 
isso nos limitaremos hoje a copiar o que do Rio de Ja- 
neiro a tal respeito nos escreveram : 

€ Assisti hontem a uma ascensão aerostatica. Segui-a 
desde o principio attentamente, pois nunca vira outra 
com tanta miudeza e t&o de perto. Não comprehendo 
que a coragem humana possa emprehender tão auda- 
ciosa tentativa, em toda a parte, mas especialmente 
n*esta cidade, cercada de mares, bahias, lagoas, tene- 
brosas florestas, gigantes de granito a pique, e escabro- 
sidades de terreno. Como aquelle homem me pareceu 
grande e eu me senti pequeno 1 É um francez, Heill, e 
era esta a sua primeira ascensão I iria talvez a duas lé- 
guas ; cahio na bahia, a três varas da praia do Sacco do 
Alferes, mas achando-se-*lhe o balão quasi esgotado, 
baixou como uma frecha, e ao eahir na agua, mergu- 
lhou a barquinha bastante fundo, vindo o nomem logo 
ao de cima, assaripálido : colheram-no os escaleres do 
vapor Hercules j por elle fretado para lhe seguira pista, 
e salvaVo, caso acontecesse o que exactamente veio a 
íucceder. 

António Cypriano d'OHve%ra. 
(Brasileiro) 

^ DE FEVEREIRO. 

CHAGADA. 

Sendo i^ma parte da planta — 1 
ãou -planta que fructo dou — % 

Sendo producto de planta, 
Úm gérmen de planta sou. 

■^ a k 

127 



2T DE FEVEREIRO. 

1'APELKOSESTADOS UNIDOS. — Trabalhão aelual- 

iiicnic nos Estados Unidos 750 moinhos, cora os quaes »p 
fflieui cada anno 270 milhõefi de arráteis de papel, im-' 
portando ent37 milhões de dollara, o que anda por32,000 
contos de réis. São necessários para isso 405 milbões de 
orratois de trapo, eujD valor orça por 16 milhões de dnl- 



lars. ou 13.000 contos de réis. A mão d'ohra custa para 
cima deSmilhucsdedollars, ou a, 4DOcontos.De2(í pai- 
res diferentes se importa o trapo para eslc imporloa- 
te fabrico. 

Os Estados tinidos, sú por si. empregfio tanto papel 
romo a França e a Inglaterra juntas. 

Na mesma proporção se encontrão alli a maior parte 
das industrias. Em riqueza e prosperidade nenhum pai/ 
deila hoje a barra adiaute áqueila florescente répubiicn. 



18 DE FEVEREIRO. 



14 1 



UBO singu- 
Ur ntfíor- 
muUrio da 

oatchas. A- 
) pTeeenta-se 



ÍP 



Li tos queirAo 
T disputar ao 
'"--voSt.be- 
^ - —10 08 «eus 
^direitos á 
!^ coroa. Vío 
> IA contes- 

ktar-lh^os 
com um 
' granJola d a- 
quelles que 
a abrir e fechar d' alhos esfarrapava um homem se 
cahisse na unha < 

EALEJO. — Ma; hina de moer musi^^a. 



1 DE MARÇO. 

VASSOURA INSPIRADOURA. — Estava um dia á sua 
jaaella uma senhora fidalga, viuva e mui discreta, 
quando vio uma sua creada andar varrendo da loja para 
a rua, triste como a noite, affogueada como uma rom&, 
e chorosa como uma Santa Maria Magdalena. Vai ter 
com ella, e com suavidade lhe pergunta o que assim a 
pena ? Era o caso que a boa da rapariga tinha nascido 
d.e gente limpa e em casa farta, e em peauena tivera 
cr«ada para a servir. Por morte dos pais canira em po- 
breza, o que a trazia a servir por casas alheias. «Nâo se 
me dá do trabalho, soluçava ella ; o que me custa é a 
vergonha ; andar aqui a varreT á vista de quanta gente 
pasâa l..» A dama lhe toma das mãos, sem enfado, a vas- 
soura, e se pôe a varrer mui desassombradamente a tes* 
tada da sua casa. Ficou a serva a principio a olhar para 
ella estupefacta ; depois quiz-lhe ir á mfto.— « Deixa es- 
tar, filha, lhe tornou a senhora ; isto não me custa ; que 
vergonha é fazer a gente coisas úteis ? outras, que eráo 
mais que tu e eu, as fizeram; a Virgem Maria (e maiséra 
descendente de muitos Reis, ^ emíim era a Virgem Maria) 
tenho por certo que também varria a sua casinha, co- 
mo tu ainda agora fazias ; e o Filho de Deus, com ser o 
Filho de Deus e o Senhor da céu e da terra, nâo viveu 
trinta annos em tamanha humildade, desde as palhinhas 
do presépio até ser preso, esbofeteado, e pregado n*uma 
cruz? estou vendo que elle não h^via muita vez de ti- 
rar a vassoura das mãos de sua Mâi Santíssima para 
varrer em logar d'ella 1.... Andai, filha, andai ; nâo fa- 

Samos nós de que nos envergonhemos, que lá o traba- 
lar no que se faz mister, nâo é cousa por que hajamos 
de corar.» — O sermão nâo fôra encommendado, mas foi 
pago ; a creadinha, que era já boa, ficou óptima. 

Bom é archivar factos d'estes, nâo com a esperança de 
que entre nós se imitem, pois é o orgulho um 'de nossos 
maiores defeitos, mas eomo honrosos para a humanidade. 

130 



2 DE MàRCO. 

THBDRIA DOS BALÕES. — O àr dilètftdò pelo èalor é 
itiais leve do que o ar frio : a 70 gfáus Réftumur (88 cen- 
tígrados) é^-o sufficientémente para que encerrado em 
um Tasto espaço possa transportar um peso considera- 
vel. Foi este o pensamento que suggerio aos irmãos Mont- 
golfíer a invenção dos balões, de que falíamos no ar- 
tigo correspondente a 20 de Junho do Almanach de 1851; 
08 balões porém, como por ellès foram ideados, apre- 
sentarão bastantes inconvenientes, como, por exemplo, 
a grande quantidade de combustível que era preciso 
levar ; as tastas dimensões do apparelho, em rasão da 
pequena dlfferença entre o peso especifico do ar e o d(r 
atmosphera; o perigo, emfim, de incêndio, tanto.para o 
balão, como para os bosques, searas e habitações ru- 
rtes, sobre que por ventura viesse a cahir. Substituio-se 
pois o ar elevado a certo grau de. temperatura, pelo gaa 
nyíjrogenio, 13 vezes mais leve que o ar que respiramos. 
Emprega-se hoje para o mesmo fim o gaz da iílumiTia-' 
e&o, que se epcerra em uma capa de seda ou tafetá, que 
^ previamente se tomara impermeável, cobrindo-a exte- 
' ríormente com muitas camadas d'óleo misturado com es- 
sência de terebentina. Não se enxe o balão senão até ás 
suas três quartas partes, em rasão de se ir dilatando o 
gaz á proporção que a machfna se vai elevando. Evità-se 
que faça explosão por meio de uma válvula (a que se 
enama válvula de segurança) situada no alto, e que 
dá sabida ao gaz quando se na dilatado demasiadamen- 
te e ameça romper a capa em que se acha preso. 

Têem provado multiplicados exertiplos, que velas, té* 
mos e leme, só em tempo sereno podem modificar a 4i- 
recção de um balão. Se se podesse fazer subir ou des- 
cer um balão á vontade, ate dar com uma corrente d*af 
favorável á direcção que se pretende seguir, quasi re- 
solvido se achara o problema da navegação aérea ; 
esse resultado porém só se consegue deitando fora uma 
131 



parte do lastro» ou expulsando uçiaporçâo de gaz, e es- 
sa operação muitas vezes repetida faria com que ambos 
elles s6 acabassem, sendo o resultado final precipitar- 
se a raachina com uma velocidade proporcional ao seu 
peso e^á altura de que viesse despedida. É todavia 
quasi perto que mais tarde ou mais cedo se resolverá 
este importante problema, de que tantos se occupão. 

3 DE MARÇO. 

língua PORtUGUEZA. — E' branda para deleitar, 
gravB para encarecer, eííicaz para mover, doce para pro- 
nunciar, breve para resolver, e accomraodada ás mate- 
Has mais importantes dapractica e escriptura. Para 
fallar é engraçada, com um modo senhoril. Para cantar 
é suave, com um certo sentimento que favorece a mu- 
sica. Para pregar é substanciosa, com uma gravidade 
que autoriza as rasões e as sentenças. Para escrever 
cartas, nem tem infinita copia que damne, nem brevida- 
de estéril que a limite. Para a nistoria, nem é tâo flori- 
da que se derrame, nem- tão sêcca (^e busq^ue o favor 
das alheias. A pronui^ciaçâo não obriga a f^rir o céu da 
bôcca com a aspereza, nem a arrancar as palavras cora 
vehemencia do gargalo. Escreve-se da maneira que se 
1^ e assim se falia. Tem de todas as linguas o melhor: 
a pronunciaçâo da latina; a origem da grega; a familia- 
ridade da castelhana ; a brandura da franceza ; a ele- 
gância da italiana. Tem mais adágios « sentenças que 
todas as vulgares, em fé de su,a antiguidade. E se álin« 
gua hebréa, pela honestidade das palavras, chamaram 
santa, certo que nâo sei eu outra que tanto fuja de pa- 
lavras claras, era matéria descomposta, quanto a nossa. 
E para qu<e diga tudo, só um mal tem, e é que, pelo pou-^ 
eo que lhe querem os seus naturaes, a trazem mais re^ 
mandada do que capa de pedintes. 

francisio Rodrigues Loho. — Carte na Aldêa. 

132 



à ©B MAKÇa 

iUSCORBAÇÕES DOS mDIOS. —No BrasU os gaay-* 
corufl dizem a respeito da sua origem mil desatinos. 
Afflrmào elles que depois de ereados os homens, e com 
eUes repartidas as riquezas, uma ave de rapina, que no 
Brasil cnamâo ca/rá-earà, 'se lastimara de uáo haver no 
mundo gua/ueuru algum, e por isso os creara, e lhes 
dera por defensa o arco, a lança e as flechas. Longe de 
tributarem respeito a este seu creador, o matâo todas 
as vezes que pedem. Dizem eUes que haum Deus bom, 
porém desconnecem o seu poder : ignorão os premioâ e 
castigos da vida futura> mas crêem na immortalidade 
da alma, e até coniâo que as almas dos seus capitães e 
cirurgiões se divertem passeando "peks estrellas> e que 
as outras fícâo errantes junto dos cemitérios. 

Record&o*-se d'uma grande chuva, que muitas pessoas 
querem que seja o diluvio, e das perseguições que fiie- 
ráo ao Apostop S. Thomé quando quiz levar-lhes a luz 
da' religião, como se lê no Plutarcha Brasileiro e no 
1.^ vol. da Revista Trimensal, do Instituto Histórico e 
Ceographico do Brasil, e muitos dizem que oa^matos se 
abriáo e dav&o passagem ao Apostolo, quando, perse- 
guido por elles, fu^a de suas selvagens e barbaras in- 
tenções, e deixou impressos em laminas de pedra os 
signaes de seu cajado e dos seus pés. 

Dr, César Augusto Marques. 
(Maranhlko) 

5 DE MARÇO. 

E!Y1GMA. 

Sou redonda como a Iua, 
Mas em ponto pequenino : 
Sou fêmea quando estou nua, 
£ vestida, masculino. 

Aa Ja» C* 

133 



6DEMABÇ0. 

CATlfB€18M0 RUSSIÁNO. ^Extr^himod d^elle o se- 
guinte fragmento na parte relatira ao Impera^tor : 

P. Gomo deve a authoridade do Imperador ser conr- 
siderada relativamente ao espirito do christlanismo ¥ 

R. Como procedendo immediatamente de Deus. 

P. Que obrigações para com elle nos imp^e a reli**- 
giao? 

R. Sete ; a saber— adoração, obediência, íldelida<le« 
pagamento dos tributos, serviço, amor, e oraç&o ; sendj» 
tudo comprehendido nas palavras: adoraç&oe serviço. 

P. Em que consiste a adoraç&o, e como deve ser ma-* 
nif estada? 

R. Com a maior reverencia^ em palavras, gestos^ ptnr* 
te, pensamentos e acções. 

P, Que género de obediência lhe devemos? 

R. Inteira, passiva e sem limites. 

P. Como deve ser considerada, relativamente a Dene, 
a irreverência e infidelidade para com o Imperador? 

R. Como um crime atroeissimo e um peccado hot-» 
rendo. 

P. Independentemente da adoraçfio ao Imperador, 
deveremos respeitar a publica authôridade que d'eUe 
emana? 

R. Sim : porque o que emana do Imperador^ repre- 
sentado, e obra como substituindo-o ; por isso ,o Impe- 
rador está em toda a parte. 

P. Quaes são os motivos naturaes para cumprirmos 
estes deveres? 

R. Além dos adduzidos, ha o seguinte : sendo o Im> 

Í»erador o chefe da nação, o pai de todos os seus vassa- 
08, só elle é digno de'reverencia, ^atidão e obediên- 
cia, por(][ue a segurança publica e individual depende 
da submissão a seus preceilos. 

P. Quaes são os motivos sobrenaturalmente revela- 
dos, que mandão adorar o Imperador? 

134 



R. Sâo : que o Imperador é o Vice-Regente e Minis- 
tro de Deus para executar os divinos mandados, e por 
conseguinte a desobediência ao Imperador é o mesmo 
qae a desobediência ao próprio Deus : — Que o Senhor 
Bos iBcompensará na terra, pela adoraç&o e obedieucia 
qae prestarmos ao Imperador, e nos punirá severamen* 
ie por toda a eternidade, se lhe desobedecermos e lhe 
recusarmos adoração. Além dUsso, Deus mandannos que 
tmemos e obedeçamos ao Imperador, e a qualquer au^ 
torídade d'elle emanada, não por considerações mun- 
danas, mas pelo temor do juizo íinal. 

Sendo o cathecismo umainstrucçáo sobre osmysterios 
e principies da fé christâ, acho uma espécie de sacrilégio 
«pplicaTo a um simples mortal, ainda mesmo tão poae- 
roso como o czar. 

7 DE MARÇO. 

CHOLERA CHRISMADA.— N'este livrinho, onde tanta 
coisa curiosa se vai todos os annos archivando, regis- 
temos também alguns dos nomes por que no Rio de Ja- 
neiro se está actualmente designando aquella terrível 
eafermidade. Gham&o-lhe a JReinanee (ou moléstia rei- 
Bante), a Gastro^entero-colite, palavras que, pelo muito 
que a doença faz gastar com médicos e boticárias, se 
transformaram em gasto entre collegas-^gildemt por- 
que 08 lomaes, publicando o necrológio diário, e espe- 
cifieando as moléstias dos falleeidos, dão o i.^ como vi- 
ettma da clH>lera, seguindo-<se--lhe lo^o depois, todos os 
dias, uma enfiada de 70 ou 80 idem, idam, idem.— Cha<* 
ma-se-lhe^ em&ia, »Bi3;a,.a Pavorosa, sí fimpofia, que 
sei eu? 
Ora 88- isto sâo cousas com que se brinque t. . . • 
Que o fizessem os franoezes, que riem até na agonta« 
passe ; mas nós, brasileiros, povo grave e sisudo 1. . . . 

Francisco José da Silva Collar^s. 
(Brasileiro) 

Í3S 



ÍA' 



8 DE tlARÇO. 

fOGONOKIO. — ÉoRríloquefrequentemeateseon- 
ve DO Rio Verde, em Indiana [Amerks do Norle), quan- 
do as aguas estáo baixas. E parece haver raiio para o 
sohar, pois os barcos de vapor se víem rodeados de 
nhammas aiuladas, muitas vezes perigosas. Diremos a 
cousa de tão Singular e curioso pnenomcno. Está co- 
berto o fundo 
do rio com 

le 
egeti 

Iiem uiiB ijuu- 
de altura , a 
q^ne deve o 
do as a^a« 
estão baixas, 
os barcos de 
vapor agiu o 
B aquella mas- 
SB, da qual se 
exbalaogaies 
inflammaveis. Se alguero apparece com uma luz em cl- 
lua da tolda, á um momento em quanto o iocendio se 
maniresta no ar, aterrando por extremo os passageiros. 
A maior parte das vezes, para que o gai s^ apague por 
si próprio, basta mandar parar a embarcação. 

PEGUREmO ENIGMÁTICO, — Pergunlando-se a um 
pegureiro quantos carneiros guardava, respondeu.; 
cliio chegão a cem ; contando-os a lã e lã, sobejão 7 : 
aUel4, sobejSoU:al3el3sDbejãoS;all e 11, so- 
beja 1. Quantos erão ?. 

136 



9 DE MARCO. 



OURIVES DA PRATA FELIZ E ESPERTO.— Em Coits- 

tança (Argélia) foi encontrado um 
tumulo antigo, que parecia-8€T de 
um cidadão romano, com a se- 
guinte inscripção : 

«Eu, Procuio, cujos restos aqui 
repousão, di^o a yerdade n'e8tes 
versos. Passei Tida folgada, exer- 
cendo a minha profissão de ouri- 
yes da prata na mipha casa em 
Certe. Fui sempre franco e probo. 
De nada me queixo (Depois de 
morto não admira) y pois lui sem- 
pre alegre, e vivi sempre feliz até 
á morte da minha casta Valeria. 
Celebrei com honra e ctím prospe- 
ridade cem anniversarios do meu 
nascimento, até que chegou o meu 
dia final. As linhas que estais' len- 
do, compuVas eu em quanto vivo 
{Ah 1; ..] concedendo-m'o assim a 
deusa Fortuna, que nunca me 
abandonou ! » 

O tal Sr. Procilio tinha tanto de 
tolo como de bom homem. 

E por i96o iria sem duvida para onde aponta a gravura. 

ANTHROPOPHAGOS.-- A mais antiga menção que se 
«•Bcontra de comedores de gente, é na Odyssea de Ho- 
mero {A.bSp. 144 e 293). . 

Muitos povos silvestres da America, e alguns da Afri- 
ca, er&o anthropophagos. Os anthropophagos de Sumorn 
e da ilha de Sonda, escreve um autnor, comem os eon- 
demnados á morte, os adúlteros, os captivos de guer- 
ra, etc. Que lhes fac>a muito bom proveito. 

157 




10 DE MARÇO. 

O JàGA de GASSANGE. — N&o ha nin(;uem que te- 
nha conhecimento das cousas da nossa Africa Occiden- 
tal, que n&o ouvisse fallar enfCctssange, e no seu Jaga^ 
e na«ua apregoada feira. Hoje as cousas tèem mudado 
bastante ; mas o que vamos dizer de Cassange refere-se 
ao tempo anterior aos últimos acontecimentos que col- 
loearam a€[ueUas partes debaixo da nossa immedia^ 
ta influencia, e alteraram os costumes immemoriaes 
do paiz no tocante aos ritos com que outr'ora era inau» 
gurado o seu iaga. £ um systema geral, creio eu, em 
toda a Africa, vOu pelo menos nas diversas nações ou 
tribus que lalláo os vários dialectos da lingua bundc^ 
, inau^rarem-se asprincipaes autoridades por meio de 
auspícios ou de ritos, chamados ritos do estado, a maior 
parte barbarissimos. E quanto mais bárbaro .e sangui- 
nolento é o rito, tanto mais indelevelmente impresso 
fica na autoridade o caracter. Parece que Cassange le- 
vava n'esse ponto a todas as naoôes bundas aprimazisu 
e talvez por isso principalmente fosse tão nomeado o 
seu Joga, O Jaga, ou régulo de Cassange, era pois inau- 
gurado com o seguinte rito : 

Apanhava-se um homem de uma das nações visinhas 
mais fracas, que era a victima destinada ao sacrifício. 
Sobre o cadáver d'este homem devia o novo Jaga atra- 
vessar certo riacho, com o que ficava inaugurado, e cha- 
mava-se alsto : atravessar o rio em barca humana. Mas 
este acto não passaria d'uma barbaridade estúpida, e 
não mereceria a honra de ser aqui commemorado, se 
n'e]le se não desse uma circumstancia notável, que dá 
bem a conhecer o que é a fraca humanidade, mo ha 
preto nenhum n'aquellas partes d' Africa que não saiba 
d' este costume e das suas mais minuciosas circumstan- 
cias ;'que o não tenha ouvido contar a seus pais, e o 
não tenha contado a seus filhos. E todavia est/s ho- 
mem assim agarrado, a destinado irrevogaveúnonta 

138 



a ser a victima expiatória n'aque|ila solemnidade in- 
dispensaTel, hade por força estar contente, e hade ir 
solto, e por seu pé e alegre, para o sacrificio que nfio 
ignora, e sem isso o aeto não tem logar, e longe de 
ser proveitoso seria uma grande desgraça para o esta- 
do. O infeliz, que talvez andou fugido com medo, 6 
Sjgarrado, e sabe muito bem qual a sorte que se lhe des- 
tina. Conbjece o que tem acontecido com todos os outros 
qne prenderam, e todavia cabe no mesmo engano, por* 
que por falta de victima nunca deixou de haver Jaga, O 
homem, como disse, é agarrado, e sabenda qual asoiH 
te que inevitavelmente o espera, certo é que o seu de- 
sejo é evital-^a ; mas toda a nação de Cassange se con&-< 
^m paira enganaVo, e ta^ cousas Ibe dizem todos, th^ 
zendo-lbe acreditar que é elle que vai a ser /oga, 
que começa por duvidar, e depois acredita de maneira, 

Sie o deixâo em liberdade; e quando o vêem no auge da 
egria, então lhe mettem a espada e o matão. A ques- 
tão é sempre de tempo, e ainda não houve um só preto 
que deixasse de ser illudido, victima da sua fraqueza 
e da ambição. O cadáver d'este homem servia pois, 
como fica dicto, de barca de passagem ao Jaga^ que 
assim se chama o Soba principal ou Rei de Cassange; e 
a sua carne era a mais estimada iguana do bárbaro fes- 
tim da acclamação, mandando-se até por honra uma per- 
na ao nosso director da feira, como ouvimos dizer em 
Loanda haverá onze ou doze annos. Ultimamente hou- 
ve uma questão de successão entre os Jaga% e lá foi o 
nosso amigo, o major Sales Ferreira, em auxilio d*um 
dosj[>retendentes que hoje governa em Cassange, e se 
obrigou a abolir a barbara usança do saoriíicio humano. 
Este faeto da abolição de tão infame rito, que julga- 
mos practicado sob o governo do Conselheiro Adrião 
Accacio, honra sobre maneira a nação portu^ueza, e 
aquelles qne d praticaram» ou sob cujos auspícios Uâ 
practicado. 

A. G. 

139 



11 DE MARÇO. 

O RIO GAJEIRI. — Assim se exprimio a seu respeito 
D. Fr. Caetano Brand&o : — « E' bastante comprii^o e 
tem nas duas margens frondosos arvoredos, que deiei- 
t&o a vista : confesso que muitas vezes, alargando os 
olhos para aquelles apraziveis sitios,^ bem desejei a pu- 
reza e innocencia das almaS justas para poder á eu it 
imitae&o subir por estes degraus ás maiores alturas do 
céu, e contemplar a amenidade d*aquelles j«rdins, for- 
mados pela mâo do Eterno para recreio dos escolhidos. 
Ah ! que se a terra, logar de desterro e captiveiro, as- 
sim está semeada de tantas bellezas, que será o céu I O 
céu, onde Deus ostenta aproOxsáo das suas maravilhas 
para coroar a felicidade dos qu« o amáo I ...» 



n DESMARCO. 

CHARADAS. 

Náo a auero, porque vejo 
Que é deitar dinheiro ao vento ; 
Não se embaracem comigo. 
Nem pom o meu padecimento — 2- 

Conservo acrui bem gravados. 
Com profunda gratidáo. 
As mil provas que me deste 
De verdadeira affeicâo — 2 

Acho que tenho rasao, 
^las justiça nát) o sei : 
Não andarem sempre assim 
A rasâo, justiça e lei!... 

140 



sida chamada do Senhor da Abeíheiri 
dag frégueiUs circumvisinhas, como 8. Fins de Ferrei- 
ra. Carvalhoza, Figueira, etc, quando lhes adoece um 
potco, proraettera der umas vollas â roda dá megma er- 



mida se o animal BRrar ; e quando assim acontece, clia- 
mio no primeiro domingo as raparigas da aldeia, e ahi 
Tio todos em romaria, mais o contalescente, que acom- 
panha, grunhindo, as devotas cantigas. Depois de da- 
das as voltas promettidas, come-se uma boa merenda, 
de antemio preparada, e torna cada um para sua caas 
alegre e satisfeito. 

D. Alcina Amélia deFreilai Cotia d'Araujo Qmiros. 
[Santo ThyrsoJ 



14 DE MARÇOi 

COBRAS DO INDOSTÃO. —Poucos são os pelotiquei- 
ros e charlatães no Indostão, particularmente nas duas 
costas de Malabar e Goromandel, que não possuão a fa- 
culdade de exercer sobre as cobras um poder extraor- 
dinário, fazendo-as cegamente obedecer a quanto lhes 
ordenão. Obrigáo-nas a dançar dentro de um pequeno 
circulo, a mover a cabeça a compasso ao som do pífa- 
ro, etc. etc. Em Ghandemagor mostrava, ainda não ha 
muito, um Índio quatro cobras de seis palmos de com- 
prido, as quaes, depois de um preludio de musica, sa- 
hião de dentro de canastras, e se movião com o corpo 
meio levantado, em ar de dança, correndo depois por 
tcrda acasa, chegando-se ao dono, e enroscando-se n*elle. 

São estes reptis ensinados com muita paciência por 
Índios que assim ganhão a sua vida. Mal descobrem to- 
ca em que haja coora, princípião a cavar até aue ap- 
pareça a extremidade, e agarrando-lhe com toda a ga- 
na, íincando-lhe até as unhas para que se não esgueire, 
tirão-na para fora, e, com a mão direita forcejão por lhe 
apertar bem a cabeça; com pinças lhe arrancão então 
as duas presas venenosas que teem, e fica o animal re- 
duzido ao mais inoífensivo estado, pois os outros dentes ' 
são curtos e desprovidos de peçonha. D'ahi em diaAte 
levão-nas ãs bolis, e procurão affeiçoal^as a si» dando- 
lhes de comer á mão. 

É perigosa a caça das cobras chamadas de capella. 

Sois se a cabeça escapa da mão, é inevitável tf morde- 
ura, e mordedura de amigo : por isso com um (erro 
em brasa se deve cauterisar logo a ferida, impedindo 
assim o seu funesto efleito. 

15 DE MARÇO. 

ADAGIO ÁRABE. — Se fizerdes de panai de palha, 
até os pintos vos d«rão bicadas. 

142 






16 DE MAIZÇO. 

ALEXANDRE DUMAS, VICTOR HUGO, LORD PAL- 
MERSTON. — Quem nâo conhece tâo pomposos nomes, 
aquelles dons como os das maiores illustrações littera* 
rias do século que atravessamos, o ultimo como o de 
um dos maiores nomens de estado da Inglaterra ? 

Em casa do Duque de Gazes se achav&o todos três, 
nfto ha muitos annos, em uma noute de grande reunião. 
Esquecera o Duque apresentar os dous primeiros aLord 
Palmerston, esem essa formalidade nâo permittia aeti- 
auetaingleza que este lhes dirigisse a palavra. Quasi no 
nm da noute eonversayào amigavelmente entre si, com 
as máos entrelaçadas, e repimpados em bellas e com- 
modas cadeiras de braços, Alexandre Dumas e Victor 
Hugo, e diz-lhes o filho do Duque de Gazes : « Lord Pal- 
merston pede-vos o obsequio de deixardes entre vós es- 
paço para uma cadeira. » — Affastaram-se um pouco os 
dous amigos e entre elles foi posta apedida cadeira. — 
Conduzio então Lord P^almerston pelo braço a sua mulher 
e sentando-a entre os dous luminosos astros da littera- 
tura moderna, assim lhe disse : « — MiladVy olhai para 
aquelle relógio que está fronteiro i> — Milady olhou — 
— «(?«e horas são?-» — «Dez e trinta e cinco*---* Pot* 
muito bem ; não vOs esqueçais nunca de que hoje, ás dez 
horas e trinta e cineo minutos^ vos achastes sentada cn- 
We Victor Hugo e Alexandre Dumas, pois é honra que 
ialvex não tomeis a ter em vossa vida. » — E dito isto, 
reconduzia sua esposa para o bulicio dos salões, lamen- 
tando todos que uma severa etiqueta lhes n&o permit- 
ti86e o âirigtrem-se mutuamente a palavra. 

EXPORTAÇÃO DA LARANJA EM S. MIGUEL. — Re-r 
gula annualmente |)or 105,600 caixas grandes e 12,81^ 
pequenas, que particularmente se exportão para Lon- 
dres, Liverpoel, Bristol, Hull, Jersey e Hamburgo, em 
i90 a 200 navios, e rendem uns ^80 contos de r4is. 

143 



n DE MABCO- 

COLUBINAVEN,DOME. — Reprodai 

tlgo que sobra esle objecto public&mos no Álmanach 
' ■ e coinpleUl'o-nemos com a eslampa d'er ~ '" 



luDfo monumento. 



Orna uma das 

mais bellas pra- 
ças de Paris, e ■ 

ilimeneúea da 
ceLeberrima co- 
lilmna de Tra- 
jano, em Roma. 
Fot construída 
com o bronze de 
IWO çeças d'ar' 
tilheria tomada* 
por Napoleáo 
aos austriacoEi 
Por fora, è em 
turma de espi- 
ral, tem grava- 
das as Bu as prÍD- 



al5de 
agosto de 1806, 
<>. foi inaugurado a 15 de auosto de ISIO. Tinha d'anle« 
no dfflo a estatua de Napotefio, derrubada em t81& pa- 
ios alliados, a qual foi substituída por outra em 29 de 
julho de 1S40, pelos (rancezes, idolatras da sua mt^mo- 
ria. Na estatua primitiva eslava NapoleSo em trajo de 
Imperador romano : na aciuni esii de sobre cssiKa e 
chapéu, e com um óculo na giAo, que era, por aasim di- 
zer, a arma do General em chefe. 

I4i 



iS DE MARÇO. 

S. JOSÉ APEDREJADO. ^ Na Povoa de Varzim, co- 
marca de ViUa do Conde, quando o mar se encapella 
de repente e pilha em si 08 pescadored, as mulheres 
d'e6te8 Ylio, in-continente, á eapella de S. José, e come- 
çâo a atirar pedras lk porta, dizendo em altas vozes : — 
Acorda S. José I — Se o mar não amaina, então vâo ter 
com o capelláOi e o obrig&o a vir com o santo para a 
praia, e ahi principiáo a dar com areia no pobre do 
santo, repetindo — Acorda S, José í — A's vezes pa- 
rece que o santo, para se ver livre de taes endiabra- 
das, cede aos rogos, e o mar acalma ; porém outras ve- 
zes, ou para melhor dizer, quasi sempre, faz ouvidos 
de mercador. 

Proiniátncias (Santo Thyrso). 

19 DE MARÇO. 



COMO SE MONDÃO PLANTAÇÕES DE LLMIÒ.- De^ 
ve-sQ ao acaso a descoberta, em França, de q^ue o meio 

mais simples, mais rápido, 
e mais económico, de mon- 
dar as plantações de linho, 
é fazendo entrar por ellas 
dentro um ranxo de carnei- 
ros ; comem elles as hervas 
todas envolvidas com o li^ 
nho, deixando este, que 
apesar de bem calcado so 
torna a levantar. 
Aos meus amigos recom- 
mendo que antes de fazerem a experiência em planta- 
ções suas, esperem que alguém da nossa terra lhes diga 
que tal se deu com a receita. Desconfio um pouco d*eUa, 
145 6 




20 J>K MARÇO. 

NACIONALIDADE.— A.presentando-se ao grande Fre- 
derico da Prússia um seu yalido, yindo d'uma embai-* 
xada de Londres, o Monarcha apenas lhe lançou a vista 
o mandou retirar, voltando-lhe as costas, d valido jul- 
^u*se perdido e victima de algum& intriga. Um minis- 
tro da coroa o visitou n^essa mesma noite, e lhe disse 
se apresentasse no outro dia ao Soberano, porém vesti- 
do com panno do paiz ; assim o fez o diplomata, e o 
grande Rei, logo que olhou para elle, lhe disse: «Hon* 
tem via diante de mim um inglez, hoje só vejo um pmg- 
«iano.» 

Outro exemplo de casa : «El^-reiD. José I dava um 
dia beiiamâo, todo vestido de saragoça; ajoelhando pe- 
rante eile o Marquez de Pombal : « Senhor, lhe disse, é 
à primeira vez que V. M. mostra ser Rei de Portugal. » 

21 DE MARÇO. 

FESTA DO CUCO.— Em Villa Nova de Famalicão a 
melhor festa para os habitantes da villa é a do cuco. E' 
sempre no dia de S. Rento (21 de março). Vai o cuco*, 
mór mettido em uma liteira puxada por dois burros 
lazarentos ; depois do cuco-mór segue-se o trem, 
que consiste emtaxos, bacias, caldeiras, etc, tudo mui- 
to velho, carregado em jumentos; eatraz de tudo segue- 
-^e o brazáo d' armas dos irmãos da confraria, que é ou- 
tro jumento carregado de chifres de boi. Em todos os 
.-largos pára esta linda comitiva, e o cuco-mór envia 
então varias aves pequenas, como pardaes, chascos, 
etc, dizendo com grande alegria dos espectadores : 
« Ahi vai um cuco para a fréguezia de tal, outro para 
a fréçiezia de tal » — e assim correm toda a villa. 

E ainda dizem que* não estamos civilisadosl... 

Providencias (Santo ThyrsoJ. 

146 



22 DE MARÇO. 

ABENÇOAR A MEZA.— O costume de elevar o pensa^ 
mento ao céu, e abençoar a meza antes de começar a eo« 
mer, bem como de dar graças depois de haver comido» 
vai desapparecendo com a polidez da civilisaçâo maté- 
ria), que á proporç&o que se augmenta yem alardeando 
cada yez mais os seus aesdens para tujlo quanto é espi- 
ritualismo. Nas famílias burguesas porém, e mais ainda 
pelas pousadas rústicas, ainda a piedosa tradição s& 
mantém, não menos que o estylo, de não recusar jamais 
esmola de alimento e dinheiro, e quando menos de ali- 
mento, ao mendigo que bate á porta em quanto se está 
á refeição. 

£m muitos conventos não só se começava e terminava 

Í)or oração o refeitório, senão que durante elle se fazião 
eituras espirituaes, ao mesmo tempo que á portaria se 
repartia o caldo aos necessitados. Estas practicas dos 
christãos, imitadas mais ou menos d'outras religiões, já 
trazem a sua origem dos romanos p«igãos: o dono da 
. jcàsn, antes que a família e os convidados se reclinassem 
nas camilhas, em roda da meza invocava 09 deuses, fa- 
zia as libações, derramando vinho em honra do génio a 
do6 lares, ê o primeiro prato era commummeate para es^ 
tas divindades domesticas, protectoras esp^cíaes da co~ 
sinha e da lareira. 

Nada ha com eSeito mais próprio e natural que elevar 
o animo agradecido ás potencias por quem nos suppo- 
mos protegidos, na própria hora em que nos sentimos 
i'ercados de prazeres, fartura e^convivencia. Entra aqui 
o cântico para o assent<ar á meza, de meu irmão, o 
Sr. A. F. de Castilho : 

Por terras, por ares, por bosques, por ondas> 
Manná do céu baixa constante e diverso, 
£ tu. Deus, presides ás mezas redondas. 
Que a todos teus filhos inilora o universo ! 

147 



£ um Gantieo inflado, dos sóIos, dos ares. 
Das selvas, dos mares, de noute, de dia. 
Mil graças te envia, benigno poder, 
Que á immensa mautença juntaste o prazer. 

Deus pai. Rei amigo, teus próridos mimos 
Nos enchem, nos cerc&o, de vida, de encantx» r 
Co'as lidas medramos ! nos sonhos florimos I 
E ao ter a abundafieia rompemos em cantos t 

Os cantos acolh«, bondade inneffffvel. 
Que esta hdra amoravel, do» anjos bemdita,. 
Nosvpede, nos dita,, nos faz eatoar, 
Com pia alegria da meza no altar. 



23 D£ MARCO. 



COROA BEM GANIDA.— De Ariopharnes, Rei dos thra- 
cios, refere Díodoro de Sicília um alvitre que bem lem- 
bra a famosa sentença de Salomão. Contendiâo entre si 
três filhos de certo Rei sobre a pretenção do reino, e es- 
colheram para juiz a Ariophames ; mandou est« desen- 
terrar o cadáver do finado Soberano, e suspendeFo em 
uma arvore, declarando aos três pretendentes que o 
que traspassasse com uma setta o coração de seu pai, 
esse lhe succederia no reino, e do cadáver do defuncto 
faria escada para o throno. Convieram todos na pro- 
posta. Atira o primeiro e acerta-lhe na garganta ; se~ 
gue-se o segundo e fere~o no peito, ficando todavia o 
coraç&o illeso; ao terceiro porém subjuga-o o amor 
filial assim que pega no arco, e cede da pretenç&o para 
n&o vjolar o principal affecto da natureza. Declarou en- 
tfto Ariophames ser este o ynico e mais benemérito 
successor do reino, e por sua própria mão lhe poz na 
fronte a régia coroa. 

148 



» DE HIRÇO. 

BATALHA ENTRE CORVOS E FALCÕES. — De uni 

livro impressa em 1739 eitrahiinos o seguinte : Memo- 
MTel é aquelle caso da contenda entre corvos e falcúes 

Íue referem, Eneas Silvio, Diogo Fernandes na Arte d€ 
oftt, Jacob Micilio em um f«moao epigranuna, e Diogo 
deFunes na Jlútorta de anima». Na cidade deLiégv, 
que flca na Gallia Bélgica, tinha um falcão seu ninho eni 
uma rocha, e estando deitado sobre os ovos, veio alti 
grande mullidão de.corvoa, deram sobreofalcSo, dei- 
taram-no fora do ninho, e lhe comeram os ovos. Ao ou- 
tro dia se ajuntou grandíssimo exercito de falcCes e cor- 
TOa, pondo-se em tem de pelej.B uns com os aulros, quc- 
reado os queiíosos tomar 
satiatajão di injuria que Da 
pessoa de um so receberain 
todos. Os corvos se pozeram 
da parte do norte, e os fal- 
cões da pute do sul, a mo- 
do de esquadrão formado, 
como se foram capazes da 
entendimento. Com eivaram 
sua batalha, tão cheu de 
braveza, encarniçando-se & 
bruta turba' na 'vingança, 
que ateada da furor, uus 
aos outros com bicos e gar- 
ras se penetravSo cruel- 
mente. Erão para ver as nu- 
vens de pennas, e a chui n 
de sangue que em Gocoi- 
ris em terra, de que ficava- vermelha e ensopada ; outra-v 
reiea, cahindo entranhas palpitando aqui e alli, punha 
iBrror aos ruslicos que o estavâo vendo, jí quasi atur- 
didos da grande vozeria e grulha com que a modo do 
trombelas aeoutav&o aoa ares oi balothõss volantes. Eci 
1« 



fim prevaleceram os falcões, e aguçand(Klhes a lembran- 
ça da offensa novo furor e cólera, remetteram contra os 
corvos, fazendo n'elles tal destroço e estrago, que fica- 
ram aquelles campos cheios de semente trágica, para 
produzirem a memoria de uma justa vingança urdida 
pela natureza no estimulo dos brutos. 

N. 6. Já a pag. 372 do Álmanach de 1853 dêmos a gra- 
Tura d'um corvo, e por isso nos limitamos hoje a dar 
acima a de um falcão. 

25 DE MARÇO. 

O AUGE DA MISÉRIA. — Quem duvidar do que pas- 
so a dizer, e o julgue extrahido do Almocreve das Petas, 
abra o Século, jornal francez (e dos mais sérios), de 20 
de Janeiro de 1855, e na pagina 2.*, columna 3.**, lá o 
achará, extrahido de um periódico ohinez. 

É tâo grande a miséria em Pekim, que a todos os can- 
tos da cidade se encontrão de noute infelizes encostiados 
ás portas e dormindo ahi por falta de alojamento. Hou-» 
ve ultimamente um especulador que deliSerou recolher 
a maior parte d'aquella malta, e o caso é que o conse-^ 

Saio, pois não exigia senão cinco réis pelo alojamento 
'uma noute debaixo de coberta enxuta, e qual é o men^ 
digo que no fim d'um dia não haja tirado muito mais, 
do seu imposto sobre a commiseração publica? Tem o 
homem uma sala immensa, cheia até certa altura de 
pennas de gallinha ; n'ellas se enterrão, sem distincção 
de sexo nem de idade, centenares de pessoas, e tanto 

Í)or decência como para que todos fiquem mais agaza-^ 
hados, quando tudo se acha accommodado, deixa-se 
cahir do tecto um cobertor do tamanho da sala, que alli 
está suspenso por meio de roldanas, cobertot cheio 
de buracos de aous em dous palmos, pelos quaes pode 
cada um passar a cabeça [em ar de cágado), e vir res-^ 
pirar cá fora. 
- Os leitores que imaginem o moralisem I.... 

ISO 



26 DE MARÇO. 

TUMULO OS um ROLA. 

CiNÇÃO Á PRIMAVERA. 



Tu volves, oh 1 primavera, jE era gentil a preceito I 
Com teus dons encantadores Tinha os olhos de rubim. 



>i.taviada de flores, 
Myrtos, pâmpanos e hera, 
Toda galas, riso, amores. 

• 

Em teu regaço, hymeneu. 
Fervoroso, doidej ante. 
Rósea chamma crepitante 
Sacode do facho seu, 
£ surri de triumphante. 

. Saúda-te o rouxinol 
Com seu cantar namorado.; 
Nas florestas bando alado, 
Ào. assomar do teu sol, 
Trina cântico alternado. 

Saúdam-te meus pombinhos 
Com requebros maviosos, 
Celebrando, jubilosos^, 
Nos castos mórbidos niuhos 
Seus enlaces amorosos. 

Gelado sopro da morte 
Mais um hymno te roubou ; 
Á minha rola prostrou, 
Qual avena, que euro forte 
Ao pastor arrebatou. 

151 



Plumagem como setim. 
Talhe esbelto, largo peito, 
Os pés tintos de carmim. 

Velei por noites de inverno 
N'uma quadra amargurada; 
Ao romper da madrugada, 
Sempre o seu gemido terno 
Me trazia hora doirada. 

Das pombas aospequeninos, 
Se a deixaváo libertar-se, 
Folgava de associar-se ; 
De seus contrários ladinos 
Prestes sabia, esquivar-se. 

Mas carnívoro caseiro, 
Que esquecida porta entrou. 
Em má nora a deparou ; 
No alcance lhe foi certeiro, 
A innòcentinha empolgou 1 

Quem acode á pobresinha I 
Tenro menino bradava ; 
Quando eu agora {>as5ava, 
jFeroz gato de Já vinha, 
lE entre os dentes a levaval 



Beijei-lhe o coUo ferido ; 
Ámortalhei-a em cabaia , 
N'uma caixinha de faia 
Puz o despojo querido. 
Coberto de flor de olaya. 

Entreaosqnemaraextremosa 
Extremosa a sepultei ; 
Sobre o asvlo que lhe det 
Com os fílnos puz a esposa 



O adejo que alto batia 
D'e8ta Tez n&o a salvou I 
Mão amiga, que a tomou 
Entre as vascas da agonia, 
No meu leito a reclinou. 

Quando a vi cadáver frio. 

Senti súbita afElicçâo ! 

Aecolheu-se ao coraçfto 

O pranto que em longo fio 

Devera correr ent&o. iD*umpombinho'que eu criei. 

Maria José da Silva Conuto, 
27 DE MARÇO. 

ÁRVORE D'OIRO. —Assim se nomeia um palaeio ma- 
gnifico de Veneza. Eis o porque : 

Umi do9 seus antigos donos, jogador furioso, perdeu 
aguella casa n*uma carta, exceptuando d'ella e dos jar- 
dins unicamente uma arvore. Desesperado, jogou tam- 
bém a arvore ; revira-se a fortuna, ganha-a, e toma a 
apanhar o jardim, o edificio, e tudo o mais que n*Qm 
sopro se lhe tinha ido. ^ 

Os viciosos a quem ficar lembrada a arvore d*oiro, 
será bom que se não esqueç&o também de mil outros jo- 
gadores, que de riquíssimos cahiram n^ miséria, nos 
crimes, nas galés, no patíbulo, ou no suicidio. 

(A. õ3, p. 252.) 

ELOGIO D'UM BAIXO PROFUNDÍSSIMO. — Ouvindo 
um castelhano, no Theatro de S. Carlos de Lisboa, pela 
primeira vez, ao celeberrimo baixo Maggiorotti n&o po- 
dendo ter mão no seu enthusiasmo, exclamou, que o ou* 
vio toda a platéa : « Caramba! tien$ dos oetavas abajo 
dei puerco, » 

152 



.r^" 



.' 93 DE UARÇO. 

CmLlSAÇÃO DAS ILHAS SANDWICH. — Nas ilhas 

Sandwich .OQile ha Sãaiinoe apenas, nem o Itei,nein um só 
titular, possuiSo livro*, 
nem sequer sabiãq ler, 
se aboliram depoÍB os 
£ BBcnficioa humauoi, se 
9 destmio a idolatria, se 
p imprimem hoje dois 
' jomaes na lingua da 
— 'a e outros dois em 
„„-ei, existe liberda- 
' de de cultos, umparla- 
t Biento, e se tomou o 
commercio activo e im- 
portanlissimo. O ulti- 
mo Rei Hamehamelia 
[ou «na cousa assim) tiaba uma eOrte A eutopéa. 

M DE KARÇO. 



1*0*358), descendente dos Soberanos d'Athenas, -.- 
idolBlrado pelo povo, e ceaamente obedecido sempre, 
apesar da opposiçâo de $o1on. Assistindo sua filha um 
dia a uma ceremonia religiosa, um manceba que apaíin- 
nadamente á amava, em um excesso de amoroso e fre^ 
nelico delirio, a. abraçou, e até d'ahi a dias tentou rap- 
tara. Offendida com tanta audácia a família da joven, 
obstina d amen te exigia de Fisisirato que se viagassa 
d'aquelle homem. * E porqve ihí bei de eu querer mal ? 
respondeu ; le aborrecermos os que noi amão, ou a qual- 
quer doinoMOi, quefaremotaos que not aborrecim T r 
-r- E longe de punil'o. era o mancebo d'ahi a poucos 
dias esposo da sua filha. 
153 



30 DE MARÇO. 

ATMOSPHERA. —Provém esta palavra d'o«tras doas 
gregas que signíficão : vapor da esphera, É uma ca- 
mada immensa d'um gaz conhecido pelo nome de ar 
atmospherico (camada que tem d*altura,umas quinze 
léguas) e sem o qual nenhum animal nem planta po- 
derião existir (A 51, 10 de fevereiro, iS de mar^o, 26 
de abril, 16 de julho. A. 52, p. 86. A. 53, p. 354). Esta 
camada, aue circumtia o nosso globo por todos os lados, 
é arrastaaia com elle pelo espaço ; segue-o em todas as 
suas revoluções ; penetra em todas as suas sinuosida- 
des ; encontra-se nas maiores profundidades e eleva- 
ções, sempre a mesma, excepto na densidade. Diíficil- 
mente se laz idéa da enorme pressão atmospherica so- 
hre o nosso corpo, pressão cujo eff eito seria fatal, se 
forças oppostas a não contrabalançassem. Um homem de 
estatura jnédia supporta uma pressão de trinta e duas 
mil e tantas libras. Karefaz-se o ar atmospherico á pro- 
porção que se sobe. Se se transporta um barómetro, 
instrumento no qual uma columna de mercúrio de 78 
centímetros faz equilibrip com a pressão atmospherica 
ordinária, se se transporta, digo, como fez Gay Lussac 
n'uma ascensão aerostatica', a uma altura de 7,000 me- 
tros,, ou 21, 000 pés, desce a 33 centimetros. Passão no- 
tável alteração, debaixo de tão considerável pressão, 
os phenomenos da vida : respira-se mal ; desfallece- 
se ; ha vontade de lançar ; o sangue, que não é manti- 
do nos vasos pela pressão hal3itual, diverge para a 
superfície ; incnão as veias ;' ha hemorrhagias nasaes ; 
e chega a rebentar o sangue pelos poros da pelle. — Di- 
minue o peso da atmosphera na proporção ia sua altu- 
ra. A 70,000 metros ainda existe ar, e bastante denso 
para reflectir a luz solar e produzir o crepúsculo. Na 
altura de 7,000 metros, a que chegou Gay-Lussac, pa- 
rece o céu completamente negro ; sobre esse fundo des- 
taGáo muito melhor estrellas e planetas* 

164 



31 DE MÁKÇO. 

ESCRIPTA ENIGMÁTICA.— Com o seguinte alpbabe- 
to se pode escrever Quanto se queira : 



A B 



G H 



MN 



C D 



I J 



E F 



K L 



0P| QR 




WX 



A explicação e fácil. 

A e B sâo expressos por um angulo recto virado para 
cima e para a esquerda. - 

O B distingue-se do A por ter em cima um ponto. 
C e D por duas Ijnhas verticaes, encontradas em baixo 

Eor uma horisontal. O D distingue-se do C por ter tam- 
em um ponto por cima. 

E e F por um angulo recto virado para cima e para 
a direita. O F distingue-se do £ pelo mesmo modo. £ 
assim por-diante. 
Como se escreverá a palavra Emília ? Assim: 
Um angulo recto virado para cima e para a direita — 
Um angulo recto virado para baixo e para a esquerda — 
um quadrado — dois ângulos rectos virados para a di- 
reita e com um ponto dentro — outro quadrado — e um 
angulo recto virado para cima e para a esquerda. 

155 



SOBTE GRANDE DA MISERICÓRDIA. — O Sr. Sene- 
dicto é um grandíssimo palerma alli das immediaçúes 
de Vheu, que acredita em sonhos, particularmente nos 
de innocentes pastoras. Escreveu elle aqui para Lisbta 
a seguiale carta : 

Amigo e Sr. Fortunato. 

Sounou já quatro T«- 

torada minha terra qut 
o numero 3,333 had« 
canliar a premio gran- 
de da próxima loteria, 
E' um sonho, bem sei, 
mas asaim mesmo pal- 

Sita-me que é verda- 
ade. Veja pois m 
m'o acha e mande- 
m'o logo. 

Benbdicm PU. 



sonhos, irão bem. Pohre Benedícto I Benediclum lil no- 
wten domitii, que te fei tSo parvo ! . . . 

O amige respondeu-!he a^sim '. 
Amigo e Sr. Benedicto! 

Vmc.*. por mais que me digSo, é tolo. Pois nSo *fl 
que BEcreveudo-me assim, se eu apanhasse o lai ntH 
mero. o guardaria para mim, ou o negociaria cora Vme.*í 
Em todo o caso TOU-me pBr em cata d'elle, e se o de- 
MDcantar, e m'o cederem, como trago minhas cAcegaa 
de easimeuto, dau-lh'o cm Iraea da innocente pastora, 
iiue tratari de me mandar logo ; mas cuidado, o&o me 
impinja galo por labre. 



2 DE ABRIL. 

BWISIBILIDADE DA MATEiUA.^Um ffrSo d^areia 
podí dividir-se em mais de mil cartes. — IJm cruzado 
nov» em oiro tem mais de três mil fracções de oiro vi-> 
aÍT€rd 'e feeíisiveis. — Com seis onças d*ouío pode-se 
dourar um fio de 68 léguas. — Queimando~se um grão de 
incenso que pese a 72.* parte d'uma oitava, n'uma ca- 
sa de 30 palmos d' altura e outros tantos de comprimen- 
to e largura, a qual contém ao todo 110:592,000 meias 
polegadas cubicas, a todas ellas chega o cheire, d^ondè 
se segue que um grão de incenso tem pelo menos aquel- 
le numero de particulas sensiveis de matéria. — Lance- 
86 um grão de carmim, ou dois, n'uma canada d'agua 
bem pura ; nése-se a agua, e pinte-se com ella uma fo- 
lha de papel branco ; tome-se a pesar a íigua, para ver 
quanta se gastou, e se saber quantas folhas poderia tin- 
gir toda a-egua que restai divida-se depois com riscos 
toda a folha de papel em quadradinhos pequenos ; cal- 
cule-se quantas particulas de pó yermelho será pre- 
dao que estejão em cada um ; multiplique-se o numero 
ae particulas vermelhas que pelo menos se deve dar em 
cada quadrado pelo numero de quadrados que tem a 
folha de papel tinta, e multiplique-se esse producto pelo 
numero de folhas de papel que se podem tingir com 
aquella agua; teremos uma somma pasmosa de muitos 
milhões de milhões de particulas, ({ue todas juntas pé- 
savâo um ou dois erãos. — Uma oitava de matéria co- 
lorante da cochonilha é suíficientepara tingir de escar- 
late um fio de retroz de 35 léguas de comprimento. 

fi.53p.216.380.; 

3 DE ABRIL. 

bLaISE PASCAL.— Na torre de S. Thiago, cm Paris, foi 
agora inaugurada a estatua de Blaise Pascal, que alli fez 
numerosas experiências sobre a gravidade dos coipos. 

1Ô7 



4 DE ABRIL. 

AS ROSAS. 



Por entre espesso rosal, 
Cupido, um dia, brincando, 
Picou-lhe o pé um espinho, 
As rosas ensanguentando. 

As flores, que brancas erâo, 
Tomaram do sangue a côr. 
Para perpétua memoria 
Do mal que sofitrera amor. 

Da tema mâi para os braços 
Voou Cupido choroso ; 
O triste caso lhe conta, 
£ acrescenta vergonhoso : 



i^Vai mostrar minhavingança 
A côr do sangue nas roas ; 
Querida mâi, encobri-a 
D^appai^encias enganosai I» 

Por Cyprina bafejada 
Entáo a flor inodora. 
Ganhou o cbeiro suave . 
Com que zephyro namora 

Assim, ó peitos amantes. 
No mal d'amor, de mistuia. 
Se apparecem amargores» 
Lá vem sempre uma doçura. 



Visconde da Pedra Branca, 
(Brasileiro] 

5 DE ABRIL. 

AS TRÊS RATAZANAS. — Havendo sonhado um 
principe allemâo com três grandes ratazanas, uma mui* 
to gorda, outra magrissima, e a terceira cega, cônsul^ 
tou uma cigana afamada, que assim lhe disse: «A ra- 
tazana gorda é o vosso primeiro ministro, a magra c o 
povo, e a cega sois vós, Senhor. » 

BIETAL DE VOZ. — Dizia uma senhora a um poeta 
por quem andava louca de amores, depois de lhe ter ou* 
vido uns lindos versos. que lhe havia inspirado : 

— Sempre tem um metal de voz, cousa mais linda !.... 

— A mmha pena é não ter senão este, lhe respondeu 
o poeta, que andava sempre a tinir. 

" L5o 



6 DE ABRIL. 

UlASLADAÇiO DE SANTO ANTÓNIO.— N*este dia, 
aniD de 1263, se trasladou a primeira vez o corpo de 
SaitQ António, empenhando-se em luzidas e majestosas 
fesa» a nobilíissima cidade de Pádua. Assistio e au- 
tocsou aquelle acto o Seraphico Doutor da Igreja Sáo 
Boaventura, Geral, que então era, da Sagrada Religião 
doi Menores. Achou-se o corpo desfeito, mas a lingua 
Iniorrupta, cuja vista renovou ntís circumstantes as la- 
grmas e as admirações, que o Santo Doutor acompa- 
nlou (tomando-a nas mãos) com aquelle decantado elo< 
gb que começa : Ó lingua benedicta. Respirava (e res- 
pta ainda hoje) o sepulchro do Santo uma fragrância 
ctlestial, mais subida que todas as da terra, e derivada 
sem duvida d^aquelles jardins, onde as flores são an- 
gélicas na suavidade e perpetuas na duração. 

[Annô Histórico) , 

7 DE ABRIL. 

CHARADA 'D'âTHEU. 

Vou fazer uma charada 
' Difficil e complicada: 

Tem, não tem^ — 1 
Corre bem— 1 
Tudo o tem, 
, E eu também. 

V A quem me adivinhar isto, 

Dou-lhe e habito de Christo. 

Máu grado o titulo, 

Se ha um atheu, 

N'e8se capitulo 

Não entro eu. A, M, C. 

159 



8 az ABlllL. 

UMAOBBA BEM ESCSIPTÁ. -- Queixara-se ao !i- 
perador da Rnssia (Alexandre i) um de eeus camarims 
por nlo lhe permittirem suas circurnstancias o fazer t- 
ce a iQdSB as despelas em que o induzia a sua alta poj- 
ção : ao dia Jmniediata manda-lhe Alaiandre umlivo 
ricamente encadernado; abre^o o fidalgo, e reconhoe 
em cada pagina uma nota do banco de S. Petersbur^. 
PassSo-ae diasB 
não pouco se al- 
mirooSoberano itt 

lavra de airrade- 
çimento lhe diri- 

que o faz deccoí- 
I fiar de nSo havo' 
I chegado . o pre- 
sente ao seu de^ 
tino, e por it- 
80 lhe pergunti : 
c Conde, não rt- 
eebeste a ob-a 
que le mandei'* 
— t Sim, Senhir. 
lhe responde o 



ainda a uÁo a(ra-. 
deci, foi poique 
"-—a depois ^a- 

, . ... n .,odia segiinte 

mandou-lhe Aleiandre ! outro volume contendo igual 
i'iilnr mi,, rim oíig (itulo : Tomo il » vltimo. 



9 DE IBBIL. 

SA?iG[JE FRIO. — iH,'uni grande incêndio que devo- 
roQ tre» piedios, e determinou a demoliçlo de mais 
quatro, no Bio de Janeiro, em 1855, prohibia-se a Io- 
das as pes- 
soas innteU 

logareg on- 
de fervia a 
lida dos soe- 
corros. Um 

Sortuguez, 
ODodeuma 
das casas íd- 
eendiadas a 
que de b al- 
va Bcudio- 
do,rorcejaTa 

ãeisoesem 

■Osenborrai 

trabalhar?. 
Ibe pergunta 

dada da po- 
licia— < Não 
senhor, mas 
^_^ ^1 tenho goslo 



arde onfeu dinheiro. » — É ura gosto mnito innoeente ; 
pasee. — Atisinhou-SB com etTeito, presenceou o esps- 
cImuIo até ao fim, e reiirou-se depois socegado para ir 
domir, dizeudo: t Sim imhor, ardeu tem f...» 



10 D£ ABRIL. 

O BUSSACO. 



Salve, floresta sagrada, 
Nobremente reclÍDada 
Pela encosta magestosa I 
Salve, bello altivo monte, 
Em cuja mystica fronte 
Pousa a nuvem vaporosa I 

Salve, montanha gigante, 
Que no oceano de diamante 
Te estás soberba mirando 1 
Salve, Bussaco formoso, 
Que por sceptro poderoso 
Estás a cruz empunhando 1 

Salve, retiro táo santo I 
Sobre o teu virente manto 
Venho prófugo acolher-me ; 
N'essas aguas saciar-me. 
Nos ares purifícar-me. 
Sob as cruzes abater-me. 

Salve, floresta ! mysterio I 
Tu has sido heremiterio 
Desde que o mundo nasceu; 
Attestào-no tuas fontes, 
Teus saudosos horisontes, 
O teu ar," teu chão, teu céu. 

Dizem-m'oosrobresgigantes Nâo te demande o ditoso, 
E os esqueletos restantes Nâo te procure o orgulhoso, 
De mil troncos seculares ;' Fuja o malvado der ti ; 
Diz-m'o o povo reverente. Venha só o malfadado, 
£ a tradi^&o, que não mente, De saudades reqneimado, 
E as ermidas e os altares. Gemer tristezas aqui. 

162 



No dorso d' Íngreme serra, 
Náo podem grandes da terra 
Seu poderio ostentar : 
Teu pedestal é marmóreo. 
De mármore o teu zimbório, 
Que Deus só pode arrancar. 

Nâo ousa tuas mil fontes. 
Tuas grutas e horisontes, 
A mão d'homem desfazer ; 
Desde oprincipio do mundo. 
Sob o teu manto profundo, 
Vem-se magoas esconder. 

Ohl desde que a terra é terra 
Náo ha século sem guerra, 
Nem existência sem dôr ; 
É condão da humanidade 
Passar do gozo á saudade, 
£ do socego ao terror. 

Tem cabido muito pranto 
Sobre o musgo sacrosanto 
Que te alcatifa esse chfto : 
Muita dôr has constelado, 
Muita lagrima enchugado, . 
Aprazível solidão ! 



Venha a donzella inno^ente, 
Divagando reverente, 
Nds seus affectos scismar ; 
Venha o vate enamorado, 
No bandolim consagrado 
Os seus amores cantar. 



A virgem abandonada^ 
A amante desconsolada. 
Venha aqui fujgir á luz ; 
O que traja negra veste. 
Uma corda de cypreste 
Venha pôr aos pés da cru^. 



Salve, floresta 1 mysterio I 
Tu has sido heremiterio 
Dês que o mundo começou : 
Oh 1 acolhe á sombra tu*a 
Uma saudade tào crua, 
Que n*este seio brotou. 

JoU Freire de Serpa Pimentel. 

11 DE ABRIL. 

O REI, O RÉU, EOS CORTEZÁOS. — Condemnara 
certo Rei á morte a um de seus súbditos. Foi debalde 
que o infeliz implorou misericórdia, a nada o Monar- 
cha se moveu. Ao perder de todo a esperança, irrita- 
se e em sua desenvolta linguagem enxe de impropérios 
o Soberano. Vio este de longe que o condemnado fal«^ 
lava, masn&o o ouvindo, perguntou o que dizia? — 
« Príncipe, lhe respondeu um cortezão, diz aquelle ho" 
mem c^ue para com aquelle que n'este mundo fôr mise- 
ricordioso, o será também o Senhor no outro, onde to- 
dos havemos de ser julgados. » Gommoveu-se o Rei e 
perdood ao réu. Logo em seguida ergueu outro corte- 
zão a voz, e sob pretexto de que se náo devia mentir 
ao chefe do estado, lhe contou a verdade, o que lhe 
rendeu este discurso do virtuoso Príncipe: «Gosto mais 
tia mentira d'aquelle que da tua verdade; a sua mentira 
deu-me ôausa a uma acção de misericórdia, e a tua ver* 
dade houvera-me í^ito praticar uma de severidade. A 
mentira d'elle salvou uma vida e a tua verdade houve- 
ra dado a morte. » 

163 



12 DE ABRIL. 

VSL cometa de 1854.— Transcrereremofi o <me àcer- 
ea de um doa dous cometas de 1854 escreveu oDirector 
do Observatório de Tolosa, eia França. 

«Quando apparece um cometa por que se não espera- 
va, é preciso, para determinar a sus^ orbita, certo nu- 
mero de observações com intervallos de tempo. Eis o 
que resulta das que se íizeráo com o ultimo* 

« Passou pelo perihelio a 24 de março, á 1 hora da 
manha. A sua distancia á terra era então de 10:560,000 
léguas, e ao sol de 31:370,000 léguas. A 17 de março eira 
de 46:930,000 léguas da terra e 13:540,000 do sol. A 31 
de março havia-se novamente affastado do sol e da ter- 
ra até as respectivas distancias de 13:500,000 léguas e 
S7:200,000 léguas. Hoje, 12 d'ábril, está a 24:560,000 lé- 
guas do sol e a 37:180,000 da terra. E' por isso que di- 
minuio de brilho e n&o é provável que se torne a Ter 
sem telescópio quando cessar o luar, pois se a£Cast<irá 
(fada vez m-als do sol e de nós; 

« A 17 de março percorreu o eomeja 1:560,000 léguas 
em 24 horas. Augmentou gradualmente a sua velocida- 
de até 24 de março^ « chegou n'esse dia a 1:770,000 lé- 
guas, diminuindo depois até hoje, 12 d'abril, que só 
Çercorre o cometa (5o, é muito hoa /) 1:160,0€ÍO léguas, 
ara se fazer idéa de semelhante velocidade, bastará 
diíer que se uma bala d*artilheria podesse caminhar 
durante 24 horas consecutivas tanto como no momento 
em que é despedida da peça, apenas andaria em todas 
ellas umas 10,000 léguas, o que equivale a dicer que a 
velocidade do ultimo «ometa ne dia 24 de março er^i 177 
vezes maior do que a de uma bala de artilhena. 

€ O núcleo- tinna um diâmetro de cerca de 3,000 lé- 
guas : era por conseguinte esse cometa, poucd mais ou 
menos, do tamanho da terra. A eauda tinha no prinoi- 
pio d'abril 1:200,000 léguas de comprido e uma largura 
- média de oem mil léguas. > 

164 



Eseasado é aerescevtar que sid innoceotissinos os 
eometas, e em nada contribuem para as eatasirophes 
qiio um loyeterado préjuizelhes attribue. 

13 DE ABRIL. 

ACADEMIA DOS ÁRCADES. ---.Foi fundada em 1756 
por António Diniz da Cruz e Silva, Manoel Nicolau Es- 
teves Negr&o, e Theotonio Gomes de Carvalho, e existio 
até 1773. Foram estes os sócios de que se compoi, e os 
seus nomes na Arcádia : 

António Diniz da Cruz e Silva» Elpino Nonacriense. 

Manoel Nicolau Esteves Negrão, Almeno Sincero. 

Theotonio Gomes de Carvalho, Tirse Minteu. 

Pedro António Corrêa Garção, Corydou Eryman- 
theu. 

Domingos dos Reis Quita, Alcino Micenio. 

Manoefde Figueiredo, Licidas Cinthio. 

José Gonçalves de Moraes, Fido Leucacio. 

José Dias* Pereira, Silvano Erycinio. 

Silvestre Gonçalves da Silva Aguiar, Siveno Cario. 

José Caetano de Mesquita, Metatesio Ciesmenio. 

Feliciano Alves da Costa, NeraorosO Cylenio. 

Francisco José Freire, Cândido Lusitano. 

Luiz Correia da Franca Amaral, Melizeu Cylenio, 

Francisco de Salles, titiro Partiniense. 

Mariano Bergonzoni Martelli, Mirtilo Felsineu. 

José Xavier de Valladares e Sousa, Sineiro Será- 
briense. 

João Xavier de Mattos, Albano Erjthreu. 

ManoeLPereira de Faria, Silvio AquaeeUno. 

Ignacio Garcez Ferreira, Gelmedo. 

Ificoláu de Sousa, Mirtilo. 

Damião José Saraiva, Dameta. 

José Rodriguf,s«de Andrade, Montano. 

Pedro Caetano, Melibeu. 

Manoel José Pereira^ Albano. 

165 



14 DE ABAlt. 

ACADEMIA FRANCEZ A. — Foi iastituida pelo Car- 
deal Richelieu em 1635, afim de aperfeiçoar a língua ; 
entra porém na sua alçada quanto se refere á gramma- 
tica, poesia e eloquência. O numero dos sócios, se- 
gundo um expresso artigo do regulamento, é de 40, o 
que faz com que tanto em França se ambicione o titulo 
ae académico, e ha contribuido para choverem os epi- 
grammas, em todos os tempos, sobre os que tamanna 
honra conseguiram. 

Piron, ao passar n'um dia de sessão defronte da Aca- 
demia, TÍrou-se para um amigo que o acompanhava, e 
disse-lhe : « lis sont lá quarante qui ont de Vesprit 
eomme quatre. > 

De todos conhecido é o epitaphio que o mesmo au- 
thor compoz para si próprio : 

Ci-gitPirony qui nefut rien, 
Pas méme académicien. 

Grande poeirada se levantou em Paris entre os nume- 
rosos candidatos que aspiravão, com La Bmyere, á 
cadeira académica, aosaber-se que era sobre este que 
fecahira a votaç&o, o que deu logar a este espirituo- 
so epigrammma : 

Quand La Bruyère se presente, 
Pourquoi faut-il crier « haro ? » 
PouY faire lenomhre de quarante, 
Ne fallait~il pas un ^éro ? 

Assim que vaga uma cadeira na Academia, ferrem 
os empenhos para os académicos, afim de darem a pre- 
ferencia a este ou áquelle candidato ; preenchido o nu- 
mero, são os primeiros a escameceros os próprios quo 

166 



ambieionavâo sentar-se. ao lado d'el]es. Deu isto logar 
a que dissesse Fonteneíle : 

Quand nous sommes quaraifitey on se moque de nous ; 
Sommes nous trente neuf^ on est d nos genoux. 

O mesmo Fonteneíle, depois de recebido na Acade- 
mia, exclamou : « Ora^ graças a Deus, que iá não ha 
senão ^pessoas no mundo com mais juUo do que eu I 

São lindos os versos de Maynard, ao ser recebido, 
em idade já bastante avançada, no grémio d'este cor- 
po litterario : 

« En cheveux hlancSy il me faut donc aller, 
Comme um enfant, tous les jours d Vécole ! 
Que je suis fou d^apprendre d hien parler, 
Lorsque la mort vient m'6ter la parolei » 

A Academia Franceza, disse um critico, é um corpo 
em que se recebem, titulares, ecclesiasticos, magit- 
trados, e até homens de letras. 

Por morte de Ducis, foi disputada a sua cadeira aca- 
démica por Michaud e Campenon. Fez este o seguinte 
epigramma ao seu competidor : 

« Au fauteuil de Ducis on a porte Michau ; 
Ma foi ! pour Vj placer il fáut un ami chaud. 

ao que respondeu Michaud : 



Au fauteuil de Ducis aspire Campenon ; 
A-t-ll assez d'esprit pour qu*on Vy campe? 



non. 



(Â, 61, 30 de De^emhro, A, 52 pag. 365, i. 53 p. 33, i. 
54 p. 177. 

167 



TRÁGICO FIM DE RICARDO II DE INGLATERRA. 

-^Declarada n' este reino agueira civil em 1399, foi 
preso na torre de Londrei (cuja eiaclissima gravura 
BpKseatainos} o soberano Ricardo 11. Q alU M oacldi» 



aue passaria cresto da vtda. Dirigindo-ae ahio Duque 
e Lencastre na véspera da abertura do parlamenlo, 
acompanhado da muitos fidalgos da primeira nobreça, 
na presenuB de lodos entregou o Monarcha o sceptro, a 
f^orila. e todos os outros distinctivos da realeza, e por 
escripto 36 declarou indigno de continuar a governar o 
reino-; no dia immediato sérvio de pretexto essa decla- 
rBjáopara que aquelle alto corpo do estado proclamasse 
unanimemente o tbrono vago, subindo a elfe o referido 
Duque de Lencastre tUsDriíius lY]. Fottuada ani 1400 



uma conspiração, abafada quasi á nascença, foi Ricar- 
do II accusado de a haver promovido ; Thomaz Pièrce, 
a(rompanhado de oito perversos mais, entra* na prisão 
do desditoso Soberano para o assassinar ; defende-de 
este porém como um leáo; arranca o machado a um dos 
assassinos ; mata com elle quatro ; e succumbe a final 
sob 08 repetidos golpes dos outros, na idade de 33 an- 

°^' 16 DE ABRIL. 

BARÓMETRO DE SANGUE SUGAS. —Ignora a maior 

5 arte das pessoas aue téem as sanguesugas a propried- 
ade de sentirem, desde os seus primeiros symptomas, 
as perturbações eléctricas e magnéticas da atmosphe- 
ra. Assim aue entrâo em lucta as electricidades ter- 
restre e celeste, perturbadas as sanguesugas em sua 
habitual somnolencia, principiáo a agitar-se, e a mo- 
Ter-se vivamente na agua. um sábio in^ez, o doutor 
MerrytceatheTy soube tirar proveito d' estas evoluções. 
Poz em circulo doze garrafas dentro d'um taboleiro, 
^em cujo centro estava uma columna e no alto d'ella 
*uma campainha. Prendeu doze martellinhos de melai 
á roda d'esta, por meio de doze correntes muito leves, 
e postas em communicaç&o, pelo outro extremo, com 
corpos mergulhados na: agua das garrafas, em que ha- 
via tambení certo numero de sanguesugas. Assim que ^ 
estas se achâo sob a influencia em que «cima falíamos, 
principiáo a mover-se vivamente, agit&o o corpo mer- 

f;ulhaao no interior de cada garrafa, e tocáo os martel- 
inhos na campainha, coro tanta mais força, e com tan- 
ta maior frequência, quanta maior ó a agitação das 
sanguesugas. 

Este barómetro de novo gosto tem uma grande van- 
tagem sobre os barómetros ordinários, e vem a ser, 
prognosticar, as tempestades, não alguns minutos an- 
tes, mas com antecipação d'hora6, o que é de grande 
interesse tanto para a navegação como para a agricul- 
tura (A. 54. 26 á^ahril. À. 54, p. 237 e 34S). 
169 



17 DE ABRIL. 

ATLAS GEOGRAPHICOPORTUGUEZ. — Na livraria 
do Convento dos Cartuxos da cidade de Évora, em Por- 
tugal, existe um magnifico Atlas Geographico, compos- 
to de um grande numero de cartas. Este Atlas é manus- 
cripto, e foi feito, segundo diz o seu titula, por Fer- 
não Vaz Dourado, cosmographo portuguez em Gôa, em 
1572. Lê-se no mesmo Atlas, que pertencera ao Arce- 
bispo d'Evora, D.Theodosio de Bragança, e que este fi- 
zera d'elle presente á dita Cartuxa. Consta que o dito 
Atlas havia pertencido ao Cardeal Rei D. Henrique. As 
cartas sâo illuminadas e todas as descobertas marcadas 
com os nomes dados pelos descobridores. Os estabele- 
cimentos portuguezes e castelhanos s&o respectiva- 
mente marcados com as bandeiras illuminadas de Por- 
tugal e de Castella. O paiz ao sul da bôcca do rio Sáo- 
Lourenço, na America Septemtrional, vem notadoTerra 
dos Corte Reass. A terra de Labrador vé-se traçada até 
perto de 70 graus, e os cabos indicados com nomes ca^s- 
telhanos e portuguezes, sendo portuguez o nome do ca^ 
bo mais septemtríonal, a saber Cabo Branco. No logar 
occupado pela costa septemtrional da Austrália, ou No- 
va-HoUanda, vê-se desenhada uma muito extensa cos- 
ta, com um grande numero de promontórios todos no- 
meados. Sobre esta costa vé-se o pavilhão de Castella, 
e abaixo d'eUa lé-se o seguinte : Esta costa foi desco- 
berta por Fem&o de Magalhães, natural portuguez, por 
ordem do Imperador Carlos, no anno de 1520. 

Visconde de Sá da Bandnra. 

18 DE ABRIL. 

ARCHIDUQUEZAS AUSTRÍACAS. — Nos últimos 138 
antios tem sido sempre do género feminino o primeiro 
fructo do consorcio dos Soberanos na casa d' Áustria. 

170 



19 DE ABRIL. 

COR. — É a impressão que faz na vista a luz reflecti- 
da pelos corpos. Julgou-se por muito tempo, e o vulgo 
ainda boje o crê, que é a côr inherente aos corpos, e 
que sâo elles por si mesmos, verdes, ^marellos, mcap- 
nados, etc. : basta uma pouca d'attençào para provar o 
contrario, e que não é a côr senào modificação da luz. 
1.^ Não ba côr sem luz ; em completa escuridão todos os 
corpos são pretos ; não é por conseguinte a eôr proprie- 
dade essencial da matéria. 2.^ O mesmo corpo visto a 
travez de vidros de cores toma-as todas, o que não bou- 
vera acontecido se tivesse uma côr privativa. 3.^ Os 
mesmos corpos, allumiados por uma luz mais ou menos 
forte, apresentâo uma côr também mais ou menos viva. 
Ha composições cbimicas que, ao arderem, fazem pare- 
cer as caras'esverdinbadas ; não está por conseguinte a 
côr nos corpos, mas sim em o nosso espirito, onde se 
despertão sensações diversas, segundo os diiferenles 
raios da luz que dão na retina dos olbos. 

Foi Newton que descobrio ser a luz composta de raios 
de diversas cores. Recebido um jorro de luz branca, tal 

Suai cbega do sol, em um pedaço de cristal com a forma 
e prisma triangular, reconheceu que depois de baver 
atravessado o prisma, se deoompunba, e formava, em 
um papel que a recebia, uma figura sobre o comprido, 
em que se distinguiào as seguintes cores: roxo, anilado, 
azul, verde, amarello, côr de laranja e incarnado : são 
estas as cores primitivas. Facilmente se concebe que se 
a luz solar, em que todas as cores se comprebendem, dá 
em um corpo qualquer, dependerá a côr aesse corpo da 
eôr dos raios que nos despedir para os olbos : um obje- 
cto preto não despede nenbum, porque os absorveu to- 
dos. Se outro corpo absorver todos o&raios menos o ama- 
rello, refiectir-nos-ba este e parecer-nos-^ha amarelloi. 
A berva e as folbas absorvem todos os raios solares á 
excepção dQ verde ; as papoulas absorvem iodos, m%siQf 
171 



o iacaraado ; a nevedespeda todoft os raios solares sem 
os decompor. 

- Se a&o passa tudo isto de thearia, é todaTía bâslante 
adimssiTel fi. &3 p. 2â^ il. 54 p. iSi;. « 

20 DE ABRIL. 

• LORD BTRON. — Morreu ha pouco a rrm&' de £ord By^ 
ran, a única pessoa de suafamilia que elle exceptuou 
•do anathema geral que haTia* lançado contra os seuft, e 
9 quem dedicara as mais temas poesias, nas quaes res- 
pira uma verdadeira amisade por esta senhora, reco- 
nhecida por uma das de mais espirito de toda a Gr& 
Bretanha. Dizifto assim, litteralmente vertidos> os últi- 
mos Tersos çue lhe fez : c A que eu amei tão l«i*- 
nomente é avnáa hoje o obiecio mais digna de affeeto 
que eu êanheço' : é a sua lemhtanea que eu procuro tms 
ruinas do passado ; falla-me n^ella a fonte do deserto ; 
falia d minha alma n'essa alma qii6 taato amo^ o €anU> 
das aves na solidào,i^ 

Isto em inclez será muito sublime, mat em português 
parece-4ne cnôcho. e banal. 

Lá se mexeram na sepultura os ossos de Lord Bwron 
com este meu sacrilégio!... Tenha paciência, que nós os 
portugueses temos umas contas que ajustar com o tal 
senhor pelo modo por que nos tratou no seu Child Ha- ' 
tolá^ chamando-nos povo d^assassinos. £ que lhe ser- 
Tio de thema para uma ta> asserção? as cruzes da Via»- 
Saara, que vio no caminho da Cartuxa^ ao pé de Cintra^ 
c que attribuio a assassínios alli commettidos por por- 
tuguezes 1 está sempre por tal modo presente esta femr < 
branca ao meu espirito quando leio lord Byron. què 
•eclipsa para mim todas as bellezas de suas composições. 

AÂora, se quer,. pod& mexer os ossos para a outra I 
banaa. Náo me importa. 

JS o que lhe ra^e para lho q&o assentar melhor a es« 
pada, ter morrido. Pare* defuneiis. Está perdoado. 

172 



51 DE ABRIt. 

IMFERIO.— Deriva-«e este nome d^umâpalaTMlsti- 
na que sigottica, domínio, e ii'uma ai^tnificaçto secua- 
dana, estado governado por um Imperador. N'este ulti- 
mo sentido, foi a dominação romana a primeira a qo» 
UL palarra Be appliosu. Foi entio dividido o poder em 
Império do oriente, ijue depois bb chamou Bano Impe- 
n», e Império d'Occidente, renorado no aiuio de Sob i 
faTor de Carlos Magno, e qne do 6ia di'nm século ta 
Iransteimou em Império germânico, «u Sanio Império. 
Ho UTe ainda outras distincçôes com o Itsiio Império. 
em relaf io ás differentes dynastias. que ohi reioaram, 
e i» dÍTiEâes que ifelU s« iiieram: houve por exemplo. 

Império latino, e Impera- 
dores de ConstanlinopU, 
de Wicéa e de Trebitoo- 
da. A palavra: Imçtria 
conrnnde-se todavia com 
a de dominação, sem at- 
tençicr ao tilitlo mouar- 
chi^o, ou outro qualquer, 
appíicado ao chefe do es- 
tado : diz-se :— o Império 
. dos persas, o Império do«____,'' 
I, árabes, e até o ImpéjTJ''^ 
" ■ ' >Ji«m« 
■^u.Ue 

. s de Inglaterra, EscociiMi íílánda, é ofllittal, c 

a contar da uniSo entre srf eááes três paiíes, ficou sw- 
do qualificado ile imperial o parlamento britaníieo ii- 
to é, pertencente aos trea reinos. Na historia. vS-se 
passar o império d'um povo para o outro^doí asavrios 
para os chaldeus, d'eBte8 para os méda^ e. persas, e 
emflm para os.macedonio; e romanos, luagioarain dc- 



Esta 1 



pois outros povos o loiperio do mundo, que nem pelos 
árabes, nem petos mongóis, nem pelos turcos, nem por 
Carlos V, nem por Napoleão, poude ser nunca reaUsa- 
do.— Formâo-se osgrandespoliticospelo estudo daare- 
votu^Óee dos Impérios. 

22 DE ABBIL. 

HOLOCH, — Divindade dos Ammonitas, de que mui- 
lis veies se faz menção oa Biblia, com reprehensio aos 
Judeus por lhe sacnticBrem. Era o Molooh uma fi^ra 
enorme de meio corpo e de brooze, cabeça de toiro e 
braços estendidos. Por dentro dizem alguns que era 
Bco, repartido o vão em sele prateleiras, com porta nas 
costas a fechar tudo. O primeiro compartimento era pa- 
ra farinha ; os cinco seguintes para diversos antmaee 
immolandos ; o ultimo para creanças destinadas, segun- 
do dizem, a igual barbaria. Por baixo do Moloch havia 
«m [orno que se accendia para o holocausto depois de 
estar a figura competentemente recheada. Para se nSo 
ouvirem os gritos, das victimas fszifio em roda d'ella os 
sacerdotes graodo estrépito de tambores e mais ins- 
trumentos. Outros dizem que as creanças erão' postas 
nOs braços do idolo, onde se torravao ; outros, que o ido- 
lo tinha os braços esconsos e os deixava resvalar para 

— t ^.. "ante lhe chammejava. 

sivel que todas estas versões fos- 
licos, soreditadasdo vulgo e tran»- 
, Nío foram os ebristios no prio- 
jdos pelos pagSos de imniolarem 
umanas? Talvez o Moloch, piola- 
) _..~. -.lomonio ferocíssimo, ntio 
oais que algum sj-mbolo on alle- 
rural, muito innocente, e talvez 
inhuma coisa tem falsificado mais 
mirados interesses das religiões 
ligas íl. 61, UdíjulhoJ. 

174 



23 DE ABRIL. 



VIRfiEM DE MEIBO SURRIR. 



Virgem de meigo surrir, 
Que vives colhendo flores, 
Parque flores vens pedir 
Ao bardo que só tem dores, 
i Virgem de meigo surrir ! ? 



Eu peço, Virgem, nâo dou, 
Que nào tenho para dar : 
Es anjo que Deus creou I. .. 
Oral...e Deus me hade curar 
Dores que o mundo causou. 



Lindos sonhos que sonhei 

. Não çosso dar, que os perdi; 

' Surrisos com que brinquei, 

Ai ! Virgem 1 mudados vi 

Em mil penas que penei. 



Virgem de meigo surrir. 
Vai colher da vida as flores I 
As que ao bardo vens pedir 
Existem nos teus primores, 
Virgem de meigo surrir. 

José Maria do Amaral. 
[Ministro do Brasil no Uruguay). 



24 DE ABBIL. 

REPENTF-DE UM ESTUDANTE.— Fazia acto de ope- 
rações cirúrgicas um estudante dos mais hábeis da es- 
cola médica do Rio de Janeiro, em 1855 : tratava-se - 
da operaç&o do trépano. Pedio-lhe o examinador o in- 
ventario dos instrumentos necessários |)ara ella. Nu*- 
merou-os correntemente o moço do primeiro até ao 
ultimo. O Doutor, que o tinha na devida conta, de cer- 
to ficara satisfeito ; insistlo todavia (mais para o ouyir 
e provar-lhe a firmeza que para outro fim) que lhe es- 

Suéceraainda outro instrumento. O examinando repro- 
uzio, com maior attenç&o ainda, o seu cathalogo, sem 
reconhecer n'«He a mínima falta. 

— Ha mais um I 

— Náo o achol... 

— Pois a navalha de barba, para rapar a cabeça 7 

— Isso sim, mas o sujeito em quem eu estou operan- 
do ê calvo. 

175 



e tugLo 
al^em me roubou 
rainha mulher. An- 
ra Maria, que por 
' Bobrenorae qSo per- 
ca. Se alguém ni'a 
Tíerrestituir.metto- 
Ihe os támpoí den* 
tro, a elle e a elU. 
E se lhe venderem 
fiado em quanto poi 
lá anda, saibfio que 
eu nio costumo pa- 



SB dos outroB. Quem 
eeria maroto que 
inventou islo dooa- 
Gsmento? No inrerno 
m'o diráo. Se o pi- 
lhar lã ao pé de 
mim , sempre lhe 
dou uma roda de 
■ pontapés!.. > 
«Os maridos, dii um sujeito que eu conheço, vio to- 
dos para o céu como martyres, ou só pofune dias para 
□ purgatório, afim de ae puriflcarem de todo pela pe- 
nitoocia.*— Diro porque o uão sente. -~ 

ORELHAS GRANDES E PEQUENAS. — Crasejando 

um palerma com certo iodividuo por ter as orelhas 
muito grandes, respopdeu-lhe este : «.Eu para hoinem 
tenhú-as grandes, a touA para amo tem-nas pequenas.» 



36 DE ABRIL. 

UMIDOSATÉAMORTE.— EnterrarMa-senSâhaniui 

tu III cidade de Douai marido e mulher, rdllecidos i 
poucas borla de inUrTallo. Tiahii o maiido os eeus 6' 
INDOS e a mulher 86. Muita vez haviSo manifestado • 
dasejo de acabarem iuntos a terreete peregrinarão : i 



=.^.,., -^vu,^^^. Morreram ambos oo mesmo dia, foram 
amortalhadoe i mesma hora, levados juntos para a 
mesma igreja, onde pelo eterno repouso de.ambos ae 
dirigiram ao eéu as mesmas supplicas, e d'alli pata o 
ceroilerio, onde foram, um apar do outTo..coDtinusr a 
dormir o somno profnndo, de que só os acordarA, no 
177 7 



dia do julgamento final, a trombeta do Seithor : Ors o 
que será grande corriola, é se lá no outro mundo om 
caminha para a direita e outro para a esquerda I ... 

27 DE ABRIL. 

PONTES PENSIS. — Estiveram em graade voga até 
nãío ha muitos annos, e nada mais elegante do que ess^ 
immenso taboleíro lançado de uma a outra margem dò' 
Tio, e suspenso por delgadissimos fio» de metal, torclí*> 
dos uns nos outros, e sahidos de dous ou mais pílare». 

N&o foi devida esta invençílo a engenheiros euro-^ 
peus. Já havia pontes doestas, e dè tempos immemo- 
riaes, no Himalaya, e foi de lá que os inglezes trouxer 
Tâo o uso d*ellas para o nosso continente. Nas pontes 
de Himalaya é substituido o fio de ferro por cordas 
feitas com uma herva dura e comprida, que esponta- 
neamente cresce nas montanhas. O taboleiro náo é, por 
' assim dizer, outra cousa mais do que uma escada de mâo 
suspensa por cordas e que o vento faz oscillar como se 
fosse uma rede. Algumas vezes são aquellas pontea 
substituídas alli por um apparelho ainda mais simples^ 
£levão-se nas margens oppostas duas espécies de tor- 
reões, de pedra ou de madeira ; sobre elles se lançn 
uma trave, de cujo meio pende uma corda a qiijB 
está preso um cesto: entra-se n*eUe, imprime-se^* 
lhe um movimento um pouco rápido, e assim se atira 
com o viajante para o lado opposto. A vinda para cá 
faz-se do mesmo modo. £' uma espécie de tâo ba la l&a. 

<• 

EMPRESTEM LÁ A AMIGOS. ^Emprestara om su^ 
geito quantia bastante alta a um amigo, aue nfio só lh'a 
náo restituia, mas cuidadosamente lhe fugia todas as 
vezes que de longe o lobrigava. Pilhando-o emíim um 
dia> assim lhe disse: «Homem, o que lhe peço é que me 
restitua, ou o dinheiro ou o amigo. » 

178 



28 OE ABRIL. 

à mim» 



Ê noítel um manto bordado. 
Todo de soes recamado, 
Se desenrola no céu 1 1 
Sumío-se o astro do dia. 
Rebenta n'alma a poesia 
Áo cerrar do immenso réu I 

noite I sobre as ossadas, 
lobre as caveiras mirradas, 
'em do céu mystica luz I 
Em meigo, doce lamento, 
Erçue um yôo,ó pensamento 
Vaipousar-te n'essa cruz I 

Que m*importa a mim a vida 
Que se passa não sez^tida 
Nos verdes annos do amor ?I 
Que m*importa esse tumulto 
Se é da cidade-um insulto 
Aos canto» do trocador? ! 



Que m'importa o brando riso 
D'um anjo do paraiso, 
Um suspiro, um seio a arfar! 
Qúem'importãoolhosternos , 
Seus juramentos eternos, 
Seeun&o 8ei,nãoqueroamarI 

De que me servem as florei 
Se náo encontro uns amores 
Só meus e de mais ninguém? 
Quem' importa a mim a terra, 
Se todo o mundo faz guerra 
A quem riquezas n&o tem ?! 

Quem'importa amim a fonte, 
O prado, a selva e o monte. 
Se ámanhâ podem morrertí 
Oque me importa a vaidade. 
Se velhice e mocidade ^ 
Podem é tumba descer ? ! 



Só não morre o sacro lenho. 
Onde os olhos meus eu tenho. 
Onde a minha esperança puz : 
Possa, em quanto eu tiver vida, 
Bespeítada ver e erguida 
Esta santa, humilde cruz ! 



179 



Francisco José Pereira Palha. 



SARCOPHAGO.— É derivada esta palavra de duas 
gregas que sígnificSo 



Ur. 



os antigoa a nm tu- 
mulo em que se Dict- 
tia ura corpo que se 
nSo queria queimar, 
e dentro do qual se 
punha uma esperie 

3ue tinha a proprie- 
ade de consumir o 
I quando muito duas 
DO que o fogo. 

EXTASIS D'UH BEATO. — Era tido por beato certo 
hypocrita que fingia eitasis, e de quem se contaTSo 
muitas virtujlas : fei'lfae D. Francisco Manoel o seguin- 
te epigramma : 



lanei diz qve Balthaxar 
£' Santo, e em sua oração 
Se ergue três pnimoi no ar : 
Se elle é Santo de enchemâo^ 
Bem te pode Icnanlor. 

Jía» scjundo são os psalmot, 
At vtriudíc e os ensalmos. 
Que do Santo tenho ouvido, 
Inda espero vel'o trguido 
Ho ar maii dê trinta palmot. 



30 ím ABRIL. 

ANDAR DE CABEÇA PARA BAIXO.— Por mais de 
uma vez se ha vi^to ; os meios porém com qu« se con- 
seguia er&o tão grosseiros, que só a ce^os poderiâo 
Uludir. Hoje obtem-se • isso sem cordeid ^ nem ara- 
me&» e recorrendo tão somente » um principio de 
physica. 

Êxperimentasle^ alguma vez, que pondo em cima de 
orna lage uma' pequena superfície de coiro moVhado en« 
fiada n^ima corda, e puxando por esta, se leTsoita a ka- 
ge, apesar do seu peso ? 

Ajustando uma á outra doas superfícies de mármore 
bem lisas, não sabeis que adherem por tal modo, que 
96 torna diíficiUcmo 8ep«ral*aâ, sobretudo se pr^éviamente 
se molharam ? 

Ao p5r contra a* bôeea um vidro que a cubra, e aspi- 
rando fortemente o ar, ignorais acaso que fica o viaro 
agarrado àos beiços, deixando até um signal sensí- 
vel por algumas- lK)r.a8 se se aspira com demasiada 
força ? 

Pois é n*ls?o que se funda q poder^se andar de cabeça 
para baixo. É a pressão da atmosphera, que de todos ôs 
lados nos^ comprime, o que dá logar a que um homem se 
agarre eom o« pés ao tecto de uma casa. Supponhamos 
que é este liso como um espelho e que a sola dos^apa- 
tos do homem seja tão lisa como o tecto ; applicando 
successivamente, e com todo o cuidado e precaução, 
08 pés ao tecto, e apoiando-os por modo tal que não fi- 
que entre as duas superfícies a mínima partícula d^ár, 
ncará o homem suspenso,^ e a^sim poderá escorregar 
pelo tecto obra d'algumas pollegadas. 

Para evitar alguma desgraça convém suspender uma 
rede por baixo e a pouca distancia do homem. 

Acautelle-se em todo o caso quem se decida a fazer 
a experiência. 

181 



1 DE MAIO. 

ZURRILHO.~B'um quadrúpede que ha nas campinas 
do Rio Grande de S. Pedro do Sul, mais pequeno que 
o furão, e de côr branca, com listas pardas transversaeã 
ao lombo. De dia conserva-se occulto nos buracos do 
campo e nas moitas de capim, e de noite sabe do seu 
escondrijo. Sustenta-se de insectos e de capim. E' tâo 
manso, que fiado nas terríveis armas que a natureza lhe 
deu, quando perseguido, n&o se apressa na fuga, e ai 
d*aquelle que o persegue ou intenta apanhar, porque 
lança contra elle um jacto de liquido de insupportavel 
cheiro, que excede centenares de vezes a nauseabun- 
da assa-fétida ! I Se o perseguidor é um câo, espoja- 
se desesperadamente e foge espavorido pelo campo ; e 
se é de caça, n'es8e dia não caça mais ; se é ^ente, ou 
não ha de ter olfato, ou se o tiver, fica desatinado, e 
perde a roupa em .que tiver cabido o liquido do zur- 
rilho, pois nada é capaz de lhe tirar *o cheiro 1 

£' mui lindo quadrúpede, mas- não se lhe hade to- 
car ! Quantos zurrilhos n&o creou Deus também na «8« 
pecie humanai... 

. António Maria do Amaral Ribeiro, 
(Porto Alegre, Império do Brasil) 

2 DE MAIO. 

DÁ DEUS NOZES... BEM SABEM A QUEM.— Que ar-, 
vore é aqueUa ? » — me perguntava ha dias o Dr..., pas- 
seando comigo no meu jardim. 

— « Uma nogueira » — lhe respondi. 

— c Uma nogueira j muitas nozea me havia de dar sq 
eu aqui morasse 1 » 

— c Porque ? » 

— « Forque dá Deus nozes a quem nfto tem dentes. * 

182 



â 0E MAia 

TÍJOLQ. ^Das mais remotas eras provém o uso dos 
fijolos. Os primeiros edifícios da Ásia, segundo se co* 
lhe das suas ruinas, erâo de tijolos sêccos ao sol ou co<7 
zidos ao fogo. De tijolos» como nos ensina a Eseriptln^ 
ra, foi fundada por Nembrod a cidade de Babylonia, e 
de tijolos se compaginavâo os decantados mu vos eom 
que a sua Rainha Semiramis a jcereou. Ainda na Ay- 
m^nia, Geórgia e Pérsia, subsistem vários edifícios 
anciãos compostos do mesmo material. O uso dos tijo- 
los, originário da Ásia, derramou-se de lá para o Egy- 
pto. Os gregos o adoptaram. Vitruvio, ai;chitecto e es- 
òriptor romano do tempo d' Augusto César, diz que alu- 
da em seus dias se via em Athenas o Areópago (A. 51, 5 
de Setembro), construído de tijolos e coberto de colmo. 
Roma, no começo e nos primeiros quatro séculos, do- 
nhum a outra cousa era senão umaggregado immenso de' 
choupanas de tijolo e adobes; depois é que os dominado-. 
res do mundo tomaram dos povos da Toscana, ^ente já 
então de mui antiga e crescida civilisação, o edifícarem 
eom boa cantaria, mas pelos últimos tempos da repu- 
blica tornaram-se ao tijolo. Em vários paizes, serve no 
pavimento de muitas casas çm logar 4e sobrados. 



4 D£ MAIO. 



EXISTENaA DE DEUS. — Existe um Deus- As her- 
vas do valle e os cedros das montanhas o bémdizem ; 
f> insecto susurra seus louvores ; o elephante o sa6- 
da ao despontar do sol ; a ave o canta entre a folhagem; 
a raio faz brilhar o seu poder ; o oceano declara a 
sua immensidade. Só o homem é capai de dizer — 
nâo ha Deus I... 

Chdteaubrianã. 

183 



5 DE HÁlO. 

ESTIMULO PABA LITTERATOS. — leia a seguin- 
U relaçio quem por ventura se (lersuada que nunca 
das letras se tirou vantagem pecuniária : 

Ariosto vendeu por 150 libras o seu Orlando Furioso, 
Por igual quantia vendeu a Viuva Moliére algumas co- 
medias inéditas de seu marido. Com os Caractere* de 
Theophroilo, de La Bruyère, ganhou um livreiro'' maia 
de cem mil francos. O Jelemaco rendeu áfamilia deFe- 



iielon pare cima de milhio e meio de francos. Walter 
Scoll ganhou mais de dous milhões de francos com m 
seus romances, e Byron mais de cinco com osseuspoe- 
mas. Millon vendeu ror 145 francos o seu Poratjo Per- 
dido a um editor inglez, que ganhou com elle mais d« 
400,000. Racine recebeu de Luii XIV 240,000 libras. Du- 
cis com es suas peças de theatro ganhou em um anno sú 
32,000 francos t 41,000 no immediato. Com os Eiiouca- 



dot ganhou Ándríeux 18,000 francos. Em um anno só 
rendeu Figa/ro a seu author, Beaumarchais, 123,000 
£rattcos. 
E digào lá que nâo é bom saber escre?^ ! . . . 

6 DE MAIO. 



CHARADA. 



Se o fino alambre diviso>« 
Ê cousa muito engraçada 
Como por elle attrahida 
Logo a eile estou íUada... 2 



Káo tenho valor pôr frívola; 
Somente despreso incito; 
Desgraçada da mulher 
Que-tem e£te sobrescripto.tl 



Que sitio tão lindo I 

8ue bellos retiros I 
h I quantos escuta 
Saudo£06 suspiros I 

Os ranxos divagâo 
rf as ruas copadas, 
Gravando nos troncos 
Memorias passadas. 

Que bellos caleches I 
Que lindos carrinhos 1 
Ha hoje farofia 
Nos sítios visinhos ? 



Já sei : é domingo, 
E as velhas gaiteiras, 
E velhos e moços, 
V&o-se ás Larangeiras. 

Que vejo I lá vem 
O meu amorsinho ! . . . 
Como é engraçado 1 . . . 
Como é bem feitinho J« • 

No bello arvoredo, 
De antigo solar, 
A grato passeio 
Me vem convidar. 



Por elle somente ^ 
E' que eu, sua ella, 
Agora sahira 
Aqui da janella. 



♦ ¥ ¥• 



185 



7 DE MAIO. 

CONSERVAÇÃO DA CARNE. — Acaba de descobrir- 
86 um processo dos mais simplices para conseryar a car- 
ne, sem a salgar, sem a seccar, sem a pôr ao fumeiro, 
sem a guardarem caixas hermeticamente fexadas, nem 
a cobrir com camadas de azeite ou de gordura. Comells 

Sode a carne crua conseryar-se durante seis mezes sem 
eixar de estar ensopada no próprio sangue e de ter a 
mesma apparencia que se sahisse do açougue. Consis- 
te o processo em mergulhar a carne em uma substancra 
derretida, tirada d'ella própria ; pendura-se depois aâm 
de que escorra esse liquido, e o que d'elle resta na si>- 
perucie da «arne forma uma capa ou envolucro henn»- 
^co, a principio moUe e depois firme, impermeável ai> 
ar e á humidade, e que por isso preserva de toda a es- 
pécie de corrupção. Assim se pode expedira carne en- 
saccada ou em caixas. —A muitos convirá saber es4a 
receita. 

8 DE MAIO. 

XADREZ. — Jogo oriental. Echecs lhe chamfio os 
francezes. Palavra tirada da persana, schaht que signi- 
fica Rei ; ou porque o Rei é uma figura importante 
n*estejogo, ou porque, segundo dizem, foi para di&- 
U ahir as melancnolias de certo Principe, que um ma* 
thematico o inventou. Alguns o attribuem.ao erego Pa- 
lamedes, outros aos chins. As peças do jogo ao xadrei 
téem em portuguez o nome geral de treJ)elht>s ; assim 
dizemos: o sacco dos trebelhos do xadrez. O amável Moíb" 
taigne disse : não gosto do jogo do xadrez, porque não 
é bem jogo. £ a pensadora Stael : «Para jogo é muito 
sério e para negocio muito frivolo. » 

N&o ODstante, já se tem visto acérrimos jogadores do 
xadrez, que apartados entre si por centos de léguas» 
pelo correio o tem jogado,- despendendo n'uma só par- 
nda uns poucos d'annos. 

186 



De Inglaterra foi uma vez a França nm jogadar de ia^ 
drez mui presumpçoso, de propósito para um duello de 
táboleiro com o mais famigerado xadrezista de Paris : 
talvez se fosse necessário dar quatro passos para sali- 
var um desgraçado, os nâo desse. 

(A. 52. p. 285. 1. 53. p. 85] . 

9 DE MAIO. 

A YI0A PELA SGIENGIA; —Em 9 de maio de 184) a 
sciencia perdeu um cultor desvellado, a Universidade 
de Coimbra um alumno estudioso e distincto, o Maranhão 
um joven que o hoUtava com seus conhecimentos, e 
uma família um filho a quem amava carinhosamente. 

Nós, como seu compro vinciano, choramos sua morte, 
e ainda com o coração repassado de saudade escreve- 
mos estas linhas. 

Raimundo Braulio Pires de Lima vio a luz do dia de- 
baixo do céu maranhense, e depois dehaver adquirido 
conhecimentos de humanidades, foi para a Universida- 
de de Coimbra, onde se matriculou na faculdade de me- 
dicina. 

O joven estudioso nos três primeiros annos alcançou 
coroas de gloria nos campos ae Minerva, e no 4.^, cu- 
jo objecto d^estudo é a anatomia, appíicou todos os 
seus cuidados, de dia com o escalpello em punho es- 
quadrinhando os se^edos da natureza nos cadáveres, 
e de noite no silencio do seu gabinete pensando sobre 
a belleza da maehina humana, e~ admirando a magnifi- 
cência do Supremo Architecto. 

Tão longo e incançavel trabalho arrancou o infeliz 
mancebo dos braços da sciencia para entregaro á mor- 
te, e no longo cathalogo das victimas do estudo appare- 
eeu mais um nome. 

O lílm.** Sr. Dr. Sebastião d* Almeida, lente d'ana- 
tomia, penetrado de saudades, mandou gravar um bel- 
lissimo quadro representando uma figura abraçando o 



tumulo do illustrado Maranhense, no qual se lé o se- 
guinte epitaphio 



Siste^ attende, viator, i 

* Hoc sub^lapide jacet 
Raimundus Braulius Pires de Lima, 

Qui prope turinum flumen natus, 

At Golimbrias Àcademiam cum studii 

Venisset causa, 

Naturam scrutando, 

Sicut Plinius, excipitur morte I 

Tofmerita in viridi Juventa, 

Tamque dirá juvenis sors pulcherrimi. 

Pátria procul atque, neu I . .. 

Amantissimis parentjbus, 

A te precationes la^rimasque petunt. 

9 Maii 1841. 

Maranhão 1855. 

Dr- Cesitr Áuqasto Marques. 
(Brasileiro) 

10 DE MAIO. 

febrífugo económico. — Acabão de publicar 
dous afamados médicos de Paris uma extensa 'memoria 
ein que prov&o o grande proveito que da semente da 
salsa se çode tirar. Esta planta indígena, e tâo vulgar, 
gosa de incontestável propriedade febrífuga ; o cosi- 
mento de suas sementes pode muito bem substituir o 
da quina no tratamento de cesões. Além de ser um fe« 
brifugo enérgico e seguro, é também .económica* 

{Á. 53, p. 207.) . 

18& 



11 DE HAIO. ' 

ÊCHO. — Quando o ar, depois de \ibrado, eBconira 
Mil obstáculo, são devolvidas, ou refleclidas por elle, 
ts ondas sonoras. £' esta a causa dos echos, que nada 
trais sâo do que a repetição distincta de sonoras on~ 
áulações, reflectidas por um corpo solido. Satisfazem a 
esta condição os edifícios, os rochedos, os valles, e até 
és veze6 as paredes oppostas dos quartos ou de aboba- 
das, annunciando o echo pelo som bastante claro dos 
passos, ou pelo regresso das palavras. Para ^ue haja 
echo, é nreciso que o obstáculo seja perpendicular á 
direcçâodo som. Quanto mais aífastado etle fôr, tantas 
mais palavras se poderão pronunciar antes que os pri- 
melros sons ({ue foram de encontro ao obstáculo re- 
gressem e principiem a resposta. Percorre o som 338 
metros por segundo (obra de 1,100 pés], tempo duran- 
te o qual se podem pronunciar oito ou dez syllabas ; é 
pois necessário estar a uma distancia de 338 metros pe- 
lo menos, para que distinctamente se oução os sons 
devolvidos pelo echo, pois se n'um segundo percorre o 
som 338 metros, acabará de pronunciar-se a 10.*^ sylla- 
ba quando se ouvir a 1.^ devolvida: em menor distancia 
haveria confusão e seria o echo inintelligivel. Tem-se 
notado que o echo repete mais palavras de noute que 
de dia« o que provém sem duvida da menor elasticida- 
de do ar, que está mais frio, e que por conseguinte di- 
minue a velocidade do som. Tem-se reduzido a práti- 
ca diversas theorias para dar a certas construccões a 
faculdade de repetir os sons, mas nunca se poude isso 
perfeitamente conseguir. Os echos mais singulares que 
66 observão em certos edifícios sâo quasi todos devi- 
dos ao acaso. Podem duas ou mais superfícies oppostas 
reflectir umas poucas de v^es o mesmo som. Não ha 
echo nas planícies nem no mar ; sâo pofém frequentes 
junto a rochas e montanhas. O do parque de Woodstock 
na Inglaterra e o de Simonetra na Itália, sâo os mais 

189 



netaveis : este ultimo repete o mesmo som 40 vezes. O 
mais nomeado em França é o de Verdun, (jue 12 vezeis 
repete um som. 

— Que é lá isso? respondia um sugeito a outrt) qiK 
lhe exagerava certo eeho dos mais prodigiosos ; ecno 
um que eu ouvi ; isso é que era eeho I .^. perguntava- 
lhe a gente cá de longe: «Eeho, como estás? e respon- 
dia logo : « Muito bom, muito obrigado. » Isso é que eri 
€cho ; o mais ó historia [A, 51, 26 de septenibro). » 

13 DE MAIO. 

OS MARTYRES DO MUNDO. —O Rei é martyr &e lut 
portunaçées, o pretendente de esperanças, o ministrt 
de requerimentos, o rico de cuidados, o pobre de ne^ 
cessádades, o poderoso de ambiç&o, o sábio de inve- 
jas, o néscio de presumpçáo, o virtuoso de escrupuloí, 
o peccador de culpas, o cobarde de temores, o doente 
de dores, o valido de receios, o casado de obrigações, 
a bonita de namorados, a feia de escameo, o bemfeitor 
de ingratidões, o amante de ciúmes, o parocho de im- 
pertinências dos fregueses, jornalistas e autores de 
avisos e conselhos de quem os lê. "^ * ^ 

CHARADA. 

Por mim vão novas leis, vai nova crença, 
A inimigos e incógnitos paizes — 3 
Aborreço, atormento, e ás vezes maUx, 
Sou a herança peór dos infelizes — 1 

Por politica vã, ou sede d*oiro, • 
De sangue náo Qulpado a terra inundo, 
E apesar do clamor da humanidade. 
Vou alargando os términos do mundo. 

*190 



13 DE MAIO. 

BIBIAS FORÇADAS. — Este género, a que 09 france- 
ses cham&o bouts rimes, éum dos mais pueris abusos da 
)oesia. Consiste em se darem, se é um soneto que se 
)rètende, as quatorze palavras consoantes que devem 
'echar os quatorze versos ; se é décima, as dez ; e assim 
los outros casos. O trovista hade completar aquellas 
Inhas por modo que o- total apresente sentido. Attri- 
hie-se a invenç&o d'esta semsaboria, arlequinada, óu 
nelhor ainda, palhaçada do espirito, ao rimadorfran- 
<ez Dulot, que floreceu, se aquillo se pode duamar fio- 
lecer, por meado do século XVIII. 

Os improvisadores ainda hoje costumflo pedir rimas 
los circumstantes e fazer com ellas prova da sua habil- 
idade. O italiano Bindocci, de Sienna, que no anno 
ái 1853 deu aqui em Lisboa e no Porto varias sessões 
d« improvisação muinotaveis, mas a que poucos concor- 
re*>am, depois de escrever os quatorze vocábulos finaes 
paia um soneto, pedia ainda que lhe determinassem o 
assimpto d*elle. Mr. dePradel, em Paris, pratica o mes- 
mo , e a coisa, se bem que n&o é fácil, nfto tem comtu- 
do t^nta difficnldade como geralmente se cuida : de- 
pende de certo habito, que se adquire pela pratica, b 
Í[ue atéx^erto ponto pode provir de regras sabidas, e qud 
azem parte da arte de improvisar. Nos poetas árcades» 
ou com nheiro d*isso, é garridice responder a um sone-* 
to laudatorio ou satyrieo pelas mesmas rimas. Nos nos- 
sos bons lempos de Coimbra era ainda moda entre os 
estudantes versistas fazer sonetos burlescos de rimas 
forcadas; d'isto, como dos acrósticos e anagrammas, 
poderse dizer o que dos sonetos de caud« escrevia 
um critico : €São brincos dos que asmusns ainda nã» 
desmamaram. 1^ Sentença que n&o deixa de ter igual 
applicaçâo ás bambuchatas dos pintoic^s. 

(A. 55. p. 148.J 
191 



guim que, 
■empre que 
faiia algu- 
ma prisfio, 
eiUva um 

Er o verbio. [ 

m dia 
prendeu um 

i; o n h ecido 
por muitas 
alicaatinas. 
O tal sujei- 

sofiavi de 
lionrado e 
ihamsTa a 
todas la- 
droes; pa- 
rodiando 
Francisco I, 

ra o beÇe- 
guim, edil- . 
lhe: 

-O meu 
corpo irá 
preso.maaa 

minha hon- — ■ 

ra flca li- 

— Também, redargue o beleguim; guejá mai« da )ima 
Tez e tiaht filado — Ondt não Iva, £j-A« « ptrde. 

192 



15 DE MAIO. 

ABAIXO 13 RODAS. — De um e to quentíssimo artigo 

Fom este (ítuto publicado nt Gaiella Médica de Liiboa 

pelo nosso distineto médico e eminente escriptor, o Sr. 

br. Tliomaz de Carvallio, eilrahimos o trecho seguinte : 

<Abra-se o dique á torrente dos desejos : cada nm 

ponha fo^o em aua alma e deiíe Hrder em labaredas as 

suas mau bea éticas paixões; rebaiíe-se o homem i 

condição ào 

animal: n&o 

se lhe dê do 

dia de áma- 



seus filhos : 

a eomm uni- 
dade detet- 



punisla de todos os coDimunisnias e socialismos, po- 
dem os declamadores e defensores da ordem metter os 
seus argumeoios na algibeira, que me nSo sei haver 
eam elles. As leis cítís e religiosas impúem deveres »o 
matrimonio, e a roda com uma s6 volts desliga dos mais 
sagrados d'elles. A lei e a religião dizem oue o filho é 
da familie, a roda responde que basta ser oa communi- 
dade , a aciencib diz que cTnovo ente precisa do pri- 
meiro Uite e do primeLro amor de sua mãi, a roda tra- 

193 



«ta a seiencia de visioneira, e confia o filho do homem 
AOS affectos d'uma cabra, ou aos affectos ainda mais 
animaes da mercenária que se apresenta para lhe dar 
alimento. » 

Dr, Thomax de Carvalho. 



16 DE MAia 



ESCADA GRANDE E PORTA PEQUENA. —Indo um 
portu^uez ver e admirar em S. Thíago de Compostella o 
úiagniôco templo de S. Martinho, notou a desproporção 
que havia entre a porta principal, que era pequenissi»- 
ma, e a escada próxima, obra magestosa e de grande 
formosura. Perguntando-lhe um dos frades do conveiv- 
io oque lhe parecia d'aquella escada, « Pare ce-me, res- 
pondeu, que foi com medo que fugisse, que Vossas Re- 
vereudissunas fízer&o a porta t&o pequena I » 

PULGA NO OUVIDO. — Acontece muitas vezes que 
uma d^aquellas minhas senhoras entra sem ceremonia 
p«lo ouvido d'um christão, e principia a passearia por 
dentro como se estivesse na sua casa, occaslonando 
uma comixâo diabólica, e dando vontade de lhe fazei 
estoirar a pelle. Dous meios, qual a qual mais simplea. 
ha^para as fazer sahir do seu entrincheiramento : 

1.^ Lançar no ouvido uma pouca de saliva, inclinas 
dnrante um minuto ou dons a cabeça para o lado oppo»^ 
to, e deitar-se depois sobre o lado do ouvido accomettído 
até que a invasora saia envolvida no liquido e toda 
pingando : 

±y Chegar ao ouvido uma vela aecêsa, e conservais 
«ti até sahir o bixo, que aborrecido das trevas em qp» 
, andou lá por clentro, procura logo aquella traiçoeira 
•. claridade. É uma imitac&o da pesca ao candeio. 

194 



17 DE «AIO. 



lYRA. 



S0 tu me querefi a teus pés prostrado^ 

Qfana de me haveres já rendido. 

Ou já em mudas lagrimas bauhadOr 
Volve, impiedosa, 
Yolve-me os olhos, t 

Basta uma vez ! 

Sq me queres de rojo sobre alerra. 
Beijando a fímbria dos vestiáos teué. 
Calando as queixas que meu peito encerra, 

Dize-me, ingrata, 

Dize-me : -r-Ea q^oero I — 

Basta uma yez. 

afãs se antes foleas de me ouvh na iyra 
Louvor singelo aos amores meufi« 
. Por que minha alma tanto em váo susptra» 

Dize-me« ó bella, 

Dize-me : -* Eute amo ! 

Basta uma vez I 

AnUywto êon^lves Dias. 

\S DC: I&ÀIO. 

VALHAMOS SAHT:o OVIDK). — E* das mais extrava- 
gantes a receita de que usa a gente Fustica no Minho 
afim de recobrar o ouvido. Promette áquelle milagroso 
aanto uma telha fartada. Na véspera da festa, vai-se ao 
telhado de um visinho, furta-lhe uma telha, e vai em 
romaria offereceFa ao Santo. 

195 




19 D£ MAIO. 

CASTIGO DA GULA. — EmElio Lampridio se lè o 
"estratagema de que se va>eu o Imperador Heliogaballo 
para afugentar os aulicos que ás horas de jantar o pro- 

curavâo sempre, ávidos de bons manja- 
res. Mandou sentar um dia -a umai dúzia 
d'elles em cadeiras muito altas, porém 
cheias de vento, e quando estav&o no 
melhor da festa, « saboreando os mais 
deliciosos boccados> ordenou que abai- 
xassem 08 folies ás cadeiras, e pouco a pouco se foram 
mirrando os meus amigos até ficarem com as caras de- 
baixo da meza. 
E era uma vez. Nenhum mais lá foi j«Dtar« 

20 DE MAIO. 

O MAIOR SINO DO MUNDO. — A pag, 267 do Alma- 
nach de 1852 falíamos em dous sinos fataes ; em um si- 
no lisongeiro a pag. 242 do de 1853 ; na invenç&o dos 
sinos a pag. 347 do mesmo ; em uns poucos de sinos 
monstruosos a pag. 75 do de 1854; e no sino da infâmia, 
em um sino esquisito, e no sino milagroso, a pa^ 171, 
211 e 319 do de 1855. Hoje fallaremos no maior smo do 
mundo, que se admira em Meaco (a principal cidade 
do Japão), no templo de Buddha. Tem um pouco mais 
de 17 çés d' altura, e pesa um milhão e setecentas mil 
libras japonezas, o que daria um bom par d* alqueires 
de patacos — uma patacoada immensá. — E' por tanto 
cinco vezes mais pesado que o de Moscou, que a pag. 75 
do Almanach de 1854 dissemos pesar 340,(M)0 libras I 

CORTEZANIA. — Um certo Jo&o Fogaça, dirigindo*^ 
se uma occasião a fallar a El-Rei D. João III, tropeçou 
na ponta de uma esteira; rio-se El-Bei e a Rainha ; vi- 
ra-se elle de repente e diz-lhes : « Querem que tro- 
pece outra vez?» 

196 



21 DE MAIO. 

RIO DAS AMAZONAS. — Se não concentrasse hoje a 
Europa a sua attençâo exclusivamente na grande que»> 
tão do oriente, e nas peripécias de tantos géneros que 
diariamente apresenta, com mais interesse por certo 
observaria a marcha pacifica e civilisadora seguida por 
muitos governos d'<élem mar. Grandioso espectáculo nos 
dão hoje as duas Américas, agitando-se para estabe- 
lecerem immensas vias de communicação de uma a ou- 
tra margem de um continente em que' as distancias se 
contão por centenares de léguas I 

Perdesse a imaginação ao considerar as infinitas rí- 

Í[uezas que no seio encerra um solo de tão espantosa 
ertili^ade, riquezas de que já se houvera poaido co- 
lher máxima vantagem. 

Imagine-se um rio de 1,200 léguas de exteosão, nove- 
centas das quaes podem ser percorridas em todas as es- 
tações, recebendo as suas aguas de umas 80 ribeiras^ 
30 das quaes navegáveis a mais de 400 léguas pela ter-* 
ra dentro, e uma bacia immensa comprenendendo ter- 
ritório de nove estados, e fai^se-ha idea da importância 
da navegação do Amazonas, considerando sobretudo 
que a profundidade de suas aguas permitte alli facilli- 
ma circulação a toda a qualidade de navios. Resulta de 
documentos oíliciaes que seguindo o curso do rio, e pe« 
netrando no interior das terras pelos seus principaes 
afQuentes, se pode explorar o Peru pelo alto Amazonas 
até Balsas, que fica a 60 léguas do Mar Pacifico ; pelo 
Huallaya, ate 90 léguas de Lima ; pelo Ucayali, até 40 
léguas de Guzco. A republica do Equador é accessivel, 
j^or Santiago, até uma distancia de Loja que facilmente 
se pode percorrer em 8 dias, e por Napo até uma dis- 
tancia de Quito que se vence em seis. O Rio Negro con- 
duz ao centro de Venezuela ; o Madera á Bolívia ; a No- 
va Granada é accessivel por duas ribeiras. Seis affluen- 
tes do Amazonas communicão com as três Guyanas» in^ 
197 



gleta, franceca ehoUandeza. Que. futuro p^ra anave* 
gaç&o interior ! . . . . 

Xá a companhia brasileira, incumbida de estabelecer 
«n senriço regular de yapores n'e9te çande rio» expede 
todos 08 mezes um navio do porto de Belém, na provia^ 
cia do Pará, o qual sobe pelo rio acima, percorrendo 
em nove a dez dias as 360 léguas d'alli ate á barra do 
Rio Negro. Igual distancia separa este ponto de Nauta, 
limite actual de seu transito no alto Amazonas. Juntando 
a esses 20 dias de viagem os 35 ou 90 necessários para 
chegar da Europa ao Pará, vô-^e gue apenas são 
precisas, para efifectuar por alli uma viagem ao Equa- 
dor, 45 aõO dias« em vex de 4 ou 5 mezes pelo Ca- 
bo, d'Hom. 

Para fazer idéa da importância oommercial de seme-* 
Diante navegação, bastará dizer -que a.mais de mil cos* 
-tos de réis suoio em 1863 o proaucto da alfandega de 
Belem^ e a mais do dobro talvez em 1854. O que porém 
antefl de tudo conviria indagar, por geral interesse, é 
86 não deve indistinctamente ser concedida a todos os 

5 ovos a liberdade de navegação no Amazonas, e aboli- 
o todo e qualquer imposto, tanto em sua foz, como 
nos pontos importantes de uma e outra margem. Uma 
tal via de communicaçâo pertence, como o Oceano, ao 
mundo inteiro, e com aquella illimitada liberdade de 
navegaçfto, ganharia» antes de tudo, a America Me- 
ridional. 

23 D£ MAIO. 



PRIMEIKO PERIÓDICO RUSSa — Foi fundado em 
1703» e não só foi um de seus redactores Pedro Grande, 
mas até muita vez se occupou em lhe rever as provasv 
como se reconhece por diversas emendas que fez em 
duas cuidadosamente guardadas na Bibliotneca Impe^* 
rial de S. Peters5urgo. 

198 



23 DE MAIO. 

SARDINHAS.— Pescâo-se todos os annos na Breta- 
nha, n*uma extensão de 60 e tantas léguas de costa, 57(( 
milhões de sardinhas, metade das quaes se comem fre»> 
cas e a outra metade se manda salgar. Produz a ven- 
da total 3:585,000 francos, ou 573:60(^i|000 rs. Emprega 
esta pesca 160 navios, cuja tripulaç&o é de 3,500 homens. 
A preparação, o transporte e a venda, da sardinha, enh- 
pregáo em terra 4,500 pessoas, de aue 2,500 . sfto mi>- 
Iheres. Occupáo-se 4,400 em vendei as pelas terras do 
interior. O trabalho das redes dá que fazer no inverno 
a 3,000 familias, compostas de 9,000 pessoas, metade da« 
quaes do sexo feminino. Dura apesea, termo médio, 210 
dias, e produz aos que n'ella trabalhão um lucro de mais 
de 3 milhões de francos. 

Um facto muito curioso, e que ainda até hoje ere nfto 
poude explicar, é que durante quatro mezes desappare^ 
cem as sardinhas em todas as costas de França. Só ahi 
se conservão desde o mez de Abril até o de Novembto. 
A sua emigração tem dado logar a diversas conjecturas, 
mas nenhuma d^ellas se funda no que quer que seja de po- 
sitivo. O que parece certo é que emigr&o quando chegâo 
ào seu maior desenvolvimento. Para onde v&o? é cousa 
que ninguém -sabe ; ninguém ignora porém que d'ahi a 
ijuatro mezes haverá outra vez uma invasfto de sardinhas 
^m todas as costas de França, e o mais notável é não se- 
rem as mesmas que d*ahi emigraram, o que se reconhe- 
ce pela sua pequenez, e é causa de se adiar a pesca de 
dous mezes, afim de que possão crescer n^esseinterv alio. 

Encontrão-se as sardinhas em maior numero no OcecH 
no Atlântico Boreal, no Mar Báltico e no Mediterrâneo. 
Deriva-se o seu nome da Sardenha, em cujas costas fo- 
ram encontradas pela primeira vez. 
' É peixe que não tem contra si em Portugal, senão asna 
barateza e o ser demasiado commum, e por toda a pav* 
te o cheiro, que a todos repugna menos a quem o come. 

199 



reepoude i noeaa qua- 
resma, celebrao elles n 
festa do fluirão, que é, 
porque assim o diaa- 
IU08. a sua PaschoB.Du- 
lilhiçiodese trabalhar, ' 
nos quaes se banque- « 
teião, Taiendo ao caboH 
d'elles umas orações | 
Bolemues que desrexão 1 
em pedir a Deus qne T 
dè cabo da canzosda i 
clirisii. Obrigadissimol 6 

(Á.H. ilãe Setembro.) l 

AEHOZ. — Eapecitt 
de grão que sã depuisf 
de mondado é brauco.^ 
Tem B canna mais gros- 
sa e mais nodosa que a do trigo. As suas ío 

dao as daa caunas. NSo jirodui espiga, mas c^. ,„ ,,. „„ 

a modo de milho. A bamba em que esti o grão, é amareU 
la B de figura ovada. Niosedá senão em terras húmidas 
e regadias. Cosido em agua é o comer ordinário dos Ín- 
dios, porém é pouco alimeotoso. Abedida ordinária 
dos cbins é vinho d'arroi. cuja côr tira í do alambre, « 
é t&o saboroso como o melhor vinho da Europa. (BluUou] 

MAXI5U DE VAN-DYCK.— Quando alguém me of- 
fende, procuro elevar tso alto a minha alma que a 
offensa lhe não chegue. > 

200 



o UHOR. —Foi aeeim que o deBnio Raphael Bluleau : 
*£ o maior lyra uno das virtudes; os ilicumes da rasAo 

são lieresias. e 

roa suspiros sflo ' 
do juizo os ul- 
' timos alenlos. 
I Ue todo o seu 
> poder nenhum 
Deoisapode es- 
perar; nenhu- 
i ma luz, pornue 
I é cego ; nenFiu- 
I ma fazenda, por 
f que anda nú ; 

lho, porque é 

nLBÕrmeia,por- ' 
que mmca despio n nas ; nem trégua alguma, porque 
e açoute dos seus aequaie« e vefdugo dos seus vas- 

— Para nm padre, cooliecia o anwr menos mai 1 .-> . . 



CHARADA. 



2i7 m MAIO. . 

nÁNTEÍGA. — Sendo os leites t&o antlgoe goclo a 
mundo e o primeiro de todos os alimentos ; tendo sido 
pastores tantos povos primitivos, e derivando-se do 
leite a manteiga, por via de uma operação tâo simples 
Qomo é o chocalhai o oubateVo, nâo é pouco para admi- 
ração que o uso d*esta agradável comida, ou delicioso 
tempero, nâo date de tempos immémoriaes. Os gregos 
da antiguidade n&o usavâo de tal ; em eras mais receiK 
tes é que o aprenderam dos scythas, dos thraeios^ ou 
dos phrygios. Suppóé-^se que os romanos só do seu ít^ 
do com os povos da Germânia é que tiraram o fabrica 
manteiga, da qual todavia se nâo servião senão como 
de remédio medicinal. Nas Hespanhas, por decurso de 
muitos séculos, só para emplastros de feridas a empre- 
gavão. N'uma obra india eseripta 1,200 annos antes d» 
nossa era (ha por consequência hoje cerca de 3,000) fair- 
la-se na manteiga para certas ceremonias religiosas. 
Nos tempos primitivos dá Igreja, manteiga, e nâo azei- 
te, é o que ardia nas lâmpadas, costume que ainda Da 
Abissínia se conserva. A manteiga lavada do sal? es^ 
pecialmente sendo bem fresca, ainda hoje muita gente a 
applica ás feridas, á escoriação dt)s cáusticos, e ás 
cíiagas ; mas o seu principal, e generalíssimo uso, é pa* 
ra temperar^ ou a seccura do pão, ou um sem numero 
deiguariaSj Um cosinheiro moderno sem manteiga feriai 
um obreiro sem ferramenta. 

Differentes engenhos setêem inventado para fabiloar 
manteiga. O mais trivial é o que chamão })arata. É um 
eylindro de metal, disposto horisontalmente, com irst* 
vessas mettidas no eiio, e uma manivella por fora, por 
onde se lhe pega para o fazer girar ; o leite que dentro 
se lhe lança decompõe~se por esta successiva agitação, 
ejseparadas suas partes sorosa e caseosa a butyrõsa^ 
que é a manteiga. £m algumas terras mettem o leite em 
odres pendurados do tecto da casa, e atirando estes 

20t 



como péla de uma banda para outra, prefazem com 
mais tempo e menos perfeitamente a mesma operaç&o. 
EmsQDuna, como todo o ponto está no bater o leite, 
muitas pessoas fazem a manteisa açoitando o leite den*- 
tro de uma vasilha com uma comer de páu^ 
O fabrico da manteiga em Portugal já foi menor do 

3ue hoje é, mas está ainda longe do que deverá ser um 
ia, quando, mais adiantada a agricultura, tivermos 
Í»ast08 abundantes, e por elles abundantes e excellen» 
es gados. Então cessarão de correr para os estrangei- 
ros as avultadas sonmias que hoje se nos vão em troea 
das manteigas, género de que tanto estáo usando ospo* 
bres como os ricos. . . . 

28 BE MAIO. 

PRESERVATIVO DE CALOTES. — Datáo elles já do 
século passado, segundo se deixa ver da seguinte carta 
que em 1732 escreveu um sujeito a certo amigo que lhe 
pedira cincoentá moedas emprestadas : 

€ Senhor : V. S.*^ nunca me ha de pagar; se lh'o pedir, 
hade se queixar ; se o mandai citar, nade chamar-me 
judeu, perro, e outros nomes d*esta casta, com o que 
fico com a iiijuria, perco o meu dinheiro, e a V. S.^ de 
amigo. Pois, sennor, acho melhor e mais barato sof- 
frer aquella affronta por lhe emprestar, iicando-me o 
meu dinheiro sem o enfado de demandas e execuções. » 

Vale a pena de se aprender de cór, pois bastantes ve^ 
zes se poderá applicar. 

É jogo de preferencia — 1 
Toda a ave o deve ter — 2 

Se alguém me der um, prometto 
Que ha de trinta receber. 

* ♦ ¥■ 

203 



^ -NiidaraenoBdeTTÍ 
W edições daa, poesias 
i d'e&te célebre authot 
fc se encontrão na Biblio- 
W theca Publica de Tries- 
t te, Fioreceu Petrarcha 
E no sécDlo XIV. Foi em 
r Avignon e na idade de 
r, IO annos que tío pela 
' primeira tcz, na igreja 
^ de Santa Clara, Laura 
Norés, mulher de Hugo 
de Sade, o que induio no resto de sua vida: era senha- 
ra de eiemplar virtude, e não podendo vel'a senão no 
bulreio da saciedade, sacrificou-llie o poéia o seu gosto 
pela solidSo. Bem forcejou elle por liberlar-se de uma 
paixão sem esperança e que lentamente o minava, o qno 
nouvera sido grande pena para a litleralufa, pois foi 
«we amor intenso, ardenle esem limites por Laura, 
que lhe inspirou os sonetos e canções que tão alto ele- 
varam a fama de Petrarcha. e lAo admirados ainda hoje 
»6o — Poisem duvida, logo depois do Jíante, o maioí 
pfréia dallalia. 



A BAPOSA E AS PULGAS. — Eis o modo porque a ra- 
posa se livre de pulgas. Toma um ramo de herva verde 
na bOcca, e vollando~se com as castas para< algum rio, 
pouco a pouco ae vai mettendo n'elle, dando assim lo- 
^ar a que as pulgas, fugindo do molhado, busquem o 
en:<ato ; assim que tem o corpo todo mettido na agua. e 
■pnie que as pulgas eslfto ji iodas poUas no ramo, 1m- 
ga-o de repente e alli as afoga todas. 

804 



m DE MAIO. 

CEMITÉRIO ISRAELITA DE EUPATOBIA — E' o 
t belio d'aquelte culto em lodo o mundo. Conláni 
— — iTel quantidade de túmulos de uma bó pedra, 
ae mármore e de granito, de fArma moíiuiuentB!, e cora 
beHissirnsH inscripções. E', de muilos séculoBaesta 
parle, o único logar em qne se sepultSo todsa as gran- 
des familiaG ísmelilaa d'Bquelle3 comamos. Ahi se ad- 
mira sobre tudo o mau- 
soléu de um eabio e pa- 
ciente judeu B quem se 
deve um precioso ma- 
nuscrípto , cuidadosa- 

synftgoga. Este manua- 
c«pto, sjmbolo da dou- 
trina dosCaraltas, é uma 
copia da Bíblia em unui 
sú folha de pergaminho. 
que tem j>ertD de um 
quarlo de légua de com- 

ErínientD,e por tal modo 
no que se enrola sobre 
si mesmo, occupando a final pequeno volume. O autor 
de táo enfadonho trabalho empregou ii'elle Ioda a siin 
vida, e dii ■ chronica do paii que morrera com mais d"© 
cem annos de idade no tim do século KVI. Bem empre- 
gada vida I 

MACHIMAS PARA TUDO.—EiKre as diversas machi- 
nas que diariamente funccionavfio na ultima eiposiçSo 
universal, havia-as para coser, bordar, tocar peças de 
musica, taier cerveja, descascar lavas e ervilhas, bar- 
bear, fazer e embrulhar chocolate, encaracolar o cabei- 
lo, calcular, lavar a roupa, e mil outras couaas. mait ou 
menos úteis, maia ou menos burlescas. 

20ã 



1 DE JUNHO. 

PEGUREIROS DO JURA. — E' no l.^^de junho mie os 
pegureiros sahem de suas pobres cabanas, ev&o duran- 
te quatro mezes apascentar vaccas e ovelhas nos {>on- 
tos mais altos e férteis das montanhas do Jura, alojan- 
do^se ahi em pequenas choupanas, em que ha uma co- 
. slnha, uma casa para o leite e o queijo, e um curral. O 
gado pasta nos arredores, cuidadosamente vigiado por 
pegureiros e cáes, e duas vezes por dia é mugido no 
cku^raL 

Dezoito semanas alli se passâo na maior uniformida- 
de. Depois de mugido o seu gado, senta-se o pegu- 
reiro no declive da montanha, e observa a natureza : 
pouco tempo lhe é necessário para saber quando está 
para vir trovoada, para conhecer a direcção do vento, 
ás propriedades das aguas mineraes, e as virtudes das 
plantas. De noute contempla os astros, affeiçoa-se a um 
em particular, pede-lhe que o proteja, e procura ler 
"" n^elie a sua sina. Se passageira nuvem o encobre, é que 
fldgum desgosto o espera no curso da vida ; se pelo con- 
trario se mostra brilhante e radioso, é que prospero e 
feliz deve surrir-lhe o destino ; ora, como n'aque&a es- 
tação quasi sempre se mostra alli a natureza plácida e 
risonha, contentes e satisfeitos correm os dias do pe« 
gureiro, que acordado imaffina, e dormindo sonha, uma 
mentura tanto mais fácil de conseguir, quanto é limi- 
tadissima a esphera de seus desejos. Nada, por outro 
lado, tem alli que temer o peffureiro ; ursos, já os náo 
ha n'aquellas montanhas ; lobos, raras vezes appare- 
cem ; e.se um por acaso, mais destemido, se apresen- 
ta; reunem-se as vaccas, fazem uma espécie de qua-' 
drado militar cujas baionettas são os chilres, ladr&o os 
c&es, grita a rapaziada toda, e ó um momento em quan- 
to se retira o aggressor. 

Quatro mezes alli se conservfio gado e pegureiros, até 
qBe 08 dias eocurtáo« as noutes esfri&o, e principi&o, 

206 



homens e aoimaes, a ter saudades. dq lar domfeeticov 

gliega emiim o dia 9 de outubro, o dia da festa de £h^ 
ionisio, o dia do regresso. Vaccás eo.Telhas parecem 
tão impaeientes eomo os pegureiros de voltarem a co- 
fia, e entendem á légua os preparativos que para isso 
fie fazem : a final ordena-^se tudo por grupos^ e põe-ee 
1^ caminho, os homens rindo, os animaes saltando : é 
tftdo prazer e folia. O som dos chocalhos, o mugido da^ 
"Vaccas, o ladrar dOs cães, as cantigas pastoriís!» an^ 
Qunciáo de longe o cortejo; mulheres e creancas lhe só» 
Aem ao caminho ; as casas ornaram-se com folhas e flcH» 
ves para celebrarem o festivo acontecimento ; fervem 
08 beijos de mulheres e filhos, de irmãos e pais ; cru-' 
xão-«e as perguntas ; parece redobrar mutuamenta a 
aifeíção ; as mesas estão cobertas de carne, de doces 
& de vinho ; nos cnrraes ha também para as vaccas um« 
Cfima de palha fresca ; e todos se julgão momentânea- 
xôente felizes. 
Qm vida plácida, innoftente e fielU, é a do oampo 1 . . . 

2 DB JCSHa 

SâPàTI&IKO descalço. --Em Poflo alegre, no Im-. 
perio do Brasil, onde resido, morreu ha annos um sa- 
pateiro, e por signal que se chamava Wencesláu Antó- 
nio da Silva, era natural de Lisboa, e possuia para ci- 
ma de quarenta contos de réis. Assistindo-lhe ao enT 
terro, e vendo-o descalço dentro do esquife, improVi- 
aei^he no cemitério o seguinte 

EPIGRAMMAw 

No recinto onde repoitdS/> 
Tantos despojos mortaea* 
Descalço aqui jaz um quidam. 
Que viveu calçando es mais» 

António Maria do Amarai JUtiafro. . 

207 



3 DE JUXHO. 

MEIA VOLTA i DIREITA. - Dirigio-se um soldtdo 
ao seu Coronel pcdindo-lbe licença para ir 1 terra Ter 
sua mU. que nas anciãs da morte o chamava ; ao seu 
' 'pedido coDtenta-ee o coronel com res- 
ponder: — Meio ooilo — d diretio — mor- 
dia. — O soldado cumpria a ordem, reti- 
rou-se, e subjugado pelo amor filial, pe- 
las saudades da mãi. e pelo receio de me 
nâo recolher o ultimo suspiro, poi-^e a 
caminho, mesmo sem licença, e andou 
por lá doug meiea. Findos elles, apre- 
senta-se ao Coronel, marchando sempre 
em passo ordinário, jteprehen de ndo-lhe 
este a sua insubordinação militar, e per- 
guotando-lhe porque aseim procede- 
ra, respoode-Ihe o soldado : c Coro- 
^n6l-, V. S." maodou-me marchar, e ajn- 
da ninguém até agora me mandou fazer 

alto; sempre eatou mais cangado!... ha dous mexes a an- 
dar !...> O Coronel mandou-lhe Tazer alto diiendo- 
lhe : í Perdòo-le pela primeira, mas se lomaras, faço- 
te parar por uma Tez, » 

Recusara a mesma graça a outro duas veies o Coro- 
nel, do que o soldado nSo' Ice caso, allegando que duas 
negativas, faziâo uma affirmativa. 

Tempera do aço. — Oa celtiberos, e nomeada- 
mente 03 da margem do Ebro, que effto tidos em 
conta de armeiros primorosos, usavão do seguinte pro- 
cesso : tendo foig'adas e promptas, mas de tamanho 
mifior do que haviSo de ser, as espadas com ferroa de 
lança, euterravio-nas, e assim as deiíarto tomar da 
ferrugem ; passado tempo, "tiravio-nas e trabalhavao- 
□as de novo. O que restava depois de descascada a fer- 
rugem, até por terro e aço cortava sem «e embotar. 

Í08 



J^ 




\/f CHARADA. *) \^ 

^\ ' yv 

XEra Bouvines, dos esquadrões á frente, ^<^ 

^ ^ Que á França gloria dáo, ao Rei eorôa, €\ 

^X^ Em trémula' bandeira alta fulgura, ^^\ 

>/s Os Francos animando, em quanto sôa \^ 

V ' O pesado montante na armadura. 1 x/% 

^KJ' \^ 

>f^^ De que serve renome resplendente ^^ 

^ N'este mundo, que passa como fumo, ;v 

ti ^ Se da bondade o coração não toma, ?^^ 

^\ E a alma não sente, da'virtude o rumo ?. .2 ^y\ 

X- . \/' 

Filha de Ulysses, capital do reino, ^^ V 

\^ Mostras, berço de heróes, de heróes jazigo, ^/^ 

^^ Acções sublimes, que o vorace tempo ^ ^ 

P<^ Só 'da memoria riscara comtigo. /-^ 

XI'*) E' de uma alta personagem, veda- \^ 

^ ^ se-me até dizer de que hemispherio: o lei- ^^ 

^<! tor que adivinhe. Se a nâo puz, como de- ^<^ 
xx^ via ser, no logar d'honra d'este livro, isto ' \à 

f/\ é,'logo na primeira pagina (onde figura um ^\ 

>/^ Imperador), é porque só a recebi quando \^ 

V elle se achava a paginas 209 : era a pri- f^\ 

j^ nieira de que então podia dispor e em que ^<^ 
^^-^^mui gostosamente a transcrevo. ^^^^^ 
' -é^5^ Á, M. C, ^é^^ 

. .,,^,jvArj\pj\rvrj\/\Ai\í\rj\rj^j^j^^ 




5 DE JUNHO. 

BEMEDIO PARÁ A MORPHÉA. — O Sr. José Maria 
Cordeiro Lima, medico chirurgi&o pela eschola de Lis- 
boa, e facultativo estabelecido com excellentes crédi- 
tos na cidade de Ponki-Delgada, tem de occupar uma 
das mais honrosas paginas na historia dos bemfeitores 
da humanidade, se as experiências confirmarem a effi- 
cacia que elle, n&o sem bons fundamentos, suppõe ha- 
ver descoberto no óleo da tartaruga para a cura da ele- 
phantiase, ou lepra tuberculosa. Uma mulher de 24 an- 
nos, segundo elle mesmo escreve ao jornal Revista dos 
Açores em 24 de março de 1853, padecia esta horrorosa 
moléstia havia mais de três annos. Desamparada dos 
médicos, tomou, por conselho d'elle, o óleo das banhas 
da tartaruga, e na forma de emulsão. Quando havia to- 
mado cerca de 6 libras, contra toda a expectação apre- 
senta os tubérculos, já de muito ulcerados, em per- 
feita cicatrisação, e os não ulcerados, resolvidos qua- 
si totalmente 1 

«Um homem de cincoenta annos, pouco mais ou menos 
(é o mesmo doutor que falia), cujonlho falleceu ha pou- 
co de lepra tuberculosa, apparece com a terrivel molés- 
tia ha dois mezes ; depois de um tratamento preparató- 
rio, empreguei o mesmo óleo, e na mesma forma, e ha— 
vendo tomado quatro libras, é táo extraordinário o re- 
sultado, que faz pasmar de admiração, x>or se tratar 
de um padecimento pára o qual tem sido até hoje 
impotente a medicina, não obstante o haverem-se 
aconselhado todos os meios heróicos da therapeu- 
tica. » 

Será (pergunta o doutor), será o resultado que obser- 
vei n'esses dois ensaios mera casualidade ? Será pro- 
priedade especifica do óleo da tartaruga ? Dará o azei- 
te de peixe o mesmo resultado ? DaVo-ha igual este ou 
aquelle azeite ? São estes outros tantos pontos de pra- 
tica que merecem ser estudados U. 51 p. 267h 

210 



6 DE JUNHO. 

FESTA DAS GARRAFAS. — Celebra-sc todos os an- 
nos uma festa assim chamada na igreja de SâoMarcelli- 
no, em Bóulbon, linda aldeia vinhateira no departaraeir- 
to das BôccasdoRhodano, era França. Al de Junho, vés- 
pera da festa d'âquelle Santo, principiâo a tocar os si- 
nos ao pôr do sol, o sahe d'ahi a pouco uma procissão. 
Vai adiante o pend«âo, com a imagem do Martyr, pre- 
cedida de tambores ; seguera-se depois, em duas fi- ' 
las parallelas, todos os lavradores da terra, levando ca- 
da um na mâo uma garrafa do melhor vinho da sua co- 
lheita, e cantando todos um hymno ao bemaventurado 
Santo. Fexa a procissão o cura da fréguezia, revesti- 
do com uma riquissima capa d'asperges, que só n'este 
dia serve, e rodeado de muitos outros padres e de 
todos os seus parochianos, á testa dos quaes vão 
as autoridades do sitio. Chegados á porta da igre- 
ja, entra tudo, ajoelha o parocho no primeiro de- 
grau do altar-mór, e entoa as preces do ritual roma- 
no para a benção do vinho. Terminadas ellas, lança 
agua benta por cima de todos os circumstantes, abre 
cada um a sua garrafa, e bebe uns golos do viuho aben- 
çoado : a primeira autoridade da terra dá copos ao 
parocho e aos outros padres que officiáo com elle, en- 
che-lh'o8 de vinho, e oebe também depois. Termina- 
do isto, sahe outra vez a procissão de dentro da igreja 
{caminhando então alguns em zig-zag), e torna ao mesmo 
ponto d'onde partira. 

£' de tempos immen)oriaes esta ceremonia, que mais 
dia menos aia hado ser adoptada em todas as mais iu- 
signiíicantes aldeias da Inglaterra. 

QUADRUPEÇES DA AUSTRÁLIA.— Contâo-se na Aus- 
trália 53 espécies de quadrúpedes indígenas do paiz e 
ilhas adjacentes, o que se não encontra em nenhuma 
outra terra. 

211 



T BE JUSHff. 

LM REI PADEIRO. —Hntia em Londres um pádeiri- 
lodequmie annos de idade, muito parecido com o 
Conde de Warn'ick (Tilho do duque de Clarence, que 
Henrique Vil encerrara 'em uma forUleia). Toia teve 
esse menino o arrojo de se fnzer passar pelo Príncipe. 
Foi-se para a Irlanda eahi foi acolamado e coroado 

ÍBei de Inglater- 
ra. Entrando o 
fingido Conde E- 
duardo de War- 
wick na provin- 
ci!i deLaneastre, 
marchou contra 
e II e Henrique 
Vil, e aW se trít- 
vQu uma batalha 
em 1487, na qual 
foi preso e apre- 
sentado ao Rei, que ae contentou em o nomear.bixo da 
cosinha no seu palácio. Jantando um dia com o Mo- 
narcha alguns deputados da Irianda, sérvio i meza o 
uaurpador, iosultando-se aBsim a credulidade dosir^ 
Iftudezes. 

8 DE JUNHO. 

ÓLEO DE ZAMBUJEIRO. — Para ser applicada a 



< Compadre, com esles taes 
Cojo serviço é ronceiro. 
Ir por bem é por demais ; 
Heis-lhe de untar os ilhaea 
Com Èleo de zambujeiro . 



9 DE JUNHO. 



213 



Minha lyra, de lucto ^estida^ 
Dá-me um hymno de prantos e dor, 
Para o joven que habita nos c^éus 
Ir depor junto aos pés dO' iJenhor. 

E's fetiz entre os coros dos anjos. 
Porque o céu invejou minha sorte I . .. 
Tu no céu, e eu na terra sósinha, 
Sem esperança, sem guia, sem norte ! . .. 

Náo sentiste profunda saudade, 
Bem pungente, no fundo do peito, 
Quando o anjo da morte estendeu 
Negras azas por sobre o teu leito ? 

N'essa hora final náo tiveste 
Um olhar repassado d'amor,. 
Um olhar que esquécer-te fizera 
Do moniento supremo o amargor?... 

Náo tiveste no.s lábios um beijo. 
Entre prantos d*amor e saudade, 
Um dos beijos que Deus abençoa, 
E nos leva da vida metade ? 

Náo sentiste na face gelada 
Cahir pranto que amor abrazasse. 
Nem tiveste quem próximo á campa 
O teu somno de morte embalasse ?!.... 

Ai tiveste I que tinhas um pai, 
De quem eras o filho mais querido, 
Que in da hoje na terra lamenta 
Para sempre seu filho perdido. 



-Uas adior paternal nâo compensa 
Da mulher esse amor tâo ardente ; 
Esse enlevo das almas, que abrasa. 
Só a amante na terra é que o sente I . .. 

Só a amante !. .. E nâo poude provar-te, 
Que na terra ninguém amaria I . .. 
Nem dizer-te na nora suprema 
Que, tu morto, de todos descria!... 

Vai tu pois, minha lyra saudosa. 
Sobre a campa de goivos cercada, 
Da donzelia jurar a constância 
Ao mancebo por quem foi amada. 

Vai jurar-lhe este amor verdadeiro, 
E que o frio da campa não gela ; 
Vai levar-lhe os profundos suspiros, 
Que por elle desprende a donzelia. 

Vai contar-lhe qual é minha vida ; 
Quantas lagrimas tenho chorado ; 
As tristezas que a alma me pungeiíi, 
As saudades d'um peito magoado. 

Vai dizer-ihe que vivo sósinha 
Dês que a morte cruel m'o roubou ; 
Que a alegria, tâo minha, d*outr*ora 
Para sempre com elle acabou. 

Minha lyra, de lucto vestida, 
Jâ pagaste o tributo de dor I . .. 
Deixa agora que eu vá sobre a campa 
Desfolhar uma rosa d'amor ! . . . 

Maria C. de Carvalho C. de F. A. 



214 



10 DE JUNHO . 

IXTENDENTE ENTENDIDO. — Houve no Rio de Ja- 
neiro, no tempo do ^. D. João YI, um Intendente da 
Policia (o Dr. retra), homem de grande rectidão e gra- 
ça, mas também audacíssimo, e de quem se narrâo in- 
numeraveis anecdotas. 

Ordenara elle uma vez certa diligencia de serviço, e 
mandara ir á sua presença um cidadão, o qual Respon- 
dera ao beleguim que não ia. Perguntando-se-Uve a ra- 
sâo, respondeu (jue era porque não queria. Imme- 
díamente expedio Petra ordem de pris&o, mas co- 
mo o sugeito losse alli um grande figurão, no dia im- 
mediato andava toda a cidade em polvorosa, e de tar- 
de recebeu o Intendente uma Portaria do Governo, na 
qual se lhe dizia, pouco mais ou menos, assim : 

« Manda S. A. R. que o Intendente da Policia solte 
incontinente ao cidadão fulano, visto náo haver outfo 
motivo para a sua detenção, senão a sua j^hrase Não 
quero, a qual, por si só, 'não é criípe. Assim o tenha 
entendido, etc. » 

No mesmo instante pegou Petra na penna e escreveu 
na mesma portaria : 

« Pois se o não querer nâo é crime, não cumpro por- 
que não quero. » 

11 DE JUNHO. 

O POLTRÃO. 

A* Tentendre parler da guerre, 
II détruit comme le tonnerre 
Les tours, montagnes et vallons : 
Attaquez-le par aventure, 
Vous verrez que comme Mercure, 
U a des alies au talon. 
215 



12 DE JUNHO. 

MATRAES. — N*este dia celebravào as mais romanas 
a festa por isso chamada : Matraes, em honra da deusa 
Matuta, que era aino dos gregos. Náo levavâo á solem- 
nidade os próprios íilhos, mas sim os de suas irm&as, 
porque Ino tinha morto os seus. Escravas também lá náo 
punnão o pé, unicamente uma a quem todas as damas 
no templo esbofcteaváo, porque a Ino, ou Matuta, tinha 
perdido o juizo com ciúmes d*uma serva sua: offere- 
eíão-lhe, fíualmente, um bolo de farinha, mel e azeite, 
cosido debaixo de uma campana de barro. 

13 DE JUNHO 

BITUMES. — Concordáo geralmente os naturalistas 
em serem os bjtumes originados da decomposição de 
animaes e vegetaes. Tem o bitume a especial proprie- 
dade de arder com chamma, e de espalnar em quanto 
se está queimando uma fragrância particultir, como que 
aromática, a que chamáo : cheiro bituminoso. Só se 
achâo os bitiimes nos terrenos que os geólogos nomeiáo 
de segunda formação. Quatro principaes variedades re- 
<;onhecem de bitumes os naturalistas : JVop/ifa, Petro- 
liOy Maltha e Asphalto — Xnanhta é de grande fluidei 
e transparência ; de muita analogia com a terebentina. 
»i táo corabustivel, que arde debaixo da agua : dá cham- 
ma azulada, quando se queima não deixa resíduos, e 
abunda na Pérsia, onde os moradores quasi se não ser- 
vfim d*outro combustível : serve também para luzes e 
para composição dos vernizes : os médicos antigos re- 
cftitaváo-napara as tOmbrigas. O petrolio tem muitas pa- 
recenças com a naphta, serve, como azeite, para lâm- 
padas' e como combustível. A maltha só aifTete do 
Tpctrolio em ser mais espessa e consistente ; é ne- 
gra e viscosa : chamáo-lhe os persas bálsamo de mú- 
mia: acha-se em Franca no departamento do Puy de 

216 



Dome. Finalmente, o asphalto estrema-se por ser dos 
quatro o mais solido ; parte-se, e por onde quebra ap- 

Í>arece lusidio : algum é muito preto ; só quando o es- 
ree^ é que dá cheiro. Ghamão-lhe também bitume de 
Judea, pelo haver em grande copia no lago de Judea 
chamado AsphalticOy no Mar Morto. Ha demais uma es- 
pécie de bitume que appellidãocaoutchuc mineral, ])elo 
muito que se parece com a gomma elástica. Dos bitu- 
mes se valeram os homens desde a mais alta antiguida- 
de para diversos fins. Com bitume erâo cimentados os 
tejolos dos muros de Babylonia ; com bitume embalsa- 
madas muitas das múmias no Egypto ; e com bitume 
recobertas pelos romanos as estatuas, para nâo entrar 
com ellas tào facilmente a lima surda do tempo. Entre 
nós o asphalto, para o ({ual já de annos existem formadas 
companniasemprezarias, e de grande préstimo para pa- 
vimento de lojas, adegas e subterrâneos, passeios ou 
banquetas de ruas, fundos de tanques, almacegas, ecis- 
ternas e terrados, que supprem com tanta vantagem os 
telhados, pelo custo, pela leveza, pela impenetrabilida- 
de á agua, e por offerecerem aos moradores dos edifícios 
das cidades, que muitas vezes sâo verdadeiros cárceres, 
um desafogo saudável e recreativo, um estendal, uma 
nova commodidade para depósitos de agua da chuva, um 
augmento de espaço nas vivendas, e emfim um miran- 
te e jardim aéreo, se se quizer. Cora tantaa5,'táo obvias, 
6táo inquestionáveis excellencias, parece incrivel que 
este extraordinário melhoramento no edificar, tanto e 
tâo bem recommendado ha annos na Revista Universal 
Lisbonense, se nâo haja por toda a parte generalisado. 

Ai ! que lindos bonecos que eu faço l — 2 

Ai ! que amor ! que tormento ! oh que ingrato I — 2 

Ando por fora da bota 

E por dentro do sapato. 

217 



14 DE JUiNHO. 

QUIMA DO SALEMA. — Está situada na Arrentella. 
aldeia próxima ao Seixal. Deu-lhe principio Vasco da 
Gama (A. 51, i de septemhro. A. 52, p. 43 e 166) no sécu- 
lo XVI, e ainda ahi se conservâo objectos por elle ira- 
lidos do Oriente e cedros que a tradição assevisra se- 
rem do seu tempo. 

15 DE JUNHO. • - 



A VIOLETA. 



Roxa violeta, 
Formosa e pura. 
Da noite escura 
Se o frio orvalho 
Te hade crestar. 
Melhor farias, 
Em vir comigo ; 
Co'o teu amigo 
Tu vais morar. 

Inanimada, 

Nâo me respondes. 

Mas não me escondes 

Alto mysterio, 

Que te creou. 
Em ti eu vejo 
A mão piedosa, 
Que tâo mimosa 
Te debuxou. 






Táo eloquente, 

Muda, tu falas 1 

Ohl tu náo calas 

Poder e gloria 

Do Creador I 

O teu perfume. 
Ameno e brando. 
Está clamando 
« É Deus o autor ! » 

Tu da virtudt3 

És o desenho ; 

Com tanto empenho, 

Como ella, tratas 

De te esconder ; 
E tens como ella 
Tanta humildade. 
Tal suavidade 
No recender. 



P. José Maria da Piedade e Leneastre. 

218 



16 DE JUNHO. 

coxM uMa cajadada matar dous coelhos. — 

Pára uma esplendida carruagem aporta de uma loja de 
fazenda na Rua d« Quitanda (Rio de Janeiro). Salta de 
dentro um sugeito bem vestido, com suas condecoia- 
cóes e o braço direito ao peito. Pede, escolhe, ajusta 
ue quanto alli se vende de mais delicado ; manda met~ 
ter tudo n'um sacco de veludo bordado com armas, que 
já para isSo trazia ; mas no momento de pagar, não 
acha na bolsa a sua carteira ; manda procurara na se- 
ge, nâo está lá I.... « 

< Bem, é indifferente ; em checando a casa mandarei 
o dinheiro, e o mesmo portador levará o sacco. » 

< Essa é boa I — diz o honrado lojista. — Ainda que 
eu não conheço a V. Ex.", náo desconfio. . . .» 

« Espere 1 Isto remedeia-se bem. . . , Um bilhete a mi- 
nha mulher. . . . Não ha coisa que mais me aborreça do 
que é demorar pagamentos. O peór é esta maldita 
máo, que me náo deixa escre,ver ; trago três unheiros e 
principio de quarto ; se o senhor quizesse ter a bonda- 
de de escrever por mim. , . . (Era a outro lojista velho, 
amigo ^0 dono da casa, e que alli se achava pataralan- 
do, que o nosso cavalheiro se dirigia] 

« Pois não, Senhor 1 queira dictar. » 

« Menina! manda-me já já, pelo portador, 250$000 rs., 
e adeus até ao jantar. » 

Entrega o bilhete ao jockey, que lhe servia de aco- 
Jyto ; diz-lhe em volta alta : — Traze immediatamente 
este dinheiro aqui ao senhor — e disfarçadamente, em 
voz baixa : — £spera-me no Largo de b. Francisco de 
Paula. 

D*ahi a poucos minutos era apresentado o bilhete á 
mulher do que escrevera, a qual reconhecendo a letra 
do marido, entregou logo a quantia pedida. Os lojistas 
da visinhança, constituídos em jury, decidiram quene-' 
nhum dos dôus logrados podia atirar ao outro a pri* 
219 



meira pedra, pois se um perdera 250S0OO rs. em di- 
nheiro, o outro os perdera em fazenda, vindo oto^ 
Sueador de ambos a lucrar n'essa tialada os ntts 
SOSOOO Te. muito honradamenle. 
O que admira é que semelhantee cavalheiros de in- 
dustria nío caião 1of(o no mesmo dia ua rede da poli- 



ANTirATHlAS. — Ás fraciucias da humanidade e ás 
PxlravftKancias d'aulore3 celebres que relalámos a 10 
de outubro do nosso Almannch de 1651 e a pag. 103 do 
de 1853, acreseenloremos hoje as seguintes ; 

La Motlie não podin ouvir 
instrumento algum de musi- 
ca, e delcitava-se com o re- 
bombo do IrovHO. 

Haria de Medíeis nAo po- 
dia ver nem á mio de Deus 
Padreuma rosa, nem mesmo 
pintada, e gostava de todas 
as outras Hores. 

O Cavalleiro de Guiie tam- 
bém cabiasem sentidos ven- 
do uma rosa. 

Goethe euplicava a aver- 
Bio que tinha ás rosas inrjir- 
nadas pela recordação que 
IHe trdziao das faces de uma 
bella que amara extremosa- 
' inênte e que lhe tdra Infiel. Por análogo molíro deses- 
perara também tom ot Jasmins. 

220 



18 DE JU?íHO. 



DDE DE ANACHREONTE, 



Gentil andorinhai 
One vens annualõ^ente, 
Ni bella estação, 
Tecer-me visinba 
O ninho innocente 
Ba tua affeiiQào ; 

E a annuncios de inverno, 
Temendo sentiFo, 
Lá vais a cantar, 
fiefugio mais terna, 
Pedir ao teu Nilo, 
De Memphis gosar ; 

Vem cá, passarinho ; 
Amor n'este peito 
Não faz nunca assim I 
E* ninho e mais ninho ! 
Um ido, outro feito, 
R^noVa-os sem fim. 



Ver um Gupridinho 
Como abre asazitas. 
Tentando a voar I 
Este, inda no ovinho ! 
Esfoutro as «asquitas 
Já quasi a largar i 

De bicos abertos. 
Nenhum dos mofinos 
Se cala jamais; 
Os já maia espertos 
Aos mais pequeninos 
Manté^m como pais , 

Depois os mais novos. 
Apenas creados,. 
Produzem também; 
De todos vem ovos ; 
Dos ovos, dobrados 
Amores provém. 



Sâo taes seus clamores. 
Que ás vezes abalos 
De raiva me dáo !. .. 
Mas tantos amores, 
Como heide eu lanç(vl'os 
Do meu coracáo?! * • 



221 



A, F. de Castilho» 



19 BE JUNHO. 

ECONOMIA POLITICA. — Dá-se este nome á scieu- 
eia que trata dos interesses materiaes da sociedade 
Subsistem as nações em virtude de leis naturaes cufas 
causas e resultados se ligâo a factos geraes; modificâo- 
se estas porém, segundo o clima, a posiçào geograplii- 
ca, e a forma particular de governo. Segue-ee d*ahi cue 
nào pode ser uma e a mesma por toda a parte a sciín- 
cia da economia politica ; tem sem duvida principios 
de applicaçâo geral, mas querer traçar um código em 
forma para* todos os povos, fora tentar um absurdo. 
Poucas idéas tinhão a tal respeito os antigos. Quaâi 
que só foi na épocha do renascimento das letras nalta- 
lia, que as matérias económicas entraram na circula- 
ção intellectual, pelo facto da admissão aos cargos |u- 
£licos, nas diversas republicas, de homens que formi 
ao mesmo tempo magistrados e negociantes. Sully^ 
Colbert, e o medico Quesnay, no tempo de Luiz XV, 
lizeram n'este assumpto algumas tentativas, menos in- 
portantes por seus resultados do que pela direcção qiie 
imprimiram ás meditações dos homens doestado. As 
Indagações sohre a natureza e as causas da riqueza das 
nações^ que publicou em 1786 o escocez Adão Smitb, 
lançaram a primeira base, um pouco solida, da econo- 
mia politica. De então para cá, homens de mérito su~ 
periar, entre os quaes J. B. Say, hão desenvolvido por 
meio de seus escriptos as theorias d'esta importante 
sciencia. Tudo quanto demostra a relação que existe 
entre as leis, o trabalho, a riqueza, por um lado, e a fe- 
licidade das populações por outro, é do dominio da 
economia politica. Prodtizir e consumir constituem o 
seu centro de acção ; agitão-se porém em torno a essa 
base infinitas especulações secundarias, como as theo- 
rias dos capitães e dos fundos productores, dos em- 
préstimos, das moedas, do crédito, das contribuições, 
das colónias, da população, etc. etc. 

222 



20 DE JUNHO. 



ARIOSTO E O DUQUE DE FERRARA. — Antes de de- 
áicdrdes uma obra a qualquer, examinai se está no ca- 
so de a apreciar, nâo vos aconteça o mesmo que ao cé- 
lebre Ariosto, que dedicando o seu famoso poema Or^ 
Imdo furioso ao Duque de Ferrara, só obteve em re- 
cirapensa esta exclamação : « Não me direis. Senhor 
Àriosto, onde diabo fostes buscar tanta parvoíce ? » 

[A. 54 p: 166) 



21 DE JUiNHO. 



QMAMAMAi 



É matéria primitiva, 
Mui útil e productiva. 
Tirada de cousa viva 
Com índole inoffensiva . . . 1 



Ponhâo outros a ambie&o 
N*uma alta posição ; 
Eu prefiro, e com rasão. 
Minha humilde condição... 2 



Por annos e annos. 
Com máu alimento. 
Vivi sem alento. 
Ás chuvas e ao vento*, 
Até que um invento 
Me fez arribar : 
Agora me pilHo 
Mui sécio e casquillio, 
£ até maravilho. 
Por tanto que brilho. 
Que faço brilhar. 



223 



A. i»f. C, 



52 DE JUNBO. 

LnT.LnnO de ClLUElVT.-rui Gilbert um eicel- 

- lente pe^la di 

séciíh) XVIK, i 



perseguições dt 
seus conlerrií- 
neos.Morreu em 
1780. na idade 



eale o epitaphio 
que para si pró- 
prio com pozp:a, 
e que na aepil- 
turalhefoimai- 
dado gravar pir 

se lhe conser- 
vou fiel até aoi 



brarios e^tlialbu o ultimo suspiro. 

Au banqiiet de U víe, infortune convive, 

> J'apparus un jour etjn meursl ... 

Je meurs, et surm» tombe, o£i lenlementi^arrive, 

Nul ne viendra verser des pleurs. 

- Existe em Uiããles- 
^..^^ ^^ ^...^uu «nnos, aue, sem ser ju- 
luda de cinco pollegadas en'ella um 

ue a move á vontade. Pode-lhe servir de 

e leme e de catavtnto. 



33 DE JU»BO. 

AMULHER. — Hotalmeote fallando, a mulher é nm 
cintico eterno de Deus : é uma harmonia d'anios ; é o 
nascer perpeluo da aurora; é o murmurar do arroio 
que serpeia em torno á rosa espontanfa que ao pé da 

oésis no de- 

é D sonbo do 

despertar do 
crente ; á a 
esperança do 
ambicioso ; é 
o geneitÊ da 
religião uni- 
versal : é a 
seita geral da 
lodoB ospai- 

gêin esculpida 
no crâneo de 
todas as raças; 



para o Inmulo ; é o azul do céu 
go no meio da tempestade ; é . 
pre passa o rosto afogueado 



dade que o 

homem leva 
t alenta o niuí^a- 



24 DE JUNHO. 

ALEXANDRIA. — Transcrevemos o seguinte de uma 
correspondência do Jornal dos Debates francez : 

E' uma cidade meio europea, cuja maior praça não 
envergonharia qualquer dasprincipaes cidades dê Fran- 
ça. Em quanto a monumentos, só tem dois, — acolumna 
chamada de Pompeu e a agulha de Cleópatra, que é 
bem conhecida. Apenas algumas ruínas, acerca das 
quaes existem bastantes duvidas, indieâo oloeaL da. 
,f arnosa bibliotheca, e de todos os estabelecimentos 
scientiíicos devidos á munificência dos Ptolomeus e de 
alguns Imperadores romanos. A* excepção do nome, 
nenhum outro vestiçio se encontra de Alexandre, seu 
fundador. Alexandria esquéceu-se completamente do 
seu passado, apesar de tâo glorioso, perdendo a me- 
moria das suas tradições históricas, como todas as ci- 
dades dadas ao conmercio, que pensão mais nos seus 
interesses actuaes, que na sua historia. Ha pouco, po- 
rém, perto de Ramle, no sitio chamado o Campo de Ce- 
saVy fez-se uma importante descoberta. Seçjundo 'as in- 
dicações do vice-rei, deparou-se com ura immenso pa- 
lácio romano, cujo assento éra n*ura sitio delicioso á 
beira mar. Conforme uma inscripçâo, que copiei, e que 
está gravada n'um troço de puríssimo mármore branco, 
este palácio fora offerecido ao Imperador Marco Auré- 
lio Antonino, pelos tribunos das legiões. O que mais 
confirma ainda- a época da sua edificação, são as ma- 
gnificas esculpturas que se encontrão. Vi a mão de uma 
estatua de mulher, que apesar de mutilada, estava mol- 
dada com muita perfeição,, assim como uma figura de 
homem meio quebrada,* e outros fragmentos. Mostra- 
ram-nos também um grande mosaico, muito bem con- 
servado, e que representa o busto de Bacho com um 
thyrso e um cacho de uvas. Foi um certo Simpronio 
que o mandou esculpir, segundo consta de uma ins- 
cripçâo mutilada. Desoobrio-se também um aquedueto 

226 



&nbterraneo, e muitas acéquias, com uma naumachia, 
que demonstrão que as aguas do Milo, cuja inundação 
Doeste ponto se aproxima da praia, para alli eráo con- 
duzidas n*butro tempo. Este sítio está hoje deserto e 
estéril. Unicamente se vêem os restos numerosos de lou- 
ça e de tejolos, os quaes prov&o aue este logar fora 
habitado. No tempp dos romanos devia ser uma linda 
povoação, próxima á residência imperial. 



25 DE JUNHO. 

yHA PAIXtO. 

Inda existe, cruel, inda em meu peito 
Se nutre da paixão o fogo activo ; 
Inda contra o teu çosto por ti vivo. 
Fazendo o sacrifício mais perfeito. 

Inda te adoro, ainda te respeito, 
Vendo em ti de meus males o motivo ; 
Porém o coração, de amor captivo, 
No captiveiro vive satisfeito. 

Se ás vezes contra ti queixumes.»olto. 
Do que fiz insensata então me admiro, 
E.aos meus antigos sentimentos voUo. 

Só por ti vivo, 8Ó por li respiro ; 

Sahirá com minha alma, em pranto envolto, 

Teu nome unido ao ultimo suspiro. 



Vitcondetsa deBaltemão [D. Catharina). 



227 



AÇOUGUE. — ííos lenipos primitivos não consta que 
houvesse talhos; AinJH nos séruloa heróicos datire- 
cia erâo elles desconhecfdos. Quem \ê as descripções 
que Homero fai dos banquetes dos seas heroes, cuidi 
eslar lendo n'iHB viajanle moderno a pintura d'uma eo- 
mesaina de selvagens. Pois quando os taes heroes, Ce- 
jieraeB, Príncipes, e Reis, querem preparar meia laula 
. .1,, apropria mSo. dei- 

toiro ou niatAo 



niaaassar. Em 
Homnfoisobos 
Cônsules que 
sefundarani os 
primeiros a* 
. çougues , ha- 
vendo parael- 
. . nhâo A sua con- 
d'e$tes collc^íos a prin- 
cipio só curava de mandar vir porcos, e por isso se cha- 
mava suarii. porqueiros ; o outro tractava da compra 
e venda dosbois e se diiia pecuaríi ou buarii, ma- 
nadeiros ou boieiros. Com o andar dos tempos junta- 
ram-se os dous collegios em um sò ; tinbao estes mar- 
chantes ao seu dispQr homens para matar o gado, ama- 
nhaVo, talhafo, e vendelo ao povo, a quem chainavio 
laniones ou lanii e carnifices, que vale lanlo como cor- 
tadores ou magarefes. Aos lognres onde malavão, cha- 
mavâo lanienae, matadoiros, e ás casas «m que ven- 
di3o macella ou taberna earnaria, talhos ou' acour 



guês. Â policia dos romanos, no tocante aestesesla- 
belecimentos, diíTundia-se com a sua denominação pe- 
los paizes conquistados, d*onde vem serem muito an- 
tigos na Europa 09 açougues. 

Até ha bem poucos annos erâo casas yepugnafi- 
tês pelo aspecto de sangueira, immundi<íie, e pelo in- 
supoortavel fétido que n'ellas havia. Hoje, que se at- 
tende muito mais e melhor á salubridade, os matadoi- 
ros querem-se fora do povoado, e as lojas onde as car- 
nes se expõem á venda, como as pessoas encarregadas 
de as cortar, tudo respira grande aceio. 

Os magarefes, especialmente os matadores do gado, 
foram sempre mal vistos, e reputados como gente fe- 
roz e vil, que vivia de destruir, embora fosse para ser- 
viço da sociedade. Boiste diz com razão qu« o cadafal- 
co'é escola de assassinos e o matadoiro de carrascos. 
Êntende-se por tanto o horror que o povo tem instin- 
ctivamente a tal profissão e o desabrimento cora que" a 
legislação muitas vezes a tratava, corapellindo os corta- 
dores a' serem, em caso de precisão, ajudanteá ou substi- 
tutos do executor d' aUa Justiça. Assim se entendesse o 
porque entre nós se reputava', e talvez ainda hoje se re- 
puta, oífício vil o de moleiro, uma das mais innocentes e 
poéticas occupações de todo o mundol tanto é verdade 
que de envolta 'com o <iue se costuma chamar senso 
commum ha sempre em boa dose o que se poderia cha- 
mar demência commum. 



27 DE JU.NHO. 



VALOR E GENEROSIDADE DOS FRANCEZES.-Fei- 

to prisioneiro pelos francezes o general Sulms, na ba- 
talha de Nerwinde, dizia a ura official : « Que diabo de 
nação é a vossa? bateis-vos como leões e tratais os 
vencidos como se fossem vossos melhores amigos I. .. » 

229 



2S DE JUNHO: 

EPIGf^AMMA. — Esta palavra vem do grego, e signi- 
ficava originariamente : escripto por cima, rótulo, ins- 
ciipçào, etc. O epigramma e uma poesia muito curta 
e chistosa. Entre os gregos não era ainda satyrico e 
zombeteiro, como entre os romanos veio a fazer-se. O 
maior epigrammista romano foi Marcial, que disse, 
d'eUe próprio : 

Bom, medíocre e máu, compõe meu li^>ro. 

Os epigrammas d'este autor abraç&o todos os géne- 
ros ; o heróico, o panegyrico, o campestre, o ana- 
chreontico, o litterario, o mordaz, e mesmo o obsceno 
mais desenvolto. Entre os modernos, muitos autores 
têem cultivado o epigramma. Hoje em dia é raro faze- 
rem-se os epigrammas em verso, mas é mais raro ain- 
da que os que têem presumpçào de espirito escrevão 
uma só pagina que nâo seja lârdeada de epigrammas ; 
por outra, de graças, nem sempre salgadas, muitas 
vezes abstrusas, e muitas outras insolentes. 



29 DE JUNHO. 

Ninguém pode duvidar. 
Porque é claro como o giz. 
Que Silvia nfio tem 30 annos ; 
Se ha 40 que ella o diz ! . . . 



# ¥ ¥ 

(Brasileiro,) 

230 



30 DE JUNHO. 



CANÇONETA ANACHREONTICA. 



A naturez^ 
Toda suma ; 
Eu recebia 
Um novo ser. 

Quando assomava 
A aurora bella. 
Achava n'ella 
Vivo prazer. 

Ao meio dia 
A mesma calma 
Dava á minh'alma 
Do seu calor. 

Na doce tarde. 
Que refrescava, 
Eu recobrava 
Outro vigor. 

Era meu norte 
Brilhante Yenus, 
Nos céus serenos 
Ao pôr do sol. 

De Alcippe a choça. 
Na noute escura, ' 
Guia seeura 
E meu pnarol. 

Alli nos braços 
Da amiga terna 
Gloria superna 
Me endeusou. 



Com mil aíTagos, 
Com mil caricias, 
Almas delicias 
Me franqueou. 

Mas que mudança 1 
Tudo o que existe 
E' hoje triste 
Aos olhos meus !... 

Se me levanto 
Na madrugada, 
Nâo valem nada 
Encantos seus. 

Se o sol encaro 
No céu a prumo. 
Parece fumo 
O seu clarão. 

Da fresca tarde. 
Que e^a tão linda, 
A nova vinda 
Dá-me afliccáo. 

Sumio a estrella 
Meu norte antigo ; 
Para comigo 
Já luz nâo tem. 

Cerrada a noite 
.Eu não melhoro, 
A perda choro 
Do caro bem. 



231 



/. P. Rehello de Carvalho {Alcippo Duriense). 

(Campos, Império do Bl^ftsil) 



1 DE JULHO. 

ESTBELLA DE SOCCORRO. — Fundaram-se. nio ha 
ninda muilo em Londres, e ha poucos diaa em Paris, 
snoicdaiíes ossim denominadas, e cujo objecto é in- 

,^'~~~>^ ^ A, por ténues 

quantias de 

subscrlpção , 

d e quantas 

1 desgraças e 



que todavia é 
certo, é que 
., de sua reali- 
A sacão espe- 
^ rão os funãa- 
dores tirar 
enormes benefícios. Semelhantes sociedades nfio sta 
mais do que a resurreieúo de uma antiga, se por ven- 
tura se deve dar crédito a um documento que agora 
mesmo tenho perante mim, spprovado pela Camará de 
232 



Commercio de Roâo em 1406. N^eiíe- se encontra a se- 
guinte extfavagante e curiosa tabeliã : 

Por um murro . 2 soldos. 

Por pancada com pedra .... 5 » 

Por escarrar na cara ..... 5 » 
Por puxar pelo nariz, sem deitar 

sangue 5 » 

£ deitando sangue 15 y> 

Por apertar as goelas com uma só 

mão .10 » 

E com ambas . .^ 15 » 

Por bater com uma vassoura. . . 10 » 

Por -uma espadeirada 18 » 

Ferida para baixo dos dentes . . 36 » 

E para cima 72 » 

Por um dente quebrado, sendo do 

fundo da bôcca. 7 » 

E sendo de diante. cadeia. 

Mais bem entendidas erâo as indemnisacóes decre- 
tadas pela republica da HoUanda aos que Gavião sido 
feridos no serviço da pátria, e de que dêmos conta no 
artigo de 12 de outubro do Almanacn de 1851. 

Que bella compensação, iicar com sete soldos de 
mais e com um dente dê menos ! 

r 

2 DE JULHO. 

A VIÚVA DE JOÃO DE SEQUEIRA. — Assim me fal- 
lava ha dias, como preambulo á historia de suas misé- 
rias, um individuo com fumaças de espierto : 

Casou minha filha com Joâo'de Sequeira ; morreu es- 
te no anno immediato, e d'ahi resultou ficar minha 

filha viuva. » 

Nâo quiz ouvir jiiais. Fiquei farto. 

233 . 



3 DE JULHO. 

ADIVINHAR 39 CARTAS D'UM BARALHO PELOS NO- 
YES FORA. — Enaii)ão-se antes de tudo as cartas em 
uma ordem convencional, por exemplo : — Paus, Ouros, 
Copas, Espadas, — do modo seguinte, e partindo do 
principio que a dama vale 8, o valete 9, e o rei 10. To- 
mai o 7 de paus, e dizei : 7 e 7 sâo 14, noves fora 5 (to- 
mai o 5 d*ouros, collocando-o na mâo sobre o 71 : 5 e 7. 
12, noves fora 3 (tomai o 3 de copas) : 3 e 7, 10, noves 
fora 1 (tomai rei e az d^espadasj : 1 e 7, 8 (tomai a da- 
ma de paus) : 8 e 7, 15, noves fora 6 (tomai o 6 d*ou- 
ros) : o e 7, 13, noves fora 4 (tomai o 4 de copas) ; 4 e 
7, 11, noves fora 2 (tomai o 2 de espadas) : 2 e 7, 9 
(tomai o valete de paus) : depois virá o 7 d*ouros, e as- 
sim por diante. % 

Esta operação pode ser feita á vista dos circumstan- 
tes, mas com muita presteza, para não dar tempo á re- 
flexão. 

Termiaada que seja, dai o baralho a partir a quem 
vos aprouver, collocai-o na meza com as pintas para 
baixo, tirai a primeira carta, que vereis, e facilmente 
adivinhareis todas as outras. 

EXEMPLO. 




quatro de copas ; a 7.* o dous de espadas ; a 8.* o va- 
lete de paus ; a 9.* o sfete d'ouros-; a 10,* o cinco de co- 
pas ; etc. etc. etc. 

4 DE JULHO. 

FUGI As VÉNUS. — O se^inte distioo é um dos mais 
engenhosos que se têem feito : 

Quid fácies fácies Veneris enm i>eneris ante ? . 
Non eedeas, sed éas» ne p éreas per eas, 

234 



5 DE JULHO. 

A CARTEIRA DOS BARBADINHOS. —Um individuo, 
temente a Deus, achara em uma das ruas do Rio de Ja- 
neiro uma carteira com 200^000 rs. em papel, e sem de- 
signação alguma da pessoa a quem pertencia : entre- 
gou-a*ao seu confessor, religioso baroadinho, para que 
este, ou a restituisse, se podesse descobrir o dono, 
ou aliás a entregasse â communídade. Os padres an- 
jiunciâo em grandes letras, na portaria do seu conven- 
to, parar em seu poder uma carteira, que restituirão a 
quemr der signaes certos da sua forma e contheúdo. Dá 
o acaso que seja um sujeito muito conhecido na capi- 
tal do imperíb quem primeiro lê o cartaz. Arranca-o e 
manda logo inserir nos jornaes, que se achou uma car- 
teira com dinheiro, a qual, na rua de tal, numero 
tantos, se entregará a quem provar, pela descripção 
d*ella, ser o dono. Este se apresenta com efifeito, diz 
haver perdido uma, com estes e aquelles signaes, 
e 20q$000 rs. 

— Pois senhor, diz o maganão, já vejo que não é sua 
a que eu achei ;^ e para prova, aqui está ; em logar de 
incarnada, é verde ; em yez (l'essa quantia, só contém 
metade. 

O outro sahio agradecendo-lhe e louvando-lhe ain- 
da em cima a consciência. 

Certo já dos signaes, vai ter com os religiosos, pro- 
va-lhes irrefragavelmente que o perdido lhe pertence, 
e S6 retira tão satisfeito d*aquelle inesperado salvate- 
rio, como os servos de Deus o ficaram de terem podido 
eífectuar uma restituição, e a individuo, dizião elles, 
que bem mostrava quanto era religioso. 



. Olympio da Silva e Castro. 
(Brasileiro) ^ 

235 



6 DE JDIHO. I 

FLORISTA POETA. —Morreu nas nunediaçães de ^ 
Rotlerdani o célebre florista Berg Zop-Zoom, deixand» 
a seus herdeiros uns 600 contos de réis, sob a coodição 
de que todos DS annos farino ums festa ua terra em qu« 
a houiem nascera, festa í qual pedio que assistissem 



rtiulo exporão a» mais ueíLcauas iiures aniiiciat;»: a luii 

bella será concedido nm premio avultado. Consiano- 
lambem no testamento outro premio aquemdcrátu- 
lifiB, sua flor predilecta, o maior desenvoUimenlo e»- 



7 DE JULHO'. 



Imperativo em amor — 2 
E' acçio própria do fogo 
Em momentos de furor 
E' uni grande desafogo. 



8- DE JULHa. 

ESPIRITO E MATÉRIA. — Pez-nos Deus matéria tf 
espirito ; mal entende e mal desempenha por sua parte 
os desígnios da Providencia quem, para servir a uma 
das metades do nosso ser, esquece ou posterga a outra 
ititeiramíente. O fanático santáo da Índia ou da Europa, 

ãue se' desata de todos' os laços da naçáo, da cidade e 
a família ; quô se vai entrincheirar entre penedos par- 
r»náo ter que se arrostar com as tentações; que f aí 
consistir toda a sua virtude em nâo lesar; que enterra 
os talentos que Deus lhe confiara para serem negocia- 
dos ; que arvora a ociosidade em mnocencia ; que por 
ter renunciado os serviços dos outros, se julga dispen- 
saúo e absolto de os servir ; que jejua au longo dos an- 
nos todos com raízes amargosas e agua da fonte, no 
meio das delicias e do perenne banquete que Deus 
andou' delineando e apresentando para todas suas 
creaturas nos seis dias da creaçâo ; que^inalmente, a 
poder de engolfar pelos céus os olhos aS espirito, se 
deslembra de que nasceu homem entre homens, irmão 
entre irmãos, herdeiro e herança do passado, com a 
clausula de testar, e se testar, para a posteridade ; se- 
rá um bello santo para lendas poéticas, mas, se deixou 
de cumprir tantos outros mandamentos da lei naturai, 
da lei escripta, e da lei da graça, nâo leve turvaçâo ha 
de sentir no dia da conta, quanclona sua lauda se'achar 
em branco a verba do comer aos famintos, do beber aos 
sequiosos, e do vestir aos nús. 

Ao revez doeste, o materialista; nâo levanta uma só 
Tez a vista para as alturas, nem a* volta para dentro. 
Gomo a terra, as mãos, as machinas, os animaes, pro- 
duzâo o mais possível, o mais perfeito possível, e no 
menor praso possível; como toda a fecundidade da mu- 
lher se aproveite para- dilatação do povoado ; como. a 
espécie humana cresça em numero, em forças, em trá- 
fejo, em invenções ; como nada falleça ás necessida- 

2o / 



des primarias, ás secundarias, áps terciárias^, do existi 
physico ; como a mesa seja farta e depois regalada ; a 
vivenda segura e sã, e depois ridente e luxuosa; o ves- 
tido, mais que vestido, adorno e preciosidade ; a via- 
ção macia e instantânea ; a communicaçáo dos pensa^ 
mentos eléctrica ; a illuminação das noites, dia ; comv 
o vapor cubra de fumarada os mares, as estradas e as 
cidades; as fabricas trovejem; os armazéns se enxão 
e vasem de continuo ; os mercados refervâo ; o luxo e' 
a moda peção e obtenhâo indefinidamente ; e nem uma 
flor, nem uma Horinha, nem uma pétala, falte á corda da 
victima do sepulchro ; todas as suas ambições estão 
preenchidas, e pouco importa á sua sciencia exclusiva, 
o como vai lá dentro á alma ; se o coração é ou náo la- 
laro, aos pés da mesa do festim ; se dentro da socieda- | 
de está a sociabilidade ; dentro na abundância o amor | 
mutuo e a paz da consciência ; dentro no prazer a e»- j 
perança de bens mais valiosos e duradouros. | 

^ O fanático do espirito, se dominasse, supprimiria o 
mundo ;* o ffhatico da matéria aboliria a alma. Ainda 
bem, que nem um nem outro podem alterar a essência 
do homem, mixto de terra })ara a terra, e sopro divino 

Í>ara o céu ; creado em paraiso ; condemnado ao traba- 
ho e ás penas ; mas rodeado ainda de uma natureza 
alegre e aadivosa ; desterrado para valle de lagrimas, 
porém, verde, florido e fructuoso ;> com engenho e for- 
ças para transformar tudo, excepto a sua índole pri- 
mitiva, amante, poética, religiosa. 

£'pois ao desenvolvimento do homem, tal comoDens 
o< concebeu, o fez, e o conserva, que deve aspirar a 
educação que fôr digna de táo nobre titulo. 

ARVORE DE PLÍNIO. —Nas marçjens do lago de Come i 
ha uma tilia, que alli se jul^a ter sido plantada no logar ' 
onde estava o plátano de Plínio o antigo. Diz a gente da 
terra que é aquella a segunda arvore plantada depois 
da do célebre naturalista. 

238 



9 DE JULHO. 



EGGE A6NUS DEI. 



Do templo junto aovestibulo 
Prostra-se o povo no chão ; 
Como o fumo do thuribulo, 
Dos lábios rompe a oração. 
Sobe o incenso em novelos, 
Maispyro que osalvos^elos 
£ mais alvo que os cabellos 
Do venerando ancião. 

Do cimo do campanário, 
Vigia do sanetuario, 
€omo a voz do solitário 
Quese curva ante o sacrário, 
Brada o sino — « devoção 1» 

Asturbas vemaoscardumes, 
E como as ondas do mar, 
Cercão as alas de lumes. 
Que o pallio vem a cercar I 
Ed'entre as nuvens d* aroma, 
Qual astro brilhante assoma 
Na resplendente redoma, 
O pào que a vida vai dar. 



Ohl que scena tão solemne. 
Que assim a mente seduzi.. 
Em voz occulta e perenne 
A descrença á crença induzi 
E pode o âtheu covarde 
Ver entre os rubis da tarde^ 
Ver o sol, que em raios arde. 
Sem vêr n elle aE terna Luz! 

Não, que o vérmepequenino, 
E o murmúrio vespertina. 
Despertando ao som do sino^ 
Vão librar-se n'urasóhymno 
Que se esváeaospésdaCruz. 

BemditO) Senhor, tu stjas, 
Nos altos mysterios teus, 
Quando affagas ou trovejaa, 
Rasgandoavendaaosatheuj&i' 
Que brilho se não descobre 
Aos olhos do rico ou pobre, 
Doquevivehumildeounobre! 
Esse esplendornàotemvéus. 



O pão, que allivios derrama 
No peito que abraza achama 
Ea febre ardente inflamma; 
Nopeitoqueemancias clama, 
Que teme acampa aifrontar. 



Bemdita seja a alegria, 
Que aopalacio,á choça fria. 
Trazes de noite ou de dia f 
Na sagrada Eucharistia 
Bemdito sejas, que és Deus! 



339 



António Pereira da Cunha. 



dia fran- 



f hei. 

" " o fi'lho 

.... o que por snas acçOes se eleva acima do 

I nascimento, éprefemel ao filho d'um Bei, qua, 
■ n outro mérito senão o de proiir de illuslrei 



240 



te para o 
Peaha, B« 

iculoB do 



que lhe ofiFerecia recolhimento para meditaT sobre a 
grande obra a que ia dedicar-se, embrenhou-se na 
espessura do morro, levantou por suas próprias mãos 
uma pequena choupana coberta de folhas de palmeira, 
e assim foi o primeira anachoreta do Brasil. No meio 
de seus trabalhos evangelicos^onstruio no cimo doro> 
chedo uma pequena ermida, onde collocou uma ima- 
gem da Virgem, que trouxera de Portugal. 

Eis o principio do esplendido sanctuario e do conTen- 
to dos Regulares de Santo António, que hoje ahi existe. 

Depois de táo glorioso viver, em 1575, foi encon- 
trado o seu corpo sem vida, dobrado sobre os joelhos, 
reclinado sobre a ara, com a mâo direita junto á ima- 
gem da Virgem, e com a outra cruzando o peito em 
modo significativo de ter com a existência prestado o 
extremo voto de sua devoção e religiosidade. 

Dr, César Augusto Marquet^ 
{Rio de Janeiro.) 

12 DE JULHO. 

VAPOR MONSTRUOSO. — Mandou construir um a 
Companhia Ingleza de navegação oriental, (jue será de 
fabulosas dimensões: deverá 'estar concluído quando 
este livro se publicar. E* de 207 metros a sua quilha 
íuns 630 pés), de 25 metros a largura, de 18 a altura, de 
22,000 toneladas a sua capacidade, isto é, vinte e duas 
vezes superior á dos maiores navios de commercio. As 
amuradas, ou lados do navio, serão formadas por duas 
chapas de ferro, afastadas uma da outra, obra de 30 pol- 
lefgadas, e communicando entre si por grande numero 
de iguaes chapas interiores, formando diversos compar- 
timentos, o que fará que em qualquer d'elles se possa 
concentrar a agua, se por ventura o navio soffrer avaria 
em qualquer ponto do costado. Será da força de 2,600 
c avalio s a sua machina, que dará impulso a um parafuso 

242 



â popa, e este a duas rodas lateraes. Terá também velas 
proporcionadas á sua dimensão. Custará 400,000 libras 
esterlinas, o que equivale a 1,800 contos de réis, ou qua- 
tro milhões e meio de cruzados. Transportará passagei- 
ros e mercadorias por um preço muito inferior ao dos 
vapores ordinários, o que bem se explica, pois au- 
gmentando proporcionalmente as dimensões dos na- 
vios, se augmenta a sua capacidade na relação do cubo 
d*esse(s mesmas dimensões; e por outro lado 'a força que 
é preciso applicar-lhes para obter uma velocidade de- 
terminada, augmenta, quando muito, como os quadrados 
d'essas mesmas dimensões; o que equivale a dizer, que 
é menor a força motriz necessária para transportar uma 
tonelada de mercadorias em um navio grande do que 
n*outro pequeno. Admittirá o vapor 5,0CK) toneladas de 
fazenda e terá 500 camarotes de 1.* classe, alem do 
espaço reservado para os passageiros de classes inferio- 
res e do consagrado a 10,000 toneladas de carvão, que 
será o empregado em 38 dias de navegação, durante os 
quaes andará o navio, só com a machina, 3,600 léguas 
marítimas, visto que lhe não será preciso n*aquelle lon- 
go periodo ir reíazer-^e de combustivel aparte alguma. 

13 DE JULHO. 

MaVí veau b*ob. 

On raisonnait métempsychose : 

Un mauváis plaisant par état, 

Que tout haut Ton nommait Montrose, 

Que tout bas on nommait un fat, 
Montrose donc, voulant berner la compagnie, 

Affirmait d*un air d'ironie, 

Qu*il se rappelait, mais três bien, 
D*avoir été jádis le veau d'or, chose sôre : - 

Une dame lui dit : Eh bien I 
Vous n'en avez, Monsieur, perdu que la dornre. 
243 



U DE JULHO, 

ORELHA DE DYONISIO. — Dissemos no arliso de 
15 de fevereiro do Almaaach de 1851 que por Dinii, 

ou Dyonisio, de Syracusa. fftra mandada construir uma i 
gruta a que ainda lioie se dá aquelle nome, gruía em 
que elle 
mandsTa | 



quanto ee dizia, por mais baixo que se fallasse. Assim 
poude o tyranno descobrir muitos segredos e con- 
verter em certeza mal fundadas suspeitas. Apresenta- . 
YB essa gruta no seu interior as mesmas circumvolu- , 
çóes da orelha humana. Era aquella a sua exacta fór- 



15 DE JULHO. - 

NEVE PRETA, —Acaba de cahir em Lautern, terri- . 
lorio de Berna, na Suíssa. conforme assevera o Cosmo- < 
rama Pilloresco de Milão. Examinados com o raicros- 
copio os pontos negros de que se compunha, reconhe- 
ceu-s^í que erío insectos era que perfeitamente se dis- 
linguiao a cabeça e os orglos do movimento. 

244 



16 DE JULHO. 

UMA GLORIA DE MONÇÃO. —Moncâo, que é uma 
das mais lindas terras da provinda do Minho, tem o ti- 
tulo de nobre e leal. 

E náo foi sem razão que lhe couhe este foro honori- 
fico. A sua historia illustra-se de feitos heróicos, de 
que a maior parte, é bem confessaFo, toca ao sexo 
que alcunhamos de tímido. 

£ tanto, que na igreja' matriz, em uma capella qtie 
alli fundara Paio Rodrigues de Araújo, se ia abrir, an- 
naalmente, a pauta dos vereadores, sobre a campa 
d'uma mulher, cuja imagem e cujo nome são o brazáo 
e o mote da villa, e fazem o orgulho de seus mora- 
dore». 

E com effeito, a acção que Deu^la-Deti-Martins 
obrara, nâo podia nunca esquécer-lhes. 

Contarei como foi o caso, que é digno de commemo- 
rar-se. 

No tempo d'El-Rei D. Fernando, d*aquelle Rei de 
ruim agouro, que tanto porfiou em tornar fraca a forte 
gente, mas que, ainda assim, nâo poude enervar os 
brios dos nossos portuguezes d'algum dia, andava-se 
em guerra, como é sabido, com Henrique 11 de Cas- 
tella. 

Um grosso exercito, capitaneado por D. Pedro Sar- 
mento, adiantado da Galliza, invadio-nos por aquella 
banda, e veio pôr a Monção ura apertado cerco. 

Os nossos receberam-nos com alvoroço, folgando de 
poderem dar á soberba hespanhola a primeira amostra 
do castigo que devíamos infligir-lhe, mais tarde, em 
Aljubarrota e em Montes-Claros. 

E a sua esperança era bem fundada. Quantas vezes, 
os sitiantes tentaram assaltar a fortaleza, tantas foram 
rechaçados pelos sitiados. 

De forma que, quasi descoroçoando do bom êxito da 
erapreza, ou convencendo-se, pelo menos, de que com 
245 



as armas nada logra vão,, resolveram lauçar mâo d*ou— 
tro meio, se nâo tão nobre, mais eíficaz. 

Reforçaram o campo, fecharam ainda mais o assedio, 
e appellaram, pacientes, para o tempo. 

Os viveres haviào, por força, de acabar laos de den- 
tro, e entáo". ... 

O plano vingou. D'ahi a pouco faltava o alimento na 
villa ; por fim, veio a fome. E que fome I na sua mais 
nua e hedionda crueza I 

Quem quizesse ver o r&verso de um oásis, tal qual 
BoFo pintam os poetas do Oriente, resplandecendo de 
verdor e frescura na vastidão immensa do areal tórri- 
do, era erguer os olhos para aquella praça, cárcere, 
ou antes ecúleo de alguns centenares de soldados, 
que, mais cadáveres do que homens, antepunháo des- 
fallecer á mingoa, abraçados á bandeira d'tel-Rei, a ir 
rojara, em troco do sustento e da vida, aos pés d'um 
capitão estrangeiro ; para aquella praça, digo, negre- 
jando no meio das searas, ja maduras, que a.insulta- 
vão com a sua abundância, e se estendiào, em zona 
doirada, ao lon^o do leito do rio. 

Oh I para o no se viravão elles a cada passo, so- 
nhando — que era um sonho, isso — que d*alli lhes vi- 
ria soccorro, pois que da terra lhes não chegava. 

De dia, quando se aílirmavão n'aquelles pontos bran- 
cos, que lá tinhào percebido ao longe, e que a sua vista 
enfraquecida, ou a sua imaginação febril, lhes aiigurava 
as velas d^um comboy de barcas, reconheciâo por fim 
que não erão senão fofos de espuma, que desciâo en^ 
balando-se ao som da corrente f 

De noite, se por acaso presentião, com o ouvido 
fino que toem os famintos, um leve rumor, que parecia 
de remos, esperavão, esperavào. . . . até que se con- 
yencião de que era a aragem, que enrugava as aguas, 
ou fazia ciciar os salgueiros ! 

£ o desengano era então acerbissimo, porque tra- 
zia a desesperação comsigo. 

246 



Exhauridos pois todos os recursos, passadas tor- 
das as provações, só restava aos vivos devorar os 
mortos. 

Em poucos dias — quem sabe se em poucas horas — 
quando D. Pedro Sarmento entrasse na villa, não ha-- 
Teria face portugueza, que alli corasse, corrida de ver- 
gonha : todas estariâo tão frias, como lividas estaváo 
agora. 

A ruina geral era obvia ; e fora infallivel, a não ser 
Deu-la-Deu-Martins. 

Esta illustre dona, tão nobre pelo seu animo como 
pelo seu sangue, querendo mostrar-se digna da missão 
providencial, que o seu nome Deu-la-Deu [Deus a deu) 
parecia symbolisar, acudio na commum desgraça com 
o mais engenhoso ardil. 

Ajuntou os únicos salamins de farinha que ainda 

guardava para a ração dos soldados, aos quaes distri- 
uira até o ultimo 'de seus maravedis ; mandou amas^ 
saros e cozeFos ; vestio-se depois com as suas galas; 
compoz o rosto, conforme poude, com um ar de riso ; 
-sahio de casa ; foi-se direita para o lanço do muro on- 
de hoje são as Portas do Sol ; subio ao mais alto d'elle, 
e fez signal com um lenço branco para os sitiantes, 
que correram alli em tropel, phantasiando ver já nas 
mãos da messageira as chaves da ,villa, que suppu- 
nhâo ia entregar-se-lhes. 

— « Que fazeis ahi, senhores capitães? — disse então 
a nossa minhota — que fazeis ani? cuidais que nos 
venceis pela fome ? Olhai que por isso não vamos. Ha 
aqui mantimento que o farte. Tendes vós por lá mingua 
d'elle ? Se assim é, manos, dizei-o, que partiremos com- 
vosco. A broa que damos aos nossos cevados, é d^essa : 
provai-a ; ainda vem quente do forno. » 

E n'isto, atirou com os pães da muralha abaixo» 

Os gallegos que, por fim de contas, sempre erão gal- 
legos, ficaram varados, e cahir^m no logro. - 

È D. Pedro Sarmento, repetindo comsigo o opus et 



n DE JULHO. 
METRÓNOMO E PAWHABMONICO. - Acaba de dar » 
alma ao Creador Io que não passou de umaTeslitui- 
çSoJ o célebre Maekel, inventor do mcirànomo, que é 
um instramento com a sua pêndula, destinado a conser- 
var invariavelmente o compaço na musica; instrumen- 
to que tem a forma de uma pyramide, e de que se ser- 
vem os mestres de musica, se reconhecem que os die- 
cipulos têem mâu ouvido. Era Maekel um do8 melhores 
machinistas da Al- 
lemanha, onde tan- 
tos ha bons. e en- 
tre diversas ma- 
chinaa por elle in- 
ventadas, e que 
(izerao a admira- 
ção da culta Euro- 
pa, sobresaheuma 
a que deu o nome 
de Panharmanico, 
I e que s4 por Deus 
I ou pelo diabo po- 
dia ser ideada : é 
uma orchestra de 
42 músicos, todos 
autúmatos, que eiecutão com a maior perfeiçSo grandes 
trechos de musica, e até symphonias. Esteve exposta 
a lai endiabrada machina em Paris do principio il'esEe 
século, e acha-ee agora em Boston nos Estados Unidos. 
Ha muito quem nSo aaiba fazer nem um coxixo; e aquel- 
le berúe faz uma orchestra de 42 músicos, locando todos 
^les Instrumentos diUerentes.e combinando-se todos uns 
com os outros I Louvado seja para sempre tfio bom Sb- 
NBOH, que a uns dâ tanto juízo e a outros tão pouco I... 
248 



' 18 DE JULHO. 



•A m PAPAGA?0. 



Linda ave, quanto invejo 
Af tua feliz prisão I 
Que importa que vivas presa 
Se é livre teu coração 1 . . . 

Eu, vivendo solto e livre, 
Gozo menos liberdade ; 
Nào me roxeâo os pulsos. 
Mas devora-me a saudade. 

Eternos dias se escôâo 
Sem que veja o bem amado ; 
Tu, meu rival, tu vês sempre 
Thesouro que me é vedado. 



És mais ditosa do que eu, 
Porquevês oque eu aâovejo; 
O Ipgar que tu occupas, 
Linda ave, quanto invejo I 

A bella imagem teria 
Aos olhos sempre presente 
D*aquella que de contínuo 
Estrelleja a minha mente. 

Ternos ais, meigos suspiros 
Sem cessar lhe enviaria I . . . 
Se a ingrata os desprezasse, 
A seus olhos morreria I . . . 



Mas já que não é possivel 
Que troquemos nossa sorte, 
JDize-lhe, ó ave formosa. 
Que serei seu té á morte. 

António Maria do kmaral Ribeiro. 
(Porto. Alegre, Império do Brasil) 

19 DE JULHO. 

PAVIOLA DO CEARÁ. — E' um estrado com quatro 
braços, a modo d'andor, e sobre o qual está pregada 
uma cadeira ; pégâo-lhe quatro negros aos hombros, 
depois de se haver alli sentado o passageiro que de 
bordo quer ir para terra, e assim lá chega, se bem 

2ue algumas vezes encharcado, porque a resaca no 
eará é fortíssima, e náo permitte que barcos çu ca- 
noas cheguem ao cáes. 

A paviola é também conhecida na nossa Africa Occi- 
dental, mas com o nome de colima. 

249 



20 DE JULHO. 

FEITIÇO CONTRA FEITICEIROS. — Tomada d'as- 
salto pelo Conde de Glocester, Roberto, a cidado de 
Nottingham, em 1140, commetteu n'ella o vencedor ne- 
fandas atrocidades. Os mais dos moradores forâo pa9- 
sados á espada, e as casas quasi todas arrasadas ate aos 

Íundamentos. No meio d'aquelle inferno, apertado um 
)urguez riquíssimo por treze demónios, sob a figura 
de soldados, para alli lhes apresentar logo todo o 
seu cabedal, abrio, humilde e cabisbaixo, a por.ta de 
um subterrâneo, e lhes disse com as lagrimas nos olhos 
que lá em baixo encontrariâo o que procuravâo. Com 
o alvoroço da preza descem de tropel, e tâo desati- 
nados, que nem pela idéa lhes passa segurar ou levar 
comsigo o homem. Este, assim que os apanha encurra- 
lados, fexa a porta muito bem fechada, deita fogo á 
casa, e se regala ouvindo os urros dos ladroes por e»- 
tre o estalar do fogo que devora todo o seu haver. 



21 DE JULHO. 



BENGUELLA E O NUMERO TRÊS.— A Igreja de Ben- 
guella tem três portas para a rua, três altares e três si- 
nos. A Gamara Municipal tem três salas no sobrado e 
três portas d'entrada para a escada. O açougue da 
Gamara tem três portas d*entrada. Ha na cidade três 
cirurgiões, três boticários, três padarias, três açou- 
gues, três cemitérios, três sobrados de repartições 
publicas, e três praças principaes, a saber — o lar^ 
de S. Filippe, o de Santo António, e a Praça Municv- 

Í)al. Ha três sinetas que chamão para diversos traba- 
hos — uma na Gamara, uma na Alfandega, c uma 
na fortaleza. Ha finalmente seis sobrados particulares, 
o que faz duas vezes três. 

250 



23 DE JULHO. 

AQUEOTICTO DA CARIOCA. — E' uma obra elegante 
e monumental no Rio de Janeiro. Tem cerca de duas 
léguas de extensão e foi terminado em 1740, com a no- 
tável circumstancia de haverem sido mandados de Por- 
tugal os materiaes para elle, o que muito lhe augmen- 
tou o preço. 

Asseverou Rocha Pitta ser alli fama acreditada faser 
aquella agua vozes suaves nos músicos, e mimosos ca- 
rões nas damas. 

Francisco Raphael d'Oliveira. 
fBrasilciro) 

23 DE JULHO. 

CHARADA. 



Três 8âo as fúrias, affirm&o 
Embusteiros e novellas ; 
Pois falta bem poucochinho 



E* fiel, obediente, 

E sem ser disciplinado, 

Defende intrépido o posto 



Paraque enseja uma d'ellas.2lComo faz um bom soldado. 1 

Veloz em sua carreira. 
Atrevido e arrogante, 
Destróe e lança por terra 
Tudo que encontra /liante. 

Muitas vezes tenho visto. 
Em seu rápido correr, 
Muralhas, troncos annosos, 
A seu Ímpeto ceder. 



jf * j^ 



251 



VÁ BUGIAR. —E' hoje nm insulto, umaphrase chula 
de má companhia, uma fei:pressâo que sú anda na bõc- 
ca do vulgo; nada d'Ísso foi porém na -- —' — 



em Lisboa, no tem- 

Sio de Filippe II, o 
orte do Terreiro do 
Paço, foi preciso, 
em rasão de ser mui 
lodoso o teyeno , 
assentar-lhs os fun- 
damentos em uma 

um engenha a que 
chamavio bugio; era 
penoso trabalhar 
com elle, e para is- 
80 se agarravão to- 
dos os vadios e pes' 
eo.as de obscura 
condição que seen- 

r.ontravSo pelas ruas e pragas, d'onde proveio o man- 
dar bugiar aquelles a quem se trata com pouca ou ne- 
nhuma consideração, ou com quetn ha íntimas relações 
que autorisem essa liberdade. 

25 DE JULHO. 

K ULTIMA ASNEIRA. — Ao sahir da igreja, depois 
de bem filado nas cadeias de liymeneu, um extravagan- 
te que toda a vida empregara em namorar, disse-lhe a 
noiva: «Asora, meu senhor, d'Rqui em diante é ter jui- 
so. > — ( Sint, minha senhora, prometlo-lhe que é et- 
ta a uUima asneira da minha vida. » 

252 



26 DE JULHO. 



LUIZ DE CAMÕES. 



Que poeta que não era 
Da linda Ignez o cantor ! 
Quem maisdoqu'elle dissera 
Doesse fero Adamastor I 
Era um astro fulgurante, 
Era um poeta gigante. 
Tinha mais alma queDante, 
Cantava com mais amor 1 

No peito, coberto d*aço. 
Lhe batia um coração, 
Que nem os cantos ào Tasso 
Sonharam maior paixão 1 
Era cantor e soldado. 
Era um vate enamorado, 
.Foi um poeta inspirado, 
Como os d'hoje já náo sâo I 



Deusquedeuaosportuguezes 
D'álem-mar as regiões, 
Que nos livrou dos revezes, 
Deu-nos o rei das canções: 
Fomos o povo escolhido; 
O nosso nome temido, 
Hoie só é conhecido 
Pelos cantos de Camões. 

Foi-se-lheavidaemdesgosto 
Âo^uea{)atriaassim cantou; 
Mais poeta que Ariosto, 
Que bellezas nos legou 1 1 
Pungido de acerbas dores. 
Pelo Tejo, seus amores. 
Foi o rei dos trovadores. 
Foi o cysne que expirou I 



Bem nòs cantos se lhe marca 
O signal do seu penar ; 
Nascera como Petrarcha, 
Já fadado para amar 1 
Yêde bem o sentimento. 
Com que dá soltas ao vento 
Queixasmildo seutormento, 
Tristezas do seu trovar I 

A sorte fêVo poeta 
Das cinzas da pobre Ignez ; 
O mundo íèVo propheta - 
Do destino portuguez 1 
Poeta da desventura, 
Prévio a sorte futura, 
Escreveu com mão segura 
A prophecia que fez 1 1 

253 



Como Ovidio, desterrado 
Lá na gruta de Macau, 
Só tem o pranto enxugado 
Pela mâo do pobre Jau. 
D'escravo tornou-se amigo, 
E no peito, só comsigo, 
Supportou cruel castigo, 
Mas nunca se mostrou mául 

Debruçados sobre oscantos. 
Da nossa fama padrão, 
Bemjuntosverteramprantos 
Sobre a nossa escravidão ! 
Mas Camões, a vil tutella, 
D'essas hostes de Castella, 
Nâopoude chorar sobreell a, 
iMorrera-lhe o coração 1 1 



Que poéla ! e que soldado ! 
Que trovador tão leal I 
De todos abandonado. 
Só achou um hospital I 
Mas a fama portugueza, 
N'este séc'lo de torpeza, 



Alli TÍvem as TÍctorias. 
Já do povo, já do rei; 
Alli vivem as memorias» 
Alcançadas pela lei ; 
£' pharol de nossa fama; 
Alli vive o Castro; e o Gama 



Só tem por toda a grandeza Em versos alli proclama 
A Camões por pedestal. jTriumphos da nossa greil 

• A Camões por montrmento 

Só resta um livro, não mais ; 
D'aquelle génio e portento, 
Náo^iemos outros signaes ; 
Mas que importa, se a memoria 
Do cantor da nossa gloria 
Alcançou maior victorid 
Nos seus cantos colossaes I 

Luiz Augusto Xavier de Palmeirim, 
27 DE JULHO. 



PRESENTE DE INTENDENTE. — JWandando no Rio 
de Janeiro o Intendente Petra (de quem atraz falíamos 
a pag. 115) um rico presente de mangas, cajus e fructas 
do conde, a um seu conhecido, dentro de um cesto de 
prata, e envolvido tudo n*uma toalha bordada, o pre- 
senteado ficou cora tudo. Encordoou com isto o In- 
tendente, e logo escreveu ao empalmador a seguinte 
quadra : 

Alma que sabe d'este mundo^ 
Dizem que vai e não vem ; 
Mas o meu cesto e toalha. 
Quem os fez alma também ? 

254 



28 DE JULHO. 

REMÉDIO PARA FAZER DORMIR. — Quando a vi- 
gília nlo provém de doença do corpo, ou de exces- 
siva agitação do espirito, achou por suas experiên- 
cias o célebre Franklin, e muitas pessoas toem de- 
pois 'd*elle recobhecido ser verdade, que nâo ha 
nada melhor do que salt.ar da cama nú para o meio 
do quarto, esfregar bem toda a pelle com as mãos, e 
tornar a recolher aos lençóes ; pega-se logo no soi*no. 

Muitos outros expedientes se hão tentado, por 
instincto, para conciliar o sonano. Uns- aconselhâo a 
leitura, principalmente de um livro secante (Tem o pe- 
rigo de pegar fogo á cama, e é uma espécie de pro- 
fanação ao estudo]. Dizem alguns velhos que éoom 
o rezar sem attenção (O exercício nâo é dos mais pie- 
dosos). Paganini embriagava-se com opiò, como os 
orientaes(È' envenenar-se). Muitos fazem a cousa mais 
prosaicamente ; atacâo-se de comida e bebida, a des- 
peito do rifão das longas ceias. Não poucos fati- 
gão-se de propósito com excessos, o que é mercar 
o descanço muito caro. Nós temos achado constan- 
temente,* que se a insomnia nâo provém de moléstia 
corporal, cuidados graves, penas do coração, ou 
alegria vehemente, ifto ha modo como principiar a 
Contar seguidamente de um a vinte, desandar de vin- 
te a um, e tecer assim do principio ao fim e do 
fim ao principio, com grande rapidez — ou também 
começar a girar com o espirito por. todas as partes 
immoveis do quarto, á roda e continuamente : aquil- 
lo é atordoar e adormecer logo. — Também conheço 
um janota que adormece contando as namoradas : pois 
o caso é mais para espertar que para adormecer. 

NASCER E MORRER. — Para o verdadeiro christâo. 
nascer é principiar a morrer, e morrer é começar a 
Tiver. * * ♦ 

255 



29 DE JULHO. 

DOUS SAMSÕES. - Awba de morrer em uma aldei» 
de Trêvè 



chamava- 
s5o. Três 



55. p. 2i 



para a repar- 
tiçio. Assim 
que loca a ei- 



do á entrada, 
quero sei' o á 

Talvez nos dias de paginnento seja u 



31 DE JULHO. 



it JtVESINHit E O aOSTEiRO. 



Quando hapouco atravessei 
O ermo de Val-Bemfeito^ 
Toda em silencio perfeito 
A natureza dormia. 
Somente d'uma avesinha, 
Sobre umpinheiro pausada, 
A voz sentida e magoada, 
D*espaço a espaço, gemia. 

Era gemer que.nâo tem 
Semelhante n^este mundo, 
Mais extenso queprofuado, 
Sobre triste, penetrante. 
Não são assim os gemidos ' 
D'algumdos seres viventes, 
Nem os ais intercadentes 
De mortal agonisante. 



Ou seria Anjo do céu. 
Que das nuvens desceria, 
E vindo de romaria 
Áquelle santo logar. 
Lá de cima do pinheiro. 
Que verdeja na coUina, 
Ao ver tamanha ruina. 
Se poz defronte a chorar. 

Quem sabe? conto o que vi. 
E o que pensei tal e qual; 
Se foi caso natural. 
Se foi mysterio, nâo sei ; 
Sei porém que da avesinha 
A triste voz escutando, 
Tantoestragocontemplknda 
Também lagrimas chorei. 



Talvez(que nâo podeDeus 
Seria a alma d'um monge, 
Que alli viesse de longe 
Saudades desabafar ; 
De seu antigo mosteiro 
A fatal destruição. 
As ruinas que âlli vão, 
Mettida na ave, chorar. 



!]]Qual o monge e qual o anjo, 
Seanjo oumonge aUvaga>;a, 
E como eu que ali passava, 
Chora todo o coração. 
Vendo a ruina das artes, 
A do asylo de piedade, 
E a brutal barbaridade 
Da presente geração. 



Francisco Raphael da Silveira Malhão. 

(Óbidos) 



258 



IDE AGOSTO. 

GUERRA DO ESTANDARTE. — Foi Estevão de Blois 
o 4.^ Rei dTnglaterra depois da conquista. Da sua no- 
meação ao throno rebentaram temerosas guerras. Em 
1138, como se achassem vários fidalgos da sua parcia- 
lidade reunidos nos arredores de Albertun, assentaram 
em esperar alli o inimigo. Arvoraram no próprio sitio 
um mastro grande para chamamento dos neis em caso 
de aperto, pondo no alto d'elle hóstias consagradas e 
bandeiras de santos, d'onde áquella guerra ficou o no- 
me de guerra do estandarte. 



3 DE AGOSTO. 



ILHA DE S. THIAGO. — E* a principal do archipela- 

ga de t^abo Verde, e capital da provincia, ainda que os 
overnadores Geraes ha annos residâo a maior parte 
do tempo na ilha Brava. Tem 360 milhas quadradas, 
dous concelhos, onze fréguezias, 2,946 focos, e 34,217 
habitantes. A sua primeira cidade, denominada Ribei- 
ra Grande, que chegou a ser opulenta era trato e ma- 
gestosa em edifícios, foi abandonada e jaz em ruinas. 
A sua principal povoação é hoje a Villa da Praia, que 
nada cede á sua antecessora em magestade e extensão. 
Tem esta ilha commercio continuado e abundante, 
muitas ribeiras cultivadas, producçúo immensa de mi- 
lho, legumes, vegetaes e fructas,- bem assim de canna 
de assucar, de caíTé, algodão, purgueira, urzella, e 
muitos outros géneros. Apesar de ter dois terços do 
terreno sem cultura, é tão fecunda, que tem chegado a 
exportar mil moios de milho, o que corresponde a dois 
mil e quinhentos moios nossos. Possue grande quanti- 
dade de gado, e não menor de aves domesticas. Pena 
é ter fama de pouco salubre. 
259 



3 DE AGOSTO. 



public. . 

da Áustria. Bemonta a sua origem i epocha da invasio 
lia Itália porAltíla. Construída sobre 60 ilhas reunidas 
por pontes, jiarece haver sahido do mar, e tez antiga- 
inetile um brilhante papel. Ao chefe do estado deu-se 
□ nome de djique oa doge {A. 53 p. 135): podia elle con- 
vocar a assembléa geral, nomear tribunos ejuizes, con- 



rirmar as eleições de prelados, e presidia ao governo 
dã republica. Não foi aenSo sob o 26" doge, Pedro Or- 
ueolo II, que principiou o poder marítimo de Veneza; 
foi elle que em 997 submetteu a cidade de Narenta. Iia- 
bitada porpiratas, de que enlíose achava intesiadao 
Mar Adriático. D'ahi a século e meio. o Papa Alexan- 
dre III, em memoriados eminentes serviços que Iheh*- 
viáo prestado os venezianos contra o famoso corsário 
BarbariJia, dava de presente ao doge ura annel como 

260 



symbolo de sua soberania n*aquelle môr, d'onde pro- 
veio a ceremonia que relatámos apag. 206 do Almanach 
de 1852, de fazer casar todos os annos o Mar Adriá- 
tico 6 o Doge, que n'elle deitava um annel, afim de 
manifestar, que assim como a esposa está sujeita ao es- 
poso, assim também o mar se achava sujeito ao Doge 
de Veneza. D'ahi em diante, senhora de numerosas e 
valentes esquadras, trabalhou energicamente a re- 
publica por acrescentar-se. Apôderou-se successi- 
vamente de uma p^rte do Peloponeso e da Ilha de 
Cândia ; obteve do Sultáo do Egypto inteira liberdade 
de commercio nos portos d'este paiz e da Syria ; apos- 
sou-«e do commercio das índias, apesar da republica 
de Génova, sua rival ; submetteu grande numero de 
importantes cidades e praças fortes da Itália, e tor- 
nou sua tributaria a ilha dethypre. Principiou a de- 
clinar no começo do século XVl. Deu*lhe golpe de 
morte o descobrimento pelos portuguezes de um novo 
caminho para as índias pelo Cabo dá Boa Esperança ; 
esgotaram seus recursos os esforços que fez em 1508por 
occasião da liga de Carabrai ; roúbaram-lhe, eraíim, os 
ottomanos a ilha de Chipre, Cândia e todas as suas pos- 
sessões da Morea. Não era mais do que uma sombra de 
si própria quando, em 1796, Bonaparte^ vencendo os 
austríacos, acabou por dar com ella em terra, e lhe ex- 
tinguio até o nome. 

Veneza é todavia ainda hoje uma cidade notavçl ; as 
suas lagoas, suas ilhas, suas pontes, seus canaes, que 
«travessão as gôndolas que de continuo os percorrem, 
tudo isso lhe dá um aspecto dos mais pittorescos. Tem 
magníficos monumentos : acathedral de S. Marcos lem- 
bra a mesquita de Santa Sophia de Constantinopla ; na 
praça do mesmo nome se ve o antigo palácio do Doge, 
edifício collossal que tantas scenas criminosas ou dra- 
máticas presenceou, e onde esteve preso o famoso Sil- 
vio Pellico. Nâo muito longe ha outras prisões a que 
chamavâo Os Poços, masmorras subterrâneas, apenas 

261 



separadas do palácio pela Ponte dos Suspiros. Resumem 
assas prisões a tenebrosa e cruel politica da antiga re- 
publica de Veneza, por isso devem ser mencionadas no 
inventario dos destroços do seu esplendor. 

A gravura acima representa a Praça de S. Matcos, 
n'aquella cidade. 

4 DE AGOSTO. 

ABAIXO O OURO. — Se se deve dar crédito aos vati- 
cinios do famoso Miguel Chevalier, dentro em pouco se- 
rá o ouro o mais vil de todos os metaes. For cálculos 
cuidadosamente feitos desde Christovão Colombo (A, 
51, p, 245. i4. 52. p. 104. 135, 153, 166. .i. 53, p. 186, 221. 
240. A, 54, p. 166, 351) até ao descobrimento dos terre- 
nos auríferos da Califórnia {A: 52, p. 195. il. 56, p. 146), 
se sabe haver sido de perto de seis milhões- de arráteis 
o ouro extrahido do novo mundo, ouro com que se hou- 
veram podido fazer dez mil milhões de francos ; e hoje 
anda eíle annuahnente por uma décima parte de quan- 
to o mesmo continente havia produzido em 357 annos. 
Se assim tem de continuar, dentro em dez annos, a 
contar do 1.** de janeiro de 1853, e dentro em seis an- 
nos só, a contar doeste em que estamos de 1857, haver- 
se-ha derramado por todo o globo uma quantidade d*ou- 
ro igual á que o novo mundo houvera produzido no lon- 
go periodo de três séculos e meio, se é que não for 
muito maior, pois nem está para acabar a ambição dos 
homens, e cresce de anno para anno a emigração para 
a Califórnia epara a Austrália, nem por outro lado na a 
minima apparencia de que possa nunca vir a ser ex- 
trahido todo o ouro n*aquellas duas regiões. 

CARRILHÕES. —Inventados em Alost, na Bélgica, 
em 1487. Ha um em Antuérpia q4ie tem 99 sinos gran- 
des e pequenos. 

262 



6 DE AGOSTO. 

MORTEIROS DE QUINZE POLEGADAS. — De Sua 
Magestade El-Rei o Sr. D. Pedro V se refere um dito 
chistoso. Ao visitar o Arsenal do Exercito, vio ahi na 
Fundição de cima estar-se trabalhando em dous mor- 
teiros de quinze polegadas cada um. — «Para que sáo 
esses morteiros ? » perguntou El-Rei — < SENHOR, lhe 
respondeu alguém, mandaram-se fazer para utilisar 
umas quatrocentas bombas do mesmo diâmetro gue 
alem temos e para nada servem. » — < Nâo me admira, 
respondeu o Monarcha, pois assim como, em nossa ter- 
ra, se arranjão empregos para os homens e n^o homens 
para os empregos, assim também é coherente que se 
arranjem os morteiros para as bombas só depois de 
feitas as bombas para os morteiros. » 

Está na mâo de Sua Magestade o remediaVo. 



6 DE AGOSTO. 



Sol brilhante dardejava; 
De repente escureceu ! 
O povo todo assustado 
Exclamou : Que aconteceu ? 
Nada, cousas naiurees 
(Um astrónomo lhe diz); 
E' que entre o sol e a terra 
Passou aquelle nariz. 



Inhato-Mirim. 
(Rrasileiro) 



263 



7 DE AGOSTO. 

VATICANO.— Collina originariamente situada furado 
redito de Roma e que hoje se acha u'elle coniprehen- 
dida. Ahi se elevou um, bairro, a principio o inú-' 
mo da capital do mundo D"aquellas eras. e que nos rei- 
nado» de Mero e de Heltog&balo se tornou um dos mai« 



9. Constantino, depois de haver erigido a antiga 
basílica de S. Pedro, hojn substiiuida pela de Miguel 
Angelo, mandou edlQcar próximo a ella, para os Ponti' 
fices romanos, «m sumptuoso palácio, que se denomi- 
nou Vaticano, e onde elles de eniio para cá leni sem- 
264 



pre residido. Este immenso edíGcio, em que tantos bra- 
ços hão trabalhado de 15 séculos a esta parte, é menos 
um palácio do' que um aggregado de palácios. Alli se 
achâo reunidos mil thesouros de sciencia e d'arte, co- 
mo por exemplo, a célebre Bibliotheca, a Capella Pauli- 
na, a Capella Sextina, em aue se admirâo importantes 
producções de Miguel Angelo, a casa de pintura de Ra- 
phael, o Museu Ciementino, a galeria de quadros, o 
jardim de Belveder, etc. etc. 

Na gravura acima se vê a frente da igreja de S. Pedro 
e â direita o Vaticano. ^ 

8 DE AGOSTO. 

TOUPEIRAS. — Está hoje provado serem de gran- 
díssima utilidade nos campos, em rasfio de darem cabo 
de quantos insectos encontrão, sem todavia roerem 
uma 8Ó raiz de vegetal. Em França têem por costume 
alguns agricultores comprar toupeiras, que deitâo nas 
vinhas quando vêem que estão atacadas de insectos. 

9 DE AGOSTO. 

SONETO DO MARECHAL SALDANHA. - A espada 
do Marechal Saldanha é conhecida e admirada por to- 
do o mundo, porém a sua penna d'ouro só os seus ín- 
timos lh'a conhecem. Como César, como Scipiáo, como 
Frederico, o grande homem não desdenha de longe em 
longe conversar com as musas. Os seus versos, ^esam- 
biciesamente escriptos ; improvisados no interior da 
familia e para a família ; só interpretes dos bons affe- 
ctos naturaes; contentes cora esse calor que os produ- 
- lio ; nunca jamais aspiraram ao grande sol da publici- 
dade. O soneto que publicamos e um d'esses improvi- 
sos. Possuímos lá de muito o original : é da letra do 
primogénito do Marechal Saldanha, o Conde d' Almos- 
ter, eterna eeudade de quantos o conheceram, e para 
265 



nós mais que um bom amigo, o padrinho d& noesa que 
rida álha, hoje única. No mesmo papel, e da mesma 
letra, se diz que esta e outras composições foram fei- 
tas por seu pai, quando o iniciava na Tersiíicaçâo e na 
poética. Finalmente, o assumpto é de tal natureza, e 
tão profundos vestigios de sua passagem por este mun- 
do deixou a Sr.^ Duqueza de Saldanha, que antes de 
louvar o poeta, ao ler um soneto que lhe desabroxou 
do coraç&o, ninguém pensará senão em exaltar os sen- 
timentos a que foi devido. Data elle de 1841, e até ao 
ultimo instante de sua vida ligou os dous extremosos 
consortes a mesma aifeição, que de dia para dia se for- 
tificava com o mais particular conhecimento dos mui- 
tos e raríssimos dotes que em ambos se reunião, e que 
tanto manifestaram sempre, nos momentos de suprema 
gloria e nos de amargos revezes. 

SONETO. 

V 

Venturoso o mortal, a qtfem o fado 
Concede uma consorte virtuosa, 
Bella, constante, acUva, cuidadosa. 
Que honra os deveres de tão santo eôtado F 

Eu tenho essa ventura disfructado : 
Exemplo de virtudes, carinhosa. 
Em meus trabalhos sócia valorosa. 
Eis a esposa fiel que o céu me ha dado. 

Pelos filhos, penhores de alliança, 

D*ella o ser, a'ella o nome, em toda a idade. 

Conservados serão por sacra herança ; 

Mas prémios de tão ínclita bondade. 
Só no grémio de Deus é aue os alcança 
De uma esposa modelo a heroicidade. 

266 



10 DE AGOSTO. 

PRINCIPÁÉS MONUMENTOS DE PORTUGAL.— 

Aaueductos, das Aguas livres, junto a Lisboa (-á. 51. 
3 de fevereiro) e d'Evora. Arsenaes, do exercito e da ma- 
rinha, em Lisboa. Basílicas, do Coração de Jesus, em 
Lisboa, e de Mafra. Capella de S.Joáo Êaptista, na igreja 
de S. Roque em Lisboa (A. 51. ^k de junho). Cathedraes, 
de Coimbra, Braga, Évora, JGuarda, Lamego, Leiria, Lis- 
boa, Porto, Vizeu. Casa da Relação do Porto. Conventos, 
de Alcobaça (A. 51, 30 de janeiro), Belém (A. 51, 13 de 
íulho). Batalha, Christo, Bussaco, Santa Cruz de Coim- 
nra, Lorvão, S.Vicente de Fora. Estatua equestre d'El- 
Rei D. José, em Lisboa. Hospitaes, de Santo António, 
DO Porto, das Caldas da Rainha, de Coimbra, de S. José, 
eda Marinha, em Lisboa. Igreja da Conceição, das Frei- 
ras de Christo, em Lisboa, Santa Maria d'Álmacave, Sé 
Velha, e S. Thiago de Coimbra. Palácios, da Aiuda, pró- 
ximo a Lisboa, e de Queluz. Pelourinho de Lisooa. 
Quartéis, d'Evora, e de Santo Ovidio, no Porto. San- 
ctuario do Senhor Jesus do Monte, em Braga. Theatros, 
de S. Carlos, de D. Maria II, do Gymnazio e de D. Fer- 
nando, em Lisboa, e de S. João no Porto. Torres, de 
Belém, do Bugio, á entrada de Lisboa, dos Clérigos, no 
Porto. Universidade de Coimbra. 

Já démòs a descripç&o dos Arcos das Aguas livres, 
dos Mosteiros d' Alcobaça e de Belém, e da Capella de 
S. João, nos artigos correspondentes a 30 de janeiro, 
3 de fevereiro, 24 de junho e 13 de julho, do Almanach 
de 1851; progressivamente iremos fallando em todos os 
outros monumentos. 

11 DE AGOSTO. 

DiSCRIPÇÂO FALSA.— Um máuhomem,fazendo umas 
casas, Ihespoz por cima da porta: «Por aqui não e^tra 
coisa má. » «Então por onde entra o dono ? perguntou 
Diôgenefi?>(A. 51, 27 de junho, A. 52, p. 297. A. 53 p. 241.) 

ít)7 



12 DE AGOSTO. 

t INCO&NITA DEFENSOBA DA ROSA AMARELLI. 



Fada, ou anjo d'harmonia, 
Quem te deu tanta magia, 
Que a lyra vens inspirar ? 
Lembrou-te^ meiga cantora, 
A rubra rosa d*outr'ora. 
Que tentei desaffrontar ? 

Já depois com voz turbada. 
De existência mallograda, 
Chorei a separação f 
Se por fim emmúdeci, 
Ahl cantora, náo morri, 
Vive mais o coração. 



Ha um dever que me chama, 
Umcuidado quem*inflamma, 
Que faz a lyra esquecer, 
Inda mesmo que a poesia 
Nos sonhos de cada dia 
A tragos possa beber. 

Mas á tua voz sonora, 
Quem pode, gentil cantora,. 
Inhabil prevalecer ? 
Eu de mim presumo tanto. 
Que não ouvira teu canto 
|Se<n um canto te oiTerecer. 



Vizella 6 de agosto de 1856. 

D. Ânna Amália de Sá e Mello. 

13 DE AGOSTO. 

LIÇÃO DE CIVILIDADE. — Ha no Brasil um General 
distincto, por sua intelligencia, seus conhecimentos 
militares, sua energia e valor : vários encargos me- 
lindrosos lhe toem sido por isso commettidos, sempre 
com feliz êxito, e entre elles alguns de complexa na- 
tureza, civil e militar, dando em resultado disciplina 
e ordem. Não desdenha elle porém ás vezes, em ne- 
gócios de ténue importância, empregar formas e estylo 
pouco severos. A um oílicial que lhe dirigio um reque- 
rimento em papel pouco decente, e com as bordas to- 
das por cortar, poz-lhe o despacho : Apare as harl>ai 
€ volte ! 

268 



14 DE AGOSTO. 

ASSUMPÇÃO.— Festa instituída para honrar a çlorio- 

entrada triumphante de 
Maria, Mãi de DeBs. no 
céu. em corpo e atma. 
Assenta a maior parle 
dos Padres que depois 
da AscensSo de Jesu 
Christo e da vinda do 
Espirito Santo, ficara a 
Virgem na terra 33 an- 
nos e alguns meies ; que 
fallecera no anno 57 do 
nascimento do Messias, 
na idade de 7âannoB; 

Í|ue no inslalite do seu 
allecimento fftra sua al- 
malevada ao céu; e que 
depois de estar seu cor- 
po três dias na sepultu- 
ra, por graça especial 
divina (âra resuscila- 

do pela sua alma, que 
bai^fara do céu' para o 
levar a lograr alli abem- 
aventu rança eterna. 



iò DE AGOSTO. 

GRAVURA. — ^Em uma nota assim intitulada, impres- 
sa no meu livro : Camões, de pag. 205 até 213, toma- 
va eu a liberdade de aconselhar a todos os que soubes- 
sem desenho ou o podessem aprender, e nomeada- 
mente ás senhoras, se applicassem á gravura em ma- 
deira, arte tão fácil como agradável de exercer, e cuja 
generalisaçâo proporcionaria ás edições e aos jornaes 
o illustrarem-se por baixo preço. * e subministraria 
ás obras technologicas, ás de sciencias naturaes, ás de 
historia, etc, um admirável subsidio para a instrucção, 
e um meio dos mais eificazes para o agrado. 

Uma donzella, que entre as prendas de luxo houyes- 
se aprendido tamoem a arte de gravar, teria um do- 
te mais para ser admirada, um meio de se fazer conhe- 
cida com vantagem fora do circulo das suas amigas, e 
um recurso talvez para os dias da adversidade, de que 
nenhuma familia, mormente e\n nosso tempo, está isen- 
ta. Mas que é do mestre? perguntarão. O mestre, á 
falta (f outro, sel'o-ha o Manual do Gravador, a boa von- 
tade e a perseverança. Que estas cousas podem bas- 
tar, provou-o a ilha'de S. Miguel, e já em Lisboa o ti- 
nhâo provado no Panorama os Srs. Bordallo e Coelho, 
mestres e discipulos de si mesmos. 

A. F. de Castilho. 
16 DE AGOSTO. 

REMÉDIO PARA DOR DE DENTES.— Terrivel incom- 
modo é este para- o qual nâo ha especifico que apro- 
veite, sempre e a todos. Um remédio porém facillimo, 
e dos que menos falhão, é mascar uma lasquinha de 
raiz de piretro, que em todas as boticas se vende, 
é muito barato, de sabor n(ío ingrato, e provoca abun- 
dante salivação, que é o que em taes casos se requer. 

270 



17 DE AGOSTO> 

LETRAS MAIÚSCULAS. — Fallando-se Junto ao leilo 
onde a^onisava José Nicolau de Massoelios Pinto, de 
haver sido despachado oí&cial para uma secretaria um 
homem t&o iguorante que até pelo meio das palavras 
punha letras grandes, e mostrando-se como prova uma 
carta por elle escripta, — « deixem-me cá ver também 
(disse o moribundo, entre-abrindo os olhos), quero le- 
var essa novidade para o outro mundo. > Chegaram-lhe 
ao pé o papel, poz n'elle a vista alguns instantes, e ex« 
olamou : nâo ha duvida I . .. é um homem feliz em tu- 
do 1 até as palavras lhe grelão I . .. 

.18 DE AGOSTO. 

A MAIOR PEÇA D'ART1LHERIA. — Foi no Oriente, 
isto é, no próprio sitio em que a guerra ha pouco recop- 
reu aos mais engenhosos meios de destruição, que um 
fundidor hun|;aro, por nome Orban, e por ordem ae Ma- 
homet II, que então queria a todo o custo apoderar-se 
de Constantinopla (A gravura que se segue é do tem- 
plo de Santa Sophia), construio a maior peça de que 
alli fazem menção os annaes da artilheria. Com ella-se 
arrojavâo balas de pedra com três pés de circumferen- 
cia. Antes da primeira experiência, forâo prevenidos 
os habitantes aAndrianopole afim de que se retiras- 
sem para longe, se não querião íicar surdos. No acto 
da explosão, uma nuvem de fumo cobrio toda a cida- 
de, e ouvio-se o estrondo a muitas léguas de distancia; 
a bala correu mais d*um quarto de légua, e entrou pela 
terra dentro obra de cinco pés. Tão contente ficou o 
fiultão, que enriqueceu logo o inventor.. Ao declarar- 
86 depois a guerra, partio magestosamente.a famo- 
sa machina, conduzida por cincoenta juntas de bois, e 
escoltada por duzentos homens» que ião dos lados para 
271 



19 DE AGOSTO. 

CORRIDAS DE TOUROS. — Apeiar de terem na Hes- 
panha os seua oito séculos de antiguidade, e de confron- 
tar aqvieHe reino com o de França, nunca ahi sé havia in- 
iroduzido esie bárbaro dtuíriímenfo, que deu iogar a 
que o Papa Pio V excomraungasse loureiros e especia- - 
Jores(A.51,4 d<iulho),excommunhfioque por Clemente 
VIII foi levantada, sob a condiçSo de que só embolados 



se corressem os (ouros. Hoje em dia é de i;rande voga 
esse espectáculo na França meridional, e tão barbara- 
mente se executa aíii como a» Hespanha, onde sempre 
morrem nio poucos animaea, e algumas veices, ou logo, 
ou em resultado de ferimentos graves, capinhas e caval- 
leiros. Entre qós é muito menos perigoso ; bom fura to- 
davia que se abolissem taes corridas, que poui:o de- 
nflem a favor da civilisaçao do século. 

POLHA DE FLANDRES. -Inventada' em Liège. 



20 DE AGOSTO. 

TBAZ-OS-HOJITES. 



Porqueestáiniiih*almatrUtc, 
E saudosa assim resiste 
A' primavera que existe 
N'este8 campos, n'e8te céu? 
Pois aqui, em prado ameno. 
Verdeja sempre o terreno, 
Nem do ar o azul sereno 
Tolda de nuvens o véu I . . . 

Mas em vão a vista emprego 
N'estasmargensdoMondego; 
Das planicies o socego 
Não Dasta ao meu coração : 
Aqui reina em cada dia 
Bem triste monotonia, 
£ não tem physionomia 
D'estes campos a extensão. 

Naminhaterra asmon tanhas. 
Que se levantão tamanhas, 
Dizem-me cousas estranhas 
Que a planura aqui não diz: 
È' tão Delia a natureza, 
Em toda a sua rudeza, 
N'essa Escócia portugueza. 
Nos montes do meu paiz 1 . . . 

AUi tem por sentinella. 
Que sempre acordada vela, 
Constante, a provinciabella 
Alta serra do Marão. 
Veste por armas a neve, 
Que ao viajante prescreve 
A cautela com aue deve 
Avançar n*aqaetle chão. 



Depois, de todos os lados 
São montes enfileirados, 
Como gigantes soldados 
N'um dia de batalhar. 
N'estes serros escabrosos 
Pascem novilhos formosos, 
E sobre abysmos perigosos 
Vêem-se as águias pairar. 

&e nos valles ha campinas. 
Onde, por entreboninas, 
Correm aguas cristallinas. 
Como o Mondego as não tem; 
Se alli cresce a branca rosa. 
Se alli se ostenta formosa, 
Namorada e desdenhosa, 
Pura e cândida cecém ; 

Ouve-se ao longe a cascata. 
Onde essas aguas de prata. 
Em medonha catarata 
Vão com fúria resaltar, 
E depois mais socegadas. 
Por entre areias levadas, 
N'outros planos espraiadas 
Vão outros campos banhar.' 

Mais alem, sobre os outeiros, 
D'abril os dias primeiros, 
Mostrão arbustos rasteiros 
Que dão suave licor : 
E na dourada seara. 
Nada de fructos avara. 
Acha quem a cultivara 
Largo premio ao seu suor 

274 



E quando o gélido inverno 
Despe de folhas o aderno, 
E succede em giro eterno 
A* verdejante estação ; 
Muda a scena, e á brazeira^ 
Onde arde a sêcca videira, 
Se acerca a familia inteira 
Em aprasivel serão. 

Embora a força do vento 
Redobre a cacla momento, 
E no triste e rouco assento 
Imite a fúria do mar ; 
Alli dentro um calor brando 
Vivifica alegre bando. 
Como osol damanhâ. quando 
Vem as montanhas dourar. 



Nâo é como na cidade, 
Onde é torpe a sociedade, 
Onde oshomenstemmaldade 
A mulher nâo tem amor. 
Além sim ; temos donzellas, 
Tâo formosas, tâo singellas. 
Que oamor nas faces a'ellas 
Se traduz em rubra côr. 

Ohiqueamorinâotem asfalas 
D^esses amores das salas. 
Aonde, por entre galas. 
Nos dizem — amo — a surrir ; 
Nem d*elle nasce o ciúme. 
Nem a traiçSo se presume 
Que venha apagar o lume 
|D'um esperançoso porvir. 



Ai I montes da minha terra i . . . . 

Thesouros que o mundo encerra, 

Crôas de paz ou de guerra. 

Nada me fará mudar : 

Ao bulicio da cidade, 

E da corte á magestade, 

Eu prefiro a soledade, 

Que entre vós heide encontrar. 



A. Girão, 



21 DE AGOSTO. 



BOLSA. — O nome que hoje se dá por toda a parte 
ao edifício em aue se reúnem os banqueiros, negocian- 
tes e especuladores, para operarem com os fuados e 
acções industriaes, provém da familia Van Der Bourse, 
que tinha um ma^ifíco palácio na praça em que taes 
ope'*&çôes se faziâo na cidade de Bruges, outr'ora a 
mais commercial do mundo. 

275 * 



22 DE AGOSTO. 

PÁSSAROS DANÇADORES. — Ao 111.°»^ Sr. José An- 
toaio Nogueira de Barros, nosso compatriota, e re- 
sidente na Cidade de Valença, Império do Brasil, é de- 
vida a seguinte, mui curiosa, communicaçào : 

« Ha aqui uns pássaros a que chamâo dançadores, e 
que sào, de quantos Deus creou, os mais* alegres e 
folgazões. Gostumâo andar juntos, em numero de cin- 
co, e depois de haverem dado suas volta? pelo ar, pou- 
sáo em arvore que tenha dous ramos fronteiros, fican- 
do quatro bem defronte'uns dos outros, como pares de 
uma contradança ; o quinto é o musico : depois de tu- 
do bem disposto, começa este ultimo a cantar mui com- 
paçadamente, e os quadro a pular de ramo para ramo, 
transversalmente, ou a andar á roda no mesmo ramo. 
Nunca vi nada mais curioso, e alguns o tomarão por 
fabula : aílianço que nâo é. » 

23 DE AGOSTO. 

FERNANDO VII E AS SUAS DAMAS. — Era Fernan- 
do VII um pouco zeloso das damas do paço. Um dia, 
que o Duque d'Alba conversava com algumas, em pre- 
sença do Conde d'Altaniira, sentio que vinha o Rei, e 
por ISSO lhes pedio que se retirassem, o que ellas fiz€ráo 
apressadameote, porém nâo tâo depressa, que Fernan- 
do VII nâo ouvisse o frum frum dos vestidos de seda. 
Vira-se o Rei para o Conde e pergunta-lhe : 

« Que es esio ? 

Incontinente lhe responde o Conde d*Altamira : 

Es Alba que dice á las estrellas 
Que entra el sol y se van ellas. 

Para apreciar o conceituoso da resposta, deve-se re- 
flectir que alba emhespanhol significa alva, ou aurora, 

27-6 



24 DE AGOSTO. 

PESCA. — Remonta a eua Drigem & mais sita anti- 
guidade. Fsiia-se em Roma com a maior perfeição, e 
até com extrema crueldade, porque os ricos mandavfio 
lanhar os escruvoe nos tanques, afim de que oa peixes 
ee deleitassem e engordaEsem com a sua came. Da 
pesca fazem os povos ainda não muito civilisados o bpu 



5 rincipai sustento e essencial ramo de commerpio. A 
a baleia, a dos arenques e e do bacalltiu, contri- 
buem para que entrem annualmente fabulosas sommas 
nos cofres das companhias que a ellas se consagrio. 
De Iodas hemos já rallado mais d'uma Tez nos prece- 
dentes Almanaclis. 



ALMANACH5 POPULARES. - 
Laensbergli, Coacgo de Uege, e. 
277 



25 DE AGOSTO. 

MÁRMORES D'ARUNDEL.— Os mármores d*Aniiidel. 
de Paros ou d'Oxford, pois todos estes nomes se lhes 
dão indistinctamente, foram achados na Ilha de Paros, 
na Grécia, no fim 4o século XVII, por Thomaz Petrer, 
Commissario de Lord Howard, Conde d'Arundel, que o 
mandara de propósito áqaellas regiões, á procura de 
monumentos da antiguidade para o seu muzeu em In- 
glaterra. 

Os mármores de que falíamos, alli se achão eom ef- 
feito, e sáo o mais precioso documento histórico. Por 
elles se taparam muitas lacunas da chronologia, e se 
rectificaram muitos erros da historia. Contêem um re- 
gisto publico solemne e seguido das épocas mais notá- 
veis da Grécia desde Cecrope, fundador do reino d'Athe- 
nas, até ao Archonte Diogenéte, tempo em que estas pe- 
dras foram ordenadas, no anno 264 antes da era christã; 
quer dizer, que rezão estas memorandas e memorativas 

Çedras de um periodo histórico nada menos que de 
318 annos. 

26 DE AGOSTO. 

CONVENTO DE MAFRA. — O soberbo Convento de 
Mafra, edificado em cumprimento d'um voto feito por 
El-Rei D. João V para ter successâo, é um brasão de 
architectura italiana e clássica em Portugal. Foi no an- 
, no de 1717 que se lançou a primeira pedra n'e8ta mons- 
truosa machina. Duzentos mil cruzados se gastaram 
n'esta primeira solemnidade. Treze annos durou a edi- 
ficação d'esta obra. Perto de 30,000 operários trabalha- 
vâo n*ella diariamente. No çinno de 1730.estavão matri- 
culadas 45,000 pessoas. Para os operários que adoeces- 
sem, construio-se um hospital, em que entraram 17,000 
enfermos em cinco annos, com os quaes se gastaram 
230,000 cruzados. • 

O plano do edifício é um quadrado de mil palmos de 

278 



Jado. Foi preciso primeiro rebaixar um monte, no que 
se occuparam 5,000 operários e 500 cavallos, e em ml> 
nas se consumiram 30 arrobas de pólvora por dia. De 
cima dos terraços elevâo-se a grande altura dous tor- 
reões» dous campanários e um zimbório. Estes corpos 
sâo inteiramente de cantaria. Cada campanário tem 
15,000 arrobas de metal. Só o sino das horas, pesa 800 
arrobas e 20 o seu martello. Os dous sinos dos quartos 
estão logo por baixo. Os martellos de todos estes sinos 
sáo puxados por três grossos arames de ferro, c^ue váo 
prender n'um admirável jogo de relógios. Por baixo dos 
sinois que batem os quartos, ha seis sinos, também de 
desmesurada grandeza. Ha outra ordem de 48 sinos,, o 
maior dos quaes pesa umas 700 arrobas. Seus martellos 
sâo presos por arames ás teclas do jo^o de relógios. 
Os dous carrilhões são de primoroso artifício. Antes de 
soarem as horas, tocáo minuetes e outras harmonias, 

Eor solfa, que encantão o ouvido. Foram fabricados em 
iége e diz-se que custaram três milhões de cruzados. 
A entrada da basílica é ornada de 50 estatuas de enor- 
me corpulência, representando os fundadores das or- 
dens religiosas. Dentro da igreja nota-se com admira- 
ção a variegada profusão de mármores, as riquissimas 
E*ecas de mosaico etle madeiras preciosissimas. O retá- 
ofo da capella-mór é um magestoso quadro de escola 
romana, representando Nosso Senhor e Santo António. 
Tem oito orgâos de melodiosa harmonia. Mas o que ain- 
da mais se admira, é o zimbório, que se ergue»soberbo 
no meio do cruzeiro. Tem duas cúpulas concêntricas, 
como o de S. Pedro em Roma. O remate da abobada é 
uma pedra colossal. Veio já escavada da pedreira, e fo- 
ram precisas 86 junctas de bois para transportara. Para 
a lavrarem trabalhaváo 41 canteiros, ao mesmo tempo, 
e á larca. 

A solemnidade da sagração da basílica foi com appa- 
rato e esplendor nunca vistos. Oito dias durou a festi- 
vidade, sendo incalculável o concurso de gente. O Rei 
Í79 . 



mandou estender pelo pavimento da basílica os riquís- 
simos paramentos, e disse para os que admiravâo tanta 
preciosidade e magnificência: «Isto que estão vendo 
me custou ainda mais do que todo o edifício. » Emfím, 
para ter uma noção da monstruosa grandeza d*esta ma- 
china, basta saber que tem mais de cinco mil portas e 
janellas (a). 

27 DE AGOSTO. 

BARTHOLOMEU DO QUENTAL. — Nasceu este por- 
tuguez, notável pela sua vida e por seus escriptos, a 27 
de Agosto de 1626. El-Rei D. João IV nomeou-o prega- 
dor e confessor da sua Real Capella em 1654. Fundou a 
Congregação do Oratório a 16 de Julho de 1668, e de- 

Sois de ter deixado lembranças da sua pureza e bon- 
ade, e de ver as suas obras traduzidas em todas as 
linguas, expirou na idade de 72 annos, a 20 de Dezem- 
bro de 1698. Ha d'elle Meditações sobre os mysterios, 
e vários sermões em portuguez. Afamilia Quental ain- 
da hoje existe, e é uma das mais distinctas da ilha de 
S. Miguel {A, 51, 28 de Janeiro, 29 d^Agosto, 17 de 
Novembro e 8 de Dezembro, A. 53, p. 106 e 113). 

CHARADA. 

Fértil em monstros, fertiliso o globo — 1 
Por mim talvez de^loma o nome sôa — 3 
Cantor suave, delicado amante. 
Na lyra me teceu eterna coroa. 



* * ♦ 



(a) Joio de S. lotepb do Prado. Mr>iiam. sacro e sagraçilo da baailica 
de Mafra. — Joaquim da AnsumpçSo Velho. M<nn. da Acad. das Scienc. <ie 
Li(b. tom. l.-~Claudio da ConccicJo. Gabinete hiel. tom. 8. — Paoorama ; 
tom. 4. 



28» 



28 DE AGOSTO. 

BRAMA. — Uma das pessoas da (r 
dade Índia. E' a priacipio creador de 



VÍBhnou (prin- 

vador) e Chiva 
(principio des- 
truidor) com- 
Sletao a Irin- 
ade. \chio- 
se expostos os 



Grande parte 
da índia a se- 
gue ainda, e 
conta hoje tal- 



29 DE AGOSTO. 

PASQUINS. — Um dia que Frederico Grande da Prús- 
sia estava á sua janella a tomar o fresco, vio apinhado 
a uma esquina muilo povo. Ordenou a um de seus pa- 
gens que fosse ver o que era. O pagem disse que era 
um pasquim contra elle. «Pois sim, rapaz, será. maa 
está alto de mais, replica o Rei ; vai, anaa, despréga-o, 
e pQe-DO mais baiio, para que se leia mais á vontade.» 

ÍÁ. 51,33de joneiro.) 

281 



30 DE AGOSTO. 



O HABIEH. 



O céu é puro, 
Adeja o sul, 
Com manto escuro 
Dorme Stambul. 

Palácio alveja 
D*aureo portal, 
Dentro lampeja 
Luz divinal. 

Sente-se o aroma 
D^áloes e âmbar, 
Alli Mafoma 
Tem um altar. 

Meiga se escuta 
A voz da hurii 
£ em meiga luta 
Amor surri. 

Áureo kiosque 
Se deixa ver, 
Por entre um bosque 
Todo a tremer. 

Linda captiva 
Canta ào luar 
Saudade viva. 
Que a vem matar. 

Por entre as rosas, 
Filhas do Abril, 
Vôem-se airosas 
Escravas mil. 



Bubins e ouro, 
Amor, desdém. 
São o theeouro 
Do vasto fiarem. 



Uma se occulta 
Do seu senhor, 
Mas paga multa. 
Multa d amor. 

Outra se prostra 
Sobre um coxim, 
E a furto mostra 
Graças sem fim. 

A grega pensa 
No seu paiz ; 
Do Islam a crença 
Seguir nâo quiz.' 

Da Hespanha a filha 
Contempla o céu ; 
Seu pranto brilha 
Por entre um véu. 

A favorita 
Mira o sultão, 
E amor lhe excita 
No coração. 

O eunúcho passa. . . . 
Contempla .... sáhe . . . 
Vé tanta graça, 
Nada o attrahe I 

Ouve-se um bejo. 
Um ai se ouvio.. . . 
Cahe um desejo, 
Quai flor no estio. 



Lobato Pire*. 

282 



31 D£ AGOSTO. 

FOGIR. — Ninçuem sabe, nem poderia saber, toda a 
lingua do seu paiz, porque a língua d'um paiz compõe- 
se sempre de muitas reunidas, que tendo entre si ^an- 
dissima semelhança, tem comtudo cada uma sua índole 
peculiar. Assim, no portuguez, por exemplo, ha a lin- 
guagem poética, a úa alta prosa, a cortesã, a plebéa, 
a rústica, a forense, a médica, a mercantil, -a dos ma- 
landros', a dos traduz idor es de noyellas, a de cada of* 
íieio, a de cada província, a de cada ilha, etc. ; e tudo 
isto variando de século para século. Um vocabulário que 
abrangesse toda a synonimia do portuguez, seria para 
endoudecer um Pico de la Mirandola, um Gours de Je- 
blin, ou um Gardeal Mezzofante (A, 52 p. 198. A. 54 p. 
203). Ponhamos por amostra os equivalentes que nos 
occorrem do verbo fugir, e que talvez nâo seiâo a dé- 
cima parte dos que existem, vivos ou enterrados. 

Fugir, safar-se, abalar, fazer víspere, sigcar-se, tin- 
gar-se, pirar-se, pôr-se na piresa, dar ás trancas, dar 
á canela, dar aos calcanhares, bater a sola, metter 

Í>ernas ao potro, moscar, escafeder-se, surrar-se, 
azer-se de viagem, agarrar nas pernas ás costas e an- 
dar, levar-se, fazer ablatívo de viagem, volatilisar-se, 
sumir-se, pôr os pés em polvorosa, tomar as de Villa 
Diogo, pôr-se a bom recado, mandar-se mudar, ir to- 
mar ares, desertar, emigrar, ir-se.rebolindo, ir-se de 
escantilhão, ir-se com o diabo no corpo, ir-se com o 
diabo na mochila, voar sem azas, despejar terra, metter 
terra em meio, levar-se como uma andorinha, como uma 
penna, como um sargento, como uma chare, como uma 
raposa açoitada, ir-se ferindo lume, ir-se sem dizer 
aáeus, mirrar-se, fugir a unhas de cavallo, ir-se sem 
dizer agua vai, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc 

RENDAS. — Inventadas em Bruxellas, que a isso, 
bem como Malines, deve parte de sua reputação. 

283 



t DE SETEMBRO. 



SENHORAS EM LIMA.. — Querem saber s occupajio 
diarta diis senlioraa na capital do Peru ? eu lh'o digo, 
paia bastante tempo lá estire, 

Logo pela nianna pígSo em flórea aromatinas. como 
as da larangeira {asaajaT) e da tkirimoia [fnicla do con- 
de no Brasil), cuja tragrancia é a mais auaie que se co- 
nhece, mas não dum, e junto a elUe e a outras qiiei- 
mfio âmbar li. 52, p. 
330), abafando-ss de- 
pois com uma pequena 
manga de vidro. Ouan' 
do algum homem as vi- 
sita, pedem-lhe o len- 
ço, e dâo-lhe de pre- 
sente uma p orça o d'a- 
quellasilores ciijo chei- 
ro natural ha sido aug-- 
meutado com o do âm- 
bar. EsfregSo depois 
os dentes com uma raii 
muito branca, e que 
me persuado ser de mandioca. De tarde comprio jas- 
mins quatro vezes maiores que os da Europa, e com eU 
les enfeitSo o cahello, e vâo á Praça Jlaior beber agua 
nevada, ou de morangos, ou alguma outra bebida re- 
frigerante. Quasi lodo o dia estiio deitadas na rede [pú- 
de-se ver uma a pag. 13IÍ do Ãlmanach de 1806). seme- 
lhante a uma maca de navio, e abanadas por uma es- 
crava negra, que lhes enxota as moscas, e as faz oscíl- 
lar voluptuosamente até que adormeção. 
N'uma palavra, é uma vida continua do mandrííce. 



Josi António tangai. 
(Almeida) 

!84 



â ]»£ SETEMBRO. 

CASTELLO DA PENA EM CINTRA.— Este edifício, 
actualmente de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Fer- 
nando, foi levantado em 1503, como mosteiro para or- 
dem de S. Jeronymo, por El-Rei D. Manoel. Alli pas*^ 
sou este Monarcna largas horas, a esperar pelo regresr- 
80 de Vasco da Gama com a nova da descoberta da Ín- 
dia. Hoje, do convento pode-se dizer que nada existe : 
é um castello feudal d'architectura normando-gothica 
do século XII. Fosso, ponte levadiça, passagens estrei- 
tas, torres com ameias,^ terrados, cupolas, tudo traba- 
lhado com summa perfeição, hábeis cinzéis, e á custa 
de avultadíssimas despezas. 

É da primitiva um sumptuoso retábulo, de jaspe bran- 
co e preto, coUocado na igreja: representa o nascimen- 
to do Redemptor, na parte mais elevada , e pa inferior 
guarnece o sacrário, admirando-se ahi ospassos da pai- 
xão n'um bellissimo baixo relevoj algumas figuras são 
d'alabastro e perfeitíssimas. Orlão este retábulo, que 
tem no centro as imagens da Virgem e de S. Jeronymo, 
anjos sustentando dous magotes d'armas e'flores. È' tal 
a sua alvura, que com uma luz por traz se 14 pela 
frente. 

Deixando porém o castello com todas as suas belle- 
zas, quer nos pórticos, que fingem mariscos, flores e 
.arbustos, quer nas salas, mobiladas com o gosto da ida- 
de média, quer, finalmente, no deslumbrante espectá- 
culo que se apresenta na torre mais alta, que com ra- 
zão se pode cnamar visinha dos céus, espectáculo que. 
se não pode descrever porque a vista o não abrange ;' 
vamos encontrar uma cerca de montanhas retalhadas 
em ruas alabyrinthadas, ora descrevendo linhas, ora 
semicirculos, ora conduzindo-nos a assentos entalha- 
dos na rocha, ora levando-nos a largos circulados de 
plantas. E' um jardim nas montanhas; é a natureza abra- 
çada com a arte, e combinadas ambas para deslumbra- 

'285 



rem o viajante, que não espera encontrar um éden nO 
centro d'uma serra. Tudo isto se deve a El-Rei o Se- 
nhor D. Fernando, que tem, sem exageração, enterrado 
thesouros na serra de Cintra, e que a transformou em 
uma das maravilhas do século XIa. 

António da Cunha^ 
(Cintra) 

3 DE SETEMBRO. 

HOMEM GRANDE BESTA DE PÁU. — Diz o dictado. 
^endo o Beijâflor a mais delicada e pequena das 
aves, pois não passa muitas vezes de uma polegada 
de comprimento, causa espanto o ardor, a coragem» a 
destreza, com que essa mosca de pennas, fere, aco- 
mette e afugenta no ar o gavião, centenares de vezes 
maior, mais poderoso e forte, do que ella ! É mui tri-- 
vial na America do Sul ouvir-se no ar junto dos bos- 
ques um zumbido estrepitoso e intermittenté, mais ás- 
pero e forte que aquelle que os rapazes fazem, quan- 
do girâo em volta da cabeça uma tala de madeira pre- 
za a um cordel : é feito esse zumbido pelo Beijauor, 
que vai perseguindo no ar o gavião, que ousou voar 
perto dologar onde aquelle tem o ninho. Cônscio do 
poder do seu inimigo, semelhante ao remeiro que 
acompanha o tubarão, nunca lhe toma a frente ;. per- 
segue^o até grande distancia, dando-lhe com o ténue 
biquinho ferroadas no ventre, e o marmanjo esforça- 
se em fugir a todo o vôo 1 Não é pela grande orelha 
que se compra o asno I 

António Maria do Amaral Biheiro, 
(Porto-Alegre, Império do Brasil) 

FERRADURAS.— Foi em Tournay que se ferrou o 
primeiro cayallo belga. 

286 



4 DE SETEMBRO, 

DOISINIMIGOS E A. IMAGEM DE S. JERONYMO.— Os 
poéta& castelhanos D; Francisco de Quevedo e D. Jo&o 
Peres de Montalvão aborreciâo-se mortalmente. Pas- 
seando um dia no parque, separados os dois, propoz-se 
um amigo commum concilial^os. Tanto disse e tanto 
fez» que o conseguio. Continuando a girar os três na 
melhor harmonia, passaram por diante da imagem de 
S. Jeronymo, representado no acto de o açoutar o de- 
mónio, por haver lido o pagão Cicero com deleitação. 
O congraçador dos dois talentos pedio-lhes que fizes- 
sem entre ambos alguma coisa soore aquelle assumpto. 
Começou Montalvão : 

Por leer a Ciceron 
Muchos açotes le dán. 

Concluio logo Quevedo : 

Miren ustédes que hizierant 
Si leyera á Montalvon! 

5 DE SETEMBRO. 



^ 



Apesar de morar longe, 
Ando tão espionado, 
Que até das voltas que dou 
Me tem o tempo contado. 3 



Ah I se eu fosse borboleta. 
Havia de a flor deixar. 
Para de Mareia formosa 
N*um e u*outro repousar. 3 



Era com este instrumento 
Que astrólogos impostores 
Vaticinavào da sorte 
Benefícios e rigores. 



287 



•¥ ¥ * 



6 DE SETEMBRO. 

RIO DAS MORTES. — Quasi que banha a villa de S. 
loHO d'El-ReÍ, no Brasil. Vem-lhe O nome d» uma rixa 
las mai« obstinadaa que em Euas proximidades se 



tilreiros de S. 
Vicenie e do 
Rio de Juneí- 
ro, que alli li- 
nhfio corrido 
ao eaberem 
de tio pref io- 
Ra descober- 

•\o utilissVa 
para si. De- 
nodadamente 
pxpulsos do 
ramoso Et-D D- 
rado. relirío- 

tios visinhos á espera de reforros. porém alli mesmo 
acometiidos pelos péulístas. foram por esies derrota- 
dos com grande mortandade de um e outro lado, e nas 
margeos do rio se enterraram os cadaceres. 

líonorio Prreira StrxedeUo. 
(Brasileiro) 

388 



7 UE SETEJIBHO. 

PAGODE. —Deriva-se esla palavro de oulra persa- 
na, que signifi- 
ca íemplo. E' o 
ronie que indis- 
tinciamente se 
dá aos templos 
da maior pailn 
dos povos da 
Ásia, e partieu- 

ching. O mais 
notável de todoB 
é o de Jagrenat. 
Aqui apresen- 
tamos a copia 

pagode. 

For ampliaçjki 
ee dá tatDbem 

Ídolos sdoradoB 
dentro dos (em- 

Slos, e também 
9 figuras, quasi 
sempre çrutes- 
cas, ordinária- 
raenle de porce- 
lana, cujas primeiras nos vierão da índia. 

NADA SABEMOS. — O Cardeal Mezíoranle. de quem ' 
falíamos B pag. 198 do Almanath de 1852 e 203 do de . 
1854, dizia, Bpezar da HuaTBStissiraainstrucçao; » Se 
me fosse dado viver quanto eu quizera, sã d'aqui acem 
Bunos é que principiaria a saber alguma cousa.» 

E proravelque muito antes houvesse esquecido ludo. 



8 DE SETEMBRO. 



O MANDRIUO BRASILEIRO. 



Dos ricos, dos grandes, 
Os bens nâo invejo, 
Que tudo é sobejo 
 quem poucio quer; 
Inúteis vaidades, 
Do fausto a apparencia, 
Nenhuma influencia 
Tem cá s^bre mim. 

Comendo feijão, 
Bebendo cachaça, 
A vida se passa' 
Com satisfação. 

O paio, o presunto, 
Melhores não são 
Do que é do sertão 
A carne bem saca ; 
Dífferença entre isto. 
Se a ha, sempre foi, 
Ser carne de porco. 
Ou carne de boi. 

Comendo feijão, 
Bebendo cachaça, 
A vida se passa 
Com satisfação. 



Os vinhos do Porto, 
Os vinhos de França, 
Cá dentro da pança 
[guaes todos são : 
Se alegrão a mente. 
Se aquecem o peito, 
Rutiío (1) esse effeito 
{Produz, e melhor. 

Comendo feijão. 
Bebendo cachaça, 
A vida se passa* 
Com satisfação. 

Basofía escusada. 
Tolice só é, 
O estranho rapé 
Comprar por ser caro ; 
Pitada cheirosa 
De assado rolão 
Excita nas ventas 
Melhor sensação. 

Comendo feijão. 
Bebendo cachaça, 
A vida se passa 
Com satisfação. 



(1) Rutilo chamâo em Minas á cachaça. 



290 



Fumar o dinheiro, 
Que asneira tamanha ! 
Charutos de Hespanha 
Por vinte reaes ! . . . 
Mirrado embrulhinho 
Lá vai d*uma vez ; 
O nosso caximbo 
Consola anno e mez. 

Comendo feijão, etc. 

Tratar de um cavallo 
Que brinca e passeia. 
Se a gente recreia, 
Qae custo não é?l 
Por valles e montes, 
Aos bêccos, á praça. 
Me leváo de graça, 
Sadios, meus pés. 

Comendo feij&o, etc. 

Aosjogos^, ás danças, 
Ás festas mais bellas, 
A taes bagatellas 
Eu torço o nariz : 
Náo tem voltarete 
A graçd d'um truque ; 
Ao pé do hatuque\i) 
Esconda-se o ril. 

Comendo feijáo, etc. 



Os brando» colxôes, 
Os leitos dourados, 
A inquietos cuidados 
Socego náo dão : 
Deitado ne esteira, 
De perna bem solta, 
Sem dar uma volta 
Eu durmo sem fim. 

Comendo feijão, etc. 

Continuos negócios. 
Herdades, fazendas, 
Augmentâo as rendas. 
Mas para que fim? 
O homem, bixinho 
Que é tão limitado, 
Succumbe abafado 
Com o peso do trem. 

Comendo feijáo, etc. 

Os cargos, os mandos, 
Os altos empregos. 
São bons para os cegos, 
Que espinhos náo vêem. 
Sem ter liberdade, 
E sem consciência, 
Riqueza, opulência, 
Que podem valer ? 

Comendo feijão, et€. 



(1) Batuque, dança brasileira muito usada, mas não 
em reuniões de primeira ordem. Alguns titulares, e 
outros nobres senhores, conhecemos nós bem amigos 
de sua viola.... para os taes baíwqtteí, /ados, chibas^ 
lorés, giquipangast etc. etc, que tudo significa a mes- 
ma cousa. *** 

291 



Quem tem um palácio, 
Quem anda de sege, 
Já cuida que rege 
Dos fados a lei f 
Trabalhão, padecem, 
Por ter esses bens ; 
Eu ganho em descaaço 
Meus quatro vinténs. 



À morte, a doe&cat 
Nâo fazem escolfia, 
A fouce nâo olha 
Para alvo nenhum: 
Se bem que igual corta 
O fino e o grosso. 
Talvez o destroço 
No grande é maior. 



Comendo feijão. 
Bebendo cachaça, 
A vida se passa 
Com satisfação. 

9 DE SETEMBRO. 



¥ * » 
(Brasileiro) 



VOLCÃO DA ILHA DO PICO. — Foi a sua ultima 
irupçâo no anno de 1572, correndo a lava o comprimen- 
to de duas léguas e a largura de duas milhas. Está 
situado no alto da montanha denominada Pico, a 
qual deu seu nome á ilha, e tem duas léguas de 
altura e seis de circumferencia na base. Ainda em 
toda a sua extensão se vêem hoje innumeraveis resr 
piradouros, mas foram inteiramente consumidas todas 
as matérias inflammaveis que durante alguns sécu- 
los o alimentaram. O fumo que alguns haturaes da 
ilha dizem sahir de sua mais elevada cratera, e que 
dão como prova de existir ainda o volcão, facilmente 
se explica por mui diversa causa : n*aquelíe sorvedou- 
ro se amontoâo grandes camadas de neve, que p sol 
derrete e faz evaporar quando os seus raios se tornâo 
mais ardentes ; e a essa exhalação dos vapores con- 
centrados no interior da montanha que o vulgo chama 
fumo. 

VELAS DE CEBO. —Inventadas em Flandres no 
anno de 1300. 

292 



10 DE SETEMBRO- 

AHOBTE.— EmqueoffenderiaaquellajovenoCREA- 
nOH ? Nasceu para viver, e eira a dormir para sempre I 
guasi que trocou as 
faias da infância 
pela mortalha 1 ... 
TSo bella, e não ter 
harído coraçilo de 
homem em que en- 
tornasse a felicida- 
de I.... Vio atui e 
-apagou -ae-lhe I ... 
Hontem rainha no 
baile, hoje e.scraTH 
no tumulo 1 .,. Alií 
a palma da formo- 
mosura ; baixando 
dos cáus a corSa da TÍrgem e a palma do martyriol Em 
que se tornaram tantas graças ceifadas pela morief vin- 
te e quatro horas, cadáver! vinte e quatro dias, recorda- 
çSo I vinle e quatro séculos, e sempre, e por toda a 
Plernidadc, mais nada I nem um resto sequer do pó em 
que se desfez seu corpo delicado t 

11 DE SETEMBRO. 



MAGNANIMIDADE DO PBINCIPE DE CONTl.- Foi o 
Príncipe de Conti arguido por certo cortezio, seu ini- 
migo, de haver dito mal d'elle perante El-Rei Luii XIV; 
respondeu com nr ingénuo e afiarei o Príncipe : «Se 
eu tivesse a honra de fallar-mui amiúdo com EI-Rei, 
mais o-perceberi&o os meus amigos que os meus In í- 

"293' ' 



12 DE SETEMBRO. 

ANECDOTAS VERDADEIRAS. 

Costumava uma pessoa d*a]dêa fazer a um conheci- 
do do Porto varias encommendas sem dinheiro. Pedin- 
do-lhe alguns côvados de setim azul claro, respondeu- 
Ihe o cidadão, já cançado de tanta encommenda — No 
Porto não ha setim azúl-claro ; quéFo mais claro ?. .. 

Uma mulher da Maia, ouvindo ler no Àlmanach de 
Lembranças de 1856 o extraordinário presente que El- 
Rei D. Jjosé fez ao Conde de Lippe (i. õ6 p. 338), disse : 
— Jesus I... Se me desse isso a mim, comprava doas 
ou três cordõesiuhos d'ouro I » 

Ê o mais a que aspira a ambição das mulheres da 
Maial... 

Obscura Portuense. 

13 DE SETEMBRO. 
CAVEIBA DE BtlBRO. 

EPIGRAMMA. 



A caveira d*um jumento 
Doutor velho examinou, 
E apontando para ella 
Sentidamente exclamou : 



Queimei as minhas pestanas 
Annos a fio a estudar, 
A revolver alfarrábios, 
E selvagens aturar. 



Passei parte da existência • 
Melancholico e casmurro, 
E heide por fim acabar 
Como acabou este burro. 

Villa do Rosário, na Provincia Xrduenna. 

do Maranhão. (Brasileiro) 



294 



44 DE SETEMBRO. 

AQUILLO É QUE SÃO CORREIOS I — Assererâo os 
últimos jornaes de Londres que encontra annualmen- 
te o correio d*aquella capital nas cartas postas de la- 
do, em consequência da inexactidão dossobrescriptos, 
ou de serem desconhecidas as pessoas a quem sâo di- 
rigidas, ou de mudança de domicilio, ou de mil outras 
causas differentes, a*enorme quantia de meio milh&o 
de libras esterlinas, em notas do banco, letras de cam- 
bio, e outros valores ; somma que o correio é obri- 
gado a restituir a quem para alli a remetteu, o que 
obtém, com raras excepções, porque os inglezes, que 
muitas vezes se esquecem de pôr nos sobrescriptos 
das cartas a morada da pessoa a quem escrevem, nS^o 
omittem nunca de designar a sua por baixo da assigna- 
tura, ou no alto da carta. 

Só por isto se pode fazer uma idéa da importância 
mercantil d'aquella immensa cidade, cuja população 
anda hoje por 2 a 3 milhões de habitantes, na muitos 
estados na Europa que a tem muito menor [A, 51, p. 
206. A. 53, p. 168, 195, 218). 



15 DE SETEMBRO. 

ODE DE ANACHREONTE. 



Dizem-me as moças rindo : 
€ Meu pobre Anachreonte, 
€ Deveras que estás velho 1 
cVai ver, vai ver no espelho 
€ A calva d'QSsa fronte I 



295 



Se é calva, ou náo é calva, 
Náo sei, nem talme importa; 
Sei que o prazer e amar, 
Se tenho a morte á poria, 
Mais devo aproveitar. 

A. F. de Castilho. 



16 DE SETEMBRO. 

CATHEDRAL DE STRàSBURGO.— Entre os grandio 
eas. e mui» admiravelE monumentos a que deu origem 
a arte religiosa da idade niédís, fignra talvez em pri- 
meira liLihnaquellacathedral, por suas dimensões, pela ' 
riqueza i^o» ornatos e liguras que exieriormente a em- 
belleião, pelo magestoso de sua nave. por sua torre U- 

que arrojando-se 



ares, parece » 

diElancia 

o destino de tão 
sumptuoso edificio, 
a que se acha liga- ' 
da a recordação dos 
principaes aconte- 
cimentos da historia 
antiga da cidade. 
Tem essa torre 14i 
metros (437 pés) de 
elevação : O único 



maior das pyrami- 
des do Egyplo (A. 51. 31 de julho). Para chegar á fre- 
cha é mister subir 635 degraus. A meio caminho en- 
contrSo-se as estatuas de Qovis. Dagoberto, Rodolpho 
de Hahsburgo e Luii XIV. E' de 103 metros o com- 
primenlo da igreja e do 3S a largura : a um dos lados se 
admira o seu relógio, uma das maravilhas da arte mo- 
derna, e de que outro dia nos occuparemos. 



n DE SETEMBRO. 

CORTEJO CELESTIAL.— Perdera um pai eitremoso 
a um seu Hlhinho de teora idaiie ; vieila-o uni anii^o 
fiel e encotitra-o Uvado em lagrimas : « Kão se mortili- 
que, lhe diz, é ordem do mundo, está melhor do que 
nús, faz hoje parle do eorlejo celeslial. » 

— E' isso mesuio, é isso mesmo, o que medi cuidado, 



lhe responde o pobre homem, gemendo e soluçando. 

— Comoassimí 

— Pois não sabe que cada anjinho loca lá o seu ins- 
trumento ? ora supponha que meltem um rabecão «ran* 
ds nas unhas ao meu pequeno I como hade elle fazpr 
para se liaver com aquillo? ! I Forte desgraça de ta- 



18 DE SETEiMBRO. 

CONCERTO MYSTERIOSO. — Imagine-se n*ama sala 
um numeroso auditório, com os olhos fixos em harpas 
ordinárias. Ninguém se acUapertod'ellas; ninguém agi- 
ta as suas cordas ; ouve-se nào obstante uma sua?a 
harmonia, que d'ellas parece emanar, ou magicamente 
exhalar-se de mysteriosas regiões. Julga-se ouvir ao 
mesmo tempo os sons de rebeca, de plano, de clarine- 
ta e de violoncello. Prestando maior attençâo, dir-se- 
hia que sahem do interior da terra, e que vibráo sensi,- 
velmente as harpas mysteriosas ; se porém reparardes 
em certas varas de madeira presas aos instrumentos, 
n'ellas achareis de repente a cnave do enigma. 

Têem os corpos sólidos a propriedade de transmiUi- 
rem com mais intensidade e promptidôo do que o ar as 
ondas sonoras. Principio é este de physica ha muito 
conhecido, e agora applicado ás harpas pelo célebre 
physico Wheatstone. São de pinho aquellas varas, têem 
dois centimetros de grossura, e atravessando o pavi- 
mento vão ter a um profundo subterrâneo, fixando a 
extremidade inferior nos instrumentos de músicos; a 
saber na alma da rebeca e do violoncello, na mesa har- 
mónica do piano, na parte interior da clarineta, 
etc. Semelhantes a tubos conductores, transmittem as 
varas de pinho as ondas sonoras dos instrumentos do 
subterrâneo ás harpas da sala do pavimento superior, 
e estas,pela vibração própria dos corpos elásticos, aug- 
mentão sensivelmente a resonancia. 

O ar e os gazes communicão as ondas sonoras menos 
bem do que os líquidos e os sólidos. O estrondo e os 
sons em geral ouvem-se menos no cume de altas mon- 
tanhas do aue nas planícies ; sâo mui fracos no gaz hy- 
drogenio, (14 vezes mais leve do çiue o ar] e morrem 
completamente no vácuo. Os liquidos transmittem as 
ondas sonoras com rapidez quatro vezes maior do que 
o ar, e os sólidos doze ou quinze vezes mais depressa 

298 



ão que elle. É por isso que applicando-se o ouvido á 
extremidade d'uma viga muito comprida, se ouve per- 
feitamente no extremo opposto a percussão de um alfi- 
nete, por mais suave que ella seja. É por isso aue se no 
meio a'uma estrada applicarmos o ouvido ao chão, ou- 
viremos o som que produz muito ao longe o movimento 
de tropas, e até o rodar d*um carro. É por isso que pon- 
do também alli um tambor*com um dado em cima, este 
principiará a estremecer e a dançar com o mais peque- 
no som que de longe lhe chegue, 'e que pelo ar se não 
transmitte. 

19 DE SETEMBRO. 

O seguinte tem talvez os seus 150 annos. No Almanach 
de 1858 diremos a palavra d' elle a quem por ventura o 
não adivinhe. O aulhor não lh*o sei. 

Eu não sou creador nem creatura, 
Nem fui visto jamais entre os viventes ; 
Entre os homens me vês e não me sentes, 
3ou morto e nunca estive em sepultura. 

No mundo faço a principal figura ; 

Crer que sou agua ou ar tu nunca intentes; 
Se dizes que sou agua ou fogo, mentes, 
Mas entre os elementos me procura. 

Bem no'meio do tempo, e muito interno. 
No mesmo tempo estou, sem ser passado, 
Nem presente, futuro, nem eterno. 

Sou primeiro ao morrer, sem ser gerado; 
Com o demónio estou sem ser no inferno, 
E estou no empyreo sem me haver salvado. 

^ ^ ^ 

299 



30 DE SETEMBRO. 



do isto "o 
que maií 
captira a 

■alro e um templo que ainda quasi que esião co- 
iRles ; servem para estudo de antiquaTÍos. 

21 DE SETEMSRO. 

CUABAUA. 

Ha casaca, na mfsa e no chapéu — 2 
E' cego, sem um olho ter de Eeu — 1 . 
Desenvolve calor, lambem o abranda, 
E para coDseguiro anda e desanda. 



22 DE SETEMBRO. 

FONTES VOLCANICAS. — Figurão entre os mais no- 
táveis phenomenos da natureza as duas fontes Tolcani- 
cas da Islândia; fontes de que sahe agua a ferver que 
86 eleva a grande altura. Achâo-se no alto de uma pe- 
quena montanha de cem metros de elevação, e que se 
levanta do meio da um grande pântano, a doze léguas 
de distancia do monte Hecla, em que se admira um dos 
maiores volcôes no mundo conhecidos. A mais curiosa 
d'aquellas duas fontes é a que tem por nome o Grande 
Geyser : no vértice de uma das excresc&ncias d'aquelJa 
montanha vê-se um tanque circular, a modo de funiJ, 
de SO metros de largura, e metro e meio de profundida- 
de ; o fundo é liso como um espelho, e formado por um 
deposito, que tem a apparencia, disséreis quasi a soli- 
dez, da ágatha ; as paredes interiores são igualmente 
lisas : sahe d'alli continuamente um vapor esbranquiça'- 
do quando o tanque está vasio ; mas eis que de repen- 
te se ouve um estrondo subterrâneo, semelhante ao do 
trovão longínquo; treme aterra, eleva-se aos ares um 
turbilhào,de fumo, augmenta o clamor do gigante encar- 
cerado, jorros d'agua a ferver borbulhâo no tanque, so- 
be magestosamente um repuxo aos ares, de 27 metros 
d*altura, e em forma de valverde calie d'ahi a poucos 
momentos nos flancos do monte : pouco a pouco dimi- 
nue de intensidade o phenomeno, encurta e desappa-> 
rece o repuxo, deixâo de ver-se os jorros d'agua que a 
haviâo precedido, esgota-se o tanque, e tudo volta ao 
estado normal — O Novo Geysser, situadoproximo áquel- 
le, só d'elle diífere em nâo sahir de dentro d'um tan- 
que, e em não serem annunciadas as suas irupções por 
estrondo ou abalo algum ; rebenta d'este a agua a fer- 
ver com uma força incrível ; « pedras immensas e du- 
ríssimas, diz um viajante inglez, tão duras que nem a 
martello eu as havia podido quebrar, erâo, assim que as 
lançava para dentro do abysmo, despedaçadas n*úm mo* 

3di 



mento, e arrojados seus fragmentos conjunctamente 
com as aguas; um pedaço de pedra leve e porosa foi 
lançado a 400 pés d altura, e cahindo sobre a própria 
columna que tão soberba se elevava, foi um instante 
em quanto ella a arremeçou novamente aos ares. — O 
Geyser Irascively próximo áquelles dous, tem isto de 
particular: que para occasionar uma irupçâo, abas- 
tante laíiçar-Ihe na cratera um corpo qualquer ; imme- 
diatamente o repelle dentro d'uma columna d'agu«i a 
ferver, de 30 metros d' altura ; d'ahi a dez minutos vol- 
ta á sua antiga placidez, de que nâo sahe seuâo pro- 
vocado. 

« DE ÍBTE^O. ■ 

PRATO DO MEIO. — Antigamente nos jantares da 
corte dava-se o nome áe prato do meio aos enfeites e 
decorações, na s.alla da festa , que representavào ci- 
dades, castellos e jardins, com fqntes d*onde corria 
toda a casta de licoresfr No jantar dado por Carlos V, 
Rei de França, ao Imperador Carlos IV, em 1337, ap- 

Sareceu um navio com mastros, cordas, velas, e ban- 
eiras com as armas de Jerusalém ; no convez via-se 
Godofredo de Bolhões, acompanhado d*outros cavallei- 
ros armados: o navio veio ate ao meio da salla, sem que 
se visse qual o machinismo que o movia ; d'ahi a pou- 
co appareceú a cidade de Jerusalém com as suas torres 
cheias de sarracenos. O navio aproximou-se e os chris- 
tâos desembarcaram ; os sitiados defendião-se com va- 
lentia, mas a fmal a cidade foi tomada. 

N'um jantar a que assistio Carlos IX em Carcassona, 
o forro do tecto abrio-se no fim do jantar, e desceu uma 
nuvem, que arrebentou com estrondo semelhante ao do* 
trováo, deixando cahir uma chuva de confeitos e um 
orvalho de licor odorífero. 

F. P. B, Nogueira, 

302 



24 DE SETEMBRO. 

PERIGO DA VACCINA?— Anda grande agitação no 
mundo scientiíico. Publicou, haverá 15 dias, uín me- 
dico distincto uma obra que tem por titulo A degene- 
ração Tpliysica e moral da espécie humana causada ve-^ 
la vaccina. Ahi é virulentamente atacado o célebre 
Jenner (A, 52 p. 58) de nos haver a todos, physica e 
moralmente, arruinado ; ahi se desce a estatua do seu 

Sedestal, se faz em pedaços, e se atira com elles á cara 
e seus partidários. Essa' matéria que doubre das vac- 
cas nós de boa fé inoculamos nos hraços de nossos ín- 
nocentes filhinhos, se por um lado^s preserva de bexi- 
gas, por outro, lhes traz, dizem, gastrites, escrophulas, 
phtysicas pulmonares, malignas, cholera, febre ama- 
rella, e todas essas mil doenças que hoje sáo muito mais 
frequentes do que antes, e algumas das quaes nem co- 
nhecidas erão nos séculos passados. Em* apoio d*esta 
asserção principia a desenvolver-se uma eschola de 
medicina, que toma por these a destruição da vaccina, 
e não poucos sáo os opus(;ulos que aqui e acolá princi- 
pião a publicar-se sobre o mesmo assumpto. l$om será 
que a questão progrida, e d'ella se occupem os juizes 
competentes, e d'ahi provenha uma conquista para a 
sciçncia e um bem para a humanidade. 

25 DE SETEMBRO. 

A CASA QUADRADA DE NIMES. —Poucas cidades 
são mais notáveis do que Nimes, no meio dia da Fran- 
ça, por suas antiguidades, entre as quaes se estremão 
aa seguintes : a Magna Torre, edificada no cimo da 
mais alta das cóUinas que circumdão a cidade, e que 
geralmente alli se julga haver sido um mausoléu em 
tempos immemoriaes; os Banhos, que não são hoje mais 
do que ruinas sepultadas no solo, próximas a uma fonte 
que rebenta na nase da collina em que se cohstruio a 

303 



Magna Torre, o Templo de Diana, muito bem eoD: 
vadoe coatlguo aos Banhoi, etjue em 1430 sérvio ainda 
de capetla no convento das religiosas do Salvadoí ; ) 
Ponlc do Gard, agigantado monumento, conEtruido por 
Agrippa, genro d' Augusto ; o ,4mphilíieaíro, que det> 
do remado de Antonino, e foi conslruido para jogos e 
combates d'aninioe3 e de çladiadores; acconiodavi 
14,000 espectadores e foi pelos visigodos transformada 



em fortaleza; a Casa Quadrada, que o author da Fia- 
yem dt AnacUarsis denominou obra prima da archite- 
ulura antiga: é <|uadri1onga e inleiramenle isotada- 
Aqui a reproduzimos fielmente. Enriquecem-na inte- 
rior e eileriormente magniticAS obiae de escuiptura. A ' 
lodos assombra o perfeito estado de consenaçio de 
tal monumento. oulr'ora precedido de ura vasio pórti- 
co, segundo se infere de numerosas eicavacúes em 
séculos diversos. Bastante se assemelha com a Bolsa de 
Paris. 

304 



26 DE SEPXEHBRO. 



Mau pouT ma Tiiils. inii. q^el parti dais-je prendre ? 
Bespondeu-ihe um ralSo da platéa : 
imi, fretieí la poste, et retournex eu Flandre, 
27 DE 8EPTEMBR0. 

PtLTRO ECONÓMICO. — Façi-se um buraquisho pe- 

Jueno na parle laterBl interior de uma iigela de barro ; 
Bite-Be-lhe no fuado uma camada de seixos gtsndea 
t outra de seiíos mais pequenos, e por cima d'eBU 
uma pouca d'BieÍa, que Be cobrirá com três ou quatro 
polegadas de carvfto moldo. 
Mais nada. Euia-se a tigela d'tgua e sabiri OUrtda 



28 DE SEPTEMBRO. 



O SOL CENTRE NUVENS. 



Eu tinha doas meninas. 
Engraçadas como as rosas, 
Cândidas como as boninas* 
Como as tulipas mimosas. 

Seus olhos meigos.risonhos, 
Seus gestos e movimentos, 
Erâo de noute meus sonhos, 
De dia meus pensamentos. 

OSenhor que as TÍotâobelIas 
Quiz mais um anjo no céu ; 
Então Carlota, uma d'ellas, 
Mudou-se em anjo — morreu. 

E eu perdi uma menina. 
Engraçada como a rosa. 
Cândida como a bonina, 
Como a tulipa mimosa. 

Mas no céu esta beldade 
Nâo se esquece de'Maria ; 
Punge-lhen*alma asaiídade, 
Nâo pode ter alegria. 

O Senhor, que isto notou. 
Da bella se condoeu ; 
Outra bella ao céu chamou, 
Maria também morreu : 

E eu perdi outra menina, 
Engraçada como a rosa, 
Cândida como a bonina. 
Como a tulipa mimosa. 



Eis no céu juntas as bellas! 
Mas inda assim o Senhor 
Descobre nos olhos d'ellas 
Um signal de dissabor : 

E' que sabem com pezar 
Quanto soffre por perderas, 
O pai,quesempre a chorar 
Emvão procura esqueceras; 

Pois perdeu duas meninas. 
Engraçadas como as rosas. 
Cândidas como as boninas. 
Como as tulipas mimosas. 

E o Senhor, todo ternura. 
Lhes disse então — socegai : 
Doesse abysmo d'amargura 
Vou já tirar yosso pai : 

Dar-lhe-hei uma menina 
Engraçada como a rosa. 
Cândida como a bonina. 
Como a tulipa mimosa. 

E deu-me terceira filha, 
Ànna formcTsa, engraçada. 
Qual o orvalho quan d obrilha 
Ao romper da madrugada. 

E' n'csse quadro mimoso 
Que eu vejo reproduzidos 
D'aquelle par venturoso 
Os mil encantos perdidos , 

306 



£' ella o sol creador, 
Que em mÍDh'aIma reverbera 
Prazer, delicias, amor. 
Gomo o sol da primavera ; 

E* o meu cofre encantado. 
Onde encontro se os procuro 
AUivio para o passado, 
Esperanças para o futuro ; 

E* ella. .. mas ahl ignoro 
O nome que mais assenta 
Aquém dois anjos que adoro 
Ca no mundo representa. 



Deu-me o céu outra menina. 
Engraçada como a ro«a, 
Cândida como a bonina. 
Como a tulipa mimosa : 

Seus olhos meigos*,risonhos. 
Seus gestos e hiovimentos, 
Denoiteoccupâomeussonhos 
Dedia os meuspensamentos. 

Agora, filhas presadas. 
Lá no céu onde habitaes, 
Entregai-vos socegadas 
Aos gozos celestiaes I... 



Já lá vai minha paixão I 
Terminou minha saudade I. .. 
Mas perdão, filhas, perdão, 
Se vos occulto a verdade. 

António Lino Leão de Vasconeellos, 
(Araarantej 

29 DE SEPTEMBRO. 



ENCOMMENDA D*ALBARDAS. — Certo cavalheiro, 
querendo uma dúzia de alabardas, mandou que por 
uma carta se encommendassem a um amigo ; mas sue- 
cedeu que o secretario descuidadamente escreveu ai- 
bardas. O amigo, recebendo o aviso, mandou logo fa* 
zer a encpmmenda com todo o primor, e remetteu-a. 
Respondeu o fidalgo : « Fico entregue áste albardas, e 
supposto não serem o que eu queria, estão muito bem 
mandadas, e.mejhor merecidas : serão seis para o meu 
secretario, por escrever albardas em logar de alahar- 
das ; e as outras seis para mim, porque assignei a carta 
sem a ler. » 

;í07 



A CAÇA. — No centro da pai, imageni da puerra 6 
a caça ; e guerra lanto mBisjusta, quanto idbib natural 
énoliomeut o dominar Feras qu6 homens. Se os ro- 
iiiaDos TorSo pouco dados á caça, foi porque dentro de 
Honia tinhão muilos Bxerciciosraílitarea, luctas, gla- 
dialuras e combatimeutos de feras. É a caga exercício 
tão nobre, qae os maiores Princípes do mundo se pre- 



irem de grandes caçadores, como o forâo os Reis dl 
ereia e Macedónia, Arlabano Bei dos parthos, Adrií- 
Imperador, etc. Mas a certo cavalleiro que encare* 
ia a nobreza d' esta arte, se respondeu que parecia 
caca profissão de assassinos, porque com muito gen- 
!, com muitos cães, e com muitas armas, váo esperar 
ma lebre ou coelho para o matar. 

a pasteleiro haverá 
308 , 



1 DE OUTUBRO. 

ACÇAO DE CERTOS MEDICAMENTOS SOBRE A IN- 
TÉLLIGÉNCIA. — Todas as substancias estimulantes 
produzem aiíluxo de sangue para o cérebro, excitando 
as faculdades intellectuaes, se a dose passa certo limi- 
te, mas cada uma d'ellds obra d*um moao que lhe é pró- 
prio. Assim os preparados ammoniacaes, o almíscar, o 
castoreo, o vinho, o ether, o café, facilitâo o exercido 
da intelligencia. Houve até quem desse ao café o nome 
de bebida intellectual. £' no café que Voltaire retem- 
perava sua mordente ironia, Napoleão seu génio domi- 
nador, Fontenelle seus- espirituosos conceitos. Estes 
três homens eminentes achavâò no café as vigilias de 

3ue carecia sua vasta concepção. Os óleos pyrogeneos 
ispôem para a melancholia e' allucinações. O iodo e aa 
cantharidas debilitáo as faculdades intellectuaes. O ar- 
sénico produz tristeza e o ouro alegria. O mercúrio 
conserva uma sensibilidade mórbida e faz nascer aver- 
são ao trabalho. O protoxydo de azote, ou ga;s hylarian- 
te (que faz rir) causa deliciosas sensações. O uso do 
ópio excita as faculdades inteUectuaes, e o seu abuso 
predispõe á loquacidade, convindo por isso aos orado- 
res. A belladona diminue a acção intellectual. Omei- 
mendrofaz tristeza e cholera. Ã cicuta entorpece a in- 
telligencia. O amanito (espécie de cogumelo) produz a 
ferocidade. Finalmente a acção do tabaco é análoga ú 
do ópio ; por isso os fumistas dizem que faz gerar idéas 
grandes e sublimes. João Félix Pereira. 

MASSILLON'. — Quando o immortal pregador Massil- 
lon pregou pela primeira vez no paço o Advento, ao ir 
comprímentar o Rei Luiz XIV, este lhe respondeu com 
familiaridade : «<Meu bom padre, quando tenho ouvido 
a outros pregadores, tenho ficado mui contente com el- 
les ; mas agora quando vos ouvi, muito mal fiquei co- 
migo. ^ 

3i>9 



3 DE OUTUBRO. 

IMPROVISO ESCRIPTO ^'M ÁLBUM. 



Do bello Guadalquivir 
Eu vi as margens formosas, 
Junto á festiva cidade 
Que se coroa de roèas. 

Eu percorri os vergéis 
D'essas veigas encantadas, 
E do rio^os poetas 
As ribeiras namoradas. 



Pelas ruas, pelas praças. 
Salta e ri povo contente; 
E' amor, e alegria, 
O viver d*aqueíla gente ' 

O ar puro e embalsamado, 
A fresca vegetação, 
O céu de azul esplendente, 
Parece tudo illusâo I 



Sentei-me no antigo alcaçar Faz quasi da noute dia 



De mourisca architectura 
Do povo que o tinha erguido 
Lastimei a desventura. 

Junto d*e^se monumento. 
Que mãos árabes alçaram, 
Despeitosas mãos dê godos 
Yasto templo edificaram. 

Altiva torre- coroa 
A cathedral do christáo ; 
Vencido cahe o crescente 
Da cruz perante o pendão. 

Do6 dous gigantes rivaes 
Lá se lê a dura historia. 
As artes, o ódio, as guerras. 
Seus revezes, sua gloria 1 

Do cimo d*aauella torre, 
Oh I que lindos horisontes I 
Embaixo, a cidade, o rio ! 
Ao longe campos e montes ! 



Da lua o claro fulgor ; 
O sol entorna em torrentes 
De seus raios o esplendor! 

Esse oceano de luz. 
Essa etherea maravilha. 
Só se vê no ar que inunda 
A phantastica Sevilha I 

No meio de taes influxos. 
De tão bélla natureza. 
Qual será Rosa do Betis, 
Do teu sexo a gentileza I ... 

Aqui cala-se o poeta. 
Porque fallece a expressão 
Para os labíos exprimirem 
O que sente o coração !... 

Mas auem te vê, não vê logo 
Que es rosa la procreada!... 
E que fosle d*esse éden 
N'um bello dia roubada I... 

José Maria Grande. 

310 



3 DE OUTUBRO. 

CORAGEM DE UM BRASILEIRINHO. - A três léguas 
da villa de Valença, oa província do Rio de Janeiro, vi- 
via uma familia composta de pai, mâi e quatro filhos, 
sendo os de menor idade, um rapazinho de dez annos e 
umd menina de seis. Era em outubro de 1855. Sahira a 
familia toda a passeio, menos os dois filhos mais mo- 
ços. O pequeno estava sentado no limiar da porta, brin- 
cando com um cão ; a memna entretinha-se com uma 
boneca. O caxorro começou a rosnar ; volta-se o rapaz e 
▼0 perto de si um negro*nú.— « Quero comer » — lhe diz 
com arrogância. — «Espera» responde o pequeno como 
maior sangue frio.— Xevantou-se, foi dentro, e trouxe- 
ihe um prato de feijão e farinha. Ao sahir o rapaz, acha 
o preto com uma espingarda gue havia tirado da sala 
em quanto elle estivera na cosinha. O pequeno avança 
para o negro e lança mão da espingarda. Este resiste, 
trava-se lucta, e n'êlla se descarrega a arma com tanta 
infelicidade, que mortalmente fere a menina. O negro, 
espavorido, eorre para um bananal visinho; o rapaz 
não desanima. O cadáver da irmã lhe dá valor. Pega 
n^um páu e segue o negro, acompanhado de três cáes 
que havia em casa. Então a lúcla se torna de extermínio. 
O negro quer defender a vida, o menino quer vingar a 
morte da irmã. Cada bordoada abria uma brecha na ca- 
beça do preto» e d'ella sahia sangue a jorros. De cada - 
dentada arrancavão os cães um pedaço de carne. A fa« 
milia chega a casa, vê a menina morta, solta gritos es- 
pantosos, sente o latido dos cães, corre ao logar d'on- 
de parte, e dá com outra seena não menos horrorosa. 
O negro jazia por terra sem sentidos, e ainda o peque- 
no lhe dava pancada, e os caxorros lhe dilaceravâo as 
pernas. Ao levantarem-no do chão, era cadáver. A justi- 
ça proseguio nos termos da lei. O menino, apesar de sua 
coragem, e de ter sido impellido em tudo aquillo por 
um nobre sentimento, fugio. J» A, Nogueira ãe Barros. 

311 



4 DE OUTUBRO. 

DESCOBERTA DA PÓLVORA. —Foi devida inte!»- 
Qiente ao acaso. Occupava-£e um frade, por nonie 
Bertoldo SchwBrtz, nascido em Friburco, no metdo 
do século XIV, em moer dentro de um almofariz ceTli 
mistura de carvão, de enxofre e de salitre ; calito deti- 
tro uma faísca eproduiio una violenta explosão. O 

mais umchimieo 
hábil. Reflectiu, 
estudou, e dentru 
eai pouco fabri- 
cou a verdadelti 
Eolvora, Ul qaal 
ojenosserve.S* 
ee deve dar ci«- 
dito 3 alguns hi9- 



nodel380.ÍL.caD- 
tard'aquel! a épo- 
ca, trausformoo- 

ae a arte da guerra, dando muito maior eiteasln > 

todas as suas operações. 
Dão ha muito que a cidade de Friburgo levantou 

uma estatua a Bertoldo Schwarti. Seria grande chi- 

míco, mas n&o deve ser considerado como um dos bei^ 

feitores da humanidade. 

6 DE OUTUBRO. 

a Bélgica ha perto á'rm 
312 : 



6 DE OUTUBRO. 

tERRIVEL ERUPÇÃO DO VESÚVIO. — Por mais de 
uma vez temos falkào n*este famoso volcão : daremos 
hoje parte de uma de suas recentes erupções. 

A 30 de Abril de 1855 ouvio-se-lhe um estrondo sub- 
terrâneo, elogo d'ahi apouco forâo arrojadas aos ares, 
a uma altura de 50 pés, aleumas pedras inflammadas, 
sahindo ao mesmo tempo alava pela cratera principal. 
No dia immediato appareceu outra, próxima a uma 
abertura pela qual se lançou ha poucos annos um fran- 
cez no interior d*aquelle terrivei sorvedouro. Um pou- 
co mais adiaiite abrio-se terceira, e d*ahi a alguns mi- 
nutos de todas três sahia lava com uma força mcrivel. 
Portici, Herculanum, Resina, todos os legares emfím 
situados nas inímediaçôes do inexorável monstro, 
achavão-se aterrados, e muitas horas passaram de ter- 
ríveis angustias. A's 6 horas da tarde a lava expellida 
pelas três crateras, depois de haver corrido um quarto 
ae líiilha, reunio-se em uma grande massa compacta de 
12 a 15 pés de grossura e mais de 600 de largura, e do 
alto de um rochedo se precipitou no valle próximo 
aquella immensa quantidade de matérias inflammadas, 
semelhante a uma cataracta de fogo, despedaçando to- 
dos os obstáculo?, e incendiando os castanheiros e car- 
valhos de que o valle se achava coberto. Em 28 horas 
correu a lava perto d'uma légua. A noute estava escu- 
ríssima epor isso era mais viva e mais solemne a sinis- 
tra claridade que allumiava os arredores e se reflectia 
no golpho de Nápoles, dando-lhe o aspecto de um im- 
menso brazeiro de cinco léguas de diâmetro. 

Innumeraveis estrangeiros persistiram nas immedia- 
ções do Vesúvio em quanto elle bramio com maior fú- 
ria ; alguns até ahi se installaram em barracas de cam- 
panha, e só ao 3.^ dia, gue tudo voltou ao estado natu- 
ral, 86 retiraram* Distmguia-se entre elles o Príncipe 
d*Amiila, irm&o do Rei, que de continuo p(^rcorria a 



montanha a cavallo. Eu se lá estivesse, deitava a galo- 
pe, mas era na direcção opposta. Acho que nem por is- 
so deve lá ter muita graça morrer assado (A. 51,7 d* Abril 
e 24 de Setembro, A. bi p. 325, A. 53 p. 279, A. 55 p. 
181 e 254, A. 56. p 32i;. 

7 DE OUTUBRO. 

UMA COROA. 



Deixa tecer-te uma coroa 
Das flores do meu jardim, 
Com tanto esmero por ti 
Cultivadas para mim. 

A rosa^ que diz amor, 
Tenha asnonrasdeprimeira; 
Logo depois a baunilha. 
Segurança verdadeira. 

Apura cândida angélica. 
Bem como a casta açucenat 
Ostentarão suas galas 
Com as galas da verbena. 



Todas ellas symbolisão 
Tua alma pura e leal ; 
E teu peito generoso < 
A magnólia real. 

Brancas e roxas violetas 
Tua coroa enfeitarão ; 
São quasi todas singellas, 
Como nossas almas são. 

Para remate da coroa 
Odorífera e fragrante, 
Symbolise uma perpétua 
Meu amor puro e constante. 



Constante, puro e ardente, 
Meu prazer e minha vida, 
Chamma celeste, jamais 
Por outro peito sentid^a. 



Maihilde Coelho Pê$tana. 
(Santarém] 

314 



8 BE OUTUBRO. 

OS NAIPES SEPARADOS E UNIDOS. — Tomai um 
baralho de 40 carias ; ponde na meza quatro, dos qua* 
iro naipes, ao lado uma das outras ; sobreponde á pri- 
meira outra do mesmo naipe da quarta ; á segunda, uma 
do naipe da primeira ; á terceira uma do naipe da se- 

funda ; á quarta, uma do naipe dajerceira ; voltando 
primeira Golumna, ajuntai-lhe uma carta, do ultimo 
naipe da quarta; e assim por diante analogicamente. 
Exemplo : supponhamos que a primeira tirada foi : — 
eopas, oiros, paus, espadas ; —a segunda será : — esna- 
das, copas, oiros, paus ; a terceira ; — paus, espadas, 
copas, oiros; — a c|uarta : oiros, paus, espadas, copas; a 
quinta: — copas, oiros, paus, espadas, como na primeira 
linha: e assim por diante, com um ou mais baralhos, se 
quizerdes, com tanto que a ultima carreira de bai- 
xo tenha os naipes na mesma ordem que a primeira de 
cima : então fazei da primeira columna um monte, e tí- 
rai-o para baixo ; o mesmo da segunda, que sobrepo- 
reis á primeira ; o mesmo da terceira, que sobrepo- 
reis á segunda ; e o mesmo da quarta, que sobreporeis 
á terceira. Pedi a qualquer dos circumstantes que .par- 
ta, e reponha a metade inferior sobre a metade supe- 
rior : esta operação do partir pode ser repetida até mil 
Tezes. Tomai então 'a totalidade das cartas, e distri- 
btti-as seguidamente em quatro montes, com as costas 
para cima; cada um conterá só cartas do mesmo naipe. 
' Se entre os espectadores estiver algum esperto que, 
havendo reparado no como distribuistes os naipes, dis- 
ser que vai fazer o mesmo que vós, desconeertaá-lhe a 
Sresumpção, restituindo ao baralho quatro cartas, uma 
e cada naipe, que forçosamente vos haviSo de sobejar, 
ou oito se os baralhos erão dous e que já para isso deveis 
ter previamente empalmado ; a habilidade hade-se-lhe 
frustrar, por mais que tente , que é isso o que succede 
todas as vezes que alinha debaixo náo é igual áde cima. 
315 



9 DE OUTUBRO. 

CHOLERA. NA CAXOEIBA. —É dos maia aterrado- 
res o quadro que apresenta a iorelii cidade da Caxaai- 
ra [a segunda d'esla província em populaçno e riqae- 
7.a) depois da apparíç&o da c^holera. Escrevo esiasli- 

nhasar*- '- 



fressão doi ' 
a ctos hor- 1 



tagio. Ima- 

gine-sB umi 
c i d ade flo- 



ternacto a 
isola ineDlo I 
seus habi- 

etpatriados, outros enccumbidos aos golpes assolado- 
res da,epidemia 1 Pelas ruas cadáveres ieiepultospor 
nio haver até quem os conduza ao uUimo jazigo I noa 
Uospilaes eò mortos e moribundos. Despedaçados oa 
316 



laços mais sagrados da natureza 1 No leito da dur aban- 
donados os pais pelos filhos, os filhos pelos caife, es- 
Í^osos por consortes, mulheres por maridos t dada qual 
oge ao flagello, que mais adiaqte o alcança, deixan- 
d0'0 ao primeiro ataque nas agonias da morte. A fome, 
que de ordinário segue a peste como a sua sombra, mais 
tem augmentado o mal (vaquelles infelizes habitantes, 
sem que lhes haja valido o desvelo do governo pro- 
vincial, que á custa das maiores fadigas se tem esfor* 
çado por soccorreros: quantos para alli vào, encarre- 
gados de valer aos desgraçados, ou morrem, ou vol- 
tâo atacados pelo contagio. . 

Desamparados até pelos médicos, só achão nas Ir- 
mâa^s da Caridade amparo e consolação ; só estas san- 
tas mulheres, arrostando incríveis Itrabalhos e fadi- 
gas, se têem conservado firmes no seu posto, e tiran- 
do forças de sua fraqueza, têem chegado a carregar os 
cadáveres sobre os aebeis hombros, levando-os até á 
sepultura, que assim muitas vezes para ellas próprias 
iêem aberto. Louvemos também o zelo de alguns aca- 
démicos, d'aqui mandados em soccorro dos cholericos. 

£m tamanha consteriiaçâo, o povo da Bahia, que 
sente o ar do contagio produzir já ahi taihbem seuS' 
funestos efifeitos, recorre a outro remédio mais segu- 
ro 8 infallivel — as preces ao TODO PODEROSO — 
e na verdade faz-lhe honra o espirito religioso que 
em lodosos seus actos públicos tem reinado. Succe- 
dem-se umas ás outras procissões de penitencia, e cor- 
re o povo em massa aos pés dos altares a implorar 
a misericórdia do ALTÍSSIMO. 

Deus ouça os nossos rogos, e nos livre, e a todos os 
povos, de tamanho flagello I... 



Bahia 23 de agosto- de 1855. 



Jf. l. de C. 
(Brasileiro) 



317 



10 DE OUTUBRO. 



SÁO BARTHOLOMEU E NICOLAU TOLENTINO. —O 
nosso Nicolau Tolentino d' Almeida n&o era só um poéti 
sat)rrico de primeira ordem, e um conversador dos maii 
espirituosos e repentistas. Reunia a isto muitos e mui 
variados conhecimentos, sobre tudo em historia, e no- 
meadamente na de França. 

Um dia que elle narrava em certa assembléa a matança 
da noute de S. Bartholomeu (A.bi, 24d'agosto], todos 
os $eus ouvintes esta vão enlevados a escutaVo. Certo 
mancebo de familia nobre, recem-chegado de Paris, 
onde fora educado n'um collegio, porem mais fátuo e 
vaidoso do que instruido, o interrompeu por vezes, pre- 
tendendo corrigir a narração. « Senhor, lhe respondeu 
a final mui civilmente o poeta, eu fallo pela bôcca dos 
mais acreditados historiadores francezes, taes como fu- 
lano e sicrano ; se V. S.* os consultar reconhecerá que 
labora em erro, ou se equivoca.» «A quem diz V. S." is- 
so ? eiclama com um surriso desdenhoso o fidalgote 
levantando-se ; a quem ? a mim que fui fazer 14 annos 
a Paris !...> « Sim I replica o, Tolentino ; pois olhe, pa- 
rece-me que não foi lá fazer mais nada I . . . » 



11 DE OUTUBRO. 



QUESTÃO DE CÃO. — Andavâo desavindos dons in- 
divíduos, e como tudo lhes servisse para se hostilisa- 
rem, queixou-se um d'elles de que o outro lhe manda- 
ra furtar ou malar um bello cão da Terra Nova. Nascen- 
do d 'ahi um pleito encarniçado, houve, para um inci- 
dente d'elle, precisão de requerer a certo general bra- 
sileiro, que por despacho só poz : — Como a questão é 
de .cachorro^ va$sa fora! 

318 



li DE OUTUBRO. 



LEANDRO E HERO. 



Medita nos bosques 
A terna avesinha. 
Trovando sósinha 
Endecha saudosa» 
Gorgeios sem fim. 
Di88ipa-se a prosa 
Que ensombra esta yida ; 
OuTÍ-a, e d'Armida 
Mil sonhos de rosa 
Yolviam-se em mim. 

Depois, lá na Grécia, 
A' sombra fagueira 
De antiga oliveira, 
Julgava-me ao lado 
De rresca aldeà. 
Seu rosto nevado 
Tornava-se austero, 
Contando-me d'Hero • 
O fim pranteado 
Na lenda pagã. 

Dos tempos que foram 
Galgando a voragem, 
A túrbida imagem 
Toquei da procella, 
Tremenda e voraz ; 
O mar s'encapella, 
Rompendo em bramidos, 
E o moço d^Abydos 
Da amante que vela 
Descobre o fanal. 

319 



Luctando co' as ondas, 
Cem vezes perdido, 
O extremo gemido 
Lhe rouba o cançaço 
Qae o vai sepultar. 
A um gripho me abraço. 
Mais leve que o vento 
Seus voos sustento, 
E caio do espaço 
Nos golphãos do mar. 

Salvei^os 1 revive ! . . . 
Suspiros, protestos, 
Que a virgem de Sestos 
Confunde com bejos 
De grato fervor. 
São mais que os desejos, 
Que fervera no peito, . 
Que passa desfeito 
Da maçoa aos festejos 
Ao jubilo, a amor ! 

Voou a avesinha. 
Com ella o gorgeio ; 
E o meu devaneio 
Aos ares subindo, 
De todo o perdi. 
De sonho tâo lindo. 
Que resta ? sào nadas. 
Visões encantadas 
Que adejam surrindo, 
Qual hymno d'Huri I 

Luiz Filippe Leite. 



13 DE OUTUB&O. 



„ . ^ ^ n honra dj 

. a feBta chamada : Antktttena, testa mui pari- 
cidB com SE Balurnies doa Bomanos, e na qual os se- 
nhores banqueteavio opíparamenle aos escravos e Ihei 
servíâo ãflieza. No l.°<lia abriSo-se oabalseiros e pro- 
vavio-ae ossinhos; no 3." bebia-se d'ellea a cahir. 



ilando-se ao melhor bebedor uma corSa de ern e um 
vaso de vinho generoso ; Gorria-se pelo campo em car- 
ros á poTila, gritando e ebufando-se una aos outros ; 
no 3.° oliereciio-se a Mercúrio grãos de toda a qua- 
lidade, cosidos, e de que ninguém provava. 

O nosso S. Martloho poderá ser ainda um vislumbre 
dae anibesierías ou das saturnaes. 

320 



14 bE OCTUBRO. 

UiM CAVALLEIRO DE MUITAS ORDBSS. — Fnllíra 

certo viajante 
na» diversaa 
ordens cora 

Sue f6ra con- 
e corado em 
varias eOrles 
d a Europa ; 
pergunttndo- 
se-lhe se ha- 
via tambeiD re- 
cebido alEunia 
doReida Prús- 
sia— -«Recebi, 
pois nlio 1 a de 
'Bahir de seus 
estados e m 
vinte e quatro 

Se' tinha 
nquella finura, 
para qualquer 
parle para on- 
de fo^e pode- 



is DE OUTUBRO. 
CONTAÍilO DE TÍTULOS. 






• FulaDO ainda não é Barão í> 
«Nada,nio; por ora lem escnpBdo.i 
Quem isto respondia ainda nio ha muitos mezes. tam- 
bém jí hoje é Barão I... Che^ou-lhe também a sua vei. 
Vai chegando a lodos !.. . li. 53 p. 300.) 
321 



16 DE QUTOBRO» 

CAPITAL FOLGAZONA. — O seguinte extracto de 
uma carta que do Rio de Janeiro nos foi dirigida, dará 
uma ligeira idéa da animação e riqueza d'esta opulen* 
ta capital, que hoie excede, por quasi todos os lados, 
muitas da nossa Europa. Ainda bem. Como bons pais, 
nada nos satisfaz tanto como a prosperidade de nos^ 
SOS filhos. 

«E* segunda feira gorda. Hontem andei vadiando pela 
etdad*e, e á noite intrigando, com o meu dominó, no 
Lyrico. Aqui o antigo entrudo foi.substituido pelo en- 
trudo romano e corso de Veneza. Para estas cousas 
nunca n'esta grande capital ha parcimonia. Desde a 
quinta feira começaram os estrondosos bailes de asso- 
ciações, por convite, taes como o da abertura do novo ' 
Club Fluminense (mascarado), em que esteve olmpera- 
dor e tudo grande ; o do Congresso das Summiaades 
Carnavalescas^ e outros; depois, uns sete ou oito thea- 
tros elegantíssimos se abriram para a folia. A*ma- 
nhâ cada camarote do Lyrico , 1.® ordem , custa 
30$000 réis a.cbaye, pagando-se alem dUsso mais 
2$000 réis por pessoa. Em cada rua parece haver uma 
procissão permanente. Varias sociedades especialmen- 
te organisadas vem com bandas de musica a cavallo e 
bandeiras suas, ricamente mascaradas, n'um sem fim 
de carruagens, atirando para todas as janellas, e d*el- 
las recebendo, .flores, ramilhetes, confeitos. Entre es- 
sas mascaras houve algumas galantes^ Um ratão, mui- 
to bem vestido de gallo, com enorme crista, bico e ac- 
ce££orios, tinha um machinismo, pelo qual, ao ver uma 
rapariga bonita, dava-lhe um ^iro á roda, arrastando- 
Ihe a aza. Um fulano Mello, muito engraçado, e dono de 
uma fabrica de cortumes, andava pelas ruas a cavallo 
n'um enorme boi, vestido de Sileno, mas com dous im- 
mensos chifres na mão, cheios d'agua, que azafamada- 
mjente ia lançando á direita e á esquerda, dirigindo 

oZ2 



a todos estas consoladoras palavras: «JVingucmdtflío, d>s- 
ta agua não beberei,:» Hontem notheatro vi um esque- 
leto, representando a Morte; vi o diabo, representando 
o Inferno ; vi anios, representando o Paraiso, Estariào 
pois representados, Morte, Juiso. Inferno e Paraiso, se 
em taes occasiões houvesse modo de dar entrada á fo- 
presentação do Juiso. 

No sab6ado fez Eduardo Heil outra brilhante aseen- 
são aerostatica. A'manhã preparâo-se mosquitos por 
cordas. Se tudo isto é acção, tremenda deve 8«r a 
reacção penitencial da quaresma. » 

Thomas Polycarpo dos Santos Èíourào. 
(Brasileiro) 

17 DE OUTUBRO. ' 



CHARUDA. 



Não cuides que só o tens 
A poderá demandar ; 
Eu pelos meios legaes 
Minna parte helde buscar. 1 

O calendário 

No assento ethereo 

Me põe do empyreo, 

Gonsdiatorio, 

Todo purpúreo, 



Que refrigério não dou 
Aos que de mim necessitãol 
Pela minha intervenção 
Seus males curados fícão. 2 

Com Santo Hylario, 
Com São Valério, 
Com São Porphjrrio, 
Com São Gregório, 
Com Santo Aibureo. 



Para me achar é mister 
Buscar nome de mulher. 



¥ ¥ * 



323 



18 DE OUTUBRO. 

VIDE MONSTRUOSA. QUEM SAHE AOS SEUS NÃO 
DEGKNERA. — A maior vide que eiisle na Europa é a 
de HamptOD-Court, 
na Inglaterra: os 
seus ramos cobrem 
nada menos de 
3.300 pés. Foi plan. 
tadaem1768.epro- 

de 3,uÒ0 Fachos de 
uva ferral. Eiisle 
ainda a vinha ds 
que foi tirada, do 
condado d'Essei, 

século de antiguidade. Em 1835 produiio quatro quin- 
taea d'nva. Teni24péa de.circumferencia. Houve um 
snao era que o proifucto d'ella andou por umas 300 li- 
bras ealeninas. 

19 DE OUTUBRO. 

MODO FACtL DE MELHORAR OS FIGOS. — Ha en. 

tre as diversas espécies de plantas sfmpathias e an-- 
Upathiss mui notáveis. 

A arruda, disposta á sombra dos figueira es, pros- 
pera maravilhosamente e lhes enriquece os fructos 
d'um particular e dulcíssimo sabor. Este facto, que 
só o acaso ponde descobrii, já o jeauita Yanière O 
CODaignara na sua admirável georgica, intitulada : 
Prídium ruslievnt, e nós mesmos conhecemos quem 
O experimentou e nos certifica ser verdade. Duvide 
embora, mas experimente quem tiver Ggueiras ; repa- 
tíTi Gom Vaoière : flutai» Ac» amat. 

324 



2 



20 DE OUTUBRO. 

CIGáKOS — H^ tanto de insólito e mysterioso, no vi- 
ver, no ser e na origem, dos que chamamos ciganos^ 
que náo será fora de razáo dizermos d'elles alguma coi- 
sa do rauitissimo que se encontra pelos authores. 

Quanto á origem dos ciganos, concordâo todos em 
^ue é mui antiga ; qual seja porém a verdadeira, nâo é 
acil decidir em tanta variedade de opiniões. Dizem 
uns que procedem da Tartaria e da Scythia, d*onde se 
introduziram na Europa no anno 1417, porque n*esse an- 
no consta haverem chegado em ranchos a França com 
passaportes d'El-Rei Sigismundo de Hungria. 'Outros 
os dizem pérsios, descendentes dos adoradores do fo- 
go, acrescentando que por ser a Pérsia mais fecunda 
em gente que em mantimentos, era usança, ou lei de 
seus moradores, alliviar de sete em sete annos o territó- 
rio de uma porção d'elles. Outros têem que sâo netos 
das tribús judaicas levadas a captiveiro por Salima- 
nazar, Rei d'Assyria. Alguns os fantasiâo raça maldi- 
ta dos egypcios que recusaram poisada á Santa Virgem 
quando com seu divino filho perigrinou por a(|uellas 
terras. Outros affirmâo que vieram da Esclavonia, ou 
de umas terras do Turco confinantes'com a Hungria ou 
com a Bohemia.O árabe, autor do livro intitulado MircaK 
traz que se derivão em linha recta do impio Pharaó 
e seus sequazes. O que parece averiguado é que no 
tempo em que entraram em Franca, alli lhes deram o 
nome de Penitentes^ em razlio d'elles contarem que 
sendo naluraes do Égypto inferior, os sarracenos d'alH 
oê haviâo expulsado por serem christàos ; que expul* 
fiOS, se tinhâo idopereerinos a Roma, onde o Padre San^ 
to, depois de os ouvir de coníissâo,lhesimpozera apeni- 
tencia de se irem pelo mundo alem, decurso de sete 
annos, sem nunca se deitarem em cama. É uma raça 
que se espalhou por França, Itália, Inglaterra, Allema- 
nha. Hespanha, e que sem embargo de ser tâo persegui- 



da até ao fim do século XVIII, ainda subsiste, e conscr- 
Ta bem reconhecidos os seus caracteres distinctivos. 

Nem todos os ciganos ou bohemios são vagabundos. 
Em Turquia e Hungria são ferreiros, caldeireiros e mú- 
sicos. Na Transylvania, Moldávia e Yalachia, ha-09 em 
quantidade com poisada certa, vivendo folgadamente, e 
creando de entre si maioraes com os títulos de reiSf du' 
quês e vayvodes. Na Hespanha, uns demorào pelos 
montes, e outros têem seus bairros próprios nas ci- 
dades, como em Sevilha e Córdova. Em Inglaterra sâo 
alquiladores, veterinários e ferradores. Na Rússia hà- 
os também residentes, e até a condessa de Tolotoi é 
Bohemia ou cigana. Seja porém qual for o seu viver, o 
que é certo é que esta gente conservou no seu tracto a 
sua lingua, o respeito ás suas authoridades e os seus 
eostumes. Sâo os ciganos bem feitos e delgados» rosto 
expressivo á feição do dos persas. As mulheres gosão 
fama de mui castas, sendo essa a virtude de que mais 
se presto. Toem maneiras insinuativas, d'onde provém 
chamarmos cigana a qualquer rapariga que tem artes 
de embahir. 

Ou porque de si naturalmente sejão supersticiosas, 
ou porque encontrem boa ganância na credulidade doa 
tolos, são mui ledoras da buenadicha — ^isto é— inculcio 
adivinhar pelas linhas da mão de quem as consulta o 
que está para lhe vir em pontos de negocio de saúde e 
especialmente de amores. Gil Vicente introdusio-as 
graciosissimamente n'um auto, fazendo seus prognósti- 
cos mui lisongeiros ás damas e cavalheiros da corte. A 
Eoesia moderna algumas vezes tem trazido á scena com 
om êxito estas personagens extraordinárias, que se re- 
presentão á imaginação como um enxerto norgenero hu- 
mano, e cujo interesse se compõe, parte do nebuloso da 
sua origem e do excepcional do seu viver, e parte dos 
crimes que lhes assacão de roubos, e até de raptos de 
«reanças que levão comsigo. segundo se crê, para as 
crearem n'aqueUa mesma vida. 

326 



21 DE OUTUBRO. 

COmCIDENCIA NOTÁVEL. — A 26 de janeiro faz an- 
nos meu irmão António Feliciano; n'esse dia represen- 
tava-se no Rio o seu drama CAMÕES^ e no mesmo dia 
ardia o theatro desde o tecto até aos seus fundamentos! 

22 DE OUTUBRO. 



Outr*ora nos bailes 
Alcina dançava, 
Dançava contente, 
Surria e brincava. 

Seus olhos formosos 
De negros brilhav&o ; 
Seus pés tào ligeiros 
No chão mal tocavão. 

Nos lábios um riso 
Celeste pairava, 
Um riso donoso 
Que tudo encantava. 

Eu vi n'es6e8 bailes 
Seu gesto mimoso, 
Seus doces encantoe, 
Seu talhe gracioso. 



Eu vi nos meus braços 
Sua cinta de fada. 
Eu tive nas minhas 
Sua mão delicada I 

Quem dera viver 
Mil annos assim ! 
Viver nos seus braços 
N'um baile sem fim'l 

Oh I como ligeiro 
O tempo corria, 
Quando ella em meus bf aços 
Dançava e surria I 

Como ella dançava, 
Dançava e surria. 
Com terna modéstia. 
Com doce magia ! 



Quem dera viver 
Mil annos assim I 
Viver nos seus braços 
N*um taile sem iim'l 



327 



António Joaquim da Rosa 
fBrasileiro} 



23 DE OUTUBRO. 

CHACAt. — E" ura quadrúpede do género ei 
raposa, com 



cauda pou- 
È' de todos 
ferozes o 

eenio d e 

rapina e dos cadáveres que desenterra. Encontra-BO 

aos bandos na índia, na Ásia Menor e na Africa. 

Alii Ihea mostro um cliacol, 

Esse feroz animal, 

Porem este não (az mal. 

24 DE OUTUBRO. 

SONUO DE UM.^ VIUVA. 

Aqui jaz Thereea Ophetia iDermiiou, morreu, suniio-ee, 

N'esta triste sepultura. Pois assim o quiz seu fado. 

Viuvinha aos 21 annos, Só por sonhar que o marido 

Demui rara Tormosura. [Havia resuscltado I.., 



.4riIiienno. 
(BraEileiío) . 

328 



35 DE OUTUBRO. 



, é da industria do Coron- 
gnejo. o qual para comer a oslra faz um disoureo recto, 
_i. _!,„. — . 1 j. . pgrgce que disDorre as- 

B, nãopossa resUtircon- 



go. se eu l h e 
iBuçat dentro 
uma pedrinha, 
ella nâo se po- 
derá fechar, e 
enUo^ podeiei 

D'esta fdrma 
eiecuia o seu 

syUogiBmo, por- 
que p o n do^ss 
promplo com a 
pedra, tanto quo 
a ostra abre as conchas, lh'a arroja deotro. Tunc clan- 
eulo ealeulum immiura, impeait eoncluiionem ot~ 
teri, ac sic aperta clauitra rtperiens, lulo irurrii 
clielat, viteeraque interna dtpatcitur, diz o Santo Dou- 
tor no logar allegedo. O mesmo canta o grande Baia- 
lho liT. lido áífofts. est. 19. 

Tal gambaro, en quíen vemoi que reside 
De etlratagemat provido ti uto. 
JI Of lion, porque en eonchot qu« dteide 
Ifo te cierre, pequeno gaita puto. 
Tá acerrar-te la almeja, yteloimpid* 
La pt«dra d qae et eangrejo le tnterpiuo. 
Tiro «if coso que ofreció ai nocivo 
Brecha de nacor en baluarte vivo. 

329 



95 DE OUTUBRO. 



SALVE, n 



. . . . À voz da infância echos no Empvreo dá. 
(4i F. Castilho. — Epist. a S. M. A. Ihp. do Brasil.) 



Teus Cantos.ó erandegenio, 
Sâo torrentes aharmonía : 
O teu estro se irradia 
D'um foco de intensa luz. 
É d'eUe centelha fulgida, 

Qae ot cam«* boj« in'ÍD«pira ; 

fio trorar da minha lyra. 
Tua lyra me conúuz. 

Alongas o teu domínio 
Por luminosas espheras ; 
Coílcebes, e logo imperas 
Onde a mente se arrojou. 

Vai* ler os aegredot ia li moa. 

Que o Círio ter* qae ot ÍM>n8 ilirpeasa. 

Sobre essa pagina immensa, 
Em letras d'astros, gravou. 

K'a«i reioo de 9Òe» esplendidos 

E*s qual nume omnipotente: 
Sentes, crias, no presente ; 
Vives, gosas, no porvir. 

DeNpreoJea a voz grandíloqua, 

Dissipas as nuvens densas, 
E da noute, quando pensas, 
O dia fazes sahir. 



Embora te seja inhospito 
Torrão ingrato que pizas , 
Que importa?se alem divisas 
A pátria da gratidão ? 1... 
Que vai o gozar ephemero» 
Que a humanidaae fascina „ 
A quem traz a lei divina 
Escripta no eoraç&o ? I 

Tu einges a c'rôa dúplice 
Da virtude e do talento ; 
Alcanças no entendimento,. 
Vaes lía vontade exercer. 
Derramas os benefícios 
Pelas edades futuras, 
E por alheias venturas 
Dilatas o teu prazer. 

Honrou CamSes snas Tagidea 

N*essa famosa epopéa ; 
Gumprio a gigante idéa. 

Foi oooi elle ó nome aos céas : 

Tu honras as musas pátrias; 

^Camões a dons mandos levas ; 
!e aos povos, amboa em trevas, 

JDás ainda a luz de Deus. 



(♦) Poesia oflferecida ao IIL"^ e Ex."<> Sr. A. F. d» 
Castilho, em 26 de janeiro de 1856. 

330 



Ohl q«e a dia ao ingente metbodo 

De milagrosa leitura, 
Que altos destinos augura, 
Que das letras abre o céul... 
N^esse raro fluido eléctrico, 
Aonde Galvani excedes, 
Onde igualas Árchimedes. 
E Newton e Galileu I 



QueventuraíEu invcjára-fa, 
Se a amizade o permitisse : 
Convertes a meninice 
Em robustas gerações I... 
Crias os fructos ubérrimos 
Na estação das lindas floresi 
E pos tâesouros d*amores, 
Te pagas das maldições !... 



E' hoje que a rica infância. 
Tua dama idolatra4a, 
Poisando regenerada. 
Exalta ao seu redemptor. 
Achando o caminho áspero 
Mudado em suave trilho, 
RI, exulta, e diz : «Castilho 
Foi segundo creador 1 » 



Alçando as mâosinhas tibias 
—J*á,semverdugo, mimosas— 
Ella diadema de rosas 
Na tua fronte depoz. 
Eleva até ao Empyreo 

Hymno, qae a arte uio reveilc, 

E alli (tu mesmo o disseste) 
Dá echos da infância a vos» 



Já lá sôa a voz angélica ; 

E. em quanto o protervo mundo. 

No seu rugido profundo. 

Te opprime d'ingratidáo, 

Este dia, por mil séculos. 

Radioso se multiplica 

Onde eterna a gloria fica, 

Os dias eternos são. Á, de Cabedo. 

27 DE OUTUBRO. 

SÓ LHE FALTA FALLAR. — È* este um dicto usa- 
do quando se vê um retrato parecido. 

Um abbade muito falto de memoria, e que, quando 
pregava, costumava esquécer-se do sermão, e ficar as- 
sim por muito tempo, mandou-se retractar. Toda a gen- 
te dixia que só lhe faltava fallar, o qu& occa«ionou di- 
zer certo ratão : « Nada ; isto foi feito quando sua reve- 
rendíssima estava a pregar. » 

331 



28 DE OUTUBRO. 

O QUE E' O TMES. — E* curiosíssimo o seguinte ex^ 
tracto de um relatório ao governo feito pelo Sr. Conse- 
lheiro Firmo Marecos. — «A oíBcina do Ttmes tem quatro 
enormes prelos horisontaes que podem imprimir, d'am- 
bos os lados, 12 a 13 mil exemplares por hora, e três 
prelos verticaes, que tirão por hora, d'um lado, 14 a 
16 mil exemplares. Tem um engenhoso machinismo, 
que mostra o numero de exemplares impressos^ e ve- 
rifica simultaneamente a importância do sêUo, cujo ca- 
rimbo é estampado ao mesmo tempo que se faz a im- 
pressão typographica. Por este meio ecónomisa a em- 
preza do Times 600 libras por anno, que tanto gastava 
anteriormente em carretos do papel levado ao sello.Os 
empregados do governo vào alli íiscalisar o tributo do 
sêlio, e nunca teem motivo para duvidar da exactidão 
d'aquelle machinismo. As casas de composição da of- 
íiclna do Times são muito commodas a todos os respei- 
tos. Os prelos verticaes estão collocados em umas ca- 
sas elegantes e cheias de luz, porque os tectos são de 
ferro e cristal. Ha magnificas salas e gabinetes para os 
redactores, revisores, e differentes collaboradores. 

Todo o edifício é abundantemente illuminado a gaz. 
Três machinas de vapor são empregadas no movimen- 
to dos prelos e no trabalho das boinbas, que levão agua 
quente e fria a todo o edifício, não só para uceio das oí- 
íicinas, e para os empregados se banharem, mas para 
o caso de incêndio. Pela acção doestas machinas se en- 
chem de vapor muitos tubos de ferro, dispostos enge- 
nhosamente, para aquecerem as casas de trabalho. O 
pessoal artístico permanente, empregado no jornal, é 
de 110 compositores e 25 impressores. Ha, porém, mui- 
tos outros empregados, para os differentes serviços do 
estabelecimento. Cada numero do Times pode produzir 
dous volumes em oitavo francez de 450 paginas cada um. 
A sua extracção é de 50 a 52,000 exemplares por dia 1 1 ^ 

332 



29 DE OUTUBRO. 



blico sem primeiro sup- 
plicar Bos deuses não 
permittjssem que lhe es- 
capasse expressão al- 
guma que 03 desacatas- 
tes se podBGsem ofTen- 
der. Quando tinha de 
Bpparecer em alguma 
aseemliléa publica, aei 
próprio com estas poln- 
vras se esforçava: «Cui- 
dfldo.meu Péricles, vais 
u gregos, com atheuieií- 



30 DE OUTUBRO. 

Oue seria da oraçio,' | Sou de carne, de papel, 
<Jue deve ser regular. De madeira e de metal ; 

Se eu na aua coustrucção 1 InolTensiva ou cruel, 

A nâo fosse auxiliar? — 1 | Posso fazer bem ou mal— 1 



Se i boa moi 


ral sujeito, 




Eu seguir CO 


m bem cuidado 




que n'elle, 


e era meu proveito. 




Me é tio bem aconselhado. 




Para o céu, ( 


; bem direito, 




Ifci vestido 1 


B calcado. 






Ã. 


a. c. 



31 DE OUTUBRO. 



(1) 



Topou ás trindades, 
O dia se fina ; 
Andar a taes horas 
£' cousa mofina I... 

Na poote de pedra, 
Debaixo da arcada. 
Se escuta' um gemido, 
Que ó d'alma penada. 

E n'este pinhal, 
De grandes pinheiros. 
Que galgos tão negros. 
Correndo ligeiros T... 

Pois mais adiante 
N'essa encruzilhada 1 1... 
Ghoquita (2) gallinha 
Com fusca ninhada ! (3) 



Corramos depressa... 
Mas ai 1... que tormento !.. 
Às pernas me negâo 
O seu movimento. 

Enxergo o colmiço (4) 
Da minha choupana !... 
Quem lá me pilnara 
Com a minha Anna l..« 

Protesto fizera 
De mais não tornar 
A' venda, que a bolla 
Me faz transtornar. 

Al^ 1 se do trabalho 
Os bois conduzira. 
Das cousas que empecem, 
(Z o mb ando, me rira : 



(1) Hora aberta chamào os campesinos na Maia ao 
momento em que toca ás trindades, no qual dizem ter ò 
demónio e cousas ruins o poder de andar á redearsolta. 



(2) Chama os pintos. 



Ao lusquefusque, nos caminhos que se eruzâo, 
appãrece, segundo boas almas crêem, uma gallinha cha- 
mando um bando de bácoros, ou uma porca eharaando 
pintainhos. 
(4) Tecto de «olmo. 

334 



Que o bafo dos bois (1] 
De tudo defende ; 
Nem cousa ruim chega 
Onde elle se estende. 



Jesus I M os pinheiros 
Se põem a bailar!... 
E vozes de bruxas 
Por mim a bradar ! 1 ! 



Mas Ânna também 
Eu ouço ehamar>me f... 
Aqui l!.. vem depressa, 
Que estão a embruxar-me. 

M^^ia Peregrina de Sousa, 
(Porto) 

1 DE NOVEMBRO. 

BYMNO AO SENHOR. 



PARA SER CANTADO MOS ASTLOS DA INFÂNCIA DESVALIDA. 



Qoasi engeítados domundo» 
l)'este mundo sem amor. 
Sem a tua protecção 
Que fora de dós, &ENHOR l 

Alumie nossas almas 
Prestante luz da scieneia. 
Temperada co*o temor santo 
Da tua omnipotência. 

Fortalece nossa fé, 
Pai commum eDeuspiedosoI 
Na terra tudo é pequeno, 
Sê-nostupropicio,ohDeusllSótu és grande e poderoso! 

José Alaria Grande» 

(1) Ê tido por santo o bafo do boi, por este ter bafe-* 
jado no presépio a Jesus, e crd-so nas aldêas que livra 
dos maios sobrenaturaes. 
335 



No céu celebrâo teu nome 
Os coros celestiaes ; 
Sanctificâo-te na terra 
Os misérrimos mortaes. . 

Narra o tua excelsa gloria 
Os seres da natureza ; 
Os astros, a terra, o mar, 
Pregoão tuà grandeza. 

Teusolhosvolveaoshumildes 
Que tu chamas filhos teus ; 
De si nos lança o soberbo. 



2 DE NOVEMBRO. 

MESURÕ-LTRA. — Nada mais bello, nem mais gra- 
cioso do que esta ave, 
do tanaabo de um fai~ 
são, edeordinario cio- 
lenta. Ae duas pennas 

recém formar o GOntOF' 
DO de uma lyra e as do 
meio figurSo as cordas. 
Parece-me que bÚ Da&aCi 
se di esta qualidade de 
passara, que na elegân- 
cia e raageatade talvei 
nem mesmo ceda ao pa- 
vio; em todo o caso é 
mais poética do que el- 
le. Como tal fadada pe- 
la natureza, nío podia 
deixar de ser o seu can- 
to harmonioso, no que 
deixa aperder devista 
o seu rival. Para isso, 
em todo o caso, nío era 
ptecíBQ muito. 



REMÉDIO CONTRA. ESCALDADURAS.^Ensinámoa 
a pag. 379 do Almanach de 1853 um óptimo e facillimo 
remédio contra e scalda duras : ensinaremos hoje outro. 
Igualmente simples e efOcaz : consiste elle na applica- 
ção de clara d'ovo sobre a parte queimada, applicaçiio 
que deve ser feita o mais rapidamente poasivei; cobre- 
•e depois com um oanno, que se ata bem, e que sò se 
tira depois de curada a parle doente. 

336 ^ 



3 DE NOVEMBRO. 

BEGCIMOS EBEGLINAS. — Nome de cerlos lioniens 
e mulheres de boa e religiosa vida em varias partes da 
christandade. Quanto fi etymoloffie d'este nome norre 
grande variedade de pareceres eatre os autores. Deri- 
vão-flo UQB de S. Begghe, filho de Pspioo, a quem at- 
tribucni a fundação d'a- 

3uélle inslituto. Outros 
e Lambert le Begue, as- 
sim cliaraado por ser ga- 
go, e que em 1173 inlrti- 
duiio em Liege um (ai vi- 
ver. Escriptores flamen- 
goa derivao-no de Beg- 
ga. 'digna irmi de Santa 
Gertrudes, a qual orde- 
nou uinas piedosas com- 
muiiidades de uulheres 
em Flandres, Picardia e 
Lorena. Scaiigero quer 
que provenha de Ilcguin, 
palavra antiga franceza, 
que significava uma es- 

Secie de coifa, cm rasSo 
e usarcnl d'ella as so- 
breditas mulheres. Um 
autor entende que se orí- 
' ginou do verbo bepinque 
significa principiar, por 
ser a «anta vida dos bo- 
guinas e beguinas um co- 



indigar. Postas de parte estas averiguacBes, pois que 



duas sâo» e mui distiactas, as espécies de begumos » 
be^uinas. Uns erâo beatos falsos, perteneentes a uma 
seita eujos erros foram condeninados nos concílios de 
Vienna de 1166 e 1311, e outros gente boa, que 
guardara certas leis» e livre de Totos podia casar, e 
n*este estado conservava cadn mn a sua liberdade en* 
tre o celibato e o matrimoato* Em França acabou este 
instituto, dando^se as easas que lhes perteneião á Or- 
dem Terceira de S. Francisco. Em Hespanha, onde tam* 
bem houve corporações doestas, e mui exemplares, fi^ 
eou o nome de begíiino sendo synommo de devoto ou 
beato. Bluteau suppõe ser em rasfto da vida editicativa 
e santa que se appellidaram begninos os padres eremí^ 
tas de S. Paulo, antíquissimos em Portu^. 

4 DE NOVEMBRO. 

CAiiÕES !VO HaftPlVAC. 

Depois de ter meus versos dedicado 
Às nymphas do meu Tejo t&o formoso» 
Levou-me o pátrio amor ao arenoso 
Clima adusto, que habita o mouro ousack). 

O reino vi depois tão celebrado 
Dos lusos pelo braço glorioso ; 
£ n*esse de Macau roxedo umbroso 
Soltei meu canto ardente e sublimado. 

Cantei em meigo tom ternos amores (i); 
£ih tom mais marcial a lusa historia (z) : 
Da sorte, em tom mais triste, os desfavores (3}. 

De tudo só me restas, ó memeria I 
M*este leito perdi, ganhando dores. 
Esperança, amor, amigos, pátria e glioria. 

Padre António dê M aceda e Silva 
(S. Bartholomeu). 



(1) Éclogas. (2] Lusiadas. (3] Elegias. 

33 o 



5 DE NOVEMBRO. 



LAMENTAÇÕES 

ORSXOS PELOS FINADOS. 
I. 



Funéreo som de agonia - 
Duro bronze nos envia ; 
Chama os vivos á oração I 
£* uma voz do infinito 1 
Recorda ao povo contrieto 
Sacrosanta devoção 1 



Aonde estão meus parentes? 
Onde tão queridos entes 
Que viviâo junto a mim? 
Para sempre se ausentaram! 
Para semprel e medeixaram 
Saudades que não tem iimJ 



A igreja nos dá o exemplo 

Ao t«pipl«.t mortaest «o templo. 

Vossos passos dirigi ! 
Enluctada mâi deplora 
OsfiUios que extinctoschora, 
Sâo vossos irmãos: ouvil... 

Ouvi 08 echos magoados 
Repetir saudos4>s orados, 
Que se escutão U no céu. 
De negro vede o$ altares 1 
Renovai justos pesares ! 
Orai por quem já morreul. 



IjOnde estão!... na sepultura! 
Na mansão da morte dura 
Jazem seus restos mortaesi 
Mas as almas? ai !.. são essas 

Que ierabrfto nomas (iroraoKaA^! 

Oh 1 não se olvidem jamais I 



Olhai, as juras da terra 
A eternidade as encerra ; 
£m vão não jura ninguém ! 
Da vida asprisôes cessaram, 
Maslaçosque aalma ligaram, 
Lá no céu mais força tem. 



Se tendes lá no jazif^o 
Pai ou mái, chorai comigo, 
Que na orphandade fiquei : 
Filhos, irmãos ou consorte. 
Amigos, ah! sim, que amor.te 
Roubou-me quantos amei 1 
3^39 



Laços de fraternidade 
Unem toda a humanidade 
Emvineulo perennal. 
Hoje orai pelos finados, 
A*manhâ sereis chegados 
Talvez ao termo fatal ! 



n. 



Entre asplantas que vicejáo. 
Quantas campas ora alvejâo, 

QaaDtat guarda a excelua erui ! 

Viyestes, como vivemos ! 

QiMM boje sois, nóê seremM ] 

Dormi, crentes de Jesus! — 

Oremos pelos defuntos I 
Ura dia seremos juntos; 
Hade o pó ao pó tornar 1 
Easalmas dosque morrerem 
Hãode áquelles queviverem 
Uma oração implorar 1 

Uma lagrima sentida 

Por quem «e aosrnloa da vida 

Cahe aos pés do Creadorl 
Fa^brotar linda saudade, 
Que vive na eternidade 
Co'os martyrios do Senhor! 

E as oblações são as palmas 

QueJehová entrega ásalmas 

Dosquehonraramsantasleis. 

Orai que a oração conforta ! 

A igreja nos ab're a porta; 

Ajoelhai, povos e reis I . . . ISacrosantâ devoção. 

Z>. Antoíiíia Gertrudes Pusieh. 

6 DE NOVEMBRO. 

METAMORPHOSE. — Representava um actor pela 

Í>rimeira vez na tragedia Mithridates ; era porém táo 
eio, que todos se riáo quando elle apparecia. 

No logar da tragedia em que Monimo diz a Mithrida- 
tes: — Senhor y está-se-v os demudando o parecer! — excla- 
mou certo ratão: Ainda hem! Pode dar graças a Deus!... 

340 



Ajoelhai, que a lei da morte 
Dos mortaes iguala a sorte; 
Lei suprema, sempre iguall 
Vede 08 séculos passando. 
Milhões de ossadas levando! 
Qual vestio manto real ? 

Ninguém sabedifferençaVo, 
Que o rei iguala o vassalo 
Em nascimento e morreri 

Sú grande é quem rÍTen jiiato, 
Qaem ollia a morte sem ousto. 

Quem nol)re c*r(>a vai ter. 

Escutai!... lá dobra o sino! 
Lá repete écho divino • 
Do Omnipotente a alta voz 1 
Oremos pelos finados I 
Vamos darprantosmagoados 
A quem viveu como nós. 

Funéreo som de agonia 
Duro bronze nos envia, 
Chama os vivos á oração : 
E' uma voz do infinito I 
Recorda, povo contricto, 



7 DE NOVEMBRO. 

AbGODÀO D4 ARGÉLIA. — Por nm teceUo da Nor- 
mandia foi achado o modo 
de utilisar o reíidoo do al- 
godão da Arrelia, que pa- 
ra nada servia. Fai-se com 
elle Bma espécie de ganga, 
a qual rivaliea com a da 

D'estB no<ra industria es- 

5 era tirar aquclla provinda 
e Franca incalculáveis van- 
I (agens. I^ada ha de que ho>e 
se nio tire proveito, e nada 
qae eDectivamente não tenba a sua utilidade. 

8 DE NOVEMBRO. 

O CONVENTO DE BALSAMÂO. — Se algum dia visi- 
tardes a antiga villa de Chacim. e olhando para o nas- 
eeote virdes branquejar aolonge um ediílcio em logar 
ermo e desabrido, perguntareis talveí que mortal quiz 
ir passar seus dias n'af;uella solidAo. Pois sabei que é o 
eoDv&ntO de Balsamão, oulr'orB asf lo da paz e do silen- 
cio, e hoje propriedade de um particular. — Esse tacto 
especial que oa monges tiuh&o para escolherem o local 
de suas residências, que o celebre Chateaubriand jul- 
gou filho do seu gosto delicado e seguro da religião, fa- 
iando ver aharmonia que existe entre a religião chrís- 
t& e as Bcenas da natureza, se nota alli lambem. LMe 
fts poéticas descrifiçdes que a ou elle escriptor, e mais 
ainda Lamartine, fazem do Lf bano edos couventos e 
aldeias maronitas, e podereis faier uma idéa do sitio 
de Balsaoifto. Supponde, ao cabo de uma dilatada vei- 
ga, ama CDllin a agreste o selvagem por natureza, mas 



d*esta collina é coroado pelo piosieiro, e da banda do 
Meio-dia estão edificadas pela encosta oito capelUnhas, 
representando algumas d'essas dolorosas*scenas da Pai- 
xão que nós conhecemos pelo nome de Via-Sacra. A 
base d'aquella coUina é banhada, da banda do nascen- 
te, pelo pequeno rio Azibo, e ao norte corre uma ribei- 
ra que, depois de regar os férteis campos deChacim, 
vai desaguar n'aquelle rio. Subi «gora até ao convento : 
d* ahi admirareis uma riquíssima paisagem. Dos lados 
do norte e nascente, vereis os extensos montes de Mo- 
raes, talvez 08 mais abundantes de caça em toda a pro- 
víncia, e ao poente, depois de passeardes a vista pelas 
amenas veigas de Chacim, avistareis ao longe a serra 
de Bornes, toucada de neve uma grande parte do anno. 
No convento nada encontrareis notável; apenas vos 
mostrarão na igreja a sepultura do fundador, uma es- 
pécie de harpa, celicios, e vários outros objectos que 
pertencião ao mesmo. 

Foi este convento edificado no anno de 1750 pelo ve- 
nerável Padre Casimiro de S. José Wizinski, de nação 
polaco e da Congregação dos Padres Mariannos da fm- 
maoulada Conceição, tendo acjuelle sitio -principiado a 
ser habitado por*alguns eremitas que vivião dispersos 
pela montanha e moravâo em differentes cellas. K' tra- 
dição que n'aquelle local existira outr*ora o castello 
de*um rei mouro. Entre as vexações com que este ty- 
rannisava os povos sugeitos ao seu domínio, era uma o 
possuir toda e qualquer noiva no primeiro dia do seu 
casamento. Um habitante de Alfandega-da-Fé, ligado ha- 
via pouco pelos laços de hymeneu, mais decidido que 
os seus compatriotas, despresou abertamente as exi- 
gências do tyranno. O mouro, ferido no seu amor 
próprio, mandou alguns soldados para fazer conduzir á 
sua presença o criminoso, mas o exemplo d'este havia 
animado os* mais cobardes e a eléctrica palavra— liber- 
dade — achara echo em todos os corações. Aquelles 
povos sublevados correram em massa ao castello ; po- 



rém o Rei, sabendo do que se passava, havia sabido ao 
seu encontro, e os dois exercites se acharam cara a cara 
próximo á villa de Chacím. Ahi se travou uma renhida 
peleja entre os mouros e osebristâos. A phalange chris- 
tá, inferior em numero, e alem d*isso composta díe solda- 
dos indisciplinados, nâo podia competir com a nouris- 
ma aguerrida, e a vietona inclinava-se evidentemente 
para o lado d*esta. Em tal conjunctura decidio-se Nossa 
Senhora avir em amparo dos seus devotos, e appareeeu 
entre elles com um vaso cheio de bálsamo, com que sa- 
rava os feridos e dava vida aos mortos, de sorte que 
€onseguio fazer vencer a batalha. O rei mouro pereceu 
Bo combate, e a mesma foi a sorte de todos ou de quasi 
to4os os seus soldados. Em seguida o exercito vence- 
dor dirigio-se ao castelle mourisco, que arruinou, até 
aos alieerees. Km memoria d'este feliz suecesso,. e em 
signal de reconhecimento e gratidão para com a sua 
bemfeitora, edificaram no mesmo sitio uma ermida sob 
a invocação de Nossa Senhora-do-balsamo-na-mão, a 
que o povo, por corrupção, chama hoje a Senhora dfj 
Batsamão. È' nesse mesmo logar (^ue se edificou depois 
o actaal sanctuario, cuja padroeira é Nossa Senhora, 
representada com um vaso na mão. Em commemoraçâo 
d'aquella façanha ficou-se celebrando d'alli em diante 
uma festividade, conhecida pelo nome de Gara-Mouro, 
a qual ainda hoje é muito concorrida, e tem logar todos 
os annos no primeiro domingo posterior ao de Paschoa. 
Em premio também d^aquella heróica acção foi dado á 
povoação de Alfandega o titulo de -*- da Fé — e foi 
aquella chacina que deu o nome á actual povoação 
de Ghacim. Só me reporte á crença d'a^uelles povos. 
Segundo metêem affiançado pessoas do maior erédito», 
ainda hoje se notáo ao pé do convento vestisies de anti- 

8 as edificações, que parecem ser restos de fortes^mura- 
ias. 

António Emílio de Sousa Freire Pimenfel. 
(Villar do Monte.) 

343 ' 



9 DE NOVEMBRO. 

É uDi mammifero, muito soido, com 
focinho de 
c&o, e que 
fora a terrn 
e a'ella se 



tidos. Tem 

cio. e%"de 
grande uso 

raderes ; lambem com elle se faiem pioeeta de berb» 

10 DE NOVEMBRO. 

CHARADA. 

Temos *ó dois d» primeira 

Cano nosso Portugal ; 

Foslo qufl ha quem nome igual 

A um terceiro dar queira t 

Fiz scismar de Ul maneira 
Antigos Rrandes varões. 
Que em longas dissertações 
^i<da ÍSra decidido ; 
Has deu fim nm, d'atrevido, 
I)'um só jacto, a taes questões. . 1 
■ a que conla a gente 



11 DB NOVEMBRO. 
AOS IRMÃOS DE S. MARTINHO. 



Eis o dia, irmãos, da festa 
Do padroeiro do vinho 1 
E* chegado o dia alegre 
Do nosso bom S. Martinho. 

Dia votado ás moafat. 
Aos 'pifôei e cabelleiras, 
Carraspanas, bicos, turcas, 
Samatras e bebedeiras, 

Heuna-se a irmandade ; 
Nomeemos um juiz ; 
Celebremos este dia. 
Bebendo como funis. 

Façamos da nossa pança 
Armazém grande de vinho; 
Só assim celebraremos 
O dia de S. Martinho. 

Venha Potto e Carcavellos, 
Também o Madeira sécco, 
£ no enxugar de garrafas 
Nenhum de nós seja pêcco. 

Do nosso patrono a festa 
Deve ser bem festejada ; 
Esqueçamos as tristezas 
De nossa vida passada. 

Mettamos para o bandulho 
Quanto lá caiba de vinho, 
rara honrarmos a memoria 
Do patrono S. Martinho. 



345 



Mil brindes e mil sandes, 
Em nome da confraria : 
Quem riquezas nâo possue, 
Possua paz e alegria. 

Se os bens da fortuna avara 
Duro fado nos negou, 
Deu-nos boca; eial bebames 
O vinho que Deus creou* 

Roguemos ao nosso santo, 
Em nome do bem geral, 
Finalise o mal das vinhas, 
Ao menos em Portugal. 

Que acabe com essa praga, 
Ruina dos lavradores, 
Que tanto aterra e anieaça 
Os seus fieis bebedores.* 

Sim, morramos abrigados 
Dentro d'immenso tonel. 
Pois morrer de bôcca seeía 
E* morte dura e cruel ! 

Se o milagre faz o santo. 
Gomo devemos esperar, 
Com boa festa p*ra o anno 
Pode o santinho contar. 

Vamos beber no emtanto 
Do que ha, ou mal ou bem, 
Esperançosos na colheita 
Do futuro anno que vem. 

Ánonymo Benguellense, 



12 DE NONEMBRO. 

TRAGEDIA JULGADA PELO PADRE BRAZ.— O nos- 
so famigerado Padre Braz, cujas anecdotas e dictos con- 
ceituosos encheriâo uns poucos de volumes [Á, 55. p. 
316), foi uma vez rogado por um poeta de má morte para 
lhe ouvir ler uma tragedia e dar-lhe sobre ellao seu pa- 
recer. Siigeitou-se resignado, e foi ouvindo de braços 
cruzados, e com a maior attençáo, até ao fim. A heroina 
era uma Princeza de quem o tyranno estava namorado, 
mas que, já se sabe, lhe nâo dava ouvidos. O tyranno 
prende o pai e o amante da infeliz, e para a reduzir 
pelo terror, a obriga a escolher qual dos dous condem- 
nados á morte pretende salvar. Chegados a este l^nce, 
que era o mais dramático de todo o poema, abre pela 
primeira vez a boca o nosso Aristarct), e declama com 
toda a gravidade dramática : 

No mesmo lance se via 

A mãi que vinhia de Torres, 
* E diz : ó meu pai, tu morres, 

É forte semsaboria I... 

Mas para minha alegria 

Cá fica Manoel Coelho, 

Que sempre é melhor conselho 

Mais que pai marido ter, 

E emfim, morrer por morrer. 

Morra meu pai que émais velho. 

13 DE NOVEMBRO. 

EPIGRàMMA. 

Fábio, ao cahir da noite húmida e fria. 
Do chupado carão despe a alegria ; 
Náo porque chore o sol, do dia enfeite. 
Mas porque accende a luz que gasta azeite. 

Francisco Manoel do Nascimento. 

346 



14 DE NOVEMBRO. 

CAMÕES, JOÃO CAETANO E CASTILHO. — Camões 
é o titulo de um drama de meu irmão António Felicia- 
no de Castilho, drama recentemente, e cora geral accei- 
tacâo, representado no Rio de Janeiro, e em que o pa- 
pel do protogonista era desempenhado pelo actor João 
Caetano, um dos maiores d'este século, e o maior in- 
contestavelmente da scena brasileira. Archivemos aqui 
a carta que pelo poeta foi escripta ao actor a tal res- 
peito : 

«Meu Artista Príncipe. — Renasceu emfim, evocado 
pelo teu ^enio, o teu, o nosso Camões I o summo actor 
das glorias portuguezas identificou-se com o actor 
summo, reconhecida floria do Brasil. RemooasteVo pa- 
ra os amores e lagrimas dos contemporâneos: elle 
communicou ao teu génio o seu perfume de veneração 
antiga, a sua embalsamaçâo de Monarcha, em monu- 
mento que te afiança a duração a que os teus próprios 
talentos e esfbrços*te davão jus. 

«Oífereces-me*as tuas coroas; porque não acceitaria eu 
esses generosos penhores de um aifecto que me honra ? I 

« E de que te servem já agora a ti as coroas, se á tua 
voz ellas de si se tecem e te chovem aos pés ? I 

Acceito-as, e vou cingir com ellas, não o meu livro, 
mas os Lusíadas ; não a minha cabeça, mas a do nosso 
comraum inspirador. 

« Para mim já nada peço, nem cobiço, depois que vi 

Sue tu me comprehenaeste, e me fizeste comprehendi- 
9, no meio de um povo nobre e illustrado, que applau- 
dio, e acolheu, como feita para elle, a obra que eu só 
havia endereçado ae engrandecimento dos meus con- 
terrâneos; " 

« E' magnifico para vós outros esse exemplo ; e tanto 

mais, quanto esse padrão que erigistes a dous poetas, 

ambos estranhos, está singularmente contrastando com 

o desprezo posthumo em que ainda aqui se tem p pri- 

347 



meiro, e com a injusliça com que ao segundo se está, 
como que acintosa, e talvez conjugadamente, negando, 
depois de tantas outras cousas, até o pobre credito de 
haver salvado do ultimo perdimento os ossos do Gran^ 
de Mestre. 

« O tempo, que o vingou, e consagrou a elle, algum 
dia me fará justiça. 

« Para ti a justiça e a posteridade começaram já. 

«Recebe os meus parabéns, os meus agradecimentos, 
e os meus abraços. 

« Teu admirador, amigo e camarada, 

Â. F. de Castilho. 

15 DE NOVEMBRO. 

CAMÒES E GARRETT. 

SONETO. 

o moimento 

Que do immortal cantor as cinzas guarda. 
Poema Camões, in ^n«. 

Cantor do gr&o Camões, do rei dos vates, 
Que o mundo encheu de gloria lusitana; 
Que impávido arrostou a fúria insana 
D'homens, e mar, e terra, em mil combates; 

. Terníssimo Cantor, não mais delates 
Ao mundo a ingratidão vil, deshumana« 
Que as memorias de Lysia offusca, empanna. 
De seu brilho fraudando áureos quilates. 

Cesse de teu queixume o agro lamento, 
Que já de gloria obteve (embora tarda) 
vate heroe perenne monumento. 

Já fama eterna ao Lethes o resguarda. 
Que teus divinos versos são c o moimento^ 
Que do immortal Cantor as cinzas guarda,i^ 

ManuUFulgencio Gomes ^{LobTÍ^oe). 

348 



16 DE NOVEMBRO. 

DEUS B NEWTON.-Newloo 
nunca ouvia o nome de Deus ■ 
sem fazer uma grande reveren- 
cia, q^ue provava nSo só o seu 
respeito, mas também a sua 
admiraçío para com as obras 
do Chiador. Julgar-ae-hio eu~ 
periores a Newton os que sa 
B negar a eiietencia do Ente Supremol... 
n DE NOVEMBRO. 



NAO TE HUMILHES.. 



Coraçío, deisa d'ai 
A vil que te despre&uu, 
A cruel que renegou 
Teu aSeclo e puro amor ; 
Deiía essa malfadada, 
Que inda um dia castigada 
Será por Deus vingador 
Deiia-a ir meigo surrir 



Algum tempo um riso seu 
■' — transporte desejaste; 

iso seu alcançaste, 
Déste-lhe amor e paixão ; 
Julgaste ser enião querido, 
Mas fllfim foste Irahido... 
Houbou-te oseu coraçãol... 
Dei;[a-a, que tempo virá 
'-.gado: 



- Boífrerári . 

Deina-nl ao ver-se Irahida, 
Ludibriada, ~ '* ' 
Seu repudio 



Deiía-air. pois inconstante 
Hade ser inda outra vez; 
E ent&o sofTrerá torturas, 
Mil tormentos e amarguras, 
Em paga do que te fei. 

NSo te liumilhes, coraçio !... 

Procurar vai outra amada, 

Que Dão seja costumada 

A amantes repudiar; 

Nio te cegue a formosura. 

Busca a bondade, a candura, 

Que Eú ella sabe amar. 

J. P. d» C. — (Perto). 
349 



18 DE ríOVEMBRO 

LA EXTRAHIDA DA& FOLHAS DOS PINHEIROS. — 

Antes de tran»crevei'mo8 do Panorama (ao qual pedi- 
mos Tenia) o- seguinte curiosíssimo artigo, coavirá que 
êe releia o que a pag. 370 do Almanach de 1853 a esse 
mesmo respeito escrever amo» já. 

«Existem Das cercanias de Breslau, em uma proprie- 
dade que 86 deAomina jPriHÍd Humboldt, dous estabele- 
cimentos mui fiotateis ; um é uma fabrica, na qual as 
folhas dos pinheiros são cooTertidas em uma espécie 
de algodão ou lâ ; no outro, a agua que servira á mani- 
pulação desta lá vegetal é utilisada sob a forma de ba- 
nhos' higiénicos. Estes dous estabelecimentos foram 
organisados sob a direcção de Mr. Pannewitz, inven- 
tor de um processo chimico, por meio do qual se obtém 
uma bella substancia âlamentesa das folhas ponteagn- 
das do pinheiro, á qual se deu o nome de lâ de ma- 
deira, porque se parece com a lâ ordinária, podendo 
preparar-se e tccer-se como esta, 

O pinheiro dç Escócia (pinus sylvestris) dá êste no- 
vo prôducto. Se o emprego das suas folhas se genera- 
lisar, já se vê que o pinvt sylvesirís será objecto de 
mais cuidadosa cultura do que até aqui em muitos 
paizeâ. 

As fôlhôs lineares dos pinheiros, e das coníferas em 
geral, compôem-se de um tecido de libras extremamente 
unas e Xenai^^y envolvidas por ténues pelliculas de uma 
substatíoia resinosa. Dissolvendo esta substancia pelo 
processo de cocção, e com o auxilio de certos reagen- 
tes chimicos, consegue-se separar-lhe as fibras, la- 
vaVas, e extrahir-lhes todas as matérias estranhas. Se- 
gundo o methodo que se empregar, assiui o prôducto 
©bíido poderá applicar-se a tecidos grosseiros, ou para 
enxer colxões, estofar trastes, etc. 

Na Allemanha tem-se tirado óptimo resultado de en- 
xer os colxões e travesseiros das camas com esta lâ. 

350 



Noâ hodpUaes de Vi^ntia, Berlim ô Breslau^ estão já em 
uso ha anãos, reconhecendo-lhe a experieticia muitas 
Vantagens, sendo a principal obstar ao desenvolvi- 
mento dos insectos parasUas. É agradável o aroma que 
derrama. 

Veriâcou-se tarabem que Um eolxâo de lâ de pi- 
nheiro ficava mais barato no fim de cinco aanos que 
uma enxerga^ por isso que a esta tem de se renovar to- 
dos os annos a palha. Sahem três vezes mais baratos 
que os colxôes de clina, preseindindo*-se da circums- 
tancia mui attendlvel de nâo crearera persevejos e ou- 
tros insectos. • 

Esta lá,«iComo dissemos^ é susceptivel de se fiar e te- 
cer. A mais fma dá um fio semelhante ao do linho, e 
igualmente forte ; depois de fiada, tecida e cardada, o 
estofo que se obtém pode empregar-^e em tapetes, co- 
bertores, etc. 

Durante a preparação doesta lâ forma-se uni óleo 
etheriforme> de aroma mui activo, e de côr esverdeada, 
que exposto á luz solar toma uma côr alaranjada, mas 
que subtràhido a essa influencia reassume a primitiva. 
Quando se rectifica^ toi^a-se tão incolor como a agua ; 
(lifferindo cemtudo da essência de terebenthina oue se 
extrahe da mesma arvore. Emprega--se com excelíentes 
resultados nas affeeçôes gotosas e rheumatismaes^ nas 
feridas, e também em certos casos de tumores cutâ- 
neos. Rectificado entra na preparação das lacas para 
as melhores qualidades de verniz : e láa bom para a il- 
luminaçno como o azeite de oliveira» e dissolve o 
caoutchouc completamente e em pouco tempo« 

Agora diremos duas palavras áeerea dos banhos. Be«^ 
connecendô*se qôe a appUcaçào externa do liquido 
que restava depois da cocção das folhas tinha vantajo- 
sos resultados, annexou-se á fabrica um estabeleci- 
mento de banhos» Aquelle liauido é esverdeado, e se- 
gundo o processo empregado, gelatinoso, balsâmico, 
ou acido.» 

351 



Qaando se pretende tornar oe banhos mais ener^i 
cos, dissolve-se no mesmo lignído uma certa (manti* 
dade do extracto obtido da distillaçâo do óleo ae qu« 
acima falíamos. Faz-se alem d*isto engrossar o próprio 
líquido, concentrando-o, e vende-se assim, em vasos 
tapados, ás pessoas que desejáo tomar o banho em casQ. 

Não é só na AUemanha que se tem reconhecido a van- 
tacem d'este novo producto. 

«a HoUanda estaoeleceu-se ha poueo tempo uma fa- 
brica de la vegetal e de óleo empvreumatico, a qual já 
consome mais de 1:200 arráteis de folhas de pinheiro 
por dia. O preço por que a fabrica compra cada arraiei 
regula por quatro réis. 

Sáo muitos os terrenos que temos desaproveitados, 
e condemnaios a uma esterilidade desoladora ; se o« 
povoássemos de pinheiros, nâo só o estado sanitário 
de muitas localidades melhoraria espantosamente, mas 
até seria uma nova e grande riqueza para Portugal.» 

19 DE NOVEMBRO. 

MICROSCÓPIOS DELATORES. —Ha na Allemanha 
um medico que tem sabido tirar tanto partido do mi- 
croscópio para a medicina legal, que a sua reputac&o 
n'este ramo está já formada. Ha pouco tempo deu 
áquelle instrumento uma nova applicaçâo, que poz lo- 
go ao serviço da justiça. Eis o caso : *Fôra despejada 
pelos conductores d*um comhoiy em certa linha do ca- 
minho de ferro, uma barrica depôs medicinaes; em 
logar da droga, encheram-na d*areia. Quem foi ? Em 
qu« estação do caminho se fez o roubo ? 

Vão ter com o doutor do microscópio. Manda elle 
buscar uma pitada d^areia de cada uma das estações. 
Auxiliado pelo inseparável instrumento, confronta-a« 
com as da barrica, descobre a identidade, aponta ájiis- 
^tiça a estação em que se commetteu a fraude; corre u«a 
devassa pelos empregados, e descobre-se o delinquerfle. 

oo2 



^ DE NOVEílBRO. 
INDULGÊNCIA. — Um padre oinda moço, par» poder 

go8 indignados se reuni- 
ram para votar a peoa que 
lhe deviSo infligir. Depois 
deniuita disrussão, eicla^ 
ma um cónego vellio : 
«Meus senhores, o meu 
*ola é <}ue lhe periloemos 
eGlas coiEÍtas: deixemoro: 
elle se eorastiará como a 
nós noa succedeu. » 

Aquella mascara não 
lemhra sò um baile mas- 
carado, mas a que de con- 
tinuo traiem os homens (e 
também os mulheres), pa- 
ra cuidadosamente occultareni o que sSo, oquepen- 
eão, o que projActao. Tudo no mundo é comedia. 

M DE NOVEMBRO. 

CHAHADA. 

Sordldameata comigo IFertiliso se m hmibes 

Tem alguns enriquecido ; ?ISo transponho com furo»; 
Se a nns dou aleoto e vida, -^Ora me odeia, ora affaga 
PoriDimicmoutrosmQrrido.SiMuita vei o laviador.... ! 

Deus DOS lÍTre e nos preserva 

De carecer de tal sugoito. 

Pois segundo o meu coneetlo, 

Sempre afBictos noa achamos 

Quando a elle nos chegamos. « • * 



ââ DE NOVEMBRO. 

RHJIRHO. 



Nâo chorem 1 quenftomorreu! 
Era um anjinho do céu, 

Qje a a outro anjinho «ha moa ! 

Bra uma luz peresrina, 
Era uma estrella divina 
Que ao firmamento voou I 

Pobre creançal dormia !... 

A belleza reluzia 

No carmim da face d'ella I 

Tiaha ttiKi olhos qne cboraTio, 

E uns risos que encantavâo, 
Ail meuDeus! eratâobellal.^ 

Urà anjo d' azas azues. 
Todo vestido de luz, 
Susurrou-lhe n*um segredo 
Os mistérios d'outra vidaj 
E a creança adormecida ' 
Surria de 'se ir táo cedo f 



Xio ekorem ! Icmbro-ous ainda 

Gomo a creança era linda 
No frio da facêzinha I 
Com seus lábios azulados. 
Com os seus olhos vidrados. 
Como da morta andorinha ! 

Pobresinhol oque soffreu!..^ 
Cotao convulso tremeu 
Na febre d'essa agonia I 
Nem cernia o anjo lindo \,,. 
S6 os olhos expandindo. 
Olhar alguém parecia ! 

Era um canto de esperança» 
Queeraballavaessacreança? 
Alguma estrella perdida^ 
Do céu c*roada donzella. 
Toda a chorar-se por elía» 
Que achamava d*outra vidaf 



Táocedo, queainda omun 
O Iabiovisguento,immundo, 
Lhe não passara na roupa! 
Que só o vento do céu 
Batia do barco seu 
Aê velas d'ouro da popa I 

Táo cedo, que o vestuário 
Levou do anjo solitário 
Que velava seu dormir I ... 
Que lhe beijava risonho, 
E essa florsinha no sonho 
Toda orvalhava no abrir I 



doTÍ 



âochoremlque nãomorreul 
Que era um anjinho do céu» 
Queum outroanjinhochamou 
Era Uma luz peregrina, 
Era uma estrella divina 
Que ao firmamento voou ! 

Era uma alma que dormia 
Da noute na ventania, 
£ que uma fada acordou I 
Era uma flor de palmeira* 
íià sua manh& primeira 

Qiia um cé« d'iaTerao narchoa ! 

354 



Náo chorem! abandonada 
Pela rosa perfumada, 
Teado no lábio um sorriso, 
Ella foi-se mergulhar» 
Como pérola no mar, 
Nos sonhos do paraiso ! 



Píâo chorem! chora o jardÍBi|Nâochorem! 

Quando, R^rchado ojasmim, 

Sobre o smo lhe pendeu ? 

E pranteia a noute belia 

Pelo astro, p'la donzella, 

Mortos na terra ou no céu ? 



Chorão as flores no afan. 
Quando a ave da manhú 
Estremece, cahe, esfria? 
Chora a onda quando vé 
A boiar uma irerê 
Morta ao sol do meio-dia? 



mienâoraorreu! 
Era um anjinho do eéu 
Queumoutroanj inhochamou 
Era uma luz peregrina. 
Era uma estrella diyina, 
Que ao .firmamento toou I... 



Manoel António Alvares d*Agevedo. 
(Brasileiro) 

23 DE NOVEMBRO. 

CHARADA. 



Com fé a minha primeira 
Tomào 08 orientaes : 
Com pás e potes, ás costas 
Me trazem em temporaes. i 



Canto a aurora e o pôr dosol. 
Canto a paz, incito á guerra. 
Canto oberçoechoroacampa, 
Brado aocéu ebrado áterra.2 



355 



Dr. 



O meu todo tem dois todos. 
Ambos da mesma estatura, 
Um pequeno e outro grande, 
Nenhum d'elles tem figura. 

O pequeno é duque e par ; 
Tem espada e não riqueza ; 
E o grande symbolisa 
O conselho de Veneza. 
Francisco António Rodrigues d' Âxeredo, 



24 DE NOVEMBRO. 

CORTE E C0RTEZÃ03. — Acíim é um paii onde 
ni<ii;ueui diz o que penso, nem pensa o que diz. iiBm 
sahe o que quer, aem ia veies o que lai, Dem paga o 



lei S 03 d« 
ÃleiaDdre 

banda, porque aquelle PrÍDcipe tinha este defeilo, e 
os de rilippe, eeu pai. tapaviio um olho quando es 
Bj>re6entaTao a este Soberano, ao qual faltava um que 
havia perdido em uma batalha. D'aqui proveio chaaiar- 
se á sua carte a cArte dos cegos. 

IJue idéa tio diíTerente deve faier da verdade quem 
sú, 6 de continuo, mculiras ouvel... 



3& DE KOTBMBRO. 



NEUTRALIDADE. — Lí-se o seguinte em uma car- 
ta BSeripta por um grande palerma do Kio de Ja- 
n&ir'o : 

cAqui lodos 08 jornaes e folhas fal&o neutro ua quee- 
táo do oriente, e esea neutralidade é sempre a favor 

Ê coma pio um alarve semettante 1 . .. 



26 DE NOVEMBRO. 

ROMARIA A HESPANHA. —Fronteira á povoaçSo de 
Peredo de Bemposta, concelho de Mogadouro, ejá em 
solo hespanhol, pertencente áprovincia de Salamanca, 
Yè-se o grande monte chamado da Senhora do CastelU), 
por ter no cume uma ermida com a Imagem da Virgem 
d' esta invocação, a distancia de três braças de um pre- 
elpicio immenso, e que dá verticalmente^ sobre o so- 
berbo Douro, que d*alli se divisa espumando de raiva, 
por nâo poder espraiar-se á vista dos dous montes de 
Portugal e Hespanha, que lhe abatem a arrogância, e 
mal o deixáo proseguir seu curso. E' este sitio annual- 
mente visitado por grande numero de portuguezes das 
povoações de Bemposta, Tó, Urros, Ventuzello, Peredo, 
e outras, no dia 8 de septembro. Passâo para lá em uma 
jangada de cannas. visitâo a Senhora, e seguem d*ahi 
para o logar dePerena, a um quarto de légua, onde ha 
uma feira regular, e três dias successivos de festa, nos 
quaes se representáo ridiculamente duas comedias ; ha 
muitos bailes nas praças, e correm-se alguns annos de 
sete a oito touros bravos, matando-se o mais feroz com 
inaudita barbaridade. Ao quererem osportuguezes re- 
gressar a suas casas, toem de ir passar a uma barca a 
mais d'uma légua de distancia, porque a jangada de 
cannas foi traiçoeiramente incendiada pelos carabinei- 
ros hespanhoes. Assim toem practicado estes ultimjos 
annos, julgo que como medida preventiva para obsta- 
rem a qi>e os portuguezes alli voltem e os surrem, co- 
mo já Ines tam acontecido. 

António Joaquim Fernandes Salazar 
(Vigário de Peredo de Bemposta) 

27 DE NOVEMBRO. 

RELÓGIOS. ^ Foi apresentado o primeiro aGarles Y 
no sóeulo XVI. 

357 



2S DE NOVE3lBfiO. 

ESPECTÁCULO MEDONHO E DIVERTIDO. —Quem 
na Europa ouTÍr fallar nos campos da America do 
Sul, e ajuizar d'elles pelo que assim se ch^ma lá, 
engana-se redondamente ; porque o que lá se chama 
campo tem aqui o nome de roça, e o que aqui se chama 
campo não é outra cousa senão Tarzea e campina aber- 
ta de dezenas de léguas de extensão, apenas inter- 
rompida aqui e acolá, quando Deus quer, por pe- 
quenas mattas de arvores e arbustos selvagens, e por 
pequenos montes, roais ou menos elevados, e ás vezes 
com suas agruras efragosidades : éum verdadeiro ocea- 
no de terra, onde as casas são tão raras como nos mares 
as embarcações : caminha um viajante dez e mais lé- 
guas sem avistar uma só 1 Pascem de dia e noite 
B'este oceano de terra um capim áspero (e que, se 
annualmente não for queimaao, chega a encobrir o 
gado) innumeraveis, manadas de animaes cavallares 
e bovinos. No flm do verão deitâo qs donos dos cam- 
pos fogo ao capim, e é horroroso ver como elle la- 
vra com uma velocidade espantosa, impellido pelo 
vento e levantando um turbilhão de fumo tâo espesso, 
que obscurece a atmosphera : quando ardem as câ- 
nulas do capim mais grosso, dão estouros tâo fortes e 
repetidos, que se ouvem a grande distancia, parecen- 
do um forte tiroteio de fuzilaria. Mal as aves de rapi- 
na, taes como os gaviões, caracarás, chimangas^ etc, 
preseutem fogo no campo, acodem de toda a parte, 
e váo-se collocar em linha, como atiradores na irente 
do fogo, pousadas em torrões e monticulos, e em lo- 
gar onde lhes não chegue o fumo, recuando sempre á 
proporção que o fogo avança ; e á medida que as co- 
dornize's vôáo e os reptis fogem do incêndio, se es- 
capâo d'este, vão morrer nas garras das aves de rapina. 

Á, M. do Amaral Ribeiro (Porto-Alegre, Brasil). 

358 



â9 DE NOVEMBRO. 

BRULOTE INFERNAL. — Leio no Memorial Efuyclo'^ 
fedico dos conhecimentos humanos a descripçào aum, 
brulote que merece verdadeiramente aquella designa- 
ção. Chama-se assim, genericamente, uma embarca^ 
çfto cheia de matérias combustiveis a que se dá fogo 
para o communicar a um navio inimigo contra o qual se 
arroja. Este porém, que se destinara a operar contra os 
vasos russos, era outra cousa, e mais terrivel ainda do 
que esfoutro, nâoha muitos annos inventado também, e 
que lançava uma enorme columna de fogo táo longe quan- 
ta era a distancia a que as maiores bombas hydraulicas 
enviáo um jorro d'agua. Consiste o brulote infernal em 
deus corpos de figura cónica e com arcos á roda, em ar 
de pipas, que se prendem aos dous lados de uma trave 
de pinho de 27 a 30 metros ; colloca-se no meio uma 
pequena machina de vapor da força de 6 a 15 cavallos, 
e na extremidade de diante uma peça d*artilheria car- 
regada até á boca. E' destinada esta* machina a ser lan- 
eada com toda a sua força contra a amurada dos navios 
inimigos ; entra no costado a ponta de ferro cravada 
na parte anterior da táboa, e é bastante o choque para 
dar fogo á peça, que n'ura momento abre uma enorme 
brecha no navio e o afunda. 

O que ha de particular n*este8 brulotes é que se crráo. 
a direcçSo e vâo cahir na agua, continuarão a andar 
ein linha recta, e pode um barco de vapor ir apanharos, 
e poderão outra vez servir, depois de se lhes haver 
mettido mais combustiv^. 

Com cem apparelhos, que andariâo por áoxxe contoa 
de réis, poderia dar-se cabo de cem navios de guerra. 

E' uma consolação para os portuguezes I Sc a Ingla- 
terra quizer continuar a impôr-nos a lei, emancipemo- 
nos um dia, gastemos ahi uns quatro contos em brulo- 
tes, e escangalhemos-lhe toda a sua marinha. O mais 
difficil será arranjar os taes quatro contos I... 

359 



30 DE NOVEMBRO. . i 

IHFLUEMCIA DO CELIBATO E DO CASAMENTO. - ' 

Os casamentos mui {ircmaturos sSo poucos prolíficos, 
ou produzem pTOgénie quo lom menos probabilidades ' 
de vida longa. I 

Os casamenlos os maie fecundos, a de que procedeip 
«reanças aa mait bem constiluidas. afio aquellea em ! 
que os conjunctos são quasi da mesma idade, ou quan- 
do o marido 
tem Bó 8^ 
guns annoj 



'el A toDga- 
vidade que 
o de soltei- 

Reaulta 

dos mappaa, 

que entre 

08 mulheres 

de 35 annoa, 

as rasadas 

téem a probabilidade de viveram ainda 36 annos a as 

flolleiras só 3i. Que 75 mulheres casados attingemo 

larma de 50 annos. por 52 vivendo no celibato. 

O mesmo ae Terifica no aeio masculino: 73 homens 
oasadoesitingem 40 annos, lermo a que só cheg&o 41 



proporçio: 48 homens easadoBe sóSisoileiros attiagem 
60 aDDOs ; 27 casados e 11 solteiros Tivem até 70 aiuios. 
e 9 catados a 3 soUeiros cbegio a 80 ancos, 

¥. S. CoHttancio. 

1 DE DEZEMBRO. 

INDUSTRIA FABRIL. - Ao norte de Castello Branco 
e ao sul da Guarda, nae [aldaa da Serra da Estrella. es- 
tá edificada a villa do Cavilha, hoje notável pelo incre- 
mento e progressivo desenvolvimcnlo da industria fa- 
' bril. Em Í839 contava ama só machina de cardar e fiar, 
subindo hoje o numero d'estas a vinte e cinco, em qa» 
96 empregão innumeros braços. 

N&o apresentamos a estatística dos operários Q'ellss 
empregados, porque acreditamos pouco na eíacçSo 
d'eBtes trabalhos entre dós, que havemos descurado 
«fite importante ramo de sciencia. 

I>epoi3 que a economia politica demonstrou até á sa- 
ciedade as incommensuraveis vantagens das machinas, 
que aperfeiçoando e augmeatanda a producçao alli- 
viío o operário de 

EeaadOE e iasviu- 
res trabalhos, pa- 
recia queserião es- 
tas recebidas sem 



cedeu porém assim : 
em 184áe 1847, quan- 
do oQaEello da guer- 
ra civil aseoiava o 

— P.a'^ S""""? "per- 

nos, desvairados e 
pouco esclarecidos, se amotinaram com o damnado in- 
t«i)U) de as destruir, ao que a prudência e meioa sua- 
sórios poderim obstar. 

As innovaçôes, ainda as mais proRenas, eneonUão 

381 



<rnft8i sempre reacção, e por isso nâo admira que uma 
elasse pouco illustrada quixesse destruir o instrumen- 
to de riquesa a que deve a GoTill\á a 9UA opulência. 

7o*« da Cunha Navarro de Paiva. 
(CoTilhâ] 

2 DE D£ZE1IBK0. 

CHARADA. 



Se eu ufto fôra » não honrera 
N'este mundo negregado ^ 
Um só homem ou mulher, 
Kemmeenio esteseueriado. 



Ese isto Bio fosse,eBi trevas 
E em lúgubre tristeza. 
Continuamente se rira 
âlToda immersa a^ natureza .2 



Ouasi tndos os meus fílkos 
Com as musas conversaram,. 
E por ellas bafejados 
Seus nomes eternisaram* 

3 BE DEZEMBRO. 



♦ ♦ ♦ 



A SENHORU NO SÉCULO VASSABO. — Quando El- 
Rei D. João Y, pelos abusos que se haviâo introdu- 
zido nos tratamentos, promulgou a lei de 29 de janei- 
ro de 1739, revogando em parte a de 16 de septembro de 
lõ97, não deixaram os praguentos e satyricos de dis- 
parar as suas séttas contra os que pretendido e accei- 
tavão tratamento superior ao que Ines competia, dan- 
do~se por muito mal servidos com o de uma simples 
mercê. Entre as satyras que appareceram é curiosa a. 
de Thomaz Pinto Brandão,^ intitulada Testamento da 
Senhoria. Não o é menos o requerimento que reprodu- 
zimos, feito em nome de D. André Pereira Telles de 
Menezes, requerimento que bem revela o rigor da lei 
e o apreço em qn^ ainda era tido om tratamento de 

361 



que era nossos tempos de progresso já ninguém faz caso, 

Jorgfc César de Fi<janiére. 



Senhor Rei : diz D. André, 
Por appellido o Venegas, 



Que supposto andar áscegas E nas niarciaes fadigas 



Também ás escuras rê 
Oue como um decreto é 
Em que Vo«sa Magestade 
Tira cora severidade 
O senhoril tratamento, 

Qoer noftrar por iiMtnimcuto 



Dix que seus progenitores 
Foram Principes eRcis, 
E assim não aevem as leis 
Eclipsar os resplandores. 



É do chefe do6 Menezes, 
Das famílias mais antigas, 



Os maisheroesportuguezes 
Venceram por muitas vezes 
Qualquer militar porfia ; 
2 na Luza Monarchia 
Quem tem Dom é Soberano, 
Que só quem é castelhano 



Que a tem dejuro eherdade Tem Dom sem ter Senhoria. 



TambemdosTellesdescende 
Não por linha transversal, 
Porque todo o Portugal 
Ser seu parente pretende : 



Senão os seus antecessores A casa deAveiro o entende; 
De sangue tâo puro e fino, A de Cascáes lhe affiança 
Pois pela lei do destino, Ser igual na semelhança, 
Que todo o universo cobre, Que na geração explica ; 
Só deixará de ser nobre JE isto mesmo íilto o publica 
O que nasceu pequenino. IToda a sua visinhança. 

Á vista da fidalguia 
Que mostra com claridade. 
Deve Vossa Magestade 
Mandar-lhe dar Senhoria: 
£ se d'e8ta c^rtezia 
Com ra'iâo acrédor é, 
Vossa Magestade dê 
O que pede oom cobiça. 
Que alem de fazer justiça, 
Também lhe fará mercê.' 

363 



4 DE DEZEMBRO. 

TOHQUATO TASSO. ~ Poi uma das maiores illos- 
b-açfiea do século XVI. Dos tormentos epersegui^õM 
queaolTreri 



5 DE DEZEJDBaO. 

O MONTE SENI OU SEC?il. — Dn-se este nome a 
nm monte muito elevado, entre a cidailinha de Vir, na 
Calalunha, e as praias do mar. Ha n'elle mÍDas de pe- 
dras preciosas e diversas qlialidades de crislaes ; inM 
o que mais alli se promra é uma araethieta T5ia cim 
TOios encarnados, 

BASTA UMA ESPOHA. — Pergnntando-se a um ra- 
ISo porque se servia sú d'unia espora todos »s v»- 
les que sahia a cavallo. respondeu ; € E para qne 
s£o precisas duas ? se um doa lados do cavalio vai 
para diante, o outro de certo que não fica para 

364 



S DE OEZEM&BO. 



HUHjLMDADB de LUIZ XV. — Beodo Mtnin ata«ada 

feloa francetea em 
TM , disseráo a 
Luiz IV qDe dando 
utn asEsIto repenií- 
nó í praça, perile- 
riSo sim a »ida al- 
guns sol dados, mas 

quairo dias antes. 
c PcMí bem, respon- 
deu o Monartha , 



dias ilepoii, e pou- 
poTtmoi a vida de 
noisot vassalioi.* 



quisladnres assis- 
tissem á agonia de 
aannles fazem morrer, prestes Ihee passara a ambição 
e eonquisUrl... 

7 DE DEZEMBRO. 

ALBONl E A REMISSÃO DOS PECCAD03. — Ao ou- 
vir ullimamenle um padre cantar em Paris a celebre 
Alboni, rempeu n'esi3 exclamarão : (Mulher, mulher, 
é iraposBÍvel que Deua te nâo perdfle os teus peeea- 

E que certeza tinha o padre de que s mulher fazia 
pedrados?! ... 

365 



8 DE D£ZEM6110 



ORTIGAS. — Poucaft plantas liarerá talvez contra 
as quaes seja maior a antipathía, pelo simples facto 
de serem traiçoeiras, e de se ringarem loco» com uma 
boa picada, de quem lhes toca, o que é' talvez lilbo da 
bem justificada desconfiança de que ninguém procu- 
ra tocar-lhes senão com niáu intento, para a8 arran- 
car bem pela raiz, para dar cabo d^eiias, para as 
impedir em fim de continuarem a fazer das suas. Pou- 
cas são não obstante as plantas de mais geral e demais 
útil ap[>licaçáo. Já no artigo correspondente ao dia 
2 de maio do' Almanach de 1851 dissemos que comas 
fibras do pé se faziáo, sobretudo na Hollanda« ma- 
gnifícos tecidos: com as foliias, em quanto a planta é 
npva, tim delicado manjar; com as sementes mistura- 
das no sustento dos cavallos, uma appetitosa comida 
para elles; com as raízes fervidas com pedra hume e sal, 
uma excellente côr amarella. Acrescentámos mais o se- 
guinte: — € As ortigas são boas para pasto, são de fácil 
cultura, vingão no peór terreno^ não requerem cuida- 
do, resistem a todos os rigores das diversas estações, 
e reproduzem-se por si próprias, podendo cortâr-se 
cinco e seis vezes no verão : quando na primavera 
não ha ainda nenhum alimento novo para o gado, ji 
as ortigas estão crescidas 'e servem de sustento aos 
animaes. > 

Km um jornal agrícola francez que temos á vista, 
intitulado — A inda dos campos — se pretende rehabili- 
tar a ortiga e demonstrar quão útil pode ser, na agri- 
cultura, na industria, e mesmo na arte culinária. Na 
Suécia é cultivada em ponto grande, como excellente 
pasto, muito estimado das vaccas, e contribuindo pa- 
ra haver óptimo leite e manteiga. NaAUemanha en- 
gordâo-se as gallinhas e os ganços com uma pasta 
composta de ovos crus e de ortigas cosidas e bem 

366 



pieadas e espremidas. No Norte comem-se eomo es- 
pinafres. Também servem aos tintureiros. Os ovos 
que pela Paschoa entre nós se mettem nos fola- 
res, cosidos em agua d'ortigas tomâo uma côr ama- 
relia das mais vivas. Cosidas com uma terça parte 
de funcho, e bem pieadas de mistura com gemma a'ovo, 
dâç óptimo alimento para engordar perus. Os alquila- 
dores, emfim, dâo-nas a comer aos cairallo» para q\ie 
^quem eom o pello mais lusidio. 

9 DE DEZEMBRO. 



IPOLOGO. 

Corvo mais negreque anoite< — c Eu só acho bom o verde»^ 



«Viva aedrpretal» bradava; 
Camaleão que o escutava 
Poz-se logo denegridíO, 
Porque aeôr láo fácil muda 
Como nós qualquer vestido. 

Retruca d*umramo apomba. 
De dentro d^um lago oc^sne 
«De inrejao corvo se tisoer 
Só ftcôr branca ébrilhante.» 
O camale&o qu« os oav«. 
Eiró branco n'txm ÍBsta&te. 

«Sáohistorias branco epreto 
(Acode o canário bello), 
Venee tudo o amarello. » 
Nada; opardo é mais bonito, 
Da toca de um muro velho 
Exolama o pardal afflieto. 



Diz periquito atrevido, 
Tamoem de restea mettido, 
E o camaleão, attento, 
Ora se faz amareMo, 
Ora terde, orapardento. 

Entre a volátil família. 
Buscava o tolo eom isto 
Ter amigos, ser bemquisto; 
Mas de continuo a mudar, 
S^ malq'Tenças graugeou, 
Niaguem 90vhe eontentar. 

De camaleões como este 
Temos nós muito milheiro : 
Aos que prégâo de poleiro 
Bando vii imita e incensa^ 
Até que o geral desprezo 
iSeja a sua recompen&a. 



367 



M. 



¥¥* 



10 DE DEZEMBRO. 

HONTE DE S. MIGUEL. — Entro at duas pequena! 
ciãades maritimas de Grancille e Avranches está situa- 
do o famoso Monte de S. Miguel, em cujo cima ha uma 
ngnros» priaèo d'e£iBdo, que loriiou famosa o animo e 
dedicação dos presos uo inccodio de 1834. É tam- 
bém nouiel pela sua capella gothiea, por formar uma 
ilha perfeita, e pelas altas maréa que a aconielteoi. Foi 



para atii que Luiz Bonaparte, logo depois do sei 
d'e«tBdo dei de dezembro de iSãt, mandou o ci 
DÍila Barbís e muitos de seus correligionários 
•08, ee é que no eommuDisino ba politica e ha n 
do que duTJdo. 
Aquolle 8 o Monte de S. Miguel. Kio é feio. 



11 DE DEZEMBllO. 

EFFEITOS DO BAIO. — A Academia das Scienciâs 
de Paris foi ha pouco aprespntada uma interessanta 
memoria a tal respeito. Parece resultar de nume- 
TOBasobseríacões que no corpo de indivíduos fulmi- 
Bsdoe pelo raio fica desenhada uma imageii fiel dos 
objectos proiimog, na oírasièo da descarga eleclrica. 
Autoridades da grande peio confirmâo esio curiosis- 
Bímo factofcJEstrema-se enlre ellas a de Franklin, u 
qual relata que ealando um homem á porta de sua ca- 
sa em um dia de trovoada, o fulminara um raio. e so 
lhe acha- 



nhora quu 

^. bufada na 

pé a flor que ájanella tinha era um vaso. Cahindouni 
raio, em 1825. no bei^anlim Buen-Sertio, fundeado no 
Mar Adriático, no momento em que um pobre infeliz ss 
havia sentado junto a um dos mastros a que eslavapeti- 
durada de um prego uma ferradura de cavallo. exami- 
nado o cadáver nâose lhe encontrou ferimento algum, 
mas bem claro e distincto o signal da ferradura. Quasi 
pelo mesmo lempo foi lambem fulminado em Zante unt 
marinheiro, emcujo corpo ficou gravado o - ° " — 



ririto não longe. Ã um rnpaz ficaram dese- 



nhada* Bo hcmWo «B nadalhas qua linha no bolsa. 
369 13 



12 DE DEZEMBRO. 



O KANGOUROU. — E' um animal curiosissimo do 
Novo-Mundo ; tem algumas vezes perto de nove pés 
de comprimento, desde a extremidade do focinho até á 
ponta da cauda, e chegâo alguns a pesar até cincoenta 
arráteis ; o pello é curto e macio, arruivado em quasi 
todo o corpo, mas nas ilhargas e no ventre, esbran- 
quiçado, xem a cabeça pequena e afunilada, as orelhas 
largas e direitas, e uns bigodes muito grandes ; o pes- 
coço e as espádoas são de pequenas dimensées ; vai 
augmentando gradualmente de volume para os quadris 
« baixo-ventre ; as pernas de diante dos maiores kan- 
gouroustêemumas dezoito polegadas de altura: servem 
para este quadrúpede esgravatar a terra e abrir as suas 
tocas, ou para levar os alimentos ábôcca. Move-se uni- 
camente sobre as pernas de traz, dando pulos de dez 
ou doze palmos de altura. Cada pé tem só três dedos, 
excedendo o do meio consideravelmente os outros dois 
cm comprimento e força. A cauda do kangourou é com- 
prida, espes^ na raiz e ponteaguda ; serv€-lhe de ar- 
ma offensiva, pois bate com ella pancadas tão fortes, que 
seriâo caj)aze8 de quebrar a perna d'um homem. 

13 DE DEZEMBRO. 



Como éslinda.ó camponeza, 
Quando táo meiga surris, 
£os dentes mostras d' aljôfar 
Engastados em rubis 1 
Que lindos sàoteus cabellos. 
Para mim prisões subtis 1 

Serei tudo quanto queirot 
SimtenkoTf é €9mo dú / 



Náo podes crer que tcadoro. 
Por vêr-me ainda tão moço? 
Por dizer-te cjuanto sinto, 
E occultareujánâoposso?.. 

r(ão vês qae olhar^te um momeoto 

Me causa tanto alvoroço ? 

VejOy vejo, hem te entendo/.. 
*Stá gordo! Tem cada ossol.. 

37» 



T^io fieal)em o mo't<^o 
K'e8sabôcca tão formosa!. 
Nem um beijo me conoeâes 
K'essa face còr de rosa ?... 
Dize que sim; que te custa? 
K&o se(ja« tão desdenhosa!.. 

Selhedeixodar-me umbeijo? 
Ai! deixo^que eu sou hriosal 

Nâodeixas,Dáo,que tufoges; 
Zombar de mim sóquizeste; 
No teu sim tão gracioso 
Outra idéa não tiveste ; 
Nem d' outro modo faltaras 
A' palavra que me déstel... 

Fois eufis-lheessapromessa? 
Faria.,. Pois não fizeste I 

Nãopeçomaisqueumamante 
Enfastia quando abusa, 
Mas eusei queessemelindre 
Nas aldeias ninguém usa : 
Dizes-me como te chamas? 
I**ra isto não ha recusa 1 

Inda não sabe o meu nome? 
Fois olhetChamo-meEscusa. 



Ji vejo qlie me despresas I 
Não tens dó dequem padece; 
Mas o foço que mè escalda 
Inda assim não arrefece ; 
P*ra ser por ti adorado 
Dava tudo o que tivesse I 

Ora vês tu /... que^fortuna 
Pela tarde me apparece I 

Uma impressão tão ardente 
Meu peito jamais soffreu ! 
Não encontrarás no mundo 
Um amor igual ao meu ; 
Vou dar-te umcoração puro. 
Aqui o tens. .. é só teu 1 . . . 

Âi! pois hão, Marianninhal 
Toma lá, que te dou eu I 

Dize— CM awo-tfl l~issobasta 
Para eu não ser desgraçado; 
Vou abraçar-te e beijár-te, 
Vou assenlar-me a teu lado. 
Jurar de ser teu esposo. 
Oh meu anjo idolatrado I 

Ai... sabe o senhor que mais7 
Adeus... Temos conversado. 



371 



£ podes, sendo tão bella. 
Ser mais dura que um penedo ? 
Deixas-jne triste, chorando, 
A' sombra d' este arvoredo?... 
Foge, sim, que és mui|p joven... 
Fallei-te d*amor tão cedo I . . . 

At !... não, que o gato escaldada» 
Té d^agua fria tem medo /... 

Faustina Xavier de Noxacs 



14 DE DEZEMBRO. 

CASTELLO DOS MOUROS EM CINTRA.— É de tem- 
pos imioemoriaes a era de sua fundação. Assenta em 
dou» montes de ^ande altura, que aominâo o decli- 
ve onde está edificada a villa de Cintra, e parece 
haver sido construído em difíerentes épocas, e com 
uma argamassa igual â de que usavâo os sarracenos. 
Sobre as suas ameias deverá ter pousado a águia do 
Tibre ; nos seus muros haverá tremulado o pendão 
áo visigodo feudal ; os árabes do oriente pisaram sem 
duvida as esplanadas d'esta fortaleza, que hoje éve* 
nerada como padrão de séculos passados. 

Torres que ainda conservào os nomes de real e 
homenagem; portas como a da traição, pois se diz quo 
por esta entraram os nossos antepassados auando as- 
saltaram o castello ; talhas em diíferentes locaes for- 
madas no granito da serra ; uma mesquita em ruínas ; 
a cisterna d'abúndante agua nativa na parte mais 
elevada da montanha ; dão a este monumento uma ve- 
neração, que ainda no tempo de Gil Vicente foi canta- 
da como encantamento de Reis mouros. Diz uma tra- 
dição popular que havia no centro da rocha uma 
passagem occulta, que levava a Rio de Mouro (qua- 
tro milhas de distancia), e que a fréguezia d'esta de- 
nominação d'ahi tirava a sua etymologia. 

Do século XIII ha documentos que se referem a es- 
te castello^ segundo o devemos acreditar pelos for- 
roes de Cintra e de Beja. Hoje o Castello dos Mou- 
ros, conservado e augmentado no estylo da sua edi- 
ficação, povoado de ruas e arbustos em todas as di- 
recções, se nos traz á memoria- eras que se perdem 
n\ noute dos séculos, também nos faz lembrar, que 
a mão generosa que levantou as torres do Castello da 
Pena, distribue n'este recinto o trabalho que faz 
transmittir intacto 'aos vindouros um tal monumento. 

António da Cunha [Cintra) 

372 



15 DE DEZEHBRO 

ESCRIPTURA SANTA. — Acaba de fomar-se em 
Londres, presididapeloPrin- 
cipe Alberto, uma socíedB' 
de cujo fim é eiplorar ■» 
ruínas da Assyria. e psrlícu- 
larmente de Babjlonia, afim 
de obter novos esclareci- 
mentos sobre a Escriplura 

I Saata. Coola ji diversas ií- 
Haes em muitas'capitaes da 

! Europa, as quaes pTOjectão 

applicar bastantes fundas & 

mesma empreza, que nos ul~ 

timos annos se tem tornado 

da mo«la. O maior numero d'elUs é em França. 



16 DE DEZEMBRO. 

CHARADA, 

Fftra-nos hoje índa ignota j 
Grande porcio da primeira. I 

-carreira. ( 



ProducçSo da ni 
Qoe nos leva a recordar 
Parte do que Jesn-Chrtsto 
Padeceu por nos salvar. 



17 DE DEZEMBRO. 



fA'» AXhum da Exm.^ Sr.® D, M. J, S. P.f 



Que me pedes, amiga, que pretendes? 
O éclio longínquo dos passados cantos? 
Não temes que essas paginas te inunde 

De lagrimas de dor? " 

Que inspiração terá quem triste vive? 
Que sons pociem soltar-quebradas cordas?* 
Que angélica harmania na'de tirar-se* 

D'um peito ermo d'amor ? I 

Triste pergunta que a mim mesma eu faço. 
Dos negros crepes despojando a lyra ; 
Mas d*entre as cordas que estalara amaguA; 

Um som me respondeu : 
A corda da amizade inda vibrava; 
EUa inspirou minh'alma, ella me anima, 
E na doce harmonia me revelia 

Que tudo.... nâo morreu. ^»^ 

Quasí descrente, definhava-me a alma» 
Sentía-me merrer na desesperança. 
Sem que um astro de fé viess« ao menof 

Nb futuro surrir I... 
Biso nos lábios, app»rente e incerto, 
Gélo no coraçfio, pranto nos olhos, 
E a dôr e a níagua da orphandade miaha 

A 6irluet«r-nie o porvir. 

574 



375 



Eitrague ás lidas doesta insana yida, 
LucUndo co*a desgraça, minha fronte, 
Cingiáo-m'a os espinííos da amargura 

N*um circulo de dôr ; 
Àos lábios sêccos eu levava o cálix 
Que a magua me offertara sem piedade, 
£ té ás fezes esgotei na angustia 

Seu gélido amargor. 

Das rosas que o meu berço engrinaldaram, 
Dos sonhos do passado tâo formosos, 
D^essas visões phantasticas d'esperança, 

Fugio-mè o doce encanto ; 
E só... tâo só no mundo I orphâ mesquinha. 
Divagando na terra sem conforto, 
ho deserto da vida peregrina 
'Rojei meu negro manto. 

Às flores que no peito me brotaram 

Em tempos de mais dita, desfolhadas <^ 

Foram do vendaval do desengano 

N*um sopro incerto e vario. 
Anhelei o morrer, descri da vida; 
Indiff'rente ao viver, marmórea estatua. 
Vivia sem gosar, qual se estivesse 

Envolta n*um sudário. 

Mas teu carinho despertou minh'alma 
Da triste lethargia em que jazera I 
Fallaste ao coração da orpuásinha, 

Ensinaste-lhe a crer 1 
Tuas meigas affeiçôes deram-me allivio 
Ao pobre coração ; — Áh I que eu encoolra 
N'e8ta amisade, tâo ardente e pura. 

Coragem p'ra soffrerl... 

Z>. Maria Rita ColafQ Ghiaçpe, 



18 DE DEZEMBRO. 

PREJUISOS DO MINHO. — Aos que já enumerámos 
a |)ag. 135 do Almanach de 1854 acrescentem-se os se- 
guintes : 

£m muitas aldeias do Minho se usa amarrar uma fita 
escarlate na cauda das vaccas para que o leite lhes não 
seque. 

Nos burrinhos, logo que nascem, lhes é posta uma co- 
leira escarlate, com uma bolsinha cheia d'alhos e ar- 
ruda, para os livrar de feitiços, e ámâi delheseccar o 
leite. ' 

Abraçar um burrinho recem-nascido, é óptimo remé- 
dio para somnarentos. 

Em Leça da Palmeira e Mattosinhos, as mulheres que 
lêem os maridos sobre as aguas do mar, quando Ihei 
tardão cartas, Yâo ás mulheres entendidas saber no- 
ticias d*ellçs, e estas lh'as dào com um baralho de car- 
tas : e"guando os maridos ou filhos d'essas mulheres 
crédulas se aproximâo da costa, estando ornar bravo, 
accendem ellas uma luz d'azeíte diante de alguma ima- 
gem, e corremNdepois a lantar ao mar o resto do azeite, 
com a firme convicção que Islo applacará as ondas. 

Obscura Portuense. 

19 DE D^EZEMBRO. 

CASTANHEIRO FÉRTIL. — No limite da povoação de 
Sallas, pertencente a este concelho, existe um casta- 
nheiro, que parece ter séculos de idade, e produz 
annualmente cem alqueires de castanhas, á excepção 
d'algum arino de grande escacez. E* propriedade d Ad- 
na Dias, da povoação do Zoio, no concelho de Bragan- 
ça. O seu tamanho é pouco superior ao dos castanhei- 
ros ordinários. 

Graciano José Gêtnes de Álmendro 
(Yinhaes.) 

376 



10 DE DEZEMBRO. 



O ÀBYSMO. 

Horrível atíracçâo de abysrao horrível ! 
Insondável mysterio da natura !. .. 
Quem do fundo d'esse antro por mim chama. 
Para me dar a morte e a sepultura ? ! 

Debaixo de meus pés o abysmo bran>a ; 
Em vâo os olhos meus seu fundo buscáo ; 
Que trevas espessíssimas e negras 
Os olhos me araedrontáo e me offuscâo !. .. 

Porém a mente, que iámais tropeça, 
Alloita desce, sem saber porque ; 
Mas tudo é vago, tudo incerto e triste. 
Tétrico tudo quanto alli se vê ! . . . 

Esta pedrinha que da mâo despeço, 
Estonteada na caverna cabe ; 
Depois de pausa vagarosa e tarda. 
Um som queixoso lá de dentro sahe. 

fÇtJÓr gelado sobre a fronte sinto; 
Sinto que as forças me abandonâo já I . . . 
Turva-se a vista', desfallece a alma. 
Ai!... n*este p*rigo quem me salvará!... 

Utn braço amigo sobre mim se estende, 
S voz amiga, murmurando, diz: 
c Oh ! náo arrostes da desdita a fúria, 
Yive em socego, para ser feliz ! . . . > 

Maria do Fatrotinio de Sousa. 

377 



31 M DEZEMBRO. 

BANQUETE REAL. —Foi assim que (tareia de Re- 
sende fallou em uma curiosa particularidade do ban- 
?uete dado emErora por El-Rei D. João II. ao casar sen 
lho, o Príncipe D. Affonso, com a Princeza D. Isabel, 
filha de Femaudo o Catholico. cLogo á entrada da mê- 
fa Teio uma grande carreta dourada, e traziâo-na dois 

grandes bois assados inteiros, com cornos e mãos e pés 
ourados, e o carro vinha cheio de muitos carneiros 
assados inteiros, com os cornos dourados, e vinha tudo 

Sosto n'um cadafalço tão baixo, com rodetas no fundo 
*elle, que não se viâo, que os bois pareciâo yíyos • 
que andayâo. E diante vinha um moço fidalgo com uma 
aguilhada na mâo, picando os bois, que parecia qua 
andav&o e levavâo a carreta, e vinha vestido como ca^- 
reteiro com um pelote e um gaibâo de veludo branco 
forrado de brocado, e assim a carapuça, que de lon^a 
parecia próprio carreteiro» e assim loi offerecer os bois 
e carneiros á princeza» e feito o serviço, se tornou a 
virar com sua aguilhada por toda a sala até sahir fora, a 
deixou tudo ao povo, que com grande grita e prazer fo- 
ram despedaçaaos, e levava cada umquanto mais po- 
dia. E assim vierão juntamente a todas as mesas pavões 
assados com os rabos inteiros, e os pescoços e cabeça 
tom toda sua penna, que pareceram muito bem, por se- 
rem muitos, e outras muitas sortes de aves e caças, man- 
jares e fructas, tudo em muito graade abua4«a«ia a 
muita perfeição.» 

22 DE DEZEMBRO. 

SACERDOTE FEíTO VERBO.— Passou I seguinla ter- 
tid&o um parocho ahi para as bandas do Seixal : 

« Attesto e certifico queF. .. é filho de seus pais, ©«- 
jos todos três se portam muito bem, e o terceiro é mui- 
to obadiia&^easeuspais, o quejurono v^cbo saserdotis.» 

371 



» DE DEZEMBROv 



CANTIGAS AÇORIANAS. • 

Sáo estas muito vulgares no archipelago dot Àf oresy 
c particularmente na ilha do Pico : 

Em noute amena de estio, 
Sobre as ondas, ao luar, 
É tão bello, é tão suave. 
Velas ao vento soltar I . . . . 

OUTRA.. 

Leva remos 1 fora linha ! 
Sem demora 1 apparelharl 
O goraz, o cherne, o congro, 
kca engoda, anzoes ao mar !. ' 

OUTRA. 

A pobreza nâa é crisme, . 
£' crime ao dever faltar, 
B' crime não ter coragem, 
fi* crime nâo trabalhar. 



$4 DE DEZEMBRO. 



suicídio de INGÍEZ.. — Suicldou-se um inglez na 
ilha da Madeira, achando-se-lhe junto ao cadáver e«- 
tas poucas palavras que esorevêra : 

« Saio do mundo sem consultar ninguém, pois para^ 
entrar para eUe também nibguem me eons uúou. 9 
27» 



t» DE DEZEMBRO. 



O FUTUREIRO 



PcTto.nâo sei deqtie aldeia,|T)'a1mocreve ou lavrador, 

Dispensava o meliante- 
Se o dicto sahia certo. 
Alegre vindo o fréguex. 
Bebia mais uma vez : 
iVlentindo, — se por esperto 
Vinha algum metter o ferro, 
Por politica, primeiro. 
Bebia: — mas quantoaoerro, 
Gritava-lhe o taberneiro : 
« Que diz lá 1 vá-se catar 1 
Eu bem seinoque me fundo; 
Se não choveu no logar, 
Algures choveu no mundo. 
Com roubos e abusões. 
Corpo e alma lh*estragava 
Ao povo, que o sustentava: 
Inda em cima - os toleirôes! 
Para tudo ha medicina ; 
Até eurâo d'estrabismo ; 
Só para o charlatanismo 



Duas tabernas havia 
Uma estava sempre cheia, 
Quasi sempre a outra vasia. 
O baptismo, na primeira, 
D'uma pipa dava duas, 
E a medida calotcira 
Augmentava as falcatruas.- 
Nesfoutra, o sumo da uva 
Sem confeição — e a medida 
Pela camará aferida... 
Mas sempre pedindo chuva, 
A's moscas, sem frégnezia, 
Em quanto a sua visinha, 
Se mais roubava, mais tinha 
Fréguezes, de dia a dia. 
Ac[ui por força ha mysteriol 
Diz o taberneiro honrado : 
E tomando o caso a serio, 
Deu com elle desfiado. 
Vinha a ser: que o tal ladrão 



Náo era só taberneiro ; Um remédio nâo se atina 1 



Fazia accumulaçâo 
Era também futnreiro J 
Agua, sol, tempoinconstante. 



Em pastilhas, ou em bolos, 
Ou grátis, ou por dinheiro. 
Masque abrisseolhos atolos, 



€om mãos largas, e a 8aborK)ue extirpasse ofutur«iro! 

Joaquim da Costa Cns€aê€. 
(Mafra} 

380 



26 DE DgZEMBRQ. 

-O BÊBADO E A TAVERNEIRAv 

MOTE. 
Das cento e sessenta e oito ' 
Horas (][ue a semana tem. 
Repartir uma comigo l 
Não te resolves, meu bem 7 

Bêbado. GLOSA. Taverneira. 

Cento esessenta eoitol Arre! Ah 1 tu vens hoje com a lua,. 



Eu bebi tantas canadas ? 

Taverneira. 
Sim; vosso eos camaradas ; 
Àhinegalquerque oesbarrel 

Behado. 
Largueogabâo;náom'âgarre, 
Senão ess'alma lhe impoito; 
Canadas foram dezoito, 
Mas por brio e amistade, 



Mas eud'isso não m'espanio. 

Behado, 
O vinho é deDeus, é santo ; 
Num heide botaFo á rua. 
Oh Zefal uma filha tua 
Quero-a eu p'ra meu abrigov 

Taverneira. 
Olha que ia bem comtigo , 
Levava em ti boa rei. 

Behado. 
Abaixe ao menos metade [Tu podes, como tens três, 



Das cento e sessenta e oito. 

Eu d'es8a conta me queixol 
Vosso, se o vinho me dava, 
Eu logo á porta o largava ; 
Sebemm*odá,bemlh'odeixo. 

Mgis o algrumento feicho 
Só por num deber bintem ; 
Olhalalmacomoeuninguem; 

Eu té nas semanas santas 
Bebo tantas vezes, quantas 
Horas que a s«man& t»m. 

381 



Repartir uma comigo. 

Olha ! eu posso-a já levar 
Por três dias a contento : 
Gosta ? faz-se o casamen^; 
Num gosta? torna a voltar.. 

Taverneira. 
Olha, leva um resalgar, 
£ uma facada também, 
A contento, e depois vem^ 

Behado. 
Basta: num és minh'amiaa?' 
Num me dás a rat)ariga 7 
Nuxa te resolves, meu bem7 

* * *r 



X 08 DEZEMBRO. 



Vai-te, ingrata, por quem morri d^amores» 
E em quanto eu peno. exulta independente» 
Que um dia inda virá, mulher perjura. 
Em que te !embre meu amor ardente. 

• 

£ se então os teus olhos se orvalharem, 
E te rasgar o peito agra saudade. 
Submissa adora um Deus, que por vingar-me. 
Quer que soffras do fado a crueldade !... 

Júlio César Machada, 



28 DE DEZEMBRO. 



CHARADA, 



Sou um pedaço de terra 
Por aguas mil rodeado ; 
Tenho jardins e florestas, 
Sou por homens habitado. 2 



Ordem sou onde a piedadt 
Se vai humilde alistar ; . . .3 
Muito perto da segunda 
Por certo m'háode encontrar 



Sou a nvmpha do oceano 
No seu banho de cristal, 
Ostentando com orgulho 
As armas de Portugal. 



D. Mi. n. c. c. 

I8S 






30 DE DEZEMBRO. 



MODO DE RESTITUIR O VIÇO A UMA FLOR MUR- 
CHA. — E* metter-lhe o pé dentro d'agua a ferver : 
assim que esta houver esfriado, pouco a povco re- 
verdecerá a flor. 



31 DE DEZEMBRO. 



• CHARADA. 

Faço parte do nome d'um sant^ | j 
Que devota nação bem festeja : ! 
Sei, com outras, causar mago encanto j j 
Nos theatros, nos bailes, na igreja : l 
Deve ser puro e livre ; por tanto, I * 
Mais que todos, o enfermo o deseja, i 

Não longe da Lysbia 
Alguém me fundou, 
E um Paço bem próximo 
I Também levanlou. 



383 



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