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A
r
r
ALMANACH
PE LEieefliii
LUSO-BRASILEIRO.
/^'i'i
Les longs ouvrages me font peur ;
Loin (i'épuiser une malière,
On ii'én doit prendre que la fleur.
LA FONTAINB.
r o
^ DE
LEMBRANÇAS
LUSO-BRASiLimO
PARA 1857.
COM 410 ARTIGOS E 106 GRAVURAS,
POR
ALEXANDRE MAGNO DE CASTILHO,
•ACU^REr, FORMADO KM MATIJEMA riCA >A UMVERSIDADE DE COIMBRA,
CAVALLEIRO DA OROEX DA COKCEIÇÃO,
aRUHRO DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PARIS,
OA ASSOCIAÇÃO INDUSTRIAL P0RTUE7ISE,
l>A SOCIEDADE DOS ANTIQUÁRIOS DE 8ANT0>0HER,
DA DOS AHI608 DAS LETRAS E ARTES DB SÍO UlCVtL,
DA SOCIEDADE AORICOLA lIADEIRRrfSE,
DO CENTRO PROMOTOR DA IHSTRVCCÁO DB LEIRIA,
RO IXSriTUTO CONIMBRICENSE,
DA ACAOKHIA DE BB0DR8,
DO INSTITUTO AKRICANO DE PARIS,
BA SACtEBAH PROMOTORA OA AORICOLTURA MICHARLENSK,
ETG. . ETC, ETC.
JLESB®A
TYPOGRAPHIA UNIVERSAL
RUA DOS CALAFATES K.° 1 13.
1 «5G.
Port 431 í.£
HMVAIID-COLLEGE LtBRARY
CeUNT OF SANTA EULÁLIA
COLLÉCTION
eiFT OF
JOHN B. STEISUN, ir.
EXTRACTO
DE CORRESPONDÊNCIA RELATIVA AO
ALMANACH DE 1856.
F. S. T. (Rio de Janeiro) — Espinhou-se V. S.* todo
comigo por eu chamar brasileiro, a pa^. 341 do prece-
dente Almanach, ao Sr. António Cyro Pinto Osório I Náo
se consuma, meu querido senhor. Náo quer que seja
brasileiro ? pois será portuguez. E portuguez é que é
na verdade — ou que loi — pois me consta que já aba-
lou cara onde tâo nem recebido seria, portuguez como
brasileiro, porque lá náo se faz obra senão pelo mérito do
individuo. Olhe : cá aos olhos dos homens tinha-o elle
bastante como poeta, mas V. S.* diz que embirra com
poetas, e lá n*isso está no seu direito. O que é certo é
que se eu tivesse chamado brasileiro ao Mattos Lo-
bo ou ao Diogo Alves, não me houvera isso rendido
maior rabecada. Muito nervoso é V. S." ! DoucheSy meu
amigo I E* o melhor remédio para nervos I . . . .
A: A. L. (Porto).— São muito lindas as charadas figura-
das que se dignou enviar-me, porém náo me é dado pu-
blicaras. Entre nós ainda se não trabalha bém em ma-
deira. Se V. S.* visse o que me fizeram com aquillo ! . . . ■
Realmente é preciso habilidade para gravar táo mal !
assim também eu o sabia fazer. Pois olhe, náo foi por fal-
ta de tempo 1 Levaram-me por aquelle horror três ve-
zes mais ao que houvera custado em Paris, e sahio três
vezes peór do que o fizera qualquer com uma enxó.- Pa-
guei por honra da firma, e por- honra da mesma ná»
ttmlambuzo com aquelles borrões quatro ou cineo pagi-
nas do mea livro.
5
S. S. (Londres). — A' espirituosa e amável compa-
íriota em Londres envio os meus agradecimentos pela
caria com que se dignou honrar-me em 27 de Maio. A
poesia que a acompanhava já chegou tarde para ser
publicada no Almanach de 1857. O que d'isso me con-
sola é que já n'e8te volume se acha uma pagina embel-
lezada com o nome da apreciável authora, que ao seu
mérito litterario reúne o mais acrisolado amor pátrio.
Bem haja ! náo serão os nevoeiros e a fumarada <ie Lon-
dres que aos olhos d'um portuguez (nem d'uma portu-
guezaj eclipsarão o bello sol da sua terra, que alU mais
do que em outra qualquer parte lhe luz na mente de
contínuo. A. todos alli acontece o mesmo que á dislincta
escriptora — achar-se só ri aquella Bahylonia — Ainda
bem que a saudade a chama ao torrão natal, e que n'el-
le espera proximamente achar-se. Sirva-se S. Exc.*,
quando isso aconteça, communicar-m*o, e então de viva
voz lhe submettere'i algumas respeitosas observações
sobre- a sua linda poesia Helena e Carlota,
A. J. P. (Braga). — O' Senhor I pelo amor de Deus nâo
me quebre a cabeça com luas e^prognosticos de tempo 1
Já a esse respeito 'disse quanto tinha que dizer. E* pos-
sível que as di^;ersas phases da lua tenhão alguma in-
fluencia no tempo ; sim senhor. Está provado que chove
mais vezes entre, a lua nova e a lua cheia do que entre
a lua cheia e a lua nova immediata ; sim senhor. O que
porém é absurdo, estúpido, e contra todas as regras da
physica, da lógica e do bom senso, é acreditar que com
antecipação d'um anno se possa determinar o tempo que
hade fazer. E muito boa noute.
Vender-se-hiâo ahi mais 80 dos meus Almanachs se
predissessem o tempo f Pois deixaVos vender. Não ha
interesses de qualidade alguma que me levem a mentir
ao piihlico. Tomara eu poder illustraro bem, em vez de
o fazer ainda mais tolo 1 . . . .
6
J. P. G. (Coimbra). — Cá me vem lambem este senhor
-com o juizo do anno I Isso é que alem de estúpido e ab-
surdo, chega a ser piegas. E' a maior de todas quantas
semsaborias podem sahir dos prelos, e chega a ser cons-
ciência o profanaVos com taes puerilidades I . . . .
F. P. S. (Bahia). — Ahi tem quantos queira. '
J. C. S. (Évora). — Tiradas certas liberdades .poéti-
cas, agradará por certo a sua mimosa poesia, e nâo of-
fenderá castos ouvidos. Agora que as senhoras andão
menos decotadas, náo seria máu que a poesia as imi-
lasse I • • • •
Um Bejense. — Pois senhor, fico sabendo que dizer
d'um homem que bebe muita agua é fallar em politica I
e é insultaFo 1 se fosse dizer que bebe muito vinho, ei>-
tendia eu, mas muita agua 1 1 1 Era todo o caso, engana-
se, meu rico senhor. O cavalheiro a quem me quiz re-
ferir a pag. 236 do prec.edente Almanach, nâo é esse
que V. S.* diz ; é outro — baixo, ^ordo, que falia com
igual volubilidade, e que nos cincoenta intervallos
de cada um dos seus discursos é capaz de despejar um
chafariz. Náo contesto" o mérito d'est'outro por quem
V. S.* quiz romper uma lança contra mim, como.se eu
tivesse dito uma só palavra' em seu desabono, ou que
-podesse chocar o seu melindre l Nâo ha duvida que é
uma de nossas illustrações politicas, uma intelligencia
superior^ um portugue*z ás direitas ; ora, se bebe tam-
bém muita agua, como V. S.* diz, o que devemos é dar-
Ihe os parabéns por ter chovido tanto este anno.
F. J. -C. L. (Maranhão). — A' sua carta de insul-
tos e improí)erios, por eu não confessar que os actuaes
poetas brasileiros sâo muito superiores aos portugue-
zes, só respondo ... . que o maior defeito dos azurra-
gues é não chegarem d'um a outro hemispherio 1 . . . •
C, F. (Buenos Ayres). — Diz V. S.* que ao ler a cha-
rada a pag. 242 do Almanach de 1856, juraria (jue a pa-
lavra d'ella era patamar, e que ficara admiradissimo -
ao ler, a pag. 6 do de 1856, que era patarata 1 Pois meu
senhor, mais admirado ainda fiquei eu ao ler isto í
E' patamar, é, sim senhor. Ora, quer saber a rasâo do
tal erro ? eu lhe conto. Muita vez me succede continuar
a trabalhar mesmo com visitas; ao fazer,^ a pag. 6 do Al-
manach precedente, a relação das palavras das chara-
das do anno de 1855, estava comigo o maior patarata da
península, e distrahida a minha attençâo para as suas
pataratas, escrevi patarata em vez de patamar] ....
Nunca mais torno a escrever uma palavra ao pé do tal
parlapatão. Vejâo no que me melleu !.. ..
S. P. R. (Montevideu). — Mais de vinte pessoas me
lêem perguntado o mesmo, isto é, qual a palavra da
charada que vem a pag. 211 do Almanach de 1856? Co-
mo a todos tenho respondido, pondo nas minhas cartas
a competente estampilha, já n\e anda por mais de cinco
tostões a tal charada. Nâo sei se os vale. A palavra é
arrabil, que era um instrumento pastoril de cordas, co-
mo uma rabequinha, instrumento em que fallou Sá de
Miranda. Foi para fazer a cabeça em agua aos leitores
que eu marquei a divisão das syllabas — duas e duas —
em vez de — duas e uma — Aqui acabo porém a mysti-
ficaçâo, dizendt)-lhes a verdade,, e prometto nunca mais
me Uivertir assim, que não é bonito.
A. J. C. (Faro). — Pergunta V.. S." em que se funda o
Sr. Cabedo para suppôr aterra bi<;uda em vez de re-
donda, quando diz
De teu vértice no seio ?
Vértice é um bico, diz V. S.®» e eu assim- o foi mct-
ter no bico ao poeta, que em vez de ealar o bico, me
8
disse que a penna lhe não largara isso do bico, c era
talvez por estar com o bico, que o compositor o fizera
dizer vértice em logar de vórtice. Entende a^ora ?
Foi talvez pela mesma rasão que mais abaixo lhe fez
dizer — Às vagas da solidão — em vez de — Os vagos
da solidão.
E como é que o revisor deixou passar aquillo ? eu sei
rá ! Estaria também com o seu bico^
V. S.^ é de Faro e tem bom faro.
F. T. R. (Guarda). — Óptima empreza para quem qui-
zer perder uns poucos de contos de réis.
A. R. (Brapança). — Parece-me pouco justo, e poufo
nobre, o declamar contra uma classe inteira, só porque
um de seus membros s.e houve mal. E de mais nâo é es-
te o logar próprio para semelhantes verrinas.
Anonyma Lisbonense. — Chegaram já tarde os seus
artigos. Fique-se sabendo que no mez de Março de
1857 estará concluído o Almanach dft1858. Os pontos
aífastados para que tem de ir, obrigáo a esta ante (ti-
pação.
M. S. C. (Penella). — A sua poesia nâo deixa de ser
engraçada, mas os versos é que estão ratões ; n'uns h«
duas e três syllabas de menos, e n'outros estão de co-
guUo. Isto de fazer versos errados nâo tern desculpa. O-
meio de o evitar é fácil. Péga-=se n'úm bocadinho de
papel da medida d'um verso certo, e serve elle de me-
dida para todos os outros. Siga V. S.® este conselho e
verá que lindas poesias que. lhe sahcm. Lá o.pensamen-
to nâo quer dizer nada!.... Em a cousa rimando, é
quanto oasta.
CHARADAS
Do Aimanaeli de 1950,
Pagina 107 — Carapinha.
» 114 — Balaclava.
» 123 — Pregador.
» 141 — RiLHAFOLLES.
» 173— JWacella.
» 176 — Emília.
» 201 — Santo-Offick).
» 21! — Arrabil. (*)
» 217 — Repuxo.
» 235 — POMONA.
» 254 — Parafuso.
y> 263 — Moda.
» 276 — Romaria.
» 309 — Calmaria.
» 322 — Redemoinho.
» 346 — Satyro.
» 359— Capinha.
» 365 — Anadia.
» 372 — Parafuso.
(
syl
*) Sahio errada no Almanach de 1856 a divisão das
labas, que é — duas e uma — e uào — duas e duas.
10
Senlioras cujos nomes emliellczãoi
e iionrâo an paginas <l*e«te
Almanacb.
Alcina Amélia Freitas Costad'Abaujo Queiroz.
D. Anna Amália de Sá e Mello.
D. Antónia Gertrudes Pusich.
D. Maria C. de Carvalho C. de V. A.
D. Maria do Patrocínio de Sousa.
D. Maria José da Silva Canutó.
D. Maria Peregrina de Sousa.
D- Maria Rita Colaço Chiape.
D. Mathilde Coelho Pestana.
Obscura Portuense.
D. Sybila Stephana.
Viscondessa de Balsemão (D. Cathahina}.
11
0>o <x^
AUTHORES
Cujos nomes lionrão as paginas
cl*este Aimanacli.
JXm A.» Íj •
A. de Cabedo.
A. Girão.
Anonymo.
Anonymo (Benguellense).
Anonymo (Rrasileiro).
António Cypriana d'01iveira (Brasileiro),
^^ , ^-o^
12
Oh-
*t
António da Cunha.
António Emílio de Sousa Freire Pimentel.
António Feliciano de Castilho.
António Gil.
António Gonçalyes Dias (Brasileiro).
António Joaquim da Rosa [Brasileiro).
António Joaquim Fernandes Salazar.
António Lino Leão de Yasooncellos.
António Macedo e Silra.
António Maria do Amaral Ribeiro.
António Pereira da Cunha.
António Vieira (Padre)
Arduenna [Brasileiro).
Augusto Cezar da Silva Mattos.
L A
Ba# > ' ■ ■ I I II ■ ■ M-<» I l .i ^ iiiiil M ihM— ièMlUi.aMÍi»— « 1 T I I I 1 I I f ^S^Ê
13
f>— "f
Bluteau.
Caetano Brandão (D. Frei)
Carlos d'01iveira Fragoso (Brasileiro).
Cezar Augusto Marques (Brasileiro).
Chateaubriand.
Duque de Saldanha.
D. M. R. C. C.
F. S. Constâncio.
Faustino Xavier de Novaes.
Francisco Alvares de Souza Car\alho.
Francisco António Rodrigues d'Azevedo.
Francisco (Frei) de Monte Alverne (Brasileiro).
FranaÍ8ao José da Silva CoÚares (Bra&ileiro).
g^ — —o^
14
J T
Francisco José Pereira Palha.
am
Francisco Manoel do Nascimento.
Francisco Pereira Barbosa Nogueira.
Francisco Raphael da Silveira Malhão.
Francisco Raphael d'01iveira (Brasileiro).
Francisco Rodrigues Lobo.
Graciano José Gomes.
Honório Pereira Serzedello.
Inhato-Mirim (Brasileiro).
J. C. Nogueira dos Santos.
J. G. Lobato Pire».
J. P. de C.
J. P. Rebello de Carvalho.
João de Lemo».
João Félix Pereira.
i
«>o- ' ♦
15
é
_U!
^
Manoel Fulgencio Gomes.
Manoel José de Sá e Mello.
M. L. C. (Brasileiro)
Olympio da Silva e Castro (Brasileiro).
ProTidencias.
S. P. M. Estacio da Veiga.
Thomaz de Carvalho.
[Thomaz Polycarpo dos Santos Mooráo (Brasileiro).
Tisconde da Pedra Branca (Brasileira).
Visconde de Sá da Bandeira.
17
2
<K©
tmm
DOS ARTIGOS CONTIDOS iVESTE ALMANAClf.
A
Abaixo as rodas. . . 193
Abaixo o ouro . . . 26^
Abençoar a meza . . 147
Abysmo 377
Academia dos árcades 165
Academia franceza . 166
Acção de certos medi-
camentos sobre ain*
(ellígencia. . * « 309
Açougue 228
Aíagio árabe . . . 14i
Adeus 382
Adivinhar 39 cartas de
um baralho pelos
noves fora. . . . 234
Alboni e a remissão
dos peccados. . . 365
Alexandre Dumas —
Victor-Hugo — Lord
Palmerston. • . . 143
Alexandria .... 226
Algodão na Argélia :. 341
Alho 92
Alma a Deus .... 99
Almanachs populares. 277
amigos e inimigos. . 96
19
Amor .....
Anagramma feliz .
Andar de cabeça para
baixo. . . *. .
Anecdotas verdadei
1Q9« • * • * •
Anjinho
Antes e depois . .
Anthesterias . . .
Antipathias . . .
Antropophagos . .
Apologo ....
Aqueducto da Carior
Aquillo é que são cor
reios . ^. . . .
Archiduquezas aus-
triacas ....
Ariosto e o Duque de
Ferrara ....
Armadilha do arma-
dilho^
Arroz *.....
Arvore de Plínio .
.Irvore d'oiro . .
Ascensão aerostatica
no Rio de Janeiro
Assumpção . . .
Atlas geógraphicopor-
tuguez .....
201
8S
181
3.Í4
9á
3á()
2á()
137
367
251
205
170
223
121
200
23S
152
127
279
170
Atmosphera ....
Auge da miséria . .
Àvesinha (A) e o mos-
teiro
154 Camões, Joáo Caetano
150
258
B
Baile (O)
Bairáo
Banquete real . . .
Barómetro de saiigue-
sugas
Barthoiomeu do Quen-
tal
Basta uma espora . .
Balalha entre corvos e
falcões
Bêbado (O) e a taver-
neira. • • . . .
Beguinos e beguinas .
Benguella eon.°3. .
Bispo estudioso. . .
Bitumes . . . . .
Blaise Pascal. . . .
Bolsa
Brama ......
Brulote infernal. . .
BussacO
327
200
C
Caça (A) . . .
Caixa brasileira.
Camões e Garrett
e Castilho . . .
Camões (Luiz de) .
Camões no Hospital
Campo Elysio .
Camponeza (A) . '
Cançoneta Anachreon-
tica
Cantigas Açorianas '.
Capital folgazona . .
- Carrilhões. .
378Carteira (A) dos Bar-
^ badinhos . .
169 Carvalhos monstruosos
Casa (A) Quadrada de
— Nimes . .
364 Casamento . .* 105*
4 mS^^^^P^^iro fértil . !
i49Castetlo da Pena em
Cintra ....
381Castello dos Mouros
837 em Cintra . . .
250 Castigo da gula.
<a?I n*í ^^^^^° russiano *.
2l6Cathedral de Stras-
157 burgo. . .
275 Cavalíeiro de muitas
281 ordens ....
359 Caveira de burro !
162 Cemitério Israelita dê
Eupatoria . .
Chacal
Charadas, 107, 127, 140*
185,190,201.203,209,
223. 236. 251. 280
300, 323, 333 344!
355, 362. 373, 382
347
25:^
dm
89
370
23 1
379
322
2Ci
235
101
308
113
348
303
il3
376
285
372
196
134
296
321
294
205
328
159
217
287
353
383
20
Cholera chrismada. . 155|
Cholera na Caxoeira . 316
Christo julgando os ho-
mens 125
Ciganos 325
CÍTilisaçâo das ilhas
Sandwich .... 153
Cobras do Indosfâo . 142
Coincidência notável. 327
Columna Vendome. . i44
Cometa de 185*. . . 164
Como se roondáo plan-
tações de linho .. . 145
Com uma cajadada ma-
tar dous coelhos. . 219
Concerto mysterioso . 298
Conselho (um) d*esta-
do 99|E
Conservação da carne 186
Conservação do leite. 109|E
Contagio (le títulos. .' 321
Convento da Penha no
Brasil 241
Convento de Balsamâo 341
Convento de Mafra. . 278
Cor 171
Coragem de um brasi-
leirinho 311
Coroa (Uma). ; . . 314
Coroa bem ganha . . 148
Correcção gregoriana. 108
Corridas de touros. . 273
Corte e cortezâos . . 356
Cortejo celestial . . 297
Cortezania .... 196
Cruz (A) 179
21
Dá Deus nozes... bem
sabem a quem . . 182
Dahlia azul .... 88
Descoberta dapolvora 312
Deus e Newton . . . 349
Divisibilidade da ma-
téria 157
Dois inimigos e a ima-
gem de S. Joronymo 287
Dous Samsõeg . . . 25C
E
Ecce agnus dei . . . 239
Echo 189
íc.lipse 263
Ef ónomia politica .
EíTeitos do raio. . .
Elogio de um baixo
profundíssimo . .
Embalar (O) do infan-
te
Emprestem lá a ami-
gos
Encommenda dealbar-
das
Enigmas . 87, 133.
Epigrammas. 207,230
e
Epitaphio de Gilberto
Epitaphio de João Ba-
ptista Rousseau por
Piron
222
369
152
104
178
307
299
32«
346
224
88
Epitaphio verdadeiro 2C9
Escada grande e por-
ta pequena. . . . 194
Escripta enigmática . 155
Escriptura Santa . . 373
Espectáculo medonho
e divertido . . • 358
Espelho formado pela
superfície inferior
da agua 87
Espirito e matéria. . 237
Estimulo para littera-
tos 184
Estragos de amor . . 114
Estreita de soccorro . 232
Estrella do Sul . . . 117
Estufas 312
Eu vivo só do passado 83
Existência de Deus . 183
Exportação da laranja
em S. Miguel . . . 143
Estasis d'um beato. . 180
Festa do cuco .
Festa dos chouriços
Figos (modíJ f^cil
os melhorar) .
Filhos das águias
Filtro económico
Flor ou beijo. .
Florista poeta .
Fogo no rio . .
Folha de Flandres
Fontes volcanicas
Formiga (A uma)
Fugi ás Vénus .
Fugir ....
Futureiro (O) .
F
Febrífugo económico.
Fecundidade das mu-
lheres em Lima . .
Feitiço contra feiti-
ceiros
Fernando VII e as suas
damas ....
Ferraduras . . . .
Ferreiro de Gretna-
Green . . . . *.
Festa das garrafas. .
188
95
250
276
286
123
211
de
14G
82
3-24
97
305
95
236
136
273
301
109
234
283
380
G
Genro (O) de Piristra-
tO ....... lOó
Gloria (Uma) de Mon-
ção 245
Gravura 270
Gruta de Cambezes . *103
Guerra do estandarte. 259
Guilherme o conquis-
.tador 102
H
Harém (O). . . .
Homem (O) dos ane-
xins
282
192
Homem grande besU
depáu 28G
Hora (A) aberta. . . 334
Humanidade de Luiz
Av.. .- . • • • t5D0
Hurrah 100
Hymno ao Senhor. . 33õ
I
Ilha de S. Thiago . .
Imitar com ura cordel
o som do trovão . .
Império. . . . . .
Improviso escripto
n'um álbum . . .
l&cognita (A) defen-
sora da rosa ama-
relia
Indulgência . . . .
Industria das abelhas.
Industria do caran-
guejo
Industria fabril. . .
Influencia do celibato
e do casamento . .
Influencia e proezas
de mulheres . . .
inscripção falsa. . .
Intenaente entendido.
Irmãos (Aos] de São
Martinho . . . .
J
Jaga de Cassange
23
2õ9
ii2
173
310
26S
358
116
329
361
.360
267
215
345
138
Jornalismo nos Esta-
dos Unidos . . .
Justiça de Solimâo. .
K
L
Lá extralrida das fo-
lhas dos pinheiros .
Lago de enxofre.
Lamentações. .
Leandro *e Hero.
Letras maiúsculas.
Lição a invejosos
Lição a oradores par-
lamentares. . . .
Lição de civilidade .
Lição para meninas
espartilhadas. . .
Lingua portugueza .
Lord Byron ....
Louça (modo. de a gru-
dar)
Luiz ae Camões. . .
Lyra. « • . . > . .
M
Machinas para tudo .
Magnanimidade do
Príncipe de Conti.
Maior (A) peça d'arti-
Iheria ..'..,
1-21
116
Kangourou .... 370
350
86
3:w
319
271
240
33;?
268
í)3
134
17á
109
253
195
205
293
271
Maior (O) sino do
mundo 196
Maledicência portu-
tugueza 90
Mandrião brasileiro . 290
Manopla desaíiante . 129
Manteiga 202
Marido feliz .... 176
Mármores d^Ariíndel . 278
Massillon 309
Martyres (Os) do mun-
do ..190
Matraes. .* . . . .216
Máxima de Vandick . 200
Médicos na China . . 160
Meia volta á direita . 208
Memoria (Á) do tenen-
te general Sepúlve-
da. ...... 124
Menuro-lyra . . . 336
Metal de voz ... 158
Metamorphose . ... 340
Metrónomo e panhar-
monico ..... 248
Microscópios delato-
res. . .... 352
Modelo de emprega-
dos 257
Modo de- restituir o vi-
ço a uma flor murcha 383
Mo'do fácil de melho-
rar os figos. . . . 324
Moloch 174
Mondombes .... 122
Monte S. Miguel . . 368
Monte Seni ou Se-
gui 364
Morte (A)
MDrteiros de quinze
polegadas . . . .
Mulher (A) . . . .
293
263
225
N
Nacionalidade . . .
Nada sabemos . . .
Naipes (Os) separados
e unidos ....
Namoradeira (A) e o
jogador
Nâo te humilhes. . .
Nascer e morrer. . .
Neutralidade. . . .
Neve preta ....
146
289
315
120
349
255
356
244
O
Obra bem escripta .
Obreias
Odes de Anachrcon-
te 221,
Oiro (Abaixo o). . .
Óleo de zambujeiro .
O que é o Times . .
Orelha de Dyonisip ,
Orelhas grandes e pe-
quenas
Ortigas
Ourives da prata, feliz
e esperte . . , .
160
308
295
362
212
332
244
176
366
137
24
p
Paço real em Cintra .
Pagode
Paixão (Uma) . . .
Papasaio {Á um) . .
Papel nos Estados
Unidos ......
Pasquins
Pássaros dançadores.
Paviula do Ceará . .
Pedra do diabo. . .
Pegureiro enigmático.
Pegureiros do Jura .
Pensamento . . . .
Perigo da Vaccina. .
Perigos da gordura .
Perigos do casamento
' csca • • • • • •
Petrarcha
Plantações de linho
(como se mondáo) .
Poeta arithmetico e
religioso ....
Poltrão (O) . . . .
Pontes pensis . . .
Prato do meio . . .
Prejuízos do Minho .
Presente de intendeià-
te
Preservativo contra o
bolor
Preservativo de calo-
tes
Primeiro periódico
russo
25
98
289
227
249
128
!281
276|Q
249
85
136
206
111
303
105
91
277
204
Principaes monumen*
tos ae Portugal . .
Pulga no ouvido . .
145
118
215
178
302
376
254
107
198
2G7
194
g
Quadrúpedes da Aus-
trália
Quarentona (Aj. .
uem sáhe aos seus
nâo degenera. .
Que queres ? . .
Questão de cáo . .
Quinta do Salema .
2tl
230
324
374
318
ál8
R
pul-
in-
Raposa (A) e as
gas ....
Realejo. . . .
Recordações dos
dios . '
Rei (0),oréu, eos cor-
tezàos
Rei (Um] padeiro . .
Relógio descommu-
naí.
Relógios
Relojoaria nos Esta-
dos Unidos. . . .
Remédio contra es«
caldaduras. . . .
203|Rcmedio para aphtas.
Remédio para a mor-
pbea
204
129
133
163
212
8il
357
100
330
120
210
Remédio para dÒr de
dentes
Remédio para fazer
dormir
Rendas. .....
Repente de um estu-
dante
Resposta a tempo . .
Rimas forçadas . , .
Jtio (O) Cajeiri . . .
Rio das Amazonas . .
Rio das mortes . . .
Rodas (Abaixo as). .
Romaria á Hespanha .
Roínaria ao Senhor da
Abelheira . . . .
Rosas (As) . . . .
Ruinas de Messenia .
S
Sabonete a um eccle-
siastico . . . , . .
Sacerdote feito verbo.
Salva a redacção . .
^aive .*•••.
Sangue frio ....
S. Rartholoraeu e Ni-
colau Tolentino . .
S. José apedrejado .
Sapateiro descalço .
Sapateiro (O) risonho.
Sarcophago . . . .
Sardinhas
Saudade . . . . .
Senhoras em Lima. .
{SenhoTia (A) no sècu-
270 lo passado ....
Sol entre nuvens . •
255 Só lhe falta fallar . .
283 Soneto do Marechal
Saldanha . . . .
Sonho de uma viuva
(Epigramma) . . .
Sorte grande da Mise-
ricórdia. . . ^ .
Suicidio de inglez . .
Sultão philan tropo. .
Suor de nova espécie.
Supplemento burlesco
175
305
140
197
288
191
193
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141
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125
180
199
213
284
Tempera do aço . .
Terrível erupção do
Vesúvio. ....
Texugo. .....
Theoria dos balões .
Tijolo
Times (O que é o). .
Torquato Tasso. . .
Toupeiras
Traça e mais insectos
Tragedia julgada pe-
lo Padre Braz. . .
Trágico fim de Ricar-
do II de Inglaterra.
Trasladação de Santo
Anfoniô
Traz-os-Montes. . .
Trez (As) ratazanas .
Triplice acróstico . .
208
313
344
131
183
332
364
265
257
346
168
159
274
158
101
26
Trombas marinhas.
Tumulo de uma rola
106
151
U
Ultimaasneíra . .
Unidos até á morte.
252
177
V
Vá bugiar
Valente do Fundão .
Valha-nos Santo Oví-
dio
Valor e generosidade
dos francezes. . .
Vapor monstruoso . .
Vaticano
Vassoura inspiradora.
252
94
195
Veau (Lc) d'or . • . 243
Velas de cebo . . . 29á
Veneza ^Òi)
Vida (A) pelasciencia 187
Vide monstruosa . . 324
Violeta (A) .... 218
Virgem de meigo sur-
rir
Viuva (A) de João de
Sequeira ....
Volcáo da ilha do Pico
Voto (Um) no Porto .
175
233
292
123
X
229
242
264
130
Xadrez 186
Z
Zurrillio isi
27
CORRESPONDÊNCIA
DE
ALGUMAS ERAS COM A VULGAR.
Anno do Período Juliano. 6569
— da Primeira Olympiada 2632
— da Fundação de Roma, segundo Varão . 2609
— da Época de Nabonassar 2605
— do Principio da Monarchia Portugueza . 760
*
COMPUTO ECCLESIASTICO.
Aurto numero 15
Cyclo solar . . . . : J8
Indiccâo Romana 15
Epaeta IV
Letra Dominical , . • D
TÊMPORAS.
Março . ' 4. 6, 7
Junho 3, 5. 6
ScpUmbro . 16, 18, 19
Dezembro 16, 18, 19
29
FESTAS MOVEIS.
Septuagesiraa
Cinza '
Pasrhoa. ......
Ladainhas 18,
Ascensão
Trindade
Corpo de Deus
Coração de Jesus ....
Advento
8 de Fevereiro.
25 de Fevereiro.
12 de Abril.
19 e 20 de Maio.
21 de iMaio.
7 de Junho.
11 de Junho.
19 de Junho.
29 de Novembro .
QUATRO ESTAÇÕES DO ANNO.
Primavera .... Começa a 20 de Março.
Estio » * a 21 de Junlío.
Outono » a 23 de Septembro,
Inverno » a 21 de Dezembro.
BENÇÕES.
Prohibem-se desde 4.** feira de Cinza até ao 1." Do-
mingo de Paschoa e desde o 1." Domingo do Advento
até dia de Heis.
30
DIAS DE GRANDE GALA.
1 de Janeiro, Dia d'Anno Bom (Boijamâo).
29 d'AbrÍl, Dia em que S. M I. o Sr. D. Fedro IV De-
cretou e Deu a Carta Constitucional (Beiiamáo).
31 de Julho, Juramento da Carta e Nascimento de
S. M. -
16
dro
29 de Outubro, Nascimento de S. M. o Sr. D. Fernan-
do CBeijamãoJ.
ae Juiiio, Juramento da Carta e Nascimento de
L 1. a Senhora Duqueza de Bragança (Beijamão).
; de Seplerabro, Nascimento de S. M. F. o Sr. D. Pe-
V. (Beijamão.)
PEQUENA GALA.
17 de Fevereiro, Nascimento da Serenissima Senhora
Infanta D. Antónia.
16 de Março, Nascimento do Ser. Sr. Infante D. João.
12d*AriL Domingo de Paschoa.
30 de Maio, Dia do Nome de S. M. o Sr. D.Fernando.
11 de Junho, Corpo de Deus.
19 de Junho, Ss. Coração de Jesus.
4 de Julho, Nascimento da Serenissima Senhora In-
fanta D. Isabel Maria.
10 de Julho, Nome de S. M. I. a Senhora Duqueza de
Bragança.
21 de 'Julho; Nascimento da Serenissima Senhora In-
fanta D. Maria Anna.
23 de Julho, Nascimento do Ser. Sr. Inf. D. Fernando.
31 de Outubro, Nascimento do Sereníssimo Senhor
Infante D. Luiz.
4 de Novembro, Nascimento do Serenissimo Senhor
infante D. Augusto.
1 de Dezembro, Acclamaçâo do Senhor D. Joâò IV.
2.5 d© Dezembro, dia de Natal.
31 de Dezembro, dia de S. Silvestre.
/
ECLIPSES DO SOL E LUA.
25 de Março.
Eclipse total do sol (invisível em Lisboa}.
\S de Septemhro.
Eclipse annular do sol (invisível em Lisboa].
Harés*
Conhecem-se as horas das marés pela idade da lua,
designada para todos os dias do anno pelos algarismos
que se achão á ilharga dos dias do mez. Procurando
essa idade na tabeliã seguinte, ter-se-hão as horas de
preamar e baixamar em um dia qualquer. Supponha-
mos que se desejâo saher os preamares e baixamares
de âO de Septembro ; procurando este dia na folhinha,
acharemos que é o dia 23.® da lua, e procurando na 1."
columna da tabeliã o n.® 22, acharemos na mesma Unha
horisontal o que desejamos.
Quando na tabeliã das primeiras marés se notáo ma*
rés da tarde, as marés da manha d*esse dia s&o as se-
gundas do dia antecedente, como acontece no dia 30 da
lua, cujas marés da manha sâo as segundas do dia 29.
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S. Vicente
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Conceição Nova
S. Nicolau
Soccorro
S. José
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Bemposta
S. Seb. da Pedreira
Monserrate.
Santa Isabel « . . . .
Convento Novo
Necessidades
S. Francisco de Paula. . .
Santos o Velho. .^
Paulistas
Chagas
S. Roque
N. Senhora dos Martyres .
S. Paulo
Belém
Escholas Geraes.
Calçada do Monte.
Loyos.
Carmo.
Praça da Figueira.
Mouraria.
Santa Martha.
Freiras da Encarnaç&o.
Cabeço de Bola.
Largo de S. Sebastião.
Arco das Amoreiras.
Juuto á Igreja.
R. de Buenos-Ayres.
Livramento.
Pampulha.
Inglezinhas.
Na mesma Igreja.
Rua das Flores.
Travessa da Queimada.
Administração Geral.
Ribeira Nova. •
Junto á Igreja.
36
n^Q^miinilia ip(Diai!9<&v3aiv»
JAMEIRO.
1 16.°) — Ovinia. ^CtKCUMCisÁODoSEKnoa (4. St,
p. 33 e 34 e r de Janeiro. A. bi, p. 33). Grandt Cola.
Beijamão. Ind. em variai Igrejai. Ftsta na Graça, Bar-
rtiro e Seixal. 7iid no Ccnv. do Desoggravo em Iodai
ai quintoi feirai do anno. e cnmo a da Porciuncula na
Tgrna dm Betigioiai do Sacramento na 1.* qutnia fei~
Ta dê cada.mex.
2 (7.") — Seita. S. Izídoro. B. M. Princípio a Sov.
ii N. Senhora dn Jesus. Principião as 13 tettat feirai
de S. Franeitco de Paula na sua Igreja.com Ind. Prin-
íipto a Kovena de N Senhora da Dirino Provtdíníia.
JANEIRO.
4 (9.®) —Domingo. S. Gregório, B. S. Tito, discí-
pulo de S. Paulo. Ind, Plen, em S. Amaro no l.** Do- •
mingo de cada mex.
5 ( 10.° j —Seflfun da. S. Simeâo Estelita [A, 51, 5 de
Janeiro), S. Apoíinaria, V. S. Telèsphoro, P. M. Vespe^
ras de instrumental na Sé, e ao escurecer começào as
MatinaSy tamhem de instrumental.
6 (11.°) — Terça ií< Dia de Reis (A. 51, 6 deJan. A,
53, p. 38. A. 55, p! 117. A. 56, p. 100). Ind. no Loreto.
Benção no Menino Deus. Grande festa na Sé, a que as-
sistem SS, MM.
7 (t2.°j — Quarfa. S. Theodoro, Monge. Ahrem-se
os Tribvnaes e permitlem-se os casamentos solemnes,
Ind. na Madre de Dius na 1.* quarta feira de cada mcz.
8 (13.°) — Quinta. S. Lourenço Justiniano, Patriar-
cha de Veneza.
9 [U.^] — Sexta. S. Julião, M. Festa na sua Fre-
guesia, em que foi abolido o D. S. G.
10 (\^.'') — Sal>hado. S. Paulo, 1.° Eremita. S. Gon-
çalo de Amarante {A. 55, p. 119. A 56, p. 104).
Lua cheia ás 8 horas e 31 minutos da manhã,
11 (16°) -— Domingo fl.° depois de Reis). Nossa Se-
nhora DE Jesus. S. Hygino, P. M. Festa em Jfsus. Ind.
em S. Domingos para os Irmãos dos Passos no 2.° Do-
mingo de cada mez.
12 [il.°) — Segunda. S. Satyro,"M.
13 (18.°) — Terça. S. Hilário, B.
S8
\
JANEIRO.
U 19.») — Quarta. S. Félix, Martyr.
15 (20.®) — Quintn, S. Amaro, Abb. Festa em Santo
Amaro, Conceição Yelha^ e Convento do Desaggravo,
Í6 (21.®) — Sexta. Os Santos Martyres de Marrocos.
S. Marcello, P. M, Começào oz dias de S. Engracia na
Sé de Liiboa, para desaggravar o SS. Sacramento, pe-
io desacato na Fréguezia du mesmn Santa, na noute de
15 para 16 de Janeiro ; ha Procissão dentro da Igreja»
famhem se desag grava no Conveniinho [Campo de S.
Clara), havendo sermão na mesma noute do desacato e
festa com sermão durante os 3 dias).
17 (22.®) — Sahbado. S, Antão, Ab. S. Leonilla, M.
18 (23.") — Domingo (2.° depois de Heis). SS. Nome
DE Jesus. N. Senhora, da Divina Providencia. A Cadei-
ra de S. Pedro era Roma. S Prisca, V. i\l. Festa prin-
cipal do Sagrado Coração de Maria no Mosteiro daEn^
carnação.
Quarto minguante ás 4 horas e 13 minutos da manhã.
19 (24.®} — Segunda. S. Canuto, Rei de Dinamarca,
Martyr (^. 52, p. 245).
50 25.®) — Terça. S. Sebastião, M. Festa de instru-
mental em S. Sebastião da Pedreira, feita pelos marci-^
neiros, de quem o Santo é Patrono, e em S. José. Foi
abatido o D. S G. na sua Fréguezia, na ilha de S. Mi-
guel e em Lamego, e o D. S. D. em Braga, Pinhel e
Funchal.
21 (26.®) -— Quarta [Jejum no Patriarchado). Santa
Ignez, V. M.
39
JANEIRO
22 (27.**) •— Quinta, ^ S, Vicente, M. Padroeiro de
^ Lisboa 6 do Algarve (A. 52, p. 54}. S. Anastácio. Festa
* em S. Vicente ae Fora e na Sé, festejasse S, Sebastião
na sua Igreja, com instrumental,
23 (28.®) — Sexta, Os Desposorios de Nossa Senhora
com S. José. S. Raymundo de Penafort. S. Ildefonso.
24 (29 ®] — Sahhado, Nossa Senhora da Paz. S. Ti-
luotheo, B M. O B. Marcolino, D.
25 (1.°) — Domingo (3.° depois de Reis), Convers&o
do Apostolo S. Paulo. Festa e Lavsperenne na sua Fré-'
guezia em que se aholio o D, S, G,
Lua nov4i ás 10 horas e 49 minutos da tarde.
26 (2.*') — Segunda, S Polycarpo, B. M. S. Paula, V.
Festa a S, Sebastião na Fréguexia de 5. Paulo^
27 (3.®)— Terça. S. João Chrysostomo, B. e Dou-
tor da Igreja. Festa a Nossa Senhora da Piedade sm
S. Paulo,
28 (4.*») — Quarta, S. Cyrillo, B. A B. Veroiiica, A.
Trasladação de S. Thomaz d*Aquiuo. O B. Matheus de
Agrigentõ^ B. Começa a Nov. das Chagas de Christo.
29 (5.**) — Quinta. S. Francisco de Salles. B. S. Pe-
dro Thomaz, C. Festa e Lausperenne nas Silesias a S.
Francisco de Salles,
30 [Q,^) — Sexta. S. Martínha, Y. M. S. Jacíntha.
31 (7.0) _ Sabbado, S. Pedro Nolasco, C. S. Cy ro, M,
(Jejum, excepto nos Bispados d* Elvas e Vixeu,)
40
SlftNO DE
Piseis.
1 (8/
I. M. S. 1
FEVEREIRO.
.^) — Domingo (4.** depois de Reis), S. Ignacio,
B. M. S. Brígida. O B. André de Conti {Á. 51. 1 deFev.)
Quarto crescente ás 7 horas e 43 minutos da tarde.
í (9.*^) — Segunda ifi Purificação de N. Senhora
(A. 51, 2 de Fevereiro, A, 52, p. 64). Festa nos Terc. do
Carmo e na Sé,
3 (10.°)— Terça, S. Braz, B. M. O B. Odorico, F.
Festa a S, Braz na Conceição \elh.á, em S. Luzia e nos
Martyres.
4 íli.°) — • Quarta. S. André Corsino, B. S. José de
Leonlsa.
5 (12.®) — Quinta. S. Águeda, V. M. Os M^rtyres
do Japão, S. Pedro Baptista e seus Comp. ãíatinas na
Igreja das Chagas á festa do Orago,
6 (\3.°) — Sexta, ^s Chagas de Christo. S. Doro-
Ihea, V. M. O B. António de Amandula. Festa e Lauspe-
renne na Igreja das Chagas e Te-Deum de tarde,
7 (14.®) — Sahhado, S. Romualdo, Ah. S. Ricardo,
Rei dTngI aterra. Festa a S. Urbano Martyr na Igreja
das Chagas.
41
FEVEREIRO.
8 (15.°) — Domjwgo da Septuoaesima. S. Joáo da
Matta, Fundador da Ordem da SS. Trindade. Começào
os Domingos da Madre de Deus,
Quarto minguante á 1 hora e 43 minutos da manhã.
9 [\^.^) — Segunda. S. Apolónia» V. M., A d voga (f a
eontra a dor de dentes, Fe$ta e Lausp^ nas Monicas.
10 (17.°) — Terça, S. Eseholastica» V. S. Guilherme^
Duque d'A4uitania, A.
It (18.°) — Owarta. S. Lazaro, B. Os 7 Fundadores
dos Servitas. A B. Joanna Yalesia.
12 (19.°) — Quinta. S. Eulaiia, V. M.
13 (20.°} — Sexta, S. Gregório IT, Papa. S. Cathari-
na de llicci, V. D. A B. Viridiana, V. F.
14 (21.°) — Sabbado. S.Valentim, M. Vésperas da
Trasladação de S. António na sua Igreja.
15 (22.°) — Dominga da Sexag,esima. Trasladação
de S. António. Os Santos Faustino e Jovita, MM. Festa
em S. António da Sé.
16 (23.^) — Segunda. S. Porpyhrio, M.
17 (24.°) — Terça. S. Faustino, M. O B. Nicolau de
LongODárdis, Minirao. Fax 12 annos a Seren. Sr.^ In-
fanta D. Antónia. Pequena Gala.
Quarto minguante ú 1 hora e 43 minutos da manhã.
18 (25.°) — Quarta. S. Theotonio, 1.° Prior de San-
ta Cruz de Coimbra. S. Sime&o, B. M.
42
FEVEREIRO.
19 (26.**) — Quinta. S. Conrado, F. O B. Álvaro de
Córdova.
20 (27.*») — Sexta, S. Eleutherio, B. iM.
21 (28.'') — .Sa^bado. S.Maximiano, B M. S. Ange-
la de Miricia, V. F.
22 (29.*^)— Domingo da Quinquagesima. S. Marga-
rida de Cortona. A Cadeira de S. Pedro em Antiochia.
Ind. das 40 horas na Sé c em S. João Nepomuceno por
oeeasiào da Exposição do SS. Sacramento até á terça
feira depois de Completas,
23 (30.**) — Segunda [Jejum). S. Pedro Damião, B.
^4 (l.**)— Terço. S. Matinas, Ap. S. Prelextalo, B.
{A. 51, 4 de Março. A. 53, p. 70. A. 55, p. 153.)
Lua nova ás 11 horas e 21 minutos da manhã.
25 (2 **) — Quarta feira de Cinisa [A, 51, 5 de Marco,
A. 52, p. 85. A. 53, p. 71. A. 55, p. 170). S. Cesáreo, ír-
luâo de S. Gregório Nazianzeno. Jejum até áPaschoa,
menos aos Domingos, Prohihem-se as benções matri-
monia es desde este dia até ao \,° Domingo de Paschoa,
Benção da Cinza na Sé, com instrumental. Sào pro-
hibidos os espectáculos públicos n'es(e dia eem todas
QS sextas feiras da Quaresma,
26 (3 °)— Quinta, S. Torcalo, M. Arceb. de Braga.
27 (4 **) — Sexta, S. Leandro, Arceb. de Sevilha.
28 (5.*M— Sabbodo. S. Romão, Ab. O B. Thomaz de
!ora, 2." Trasladação de S. Agostinho.
43
MARÇO.
1 (6 °) — Domtnso {l." da Quaresma). S. Adriio.
«artyr. S. Roíendo, Portuguei. A B. Mathia de Naía-
íeis, F. {Â. 51, 1 dí SIarço.) procUsão em S. Aníào ae
fojàl. Filia Franca, e Cascaes.
2 [T,t] _ Segunda. S. Simplício, Papa.
3 (8 ")_ Terça. S. Hemeterio, M. S. Cunegundes.
Ouarlo tretcenle ás 4 horas e 54 minuíoí da manha.
k O")— fluarlailemporiuj. (J. 55. p.lM) S. Co-
simiro.S. Lúcio, P.M.
5 (|o.«) — Qufnlo( Têmporas)- S, Tlieophilo, B. ii(
Ceíarea. O B. JoSo José, F.
C til.") — Smío- S. Ollagsrio.B. S. Colleta, V. S
Marciano. U. M. Pi-oítiiõo dos Pawos da Grasa.
7 íia.") — Sllbl.fldo(^ílnpnrflí).S.Tlll>n!aId^Aq^ll■
no, Ut. daJgrej». SanUs Perpetua e íehcidade. MM
MiRÇO.
8 (13.') — Domingo [1^ da Quaresma). S. João 'de
Deus (A. 54, p. 101). Proeissão em Sacavém,
9 {\à.^)^ Segunda. S Francisca Romana, V. S.
Catharina dt; Bolonha, Y F.
10 (15.®) — Terça. S Militâo e seus 39 Comp , MM.
Começa a Nov. de S. José.
lua eheia ás 3 horas e 40 minutos da tarde.
11 (16.®) — Çwarfa. S. Cândido, M. Faz 3õ annot
S. Á. a Ser. Sr.* D. Januaria Maria.
12 (17.®)— Quinta. S. Gregório, P. e Dr. da Igreja.
(Serração da velha), (Â. 55, p. 171).
13 (18.®) — Seoría. A B. Sancha, V., Infanta de Por-
tugal. S. Rodrigo, Afl. S. Eufrásia, V.
14 (19.®) — Sahbado. Trasladação de S. Boaventura.
S. Mathilde, Rainha. Faz 35 annãs S. M. a Imperatrig
do Braxil, D. Therexa Christina Maria
15 (20.®) — Domingo (3.® /ia Oworwma;. S. Zacha-
rias, P. S. Longuinhos. Soldado, M. Proc. dot Passos
em Oeiras e Alverca ^ e na^Árruda.
16 (21 .®) — Segunda. S. Cyriaco, M. Fa» 15 annos o
Ser, Sr. Infante D. João. Pequena Gala.
17 (22.®)— Terça. S. Patrício, Ap. da Irlaada.
18 (23.®) — Otiarfa. S. Gabriel, Archanjo. S. Narci-
so, Arceb. de Braga. O B. Salvador da Horta, F.
Quarto minguante ás 8 horas e 27 vi^inutos da tarde>
4S
MARÇO.
19 (24.®) — Quinta, S. José, Esposo de N. Senhora
(A. 54, p. 112). Festa e Lausp. na sua Frég. Festa na
Igreja do Hospital de S. José, em Belém, ecom Jubileu
para os trmàos no Most. da Encarnação, Foi abolido o
X>. S. D. nas cidades do Porto, Lamego, Guarda^ Beja,
Castello-branco, Funchal e Prelazia de Tíiomart e o
D. S, de G. nas outras dioceses,
20 (!25.°) — Sexta, S. Martinho Dumiense, Arceb. de
Braga {A. 53, p. 110). O B. João de Parma, F. [A. 55. p.
176) Proc. dos Passos em Be.lem e wo Desterro. Prin-
cipia a Primavera (A. 51, 21 de Março. A. 55, p. 176).
21 (26/')— Sabbado. S. Bento, Ab. Festa no Most,
da Encarnação, Com» a Noo. de S. Catharina de Sena.
li
22 (27.**) — Domingo f4.*' da Quaresma). S. Benve-
nuío, D. S. Emygdio, B. M. S Ambrósio de Sena, D.
23 (28.**)— Segunda. S. Félix e seus Comp., MM.
Matinas na Fréguexia do Sacramento, .
24 (29."} — Terça. Instituição do SS. Sacramento.
*S. Marcos, M. S. Agapito, B. Festa de instrumentai e
Lausp. na Frég do Sacramento, em que foi abolido o .
Z>, S. G, Ind. como a da Porciuncula em todas as Igr.
em que estiver o SS. Sacramento, ou tiverem a sua in-
vocação ou do Corpo de Christo. Festa em S. Clara,
25 {{.°) — Quarta, Çí Annonciaçâo de N. Senhora
{A. 51, 25 ds Março. A. 53, p. 122. A. 55. p. 198). hidul-
gencias. Festa de instrumental e Lausp, na Frég. da
Encarnação e nos Most. da Encarnação e S. Joanna,
Lua nova ás 9 horas e 52 minutos da tarde.
26 (2.**) — Owtiía. S. Ludgero, B. S. Theodoro. B,|
Martyr. S. Braulio, B.
46
MARÇO.
-Sexta. S. Roberto, Bispo.
.0 Menino Deus, Prot. doi Pastos n
do Tojal. Siio prohibidot os espeetactiíos pvhlicoi det-
dt hoje alé Domingo de Paschoa tncluiiti^.
. S. BatblDa, V. S. Ben)amim, Dii-
,.Vg.7,
-Quarla. AaChsgnsdeS. Calharias de Se-
'" {A. t\,\ de Abril. A. bb. p. i8i).
'"'• ■">■ 57minuloi depois do meio dia.
ABRIL.
2 [9.^] "Quinta. S. Francisco de Paula. S.Maria
Egypciaca. Festa e Lausp, em S, Francwco dePaula^
3 {10.°) — Sexta, As sete Dores de N. Senhora.
(i4. 53, p. 108). S. Ricardo, B. S. Benedicto, F. S. Pan-
cracio, B. M. Festa e Lausperenne na Ermida das Derem
e nas Igrejas onde houve Septenario, Festa e Senhor
Exposto na Guia, Festa de instrumental em S, Antónia
da Sé, Festa em S. Joanna. Faz 26 ânuos S. A. a Ser^
Sr.^ D. Adelaide Sophia^ Esposa do Sr. D, Miguel de
Bragança.
4 (11.**) — Sabbado. S. Ii^doro, Arceb. de Sevilha.
S. Zozimo.
5 (12 *>) — Domingo de Ramos (i. 51, 13 d* Abril. A^
55, p. 184). S. Vicente Ferrer, D. Festa na Sé com ifw-
trumentaí. Procissão de tarde na Madre de Deus, Cam^
po Grande, Loures e Almada, Principião as férias,
6 (13.**) —Segunda. S. Marcellino, M? A B. Cathari-
na de Pallancia, A.
7 (14.**)— Terça, S, Epifânio, B. M.
8 (15.**) — Quarta feira de Trevas [A, 51. 16 d' Abril,
A. 52, p, 128). Offieio nos Martyres, S, Roque, Sé, ete.
Fax 2! annos que chegou a Lisboa S, M, o Sr, D. Fer»
nando,
9 {\Q,^) — Quinta feira de Endoenças (3< desde o
meio dia até ao meio dia seguinte) {A, 51, 17 d*A&rt7. A,
52, p, 229. A, 53, p. 113. A, 55, p. 186). Trasladação de
S Mónica. Festa ae instrumental na Sé,
Lua cheia ás 8 horas e 52 minutos da manhã.
48
i
ABRIL.
10 {{1.°)" Sexta feira de Paixão {iíb(''féao meio dia)
U. 5{,6eíSde Âhril.Á. 53, p. 114. yi.õi. p. 134. A.òõ,
P»i88). S.Ezequiel, Propheta. O B. António, M, D. Pro"
cissào do Enterro na Graça, em Jesus, nos Clérigos Po»
bres, nas Francezinhas, i^m Belém,
11 (18.°) — Sabbado d^Alleluia (A. 51, i9 d'AhriL
A. 55, p. 189). S. Leão I, P. OB. André do Monte Real, A.
12 [i^."*) — Domingo de Paschoa {A. b\, ^0 d^Àhril,
1.52,p. 125. ii.53, p. 116. A. 56, p. 190). S. Victor, M.
Portuguez. O B. Angelo de Clavasio. Festa na Sé e nos
Mariyres. Benção Papal. Pequena Gala.
13 (20.")— Seotinda (1." Oitava da Paschod). S Her-
menegildo, M. A B. Margarida do Castello, V. D. Foi
abolido o D, S. D, no Funchal, e o de guarda nas outras
dioceses,
14 (21.*»; Terça (2.» Oitava da Paschoa). S. Tiburrío
e S Valeriano, "MM. S. Pedro Gonçalves Telmo. Foi
abolido o D, S, D.
15 (22.**) — Quarta. S. Basilissa e S. Anastácia,
Martyres. S. £utyehio, Martyr.
!6 {U,*^) — Quinta. S. Engracia, V. M. S. Fru«'tuoso,
Arceb. de Braga.
17 (25.°)— Sexta. S. Aniceto, P. M. S. Elias. Mongn
Portuguez.
Quarto minguante ás 11 horas e 24 minutos da manhã.
R (26.°) — .^abdrtdo. S. Gualdino, B eCardeal. OB.
dré Hilbcrnon, F.
^ 3
ÀfiRIL.
19 (27.°)— Pominoo da Pasehoela [A, 53, p. 121).
S. Hermogenes, M. O B. Conrado Miliano, F. Festa á Se^
nhora das Angustias em S. Francisco de Paula, Com^
munháo dos meninos nas Fréguejíias do Sacramento e
da Aíagdalena.
20 (28/') — Sequnda. N. Senhora dos Prazeres e da
Pena. S. Ignez de Montepoliciano» V. Festa eLauspe-
renne na Fréguezia da Pena em que se aholio o D S..G,
Foi também abolido o D. S. D. no arcebispado de Bra*
ga. Festa em S, Christovão. Procissão de manhã por
voto ; sahe da Fréguezia de Santos para a Ermida dos
Prazeres. Acabào as férias,
21 (SO:**) — Terça. S. Anselmo, Arceb. de Cantuaria.
Começa aNov, deS, Catharina de Sena.
22 (30.°) —Quarta, Santos Sotero e Caio, IJIM. S. Se-
nhorinha, V. Portugueza.
23 {ZU^) — Quinta. S. Jorge, M. Defensor do Beino.
Festa e Lausperenne em S. Jorge, onde foi abolido o
D, S, de G, Procissão da Saúde,
24 (1.°) —Sexta. S. Fiel de Sigmaringa, M. F. S. Ho-
nório, B. Começa a Nov. de S. Cruz no Castello e a de
N, Senhora do Resgate.
Lua nova ás 6 horas e 37 minutoB da manhã.
I •
25 (2.°) — Sabbado. S. Marcos Evangelista.
. 26 (3.°) — Domingo do Bom Pastor {A, 52, p. 144).
Fugida de Nossa Senhora. S.Pedro de Rates, l.°B. de
Braga. S. Cleto e S: Marcellino, MM.
27 {à.^) — Segunda. S. Tertuliano, B. S. Toribio.
Arccb« de Lima. O B. Jacobo de Bicteto.
50
29 (6.°) — Quarta. S. Pedro, M. Ih S. Hugo, A6, An-
uiveriario da Carla Constitueionat. Grandt Gala. Bei-
itttnão. Fax Si annoi S. A. a Seren. Sr.' D. Mariú The-
Ttxa, Yinva áo St. D. Feiro Cnrlo» e do Sr. D. Carlot
Uaria, de Heipanha.
QttBito crescente Í9 11 horas s 4t n
1 {8.") — Sexta. S. Filippo é S. Thiago, Ap. S. S«-
gigmundo. Foi abolido o D. S, G. no Funihal e o dti-
pentado nas ovtrai dioctses [Á. 51 , 1 d< Jfato. À. 55,
p. 209;.
2 (9.*') — Sabbaáo. S. AubeUcío, B. A. B. Mafatda.V.
Infanta de Ponugal.
51
MAIO.
3 (10.*^) — Domingo. MâTERifiniiyE de N. Senhora.
Invenção da Santa Cruz {A. 53, p. 154 J. Festa na Igreja
dos Martyres a S. Maria Egypciaca pela Real Irmanda^
de dos Archeiros e ao Patrocínio de S. José na Igreja da
Estrella. Festa de N, Senhora do Resgate na sua ermida
aos Anjos (é d'arfayal). Festa do Senhor Jesus dosPer^
does na Fréguezia da Magdalena.
4 (11.*^) — Segunda. S. Mónica, Mâi de S. Agosti-
nho. Começa a Nov. deN, Senhora dos 5Iartyres,
5 (12.®)— Tcrfa. Conversão de S. Agostinho, S.
Pio V., Papa, D. S. Angelo M C.
6 (13.°) — Quarta. S. João anteporiam latinam.
S. João Damasceno.
7 (14.") — Quinta. S. Estanisláu, B. M. Começa a
Nov, de S. João Nepomuceno, Festa da Coroação de cs-
pinhos de N. Senhor^ em S. Joanna.
8 (15.®) — Sexta. Appariçâo de S. Miguel Archanjo.
Festa na sua Igreja.
9 (16.®) — Sahbado. S. Gregório Nazianzeno, B.
Lua cheia á 1 hora e 34 minutos da manha.
10 (17.®)— -Domingo. S. Antonino, Arceh. de Floren-
ça, D. Festa ao Patrocínio de S. José em S. Alberto.
11 (18.®) — Segunda. S. Anastácio, M.
12 (19.®)— Terça. S. Joanna, Prinjiipe de Portugal
{A. 53, p. 161). Festa no seu Conv. Começa a i^ovena da
Ascencao.
52
MAIO.
i3 {20^) — Qiiarla. Nossa Senhora dos Mártires.
S. Pearo Regalado, F. O B. Alberto de Bergamo, D.
Festa nos Martyres, Começa a Aov. de S. ikita de
Ca£€ia.
U (21.^) — Quinta, S. Gil, D. {A. 54, p. 163.) S. Bo-
nifácio^ Ia. o B. Francisco de Fabiano, F.
15 (22.**)— Sea?ta. S. Izidro, lavrador. O B. Egydio, F.
16 (23.°) — Sabbado. S. João Nepomuceno. M. San-
to Ubaldo, o. S. Simão Estok, C. Festa e Lausperenne
em S. João Nepomuceno,"
Quarto minguante ás 10 horas e 33 minutos da tarde.
n (24.®)— Domingo, S. Paschoal Baylâo, F. S. Pos-
sidonio. Começa a Píov, de S. Filifpe ATery.
18 {'iò.^) -- Segunda {Ladainhas). S. Venâncio, M.
S. Érico, Rei de Suécia. (A. 51, 26 de Maio),
19 (26.°) — Terça (ladainhaí). S. Pedro Celestino,
Papa. S. Ivo, F. ' '
20 (27.°) — Quarta {Ladainhas, Jejum), S.Bernar-
dino de Sena, F. A B. Columba de Riete, V. D. Embar-
ca o Cirio do Cabo,
21 (28.°) — Ò«*nta g& Ascensão. S. Mancos, M., 1."
B. d*Evora. Fesia no Sacramento, em Santa Mar lha, e
no Conv, de Santa Clara. Fax-se a Hora na Igreja dos
Mártires e no Sacramento. Festa, Lausperenne, ejnd.
aa Ermida da Ascensão aos Paulistas. São prohihidou
hoje os espectáculos públicos [A. y,Í9 de Maio,^ í. 55,
p. 222;.
53
MllO.
22 (29.®)— Sexta. S. Rita de Cássia, V. S. Quitéria,
V. M e oito irmãs portriguezas (A, 53, p. 170). S. Hele-
na. S. Ato, B. Portuguez. A B. Èmiliana, V. F. Festa de
instrumental na Ermida da Oliveira. Principia a Nov.
do Espirito Santo.
23 (1 .°) -- Sahhado. S. Basilio, Are. de Braga.
Lua nova ás 2 horas e 11 minutos da tarde.
24 (2.°)— Domnoo. S. Afra. M. O B. João do Pra-
do, M. Trasladação de S. Domingos (;4. 54, p. 173). Pro-
cissão do Corpo de Deus no Salvador.
25 (3.<*) — Segunda. S. Gregório, P. S. Urbano, P. M.
Desemoarca o Cirio do Ca^o,
26 (A.°) — Ttffça. S.FilippeNery, Fundador da Con-
gregação do Oratório. Festa na Ermida da Yictoria pe-
los Congregados de S. Filippe Nery.
27 (5.°) — Quarta. S. João, P. M. O Venerável Beda.
28 (6.®) — Quinta. S. Germano, B.
29 (7.°) — Sexta. S. Máximo, B.
30 (8.°)— 5abbado [Jejum]. S. Fernando, Rei de Cas-
tella. S. Félix, P. M. Nome de S. M. El-Rei. Peq. Gala.
31 (9.®) — Domingo de Pentecòstps oo Paschoa do
EspittiTO Santo. S. Petronilla,V. O B. Diogo Salomão, D.
{A. bi, 8 de Junho. A. 52, p. 179). 5áo prohibidos hoje
os espectáculos públicos. Festa de instrumental na Sé.
Sahe da Fréauexia de S. Pedro em Alcântara o Cirio de
N Senhora aas Mercês e volta na terça á noute.
54
JUXHO.
I (10.") — Segi(niia(I.'Oílaoa). g.Firmo,M.ÒB.
laeobo deStrepa. Comrça a Tre^iena de S. António IA.
5t, i dejitnho). Foi um dot diai tanlnt áispfníaàa»
abolidos no Funchal e na Prelaiia de Thom/ir, e dos
diat lanios de guarda abolidoí nat ovtrat dioceset. .
3 (U."}— Terça (2.» Oitava). S. lUrcellino, M. O ,
B. Sadoe e seus í8 Companlieiros. MM. Foi um âot dias
tantos dispensados aboUdos peia BtiUa de ÍSU.
3 (t2.")-0«or(rt (remporns. /pjiim). S. Paula, V.
Marljr. S. Ovidio, B. de Braga. PHntipia o Oííacnrin
do Corpo de Uetis.
4 13.°) — O""'". S. Franoispo Caraciolo. S. Qoiri-
no, B. M. Trasladação de S. Pedro, M. U. Prtníipio o
Oilatario do Corpo de Deus nas Franctzinhas e no
ifosieiro da Eiir.
JUNHO.
5 (ih.*^)^ Sexta [Têmporas, Jejym). S. Mareiaac»
MartvT. S. Bonifácio, B. M. O B. Pacifico, F.
6 (15.°) — Sabhaào { Têmporas, Jejum). S. Norber-
to, B. S. Paulina, V. M. Matinas na Encarnação.
7 (16.*») — Domingo ha SS. Trindade (í4.51, 15 de
Junho. A. 54, p. 190). S. ttoberto, Abbade.
Lua cheta ás 4 horas e4t) viin%tos da tarde.
9
8 (17.°)— Segitnda. S. Salustiano, C. S Severino, B.
O B. Francisco de Patriciis, Servita. Festa na Frégue^
sia da Encarnação, da Irmandade dos Clérigos Pobres,
a que assiste como Juiz o sr. Cardeal Patriarcha.
9 (18.°) — Terça. S. Primo e S. Feliciano. Marty-
res. Santa Melania'.
10 {[9.°) — Quarta. S. Margarida. Bainha de Esco-
ria. Festa e Procissão do Corpo de Deus nos Martyres e
do Desaggravo, pelos escravos da Irmandade do SS.
Sacramento, no Mosteiro da Encarnação, Principia a
Novena do Coração de Jesus.
11 . (âO.°) — Quinta. ^ Corpo de Deus [á. 51, 19 de
Jvnho. A. 52, p. 191, 367.. Â. 55, p. 238). S. Barnabé,
Ap. Festa nos Conv. de S. Clara e de S. Joanna. São
prohibidos hoje os espectáculos públicos. Procissão da
Cidcide. Pequena Gala.
12 (1\.°) ^ Sexta {Jejum no Patriarchado). S. João
de S. Fagundo. S. Onofre. O B. Guido, F. Principia a
Nov. de N. Senhora^ Mãi dos homens.
56
JUXHO.
i3 (22.°) — 5flbbadoí< S. António de Lisboa; F. [Â.
52. p. 260. il. 53. p. 191. Â. 55, p. 243.) F«ía de instru^
mental na sua Igreja a que assiste a Camará Munici"
pai. Foi A. D. S. í>y em Braga, Bragança, Casiel-
lo Branco, Elvas, Guarda, Portalegre, Porto e Fun--
chaL
i4 (23.®/'— Domingo. S. Basilio Magno, Bispo. S. Eli-
zeu, Propheta.
15 (24.°) — Segunda. S. Tito, M. Começa a Novena
de S. João Baptista,
Quarto minguante ás 6 horas e 33 minutos da. manhã.
16 (25.°) — Terça. S. Jo&o Francisco Rcgis. S. Àu-
reliano. Bispo.
17 (26.°) — Çiiflrfo. S. Thereza, Rainha de Lefio.
Porlugueza, S. Manoel e Irmâas, 5iM. O B. Paulo de
Arezzo.
18 [21.°) — Quinta [Jejum). S. Marcos e S. Marccl-
Huo, Irmãos Martyres. A B. Osana, V. F. Procissão do
Corpo de Deus, de tarde, na Sé de Lisboa*
19 (28 °) — Sexta lí< SS. Coração de Jesus. S. Julia-
na de Falconer, V. S. Gervásio e S. Protísio, Martyres.
A B. Miquelina, V. F. [A. 53, p. 181.) Assistem á festa
no Conv. da Estrella SS. MM., Grã-Crvses e Commen^
dadores. Festa nas Francezinhas, no Conv, de S. Cia*
ra, e nas Religiosas do SS. Sacramento a N. Senhora
dos Afílictoi, Proc. de tarde £m Jesus. PeqUena Gala.
20 í29.°)--SabSado. S. Silvério, P. M. S. Macário.
Começa a Nov. de S, Pedro, '
57
JUNHO.
21 (l^**) — Domingo. Nossa Senhora, Mãi dos Ho-
HKifS. S. Luiz Gonzaga. Principia o V^rão {À, 51, 22
de Junho, Á. 55, p, 259).
Lua nova ás 9 horas e^l minutos da tarde,
22 (2.®)— Scflfttnda. S. Paulino, B. O B. Filippe de
Placencia, A.
23 (3.'»;— Terça f Jffjtim). S. João. Sacerdote. S. Edel-
trudes. Rainha de Bretanha.
24 (4.'>) — Quarta V& Nascimento de S. João Baptis-
ta (A. 51, 24 d« Junho. X. 52. p. 204; A'. 53, p. 203, A. 54,
p. 201. A. 55, p. 252). Festa em S. /oáo da Praça, Penha
de França t Lumiar, Almada, Alcochete, etc, ' .
25 f 5.**) — Ottínta. S. Guilherme, Ab. S. Febroni»,
¥• M. b. Tude, Advogado contra a tosse.^
26 (6.*») — Sexta, S. João e S. Paulo, Irmãos Marty-
res. S. Pelagio, M.
27 (7.«) — Sahhndo (Jejum). S, Ladisláu, Rei d'Hun-
gria, O B. Benvenuto, F.
28 (S.^) — Domingo, Pureza de Nossa Senhora. S.
Leáo II, Papa.
29 (9.<») — Segunda )}< S. Pedro e S. Paulo, Apósto-
los [A. 53, p. 208. A, 54, ». 206). Festa e Lausperenne na
Igreja de S. Pedro em Alcântara, nos Inglexinhos, Lu-
miar, Cintra, e Seixal,
Quarto crescente ás 3 horas e 43 minutos da manhã.
30 (10.°) — Terça. S Marcai, B. Festa na Graa.
' 58
S (lí.") — Puífa. Visitação i>E S«!S» Senho**.
Feita na Igr. de S. Roque, enjo Oraga é a Visitação, e
nai SHesias. D. S. D. abolido no Funchat.
3 (13.°] — Sixia. S. Jacintho, M. S. Heliodoro, B.
4 ( It.") — Sabiado. S. Isabel. Rninha de Portugal
(À. 52. p, W, 73, 105, 181. ,1, 53. p. St3, 372) Frita na
i»a Frig.. ande foi abolido n D. S. G. Fai 58 anuo» a
Seren. Sc* Inf. D. Isabel Maria.
. M. O B. Miguel
6 [IG.') — Segunda. S. Domingaa, V. M. Começa a
ITov. de S. CamiUo.
5«
JULHO.
7 (17.*') — Terça. S. Pulcheria, V. S. Cláudio e seus
Gomp., MM. Começa a liov, de N. Senhora do Carmo.
Lua cheia is 6 heras e 8 miautos da manhã.
8 (18.**) -r Qnaria. S. Pracòpio, M. O B. Lourenço
de Brunduzio» F.
9 (19.°) — ^uinía. S. Cyrillo, B. M. OB. João de
Colónia, M. D. O B. Nicolau e seus Comp. MM.
10 (20.°) — Sexta. S. Januário e seus Comp, Marty-
res. S. Amélia, V. Princ. a Nov. de S. Justa Dia do no^
me de S, M. I. a Sr.^Duque;sa de Bragança. Peq. Gala.
11 (21.°)— Solbado. S. Sabino. Traslad. de S. Bento.
12 (22.°)— Domingo. Nossa Senhora, no Patrocikio.
S. João Uualberto, Ab. S. Nabor e S. Félix, MM.
13 {^.^) — Segunda. S. Anacleto, P. M. Fax 10 oii-
nos a Ser. Sr.^ Princexa D. Leopoldina, filha de S. if.
o Imperador do Brasil,
14 (24.°)— Terça. S. Boaventura, B. Cardeal, F.
Quarto minguante ás 11 Iteras e 19 minutos da tarde.
15 (25.°)— Ouaría.S. Camillo de Lelis. S. Heqfi-
que, Imp. Festa na Magdalena a S. Camillo de Lelis,
16 (26 °) — Quinta. Triumpho da Santa Cruz. Nos-
sa, SF.NUORA DO Carmo. S. Sisonando, M. O B. Cesláu. D.
Festa a N. Senhora em S. Nicolau, nas religiosas de
5. Alberto, e no Convento da Estreita.
17 íil.'] — Sexta. S. Aleixo. Com. a Nov. de S. Anna.
60
JULHO.
18 (28.«) — Sahhado. S. Marinha, V. M. S. Frederi-
co, B. OB. Simão deLipnics, F.
19 (29.") — Domingo. Anjo Costomo do Reino. San-
tas Justa e Rufina, MM. S. Vicente de Paulo, Fundador
da Ordem da Congregação da Missão e das Irmos da
Caridade.. Festa e Lausp. na Frég. de S. Justa, Festa h
'Procissão no Sacramento. Faz 23 annosS. A. o Sr, Con-
de de Âquila, Marido da Sr.** Infanta D. Januaria.
20 Í30.")— Segunda. S. Jeroriymo Erayliano. S. Elias,
Propheta. S. Margarida, V. M.
21 (1.®)— Terça. S. Praxedes, V. Faz 14 annos a
Seren. Sr.® bif. D. Maria Anna. Pequena Gala,
Lua nova ás 5 horas e 35 minutos da manhã.
2i {2.°) — Quarta. S. Maria Magdalena. Festa e
Lausp na sua Frég.^ em que foi abolido o D, S. G.
23 (3,<>)— Çwinío. S. Apollinario, B. M. S. Libório, B.
A B. Joanna Vanna, V. D. Faz 11 annos o Seren. Sr,
ínf. D. Fernando. Pequena Gala,
54 [h."") — Sexta [Jejum). S. Christina, V. Martyr.
S. Francisco Solano, F.
25 (5 "") -^Sahhado. S Thiago, Ap. S. Christovâo, M.
Festa e Lausp. em S. Christovâo. Festa em S, Thiago,
26 {f^.^)— Domingo. Sant'a?ína, Mãida Mãi de Deus.
S. Synifronio. S. Olympio e 8. Theódulo, MM. Festa de
instrumental nas Fniras de S. Anna e nas de S. Joan-
na Festa e Procissão ho Magdalena. í>sfa em Demftca.
Começa a Nov. de S. Domingos.
61 *
17 (T."! — Seaii«da.S PantaleKo, Dedico «M. A B.
Cuorgundes, Y. 7. Foi aliolido o D. S. G. «a tidade do
Porto.
23 (9.") — Ouaría. S. Mnrtha, V. S. Ola-vo. Bei da
Koruega, M. Feita em S. tlariha. Priníipío o Nov. de
S. Caetano. Fax 11 annoi S. A. a Seren. St.' Printesa
S.Isabtl, /ilfiii n>«ú vtllia deS. U. olmp«r. do Brntil.
30 (IO.") — Quinta. S. Rufino, Marljr.
31 (11.°) — Scalo. 9. IgOBCio de Loy«T«. Juramento
da Carla Constitucional. Fai Aã annoi 5, H, J. a Sr.*
Dvqutxa de BTagança. GTande Gala. Bttjamâo.
1 1X2."] — Saibado IA. b\. Ide Agotto] S. Pedro
d Tintvta. Os MU. de Chellas.
AGOSTO,
2 (13.*) — Domingo. N. S. dos Anjos. S. Esteráo,
P. M. Faz 33 annot S. Á, a Seren, Sr,^ Prineexa de
Joinmille,
3 (U.®) — Segttndã, inve&ç&o de S. EstevSo, Pro-
to-Martyr.
4 (15.*) — Ter§a, S. Domiogos. FeHa im Santa
5 (16.*) — QuetTta, N. S. das Netes. Festo no Soe-
corro, onde se abolio o D, S, G. bem como o dispensa^
do no Funchal.
Lua cheia ás 5 horas e 52 minutos da tarde.
6 (17.*) -^Quinta, Transfiguração de Christo. Sant**
lago. Eremita. Festa no Salvador/Princ. a Nov. da As^
sutnpção. D. S. G. abolido na Frég, do Salvador enas
Cidades de Pinhel e Angra,
7 ( 18.*) — Sexta, S. Caetano- S. Alberto, da Ordem
do Carmo. S. Severino, Martyr. O B. Vicente •d*Aqui-
I la, da Ordem de S. Francisco. Principia a No%eiva de
i S. Jioque,
\ 8 (19.*) — Sabbfldo [Jejum), S. Cyriaco e scu«
j Comp. MM. S. Severo, Presbytcro-
9 (20.* ) — Vomingo. S. Romão, M. O B. João de Sa-
lemo, da Ordem de S. I>omingos.
10 (21. *j — Segunda. S. Lourenço, Martyr. S. Filo-r
mena. Virgem Martyr, Princeza. Festa e Lausperenne
na Fréguezia de S. Lourenço ^ em que foi abolido o dia
tanto de guarda.
63
AGOSTO.
í 1 (22.®) — Terça. S. Tiburcio e S. Suianna. MM.
12 (23.®) — Çuarfa. S. Clara. V. F. Festa na iia
Igreja e nas Francesinhas.
Qaarto minguante ás 5 horas e 4 minutos da tarde.
13 (24.®) — Quinta. S. Hypolito e S. Cassiano, MM. .j
S. Helena, V. M. O B. Pedro de Moleano, F.
14 (25.®) — Sexla (Jejum). S. Eusébio. S. Athana-
6ia, y. O B. Sanches, F. A B. Juliana do Busto, da Or-
d«m de Santo Agostinho.
15 (26.®) — 5a bbado. ^ Assumpção de N. Sbnhoua.!
Festa de instrumental na Sé. Ind. em varias IgrejasM
Festa nos Clérigos Pobres. Procissão nas Flamen'<
gasao Calvário. Festa na Ermida da Assumpção, na-}
Rua da Prata. Festa de instrumentaU SS. Sacramenfofi
Exposto, e Feira, em Calhariz de Bemfi,ca. Proeiuão no\
Barreiro. Festa na Peninha em Cintra. Jubileu no ÁV'
cebispado de Braga e por 8 dias no Patriarchado.
16 (27.®) — Domivgo. S. Joaoiiim, Pii de N, Senho-J
RA. S. Roque. F. (A. 54, p. 252.) S. Jaeintho, D. Festn
na Igreja da Misericórdia.
17 {IS.'') — Segunda. S. Mamede, M. A B. Enii-j
lia, V. 1). Festa e Lausp. em S. Mamede
18 (29.®)— Tcfca. S. Clara de Monte Falco» V. A.|
S. Lauro, M.
19 (1.®) — ÇMartG. S. Luir., B. F. Começa a ^'ov. di]
S. Agosfinho.
Lua nova ás 3 horas e 48 minutos da tarde.
6i
AGOSTO.
20 l^,^)-- Quinta. S.Bernardo, Abbade e Dr. da
Igreja.
21 Í3/*) — 5««ta. S. Joanna Francisca, V. S Anas-
tácio, M. S. Umbellina, Irma de S. Bernardo. Principia
n Novena do Coração de Marial
22 (4.^) — Sahhado [Jejum]. S. Thimotheo, M.
* 23 (5.°) ^Domingo. S. Filippe Benicio. S. Liberato
•e seus Comp., MM, O B. Jacobo de Mevenha, D.
U (6.*») — Segunda. S. Bartholomeu, Ap. [Á. 5!, 24
de Agosto.] Foi um dos dias santos dispensados aboli-
do pela Bulia de 1844.
25 (7.<*) — Terça. S. Luiz, Rei de França,
26 [S.^]-- Quarta. S. Zepherino, P. M.
27 (9.*») — Çutnta. S. José Calazans. S. Rufo, Bis-
po Martyr.
Quarto crescente ás 2 horas e 29 minutos da tarde.
28 (10.°) — Sexta. S. Agostinho, B. e Dr. da Igreja.
29 (11.**) — 5abbado. Degollaçâo de S. João Baptista.
30 (12.®) — Dominfifo. Sagrado Coração dk Maria.
S. Rosa de Lima, V. D. Principia a Nov. de N. S. das
Necessidades. Festa na Ermida do Campo Grande e no
Mosteiro da Encarnação.
31 {\S.^) — Segunda. S. Raymundo Nonnato, Car-
deal. Festa em Santa Mariha.
6õ 3 A
1 (14,°) — Terça. S. Egydio. Ab. Frínefpia a !fov.
de S. íVifoIdu lulenJino (A..bl,&deSept. A. 53. p.36S).
Começão ai férias.
2 (15.°) — 0>m'^ta. S.Eslevio.S. Brocardo, C.
Santo Agoatinlio. Oa Santos das Cónegos Regrantes
. S. Joio, M. S. ÁnH-
SCTTEMBRa
8 (íl.°) — Terça, Natividade de Nossa Senhora.
S. Adnâo, M. Festa e Lausp. na Ermida da Victoria,
Festa nas Necessidades, àorete, Luz, Guia, Linda a
Velha, etc, P. 5. de G. abolido pela Bulia de 1844.
9 (22.®)— Çwoffa. S. Sergia, P. A B. Seraphina,
Virgem, da Ordem de S. Francisco»
10 (23.**) — Quinta, S. Nicolau Tolentino, A,
Quarto minguante ás 10 heras «13 minutos da tarde,
li (24/*) — Searta. S. Theodora, Penitente. O B.
Bernardo de Offida, F.
12 (25.**j — 5aò5ado. S. Auta, V. M.
t3 (26.**) — Domingo. Santíssimo Nome de Maria.
S. Filippe, M. Festa nas Francexinhas. Festa a N. S. da
-Graça e a N. S. da Guia nas suas Igrejas. Festa d'ar-
raiâl na Crux Quebrada. Festa dos cereeiros a N, S.
Franca na Frég. de S, Thiago,
14 (27.**) — Segunda. Exaltação da Santa Cruz.
Festa nas Francezinhas e na Igreja das Religiosas de
S. Alberto. Foi abol. o D. S, D. na cidade de Miranda,
15 (28.*»)— Terça. S. Domingos em Scriano. S. Ni-
comedes, M.
16 (29.**) — Quarta ( Têmporas, Jejum). Trasladação
de S. Vicente, M. S. Cornelio, M. Fax 20 annos S. M'. o
Sr. D. Pedro V. Grande Gala. Beijamáo,
17 (30.**) — Quinta, S. Pedro de Arbues, M. As Cha-
gas de S. Francisco.
67
SEPTEMBRO.
18 [i,^) — Sexta {Temporat, Jejum), S. José de Cu-
pertino. S. Thomaz de Villa Nova, B.
Lua nova ás 4 horas e 56 minutos da manhã.
19 (2.°) — Sahhado {Têmporas, Jejum), S. Januá-
rio, B. M. 9. Constança, M.
20 (3.®) — Domingo. Festa das Dores de Nossa Se-
nhora. S. Eustachio e seus Comp., MM. Começa aNov,
de S. Miguel. Festa em S. Nicolau, na Ermida das Do-
reSy e em Santos o Velho. >■
21 (4.®) — Segunda. S. Matheus, Ap. eEvang. S. Ifi-
genia, Princeza.
22 (5.®)— Terça. S. Maurício, Martyr. Principia o
Outono (A. 51, 23 de Septemhro, Á. 55. p. 327).
23 (6.®) — Quarta. S. Lino, P. M. S. Tecla, V. M.
24 f7.") — Quinta. Nossa Senhora das Mercez. Fes-
ta nas Mercês, em que foi abolido o D. S. de G. Offiçio e
Missa pela alma de S. M. o Sr. Duque de Bragança. São
prohibidos hoje os espectáculos públicos.
25 (8.**) — Sexta. S. Firmino, B. M. S. Herculano,
Soldado M. O B. Pacifico de S. Severíno. Começa a
Novena de Nossa Senhora do Rosário e de S. Francisco
de Âssiz.
26 (9.°) — Sabbado. S. Cypríano e S. Justina, MM.
(74.53, p. 290.) AB:Luiza, V.
27 (10.°) — Dominí/o. S. Cosme e S. Damião, Mar-
tyres.
68
SEPIEMBRO.
28 {11.°)^Seai<nda. S. WenceElíu, Duque de Bo-
hemia. S. Bernardino da Feltro, F. O B. Simão de Ro-
chas. Feíia da Dedicação do Jgreja ParocMal do Sa-
Quarto crescente ás S horas e 33 minutos da manhi.
29 (13.') —Terça. S. Miguei Archanjo (À. M. p. 293!,
D. S. ae G. abolido na Frég . dot Ánjot. e D. S. D. abo-
lido na de S. Miguel. Fesía em S. IHxgutl, na Frig. dn
Sacramento, no Hasttiro da Encarnação, em S. Pauln,
« na Frég. dos anjos.
OUTUBRO.
1 ÍM-") — Quinta. Sanloa. Veríssimo, Manimn e
lulít. Irmãos MM. Portug. (J: 51, * deOvt. A. 53, p. 21)5).
S. nemigio, S. Feiía e Lauip. na Frég. de Santot, «m
que ^ai abolido o dia tanto de guarda.
69
OUTUBRO.
2 (15.^} — Sexta. Os Anjos da Guarda [Almanachòà^
j).297).
3 (16.'') — Sabbado. S» Cândido, M. S. Maximiano,
Bispo. Trasladação de S. Clara.
Lua cheia as 2 horas e 32 minutos da tarde.
4 (\1,^) — Domingo, Santíssimo Rosário de N. Se-
nhora. S. Francisco de Assiz. Festa nas Freiras dê S.
Clara, nâs de S. Ânna, no Soccorro, e a S. Miguel em
Santos o Velho. Procissão do Rosário nas ReíigiosaÈ
do Bom Successo. Festa nas Religiosas ^o SS. Saara^
mento^ ás Necessidades, no Contento de S. Joanna, e
em S. Nicolau, instituida pelo Sr. Manoel Ribeiro da
Silva,
5 (18.®) — Segunda. S. Plácido e seus Companhei-
ros, Martyres»
6 ( 19.°) — Terça. S. Bruno. Cometa a Nov, dê San-^
ta Thereza.
7 [iO.^] — Quarta. S. Marcos, Papa. OBemaven-
turado Matheus Carrerio, da Ordeiu de S. Domin«
gos.
8 (21.<>) — Quinta. S. Brígida, Viuva., Prínceza de
Nerícia. S. Pelagia, Penitente.
9 {i^.^) — Sexta. S. Dyonisio, B. de París. Santos
Aodronico e Athanasia, Martyres. Foi abolido o dia
santo de guarda no Funchal e o dispensado nos su^
burbios.
70
OUTUBRO.
10 (ia.**) -*- SaòTíado. 8. Francisco de Borja, Pa-
droeiro do Reiuo e Conquistas. S. Luiz Beltrão. Ftíhc,
a Nov. de S. Pedro de Alcântara,
Quarto minguante ás 5 horas e 16 minutos da ^anhã.
il (24.°) — Domingo. Nossa Se?íhora dos Remédios.
Patrocinio de S. José. S. Firmino, B. Primeira Trasla-
dação de S. Agostinho. Festa na Sé. Festa e Lauspe-
renne nas Freiras do Rato. Começa a Feira do Cam^
po Grande,
12 (25.°) — Segunda. S. Cypriano, B. M. S. Seraphi-
no, F. Festa das Palvn>elôas na Penha de França.
13 (26.°)— Terça. S. Eduardo, Rei de Inglat-erra.
S. Daniela seus Comp.s MM.
U (27.°) — Quarta, S. Calisto, P. M^ Fax 40 €inms
S. A, o Príncipe de JoinvilUt Esposo de S. A. R» a Ser.
Sr,* PrincesíA D. Frantcisoa,
15 (28.°)— Quinta. S. Thereza de Jesus, V. C. F«-
ta no Convento da Estrèlia. Começa a Novena de S. Ra-
phael.
16 (29.°) — Sexta. S. Martiniano, M.. A. S. Gallo, Ab.
17 {i.^)^Sahbade. S. Hedwiges, V., Duqueza de
Polónia.
Lua nova ás 9 horas 1 1 minuto da tarde,
18 (2.°) — Domingo, S. Lucas Evangelista.
19 (3,°) — Segunda. S. Pedro de Alcântara, F. Festa
em S. Pedro j em Alcântara.
71 .
OUTUBRO.
20 (4.**) — Terça. S. Iria, V. M., Portugueza. S. João
Gancio. D. S. de G. abolido no Arcediagado de Santeh'
rem e Prelazia de Thomar.
21 [b.^] — Quarta. S. Úrsula e suas Comp., VV. MM.
Festa dat 11,000 Virgens em S, Martha, "
22 (6.^) >- Quinta, Dedicação da Basílica de Mafra.
S. Mana Salomé. O B. Gregório Gelli, A.
23 (7.^) — Sexta. S. João Capistrano, F. S. Romão. B.
S. Jo&o Bom, A.
24 {S.^]^Sahhado. S.Raphael. S. Fortunato, M.
25 (9.®) — Domingo, Santos Chrlspim e Chrispi-
niano, Irmãos Martyres. Festa da« 11,000 Virgens em
Santa Joanna.
26 {\0.^]^ Segunda. S. Evaristo, P. M. O R. Boa-
ventura de Potenza, F. Faz 55 annos o Sr. D. Miguel
de Bragança.
Quarto crescente á 1 hora e 31 minutos da manhS.
27 (11.°) — Terça [Jejum]. Os MM. d'Evora. S. Eles^
báo, Imp. da Ethyopia.
28 (12.°) — (?uarla. S. Simão e S. Judas Thadeu,
Apóstolos.
29 (13 °) — Quinía. Trasladação de S. Isabel, Rainha
de Portugal. S. Feliciano, M. S. Eusebia, V. M. A B.
Bemvinda', Y., da Ordem de S. Domingos. Faz 41 an-
nos Sua Magestade El-Rei D. Fernando. Grande Ga^
la. Beijamão.
72
OUTUBRO.
(U,°) — Stata. S. Serapilo, Bispo, da Ordem do
NOVEMBRO.
1 (te.") — Domingo. Fest* bb tom» os S*ntos. Jm-
bUeu no Areebupado de Sraga e por 8 dia* no Fatriar-
chado. Fula ao Senhor Jfsvt da Via SacTa, em S. En-
graeia, i dt tarde Procisião por voto, p'lo lerríniolo
a« 1755. Feita e Procãsâo poT voto em Cacilhas. São
jrrohibidoí hoje oi eipee'aeuloi ytiblicot (J.51,l«4
de Novembro ã,54, p. 3í5).
3 in.") — Segunda. COÍfifF.ífORAÇÁO DOS DE-
FUNCTOS. S. Victorino. Martyr. São hoí> prokxbidnt
ot etptctacMlot publtcoí (.4. 51, 1 de Nov. A. 5i, p. 3S9<
^.ã3.p. 3»;].
Lu* cheit is 8 horas e 31 minutos da m«ohS.
73
ÍÍOVEMBRO.
. â {\S.^)^ Terçú. S. Malaquias, Brepo Primaz da
Irlanda.
4 (I9.®j — Quarta. S-. Carlos Borromeu, Arceb. Car-
deal. Fax 10 annos o Serenissime Sr, Infante D. Au-
gusto Pequena Gala. Faz 46 annos S. A. p Serenissimu
Sr, Infante D. Sebastião, filho da Sereníssima St,^ D,
Maria Therexa.
5 (20.*^) — Quinta, S. í acharias e %, Isabel, Pais de
S. João Baptista. Fax 12 ànnos S, A. o Seren, Sr. D, Pe*
úro Filippe, Duque de Penthievre^ filho de SS, AÁ, RR^
o Sr, Principe d€ Joinville e a Seren, Sr,^ Prineexn D.
Ftancisca,
6 (21. °) — Sexta. S. Severo, Bispo M. S. Leonardo*
Principia a Novena de S, Gertrudeè. Oficio e Missa por
alma.do Sr, D, João IF, falleciào n' este dia.
7 (22.°) — Sahbado, S, Florêncio, B. Principia a
Novena do Bemaventurado Gonçalo de Lagos,
8 (23.®)— Domintí o. S. Severiano e seus Compa-
nheiros, Martyres.
Quarto minguante ás& horas^da manhã,
9 (24.») — Segunda. S. Theodord;M. Os Santos da
Ordem de S. Domingos.
10 ^25.**) — Terça. S. André Avelino» Òs Defunctos
da Ordem de S. Bomingos.
«
11 (26.^) —Quarta, S. Martinho, Bw {A. 61, 12 d« ffov.
A. 52, p. .S38. A. 53, p. 335. 336. A. 54. p. 336, 337. A. 55.
p, 36i e 365.) Festa na Fréguexia de S, Thiago,
74
.Jfs^OVEMBKO.
12 (27.*) — Quinta. S. Martinho, P. M. S. Diogo, da
Ordem de S. Francisco.
13 (28.*») — Sexta. Santo Eugénio, B. de Toledo. Os
Santos das Ord. d« S. Agostinho, S. Bento e SS. Trin-
dade.
14 (29.^) — Sahhado, Trasladação de S. Paulo, Pri-
meiro Eremita. O B. Gabriel, F. O B. JoãoLicio, 1>. Os
Santos da Ordem do Carmo.
15 {30.'*) — Domingo. PátAocinio ôb N. Sínhora.
Dedicação da Basílica do SS. Coração de Jesus. Santa
Gertrudes Magna. O Beato Alberto Magno, D. Festa no
Convento do Coração de' Jesus [Jejum excepto nos
Bispados de Coimbra $ Aveiro e no Priorado do
Crato).
16 (1.®) — Segunda. O B. Gonçalo de Lagos» A. San-
ta Ignez> V. F. S Valério. A B. Lúiza Narzi, V. Comera
a Novena de 5. 'Catharina,
Lua nova ás 3 horas e 19 minutos da tarde.
17 (2.*) — Terça, S. Gregório Thaumaturgo, B.
IB (3.*) — Quarta. S. Romão.
19 (4.®) —Quinta. Santa Isabel, Rainha de Hungria.
20 (5.*) — Sexta. S. Félix de Valois, Fundador dos
Trinos.
21 (6.*) — Sabbado. Aprisèwtaçao du Nossa Sk-
?fHORA. Indulgências em varias Igrejas. Foi abolido o
dia santo dispensado no Funchal.
75
NOVEMBRO.
22 (7.®) — Domingo. S. Cecília, V. M. Grande festa
de instrumentai nos Martyres, á qual assistem SS. MM,
{A. 51, 22 de Nov. A. 52, p. 348.)
23 {H.^)-- Segunda, S. Clemente, P. M. S. Felici-
dade, Martyr.
24 (9.®)— Terça, S. Jo&o da Cruz, C. S. Estanisláu
Koatsk. S. ChryBogoDo.
Quarto crescente ás 4 horas e 57 m^inutos da tarde.
25 (10.°) — Quarta, S. Cathariíia, V. M. Festa na sua
Frég., em que foi aholido o dia santo de guarda. Prtn-
eipia a Novena de Santa Barbara,
26 fil.<>) — Quinta, S: Pedro Alexandrino, B. M.
A. B. Delfina, Viuva, da Ordem de S. Francisco.
f1 (12.*») — Sexta. S. Margarida de Sabóia, Viu-
va, D. O B. Leonardo de Porto Maurício. Os Santos
da Ordem de S. Paulo, 1.^ Eremita. Princ, a Nov, de
S. Nicolau,
28 (13.®) — Sabbado (Jejum). S. Gregório RI, P. S.
Jacobo de Marca, da Oraem de S. Francisco.
29 (14.<») — Pomiwflfo fl.® do Advento). {A. 51. 30
de Nov,) 8. Saturnino, Martyr. Os Santos das 3 Or-
dens de S. Francisco. Principia a Nov, de Nossa Se~
nhora da Conceição, n^ sua Igreja, Loreto, Anjos, etc.
Prohihem*se asbençôes matrimoniaes até ao dia de
Reis,
30 {iò.^) — Segunda. Santo André, Apostolo. Foi
abolido o dia santo 4c guarda na sua Fréguexia,
76
ctpnicoH:iio.
1 (16.°) — Terça. S, Eloy, B. £ o Santo don Ourt-
cm; futqa-te na sua Copelío, no flua da Praia, quan-
do para lá t>ai o Lautperenne, o que anda por e
tempo (iimonath 61, I ■"- " '— '
í 117.°) — Ouaría. S. Bibiana, V. M. OsDefuncloa
das 3 Ord. de S. Francisco. Fas 32 annoi S. U. o Im-
perador do Bratil.
4 (19.')— Seila. S. Barbara, V. M. S. Tedro Chry-
«ologo, B. Officío deS Cecilta no( Martyr.es. Foi aboli-
do o dia lattlo de guarda na eidade de Faro emburbiot.
5 120.") — Sabbado. S. Giraldo, Are eb. de Braga.
S. Sabbas, Ab. A B. Uabel Bona, V. F. Foi abolido o dia
tanto dt g-uarda em Braga e subHrliioi.
6 (ai.») —Domingo (í." do Adcenlo). S. Sicolíu, D,
Fetta na sua Frége;ia.
77
DEZEMBRO.
7 (22.®) — Siígunda {Jejum], S. Ambrósio, B. e Dr.
fta Igreja (i. 52, p. 51). Matinas na Sé.
8 (23.®) — Terça, ^ Nossa Sekhorà i>a Conceição.
Padroeira do Reino e Goi^quistas (4. 51, S de Dez. A.
53, p. 315j. Âs$i$tem SS. MM, a festa de Pontifical na
Sé, e são obrigados a assistir também com os seus man^
tos todos os Grà-Cruxes e Commendadores da Conceição^
que se acharem na Corte. Benção Papal. Festa na Con^
ceição, Nova e Velha, no Convento da Estrellat nosln^
glexinhos, Loreto, Freiras de S. Ânna, Anjos, S, loti-
renço. Santos o Velho, S. José, S^ Christovào, S. Joanna»
Quarto minguante âs 6 horas da manhã.
9 (24.®) — Quarta. S. teocadia, V. M..
10 (25.®) — Quinta, 6. Melquiadies, P. M. Trasllada-^
cão da Santa Casa do Loreto.
11: (26.®) — Sexta. S. Dâmaso, P. S. Francisco, G.
12 (27.®) — Sabbado, S. Justino, Martyr.^
13 (28.®)— Domingo (3.® do Advento). S. Luzia, V. M.
O B. João Marinonio..Fe«fa em S. Luzia, nas Chagas, e
a If. Senhora da Conceição, na Guia.
14 (29.®) — Segunda. S. Agnello, Ip.
15 (3<>,®J — Terça. S. Eusébio, B. Martyr.
16 {l.^)— Quarta [Têmporas, Jejum), A* Virgens
d*Africa. MM. O B. Sebastião Magi, D. Trasladação de
S. Maria Magdalena dePaz^i. Prineip. a Nov. do Natal.,
1^
I
DEZEMBRO.
17 (2.®)- Çutnta. S. Lazaro, B. S. Bartholomcu de
S. Geminiano.
18 (3.'*) — Sexta ( Temporat, Jejum). Nossa Senhora
do ô. S. Esperidiâo, Carmelita (í^. S. de G, aho^
lido na Frég, de Remfica, e D, S^. D. a&ottdo no
Funchal),
\9 (4.®) — Sabbado (Têmporas, Jejum). S. Fausta,.
Mãi de Santa Anastácia.
20 (ò.^) ^ Domingo (4.® do Advento). S^ Domingos,
de Sílios, Abbade. •
21 (6.**) — Segunda, S Thoiné,.Apostoro.. Pestana
sua Frég , oi»de foi ahoUdo o dia santo de guarda.
Prineipta o inverno,
22 (7.**) — Terçã. S. Honorato. Martyr.
23 [S.'*) — Quarta. S. Sérvulo, Advogado contra a
paralisia. S. Victoria, V. M. Fax 51 annos S. A.
a Sereníssima Senhora Infanta D. Ánna de Jesus.
ÍSaria.
24 (9.^)— Quinta {Jejum). S. Gregório, M. ifatinas
na Sé com instrumental. Férias até aos Reis.
Quarto crescente ás 6 horas da manhã.
25 (10.**) — Sexta. >J< Na^cimeutO' de N.. Senhor Je-
su-Christo. Jubileu no Arcebispado de Braga e por 8
dias no Patriarehado. Festa de instrumental ePontt/t-
cal na Sé. Festa no Loreto, S. Roque, etc. Pequena Ga-
Ia. São prohibidos hoje os espectáculos públicos (A, 51,
25 de Deis. A. 52, p. 377. A. 55, p. 396).
79
DEZEMBRO.
26 pi.'*) — Sahbado (1.» Oitava). S. Estevão, Proto
Martyr. Festa e Lausperenne na sua Igreja, D, S, G, A.
27 (12.*») -Domingo (2.* Oitava), S. João. Apostolo
e Evangelista. Co&Xuma ser festejada na Frég. da Hag--
dalena no ultimo dom. de Dex, a Senhora da Conceição
e Caridade^ vestindo-se uns poucos de orphãos.
28 (!3.**) — 5«gt/nda (3.* Otfara) Os Santos Inno-
reutes, MM. I>. S, D. A. Está patente ao publico a San-
ta Casa da Misericórdia.
29 (Í4.®J — Terça. S. Tlioraaz, Arcebispo de Cantua-
ria, M. Festa nos IngUxinhos.
30 (15.°) — Quarta. S. Sabino, Bispo Martyr.
Lua cheia ás 8 horas e 35 minutos da tarde,
31 (16.®; — Quinta. S. Silvestre, P. [A. 5.1, 31'dcDc-
semhro]. Pequena Gala. Dia santo dispensado abolido
j)ela Bulia de 1844. Assistem SS. MU. ao Te^Deum de
instrumental na Sé, em acção de graças pelos benefi^
cios recebidos no decurso ào anno (ainda quando ne-
nhum beneficio se recebesse). Te-Deum em todas as
Cathedraes e Collegiadas.
80
&LMANAGH DE LEMBRANÇAS.
I DE JANEIRO.
SULTiO PHlLAfiTROPO. — Foi ha pouc
■lo á morte em Constantinopla um pobre infeliz por
me de pequena gravidade. Pungia-o a idéa do dei
fiaro em que deixava oito innocentes rilhinhoa, e
■mentos lhe arrancava a deBesperaçâo, que os ouvi
*s irmSas da caridade do hospital frsncei. situado nas
imniediaçues do car-
Keie: conimovidas as
solveram aua fos-
ulorar o perdío de
Xbdul-Medijd : diri-
girarn-se e si as ao pa-
ço, e depois de have-
rem exposto ao Sul-
lAo O objecto de sua
respeitosa e carido-
sa visita, assim lhes
respondeu o joveii
i Soberaoo:(Conceda
t a grafa que me pe-
! dis: poderia eu recu-
! sara ao santo lelo
I ~— que inspirou o vosso
lobre pensameDlo? É bella a religião, innáas, que sabe
abraçar uma vida toda de sacriScios como a vos-
inde muitas vezes á minha presença; para vós,
injos de misericórdia, estario sempre abertas as por-
1 as do mau palácio. >
A FESTA dos chouriços.— Em Konisberg, na Prús-
sia, costumâo os carniceiros oíferecer aos padeiros, no
i.° dia do anno, um enorme chouriço de sangue, o qual
percorre em prociss&o toda a cidade. Em 1558 íizerào
um com 198 varas de comprido e que era levado por4H
pessoas. O de 1563 foi conduzido por noventa ^uma, ti-
nha de comprímeAto 596 varas, e pesava 434 libras I o
anais bonito áo9 carniceiros marchava na frente, em ar
de tambor mót, levando á roda do pescoço muitae vol«
ias do clieitriço, serpenteando o resto pelos hombro»
dos outros eamiceiroSf ene marcbavâo três a três. N^uma
ckronica dos costumes da Prússia, lê-se o seguinte : —
«No 1.° dia do amn» de 1601, os carniceiros levaram em
prociss&o pela cidade um chouriço de sangue de 1:005
varas de comprido ; conduziram>no depois ao Paço, e
offereeerara 130 varas ao Príncipe. Esta festa estava
em esquecimento havia .18 annos. Acompanhava-se o
chouriço ao ^m de tambor e pifaro : um marchante,
ornado de plumas e fitas, armado com uma bandeira
branca e verde, marchava á frente do cortejo : os
carniceiros que o se^uiâo, vergavâo com o pezo do
semelhante moaetruosidade.»
RELÓGIO 0E8COMMUNAL. — Acaba de constniir-^se
faa pouoo um relógio de fabulosas dimensões para o pa-
lácio do parlamento in^ez. Tem quatro mostradores,
cada nm com vinte e dois pés de diâmetro ; as rodas sAo
todas de metal fandído ; a pêndula tem quinze pés de
comprimento ; o ponteiro grande corre sete polegadas
em meio minale ; o sino que dá as horas tem oito pés
4'atiura e pesa quinze toneladas : só o badalo tem de
peso ans quatro quintaes* Se cahiese, como um dia suc-^
eedea ao da campainha da nossa camará dos depu-
tados 1«... Quantos mataria?
[A. 52 p. 320, A. 54 p. 115, A. 55 p. 986.)
3 DE JANEIRO,
CU VIVO SÚ DO PISSADO.
Goz^umadoma as doçoiasMil triste, que triste cousa
Goze do musdo o prazer. Viver assim I . . . pois não é ?
Quem xi'eUe tiver venturas. Lidar sempre n'uma lousa.
Quem no presente viver: Pondo um cadáver de péi
Se é feliz, afague a vida ; Mas tem prazer, na veraade.
Se a tem de flores florida* _^sse culto da saudade ;
Viva»
e folgue, o tempo é seu? Tem prazer por entre o fel ;
As horas sâo-lhepropiciaç; Se a turba Ih o i^âo descobre,
Durma,acorde entre caricias, -- ' - •» ^
Conte 08 dias por delicias.
Que 08 não posso contar eu.
Se o julga estéril e pobre,
L tributo d*alma nobre.
Desinteressado e flel !
Alimente-se d*esperanças
Quem no futuro mda crê ;
Quem da sorte nas mudanças
Inda um surriso prevê ;
Sonhe^ embora luz distante
Quem índa umsonhobrilhante
Pode n'alma acáleâtar;
Creia, e goze d*esse sonho,
Queeun^esse
Nenhuma íé hoje ponho.
Nem posso o soilho sonhar.
Sem presentee sem futuro.
Olho ao longe a antiga cdr:
O pó dis{)eTso levanto
Do que foi, do que amei tanto
N*un8 tlias -que já 4á y^o ■
TSãB Fuinafi assentado.
Eu vivo só de passado,
E é d'esse pó levantado
Que sustento o coração.
83
Nem só se ama o que inda viva
Quando a lembrança ficou ;
N'ella o amor sobrevive
Ao encanto que acabou :
Passa ás vezesfi^um momento*
A ventura ; e o pensamento
Surge, melhor nrometheu;
pliumina as mortas cores,
«icaíit(f risonho Finge viço á8 murchas fi/^res.
Empresta vida aos amores,
Faz do nada um novo céu.
O meu dia é mais escuro , Eecompondo o que passara»
Nero8onho8,nemluz,nemflorIJSngana o desejo assim;
Goza só do que gozara
N'aquelle engano :sem fira,
N'aquene mundo d*outa:*ora,
N'aquella cândida aurora.
Que ao peito deu vida já;
Na imagem nada lhe esquère«
pinta tudo o que endoudece»
E tão real lhe parece.
Que hesita se luda será I
Vivo assim! do pranto e riso,
Do (jue eu gozei e soffri,
Do inferno, do paraizo
^m que eu contente vivi !
Vivo só de recordar-me,
QQemaisQ8opoudedeixar-me
O mundo, o tempo, a razão I
Depois da fria verdade.
Em perpetua soledade
Cultivo a flor da saudade,
Cultivo-a no coraç&o.
É vida que tem tristeza.
Mas tem doçuras também ;
Do passado a natureza
NSo muda ao menos ninguém:
O que foi, lá jaz qual i5ra,
E eu posso a cada hora
Evocaro em fructo e flôrl
Doce, amargo, e feio,e bello,
En<;he-me d*almaoanhello.
Vive só por meu desvelo,
E eu vivo só d'e«te amor I
4 DE JANEIRO.
J. de Lemos.
SABONETE Ã UM ECCLESIASTICO. - A um grande
Principe de Itália pedio um ecclesiasti-
co seu vassallo que lhe fizesse mercê de
certa igreja. «E quanto rende essa i^e-
ja?» perguntou o Principe. «Sereníssimo,
respondeu o pretendente, rende oito-
centos até mil escudos.» «Bem está, não ó
muito o rendimento ; e quantos frégue-
zes tem?» tomou o Principe a perguntar.
£ como o pretendente dissesse que não
sabia, o desx)acho, com ultima e severa
resolução, foi este. E vós sabeis a conta
dos escudos que haveis de comer, e nSo
sabeis o numero ás almas que haveis de
curar? Pois nâo sois digno de ter igreja,
nèm de apparecer diante de mim ; Ide-
vos embora. »
Oxalá que todos os que fazem seme-
lhantes provimentos fizessem este exame ; e que ao me-
nos o fizessem os que os pretendem e sào providos.
P.® António Vieira, seriiôks, VII,
84
& DE JANEIRO;
A PEDRA DO DIABO. — Vé-se aa parle mais alia da
abobada da cathedral de Colónia (aqui apresentamoa
a perspectiva da cidade viala do Tia, desenaando-se no
Anrdo o magesloso templo] um buraco de ires ou quntn
pés de diâmetro, caueado pela queda d'um3 pedra-.Gra
TOu-ae-lhe uma inseripçãa á roda, pela qual se eab
que foi o Tento que a tez cahir na noute de 30 de oulu
bro de 1404. ficou a pedra uo patiiuentci dti igreja, ni
85
pé da capella em que se venerâo os ires corpos trazidos
de Milão em 1162, e que a tradição diz serem os dos
Magos (Á, 51 , 6 de Janeiro). Ghama-lhe o povo : Pedra
4o diabo^ por haver sido este em sua opim&o que a ar*
Tancou para destruir a capella^ o que houvera conse-
guido se os Santos Reis lhe não houvessem feito serâir
uma direcção obliqua (A, b% p, 38), ^
6 DE JANEIRO.
LAGO DE ENXOFRE.— No Southemer Califomian
encontra-se a seguinte descripção de um lago de enxo->
fre, descoberto no território deUtah (Califórnia). « Dis-
se-me o nosso interprete indio (|ue nas immediaçôes de
Corn-Creek, a distancia de 33 milhas de Fillmore, exis-
tia um lago de enxofre. Logo depois de almoço pozemo-
Bos a caminho em busca do lago prodigioso. Sahimos
da estrada, e descobrimoVo a duas milhas e meia do
campo, na direcção de S. S. O. O gaz hydrogenio sul-
phuroso que d'elle se exhalava era tão forte, que por
momentos nos entonteceu. O valle, ou antes abaoia, tem
perto de uma milha de diâmetro, e toda a sua superfí-
cie está coberta d'uma crosta composta de enxofre e de
alúmen, fortemente impregnados de acido sulphurico.
Ouvimos distinctamente um ruido subterrâneo, que mui-
tos dos nossos attribuiram a fogo interior ; mas escaT&n-
do no sitio d'onde parecia provir, vimos erguer^SB um
Jorro d*agua de 18 poUegadas de altura. Esta agua con-
tinha algum acido sulphurico ; o ruido que ouvíramos
era causado pela evaporação d'este gaz. Em alguns pon-
tos via-se grande quanticíade de enxofre, e em outros
encontrava-sè peúrà hume. Caminhando sobre a^ella
-ei*08ta cedia elia sob os nossos pas8os% A pouca distan-
cia do lago crescem pinheiros e cedros de considera-^
veie dimensões, porem nas margens nâo se vô o menor
vestígio de vegetação.
86
7 DE JANEIRO.
BSPELHO FORMADO PELA Sl/PERFiaE ri^FERlOR
DA AGUA. — Quando olhamos pára um lago ou um tan*
que, a guperfieie extecior da agua as$emelha--9e a uni
espelho cm que perfeitamente se representão os oTaje-
eto6. O que nem todos sabem porém é que essa super-
ficie yista pelo outro lado os reflecte de igual modo, só
com a dilTerença de que a imagem assim é mais distin-
eta. A experiência é i«ciL
Enxa-se d^agua^bem cristallina um vaso de vidro bem
Uso ; ate-ee a um fio qualquer objecto de côr bastante
viva, por exemplo, um bocado de lacre incarnado, o
mergnlhe-seno vaso, suspendendo-o perpendicularmen-
te ; olhe-te depois para dentro obliquamente, atravez
das paredes do vaso, de maneira que so distinga bem
a euperfieie inferior do nivel da agua, e n'eUa appare-
cerà eiarisffima a imagem do objecto mergulhado.
Vê-se por esta experiência que as sereias (Â, 51, 12
éTAbril) e outras divindades aquáticas nenhuma preci-
sAo tinfifto de sahir cá fora para se mirarem nas aguas.
8 DE JANEIRO.
ENIGMA.
Movo-me como um relogio,Wo logar onde nasci.
Sem ser a relógio igual ; É onde espero morrer, *
Conservo muitas raízes, Mas o meu maior amigo
Porém nâo sou vegetal. - p^unca me deseja ver.
Ainda vivendo oe culto, '
AlU mesmo meprovocâo,
Que 08 bens ou males do mundo.
Ou mais ou menos, me toc&o.
José Daniel Redrigws da Costa,
87
9 DE JANEIRO.
EPITAPHIO DE JOÃO BAPTISTA ROUSSEAU PCB
PIKOfi. ANAGRAMMA FEUZ.
Era Itousseau (nao se confunda com o seu homonymo
Jofio Jacques Bou»-
eeau] de tão baiia ei-
iracçio, queatéd'el''
la se envergonhava,
e por isso houve um
tempo em que substi-
tuio o seu nome pelo
; de Vernieíití, em que
alguns maldizentes ,
segundo refere Seu-
^rfai, acharam o aua-
E' este o cpilaphío
que para a sua campa
escreveu Pirou, que
hÍD que nas ultimas duas
linhas resume a vida 3o célebre poeta,
Ci-gU Villuslre et malheurevx Rousseau t
Le BrahaM fat ta lombe U f arti son bereeatt.
Toici Vabrigé de ta vie,
Qui fat trop longue de moilié ;
* II fut trente ani digne d'envie,
El Ireníe oní digne de pilié.
. [A. 53 p. 158, Ã. 65. p. 25a. A. 5G p. 246]
10 DE JASEIBO.
DAHLIA AZUL. — Pela Sociedade de MorlicuUura de
Edimburgo foram offerecidos quatro contos de réis, e
pela de Dublim oito, a queni apresentar uma cebola de
datiliaazul (i. 56p. 173J.
11 DE JANEIRO.
CAMPO ELYSIO. — No principal cemitério de Lisboa,
a Camará Municipal que escolha» e faça assignalar á ro-
da com gradaria, verdura, ou como melhor lhe parecer,
uma porção de terreno, reservada para os finados céle-
bres por qualquer e^ecie de mérito, passados, con«
temporaneos, ou futuros. Uma das seducçôes de tal
obra é não requerer despezas, ou só mui ténues.
Povoado para lo^o o chão, de cyprestes e palmas,
cedros e loureiros, immediatamente se comece a inqui-
rir e perquerir onde ha ahi por todos os recantos do
reino e províncias ultramarinas, terras do Brasil, ou
quaesquer outras partes, restos mortaes de portuguez,
íllustre por si mesmo, ainda não perdidos, mas que te-
nlião estado em desmerecida obscuridade ; e a estes, á
custa do publico, arlhes faltarem piedosos descendentes
que lhes esmolem um pouco de mármore, em troca da
Honra que lhes herdaram, se conceda hospedagem e
aposentadoria aqui onde de juro lhes pertence. Uma pe-
quena pedra que só viessem achar com o seu nome en-
talhado pela nação agradecida, lhes fora maior lustre,
e para mais invejas, que em qualquer outra paragem
sarcóphagos de pórphido ás costas de leões e carrega-'
dos d emblemas. Ainda mal aue não occorreu este pen-
samento aos nossos maiores i o desabar dos conventos
e o transformar das cidades, não terião feito perecer
tantas reliauias memorandas. O Tolentinó, fallecido já
n'este século, quando razões de parentesco, alem de
todas as outras, me obrigaram a procuraFo para lhe dar
um tumulo, já o não pude desencantar; a elle, como a
Bocage, o cemitério de Nossa Senhora das Mercês o ti-
nha confundido, e perdido, |)ara sempre. Que amplíssi-
ma colheita se não pode ainda hoje obter, apesar do
mui vandálico desbarate d'estes nossos tempos 1 ama-
nhã, será menor; depois d'ámanhã, menor ainda; pas-
sados mais alguns annos, nenhuma : porque os mostei-
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ros e igrejas, ás dezenas e aos centenares, se vendem,
rom sepulchros e tudo, ];)ara salas, para theatros, para
botequins, para oavalhariças 1 passeia-se em banquetas
de ruas lageadas com epitaphios ! despejaram-se mau^-
soléus, para se venderem a inglezes I em sarcóphaaos
«e vioja lançar a lavadura para os animaes immundos
que o filho pródigo guardava ; immundos sim, porém
juenos immundos que os filhos pródigos de nossos pais»
que assim os estamos deshonrando, e a nós com elles,
e a nossos filhos comnosco \ Acudir, acudir ao que ain-
da resta I um Campo Elysio, sequer como expiação ! (Á,
5õ. p. 2ta;
António FeUciano de Castilha,
12 DE JMEIRO.
MALEDICÊNCIA PORTUGUEZA. — É amaledicenein
um dos maiores defeitos dos portuguezes. Somos nós os
primeiros a denegrir-nos, a tornar bera publicas as nos>
sas faltas, a assoalhar até as. nossas misérias pela im-
prensa, edim de que lá fora se nâo ignorem !... Isto no-
tou ha mais de um século (prova de que já é peccado
velho) o nosso Francisco Rodrigues Lobo, quancio disse:
«Ouvi qualquer estrangeiro
Fallar de seus naturaes ;
Dá d' elles tão bons signaès.
Que o náo tem por verdadeiro.
Fallcm-vos n'um natural,
Dizeis faltas que não tem :
Mente o outro para bem.
Nós mentimos para mal. >
(Á. 53. p. 314;
90
13 DE JANEmO.
PERIGOS DO CASAMENTO. — Acoiselhando Nereu,
eunucho de Flavia (neta do Imperador Domiciano), a
8tt»s«nhera que permanecesse solteira, expoz-lhe aftsim
as caasaqueaeLas que do oasomento reaultâo pajra Sk
i.^' Troca q i^ppeUido de seu pai nela do marido.
2.^ Dá maior poder a una estranho ao que seus pais
tiverihft.
3.^ Fa2*9e escrava d'elle e coma tal será tratada.
4.^ Styeita-se a quem ihe pode* piohU^ir o eorvespon-
der-se com oa próprios parentes^
5.^ E até com os criados*
6^' Se e marido é nelo^o, prodúlDiF-JhQ^vaTere ouvir;
7.^ Interpretará mal todas as suas palavras e acções*
8.^ Be bumaao e «kffaveiL tomar^se^ha 4^^i» cruel
e crr9«8eira«
9.* Trocará muitas vezes a ama pela criada.
10.^ Se a mulher recakitrav>. ainda tm cima levará
bordoada.
11.^ Terá a pobre menina» com tanto oarinho edu-
cada por seus irais, de &uppQrtar o&mil defeitos de seu
marido, e d'elles será continuamente victima.
12.^ Passará na gravidez, e com todos os incommo-
dos que a acompanhao, os mais bellos annos da vida.
13.^ Receará que seja a mesma a hora do parto e a
da morte.
14.* Sobre vir-^lhe-h ao no futuro mil enidséoe, quer
o8 filfaoe sejâo sadios e de boa indoie» quet sejâo. mo^
lestos e ruiu».
Ete. eto. ete.
Tudo isto assim é ; mas a estes qnatorze ineosvenien^
tes, e a todos estee et ccíteras contra o easamento, se no**
derifio oppdr quatorse Aail vantagens e quatorie mii e%
eceieras a favor; não desanimem pois as raparigas, •
Táo casando!...
91
14 DE JANEIRO.
ANTES E DEPOIS.
Passei, vi, gostei, e disse
Um adeus de confidencia :
Retribuio-me risonha ;
O que suppóes?Innocencia!
Quando sahia da missa,
Vali-me da concurrencia
Entreguei-lheumbilhetinho,
Ella pegou : Innocencia I
Dançando fronteiro a élla,
Pa quadrilha na influencia,
Pedi, chorei; prometteu-me
Uma terna conferencia :
Não faltou, porém de longe !
Que te parece? Innocencia,
Empreguei para rendera
Minlia apurada eloquência ;
Apertei-anos meus nraços;
Ella deixou : Innocencia !
Jurei que por seus encantos
Daria minnaexistencia :
Apertei-lhe a môo — E ella ? «Porque não casa comigo ?»
Efla, apertou: Innocencia IjEntào que tal I Innocencia f
Cahi na arara, cazei-me ;
Commetti essa imprudência*
Os agradinhos fugiram ;
Agora então? — Paciência f. .. —
Inhato-Mirim* .
(Brazileiro)
ALHO. — Esta raiz, mais usada em temperos, e até co-
mo conducto,pelos rústicos do que pela gente da cídatle,
tem, segundo dizem, grandes virtudes. Cura de lombri-
gas, de scorbúto, de nervos, de hystericos, etc. ; mas
uma casquilha de lei antes quereria morrer dez vezes
de hysterico de que uma só cheirar a alho. Galeno lhe
chamava a triaga dos pobres camponezes, e Plinio 1U«
attribuia a singular propriedade de curar a doudice.
Horácio é o Cardeal diabo da canonisaçâo do alho : es-
creveu contra elle uma ode fulminante
92
15 DE JANEIRO.
LIÇÃO PARA MENINAS ESPARTILHADAS. — A mo-
lestiâ mais frequente no Rio de Janeiro é a phtysica
pulmonar; são aella principalmente atacadas as senho-
ritas de 15 a 25 annos. Varias caxisas podem concorrer
para tâo funesto resultado» mas n&o deiía de figurar»
talvez em 1.^ linha, a exaggeraç&o que se tem introdu-
zido no apertar das cinturas. Esta pratica desnaturai» já
demasiados annos conservada; tâo oppostaás condições
do verdadeiro J)ello; tâo diversa do modo como os esta-
tuários da antiguidade qualifícavâo a formosura do cor-
po humano; ^em razão de existência; continua a existir :
e a moda tyrannica» minotauro de nova espécie» nada
menos exige que o holocausto annual de muitas virgens
gentis. São os médicos» hoje» alli obrigados a passar um
attestado da enfermidade a que succumbem os seus
doentes : ha um espirituoso facultativo, que sempre que
nas mãos lhe morre uma phtysica, formula assim o seu
attestado : Certifico que a Sr.** D. Fulana, tendo vivido
^esp artilhada, morreu de estreitamento decintu^
ra. Entr« os casos deploráveis de semelhante
exaggeraçã-o, conta-se um» occorrido ha poucos
annos, e mui sabido n'aquella corte. Uma das
mais lindas frequentadoras dos bailes jacta va-se
de reunir a mil outros dotes uma cintura» que poderia ser
abraçada por duas pequenas m&os. Achava-se ella no
Baile dos Estrangeiros, pai do actual Cassino, em uma
noite de triumphos» quando um dos seus pares, no gi-
rar d<e uma j^oíka» Ifae disse que n'uma roda de amigos
^eus estavâo os olhos fitos n*ella e na menina Fulana» e
os votos se dividiáo sobre qual das vespas levava a pai-
ina á outra : alardeou de que elle propozera uma apos-
ta a um divergente» .que a acolitara. Respondeu a me-
nina que se uma sua amiga se prestasse a decidir a apos-
ta, ella se náo opporia. Concordou-se então em que no
dia seguinte as duas esbeltas irião almoçar a casa de
93
uma amiga communl, onde As cintótas serião medidas
uor esta. Retirada a imprudente ao seu aposento, lan-
çou ibãf) de uma cinta de couro de um irmâosínlto, de 5
ânuos, e deixando^ft meia kor» embebida em agua, a
afivelou eus torno de si, e deitov-se. Na seguinte ma-*
nhâ^ tardando a apparecer, n&o respondendo, arromba-
da a port«« effereceu-^se aos o^hos o triste espectáculo
da pobre raidosÍBJia, estendidai no cb&o (para onde;
com a ftffiieçk>, rolara do leito)« mortay com a face ne-
gra, màos e pés i^xos, e uma ^hysionomia de desesjtch
Faç&o, qae retelaTa as horrírets angustias por que a in*
íckz passara, quando, apertado progressivamente o cia-
to tom o calar e a secevra, e impossibilitada de o de^
scfirelar, eliku p«rdida pouco a pouco a respiração e a
eircvlaçfto, exhalata o ultimo alento L
16 DE JAIíEmO.
«M VALENTE DO FlM)ÃO.— Houve entr'of a na víl-
>fl do Fundão um homem dotado de animo forte e cora*
gess varonil, o qual teve sempre a sua espada eomo uni-
ea Bmta ofiensiva e defensiva. £m vários recontros pro-
vou elle sobejamente qufto dura era a sua tempera. Na
hora extrema chamou um filho que tinha, e disse-lhe : —
«Lego^ie a minha espada, de que espero que faças o
mesmo uso que eu sempre fiz.» -^O filho não accei-
tono legado, por carecer 'de forças para o cumprir. ?en-^
do o pai qne o rapaz rejeitava aofferta, acrescentou : —
«Já que não és capas ae cingir esta arma, determino
que seja enterrada comigo, pois quero ainda jogar a es*
padano inferno com o diabo. »
DfAo lhe foi feita a vontade, e só a s6ceo h&v«rá podi«
do o v^Qte bat^-ie oon Satanaz.
Joié dá Ctmha Nevctírro de pAiva,
tCovilhâ)
94
17 DE JANEIRO.
PoTOue desprezas esta flor t&e cândida*
' SymDolo puro dos altectos meus?
Terás tu zelos?. .. pensarás^ Elisa,
Que rivalisa
À graça tua co*os encantos seus?. ..
Porque recusas eom desdém tio gélido
Dar pois guarida a tâo singela flôr?
Cuidas alnm, formosa Elisa minha,
Que esta fiorinHa
Possa roubar-te meu tfto certo amor?
Se tu não amas esta ílôr symboiica.
Nem para ella queres ver-mc olhar,
Mata-me, ao menos, um desejo ardente.
Vem docemente
Esses teus lábios sobre os meus pousar.
5. P. M. Estado da Veiga,
i8 DE JANEIRO-
Í-ECUNDIDADE DAS MULHERES EM LIMA.-F pro-
verbial. Dizem provir de um tubérculo muito parecido
com a batata, e da chicha (espécie de cerveja de mi-
lho tostado). Nunca se encontra uma limana (os homens
em Lima sAo limões) sem «ste acompanhamento : um fi-
lho de três annos, pela mão ; outro de dous, escarran-
xado n'uraa trouxa que traz ás costas ; outro de um an-
no, ao peito; e outro, na massa dos possiveís, no ventre.
Os filhos que têem para cima de três annos vão sósi-
nhos e pelo seu pé. j^^^ ^„,^„.^ j^^^„,
(Almeida]
95
19 DE JiNEmO.
SUOR DE PíOVA ESPÉCIE. — DiscutiaD enlre si dois
individuoB, um dos quaes tingia o cabello ; com o c«lor
do tempo e ãs discussão coms-tlie em bica, a este, pe-
U cara «baixo, nm fio, que nem por isso era lá dos mais
claro? : < Homem, lhe disse o outro, Chrísto suou sangue
no horio, porém vossê sua pás de sapatos. »
Escusado é dizer qual dos dois na gravura é que tiu-
ge o e abei lo.
AMIGOS B mmOOS. — Os nossos maiores inioiieos
96
20 DE JàSEIRO.
O BISPO ESTUDIOSO. — ECts mandado para Bíaiio
de uma das nossas dioceses um cccleaiastioo dos mais
iivstruidos, e que toda a sua
vida levava a lere a estudar.
Procurando-o cert» rústico
um seo negocio, tesponoíSo-
]he sempí-e : t 9. Esc' hoje
Dia lhe pode Tallar porque
está estudaudo.! Voltava Dn
dia i mm e dia to. e sempre a
mesma resposta ; ale que
por fim enclamou: < pra, se-
nhores, era bem bom que
nos mondassem para cí ou-
tro Bispo que }i tivesse aca-
bado os seus estudos I >
FILHOS DAS ÁGUIAS.—
Para conhecer ee slio legi~
timos ou espúrios, usa a
águia de uma curiosa ex-
periência. Susnende-as nas
garras e os obriga a olhar
coip olhos fixos para o soV,
observando se a algum lhe
enfraquece a vista, e a es~
SB o eageita e o tem por adulterino, e sá reconhece
eomo próprios os que attentamente flx&o o rei dos
astros. Assim o assevera Aristóteles e deu tamb^n)
logar este assumpto para alguns versos de Lucauo na
sua Pharsaliii.
Apesar de tão respeitáveis euctoridades li custa um
pouco a acreditar, n &0 será poesia 1
07
21 DE JANEiftO.
PAÇO REAL EM CINTRA. — Foi D. Joio I que prin-
cipiou a edificar este palácio para sua habitação. Se-«>
gundo varias tradições» era morada d'alguma alta per-
sonagem no tempo em que os mouros occuparamLisDoa,
senão a Alhambra dos próprios Rqís n'6Ste paiz.
O terreiro deMeca — o jardim de lindo-rava, onde
existião ainda no século passado quatro larangeiras —
a casa de banho, que lhe está contigua, e em que a agua
é distribuída por grande numero de tubos repartulos
em todas as direcções — tudo indica, e nos traz involun-
tariamente á imaginação, que este recinto foi habitado
pelos árabes. Do tempo d*£l-Rei D. loão 1 é a sala dos
cysnes, primeira do palácio ; a da audiência^ ou cadei-
ra de 1). Sebastião, por ser ahi que elle dera a ultima
audiência antes de partir para Africa ; a das pegas, no*
me que provém de ter sido aquelle Monarcha encontra-
do por sua esposa, D. Filippa de Lencastre, na occasião
em que abraçava uma dama, e de haver mandado pin-
tar o tecto todo de pegas, de cujo bico sahem as pala-
vras = For b<?m=como fiymbolo de sua intenção.,
A capella é também obra do mesmo Rei, bem como a
cozinha, célebre pelas grapdes cheminés de forma có-
nica, anteriormente guarnecidas de azulejos pelo lado
exterior.
D. Aifonso y» que nasceu n*este palácio, continuou a
sua re«dificação, e igualmente D. João II e £1-Rei D.
Manoel, que mandou fazer a sala das armas, ou dos bra-
zôes, onde se vêem 72 veados, do collo dos qnaes pen-
dem outros tantos escudios com os brazôea das princi-
paes famílias portuguezas.
Existe n'este paço um fogão de mármore com relevos^
de Miguel Angelo, e consta que fora offerta do Papa
Leão A a El-Rei D. Manoel, sendo removido do Paço
d' Almeirim para o de Cintra. O aposento mais notável
d*este ediOcio grandioso, irregular, e a maior parte d'ea*
98
tylo árabe, é a sala onde esteve em eaptiveiro D. ÁíTou-
so VI por espaço de 8 annos. Vê-se ahi o ladrilho do
l^avimeoto gasto pelo continuo andar doeste infeliz es-
1^060 e Rei. A uniea janella que tem conserva perfeitos
vestígios dasr grades de ferro que enoenraram o 2.*^ Mo-
Bareha da actual dynastia.
Anianio da Cunha.
(Cintra)
• 22 DE JANEIKO.
UM COWSELHO 1>*ESTAD0. —Domingos Viílela Bar-
bosa, Marqnaez de Paranaguá, distíneto mathematico,
politico e poeta, era devidamente apreciado pelo Sc-
i ilhor D. Pedro I, a quem recusou a pro|>osta çraça, uni-
[ et nt seu reinado, do titulo de Duque. O Imperador
' eoneediu ao venerando anci&o ufma liberdade, de que
^r veces mui graciosamente se aproveitou. Um? oe-
casião em que no Conselho d'£stado, recentemente crea-
do, se discutia calorosamente um ponto grave, em aue
Villela, com o peso da sua palavra, arrastara os colle-
gas para uma opinião diversa da dò Monareha, este, fal-
tanao em ultimo locar, fez um resumo do debate, e con-
duto dizendo : — «Tenho entendido que a opinião do
« Conselho é n'esCe sentido, mas estou resolvido a p^o-
i € ceder d*est'outro. » E levantou a sessão. Sabido o Im-
perador da sala, curvou-se o Marquez sobre a mesa, •
•screveu sobre o papel que tinha ante si :
Sim, Senbor ; não ha no mundo
Um nome mais bem achado I
Não é do Estado o Conselho,
^ É um Conselbo... de estado.
ALMA A DEUSr. ^ Dieendo-se perante Lnít xiv que
o Cardeal Maz^arino acabava de dar a alma a Deus, ex-
eiftmou um eortezfio : « Do ^ue tu duviéo 4 de que tile
IWa (uceUasse, »
99
m DE JAEEmO.
RELOJOARIA NOS ESTADOS UNIDOS.— Empregada
cidade de Gonnecticut, nos Estados Uunidos, um miln&o
de dollars no fabrico de relojoaria fina da America, .-e
occupa 1,300 operários, que. fabricão 800,000 relógios
por a&no. Bristol possue 14 manufacturas em que se
empregáo 400 pessoas, que fabricâo ^,000. Plymouth
com 3 manufacturas e 175 pessoas, produz 70,000. Auso-
nia, com 2 manufacturas e 140 pessoas, 112,000 ; Wias-
tead, com uma só manufatura, emprega 40 pessoas e fa-
brica por anuo 30,000 relógios; Southampton, com â
manufacturas -e 45 pessoas, 40,000 cada anno ; New-Ha-
ven, emfim, com 3 manufacturas e 400 pessoas, fabrica
annualmente mais de 370,000. Já se vê pois que se os
americanos do norte nllo souberem ás quantas andâo.
não será por falta, nemde relógios, nem de relojoeiros,
^ 24 DE JANEIRO.
HURRAH. — Todas as vez^s que os nossos amigos -e
alliàdos (bons amigos e excellentes alliados I) os ingle-
zes, se reúnem e pretendem applàudir um acontecimen-
to qualquer, soltào, em voz unisona, e de dentro da ar^
ca do peito, uns três ou quatro hurraJis^ que equivalem
i^s vivas que nós davamoB quando ainda nâo estáva-
mos cançado^ de tanto enihusiasmo politico, É «sta
a derivação d'aquelle vocábulo de origem slava, com-
posto deouti:«os dous que signiíic&o p<iraiso. Persua-
dem~se os slavps de que o homom quo .gloriosamente
morre pela pátria vai direito para o céu, e por isso
nas batalhas, e jio ardor da. peleja, soltão os combaten-
tes esse grito, da mesma forma que os turcos bradáo
Állah, Gomo e quando, porém, o mesmo tef mo fosse
adoptado para commemorar acontecimentos notáveis,
mentindo assim Á sua arigem, é o que náo sei, e que
desejaria que alguém me explicasse,
' 100
S5 DE JANEmo.
tríplice acróstico.— Sio ae úi o acróstico fle
ordinário Benio no priocipia de cada verso, e ainda as-
sim é grande a difflculdade de taes compoBi^es, qae
BUBCfl tiveTara grande voga, porque o eentido n'ello8 sà
muilorarafi vezes eorre betn. e
í
I, i de uma dilllcul'
dade tal, que bA procuraádo
vence1'B se avalia.
>s cinco Besuíntes versos, três veies se acha repe-
a palaTra JESUS — no principio, no melo e no fim.
íttler euneto mican* Igniit »tr^era cmll
Eipellil tenébras R tolo Phííbuí ul orbE.
%ic tvcH renovai Je Sut taUifiníi iimbraS,
Li ci/tcansquí limul Vero prtíeorái» motU
Safnn juttitia ?,e»fpTohat etie bsaliS
3C DE JANEIRO.
Rita aldeia de lãO habitantes, chamada: ibornieano.
Em i796 deitou'Se ahi e lerra um enorme carvalho jJ.
&3 9.252), que depois de convertido emcarvio, den
acuradas d elle.
Havia outro no mesmo sitio de que jA entio nío res-
tava aeniio o tronco, de tamanha aimensao.que dentro
se lhe fes uma casa que servia de residência para uma
família de 5 ou 6 pessoas. Ainda hoje slli se v&em enor-
mes roiíes, que bem desotio qnal fosse a cirrumfere»-
«ia do nionetruoto gigante vegetal.
101
â? BB JAKEmO.
eUILHfiiaiB o CONQUI&TADOR. — Fbi tâo fdTore-
eido da íoTtvoía» em quanto títo> qtianto infeliz dopois
de morta. Assim que expirou, seu êlbo Henrique (de«-
pois de seus irm&os Roberto e Guilherme, Henrique I
de Inglaterra) pavtio de Hermentrude^ (onde o Dlonar-
cfaa falecera), acompanhado por quasi toda a uobrdca,
abandonando o cadáver a criados, qu& do palácio rou-
baram çrata, m<^flia e armações, e até de seu próprio
Testuario despojaram o Soberano, deixando-o inteira-
mente nú no ehâo^ onde permaneceli até que um ami^
go áel o conduzio á sua custa pars^ Gaen, afim de ahi
ser enterrado na Âbbadia de Santo Estevfto. Ao prin-
eipiar oófficio dedefunctos, declaxava-^senastmmedia-
çôes um grande incêndio, e os mooaes, mais soUicHos
pela conservação da sua Abbadia, do que pelos restos
maniniádos de seu magnânimo fundador, e sem o me-
nor respeito por táo solempe acto, fugiram da igreja
Srecipitadamente, seguidos pelos sficulares, e ncou
eserta a eça do poderoso Guilherme, até se extinguir
o incêndio e regressarem os frades. Beu-se de novo
principio á solemnidade, e ao acabar o sermão de exé-
quias, e já quando o sarcóphago aguardava na sepul-
tura o corpo do finado, avança Fitz Arthur, cavalheiro
mkhnando, e em alta voz exclama: €A'ppello de vós, senho^
rM, para o grande dia de jtiúo final, em que vos ae*
Cttf arn de haioeráes dado sepultura ao Duque nes la-'
ret áe meus pais, que elle usurpara, ^naando esta
igreja em parte do meu património, » Para acalmar a
impressão produzida por taes palavras, fai preciso que
por tres libras esterlinas comprasse Henrique a sepul-
tmra, compromettendo^e a pagar cem libras de prata pe-
lo chão onde seu pai tinha iilegalmente, 35 amios antes,
fondado aquella Abbadia, para obter dispensa do Pa^
pt afim de casar com sua prima Mathilde de Flandres.
Durante o tempo todo da negociação, esperava á bei-*
11^
ra dò sepulchro o cadáver do grande conquistador de
Inglaterra pelo pagamento immediato das três libras
esterlinas, e pelos sete palmos 'de terra qne tinha de
occupar.
Desejoso em 1542 o Bispo de Bayeux de yer os restos
de táo grande Monarcha, mandou remover a pedra que
os cobria, e achou o corpo inteiro, e tâo bem conser-
vado, que d'elle tirou uma copia fiel, que fez collocar
na parede fronteira á sepultura, a qual se conservou
até 1562, que os calvinistas tomaram Caen, e um ma-
gote de soldados a arrombou, julgando encontrar alli
um thesouro ; só acharam porém o corpo do cong^uista-
dor, envolto em tafetá encarnado, o que deu origem a
que despeitados dispersássemos ossos pela igreja. Mr.
Le Brás teve na mâo o de uma coxa, e assegura que foi
Guilherme de extraordinária corpulência. Em 1642 os
monges de Santo Estevão juntaram os ossos do seu fun-
dador, € para elles construíram um tumulo do feitio
d*um altar, no mesmo logar em que existira o primiti-
vo monumento.
Que lição para os vaidosos em todas aquellas vicissi-
tudes I '*
Syhila Stephana.
28 DE JANEIRO.
A GRUTA DE CAMBEZES.— Ha n'esta fréguezia, per-
tencente ao Concelho de Monçáo, uma cova circular,
Sue terá dous a três palmos de* circuito, e pela qual só
e gatinhas se pode entrar: d'ahi a poucos passos ap-
Sarece uma sala turca, e logo n*ella uma escada de pê-
ra que dá para uma escada subterrânea, que ainda ho-
je se não sane onde leva, pois só com luz por alli se po-
de andar, e esta a certa distancia apaga-se por falta
d*ar. Talvez a essa estrada se ache ligada alguma re-
cordação histórica do alto Minho em eras remotas.
103'
29 DE JASEraO.
ctuçlio.
N'esle ber^o da innocencia \V&a, filho, eutre as delii^ías
DeBcança o corpo gentil t peteusomDo.aospésdeDeus;
Dorme, dorme. caro infante, Vai gozar entre os anjinhos,
BelUflordo meu Abril. |A.par dog eleitos seua.
TenraClor.inda na iQfancia.^ormeem paz, cândido Uriol
Grato Bomnodorme aqui, iDorrae empaz, mimosaflor I
JiqueaoraiaTdaeiíBiencia^orme, dormel no leu berço
Tuàoemrodatesurri. IVélaumÁnjo do Senhor t
30 DE JANEinO.
PEBIGODÃGOBDUBA. — Pas80u-3e ha dias, i en-
trada daEiposiçioUDíverBal em Paris, um cbbo que deu
bastante que rir. Vai uma senhora para entrar, masá por
tal modo gorda, e tem de mais a maia tantos folhos no
vestido, que sà com grande difflculdade. e encolhendo-
se muito, a recebe o loroiquete, por onde só uma pes-
soa entra : mas depois nem í mio de Deus Padre pode
Mhlr, e ahi lhe ficáo umas 20,000 pe«soeB na coUa, im-
pedidas de dar
um passo por a-
quelie montanha,
Eior aquelle esco-
ho, par a que Ha
barricada: a mu-
lher soluça e cho-
ra , 08 que váo a-
Irai empurriio-
na e ralliâo, o a
que de fora vSem
acomediaiiemâs
: gargalhadas.cfax
I pigramma. Felii-
ÍDieule apparece
corta o nó gor-
dio ; que fai? alira-se á mulher, pega s'ella com unbas
e denies, iça-a por cima do tomiquele, e assim 6 moda
de guindaste atira com ella a quatro passos de distancia.
CASAMENTO. — E', diz Alexandre Dumas, uma es-
pécie de fortaleza sitiada : os que estAo de fura querem
entrar, e os que est&o da dentro elmejio por sahtr.
31 DE JANEIRO.
TBOMBAS MARINHAS. — É um phenomeno que nos
paizes do norte aò ao verio, e depois de excessivos
calores, se apresenta. Chamavâo-lhe os gregos prester
(liquido inflammado), porque do interior das trombas
sahera muitas vezes relâmpagos e um cheiro de enxofre,
que bem mostr&o a parte que n*eUas tem a electricidade.
Apresent&o as trombas marinhas diversos aspectos ;
manifestáo-«e porém as mais das vezes pelo modo se*
gttinte. Apparece o mar agitadíssimo, por baixo d'uma
Bttvem carregada, n'um espaço circuíar de 200 a 250
metros ; procura a agua o centro doesse espaço, e agita-
se em torno a elle com um rápido movimento de rotação,
procurando aproximar-se da nuvem, e tomando a forma
d'uma espécie de trombeta, collocada perpendicular
ou obliquamente. Toma ao mesmo tempo a nuvem uma
forma semelhante, mas inversa, e une-se gradualmen-
te a sua extremidade á extremidade superior da co-
lumna ascendente. No ponto de juncçáo não passa
d*um metro o diâmetro da columna. Consiste n^este mo-
mento a tromba em Uma columna d'affua e de vapor,
que se prolonga do mar até á nuvem, delgada no meio
e larsa nas duas extremidades. Move-se com o vento.
Náo aura em geral senão poucos minutos ; tem-se visto
porém algumas durar perto d'uma hora. No Mediterrâ-
neo chegaram a ver-se 16 trombas ao mesmo tempo.
Antigamente disparavâo-se tiros de peça contra ellas,
com medo de que encontrassem navios e os submergis-
sem, ou pelo menos os damniíicassem ; o maior perigo
porém das trombas marinhas consiste nas grandes raja*
das de vento gue se levanta nos sitios próximos; sopra
em todas as direcções, e faz virar navios pequenos, se
por ventura navegâo com muito panno. Nâo e raro ver
uma tromba d*agua entrar pela terra dento, sahirem Ãe
dentro d'ella immensos relâmpagos, e resolver^se em
chuva. NOs Lusíadas se descreve este phenomeno.
106
1 DE FEVEREIRO.
PRESERVATIVO CONTRA O BOLOR. — Ha mil obje-
ctos de frequentíssimo uso que o bolor rapidamente
ataca e deteriora, como por exemplo, a colla, a tinta, o
couro, os cereaes, os livros, etc, etc. Perfumes, e so-
bretudo óleos essenciaes, sâo magniUcos preservatiros
contra elle.
Metta-se um pouco de óleo de terebenthina em um
raso em que haja coUa, ecubra-sebem, que indefinida-
mente se conservará.
Uma pequena quantidade de óleo de alflizema, ou um
pouco de cravo, mettido na tinta, impede-a de abolo-
recer.
Calçado e arreios preservâo-se com óleos essenciaes ,
e especialmente com óleo de terebenthina, que é dê to^
dos o mais barat<9L
Algumas gottas d'este mesmo óleo basitão em uma
bibliotheca para a pôr ao abrigo do bolor.
Do mesmo modo se conservâo os cereaes.
Por meio de óleos essenciaes se conservio também
collecçôes zoologieas.-Uma bexiga cheia de essência de
terebenthina, e suspensa no local em que se ache uma
d^aquellas colleceões, bastará, não só para afugentar os
insectos, mas at^ para matar as espécies que mais es^
traços ahi costumâo fazer,
{Lexa-se o artigo tohre holor apag, 86 do Álm, de1854j
2 DE FEVEREIRO.
CHARADA.
Pretedo o Rei — 1
.Sou d* elle irmáo— 2
Poeta pobre.
Muito ratão.
1t ií ir
107
af BÉ FÊVÊREina
GDRREGÇÃO GREGORIANA. -- Se cada anuo tivesse
exactamente 365 dias e 6 horas, claro está que o dia de
mais que de 4 em 4 annos se dá aos chamados bissextos;
restabeleceria a ordiem; e nenhuma outra alteração ha-
veria- a fazer no calendário ; é porém de 365 dias*, 5 ho-
ras, 48 minutos e 49 segundos a duração exacta do an-
no, isto é, de onze minutos e onze segundos menos , d*on-
de se seeue que havendo-se suppostõ, desde o 1.*^ anno
da éra enrista, que se compunha cada anno de 365 dias
e 6 horas, se foi progressivamente commettendo um er-
ro, que no fim^ de certo numero de séculos devia produ^
zir o errado ausmento de uns poucos de dias. Foi o que
aconteceu. Em 1582 contavão-se já dez dias inaís do que
devia sef, motivo pelo qual determinou o Papa Gregó-
rio XIII, por uma Bulia especi&i, que áquelle anno se ti*
rassem dez dias, ficando só de 355. A Inglaterra, a Rús-
sia, e outros estados protestantes, náo' quiaeram sub-
metter-se á determinação do chefe da igreja ; hoje
porém é a Rússia o único paiz' do mundo que, mais por
obstinação do que por outro motivo, se recusa a ado-
ptar unia tão bem entendid» reforma : é por isso que
as- suas datas são sempre diíferentes das nossas: para
as reduzir á data verdadeira é preciso- juntar-lhes nojo
onze dias.
SALVA A REDACÇÃO. — De um sujeito muito ins-
truído, mas que en^ fallando não atava nem desatava»
e era mesmo uma miséria, dizia outro : « Fulano é um
grandor-homem, salva a redacção. »
4 DE FEVEREmo.
MODO DE GBIJDÁR LOUÇA. — Nío indicaremos nuiP'
nama facilidade e de geral ulili-
simples ;
Calcinem-Be cascas d'oglrB»
ereduz&o-se apó finl3BimD,gue
se triturara sobre mármore ;
misture -Be -lhe depoÍB uma cla-
mi-fluida se pe
de bem aiustaac ,
da louçn quebrada. Mal se co-
nhecerA O lognr da união e D-
caria bem adhercnles as par-
tes assim pegadas.
[ CONSERVAÇÃO DO LEITE.
• — Deite-se, em ((uanto fresco,
em uma garrafa, tape-se bem.
e mergulha-se duranie um
quarto d'liora em agua a ferver. Conservar-se-ha fres-
quíssimo pelo espaço d'um atino. Tome nols quem te-
nha de faier alguma r' " •■-- ■ - - "
dure, almoçar lodos qi
S DE FEVEREIRO.
A nu FOMUGA.
Onde Tais diligenle formiga.
Onde vais d'esse modo açodada T
TSo pequena, Uo frágil. coiladaJ
Como podes com tanU fadigai...
109
Onde vais, a vergar, carregada
Com um peso que te é superior... ?
Gomo podes com elle transpor
Ás peorinhas que encontras na estrada ?
£ é apenas um grão d^alvo trigo
Que conduzes por um sol que abrAZ« ;
Mas Samsáo com as portas de Gaza
Pode acaso igualar-se comtigo ? I...
Se na estrada, que segues otisada.
Encontraste íiel companheira.
Tu lhe falias, e ella, ligeira,
Toma parte na carga pesada f
Tu lhe falias ?... oh sim I vós fallais^
Mas d*um modo por võs b6 sabido !..'.
Se ha perigo, por vós é sentido,
£ fallando, ao perigo escapais !...
Assim juntas, com o fardo pesado.
Caminhando com todo o fervor.
No celleiro ides ambas depor
Esse mimo por uma encontrado (
E voltais á tarefa contentes,
O celleiro, que é pobre, engrossando.
Sem que o brilho do sol, fulgurando,
Vos esqueça do inverno ás torrentes I
Ha um Deus l... tndo e&tá a acclamaro !
Tudo manda soa^ leis acatar L..
Seu poder — se se ousasse negar —
Vosso instineto bastara a provaFo !
A» A* MJm
(Porto)
110
6 DE FEVERmaO.
rSNSilENTO.
no ALBOM DA EX.°" SE.**. ..
 virgem da planitie do Guanabara, esbelta, gracio*
u, e elegante eomo a palmeira do deserto, pede ao bar-
do da montanha qae oQtr'ora celebrou as glorias da pá-
tria, eanton qa heróes da religi&o» e evocou a sombra
doa Reis para julgaVos diante do sea tumulo, uma ins-
piração, um pensamento, para enriquecer o seu albuml..*
fi o alande tem as cordas estaladas, como está o cora-
çào quebrado pela dór ! ... £ os olhos que admiraram o
âsul dos céus e a formosura da natureza, estão con-
demnados á escuridão eterna... Uma inspiração, um
pensamento» para enriquecer o seu álbum!... £ o teu
álbum, ó virgem, não é tâo rico de inspirações, e t&o fe-
cundo em pensamentos? O ouro, a prata, a seda, os em-
blemas, as decorações, fazem do teu álbum um j^rimor
d*arte. Cada descripçâo é uma composição poética ; a
máxima d'um sábio é uma homenagem consagrada a ti,
ó virgem, único objecto de tantos cultos e tantas adora-
ções. Um dia este álbum passará a outras mãos, e elle
só despertará a recordaç&o d'um passado d^illusões, de
mentiras e frivolidades, que não tomarão mais a exis-
tir I .. . Antes que a aurora com seus dedos côr d^ rosa
eorra as cortinas do leito do bello astro do dia, á nirm-*
pM Be precipita no jardim, e com suas mãos de alaoas-
tro rega a flor mimosa, encanto de seus olhos, idolo do
seu coração ; de tarde o rústico jardineiro arranca a
haste da filha da primavera, que já não embalsama o ar
com seu perfume, nem attrahe a attenção pela riqueza
4o seu aatit e pela belleza de suas cores I . . .
Oh I como é formoso este céu dos trópicos, abrilhan*
tado pelo Cmseiro do Sul t Que estrella tão luminosa I
É um orilhante que o Todo-Poderoso cravou na aboba-
IH
1
da do firmamento ?.É um doestes anjos que presidem Aos í
destinos dos homens?... £ o astro desprendeu-se do ,\
horisonte, traçou uma ellipse, e sdmio-se no espaço f... "j
O virgem 1 O nouri dos christâos ! orgulho de teu pai hy
doce reminiscência dos amores sagrados de tua mâi 1 1
Todos estes encantos que te cercão, estes votos lança- -
dos a teus pés, estes protestos de amor, estas seduccôes
da grandeza, esta auréola em aue o mundo te envolve» *
s&o para ti, ó virgem, a voz melodiosa da serpente» que 4
nos desertos de Êdon attrahe com os seus mágicos ac- •
centos o inexperto viajor para o dilacerar com suas
garras.
E amanhã? E o teu coração? E teus pensamentos ?
Não, não esqueças esta sentença do bardo, que conhe-
ce todos os mysterios da vida e os segredos ({'álem-rtu—
mulo : — Deus e Virtude.
Fr. Francisco de Monte Álverne,
(Brasileiro)
7 DE FEVEREIRO.
IMITAR COM UM CORDEL O SOM DO TROVÃO.— Pe-
gue-se em um cordel, não muito grosso, e que não te-
nha um só nó ou aspereza no seu comprimento de três
ou quatro varas. Passe-se no meio á roda da cabeça
d'uma pessoa, de modo que corra por cima das duas
orellias, sobre as quaes o fará esta fixo com as duas
mãos ; esticar-se-ha então quanto possível o cordel de
um e outro lado, puxando por elle com toda a força, fa-
zendo firme a unha do dedo poUegar, sobre o meio do
Índex, e ouvirá distinctamente a pessoa em quem se
opera o estrondo do trovão, que gradualmente se irá
aifastando.
Para não ser molestado com a fricção do cordel, po-
de-se fazer a operação com luvas.
112
10 DE FEVEREIRO.
3sviaM(i>s m m!m,
Mi
Jseravfeis insensatos,
Escravos da formosura 1
Curvados a seu aceno,
Buscais vida no veneno
Que vos leva á sepultura
I
Nos seus braços reclinados,
Beijando empemos carinhos
Divinas faces mimosas,
Libais o néctar das rosas.
Sem reparar nos espinhos !
«Ohlloucosl vede a verdade;
Conhecei essa illusâo.
Por que viveis seduzidos»
Embalde contra os sentidos
Austera brada a rasão i...
IS^da alpapça ; tudo cede
Ao amoroso desmaio :
Lumiando o par gentil,
Brilha amor como um túzil,
Mas ao fuzil segue o raio.
Lá do monte da esperança
Cresta o íbgo verdes fraldas,
-E de quanto possuia.
Só conserva a phantasia
SéccaSj dispersas grinaldas.
Suspeitas, tyrannás serpes.
No peito cravando os dentes.
Com seu sançue se alimentão;
Das chagas chamas rebentão.
Daschamasnovas serpentes.
Em furor e desespero
Começa o triste a chorar
Vendo a estrada que seguio.
Morde o laço em que cahio.
Sem o poder desatar!....
A razão, pára vingar-se,
Mais augmenta o seuQagicio,
Com semblante inexorável.
Muda, surda, imperturbável,
Assistindo ao saerificio.
4
Tudo é dôr, tudo agonia,
E quefxumes contirh o fado!
Suspiros e pranto ardente,
Desè^ero no presente.
Saudades pelo passado I
Té que vai desabroxando,
Pelo pranto dTatflidçftò
Regada continuamente.
Do desengano a semente
Nas cinzas do coração.
114
Ergue apNlanta altiva fronte, iSó seuspés tocáo na terra ;
Mas de tristonha apparencia;
Folhas, tronco, é toda lacto;
Tem mirrado, raro fructo,
Esse fructo é a experiência.
Das minas levantado,
Vê-se o espirito surgir ;
Vem com passo fatigado,
Como guerreiro cançado,
À* sua sombra dormir.
Eis acorda I e então cedendo
Da fome a cruéis assomos,
Álbuns ramos segurando,
Yai colhendo e vai tragando
Os amargos negros pomos.
Comeu, ergueu-se, é j á outro ■
Foi-se do rosto a meiguice ;
Do tronco um ramòquebrado
Serve ao triste de caiado :
Eis a imagem da velhice..
Está tudo terminado ; .
Está completa a sentença ;
Áos fogos succedem geios,
Que annunciâo nos capellos
A idade da indifterença.
Os olhos tocâo na luz
Entregue a culto profundo»
Lá vai fugindo do mundo,
Cjdhir nos braços da crui.
Lá expira.. .mas dizei-lhe
ámor/vereis n*umtran8porte
Como seus olhos scintitlâo.
Como juntas seaniquillâo
Todas as forças da mortel.,.
E* que amor inexorável
Nos seus planos iracundos.
Se os mortaes torna captivos
Nem minora o mal dos vivos.
Nem respeita os moribundos.
Restaura as forças da vida,
Nâo nos consente morrer ;
Porque lá nas sepulturas
Seus tormentos e torturas
Não se podem padecer.
Envenenado^ farpões
Nosmanda em s^inspir^) terno;
Cinge áos olhos mago véu,
p pelos jardins dx) eé\x
Nos encç^^m^nha ap inC^rno.
Lá vai p velho trilhando,
Lá vai, desacompanhado,
O canúnjio da existencja^
Nutrido pela experiência,
Ào deseagano arrimado.
115
Fug^, humanos I... fugi
De seu veneno traidor...
$em culjto, 4e^samparados,
Supião-^se, ao tempo yotadofí.
Altares, templos de amor...
lattrinao José da silva Hahello.
(Brasileiro]
11 DE FEVEREIRO.
JUSTIÇA DE SOLIMÃO.— De Solímâo, imperador tur-
co, se conta uma graciosa sentença. Emprestara certo
judeu a um christáo avultada quantia, sob a condição
de que os juros haviâo de ser tirar-lhe do corpo em dia
determinado duas onças de carne. D*ahi a tempos satis-
fez o christáo a divida, negando-se porém ao pagamen-
to dos juros. Subio de ponto a altercação; até que fo-
ram ter com o Soberano p&ra qne solvesse a duvida. Ou-
vido o caso, mandou vir uma navalha bem afiada, met-
teu-a na iflao do judeu, e assim lhe disse : «Justo é que
vos pagueis por vossa própria niâo ; escolhei do coipo
d'e8se christáo a parte gue quizerdes, porém cuidado,
que se lhe arrancais mais ou menos de cTuas onças, vos
mando cortar a calseça.» O judeu não quiz estar pelos
autos, e o christáo deíi graças á giria do Monarcha.
Parecia-se com Salomão, no nome e na astúcia.
12 DE FEVEREIRO.
INDUSTRIA DAS ABELHAS. — Um dos objectos mais
curiosos da ultima eirposiçáo de Paris era um enxame
de abelhas. Os favos de mel achaváo-sé em uma espé-
cie de viveiro de vidro, de 4 a & palmos cúbicos. Ahi
se vião todos os movimentos d*aquelles animalinhos, e
«e assistia a todos os trabalhos de sua antiga monar-
chia. Communicaváo elles com o ar livre por um tubo
de vidro e zinco, o qual ia direito ao tecto, que atraves-
sava, da galeria da agricultura. Por alli entravào e sa-
hiáo. Ao voltarem para casa, vinh&o as abelhas untadas
com o poUen das flores por que se haviáo roçado lá fora.
Uma nuvem delias volteava de continuo á roda do ori-
fício do tubo. De noute iáo todas para casa, e de dia só
uma quarta parte se ausentava ao mesmo tempo.
fH. 51, 9 de Marco]
116
tS DE FEVEREIRO.
ESTRELLA DO SUL. — Dissemos no Almahach de
1856 ser este nome dado a nm magnifico diamante re-
centemente achado no Brasil, e apresentado & Academia
das Scienclas de Paris; diamante defuma agua puríssi-
ma e de forma dodecaédrica. Acrescentámos que pe-
sava 244 quilates e perderia metade do seu peso quan-
do fosse lapidado, valendo ent&o para cima de 2 milhões
de cruzados. No palácio da industria esteve em 1S55
exposto esse diamante (o mais bello sahido das minas
do Brasil) entre muitos outros peoueninos satellites,
vindos do mesmo paiz, e que em ve2 ae serem por aquel-
le illuminados, perdíáo pelo contrario a par (Telle toda
a sua luz. Envtada a Estrella do Sul a Amsterdam, e
confiada ahi ao mesmo lapidario que o anno passado
soube dar tanto brilho ao ôélebre Koh-i-Noor (monta-
nha de luz], que outr^ora sérvio de ornato ao throno de
Lahore, promptamente a transformou também em um
brilhante dos mais bellos ; representa este uma ellipse
cujo eixo maior é de 35 millimetros e o menor de 29,
sendo de 19 miHimetros a sua grossura. Fieou, depois df^
lapidado com 125 quilates, e inferior por conseguinte ao
Regente, que pesa 136 ; é porém' superior, tanto pell) peso
como pela forma e pelo brilho, ao Koh-i-Noor, que íicou
reduzido a 122 quilates. Este ultimo é mais comprido
do que a Estrelia do Sul, mas é tão chato que isso lhe
faz perder grande parte do brilho. O Regente, que a to-
dos leva a palma, e quadrado, e um pouco arredondado
nos ângulos ; tem 30 millimetros de comprido e outro
tanto de lar^o, mas se é menos comprido do que aquel^
les, é todavia mais grosso do que ambos.
Para Sua Alteza o Regente reservamos um artigo es-
pecial.
Recommendamos aqui a leitura do que acerca 4e dia^
mantes em geral escrevemos no artigo correspondento
a 24 de abril de 1851.
117
14 DE FEVEREIRO.
POETA ARITHMETICO E RELIGIOSO. — Com a iaboa
2ue adiante apresentamos e com os 7 algarismos, 1, 2, 3,
, 5, 6, 7, poderá qualquer fazer quantos versos queira
em louvor da Virgem Santa.
Tenha cada letra do alphabeto o vaior que na pagina
£efi;uinte lhe corresponda.
Tome~se um numero composto de cineo algarismos,
porém com a condição de que os dous últimos hâo de ser
iguaes ; darão elles as palavras de que o verso se compo-
rá, pelo seguinte modo. Supponhamos que se tomcru o
numero 14633. O al^rismo 1 servirá para a Tabeliã I ; o
algarismo 4 para a Tabeliã II ; o alearismo 6 para a Tabel-
ia lll ; o algarismo 3 para a Tabeliã IV, e o ultimo para
a Tabeliã V. Appliquemos o algarismo 1 augiaeniado de
uma unidade, ou para melhor dizer o numero % ao 1.^
numero da Tabeliã I, e continuemos a contar até 7. ponr-
do o dedo sobr« a série dos números da mesma tabeliã ;
pararemos em 17, cujo equivalente no alphabeto do
principio é S ; tornemos a contar de 1 até 7, e a<;haTe-
mos 1, cujo equivalente é À ; tornemos a contar até o
mesmo numero e aeharemos 7, cujo equivalente é G, e
assim por diante. Formaremos a palavra Smraéa, Si-
gamos exactamente a mesma marcna com o z.^ algariji-
mo 4 do numero 14633, augmentado também d'uma uni-
4ade, servindo-nos da Tabeliã II ; acharemos a palavjra
Mãi, Continuando do mesftio modo, formaremos o v^erso
Sitgrada Mãi, em tudo assombro eterno.
Quando <a palavra se acha terminada, nlbo só ella o àli,
mas <se inadvertidamente continuássemos» achaxiamoe
um zero, o que equivaleria a dizer alto lá.
tiuando o alf^ansmo é 7., não se augmei\ta de uma uni-
dade ; principia-se a contar na Tabeliã pelo numero i.
0s 9umer^ ilili e 66666 darião estes dous versos ;
Sagrada (mroraj alegre, sempre pura.
Gloriosa fonte, em tudo ahrigo certo^
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15 DE FEVEREIRO.
A NAMORADEIRA E O JOGADOR.— Beprehend ia as-
peramente uma namoradeira a seu irmio nor ser jogador
como nunca se vira. e melancholicamentelhe exclamava:
— Ora, dize-Die, quando has-
I de tu deixar de loparf
9 — Ouando tu deixares de na-
k. FAUSTO EXCESSIVO DE RI-
3 CARDO II DE INGLATERRA.—
í Sustentava por dia dez mil pes-
soas. Trezentos criados lhe ser-
viSo á meza, e outras tantas
criadas se empregavao no ser-
viço da Rainha. Havia de ter
esta mais trabalho em dar que
íuxer a todas ellas, do que as trezentas em servírem-ua.
*16 DE FEVEREIRO.
REMÉDIO PARAAPHTAS. — Sío as aphtas doença
incommoda, de que nío poucas pessoas se queixão na
estaç&o raliBosa. .^.lacão os lábios, o interior da bAcca
e a língua, a ponto de difScuItarem muitas vezes o co-
mer e o fallar. Um remédio para ellas, experimentado
e muito prompto, é mel rosado com tanto oe óleo de vi-
tríolo quanto oaslc para lhe dar um pouco de acidez.
Se as aphtas são nos lábios, untio-se com este mixlo
por meio de uma taragatSa ou rama de pcnna. Se sio
, dentro dabflcca, cliupa-se uma pequena porrão, eeon-
serva-se por muito tempo o bochecho de saliva que ella
excita. Um dia, e ás vezes menos, basta para dar cabo
do ma. .
120
17 DE rfiVEflElEO.
ARMADILHA DO ARMADILHO. — Armadillio é o no-
me que na índia se dá a um animal que gosta muito de
fonnigas, e que para as apanhar usa d'e8ta engenhosa
treta. Deita-se ae costas nos atalhos e caminhos por
onde ellas costum&o andar, e estende a cauda, que á
bastante áspera, sobre o ventre, chegando com ella á
bôcca ; as formigas top&o com aquelle vulto, trepâo por
elle, e vão morrer no papo do seu inimigo. Usa ainda
de outra astúcia, segundo refere o Padre Nieremberg.
Quando chove, deita-se de costas, e nas grandes con-
chas que tem, colhe bastante agua ; assim. se deixa ficar
um dia inteiro, até que passe a chuva ; chega depois
o veado sequioso, acha aquella poça d'agua limpa
e ciistallina, mette a bôcca para beber, e de repen-
te fexa o meu amigo as conchas, prende ao veado Dei-
cos e nariz, e ahi vai este á desfilada, n&o só preso pele
teiço, mas também pela excrecencia da physionomia,
até que o cançaço lhe tolhe as forças, e deixando-se
cahir ao chão serve de presa ao armadilho. «Qm uM ae-
cedens ad potum^ immergit huecam, ttthc claudit se chir^
quinchus, labra etnares eomprehendens cervL Hicdis-
eurrit hine inde, nunquam laxai príedam chirquinckus,
donee fatigatum interimat angtisHa spiritus^ »
18 DE FEVEREIRO.
JORNALISMO NOS ESTADOS UNIDOS. — O numero
total dos jornaes, mais ou menos periódicos, nos Estados
Unidos é de 2,800. e de 422 milhões e 80,000 exemplares a
circulacáo annual de todos elles, o que é devido á com-
pleta liberdade de imprensa, e ao nao se exigir nem
fiança nem sello. para essas obras. Sâo quasi todos de
grande formato, impressos em typo miudo, e custáo
.termo médio, 1 eent, ou 10 réis. Quem deixará de ler
n*um paix em que a letra redonda é tão barata I...
121
19 DE FEYEMIRO.
MONDOMBBS. —E' uma raça de pretos que habitfiò o
I>ombe Grande e Pequeno, sít;uados, o primeiro umas
10 léguas ao sul de Beu^elU, e o segundo confinando
com a cidade pelo lado do interior. HaBltavâo Benguela
la €(uando foi aeseoberta e conquistada polr Manoel Cer"
veira Pereira em 161 7> e ainda hoje estão no mesmo
atrazamento em que entSo se achavào. Às mulheres tra-
jâo um panso d^ algodão, qué primeií^o tingem com tcb-
cúla, tirándo-lhe assim a côr primitita : trazem braços,
peitos e f>ernas, nús* e ao pescoço uns collares, ou an-
tes chouriças, da grossura de quatro poUegadas, e ás
vezes mais, feitas de enfiadas de marcas,^ semelhantes
ás que servem para botões á& coUetes, formadas com a
casca de certo marisco, ou caracol, e toscamente aiv
redon<ladas e furadas por elle ; sáo côr de cinza e
chamâo-lhes : dongo. Nas pernas, desde o pé até á ai»
tura d'um palmo, usáo d*umas manâhas de cobre, da
grossura de um quarto de pollegada, enroscadas em
volta da perna, em forma de espiral. Cambem us&o,
em seus extravagantes toucados, e na proporção de suas
posses; de enfeites de botde» amarellos ennzios peque-»
nos. Homens e mulheres eostumáo trazer granae por-
ção d*ar^olas de ferro delgadas nos pulsos. O signal
característico de belleza entre as mulneres é terem os
peitos muito compridos, e para isso os puxão e ligão ao
corpo com um cordel. O trajo dos homens é muito mais
simples. Embrulhão o ventre e as nádegas n*um panno
também tinto em tíieúla, e-nsâo ás vezes d'ou^o aos
hombros a modo de capa. Trazem o cabello por tal mo-
do enpastado com cebo, e aparado por maneira tal, que
parece um hanúett o qual estremece tocan4o-se-4he. Os
rapazes rapão t cabeça, deixando s6no alto umapeque-
■ta tmmfa. Ás raparigas, em quanto don^ellaSf usáo noa
btaços è pernas de manilhas feitas de palha séeca, em
formar de trança eu torcida, e cobrem (k cabeça com
12fi
uma pelle de cabra ou d'outro animal semelhante. Un-
táo todo o corpo com leite azedo e tacúla, de sorte que
deitâo de si um cheiro que é de matar a seis passos de
distancia. Reduz-^e toda a industria dos Mondombes a
vir vender á cidade, gallinhas, ovos, lenha, carvão,
capim, tomates, feijões verdes, farinha de mandivi, e
uma espécie de bandejas de palha, conhecidas pelo
nome de quindas. Depois da ultima batida que s* deu
a este gentio, no governo do Conselheiro P. A. da.Cu-
nha« toniaram«-8e muito paeilioos e inofl^aaivos.
10 DE FEYERBIRO.
UM VOTO NO PORTO. —Km consequência de um vo-
to antiquíssimo, ia até não ha muitos annos o cabido da
Sé da Porto, ^ em certo dia do anno (ignoro qual), em
procissão aos claustros» repetindo umas poucas de ve-
zes seguidas ,
Boa aentey bon gente.
Confessar e commungary
Que tudo o mais i vaidade :
Deus vos \eaoe a }fom logar I
Reeara depois um responso diante d*uma capellinha
dos mesmos claustros, por alma do fundador do voto,
mas para que Os assistentes se não rissem, lá engrola-
vão aquillo os Srs. Cónegos de modo tal, que parecia
latim.
A propósito : Porque não hão de ser em português to-
das as resas da igreja?— Sobre isto dissertaremos ou-
tra vez, pois vale a pena.
FERREIRO DE GRETNA-OREEN. -- Acabou o eéle-
bre estabelecimento matrimonial do ferreiro de. Gretna-
Green, na Escócia, estabelecimento em que largamente
falíamos a pag. 367 do Almanach de lS5à.
123
21 DE í'EVEREIRO.
A MEMORIA DO TENENTE GENERAL SEPÚLVEDA.
ACRÓSTICO.
agestosQDadrâo, soberbo busto,
gratidão da pátria alça7-*te deve
o Pantheon dos heróês> oh grão Sepúlveda.
teu nome immortal brilhar merece
ntre os grandes varões, queaLysia honraram.
er devem com assombro eras vindouras
mmortaes feitos do teu braço forte,
grão libertador da oppressa Lysia
econheçáo em ti. Só tu rompeste
rilhôes pesados, que a traição mais impia
m seus pulsos lançou. Em váo pretende
loria tanta roubar-te a ini({ua inveja.
br a foi tua a redempç&o da pátria.
otor foste o primeiro, origem d*esta
_ _ mpreza portentosa.' Aos teus clamores
c^ acudio Lusitânia o jugo infame ,
Í55 espertou do lethargo em que jazia ;
gq dormira, talvez, inda em seus ferros,
^Q e, qual trovão, tua voz não a acordara,
sta sublime acção de patriotismo,
rincipiada por li, podem, sim, outros
ItimaVa, mas toda é tua a gloria,
ouros te enramem pois a heróica fronte,
aloroso guerreiro : os teus triumphos
screva, em letras d*ouro, a sabia historia,
ando~te o alto logar que te compete,
par dos Gamas, Albuquerques, Castros.
Por tema tesiefnunha di tão alia feitos.
124
22 DE FEVEfiEIRO.
porliid'um sapa-
teiro, e notando
] que mal a via se
J punha este sem-
1 prearir, enfada-
I do lhe petgun-
l touurndia: «Ora
1" não me dirá por-
que ri sempre
quando eu pas-
aã DE FEVEREIRO.
CURISTO JULGANDO OS HOMENS. — Iticlinard Deus
os céus, e avisinhar-se-lia mais _ã (erra para castigar
seus habitadores : debaixo dos pés trará um remoinho
de nuvens negras, escuras e caiigiiiosas : das ventas
]he sabirão fumos espessos de ira, de indignação, de
íuror : da bãcca, como de fornalha ardente, exhalarãum
volcio de fogo Iragador, que tudo accenda em brazas
e converta em carvões; atroará os ouvidos attonitos com
osbrados medonhos de sua voz, quesáo os trovões; ce-
gará avista comofuiilardoB relâmpagos alternadamen-
te aceesos, abríndo-se e (ornando-se a cerrar o céu, teme-
roeacnente fendido ; disparará finalmente as suas setlas,
que são os raios e coriscos ; abalar-se-hSo os montes,
retumbarão os valles, ilTundar-se-liáo 3(é aos abystnos
08 mares, descobrir-ae-ha o centro da terra, e appori^-
i^erão revoltos os fundamentos do mundo.
Pnilro Aiitottio Tíi-irii.
125
24 DK FEVEREIRO.
INFLUENCIA É PROEZAS DE MULHERES. -- Foi por
cauda de uma mulher de Thebas que dez aimos houve
gtietf 8t entre thebanos e phocenses.
Por oUtf a se eiterminaram messenios e lacederaonios.
* Causou Helena a guerra de Tróia.
Davidí por amores de Bersebé, chorou de dia e noth
te, Tio tetalhado o seu império* e succumbio &s iras de
seu filho Salomão.
Holòphernes foi degollado .por Judith.
O Príncipe de Sachem é morto pelo irmão de Dina*
Ãmon é assassinado n*um banquete pela feroz Taraar.
Por càusa de Lucrécia acabaram os Heis em Roma.
Deu Virgínia em terra com o dominio dos decemviros.
Laodicea por ciúmes assassina Antiocho, Rei da Syria.
Lucila envenena" seu marido Antonino.
Fredegonde mata o Rei Chilperico.
Ciúmes de mulher dâo fim ao império dos godos.
Annibal, o invencível, foi subjugado pelas mulheres.
Hercules, o vencedor de hydras e leões, fiou aos pés
de Omphale, Ràiiiha de Lydia. '
• Ai^hulesj o héróe da Iliada, vestia-se de mulher, só
para estar com outras ao soalheiro.
S^ráaâapaló, o devasso de Babylonía, substit^ió a
coroa por uma touca.
Samsâo, o valente, ajoelhou perante Dalila.
Foi a pedido dê Herodias que Herodés mandoU de-
goliár a S. loão Baptiáta.
Salom&ci Gonstr^io 700 quartos paria 700 mõabitás.
Niilo ft)i inorto por ordem de Semiràmis.
Marco António, antes de vencido por Octaviano, já o
havia sido por Cleópatra.
N'uma palavra poderiâo enxer-se volumes e Volúines
em tal cat)itulo.
Francisco Álvares de Sousa Carisiilhà.
(Ilha do Pico)
126
25 DE FEVEREIRO.
ASCENSÃO AEROSTATICA NO RIO DE JANEIRO. —
Já por mais de uma ves temos fallado em balões (A. 51
36 de j%nho. A, 52 p. 160 e 371. A. 53 p. 39 e 148;, e por
isso nos limitaremos hoje a copiar o que do Rio de Ja-
neiro a tal respeito nos escreveram :
€ Assisti hontem a uma ascensão aerostatica. Segui-a
desde o principio attentamente, pois nunca vira outra
com tanta miudeza e t&o de perto. Não comprehendo
que a coragem humana possa emprehender tão auda-
ciosa tentativa, em toda a parte, mas especialmente
n*esta cidade, cercada de mares, bahias, lagoas, tene-
brosas florestas, gigantes de granito a pique, e escabro-
sidades de terreno. Como aquelle homem me pareceu
grande e eu me senti pequeno 1 É um francez, Heill, e
era esta a sua primeira ascensão I iria talvez a duas lé-
guas ; cahio na bahia, a três varas da praia do Sacco do
Alferes, mas achando-se-*lhe o balão quasi esgotado,
baixou como uma frecha, e ao eahir na agua, mergu-
lhou a barquinha bastante fundo, vindo o nomem logo
ao de cima, assaripálido : colheram-no os escaleres do
vapor Hercules j por elle fretado para lhe seguira pista,
e salvaVo, caso acontecesse o que exactamente veio a
íucceder.
António Cypriano d'OHve%ra.
(Brasileiro)
^ DE FEVEREIRO.
CHAGADA.
Sendo i^ma parte da planta — 1
ãou -planta que fructo dou — %
Sendo producto de planta,
Úm gérmen de planta sou.
■^ a k
127
2T DE FEVEREIRO.
1'APELKOSESTADOS UNIDOS. — Trabalhão aelual-
iiicnic nos Estados Unidos 750 moinhos, cora os quaes »p
fflieui cada anno 270 milhõefi de arráteis de papel, im-'
portando ent37 milhões de dollara, o que anda por32,000
contos de réis. São necessários para isso 405 milbões de
orratois de trapo, eujD valor orça por 16 milhões de dnl-
lars. ou 13.000 contos de réis. A mão d'ohra custa para
cima deSmilhucsdedollars, ou a, 4DOcontos.De2(í pai-
res diferentes se importa o trapo para eslc imporloa-
te fabrico.
Os Estados tinidos, sú por si. empregfio tanto papel
romo a França e a Inglaterra juntas.
Na mesma proporção se encontrão alli a maior parte
das industrias. Em riqueza e prosperidade nenhum pai/
deila hoje a barra adiaute áqueila florescente répubiicn.
18 DE FEVEREIRO.
14 1
UBO singu-
Ur ntfíor-
muUrio da
oatchas. A-
) pTeeenta-se
ÍP
Li tos queirAo
T disputar ao
'"--voSt.be-
^ - —10 08 «eus
^direitos á
!^ coroa. Vío
> IA contes-
ktar-lh^os
com um
' granJola d a-
quelles que
a abrir e fechar d' alhos esfarrapava um homem se
cahisse na unha <
EALEJO. — Ma; hina de moer musi^^a.
1 DE MARÇO.
VASSOURA INSPIRADOURA. — Estava um dia á sua
jaaella uma senhora fidalga, viuva e mui discreta,
quando vio uma sua creada andar varrendo da loja para
a rua, triste como a noite, affogueada como uma rom&,
e chorosa como uma Santa Maria Magdalena. Vai ter
com ella, e com suavidade lhe pergunta o que assim a
pena ? Era o caso que a boa da rapariga tinha nascido
d.e gente limpa e em casa farta, e em peauena tivera
cr«ada para a servir. Por morte dos pais canira em po-
breza, o que a trazia a servir por casas alheias. «Nâo se
me dá do trabalho, soluçava ella ; o que me custa é a
vergonha ; andar aqui a varreT á vista de quanta gente
pasâa l..» A dama lhe toma das mãos, sem enfado, a vas-
soura, e se pôe a varrer mui desassombradamente a tes*
tada da sua casa. Ficou a serva a principio a olhar para
ella estupefacta ; depois quiz-lhe ir á mfto.— « Deixa es-
tar, filha, lhe tornou a senhora ; isto não me custa ; que
vergonha é fazer a gente coisas úteis ? outras, que eráo
mais que tu e eu, as fizeram; a Virgem Maria (e maiséra
descendente de muitos Reis, ^ emíim era a Virgem Maria)
tenho por certo que também varria a sua casinha, co-
mo tu ainda agora fazias ; e o Filho de Deus, com ser o
Filho de Deus e o Senhor da céu e da terra, nâo viveu
trinta annos em tamanha humildade, desde as palhinhas
do presépio até ser preso, esbofeteado, e pregado n*uma
cruz? estou vendo que elle não h^via muita vez de ti-
rar a vassoura das mãos de sua Mâi Santíssima para
varrer em logar d'ella 1.... Andai, filha, andai ; nâo fa-
Samos nós de que nos envergonhemos, que lá o traba-
lar no que se faz mister, nâo é cousa por que hajamos
de corar.» — O sermão nâo fôra encommendado, mas foi
pago ; a creadinha, que era já boa, ficou óptima.
Bom é archivar factos d'estes, nâo com a esperança de
que entre nós se imitem, pois é o orgulho um 'de nossos
maiores defeitos, mas eomo honrosos para a humanidade.
130
2 DE MàRCO.
THBDRIA DOS BALÕES. — O àr dilètftdò pelo èalor é
itiais leve do que o ar frio : a 70 gfáus Réftumur (88 cen-
tígrados) é^-o sufficientémente para que encerrado em
um Tasto espaço possa transportar um peso considera-
vel. Foi este o pensamento que suggerio aos irmãos Mont-
golfíer a invenção dos balões, de que falíamos no ar-
tigo correspondente a 20 de Junho do Almanach de 1851;
08 balões porém, como por ellès foram ideados, apre-
sentarão bastantes inconvenientes, como, por exemplo,
a grande quantidade de combustível que era preciso
levar ; as tastas dimensões do apparelho, em rasão da
pequena dlfferença entre o peso especifico do ar e o d(r
atmosphera; o perigo, emfim, de incêndio, tanto.para o
balão, como para os bosques, searas e habitações ru-
rtes, sobre que por ventura viesse a cahir. Substituio-se
pois o ar elevado a certo grau de. temperatura, pelo gaa
nyíjrogenio, 13 vezes mais leve que o ar que respiramos.
Emprega-se hoje para o mesmo fim o gaz da iílumiTia-'
e&o, que se epcerra em uma capa de seda ou tafetá, que
^ previamente se tomara impermeável, cobrindo-a exte-
' ríormente com muitas camadas d'óleo misturado com es-
sência de terebentina. Não se enxe o balão senão até ás
suas três quartas partes, em rasão de se ir dilatando o
gaz á proporção que a machfna se vai elevando. Evità-se
que faça explosão por meio de uma válvula (a que se
enama válvula de segurança) situada no alto, e que
dá sabida ao gaz quando se na dilatado demasiadamen-
te e ameça romper a capa em que se acha preso.
Têem provado multiplicados exertiplos, que velas, té*
mos e leme, só em tempo sereno podem modificar a 4i-
recção de um balão. Se se podesse fazer subir ou des-
cer um balão á vontade, ate dar com uma corrente d*af
favorável á direcção que se pretende seguir, quasi re-
solvido se achara o problema da navegação aérea ;
esse resultado porém só se consegue deitando fora uma
131
parte do lastro» ou expulsando uçiaporçâo de gaz, e es-
sa operação muitas vezes repetida faria com que ambos
elles s6 acabassem, sendo o resultado final precipitar-
se a raachina com uma velocidade proporcional ao seu
peso e^á altura de que viesse despedida. É todavia
quasi perto que mais tarde ou mais cedo se resolverá
este importante problema, de que tantos se occupão.
3 DE MARÇO.
língua PORtUGUEZA. — E' branda para deleitar,
gravB para encarecer, eííicaz para mover, doce para pro-
nunciar, breve para resolver, e accomraodada ás mate-
Has mais importantes dapractica e escriptura. Para
fallar é engraçada, com um modo senhoril. Para cantar
é suave, com um certo sentimento que favorece a mu-
sica. Para pregar é substanciosa, com uma gravidade
que autoriza as rasões e as sentenças. Para escrever
cartas, nem tem infinita copia que damne, nem brevida-
de estéril que a limite. Para a nistoria, nem é tâo flori-
da que se derrame, nem- tão sêcca (^e busq^ue o favor
das alheias. A pronui^ciaçâo não obriga a f^rir o céu da
bôcca com a aspereza, nem a arrancar as palavras cora
vehemencia do gargalo. Escreve-se da maneira que se
1^ e assim se falia. Tem de todas as linguas o melhor:
a pronunciaçâo da latina; a origem da grega; a familia-
ridade da castelhana ; a brandura da franceza ; a ele-
gância da italiana. Tem mais adágios « sentenças que
todas as vulgares, em fé de su,a antiguidade. E se álin«
gua hebréa, pela honestidade das palavras, chamaram
santa, certo que nâo sei eu outra que tanto fuja de pa-
lavras claras, era matéria descomposta, quanto a nossa.
E para qu<e diga tudo, só um mal tem, e é que, pelo pou-^
eo que lhe querem os seus naturaes, a trazem mais re^
mandada do que capa de pedintes.
francisio Rodrigues Loho. — Carte na Aldêa.
132
à ©B MAKÇa
iUSCORBAÇÕES DOS mDIOS. —No BrasU os gaay-*
corufl dizem a respeito da sua origem mil desatinos.
Afflrmào elles que depois de ereados os homens, e com
eUes repartidas as riquezas, uma ave de rapina, que no
Brasil cnamâo ca/rá-earà, 'se lastimara de uáo haver no
mundo gua/ueuru algum, e por isso os creara, e lhes
dera por defensa o arco, a lança e as flechas. Longe de
tributarem respeito a este seu creador, o matâo todas
as vezes que pedem. Dizem eUes que haum Deus bom,
porém desconnecem o seu poder : ignorão os premioâ e
castigos da vida futura> mas crêem na immortalidade
da alma, e até coniâo que as almas dos seus capitães e
cirurgiões se divertem passeando "peks estrellas> e que
as outras fícâo errantes junto dos cemitérios.
Record&o*-se d'uma grande chuva, que muitas pessoas
querem que seja o diluvio, e das perseguições que fiie-
ráo ao Apostop S. Thomé quando quiz levar-lhes a luz
da' religião, como se lê no Plutarcha Brasileiro e no
1.^ vol. da Revista Trimensal, do Instituto Histórico e
Ceographico do Brasil, e muitos dizem que oa^matos se
abriáo e dav&o passagem ao Apostolo, quando, perse-
guido por elles, fu^a de suas selvagens e barbaras in-
tenções, e deixou impressos em laminas de pedra os
signaes de seu cajado e dos seus pés.
Dr, César Augusto Marques.
(Maranhlko)
5 DE MARÇO.
E!Y1GMA.
Sou redonda como a Iua,
Mas em ponto pequenino :
Sou fêmea quando estou nua,
£ vestida, masculino.
Aa Ja» C*
133
6DEMABÇ0.
CATlfB€18M0 RUSSIÁNO. ^Extr^himod d^elle o se-
guinte fragmento na parte relatira ao Impera^tor :
P. Gomo deve a authoridade do Imperador ser conr-
siderada relativamente ao espirito do christlanismo ¥
R. Como procedendo immediatamente de Deus.
P. Que obrigações para com elle nos imp^e a reli**-
giao?
R. Sete ; a saber— adoração, obediência, íldelida<le«
pagamento dos tributos, serviço, amor, e oraç&o ; sendj»
tudo comprehendido nas palavras: adoraç&oe serviço.
P. Em que consiste a adoraç&o, e como deve ser ma-*
nif estada?
R. Com a maior reverencia^ em palavras, gestos^ ptnr*
te, pensamentos e acções.
P, Que género de obediência lhe devemos?
R. Inteira, passiva e sem limites.
P. Como deve ser considerada, relativamente a Dene,
a irreverência e infidelidade para com o Imperador?
R. Como um crime atroeissimo e um peccado hot-»
rendo.
P. Independentemente da adoraçfio ao Imperador,
deveremos respeitar a publica authôridade que d'eUe
emana?
R. Sim : porque o que emana do Imperador^ repre-
sentado, e obra como substituindo-o ; por isso ,o Impe-
rador está em toda a parte.
P. Quaes são os motivos naturaes para cumprirmos
estes deveres?
R. Além dos adduzidos, ha o seguinte : sendo o Im>
Í»erador o chefe da nação, o pai de todos os seus vassa-
08, só elle é digno de'reverencia, ^atidão e obediên-
cia, por(][ue a segurança publica e individual depende
da submissão a seus preceilos.
P. Quaes são os motivos sobrenaturalmente revela-
dos, que mandão adorar o Imperador?
134
R. Sâo : que o Imperador é o Vice-Regente e Minis-
tro de Deus para executar os divinos mandados, e por
conseguinte a desobediência ao Imperador é o mesmo
qae a desobediência ao próprio Deus : — Que o Senhor
Bos iBcompensará na terra, pela adoraç&o e obedieucia
qae prestarmos ao Imperador, e nos punirá severamen*
ie por toda a eternidade, se lhe desobedecermos e lhe
recusarmos adoração. Além dUsso, Deus mandannos que
tmemos e obedeçamos ao Imperador, e a qualquer au^
torídade d'elle emanada, não por considerações mun-
danas, mas pelo temor do juizo íinal.
Sendo o cathecismo umainstrucçáo sobre osmysterios
e principies da fé christâ, acho uma espécie de sacrilégio
«pplicaTo a um simples mortal, ainda mesmo tão poae-
roso como o czar.
7 DE MARÇO.
CHOLERA CHRISMADA.— N'este livrinho, onde tanta
coisa curiosa se vai todos os annos archivando, regis-
temos também alguns dos nomes por que no Rio de Ja-
neiro se está actualmente designando aquella terrível
eafermidade. Gham&o-lhe a JReinanee (ou moléstia rei-
Bante), a Gastro^entero-colite, palavras que, pelo muito
que a doença faz gastar com médicos e boticárias, se
transformaram em gasto entre collegas-^gildemt por-
que 08 lomaes, publicando o necrológio diário, e espe-
cifieando as moléstias dos falleeidos, dão o i.^ como vi-
ettma da clH>lera, seguindo-<se--lhe lo^o depois, todos os
dias, uma enfiada de 70 ou 80 idem, idam, idem.— Cha<*
ma-se-lhe^ em&ia, »Bi3;a,.a Pavorosa, sí fimpofia, que
sei eu?
Ora 88- isto sâo cousas com que se brinque t. . . •
Que o fizessem os franoezes, que riem até na agonta«
passe ; mas nós, brasileiros, povo grave e sisudo 1. . . .
Francisco José da Silva Collar^s.
(Brasileiro)
Í3S
ÍA'
8 DE tlARÇO.
fOGONOKIO. — ÉoRríloquefrequentemeateseon-
ve DO Rio Verde, em Indiana [Amerks do Norle), quan-
do as aguas estáo baixas. E parece haver raiio para o
sohar, pois os barcos de vapor se víem rodeados de
nhammas aiuladas, muitas vezes perigosas. Diremos a
cousa de tão Singular e curioso pnenomcno. Está co-
berto o fundo
do rio com
le
egeti
Iiem uiiB ijuu-
de altura , a
q^ne deve o
do as a^a«
estão baixas,
os barcos de
vapor agiu o
B aquella mas-
SB, da qual se
exbalaogaies
inflammaveis. Se alguero apparece com uma luz em cl-
lua da tolda, á um momento em quanto o iocendio se
maniresta no ar, aterrando por extremo os passageiros.
A maior parte das vezes, para que o gai s^ apague por
si próprio, basta mandar parar a embarcação.
PEGUREmO ENIGMÁTICO, — Pergunlando-se a um
pegureiro quantos carneiros guardava, respondeu.;
cliio chegão a cem ; contando-os a lã e lã, sobejão 7 :
aUel4, sobejSoU:al3el3sDbejãoS;all e 11, so-
beja 1. Quantos erão ?.
136
9 DE MARCO.
OURIVES DA PRATA FELIZ E ESPERTO.— Em Coits-
tança (Argélia) foi encontrado um
tumulo antigo, que parecia-8€T de
um cidadão romano, com a se-
guinte inscripção :
«Eu, Procuio, cujos restos aqui
repousão, di^o a yerdade n'e8tes
versos. Passei Tida folgada, exer-
cendo a minha profissão de ouri-
yes da prata na mipha casa em
Certe. Fui sempre franco e probo.
De nada me queixo (Depois de
morto não admira) y pois lui sem-
pre alegre, e vivi sempre feliz até
á morte da minha casta Valeria.
Celebrei com honra e ctím prospe-
ridade cem anniversarios do meu
nascimento, até que chegou o meu
dia final. As linhas que estais' len-
do, compuVas eu em quanto vivo
{Ah 1; ..] concedendo-m'o assim a
deusa Fortuna, que nunca me
abandonou ! »
O tal Sr. Procilio tinha tanto de
tolo como de bom homem.
E por i96o iria sem duvida para onde aponta a gravura.
ANTHROPOPHAGOS.-- A mais antiga menção que se
«•Bcontra de comedores de gente, é na Odyssea de Ho-
mero {A.bSp. 144 e 293). .
Muitos povos silvestres da America, e alguns da Afri-
ca, er&o anthropophagos. Os anthropophagos de Sumorn
e da ilha de Sonda, escreve um autnor, comem os eon-
demnados á morte, os adúlteros, os captivos de guer-
ra, etc. Que lhes fac>a muito bom proveito.
157
10 DE MARÇO.
O JàGA de GASSANGE. — N&o ha nin(;uem que te-
nha conhecimento das cousas da nossa Africa Occiden-
tal, que n&o ouvisse fallar enfCctssange, e no seu Jaga^
e na«ua apregoada feira. Hoje as cousas tèem mudado
bastante ; mas o que vamos dizer de Cassange refere-se
ao tempo anterior aos últimos acontecimentos que col-
loearam a€[ueUas partes debaixo da nossa immedia^
ta influencia, e alteraram os costumes immemoriaes
do paiz no tocante aos ritos com que outr'ora era inau»
gurado o seu iaga. £ um systema geral, creio eu, em
toda a Africa, vOu pelo menos nas diversas nações ou
tribus que lalláo os vários dialectos da lingua bundc^
, inau^rarem-se asprincipaes autoridades por meio de
auspícios ou de ritos, chamados ritos do estado, a maior
parte barbarissimos. E quanto mais bárbaro .e sangui-
nolento é o rito, tanto mais indelevelmente impresso
fica na autoridade o caracter. Parece que Cassange le-
vava n'esse ponto a todas as naoôes bundas aprimazisu
e talvez por isso principalmente fosse tão nomeado o
seu Joga, O Jaga, ou régulo de Cassange, era pois inau-
gurado com o seguinte rito :
Apanhava-se um homem de uma das nações visinhas
mais fracas, que era a victima destinada ao sacrifício.
Sobre o cadáver d'este homem devia o novo Jaga atra-
vessar certo riacho, com o que ficava inaugurado, e cha-
mava-se alsto : atravessar o rio em barca humana. Mas
este acto não passaria d'uma barbaridade estúpida, e
não mereceria a honra de ser aqui commemorado, se
n'e]le se não desse uma circumstancia notável, que dá
bem a conhecer o que é a fraca humanidade, mo ha
preto nenhum n'aquellas partes d' Africa que não saiba
d' este costume e das suas mais minuciosas circumstan-
cias ;'que o não tenha ouvido contar a seus pais, e o
não tenha contado a seus filhos. E todavia est/s ho-
mem assim agarrado, a destinado irrevogaveúnonta
138
a ser a victima expiatória n'aque|ila solemnidade in-
dispensaTel, hade por força estar contente, e hade ir
solto, e por seu pé e alegre, para o sacrificio que nfio
ignora, e sem isso o aeto não tem logar, e longe de
ser proveitoso seria uma grande desgraça para o esta-
do. O infeliz, que talvez andou fugido com medo, 6
Sjgarrado, e sabe muito bem qual a sorte que se lhe des-
tina. Conbjece o que tem acontecido com todos os outros
qne prenderam, e todavia cabe no mesmo engano, por*
que por falta de victima nunca deixou de haver Jaga, O
homem, como disse, é agarrado, e sabenda qual asoiH
te que inevitavelmente o espera, certo é que o seu de-
sejo é evital-^a ; mas toda a nação de Cassange se con&-<
^m paira enganaVo, e ta^ cousas Ibe dizem todos, th^
zendo-lbe acreditar que é elle que vai a ser /oga,
que começa por duvidar, e depois acredita de maneira,
Sie o deixâo em liberdade; e quando o vêem no auge da
egria, então lhe mettem a espada e o matão. A ques-
tão é sempre de tempo, e ainda não houve um só preto
que deixasse de ser illudido, victima da sua fraqueza
e da ambição. O cadáver d'este homem servia pois,
como fica dicto, de barca de passagem ao Jaga^ que
assim se chama o Soba principal ou Rei de Cassange; e
a sua carne era a mais estimada iguana do bárbaro fes-
tim da acclamação, mandando-se até por honra uma per-
na ao nosso director da feira, como ouvimos dizer em
Loanda haverá onze ou doze annos. Ultimamente hou-
ve uma questão de successão entre os Jaga% e lá foi o
nosso amigo, o major Sales Ferreira, em auxilio d*um
dosj[>retendentes que hoje governa em Cassange, e se
obrigou a abolir a barbara usança do saoriíicio humano.
Este faeto da abolição de tão infame rito, que julga-
mos practicado sob o governo do Conselheiro Adrião
Accacio, honra sobre maneira a nação portu^ueza, e
aquelles qne d praticaram» ou sob cujos auspícios Uâ
practicado.
A. G.
139
11 DE MARÇO.
O RIO GAJEIRI. — Assim se exprimio a seu respeito
D. Fr. Caetano Brand&o : — « E' bastante comprii^o e
tem nas duas margens frondosos arvoredos, que deiei-
t&o a vista : confesso que muitas vezes, alargando os
olhos para aquelles apraziveis sitios,^ bem desejei a pu-
reza e innocencia das almaS justas para poder á eu it
imitae&o subir por estes degraus ás maiores alturas do
céu, e contemplar a amenidade d*aquelles j«rdins, for-
mados pela mâo do Eterno para recreio dos escolhidos.
Ah ! que se a terra, logar de desterro e captiveiro, as-
sim está semeada de tantas bellezas, que será o céu I O
céu, onde Deus ostenta aproOxsáo das suas maravilhas
para coroar a felicidade dos qu« o amáo I ...»
n DESMARCO.
CHARADAS.
Náo a auero, porque vejo
Que é deitar dinheiro ao vento ;
Não se embaracem comigo.
Nem pom o meu padecimento — 2-
Conservo acrui bem gravados.
Com profunda gratidáo.
As mil provas que me deste
De verdadeira affeicâo — 2
Acho que tenho rasao,
^las justiça nát) o sei :
Não andarem sempre assim
A rasâo, justiça e lei!...
140
sida chamada do Senhor da Abeíheiri
dag frégueiUs circumvisinhas, como 8. Fins de Ferrei-
ra. Carvalhoza, Figueira, etc, quando lhes adoece um
potco, proraettera der umas vollas â roda dá megma er-
mida se o animal BRrar ; e quando assim acontece, clia-
mio no primeiro domingo as raparigas da aldeia, e ahi
Tio todos em romaria, mais o contalescente, que acom-
panha, grunhindo, as devotas cantigas. Depois de da-
das as voltas promettidas, come-se uma boa merenda,
de antemio preparada, e torna cada um para sua caas
alegre e satisfeito.
D. Alcina Amélia deFreilai Cotia d'Araujo Qmiros.
[Santo ThyrsoJ
14 DE MARÇOi
COBRAS DO INDOSTÃO. —Poucos são os pelotiquei-
ros e charlatães no Indostão, particularmente nas duas
costas de Malabar e Goromandel, que não possuão a fa-
culdade de exercer sobre as cobras um poder extraor-
dinário, fazendo-as cegamente obedecer a quanto lhes
ordenão. Obrigáo-nas a dançar dentro de um pequeno
circulo, a mover a cabeça a compasso ao som do pífa-
ro, etc. etc. Em Ghandemagor mostrava, ainda não ha
muito, um Índio quatro cobras de seis palmos de com-
prido, as quaes, depois de um preludio de musica, sa-
hião de dentro de canastras, e se movião com o corpo
meio levantado, em ar de dança, correndo depois por
tcrda acasa, chegando-se ao dono, e enroscando-se n*elle.
São estes reptis ensinados com muita paciência por
Índios que assim ganhão a sua vida. Mal descobrem to-
ca em que haja coora, princípião a cavar até aue ap-
pareça a extremidade, e agarrando-lhe com toda a ga-
na, íincando-lhe até as unhas para que se não esgueire,
tirão-na para fora, e, com a mão direita forcejão por lhe
apertar bem a cabeça; com pinças lhe arrancão então
as duas presas venenosas que teem, e fica o animal re-
duzido ao mais inoífensivo estado, pois os outros dentes '
são curtos e desprovidos de peçonha. D'ahi em diaAte
levão-nas ãs bolis, e procurão affeiçoal^as a si» dando-
lhes de comer á mão.
É perigosa a caça das cobras chamadas de capella.
Sois se a cabeça escapa da mão, é inevitável tf morde-
ura, e mordedura de amigo : por isso com um (erro
em brasa se deve cauterisar logo a ferida, impedindo
assim o seu funesto efleito.
15 DE MARÇO.
ADAGIO ÁRABE. — Se fizerdes de panai de palha,
até os pintos vos d«rão bicadas.
142
16 DE MAIZÇO.
ALEXANDRE DUMAS, VICTOR HUGO, LORD PAL-
MERSTON. — Quem nâo conhece tâo pomposos nomes,
aquelles dons como os das maiores illustrações littera*
rias do século que atravessamos, o ultimo como o de
um dos maiores nomens de estado da Inglaterra ?
Em casa do Duque de Gazes se achav&o todos três,
nfto ha muitos annos, em uma noute de grande reunião.
Esquecera o Duque apresentar os dous primeiros aLord
Palmerston, esem essa formalidade nâo permittia aeti-
auetaingleza que este lhes dirigisse a palavra. Quasi no
nm da noute eonversayào amigavelmente entre si, com
as máos entrelaçadas, e repimpados em bellas e com-
modas cadeiras de braços, Alexandre Dumas e Victor
Hugo, e diz-lhes o filho do Duque de Gazes : « Lord Pal-
merston pede-vos o obsequio de deixardes entre vós es-
paço para uma cadeira. » — Affastaram-se um pouco os
dous amigos e entre elles foi posta apedida cadeira. —
Conduzio então Lord P^almerston pelo braço a sua mulher
e sentando-a entre os dous luminosos astros da littera-
tura moderna, assim lhe disse : « — MiladVy olhai para
aquelle relógio que está fronteiro i> — Milady olhou —
— «(?«e horas são?-» — «Dez e trinta e cinco*---* Pot*
muito bem ; não vOs esqueçais nunca de que hoje, ás dez
horas e trinta e cineo minutos^ vos achastes sentada cn-
We Victor Hugo e Alexandre Dumas, pois é honra que
ialvex não tomeis a ter em vossa vida. » — E dito isto,
reconduzia sua esposa para o bulicio dos salões, lamen-
tando todos que uma severa etiqueta lhes n&o permit-
ti86e o âirigtrem-se mutuamente a palavra.
EXPORTAÇÃO DA LARANJA EM S. MIGUEL. — Re-r
gula annualmente |)or 105,600 caixas grandes e 12,81^
pequenas, que particularmente se exportão para Lon-
dres, Liverpoel, Bristol, Hull, Jersey e Hamburgo, em
i90 a 200 navios, e rendem uns ^80 contos de r4is.
143
n DE MABCO-
COLUBINAVEN,DOME. — Reprodai
tlgo que sobra esle objecto public&mos no Álmanach
' ■ e coinpleUl'o-nemos com a eslampa d'er ~ '"
luDfo monumento.
Orna uma das
mais bellas pra-
ças de Paris, e ■
ilimeneúea da
ceLeberrima co-
lilmna de Tra-
jano, em Roma.
Fot construída
com o bronze de
IWO çeças d'ar'
tilheria tomada*
por Napoleáo
aos austriacoEi
Por fora, è em
turma de espi-
ral, tem grava-
das as Bu as prÍD-
al5de
agosto de 1806,
<>. foi inaugurado a 15 de auosto de ISIO. Tinha d'anle«
no dfflo a estatua de Napotefio, derrubada em t81& pa-
ios alliados, a qual foi substituída por outra em 29 de
julho de 1S40, pelos (rancezes, idolatras da sua mt^mo-
ria. Na estatua primitiva eslava NapoleSo em trajo de
Imperador romano : na aciuni esii de sobre cssiKa e
chapéu, e com um óculo na giAo, que era, por aasim di-
zer, a arma do General em chefe.
I4i
iS DE MARÇO.
S. JOSÉ APEDREJADO. ^ Na Povoa de Varzim, co-
marca de ViUa do Conde, quando o mar se encapella
de repente e pilha em si 08 pescadored, as mulheres
d'e6te8 Ylio, in-continente, á eapella de S. José, e come-
çâo a atirar pedras lk porta, dizendo em altas vozes : —
Acorda S. José I — Se o mar não amaina, então vâo ter
com o capelláOi e o obrig&o a vir com o santo para a
praia, e ahi principiáo a dar com areia no pobre do
santo, repetindo — Acorda S, José í — A's vezes pa-
rece que o santo, para se ver livre de taes endiabra-
das, cede aos rogos, e o mar acalma ; porém outras ve-
zes, ou para melhor dizer, quasi sempre, faz ouvidos
de mercador.
Proiniátncias (Santo Thyrso).
19 DE MARÇO.
COMO SE MONDÃO PLANTAÇÕES DE LLMIÒ.- De^
ve-sQ ao acaso a descoberta, em França, de q^ue o meio
mais simples, mais rápido,
e mais económico, de mon-
dar as plantações de linho,
é fazendo entrar por ellas
dentro um ranxo de carnei-
ros ; comem elles as hervas
todas envolvidas com o li^
nho, deixando este, que
apesar de bem calcado so
torna a levantar.
Aos meus amigos recom-
mendo que antes de fazerem a experiência em planta-
ções suas, esperem que alguém da nossa terra lhes diga
que tal se deu com a receita. Desconfio um pouco d*eUa,
145 6
20 J>K MARÇO.
NACIONALIDADE.— A.presentando-se ao grande Fre-
derico da Prússia um seu yalido, yindo d'uma embai-*
xada de Londres, o Monarcha apenas lhe lançou a vista
o mandou retirar, voltando-lhe as costas, d valido jul-
^u*se perdido e victima de algum& intriga. Um minis-
tro da coroa o visitou n^essa mesma noite, e lhe disse
se apresentasse no outro dia ao Soberano, porém vesti-
do com panno do paiz ; assim o fez o diplomata, e o
grande Rei, logo que olhou para elle, lhe disse: «Hon*
tem via diante de mim um inglez, hoje só vejo um pmg-
«iano.»
Outro exemplo de casa : «El^-reiD. José I dava um
dia beiiamâo, todo vestido de saragoça; ajoelhando pe-
rante eile o Marquez de Pombal : « Senhor, lhe disse, é
à primeira vez que V. M. mostra ser Rei de Portugal. »
21 DE MARÇO.
FESTA DO CUCO.— Em Villa Nova de Famalicão a
melhor festa para os habitantes da villa é a do cuco. E'
sempre no dia de S. Rento (21 de março). Vai o cuco*,
mór mettido em uma liteira puxada por dois burros
lazarentos ; depois do cuco-mór segue-se o trem,
que consiste emtaxos, bacias, caldeiras, etc, tudo mui-
to velho, carregado em jumentos; eatraz de tudo segue-
-^e o brazáo d' armas dos irmãos da confraria, que é ou-
tro jumento carregado de chifres de boi. Em todos os
.-largos pára esta linda comitiva, e o cuco-mór envia
então varias aves pequenas, como pardaes, chascos,
etc, dizendo com grande alegria dos espectadores :
« Ahi vai um cuco para a fréguezia de tal, outro para
a fréçiezia de tal » — e assim correm toda a villa.
E ainda dizem que* não estamos civilisadosl...
Providencias (Santo ThyrsoJ.
146
22 DE MARÇO.
ABENÇOAR A MEZA.— O costume de elevar o pensa^
mento ao céu, e abençoar a meza antes de começar a eo«
mer, bem como de dar graças depois de haver comido»
vai desapparecendo com a polidez da civilisaçâo maté-
ria), que á proporç&o que se augmenta yem alardeando
cada yez mais os seus aesdens para tujlo quanto é espi-
ritualismo. Nas famílias burguesas porém, e mais ainda
pelas pousadas rústicas, ainda a piedosa tradição s&
mantém, não menos que o estylo, de não recusar jamais
esmola de alimento e dinheiro, e quando menos de ali-
mento, ao mendigo que bate á porta em quanto se está
á refeição.
£m muitos conventos não só se começava e terminava
Í)or oração o refeitório, senão que durante elle se fazião
eituras espirituaes, ao mesmo tempo que á portaria se
repartia o caldo aos necessitados. Estas practicas dos
christãos, imitadas mais ou menos d'outras religiões, já
trazem a sua origem dos romanos p«igãos: o dono da
. jcàsn, antes que a família e os convidados se reclinassem
nas camilhas, em roda da meza invocava 09 deuses, fa-
zia as libações, derramando vinho em honra do génio a
do6 lares, ê o primeiro prato era commummeate para es^
tas divindades domesticas, protectoras esp^cíaes da co~
sinha e da lareira.
Nada ha com eSeito mais próprio e natural que elevar
o animo agradecido ás potencias por quem nos suppo-
mos protegidos, na própria hora em que nos sentimos
i'ercados de prazeres, fartura e^convivencia. Entra aqui
o cântico para o assent<ar á meza, de meu irmão, o
Sr. A. F. de Castilho :
Por terras, por ares, por bosques, por ondas>
Manná do céu baixa constante e diverso,
£ tu. Deus, presides ás mezas redondas.
Que a todos teus filhos inilora o universo !
147
£ um Gantieo inflado, dos sóIos, dos ares.
Das selvas, dos mares, de noute, de dia.
Mil graças te envia, benigno poder,
Que á immensa mautença juntaste o prazer.
Deus pai. Rei amigo, teus próridos mimos
Nos enchem, nos cerc&o, de vida, de encantx» r
Co'as lidas medramos ! nos sonhos florimos I
E ao ter a abundafieia rompemos em cantos t
Os cantos acolh«, bondade inneffffvel.
Que esta hdra amoravel, do» anjos bemdita,.
Nosvpede, nos dita,, nos faz eatoar,
Com pia alegria da meza no altar.
23 D£ MARCO.
COROA BEM GANIDA.— De Ariopharnes, Rei dos thra-
cios, refere Díodoro de Sicília um alvitre que bem lem-
bra a famosa sentença de Salomão. Contendiâo entre si
três filhos de certo Rei sobre a pretenção do reino, e es-
colheram para juiz a Ariophames ; mandou est« desen-
terrar o cadáver do finado Soberano, e suspendeFo em
uma arvore, declarando aos três pretendentes que o
que traspassasse com uma setta o coração de seu pai,
esse lhe succederia no reino, e do cadáver do defuncto
faria escada para o throno. Convieram todos na pro-
posta. Atira o primeiro e acerta-lhe na garganta ; se~
gue-se o segundo e fere~o no peito, ficando todavia o
coraç&o illeso; ao terceiro porém subjuga-o o amor
filial assim que pega no arco, e cede da pretenç&o para
n&o vjolar o principal affecto da natureza. Declarou en-
tfto Ariophames ser este o ynico e mais benemérito
successor do reino, e por sua própria mão lhe poz na
fronte a régia coroa.
148
» DE HIRÇO.
BATALHA ENTRE CORVOS E FALCÕES. — De uni
livro impressa em 1739 eitrahiinos o seguinte : Memo-
MTel é aquelle caso da contenda entre corvos e falcúes
Íue referem, Eneas Silvio, Diogo Fernandes na Arte d€
oftt, Jacob Micilio em um f«moao epigranuna, e Diogo
deFunes na Jlútorta de anima». Na cidade deLiégv,
que flca na Gallia Bélgica, tinha um falcão seu ninho eni
uma rocha, e estando deitado sobre os ovos, veio alti
grande mullidão de.corvoa, deram sobreofalcSo, dei-
taram-no fora do ninho, e lhe comeram os ovos. Ao ou-
tro dia se ajuntou grandíssimo exercito de falcCes e cor-
TOa, pondo-se em tem de pelej.B uns com os aulros, quc-
reado os queiíosos tomar
satiatajão di injuria que Da
pessoa de um so receberain
todos. Os corvos se pozeram
da parte do norte, e os fal-
cões da pute do sul, a mo-
do de esquadrão formado,
como se foram capazes da
entendimento. Com eivaram
sua batalha, tão cheu de
braveza, encarniçando-se &
bruta turba' na 'vingança,
que ateada da furor, uus
aos outros com bicos e gar-
ras se penetravSo cruel-
mente. Erão para ver as nu-
vens de pennas, e a chui n
de sangue que em Gocoi-
ris em terra, de que ficava- vermelha e ensopada ; outra-v
reiea, cahindo entranhas palpitando aqui e alli, punha
iBrror aos ruslicos que o estavâo vendo, jí quasi atur-
didos da grande vozeria e grulha com que a modo do
trombelas aeoutav&o aoa ares oi balothõss volantes. Eci
1«
fim prevaleceram os falcões, e aguçand(Klhes a lembran-
ça da offensa novo furor e cólera, remetteram contra os
corvos, fazendo n'elles tal destroço e estrago, que fica-
ram aquelles campos cheios de semente trágica, para
produzirem a memoria de uma justa vingança urdida
pela natureza no estimulo dos brutos.
N. 6. Já a pag. 372 do Álmanach de 1853 dêmos a gra-
Tura d'um corvo, e por isso nos limitamos hoje a dar
acima a de um falcão.
25 DE MARÇO.
O AUGE DA MISÉRIA. — Quem duvidar do que pas-
so a dizer, e o julgue extrahido do Almocreve das Petas,
abra o Século, jornal francez (e dos mais sérios), de 20
de Janeiro de 1855, e na pagina 2.*, columna 3.**, lá o
achará, extrahido de um periódico ohinez.
É tâo grande a miséria em Pekim, que a todos os can-
tos da cidade se encontrão de noute infelizes encostiados
ás portas e dormindo ahi por falta de alojamento. Hou-»
ve ultimamente um especulador que deliSerou recolher
a maior parte d'aquella malta, e o caso é que o conse-^
Saio, pois não exigia senão cinco réis pelo alojamento
'uma noute debaixo de coberta enxuta, e qual é o men^
digo que no fim d'um dia não haja tirado muito mais,
do seu imposto sobre a commiseração publica? Tem o
homem uma sala immensa, cheia até certa altura de
pennas de gallinha ; n'ellas se enterrão, sem distincção
de sexo nem de idade, centenares de pessoas, e tanto
Í)or decência como para que todos fiquem mais agaza-^
hados, quando tudo se acha accommodado, deixa-se
cahir do tecto um cobertor do tamanho da sala, que alli
está suspenso por meio de roldanas, cobertot cheio
de buracos de aous em dous palmos, pelos quaes pode
cada um passar a cabeça [em ar de cágado), e vir res-^
pirar cá fora.
- Os leitores que imaginem o moralisem I....
ISO
26 DE MARÇO.
TUMULO OS um ROLA.
CiNÇÃO Á PRIMAVERA.
Tu volves, oh 1 primavera, jE era gentil a preceito I
Com teus dons encantadores Tinha os olhos de rubim.
>i.taviada de flores,
Myrtos, pâmpanos e hera,
Toda galas, riso, amores.
•
Em teu regaço, hymeneu.
Fervoroso, doidej ante.
Rósea chamma crepitante
Sacode do facho seu,
£ surri de triumphante.
. Saúda-te o rouxinol
Com seu cantar namorado.;
Nas florestas bando alado,
Ào. assomar do teu sol,
Trina cântico alternado.
Saúdam-te meus pombinhos
Com requebros maviosos,
Celebrando, jubilosos^,
Nos castos mórbidos niuhos
Seus enlaces amorosos.
Gelado sopro da morte
Mais um hymno te roubou ;
Á minha rola prostrou,
Qual avena, que euro forte
Ao pastor arrebatou.
151
Plumagem como setim.
Talhe esbelto, largo peito,
Os pés tintos de carmim.
Velei por noites de inverno
N'uma quadra amargurada;
Ao romper da madrugada,
Sempre o seu gemido terno
Me trazia hora doirada.
Das pombas aospequeninos,
Se a deixaváo libertar-se,
Folgava de associar-se ;
De seus contrários ladinos
Prestes sabia, esquivar-se.
Mas carnívoro caseiro,
Que esquecida porta entrou.
Em má nora a deparou ;
No alcance lhe foi certeiro,
A innòcentinha empolgou 1
Quem acode á pobresinha I
Tenro menino bradava ;
Quando eu agora {>as5ava,
jFeroz gato de Já vinha,
lE entre os dentes a levaval
Beijei-lhe o coUo ferido ;
Ámortalhei-a em cabaia ,
N'uma caixinha de faia
Puz o despojo querido.
Coberto de flor de olaya.
Entreaosqnemaraextremosa
Extremosa a sepultei ;
Sobre o asvlo que lhe det
Com os fílnos puz a esposa
O adejo que alto batia
D'e8ta Tez n&o a salvou I
Mão amiga, que a tomou
Entre as vascas da agonia,
No meu leito a reclinou.
Quando a vi cadáver frio.
Senti súbita afElicçâo !
Aecolheu-se ao coraçfto
O pranto que em longo fio
Devera correr ent&o. iD*umpombinho'que eu criei.
Maria José da Silva Conuto,
27 DE MARÇO.
ÁRVORE D'OIRO. —Assim se nomeia um palaeio ma-
gnifico de Veneza. Eis o porque :
Umi do9 seus antigos donos, jogador furioso, perdeu
aguella casa n*uma carta, exceptuando d'ella e dos jar-
dins unicamente uma arvore. Desesperado, jogou tam-
bém a arvore ; revira-se a fortuna, ganha-a, e toma a
apanhar o jardim, o edificio, e tudo o mais que n*Qm
sopro se lhe tinha ido. ^
Os viciosos a quem ficar lembrada a arvore d*oiro,
será bom que se não esqueç&o também de mil outros jo-
gadores, que de riquíssimos cahiram n^ miséria, nos
crimes, nas galés, no patíbulo, ou no suicidio.
(A. õ3, p. 252.)
ELOGIO D'UM BAIXO PROFUNDÍSSIMO. — Ouvindo
um castelhano, no Theatro de S. Carlos de Lisboa, pela
primeira vez, ao celeberrimo baixo Maggiorotti n&o po-
dendo ter mão no seu enthusiasmo, exclamou, que o ou*
vio toda a platéa : « Caramba! tien$ dos oetavas abajo
dei puerco, »
152
.r^"
.' 93 DE UARÇO.
CmLlSAÇÃO DAS ILHAS SANDWICH. — Nas ilhas
Sandwich .OQile ha Sãaiinoe apenas, nem o Itei,nein um só
titular, possuiSo livro*,
nem sequer sabiãq ler,
se aboliram depoÍB os
£ BBcnficioa humauoi, se
9 destmio a idolatria, se
p imprimem hoje dois
' jomaes na lingua da
— 'a e outros dois em
„„-ei, existe liberda-
' de de cultos, umparla-
t Biento, e se tomou o
commercio activo e im-
portanlissimo. O ulti-
mo Rei Hamehamelia
[ou «na cousa assim) tiaba uma eOrte A eutopéa.
M DE KARÇO.
1*0*358), descendente dos Soberanos d'Athenas, -.-
idolBlrado pelo povo, e ceaamente obedecido sempre,
apesar da opposiçâo de $o1on. Assistindo sua filha um
dia a uma ceremonia religiosa, um manceba que apaíin-
nadamente á amava, em um excesso de amoroso e fre^
nelico delirio, a. abraçou, e até d'ahi a dias tentou rap-
tara. Offendida com tanta audácia a família da joven,
obstina d amen te exigia de Fisisirato que se viagassa
d'aquelle homem. * E porqve ihí bei de eu querer mal ?
respondeu ; le aborrecermos os que noi amão, ou a qual-
quer doinoMOi, quefaremotaos que not aborrecim T r
-r- E longe de punil'o. era o mancebo d'ahi a poucos
dias esposo da sua filha.
153
30 DE MARÇO.
ATMOSPHERA. —Provém esta palavra d'o«tras doas
gregas que signíficão : vapor da esphera, É uma ca-
mada immensa d'um gaz conhecido pelo nome de ar
atmospherico (camada que tem d*altura,umas quinze
léguas) e sem o qual nenhum animal nem planta po-
derião existir (A 51, 10 de fevereiro, iS de mar^o, 26
de abril, 16 de julho. A. 52, p. 86. A. 53, p. 354). Esta
camada, aue circumtia o nosso globo por todos os lados,
é arrastaaia com elle pelo espaço ; segue-o em todas as
suas revoluções ; penetra em todas as suas sinuosida-
des ; encontra-se nas maiores profundidades e eleva-
ções, sempre a mesma, excepto na densidade. Diíficil-
mente se laz idéa da enorme pressão atmospherica so-
hre o nosso corpo, pressão cujo eff eito seria fatal, se
forças oppostas a não contrabalançassem. Um homem de
estatura jnédia supporta uma pressão de trinta e duas
mil e tantas libras. Karefaz-se o ar atmospherico á pro-
porção que se sobe. Se se transporta um barómetro,
instrumento no qual uma columna de mercúrio de 78
centímetros faz equilibrip com a pressão atmospherica
ordinária, se se transporta, digo, como fez Gay Lussac
n'uma ascensão aerostatica', a uma altura de 7,000 me-
tros,, ou 21, 000 pés, desce a 33 centimetros. Passão no-
tável alteração, debaixo de tão considerável pressão,
os phenomenos da vida : respira-se mal ; desfallece-
se ; ha vontade de lançar ; o sangue, que não é manti-
do nos vasos pela pressão hal3itual, diverge para a
superfície ; incnão as veias ;' ha hemorrhagias nasaes ;
e chega a rebentar o sangue pelos poros da pelle. — Di-
minue o peso da atmosphera na proporção ia sua altu-
ra. A 70,000 metros ainda existe ar, e bastante denso
para reflectir a luz solar e produzir o crepúsculo. Na
altura de 7,000 metros, a que chegou Gay-Lussac, pa-
rece o céu completamente negro ; sobre esse fundo des-
taGáo muito melhor estrellas e planetas*
164
31 DE MÁKÇO.
ESCRIPTA ENIGMÁTICA.— Com o seguinte alpbabe-
to se pode escrever Quanto se queira :
A B
G H
MN
C D
I J
E F
K L
0P| QR
WX
A explicação e fácil.
A e B sâo expressos por um angulo recto virado para
cima e para a esquerda. -
O B distingue-se do A por ter em cima um ponto.
C e D por duas Ijnhas verticaes, encontradas em baixo
Eor uma horisontal. O D distingue-se do C por ter tam-
em um ponto por cima.
E e F por um angulo recto virado para cima e para
a direita. O F distingue-se do £ pelo mesmo modo. £
assim por-diante.
Como se escreverá a palavra Emília ? Assim:
Um angulo recto virado para cima e para a direita —
Um angulo recto virado para baixo e para a esquerda —
um quadrado — dois ângulos rectos virados para a di-
reita e com um ponto dentro — outro quadrado — e um
angulo recto virado para cima e para a esquerda.
155
SOBTE GRANDE DA MISERICÓRDIA. — O Sr. Sene-
dicto é um grandíssimo palerma alli das immediaçúes
de Vheu, que acredita em sonhos, particularmente nos
de innocentes pastoras. Escreveu elle aqui para Lisbta
a seguiale carta :
Amigo e Sr. Fortunato.
Sounou já quatro T«-
torada minha terra qut
o numero 3,333 had«
canliar a premio gran-
de da próxima loteria,
E' um sonho, bem sei,
mas asaim mesmo pal-
Sita-me que é verda-
ade. Veja pois m
m'o acha e mande-
m'o logo.
Benbdicm PU.
sonhos, irão bem. Pohre Benedícto I Benediclum lil no-
wten domitii, que te fei tSo parvo ! . . .
O amige respondeu-!he a^sim '.
Amigo e Sr. Benedicto!
Vmc.*. por mais que me digSo, é tolo. Pois nSo *fl
que BEcreveudo-me assim, se eu apanhasse o lai ntH
mero. o guardaria para mim, ou o negociaria cora Vme.*í
Em todo o caso TOU-me pBr em cata d'elle, e se o de-
MDcantar, e m'o cederem, como trago minhas cAcegaa
de easimeuto, dau-lh'o cm Iraea da innocente pastora,
iiue tratari de me mandar logo ; mas cuidado, o&o me
impinja galo por labre.
2 DE ABRIL.
BWISIBILIDADE DA MATEiUA.^Um ffrSo d^areia
podí dividir-se em mais de mil cartes. — IJm cruzado
nov» em oiro tem mais de três mil fracções de oiro vi->
aÍT€rd 'e feeíisiveis. — Com seis onças d*ouío pode-se
dourar um fio de 68 léguas. — Queimando~se um grão de
incenso que pese a 72.* parte d'uma oitava, n'uma ca-
sa de 30 palmos d' altura e outros tantos de comprimen-
to e largura, a qual contém ao todo 110:592,000 meias
polegadas cubicas, a todas ellas chega o cheire, d^ondè
se segue que um grão de incenso tem pelo menos aquel-
le numero de particulas sensiveis de matéria. — Lance-
86 um grão de carmim, ou dois, n'uma canada d'agua
bem pura ; nése-se a agua, e pinte-se com ella uma fo-
lha de papel branco ; tome-se a pesar a íigua, para ver
quanta se gastou, e se saber quantas folhas poderia tin-
gir toda a-egua que restai divida-se depois com riscos
toda a folha de papel em quadradinhos pequenos ; cal-
cule-se quantas particulas de pó yermelho será pre-
dao que estejão em cada um ; multiplique-se o numero
ae particulas vermelhas que pelo menos se deve dar em
cada quadrado pelo numero de quadrados que tem a
folha de papel tinta, e multiplique-se esse producto pelo
numero de folhas de papel que se podem tingir com
aquella agua; teremos uma somma pasmosa de muitos
milhões de milhões de particulas, ({ue todas juntas pé-
savâo um ou dois erãos. — Uma oitava de matéria co-
lorante da cochonilha é suíficientepara tingir de escar-
late um fio de retroz de 35 léguas de comprimento.
fi.53p.216.380.;
3 DE ABRIL.
bLaISE PASCAL.— Na torre de S. Thiago, cm Paris, foi
agora inaugurada a estatua de Blaise Pascal, que alli fez
numerosas experiências sobre a gravidade dos coipos.
1Ô7
4 DE ABRIL.
AS ROSAS.
Por entre espesso rosal,
Cupido, um dia, brincando,
Picou-lhe o pé um espinho,
As rosas ensanguentando.
As flores, que brancas erâo,
Tomaram do sangue a côr.
Para perpétua memoria
Do mal que sofitrera amor.
Da tema mâi para os braços
Voou Cupido choroso ;
O triste caso lhe conta,
£ acrescenta vergonhoso :
i^Vai mostrar minhavingança
A côr do sangue nas roas ;
Querida mâi, encobri-a
D^appai^encias enganosai I»
Por Cyprina bafejada
Entáo a flor inodora.
Ganhou o cbeiro suave .
Com que zephyro namora
Assim, ó peitos amantes.
No mal d'amor, de mistuia.
Se apparecem amargores»
Lá vem sempre uma doçura.
Visconde da Pedra Branca,
(Brasileiro]
5 DE ABRIL.
AS TRÊS RATAZANAS. — Havendo sonhado um
principe allemâo com três grandes ratazanas, uma mui*
to gorda, outra magrissima, e a terceira cega, cônsul^
tou uma cigana afamada, que assim lhe disse: «A ra-
tazana gorda é o vosso primeiro ministro, a magra c o
povo, e a cega sois vós, Senhor. »
BIETAL DE VOZ. — Dizia uma senhora a um poeta
por quem andava louca de amores, depois de lhe ter ou*
vido uns lindos versos. que lhe havia inspirado :
— Sempre tem um metal de voz, cousa mais linda !....
— A mmha pena é não ter senão este, lhe respondeu
o poeta, que andava sempre a tinir.
" L5o
6 DE ABRIL.
UlASLADAÇiO DE SANTO ANTÓNIO.— N*este dia,
aniD de 1263, se trasladou a primeira vez o corpo de
SaitQ António, empenhando-se em luzidas e majestosas
fesa» a nobilíissima cidade de Pádua. Assistio e au-
tocsou aquelle acto o Seraphico Doutor da Igreja Sáo
Boaventura, Geral, que então era, da Sagrada Religião
doi Menores. Achou-se o corpo desfeito, mas a lingua
Iniorrupta, cuja vista renovou ntís circumstantes as la-
grmas e as admirações, que o Santo Doutor acompa-
nlou (tomando-a nas mãos) com aquelle decantado elo<
gb que começa : Ó lingua benedicta. Respirava (e res-
pta ainda hoje) o sepulchro do Santo uma fragrância
ctlestial, mais subida que todas as da terra, e derivada
sem duvida d^aquelles jardins, onde as flores são an-
gélicas na suavidade e perpetuas na duração.
[Annô Histórico) ,
7 DE ABRIL.
CHARADA 'D'âTHEU.
Vou fazer uma charada
' Difficil e complicada:
Tem, não tem^ — 1
Corre bem— 1
Tudo o tem,
, E eu também.
V A quem me adivinhar isto,
Dou-lhe e habito de Christo.
Máu grado o titulo,
Se ha um atheu,
N'e8se capitulo
Não entro eu. A, M, C.
159
8 az ABlllL.
UMAOBBA BEM ESCSIPTÁ. -- Queixara-se ao !i-
perador da Rnssia (Alexandre i) um de eeus camarims
por nlo lhe permittirem suas circurnstancias o fazer t-
ce a iQdSB as despelas em que o induzia a sua alta poj-
ção : ao dia Jmniediata manda-lhe Alaiandre umlivo
ricamente encadernado; abre^o o fidalgo, e reconhoe
em cada pagina uma nota do banco de S. Petersbur^.
PassSo-ae diasB
não pouco se al-
mirooSoberano itt
lavra de airrade-
çimento lhe diri-
que o faz deccoí-
I fiar de nSo havo'
I chegado . o pre-
sente ao seu de^
tino, e por it-
80 lhe pergunti :
c Conde, não rt-
eebeste a ob-a
que le mandei'*
— t Sim, Senhir.
lhe responde o
ainda a uÁo a(ra-.
deci, foi poique
"-—a depois ^a-
, . ... n .,odia segiinte
mandou-lhe Aleiandre ! outro volume contendo igual
i'iilnr mi,, rim oíig (itulo : Tomo il » vltimo.
9 DE IBBIL.
SA?iG[JE FRIO. — iH,'uni grande incêndio que devo-
roQ tre» piedios, e determinou a demoliçlo de mais
quatro, no Bio de Janeiro, em 1855, prohibia-se a Io-
das as pes-
soas innteU
logareg on-
de fervia a
lida dos soe-
corros. Um
Sortuguez,
ODodeuma
das casas íd-
eendiadas a
que de b al-
va Bcudio-
do,rorcejaTa
ãeisoesem
■Osenborrai
trabalhar?.
Ibe pergunta
dada da po-
licia— < Não
senhor, mas
^_^ ^1 tenho goslo
arde onfeu dinheiro. » — É ura gosto mnito innoeente ;
pasee. — Atisinhou-SB com etTeito, presenceou o esps-
cImuIo até ao fim, e reiirou-se depois socegado para ir
domir, dizeudo: t Sim imhor, ardeu tem f...»
10 D£ ABRIL.
O BUSSACO.
Salve, floresta sagrada,
Nobremente reclÍDada
Pela encosta magestosa I
Salve, bello altivo monte,
Em cuja mystica fronte
Pousa a nuvem vaporosa I
Salve, montanha gigante,
Que no oceano de diamante
Te estás soberba mirando 1
Salve, Bussaco formoso,
Que por sceptro poderoso
Estás a cruz empunhando 1
Salve, retiro táo santo I
Sobre o teu virente manto
Venho prófugo acolher-me ;
N'essas aguas saciar-me.
Nos ares purifícar-me.
Sob as cruzes abater-me.
Salve, floresta ! mysterio I
Tu has sido heremiterio
Desde que o mundo nasceu;
Attestào-no tuas fontes,
Teus saudosos horisontes,
O teu ar," teu chão, teu céu.
Dizem-m'oosrobresgigantes Nâo te demande o ditoso,
E os esqueletos restantes Nâo te procure o orgulhoso,
De mil troncos seculares ;' Fuja o malvado der ti ;
Diz-m'o o povo reverente. Venha só o malfadado,
£ a tradi^&o, que não mente, De saudades reqneimado,
E as ermidas e os altares. Gemer tristezas aqui.
162
No dorso d' Íngreme serra,
Náo podem grandes da terra
Seu poderio ostentar :
Teu pedestal é marmóreo.
De mármore o teu zimbório,
Que Deus só pode arrancar.
Nâo ousa tuas mil fontes.
Tuas grutas e horisontes,
A mão d'homem desfazer ;
Desde oprincipio do mundo.
Sob o teu manto profundo,
Vem-se magoas esconder.
Ohl desde que a terra é terra
Náo ha século sem guerra,
Nem existência sem dôr ;
É condão da humanidade
Passar do gozo á saudade,
£ do socego ao terror.
Tem cabido muito pranto
Sobre o musgo sacrosanto
Que te alcatifa esse chfto :
Muita dôr has constelado,
Muita lagrima enchugado, .
Aprazível solidão !
Venha a donzella inno^ente,
Divagando reverente,
Nds seus affectos scismar ;
Venha o vate enamorado,
No bandolim consagrado
Os seus amores cantar.
A virgem abandonada^
A amante desconsolada.
Venha aqui fujgir á luz ;
O que traja negra veste.
Uma corda de cypreste
Venha pôr aos pés da cru^.
Salve, floresta 1 mysterio I
Tu has sido heremiterio
Dês que o mundo começou :
Oh 1 acolhe á sombra tu*a
Uma saudade tào crua,
Que n*este seio brotou.
JoU Freire de Serpa Pimentel.
11 DE ABRIL.
O REI, O RÉU, EOS CORTEZÁOS. — Condemnara
certo Rei á morte a um de seus súbditos. Foi debalde
que o infeliz implorou misericórdia, a nada o Monar-
cha se moveu. Ao perder de todo a esperança, irrita-
se e em sua desenvolta linguagem enxe de impropérios
o Soberano. Vio este de longe que o condemnado fal«^
lava, masn&o o ouvindo, perguntou o que dizia? —
« Príncipe, lhe respondeu um cortezão, diz aquelle ho"
mem c^ue para com aquelle que n'este mundo fôr mise-
ricordioso, o será também o Senhor no outro, onde to-
dos havemos de ser julgados. » Gommoveu-se o Rei e
perdood ao réu. Logo em seguida ergueu outro corte-
zão a voz, e sob pretexto de que se náo devia mentir
ao chefe do estado, lhe contou a verdade, o que lhe
rendeu este discurso do virtuoso Príncipe: «Gosto mais
tia mentira d'aquelle que da tua verdade; a sua mentira
deu-me ôausa a uma acção de misericórdia, e a tua ver*
dade houvera-me í^ito praticar uma de severidade. A
mentira d'elle salvou uma vida e a tua verdade houve-
ra dado a morte. »
163
12 DE ABRIL.
VSL cometa de 1854.— Transcrereremofi o <me àcer-
ea de um doa dous cometas de 1854 escreveu oDirector
do Observatório de Tolosa, eia França.
«Quando apparece um cometa por que se não espera-
va, é preciso, para determinar a sus^ orbita, certo nu-
mero de observações com intervallos de tempo. Eis o
que resulta das que se íizeráo com o ultimo*
« Passou pelo perihelio a 24 de março, á 1 hora da
manha. A sua distancia á terra era então de 10:560,000
léguas, e ao sol de 31:370,000 léguas. A 17 de março eira
de 46:930,000 léguas da terra e 13:540,000 do sol. A 31
de março havia-se novamente affastado do sol e da ter-
ra até as respectivas distancias de 13:500,000 léguas e
S7:200,000 léguas. Hoje, 12 d'ábril, está a 24:560,000 lé-
guas do sol e a 37:180,000 da terra. E' por isso que di-
minuio de brilho e n&o é provável que se torne a Ter
sem telescópio quando cessar o luar, pois se a£Cast<irá
(fada vez m-als do sol e de nós;
« A 17 de março percorreu o eomeja 1:560,000 léguas
em 24 horas. Augmentou gradualmente a sua velocida-
de até 24 de março^ « chegou n'esse dia a 1:770,000 lé-
guas, diminuindo depois até hoje, 12 d'abril, que só
Çercorre o cometa (5o, é muito hoa /) 1:160,0€ÍO léguas,
ara se fazer idéa de semelhante velocidade, bastará
diíer que se uma bala d*artilheria podesse caminhar
durante 24 horas consecutivas tanto como no momento
em que é despedida da peça, apenas andaria em todas
ellas umas 10,000 léguas, o que equivale a dicer que a
velocidade do ultimo «ometa ne dia 24 de março er^i 177
vezes maior do que a de uma bala de artilhena.
€ O núcleo- tinna um diâmetro de cerca de 3,000 lé-
guas : era por conseguinte esse cometa, poucd mais ou
menos, do tamanho da terra. A eauda tinha no prinoi-
pio d'abril 1:200,000 léguas de comprido e uma largura
- média de oem mil léguas. >
164
Eseasado é aerescevtar que sid innoceotissinos os
eometas, e em nada contribuem para as eatasirophes
qiio um loyeterado préjuizelhes attribue.
13 DE ABRIL.
ACADEMIA DOS ÁRCADES. ---.Foi fundada em 1756
por António Diniz da Cruz e Silva, Manoel Nicolau Es-
teves Negr&o, e Theotonio Gomes de Carvalho, e existio
até 1773. Foram estes os sócios de que se compoi, e os
seus nomes na Arcádia :
António Diniz da Cruz e Silva» Elpino Nonacriense.
Manoel Nicolau Esteves Negrão, Almeno Sincero.
Theotonio Gomes de Carvalho, Tirse Minteu.
Pedro António Corrêa Garção, Corydou Eryman-
theu.
Domingos dos Reis Quita, Alcino Micenio.
Manoefde Figueiredo, Licidas Cinthio.
José Gonçalves de Moraes, Fido Leucacio.
José Dias* Pereira, Silvano Erycinio.
Silvestre Gonçalves da Silva Aguiar, Siveno Cario.
José Caetano de Mesquita, Metatesio Ciesmenio.
Feliciano Alves da Costa, NeraorosO Cylenio.
Francisco José Freire, Cândido Lusitano.
Luiz Correia da Franca Amaral, Melizeu Cylenio,
Francisco de Salles, titiro Partiniense.
Mariano Bergonzoni Martelli, Mirtilo Felsineu.
José Xavier de Valladares e Sousa, Sineiro Será-
briense.
João Xavier de Mattos, Albano Erjthreu.
ManoeLPereira de Faria, Silvio AquaeeUno.
Ignacio Garcez Ferreira, Gelmedo.
Ificoláu de Sousa, Mirtilo.
Damião José Saraiva, Dameta.
José Rodriguf,s«de Andrade, Montano.
Pedro Caetano, Melibeu.
Manoel José Pereira^ Albano.
165
14 DE ABAlt.
ACADEMIA FRANCEZ A. — Foi iastituida pelo Car-
deal Richelieu em 1635, afim de aperfeiçoar a língua ;
entra porém na sua alçada quanto se refere á gramma-
tica, poesia e eloquência. O numero dos sócios, se-
gundo um expresso artigo do regulamento, é de 40, o
que faz com que tanto em França se ambicione o titulo
ae académico, e ha contribuido para choverem os epi-
grammas, em todos os tempos, sobre os que tamanna
honra conseguiram.
Piron, ao passar n'um dia de sessão defronte da Aca-
demia, TÍrou-se para um amigo que o acompanhava, e
disse-lhe : « lis sont lá quarante qui ont de Vesprit
eomme quatre. >
De todos conhecido é o epitaphio que o mesmo au-
thor compoz para si próprio :
Ci-gitPirony qui nefut rien,
Pas méme académicien.
Grande poeirada se levantou em Paris entre os nume-
rosos candidatos que aspiravão, com La Bmyere, á
cadeira académica, aosaber-se que era sobre este que
fecahira a votaç&o, o que deu logar a este espirituo-
so epigrammma :
Quand La Bruyère se presente,
Pourquoi faut-il crier « haro ? »
PouY faire lenomhre de quarante,
Ne fallait~il pas un ^éro ?
Assim que vaga uma cadeira na Academia, ferrem
os empenhos para os académicos, afim de darem a pre-
ferencia a este ou áquelle candidato ; preenchido o nu-
mero, são os primeiros a escameceros os próprios quo
166
ambieionavâo sentar-se. ao lado d'el]es. Deu isto logar
a que dissesse Fonteneíle :
Quand nous sommes quaraifitey on se moque de nous ;
Sommes nous trente neuf^ on est d nos genoux.
O mesmo Fonteneíle, depois de recebido na Acade-
mia, exclamou : « Ora^ graças a Deus, que iá não ha
senão ^pessoas no mundo com mais juUo do que eu I
São lindos os versos de Maynard, ao ser recebido,
em idade já bastante avançada, no grémio d'este cor-
po litterario :
« En cheveux hlancSy il me faut donc aller,
Comme um enfant, tous les jours d Vécole !
Que je suis fou d^apprendre d hien parler,
Lorsque la mort vient m'6ter la parolei »
A Academia Franceza, disse um critico, é um corpo
em que se recebem, titulares, ecclesiasticos, magit-
trados, e até homens de letras.
Por morte de Ducis, foi disputada a sua cadeira aca-
démica por Michaud e Campenon. Fez este o seguinte
epigramma ao seu competidor :
« Au fauteuil de Ducis on a porte Michau ;
Ma foi ! pour Vj placer il fáut un ami chaud.
ao que respondeu Michaud :
Au fauteuil de Ducis aspire Campenon ;
A-t-ll assez d'esprit pour qu*on Vy campe?
non.
(Â, 61, 30 de De^emhro, A, 52 pag. 365, i. 53 p. 33, i.
54 p. 177.
167
TRÁGICO FIM DE RICARDO II DE INGLATERRA.
-^Declarada n' este reino agueira civil em 1399, foi
preso na torre de Londrei (cuja eiaclissima gravura
BpKseatainos} o soberano Ricardo 11. Q alU M oacldi»
aue passaria cresto da vtda. Dirigindo-ae ahio Duque
e Lencastre na véspera da abertura do parlamenlo,
acompanhado da muitos fidalgos da primeira nobreça,
na presenuB de lodos entregou o Monarcha o sceptro, a
f^orila. e todos os outros distinctivos da realeza, e por
escripto 36 declarou indigno de continuar a governar o
reino-; no dia immediato sérvio de pretexto essa decla-
rBjáopara que aquelle alto corpo do estado proclamasse
unanimemente o tbrono vago, subindo a elfe o referido
Duque de Lencastre tUsDriíius lY]. Fottuada ani 1400
uma conspiração, abafada quasi á nascença, foi Ricar-
do II accusado de a haver promovido ; Thomaz Pièrce,
a(rompanhado de oito perversos mais, entra* na prisão
do desditoso Soberano para o assassinar ; defende-de
este porém como um leáo; arranca o machado a um dos
assassinos ; mata com elle quatro ; e succumbe a final
sob 08 repetidos golpes dos outros, na idade de 33 an-
°^' 16 DE ABRIL.
BARÓMETRO DE SANGUE SUGAS. —Ignora a maior
5 arte das pessoas aue téem as sanguesugas a propried-
ade de sentirem, desde os seus primeiros symptomas,
as perturbações eléctricas e magnéticas da atmosphe-
ra. Assim aue entrâo em lucta as electricidades ter-
restre e celeste, perturbadas as sanguesugas em sua
habitual somnolencia, principiáo a agitar-se, e a mo-
Ter-se vivamente na agua. um sábio in^ez, o doutor
MerrytceatheTy soube tirar proveito d' estas evoluções.
Poz em circulo doze garrafas dentro d'um taboleiro,
^em cujo centro estava uma columna e no alto d'ella
*uma campainha. Prendeu doze martellinhos de melai
á roda d'esta, por meio de doze correntes muito leves,
e postas em communicaç&o, pelo outro extremo, com
corpos mergulhados na: agua das garrafas, em que ha-
via tambení certo numero de sanguesugas. Assim que ^
estas se achâo sob a influencia em que «cima falíamos,
principiáo a mover-se vivamente, agit&o o corpo mer-
f;ulhaao no interior de cada garrafa, e tocáo os martel-
inhos na campainha, coro tanta mais força, e com tan-
ta maior frequência, quanta maior ó a agitação das
sanguesugas.
Este barómetro de novo gosto tem uma grande van-
tagem sobre os barómetros ordinários, e vem a ser,
prognosticar, as tempestades, não alguns minutos an-
tes, mas com antecipação d'hora6, o que é de grande
interesse tanto para a navegação como para a agricul-
tura (A. 54. 26 á^ahril. À. 54, p. 237 e 34S).
169
17 DE ABRIL.
ATLAS GEOGRAPHICOPORTUGUEZ. — Na livraria
do Convento dos Cartuxos da cidade de Évora, em Por-
tugal, existe um magnifico Atlas Geographico, compos-
to de um grande numero de cartas. Este Atlas é manus-
cripto, e foi feito, segundo diz o seu titula, por Fer-
não Vaz Dourado, cosmographo portuguez em Gôa, em
1572. Lê-se no mesmo Atlas, que pertencera ao Arce-
bispo d'Evora, D.Theodosio de Bragança, e que este fi-
zera d'elle presente á dita Cartuxa. Consta que o dito
Atlas havia pertencido ao Cardeal Rei D. Henrique. As
cartas sâo illuminadas e todas as descobertas marcadas
com os nomes dados pelos descobridores. Os estabele-
cimentos portuguezes e castelhanos s&o respectiva-
mente marcados com as bandeiras illuminadas de Por-
tugal e de Castella. O paiz ao sul da bôcca do rio Sáo-
Lourenço, na America Septemtrional, vem notadoTerra
dos Corte Reass. A terra de Labrador vé-se traçada até
perto de 70 graus, e os cabos indicados com nomes ca^s-
telhanos e portuguezes, sendo portuguez o nome do ca^
bo mais septemtríonal, a saber Cabo Branco. No logar
occupado pela costa septemtrional da Austrália, ou No-
va-HoUanda, vê-se desenhada uma muito extensa cos-
ta, com um grande numero de promontórios todos no-
meados. Sobre esta costa vé-se o pavilhão de Castella,
e abaixo d'eUa lé-se o seguinte : Esta costa foi desco-
berta por Fem&o de Magalhães, natural portuguez, por
ordem do Imperador Carlos, no anno de 1520.
Visconde de Sá da Bandnra.
18 DE ABRIL.
ARCHIDUQUEZAS AUSTRÍACAS. — Nos últimos 138
antios tem sido sempre do género feminino o primeiro
fructo do consorcio dos Soberanos na casa d' Áustria.
170
19 DE ABRIL.
COR. — É a impressão que faz na vista a luz reflecti-
da pelos corpos. Julgou-se por muito tempo, e o vulgo
ainda boje o crê, que é a côr inherente aos corpos, e
que sâo elles por si mesmos, verdes, ^marellos, mcap-
nados, etc. : basta uma pouca d'attençào para provar o
contrario, e que não é a côr senào modificação da luz.
1.^ Não ba côr sem luz ; em completa escuridão todos os
corpos são pretos ; não é por conseguinte a eôr proprie-
dade essencial da matéria. 2.^ O mesmo corpo visto a
travez de vidros de cores toma-as todas, o que não bou-
vera acontecido se tivesse uma côr privativa. 3.^ Os
mesmos corpos, allumiados por uma luz mais ou menos
forte, apresentâo uma côr também mais ou menos viva.
Ha composições cbimicas que, ao arderem, fazem pare-
cer as caras'esverdinbadas ; não está por conseguinte a
côr nos corpos, mas sim em o nosso espirito, onde se
despertão sensações diversas, segundo os diiferenles
raios da luz que dão na retina dos olbos.
Foi Newton que descobrio ser a luz composta de raios
de diversas cores. Recebido um jorro de luz branca, tal
Suai cbega do sol, em um pedaço de cristal com a forma
e prisma triangular, reconheceu que depois de baver
atravessado o prisma, se deoompunba, e formava, em
um papel que a recebia, uma figura sobre o comprido,
em que se distinguiào as seguintes cores: roxo, anilado,
azul, verde, amarello, côr de laranja e incarnado : são
estas as cores primitivas. Facilmente se concebe que se
a luz solar, em que todas as cores se comprebendem, dá
em um corpo qualquer, dependerá a côr aesse corpo da
eôr dos raios que nos despedir para os olbos : um obje-
cto preto não despede nenbum, porque os absorveu to-
dos. Se outro corpo absorver todos o&raios menos o ama-
rello, refiectir-nos-ba este e parecer-nos-^ha amarelloi.
A berva e as folbas absorvem todos os raios solares á
excepção dQ verde ; as papoulas absorvem iodos, m%siQf
171
o iacaraado ; a nevedespeda todoft os raios solares sem
os decompor.
- Se a&o passa tudo isto de thearia, é todaTía bâslante
adimssiTel fi. &3 p. 2â^ il. 54 p. iSi;. «
20 DE ABRIL.
• LORD BTRON. — Morreu ha pouco a rrm&' de £ord By^
ran, a única pessoa de suafamilia que elle exceptuou
•do anathema geral que haTia* lançado contra os seuft, e
9 quem dedicara as mais temas poesias, nas quaes res-
pira uma verdadeira amisade por esta senhora, reco-
nhecida por uma das de mais espirito de toda a Gr&
Bretanha. Dizifto assim, litteralmente vertidos> os últi-
mos Tersos çue lhe fez : c A que eu amei tão l«i*-
nomente é avnáa hoje o obiecio mais digna de affeeto
que eu êanheço' : é a sua lemhtanea que eu procuro tms
ruinas do passado ; falla-me n^ella a fonte do deserto ;
falia d minha alma n'essa alma qii6 taato amo^ o €anU>
das aves na solidào,i^
Isto em inclez será muito sublime, mat em português
parece-4ne cnôcho. e banal.
Lá se mexeram na sepultura os ossos de Lord Bwron
com este meu sacrilégio!... Tenha paciência, que nós os
portugueses temos umas contas que ajustar com o tal
senhor pelo modo por que nos tratou no seu Child Ha- '
tolá^ chamando-nos povo d^assassinos. £ que lhe ser-
Tio de thema para uma ta> asserção? as cruzes da Via»-
Saara, que vio no caminho da Cartuxa^ ao pé de Cintra^
c que attribuio a assassínios alli commettidos por por-
tuguezes 1 está sempre por tal modo presente esta femr <
branca ao meu espirito quando leio lord Byron. què
•eclipsa para mim todas as bellezas de suas composições.
AÂora, se quer,. pod& mexer os ossos para a outra I
banaa. Náo me importa.
JS o que lhe ra^e para lho q&o assentar melhor a es«
pada, ter morrido. Pare* defuneiis. Está perdoado.
172
51 DE ABRIt.
IMFERIO.— Deriva-«e este nome d^umâpalaTMlsti-
na que sigottica, domínio, e ii'uma ai^tnificaçto secua-
dana, estado governado por um Imperador. N'este ulti-
mo sentido, foi a dominação romana a primeira a qo»
UL palarra Be appliosu. Foi entio dividido o poder em
Império do oriente, ijue depois bb chamou Bano Impe-
n», e Império d'Occidente, renorado no aiuio de Sob i
faTor de Carlos Magno, e qne do 6ia di'nm século ta
Iransteimou em Império germânico, «u Sanio Império.
Ho UTe ainda outras distincçôes com o Itsiio Império.
em relaf io ás differentes dynastias. que ohi reioaram,
e i» dÍTiEâes que ifelU s« iiieram: houve por exemplo.
Império latino, e Impera-
dores de ConstanlinopU,
de Wicéa e de Trebitoo-
da. A palavra: Imçtria
conrnnde-se todavia com
a de dominação, sem at-
tençicr ao tilitlo mouar-
chi^o, ou outro qualquer,
appíicado ao chefe do es-
tado : diz-se :— o Império
. dos persas, o Império do«____,''
I, árabes, e até o ImpéjTJ''^
" ■ ' >Ji«m«
■^u.Ue
. s de Inglaterra, EscociiMi íílánda, é ofllittal, c
a contar da uniSo entre srf eááes três paiíes, ficou sw-
do qualificado ile imperial o parlamento britaníieo ii-
to é, pertencente aos trea reinos. Na historia. vS-se
passar o império d'um povo para o outro^doí asavrios
para os chaldeus, d'eBte8 para os méda^ e. persas, e
emflm para os.macedonio; e romanos, luagioarain dc-
Esta 1
pois outros povos o loiperio do mundo, que nem pelos
árabes, nem petos mongóis, nem pelos turcos, nem por
Carlos V, nem por Napoleão, poude ser nunca reaUsa-
do.— Formâo-se osgrandespoliticospelo estudo daare-
votu^Óee dos Impérios.
22 DE ABBIL.
HOLOCH, — Divindade dos Ammonitas, de que mui-
lis veies se faz menção oa Biblia, com reprehensio aos
Judeus por lhe sacnticBrem. Era o Molooh uma fi^ra
enorme de meio corpo e de brooze, cabeça de toiro e
braços estendidos. Por dentro dizem alguns que era
Bco, repartido o vão em sele prateleiras, com porta nas
costas a fechar tudo. O primeiro compartimento era pa-
ra farinha ; os cinco seguintes para diversos antmaee
immolandos ; o ultimo para creanças destinadas, segun-
do dizem, a igual barbaria. Por baixo do Moloch havia
«m [orno que se accendia para o holocausto depois de
estar a figura competentemente recheada. Para se nSo
ouvirem os gritos, das victimas fszifio em roda d'ella os
sacerdotes graodo estrépito de tambores e mais ins-
trumentos. Outros dizem que as creanças erão' postas
nOs braços do idolo, onde se torravao ; outros, que o ido-
lo tinha os braços esconsos e os deixava resvalar para
— t ^.. "ante lhe chammejava.
sivel que todas estas versões fos-
licos, soreditadasdo vulgo e tran»-
, Nío foram os ebristios no prio-
jdos pelos pagSos de imniolarem
umanas? Talvez o Moloch, piola-
) _..~. -.lomonio ferocíssimo, ntio
oais que algum sj-mbolo on alle-
rural, muito innocente, e talvez
inhuma coisa tem falsificado mais
mirados interesses das religiões
ligas íl. 61, UdíjulhoJ.
174
23 DE ABRIL.
VIRfiEM DE MEIBO SURRIR.
Virgem de meigo surrir,
Que vives colhendo flores,
Parque flores vens pedir
Ao bardo que só tem dores,
i Virgem de meigo surrir ! ?
Eu peço, Virgem, nâo dou,
Que nào tenho para dar :
Es anjo que Deus creou I. ..
Oral...e Deus me hade curar
Dores que o mundo causou.
Lindos sonhos que sonhei
. Não çosso dar, que os perdi;
' Surrisos com que brinquei,
Ai ! Virgem 1 mudados vi
Em mil penas que penei.
Virgem de meigo surrir.
Vai colher da vida as flores I
As que ao bardo vens pedir
Existem nos teus primores,
Virgem de meigo surrir.
José Maria do Amaral.
[Ministro do Brasil no Uruguay).
24 DE ABBIL.
REPENTF-DE UM ESTUDANTE.— Fazia acto de ope-
rações cirúrgicas um estudante dos mais hábeis da es-
cola médica do Rio de Janeiro, em 1855 : tratava-se -
da operaç&o do trépano. Pedio-lhe o examinador o in-
ventario dos instrumentos necessários |)ara ella. Nu*-
merou-os correntemente o moço do primeiro até ao
ultimo. O Doutor, que o tinha na devida conta, de cer-
to ficara satisfeito ; insistlo todavia (mais para o ouyir
e provar-lhe a firmeza que para outro fim) que lhe es-
Suéceraainda outro instrumento. O examinando repro-
uzio, com maior attenç&o ainda, o seu cathalogo, sem
reconhecer n'«He a mínima falta.
— Ha mais um I
— Náo o achol...
— Pois a navalha de barba, para rapar a cabeça 7
— Isso sim, mas o sujeito em quem eu estou operan-
do ê calvo.
175
e tugLo
al^em me roubou
rainha mulher. An-
ra Maria, que por
' Bobrenorae qSo per-
ca. Se alguém ni'a
Tíerrestituir.metto-
Ihe os támpoí den*
tro, a elle e a elU.
E se lhe venderem
fiado em quanto poi
lá anda, saibfio que
eu nio costumo pa-
SB dos outroB. Quem
eeria maroto que
inventou islo dooa-
Gsmento? No inrerno
m'o diráo. Se o pi-
lhar lã ao pé de
mim , sempre lhe
dou uma roda de
■ pontapés!.. >
«Os maridos, dii um sujeito que eu conheço, vio to-
dos para o céu como martyres, ou só pofune dias para
□ purgatório, afim de ae puriflcarem de todo pela pe-
nitoocia.*— Diro porque o uão sente. -~
ORELHAS GRANDES E PEQUENAS. — Crasejando
um palerma com certo iodividuo por ter as orelhas
muito grandes, respopdeu-lhe este : «.Eu para hoinem
tenhú-as grandes, a touA para amo tem-nas pequenas.»
36 DE ABRIL.
UMIDOSATÉAMORTE.— EnterrarMa-senSâhaniui
tu III cidade de Douai marido e mulher, rdllecidos i
poucas borla de inUrTallo. Tiahii o maiido os eeus 6'
INDOS e a mulher 86. Muita vez haviSo manifestado •
dasejo de acabarem iuntos a terreete peregrinarão : i
=.^.,., -^vu,^^^. Morreram ambos oo mesmo dia, foram
amortalhadoe i mesma hora, levados juntos para a
mesma igreja, onde pelo eterno repouso de.ambos ae
dirigiram ao eéu as mesmas supplicas, e d'alli pata o
ceroilerio, onde foram, um apar do outTo..coDtinusr a
dormir o somno profnndo, de que só os acordarA, no
177 7
dia do julgamento final, a trombeta do Seithor : Ors o
que será grande corriola, é se lá no outro mundo om
caminha para a direita e outro para a esquerda I ...
27 DE ABRIL.
PONTES PENSIS. — Estiveram em graade voga até
nãío ha muitos annos, e nada mais elegante do que ess^
immenso taboleíro lançado de uma a outra margem dò'
Tio, e suspenso por delgadissimos fio» de metal, torclí*>
dos uns nos outros, e sahidos de dous ou mais pílare».
N&o foi devida esta invençílo a engenheiros euro-^
peus. Já havia pontes doestas, e dè tempos immemo-
riaes, no Himalaya, e foi de lá que os inglezes trouxer
Tâo o uso d*ellas para o nosso continente. Nas pontes
de Himalaya é substituido o fio de ferro por cordas
feitas com uma herva dura e comprida, que esponta-
neamente cresce nas montanhas. O taboleiro náo é, por
' assim dizer, outra cousa mais do que uma escada de mâo
suspensa por cordas e que o vento faz oscillar como se
fosse uma rede. Algumas vezes são aquellas pontea
substituídas alli por um apparelho ainda mais simples^
£levão-se nas margens oppostas duas espécies de tor-
reões, de pedra ou de madeira ; sobre elles se lançn
uma trave, de cujo meio pende uma corda a qiijB
está preso um cesto: entra-se n*eUe, imprime-se^*
lhe um movimento um pouco rápido, e assim se atira
com o viajante para o lado opposto. A vinda para cá
faz-se do mesmo modo. £' uma espécie de tâo ba la l&a.
<•
EMPRESTEM LÁ A AMIGOS. ^Emprestara om su^
geito quantia bastante alta a um amigo, aue nfio só lh'a
náo restituia, mas cuidadosamente lhe fugia todas as
vezes que de longe o lobrigava. Pilhando-o emíim um
dia> assim lhe disse: «Homem, o que lhe peço é que me
restitua, ou o dinheiro ou o amigo. »
178
28 OE ABRIL.
à mim»
Ê noítel um manto bordado.
Todo de soes recamado,
Se desenrola no céu 1 1
Sumío-se o astro do dia.
Rebenta n'alma a poesia
Áo cerrar do immenso réu I
noite I sobre as ossadas,
lobre as caveiras mirradas,
'em do céu mystica luz I
Em meigo, doce lamento,
Erçue um yôo,ó pensamento
Vaipousar-te n'essa cruz I
Que m*importa a mim a vida
Que se passa não sez^tida
Nos verdes annos do amor ?I
Que m*importa esse tumulto
Se é da cidade-um insulto
Aos canto» do trocador? !
Que m'importa o brando riso
D'um anjo do paraiso,
Um suspiro, um seio a arfar!
Qúem'importãoolhosternos ,
Seus juramentos eternos,
Seeun&o 8ei,nãoqueroamarI
De que me servem as florei
Se náo encontro uns amores
Só meus e de mais ninguém?
Quem' importa a mim a terra,
Se todo o mundo faz guerra
A quem riquezas n&o tem ?!
Quem'importa amim a fonte,
O prado, a selva e o monte.
Se ámanhâ podem morrertí
Oque me importa a vaidade.
Se velhice e mocidade ^
Podem é tumba descer ? !
Só não morre o sacro lenho.
Onde os olhos meus eu tenho.
Onde a minha esperança puz :
Possa, em quanto eu tiver vida,
Bespeítada ver e erguida
Esta santa, humilde cruz !
179
Francisco José Pereira Palha.
SARCOPHAGO.— É derivada esta palavra de duas
gregas que sígnificSo
Ur.
os antigoa a nm tu-
mulo em que se Dict-
tia ura corpo que se
nSo queria queimar,
e dentro do qual se
punha uma esperie
3ue tinha a proprie-
ade de consumir o
I quando muito duas
DO que o fogo.
EXTASIS D'UH BEATO. — Era tido por beato certo
hypocrita que fingia eitasis, e de quem se contaTSo
muitas virtujlas : fei'lfae D. Francisco Manoel o seguin-
te epigramma :
lanei diz qve Balthaxar
£' Santo, e em sua oração
Se ergue três pnimoi no ar :
Se elle é Santo de enchemâo^
Bem te pode Icnanlor.
Jía» scjundo são os psalmot,
At vtriudíc e os ensalmos.
Que do Santo tenho ouvido,
Inda espero vel'o trguido
Ho ar maii dê trinta palmot.
30 ím ABRIL.
ANDAR DE CABEÇA PARA BAIXO.— Por mais de
uma vez se ha vi^to ; os meios porém com qu« se con-
seguia er&o tão grosseiros, que só a ce^os poderiâo
Uludir. Hoje obtem-se • isso sem cordeid ^ nem ara-
me&» e recorrendo tão somente » um principio de
physica.
Êxperimentasle^ alguma vez, que pondo em cima de
orna lage uma' pequena superfície de coiro moVhado en«
fiada n^ima corda, e puxando por esta, se leTsoita a ka-
ge, apesar do seu peso ?
Ajustando uma á outra doas superfícies de mármore
bem lisas, não sabeis que adherem por tal modo, que
96 torna diíficiUcmo 8ep«ral*aâ, sobretudo se pr^éviamente
se molharam ?
Ao p5r contra a* bôeea um vidro que a cubra, e aspi-
rando fortemente o ar, ignorais acaso que fica o viaro
agarrado àos beiços, deixando até um signal sensí-
vel por algumas- lK)r.a8 se se aspira com demasiada
força ?
Pois é n*ls?o que se funda q poder^se andar de cabeça
para baixo. É a pressão da atmosphera, que de todos ôs
lados nos^ comprime, o que dá logar a que um homem se
agarre eom o« pés ao tecto de uma casa. Supponhamos
que é este liso como um espelho e que a sola dos^apa-
tos do homem seja tão lisa como o tecto ; applicando
successivamente, e com todo o cuidado e precaução,
08 pés ao tecto, e apoiando-os por modo tal que não fi-
que entre as duas superfícies a mínima partícula d^ár,
ncará o homem suspenso,^ e a^sim poderá escorregar
pelo tecto obra d'algumas pollegadas.
Para evitar alguma desgraça convém suspender uma
rede por baixo e a pouca distancia do homem.
Acautelle-se em todo o caso quem se decida a fazer
a experiência.
181
1 DE MAIO.
ZURRILHO.~B'um quadrúpede que ha nas campinas
do Rio Grande de S. Pedro do Sul, mais pequeno que
o furão, e de côr branca, com listas pardas transversaeã
ao lombo. De dia conserva-se occulto nos buracos do
campo e nas moitas de capim, e de noite sabe do seu
escondrijo. Sustenta-se de insectos e de capim. E' tâo
manso, que fiado nas terríveis armas que a natureza lhe
deu, quando perseguido, n&o se apressa na fuga, e ai
d*aquelle que o persegue ou intenta apanhar, porque
lança contra elle um jacto de liquido de insupportavel
cheiro, que excede centenares de vezes a nauseabun-
da assa-fétida ! I Se o perseguidor é um câo, espoja-
se desesperadamente e foge espavorido pelo campo ; e
se é de caça, n'es8e dia não caça mais ; se é ^ente, ou
não ha de ter olfato, ou se o tiver, fica desatinado, e
perde a roupa em .que tiver cabido o liquido do zur-
rilho, pois nada é capaz de lhe tirar *o cheiro 1
£' mui lindo quadrúpede, mas- não se lhe hade to-
car ! Quantos zurrilhos n&o creou Deus também na «8«
pecie humanai...
. António Maria do Amaral Ribeiro,
(Porto Alegre, Império do Brasil)
2 DE MAIO.
DÁ DEUS NOZES... BEM SABEM A QUEM.— Que ar-,
vore é aqueUa ? » — me perguntava ha dias o Dr..., pas-
seando comigo no meu jardim.
— « Uma nogueira » — lhe respondi.
— c Uma nogueira j muitas nozea me havia de dar sq
eu aqui morasse 1 »
— c Porque ? »
— « Forque dá Deus nozes a quem nfto tem dentes. *
182
â 0E MAia
TÍJOLQ. ^Das mais remotas eras provém o uso dos
fijolos. Os primeiros edifícios da Ásia, segundo se co*
lhe das suas ruinas, erâo de tijolos sêccos ao sol ou co<7
zidos ao fogo. De tijolos» como nos ensina a Eseriptln^
ra, foi fundada por Nembrod a cidade de Babylonia, e
de tijolos se compaginavâo os decantados mu vos eom
que a sua Rainha Semiramis a jcereou. Ainda na Ay-
m^nia, Geórgia e Pérsia, subsistem vários edifícios
anciãos compostos do mesmo material. O uso dos tijo-
los, originário da Ásia, derramou-se de lá para o Egy-
pto. Os gregos o adoptaram. Vitruvio, ai;chitecto e es-
òriptor romano do tempo d' Augusto César, diz que alu-
da em seus dias se via em Athenas o Areópago (A. 51, 5
de Setembro), construído de tijolos e coberto de colmo.
Roma, no começo e nos primeiros quatro séculos, do-
nhum a outra cousa era senão umaggregado immenso de'
choupanas de tijolo e adobes; depois é que os dominado-.
res do mundo tomaram dos povos da Toscana, ^ente já
então de mui antiga e crescida civilisação, o edifícarem
eom boa cantaria, mas pelos últimos tempos da repu-
blica tornaram-se ao tijolo. Em vários paizes, serve no
pavimento de muitas casas çm logar 4e sobrados.
4 D£ MAIO.
EXISTENaA DE DEUS. — Existe um Deus- As her-
vas do valle e os cedros das montanhas o bémdizem ;
f> insecto susurra seus louvores ; o elephante o sa6-
da ao despontar do sol ; a ave o canta entre a folhagem;
a raio faz brilhar o seu poder ; o oceano declara a
sua immensidade. Só o homem é capai de dizer —
nâo ha Deus I...
Chdteaubrianã.
183
5 DE HÁlO.
ESTIMULO PABA LITTERATOS. — leia a seguin-
U relaçio quem por ventura se (lersuada que nunca
das letras se tirou vantagem pecuniária :
Ariosto vendeu por 150 libras o seu Orlando Furioso,
Por igual quantia vendeu a Viuva Moliére algumas co-
medias inéditas de seu marido. Com os Caractere* de
Theophroilo, de La Bruyère, ganhou um livreiro'' maia
de cem mil francos. O Jelemaco rendeu áfamilia deFe-
iielon pare cima de milhio e meio de francos. Walter
Scoll ganhou mais de dous milhões de francos com m
seus romances, e Byron mais de cinco com osseuspoe-
mas. Millon vendeu ror 145 francos o seu Poratjo Per-
dido a um editor inglez, que ganhou com elle mais d«
400,000. Racine recebeu de Luii XIV 240,000 libras. Du-
cis com es suas peças de theatro ganhou em um anno sú
32,000 francos t 41,000 no immediato. Com os Eiiouca-
dot ganhou Ándríeux 18,000 francos. Em um anno só
rendeu Figa/ro a seu author, Beaumarchais, 123,000
£rattcos.
E digào lá que nâo é bom saber escre?^ ! . . .
6 DE MAIO.
CHARADA.
Se o fino alambre diviso>«
Ê cousa muito engraçada
Como por elle attrahida
Logo a eile estou íUada... 2
Káo tenho valor pôr frívola;
Somente despreso incito;
Desgraçada da mulher
Que-tem e£te sobrescripto.tl
Que sitio tão lindo I
8ue bellos retiros I
h I quantos escuta
Saudo£06 suspiros I
Os ranxos divagâo
rf as ruas copadas,
Gravando nos troncos
Memorias passadas.
Que bellos caleches I
Que lindos carrinhos 1
Ha hoje farofia
Nos sítios visinhos ?
Já sei : é domingo,
E as velhas gaiteiras,
E velhos e moços,
V&o-se ás Larangeiras.
Que vejo I lá vem
O meu amorsinho ! . . .
Como é engraçado 1 . . .
Como é bem feitinho J« •
No bello arvoredo,
De antigo solar,
A grato passeio
Me vem convidar.
Por elle somente ^
E' que eu, sua ella,
Agora sahira
Aqui da janella.
♦ ¥ ¥•
185
7 DE MAIO.
CONSERVAÇÃO DA CARNE. — Acaba de descobrir-
86 um processo dos mais simplices para conseryar a car-
ne, sem a salgar, sem a seccar, sem a pôr ao fumeiro,
sem a guardarem caixas hermeticamente fexadas, nem
a cobrir com camadas de azeite ou de gordura. Comells
Sode a carne crua conseryar-se durante seis mezes sem
eixar de estar ensopada no próprio sangue e de ter a
mesma apparencia que se sahisse do açougue. Consis-
te o processo em mergulhar a carne em uma substancra
derretida, tirada d'ella própria ; pendura-se depois aâm
de que escorra esse liquido, e o que d'elle resta na si>-
perucie da «arne forma uma capa ou envolucro henn»-
^co, a principio moUe e depois firme, impermeável ai>
ar e á humidade, e que por isso preserva de toda a es-
pécie de corrupção. Assim se pode expedira carne en-
saccada ou em caixas. —A muitos convirá saber es4a
receita.
8 DE MAIO.
XADREZ. — Jogo oriental. Echecs lhe chamfio os
francezes. Palavra tirada da persana, schaht que signi-
fica Rei ; ou porque o Rei é uma figura importante
n*estejogo, ou porque, segundo dizem, foi para di&-
U ahir as melancnolias de certo Principe, que um ma*
thematico o inventou. Alguns o attribuem.ao erego Pa-
lamedes, outros aos chins. As peças do jogo ao xadrei
téem em portuguez o nome geral de treJ)elht>s ; assim
dizemos: o sacco dos trebelhos do xadrez. O amável Moíb"
taigne disse : não gosto do jogo do xadrez, porque não
é bem jogo. £ a pensadora Stael : «Para jogo é muito
sério e para negocio muito frivolo. »
N&o ODstante, já se tem visto acérrimos jogadores do
xadrez, que apartados entre si por centos de léguas»
pelo correio o tem jogado,- despendendo n'uma só par-
nda uns poucos d'annos.
186
De Inglaterra foi uma vez a França nm jogadar de ia^
drez mui presumpçoso, de propósito para um duello de
táboleiro com o mais famigerado xadrezista de Paris :
talvez se fosse necessário dar quatro passos para sali-
var um desgraçado, os nâo desse.
(A. 52. p. 285. 1. 53. p. 85] .
9 DE MAIO.
A YI0A PELA SGIENGIA; —Em 9 de maio de 184) a
sciencia perdeu um cultor desvellado, a Universidade
de Coimbra um alumno estudioso e distincto, o Maranhão
um joven que o hoUtava com seus conhecimentos, e
uma família um filho a quem amava carinhosamente.
Nós, como seu compro vinciano, choramos sua morte,
e ainda com o coração repassado de saudade escreve-
mos estas linhas.
Raimundo Braulio Pires de Lima vio a luz do dia de-
baixo do céu maranhense, e depois dehaver adquirido
conhecimentos de humanidades, foi para a Universida-
de de Coimbra, onde se matriculou na faculdade de me-
dicina.
O joven estudioso nos três primeiros annos alcançou
coroas de gloria nos campos ae Minerva, e no 4.^, cu-
jo objecto d^estudo é a anatomia, appíicou todos os
seus cuidados, de dia com o escalpello em punho es-
quadrinhando os se^edos da natureza nos cadáveres,
e de noite no silencio do seu gabinete pensando sobre
a belleza da maehina humana, e~ admirando a magnifi-
cência do Supremo Architecto.
Tão longo e incançavel trabalho arrancou o infeliz
mancebo dos braços da sciencia para entregaro á mor-
te, e no longo cathalogo das victimas do estudo appare-
eeu mais um nome.
O lílm.** Sr. Dr. Sebastião d* Almeida, lente d'ana-
tomia, penetrado de saudades, mandou gravar um bel-
lissimo quadro representando uma figura abraçando o
tumulo do illustrado Maranhense, no qual se lé o se-
guinte epitaphio
Siste^ attende, viator, i
* Hoc sub^lapide jacet
Raimundus Braulius Pires de Lima,
Qui prope turinum flumen natus,
At Golimbrias Àcademiam cum studii
Venisset causa,
Naturam scrutando,
Sicut Plinius, excipitur morte I
Tofmerita in viridi Juventa,
Tamque dirá juvenis sors pulcherrimi.
Pátria procul atque, neu I . ..
Amantissimis parentjbus,
A te precationes la^rimasque petunt.
9 Maii 1841.
Maranhão 1855.
Dr- Cesitr Áuqasto Marques.
(Brasileiro)
10 DE MAIO.
febrífugo económico. — Acabão de publicar
dous afamados médicos de Paris uma extensa 'memoria
ein que prov&o o grande proveito que da semente da
salsa se çode tirar. Esta planta indígena, e tâo vulgar,
gosa de incontestável propriedade febrífuga ; o cosi-
mento de suas sementes pode muito bem substituir o
da quina no tratamento de cesões. Além de ser um fe«
brifugo enérgico e seguro, é também .económica*
{Á. 53, p. 207.) .
18&
11 DE HAIO. '
ÊCHO. — Quando o ar, depois de \ibrado, eBconira
Mil obstáculo, são devolvidas, ou refleclidas por elle,
ts ondas sonoras. £' esta a causa dos echos, que nada
trais sâo do que a repetição distincta de sonoras on~
áulações, reflectidas por um corpo solido. Satisfazem a
esta condição os edifícios, os rochedos, os valles, e até
és veze6 as paredes oppostas dos quartos ou de aboba-
das, annunciando o echo pelo som bastante claro dos
passos, ou pelo regresso das palavras. Para ^ue haja
echo, é nreciso que o obstáculo seja perpendicular á
direcçâodo som. Quanto mais aífastado etle fôr, tantas
mais palavras se poderão pronunciar antes que os pri-
melros sons ({ue foram de encontro ao obstáculo re-
gressem e principiem a resposta. Percorre o som 338
metros por segundo (obra de 1,100 pés], tempo duran-
te o qual se podem pronunciar oito ou dez syllabas ; é
pois necessário estar a uma distancia de 338 metros pe-
lo menos, para que distinctamente se oução os sons
devolvidos pelo echo, pois se n'um segundo percorre o
som 338 metros, acabará de pronunciar-se a 10.*^ sylla-
ba quando se ouvir a 1.^ devolvida: em menor distancia
haveria confusão e seria o echo inintelligivel. Tem-se
notado que o echo repete mais palavras de noute que
de dia« o que provém sem duvida da menor elasticida-
de do ar, que está mais frio, e que por conseguinte di-
minue a velocidade do som. Tem-se reduzido a práti-
ca diversas theorias para dar a certas construccões a
faculdade de repetir os sons, mas nunca se poude isso
perfeitamente conseguir. Os echos mais singulares que
66 observão em certos edifícios sâo quasi todos devi-
dos ao acaso. Podem duas ou mais superfícies oppostas
reflectir umas poucas de v^es o mesmo som. Não ha
echo nas planícies nem no mar ; sâo pofém frequentes
junto a rochas e montanhas. O do parque de Woodstock
na Inglaterra e o de Simonetra na Itália, sâo os mais
189
netaveis : este ultimo repete o mesmo som 40 vezes. O
mais nomeado em França é o de Verdun, (jue 12 vezeis
repete um som.
— Que é lá isso? respondia um sugeito a outrt) qiK
lhe exagerava certo eeho dos mais prodigiosos ; ecno
um que eu ouvi ; isso é que era eeho I .^. perguntava-
lhe a gente cá de longe: «Eeho, como estás? e respon-
dia logo : « Muito bom, muito obrigado. » Isso é que eri
€cho ; o mais ó historia [A, 51, 26 de septenibro). »
13 DE MAIO.
OS MARTYRES DO MUNDO. —O Rei é martyr &e lut
portunaçées, o pretendente de esperanças, o ministrt
de requerimentos, o rico de cuidados, o pobre de ne^
cessádades, o poderoso de ambiç&o, o sábio de inve-
jas, o néscio de presumpçáo, o virtuoso de escrupuloí,
o peccador de culpas, o cobarde de temores, o doente
de dores, o valido de receios, o casado de obrigações,
a bonita de namorados, a feia de escameo, o bemfeitor
de ingratidões, o amante de ciúmes, o parocho de im-
pertinências dos fregueses, jornalistas e autores de
avisos e conselhos de quem os lê. "^ * ^
CHARADA.
Por mim vão novas leis, vai nova crença,
A inimigos e incógnitos paizes — 3
Aborreço, atormento, e ás vezes maUx,
Sou a herança peór dos infelizes — 1
Por politica vã, ou sede d*oiro, •
De sangue náo Qulpado a terra inundo,
E apesar do clamor da humanidade.
Vou alargando os términos do mundo.
*190
13 DE MAIO.
BIBIAS FORÇADAS. — Este género, a que 09 france-
ses cham&o bouts rimes, éum dos mais pueris abusos da
)oesia. Consiste em se darem, se é um soneto que se
)rètende, as quatorze palavras consoantes que devem
'echar os quatorze versos ; se é décima, as dez ; e assim
los outros casos. O trovista hade completar aquellas
Inhas por modo que o- total apresente sentido. Attri-
hie-se a invenç&o d'esta semsaboria, arlequinada, óu
nelhor ainda, palhaçada do espirito, ao rimadorfran-
<ez Dulot, que floreceu, se aquillo se pode duamar fio-
lecer, por meado do século XVIII.
Os improvisadores ainda hoje costumflo pedir rimas
los circumstantes e fazer com ellas prova da sua habil-
idade. O italiano Bindocci, de Sienna, que no anno
ái 1853 deu aqui em Lisboa e no Porto varias sessões
d« improvisação muinotaveis, mas a que poucos concor-
re*>am, depois de escrever os quatorze vocábulos finaes
paia um soneto, pedia ainda que lhe determinassem o
assimpto d*elle. Mr. dePradel, em Paris, pratica o mes-
mo , e a coisa, se bem que n&o é fácil, nfto tem comtu-
do t^nta difficnldade como geralmente se cuida : de-
pende de certo habito, que se adquire pela pratica, b
Í[ue atéx^erto ponto pode provir de regras sabidas, e qud
azem parte da arte de improvisar. Nos poetas árcades»
ou com nheiro d*isso, é garridice responder a um sone-*
to laudatorio ou satyrieo pelas mesmas rimas. Nos nos-
sos bons lempos de Coimbra era ainda moda entre os
estudantes versistas fazer sonetos burlescos de rimas
forcadas; d'isto, como dos acrósticos e anagrammas,
poderse dizer o que dos sonetos de caud« escrevia
um critico : €São brincos dos que asmusns ainda nã»
desmamaram. 1^ Sentença que n&o deixa de ter igual
applicaçâo ás bambuchatas dos pintoic^s.
(A. 55. p. 148.J
191
guim que,
■empre que
faiia algu-
ma prisfio,
eiUva um
Er o verbio. [
m dia
prendeu um
i; o n h ecido
por muitas
alicaatinas.
O tal sujei-
sofiavi de
lionrado e
ihamsTa a
todas la-
droes; pa-
rodiando
Francisco I,
ra o beÇe-
guim, edil- .
lhe:
-O meu
corpo irá
preso.maaa
minha hon- — ■
ra flca li-
— Também, redargue o beleguim; guejá mai« da )ima
Tez e tiaht filado — Ondt não Iva, £j-A« « ptrde.
192
15 DE MAIO.
ABAIXO 13 RODAS. — De um e to quentíssimo artigo
Fom este (ítuto publicado nt Gaiella Médica de Liiboa
pelo nosso distineto médico e eminente escriptor, o Sr.
br. Tliomaz de Carvallio, eilrahimos o trecho seguinte :
<Abra-se o dique á torrente dos desejos : cada nm
ponha fo^o em aua alma e deiíe Hrder em labaredas as
suas mau bea éticas paixões; rebaiíe-se o homem i
condição ào
animal: n&o
se lhe dê do
dia de áma-
seus filhos :
a eomm uni-
dade detet-
punisla de todos os coDimunisnias e socialismos, po-
dem os declamadores e defensores da ordem metter os
seus argumeoios na algibeira, que me nSo sei haver
eam elles. As leis cítís e religiosas impúem deveres »o
matrimonio, e a roda com uma s6 volts desliga dos mais
sagrados d'elles. A lei e a religião dizem oue o filho é
da familie, a roda responde que basta ser oa communi-
dade , a aciencib diz que cTnovo ente precisa do pri-
meiro Uite e do primeLro amor de sua mãi, a roda tra-
193
«ta a seiencia de visioneira, e confia o filho do homem
AOS affectos d'uma cabra, ou aos affectos ainda mais
animaes da mercenária que se apresenta para lhe dar
alimento. »
Dr, Thomax de Carvalho.
16 DE MAia
ESCADA GRANDE E PORTA PEQUENA. —Indo um
portu^uez ver e admirar em S. Thíago de Compostella o
úiagniôco templo de S. Martinho, notou a desproporção
que havia entre a porta principal, que era pequenissi»-
ma, e a escada próxima, obra magestosa e de grande
formosura. Perguntando-lhe um dos frades do conveiv-
io oque lhe parecia d'aquella escada, « Pare ce-me, res-
pondeu, que foi com medo que fugisse, que Vossas Re-
vereudissunas fízer&o a porta t&o pequena I »
PULGA NO OUVIDO. — Acontece muitas vezes que
uma d^aquellas minhas senhoras entra sem ceremonia
p«lo ouvido d'um christão, e principia a passearia por
dentro como se estivesse na sua casa, occaslonando
uma comixâo diabólica, e dando vontade de lhe fazei
estoirar a pelle. Dous meios, qual a qual mais simplea.
ha^para as fazer sahir do seu entrincheiramento :
1.^ Lançar no ouvido uma pouca de saliva, inclinas
dnrante um minuto ou dons a cabeça para o lado oppo»^
to, e deitar-se depois sobre o lado do ouvido accomettído
até que a invasora saia envolvida no liquido e toda
pingando :
±y Chegar ao ouvido uma vela aecêsa, e conservais
«ti até sahir o bixo, que aborrecido das trevas em qp»
, andou lá por clentro, procura logo aquella traiçoeira
•. claridade. É uma imitac&o da pesca ao candeio.
194
17 DE «AIO.
lYRA.
S0 tu me querefi a teus pés prostrado^
Qfana de me haveres já rendido.
Ou já em mudas lagrimas bauhadOr
Volve, impiedosa,
Yolve-me os olhos, t
Basta uma vez !
Sq me queres de rojo sobre alerra.
Beijando a fímbria dos vestiáos teué.
Calando as queixas que meu peito encerra,
Dize-me, ingrata,
Dize-me : -r-Ea q^oero I —
Basta uma yez.
afãs se antes foleas de me ouvh na iyra
Louvor singelo aos amores meufi«
. Por que minha alma tanto em váo susptra»
Dize-me« ó bella,
Dize-me : -* Eute amo !
Basta uma vez I
AnUywto êon^lves Dias.
\S DC: I&ÀIO.
VALHAMOS SAHT:o OVIDK). — E* das mais extrava-
gantes a receita de que usa a gente Fustica no Minho
afim de recobrar o ouvido. Promette áquelle milagroso
aanto uma telha fartada. Na véspera da festa, vai-se ao
telhado de um visinho, furta-lhe uma telha, e vai em
romaria offereceFa ao Santo.
195
19 D£ MAIO.
CASTIGO DA GULA. — EmElio Lampridio se lè o
"estratagema de que se va>eu o Imperador Heliogaballo
para afugentar os aulicos que ás horas de jantar o pro-
curavâo sempre, ávidos de bons manja-
res. Mandou sentar um dia -a umai dúzia
d'elles em cadeiras muito altas, porém
cheias de vento, e quando estav&o no
melhor da festa, « saboreando os mais
deliciosos boccados> ordenou que abai-
xassem 08 folies ás cadeiras, e pouco a pouco se foram
mirrando os meus amigos até ficarem com as caras de-
baixo da meza.
E era uma vez. Nenhum mais lá foi j«Dtar«
20 DE MAIO.
O MAIOR SINO DO MUNDO. — A pag, 267 do Alma-
nach de 1852 falíamos em dous sinos fataes ; em um si-
no lisongeiro a pag. 242 do de 1853 ; na invenç&o dos
sinos a pag. 347 do mesmo ; em uns poucos de sinos
monstruosos a pag. 75 do de 1854; e no sino da infâmia,
em um sino esquisito, e no sino milagroso, a pa^ 171,
211 e 319 do de 1855. Hoje fallaremos no maior smo do
mundo, que se admira em Meaco (a principal cidade
do Japão), no templo de Buddha. Tem um pouco mais
de 17 çés d' altura, e pesa um milhão e setecentas mil
libras japonezas, o que daria um bom par d* alqueires
de patacos — uma patacoada immensá. — E' por tanto
cinco vezes mais pesado que o de Moscou, que a pag. 75
do Almanach de 1854 dissemos pesar 340,(M)0 libras I
CORTEZANIA. — Um certo Jo&o Fogaça, dirigindo*^
se uma occasião a fallar a El-Rei D. João III, tropeçou
na ponta de uma esteira; rio-se El-Bei e a Rainha ; vi-
ra-se elle de repente e diz-lhes : « Querem que tro-
pece outra vez?»
196
21 DE MAIO.
RIO DAS AMAZONAS. — Se não concentrasse hoje a
Europa a sua attençâo exclusivamente na grande que»>
tão do oriente, e nas peripécias de tantos géneros que
diariamente apresenta, com mais interesse por certo
observaria a marcha pacifica e civilisadora seguida por
muitos governos d'<élem mar. Grandioso espectáculo nos
dão hoje as duas Américas, agitando-se para estabe-
lecerem immensas vias de communicação de uma a ou-
tra margem de um continente em que' as distancias se
contão por centenares de léguas I
Perdesse a imaginação ao considerar as infinitas rí-
Í[uezas que no seio encerra um solo de tão espantosa
ertili^ade, riquezas de que já se houvera poaido co-
lher máxima vantagem.
Imagine-se um rio de 1,200 léguas de exteosão, nove-
centas das quaes podem ser percorridas em todas as es-
tações, recebendo as suas aguas de umas 80 ribeiras^
30 das quaes navegáveis a mais de 400 léguas pela ter-*
ra dentro, e uma bacia immensa comprenendendo ter-
ritório de nove estados, e fai^se-ha idea da importância
da navegação do Amazonas, considerando sobretudo
que a profundidade de suas aguas permitte alli facilli-
ma circulação a toda a qualidade de navios. Resulta de
documentos oíliciaes que seguindo o curso do rio, e pe«
netrando no interior das terras pelos seus principaes
afQuentes, se pode explorar o Peru pelo alto Amazonas
até Balsas, que fica a 60 léguas do Mar Pacifico ; pelo
Huallaya, ate 90 léguas de Lima ; pelo Ucayali, até 40
léguas de Guzco. A republica do Equador é accessivel,
j^or Santiago, até uma distancia de Loja que facilmente
se pode percorrer em 8 dias, e por Napo até uma dis-
tancia de Quito que se vence em seis. O Rio Negro con-
duz ao centro de Venezuela ; o Madera á Bolívia ; a No-
va Granada é accessivel por duas ribeiras. Seis affluen-
tes do Amazonas communicão com as três Guyanas» in^
197
gleta, franceca ehoUandeza. Que. futuro p^ra anave*
gaç&o interior ! . . . .
Xá a companhia brasileira, incumbida de estabelecer
«n senriço regular de yapores n'e9te çande rio» expede
todos 08 mezes um navio do porto de Belém, na provia^
cia do Pará, o qual sobe pelo rio acima, percorrendo
em nove a dez dias as 360 léguas d'alli ate á barra do
Rio Negro. Igual distancia separa este ponto de Nauta,
limite actual de seu transito no alto Amazonas. Juntando
a esses 20 dias de viagem os 35 ou 90 necessários para
chegar da Europa ao Pará, vô-^e gue apenas são
precisas, para efifectuar por alli uma viagem ao Equa-
dor, 45 aõO dias« em vex de 4 ou 5 mezes pelo Ca-
bo, d'Hom.
Para fazer idéa da importância oommercial de seme-*
Diante navegação, bastará dizer -que a.mais de mil cos*
-tos de réis suoio em 1863 o proaucto da alfandega de
Belem^ e a mais do dobro talvez em 1854. O que porém
antefl de tudo conviria indagar, por geral interesse, é
86 não deve indistinctamente ser concedida a todos os
5 ovos a liberdade de navegação no Amazonas, e aboli-
o todo e qualquer imposto, tanto em sua foz, como
nos pontos importantes de uma e outra margem. Uma
tal via de communicaçâo pertence, como o Oceano, ao
mundo inteiro, e com aquella illimitada liberdade de
navegaçfto, ganharia» antes de tudo, a America Me-
ridional.
23 D£ MAIO.
PRIMEIKO PERIÓDICO RUSSa — Foi fundado em
1703» e não só foi um de seus redactores Pedro Grande,
mas até muita vez se occupou em lhe rever as provasv
como se reconhece por diversas emendas que fez em
duas cuidadosamente guardadas na Bibliotneca Impe^*
rial de S. Peters5urgo.
198
23 DE MAIO.
SARDINHAS.— Pescâo-se todos os annos na Breta-
nha, n*uma extensão de 60 e tantas léguas de costa, 57((
milhões de sardinhas, metade das quaes se comem fre»>
cas e a outra metade se manda salgar. Produz a ven-
da total 3:585,000 francos, ou 573:60(^i|000 rs. Emprega
esta pesca 160 navios, cuja tripulaç&o é de 3,500 homens.
A preparação, o transporte e a venda, da sardinha, enh-
pregáo em terra 4,500 pessoas, de aue 2,500 . sfto mi>-
Iheres. Occupáo-se 4,400 em vendei as pelas terras do
interior. O trabalho das redes dá que fazer no inverno
a 3,000 familias, compostas de 9,000 pessoas, metade da«
quaes do sexo feminino. Dura apesea, termo médio, 210
dias, e produz aos que n'ella trabalhão um lucro de mais
de 3 milhões de francos.
Um facto muito curioso, e que ainda até hoje ere nfto
poude explicar, é que durante quatro mezes desappare^
cem as sardinhas em todas as costas de França. Só ahi
se conservão desde o mez de Abril até o de Novembto.
A sua emigração tem dado logar a diversas conjecturas,
mas nenhuma d^ellas se funda no que quer que seja de po-
sitivo. O que parece certo é que emigr&o quando chegâo
ào seu maior desenvolvimento. Para onde v&o? é cousa
que ninguém -sabe ; ninguém ignora porém que d'ahi a
ijuatro mezes haverá outra vez uma invasfto de sardinhas
^m todas as costas de França, e o mais notável é não se-
rem as mesmas que d*ahi emigraram, o que se reconhe-
ce pela sua pequenez, e é causa de se adiar a pesca de
dous mezes, afim de que possão crescer n^esseinterv alio.
Encontrão-se as sardinhas em maior numero no OcecH
no Atlântico Boreal, no Mar Báltico e no Mediterrâneo.
Deriva-se o seu nome da Sardenha, em cujas costas fo-
ram encontradas pela primeira vez.
' É peixe que não tem contra si em Portugal, senão asna
barateza e o ser demasiado commum, e por toda a pav*
te o cheiro, que a todos repugna menos a quem o come.
199
reepoude i noeaa qua-
resma, celebrao elles n
festa do fluirão, que é,
porque assim o diaa-
IU08. a sua PaschoB.Du-
lilhiçiodese trabalhar, '
nos quaes se banque- «
teião, Taiendo ao caboH
d'elles umas orações |
Bolemues que desrexão 1
em pedir a Deus qne T
dè cabo da canzosda i
clirisii. Obrigadissimol 6
(Á.H. ilãe Setembro.) l
AEHOZ. — Eapecitt
de grão que sã depuisf
de mondado é brauco.^
Tem B canna mais gros-
sa e mais nodosa que a do trigo. As suas ío
dao as daa caunas. NSo jirodui espiga, mas c^. ,„ ,,. „„
a modo de milho. A bamba em que esti o grão, é amareU
la B de figura ovada. Niosedá senão em terras húmidas
e regadias. Cosido em agua é o comer ordinário dos Ín-
dios, porém é pouco alimeotoso. Abedida ordinária
dos cbins é vinho d'arroi. cuja côr tira í do alambre, «
é t&o saboroso como o melhor vinho da Europa. (BluUou]
MAXI5U DE VAN-DYCK.— Quando alguém me of-
fende, procuro elevar tso alto a minha alma que a
offensa lhe não chegue. >
200
o UHOR. —Foi aeeim que o deBnio Raphael Bluleau :
*£ o maior lyra uno das virtudes; os ilicumes da rasAo
são lieresias. e
roa suspiros sflo '
do juizo os ul-
' timos alenlos.
I Ue todo o seu
> poder nenhum
Deoisapode es-
perar; nenhu-
i ma luz, pornue
I é cego ; nenFiu-
I ma fazenda, por
f que anda nú ;
lho, porque é
nLBÕrmeia,por- '
que mmca despio n nas ; nem trégua alguma, porque
e açoute dos seus aequaie« e vefdugo dos seus vas-
— Para nm padre, cooliecia o anwr menos mai 1 .-> . .
CHARADA.
2i7 m MAIO. .
nÁNTEÍGA. — Sendo os leites t&o antlgoe goclo a
mundo e o primeiro de todos os alimentos ; tendo sido
pastores tantos povos primitivos, e derivando-se do
leite a manteiga, por via de uma operação tâo simples
Qomo é o chocalhai o oubateVo, nâo é pouco para admi-
ração que o uso d*esta agradável comida, ou delicioso
tempero, nâo date de tempos immémoriaes. Os gregos
da antiguidade n&o usavâo de tal ; em eras mais receiK
tes é que o aprenderam dos scythas, dos thraeios^ ou
dos phrygios. Suppóé-^se que os romanos só do seu ít^
do com os povos da Germânia é que tiraram o fabrica
manteiga, da qual todavia se nâo servião senão como
de remédio medicinal. Nas Hespanhas, por decurso de
muitos séculos, só para emplastros de feridas a empre-
gavão. N'uma obra india eseripta 1,200 annos antes d»
nossa era (ha por consequência hoje cerca de 3,000) fair-
la-se na manteiga para certas ceremonias religiosas.
Nos tempos primitivos dá Igreja, manteiga, e nâo azei-
te, é o que ardia nas lâmpadas, costume que ainda Da
Abissínia se conserva. A manteiga lavada do sal? es^
pecialmente sendo bem fresca, ainda hoje muita gente a
applica ás feridas, á escoriação dt)s cáusticos, e ás
cíiagas ; mas o seu principal, e generalíssimo uso, é pa*
ra temperar^ ou a seccura do pão, ou um sem numero
deiguariaSj Um cosinheiro moderno sem manteiga feriai
um obreiro sem ferramenta.
Differentes engenhos setêem inventado para fabiloar
manteiga. O mais trivial é o que chamão })arata. É um
eylindro de metal, disposto horisontalmente, com irst*
vessas mettidas no eiio, e uma manivella por fora, por
onde se lhe pega para o fazer girar ; o leite que dentro
se lhe lança decompõe~se por esta successiva agitação,
ejseparadas suas partes sorosa e caseosa a butyrõsa^
que é a manteiga. £m algumas terras mettem o leite em
odres pendurados do tecto da casa, e atirando estes
20t
como péla de uma banda para outra, prefazem com
mais tempo e menos perfeitamente a mesma operaç&o.
EmsQDuna, como todo o ponto está no bater o leite,
muitas pessoas fazem a manteisa açoitando o leite den*-
tro de uma vasilha com uma comer de páu^
O fabrico da manteiga em Portugal já foi menor do
3ue hoje é, mas está ainda longe do que deverá ser um
ia, quando, mais adiantada a agricultura, tivermos
Í»ast08 abundantes, e por elles abundantes e excellen»
es gados. Então cessarão de correr para os estrangei-
ros as avultadas sonmias que hoje se nos vão em troea
das manteigas, género de que tanto estáo usando ospo*
bres como os ricos. . . .
28 BE MAIO.
PRESERVATIVO DE CALOTES. — Datáo elles já do
século passado, segundo se deixa ver da seguinte carta
que em 1732 escreveu um sujeito a certo amigo que lhe
pedira cincoentá moedas emprestadas :
€ Senhor : V. S.*^ nunca me ha de pagar; se lh'o pedir,
hade se queixar ; se o mandai citar, nade chamar-me
judeu, perro, e outros nomes d*esta casta, com o que
fico com a iiijuria, perco o meu dinheiro, e a V. S.^ de
amigo. Pois, sennor, acho melhor e mais barato sof-
frer aquella affronta por lhe emprestar, iicando-me o
meu dinheiro sem o enfado de demandas e execuções. »
Vale a pena de se aprender de cór, pois bastantes ve^
zes se poderá applicar.
É jogo de preferencia — 1
Toda a ave o deve ter — 2
Se alguém me der um, prometto
Que ha de trinta receber.
* ♦ ¥■
203
^ -NiidaraenoBdeTTÍ
W edições daa, poesias
i d'e&te célebre authot
fc se encontrão na Biblio-
W theca Publica de Tries-
t te, Fioreceu Petrarcha
E no sécDlo XIV. Foi em
r Avignon e na idade de
r, IO annos que tío pela
' primeira tcz, na igreja
^ de Santa Clara, Laura
Norés, mulher de Hugo
de Sade, o que induio no resto de sua vida: era senha-
ra de eiemplar virtude, e não podendo vel'a senão no
bulreio da saciedade, sacrificou-llie o poéia o seu gosto
pela solidSo. Bem forcejou elle por liberlar-se de uma
paixão sem esperança e que lentamente o minava, o qno
nouvera sido grande pena para a litleralufa, pois foi
«we amor intenso, ardenle esem limites por Laura,
que lhe inspirou os sonetos e canções que tão alto ele-
varam a fama de Petrarcha. e lAo admirados ainda hoje
»6o — Poisem duvida, logo depois do Jíante, o maioí
pfréia dallalia.
A BAPOSA E AS PULGAS. — Eis o modo porque a ra-
posa se livre de pulgas. Toma um ramo de herva verde
na bOcca, e vollando~se com as castas para< algum rio,
pouco a pouco ae vai mettendo n'elle, dando assim lo-
^ar a que as pulgas, fugindo do molhado, busquem o
en:<ato ; assim que tem o corpo todo mettido na agua. e
■pnie que as pulgas eslfto ji iodas poUas no ramo, 1m-
ga-o de repente e alli as afoga todas.
804
m DE MAIO.
CEMITÉRIO ISRAELITA DE EUPATOBIA — E' o
t belio d'aquelte culto em lodo o mundo. Conláni
— — iTel quantidade de túmulos de uma bó pedra,
ae mármore e de granito, de fArma moíiuiuentB!, e cora
beHissirnsH inscripções. E', de muilos séculoBaesta
parle, o único logar em qne se sepultSo todsa as gran-
des familiaG ísmelilaa d'Bquelle3 comamos. Ahi se ad-
mira sobre tudo o mau-
soléu de um eabio e pa-
ciente judeu B quem se
deve um precioso ma-
nuscrípto , cuidadosa-
synftgoga. Este manua-
c«pto, sjmbolo da dou-
trina dosCaraltas, é uma
copia da Bíblia em unui
sú folha de pergaminho.
que tem j>ertD de um
quarlo de légua de com-
ErínientD,e por tal modo
no que se enrola sobre
si mesmo, occupando a final pequeno volume. O autor
de táo enfadonho trabalho empregou ii'elle Ioda a siin
vida, e dii ■ chronica do paii que morrera com mais d"©
cem annos de idade no tim do século KVI. Bem empre-
gada vida I
MACHIMAS PARA TUDO.—EiKre as diversas machi-
nas que diariamente funccionavfio na ultima eiposiçSo
universal, havia-as para coser, bordar, tocar peças de
musica, taier cerveja, descascar lavas e ervilhas, bar-
bear, fazer e embrulhar chocolate, encaracolar o cabei-
lo, calcular, lavar a roupa, e mil outras couaas. mait ou
menos úteis, maia ou menos burlescas.
20ã
1 DE JUNHO.
PEGUREIROS DO JURA. — E' no l.^^de junho mie os
pegureiros sahem de suas pobres cabanas, ev&o duran-
te quatro mezes apascentar vaccas e ovelhas nos {>on-
tos mais altos e férteis das montanhas do Jura, alojan-
do^se ahi em pequenas choupanas, em que ha uma co-
. slnha, uma casa para o leite e o queijo, e um curral. O
gado pasta nos arredores, cuidadosamente vigiado por
pegureiros e cáes, e duas vezes por dia é mugido no
cku^raL
Dezoito semanas alli se passâo na maior uniformida-
de. Depois de mugido o seu gado, senta-se o pegu-
reiro no declive da montanha, e observa a natureza :
pouco tempo lhe é necessário para saber quando está
para vir trovoada, para conhecer a direcção do vento,
ás propriedades das aguas mineraes, e as virtudes das
plantas. De noute contempla os astros, affeiçoa-se a um
em particular, pede-lhe que o proteja, e procura ler
"" n^elie a sua sina. Se passageira nuvem o encobre, é que
fldgum desgosto o espera no curso da vida ; se pelo con-
trario se mostra brilhante e radioso, é que prospero e
feliz deve surrir-lhe o destino ; ora, como n'aque&a es-
tação quasi sempre se mostra alli a natureza plácida e
risonha, contentes e satisfeitos correm os dias do pe«
gureiro, que acordado imaffina, e dormindo sonha, uma
mentura tanto mais fácil de conseguir, quanto é limi-
tadissima a esphera de seus desejos. Nada, por outro
lado, tem alli que temer o peffureiro ; ursos, já os náo
ha n'aquellas montanhas ; lobos, raras vezes appare-
cem ; e.se um por acaso, mais destemido, se apresen-
ta; reunem-se as vaccas, fazem uma espécie de qua-'
drado militar cujas baionettas são os chilres, ladr&o os
c&es, grita a rapaziada toda, e ó um momento em quan-
to se retira o aggressor.
Quatro mezes alli se conservfio gado e pegureiros, até
qBe 08 dias eocurtáo« as noutes esfri&o, e principi&o,
206
homens e aoimaes, a ter saudades. dq lar domfeeticov
gliega emiim o dia 9 de outubro, o dia da festa de £h^
ionisio, o dia do regresso. Vaccás eo.Telhas parecem
tão impaeientes eomo os pegureiros de voltarem a co-
fia, e entendem á légua os preparativos que para isso
fie fazem : a final ordena-^se tudo por grupos^ e põe-ee
1^ caminho, os homens rindo, os animaes saltando : é
tftdo prazer e folia. O som dos chocalhos, o mugido da^
"Vaccas, o ladrar dOs cães, as cantigas pastoriís!» an^
Qunciáo de longe o cortejo; mulheres e creancas lhe só»
Aem ao caminho ; as casas ornaram-se com folhas e flcH»
ves para celebrarem o festivo acontecimento ; fervem
08 beijos de mulheres e filhos, de irmãos e pais ; cru-'
xão-«e as perguntas ; parece redobrar mutuamenta a
aifeíção ; as mesas estão cobertas de carne, de doces
& de vinho ; nos cnrraes ha também para as vaccas um«
Cfima de palha fresca ; e todos se julgão momentânea-
xôente felizes.
Qm vida plácida, innoftente e fielU, é a do oampo 1 . . .
2 DB JCSHa
SâPàTI&IKO descalço. --Em Poflo alegre, no Im-.
perio do Brasil, onde resido, morreu ha annos um sa-
pateiro, e por signal que se chamava Wencesláu Antó-
nio da Silva, era natural de Lisboa, e possuia para ci-
ma de quarenta contos de réis. Assistindo-lhe ao enT
terro, e vendo-o descalço dentro do esquife, improVi-
aei^he no cemitério o seguinte
EPIGRAMMAw
No recinto onde repoitdS/>
Tantos despojos mortaea*
Descalço aqui jaz um quidam.
Que viveu calçando es mais»
António Maria do Amarai JUtiafro. .
207
3 DE JUXHO.
MEIA VOLTA i DIREITA. - Dirigio-se um soldtdo
ao seu Coronel pcdindo-lbe licença para ir 1 terra Ter
sua mU. que nas anciãs da morte o chamava ; ao seu
' 'pedido coDtenta-ee o coronel com res-
ponder: — Meio ooilo — d diretio — mor-
dia. — O soldado cumpria a ordem, reti-
rou-se, e subjugado pelo amor filial, pe-
las saudades da mãi. e pelo receio de me
nâo recolher o ultimo suspiro, poi-^e a
caminho, mesmo sem licença, e andou
por lá doug meiea. Findos elles, apre-
senta-se ao Coronel, marchando sempre
em passo ordinário, jteprehen de ndo-lhe
este a sua insubordinação militar, e per-
guotando-lhe porque aseim procede-
ra, respoode-Ihe o soldado : c Coro-
^n6l-, V. S." maodou-me marchar, e ajn-
da ninguém até agora me mandou fazer
alto; sempre eatou mais cangado!... ha dous mexes a an-
dar !...> O Coronel mandou-lhe Tazer alto diiendo-
lhe : í Perdòo-le pela primeira, mas se lomaras, faço-
te parar por uma Tez, »
Recusara a mesma graça a outro duas veies o Coro-
nel, do que o soldado nSo' Ice caso, allegando que duas
negativas, faziâo uma affirmativa.
Tempera do aço. — Oa celtiberos, e nomeada-
mente 03 da margem do Ebro, que effto tidos em
conta de armeiros primorosos, usavão do seguinte pro-
cesso : tendo foig'adas e promptas, mas de tamanho
mifior do que haviSo de ser, as espadas com ferroa de
lança, euterravio-nas, e assim as deiíarto tomar da
ferrugem ; passado tempo, "tiravio-nas e trabalhavao-
□as de novo. O que restava depois de descascada a fer-
rugem, até por terro e aço cortava sem «e embotar.
Í08
J^
\/f CHARADA. *) \^
^\ ' yv
XEra Bouvines, dos esquadrões á frente, ^<^
^ ^ Que á França gloria dáo, ao Rei eorôa, €\
^X^ Em trémula' bandeira alta fulgura, ^^\
>/s Os Francos animando, em quanto sôa \^
V ' O pesado montante na armadura. 1 x/%
^KJ' \^
>f^^ De que serve renome resplendente ^^
^ N'este mundo, que passa como fumo, ;v
ti ^ Se da bondade o coração não toma, ?^^
^\ E a alma não sente, da'virtude o rumo ?. .2 ^y\
X- . \/'
Filha de Ulysses, capital do reino, ^^ V
\^ Mostras, berço de heróes, de heróes jazigo, ^/^
^^ Acções sublimes, que o vorace tempo ^ ^
P<^ Só 'da memoria riscara comtigo. /-^
XI'*) E' de uma alta personagem, veda- \^
^ ^ se-me até dizer de que hemispherio: o lei- ^^
^<! tor que adivinhe. Se a nâo puz, como de- ^<^
xx^ via ser, no logar d'honra d'este livro, isto ' \à
f/\ é,'logo na primeira pagina (onde figura um ^\
>/^ Imperador), é porque só a recebi quando \^
V elle se achava a paginas 209 : era a pri- f^\
j^ nieira de que então podia dispor e em que ^<^
^^-^^mui gostosamente a transcrevo. ^^^^^
' -é^5^ Á, M. C, ^é^^
. .,,^,jvArj\pj\rvrj\/\Ai\í\rj\rj^j^j^^
5 DE JUNHO.
BEMEDIO PARÁ A MORPHÉA. — O Sr. José Maria
Cordeiro Lima, medico chirurgi&o pela eschola de Lis-
boa, e facultativo estabelecido com excellentes crédi-
tos na cidade de Ponki-Delgada, tem de occupar uma
das mais honrosas paginas na historia dos bemfeitores
da humanidade, se as experiências confirmarem a effi-
cacia que elle, n&o sem bons fundamentos, suppõe ha-
ver descoberto no óleo da tartaruga para a cura da ele-
phantiase, ou lepra tuberculosa. Uma mulher de 24 an-
nos, segundo elle mesmo escreve ao jornal Revista dos
Açores em 24 de março de 1853, padecia esta horrorosa
moléstia havia mais de três annos. Desamparada dos
médicos, tomou, por conselho d'elle, o óleo das banhas
da tartaruga, e na forma de emulsão. Quando havia to-
mado cerca de 6 libras, contra toda a expectação apre-
senta os tubérculos, já de muito ulcerados, em per-
feita cicatrisação, e os não ulcerados, resolvidos qua-
si totalmente 1
«Um homem de cincoenta annos, pouco mais ou menos
(é o mesmo doutor que falia), cujonlho falleceu ha pou-
co de lepra tuberculosa, apparece com a terrivel molés-
tia ha dois mezes ; depois de um tratamento preparató-
rio, empreguei o mesmo óleo, e na mesma forma, e ha—
vendo tomado quatro libras, é táo extraordinário o re-
sultado, que faz pasmar de admiração, x>or se tratar
de um padecimento pára o qual tem sido até hoje
impotente a medicina, não obstante o haverem-se
aconselhado todos os meios heróicos da therapeu-
tica. »
Será (pergunta o doutor), será o resultado que obser-
vei n'esses dois ensaios mera casualidade ? Será pro-
priedade especifica do óleo da tartaruga ? Dará o azei-
te de peixe o mesmo resultado ? DaVo-ha igual este ou
aquelle azeite ? São estes outros tantos pontos de pra-
tica que merecem ser estudados U. 51 p. 267h
210
6 DE JUNHO.
FESTA DAS GARRAFAS. — Celebra-sc todos os an-
nos uma festa assim chamada na igreja de SâoMarcelli-
no, em Bóulbon, linda aldeia vinhateira no departaraeir-
to das BôccasdoRhodano, era França. Al de Junho, vés-
pera da festa d'âquelle Santo, principiâo a tocar os si-
nos ao pôr do sol, o sahe d'ahi a pouco uma procissão.
Vai adiante o pend«âo, com a imagem do Martyr, pre-
cedida de tambores ; seguera-se depois, em duas fi- '
las parallelas, todos os lavradores da terra, levando ca-
da um na mâo uma garrafa do melhor vinho da sua co-
lheita, e cantando todos um hymno ao bemaventurado
Santo. Fexa a procissão o cura da fréguezia, revesti-
do com uma riquissima capa d'asperges, que só n'este
dia serve, e rodeado de muitos outros padres e de
todos os seus parochianos, á testa dos quaes vão
as autoridades do sitio. Chegados á porta da igre-
ja, entra tudo, ajoelha o parocho no primeiro de-
grau do altar-mór, e entoa as preces do ritual roma-
no para a benção do vinho. Terminadas ellas, lança
agua benta por cima de todos os circumstantes, abre
cada um a sua garrafa, e bebe uns golos do viuho aben-
çoado : a primeira autoridade da terra dá copos ao
parocho e aos outros padres que officiáo com elle, en-
che-lh'o8 de vinho, e oebe também depois. Termina-
do isto, sahe outra vez a procissão de dentro da igreja
{caminhando então alguns em zig-zag), e torna ao mesmo
ponto d'onde partira.
£' de tempos immen)oriaes esta ceremonia, que mais
dia menos aia hado ser adoptada em todas as mais iu-
signiíicantes aldeias da Inglaterra.
QUADRUPEÇES DA AUSTRÁLIA.— Contâo-se na Aus-
trália 53 espécies de quadrúpedes indígenas do paiz e
ilhas adjacentes, o que se não encontra em nenhuma
outra terra.
211
T BE JUSHff.
LM REI PADEIRO. —Hntia em Londres um pádeiri-
lodequmie annos de idade, muito parecido com o
Conde de Warn'ick (Tilho do duque de Clarence, que
Henrique Vil encerrara 'em uma forUleia). Toia teve
esse menino o arrojo de se fnzer passar pelo Príncipe.
Foi-se para a Irlanda eahi foi acolamado e coroado
ÍBei de Inglater-
ra. Entrando o
fingido Conde E-
duardo de War-
wick na provin-
ci!i deLaneastre,
marchou contra
e II e Henrique
Vil, e aW se trít-
vQu uma batalha
em 1487, na qual
foi preso e apre-
sentado ao Rei, que ae contentou em o nomear.bixo da
cosinha no seu palácio. Jantando um dia com o Mo-
narcha alguns deputados da Irianda, sérvio i meza o
uaurpador, iosultando-se aBsim a credulidade dosir^
Iftudezes.
8 DE JUNHO.
ÓLEO DE ZAMBUJEIRO. — Para ser applicada a
< Compadre, com esles taes
Cojo serviço é ronceiro.
Ir por bem é por demais ;
Heis-lhe de untar os ilhaea
Com Èleo de zambujeiro .
9 DE JUNHO.
213
Minha lyra, de lucto ^estida^
Dá-me um hymno de prantos e dor,
Para o joven que habita nos c^éus
Ir depor junto aos pés dO' iJenhor.
E's fetiz entre os coros dos anjos.
Porque o céu invejou minha sorte I . ..
Tu no céu, e eu na terra sósinha,
Sem esperança, sem guia, sem norte ! . ..
Náo sentiste profunda saudade,
Bem pungente, no fundo do peito,
Quando o anjo da morte estendeu
Negras azas por sobre o teu leito ?
N'essa hora final náo tiveste
Um olhar repassado d'amor,.
Um olhar que esquécer-te fizera
Do moniento supremo o amargor?...
Náo tiveste no.s lábios um beijo.
Entre prantos d*amor e saudade,
Um dos beijos que Deus abençoa,
E nos leva da vida metade ?
Náo sentiste na face gelada
Cahir pranto que amor abrazasse.
Nem tiveste quem próximo á campa
O teu somno de morte embalasse ?!....
Ai tiveste I que tinhas um pai,
De quem eras o filho mais querido,
Que in da hoje na terra lamenta
Para sempre seu filho perdido.
-Uas adior paternal nâo compensa
Da mulher esse amor tâo ardente ;
Esse enlevo das almas, que abrasa.
Só a amante na terra é que o sente I . ..
Só a amante !. .. E nâo poude provar-te,
Que na terra ninguém amaria I . ..
Nem dizer-te na nora suprema
Que, tu morto, de todos descria!...
Vai tu pois, minha lyra saudosa.
Sobre a campa de goivos cercada,
Da donzelia jurar a constância
Ao mancebo por quem foi amada.
Vai jurar-lhe este amor verdadeiro,
E que o frio da campa não gela ;
Vai levar-lhe os profundos suspiros,
Que por elle desprende a donzelia.
Vai contar-lhe qual é minha vida ;
Quantas lagrimas tenho chorado ;
As tristezas que a alma me pungeiíi,
As saudades d'um peito magoado.
Vai dizer-ihe que vivo sósinha
Dês que a morte cruel m'o roubou ;
Que a alegria, tâo minha, d*outr*ora
Para sempre com elle acabou.
Minha lyra, de lucto vestida,
Jâ pagaste o tributo de dor I . ..
Deixa agora que eu vá sobre a campa
Desfolhar uma rosa d'amor ! . . .
Maria C. de Carvalho C. de F. A.
214
10 DE JUNHO .
IXTENDENTE ENTENDIDO. — Houve no Rio de Ja-
neiro, no tempo do ^. D. João YI, um Intendente da
Policia (o Dr. retra), homem de grande rectidão e gra-
ça, mas também audacíssimo, e de quem se narrâo in-
numeraveis anecdotas.
Ordenara elle uma vez certa diligencia de serviço, e
mandara ir á sua presença um cidadão, o qual Respon-
dera ao beleguim que não ia. Perguntando-se-Uve a ra-
sâo, respondeu (jue era porque não queria. Imme-
díamente expedio Petra ordem de pris&o, mas co-
mo o sugeito losse alli um grande figurão, no dia im-
mediato andava toda a cidade em polvorosa, e de tar-
de recebeu o Intendente uma Portaria do Governo, na
qual se lhe dizia, pouco mais ou menos, assim :
« Manda S. A. R. que o Intendente da Policia solte
incontinente ao cidadão fulano, visto náo haver outfo
motivo para a sua detenção, senão a sua j^hrase Não
quero, a qual, por si só, 'não é criípe. Assim o tenha
entendido, etc. »
No mesmo instante pegou Petra na penna e escreveu
na mesma portaria :
« Pois se o não querer nâo é crime, não cumpro por-
que não quero. »
11 DE JUNHO.
O POLTRÃO.
A* Tentendre parler da guerre,
II détruit comme le tonnerre
Les tours, montagnes et vallons :
Attaquez-le par aventure,
Vous verrez que comme Mercure,
U a des alies au talon.
215
12 DE JUNHO.
MATRAES. — N*este dia celebravào as mais romanas
a festa por isso chamada : Matraes, em honra da deusa
Matuta, que era aino dos gregos. Náo levavâo á solem-
nidade os próprios íilhos, mas sim os de suas irm&as,
porque Ino tinha morto os seus. Escravas também lá náo
punnão o pé, unicamente uma a quem todas as damas
no templo esbofcteaváo, porque a Ino, ou Matuta, tinha
perdido o juizo com ciúmes d*uma serva sua: offere-
eíão-lhe, fíualmente, um bolo de farinha, mel e azeite,
cosido debaixo de uma campana de barro.
13 DE JUNHO
BITUMES. — Concordáo geralmente os naturalistas
em serem os bjtumes originados da decomposição de
animaes e vegetaes. Tem o bitume a especial proprie-
dade de arder com chamma, e de espalnar em quanto
se está queimando uma fragrância particultir, como que
aromática, a que chamáo : cheiro bituminoso. Só se
achâo os bitiimes nos terrenos que os geólogos nomeiáo
de segunda formação. Quatro principaes variedades re-
<;onhecem de bitumes os naturalistas : JVop/ifa, Petro-
liOy Maltha e Asphalto — Xnanhta é de grande fluidei
e transparência ; de muita analogia com a terebentina.
»i táo corabustivel, que arde debaixo da agua : dá cham-
ma azulada, quando se queima não deixa resíduos, e
abunda na Pérsia, onde os moradores quasi se não ser-
vfim d*outro combustível : serve também para luzes e
para composição dos vernizes : os médicos antigos re-
cftitaváo-napara as tOmbrigas. O petrolio tem muitas pa-
recenças com a naphta, serve, como azeite, para lâm-
padas' e como combustível. A maltha só aifTete do
Tpctrolio em ser mais espessa e consistente ; é ne-
gra e viscosa : chamáo-lhe os persas bálsamo de mú-
mia: acha-se em Franca no departamento do Puy de
216
Dome. Finalmente, o asphalto estrema-se por ser dos
quatro o mais solido ; parte-se, e por onde quebra ap-
Í>arece lusidio : algum é muito preto ; só quando o es-
ree^ é que dá cheiro. Ghamão-lhe também bitume de
Judea, pelo haver em grande copia no lago de Judea
chamado AsphalticOy no Mar Morto. Ha demais uma es-
pécie de bitume que appellidãocaoutchuc mineral, ])elo
muito que se parece com a gomma elástica. Dos bitu-
mes se valeram os homens desde a mais alta antiguida-
de para diversos fins. Com bitume erâo cimentados os
tejolos dos muros de Babylonia ; com bitume embalsa-
madas muitas das múmias no Egypto ; e com bitume
recobertas pelos romanos as estatuas, para nâo entrar
com ellas tào facilmente a lima surda do tempo. Entre
nós o asphalto, para o ({ual já de annos existem formadas
companniasemprezarias, e de grande préstimo para pa-
vimento de lojas, adegas e subterrâneos, passeios ou
banquetas de ruas, fundos de tanques, almacegas, ecis-
ternas e terrados, que supprem com tanta vantagem os
telhados, pelo custo, pela leveza, pela impenetrabilida-
de á agua, e por offerecerem aos moradores dos edifícios
das cidades, que muitas vezes sâo verdadeiros cárceres,
um desafogo saudável e recreativo, um estendal, uma
nova commodidade para depósitos de agua da chuva, um
augmento de espaço nas vivendas, e emfim um miran-
te e jardim aéreo, se se quizer. Cora tantaa5,'táo obvias,
6táo inquestionáveis excellencias, parece incrivel que
este extraordinário melhoramento no edificar, tanto e
tâo bem recommendado ha annos na Revista Universal
Lisbonense, se nâo haja por toda a parte generalisado.
Ai ! que lindos bonecos que eu faço l — 2
Ai ! que amor ! que tormento ! oh que ingrato I — 2
Ando por fora da bota
E por dentro do sapato.
217
14 DE JUiNHO.
QUIMA DO SALEMA. — Está situada na Arrentella.
aldeia próxima ao Seixal. Deu-lhe principio Vasco da
Gama (A. 51, i de septemhro. A. 52, p. 43 e 166) no sécu-
lo XVI, e ainda ahi se conservâo objectos por elle ira-
lidos do Oriente e cedros que a tradição assevisra se-
rem do seu tempo.
15 DE JUNHO. • -
A VIOLETA.
Roxa violeta,
Formosa e pura.
Da noite escura
Se o frio orvalho
Te hade crestar.
Melhor farias,
Em vir comigo ;
Co'o teu amigo
Tu vais morar.
Inanimada,
Nâo me respondes.
Mas não me escondes
Alto mysterio,
Que te creou.
Em ti eu vejo
A mão piedosa,
Que tâo mimosa
Te debuxou.
Táo eloquente,
Muda, tu falas 1
Ohl tu náo calas
Poder e gloria
Do Creador I
O teu perfume.
Ameno e brando.
Está clamando
« É Deus o autor ! »
Tu da virtudt3
És o desenho ;
Com tanto empenho,
Como ella, tratas
De te esconder ;
E tens como ella
Tanta humildade.
Tal suavidade
No recender.
P. José Maria da Piedade e Leneastre.
218
16 DE JUNHO.
coxM uMa cajadada matar dous coelhos. —
Pára uma esplendida carruagem aporta de uma loja de
fazenda na Rua d« Quitanda (Rio de Janeiro). Salta de
dentro um sugeito bem vestido, com suas condecoia-
cóes e o braço direito ao peito. Pede, escolhe, ajusta
ue quanto alli se vende de mais delicado ; manda met~
ter tudo n'um sacco de veludo bordado com armas, que
já para isSo trazia ; mas no momento de pagar, não
acha na bolsa a sua carteira ; manda procurara na se-
ge, nâo está lá I.... «
< Bem, é indifferente ; em checando a casa mandarei
o dinheiro, e o mesmo portador levará o sacco. »
< Essa é boa I — diz o honrado lojista. — Ainda que
eu não conheço a V. Ex.", náo desconfio. . . .»
« Espere 1 Isto remedeia-se bem. . . , Um bilhete a mi-
nha mulher. . . . Não ha coisa que mais me aborreça do
que é demorar pagamentos. O peór é esta maldita
máo, que me náo deixa escre,ver ; trago três unheiros e
principio de quarto ; se o senhor quizesse ter a bonda-
de de escrever por mim. , . . (Era a outro lojista velho,
amigo ^0 dono da casa, e que alli se achava pataralan-
do, que o nosso cavalheiro se dirigia]
« Pois não, Senhor 1 queira dictar. »
« Menina! manda-me já já, pelo portador, 250$000 rs.,
e adeus até ao jantar. »
Entrega o bilhete ao jockey, que lhe servia de aco-
Jyto ; diz-lhe em volta alta : — Traze immediatamente
este dinheiro aqui ao senhor — e disfarçadamente, em
voz baixa : — £spera-me no Largo de b. Francisco de
Paula.
D*ahi a poucos minutos era apresentado o bilhete á
mulher do que escrevera, a qual reconhecendo a letra
do marido, entregou logo a quantia pedida. Os lojistas
da visinhança, constituídos em jury, decidiram quene-'
nhum dos dôus logrados podia atirar ao outro a pri*
219
meira pedra, pois se um perdera 250S0OO rs. em di-
nheiro, o outro os perdera em fazenda, vindo oto^
Sueador de ambos a lucrar n'essa tialada os ntts
SOSOOO Te. muito honradamenle.
O que admira é que semelhantee cavalheiros de in-
dustria nío caião 1of(o no mesmo dia ua rede da poli-
ANTirATHlAS. — Ás fraciucias da humanidade e ás
PxlravftKancias d'aulore3 celebres que relalámos a 10
de outubro do nosso Almannch de 1651 e a pag. 103 do
de 1853, acreseenloremos hoje as seguintes ;
La Motlie não podin ouvir
instrumento algum de musi-
ca, e delcitava-se com o re-
bombo do IrovHO.
Haria de Medíeis nAo po-
dia ver nem á mio de Deus
Padreuma rosa, nem mesmo
pintada, e gostava de todas
as outras Hores.
O Cavalleiro de Guiie tam-
bém cabiasem sentidos ven-
do uma rosa.
Goethe euplicava a aver-
Bio que tinha ás rosas inrjir-
nadas pela recordação que
IHe trdziao das faces de uma
bella que amara extremosa-
' inênte e que lhe tdra Infiel. Por análogo molíro deses-
perara também tom ot Jasmins.
220
18 DE JU?íHO.
DDE DE ANACHREONTE,
Gentil andorinhai
One vens annualõ^ente,
Ni bella estação,
Tecer-me visinba
O ninho innocente
Ba tua affeiiQào ;
E a annuncios de inverno,
Temendo sentiFo,
Lá vais a cantar,
fiefugio mais terna,
Pedir ao teu Nilo,
De Memphis gosar ;
Vem cá, passarinho ;
Amor n'este peito
Não faz nunca assim I
E* ninho e mais ninho !
Um ido, outro feito,
R^noVa-os sem fim.
Ver um Gupridinho
Como abre asazitas.
Tentando a voar I
Este, inda no ovinho !
Esfoutro as «asquitas
Já quasi a largar i
De bicos abertos.
Nenhum dos mofinos
Se cala jamais;
Os já maia espertos
Aos mais pequeninos
Manté^m como pais ,
Depois os mais novos.
Apenas creados,.
Produzem também;
De todos vem ovos ;
Dos ovos, dobrados
Amores provém.
Sâo taes seus clamores.
Que ás vezes abalos
De raiva me dáo !. ..
Mas tantos amores,
Como heide eu lanç(vl'os
Do meu coracáo?! * •
221
A, F. de Castilho»
19 BE JUNHO.
ECONOMIA POLITICA. — Dá-se este nome á scieu-
eia que trata dos interesses materiaes da sociedade
Subsistem as nações em virtude de leis naturaes cufas
causas e resultados se ligâo a factos geraes; modificâo-
se estas porém, segundo o clima, a posiçào geograplii-
ca, e a forma particular de governo. Segue-ee d*ahi cue
nào pode ser uma e a mesma por toda a parte a sciín-
cia da economia politica ; tem sem duvida principios
de applicaçâo geral, mas querer traçar um código em
forma para* todos os povos, fora tentar um absurdo.
Poucas idéas tinhão a tal respeito os antigos. Quaâi
que só foi na épocha do renascimento das letras nalta-
lia, que as matérias económicas entraram na circula-
ção intellectual, pelo facto da admissão aos cargos |u-
£licos, nas diversas republicas, de homens que formi
ao mesmo tempo magistrados e negociantes. Sully^
Colbert, e o medico Quesnay, no tempo de Luiz XV,
lizeram n'este assumpto algumas tentativas, menos in-
portantes por seus resultados do que pela direcção qiie
imprimiram ás meditações dos homens doestado. As
Indagações sohre a natureza e as causas da riqueza das
nações^ que publicou em 1786 o escocez Adão Smitb,
lançaram a primeira base, um pouco solida, da econo-
mia politica. De então para cá, homens de mérito su~
periar, entre os quaes J. B. Say, hão desenvolvido por
meio de seus escriptos as theorias d'esta importante
sciencia. Tudo quanto demostra a relação que existe
entre as leis, o trabalho, a riqueza, por um lado, e a fe-
licidade das populações por outro, é do dominio da
economia politica. Prodtizir e consumir constituem o
seu centro de acção ; agitão-se porém em torno a essa
base infinitas especulações secundarias, como as theo-
rias dos capitães e dos fundos productores, dos em-
préstimos, das moedas, do crédito, das contribuições,
das colónias, da população, etc. etc.
222
20 DE JUNHO.
ARIOSTO E O DUQUE DE FERRARA. — Antes de de-
áicdrdes uma obra a qualquer, examinai se está no ca-
so de a apreciar, nâo vos aconteça o mesmo que ao cé-
lebre Ariosto, que dedicando o seu famoso poema Or^
Imdo furioso ao Duque de Ferrara, só obteve em re-
cirapensa esta exclamação : « Não me direis. Senhor
Àriosto, onde diabo fostes buscar tanta parvoíce ? »
[A. 54 p: 166)
21 DE JUiNHO.
QMAMAMAi
É matéria primitiva,
Mui útil e productiva.
Tirada de cousa viva
Com índole inoffensiva . . . 1
Ponhâo outros a ambie&o
N*uma alta posição ;
Eu prefiro, e com rasão.
Minha humilde condição... 2
Por annos e annos.
Com máu alimento.
Vivi sem alento.
Ás chuvas e ao vento*,
Até que um invento
Me fez arribar :
Agora me pilHo
Mui sécio e casquillio,
£ até maravilho.
Por tanto que brilho.
Que faço brilhar.
223
A. i»f. C,
52 DE JUNBO.
LnT.LnnO de ClLUElVT.-rui Gilbert um eicel-
- lente pe^la di
séciíh) XVIK, i
perseguições dt
seus conlerrií-
neos.Morreu em
1780. na idade
eale o epitaphio
que para si pró-
prio com pozp:a,
e que na aepil-
turalhefoimai-
dado gravar pir
se lhe conser-
vou fiel até aoi
brarios e^tlialbu o ultimo suspiro.
Au banqiiet de U víe, infortune convive,
> J'apparus un jour etjn meursl ...
Je meurs, et surm» tombe, o£i lenlementi^arrive,
Nul ne viendra verser des pleurs.
- Existe em Uiããles-
^..^^ ^^ ^...^uu «nnos, aue, sem ser ju-
luda de cinco pollegadas en'ella um
ue a move á vontade. Pode-lhe servir de
e leme e de catavtnto.
33 DE JU»BO.
AMULHER. — Hotalmeote fallando, a mulher é nm
cintico eterno de Deus : é uma harmonia d'anios ; é o
nascer perpeluo da aurora; é o murmurar do arroio
que serpeia em torno á rosa espontanfa que ao pé da
oésis no de-
é D sonbo do
despertar do
crente ; á a
esperança do
ambicioso ; é
o geneitÊ da
religião uni-
versal : é a
seita geral da
lodoB ospai-
gêin esculpida
no crâneo de
todas as raças;
para o Inmulo ; é o azul do céu
go no meio da tempestade ; é .
pre passa o rosto afogueado
dade que o
homem leva
t alenta o niuí^a-
24 DE JUNHO.
ALEXANDRIA. — Transcrevemos o seguinte de uma
correspondência do Jornal dos Debates francez :
E' uma cidade meio europea, cuja maior praça não
envergonharia qualquer dasprincipaes cidades dê Fran-
ça. Em quanto a monumentos, só tem dois, — acolumna
chamada de Pompeu e a agulha de Cleópatra, que é
bem conhecida. Apenas algumas ruínas, acerca das
quaes existem bastantes duvidas, indieâo oloeaL da.
,f arnosa bibliotheca, e de todos os estabelecimentos
scientiíicos devidos á munificência dos Ptolomeus e de
alguns Imperadores romanos. A* excepção do nome,
nenhum outro vestiçio se encontra de Alexandre, seu
fundador. Alexandria esquéceu-se completamente do
seu passado, apesar de tâo glorioso, perdendo a me-
moria das suas tradições históricas, como todas as ci-
dades dadas ao conmercio, que pensão mais nos seus
interesses actuaes, que na sua historia. Ha pouco, po-
rém, perto de Ramle, no sitio chamado o Campo de Ce-
saVy fez-se uma importante descoberta. Seçjundo 'as in-
dicações do vice-rei, deparou-se com ura immenso pa-
lácio romano, cujo assento éra n*ura sitio delicioso á
beira mar. Conforme uma inscripçâo, que copiei, e que
está gravada n'um troço de puríssimo mármore branco,
este palácio fora offerecido ao Imperador Marco Auré-
lio Antonino, pelos tribunos das legiões. O que mais
confirma ainda- a época da sua edificação, são as ma-
gnificas esculpturas que se encontrão. Vi a mão de uma
estatua de mulher, que apesar de mutilada, estava mol-
dada com muita perfeição,, assim como uma figura de
homem meio quebrada,* e outros fragmentos. Mostra-
ram-nos também um grande mosaico, muito bem con-
servado, e que representa o busto de Bacho com um
thyrso e um cacho de uvas. Foi um certo Simpronio
que o mandou esculpir, segundo consta de uma ins-
cripçâo mutilada. Desoobrio-se também um aquedueto
226
&nbterraneo, e muitas acéquias, com uma naumachia,
que demonstrão que as aguas do Milo, cuja inundação
Doeste ponto se aproxima da praia, para alli eráo con-
duzidas n*butro tempo. Este sítio está hoje deserto e
estéril. Unicamente se vêem os restos numerosos de lou-
ça e de tejolos, os quaes prov&o aue este logar fora
habitado. No tempp dos romanos devia ser uma linda
povoação, próxima á residência imperial.
25 DE JUNHO.
yHA PAIXtO.
Inda existe, cruel, inda em meu peito
Se nutre da paixão o fogo activo ;
Inda contra o teu çosto por ti vivo.
Fazendo o sacrifício mais perfeito.
Inda te adoro, ainda te respeito,
Vendo em ti de meus males o motivo ;
Porém o coração, de amor captivo,
No captiveiro vive satisfeito.
Se ás vezes contra ti queixumes.»olto.
Do que fiz insensata então me admiro,
E.aos meus antigos sentimentos voUo.
Só por ti vivo, 8Ó por li respiro ;
Sahirá com minha alma, em pranto envolto,
Teu nome unido ao ultimo suspiro.
Vitcondetsa deBaltemão [D. Catharina).
227
AÇOUGUE. — ííos lenipos primitivos não consta que
houvesse talhos; AinJH nos séruloa heróicos datire-
cia erâo elles desconhecfdos. Quem \ê as descripções
que Homero fai dos banquetes dos seas heroes, cuidi
eslar lendo n'iHB viajanle moderno a pintura d'uma eo-
mesaina de selvagens. Pois quando os taes heroes, Ce-
jieraeB, Príncipes, e Reis, querem preparar meia laula
. .1,, apropria mSo. dei-
toiro ou niatAo
niaaassar. Em
Homnfoisobos
Cônsules que
sefundarani os
primeiros a*
. çougues , ha-
vendo parael-
. . nhâo A sua con-
d'e$tes collc^íos a prin-
cipio só curava de mandar vir porcos, e por isso se cha-
mava suarii. porqueiros ; o outro tractava da compra
e venda dosbois e se diiia pecuaríi ou buarii, ma-
nadeiros ou boieiros. Com o andar dos tempos junta-
ram-se os dous collegios em um sò ; tinbao estes mar-
chantes ao seu dispQr homens para matar o gado, ama-
nhaVo, talhafo, e vendelo ao povo, a quem chainavio
laniones ou lanii e carnifices, que vale lanlo como cor-
tadores ou magarefes. Aos lognres onde malavão, cha-
mavâo lanienae, matadoiros, e ás casas «m que ven-
di3o macella ou taberna earnaria, talhos ou' acour
guês. Â policia dos romanos, no tocante aestesesla-
belecimentos, diíTundia-se com a sua denominação pe-
los paizes conquistados, d*onde vem serem muito an-
tigos na Europa 09 açougues.
Até ha bem poucos annos erâo casas yepugnafi-
tês pelo aspecto de sangueira, immundi<íie, e pelo in-
supoortavel fétido que n'ellas havia. Hoje, que se at-
tende muito mais e melhor á salubridade, os matadoi-
ros querem-se fora do povoado, e as lojas onde as car-
nes se expõem á venda, como as pessoas encarregadas
de as cortar, tudo respira grande aceio.
Os magarefes, especialmente os matadores do gado,
foram sempre mal vistos, e reputados como gente fe-
roz e vil, que vivia de destruir, embora fosse para ser-
viço da sociedade. Boiste diz com razão qu« o cadafal-
co'é escola de assassinos e o matadoiro de carrascos.
Êntende-se por tanto o horror que o povo tem instin-
ctivamente a tal profissão e o desabrimento cora que" a
legislação muitas vezes a tratava, corapellindo os corta-
dores a' serem, em caso de precisão, ajudanteá ou substi-
tutos do executor d' aUa Justiça. Assim se entendesse o
porque entre nós se reputava', e talvez ainda hoje se re-
puta, oífício vil o de moleiro, uma das mais innocentes e
poéticas occupações de todo o mundol tanto é verdade
que de envolta 'com o <iue se costuma chamar senso
commum ha sempre em boa dose o que se poderia cha-
mar demência commum.
27 DE JU.NHO.
VALOR E GENEROSIDADE DOS FRANCEZES.-Fei-
to prisioneiro pelos francezes o general Sulms, na ba-
talha de Nerwinde, dizia a ura official : « Que diabo de
nação é a vossa? bateis-vos como leões e tratais os
vencidos como se fossem vossos melhores amigos I. .. »
229
2S DE JUNHO:
EPIGf^AMMA. — Esta palavra vem do grego, e signi-
ficava originariamente : escripto por cima, rótulo, ins-
ciipçào, etc. O epigramma e uma poesia muito curta
e chistosa. Entre os gregos não era ainda satyrico e
zombeteiro, como entre os romanos veio a fazer-se. O
maior epigrammista romano foi Marcial, que disse,
d'eUe próprio :
Bom, medíocre e máu, compõe meu li^>ro.
Os epigrammas d'este autor abraç&o todos os géne-
ros ; o heróico, o panegyrico, o campestre, o ana-
chreontico, o litterario, o mordaz, e mesmo o obsceno
mais desenvolto. Entre os modernos, muitos autores
têem cultivado o epigramma. Hoje em dia é raro faze-
rem-se os epigrammas em verso, mas é mais raro ain-
da que os que têem presumpçào de espirito escrevão
uma só pagina que nâo seja lârdeada de epigrammas ;
por outra, de graças, nem sempre salgadas, muitas
vezes abstrusas, e muitas outras insolentes.
29 DE JUNHO.
Ninguém pode duvidar.
Porque é claro como o giz.
Que Silvia nfio tem 30 annos ;
Se ha 40 que ella o diz ! . . .
# ¥ ¥
(Brasileiro,)
230
30 DE JUNHO.
CANÇONETA ANACHREONTICA.
A naturez^
Toda suma ;
Eu recebia
Um novo ser.
Quando assomava
A aurora bella.
Achava n'ella
Vivo prazer.
Ao meio dia
A mesma calma
Dava á minh'alma
Do seu calor.
Na doce tarde.
Que refrescava,
Eu recobrava
Outro vigor.
Era meu norte
Brilhante Yenus,
Nos céus serenos
Ao pôr do sol.
De Alcippe a choça.
Na noute escura, '
Guia seeura
E meu pnarol.
Alli nos braços
Da amiga terna
Gloria superna
Me endeusou.
Com mil aíTagos,
Com mil caricias,
Almas delicias
Me franqueou.
Mas que mudança 1
Tudo o que existe
E' hoje triste
Aos olhos meus !...
Se me levanto
Na madrugada,
Nâo valem nada
Encantos seus.
Se o sol encaro
No céu a prumo.
Parece fumo
O seu clarão.
Da fresca tarde.
Que e^a tão linda,
A nova vinda
Dá-me afliccáo.
Sumio a estrella
Meu norte antigo ;
Para comigo
Já luz nâo tem.
Cerrada a noite
.Eu não melhoro,
A perda choro
Do caro bem.
231
/. P. Rehello de Carvalho {Alcippo Duriense).
(Campos, Império do Bl^ftsil)
1 DE JULHO.
ESTBELLA DE SOCCORRO. — Fundaram-se. nio ha
ninda muilo em Londres, e ha poucos diaa em Paris,
snoicdaiíes ossim denominadas, e cujo objecto é in-
,^'~~~>^ ^ A, por ténues
quantias de
subscrlpção ,
d e quantas
1 desgraças e
que todavia é
certo, é que
., de sua reali-
A sacão espe-
^ rão os funãa-
dores tirar
enormes benefícios. Semelhantes sociedades nfio sta
mais do que a resurreieúo de uma antiga, se por ven-
tura se deve dar crédito a um documento que agora
mesmo tenho perante mim, spprovado pela Camará de
232
Commercio de Roâo em 1406. N^eiíe- se encontra a se-
guinte extfavagante e curiosa tabeliã :
Por um murro . 2 soldos.
Por pancada com pedra .... 5 »
Por escarrar na cara ..... 5 »
Por puxar pelo nariz, sem deitar
sangue 5 »
£ deitando sangue 15 y>
Por apertar as goelas com uma só
mão .10 »
E com ambas . .^ 15 »
Por bater com uma vassoura. . . 10 »
Por -uma espadeirada 18 »
Ferida para baixo dos dentes . . 36 »
E para cima 72 »
Por um dente quebrado, sendo do
fundo da bôcca. 7 »
E sendo de diante. cadeia.
Mais bem entendidas erâo as indemnisacóes decre-
tadas pela republica da HoUanda aos que Gavião sido
feridos no serviço da pátria, e de que dêmos conta no
artigo de 12 de outubro do Almanacn de 1851.
Que bella compensação, iicar com sete soldos de
mais e com um dente dê menos !
r
2 DE JULHO.
A VIÚVA DE JOÃO DE SEQUEIRA. — Assim me fal-
lava ha dias, como preambulo á historia de suas misé-
rias, um individuo com fumaças de espierto :
Casou minha filha com Joâo'de Sequeira ; morreu es-
te no anno immediato, e d'ahi resultou ficar minha
filha viuva. »
Nâo quiz ouvir jiiais. Fiquei farto.
233 .
3 DE JULHO.
ADIVINHAR 39 CARTAS D'UM BARALHO PELOS NO-
YES FORA. — Enaii)ão-se antes de tudo as cartas em
uma ordem convencional, por exemplo : — Paus, Ouros,
Copas, Espadas, — do modo seguinte, e partindo do
principio que a dama vale 8, o valete 9, e o rei 10. To-
mai o 7 de paus, e dizei : 7 e 7 sâo 14, noves fora 5 (to-
mai o 5 d*ouros, collocando-o na mâo sobre o 71 : 5 e 7.
12, noves fora 3 (tomai o 3 de copas) : 3 e 7, 10, noves
fora 1 (tomai rei e az d^espadasj : 1 e 7, 8 (tomai a da-
ma de paus) : 8 e 7, 15, noves fora 6 (tomai o 6 d*ou-
ros) : o e 7, 13, noves fora 4 (tomai o 4 de copas) ; 4 e
7, 11, noves fora 2 (tomai o 2 de espadas) : 2 e 7, 9
(tomai o valete de paus) : depois virá o 7 d*ouros, e as-
sim por diante. %
Esta operação pode ser feita á vista dos circumstan-
tes, mas com muita presteza, para não dar tempo á re-
flexão.
Termiaada que seja, dai o baralho a partir a quem
vos aprouver, collocai-o na meza com as pintas para
baixo, tirai a primeira carta, que vereis, e facilmente
adivinhareis todas as outras.
EXEMPLO.
quatro de copas ; a 7.* o dous de espadas ; a 8.* o va-
lete de paus ; a 9.* o sfete d'ouros-; a 10,* o cinco de co-
pas ; etc. etc. etc.
4 DE JULHO.
FUGI As VÉNUS. — O se^inte distioo é um dos mais
engenhosos que se têem feito :
Quid fácies fácies Veneris enm i>eneris ante ? .
Non eedeas, sed éas» ne p éreas per eas,
234
5 DE JULHO.
A CARTEIRA DOS BARBADINHOS. —Um individuo,
temente a Deus, achara em uma das ruas do Rio de Ja-
neiro uma carteira com 200^000 rs. em papel, e sem de-
signação alguma da pessoa a quem pertencia : entre-
gou-a*ao seu confessor, religioso baroadinho, para que
este, ou a restituisse, se podesse descobrir o dono,
ou aliás a entregasse â communídade. Os padres an-
jiunciâo em grandes letras, na portaria do seu conven-
to, parar em seu poder uma carteira, que restituirão a
quemr der signaes certos da sua forma e contheúdo. Dá
o acaso que seja um sujeito muito conhecido na capi-
tal do imperíb quem primeiro lê o cartaz. Arranca-o e
manda logo inserir nos jornaes, que se achou uma car-
teira com dinheiro, a qual, na rua de tal, numero
tantos, se entregará a quem provar, pela descripção
d*ella, ser o dono. Este se apresenta com efifeito, diz
haver perdido uma, com estes e aquelles signaes,
e 20q$000 rs.
— Pois senhor, diz o maganão, já vejo que não é sua
a que eu achei ;^ e para prova, aqui está ; em logar de
incarnada, é verde ; em yez (l'essa quantia, só contém
metade.
O outro sahio agradecendo-lhe e louvando-lhe ain-
da em cima a consciência.
Certo já dos signaes, vai ter com os religiosos, pro-
va-lhes irrefragavelmente que o perdido lhe pertence,
e S6 retira tão satisfeito d*aquelle inesperado salvate-
rio, como os servos de Deus o ficaram de terem podido
eífectuar uma restituição, e a individuo, dizião elles,
que bem mostrava quanto era religioso.
. Olympio da Silva e Castro.
(Brasileiro) ^
235
6 DE JDIHO. I
FLORISTA POETA. —Morreu nas nunediaçães de ^
Rotlerdani o célebre florista Berg Zop-Zoom, deixand»
a seus herdeiros uns 600 contos de réis, sob a coodição
de que todos DS annos farino ums festa ua terra em qu«
a houiem nascera, festa í qual pedio que assistissem
rtiulo exporão a» mais ueíLcauas iiures aniiiciat;»: a luii
bella será concedido nm premio avultado. Consiano-
lambem no testamento outro premio aquemdcrátu-
lifiB, sua flor predilecta, o maior desenvoUimenlo e»-
7 DE JULHO'.
Imperativo em amor — 2
E' acçio própria do fogo
Em momentos de furor
E' uni grande desafogo.
8- DE JULHa.
ESPIRITO E MATÉRIA. — Pez-nos Deus matéria tf
espirito ; mal entende e mal desempenha por sua parte
os desígnios da Providencia quem, para servir a uma
das metades do nosso ser, esquece ou posterga a outra
ititeiramíente. O fanático santáo da Índia ou da Europa,
ãue se' desata de todos' os laços da naçáo, da cidade e
a família ; quô se vai entrincheirar entre penedos par-
r»náo ter que se arrostar com as tentações; que f aí
consistir toda a sua virtude em nâo lesar; que enterra
os talentos que Deus lhe confiara para serem negocia-
dos ; que arvora a ociosidade em mnocencia ; que por
ter renunciado os serviços dos outros, se julga dispen-
saúo e absolto de os servir ; que jejua au longo dos an-
nos todos com raízes amargosas e agua da fonte, no
meio das delicias e do perenne banquete que Deus
andou' delineando e apresentando para todas suas
creaturas nos seis dias da creaçâo ; que^inalmente, a
poder de engolfar pelos céus os olhos aS espirito, se
deslembra de que nasceu homem entre homens, irmão
entre irmãos, herdeiro e herança do passado, com a
clausula de testar, e se testar, para a posteridade ; se-
rá um bello santo para lendas poéticas, mas, se deixou
de cumprir tantos outros mandamentos da lei naturai,
da lei escripta, e da lei da graça, nâo leve turvaçâo ha
de sentir no dia da conta, quanclona sua lauda se'achar
em branco a verba do comer aos famintos, do beber aos
sequiosos, e do vestir aos nús.
Ao revez doeste, o materialista; nâo levanta uma só
Tez a vista para as alturas, nem a* volta para dentro.
Gomo a terra, as mãos, as machinas, os animaes, pro-
duzâo o mais possível, o mais perfeito possível, e no
menor praso possível; como toda a fecundidade da mu-
lher se aproveite para- dilatação do povoado ; como. a
espécie humana cresça em numero, em forças, em trá-
fejo, em invenções ; como nada falleça ás necessida-
2o /
des primarias, ás secundarias, áps terciárias^, do existi
physico ; como a mesa seja farta e depois regalada ; a
vivenda segura e sã, e depois ridente e luxuosa; o ves-
tido, mais que vestido, adorno e preciosidade ; a via-
ção macia e instantânea ; a communicaçáo dos pensa^
mentos eléctrica ; a illuminação das noites, dia ; comv
o vapor cubra de fumarada os mares, as estradas e as
cidades; as fabricas trovejem; os armazéns se enxão
e vasem de continuo ; os mercados refervâo ; o luxo e'
a moda peção e obtenhâo indefinidamente ; e nem uma
flor, nem uma Horinha, nem uma pétala, falte á corda da
victima do sepulchro ; todas as suas ambições estão
preenchidas, e pouco importa á sua sciencia exclusiva,
o como vai lá dentro á alma ; se o coração é ou náo la-
laro, aos pés da mesa do festim ; se dentro da socieda- |
de está a sociabilidade ; dentro na abundância o amor |
mutuo e a paz da consciência ; dentro no prazer a e»- j
perança de bens mais valiosos e duradouros. |
^ O fanático do espirito, se dominasse, supprimiria o
mundo ;* o ffhatico da matéria aboliria a alma. Ainda
bem, que nem um nem outro podem alterar a essência
do homem, mixto de terra })ara a terra, e sopro divino
Í>ara o céu ; creado em paraiso ; condemnado ao traba-
ho e ás penas ; mas rodeado ainda de uma natureza
alegre e aadivosa ; desterrado para valle de lagrimas,
porém, verde, florido e fructuoso ;> com engenho e for-
ças para transformar tudo, excepto a sua índole pri-
mitiva, amante, poética, religiosa.
£'pois ao desenvolvimento do homem, tal comoDens
o< concebeu, o fez, e o conserva, que deve aspirar a
educação que fôr digna de táo nobre titulo.
ARVORE DE PLÍNIO. —Nas marçjens do lago de Come i
ha uma tilia, que alli se jul^a ter sido plantada no logar '
onde estava o plátano de Plínio o antigo. Diz a gente da
terra que é aquella a segunda arvore plantada depois
da do célebre naturalista.
238
9 DE JULHO.
EGGE A6NUS DEI.
Do templo junto aovestibulo
Prostra-se o povo no chão ;
Como o fumo do thuribulo,
Dos lábios rompe a oração.
Sobe o incenso em novelos,
Maispyro que osalvos^elos
£ mais alvo que os cabellos
Do venerando ancião.
Do cimo do campanário,
Vigia do sanetuario,
€omo a voz do solitário
Quese curva ante o sacrário,
Brada o sino — « devoção 1»
Asturbas vemaoscardumes,
E como as ondas do mar,
Cercão as alas de lumes.
Que o pallio vem a cercar I
Ed'entre as nuvens d* aroma,
Qual astro brilhante assoma
Na resplendente redoma,
O pào que a vida vai dar.
Ohl que scena tão solemne.
Que assim a mente seduzi..
Em voz occulta e perenne
A descrença á crença induzi
E pode o âtheu covarde
Ver entre os rubis da tarde^
Ver o sol, que em raios arde.
Sem vêr n elle aE terna Luz!
Não, que o vérmepequenino,
E o murmúrio vespertina.
Despertando ao som do sino^
Vão librar-se n'urasóhymno
Que se esváeaospésdaCruz.
BemditO) Senhor, tu stjas,
Nos altos mysterios teus,
Quando affagas ou trovejaa,
Rasgandoavendaaosatheuj&i'
Que brilho se não descobre
Aos olhos do rico ou pobre,
Doquevivehumildeounobre!
Esse esplendornàotemvéus.
O pão, que allivios derrama
No peito que abraza achama
Ea febre ardente inflamma;
Nopeitoqueemancias clama,
Que teme acampa aifrontar.
Bemdita seja a alegria,
Que aopalacio,á choça fria.
Trazes de noite ou de dia f
Na sagrada Eucharistia
Bemdito sejas, que és Deus!
339
António Pereira da Cunha.
dia fran-
f hei.
" " o fi'lho
.... o que por snas acçOes se eleva acima do
I nascimento, éprefemel ao filho d'um Bei, qua,
■ n outro mérito senão o de proiir de illuslrei
240
te para o
Peaha, B«
iculoB do
que lhe ofiFerecia recolhimento para meditaT sobre a
grande obra a que ia dedicar-se, embrenhou-se na
espessura do morro, levantou por suas próprias mãos
uma pequena choupana coberta de folhas de palmeira,
e assim foi o primeira anachoreta do Brasil. No meio
de seus trabalhos evangelicos^onstruio no cimo doro>
chedo uma pequena ermida, onde collocou uma ima-
gem da Virgem, que trouxera de Portugal.
Eis o principio do esplendido sanctuario e do conTen-
to dos Regulares de Santo António, que hoje ahi existe.
Depois de táo glorioso viver, em 1575, foi encon-
trado o seu corpo sem vida, dobrado sobre os joelhos,
reclinado sobre a ara, com a mâo direita junto á ima-
gem da Virgem, e com a outra cruzando o peito em
modo significativo de ter com a existência prestado o
extremo voto de sua devoção e religiosidade.
Dr, César Augusto Marquet^
{Rio de Janeiro.)
12 DE JULHO.
VAPOR MONSTRUOSO. — Mandou construir um a
Companhia Ingleza de navegação oriental, (jue será de
fabulosas dimensões: deverá 'estar concluído quando
este livro se publicar. E* de 207 metros a sua quilha
íuns 630 pés), de 25 metros a largura, de 18 a altura, de
22,000 toneladas a sua capacidade, isto é, vinte e duas
vezes superior á dos maiores navios de commercio. As
amuradas, ou lados do navio, serão formadas por duas
chapas de ferro, afastadas uma da outra, obra de 30 pol-
lefgadas, e communicando entre si por grande numero
de iguaes chapas interiores, formando diversos compar-
timentos, o que fará que em qualquer d'elles se possa
concentrar a agua, se por ventura o navio soffrer avaria
em qualquer ponto do costado. Será da força de 2,600
c avalio s a sua machina, que dará impulso a um parafuso
242
â popa, e este a duas rodas lateraes. Terá também velas
proporcionadas á sua dimensão. Custará 400,000 libras
esterlinas, o que equivale a 1,800 contos de réis, ou qua-
tro milhões e meio de cruzados. Transportará passagei-
ros e mercadorias por um preço muito inferior ao dos
vapores ordinários, o que bem se explica, pois au-
gmentando proporcionalmente as dimensões dos na-
vios, se augmenta a sua capacidade na relação do cubo
d*esse(s mesmas dimensões; e por outro lado 'a força que
é preciso applicar-lhes para obter uma velocidade de-
terminada, augmenta, quando muito, como os quadrados
d'essas mesmas dimensões; o que equivale a dizer, que
é menor a força motriz necessária para transportar uma
tonelada de mercadorias em um navio grande do que
n*outro pequeno. Admittirá o vapor 5,0CK) toneladas de
fazenda e terá 500 camarotes de 1.* classe, alem do
espaço reservado para os passageiros de classes inferio-
res e do consagrado a 10,000 toneladas de carvão, que
será o empregado em 38 dias de navegação, durante os
quaes andará o navio, só com a machina, 3,600 léguas
marítimas, visto que lhe não será preciso n*aquelle lon-
go periodo ir reíazer-^e de combustivel aparte alguma.
13 DE JULHO.
MaVí veau b*ob.
On raisonnait métempsychose :
Un mauváis plaisant par état,
Que tout haut Ton nommait Montrose,
Que tout bas on nommait un fat,
Montrose donc, voulant berner la compagnie,
Affirmait d*un air d'ironie,
Qu*il se rappelait, mais três bien,
D*avoir été jádis le veau d'or, chose sôre : -
Une dame lui dit : Eh bien I
Vous n'en avez, Monsieur, perdu que la dornre.
243
U DE JULHO,
ORELHA DE DYONISIO. — Dissemos no arliso de
15 de fevereiro do Almaaach de 1851 que por Dinii,
ou Dyonisio, de Syracusa. fftra mandada construir uma i
gruta a que ainda lioie se dá aquelle nome, gruía em
que elle
mandsTa |
quanto ee dizia, por mais baixo que se fallasse. Assim
poude o tyranno descobrir muitos segredos e con-
verter em certeza mal fundadas suspeitas. Apresenta- .
YB essa gruta no seu interior as mesmas circumvolu- ,
çóes da orelha humana. Era aquella a sua exacta fór-
15 DE JULHO. -
NEVE PRETA, —Acaba de cahir em Lautern, terri- .
lorio de Berna, na Suíssa. conforme assevera o Cosmo- <
rama Pilloresco de Milão. Examinados com o raicros-
copio os pontos negros de que se compunha, reconhe-
ceu-s^í que erío insectos era que perfeitamente se dis-
linguiao a cabeça e os orglos do movimento.
244
16 DE JULHO.
UMA GLORIA DE MONÇÃO. —Moncâo, que é uma
das mais lindas terras da provinda do Minho, tem o ti-
tulo de nobre e leal.
E náo foi sem razão que lhe couhe este foro honori-
fico. A sua historia illustra-se de feitos heróicos, de
que a maior parte, é bem confessaFo, toca ao sexo
que alcunhamos de tímido.
£ tanto, que na igreja' matriz, em uma capella qtie
alli fundara Paio Rodrigues de Araújo, se ia abrir, an-
naalmente, a pauta dos vereadores, sobre a campa
d'uma mulher, cuja imagem e cujo nome são o brazáo
e o mote da villa, e fazem o orgulho de seus mora-
dore».
E com effeito, a acção que Deu^la-Deti-Martins
obrara, nâo podia nunca esquécer-lhes.
Contarei como foi o caso, que é digno de commemo-
rar-se.
No tempo d'El-Rei D. Fernando, d*aquelle Rei de
ruim agouro, que tanto porfiou em tornar fraca a forte
gente, mas que, ainda assim, nâo poude enervar os
brios dos nossos portuguezes d'algum dia, andava-se
em guerra, como é sabido, com Henrique 11 de Cas-
tella.
Um grosso exercito, capitaneado por D. Pedro Sar-
mento, adiantado da Galliza, invadio-nos por aquella
banda, e veio pôr a Monção ura apertado cerco.
Os nossos receberam-nos com alvoroço, folgando de
poderem dar á soberba hespanhola a primeira amostra
do castigo que devíamos infligir-lhe, mais tarde, em
Aljubarrota e em Montes-Claros.
E a sua esperança era bem fundada. Quantas vezes,
os sitiantes tentaram assaltar a fortaleza, tantas foram
rechaçados pelos sitiados.
De forma que, quasi descoroçoando do bom êxito da
erapreza, ou convencendo-se, pelo menos, de que com
245
as armas nada logra vão,, resolveram lauçar mâo d*ou—
tro meio, se nâo tão nobre, mais eíficaz.
Reforçaram o campo, fecharam ainda mais o assedio,
e appellaram, pacientes, para o tempo.
Os viveres haviào, por força, de acabar laos de den-
tro, e entáo". ...
O plano vingou. D'ahi a pouco faltava o alimento na
villa ; por fim, veio a fome. E que fome I na sua mais
nua e hedionda crueza I
Quem quizesse ver o r&verso de um oásis, tal qual
BoFo pintam os poetas do Oriente, resplandecendo de
verdor e frescura na vastidão immensa do areal tórri-
do, era erguer os olhos para aquella praça, cárcere,
ou antes ecúleo de alguns centenares de soldados,
que, mais cadáveres do que homens, antepunháo des-
fallecer á mingoa, abraçados á bandeira d'tel-Rei, a ir
rojara, em troco do sustento e da vida, aos pés d'um
capitão estrangeiro ; para aquella praça, digo, negre-
jando no meio das searas, ja maduras, que a.insulta-
vão com a sua abundância, e se estendiào, em zona
doirada, ao lon^o do leito do rio.
Oh I para o no se viravão elles a cada passo, so-
nhando — que era um sonho, isso — que d*alli lhes vi-
ria soccorro, pois que da terra lhes não chegava.
De dia, quando se aílirmavão n'aquelles pontos bran-
cos, que lá tinhào percebido ao longe, e que a sua vista
enfraquecida, ou a sua imaginação febril, lhes aiigurava
as velas d^um comboy de barcas, reconheciâo por fim
que não erão senão fofos de espuma, que desciâo en^
balando-se ao som da corrente f
De noite, se por acaso presentião, com o ouvido
fino que toem os famintos, um leve rumor, que parecia
de remos, esperavão, esperavào. . . . até que se con-
yencião de que era a aragem, que enrugava as aguas,
ou fazia ciciar os salgueiros !
£ o desengano era então acerbissimo, porque tra-
zia a desesperação comsigo.
246
Exhauridos pois todos os recursos, passadas tor-
das as provações, só restava aos vivos devorar os
mortos.
Em poucos dias — quem sabe se em poucas horas —
quando D. Pedro Sarmento entrasse na villa, não ha--
Teria face portugueza, que alli corasse, corrida de ver-
gonha : todas estariâo tão frias, como lividas estaváo
agora.
A ruina geral era obvia ; e fora infallivel, a não ser
Deu-la-Deu-Martins.
Esta illustre dona, tão nobre pelo seu animo como
pelo seu sangue, querendo mostrar-se digna da missão
providencial, que o seu nome Deu-la-Deu [Deus a deu)
parecia symbolisar, acudio na commum desgraça com
o mais engenhoso ardil.
Ajuntou os únicos salamins de farinha que ainda
guardava para a ração dos soldados, aos quaes distri-
uira até o ultimo 'de seus maravedis ; mandou amas^
saros e cozeFos ; vestio-se depois com as suas galas;
compoz o rosto, conforme poude, com um ar de riso ;
-sahio de casa ; foi-se direita para o lanço do muro on-
de hoje são as Portas do Sol ; subio ao mais alto d'elle,
e fez signal com um lenço branco para os sitiantes,
que correram alli em tropel, phantasiando ver já nas
mãos da messageira as chaves da ,villa, que suppu-
nhâo ia entregar-se-lhes.
— « Que fazeis ahi, senhores capitães? — disse então
a nossa minhota — que fazeis ani? cuidais que nos
venceis pela fome ? Olhai que por isso não vamos. Ha
aqui mantimento que o farte. Tendes vós por lá mingua
d'elle ? Se assim é, manos, dizei-o, que partiremos com-
vosco. A broa que damos aos nossos cevados, é d^essa :
provai-a ; ainda vem quente do forno. »
E n'isto, atirou com os pães da muralha abaixo»
Os gallegos que, por fim de contas, sempre erão gal-
legos, ficaram varados, e cahir^m no logro. -
È D. Pedro Sarmento, repetindo comsigo o opus et
n DE JULHO.
METRÓNOMO E PAWHABMONICO. - Acaba de dar »
alma ao Creador Io que não passou de umaTeslitui-
çSoJ o célebre Maekel, inventor do mcirànomo, que é
um instramento com a sua pêndula, destinado a conser-
var invariavelmente o compaço na musica; instrumen-
to que tem a forma de uma pyramide, e de que se ser-
vem os mestres de musica, se reconhecem que os die-
cipulos têem mâu ouvido. Era Maekel um do8 melhores
machinistas da Al-
lemanha, onde tan-
tos ha bons. e en-
tre diversas ma-
chinaa por elle in-
ventadas, e que
(izerao a admira-
ção da culta Euro-
pa, sobresaheuma
a que deu o nome
de Panharmanico,
I e que s4 por Deus
I ou pelo diabo po-
dia ser ideada : é
uma orchestra de
42 músicos, todos
autúmatos, que eiecutão com a maior perfeiçSo grandes
trechos de musica, e até symphonias. Esteve exposta
a lai endiabrada machina em Paris do principio il'esEe
século, e acha-ee agora em Boston nos Estados Unidos.
Ha muito quem nSo aaiba fazer nem um coxixo; e aquel-
le berúe faz uma orchestra de 42 músicos, locando todos
^les Instrumentos diUerentes.e combinando-se todos uns
com os outros I Louvado seja para sempre tfio bom Sb-
NBOH, que a uns dâ tanto juízo e a outros tão pouco I...
248
' 18 DE JULHO.
•A m PAPAGA?0.
Linda ave, quanto invejo
Af tua feliz prisão I
Que importa que vivas presa
Se é livre teu coração 1 . . .
Eu, vivendo solto e livre,
Gozo menos liberdade ;
Nào me roxeâo os pulsos.
Mas devora-me a saudade.
Eternos dias se escôâo
Sem que veja o bem amado ;
Tu, meu rival, tu vês sempre
Thesouro que me é vedado.
És mais ditosa do que eu,
Porquevês oque eu aâovejo;
O Ipgar que tu occupas,
Linda ave, quanto invejo I
A bella imagem teria
Aos olhos sempre presente
D*aquella que de contínuo
Estrelleja a minha mente.
Ternos ais, meigos suspiros
Sem cessar lhe enviaria I . . .
Se a ingrata os desprezasse,
A seus olhos morreria I . . .
Mas já que não é possivel
Que troquemos nossa sorte,
JDize-lhe, ó ave formosa.
Que serei seu té á morte.
António Maria do kmaral Ribeiro.
(Porto. Alegre, Império do Brasil)
19 DE JULHO.
PAVIOLA DO CEARÁ. — E' um estrado com quatro
braços, a modo d'andor, e sobre o qual está pregada
uma cadeira ; pégâo-lhe quatro negros aos hombros,
depois de se haver alli sentado o passageiro que de
bordo quer ir para terra, e assim lá chega, se bem
2ue algumas vezes encharcado, porque a resaca no
eará é fortíssima, e náo permitte que barcos çu ca-
noas cheguem ao cáes.
A paviola é também conhecida na nossa Africa Occi-
dental, mas com o nome de colima.
249
20 DE JULHO.
FEITIÇO CONTRA FEITICEIROS. — Tomada d'as-
salto pelo Conde de Glocester, Roberto, a cidado de
Nottingham, em 1140, commetteu n'ella o vencedor ne-
fandas atrocidades. Os mais dos moradores forâo pa9-
sados á espada, e as casas quasi todas arrasadas ate aos
Íundamentos. No meio d'aquelle inferno, apertado um
)urguez riquíssimo por treze demónios, sob a figura
de soldados, para alli lhes apresentar logo todo o
seu cabedal, abrio, humilde e cabisbaixo, a por.ta de
um subterrâneo, e lhes disse com as lagrimas nos olhos
que lá em baixo encontrariâo o que procuravâo. Com
o alvoroço da preza descem de tropel, e tâo desati-
nados, que nem pela idéa lhes passa segurar ou levar
comsigo o homem. Este, assim que os apanha encurra-
lados, fexa a porta muito bem fechada, deita fogo á
casa, e se regala ouvindo os urros dos ladroes por e»-
tre o estalar do fogo que devora todo o seu haver.
21 DE JULHO.
BENGUELLA E O NUMERO TRÊS.— A Igreja de Ben-
guella tem três portas para a rua, três altares e três si-
nos. A Gamara Municipal tem três salas no sobrado e
três portas d'entrada para a escada. O açougue da
Gamara tem três portas d*entrada. Ha na cidade três
cirurgiões, três boticários, três padarias, três açou-
gues, três cemitérios, três sobrados de repartições
publicas, e três praças principaes, a saber — o lar^
de S. Filippe, o de Santo António, e a Praça Municv-
Í)al. Ha três sinetas que chamão para diversos traba-
hos — uma na Gamara, uma na Alfandega, c uma
na fortaleza. Ha finalmente seis sobrados particulares,
o que faz duas vezes três.
250
23 DE JULHO.
AQUEOTICTO DA CARIOCA. — E' uma obra elegante
e monumental no Rio de Janeiro. Tem cerca de duas
léguas de extensão e foi terminado em 1740, com a no-
tável circumstancia de haverem sido mandados de Por-
tugal os materiaes para elle, o que muito lhe augmen-
tou o preço.
Asseverou Rocha Pitta ser alli fama acreditada faser
aquella agua vozes suaves nos músicos, e mimosos ca-
rões nas damas.
Francisco Raphael d'Oliveira.
fBrasilciro)
23 DE JULHO.
CHARADA.
Três 8âo as fúrias, affirm&o
Embusteiros e novellas ;
Pois falta bem poucochinho
E* fiel, obediente,
E sem ser disciplinado,
Defende intrépido o posto
Paraque enseja uma d'ellas.2lComo faz um bom soldado. 1
Veloz em sua carreira.
Atrevido e arrogante,
Destróe e lança por terra
Tudo que encontra /liante.
Muitas vezes tenho visto.
Em seu rápido correr,
Muralhas, troncos annosos,
A seu Ímpeto ceder.
jf * j^
251
VÁ BUGIAR. —E' hoje nm insulto, umaphrase chula
de má companhia, uma fei:pressâo que sú anda na bõc-
ca do vulgo; nada d'Ísso foi porém na -- —' —
em Lisboa, no tem-
Sio de Filippe II, o
orte do Terreiro do
Paço, foi preciso,
em rasão de ser mui
lodoso o teyeno ,
assentar-lhs os fun-
damentos em uma
um engenha a que
chamavio bugio; era
penoso trabalhar
com elle, e para is-
80 se agarravão to-
dos os vadios e pes'
eo.as de obscura
condição que seen-
r.ontravSo pelas ruas e pragas, d'onde proveio o man-
dar bugiar aquelles a quem se trata com pouca ou ne-
nhuma consideração, ou com quetn ha íntimas relações
que autorisem essa liberdade.
25 DE JULHO.
K ULTIMA ASNEIRA. — Ao sahir da igreja, depois
de bem filado nas cadeias de liymeneu, um extravagan-
te que toda a vida empregara em namorar, disse-lhe a
noiva: «Asora, meu senhor, d'Rqui em diante é ter jui-
so. > — ( Sint, minha senhora, prometlo-lhe que é et-
ta a uUima asneira da minha vida. »
252
26 DE JULHO.
LUIZ DE CAMÕES.
Que poeta que não era
Da linda Ignez o cantor !
Quem maisdoqu'elle dissera
Doesse fero Adamastor I
Era um astro fulgurante,
Era um poeta gigante.
Tinha mais alma queDante,
Cantava com mais amor 1
No peito, coberto d*aço.
Lhe batia um coração,
Que nem os cantos ào Tasso
Sonharam maior paixão 1
Era cantor e soldado.
Era um vate enamorado,
.Foi um poeta inspirado,
Como os d'hoje já náo sâo I
Deusquedeuaosportuguezes
D'álem-mar as regiões,
Que nos livrou dos revezes,
Deu-nos o rei das canções:
Fomos o povo escolhido;
O nosso nome temido,
Hoie só é conhecido
Pelos cantos de Camões.
Foi-se-lheavidaemdesgosto
Âo^uea{)atriaassim cantou;
Mais poeta que Ariosto,
Que bellezas nos legou 1 1
Pungido de acerbas dores.
Pelo Tejo, seus amores.
Foi o rei dos trovadores.
Foi o cysne que expirou I
Bem nòs cantos se lhe marca
O signal do seu penar ;
Nascera como Petrarcha,
Já fadado para amar 1
Yêde bem o sentimento.
Com que dá soltas ao vento
Queixasmildo seutormento,
Tristezas do seu trovar I
A sorte fêVo poeta
Das cinzas da pobre Ignez ;
O mundo íèVo propheta -
Do destino portuguez 1
Poeta da desventura,
Prévio a sorte futura,
Escreveu com mão segura
A prophecia que fez 1 1
253
Como Ovidio, desterrado
Lá na gruta de Macau,
Só tem o pranto enxugado
Pela mâo do pobre Jau.
D'escravo tornou-se amigo,
E no peito, só comsigo,
Supportou cruel castigo,
Mas nunca se mostrou mául
Debruçados sobre oscantos.
Da nossa fama padrão,
Bemjuntosverteramprantos
Sobre a nossa escravidão !
Mas Camões, a vil tutella,
D'essas hostes de Castella,
Nâopoude chorar sobreell a,
iMorrera-lhe o coração 1 1
Que poéla ! e que soldado !
Que trovador tão leal I
De todos abandonado.
Só achou um hospital I
Mas a fama portugueza,
N'este séc'lo de torpeza,
Alli TÍvem as TÍctorias.
Já do povo, já do rei;
Alli vivem as memorias»
Alcançadas pela lei ;
£' pharol de nossa fama;
Alli vive o Castro; e o Gama
Só tem por toda a grandeza Em versos alli proclama
A Camões por pedestal. jTriumphos da nossa greil
• A Camões por montrmento
Só resta um livro, não mais ;
D'aquelle génio e portento,
Náo^iemos outros signaes ;
Mas que importa, se a memoria
Do cantor da nossa gloria
Alcançou maior victorid
Nos seus cantos colossaes I
Luiz Augusto Xavier de Palmeirim,
27 DE JULHO.
PRESENTE DE INTENDENTE. — JWandando no Rio
de Janeiro o Intendente Petra (de quem atraz falíamos
a pag. 115) um rico presente de mangas, cajus e fructas
do conde, a um seu conhecido, dentro de um cesto de
prata, e envolvido tudo n*uma toalha bordada, o pre-
senteado ficou cora tudo. Encordoou com isto o In-
tendente, e logo escreveu ao empalmador a seguinte
quadra :
Alma que sabe d'este mundo^
Dizem que vai e não vem ;
Mas o meu cesto e toalha.
Quem os fez alma também ?
254
28 DE JULHO.
REMÉDIO PARA FAZER DORMIR. — Quando a vi-
gília nlo provém de doença do corpo, ou de exces-
siva agitação do espirito, achou por suas experiên-
cias o célebre Franklin, e muitas pessoas toem de-
pois 'd*elle recobhecido ser verdade, que nâo ha
nada melhor do que salt.ar da cama nú para o meio
do quarto, esfregar bem toda a pelle com as mãos, e
tornar a recolher aos lençóes ; pega-se logo no soi*no.
Muitos outros expedientes se hão tentado, por
instincto, para conciliar o sonano. Uns- aconselhâo a
leitura, principalmente de um livro secante (Tem o pe-
rigo de pegar fogo á cama, e é uma espécie de pro-
fanação ao estudo]. Dizem alguns velhos que éoom
o rezar sem attenção (O exercício nâo é dos mais pie-
dosos). Paganini embriagava-se com opiò, como os
orientaes(È' envenenar-se). Muitos fazem a cousa mais
prosaicamente ; atacâo-se de comida e bebida, a des-
peito do rifão das longas ceias. Não poucos fati-
gão-se de propósito com excessos, o que é mercar
o descanço muito caro. Nós temos achado constan-
temente,* que se a insomnia nâo provém de moléstia
corporal, cuidados graves, penas do coração, ou
alegria vehemente, ifto ha modo como principiar a
Contar seguidamente de um a vinte, desandar de vin-
te a um, e tecer assim do principio ao fim e do
fim ao principio, com grande rapidez — ou também
começar a girar com o espirito por. todas as partes
immoveis do quarto, á roda e continuamente : aquil-
lo é atordoar e adormecer logo. — Também conheço
um janota que adormece contando as namoradas : pois
o caso é mais para espertar que para adormecer.
NASCER E MORRER. — Para o verdadeiro christâo.
nascer é principiar a morrer, e morrer é começar a
Tiver. * * ♦
255
29 DE JULHO.
DOUS SAMSÕES. - Awba de morrer em uma aldei»
de Trêvè
chamava-
s5o. Três
55. p. 2i
para a repar-
tiçio. Assim
que loca a ei-
do á entrada,
quero sei' o á
Talvez nos dias de paginnento seja u
31 DE JULHO.
it JtVESINHit E O aOSTEiRO.
Quando hapouco atravessei
O ermo de Val-Bemfeito^
Toda em silencio perfeito
A natureza dormia.
Somente d'uma avesinha,
Sobre umpinheiro pausada,
A voz sentida e magoada,
D*espaço a espaço, gemia.
Era gemer que.nâo tem
Semelhante n^este mundo,
Mais extenso queprofuado,
Sobre triste, penetrante.
Não são assim os gemidos '
D'algumdos seres viventes,
Nem os ais intercadentes
De mortal agonisante.
Ou seria Anjo do céu.
Que das nuvens desceria,
E vindo de romaria
Áquelle santo logar.
Lá de cima do pinheiro.
Que verdeja na coUina,
Ao ver tamanha ruina.
Se poz defronte a chorar.
Quem sabe? conto o que vi.
E o que pensei tal e qual;
Se foi caso natural.
Se foi mysterio, nâo sei ;
Sei porém que da avesinha
A triste voz escutando,
Tantoestragocontemplknda
Também lagrimas chorei.
Talvez(que nâo podeDeus
Seria a alma d'um monge,
Que alli viesse de longe
Saudades desabafar ;
De seu antigo mosteiro
A fatal destruição.
As ruinas que âlli vão,
Mettida na ave, chorar.
!]]Qual o monge e qual o anjo,
Seanjo oumonge aUvaga>;a,
E como eu que ali passava,
Chora todo o coração.
Vendo a ruina das artes,
A do asylo de piedade,
E a brutal barbaridade
Da presente geração.
Francisco Raphael da Silveira Malhão.
(Óbidos)
258
IDE AGOSTO.
GUERRA DO ESTANDARTE. — Foi Estevão de Blois
o 4.^ Rei dTnglaterra depois da conquista. Da sua no-
meação ao throno rebentaram temerosas guerras. Em
1138, como se achassem vários fidalgos da sua parcia-
lidade reunidos nos arredores de Albertun, assentaram
em esperar alli o inimigo. Arvoraram no próprio sitio
um mastro grande para chamamento dos neis em caso
de aperto, pondo no alto d'elle hóstias consagradas e
bandeiras de santos, d'onde áquella guerra ficou o no-
me de guerra do estandarte.
3 DE AGOSTO.
ILHA DE S. THIAGO. — E* a principal do archipela-
ga de t^abo Verde, e capital da provincia, ainda que os
overnadores Geraes ha annos residâo a maior parte
do tempo na ilha Brava. Tem 360 milhas quadradas,
dous concelhos, onze fréguezias, 2,946 focos, e 34,217
habitantes. A sua primeira cidade, denominada Ribei-
ra Grande, que chegou a ser opulenta era trato e ma-
gestosa em edifícios, foi abandonada e jaz em ruinas.
A sua principal povoação é hoje a Villa da Praia, que
nada cede á sua antecessora em magestade e extensão.
Tem esta ilha commercio continuado e abundante,
muitas ribeiras cultivadas, producçúo immensa de mi-
lho, legumes, vegetaes e fructas,- bem assim de canna
de assucar, de caíTé, algodão, purgueira, urzella, e
muitos outros géneros. Apesar de ter dois terços do
terreno sem cultura, é tão fecunda, que tem chegado a
exportar mil moios de milho, o que corresponde a dois
mil e quinhentos moios nossos. Possue grande quanti-
dade de gado, e não menor de aves domesticas. Pena
é ter fama de pouco salubre.
259
3 DE AGOSTO.
public. .
da Áustria. Bemonta a sua origem i epocha da invasio
lia Itália porAltíla. Construída sobre 60 ilhas reunidas
por pontes, jiarece haver sahido do mar, e tez antiga-
inetile um brilhante papel. Ao chefe do estado deu-se
□ nome de djique oa doge {A. 53 p. 135): podia elle con-
vocar a assembléa geral, nomear tribunos ejuizes, con-
rirmar as eleições de prelados, e presidia ao governo
dã republica. Não foi aenSo sob o 26" doge, Pedro Or-
ueolo II, que principiou o poder marítimo de Veneza;
foi elle que em 997 submetteu a cidade de Narenta. Iia-
bitada porpiratas, de que enlíose achava intesiadao
Mar Adriático. D'ahi a século e meio. o Papa Alexan-
dre III, em memoriados eminentes serviços que Iheh*-
viáo prestado os venezianos contra o famoso corsário
BarbariJia, dava de presente ao doge ura annel como
260
symbolo de sua soberania n*aquelle môr, d'onde pro-
veio a ceremonia que relatámos apag. 206 do Almanach
de 1852, de fazer casar todos os annos o Mar Adriá-
tico 6 o Doge, que n'elle deitava um annel, afim de
manifestar, que assim como a esposa está sujeita ao es-
poso, assim também o mar se achava sujeito ao Doge
de Veneza. D'ahi em diante, senhora de numerosas e
valentes esquadras, trabalhou energicamente a re-
publica por acrescentar-se. Apôderou-se successi-
vamente de uma p^rte do Peloponeso e da Ilha de
Cândia ; obteve do Sultáo do Egypto inteira liberdade
de commercio nos portos d'este paiz e da Syria ; apos-
sou-«e do commercio das índias, apesar da republica
de Génova, sua rival ; submetteu grande numero de
importantes cidades e praças fortes da Itália, e tor-
nou sua tributaria a ilha dethypre. Principiou a de-
clinar no começo do século XVl. Deu*lhe golpe de
morte o descobrimento pelos portuguezes de um novo
caminho para as índias pelo Cabo dá Boa Esperança ;
esgotaram seus recursos os esforços que fez em 1508por
occasião da liga de Carabrai ; roúbaram-lhe, eraíim, os
ottomanos a ilha de Chipre, Cândia e todas as suas pos-
sessões da Morea. Não era mais do que uma sombra de
si própria quando, em 1796, Bonaparte^ vencendo os
austríacos, acabou por dar com ella em terra, e lhe ex-
tinguio até o nome.
Veneza é todavia ainda hoje uma cidade notavçl ; as
suas lagoas, suas ilhas, suas pontes, seus canaes, que
«travessão as gôndolas que de continuo os percorrem,
tudo isso lhe dá um aspecto dos mais pittorescos. Tem
magníficos monumentos : acathedral de S. Marcos lem-
bra a mesquita de Santa Sophia de Constantinopla ; na
praça do mesmo nome se ve o antigo palácio do Doge,
edifício collossal que tantas scenas criminosas ou dra-
máticas presenceou, e onde esteve preso o famoso Sil-
vio Pellico. Nâo muito longe ha outras prisões a que
chamavâo Os Poços, masmorras subterrâneas, apenas
261
separadas do palácio pela Ponte dos Suspiros. Resumem
assas prisões a tenebrosa e cruel politica da antiga re-
publica de Veneza, por isso devem ser mencionadas no
inventario dos destroços do seu esplendor.
A gravura acima representa a Praça de S. Matcos,
n'aquella cidade.
4 DE AGOSTO.
ABAIXO O OURO. — Se se deve dar crédito aos vati-
cinios do famoso Miguel Chevalier, dentro em pouco se-
rá o ouro o mais vil de todos os metaes. For cálculos
cuidadosamente feitos desde Christovão Colombo (A,
51, p, 245. i4. 52. p. 104. 135, 153, 166. .i. 53, p. 186, 221.
240. A, 54, p. 166, 351) até ao descobrimento dos terre-
nos auríferos da Califórnia {A: 52, p. 195. il. 56, p. 146),
se sabe haver sido de perto de seis milhões- de arráteis
o ouro extrahido do novo mundo, ouro com que se hou-
veram podido fazer dez mil milhões de francos ; e hoje
anda eíle annuahnente por uma décima parte de quan-
to o mesmo continente havia produzido em 357 annos.
Se assim tem de continuar, dentro em dez annos, a
contar do 1.** de janeiro de 1853, e dentro em seis an-
nos só, a contar doeste em que estamos de 1857, haver-
se-ha derramado por todo o globo uma quantidade d*ou-
ro igual á que o novo mundo houvera produzido no lon-
go periodo de três séculos e meio, se é que não for
muito maior, pois nem está para acabar a ambição dos
homens, e cresce de anno para anno a emigração para
a Califórnia epara a Austrália, nem por outro lado na a
minima apparencia de que possa nunca vir a ser ex-
trahido todo o ouro n*aquellas duas regiões.
CARRILHÕES. —Inventados em Alost, na Bélgica,
em 1487. Ha um em Antuérpia q4ie tem 99 sinos gran-
des e pequenos.
262
6 DE AGOSTO.
MORTEIROS DE QUINZE POLEGADAS. — De Sua
Magestade El-Rei o Sr. D. Pedro V se refere um dito
chistoso. Ao visitar o Arsenal do Exercito, vio ahi na
Fundição de cima estar-se trabalhando em dous mor-
teiros de quinze polegadas cada um. — «Para que sáo
esses morteiros ? » perguntou El-Rei — < SENHOR, lhe
respondeu alguém, mandaram-se fazer para utilisar
umas quatrocentas bombas do mesmo diâmetro gue
alem temos e para nada servem. » — < Nâo me admira,
respondeu o Monarcha, pois assim como, em nossa ter-
ra, se arranjão empregos para os homens e n^o homens
para os empregos, assim também é coherente que se
arranjem os morteiros para as bombas só depois de
feitas as bombas para os morteiros. »
Está na mâo de Sua Magestade o remediaVo.
6 DE AGOSTO.
Sol brilhante dardejava;
De repente escureceu !
O povo todo assustado
Exclamou : Que aconteceu ?
Nada, cousas naiurees
(Um astrónomo lhe diz);
E' que entre o sol e a terra
Passou aquelle nariz.
Inhato-Mirim.
(Rrasileiro)
263
7 DE AGOSTO.
VATICANO.— Collina originariamente situada furado
redito de Roma e que hoje se acha u'elle coniprehen-
dida. Ahi se elevou um, bairro, a principio o inú-'
mo da capital do mundo D"aquellas eras. e que nos rei-
nado» de Mero e de Heltog&balo se tornou um dos mai«
9. Constantino, depois de haver erigido a antiga
basílica de S. Pedro, hojn substiiuida pela de Miguel
Angelo, mandou edlQcar próximo a ella, para os Ponti'
fices romanos, «m sumptuoso palácio, que se denomi-
nou Vaticano, e onde elles de eniio para cá leni sem-
264
pre residido. Este immenso edíGcio, em que tantos bra-
ços hão trabalhado de 15 séculos a esta parte, é menos
um palácio do' que um aggregado de palácios. Alli se
achâo reunidos mil thesouros de sciencia e d'arte, co-
mo por exemplo, a célebre Bibliotheca, a Capella Pauli-
na, a Capella Sextina, em aue se admirâo importantes
producções de Miguel Angelo, a casa de pintura de Ra-
phael, o Museu Ciementino, a galeria de quadros, o
jardim de Belveder, etc. etc.
Na gravura acima se vê a frente da igreja de S. Pedro
e â direita o Vaticano. ^
8 DE AGOSTO.
TOUPEIRAS. — Está hoje provado serem de gran-
díssima utilidade nos campos, em rasfio de darem cabo
de quantos insectos encontrão, sem todavia roerem
uma 8Ó raiz de vegetal. Em França têem por costume
alguns agricultores comprar toupeiras, que deitâo nas
vinhas quando vêem que estão atacadas de insectos.
9 DE AGOSTO.
SONETO DO MARECHAL SALDANHA. - A espada
do Marechal Saldanha é conhecida e admirada por to-
do o mundo, porém a sua penna d'ouro só os seus ín-
timos lh'a conhecem. Como César, como Scipiáo, como
Frederico, o grande homem não desdenha de longe em
longe conversar com as musas. Os seus versos, ^esam-
biciesamente escriptos ; improvisados no interior da
familia e para a família ; só interpretes dos bons affe-
ctos naturaes; contentes cora esse calor que os produ-
- lio ; nunca jamais aspiraram ao grande sol da publici-
dade. O soneto que publicamos e um d'esses improvi-
sos. Possuímos lá de muito o original : é da letra do
primogénito do Marechal Saldanha, o Conde d' Almos-
ter, eterna eeudade de quantos o conheceram, e para
265
nós mais que um bom amigo, o padrinho d& noesa que
rida álha, hoje única. No mesmo papel, e da mesma
letra, se diz que esta e outras composições foram fei-
tas por seu pai, quando o iniciava na Tersiíicaçâo e na
poética. Finalmente, o assumpto é de tal natureza, e
tão profundos vestigios de sua passagem por este mun-
do deixou a Sr.^ Duqueza de Saldanha, que antes de
louvar o poeta, ao ler um soneto que lhe desabroxou
do coraç&o, ninguém pensará senão em exaltar os sen-
timentos a que foi devido. Data elle de 1841, e até ao
ultimo instante de sua vida ligou os dous extremosos
consortes a mesma aifeição, que de dia para dia se for-
tificava com o mais particular conhecimento dos mui-
tos e raríssimos dotes que em ambos se reunião, e que
tanto manifestaram sempre, nos momentos de suprema
gloria e nos de amargos revezes.
SONETO.
V
Venturoso o mortal, a qtfem o fado
Concede uma consorte virtuosa,
Bella, constante, acUva, cuidadosa.
Que honra os deveres de tão santo eôtado F
Eu tenho essa ventura disfructado :
Exemplo de virtudes, carinhosa.
Em meus trabalhos sócia valorosa.
Eis a esposa fiel que o céu me ha dado.
Pelos filhos, penhores de alliança,
D*ella o ser, a'ella o nome, em toda a idade.
Conservados serão por sacra herança ;
Mas prémios de tão ínclita bondade.
Só no grémio de Deus é aue os alcança
De uma esposa modelo a heroicidade.
266
10 DE AGOSTO.
PRINCIPÁÉS MONUMENTOS DE PORTUGAL.—
Aaueductos, das Aguas livres, junto a Lisboa (-á. 51.
3 de fevereiro) e d'Evora. Arsenaes, do exercito e da ma-
rinha, em Lisboa. Basílicas, do Coração de Jesus, em
Lisboa, e de Mafra. Capella de S.Joáo Êaptista, na igreja
de S. Roque em Lisboa (A. 51. ^k de junho). Cathedraes,
de Coimbra, Braga, Évora, JGuarda, Lamego, Leiria, Lis-
boa, Porto, Vizeu. Casa da Relação do Porto. Conventos,
de Alcobaça (A. 51, 30 de janeiro), Belém (A. 51, 13 de
íulho). Batalha, Christo, Bussaco, Santa Cruz de Coim-
nra, Lorvão, S.Vicente de Fora. Estatua equestre d'El-
Rei D. José, em Lisboa. Hospitaes, de Santo António,
DO Porto, das Caldas da Rainha, de Coimbra, de S. José,
eda Marinha, em Lisboa. Igreja da Conceição, das Frei-
ras de Christo, em Lisboa, Santa Maria d'Álmacave, Sé
Velha, e S. Thiago de Coimbra. Palácios, da Aiuda, pró-
ximo a Lisboa, e de Queluz. Pelourinho de Lisooa.
Quartéis, d'Evora, e de Santo Ovidio, no Porto. San-
ctuario do Senhor Jesus do Monte, em Braga. Theatros,
de S. Carlos, de D. Maria II, do Gymnazio e de D. Fer-
nando, em Lisboa, e de S. João no Porto. Torres, de
Belém, do Bugio, á entrada de Lisboa, dos Clérigos, no
Porto. Universidade de Coimbra.
Já démòs a descripç&o dos Arcos das Aguas livres,
dos Mosteiros d' Alcobaça e de Belém, e da Capella de
S. João, nos artigos correspondentes a 30 de janeiro,
3 de fevereiro, 24 de junho e 13 de julho, do Almanach
de 1851; progressivamente iremos fallando em todos os
outros monumentos.
11 DE AGOSTO.
DiSCRIPÇÂO FALSA.— Um máuhomem,fazendo umas
casas, Ihespoz por cima da porta: «Por aqui não e^tra
coisa má. » «Então por onde entra o dono ? perguntou
Diôgenefi?>(A. 51, 27 de junho, A. 52, p. 297. A. 53 p. 241.)
ít)7
12 DE AGOSTO.
t INCO&NITA DEFENSOBA DA ROSA AMARELLI.
Fada, ou anjo d'harmonia,
Quem te deu tanta magia,
Que a lyra vens inspirar ?
Lembrou-te^ meiga cantora,
A rubra rosa d*outr'ora.
Que tentei desaffrontar ?
Já depois com voz turbada.
De existência mallograda,
Chorei a separação f
Se por fim emmúdeci,
Ahl cantora, náo morri,
Vive mais o coração.
Ha um dever que me chama,
Umcuidado quem*inflamma,
Que faz a lyra esquecer,
Inda mesmo que a poesia
Nos sonhos de cada dia
A tragos possa beber.
Mas á tua voz sonora,
Quem pode, gentil cantora,.
Inhabil prevalecer ?
Eu de mim presumo tanto.
Que não ouvira teu canto
|Se<n um canto te oiTerecer.
Vizella 6 de agosto de 1856.
D. Ânna Amália de Sá e Mello.
13 DE AGOSTO.
LIÇÃO DE CIVILIDADE. — Ha no Brasil um General
distincto, por sua intelligencia, seus conhecimentos
militares, sua energia e valor : vários encargos me-
lindrosos lhe toem sido por isso commettidos, sempre
com feliz êxito, e entre elles alguns de complexa na-
tureza, civil e militar, dando em resultado disciplina
e ordem. Não desdenha elle porém ás vezes, em ne-
gócios de ténue importância, empregar formas e estylo
pouco severos. A um oílicial que lhe dirigio um reque-
rimento em papel pouco decente, e com as bordas to-
das por cortar, poz-lhe o despacho : Apare as harl>ai
€ volte !
268
14 DE AGOSTO.
ASSUMPÇÃO.— Festa instituída para honrar a çlorio-
entrada triumphante de
Maria, Mãi de DeBs. no
céu. em corpo e atma.
Assenta a maior parle
dos Padres que depois
da AscensSo de Jesu
Christo e da vinda do
Espirito Santo, ficara a
Virgem na terra 33 an-
nos e alguns meies ; que
fallecera no anno 57 do
nascimento do Messias,
na idade de 7âannoB;
Í|ue no inslalite do seu
allecimento fftra sua al-
malevada ao céu; e que
depois de estar seu cor-
po três dias na sepultu-
ra, por graça especial
divina (âra resuscila-
do pela sua alma, que
bai^fara do céu' para o
levar a lograr alli abem-
aventu rança eterna.
iò DE AGOSTO.
GRAVURA. — ^Em uma nota assim intitulada, impres-
sa no meu livro : Camões, de pag. 205 até 213, toma-
va eu a liberdade de aconselhar a todos os que soubes-
sem desenho ou o podessem aprender, e nomeada-
mente ás senhoras, se applicassem á gravura em ma-
deira, arte tão fácil como agradável de exercer, e cuja
generalisaçâo proporcionaria ás edições e aos jornaes
o illustrarem-se por baixo preço. * e subministraria
ás obras technologicas, ás de sciencias naturaes, ás de
historia, etc, um admirável subsidio para a instrucção,
e um meio dos mais eificazes para o agrado.
Uma donzella, que entre as prendas de luxo houyes-
se aprendido tamoem a arte de gravar, teria um do-
te mais para ser admirada, um meio de se fazer conhe-
cida com vantagem fora do circulo das suas amigas, e
um recurso talvez para os dias da adversidade, de que
nenhuma familia, mormente e\n nosso tempo, está isen-
ta. Mas que é do mestre? perguntarão. O mestre, á
falta (f outro, sel'o-ha o Manual do Gravador, a boa von-
tade e a perseverança. Que estas cousas podem bas-
tar, provou-o a ilha'de S. Miguel, e já em Lisboa o ti-
nhâo provado no Panorama os Srs. Bordallo e Coelho,
mestres e discipulos de si mesmos.
A. F. de Castilho.
16 DE AGOSTO.
REMÉDIO PARA DOR DE DENTES.— Terrivel incom-
modo é este para- o qual nâo ha especifico que apro-
veite, sempre e a todos. Um remédio porém facillimo,
e dos que menos falhão, é mascar uma lasquinha de
raiz de piretro, que em todas as boticas se vende,
é muito barato, de sabor n(ío ingrato, e provoca abun-
dante salivação, que é o que em taes casos se requer.
270
17 DE AGOSTO>
LETRAS MAIÚSCULAS. — Fallando-se Junto ao leilo
onde a^onisava José Nicolau de Massoelios Pinto, de
haver sido despachado oí&cial para uma secretaria um
homem t&o iguorante que até pelo meio das palavras
punha letras grandes, e mostrando-se como prova uma
carta por elle escripta, — « deixem-me cá ver também
(disse o moribundo, entre-abrindo os olhos), quero le-
var essa novidade para o outro mundo. > Chegaram-lhe
ao pé o papel, poz n'elle a vista alguns instantes, e ex«
olamou : nâo ha duvida I . .. é um homem feliz em tu-
do 1 até as palavras lhe grelão I . ..
.18 DE AGOSTO.
A MAIOR PEÇA D'ART1LHERIA. — Foi no Oriente,
isto é, no próprio sitio em que a guerra ha pouco recop-
reu aos mais engenhosos meios de destruição, que um
fundidor hun|;aro, por nome Orban, e por ordem ae Ma-
homet II, que então queria a todo o custo apoderar-se
de Constantinopla (A gravura que se segue é do tem-
plo de Santa Sophia), construio a maior peça de que
alli fazem menção os annaes da artilheria. Com ella-se
arrojavâo balas de pedra com três pés de circumferen-
cia. Antes da primeira experiência, forâo prevenidos
os habitantes aAndrianopole afim de que se retiras-
sem para longe, se não querião íicar surdos. No acto
da explosão, uma nuvem de fumo cobrio toda a cida-
de, e ouvio-se o estrondo a muitas léguas de distancia;
a bala correu mais d*um quarto de légua, e entrou pela
terra dentro obra de cinco pés. Tão contente ficou o
fiultão, que enriqueceu logo o inventor.. Ao declarar-
86 depois a guerra, partio magestosamente.a famo-
sa machina, conduzida por cincoenta juntas de bois, e
escoltada por duzentos homens» que ião dos lados para
271
19 DE AGOSTO.
CORRIDAS DE TOUROS. — Apeiar de terem na Hes-
panha os seua oito séculos de antiguidade, e de confron-
tar aqvieHe reino com o de França, nunca ahi sé havia in-
iroduzido esie bárbaro dtuíriímenfo, que deu iogar a
que o Papa Pio V excomraungasse loureiros e especia- -
Jores(A.51,4 d<iulho),excommunhfioque por Clemente
VIII foi levantada, sob a condiçSo de que só embolados
se corressem os (ouros. Hoje em dia é de i;rande voga
esse espectáculo na França meridional, e tão barbara-
mente se executa aíii como a» Hespanha, onde sempre
morrem nio poucos animaea, e algumas veices, ou logo,
ou em resultado de ferimentos graves, capinhas e caval-
leiros. Entre qós é muito menos perigoso ; bom fura to-
davia que se abolissem taes corridas, que poui:o de-
nflem a favor da civilisaçao do século.
POLHA DE FLANDRES. -Inventada' em Liège.
20 DE AGOSTO.
TBAZ-OS-HOJITES.
Porqueestáiniiih*almatrUtc,
E saudosa assim resiste
A' primavera que existe
N'este8 campos, n'e8te céu?
Pois aqui, em prado ameno.
Verdeja sempre o terreno,
Nem do ar o azul sereno
Tolda de nuvens o véu I . . .
Mas em vão a vista emprego
N'estasmargensdoMondego;
Das planicies o socego
Não Dasta ao meu coração :
Aqui reina em cada dia
Bem triste monotonia,
£ não tem physionomia
D'estes campos a extensão.
Naminhaterra asmon tanhas.
Que se levantão tamanhas,
Dizem-me cousas estranhas
Que a planura aqui não diz:
È' tão Delia a natureza,
Em toda a sua rudeza,
N'essa Escócia portugueza.
Nos montes do meu paiz 1 . . .
AUi tem por sentinella.
Que sempre acordada vela,
Constante, a provinciabella
Alta serra do Marão.
Veste por armas a neve,
Que ao viajante prescreve
A cautela com aue deve
Avançar n*aqaetle chão.
Depois, de todos os lados
São montes enfileirados,
Como gigantes soldados
N'um dia de batalhar.
N'estes serros escabrosos
Pascem novilhos formosos,
E sobre abysmos perigosos
Vêem-se as águias pairar.
&e nos valles ha campinas.
Onde, por entreboninas,
Correm aguas cristallinas.
Como o Mondego as não tem;
Se alli cresce a branca rosa.
Se alli se ostenta formosa,
Namorada e desdenhosa,
Pura e cândida cecém ;
Ouve-se ao longe a cascata.
Onde essas aguas de prata.
Em medonha catarata
Vão com fúria resaltar,
E depois mais socegadas.
Por entre areias levadas,
N'outros planos espraiadas
Vão outros campos banhar.'
Mais alem, sobre os outeiros,
D'abril os dias primeiros,
Mostrão arbustos rasteiros
Que dão suave licor :
E na dourada seara.
Nada de fructos avara.
Acha quem a cultivara
Largo premio ao seu suor
274
E quando o gélido inverno
Despe de folhas o aderno,
E succede em giro eterno
A* verdejante estação ;
Muda a scena, e á brazeira^
Onde arde a sêcca videira,
Se acerca a familia inteira
Em aprasivel serão.
Embora a força do vento
Redobre a cacla momento,
E no triste e rouco assento
Imite a fúria do mar ;
Alli dentro um calor brando
Vivifica alegre bando.
Como osol damanhâ. quando
Vem as montanhas dourar.
Nâo é como na cidade,
Onde é torpe a sociedade,
Onde oshomenstemmaldade
A mulher nâo tem amor.
Além sim ; temos donzellas,
Tâo formosas, tâo singellas.
Que oamor nas faces a'ellas
Se traduz em rubra côr.
Ohiqueamorinâotem asfalas
D^esses amores das salas.
Aonde, por entre galas.
Nos dizem — amo — a surrir ;
Nem d*elle nasce o ciúme.
Nem a traiçSo se presume
Que venha apagar o lume
|D'um esperançoso porvir.
Ai I montes da minha terra i . . . .
Thesouros que o mundo encerra,
Crôas de paz ou de guerra.
Nada me fará mudar :
Ao bulicio da cidade,
E da corte á magestade,
Eu prefiro a soledade,
Que entre vós heide encontrar.
A. Girão,
21 DE AGOSTO.
BOLSA. — O nome que hoje se dá por toda a parte
ao edifício em aue se reúnem os banqueiros, negocian-
tes e especuladores, para operarem com os fuados e
acções industriaes, provém da familia Van Der Bourse,
que tinha um ma^ifíco palácio na praça em que taes
ope'*&çôes se faziâo na cidade de Bruges, outr'ora a
mais commercial do mundo.
275 *
22 DE AGOSTO.
PÁSSAROS DANÇADORES. — Ao 111.°»^ Sr. José An-
toaio Nogueira de Barros, nosso compatriota, e re-
sidente na Cidade de Valença, Império do Brasil, é de-
vida a seguinte, mui curiosa, communicaçào :
« Ha aqui uns pássaros a que chamâo dançadores, e
que sào, de quantos Deus creou, os mais* alegres e
folgazões. Gostumâo andar juntos, em numero de cin-
co, e depois de haverem dado suas volta? pelo ar, pou-
sáo em arvore que tenha dous ramos fronteiros, fican-
do quatro bem defronte'uns dos outros, como pares de
uma contradança ; o quinto é o musico : depois de tu-
do bem disposto, começa este ultimo a cantar mui com-
paçadamente, e os quadro a pular de ramo para ramo,
transversalmente, ou a andar á roda no mesmo ramo.
Nunca vi nada mais curioso, e alguns o tomarão por
fabula : aílianço que nâo é. »
23 DE AGOSTO.
FERNANDO VII E AS SUAS DAMAS. — Era Fernan-
do VII um pouco zeloso das damas do paço. Um dia,
que o Duque d'Alba conversava com algumas, em pre-
sença do Conde d'Altaniira, sentio que vinha o Rei, e
por ISSO lhes pedio que se retirassem, o que ellas fiz€ráo
apressadameote, porém nâo tâo depressa, que Fernan-
do VII nâo ouvisse o frum frum dos vestidos de seda.
Vira-se o Rei para o Conde e pergunta-lhe :
« Que es esio ?
Incontinente lhe responde o Conde d*Altamira :
Es Alba que dice á las estrellas
Que entra el sol y se van ellas.
Para apreciar o conceituoso da resposta, deve-se re-
flectir que alba emhespanhol significa alva, ou aurora,
27-6
24 DE AGOSTO.
PESCA. — Remonta a eua Drigem & mais sita anti-
guidade. Fsiia-se em Roma com a maior perfeição, e
até com extrema crueldade, porque os ricos mandavfio
lanhar os escruvoe nos tanques, afim de que oa peixes
ee deleitassem e engordaEsem com a sua came. Da
pesca fazem os povos ainda não muito civilisados o bpu
5 rincipai sustento e essencial ramo de commerpio. A
a baleia, a dos arenques e e do bacalltiu, contri-
buem para que entrem annualmente fabulosas sommas
nos cofres das companhias que a ellas se consagrio.
De Iodas hemos já rallado mais d'uma Tez nos prece-
dentes Almanaclis.
ALMANACH5 POPULARES. -
Laensbergli, Coacgo de Uege, e.
277
25 DE AGOSTO.
MÁRMORES D'ARUNDEL.— Os mármores d*Aniiidel.
de Paros ou d'Oxford, pois todos estes nomes se lhes
dão indistinctamente, foram achados na Ilha de Paros,
na Grécia, no fim 4o século XVII, por Thomaz Petrer,
Commissario de Lord Howard, Conde d'Arundel, que o
mandara de propósito áqaellas regiões, á procura de
monumentos da antiguidade para o seu muzeu em In-
glaterra.
Os mármores de que falíamos, alli se achão eom ef-
feito, e sáo o mais precioso documento histórico. Por
elles se taparam muitas lacunas da chronologia, e se
rectificaram muitos erros da historia. Contêem um re-
gisto publico solemne e seguido das épocas mais notá-
veis da Grécia desde Cecrope, fundador do reino d'Athe-
nas, até ao Archonte Diogenéte, tempo em que estas pe-
dras foram ordenadas, no anno 264 antes da era christã;
quer dizer, que rezão estas memorandas e memorativas
Çedras de um periodo histórico nada menos que de
318 annos.
26 DE AGOSTO.
CONVENTO DE MAFRA. — O soberbo Convento de
Mafra, edificado em cumprimento d'um voto feito por
El-Rei D. João V para ter successâo, é um brasão de
architectura italiana e clássica em Portugal. Foi no an-
, no de 1717 que se lançou a primeira pedra n'e8ta mons-
truosa machina. Duzentos mil cruzados se gastaram
n'esta primeira solemnidade. Treze annos durou a edi-
ficação d'esta obra. Perto de 30,000 operários trabalha-
vâo n*ella diariamente. No çinno de 1730.estavão matri-
culadas 45,000 pessoas. Para os operários que adoeces-
sem, construio-se um hospital, em que entraram 17,000
enfermos em cinco annos, com os quaes se gastaram
230,000 cruzados. •
O plano do edifício é um quadrado de mil palmos de
278
Jado. Foi preciso primeiro rebaixar um monte, no que
se occuparam 5,000 operários e 500 cavallos, e em ml>
nas se consumiram 30 arrobas de pólvora por dia. De
cima dos terraços elevâo-se a grande altura dous tor-
reões» dous campanários e um zimbório. Estes corpos
sâo inteiramente de cantaria. Cada campanário tem
15,000 arrobas de metal. Só o sino das horas, pesa 800
arrobas e 20 o seu martello. Os dous sinos dos quartos
estão logo por baixo. Os martellos de todos estes sinos
sáo puxados por três grossos arames de ferro, c^ue váo
prender n'um admirável jogo de relógios. Por baixo dos
sinois que batem os quartos, ha seis sinos, também de
desmesurada grandeza. Ha outra ordem de 48 sinos,, o
maior dos quaes pesa umas 700 arrobas. Seus martellos
sâo presos por arames ás teclas do jo^o de relógios.
Os dous carrilhões são de primoroso artifício. Antes de
soarem as horas, tocáo minuetes e outras harmonias,
Eor solfa, que encantão o ouvido. Foram fabricados em
iége e diz-se que custaram três milhões de cruzados.
A entrada da basílica é ornada de 50 estatuas de enor-
me corpulência, representando os fundadores das or-
dens religiosas. Dentro da igreja nota-se com admira-
ção a variegada profusão de mármores, as riquissimas
E*ecas de mosaico etle madeiras preciosissimas. O retá-
ofo da capella-mór é um magestoso quadro de escola
romana, representando Nosso Senhor e Santo António.
Tem oito orgâos de melodiosa harmonia. Mas o que ain-
da mais se admira, é o zimbório, que se ergue»soberbo
no meio do cruzeiro. Tem duas cúpulas concêntricas,
como o de S. Pedro em Roma. O remate da abobada é
uma pedra colossal. Veio já escavada da pedreira, e fo-
ram precisas 86 junctas de bois para transportara. Para
a lavrarem trabalhaváo 41 canteiros, ao mesmo tempo,
e á larca.
A solemnidade da sagração da basílica foi com appa-
rato e esplendor nunca vistos. Oito dias durou a festi-
vidade, sendo incalculável o concurso de gente. O Rei
Í79 .
mandou estender pelo pavimento da basílica os riquís-
simos paramentos, e disse para os que admiravâo tanta
preciosidade e magnificência: «Isto que estão vendo
me custou ainda mais do que todo o edifício. » Emfím,
para ter uma noção da monstruosa grandeza d*esta ma-
china, basta saber que tem mais de cinco mil portas e
janellas (a).
27 DE AGOSTO.
BARTHOLOMEU DO QUENTAL. — Nasceu este por-
tuguez, notável pela sua vida e por seus escriptos, a 27
de Agosto de 1626. El-Rei D. João IV nomeou-o prega-
dor e confessor da sua Real Capella em 1654. Fundou a
Congregação do Oratório a 16 de Julho de 1668, e de-
Sois de ter deixado lembranças da sua pureza e bon-
ade, e de ver as suas obras traduzidas em todas as
linguas, expirou na idade de 72 annos, a 20 de Dezem-
bro de 1698. Ha d'elle Meditações sobre os mysterios,
e vários sermões em portuguez. Afamilia Quental ain-
da hoje existe, e é uma das mais distinctas da ilha de
S. Miguel {A, 51, 28 de Janeiro, 29 d^Agosto, 17 de
Novembro e 8 de Dezembro, A. 53, p. 106 e 113).
CHARADA.
Fértil em monstros, fertiliso o globo — 1
Por mim talvez de^loma o nome sôa — 3
Cantor suave, delicado amante.
Na lyra me teceu eterna coroa.
* * ♦
(a) Joio de S. lotepb do Prado. Mr>iiam. sacro e sagraçilo da baailica
de Mafra. — Joaquim da AnsumpçSo Velho. M<nn. da Acad. das Scienc. <ie
Li(b. tom. l.-~Claudio da ConccicJo. Gabinete hiel. tom. 8. — Paoorama ;
tom. 4.
28»
28 DE AGOSTO.
BRAMA. — Uma das pessoas da (r
dade Índia. E' a priacipio creador de
VÍBhnou (prin-
vador) e Chiva
(principio des-
truidor) com-
Sletao a Irin-
ade. \chio-
se expostos os
Grande parte
da índia a se-
gue ainda, e
conta hoje tal-
29 DE AGOSTO.
PASQUINS. — Um dia que Frederico Grande da Prús-
sia estava á sua janella a tomar o fresco, vio apinhado
a uma esquina muilo povo. Ordenou a um de seus pa-
gens que fosse ver o que era. O pagem disse que era
um pasquim contra elle. «Pois sim, rapaz, será. maa
está alto de mais, replica o Rei ; vai, anaa, despréga-o,
e pQe-DO mais baiio, para que se leia mais á vontade.»
ÍÁ. 51,33de joneiro.)
281
30 DE AGOSTO.
O HABIEH.
O céu é puro,
Adeja o sul,
Com manto escuro
Dorme Stambul.
Palácio alveja
D*aureo portal,
Dentro lampeja
Luz divinal.
Sente-se o aroma
D^áloes e âmbar,
Alli Mafoma
Tem um altar.
Meiga se escuta
A voz da hurii
£ em meiga luta
Amor surri.
Áureo kiosque
Se deixa ver,
Por entre um bosque
Todo a tremer.
Linda captiva
Canta ào luar
Saudade viva.
Que a vem matar.
Por entre as rosas,
Filhas do Abril,
Vôem-se airosas
Escravas mil.
Bubins e ouro,
Amor, desdém.
São o theeouro
Do vasto fiarem.
Uma se occulta
Do seu senhor,
Mas paga multa.
Multa d amor.
Outra se prostra
Sobre um coxim,
E a furto mostra
Graças sem fim.
A grega pensa
No seu paiz ;
Do Islam a crença
Seguir nâo quiz.'
Da Hespanha a filha
Contempla o céu ;
Seu pranto brilha
Por entre um véu.
A favorita
Mira o sultão,
E amor lhe excita
No coração.
O eunúcho passa. . . .
Contempla .... sáhe . . .
Vé tanta graça,
Nada o attrahe I
Ouve-se um bejo.
Um ai se ouvio.. . .
Cahe um desejo,
Quai flor no estio.
Lobato Pire*.
282
31 D£ AGOSTO.
FOGIR. — Ninçuem sabe, nem poderia saber, toda a
lingua do seu paiz, porque a língua d'um paiz compõe-
se sempre de muitas reunidas, que tendo entre si ^an-
dissima semelhança, tem comtudo cada uma sua índole
peculiar. Assim, no portuguez, por exemplo, ha a lin-
guagem poética, a úa alta prosa, a cortesã, a plebéa,
a rústica, a forense, a médica, a mercantil, -a dos ma-
landros', a dos traduz idor es de noyellas, a de cada of*
íieio, a de cada província, a de cada ilha, etc. ; e tudo
isto variando de século para século. Um vocabulário que
abrangesse toda a synonimia do portuguez, seria para
endoudecer um Pico de la Mirandola, um Gours de Je-
blin, ou um Gardeal Mezzofante (A, 52 p. 198. A. 54 p.
203). Ponhamos por amostra os equivalentes que nos
occorrem do verbo fugir, e que talvez nâo seiâo a dé-
cima parte dos que existem, vivos ou enterrados.
Fugir, safar-se, abalar, fazer víspere, sigcar-se, tin-
gar-se, pirar-se, pôr-se na piresa, dar ás trancas, dar
á canela, dar aos calcanhares, bater a sola, metter
Í>ernas ao potro, moscar, escafeder-se, surrar-se,
azer-se de viagem, agarrar nas pernas ás costas e an-
dar, levar-se, fazer ablatívo de viagem, volatilisar-se,
sumir-se, pôr os pés em polvorosa, tomar as de Villa
Diogo, pôr-se a bom recado, mandar-se mudar, ir to-
mar ares, desertar, emigrar, ir-se.rebolindo, ir-se de
escantilhão, ir-se com o diabo no corpo, ir-se com o
diabo na mochila, voar sem azas, despejar terra, metter
terra em meio, levar-se como uma andorinha, como uma
penna, como um sargento, como uma chare, como uma
raposa açoitada, ir-se ferindo lume, ir-se sem dizer
aáeus, mirrar-se, fugir a unhas de cavallo, ir-se sem
dizer agua vai, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc
RENDAS. — Inventadas em Bruxellas, que a isso,
bem como Malines, deve parte de sua reputação.
283
t DE SETEMBRO.
SENHORAS EM LIMA.. — Querem saber s occupajio
diarta diis senlioraa na capital do Peru ? eu lh'o digo,
paia bastante tempo lá estire,
Logo pela nianna pígSo em flórea aromatinas. como
as da larangeira {asaajaT) e da tkirimoia [fnicla do con-
de no Brasil), cuja tragrancia é a mais auaie que se co-
nhece, mas não dum, e junto a elUe e a outras qiiei-
mfio âmbar li. 52, p.
330), abafando-ss de-
pois com uma pequena
manga de vidro. Ouan'
do algum homem as vi-
sita, pedem-lhe o len-
ço, e dâo-lhe de pre-
sente uma p orça o d'a-
quellasilores ciijo chei-
ro natural ha sido aug--
meutado com o do âm-
bar. EsfregSo depois
os dentes com uma raii
muito branca, e que
me persuado ser de mandioca. De tarde comprio jas-
mins quatro vezes maiores que os da Europa, e com eU
les enfeitSo o cahello, e vâo á Praça Jlaior beber agua
nevada, ou de morangos, ou alguma outra bebida re-
frigerante. Quasi lodo o dia estiio deitadas na rede [pú-
de-se ver uma a pag. 13IÍ do Ãlmanach de 1806). seme-
lhante a uma maca de navio, e abanadas por uma es-
crava negra, que lhes enxota as moscas, e as faz oscíl-
lar voluptuosamente até que adormeção.
N'uma palavra, é uma vida continua do mandrííce.
Josi António tangai.
(Almeida)
!84
â ]»£ SETEMBRO.
CASTELLO DA PENA EM CINTRA.— Este edifício,
actualmente de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Fer-
nando, foi levantado em 1503, como mosteiro para or-
dem de S. Jeronymo, por El-Rei D. Manoel. Alli pas*^
sou este Monarcna largas horas, a esperar pelo regresr-
80 de Vasco da Gama com a nova da descoberta da Ín-
dia. Hoje, do convento pode-se dizer que nada existe :
é um castello feudal d'architectura normando-gothica
do século XII. Fosso, ponte levadiça, passagens estrei-
tas, torres com ameias,^ terrados, cupolas, tudo traba-
lhado com summa perfeição, hábeis cinzéis, e á custa
de avultadíssimas despezas.
É da primitiva um sumptuoso retábulo, de jaspe bran-
co e preto, coUocado na igreja: representa o nascimen-
to do Redemptor, na parte mais elevada , e pa inferior
guarnece o sacrário, admirando-se ahi ospassos da pai-
xão n'um bellissimo baixo relevoj algumas figuras são
d'alabastro e perfeitíssimas. Orlão este retábulo, que
tem no centro as imagens da Virgem e de S. Jeronymo,
anjos sustentando dous magotes d'armas e'flores. È' tal
a sua alvura, que com uma luz por traz se 14 pela
frente.
Deixando porém o castello com todas as suas belle-
zas, quer nos pórticos, que fingem mariscos, flores e
.arbustos, quer nas salas, mobiladas com o gosto da ida-
de média, quer, finalmente, no deslumbrante espectá-
culo que se apresenta na torre mais alta, que com ra-
zão se pode cnamar visinha dos céus, espectáculo que.
se não pode descrever porque a vista o não abrange ;'
vamos encontrar uma cerca de montanhas retalhadas
em ruas alabyrinthadas, ora descrevendo linhas, ora
semicirculos, ora conduzindo-nos a assentos entalha-
dos na rocha, ora levando-nos a largos circulados de
plantas. E' um jardim nas montanhas; é a natureza abra-
çada com a arte, e combinadas ambas para deslumbra-
'285
rem o viajante, que não espera encontrar um éden nO
centro d'uma serra. Tudo isto se deve a El-Rei o Se-
nhor D. Fernando, que tem, sem exageração, enterrado
thesouros na serra de Cintra, e que a transformou em
uma das maravilhas do século XIa.
António da Cunha^
(Cintra)
3 DE SETEMBRO.
HOMEM GRANDE BESTA DE PÁU. — Diz o dictado.
^endo o Beijâflor a mais delicada e pequena das
aves, pois não passa muitas vezes de uma polegada
de comprimento, causa espanto o ardor, a coragem» a
destreza, com que essa mosca de pennas, fere, aco-
mette e afugenta no ar o gavião, centenares de vezes
maior, mais poderoso e forte, do que ella ! É mui tri--
vial na America do Sul ouvir-se no ar junto dos bos-
ques um zumbido estrepitoso e intermittenté, mais ás-
pero e forte que aquelle que os rapazes fazem, quan-
do girâo em volta da cabeça uma tala de madeira pre-
za a um cordel : é feito esse zumbido pelo Beijauor,
que vai perseguindo no ar o gavião, que ousou voar
perto dologar onde aquelle tem o ninho. Cônscio do
poder do seu inimigo, semelhante ao remeiro que
acompanha o tubarão, nunca lhe toma a frente ;. per-
segue^o até grande distancia, dando-lhe com o ténue
biquinho ferroadas no ventre, e o marmanjo esforça-
se em fugir a todo o vôo 1 Não é pela grande orelha
que se compra o asno I
António Maria do Amaral Biheiro,
(Porto-Alegre, Império do Brasil)
FERRADURAS.— Foi em Tournay que se ferrou o
primeiro cayallo belga.
286
4 DE SETEMBRO,
DOISINIMIGOS E A. IMAGEM DE S. JERONYMO.— Os
poéta& castelhanos D; Francisco de Quevedo e D. Jo&o
Peres de Montalvão aborreciâo-se mortalmente. Pas-
seando um dia no parque, separados os dois, propoz-se
um amigo commum concilial^os. Tanto disse e tanto
fez» que o conseguio. Continuando a girar os três na
melhor harmonia, passaram por diante da imagem de
S. Jeronymo, representado no acto de o açoutar o de-
mónio, por haver lido o pagão Cicero com deleitação.
O congraçador dos dois talentos pedio-lhes que fizes-
sem entre ambos alguma coisa soore aquelle assumpto.
Começou Montalvão :
Por leer a Ciceron
Muchos açotes le dán.
Concluio logo Quevedo :
Miren ustédes que hizierant
Si leyera á Montalvon!
5 DE SETEMBRO.
^
Apesar de morar longe,
Ando tão espionado,
Que até das voltas que dou
Me tem o tempo contado. 3
Ah I se eu fosse borboleta.
Havia de a flor deixar.
Para de Mareia formosa
N*um e u*outro repousar. 3
Era com este instrumento
Que astrólogos impostores
Vaticinavào da sorte
Benefícios e rigores.
287
•¥ ¥ *
6 DE SETEMBRO.
RIO DAS MORTES. — Quasi que banha a villa de S.
loHO d'El-ReÍ, no Brasil. Vem-lhe O nome d» uma rixa
las mai« obstinadaa que em Euas proximidades se
tilreiros de S.
Vicenie e do
Rio de Juneí-
ro, que alli li-
nhfio corrido
ao eaberem
de tio pref io-
Ra descober-
•\o utilissVa
para si. De-
nodadamente
pxpulsos do
ramoso Et-D D-
rado. relirío-
tios visinhos á espera de reforros. porém alli mesmo
acometiidos pelos péulístas. foram por esies derrota-
dos com grande mortandade de um e outro lado, e nas
margeos do rio se enterraram os cadaceres.
líonorio Prreira StrxedeUo.
(Brasileiro)
388
7 UE SETEJIBHO.
PAGODE. —Deriva-se esla palavro de oulra persa-
na, que signifi-
ca íemplo. E' o
ronie que indis-
tinciamente se
dá aos templos
da maior pailn
dos povos da
Ásia, e partieu-
ching. O mais
notável de todoB
é o de Jagrenat.
Aqui apresen-
tamos a copia
pagode.
For ampliaçjki
ee dá tatDbem
Ídolos sdoradoB
dentro dos (em-
Slos, e também
9 figuras, quasi
sempre çrutes-
cas, ordinária-
raenle de porce-
lana, cujas primeiras nos vierão da índia.
NADA SABEMOS. — O Cardeal Mezíoranle. de quem '
falíamos B pag. 198 do Almanath de 1852 e 203 do de .
1854, dizia, Bpezar da HuaTBStissiraainstrucçao; » Se
me fosse dado viver quanto eu quizera, sã d'aqui acem
Bunos é que principiaria a saber alguma cousa.»
E proravelque muito antes houvesse esquecido ludo.
8 DE SETEMBRO.
O MANDRIUO BRASILEIRO.
Dos ricos, dos grandes,
Os bens nâo invejo,
Que tudo é sobejo
 quem poucio quer;
Inúteis vaidades,
Do fausto a apparencia,
Nenhuma influencia
Tem cá s^bre mim.
Comendo feijão,
Bebendo cachaça,
A vida se passa'
Com satisfação.
O paio, o presunto,
Melhores não são
Do que é do sertão
A carne bem saca ;
Dífferença entre isto.
Se a ha, sempre foi,
Ser carne de porco.
Ou carne de boi.
Comendo feijão,
Bebendo cachaça,
A vida se passa
Com satisfação.
Os vinhos do Porto,
Os vinhos de França,
Cá dentro da pança
[guaes todos são :
Se alegrão a mente.
Se aquecem o peito,
Rutiío (1) esse effeito
{Produz, e melhor.
Comendo feijão.
Bebendo cachaça,
A vida se passa*
Com satisfação.
Basofía escusada.
Tolice só é,
O estranho rapé
Comprar por ser caro ;
Pitada cheirosa
De assado rolão
Excita nas ventas
Melhor sensação.
Comendo feijão.
Bebendo cachaça,
A vida se passa
Com satisfação.
(1) Rutilo chamâo em Minas á cachaça.
290
Fumar o dinheiro,
Que asneira tamanha !
Charutos de Hespanha
Por vinte reaes ! . . .
Mirrado embrulhinho
Lá vai d*uma vez ;
O nosso caximbo
Consola anno e mez.
Comendo feijão, etc.
Tratar de um cavallo
Que brinca e passeia.
Se a gente recreia,
Qae custo não é?l
Por valles e montes,
Aos bêccos, á praça.
Me leváo de graça,
Sadios, meus pés.
Comendo feij&o, etc.
Aosjogos^, ás danças,
Ás festas mais bellas,
A taes bagatellas
Eu torço o nariz :
Náo tem voltarete
A graçd d'um truque ;
Ao pé do hatuque\i)
Esconda-se o ril.
Comendo feijáo, etc.
Os brando» colxôes,
Os leitos dourados,
A inquietos cuidados
Socego náo dão :
Deitado ne esteira,
De perna bem solta,
Sem dar uma volta
Eu durmo sem fim.
Comendo feijão, etc.
Continuos negócios.
Herdades, fazendas,
Augmentâo as rendas.
Mas para que fim?
O homem, bixinho
Que é tão limitado,
Succumbe abafado
Com o peso do trem.
Comendo feijáo, etc.
Os cargos, os mandos,
Os altos empregos.
São bons para os cegos,
Que espinhos náo vêem.
Sem ter liberdade,
E sem consciência,
Riqueza, opulência,
Que podem valer ?
Comendo feijão, et€.
(1) Batuque, dança brasileira muito usada, mas não
em reuniões de primeira ordem. Alguns titulares, e
outros nobres senhores, conhecemos nós bem amigos
de sua viola.... para os taes baíwqtteí, /ados, chibas^
lorés, giquipangast etc. etc, que tudo significa a mes-
ma cousa. ***
291
Quem tem um palácio,
Quem anda de sege,
Já cuida que rege
Dos fados a lei f
Trabalhão, padecem,
Por ter esses bens ;
Eu ganho em descaaço
Meus quatro vinténs.
À morte, a doe&cat
Nâo fazem escolfia,
A fouce nâo olha
Para alvo nenhum:
Se bem que igual corta
O fino e o grosso.
Talvez o destroço
No grande é maior.
Comendo feijão.
Bebendo cachaça,
A vida se passa
Com satisfação.
9 DE SETEMBRO.
¥ * »
(Brasileiro)
VOLCÃO DA ILHA DO PICO. — Foi a sua ultima
irupçâo no anno de 1572, correndo a lava o comprimen-
to de duas léguas e a largura de duas milhas. Está
situado no alto da montanha denominada Pico, a
qual deu seu nome á ilha, e tem duas léguas de
altura e seis de circumferencia na base. Ainda em
toda a sua extensão se vêem hoje innumeraveis resr
piradouros, mas foram inteiramente consumidas todas
as matérias inflammaveis que durante alguns sécu-
los o alimentaram. O fumo que alguns haturaes da
ilha dizem sahir de sua mais elevada cratera, e que
dão como prova de existir ainda o volcão, facilmente
se explica por mui diversa causa : n*aquelíe sorvedou-
ro se amontoâo grandes camadas de neve, que p sol
derrete e faz evaporar quando os seus raios se tornâo
mais ardentes ; e a essa exhalação dos vapores con-
centrados no interior da montanha que o vulgo chama
fumo.
VELAS DE CEBO. —Inventadas em Flandres no
anno de 1300.
292
10 DE SETEMBRO-
AHOBTE.— EmqueoffenderiaaquellajovenoCREA-
nOH ? Nasceu para viver, e eira a dormir para sempre I
guasi que trocou as
faias da infância
pela mortalha 1 ...
TSo bella, e não ter
harído coraçilo de
homem em que en-
tornasse a felicida-
de I.... Vio atui e
-apagou -ae-lhe I ...
Hontem rainha no
baile, hoje e.scraTH
no tumulo 1 .,. Alií
a palma da formo-
mosura ; baixando
dos cáus a corSa da TÍrgem e a palma do martyriol Em
que se tornaram tantas graças ceifadas pela morief vin-
te e quatro horas, cadáver! vinte e quatro dias, recorda-
çSo I vinle e quatro séculos, e sempre, e por toda a
Plernidadc, mais nada I nem um resto sequer do pó em
que se desfez seu corpo delicado t
11 DE SETEMBRO.
MAGNANIMIDADE DO PBINCIPE DE CONTl.- Foi o
Príncipe de Conti arguido por certo cortezio, seu ini-
migo, de haver dito mal d'elle perante El-Rei Luii XIV;
respondeu com nr ingénuo e afiarei o Príncipe : «Se
eu tivesse a honra de fallar-mui amiúdo com EI-Rei,
mais o-perceberi&o os meus amigos que os meus In í-
"293' '
12 DE SETEMBRO.
ANECDOTAS VERDADEIRAS.
Costumava uma pessoa d*a]dêa fazer a um conheci-
do do Porto varias encommendas sem dinheiro. Pedin-
do-lhe alguns côvados de setim azul claro, respondeu-
Ihe o cidadão, já cançado de tanta encommenda — No
Porto não ha setim azúl-claro ; quéFo mais claro ?. ..
Uma mulher da Maia, ouvindo ler no Àlmanach de
Lembranças de 1856 o extraordinário presente que El-
Rei D. Jjosé fez ao Conde de Lippe (i. õ6 p. 338), disse :
— Jesus I... Se me desse isso a mim, comprava doas
ou três cordõesiuhos d'ouro I »
Ê o mais a que aspira a ambição das mulheres da
Maial...
Obscura Portuense.
13 DE SETEMBRO.
CAVEIBA DE BtlBRO.
EPIGRAMMA.
A caveira d*um jumento
Doutor velho examinou,
E apontando para ella
Sentidamente exclamou :
Queimei as minhas pestanas
Annos a fio a estudar,
A revolver alfarrábios,
E selvagens aturar.
Passei parte da existência •
Melancholico e casmurro,
E heide por fim acabar
Como acabou este burro.
Villa do Rosário, na Provincia Xrduenna.
do Maranhão. (Brasileiro)
294
44 DE SETEMBRO.
AQUILLO É QUE SÃO CORREIOS I — Assererâo os
últimos jornaes de Londres que encontra annualmen-
te o correio d*aquella capital nas cartas postas de la-
do, em consequência da inexactidão dossobrescriptos,
ou de serem desconhecidas as pessoas a quem sâo di-
rigidas, ou de mudança de domicilio, ou de mil outras
causas differentes, a*enorme quantia de meio milh&o
de libras esterlinas, em notas do banco, letras de cam-
bio, e outros valores ; somma que o correio é obri-
gado a restituir a quem para alli a remetteu, o que
obtém, com raras excepções, porque os inglezes, que
muitas vezes se esquecem de pôr nos sobrescriptos
das cartas a morada da pessoa a quem escrevem, nS^o
omittem nunca de designar a sua por baixo da assigna-
tura, ou no alto da carta.
Só por isto se pode fazer uma idéa da importância
mercantil d'aquella immensa cidade, cuja população
anda hoje por 2 a 3 milhões de habitantes, na muitos
estados na Europa que a tem muito menor [A, 51, p.
206. A. 53, p. 168, 195, 218).
15 DE SETEMBRO.
ODE DE ANACHREONTE.
Dizem-me as moças rindo :
€ Meu pobre Anachreonte,
€ Deveras que estás velho 1
cVai ver, vai ver no espelho
€ A calva d'QSsa fronte I
295
Se é calva, ou náo é calva,
Náo sei, nem talme importa;
Sei que o prazer e amar,
Se tenho a morte á poria,
Mais devo aproveitar.
A. F. de Castilho.
16 DE SETEMBRO.
CATHEDRAL DE STRàSBURGO.— Entre os grandio
eas. e mui» admiravelE monumentos a que deu origem
a arte religiosa da idade niédís, fignra talvez em pri-
meira liLihnaquellacathedral, por suas dimensões, pela '
riqueza i^o» ornatos e liguras que exieriormente a em-
belleião, pelo magestoso de sua nave. por sua torre U-
que arrojando-se
ares, parece »
diElancia
o destino de tão
sumptuoso edificio,
a que se acha liga- '
da a recordação dos
principaes aconte-
cimentos da historia
antiga da cidade.
Tem essa torre 14i
metros (437 pés) de
elevação : O único
maior das pyrami-
des do Egyplo (A. 51. 31 de julho). Para chegar á fre-
cha é mister subir 635 degraus. A meio caminho en-
contrSo-se as estatuas de Qovis. Dagoberto, Rodolpho
de Hahsburgo e Luii XIV. E' de 103 metros o com-
primenlo da igreja e do 3S a largura : a um dos lados se
admira o seu relógio, uma das maravilhas da arte mo-
derna, e de que outro dia nos occuparemos.
n DE SETEMBRO.
CORTEJO CELESTIAL.— Perdera um pai eitremoso
a um seu Hlhinho de teora idaiie ; vieila-o uni anii^o
fiel e encotitra-o Uvado em lagrimas : « Kão se mortili-
que, lhe diz, é ordem do mundo, está melhor do que
nús, faz hoje parle do eorlejo celeslial. »
— E' isso mesuio, é isso mesmo, o que medi cuidado,
lhe responde o pobre homem, gemendo e soluçando.
— Comoassimí
— Pois não sabe que cada anjinho loca lá o seu ins-
trumento ? ora supponha que meltem um rabecão «ran*
ds nas unhas ao meu pequeno I como hade elle fazpr
para se liaver com aquillo? ! I Forte desgraça de ta-
18 DE SETEiMBRO.
CONCERTO MYSTERIOSO. — Imagine-se n*ama sala
um numeroso auditório, com os olhos fixos em harpas
ordinárias. Ninguém se acUapertod'ellas; ninguém agi-
ta as suas cordas ; ouve-se nào obstante uma sua?a
harmonia, que d'ellas parece emanar, ou magicamente
exhalar-se de mysteriosas regiões. Julga-se ouvir ao
mesmo tempo os sons de rebeca, de plano, de clarine-
ta e de violoncello. Prestando maior attençâo, dir-se-
hia que sahem do interior da terra, e que vibráo sensi,-
velmente as harpas mysteriosas ; se porém reparardes
em certas varas de madeira presas aos instrumentos,
n'ellas achareis de repente a cnave do enigma.
Têem os corpos sólidos a propriedade de transmiUi-
rem com mais intensidade e promptidôo do que o ar as
ondas sonoras. Principio é este de physica ha muito
conhecido, e agora applicado ás harpas pelo célebre
physico Wheatstone. São de pinho aquellas varas, têem
dois centimetros de grossura, e atravessando o pavi-
mento vão ter a um profundo subterrâneo, fixando a
extremidade inferior nos instrumentos de músicos; a
saber na alma da rebeca e do violoncello, na mesa har-
mónica do piano, na parte interior da clarineta,
etc. Semelhantes a tubos conductores, transmittem as
varas de pinho as ondas sonoras dos instrumentos do
subterrâneo ás harpas da sala do pavimento superior,
e estas,pela vibração própria dos corpos elásticos, aug-
mentão sensivelmente a resonancia.
O ar e os gazes communicão as ondas sonoras menos
bem do que os líquidos e os sólidos. O estrondo e os
sons em geral ouvem-se menos no cume de altas mon-
tanhas do aue nas planícies ; sâo mui fracos no gaz hy-
drogenio, (14 vezes mais leve do çiue o ar] e morrem
completamente no vácuo. Os liquidos transmittem as
ondas sonoras com rapidez quatro vezes maior do que
o ar, e os sólidos doze ou quinze vezes mais depressa
298
ão que elle. É por isso que applicando-se o ouvido á
extremidade d'uma viga muito comprida, se ouve per-
feitamente no extremo opposto a percussão de um alfi-
nete, por mais suave que ella seja. É por isso aue se no
meio a'uma estrada applicarmos o ouvido ao chão, ou-
viremos o som que produz muito ao longe o movimento
de tropas, e até o rodar d*um carro. É por isso que pon-
do também alli um tambor*com um dado em cima, este
principiará a estremecer e a dançar com o mais peque-
no som que de longe lhe chegue, 'e que pelo ar se não
transmitte.
19 DE SETEMBRO.
O seguinte tem talvez os seus 150 annos. No Almanach
de 1858 diremos a palavra d' elle a quem por ventura o
não adivinhe. O aulhor não lh*o sei.
Eu não sou creador nem creatura,
Nem fui visto jamais entre os viventes ;
Entre os homens me vês e não me sentes,
3ou morto e nunca estive em sepultura.
No mundo faço a principal figura ;
Crer que sou agua ou ar tu nunca intentes;
Se dizes que sou agua ou fogo, mentes,
Mas entre os elementos me procura.
Bem no'meio do tempo, e muito interno.
No mesmo tempo estou, sem ser passado,
Nem presente, futuro, nem eterno.
Sou primeiro ao morrer, sem ser gerado;
Com o demónio estou sem ser no inferno,
E estou no empyreo sem me haver salvado.
^ ^ ^
299
30 DE SETEMBRO.
do isto "o
que maií
captira a
■alro e um templo que ainda quasi que esião co-
iRles ; servem para estudo de antiquaTÍos.
21 DE SETEMSRO.
CUABAUA.
Ha casaca, na mfsa e no chapéu — 2
E' cego, sem um olho ter de Eeu — 1 .
Desenvolve calor, lambem o abranda,
E para coDseguiro anda e desanda.
22 DE SETEMBRO.
FONTES VOLCANICAS. — Figurão entre os mais no-
táveis phenomenos da natureza as duas fontes Tolcani-
cas da Islândia; fontes de que sahe agua a ferver que
86 eleva a grande altura. Achâo-se no alto de uma pe-
quena montanha de cem metros de elevação, e que se
levanta do meio da um grande pântano, a doze léguas
de distancia do monte Hecla, em que se admira um dos
maiores volcôes no mundo conhecidos. A mais curiosa
d'aquellas duas fontes é a que tem por nome o Grande
Geyser : no vértice de uma das excresc&ncias d'aquelJa
montanha vê-se um tanque circular, a modo de funiJ,
de SO metros de largura, e metro e meio de profundida-
de ; o fundo é liso como um espelho, e formado por um
deposito, que tem a apparencia, disséreis quasi a soli-
dez, da ágatha ; as paredes interiores são igualmente
lisas : sahe d'alli continuamente um vapor esbranquiça'-
do quando o tanque está vasio ; mas eis que de repen-
te se ouve um estrondo subterrâneo, semelhante ao do
trovão longínquo; treme aterra, eleva-se aos ares um
turbilhào,de fumo, augmenta o clamor do gigante encar-
cerado, jorros d'agua a ferver borbulhâo no tanque, so-
be magestosamente um repuxo aos ares, de 27 metros
d*altura, e em forma de valverde calie d'ahi a poucos
momentos nos flancos do monte : pouco a pouco dimi-
nue de intensidade o phenomeno, encurta e desappa->
rece o repuxo, deixâo de ver-se os jorros d'agua que a
haviâo precedido, esgota-se o tanque, e tudo volta ao
estado normal — O Novo Geysser, situadoproximo áquel-
le, só d'elle diífere em nâo sahir de dentro d'um tan-
que, e em não serem annunciadas as suas irupções por
estrondo ou abalo algum ; rebenta d'este a agua a fer-
ver com uma força incrível ; « pedras immensas e du-
ríssimas, diz um viajante inglez, tão duras que nem a
martello eu as havia podido quebrar, erâo, assim que as
lançava para dentro do abysmo, despedaçadas n*úm mo*
3di
mento, e arrojados seus fragmentos conjunctamente
com as aguas; um pedaço de pedra leve e porosa foi
lançado a 400 pés d altura, e cahindo sobre a própria
columna que tão soberba se elevava, foi um instante
em quanto ella a arremeçou novamente aos ares. — O
Geyser Irascively próximo áquelles dous, tem isto de
particular: que para occasionar uma irupçâo, abas-
tante laíiçar-Ihe na cratera um corpo qualquer ; imme-
diatamente o repelle dentro d'uma columna d'agu«i a
ferver, de 30 metros d' altura ; d'ahi a dez minutos vol-
ta á sua antiga placidez, de que nâo sahe seuâo pro-
vocado.
« DE ÍBTE^O. ■
PRATO DO MEIO. — Antigamente nos jantares da
corte dava-se o nome áe prato do meio aos enfeites e
decorações, na s.alla da festa , que representavào ci-
dades, castellos e jardins, com fqntes d*onde corria
toda a casta de licoresfr No jantar dado por Carlos V,
Rei de França, ao Imperador Carlos IV, em 1337, ap-
Sareceu um navio com mastros, cordas, velas, e ban-
eiras com as armas de Jerusalém ; no convez via-se
Godofredo de Bolhões, acompanhado d*outros cavallei-
ros armados: o navio veio ate ao meio da salla, sem que
se visse qual o machinismo que o movia ; d'ahi a pou-
co appareceú a cidade de Jerusalém com as suas torres
cheias de sarracenos. O navio aproximou-se e os chris-
tâos desembarcaram ; os sitiados defendião-se com va-
lentia, mas a fmal a cidade foi tomada.
N'um jantar a que assistio Carlos IX em Carcassona,
o forro do tecto abrio-se no fim do jantar, e desceu uma
nuvem, que arrebentou com estrondo semelhante ao do*
trováo, deixando cahir uma chuva de confeitos e um
orvalho de licor odorífero.
F. P. B, Nogueira,
302
24 DE SETEMBRO.
PERIGO DA VACCINA?— Anda grande agitação no
mundo scientiíico. Publicou, haverá 15 dias, uín me-
dico distincto uma obra que tem por titulo A degene-
ração Tpliysica e moral da espécie humana causada ve-^
la vaccina. Ahi é virulentamente atacado o célebre
Jenner (A, 52 p. 58) de nos haver a todos, physica e
moralmente, arruinado ; ahi se desce a estatua do seu
Sedestal, se faz em pedaços, e se atira com elles á cara
e seus partidários. Essa' matéria que doubre das vac-
cas nós de boa fé inoculamos nos hraços de nossos ín-
nocentes filhinhos, se por um lado^s preserva de bexi-
gas, por outro, lhes traz, dizem, gastrites, escrophulas,
phtysicas pulmonares, malignas, cholera, febre ama-
rella, e todas essas mil doenças que hoje sáo muito mais
frequentes do que antes, e algumas das quaes nem co-
nhecidas erão nos séculos passados. Em* apoio d*esta
asserção principia a desenvolver-se uma eschola de
medicina, que toma por these a destruição da vaccina,
e não poucos sáo os opus(;ulos que aqui e acolá princi-
pião a publicar-se sobre o mesmo assumpto. l$om será
que a questão progrida, e d'ella se occupem os juizes
competentes, e d'ahi provenha uma conquista para a
sciçncia e um bem para a humanidade.
25 DE SETEMBRO.
A CASA QUADRADA DE NIMES. —Poucas cidades
são mais notáveis do que Nimes, no meio dia da Fran-
ça, por suas antiguidades, entre as quaes se estremão
aa seguintes : a Magna Torre, edificada no cimo da
mais alta das cóUinas que circumdão a cidade, e que
geralmente alli se julga haver sido um mausoléu em
tempos immemoriaes; os Banhos, que não são hoje mais
do que ruinas sepultadas no solo, próximas a uma fonte
que rebenta na nase da collina em que se cohstruio a
303
Magna Torre, o Templo de Diana, muito bem eoD:
vadoe coatlguo aos Banhoi, etjue em 1430 sérvio ainda
de capetla no convento das religiosas do Salvadoí ; )
Ponlc do Gard, agigantado monumento, conEtruido por
Agrippa, genro d' Augusto ; o ,4mphilíieaíro, que det>
do remado de Antonino, e foi conslruido para jogos e
combates d'aninioe3 e de çladiadores; acconiodavi
14,000 espectadores e foi pelos visigodos transformada
em fortaleza; a Casa Quadrada, que o author da Fia-
yem dt AnacUarsis denominou obra prima da archite-
ulura antiga: é <|uadri1onga e inleiramenle isotada-
Aqui a reproduzimos fielmente. Enriquecem-na inte-
rior e eileriormente magniticAS obiae de escuiptura. A '
lodos assombra o perfeito estado de consenaçio de
tal monumento. oulr'ora precedido de ura vasio pórti-
co, segundo se infere de numerosas eicavacúes em
séculos diversos. Bastante se assemelha com a Bolsa de
Paris.
304
26 DE SEPXEHBRO.
Mau pouT ma Tiiils. inii. q^el parti dais-je prendre ?
Bespondeu-ihe um ralSo da platéa :
imi, fretieí la poste, et retournex eu Flandre,
27 DE 8EPTEMBR0.
PtLTRO ECONÓMICO. — Façi-se um buraquisho pe-
Jueno na parle laterBl interior de uma iigela de barro ;
Bite-Be-lhe no fuado uma camada de seixos gtsndea
t outra de seiíos mais pequenos, e por cima d'eBU
uma pouca d'BieÍa, que Be cobrirá com três ou quatro
polegadas de carvfto moldo.
Mais nada. Euia-se a tigela d'tgua e sabiri OUrtda
28 DE SEPTEMBRO.
O SOL CENTRE NUVENS.
Eu tinha doas meninas.
Engraçadas como as rosas,
Cândidas como as boninas*
Como as tulipas mimosas.
Seus olhos meigos.risonhos,
Seus gestos e movimentos,
Erâo de noute meus sonhos,
De dia meus pensamentos.
OSenhor que as TÍotâobelIas
Quiz mais um anjo no céu ;
Então Carlota, uma d'ellas,
Mudou-se em anjo — morreu.
E eu perdi uma menina.
Engraçada como a rosa.
Cândida como a bonina,
Como a tulipa mimosa.
Mas no céu esta beldade
Nâo se esquece de'Maria ;
Punge-lhen*alma asaiídade,
Nâo pode ter alegria.
O Senhor, que isto notou.
Da bella se condoeu ;
Outra bella ao céu chamou,
Maria também morreu :
E eu perdi outra menina,
Engraçada como a rosa,
Cândida como a bonina.
Como a tulipa mimosa.
Eis no céu juntas as bellas!
Mas inda assim o Senhor
Descobre nos olhos d'ellas
Um signal de dissabor :
E' que sabem com pezar
Quanto soffre por perderas,
O pai,quesempre a chorar
Emvão procura esqueceras;
Pois perdeu duas meninas.
Engraçadas como as rosas.
Cândidas como as boninas.
Como as tulipas mimosas.
E o Senhor, todo ternura.
Lhes disse então — socegai :
Doesse abysmo d'amargura
Vou já tirar yosso pai :
Dar-lhe-hei uma menina
Engraçada como a rosa.
Cândida como a bonina.
Como a tulipa mimosa.
E deu-me terceira filha,
Ànna formcTsa, engraçada.
Qual o orvalho quan d obrilha
Ao romper da madrugada.
E' n'csse quadro mimoso
Que eu vejo reproduzidos
D'aquelle par venturoso
Os mil encantos perdidos ,
306
£' ella o sol creador,
Que em mÍDh'aIma reverbera
Prazer, delicias, amor.
Gomo o sol da primavera ;
E* o meu cofre encantado.
Onde encontro se os procuro
AUivio para o passado,
Esperanças para o futuro ;
E* ella. .. mas ahl ignoro
O nome que mais assenta
Aquém dois anjos que adoro
Ca no mundo representa.
Deu-me o céu outra menina.
Engraçada como a ro«a,
Cândida como a bonina.
Como a tulipa mimosa :
Seus olhos meigos*,risonhos.
Seus gestos e hiovimentos,
Denoiteoccupâomeussonhos
Dedia os meuspensamentos.
Agora, filhas presadas.
Lá no céu onde habitaes,
Entregai-vos socegadas
Aos gozos celestiaes I...
Já lá vai minha paixão I
Terminou minha saudade I. ..
Mas perdão, filhas, perdão,
Se vos occulto a verdade.
António Lino Leão de Vasconeellos,
(Araarantej
29 DE SEPTEMBRO.
ENCOMMENDA D*ALBARDAS. — Certo cavalheiro,
querendo uma dúzia de alabardas, mandou que por
uma carta se encommendassem a um amigo ; mas sue-
cedeu que o secretario descuidadamente escreveu ai-
bardas. O amigo, recebendo o aviso, mandou logo fa*
zer a encpmmenda com todo o primor, e remetteu-a.
Respondeu o fidalgo : « Fico entregue áste albardas, e
supposto não serem o que eu queria, estão muito bem
mandadas, e.mejhor merecidas : serão seis para o meu
secretario, por escrever albardas em logar de alahar-
das ; e as outras seis para mim, porque assignei a carta
sem a ler. »
;í07
A CAÇA. — No centro da pai, imageni da puerra 6
a caça ; e guerra lanto mBisjusta, quanto idbib natural
énoliomeut o dominar Feras qu6 homens. Se os ro-
iiiaDos TorSo pouco dados á caça, foi porque dentro de
Honia tinhão muilos Bxerciciosraílitarea, luctas, gla-
dialuras e combatimeutos de feras. É a caga exercício
tão nobre, qae os maiores Princípes do mundo se pre-
irem de grandes caçadores, como o forâo os Reis dl
ereia e Macedónia, Arlabano Bei dos parthos, Adrií-
Imperador, etc. Mas a certo cavalleiro que encare*
ia a nobreza d' esta arte, se respondeu que parecia
caca profissão de assassinos, porque com muito gen-
!, com muitos cães, e com muitas armas, váo esperar
ma lebre ou coelho para o matar.
a pasteleiro haverá
308 ,
1 DE OUTUBRO.
ACÇAO DE CERTOS MEDICAMENTOS SOBRE A IN-
TÉLLIGÉNCIA. — Todas as substancias estimulantes
produzem aiíluxo de sangue para o cérebro, excitando
as faculdades intellectuaes, se a dose passa certo limi-
te, mas cada uma d'ellds obra d*um moao que lhe é pró-
prio. Assim os preparados ammoniacaes, o almíscar, o
castoreo, o vinho, o ether, o café, facilitâo o exercido
da intelligencia. Houve até quem desse ao café o nome
de bebida intellectual. £' no café que Voltaire retem-
perava sua mordente ironia, Napoleão seu génio domi-
nador, Fontenelle seus- espirituosos conceitos. Estes
três homens eminentes achavâò no café as vigilias de
3ue carecia sua vasta concepção. Os óleos pyrogeneos
ispôem para a melancholia e' allucinações. O iodo e aa
cantharidas debilitáo as faculdades intellectuaes. O ar-
sénico produz tristeza e o ouro alegria. O mercúrio
conserva uma sensibilidade mórbida e faz nascer aver-
são ao trabalho. O protoxydo de azote, ou ga;s hylarian-
te (que faz rir) causa deliciosas sensações. O uso do
ópio excita as faculdades inteUectuaes, e o seu abuso
predispõe á loquacidade, convindo por isso aos orado-
res. A belladona diminue a acção intellectual. Omei-
mendrofaz tristeza e cholera. Ã cicuta entorpece a in-
telligencia. O amanito (espécie de cogumelo) produz a
ferocidade. Finalmente a acção do tabaco é análoga ú
do ópio ; por isso os fumistas dizem que faz gerar idéas
grandes e sublimes. João Félix Pereira.
MASSILLON'. — Quando o immortal pregador Massil-
lon pregou pela primeira vez no paço o Advento, ao ir
comprímentar o Rei Luiz XIV, este lhe respondeu com
familiaridade : «<Meu bom padre, quando tenho ouvido
a outros pregadores, tenho ficado mui contente com el-
les ; mas agora quando vos ouvi, muito mal fiquei co-
migo. ^
3i>9
3 DE OUTUBRO.
IMPROVISO ESCRIPTO ^'M ÁLBUM.
Do bello Guadalquivir
Eu vi as margens formosas,
Junto á festiva cidade
Que se coroa de roèas.
Eu percorri os vergéis
D'essas veigas encantadas,
E do rio^os poetas
As ribeiras namoradas.
Pelas ruas, pelas praças.
Salta e ri povo contente;
E' amor, e alegria,
O viver d*aqueíla gente '
O ar puro e embalsamado,
A fresca vegetação,
O céu de azul esplendente,
Parece tudo illusâo I
Sentei-me no antigo alcaçar Faz quasi da noute dia
De mourisca architectura
Do povo que o tinha erguido
Lastimei a desventura.
Junto d*e^se monumento.
Que mãos árabes alçaram,
Despeitosas mãos dê godos
Yasto templo edificaram.
Altiva torre- coroa
A cathedral do christáo ;
Vencido cahe o crescente
Da cruz perante o pendão.
Do6 dous gigantes rivaes
Lá se lê a dura historia.
As artes, o ódio, as guerras.
Seus revezes, sua gloria 1
Do cimo d*aauella torre,
Oh I que lindos horisontes I
Embaixo, a cidade, o rio !
Ao longe campos e montes !
Da lua o claro fulgor ;
O sol entorna em torrentes
De seus raios o esplendor!
Esse oceano de luz.
Essa etherea maravilha.
Só se vê no ar que inunda
A phantastica Sevilha I
No meio de taes influxos.
De tão bélla natureza.
Qual será Rosa do Betis,
Do teu sexo a gentileza I ...
Aqui cala-se o poeta.
Porque fallece a expressão
Para os labíos exprimirem
O que sente o coração !...
Mas auem te vê, não vê logo
Que es rosa la procreada!...
E que fosle d*esse éden
N'um bello dia roubada I...
José Maria Grande.
310
3 DE OUTUBRO.
CORAGEM DE UM BRASILEIRINHO. - A três léguas
da villa de Valença, oa província do Rio de Janeiro, vi-
via uma familia composta de pai, mâi e quatro filhos,
sendo os de menor idade, um rapazinho de dez annos e
umd menina de seis. Era em outubro de 1855. Sahira a
familia toda a passeio, menos os dois filhos mais mo-
ços. O pequeno estava sentado no limiar da porta, brin-
cando com um cão ; a memna entretinha-se com uma
boneca. O caxorro começou a rosnar ; volta-se o rapaz e
▼0 perto de si um negro*nú.— « Quero comer » — lhe diz
com arrogância. — «Espera» responde o pequeno como
maior sangue frio.— Xevantou-se, foi dentro, e trouxe-
ihe um prato de feijão e farinha. Ao sahir o rapaz, acha
o preto com uma espingarda gue havia tirado da sala
em quanto elle estivera na cosinha. O pequeno avança
para o negro e lança mão da espingarda. Este resiste,
trava-se lucta, e n'êlla se descarrega a arma com tanta
infelicidade, que mortalmente fere a menina. O negro,
espavorido, eorre para um bananal visinho; o rapaz
não desanima. O cadáver da irmã lhe dá valor. Pega
n^um páu e segue o negro, acompanhado de três cáes
que havia em casa. Então a lúcla se torna de extermínio.
O negro quer defender a vida, o menino quer vingar a
morte da irmã. Cada bordoada abria uma brecha na ca-
beça do preto» e d'ella sahia sangue a jorros. De cada -
dentada arrancavão os cães um pedaço de carne. A fa«
milia chega a casa, vê a menina morta, solta gritos es-
pantosos, sente o latido dos cães, corre ao logar d'on-
de parte, e dá com outra seena não menos horrorosa.
O negro jazia por terra sem sentidos, e ainda o peque-
no lhe dava pancada, e os caxorros lhe dilaceravâo as
pernas. Ao levantarem-no do chão, era cadáver. A justi-
ça proseguio nos termos da lei. O menino, apesar de sua
coragem, e de ter sido impellido em tudo aquillo por
um nobre sentimento, fugio. J» A, Nogueira ãe Barros.
311
4 DE OUTUBRO.
DESCOBERTA DA PÓLVORA. —Foi devida inte!»-
Qiente ao acaso. Occupava-£e um frade, por nonie
Bertoldo SchwBrtz, nascido em Friburco, no metdo
do século XIV, em moer dentro de um almofariz ceTli
mistura de carvão, de enxofre e de salitre ; calito deti-
tro uma faísca eproduiio una violenta explosão. O
mais umchimieo
hábil. Reflectiu,
estudou, e dentru
eai pouco fabri-
cou a verdadelti
Eolvora, Ul qaal
ojenosserve.S*
ee deve dar ci«-
dito 3 alguns hi9-
nodel380.ÍL.caD-
tard'aquel! a épo-
ca, trausformoo-
ae a arte da guerra, dando muito maior eiteasln >
todas as suas operações.
Dão ha muito que a cidade de Friburgo levantou
uma estatua a Bertoldo Schwarti. Seria grande chi-
míco, mas n&o deve ser considerado como um dos bei^
feitores da humanidade.
6 DE OUTUBRO.
a Bélgica ha perto á'rm
312 :
6 DE OUTUBRO.
tERRIVEL ERUPÇÃO DO VESÚVIO. — Por mais de
uma vez temos falkào n*este famoso volcão : daremos
hoje parte de uma de suas recentes erupções.
A 30 de Abril de 1855 ouvio-se-lhe um estrondo sub-
terrâneo, elogo d'ahi apouco forâo arrojadas aos ares,
a uma altura de 50 pés, aleumas pedras inflammadas,
sahindo ao mesmo tempo alava pela cratera principal.
No dia immediato appareceu outra, próxima a uma
abertura pela qual se lançou ha poucos annos um fran-
cez no interior d*aquelle terrivei sorvedouro. Um pou-
co mais adiaiite abrio-se terceira, e d*ahi a alguns mi-
nutos de todas três sahia lava com uma força mcrivel.
Portici, Herculanum, Resina, todos os legares emfím
situados nas inímediaçôes do inexorável monstro,
achavão-se aterrados, e muitas horas passaram de ter-
ríveis angustias. A's 6 horas da tarde a lava expellida
pelas três crateras, depois de haver corrido um quarto
ae líiilha, reunio-se em uma grande massa compacta de
12 a 15 pés de grossura e mais de 600 de largura, e do
alto de um rochedo se precipitou no valle próximo
aquella immensa quantidade de matérias inflammadas,
semelhante a uma cataracta de fogo, despedaçando to-
dos os obstáculo?, e incendiando os castanheiros e car-
valhos de que o valle se achava coberto. Em 28 horas
correu a lava perto d'uma légua. A noute estava escu-
ríssima epor isso era mais viva e mais solemne a sinis-
tra claridade que allumiava os arredores e se reflectia
no golpho de Nápoles, dando-lhe o aspecto de um im-
menso brazeiro de cinco léguas de diâmetro.
Innumeraveis estrangeiros persistiram nas immedia-
ções do Vesúvio em quanto elle bramio com maior fú-
ria ; alguns até ahi se installaram em barracas de cam-
panha, e só ao 3.^ dia, gue tudo voltou ao estado natu-
ral, 86 retiraram* Distmguia-se entre elles o Príncipe
d*Amiila, irm&o do Rei, que de continuo p(^rcorria a
montanha a cavallo. Eu se lá estivesse, deitava a galo-
pe, mas era na direcção opposta. Acho que nem por is-
so deve lá ter muita graça morrer assado (A. 51,7 d* Abril
e 24 de Setembro, A. bi p. 325, A. 53 p. 279, A. 55 p.
181 e 254, A. 56. p 32i;.
7 DE OUTUBRO.
UMA COROA.
Deixa tecer-te uma coroa
Das flores do meu jardim,
Com tanto esmero por ti
Cultivadas para mim.
A rosa^ que diz amor,
Tenha asnonrasdeprimeira;
Logo depois a baunilha.
Segurança verdadeira.
Apura cândida angélica.
Bem como a casta açucenat
Ostentarão suas galas
Com as galas da verbena.
Todas ellas symbolisão
Tua alma pura e leal ;
E teu peito generoso <
A magnólia real.
Brancas e roxas violetas
Tua coroa enfeitarão ;
São quasi todas singellas,
Como nossas almas são.
Para remate da coroa
Odorífera e fragrante,
Symbolise uma perpétua
Meu amor puro e constante.
Constante, puro e ardente,
Meu prazer e minha vida,
Chamma celeste, jamais
Por outro peito sentid^a.
Maihilde Coelho Pê$tana.
(Santarém]
314
8 BE OUTUBRO.
OS NAIPES SEPARADOS E UNIDOS. — Tomai um
baralho de 40 carias ; ponde na meza quatro, dos qua*
iro naipes, ao lado uma das outras ; sobreponde á pri-
meira outra do mesmo naipe da quarta ; á segunda, uma
do naipe da primeira ; á terceira uma do naipe da se-
funda ; á quarta, uma do naipe dajerceira ; voltando
primeira Golumna, ajuntai-lhe uma carta, do ultimo
naipe da quarta; e assim por diante analogicamente.
Exemplo : supponhamos que a primeira tirada foi : —
eopas, oiros, paus, espadas ; —a segunda será : — esna-
das, copas, oiros, paus ; a terceira ; — paus, espadas,
copas, oiros; — a c|uarta : oiros, paus, espadas, copas; a
quinta: — copas, oiros, paus, espadas, como na primeira
linha: e assim por diante, com um ou mais baralhos, se
quizerdes, com tanto que a ultima carreira de bai-
xo tenha os naipes na mesma ordem que a primeira de
cima : então fazei da primeira columna um monte, e tí-
rai-o para baixo ; o mesmo da segunda, que sobrepo-
reis á primeira ; o mesmo da terceira, que sobrepo-
reis á segunda ; e o mesmo da quarta, que sobreporeis
á terceira. Pedi a qualquer dos circumstantes que .par-
ta, e reponha a metade inferior sobre a metade supe-
rior : esta operação do partir pode ser repetida até mil
Tezes. Tomai então 'a totalidade das cartas, e distri-
btti-as seguidamente em quatro montes, com as costas
para cima; cada um conterá só cartas do mesmo naipe.
' Se entre os espectadores estiver algum esperto que,
havendo reparado no como distribuistes os naipes, dis-
ser que vai fazer o mesmo que vós, desconeertaá-lhe a
Sresumpção, restituindo ao baralho quatro cartas, uma
e cada naipe, que forçosamente vos haviSo de sobejar,
ou oito se os baralhos erão dous e que já para isso deveis
ter previamente empalmado ; a habilidade hade-se-lhe
frustrar, por mais que tente , que é isso o que succede
todas as vezes que alinha debaixo náo é igual áde cima.
315
9 DE OUTUBRO.
CHOLERA. NA CAXOEIBA. —É dos maia aterrado-
res o quadro que apresenta a iorelii cidade da Caxaai-
ra [a segunda d'esla província em populaçno e riqae-
7.a) depois da apparíç&o da c^holera. Escrevo esiasli-
nhasar*- '-
fressão doi '
a ctos hor- 1
tagio. Ima-
gine-sB umi
c i d ade flo-
ternacto a
isola ineDlo I
seus habi-
etpatriados, outros enccumbidos aos golpes assolado-
res da,epidemia 1 Pelas ruas cadáveres ieiepultospor
nio haver até quem os conduza ao uUimo jazigo I noa
Uospilaes eò mortos e moribundos. Despedaçados oa
316
laços mais sagrados da natureza 1 No leito da dur aban-
donados os pais pelos filhos, os filhos pelos caife, es-
Í^osos por consortes, mulheres por maridos t dada qual
oge ao flagello, que mais adiaqte o alcança, deixan-
d0'0 ao primeiro ataque nas agonias da morte. A fome,
que de ordinário segue a peste como a sua sombra, mais
tem augmentado o mal (vaquelles infelizes habitantes,
sem que lhes haja valido o desvelo do governo pro-
vincial, que á custa das maiores fadigas se tem esfor*
çado por soccorreros: quantos para alli vào, encarre-
gados de valer aos desgraçados, ou morrem, ou vol-
tâo atacados pelo contagio. .
Desamparados até pelos médicos, só achão nas Ir-
mâa^s da Caridade amparo e consolação ; só estas san-
tas mulheres, arrostando incríveis Itrabalhos e fadi-
gas, se têem conservado firmes no seu posto, e tiran-
do forças de sua fraqueza, têem chegado a carregar os
cadáveres sobre os aebeis hombros, levando-os até á
sepultura, que assim muitas vezes para ellas próprias
iêem aberto. Louvemos também o zelo de alguns aca-
démicos, d'aqui mandados em soccorro dos cholericos.
£m tamanha consteriiaçâo, o povo da Bahia, que
sente o ar do contagio produzir já ahi taihbem seuS'
funestos efifeitos, recorre a outro remédio mais segu-
ro 8 infallivel — as preces ao TODO PODEROSO —
e na verdade faz-lhe honra o espirito religioso que
em lodosos seus actos públicos tem reinado. Succe-
dem-se umas ás outras procissões de penitencia, e cor-
re o povo em massa aos pés dos altares a implorar
a misericórdia do ALTÍSSIMO.
Deus ouça os nossos rogos, e nos livre, e a todos os
povos, de tamanho flagello I...
Bahia 23 de agosto- de 1855.
Jf. l. de C.
(Brasileiro)
317
10 DE OUTUBRO.
SÁO BARTHOLOMEU E NICOLAU TOLENTINO. —O
nosso Nicolau Tolentino d' Almeida n&o era só um poéti
sat)rrico de primeira ordem, e um conversador dos maii
espirituosos e repentistas. Reunia a isto muitos e mui
variados conhecimentos, sobre tudo em historia, e no-
meadamente na de França.
Um dia que elle narrava em certa assembléa a matança
da noute de S. Bartholomeu (A.bi, 24d'agosto], todos
os $eus ouvintes esta vão enlevados a escutaVo. Certo
mancebo de familia nobre, recem-chegado de Paris,
onde fora educado n'um collegio, porem mais fátuo e
vaidoso do que instruido, o interrompeu por vezes, pre-
tendendo corrigir a narração. « Senhor, lhe respondeu
a final mui civilmente o poeta, eu fallo pela bôcca dos
mais acreditados historiadores francezes, taes como fu-
lano e sicrano ; se V. S.* os consultar reconhecerá que
labora em erro, ou se equivoca.» «A quem diz V. S." is-
so ? eiclama com um surriso desdenhoso o fidalgote
levantando-se ; a quem ? a mim que fui fazer 14 annos
a Paris !...> « Sim I replica o, Tolentino ; pois olhe, pa-
rece-me que não foi lá fazer mais nada I . . . »
11 DE OUTUBRO.
QUESTÃO DE CÃO. — Andavâo desavindos dons in-
divíduos, e como tudo lhes servisse para se hostilisa-
rem, queixou-se um d'elles de que o outro lhe manda-
ra furtar ou malar um bello cão da Terra Nova. Nascen-
do d 'ahi um pleito encarniçado, houve, para um inci-
dente d'elle, precisão de requerer a certo general bra-
sileiro, que por despacho só poz : — Como a questão é
de .cachorro^ va$sa fora!
318
li DE OUTUBRO.
LEANDRO E HERO.
Medita nos bosques
A terna avesinha.
Trovando sósinha
Endecha saudosa»
Gorgeios sem fim.
Di88ipa-se a prosa
Que ensombra esta yida ;
OuTÍ-a, e d'Armida
Mil sonhos de rosa
Yolviam-se em mim.
Depois, lá na Grécia,
A' sombra fagueira
De antiga oliveira,
Julgava-me ao lado
De rresca aldeà.
Seu rosto nevado
Tornava-se austero,
Contando-me d'Hero •
O fim pranteado
Na lenda pagã.
Dos tempos que foram
Galgando a voragem,
A túrbida imagem
Toquei da procella,
Tremenda e voraz ;
O mar s'encapella,
Rompendo em bramidos,
E o moço d^Abydos
Da amante que vela
Descobre o fanal.
319
Luctando co' as ondas,
Cem vezes perdido,
O extremo gemido
Lhe rouba o cançaço
Qae o vai sepultar.
A um gripho me abraço.
Mais leve que o vento
Seus voos sustento,
E caio do espaço
Nos golphãos do mar.
Salvei^os 1 revive ! . . .
Suspiros, protestos,
Que a virgem de Sestos
Confunde com bejos
De grato fervor.
São mais que os desejos,
Que fervera no peito, .
Que passa desfeito
Da maçoa aos festejos
Ao jubilo, a amor !
Voou a avesinha.
Com ella o gorgeio ;
E o meu devaneio
Aos ares subindo,
De todo o perdi.
De sonho tâo lindo.
Que resta ? sào nadas.
Visões encantadas
Que adejam surrindo,
Qual hymno d'Huri I
Luiz Filippe Leite.
13 DE OUTUB&O.
„ . ^ ^ n honra dj
. a feBta chamada : Antktttena, testa mui pari-
cidB com SE Balurnies doa Bomanos, e na qual os se-
nhores banqueteavio opíparamenle aos escravos e Ihei
servíâo ãflieza. No l.°<lia abriSo-se oabalseiros e pro-
vavio-ae ossinhos; no 3." bebia-se d'ellea a cahir.
ilando-se ao melhor bebedor uma corSa de ern e um
vaso de vinho generoso ; Gorria-se pelo campo em car-
ros á poTila, gritando e ebufando-se una aos outros ;
no 3.° oliereciio-se a Mercúrio grãos de toda a qua-
lidade, cosidos, e de que ninguém provava.
O nosso S. Martloho poderá ser ainda um vislumbre
dae anibesierías ou das saturnaes.
320
14 bE OCTUBRO.
UiM CAVALLEIRO DE MUITAS ORDBSS. — Fnllíra
certo viajante
na» diversaa
ordens cora
Sue f6ra con-
e corado em
varias eOrles
d a Europa ;
pergunttndo-
se-lhe se ha-
via tambeiD re-
cebido alEunia
doReida Prús-
sia— -«Recebi,
pois nlio 1 a de
'Bahir de seus
estados e m
vinte e quatro
Se' tinha
nquella finura,
para qualquer
parle para on-
de fo^e pode-
is DE OUTUBRO.
CONTAÍilO DE TÍTULOS.
• FulaDO ainda não é Barão í>
«Nada,nio; por ora lem escnpBdo.i
Quem isto respondia ainda nio ha muitos mezes. tam-
bém jí hoje é Barão I... Che^ou-lhe também a sua vei.
Vai chegando a lodos !.. . li. 53 p. 300.)
321
16 DE QUTOBRO»
CAPITAL FOLGAZONA. — O seguinte extracto de
uma carta que do Rio de Janeiro nos foi dirigida, dará
uma ligeira idéa da animação e riqueza d'esta opulen*
ta capital, que hoie excede, por quasi todos os lados,
muitas da nossa Europa. Ainda bem. Como bons pais,
nada nos satisfaz tanto como a prosperidade de nos^
SOS filhos.
«E* segunda feira gorda. Hontem andei vadiando pela
etdad*e, e á noite intrigando, com o meu dominó, no
Lyrico. Aqui o antigo entrudo foi.substituido pelo en-
trudo romano e corso de Veneza. Para estas cousas
nunca n'esta grande capital ha parcimonia. Desde a
quinta feira começaram os estrondosos bailes de asso-
ciações, por convite, taes como o da abertura do novo '
Club Fluminense (mascarado), em que esteve olmpera-
dor e tudo grande ; o do Congresso das Summiaades
Carnavalescas^ e outros; depois, uns sete ou oito thea-
tros elegantíssimos se abriram para a folia. A*ma-
nhâ cada camarote do Lyrico , 1.® ordem , custa
30$000 réis a.cbaye, pagando-se alem dUsso mais
2$000 réis por pessoa. Em cada rua parece haver uma
procissão permanente. Varias sociedades especialmen-
te organisadas vem com bandas de musica a cavallo e
bandeiras suas, ricamente mascaradas, n'um sem fim
de carruagens, atirando para todas as janellas, e d*el-
las recebendo, .flores, ramilhetes, confeitos. Entre es-
sas mascaras houve algumas galantes^ Um ratão, mui-
to bem vestido de gallo, com enorme crista, bico e ac-
ce££orios, tinha um machinismo, pelo qual, ao ver uma
rapariga bonita, dava-lhe um ^iro á roda, arrastando-
Ihe a aza. Um fulano Mello, muito engraçado, e dono de
uma fabrica de cortumes, andava pelas ruas a cavallo
n'um enorme boi, vestido de Sileno, mas com dous im-
mensos chifres na mão, cheios d'agua, que azafamada-
mjente ia lançando á direita e á esquerda, dirigindo
oZ2
a todos estas consoladoras palavras: «JVingucmdtflío, d>s-
ta agua não beberei,:» Hontem notheatro vi um esque-
leto, representando a Morte; vi o diabo, representando
o Inferno ; vi anios, representando o Paraiso, Estariào
pois representados, Morte, Juiso. Inferno e Paraiso, se
em taes occasiões houvesse modo de dar entrada á fo-
presentação do Juiso.
No sab6ado fez Eduardo Heil outra brilhante aseen-
são aerostatica. A'manhã preparâo-se mosquitos por
cordas. Se tudo isto é acção, tremenda deve 8«r a
reacção penitencial da quaresma. »
Thomas Polycarpo dos Santos Èíourào.
(Brasileiro)
17 DE OUTUBRO. '
CHARUDA.
Não cuides que só o tens
A poderá demandar ;
Eu pelos meios legaes
Minna parte helde buscar. 1
O calendário
No assento ethereo
Me põe do empyreo,
Gonsdiatorio,
Todo purpúreo,
Que refrigério não dou
Aos que de mim necessitãol
Pela minha intervenção
Seus males curados fícão. 2
Com Santo Hylario,
Com São Valério,
Com São Porphjrrio,
Com São Gregório,
Com Santo Aibureo.
Para me achar é mister
Buscar nome de mulher.
¥ ¥ *
323
18 DE OUTUBRO.
VIDE MONSTRUOSA. QUEM SAHE AOS SEUS NÃO
DEGKNERA. — A maior vide que eiisle na Europa é a
de HamptOD-Court,
na Inglaterra: os
seus ramos cobrem
nada menos de
3.300 pés. Foi plan.
tadaem1768.epro-
de 3,uÒ0 Fachos de
uva ferral. Eiisle
ainda a vinha ds
que foi tirada, do
condado d'Essei,
século de antiguidade. Em 1835 produiio quatro quin-
taea d'nva. Teni24péa de.circumferencia. Houve um
snao era que o proifucto d'ella andou por umas 300 li-
bras ealeninas.
19 DE OUTUBRO.
MODO FACtL DE MELHORAR OS FIGOS. — Ha en.
tre as diversas espécies de plantas sfmpathias e an--
Upathiss mui notáveis.
A arruda, disposta á sombra dos figueira es, pros-
pera maravilhosamente e lhes enriquece os fructos
d'um particular e dulcíssimo sabor. Este facto, que
só o acaso ponde descobrii, já o jeauita Yanière O
CODaignara na sua admirável georgica, intitulada :
Prídium ruslievnt, e nós mesmos conhecemos quem
O experimentou e nos certifica ser verdade. Duvide
embora, mas experimente quem tiver Ggueiras ; repa-
tíTi Gom Vaoière : flutai» Ac» amat.
324
2
20 DE OUTUBRO.
CIGáKOS — H^ tanto de insólito e mysterioso, no vi-
ver, no ser e na origem, dos que chamamos ciganos^
que náo será fora de razáo dizermos d'elles alguma coi-
sa do rauitissimo que se encontra pelos authores.
Quanto á origem dos ciganos, concordâo todos em
^ue é mui antiga ; qual seja porém a verdadeira, nâo é
acil decidir em tanta variedade de opiniões. Dizem
uns que procedem da Tartaria e da Scythia, d*onde se
introduziram na Europa no anno 1417, porque n*esse an-
no consta haverem chegado em ranchos a França com
passaportes d'El-Rei Sigismundo de Hungria. 'Outros
os dizem pérsios, descendentes dos adoradores do fo-
go, acrescentando que por ser a Pérsia mais fecunda
em gente que em mantimentos, era usança, ou lei de
seus moradores, alliviar de sete em sete annos o territó-
rio de uma porção d'elles. Outros têem que sâo netos
das tribús judaicas levadas a captiveiro por Salima-
nazar, Rei d'Assyria. Alguns os fantasiâo raça maldi-
ta dos egypcios que recusaram poisada á Santa Virgem
quando com seu divino filho perigrinou por a(|uellas
terras. Outros affirmâo que vieram da Esclavonia, ou
de umas terras do Turco confinantes'com a Hungria ou
com a Bohemia.O árabe, autor do livro intitulado MircaK
traz que se derivão em linha recta do impio Pharaó
e seus sequazes. O que parece averiguado é que no
tempo em que entraram em Franca, alli lhes deram o
nome de Penitentes^ em razlio d'elles contarem que
sendo naluraes do Égypto inferior, os sarracenos d'alH
oê haviâo expulsado por serem christàos ; que expul*
fiOS, se tinhâo idopereerinos a Roma, onde o Padre San^
to, depois de os ouvir de coníissâo,lhesimpozera apeni-
tencia de se irem pelo mundo alem, decurso de sete
annos, sem nunca se deitarem em cama. É uma raça
que se espalhou por França, Itália, Inglaterra, Allema-
nha. Hespanha, e que sem embargo de ser tâo persegui-
da até ao fim do século XVIII, ainda subsiste, e conscr-
Ta bem reconhecidos os seus caracteres distinctivos.
Nem todos os ciganos ou bohemios são vagabundos.
Em Turquia e Hungria são ferreiros, caldeireiros e mú-
sicos. Na Transylvania, Moldávia e Yalachia, ha-09 em
quantidade com poisada certa, vivendo folgadamente, e
creando de entre si maioraes com os títulos de reiSf du'
quês e vayvodes. Na Hespanha, uns demorào pelos
montes, e outros têem seus bairros próprios nas ci-
dades, como em Sevilha e Córdova. Em Inglaterra sâo
alquiladores, veterinários e ferradores. Na Rússia hà-
os também residentes, e até a condessa de Tolotoi é
Bohemia ou cigana. Seja porém qual for o seu viver, o
que é certo é que esta gente conservou no seu tracto a
sua lingua, o respeito ás suas authoridades e os seus
eostumes. Sâo os ciganos bem feitos e delgados» rosto
expressivo á feição do dos persas. As mulheres gosão
fama de mui castas, sendo essa a virtude de que mais
se presto. Toem maneiras insinuativas, d'onde provém
chamarmos cigana a qualquer rapariga que tem artes
de embahir.
Ou porque de si naturalmente sejão supersticiosas,
ou porque encontrem boa ganância na credulidade doa
tolos, são mui ledoras da buenadicha — ^isto é— inculcio
adivinhar pelas linhas da mão de quem as consulta o
que está para lhe vir em pontos de negocio de saúde e
especialmente de amores. Gil Vicente introdusio-as
graciosissimamente n'um auto, fazendo seus prognósti-
cos mui lisongeiros ás damas e cavalheiros da corte. A
Eoesia moderna algumas vezes tem trazido á scena com
om êxito estas personagens extraordinárias, que se re-
presentão á imaginação como um enxerto norgenero hu-
mano, e cujo interesse se compõe, parte do nebuloso da
sua origem e do excepcional do seu viver, e parte dos
crimes que lhes assacão de roubos, e até de raptos de
«reanças que levão comsigo. segundo se crê, para as
crearem n'aqueUa mesma vida.
326
21 DE OUTUBRO.
COmCIDENCIA NOTÁVEL. — A 26 de janeiro faz an-
nos meu irmão António Feliciano; n'esse dia represen-
tava-se no Rio o seu drama CAMÕES^ e no mesmo dia
ardia o theatro desde o tecto até aos seus fundamentos!
22 DE OUTUBRO.
Outr*ora nos bailes
Alcina dançava,
Dançava contente,
Surria e brincava.
Seus olhos formosos
De negros brilhav&o ;
Seus pés tào ligeiros
No chão mal tocavão.
Nos lábios um riso
Celeste pairava,
Um riso donoso
Que tudo encantava.
Eu vi n'es6e8 bailes
Seu gesto mimoso,
Seus doces encantoe,
Seu talhe gracioso.
Eu vi nos meus braços
Sua cinta de fada.
Eu tive nas minhas
Sua mão delicada I
Quem dera viver
Mil annos assim !
Viver nos seus braços
N'um baile sem fim'l
Oh I como ligeiro
O tempo corria,
Quando ella em meus bf aços
Dançava e surria I
Como ella dançava,
Dançava e surria.
Com terna modéstia.
Com doce magia !
Quem dera viver
Mil annos assim I
Viver nos seus braços
N*um taile sem iim'l
327
António Joaquim da Rosa
fBrasileiro}
23 DE OUTUBRO.
CHACAt. — E" ura quadrúpede do género ei
raposa, com
cauda pou-
È' de todos
ferozes o
eenio d e
rapina e dos cadáveres que desenterra. Encontra-BO
aos bandos na índia, na Ásia Menor e na Africa.
Alii Ihea mostro um cliacol,
Esse feroz animal,
Porem este não (az mal.
24 DE OUTUBRO.
SONUO DE UM.^ VIUVA.
Aqui jaz Thereea Ophetia iDermiiou, morreu, suniio-ee,
N'esta triste sepultura. Pois assim o quiz seu fado.
Viuvinha aos 21 annos, Só por sonhar que o marido
Demui rara Tormosura. [Havia resuscltado I..,
.4riIiienno.
(BraEileiío) .
328
35 DE OUTUBRO.
, é da industria do Coron-
gnejo. o qual para comer a oslra faz um disoureo recto,
_i. _!,„. — . 1 j. . pgrgce que disDorre as-
B, nãopossa resUtircon-
go. se eu l h e
iBuçat dentro
uma pedrinha,
ella nâo se po-
derá fechar, e
enUo^ podeiei
D'esta fdrma
eiecuia o seu
syUogiBmo, por-
que p o n do^ss
promplo com a
pedra, tanto quo
a ostra abre as conchas, lh'a arroja deotro. Tunc clan-
eulo ealeulum immiura, impeait eoncluiionem ot~
teri, ac sic aperta clauitra rtperiens, lulo irurrii
clielat, viteeraque interna dtpatcitur, diz o Santo Dou-
tor no logar allegedo. O mesmo canta o grande Baia-
lho liT. lido áífofts. est. 19.
Tal gambaro, en quíen vemoi que reside
De etlratagemat provido ti uto.
JI Of lion, porque en eonchot qu« dteide
Ifo te cierre, pequeno gaita puto.
Tá acerrar-te la almeja, yteloimpid*
La pt«dra d qae et eangrejo le tnterpiuo.
Tiro «if coso que ofreció ai nocivo
Brecha de nacor en baluarte vivo.
329
95 DE OUTUBRO.
SALVE, n
. . . . À voz da infância echos no Empvreo dá.
(4i F. Castilho. — Epist. a S. M. A. Ihp. do Brasil.)
Teus Cantos.ó erandegenio,
Sâo torrentes aharmonía :
O teu estro se irradia
D'um foco de intensa luz.
É d'eUe centelha fulgida,
Qae ot cam«* boj« in'ÍD«pira ;
fio trorar da minha lyra.
Tua lyra me conúuz.
Alongas o teu domínio
Por luminosas espheras ;
Coílcebes, e logo imperas
Onde a mente se arrojou.
Vai* ler os aegredot ia li moa.
Que o Círio ter* qae ot ÍM>n8 ilirpeasa.
Sobre essa pagina immensa,
Em letras d'astros, gravou.
K'a«i reioo de 9Òe» esplendidos
E*s qual nume omnipotente:
Sentes, crias, no presente ;
Vives, gosas, no porvir.
DeNpreoJea a voz grandíloqua,
Dissipas as nuvens densas,
E da noute, quando pensas,
O dia fazes sahir.
Embora te seja inhospito
Torrão ingrato que pizas ,
Que importa?se alem divisas
A pátria da gratidão ? 1...
Que vai o gozar ephemero»
Que a humanidaae fascina „
A quem traz a lei divina
Escripta no eoraç&o ? I
Tu einges a c'rôa dúplice
Da virtude e do talento ;
Alcanças no entendimento,.
Vaes lía vontade exercer.
Derramas os benefícios
Pelas edades futuras,
E por alheias venturas
Dilatas o teu prazer.
Honrou CamSes snas Tagidea
N*essa famosa epopéa ;
Gumprio a gigante idéa.
Foi oooi elle ó nome aos céas :
Tu honras as musas pátrias;
^Camões a dons mandos levas ;
!e aos povos, amboa em trevas,
JDás ainda a luz de Deus.
(♦) Poesia oflferecida ao IIL"^ e Ex."<> Sr. A. F. d»
Castilho, em 26 de janeiro de 1856.
330
Ohl q«e a dia ao ingente metbodo
De milagrosa leitura,
Que altos destinos augura,
Que das letras abre o céul...
N^esse raro fluido eléctrico,
Aonde Galvani excedes,
Onde igualas Árchimedes.
E Newton e Galileu I
QueventuraíEu invcjára-fa,
Se a amizade o permitisse :
Convertes a meninice
Em robustas gerações I...
Crias os fructos ubérrimos
Na estação das lindas floresi
E pos tâesouros d*amores,
Te pagas das maldições !...
E' hoje que a rica infância.
Tua dama idolatra4a,
Poisando regenerada.
Exalta ao seu redemptor.
Achando o caminho áspero
Mudado em suave trilho,
RI, exulta, e diz : «Castilho
Foi segundo creador 1 »
Alçando as mâosinhas tibias
—J*á,semverdugo, mimosas—
Ella diadema de rosas
Na tua fronte depoz.
Eleva até ao Empyreo
Hymno, qae a arte uio reveilc,
E alli (tu mesmo o disseste)
Dá echos da infância a vos»
Já lá sôa a voz angélica ;
E. em quanto o protervo mundo.
No seu rugido profundo.
Te opprime d'ingratidáo,
Este dia, por mil séculos.
Radioso se multiplica
Onde eterna a gloria fica,
Os dias eternos são. Á, de Cabedo.
27 DE OUTUBRO.
SÓ LHE FALTA FALLAR. — È* este um dicto usa-
do quando se vê um retrato parecido.
Um abbade muito falto de memoria, e que, quando
pregava, costumava esquécer-se do sermão, e ficar as-
sim por muito tempo, mandou-se retractar. Toda a gen-
te dixia que só lhe faltava fallar, o qu& occa«ionou di-
zer certo ratão : « Nada ; isto foi feito quando sua reve-
rendíssima estava a pregar. »
331
28 DE OUTUBRO.
O QUE E' O TMES. — E* curiosíssimo o seguinte ex^
tracto de um relatório ao governo feito pelo Sr. Conse-
lheiro Firmo Marecos. — «A oíBcina do Ttmes tem quatro
enormes prelos horisontaes que podem imprimir, d'am-
bos os lados, 12 a 13 mil exemplares por hora, e três
prelos verticaes, que tirão por hora, d'um lado, 14 a
16 mil exemplares. Tem um engenhoso machinismo,
que mostra o numero de exemplares impressos^ e ve-
rifica simultaneamente a importância do sêUo, cujo ca-
rimbo é estampado ao mesmo tempo que se faz a im-
pressão typographica. Por este meio ecónomisa a em-
preza do Times 600 libras por anno, que tanto gastava
anteriormente em carretos do papel levado ao sello.Os
empregados do governo vào alli íiscalisar o tributo do
sêlio, e nunca teem motivo para duvidar da exactidão
d'aquelle machinismo. As casas de composição da of-
íiclna do Times são muito commodas a todos os respei-
tos. Os prelos verticaes estão collocados em umas ca-
sas elegantes e cheias de luz, porque os tectos são de
ferro e cristal. Ha magnificas salas e gabinetes para os
redactores, revisores, e differentes collaboradores.
Todo o edifício é abundantemente illuminado a gaz.
Três machinas de vapor são empregadas no movimen-
to dos prelos e no trabalho das boinbas, que levão agua
quente e fria a todo o edifício, não só para uceio das oí-
íicinas, e para os empregados se banharem, mas para
o caso de incêndio. Pela acção doestas machinas se en-
chem de vapor muitos tubos de ferro, dispostos enge-
nhosamente, para aquecerem as casas de trabalho. O
pessoal artístico permanente, empregado no jornal, é
de 110 compositores e 25 impressores. Ha, porém, mui-
tos outros empregados, para os differentes serviços do
estabelecimento. Cada numero do Times pode produzir
dous volumes em oitavo francez de 450 paginas cada um.
A sua extracção é de 50 a 52,000 exemplares por dia 1 1 ^
332
29 DE OUTUBRO.
blico sem primeiro sup-
plicar Bos deuses não
permittjssem que lhe es-
capasse expressão al-
guma que 03 desacatas-
tes se podBGsem ofTen-
der. Quando tinha de
Bpparecer em alguma
aseemliléa publica, aei
próprio com estas poln-
vras se esforçava: «Cui-
dfldo.meu Péricles, vais
u gregos, com atheuieií-
30 DE OUTUBRO.
Oue seria da oraçio,' | Sou de carne, de papel,
<Jue deve ser regular. De madeira e de metal ;
Se eu na aua coustrucção 1 InolTensiva ou cruel,
A nâo fosse auxiliar? — 1 | Posso fazer bem ou mal— 1
Se i boa moi
ral sujeito,
Eu seguir CO
m bem cuidado
que n'elle,
e era meu proveito.
Me é tio bem aconselhado.
Para o céu, (
; bem direito,
Ifci vestido 1
B calcado.
Ã.
a. c.
31 DE OUTUBRO.
(1)
Topou ás trindades,
O dia se fina ;
Andar a taes horas
£' cousa mofina I...
Na poote de pedra,
Debaixo da arcada.
Se escuta' um gemido,
Que ó d'alma penada.
E n'este pinhal,
De grandes pinheiros.
Que galgos tão negros.
Correndo ligeiros T...
Pois mais adiante
N'essa encruzilhada 1 1...
Ghoquita (2) gallinha
Com fusca ninhada ! (3)
Corramos depressa...
Mas ai 1... que tormento !..
Às pernas me negâo
O seu movimento.
Enxergo o colmiço (4)
Da minha choupana !...
Quem lá me pilnara
Com a minha Anna l..«
Protesto fizera
De mais não tornar
A' venda, que a bolla
Me faz transtornar.
Al^ 1 se do trabalho
Os bois conduzira.
Das cousas que empecem,
(Z o mb ando, me rira :
(1) Hora aberta chamào os campesinos na Maia ao
momento em que toca ás trindades, no qual dizem ter ò
demónio e cousas ruins o poder de andar á redearsolta.
(2) Chama os pintos.
Ao lusquefusque, nos caminhos que se eruzâo,
appãrece, segundo boas almas crêem, uma gallinha cha-
mando um bando de bácoros, ou uma porca eharaando
pintainhos.
(4) Tecto de «olmo.
334
Que o bafo dos bois (1]
De tudo defende ;
Nem cousa ruim chega
Onde elle se estende.
Jesus I M os pinheiros
Se põem a bailar!...
E vozes de bruxas
Por mim a bradar ! 1 !
Mas Ânna também
Eu ouço ehamar>me f...
Aqui l!.. vem depressa,
Que estão a embruxar-me.
M^^ia Peregrina de Sousa,
(Porto)
1 DE NOVEMBRO.
BYMNO AO SENHOR.
PARA SER CANTADO MOS ASTLOS DA INFÂNCIA DESVALIDA.
Qoasi engeítados domundo»
l)'este mundo sem amor.
Sem a tua protecção
Que fora de dós, &ENHOR l
Alumie nossas almas
Prestante luz da scieneia.
Temperada co*o temor santo
Da tua omnipotência.
Fortalece nossa fé,
Pai commum eDeuspiedosoI
Na terra tudo é pequeno,
Sê-nostupropicio,ohDeusllSótu és grande e poderoso!
José Alaria Grande»
(1) Ê tido por santo o bafo do boi, por este ter bafe-*
jado no presépio a Jesus, e crd-so nas aldêas que livra
dos maios sobrenaturaes.
335
No céu celebrâo teu nome
Os coros celestiaes ;
Sanctificâo-te na terra
Os misérrimos mortaes. .
Narra o tua excelsa gloria
Os seres da natureza ;
Os astros, a terra, o mar,
Pregoão tuà grandeza.
Teusolhosvolveaoshumildes
Que tu chamas filhos teus ;
De si nos lança o soberbo.
2 DE NOVEMBRO.
MESURÕ-LTRA. — Nada mais bello, nem mais gra-
cioso do que esta ave,
do tanaabo de um fai~
são, edeordinario cio-
lenta. Ae duas pennas
recém formar o GOntOF'
DO de uma lyra e as do
meio figurSo as cordas.
Parece-me que bÚ Da&aCi
se di esta qualidade de
passara, que na elegân-
cia e raageatade talvei
nem mesmo ceda ao pa-
vio; em todo o caso é
mais poética do que el-
le. Como tal fadada pe-
la natureza, nío podia
deixar de ser o seu can-
to harmonioso, no que
deixa aperder devista
o seu rival. Para isso,
em todo o caso, nío era
ptecíBQ muito.
REMÉDIO CONTRA. ESCALDADURAS.^Ensinámoa
a pag. 379 do Almanach de 1853 um óptimo e facillimo
remédio contra e scalda duras : ensinaremos hoje outro.
Igualmente simples e efOcaz : consiste elle na applica-
ção de clara d'ovo sobre a parte queimada, applicaçiio
que deve ser feita o mais rapidamente poasivei; cobre-
•e depois com um oanno, que se ata bem, e que sò se
tira depois de curada a parle doente.
336 ^
3 DE NOVEMBRO.
BEGCIMOS EBEGLINAS. — Nome de cerlos lioniens
e mulheres de boa e religiosa vida em varias partes da
christandade. Quanto fi etymoloffie d'este nome norre
grande variedade de pareceres eatre os autores. Deri-
vão-flo UQB de S. Begghe, filho de Pspioo, a quem at-
tribucni a fundação d'a-
3uélle inslituto. Outros
e Lambert le Begue, as-
sim cliaraado por ser ga-
go, e que em 1173 inlrti-
duiio em Liege um (ai vi-
ver. Escriptores flamen-
goa derivao-no de Beg-
ga. 'digna irmi de Santa
Gertrudes, a qual orde-
nou uinas piedosas com-
muiiidades de uulheres
em Flandres, Picardia e
Lorena. Scaiigero quer
que provenha de Ilcguin,
palavra antiga franceza,
que significava uma es-
Secie de coifa, cm rasSo
e usarcnl d'ella as so-
breditas mulheres. Um
autor entende que se orí-
' ginou do verbo bepinque
significa principiar, por
ser a «anta vida dos bo-
guinas e beguinas um co-
indigar. Postas de parte estas averiguacBes, pois que
duas sâo» e mui distiactas, as espécies de begumos »
be^uinas. Uns erâo beatos falsos, perteneentes a uma
seita eujos erros foram condeninados nos concílios de
Vienna de 1166 e 1311, e outros gente boa, que
guardara certas leis» e livre de Totos podia casar, e
n*este estado conservava cadn mn a sua liberdade en*
tre o celibato e o matrimoato* Em França acabou este
instituto, dando^se as easas que lhes perteneião á Or-
dem Terceira de S. Francisco. Em Hespanha, onde tam*
bem houve corporações doestas, e mui exemplares, fi^
eou o nome de begíiino sendo synommo de devoto ou
beato. Bluteau suppõe ser em rasfto da vida editicativa
e santa que se appellidaram begninos os padres eremí^
tas de S. Paulo, antíquissimos em Portu^.
4 DE NOVEMBRO.
CAiiÕES !VO HaftPlVAC.
Depois de ter meus versos dedicado
Às nymphas do meu Tejo t&o formoso»
Levou-me o pátrio amor ao arenoso
Clima adusto, que habita o mouro ousack).
O reino vi depois tão celebrado
Dos lusos pelo braço glorioso ;
£ n*esse de Macau roxedo umbroso
Soltei meu canto ardente e sublimado.
Cantei em meigo tom ternos amores (i);
£ih tom mais marcial a lusa historia (z) :
Da sorte, em tom mais triste, os desfavores (3}.
De tudo só me restas, ó memeria I
M*este leito perdi, ganhando dores.
Esperança, amor, amigos, pátria e glioria.
Padre António dê M aceda e Silva
(S. Bartholomeu).
(1) Éclogas. (2] Lusiadas. (3] Elegias.
33 o
5 DE NOVEMBRO.
LAMENTAÇÕES
ORSXOS PELOS FINADOS.
I.
Funéreo som de agonia -
Duro bronze nos envia ;
Chama os vivos á oração I
£* uma voz do infinito 1
Recorda ao povo contrieto
Sacrosanta devoção 1
Aonde estão meus parentes?
Onde tão queridos entes
Que viviâo junto a mim?
Para sempre se ausentaram!
Para semprel e medeixaram
Saudades que não tem iimJ
A igreja nos dá o exemplo
Ao t«pipl«.t mortaest «o templo.
Vossos passos dirigi !
Enluctada mâi deplora
OsfiUios que extinctoschora,
Sâo vossos irmãos: ouvil...
Ouvi 08 echos magoados
Repetir saudos4>s orados,
Que se escutão U no céu.
De negro vede o$ altares 1
Renovai justos pesares !
Orai por quem já morreul.
IjOnde estão!... na sepultura!
Na mansão da morte dura
Jazem seus restos mortaesi
Mas as almas? ai !.. são essas
Que ierabrfto nomas (iroraoKaA^!
Oh 1 não se olvidem jamais I
Olhai, as juras da terra
A eternidade as encerra ;
£m vão não jura ninguém !
Da vida asprisôes cessaram,
Maslaçosque aalma ligaram,
Lá no céu mais força tem.
Se tendes lá no jazif^o
Pai ou mái, chorai comigo,
Que na orphandade fiquei :
Filhos, irmãos ou consorte.
Amigos, ah! sim, que amor.te
Roubou-me quantos amei 1
3^39
Laços de fraternidade
Unem toda a humanidade
Emvineulo perennal.
Hoje orai pelos finados,
A*manhâ sereis chegados
Talvez ao termo fatal !
n.
Entre asplantas que vicejáo.
Quantas campas ora alvejâo,
QaaDtat guarda a excelua erui !
Viyestes, como vivemos !
QiMM boje sois, nóê seremM ]
Dormi, crentes de Jesus! —
Oremos pelos defuntos I
Ura dia seremos juntos;
Hade o pó ao pó tornar 1
Easalmas dosque morrerem
Hãode áquelles queviverem
Uma oração implorar 1
Uma lagrima sentida
Por quem «e aosrnloa da vida
Cahe aos pés do Creadorl
Fa^brotar linda saudade,
Que vive na eternidade
Co'os martyrios do Senhor!
E as oblações são as palmas
QueJehová entrega ásalmas
Dosquehonraramsantasleis.
Orai que a oração conforta !
A igreja nos ab're a porta;
Ajoelhai, povos e reis I . . . ISacrosantâ devoção.
Z>. Antoíiíia Gertrudes Pusieh.
6 DE NOVEMBRO.
METAMORPHOSE. — Representava um actor pela
Í>rimeira vez na tragedia Mithridates ; era porém táo
eio, que todos se riáo quando elle apparecia.
No logar da tragedia em que Monimo diz a Mithrida-
tes: — Senhor y está-se-v os demudando o parecer! — excla-
mou certo ratão: Ainda hem! Pode dar graças a Deus!...
340
Ajoelhai, que a lei da morte
Dos mortaes iguala a sorte;
Lei suprema, sempre iguall
Vede 08 séculos passando.
Milhões de ossadas levando!
Qual vestio manto real ?
Ninguém sabedifferençaVo,
Que o rei iguala o vassalo
Em nascimento e morreri
Sú grande é quem rÍTen jiiato,
Qaem ollia a morte sem ousto.
Quem nol)re c*r(>a vai ter.
Escutai!... lá dobra o sino!
Lá repete écho divino •
Do Omnipotente a alta voz 1
Oremos pelos finados I
Vamos darprantosmagoados
A quem viveu como nós.
Funéreo som de agonia
Duro bronze nos envia,
Chama os vivos á oração :
E' uma voz do infinito I
Recorda, povo contricto,
7 DE NOVEMBRO.
AbGODÀO D4 ARGÉLIA. — Por nm teceUo da Nor-
mandia foi achado o modo
de utilisar o reíidoo do al-
godão da Arrelia, que pa-
ra nada servia. Fai-se com
elle Bma espécie de ganga,
a qual rivaliea com a da
D'estB no<ra industria es-
5 era tirar aquclla provinda
e Franca incalculáveis van-
I (agens. I^ada ha de que ho>e
se nio tire proveito, e nada
qae eDectivamente não tenba a sua utilidade.
8 DE NOVEMBRO.
O CONVENTO DE BALSAMÂO. — Se algum dia visi-
tardes a antiga villa de Chacim. e olhando para o nas-
eeote virdes branquejar aolonge um ediílcio em logar
ermo e desabrido, perguntareis talveí que mortal quiz
ir passar seus dias n'af;uella solidAo. Pois sabei que é o
eoDv&ntO de Balsamão, oulr'orB asf lo da paz e do silen-
cio, e hoje propriedade de um particular. — Esse tacto
especial que oa monges tiuh&o para escolherem o local
de suas residências, que o celebre Chateaubriand jul-
gou filho do seu gosto delicado e seguro da religião, fa-
iando ver aharmonia que existe entre a religião chrís-
t& e as Bcenas da natureza, se nota alli lambem. LMe
fts poéticas descrifiçdes que a ou elle escriptor, e mais
ainda Lamartine, fazem do Lf bano edos couventos e
aldeias maronitas, e podereis faier uma idéa do sitio
de Balsaoifto. Supponde, ao cabo de uma dilatada vei-
ga, ama CDllin a agreste o selvagem por natureza, mas
d*esta collina é coroado pelo piosieiro, e da banda do
Meio-dia estão edificadas pela encosta oito capelUnhas,
representando algumas d'essas dolorosas*scenas da Pai-
xão que nós conhecemos pelo nome de Via-Sacra. A
base d'aquella coUina é banhada, da banda do nascen-
te, pelo pequeno rio Azibo, e ao norte corre uma ribei-
ra que, depois de regar os férteis campos deChacim,
vai desaguar n'aquelle rio. Subi «gora até ao convento :
d* ahi admirareis uma riquíssima paisagem. Dos lados
do norte e nascente, vereis os extensos montes de Mo-
raes, talvez 08 mais abundantes de caça em toda a pro-
víncia, e ao poente, depois de passeardes a vista pelas
amenas veigas de Chacim, avistareis ao longe a serra
de Bornes, toucada de neve uma grande parte do anno.
No convento nada encontrareis notável; apenas vos
mostrarão na igreja a sepultura do fundador, uma es-
pécie de harpa, celicios, e vários outros objectos que
pertencião ao mesmo.
Foi este convento edificado no anno de 1750 pelo ve-
nerável Padre Casimiro de S. José Wizinski, de nação
polaco e da Congregação dos Padres Mariannos da fm-
maoulada Conceição, tendo acjuelle sitio -principiado a
ser habitado por*alguns eremitas que vivião dispersos
pela montanha e moravâo em differentes cellas. K' tra-
dição que n'aquelle local existira outr*ora o castello
de*um rei mouro. Entre as vexações com que este ty-
rannisava os povos sugeitos ao seu domínio, era uma o
possuir toda e qualquer noiva no primeiro dia do seu
casamento. Um habitante de Alfandega-da-Fé, ligado ha-
via pouco pelos laços de hymeneu, mais decidido que
os seus compatriotas, despresou abertamente as exi-
gências do tyranno. O mouro, ferido no seu amor
próprio, mandou alguns soldados para fazer conduzir á
sua presença o criminoso, mas o exemplo d'este havia
animado os* mais cobardes e a eléctrica palavra— liber-
dade — achara echo em todos os corações. Aquelles
povos sublevados correram em massa ao castello ; po-
rém o Rei, sabendo do que se passava, havia sabido ao
seu encontro, e os dois exercites se acharam cara a cara
próximo á villa de Chacím. Ahi se travou uma renhida
peleja entre os mouros e osebristâos. A phalange chris-
tá, inferior em numero, e alem d*isso composta díe solda-
dos indisciplinados, nâo podia competir com a nouris-
ma aguerrida, e a vietona inclinava-se evidentemente
para o lado d*esta. Em tal conjunctura decidio-se Nossa
Senhora avir em amparo dos seus devotos, e appareeeu
entre elles com um vaso cheio de bálsamo, com que sa-
rava os feridos e dava vida aos mortos, de sorte que
€onseguio fazer vencer a batalha. O rei mouro pereceu
Bo combate, e a mesma foi a sorte de todos ou de quasi
to4os os seus soldados. Em seguida o exercito vence-
dor dirigio-se ao castelle mourisco, que arruinou, até
aos alieerees. Km memoria d'este feliz suecesso,. e em
signal de reconhecimento e gratidão para com a sua
bemfeitora, edificaram no mesmo sitio uma ermida sob
a invocação de Nossa Senhora-do-balsamo-na-mão, a
que o povo, por corrupção, chama hoje a Senhora dfj
Batsamão. È' nesse mesmo logar (^ue se edificou depois
o actaal sanctuario, cuja padroeira é Nossa Senhora,
representada com um vaso na mão. Em commemoraçâo
d'aquella façanha ficou-se celebrando d'alli em diante
uma festividade, conhecida pelo nome de Gara-Mouro,
a qual ainda hoje é muito concorrida, e tem logar todos
os annos no primeiro domingo posterior ao de Paschoa.
Em premio também d^aquella heróica acção foi dado á
povoação de Alfandega o titulo de -*- da Fé — e foi
aquella chacina que deu o nome á actual povoação
de Ghacim. Só me reporte á crença d'a^uelles povos.
Segundo metêem affiançado pessoas do maior erédito»,
ainda hoje se notáo ao pé do convento vestisies de anti-
8 as edificações, que parecem ser restos de fortes^mura-
ias.
António Emílio de Sousa Freire Pimenfel.
(Villar do Monte.)
343 '
9 DE NOVEMBRO.
É uDi mammifero, muito soido, com
focinho de
c&o, e que
fora a terrn
e a'ella se
tidos. Tem
cio. e%"de
grande uso
raderes ; lambem com elle se faiem pioeeta de berb»
10 DE NOVEMBRO.
CHARADA.
Temos *ó dois d» primeira
Cano nosso Portugal ;
Foslo qufl ha quem nome igual
A um terceiro dar queira t
Fiz scismar de Ul maneira
Antigos Rrandes varões.
Que em longas dissertações
^i<da ÍSra decidido ;
Has deu fim nm, d'atrevido,
I)'um só jacto, a taes questões. . 1
■ a que conla a gente
11 DB NOVEMBRO.
AOS IRMÃOS DE S. MARTINHO.
Eis o dia, irmãos, da festa
Do padroeiro do vinho 1
E* chegado o dia alegre
Do nosso bom S. Martinho.
Dia votado ás moafat.
Aos 'pifôei e cabelleiras,
Carraspanas, bicos, turcas,
Samatras e bebedeiras,
Heuna-se a irmandade ;
Nomeemos um juiz ;
Celebremos este dia.
Bebendo como funis.
Façamos da nossa pança
Armazém grande de vinho;
Só assim celebraremos
O dia de S. Martinho.
Venha Potto e Carcavellos,
Também o Madeira sécco,
£ no enxugar de garrafas
Nenhum de nós seja pêcco.
Do nosso patrono a festa
Deve ser bem festejada ;
Esqueçamos as tristezas
De nossa vida passada.
Mettamos para o bandulho
Quanto lá caiba de vinho,
rara honrarmos a memoria
Do patrono S. Martinho.
345
Mil brindes e mil sandes,
Em nome da confraria :
Quem riquezas nâo possue,
Possua paz e alegria.
Se os bens da fortuna avara
Duro fado nos negou,
Deu-nos boca; eial bebames
O vinho que Deus creou*
Roguemos ao nosso santo,
Em nome do bem geral,
Finalise o mal das vinhas,
Ao menos em Portugal.
Que acabe com essa praga,
Ruina dos lavradores,
Que tanto aterra e anieaça
Os seus fieis bebedores.*
Sim, morramos abrigados
Dentro d'immenso tonel.
Pois morrer de bôcca seeía
E* morte dura e cruel !
Se o milagre faz o santo.
Gomo devemos esperar,
Com boa festa p*ra o anno
Pode o santinho contar.
Vamos beber no emtanto
Do que ha, ou mal ou bem,
Esperançosos na colheita
Do futuro anno que vem.
Ánonymo Benguellense,
12 DE NONEMBRO.
TRAGEDIA JULGADA PELO PADRE BRAZ.— O nos-
so famigerado Padre Braz, cujas anecdotas e dictos con-
ceituosos encheriâo uns poucos de volumes [Á, 55. p.
316), foi uma vez rogado por um poeta de má morte para
lhe ouvir ler uma tragedia e dar-lhe sobre ellao seu pa-
recer. Siigeitou-se resignado, e foi ouvindo de braços
cruzados, e com a maior attençáo, até ao fim. A heroina
era uma Princeza de quem o tyranno estava namorado,
mas que, já se sabe, lhe nâo dava ouvidos. O tyranno
prende o pai e o amante da infeliz, e para a reduzir
pelo terror, a obriga a escolher qual dos dous condem-
nados á morte pretende salvar. Chegados a este l^nce,
que era o mais dramático de todo o poema, abre pela
primeira vez a boca o nosso Aristarct), e declama com
toda a gravidade dramática :
No mesmo lance se via
A mãi que vinhia de Torres,
* E diz : ó meu pai, tu morres,
É forte semsaboria I...
Mas para minha alegria
Cá fica Manoel Coelho,
Que sempre é melhor conselho
Mais que pai marido ter,
E emfim, morrer por morrer.
Morra meu pai que émais velho.
13 DE NOVEMBRO.
EPIGRàMMA.
Fábio, ao cahir da noite húmida e fria.
Do chupado carão despe a alegria ;
Náo porque chore o sol, do dia enfeite.
Mas porque accende a luz que gasta azeite.
Francisco Manoel do Nascimento.
346
14 DE NOVEMBRO.
CAMÕES, JOÃO CAETANO E CASTILHO. — Camões
é o titulo de um drama de meu irmão António Felicia-
no de Castilho, drama recentemente, e cora geral accei-
tacâo, representado no Rio de Janeiro, e em que o pa-
pel do protogonista era desempenhado pelo actor João
Caetano, um dos maiores d'este século, e o maior in-
contestavelmente da scena brasileira. Archivemos aqui
a carta que pelo poeta foi escripta ao actor a tal res-
peito :
«Meu Artista Príncipe. — Renasceu emfim, evocado
pelo teu ^enio, o teu, o nosso Camões I o summo actor
das glorias portuguezas identificou-se com o actor
summo, reconhecida floria do Brasil. RemooasteVo pa-
ra os amores e lagrimas dos contemporâneos: elle
communicou ao teu génio o seu perfume de veneração
antiga, a sua embalsamaçâo de Monarcha, em monu-
mento que te afiança a duração a que os teus próprios
talentos e esfbrços*te davão jus.
«Oífereces-me*as tuas coroas; porque não acceitaria eu
esses generosos penhores de um aifecto que me honra ? I
« E de que te servem já agora a ti as coroas, se á tua
voz ellas de si se tecem e te chovem aos pés ? I
Acceito-as, e vou cingir com ellas, não o meu livro,
mas os Lusíadas ; não a minha cabeça, mas a do nosso
comraum inspirador.
« Para mim já nada peço, nem cobiço, depois que vi
Sue tu me comprehenaeste, e me fizeste comprehendi-
9, no meio de um povo nobre e illustrado, que applau-
dio, e acolheu, como feita para elle, a obra que eu só
havia endereçado ae engrandecimento dos meus con-
terrâneos; "
« E' magnifico para vós outros esse exemplo ; e tanto
mais, quanto esse padrão que erigistes a dous poetas,
ambos estranhos, está singularmente contrastando com
o desprezo posthumo em que ainda aqui se tem p pri-
347
meiro, e com a injusliça com que ao segundo se está,
como que acintosa, e talvez conjugadamente, negando,
depois de tantas outras cousas, até o pobre credito de
haver salvado do ultimo perdimento os ossos do Gran^
de Mestre.
« O tempo, que o vingou, e consagrou a elle, algum
dia me fará justiça.
« Para ti a justiça e a posteridade começaram já.
«Recebe os meus parabéns, os meus agradecimentos,
e os meus abraços.
« Teu admirador, amigo e camarada,
Â. F. de Castilho.
15 DE NOVEMBRO.
CAMÒES E GARRETT.
SONETO.
o moimento
Que do immortal cantor as cinzas guarda.
Poema Camões, in ^n«.
Cantor do gr&o Camões, do rei dos vates,
Que o mundo encheu de gloria lusitana;
Que impávido arrostou a fúria insana
D'homens, e mar, e terra, em mil combates;
. Terníssimo Cantor, não mais delates
Ao mundo a ingratidão vil, deshumana«
Que as memorias de Lysia offusca, empanna.
De seu brilho fraudando áureos quilates.
Cesse de teu queixume o agro lamento,
Que já de gloria obteve (embora tarda)
vate heroe perenne monumento.
Já fama eterna ao Lethes o resguarda.
Que teus divinos versos são c o moimento^
Que do immortal Cantor as cinzas guarda,i^
ManuUFulgencio Gomes ^{LobTÍ^oe).
348
16 DE NOVEMBRO.
DEUS B NEWTON.-Newloo
nunca ouvia o nome de Deus ■
sem fazer uma grande reveren-
cia, q^ue provava nSo só o seu
respeito, mas também a sua
admiraçío para com as obras
do Chiador. Julgar-ae-hio eu~
periores a Newton os que sa
B negar a eiietencia do Ente Supremol...
n DE NOVEMBRO.
NAO TE HUMILHES..
Coraçío, deisa d'ai
A vil que te despre&uu,
A cruel que renegou
Teu aSeclo e puro amor ;
Deiía essa malfadada,
Que inda um dia castigada
Será por Deus vingador
Deiia-a ir meigo surrir
Algum tempo um riso seu
■' — transporte desejaste;
iso seu alcançaste,
Déste-lhe amor e paixão ;
Julgaste ser enião querido,
Mas fllfim foste Irahido...
Houbou-te oseu coraçãol...
Dei;[a-a, que tempo virá
'-.gado:
- Boífrerári .
Deina-nl ao ver-se Irahida,
Ludibriada, ~ '* '
Seu repudio
Deiía-air. pois inconstante
Hade ser inda outra vez;
E ent&o sofTrerá torturas,
Mil tormentos e amarguras,
Em paga do que te fei.
NSo te liumilhes, coraçio !...
Procurar vai outra amada,
Que Dão seja costumada
A amantes repudiar;
Nio te cegue a formosura.
Busca a bondade, a candura,
Que Eú ella sabe amar.
J. P. d» C. — (Perto).
349
18 DE ríOVEMBRO
LA EXTRAHIDA DA& FOLHAS DOS PINHEIROS. —
Antes de tran»crevei'mo8 do Panorama (ao qual pedi-
mos Tenia) o- seguinte curiosíssimo artigo, coavirá que
êe releia o que a pag. 370 do Almanach de 1853 a esse
mesmo respeito escrever amo» já.
«Existem Das cercanias de Breslau, em uma proprie-
dade que 86 deAomina jPriHÍd Humboldt, dous estabele-
cimentos mui fiotateis ; um é uma fabrica, na qual as
folhas dos pinheiros são cooTertidas em uma espécie
de algodão ou lâ ; no outro, a agua que servira á mani-
pulação desta lá vegetal é utilisada sob a forma de ba-
nhos' higiénicos. Estes dous estabelecimentos foram
organisados sob a direcção de Mr. Pannewitz, inven-
tor de um processo chimico, por meio do qual se obtém
uma bella substancia âlamentesa das folhas ponteagn-
das do pinheiro, á qual se deu o nome de lâ de ma-
deira, porque se parece com a lâ ordinária, podendo
preparar-se e tccer-se como esta,
O pinheiro dç Escócia (pinus sylvestris) dá êste no-
vo prôducto. Se o emprego das suas folhas se genera-
lisar, já se vê que o pinvt sylvesirís será objecto de
mais cuidadosa cultura do que até aqui em muitos
paizeâ.
As fôlhôs lineares dos pinheiros, e das coníferas em
geral, compôem-se de um tecido de libras extremamente
unas e Xenai^^y envolvidas por ténues pelliculas de uma
substatíoia resinosa. Dissolvendo esta substancia pelo
processo de cocção, e com o auxilio de certos reagen-
tes chimicos, consegue-se separar-lhe as fibras, la-
vaVas, e extrahir-lhes todas as matérias estranhas. Se-
gundo o methodo que se empregar, assiui o prôducto
©bíido poderá applicar-se a tecidos grosseiros, ou para
enxer colxões, estofar trastes, etc.
Na Allemanha tem-se tirado óptimo resultado de en-
xer os colxões e travesseiros das camas com esta lâ.
350
Noâ hodpUaes de Vi^ntia, Berlim ô Breslau^ estão já em
uso ha anãos, reconhecendo-lhe a experieticia muitas
Vantagens, sendo a principal obstar ao desenvolvi-
mento dos insectos parasUas. É agradável o aroma que
derrama.
Veriâcou-se tarabem que Um eolxâo de lâ de pi-
nheiro ficava mais barato no fim de cinco aanos que
uma enxerga^ por isso que a esta tem de se renovar to-
dos os annos a palha. Sahem três vezes mais baratos
que os colxôes de clina, preseindindo*-se da circums-
tancia mui attendlvel de nâo crearera persevejos e ou-
tros insectos. •
Esta lá,«iComo dissemos^ é susceptivel de se fiar e te-
cer. A mais fma dá um fio semelhante ao do linho, e
igualmente forte ; depois de fiada, tecida e cardada, o
estofo que se obtém pode empregar-^e em tapetes, co-
bertores, etc.
Durante a preparação doesta lâ forma-se uni óleo
etheriforme> de aroma mui activo, e de côr esverdeada,
que exposto á luz solar toma uma côr alaranjada, mas
que subtràhido a essa influencia reassume a primitiva.
Quando se rectifica^ toi^a-se tão incolor como a agua ;
(lifferindo cemtudo da essência de terebenthina oue se
extrahe da mesma arvore. Emprega--se com excelíentes
resultados nas affeeçôes gotosas e rheumatismaes^ nas
feridas, e também em certos casos de tumores cutâ-
neos. Rectificado entra na preparação das lacas para
as melhores qualidades de verniz : e láa bom para a il-
luminaçno como o azeite de oliveira» e dissolve o
caoutchouc completamente e em pouco tempo«
Agora diremos duas palavras áeerea dos banhos. Be«^
connecendô*se qôe a appUcaçào externa do liquido
que restava depois da cocção das folhas tinha vantajo-
sos resultados, annexou-se á fabrica um estabeleci-
mento de banhos» Aquelle liauido é esverdeado, e se-
gundo o processo empregado, gelatinoso, balsâmico,
ou acido.»
351
Qaando se pretende tornar oe banhos mais ener^i
cos, dissolve-se no mesmo lignído uma certa (manti*
dade do extracto obtido da distillaçâo do óleo ae qu«
acima falíamos. Faz-se alem d*isto engrossar o próprio
líquido, concentrando-o, e vende-se assim, em vasos
tapados, ás pessoas que desejáo tomar o banho em casQ.
Não é só na AUemanha que se tem reconhecido a van-
tacem d'este novo producto.
«a HoUanda estaoeleceu-se ha poueo tempo uma fa-
brica de la vegetal e de óleo empvreumatico, a qual já
consome mais de 1:200 arráteis de folhas de pinheiro
por dia. O preço por que a fabrica compra cada arraiei
regula por quatro réis.
Sáo muitos os terrenos que temos desaproveitados,
e condemnaios a uma esterilidade desoladora ; se o«
povoássemos de pinheiros, nâo só o estado sanitário
de muitas localidades melhoraria espantosamente, mas
até seria uma nova e grande riqueza para Portugal.»
19 DE NOVEMBRO.
MICROSCÓPIOS DELATORES. —Ha na Allemanha
um medico que tem sabido tirar tanto partido do mi-
croscópio para a medicina legal, que a sua reputac&o
n'este ramo está já formada. Ha pouco tempo deu
áquelle instrumento uma nova applicaçâo, que poz lo-
go ao serviço da justiça. Eis o caso : *Fôra despejada
pelos conductores d*um comhoiy em certa linha do ca-
minho de ferro, uma barrica depôs medicinaes; em
logar da droga, encheram-na d*areia. Quem foi ? Em
qu« estação do caminho se fez o roubo ?
Vão ter com o doutor do microscópio. Manda elle
buscar uma pitada d^areia de cada uma das estações.
Auxiliado pelo inseparável instrumento, confronta-a«
com as da barrica, descobre a identidade, aponta ájiis-
^tiça a estação em que se commetteu a fraude; corre u«a
devassa pelos empregados, e descobre-se o delinquerfle.
oo2
^ DE NOVEílBRO.
INDULGÊNCIA. — Um padre oinda moço, par» poder
go8 indignados se reuni-
ram para votar a peoa que
lhe deviSo infligir. Depois
deniuita disrussão, eicla^
ma um cónego vellio :
«Meus senhores, o meu
*ola é <}ue lhe periloemos
eGlas coiEÍtas: deixemoro:
elle se eorastiará como a
nós noa succedeu. »
Aquella mascara não
lemhra sò um baile mas-
carado, mas a que de con-
tinuo traiem os homens (e
também os mulheres), pa-
ra cuidadosamente occultareni o que sSo, oquepen-
eão, o que projActao. Tudo no mundo é comedia.
M DE NOVEMBRO.
CHAHADA.
Sordldameata comigo IFertiliso se m hmibes
Tem alguns enriquecido ; ?ISo transponho com furo»;
Se a nns dou aleoto e vida, -^Ora me odeia, ora affaga
PoriDimicmoutrosmQrrido.SiMuita vei o laviador.... !
Deus DOS lÍTre e nos preserva
De carecer de tal sugoito.
Pois segundo o meu coneetlo,
Sempre afBictos noa achamos
Quando a elle nos chegamos. « • *
ââ DE NOVEMBRO.
RHJIRHO.
Nâo chorem 1 quenftomorreu!
Era um anjinho do céu,
Qje a a outro anjinho «ha moa !
Bra uma luz peresrina,
Era uma estrella divina
Que ao firmamento voou I
Pobre creançal dormia !...
A belleza reluzia
No carmim da face d'ella I
Tiaha ttiKi olhos qne cboraTio,
E uns risos que encantavâo,
Ail meuDeus! eratâobellal.^
Urà anjo d' azas azues.
Todo vestido de luz,
Susurrou-lhe n*um segredo
Os mistérios d'outra vidaj
E a creança adormecida '
Surria de 'se ir táo cedo f
Xio ekorem ! Icmbro-ous ainda
Gomo a creança era linda
No frio da facêzinha I
Com seus lábios azulados.
Com os seus olhos vidrados.
Como da morta andorinha !
Pobresinhol oque soffreu!..^
Cotao convulso tremeu
Na febre d'essa agonia I
Nem cernia o anjo lindo \,,.
S6 os olhos expandindo.
Olhar alguém parecia !
Era um canto de esperança»
Queeraballavaessacreança?
Alguma estrella perdida^
Do céu c*roada donzella.
Toda a chorar-se por elía»
Que achamava d*outra vidaf
Táocedo, queainda omun
O Iabiovisguento,immundo,
Lhe não passara na roupa!
Que só o vento do céu
Batia do barco seu
Aê velas d'ouro da popa I
Táo cedo, que o vestuário
Levou do anjo solitário
Que velava seu dormir I ...
Que lhe beijava risonho,
E essa florsinha no sonho
Toda orvalhava no abrir I
doTÍ
âochoremlque nãomorreul
Que era um anjinho do céu»
Queum outroanjinhochamou
Era Uma luz peregrina,
Era uma estrella divina
Que ao firmamento voou !
Era uma alma que dormia
Da noute na ventania,
£ que uma fada acordou I
Era uma flor de palmeira*
íià sua manh& primeira
Qiia um cé« d'iaTerao narchoa !
354
Náo chorem! abandonada
Pela rosa perfumada,
Teado no lábio um sorriso,
Ella foi-se mergulhar»
Como pérola no mar,
Nos sonhos do paraiso !
Píâo chorem! chora o jardÍBi|Nâochorem!
Quando, R^rchado ojasmim,
Sobre o smo lhe pendeu ?
E pranteia a noute belia
Pelo astro, p'la donzella,
Mortos na terra ou no céu ?
Chorão as flores no afan.
Quando a ave da manhú
Estremece, cahe, esfria?
Chora a onda quando vé
A boiar uma irerê
Morta ao sol do meio-dia?
mienâoraorreu!
Era um anjinho do eéu
Queumoutroanj inhochamou
Era uma luz peregrina.
Era uma estrella diyina,
Que ao .firmamento toou I...
Manoel António Alvares d*Agevedo.
(Brasileiro)
23 DE NOVEMBRO.
CHARADA.
Com fé a minha primeira
Tomào 08 orientaes :
Com pás e potes, ás costas
Me trazem em temporaes. i
Canto a aurora e o pôr dosol.
Canto a paz, incito á guerra.
Canto oberçoechoroacampa,
Brado aocéu ebrado áterra.2
355
Dr.
O meu todo tem dois todos.
Ambos da mesma estatura,
Um pequeno e outro grande,
Nenhum d'elles tem figura.
O pequeno é duque e par ;
Tem espada e não riqueza ;
E o grande symbolisa
O conselho de Veneza.
Francisco António Rodrigues d' Âxeredo,
24 DE NOVEMBRO.
CORTE E C0RTEZÃ03. — Acíim é um paii onde
ni<ii;ueui diz o que penso, nem pensa o que diz. iiBm
sahe o que quer, aem ia veies o que lai, Dem paga o
lei S 03 d«
ÃleiaDdre
banda, porque aquelle PrÍDcipe tinha este defeilo, e
os de rilippe, eeu pai. tapaviio um olho quando es
Bj>re6entaTao a este Soberano, ao qual faltava um que
havia perdido em uma batalha. D'aqui proveio chaaiar-
se á sua carte a cArte dos cegos.
IJue idéa tio diíTerente deve faier da verdade quem
sú, 6 de continuo, mculiras ouvel...
3& DE KOTBMBRO.
NEUTRALIDADE. — Lí-se o seguinte em uma car-
ta BSeripta por um grande palerma do Kio de Ja-
n&ir'o :
cAqui lodos 08 jornaes e folhas fal&o neutro ua quee-
táo do oriente, e esea neutralidade é sempre a favor
Ê coma pio um alarve semettante 1 . ..
26 DE NOVEMBRO.
ROMARIA A HESPANHA. —Fronteira á povoaçSo de
Peredo de Bemposta, concelho de Mogadouro, ejá em
solo hespanhol, pertencente áprovincia de Salamanca,
Yè-se o grande monte chamado da Senhora do CastelU),
por ter no cume uma ermida com a Imagem da Virgem
d' esta invocação, a distancia de três braças de um pre-
elpicio immenso, e que dá verticalmente^ sobre o so-
berbo Douro, que d*alli se divisa espumando de raiva,
por nâo poder espraiar-se á vista dos dous montes de
Portugal e Hespanha, que lhe abatem a arrogância, e
mal o deixáo proseguir seu curso. E' este sitio annual-
mente visitado por grande numero de portuguezes das
povoações de Bemposta, Tó, Urros, Ventuzello, Peredo,
e outras, no dia 8 de septembro. Passâo para lá em uma
jangada de cannas. visitâo a Senhora, e seguem d*ahi
para o logar dePerena, a um quarto de légua, onde ha
uma feira regular, e três dias successivos de festa, nos
quaes se representáo ridiculamente duas comedias ; ha
muitos bailes nas praças, e correm-se alguns annos de
sete a oito touros bravos, matando-se o mais feroz com
inaudita barbaridade. Ao quererem osportuguezes re-
gressar a suas casas, toem de ir passar a uma barca a
mais d'uma légua de distancia, porque a jangada de
cannas foi traiçoeiramente incendiada pelos carabinei-
ros hespanhoes. Assim toem practicado estes ultimjos
annos, julgo que como medida preventiva para obsta-
rem a qi>e os portuguezes alli voltem e os surrem, co-
mo já Ines tam acontecido.
António Joaquim Fernandes Salazar
(Vigário de Peredo de Bemposta)
27 DE NOVEMBRO.
RELÓGIOS. ^ Foi apresentado o primeiro aGarles Y
no sóeulo XVI.
357
2S DE NOVE3lBfiO.
ESPECTÁCULO MEDONHO E DIVERTIDO. —Quem
na Europa ouTÍr fallar nos campos da America do
Sul, e ajuizar d'elles pelo que assim se ch^ma lá,
engana-se redondamente ; porque o que lá se chama
campo tem aqui o nome de roça, e o que aqui se chama
campo não é outra cousa senão Tarzea e campina aber-
ta de dezenas de léguas de extensão, apenas inter-
rompida aqui e acolá, quando Deus quer, por pe-
quenas mattas de arvores e arbustos selvagens, e por
pequenos montes, roais ou menos elevados, e ás vezes
com suas agruras efragosidades : éum verdadeiro ocea-
no de terra, onde as casas são tão raras como nos mares
as embarcações : caminha um viajante dez e mais lé-
guas sem avistar uma só 1 Pascem de dia e noite
B'este oceano de terra um capim áspero (e que, se
annualmente não for queimaao, chega a encobrir o
gado) innumeraveis, manadas de animaes cavallares
e bovinos. No flm do verão deitâo qs donos dos cam-
pos fogo ao capim, e é horroroso ver como elle la-
vra com uma velocidade espantosa, impellido pelo
vento e levantando um turbilhão de fumo tâo espesso,
que obscurece a atmosphera : quando ardem as câ-
nulas do capim mais grosso, dão estouros tâo fortes e
repetidos, que se ouvem a grande distancia, parecen-
do um forte tiroteio de fuzilaria. Mal as aves de rapi-
na, taes como os gaviões, caracarás, chimangas^ etc,
preseutem fogo no campo, acodem de toda a parte,
e váo-se collocar em linha, como atiradores na irente
do fogo, pousadas em torrões e monticulos, e em lo-
gar onde lhes não chegue o fumo, recuando sempre á
proporção que o fogo avança ; e á medida que as co-
dornize's vôáo e os reptis fogem do incêndio, se es-
capâo d'este, vão morrer nas garras das aves de rapina.
Á, M. do Amaral Ribeiro (Porto-Alegre, Brasil).
358
â9 DE NOVEMBRO.
BRULOTE INFERNAL. — Leio no Memorial Efuyclo'^
fedico dos conhecimentos humanos a descripçào aum,
brulote que merece verdadeiramente aquella designa-
ção. Chama-se assim, genericamente, uma embarca^
çfto cheia de matérias combustiveis a que se dá fogo
para o communicar a um navio inimigo contra o qual se
arroja. Este porém, que se destinara a operar contra os
vasos russos, era outra cousa, e mais terrivel ainda do
que esfoutro, nâoha muitos annos inventado também, e
que lançava uma enorme columna de fogo táo longe quan-
ta era a distancia a que as maiores bombas hydraulicas
enviáo um jorro d'agua. Consiste o brulote infernal em
deus corpos de figura cónica e com arcos á roda, em ar
de pipas, que se prendem aos dous lados de uma trave
de pinho de 27 a 30 metros ; colloca-se no meio uma
pequena machina de vapor da força de 6 a 15 cavallos,
e na extremidade de diante uma peça d*artilheria car-
regada até á boca. E' destinada esta* machina a ser lan-
eada com toda a sua força contra a amurada dos navios
inimigos ; entra no costado a ponta de ferro cravada
na parte anterior da táboa, e é bastante o choque para
dar fogo á peça, que n'ura momento abre uma enorme
brecha no navio e o afunda.
O que ha de particular n*este8 brulotes é que se crráo.
a direcçSo e vâo cahir na agua, continuarão a andar
ein linha recta, e pode um barco de vapor ir apanharos,
e poderão outra vez servir, depois de se lhes haver
mettido mais combustiv^.
Com cem apparelhos, que andariâo por áoxxe contoa
de réis, poderia dar-se cabo de cem navios de guerra.
E' uma consolação para os portuguezes I Sc a Ingla-
terra quizer continuar a impôr-nos a lei, emancipemo-
nos um dia, gastemos ahi uns quatro contos em brulo-
tes, e escangalhemos-lhe toda a sua marinha. O mais
difficil será arranjar os taes quatro contos I...
359
30 DE NOVEMBRO. . i
IHFLUEMCIA DO CELIBATO E DO CASAMENTO. - '
Os casamentos mui {ircmaturos sSo poucos prolíficos,
ou produzem pTOgénie quo lom menos probabilidades '
de vida longa. I
Os casamenlos os maie fecundos, a de que procedeip
«reanças aa mait bem constiluidas. afio aquellea em !
que os conjunctos são quasi da mesma idade, ou quan-
do o marido
tem Bó 8^
guns annoj
'el A toDga-
vidade que
o de soltei-
Reaulta
dos mappaa,
que entre
08 mulheres
de 35 annoa,
as rasadas
téem a probabilidade de viveram ainda 36 annos a as
flolleiras só 3i. Que 75 mulheres casados attingemo
larma de 50 annos. por 52 vivendo no celibato.
O mesmo ae Terifica no aeio masculino: 73 homens
oasadoesitingem 40 annos, lermo a que só cheg&o 41
proporçio: 48 homens easadoBe sóSisoileiros attiagem
60 aDDOs ; 27 casados e 11 solteiros Tivem até 70 aiuios.
e 9 catados a 3 soUeiros cbegio a 80 ancos,
¥. S. CoHttancio.
1 DE DEZEMBRO.
INDUSTRIA FABRIL. - Ao norte de Castello Branco
e ao sul da Guarda, nae [aldaa da Serra da Estrella. es-
tá edificada a villa do Cavilha, hoje notável pelo incre-
mento e progressivo desenvolvimcnlo da industria fa-
' bril. Em Í839 contava ama só machina de cardar e fiar,
subindo hoje o numero d'estas a vinte e cinco, em qa»
96 empregão innumeros braços.
N&o apresentamos a estatística dos operários Q'ellss
empregados, porque acreditamos pouco na eíacçSo
d'eBtes trabalhos entre dós, que havemos descurado
«fite importante ramo de sciencia.
I>epoi3 que a economia politica demonstrou até á sa-
ciedade as incommensuraveis vantagens das machinas,
que aperfeiçoando e augmeatanda a producçao alli-
viío o operário de
EeaadOE e iasviu-
res trabalhos, pa-
recia queserião es-
tas recebidas sem
cedeu porém assim :
em 184áe 1847, quan-
do oQaEello da guer-
ra civil aseoiava o
— P.a'^ S""""? "per-
nos, desvairados e
pouco esclarecidos, se amotinaram com o damnado in-
t«i)U) de as destruir, ao que a prudência e meioa sua-
sórios poderim obstar.
As innovaçôes, ainda as mais proRenas, eneonUão
381
<rnft8i sempre reacção, e por isso nâo admira que uma
elasse pouco illustrada quixesse destruir o instrumen-
to de riquesa a que deve a GoTill\á a 9UA opulência.
7o*« da Cunha Navarro de Paiva.
(CoTilhâ]
2 DE D£ZE1IBK0.
CHARADA.
Se eu ufto fôra » não honrera
N'este mundo negregado ^
Um só homem ou mulher,
Kemmeenio esteseueriado.
Ese isto Bio fosse,eBi trevas
E em lúgubre tristeza.
Continuamente se rira
âlToda immersa a^ natureza .2
Ouasi tndos os meus fílkos
Com as musas conversaram,.
E por ellas bafejados
Seus nomes eternisaram*
3 BE DEZEMBRO.
♦ ♦ ♦
A SENHORU NO SÉCULO VASSABO. — Quando El-
Rei D. João Y, pelos abusos que se haviâo introdu-
zido nos tratamentos, promulgou a lei de 29 de janei-
ro de 1739, revogando em parte a de 16 de septembro de
lõ97, não deixaram os praguentos e satyricos de dis-
parar as suas séttas contra os que pretendido e accei-
tavão tratamento superior ao que Ines competia, dan-
do~se por muito mal servidos com o de uma simples
mercê. Entre as satyras que appareceram é curiosa a.
de Thomaz Pinto Brandão,^ intitulada Testamento da
Senhoria. Não o é menos o requerimento que reprodu-
zimos, feito em nome de D. André Pereira Telles de
Menezes, requerimento que bem revela o rigor da lei
e o apreço em qn^ ainda era tido om tratamento de
361
que era nossos tempos de progresso já ninguém faz caso,
Jorgfc César de Fi<janiére.
Senhor Rei : diz D. André,
Por appellido o Venegas,
Que supposto andar áscegas E nas niarciaes fadigas
Também ás escuras rê
Oue como um decreto é
Em que Vo«sa Magestade
Tira cora severidade
O senhoril tratamento,
Qoer noftrar por iiMtnimcuto
Dix que seus progenitores
Foram Principes eRcis,
E assim não aevem as leis
Eclipsar os resplandores.
É do chefe do6 Menezes,
Das famílias mais antigas,
Os maisheroesportuguezes
Venceram por muitas vezes
Qualquer militar porfia ;
2 na Luza Monarchia
Quem tem Dom é Soberano,
Que só quem é castelhano
Que a tem dejuro eherdade Tem Dom sem ter Senhoria.
TambemdosTellesdescende
Não por linha transversal,
Porque todo o Portugal
Ser seu parente pretende :
Senão os seus antecessores A casa deAveiro o entende;
De sangue tâo puro e fino, A de Cascáes lhe affiança
Pois pela lei do destino, Ser igual na semelhança,
Que todo o universo cobre, Que na geração explica ;
Só deixará de ser nobre JE isto mesmo íilto o publica
O que nasceu pequenino. IToda a sua visinhança.
Á vista da fidalguia
Que mostra com claridade.
Deve Vossa Magestade
Mandar-lhe dar Senhoria:
£ se d'e8ta c^rtezia
Com ra'iâo acrédor é,
Vossa Magestade dê
O que pede oom cobiça.
Que alem de fazer justiça,
Também lhe fará mercê.'
363
4 DE DEZEMBRO.
TOHQUATO TASSO. ~ Poi uma das maiores illos-
b-açfiea do século XVI. Dos tormentos epersegui^õM
queaolTreri
5 DE DEZEJDBaO.
O MONTE SENI OU SEC?il. — Dn-se este nome a
nm monte muito elevado, entre a cidailinha de Vir, na
Calalunha, e as praias do mar. Ha n'elle mÍDas de pe-
dras preciosas e diversas qlialidades de crislaes ; inM
o que mais alli se promra é uma araethieta T5ia cim
TOios encarnados,
BASTA UMA ESPOHA. — Pergnntando-se a um ra-
ISo porque se servia sú d'unia espora todos »s v»-
les que sahia a cavallo. respondeu ; € E para qne
s£o precisas duas ? se um doa lados do cavalio vai
para diante, o outro de certo que não fica para
364
S DE OEZEM&BO.
HUHjLMDADB de LUIZ XV. — Beodo Mtnin ata«ada
feloa francetea em
TM , disseráo a
Luiz IV qDe dando
utn asEsIto repenií-
nó í praça, perile-
riSo sim a »ida al-
guns sol dados, mas
quairo dias antes.
c PcMí bem, respon-
deu o Monartha ,
dias ilepoii, e pou-
poTtmoi a vida de
noisot vassalioi.*
quisladnres assis-
tissem á agonia de
aannles fazem morrer, prestes Ihee passara a ambição
e eonquisUrl...
7 DE DEZEMBRO.
ALBONl E A REMISSÃO DOS PECCAD03. — Ao ou-
vir ullimamenle um padre cantar em Paris a celebre
Alboni, rempeu n'esi3 exclamarão : (Mulher, mulher,
é iraposBÍvel que Deua te nâo perdfle os teus peeea-
E que certeza tinha o padre de que s mulher fazia
pedrados?! ...
365
8 DE D£ZEM6110
ORTIGAS. — Poucaft plantas liarerá talvez contra
as quaes seja maior a antipathía, pelo simples facto
de serem traiçoeiras, e de se ringarem loco» com uma
boa picada, de quem lhes toca, o que é' talvez lilbo da
bem justificada desconfiança de que ninguém procu-
ra tocar-lhes senão com niáu intento, para a8 arran-
car bem pela raiz, para dar cabo d^eiias, para as
impedir em fim de continuarem a fazer das suas. Pou-
cas são não obstante as plantas de mais geral e demais
útil ap[>licaçáo. Já no artigo correspondente ao dia
2 de maio do' Almanach de 1851 dissemos que comas
fibras do pé se faziáo, sobretudo na Hollanda« ma-
gnifícos tecidos: com as foliias, em quanto a planta é
npva, tim delicado manjar; com as sementes mistura-
das no sustento dos cavallos, uma appetitosa comida
para elles; com as raízes fervidas com pedra hume e sal,
uma excellente côr amarella. Acrescentámos mais o se-
guinte: — € As ortigas são boas para pasto, são de fácil
cultura, vingão no peór terreno^ não requerem cuida-
do, resistem a todos os rigores das diversas estações,
e reproduzem-se por si próprias, podendo cortâr-se
cinco e seis vezes no verão : quando na primavera
não ha ainda nenhum alimento novo para o gado, ji
as ortigas estão crescidas 'e servem de sustento aos
animaes. >
Km um jornal agrícola francez que temos á vista,
intitulado — A inda dos campos — se pretende rehabili-
tar a ortiga e demonstrar quão útil pode ser, na agri-
cultura, na industria, e mesmo na arte culinária. Na
Suécia é cultivada em ponto grande, como excellente
pasto, muito estimado das vaccas, e contribuindo pa-
ra haver óptimo leite e manteiga. NaAUemanha en-
gordâo-se as gallinhas e os ganços com uma pasta
composta de ovos crus e de ortigas cosidas e bem
366
pieadas e espremidas. No Norte comem-se eomo es-
pinafres. Também servem aos tintureiros. Os ovos
que pela Paschoa entre nós se mettem nos fola-
res, cosidos em agua d'ortigas tomâo uma côr ama-
relia das mais vivas. Cosidas com uma terça parte
de funcho, e bem pieadas de mistura com gemma a'ovo,
dâç óptimo alimento para engordar perus. Os alquila-
dores, emfim, dâo-nas a comer aos cairallo» para q\ie
^quem eom o pello mais lusidio.
9 DE DEZEMBRO.
IPOLOGO.
Corvo mais negreque anoite< — c Eu só acho bom o verde»^
«Viva aedrpretal» bradava;
Camaleão que o escutava
Poz-se logo denegridíO,
Porque aeôr láo fácil muda
Como nós qualquer vestido.
Retruca d*umramo apomba.
De dentro d^um lago oc^sne
«De inrejao corvo se tisoer
Só ftcôr branca ébrilhante.»
O camale&o qu« os oav«.
Eiró branco n'txm ÍBsta&te.
«Sáohistorias branco epreto
(Acode o canário bello),
Venee tudo o amarello. »
Nada; opardo é mais bonito,
Da toca de um muro velho
Exolama o pardal afflieto.
Diz periquito atrevido,
Tamoem de restea mettido,
E o camaleão, attento,
Ora se faz amareMo,
Ora terde, orapardento.
Entre a volátil família.
Buscava o tolo eom isto
Ter amigos, ser bemquisto;
Mas de continuo a mudar,
S^ malq'Tenças graugeou,
Niaguem 90vhe eontentar.
De camaleões como este
Temos nós muito milheiro :
Aos que prégâo de poleiro
Bando vii imita e incensa^
Até que o geral desprezo
iSeja a sua recompen&a.
367
M.
¥¥*
10 DE DEZEMBRO.
HONTE DE S. MIGUEL. — Entro at duas pequena!
ciãades maritimas de Grancille e Avranches está situa-
do o famoso Monte de S. Miguel, em cujo cima ha uma
ngnros» priaèo d'e£iBdo, que loriiou famosa o animo e
dedicação dos presos uo inccodio de 1834. É tam-
bém nouiel pela sua capella gothiea, por formar uma
ilha perfeita, e pelas altas maréa que a aconielteoi. Foi
para atii que Luiz Bonaparte, logo depois do sei
d'e«tBdo dei de dezembro de iSãt, mandou o ci
DÍila Barbís e muitos de seus correligionários
•08, ee é que no eommuDisino ba politica e ha n
do que duTJdo.
Aquolle 8 o Monte de S. Miguel. Kio é feio.
11 DE DEZEMBllO.
EFFEITOS DO BAIO. — A Academia das Scienciâs
de Paris foi ha pouco aprespntada uma interessanta
memoria a tal respeito. Parece resultar de nume-
TOBasobseríacões que no corpo de indivíduos fulmi-
Bsdoe pelo raio fica desenhada uma imageii fiel dos
objectos proiimog, na oírasièo da descarga eleclrica.
Autoridades da grande peio confirmâo esio curiosis-
Bímo factofcJEstrema-se enlre ellas a de Franklin, u
qual relata que ealando um homem á porta de sua ca-
sa em um dia de trovoada, o fulminara um raio. e so
lhe acha-
nhora quu
^. bufada na
pé a flor que ájanella tinha era um vaso. Cahindouni
raio, em 1825. no bei^anlim Buen-Sertio, fundeado no
Mar Adriático, no momento em que um pobre infeliz ss
havia sentado junto a um dos mastros a que eslavapeti-
durada de um prego uma ferradura de cavallo. exami-
nado o cadáver nâose lhe encontrou ferimento algum,
mas bem claro e distincto o signal da ferradura. Quasi
pelo mesmo lempo foi lambem fulminado em Zante unt
marinheiro, emcujo corpo ficou gravado o - ° " —
ririto não longe. Ã um rnpaz ficaram dese-
nhada* Bo hcmWo «B nadalhas qua linha no bolsa.
369 13
12 DE DEZEMBRO.
O KANGOUROU. — E' um animal curiosissimo do
Novo-Mundo ; tem algumas vezes perto de nove pés
de comprimento, desde a extremidade do focinho até á
ponta da cauda, e chegâo alguns a pesar até cincoenta
arráteis ; o pello é curto e macio, arruivado em quasi
todo o corpo, mas nas ilhargas e no ventre, esbran-
quiçado, xem a cabeça pequena e afunilada, as orelhas
largas e direitas, e uns bigodes muito grandes ; o pes-
coço e as espádoas são de pequenas dimensées ; vai
augmentando gradualmente de volume para os quadris
« baixo-ventre ; as pernas de diante dos maiores kan-
gouroustêemumas dezoito polegadas de altura: servem
para este quadrúpede esgravatar a terra e abrir as suas
tocas, ou para levar os alimentos ábôcca. Move-se uni-
camente sobre as pernas de traz, dando pulos de dez
ou doze palmos de altura. Cada pé tem só três dedos,
excedendo o do meio consideravelmente os outros dois
cm comprimento e força. A cauda do kangourou é com-
prida, espes^ na raiz e ponteaguda ; serv€-lhe de ar-
ma offensiva, pois bate com ella pancadas tão fortes, que
seriâo caj)aze8 de quebrar a perna d'um homem.
13 DE DEZEMBRO.
Como éslinda.ó camponeza,
Quando táo meiga surris,
£os dentes mostras d' aljôfar
Engastados em rubis 1
Que lindos sàoteus cabellos.
Para mim prisões subtis 1
Serei tudo quanto queirot
SimtenkoTf é €9mo dú /
Náo podes crer que tcadoro.
Por vêr-me ainda tão moço?
Por dizer-te cjuanto sinto,
E occultareujánâoposso?..
r(ão vês qae olhar^te um momeoto
Me causa tanto alvoroço ?
VejOy vejo, hem te entendo/..
*Stá gordo! Tem cada ossol..
37»
T^io fieal)em o mo't<^o
K'e8sabôcca tão formosa!.
Nem um beijo me conoeâes
K'essa face còr de rosa ?...
Dize que sim; que te custa?
K&o se(ja« tão desdenhosa!..
Selhedeixodar-me umbeijo?
Ai! deixo^que eu sou hriosal
Nâodeixas,Dáo,que tufoges;
Zombar de mim sóquizeste;
No teu sim tão gracioso
Outra idéa não tiveste ;
Nem d' outro modo faltaras
A' palavra que me déstel...
Fois eufis-lheessapromessa?
Faria.,. Pois não fizeste I
Nãopeçomaisqueumamante
Enfastia quando abusa,
Mas eusei queessemelindre
Nas aldeias ninguém usa :
Dizes-me como te chamas?
I**ra isto não ha recusa 1
Inda não sabe o meu nome?
Fois olhetChamo-meEscusa.
Ji vejo qlie me despresas I
Não tens dó dequem padece;
Mas o foço que mè escalda
Inda assim não arrefece ;
P*ra ser por ti adorado
Dava tudo o que tivesse I
Ora vês tu /... que^fortuna
Pela tarde me apparece I
Uma impressão tão ardente
Meu peito jamais soffreu !
Não encontrarás no mundo
Um amor igual ao meu ;
Vou dar-te umcoração puro.
Aqui o tens. .. é só teu 1 . . .
Âi! pois hão, Marianninhal
Toma lá, que te dou eu I
Dize— CM awo-tfl l~issobasta
Para eu não ser desgraçado;
Vou abraçar-te e beijár-te,
Vou assenlar-me a teu lado.
Jurar de ser teu esposo.
Oh meu anjo idolatrado I
Ai... sabe o senhor que mais7
Adeus... Temos conversado.
371
£ podes, sendo tão bella.
Ser mais dura que um penedo ?
Deixas-jne triste, chorando,
A' sombra d' este arvoredo?...
Foge, sim, que és mui|p joven...
Fallei-te d*amor tão cedo I . . .
At !... não, que o gato escaldada»
Té d^agua fria tem medo /...
Faustina Xavier de Noxacs
14 DE DEZEMBRO.
CASTELLO DOS MOUROS EM CINTRA.— É de tem-
pos imioemoriaes a era de sua fundação. Assenta em
dou» montes de ^ande altura, que aominâo o decli-
ve onde está edificada a villa de Cintra, e parece
haver sido construído em difíerentes épocas, e com
uma argamassa igual â de que usavâo os sarracenos.
Sobre as suas ameias deverá ter pousado a águia do
Tibre ; nos seus muros haverá tremulado o pendão
áo visigodo feudal ; os árabes do oriente pisaram sem
duvida as esplanadas d'esta fortaleza, que hoje éve*
nerada como padrão de séculos passados.
Torres que ainda conservào os nomes de real e
homenagem; portas como a da traição, pois se diz quo
por esta entraram os nossos antepassados auando as-
saltaram o castello ; talhas em diíferentes locaes for-
madas no granito da serra ; uma mesquita em ruínas ;
a cisterna d'abúndante agua nativa na parte mais
elevada da montanha ; dão a este monumento uma ve-
neração, que ainda no tempo de Gil Vicente foi canta-
da como encantamento de Reis mouros. Diz uma tra-
dição popular que havia no centro da rocha uma
passagem occulta, que levava a Rio de Mouro (qua-
tro milhas de distancia), e que a fréguezia d'esta de-
nominação d'ahi tirava a sua etymologia.
Do século XIII ha documentos que se referem a es-
te castello^ segundo o devemos acreditar pelos for-
roes de Cintra e de Beja. Hoje o Castello dos Mou-
ros, conservado e augmentado no estylo da sua edi-
ficação, povoado de ruas e arbustos em todas as di-
recções, se nos traz á memoria- eras que se perdem
n\ noute dos séculos, também nos faz lembrar, que
a mão generosa que levantou as torres do Castello da
Pena, distribue n'este recinto o trabalho que faz
transmittir intacto 'aos vindouros um tal monumento.
António da Cunha [Cintra)
372
15 DE DEZEHBRO
ESCRIPTURA SANTA. — Acaba de fomar-se em
Londres, presididapeloPrin-
cipe Alberto, uma socíedB'
de cujo fim é eiplorar ■»
ruínas da Assyria. e psrlícu-
larmente de Babjlonia, afim
de obter novos esclareci-
mentos sobre a Escriplura
I Saata. Coola ji diversas ií-
Haes em muitas'capitaes da
! Europa, as quaes pTOjectão
applicar bastantes fundas &
mesma empreza, que nos ul~
timos annos se tem tornado
da mo«la. O maior numero d'elUs é em França.
16 DE DEZEMBRO.
CHARADA,
Fftra-nos hoje índa ignota j
Grande porcio da primeira. I
-carreira. (
ProducçSo da ni
Qoe nos leva a recordar
Parte do que Jesn-Chrtsto
Padeceu por nos salvar.
17 DE DEZEMBRO.
fA'» AXhum da Exm.^ Sr.® D, M. J, S. P.f
Que me pedes, amiga, que pretendes?
O éclio longínquo dos passados cantos?
Não temes que essas paginas te inunde
De lagrimas de dor? "
Que inspiração terá quem triste vive?
Que sons pociem soltar-quebradas cordas?*
Que angélica harmania na'de tirar-se*
D'um peito ermo d'amor ? I
Triste pergunta que a mim mesma eu faço.
Dos negros crepes despojando a lyra ;
Mas d*entre as cordas que estalara amaguA;
Um som me respondeu :
A corda da amizade inda vibrava;
EUa inspirou minh'alma, ella me anima,
E na doce harmonia me revelia
Que tudo.... nâo morreu. ^»^
Quasí descrente, definhava-me a alma»
Sentía-me merrer na desesperança.
Sem que um astro de fé viess« ao menof
Nb futuro surrir I...
Biso nos lábios, app»rente e incerto,
Gélo no coraçfio, pranto nos olhos,
E a dôr e a níagua da orphandade miaha
A 6irluet«r-nie o porvir.
574
375
Eitrague ás lidas doesta insana yida,
LucUndo co*a desgraça, minha fronte,
Cingiáo-m'a os espinííos da amargura
N*um circulo de dôr ;
Àos lábios sêccos eu levava o cálix
Que a magua me offertara sem piedade,
£ té ás fezes esgotei na angustia
Seu gélido amargor.
Das rosas que o meu berço engrinaldaram,
Dos sonhos do passado tâo formosos,
D^essas visões phantasticas d'esperança,
Fugio-mè o doce encanto ;
E só... tâo só no mundo I orphâ mesquinha.
Divagando na terra sem conforto,
ho deserto da vida peregrina
'Rojei meu negro manto.
Às flores que no peito me brotaram
Em tempos de mais dita, desfolhadas <^
Foram do vendaval do desengano
N*um sopro incerto e vario.
Anhelei o morrer, descri da vida;
Indiff'rente ao viver, marmórea estatua.
Vivia sem gosar, qual se estivesse
Envolta n*um sudário.
Mas teu carinho despertou minh'alma
Da triste lethargia em que jazera I
Fallaste ao coração da orpuásinha,
Ensinaste-lhe a crer 1
Tuas meigas affeiçôes deram-me allivio
Ao pobre coração ; — Áh I que eu encoolra
N'e8ta amisade, tâo ardente e pura.
Coragem p'ra soffrerl...
Z>. Maria Rita ColafQ Ghiaçpe,
18 DE DEZEMBRO.
PREJUISOS DO MINHO. — Aos que já enumerámos
a |)ag. 135 do Almanach de 1854 acrescentem-se os se-
guintes :
£m muitas aldeias do Minho se usa amarrar uma fita
escarlate na cauda das vaccas para que o leite lhes não
seque.
Nos burrinhos, logo que nascem, lhes é posta uma co-
leira escarlate, com uma bolsinha cheia d'alhos e ar-
ruda, para os livrar de feitiços, e ámâi delheseccar o
leite. '
Abraçar um burrinho recem-nascido, é óptimo remé-
dio para somnarentos.
Em Leça da Palmeira e Mattosinhos, as mulheres que
lêem os maridos sobre as aguas do mar, quando Ihei
tardão cartas, Yâo ás mulheres entendidas saber no-
ticias d*ellçs, e estas lh'as dào com um baralho de car-
tas : e"guando os maridos ou filhos d'essas mulheres
crédulas se aproximâo da costa, estando ornar bravo,
accendem ellas uma luz d'azeíte diante de alguma ima-
gem, e corremNdepois a lantar ao mar o resto do azeite,
com a firme convicção que Islo applacará as ondas.
Obscura Portuense.
19 DE D^EZEMBRO.
CASTANHEIRO FÉRTIL. — No limite da povoação de
Sallas, pertencente a este concelho, existe um casta-
nheiro, que parece ter séculos de idade, e produz
annualmente cem alqueires de castanhas, á excepção
d'algum arino de grande escacez. E* propriedade d Ad-
na Dias, da povoação do Zoio, no concelho de Bragan-
ça. O seu tamanho é pouco superior ao dos castanhei-
ros ordinários.
Graciano José Gêtnes de Álmendro
(Yinhaes.)
376
10 DE DEZEMBRO.
O ÀBYSMO.
Horrível atíracçâo de abysrao horrível !
Insondável mysterio da natura !. ..
Quem do fundo d'esse antro por mim chama.
Para me dar a morte e a sepultura ? !
Debaixo de meus pés o abysmo bran>a ;
Em vâo os olhos meus seu fundo buscáo ;
Que trevas espessíssimas e negras
Os olhos me araedrontáo e me offuscâo !. ..
Porém a mente, que iámais tropeça,
Alloita desce, sem saber porque ;
Mas tudo é vago, tudo incerto e triste.
Tétrico tudo quanto alli se vê ! . . .
Esta pedrinha que da mâo despeço,
Estonteada na caverna cabe ;
Depois de pausa vagarosa e tarda.
Um som queixoso lá de dentro sahe.
fÇtJÓr gelado sobre a fronte sinto;
Sinto que as forças me abandonâo já I . . .
Turva-se a vista', desfallece a alma.
Ai!... n*este p*rigo quem me salvará!...
Utn braço amigo sobre mim se estende,
S voz amiga, murmurando, diz:
c Oh ! náo arrostes da desdita a fúria,
Yive em socego, para ser feliz ! . . . >
Maria do Fatrotinio de Sousa.
377
31 M DEZEMBRO.
BANQUETE REAL. —Foi assim que (tareia de Re-
sende fallou em uma curiosa particularidade do ban-
?uete dado emErora por El-Rei D. João II. ao casar sen
lho, o Príncipe D. Affonso, com a Princeza D. Isabel,
filha de Femaudo o Catholico. cLogo á entrada da mê-
fa Teio uma grande carreta dourada, e traziâo-na dois
grandes bois assados inteiros, com cornos e mãos e pés
ourados, e o carro vinha cheio de muitos carneiros
assados inteiros, com os cornos dourados, e vinha tudo
Sosto n'um cadafalço tão baixo, com rodetas no fundo
*elle, que não se viâo, que os bois pareciâo yíyos •
que andayâo. E diante vinha um moço fidalgo com uma
aguilhada na mâo, picando os bois, que parecia qua
andav&o e levavâo a carreta, e vinha vestido como ca^-
reteiro com um pelote e um gaibâo de veludo branco
forrado de brocado, e assim a carapuça, que de lon^a
parecia próprio carreteiro» e assim loi offerecer os bois
e carneiros á princeza» e feito o serviço, se tornou a
virar com sua aguilhada por toda a sala até sahir fora, a
deixou tudo ao povo, que com grande grita e prazer fo-
ram despedaçaaos, e levava cada umquanto mais po-
dia. E assim vierão juntamente a todas as mesas pavões
assados com os rabos inteiros, e os pescoços e cabeça
tom toda sua penna, que pareceram muito bem, por se-
rem muitos, e outras muitas sortes de aves e caças, man-
jares e fructas, tudo em muito graade abua4«a«ia a
muita perfeição.»
22 DE DEZEMBRO.
SACERDOTE FEíTO VERBO.— Passou I seguinla ter-
tid&o um parocho ahi para as bandas do Seixal :
« Attesto e certifico queF. .. é filho de seus pais, ©«-
jos todos três se portam muito bem, e o terceiro é mui-
to obadiia&^easeuspais, o quejurono v^cbo saserdotis.»
371
» DE DEZEMBROv
CANTIGAS AÇORIANAS. •
Sáo estas muito vulgares no archipelago dot Àf oresy
c particularmente na ilha do Pico :
Em noute amena de estio,
Sobre as ondas, ao luar,
É tão bello, é tão suave.
Velas ao vento soltar I . . . .
OUTRA..
Leva remos 1 fora linha !
Sem demora 1 apparelharl
O goraz, o cherne, o congro,
kca engoda, anzoes ao mar !. '
OUTRA.
A pobreza nâa é crisme, .
£' crime ao dever faltar,
B' crime não ter coragem,
fi* crime nâo trabalhar.
$4 DE DEZEMBRO.
suicídio de INGÍEZ.. — Suicldou-se um inglez na
ilha da Madeira, achando-se-lhe junto ao cadáver e«-
tas poucas palavras que esorevêra :
« Saio do mundo sem consultar ninguém, pois para^
entrar para eUe também nibguem me eons uúou. 9
27»
t» DE DEZEMBRO.
O FUTUREIRO
PcTto.nâo sei deqtie aldeia,|T)'a1mocreve ou lavrador,
Dispensava o meliante-
Se o dicto sahia certo.
Alegre vindo o fréguex.
Bebia mais uma vez :
iVlentindo, — se por esperto
Vinha algum metter o ferro,
Por politica, primeiro.
Bebia: — mas quantoaoerro,
Gritava-lhe o taberneiro :
« Que diz lá 1 vá-se catar 1
Eu bem seinoque me fundo;
Se não choveu no logar,
Algures choveu no mundo.
Com roubos e abusões.
Corpo e alma lh*estragava
Ao povo, que o sustentava:
Inda em cima - os toleirôes!
Para tudo ha medicina ;
Até eurâo d'estrabismo ;
Só para o charlatanismo
Duas tabernas havia
Uma estava sempre cheia,
Quasi sempre a outra vasia.
O baptismo, na primeira,
D'uma pipa dava duas,
E a medida calotcira
Augmentava as falcatruas.-
Nesfoutra, o sumo da uva
Sem confeição — e a medida
Pela camará aferida...
Mas sempre pedindo chuva,
A's moscas, sem frégnezia,
Em quanto a sua visinha,
Se mais roubava, mais tinha
Fréguezes, de dia a dia.
Ac[ui por força ha mysteriol
Diz o taberneiro honrado :
E tomando o caso a serio,
Deu com elle desfiado.
Vinha a ser: que o tal ladrão
Náo era só taberneiro ; Um remédio nâo se atina 1
Fazia accumulaçâo
Era também futnreiro J
Agua, sol, tempoinconstante.
Em pastilhas, ou em bolos,
Ou grátis, ou por dinheiro.
Masque abrisseolhos atolos,
€om mãos largas, e a 8aborK)ue extirpasse ofutur«iro!
Joaquim da Costa Cns€aê€.
(Mafra}
380
26 DE DgZEMBRQ.
-O BÊBADO E A TAVERNEIRAv
MOTE.
Das cento e sessenta e oito '
Horas (][ue a semana tem.
Repartir uma comigo l
Não te resolves, meu bem 7
Bêbado. GLOSA. Taverneira.
Cento esessenta eoitol Arre! Ah 1 tu vens hoje com a lua,.
Eu bebi tantas canadas ?
Taverneira.
Sim; vosso eos camaradas ;
Àhinegalquerque oesbarrel
Behado.
Largueogabâo;náom'âgarre,
Senão ess'alma lhe impoito;
Canadas foram dezoito,
Mas por brio e amistade,
Mas eud'isso não m'espanio.
Behado,
O vinho é deDeus, é santo ;
Num heide botaFo á rua.
Oh Zefal uma filha tua
Quero-a eu p'ra meu abrigov
Taverneira.
Olha que ia bem comtigo ,
Levava em ti boa rei.
Behado.
Abaixe ao menos metade [Tu podes, como tens três,
Das cento e sessenta e oito.
Eu d'es8a conta me queixol
Vosso, se o vinho me dava,
Eu logo á porta o largava ;
Sebemm*odá,bemlh'odeixo.
Mgis o algrumento feicho
Só por num deber bintem ;
Olhalalmacomoeuninguem;
Eu té nas semanas santas
Bebo tantas vezes, quantas
Horas que a s«man& t»m.
381
Repartir uma comigo.
Olha ! eu posso-a já levar
Por três dias a contento :
Gosta ? faz-se o casamen^;
Num gosta? torna a voltar..
Taverneira.
Olha, leva um resalgar,
£ uma facada também,
A contento, e depois vem^
Behado.
Basta: num és minh'amiaa?'
Num me dás a rat)ariga 7
Nuxa te resolves, meu bem7
* * *r
X 08 DEZEMBRO.
Vai-te, ingrata, por quem morri d^amores»
E em quanto eu peno. exulta independente»
Que um dia inda virá, mulher perjura.
Em que te !embre meu amor ardente.
•
£ se então os teus olhos se orvalharem,
E te rasgar o peito agra saudade.
Submissa adora um Deus, que por vingar-me.
Quer que soffras do fado a crueldade !...
Júlio César Machada,
28 DE DEZEMBRO.
CHARADA,
Sou um pedaço de terra
Por aguas mil rodeado ;
Tenho jardins e florestas,
Sou por homens habitado. 2
Ordem sou onde a piedadt
Se vai humilde alistar ; . . .3
Muito perto da segunda
Por certo m'háode encontrar
Sou a nvmpha do oceano
No seu banho de cristal,
Ostentando com orgulho
As armas de Portugal.
D. Mi. n. c. c.
I8S
30 DE DEZEMBRO.
MODO DE RESTITUIR O VIÇO A UMA FLOR MUR-
CHA. — E* metter-lhe o pé dentro d'agua a ferver :
assim que esta houver esfriado, pouco a povco re-
verdecerá a flor.
31 DE DEZEMBRO.
• CHARADA.
Faço parte do nome d'um sant^ | j
Que devota nação bem festeja : !
Sei, com outras, causar mago encanto j j
Nos theatros, nos bailes, na igreja : l
Deve ser puro e livre ; por tanto, I *
Mais que todos, o enfermo o deseja, i
Não longe da Lysbia
Alguém me fundou,
E um Paço bem próximo
I Também levanlou.
383
É
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A^..
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