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Full text of "Annaes das sciencias, das artes, e das letras"

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público  de  um  livro  pode  variar  de  país  para  país.  Os  livros  de  domínio  público  são  as  nossas  portas  de  acesso  ao  passado  e  representam 

uma  grande  riqueza  histórica,  cultural  e  de  conhecimentos,  normalmente  difíceis  de  serem  descobertos. 

As  marcas,  observações  e  outras  notas  nas  margens  do  volume  original  aparecerão  neste  arquivo  um  reflexo  da  longa  jornada  pela  qual 

o  livro  passou:  do  editor  à  biblioteca,  e  finalmente  até  você. 


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Mmies, 


I  8»7 


AkTIS      SCIENTIA      VEKITAS 


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ANNAES 

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J>*6 

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SCIENCIAS.  DA&  ARTES, 

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E  DAS   LETRAS;. 

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EM  r\nU. 

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Cuiòai-  Lmuid.  Cilnt.  t'l-  £•).  «y. 

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TOMO    JX. 

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TíBcnuo  íssa.                   \ 

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íomo. 

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PAJlis, 

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iwauK)  pon  Ji.  Mi«i£ ,  nns  1»  LI  xuunuii ,  n".  i> 

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^^EMM^KItfBtill^ 

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ANNAES 


DÁS 


SCIENCIAS,  DAS   ARTES, 


£  DAS  LETRAS. 


ANNAES 


DAS 


SCIENCIAS,   DAS  ARTES, 

E  DAS  LETRAS; 

^OR   HUMA  SOCIEDADE  DE   FORTUGU^ZES  RESIDENTES 

EM   FARlS. 


Desta  arte  se  esclarece  o  entendimento  | 
Que  experiências  fazpm  repousado. 

Camões.  Lus,  Cant  VI*  £st.  919. 


TOMO    IX. 


PARIS, 

impuesso  pon   a.  bobée,   impressor  da  sociedade  keal 

ACADÉMICA   DAS   SCIENCIAS  DE   PARÍS. 


1820. 


AP 

Aé/-: 

V.9 


ANNUNCIO. 


i»>»%<%i^^%^»^i%%%i^^ 


Os  Bedactoi^es  dos  Annaes  ias  Sciencias  ^  das  Artes 
e  das  Letras  ,  participão  aos  seus  Assignantes ,  Gorres" 
pondentes,  e  mais  pessoas  residentes  nos  dominios  por- 
tugnezeSy  ou  em  paizes  estrangeiros ,  que  elles  se 
encarregào  de  comprar  e  expedir ,  a  quem  o  desejar , 
quaesquer  livros ,  estampas ,  mappas  geographicos,  ma- 
chinas ,  modelos ,  instrumentos  de'physicay  de  cirurgia , 
e  de  chymica,  apparelhos  distillatorios ,  sementes  e 
raizes  de  plantas ,  productos  chymicos,  e  em  gerai, 
todos  os  objectos  relativos  ás  Sciencias  e  ás  Artes ,  pe- 
los preços  dos  catálogos ,  e  das  fabricas*,  tudo  da  me- 
lhor qualidade ,  e  sem  defeito. 

Igualmente  se  encarregào  de  dirigir  a  impressão  de 
qualquer  obra  escripta  em  portuguez ,  francez  ou  in- 
glez  ,  e  de  fazer  abrir  chapas -em  cobre,  pedra,  pao, 
ou  de  fazer  lithogr^phar  debuxos. 

iV.  B.  O  importe  das  compras  e  gastos  ser-lhes-ha 
pago  em  Paiis.  ^ 

As  pessoas  que  desejarem  fazer  segurar  em  França  o 
importe  das  suas  encommendas ,  terão  a  bondade  de  o 
participar  aos  Redactores. 

As  cartas ,  maços ,  e  remessas  deverão  ser  dirigidas 
(  porte  pago  )  ao  Director  dos  Annaes,  do  modo  abaixo 
indicado. 

A  Monsieur  J.  D.  Mascarenhas  , 
Directeur  des  Annaes  das  Sciencias  ,  das  Artes  e  das 

Letras^ 
Rue  S.*«  Hyacinte ,  N®.  xx ,  à  Paris. 


Nomes,  das  pessoas  que  tem  conlinuaão  a  subscréi^er 
nos  nossos  Depósitos  de  Lisboa  y  Porto ,  Coimbra , 
e  Bahia  para  o  primeiro  anno  dos  Annaes  das  Scien'- 
cias ,  das  Aites  e  das  Letras,  (a) 


<W%^^k^^^^^^*^^^%^Mt 


A. 

Os  Sn.fcs  Dez.or  Agostinho  Fevba  Betancourt. 

—  Anontmo  ,  NA  Bahia. 

—  Anonymo  ,  NO  Porto. 

—  António  d* Araújo  Travassos  ,  Official  da  Secretaria 

da  Fazenda. 

T—  D.»*'  Juiz  de  Fora  António  AuôuSto. 

—  António  Joaquim  dos  Reis. 

—  António  Marciano  d' Azevedo. 

—  António  Ribeiro  Pereira  d* Almeida* 

—  António  Tavares  de  Moraes  da  Cvhha  Cabral. 

—  António  Teixeira  de  S.  Payo.  ^ 

—  CavaIh.i'o  d* Araújo  Carneiro. 


(a)  A  demora  da  Correspondência  do  Rio  de  Janeiro  continua 
a  impedir-nos  de  dar  a  Lista  complètta  dos  Assígnantes  do 
primeiro  anno.  Também  temos ,  nas  IlbaS  dos  Açorfes  ,  36  as- 
signantes,  cujos  nomes  publicaremos  igualmente  na  mesma 
Lista  ger^l  ,logo  que  nos  forem  communicados  pelo  nosso  cor- 
respondente o  Sn»'.  Dez.or  yicente  José  Ferreira  Cardozo  da 
Costa  ,  residente  da  Ilha  de  S.  Miguel ,  o  qual  se  dignou  honrar 
esta  nossa  emprezã ,  encarregando-se  de  promover  a  subscrípçao 
d'ella  naquellas  Ilhas. 


D. 


Ot  Sn.'^*  FBAVCIfCO  AVTOHIO  Dt  RlZlirDS. 

-—       Fbakcisco  db  Vavll  Dbloâoo. 

G. 

o  Sii^«    GASrAE  Josá  RiBino ,  Thetoareiro  geral  da  FolÍGÍa. 

H. 

o  Snr.    Hbvbiqub  Mohibb  ,  Negociante. 

I. 

OSni'.     loHACio  RtaAVD. 

J. 

R.mo    jBEovmo  db  Bblbm  Silteiba. 
Of  Sn.n*  Des.or  Joio  da  Cobta  Gabnbibo. 

—  Jqlo  DA  Rocha  b  Sousa  ,  Negocíantei 

—  Conselh.ro  Joaquim  Aiabbto  Jobob. 

rr      Joaquim  Jobí  Piitto  Fovtbs  ,  Tenente  da  Bbrínlia. 

—  Joaquim  Pbbbiba  D*AtMBiDA  ,  Negociante. 
*—       Josi  Joaquim  db  Cabyauio. 

•*       Josi  Joaquim  db  Gouyba. 

—         Josá  RODUOUBS  DB  FlOUBIBBDO. 

Os  Sn«Nt  Havobl  Gabcia  Mohteibo  b  Costa* 

— -         MAMOBL  Josá  M  ACUA  DO. 


—      Mâvon  PfVffo  Dl  lltmAirDà  MoifrunoM* 

"         IIaTIIVS  PbIIIIA  D*AUf«IOA.  ^ 

p. 

o  Sor.    FioBo  90  HAScnmrTO, 


D. 
OJW.    Dab&ot. 


Ot  SnJ^*  Feavcisco  Aittohio  di  Rizmi. 

—    FbAKCISCO  de  VÁvLk  DSLaADO. 

G. 

O  Sii^«    GASrAE  Josá  Rnino ,  tesoureiro  geral  da  FolÍGÍa. 
o  Snr.    HiinLiQui  Monibi  ,  Negociante. 

t 

I. 
OSni'.     lovAcio  BiaAVD. 


R.mo  JiEovmo  db  Bblbm  SiLTEimà. 

Ot  Sn.n*  Des.or  Joio  da  Costa  CAaNiiao. 

—  Jqlo  DA  Rocha  b  Sovsa  ,  Negocialitei 

—  Conselh.ro  Joaquim  Aiabbto  Joiob. 

rr  Joaquim  Jobí  Pnrro  FoirrBS ,  Tenente  da  Blarúiba. 

—  Joaquim  Pbbbiea  D'AtMBipA  ,  Negociante. 

—  Josá  Joaquim  db  Caetalbo. 

—  Josi  Joaquim  db  Gouyba. 

Josá  RODIIOUBS  DB  FlOUBIBBDO. 


M. 


Os  Sn.Ni  Havobl  Gaicia  Monteiro  b  Costa. 

—         MAMOBL  Josá   M  ACUA  DO. 


-—      MAiron  FiiTTo  di  MniAKDà  MoimsiriOAtfé 

—         Mâ.TBSI78  PlllIlA  D*AUfZIDA.  v 

P. 

O  Snr,    FiDBo  do  HAScimirTO, 


«9- 


TnmçM 

119. 

ymUÊ%4 

lai. 

Grtftlúg^o  d»  Obras  fá  AM 

iprcmas  emandadu  pnbiicar  pda 

iicsKitfflnai  Bcal  das  Sd 

iencias  de  IííIkmi 

135. 

Notícias  recentes  das  Scienciáu^  etc. 

diTAiica 

«49- 

Atíso  ao  PoMíeo 

i56. 

Aos  Correspondentes 

160. 

Sésamo  das  obsenrações  meteorológicas  íeHas  m>  Obscrra- 

torío  Megío  de  Paiis  no  prímeirc»  trimestre  de  i^to 

.57. 

Errata  do  Tomo  VIII  160. 


PARTE  PRIMEIRA. 


«»^^^^»%%»»M^»V»^<»»<» 


RESENHA  ANALYTICA. 


Tom.  tX.  1  A 


mmmmÈmmmmÊÊÊmÊ^^tkmmmlmmm^i^mÊm^mÊÊmi^Êmm 


BESENHA  ANALYTIGA. 

GEORGICAS   PORTUÔUÉZAS, 

Pôr  Luiz  da  Silvá  Moziíiho  dé  Albuquerque^  dedi*^ 
codas  a  suà  Mulher  D.  Anua  Mascarenhas  dé  Ataíde^ 
Paris  i8ao; 

Nec  fiam  úmtáx  dul>iús  ve)*bis  eá  yiiioaré  mágnum 
Quàm  sit ,  et  aDgustis  huuc  ádder«  rebut  boAoriftnii 

Vwo;  Oeorg.  láb.  Ili. 

Hum  bom  pòéitiá  didáctico  lié  hutna  prodiícção  béitl 
difficil :  raros  modelos  nos  deixou  neste  género  a  an- 
tiguidade j  e  dos  modernos^  não  poucos  deverão  apenas 
ás  circumstancias  huma  duração  ephemera  ^  é  muitos 
nem  chegarão  a  ser  conhecidos^  á  pezar  de  tsreni 
sido  publicados.  Dois  são  os  fins  da  |k>esia  ^ 

Aút  prodeftsé  volunt  >  ftút  delecure  poet^  : 

por  meiq  de  hum  procura-^se  interessar  o  èsi^itítò,  por 
meio  do  outro  pertende-se  interessar  o  coração:  e  posto 
que  ambos  estes  fins  devão  conseguir*sd  «m  toda  a  es* 
pecie  de  poema  de  alguma  extensão,  comtudo,  em 
cada  huma^  hum  delles  he  sempre  o  dominante, 
conforme  os  diversos  géneros ,  ç  a  dificuldade  a  este 


4  Resenha  AnaJ^úcaé 

* 

respeito  consiste  em  saber  alcançar  dignamente  o  outra, 
sem  perder  de  vista  o  lugar  secundário  que  lh9 
compete. 

Qual  dos  dois  seja  o  que  deve  dominar  na  poesia 
didáctica ,  não  he  duvidoso ;  porém  consegui-lo  digna- 
fnente  fae  nrai  difficil ,  por  isso  mesmo  que  o  outro  , 
acostumado  a  occupar  o  primeiro  lugar  em  quasí 
todos  os  mais  géneros,  com  difficuldade  se  resolve 
neste  a  cedé-lo  \  e  tanto  mais  enthusiasmo  tem  o  poeta 
para  embellecer  theorías  de  sua  natureza  andas,  tanto 
mais  dificilmente  se  decide  a  subordinar  á  utilidade 
do  assumpta  os  rasgos  da  sua  imaginação ,  e  a  fazer 
mil  vezes  o  sacrifício  delia  á  exacçào  e  clareza  dos 
preceitos*  domtudo ,  este  género  tem  hum  mereci- 
mento não  vulgar ;  quanto  mais  estéril  he  o  assumpto , 
mais  se  distingue  o  poeta ,  que  pode  conseguir  tratá-lo- 
còm  elegância  e  dignidade ,  qualidades  que  prQpria- 
mente  constituem  o  fundo  dé  toda  a  poesia. 

No  mesmo  tempo  em  que  Horácio  consagrava  no 
seu  código  de  ouro  este  importante  preceito  da  judi- 
ciosa mistm^a  do  útil  com  o  agradável ,  Virgilio  dava 
hum  bello  exemplo  delle  ,  no  seu  mais  perfeito  e  mais 
bem  acabado  poema.  Neste  monumento  precioso ,  em 
que  o  fim  dominante  he  o  útil ,  o  agradável  sabe  se- 
guir a  propósito  a  doutrina ,  e  apagar  suavemente  no 
sentimento  os  vestigios  que  nelle  pode  ter  deixado  a 
aspereza  dos  preceito^  :  aquelle  génio  portentoso,  que, 
no  mesmo  poema, soube  encantar-nos  com  as  delicias 
do  século  de  ouro ,  que ,  pela  imitação  da  sua  har- 


Resenha  Anafytica.  5 

monia  ,  nos  fex  sentir  a  difficuldade  com  que  os  (ilhos 
da  Terra  amontoarão  o  Ossa  sobre  o  Pelion »  que ,  nas 
margens  do  Penéo,  teve  a  arte  de  enternecer- nos  a 
favor  do  filho  de  Cjrene ,  e  desde  as  bordas  do  Hebro 
fax  ainda  hoje  quebrar  noa  nossos  corações  os  ecchos 
lamentosos  do  infeliz  amante  de  Eurydice;  aqueUe 
génio,  que  soube  elevar-se  com  enthusiasmo  até  ás 
bellezas  mais  expressivas  da  poesia »  soube  descer 
com  dignidade  ás  particularidades  mais  miúdas  do 
seu  assumpto;  e  tratando  a  fundo  os  preceitos,  pos- 
suio  o  dom  de  fecundar  a  esterilidade  delles,  e  de 
fazer  dobradamente  importante  a  sua  leitura ,  pela 
exacçào  das  ideias ,  pela  variedade  das  descrípções , 
pela  vivacidade  do  colorido  ,  pela  harmonia  do  estylo 
e  por  todos  os  outros  meios  de  huma  inimitável 
execução. 

Este  merecimento  da  dificuldade  vencida ,  esta  su* 
bordinação  decente  do  agradável  ao  útil,  este  accordo 
feliz  do  interesse  real  do  sujeito  coro  o  da  composição, 
he  o  que  constitue  em  geral  a  essência  do  género 
didáctico,  e  caracterisa  particularmente  a  espécie 
diflicil ,  que  Virgílio  consagrou  com  o  nome  de  Geor- 
gicas. 

Tomar  por  assumpto  a  primeira  de  todas  as  artes , 
e  escrever  na  linguagem  dos  Deoses  o  Código  com- 
pletto  da  mais  nobre  profissão  dos  homens,  hehuma 
empreza  bem  árdua,  de  que  a  literatura  antiga  não 
apresenta  senão  aquelle  modelo ,  e  em  que  a  moderna 
não  tem  sido  nem  muito  mais  abundante,  nem  tâu 


6     ^    ^  Resenha  Analítica. 

feliz.  Esta  casta  de  producções  requer  hum  taíenta 
particular,,  e  Pompignan,  dizia  Deiille  ,  que  era  juiz 
competente  na  matéria ,  que  na  sua  Tragedia  de  Dido, 
sbube  «xprimir  dignamente  os  amores  da  Rainha  de 
CárttlatB^ ,  nào  poude  conseguir  descrever  felizmente 
-huma  charrua. 

Hesiodo »  que  entre  os  Gregos  esboçou  dois  assum* 
ptos,  que  deviào  com  tanta  superioridade  ser  desem- 
penhados por  dois  poetas  romanos ,  distinguio-se  pela 
harmonia  4os  versos ,  pela  belleza  das  descrípções  e 
das  imagens ,  e  pela  amenidade  do  estylo ,  na  primeira 
parte  dos  seus  Trabalhos ,  isto  he ,  em  quanto  o  poeta 
pão  era  senão  philosopho ,  mas  logo  que  passou  a 
^er  agricultor,  os  preceitos,  alem  de  superficiaes  e 
mal  escolhidos ,  íizerão  sentir  demasiadamente  a  sua 
dureza  ,  e  o  espirito  procura  em  vão,  na  leitura  delles , 
a  variedade  e  as  graças  que  produzem  o  interesse  do 
sentimento ,  e  recoBimendão  á  memoria ,  pelo  encanto 
do  estjlo,  a  importância  da  doutrina.  Embora  Virgílio 
dissesse  que  as  suas  GleorgicaB  erão  hum  eccho  dos 
versos  do  Poeta  Âscreo;  este  rasgo  de  modéstia  he 
bem  digno  do  mesmo  homem,  que  mandou  queimar 
como  imperfeito  o  único  poema,  que  em  todos  os 
séculos  tem  disputado  a  palma  ás  bellas  composições 
de  Homero, 

Entre  osmodemos,se  exceptuarmos  Rosset  e  Vanière, 
qualquer  que  seja  o  merecimento  dos  seus  poemas , 
os  talentos  mais  distinctos,  que  se  derão  a  esta  espécie 
de  poesia  ,  não  entrarão  no  quadro  circumscripto  pelo 


Resenfia  Analítica.  7 

poeta  romano.  E  nào  fallando  em  oatros  de  menos 
monta ,  os  bellissimos  poemas  de  Tliompson »  de  Sl« 
Lambert ,  e  ainda  o  do  Cardeal  de  Bemis ,  ^  os  de 
Rapin  e  de  DeiiUe ,  pelos  encantos  e  graças  do  efitjlo 
è  pelo  vigor  e  força  da  imaginação,  tem  merecido 
justamente  na  literatura  moderna  os  maiores  elogios  ^ 
e  huma  reputação  bem  fundada ,  que  ninguém  ousará 
disputar-lhes  na  posteridade.  Mas ,  estes  grandes  poetas 
nas  suas  composições ,  preferíi^ào  interessar  o  coração , 
e  sacrificando  a  isto  o  interesse  do  espirito  ^ue  4eve 
ser  o  dominante  no  género  didáctico »  rojai^érào  o 
equilíbrio  ^  no  qual ,  segundo  acima  obsèi*vámos ,  con- 
siste o  caracter  d'este  geâero ,  e  do  qual  depende 
a  feliz  execução  delle. 

# 
A  imaginação  fecunda  do  poeta  inglez ,  como  lium 

rio  impetuoso,  que  se  indigna  contra  os  obstáculos 
que  peHendem  conter  a  sua  torrente ,  rejeitou  tratar 
dos  preceitos  9  tomando  só  por  objecto  pintar  com 
rasgos  portentosos  os  quadros  variados  da  natureza  : 
as  Estações  do  poeta  francez  sào  trabalhadas  sobre  o 
inesmo  plano  ;  nos  dois  poemas  dos  Jardins ,  os  seus 
autores  ,  como  hum  deites  espirituosamente  disse ,  não 
cantarão  senão  o  luxo  da  agrieukwa,  e  Delille  na 
composição  do  seu  Homem  campestre ,  em  bum  só 
verso  nos  declarou  ingenuamente  a  sua  intenção : 

Au  liea  de  sea  travaox  ,  je  chante  ses  miracles. 

Assim, estes  poetas ,  na  verdade  superiores ,  deixando 
çoirer  livremente  a  sua  imaginação  atraz  de  objectos 


6  Jtesenha  Anàfytica. 

próprios  para  alimentá-la  ,  são  verdadeiros 
de.  poesia »  porém  as  suas  composições^  não  tendo  hun 
fim  determinado  9  assemelbào-se  a  hama  galeria  do 
bellas  pinturas ,  em  que  a  abundância  continua  cansa  > 
porque  o  espirito  não  repousa ;  e  taes  Mestres  que 
pudérão  encher  os  seus  poemas  de  quadros  tão  ríccos » 
tão  interessantes  e  tão  vaiiados ,  não  conseguirão  fazer 
delles  hum  todo,  porque  lhes  faltou  huma  ideia 
principal.  Todos  imitarão  Virgílio,  e  alguns  não 
poucas  vezes  se  elevarão  até  á  majestade  daquelle 
grande  modelo,  porém  imitárão*no  somente  nas  bel*' 
lézas  dos  seus  episódios  e  das  suas  descripções ;  imi-r 
tárão-no  ooipo  poetas  y  e  desdenhando  fazé-Io  como 
agricultores ,  se  por  hum  lado  conseguirão  iUudir  a 
diificuldade  dos  preceitos »  pelo  outro  os  seus  poemas 
não  ofierecem  a  hum  tempo  nem  a  mesma  unidade  de 
sujeito y  nem  o  mesmo  interesse  de  matéria,  nepi  a 
mesma  difficuldade  vencida  de  execução. 

O  autor  das  Georgicas  françezas,  expondo  o  seq 
assumpto  ,  tinha  ditto  ;  n 

Je  ne  vous  dirai  point  dans  quel  lieu ,  sous  quel  signe 
II  faut  planter  le  cep,  et  marier  la  TÍgne  ; 
Quel  sol  veut  Tolivier,  dans  quels  heureiuç  terrains 
llduiisisscnt  les  fruits,  et  prospèrept  le^  grains. 

Esta  empreza  pois,  da  qual  Delille  se  escusou,  por^ 
que  a  sua  hella  traducçâo  das  Georgicas  latinas  já 
então  lhe  não  permittia  emprehendé-la  com  vantajem , 
he  a  que  tomou  corajosa  e  francamente  o  Sn^*.  Luiz 
da  Silv4  Mozinbo  nas  Georgicas  Portuguezas ,  que  pu^ 


Resenha  Analjrtica.  9 

blicámos  este  anno  em  Paris ,  e  das  quaes  daremos 
aqui  ao  leitor  somente  huma  ideia  geral  para  as  fazer 
conhecer,  deixando,  como  he  devido,  aos  homens 
instruidos  e  amantes  e  conhecedores  da  poesia  o  for- 
mar bum  juizOy  que  só  a  elles  toca,  sobre  o  mere- 
cimento realdaquelle  poema. 

No  Canto  \^.  trata  o  poeta  da  preparação  das  terras 
e  da  cultura  delias,  segundo  a  sua  natureza,  da  alter- 
nativa desta  cultura ,  dos  adubos ,  dos  instrumentos 
aratorios ,  das  sementeiras  e  da  colheita.  A  identidade 
de  objectos  que  existe  entre  este  Canto  e  o  Livro  i<>. 
de  Virgílio ,  poz  o  Sn^.  Mozinho  em  relação  mais 
immediata  com  o  seu  modelo ;  o  poeta  soube  com- 
tudo  sahir  desta  posição  difficil,  tirando  partido  delia ; 
daremos  ao  leitor  bum  exemplo.  O  preceito  de  He- 
siodo ,  famoso  pela  condescendência ,  talvez  dema- 
siada, com  que  Virgílio  o  traduzio  literalmente, 

'    Nudus  ara ,  sere  nudus  s  hiems  ignava  colono, 

de  que  os  Bavios  e  os  Mevios ,  que  nunca  faltão  aos 
grandes  poetas ,  mofarão ,  e  que  Delille  esqueceo , 
quando  traduzio 

Donoe  aux  soins  les  beaux  jours  ,  et  rhiver  à  la  joie , 

eis-aqui  a  clareza  e  amenidade  com  que  o  Sp^.  Mo- 
zinho o  ensinou  : 

N'hum  dia  claro  e  secco ,  e  quando  a  terra 
Bem  movida  e  quebrada  ,  húmida  esteja 
Em  proporçãQ  tio  ju#ta ,  que  peqn  vòe 


!•  Besenha  Amãrtica» 

Em  p^  subtil;  sen  c^o  trabalho, unida 
£  coBi|>acta  se  tome ,  ayaiiçar  der* 
Dextro  semeador,  e  com  mão  certa 
Espalhar  pelos  larras  a  senente.  ete* 

Mats  para  qae  o  agricultor  cuide  sem  cessar  das  suas 
terras  e  recolha  os  fmctos  delias  y  he  preciso  alo}ar-se 
commodamente ;  daqui  nasce  a  necessidade  da  arcfai* 
tectnra  rural ,  de  que  Virgílio  não  tratara ,  e  qve »  no 
poema  de  que  (aliamos,  faz  o  objecto  do  %^.  Canto. 
A  escolha  do  sitio  mais  próprio  para  os  edifidos  e 
oflicinas  da  lavoura »  a  da  exposição  mais  feln  para 
a  habitação  do  lavrador,  e  as  observações  sobre  os 
pomares  e  hortas  que  a  rodêão  ,  fazem  nascer  nas 
Georgicas  portuguezas  descrípçôes  risonhas »  que  va- 
riâo  agradavelmente  o  estylo  ,  e  conduzem  a  huma 
pintura  natural  dos  encantos  da  vida  campestre  : 

He  nlium  asjlo  tal ,  oh  Nize  amada  , 
Que  vê  na  doce  paz  correr  seus  dias 
O  que  isento  do  ócio  e  van  cubica  , 
Faz  do  trato  roral  o  sen  estodo. 

Do  diurno  trabalho  fatigado , 
Folga  de  ver  ao  descahir  da  tarde 
O  pastor,  que  tocando  a  doce  avena 
As  ovelhas  conduz  ;  no  cheio  tarro 
Aquelie  lhe  apresenta  o  branco  leite  , 
£  a  esposa  os  niveos  queijos  e  a  coalhada. 
Mais  tarde  os  lentos  boiíT  trazendo  assomão 
Reclinada  a  charrua  ao  jugo  presa  ; 
Mugindo  alem  ai  vacc^s  criadoras  p 


Resenha  Anal(^tica,  \x 

Dos  novilhos  seguidas  apparecem , 

<}ue  expr^imentaiido  as  inda  tennes  forças , 

Hons  c'o8  outros  em  luta  já  se  ensaião ; 

Os  rafeiros  c'o  gado ,  que  preservio 

Do  lobo  roobador ,  no  pateo  entrando , 

liie  Tem  as  mãos  lamber ,  e  em  tomo  saltão. 

Em  tanto  a  par  da  esposa,  rodeado 
Dos  tenros  filhos  ,  lavrador  ditoso 
Ensinando-lhes  vai  co'  próprio  exemplo , 
Linguagem  expressiva ,  a  limitarem 
Os  desejos  a  gozos  innocentes  , 
A  desprezar  o  orgulho ,  a  ambição  louca , 
Oppostos  sempre  á  solida  ventura,  etc. 

Se  com  tal  amenidade  o  poeta  portuguez  desen  • 
'  'VolveOy  no  fim  desta  descripçào^o  aista  pudicitiam  serviu 
domus  do   poeta  roí^ano,  não  he  menos  natural  e 
elegante  a  sua  Musa ,  tratando  a  bella  passagem  d'a- 
quelle  poeta : 

Hanc  olim  veieres  viíam  coluere  Sabini ; 
Nane  Remus  díji^uter : 

Hum  tempo  houve  feliz  em  que  as  augustas 
Mãos  dos  Monarchas ,  empunhando  a  esteva , 
Em  doce  paz  o  próprio  campo  ararão  ; 
6em  mais  guarda  que  a  estima  de  seus  povos , 
Sem  mais  bens  que  a  virtude  e  o  seu  trabalho  , 
Era  o  publieo  bem ,  o  bem  da  pátria , 
A  dita  só  y  a  gloria  a  que  aspiravão. 

A  distribuição  do  terreno  próximo  á  habitação  do 
agricultor ,  facilitou ,  como  dissemos  ^  ao  Sn^.  Mozinho 


I)  Resenha  Amúortica. 

a  occasião  de  fallar  das  hortas;  e  a  disposição  dos 
pomares  naturalmente  o  conduz  a  tratar  das  arvores ^ 
do  terreno  próprio  para  ellas,  e  das  enxertias.  Se  o 
poeta  se  escusou ,  como  Virgilio ,  de  cantar  os  jardins , 
porque  preza  mais  do  que  as  tulipas  a  coroa  de  mir- 
tos que  a  sua  Nize  para  eJle  colhera  ^  e  se  acaso  não 
tentou  esboçar ,  como  o  grande  mestre ,  hum  breve 
quadro  das  delicias  que  o  velho  de  Gorjeia  desfrue- 
tava  nas  margens  do  Galeze,  terminou  utilmente  este 
Canto  a<>.  com  os  cuidados  que  exige  a  creação  das 
aves  domesticas. 

A.  cultura  das  oliveiras,  que  mereceo  apenas  a 
Virgilio  poucos  versos^  faz  o  objecto  do  3^.  Canto  das 
Georgicas  portuguezas;  nada  era  mais  próprio  do 
patriotismo  que  dirigia  a  penna  do  poeta  nesta  com- 
posição original,  do  que  tratar  por  extenso  de  hum 
ramo  tão  útil  e  tão  descuidado  no  seu  paiz. 

Começa  o  Sn^.  Mozinho  este  Canto  pela  oliveira 
selvagem  9  e  passando  ás  differentes  espécies  de  oli- 
veira cultivada ,  estabelece  os  viveiros  é  cuida  delles  ; 
mas ,  achando-se  a  planta  assaz  crescida  e  vigorosa , 
necessita  passar  para  os  campos ;  daqui ,  a  necessidade 
da  escolha  do  terreno ,  a  abertura  das  covas ,  a  íórma 
e  o  tempo  favorável  á  plantação.  Para  que  a  arvore 
se  arraigue  e  «cresça,  he  necessária  a  cultura  e  a 
poda,  e  logo  que  ella  fructifica,  deve  cuidar-se  do 
apanho  e  aproveitamento  do  fructo.  Tal  he  a  ordem 
interessante  que  o  poeta  seguio ,  sem  que.  o  restricto 


Resejiha  Ahalyticã  i3 

systema  didáctico,  que  se  propoz,  lhe  embargue  os 
voos  de  imaginação  y  ou  esfrie  o  seu  estylo ,  no  des- 
envolvimento da  marcha  da  natureza. 

Assim  j  se  elle  quer  dizer  que  o  outono  e  a  prima- 
vera são  as  estações  mais  próprias  para  a  plantação 
dos  olivaes ,  eis-aqui  a  sua  linguagem : 

Quando  Baccho  dos  ramos  da  videira 

Faz  os  cachos  pender  de  cores  varias , 

£  Pomona  os  vergéis  de  fructos  c'roa ; 

Ou  quando  Flora  espalha  pelos  campos 

Bo  cândido  regaço  as  frescas  flores  , 

£  a  verde  prisão  sua  abrindo  a  rosa^ 

Pudibunda  convida  o  sopro  grato 

Dos  inconstantes  zephjros  lascivos  : 

Quando  as  Nymphas  dos  bosques  e  as  das  agjjas  | 

Deixando  as  grutas  ,  vem  tecer  no  campo 

Mil  choréas  c*os  Faunos  amorosos  : 

£utio  ,  oh  lavrador,  então  ao  solo 

Do  teu  novo  olival  confia  a  esperança. 

Se  acaso  o  poeta  se  eleva  contra  o  uso  infeliz  de 
huma  poda,  que  os  bons  princípios  da  agricultura 
rejeitào,  os  seus  versos,  ao  mesmo  tempo,  explicão* 
nos  a  causa,  fazem-nos  deplorar  os  eíTeitos,  e  inspi- 
rào-nos,o  horror  das  suas  consequências. 

Pelas  excavações  da  rota  casca  , 
Pelas  fendas  dos  estalados  ramos 
A  se\^e  se  corrompe  e  se  extravasa  ; 
/        Penetra  a  chuva  ^  a  neve  se  insinua ; 


i4  JResenlia  Analítica. 

Succede  a  corrupção  ,  as  fibras  secção , 
Os  delgados  caDaes>  que  a  Dstureza^ 
Para  circulação  dos  vitaes  suecos, 
Por  toda  a  parte  havia  semeado  , 
Aniquilão-se ,  alojão-se  no  lenho 
Boedores  insectos  ,  sujos  vermes. 
Mil  parasitas  vão  roubando  as  braça»; 
Tom^o-se  em  fim  os  troncos  cavernosos* 
Nas  corruptas  profundas  cavidades 
Da  arvore  infeliz  ,  ao  dia  fogem 
O  triste  noutibòy  o  mocho  triste  | 
A  coruja  severa  e  taciturna , 
O  alado  mamai  filho  da  noute  ; 
Alli  se  alojão  mil  reptiz  impuros. 
Sem  base ,  sem  sustento  ,  eis  sopra  Eòlo  i 
£  a  arvore  quebrada  cabe  por  terra. 

A  theoría  das  vinhas ,  não  menos  interessante  em 
Portugal  qae  a  das  oliveiras ,  tinha  dii^eitos  de  merecer 
ao  Sn^".  Mozinho  hum  igual  cuidado.  O  Canto  4^.  he 
consagrado  a^  esta  importante  matéria  :  escolha  e  pre- 
paração do  terreno  y  plantação  do  bacello,  amanhos 
difièrentes  das  vinhas ,  conforme  os  di&rentes  paizes  , 
poda ,  empa  e  seus  diversos  modos ,  cava  e  amontoa  ^ 
vindima ,  fermentação  do  mosto ,  cuidados  diverso^ 
para  obter  diversas  castas  de  vinho ,  e  ultimamente 
a  trasfega ,  objectos  interessantes ,  dos  quaes '  só  al-< 
guns  dos  primeiros  merecerão  os  cuidados  de  Vir- 
gilio  j  forào  todos  tratados  pelo  poeta  portuguez  com 
a  mesma  clareza ,  com  a  mesma  variedade  de  est}lo, 
com  a  mesma  exacçào. 


Resenha  Anàforticã.  iS 

Por  não  cansarmos  o  leitor,  limitar-nos-hemos  ^■ 
copiar  doeste  Canto  sómeate  os  poucos  versos  em  qiit 
o  Sn^*.  Mozinho  explica  o  principio  da  pfaysioloiçia 
vegetal  no  qual  se  funda  a  necessidade  da  empa; 
por  elles  se  poderá  fazer  conceito  do  profundo  conhe- 
cimento da  matéria,  e  da  clareza  de  estylo,  com 
que  o  poeta  sabe  tratar  os  mais  áridos  e  mais  miúdos 
preceitos  da  agricultura  : 

O  fluido  que  nutre  as  varias  partes 

De  todo  o  Tegetal ,  a  láctea  seve , 

Quanto  mais  em  seu  curso  he  demorada ,  , 

Tanto  mais  se  prepara  e  se  elabora  ; 

Tendendo  sempre  a  soccorer  os  cumes , 

Apressada  da  base  ás  pontas  sobe , 

E  alli  rebentar  íkz  espessas  folbas , 

Que  mais  e  mais  a  marcba  Ibe  promovem  : 

Para  o  fím  de  deté-la  e  dirigi-la 

Os  cachos  a  nutrir ,  o  vinhateiro 

Da  cepa  ,  que  podou ,  as  braças  curva.  etc. 

Tendo  assim  ensinado  o  poeta  os  preceitos  da  si^- 
cultura,  era  indispensável  fallar  dos  animaes  que 
augmentào  os  recursos  delia ,  e  fazem  a  riqueza  dos 
lavradores :  o  ^^»  %  ultimo  Canio  trata  d'este  ramo 
importante  da  economia  rural.  A  necessidade  de  nutrir 
os  gidos  traz  comsigo  a  de  tratar  dos  prados  naturaes, 
e  de  formar  os  artificiaes  \  por  estes  meios  se  crião 
e  engordào  as  manadas  c  os  rebanhos ;  tanto  tiumas , 
como  os  outros  pedem  cuidados  particulares  na  es*^ 
colha  para  cada  espécie  :  o  Sn^  Mozinho  segue  todos 


i6  Retenha  Anàfytica. 

estes  differemtes  ramos  com  huma  experiência  supe- 
rior á  sua  idade ,  e  com  hum  interesse  bem  próprio 
^  da  sua  profissão< 

Neste  Canto,  a  identidade  da  matéria  com  a  do 
Livro  4°-  de  Virgilio,  dobrou,  como  no  i®. .  a  difficul- 
dade  da  execução;  mas  o  poeta  poituguez  não  he 
menos  feliz ,  descrevendo  ,  em  face  do  seu  modelo ,  os 
animaes  e  os  seus  costumes ,  do  que  o  foi ,  tratando 
da  terra  e  das  suas  producçôes« 

Se  acaso  pinta  o  cavalio  f  a  sua  descripcão  faz 
lembrar  a  de  Job,  imita  a  de  Virgilio,  não  lhe  he 
estranha  a  de  BuSon ;  mas  no  meio  de  todas  ellas, 
conserva  traços  originaes ,  e  huma  physionomia  digna 
do  brio  e  ligeireza  da  bella  raça  da  Lusitânia ,  onde 
o  Tasso  fez  nascer  Aquilino ,  em  que  montava  o  des-" 
temido  Raimondo. 

Sul  Tágo  il  destríer  tiacque. . « 
E  ben  questo  Aquilm  nato  diresti 
Di  qual' aura  dei  ciei  piii  lieve  spirl; 
O  se  veloce  si  eh'  orma  <ion  resti 
Stendere  u  corso  per  Farena  il  miri; 
O  se'l  vedi  addoppiar  leggien  e  prèsti 
A  destra  ed  a  sinistra  angusti  giri.  etc. 

Eis-aqui  pois  como  o  poeta  descreve  o  cavalio , 

£m  quem  da  escravidão  não  pode  o  jugo 
Destruir  o  valor ,  manchar  a  audácia. 

Se  acaso  o  pinta  no  meio  dos  horrores  e  carnagenx 
da  guerra , 


lièseriha  AnafytiàZè.  17 

Aijui  cheio  de  pó  è  branca  espuma  ^ 
Salpicado  de  sangue ,  hórrido  estrago 
De  balde  te  rodéft ,  Arremessando 
O  peito  aos  p'rigos,  o  clarim  da  gloriai 
O  retinnir  das  armas  mais  te  animao  : 
Intrépido  á  affrontar  ã  morte  voas  , 
Com  ieii  senhor  os  louros  repartindo. 
Aqui  por  eniré  as  lanças  te  arremessas  ^ 
Alli  oúyes  zunir  de  Marte  o  raio ; 
fáas  no  Centro  ào  horror  submisso  e  dócil 
Da  mio ,  que  te  conduz  >  a  lei  procuras. 

âe  ò  descreVé  no  meio  dos  còmpàssâldos  e  brílhaíiiié^ 
iBi^ercicios  das  justas  e  torneios  ^ 

Erguido  o  collo ,  ás  ondeadas  clinas 
Soltas  vaidoso  ao  ar ,  o  freio  mordes 
Com  orgulhosa  audácia  \  é  o  chão  qiie  pisáá 
Com  a  ligeira  planta  apenas  tocas , 
Quando  dá  paz  serena  no  regaço 
Em  nobres  jogos  teu  senhor  conduzes; 

Não  âcabarianios  se  peHèndéssémòs  confrontar,  icdiii 
bs  do  pdeta  romano ,  os  quadros  agradáveis  4ue  este 
Canto  encerra;  mas  não  podemos  resistir  ao  desejo 
de  fazer  conhecer  ao  leitor  a  passagem  ^  em  que  o  Sn^ 
Mozinho  descreve  os  eâS^itos  do  ciiimé  entre  dois  tduí*ò8 
amorosos.  Todos  sabem  que  Virgílio ,  qué  tâd  bèm 
conheceo  e  pintou  á  natureza,  debuxoil  primeiro 
este  quadro  que  muitos  poetas ,  distinfcf o^  imitarão 
depois  delle.  Aproveitaremos  esta  désctípção,  que, 
de  todas  as  que  temol  produzido ,  he  aquella  em  que; 
Tom,  IXi  a  A 


ij9  JBesenha  Aruifytícaé 

o  *poeta  conservou  roais  particularmente  os  traços  da 
origina],  para  compararmos*  o  seu  estylo  com' o  dos 
dois  ti^aductores  portuguezes,  que  até  agora  conhe- 
cemos :  este  parallelo  nâo  deixará  de  ser  interessante , 
visto  que,  em  matérias  de  gosto,  nenhum  meio  he 
mais  próprio  para  esclarecer  o  entendimento  e  formar 
a  opinião ,  do  que  a  comparação  dos»  diversos  modos 
.  porque  diversos  talemos  ti^atárào  o  mesmo  assumpto; 
mormente,  quando  todos  elles  trabalharão  sobre  o 
mesmo  modelo* 

Eis^aqui  como  o  nosso  Leonel  da  Costa  poz  em  por* 
tuguez  a  passagem  bem  conhecida  do  poeta  romano : 

.  •  .  •  Na  florestal  grande  e  bella 

Novilha  anda  pascendo»  elles  cpnfondem 

Alternando  com  força  e  com  continuas 

Feridas  as  contendas  e  batalhas  : 

Lava  os  corpos  o  sangue  obscuro  e  negro  , 

£  com  gemido  grande  os  duros  comos 

Se  opprimem ,  ímprimindo-se  virados 

Para  os  que  estribio  da  contraria  parte  : 

Os  bosques  sôio  ,  sâa  o  grsnde  Oljmpo  ;  etc. 

Pina  Leitão,  que  entendeo  melhor  os  deveres  de 
traductor  de  hum  poeta  >  soltando-se  judiciosamente 
das  pesadas  cadeias,  com  que  Leonel  da  Costa  se  tinha 
spontaneatnente  ligado,  verteo  assim  a  mesma  pas* 
sagem : 

Muitas  veces,  em  quanto  retirada 

No  bosque  espesso  a  bella  rez  pascenta , 


Resenha  Anàlorticà*  ig. 

De'  dots  ríyaes  se  trava  insana  guerra ; 

Frente  com  frente  intrépidos  guerreiros , 

Qual  á  espádua  contraria  se  arremessa  , 

Qual  nos  peitos  expostos  fixa  o  tiro  : 

Já  mil  plagas  se  rasgão  ,  já  mil  rios 

De  negro  sangue  os  dois  alhletas  banhào  : 

Seus  mugidos  horrisonos  atrôao 

Brenhas  >  ares  e  ceos,  nenhumas  tregoas;  etc. 

Vejamos  agora  a  imitação  do  Sn^  Mozinho  r 

De  ciúme  incendido ,  quantas  vezes 
O  soberbo  animal  o  imigo  busca  , 
Olha-o  de  longe,  e  com  a  mio  potente 
£m  torbilhões  da  terra  o  pó  levanta  ; 
Muge,  ameaça >  e  qual  o  ardente  raio^ 
Fero  procura  a  singular  peleja ! 
Já  as  frontes  comigeras  se  encontrão ; 
Já  a  ponta  o  contrario  dilacera  ; 
tJrros  de  dor ,  mugidos  de  vingança  y 
Já  temerosos  ecchos  mil  repetem ; 
Em  borbotões  na  terra  o  sangue  corre ; 
Raiva  e  ciúme  os  animaes  respirâo. 

Depois  de  ter  tratado  da  escolha  e  caidados  das  ma- 
nadas ,  passa  o  poeta  a  fallar  dos  rebanhos ,  e  com 
excellentes  preceitos  sobre  este  ramo  interessante  da 
economia  mral ,  termina  o  S^'.  Canto ,  e  as  suas  Geor- 
gicas.  Bem  que  nesta  composição  o  autor  tivesse  pro*- 
curado  imitar  judiciosamente  Virgilio ,  comtudo,  jul- 
gou mais  próprio  da  sua  modéstia  e  dos  sentimentos 
do  seu  coração ,  afastar-se  delle  no  (im  do  sèu  poema : 
alli ,  o  nome  do  Sn^  Mozinho  não  se  acha ,  como  o 


30  Resenha  jánafytica. 

do  cantor  romano ,  consagrado  pelo  poeta  á  posterí" 
dade ;  os  seus  votos  limitão^e  a  hnm  sentimento 
puro  de  amor  virtuoso  e  de  gratidão ;  e  se  elle  de- 
seja que  hum  dia  os  seus  versos  ^  rompendo  a  Barreira 
dos  secidos  ^  cheguem  aos  ouvidos  dos  vindouros,  não 
he  com  a  nobre  esperançai  de  immortalisar  o  seu 
nome ,  mas  sim  com  a  ambição  generosa  de  consagi^ar 
nelles  os  nomes  adorados  da  sua  esi>osa  e  do  seu 
bemfeitor. 

Por  este  esboço,  assim  mesmo  ma(  acabado ,  poderá 
o  leitor  fazer  huma  ideia,  posto  que  muito  imper- 
feita, das  Georgicas  Portuguezas ;  poema  que  nos  pa« 
rece  recommendavel ,  pela  facilidade  da  composição , 
correcção  e  movimento  do  estylo  ,  exacção  das  ideias  r 
clareza  dos  preceitos,  viveza  e  verdade  das  descri- 
pções ,  e  ligação  natural  dos  episódios  com  a  matéria  ^ 
e  posto  que  doestes  seja  licito  desejar  que  o  poeta 
fosse  menos  avaro ,  comtudo ,  os  que  elle  emprega  y 
fião  trazidos  sempre  pelas  circumstancias ,  tratados 
com  arte ,  e  intimamente  ligados  com  o  'assumpto  do 
poema* 

Se  no  decurso  d*este  artigo  puzemos  sempre  aa 
Greorgicas  portuguezas,  para  dssim  o  diz^,  em  face 
das  romanas,  foi  por  que  entendemos  que  para  poder 
avaliar  o  merecimento  de  hum  poema,  a  cousa  mais 
útil  ao  leitor  ^  que  possue  as  regras  da  arte ,  he  facn 
litar-lhe  a  comparação  immediata  com  os  grandes 
modelos;  e  assim  como  a  imitação  judiciosa  d'estes 
he  hum  poderoso  recurso  para  o  poeta ,  a  combinar* 


ResenJm  Jl nanica.  21 

^o  com  elles  he  hum  dos  meios  mais  seguros  para 
fuem  o  pertende  julgar. 

Mas  não  pense  o  leitor  por  isso ,  que  o  poema  do 
Sni*.  Mozinho  he  huma  pura  imitação  de  Virgílio : 
não  fallando  em  todo  o  3<^.  Canto,  na  maior  parte 
do  4^.  e  em  muitas  cousas  dos  outros  três,  em  que 
o  poeta  portuguez  he  complettamente  original,  em  tudo 
o  mais,  em  que  a  identidade  do  assumpto  o  poz  ne- 
cessariamente em  contacto  com  o  seu  modelo ,  o  Sn^. 
Mozinho  soube  respeitá-lo  e  respeitar-se.  A  orde- 
nança geral  do  seu  poema  he  perfeita,porque  a  dis- 
tribuição das  matérias  he  natural ,  e  os  objectos  de 
hum  Canto  não  fazem  parte  de  outro :  nisto  confor* 
mou-se  o  poeta  absolutamente  com  o  original  que 
imitava ;  o  contrario  teria  sido  hum  absurdo  :  porém 
na  ordenança  particular  de  cada  Canto,  a  sua  imi- 
tação he  summamente  discreta  e  reservada.  Hum  en- 
cadeamento necessário  liga  todos  os  preceitos ;  entre 
elles  reina  huma  certa  successão  natural ,  que  os 
dispõem  com  facilidade  na  memoria ,  e  hum  desen-» 
volvimento  conveniente  de  theoria ,  que  os  explica  com 
clareza  ao  entendimento :  por  toda  a  parte  o  agrónomo, 
com  huma  nUação  judiciosa  de  ideias ,  conduz  o  es^ 
pinto  do  leitor ,  e  de  quando  em  quando  o  poeta , 
com  08  rasgos  da  imaginação,  vem  surprender-lbe 
agradavelmente  o  sentimento. 

Debaixo  doeste  ponto  de  vista ,  nos  parece  que  a 
comparação  das  Georgicas  portuguesas  com  as  roma- 
nas ,  e  com  as  traducções  que  destas  possuímos,  pode 


33  Resenlia  Analítica. 

offerecer  muitas  reflexões  interessantes  para  ajudar  a 
formar  o  gosto  da  mocidade ,  o  qual ,  huma  só  com* 
paração  judiciosa  esclarece  muitas  vezes  mais  ,  do  que 
huma  serie  de  preceitos. 

Mas  9  deixando  aos  philologos  nacionaes  o  cuidado 
de  buscar  os  pontos  de  comparação  entre  as  duas 
obras ,  e  de  determinar  a  este  respeito  o  grão  de 
merecimento  que  delia  resulta  ao  poema  de  que  nos 
temos  occupado ,  limitai^nos-hemos  a  obsei^ar  os  que 
existem  entre  os  seus  autores ,  e  entre  as  círcumstan* 
cias  em  que  os  dois  poemas  forão  escríptos. 

O  autor  das  Georgicas  romanas ,  fugindo  do  arruido 
e  fausto  da  corte,  buscou  a  solidão  dos  campos  de 
INapoleSy  para  escrever  os  preceitos,  aprendidos  practi* 
camente  na  cultura  das  suas  terras ,  junto  de  Mantua ; 
o  Sn^;  Mozinho  trocou  as  delicias  da  capital  pela  tran* 
quilidade  das  margens  do  Zêzere,  aonde,  cultivando 
em  socego  a  terra,  consagrou  no  seu  poema,  ao  mesmo 
ten^po  ,  a  moderna  doutrina  dos  mesti*es ,  e  os  úteis 
resultados  da  sua  experiência  :  ambos  composerão  os 
seus  poemas  na  flor  da  idade ;  o  primeiro  principiou 
as  Georgicas  romanas  aos  34  annos ;  o  seguiído  aca- 
bou as  portuguezas  antes  dos  aS  :  quando  o  primeiro 
escrevia»  a  guerra,  que  tinha  assolado  as  campinas 
de  Roma ,  e  perdido  dê  todo  a  sua  agricultura ,  ins- 
pirava ao  poeta  queixas  eloquentes  contra^  aquelle 
'Aagello ;  infelizmente  os  mesmos  motivos  arrancavão 
ao  segundo ,  no  meio  de  sua  composição ,  expressões 


f 

Resenha  Andlyticãu  '   ^ 

maviosas  t  digiias  dos  mais  puros  seDlimeotos  do  amor 
da  agricultara  ^  da  pátria. 

A  arte  preciosa  de  cultivar  os  campos  fez  a  riqueza 
de  Portugal,  no  tempo  em  que  elle  assombrou  o  mundo ; 
tal  Rei  prezou  tanto  entre  nós  esta  arte ,  que  houve 
por  grande  honra  chamar-se  Rei  layrador;  circum- 
stanciâs  assaz  conhecidas  esgotarão  este  manancial 
das  nossas  riquezas ,  e  a  consequência  natural  do  des- 
crédito em  que  tem  cabido ,  be  a  decadência  em  que 
se  acba,  «  a  ignorância,  que,  em  vez  dos  preceitos 
utets ,  consagra  ainda  hoje  os  erros  e  os  abusos.  Ao 
lado  d*este  abandono  vio  o  Sn*'.  Mozinfao  (  como  ne* 
cessariamente  vê  todo  o  homem  cordato )  que  nesta 
posição  difficil ,  a  agricultura  fae  a  melhor  anchora  da 
salvação  da  pátria :  esta  importante  conformidade  de 
circumstancias  nos  parece  a  mais  notável  entre  skà 
duas  composições.  Virgílio  consagrava  em  verso  os 
preceitos  ruraes ,  para  os  fazer  amar  de  novo  por  huma 
uação ,  que  pelo  concurso  de  muitas  causas  diferentes 
tinha  esquecido  e  desprezado  huma  arte,  á  qual 
Roma  devera  o  seu  primeiro  esplendor,  e  á  qual  $^ 
podia  recorrer  para  o  recobrar ;  o  Sn^.  Mozinho ,  posr 
suido  do  mesmo  sentimento ,  emprehendeo  o  seu  tra* 
balho  nas  mesmas  circumstancias,  e  procurou  con- 
seguir Q  mesmo  nobre  fim. 

Comtudo ,  entre  tantas  relações  notáveis ,  que  con- 
correm nestes  àoi^  poemas ,  não  deixaremos  de  ob- 
servar huma  circuastancia,  em  que ,  por  certo, o  autor 
das  Georgicas  portngaeftas  ke  .muito  superior  ao  seu 


Q 

2/^  Resenha  Anàfytica. 

modelo.  Todos  sabem  que,  em  hum  tempo  em  que 
^  poesia  e  a  eloquência  tiahào  huma  influencia  po- 
derosa sobre  o  espirito  das  nações » Virgilio  escreveo 
o  ^eu  poema ,  a  rogos  de  Mecenas ,  como  hum  meio 
poderoso  de  contribuir  para  a  (^oria  de  Augusto ;  q 
poeta  portuguez  só  teve  na  sua  composição  por  esti- 

• 

piulo  a  necessidade,  <|ue  sentia  o  seu  coração,  de 
gozar  das  doçuras  do  amor  conjugal,  e  por  objecto 
o  nobre  sentimento  do.  amor  da  pátria. 

Esta  consideração ,  só  por  st  e  independente  de  todas 
as  outras ,  nos  parece  digna  de  reconíimendar  parti» 
cularmente  as  Georgicas  portuguezas  e  o  seu  autor,  i, 
)>enevQlencia  dos  seus  compatriotas,  que  não  podem 
çleixar  de  receber  e$ta  ofièita  generosa ,  pelo  menos  j^ 
çpm  reconhecimento. 

Qualquer  que  seja  poréni  a  opinião  do  publico  a 
este  respeito ,  o  autor  terá  sempre  a  gloria  de  ter  dado 
a  Portugal  o  primeiro  poema  priginal  neste  género; 
e  se  he  )usto  dizer  que  a  Nação  portugueza  foi  das 
primeiras  que,  depois  da  restauração  das  letras, pro*- 
duzio  hum  poema  composto  sobre  os  grandes  modelos 
da  antiguidade  ,  também ,  depois  do  que  fica  ponde- 
rado ,  não  será  excessiivo  confessar ,  que  ella  precedeo 
quasi  todas,  em  enriquecer  a  ^teratura  moderna  com 
^umas  Greorgicas ,  concebidas  e  executadas  dentro  do 
yerdadeirp  quadro,  de  |ium  poema  didáctico. 

Honra  seja  dada  ao  )QVçn  poeta ,  que  tendo,  consid&r 
rado  a  poesia  de  hum  ponto  digno  da  grandeza  da  aite, 
ç  da  elevação  do  seu  espirito ,  soube  sacodir  o  prejuízo , 


Hesenha  Anàfytica.  a5 

ifue  ha  tantos  anpos  lavra  entne  huma  grande  parte  dos 
poetas  portuguezes,  de  adoptarem  exclusivamente  o  ge* 
nero  da  poesia  fugitiva ,  e  sem  se  fixarem  ao  menos  em 
huma  espécie,  em  que  procurem  e  consigão  distin- 
guir-se ,  evaporão  em  composições  avulsas  o.seu  en* 
thusiasmo ,  muitas  vezes  fecundo ,  e  digno  de  ser  con* 
sagrado  á  utilidade  da  pátria ,  ao  adiantamento  da 
literatura  nacional  y  e  á  sua  própria  gloria. 

Penetrado  da  dignidade  da  poesia ,  o  Sn^.  Mozinho 
remontou  aos  tempos  em  que  ella  consagrava  os  pre- 
ceitos da  religião ,  da^  moral  e  das  artes ;  e  preferindo 
hum  objecto  útil  e  modesto ,  como  cidadão ,  fez  ao 
interesse  da  naçào  o  sacrificio  generoso  do  applauso 
lisonjeiro  y  que  mais  facilmente  ganhaiia,  exercitando 
o  seu  estro  em  hum  assumpto  jnais  apparatoso  e  me- 
.  nos  difiicil ;  e  como  poeta ,  não  se  contentou  de  ser 
hum  admirador  estéril  do  agi^onomo  romano,  mas 
propondo-se ,  para  assim  o  dizer ,  a  tomar  parte  no 
seu  mais  útil  trabalho,  ousou  entrar  com  elle  em 
fauma  luta  generosa ,  na  qual  até  se  pode  ficar  vencido 
com  gloria. 

Depois  do  que  temos  ditto ,  não  poderemos  melhor 
resumir  a  nossa  opinião  á  cerca  do  assumpto ,  do  que, 
concluindo  este  Artigo  com  as  palavras  simples,  mas 
enérgicas  >  que  Voltaire  escrevia  á  Academia  franceza, 
^obre  o  merecimento  da  traducçào  das  Georgicas  do 
poeta  romano  pelo  Abbade  DeliUe  :  Jc  pense  quon 
fie  peiítfaire  plus  d'honneur  à  Firgile  et  ala  nation. 

(LX. 


96  Resenha  Anafyúca. 


c 


CONSIDERAÇÕES 

Sobre  as  theorias  medicas^  e  particularmente  sobre  as 

opiniões  do  D^.  Broussais. 


(PRIMEIRO  ARTIGO.) 

jJesde  a  antiguidade  a  mais  remota  até  ao  presente 
tem  a  medecina  sido  cultivada  entre  todas  as  nações 
por  homens  dotados  de  engenho ,  e  versados  em  todos 
os  conhecimentos  que  podião  adquirir-se  nas  diíTe- 
rentes  epochas  em  que  florescerão ;  e  se  esta  scíencia 
ainda  não  offerece  hoje  bases  certas  e  universalmente 
admittidas  por  todas  as  escholas,  este  estado  de  in- 
certeza só  se  pode  attiibuir  ás  insuperáveis  difficul- 
dades  que  se  encontrão  a  cada  passo  na  indagação 
das  leis  que  regem  os  phenomenos  do  corpo  humano 
na  saúde  e  na  doença.  O  methodo  experimental,  e 
a  observação  analytica ,  únicas  veredas  que  conduzem 
a  razão  do  homem  a  descobrir  os  factos  geraes  ou 
leis  da  natureza  >  applicados  á  chymica ,  só  em  nossos 
dias  tem  começado  a  acclarar  algum  factos  impor- 
tantes relativos  ás  leis  geraes  da  affinidade ,  as  quaes 
ainda  hoje  se  não  podem  considerar  como  estabele- 
cidas de  maneira  incontestável ,  ainda  no  que  toca 
ás  combinações  as  menos  complicadas  ^  e  a  pezar  dos 


Resenha  Analítica.  vj 

immcnsos  trabalhos  e  exabtos  experimentos  de  tantos 
sábios  observadores,  ainda  reina  grande  incerteza  so- 
bre os  phenomenos  chymicos  os  mais  usuaes.  Ora,  se 
isto  acontece  no  estudo  de  combinações  cujos  ele* 
mentos  e  condições  conhecemos  em  grande  parte , 
que  muito  he  que  as  operações  incomparavelmente 
mais  complicadas  dos  corpos  organisados  sejào  ^inda 
tão  imperfeitamente  conhecidas  ?  Não  só  os  ele^ 
mentos  que  formão  os  vegetaes  e  os  animaes ,  são  mais 
complicados  na  sua  composição  cfaymica,  e  muito 
menos  permanentes  nas  suas  combinações ,  mas  o 
numero  considerável  delles^e  a  infinita  variedade  de 
modificações  que  continuamente  experimentào  por 
efleito  dos  movimentos  que  constituem  a  vida  ,  e  da 
particular  structura  de  cada  oi^ão^são  outros  tantos 
obstáculos  que  nos  não  permittem  determinar  todas  as 
condições  de  hum  experimento ,  para  o  podermos  re- 
petir, nem  appreciar  todas  as  circumstancias  de  huma 
serie  de  observações ,  para  podermos  deltas  tirar  infe-^ 
rencias  certas  i^ra  casos  análogos.  Por  isso  vemos 
os  autores  os  mais  estimados  estribarem  as  suas  theo- 
rias  em  observações  e  experimentos  que  outros  obser- 
vadores não  menos  distinctos  contradizem  ;  e  desde  as 
propriedades  da  fibra  muscular  até  ás  mais  recônditas 
operações  do  cérebro  e  do  systema  nervoso ,  apenas 
existe  hum  facto  experimental  plenamente  provado 
e  geialmente  admittido  Ás  partes  que  huns  affirmão 
serem  dotadas  de  irritabilidade,  negão  outros  esta 
propriedade ;  o  que  estes  attribuem  á  influencia  dos 
nervos,  aquelles  o  referem  á  fibra  muscular  dos  órgãos  \ 


%B  Hesenha  járudytica* 

em  huma  palavra  não  ha  huma  só  funcção  da  eco- 
nomia animal  que  não  seja  objecto  úe  grandes  con- 
testações  entre  os   physiologistas ,  cujas  opiniões  di- 
versas e  até  oppostas ,  são  todas  fundadas  em  experi- 
mentos e  observações  repetidas.  A  circulação  ainda 
offerece  não  pequenas  duvidas ;  ainda  se  não  decidio 
a  questão  da  irritabilidade  das  artérias;  muitos  não 
admittem  a  absorpção  venosa,  e  ainda  ninguém  ex- 
plicou o  singular  e  importante  phenomeno  da  affluencia 
do  sangue  a  huma  parte.  Tampouco  conhecemos  a 
natureza  da  aòção  dos  agentes  os  mais  habituaes  so- 
bre o  estômago ,  e  nem  se  quer  podemos  fixar  a  ordem 
successiva  dos  seus  efieitos,  segundo  a  quantidade  e 
circumstancias  da  applicação  de  cada  hum  delles.  A 
razão  disto  he  manifesta :  toda  a  acção ,  movimento 
ou  mudança  operada  nos  corpos  organisados ,  ou  seja 
pelos  agentes  internos,  ou  pelos  externos,  habituaes 
ou  extraordinários,  he  hum  phenomeno  extremamente 
complexo,    cujos   elementos   e    circumstancias   não 
sendo  exactamente  conhecidos ,  não  pode  ser  reprodu- 
zido á  vontade,  e  por  conseguinte  não  pode  ser  ma- 
téria de  rigorosa  analyse  experimental ;  pois  nos  nossos 
experimentos  outra  cousa  mais  não  fazemos  do  que 
reproduzir  simultânea  ou   successivamente  todas  as 
circumstancias  de  hum  phenomeno,  e  isolando  cada 
huma  delias  ,  conseguimos  vir  no  conhecimento  da  in- 
fluencia que  tem  cada  elemento  na  operação  com- 
plexa que  se  pertende  explicar. 

Se  as  operações  da  economia  animal  no  estado  de 


Besenha  Analítica.  nQ 

caude  nos '  são  tão  pouco  conhecidas ,  não  he  de  es- 
tranhar que  a  alteração  ddilas ,  (]ue  constitue  as  doen- 
ças 9  esteja  involvida  em  tanta  obscuridade ;  e  não  nos 
devemos  admirar  se  tantos  médicos  de  merecimento, 
cansados  da  incerteza  das  hypotheses,  se  entregão  á 
mera  observação  empírica,  e  só  se  deixão  guiar  pela 
analogia  dos  symptomas.  Porém,  tal  he  a  tendência 
que  o  espirito  humano  tem  a  indagar  a  relação  natural 
que  liga  os  phenomenos  enti*e  si ,  que  .ainda  os  mais 
empiricos  entre  os  médicos  não  podem  abster-se  de 
iheorisar,  não  só  quando  na  cadeira  dictào  preceitos, 
mas  até  quando  á  cabeceira  do  doente  procurào  des- 
cobrir qnal  seja  o  methodo  curativo  que  de  preferencia 
se  deva  seguir-   Os  mais    cordatos  são  aquelles  que 
desconfiando  das  hypotheses ,  e  não  confiando  dema- 
ziado  em  analogia  apparente  de  sjmptomas,  conside- 
rão  cada  caso  de  doença  como  hum  prpblema  par- 
ticular, cuja  solução  depende,  muito  mais  da  com- 
paração do  estado  dos  diversos  órgãos  do  individuo , 
da  ordem  em  que  as  afiecções  deUes  se  manifestão,  e  do 
caracter  de  cada  huma  delias »  do  que  da  referencia 
a  casos  já  observados  em  outros  doentes ,  ainda  quando 
a  analogia  da  enfermidade  for  manifesta ,  como  acon* 
tece  naquellas  que  oíTerecem  maior  uniformidade  em 
todos  os  sujeitos,   como  as  febres  intermittentes ,  6 
mal  venéreo ,  etc. 

A  necessidade  de  theorísar ,  e  a  impossibilidade  de 
ensinar  a  medecina  na  cadeira  sem  generalisar  a  his- 
toria e  tratamento  das  doenças ,  fixerào  que  em  toda 


3o  Resenha  Andfydcd. 

o  tempo  se  adaptassem  nas  escholas  theòrias  e  cf  assi* 
ficaçôes  mais  ou  menos  erróneas  e  inexactas ,  as  quaes 
seduzindo  o  espirito  ardente  dos  estudantes ,  e  satisfa- 
zendo o  insaciável  desefo  de  tudo  explicar,  que  he 
próprio  da  mocidade,  tem  sido  causa  dos  males 
que  á  humanidade  faz  a  maior  parte  dos  médicos, 
quando  nos  primeiros  annos  da  sua  practica  não  co* 
nhecem  outra  regra  senão  os  preceitos  e  distincçòes 
dogmáticas  dos  mestres  debaixo  de  quem  estudarão. 
Ao  passo  porém  que  o  habito  de  ver  doentes  e  de 
comparar  doenças ,  desvia  o  medico  das  hypotheses  e 
das  denominações  abstractas  das  escholas ,  elle  se  vai 
inclinando  á  observação,  a  qual  he  mais  ou  menoá 
racional  segundo  o  talento  natural  do  observador,  a 
que  com  razão  se  tem  dado  o  nome  de  tino  medico. 
Desta  maneira ,  até  hum  certo  ponto  se  vem  com  o 
tempo  a  neutralisar  a  nociva  influencia  que  as  hypo* 
theses  ensinadas  em  tom  dogmático ,  tem  sobre  a 
practica  da  mededna ;  he  porém  verdade  triste,  mas 
incontestável,  que  as  denominações  nosologicas  tem 
exercido  hum  a  influencia  não  poucas  vezes  funesta 
sobre  o  tratamento  de  enfermidades  mui  graves ,  e  qué 
as  falsas  noções  sobre  a  acção  dos  medicamentos 
tem  dado  origem  a  perigosos  erros  no  tratamento  das 
doenças. 

Seria  preciso  amontoar  volumes  para  dar  huma  ideia, 
ainda  a  mais  succinta ,  das  diversas  hypotheses  e  das- 
siflcaçòes,  que,  recebidas  a  principio  com  enthusiasmo , 
(orão  depois  proscríptas  como  absurdas.  Só  pára  analy* 


.Hescnha  jinafytica.  3f 

sar  a&  que  desde  Boerhaave  até  ao  dia  de  hoje  tem  sido 
admittidas  e  rejeitadas,  seria  necessário  não  pequeno 
espaço  e  trabalho.  Nenhuma  destas  hypotheses  repousa 
»obre  provas  suiBcientes ,  e  por  conseguinte  as  classi«- 
ficações  que  nellas  se  estribão  não  podem  ter  solidez  \ 
humas  e  outras  só  podem  iUudir  pela  sua  apparatosa 
nomenclatura  e  divisão  em  classes ,  ordens ,  espécies 
e  variedades ,  aquelles  médicos  que  nunca  estudarão 
os  phenomenos  das  doenças  nos  doentes  mesmos,  e 
que  só  no  papel  descrevem  e  curão  as  enfermidades^ 
Em  huma  cousa  se  parecem  quasi  todos  os  autores 
de  novas  doutrinas  medicas  systematicas  :  he  na  jac^ 
tancia  com  que  fallão  de  seus  descobrimentos ,  e  no 
desprezo  com  que  tiatão  as  opiniões  de  seus  prede* 
cessores  ou  emulos.  Bastaria  este  facto  para  convencer 
qualquer  philosopho,  de  que  ainda  não  existe  huma 
iheoría  medica  :  nas  mais  sciencias  ha  ainda  bastantes 
objectos  de  controvérsia^  mas  ha  pontos  fundamentaes 
em  cada  huma  delias  sobre  os  quaes  não  existe  hoje 
contestação.  Outro  tanto  não  acontece  na  medecina, 
onde  apenas  existe  hum  phenomeno  que  esteja   hoje 
explicado  de  modo  a  satisfazer  todos  os  médicos  ins-^ 
tjruidos  e  de  boa  fd,  desde  a  mais  simples  phlogose 
^  até  á  mais  complicada  doença* 

Os  animaes  são  hum  composto  de  sólidos  e  de  U* 

quidos ,  o  qual  oíFerece  huma  infinidade  de  operações, 

das  quaes  humas  são  incontestavelmente  mechanicas , 

*  e  outras  .chymicas ,  mas  cujo  nexo ,  relações  e  mo* 

dific^ões  dependem  de  agentes  pouco  conhecidos» 


33  Resenha  Anafytica. 

e  de  disposições  de  structnra  intima  não  averiguadas  ^ 
resultando  por  conseguinte  da  união  e  reciproca  in- 
fluencia de  todos  os  órgãos ,  e  da  acção  continua  e 
variável  dos  líquidos,  gazes  e  outros  agentes  circu- 
lantes ou  externos  ^  hum  todo  que  constitue  a  vida. 
Claro  está  pois  que  os  phenomenos  vitaefs  devem  for- 
çosamente ser  complicados ,  e  as  suas  leis  )nui  difficeis 
de  observar,  sendo  necessariamente  formulas  mui 
complexas.  No  phenomeno  que  pai*ece  o  mais  simples 
da  economia  animal,  ha  huma  multidão  de  acções 
de  diSei-ente  natureza,  humas  manifestamente  me- 
chanicas ,  como  he  a  acção  do  musculo  segundo  osf 
seus  pontos  de  inserção ,  o  seu  comprimento  ,  grossura 
e  direcção  das  fibras, a  compressão  das  glândulas e  a 
dos  vasos ,  que  se  opera  pela  conti^acção  das  fibrast 
musculares ,  ou  pela  distensão  dos  órgãos.  A  prodnc- 
ção.do  calórico ,  a  mudança,  no  estado  da  electricidade 
dos  sólidos  e  liquidos ,  e  as  propriedades  physicas  e 
chymicas  das  secreções ,  não  podem  racionalmente  sef 
attribuidas  senão  á  influencia  de  agentes  physicos  e 
chymicos :  e  seja  qual  for  a  natureza  do  influxo  nerveo, 
he  igualmente  inegável  que  elle  pode  suspender-se 
por  huma  ligatura  ou  por  eiieito  da  compressão  y 
donde  se  coUige  que  os  elementos  doeste  influxo  são 
substancias  sujeitas  ás  leis  communs  dos  outros  agentes 
naturaes. 

Destas  considerações  resulta  a  prova  manifesta  da 
falsidade  dos  systemas  que  attribuem  todos  os  phe- 
nomenos da  economia  animal  exclusivamente  a  huma 


neseiÂà  Ãnafyúca^  33 

âas  òrdeiis  de  causas  que  concorrem  para  manter  as 
funcções  da  vida.  Querer  explicar  por  causas  mera^ 
mente  mechanicas  a  circulação ,  as  secreções  ^  a  di- 
gestão y  he  absurdo  manifesto ;  e  pertender  reduzir  os 
phenomenos  das  aífinidãdes  e  decomposições  chymicas 
dui*ante  a  vida»  ao  que  se  passa  nos  nossos  laborató- 
rios ,  he  cahir  em  hum  erro  não  menos  grave  e  peri- 
goso* Não  só »  como  já  dissemos  ,  existe  grande  diSe- 
rença  entre  bs  átomos  orgânicos  e  o$  das  substancias 
inorgânicas ,  e  em  quanto  ás  leis  das  suas  combinações  \ 
mas  entre  as  experiências  dos  laboratórios  e  as  ope- 
rações da  economia  animal  existe  ainda  a  notável  e 
importantissima^diOerença  i  que  nas  primeiras ,  os  vasos 
que  enceiTão  as  substancias  cuja  natureza  se  pertendó 
estudar^  são  quasi  sempre  compostos  de  matérias  qué 
não  influem  sobre  as  operações  chymicas  dos  corpos 
que  se  sujeitào  á  anaijse  chymica  \  quando  pelo  con- 
trario y  nos  seres  organisados  não  só  os  vasos  e  todas 
as  fibras  solidas  tem  notável  acção  Sobre  os  liquidos 
circulantes ,  mas  até  ha  ras^o  dé  crer  que  nos  sólidos 
residem  em  grande  parte  os  principios  que  determinão 
as  mudanças  na  combinação  dos  elementos,  a  evo^ 
lução  do  calórico )  a  producção  da  electricidade  ,  é 
em  huma  palavra  os  maií  importantes  phéndmenos 
chjrmicos  dos  corpos  vivos.  Por  isso  os  autores  qué 
na  infância  da  chymicas  quando  nem  se- quer  as  leis 
dos  phenomenos  os  mais  simples ,  quaes  os  das  solu- 
ções >  e  da  neutralisação  dos  alcalis  i  erão  conh^i- 
das^  tentarão  explicar,  por  principios  de  huma  chj- 
mica  tão  limitada  e  imperfeita ,  os  phenomenos  com** 


34  Resenha  Anafytíca. 

t^lica^ssimos  e  variaTets  da  orgaáifà(flò  àninlal ,  nM 
fiíerão  caso  das  partes  tt^dad  do  corpb  humano ,  e 
considerário  o  estômago  òomo  huma  retorta.  Esta 
íidicula  supposição^  combinada  totú  os  elementos  da 
(>athologia  humoral ,  a  qual  tem  dominado  a  medeciíia 
desde  a  sua  infância,  produzio  innameraveis  e  gfatoifay 
hypotheses  sobre  à  natureza  das  d^enÇas,  t  que 
infelizmente  tem  nào  poucaá  vezes  influido  sobre  gr 
Inethodo  de  tratamento. 

Outra  classe  de  médicos  théoricos ,  reconhecendo  a 
insufficiencia  das  explicações  tifadaâ  da  mechaúica  é 
da  chymica ,  procurarão   descobrir  as  leis  geraes  da 
economia  animal  pelo   estudo  das  taas   fun^^çóes^ 
pondo  de  parte  a  natureza  intima  dos  sólidos  e  li^ 
quidos.  Entre  estes ,  huns  procederão  por  abstracção^ 
e  sem  experimentos  nem  observações  creárâo  agente^ 
chymerícos^e  derão  a  cada  órgão  huma  alma,  e  aa 
òorpotodo  diversas ,  què  designái^âo  debaixo  de  humsl 
multiplicidade  de  nomes;  outros ,  e  em   grande  nn*^ 
tneroy  levarão  a  tal  ponto    a  attençâo  exclusiva  qué 
derão  á  acção  dos  sólidos ,  que  de  todo  desprezarão 
os  líquidos,  considerando^os  como  incapazes  de  al-^ 
terarem  as  propriedades  dos  solides.  Esta  ultima  seita, 
que  mui  bem  se  pode  designar  pelo  nome  de  vitalistas, 
he  incontestavelmente  a  que  mais  tem    contribuído 
para  o  adiantamento  da  Physiologia  e  da  Pathologia , 
e  deve  confessar-se  que  no  estado  actual  dos  nossos 
Conhecimentos  chjmicos,  e  vista  a  quasi  total  igno-» 
i^ncia  em  que  ainda  estamos  sobre  a  natureta    do 


Resenha  jánatrtiea.  35 

ínAiiio  nenreo,  do  qual  eTÍdentemcntd  eauDão  oâ 
príncipaes  phenomenos  da  organisaçào^  e  visla  a  UlIli^ 
tada  applicaçáo  dos  prin  cipios  purameote  mecbanicos 
á  ecoDomia  animal ,  o  único  partido  que  nos  resta  ,  e 
que  promette  derramar  alguma  lui  sobre  as  operações 
dos  orgàos » he  o  estudo  das  propriedades  vitaes  dos 
diversos  tecidos  e  f^ras  que  entrào  na  composição 
dos  corpos  organisados «  comparando  as  suas  modiii- 
cações  e  alterações  no  estado  de  saúde  e  de  doença  i 
e  estudando  a  acção  dos  agentes  ínteiiios  e  ejiteitios 
sobre  cada  bum  deU^.  Este  meibodobe  buú  árduo» 

•  oficrece  difficuldades  quasi  insuperáveis ,  das  quaet 
as  principaes  são ,  a  impossibilidade  de  isolar  perfei-* 
lamente  os  divei^sos  elementos  sólidos  buns  dos  outros 
pai^a  estudar  as  suas  propiiedades  respectivas,  e  a  in* 
ceiieza  de  reconbecer  a  identidade  do  estada)  da  parle 
em  duas  experiências  comparativas.  As  funcções  vitaes 
dependem  tão  essencialmente  do  nexo  e  acção  re<* 
riproca  dos  órgãos  sólidos  e  dos  fluidos  circulantes» 
que  pode  aSbutamente  affirmar-se  que  toda  a  pro*» 
priedade  dependente  da  organisação  que  constitue 
n  vida,  be  bum  resultado  complicado  e  por  conse* 
guinte  variável ,  e  não  constantemente  residente  nos 
órgãos,  de  buma  maneira  independente.  Destas  causai 
tem  nascido  a  incerteza  ,  que  desde  Haller  attf  ao  dia 
de  boje  tem  reinado  sobre  a  irritabilidade ,  e  sobre 

•  sua  dependência  do  influxo  nerveo,  e  as  contradic* 
fôes  que  todos  os  dias  encontramos  no  resultado  t 
conclusões  de  experimentos  repetidos  pelos  mais  babeis 
^bysiologistas  \  do  que  bastará ,  para  exemplo  diar  os 

3*- 


36  Resenha  Anafytica, 

dé  Legallois  e  do  D'.  Phillip ,  sobre  a  causa  dos  taovi* 
mentos  do  coração* 

Como  a  natareza  do  isfloxo  nerveo  nos  he  absoliv* 
lamente  desconhecida,  e  os  seus  efieitossóse  mani- 
festão  pelas  modificações  da  sensibilidade  e  do  movi- 
mento, estas  duas  propriedades  tem  sido  o  objecto 
dos  experimentos  e  observações  dos  mais  distinctos 
physiologistas  da  seita  dos  vitalistas  ou  soUdistas;  mas 
a  pezar  dos  trabalhos  de  Haller,  Hunter,  Bichat^ 
Legallois ,  e  Phillip  %  e  ainda  depois  do  descobrimento 
da  electricidade  spontanea  ou  galvanismo ,  que  tanta 
luz  tem  já  derramado  na  Chymica ,  luz  que  hum  dia 
talvez  também  se  communiqoe  á  Pbysiologia ,  he  certo 
que  pouco  ou  nada  sabemos  sobre  as  leis  da  irrita- 
bilidade eda  sensibilidade;  e  todavia  he  sobre  algu- 
mas experiências  contestadas ,  pouco  decisivas ,  ou 
não  suficientemente  comparadas  e  generalisadas ,  que 
engenhos  ousados  tem  pertendido  fundar  systemas  de 
medecina,  cuja  simplicidade  encanta  á  primeira  vista , 
e  illttde  a  quem  não  julga  senão  pela  apparencia, 
sendo  pelo  contrario  esta  nimia  simplicidade  ,  para 
todo  o  observador  exacto ,  a  mais  evidente  prova  da 
falsidade  dos  suppostos  principios.  Desta  seita  tem  sa- 
hido  em  diversos  tsmpos  os  systemas  dos  dois  prin- 
cipios, o  laxo  e  o  tenso,  o  spasmo  e  a  relaxação  ,  a 
sthenia  e  a  asthenia  ^  e  as  denominações  de  forças 
vitaes  ,  principio  da  vida ,  tom  ,  etc.  assim  como  todas 
as  classificações  das  nosologias  e  da  matéria  medica 
f  nndadas  nos  mesmos  principios  ( bem  como  ai  jmtigas 


^  Resenha  jánafytica'  ^^ 

«scbolas  reconhecerão  por  causas  geraes  das  doenças » 
o  húmido  e  o  secco  ,  o  crasso  e  o  ténue,  a  hilis,  a  atra" 
òilis  e  08  mais  liumores ,  o  alcali  e  o  acido  ,  eft. 

# 

O  defeito  principal  dos  vitalistas  ,  e  principalmente 
dos  das  escholas  inglezas,  he-o  terem  introduzido 
termos  absolutamente  vãos,  dando-os  ao  publico  como 
causas  reaes  de  pfaenomenos  que  não  sabem  explicar. 
Por  exemplo ,  depois  de  rejeitarem  as  theorías  mecha- 
nicas  da  secreção,  dizem-nos  gravemente  estes  dou- 
tores, que*  a  secreção  procede  de  huma  acção  parti' 
eular  do  órgão ,  acção  sui  generis ;  se  os  alimentos  no 
estômago  não  se  decompõem  segundo  as  leis  a  que  obe- 
decerião  fora  do  corpo  em  igual  temperatura ,  he  por- 
que o  estômago  tem  huma  potencia  directriz  que  si^ 
pêra  as  aflinidades  ehymicas ;  e  procedendo  desta  ma- 
neira y  toda  operação  cuja  causa  se  ignora  ke  logo 
convertida  em  acção  particular ,  em  potencia  prii^ati^a, 
expressões  qne  tanto  montão  como  as  causas  oecultas 
dos  Aristotélicos,  e  qne  nada  expKcão.  Uamenbach , 
não  podendo  comprehender  a  geração,  attribuio-a  ao 
nism  formativus  j  o  qual  por  certo  não  figuraria  mal 
a  par  do  virUis  dormitii^a  de  Molière.  João  Hunter 
levou  o  abuso  desta  viciosa  linguagem  ao  maior  ex-* 
cesso ,  e  grande  parte  do  seu  tratado  do  mal  venéreo 
está  cheio  de  explicações  dignas  dos  mais  inintelligi- 
veis  commentadores  de  Aristóteles*  Muito  me  custa 
a  confessar  que  até  o  meu  mestre  Jorge  Fordyce ,  a 
pezar  do  seu  superior  merecimento  e  espirito  philop- 
iophico ,  cedeo  á  mania  dominante ,  attribuinda  á  po* 


Sè  Resenha  Andfyúcà 

teneia  dérrHriz  do  estômago  propriedades  que  forço«- 
^amfnte  dependem  de  agentes  physicos,  e  não  de 
humáinlkieiieki  mepid  <m  inteilectual.  Se  os  alímeotoi 
introduzidos  no  estômago  em  estado  e  circumstancias 
favoráveis  para  entrarem  em  patre&qçãe^-e  aèé  havendo 
]á  elláprínóipiado « n&o  só  nào  apodrecem^  mas  a  putre» 
facção  começada  se  isusta ,  <:laro  -está  ^e  existem  ne 
icstomago  substancias  ouja  «<^o  ohymica  obsta  a  este 
processo ;  pois  be  absolutamente  incomprehensivel  que 
<hum  pbenomeno  puramente  çhymico  possa  ser  mo* 
-dificado  por  agentes  ou  causas  que  não  são  ^otadan 
4e  afinidades  ;  admittir  semelhantes  eii;pUcações  mys* 
ieriosas  be  iútrodiizir  milagres  nas  sdeocias ,  e  fazer- 
nos  voltar  á  magia ,  onde  a  vontade  basta  para  mudar 
-a  essência  das  cousas.  O  O^^.  $anaroft «  na  sua  these., 
^ujos  principaes  pontos  transoreveo  no  seu  Tratado 
Bobre  a  Febre  amarella  ,  sustenta  que  o  calor  animal 
he  hum  produoto  ruitural,,  -e  que  não  pode  resultar 
4e  nenhum  iprocesso  chymico  conhecido*  Se  este  me- 
dico quer  dizer  que  ignoramos  a  maneira  por  que  se 
.produz  e  conserva  nos  corpos  vivos  o  calor,  tem  razão; 
mas  se  pela  palavra  iiotwYU  entende  que  -este  calórico 
be  de  outra  natureza  ,  e  que  a  sua  origem  be  devida  a 
«gentes  que  só  existem  nos  corpos  dotados  de  vida., 
então  merece  a  sua  opiniãQ  ser  posta  ao  numero  dos 
oucos  nadas.  O  calórico ,  a  luft^  e  todos  os  agentes 
da  natureza  são  os  mesmos^  onde  quer  que  x>s  encon'* 
tremos',  as  combinações  do  reino  ye^etal  dii£biiem  das 
dos  mineraes,  e  ainda  mais  diffeoem  de  humas  e  ou« 
«iras  as  do  reino  animal,  poi>âm  ^odas  4l}as  encerrãa 


Jlesenha  Analyticaf  39 

l>nncipicM»  cQmmim^  á  nad^r^Tia  inteira ,  e  $ó  da  divem^- 
dade  da  sun  combiaaçlo ,  ^tado  de  aggregaçào ,  electrí<- 
cidade  e  outras  circumstanpas  aipda  oâo  determinadaip 
dapeod^  a  variedade  da$  propriedadei  pbysicas  e  chyr 
micas  de  cad^  buma.Tod^s  as  vezes  que  a  arte  conseguf 
formar  huma  substancia  ideotiea  a  outra  que  se  encoa- 
tra  na  natureza,  temos  perteza  de  que  o  processo  artifi- 
cial be  análogo  ao  natural;  e  se  conhecermos  exacta- 
mente os  elementos  que  entrão  na  composição  9  as  sua^ 
proporções  e  estado  relativo  de  pada  bum  ,  poderemos 
yit  DO  conhecimento  de  todo  o  prx)cesso  empregado  pel^ 
liaturez)»  p  o  qual ,  a  pezar  dd  identidade  do  resultado  , 
pode  ser  mui  difierei^te  do  nosso ,  poí^  ninguém  ignora 
i|ue  resultados  idênticos  se  obtém  por  meio  de  pro- 
cessos cbymbsos  m^Ú  diversos.  Ora ,  p  assucar  que  nó^ 
produzimos  por  buma  operação  (:b/míca ,  convertendp 
nesta  substancia  ^  setradmra  de  madeira  ou  a  ^omma^ 
^endo  idêntico  ao  que  resulta  da  vegetação ,  seguir-se- 
ha  que  a  força  ^^egetaJtiya  depende  de  influencias  chjr- 
micas.  Outro  tanto  se  pode  dizer  de  outras  substancias 
animaei  qui^  a  arte  possa  vir  a  imitar  com  perfeição  *,  e 
se  alguém  aos  á^s^^v  qiie  mui  poucas  substancias  ver 
getae$  e  animaps  tem  os  cb/micos  at^  agora  conseguido 
imitar ,  responderemos  que  a  cbymica  e3t4  amda  mui 
^oDge  da  sua  perfeição^  e  que  infinitas  substancia^ 
cuja  composição  be  d^mopstrada  #  oos  he  impossível 
recompor,  por  nâo  serem  iguaes  0%  nossos  meios  de 
recomposição  aos  de  decomposição :  o  diamante ,  por 
exemplo,  be  com  muita  facilidade  redu^ivel  ao^  seus 
elementos  componentes*,  mas  huma  ve^  insdttzído  a 


4o  Resenha  Anafytioa, 

paz ,  não  possuímos  meios  de  compressão  que  possãcr 
CODverté-lo  em  hum  solido.  Cessem  pois  os  vitalisuuí 
de  negar  a  existência  da  influencia  d^s  leis  geraes  e 
particulares  das  aí&nidades  nos  corpos  prganisados , 
bem  cofno  lhes  he  impossivel  deixar  de  adoiittir  a  inr 
fluência  da  cohesào ,  da  plasticidade  e  outras  proprie- 
dades physicas  nos  solidqs  e  líquidos  dos  animaes  e 
vegetaes  \  e  pós  de  boamente  lhes  concederemos  que 
pouco  ou  nada  sabefnos  das  leis  particulares  que  go- 
vernão  os  phenomenos  chymicos  nos  entes  organi^ 
sados.  A  conclusão  que  tiramos  desta  ignorância  re- 
conhecida he  y  que  devepos  proseguir  p  estudo  apenas^ 
começado  da  chymica  anioial,  fazendp^o  sempre 
acompanhar  da  investigação  dos  phenomenos  physio- 
lógicos  e  path^ologicos ,  pois  nos  parece  indubitável 
que  fracos  progressos  poderemos  fazer  no  oonheci-t 
mento  das  leis  da  economia  animal  em  quanto  nos 
obstinarmos  a  attribuir  a  causas  e  propriedades  sim-, 
pies  aquillo  qpe  evidentemente  procede  de  influencias 
complexas. 

Os  humoristas  não  fizerão  caso  dos  sólidos  do  corpo 
humano;  a  maior  parte  dos  vitaUstas  desprezão  não 
só  os  fluidos ,  mas  at^  não  reconhecem  n^  economia^ 
animal  princípios^  de  acção  analog[QS  aos  da  affinidade 
chymica.  Huns  e* outros  errão,e  pa;*a  o  provar  sobejão 
argumentos  :  não  fallaremps  dos  humoristas  ,  cujas 
opiniões  estão  assa^  desacreditadas,  mas  para  con-? 
vencer  de  inexactas  as  ideias  exclusivas  dos  vitalistas , 
hoje  muito  mais  propa|;adas ,  ofiereceremos  aqui  algu- 
pias  observações. 


Resenha  AruÚYÚca»  4' 

i«.  He  inegável  que  diversas  substancias  introdu- 
zidas no  estômago ,  produzem  efleitos  differentes ,  ie- 
gundoa  natureza  chymica  dis  Iquidos  contidos  na* 
quelle  orgâo  ou  engulidõs  em  cima  delias :  o  mesmo 
%&  extende  a  grande  parte  do  canal  intestinal.  Daqui 
se  tirão  as  indicações  em  casos  de  envenamento,  e 
3e  collige  a  acçào  variável  da  magnesía ,  de  diverso^ 
^aes  e  de  muitas  outras  substancias.  He  bem  sabido 
que  ha  paizes  onde  o  tártaro  emético  em  solução 
aquosa  não  produz  effeíto  vomitivo,  pela  decompo* 
jsiçào  que  experimenta ,  em  razão  da  cal  que  a  agua 
da  solução  encerra :  ha  também  pessoas  em  que  esta 
preparação  de  antimonio  n^o  produz  eSeilo  algum , 
ainda  que  dissolvida  em  agua  distillada^  e  outro 
tanto  acontece  a  muitas  preparações  medicamentosas , 
que  tão  diversamente  obrão  sobre  cada  individuo^ 
e  até  no  mesmo  em  diversas  circúmstancias.  Ora,  parte 
doestes  efleitos  he  devida  á  decomposição  chymica  a 
inais  evidente  e  incontestável ,  e  a  acção  dos  contrar 
venenos  he  quasi  umcamenfe  fuudada  em  priacipioi 
cbymicoSf 

^o.  Og  efleitos  das  diver$as  sortes  de.  bebidas  aquo* 
^as  salinas,  acidas,  alcalinas,  lácteas 9  oleosas,  etc* 
sobre « a  natureza  das  secreções ,  são  inegáveis ,  postp 
que  ainda  não  estejão  determinados  com  exacção» 
Outro  tanto  se  applica  aos  alimentos  sólidos ,  animaes 
e  vegetaes ,  dos  quaes  se  sabe  com  certeza  terem  di^ 
versa  tendência  para  fazer  predominar  certas  secreções 
dando-lhes  qualidades  determinadas.  Isto  se  observa 


is  Resenha  Anàljrtiea. 

pp  diabetes ,  nas  doenças  calculosas  e  gottosas ,  no 
^corbutO)  e  em  inpumçraveis  outras  aíTecções,  nas 
quaes  a  experieiícia  tem  ensinado  aos  médicos  f  rac- 
^ico3  o  que  a  tbeoria  Ibes  não  podia  fazer  descobrir. 

3<>.  Â  abstracção  ou  addiçâo  do  calórico  quando 
ellehe  excessivo  ou  diminuto,  nas  doenças,  e  os  bons 
efleitos  que  d*ahi  resultào ,  são  operações  directamente 
physicaSyC  he  im^ossivel  attribui-las  ahuma  influen- 
cia mysteríosa.  E  posto  que  a  temperatura  do  ar 
ambiente  não  influa  notavelmente  sol^re  a  temperatura 
interna  do  corpo  humano,  está  ho)è  provado  pelas 
«experiências  do  D*".  J.  Davy  que  a  temperatura  media 
do  corpo  varia  segundo  os  climas. 

•  ífi.  Posto  que  os  pbenomeoos  da  decomposição  que 
se  opera  no  canal  digestivo  dos  animaes  não  sejào 
tdlentiix>6  com  os  que  em  temperatura  igual  se  passão 
fóra  do  corpo  y  comtudo  he  incontestável  que  os  ali- 
mentos em  estado  de  podridão  incipiente  são  mui 
nocivos ,  e  ás  veses  até  prod«zem  gravíssimas  «oles- 
tias ;  prova  evidente  de  que  ^  se  a  economia  animal 
possue  meios  de  suspender  a  decomposição ,  conhecida 
pelo  nome  de  putreíacçào ,  he  á  custa  dos  príncipios 
dos  quaes  <lepende  a  vida.  Também  he  kiegavel  que 
algiitts  dos  meios  que  fóra  do  corpo  sustão  a  podri- 
dão ,  produsem  o  mesmo  effeito  em  muitas  doenças , 
nas  quaes  o  sangue  e  os  sólidos  tendem  á  putrefaeção : 
taes  são  os  ácidos. 

5<».  A  pezar  das  asserções  dos  vitdiistas  e  soUdi&tas  » 


fundadas  em  mexactissimas  observações  e  ex|>eari- 
mentos^  he  impossivel  deixar  de  admittir  que  hum;^ 
alteração  notável  nas  propriedades  dos  fluidos  precede» 
acompanha  9  e  se  segue  a  muitas  alterações  morbir 
das.  Isto  he  incontestevel  no  escorbuto^  na  febre  cha- 
mada amerella  e  em  índnitas  outras  doenças ;  e  a 
pezar  das  poucas  experiências  exactas  que  ainda  pos- 
suímos nesta  matéria  ^  sabemos  comtudo  que  as  pro- 
proções  da  a|;ua  ,  da  mateiía  coagulavel  ^  da  Ebrina  ^ 
etc.  varláo  segundo  a  natureza  da  dieta  e  das  doenças. 
Também  he  inegável  que  a  temperatura «,9 humidade 
jS  seccura^  a  natureza  dos  alimentos «  e  muitas  outras 
circumstancias  externas,  influem  notavelmente  sobre 
a  composição  dos  fluidos  e  sólidos  do  corpo  humano  ^ 
sobre  a  rijeza  e  elasticidade  das  fibras  y  sobre  as  pro- 
priedades dos  tecidos ,  etc. 

60.  Por  huma  singular  cpntradicção  ,  os  vitalistas., 
que  não  admittem  a  vida  senão  nos  sólidos  ,  suppõen^ 
quasi  todos  a  existência  de  hum  fluido  nerveo ,  ao  qual 
attribuem  os  princ4)aes  phenomenos  da  vida. 

Seria  fácil  multiplicar  e  desenvolver  estas  provas^ 
se  para  isso  tivessemx)6  espaço  c  tempo ,  mas  as  fgàt 
acabamos  do  expor  bastão  ^  segundo  nos  pai^ece ,  paia 
convencer  qualquer  leitor  imparcial  e  versado  na  mata- 
ria ,  do  abuso  que  os  vitalistas  tem  feito  das  abstrac- 
ções em  que  fundão  a  sua  doutrina.,  apparentementa. 
mais  philosophica.,  mas  em  realidade  não  menos  im- 
perfeita que  9S  jgratuitas  aaserções  dos  bumoríatas. 


44  Resenha  Anafyúca. 

De  todos  os  escriptores  qué  lem  pertendido  explicar 
os  phenomenos  da  vida  e  das  doenças ,  por  meio  de 
príncipios  tirados  unicamente  das  leis  da  economia 
animal,  o  mais  celebre  ^e  cujas  doutrinas  mais  tem 
influido  na  theoria  e  practica  da  medecina  em  nossos 
dias,  he  o  famoso  Brown.  Este  autor j  dotado  de 
gi^ande  penetração  e  engenho,  e  mui  pouco  versado 
na  Anatomia ,  Physiologia ,  e  muito  menos  ainda  na 
observação  practica  das  doenças ,  valendo-se  de  varias 
concepções  theorícas  que  se  encontrão  em  autores 
médicos  antigos  e  modernos  anteriores  a  elle ,  tentou 
reduzir  todos  os  movimentos  do  corpo  humano ,  e 
por  conseguinte  as  doenças ,  a  condições  mui  simples , 
fazendo  depender  os  phenomenos  da  saúde  e  da  doença 
do  estado  da  excitabilidade ,  e  do  grão  de  excitação , 
e  comprehendendo  igualmente  todosí  os  meios  cura- 
tivos debaixo  de  duas  únicas  classes  ,  caracterisada 
huma ,  pela  acção  excitante  maior  ou  menor,  e  a  outra, 
pela  abstracção  dos  stimulos  habituaes.  Este  systema , 
que  reduzio  os  phenomenos  da  vida  e  da  doença  a 
huma  escala  graduada  da  excitabilidade ,  e  a  mede- 
cina aos  meios  de  augmentar  ou  diminuir  a  excitação , 
seduzio  não  só  a  mocidade ,  mas  arrastrou  ,  pela  sua 
simplicidade,  muitos  médicos  illustres,  os  quaes  fazendo 
na  doutrina  de  Brown  algdmas  modificações ,  a  adòp* 
tárão  e  propagarão  com  enthusiasmo.  Ainda  hoje  reina, 
assim  modificada ,  em  quasi  todas  as  escholas  de  Itália , 
em  grande  parte  da  Allemanha;  e  ali  na  Gran-Bre* 
tanha  e  em  França ,  onde  sempre  foi  mui  combatida , 
tem  de  tal  maneira  modificado  a  linguagem  e  practica 


Iteserúia  AruJyiieai  4^ 

da  medecina ,  que  ainda  entre  os  que  professão  8Ci*-lhe 
mais  contrários  I  huns  accusão  os  outros  de  Brownismo. 

Deve  confessar-se  que  Brown  expoz  com  agudeza  os 
vícios  das  hjpotheses  anteriores  á  sua ,  e  também  he 
inegável  que  fez  algumas  observações  acertadas.  Mos* 
Irou  que  a  inacção  e  os  movimentos  excessivos  ou 
desordenados  podião  ser  produzidos  por  causas  oppos- 
tas,  e  que  por  conseguinte  requeríâo  tratamentos 
difièrentes ;  provou  sem  replica  que  a  acção  dos  agentes 
variava  segundo  o  estado  da  parte  a  que  se  applicavão , 
e  fez  ver  que  bum  mesmo  agente  podia  produzir 
efleitos  diversos  ,  e  até  oppostos  ,  segundo  as  circum- 
stancias  em  que  era  applicado ,  não  podendo  por 
conseguinte  dar-se  ás  propriedades  de  nenbum  deno- 
minações absolutas.  Também  mostrou  que  agentes  de 
natureza  opposta  podiào  produzir  effeitos  idênticos, 
segundo  o  estado  da  economia i  como,  por  exemplo, 
o  vinhp  e  o  ópio,  e  a  sangria  ou  o  frio,  os  quaes 
provocào  o  somno  em  circumstancias  diversas ,  e  por 
huma  operação  absolutamente  diSerente.  Teve  igual- 
mente o  merecimento  de  insistir  sobre  os  diversos 
effeitos  que  resultavàò  de  maiores  ou  menores  doses 
da  mesma  substancia ,  e  de  fazer  vera  grande  differença 
que  havia  entre  o  efleito  primitivo  e  immediato  de 
muitas  substancias,  como  o  ópio,  e  a  sua  acção  se* 
gundaria ,  mostrando  que  a  primeira  era  stimulante ; 
verdade  que  depois  de  muitos  annos  de  teimosa  con« 
testação ,  foi  em  fim  reconhecida  pela  Universidade 
de  Edimbuif^o ,  onde  por  largo  tempo  passou  por  he^* 
resia  o  OpUun  meherclè  non  sedat  de  BrovYn. 


46  Resenha  Amdyticeu 

Estas  observações  índiciosas,  qoe  se  enconlr&o  noi 
escríptos  de  Brown ,  não  bastão  porém  para  contra-* 
pesar  o»  enormes  defeitos  do  seu  sjstema,  o  qual  talvez 
tenha  sido.  hum  dos  mais  mortiferos  dos  muitos  que 
tem  reinado  na  medecina.  Os  termos  excitabilidade  ^ 
estimulo,  excitação ,  sthenia  e  asthenia,  que  são  os 
alícerses  da  dontrina,  não  são  nem  bem  definidos 
nem  exactos^  e  as  pertendidas  leis  da  excitação  y  sobre 
que  se  estriba  todo  o  systema,  sòo  manifestamente 
falsas  e  desmentidas  pelQS  factos  os  mais  constantes^ 
Debaixo  do  termo  excitabUidade  confundio  a  sensibili* 
dade ,  a  irritabilidade  ,  e  toda  a  susceptibilidade  de  mo« 
bilidade  ou  de  acção  qualquer ;  disse-nos  que  ignorava 
a  natureza  desta  propriedade,  mas  affii*mou  que  a  cada 
instante  se  gasta  pela  applicação  de  todo  e  qualquer 
agente  j  e  que  se  pode  accumular  pela  abstracção  ou 
dimipuição  delles ;  porém  não  só  nos  não  indicou 
como  se  r^roduz  quando  consumida  por  efièito  de 
excessivo  excitamento ,  mas  deo-nos  a  entender  que  a 
somma  total  delia  vai  sempre  em  diminuição  desde  a 
infância  até  á  velhice  ^  e  em  consequência  de  tão 
singular  opinião  nunca  ponde  explicar  como  se  repa-^ 
rão  as  forças  esgotadas  por  estímulos  excessivos^ 
continuando  o  corpo  a  ser  excitado  por  oiitros  y  os 
quaes  ainda  que  menos  activos^deverião  acabar  de  con« 
sumir  o  restante  da  excitabilidade.  Debaixo  da  palavra 
estimulo  comprehendeo  todas  as  substancias  i  sem  fazer 
o  menor  caso  da  sua  diiierente  natureza ,  e  por  ef- 
feito  de  tão  indesculpável  erro ,  chan^ou  excitamento 
a  todo  o  efieito  resultante  da  acção  dos  agpnte^  iu-r 


Uesenha  Anàfydca,  47 

ternos  ou  externos  sobre  a  economia  animal,  coino 
se  as  propriedades  de  todos  elles  fossem  idênticas ,  e 
só  differissem  em  grão ,  e  como  se  todas  as  partes  dô 
Corpo  humano  fossem  homogéneas  na  sua  estructurà 
e  susceptibilidade  de  acção ;  o  que,  como  todos  sabem, 
são  supposições  não  só  gratuitas  maS  fakas.  Para 
faier  ver  o  absurdo  das  leis  de  BroWn,  basta  notaf 
que  se ,  Como  elle  peftende ,  a  excitabilidade  dimi- 
nuisse  pelas  repetidas  excitações ,  não  veríamos  nâ9 
todos  os  dias  o  estômago ,  inílammado  pela  acçào  de 
substancias  summamente  irritantes,  tornar-se  cada 
vez  mai<;  sensivel  pela  successiva  introducção  de  be^ 
bidas  acres  e  estimulantes ,  e  em  (iqpi  exaltar-se  a  sen- 
sibilidade ,  e  augmentarem  as  contracções  doeste  orgãó 
a  ponto  de  causarem  a  morte.  Por  outro  lado,  como 
he  possivel  còmprehender  o  restabelecimento  de  hum 
órgão  nimiamente  excitado ,  e  depois  submettido  á 
acção  de  estimulantes,  como  acontece  ao  estômago,  que 
depois  da  embriaguez  se  restaura  pelo  uso  moderado 
do  vinho  e  dos  amargos ,  se  os  elementos  da  excita- 
bilidade se  não  reproduzem,  e  se  os  estímulos  não 
difièrem  senão  em  gt^ao?  Em  huma  palavra ,  patece 
incrível  que  em  hum  século  caracterisadq  pelos  pro-^ 
gressos  da  investigação  experimental  e  pela  exactai 
observação  ,  tivesse  tanta  voga  hum  systema  creado 
por  mera  abstracção,  e  apoiado  em  vagas  noções  á 
cerca  das  leis  da  irritabilidade  da  fibra  muscular. 

De  todos  08  escriptores  que  até  ao  dia  de  hoje  tem 
modificado  a  doutrina  de  Brown ,  Darwia  he,  na  nossa 


48  Jíesenha  Jínaíytica. 

opinião ,  o  mais  distincto ;  porém  a  pezar  de  ter  evi^ 
tado  algumas  das  mais  eyidentes  incoherencias  é& 
BrowQ  9  conservou  gi ande  parte  dos  enos  delle.  Dar- 
win admitte  a  reproducção  da  excitabilidade^  mal 
nào  expõe  as  leis  desta  reproducção  nem  os  agentesf 
que  a  determinão ;  não  considera  o  corpo  como  hum 
todo  homogéneo ,  reconhece  nelle  diversidade  de 
órgãos  e  de  acções,  e  fazp  devido  appreço  da  sym* 
pathia  que  liga  todas  as  partes  da  economia  animal } 
mas  não  explica  a  razão  da  paridade  ou  opposição 
dos  movimentos  associados.  Porém ,  seguindo  o  exem- 
pio  de  Brown ,  dá  a  mesma  accepção  aos  termos  esu-^ 
mulo  ou  excitante ,  e  á  palavra  excitamento ,  e  ,  assim 
como  Brown ,  attribue  o  autor  da  Zoonomia  ao  exci- 
tamento prévio,  excessivo  ou  diminuto,  eQeitos  subse- 
quentes ,  que  de  maneira  nenhuma  guardào  propor-* 
ção  com  a  supposta  causa.  Por  exemplo,  ao  frio  oii 
estado  de  inacção ,  que  caracterisa  o  ingi^esso  dos  cres- 
cimentos febris ,  attribue  Darwin  o  calor  e  energia  sub- 
sequente, dizendo  que  a  excitabilidade  se  accumulou 
durante  o  frio  a  ponto  tal  que  os  estimulantes  naturaes 
bastão  para  produzir  hum  notável  excitamento,  o  qual 
constitue  os  phenomenos  do  segundo  período ;  assim 
como  Brown  afiirmava  que  o  ópio  só  causava  efieito» 
sedativos  em  razão  Ldo  excitamento  prévio  que  tinha 
produzido.  Ora,  não  ha  pessoa  que  ignore  que  o  firio 
e  período  de  inacção  das  febres  não  tem  muitas  vezes 
proporção  alguma,  nem  em  duração  nem  em  intensi- 
dade ,  com  o  calor  e  acção  augmentada  do  segundo 
período  do  paroxysmo ,  sendo  muitas  vezes  o  prímoiro 


ResenJta  AnalyUea*  49 

pouco  sensível ,  e  o  segundo  mui  intenso  ô  prolon'=> 
gádò ,  <s  vice  versa.  Também  he  bem  sabido  que  os 
eíleitos  narcóticos  e  segundados  do  ópio  são  incom- 
paravelmente mais  eiiergicos  que  a  sua  acçào  imme"- 
diata  é  estimulante  j  e  que  he  impossível  attribut-*los 
a  és\Á  acçào.  Nào  insistiremos  aqui  em  ouiros  muitos 
defeitos  da  Zóonomia  ,  e  sé  ajuntarepios  que  a  classi- 
ficação dos  artigos  da  matéria  medica  he  viciosíssima  > 
pois  atttibue  identidade  de  acçào  a  substancias  cujas 
propriedades  sào  mui  differentes*  Em  quanto  á  sua 
classificação  das  doenças  ^  todos  reconhecem  quanto 
ella  he  vaga  e  àrbiti*ariá  ^  e  fundada  em  hjpotheses  as 
inais  gratuitas  :  o  supposto  estado  pathologíco  que 
forma  o  principal  caracter  da  doença ,  he  muitas  vezes 
estabelecido  sobre  hum  só  symptoma  isolado ,  o  qual 
frequentemente  sé  acha  desmentido  por  outrbs  op- 
postos.  O  systema  dé  DarMrin  iem  tido  muito  menos 
^oga^  por  isso  mesmo  que  he  mais  complicado,  e 
requer  não  pouca  meditação  é  estudo  para  ser  com'^ 
prehendido  ,  faltando-lhe  a  simplicidade  ,  e  hum  certo 
ar  de  inspiração  ^  que  caracterisão  os  Elementos  dé 
Brownr 

Entre  todos  os  pais^es  da  Etitopa ,  a  França  tém-sé 
distinguido  por  huma  constante  preferencia  dada  á 
tnedecina  de  observação ,  e  a  celebre  eschola  de  Mont- 
pellier  teni  oíTerecido  os  majis  philosophicos  de  todçs  os 
vitalistas  desde  Bordeu  até  Barthez  ,  Dumas  e  seus  dis- 
cípulos. Procurando  descobrir  as  leis  da  econdiiiia  ani- 
inal,para  hum  dia  poderem  estabelecer  as  bases  de  huma 
Tom.  IXi  4  A- 


5d  Hesenlia  Ancdyúca* 

theorià  medica,  não  perderão  de  vista  bum  só  instante, 
que  oè  phenomenos ,  que  á  primeira  vista  parecem  os 
mais  simples ,  são  snmmamente    complexos ,  e   que 
antes    de  generalisar  he  preciso ,  por  meio  de  huma 
inducção  laboriosa  e  árdua,  mas  indispensável,   de- 
compor os  elementos  do  problema  que   se  pertende 
resolver.  Por  esta  razão  he  que  ,  em  vez  de  conside- 
rarem a  inflammação  como  hum  facto  simples  e  uni- 
forme, o  decomposerào ,  e   mostrarão    que  debaixo 
desta  palavra  coníundiào  todos  os  autores  huma  mul- 
tidão de  phenomenos  diversos  e  até  oppostos.  A  es- 
chola  medica  de  Paris  não  tinha  adquirido  tanta  gloria 
como  a  de  Montpellier  \  mas  os  trabalhos  de  Bichat 
e  as  obras  de  Pinei  de  Alibert,  etc.  bastão   para  a 
immortalisar;   O' primeiro  morreo  na  ílor  da  idade, 
victima  do  ardor  com  que  cultivava  a  Anatomia  e  a 
Physiologia,deixando  nos  seus  escriptos  hum  modelo  da 
maneií^a   de  investigar  a   diíBcillima  sciencia   do  ho- 
mem ;  o  segundo,  declarando  guerra  aos  vãos  systemas , 
e  coUigindo  o  que  os  mais  exactos  observadores  de 
todos  os  tempos  tem  escripto  sobre  as  doenças ,  formou 
na   sua   ^^osographia  o  corpo  de  doutrina    medica  o 
menos  hypothetico  e   o  mais  conforme    aos    conhe- 
cimentos   physiologicos    e    pathologicos    dos    nossos 
dias.  Esta  obray  pela  natureza  delia,  não  pode  ser 
izenta  de  erros  e  imperfeições,  pois  que  em  sciencia 
tão  conjectural  como  a  medecina  he  impossível  ser 
rigorosamente  exacto.  Alem  de  outros  defeitos,  tem 
hum  ,  inherente  á  obra ,  que  he  a  impossibihdade  de 
fazer  huma  classificação  natural  das  doenças  \  nãu 


ItesenJia  Ãnalytica.  5i 

sendo  todas  as  que  até  ao  presente  se  tem  proposto 
outra  cousa  mais  que  methodos  artiSciaes,  mais  ou 
menos  imperfeitos  e  inexactos.  Como  as  doenças  nào 
são  individues  dotados  de  huma  existência  material 
c  independente ,  mas  sim  huma  serie  mais  ou  menos 
complexa  de  alterações  da  economia  animal  ^  he  mani* 
festa  a  impossibilidade  de  comprehender  debaixo  de 
huma  denominação  qualquer  os  caracteres  de  huma 
enfermidade ,  pois  se  alguns  delles  convierem  ao 
seu  princípio ,  não  serão  applicaveis  aos  seus  outros 
períodos ,  e  vice  versa ;  alem  da  grande  difficuldade 
de  abstrahir  das  apparencias  particulares  a  cada  doente 
as  que  mais  frequentemente  se  achão  em  todos.  Ac^ 
cresce  mais^  nas  doenças  complexas ,  em  que  muitos 
systemas  e  órgãos  são  successiva  e  periodicamente 
atacados,  a  difficuldade  de  determinar  com  certeza 
quaes  são  os  órgãos  primitivamente  oíTendidos  ,  quaes 
as  suas  aSecçòes ,  e  até  que  ponto  estas  influem  nos 
phenomenos  subsequentes;  assim  como  he  mui  árduo 
separar  as  aflecções  accidentaes  que  podem  complicar 
a  doença  ,  e  que  não  são  essenciaes  á  sua  existência,  da-- 
quellas  que  se  manifestão  no  decurso  delia  como 
consequência  necessária  do  desarranjo  mórbido  cau*- 
sado  pela  aflfecção  principal.  De  todas  estas  conside- 
rações se  deve  concluir  que  só  a  historia  completta  de 
huma  doença  desde  o  seu  ingresso  até  á  sua  termi- 
nação ,  pode  satisfazer  o  medico ,  e  que  esta  historia 
não  he  susceptível  de  ser  reduzida  a  huma  curta  de- 
finição 9  sempre  incompletta ,  e  muitas  vezes  inexacta 
e  até  errónea* 

4* 


52  Resenha  uinalytica. 

Comtudoy  à  classificação  do  D^.  Pinei  ^  a  qual  be 
sempre  acompanhada  da  descripçào  ,  em  geral  exacta  , 
dos  phenomenos  das  doenças  em  todos  os  seus  pe- 
ríodos 9  he  das  menos  defeituosas  e  das  mais  úteis ,  a 
pezar  das  suas  imperfeições  e  incoherencias.  Em  geral , 
as  denominações  doeste  autor  designào  a  circumstancia 
a  mais  importante  de  cada  ordem  de  doenças ,  aquella 
donde  nasce  o  maior  perígo  ^  e  que  por  isso  merece  a 
principal  attençào  do  medico.  Por  esta  razão  he  que 
eile  tira  os  caracteres  das  enfermidades,  ora  do  seu 
assento  e  natureza  ,ora  da  ordem  ou  irregularidade  dos 
symptomas  ,  e  ás  vezes  de  alguma  circumstancia  predo- 
minante f  ou  estes  caracteres  pertençào  ao  príncipio ,  ao 
meio  ou  á  terminação  da  doença.  Por  eQeito  d*este  * 
systema  chamou  meningo-gaslricas  as  febres  que  julgou 
dependerem  de  huma  aifecçào  primitiva  das  membra- 
nas do  estômago ;  angio-temcas  as  que  suppoz  provireoA 
da  acção  augmentada  dos  vasos  sanguineos  ;  ataxicàs 
as  que  tendem  a  seguir  huma  marcha  irregular;  e 
adynamicas  as  que  parecem  caracterísadas  desde  o  seu 
principio  por  huma  grande  prostração  de  forças. 

Nenhuma  destas  divisões  he  exacta,  tornamo-lo  a 
repetir,  porque  as  duas  primeiras  são  fundadas  em 
hypotheses  não  provadas,  e  as  duas  ultimas  são  mo-» 
dificações  ,  que  toda  e  qualquer  febre  pode  soQrer  no 
seu  progresso  e  terminação  -,  porém  he  justo  ao  mesmo 
tempo  confessar ,  que  todo  o  medico  que  não  der  ás 
denominações  da  eschola  maior  importância  do  que 
ellas  merecem,  e  do  que  lhes  dão  seus  próprios  au- 


Resenha  Anafytica,  53 

tores  y  achará  não  poucas  vezes  as  divisões  de  M.  Pitiel 
conformes  á  realidade,  sendo  incontestável  que  ha 
febres  em  qne  predomina  a  acçào  do  coração;  outras 
em  que  certas  membranas  estão  mais  ou  menos  ata- 
cadas^ muitas  que  desde  o  seu  principio  mostrão 
tendência  a  irregularidade  ^na  duração  e  phenomenos 
dos  paroxysmps  ;  e  outras  emíim  em  que  a  prostração 
de  forças  he  manifesta  desde  o  seu  ingresso.  Ora» 
como  M.  Pinei  não  teve  a  pertenção  de  dar  huma 
theoria  medica ,  mas  unicamente  teve  em  vista  gene- 
ralisar  a  descrípção  das  doenças ,  como  bem  indica  o 
titulo  de  Nosographia ,  que  deo  á  sua  obra  de  prefe- 
rencia ao  de  Nosologia ,  parece-nos  injusto  insistir  de* 
masiado  na  imperfeição  das  doutrinas  theoricas  que 
nesta  útil  obra  se  encontrão ,  apezar  dos  constantes* 
e  louváveis  esforços  com  que  o  seu  judicioso  autor 
procurou  evitar  tudo  o  que  lhe  pareceo  hypothetico. 
S§  elle  considera  algumas  vezes  como  causa  certos  phe- 
nomenos y  que  y  ou  são  eQeitos  absolutos  ou  concomi- 
tantes y  pelo  menos  estes  factos  são  reaes  e  não  ima* 
ginados ,  e  são  sempre  mui  importantes  a  conhecer, 
pois  tem  grande  influencia  na  natureza ,  progresso  e 
terminação  da  doença  a  cuja  historia  pertencem. 
Devemos  também  dizer ,  em  abono  do  autor  da  No^ 
sographia  metbodica ,  que  a  elle  se  devem  em  gi^nde 
parte  as  considerações  sobre  a  analogia  da  alteração 
mórbida  dos  tecidos  ou  membranas  de  structura  se- 
melhante, considerações  ás  quaes  o  celebre  Bichat 
confessa  ter  devido  a  primeira  ideia  do  seu  bellq  € 
útil  trabalho  sobre  as  membranas* 


54  Resenha  lAmdyticcu 

A  Nosographia  methodica  foi  acolhida  em  França 
e  em  toda  a  Europa  com  muito  louvor  ^  e  considerada 
por  todos  os  médicos  practicos  como  huma  obra  mui 
superior  ás  classificações  que  a  tinhão  precedido ,  na 
qual  as  doenças  erào.  descriptas  com  a  maior  exacçào 
possivel ,  e  o  estado  pathologico  de  cada  huma  indi- 
cado quanto  o  permittçm  os  nossos  escassos  conhe- 
cimentos  na  matéria.  Na  eschola  de  Paris  adoptou-se 
esta  obra  como  base  do  ensino  da  Pathologia ,  e  ate 
ha  poucos  annos  gozou  de  huma  não  contestada  re^ 
putaçãoy  até  que  M.  Brouss^is  tentou  substituir-lhe 
a  sua  nova  doutrina,  a  qual  ha  quatro  annos  conta 
nào  poucos  sectários  em  França.  Esta  doutrina  acha* 
se  por  ora,  parte  no  ti^atado  das  Phlegmasias  chronicas, 
obra  de  distincto  merecimento ,  e  á  qual  M.  Broussais 
deveo  o  principio  da  sua  reputação ,  parte  no  livro 
intitulado  Examen  de  la  Doctrine  médicale,  e  o  resto 
se  acha  disseminado  em  artigos  do  mesmo  autor  in- 
sertos nos  Jomáes  de  Medecina  de  Paris ,  e  em  alguns 
escríptos  de  seus  discipulos ,  sem  que  até  ao  presente 
tenha  ainda  o  autor  coordenado  as  suas  opiniões  em 
hum  corpo  systematico  de  doutrina.  Por  esta  razão  exa- 
minaremos os  principios  fundamentaes  de  M.  Broussais 
sem  nos  occuparmos  do  seu  inteiro  desenvolvimento, 
o  qual  só  o  publico  poderá  appreciar  quando  o  autor, 
cumprindo  o  que  ha  tempo  promette ,  publicar  o  sys- 
tema  que  hoje  ensina  na  cadeira,  depois  de  o  ter 
devidamente  meditado  e  apurado.  He  impossível  es- 
tabelecer i^ciocinios  concludentes  sobre  o  extracto 
que  das  suas  lições  acabão  de  publicar  dois  dos  seus 


Resenha  Analítica*  95 

discípulos ,  MM.  de  Caignou  e  Quémont ,  pois  que , 
alein  de  mui  imperfeito  e  mal  executado,  encerra 
■doutrinas  manifestamente  oppostas  ás  que  M.  Brous- 
sais  tem  publicado  em  seu  próprio  nome. 

A  extensão  d'este  artigo ,  que  nos  pareceo  hum  in- 
dispensável preliminar  para  o  exame  de  huma  theoria 
que  s\s  refere  a  tantas  outras  já  conhecidas ,  nos 
obriga  a  deixar  para  o  tomo  X  dos  Ânnaes  a  expo- 
sição critica  que  nos  propomos  fazer  da  Doutrina  de 
M.  BroussaiSy  o  qual  talvez  neste  intervallo  nos  de 
occasião  de  a  podermos  julgar  com  mais  conheci* 
mento  de  causa* 


Sê  Resenha  Anafytica^ 

EXPOSIÇÃO 

pos  producios  da  Industria  nacional,  em  Paris J^ 

em  i8ig. 

( TERCEIRO  ARTIGO. ) 

i^vAVDOf  a  pag.  99  da  i*.  Parte  do  volume  precedente , 
acabámos  o  Artigo  sobre  os  tecidos  de  lan ,  de  seda  e 
de  linho,  que  na  Exposição  de  1819  merecerão  pre^ 
mios  e  distincções ,  promettemos  ao  leitor  continuar 
com  os  de  algodão ,  parte  não  menos  interessante  da 
industiía  franceza,  e  não  menos  útil  aos  consumi- 
dores. Isto  far4  pois  o  objecto  do  presente  Artigo  ^ 
no  qual  concluiremos  tudo  qi:«anto  na  ditta  Exposição 
^ppareceo  digno  de  premio ,  no  importante  ramo  de 
tecidos  em  todos  os  géneros. 

fil.OOPÕE'9^ 

Fiação.  ^ 

Na  Exposição  de  1806,0  algodão  n\ais  bem  fiado 
não  passava  em  finura,  do  n<>.  60,0  de  huma  finura 
superior  não  era  tão  perfeito  ;  comtudo  ^  a  perfeição 
dos  primeiros  dava  lugar  de  esperar  que  os  segundos 
não  tardarião  em  aperfeiçoar- se  ;  a  Exposição  de  1819 
confirmou  esta  esperança*  Os  n^.  80 ,  e  ainda  loo,  che- 


Resenha  jánafytica.  S^ 

gárào  a  hum  ponto  de  execução  e  de  abundância,  que 
fazem  já  desnecessário  o  uso  do  fio  estrangeiro ,  até 
áquelles  números. 

Muitos  Estabelecimentos  se  tem  formado  desde  1806 
em  França ,  que  produzem  fio  assaz  fino ,  para  ser  em* 
pregado  nas  fabricas  mais  conhecidas  de  cassa  d'este 
paiz  ;  o  que  faz  esperar  que,  em  pouco  tempo,  as  fia* 
'ções  francezas  dêem  a  quantidade  de  fio,  dos  mais 
subidos  n^K  ,  sufiiciente  para  o  consumo  das  suas  ma*' 
nufacturas  :  a  arte  tem  já  hoje  determinado  exacta- 
mente as  condições  necessárias,  fixado  os  melhores 
processos,  feito  conhecer  os  melhores* mechanismos, 
com  o  que ,  nada  falta  ao  fabricante  para  conseguir 
aquelle  fim. 

Com  effèito,  na  Exposição  de  1819  apparecérão  ji 
muitas  amostras  do  no.  lao,  e  algumas  chegavàoaté 
ao  n^'.  aoo ;  e  ainda  que ,  por  ora ,  estas  amostras  fo« 
rào  feitas  de  propósito  *,  com  hum  cuidado  particular, 
para  aquelle  fim,  e  não  podem  considerar-se  como 
productos  de  huma  fabricação  habitual ,  comtudo  ^ 
mostrão  a  tendência  para  grande  perfeição  neste 
ramo ,  e  antes  de  muito  tempo. 

  Commissão  reconheceo  que  a  massa  actual  dos 
productos  das  fiações  he  ainda  muito  inferior  á  das 
necessidades  dos  tecidos ,  e  recommendou,  com  grande 
intenssse ,  como  meios  essenciaes  para  obter  hum  bom 
resultado  a  este  respeito ,  o  cuidado  mais  escrupuloso 
na    preparação   dos  algodões,  e  na  escolha  delles  ^ 


I 

58  Itesenjia  Analytica. 

sobre  tudo ,  não  deve  pertender-se  elevar  a  números 
mui  subidos ,  algodões ,  que  não  podem  soãrer  este 
grão  de  fmura.  Apparecérào  na  Exposição ,  algodões 
de  Geórgia ,  Bengala ,  Surrate  mui  bem  fiados  até 
aos  n®*  6o,  70  e  ainda  100;  porém  a  Commissão, 
reconhecendo  nisto  a  grande  habilidade  do  fabricante , 
comtudo ,  não  quiz  animar  este  género  de  industria , 
que  requer  cuidados  e  despezas  extraordinárias ,  que 
não  convém  ao  movimento  de  huma  grande  fabrica- 
ção ,  e  que  se  pode  conseguir  com  menos  custo , 
por  meio  de  huma  escolha  bem  entendida  da  matéria 
primeira. 

Pelas  razões  acima  expostas ,  entendeo  a  Commissão 
de  1819,  como  já  o  tinha  entendido  a  de  1806 ,  que 
devia  especialmente  animar  as  fiações  em  fino ,  sem 
comtudo  negar  a  recompensa  devida  á  perfeita  fiação 
ordinária. 

M.  Mille  f  do  Depaitamento  do  Norte ,  expoz  bel- 
lissimo  fio  de  algodão  desde  o  n^.  180  até  ao  n^.  200; 
a  Commissão ,  sabendo  que  no  Estabelecimento  d'este 
fabricante  ha  Hi  apparelhos  que  íião  em  fino,  movidos 
por  meio  do  vapor ,  e  tendo-se  assegurado  de  que  elle 
fornece  as  fabricas  mais  notáveis  de  cassas  e  tecidos 
finos  de  França ,  recoiíheceo  que  tinha  preenchido , 
ao  mesmo  tempo ,  todas  as  condições  essenciaes  da 
fiação  perfeita  e  útil ,  e  destinou-lhe  huma  med^ha 
de  ouro. 

*    .  Outra  igual  foi  destinada  para  M.  Florín ,  do  mesmo 


Resenha  AncãyÚca.  5g 

Departamento ,  cujo  fio ,  desde  n®.  177  'até  n®.  iqíi,  era 
de  grande  belleza  e  muito  igual ,  e  que  tem  huni 
considerável  consumo. 

O  irmão  de  M.  Mille  apresentou  igualmente  fio, 
desde  dP.  190  até  n^.  aoo ,  em  tudo  igual  ao  dos  dois 
fabricantes  acima ;  mas  como  o  seu  Estabelecimento 
não  lie  tão  importante ,  a  Commissâo ,  declarando  a 
igualdade  de  merecimento  dos  productos ,  concedeo 
com  tudo  a  este  ultimo  somente  a  medalha  de  prata. 

M.  Lambert  e  MM.  Arpin  expozerão  também  amofr» 
trás  de  fio  de  excellente  qualidade  ,01^.  desde  n^.  17a 
até  n^'.  184,  e  os  1^.  desde  i3o  até  160:  ambas  as 
fabricas  obtiverão  medalhas  de  prata* 

O  mesmo  preúiio  alcançarão  mais  5  fabricantes,  por 
terem  exposto  productos  de  n<>».  inferiores,  mas  do 
huma  perfeição  reconhecida. 

MM.  Gombert  e  Michelez  de  Parts ,  apresentarão 
fio  de  algodão  torcido ,  de  diversas  cores ,  que  hoje 
entra  em  concurso  com  o  fio  de  linho  para  coser. 
Este  fio  vinha  antigamente  de  fora ;  MM.  Gombert 
forão  os  primeiros  que  o  fabricarão  em  França,  e 
com  o  seu  exemplo  excitarão  outros  ao  mesmo  ramo 
de  industria.  Estas  circumstancias ,  juntas  á  perfeição 
dos  seus  productos ,  e  ao  baixo  preço  porque  elles  os 
vendem,  forão  julgadas  dignas  de  huma  medalha  de 
*  prata. 

Mais  5   fabricas  obtiverão  nestes  diversos  artigos  ^ 


6o  Resenha  Analytica. 

medalhas  de  bronze,  e  onze  receberão  menções  ho- 
norificas. 

Tecidos, 

CaUcós  ,panninho  j  cclsscls.  k.  pezar  do  estado  de  pei^ 
feição  y  a  que  os  tecidos  de  seda  e  as  cambraias  tinhão 
chegado  em  França,  o  que  provava  a  habilidade  dos 
seus  obreiros  para  trabalharem  com  os  íios  mais  deli- 
cados, comtudo,  só  no  principio  d'este  século ,  isto  he , 
ha  vinte  annos ,  he  quê  a  fabricação  das  cassas ,  dos 
panninhos  y  e  até  a  dos  calicós,  começou  a  ser  mais 
geral  neste  paiz.  Na  Exposição  de  i8oa  não  appareceo 
mais  do  que  huma  peça  de  cassa ,  que  veio  de  Anvers  , 
e  a  Commissão ,  nessa  epocha  y  tendo  tido  razão  de 
duvidar  que  a  ditta  peça  tivesse  sido  tecida  em  França » 
não  fez  menção  alguma  delia. 

Os  Estabelecimentos  da  cidade  de  St.-Quentin  (que 
em  outro  tempo  tinhão  sido  famosos  por  tecidos  de 
cambraias )  tendo  decahido  ,  por  falta  de  consumo  dos 
seus  productos,  houve  fabricantes  que  tentarão  em- 
pregar,  nos  tecidos  de>  algodão  ,  obreiros  tão  habituados 
e  tão  hábeis  no  trabalho  das  cambraias.  Esta  ideia 
feliz  prosperou  de  modo,  que  desde  i8o3  até  1818  a 
povoação  de*  St.-Quentin  tem  augmentado  | :  come- 
çarão aquelles  fabricantes  a  tecer  fustòes,  depois  ca- 
licós,ehoje  fabricão  panninhos,  cassas  e  tecidos  de 
algodão  de  grande  finura  e  de  lavores  mui  variados.- 

Por  aquella  mesma  epocha  ,  as  fabricas  Vle  Tarare 
tomarão  esta  mesma  direcção ,  e  hoje  até  os  habi* 


Resenha  Analj^ica,  6i 

tantes  das  montanhas  adjacentes  se  occupào  nestes 
tecidos ,  em  todo  o  tempo  que  os  trabalhos  da  agrU 
cultura  Ih' o  permittem. 

Já  na  Exposição  de  1806,  as  fabricas  de  St.-QuentÍQ 
e  de  Tarare  obtive^ào  as  maiores  distincçòes,  e  na 
de  iSiQOSseus  productos  desempenharão  tudo  quanto 
podia  esperar-se  (  são  expressões  da  Commissão )  no 
íim  de  treze  aunos  de  trabalho ,  em  dois  paizes  povoa* 
dos  de  homens  industriosos,  animados  pelo  concurso 
de  hum  estado  continuo  de  emulação,  e  constante- 
mente occupados  na  indagação  dos  meios  de  se 
aperfeiçoarem. 

Entre  estes  fabricantes ,  distinguirão-se  pela  perfei- 
ção y  finura  e  variedade  dos  seus  productos ,  M.  Ma- 
tagrín  e  M.  Chatonay  de  Tarare ,  e  M.  Arpin  de  St. 
Quentin,  os  quaes  obtivei^ão  medalhas  de  ouro. 

Mais  quatro  fabricantes  receberão ,  nestes  diversos 
artigos,  medalhas  de  prata  *,  dois ,  medalhas  de  bronze  ; 
oito,  menções  honorificas,  e  doze,  menções  simples. 

Aoolchoadinhos  ,fuslóes  ,  etc.  A  exposição  dos  bello$ 
tecidos  doeste  género  mereceo  que  a  Commissão  con- 
firmasse a  )usta  causa ,  com  que  já  em  1806  M.  Se^ 
i^ennesy  de  Ruão ,  tinha  obtido  huma  medalha  de  ouro, 
e  concedesse  medalhas  de  prata  a  mais  três  fabricantes, 
e  a  quatro,  menções  honorificas. 

Belbutes.  M.  de  St.  lUqider,  de  Âmiens ,  obteve 
huma  menção  .honorifica ,  pelos  belbutes  que  expoz, 
de  hum  tecido  mui  perfeito. 


fo  Resenha  Analítica. 

Casimiras  de  algodão  ,  etc.  Qaatro  fabricantes  ob-^ 
tiverào  neste  artigo  menções  honorificas  9  e  sete ,  men- 
ções simples. 

Casimiras  de  lan  e  algodão.  M.  Grout,  de  Ruão, 
expoz  casimira  tecida  com  lan  e  algodão  misturados 
á  carda ,  de  excellente  qualidade :  ao  merecimento  do 
seu  producto ,  M.  Grout,  ajuntava  o  de  ter  introdu- 
zido este  ramo  de  industria  em  hum  Departamento , 
em  que  ainda  o  não  havia ,  e  a  Commissão  concedeo- 
lhe ,  em  attenção  a  isto ,  huma  medalha  de  bronze. 

O  mesmo  premio  obtiverão  também  as  casimiras 
expostas  por  M.  Decaen ,  igualmente  de  Ruão. 

Tecidos  para  coletes.  Dous  fabricantes ,  do  Departa- 
mento do  Norte  ,  expozerão  estofos  próprios  para  co- 
letes y  notáveis  pela  regularidade  do  tecido  e  pelo  bom 
gosto  da  disposição;  merecerão ,  por  isso >  menção  ho- 
noiiíica;  outro  fabricante  obteve ,  pelo  mesmo  motivo , 
huma  menção  simples. 

Chalés  e  lenços»  M.  de  la  llue ^  de  Ruão,  expoz 
chalés  de  avesso  de  sarja  ,  notáveis  pela  regularidade 
da  sua  fabricação » e  pela  variedade  e  solidez  das  suas 
cores ;  a  Commissão  destinou-lhe  huma  medalha  de 
prata- 

Mais  três  fabricantes  obtiverão  medalhas  de  bronze  í 
pela  exposição  de  chalés  ,  que  imitavão  os  da  índia , 
e  os  de  lan  ,  de  hum  bello  eSeito ,  e  cores  fixas  e 
bem  ajustadas.  Quatro  fabricantes   conseguirão,  em 


Jlesenlia  Analytica.  €3 

recompensa  de  productos  do  mesmo  género ,  menções 
honorificas,  e  quatro,  menções  simples* 

Fitas.  M.  Go/wier^^  de  Paris, obteve  menção  hono- 
rifica ,  por  ter  exposto  muito  boas  fitas  de  algodão. 

Roupa  de  mesa  adamascada*  M.  Pelietiery  de  St. 
Quentin,  foi  premiado  com  huma  medalha  de  prata  , 
pela  excellente  roupa  de  mesa  de  algodão  adamas- 
cada ,  que  apresentou ,  de  excellente  qualidade ,  e  de 
hum  lindo  gosto  de  desenho.  Outro  fabricante ,  que 
neste  artigo  expoz  perfeitos  tecidos,  alcançou  menção 
honorifica. 

Baetinhas  e  cobertores.  A  Commissão  achou  que  ^ 
neste  ramo,  M.  Pujol  continuava  a  merecer  a  me- 
dalha de  prata,  que  tinha  obtido  em  1806,  e  conce- 
deo  hum  igual  premio  a  M-  Tkibautj  que,  nesta  Ex- 
posição de  ^819,  se  distinguio  igualmente  no  mesmo 
género  de  industria.  Pelo  mesmo  motivo ,  mais  cinco 
fabricantes  obtiverào  menções  honorificas ,  e  hum  , 
mereceo  menção  simples. 

Rendas ,  filós  e  cassas  bordadas  ,  etc.  MM.  Moreaii , 
de  Chantilly ,  já  na  Exposição  antecedente  tinhão  ob- 
tido huma  medalha  de  prata ,  pela  perfeição  dos  pro- 
ductos ,  que  neste  ramo  apresentarão ,  tecidos  de  algo- 
dão. Em  1819,  estes  mesmos  fabricantes  expozerão 
quatro  vestidos  de  senhora ,  brancos,  e  hum  véo  preto, 
summamente  notáveis  pela  belleza  dos  desenhos ,  pelo 
bem  acabado  da  execução ,  e  pela  elegância  das  for- 
mas^ alem  disto,   apresentarão  huma   almofada  de 


64  Resenha  AnaJ^cãi 

bordar^  em  que  se  TÍão  amostras  de  todos  os  pontos  de 
renda,  que  o  seu  Estabelecimento ,  conservado  de  pais 
a  filhos,  tem  feito  executar  ha  i5o  annos.  ACommis- 
são ,  reconhecendo  em  tudo  isto  o  progresso  daquella 
fabrica,  que  actualmente  occupa  de  Soo  a  600  pessoas 
do  sexo  feminino, e  alem  disso,  o  zelo  de  MM.  Mo- 
reau ,  concedeo  a  estes  fabricantes  huma  medalha  de 
ouro* 

M.  Mercier ,  d*Âlençon^  e  M.  Vandessel^  de  Chan-^ 
tilly ,  forào  julgados  dignos,  nesta  Exposição,  da  mesma 
honra ,  que  em  1806  tinhão  já  alcançado ,  de  huma 
medalha  de  prata,  pelos  seus  bellos  productos ,  naquelle 
artigo^ 

M.  Bonnaire ,  de  Caen,  M.  Docagne  ,  d'AIençon  ^ 
e  M.  Tarãif ,  de  Bajeux ,  merecêi^ão  igualmente  me- 
dalhas de  prata ,  por  terem  exposto  lindos  vestidos , 
véos ,  mantelettes ,  guarnições  recortadas ,  rendas  todas 
brancas ,  outras  bordadas  de  diversas  cores ,  e  de  ouro 
e  prata ,  sobre  fundo  branco ,  e  huma  infinidade  de 
objectos  neste  género ,  de  hum  gosto  e  «de  huma  per- 
feição notável. 

Mais  quatro  fabricantes  obtiverão ,  por  artigos  da 
mesma  natureza,  medalhas  de  bronzeie  sete,  men» 

côes  honorificas. 

■ 

M.  Cliénut,  e  M.  Balbdtre  de  Nancy ,  merecerão 
menções  honoríficas  pelos  perfeitos  bordados,  que  expo^ 
zêrào,  sobre  rendas  e  cassas;  os  quaes  são  actualmente 
objecto  de  hum  commercio  muito  interessante. 


Resenha  Anàfytica,  65 

t)BUA8  BC  TEA&  DE  POHTO  DE  MEIA* 

Em  lan. 

Os  preços  moderados ,  a  perfeição  da  execução  e  a 
variedade  de  objectos  tecidos  de  ponto  de  meia  em 
lan,  taes  como  :  vestidos  e  saias  ,  sem  avesso-,  meias  , 
barretes  ordinaiios,  e  turcos,  fabricados  á  moda  de 
Tunis ,  e  destinados  privativamente  para  o  commercio 
do  Levante^  etc.  obti verão ,  para  dois  fabricantes ,  me- 
dalhas de  prata;  de  bronze  a  mais  quatro;  e  a  outros 
tantos  menções  honorificas ,  ou  menções  simples. 

Em  seda. 

Pela  perfeição  dos  productos  de  ponto  de  meia  em 
«eda,  conseguirão  três  fabricantes  menções  honorificas. 

Em  Unho. 

M  Detr^ ,  de  Besançon ,  foi  julgado  digno  de  gozar 
^a  medalha  de  prata ,  com  que  tinha  sido  recompen- 
sado em  1801 ,  pelas  excellentes  meias  de  linha ,  de 
homem  e  de  senhora ,  que  já  então  fabricava ,  por  pre- 
ços moderados.  M.  Duboslt,  de  Paris,  obteve  em  1819 
a  mesma  distincção ,  por  ter  exposto  meias  de  linha , 
tecidas  como  renda  y  e  meias  de  seda  abertas ,  todas 
de  huma  finura  e  de  hum  trabalho  perfeito. 

Em  algodàO' 

M.  Guérinot,  de  Valençay,  apresentou  meias  summa- 
mente  finas ,  barrettes  e  pantalonas  de  algodão ,  de 
Tom.  ÍX.  S  ^ 


6i  Resenha  Anafytica. 


NOTICIA 

Sobre  o  Bima  ou  Ancore  de  pão, 

A.  ÁRVORE  de  pão  (  Artocarpus  incisa )  tem  o  nome 
de  rima  na  lingua  malaia ;  os  habitantes  de  Âmbojna 
a  chamão  huUusutan\  os  de  Java,  de  Madure  e  de 
Balega  succwnbidgi-kuler  /e  os  insulares  de  Otahiti  lhe 
dão  o  nome  de  wú. 

O  tronco  desta  arvore  he  arborescente  e  lactescente , 
e  se  eleva  a  mais  de  quarenta  pés ;  a  sua  madeira  he 
moUe  j  amarellada  e  leve.  O  tronco  he  direito ,  a  casca 
he  parda  e  gretada.  Tem  copa  grande  e  arredondada. 
Os  pernadas  são  ramosas ;  as  inferiores  se  extendem 
horizontalmente ,  e  todas  ellas  se  terminão  por  hum 
gomo  /  formado  de  duas  escamas  caducas.  As  folhas 
tão  ponti-agnadasy  pecioladas,  alternas ,  muito  grandes, 
e  profundamente  incisas  de  ambos  os  lados,  e  divididas 
•m  sete  ou  oito  lóbulos  inteiros  de  huma  ))eUa  cor 
verde.  Cada  huma  delias  tem  cousa  de  dezoito  polle- 
gadas  de  comprido ,  e  oito  a  onze  de  largo.  As  flores 
são  pouco  apparenteSy  monoicas  ou  encasuladas,  más- 
culas e  fêmeas  na  mesma  arvore  ,  e ,  na  sua  infância , 
mettidas  entre  duas  escamas  caducas.  As  flores  mas* 

< 

cuias  são  numerosas  ,  rentes ,  e  cobrem  inteiramente 


Ilesenha  Anafytica.  69 

liiim  casulo  cylindrico  e  espesso ;  tem  hum  calyx  bi* 
valve  com  hum  só  estame  mui  curto.  Os  casulos  pvaes 
clavi-fórmes  são  cobertos  em  ioda  a  sua  superfície  de 
flores  fêmeas  reates  e  mui  bastas  que  tem  hum  calyx 
alongado ,  hexágono ,  prismático ,  quasi  carnudo ;  hum 
ovário  situado  no  fundo  do  calyx  com  stylete  filiforme , 
persistente ,  terminado  por  hum  ou  dois  stigmas  :  o. 
numero  das  sementes  he  igual  ao  dos  ovários;  cada 
huniia  delias  tem  o  cume  espigado,  he  cercada  de 
huma  polpa  farinhosa ,  e  estão  mettidas  em  'huma 
massa  carnuda,  formando  todas  juntas  huma  baga 
arredondada,  escabrosa,  ovalar  ,  e  guarnecida  por  fora 
de  areolas  pentahedras  ou  hexahedras  formadas  pela 
parte  superior  dos  calyces,  que  se  cerra  inteiramente. 

O  fnicto  desta  ai*vore  he  saboroso,  da  grossura 
de  hum  melão  ordinário  ,  e  tem  a  sqperficíe  desigual  \ 
a  casca  he  grossa,  o  interior  he  branco  antes  de 
maduro ,  e  depois  torna-se  amarellado.  Este  fructc^  de 
ordinário  vem  sobre  o  tronco,  ou  sobre  os  ramoa 
grossos,  e  raras  vezes  sobre  os  pequenos. 

Por  efièito  da  cultura  susta-se  o  desenvolvimento 
das  sementes,  e  em  vez  do  fructo  acha-sesó ,  á  roda 
de  hum  receptáculo  coberto  de  huma  pellicnla  esca- 
brosa,.huma  polpa  espessa,  mui  branca,  farínhosa 
antes  de  chegar  a  perfeita  maturidade  ,  e  que  se  toma 
gelatinosa  e  amarellada  com  o  tempo.  Tem  hum  sa« 
bor  mui  semelhante  ao  de  pão  de  trigo,  e  que  par-> 
Ucipa  do  da  alcachofra  e  da  batata  carvalha^ 


70  Resenha  Analytica. 

Esta  arvore,  conhecida  ha  muito  lempó  nas  Qhas 
MoiacaSy  e  nas  de  Maríanna,  em  Balavia,  etc.  he 
mui  abundante  nas  ilhas  do  mar  do  Sul. 

Os  naturaes  de  Otabitie  de  Auuare  plantão,  cada 
hum  por  huma  vez ,  pouco  mais  ou  menos  dez  pés 
d'estas  arvores ,  e  depois  ^cão  mui  tranquillos , 
assentando  terem  peifeitamente  provido  ao  sustento 
das  sus^s  famílias.  O  numero  das  arvores  plantadas, 
se  bem  que  medíocre  em  apparencia  ,  basta  para  ali- 
mentar a  povoação.  Estes  insulares  preparão  o  fructo 
pondo-o  em  huma  cova  feita  na  teira,  na  qual  mettem 
primeirp  seixos  aquecidos ;  em  cima  doestes  põem  os 
fructos ,  e  tapào  a  cova  com  huma  pedra  ,  para  con* 
servar  nella  o  calor.  Dentro  de  pouco  tempo  estão 
çozid.QS.  A  estes  ajuatão  outro  fructo  acido ;  e  o  seu 
manjar  mais  delicado  consiste  em  huma  mistura  do 
fructo  da  arvpre  de  pão  codol  naarisco ,  ou  com  carne 
dç  pojTco  asaada. 

Este  frudo  não  se  obtém  fresco  senão  durante  oito 
mezes  do  anno ;  para  o  conservar  nos  roeses  de  Sep* 
tembro ,  Outubro  ,  Novembro  e  Dezembro  empregão 
estes  insulai^s  methodoseconomicos^quaeslhes  fornece 
a  sua  escassa  industria.  Se  o  anno  he  de  safra, cada 
habitante  dispõe  hum  instrumento  particular  feito  de 
pao,e  trabalhado  por  meio  de  alguma  concha  cortante, 
e  recolhe  a  toda  a  pressa,  todos  os  fructos  das  suas 
arvores  ,  p  ra  os  convert;  r  por  meio  d*este  instrumento 
em  huma  massa  acidula,  que  ellcs  ckamao  mahi.  L  fer^ 
mentação  que  esta  massa  experimeoia  a  tonm    mui 


Resenha  jánalyticiL  71 

apta  para  se  poder  conservar  por  bastante  tempo ;  o 
que  os  põem  em  estado  de  esperar  pela  colheita  pró- 
xima. Outra  precaução  consiste  em  cultivar  estas  ar- 
vores nas  encostas  9  pai^  tirar  delias  o  provimento 
^ando  o  das  planícies  está  consumido  \  mas  este  re- 
cuiio  pouco  aproveita  em  annos  de  escassez.  Nesse 
caso  recorre-se  ao  mahi  j  e  os  habitantes  que  não 
iizerão  iH*ovisão  delle ,  achão-se  reduzidos  a  buscar 
alguns  cocos ,  raros  naquella  estação ,  ou  são  obrigados 
a  contentar-se  de  fructos  azedos  de  outras  arvores* 

Não  he  só  o  íructo  da  arvore  de  pão  de  que  0$ 
Otabitas  tirão  partido  ;  com  o  liber  ou  segunda  casca 
d'esta  ai*vore  fazem  as  tangas  com  que  se  cingem ;  com 
o  tronco  ediíicáo  as  ^  suas  cabanas  ,  e  delle  fazem  os 
seus  esquifes y  a  que  chamão  morai;  também  delle 
se  servem  para  construir  as  suas  pahi  ou  cauoas  de 
guerra  mui  Leves  e  veleiras.  As  folhas  lhes  servem  de 
roupa  e  de  louça;'  sobre  ellas  estendem  as  iguarias, 
e  principalmente  a  carne  de  porco ,  que  elles  assào  ao 
lume  dos  ramos  accesos  juntamente  com  as  flores  da 
mesma  arvore.  Com  o  sueco  que  corre  da  incisão 
feita  na  casca ,  compõem  huma  espécie  de  visco ,  a  que 
os  habitantes  da  ilha  de  Arou  chamão  éucué^  com  o 
qual  apanhão  diversos  pássaros.  Este  sueco  he  com- 
posto quasi  dos  mesmos  elementos  que  o  caút^chue 
ou  gomma  elástica  extrahida  do  heuea^  e  do  jatropha^ 

Anson,  Wallis ,  Dampter ,  Carteret ,  Cook^  Sciander 
e  Bougainville,  tendo  todos  reconhecido  por  experiên- 
cia a  grande  utilidade  do  fructo  da  arvore  de  pãa»  a 


7ft  Resenha  Aiudyticã. 

tem  preconisado  com  razão  como  hum  dos  maiores 
recursos  para  quem  navega  aquelles  mares;  e  posto 
que  a  reputação  bem  merecida  desta  arvore  não  conte 
mais  de  cincoenta  annos,  de  dia  em  dia  se  vai  mais 
e  mais  extendendo  e  confirmando.  As  nações  da  Eu-» 
ropa  y  e  entre  ellas  a  franceza,«tem  mandado  expedi-» 
çôes  destinadas  a  fazer  provisão  doesta  preciosa  arvore » 
com  o  fim  de  a  propagar  nos  seus  dominios, 

Sonnerat  trouxe  da  ilha  de  l^uçon  4  ilha  de  França^ 
estacas  da  arvore  de  pão ,  que  dentro  de  pouco  tempa 
prosperarão.  O  intendente  Poivre  teve  particular  cui-^ 
dapo  da  cultura  delias ,  he  bem  Sabido  que  este  sa-^ 
bio  e  virtuoso  magistrado  não  cessou  em  cada  anno 
da  sua  admirável  administração  de  fazer  conquistas 
vegetaes,  conquistas  preciosas ,  que  sem  custarem  san^ 
gue ,  deviào  desonerar  a  pátria  do  tributo  pesado  que 
pagava  ás  nações  estrangeiras,  k  variedade  d'este  ve- 
getal, cu)o  fructo  não  tem  caroço,  recolhida  por  M« 
Labillardière,  foi  igualmente  transportada  para  a  ilha 

N 

de  França ,  e  alli ,  confiada  ao  cuidado  do  jardineiro 
Lahaie  ,  deo  fructo  pela  primeira  vez  em  1800 ,  como 
o  anunciou  então  M.  de  Céré  ,  director  do  jardim  bo-« 
tanico  d^aquella  ilha. 

Transplantada  pai*a  as  Antilhas  naturalisou-se ,  mas 
o  terreno  de  Cajenna  lhe  foi  particularmente  favora* 
vel ,  e  alli ,  pelo  cuidado  de  M,  Martin  ,  multiplicou 
rapidamente.  De  Cayenna  foi  transportada  a  Paris  1^ 
e  hoje  be  huma  das  arvores  exóticas  que  aformoselo^ 
o  grande  jardim  botânico  d'esta  capital^ 


Resenha  Analjtica.  «73 

Semelhante  á  canna  de  assacar  e  á  bananeira ,  as 
quaes  pela  cultura  tem  perdido  a  faculdade  de  se  re- 
produzirem de  semente ,  a  arvore  de  pão  pode  fácil-* 
mente  multíplicar-se  de  estaca ,  assim  como  porgarfos, 
que  a  molleza  natural  do  pao  parece  dispor  a  deitar 
raízes;  mas  este  segundo  meio  he  o  mais  difiBcil. 

Na  Europa ,  até  agora ,  só  se  tem  cultivado  esta  ar- 
vore em  estufas ;  mas  parece  mui  provável  que  hum 
dia  venha  a  ser  naturalisada  nos  paizes  meridionaes 
•da  Itália ,  em  Nápoles,  na  Sicilia ,  no  sul  da  Uespa- 
nba  e  do  Portugal ,  e  até  em  França  na  Provença* 
Huma  presumpçào  favorável  de  que  he  susceptível  de 
prosperar  nestes  paizes,  resulta  da  existência  das  es- 
camas, que  protegem  os  rebentos  dos  ramos  tenros ,. 
servindo-lbes  de  tegumento. 

O  modo  ordinário  de  preparar  o  fructo  desta  ar- 
vore consiste  em  o  assar,  depois  de  cortado  em 
fatias  ,  sobre  as  brazas  ou  no  forno  ;  também  se  coze  > 
mas  para  isso  requei^-se  que  não  esteja  de  todo  ma- 
duro. Neste  ultimo  estado  fazem-se  delle  massas  menos 
agradáveis  ao  gosto,  mas  que  fermentadas  se  podem 
conservar.  Pode  também  delle  eztrahir-se  huma  fécula, 
que  he  susceptivel  de  formar  massas  mui  saborosas. 

As  sementes  desta  arvore  não  cultivada- podem 
torrar-se ,  ou  cozer-se  em  agua  ;  porém  tem  hum  sabor 
aci*e ,  e  repugnante  ao  paladar  da  maior  parte  dos 
Europeos,  se  bem  que  agrade  aos  naturaes  das  Mo- 
lucas ,  e  a  outros  povos. 

Bem  como  a  útil  batata  ^  o  fructo  da  arvore  de  pão 


74  Jiesenha  Anafytica» 

a  principio,  nas  colónias  francezas^só  sérvia  de  sustehto 
aos  escravos ;  hoje  já  os  riccos  começâo  a  iazé-lo  servir 
nas  suas  mesas ,  e  reconhecem  quehe  superior  á  man- 
dioca e  ao  milho. 

Poder-se-hia  seccar  este  firucto ,  depois  de  o  cortar 
em  fatias  delgadas,  para  o  privar  do  principio  mu- 
coso e  saccharino  que  encerra.  Por  este  preparo  se 
tomaria  hum  excellente  artigo  para  embarque ,  e  seria 
mui  útil  mantimento  para  a  gente  do  mar»  bastando  ^ 
para  se  servir  delle ,  humedecê-lo  com  agua  quente. 
A  massa  acidula  feita  com  o  fructo  maduro  poderia 
ser  hum  utilissimo  artigo  da  dieta  dos  marinheiros, 
mui  próprio  para  impedir  o  esccurbuto»  e  suppriria 
perfeitamente  o  Saw  kraut  ou  conserva  de  couves. 

A  pezar  das  propriedades  alimentares  bem  reconhe- 
cidas do  fructo  da  arvore  de  pão ,  e  do  uso  que  delle 
podem  fa^er  os  navegantes,  cumprç  observar  que, assim 
como  tantas  outras  Cructas ,  pode  o  uso  excessivo  d'esta 
ser  nocivo ,  pelas  propriedades  laxantes  de  que  he  dota- 
da;  e  no  estado  de  nimia  madureza ,  pela  tendência 
que  pode  ter  a  occasionar  a  dysenteria ,  doença  tão 
funesta  nos  climas  quentes. 

Gonsta->nos  que  já  no  Rio  de  Janeiro  se  c«dtiva  esta 
utU  arvore ,  e  he  de  esperar  que  cedo  se  propague  por 
todo  o  Brazil.  Também  hc  muito  de  desejar  que  se 
introduza  no  Algarve,  cujo  clima  lhe  deve  necessa-* 
ríamente  ser  mui  próprio ;  e  que  assim  se  angmente  a 
quantidade  das  substancias  alimentares  de  que  tanto 
precisamos  em  PortugaL 

F.  S.  C. 


Resenha  Anafytica,  ^S 


ALAVANCA 

BjdrcuâUca  de  M.  Godin. 


A  agua  não  he  menos  necessária  á  vida  dos  ammaes , 
do  que  á  das  plaptas ;  por  isso ,  o  modo  de  aproveitar 
as  aguas  tem  merecido  em  todos  os  tempos  o  maior 
cuidado ,  e  coosiituido  buma  parte  muito  interessante 
da  economia  rural.  Os  paizes,  que  possuem  a  vantajem 
de  serem  cortados  ,  em  difierentes  direcções  ,  por  cor- 
rentes mais  ou  menos  consideráveis ,  principalmente  se 
esses  paizes  estão  situMlos  em  hum  clima ,  em  que  os 
calores  do  verão  são  prolongados  e  intensos,  tem 
grande  necessidade  de  empregarem  todos  os  meios^ 
para  se  servirem  das  aguas  d' essas  correntes ,  elevando* 
as  ao  nivel  conveniente* 

* 

Os  grandes  defeitos  das  machinas ,  alé  agora  Inven^ 
tadas,  para  este  fim,  são:  não  serem  assas  simples, 
para  se  construirem  com  facilidade ;  assaz  solidas,  para 
resistirem  a  hum  trabalho  violento  e  continuo;  assax 
gi^osseiras ,  para  estarem  ao  alcance  da  habilidade  de 
qualquer  obreiro ,  que  as  possa  construir  e  concertar  > 
e  assaz  baratas,  para  que  o  agricultor  possa  ser  am- 
plamente recompensado  da  sua  despeza ,  pelos  bons 
resultados  que  d*ellas  colher. 

£ste  foi  o  problema ,  que  ultimamente  se  propôs  ro* 


76  ReseiAa  Arutfytica. 

solver  M.  Godin ,  inventando  huma  machina ,  a  que 
chamou  Alavanca  I^dreudica,  para  elevar  as  aguas 
correntes ,  servindo-llie  estas  mesmas  aguas  de  motor» 
e  aproveitando  para  isto  a  queda  d^ellas,  ainda  que 
esta  seja  mui  pouco  considerável.  A  importância  do 
invento  de  M.  Godin  ,  e  o  interesse  que  delle  podem 
tirar  os  paises  >  para  os  quaes  ésa« vemos  y  nos  persua- 
dio  a  darmos,  não  só  huma  descripção  simples  e  fácil 
da  sua  faiachina ,  ajuntando-lhe  as  Tx)nsideraçôes  ne- 
cessárias para  a  construir,  mas  também  huma  estampa , 
a  fim  de  facilitar  o  conhecimento  d'ella  ao  lavrador ,, 
e  ao  artifice. 

Explicação  da  Estampa* 

Na  fig.  I*.  representa-se  a  machina  em  perfil ,  e  na 
a*,  vé-se  em  planta  a  sua  parte  principal.  A  mesmas 
letras  indicão  as  mesmas  cousas  ,  em  ambas  as  figuras. 

a—AssudeiSí  suç  altura  pode  ter  desde  18  poUega- 
das ,  até  ao  pes  ;  quanto  maior  for  a  queda  da  agua » 
mais  vantajosa  será. 

6  •—  Qttelha  de  madeira ,  que  conduz  a  agua  para,  a 
alavanca,  a  qual  %  de  hum  lado  ,  está  apoiada  sobre  o 
assude ,  e  do  outro ,  sobre  huma  travessa ,  sustentada 
por  dois  barrotes,  pregados  nos  pilares,  que  servem 
de  apoio  á  alavanca. 

c  d  —  Ala\fanca ,  construida  de  huma  só  viga ,  sobre 
cujas  bordas  se  achão  pregadas  taboas,  que  formão 
huma  quelha,  por  onde  a  agua  vai  encher  dois  caixões ,, 
que  se  achào  pregados  nos  extremos  dá  ditta  alavanca^ 


Resenha  AnàfytícO'  77 

« e  —  Eixo  sobre  que  a  alavanca  faz  o  seu  movi-^ 
mento. 

f — Caixão f  formado  de  seis  taboes,  havendo,  na 
que  serve  de  tampa ,  hum  espaço  aberto ,  como  se  vé 
na  fig.  3^. ;  este  caixão  serve  para  conter  a  agua, cujo 
peso  faz  mover  a  alavanca,  e  se  chama  potencia' j  ou 
motor. 

g — Caixão  f  da  mesma  forma  do  caixão^i  o  qual 
serve  para  receber  a  agua,  que  deve  levantar-se  pelo 
movimento  da  alavanca. 

k  —  Quelha ,  formada  por  quatro  taboas ,  e  pregada 
na  parte  inferior  do  caixão /de  mião,  que  forme  com 
elle  hum  angulo  de  4^^,  ou  metade  do  esquadro.  Este 
Canal  serve  para  dar  sabida  á  agua,  contida  no  caixão^ 
logo  que  esta ,  com  o  seu*peso,  tem  produzido  huma 
oscillaçào  da  alavanca. 

i —  Quelha  f  da  mesma  forma  da  quelha  A,  e  collo* 
cada  semelhantemente ,  a  qual  serve  para  despejar  a 
agua  contida  no  caixão  g  para  o    reservatório  k ,  até 

ao  qual  se  eleva. 

jj  —  Caixa  transversal ,  para  conter  a  agua,  que  cahe 
sobre  a  alavanca,  em  quanto  os  caixões/^  sedespe- 
jão  ,  e  que  depois,  deve  encher  o  caixão  gy  quando  a 
alavanca  toma  a  sua  posição  horizontal. 

k  —  Pia  de  madeira,  que  recebe  a  agua,  levantada 
pela  machina  y  donde  ,  salie  por  canos ,  para  os  seus 
destinos. 


^6  Resenha  AtudYtiea. 

11^  Pilotes y  que  servem  de  fMmtès ,  sobi^e  que  rodào 
os  extremos  do  eixo  da  alavanca. 

mm!  —  Madeiro ,  grosso  no  extremo  m ,  e  que  vai 
adelgaçando  para  o  extremo  rH''^  destinado  (>ara  dar 
maior  solidea^  á  alavanca ,  na  qual  está  pregado  ,  com 
cavilhas ,  ou  pf^os ,  e  se  se  jillgtir  necessário ,  cingido 
com  arcos  de  ferro. 

n— Pedaço  de  inga^  embutido,  por  hum  extremo,  em 
hum  engaste  quadrado,  praticado  no  madeiro  m, 
destinado  para  fazer  que  o  centtx)  de  gravidade  da 
machina  esteja  inferior  aos  pontos  de  apoio  /  /,  a  fim  de 
favorecer  as  oscifll^s  da  alavanca. 

o  — ,  Pilar  de  apoio  y  que  serve  para  sustentar  o 
braço  mais  comprido  da  alavanca,  quando  esta  toma 
a  posição  horizontal. 

PP  —  Cauil/iifs  de  madeira  f  para  assegurar,  com  so- 
lidez e  economia,  <f  caixão/,  sobre  o  prolongamento  da 
viga ,  que  forma  a  alavanca ,  o  qual  atravessa  a  ditta 
caixa. 

Effeitos  da  machina, 

A  agua ,  chegando  pelo  canal  b ,  que  se  termina  a 
algumas  poUegadas  antes  da  vertical  ao  eixo  e  e ,  cahe 
alternativamente,ou  para  traz  da  espécie  de  diaphragma, 
que  forma  a  parede  maior  da  caixa  transvei^al yy»  ^^^ 
para  diante,  delle  :  cahe  para  traz ,  quando  a  alavanca 
está  em  posição  horizontal ,  e  para  diante ,  quando  a 
alavanca  está  inclinada.  A  agua,  que  cahe  para  traz  do 


Resenha  Analytiea*  79 

«liaphragma ,  corre  pela  parte  c  da  qadha ,  para  o 
caUào/,  e  a  que  cabe  para  diante  do  diaphragmat 
corre  dentro"  da  caixa  transversal ,  a  qoe  elle  serve  de 
parede  ,  e  nella  se  conserva,  até  que  a  alavanca^ 
tomando  a  posição  horixontal,  permitta  i  agnacorref 
pela  parte  c  da  ditta  quelha  le  ir  encher  o  caixão  f.^ 

Supponha-se  que  a  alavanca,  tendo  feito  huma 
primeira  oscillação ,  esteja  em  posição  horizontal ;  o 
raixào  g  estará  cheio ;  ao  mesmo  tempo ,  a  agua  que, 
pela  quelha  b ,  cahir  sobre  a  alavanca ,  dihgir-se-ba  a 
encher  o  caixão/,  e  no  mesmo  instante ,  em, que  o 
seu  peso  for  sufficiente  para  levantar  t>  do  caixão  g  ^ 
a  alavanca,  principiando  a  tomar  a  posição  obliqua » 
chegará  ao  ponto ,  em  que  a  quelha  h  despeje  no  res- 
gato a  caixa  /,  ao  mesmo  tempo  que ,  a  caixa  g ,  pela 
quelha  # ,  se  despeja  igualmente  na  pia  A*. 

Em  quanto  isto   acontece,  a  agua,  que  não  cessv 

de  correr  pela  quelha  b ,  tem  cabido  dentro  da  caixa 

transversal j i\  e  logo  que  os  dois  caixões  f  g  estão 

vaiios,  o  centro   de    gi*avidade  do    systema ,  tende  a 

restitui-lo  á  sua  posição  horizontal :  nesta  posição  ,  « 

agua,  retida  na  caixa  transversal  j  j^  vai  encher  ocat^ 

xâo  g,  e  a  da    quelha  b^  que  eutão ,  como    se    vio 

acima ,  cabe  para  traz  do  diapbraguia  ,   vai  encher  o 

outro  caixão/,  de  que;  se  segue  huma  nova  oscillação, 

e  por  este  meio  ,  bum   moviuiento   successivo  e  não 

intci  rompido, 

Cunstrucção. 
Comprimento  da  alavanca^  Trace-se  bum  quadrado , 


8o  Resenha  Analjrtica. 

ctijos  lados  sejâo  iguaes  á  altura  vertical,  a  que  se 
pertender  elevar  a  agua :  a  diagonal  doeste  quadrado» 
úiais  duas  vezes  a  largura  do  caixão  ^9  dará  o  com- 
prímentoV total  da  alavanca»  a  qual»  no  seu  movi^ 
mento ,  deve  descrever  hum  angulo  de  45^» 

Comprimento  dê  cada  braço.  A  diíFerença  de  com- 
primento entre  os  dois  braços  da  alavanca ,  tomado  o 
-dittQ  comprimento  desde  o  eixo  da  mesma  alavanca 
até  ao  centro  de  figura  de  cada  caixão ,  deve  ser  pro^ 
porcional  á  differença  que  existe  entre  a  qué(}a  da 
agua^ea  altura  a  que  ella  se  quer  elevar,  ajuntando 
ao  braço  maior  duas  vezes  a  largura  do  Caixão  ,  que  se 
acha  na  sua  extremidade.  Assim ,  se  a  agua  deve  ser 
elevada  a  3  vezes  a  altura  da  sua  queda,  o  braço 
maior  d  será  3  vezes  mais  comprido  que  o  braço  c , 
mais  duas  vezes  a  largura  do  caixão  gr,  ou ,  o  que  he 
o  mesmo ,  o  braço  menor  e  será  igual  a  j  do  braço 
maior  J,  menos  duas  vezes  a  largura  do  ditto  caixão  gr. 
Se  acaso  na  construcçào  não  se  tiver  conseguido  exac* 
lamente  p  ponto  de  equilibrio ,  necessário  ás  funcções 
da  machina ,  junta-se  ,  ao  braço  mais  leve ,  o  peso  con^ 
veniente ,  para  restabelecer  este  equilibrio. 

Capacidade  absoluta  dos  caixões.  Gomo  a  velocidade 
mais  conveniente  da  ^avança  he  a  de  4  ou  5  oscilla-' 
çôes  por  mmutò ,  para  empregar  toda  a  agua  do  re- 
gato no  movimento  da  machina ,  deve  a  capacidade 
total  dos  dois  caixões  ser  iguar  a  |  ou  |  do  volume 
de  agua ,  que  pode  dar  o  regato ,  no  espaço  de  hum 
minuto. 


I 

jlesenna  Analyíicài  8í 

Capacidade  relativa  dos  caixões*  Estas  capáciâadeâ 
devenf  guardar  a  mesma  proporção ,  porém  em  sen-" 
tido  inyerso;  isto  he^  o  maior  caixão  deve  pertencer 
ào  menor  bi*açó ,  é  recipí*ocàmente  -,  knas  como  este 
caixão  maior  hé  dôstlnádd  para  servir  de  potencia  no 
nioviménto ,  he  hetíessario  dar-lhe ,  alfem  da  grandeza 
(Jue  lhe  toca ,  pela  sobredilta  proporção,  mais  y  da  sUa 
capacidade ,  que  ao  outro.  D'este  modo ,  nO  eiemplo 
de  qiié  dos  servimos,  pára  calcular  o  comprimento  dos 
braços^  o  cáixàò/  será  maior  que  ó  caixão  g  à  veze» 
e  mais  i  véz,istobé,  estai'á  paira  elle, cómô4:  i- 

Capacidade  da  caixa  transversal^  Esta  caila  deve 
ser  dupla  do  caixão  menor ,  em  razão  da  obliquidade 
em  que  se  acha  ^  quando  se  enchei  Cumpre  notar  que 
a  parede  maior  doesta  caixa, (  a  qual  parede  chamámos 
díaphragma ,  pela  funcção  que  exercita  a  parte  supe- 
rior delia,  de  dividir  as  aguas ,  que  devem  encaminhar- 
àe  aos  dois  caixões)  para  poder  conseguir  perfeita- 
mente este  fim ,  e  embaraçar ,  quando  a  caixa  trans-» 
versai  está  mui  cheia  ,  que  d^ella  corra  alguma  agua 
pára  o  caixão  /,  o  que  retardaria  o  movimento ,  deve 
aquella  parede  levantar-se  huma  pollegada  sobre  a 
quelha* 

N.  Bi  As  proporções  entre  as  três  dimensões  dos 
caixões ,  assim  como  da  caixa  transversal,  não  sãoin-i 
differentes,  quando  se  pertende  economisar  a  queda 
da  agua  :  e  como  ha  pouoo  inconveniente  em  augmen- 
Var  o  comprimento  daquelles  três  depósitos ,  construir* 
se-hão  estes,  augmentando  o  seu  comprimento,  e  ái-* 
Tom.  IX.  6  A 


8a  Resenha  Analítica, 

minuindo  proporcionaliDeote  a  sua  laiigiira  e  profun* 
didade,  que^  deverão  ser  if^aes. 

Capacidade  das  quelhas  fixadas  no  fundo  das  caixões* 
Duas  reflexões  concorrem  para  determinar  esta  capa- 
cidade :  I*.  que  o  càixào  pequeno  se  despeje ,  pelo  me- 
nos j  no  mesmo  tempo  que  o  grande ,  para  que  o 
movimento  seja  perfeito ;  a*,  que  a  agua  não  corra 
dos  caixões,^  senão  no  ponto  em  que  a  alavanca  ter- 
minar o  seu  movimento.  Da  i*.  consideração  se  vé 
que  a  quelha  i,  do  caixão  pequeno » deve  ter  huma 
largura ,  a  respeito  da  quelha  h  do  caixão  grande  , 
maior  òo  que  a  que  resuhar  da  proporção  que 'existir 
entre  os  dob  caixões.  Da  3*.  consideração  se  colhe  que 
á  quelha  menor  i  deve  dar-se  hum  comprimento  igual 
a  duas  vezes  a  profundidade  do  sen  caixão g^eá  que- 
lha maior  h  três  vezes  a  profundidade  do  seu  caixão/. 

Inciinaçãú  das  qmihaa  eHabeteoidas  no  corpo  da 
alMHi^CíÊh  4^  4ufis  quelha»  ^  que  desde  o  dkiphragma 
covidua^em  a  agua  aos  àcis  caixões,  findos  nos  extremos 
da  alavanca ,  devem  ter,  cada  huma,  huma  certa  in- 
clinação pava  o  lado  do  caixão  €OKrespoiide»te  ,  para 
£icilitar  a  consente  da  agua. 

Eixo  e  sua  posição^  O  eixo ,  sobre  o  qual  a  alavanca 
faz  as  SMS  osciBações ,  deve  ser  construido  de  huma 
forte  barra  de  ferro ,  e  os  seus  extremos  devem  ser  ar- 
redondados. Para  que  o  movimento  seja  mais  livre » 
será  melhor  que  estes  extremos  rodem  dentro  de  hum 
espaço,  não  redbndo ,  mas  quadrado ,  a  iim  de  esta- 


Resenha  AnatyUcà.  $3 

belecer  hnma  fricção  de  segunda  ordem,  e  que  esto 

ff 

'  espaço  seja  suficiente^  para  que  o  eixo  possa  fazer  hnni 
oitavo  de  revolução;  neste  caso,  será  conveniente 
forrar  o  fundo  do  espaço  com  hama  chapa  de  ferro. 
A  posição  do  eixo  deve  ser  exactamente  por  baixo  da 
prancha  ( a  que  temos  chamado  diaphraf^ma  ) ,  a  qual 
divide  as  aguas  da  quelha  c ,  das  que  correm  dentro 
da  caixa  tran»versal/y« 

Pilar  de  apoio*  He  dafo  que  a  altura  doeste  pilar 
deve  ser  igual  á  altura  dos  pontod  sobre  que  rodão 
os  extremos  do  eixo  da  alavanca ,  nos  áo\i  pilares  que 
o  sustentão.  Para  conservação  da  machina ,  será  bom 
ter  a  precaução  de  guarnecer  a  extremidade  do  pilar 
de  apoio ,  com  algum  corpo  brando ,  como  couro , 
por  exemplo ,  para  receber  o  choque ,  poAo  que  fflui 
suave,  que  produzir  aoscillação  da  alavanca, quando 
tomar  a  posição  horizontal. 

Quelha  ^  que  traz  a  agua  ão  assuáe»  Da  qcre  está 
ditto  se  vé  que  cumpre  haver  grande  cuidado  em 
que  esta  quelha  tenha  o  comprimento  necessário  para 
que  a  agua,  que  por  ella  vem,  caía  precisamente 
sobre  a  quelha  estabelecida  no  braço  mais  pequeno 
da  alavanca,  ou  para  traz  do  diaphfagma^  qnando 
esta  e^iver  na  posição  horizontal ;  e  pelo  contrario , 
caia  dentro  da  caixa  transversal,  ou  para  diante  do 
rliaphragma,  logo  que  a  mesma  alavanca  tiver  des* 
cripto  metade  do  seu  movimento  total.  Para  isto  con* 
vém  que  a  dftia  qMttia ,  que  traz  a  agua  do  assude , 
«eia  larga  j  pouco  frofimda  e  approximada  até  á  ala^ 


84  Resenha  Analftica. 

yanca,  mas  de  modo,  que   não  embarasse*as  sua^ 
oscillações.  ^ 

Tal  he  a  nova  machina  de  M.  Godia ,  por  meio  da 
gual  se  pode  elevar  a  agua  de  huma  corrente  a  huma 
altura  tripla ,  ou  quadrupla ,  da  sua  queda ,  o  que 
çomprehende  os  casos  mais  geraes  na  agricultura- 

O  autor,  para  tirar  da  sua  invenção  a  máxima  uti- 
lidade y  achou  meios  simples  de  a  modificar  de  sorte , 
que  possa  servir  para  elevar  as  aguas  a  huma  altura 
maior  de  loo  pés,  estabelecendo,  na  parte  superior 
da  alavanca, hum  madeiro,  que  forme  também  ala- 
vanca ,  mas  em  sentido  contrario  ,  cujo  braço  mais 
curto  coincida,  ou  se  approxime  ao  braço  mais  com- 
prido da  alavanca  inferior,  sustentando^  d'este  modo,  a 
parte  do  seu  peso ,  por  meio  de  hum  contrapeso , 
colocado  no  braço  opposto  da  alavanca  superior. 

i 

m 

Alem  disto,  M.  Godin  lembra  que ,  coUocando  outra 
alavanca,  de  modo  que  fique  superior  á  primeira,  da 
qual  possa  receber  ao  mesmo  tempo  a  agua,  e  por 
ella  o  movimento ,  por  este  systema  composto ,  se  con- 
seguirá elevar  a  agua  ao  dobro  da  altura,  a  que ,  por 
meio  de  systema  simples ,  poderia  subir. 

Ultimamente ,  o  mesmo  autor  faz  a  applicaçâo  da 
acção  da  siia  alavanca ,  para  fazer  mover  o  embolo 
de  huma  bomba  de  compressão. 

Como  a  machina  simples  tem  as  duas  grandes  van- 
iajens  de  comprehender  os  usos  mais  geraes  da  agri- 


Resenha  jánafytica.  85 

cultura  y  e  de  se  poder  construii*  e  reparar  com  grande 
facilidade ,  julgámos  convemente  limitarmo-nos  a  ex- 
plicar y  com  a  maior  clareza  que  nos  foi  possivel ,  este 
excellente  invento ,  na  sua  applicaçào  simples ,  assaz 
sufficiente  para  os  casos  practicos ,  deixando  as  modi- 
ficações y  que  o  autor  lhe  deo ,  só  applicaveis  a  casos 
menos  vulgares ,  e  mais  complicadas. 

Antes  de  concluir  este  artigo^accrescentaremos  huma 
observação  importante ,  sobre  a  vantajem  da  machina 
de  M.  Godin.  Se  acaso  se  considerâo  as  diflerentes 
machinas  para  elevar  a  agua ,  e  que  tem  por  motor 
somente  a  queda ,  ou  a  velocidade  doeste  liquido ,  vé- 
se  não  só^  que  ellas  elevão  tanto  menor  quantidade 
de  agua ,  quanto  a  altura  a  que  a  elevão  lie  mais  con- 
siderável ,  do  que  a  queda  motriz ;  mas  também  que, 
ainda  das  mais  perfeitas,  apenas  se  obtém  os  f  d'este 
resultado;  que  a  maior  parte  não  dá  mais  de  ^y  e  ou- 
tras >  como  a  antiga  machina  de  Marly^  não  dão  senão 
flõ  >  c  aquella  machina  famosa ,  mandada  construir,  em 
outro  tempo ,  para  elevar  as  aguas  do  Sena  até  aos 
famosos  jardins  de  Versailles,  istobe,  a  huma  altura 
igual  a  .cem  vezes  a  sua  queda  ,  não  elevava  mais  do 
que  a  decima  millesima  parte  da  agua  que  produzia  a 
força  motriz  :  a  alavanca  hydraulica ,  de  que  temos 
tratado ,  quando  he  bem  construída ,  e  a  queda  de 
agua  alguma  cousa  considerável ,  pode  empregar  até  \ 
da  força  motriz,  e  produz  em  agua  a  metade  d'este 
mesmo  peso. 

Qs  proprietários   da  Província  do  Minho»  onde  a 


8S  Béimíha  AnaUytiem. 

•griedtinni  em  Portugal  se  acka  em  naior  adianu^ 
mento « caberão ,  com  pracer^qoe  na  Academia  ResA 
fia  Marinha  e  Commercio  da  cidade  do  Porto,  existe 
iinm  modelo  da  Abumtica  liyAmutka  de  M.  Godin , 
i^ue  o  Sn^  Joaquim  Mavarro  de  Andrade ,  Director 
literário  d^aqvdle  Sstabeleeianento  ^  mandou  ir  de 
Parts.  Estamos  eettoe  que  este  8jJ)io  >  xeloto  do  bem  da 
pátria ,  e  por  isso ,  do  adiantamento  da  agricultura , 
terá  hum  particular  praKer  em  dar  conhecimento  do 
ditto  moddo,  a  todos  os  que  o  desejarem.  A  vista 
d^eUe ,  melhor  do  que  sobre  a  Estampa ,  se  conven« 
cerão  os  lavradores  da  simplicidade  e  utilidade  d'esta 

mt$re9santç  m^china. 

Cl*  X* 


Resenha  jánafytica.  87 


NOTA 

Sobre  hum  Pecegiieiro  nascido  de  humã  amêndoa;  50- 
guida  de  algumas  observações  sobre  a  origem  do  Po* 
cegueiro. 


^^^^^«^»»%»i^v%>%^<^i 


litADTTznios  a  seguinte  Memoria  do  inglez,  pela  sin- 
golarídade  do  sen  conteúdo,  que  excitaria  algumas 
duvidas  em  quanto  á  existência  dos  factos  neUa  ex- 
postos, se  não  fòra  a  insta  reputação  do  seu  autor 
M.  Thomas  Andrew  Knight ,  membro  da  Sociedade 
Beál  de  Londres ,  da  Linneana  e  da  HorúcúUural  da 
mesma  cidade,  e  bem  conhecido  entre  os  botânicos 
pelos  seus  interessantes  trabalhos  sobre  a  physica  ve- 
getal. Ainda  quando  possão  subsistir  algumas  duvidas 
sobre  o  pfaenomeno  de  que  trata  a  Memoria ,  he  ine- 
gável que,  vista  a  autoridade  de  quem  o  attesta, 
cumpre,  antes  de  o  negar,  submettê-lo  ao  mais  attento 
exame.  A  Memoria  foi  dirigida  á  Sociedade  Horticvl" 
twral  de  Londres ,  da  qual  o  autor  he  presidente. 

«  Tomo  a  liberdade  de  mandar  á  Sociedade  dois 
pecegos  de  huma  nova  variedade ;  não  porque  os  f  ulgue 
dotados  de  alguma  qualidade  particular  ^  mães  sim  em 
rarào  da  sua  singular  origem,  pois  que  provém  de 
huma  arvora  que  eu  obtive  semeando  huma  amêndoa 
doce ,  e  só  pelo  concurso  do  poUen  de  hum  peoego« 


88  Betenha  Ançfytíem, 

k  «nrore  Ato  sek  praegos ,  alem  dos  qae  remetto  i 
Sociedade ;  três  delles ,  ao  amadurecer ,  se  abrirão 
como  amêndoas ;  os  outros  coBserrárão  sempre  a  for- 
ma e  os  caracteres  propiíos  de  pecego :  todos  os  seis 
erào  doces  e  de  hama  pcdfa  macia.  Ham  d'elles  tinba 
bnm  Tolame  superior  zo  do  maior  dos  que  remetto 
a  Vm.«»  y  e  tinba  de  drcomferencia  oito  poUegadas. 
A  anrore  cresceo  em  bum  vaso  qae  continba  apenas 
bom  pé  quadrado  de  terra  ;  e  como  em  todas  as  minbas 
experiências  tenbp  observado»  qae  os  primeiros. fruc- 
tos  de  arvores  novas  são  muito  mais  pequenos  que 
os  das  novidades  segnintes ,  penso  que  os  (hictos  doesta 
variedade ,  que  eu  colher  para  o  futuro ,  excederãp 
muito  em  grandeza  os  que  tendes  presentes. 

Os  caractefes  geraes  dos  fructos  que  vos  envio ,  e  a 
pequenez  do  caroço » comparado  com  o  da  amêndoa , 
darão  talvez  lugar  a  que  a  Sociedade  descopíie  que 
nesta  experiência  pos^  ter  bavido  algum  engano ;  maf 
eu  posso  asseverar  qiie  não  be  ppssivel  que  se  com- 
mettesse  erro  algum ,  e  que  o  resultado  me  çurprendeo 
muito  4  mim  mesmo.  Com  efièilo  %  eu  não  tiqba  es- 
perança aljjuma  de  que  bpma  i^rvore  capaz  de  dav 
pecegos  sumarentos  podesse  provir  immediatamente 
de  bum» amêndoa;  se  bem  que  bavia  já  muito  tempo 
que  eu  me  inclinava  a  crer  que  a  amendoeira  e  o 
pecegueiro  constituem  buma  só  espécie ,  e  que  buma 
fimendoeira  ,  cultivada  de  maneira  conveniente ,  pode, 
passado  bum  numero  cjonsideravel  de  gerações  ^  torr 
»ar-se  em  pecegueiro. 


Resenha  Analytica.  89 

Varias  circurnstancias  da  bistTÍa  do  pecegueiro  me 
pareciào  favorecer  esta  ideia.  Esta  arvore  parece  ter 
só.  começado  a  ser  conhecida  na  Europa  debaixo  do 
Impenidor  Cláudio,  e  o  autor  o  mais  antigo  que  falia 
d^ella  he,  segundo  creio >  CoIumeUa.  Plinio  foi  o  pri- 
meiro que  deo  hum  a  descripçào  exacta  do  pecegueiro ; 
julga  que  veio  da  Pérsia  a  Itália,  por  via  do  Egypto 
e  de  Rhodes  :  e  he  no  primeiro  doestes  paizes  que, 
segundo  a  opinião  a  mais  geralmente  admittida,  esta 

arvore  foi  primeiro  cultivada.  He  comtqdo  difficil  con- 

• 

ceber  que  o  pecegueiro  houvesse  existido  na  Pérsia  al- 
guns centos  de  annos  antes  da  sua  primeira  appariçào 
na  Europa  ;  pois  que  os  Gregos ,  que  então  tinhào  com 
aquelle  paiz  frequentes  relações ,  indubitavelmente  te- 
riào  conhecido  esta  arvore.  Ajuntemos  a  isto ,  que  os 
reis  da  Pérsia ,  tinlião  quasi  sempre  médicos  gregos 
junto  á  sua  pessoa ,  e  que  estes  erào  versados  na  bo*^ 
tanica ,  da  qual  faziào  hum  estudo  especial.  Os  tuberes 
de  Plínio  parecem  ter  sido  hum  fructo  que  participava 
da  amêndoa  e  do  pecego  -,  pois  que ,  segundo  este  es^ 
criplor ,  a  arvore  que  dava  esta  fructa  tinha  stdo  pro« 
pagada  por  enxertia  em  pé  de  ameixieira ;  que  flores^ 
cia  mais  cedo  que  o  damasqueiro ;  que  o  fructo  era 
coberto  de  hum  espesso  cotào,  no  que  se  parecia 
com  o  marmelo.  1 

Por  isso ,  penso  que  ot  tuberes  erão  grandes  amen-^ 
doas  ou  pecegos  imperfeitos  ( porque  esta  fructa  parece 
ter  sido  mui  pouco  estimada  dos  antigos ).  Duhamel 
falia  nas  suas  obras  de  hnm  (ructo  que  provém  algU'^' 


,90  Resenha  Anafyiicã. 

mas  vezes  de  certas  vadedades  de  amendoeiras ,  &  ao 
qual  a  precedente  descripção  convém  perfeitamente : 
este  fructo  he  mui  a^o ,  e  não  se  pode  comer  ci*u. 

A  acerbidade  do  fructo ,  nesta  circurnstancia,  pjro- 
vém,  segundo  creio,  da  presença  de  huma  pequena 
quantidade  de  acido  prussico ;  e  como  este  acido  causa 
muitas  vezes  péssimos  efieitos ,  por  este  principio  se 
explica  a  opinião  ,  que  se  espalhou  mui  geralmente  no 
Império  romano  quando  os  pecegos  forão  pela  primeira 
vez  trazidos  da  Pérsia ,  de  que  esta  fructa  tinha  qua* 
lidades  venenosas. 

A  identidade  da  amendoeira  e  do  pecegueiro ,  quando 
^enfaa  a  ser  estabelecida  de  huma  maneira  incontestá- 
vel, não  terá  y  a  meu  ver,  outra  utilidade  senão  de 
mostrar  até  que  ponto  a  cultura  pode  mudar  a  forma  e 
qualidade  dos  fructos.  Pelo  que  me  toca  y  eu  tinha  feito 
a  experiência  quedeo  lugar  a  esta  Memoria  unicamente 
no  intuito  de  me  certificar  em  quanto  á  identidade 
especifica  ou  a  diversidade  do  pecegueiro  e  da  amen- 
doeira; e  espereipelo  resultado ,  qualquer  que  elle 
fosse ,  com  a  maior  indiferença.  Todavia ,  como  o 
pao  da  amendoeira  se  forma  nos  nossos  climas  mais 
depressa  e  mais  con^plettamcnte  que  o  do  pecegueiro , 
e  como  as  flores  d'aquella  arvore  resistem  mais,  não 
perco  a  esperança ,  á  vista  das  observações  que  tenho 
feito  sobre  os  hábitos 4as  minhas  plantas  novas»  de 
vir  a  obter  dififerentes  boas  variedades  de  pecegos*  de 
huma  amêndoa ,  depois  da  segunda  ou  terceira  geração. 
Ate'  ao  presente  só  tenho  visto  o  fi  ucto  de  huma  única 


JSesenha  Anal(^a.  91 

das  mmlias  arvoreziabas  y  o  qual  não  promette  muito ; 
porém  tenho  outras  que  florescerão  para  o  anno ,  buma 
dos  quaes  tem  por  p^i  o  pecego  temporão  roxo  (  early 
violet  nectarine ) ;  tem  bellas  folhas  largas ,  buma  casca 
roxa,  e  offèrece  todos  os  caracteres  de  hum  pecegueiro 
4sL  melhor  espécie ;  razão  por  qat  me  lisoujeo  de  poder, 
para  o  aiiuo  que  vem »  remetter-vos  fructos  doestes  de 
melhor  qualidade.  » 

Nota  do  Secretario  da  Sociedade  fforucukural. 

<^  A  forma  dos  dois  pecegos  a  que  se  refere  a  prece- 
dente Nota  era  a  ordinária  d'este  fructo  ;  o  maior  dos 
dois  tinha  sete  poUegadas  de  circumferencia;a  pelle, 
coberta  de  hum  cotão  bastantemente  espesso  ,  era  de 
bum  amai^ello  delicado;  porém  no  lado  que  tinha  es- 
tado exposto  ao  sol,  vião-se  veios  encarnados.  Por 
dentro  erà  de  côr  de  Umão  desmaiada;  á  roda  do  ca- 
roço era  de  hum  vermelho  de  carmim  mui  vivo  :  o 
fructo  era  doce ,  macio  e  mui  sumarento ,  mas  tinha 
pouco  sabor :  be  verdade  que  tinha  sido  magoado  no 
transporte.  O  caroço  pareceo-nos  mui  grosso ,  relativa- 
mente ás  dimensões  do  pecego;era  quasi  redondo ,  e 
bastantemente  escabroso ,  e  em  buma  das  extremi- 
dades rematava  em  huma  pequena  ponta.  A  superfície 
«xteríor  estava  toda  coberta  de  huma  quantidade  não 

Íeqatna  da  mesma  farinha  que  st  observa  sobre  as 
mendoai  frescas*  O  caroço  separava-se  facilmente  da 
carne,  e  mui  pouco*  filamentos  ficavio  pegados  a  eUe. » 

F.  S.  C, 


gn  Resenha  Analytica. 


LIURO 

Da  Enssjnança  de  bem  caualgar  toda  sela  que  fez  Elrrei 
'    Dom  Eduarte  de  Portugal  e  do  jálgarue  e  Senhor 
de  Cepta  o  qiuã começouem  seendo  Ijffante. 

Códice  7007  da  Bibliotheca  Real  dos  M.  S.  de  Parts. 


^f^^0^^m^^%^^^^0 


( SEGUNDO  E  ULTIMO  ARTIGO. ) 

JM  o  Tomo  VIII  príncipiámos  a  examinar  o  Códice  7007 
da  ^ibliotheca  Real  dos  Manuscriptos  de  Paris ,  dando 
conta  do  Leal  Conselheiro ,  que  faz  a  primeira  parte 
d'aquelle  interessante  Códice ;  para  concluirmos  o  ditto 
exame ,  segue-se  darmos  conta  do  Liuro  da  Enssy- 
nança  de  bem  caualgar  toda  sela  j  ajuntando  a  este 
trabalho ,  como  promettémos ,  as  observações ,  que 
nos  parecem  necessárias,  para  rectificar  o  artigo  da 
Bibliotheca  Lusitana,  relativo  aos  escriptos  do  Sn^. 
D*  Duarte, 

A  ideia  geral,  que  já  dêmos ,  da  parte  material  d'd- 
quelle  Códice ,  nos  dispensa  de  fallarmos  aqui  d*ella ; 
limitar-nos-hemos  ^  em  consequência,  a  produzir  agora 
somente  os  signaes  característicos  e  particulares  do 
manuscripto,  4^  que  nos  occupamos. 

Começa  pois  o  Livro  da  Enssynança  :  «  Em  nome 


Resenha  Analjrtica.  cjò 

de  nosso  Senhor  Jeshu  Ghristo  com  sua  graça  e  da 
(Jirgem  Maria  sua  muy  saneia  madre  nossa  Senhora. 
Começasse  o  liuro  da  enssynança  de  bem  caualgar 
toda  sela  que  fez  Elrrey  dom  Eduarte  de  Portugal  e 
do  Algarue  e  Senhor  de  Cepta  o  qual  começou  em 
seendo  lí&nte.  » 

O  Prologo  principia  d'este  modo :  «  Em  nome  de 
nosso  Senhor  ihesu  xpo,  segundo  he  mandado  que 
todallas  cousas  façamos  ajudando  aquel  dito  que  de 
fazer  liuros  nõ  be  fim ,  por  alguu  meu  spaço  e  folgança, 
conhecendo  que  a  manha  de  seer  boo  caualgador  he 
húa  das  principaes  que  os  senhores  cauallejros  e  seu* 
deyros  dcuem  auer.  Screuo  algúas  cousas  etc.  » 

O  Livro  acaba  do  modo  seguinte :  «  Das  que  correm 
ho  mato  saltando  sobre  a$  maães  carregadas  diante  e 
que  carreguem  sobre  os  freos ,  e  das  fracas  dos  braços , 
de  logares  de  couas  de  coelhos  e  muito  molhadas 
charnecas  mais  se  guardem.  »  D.  Eduardus.  » 

Para  dar  huma  ideia  geral  da  obra  de  que,tratamos , 
pareceo-nos ,  seguindo  o  methodo ,  que  adoptámos  no 
primeiro  Artigo /que  o  leitor  folgaria  de  encontrar 
aqui  hum  Index  ou  Taboada  dos  capítulos  d^ella^  e 
por  isso  j  bem  que  este  Index  não  existe  no  Livro  da 
Ensinança ,  como  existia  no  Leal  Conselheiro  ,  orde- 
námos fielmente  hum ,  que  ajuntaremos  no  fim  doeste 
Artigo,  pelas  mesmas  razões  porque  assim  o  fizemos 
já  I  quando  examinámos  esta  primeira  obra. 

Dos  diíTcrentes  Capitolos  d* aquella  Taboada,  e  dos 


g4  jRegmiha  Anmfytiea. 

títulos  dififeroDles ,  debaixo  dos  quaes  o  Sn'.  D*  Duarte 
os  classificou ,  não  só  verá  o  leitor  o  espirito  de  me- 
thodo  e  de  ordem ,  que  presídio  a  este  escripto ,  ma9 
observará  especialmeE^te  como  o  facho  da  philosopbia 
guiava  )á  então  o  autor  em  todas  as  suas  composi- 
ções ;  e  no  simples  cavalleii*o ,  que  se  propõe  apenas 
a  escrever  preceitos  sobre  a  manha  de  seer  boo  caualga" 
dor,  reconhecerá  desde  logo  o  mesmo  Princepe  philo- 
sopho ,  que  ,  mais  tarde  ^  havia  desenvolver  e  explicar 
profundas  verdades  de  moral  e  de  patriotismo  aos 
coitesãos ,  e  advertir  ai  amente  os  Soberanos  de  que 
per  excmpro  do  rei  os  de  sua  terra  muitos  se  gouemam^ 

Assim  y  antes  de  (aliar  dos  preceitos ,  começa  o  Sn**« 
]>.  Doarte  a  tratar  da  vontade ;  procdrttido  determinar 
0síak  pelo  bem,  honra  ^folgança  e  a^uda  qat  da  arte  de 
bem  cavalgar  reaultiOyna  paz  e  na  guerra,  respon-» 
dendo  para  isso  aos  argiunentoa,  que  centra  ella  so 
podem  fazer.  Delerminada  a  iKxiUde ,  trata  o  autor  ck> 
poder,  e  examina  as  forças  physicas  e  pecuniárias  in- 
dispensáveis para  cultivar  a  arte.  Depois  d^isto  vem  os 
preceitos :  para  os  executar ,  he  necessário  destreza  e 
força  no  corpo , tranq/uillidade  e  socego  no  espirito; 
esta  segunda  parte  offerece  ao  Sn^^.D.  Duarte  largo 
campo  para  examinar  as  diversas  fontes  donde  a  tran* 
quilUdade  do  espirito  dimana ,  e  permitte-lhe  ajuntaria 
propósito,  doutrinas  úteis ,  que  pareceriào  inteiramente 
estranhas  em  semelhante  assumpto.  Se  no  conheci^ 
mento  das  regras  se  vé  o  mestre  da  arte ,  na  discussão 
d'ellas  descobre-se  o  philosopho ,  na  llgaçào  iirtima  da» 


ReserJia  AnaU^tica*  g5 

reflexões  com  os  preceitos  mostra-se  o  escriptor  hábil , 
e  em  tudo  transparece  o  homem  moral  e  Ttrtooso. 

E  posto  que  o  exame  da  Taboada ,  como  dizíamos , 
convencerá  facilmente  o  leitor  da  verdade  d*esta  nossa 
proposição ,  produziremos  ,  comtudo ,  alguns  exem- 
plos ,  que  a  possão  confirmar. 

Tendo  o  autor  tratado,  em  três  Capítulos  successivos, 
das  vantajens  que  resultao  de  andar  bem  direito  na 
sella,  e  de  prevenir  o  cavalleii*o  con^a  as  manhas, 
com  que  os  cavallos  pertendem  ás  vezes  derribá-lo , 
accrescenta  hum  quarto  capitulo,  em  que  applica  á 
practica  da  vida  humana  os  preceitos  ,  que  acabou  de 
dar.  Pelo  prmcipio  doeste  Capitulo  avaliará  o  leitor  o 
espirito  d'elle :  «  Tal  geíto  como  este ,  dis  o  autor , 
dandar  direito  na  besta  itte  parece  que  deliramos  teer 
em  os  mais  de  nossos  feitos  para  seermos  na  rnnodo 
boos  caualgadores,  e  nos  teermos  ibrte  de  «om  cair 
peras  malicias  com  que  muylos  denrUbam  cfcc.  n 

Assim  mesmo,  «e  acaso  intenta  mostrar  no  Capi* 
tdo  X  da  5';  Parte,  como  os  que  Justai  erráoper  des- 
hordenàçu  de  uoóUuie  ^  coBieça  por  explicar  os  diver- 
sos modos  por  qiue  a  vontade  obra  em  nós ;  mas  come 
esta  digresfião  pareceria  demasiadamente  alheia  do 
seu  assumpto ,  o  So''-  D*  Duarte  não  se  esquec^o  de 
prevenir  este  inoonvenienle ,  e  por  meio  do  período 
seguinte  >  habilmente  dispoz  o  seu  leitor  para  entrai^ 
com  eile  na  dáscussão.  «  Por  faUar  na  segorwça  da 
uontade  ,  diz  o  autor ,  quQ  perteéce  para  bi  eacõtrai .. 


çfi  Resenha  Aruúortica. 

a  my  pra^  fazer  alguu  tresayamento  de*  preposito  por 
dar  algua  ensynaDça  aos  que  de  taaes  feitos  nô  tèe 
gi^ande  conhecimento.  »  E  tendo,  neste  Capítulo ^  di- 
vidido a  vontade  em  carnal ,  spiritaal ,  prazéteyrd  e 
obediéte  ao  entender ,  mostra  que  o  comprimento  das 
primeiras  três  fas  segu;jrr  e  cayr  etn  grandes  erros  e 
maldades  j  e  que  só  a  quarta  todaUas  cosas  que  se  apre- 
sétam  ao  coraçó  de  cada  huma  destas  trees  as  oferece 
ao  entcder  e  razom  que  julguem  se  som  de  fazer  ou 
Içyxar. 

Para  acabar  de  tratar  a  matéria ,  faltava-lhé  mos- 
trar por  meio  de  que  virtudes  resistíamos  a  humas , 
e  seguiamos  a  outra  ;  o  Sn>'<  D.  Duarte  ,  com  huma  só 
phrase ,  continuou  a  ligar  habilmente  este  novo  Capi- 
tulo com  a  matéria ,  e  a  sustentar  a  attetiçào  do  seu 
leitor.  Eis-aqui  como  elle  principia  :  «  Por  screuer  se- 
gundo perteence  a  trautado  de  caualgar.  três  ÍFreos  som 
per  que  nos  reteemos  de  segnyr  as  três  uontades  e  no» 
aderençamos  per  a  quarta.  » 

Em  fim ,  se  o  seu  objecto  he  tíiòstrar  qutfrito  convém 
ao  cavalleiro  a  segurança ,  desenvolve  o  autor  as  cau- 
sas moraes,  que  muitas  vezes  se  lhe  oppõem^e  os 
eSeitos  que  da  falta  d*ella  resultão.  Hum  d'este8  ef- 
f eitos  he  a  tiigança :  aqui  o  Sn^.  D.  Duarte ,  conhe^ 
cendo  quanto  convetn ,  pafra  ser  darò  y  definir  ais  pa-< 
lavi*as  y  e  particularmeáte  distinguir  bem  as  gradações 
de  significação,  muitas  vezes  qtiasí  imperceptíveis y- 
que  existem  efitré  os  synonymos ,  exf^ca  judiciosa^ 
mente  a  difierença  f  que  ha ,  entre  Ihgança  e  i^uça. 


IÍÊsenha  Afm^ytica.  ty] 

«E  vkòo  be  de  filhar,  escrevia  sobre  ista  o  Sn^  D. 
Duarte,  uo  €ap.  II.  da  3*.  Parte ,  que  se  fas  hiia  cousa 
com  trigança.  por  se  fazer  com  boa  aguça,  ca  muyto 
disuairõ  antressy  per  esta  deferença.  aguça  fas  sem 
tardança  cõprír  o  que  manda  o  boo  e  dereito  entender.  • 
E  a  tingança  uem  do  coraçom.  por  seer  geerabnente 
em  todos  seus  feitos  trigoso.  por  sé  temer  em  algnas 
coQio  suso  he  scripto*  ou  auer  com  ella  sobôa  uooi^- 
tade  e  as  mães  uezes  ias  mal  obriar.  sépr^  mostrando 
my  gua  de  segurãça.  »  Donde  se  vé ,  segundo  nos  pa- 
rece, que  trígança  significava  precipitação,  ouaccele- 
ração  precipitada ,  como  escreveo  o  nosso  Bernardes ; 
e  aguça  queria  dizer  pressa  com  reflexão,  istolie^aquella 
que  se  explica  ^ov  festina  lenle.   Esta  explicação  he 
tanto  mais  interessante  para  nós^  que  os  nossos  Dic- 
cionaríos  explicâo  ambos  estes  vocábulos  por  pressa  , 

* 

e  o  laborioso  Moraes,  que  tinha  entendido ,  trigança 
por  acceleração,  com  a  autoridade  de  Pinheiro,  con- 
fundio  inteiramente  a  diflerença  de  aguça,  dando-a, 

sem  autoi  Idade  alguma ,  por  sofreguidão  (  aviditas ). 

* 

Por  este  modo ,  o  Sn''.  D.  Duarte ,  elevando  até  á 
dignidade  da  penna  de  hum  philosopho,hum  assumpto, 
que  tào  pouco  parecia  prestar-se  a  isso  ,  rocorreo  sem- 
pre ás  causas  moraes  para  explicar  os  efièitos  physicos , 
^oube  ligar  com  a  matéria  lições  sublimas  da  moral 
mais  pura ,  e  fez  transparecer  já  neste  escripto ,  ^aquelle 
espirito  philolpgico,  e  aqueUa  tendência  para  p  bom 
gosto,  que  mais  tarde ,  devia  melhor  desenvolver  no 
Leal  Conselheiro.  '    , 

Tom.  IX.  7   A 


g8  Resenha  Anafyica, 

.' .Tal  he  a  ideia  geral  que  podemos  dar  ao  leitor  do 
Liuro  de  Enssynança  de  bem  caualgar  toda  sela  : 
delia: se  vé ,  ao  mesmo  tempo ,  que,  em  quanto  ao 
estylo ,  o  sen  autor  tinha  começado  iqui  cedo  a  forma* 
lo;  porque  o  d'esta  obra  não  nos  parece  inferior  ao 
do  Leal  Conselheiro ;  pelo  que  toca  á  linguagem  , 
f^do  achado  nella  as  pobrezas  e  defeitos  próprios 
d^aquetta  idade ,  observámos ,  comtudo ,  buma  circum- 
stancia  ,  que  nos  parece  digna  de  ser  mencionada. 

Todos  sabem  que,  nos  princípios  doSeçuloXV,  a 
serie  dos  adjectivos  numeraes  ordinaes  até  vigésimo^ 
era  muito  interrompida,  e  de  alguns  nem  se  achão 
exemplos ;  Gomes  .Eannes  de  Zurara  i  ainda  no  tempo 
do  Sn*^.  D.  Afibnso  V,  escrevia  :  no  doze  capitulo  de 
Tobias;  em  o  dezoitp  capitulo  de  «S*  Lucas ^  etc ,  o 
Sn^  D.  Duarte,  ensinando  n^'  Parte  3*.  dezaseis  auysa- 
mentos  ptyncipaes  ao  boQ  caualgador ,  por  esta  occa- 
siào ,  nos  dá  escriptos  por  extenso  :  huudecjmOj  duo- 
decymo ,  terdeq^mo  ,  quatrodecymo  j  qu^todecymo  ,  sex- 
todecimoj  e  com  isto  no§  indica  facilmente  o  modo 
.porque  teria  continuado  a  serie ,  até  vigésimo.  Nesta 
mesma  serie  escreveo  elle  seitemo ,  que ,  no  Leal  Con- 
selheiro ,  escreveo  depois  septimo ;  e  nono ,  que ,  tam- 
bém depois ,  naquella  obra  ,  escreveo  noueno. 

Acabado  assim  o  exame  do  importantissirao  Códice 

7oo';|  da  Bibliotbeca  Real  dos  Manusmptòs  de  Parts, 

•que/noTotno  antecedente  tínhamos  começado;  para 

cumprirmos  cabalmente  o   que   proihetteinos,   resta 

ainda  oíTerecermos  ao  leitor  as  observações  que  nos 


liesenha  ^nafyticà*  09 

parecerão  necessárias   para  rectificar  o  catalogo  dos 
escriptos  do  Sn<^.  D.  Duarte  na  Bibliotheca  Lusitana* 

No  prímçiro  Artigo  doeste  nosso  trabalho ,  tendo 
somente  por  objecto  mostrar  o  interesse ,  que  resul- 
tava á  literatura  antiga  nacional ,  àe  lhe  darmos  co-^ 
nheòiménto  dos  dois  manuscriptòs  do  Sn^.  D.  Duarte , 
que  temos  examinado ,  por  não  complicar  a  matéria  ^ 
contentam o-nos  Com  produzir  então  as  autoridades  de 
Fr.  Bernardo  de  Brito  e  do  Abbade  Barbosa ,  e  com 
deduzir  d*ellas  esta  conclusão  :  que  das  obras  de  maior 
extensão ,  escriptas  por  aqueile  Monarcba ,  nada  se 
sabia  que  existisse  já  naquelles  tempos  em  Portugal ; 
e  ajuntaremos  aqui,  que^  quando  assim  o  escrevemos, 
entendiamos  somente  obras  de  maior  extensão  escri^ 
ptas  em  linguagem  portugueza.  Agora  porém  ^  que  he 
preciso  tratar  expressamente  huma  proposição,  que 
então  não  era  senão  incidente ,  permittir-nos-ha  o  leitor 
que  entremos  com  elle  em  hum  exame  mais  miúdo 
dos  elementos ,  de  que  depende  o  desenvolvimento 
d'ella* 

De  todos  os  autores  portuguezes ,  de  que  temos  no^ 
ticia,  e  que  podemos  Consultar,  os  primeiros,  que 
sobre  a  matéria  escreverão,  com  mais  individuação, 
forão  os  dois  chronistas  contemporâneos  Fr.  Bernnrdo 
de  Brito  e  Duarte  Nunes  de  Leão;  e  não  repetindo 
agora  aqui  o  que  diz  o  primeiro ,  que  já  dêmos  por 
extenso  no  primeiro  artigo,  produziremos  a  autori- 
dade do  segundo  ,  tirada  do  Capitulo  XIX  da  Chronica 
d^aquelle  Monarcha.  «...  na  Ungua  latina ,  diz  Duarte 

7* 


too  Resenlia  jánafytica* 

Nunes ,  eícreveo  alguns  liuros  de  cousas  moraes ,  e 
entre  elles  hum  tratado  do  regimento  da  justiça ,  e  dos 
Officiaes  d'ella ,  de  que  huma  parte  se  vá  ainda  agora 
na  Gaza  da  Supplicaçào.  Escreveo  outro  tratado  diri- 
gido á  Raynha  sua  molher.,  cu)o  titulo  era  do  Leal 
Conselheiro.  Fez  outro  liuro ,  para  os  homês  que  an- 
dão  a  cavalo ,  em  que  parece  daria  algus  preceitos  de 
bem  caualgar ,  e  gouernar  os  cavalos.  » 

Devemos  pois   a  Duarte  Nunes  saber,  ao  menos» 
que  o  tratado  do  Regimento  da  justiça  et^L  escrípto  em 
latim  9  o  que  Fr.  Bernardo  de  Brito  nos  tinha  deixado 
pei*feitamente  ignorar,  e  das  suas  palavras  melhor 
diremos ,  que  até  no-lo  tinha  dado  como  escrípto  em 
portuguez ,  a  pezar  de  ser  d*este  mesmo  tratado ,  que 
elle  tinha  visto  os  grandes  fragmentos  em  hum  Usro 
pequeno.  Comtudo ,  he  bem  notável  que  Duarte  Nunes, 
que  nàô.  era  menos   hábil  chronista  que   philologo , 
fallasse ,  assim  mesmo,  t&o  ligeiramente  de  hum  livro, 
que  já  no  seu  tempo  devia  ser  precioso ,  ao  menos , 
pela  antiguidade  e  pelo  autor,  sem  nos  conservar,  se 
quer,  o  titulo  original  d^elle  ,  mormente ,  existindo ,  na 
Gaza  da  Supplicaçào ,  huma  parte  do  mesmo  livro ,  a 
qual  Duarte  Nunes ,  na  qualidade  de  Magistrado  d'a- 
quelle  Tribunal,  e  de  homem  tão  amigo  das  nossas 
cousas ,  e  em  particular  da  nossa  literatura ,  não  teria 
deixado  de  examinar. 

■ 

Esta  fsáta  aèé  faz  duvidosa ,  no  texto,  a  linguagem  em 
que  forào  ^criptas  as  outras  obras,  de  que  o  histo- 
riador fez  menção  :  e  isto  he  de  tal  modo  verdade , 


Resenha  Andfytica,  loi 

w(ue  D*  Nicolao  António,  na  passagem ,  que  mdXé^ 
abaixo  transcreveremos ,  interpretando  a  autoridade  de 
Duarte  Nunes ,  disse  y  que  o  Leal  Conselheiro  do  Sn^ 
D.  Duarte  tinha  sida  ptoi^as^elmente  esaúpto  em  por- 
tuguezy  seguiylo  $e  podia  conjecturar,  por  ter  sido 
dedicado  á  Rainha  sua  mulher.  Donde  se  \é  que  da 
pouca 'ciai^za»  comqueeítes  dois  beaemeritos  escri- 
ptores  se  explicarão ,  podemos  dizer  com  justiça ,  que 
se  Fr.  Bernardo  de  Brito  nos  deixou  entender  que  os 
tratados  do  Sn'.  D.  Duarte  erào  todos  escriptos  em 
portuguez  y  erro  que  Barbosa  não  corrigio ,  DuáRe 
Nunes  de  Leão  explicou-se  de  modo,  que  parece  que 
todos  forào  escriptos  em  latim. 

Mas  y  seja  qual  for  a  obscuiidade  com  que  estes  doia 
autores  se  explicarão,  e  a  causa  d'ella,  o  certo  he 
que  os  outros ,  que  se  lhes  seguirão ,  souberâo ,  a  este 
respeito ,  somente  o  que  estes  lhes  ensinarão.  Manoel 
de  Faria  e  Sousa ,  o  mais  antigo,  depois  d*aqueiles 
dois ,  e  que  ainda  viveo  no  tempo,  de  Fr.  Bernardo  de 
Brito,  na  sua  Europa  Portuguesa  (i)  copiou  exacta- 
mente Duaite  Nunes y  posto  que  o  não  citasse,  e  sobre 

(i)  Gomo  o  nosso  fim  he  facilitar  ao  lekor  a  prova  d'e8taf 
asserções ,  copiaremos  aqui  as  passagens  que  citarmos. 

£n  la  lengoa  latina  es críbid  libros  de  moralidad.  Uno  dellos 
d' cl  Regimiento  do  la  Justicia  ,  y  de  sus  officíaies  :  permanece 
un  pedaço  en  los  Escritórios  dei  Consejo  Real.  Qtro  dei  buen 
G}U5ejero  ,  y  dedicole  a  la  Reyna  su  muger.  Otro  de  la  gineta  y 
brida.  Tom.  II.  Part.  III.  Cap.  %, 


103  Resenha  Analytica, 

o  testemutilu)  do  mesmo  Duarte  Nunes,  se  fundou 
igualmente  o  laborioso  D.  António  Caetano  de  Sousa  , 
na  sua  preciosa  Historia  genealógica  (i).  D.  Nicolao 
António,  de  que  acima  falíamos,  escrevendo  a  Bi- 
bliútheca  Hispana  i)etus  (a) ,  traduzio  por  extenso  a 
passagem  de  Brito  ,  e  produzio  o  testemunho  de  Duarte 
Nunes ,  cuja  chronica ,   por  equivocaçào ,   disse    ser 


,  (i)  Escreveo  na  língua  latina  alguns  livros  de  cousas  moraes, 
bum  do  regimento  da  justiça  ,  e  seus  oíliciaes  ,  qiie,  diz  o  Dés.or 
Duarte  Nunes  de  Leão  ,  permanecia  no  seu  tempo  uo  supremo 
Senado  das  justiças,  Escreveo  hum  tratado,  que  intitulou  o 
Jjdàl  Conselheiro ,  que  dedicou  á  Raynha  sua  mulher  ,  outro 
livro  sobre  o  uso  de  andar  a  cavallo.  Liv*  III.  Cap.  ^o. 

(3)  Scripsit  in  philosophia  morum  non  contemnenda  vulga- 
ris  LusitancB  suíb  Unguas  opuscula  ,  se.  De  consiliario  fideli.  De 
bono  regimine  justitiae ,  cujus  libri  fragmenta  aliquot  haiud  parvi 
roomenti  se  vídisse  in  códice  admodum  antiquo  ,  Lusitaniae  mag  • 
nus  historicus  Bernardus  Brittus  ait ,  nec  non  et  de  misericórdia. 
Quae  tria  idem  Brittus  laudat.  Auctor  autem  historiíe  hujus 
Eduardi  Regis ,  quae  oaeteras  superiorum  Regum  sequitur  ,  ac 
Moderici  Pints ,  vulgo  exisiUnatur  opus ,  secundum  illum  de  Re- 
gimine ju>titi2e  latine  ab  eo  fuisse  forroatum  coromentarium 
Tefert ,  cujus  aliquam  pgrtionem  in  domo  Uljssipponensí ,  uti 
vocant  ,  Supplieationis ,  suo  adhuc  tempore  superfuissc  ait. 
Aliud  vero  de  fideli  Consiliario  Reginse  conjugi  nuncupatum , 
vernáculas  ceriius  língua*  adscrihendum ,  vel  hoc  uno  nuncupa^ 
tionis  indicio  existimamus,  Terlium  praeter  hos  duos ,  laudat 
librum  laudatae  hístoriae  auctor,  De  re  equestri  ,  sive  equítaudi 
arte.  Tom.  II.  pag.  iSq  ,  n*>.  a88. 


ítesenha  Amdytica.  xo3 

attribuida  a  Rodrigo  de  Pina,  devendo  dizer  Rodrigo 
da  Cunha  ,  a  cujas  diligencias,  como  todos  sabem ,  foi 
devida  a  publicação  d'aquelles  escriptos*,  depois  da 
morte  do  autor,  em  lô/fS,  e  não  em  i645  ,  como  es- 
creveo  Barbosa. 

Assim,  o  autor  da  Bibliotheca  Lusitana  podia  muito 
bem  resumir  o  catalogo  dos  escríptores  em  que  se  fun- 
dou ,  para  estabelecer  a  enumeração  dos  escriptos  do 
Sn^.  D.  Duarte ,  citando  somente  Fr.  Bernardo  de  Brito 
e  Duarte  Nunes  de  Leão ,  conforme  o  testemunho  dos 
quaes,  as  obras  de  maior  extensão  d^aquelle  Monarcha, 
escriptas  em  Unguagem  portugueza ,  são  o  Leal  Conse- 
lheiro ,  o  Livro  da  Ensinança  e  o  da  Misericórdia ; 
sendo  certo  que  doestas  três  obras  derão  os  chronistas 
noticias  somente  por  informações ,  e  que  de  nenhuma 
d  ellas  virão  cousa  alguma.  Nem  obsta  contra  isto , 
que  o  Abbade  Barbosa  en  endesse  que  Brito  tinha  visto 
fragmentos  do  Leal  Conselheiro ',  por  quanto ,  das  pa- 
lavras d*aqueUe  chrpnista ,  que  citámos  no  primeiro 
Artigo  ,  colherá  o  leitor  que  os  fragmentos ,  que  elle 
vira ,  erão  somente  do  bom  got^emo  dajusti^  :  e  a  este 
respeito, não  he  pouco  para  se  notar,  que  D.  Nicolao 
António  entendesse  melhor  o  texto  de  Fr.  Bernardo 
de  Brito  ^  do  que  Diogo  Barbosa. 

Tal  era  a  noticia  que  havia  dos  escriptos  do  Sn^ 
D.  D  uarte,  quando  o  benemérita  philologo  João  Franco 
Barreto,  deparou,  na  Livraria  da  Cartucha  d'Evora, 
com  huma  grande  quantidade  de  obras  de  pequena 
extensão  >  compostas  pelo  ditta  Monarcha  i  csjos  titu^ 


to4  Resenha  yínafytíea. 

los  consignou  ta  sua  Bibliotheca ,  a  qual  existia  ma- 
Duscripta  na  livraria  á%  Duque  Estríbeiro  Mór ,  e  da 
qual  D.  António  Caetano  de  Souza  os  copiou  e  impri'* 
mo  y  no  seu  inestimável  tbesouro  das  Provas  da  citada 
Historia  Genealógica  (  Liv.  III,Prov.  4»  )• 

Não  satisfeito  com  salvar  do  esquecimento  aquelle 
interessante  Artigo  de  Barreto  ,  o  mesmo  Sousa  fez  á 
literatura  nacional  o  grande  serviço  de  imprimir,  na' 
citada  Prova  y  algumas  das  obras  d' aquelle  Monarcha , 
copiadas  do  Livro  de  Memorias  suas  existente  na  car- 
tucha  d'EYora ,  para  que  de  to^  se  nâo  perca  ,  diz  elle, 
a  memoria  de  seus  preciosos  trabalhos  tão  dignos  de 
estimaçàO' 

Finalmente^  do  trabalho  de  Sousa  e  de  Barreto  tirou 
Barbosa  a  relação  ^  que  nós  dá ,  dos  escríptos  de  Sn'. 
D.  Duarte,  existentes  na  Livraria  d*aqnelle  convento, 
em  hum  Livro ,  diz  elle ,  com  o  titulo  de  Memorias 
'úúrias* 

Párêce  que  o  mesmo  destino /que  tinha  privado  a 
Nação  dos  Tratados  mais  importantes  d'aquelle  Prin- 
cepe,  e  que  tinha  feito  com  qae  dois  autores,  alias 
estimáveis,  se  explicassem  tão  confusamente  sobre 
elles ,  se  empenhou  também  em  lançar,  ainda  sobre  os 
mesmos  manuscríptds ,  conhecidos  e  existentes  no  paiz, 
huma  espécie  de  confusão ,  bem  indigna  de  homens 
tão  beneméritos  e  tão  laboriosos.  Com  eíTeito ,  João 
Franco  BairetO! ,  tratando  positivamente  de  dar  o  cata- 
logo d*aquelles  mandscriptos ,  não  teve  paciência  paia 
a  acabar,  vistp  que  pôz  no  (im  d*elle  :  e  outras  muiias 


Resenha  Anafortiem.  leS 

cbras{àínàa  que  breves) de  mmito  engenho e erudiçào ; 
Diogo  Barbosa,  que  tinha  tomado,  mais  tarde,  a 
mesma  empresa ,  deo-nos  muito  menoB  do  qae  João 
Fraoco  Barreto ,  e  D.  António  Caetano  de  Sonsa ,  qne 
imprimio  alguns ,  de  que  os  dois  primeiros  nào  Jerão 
noticia ,  nos  titulos  de  outros ,  nào  se  conforma  nem 
com  Barreto,  nem  com  Barbosa,  ao  mesmo  passo 
que ,  em  outros  titulos ,  estes  dois  últimos ,  algnmas 
vezes ,  também  se  não  conformão  entre  tL 

Se  ao  leitor  parece  que  temos  tratado  com  dema- 
siada miudeza  esta  matéria,  rogamos-lhe  que  selem* 
bre ,  que ,  para  mostrar  a  necessidade  de  corrigir  o 
artigo  daBibliotheca  Lusitana,  relativo  aos  escriptos 
do  Sn''.  D  Duarte,  e  para  estabelecer  com  a  exacçào 
possivel  o  catalofo  d  elles ,  be  indispensável  fazer  sentir 
a  confusão  ,  que  tem  havido  até  agora  nisto, e  indicar, 
com  ,as  necessárias  observações ,  os  elementos  de  que 
nos  servimos,  e  o  modo  porque  convém  rectificar  huns 
por  meio  dos  outros*  Alem  de  que ,  doeste  exame ,  e 
roais  ainda  da  ultima  parte  d*elle ,  resulta  indirecta- 
mente huma  verdade  muito  interessante ,  que  nanca 
cessaremos  de  proclamar ;  isto  he ,  a  necessidade , 
que  temos ,  de  hum  continuador  da  nossa  Bibílotheca 
Lusitana ,  de  hum  historiador  da  literatura  portugueza, 
e  de  compiladores,  qne,  entre  tanto,  reccdhào,  e 
publiquem  com  clareza  e  exacção ,  como  bases  para 
isto ,  documentos  e  arestos  de  que  deixem  a  ntil 
herança,  a  quem  tiver  as  íbrças  e  o  patriotismo  «de 
empreheader  tão  ^ormo  e  importante  trabalho.  E  â 


io6  Resenha  Anafytica. 

este  respeito ,  lembiremo-nos  somente ,  do  que  devemos 
á  Academia  da  .Historia  portugueza^  e  á  distincta  Con- 
gregação dos  Padres  Theatinos ;  e  pelas  pequenas  con- 
tradicçõesy  que  hoje  nos  be  penoso  achar,  entre  os 
trabalhos,  dos  sábios  laboriosos  d'aquella  epocha  ínte- 
ressante,  avaliemos »  cpm  reconhecimento,  o  estado 
de  perfeita  confusão  e  ignorância,  de  que  elles  nos 
salvarão ,  e  no  qual  jazeriamos  hoje ,  á  cerca  da  lite> 
ratura  do  posso  melhor  século ,  se  ^elles  não  nos  ti- 
vessem generosamente  legado  os  fructos  preciosos  de 
suas  extraordinárias  fadigas. 

Mas,  voltando  ao  nosso  assumpto,  devemos  saber 
Vjue,  no  Leal  Conselheiro,  hum  certo  numero  de  Ca- 
pitulos  novamente  escriptos  fez  o  fundo,  da  obra ,  e 
com  elles  misturou  o  autor,  i^.  outros  Capitulos  >  que , 
para  outras  obras  ,  tinha  feito  ;  2^.  Memorias  e  artigos 
avulsos,  que,  a  outros  respeitos,  e  em  outros  tempos 
tinha  composto ,  e  de  tudo  ordenou  aquelle  Tratado , 
com  o  qual ,  não  só  satisfez  as  instancias  da  Rainha 
D.  Leonor,  nlas  ainda  ,  offereceo  nelle ,  á  sua  leitura, 
matérias,  que  entendeo  poderem  ser-lhe  agradáveis, 
ou  proveitosas. 

Esta  mesma  hea  ideia,  que  o  Sn^.  D.  Duarte  nos 
dá  d^aquella  obra ,  em  cujo  Prologo  diz  assim  :  «  E 
por  que  o  entendimento  he  nossa  uirtude  muy  pricipal 
screui  dei  hua  breue  repartiçom  e  o  mais  fcij  ajuntande 
segundo  melhor  pude  fazer.  E  por  serem  algãas  cousas 
sobre  si  tèpo  ha  scritas  nom  leuam  tal  forma  como  se 
todas  jutamente  sobreste*proposito  forom  ordenadas.  » 


Hesenha  Anafytica:  107 

Assim ,  vemos  qae-os  Capitnlos  m,  V  c  LXXXIII  do 
Leal  Conselheiro ,  são  os  mesmos ,  que  o  YIII  e  o  IX 
da  5«>.  Parte ,  e  o  XI  da  3*.  d*aqaeUe  Livro  da  ensi- 
nança ;  nos  quaes  o  autor ,  com  o  discernimento  qoe 
lhe  era  próprio ,  fez  somente  as  alterações ,  que  jalgoa 
necessárias  ,  para  os  ligar  com  o  seu  assumpto. 

Quanto  ás  Memorias  e  artigos  avulsos ,  inseridos  no 
Leal  Conselheiro ,  bem  notaria  o  leitor ,  na  Taboa 
d*aquelle  Tratado ,  que  o  Cap.  XCI  não  promette  senão 
hum  Index ,  ou  Taboada  das  matérias  ,  que  se  lhe  se- 
guem ;  com  efièito ,  eis-aqui  como  o  Sn^*.  D.  Duarte 
principiou  aquelle  Capitulo  :  «  Desejando  de  poer  fim 
a  esta  breue  e  sy  prés  leitura  ,  as  cousas  per  my*  feitas 
a  esto  perteecétes  que  fica  por  screuer  é  ella  sé  outro 
adimento ,  as  faço  trelladâr ,  das  quaes  este  Capitulcr 
como  tauoa  étendi  séer  cõpridoiro  desse  fazer.  »  E  aca- 
ba ,  dizendo :  ^  E  algúas  cousas  tenho  scriptas  no  liuro 
que  faço  dessaber  bem  andar  a  cavallo  e  fazer  as  boas 
manhas  que  se  costumam  fazer  em  elles  ,  e  outras  que 
por  nom  seerem  taaes  que  a  nos  perteeçam  „  as  nom  fiz 
aquy  tralladar.  »  E  na  verdade ,  o  resto  dos  Capitulos 
contém  ,  como  o  leitor  observaria  pelos  títulos  d*elles , 
matérias  interessantes ,  ou  curiosas  ,  porém  alheias , 
quasi  todas ,  do  assumpto ;  e  o  ultimo  bem  mostra  ter 
sido  escripto  expressamente  y  para  fazer  entrar  aquelles 
artigos  destacados ,  no  quadro  do  Leal  Conselheiro. 

*  Daqui  se  vê  ,  que  este  precioso  Tiratado  tem  a  van- 
tajem  de  comprehender  em  si  hum  grande  numero 
das  composições  avulsas  do  seu  autor ;  e  doeste  modo 


rò8  Resenha  Andfytieã. 

se  explica  facilmente  coma  não  poucas  d^aqudlas  Me- 
morias 9  que  João  Franco  Barreto  e  D.  António  Cae- 
tano de  Sousa  acharão  na  Cartucfaa  d'fIvora ,  fazem 
efiectivamente  parte  do  Leal  Conselheiro.  Por  isso , 
ainda  que  a  confrontação  de  todos  os  autores,  que 
acima  allegámos,  fosse  já  sufficiente  para  ampliar  e 
corrigir »  por  meio  d*ella  ,  o  artigo  da  Bibliotheca 
Lusitana ,  trabalho  que  não  só  seria  mui  fácil  aos 
philologos  portuguezes ,  mas  que  por  certo  ,  a  todos 
os-  respeitos ,  seria  por  elles  mais  bem  desempenhado , 
pareceo-nos,  comtudo,  que  deviamos  aproveitar  a 
.  occasião  de  termos  examinado  aquella  obra  ,  que  lança, 
sobre  hum  tal  trabalho ,  huma  luz  muito  mais  clara  , 
l^ra  fazer  á  literatura  nacional  hum  serviço  ,  que , 
sem  o  exame  do  Leal  Conselheiro ,  era  impossivel ,  e 
que  nos  parece  verdadeiramente  digno  d^ella* 

Examinámos  pois  as  opiniões  de  Fr.  Bernardo  de 
Brito  e  de  Duarte  Nunes,  confrontámos  entre  si  João 
Franco  Barreto,  D.  António  Caetano  de  Sousa  e 
Diogo  Barbosa  ,  e  comparámos  escrupulosamente  o 
resultado  d*esta  confrontação  com  o  Leal  Conselheiro. 
Taes  forão  os  elementos ,  e  o  processo,  por  meio  do 
qual  redigimos  o  ditto  trabalho  ,  que  não  propomos  , 
senão  como  hum  Projecto  ^  porém  se  ,  com  justa  causa, 
.  pão  ousamos  dá-lo  oomo  pa:*feito ,  ao  menos  lison- 
geamo-nos  de  que  tei*á  o  merecimento  de  ser  exacto» 

Porém  antes  de  o  produzir,  escreveremos  aqui  al- 
gumas observações ,  que ,  por  occasião  d^aquella  con-< 
frontaçãoi  fizemos  ^e  que  justificao  a  opinião  que  iá 


Hesenha  Awãytíea.  109 

so  nosso  ptioieiro  Aitigo  tiobamos  fluuntfeâtado  sobre 
a  aathenticidade  e  correoçào  do  texto  do  Godice  7007. 
Com  efieito  ,  comjMirando  este ,  com  o  dos  pedaços  do 
manoscrípto  da  Cartncba  d'ETor& ,  que  Sonsa  nos  deo 
impressos  >  achámos  entre  elles  não  poucas  irarianies , 
que  provão  mcontestavdmente  a  soperioridade  do  prr- 
meiro.  Nem  sirva  para  isto  de  ob^culo  ter  <titto  o 
memo  Sousa ,  no  corpo  da  sua  Historia ,  fallando  d*a- 
quelle  mannscrípto  d*Evora ,  qae  se  aflirmava  ser  da 
letra  do  Sn^*.  D.  Duarte ;  por  quanto ,  aquelle  mesmo 
sábio  indagador  das  nossas  cousas,  quando ,  mais  tarde, 
imprímio  nas  Provas  d*aquella  Historia,  o  sobreditto 
texto ,  principiou  dizendo :  ^  Está  no  seu  Livro ,  que 
ae  conserva  na  Livraria  da  Cartucha  d*Evora,  donde 
o  fez  copiar  o  Conde  de  Erjceíra;  depois  no  anoo 
de  1736 ,  que  estile  no  dito  conuento^  vi  o  Wfêcsmo  lunro^ 
não  he  da  letra  do  dito  Rtiy.  » 

.  E  para  não  sermos  extensos ,  quanto  o  pediria  bama 
*longa  con&rontação  de  Peças  diflEsrentes ,  que  seria  in- 
dispensável produrir,  aprovritaremos  a  occasââo  de 
termos  dado ,  no  primeiro  Artigo ,  os  preoeitoa  para 
bem  traduzir,  copiados  fielmente  do  Leal  Gonselheífo, 
e  transcreveremos  aqui  os  mesmos  preceitos ,  conforme 
Sousa  os  extrahio  do  manuscripto  d^Evora ;  por  este 
meio,  facilitaremos  ao  leitor  huma  parte  da  compa- 
ração dos  dois  tettos ,  para  que  elle  possa ,  por  si 
mesmo ,  convencer-se  do  que ,  a  respeito  d'elles ,  ac»» 
bamos  de  dizer. 

Antes    porém  9    convém  rectificarmos  bom    erro 


1 10  '    Itèsekhd  Anà^rúóà. 

typógrâphioo y  que,  no  terceiro  d^aqiiellès  preceitos^ 
nos  escapou»  deixando  imprimir ^  nà  ai*,  linha  da 
pag.  !ii  do  'YIII  Volume  —  ektendo  que  tanto  monta 
etc.  *-  que  se  deve  ler  \  — *  entendendo  que  tanto  monta 
etc.  — ^ Eis-aqui ,  pois,  o  texto  d*aquelles  preceitos, 
como  Sousa  o  publicou  :  poremos  nelle,  em  itálico, 
tudo  o  que  não  se  conforma  com  o  da  lição  de  Parts. 

^  Primeiramente  conhecer  bem  a  sentençfi  do  que  ha 
de  tomar  ^e  poela  inteiramente  non  mudando ,  acres^ 
centando ,  nem  mingoando  algúa  cousa  do  que  esta 
escrito.  » 

«  O  segundo  q  nõ  ponha  palavras  latynadas ,  nem 
doutra  lingoajem,  mas  todo  seja  portuguez  escripto  mais 
achegadamente  ao  chão ,  e  geral  costume  de  nosa  falar, 
q*  se  poda  fazer.  » 

«  O' terceiro  que  sempre  se  ponAa  palavras ,  q^  sejam 
de  direita  lingoajem  respondentes  ao  latym  non  mu- 
dando buas  por  outras  asy  q  onde  el  diser  em  latym 
escon^egaf  non  ponha  afastar  em  nosa  lingoajem ,  e  asj 
em  outras  comas  semelhantes  entendendo  (\  tanto 
monta  huá  cousa  como  outra  ,  ponf  grande  diferença 
fas  para  se  bem  entender  serem  estas  palavras  pro^ 
priamente  escriptas. » 

«  O  quarto ,  q**  non  ponha  palavras ,  q  segundo  o 
nosso  costume  de  falar  sejam  ávidas  por  desonestas.  » 

«  O  quinto ,  cf  guarde  em  o  escra^er  aquela  ordem  , 
q  igualmente  deve  gardar  em  qualquer  outra  cousa  q 


Resenha  jinalYÚca.  iii 

se  escrei^er  dei^à-S.  cf  escreva  claramente  para  se  bem 
poder  entender,  e  fermoso  o  mais  que  ele  poder e 
curtamente  quaato  for  necesario ,  e  para  esto  aproveita 
muito  parrafary  e  apostar  bem  aquelo  ,  q  a^  ouper 
descret^er^  se  hum  razoa  tomando  de  latym  em  lin-- 
goajem ,  e  o  outro  escrever  achará  melhoria  de  todo 
juntamente  por  hum  serfeita.  » 

Estas  ultimas  palavras  formão  no  Códice  de  Paris 
hum  paragrapho  á  parte ,  e  por  isso  não  as  copiámos 
no  primeiro  Artigo,  por  conterem  huma  observação, 
e  não  hum  preceito;  eis-aqui  como  as  produz  o  re- 
fendo  Códice. 

«  3e  hum  razoar,  tomando  de  laty  em  lyguagé  é 
outro  screuer  achara  melhoria  de  todo  jútamente  pér 
húu  seer  feito.  » 

Ora  ,  não  foliando  na  orthographta ,  na  qual ,  sem  du- 
vida a  do  manuscrípto  parisiano  he  muito  mais  con- 
forme á  dos  tempos  do  autor  ,  não  fallando  na  prefe- 
rencia que,  para  a  boa  intelligencia  do  texto,  por 
certo  se  deve  dar  a  (ornar  por  tornar^  a  boo  por  clião 
etc.  limitar-nos-hemos  a  observar  os  erros  manifestos 
de  nosa  falar  e  que  se  poda  fazer ,  que  existem  no 
segundo  preceito. 

He  verdade  que  nos  autores  do  tempo  do  Senhor 
D.  Duarte  se  encontrão ,  algumas  vezes ,  géneros  tro- 
cados ,  e  conjugações  repugnantes  á  analogia  da  lingua, 
e  que  estes ,  e  outros  defeitos  semelhantes  ,  são  carac^ 
teristicos  d^aquella  idade,  porém  parece-nos  que,  a 


lia  Resenha  Anàhtica. 

pezar  d^isto,  os  exemplos  não  poderão  justificar  aquel-* 
las  duas  variantes ,  que  resultào  da  comhinação  dos 
dois  textos  , .acima  proposta.  He  verdade. que  Fernão 
Inopes  escreveo  seo  linhagem  y  que  neste  mesmo  pre- 
ceito de  que  falíamos ,  o  Sn''.  D.  Duarte  pôz  seo  Unr 
goagem  escripto » segando  a  lição  de  Paris,  e que  Gomes 
Eannes  disse  sento  ejdrào^por  sinto  e  jazerão  etc;  porém 
os  infinitos  substantivados  dos  verbos  gozavão  já  então 
do  privilegio  de  neutros ,  como  lhe  chamão  os  nossos 
grammaticos  9  ou  masculinos  ,  como  realmente  são  nas 
linguas  modernas  derivadas  do  latim ,  e  o  verbo  poder 
era  conjugado,  como  hoje  ,  possa ^  no  preisente  do  con- 
junctivo.  Assim,  entendemos  que  nosa  falar  e  se  poda 
fazer ,  não  só  pda  practica  do  Sn^  D.  Duarte ,  que 
nunca  assim  escreveo  em  outro  algum  lugar,  mas  até 
pela  razão ,  não  devem  ser  considerados  ,  senão  como 
erros  do  maauscripto  d^Evora ,  que  no  Códice  pari- 
siano  se  achão  con^ectos »  conforme  o  uso  d*aquelle 
século. 

Porém ,  sobre  tudo ,  achamos  notáveis  as  ultimas 
palavras  do  quinto  preceito  :  E  para  esto  aproí^eita 
muito  parra/ar  e  apostar  bem;  o  manuscripto  de  Parts 
diz  :  parragrafar  e  apontar  bem.  O  erro  parece-nos  evi- 
dente; porém,  como  o  nosso  Moraes,  fundado  pre- 
cisamente nesta  só  passagem ,  deo  no  seu  Diccionario , 
ao  verbo  apostar  imma  significação ,  em  que  neckhum 
autor  da  lingua  tiaba  usado  d'dle,  não  devemos, 
assim  de  leve,  rejeitar  aqueUa  ultima  lição, sem exa* 
minarmos  as  duas  ^  e  ver  qual  delias  he  preferível  , 
como  mais  natural. 


ReseiAa  Anafytica*  n3 

,  'O  Sn**.  D.  Duarte,  tendo- nos -quatro  primeiros  pre^ 
ceitos  y  dado  ,  especialmente ,  as  regras  para  bem  tra- 
duzir y  no  quinto  trata ,  em  parUcular,  do  estjlo ,  e 
rccommenda  ao  traductor  que  escreva  ctarameFOe  e 
cwtamenie  quanto  for  necessário  ;  e  para  isto  he  que 
elle  entende « com  razão »  que  aproveita  muito  parra- 
grafar  e  apontar  hern^  Ora ,  Moraes,  querendo  dar  aqui 
huma  interpretação  ao  verbo  apostar ,  disse ,  que  elle 
significava  concertar  \  o  que ,  se  ainda  por  outras  razões 
podesse  conceder-se ,  não  seiitf  applicavel  no  presente 
caso,  senão  no  sentido  moral,  quanto  á  disposição 
interna,  ede  nenhuma  sorte  quanto  ao  arranjo  ezte<* 
rior ,  e  no  sentido  material ,  em  que  evidentemente 
o  autor  fallava ,  e  no  qual ,  somente  hem  apontar  he 
tão  essencial ,  como  bem  parragrafar  para  escrever 
claramente  e  curtamente.  Parece-nos  que  Moraes  não  ' 
poderia  facilmente  explicar  o  que  vinha  a  dizer,  neste 
caso  >  parragrafar  e  concertar  bem. 

Porém ,  independentemente  d^isto  ,  o  verbo  apostar  . 
nunca  significou ,  senão  ,  como  diz  o  mesmo  Moraes  ^ , 
ajustar  certo  preço  que  ha  de  pertencer  a  quem  acerta^ 
sobre  successo  futuro  e  ignorado;  nem   elle   achou, 
nem  poderia  achar ,  para  aquella  sua  nova  significa- 
ção, outra   autoridade,  senão   esta,  attribuida,  por 
erro,  ao  Sni"*  D.  Duarte.  Já  aquelle  autor  tinha  mos- 
tilado  o  seu  embaraço ,  a  este  respeito  ,  mettendo ,  in* 
d  i  vida  mente ,  aquella  nova  significação  de  apostar  en- 
tre  a  moderna  e  a  antiga  significação  do  verbo  apostar^ 
se ,  esperando,  talvez,  que  esta  ultima  servisse  de  apoio 
Tom.  IX*  ^  A 


it4  Resenha  Analítica, 

á  sua  opinião  :  he  verdade  que  Fernão  Lopes ,  citado 
por  Moraes,  disse:  apostando^se  a  frota  do  que  lhe 
cumpria;  tnas  aqui,  evidentemente,  apostar-se  não 
quer  somente  dizer  concertar^se ,  como  este  ultimo  per- 
tendéo ,  porem  sim  apromplar-se ;  o  que ,  alem  de  per- 
tencer exclusivamente  ao  verbo  reflexivo ,  e  não  ser 
applicavel  ao  activo ,  nada  prova  a  favor  d'aquella 
pertendida  significação,  a  qual ,  de  mais  a  mais  ,  como 
vimos,  não  he  conforme  ao  espirito  do  que  o  Sn^. 
D.  Duarte  tinha  querido  dizer.  Nem  temos  por  solido 
o  outro  esteio,  que  Moraes  procurou  na  palavra  aposto , 
que ,  segundo  nos  parece ,  não  vem  de  modo  nenhum , 
como  eUe  entende ,  do  verbo  apostar. 

Notaremos  também  aqui ,  de  passagem ,  que  ,  se 
aquella  falta  do  copista  do  manuscripto  d*Evora  in- 
duzio  em  erro  o  erudito  Moraes,  a  falta  do  conheci- 
mento de  todo  o  capitulo  XCIX  do  Leal  Conselheiro , 
de  que  o  mesmo  manuscripto  não  contêm ,  senão 
isoladamente ,  os  cinco  preceitos  de  que  falíamos ,  tem 
feito  attribuir  ao  Sn^.  D.  Duarte,  a  respeito  de  tra- 
ducçôes,  huma  opinião, que  não  era  a  sua,e  dimi- 
nuido  nesta  parte  o  conceito,  que,  no  nosso  primeiro 
Artigo,notámos  mei^ecer  o  seu  bom  gosto  em  semelhante 
matéria.  Assim, "se  o  sábio  Académico  e  Censor Phi- 
lippe  José  da  Gama  tivesse  podido  ler  todo  o  sobre^ 
ditto  Capitulo ,  ou ,  ao  menos ,  a  passagem  delle,  que 
produzimos  a  pag.  23  do  VIII  Volume  ,  não  teria  gasto 
o  seu  tempo  em  cotnmentar  largamente  aquelles  cinco 
preceitos ,  para  provar,  com  tão  ponderosa  autoridade , 


•     •  -x 


Resenha  Analytica*  ii5 

que  só  aft  tradãcções  literaes  são  verdadeiras  e  boas 
traducçôes ,  como  fez ,  censurando  a  de  buma  Ode  de 
Horácio,  que  ha  muitos  annos  vimos  impressa,  onde, 
se  bem  nos  lembr^,  a  censura  £aúa  talvear  nove  dé- 
cimos da  obra. 

Passemos  pois  ao  promettido  projecto  para  rectifícar 
o  Artigo  da  Bibliotheca  Lusitana. 

Compoz  o  Stí^.  D.  Duarte ,  e  achão-se 

Ixrasssos: 

Papel  que  esçreveo,  quando  seus  Irmãos  farão  a 
Tangere.  -j  paç.  em  V*. 

CoRSELHo  que  deo  aò  Infante  D.Henrique,  seu  Irmão, 
quando  foi  com  hama  armada  sobre  Tangere.  ilpag. 

Motivos  que  teve  para  fa2er  a  guerra.  3  /Mig. 

Lembejlkçíl  que  escreveo  dos  nascimentos  de  seus 
filhos.  %  artigos ,  todos  em  i»]  Unhas. 

ObservílçÃo  da  Lua.  5  Unhas. 

Cousas  de  que  foi  requerido  nas  primeiras  Cortes  que 
fez  em  Santarém,  i  pag^ 

Cousas  que  pertencem  a  hum  bom  capitão.  2  linhas 
escriptas  em  latim. 

Observação.  Sobre  as  cores  das  pedras  de  mina  de 
metal.  27  linhas. 

Lembrarça.  Á  cerca  de  prémios  devidos  a  certas 

8* 


ti6  Resenha  AnàÍQrtica 

classes  de  creados;  como  moços  d*estribeira.  Repôs? 
teiros,  etc.  i3  linhas. 

Todos  estes  escríptos  estavão  no  seu  Liiro  que  se  conr 
serva  na  Cartucha  d  Évora  j  donde  as  fez  copiar  o  Conde 
da  Eryceira ,  e  os  imprímio  D.  António  Caetano  de 
Sousa )  no  Tom.  I  das  Probas  da  Hisioria  Genealógica  ; 
Pi^ova  4i  f  do  Liy.  IH ,  pag.  5agL  e  seguintes :  e  a  sua 
publicação  foi  snmmamente  interessante ,  porque  nem 
Barbosa»  nem  João  Franco  Barreto ,  fizerão  d*elles 
menção  alguma  nas  suas  Bibliolhecas* 

Alem  doestes»  achão-se  também  impressos, na  mesma 
Obra,  quatro  Capitulos  do  Leal  Conselheiro,  como  em 
seu  lugar  se  verá. 

Manuscaiptos, 

Em  Latim* 

Tritáik)  do  bom  governo  da  justiça. e  dos  officiaes 
d*eUa;  de  que  Fr.  Bernardo  de  Biito  vio  hum  grande 
fragmento  em  hum  livro  pequeno  mui  antigo ^posio  que  não 
diz  em  que  língua  era  escrípto ;  mas  que  Duarte  Nunes 
de  Lião  affirma  existir,  ainda  no  seu  tempo,  na  C^isa 
da  Supplicação.  Barbosa  e  Manoel  de  Faria  e  Sousa 
dão  noticia  doesta  obra ,  fundados  no  testemunho  de 
Duarte  Nunes ,  e  Barreto  não  faz  d^ella  menção  alguma. 

Em  Portuguez. 

Leal  Cov SELHEiRO ;  de  que  dão  noticia  todos  os  que 
fallárão  dos  escriptos  d'este  Princepe.  Doesta  obra  não 
se  sabe  que  exista  exemplar  algum  em  Poetugali  n^as 


JÍmtÊfytiea,  117 

na  BibUodieca  Real  dos  Maniiscríiilos  de  Futs,  Oh 
dice  7007 ,  ha  hmiia  copia  mui  perfeita  e  oooipietta , 
escripta  em  pergaminho  e  com  leira  cunhada ,  a 
qual  consta  de  hama  Toiíoa  ^  IVxiflegoe  io3  Capitolos, 
o  que  tndo  occapa  191  paginas  de  fblioy  cm  doas 
columnas.  Comtudo  ,  achão-se  impressos ,  oohm>  Me- 
morias e  escriplos  aTulsos,  a  saber : 

O  Cap.  I  Repartição  ão  ememãunaáo  \  de  que  fes 
menção  Barreto ,  como  Memoria  M.  S.  ^^i^^^fy  na 
Cartncha  d*E?ora9  e  de  que  Barbosa  não  Cdloo. 

O  Cap.   XCIV.  Observação  io  moJo  gmt  deve  ser 
a  lição  dos  livros;  que   derão  como  Memoria  M«  & 
existente  na  Cartodia  d^Erora,  Barreto,  com  o  título 
Do  bom  modo  de  interpretar  ot  Ut^ros ;  e  Barbosa^ 
Da  maneira  de  ler  os  livros^ 

O  Cap.  XGVnL  Do  modo  com  qm  die  e  mus  ir- 
mãos se  havião  com  ElRâ  seu  Pai;  que  Barreto  e 
Barbosa  derão ,  como  Memoria  M.  S.  exigente  na 
Cartncha  d*Evora ,  com  o  titulo :  Ordem  de  eomo  ot 
Infantes  havião  de  proceder  com  seu  Pai. 

O  Cap.  XdX.  Observação  sobre  o  modo  qm  se  deve 
Ur  na  versão  de  Imana  lingua  para  outra ;  de  que  nem 
Barbosa ,  nem  Barreto  derão  noticia*  Doeste  Cap.  estão 
somente  impressos  os  dnco  preceitos ;  mas  ialta  tudo 
o  mais. 

Estes  quatro  Capitulos^foião  ikdos  á  los  pdlo  mesma 
AutcNT  da  Historia  Genealógica » e  achão-se  impressos 


ti8  Resenha  Anafyúca. 

juntamente  com  os  Escríptos  acima  mencionados » na 
mesma  Prova  4i  <lo  Liv.  III ,  tendo  sido  também  co* 
piados  das  Memorias  existentes  na  Cartucha  d'Evora. 

Alem  d*isto  » segundo  o  testemunho  de  Barbosa  e  de 
Barreto ,  nas  suas  Bibliothecas,  conservão-se,  no  mes- 
mo livro  de  Memorias ,  igualmente  como  escríptos 
avulsos : 

O  Cap.  XI.  Conselho  ou  assiso  espiritual  contra  a 
intemperança  dos  desejof  j  que  Barreto  escreveo  intem- 
perança dos  direitos* 

O  Gap.  XXIV.  Conselho ,  sendo  Imfanle ,  pixra  seu 
Irmão  D.  Pedro  ,  quando  se  partio  para  Hungria. 

O  Cap.  XCII4  í)eçlaraçâo  da  intenção  que  havemos 
ter  para  nos  saldar. 

O  Cap.  XCV.  Conselho ,  ou  auiso  espiritual» 

N.  B.  Dos  8  Capítulos  acima,  transcrevemos  fiel- 
mente ostilulos  com  que  huns  se  achào  impressos, 
e  com  que  Barbosa  e  Barreto  nos  fizerão  conhecer  os 
outros,  que  se  conservão  manuscríptos  ;  o  leitor  poderá 
cotejá-los  com  os  titulos  verdadeiros,  que  nós  im- 
primimos a  p^g.  09  e  seguintes ,  da  1*.  Parte  do  nosso 
VIII  Volume. 

LiuKO  DÁ  Eusstnauça  de  bem  caualgar  toda  sela. 
D^elle  dão  também  noticia  ,  ainda  que  debaixo  de  di- 
versos titulos ,  todos  os  que  tratarão  dos  escríptos  do 
Sn^  D.  Duarte.  Doesta  Obra ,  não  só  não  consta  que 


Resenha  jimafytica.  ii§ 

haja  exemplar  algum ,  em  Portasal ;  mas ,  entre  todas 
as  obras  avulsas  impressas  do  Sn'.  D.  Duarte,  ou 
entre  todas  as  manuscríptas,  de  que  ha  memoria, 
não  se  acha  Capitolo  algum  que  pertencesse  a  este 
Uuro  da  Ens^iynança.  P*elle  existe  na  Bibliotheca  Real 
dos  Manuscríptos  de  Paris ,  Códice  7007 ,  buma  copia 
tão  perfeita  e  tão  completta ,  como  a  do  Leal  Conse- 
lheiro ^  e  consta  de  hum  ProUego  e  9  Partes,  divididas 
em  diversos  Capitulos,ao  todo,  66,  o  que  tudooc- 
cupa  Sg  paginas  de  folio,  em  duas  columnas. 

Dá  MuBaicommA*  D'este  ningaem  faz  menção,  senão 
Fr.  Bernardo  de  Brito.  Qualquer  que  seja  o  grão  de 
confiança ,  que  possamos  ter  no  seu  testemunho » he 
dtfficil  de  crer  que  este  escripto  escapasse  a  todos 
os  que  se  derão ,  muito  mais  do  que  elle ,  a  investiga- 
ções nesta  matéria.  Se ,  ao  menos ,  o  chronista  tivesse 
produzido  as  palavras  por  que  principiava  aqpella  obra, 
facilitar-nos-hia  agora  saber  se  ^Ua  era ,  por  veqtura , 
algum  outro  Capitulo  do  I^eal  Conselheiro ,  cujo  titulo 
estivesse  alterado ,  como  alguns  dos  que  acima  se 
produzirão ;  comtudo ,  no  Leal  Conselheiro  não  achá- 
mos capitulo  algum,  a  que  ramadamente  podesse 
convir  aquelle  titulo. 

SmcMAaio  que ,  sendo  Infante  >  deo  a  M^  Francisco , 
para  pregar  do  Condestavel  D.  Nuno  Alvares  Pereira* 
Começa :  Gloria  et  honore  coronasii  eum  ,  Domine  ,  e 
acaba :  onde  perpetuamente  ha  ^ria  e  honra ,  para 
sempre  se  coroe. 

Memorial  para  Fr.  Fernando  ordenar  a  Pregação  das 


r 

i20  Resenha  ^nàlrtica* 

exéquias  d*EIRei  D.  João  seu  Pai.  Começa : /r.  l^er- 
nando^  pensei  na  aUençâo  do  Sermão  ,  que  no  saimento 
Deos  querendo  y, me  dissestes^  que  havíeis  de  fazer,  e 
occuteo-me  o  que  se  segue, 

REGnfcirTo  para  apprender  a  jogar  as  armas.  Começa : 
A  hora  de  terça  lei^a  alguns  dias. 

Resposta  ,  sendo  Princepe ,  ao  Infante  D.  Fernando , 
sobre  certas  queixas  que  elle  tinha  de  seu  Pai.  Não  se 
sabe  nçm  como  começava,  nem  como  acabava. 

Doestas  quatro  obras  fazem  igualmente  menção  Bar* 
bosa  e  Barreto;  mas  o  que  he  de  notar ,  he  que  o 
segundo  produz  o  titulo  d^aquella  ultima,  da  ma^ 
neira  seguinte  :  Resposta ,  sendo  Príncipe  ao  Imphante 
D,  Pedro,  pelo  Imphante  D.  Fernando  sobre  serias 
queixas  que  D.  Fernando  tinha  d^ElRei  seu  Pai* 

Padre  irossò  glozado.  Começa :  Padre  nosso  ,  jííto 
em  a  creaçom,  JUanso  em  Amor  ,  Rico  em  herdades. 

De  como  sp  Tini  o  DeKoitio*  Começa  :  Primeiramente 
seu  Padre  e  Madre  ,  ou  parente  ,  ou  amigo  andejejoan 

O  QUE  SB  TOMA  dos  pareotes,  Pátria  ,  leite.  Começa  : 
Da  Terra  ,  compreiçom  f  etc. 

•  Qtte  cousa  seva  deteacçao.  Começa :  O  detrahidor. 
Maldizente^  etc. 

pREENAssoEirs  sobrc  as  cousas  domesticas  e  a  ordem 
que  tinha  no  governo  e  despacho.  Começa :  Por  que 
vos  parece^  que  dar  ordem  ds  Audiências^  repartir  os 
tempos  f  etc* 


Resenhai  Anafytica.  tix 

:  Hum  TftATÁBo  lobre  ag  ▼áUias  do  Pftnt  conforme  n 

vallias  do  trigo.  v.  g.  se  o  alqueire  de  trigo  vallesse  a 

tanto  y  valleria  o  pâm  a  tanto  ètc,  Nào  consta  como 

começava,  nem  como  acabava. 

Doestas  seis  obras  nào  fallou  senão  loào  Franco 
Barreto ,  na  sua  Bibliotheca ,  o  qual  prosegue  o  seu 
artigo  dizendo  :  e  outras  muitas  obras  (  ainda  que  bre* 
ves  )  de  muito  engenho  e  erudição. 

'•  ff  Mandou  também  (  continua  Barreto  )  ordenar  e 
abreviar  as  Ordenações  do  Reino ,  que  em  seus  diaá 
nào  acabou,  e  veio  a  acaballas  seu  filho  D.  Afiboso  S^'. » 
o  qual  as  mandou  recopillar  em  5  volumes ,  e  des- 
pois  ElRei  D.  João  oP.  seu  filho  tomou  a  mandar 
abreviar  as  ordenações  dos  5  livros,  em  hum  Com-* 
promissoy  quem  por  seu  mandado  as  abreviou  foi  o 
Licenceado  Lourenço  da  Fonseca,  que  foi  algum 
tempo  seu  Corregedor  da  Corte ;  ultimamente  ElRei 
D.  Manoel ,  pelas  achar  confusas ,  mandou  aperfet^ 
coar  de  todo  na  forma  em  que  estiverão  até  quê  ElRei 
D.  Philippe  1^.  Rei  de  Portugal  as  mandou  pôr  na 
forma  em  que  estio.  » 

«  As  Obras  d^lRei  D.  Duarte,  tirado  o  Conselheiro 
e  o  Livro  da  Gineta ,  estão  todas  na  Livraria  da  Car- 
tocha  d^J^vora.  » 

C.  X. 


13)  Resenha 


TABOADA 

J)o  Lítto  da  Enstoança  de  bem  cavalgar  toda  sela , 
qu€  te  prometteo  no  Artigo  antecedente. 


^^^i»^^i»»»^i^% 


A  Obra  começa  por  hum  ProUego.  Acabado  elle , 
segue-se : 

Aqui  se  começa  a  primeira  parte  d*este  liuro  que 
traãta  da  uoontade. 

Cap*.  Jo*  que  falia  dos  rasooes  per  que  os  caual- 
leiros  e  scudeiros  deuem  de  seer  boôs  ca- 
uaigadores  por  o  bem  e  homra  que  de  tal 
manha  segue. 

Capo.  U^.     da  ajuda  que  recebem  oas  manhas  da  paz. 

Cap<^.  nJo.    do  que  se  pode  dizer  contra  o  proueito  que 

dis^  desta  manha  sesseguia  cõ  sua  reposta. 

Capo.  niJo.  da  folgâça  que  se  daquesta  mmh^  segue. 

Acabasse  a  primeira  parte  da  uoõtade.  E  começasse 
assegundado  poder. 

Capo.  Jo.      do  poder  do  corpo  e  da  fazenda. 
Capo.  ijo^     ^0  poder  da  fazenda. 

Aqui  falia  da  IlT.  parte  em  que  se  dam  XVJ.  auysa* 
mentos  pryncypaaes  ao  boo  caualgador. 


Besenha  Anafytíca^  isS 

Istúí  fca  huma  isspecie  .de  CdpUulo  ^m  que  vem  os 
diUos  conselhos.  . 

Cap^*.  J<>.       que  falia  de  seer  forte  na  besta  em  todallas 

cousas  que  fizer  e  lhe  acontecer. 

Cap<>.  IJ^.      da  maneira  das  sellas  debrauante. 

Capo.  UJo.     dos  que  nõ  fazem  grade  cota  das  estre-^ 

beiras. 

Capo.  niJo.    dos  que  andam  firmes  e.  alto  nas  stre- 

beiras. 

Cap<>.  V®.      do  caualgar  com  as  pernas  encolh jdas. 

Cap^'.  VJ^.     do  canalf^ar  em  ousso  e  bardom. 

Cap^'*  VU^'.    do  proueito  que  he  em  saberem  husar  de 

todas  estas  maneiras  de  caualgar. 

Capo.  yiU^*  como  para  todo  presta  andar  dereito  em 

tod^Uãs  cousas  que  a  besta  faz  e  declarar 
como  podemos  cayr  pêra  oada  húa  parte. 

Cap<^.  IX^.     de  como  se  ham  de  teer  nas  cousas  que  as 

bestas  fazem  per  que  derribam  pêra  deãte. 

Cap<>.X^»        do  quesse  deue  fazer  quando  a  besta  faz 

pêra  derribar  atras. 

Cap<^.  XJ^.  da  semelliáça  que  de  tal  idar  dereito  po- 
demos filhar. 

Cap*'.  XU^.   de  como   deoemos  fazer  por  nom  cayt 

a  cada  hiia  das  partes. 

Capo.  xnjo.  da  pregunta  que  se  faz  donde  he  melhor 

apertar  as  pernas ,  e  como  se  deuem  tra- 
zer os  pees. 

Capo.  Xmjo.  do  proueito  que  he  saber  geito  que  requere 

cada  huma  sella. 


ta4  Resenha  Amdytica. 

Cap<>.  XV^'.       como  deuemos  reguardar  assella  e  freo 

e  todo  outro  adereço  que  será  forte  e 
bemcorregido  que  nõ  se  quebre  ou 
desconcerte- 

Capo.  XVI^.     do  corregymeuto  das  strebeiras  e  das 

correas. 

Capo.  XVU*.    do  corregjmento  da  sella. 

Capo.  XVnJo.  do  nosso  corregjmento  queiando  deue 

seer. 

Capo.  XIXo.      de  como  caaê  algufis  em  querendo  fazer 

algua  cousa ,  posto  que  a  besta  nõ  faça 
porquedeua  cayr. 

Capo.  XXo.       da  maneira  do  trauar  aas  maãos  dé  ca- 

uallor 

Capo.  XXJo.      da  maneyra  que  se  deue  teer^  quando 

ouuermos  de  fazer  cada  hua  destas  cou- 
sas suso  scríptas  e  outras  semelhantes. 

Acabasse  a  prímeyra  (a)  parte  do  seer  forte.  E  co- 
meçasse assegunda.  desseer  sem  receo. 

Capo.  Jo.  em  que  declara  per  quantas  partes  to- 

doUos  homeés  sõ  sé  receo  e  como  per 
nacéça  sõ  alguus  sem  receo. 

Capo.IJo.  como  alguãs  com  presunçõ  som  sem 

receo.^ 

(a)  Como  a  3*«  Parte  he  realmente  a  primeira  em  que  o  A* 
trata  dos  preceitos  ,  nataralmente  por  esta  cansa ,  lhe  chama 
agora  assim ,  e  cOBtimia  para  diante ,  neste  ftentido ,  a  diyÍMo 
da  obra. 


Capo.  IU<*.     como  per  deseio  alguãs  $om  sem  receo. 
Capo.  mjo.    como  por  nõ  «aber  alguúi  som    mais 

sem  reoeo. 
Capo.  yo.      como  per  boas  squeêças  alguus  se  fazem 

sem  iceçeo^  E  de  qué  guisa  os  moços  e 

outros  que  começa,  a  caualgar  deve  seer 

ensynados. 
Cap^'.  VJ^.     como  per  husança  os  homeês  som  sem 

receo. ' 
Capo.  VIJo.    como  per  razõ  os  homeês  som  sem  receo. 
Capo.  vuja,  como  por  auerem  algfia  auantagem  som 

alguús  homeês   seiQ  receo*  E  coma  o% 

homeês  som  sem  receo  per  outro  mayoi 

receo. 
Capo.  ix«.     como  per  sanha  alguus  homeês  som  sem 

receo. 
Capo.  xo.      como  per  a  graça  special  alguus  som  sem 

receo. 
Acabasse  assegunda  parte  de  seer  sem  receo.  E  co* 
meçasse  a  terceira  da  segurança. 
Capo.  jo.       per  quesse  dedarom  as  partes,  como  se 

ganha  a  segurança. 
Capo.  Uo.      como  por  veceo  se  mostra  amy^gua  da  se- 
gurança. E  como  per  trígança  se  montra 

amyngua  della^ 
Capo.  IIJo.     comq  per  (ornamento,  ou  empacho  se 

mostra  amygua  da  segurança.  E  como  per 
tardar  sobeio  de  fazerê  o  que  deoem  se 
mostra  myqgua  delia. 
Capo.  IIIJo.    como  se  mostra  amyngua  da  segurança. 


ii6  Resenha  Anafytiem. 

por  aágDÚ  poer  mayor  femença  em  al^a 
cousa  que  ftti  do'  que  deoe. 

Capo.  yo.  comosse  pode  ganhar  e  mostrar  esta  se- 
gurança* 

Ci^o.  VJo.  comosse  per  algõas  mostrãças  pode  mos- 
trar esta  segurança. 

Cap<>.  VU<>.    da  duuyda  sobre  esta  mostrança. 

Acabasse  a  terceira  parte  da  segurança.  E  começasse 
a  quarta  desser  assessegado. 

Segue-se  logo  o  dípiiuloj  sem  ser  numerado. 

Capo.  ijo.      como  deue  seer  o  assessego  filhado. 
Capo.  jijo.    (]a  mayor  dedaraçom  de  como  se  deue 

guardar  o  boõ  assessego.  E  do  proueito 

que  fac 

Acabasse  a  quarta  parte  de  seer  assessegado*  E  co- 
meçasse a  quinta  de  seer  solto. 

Capo.  Jo.       desseer  soolto.  e  da  soltura  da  uoontade. 

Capo.  ijo.  da  desposiçom  do  corpo,  do  saber,  da  ma- 
nha e  da  hnsança  delia. 

Capo  UJo.      da  decraraçom  dalguas  manhas  quesse  a 

cauallo  costumam  faver.  dequesse  adiante 
da  eDsyNmento. 

Capo.  mjo,    (]q  ensynamento  de  trazer  alança  desso-^ 

maão  na  perna  e  ao  coUo. 

Capo.  yo.       do  ensynameto  do  reger* 

Capo.  vjQ.      da  êssynaKça  de  bem  encontrar. 

Capo.  VUo.    da  ensjnança  de  endei^nçar  bem  o  cauallo 

na  )OSta<^  ' 


Resenha  Anàfytica*  127 

Ca(><».  VIU<>.    per  que  se  demostram  quatro  uéõladeè 

que  som  énos  e  como  per  ellas  nos  de- 

uemos  reger. 
Capo.  ixo*       em  que  se  demostra  per  que  uirtudes  nos 

aderençamos  a  deséparar  as  três  uoõW 

des  suso  scriptas  e  seguyr  a  quarta. 
Capo.  Xo.         como  os  que  justam  erra  per  desborde^ 

nãça  de  uoõtade  apropriando  todo  aas 

quatro  uoontades  suso  scriptas. 
Cap<^.  XJo.       per  que  se  da  éssynança  damaneira  què 

em  mote  averã  décõtran 
Capo.  xiJo.      do  ensynamento  deferyr  com  lança  de 

sobremaão. 
Capo.  XnJo.     do  èssynamêto  do  remessar. 
Capo.  XIIIJo.  da  maneira  do  ferir  despada. 
Capo.  xyo.      do  louuor  das  manhas. 
Capo.  XVJo.    dos  erros  da  luyta  breuemête  scriptos- 

Acabasse  a  quynta  parte,  E  começasse  assexta  da 
enssynança  do  bem  feryr  das  sporas  e  queiandas  de- 
liem  seer.  E  como  com  paao  ou  uara  alguas  uezes 
as  bestas  se  deuégouernar. 

Capo.  da  feiçõ  das  sporas  e  como  com  uara,  ou 
paao  as  bestas  alguas  uezes  se  goucmam* 

Acabasse  a  sexta  parte ,  e  começasse  asseitema ,  dal- 
gúa  éssynàca  pêra  dos  perigoos  que  a  cauallo  acontece 
nus  podermos  com  a  graça  de  ds~  guardar. 

Esta  Parte  he  mui  curta  e  nella  não  ha  dwisào  de 
Capitulas.        f    *  .       . 

Fim  da  Taboada. 


laS  Resenha  AmdYtica. 


t^t^mrmmmmm^ã^^mm^mm-m^^^mmi^^mmm^kÊtm^m^mm.i^^^^Si^^i^ 


NOTA 

Em  resposta  a   htm  Artigo  da  Gazeta  'de  Lisboa , 

de  ^i  de  Abril  £2e'i82o« 


*^w«^%i%^  ^^^^^%i 


Cioico  o  nosso  único  fito  quando  emprebendèmos 
este  obra ,  foi  a  utilidade  dos  compatriotas ,  não 
temos  cessado  de  procurar  todos  os  meios  para  que 
ella  se  torne  de  dia  em  dia  mais  digira  do  Publico 
a  quem  a  destinamos;  e  o  favor  com  que  até  ao  prer 
sente  tem  sido  acolhida  em  Portugal,  nos  impõe  a 
obrigação  de  redobrar  de  esforços  para  continuar  a 
merecer  a  approvaçào  dos  doutos  e  dos  amantes  da 
patria^que  de  huma  maneira  não  equivoca  tem  patroci* 
nado  a  nossa  empreza.  Entre  as  pessoas  a  quem  nos 
reconhecemos  devedores  pelos  elogios  que  tem  dado 
aos  Ãnnaes  das  Sciencías ,  etc.  tem  hum  distincto  lugar 
o  Editor  da  Gazeta  de  Lisboa  y  que  dos  nossos  primeiro^ 
5  totnos  tem  fallado  com  louvor  ^  que  devemos  cter 
sincero.  Por  esta  razão  o  artigo  da  ditta  Gazeta  ^  de  ao 
de  Abril  do  presente  anno  ,  que  diz  respeito  aos  tomos 
6.0  e  7.^  dos  Annaes  ,  nos  causou  não  pequena  admira-^ 
ção.Para  que  o  leitor  possa  ajuizar  da  solidez  da  censura 
que  pela  primeira  vez^  nos  faz  o  redactor  da  Gazeta  de 
Lisboa  y  vamos  transcrever  toda  a  pessagejpi  emque 
somos  increpados* 


Resenfia  Analytica.  129 

«r  O  artigo  (  dix  o  redactor  da  Gazeta )  Artes  Qitbmea$ 
e  Mecânicas  deste  ( tomo  YH  )  he  curioso  pela  notida 
da  fabricação  do  Mioio ,  do  azul  celeste  Inglez,  e  em 
particular  da  composição  das  tintas  empregadas  na  pin- 
tura sobre  esmalte  extrahido  da  Memoria  escrita  por 
M.  Winn ,  que  obteve  da  Sociedade  Promotora  da  In- 
dustria de  Londres ,  hum  premio  pela  publicação  desta 
espécie  de  segredo  da  preparação  das  tintas  em  esmalte. 
—  Cumpre  aqui  notar  que  entre  os  nossos  Artistas ,  e 
Mecânicos ,  ainda  os  mais  babeis,  devem  estes  e  outros 
descobrimentos ,  ou  applicações ,  achar  grande  dífficnl- 
dade  em  serem  entendidos;  porque  tendo  a  Qnimica 
produzido  grandes  vantajens  na  sua  applicaçào  ás  Artes , 
commummente  se  expõem  os  seus  processos  na  lingua- 
gem que  he  própria  da  mesma  Química ,  mas  qoe  be 
absolutamente  ignorada  pelos  Artistas  sobretudo  na* 
quelles  paizes  onde  estes  não  tem  noções  dessa  sciencia: 
sulfato  ,  oxydo  ,  silex  ,  acido  muriatico ,  etc.  são  termos 
absolutamente  desconhecidos  aos  Artistas  em  geral; 
seria  hum  serviço  que  se  lhes  faria  ( mas  na  verdade 
custoso  ao  escritor  scientiíico)  juntar  a  estes  nomes 
tecbnicos  os  nomes  vulgares  que  essas  couzas  tem  na 
Arte  a  que  se  destinão  as  suas  applicações :  on  alias 
conviria ,  e  talvez  seria  mais  útil ,  fazer  hnm  Vocabu- 
lário dos  termos  quimicos  em  geral  da  nova  nomencla- 
tura com  a  sua  explicação  na  linguagem  commum  das 
Artes  e  do  Commercio ,  seguido  de  outro  Vocabulário 
que  desse  aos  nomes  das  couzas  usadas  nas  Artes  e  no 
Commercio  os  seus  correspondentes  nomes  na  lingua- 
gem quimica,  e  fjsica.  Sem  isto,  de  muito  pouco  pro- 
Tom.  IX.  8  A 


i3o  Hesenha  Anafydca. 

veito  podem  ser  entre  nós  os  escritos  dedicados  a  es- 
palhar luzes  nas  Artes  e  Ofiicios  em  que  as  couzas  se 
exprimào  pelas  technologias  scientiíicas.  » 

A  censura  que  se  nos  faz  neste  artigo  he  tão  manifes^ 
lamente  injusta ,  que  não  tomaríamos  o  tempo  dos 
qossos  leitores  em  responder  ao  Redactor  da  Gazeta ;  a 
príncipal  razão  que  nos  determina  a  fazê-l0|  be  o  desejo 
de  vindicar  s^  nação  Portugueza  da  accusação  de  crassa 
ignorância  em  que  o  escriptor  d*este  artigo  nos  affirma 
que  se  acbão  os  nossos  Artistas  e  Mechanicos,  ainda 
os  mais  hábeis.  He  bem  certo  ,  com  magoa  o  dizemos» 
que  em  Portugal ,  excepto  na  Universidade  de  Coimbra , 
não  ha  Cadeiras  de  Chymica ,  de  Botânica ,  de  Phar- 
macia ,  nem  de  Physica ;  porên^  tanibem  a  he ,  que  a 
applicação  de  muitos  individues ,  ajudada  da  leitura  de 
bons  livros  estrangeiros  ^  tem  supprido  até  hum  certa 
ponto  a  falta  de  educação  regular;  e  a  pezar  de  faltar 
esta  y  não  he  tão  crassa  a  ignorância ,  por  ex.  dos 
boticários ,  quanto  seria  de  recear  ,  visto  que  nenhum 
d'elles  teveoccasião  de  frequentar  aulas,  que  em  toda  a 
l^uropa  >  excepto  em  Portugal ,  estão  abertas  para  quem 
se  destina  a  exercer  q  importante  ramo  da  Pharmacia* 
Comtudo  ,  mais  de  hum  boticário  conhecem  os. pessoal- 
mente em  I^isboa  que  possue  não  vulgar  conhecimento 
dá  Chymica  e  Pharmacia ;  e  sem  fallar  de  oujtros  ,  con* 
tentar-nos  hemos  com  citar  o  laborioso  Sn^.  Antónia 
Jozé  de  Souza  Pinto ,  o  qual  desde  i8o5  tem  successi-' 
vãmente  publicado  diversas  pbras  mais  ou  menos  inte- 
ressantes sobve  a  Matéria  Medica,  Pl^v^^íicií^  ^  Clxy^ 


Resenha  Anafytica.  i3i 

mica.  Se  o  autor  do  artigo  já  citado  tivesse  conhecimento 
da  Pharmacopea  Cbymica,  etc.  do  Sn/ Pinto ,  publicada 
em  iSoS^lá  acharia  o  que  pede,  e  suiiiciente  synonymia 
de  termos  vulgares  e  scientificos  '>e  ainda  mais  complet- 
tas  nomenclaturas  comparativas  encontraria  na  No- 
menclatura CIdmica  Portugueza^  Fremceza^  e  Latina 
do  Sn.r  Vicente  Coelho  de  Seabra  Silva  Telles ,  Lente 
substituto  de  Zoologia,  Mineralogia,  Botânica  e  Âgri* 
cultura  na  Universidade  de  Coimbra ,  etc.  impressa  em 
liisboa  em  1801.  Com  o  socconx)  doestas  e  de  outras 
obras  escríptas  na  hngua  Portugueza  ninguém  poderá 
ignorar  o  que  quer  dizev  oxydof  sulphate  qkl  sulfato  ^ 
acido  muriatíco ,  e  silex^ 

Porém  a  censura  do  Redactor  da  Gazeta he  tanto  mais 
injusta  a  nosso  respeito,  que,  a  pezar  de  conhecermos 
as  obras  já  citadas  ,  e  de  não  suppormos  tão  grande  a 
ignorância  d*aquelles  dos  nossos  compatriotas  que  se 
dão  á  leitura  de  obras  uteis^  temos  tido  huQi  cuidado , 
ás  vezes  até  minucioso  e  escusado ,  em  pôr  os  nomes 
vulgares  ao  lado  dos  scientificos ,  até  em  artigos  desti- 
nados para  pessoas  instruidas.Para  não  amontoar  exem 
])los ,  rcferimo-nos  ás  Memorias  que  temos  publicada 
sobre  os  meios  de  Desinfecção,  e  sobre  os  Venenos ,  nas 
quaes  a  cada  passo  se  lembra  ao  leitor,  que  o  acido 
sulpluirico  j  he  o  que  d^antes  se  chamava  vitriolico ;  que 
o  acido  nitroso  era  denominado  agua/orte-y  que  ao  aci- 
do nilro-muriatico  se  chamava  agua  regia  j  que  nitrate  d& 
prata  tem  por  nome  vulgar  pedra  infernal^  ele.  etc.  etc. 
Ate  no  artigo  citado  pelo  Gazeteiro  a  pag.  106  achará  o 

9* 


i3!i  Resenha  Anafytica. 

leitor  «  silex  ou  pederneira  ,  siãphate  de  ferro  ou  capar 
ro^  verde  do  commercio.  »  Nào  sabemos  que  mais 
expficaçãò  se  possa  exigir ;  e  custa-nos  a  crer  que  o 
autor  do  artigo  tivesse  lido  com  atteníção  a  Memoria 
sobre  á  <}ua}  assentou  a  sua  censura.  Em  huma  palavra, 
se  a  reflexão  do  Redactor  da  Gazeta  de  Lisboa  nos 
parecesse  dictada  pelo  amor  do  bem  publico,  e  se  a 
achássemos  applicavel  aos  nossos  Annaes ,  com  muita 
gratidão  nos  valeríamos  delia  para  aperfeiçoarmos  a 
parte  lechnica  da  nossa  obra ;  porém  á  vista  do  que 
acabamds  de  ponderar,  nada  encontramos  no  aitigada 
citaciía  Gazeta  de  que  nos  possamos  aproveitar. 

F.  S.  C. 


FIM  DA  PARTffe  PRIMEIRA. 


PARTE  SEGUNDA. 


CORRESPONDÊNCIA, 


E 


NOTiaiS  DAS  SCIENCI^ ,  DAS  ARTES  etc 


Tom.  IX.  i  B 


a^s! 


CORRESPONDÊNCIA. 


A<^»^%o^^^^ 


TRADUCÇÃO 

DA  ODE  I».  DO  LIVRO  I».  DE  HORÁCIO. 

JVlECEifÁS  f  prole  de  tleaes  maiores  ^ 

AmparOy  e  gloria  minha  s 
No  vasto  circo  a  tonta  mocidade  . 

A.  oljmpica  poeira 
Se  apraz  de  recolher  nos  leves  .carros  | 

£  quem  sagaz  triumpha, 
Co'  as  quentes  rodas  esquivando  a  meta , 

Igual  se  julga  aos  !Numes. 
Este  y  feliz  a  sedução  maneja , 

Porque  grata  o  carregue 
De  triples  honras  a  inconstante  Guria  : 

Contente  aquelle  sulca 
Os  prédios  patemaes,  com  torto  arado  , 

£  as  largas  tulhas  enche 
De  pr estadias  Libjcas  colheitas : 

As  Attalas  riquezas 
Debalde  aos  olhos  seus  amontoaras ; 

Nunca  pávido  nauta , 
Em  Chyprea  quilha  ao  pélago  bravio  , 

Abalançar-se  ousara. 


1 


n 


Correspondência. 
D^ Africo  horrendo  aos  furacões  medonhos  • 

Qae  o  pego  Icarío  batem , 
O  mercador  poltrão  o  odo  canta, 

Canta  os  jardins  viçosos ; 
Mas  logo  ,  indócil  da  pobreza  ao  fardo , 

Costéa  o  roto  lepho. 
Nas  horas  outro,  que  o  dever  demanda , 

A  sombra  reclinado 
Das  frescas  fontes,  e  encalmados  bosqnes , 

*         Empina  mollemente 
Crebras  Ucas  do  Biásttoo  eqmmoso. 

Com  tabas  outros  folgSo, 
Munidos  arraiaes,  e  aooesa  guerra. 

Que  as  trktes  mais  pragnejio. 
O  duro  caçador ,  calcando  a  neve , 

A  tenra  esposa  olvida  , 
Quando ,  alta  noíle ,  dos  Sten  sabujos 

A  corça  foi  sentida , 
Ou  Marsio  javali  varou  nas  redes. 

Aos  Deoses  me  arrdMtio 
Das  doutas  testas  premio ,  as  verdes  horas ; 

E  do  vulgo  me  arrancão 
Os  Satytos  brínooes ,  os  Nympheos  choros , 

O  gélido  arvoredo. 
A  doce  Euterpe ,  a  heróica  Polymnia , 

A  frauta  sonorosa , 
E  Lésbico  aladde  me  confiao  : 

Assim  /grande  Mecenas , 
Se  entre  os  Tates  me  pSes ,  co'a  frente  alçada 

Ferirei  as  estrellas. 


Correspondência. 


COLUMELLA, 

TRADUZIDO  POR  FERNAM  D'OUVEIRA. 

{Continuação.) 


^»»»»^»^  mm  »^» 


CAPrrOLO  QUINTO. 
De  como  hão  de  ser  estercadas  as  terras  delgadas* 


Antes  que  talhemos  as  terras  delgadas,  depois  de 
abertas ,  convém  que  as  esterquemos  y  por  que  he  isto 
para  ellas  como  mantimento  que  munto  dezejão.  Nos 
campos  abasta  menos  esterco,  mas  as  iadeyras  hào 
mester  mais.  Nos  campos  de  oito  em  oito  pees  cada 
monte  de  esterco ,  e  nas  Iadeyras  de  sinco  em  sinco , 
e  cada  monte  do  tamanho  de  sinco  alqueires.  O  tempo 
para  estercar  as  terras  hè  melhor  no  minguante  da 
lua ,  por  que  então  gasta  o  esterco  as  ervas  do  chão,  e 
as  faz  apodrecer.  Cada  geyra  de  terra  fraca  que  Içva 
mais  esterco ,  ha  mester  vinte  e  quatro  carregas  de  es- 
terco ,  e  a  geyra  de  terra  grossa  dezoito  carregas.  Logo 
como  espalharem  o  esterco,  hè  necessário  que  o  cubrão, 
e  lavrem  a  terra  por  que  se  não  seque ,  e  perca  sua 
força  ,  mas  que  engrosse  a  terra  mesturada  com  eUe. 


Correspondência. 
D^ Africo  horrendo  aos  furacões  medonhos  • 

Qae  o  pego  Icarío  batem , 
O  mercador  poltrão  o  ócio  canta , 

Canta  ot  jardins  viçosos ; 
Mas  logo  y  indócil  da  pobreza  ao  fardo , 

Costéa  o  roto  lepho. 
Kas  horas  outro,  que  o  dever  demanda , 

Íl  sombra  reclinado 
Das  frescas  fontes ,  e  encalmados  bosques , 

*         Empina  mollemente 
Crebras  taças  do  Blástico  espuiáoso. 

Com  lubtts  outros  folgao, 
Manidos  arraiaes,  e  aooesa  guerra. 

Que  as  tristes  mais  pregnejioi 
O  duro  caçador ,  calcando  a  neve , 

A  tenra  esposa  olvida  , 
Quando ,  alta  noite ,  dot  fie»  tabujot 

A  corçâfoi  sentida , 
Ou  Marsio  javali  varou  nas  redes. 

Aos  Deoses  me  «rrdMtio 
Das  doutas  testas  premio ,  as  verdes  horas ; 

E  do  vulgo  me  arrancão 
Os  Sat jros  brinoSes ,  os  Nympheos  choros , 

O  gélido  arvoredo. 
A  doce  Euterpe ,  a  heróica  Polymnia , 

A  frauta  sonorosa , 
E  Lésbico  aladde  me  confiao  : 

Assim  /grande  Mecenas  ^ 
Se  entre  os  Tates  me  pões ,  co*a  frente  alçada 

Ferirei  as  estrellas. 


-  f  * 


\ 


\ 


\ 


Correspondência. 


COLUMELLA, 

TRADUZIDO  POR  FERNAM  D'OUVEIRA, 

( Continuação. ) 


^mf^tt^^  *i%  »^» 


CAPITOLO  QUINTO. 
De  como  hâo  de  ser  estercadas  as  terras  delgadas^ 


Antes  que  talhemos  as  terras  delgadas»  depois  de 
abertas ,  convém  que  as  esterquemos ,  por  que  he  isto 
para  ellas  como  mantimento  que  munto  dezeiào.  Nos 
campos  abasta  menos  esterco,  mas  as  ladeyras  hão 
mester  mais.  Nos  campos  de  oito  em  oito  pees  cada 
monte  de  esterco ,  e  nas  ladeyras  de  sinco  em  sinco  p 
e  cada  monte  do  tamanho  de  sinco  alqueires.  O  tempo 
para  estercar  as  terras  hè  melhor  no  minguante  dar 
lua ,  por  que  então  gasta  o  esterco  as  ervas  do  chão,  e 
as  faz  apodrecer.  Cada  geyra  de  terra  fraca  que  leva 
mais  esterco ,  ha  mester  vinte  e  quatro  carregas  de  ea- 
terço  ,  e  a  geyra  de  terra  fprosta  detoito  carregas.  Logo 
como  espalharem  o  esterco,  hè  necessário  que  o  cubrão^ 
e  lavrem  a  ten*a  por  que  se  nio  seque ,  e  perca  sua 
força ,  mas  que  engrosse  a  terra  mesturada  com  elie. 


<^  Correspondendo. 

VoT  tanto  não  se  deve  espalhar  cada  dia  mais  qa^ 
aquillo  que  o  arado  possa  cobrir. 

CAPrrOLO  SEXTO. 
J)os  géneros  da^  sementes  de  trigQ,e  esoandiãt 


TT 


Pois  que  ensinamos  como  se  havião  de  aparelhai' 
as  terras  para  semear,  agora  diremos,  quantos  são  os 
géneros  das  sementes  que  podem  lançar  nellas,  O  pri- 
pieiro  ,  e  mais  proveitoso  he  trigo  e  escandia.  De  trigo 
ha  muntos  géneros ,  porem  o  melhor  de  todos  he  o  que 
chamão  ruyvo,  o  qual  em  pezo,  e  alvura  de  pão  prcr 
cede  a  todos ;  o  segundo  he  o  oandeal  que  em  pezo 
falta  daqueloutro  principal ;  o  terceiro  he  o  tremez , 
que  dos  lavradores  he  muy  agradável ,  por  que  quando 
por  muntas  agoas ,  ou  causa  outra  alguma  se  perde » 
ou  impede  a  sementeyra  principal,  soccorremse  ao 
tremez ,  a  qual  he  espécie  de  candeal.  Todas  as  outras 
espécies  de  trigo  são  menps  utiles  para  semear ,  senão 
se  por  curiosidade,  ou  para  seu  contentamento  al- 
guém quiser  espremcntar  muntas  maneiras  de  semente, 
principalmente  em  diversas ,  e  novas  terras.  De  escan-? 
dia ,  que  também  se-  chama  ador ,  ou  far,  ha  quatro 
espécies ,  qíie  são  far,  clusino ,  branco  e  resplande-* 
cente ;  outro  se  chama  venunclo  também  muito  alvo  , 
c  o  terceiro  se  chama  propriamente  br  branco.  Estes 
deus  são  de  maior  pczo  que  o  primeiro  chamado  chi- 


Correspondência.  9 

sino.  O  quarto  se  chama  halicastro ,  e  he  tremez.  Este 
he  principal  em  pezo ,  e  bondade.  Estas  sementes  de 
escandia  deveín  os  lavradores  acostumar  assy  como 
as  do  trigo ,  porque  não  são  as  terras  todas  de  huma 
fejção  e  qualidade,  mas  são  humas  secas,  e  outras 
húmidas,  e  o  trigo  folga  mais  nas  secas,  e  a  escandia 
nas  húmidas ;  [ior  tanto  hè  bom  usar  hum  e  outro , 
comformando  a  semente  com  a  terra; 

CAPirOLO  SEPTIMO. 
Dos  géneros  dos  legumes  e  pastos. 


Os  géneros  dos  legumes  são  muntos,  porem  os  mais 
agradáveis  e  proveitosos  aos  homens,  e  de  que  elles 
mais  usão,  são  favas,  lentilhas,  ervilhas,  feyjoens , 
grãos,  milho ,  painço ,  gergelim ,  tramoço ,  Unho  alça* 
nave ,.  linho  próprio,  e  também  cevada ,  por  que  delia 
se  faz  tisana.  Os  pastos  melhores  zão  alfafa ,  feno  grego, 
ervilhaca,  cicera,  eros,  e  ferrão  de  cevada.  Mas  pri- 
meiro trataremos  das  sementes  quese  semeão  para  nos, 
e  depois  do  pasto  das  bestas.  Em  geral  nos  havemos 
de  lembrar  do  precepto  antiquíssimo  que  nos  amoesta 
que  semeemos  os  lagares  frios  depois  de  todos ,  e  os 
temperados  mais  cedo  hum  pouco,  e  os  quentes  pri- 
meiro que  todos.  O  qual  precepto  se  hade  entender 
em  respeito  de  huma  mesma  região, e  inclinação  do 
çéo^  por  que  sendo  diversas  as  regioens,  primeiro  se 


8  Corresponãeneia. 

devem*  íemear  as  frias ,  que  as  quentes.  No^  nestes 
pi  eceptos  presentes  falaremos  comfiorme,  a  saber,  como 
se  semeássemos  0mr  regioens  e  Itigares  temperados. 


CAPrrOLO  OITAVO. 
i>o  tempo  de  semear. 


O  parecer  do  nosso  Poeta  he  que  n&o  semee  escan* 
dia  nem  trigo  atee  que  se  esconda  o  sete  estrello » o 
qual  se  esconde  aos  trinta  e  dous  dias  depois  do 
equinócio  outonal.  O  qual  equinócio  he  aos  trese  ou 
quatorse  de  Septembro ,  e  o  sete  estrello  se  esconde 
quasi  meado  Outubro ,  e  a  própria  sementeira  do  trigo 
hè  desde  então  atbe  o  tempo  do  solsticio,  que  os 
Latinos  chamarão  bruma  o  qual  agoi^  be  em  dez  oa 
doze  dias  de  Dezembro.  Porem  dki^  os  antigos  que 
doze  ou  quinze  dias  antes  da  broma ,  e  outitys  tantos 
depois  j  não  lavrassem  terra ,  nem  podassem  vinfaa , 
nem  arvore.  E  nos  não  duvidamos  que  assy  se  deve 
fazer  a  sementeira  nas  terras  temperadas.  Porem  nas 
húmidas  ou  fracas,  ou  frias  ou  sombrias,  muntas 
vezes  convém  fazerse  em  Septembro ,  ainda  que  seja 
em  tçrra  seca  em  quanto  a  humidade  anda  pendurada 
e  não  acaba  de  cair ;  por  que  quando  yierem  as  chu-* 
vas  ou  neves  e  frios  de  invei-no,  tenha  jaa  o  pão  râizes, 
e  força  para  os  sofrer  sem  detrimento.  Em  qualquer 
tempo  que  se  fizer   a    sementeira,  hora  seja   ce4o  > 


Correspondeneia.  q 

hora  tarde,  façase  sempre  com  seus  resguardos  se^ 
gando  as  terras  :  onde  forem  necessárias  margens, 
façào  margens ,  e  onde  regos,  facão  re([os.  As  margens 
sejào  anchas ,  e  onde  não  houver  margens ,  facão  re- 
gos grandes ,  por  onde  sangrem  ou  desagaem  as  agoaf 
da  chuva  sobeja  que  em  todo  o  tempo  pode  chover. 
Estes  regos  a  que  chamão  sângradeiros ,  sejào  altos 
e  largos ,  e  não  munto  ralos ,  e  Sejâo  lançados  de  fej- 
çào  que  tomem  as  agoas  da  terra ,  e  corrào  ao  gejto 
do  chão ,  e  tephâo  no  mais  baixo  seus  boqueyroens , 
de  maneira  que  lancem  as  agoas  fora  das  semeadas. 
Não  me  esquece  que  alguns  lavradores  antigos  deixa- 
rão dito  que  não   semeássemos,  senão    depois    que 
chovesse  bem ,  e  molhasse  bem  a  terra;  o  que  também 
a  mim  não  parece  mal,  nem  duvido  ser  mais  seguro 
para  o  lavrador,  mas  porem  se  as  chuvas  tardarem, 
como  fazem  muntas  vezes,  não  hé  inconveniente  se- 
mear na  terra  seca  antes  que  chova  ,  como  se  faz  em 
algumas  Províncias ,  quando  estado ,  e  qualidade  do 
ar  he  tal  que  o  quer  assy,  por  que  a  semente  hora 
seja  trigo    ou  escandia,  ou  qualquer  outra  debaixo 
da  terra  enxuta  não  apodrece,  se  hè  bem  desforroada 
e  cubeiia,  mas  estaa  guardada,  e  conservada  como 
na  tulha,  e  mais  com  algum  humor  da  ^erra  estaa 
desposta  para  com  a  primeira  chuva  que  vem  nacer 
logo  no  premeiro  dia  que  chove,  e  hé  melhor  que 
esperar  para  semear  com  munta  chuva  e  lama;  por 
que  ainda  que  tarde ,  oi*dinariamente  ha  de  chover  no 
inverno,  ou  cedo,  ou  tarde,  se  não  he  por  alguma 
desordem  da  natureza ;  e  he  melhor  esperar  a  sementcr 


10  Correspondenciíu 

na  leira  pela  chuva,  que  perdera  sementeira.  Porem 
Tremellio  diz ,  que  as  taes  semeadas  premeiro  as  co- 
mem as  formigas  e  os  pássaros ,  que  cjiova ;  e  eu  as- 
sim o  acbey  ser  verdade  algumas  vezes ;  mas  se  forem 
bjem  cubertas ,  não  padecerão  munto  detrimento.  Nas 
terras  desta  maneira ,  melhor  hé  semear  escandia,  que 
trigo  I  por  que  a  escandia  tem  a  casca  mais  rija  j  e  sus« 
tentase  mais  tempo  sem  corrupção  no  humor  da  teiTa- 


^%%^<%%^^^^>^^<%»»^^%»^^i%i^«%'%i^/»^%/%»^^^%^^<%í^«»^<%<^»%^^'%'»«»^»^^i^ 


CAPrrOLO  NOVE. 


Onde  diz  quantos  almudes  de  semente  ha  mester  huma 
g€tyra  de  terra ,  e  ensina  fazer  boa  semente. 


Huma  geyra  de  terra  boa ,  e  gi*ossa  ha  mester  quatro 
almudes  de  trigo ,  e  a  geyra  de  terra  meãa ,  cinco  : 
mas  de  escandia ,  a  boa  terra  ha  mester  nove  almu- 
des f  e  a  meãa  dez.  E  posto  que  antre  os  autores  não 
bà  certeza  da  medida  que  se  deve  semear  em  cada 
geyra  de  terra,  todavia  o  nosso  costume  ensina  ser 
esta  que  disse  mais  conveniente  para  as  nossas  terras 
de  Itália.  £  se  alguém  não  quiser  aceytar  o  nosso  cos- 
tume ,  tome  a  doutrina  daquelles  que  dizem  cada 
geyra  de  campo  fértil  leve  cinco  almudes  de  tiigq^  e 
outo  de  escandia  ;e  esta  mesma  medida  mandão  lan- 
çar nas  teiTas  de  meãa  força  e  vigor.  Porem  a  mim, 
nem  esta  ,  nem  a  que  disse  acima ,  conformando  me 
€oui  o  costume ,  me  satisfaz  para  que  sempre  e  em 


11 

toda  a  parte  se  haja  de  guardar ,  por  que  a  pode  va* 
riar  a  diversidade  dos  lugares,  e  dos  tempos ^  e  dos 
temporaes.  Dos  lugares,  se  são  campos  ou  ladearas; 
e  estes  se  sào  grossos,  ou  meãos,  on-firacos.  Dos 
tempos  ,  se  •  be  outono ,  ou  inverno ,  por  que  a  pri- 
meira sementeira  quer  a  semente  mais  rara ,  e  a  der- 
radeira mais  basta.  Dos  temporaes,  quando  chove, 
ou  não  chove ;  por  que  se  chove ,  quer  a  semente 
rara,  como  a  sementeira  temporãa,  e  se  não  chove, 
quella  basta ,  como  a  serodea.  Todo  campo  descuberto, 
e  virado  para  o  Sol ,  e  abrigado  cria  mais ,  e  ha  mes- 
ter menos  semente ,  e  assy  (az  a  terra  soka  e  podre. 
A  ladeyra ,  e  outeyro ,  posto  que  faça  o  grão  mais 
esforçado ,  todavia  não  daa  tanto  trigo.  A  terra  forte, 
bár^nta,  e  húmida  cria  melhor  o.  trigo  candeal ,  e  a 
escandia*  A  cevada  daase  melhor  em, terra  solta  e 
seca.  A  escandia  e  trigo  candeal  querem  terras  fortes- 
e  revezadas  hum  ano,  e  outro  não.  A  cevada  nãor 
quer  terra  munto  forte ,  nem  munto  fraca.'-  O  trigo , 
e  escandia ,  quando  a  necessidade  o  requer ,  soflfrem 
semearemnos  em  lama.  A  cevada ,  se  a  semearem 
molhada ,  morre.  Se  a  terra  for  barrenta ,  ou  húmida 
mais  hum  pouco  do  que  acima  disse ,  hnma  gejra  ha 
mester  cinco  almudes  de  trigo,  hora  seja  candeal, 
hora  seja  qualquer  outro.  E  se  for  terra  seca,  ou  solta , 
com  tanto  que  seja  grossa ,  ou  meàa ,  abastarão  qua- 
tro, e  ainda  que  seja  firaca,  isso  lhe  abastaraa,  por 
que  se  nacer  basta  a  sementeira,  aiaraa  a  espiga 
pequena  e  vãa ,  e  nacendo-  rala ,  se  lhe  fizer  bom 
t^mpo,  lançaraa  filhos  ^  e  de  pouca  semente  daraá 


II  Correspondência, 

munto  fimjto.  Ântre  estas  medidas  hé  necessário  que 
aaibamps ,  qae  as  feiras  cuberta»  daryores ,  como  são 
Qlyvaes  « e  pomares ,  e  azinhaes » se  a$  semearem ,  hão 
mester  mais  a  quinta  parte  da  i^emente  por  geyra ,  ou 
por  tamanho  de  chão,  por  q\iea  sombra  das. arvores 
estorva  o  nacer  e  fiructificar.,  Ateequi  ainda  falamos 
da  sementejra  do  ootofio,  qu«  hè  a  principal.  Mas 
ba  bi  outra  ^  a,  que  ditamão  tremesiiiba ,  que  usào 
quando  a  neoessidade  obvígau  Desta  se  usa  em  lugares 
frios  e  nevados. y  onde  o  eslio  bè  bumido,e  sem  va- 
pores quentes ,  que  iazem  manfi^a  e  ferrugem :  nos  ou* 
tros  lugares  poucas  vezes  responde  bem.  Esta  semen- 
teira tremesinba  se  d^ve  fater  antes  do  equinócio  do 
verão ,  que  agora  be  a  dez  de  Março ,  e  se  o  lugar  e 
tempo  o  consentir »  quanto  mais  oedo  y  tanto  m^elhor. 
Porque  não  bà  bi  semevte  alguma ,  que  de  seu  natural 
venba  em  três  meses ,  mas  antes  essa.qjue  ebamamos 
tremes,  se  a  semearmos  no  outono,  viraa.  quando  as 
outras ,  e  nào  viraa  em  três  nçiezes ,  por  qve  a  tempo 
a  nào  deixaraa  vir,  e  mais  estando  na  terra  todo  o 
tempo  que  as  outras ,  respgnderaa  mais  que  em  ti^s 
mezes.  Porem  todavia  alguma  gementes  sofrem  me*- 
Ibor  a  quentura  do  verão,  como  são  o  tri^^ocandeal» 
e  a  cevada  galatbica  ,e  balicastra,  e  a  fava  marsica^ 
as  quaesy  se  as  semeão  tarde,  crecem  mais  asinba 
com  a  quentura  do  verão ,  e  vem  em  mepos  tempo , 
e  por  isso  Ibo;  cbamão  tremeses ,  nào  por  que  a  sua 
natureza  Ibe  bmite  três  mezea  de  tempo;  antes  em 
algumas  partes  a  (jueptuni  aa  íaz  vir  em  menos.de 
dous.  As  sementes  robustas  e  rijas  melhor  bè  que  aa 


Correspondendo^  i3 

^emeem  anles  do  inverno  nas  regioens  temperadas» 
por  que  estando  mais  tempo  na  terra  tomão  mais 
forca ,  e  dào  mais  fracto  e  melhor.  Por  fae  as  vezes 
a  terra  lança  reçombro  salgado ,  o  qual  corrompe  a 
sementeira ,  e  faz  qne  ou  não  nace  ,  on  se  faé  nacida» 
não  crece ,  mas  recozese  «  seca,  e  faz  tndas  «as  se- 
meadas ,  tão  peladas ,'  como  se  nanca  nelas  caíra  se- 
mente *,  para  remédio  disto ,  convém  que  asnnalem  os 
lugares  das  melas,  ou  eiras,  quando  estaa  o  pão  na 
terra  para  depois  a  seu  tempo  se  cmrar  desta  maneira. 
No  lugar  onde  mana  o  tal  humor  que  mata  a  semen- 
teira ,  esterquem  com  esterco  de  pombas ,  e  se  o  não 
houver ,  lancem  folhas  d*acipreste,  e  lavrem  oo  cavem 
por  cima ,  de  maneira  que  apodrieçào ,  e  tome  a  terra 
a  virtude  delias.  Mas  o  mais  antigo ,  e  certo  hé,  san- 
grar os  taes  lugares  com  regos  fundos ,  por  onde  aquelie 
ruim  humor  raze  fòra  da  herdade ,  por  que  sém  isto 
essoutros  remédios  não  valem  nada.  Alguns  forrào  o 
saco  da  semente  com  pelle  da  fayena,  e  dizem  que 
aproveita ,  e  que  se  logra  a  semente ,  «que  estaa  algum 
pouco  de  tempo  naquele  saco  por  virtude  da  dita 
pelle.  Também  hà  debaixo  da  terra  alguns  bichos  que 
cortão  as  raizes  e  matào  a  sementeira.  He  remédio 
contra  elles  o  çumo  da  terra  que  chamào  sayào  mes- 
turado  com  agoa,  e  lançada  nelle  de  molho  hnma 
noute  a  semente  antes  que  a  semeem.  Outros  fazem 
isto  com  o  çumo  de  pepino  de  cobra,  e  da  raiz  delle 
pizada  mesiurado  também  com  agoà-  Outros  com  esta 
mesma  agoa  assim  mesturada ,  ou  com  agoa  ruça  sem 
sal  y  havendo  quantidade  com  que  se  possa  fazer,  mo* 


/ 


'\ 


li  4  Corrèspohdenclà. 

Jbaõ  os  reg^s  onde  começa  o  mal ,  é  cem  isso  itfogeo» 
taõ  os  bichos  que  este  mal  fazem.  Também  tenha 
.  para  dizer ,  como  logo  na  eyra  podem  eomeçar  a  fazer 
.boa  semente ,  os  qt.e  queiem  ter  boa  sementejra.  Isto 
ensina  Coinelio  Celso  ^  e  diz  qae  quando  a  colheita 
hè  pouca,  logo  nos  íejx,e&  se  escolhão  as  melhores 
espigas ,  e  de  melhor  grão,  e  estas^  sejào  machocadas 
fora  do  calcadouro ,  e  o  grão  delias  se  guarde  apar- 
tado para  semear :  mas  se  a  colheita  hé  grande ,  e  não 
.se  podem  apartar  as  espigas  antes  da  trilha  ou  debu- 
lha, debulhese  todo  junto,  e  depois  de  tirado  da 
.palha  corrão  aa  joeji*a ,  o  que  quizerem  guardar  para 
^semente  desta  maneira.  Corrão,  ou  joeyrem  huma 
vez ,  e  o  que  se  for  ao  fundo ,  apartemno  por  si ,  atee 
a  quantidade  que  hão  mester,  e  depois  tornem-no  a 
correr  outra  vez  da  mesma  maneix*a  apartando  sempre 
o .  que  se  vay  ao  fundo  da  joeyra ,  por  que  esse  hè  o 
roais  pesado  e.  cheio ,  e  esse  guardem :  por  que  parece 
que  este  deve  ser  melhor  do  que  o  outro,  por  quanto 
não  hà  duvida ,  senão  que  a  semente  ainda  que  seja 
boa,  não  daa  todo  o  fruito  bom ;' delle  say  bom,  e 
delle  não  tal.  Isto,  ou  pela  diílerença  das  terras  ou 
dos  tempos ,  ou  por  negligencia  dos  lavradores ,  que 
o  não  alimpão,  ou  não  estercão,  nem  curão  as  terras. 
Em  tanto  que  muitas  vezes  levando  a  semente  de  huma 
terra  para  outra ,  em  dous  ou  três  anos  semeaudoo 
muda  a  espécie,  em  especial  nas  terras  húmidas,  e 
também  nas  secas,  se, não  tem  bom  cuidado  de  o 
curar,  e  fazer  o  que  (ica  dito.  A  mudança  que  faz 
sempre  hé  de  bom  para  mao,  e  quando  a  semente 


Correspondência.  i5 

hé  ruim ,  nunca  se   melhora ,  mas  antes  as  vezes  se 
perde  de  todo.  Donde  Virgílio  diz  — >  Eu  ti  sementes 
mui  escolhidas  que  por  espaço  de  muito  tempo  du- 
raràò ,  porém  com  trabalho ,  e  por  derradeiro  se  não 
tem  muito  cuidado  de  as  escolher  rada  ano,  sempre 
se  danão ,  e  assim  o  fazem  todas  as  sementes.  O  grão 
de  trigo  ruivo  de  fora,  se  dentro  hè  também  ruivo, 
quando  o  quebrão ,  hé  sinal  certo  que  estaa  em  sua 
perfeyçào ,  e  hé  bom  para  os  lavradores.  Ao  contrario 
o  branco  assj  de  fora  como  de  dentro,  hè  leve,  e 
vão.  Enào  se  enganem  com  o  trigo  candeal,  por  que 
esta  espécie  de  trigo  hè  defeito  de  trigo ,  e  não  per- 
feyçào ,  e  posto  que  na  cor  seja  fermoso ,  no  pezo  falta 
muito  Porém  folga  com  a  humidade,  por  isso  res- 
))onde  bem  em  tempo  húmido,  e  em  lugares  húmidos. 
Hè  tão'  natural  de  lugares  húmidos  o  candeal ,  que 
não  tem  os  lavradores  necessidade  de  o  ir  buscar  longe, 
nem  tomar  trabalho  por  isso ,  por  que  qualquer  espé- 
cie de  trigo  semeandoo  em  lugar  húmido,  em  três  anos 
se  faz  candeal.  Após  o  trigo ,  e  escandia  hè  logo  a 
cevada ,  que   os  rústicos  chamào  de    seis  ordens  ,.e 
outros  lhe  chamào  cavalar.  Tem  esta  a  veotagem  que 
a  comem  as  bestas  de  melhormente  que  o  trigo ,  .e 
para  os  homens  he  mais  saadia ,  que  o  ruim  trigo ,  e 
mais  hè  grande  remédio  para  os  pobres*  Semease  em 
terra  solta,  e  seca,  ora  seja  forte,  ora  seja  fraca,  por 
que  consta  que  as  terras  fortes  que  não  podem  abrandar 
'  de  sua  fortaleza,abrandào  com  a  sementeyra  da  cevada, 
'  e  as   muito  fracas   que  não  prestào  para  dar  outra 
'  cousa ,  dão  cevada.  Devese  semear  no  segundo  arado 


i6  Correspcmãatcia, 

«Ifipois  do  equinócio ,  se  a  terra  for  boa ,  qnasi  no  meio 
da  sementeira ,  e  senão ,  mais  cedo.  Cada  geyra  leva 
jinco  almudes.  Tanto  que  começar  a  amadiuecer, 
ooUiâona  logo,  antes  que  se  seque  muito,  por    qoe 
tem  a  palha  fraca ,  e  quebra  muito ,  e  cae  o  grão  da 
espiga  p<M*  que  não  tem  fiolejo ,  ou  cana  que  o  sustente , 
pelo  que  também  se  debulha  Cidlmente.  A  terra  donde 
se  colhe  esta  cevada,  cumpre  que  folgue  ao  menos 
hum  ano ,  ou  senão  fartemna  de  esterco «  para  que 
gaste  bem   toda  a  peçonha   que   nella   ficou.  Outro 
género  de  cerada  ha  hi  a   que  chamão  galaticum, 
que  quer  dizer  branco  ^  ou  lhe  chamão  distico,  que 
^uer  dizer  de  duas  ordens;  por  que  cada  espiga  não 
tem  mais  de  duas  ordens  de  grãos.  Este  hé  mais  pe- 
sado ,  e  mais  alvo  assy  no  grão ,    como  no  pão ,  e 
jmiestnrado  com  trigo  faz  bom.  pão  para  a  gente.  Se- 
mease  no  mez  de  Março  pouco  antes ,  e  se  o  inverno 
íbr  brando,  podese    semear  de  meado  Janeiro  por 
diante ,  e  responde  melhor.  Querse  em  terras  grossas 
e  frias.  Cada  gejra  quer  seis  almudes  de  semente.  O 
painço ,  e  o  milho  (icão  acima  postos  antre  os  legumes , 
mas  também  delles  se  faz  pão  em  muitas  partes ,  e 
jnuita  gente  se  mantém  delles.  Querem  terra  solta  e 
fraca ,  tanto  que  na  aréa  se  dão ,  se  lhe  chove ,  ou 
sendo  regados  :  não  querem  terra  seca  ,  nem  de  barro , 
jc  sua  sementeira  hè  de  meado  Março  por  diante  ,e  não 
antes ,  por  que  folgão  com  tempo   quente ;  e  he  de 
pouca  despeza,  por  que  dous  terços  de  hum  almude 
abastão  para  huma  geyra  de  lerra.  Porem  depois  de 
nac^dos  querem  que  os  sachem »  e  mondem  muitas 


^tes  >  por  tfue  não  creça  herva  antre  elles  que  òt 
afoga.  Colhemse  arrancadas  à  mão,  antes  que  ama** 
dureção  mnito  ^  por  que  abremse  as  cascas ,  e  cae  o 
grão,  e  perdese,  e  penduradas  as  espigas  ao  sol  s^ 
acabão  dé  secar  para' se  recolherem.  Pòrèm  em  outras 
partes  se  colhem  depois  de  maduros  segados  aa  fouce  ,- 
e  debulhados  como  trigo  na  eyra  com  os  pès  dos  bois  ^ 
e  recolhemse  em  grão.  E  assjr  recolhidos  em  boa  caza 
enxuta  onde  não  apodi^çáo ,  durão  mais  que  todolos 
outros  legumes ,  por  que  elles  em  si  não  tem  humor 
que  os  corrompa,  e  de  fora  o  gorgulho  não  lhes  fac 
nojo  como  aos  outros.  O  pão  de  milho  cozido  fresco 
hè  muito  gostozo,  e  comese  sem  fastio.  Do  painço  ^ 
e  lambem  do  milho  esbniyado,e  cozido  com  leite 
fazem  os  rústicas  papas  antre  elles  muito  estimadas. 
Esbrugâo  estes  ,  e  outros  legumes  em  mortejros  grau* 
des  de  pão,  pisando  com  pisoens  de  pão,  que  tenhâo 
as  cabeças  redondas  e  não  chãas,  por  que  esbruguem» 
e  não  esmaguem. 

CAPITOLO  DEZ. 

Onde  diz ,  gue  terra  e  sementeira  condem  para  cada 

legume* 

Por  quanto  do  pão  jà  fica  dito  quanto  abaste ,  di« 
remos  agora  dos  legumes.  Dos  quaes-^  o  primeiro  he 
o  tramoço,  por  que  daa  menos  trabalho,  e  casta 
menos,  e  ajuda  mais  as  teiras  em  que  o  semeiao, 
por  que  assy  nas  vinhas »  como  nas  terras  de  pao  ^ 
Tom.  IX.  P.  a«.  ^  B 


i9  Gorrespúnáeneiaé 

que  jà  emagrecem,  vai  por  esterco,  e  daase  em 
qiialquer  terra  por  fritca»  ou  gastada  que  seja,  e  mais 
9a  tulha  dura  muito  :  no.  inverno,  quando  nào  hà 
herva,  cozido  e  Uuçado  de  moUio  hi  mantimento 
para  os  Ik>ís,  e  também  para  os  homens  em  tempo 
^e  esterUidade;  ao  menos  mata  a  fome.  Seneaselogo 
çm  aahindo  da  eyra ,  e  não  tem  necessid44e  de  o 
kyarem  ao  celeiro ,  se  o  não  quiserem  levar.  Tanto 
xne  daa  que  o  semeem  eja  SepteqibFo  antes  do  equi-» 
nocio  9  como  em  Outubro ,  e  tanto  monta  qne  o  lan- 
cem em  terra  crua  por  lavrar ,  como  em  lavrada , 
com  tanto  que  o  cubrào  como  quer;  por  que  ainda 
que  se)i(  mal  cuherto ,  sofre  a  negligencia  do  lavrador^ 
Todavia  se  o  Outono  hè  quente ,  faa  lhe  proveito ,  por 
qué  toma  força  antes  que  venha  o  frio ;  o  qusd  lhe 
(az  mal  se  o  acha  tenro.  O  que  fica  para  comer.  guar<» 
4êse  em  lugar  enxuto ,  em  sobrado,  ou  taboado  outro 
tlgum,  e  se  for  no.  RineTro,  melhor  será,  por  que 
se  entra  com  elle  humidade,  cria  bicho,  o  qual  se 
lhe  come  o  olho ,  nào  presta  mais  para  semente.  Quer, 
como  disse ,  terra  fraca ,  em  especial  vermelha ;  abor* 
recelhe  barro ,  e  na  terra  húmida  não  sabe.  Dez  al-> 
fnudes  cabem  em.huma  geyra  de  terra.  Depois  do 
tramoço  semeese  logo  o  feyjâo  em  barbeyto ,  ou  em 
i*esteva  de  terra  grossa ,  e  em  cada  geyra  não  lancem 
Bouais  de  quatro  almudes  delles.  Pella  ínesma  maneira 
d0V4Hu  semear  a  harvilha  em  terra  porém  soUa  e  fácil , 
lugar  temperado ,  e  ar  húmido  e  chuvoso.  Ptora  semear 
cada  geyra  hà  mflster  outro  tanto  como  de  feyfoens , 
pa  menos  hum  almude.  O  tempo  de  semear  hervi-* 


•Cotrêsponáenciã.  %g 

thaá  Iiè  ikú  piincipio  da  semenleira  lo^'  depois  do 
e<iuÍQOCio  oatoDaL  As  (ava$  querem  tora  grossa  e 
estercada ,  e  se  íòr  bari)eyto  em  vate  para  onde  cor» 
rào  as  agoas  doa  ãdtos,  seraa»  melbor.  O  modo  de  as 
semear  hè  este.  Lançar  a  semente  anies  de  lavrar,  • 
sobre  a  semente  abrir  a  terra ,  e  depois  díiberfa  lisela 
em  margens»  e  destorroar  para  que  fiquem  bem  cu* 
bertas>  e  altas  debaixo  da  lerra,  por  que  isto  lhe' 
vdeva  <tue  tenhão  aa  raizes  bem  dentro.  E  se  as  qui- 
serem semear  na  i^esteva  donde  caberão  aquelle  anuo 
novidade ,  tirado  o  restinho »  lancemlhe  esterco »  e  a 
cada  geym  vibte  e  qnatiH)  carregas.  E  assi  também 
{aremos,  quahdó  as  semearmos  em  terra  crua  seoi 
lavrar ,  e  em  cima  lavraremos » e  destorroaremos:  ainda 
qtie  alguns  hà  hi  que  defendem  o  destorroar  em  lu** 
gar^  frios,  por  que  diceoft  que  os  torroena  altos  em-* 
parào  do  frio  e  do  vento  as  favas  em  qnsoito  são 
novas  e  tenras ,  e  as  aquentio^  Também  cuidáo  ai* 
giins  que  as  favas  estercào  a  terra*,  o  que  eu  entendo 
assy ,  que  as  favas  n&o  gastào  tanto  a  força  da  terra 
como  as  outras  sementes ,  e  não  que  lha  acrescentáo , 
nem  que  a  engrossão  como  o  esterco ,  por  que  tenho 
por  certo,  que  melhor  bè,  e  mais  fructifica  a  teiTa 
que  não  foi  semeada,  e  folgou  o  »no  passado,  que 
a  que  teve  favas ,  posto  que  esta  não  fica  tão  fraca  > 
^omo  as  que  ti  verão  outras  sementes.  Segundo  Tre- 
mellio  cada  geyra  de  tenu  leva  quatro  ahnndes  de 
favas ,  mas  o  meu  parecer  hò  que  lhe  laneem  seis , 
ise  a  terra  bè  grossa,  e  se  he  meàa  mais  honi' pouco, 
Terra  fraca  nào  daafovas ,  nem  temra  de  névoas  ^  terra 


a* 


ão  JCcrrssponienda* 

forte  responde !  meãamente.  A  sua  sementeira  hé  no 
meio  da  semetoteira  do  pão,  ou  no  cabo,  a  qualie 
chama  septimuncial  por  que  então  se  faziao  o»  saoi* 
ficios  dos  sete  montes  de  Roma.  A  primeira  munta» 
vezfes,ea  deiradeira aas  vezes  hè  melhor.  Depois  do 
solesticio  também  semeão  favas;   mas  poucas  vezes 
respondem  é  no  verão  peor;  posto  que -ha   hi  'favas 
a  que-chamào  ti^mezes,  as  quaes  semeão*  em  Feve- 
reiro y  e  levão  a  quinta  parte  de  semente  mais  que  as 
outras;  fazem  a  palha  pequena ,   e  o  írúito  pouco.* 
Donde  vem  que  ouvireis  dizar  aos  lavradores  velhos  »- 
que  querem  mais  a$  palhas,  tempòrãas  que  o  fruito 
tremês.  E  porem  em  qualquer  tempo  que  as  semearem, 
seja  sempre  com  lua  chea,  desta  maneira ,  que  toda 
a   semeníe  que  houverem  de  semear»    espalhem   n& 
terra   no ^ próprio  dia  do  prelunio,  antes  que  passe, 
ou  hum  dia  antes ,  ainda  que  a  não  cubrào  logo  toda : 
por  que  não  lhe  íaz  mal  o  sol ,  nem  orv^ho ,  com 
tanto  que  a  não  com^o  as  aves ,  ou  ratos  9  ou  quaes- 
quer  outros  bichos,  ou  gado.  Os  antigos  e  também 
Vergilio  dizem  9  que  hè  bom  lançar  de  molho  em  agQa 
ruça  ou  de  salitre  as  favas  bum  dia  ou  dous  antes 
que  as  semeem ,  por  que  nacem  mais  cedo ,  e  'não 
as  comem  os  bichos  debaixo  da  terra.  E  miais  diz  Ver- 
gilio que  crião  melhor  grão ,  se  as  nK>Ihão  com  agoa 
morna.  Eu  por  .experiência  achei  que  as  favas  assiift 
curadas  nàp  são  tocadas  do  gorgulho  tão  asinha  como 
as  outras.  E  o  que  agora  quero  dizer,  também  o  ex- 
perimentei ,  que  se  colherem  as  favas  no  antrelunho , 
de  madrugada »  e  logo  na  eyra  secas  9  •  debulhadas. 


Correspondência»  9t 

antes  que  a  liia  0*6^ /as  recòlherenk  pela  fria,  e^não 
pela. calma  y  e  as  puzerem  em  lagar  efixutav-e  fvio, 
conservarsehão  sem  gorgulho.  Tem  as  fiivas  esta  fact<' 
lidade  antre  os  legumes,  ^e  ella.  mais  que  os  outros  ' 
se  pode  debulhar  sem  héstas^i^  alimpar  sem  yen^o , 
desta  maneira.  Tomem  huns  poucos  ide  molhos ,  e 
tragaõnos  arrastando  pela  eyra  alguns  homens,  e  ou- 
tros irenhão  de  traz  machucandoos  com  mangoaes,  ou 
quaesquer  pàos;  e  se  os  não  quizerem  trazer  arvas* 
tando,  abasta  machocalos  quedos  sem  andar,  e  aa 
mão  sem  bois ,  nem  bestas ,  somente  com  pàos.  E  para 
as  alimpar  sem  vento  £irão  assim,  liancem  primeiro 
fora  da  eyra  as  palhas  gi*andes ,  ou  colmos  das  fiiveiras, 
e  as  folhas,  e  cascas  das  bainhas  apartemnas  assim* 
Tomem  grão,  e  cascas  tudo  junto  com  as.pàas,  e 
lanoemno  com  força  quam  longe  puderem  pela  eyra  f 
e  as  favas  por  que  são  mais  pezadas  irão  mais  longe 
apartandose  das  cascas  que  por  serem  leves  nãaromr 
perão  tanto  pelo  *ar ,  e  fioão^  mais  perto ,  e  assy  se 
apartaràè  humas  das  outras  ,  as  cascas  das  favas  »  as 
quâes  deste  modo  se  alimpão^  sem  vento.  Ae  lentilhas 
têm  duas  sementeyras ,.  huma  temporãa ,  quando  se* 
meãa  o  pão  no  outona,  e  outra  em  Fevereiro.  Que* 
rem  ser  semeadas  no  crescente  da  lua  atee  os  doae 
dias  delia  em  terra  delgada  e  solta,  ou  grossa  e  seea, 
porque  com  a  humidade  vecejão  do  tempo  da  fvol,  e 
corrompemse.  Mas  paia' sahúr,  e  crecer  oedi>,  antes 
que  as  semeem  estem  quatro  dias  ou  cinco  mistu- 
radas  com  esterca  seco,  e  assy  com  elle  as-. semeem* 
Abasta  para  huma  geyca  de  terra  pouco  mav  de  huiii 


%t  Correspimdemeia^ 

aknude  dellát.  .Também  $e  comem,  de  gorsnllio ,  « 
tanto  que  no  folhelho  as  oome ;  mas  para  se  poderem 
conservar  em  caza  escolhemse  as  mais  dieas  nesta 
maneira.  Lancemnas  em  fanm  grande  alguidar  dagoa, 
e  as  que  nadarem  aade  ribadagoa,  «parteranas  para 
oomer  logo,  e  a&  oitfras  que  se  foicm  ao  fundo ^ 
guardem  e  sequem-nas  primeiro  bem  «ao  sol;  e  se 
houver  raia  de  sHphio ,  pizemna ,  a  mestnremna  com 
vinagre » e  borrifem*nas  com  elle «  e  esfireguemBas  1i>emt 
e  tomemnas  a  secar »  e  depois  de  frias  em  lugar  ent 
xnio  e  frio ,  se  são  mnntas  em  tnlka»  a  se  nào  sio 
tantas  em  tdhas  bem  tapadas*  Também  se  podem 
guardar  oom  cint9  sem  mais  outra  couca,  O  Unho,  se 
pio  for  em  ierras  aonde  ae  acoatmna  &9ier  iieQe  miuto 
pro'veito ,  e  isao  vot  provacar^  nào  o  semeeis  nas  vo88a$ 
terras,  por  que  as  damna  como  peçonha»  e  se  o  se* 
meardes, seja  em  tarra  grossa,  e  bumida  ou  regadia. 
O  tempo  da  sua  aeromitein^  hè  nos  BMses  dOytnbi^ 
e  Novembro ,  e  tambam  na  toei  lie  Fevereiro ,  se  a 
terra  hè  grossa ,  e  creadom.  Para  hama  gejra  de  term 
ka  mester  oyte  almndes  de  semente ,  e  se  a  terra  hè 
fraca,  on  a  seipenteira  serodea,  lanoem4he  dev  al^ 
mudes',  por  qne  o  Ikxho  basto  cresce  mais  efas  mais 
longa  fevera.  O  gei^Um  nas  terras  regadias  mais  cedo , 
e  nas  outras  depois  do  -equinócio  outénat  atee  meado 
Oytubro^  se  quer  semeado  mn  terra  podre,  ou  arèa 
grtesa ,  on  terra  kmçadisaa.  Em  cada  geym  tanto  come 
do  milho ,  on  painço ,  a  «abar  dons  terços  dahnode , 
e  aas  vezes  mais  Imm  torço ,  a  saber  bum  almnde 
abasta.  Nas  leicas  da  Cflicia  e  Svria  vi  #«  semear 


Conré^HmàendiL  $i9 

«sta  semente  nos  mezes  de  Junho  e  Julho,  e  vir  nia- 
dura 9  e  oolberse  aq  oMMiiq.  Ob  ohioharos^.que  sâò 
quasi  coBAO  en^lhas,  .devaiAse  seoftéareiÉfaneirò  e 
Fevereiro  «m  tetra  boa ,  e  teo^M:»  bnntdo»  f  orè^oi  éoot 
algumas  parles  à»  Ita^a  «^  semefte  «iltes  de  ^^embra* 
Três  almudes  e^ichem  hum.a.^jra  de  lerca.  fifâo  hà 
legume  outro  idgum  fue  menos  damnofaça  nasiterras 
do  que  fas  este :  porém  elle  responde  imtà ,  |xir  que  na 
fnd  não  sofire  èetn  tampo  seco  nem  húmido  i  se  ukà 
liè  muito  temperado  y  ,e  no  lem|K>  que  €Íle-  flovece^ 
de  grande  ventura  ha  jtemperaofa  no  ar.  Os  que  pro* 
priamente  se  cbamão  grãos , «  por  outro  nome  cabeçA 
de  carneiro,  e  outros  que  se  j^hamãjo  piinicos,  lou 
monrinos,  bem  se  -podem  aemciar  per. todo. o  mez  dp 
Março  9  sendo  o  tempo  húmido »  e  a  terra  boa«^  EaUê 
também  damnão  a  terra,  ^  }>or  tanto  os  layradM^ 
entendidos  não  curão  muntO  dtíles»  £ .  porSm  vse  oé 
houverem  de  semear ,  lançeniUos  priiseiro  hum  dia  àà 
xuolho  para  que  nação  tsjinha.  Ttm  almudes^  deateu 
abastão  {^ara  huma  geyra  de  len».  O  linfao  alcanevo 
quer  terra  grossa  e  esteroada  e  iregadaft  ou  ao  menos 
chão  e  húmido «  e  a  terra  seja  betn  Livrada ,  e  rego 
alto.  Para  hum  pee  die  terra  mn  quadrado  abastao  seis 
grãos  desta  semente ,  o  s^mease  no  fim  de  FtveveiíxiHi 
quando  naçe  a  constelação  Arcturo  a  saberá  sinQoo« 
seis  dta&  por  andar  do  diu>  mes»  e  atee  p  equinocáo 
que  hã  dez  de  Março » se  o  tempo  fç^r  huasido.  Skpóil 
dos  legumes  que  díx0ou>s»  quer  a  resã#  qise  Iralemés 
dos  nabos  e  rabãot,  que  .fcambem  aiudàa  maoter  ji 
gente,  do  campo.  Qs  nabos  sã»  mais  proveitozos  ^por 


fl4  Ccrfèspondunêíá^ 

qjae  não  somente  mantém  a  gente,  mas  lambem  w 
bob ,  e.  mais  a  sementeira  delles  responde  melhor  que 
a  dos  rabàos.  Querem  huns  e  outros  terra  podre  e 
scdta ,  e  nào  apertada ,  e  os  nabos  dãose  melhor  em 
oampos  e  terras  húmidas ;  mas  os  rabâos  em  ladeyras 
de  terra  seca ,  e  delgada ,  cascalho ,  e  aréa.  Em  tanto 
requerem  estas  duas  sementes  lugare9y  e  terras  difiè-' 
rentes   que  muitas  yeses'  a  natureza  da  t^ra  muda 
huma  gemente  em  outra :  quero  dizer  que  semeando 
nabos  em  terra  que  convéns  aos  rabâos,  em  doua 
anos  se  muda  em  semente  de  rabãos ,  e  ao  contrario 
lambem  se  muda  a  dos  rabaos  em  nabos ,  se  a  semeão 
em  terra  de  nabos.  Assy  huns  como  os  outros ,  se  os 
semearem  em  terras  regadias ,  devemnos  semear  logâ^ 
depois  do  sokticio ,  e  de  meado  Junho  por  diante ,  e 
nos  sequeiros  anire  Agosto  e  Septemiuro*  Querem  terra 
bem  desfeita ,  ora  seja  do  arado ,  ora  da  eyrada ,  e 
farta  desterco«  E  isto  fiiz  proveito,  assy  para  eslea 
darem  boa  novidade  ,•  como  lambem  para  qualquer 
outra  sementeira ,  que  depoia  delles  quizerem  lançar 
naquellas  terras*  Huma  geyra  de  terra  não  quer  inais 
que  dou3  terços  dalmude  da  .semente  dos  nabos »  e  doa 
rabãos  mais  huma  quarta  parte^  Digo  menos  nos  nabos 
por  que  hão  de  ser  semeados  mais  ralos ,  por  que  en-* 
grossâo  e  fazem  barriga  ^  e  hâo  mester  mais  espaça 
que  08  rabàos ,  os  quaes,  lanção  para  baixo  a  raiz  maia 
delgada,  Estas  couzas  que  ateequi  .ensinamos  semear^ 
são  para  os  homens ;  daqui  por*  diante  ensinaremoa 
outras  para  o  gado,  e  alimárias  de  caza*: 


C<ár»ip<mtlentia.  «f 

mÊBÀSÊBSBÊÊBsaÊsssssÊBassBSagsm 

m 

íaemoriâ 

t 

Sobre  os  Fazis  physicos  oa  artificiaes  (  Brigueis). 
Traduzida  do  numuscripto  HespanhoL 


0^^^i^^^m0^^^^ê 


JNbstá  breve  Memoria  proponho-me  rednzir  a  bnin 
corpo  de  doatrína ,  não  &ó  quanto  diz  respeito  á  deir* 
aipçào  de  toda  a  sorte  de  fuzis  artificiaes  qué  se  yeiif 
dem  em  Parts,  mas  também  a  manrâa  de  òs  fabricar^ 
de  os  conservar ,  e  de  se  servir  delles.  Ajuntarei  igual* 
mente  a  theoria  da  sua  inflammação^  e  direi  quaet 
me  parecem  preferíveis ,  considerados  como  ramo  de 
industria  e  relativamente  á  sua  utilidade  nos  usoft 
domésticos.  Conheço,  até  dnco  espécies  d*èstes  fuzis  ^ 
que  distinguirei  pelos  seguintes  nomes  :  —  Fuzis  pneur 
maticas  }  Fuzis  ox^gent^s  ou  do  mechas  oxy§9nadas$^ 
Fuzis  de  betume  in/Uunmay  el ;  Fuzisphosphorieas  i  % 
Fuzis  de  gaz  hjídrogeneon 

Fuzis  Pneumáticos. 

São  compostos  de  bum  tubo  ouço  de  latio  ou  im 
estanho,  de  9  a  lo  centímetros  de  comprido ,  e  de  to 
miUimetros  de  diâmetro,  com  sua  manga  e  embolo 
de  couro :  na  parte  inferior  da  cabeça  do  embolo  ha 
huma  pequena  cavidade  na  qual  se  mette.  humpedft- 
cinho  de  isca«  A  compressão  repentina  do  ar  «Unos*^ 


f6  Correspondência. 

pberim  por  meio  do  embole ,  be  snBieieuli»  pm^c^ 
cumular  buma  tão  graude  porÇào  de  calórico  no  corpa 
combustível,  que  este  setido  et|fAto  fto  ar,  apenas 
feita  a  compressão  se  accende  immediatamente ,  de 
modo  que  se  pode  dixer  que  péf  effdifeô  desta  com- 
pressão se  expelle  o  calórico  do  gàs  úxygeneo  que 
forma  parte  do  ar  atmospherico ,  e  por  isso  se  tem 
também  dado  a  e^es  futià  ò  kf(5me  de  Fuzis  de  com-- 
pressão.  Para  poder  limpar  o  tubo,  no  caso  de  estar 
entupido  pela  iaca  ou  per  oulra  t{Mlqiièr  mtitèría , 
desatarracha-se  pelo  fundo;  e  l-ecéiitMièètè  téiti-sè 
construído  estes  fdzis  8oMisaldlHie4hes  nfc  pãrté  supe- 
rior do  tubo  hum  pequett#  glòlio  M  boli  jbutà ,  a 
fim  de  preservar  a  isòa  dft  humidade,  é  còhMSttát  ãlU 
buma  espécie  de  depoatlo  ée  M*  estagntolé  sém  coh- 
sidenurel  corrente ,  como  succede  guando  faz  vento. 


Se  o  tubo  for  de  crystil  mtií  forte ,  podér-sé-bâò 
observar  os  efieitos  da  compressão,  e  Ver  que  não 
^  ba  desenvcAvimento  do  calórico  mas  também  de 
bix  t  qne  ambos  procedem  da  oomt)l^são  do  ^az  oxj- 
geneo  do  ar,  porque  o  azote  pOir  mdis  ^e  se  com- 
piíma  apenas  produz  buma  mui  pequena  porção  de 
calórico  thermometrico*  Até  ao  presente  não  se  co* 
Bbjseem  outk-os  gazes ,  aenao  o  dílcirieo  e  o  ozygèneo  ^ 
<pie  tenbàoa  propriedade  de  laatttfestarem  quantidade 
conáíderavd  de  calórico  e  de  laz  ^lá  compressão» 
o  que  tem  iocMoado  muitos  physícòs  a  crerem  que  o 
fiiádo  calórico  e  O  fimão  kunmoso  são  eort^es  deieápeci» 
dificrente.  . 


r  A  coMlraeçte  !e  o  tuo  bestes  fSàtk  se  ccffigè  èi 
descripção. * VendMi'^  pM  lAifidovM  de  latào,belA 
fabríoadott o ac«btdo« y  de^  firáiiòM, Soca  3fr.;eoê 
de  esUDho,  de  t  fr.  a  t  fir.  i5  c. . 

Fmif  dê  mechaè  imysenaáas. 

Estes  constâo  de  huma  garrafiaha  na  qual  se  íq<^ 
ti*oduz  hum  pouco  de  amianúio  {taleus  arestas )  em- 
bebido de  addo  sulphjarico  concentrado  :  algninas 
pessoas  põem  vidro  moido  em  vez.  do  amiantho.  Nâo 
ie  pode  usar  nestas  gmxafinhas  de  estopa^  ou  de  Qutrt 
cpialquer  substancia  vegetal « em  racao  da  propriedade 
que  tem  o  acido  sulphurico  de  oarbonisar  as  sub- 
stancias  vegetaes  ^  animaes ,  isto  he  de  as  decompõe^ 
apoderande-se  do  seu  fajrdrogeneo  e  ozygeneo  em  pnh 
porções  que  formão  a  agua »  com  a  qual  se  combina 
depois  o  acido  dissolvendo-se  nella. 

As  tnecbas  de  que  se  faz  uso  pára  estes  fuzis  s&o 
litms  pedacinhos  prismáticos  de  pao  bem  secco  cujas 
extremidades  estão  cobertas  de  hum  betume  particular 
e  inflaoimavel ,  composto  de  huma  pouca  de  agua 
de  gomma  e  de  muríate  super-oxygenado  de  potassa 
( dento  chlorate  de  polassium  )• 

Tasto  a  giui^afinlia  9  eonio  as  mechaá  se  cQusei'vÍò 
em  estojos  ou  caixas  quadradas  de  papetio ,  de  ordina^ 
rio  piíitadM  de  ettcaniado ,  cotti  Os  feparfimrentos  con>- 
Venientes^  de  a^do  que  a  gartrafinha  occApa  a  parte 
inferior,  e  as  mêdiaa  ^stto^  Ha  superior.  Ha  em  Paitii 


4S  Correspondência. 

diversos  fabrícântès-  doestes  fuzis ;  porém  as  febrkas 
as  mais  conhecidas  são  as  de  MM.  Fumiide  e  Gambier^ 
os  quaes  mandão  muitos  milhares  delies ,  tanto  para 
o  interior  como  para  fora  do  Beii^.-  Esi^tes  fuzis  se 
vendem  no  commercio  desde  8  soldos  at^  i  franco , 
segundo  o  menor  ou  maior  numero  de  mechas  que 
levão  as  caixas  de  papelão.  As  mechas  preparào-se 
da  maneira  seguinte. 

Tomão-se,  pelo  menos,  partes  ignaes  de  enxofre 
ê  de  chlorate  de  potassa  crystallisado ,  moem-se  em 
hum  gral  da  ágata  ou  de  crystal  separadamente ,  e  em 
pequena  quantidade,  por  exemplo,  meia  oitava  de 
cada  vez,  a  fim  de  evitar  huma  grande  detonnação 
no, caso  que  chegue  o  chlorate  a  decompôr-se;  o 
que  se  evita  em  parte  humedecendo-o  hum  pouco 
com  agua  de  gomma  :  nristurâo-se  então  as  duas  sub- 
stancias ,  tritrurão-se ,  e  faz*se  delias  huma  massa 
níolle  ajuntando  a  sobreditta  agua  de  gomma ,  cola , 
amido  ou  gomma  de  trigo  :  então  tomão*se  os  palitos 
que  devem  servir  de  mechas  oxygenadas  e  vão-serlhe 
mettendo  successivamente  as  pontas  na  sobreditta 
massa,  de  modo  que  apegando-se  forme  na  extremi* 
dade  delias  como  huma  cabeça  de  alfinete :  seccão-se 
depois  cravando*as  pela  extremidade  que  se  não  metlea 
na  massa,  em  hum  prato  ou  vaso  chato  ch^  de 
areia  ;  tingem-se  finalm^te  estas  cabecinhas  com  ver* 
melhão  ou  minio,  igualmente  dissdivido  em.  agua  de 
gomma,  com  o  fim  de  lhes  dar  huma  apparencia 
mais  bonita,  de  as  privarão  contacto  imniediato^ do 


%9 

ar )  é  sobre  -  tuda  para  aasim  as  'disfer^  dandchUie^ 
hum  ar  de  mTSterio,  fKitqiie  nareiáidade  esta  c6t 
tem  pouca  ou  nenhuma  utilidade* 

Para  fazer,  uso  destas  mechas,  introduzem-se  at^ 
cousa  de  huma  ou  duas  linhas  acima  da  cabecinha 
dentro  da  garrafinha  ou  frasquinho  (fae  contém  o  acido 
sulphurico,  e  em  hum  instante  se  accendem  com 
chamma  como  se  fossem  ãpplicadás  a  hum  carvão 
em  braza-  A  theoria  d*este  pheliomeno  he  a  seguinte. 

Quando  se  põe  em  contacto  com  os  chlorates  qoal^. 
quer  corpo  combustível,  este  se  apodera  de  huma  parte 
do  oxygeneo  do  acido  chloríco ,  que  por  conseguinte 
se  transforma  em  acido  chloroso',  o  qual  tomando  re** 
pentinamente  a  forma  gazosa ,  produz  pela  sua  ezpan* 

* 

são  huma  forte  detonação,  para  o  que  basta  que  a 
temperatura  seja  de  ^  3oo  do  thermometro  centigrado; 
ou  de  +  24^  do  de  Réaumur ;  e  todos  sabem  que  o 
mais  pequeno  roçado  ou  percussão  pode  produzir  esta 
temperatura.  Por  isso  vemos  que  a  detonação  se 
opera  frequentemente  pela  simples  fricção  da  mão 
do  gral  f  por  hum  ligeiro  golpe  de  martelo ,  e  por 
qualquer  outro  roçamento  ou  percussão.  O  acido  sul-* 
phurico  concentrado,  faz  aqui  as  vezes  de  martela 
ou  de  mão  de  gral ,  elevando  a  temperatura  até  ao 
grão  em  que  se  decompõe  o  acido  chloríco  do  chlorate 
de  potassa ;  e  assim  decomposto  em  acido  chloroso  e 
em  oxygeneo ,  produz  chamma ,  e  accende  o  corpo 
combustivel,  de  modo  que  neste  caso  a  combustão.^ 
le  veriàca  unicamente  pelo  oxygeneo  no  estado  de 


^  CàirespondeneÍEík 

gaz  n^seefttd.  eom  inteira,  separação  dú  gus^  addo  ebjo* 
roso..  Porém  ^  como  eleva  o  Mcià»  M^phuvico  ilo  frasr 
quioho  a  temperatura  até  an.  ponto  neoesjSArio  parae 
produzir  este  effeito?-^  Combinando-se  o  acido  suU 
phuríco  liquido  coín  a  potassa,  base  do  cbforate, 
forma-se  bum  sulpbale  de  potassa  sólido ,  e  por  con- 
seguinte deve  desenvolvera  precisamente  todo  o  ca^ 
lórico  que  servia  a  consen^ar  bum  d*estes  corpos  em 
estado  liquido.  Quando  pois » na  extremidade  da  me- 
cha o  enxofre  e  o  acido  chlorico  se  acbào  em  con-^ 
tacto ,  decompôe-se  este  ultimo  acido  em  oxygeneo  e 
em  gaz  cfaloroso,  por  efieito  da  maior  temperatura 
produzida  pela  formação  do  sutpbate ,  e  entra  em  eom-« 
bustào  o  enxofine  e  a  fibra  lenhosa  das  sobredittas 
mechas* 

Para  a  perfeita  e  completa  febrícação  doestes  fuzis, 
ikâo  só  convém  expor  aqui  o  methodo  de  obter  o 
chlorate  de  potassa ,  mas  tamberii  hzev  as  seguintes 
adveitencias :  i*.  O  risco  da  detonação  he  quando  se 
mistura  o  enxofre  com  o  chlorate  de  potassa ;  o  que 
se  evita  tendo  a  precaução  de  humedecer  e  chlorate 
com  agua  de  gomma  y  como  acima  fica  ditto ;  2*.  Não 
ha  grande  risco  em  moer  os  dois  ingredientes  sepa- 
radamente^ ainda  em  quantidades  maiores  que  aâ;' 
acima  prescriptas,  e  só  se  necessita  de  mais  alguma* 
cautela  quando  se  fizer  a  mistura  dos  ingredientes;: 
3*.  A.  receita  de  partes  iguaes  dè  enxofre  e  de  chlo^ 
rate  de  potassa  he  diminuta ,  pois  se  angmenta  a  in- 
flammabilidade  das  mechas  elevando  a  prot>or^odl> 


cMoiate  na  tasião  A%  t  para  2  ou  de  t  para  ) ,  como 
o  praticão  o»  Eaibcíeanies  quefanen  a»  meiltores  me** 
chás  desta  espécie^  4*-  He  mtií  eonveniente ,  e  alé 
necessário  que  as  mecliat  esleyào  cobertas  de  eiixofi^ 
na  pofltta  que  se  molha  »o  betome  ou  ina6ia;S«v  CoiA 
a  iBesma  agua  de  gomma  que  ser^e  para  dar  eousb* 
tei)cia  á  massa  f  $c   pode  tingir  ao  mesmo  tempo  a 
extfremidade  daa  mechas ,  dissotvendio  netta  primeiw 
a  subsltancia  coloranèe  e  Êia^do  depois  a  mistura^ 
sem  haver  necessidade  de  huma  segunda  operaçio; 
6*.  Ainda  que  a  côr  se  dá  de  ordinário  com.  a  verme* 
Ihào ,  pode  para  o  mesmo  obje^cto  usar-se  de  zarcão 
ou  minio ,  de  azul  de  prussia ,  de  açafroa  ou  safrão 
bastardo ,  etc. ;  7*.  Finalmente ,  convém  que  a  agiui 
de  gomma  seja  mais  clara  que  grossi^ ,  porque  neste 
ultimo  caso  forma  huma  espécie   de  verniz  que  s^ 
oppõe  á  prompta  decomposição  do  chlorate  de  po^ 
tassa. 

Nas  lojas  de  productos  chjmicos  em  Paiis  yende« 
se  a  onça  de  chlorate  de  potassa  de  4^  ^  5o  soldosi^ 
.  e  sahe  por  metade  doeste  Pfeço  a  quem  toma  o  tra- 
balho de  fazer  este  sal ;  para  isto  basta  fazer  passar 
por  huma  dissolução  concentrada  de  potassa  ou  de 
sab-carbonate  de  potassa  homa  coiTente  constante  de 
g<iz  chlorico ,  dispondo  para  este  fim  bum  apparelho ,' 
que  pode  ser  com  poucía  diSerença  o  de  Wonlf  ^  s& 
com  hum  ou  dois  frascos  tnbulados.  Neste  caso  « 
agua  da  dissolução  se  decompõe ;  o  seu  h/drogeneot 
aombifta-«e  oom  parte  do^^ilore,  e  resulta  acido  hydrò-' 


Ss  Correspondência» 

chloríco ,  que  se  combina  coin  huma  parte  de  potassa 
(  deuCozydo  de  potassium ) ,  i^esultando  hum  deuto- 
hydro-chlorate  mui  solúvel :  jo  ozygeneo  da  agua  com- 
bina-se  com  o  resto  do  chloi*e ,  e  nasce  daqui  acido 
cUorico , que  se  combina  com  o  resto  da  potassa,  e 
dá  lugar  á  formação  do  chlorate  de  potassa  ou  ínu- 
riate  super^ozygenado ,  que  se  precipita  por  ser  pouco 
«oluveL  Acabada  a  operação  decanta-se  ou  filtra-^e , 
lava-se  o  chlorate  de  potassa ,  e  neste  estado  se  em- 
prega para  fazer  os  referidos  fuzis. 

Ha  dois  methodos  igualmente  simples  para  obter 
em  abundância  o  gaz  chloríco  :  o  primeiro  consiste 
em  metter  em  hum  pequeno  matrás  cousa  de  huma 
onça  de  perozydo  de  manganese  com  3  ou  4  onças  de 
acido  hjdro-chlorico  ( muriatico )  dissolvido  em  agua , 
fazendo-se ,  por  meio  de  hum  tubo  curvo ,  passar  o 
gaz  pela  dissolução  de  potassa ;  parte  do  acido  hjdro* 
chloríco  se  decompõe;o.  seu  hydrogeneo  se  combina 
com  huma  parte  do  oxygeneo  do  oxydo  de  manganese 
e  forma  agua :  o  manganese  fica  reduzido  ao  estado 
de  proto  ou  de  deut'ozydo ,  e  então  se  combina  com 
o  resto  do  acido  hydro*chlorico  não  decomposto, 
resultando  hydro-chlorate  de  manganese. 

O  segundo  methodo  he  mais  complicado ,  e  era  o 
único  conhecido  antigamente ;  reduz-se  a  metter  em 
hum  matrás  huma  onça  de  perozydode  manganese, 
4  de  sal  marinho  (  chlorureto  de  sodium  ),  a  de  acido 
sulphuríco  diluidoy.com  duas  parles  de  agua :  obtém- 
se  immedtatamente  o  gaz  chloríco  Uvre.  O  sal  ma- 


\ 


Correspondência.  32 

tinlio  transformado  desde  logo  em  deuto-liydro*chlo- 
rate  pela  decomposição  da  agua  do  acido  siilphurico , 
se  decompõe,  e  a  sua  base  se  combina  com  huma 
paite  doeste  acido ,  do  -que  resulta  sulphate  de  soda» 
O  acido  hydro-chlorico  também  se  decompõe,  e 
produ:K-se  agua  e  sulphate  de  pfoto  ou  de  deut^oxydo 
de  manganese.  Estas  operações  devem  ser  ajudadas 
Com  hum  calor  moderado ;  pois  ainda  quando  a  prín-> 
cipio  elle  não  seja  necessário  para  ezpellir  o  chlore» 
toma*^se  depois  indispensável» 

Com  as  instrucções  e  theoríaá  que  tenho  exposto» 
julgo  que  será  fácil  preparar  e  fabricar  perfeitamente, 
os  referidos  fuftis  de  mechas  oxigenadas,  6m  todas 
as  suas  partes. 

Futis  áe  b^tUnte  (n/lammai^et^ 

Os  tvLzis  que  os  charlatães  de  Paris  veiidèm  de* 
baixo  do  nome  de  ífiçúets  de  mastic  infkuhmiáblé  ^ 
constào  de  huma  garrafinha  achatada, die  á  \  centl-* 
metros  de  diâmetro,  e  de  vidro  ordinário,  tapadia 
com  huma  grande  rolha  de  Oortiça.  Quando  se  fax 
uso  doestes  fuzis  tomasse  hum  palito  enxofrado , 
mette-se  dentto  da  garrafinha ,  e  úiolha-se  a  exti^emi* 
dade  no  famoso  betume  que  elle  encerra ,  e  esfregando 
depois  sobre  a  mesma  rolha  inflamma^^se  o  pãozinho. 

Estes  fufcis  são  excellentes  para  illudir  às  pessoas 

ignorantes ,  pois  tendo-se  accendido  seis  ou  oito  palitos 

enxofrados ,  não  servepi  para  maia ;  e  sem  embargo 

disso  não   faltão  compradores  entre  o  vulgo.  Pois , 

Tom.  IX^  P.  a**  3  B 


34  Correspondência: 

por  dois  ou  trçs  soldos ,  que  custa  cada  hum  doestes 
fuzis,  quem  ha  qtie  não  queira  conhecer  o  arcano 
do  betume  ,  e  ter  o  gostinho  de  accender  6  ou  8  pa- 
litos com  facilidade  ? 

Depois  de  ter  comprado  e  quebrado  algumas  destas 
garrafinhas ,  reconheci  que  estavão  cheias  de'  barro 
moido  y  de  cor  amarella  escura  imitando  a  do  phos- 
phoro ,  e  que  tinhào  só  cousa  de  duas  linhas  desta  sub- 
stancia por  cima  dos  referidos  pós»  na  parte  a  mais 
estreita  das  dittas  garrafinhas ;  mas  quem  só  as  vê 
porfóra,ou  não  está  inteirado  desta  fraude ,  pensará 
que  estão  cheias  de  alguma  massa  particular  inílam- 
mavel.  O  baixo  preço  d'estes  fuzis  me  fez  suspeitar 
que  não  podião  prestar ,  e  mais  sendo  as  mechas  sim- 
ples de  enxofre  mais  caras  que  a  referida  massa  ,  com 
a  qual  haveria  com  que  fazer  muitos  centos  de  me- 
chas. Entre  a  rolha  e  a  massa  percebe-se  sempre  a 
humidade  que  attrahe  o  acido  phosphorico  que  alli 
se  forma  constantemente  pelo  contacto  do  ar  atmos- 
pherico ;  e  estas  causas  reunidas  contribuem  podero- 
samente para  accelerar  a  extincção,e  destruir  a  com- 
bustibilidade  da  pequena  porção  de  phos  phoro  que 
se  deita  em  cima  da  argilla  em  pó. 

Também  se  encontrão  outros  fuzis  pequenos ,  da 
mesma  qualidade ,  tão  mãos  como  os  precedentes , 
que  constão  de  hum  mui  pequeno  tubo  de  chumbo , 
^e  5  centimetros  de  comprido  e  de  i  centímetro  de 
diâmetro y  e  que  no  fundo  encerrão  hum  pouco  de 
betume  inflammavel,  o  qual,   depois  o   ter  exami- 


Correspondência.  35 

mado  y  acliei  não  ser  seDào  hum  pouco  de  pLosphoro 
misturado  com  magnesia  alba  (  oxydo  de  magnesium ). 
A  sua  duração  e  edeitos  são  iguaes  aos  das  garraíi- 
nbas. 

No  largo  chamado  Cour  des  fontaines ,  juuto  ao 
Poiais  Royal  em  Paiis>  punha-se  nestes  últimos  tem- 
pos hum  charlatão  com  huma  grande  mesa  diante  de 
siy  sobre  a  qual  tinha  duas  ou  três  velas  accesas , 
que  apagava  frequentemente  e  que  tornava  a  accender 
com  a  ponta  do  espivitador.  Acompanhava  isto  com 
muita  parola ,  e  convidava  os  circumstantes  a  com- 
prarem do  seu  betume  inílammavcl  por  excellencia  ^ 
o  qual  vendia  em  mui  pequenos  frasquinhos ,  pelo 
preço  de  5  ou  6  soldos  cada  hum.  Pela  apparencia 
exterior  não  era  outra  cousa  senão  phosphoro  derre- 
tido com  magnesia ,  do  qual  tomava  huma  mui  pe- 
quena porção  com  a  ponta  do  espivitador,  que  appli- 
cava  ao  pavio  da  vela  em  quanto  este  conservava 
huma  temperatura  de  +  ôo®  de  Kéaumur ,  ou  +  8oo  do 
thermometro  centígrado,  calor  mais  que  sufficiente 
para  a  inflammaçào  do  phosphoro.  Quando  fallar 
mais  adiante  dos  fuzis  phosphoricos  e  das  combina- 
ções particulares  d'esta  substancia ,  darei  o  meu  pa- 
recer sobre  esta  composição  inflam.mavel ,  cujas  ma- 
ravilhas apregoào  os  vendedores  ambulantes  de  Paris. 

Ftizis  phosphoricos. 

Os  fuzis  a  que  propriamente  sê  chama  em  francez 
brigueis  phosplwriques  ^  constão  de  hum  frasquinho 
o\\  tubo  cylindrico  de  vidro ,  mais  alto  que  largo,  e  de 

3* 


I 


36  Correspondência. 

pequeno  diâmetro ,  isto  he ,  de  pouco  mais  de  i  cen«^ 
timetro-  De  ordinário  estes  tnbos  estão  mettidos  em 
hnma  caixa  de  lata  repartida  verticalmente  pelo  meio 
por  huma  folha  da  mesma  matéria ,  para  deixar  hum 
Tão  suficiente  para  conter  as  mechas ,  que  são  os  pa- 
Utos  ordinários  com  enxofre  em  ambas  as  pontas. 
Este  frasquinho  enche-se  de  pbosphoro  pelo  processo 
que  logo  se  descreverá,  e  convém  que  seja  alto  e 
de  pequeno  diâmetro,  para  que  o  phosphoro  apre* 
sente  pouca  superfide  ao  contacto  do  ar  atmospherico. 

A  maneira  de  servir-se  doeste  fuzil  he  tomar  huma 
mecha  de  pao ,  introduzi-la  dentro  do  frasquinho , 
revolvendo  hum  pouco  a  massa  de  phosphoro  pela 
sua  superfície  superior,  até  que  por  este  movimento 
se  faça  subir  a  temperatura  a  -f  43^  (R.  )>  ou  -f  35 
( Cent. ) ,  grão  em  que  se  derrete  e  accende  o  phos- 
phoro, combinando-se  rapidamente  com  o  oxjgeneo 
do  ar.  Por  este  modo  o  phosphoro  se  oxyda ,  se  acidi* 
fica  e  se  perde  muita  porção  deUe  *,  o  melhor  he  to- 
mar com  a  ponta  do  pãozinho  hum  pedacinho  de 
phosphoro ,  e  elevar  a  teniperatura  delle  esfregando-o 
fora  do  frasquinho  sobre  a  sua  rolha  de  cortiça,  ou 
sobre  qualquer  outro  corpo  pouco  duro  e  áspero  ^ 
porque  se  se  esfregasse  sobre  crystal,  mármore  ou 
outro  corpo  lizo  e  polido ,  não  haveria  inflammaçào. 

Ha  vários  methodos.  igualmente  simples  para  pre- 
parar os  frasquiuhos ,  e  para  os  encher  de  phosphoro , 
que  he  a  condição  principal  de  que  depende  o  bom 
efleito  doestes  fuzis.   Os  professores  de  Ghjrmica  en^ 


Correspondência.  3i 

sinão  duas  maneiras  de  obter  fuzis  unicamente  com- 
postos de  phosplioro ,  porém  ambos  estes  methodos 
são  mui  differentes  dos  que  são  empregados  pelos 
frbricantes  para  especulação  de  commercio,  como 
logo  se  verá. 

O  primeiro  consiste  em  tomar  com  humas  pinças 
ou  tenazes  a  garrafinha  ou  frasquinho  pelo  gargalo , 
aquecendo-a  mui  lentamente  sobre  carvões  accesos, 
até  que  depois  de  bem  secco ,  e  estando  em  tempe- 
ratura de  pouco  mais  ou  menos  +  4o*^  ( Cent. )  derrele- 
se  o  phosphoro  sem  se  accender/  e  vão-se  deitando 
pequenos  pedacinhos  delle  no  frasquinho, até  que  esteja 
cheio  y  então  tira-se  de  cima  das  brazas ,  deixa-se 
esfriar,  e  tapa-se  para  servir  depois.  Este  methodo 
he  perigoso;  porque  o  menor  descuido  basta  para 
que  se  eleve  a  temperatura  j  e  arda  o  phosphoro :  o  ser 
guinte  não  tem  este  inconveniente.  Consiste  em  en- 
cher a  garrafinha  de  agua  quente  da  temperatura 
de  +  5oo  (  Cent.  )  ou  +  4o^  (  R« )  >  e  para  maior  pre-n 
caução  conviria  metter  a  garrafinha  até  aos  dois  terços 
em  hum  vaso  cheio  de  agua  quente  de  igual  tempe- 
ratura;  depois  vão-se  introduzindo  successivament^ 
pedacinhos  de  phosphoro  na  garrafinha ,  e  á  medida 
que  vão  chegando  ao  fundo  delia  começão  a  derreter^ 
se  y  desalojando  e  expellindo  a  agua  :  continjua-se  esta 
operação  até  que  toda  a  ag.ua  contida,  no  fcasquiuho 
tenha  sabido,  ficanda  em  seu  lugar  o  phosphoro 
derretido ,  o  qual  logo  endurece ;  e  se  o  resfriameuto 
s^  oper^  lentamente,  faz-$e  solido  conservando  a  sua 


38  Correspondcncia, 

primitiva  transparência :  finalmente  tapa-se  o  frasqni- 
nho  com  huma  rolha  de  cortiça,  e  guarda-se  para 
quando  se  precisa.  Se  o  resfriamento  do  phosphoro 
he  repentino,  em  vez  de  conservar  a  sua  natural 
transparência,  tomar-se-hia  negro,  ou  se  faria  de  outras 
cores  ,  segundo  a  maneira  por  que  se  operasse  o  res- 
friamento. Estas  diversidades  de  côr  não  podem  ser 
attribuidas  senão  á  diflerente  maneira  por  que  se  col-' 
loção  as  moléculas  do  phosphoro  de  cada  vez ,  donde 
resulta  o  diverso  modo  com  que  esta  substancia  obra 
sobre  a  luz;  e  não  deve  attribuír-se  á  formação  de 
novos  oxydos  de  phosphoro ,  e  particularmente  do 
vermelho,  como  alguns  chymicos  tem  pensado. 

Para  a  exti^acção  do  phosphoro  em  grande,  emprega* 
se  nas  artes  o  phosphate  de  cal  obtido  dosT)ssos  cal- 
cinados dos  animaes ,  os  quaes  contém  de  7G  a  77  por 
cento  do  referido  sal ,  que  se  transforma  em  phosphate 
acido  de  cal ,  por  meio  do  acido  sulphunco ;  depois 
decompõe-se  o  acido  phosphorico  por  meio  do  carvão,- 
que  se  apodera  do  oxjgeneo  do  acido,  e  então  se 
y  obtém  o  phosphoro  pela  distillaçào.  Para  se  purificar, 
são  ainda  necessárias  duas  operações,  das  quaes  a 
primeira  he  (iltrá4o  por  huma  pelle  de  camurça  dentro 
de  agua  quente ,  e  a  segunda  distillá-lo  outra  vez.  Não 
entrarei  em  maior  individuação  sobre  este  processo , 
que  he  longo ,  e  que  para  o  seu  bom  êxito  exige  muitas 
precauções.  Por  estes  motivos  os  fuzis  phosphoricos 
são  sempre  caros;  pois  ainda  que  se  tem  aperfei* 
coado  os  prpcessos  para  obter  o  phosphoro,  este  con- 


Correspondência.  3tj. 

serva  sempre  preço  mui  subido ,  e  na  fabrica  de  pro* 
duelos  chy micos  de  M.  Robiquet  custa  4^  4^  a  4^  fr. 
o  arrátel.  A  pezar  de  que  os  fabricantes  costumãp^ 
alterá-lo  depois  ^  misturando-o  com  a  maguesia,  os 
preços  por  que  vendem  estes  fuzis  no  commercio  são 
de  3,  6  e  iti  francos,  conforme  o  tamanho  dosfiras- 
quinhos,  e  os  adornos  dos  estojos  :  estes ,  nos  fuzis 
de  mais  baixo  preço  são  de  ordinário  cylindricos;os 
dos  outros  são  maiores  e  de  figura  elliptica*  Os  fuzis 
que  tem  mais  reputação  são  os  fabricados  por  MM. 
Kegnier,  Pixii,  Lainé,  e  Derepas;  este  ultimo  tem 
hum  privilegio  de  invenção ,  e  continua  a  distingui- 
los  pela  denominação  de  Fuzis  de  betume  inflammayel , 
nome  mysterioso  que  nada  indica ,  e  que  só  serve  de 
impor  aos  compradores  y  quando  a  base  do  seu  be- 
tume não  he  outra  cousa  senão  o  phosphoro.  Com* 
tudo  y  he  certo  que  os  seus  fuzis  são  bons  e  bem  fa- 
bricados. A.  magnesia  alba ,  e  o  sub-carbonate  de  ma- 
gnesia  misturado  com  o  phosphoro  não  tem  outro  effeito 
mais  que  augmentar  o  volume  doeste ,  sem  alterar  ^ 
sua  eminente  combustibilidade ,  e  posto  que  se  com- 
binem com  muita  facilidade  ,  e  em  temperatura  pouco 
elevada  com  o  enxofre  y  não  exercem  a  menor  acção 
sobre  nenhum  dos  outros  corpos  combustiveis  simples 
ou  compostos.  Vou  dar  aqui  huma  breve  explicação 
do  modo  por  que  vi  prepai^ar  os  frasquinhos  de  phos- 
phorOy  a  hum  fabricante  doestes  fuzis  ^  para  commercio. 
Tomava  por  cada  vez  seis  ou  oito  garradnhas  vazias, 
e  com  huma  carta  de  jogar  deitava  dentro  de  cada 
huma  delias  magnesia,  até  estarem  pouco  mais  de 


<•  Correspondência^ 

ineias  cheias,  deixando  cahir  a  maresia  pelo  seu 
próprio  peso  ,  e  sem  a  calcar ;  depois  mettia  estas  'gar< 
rafinbas  em  hum  banho  de  areia  moderadamente 
aquecido ,  no  qual  tinha  collocado  hum  thermometro 
para  graduar  a  temperatura  ,  e  evitar  que  não  passasse 
de  +  43^  ou  +  44^  (  Cent. ) ;  então  ia  deitando  nas  gar^ 
raíinhas  pedacinhos  de  phospboro ,  que  tirava  de  hum 
frasco  que  continha  agua  fria ,  enzugando*os  com  papel 
sem  gomma  :  á  medida  que  o  phosphoro  se  fundia 
penetrava  a  magnesia,  a  qual  pela  sua  leveza  e  poro- 
sidade diminuia  de  volume  e  formava  huma  massa , 
que  parecia  composta  de  phosphoro  derretido.  Con-« 
tinuava  a  operação  desta  maneira ,  até  estarem  as  gar* 
rafinhas  bem  cheias  de  phosphoro;  então  as  tirava  do 
banho  de  areia,  tapando-as  com  rolha  de  cortiça ,  e 
proseguia  sem  perda  de  tempo  a  preparar  outras 
novas. 

Estes  fuzis  são  em  tudo  iguaes  aos  preparados  pelos 
dois  methodos  anteriores,  e  produzem  os  mesmos 
eSeitos ,  só  eom  a  difierença  de  se  achar  neUes  o  phos^ 
phoro  mais  dividido  e  felsifícado  pela  magnesia ,  sem 
que  por  isso  soffra  a  menor  diminuição  a  sua  pro-*  ^ 
priedade  combustivel  \  só  em  quantidade  he  diminuto, 
e  por  isso  estes  fuzis  são -de  menos  dura ,  e  são  igual- 
mente sujeitos  ao  inconveniente  de  se  ozydar  e  aci- 
dificar o  phosphoro ,  attrahindo  o  oxjgeneo  do  ar  at-» 
mospherico ,  auxiliado  isto  pela  dupla  affinidade  que  o 
mesmo  phosphoro  tem  para  o  aztíte,  no  qual  se  divide 
•  se  dissolve ,   passando  pelo   estado  de  oxydo  e  de 


Correspcndencía;  4^ 

Cido  phosplioroso ,  o  qual  absorve  fortemente  a  hu- 
midade do  ar ,  em  razào  da  affiuidade  que  tem  para 
a  agua. 

Os  frasquiohos  ou  garrafínhas  de  phosphoro  prepa^ 
rados  pelo  primeiro  methodo  ,  isto  he  pela  fusào ,  ao 
mesmo  tempo  que  possuem  a  propriedade  de  accender 
com  mais  facilidade  as  mechas ,  tem  em  grão  supe- 
rior os  defeitos  acima  indicados,  em  razão  de- que 
pela  menor  força  de  aggregação  do  phosphoro  este 
tende  a  derreter-se  e  a  dissolver-se  no  azote ,  e  por 
conseguinte  a  oxydar-se  e  acidiíicar-se  promptamente* 
Daqui  vem  observar-se  nestes  fuzis  que  a  folha  de 
latão  j  que  em  alguns  delles  está  por  cima  da  rolha  da 
gaiTaíinha,  em  breve  se  cobre  de  huma  pellicula 
branca,  misturada  de  vermelho,  e  que  alem  disso 
ha  na  sua  superfície  huma  pequena  porção  de  agua 
impregnada  de  acido  phosphoroso. 

Os  fuzis  construídos  pelo  segundo  methodo  são  em 
parte  izentos  doestes  inconvenientes,  porque  tendo-se 
fundido  o  phosphoro  por  meio  da  pressão  da  agua 
quente,  conserva  mais  a  sua  cohesão,  e  o  ar  exerce 
neste  caso  com  difficuldade  a  sua  acção  sobre  elle , 
até  que  pouco  a  pouco  a  acção  do  azote ,  e  a  tem- 
peratura vencem  esta  cohesão  natural ,  e  então  o  gaz 
oxygeneo  se  precipita  rapidamente  a  combinar-se , 
destruindo  a  combustibilidade  do  phosphoro.  He  pois 
necessário  nestas  garrafínhas  valer-se,mais  frequente- 
mente do  j|ue  nas  que  são  preparadas  pelo  primeiro 
methodo  9  da  fricção  das  mechas  de  pao,  para  pro* 


^n  Correspondência. 

duzir  o  calor  e  luz ;  porém  em  compensação  doeste 
trabalho  tem  a  vantajem  de  durarem  mais,  porque 
o  pbosphoro  não  se  oxyda ,  nem  se  acidifica  nellas 
com  tanta  facilidade. 

* 

Pela  simples  consideração  dos  phenomenos  que 
acompanbão  esta  combustibilidade  ^  vem-se  no  conhe- 
cimento  que^  para  o  phophoro  ser  eminentemente  com- 
bustivel ,  não  be  possível  privá-lo  da  sua  propriedade 
mui  enérgica  de  se  oxydar  e  acidificar,  porque  não 
está  no  poder  da  cbjmica  mudar  á  vontade  as  pro* 
priedades  características  que  a  natureza  deo  a  cada 
corpo.  He  sim  possivel  fazê-lo  mais  combustivel ,  ou 
accelerar  mais  a  sua  combustão ,  combinandoto  com 
outros  corpos  tanto  ou  mais  combustíveis ,  como  por 
exemplo ,  com  os  gazes  bydrogeneo  e  chlorico ,  mas 
sempre  á  custa  da  repentina  oxydaçâo  e  acidificação 
de  bum  excesso  de  pbospboro :  os  gazes  inflammaveis 
que  resultassem  destas  combinações  ,  seria  preciso  re- 
colbê-los  e  conservá-los  encerrados  em  frascos  ou 
mangas  de  vidro  fora  do  contacto  do  ar  atmospbe- 
rico ;  processo  este  que  não  he  applicavel  ao  mecba- 
nismo  dos  fuzis  de  que  tratamos* 

Se  o  pbospboro  se  combinasse  com  corpos  simples , 
menos  combustíveis  que  elle ,  augmentaria  a  sua  co- 
hesào,e  isto  sería  bum  obstáculo  ao  desenvolvimento 
das  propriedades  que  possue  de  oxydar-se  e  de  acidi- 
ficar-se  pro  mp  ta  mente ,  como  succede  quando  está 
derretido  ,  mais  dividido  ou  dissolvido  nos  gazes.  O 
pbospboro  combina-se  bem  com  a  cal  secca,  porem 


CorresponJencioi  4^ 

requer  a  dpplicação  de  hum  fogo  rubro  y  dando  ori- 
gem a  bum  phosphureto  de  cal,  solido  , compacto  e 
de  côr  encarnada  escura ,  o  qual  não  se  inflamma 
pelo  contacto  do  ar  atmospberico ,  mas  que  decompõe 
a  agua  em  buma  temperatura  pouco  elevada,  for- 
mando hum  phosphate  de  cal  insolúvel ,  e  pix>duzindo 
hum  desenvolvimento  de  gaz  bydrogeneo  per-phosphu- 
retado,  que  se  inflamma  spontaneamente  pelo  con* 
tacto  do  ar  atmospberico.  Se  examinássemos  successi* 
vãmente  a  acção  do  pbosphoro  posto  em  contacto 
com  outros  corpos ,  tanto  simples  como  compostos, 
com  os  quaes  be  susceptível  de  se  combinar,  veríamos 
que  a  existência  e  a  composição  do  que  cbamão 
betume  in/lammai^el  feito  com  o  pbosphoro ,  não  be 
outra  cousa  mais  que  o  mesmo  phosphoiode  persi, 
ou  misturado  com  magnesia.  Não  duvido  que  se  possão 
fazer  betumes  ou  mixtos  inflammaveis  com  outras 
substancias,  considerando  como  taes  os  ammoniuretos 
metallicos  ,  os  azoiuretos  de  cblore ,  de  iode,  etc  que 
são  mais  geralmente  conhecidos  entre  os  cby micos 
pelo  nome  de  pós  fulminantes ;  mas  que  não  são  ap- 
plicaveis  ao  ramo  de  industria  de  que  tratamos. 

De  todas  as  combinações  do  pbosphoro  com  os 
corpos  simples,  nenhuma  be  mais  inflammavel  que  a 
sua  combinação  com  o  iode ,  pois  apenas  estas  duas 
substancias  se  põem  em  contacto  na  temperatura  or* 
dinaiia,  comhinão-se  rapidamente»  com  grande  des-» 
envolvimento  de  calor  e  luz,  formando  hum  pbo^*- 
phureto  de  iode ,  que  em  breve  acaba  por  se  fixar » 


44  Correspondência. 

cessando  de  ser  combusiivel ;  razão  porque  não  pode 
servir  para  a  composição  de  fuzis  neste  estado  de 
combinação.  Talvez  se  pudesse  tirar  bom  partido  da 
iode,  fazendo  delle  huma  massa  por  meio  da  agua 
de  gomma ,  para  com  ella  preparar  a  ponta  das  me- 
chas de  pao  destinadas  a  serem  introduzidas  dentix> 
das  garraíinhas  de  phosphoro ;  porém  esta  substancia 
he  ainda  menos  commum  que  o  enxofre  e  o  pbos* 
phorp,  e  pelo  seu  alto  preço,  de  mais  de  8o  fr.  a 
libi*a  ,  não  he  applicavel  ás  artes ,  pois  ao  presente  s6 
se  tem  achado  e  em  pequena  quantidade  na  soda 
extrahida  do  sargaço  (  Fucus  ou  Varec ) ,  planta  molle 
e  ligeira  que  se  cria  e  vegeta  no  mar.  (^) 

Fuzis  de  Gaz  Hjdrogeneo. 

Nestes  fuzis  o  gaz  hydrogeneo  se  accende  por  meio 
da  faisca  eléctrica ,  a  qual  instantaneamente  com  mu- 
nica  a  sua  chamma  a  huma  velinha  de  cera  que  está 
diante  do  conductor  eléctrico ,  e  que  se  accende  com 
a  mesma  promptidào.  IVão  he  novo  o  invento  doestes 
fuzis ,  pois  que  a  alampada  de  gaz  hydrogeneo  de 
Volta  não  he  outra  cousa  mais  que  hum  fuzil  desta 
espécie  Consta  de  duas  grandes  mangas  de  ciystal, 
que  servem  de  reservatório  ao  gaz  hydrogeneo ;  o  qual 
se  prepara  em  outro  apparelho  separado  :  alem  disso 

{*)  Esta  substancia  tem  sido  recentemente  extrahida  de 
muitas  outras  plantas  cryptogaraicas  marinhas  ,  e  das  esponjas. 
Yeja-se  »  nosso  Tomo  VIII, Parte  a»,  pag.  iSp. 

F.  S.  C, 


Correspondência.  ^S 

tem  três  registos  de  segurança  e  hum  pequeno  elec- 
trophoro.  Os  aperfeiçoamentos  que  se  tem  feito  neste 
fuzil ,  devidos  á  sagacidade  de  M.  6ay-Lnssac ,  o  tor- 
não  inteiramente  difièrente  do  de  Volta  e  mui  supe- 
rior a  elle,  e  admiro-me  que  ainda  se  não  ache 
descrípto  em  obra  alguma  moderna  de  physica.  He 
digno  de  consideração  o  mechanismo  simples  ideado 
por  este  sábio  para  fazer  com  que  o  gaz  hydrogeneo 
se  introduza  quasi  no  mesmo  instante  em  que  se 
queima  huma  porção  delle :  basta  huma  só  volta  de 
hum  registo  para  conseguir  o  eflíeito  de  accender 
instantaneamente  a  velinha,  e  quantas  vezes  se  queira. 

M.  Pixii(  sobrinho  e  successor  de  M.  Dumotiez, 
engenheiro ,  e  fabricante  de  instrumentos  da  Acade- 
mia Real  das  Sciencias)  chama  a  este  instrumento 
Fiizil  eléctrico  àe  gcLZ  f^ydrogeneo  j  aperfeiçoado ;  e  com 
eQeito  he  impossivel  imaginar  appai^lho  mais  simples. 
Consta  de  huma  peanha  ,  de  3  decimetros  quadrados 
de  superfície  e  de  5  centimelros  de  altura ,  que  forma 
huma  espécie  de  caixa ,  em  cujo  vão  se  acha  encer* 
rado  o  pequeno  eiectrophoro  que  produz  pela  parte 
exterior  a  faisca  eléctrica  :  em  cima  do  plano  da 
peanha,  está  fixada  huma  garrafa  achatada,  de  i8  cen- 
tímetros de  alto ,  e  de  IO  centimeti*os  de  diâmetro  ^  a 
qual  serve  de  deposito  para  o  gaz  que  se  vai  for- 
mando por  meio  de  hum  cylindro ,  como  adiante  se 
explicará  :  pelo  gargalo  desta  garrafa  se  introduz  e 
ajusta  huma  espécie  de  funil  ou  vaso  cónico  de  i4 
centimetios  de  alto,  cuja  parte  mais  estreita  chega 


♦5  Correspondência. 

quasi  até  ao  fundo  da  garrafa  inferior ,  c  serve  de  de- 
posito para  a  agaa  acidulada  com  o  acido  sulphurico : 
a  presdão  do  gaz  que  se  íorma  a  mantém  em  equilí- 
brio na  parte  superior ;  porem  á  medida  que  este  se 
consome ,  a  agua  acidulada  vai  baixando  e  dá  lugar 
áreproducçào  de  novo  gaz :  o  cjlindro  de  zincp  furado 
pelo  seu  axe  move-se  por  hum  arame  grosso  de  cobre, 
e  está  disposto  de  tal  modo  que  sempre  toca  na  agua 
acidulada,  de  modo  que  nunca  ha  perigo  de  que  falte 
o  corpo  combustível,  isto  he  o  hjdrogeneo.  O  único 
TCgisto  ou   chaveta  doeste   fuzil  está  coUocado  quasi 
na  secção  da  garrafa  achatada  inferior  com  o  funil 
superior ,  e  por  meio  de  hum  tubo  horizontal  estreito 
dá  sabida  ao   gaz,    cuja  corrente  vem  a  passar  em 
frente  do  pavio   da  velinha    que  se   deve    accender : 
neste  espaço  intermediário  se  produz  a  faisca  eléctrica 
por  meio  de  duas  pontas  metallicas ;  á  chave  está  fi- 
xada huma  pequena  alavanca  que  serve  para  mover 
o  electrophoro  por  meio  de  hum  iio  de  seda  y  com  o 
que  se  consegue    que  toque  no  conductor,  sendo  a 
i&flammaçào  do  gaz  hydrogeneo  e  a  da  velinha  quasi 
instantânea ;  isto  nasce  de  que  todo  este  mechanisma 
depende  da  acção  de  hum  só  e  único  motor. 

Estes  engenhosos  fuzis  se  fabricão  e  vendem  no 
gabinete  de  Physica  do  referido  M.  Pixii »  pelo  subido 
preço  de  8o  fr.  os  mais  simples  ;  e  outros ,  de  formas 
mui  elegantes,  com  ornatos  de  cobre  dourado,  com 
o  pé  de  pao  magno,  custão  desde  i5o  até  soo  francos; 
poiim  estes  fuzis  não  são  poitateis  como  os  outros 
*  de  que  temos  fallado  acima ,  e  só  podem  servir  para 


Correspondência»  4? 

adorno  de  huma  sala  ou  camará ,  como  áe  pratica 
com  as  pêndulas  de  mesa.  He  evidente  que  nenhum 
dos  apparelhos  que  se  tem  recentemente  imaginado 
para  produzir  o  gaz  hydrogeneo ,  nem  os  que  sâò  con^ 
struidos  para  a  illuminaçào  com  este  gaz,  podem 
comparar-se  ao  referido  instrumento  ;  pois  todos  eUes 
necessitão  do  auxilio  de  huma  luz  externa  para  pôr 
em  combustão  o  ditto  gaz ,  veriíicando-se  o  contrario 
no  íuzil  que  acabamos  de  descrever. 

GOífCLUSAO. 

Estas  cinco  espécies  de  fuzis  são  as  que  se  confae^ 
cem   no  commercio  debaixo   do  nome  genérico   de 
Fuzis  physicos  ou  artijíciaes  ,  sem  fallar  dos  ordiná- 
rios ,  compostos  de  fuzil  de  aço ,  de  pederneira  e  isca, 
conhecidos  desde  a  mais  remota  antiguidade.  Os  fuzis 
artifíciaes  são  engenhosos  e  úteis  para  huma  .casa  de 
familia  ,   porque  a   qualquer   hora  que  se   precise  se 
accende  luz  com  pouca  despeza.  Se  alguém  perguntar 
quaes  delles  são  preferiveis ,  responderei  que  isso  de- 
pende das   circumstancias   e  do  gosto  particular  de 
cada  comprador;  mas  geralmente  fallando  « parece-me 
que  os  mais  económicos  são  os  das  mechas  oxjgena* 
das  y  porque ,  alem  de  serem  bastante  certos  nos  seus 
efleitos ,   são  também  os  que   se  vendem  por  preço 
mais  com  modo.  Com    huma   onça    de  chlorate    de 
potassa   ha  com   que  preparar   muitos    milheiros  de 
mechas  ;  e  ainda  comprando-as  separadamente ,  não 
custào  mais  de  3  ou  4  soldos  o  cento.  Por  esta  razão 
he  que  esta  espécie  de  fuzis  he  a  mais  vulgar  no 


48  Correspondência* 

commercio ,  fazendo-*5e  grandes  remessas  deites » tànt# 
para  a  America  como  para  toda  a  Europa*  Em  Itália 
8âo  quasi  os  únicos  conhecidos*  Nos  laboratórios  de 
pbysica  e  de  cbymica  de  Parts ,  e  em  algumas  casas 
particulares  preferem-^se  a  todos  os  mais  fuzis,  os 
pbospboricos ,  por  serem  mais  vistosos ,  de  maior  du** 
ração,  e  por  carecerem  menos  cuidado  para  a  sua 
conservação  :  nelles  não  ba  o  inconveniente  de  perder 
o  acido  sulpburico  a  sua  força ,  como  acontece  ai*" 
gumas  vezes  aos  frasquinbos  dos  fuzis  de  mechas 
oxygenadas;mas  como  os  pbospboricos  são  mais  caros^ 
tem  poucos  compradoi^s. 

Finalmente ,  os  fuzis  de  gaz  hydrogeneo  devem 
antes  considerar-se  como  moveis  preciosos ,  porque  não 
são  portáteis  como  os  outros,  e  posto  que  mui  vis- 
tosos tem  demasiado  volume :  o  primeiro  ,  inventado 
por  Volta,  tem  perto  de  i  metro  de  altura,  e  o  me- 
lhorado por  M.  Gay-Lussac  não  tem  menos  de  5  de- 
cimetros :  também  tem  o  defeito  de  que  algumas  vezes, 
quando  o  tempo  está  mui  húmido,  o  electrophoro 
não  se  carrega ,  ou  não  se  accumula  nelle  suíSciente 
quantidade  de  fluido  eléctrico  para  inflammar  o  gaz 
hydrogeneo  que  sabe  pelo  tubo  borisontal;  e  neste 
caso  he  indispensável  esfregara  bandeja  resinosa^ com 
a  pelle  de  gato ,  operação  que  nem  todos  entendem 
bem,  a  pezar  da  sua  facilidade. 

Paris  20  de  Fevereiro  de  1820. 

C.  GoirzAuz. 


Correspondência.  49 


RESUMO 


DAS  OBSERVAÇÕES  METEOROLÓGICAS  FEITAS  EX  LuBOA. 


^^^^^«»^^^^%^^^%< 


Já  no  Tomo  VI ,  pag.  87  e  seguintes  da  2».  Parte  , 
fitemos  menção  das  excellentes  Observações  meteo* 
rologicas,  feitas  pelo  Sn^  Marino  Miguel  Franzini^  e 
impressas  nas  Memorias  da  Academia  Real  das  Scien* 
cias  de  Lisboa  *,  agora ,  com  gratide  satisfação ,  con- 
sagramos nos  nossos  Â.nnaes  a  continuação  daquelle 
trabalho  y  a  qual  o  seu  benemérito  autor  nos  remetteo, 
e  para  utilidade  da  Nação  ^  interesse  da  sciencia,  e 
honra  da  nossa  Obra  ^  permittio  que  publicássemos; 

No  presente  volume  oQerecemos  pois  as  Observa- 
ções relativas  aos  3  mezesdo  inverno  de  iSao,  e 
successlvamente  iremos  dando,  por  trimestres^  as 
seguintes ,  á  proporção  que  as  formos  recebendo  d'a- 
quelle  nosso  distincto  Correspondente» 

A  miudeza  com  que  este  trabalho  he  feito  prova 
bem  o  louvável  esmero  do  observador ,  e  a  sua  apti- 
dão e  reconhecido  talento  affiança  a  exacçào  dos  re- 
sultados que  obteve. 

Os  Redactoresv 
Tom.  IX.  P.  a**  J^  B 


5o  Correspondência. 

N.  B. 

As  observações  são  feitas  em  Cisboa ,  no  alto  de  S. 
Pedro  de  Alcântara »  elevado  78  metros  sobre  o  nivel 
do  Tejo,  na  Latit.  de  38<'.  43* 

As  alturas  do  barómetro  denotão  poUegadas  inglezas, 
e  vão  reduzidas  á  temperatura  de  63^  do  thermom. 
de  Fahrenheit. 

O  hygrometro  he  de  barba  de  baleia ,  marcando 
100^  a  humidade  máxima. 

O  thermometro  he  observado  ás  7  ^  da  manhan  ,2^ 
da  tarde  a  11  ^  da  noite. 

O  barómetro  ás'  9  ^  da  manhan ,  3  ^  da  tarde  e  1 1^ 
da  noite. 

O  hygrometro  ás  8^  da  manhan,  3 ''da  tarde  e  ii^ 
da  noite. 

O  Médio  he  deduzido  da  somma  de  todas  as  observa- 
ções. 

Os  algarismos ,  postos  sobre  as  iniciaes  dos  ventos , 
denotão : 

1  Vento  fresco. 

2  Vento  forte. 

3  Vento  muito  forte. 

4  Tempestade. 

Atm.  signi&cá  Atmosphera. 
Temp,  Temperatura. 

B.  Bonança. 

V.  Variável. 


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Numero  de      /de  chuva  .     .......  6 

díí^s  \     id.  de  aguaceiros      ....  4 

de  chuva  e  névoas 3 

de  névoa  8 

Dias  de  frio  notável de4a8yea*itf 

Temp.  med.  das  manhans  dos  sobredittos  dias.    .     44^ 


Oscillaçao  diur-jDescidal  da  manhan    • 
na  dò  barom.    \  Ascensão  da  noite  .     • 

(Temp.  med.  ás  7  ^  m. 
lá.  dò  therm.  \     id.  a      t. 

\     id.  II       n. 

ÍHumid.  med.  ás  8  ^  m. 
id.  3     t. 

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0,037  pol. 
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Cada  palmo  quadrado  de  superficie  recebeo  4»oi  canadas 
de  agua  da  chuva. 


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54  Correspondência» 

N 4  1 

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dias  em  que    <c 

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Ó.        \     \    '.    .    \     \    .     \       i^ 
^  N.O a 

Bonanças  e. 1^ 

Variáveis j 

S.-E.3  4 a3e4 

N.-E,3 de    9a  II 

Dias  em  que      1     E.^ a  i3 

ventou  rl)o  do]  S.-O.^ de  17  a  19 

S.-O,^ a  25 

N.» a  29 

claros 5 

id,  altern.  com  nuvens .    .     ,  8 

nublados » 

Nuineiro  de       j     id,  com  alguma  chuva.     .     .  9 

dias  )  de  chuva 3 

id,  de  aguaceiros    ....  2 

de  chuva  e  névoas 4 

de  névoa .     ^     • i 

Diaa  de  frio  intenso de  10  a  14 

T^mp.  med.  das  manhans  dos  sobredittos  dias   .     30*^,6 

Dias  de  frio  notável      ,     ^     ^ a  9^15  e  16 

Temp.  med.  das  manhans      •,•••..     4^^^ 

Oscillaçao  do  j  Descida   da    manhan  .     .     .     0,011  pol. 
baronii.  ^Ascensão  da  noite    .,    .     .,  .     0,021 

!Temp.  wed.  ás  7  **  m.  .  .  47%  9 

id,  2     t*  .  .  55^0 

idn^  II      n*  .  .  49  9 4 

ÍHumid.^ied.  ás  8  ^  m.  •  .  •    76 

id.  3       t.  .  .  •     71 

id,  II       n.  •  •  •     75 

Cada  palmo  quadrada  de  superficie  recebeo  2,85  canadas 
de  agua  da  chuva. 

N.  B,  Nas  noutes  de  10 ,  11  e  12  hoave  gelo  mui  consis- 
tente ,  com  grande  perjui^o  da  frc^cta  dos  pomares. 


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Altuia  da  chuva 
em  m.llim. 

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3 

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Correspondência,! 


Numero  de 
dias  em  qoe 
ventou  4o 


N. 
N.-E. 

• 

E. 
S.-E. 

& 
S.-0, 

O. 
N.-O. 


Bonanças  e 
Variáveis 


Dias  em  que 
vento^  rijo  do^ 


S.-0.«    •    , 

S.-E.a  S.-O.» 

N.-E.=»  N.* 


Numera  de 
dias 


claros  •     .     . 

id.  altem.  com  nuvens<^ 
nublados . 

i'd,  com  algun^a  chuva, 
de  chuva. 

id.  de  9gu^ceiros  e  clarões. 


s     t 


•     ^ 


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iQ  a  2f 
30  a  a5 

II 
6 

4 

9 

4 


Dias  de  frio  notável de  i4  a  i^^de  aot  a  29 

Temp.  med.  das  manhans  dos  sobredittos  dias       4^^ 

Oscillaçao  do  (Descid^  da  manhan    •     ^     ,     o^o5<ft  po.l^ 
barom.  ^^ Ascensão  da  noite  •    •     .    .    o,oa3 

ITemp.  med,  ás  7  ^  n^.  ,    .     47* »í 

id.  2     t,  ,     .     58  ,4 

id.  M     o-  «     ^     49  >o 

ÍBunpid^  mod.  ás  8  ^  m.  «     ,     ,    69 

id.  3      ^.  ...     64 

id.  II      n.  •     «     ,     69 

Cada  palmo  quadrado  de  superficie  recebeo  8,37  canadas 
de  agua  da  chuva. 


■Ml 


NOTICIAS 

DAS  SaENCIAS,  DAS  ARTES,  etc. 


«»<%»^<%'%^»v%%^»^%i^ 


AGRICULTURA. 

Prémios 

Propostos  pela  Sociedade  Real  e  Central  de  AgricuUura 
de  Paris  ,  na  Sessão  publica  de  gde  Abril  de  i82o« 

Para  serem  distribmdús  em  i8ai. 

i^.  Para  hum  Tratado  completto  da  cultura  das 
hòitas  de  regadio  —  3ooo  fr. 

Para  descripções  parciaes  de  diversos  ramos  desta 
cultura  —  Medalha  de  ouro. 

1^.  Para  ensaios  comparativos  da  cultura  das  plantas 
mais  próprias  para  dar  forragens  temporans.  —  i^.  Pre- 
mio looo  fr.  — a®.  Premio  Soo  fr. 

3<>.  Para  a  introducção ,  em  hum  paiz  de  França ,  de 
esti^umese  sjstema  de  lotação  de  terras,  que  nelle  ainda 
não  estiverem  introduzidos.  —  Medalhas  de  ouro  e  de 
prata. 

4^.  Para  experiências  comparativas ,  feitas  em  grande, 
sobre  difierentes  géneros  de  cultura ,  do  estrume  térreo 
(  urate  calcário )  extrahido  das  matérias  liquidas  ezcre- 
mentaes.  — Medalhas  de  ouro  e  de  prata. 


5ft         *  ffólittàs  ias  SciencTãs, ^" 

50.  Para  traducções  complettas,ou  extractos  de  Obras 
011  Memorias,  relativas  á  eçonomifi  rm^al  ou  domestica, 
escriptas  em  linguas  estrangeiras ,  e  que  olTerecerem 
observações,  ou  praêticas  novas  e  nteis.  —  Medalhas 
de  ouro  e  de  prata. 

6®.  Para  observações  practicas  de  medecina  veteri- 
nária. — Medalhas  de  ouro  e  de  pt^la.  . 

•7<>.  Para  a  cultura  da  papoila,  a  fim  de  extrahir  o 
óleo  da  semente  delia,  em  hum  districto,  onde  esta 
cultura  nào  for  ainda  praticada.  —  Medalhas  de  ouro. 

Estas  medalhas ,  pela  importância  do  objecto ,  con- 
tinuarão a  distribnir-se  por  espaço  de  quatro  annos ;  e 
no  ultimo ,  a  Sociedade  dará  hum  premio  de  aeoo  fr- 
ao  concurrente,  que  tiver  obtido  neste  género  maior 
quantidade  de  productos,  e  de  Iooofi^»ao  que  mais 
tiver  recolhido  depois  daquelle. 

8^.  Para  a  fabricação  da  agua  ardente  de  batatas. 
Medalhas  de  ouro  e  de  prata. 

9^*.  Para  as  melhores  Memorias  sobre  a  cegueira  dos 
cavallos ;  sobre  as  causas  de  que  esta  pode  resultar,  nas 
diversas  locaUdades;  sobre  os  meios  de  as  prevenir^  e 
de  as  remediar. —  icioofr. ,  e  Medalhas  de  ouro  e  de 
prata,  conforme  a  importância  das  Memorias. 

lo^.  Para  a  cultura ,  nos  pousios,  dasr  raiaes  e  plantas 
próprias  para  ipelhorar  as  terras,  naqueUes  distrietos, 
em  que  esta  practica  não  está  em  uso.  —  Medalhas  de 
ouro  e  de  prata.  Pequenos  prémios  de  100  fr.  e  5o  fr. 


das  Artes  j  et».  Sg 

Para  serem  distribuídos  em  182a. 

I  lO.  Para  a  practica  das  regas.  —  i«.  Premio  3ooo  fr. 
2".  Premio  i5oo  fr. 

1^.  Accessit.  A  grande  medalha  de  ouro  da  Sociedade* 
2,^.  Id.    Â  medalha  com  a  effigie  à^OUvier  de  Serres. 

12°.  Para  machinas  hydraulicaSy  próprias  para  os  usos 
da  agricultura  e  artes  económicas. -*  Soco  ir. 

i3o.  Para  a  indicação  de  hum  meio  efficaz  de  des- 
truir a  cuscuta.  —  600  fr. 

14^.  Para  a  fabricação  da  farinha  de  batatas ,  por 
meios  económicos.  —  Medalhas  de  ouro  e  de  prata. 

iS^,  Para  sustentar  e  engordar  os  animaes  com  ba-» 
tatás y  ou  no  estado  natural,  ou  preparadas  diversa-^ 
mente ;  nos  distiúctos  em  que  esta  practica  não  está 
ainda  em  uso.  —  Medalhas  de  ouro  e  de  prata. 

Para  serem  dislrihiddos  em,  i8a3. 

i6<>.  Para  a  construcção  e  estabelecimento  de  ma- 
chinas, para  tirar  a  semente  do  ti*evo,  e  limpá-la« 
i<>.  Premio  laoo  fr.  —  a®.  Premio  600  fr. 

170.  Para  a  cultura  e  determinação  relativa  dos  pro- 
dttctos  de  seis  variedades  de  batatas ,  ao  menos  y  com- 
parativamente d  grossa  branca  commum»  —  Medalhas 
de  ouro  e  de  prata. 

i8<>.  Para  a  melhor  Memoria ,  fundada  sobre  olwer- 
vâções  •  experiências »  a  fim  de  determinar  se  a  en- 


66  Noticias  das  Sciencias  j 

fermidade  dos  animaes  cornigeros  e  lanígeros  ,  conhe- 
cida pelo  nome  de  crapaudj  he  ou  nào  contagiosa. 
—  1 000  fr. 

Alem  disto  y  Medalhas  de  ouro  e  de  prata  para  as 
melhores  Memorias  y  que  tratarem  em  geral,  de  qúaes* 
quer  outras  enfermidades,  que  afiectào  os  pés  daquelles 
animaes. 

Para  ser  distribuido  cm  i8'jt5. 

igo.  Para  o  estabelecimento  de  viveiros  de  olivei-^ 
ras.  —  X®.  Premio  3ooo  fr.  —  a<*.  ft^mio  aooo  fr. 

Vara  ser  distribuído  em  i8a6. 

noo.  Para  a  cultura  da  maceira  e  da  pereira  pró- 
pria para  fazer  cidra ,  nos  districtos  em  que  ainda  não 
estiver  estabelecida.  ^-  Medalhas  de  ouro  e  de  prata. 

INDUSTRIA. 

Que  estabelece  ,  no  Conservatório  das  Artes  e  Officios  , 
o  ensino  publico  e  gratuito  da  appUcação  das  Scieri^ 
cias  cb  Artes  de  industria. 

Luís  ,  pela  graça  de  Deos ,  Rei  de  França  e  de  Na- 
varra , 
A  todos  que  as  presentes  virem^  saúde. 

O  Conservatório  das  Aites  e  Officios  tem  feito,  desde 
a  sua  instituição ,  importantes  serviços  \  mas  para  con- 


ã4i5  Artes  etc*  6t 

seguir  complettamente  o  fim  da  sua  fundação ,  tem-» 
lhe  faltado  até  aqui  huma  eschola « em  que  se  ensinasse 
a  fundo  a  applicaçào  dos  conhecimentos  scientificog 
ao  commercio  e  á industria;      , 

Querendo  prover  a  esta  falta ,  satisfazer  o  desejo  de 
todos  os  homens  doutos  ^e  contribuir  quanto  posso, 
para  os  meios  de  augmentar  a  industria  nacional; 

Precedendo  informação  do  nosso  Ministro  do  Interior, 

Ordenámos ,  e  ordenamos  o  que  se  segue : 

Ârt.  i^.  Será  estabelecido  no  Conservatório  das  Artes 
e  Officios  hum  ensino  publico  e  gratuito  para  a  ap- 
plicaçào das  Sciencias  ás  Artes  industriosas. 

a.  Este  ensino  será  composto  de  três  Cursos,  a  saber: 
Hum  Curso  de  mechanica  applicada  ás  Ârteá. 
Hum  Curso  de  chymicay  idem. 
Hum  Curso  de  economia  industriosa. 

3.  A  pequena  Eschola  de  geometiia  descriptiva  e  de 
desenho ,  estabelecida  no  Conservatório ,  continuará 
a  ser  annexa  a  elle. 

4.  Os  Conselhos  de  melhoramento  e  de  administra* 
çào  do  Estabelecimento  serão  conservados  com  a  or- 
ganisaçào  indicada  nos  artigos  seguintes. 

5.  O  Conselho  de  melhoramento  será  composto  de 
dezasete  membros ,  a  saber: 

O  Par  de  França ,  Inspector  geral  do  Conservatório  « 
e  das  Escholas  de  Artes  e  OíBcios ; 
O  AdminisU*ador  do  Conservatório ; 


6a  Noticias  das  Sciencias  , 

Os  ties  Professores  dos  Cursos ,  fundados  pelo  art.  a  ; 
Seis  Membros  da  Academia  das  Sciencias ; 
Seis  Fabricantes,  Negociantes  oa  Agricultores.   , 

6.  O  Inspector  geral ,  o  Administrador  e  os  Profes* 
sores  f  nomeados  por  Nós,  sobre  proposição  do  nosso 
Ministro  do  Interior ,  serão  Membros  permanentes 
do  Conselho  de  melhoramento. 

Os  outros  Membros ,  nomeados  pelo  Ministro  ,  com 
approvaçào  nossa ,  serão  renovados  todos  os  três  annos^ 
por  terças  partes  ;  os  membros  sahirão  por  sorte ;  mas 
poderão  ser  reeleitos. 

7.  As  renovações,  quanto  aos  Académicos,  far-se- 
hão  em  virtude  da  apresentação  da  Academia  das 
Sciencias,  e  quanto  aos  fabricantes,  negociantes  6 
agricultores ,  em  virtude  da  apresentação  do  Conse- 
lho de  melhoramento. 

Pela  primeira  vez ,  as  escolhas  serão  feitas  imme- 
diatamente  pelo  Ministro ,  que  as  submetterá  á  nossa 
confirmação. 

8.  O  Conselho  de  melhoramento  se  ajuntará,  ao 
menos ,  huma  vez  cada  ti*es  mezes.  Determinará  todos 
os  programnias  de  ensino ;  fixará  a  epocha  e  a  duração 
dos  Cursos  •,  tomará  conta  dos  progressos  dos  discipu- 
los  ;  da  administração  interior  e  das  despezas ;  discu- 
tirá a  utilidade  das  viajens ,  que  entender  que  os  pro- 
fessores podem  fazer;  os  projectos  de  melhoramento  , 
e  accrescimos  successivos  do  deposito  das  machinas  e 
modelos  -,  pedirá  as  sommas  necessárias  para  as  des- 


das  jirtes  etc.  63 

pezas  annuaes,e  sobre  tudo  dirigirá  a  sua  Conta  ao 
Ministro,  que  tomará  as  decisões  convenientes. 

9.  O  Conselho  de  administração  seva  composto  de 
cinco  Membros ,  a  saber  : 

O  Par  de  França ,  Inspector  geral ,  Presidente. 

O  Administrador. 

Os  três  Professores  de  mecbanica^chymlca  e  economia. 

10.  Este  Conselho  ajuntar-se-ba ,  ao  menos ,  todos  os 
quinze  dias ;  regulará  a  execução  da  applicaçào  dos 
fundos  do  Estabelecimento ;  decidirá  de  tudo  quanto 
for  relativo  á  policia  interior,  e  convidará  a  attençào 
do  Conselho  de  melhoramento ,  sobre  tudo  quanto 
julgar  útil  ao   Conservatório. 

11.  Nenhuma  mudança,  nem  accrescentamento , se 
fará  no  Edifício  do  Conservatório ,  senão  em  virtude 
de  proposta ,  feita  pelo  Conselho  de  administração  , 
transmittida  pelo  Conselho  de  melhoramento  ao  nosso 
Ministro  do  Interior,  e  approvada  por  elle. 

O  architecto  ,  que  for  encarregado  da  execução  dos 
trabalhos  ,  autorisados  pelo  Ministro ,  receberá  directa- 
mente as  ordens  do  Conselho  de  administração. 

13.  O  Administrador  ( que  até  hoje  tinha  tido  o  titulo 
de  Director )  será  encarregado  de  tomar  todas  as  me- 
didas próprias  para  assegurar  o  eíFeito  das  ordens  do 
Ministro ,  ou  das  determinações  do  Conselho  de  ad- 
iiiinisti*açào. 

Fará  as  funcções  de  Thesoureiro  do  Estabelecimento, 
e  servirá  de  Secretario  em  ambos  os  Conselhos. 


64  Noticias  das  Sciertcias 

i3.  As  funcções  de  Membro  dos  Conselhos  de  me^ 
Ihorameoto  e  de  administração  são  gratuitas. 

14.  Os  ordenados  do  Administrador ,  dos  Professores» 
dos  Empregados » e  da  gente  do  serviço  do  Conserva*^ 
tório  y  serão  regulados  pelo  nosso  Ministro  do  Interior. 

i5.  Os  Professores  da  Eschola  de  applica^o  serão* 
quanto  possivel  for,  alojados  no  Estabelecimento. 

Quando  forem  mandados  viajar  pelo  Ministro»  a 
pedimento  do  Conselho  de  melhoramento ,  conforme 
se  disse  no  art.  8^. ,  terão  du*eito  a  huma  indemnidade , 
que  o  Ministro  estabelecerá ,  para  despeza  da  sua  víar 
jem. 

16.  A  nomeação  dos  Professores  ^ da  Eschola  segun- 
daria e  dos  empregados  ,  será  feita  pelo  Ministro ,  em 
virtude  de  prQposição  feita  pelo  Conselho  de  melho* 
ramento. 

A  nomeação  do  Porteiro ,  dos  Guardas,  trabalha^ 
dores  e  outros  homens  de  serviço ,  será  feita  pelo  Con^ 
sclho  de  administração;  de  que  se  dará  conta  ao 
Ministro. 

17.  Quando  os  Professores  das  Escholas  do  Conser- 
vatório chegarem  a  65  annos  de  idade ,  serão  aposen<- 
tados ,  e  receberão  metade  do  seu  ordenado.  Prover-se- 
ha  logo  o  seu  lugar ,  porém  conservarão  o  direito  de 
assistir  aos  Conselhos,  e  de  tomar  parte  nas  delibe- 
rações. 

18.  Serão  creados  no   Conservatório  das  Artes  e 


fZa5  Anès  etú.  65 

Officios  doze  lugares  de  pensionarios ,  de  mil  francos 
cada  hum.  Serão  destinados  para  rapazes  pobres,  mas 
que  tiverem  dado  provas  de  grandes  disposições  para 
as  artes  de  industria.  Estes  discipulos  serão  nomeados 
pelo  nosso  Ministro  do  Interior ,  em  consequência  de 
proposta  do  Conselho  de  melhoramento  ,  e  depois  de 
hum  exame  dos  três  Professores  da  Eschola  de  appU- 
cação.  Cada  discipulo  poderá  conservar,  por  espaço 
de  três  annos,  o  lugar  que  lhe  tiver  sido  concedido;  mas 
todos  os  annos  deverá  passar  por  hum  novo  exame  > 
que  provará  se  elle  he  >  oa  não  >  digno  da  continuação 
desta  graça. 

O  nosso  Ministro  fará  conheòer  ào  Conselho  a  e^po^ 
cha  em  que  pode  principiar  a  escolha  para  estes 
lugares^ 

19.  Todos  0$  atinos  se  destinará  huMa  soiàma)  dos 
fundos  do  Ministério  do  Interior ,  para  as  dèspezas  dia<>> 
liaâ  e  extraordinárias  do  Conservatório  daà  Artes  è 
Officios^ 

10.  Todas  as  disposições  contrarias  ás  presentes  ficão 
sendo  de  nenhum  effetto. 

21.0  nosso  Ministro  Secretario  d^Estadó  do  Interíót 
he  encarregado  da  execução  da  presente  Ordenança  , 
que  será  publicada  no  BuUetim  das  Leis. 

Dada  em  Paris  ^  no  Palácio  das  Tuileríás  f  aos  aS 
de  Novembro  de  i8ig. 

tom.  IX.  P.  aa.  5  B 


I 


66  Noticias  das  Sciencias  ^ 

Allemaichá. 

M.  Precht  j  executou  em  grande  hum  apparelho  para 
alumiar  y  por  meio  do  gaz  hydrogeneo  o  edifício  do 
instituto  pofyteúhnico  ,  em  Vienna. 

M.  SchqfeaU ,  de  Gratz ,  consegnio  fabricar  pregos 
de  ferro ,  sem  empregar  fogo ,  em  período  algum  da 
manipulação»  desde  o  ferro  em  barra »  até  ao  mais 
pequeno  prego.  Todas  as  operações  se  fazem  por  meio 
4e  machinas.  Vinte  d*estas  macbinas  fabrícao  annual* 
mente  20  milhões  de  pregos  da  melhor  qualidade. 

Dois  artistas,  MM.  Dreysse  e  KrondiegeljSoimátRo 
em  Sontmerda,  pequena  cidade  da  Thuringe,  hum 
Estabelecimento ,  no  qual  fabricão  a  frio  ,  com  brevi* 
dade  e  exacçâo ,  lemes  e  fechos  de  janella ,  aloiofaças , 
e  parafusos  tão  perfeitos ,  como  os  melhores  que  for- 
ijiece  a  Inglaterra ,  pregos  de  todas  as  dimensões ,  etc. 

Os  sapatos  corioclaves ,  ( em  quê  o  couro  está  unido 
com  a  sola  por  meio  de  pontas  de  ferro )  se  fabricão 
já  hoje  em  alguns  paizes  de  AUemanha,  especial- 
mente na  Baviera  e  na  Thuringe. 

A  imprensa  de  Rial  ^  para  preparar  os  extractos  de 
fructosyou  plantas y  a  imprensa  hjdro-mecbanica  de 
Bramalt^e  a  de  WiUiam  para  comprimir  os  pannog  e 
toda  a  casta  de  fazendas,  para  extrahir  o  azeite  e  reduzir 
a  polme  a  cevada,  etc.  achão-se  introduzidas ,  com 
muitos  melhoramentos  essenciaes ,  na  fabrica  de  M. 


das  Artes  etc.  67 

Nathmius ,  em  NewHaldensleben ^  onde,  já  se  tem 
feito  uso  de  algumas ,  até  para  arrancar  arvores. 

O  machinista  Hoffmartyàe  Lei;^sic,  inventou  huma 
imprensa,  na  qual ,  a  pressão  e  filtração  não  são  pro- 
duzidas ,  como  na  de  Real ,  pela  acção  de  huma  co- 
lumna  de  agua,  mas  pelo  ar,  que  se  condensa ,  por 
meio  de  huma  bomba  de  compressão*    ^ 

^  Deve-se  ao  X^oxsXov  Romershausen ,  eva  Aken,  sobre 
o  Elba,  a  invenção  de  huma  imprensa,  ainda  mais 
engenhosa.  O  eSeito  d*esta  machina  he  huma  conse- 
quência da  pressão  considerável ,  que  a  atmosphera 
exercita  sobre  as  paredes  de  hum  vaso  vazio  de  ar. 
Hum  recipiente,  que  pode  auhmetter^se  á  acção  da 
bomba  pneumática ,  he  provido  de  hum  diaphragma  » 
sobre  o  qual  ha  hum  filtro ,  e  debaixo  doeste ,  hum 
vaso  próprio  para  receber  o  liquido,  que  se  lança  sobre 
o  filtro.  Logo  que  se  expelle  o  ar  ,  a  pressão  da  atmos- 
phera força  o  liquido  a  ati^avessar  o  filtro  ,  e  contribue 
para  a  extracção  completta  das  partes  solúveis. 

Os  novos  apparelhos  para  fabricar  a  Cfrve|a,   do 
inglez  Nordham,  estão  em  grande  aso  em  Aliemanha^ 
.    por  causa  da  sua  simf^icidade,  da  economia  que  pro- 
duzem ,  assim  de  tempo,  como  de  obreiros  e  de  com** 
bustivel ,  e  da  boa  cerveja  que  fazem. 

Os  apparelhos  de  vaporisaçào  e  destiUação  dos  es** 
piritos  ardentes ,  ha  pouco  tempo  para  cá  ^  tem  sida 
aperfeiçoados  em  AUemanha.  Obtem-^se  já  hoje  alli  ^ 
em  pouco  tempo ,  e  com  pouco  combustível ,  por  meio 


5% 


jo  Noticias  das  Sciencias , 

lacca  semelhante ,  com  o  nome  de  veimelho  de  Ofenr 

heimer. 

Tem-se  feito  ,  nestes  ultimos  tempos ,  muitos  ensaios 
para  conservar  huma  temperatura  uniforme  nos  gran- 
des Estabelecimentos  de  forjas ,  nas  fabricas  de  cer- 
veja, e  nas  de  destillaçào,.  etc. ,  retendo  o  calor, 
por  meio  de  substancias ,  que  o  deixão  passar  com 
difficiddade.  A. argamassa  inventada  para  este  fim,  pelo 
architecto  Kerslen ,  de  Wisbaden ,  tem  a  propriedade 
de  concentrar  nots  fogões ,  e  particularmente  nos  fo<* 
gões  económicos ,  quahi  todo  o  calor,  de  modo,  que 
este  nào  he  distrahido,  senão  para  ser  empregado 
nos  objectos  que  se  querem  aquecer.  A  Sociedade 
polytechnica  de  Munich ,  tendo  analysado  aquella  ar* 
gamassa ,  achou*a  realmente  útil ;  he  composta  de 
luarne  argiloso ,  de  areia  e  de  occa  ferruginosa.- 

Também  deve  considerar-se  no  numero  dos  desco- 
brimentos interessantes  o  de  M.  Osiander  ^  de  Got- 
tingue  ,o  qual  consiste  em  empregar  o  carvão  de  lenha, 
para  preservar  da  oxydação  o  ferro ,  o  aço  e  alguns 
outros  metaes  ,  assim  como  aquelle .  mesmo  carvão 
preserva  da  putrefacçào  as  matérias  animaes* 

O  Director  geral  dos  viveres  em  Berlim  ,  M.  de  Voss, 
acaba  de  propor,  para  a  subsistência  do  exercito  cm 
campanha,  hum  pó  resultante  da  pulverisação  dos 
legumes  farínhosos  e  das  carnes  seccas.  Cada  soldado 
poderia  levar  comsigo  huma  certa  porção  doeste  pó, 
o  qual ,  lançado  em  agua  a  ferver ,  dará  huma  nu- 
trição substancial. 


das  Artes  j  étc.  ^  7< 

MM.  Koenig  e  Bauer,  os  dois  inventores  do  appa-* 
relho  typographico  que ,  em  muitas  imprensas  de  Lonr 
dres  j  substitue,  já  t^a  tempos ,  as  anti|;as  prensas ,  vol- 
tarão á  sua  pátria, e  acabão  de  formar  hum  Estabele^ 
cimento  considerável  nos  arrredores  de  Wurtzburgo^ 

No  Deposito  real  das  machinas^no  arrabalde  de  Santa 
Ânna  em  Munich  ,  se  acha  actualmente  depositada 
hum  grande  modelo  de  huma  estrada  de  ferro,  in- 
ventada e  construída  por  M.  de  Baader.  Sobre  hum 
espaço  perfeitamente  horizontal  doesta  estrada  ,  hiima 
mulher,  ou  hum  rapaz,  pode  puxar  com  facilidade* 
hum  carro ,  carregado  com  mais  de  i6  quintaes ;  sobre' 
outra  porção  da  mesma,  á  qual  se  dá  huma  inclinação 
quasi  insensível  de  6|  poU.  sobre  loo  pés  de  compri- 
mento, aquelles  carros  carregados  correm  por  si  mes- 
mos ,  sem  impulso  algum  çxteiior.  Está  provado  que 
o  eQeito  do  mechanismo  destas  estradas  de  ferro  ex- 
cede f  o  eíTeito  das  melhores  estradas  inglezas ,  e  que 
aquellas  custào  metade. Nellas, hum  só  cavallo  pode 
fazer  mais  serviço,  que  aa  cavallos  da  mesma  força, 
sobre  o  melhor  caminho  calçado  ordinário. 

O  Doutor.  Foerster ,  professor  na  Eschola  d'artilheria 
e  d'Engenharia  em  Berlim,  he  o  primeiro  que  fez  ap- 
plicaçào  da  arte  lithographica  para  imprimir  livros. 
Este  professor  escreveo  em  pedra ,  pela  sua  proprta 
mão ,  a  sua  nova  obra  intitulada :  Introducçâo  d  Gep^ 
desia.  Esta  experiência  teve  luim  perfeito  resultado , 
e  acha-se  que  a  lithographia  tem  grandes  vantagens 
sobre  a  typographia,  para  as  obras  de  mathematica , 


1%  Notieim  das  Sciencias, 

nas  quaes  he  mais  agradável  achar  a  figura  desenhada 
ao  lado  do  texto ,  do  que  procurá-la ,  em  huma  es^' 
tampa  particular»  no  fim  do  livro. 

M,  Frederic  BemAard f  de  Charlottemburg ,  inventou 
huma  machina  mui  simples » para  espalhar  uniforme- 
mente pela  terra  o  estrume  ,  sem  ser  preciso  lançá-lo 
em  montes  mais  ou  menos  volumosos ,  para  depois  o 
dividir  com  regularidade  sobre  o  terreno. 

M*  Lazarus ,  de  Vienna ,  compoz  hum  estrume  ar- 
tificial»  que  tem  muitas  vantajeiís;  tem-se  provado 
por  experiências  y  que  Calibras  d' este  estrume  produ- 
zem tanto  efieito  nas  terras  de  pão  e  nas  hortas ,  como 
4^^  libras  do  estrume  ordinário. 

MM.  F'alentin  Kis,  parocho  em  Hungria ,  e  de 
Pethe^  de  Bade,  inventarão  charruas  simples  e  ligei- 
ras; M.  Knetterjde  Ingelfingen ,  inventou  outra  chaiTua, 
destinada  para  lavrar  terrenos  «montuosos ,  e  que  pode 
ser  conduzida  por  braços  de  homens ;  M •  Sclimidt , 
proprietário  no  Mecklemburgo ,  inventou  huma  ma- 
china própria  para  lavrar  e  gradar  a  terra ,  sem  ne- 
cessidade de  homens ,  e  que  tem  »  por  motores»  moi- 
nhos de  vento* 

MM.  Tuscard^  de  Praga,  e  Ugazor^  Inspector  de 
pontes  e  estradas  em  Áustria ,  propozerâo  semeadores  9 
a  que  attribuem  grandes  vantajens;  as'  experiências 
que  delles  se  fizerão  furão  bem  succedidas. 

Deve-se  a  M.  Schreiner^  machinista  de  Liylwigs- 


das  Artes  ,  etc.  73 

burgo ,  hum  moinho  de  mào  ,  de  construcção  simples 
e  engenhosa ;  e  a  M.  Binzer ,  moleiro  em  Urlao ,  hum 
rolo  9  para  estorroar  a  terra  nos  campos^,  a  M.  Lob  ^ 
huma  machina  para  tirar  a  neve,  que  08  cavaljlos  levâo 
diante  de  signas  estradas;  a  M.  Eberbach,de  Stutt- 
gard  f  hum  novo  corta-palha ;  a  M.  Birk  y  pontes  sus* 
pendidas  por  cadeias;  a  M.  Steinkopfy  rendeiro  em 
Galbe  ,  junto  a  Magdeburgo ,  hum  processo  para  evitar 
a  ferrugem  do  trigo; a  M.  5^/ymarceneiro  em Lorrach, 
hum  mechaoismo  y  destinado  para  fazer  mover ,  sem 
soccoiTO  de  cavallos ,  de  vapor  ^  ou  de  vento  y  carretas 
carregadas  com  grandes  pesos ,  charruas  y  mós  de 
moinhos  y  e  baixos. 

M.  Lobersorgery  relojoeiro  na  Mora  via  ,  obteve  hum 
privilegio  exclusivo  do  Imperador  de  Áustria  y  para  o 
seu  invento  de  hum  mechanistno  y  destinado  a  fazer 
subir  os  barcos  y  contra  a  corrente  dos  rios  y  o  qual , 
experimentado  no  Danúbio  ,  deo  perfeitos  resultados. 
Este  meohanismo »  que  he  puramente  movido  pela 
acção  da  agua ,  he  menos  dispendioso ,  do  que  a  ma- 
china  de  vapor ,  e  pode  applicar-se  a  toda  a  casta  de 
embarcação.  Tem  bastante  analogia  com  ^s  jangadas 
mergulhadoras  de  Thilorier  y  mas  parece  mais  corapU- 
cado. 

M.  Szabo  y  de  Vienna  y  inventou  huma  bomba  para 
incêndios  y  com  huma  ^ó  válvula  y  preferível  ás  bom- 
bas ordinaríaSy  é  que  produz  hum  lanço  de  agua 
continuado ;  esta  bomba  he  toda  de  cobre ,  e  pouco 
sujeita  a  necessidade  de  concer  os.- 


74  Noticias  das  Scienciais , 

M.  Neuffere  Wrede^  fabricantes  de  fitas  deVienna', 
inventarão  hum  regulador ,  por  meio  do  qual ,  os 
teares  mechanicos,  movidos  pela  agua,  fazem  passar 
a  lançadeira,  com  huma  força  constantemente  igual. 

M.  SchejrteVy  relojoeiro  daquella  capital,  inveptou 
hum  novo  instrumento  de  musica ,  o  qual  conserva 
constantemente  a  sua  harmonia ,  qualquer  que  seja  a 
temperatura  a  que  se  ache  exposto. 

M.  GUetsman ,  boticário  em  Altenburg^,  achou  meio 
de  purificar  o  acido'  muriatico,  e  de  o  privar  inteira- 
ramente  do  ferro  que  contém;  o  seu  processo  con- 
siste em  ajuntar,  a  8  onças  do  acido,  i6  gottas  de  mu- 

riat^  de  zinco ,  e  destillar  depois  o  mixto  em  huma 
retorta, 

Sabe-se  que  o  alcatrão  he  hum  dos  productos  ac- 
cessorios  do  gaz  hydrogeneo  ,  extrahido  do  carvão  de 
pedra.  Destillando-se  este  alcatrão  a  fogo  lento,  obtem- 
se  hum  liquido ,  sobre  o  qual  vem  ao  de  cima  hum 
óleo  cor  de  âmbar,  o  qual,  sendo  novamente  destil- 
lado,  dá  hum  óleo  de  côr  amarella  desbotada,  cujo 
peso  especifico  he  de  0,770.  Este  óleo ,  que  tem  hun^ 
cheiro  mui  penetrante  e  styptico,  e  que  se  volatilisa 
promptamente ,  tem  a  propriedade  de  dissolver  a 
gommá  elástica.  Talvez  que  se  possa  empregar  com 
vantajem  na  preparação  dos  vernizes. 

•  ^  * 

Âchou'se  que  os  sinos  rachados-,  soldando-se  com 
prata ,  tornào  a  ter  o  seu  -som  natur-al* 


das  Artes  etc*  7$ 

A  Sociedade  Promotora  da  iodasiiia  na  cidade  de 
ITuremberg » publicou,  ha  pouco, bum  relatório  á  cerca 
da  Exposição  dos  objectos  fabricados  naquella  cicfade. 
Sobre  tudo^  fes^se  recommeodavel,  n^  ditta  E^posição^ 
a  execução  perfeita  dos  instrumentos  de  matbematica , 
de  physica ,  de  óptica »  dé  cirurgia  e  de  musica ,  e 
a  belleza  das  pinturas  em  porcelana,  em  bandejiasde 
cobre ,  em  caixas  de  massa  de  papel ,  e  em  obras  de 
veludo ,  assim  como  emí  toda  a  casta  de  bordados ; 
porém ,  fixou-se  especialmente  a  attenção  aas  bellas 
cartas  geographicas,publicadas  pelos  herdeiros  dé  Ho^ 
mann.  P'ez-se,  alem  disso,  notável ,  na  mesma  Exposi* 
ção ,  huma  spbera  armilar  de  cobre ,  de  grande  dimen- 
são ,  huma  balança  hydrostatica  muito  engenhosa ,  e 
huma  macbina  de  nova  invenção ,  para  explicar  o 
movimento  da  Terra  e  dos  outros  Planetas  á  roda  do 
Sol. 

•  « 

O  Professor  Goerg,  de  Leipsic,  fez  experiências 
mui  bem  succedidas  ,  sobre  o  vinagre  de  lenha  ( acido 
pyro-lignoso ) ,  cuja  propriedade  de  se  oppor  á  pu- 
ti*efacçào  animal  se  acha  provada  pelo  modo  mais 
decisivo.  Muitos  restos  de  operações  anatómicas ,  que 
o  ditto  professor  poz  ém  contacto  conl  aquelle  acido 
na  eschola  de  partos  de  Leipsic  ,  escaparão  da  putre- 
facção ,  que  começava  a  manifestar*se  nelles.  Pedaços 
de  carne  quasi  podres ,  depois  ^e  te^em  sido  untados 
çom  o  óleo  empy reumático ,  produzido  pela  destiUaçào 
da  lenha  em  secco,  a  pezar  de  hum  calor  excessivo , 
tomarão- se  tão  seccos,  como  se  tivessem  estado,  poc 


y* 


Notícias  das  Sàemáai, 

muito  tempo,  expostos  ao  fíimo.  Yio-se com  sdmirai- 
cão  desapparecerem  de  repente  os  restipos  da  patre- 
facção ,  apenas  o  pincel,  molhado  no  óleo  e  no  vinagre 
de  lenha ,  tocava  a  carne.  O  professor  Goeiíg  empregou 
igualmente  este  meio  sobre  alguns  animaes»  para  os 
reduzir  ao  estado  de  múmias ,  e  tem  toda  a  bem  fun- 
dada esperança  de  que  o  resultado  será  fdiz.  AqueUe 
professor  pensa  que  este  descobrimento  fará  impor- 
tantes serviços  á  anatomia ,  á  economia  domestica  e 
á  medecina.  Párece-lhe  este  meio  próprio  para  ser 
empregado,  interior  e  exteriormente,  em  difierentes  en- 
fermidades, e  promette  publicar,  mais  tardemos  resul- 
tudos  ulteriores  das  suas  experiências  (  Veja-se  o 
Tom.  VI  dos  Annaes,  Parte  i*.  pag  43. ) 

M.  Birrembach^  pintor  em  Colónia,  tendo  buscado 
por  muito  tempo  inutilmente  o  segredo  da  antiga 
pintura  sobre  vidro ,  conseguio  finalmente  o  seu  desejo. 
A  Academia  Real  das  Bellas  Artes  de  Berlim  exami- 
nou com  o  maior  escrúpulo  algumas  producções  de 
M.  Birrenbach,  e  declarou  ,  que  o  processo  doeste  ar- 
tista tinha  huma  reconhecida  superioridade  sobre  todas 
as  experiências  anteriores  neste  género. 

Rússia. 

A  espécie  de  camada  oleosa,  que  se  forma  pela 
repetida  cocção,  na  superficie  interior  dos  vasos  de 
terra,  e  que  he  substituida  ao  vidrado  ordinário  da 
louça  de  fogo  ,  já  não  dá  lugar  ás  inquietações ,  que 
resulta  vão  dos  vernizes  compostos  de  chumbo.  Este 


das  Artes,  etc.  77 

novo  descobrimento  deve.-se  a  M.  Kirchhoff^  de  Peters- 
burgo.  Os  vasos  assim  vidrados ,  servem ,  não  só  para 
cozer  os  alimentos  9  mas  também  para  conservar  toda 
a  espécie  de  guisados ,  acid<)s ,  salgados  ou  gordos. 


C.  X, 


^8      '  Noticias  ãa4  Sciendas , 


RESUMO 

Dos  mais  notáveis  descobrimentos  e  principaes  trabalhos 
nas  Sciendas  ,  no  anno  de  1819- 


MATHEMATICA. 


Álgebra  e  Calculo. 

M.  Poisson  leo  na  Academia  das  Sciencias  de  Pails» 
oa  sessão  de  19  de  Julho  de  iSig^huma  Memoria  interes- 
sante sobre  a  integração  de  algumas  equações  lineares  a 
differenças  parciacs ,  e  particularmente  da  equação 
geral  do  movimejito  dos  fluidos  elásticos*  O  objecto  de 
M.  Poisson  naquella  Memoria  he  procurar  integrar 
isoladamente  as  equações  ás  mais  importantes  diffe- 
renças parciaesy  pela  nature/a  das  questões  de  me~ 
chanica  e  de  physica  ,  que  a  ellas  conduzem. 

A  equação  de  que  especialmente  se  occupou ,  foi  a 
de  que  dependem  os  pequenos  movimentos  dos  fluidos 
elásticos ,  quando  se  suppõe  constante  a  densidade 
natural  do  fluido ,  e  a  sua  temperatura.  Bem  se  sabe 
que ,  conservando  a  esta  equação  toda  a  generalidade 
que  lhe  he  própria ,  ainda  não  se  tinha  obtido  a  sua 
integral  completta  ^  e  os  ensaios  que  se  havião  tentado 


das  Artes  ,  etc.  70 

para  a  descobrir ,  conduzirão  a  resultados  tão  com- 
plicados, que  .seria  impossivel  fazer  uso  delia. 

Comtudo » a  iutegral ,  que  M.  Poisson  obtém  naquella 
M emroria ,  he  de  huma  forma  mui  simples :  depende 
sómeute  das  integraes  definitas  dobres ;  e  as  duas  func- 
çôes  arbitrarias  determinào-se  im  mediatamente  con- 
forme o  estado  inicial  do  fluido ;  o  que  será  de  grande 
vantajem  nas  applicaçóes.  Por  meio  delia  se  poderão 
resolver ,  relativamente  aos  fluidos  elásticos ,  proble- 
mas »  que  ainda  até  agora  não  podiào  ter  sido  resol* 
vidos  9  ou  cujas  soluções  se  tinhão  obtido  somente 
para  casos  particulares. 

Na  mesma  Memoria  se  occupa  também  M.  Poisson* 
successivamente  das  equações  da  distribidçào  do  calor 
nos  corpos  sólidos ,  das  superfícies  elásticas  vibrantes , 
e  da  equaçào  de  segunda  ordem  a  duas  variai^eis  inr 
dependentes ,  e  a  coefficientes  constantes. 

Os  mesmos  processos  de  integração  sé  podem  ap- 
plicar  a  hum  grande  numero  de  outras  equações 
lineares ,  igualmente  a  coefficientes  constantes.  Acaba  a 
Memoria  por  algumas  observações  sobre  a  forma  das 
integraes  d* este  género  de  equações  a  diílerenças  par- 
ciaes. 

• 

Muitas  tentativas  se  tem  feito  para  obter  a  solução 
das  equações  literaes  de  hum  grão  superior  ao  quarto. 
Todas  estas  tentativas  forão  inúteis ,  e  M.  Ruffini 
demonstrou  ultimamente  i  que  era  impossível  achar  ^ 
para  a  solução  da  equação  geral  de  hum  grão  supe* 


8o  Noticias  das  Sciencíai, 

rior  ao  quarto,  formulas  análogas  ás  que  se  desço*" 
brirào  para  os  quatro  primeiros  grãos.  Por  tanto ,  não 
resta  esperança  alguma  de  exprimir  as  raizes  de  huma 
equação  de  hum  grão  qualquer ,  por  meio  de  func^ 
ções  irracionaes  dos  coefficientes  do  seu  primeiro 
membro. 

Gomtudo ,  antes  de  renunciar  para  sempre  á  possi-^ 
bilidade  de  representar  estas  raizes  debaixo  d  3  huma 
forma  finita,  convinha  examinar,  se  por  ventura  não 
se  poderião  reduzir  a  integraes  definitas,  que  por  tantos 
meios  se  podem  reduzir  a  números.  Este  exame  iet 
o  objecto  de  huma  importante  Memoria  que  M.  Cauchy 
leo  no  Instituto  de  Franca,  na  sessão  de  a^  de  No- 
vembro passado ,  sobre  a  resolução  anafytica  das  égua* 
çôes  de  todos  os  graos^  por  meio  de  integraes  definitas* 

M  Parseyal  já  em  1804  tinha  tentado  resolver  esta 
questão ,  seguindo,  por  meio  de  hum  artificio  muito 
engenhoso,  a  serie  dada  por  Lagrange  ,  para  a  solução 
de  huma  equação  algébrica ,  ou  transcendente. 

Os  cálculos  de  M:  Parseval ,  sendo  fundados  sobre 
a  consideração  de  series ,  cuja  convergência  nem  sem- 
pre he  certa ,  os  resultados ,  que  este  geometra  obteve, 
não  podem  considerar-se  como  estabelecidos  geral- 
mente de  hum  modo  rigoroso.  Por  isso,  o  autor,  tendo 
procurado  verificá-los  à  posteriori ,  no  caso  em  que 
a  equação  proposta  tem  todas  as  suas  raizes  reaes, 
reconheceo  que,  nesta  mesma  hjpothese,  a  integral 
que  elle  substitue  á  serie  de  Lagrange ,  não  repre<> 


das  Aries  etc.  St 

i^nta  huma  das  raiz^s,  senào  debaixo  de  certas  con- 
dições, f  / 

O  methodo  de  M.  Cauchy,  fundado  imme^atamente 
sobre  a  propriedade  de  buma  dasse  de  integraes  defr* 
nitas ,  conduz  facilmente  á  solução  do  problema  ,  em 
todos  os  casos  possíveis.  Eis-aqui  os  principaes  resul- 
tados : 

lo.  Quando  buma  equação  tem  todas  as  suas  raízes 
reaes ,  cada  buma  delias  piodeser  exprimida  por  buma 
integral  definita.  Esta  integral  contém  duas  constantes 
arbitrarias^  entre  as  quaes  se  suppõe  comprebendida  a 
única  raiz  de  que  se  trata.  Estas  duas  constantes  podem, 
variar,  como  se  quizer,  sem  que  a  integral  mude  por  isso 
dé  valor.  Se  as  duas  constantes  se  afastào  buma  da 
outra,  de  modo  que  entre  ellas  se  comprebendáo  duas^ 
três  ou  quatro  raizes,  a  integral  definita  exprimirá  a 
somma  doestas  duas,  três  ou  quatro  raizes. 

n^.  Quando  buma  equação  contém  ao  mesmo  tempo 
raizes  reaes  e  raizes  imaginarias »  ainda  se  pode  repre- 
sentar cada  rait  tedl  por  buma  integral  definita,  a 
qual  comprebenda  duas  constantes  arbitrarias;  com 
tanto  que ,  entre  estas  duas  constantes ,  sé  supponha 
comprebendida  a  parte  real  da  raiz ,  que  se  considera» 
Esta  observação  hasta  para  mostrar,  em  theoria ,  que 
toda  a  raiz  de  buma  equação  pode  ser  exprioiida  por 
buma  integral.  Todavia,  como,  no  caso  em  que  se  que* 
rem  obter  os  valores  numéricos  das  raizes ,  a  determi* 
nação  das  duas  constantes  pode  precisar  de  cálculos 
Tom.  IX.  P.  a**  6  B 


das  Artes  etc.  83 

se  possa  immediatamente  prolongar  esta  seríe,qiianto  se 
quieer.  Tal  será  o  resultado ,  por  exemplo ,  se  se  conside- 
rar huma  das  equações  de  três  termos»  que  nào  se  sabe 
resolver  no  caso  em  que  todas  as  raízes  s&o  imagina* 
rias. 

Os  trabalhos  de  M.  Legendre^  sobre  o  calculo  integral, 
de  que  temos  dado  conta ,  em  outros  volumes,  e  ulti-> 
mamente  no  Tomo  VI,  part.  3*.,  pag.  4^,  Continuio 
sem  interupção.  A  3*.  parte  dos  seus  Exercidas  aclia^M 
Completta.  Nella  vem  a  Toboa  IX  debaixo  de  buma 
forma  mais  simples,  e  calculada  pata  todos  os  graoa 
do  angulo  do  modulo,  desde  O  ^o  ate  O^go^.  Por  eate 
meio ,  sendo  dada  a  amplitude  f ,  e  o  angulo  do  mo-* 
dulo  9  de  toda  a  funcçào  R  ou  P,  pode^se  ter  imroedia* 
ta  mente  hum  valor  approximativo  doesta  funcçào,  com- 
parando-a  com  as  íuncçdes  dadas  pela  Taboa ,  e  que 
mais  se  approximào  nos  elementos  f  e  d.  Huma  interpo* 
laçào  fácil  conduzirá  promptamente  a  hum  valor  mais 
exacto. 

Esta  Taboa  servirá  para  facilitara  appiicaçáo  da  theo* 
ria  das  funcções  ellipticas,  objecto  principal,  que  o 
autor  se  propoz  nesta  obra.  O  paragrapho  segundo  ter* 
mina  com  a  seguinte  reflexão ,  que  interessa  os  astro* 
nomos. 

«  Seria  tanto  mais  útil  aperfeiçoar  estes  dietkodos , 
fazendo  as  series  mais  convergentes ,  quanto  he  certo 
que  a  reducção  em  Taboas  he  o  único  recurso  que  resta 
para  avaliar  as  funcções ,  determinadas  por  equafdes 

6* 


fti  Noticias  das  Sciencias^ 

longos,  nesse  'caso>  he  preferível  empregar  o  meio  se- 
guinte : 

Procm*dr-se*ha  ptimeiro  liuina  constante  única ,  infe- 
rior ao  mais  pequeno  coeíEciente  positivo  de  y~i ,  nas 
raizes  imaginarias.  Feito  isto,  fica  íacil  substituir,  á 
equação  prapo$ta,outras  duas  equações,  que  tenbào  por 
raizes  respectivas ,  a  primeira ,  as  raizes  reaes  da  equa- 
ção proposta ,  e  a  segunda ,  as  raizes  imaginarias  ,  nas 
quaes  o  coeficiente  de  ?~for  positivo.  Os  coeficientes 
doestas  duas  equações  serão  integraes  definitas  que  com- 
prehenderào  a  constante  ,  que  acima  dissemos.  Até  se 
deve  observar  rpie ,  se  todas  as  raizes  são  imaginarias ,  a 
constante  de  que  se  trata  poderá  suppôr-se  nulia* 

Para  fixar  as  ideias ,  considere-se  huma  equação  do 
CP'  ou  ò^.  grão ,  cujas  raizes  sejào  todas  imaginai^ias  : 
pelo  que  acaba  de  dizer-se,  poder -se-hão  reduzir  im* 
mediatamente  estas  equações  a  outras  duas  do  3<>.  ou 
40.  grão ,  ainda  sem  procurar  preliminarmente  a  con- 
stante. 

Em  todas  as  integraes  empregadas  neste  metfaodo,  a 
funcção  afiectada  do  signal  ^  he  huma  funcção  racional 
da  variável,  que  nunca  se  torna  infinita»  e  na  qual  o 
grão  do  denominador  he  superior  ao  do  numerador ,  ao 
menos  duas  unidades.  Daqui  resulta  que ;  cada  huma 
doestas  integraes  tem  hum  valor  finito  e  determinado, 
que  se  pode  reduzir  a  números.  Muitas  vezes  até  será 
fácil  transformá-lo  em  huma  serie  mui  convaiigente , 
cujos  termos  sigão  huma  lei  conhecida  :  de  modo  qae 


das  Artes  etc.  83 

86  possa  immediatamente  prolongar  esta  serie,qiianto  se 
quíeer.  Tal  será  o  resultado ,  por  exemplo ,  se  se  conside- 
rar huma  das  equações  de  três  termos,  que  não  se  sabe 
i^esolver  no  caso  em  que  todas  as  raízes  sáo  imagina-* 
rias. 

Os  trabalhos  de  M^Legerulre,  sobre  o  calculo  integral, 
de  que  temos  dado  conta ,  em  outros  Volumes,  e  ulti-> 
mamente  no  Tomo  VI,  part.  i**,  pag.  4^»  Continuâo 
sem  interupçâo.  A  3*.  pafte  dos  seus  Exercidos  achasse 
Completta.  Nella  vem  a  Tòboa  IX  debaixo  de  buída 
forma  mais  simples,  e  calculada  pata  todos  os  grãos 
do  angulo  dd  modulo,  desde  •  =s»o  ate  ©^90®.  Por  este 
meio ,  sendo  dada  a  amplitude  f ,  e  o  angulo  do  mo- 
dulo 6  de  toda  a  funcção  E  ou  F,  pode-^se  ter  immedia-* 
tamente  hum  valor  approximativo  doesta  funcjiâo,  com-* 
parando-a  com  as  funcções  dadas  pela  Taboa ,  e  que 
mais  se  approximào  nos  elementos  7  e  ^.  Huma  interpo' 
laçào  fácil  conduzirá  promptamente  a  hum  valor  mais 
exacto. 

Esta  Taboa  servirá  para  facilitara  applicaçào  da  theo* 
ria  das  funcções  ellipticas,  objecto  principal,  que  o 
autor  se  propoz  nesta  obra.  O  paragrapho  segundo  ter-* 
mina  com  a  seguinte  reflexão ,.  que  interessa  os  astro*- 
nomos. 

«  Seria  tanto  mais  útil  aperfeiçoai*'  estes  iftelhodos , 
fazenda  as  series  mais  convergentes,  quanto  he  certo 
que  a  reducção  em  Taboas  he  o  único  recurso  que  resta 
para  avaliar  as  funcções ,  determinadas  por  equações 

6* 


64  Noticias  das  Sciencias  ^ 

differenciaeSy  que  não  se  podem  integrar  exactamente  V 
e  talvez  não  ha  outro  meio  de  resolver  as  grandes  diífi-^ 
culdades,  que  apresenta  a  theoria  das  perturbações 
dos  nanetas,  quando  o  desenvolvimento  em  serie  nào 
pode  ter  lugar,  ou  quando  oíierece  hum  mui  grande 
numero  de  terúios,  que  não  se  podem  desprezar. 

Mechanica. 

M.  Navier  ,  engenheiro  de  pontes  e  estradas ,  e  antiga 
discipulo  da  Eschola  polytechnica,  publicou  o  primeiro 
volume  da  Ârchitectura  de  Belidor,  de  que  se  pro- 
põe fazer  huma  nova  edição.  Nesta ,  a  obra  do  antiga 
mestre  se  acha  impressa  sem  alteração  alguma  \  porém, 
M.  Navier  enríqueceo-a  com  mui  numerosas  e  extensas 
notas  y  nas  quaes  faz  observações  criticas^extremamente 
importantes ,  sobre  os  defeitos  e  erros  do  texto ,  e  addi-* 
ções  feitas  a  este.  Entre  eUas  acha-se  huma  demons- 
tração elementar  do  principio  das  velocidades  virtuaes^ 
diversos  methodos  practicos  para  determinar ,  por  ap- 
pfoximação,  as  áreas ,  os  volumes  e  os  centros  de  gravi- 
dade ;  huma  theoria  do  choque ,  tendo  respeito  á  com- 
pressão, que  existe  no  momento  do  encontro  dos  dois 
corpos* 

No  capitulo  das /nc(rõe5,  M.  Navier  rectifica  hum<i 

falsa  theoria ,  que   se  acha  no  texto ,  e   expóe^  outra 

heoria  nova  da  fricção  dos  engranzamentos ,  fundada 

sobra  a' forma  que  convém  dar  aos  dentes ,  e  que  se  lhes 

dá  eSectivamente  nas  machinas  bem  coBstruidas. 

No  capitulo  3^.,  que  contém  os  principies  de  hydraa- 


das  Artes  etc.  8!» 

Uca,  trata  o  editor  do  choque  dos  fluidos ,  e  doeqnili- 
brio  dos  corpos  fluctuantes :  mostra  que  as  regras  de 
Parent  e  de  Borda  não  são  contradictorías ,  como  se 
tinha  pensado ;  que  as  de  Parent  cònvem  a  huma  roda» 
que  se  move  em  huma  corrente  de  largura  indefinita,  e 
as  de  Borda  á  que  está  encerrada  em  hum  espaço  es- 
treito. Quanto  ao  corpo  contido  em  huma  massa  fluida, 
de  extensão  indefinita ,  julga  M.  Na  vier  que  se  podem 
estabelecer  dois  princípios  geraes;  que,  para  hum 
mesmo  corpo ,  a  resistência  he  proporcional  ao  qua- 
drado da  velocidade ,  e  para  corpos  semelhantes »  ao 
cubo  da  sua  dimensão  homologa ;  e  indica  as  modifica* 
çôes  que  devem  ter  estes  principio^ ,  conforme  as  cir* 
cumstancias. 

Âlem  disto,  M.  Navier  ajuntou illnstrapões  e  preceitos 
importantes  aos  capitulos  sobre  os  moinhos  para  trigo » 
para  serrar  madeira, para  a  pólvora ,  e  á  cerca  dos  que, 
em  Inglaterra ,  se  empregào  para  bater  o  grão. 

Este  illustre  editor  ofiereceo  hum  exemplar  da  sua 
edição  ao  Instituto  de  França ,  que  segundo  o  estylo,  em 
obras  clássicas ,  nomeou  huma  Commissão  para  in  ^ 
formar  a  Sociedade  do  grão  de  merecimento  do  traba- 
lho de  M.  Navier ,  e  esta  Commissão  concluio  a  Conta 
que  deo  da  obra  do  modo  seguinte : 

.  «  M.  Navier ,  publicando  o  primeiro  volume  da  Âr- 
chitectnra  de  Belídor ,  he  muito  superior  ao  commum 
dos  editores,  e  ainda  de  quasi  todos  os  commentadores. 
A  composição  das  suas  Notas  equivale  á  de  huma  obra 


86  Noticias  das  Sciencias , 

considerável ;  e  o  merecimento  d^ellas  dá-lhe  direitos  aq 
reconhecimento  publico ,  e  particularmente  ao  dos  eu* 
genheiros. » 

Bx^raulica^ 

A  Suécia  qão  pode  exportar  as  producções  do  seu 
território ,  senão  pelo  estreito  de  Sonda  i  e  no  tempo 
das  guerras,  tão.  frequentes  entre  dois  povos  viunhos, 
os  corsários  dinamarquezes,  protegidos  pelas  batteriaa 
de  Cconenburgo ,  inquietarão  sempre ,  e  ás  vexes  até 
interromperão  momentaneamente » o  commercio  mari^^ 
timo  da  Suécia, 

Gustavo  Vasa,  pelo  meio  do  XVI  século,  fundou  sobre 
o  Mar  do  norte  a  cidade  de  Gothemburgo,  da  qual,  su~ 
bindo  a  ribeira  de  Gotba,  que  desemboca  junto  á  ditta 
cidade ,  se  pode  penetrar  no  interior  do  paiz ,  e  ir  car» 
l^ar  as  madeiras  e  os  metaes  aos  mesmos  sitios  que  os 
produzem ,  e  donde  se  expprtão  para  toda  a  Europa. 

Estas  considerações  persusfdtrão  o  Governo  a  fazer 
abrir  hum  cana}  navegável^  <iue  fizesse  a  juncção  do 
Baltico,com  o  Mar  do  norte.A  obra  doeste  cana}  acha-se» 
desde  i8io,em  execução,  debaixo  da  direcção  do 
Conde  de  Platen ;  nós  temos  oçcasião  de  dar  ao  leitor 
huma  ideia  dVsta  empreza,  porque  o  seu  director  fez 
apresentar,  por  M.  Berzelius,  ao  Instituto  de  França,  na 
sua  sessão  de  a5  de  Janeiro,  a  carta  daquelle  canal ^ 
çom  huma  Memoria  explicativa. 

Para  estabelecer  a  communicação  do  Báltico  com  o 


das  Artes  etc  87 

Mar  do  norte ,  redazei|i-se  as  dilficuldades  :  a  passar  a 
cadeia  de  montanhas  de  (pranito,  que  separa  o  lago  de 
Wener  e  o  lago  Weter,  a  cortar  o  plaieau  situado  entre 
o  lago  de  Rozen  e  a  lagoa  d* Asplangen ,  e  â  àegim*,  no 
resto  do  espaço » ou  a  ribeira  de  Gotha ,  para  descer  ao 
Oceano^  ou  a  de  Motala  para  descer  ao  Baltido.  A  pri* 
meíra ,  mui  perto  da  sua  origem ,  he  atravessada  por 
massas  de  granito,  que  produzem  huma  espécie  de  ca* 
taracta ,  que  era  necessário  rasgar.  Depois  de  difièrentes 
traballios,emprehendidos  e  inteirompidos,  em  diversas 
epochaSytomou-se  o  partido  de  abrir  hum  canal  lateral, 
sobre  a  esquerda  da  ribeira  de  Gotha ,  e  dirigir  a  queda 
da  agua,por  meio  de  7  comportas,de  g*" ,  67  de  largura  > 
e  de  60"^  de  comprimento. 

A  carta  communicada  ao  Instituto  de  França ,  só  se 
extende  do  lago  Wener  até  ao  Báltico ,  ecomprehende , 
d*este  modo ,  somente  o  segundo  ramo  do  canal  >  que  se 
deve  abrir  entre  estes  dois  mares. 

O  ponto  de  divisão  das  aguas ,  que  foi  excavado  na 
cadeia  de  granito  ^  de  que  acima  falíamos ,  he  superior 
ao  nivel  do  Báltico  go" ,  65 ,  o  que  vem  a  ser  pouco  mé* 
mos  de  metade  da  elevação  da  Bacia  cie  Naurouse , 
ponto  de  divisão  das  aguas^do  celebre  canal  de  Langue- 
doc ;  por  quanto,  este  ponto  tem  sobre  o  nivel  do  Me- 
diterrâneo 189"  de  superioridade. 

Aquelle  ponto  de  divisão  do  canri  de  Goâia  fém  4 
milhas  suecas  de  comprido;d*elle  desce-se  ao  O.  ao  lago 
Wener  ^  por  meio  de  20  comportas,,  as  quaes-  compensàa 


88  Noticias  das  Sdendas, 

bum  declivio  de  4B*  proximamente.  Ao  L.  do  dkto 
ponto  da  divisão^passa-se  ao  lago  Weter^por  huma  com-' 
porta  de  3"* ,  aS  de  queda.  Do  lago  Weter  passa-se  ao 
lago  de  Boven,  doeste  ao  de  Roxen,por  hum  canal  •prati-' 
cado  paraUelamentè  á  ribeira  de  Motala.  Em  fim ,  de- 
pois de  ter  atravessado  o  espaço ,  que  separa  o  lago  de 
Roxen  da  lagoa  de  Âsplangen ,  desemboca-se,  por  hum 
canal,na  extremidade  occidental  de  huma  bahia  do  mar 
Báltico  y  que  entra  pela  ten*a  dentro  ,  por  espaço  de 
mais  de  duas  milhas. 

Os  90"  de  declivio,desde  o  ponto  de  divisão  das  aguas, 
são  compensados  .por  36  comportas.  A  extensão  total  do 
canal ,  comprehendendo  a  dos  lagos ,  he  pouco  mais  ou 
menos,  de  45  léguas ,  de  35  ao  grão;  a  largura,  no  fundo^ 
he  de  14"* »  e  na  supeiTÍicie  da  agua ,  de  quasi  28"*;  a  pro* 
fundidad^  he,  pelo  menos ,  de  3  ", 

O  numero  de  trabalhadores  empregados  desde  quci 
a  obra  piíncipiou ,  e  somente  nas  estações  em  que  se 
pode  trabalhar ,  tem  sido  de  3  até  7  mil.  A  avaliação  das 
despezas  eleva-se  a  i5  milhões  de  francos,  dos  quaes 
huma  parte  he  paga  pelo  Governo,  e  a  outra  he  producta 
de  subscripçôes  voluntárias*  No  fim  de  1817,  tinha-sejá 
gasto  mais  de  metade  d*esta  somma ,  e  tinha-se  execu*^ 
tado  huma  porção  de  obra,  que  se  reputava  l  do  orça- 
mento. 

Provavelmente  em  poucos  annos » a  Sueda  gozai^á  das 
vantajens  de  huma  navegação  interior,  que  dará  npyo 
valor  aos  seu$  productos  *,  nós  aproveitaremos  e^lfi  occa;^ 


das  Artes  He.  89 

lSÍão  pdra  convidarmos  o  leitor  a  fazer  sobre  isto  as  três 
reflexões  seguintes  :  1*.  9  com  que  anciã  a  industiia  pro* 
cura  fazer  ncco  hum  paiz,  a  quem  o  dima  parece  ter 
negado  os  meios  de  o  ser;  2*.  com  que  coragem  a  arte 
ousa  emprehender  huma  obra  tào  diliicil  e  tào. ardida , 
em  hum  terreno.que  a  natureza  erriçou  de  montanhas; 
e  em  S^.  lugar,  com  que  franqueza  e  com  que  interesse 
M.  de  Platen ,  ainda  no  meio  da  execução  dos  seus  pia* 
npsy  como  membro  da  grande  familia  dos  sábios ,  com- 
munica  ao  Instituto  de  França,  e  por  este  meio  a  toda  a 
Europa ,  o  fructo  dos  seus  trabalhos ,  neste  importante 
objecto.  Parece-nos  que  todas  estas  observações  devem 
merecer  reflei^ào,  nos  paizes  para  que  escrevemos, 

Mechajúca  celeste. 

No  VI  volume ,  parte  2*. ,  pag.  Sa,  faltando  da  Memo« 
ria  y  que  M.  de  Laplace  tinha  lido  no  Instituto  em  1818, 
sobre  a  lei  da  gravidade  etc. ,  dissemos  que  as  experiên- 
cias do  pêndulo,  feitas  nos  dois  hemispherios,  provarão 
que  a  terra  não  be  homogénea  no  seu  interior ,  e  que 
as  densidades  das  suas  camadas  crescem ,  da  super- 
fície para  o  centro.  Mas  a  terra ,  heterogénea  no  sen^ 
tido  mathematico ,  seria  homogénea  no  sentido  chy- 
mico,  se  o  accrescimo  da  densidade  das  suas  camadas, 
não  fosse  devido  senão  ao  da  pressão ,  que  estas  expe* 
rimentào,  á  proporção  que  estão  mais  vizinhas  ao 
centro.  Sabe-se  que  os  corpos  sólidos  se  comprimem 
pelo  seu  próprio  peso.  A.  lei  das  densidades ,  resul- 
tantes doesta  compressão ,  he  desconhecida.  Pode  na- 
turalmente pensar-se ,  <)ae  estes  corpos  resistem  tanto 


\ 


90  Noticias  das  Sciencias  , 

mais  á  compressão ,  quanto  mais  são  comprimidos^ 
A  relação  da  diflerencial  da  pressão ,  á  da  densidade, 
cresce  com  a  mesma  densidade ;  a  funcçâo  mais  sim* 
pies ,  que  pode  representar  esta  relação ,  he  a  primeira 
potencia  da  densidade ,  multiplicada  por  huma  con- 
stante. Esta  he  a  que  o  autor  adopta ,  porque  tem  a 
vantajem  de  se  prestar  facilmente  ao  calculo ,  na  inda- 
gação da  figura  da  terra. 

Os  geómetras  até  agora  Unhão  desprezado ,  nesta 
indagaçãO' ,  o  effeito  resultante  da  compressão  das  ca- 
madas. M.  Toung  convidou  ultimamente  a  attenção 
d'elles  sobi-e  este  objecto.  A  analyse  de  M.  de  Laplace 
prova,  que  d* este  modo  he  possivel  satisfazer  a  todos 
os  phenomenos  conhecidos ,  que  dependem  da  lei  de 
densidade  d*estas  camadas.  Estes  phenomenos  são :  as 
variações  dos  grãos  dos  meridianos  e  da  gravidade ;  a 
precessão  dos  equinoxios ;  a  nutação  do  eixo  terrestre  ; 
as  desigualdades ,  que  produz  o  achatamento  da  terra 
nos  movimentos  da  lua ;  em  fim  a  relação  da  densi- 
dade media  da  terra ,  com  a  da  agua ,  relação ,  que 
por  huma  bella  experiência  ,  Gavendish  fixou  em  5 1. 
Da  lei  precedente ,  sobre  a  compressão  dos  sólidos ,  re- 
sulta que  y  se  a  terra  fosse  formada  inteiramente  de 
agua ,  o  seu  achatamento  seria  jfo  t  o  coefficiente  do 
quadrado  do  seno  da  latitude,  na  expressão  da  ex- 
tensão do  pêndulo  de  segundos ,  seria  Sg  decimos-mil- 
lesimos ,  e  a  densidade  media  da  terra  seria  nove  vezes 
a  da  agua. 

Se    acaso  se   suppõe   a    terra  formada  de  huma 


Jas  Artes  ,  ele.  gt 

•úbstancia  homogénea,  no  sentido  chymico ,  cuja  den-^ 
sidade  seja  a  |  da  da  agua  commum,  eque,  compri* 
mida  por  huma  columna  da  sua  própria  substancia  9 
igual  á  millioneiiauí  parte  dò  semi-eixo  terrestre, 
augmente  em  densidade  5,5345  millionesimos  da  sua 
densidade  primitiva ,  satisfaz-se^por  meio  d*esta  suppo- 
siçào ,  a  todos  os  phenomenos,  que  acabamos  de  citar* 
A  existência  de  huma  tal  substancia  he  muito  admis* 
sivel.  De  resto ,  o  autor  está  mui  longe  de  affirmar 
que  este  caso  seja  o  da  natureza;  mas  a  hypotbese 
de  huma  substancia  única ,  cujas  camadas  nào  varíâo 
em  densidade,  senào  pela  compressão  que  axperí-^ 
mentào  ,  nào  ofierecendo  impossibilidade  alguma ,  pa^* 
receo-lhe  digna  da  atteoçào  dos  geometi*as. 

Eis-aqui  as  consequências  que  d'esta  hypotbese  tira 
o  autor  : 

EUipticidade  da  terra,  jhiy 

Relação  da  densidade  do  centro ,  com  a  da  super» 
ficie,  5,a36; 

Natação,  em  segundos  sexagesimaes ,  g^^.Sa.  Esta  na<- 
tacão  he ,  com  pouquissima  diílerença ,  a  que  resulta 
das  observações  da  polar« 

Suppondo ,  conforme  Cavendish ,  a  relação  da  den- 
sidade media  da  terra,  com  a  da  agua,  =  51,  a  den- 
sidade da  camada  da  superfície ,  será  »  3,37  ,  toman- 
do-se  a  da  agua  por  unidade. 

Feio  que  toca  ao  achatamento ,  este  satis&z  ao  re* 


9^  Noticieis  das  Scieáeias  , 

sultado  geral  das  observações  dos  grãos ,  da  gravidada 
e  das  desigualdades  lanares. 

No  mesmo  Tom.  VI ,  Parte  a«<»y  pag.  55,  dissemos 
que  .M.  Poisson  esperava  pelos  resultados  das  expe- 
riências de  M.  NicoUet ,  para  fixar  os  valores  das  con- 
stantes da  sua  theoria.  Estes  resultados  apparecérão , 
com  effeito  ultimamente  no  Conhecimento  dos  iempos 
para  iSaa,  com  todas  as  circumstancias ,  que  se  podião 
desejar.  Em  consequência  delles  v  condue  M.  Poisson 
que  f  na  superfície  da  terra ,  os  poios  de  rotação  não 
experímentão  deslocação  alguma  sensível,  de  modo 
que  y  a  este  respeito ,  existe  huma  diSerença  essencial 
entre  o  movimento  de  rotação  da  lua ,  e  o  do  sphe- 
roide  terrestre.  M.  Poisson  observa  >  que  as  formulas 
tiradas  da  theoria ,  e  que  se  comparão  com  as  obser-^ 
vações ,  suppôem  que  as  desigualdades  arbitrarias  ^ 
que  dependem  das  cirçumstancias  iníciaes'  do  movi-, 
mento,  desapparecêrão  totalmente,  e  que  hoje  não 
subsistem  9  senão  as  que  são  produzidas  pela  acção 
da  terra  sobre  a  lua  ;  comtudo ,  o  autor  confessa  que 
podem  ainda  existir  algumas  duvidas  sobre  este  facto 
importante ,  as  quaes  influem  depois  sobre  a.  verda- 
deira extensão  da  libraçào,  seja  em  longitude,  seja 
em  latitude.  ^  Seria  tanto  mais  necessário ,  diz  elle, 
que  estas  duvidas  sé  acclarassem  ,  que  dois  dos  valores 
achados  estão  mui  longe  de  se  ajustarem  com  os  que 
se  calculão  ,  na  hypothese  da  fluidez  primitiva  da  lua  ^ 
hypothese  que  parece  convir  a  todos  os  corpos  cele&^ 
tes  ,  e  a  que  todas  as  analo^s  conduzem.  « 


das  Artes jCtcí  93 

Astronomia. 

toas  estreUds.  No  Tom.  I  dos  Ânnaés ,  Parte  a*,  pag.  ^i 
dêmos  o  titulo  de  huma  Memoria  que  M.Yf.  Hers^ 
chel  tinha  lido  na  Sociedade  Real  y  sobre  a  distribuição 
das  estrellas  fixas  no  espaço,  Memoria,  de  que  tomámos 
a  fazer  menção,  no  Tom.  VI ,  Parte  a".,  pag.  55  :  esta 
Memoria ,  de  que  não  conheciamos  então  mais  do  que 
o  titulo  ,  acha-se  agora  nas  Transacções  philosophicas  ^ 
(  a^  Parte  de  1818).  M.  Herschel,  por  meio  de  cál- 
culos ,  fundados  na  efficacia  dos  seus  instrumentos  e 
na  presumpção  de  algumas*  verificações  certas  da  gra- 
vidade das  estrellas  fixas ,  procura  chegar  a  huma  con* 
cliisão  definitiva,  sobre  a  disposição  e  arranjo  dos  corpos 
celestes  no  espaço.  Admittindo  que  ,  em  geral ,  as  es- 
trellas mais  fracas  são  as  mais  distantes,  nesse  caso, 
a  sua  luz  vem  a  ser  huma  medida  das  suas  distancias , 
a  qual  te  pode  obter  por  huma  serie  de.  compara- 
ções, feitas  com  os  mesmos  telescópios,  mas  com 
aberturas  diflerentes.  •  M.  Herschel  concluio  doeste' 
modo :  que  huma  estrella  única  de  primeira  grandeza- 
desappareceria  inteiramente  ao  olho  sem  o  soccorro  de 
instrumento ,  se  a  sua  distancia  viesse  a  ser  doze  veze» 
maior ,  e  ao  olho  armado  do  mais  perfeito  telescópio 
conhecido,  se  a  distancia  chegasse  a  ser  a3oo  vejses 
mais  considerável.  Ora ,  hum  instrumento  d'esta  força 
mostra  também  estrellas  -na  via'lactea\  nos  limites 
mais  distantes  ia  visibilidade. 

Porém ,  bem  que  a  luz  das  estrellas  simples  mais 


^  Noticias  das  Sciencias , 

distai^teft  já  não  possa  affectar  os  nossos  órgãos ,  com- 
tudo  f  o  clarão ,  que  resultar  da  união  de  hum  systema 
de  estreilas  pode  ainda  vir  até*  nós ,  desde  huma  dis- 
tancia mais  considerável  no  espaço.  Huma  vez  qae 
as  estreilas  doesta  aggreg^çap  podem  ainda  ser  vistas 
pelos  nossoa  telescópios  y  a  sua  distancia  pode  também 
ser  avaliada  pe}a  abertura  que  os  distingue.  Desta  ma- 
neira  he  que  M.  Herschel  estabele€;!e  4^  doestas  aggre- 
gaçôeSy  as  quaes  lhe  servem  depois  para  estabelecer 
buma  escolha  a  respeito  d  estes  objectos  duvidosos , 
que  os  nossos  telescópios  não  podem  chegar  a  distinguir. 
Prin^iramente  prova ,  por  observações,  que  as  aggrega** 
çòes,  susceptiveis  de  serem  distinguidas  ,  vistas  com  te- 
lescópios de  força  inferior ,  apresentão  absolutamente 
a  mesma  apparencía.  Tendo-se  estabelecido  esta  se* 
melbança  de  natureza  >  pode-se  comparar  a  sua  dis- 
tancia com  a  da  primeira  sorte  y  pelos  mesmos  princi^ 
pios  por  que  a  distancia  d*esta  última  se  compara  còm 
as  estreilas  fixas  mais  próximas.  Tem-se ,  com  efieito  . 
chegado  aos  limites  mais  distantes  da  visão  humana  ^ 
logo  que  semelhantes  objectos  se  perdem  da  vista , 
e  parece  permittido  suppôr,  que  o  seu  lugar  deve  estar 
a  huma  distancia  de  35ooo^.  ordem» 

Porém  y  se  he  útil  poder  determinar  quaL  he  a  dispo- 
sição das  estreilas  fixas  no  espaço  ^e  por  humaínduc- 
çâo  bem  seguida,  formar  alguma  ideia  doestes  mon- 
tões lácteos ,  de  differentes  claridades  y  que  se  avistão 
no  ditto  espaço,  e  da  immensidade  d*este  ;  não  importa 
menos  fixar,  de  hum  modo  positivo  ^o  lugai*  de  cada 


das  Artes ,  etc.  '        g5 

huma  das  estrellas  visíveis*  Sobre  isto  M.  Bessetptx^ 
blicQUy  DO  Periódico  de  Astronomia  de  M.  de  Liadenau^ 
formulas  pak'a  calcular  a  niitaçào  e  aberração  Jas  es^ 
ti*ellas  fixas,  e  M.  S.  B.  S. ,  em  hum  artigo  do  N<>.  iS 
do  Periódico  das  Sciencias  e  Artes  ^  fes  conhecer  m 
parte  útil  d'aquellas  formulas* 

'  O  mesmo  M.  Bessel  inserio,  nas  Correspondências 
astronómicas  do  Barão  de  Zaeh,  hum  catalogo  inte--' 
ressante  da  ascensão  recta  de  36  principaes  estrettas 
fixas  f  conforme  as  observações  feitas  no  observatotio 
de  Koenigsbergy  desde  i8i4  até  1818.  M.  Bessel  notou 
naquelle  ti*abalho ,  como  circumstancia  notável ,  que 
a  diOerença,  enti^e  os  catálogos  de  Piazzi  e  de  Bradley, 
que  se  tinha  achado  ser  =  +  2"  ,^8q  ,  desapparece  quasi 
inteiramente  y  tomando  por  base  o  seu  catalogo. 

O  D''.  J«  H.  Westphal  publicou ,  em  a  sobreditta 
obra  de  Lindenau,  hum  grande  numeix)  de  observa* 
ções  feitas  em  1817  e  18 18,  sobre  as  estrellas  errantes, 
ou  cuja  intensidade  de  luz  diminue  pouco  a  pouco, 
para  augmentar  depois ;  porém,  sem  procurar  de  modo 
algum  explicar  este  singular  phenomeno,  M.  Burck^ 
liardt  deo  á  luz  ,  no  mesmo  Periódico ,  explicações  e 
correcções  das  posições  de  algumas  estrellas ,  que 
pai*ece  não  terem  sido  observadas  porBradley^e  que 
M.  Bessel  tinha  introduzido  no  seu  catalogo  ,  em  con- 
sequência das  suas  próprias  observações. 

Do  Sol,  O  D^  RaschigàeOy  nos  Annaes  depkysica 
4^  Gilbert,  observações >  spbre   os  diíTerentes  grupoa 


96  Noticias  das  SciçneiaSy 

de  manchas  que  percebeo  no  disco  do  SoL  a  2O  e  \j 
de  Outubro  de  1818 ,  e  que  passavão  humas  sobre  as 
outras,  como. já  tinha  observado  em  i5  de  Março  da 
anuo  antecedente*  M.  Raschig  procura  dár  huma  ex- 
plicação d* este  phenomeno,  que  no  principio  julgou 
ser  devido  a  huma  iliusào  de  óptica. 

De  outros  Planetas.  M.  K.  J.  C*  MoUer  publicou , 
em  Altona,  huma  descripção  do  annel  de  Saturno^, 
juntando-lhexonsiderações  sobre  a  òausa  da  mudança 
da  sua  forma  luminosa,  e.  sobre. o  seu  desappareci* 
mento  4obre  em  i8o3,  e  simples  em  1819. 

M.  Dirksen  publicou ,  em  o  Periódico  de  M.  de  Lin* 

denáu,  huma  Memoria  sobre  a  marcha  de  Palias  desde 
7  de  Agosto  de  18  f(}  até  6  de  Junho  de  1820,  calcu* 
lada   para  a  meia  noute  em  Gottingue. 

Da  Lua.  M.  Poisson ,  no  Conhecimento  dos  tempos 
para  i8ai ,  publicou  formulas, a  que  o  conduztràoos 
seus  trabalhos  em  determinar  as  desigualdades  da  in- 
clinação'do  equador  da  lua  e  dos  seus* nódos,  que  a 
theoria  tinha  mostrado  deverem  existir;  como^agrange 
já  tinha  feito,,  pelo  que  respeita  ás  desigualdades 
de  rotação  d'aquelle  astro. 

Todos  os  astrónomos  se  ajustão  em  nãp  admittir 
atmosphera  na  lua,  ou  ao  menos,  em  a  suppôr  extre* 
mamente  pouco  considerável.  M.  Emmett  \u\gou  ,  com* 
tudo,  dever  deduzir  da  observação  do  eclipse  de  huma 
estrella  mui  pequena  pela  lua,  em  5  de  Dezembro 
de  1819 y  em  que. a   estrella  lhe  pareceo  realmente 


das  Artes  etc^  9^ 

visível  por  detraz  do  disco  d^aquelle  planeta^que  isto  não 
podia  ser  produzido ,  senão  pela  refracçào  da  atmos- 
phera  d*este;  porém  M.  Firminger  no  Magazine  de 
Tilloch^ào  mez  de  Agosto,  mostrou  que,  no  caso  em 
que  existisse  huma  atmosphera  lunar ,  esta  não  pode^ 
ria  ser  assaz  densa ,  para  produzir  o  phenomeno  ob- 
ceiTado  por  M.  Emmett ,  e  que,  por  consequência,  este 
provinha  de  alguma  illusão. 

Dos  Cometas.  O  N^'.  260  do  JPhHosophical  Magazine 
annuncia,  que  hum  astrónomo  de  algum  merecimento, 
tendo-se  occupado  de  pôr  em  ordem  a  orbita  dos  co- 
metas descobertos  modernamente ,  achou  que  alguns 
correspondião  a  huma  só  e  mesma  orbita  planetarii. 

No  Tom.VIdos  Annaes,  Parte  a*,  pag^  177,  demos 
noticia  de  hum  cometa  descoberto  em  Dezembro  de 
18 1 8  por  M»  PonsyC  começado  a  observar  em  Parts, 
por  M.  Blanpain ,  em  4  de  Janeiro  de  1819;  e  nas  No^ 
ticias  recentes ,  inseridas  no  Tom.  IV,  Parte  a*,  pag.  98, 
annunciámos  outros  dois  cometas,  descobeitos   pelo 
mesmo  astrónomo,  cm  Novembro  de  1818;  então  d^- 
snos  as  observações ,  que  M.  Blanpain  tinha  publicado 
a  respeito  d*elles.  Pelos  elementos  d'estas ,  calculados 
por  M.  NicoUet ,  se  via  ^ue  aquelles  dois  últimos  co- 
metas ainda  não  tinhão  apparecido;   porém,  parece 
que  não  se  pode   dizer  ô  m^mo  do  primeiro ,  isto 
he,  d^aquelle  que  M.   Blanpain  começou  a  observar 
em  4  àe  Janeifo  de  1818 :  hum  membro  da  Junta  das 
longitudes  de  Pails  tinha  achado  grande  semelhança 
entre  aquelle  cometa  e  o  príkneiro  de  f 8o5  i  o  que 
Tom.  IX.  P.  a*.  .  7  B 


m  Ifctícias  das  Saencias, 

jg^  £^Jte^  Diivclor  adjanlo  do  observatório  de  Seeberg, 
fi^g^ot  ter  plenaBieDte  confirmado.  Em  consequência 
fi^f  M.  Olbers,  de  Brrmen,  pensou  que  o  ditto 
^,^cti  poderia  tmmbem  ser  o  mesmo  de  1795.  Para 
s^AT  da  prcd>abilidade  das  opiniões  doestes  astrónomos, 
€ts-a<|m  os  elementos  daquellas  três  obsei^vaçòes  : 

Cometa  de  i8i)5      iJ.  de  i8o5      id.  de  1818-1^ 

ai  ficí.  Coâia.  m  Nov. Parts.  27lan.  GotbaT.M. 

^tMif-  1^  períh.     •     4^881.   .  .  •  5o64 ^8777. 

H^.  do  períh.     i56-49'3a'  i56*47'i9''       i56^5g' iS" 
j^iDg.  do  nòdo  .  •  335.1 3.  5  •  3a4*^o*  5  •  •  354.35« 
j^kIío.  da  orb.  ,  •     1 3.45 .43  •     i3.33.3o  .  .     13.37. 
àng.  de  excentr. .     58.o8.43.  ...»...•     Sa.  a. 58 
Xog.  da  metade 

^  eixo  menor    0|34499O7  ••••*  .•••  o>345oo 
HlKj^  4o eixo  maior      2>2i45.  •  •  3,2 13  .  .  .  2,2 i3i 

tmiéáò »••••  iao2,5  dias.  1202,54  dijas 

Da  comparação  doestes  elementos  se  pode  ver,  que 
este  cometa  teria  lium  periodo  mui  curto,  que  não 
seria  senão  de  3  f-annos,  ou  quasi  de  1202  dias.  Con- 
forme esla  ideia ,  seria  possivel ,  na  opinião  do  Barão 
de  Zach,  que  o  cometa  de  i'785  ainda  fosse  o  mesmo 
cometa ,  e  M.  Enke  calculou  a  marcha ,  que  elle  de- 
veria seguir,  para  os  mezes  de  Julho,  Agosto,  Sep- 
lembro  e  Outubro  de  1819.  Doeste  calculo  conclue, 
que  nesta  epocha,  o  cometa  estava  em opposiçãocom 
o  Sol ,  ou  a  huma  distancia  da  Terra ,  dupla  da  dis* 
tancia  daquelle  astro,  e  que  só  se  poderia  ver  com 
telescópios  de  grande  alcduce.  Comtudo  não  consta 


das  Artes j  ete»  «99 

qae  tenha  sido  descoberto   pelos  aUtronomos  ^[ne  s^ 
occupárão  disso» 

Nas  Noticias  recentes ,  inseridas  na  Parte  a",  pag.  177 
do  nosso  Tom,  VI ,  annunciámos  o  primeiro  cometa , 
que  appareceo  em  1819,  descoberto  a  ia  de  lunho, 
pelo  mesmo  M.  Pons,  então  astrónomo  adjunto  ao 
Observatório  de  Marselha,  e  hoje  Director  do  de 
Lucca  \  eis-aqui  os  elementos  calculados  por  M •  Gam- 
bart ,  sobre  as  observações  de  M.  Blanpain. 

Passagem  no  perihelio ,  a  26  de  Junho  ^  ás  10  ^'  0^ 

da  tarde  T.  M* 

Distancia  perih.     .«..«..  0^88117 

Long.  do  perih. «    •    «    4    .    «    «    4  a55o5i^ 

I«ong.  do  nódo  .    •*•«•««  107.46 

Inclin.  da  orb. #    «       8«  20 

Sentido  do  movim«  heliocêntrico  •    .  directo* 

O  segundo  cometa ,  observado  em  1819 ,  foi  o  qt^e 
nós  annunciámos ,  na  mesmii^  parte  a*,  do  Tom*  VI , 
ps^g-  177  9  ^  ^^  V^^  referimos  algumas  particularidades 
no  Tom.  Vm,  Parte  a*^. .  pag.  i44 1  o  qual  de  repente 
surprehendeo  os  observadores  em  Paiis  ,  no  dia  3  de 
Julho,  e  que  foi  observado  em  todas  as  partes  da 
Europa.  Na  occasi&o  em  què  fizemos  aquelle  impor- 
tante annuttcio ,  dêmos  com  elle  os  elementos ,  que  os 
periódicos  literários  tinhão  -publicado ,  fundados  nas 
observações  de  M.  Bouvard ,  e  ji  então  dissemos  que 
aquelles  cálculos  tinhão  sido  feitos  proximameniei  cota 

m 

tSeito  os  resultados ,  ^oe  entio  se  pubUcárâo ,  tinltao 

1* 


t##  Noticias  das  Sciendas , 

sido  fiindados  sobre  mui  pecjueno  namero  de  observa-- 
ções  approxímadaSye  erào,  em  consequência,  mui  defei- 
tuosos. Daremos  aqui  os  elementos ,  calculados  sobre 
as  observações  do  mesmo  M.  Bouvard ,  porém  feitas 
com  exacçào ,  no  observatório  Real  de  Paris ,  desde  o 
dia  3  de  Julho ,  ate  ao  i<^.  de  Agosto,  ajuntando-lhe  ^ 
para  facilitar  a  comparação,  os  que  publicou  M.  Rum-^ 
ker,  sobre  nutaeroSas  observações  de  M.  Pond,  em 
Greenwich ,  òs  f\ue  resultarão  das  observações  de  M. 
Sandra  i  Director  do  Observatório  de  Pádua ,  as  quaé$ 
parece  terem  sido  feitas  em  circumstancias  pouco  fa-* 
voraveis,  e  as  de  M.  NicoUú\  Director  do  Observa-" 
tório  de  Manheim» 

•         • 

M.  Bouyard.  M.  Rumker*  M.  Santini.  M.  Nicolai« 

'    a6  Jnnb*  96  Janh.      a6  Jniih^      08  Jnnh. 

]^«8ag.  no  perih«  •  ^  h.^iSf,  485i3a^       ^9835.         13689. T.M/ 

Dift.  períh»  .  •  .  .  0,34007  •  •  .  €^363476.  .  o,3o863    .  .    0,^5178» 
Long.  iloperih.  .   .    287»  4'55*    a90«>47'59''  a8i»  i'  4"    a890i6'o'' 
Long  ào  nòdo.  •  •    273.43*3  i*  •  373.47*59.  .  273,23.  2.  .  273.45.0* 
IncUn.  da  orb.  •  •  •      60.45.  o..    8o.  7*41  •  •    Bi.37.15. .    80.27.O4 
SSOTÍm.  betiocentr.     Diiíectoi 

Conforme  estes  elementos,  diz  M.  Bouvard «  que 
este  cometa  não  se  parece  com  os  mais  cometas, 
até  aqui  observados ,  ^  ,^^^%  por  consequência ,  era 
impossivel  piedizer  a  sijja  appariçào.  Havia  nelle  huma 
circumstancia  notável  i^a-sua  cauda ,  cuja  extensão^ 
no  3  de  julho ,  se  peude  avaliar  de  7000  léguas ,  pela 
meia  noite  era  quasi  vertical;  mas  isto  dependia  de 
que  I  o  cometa  e  o,  Sol  tinhão  então  ascensões  rectad 
pouco  diíierentes ,  e  chegavão  ao  meridiíuio  1  pouco 


ias  Artes ,  ete.  x^t 

naU  ou  menos ,  na  mesma  epocba ;  por  consequência» 
subsiste  a  hypotliese  mui  geralmente  recebida ,  de  que 
a  cauda  dos  cometas  he  composta  de  vapores  mui 
ligeiros  y  transpoitados  a  grandes  distancias  pela  im- 
pulsão dos  raios  solares ;  q  que  faz  que  esta  cauda 
deve  ser  quasi  diametralmente  opposta  ao  Sot« 

M.  Olhers  de  Bremen  ,  que  também  calculou  a  or- 
bita doeste  cometa ,  achou  que  ella  devia  passar  pela 
disco  do  sol,  entrando  pelo  limbo  meridional ,  a  26 
de  Julho  ás  5^-  2gi'  da  manhan,  tempo  verdadeiro  en^ 
Bremen ,  e  sahindo  pelo  limbo  septentrional  ás  9  '^  a\ 

O  terceiro  cometa ,  que  appareceo  em  1819,  he  Q. 
que  annunciámosy  na  Parte  a*. ,  pag,  io5  do  Vlll  vo'* 
lume ,  descoberto  por  M.  Blappain  a  28  de  Novembro ; 
d*este  não  daremos  aqui  novas  particularidades ,  por- 
que até  agora  nada  se  tem  ainda  publicado  a  res- 
peito d*elle, 

O  Diário  da  Instituição  Real  d/s  Londres  N<^.  ^5  ^  dia 
que  no  observatório  de  l^Genigsberg  se  observara ,  na 
constellaçào  do  Cisne ,  mais  hum  cometa^  ^ue  nâq 
era  visível  sem  o  soccorro  de  instrumento ;  porém , 
K^ão  ajunta  particularidade  alguma  a  este  respeito» 

M.  de  IJ^idenau  acabou  de  pubUcar  o  seu  trabalho 
completto  e  considerável ,  sobre  o  cometa  de  i68<f. 

Dos  Eclipses ,  ou  Occubaçôes,  Muitos  astronomoi 
tinhâOy  desde  o  anno  passado  y  começado  a  prevenir  já 
os  observadores  da  marcha  ({ue  ha  cU  seguir  Q  ecUpst 


loa^  Noticias  Jas  Sciencias  , 

ánnnlar  do  sol ,  que  deve  haver,  em  7  de  Septembró 
d'este  anno.  M.  Yates ,  a  este  respeito ,  traz  á  memoria 
o  eclipse ,  também  amiular ,  que  houve  no  i3^.  século , 
é  de  que  se  faz  menção  na  Historia  norwegiana  da 
eipediçào  de  Haco  contra  a  Escoasia ,  traduzida  do 
islandez  em  inglez,  por  Johnston,  em  1780.  M.  Yates 
mostra  por  cálculos,  que  o  ditto  eclipse  appareceo 
ém  a5  de  Agosto  de  i263 ,  que  be  o  de  que  se  fas 
menção  nos  catálogos  d*aquella  data ,  e  que ,  por  con- 
sequência >  sem  razão  se  diz  no  dè  Riccioli ,  que  não 
bouve  eclipse  annular  do  sol  desde  334  até  1 567. 

M*  Rumker  publicou,  em  o  1^*  Volume  do  Diário 
philosophico  de  Edimburgo,  as  particularidades  da 
observação  que  fez  em  La  Valette  (  Malta )  do  eclipse 
do  sol,  acontecido  em  5  de  Maio  de  1818, 

O  mesmo  astrónomo ,  no  mesmo  artigo ,  publicou 
buma  taboa ,  com  grande  numero  de  observações  de 
occuUações  de  estrellas  fixas  pela  lua ,  no  mez  de  De- 
zembro de  1818,  e  Janeiro  e  Março  de  1819,  feitas 
no  Palácio  Real  de  la  Yalette.  Latit.  35<>  54'  i^"  \ 
long.  i5o  27' 38"  6. 

InstrwnentoSé  No  anno « passado  não  conhecemos» 
nesta  parte  tão  essencial  para  o  bom  êxito  das  obser-* 
Vações  astronómicas ,  mais  dó  que  dois  melhoramentos, 
a  saber :  a  invenção  de  hum  novo  chronometro ,  e  a 
substituição  do  asbesto  no  miorometro » em  vez  dos  &os , 
gue  se  cimpregavão  commummente  neste  instrumento* 

O  chtonometrô  foi  inventado  por  M.  Brégueif  celebre 


das  Artes  ele.  io3 

relojoeiro  de  Parts ,  para  chegar  alem  de  f  de  segundo 
nas  observações  do  desapparçcimento  dç  hiip^a  estrella, 
por  detraz  do  fio  de  hum  instrumento  de  passagem; 
quantidade,  que,  correspondendo  a  3'  de  ascensão  recta» 
pode  ser  muito  importante.  Por  meio  d*este  cbronometrò» 
o  qual  se  pode  appUcar  a  toda  a  casta  de  telescópio , 
parece  que  se  poderá  facilmente  observar  n>  de  segqndo» 
e  havendo  practica ,  ainda  «%  e  rb ,  por  appruximaçlo. 

Quanto  ao  uso  do  asbesto  nos  micrometros ,  deves- 
se a  invenção  ao  Professor  WaUace,  O  celebre  Trough*: 
ton  applicou  hum  fio  d*esta  substancia,  de  quasi  jí^õ  de 
pollegada  de  diâmetro ,  á  ocular  de  hum  telescópio , 
e  a  linha ,  que  elle  formava ,  era  perfeitamente  igual 
e  muito  opaca. 

GEOGRAPHIA. 

Longitudes  e  Latitudes.  Os  navegantes  devem  a  Dou-* 
wes  hum  methodo  particular  para  determinar  a  lati- 
tude, por  meio  de  duas  alturas,  observadas  fora  da 
meridiano;  mas  este  methodo,  que  parece  offerecer. 
alguma  vantajem ,  porque  he  curto ,  e  pode  expôr-se 
em  taboas  pouco  volumosas ,  comtudo,  expõe  a  erros » 
ou  conduz  a  muitas  diflSculdades  para  os  evitar,  e  alem 
disso ,  necessita  de  Taboas  ,  que  não  são  las  dos  loga- 
rithmos  ordinários.  M.  Guéret  imaginou  hum  methodo 
mais  simples  e  curioso,  cujas  bases  e  formulas  M^ 
Delambre  publicou,  em  Q  Conhecimento  dof  f^mpof  para, 
182a;  este  sábio  astrçnomo  compara»  jf|^0l  difso^ 
aquelles  dois  methodos  entre  si,  corrige,  o.u  modi-- 
fica  ambos ,  e  acabai  por  propor  hum  sea »  qi^e  he- 


10$  Noticias  das  Sciencias  , 

evidentemente  mais  cuilo  que  o  segundo ,  e  qae  não 
empi^eça  senão  formulas  mui  conhecidas. 

M.  Meíkle ,  no  Magaz.  de  Tilloch ,  do  mez  de  Julho^ 
propoz  hum  methodo  para  aperfeiçoar  o  de  obter  a 
longitude  pelas  observações  da  lua ;  este  methodo  conr* 
siste,  depois  de  ter  medido  a  distancia  e  a  altura  das 
partes  do  limbo ,  ambas  superiores  ,  ou  ambas  infe- 
riores ao  centro,  em  achar  primeiramente  a  verdadeira 
altura  do  limbo ,  a  qual ,  applicando-lhe  depois  o 
semi-diametro  verdadeiro  ou  horizontal ,  dá  a  .verda- 
deira altura  do  centro;  depois ,  em  applicar  4  altura 
dos  limites  observadas  p  semi-diametro  augmentado : 
o  que  lhe  dá  o  ponto  excêntrico  e  va]:iavel ,  do  qual 
M.  Meikle  pensa  que  a  distancia  apparente  deve  ser 
avaliada »  e  não  do  verdadeiro  centro, 

M.  Ed.  mddle,  no  mesmo  periódico ,  do  mez  de  Ou- 
tubro,  procura  estabelecer  que  este  methodo  conduz 
absolutamente  aos  mesmos  resultados «  que  o  outro» 
geralmente  adoptado ,  e  que  M*  Meikle  tinha  procurado 
desacreditar;  por^m  este  ultimo,  em  hum  artigo  do 
mez  de  Novembi;'o ,  responde  que,  pelo  seu  methodo, 
çe  obtém  as  corrçcções  da  altura  verdadeira,  com  muito 
menos  difficuldade,  visto  que,  pqr  elle,  se  evitão 
duas  correcções, 

provavelmente  estas  difficuldades  inseparáveis  do 
methodo  de  obter  a  longitude  pelas  observações  da 
lua ,  fez  imaginar  a  hum  correspondente  do  Philoso^ 
phical  Magazine  Tomo  LIV ,  hum  meio ,  quasi  mecha- 


ias  Artes  etc.  io5 

nico,  para  chegar  a  este  (itn,   o  qual  parece  obter 
muitas  vantajens  practicas. 

M.  liwnker  deo  f  no  ^^.  N®.  do  Diário  phUosophico  "^ 
de  Edimburgo ,  a  latitude  e  a  longitude  de  34  difie-^ 
rentes  lugares  do  Mediteiraneo  ;  M.  Gauttier,  capitão 
de  fragata  francez  ,  publicou ,  em  o  Conhecimento  dos 
tempos  para  182a,  huma  Taboa,  com  muito  maior 
numero  de  posições  geographicas ,  determinadas  em 
1818  no  Mediterrâneo  y  Adriático  e  Ârchipelago.  Esta 
Taboa  he  a  continuação  de  duas  ,  que  o  mesmo  offi- 
ciai  já  tinha  publicado  na  mesma  obra,  para  i8ao 
è  i8aT.  No  ultimo  caderno  do  Diário  de  Astronomia 
de  M.  de  Lindenau ,  de  1818,  acha-se  também  hum 
grande  numero  de  posições  determinadas  nas  índias 
•  OrientaeSy  por  MM.  Biarow  e  WilL  Hunter  ^  com 
hum  sextante  de  Troúghton ,  e  bum  relojo  de  Brooh- 
banks^ 

Observações  sobre  a  figiira  da  terra.  Âs  medidas  dos 
arcos  maiores  ou  menores  do  meridiano,  a  que  se  tem 
continuado  a  recorrer,  em  diversos  grãos  de  latitude  , 
para  determinar  a  figura  da  terra ,  não  tem  infeliz- 
lliente  conespondido  á  conformidade,  que  se  devia 
esperar  entre  si  ^  nem  com  a  theoria ;  achando-se 
humas  perfeitamente  conformes  com  a  de  Newton  1 
ao  mesmo  tempo  que  outras,  pelo  contrario,  dão  ò 
arco  polar  mais  comprido.  Sobre  a  causa  doestas  dif- 
ferenças  ha  gi^ande  variedade  de  opiniões.  Huns ,  como 
o  coronel  Mudge  e  o  capitão  Kater,  pensarão  que 
isto  era  hum  resultado  do  effeito  de  attracçõe&locaes; 


io6  Noticias  das  Sciencias , 

outros  julgarão  que  provinha  de  não  se  ter  observada 
correctamente  a  amplitude  do  arco  celeste.  Em  fim  ^ 
M.  Fisberem  huma  Memoria,  impressa  noN^.  i4do 
Diário  das  Sciencias  e  Artes ,  suppoz  que  estas  diffe- 
renças  resultâo  de  que ,  os  arcos  niedidos  do  meri- 
diano não  são  medidas  exactas  dos  raios  de  curvatura 
no  ponto  médio  d*estes  arcos ,  e  que  em  quanto  os 
arcos  dos  meridianos  forem  considerados  como  arcos 
de  circulo ,  será  necessário  recorrer  a  correcções. 

Mas  M.  Firminger  mostrou ,  em  hum  Artigo ,  im- 
presso no  Diário  de  Tilloch ,  do  mez  de  Julho ,  qual 
era  a  causa  do  erro  de  M.  Fisher ,  e  que ,  posto  que 
com  edeito,  os  arcos  de  ellipse  ou  de  circulo,  do 
mesmo  numero  de  grãos ,  e  do  mesmo  raio  de  cur- 
vatura ,  fossem  de  comprimentos  difierentes ,  com  tudo» 
a  difièrença  he  demasiadamente  pequena ,  para  influir 
sensivelmente  nos  resultados.  Porém ,  M.  Firminger 
aponta  huma  circumstancia,  que ,  na  sua  opinião ,  deve 
determinar  algumas  correcções;  para  provar  isto, 
toma  para  exemplo  a  medida  de  hum  arco ,  calculada, 
ha  alguns  annos ,  em  Inglaterra  entre  Dumose  e  Clif- 
ton ,  pelo  Coronel  Mudge ,  e  procura  demonstrar  que 
entre  Dumose  e  Axbury  Hill,  huma  das  stações,  he 
necessário  fazer  huma  correcção  de  quasi  3%S. 

Estas  objecções  feitas  á  medida  do  prco,  tomada 
pelo  coronel  Mudge ,  em  Inglaterra  ^  e  ^  discordância 
dos  seus  resultados  com  os  das  medidas  tomadas  no 
continente ,  determinarão  provavelmente  M*  Kater  a 
indagar  se  acaso  haveria  erro  na  avijiafio  da  lati* 


4as  Artes  eie»  107 

tilde  da  stação  de  Ârbury  Hill;  mas  aquelladiscor^- 
dancia  não  parece   vir  doesta  causa ,  por  ipianto  M. 
Kater ,   servindo-se  de  bum  excelLente  circulo  repe* 
Udor. ,  achou  que  a  ditta  latitude  de  Ârbury  Hill  tinha 
sido  exactamente  determinada. 

No  Tom.  VI  y  Parles*,  pag.  70  dos  Annaes ,  dêmos 
o  resultado ,  a  que  tinha  chegado  o  capitão  Kater , 
na  determinação  da  extensão  do  pêndulo,  marcando 
os  segundos  em  Londres:  M.  Wats^  em  huma  Me* 
mona,  publicada  no  Diário  philosophico  d^Edimburgo, 
pertende  que,  a  pezar  de  todas  as  cautelas  tomadas 
por  aqueUe  sábio ,  os  seus  resultados  não  são  izentos 
de  erro.  M.  Wats  pensa  /por  exemplo  ,  que  M*  Kater 
achou  huma  fracção  mui  pequena  de  pollegada  9  pop* 
que  avaliou ,  em  menos  do  que  convinha ,  a  correc- 
ção do  valor  do  arco  de  vibração.  Outro-  pequeno 
éito  se  encontra  também  na  correcção  do  peso  da 
atmosphera,  que  elle  avalia  0,00544»  em  vez  de  o,oo54a. 
Em  EmM.  Wats  observa  que  M.  Kater  não  marcou-, 
com  suficiente  precisão ,  o  numero  de  vibrações  ,  exe<* 
cutadas  pelo  pêndulo ,  dentro  de  hum  certo  numero^ 
de  minutos ;  a  este  respeito ,  M.  Wats  propõe  a  de- 
monstração, que ,  ao  seu  entender,  convém  empregar* 
se,  para  determinar  a  correcção  devida  á  amplitude 
de  vibração  ;  porém  ,1  não  dá  a  correcção ,  que  suppõe 
necessária  á  avaliação  da  extensão  do  pêndulo ,  feita 
por  M.  Kater,  a  qual  facilmente  se  vé  que,  se  he 
necessária,  não  pode  ser  considerável. 

M*  Ed.  Troughion  procurou  conhecer  a  diflerença,qat 


xo8  Noíicias  das  ScieneiaSf 

poderia  existir  entre  aquella  ayaliaçâo  e  a  que  àerã 
M.  Wfaitehurt  Depois  de  ter  dado  as  coiTecções 
necessárias  á  observação  d*este  ultimo,  estabelece  a 
extensão  do  pêndulo  em  39,13916;  o  que  daria  humt 
diflerença,  entre  esta  avaliação  e  a  de  M.  Kater» 
4e  o,ooo56.  Porém,  M.  TrQughton  iulga  que  ainda  a 
esta  avaliação  se  deve  fazer  huma  correcção  de  0,0001% 
por  causa  de  duas  origens  de  erro :  1*.  a  gravidade 
especifica  ,  que  elle  avalia  somente  em  8,!i6oi ,  em  yez. 
de  8,4^0 ;  a*,  a  densidade ,  pelo  esquecimento  que  teve 
]yi.  Kater  de  quadrar  a  totalidade  do  seu  appareiho  ^ 
relativamente  a  esta;  o  que  dá  somente  39,13877,  e 
neste  caso  a  diilerença  real ,  entre  as  duas  medidas  1^ 
não  vem  a  ser ,  senão  de  o,ooo39*  Com  eOeito  parece 
que  as  novas  experiências  feitas  por  M^  Pondi^  astró- 
nomo dç  Greenwich ,  derâp  resultados  mui  próximos 
aos  de  M.  Kater„  corrigidos  com  aa  observações  acima^ 

No  mesmo  lugar  citado  do  nosso  Tomo  VI  i^ 
dêmos  noticia  das  observações  ao  mesmo  respeito 
feitas  ultimamente  por  astrónomos  inglezes  e  francezesi, 
M.  Biot ,  hum  dVstes  últimos ,  publicou  ha  pouco , 
naquelle  ipesmo  Diário  phiioscHphlco  d*Edfmburgo„ 
alguns  resultados  das  suas  observações  ;  deUas  se  vé  , 
que  na  latitude  de  60®  4^'  35''  N. ,  a  extensão  do  pen-» 
dulo  he  de  0,994948151 ;  o  que,  reduzido  a  poUegadas 
inglezas^,  dá  39,1719,  resultado  que  se  a)iisti^  perfei^ 
tamente  com  a  theòria^ 

M.  Olynthus  Gregory,  que  fazia  experiências  na 
ilha  de  Balta ,  ao  mesmo  tempo  que  M.  Biol  as  fazia  na^ 


ãas  Artes  ete.  109 

^e  Upst,  em  huma  Memoria,  publicada  no  Magazine 
de  Tilloçh ,  parece  ter  alguma  duvida  sobre  a  exacçàp 
das  observações  de  M.  Biot^  íundaado-se  para  isto 
em  que  não  concebe  como  a  lamina  de  suspensão , 
a  vara  e  a  noz  do  instrumento »  empregado  por  eíle,, 
podem  oscilla^.  precisamente  no  mesmo  momento,  es- 
tando dispostas  e  arranjadas  para  huma  certa  latitude, 
e  para  huma  certa  temperatura;  alem  disso,  na  pouca 
solidez  da  pedra  prismática  enterrada  no  chão,  sobre 
a  qual  estava  appUcado  o  parafuso ,  cujo  movimento 
elevava,  ou  abaixava  o  plano  metaílico^  que  tocava  a 
massa  do  pêndulo  :  em  fim ,  parece  que  M.  Gregorjr 
e  o  seu  companheiro,  o  capitão  Colby>  pensão  que 
a  situação ,  escolhida  por  M.  Bíot  em  Buness ,  não  era 
conveaiente » como  stação  astronómica»  ^ 

Na  mesma  Memoria,  M.  Gregory  faz  conhecer  os 
)mncipaes  resultados  das  suas  experiências  :  para  isto  , 
começa  por  estabelecer  a  medida  da  variação  da  suu 
pêndula  asti^onomica ,  e  mostra  que ,  a  pez)ar  das  va- 
riações consideráveis  da  temperatura ,  e  da  pressão  da 
atmosphera  1  a  da  ditta  pêndula  não  pode  ser  avaliada 
«m  mais  de  \  de  segundo,  por  dia  \  de  sorte  que,  pelas 
euas  experiências,  feitas  com  aquelle  instrumento, 
pensa  M.  Gregory  poder  concluir  que ,  em  Balta ,  la- 
titude N.  60^  4^'  3*^,  a  120  pés  de  elevação  sobre  o 
nivd  do  mar,  a  extensão  do  pêndulo,  calculada  a  huma 
temperatura  de  5o®,  be  de  39,1714  pollegadas  inglezas; 
e  em  Woolwich,  aos  S\^  a8'4i'  lat.  N.  a  aoi  pés  de 
elevação,  a  ditta  extensão  não  he  senão  de  39ii36. 


ifo  Notícias  das  SdenciaSf 

Porém ,  se  acaso  se  trata  de  applicar  estes  elementoi 
á  questão  da  figura  da  Terra ,  M.  Gregory  acha  que 
he  essencialmente  necessário  reduzir  todas  as  obser- 
yações  ao  mesmo  nivel :  d*esta  operação  condue  âle, 
que  a  relação  entre  a  extensão  do  pêndulo  em  Wd- 
l/vich  e  Balta  be  : :  i  :  1,0009379.  Comtudo  ,  por  muito 
exactas  que,  por  este  meio,  se  achem  aqnellas  relações, 
o  astrónomo  inglez  não  pensa  que,de  observações  assim 
isoladas,  se  possa  concluir,  com  segurança,  a  respeito 
da  figura  da  Terra;  mas  que  ellas  podem  somente 
servir  para  augmentar  a  serie,  obtida  em  differentés 
lugares ,  por  differentés  observadores ,  a  úm  de  chegar 
hum  dia  a  hum  resultado  geral  a  respeito  da  diflè* 
rença  dos  dois  diâmetros  da  terra ,  a  qual  M.  Gregoi7 
entende  não  diJSèrir  muito  de  ^5,0  que  também  re- 
sulta por  meio  da  theoria  da  Lua- 

Para  provar  a  primeira  parte  da  sua  proposição ,  o 
autor  publicou  huma  Taboa  coríosa  $  onde  ajuntou  os 
principaes  resultados ,  obtidos  a  este  respeito  em  diffe- 
rentés pontos  do  globo ,  nestes  dois  últimos  séculos , 
calculando  todos  os  resultados  em  pollegadas  inglezas. 
Naquella  Taboa  se  encontrão  anomalias  mui  singulares. 

A  pezar  dos  numerosos  trabalhos  emprefaendidos , 
ha  quasi  i5o  annos ,  para  determinar  a  figura  da  Terra , 
a  pezar  da  exacção  das  operações  e  da  perfeição  dos 
instrumentos ,  os  resultados  não  parece  corresponderem 
ao  tempo  e  meios  empregados.  M.  Fisher»  em  huma 
Memoria ,  publicada  no  Diário  de  Edimburgo ,  depois 
de  ter  mostrado  as  anomalias  que  ha  entre  as  obser- 


ãas  Artes  etc.  iii 

vações  de  medidas  de  arcos  do  merídiatio,  e  as  dá 
extensão  do  pêndulo,  em  difTerentres  latitudes ,  tira 
por  conclusão,  4ue  a  totalidade  das  observações  do 
pêndulo  parece  provar  o  contrario  do  que  até  aqui 
se  tem  concluído ,  da  medida  dos  arcos  do  meridiano ; 
isto  he ,  que  os  meridianos  são  rigorosamente  ellipti^ 
cos  y  ou  que ,  pelo  menos ,  as  differenças  da  hypo^ 
these  elliptica  se  achâo  comprehendidas  nos  limitei 
dos  erros  das  observações;  de  sorte  que ,  a  extensão  do 
pêndulo ,  em  todas  as  latitudes ,  seria  de  39,0081  pob- 
legadas  inglesas;  ( Sen.  lat.  y  x  o,<it<i8  poUegadas,  a  6^ 
de  Fahr.  escala  de  Sir  George  Shuckburgh. 

Em  todos  os    casos,  seria  mui  conveniente  achar 

hum  terceiro  methodo ,  que  podesse  dar  x>u  resultados 

mais  certos,   ou  a  confirmação  de   alguns  dos  dois 

metfaodos  conhecidos*    M.  Cagnoli  tinha  já  em  1793 

publicado ,  nas  JUeUnorias  da  Sociedade  italiana ,  huma 

Memoria,  em  que,    por   meio  das  occultações  das 

estrellas  fixas,  propunha  o   methodo  de  determinar 

com  facilidade ,  e  com  a  maior  precisão ,  as  differenças 

que  existem  entre  os  raios  terrestres  e  hum  numero 

infinito  de  pontos  da  superfide  da  terra,  M.  BaUty 

publicou  agora  em  Inglaterra ,  no  citado  Magazine  òe 

Tilloch ,  aqiiella  Memoria ,  traduzida  e  accrescentada 

com  muitas  notes. 

Este  methodo  de  M.  Cagnoli,  parece-se  alguma 
cousa  com  o  que  Maupertuis  e  Manfredi  propozerào 
antigamente ;  porém,  em  vez  de  empregar,  como  estes , 
a  parallaxe  da  Lua ,  M.  Cagnoli  serve-se  da  duração 


ii<i  Noticias  das  Sciencias  ^ 

das  occultações  das  estrellas  fixas  por  detraz  d*aqaelle 
astro  j  de  que  Maupcrtuis  tinha  apenas  fallado  muito 
geralmente.  O  astrónomo  italiano  parece  demonstrar 
que  se  pode  perceber  humadiiierença  de  Soo  pés  na 
eii^nsão  de  hum  raio  da  terra,  visto  que  esta  dif- 
ferença  pode  produzir  outiva  de  hum  segundo  de 
tempo  y  na  duração  da  occultaçào;  porém ,  he  provável 
que  j  a  altura  da  Lua ,  e  a  corda  do  seu  disco  ^  que 
atravessa  a  estrella ,  circumstancias  necessárias  para 
fazer  observações  úteis ,  sendo  muito  pequenas ,  esta 
circumstancia  obstará  á  applicação  do  methodo>  que 
alias  exige  bem  poucas  condições  dií&ceis  ^  visto  que » 
para  proceder  por  elle  y  basta  hum  telescópio  ,  por 
onde  possãover-se  distinctamente  as  estrellas, quatído 
tocão  o  lado  illuminado  do  disco  lunar ,  e  hutn  botíi 
pêndulo ,  que  marque  segundos. 

Cartas  geographicas.  No  Tom.  Vi,  pag*  8i  da  a». 
Parte ,  dissemos  que  se  ti*atava  de  executar  hum  a  nova 
carta  de  França.  Os  trabalhos  geodésicos,  necessários 
para  a  execução  d'esta  carta ,  tem-se  continuado  coiH 
actividade  *,  já  se  está  medindo  a  perpendicular  de 
Strasbourga  Brest ,  como  então  annunciámos ,  e  alem 
disso  ,  meredianas  e  perpendiculares ,  distantes  enU^e 
8Í  duzentos  metros ,  as  quaes  servirão  para  rectificar  a 
triangulação  primaria ,  que  deve  serVir  de  base  á  triati" 
gulação  de  segunda  ordem.  Estes  triângulos  de  segunda 
ordem  serão  depois  subdivididos  por  outra  triangu** 
lução  de  terceira  ordem ,  que  servirá  de  base  e  de 
rectificação  aos  trabalhos  mais  miúdos  e  circumstan* 


das  Artes y  etc.  ii3 

ciados  do  Censo  territorial.  Mas ,  para  isto ,  ainda  será 
forçoso  recorrer  a  huma  quarta  triangulação,  que 
será  a  base  definitiva  ,  na  qual  se  fundarão  os  levan- 
tamentos topograpliicos  fornecidos  pelo  ditto  censo , 
e  reduzidos  á  escala  de  hum  decimo-millesimo ;  aos 
quaes  porém  os  engenheiros  geographos  ajuntarão  a 
configuração  do  terreno  e  o  systema  das  curvas  de 
nivel  y  de  dez  em  dez  metros  de  altura. 

Esta  carta ,  não  obstante  ser  levantada  sobre  huma 
escala  de  hum  decimo-millesimo  ,  será  gravada ,  com- 
tudo,  sobre  huma  escala  menor,  mas  que  dará,  assim 
mesmo ,  ainda  6io  folhas  de  o^fi  sobre  o'",^. 

Trabalhos  geodésicos.  M.  DelcrosSj  Engenheiro  geo- 
grapho  francez ,  publicou  em  a  BibUotheca  Universal 
huma  Memoria  sobre  a  medida  da  base  de  Darmstadt , 
executada  em  1808,  porMM.  fcArAaráif  e  Schleyemwr 
cher^  hessezes,  para  a  qual  estes  sábios  lhe  commu- 
nicárâo   generosamente   as   suas   notas   manuscriptas. 
Alli  se  podem  ver  provas  evidentes  da  exactidão  rigo- 
rosa, a  que  se  pode  chegar  hoje,  nesta  casta  de  medidas, 
por  quanto,  M.  Delcross,  por   meio  de  huma   serie 
de  triângulos, que  partia  da  base  de  Ensisheim,  medida 
pelo  coronel  Henrí,  chegou,  relativamente  á  base  de 
Darmstadt ,  a  hum  resultado ,  que  não  differe    senão 
o,'''  116,  do  que  tinhão  obtido  directamente  os  En- 
genheiros hessezes. 

'    O  professor  Tre^cAe/ estabeleceo  huma  triangulação 
no  Cantão  de  Berne ;  se  este  trabalho  se   conclue , 
Tom.  IX.  P.  aa .  BB 


ii4  Noticias  das  ScienciaSy 

como  lie  de  presumir,  e  os  outros  Cantões  imitlio  o 
de  Berne ,  a  triangulação  Europea  do  S.  ao  N.  ^  desde 
Formentera  até  ás  Illias  Sbelland ,  e  ao  S* ,  de  Gene*- 
bra  a  Munich  e  a  Gotiia,  quasi  não  experimentará 
interrupção  alguma^ 

Deve  ter^se  também  como  concorrendo  para  o  mesmo 
fim  y  isto  lie ,  para  huma  boa  carta  geral  da  Suissa ,  a 
determinação  exacta  da  posição  geographica  de  S.  Gull, 
que  M.  Scberer,  em  outra  Memoria  igualmente  publi- 
cada na  Bibliotheca  Universal ,  fixou  em  47^  ^^^ ^0"^^^ 
de  latitude ,  como  termo  médio  de  quinhentas  obser- 
vações de  distancias  circummerídianas  do  Sol  ao 
zenith,  e  em  i']^i!o'  de  longitude  da  liba  do  Ferro, 
igualmente  termo  médio  de  dezasete  occultaçòes  de 
estrellas  fixas  pela  Lua. 

M.  de  Laplaoe^  por  meio  da  sua  AppUcação  do  cal^ 
eido  das  probabilidades  ás  operações  geodésicas  ^  con* 
correo  para  dar  ainda  maior  segurança  sobre  a  avalia- 
ção dos  erros ,  que  podem ,  a  pezar  de  tudo, por  efieito 
de  circumstancias ,  introduzir- se  nesta  casta  de  ope-' 
rações. 

A  parte  do  meridiano  que  se  estende  desde  Perpí»* 
gnan  até  Formentera ,  he  estabelecida  sobre  a  base 
medida  em  Perpignan ;  a  sua  extensão  he  quasi  de  460 
mil  metros.  He  para  recear,  que  liuma  extensão  tão 
grande ,  e  que  não  foi  verificada  ,  por  meio  de  huma 
segunda  base,  medida  na  outra  extremidade ,  seja 
susceptível  de  hum  erro  considerável,  insultado  do« 


das  Artes ,  etc.  1 1 5 

erros  parciaes  ,  que  poderiào  ter-se  commettído  nos  26 
triângulos  que  servirão  para  determinar  a  ditta  esc- 
tensào.  Por  tanto ,  era  importante  determinar  a  pro- 
babilidade de  que  o  errç  não  exc^ia  40,  ou  5o  me- 
tros. M.  Damoiseau ,  servindo-se  das  formulas  de  M . 
de  Laplace  y  achou  que  os  limites ,  entre  os  quaes  ha 
hum  contra  hum  a  apostar  que  o  erro  deve  cahir, 
são  +_8™,  0937. 

M.  Delambre,  examinando ,  ha  mais  tempo,  esta 
questão ,  e  comparando  as  bases  de  Perpignan  e  de 
Melun  ,  que  se  ajustão  ^  com  differença  de  algumas  pol- 
legadas ,  e  esta  de  Melun  com  as  de  Honslow-Heath 
e  de  Romney-M arsh ,  que  se  ajustão  em  dar  a  mesma 
distancia  de  1 4*000  toesas  entre  Dunkerque  e  Cassei, 
tinha  concluído,  com  grande  verosimelhança ,  que  o 
erro  ,  no  arco  inteiro ,  não  era  de  hum  centésimo 
millesimo.  O  calculo  de  M.  Damoiseau  dá  quasi  -íVoõõ 
para  o  arco  de  Hespanha ,  separado  do  resto ,  donde 
resulta  a  confirmação  d^aquella  copclusão  de  M.  De- 
lavàbre ,  isto  he  ,  que  o  erro  incógnito ,  qualquer  que 
elle  seja,  nãa  pode  ser  de  grande  importância  nog 
usos  reaes. 

Estes  mesmos  cálculos  servem  a  M .  de  Laplace  para 
provar  quanto  a  introducção  do  circulo  repetidor  nas 
operações  geodésicas  tem  sido  vantajosa.  Com  eflèito, 
elle  acha  que  o  erro  de  8  metros,  que  seria  possível 
suppôr,  teria  sido  de  iS  metros,  com  os  instrumentos 
de  La  Condamine ,  e  de  4o  com  os  de  La  Caille.  Daqui 
resultaria,  que  os  primeiros  seriâo  melhores ,  que  0% 

8  * 


ii6  y odeias  das  Sciendas  , 

segundos;  porém  M.  Delambre  acha  esta  proposição, 
pelo  menos ,  duvidosa ,  e  eis-aqui  os  motivos. 

Boagner  dá  os  seus  ângulos, não  somente  reduzidos 
ao  centro,  mas  corrigidos  do  erro  do  seu  quarto  de 
circulo ,  e  até  da  difierença  entre  i8o  e  a  som  ma  dos 
três  ângulos.  Elle  tinha  tomado ,  para  estas  reducçôes , 
hum  methodo  expedito,  que  hoje  ninguém  ousaria 
propor.  La  Condamine  imitou  Bouguer  em  tudo,  salvo 
nisto.  Por  tanto,  seria  de  crer  que  os  erros  dos  seus 
triângulos  poderiào  ser  conhecidos ;  mas,  para  dizer 
a  verdade ,  não  temos  mais  do  que  os  seus  augulos , 
taes  quaes  elle  os  avaliou ,  ou  taes  qnaes  elle  no-los 
quiz  dar.  Bouguer,  ao  menos ,  diz-nos  que  raras  vezes 
o  erro ,  na  somma  dos  seus  três  ângulos  ,  era  de  So'' ; 
La  Condamine  nada  diz  a  este  respeito.  Nós  temos  as 
observações  originaes  de  La  Caillç  em  grãos  e  partes 
do  micrometro ;  estas  mesmas  fracções  deo-no-las  elle 
transformadas  em  segundos ;  deo-nos  também  os  ele- 
mentos das  suas  reducçôes  de  numerosos  contornos 
do  hoiízonte.  Por  tanto ,  podemos  lisongear-nos  de 
conhecer  assaz  precisamente  o  grão  d*exacçào  das  suas 
operações ;  pode  por  ventura  ,  diz  M.  Delambre,  dizer- 
se  outro  tanto  de  La  Condamine  ?  Finalmente ,  para 
achar  o  erro  médio  de  La  Caille ,  temos  129  triângulos  ^ 
e  não  temos  senão  4o  de  La  Condamine.  Por  tanto , 
conclue  M.  Delambre ,  propenderemos  para  crer  que 
a  vantajem  do  circulo  repetidor,  sobre  os  antigos  in- 
strumentos,  he  provavelmente  de  40:8, ou  de  5:t ,  e 
não  somente  dea5:8,  ou  proximamente  de  3:i. 


das  Artes  j  etc.  117 

As  medidas  das  altuAis ,  acima  do  nivel  do  mar  > 
sendo  de  grande  importância  ,  ainda  nas  cartas  geo* 
grapliicas  particulares ,  e  a  facilidade  com  que  as  dittas 
medidas  se  podem  obter,  por  meio  do  barómetro , 
tem  feito  com  que  muitas  pessoas  se  tenhão  occupado 
em  aperfeiçoar  este  processo ;  porém  como  não  falta 
quem  pertenda  desacreditá-lo,  M.  Delcross,  que  se 
propõe  provar,  pela  experiência ,  que  os  resultados  obti- 
dos pelos  dois  methodos  sào  idênticos,  quando  estes 
se  sabem  applicar  convenientemente ,  deo  d^isto  huma 
prova  indubitável,  mostrando  que  a  altura  do  monte 
Ventoso  y  medida  por  elle ,  por  meio  do  barómetro, 
não  diHere  da  que  obteve  La  Caille ,  senão  o" ,5o ,  e  que 
he,  trígonometricamente ,  de  i957",74>e  barométrica- 
mente,  de  1957". 

Parece  que  a  exacçâo  não  he  a  mesma ,  quando , 
em  vez  de  barómetro,  se  emprega  o  thermo-baro- 
metro  de  M.  WoUaston.  M.  Murraj,  servindo^se  d'este 
ultimo  instrumento  na  medida  do  Mont-Cenis,  achoo 
huma  differença  de  577,75  pés  inglezes ,  sobre  a  que 
dá  o  barómetro  de  mercúrio.  Podem  consultar-se  os 
Anníds  qf  philosophy.  Tom.  i3. 

Viajens.  He  bem  conhecida  a  grande  questão ,  sus- 
citada desde  o  tempo  de  Heródoto ,  entre  os  historia- 
dores e  geographos,  sobre  a  longa  viajem  dos  Phe- 
nicios  á  roda  da  Africa*  Todos  concordào  em  que, 
este  povo  industrioso ,  sáhindo  dos  portos  de  Elath  e 
de  Esiongabar,  sobre  o  Mar  vermelho,  fazia  o  com- 
mercio  do  ouro  de  Ophir ,  na  costa  oriental  da  Africa» 


íj8  Noticias  das  Sciencias  , 

e  que  por  outro  lado ,  embarAindo  nos  portos  àt  Tyro 
e  de  Sydonia ,  trazia  a  sua  industria  j  pelo  medíterra* 
neo  y  até  Tarsis ,  na  costa  meridional  da  Hespanha ; 
porém  y  o  4ue  huns  não  accreditão ,  e  outros  dão  por 
certo  y  he  que ,  estes  povos ,  proseguindo  aquella  pri** 
meira  viajem  de  Ophir,  dobrassem  o  Cabo  de  Boa 
Esperança,  e  depois  de  costearem  a  Africa  pelo  poente , 
aportassem  a  Tarso,  donde  retrogradando ,  pela  mesma 
derrota  ,  tomassem  a  entrar  nos  portos  do  Mar  ver- 
melho ,  de  que  tinhão  sabido  \  gastando  três  annos 
nesta  importante  viajem ,  da  qual  recebião  dobrado 
interesse ,  por  trocarem  com  os  bárbaros,  á  vinda,  o 
ouro  e  mais  géneros  do  Oriente ,  e  á  ida »  a  prata ,  o 
estanho  e  outras  mercadorias  da  Betica. 

Huma  obra  periódica  de  Calcutta  annuncja  agora, 
que  em  huma  excavação ,  perto  do  Cabo  de  Boa  Espe- 
rança ,  se  descobrira  ultimamente  hum  casco  de  navia 
de  Cedro.  Pertencia  este  navio  aos  Phenicios  t  He  ello 
huma  prova  lasás  d*aqueUaa  viajens  ? 

c.  X 


^vw^^^**^^*^^ , 


das  Artes  ,  etc,  1 1 9 


BIBLIOGRA.PHIA. 


«»»»%vi^^'%^^»^%<%»»»^ 


França. 


^  o  IV  Volume  dos  "Annaes  ,  dêmos  hum  extracto  da 
Taboa  bíbliographica  das  obras  que  se  publicarão  em 
França  y  em  1818,  agora  daremos  o  extracto  da  ditta 
Taboa  relativa  a  1819,  o  qual  não  foi  já  incluido  no 
VIU  Volume  ,  por  ella  nào  se  ter  ainda  publicado , 
na  epoclia  em  que  o  ditto  volume  se  acabou  de 
imprimir. 

Theohgia, 

Bíblias ,  Extractos  e  obras  relativas  a  este  objecto      3i. 

Liturgia  33. 

Catechismos ,  Cânticos  c  Sermonarios  S%. 

Apologistas  ,  Mysticos  ,  etc.  i36. 

Jurisprudência, 

Direito  natural ,  Romano  e  Francez  aoS. 

Sciencias  e  Artes, 

Pliilosophia  y  Lógica ,  Meiapbysica ,  Moral  4^. 

Educação  e  Livros  de  educação  127. 

Fconomia  politica  »  Politica,  Administração  ^ç[ò. 

Finanças  139. 


120  Noticias  das  Sciencias  , 
Commercio  ,  Pesos  e  Medidas  3). 
Pbysica ,  Chymica ,  Phannacia  44. 
Historia  natural  43. 
Âgiicultura  I  Economia  rural ,  Veterinária  e  do- 
mestica 4o. 
Medecina  e  Cirurgia  12^ 
Mathematicas  3o« 
Astronomia  io« 
Marinha  21. 
Arte ,  Administração  e  Historia  militar  92. 
3ciencias  occultas ,  Pbysiognomonia  10, 
Jogos ,  Gymnastica  ^  etc.  a3« 
Escríptura  e  Typographia  q« 
Artes  e  Officios  35« 
Bellas  Arteç  •j4^ 

Bellas  Letras. 

Cursos  de  literatura ,  GrammaticaSf  Diocionaríos     go» 

Bhetorica  e  Eloquência  37. 

Poética  e  Poesia  294. 

Theatro                          ,  198. 

Romances  e  Novellas  189, 

Mythologia  e  Fabulas  17, 

Philologia  y  Crítica,  Miscellanea  i55, 

Polygraphos  61  ♦ 
Epistolares                     ^                                           .    21% 

ffistoria^ 

Geographia  a5. 

Yiajens  e  Naufrágios  37  ^ 


das  Artes  ,  etc,  iii 

Chronologia ,  Genealogia  e  Historia  universal  1 3. 
Historia  sagrada,  ecclesiostica ,  Goncordatos  j 

Missões ,  etc.  "  4^. 

Historia  antiga ,  Grega  e  Romana  i3. 

Historia  moderna  de  differentes  povos  36. 

Historia  de  França  i34. 

Antiguidades ,  .Numismática  i5.v 

Sociedades  secretas  e  particulares  65. 

Sociedades  de  sábios  23. 
Bibliograpbia  y  Historia  literária ,  Obras  periódicas , 

Gazettas  171* 

Biographia  ,  Extractos  1 1 1^ 

Ao  todo  3:595  obras :  isto  he,  menos  34  >  que  em  i8i8. 

Portugal. 

O  desleixo,  que  tem  havido  entre  nós ,  de  ajuntar 
documentos-  e  Memorias  »  em  todos  os  géneros  ,  para 
formar  a  Statistica  dopaiz^tem-se  estendido  igualmente 
á  parte  bibliographica  :  nào  sabemos  que  se  haja  publi- 
cado,  em  Portugal,  trabalho  algum  regular  a  este  res- 
peito ,  o  qual  comprehenda  annualmente  os  productos 
das  diversas  typographias  do  Reino  .-parece -nos  que  este 
seria  hum  serviço  bem  digno  de  hum  amante  das  nos- 
sas cousas ,  com  o  qual  disporia  hum  dos  elementos 
indispensáveis  para  as  historias  literária  e  typogra- 
phica  da  Nação  ,  e  ajuntaria  materiaes  de  summo  in- 
teresse,para  hum  continuador  da  Bibliotbeca  Lusitana» 
que  tanto  nos  vai  tardando. 

Privados  pois  de  consagrar  1  por  ora>  nesta  nossa  Obra' 


laa  Notícias  das  Sciencias  , 

hnm  ti^abalho  geral  a  este  respeito ,  que  desejaríamos 
hum  dia  ver  publicado ,  para  interesse  da  literatura 
nacional ,  ofiereceremos,  rio  fim  d'este  artigo ,  ao  leitor 
o  excellente  Catálogo  das  obras  ]â  impressas ,  e  man- 
dadas publicar  pela  Academia  Real  das  Sciencias  de 
Lisboa ,  tal  qual  aquélla  distincta  Sociedade  o  man- 
dou ordenar  e  publicou  em  1819.  '* 

O  desejo  que  temos  de  que  prospere  a  gloria  lite- 
rária do  nosso  paiz«  pede  que  demos  a  maior  publi- 
cidade ,  que  nos  he  possivel ,  a  esta  preciosa  collecçâo 
de  trabalhos  de  sábios  portuguezes ,  que  talvez  não 
he  assaz  conhecida  nos  diíTerentes  dominios  nacio- 
naes ,  e  que  de  certo  o  nào  he  nos  paizes  estrangeiros , 
bem  que ,  em  huns  e  em  outros ,  muito  o  mereça  ser. 

Por  esta  occasiào  ajuntaremos  aqui  o  que,  a  res- 
peito doestes  trabalhos ,  e  da  Sociedade  a  quem  elles 
se  devem,  diz  M.  diHauUfort^  em  huma  Obra  que 
sahio  a  publico  em  Paris  no  mez  de  Maio  d* este  anno  ^ 
intitulada  :  Coup  (fceil  sur  Lisbonneet  Madrid  en  181 4» 

«  Ha  em  Lisboa  ,  diz  o  autor ,  huma  Academia  das 
Sciencias. . .  São  conhecidas  as  Memorias  d'esta  dis- 
r .  tincta  Corporação ,  que  teve  por  fundador  o  celçbre 
Duque  de  Lafões*  Estas  Memorias  contém  Tratados 
de  Botânica  e  de  Mathematica,  tidos  em  estimação , 
e  outros  muitos ,  escriptos  sobre  matérias  de  Economia 
politica  ,  industriosa  e  agrícola ,  que  attestão  ao  mesmo 
tempo  os  talentos  e  o  patriotismo  de  seus  autores. 
Esta  Academia  tem-se  occupado  cqm  utilidade,  da 


das  Artes,  etc.  viò 

historia  e  da  literatura  nacional ,  fazendo  publicar  dif* 
ferentes  obras ,  sobre  estes  dois  objectos.  » 

No  Volume  seguinte  daremos  hum  Artigo  sobre  a 
obra  de  M.  d*Hautefort,  a  qual  tem  direito  a  huma 
honrosa  menção  nos  nossos  Annaes ,  pela  imparciali* 
dade  com  que  falia  de  Portugal ,  e  das  cousas  que 
lhe  respeitào;  imparcialidade  tão  rara  em  viajantes 
estrangeiros,  os  quaes,  algnmas  vezes  por  má  fé>  e 
muitas  por  ignorância  indesculpável ,  tem  escripto  a 
nosso  respeito  cousas  muito  mais  injuriosas  a  elles, 
de  que  á  Nação  e  aos  homens ,  que  elles  tem  perten* 
dido  menoscabar. 

C.  X. 


COLLECÇÓES. 

I.  Memorias  de  Agricultura  premiadas  pela  Acade* 
mia  desde  1787  —  1790  :  a  vol  8<>. 

O  Tomo  I.  contam  Memorias  sobre  a  cultura  das  vinhas  ; 
por  José  Veríssimo  Alvares  da  Silva.  — Memoria  sobre  os 
meios  de  suprir  a  falta  dos  estrumes  anímaes ,  por  ManoelJoa- 
çuim  Henriques  de  Paiva.  —  Duas  outras  Memorias  sobre  o  mes- 
mo assumpto ;  por  José  Feríssimo  Alvares  da  Silva ,  c  Cons" 
tantino  Botelho  de  Lacerda. 

O  Tom.  II.  contém  duas  Meiborías  sobre  a  Cultura  da  Vinha 
e  manufactura  de  Vinho ;  por  Fiancisco  Pereira  Rebello  da  Fo9ir 
seca ,  e  Vicente  Coelho  de  Seabra. 

a.  Memorias  Económicas  para  o  adiantamento  da 


124  Noticias  das  Sciencias  , 

Agricultara  y  das  Artes ,  e  da  Industria  Pórtugaezar 
5  vol.*  4®-  de  1789 —  181 5. 

O  Tom.  I.  contém  Memoría  sobre  a  Gaaxima  ;  por  José  Hat 
rigues  Ferreira:  —  Memoria  sobre  a  Ferrugem  das  OlÍTeiras ; 
por  Domingos  Vandelli,  — Memoria  sobre  os  grandes  bene6cios 
do  Sal  commum  em  geral ;  e  em  particular  do  Sal  de  Setúbal , 
comparado  experimentalmente  com  o  de  Cadiz  ;  e  por  analogia 
com  o  de  Sardenlia  ,  e  o  de  França ;  por  José  Joaquim  Soares 
de  Barros,  Memoria  sobre  o  Algodão ,  sua  cultura ,  e  fabrica; 
pelo  P.  João  de  Loureiro •  —  Memoria  sobre  a  Agricoltura ,  e 
população  da  Provincia  do  Aldm-Te')0  ;  por  António  Henriques 
da  Silveira» — Memoria  sobre  as  causas  da  differente  população 
de  Portugal  em  diversos  tempos  da  Monarquia ;  por  José  Joa^ 
quim  Soares  de  Barros.'— '"iAemorisi  sobre  a  transplantação  das 
Arvores  mais  utcis  de  paizes  remotos;  pilo  P.  João  de  Loureiro», 
-—Memoria  sobre  a  Agricultura  d* este  Reino ^  e  das  suas  Con- 
quistas ;  por  Domingos  f^andelli,  —  Memoría  sobre  algumas 
Producções  doeste  Reiuo ,  das  quaes  se  poderia  tirar  utilidade  ; 
pelo  mesmo,  —  Memoria  sobre  algumas  Prodncções  naturaes  das 
Conquistas ,  as  quaes  são  pouco  conbecidas,  ou  não  se  aproTei- 
íSLO;pelo  mesmo.  —  Memoria  sobre  as  príncipaes  cansas,  por 
que  o  luxo  tem  sido  nocivo  aos  Portuguezes ;  por  José  Feríssima 
Alvares  da  Silva.  —  Memoría  sobre  as  Producções  naturaes  do 
PeÍDO,  e  das  Conquistas  ,  primeiras  matarias  de  differentes  Fa- 
bricas ,  ou  Manufacturas;  por  Domingos  FandeUL-^^Memonit 
sobre  a  verdadeira  Influencia  das  Minas  dos  MetaeS  preciosos 
na  Industria  das  Nações  que  as  possuem ,  e  especialmente  da 
Portugueza ;  por  D.  Rodrigo  de  Sousa  Coutinho.  —  Memoria 
sobre  a  preferencia  que  em  Portugal  se  deve  dar  ã  Agricultura 
sdbre  as  Fabrícas;  por  Domingos  FandellL  —  EaasÁQ  áe  lye»- 
cripção  Pbysica ,  e  Económica  de  Coimbra  y  e  seus  arredores  ; 
por  Manoel  Dias  Baptista,  —  Memoria  sobre  a  antiga  Fabríca 
de  Pedj-a-hume  da  liba  de  S.  Miguel ;  por  João  António  Júdice.. 
-•  Eusaio  de  Descrípção  Fysica,  e  Económica  da  Comarca  doa 


cias  Artes  jCtc.  12  5 

Ilhcos  na  America  ;  qor  Manoel  Ferreira  da  danara. — Me- 
moria Agronómica  relativa  ao  Concelho  de  Chaves ;  por  José 
Ignacia  da  Costa,  —  Memoria  sobre  a  Mina  de  Chumbo  do  Rio 
Pisco  ;  por  João  Botelho  de  Lucena  Almeida  Beltrão^ — Memo* 
ria  sobre  a  Fabrica  Real  do  Anil  da  Ilha  de  Santo  Antão;  por 
J,  da  Silva  Feijó. 

O  Tom.  II .  contém  Memoria  sobre  a  preferencia  que  entre 
nós  merece  o  estabelecimento  dos  Mercados  ao  uso  das  Feiras 
de  anno  para  o  Commercio  inlrinseco ;  por  Thomaz  António  de 
yilla-Nova  Portugal» — Memoria  sobre  a  cultura  das  Vinhas  de 
Portugal ;  por  Constantino  Botelho  de  Lacerda  Lobo,  — Memori^. 
sobre  a  Cochonilha  do  Brasil ;  por  Joaquim  de  Amorim  Castro* 
—  Memoria  sobre  o  Paul  de  Otta  ,  suas  causas,  e  seu  remédio; 
por  Estevão  Cabral,  —  Memoria  sobre  os  damnos  causados  pelo 
Tejo  nas  suas  ribanceiras;  pelo  mesmo,  —  Continuação  da  Me- 
moria sobre  a  cultura  das  Vinhas. —  Observações  feitas  por  or- 
dem da  Real  Academia  de  Lisboa  á  cerca  do  Carvão  de  pedra  , 
que  se  encontra  na  Freguezia  da  Carvoeira ;  por  Manoel  Fer^ 
reira  da  Camará.  —  Memoria  á  cerca  da  cultura,  e  utilidade 
dos  Castanheiros  na  Comarca  ie  Portalegre ;  por  Joaquim  Pedro 
Fragoso  de  Siqueira,  —  Memoria  sobre  as  Azinheiras  ,  Soverei- 
ras  ,  e  Carvalhos  da  Provinda  do  Além-Téjo  ,  onde  se   trata  de 
sua  cultura ,  e  dos  melhoramentos ,  que  no  estado  actual  podem 
ter ;  pelo  mesmo,  —  Memoria  sobre  as  Fabricas  de  Ferro  de  Fi- 
gueiró; por  José  Martins  da  Cunha  Pessoa, — Memoria  sobre  a 
Pesca  das  Baleas,  e  extracção  do  seu  Azeite,  com  algumas  re- 
flexões a  respeito  das  nossas  Pescarias  ;  por  José  Bonifácio  de 
And  rada  e  Silva,  —  MemoriS  sobre  a  cultura  dos  terrenos  Bal- 
dios que  ha  no  Termo  da  Villa  de  Ourem ;  por  Thomaz  António 
de  Villa-Nova  Portugal,  —  Memoria  sobre  varias   misturas   de 
matérias  vegetaes  na  factura  dos  Chapéos  ;  por  Domingos  yan- 
delli, —  Memoria  sobre  o  modo  de  aproveitar  o  Carvão  de  pe- 
dra, c  os  p aos  bi luminosos  d' este  Reino  ;  pelo  mesmo, 

O  Tom.  III.  contém  Memoria  sobre  a  utilidade  dos  conheci- 


ia6  Noticias  das  Sciencias , 

mentos  da  Cbjniica  em  quanto  applicados  á  Arte  de  constmir 
Edifícios ;  por  Alexandre  Ardonio  das  Neves  Portugal.  —  Me- 
moria sobre  o  Encanamento  do  Rio  Mondego;  por  Domingqs 
yandeUi.  —  Memoria  aobre  ai  Aguas-ardentes  da  Companhia 
Geral  do  Alto-Douro ;  por  José  Jacinto  de  Sousa. — Descripçia 
Económica  do  Território  que  vulgarmente  se  chama  Alto-Donro; 
por  Francisco  Pereira  Rebello  da  Fonseca, —  Memoria  sobre  o 
estado  da  Agricultura,  e  Coraraercio  do  Alto-Bouro. —  Memo- 
ria sobre  a  causa  da  doença  ,  chamada  Ferrugem ,  que  vai  gras- 
sando nos  Olivaes  de  Portugal ;  por  António  Soares  Barbosum  — 
Memoria  sobre  os  damnos  do  Mondego  no  Campo  de  Coimbra, 
e  seu  remédio;  por  Estevão  Cabral,  —  Memoria  sobre  os  Juros 
relativamente  á  cidtura  das  Terras ;  por  Thonutz  António  de 
Villa-Nova  Poi^tugal.  —  Descripção  Económica  da  Torre  de 
Moncorvo ;  por  José  António  de  Sd,  —  Memoria  sobre  o  Tanque 
e  Torre  no  sitio  chamado  em  Lisboa  ,  Amoreiras  ,  pertencente 
ás  Aguas-Livres  ;  por  Estevão  Cabral,  —  Observações  que  seria 
iitil  fazerem-se  para  a  Descripçio  Económica  da  Comarca  de 
Setúbal ;  por  T!u)maz  António  de  Fiiia-JVova  Portugal,  —  Ex- 
tracto das  Posturas  da  Villa  de  Azeitão  ,  Comarca  de  Setúbal ; 
por  Joaquim  Pedro  Gomes  de  Oliveira,  —  Observações  sobre 
o  Mappa  da  povoação  do  Termo  da  \illa  de  Azeitão  ;  por  27iO' 
maz  António  da  ViUa-Nova  Portugal.  —  Memoria  sobre  a 
cultura  do  Ricino  era  Portugal ,  e  manufactura  do  seu  óleo;  por 
Vicente  Coelho  de  Seabra,  —  Apontamentos  sobre  as  Queima- 
das era  quanto  prejudiciaes  á  Agricultura  ;  por  Alexandre  An' 
tonio  das  Neves  Portugal,  —  Memoria  sobre  a  decadência  da 
Pescaria  de  Monte  Gordo ;  por  Constantino  Botelho  de  Lacerda 
JLobo,  —  Memoria  sobre  as  Aguas  Livres ;  por  Domingos  Van* 
delli,  —  Blemoría  sobre  o  preço  do  Assucar  ;  qor  José  Joaquim 
da  Cunha  Azeredo  Coutinho  —  Memoria  sobre  o  Mahraisco  do 
dcstricto  da  Villa  da  Cachoeira  no  Brasil;  por  Joaquim  de  Amo* 
rim  Castro, 

O  Tom.  IV.  contém  Discurso  Académico  ao  Prograinma  «  De- 


das  Artes  ,  etc.  127 

»  terroiaar  com  todos  os  seus  symptomas  as  Doenças  âgadas ,« 
»  chronicas ,  que  mais  frequentemente  accommettem  os  Pretos 
»  recém- tirados  da  A&ica  :  examinando  as  causas  da  sua  mo^ 
to  tandade  depois  da  sua  chegada  ao  Brasii  :  te  talvez  a  mu- 
«  dança  do  clima ,  se  a  vida  mais  laboriosa ,  oh  se  algans  outrds 
u  motivos  concorrem  para  tanto  estrago  :  e  finalmente  mdicar 
»  os  methodos  mais  apropriados  para  evitálo  ;  tudo  isto  dedu- 
»  zido  da  experiência  mais  sizuda ,  e  fiel  »  por  Luiz  António 
de  Oliveira  Mendes,  —  Memoria  sobre  o  Sal  gemma  das  Itfaat 
de  Cabo  Verde ;  por  Domingos  Fandelli. --^MemoriaL  sohre  e 
modo  de  obter  e  de  conservar  agoa  da  chuva  de  óptima  qua^i 
lidade  ;  por  Estevão  Cabral,  —  Memoria  sobre  a  gravidade  es* 
pecifíca  das  Agoas  de  Lisboa  e  seus  arredores ;  por  jilexandrt 
António  f^andelli,  —  Memoria  sobre  as  plantas ,  de  que  se  pôde 
fazer  a  Barrilha  entre  nós;  por  Manoel  Arruda  da  Camará, 

—  Memoria  sobre  o  estabelecimento  da  cultura  do  Chenopodio 
maritimo  ,  donde  se  tira  a  Barrilha  ou  Soda  ;  por  Consiantínô 
Botelho  de  Lacerda^  —  Analjrse  Chimica  de  varias  raízes  para 
ejctrabir  farinha  ^  ou  polvilhos ;  por /oí^ /'//ito  i?/^tf/m.  —  Me- 
moria sobre  as  difficuldades  das  Fundições ,  e  Refinações  nas 
Fabricas  de  Ferro ,  para  ganhar  este  metal  na  maior  qualidade 
para  os  differentcs  íins  ;  por  Guilherme  B.  de  Schwege, —  Me- 
moria sobre  os  Ilospitaes  do  Reino ;  por  José  Joaquim  Soares 
de  Barros,  — Memoria  sobre  a  criação  ,  e  vantagens  do  Gado 
Cabrum  em  Portugal ;  por  Joaquim  Pedro  Fragoso  de  Siqueira, 

—  Memoria  sobre  qual  convém  ser  a  Geira  Portugueza  ;  por 
Joaquim  de  Poyos,  —  Memoria  sobre  as  Marinhas  de  Portugal ; 
por  Constantino  Botelho  de  Lacerda  Lobo.  —  Memoria  sobre 
o  Papel  ;  por  Estevão  Cabral.  —  Memoria  sobre  o  Nitro  ,  c 
utilidades,  que  delle  se  podem  tirar;  por  José  Martins  da 
Cunha  Pessoa,  —  Memoria  sobre  o  modo  de  augmentar  a 
abundância  das  Fontes  ,  e  de  multiplicar  o  numero  delias.— 
Memoria  em  que  se  expõe  a  analysc  do  Sal  commum  das  Ma- 
rinhas de  Portugal ;  por  Constantino  Botelho  de  Lacerda  Lobo, 
^'-  Memoria  sobre  a  preparação  do  Peixe  salgado ,  e  secco  dàa 


tiS  Noticias  das  Scierícias  j 

nossats  Pescarbs ;  pelo  mesmo.  —  Memoria  sobre  a  decadência 
das  Pescarias  em  Portugal;  pelo  mesmo. -^táemorisk  sobre  al- 
l^amas  Observações  feitas  no  anno  de  1789  relativas  ao  estado 
õa  Pescaria  de  Entre  Dooro  e  Minbo ;  pelo  mesmo.  —  Extracto 
da  Memoria  sobre  o  destroço  em  que  se  acbão  as  criações  do 
•Gado  Vaccum  -,  por  João  Manoel  de  Campos  e  Mesquita, 

O  Tom.  T.  contam  Memoria  sobre  a  introdncçio  das  Gada- 
nhas Alemãs,  e  Flamenga  em  Portugal;  por  Joaquim  Pedro 
Fragoso  de  Siqueira,  —  Memoria  sobre  a  Coltura  ,  e  utilidade 
^os  Nabos  nr  Comarca  de  Trancoso  i  por  João  Manoel  de  Cam^ 
pos  de  Mesquita,  —  Memoria  sobre  os  Terrenos  abertos ,  o  seu 
prejuizo  na  Agricultura ,  e  sobre  os  differentes  methodos  de 
Tapumes  ;  por  Sebastião  Francisco  de  Mendo  Trigozo.  —  Me- 
moria sobre  o  estado  das  Pescarias  da  Costa  do  Algarve  no  anno 
de  1790  ;  por  Constantino  Botelho  de  Lacerda  Lobo,  —  Obser- 
Tações  Botanico-Meteorologicas  do  anno  de  1800  ,  feitas  em 
Thomar ;  por  José  f^erissimo  yílvares  da  Silva.  —  Memoria  so- 
bre o  modo  de  formar  hum  Plano  de  Statistica  de  Portugal ; 
pelo  Viscofuie  da  Jjipa  ,  Manoel  de  Almeida,  —  Ensaio  Econó- 
mico sobre  as  Ilhas  de  Cabo  Verdejem  1797  ;  por  João  da 
Silva  Feijó.  —  ^lemoria  Histórica  sobre  a  Agricultura  Portu- 
gueza  considerada  desde  o  tempo  dos  Romanos  até  ao  presente ; 
por  José  Veríssimo  Alvares  da  Silva,  —  Mem  oria  sobre  a  Bes- 
cripção  Física  e  Económica  do  Lugar  da  Marinha  Grande ;  pelo 
Visconde  de  Balsemão,  —  Memoria  sobre  a  preferencia  do  leite 
de  Yaccas  ao  leite  de  Cabras  para  o  sustento  das  Crianças ,  prín- 
cipalmeote  nas  grandes  Casas  dos  Expostos ,  e  sobre  algumas 
outras  matérias  ,  que  dizem  respeito  á  criação  delles ;  por  José 
Pinheiro  de  Freitas  Soares.  —  Memoria  sobre  08  Pesos  c  Medi- 
das Portuguezas  ,  e  sobre  a  Introducção  do  Sjstema  Metro- 
Decimal  -,  por  Sebastião  Francisco  de  Mendo  IVigozo. 

3.  Memorias  de  Litteratura  Portugueza  :  8  vol.  4* 
de  í']Ç)i —  i8i4% 


das  Aries j  etc,  lag 

O  Tom.  I.  contém  Memoria  sobre  a  Poesia  Bacolica  dos 
Poetas  Portuguezes ;  por  Joaquim  de  Fqyos,  —  Memoria  I.  so- 
bre a  forma  do  Governo  ,  e  costumes  dos  Povos ,  que  babitário 
o  terreno  Lusitano ,  desde  os  primeiros  tempos  conbecidos , 
até  ao  estabelecimento  da  Monarquia  Portugneza;  por  ArUonío 
Caetano  do  Amaral»  -»  Memoria  sobre  a  origem  dos  nossos 
Juizes  de  Fora  -,  por  José  Anastasio  JLe  Figueiredo» — Memoria 
sobre  qual  seja  o  verdadeiro  sentido  da  palavra  Façanhas  ,  que 
expressamente  se  acbao  revogadas  em  algumas  Leis>  e  Cartas  de 
Doações  ,  e  Con6rmaç6es  antigas  ,  como  ainda  se  acba  na  Ord. 
liv.  II.  tit.  35  §  26  ;  pelo  mesmo,  —  Memoria  sobre  buma  Ghro- 
nica  inédita  da  Conquista  do  Algarve ;  por  Fr.  Joaquim  de  Santo 
Agostinho.  —  Memoria  para  dar  buma  ideia  justa  do  que  erão 
as  Behetrias,  e  em  que  differião  dos  Coutos,  e  Honras  ;  por  José 
Anastasio  de  Figueiredo,  — Memoria  sobre  qual  foi  a  época 
certa  da  introdâcçao  do  Direito  de  Justiniano  em  Portugal ,  o 
modo  da  sua  introducção  ^  e  os  gráos  de  auctoridade,  que  entre 
nós  adquirio.  Por  cuja  occasiâo  se  trata  toda  a  importante  ma* 
tería  da  Ord.  liv.  III.  tit.  64 ;  pelo  mesmo,  ^  Memoria  sobre 
algumas  Décadas  inéditas  de  Couto ;  par  Fr,  Joaquim  Forjas,  — 
Memoria  sobre  as  Moedas  do  Reino  ,  e  Conquistas ;  por  jPh  /<tMí- 
quim  de  Santo  Agostinho, 

O  Tom.  II.  contém  Memoria  para  a  Historia  da  Agricultura 
em  Portugal.  -^  Memoria  sobre  as  Fontes  do  Código  Filippino  , 
por  João  Pedro  Ribeiro*  —  Memoria  sobre  as  Bebetrias  ,  Hon« 
ras ,  e  Coutos ,  e  sua  differençaé-— Mempria  sobre  o  Direito  ã% 
Correição  usado  nos  antigos  tempos,  e  modernos ,  e  qual  seja  a 
sua  natureza.  —  Memoria  sobre  a  matéria  ordinária  para  a  es- 
crita dos  nossos  Diplomas  >  e  papeia  públicos  j  por  José  Anaò^ 
táuio  de  Figueiredo, '^'VLemoúk  I.  da  Litteratura  Sagrada  dos 
Judeos  Portuguezes  •  desde  os  primeiros  tempos  da  Monarquia 
até  os  fins  do  Século  XV ;  por  António  Ribeiro  dos  Santos •  — 
Memoria  II.  para  a  Historia  da  Legislação,  e  Costumes  de  Por^ 
tagal ;  por  António  Caetano  do  Amaral*  —  Memoria  II.  da  Li** 

Tom.  IX.  P.  »••  O  B 


i3o  Noticias  {las  Sciericias  ^ 

teratura  Sagrada  dos  Judeos  Fortuguezes  no  Século  XVI ;  por 
António  Ribeiro  dos  Santos. 

O  Tom.  III.  contém  Apontamentos  para  a  Historia  Civil ,  e 
Litteraria  de  Portugal  e  seus  Dominios  ,  colligidos  dos  Manus- 
critos assim  nacionaes^  como  estrangeiros,  que  existem  na 
Bibliotheca  Real  de  Madrid ,  na  do  Escurial ,  e  nas  de  alguns 
Senhores  ,  e  Letrados  da  Corte  de  Madrid  ;  por  Joaquim  José 
Ferreira  Gordo,  —  Memoria  sobre  antiguidades  das  Caldas  de 
^'izela ;  por  José  Diogo  Mascarenhas  Neto,  —  Espirito  da  Lín- 
gua Portuguesa,  extrahido  das  Décadas  do  insigne  Escritor 
João  de  Barros  ;  por  António  Pereira  de  Figueiredo^  — -  Memo- 
ria III.  da  Litteratura  sagrada  dos  Judeos  Portuguezes  no  Século 
XYII ',  por  António  Ribeiro  dos  Santos.  —  Memoria  ao  Pro* 
gramma  «  Qual.  foi  a  origem ,  e  quaes  os  progressos  ,  e  as 
»  variações  da  Jurisprudência  dos  Morgados  em  Portugal  »  ;  por 
Thomaz  António  de  Villa-Nova  Portugal, 

O  Tom.  IV.  contém  Dissertação  Académica  de  António  Pe- 
reira de  Figueiredo,  —  Analyse ,  e  combinações  phílosophicas 
sobre  a  elocução  ,  e  estylo  de  Sá  de  Miranda  ,  Ferreira  ,  Ber-> 
nardcs.  Caminha  ,  e  Camões,  segundo  o  espirito  do  Programma 
da  Academia  Real  das  Sciencías,  pubHcado  em  17  de  Janeiro 
de  1790  ^  por  Francisco  Dias, — Memoria  da  Litteratura  sagrada 
dos  Judeos  Portuguezes  no  presente  Seeolo  ;  por  Amtonio  Ri- 
beiro dos  Santos,  —  Ensaio  Critico  sobre  qual  seja  o  uso  pru- 
dente das  palavras  de  que  se  servirão  o&  nossos  bons  Escri- 
tores do  Século  XV,  e  XVI ;  e  deixarão  esquecer  06  que  depois 
se  seguirão  até  ao  presente ;  por  AmUmh  das  I^ves  Pereira, 

O  Tom.  V.  contém  Ensaio  sobre  a  Filologia  Porlagueza  por 
meio  do  exame  e  comparação  da  Locução  e  Eaftflo  dos  nossos 
mais  insignes  Poetas  ,  que  florecérík>  no  Seo^  XVI ;  por  An- 
tónio das  JVeifes  Pereira,  —  Continuação  do  Ensaio  Critico  s(h 
Lre  qual  seja  o  uso  prudente  das  palavras,  de  qae  se  aertirão 
os  nossus  bons  Escritores  do  Século  XV,  e  XVI ;  e  deixa«rão 


das  Artes  ^  ele.  i3i 

rsquecer  os  qae  depois  se  seguirão  até  ao  presente ;  pelo  mesmo, 
— -  Obséquios  devidos  á  memoria  de  hum  respeitável  Monarca  , 
c  aos  créditos  de  hum  Vassallo  o  mais  benemérito  ;  por  José 
Joaquim  Soares  de  Barros.  —  Memoria  sobre  as  rumas  do 
Mosteiro  de  Castro  de  Avelaãs  ,  e  do  Monumento  ,  e  Inscripção 
Lapidar,  qae  se  acha  na  Gapella  mòr  da  antiga  Igreja  do  mes- 
mo Mosteiro  ;  por  F^rancisco  Xavier  JUbeiro  de  S.  Pajo.  — • 
Memoria  sobre  a  Historia  das  Marinhas  de  Portugal ;  por  Cons- 
tantino Botelho  de  Lacerda  Lobo.  —  Momoria  sobre  05  Códices 
manuscritos,  e  Cartório  do  Real  Mosteiro  de  Alcobaça;  por 
Fr.  Joaquim  de  Santo  Agostinho.  —  Memoria  de  quatro  In- 
scripções  Arábicas  com  suas  traducçôes  \  pelo  Padre  Fr  João 
de  Sousa,  -—  Memoria  ao  Programma  «  Qual  seja  a  época  fixa 
V  da  introducção  do  Direito  Romano  em  Portugal ;  e  o  gráo  de 
»  authoridade  que  elle  teve  nos  diversos  tempos  »  por  Tiiomaz 
António  de  yUla-Nova  Portugal.  ---  Memoria  á  cerca  da  Inscri- 
pção Lapidar,  que  se  acha  no  Mosteiro  do  Salvador  de  Yajrão 
de  Religiosas  Benedictinas  no  Bispado  do  Porto  j  e  da  perten-' 
diçla  antiguidade  do  mesmo  Mosteiro ,  que  dâquella  Inscripção 
se  tem  procurado  deduzir ;  por  Joào  Pedro  Bibeira, 

O  Tom.  yté  contam  Memoria  sobre  o  assompto  proposto  no 
anuo  de  1793  pela  Academia  Keal  das  Sciencias  de  lÂsboa 
«  Qual  seja  a  época  da  introdacçao  do  Direito  das  Decretaea 
n  em  Portugal ,  e  o  influto  que  o  Inesmo  teve  na  Legislaçia 
j»  Portuguesa  »  ;  ^or  João  Pedro  Ribeiro. — Memoria  sobre  a 
fómna  dos  luizos  nos  primeiros  Seeulos  da  Monarpuia  Portu* 
gueza ',  ^par  José  P^eriêsimo  Alvares  da  SUva, —  Influencia  é<p 
conhecimento  das  nossas  Leis  antigas  em  os  estudos  do  larísta 
Portuguez;  por  Vicente  José  ferreira  Cardoso  da  Còsíai^^ 
Memoria  III.  para  a  fiistoria  da  Legislação ,  a  costumes  de  Por-< 
tugal.  Sobre  o  Estado  Civil  da  Lusitânia  desda  a  entrada  do» 
Povos  òo  Norte  até  á  dos  Árabes ;  por  António  Caetano  do 
Amaralé 

O  Tom.  Vil.  contém  Memoria  em  defeza  do  Camões  contra 

9* 


i32  Noticias  das  Sciencias  , 

H.  de  la  Harpe  ;  por  António  de  Araújo  de  Azevedú,^^  MemO* 
ria  sobre  algumas  traducções ,  e  edições  Biblicas  menos  vul- 
gares ,  em  lingua  Fortugucza,  especialmente  sobre  as  Obras  de 
João  Ferreira  de  Almeida ;  por  António  Jtíheiro  dos  Santos. 
"—  Memoria  IV.  para  a  Historia  da  Legislação ,  e  costumes  de 
Portugal ;   por  António  Caetano  do  Amaral,  —  Memoria  da 
Vida  ,  e  Escritos  de  D.  Francisco  de  Mello  ;  por  Anionio  Mi- 
beiro  dos    Santos,  —  Memoria  da  Vida  e   Escritos   de  Pedro 
reúnes  ;  pelo  mesmo,  —  Memoria  sobre  os  inconvenientes ,   e 
vantagens  dos  Prazos  ,  com  relação  á  Agricultura  de  Portugal ; 
por  João  Pedro  Eibeiro,  -»  Memoria  sobre  a  origem  ,  e  jurit- 
dicção  dos  Girregedores  das  Comarcas ;  por  José  António  de 
Sd,  —  Ensaio  de  buma  Bibliotheca  Lusitana  Anti-Rabbinica ,  ou 
Memorial  dos  Escritores  Portuguezes  que  escrevMo  de  contro- 
vérsia Anti-)udaica;  por  António  Jtíbeiro  dos  SanÍ9S. 

O  Tom.  YIII.  contém  Memoria  sobre  as  origens  da  Typogra« 
pbia  em  Portugal  no  Século  XV ;  por  Anionio  Ribeiro  dos  San- 
tos, —  Memoria  sobre  a  Historia  da  Typographía  Portuguesa  do 
Século  XYI ;  pelo  mesmo.  —  Memorias  Historicak  sobre  alguns 
Matbematicos  Portuguezes  y  e  Estrangeiros  domiciliários  em 
Portugal  9  ou  nas  Conquistas  ;  pelo  mesmo,  —  Bas  origens  ,  e 
progressos  da  Poesia  Portuguesa  ;  pelo  mesmo*  —  Dissertação 
Historíco-Juridica  sobre  a  legitunidade  da  Senbora  Dona  Tbe- 
reza,Mulber  do  Sn'.  D.  Henrique, e  Mãi  do  Sni*.  Rei  D.  Affonso 
Henriques. — Memoria  sobre  dois  antigos  Mappas  Geograpbicos 
do  Infante  D.  Pedro ,  e  do  Cartório  de  Alcobaça  ;  por  António 
Ribeiro  dos  Santos, —  Ensaio  sobre  os  Descobrimentos  »  e  Com- 
mercio  dos  Portuguezes  em  as  Terras  Septentrionaes  da  Ame- 
rica ;  por  Sebastião  Francisco  de  Mendo  Trigoso,  —  Memoria 
sobre  a  novidade  da  Navegação  Portugueza  no  Século  XY ;  por 
António  Ribeiro  dos  Santos,  —  Memoria  sobre  Martim  de  Bo- 
hemia ;  por  Sebastião  Financisco  de  Mendo  Tri^zo* 


ãas  Artes  ^  etc.  i33 

K>  B.  Estas  CoUecçôes  não  continuâo  :  desde  1813 
publicão-se  anniialmente  as  Memorias  de  todas  as  Classes 
reunidas  em  hum  meio  volume  infol.  continuando  com 
a  CoUecção  seguinte. 

4.  Hbtoria  e  Memorias  da  Academia  Real  das  Sdea- 
cias  de  Lisboa :  5  vol.  foi.  desde  1797  —  1818  ePart.  L 
do  voL  6.  —  1819. 

o  Tom.  I.  contém  Solução  ^eral  do  Problema  de  Kepler 
tobr^  a  medição  das  Pipas ,  e  Toneis ;  por  José  Monteiro  da 
Rocha,  —  Dominici  FandelU  Florae  ,  et  Faunae  Lasitanicae  Spe* 
címen.  -—  Ejusdem  :  De  Vulcano  Olisiponensi ,  et  Montis  £r- 
minii.  — -  Memoria  I.  sobre  a  força  Magnética  ;  por  João  An^ 
tonio  Dalla  Bella.  —  Memoria  II.  sobre  a  força  Magnética ; 
pelo  mesmo.  —  Memoria  sobre  os  verdadeiros  princípios  do 
JMethodo  das  Fluxões ;  por  Francisco  de  Borja  Garção  Stoc- 
kler.  •=—  Additamentos  á  Regra  de  M.  Fontaine ,  para  resolvei: 
por  approximação  os  problemas  que  se  reduzem  ás  Quadratu- 
ras; por  José  Monteiro  da  Rocha.  — Observações  de  differentes 
Eclipses  dos  Satellites  de  Júpiter ,  feitas  no  Real  GiUegio  de 
Mafra  no  anno  de  1 7  8 5  ;  por  D.  Joaquim  da  Assumpção  Velho* 
—  Memoria  para  a  Historia  da  Legislação  ,  e  costumes  de  Por- 
tugal. Estado  da  Lusitânia  até  ao  tempo  em  cpie  foi  reduzida  a 
Província  Romana  ;  por  António  Caetano  do  Amaral,  —  Va- 
rias Observações  de  Chimica  ,  e  Historia  Natural ;  por  Domingos 
Vandelli.  —  Observações  sobre  hum  Hygrometro  Vegetal ;  por 
António  Soares  Barbosa,  —  Observações  Fjsicas  por  occasião 
de  seis  raios  ^  que  em  differentes  annos  cabírão  sobre  o  Real 
Edifício  junto  á  Villa  de  Maira ;  por  H.  Joaquim  da  Assumpção 
Velho,  —  Memoria  á  cerca  da  Latitude  y  e  Longitude  de  Lisboa , 
e  exposição  das  Observações  Astronómicas  por  onde  ellas  se 
determinarão  ;  por  Custodio  Gomes  de  Fillas-Boas,  —  Obser* 
ições  Astronómicas  feitas  junto  ao  Castello  do  Rio  de  Janeira 

ra  determinar  a  Latitude ,  e  Longitude  da  dita  Cidade ;  por 


i34  Noticias  das  Sciehcias. 

Èento  Sanches  Dorta,  —  Observações  Meteorológicas  feitas  na 
Cidade  do  Rio  de  Janeiro ;  pelo  megmo,  —  Da  incerteza  que  hm 
á  cerca  da  Gomma  Mjrrba.  Dá-se  noticia  de  hum  arbusto ,  que 
tc;n  as  mesmas  qualidades  ,  e  virtudes ;  por  João  de  LaweirOm 
r^  Memoria  sobre  a  Poesia  Bucólica  dos  Poetas  Portugueses  ; 
por  Joaquim  de  Pàyos.  —  Memoria  sobre  a  natureza ,  e  verda- 
deira origem  do  Páo  da  Aguila  ;  por  João  de  Loureiro.  —  Ob- 
^rvações  Astronómicas  feitas  nas  Casas  da  Regia  Officina  Typo* 
grapbica  ,  junto  ao  Real  Collegio  dos  No1>res ;  por  Francisco 
Antonh  Cíieni.  <— Observações  Meteorológicas  feitas  no  Real 
GoUegio  de  Mafra  no  anno  de  1 784 ;  por  D.  Joaquim  da  Assum-- 
pqao  Fèiko.  — Observações  Meteorológicas  feitas  no  Real  Col* 
)egío  de  MadBra  no  anno  de  1*]^^  ;  pelo  mesmo. — Solução  do 
Problema  proposto  pela  Academia  Real  das  Sciencias  sobre^  o 
methodo  de  approximação  deM.  Fontainc^por  Manoel  Joaquim 
Coelho  da  Maia.  —  Observacion  de  la  total  Emersion  ò  fin  dei 
Eclipse  de  Sol  dei  dia  17  de  Octobrede  1781  ,  ai  observatório 
àt  la  Academia  Real  de  los  Cavalleros  Guardiãs  Marinas  de  Car- 
lagena  \  por  D.  Jacinto  Cemtí.  —  Observações  feitas  no  Rio  da 
IFaneiro  no  anno  de  178a;  por  Francisco  de  Oliveira  Barboza. — 
Slogio  Histórico  de  Joio  Le  Bond  d'Alembert ;  por  Francisco  da 
Morja  Garção  StockUr. 

O  Tom.  II.  contém  Demonstração  do  Theor«ma  de  Newton 
sobre  a  relação  que  tem  os  coeficientes  de  qualquer  equação 
Algébrica  com  as  sommas  das  potencias  das  suas  raizes ,  e  ap- 
plicação  do  mesmo  Tbeorema  ao  desenvolvimento  em  Serie  dos 
productos  compostos  de  infinitos  factores ;  por  Francisco  de 
Borja  Garção  Stockler.  —  Memoria  sobre  huma  espécie  de  pe* 
trifícação  animal ;  pelo  P»  João  de  roi/r»tro.— -Exame  Pbysico  ,  • 
Histórico  «  Se  faa  ,  ou  tem^  ÍMVÍdo  no  Mundo  diversas  espécies 
»  de  homens  ?  »  pelo  mesmo.  —  Descripção  Botânica  das  Cúbe- 
bas  Medicinaes  ;  pelo  mesmo. -^  Consideração  Phjsica,  e  Bota* 
líica  da  planta  Aerides ,  que  nasce ,  e  se  alimeDla  no  ar ;  pelo 
fhesmo,  —  Memoria ,  em  que  se  dá  noticia  de  divt»'sas  espécie 
de  abèllias  ,  que  dão  mel,  próprias  do  Brasil  ^e.desconbecir' 


das  Artes  ^  etc  i35 

na  Europa  ;  por  Vicente  Coelho  de  Seabra,  —  Observações  Me- 
teorológicas feitas  no  Real  Collegio  de  Mafra  no  anno  de  1785  ; 
por  Z>.  Joaquim  da  Assumpção  Velho*  —  Observações  Meteo- 
rológicas feitas  no  Real  Collegio  de  Mafra  no  anno  de    1786,* 
pelo  mesmo, — Memoria  sobre  os  instrumentos  de  Reflexão;  por 
José  Maria  Dantas  Pereira*  —  Reflexões  sobre  certas  sOhima- 
ções  successivas  dos  termos  das  Series  aríthmeticas ,  applicadas 
ás  soluções  de  diversas  questões  algébricas  ;  pelo   mesmo,  -— 
Bescripçio  de  bum  Monstro  de  espécie  bumana  ,  existente  na 
Cidade  de  São  Paulo  na  America  Meridional ;  por  Bento  Sanches 
Dória,  -^  Observações    Astronómicas  feitas  na  Cidade  de  S* 
Paulo  na  America  Meridional )  pelo  mesmo,  —  Memoria  sobi^e 
as  Equações  de  condição  das  Funcções  Fluxionaes;  por  Francisco 
de  Borja  Garção  Stockler,  —  Descripção  de  bmn  Feto  bumano 
monstruoso  ,  nascido  em  Coimbra  no  dia  38  de  Novembro  de 
j  791  ;  por  Francisco  Tavares,  —  Loxodromia  da  vida  bumana  , 
ou  Memoria  em  que  se  mosti*a ,   qual  seja  a  carreira  da  nossa 
espécie  pelos  espaços  da  nossa  presente  existência ;  por  José 
Joaquim    Soares    de  Barros,  —  Memoria  sobre  o  restabele^ 
cimento  da  quinta  Ordem  de   Marcba ,    alterada  por   baver 
alargado  o  vento  ;  por  Manoel  do  Espirito  Santo  Limpo,  -^ 
Observações  Astronómicas  ,  e  Meteorológicas  feitas  na  Cidade 
do  Rio  de  Janeiro   no  anno  de    1784;   por    Bento    Sanches 
Dorta,  —  Observações  Astronómicas  ,  e  Meteorológicas   feitas 
na  Cidade  de  Rio  de  Janeiro  no  anno  de  1785  ;  pelo  mesmo, — 
Determinação  das  Orbitas  dos  Cometas  ;  por  José  Monteiro  da 
Rocha» —  Memoria  sobre  algumas  propriedades  dos  coeficientes 
dos  termos  do  Binómio  Newtoniano ;  por  Francisco  de  Borja 
Garção  Stockler,  -*  Observações  Astronómicas  feitas  no  Real 
Collegio  de  Mafra ;  por  D,  Joaquim  da  Assumpção  Velho,  — 
Noticia  das  observações  Astronómicas  feitas  em  o  anno  de  1790; 
por  Custodio  Gomes  de  VUlas-Boas,  — Ensaio  sobre  as  Bracb^s- 

tocbionas,  e  reflexões  sobre  as  Frop.  4^»  e  76  do  II.  Tomo 
da  Mecbanica  de  Euler ;  por  Francisco  de  Faula   Travassos». 

•-r  Observação  Anatómica  de  bom  feto  bumano ,  qne  em  coa- 


i36  Noticias  das  Sciencias  , 

tequeneÍA  de  hum  parto  laborioso  passoa  á  bexiga  nríiunía;  por 
Manoel  Joaquim  de  Souza  Femílf.<— Singular  observação  qne 
confirma  a  sympathia  do  estômago  com  a  cabeça ;  pelo  mesmo. 
— -  Observação  de  boma  Tbisica  tuberculosa  ,  e  de  buma  con- 
ereçio  calcárea ,  acbada  no  útero  ;  pdo  mesmo,  —  Observatio* 
nes  Astronomics  babits ,  ab  Andtea  ilodlr^es.— -Observatio 
Eclipsis  Lunaris  babita  ,  die  3  Januarii  anno  1787  ,  in  Collegio 
Bomano  ,  a  Josepho  CalandrellL  —  Observações  Astronómicas 
feitas  no  Cidade  de  S.  Paulo ;  por  Fhancisco  de  Oliveira  Barbosa. 
.-—  Comparado  das  Pbases  observadas  em  S.  Paulo ,  com  as  que 
forio  observadas  em  Lisboa  no  Observatório  da  Academia ;  por 
Custodio  Gomes  de  FlUa^-Boas. 

O  Tom.  III.  Pari.  i*.  contém  Memoria  sobre  os  Kermes ;  por 
*José  Joaquim  Soares  de  Barros,  — -  Mémoire  sur  les  variations 
séculaires  des  Elémens  elliptiques  de  Pallâs  et  de  Cérès ;  par 
M,  Damoiseau  de  Montfori,  —  Observações  Astronómicas  e  Me- 
teorológicas ,  feitas  na   Cidade  do  Rio  de  Janeiro  no  anno  de 
1786;  por  Bento  Sanches  Dória. —  O  mesmo  no  anno  de  1787. 
— •  Taboas  e  Diário  Meteorológico  ,  pertencentes  ao  anno  de 
1787  ;  pelo  mesmo,  -*  Observação  do  Eclipse  da  Estrella  >j  do 
I«eão  ,  da  terceira  grandeza ,  acontecido  a  28  de  Março  de 
1789  i    por  Custodio  Gomes  de  FíUas-Boas, — Exposição  das 
observações  Asti*onomicas  ,  feitas  no  anno  de  1 799  :  e  compa- 
ração da  passagem  de  Mercúrio  com  as  Taboas  mais  accre- 
ditadas  do  mesmo  Planeta;  pelo  mesmo,  —  Observações  dos 
Eclipses  dos  Satellites  de  Júpiter  ,  feitas  em  S.  Paulo  com  bum 
Óculo  acbromatico  de  17  pollegadas  de  foco ;  por  Bento  San- 
ches Dória,  —  Diário  Pbjsico-Meteorologico  de   Outubro  do 
anno  de  1788  ,  da  Cidade  de  S.  Paulo  na  America  Meridional  e 
Oriental ;  pelo  mesmo,  —  O  mesmo  do  met  de  Novembro.  —  O 
mesmo  do  mét  de  Dezembro.  —  Mémoire  sur  la  Comete  de  1 807 ; 
par  M,  Damoiseau  de  Montfori,  —-Ensaio  sobre  o  Cinchonino  , 
e  sobre  sua  influencia  na  virtude  da  Quina ,  e  de  outras  Cascas ; 
por  Bernardino  António  Gomes,  —  Observações  Botanico-Me- 
dicas  sobre  algumas  Plantas  do  Brasil ;  pelo  mesmo,  —  Obser* 


ias  Artes ,  ete:  'i37 

vações  Astronómicas  feitas  no  Observatório  Real  da  Marinha  : 
coromunicadas  á  Academia  por  Manoel  do  Espirito  Santo  Umpo, 

A  Part.  !i".  contém  Discurso  Histórico  pronunciado  na  Sessão 
publica  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lbboa ,  de  a4  do 
Junho  de   1810;  por  João  Guilherme  Chrístiano  MuUer,'^ 
Discurso  Histórico  pronunciado  na  Sessão  publica  do  anno  de 
iSi2;pelo  mesmo.  — Discurso  contendo  a  Historia  da  Academia 
Real  das  Sciencias  desde  26  de  Junho  de  1 8 ia  até  24  de  Junho 
de  i8i3;  por  José  Bonifácio  de  Amlrada  e  Sãva, — Recopi- 
lação  Histórica  dos  trabalhos  da  Instituição  Vaccinica,durante  o 
seu  primeiro  anno  ;  por  Bernardino  António  Gomes, -^Ohser* 
vationes  Astronomicae  in  Regno  Cochinchinae  habitaej  a  P.  Joanne 
de  Loureiro»  —  Eclipse  da  Lua  de  2  de  Novembro  de  1789, 
observado  em  Lisboa  na  Academia  Real  da  Marinha ;  por  Pranr 
cisco  António  Ciera»  —  Instrucções  e  regras  praticas,  deriva- 
das da  theoríca  da  Construcção  naval ,  relativas  á  construcção  , 
carregação,  e  manobra  do  Navio;  i^or  Mattheus  Valente  do 
Couto»  —  Calculo  das  Notações  :  a  I.  Parte  por  Francisco  Si^ 
mões  Margiochi ,  e  a  II.  por  Mattheus  Valente  do  Couto,  — 
Reflexões  tendentes  a  esclarecer  o  Calculo  das  Notações ,  sobre 
que  versa  a  Memoria  antecedente  ;  por  Francisco  de  Paula 
TYavassos.  —  Pensamentos ,  e  observações  sobre  mui  curiosos  , 
e  importantes  objectos ,  que  se  apresentão  nas  costas  de  Por- 
tugal ,  e  no  fundo'  dos  nossos  mares  ;  por  José  Joaquim  Soares 
de  Barros,  —  Memoria  sobre  a  pertendida  chuva  de  algodão  , 
que  cahio  em  alguns  lugares  das  vizinhanças  desta  Capital  em 
o  dia  6  de  Novembro  de   181 1  ;  por  Sebastião  Francisco  de 
Mendo  Trigozo, — Experiências  Chymicas  sobre  a  Quinado 
Rio  de  Janeiro  comparada  com  outras.  —  Memoria  em  que  se 
pertende  dar  a  solução  de  hum  Programma  (  de  Analjse  para 
1 8 1 1 )  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa;  por  Mattheus 
Valente  do  Couto,  —  Breve  Ensaio  sobre  a  deducção  Philoso- 
phica  das  Operações  Algébricas;  pelo  m^^mo.  —  Memoria  sobre 
huma  Balança  de  ensaio ;  por  Constantino  Botelho  de  Leeerdn 


i38  Notícias  das  Sciencías  , 

Lobo,  —  Deducçio  de  fauma  Formula  geral ,  qae  compréfacndt 
á>5  Theoremas  de  Newton  sobre  as  potencias  das  raizes  das 
Equações  ;  por  João  Evangelista  TorrianL  — Taboa  mostrando 
o  iralor  da  Moeda  de  ouro  ,  e  prata  do  Heino  de  Poftugal , 
«iesde  o  Beinado  do  Senhor  D.  Duarte  até  1 806 ;  por  João  BeU. 
—Memoria  sobre  a  verdadeira  origem  do  Catto ,  ou  terra  J»- 
ponica  I  por  Franciêco  HanoH  Barroso  da  Silva.  —  Tbeorica 
da  composição  das  Forças ;  por  Francisco  Simões  Margiochi.  — 
Fundamentos  da  Algorithmia  elementar  ;  pelo  mesmo,  —  Ob* 
«ervaçôes  Astronómicas  feitas  em  lisboa  no  Obsei'vatorio  Real 
da  Ifarínba  nos  amios  de  1807  até  i8ia  ;  por  Fattlo  José 
-Maria  Ciera, 

O  Tom.  IV.  Farte  i*.  contém  Discurso  recitado  na  Sessio 
jmblica  de  3  4  de  Junho  de  181 4;  por  Sebastião  Francisco  de 
Mendo  JVigozo, — Frogramma  da  Ajcademia  Real  das  Sciencias 
de  I^sboa  annunciado  na  mesma  Sessão.  —  Conta  dos  trabalhos 
Yaccinicos  ,  lida  na  Sessão  publica  ;  por  Francisco  Elias  JtodHr 
guez  da  SUs^ra,  —  Elogio  Histórico  de  Fr.  João  de  Sousa ;  por 
Sebastião  Francisco  de  Mendo  Trigo%o.  —  Elogio  Histórico  do 
Ex."**  e  R.™**  D.  Fr.  Manoel  do  Cenáculo  ,  Arcebispo  de  Évora  ; 
por  Francisco  Manoel  Trigozo  d^ Aragão  Mqrato,  —  Memoria 
sobre  as  Boubas ;  por  Bernardino  Anionio  Gomes,  —  Memoria 
^obre  a  desinfecção  das  Cartas  ^  pelo  mesmo,  —  Projecto  de 
hum  estabelecimento  de  Escolas  de  Agricultura ;  por  Sebastião 
Francisco  de  Mendo  Trigoso,  — *  Refleiões  sobre  a  Agricultura 
de  Portugal ;  sobre  o  seu  antigo  e  presente  estado  ;  e  se  por 
meio  de  Escolas  Ruraes  praticas  ,  ou  por  outros  elle  pode 
melhorar*sc  ,  e  tomar-se  florente ;  por  Felis  de  Avelar  Brotero 
*—  Da  Dedadeira  ,  e  suas  propriedades  Medicas  ;  por  Rrancisco 
Elias  Rodrigues  da  SUveira,  —  Memoria  sobre  as  Binomiaes;  por 
Manoel  Pedro  de  Mello. 

A  Part.  a»,  contém  Discurso  contendo  a  Historia  da  Academia 
Real  das  Sciencias,  desde  iS  de  Junho  de  18 14  até  ^4  de  Junba 
de  i8i5  ;  por  José  Boni/aciç  de  Andrada  e  Silva» -^  Conta 


das  Artes  y  etc.  làg 

lal  da  Instituição  Vaccinica  da  Academia  Real  das  Scien-* 
,  pronunciado  na  Sessão  pnblica  de  1 8 1 5  ;  por  Bernardino 
onio  Gom^.  — -Prograipma  para  o  anno  de  i8 17.— Elogio 
orico  de  João  Guilherme  Christiano  M uDer ,  recitado  na 
!rabléa  publica  da  mesma  Academia  de  ^4  de  Julho  de  1 8 1 5 ; 
Francisco  Manoel  Trigozo  d'jíragão  Morato,  -»  Glossário 
palavras  e  phrases  da  Língua  Francesa ,  que  por  descuido  ^ 
rancia,  ou  necessidade  se  tem  introduzido  na  Locução 
Ligueza  moderna ;  com  o  juizo  crítico  das  que  sao  adopta- 
nella ;  por  Fr.  Francisco  de  S»  Luiz,  — -  Memoría  sobre  hunâ 
iiuento  inédito  do  príncipio  do  Secnlo  XII  >  em  que  s% 
:ra ,  que  «  O  Sn^.  Conde  D.  Henríque ,  achando-se  ausente 
i  Palestina,  ainda  não  tinha  voltado  a  Portugal  em  Maio 
.  era  i  i4i  (  Auno  iio3  )  »  por  Francisco  Ribeiro  Dosgui» 
ies.  —  Taboas  do  Nonagésimo  para  a  Latitude  de  Lisboa  » 
zida  ao  centro  da  Terrj^  38^  27'  aa'',  suppondo  a  oblíqui* 
!  da  Ecliptica  a3o  28'  o"  ;  por  Fhtncisco  António  Ciera,'-^ 
9  de  Extracção  de  Loterias  ;  pelo  mesmo.  —  Extracto  de 
I  Memoria  sobre  o  estado  da  Agrícoltura  da  Comarca  de 
íllo-branco ;  por  João  de  Macedo  Pereira  da  Guerra  For- 
—  Memoria  sobre  a  descripção  ,  e  vantagens  de  huma 
ira  obstetrícia  da  invenção  do  professor  Stein,  depois  refbr- 
\ ,  e  emendada  príncipalnente  pelo  professor  Osiander , 
Justiniano  de  Mello  Franco.  —  Annaes  Vaccinieos  de  Por* 
l ,  ou  Memoría  Chronologica  da  Vaccinação  em  Portugal , 
e  a  sua  introducção  até  o  estabelecimento  da  Instituição 
linica  da  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa  ;  por  An- 
'  de  Almeida. —  Extracto  de  huma  Memoría  sobre  a  deca« 
;ia  das  minas  de  Ouro  da  Capitania  de  Minas  Geraes ,  e 
e  varíos  outros  objectos  Montanistícos ;  por  GuilÂerme  B, 
^schwege* 

Tom.  V.  Part.  i*.  cont^  Discurso  recitado  na  Sessão 
íca  de  9  4  de  ^ Junho  de  1816;  por  Francisco  de  Mello 
CO.  —  Conta  dos  trabalhos  Vaccinieos  lida  na  Sessão  pu- 


i4o  Noticiíis  das  Sciencias  J 

blica  da  Academia  Real  das  Scíencias  da  lisboa  aos  a4  ^' 
Junho  de  1 8 16;  por  Justiniano  de  Mello  Franco.  —  Programnit 
da  Academia  Real  das  Scíencias  de  Lisboa  ^  annunciado  na 
Sessão  publica  de  a4  ^^  Junbo  de  1816.  —  Memoria  sobre  a 
identidade  do  Sjstema  muscolar  na  Economia  animal ;  por 
Francisco  Soares  Franco,  —  Memoria  sobre  bum  Verme  ví?d 
dentro  do  olho  de  bum  cavallo  ;  por  Sebastião  Francisco  de 
Mendo  Drigozo. —  Da  antiguidade  da  observação  dos  Astros  j 
e  da  Bússola  ,  e  de  outros  Instrumentos  no  uso  da  Navega- 
ção ;  por  António  Ribeiro  dos  Santos.  —  Do  conhecimento  que 
era  possivel  ter  da  existência  da  America ,  pela  tradição  dos 
Antigos ,  e  por  motivos  Filosóficos  ;  pelo  mesmo,  —  Da  pos- 
sibilidade e  verosimilhança  da  demarcação  do  Estreito  de  Ma- 
galhães no  Mappa  do  Infante  D.  Pedro ;  pelo  mesmo,  —  Extrac- 
ção de  Loterias ,  que  se  executa  em  tempo  brevíssimo  ,  e  sem 
que  se  possa  commetter  erro  ou  engano ;  por  Aníonio  de  Araújo 
Travassos,  -»  Memoria  sobre  a  nova  Mina  de  ouro  da  outra 
banda  do  Tejo ;  por  José  Bordfiicio  de  Andtada  e  Silva.  — 
Memoria  Estatística  á  cerca  da  notável  YiUa  de  Monte  Mor  o 
Novo ;  por  Joaquim  José  f^ardla. 

A  Parte  a^.  contém  Discurso  recitado  na  Sessão  publica  de 
24  de  Junho  de  171 7 ,  por  Sebastião  Francisco  de  Mendo  7W- 
goio,  -»  Discurso  Histórico  sobre  os  trabalhos  da  Instituição 
Vaccinica  ,  lido  na  mesma  Sessão ;  por  ff^encesldo  Anselmo 
Soares, — Elogio  do  Doutor  Alexandre  Ferreira; por ilfaiioe//o5^ 
Maria  da  Cosia  e  Sd.  —  Relatório  da  Commissão  nomeada  pela 
Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  para  lhe  dar  conta  da 
nova  Edição  dos  Lusíadas  impressa  em  Paris  no  anno  de  1817. 
«—  Memoria  sobre  a  Distillação  ;  por  António  de  Anuijo  7Va* 
vassos  —  Memoria  sobre  a  diversa  temperatura  que  tem  os 
líquidos  ,  e  sólidos  mergulhados  na  atmosphera  ;  por  Constan* 
tino  Botelho  de  Lacerda,  —  Memoria  sobre  o  Tbeatro  Portn» 
guez;  por  Francisco  Manoel  Trígozo  íT Aragão  Morató.-^Me- 
moria  sobre  as  pesquizas  e  lavra  dos  veios  de  cbttnbo  de  Cba< 


das  Attes^  etc.  i4i 

cím  ,  Souto  ,  VentozcUo ,  e  Villar  de  Rey  na  Província  de  Trás 
os  Montes ;  por  José  Bonifácio  d^Andrada  e  Sdva.  —  Obserra- 
ções  Meteorológicas  feitas  na  Cidade  de  Lisboa  no  anno  de  i8 16^ 
acompanbadas  de  varias  reflexões  sobre  o  estudo  e  applicaçao 
da  Meteorologia;  por  Marino  Miguel  Fntnzini,  —  Observações 
feitas  no  Observatório  Real  da  Marinha  por  Paulo  José  Maria 
Ciera ,  e  communicadas  á  Academia  por  Mattheus  Vatenie  do 
Couto,  —  Experiências  sobre  duas  differentes  cascas  do  Pará  ; 
por  Alexandre  António  Vandelli.  — -  Observações  sobre  alguns 
peixes  do  mar  e  rios  do  Algarve.  —  Indagações  sobre  a  lingua 
dos  Barbados  ;  por  Jacob  Graberg  de  Hemso, 

O  Tom,  VI.  Farte  i*.  contém  Discurso  Histórico  recitado  na 
Sessão  publica  de  a4  de  Junho  de  1 8 1 8  ;  por  José  Bonifácio 
d^Andrada  e  Sãva,  — Discurso  Histórico  sobre  os  trabalhos  da 
Instituição  Yaccinica ;  por  Ignacio  António  da  Fonseca  BenC' 
vides.  —  Discurso  dirigido  á  Magestade  do  muito  Alto  e  muito 
Poderoso  Senhor  D.  João  VI.  Rei  do  Reino  Unido  de  Portugal  ^ 
Brazil ,  e  Algarves,  por  occasião  da  sua  exaltação  ao  Throno ;  e 
pronunciado  na  presença  do  mesmo  Senhor  em  nome  da  Aca- 
demia Real  das  Sciencias  de  Lisboa  ,no  dia  1 2  de  Maio  de  1 8 1 8 ; 
por  Francisco  de  Borja  Garção  Stockler,  —Elogio  Histórico  do 
Ex."***  e  R.*^**  Bispo  Inquisidor  Gend  ,  D.  José  Maria  de  Mello ; 
por  Francisco  Alexandre  Lobo,  —  Carta  do  Sn«",  />.  José  Maria 
de  Sousa  y  á  Academia  Real  das  Sciencias.  —  Programma  da 
Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa ,  annunciado  na  Ses* 
são  publica  de  a4  àe  Junho  de  18 18. -— Memorias  para  a 
Historia  das  Navegações  e  Descobrimentos  dos  Portnguezes ; 
por  Joaquim  José  da  Costa  de  Macedo, -^Á.  Primavera.  Can- 
tata ;  por  Francisco  FUlela  Barbosa.  —  Memoria  premiada  na 
Sessão  publica  de  ^4  de  Junho  de  18 18  sobre  o  Programma 
proposto  para  o  mesmo  anno.  «  Dar  a  demonstração  das  For- 
»  mulas  propostas  por  Wronski  para  a  Resolução  geral  datf 
Equações  » ;  por  João  Evangelista  Tbmom.—  Memoria  sobra  o 
estabelecimento  da  Arcádia  de  Lisboa  |  e  sobre  a  soa  influencifi 


i4a  Noticias  das  Sciencias^ 

ua  restauração  da  nossa  Litteratura ;  por  Prancisc0  Manoel  Tri- 
gozo  d' Aragão  Morato.  —  Tratado  pratico  da  Alagaçao  dos 
Navios ;  por  Manoel  de  Sousa  Ferreira.  —  Descripçio  Histórica 
e  Económica  da  Villa  de  Torres  Vedras ;  por  Manoel  Agostinho 
Madeira  Torres, 

SCBENCIAS  NATURAES. 

5.  Breves  Instrucções  aos  Correspondentes  da  Acade- 
mia 9  sobre  as  remessas  dos  productos  naturaes »  pata 
formar  hum  Museu  Nacional,  i  foi.  8.^  1781. 

6.  Memorias  sobre  o  modo  de  aperfeiçoar  a  manufac- 
tura do  Azeite  em  Poitugal ,  remettidas  á  Academia ; 
por  João  António  Dalla  Bella^  1  vol.  4-®  i'384- 

'7.  Memoria  sobre  a  cultura  das  Oliveiras  em  Portu- 
gal, pelo  mesmo.  Segunda  Edição  accrescentada  com 
hum  Appendice ;  por  Sebastião  Francisco  de  Mendo 
Trigozo,  I  vol.  4.^  i8i8, 

8.  Dominici  KandelU  Viridarium  Grysley  Lusitani- 
cum  Litmaeanis  nominibus  illustratum ,  i  vol.  8.<^  1789. 

9.  Avisos  interessantes  sobre  as  mortes  apparentes , 
mandados  recopilar  por  ordem  da  Academia ,  folh.  8.^ 
1790. 

10.  Tratado  de  Educação  Fysica  dos  Meninos »  etc; 
por  Francisco  de  Mello  Franco^  1  vol.  4.»  1790. 

1 1 .  Flora  Cocliinchinensis  ,  sistens  Hantas  in  Regno 
Cochinchina?  nascentes*  Quibus  accedunt  alias  obser- 
vatae  in  Sinensi  Império,  Aíricae  Orientali,  Indiaeque 


das  Artes  y  etCé  i43 

locis  vaniSy  labore  ac  studio  Joarmis  de  Loureiro  y  Re- 
giae  Scientiarum  Âcademiae  Ulyssiponensis  Socii :  Jussu 
Acad.  R.  Scient.  in  lucem  edita ,  2  vol.  4.^  mai.  1 790. 

12.  Tratado  de  Educação  Fjrsica  para  uso  4a  Nação    . 
Portugueza ;  por  Francisco  José  de  Almeida  y  i  vol.  4.^ 

i3.  Advertências  sobre  os  abusos ,  e  legitimo  uso  das 
Agoas  mineraes  das  Caldas  da  Raiaha ;  por  Francisco 
Tavares ,  folh.  4.°  1 79*  • 

14.  Analyse  Chymica  da  Agoa  das  Caldas;  por  Gui- 
lherme Wiiheringy  em  Portuguez  e  Inglez,  folh.  4»** 
1795. 

i5.  Compilação  das  Reflexões  de  Sanches,  Pringle 
etc.  sobre  as  causas  e  prevenções  das  doenças  dos  Exér- 
citos y  por  Alexandre  António  das  Neuesy  folh.  12. 1797.  * 

16.  Advertências  dos  meios  para  preservar  da  Peste.' 
Segunda  Edição  accrescentada  com  o  Opúsculo  de 
Thomaz  Alvares  sobre  a  Peste  de  iSôg ,  foi.  12.  1801.    , 

17.  Opúsculos  sobre  a  Vaccina,  i3  Num.  4.0  de 
1812—1814. 

18.  Elementos  de  Hygiene.  Segunda  Edição  mais 
accrescentada  y  i  vol.  4-^  1819. 

19.  Memoria  sobre  a  necessidade  e  utilidades  do^ 
plantio  de  novos  bosques  em  Portugal ;  por  José  Boni- 
fado  de  Andrada  e  Silva ,  i  vol.  4«®  18 15. 

20.  Tratado  de  Policia  medica »  no  qual  se  compre- 


]44  Noticias  das  ScienàaSj 

hendem  todas  as  matérias ,  que  podem  servil*  para  erga* 
nizar  hum  Regimento  de  Policia  de  Saúde,  para  o 
interior  do  Reino  de  Portugal;  por  José  Pinheiro  de 
Freitas  Soares  y  i  vol.  4»*^  itíi8. 

SCIENCIAS  EXACTAS. 

31.  Ephemerides  Náuticas  ou  Diário  Astronómico, 
calculado  para  o  Meridiano  de  Lisboa  desde  1789—1809, 
cada  vol.  ^P 

211.  Compendio  da  Theoria  dos  Limites,  ou  Introduc- 
ção  ao  Methodo  das  Fluxões  ;  por  Francisco  de  Borja 
Garção  Stochler^  i  vol.  8.°  1794. 

23.  Tratado  de  Agrimensura;  por  Estevão  Cabral; 
I  vol.  8.*^  1795. 

24-  Principios  de  Táctica  Naval;  por  Manoel  do  Es- 
pirito Santo  Limpo ,  1  vol.  8.®  i795- 

35.  J.  H.  Lambert  SupplementaTabularumLogarith- 
micarum,  et  Trigonometricarum  >  i  vol.  4«®  i7d8- 

36.  Taboas  Logari th  micas ,  calculadas  até  á  sétima 
casa  decimal ,  publicadas  de  ordem  da  Real  Academia 
das  Sciencias ;  por  J.  M.  F.D,y  i  vol.  8.^  1804. 

37.  Taboas  Perpetuas  Astronómicas  para  uso  da  Nave- 
gação Portugueza ,  i  vol.  4.0  18 1 5. 

38.  Elementos  de  Geometria ,  por  Francisco  Fittela 
Barbosa ,  com  hum  breve  Tratado  de  Geometria  Es-* 
pherica.  Segunda  Edição  ^i  voL  8.®  1819, 


dás  Aries  eie.  i4$ 

< 

tTrTERàTCftA.  E  HISTOWà. 

19.  Paschalis  Joêepfii  MéUii  Freire  Hittori^  Jurto 
Civil  is  Lusitani  Liber  singularís,  i  vol.  4*^  1788. 

3o.  Ejiisdem  Institutiones  Jurís  Ctvilis  et  Criminal^ 
Lusitani ,  5  vol.  4-®  i^^O* 

3i.  Osmia,  Tragedia  coroada  pela  Academia,  folB. 
4.0  1785. 

3:^.  Vestígios  da  Lingoa  Arábica  em  Portugal,  ou 
Lexicon  Etymologico  das  palavras,  e  nomes  Portu- 
guezes,  que  tem  origem  Arábica  j  por  Fr*  Joâode^omsàj 
I  vol.  4.0  1789. 

33.  Documentos  Arábicos  da  Historia  Portugueta, 
copiados  dos  Originaes  da  Torre  do  Tombo  com  per^ 
misrào  de  S.  Magestade ,  e  vertidos  em  Portuguez ;  pelo 
niesmOf  i  vol.  4*^  1790* 

34-  Synopsis  Cbronologica  de  Subsídios,  aioda  os 
mais  raros ,  para  a  Historia ,  e  Estudo  criúco  da  Legis- 
lação Portuguesa ;  mandada  publicar  pela  Academia 
Real  das  Scieocias ,  e  ordenada  por  /osé  Anmíasio  de 
Figueiredo ,  a  vol.  4.0  1790, 

35.  Fontes  próximas  do  Código  PiUppinoj  por  /aã- 
qtdm  José  Ferreira  Gordo ,  1  vol.  4*®  179a. 

36.  Dicdonario  da  Lhigòa  FMtufneMi ,  1  v^l.  Ibl. 
mal.  1793. 

37.  Ensaio  Económico  sobre  o  Commercio  de  Portu- 
Tom.  IX.  P.  a«.  10  B 


1 46  iV  olicias  das  Sciehcias  , 

gal  9  e  suas  Colónias ;  por  D.  José  Joaquim  da  Cimfia 
de  Azeredo  Coutinho-  Segunda  Edição  corrigida ,  e  ac* 
crescentada  pelo  mesmo  AuctOTj  i  voL  4*^  '*797*  - 

38.  Memorias  para  a  Historia  da  Capitania  de  S.  Vi- 
cente ,  I  vol.  4«*^  *797« 

39.  Observações  Históricas  e  Criticas  para  servirem 
de  Memorias  ao  systema  da  Diplomática  Portugueza ; 
por  Joào  Pedro  Ribeiro :  Pari.  I.  4*^*  1798. 

40.  índice  Chronologico  remissivo  da  Legislação  Por- 
tugueza posterior  á  publicação .  do  .Código  Filippino  ; 
por  João  Pedro  Ribeiro^  5  vol.  4.®  i8o5 — i8j8. 

4i.  Obras  de  Francisco  de  Borja  Gai^ção  Stockler, 
I  vol.  8.0  i8o5. 

4^.  Dissertações  Chronologicàs ,  e  Criticas ;  por  João 
Pedro  Ribeiro ,  3  vol.  4-®  »8io  —  i8i3. 

43.  Hyppolyto,  Tragedia  de'Eúi:ipides,  vertida  do 
Grego  em  Portuguez ,  t  vol.  4-^'  i8o3. 

44.  Hippolyto ,'  Tragedia  de  Séneca  ;  e  Phédra ,  Tra- 
gedia de  Racine ,  traduzidas  em  verso,  com  os  textos; 
por  Sebastião  Francisco  de  Mendo  Trigozo ,  i  vol.  4.<> 
i8i3. 

45.  Memoria  para  ^servir  de  Indicç  dos  Forae^  das 
Terras  do  Reino  de  Poitugal,  e  seus  domínio»^  por 
Francisco  Nunes  Franklin ,  i  vol.  4*®  <8i6. 


das  Artes  j  etc.  1^7 

I^UBUCAlÇÕBS  de  obras  lN£DrrÂS,REIMPRESSÓ£aU 

46.  Vida  do  infante  D.  Duarte  ->  por  Anâré  de  Reztndej 
folh.  4.0  1789. 

47*  Observações  sobre  as  principaes  causas  da  .deca*» 
dencia  dos  Poituguezes  na  Ásia ,  escritas  por  Diogo  de 
Couto  em  forma  de  Dialogo^  como  titulo  de  Soldado 
l^rotíco  y  publicadas  por  ordem  da  Academia  Real  das 
Sciencias ;  por  António  Caetano  do  Amaral ,  i  vol.  8.^ 
1790. 

48.  Obras  Poéticas  de  Pedro  de  Andrade  Cajfdnha » 
publicadas  de  ordem  da  Academia ,  i  vol.  8.®  i79i< 

49.  Obras  Poéticas  de /ronci^co  Dias  Gomes ^  i  vol. 

5o»  CoUecção  dos  principaes  Auctores  da  Historia 
Portugueza ,  com  algumas  notas ,  8  vol.  em  8.<^  1806. 

Contém  os  primeiros  Xt.  litros  dn  Hofiárclkià  LusitÉtn. 

5i.  CoUecção  de  Noticias  para  a  Historia  e  Ge^gíafia 
das  Nações  Ultramarinas ,  2  vol.  4*^  iSi^  e  i8i3. 

o  Tom.  t.  contém  Breve  Relaçio  das  Escritoras  dos  Gentios 
da  índia  Oriental ,  e  dos  sens  costmnes.  —  Noticia  sammaría 
do  Gentilismo  da  Ásia  —  Joseph  de  Anchieta  :  Epistola  quara^ 
plurimarum  Rerum  Natoralimn ,  quse  S.  Vinceutii  (nane  S.  Pauli ) 
Provinciam  incolimt ,  sistens  descriptíonem» 

O  Tom.  II.  contém  Kavegaçao  primeira  e  segoiéb  de  Luix 
de  Gadamosto.  —  Navegação  do  Capitão  Pedro  de  Cintra  ,  Por- 
Ingaes.  —  Navegação  de  lisboa  6  Ilha  de  S.  Thomé. -*-  Navt •* 

10  * 


i4â  Noticias  das  Sciendas  ^ 

gação  do  Capitão  Pedro  Alvares  Cabral.  —  Cartas  de  Araeríc» 
Vetpucio  a  Pedro  Soderini.  —  Navegàçio áslndiafl  Chiebtaes, 
escrípta  por  Thomé  Lopes.  —  Viagem  ás  índias  Orientaes ;  por 
João  de  EmpolL  —  LÍTro  de  Duarte  Barbasm* 

5a.  Collecção  de  Livros  inéditos  de  Historia  Porto- 
gueza ,  desde  o  Reinado  do  Snr.  Rei  D.  Joào  II. ,  4  vol. 
foi.  1790 —  i8i6. 

O  Tom.  I.  contém  Iítto  da  Gnerra  de  Ceata ;  por  Mestre 
MaUheus  de  Pisano.  —  Chromca  d'£lRei  D.  Duarte  ;  por  lUff 
de  Pina,  —  Cbromea  de  D.  Affimso  V ;  pdo  mesmo. 

O  Tom.  II.  contém  Chronica  d'£lRei  D.  Joio  II;  por  Euy  de 
pina;  e  a  Chronica  do  Conde  D.^ Pedro  de  Keneses;  por  Gomes 
Eannes  de  Zumnu 

O  Tom.  III.  contém  Chronica  do  Conde  D*  Dnarte,  de  He- 
nezes,  de  JUijr  de  Pina.  —  liyro  Termelho  do  Snc.  D.  Affonso  V. 
—  l^ragmentos  de  Legislação  Portuj^iesa ,  extrehidoii  dò  Lirro 
das  Posses  da  Casa  da  Supplicaçio* 

O  Tom.  lY.  contém  Chronica  StíHkfí  D.  Pedro  I. ;  por  Fer^ 
não  Lopes. — Chronica  d^Rei  D.  Feraando  \  pelo  mesmo  Auior. 
Foros  antigos  dos  Concelhos  de  Sentareas,  S»,  Martinho  de 
Mouros  y  f  Torres  Moyas. 


iláb 


'fcSL.-.' 


• 

ias  Artes  f  ttc.  1(9 


iSS 


NOTICIAS 

RECENTES  DAS  SCIENCIAS,  etc. 


<»^»»»i>^^^^i%%»%  ^ 


CHTMICA. 


Ofí*  Lassaigne  examinou  a  acção  mutua  do  alcohol  e 
do  acido  phosphorico  durante  a  formação  do  ether , 
proseguindo  as  experiências  de  M.  Vogel  e  de  M.  Gay- 
Lussac  á  cerca  da  decomposição  do  acido  sulphurico, 
no  processo  da  etheríficaçãOi  primeiramente  observada 
por  M.  Dabit ,  como  dissemos  no  Tomo  VlU  dos  Ân- 
naes.  Parte  2*.  pag.  i4o.  O  resultado  dos  experimentos 
de  M.  Lassaigne ,  he  o  seguinte  : 

1®.  Â  acção  do  acido  phosphorico  sobre  o  alcohol 
he  a  mesma  que  a  do  acido  sulpburíco ; 

20.  Durante  a  operação  forma-se  hum  acido ,  o  qual, 
pela  anologia  que  tem  com  o  acido  sulphovinoso , 
pode  chamar-se  phosphmnoso ; 

3^-  Este  acido  forma  saes  mui  soluteis  com  a  cal 
e  a  barytes  j  e  pode  consíderar-se  como  acido  hjpo- 
phosphoroso  combinado  com  huma  matéria  yegetal ,  da 
mesma  maneira  que  M.  Gay-Lussac  o  cré  em  quanto 
ao  acido  sulphovinoso , 


i5o  Notícias  Joi  Sciemcias  , 

4«,  Be  mui  provável  que  o  acido  aneniaco ,  o  qual 
forma  etber,  assim  como  os  dois  ácidos  sulphurico  e 
pbospboricoy  p^  hupia  reaççiò  $qbre  o  alcobol,  d4 
nascimento  a  hum  acido  particular  formado  do  deut* 
ox^do  de  ar^nico  e  dps  ele^ieotoft  do  alcohol. 

M.  Ganthier  de  Claubry  j  em  buma  carta  a  M.  Gay- 

Lussac  inserta  nos  Annaes  de  Cbymic^  e  de  Physica 

do  mez  de  |kIarço  d'este  anno,  verificou  de  novo  q 

que  já  tinha  annunciado  no  tomo  XCIII ,  pag.  75  da 

,.,sobreditta  obra  ,4  cerca  dp^nie  contido  íxo  fucus  "ve-. 

4Ículosus  y  e  mostrou  ,  contida  ilL  Fyfe  de  Edimburga , 

gpe  este  vegetal  pontém ,  com  e0eito ,  iode ,  se  bem  qMfi 

em   pequena  quantidade^   Também  r^conheceo   por 

novos  experimento^  quç  ^.  Fyfe  ^e  tinbs^  igualmente 

^çnganado  á  ce^ca  dp  iqde  contido  nas.^ponjas,  das 

<^ua^8  M.  de  Glaubry  o  ei^trahio  ^ntes   e  depois  da 

incineração.  Cré  que  nellas  9  íod^  se  açba  QO  estado 

de  bydriodate  de  potassa»  como  nos  fucus. 

M.  Mathieu  de  Dombasle  fes  ver  que  M.  Proust  s^ 
^inha  enganado  eo^  duvidar  da  conversão  da  fécula  em 
alcohol  pela  fermentação ,  e  mostrou  por  buma  serie 
de  experiências  que  a  razão  da  nequena  quantidade 
que  d*elle  se  obtém  na  fabricação  da  gomma  ou  amido , 
procede  das  drcumstaocias  po\iço  favoráveis  á  con- 
versão de  que  se  trata.  Nesta  ope^çãq  o  fermento 
de  que  se  usa  he  acido ,  e  não  $ó,  não  provoca  a  fer^ 
piei^tação  st^col^oliça ,  roas  u^ié  |e  qppõe  a  ella  energi- 
camente. 


^  das  Artes  y  etc.  iSi 

.  M-  Gay-Lussac  analysou  de  novo  o  sulpbate  de  ma* 
gnesia ,  e  achou  que  as  proporções  do  D^..  Henry,  adop- 
tadas pelo  D*^.  WoUasion  na  sua  Memoria  sobre  os 
equivalentes  chjímicos ,  concordào  com  o  resultado 
das  experiências  que  de  novo  fez,  o  qual  se  afasta 
bastante  do  de  M.  Berzelius  e  muito  mais  do  de  M. 
Longchamp. 

M.  Brande  submetteo  soco  partes  de  belladona  aos 
reagentes  chy micos ,  e  achou  nella  hum  alcali  a  que 
deo  o  nome  de  atropiwn.  Esta  substancia  neutralisa 
huma  proporção  de  acido  maior  que  todos  os  mais 
alcalis;  aquecida  até  ao  rubro  com  a  potassa  não  se 
forma  acido  hydrocyanico ,  mas  pela  addiçào  de  agua 
obtem-se  hum  liquido ,  o  qual  depõe  hum  acido  que 

• 

tinge  de  vermelho  os  saes  de  ferro.  O  atropium  está 
na  belladona  no  estado  de  super*malate,  e  forma  parte 
da  substancia ,  á  qual  M.  Vauquelin  tinha  attribuido 
a  virtude  lethargica  que  distingue  a  planta,  e  que  M, 
Brande  chama  pseudoioxia»  Segundo  este  chy  mico ,  no 
atropio  he  que  reside  a  propriedade  narcótica ;  porque 
a  mais  tenne  porção  doesta  substancia  determina  a 
dilatação  da  pupilla,  e  nas  pessoas  de  constituição 
inítavel ,  o  vapor  dos  saes  de  atropio  ,  que  se  desen* 
volve  pelo  calor,  he  capaz  de  produzir  os  mesmos 
eiTeitos. 

Esta  substancia  assim  como  a  brucina  de  que  já  fal- 
íamos no  Tomo  VIII,  Parte  a'*,  prg.  i3o,  merecem 
fixar  a  attençào  dos  médicos ,  pois  he  de  esperar  que 
pussâo  vir  a  ser  poderosos  agentes  therapeuticos » tanto 


\ 


i5t  NoãeMSt  das  Sciencias  , 

mais  preciosos- que  o  seu  efifeito  pode  «ilctilar*sd:it- 
gorosaiíiente^  o  que  nunca.  he.  possível  em  quanto  ao9 
vegetaés  .administrados  no  estado  em  que  a  natui^exa 
lio^los  oSerece. 

.  M.  Oersted  achob  na  pimenta  hum  novo  alcali  a  que 
^b  o  nome*  de  piperina,  He  quási  insolúvel  em  agua 
fria  y  e  mui  pouco  na  agua  a  ferver,  O  alcohol  o  dis- 
solve ,  e  a  solução  he  de  côr  amareUa  dará  tirando  para 
irerde.  O  acido  nitrico  aviva  esta  esta  c6r  e  a  torna 
perfeitamente  verde.  Â  piperina  possne  o  sabor  acra 
/da pimenta  em  hum  grão  notável.  A  soa  reacção  sobre 
M  matérias  colorantes  do  reino  vegetal  he  bastante* 
Hieiite  sensivel.  Com  os  addos  sulphurico  e  acético, 
este  alcali  forma  saes  quasi  insolúveis  :  o  seu  muríate 
|ie  assax  solúvel*  M.  Oersted  não  determinou  ainda  ai 
quantidades  d'ef|tefi  saes  que  a  agua  eo  alcohol  podem 
dissolver.  Está  fazendo  experiências  sobre  este  ob^ 
jecto  assim  como  sobre  n  capacidade  de  saturação  da 
piperina.  Âs  observações  que  já  tem  feito  ,  provão  que 
esta  capacidade  he  mui  pequena ,  como  a  dos  outros 
aloalis  da  mesma  natureza.  Para  obter  este  alcali , 
exti*ahe-se  a  resina  da  pimenta  por  meio  do  alcohoL) 
a  solução  que  d*ahi  resulta  contém  a  piperina  ;  ajunta** 
se  acido  muriatico  e  depois  agua ;  a  resina  he  preci- 
pitada pela  agua ,  o  muriate  de  piperina  6ca  em  solu-» 
ção  :  faz-se  evaporar  o  alcohol ;  o  liquido  filtrado  en- 
cerra o  muriate  de  piperina ,  o  qual  se  pode  decompò 
pela  potassa  pura ,  que  precipita  a  piperina. 

Hum  amigo  de  M.  Oei*sted ,  M.  Forchhammer  achou 


igualmente  outro  novo  «Icali  de  huma  grande  luai*^ 
mooia  y  no  fmcto  do  Captkmn  anwãum.  Este  alcali  hef 
mais  >  solúvel  na  agna  ^  e  possue  hlima  maior  eapaci^ 
dade  de  saturação  que  os  outros  alcalis  da  mesma' 
classe.  Forma  com  o  protoxydo  de  chumbo  e  oom 
o  acido  muriatico  hum  sal  triplo  que  conserva  wxAm 
toda  a  acrimonia  do  seu  alcali  vegetal* 

MM.  Lassaigne  e  Chevalier*  examinarão  o  acido  qUé" 
se  produz  durante  a  distillação  do  acido  úrico  e  doiT 
cálculos  de  urate  de  ammonia ,  acido  áo  qual  dão'  ò 
nome  de  Pyro-Urico ,  para  indicar  a   sua  oríjgem  z 
obtem-no  distiilando  acido  uríco  puro,  ouhuWcal'^ 
culo  de  acido  úrico  e  de  urate  de  ammonia/  Os  pró- ' 
duetos  são  constantemente ;  i».  acido  sublimado  eoat'- 
laminas  que  retém  huma  pouca  de  ammonia;  a®,  hckào^ 
combinado  com  -huma  grande  quantidade  deammò-' 
nia,  e  o  qual  dissolvido  na  agua  que  se  forma,  he' 
susceptível  de  crfstallisar ;  S^.  carbonate  de  ammonia; 
4«.  hydroçyanate   da  mesma  base;  5^'  acido  hydrd-' 
cyanico  livre ;  6o.  finalmente ,  acido  empyreumatico,  de 
côr  mui  forte.  Extrahtrão  o  acido  puro  do  sal  acido 
com  base  de  ammonia ,  dissolvendo  os  ciystaes  ein 
agua  a  ferver,  e  precipitando  a  dissolução  pelo  sub* 
acetate  de  chumbo.  O  precipitado  branco  que  se  for^" 
mou,  depois  de  ter  sido  lavado  em  agua  a  ferver, 
foi  decomposto  pelo  hydrogeneo  sulphuretado.  Con^^ 
centrando  o  licor,  obteve-se  o  acido  em  estado  de 
pureza ,  e  ci7Stallisado  em  pequenas  agulhas  brancas, 

£ste  acido  derrete-se  com  o  calor  ordinário  e  loi* 


i34  Noticias  das  Scieneias^ 

UimaVsennlrâatiientel  em  agulhas  brancas  ^^ni  htini 
g^oi  de  .cadior  mais.  considerável  decompõe-seem^car* 
vão,  em'oleo;  em  hjrdrogeneo  carbonetado  eem<car* 
bonate  derammonia.  A<agua  fria  dissolve  huma  4o** 
parte,  e  esta  dissolução : tinge  de  "vermelho  a  tintura 
de  gycasol ;  he '  solúvel  po  alcohol  a*3G<>,  e  esfriando 
precipita-se  eni  forma  de  pequenos  grãos,  azues,  He  dÍ8-« 
^olvido  pelp  acido  nitríco,  e  não  sofice  alteração  alguma 
cjuaiido  sç  ev^ora  até  ^^cação ;  operação  que  converta 
o  acido  úrico  em  acido  purpurico.  Forma  com  a  cal 
^um  sal  coipposto  de  91,4  de  acido  e  df  8fi  de  cal; 
este  sal  be  acida ,  soluyel,  ligeiramente  acre.  Com  9, 
barytes  forma  hum  sal  bi^nco  pulverulento,,  poucQ 
solúvel  em  agua  fria.  Com  a  potassa ,  a  ammonia  e  9, 
soda ,  forma  saes  sqluveis  >  da  dissolução  concentrada 
dos  quaes  os  aeidos  precipitáo  o  acido  pyro-urico  en^ 
ff^rmdL  de  h^m  pó  branco.  Qs  pyro^nrates  de  ferro  ao 
çiaximo ,  de  deutoxydo  de  cobre ,  de  prata ,  de  me]> 
çnrio  e  de  chumbo ,  são  insolúveis  ;  o  {primeiro  he  át 
bum  amarello  de  camurça ,  o  segundo  de  bum  branco 
amarellado ,  e  0$  outros  perfeitamente  brancos.  O  sub^ 
pyro-urate  de  chumbo  be  composto  de  a8,5  de  aci- 
do, e  de  71,5  de  chumbo.  Calcinando  este  sal  bem 
çeçcp,  com  ^o  vezes  o  seu  peso  de  oxydo  de  cobre 
ao  máximo,  pbtiverão  hum  gaz,  composto  de  acido 
carbónico  e  de  azote ,  nas  proporçòeç  de  4  ^0  pnmeira 
para  I  do  segundo, 

O   acido  pyro-urico  oflerece  em  quanto  á  relação 
em  peso  dos  seus  elementos,,  oxygeneo  44f  3!i,i  car- 


•    das  Artes,  tic.  i55 

boné  ii8;.399  azote  16,  S4 »  hydrogeneo  .io,eoo }  donde 
66  colhe  que  a  relação  em  yolumè  do  carbone  ao  azote 
he  justamente  duas  vezea  a  dó  acido*  úrico,  - 

A  prata  pura  fundida  e  conservada  no  estado  fluido , 
tem  a  propriedade  de  absorver  huma  pequena  porção 
de  oxjgeneo  j  não  só  da  atmosphera  mas  dos  outi*os 
corpos*  que  o  podem  dar  cotn- ajuda  de  calor  ade- 
quado,  como  os  nitrates.  O  oxygeneo ,  assim  absorvido, 
fica  unido  á  prata ,  mas  só  em  quanto  esta  se  conserva 
fluida  y  ou  até  que  se  ponba  env  contacto  com  hum 
corpo  que  tenha  mais  afinidade  com  o  oxygeneo ,  do 
que  ella.  Por  isso,  quando  prata  fundida  em  grande 
quantidade ,  depois  de  ter  estado  exposta  por  algum 
tempo  a  huma  corrente  de  gaz  oxjgeneo  ou  dè  ar  at* 
mospfaeríco,  sé  esfria  gradualmente,  a  sua  superficíe 
começa  a  tomar-se  solida,  e  arrebenta  logo  depois; 
a  ebuUição  continua  por  espaço  de  hum  quarto  de 
hora  ou  meia  hora ,  couforine  a  quantidade  da  prata ,  e 
escapa  huma  grande  quantidade  de  vajpor  elástico  que 
leva  diante  de  si  huma  gi^ande  porção  do  metal  fun- 
dido ,  de  soite  que ,  quando  este  endurece ,  a  superficie 
fica  desigual.  Se  se  esfria  de  repente  o  metal  fundido, 
.deitando-o  em  agM  ília ,  observào^se' os  mesmos  phe- 
nomenos,  mas  a  superficíe  oQerece  menos  desigual- 
dades.  O  vapor  elástico  contém  huma  grande  quanti* 
dade  de  oxygeneo.  Porém  se  se  deita  huma  certa  quan- 
tidade de  carvão  de  madeira ,  ainda  por  pouco  tempo , 
sol)re  a  superficie  da  prata  que  absorveo  o  oxygeneo , 
^dle  c|esapparece  immediatamente,  Neste  caso  não  ha 


i96  Noticias  dás  Sòiencias, 

ebulliç&o  nem  separação  de  gaz ,  ou  o  resfriamento 
seja  gradual  ou  repentino.  O  cobre  parece  oflêrecer 
phenomenos  assas  análogos. 

O  D'*  Gmelin ,  de  Tubinge ,  achou  que  o  Clinks- 
tone  de  Hohentwiel  dá  ammonia ;  outro  tanto  acon- 
tece aos  basaltes. 

Ainda  não  pudemos  haver  a  Memoria  de  MM.  Pelle- 
*tier  e  Gaventou ,  sobre  as  Colchieeas ,  de  que  faHámot 
nas  Noticias  do  Tomo  VIII ,  pag.  i4a. 

F.  S.  C. 


AVISO  AO  PUBUCO. 

A  continuação  do  Catechismo  de  Agricultura  tem 
sido  demorada  pela  grave  doença  de  olhos  que  sobre- 
veio ao  nosso  Collega  o  Sn'.  J.  D;  Mascarenhas :  a  bem 
(andada  esperan(|a  do  seu  restabelecimento ,  e  a  próxi- 
ma chegada  a  Paiis  do  seu  parente ,  o  digno  autor  das 
Georgicas  Portuguezas ,  que  vem  estudar  a  esta  Capital 
«  que  poderá  ajudá-lo  a  pôr  a  limpo  os  apontamentos 
para  a  conclusão  d'aquelle  trabalho,  nos  fazem  esperar 
que  d*eUe  possa  gozar  o  Publico  dentro  de  alguns  mezea. 

Os  RSDACTOILIS* 


Obs»  Meieor.  i57 

RESUMO 

DAS  OBSERVAÇÕES  METEOROLÓGICAS 
wmié  iro  oisBav ÁTOMO  eigio  di  vabU. 

lí.  S.  o  Thermom^tro  he  o  centígrado;  o  BaroHietro  metrícQ, 
e  a  elevação  d'efte  he  reduzida  ao  zero  do  Tliermometro. 

•  •  •         • 

JJNEIRO   iftlO. 

Maior  elevação  do  merctmo.  •     77^™"*»  60    %  í       9 

^    Menor  ditU 709,       89   í  j.      \      19 

Maior  grão  de  calor.     .    .     .   +  i3o,     4°   í  *^  j     27 

Menor  ditto *"-  14»       ti5   '  f      11 

claros •     16 

nublkdos  .      '.'..'•'  12 

de  chuva   . ' ir 

de  vento 3i 

Numero  de  /   de  uevoa   •     •     •'     .     .'     •    Í't 

dias        I  de  gelo ai  • 

de  neve r 

de  saraiva 9 

de  trovoada    •     •     •     •     •       o 

N g 

N.-E. 5 

E. I 

Dias  em  que  f  S.-E.     i •  l 

ventou  do    ^     S *  •     .     •  6 

S.-0 7 

O o 

N.-0 5 

Thermometrot  no      i®,       iao,o74* 
subterrâneo  (a     16  ia  ,074- 

INopateodo.  .^^ 

Observatório,  f  *♦         » 2^ 

Sobre  o  Ob-  í  ^  - 

servatorío.  )  '  ^ 


i5&  Ob^.^fetiíof. 

FàrÇ9LKtKO. 

Ifator  elevaçio  do  merctirío  •       766"*,  ^9  1. 

If eíiòr  ditta  • nAi\        o3   \  ,. 

Maior  grao  de  calor.    .     .     .  +    140,     ii5  /  »<>Mws 

Menor  ditto +     é>       a5  > 

claros 16 

noblados   .«^.«.13 

de  chuva   •     •     •     •     .     ^       ^    . 

j      I  de  vento    ......     ao 

Numero  de    I  j^  ^ 

*^  "J.  /  de  névoa   «     .     «     é     •     .     29 

*^         ^  de  gelo •  '4 

de  neve.    ......  i 

de  saraiva  .«••••  f 

de  trovoada    <     •     .     •     «  o 

N.  ^ § 

N.-E 5 

E \ 

Dias  em  que  )   S.-E.    .•*•.•<  5 

ventou  do     ]      S.         , g 

S.-0 5 

N.-O I 

Tbermometrof  no     i»^     iao,074» 
fubterraneo  \     a    16  ,     ia  1074* 

!No  pateo  do  \  ^  ^^ 

Observatório.  4     ^  ' 

Sobre  o  Ob-  \  ^g         5  j 

,  servatorio.'  |  ' 


ao 


Obs,  Meteor, 


1% 


Mjbço. 


Maior  elevação  do  mercmio .  • 

Menor  ditta 

Maior  grão  de  calor.    ... 
Menor  ditto 

claros    • 
nublados 
de  chuva 
de  ven|o 
de  névoa 
de  gelo 
de  neve 
de  saraiva  . 
de  trovoada 


7^6,  33 
+  ao®,  jS 
—     5,      5o 


Kumero  de 
dias 


Dias  em  que 
ventou  do 


N. 

N.-E.  . 

S.-E,  , 

1  S.   .  . 

\S.'0.  . 

o.  .  . 


4 


N.-O.     . 

Thermometrot   no     lO,     iaO)074* 
•ubterraneo  \    a     i6  ,     i!»  ,069* 

!Vo  pateo  dol  ^  -«    gj 
observatório.!    ^     * 
Sobre  o  Ob-  t    ^ 
fenratorio.  j  ' 


,73 


nof  dias 


a3 
8 

i3 
I 

o 

7 
6 

o 

a 
3 

i 


FIM  DA  TA£T£  ÂfiGUNDA. 


• « 


>6o 


ERRATA.  DO  TOMO  VUI. 


Pkntn  paxxBiAA. 

i^v- 

•filfi* 

tUROS. 

EMENDAS. 

ia  — 

18 

aindtm  aii 

ai  — 

aa 

entendo        ... 

entendésdo 

a4- 

I 

literatura 

kitnrÉ 

35  — 

8 

Cap.  ULIIJo. 

LKIIIfo. 

3«  — 

ag 

cooupação 

deenpaçlo 

46- 

a8 

•eccao 

fetçto 

'ãz 

a7 

*  £m*  these  em  gehd 

£m  these  geral 

18 

ebdmá 

71  — 

3 

0  perder 

aperd«r 

96- 

ia 

da 

de 

lOI    — 

i5 

de 

do 

ibid.  — 

16 

.    cacja  4os  fneteê .     . 

pada  bam  dos  mexes 

108  — 

16 

os  gríko 

0  grio 

ibid.— 

a3 

grl 

grão 

\  PAa.TK  S^GFNDA^             ^ 

5o  — 

8 

compa  a^o 

comparação 

i56  — 

a8 

com  a  congéUtlò 

coiá  qiiè  á  congelaçto 

143  — 

a3 

prestas    • 

p^ias 

ÂOS  CÒRREâPONDKNTES. 

Recebemos  a  Memoria  e  o  Poema  do  SQ^  Jozé  Rinta 
Rebello  de  Carvalho. 

A  Memoria  do  Amante  do  Bem  publico  nào  entra  do 
plano  da  nossa  obra. 

A  interessante  Memoria  do  Sn^*.  Visconde  de  Santa* 
ren^  irá  no  Tomo  immediato. 


CATALOGO 

Das  obras  mais  notáveis  que  se  tem  puíUcado 
até  aoji^  de  Março  de  i8ao  y  em  (Uversas 
línguas  f  sobre  as  Sciencias  y  Artes  e  Letras  y 
com  o  preço  das  que  sào  impressas  em  França^ 
encadernadas  empapeL 

iV.  B,  £m  cpianto  ^  encadernações  ^  veja-se  a  adtertencia 
DO  Catalogo  do  Tomo  III. 


#»»<%«%^<i<i»»<fc^i»»%»»» 


OBRAS  IMt>R£SSAS  EM  FRANÇA^ 

Obtitíjd  áHmtnciadas  nos  catálogos  antecedentes  >  que 
éc  publieào  por  súbscripçào  ^  e  de  que  sahíráo  novos  vo^ 
lumes  j  ou  secções  r 

V,  Bk   Os  números  encerrados  adre  parehàhesés  indtcão  o 
Tomo  dos  AnnaeSy  e  a  pagina^  ou  nfié  no  eatalogo  em  ^ue  a  oèrtt 
Jbi  annunciada* 

ilistoire  Haturetle  Jes  ÓrangerSj  etc.;   par  ÉíMo;   (  Ilí.  'd.  ) 
Sahitao  as  i4**  à  i5*.  see^oet ,  com  6  estampas  cada  hurnii^ 

jttistoire  natureile  des  táammijhres^  tXit,^  pat  itlÉ.  Saiiit-Hilaíre 
et  Caviei'.  (  V*  4  )  SaUrao  ai   1 1*^ ,  ii^.  6  i^>.  éecções^ 

Gollection  Complete  de  Mémóires  retaiifo  à  Vhistoire  de  FMic&f 
etc. ;  par  M.  Petitot  ( YI.  17. ).  Sáhlrio  I»  Tomos  Vil  e  VIÍL 

TamilX.Pé^^^  ti  B 


Plans  raisonnés  de  toutes  espèces  de  jardins ;  par  G.  Tbouin 
(  Vr.  I .  )  SaVo  %  ^t.  0çcfã«í. 

Dictionn^ire  fustorique,  elo.;  par  Fabbé  St.  X.  de  Feller. 
( I.  p:  $.  >SAMr&o  o  3o.  e  4^  Tomos  do  Supplemento ,  com 
«  <}cie'  Mtá  eoBcluidii  a  obra  ;  pr.  de  oada  vot^aie  ,  7  fr» 

Hístoire  JtÃn^tett*e  depuis  Vinposion  de  Jules-César^  etc. ;  par 
^áméi  (  Tf.  1$. }  Sahirio  o  YII  e  Vm  voL 

Le  Jardin  Fruiiiery  etc. ;   par  ]U  NoiaetU.  ( lY.  40  Múo  «12». 

secção. 

*  I 

Anatomie  et  phjtstologie  du  sysihme  ner^eux^  etc. ;  par  MM.  Gall 
et  Spurzbeim.  ( II  63. )  Sábio  a  1^,  Parte  do  Tom.  lY  em  foi. 

com  17  estampas ,  pr.  \io  fr. ;  em  4^-  60  (r.  Com  esta  sec- 

« 

çao  fica  completta  a  obra ;  a   qual  em  4  vol.  com  1 00  es- 
tampa* custa  ,  em  (4A,  960  fr.,  e  em  4^.  4^  fr. 

Yíetoirea,  ConqueUs^  elc^  (  VI.  3 1 .}.  S^bío  o  Tom.  XVJI. 

blctioniiaíre  ãés  Sciences  médicales ,  Mc. ;  ( I.  p.  8.  )  Sabirio  os 
Tom.  XL  e  XLI.  (  PEC— PHR.  ) 

More  dtt  Dietíonhàire  des  Seienees  médicales ,  etc. ;  ( IV.  5.  } 
Tem  sabido  «té  é  97^.  secção; 

QEavres  completes  du  Chancellier  d^Aguesseau  ,  etc. ;  par  M. 
Pardeêsus.  (IV*  58.  )  Sabirão  os  Tom-  XI  e  XII. 

Piantias  de  la  Bnmeey  etc.,  p«r  X«ama 5ftii|t-Hilaire.  (  !¥•  i.  ) 
Sabirão  as    16*.  e  17*.  secções. 

Hístoire  natunelle  générale  et  particulière  des  moUusques ,  etc. ; 
par  M.  le  Baroa  de  Férussac.  ( I.  p*  i.  )  Sábio  a  6*.  secção. 

IVoíMimeM  mviiem  ^  modemes  de  Vlndoustan ,  etc.  (IV.  1 1  • ) 
6abio  a  se*,  «eeçio. 


Traít^  òofliplet  i^-  mécamiquc  oppliquéa  ai^X  jÍ/U  ,  eic*  j  par 
BorgQÍs(IIL  3w).  Sábio  Q  3^.  Trfi^do  (Machines  para 
tecer  )•         - 

OíSiirrei  completei  de  MJ^  ía  BarvkMé  de  Stael,  eCc.  (  Vltl.  1 6. ) 
Sabirio  06  yJU  e  IX  rolames. 

AGRICULTURA  ,  EconOMIÂ  RURAL  E  DoMESTlCA  ,  HlSTORlA 
ÍTATURALy  ChTMICA,  BoTAVICA,  InDUSTRIA  B  ArTE^. 

I «  Traité  sur  Vart  de  la  ckarpenU  théprUgue  et  fNvttique  ;  par  J* 
Gh.  Kraffi,  archítecte* 

Esta  obra  será  composta  de  6  secções  em  íol.  coro  to  eS" 
tampas  cada  buma  ,  fóra  o  texto ;  este  be  escripto  em  três 
columnas ,  a  primeira  em  francez ,  a  segunda  era  allemão  ,  e 
a  terceira  em  inglez.  Sábio  a   i^.  secção  j  pr.  de  cada  boma 

a.  Da  tb^,  o  a  NouveaU  T^Ué  sursa  culture  ,  sa  récoíte,  sapré" 
paralion  et  ses  usages  ;  par  F.  Marquis  jeiíne*  i  vol.  8o.  com 
estampas;  pr.  4  fr. 

3.  Goars  de  phjrtólogie  ou  de  hoianique  pratique  générale  ;  pár 
le  Cb.<^r  Âubert-Aubert  Dupetit-Tbouars.  Seconde  séance  — 
Pbjtognoiiiie«  i  vol.  ^o. ;  pr.  a  fr* 

4.  Art  defaire  le  vin  et  de  disiiller  les  eaux-de-vie  j  par  A.  C***4 
I  vol.  6®. ;  pr.  3  fr.  5o  c« 

5.  Économie  de  PagriculUíiT ;  par  le  Btroo  £«  Y*  B.  Crud.  i  Tol. 
4**.;  pr.    i5  fr. 

LITERATURA  £  HISTORIA. 

6.  Parallèle  et  critique  impartiale  des  W^d^/uMons  des  Buçolifueê 

II  * 


(4) 

^  íHgrsf rançais  de  MM.  Tissot  et  Hetiri  de  yuiodon ;  par 
M.  Lchodey  de  Sault^Chevreuil.  i  vol.  *;  pr.  3  fr.  5o  c. 

7  Histoire  de  la  guerre  entre  les  États-Unis  d^Améiique  ei 
iAngleterre  pendani  les  années  1 8  ip  ,  i3  ,  i^eí  i5  ;  par 
H.  Brackenrídge ,  citoyen  amérícain ;  traduíte  par  A.  de 
Dalmas ,  ayec  nne  carte  du  thé&tre  de  la  guerre.  a  vol.  8o. ; 
pr.  IO  ir. 

8.  Discoars  et  opinions  de  Miraheau  ;  precedes  d*ane  Notíce 
historique  sur  sa  vie ,  par  M.  Barthe ,  a\  oeat ;  et  de  VOraisom. 
Junèbre  prononcée  par  Cératti ,  lors  de  ses  fuDérailles ;  d*aQ 
ParaUèle  de  Mirabeau  et  du  Cardinal  de  Reiz ;  par  M.  le 
Comte  Boissy  d*  Anglas ,  et  des  Jugemens  portes  sur  Mira^ 
beau ,  par  Chénier  et  M.  le  Comte  Garat.  Sahirio  os  Tom. 
lell. 

Esta  Collecçio  ,qne  terá  por  titulo  :Ze5  Oraiewrs /rançais  i 
sahirá  por  series ;  a  primeira  ha  de  conter  os  discursos  de 
Mirabeau ,  Bamaye  e  Vergniaud ,  em  4  volumes.  Preço  de 
cada  vol.  6  fr.  5o  c. 

9.  OEuvres  de  Ihomas.  2  vol,  80. ;  pr.  16  fr. 

Ha  nesta  edição  obras  do  Autor ,  que  .nunca  forio  impressas* 

10.  Mémoires  pour  servir  à  V histoire  de  France  en  1 8i5  >  avec 
le  plan  de  la  batailledu  Mont-Saint-Jean.  i  voI.So.^pr.  5  ir. 

1 1  •  Le  tbéÀtre  des  Grecs;  par  le  P.  Brumoj.  Seconde  édition 
complete  ,  omée  de  gravares  d'après  les  desserns  de  Moreau 
le  jeune,  MariHier  et  autres;  revue,  corrigée  et  augmentée 
de  la  traduction  d'un  cboix  de  fragmens  des  poetes  grecs 
tragiques  et  comiques }  par  M.  Raoul  Rocbette. 

Esta  obra  deve  apparecer  em  18  secções,  a  saber  i5  de 
texto  ,  e  3  de  estampas. 


(5) 

12.  Príncipes  de  liilérature ,  de  phUosoptne ,  de  polilifue  ei  de 
mor  ale.  Sábio  o  *Tom.  lO. ;  pr.  4  fr. 

i3.  Descríption  siatistique  ,  hisíorique  et  politique  des  Eiats^ 
Unis  de  VAmérique  septentrionale ,  depuis  Vépoque  des  pre^ 
miers  établissemens  jusqiCà  nos  jours  ;  par  D.  B.  Warden , 
ancien  cônsul  amérícain  à  París.  Traduite  de  Tanglais.  5 
Yol.  8o.  avec  une  carte ,  un  plan  et  une  vue ;  pr.  i^o, 

i4>  Histoire  de  France  depuis  la  mort  de  Louis  XVI ,  jusqu'au 
Traiié  de paix  du  io  novembre  1 8 15 ;  par  M^  Gallais.  Pour 
servir  de  suite  à  V Histoire  de  France  de  M.  AnquetU.  3 
vol.  lao. ;  pr.  ia  fr. 

x5  OEuvres  de  Bossuet^  Evoque  de  Meaux ,  rerues  sur  les  ma- 
nuscríts  oríginaux  et  les  éditions  les  plus  correctes ,  avec 
une  Table  analjtique  et  alpbabétiqne  des  matières.  4^  "^oL 
8o. ;  pr.  de  cada  vol.  7  fr. 

t6.  Lettres  inédites  deBossuet,  Evéque  de  Meaux.  i  voL  80.  ; 
pr.  1  fr.  5o  c. 

Estas  setenta  cartas  ,  nSo  tendo  sido  descobertas ,  senão 
depois  de  estar  quasi  acabada  a  edição  do  ultimo  volume 
da  obra  acima  ,  não  poderão  ser  comprebendidas  naquella 
edição. 

17.  Xénopbon  :  la  Cjrropcedie  ,  ou  Y Histoire  de  Çyrus  et  Veloge 
d*AgésUa'ús ;  traduit  du  grec ,  par  M.  Cbarpentier  de  TA. 
F.  2  vol.  120. ;  pr.  5  fr. 

18.  OE»Yres  de  Lord  Bjrron»  Tradoitf  de  Fanglaís.  8  voh  lao.  ; 
pr.  4^  fi** 

19.  Tableau  sjrnopiique  de  r Histoire  de  France  ^  etc.  pour  servir- 
de  suite  à  l'Abrégé  chranologique  da  Préiidfint  Hainault ;. 


(é) 

(111'  Bf .  Èâfàéê  y  <Mf  (fé  ímrêmt  éait  Atétívêi  áé  fiftír^erthê 
de  France.  3  vol.  8o.  ;  f  r.  !i4  fr* 

ao.  La  France  ancienns  et  modeme  ;  par  A^  €arel ,  inajor  de  tf 
Léf^on  de  FYonne.  %  toI  8o.  |  pr,  lo  ir. 

Si.  Suite  d^  quatre  CóAeâtdaU;  pát  M.  ò€  Prffdt ,  áncien 
ArélMftéqite  dcf  ttáfines.  r  tol.  ^> ;  ^.  4  ^*  ^o  c. 

33.  Essaí  5i«r  Vhbtoire  ancienne  et  modeme  de  la  nouvellm 
Mussiep  SiUtútútpe  de»  Provitteea  qui  U  conposeiit ,  Fcmdar 
tioB  d^Odeátf»,  etc.f  Yojage  es  Grniiéé  j  dant  Víntér^  de 
PagríeiBltufé  eC  dm  eoAmérce,  «réc  cartes  ,  T*es  ,  plans  , 
etc.  Dédié  à  TEmpereur  Alexandre.  3  vol.  8o.  i  pr.  ^4  ir. 

a3.  Système  analytique  des  connoissanees  de  thomme  rtstreinte^ 
à  celles  qui  provienneni  direciemeni  et  indirectement  de 
Pobsenwtion }  par  M.  le  Gb.er  de  l^ataarck.  i  Yol.  8o. ; 
pr.  IO  fr. 

^4*  tA  France  teUe  tpielle  est ,  et  non  la  France  de  Lad^ 
Morgan  {  par  Willíam  ^lajíaír.  Oavrage  traduit  de  Tanglais 
par  Fauteur  des  Observations  surla  France  de  Ladjr  Morgan^ 
T  voi.  80. ;  pr.  7  fr. 

aS.  Les  ruines ,  ou  Méditaiion  sur  les  révohUions  des  empires  ; 
par  C.  F.  Yolnej ,  pair  de  France  ,  Membre  de  Flnstitut , 
ele.  I  vol.  i8o. ;  pr.  3  fr. 

a6.  Histoire  du  Parlement  anf^is  depuis  son  origine  en  Van 
1234  jusquen  Van  VI J  de  la  Republique  française  ^  ele.  ; 
par  Louis  Buooa parte  ,  avec  des  Notes  autographes  de  Na- 
poléon.  I  vol.  8<^. ;  pr.  6  ÍV.  Lqíz  Bomrparle  déckrott  piá)lt- 
caniente  que  esta  obra  nio  era  sua. 

37.  Hechercbes  swr  les  Ikngues  fartares  ^  on  Mémoires  smf  diffé- 
rens  points  de  la  grammairCei  de  la  liiiéraUtre  des  Mand- 


Í7J 
chous ,  de$  Mo^gmis  ,  des  Chugours  et  des  T^éUtms;  par 

M.  Abcl-Remusat.  Sahio  o  Tom.  I  €m  4^.^  pr.  sSfr- 

38.  Georgicas  Portuguesas  ;  por  Luiz  ^a  Sílra  Motkilio  de  AI* 
baquerqae ,  dedicadas  a  sua  mullwr  D.  Amia  Mácai«nli«s  de 
Ataíde.  I  vol.  1 9^. ;  pr.  5  fr. 

MATHEMATICA,    PIIYSICA,    ARTE   MILITAR,    NÁUTICA, 
GEOGRAPHIA  ,  TOPOGRAPHIA ,   DESENHO. 

29.  ObsenratíoBS  surla  cavalerie  lé^re^  et  Projet  tTerganisa' 
tion  d'un  nouveáui  cerps  (Téclaiivurs*  i  vol  8^.  ^  pr.  a  fr.  5o  c. 

30.  Atlas  de  Géographie  ancienne ,  pour  servir  à  ViF^Hígence 
des  C^uvres  de  Rollin  ;  grave  d'après  les  caries  origiilalcs 
de  d'AnvHle.    2^  planches  in  foi. ;  pr.  8  fr. 

« 

5i.  Nouveau  Dicíionnaire  de  Marine  ;  par  ^le  Více-aimral  Vil- 
laumez,  i  vol.  80.  \  pr.  12  fr. 

02.  Vues  des  principaux  poris  et  rades  du  Royawne  de  Franca 
et  de  ses  Coiames  ;  deasinées  par  OflEftime  et  gráFéee  par 
Gouaz ,  avec  uu  texte  desotty tif ,  géDgra|ibif[ue  et  atatis- 
tique ;  par  N.  Poncc. 

Tem  apparecido  10  secções  em  foi. ;  pr.  de'  cada  hiinia 
10  fr. 

33.  Dictionnaire  universel  -  aífrégé  de  géographie  ancienne  com^ 
parée  ,  etc. ;  par  M.  Brué.  a  vol.  S^.  j  pr.  1 6  fr.  5o  c. 

IffEDEClNA  ,    aRURGIA ,   PnARIf  ACU ,  ARTE 

VETESiniAIIIA. 

34.  lustructioBS  sur  la  sanlé  des  femmes  enceintes  et  sur  leã 
mqyens  de  la  comeivcr ,  suivics  de  Femploi  d'un  nouveau 


Cfl) 

médicament  propre  à  boiUter  et  aectflérer  Vaccoiidiement. 
in  lao. ;  pr.  a  fr.  5o  c» 

?5.  G>ar8  comphi  des  maiáuUes  des  jreux ,  suivi  d'un  lYaiié 
abrégá  d^h^iphne  occulaire  ;  commefaisan$  pariie  iniégmnte 
de  ce  coun  ;  par  F.  de  la  |lue.  i   yoL  8o.  ;  pr.  6  ÍTt 

36.  Nouyeau^rmfi/oiní  medicai  et  pharmaceutúiue ;  par  Etieime 
Sainte-Hane^  i  vol.  8o.  •  pr.  5  ir, 

^7.  Conspectos  des  Pharmacopées  de  Dublin  ^  étÉãanhour^ ,  de 
Londres  et  de  Paris,  Suivi  d'(in  jfppendice  extmit  des  Phar* 
putcopées  de  Beriin  >  de  firéme ,  de  Copenhague  ,  de  Péters- 
bourg  f  de  Philadelphfe ,  dç  Stockholm  et  de  Flenne  /  conte- 
nant  un  préçis  des  propriét^  et  des  doses  des  médicamens 
simples  et  compaséf ,  et  des  remarques  pratiques  sur  lenr 
emploi í  par  HM.  £.  H.  Desportes  et  F.  S.  Constâncio, 
Docteur^  en  inédeçi|ie ;  pr.  4  ^>  5p  c, 

POLITICA,  VIAJENS  ,    COBfMERaO. 

58.  Abrégé  de  Vhistoire  générale  des  voyages ,  par  íahmrpe  , 

réduit  aux  traits  les  plus  intéressans  et  les  plus  curieux  \  par 

Ant.  C^***.  pmé  de  8  figures  en  taille  douce.  Tem  apparecído 

ia  ypl  8Q.  a  pl>r^  d^vç  conotai*  de  1^ ;  pr.  de  cada  yoK  6  fr. 

59.  Troisième  vojage  de  Cook ^ou  vojrage  de  VOcéan  pacifique , 
ordonné  par  ie  Roi  iJT Anf^eterre  ,  pourfaire  des  découvertes 
dans  Vhémisph^re  ^ord,  pour  déterminer  la  position  et 
Vitendue  de  la  cote  ouest  de  VAmérique  septentrionale  ,  la 
distance  de  VAsie ,  et  résoudre  la  question  du  passqge  au 
nord  ;  execute  sous  la  direction  des  capitaines  Cook ,  Clark 
et  Gore,  sur  les  vaisseaux  la  Résolution  et  la  Découyerfe 
çn  1676  ,  77  ,  78 ,  79  W  8o«  Traduit  de  Fanglais  par  M. 
p.***  4  vol.  80. 


(9) 

Esta  obra  nao  se  vende  senio  com  as  doas  primeiras  via* 
jens  ,  e  forma  com  ellas  i8  vol. 

4o.  Second  vojage  de  Mungo-Park  dans  Viniérieur  de  VAfriquidi 
pendant  Vannée  de  i8o5,  précédé  d* une  JfoUce  hUtorique 
et  biographique  sur  la  mort  de  ce  célebre  vojrageur,  etc. 
Traduit  de  Tanglais.  Ouvrage  omé  de  planches  ,  da  portrait 
de  Mungo-Park  et  d' une  carte,  i  vol.  8®. ;  pr.  j  fr.  5o  c. 

^  I .  Voyage  dans  Vintérieur  de  V Afrique  ,  aux  sources  du  Sé^ 
négal  et  de  la  Gambie  ^  fait  en  1 8 1 8  ,  par  ordre  du  Gott- 
vemementf rançais ;  par  G.  Mollien.  i  vol  8®. ;  pr.  ia  fr. 

4*2.  Voyage  de  la  cote  de  Malabar  à  Constantinople  par  le  Golfe 
Persique  ^  VA  rabie  ^  la  Mésopotamie ,  le  Kurdistan ,  et  la 
Turquie  d*Asie ,  fait  en  1 8 1 7  ;  par  William  Hende ,  avec 
une  grande  carte  et  des  gravures.  Traduit  de  FAn^is, 
I  vol.  80.;  pr.  12  fr. 

OBRAS  IBfPRJESSAS  EM  FAIZES  ESTRANGEIROS. 

Inglaterra. 

P radical  hinis  on  Domestic  Bural  Economy ,  relating  partícur 
lary  to  the  management  ofKitchen  and  Fruit  Gardens ,  and 
Orchards.  80. 

A  Catádogue  ofthe  best  fTorks  on  If aturai  History  ,  in  ali  Lan- 
guages  ,  arranged  in  classes ,  accordingto  the  Linnean  Sjsiem. 
By  ir.  ITood. 

An  Elementary  Treatise  on  Mechanics.  By  W.  WheewelL  M. 
A,  80. 

General  Indications  which  relate  to  the  ídgws  of  Organk  Ufe 
By  Dan,  Pring.  8©. 

An  Essay  on  Phrenology  ♦  or  an  Inqiiiry  into  tke  Principies 


(  to) 

ááãVtiÍBy  èfêhè  âySièm  àfD.'*  Gatt  aná  Spurthãnu  By 
O.  Cambe.  8o. 

Ah  Aúcoumt  nfth^  Fkrioloid  Epidemib  ,  whkh  has  UUeiy  pre\ 
pttUtd  in  Êéihburgh  and  other  paris  qfScoíUtnd,  Vi^Uh  Oèser- 
vatioHS  xm  ihe  identíty  ofChècken  Fox  wàh  modi/ied  Small 
P0St ,  6é  a  Lfíêer  to  Sir  James  Mac  Gregor  ^  wiih  a  copious 
jíppendix  qfinteresimg  Documenis,  By  Jéhn  Thomson ,  M. 
p.  F.  R.  S.  E.  8o. 

Papeis  Essay  en  Man  und  MesSiah  transluted  inio  Poríuguese 
Verse.  By  His  Etccelleney  ihe  ViscoiuU  de  São  Lourenço  , 
wUh  Annotations  in  Eighí  Languages  ,  and  Splendid  Embel- 
Ushments.  5   vol.  4^. 

Traveis  in  Núbia ,  tind  in  the  Interior  ofNoríh  Eastem  Africa. 
Perfbrmed  in  the  monihs  of  Fehruary  and  March,  i8i3. 
By  J,  L.  Burckhardt.  To  which  is  prefixed  a  lije  of  the 
Author,    H^ilh  a  Portrait ,  Maps ,  etc.  4o. 

The  Diavy  ofan  Jnvalid  in  pursuit  of  Health  ,•  beíng  the  Journal 
of  a  Tour  in  Portugal ,  Italy  ,  Switteriand ,  and  France  ,  in 
the  Years  1817,1818,  1819.  By  Henry  Matthews^  A,  M. 
Fellow  of  Kings  CoUege  ,  Cambridge,  80. 

Traveis  in  Jlaly,  Greece  ,  and  the  lonian  Islands  ,  in  a  Series 
of  Leíters  ,  descnptive  of  Manners  ,  Scenery^  and'  the  Fine 
Arts.  By  H.  PT.  Jf^illiams ,  Esq,  2  voL  80.  JTith  Tweniy  En- 
gravings. 

Manual  of  Chemislry.  By  IV.  T,  Brande, 

'lhe  Ah  of  instruciing  the  Infani  Deaf  and  Dumb,  By  J.  P. 
Arrowsmith,  Illustrated  with  Plates ,  drawn  and  engraOed 
by  the  Author's  Brother ,  an  Ar/ist  bom  deaf  and  eUwUf,  80, 

An  Elementary  Trentise  on  Mecfianics ,  Vol,  I  coniaining  Statics 
and  pari  of  DynanÚQS^  By  }V,  iVhe^eell.  80. 


( It) 

An  Afudyíicàl  EiSày  on  ihe  Consiructíon  of  Jfíaehines ,  ãlus^ 
trated  bj  thirteen  Lithographic  Plates, 

Manual  qf  P radical  Anatomy.  By  Edward  SUtfãèy,  lao. 

Medicai  Tofmgraphy  <^  Upper  Csjuida,  Bf  Joho^  DúUf^as.  8^» 

Observations  on  lhe  Yellow  Fever  ofíhê  ffest  Indies*  Mjf  ^ 
Dickenson. 

An  Essay  «n  the  Diagnoàis  betvt^eêH  Eryíípêtas  y  Phlegmori , 
and  Erythema.  By  G.  H,  ff^éaiherhead.So, 

Opinions  on  the  Causes  and  Effbcts  qf  Diseases  in  the  Teet/i 
and  Gums,  By  C.  Bew. 

A  Treatise  on  Aneurism,  with  numerous  Addiíions,  and  a  Me- 
moironthe  Ugature  ofthe  principal  Arteries  of  the  Edctrex 
mities.  By  A,  Scarpa,  Translated  from  lhe  Italian^  wilh 
Addiíional  Cases ,  and  an  Appendix.  By  J.  H.  ffishart, 
F.  B.  C.  S.  S«. 

Observations  on  the  Use  and  Abuse  of  Mercurial  Mcdecines 
in  various  Diseases,  By  Sames  Hamilton  jun.  M.  D,  8o. 

Practical  Observations  on  the  Means  of  Preserving  the  Health 
of  solditrs  in  Camp  and  Quarters,  with  Notes  on  the  Me- 
dicai Treaiment  of  several  qf  the  mosl  important  Diseases 
which  werefound  to  prevail  in  the  British  Aimy  duri/ig 
the  lale  }far.  By  Ed,   Thomhill  Luxscombe,  M.  D,  ele, 

Facts  and  Observations  on  lÂver  Complaints  etc.  By  John 
Faithhom  M.  D,  The  4**^  edition ,  materially  enlarged, 

An  Inquiry  inio  the  nature  of  Tuberculated  Acctetións  qf  seroas- 
MembraneSf  etc,  J^y  fohn  fíaron,  8©, 


í  ia ) 

Surgical  Essays.  Pari  IL  Bjr  AsUey  Cooperanã  B,  Tmvers  8o. 

The  Dublin  Hospital  JReports,  and  Communications  in  Medecine 
and  Surgery,  VoL  II,  8o. 

Medico  Chirurgical  TransacUons,  VoU  X,  Pari.  II, 

Observations  on  the  Nature  and  Cure  of  Câncer ,  and  on  the 
ioo  frequent  use  of  Mercurj,  By  Charles  Aldis» 

A  shori  account  ofsome  ofihe  Principal  Hospitais  ofFrance, 
lialy ,  etc,  By  H.  fT.  Cárter. 

On  Apoplexy.  By  J.  Cooke. 

lhe  Morbid  Anaton^  of  the  Us^er.  By  J.  il.  Parre,  Parts  I 
and  II  wiih  Coloured  engravings, 

Paihological  Besearches  in  Medicine  and  Surgery.  By  /.  B. 
Farre.  Pari  I  royal  8^.  iUustrated  with  coloured  engmvings, 

HorcB  Entomologicm ,  or  Essay  on  the  Annulose  Animais  ;  with 
plates.  FoL  /.  PaH.  I.  By  VT.  S,  Macleay.  8o. 

Sound  Mind,  or  Coniributions  to  the  Natural  Hislory  and  Phy- 
siology  ofthe  Human  Intellect.  By  J,  Haslam,  8». 

An  Analysis  ofthe  Egyptian  Mythology  ,  designed  to  Ulustrate 
the  Origin  ofPaganism ,  etc.  By  James  Cowles  Pritchard,  8«>. 

An  Introduction  to   the  study  of  Conchology ,  including  the 
Unnean  Genera ,  etc.  By  Samuel  Brookes. 

Supplement  the  Encyclopeedia  Britannica  ;  Edited  by  Maevey 
Napier,  F.  B.  S.  Foi.  IF.  PaH  I. 

Traveis  in  the  North  of  Germany  ,  etc.  By  Thomas  Hodgskin 
Esq.  2  vol.  8». 


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HKTCUS,  DÀS  ARTES,  M\\  | 

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•(  i4) 

De  exfremiiaie  anteriore^ialpas  com  braçhio  humano  compataia,     J 
j4ucL  Mag.  Ljunggren,  Lundce  ^  1819,  </i  4^-  ; 

Observationes    in    Anaiomtam    clwndropterygiorum    praecipuê 
squali  et  raja  generum,  Auct,  Reiiius\  c/tir.  mag,  Lundie*    > 
1819^1/1  4^-  ^'^^  tabula  cenea. 

Commeniatío  de  gymnoto  eléctrico*  Auet.  Fr,  S.  Guisan ,  Ai^n* 

ticensis,  Tubingce ,  1 8 1 9 ,  in  l\^,  cmm  iab.  anea, 
Ideen  %ur  AneinanderreUiung  der  rucktalhigen  thiere ,  etc.  voh 

5.  Fr.  GschscttoU.  Dorpat ,   1819  ,  80. 

De  Selachis  Aristotelis  Zoologim  geographicm  tpecimen  Jitatigur»    .^1 
Auct.  E.   Eickwald,  ffilnw  ^  1819.   8o*  ^ 

Disputatio  physica  de  elasticHate  torsionis  út  filis  mtáàUiciã^  AudU 

C,  J.  D.  Hill  et  G,  Lavergren,  Lundce^  1819.  8^.  ^ 

JN^oviíue  Floris  Suecicie,  Auct,  E,  M,  FHes,  pro  laurea,  Lundae  /• 
í^part.  I ,  II,  lil,  iSi^i  ir,  1817/  ry  1819. 

'Flora  Hollandica,  Auct,  E,  Fries»  Lundas ,  1817  e<  i8t8.  So« ' 

Aphorismi  Botanici,  Auct.   C.  A.  Agardh ,  prof.  Bolan*  Lun* 
dini  gothici.   1817  —  1 8 1 9.  80. 

Compendiam  Florte  PhUadelphicas.  Auct,  Jf\  />.  £•  BatioH  Mé 

D.  prof,  boi.  in  Unix^,  Pensyhan.  1818.  8^, 

Versuch  einer  Monographie  der   Kartoffeln ;   van  C»  W»    E0 
Putche  M.  D,  et  F.  J.  Beríhuc.  1819.  40. 

Obsenuítiones    Stuechiometricte  ad    Mi/ieralogiam    perti/ieiUci* 
Auct.  C.   Cr.  Bctzius,  Fase.  I ,  Lundte.  4^. 


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BCIEWCIAS,  DAS  ARTES, 

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E   DAS  LETRAS; 

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TKMCKtao   Aifao.              ^^H 

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à.  watíx,  «f»  ot  i*  TkBummT ""-  n- 

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ANNAES 


DÁS 


SCIENCIAS,  DAS  ARTES, 


£  DAS  LETRAS. 


J 


ANNAES 


DAS 


SCIENCIAS,  DAS  ARTES, 

E  DAS  LETRAS; 

FOR  HUMA  SOCIEDADE  DE  PORTUGUEZES  RESIDENTES. 

EM  PARlS. 


Desta  arte  se  esclarece  o  entendimento, 
Que  experiências  fazem  repousado. 

Camõbs  y  Lus.  CanU  yj.  Est.  99* 


TOMO     X. 


PARIS, 

IMPRESSO    PDA    k-    BOBÉE,    IMPRESSOR  lík  SOCIEDADE  REAL 
AGAPEMIGA   DAS  SGIEirGIAS  DE  PArIs. 

1820. 


AP 


ANNUNCIO. 


«»^i%^»^^^>*  »i^%%i%i^ 


Os  Redactores  dos  Annaes  das  Sciencias ,  das  Artes 
r  das  Letras ,  pnrticipão  aos  seus  Assignantes ,  Corres** 
pendentes,  c  mais  pessoas  residentes  nos  dominios  por«> 
tiigiiezesy  ou  em  paízes  estrangeiros ,  que  elles  se 
encarregão  de  comprar  e  expedir ,  a  quem  o  desejar , 
quaesquer  livros  ,  estampas ,  mappas  geographicos,  ma- 
cliinas  ,  modelos ,  instrumentos  de  physica,  de  cirurgia , 
e  de  chymica,  apparelhos  distillatorios ,  sementes  e 
raizes  de  plantas,  productos  (hymiros,  e  em  geral, 
todos  os  objectos  relativos  ás  Sciencias  eás  Artes,  pe- 
los pregos  dos  catálogos,  e  das  fabricas  *,  tudo  da  mè*- 
Ihor  qualidade ,  e  sem  defeito. 

Igualmente  se  encarregão  de  dirigir  a  impressão  de 
qualquer  obra  escripta  em  portuguez ,  francez  ou  in* 
glcz ,  e  de  fazer  abrir  chapas  em  cobre,  pedra,  pao, 
ou  de  fazer  Utliographar  debuxos. 

N,  B,  O  importe  das  compras  e  gastos  ser-llies-ha 
pago  em  Paris. 

As  pessoas  que  desejarem  fazer  segurar  em  França  o 
impoite  das  suas  encommendas ,  terào  a  bondade  de  o 
participar  aos  Redactores. 

As  cartis ,  maços ,  e  remessas  deverão  ser  dirigidas 
(  porte  pago  )  ao  Director  dos  Annaes,  do  modo  abaixo 
indicado. 

A   Monsicur  J.  D.  MAscAnEiiHAs, 
Direcleur  dcs  Annaes  das  Sciencias  ,  das  Artes  r  Jas 

Letras^ 
Rue  S^  Ilyacinlhe,  >'<'.  12,  à  Paris. 


a* 


Nomes  das  pessoas  que^  tem  subscripto  no  nosso  Depo- 
sito do  Maranhão  j  e  das  que  tem  continuado  a  sub- 
screver  nos  de  Lisboa ,  Porto ,  Bahia ,  Havre  e  Parts , 
para  o  i^.  anno  dos  Ân&aes  das  Sciencias ,  das  Artes 
e  das  Leti^as. 


mf9^m0i0m^^ 


A. 

Os  Sn.ret  D.or  António  de  Almeida.  Caldas. 

—  Coronel  António  Bernardo  Pereira  do  Laooi 

—  António  Ôomes  Pires  ,  Presbytero  secular, 

-*       Chefe  de  Divisão  António  Joaquim  tt  OliveírAi 

—  António  José  Barbozo^ 

— -       António  José  de  Carva-lao  b  sa  ,   Corregedor*da  Co« 

marca  de  Miranda. 
-^       António  Pedro  da  Silta  PedrosOí 
»^       António  Rodrigues  ToscamOí 

B. 

Os  Sn.f«s  Bebnárdo  José  de  Oliveira  Teixeieà  Caibal  >  Dire<:« 
tor  do  CòUegio  de  S.  Gregório^ 
•^       Bebnabdo  MA.BIA  de  MOAÁBi. 

c- 

o  Siir«    GuftoDio  MAfroBL  Vibieà  ob  Abau/o«  - 

D* 
O  Sn.i^    Diogo  Bivai. 


df  Sn.rei  Domiioos  BoftOis  db  Babros. 

—  Dez.oi^  Domingos  Mokteiro  Albuquekque  do  Amaral, 

F. 

Os  SnJ^  Faancisco  Corrêa  da  Conceição  ,  Cirurgião  mór  nê 
Maranhão. 

—  Tenente  Francisco  José  da  Costa. 

—  Tenente  Coronel  Francisco  vo  Vale  Porto. 

—  Francisco  Xatier  de  Carvalho. 

—  Francisco  Xatier  RiBctRo  da  Fonseca. 

G. 

Os  Sn.r«*  Gabribl  Dayid  Hintré  ,  Negociante. 

—  Gourdon. 

H. 

O  SnV*     Coronel  Honório  José  TsiXEitA» 

I. 

O  Sd^     Ionacio  António  da  SaYA  Lisboa  ,  Negociante. 

J. 

Os  Sn.res  Ajudante  de  ordtDS  JoÃo  DK  SooiA  Q«btedo  Pizarro. 

—  JoÃo  DOS  Santos  Febjiira. 

—  Joaquim  José  Tristão. 

—  Joaquim  Manoel  Matra  ,  Negociante. 

—  José  Amado  GRBnoii  ^  Secretario  da  Ijegaçio  poitn* 

gueza  nos  Estados  Unidos. 

—  José  António  Gonçalves  ,  Negociante. 

—  José  d'£spie  ,  Negociante, 


Os  Sn.***  Capitão  Josi  Piaucisco  Gonçaltes  da.  Silva. 

—  José  Trancisco  Souto  dâ  Silveira. 

—  Alcaide  Mòr  José  Gonçalves  da  Silva.- 

—  Capitão  José  Joaquim  de  Moura. 

—  José  Pimentel  Freire. 

—  José  Rodrigues  de  Figueiredo. 

—  Tenente  José  dos  Santos  Monteiro. 

—  Cavalheiro  José  Tavares  da  Silva. 

—  José  Taveira  Pibíentel. 

L. 

O  Stír,    L.  F.  Serpa  ,  Negociante. 

M. 

Os  Sn.r«>  Manoel  Corrêa  ,  Presbjtero  secular. 

—  Capitão  Manoel  da  Cunha. 

—  Tenente  Coronel  Manoel  Ignacio  da  Cunha  e  Menezes, 

—  Manoel  José  de  Oliveira  Pinto. 

—  Manoel  Policarpo  da  Silva. 

—  Manoel  Rodrigues  de  Oliveira. 
— >  Manoel  Thomaz  Peixoto. 

—  Miguel  José  de  Oliveira  Pinto. 

B. 

O  Snr.     Major  Rodkigo  Pihto  Pizakw. 

T. 

o  Sn^.    Tbomas  Josi  Monis, 

V. 

o  Snf.    Db  Viaico,  Secretario  da  Legaçio  Cranceza  em  Turiiu« 


/ 

—         DeZ.O<^  DOMIKOOS  MoKTEIBO  AlBUQUEBQUE  do  ÀMlRAt, 

F. 

Os  Sn«f^  Faancisco  Corrêa  dá  Conceição  ,  Cirurgião  mór  n« 
Mftranhio. 

—  Tenente  Francisco  José  da  Costa. 

—  Tenente  Coronel  FiiARciaeo  im>  Vale  Porto. 

—  Francisco  Xatier  de  Carvalho. 

—  Francisco  Xatier  RitcfRo  da  Fonseca. 

G. 

Os  Sn.r«*  Gabriel  Dayid  Hintré  ,  Negociante. 

—  Gourdon. 

H. 

O  Snr.     Coronel  Honório  José  Tmxeiaa* 

I. 

o  Sni".     lOHàcio  ÂHTONio  DA  SiiVA  LifBOA ,  Regocíaote. 

J. 

Os  $n.r«s  Ajudante  de  ordtDS  JoÃo  de  Sov%a.  Qvbteoo  Piearbo. 

—  JoAO  dos  Santos  Ferjuba. 

—  Joaquim  José  Tristão. 

—  Joaquim  Manoel  Matra  ,  Negociante. 

—  José  Amado  Grbhov  »  Secretario  da  Legação  poirti»-' 

gueza  nos  Estados  Unidos, 

—  José  Antomo  Gonçalves  ,  Negociante* 

—  José  d'£spie  ,  Negociante. 


PARTE  SEGUNDA. 


CORRESPONDÊNCIA. 

Traducçio  da  Ode  11*.  do  Livro  I.o  de  Horácio  Pag.     S. 

Columella^  traduzido  por  Fernam  d' Oliyéin(  Continuação)     6. 

Carta  do  D^".  João  da  Silveira  Caldeira ,  aos  Redactores  , 
sobre  hum  novo  processo  para  obter  a  zirconia  pura  aS. 

Carta  do  Visconde  de  Santarém ,  aos  Redactores ,  sobre  a 
Collecçio  de  todos  os  Documentos  Políticos  pertencentes 
ao  Direito  Publico ,  Externo ,  e  Diplomático  Portuguez , 
desde  o  principio  da  Mooarchia  até  aos  nossos  dias  a6. 

Soneto  hespanhol  do  Snr.  Iforatin  j  ao  autor  das  Georgicas 
Fortuguezas  5o. 

NOTICIAS   DÁS    SCIENCIÁS,     DÁS    ARTES»     etC. 

Reswno  dos  mais  celebres  descobrimentos  e  principaes  tra* 
balhos  nas  Sciencias,  no  anno  de  1819  (  Continuado  )• 

Fhysica  5i. 

Meteorologia  75. 

Chjmica  e  theoria  geral  98* 

Chymica  mineral  1 1 1* 

Chy mica  vegetal  11 8» 

Chjmica  animal  ia4* 

Resumo  das  Observações  meteorológicas  feitas  em  Lisboa , 
nos  mezes  de  Março,  Abril  eMaio  de  i8ao  /pelo  Sa'« 
Marino  Miguel  Franzini  t^ii 


Noticias  recentes  das  Seiendas,  ete. 

Pbysica                                                                          Pag.  1 49. 

Chymica  1 5o. 

Hedecina  i58« 

Besimio  das  observações  meteorológicas  feitas  no  Observa- 
tório Régio  de  Fftrts  no  segando  trimestre  de  i8ao  iSp. 

Errata  do  Tomo  IX  i6l< 

Erro  importante  do  Tomo  X  ibid. 

Aos  Correspondentes  ibid. 


PARTE  PRIMEIRA. 


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RESENHA  ANALYTICA. 


Tom.  X.  P.  1».  I  A 


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RESENHA  ANALYTIGA^ 


«%>»*%  »%^%,*i<<%%«<» 


REFLEXÕES 


A  cerda  da  obta  que  tem  por  titulo :  Coup-d'ceil  sut 
Lisbonne  et  Madrid ,  escripta  por  M.  d'Hautefort, 
e  publicada  em  Paris  ,  no  mez  de  Maio  do  presente 
annOé 


K^vkisho  sé  considera  ^  por  tium  làdo ,  (jiie  toda  à  ioí* 
portancia  da  Geographia ,  e  grande  parte  da  da  Histo- 
ria, repousa  sobre  a  boa  fé  e  sobre  os  escriptos  doâ 
viajantes,  e  por  outro  se  observa  o  sangue*  frio  e  o 
espirito  imperturbável ,  com  que  muitos  doestes  se  atre- 
vem em  nossos  dias  a  publicar  factos  mentirosos ,  e 
opiniões  absurdas  sobre  os  diíTerentes  paizes  da  Europa^ 
á  face  dos  habitantes  d'esses  mesmos  paizes  ^  e  de  to- 
dos os  estrangeiros  ^  que  ,  no  estado  actual  da  civilisa- 
cão  j  tão  facilmente  podem  ter  á  mão  as  provas  do 
contrario  ^  o  espirito  prudente  he  autorísado  a  recusar 
inteiramente  fé ,  não  só  a  tudo  quanto  se  tem  escripto  *  * 
dos  áridos  desertos  do  sertão  da  Africa ,  mas ,  o  que 
he  muito  mais  essencial  >  dos  vastos  e  riccos  paizes  da 
America  e  da  Asia^ 


(  Besehka  Analytíòa. 

São  tantas  as  qualidades  que  se  requerem  em  hum 
viajante  para  merecer  a  honra  de  ser  lida  a  sua  viajem 
com  interesse  e  confiança  ,  e  he  ordinariamente  tão 
despejada  a  vontade  de  escreverem  todo  o  homem» 
que, ás  vezes  ,circumstancias  bem  indiíFerentes  levái^ào, 
por  acaso )  a  hum  paiz  estranho,  que  esta  s6  consi* 
deraçào  sobeja  para  estabelecer,  contra  a  miúor  parte 
das  viajens , huma  prevenção  razoada, e  huma  espécie 
de  sceplicismo ,  que ,  infelismente ,  todos  os  dias  se 
justifica;  e  se  ao  exame  de  tantas  qualidades « indis- 
pensáveis ao  vi^ijante  instruído,  se  ajunta  a  da  impar- 
cialidade, então  acaba  de  todo  a  confiança  ;  por  quanto, 
ainda  aquelles  que  souberão  prudentemente  salvar-se 
dos  escolhos  mais  difficeis,  vierào  varar,  (fuasi  sempre  , 
nos  btúxos  arriscados  das  opiniões  antecipadas ,  ou  do 
amor  próprio  nacional. 

A  queira ,  que   em  nossos   dias  se  comprazeo  enx 
desolar  a  Europa ,  produzio  também  huma  nova  classe 
de  viajantes,  ainda  mais  perigosa  *,  por  que  ,  tendo  con* 
duzído  a  outros  paizes  homens ,  que ,  sem  esta  cir* 
curastancia,  não  tei ião  sabido  do  seu,  a  maior  paite 
doestes  sem    a  vocação,  e  muitos   sem  os   princípios 
necessários ,    não  só    esci'evérão  o  que  ouvirão  sem 
exame ,  ou  o  que  apenas  poderão  ver  com  precipita- 
ção ,  mas  avaliarão  a  moral ,  os  costumes  e  o  estado 
da  civilisação  de  huma  nação  inteira,  em  huma  epocha 
'de  eflíervescencia  e  de  consternação  publica  ,  com  a 
xnesma  verdade  com  que  terião  avaliado  o  caracter 
e  as  qualidades  de  bum  bomcm  ,  nos  momentos  mais 
exaltados  do  accesso  de  huma  violenta  febre. 


líèsenha  Anatytíca.  S 

t)*aquí  vem  as  Historias  de  campanhas ,  os  Resumos 
de  operações  de  exeixitos  ,  as  Relações  de  expediçèes 
militares  )  e  hama  infinidade  de  escriptos  ephemeros» 
que  ha  seis  annos  a  esta  parte  tem  apparecido,  qi.al- 
quer  que  seja  o  titulo ,  com  que  pertendào  recommen- 
dar-se ;  nos  quaes  ,  seus  autores,  considerados  como 
viajantes ,  copiáràa  muitas  vezes  os  absurdos  dos  que 
os  tinhão  precedido  ,  e  não  poucas  ajuntarão  os  seus ; 
de  modo  que ,  este  recurso  tão  essencial ,  como  dizia-* 
mos  j  para  a  Geographia  e  para  a  Historia ,  cada  dia 
se  torna*  menos  útil ,  e  annuncia  huma  epocha  ,  se  por 
ventura  nho  he  já  esta  em  que  vivemos^  em  que  a 
abundância  de  escriptos  neste  género  acabará  de  em- 
brulhar huma  matéria,  que  de  seu  exi^e ,  dos  que  a 
tratão,  a  maior  circumspecçào  e  clareza ,  o  mais  escru** 
puloso  exam«  e  a  maÍ5  austera  verdade^ 

De  todos  os  paizes  da  Huropa  hnm  dos  que  tem 
mais  bem  fundadas  reclamações  que  fazer  contra  os 
escriptores  de  viajens ,  ke  por  certo  Portugal  :  a  sua 
posição  geographica  tão  feliz,  relativamente  ao  com-> 
mercio ,  não  o  favorece  a  respeito  dos  viajantes.  Con- 
finado em  huma  extremidade  da  parte  do  eontinente- 
que  habitamos ,  escasso  em  mai^avilbas  da  arte ,  e 
graças  ao  seu  clima ,  privado  inteiramente  dos  capri- 
chos e  phenomenos  espantosos  dti  natureza,  Portugal, 
se  por  hum  lado  requer  ser  visitado  expressamente , 
pelo  outro  não  offerece  ao  observador  philosopho  os 
mais  poderosos  attractivos.  Se  a  estas  causas  phjsicas 
le  ajuntào  outras  eausas  e  cousiderações  moi^iiefi ,  de- 


6  ResenJia  Analytica 

todas  ellas  resulta ,  que  a  maior  parte  dos  que  escr»« 
verão  as  suas  viajeus  naquelie  paiz,  nào  forào  viajantes 
de  pro'fissão  ,  mas  sim  pessoas ,  que  tendo  sido  levadas 
a  elle  por  diversos  motivos ,  quizerào  aproveitar  a 
occasião  y  e  estes  por  especulação  ^  aquelles  por  amor 
próprio  y  huns  por  mania  de  escrever  ,  outros ,  talvez 
por  servirem  a  motivos  e  caprichos  particulares,  em 
vez  de  viajens  e  documentos  úteis  para  os  Historiadores 
futuros  y  publicarão  contradicçôes ,  falsidades  e  absur* 
dos ;  e  não  podendo  conhecer  a  verdade ,  ou  desde* 
nhando  dizé-la ,  em  vez  de  pintarem  ao  natural ,  oa 
hábitos  e  caracter  dos  seus  habitantes ,  cont^^ntárão-se 
humas  Vezes  com  esboçar  hum  quadro  infiel,  e  outras 
comprazérão-se  em  traçar  hum  desenho  exagerado, 
ou  como  dizem  os  italianos ,  huma  caricatura  do  paiz^ 
que  não  souberão  ver ,  e  da  nação ,  que  não  souberão 
fivaliar.  Huns ,  lançados  pelas  circumstancias  no  meio 
da  alta  sociedade ,  falton-lhes  a  paciência  ,  ou  as  dis-* 
posições  necessárias  para  frequentar  e  observar  a  im- 
portante eschola  do  povo;  outros  forão  forçados  a 
limitarem-se  a  esta ,  pela  falta  de  meios  e  de  recom- 
mendaçôes  indispensáveis  para  serem  admittidos  nas 
companhias  da  classe  media  da  Nação ;  por  isso  huns  e 
outros  não  souberão  avaliar  nem  o  caracter ,  nem  os 
costumes  d^ella;  e  muitos,  vendo  os  objectos  pelos  vi- 
dros corados  dos  seus  interesses ,  ou  das  suas  preoc- 
cupações ,  derão  a  cada  hum  ascôres  com  que  estas 
lhos  representarão. 

Tal  viajante ,  a  quem  o  nascimento  deo  em  Portugal 
hum  natural  accesso  á  sociedade  de  nobreza ,  e  que 


Resenha  Analyiica,  7 

não  se  occupou  em  examinar  as  outras ,  não  duvidou 
escrever  na  sua  viajem ,  que  o  ciúme  dos  Portu^ezes 
fazia  com  que  elles  nào  permittiào  a  suas  mulheres 
irem  ás  Igrejas ,  e  que,  por  isso ,  todos  tinhào  oratórios  e 
missa  em  suas  casas.  Outro  anonjmo,  a  quem,  por 
certo ,  não  foi  familiar  a  boa  sociedade ,  nào  se  enver- 
gonhou de  publicar  que  os  Portuguezes  erào  mal  cria- 
dos e  nào  tinhào  ideia  da  cii^iUdade  necessária  na  com- 
panhia^ pontue,  tomando  cUá  com  afamilia  do  Guarda 
do  Pateo  dos  Bichos ,  em  Belém ,  o  dono  da  casa  se 
permittio  na  sua  presença  huma  liberdade ,  que  passa 
por  ser  commum  entre  os  HoUandezes ,  a  qual ,  ainda 
naquella  sociedade ,  que  ao  viajante  aprouve  dar-nos 
como  amostra  de  todas  as  outras ,  em  vez  de  provar 
o  que  elle  pertende,  só  prova  o  respeito  e  conside- 
ração de  que  o  hospede  gozava  entre  aquella  familia. 
O  mesmo  viajante  ,  de  quem  primeiro  falíamos,  tendo 
sido  empregado  no  exercito  portuguez ,  achou  eescre- 
veo  que  os  Portuguezes  detestâo  os  estrangeiros,  como 
se  fosse  necessário  ir  a  Portugal ,  respondeo  a  isto 
mais  tarde  outro  seu  compatriota ,  menos  prevenido  do 
que  elle  ,  para  se  saber  que  os  intrusos  nunca  forão 
recebidos  de ' boa  vontade  em  hum  corpo  :  epara  não 
sermos  mais  extensos  em  citações  doeste  género,  que 
não  acabariamos,  ainda  em  1817  se  imprimio  áface 
da  Europa ,  que  em  Portugal ,  no  tempo  em  que  alli  se 
achava  o  autor  da  obra ,  se  havia  descoberto  junto  de 
Moura  huma  mina  de  rui^^a^e  que  o  Corpo  doCommercio 
d'aqueUa  villa  tinha  sido  encarregado  da  sua  excava- 
ção ! ! !  Quantos  absurdos ,  em  tão  poucas  palavras ! 


8.  Resenha  Anairtica. 

Mas  y  se  alguns  francezes  ^  viajando  mais  para  serem 
vistos  y  do  que  para  verem  ,  como  disse  Rivarol ,  pela 
ligeireza  com  que  observarão ,  tem  sido  injustos  com 
Portugal,  não  poucos  inglei^es,  que,  do  cume  da  sua 
presumpçào  e  orgulho  nacional,  se  tem  dignado  lançar 
ps  olhos  sobre  este  paiz ,  de  que  o  Marquez  de  Pombal, 
çomtudo  ,  lhes  souberem  outro  tempo ,  fazer  sentir  a 
importância ,  não  sà  o  tem  tratado  com  a  mesma  ia- 
justiça ,  porém  muitas  vezes ,  ainda  com  maior  desdém. 
Qualquer  que  fosse ,  por  exemplo ,  a  pouca  prompti- 
dão  com  que  o  correio  publico  promovia  ,  antiga* 
mente  ,  as  correspondências  em  Portugal ,  nunca  des- 
culpará o  modo  porque  o  autor  de  Tras^eh  in  Por^ 
tugalo  representou ,  em  huma  estampa  da  sua  obra, 
por  hum  almocreve  dormindcx  sobre  hum  fumçnto. 
que,  tendo  posto  o  pé  na  arriata,  não  podia  conti-. 
puar  o  seu  caminho  :  semelhantes  parodias  são  tão 
injustas,  camo  indignas  da  sisudeza  de  hum  obsei,*^ 
vador ,  e  da  importância  da  missão ,  de  que  eUe  vo- 
luntariamente se  ençarreg^a. 

£  para  não  fallar  de  outros  muitos,  ultimamente 
em  1B19 ,  Lord  Byron  ,  no  seu  Poema  :  Childe  ffaroWs 
Pãgrimagej  depois  de  ter  attribuido  gratuitamente  aos 
Portuguezes  as  qualidades  mais  baixas  e  indignas  de 
huma  nação  civilisada,  (i)  quando  falia  dos  costumes, 

(x)  Eis-aqui  algumas  ,  que  ,  para  lhes  conservarmos  não  sá 
a,  verdade  e  dignidade  dos  pensamentos  ,  mas  até  o  merecimento 
^as  expressões  ,  copiaremos  pelas  suas  próprias  palavras. 


Besenha  Analytica,  9 

.não  só  dos  turcos ,  mas  dos  povos  mais  grosseiros  e 
selvagens  que  pvofessào  a  seita  mahometana ,  tendo 
ditto  que  elles ,  com  todos  os  seus  defeitos,  não 
constituem  Iiuma  nação  despi^ezivel ;  De  resto  j  con- 
clue  o  nobre  Lord,  estes  postos  j  iguaes  aos  Hespanhoes  , 
são  superiores  aos  Portuguezes, 

A  indecencia  pois /com  que  se  explicão  huns,  a 
superGcialidade  com  que  escrevem  outros  ,  e  a  inexac* 
tidão  de  quasi  todos ,  fazem  ainda  mais  recommen- 
davel  a  obra  que  publicou  ultimamente  em  Paris  M. 
d'Hautefort ,  com  o  titulo  de  f^ista  d* olhos  sobre  Lisboa 
€  Madrid  em  1814.  O  estylo  da  sua  narração  annun- 
cia  a  franqueza  d^eUa,  e  a  verdade  das  observações 
descobre  hum  espirito  sem  prevenção ,  e  exercitado 
em  ver  o  que  he  bom ,  onde  quer  que  elle  existe  ^ 
sem  que  o  mao  lhe  embargue  o  destingui-lo.  O  titulo 
modesto  que  M.  d'Hautefort  deo  á  sua  viajem ,  faz** 
lhe  ainda  maior  honra ,  porque ,  quadrando  perfeitar 
mente  ao  tempo  escasso  ,  em  que  foi  feita ,  he  muito 
inferior  ao  numero  e  exacção  dos  resultados  que  dcUa 
recolheo. 


A  nation  swolo  with  ignorance  and  pride  , 
Who  lick  yet  loathe  the  hand  that  waves  the  sword 
To  save  them  £rom  tbe  wrath  of  Gaul's  unsparíng  lord^ 

Cant«  I.  Stanç.  XYI. 

Well  doth  the  Spanish  hínd  the  differencé  know 
'Twixt  hlm  and  Lusian  slaye  ,  the  lowest  of  the  low* 

Ib.  SUnç.  XXXIII. 


IO  Resenha  Analrtica. 

O  objecto  de  M.  d'Hautefort,  passando  de  Èrança  a 
Inglateira,  foi  embarcar- se  alli  para  Lisboa,  e  d*aquelU 
capital  dirigir-se  por  Madrid  a  Saragoça ,  onde  em 
outro  tempo  tinha  sido  empregado  pela  administração 
franceza ,  e  aonde  o  levavào  agora  interesses  particu- 
lares. A  sua  obra  he  composta  de  três  partes  disíinctas» 
a  saber  :  da  relação  da  sua  viajem  por  terra ,  desde^ 
que  desembarcou  em  Lisboa ,  até  que ,  passando  oi 
Pyreneos ,  enti'ou  em  França  ;  de  huma  Memoria  po- 
litica relativa  á  constituição  promulgada  pelas  Cortes 
em  Cadix ;  e  de  huma  excellente  e  mui  circumstan- 
ciada  Noticia  sobre  o  estado  moderno  das  Sciencias 
mathematicas  e  physicas  em  Hespanha.  Não  fallando 
na  Memoria  politica  y  que ,  pela  sua  maferia ,  he  alheia 
de  nosso  plano,  quanto  ás  duas  partes  histórica  e  scien- 
tifica ,  a  Obra  de  M.  d*Hautefoi  t  não  admitte  extracto » 
he  necessário  lé-la ;  assim  também ,  não  he  nosso  in- 
tento dar  aqui  huma  analyse  d*ella ,  mas  somente  fazer 
algumas  observações ,  na  paile  que  respeita  á  curta 
residência  do  autor  em  Lisboa  ,  sobre  os  assumptos 
que  entrào  naturalmente  no  quadro  dos  nossos  Annaes. 

Quanto  aos  objectos  de  arte ,  distingue  justamente 
M.  d'Hautefort  a  Estatua  equestre  do  Sn»".  D.  José  I : 
nella  achou  hum  ar  de  grandeza  ,  que  nào  tinha  obser- 
v^ado  nas  Estatuas  dos  Grão-Duques  Cosme  e  Fernando, 
erigidas  nas  Praças  de  Florença ;  e  nós  accrescenta- 
vemos ,  que,  se  elle  tivesse  estado  em  Vienna  d' Áustria , 
ajuntaria  aflbutamente  ,a  estas  ultimas, a  de  Joseph  11. 
M.  d'Ilautefort ,  fallando  d'aquelle  digno  Monumento , 


^  Jtesenlui  Analytica.  ii 

não  se  esquece  de  consagrar  os  devidos  elogios  aos 
nomes  de  Bartholomeo  da  Costa  e  de  Joaquim  Ma* 
chado ,  que  serão  inseparáveis  de  tão  bella  obra ,  na 
posteridade. 

As  Capellas  de  S.*""  António  e  de  S.  João  Baptista , 
de  que  o  autor  faz  a  descripção,  pela  suaconstrucção 
e  pelos  seus  ornatos ^  são,  na  opinião  d^elle^  com- 
paráveis ao  que  j  neste  género  y  se  vê  mais  bello  na 
Jtalia :  o  Convento  da  Estrella  lie  liwn  edifício  sump- 
tuoso ,  que  hum  estrangeiro  não  dev^e  deixar  de  ver  ,  todo 
revestido  de  diversas  espécies  de  mármores  preciosos  j  que 
encantão  a  vista  pela  sua  mídta  variedade ;  M.  d'Hau« 
tefort  observa  que  elles  são  todos  tirados  das  pedreiras 
do  paiz ;  e  as  estatuas  colossaes  que  se  elevão  debaixo 
do  vasto  peristylo  do  Templo  ,  dào-llie  nova  occasião 
de  repetir  os  seus  elogios  á  eschola  do  celebre  Ma- 
chado. M.  d'Hautefort  exprime  o  sentimento  que  lhe 
resta  de  não  poder  ter  visitado  o  Convento  de  Belém , 
e  os  Arcos  das  aguas  livres  ,  este  aqueducto  j  diz  elle , 
que  rivalisa  com  tudo  quanto  os  Romanos  construirão 
mais  bello  neste  género. 

Pelo  que  toca  ás  Scicncias  e  ás  Letras ,  M.  d'Haute' 
fort  encontrou  em  Lisboa  muitas  e  mui  abundantes 
bibliothecas ,  que  lhe  merecerão  grande  attenção ; 
distinguio  entre  ellas ,  com  justa  causa ,  a  bibliotheca 
Real|  provida  de  muitos  e  excellentes  livros  ^  e  manns* 
criptos  mui  importantes ,  e  na  qual  vio ,  em  muitos 
vezes  que  a  visitou ,  huma  grande  afflueucia  de  pessoas 
que  concorriào  a  ella,  para  ler  e  para  trabalhar. 


V 


và  Resenha  AnaJorticai 

Depois  de  fallar  das  bibliothecas ,  falia  M.  d^Haute* 
fort  y  com  grande  consideração  ,  como  já  fizemos  ver 
no  nosso  IX  Volume ,  dá  Academia  Real  das  Sciencias] 
e  aqui ,  não  pode  deixar  de  mostrar  a  sua  indignação 
contida  as  injurias  e  sarcasmos ,  que  publicou ,  a  res- 
peito delia  y  o  autor  do  Tableau  de  lAsbonne. 

Nós  sentimos  que  M.  d'Hautefort,  que  já  em  outro 
lugar  da  sua  viajem  se  tinha  queixado  da  pouco  exac- 
ção  doeste  ultimo ,  descesse  a  desapprovar  a  opinião 
d'elle  j  a  este  respeito  :  a  parcialidade  e  a  raiva  com  que 
aquelle  viajante  fallou  dos  Foituguezes,  a  indignidade 
e  despejo  com  que  ,  enti^e  poucas  verdades ,  publicou 
a  respeito  d^elles,  huma  somma  tal  de  aleives ,  de 
imposturas  e  de  absurdos,  não  merece  que  o  es- 
críptor  sizudo ,  nem  ao  menos  tome  o  trabalho  de  o 
contradizer,  (i) 


(i)  Eís-aqoi  algamas  amostras  de  tudo,  pelas  próprias  pa- 
lavras do  autofj  fielmente  Urâduzidas  : 

A  Estatua   (  do  Sn^.    D.    José  )  e  o  cayallo  são  de  huin% 
execução  medíocre ,  sem  graça  e  sem  majestade.  Pag.  39. 

3oo  pessoas  encherião  quasi  inteiramente  o  passeio  publico 
de  Lisboa.  Pag.  4o* 

O  pobre  leva  para  a  porta  da  Igreja  o  cadáver  de  sen  pai , 
de  seu  fílbo ,  da  sua  esposa ,  o  parocbo  alli  o  deixa  exposto 
para  receber  as  esmolas  dos  que  passão ,  todos  os  dias  se  conta 
o  producto  ,  e  só  quando  a  somma  chega  ao  valor  taxado  pelo 
mesmo  parocho ,  he  que  dle  faz  enterrar  o  cadáver  pelos  scos 


ResenJia  Analyticã*  i3 

Hum  homem  que  em  Portugal  não  tinha  achado^ 
nem  engenheiros,  nem  mathematicos  em  i796ye  que 
não  vio  na  Universidade  de  Coimbra,  depois  da  sua 
reforma,  senão  hum  corpo  incitado  j posto  que  magro ^ 
secco,  descarnado,  sem  alma,  sem  vida ;  animado  só  pela 
pedantaria  ,  dirigido  só  pelo  prejuízo  ,  sustentado  só  pela 
pre\^ençào  nacional ,  e  que  não  impõe  senão  pela  prc 
sumpçào  e  orgulho,  ousou  erigir-se  em  autoridade  com- 
petente para  avaliar  o  Corpo  scientiíico  da  Nação : 
hum  estrangeiro^  que  na  sua  viajem,^  entre  muitas 
palavras  portnguezas,  que  teve  a  mania  de  escrever, 
nem  huma  só  poz  de  modo  que  se  entendesse ,  o  que 
prova  invencivelmente  a  sua  total  ignorância  da  língua 
do  paiz  ,  alreveo-se  a  dizer  queella  era  secca,  estéril  ^ 

subalternos  ;  este  espectáculo  terrível  renova-se  todos  os  dias 
em  Lisboa.  Pag.  2  25. 

Os  soldados  não  tem  quartéis  >  alojSo-se,  especíalmeute  em 
Lisboa  ,  onde  querem  e  conforme   podem.  Pag.  sSq. 

Os  gallegos,  que  servem  em  Portugal,  são  mais  limpos ,  mais 
arranjados  ,  mais  bem  vestidos  ,  mais  ligeiros  ,  mais  ágeis  que 
os  Portuguczes.  Pag.  5i3. 

Ás  boas  ameixas  ,  as  boas  peras  ,  os  bons  pecegos  ^  os  bons 
damascos  >  as  boas  maçans  não  são  communs  em  Portugal.  Álli 
a  caça  não  bc  abundante,  os  bons  fructos  são  muito  raros* 
Pag.  ao3 ,  í2o5. 

£m  Portugal  não  se  faz  queijo.  Pag.  ao4* 

O  arroz  come-se  alli  ordinariamente  sem  tempero ,  e  tal  qual 
«abe    a  marmita, em  que  o  ílzerão  cozer.  Pag.  307  etc.  ctc.  etc. 


i4     '  Resenlia  AnalQrtica. 

polrcj mesquinha;  e  teve  a  boa  fé  de  achar  o  estjlo  dos 
seus  escriptores  baixo,  rasteiro ,  frouxo ,  desigual,  e 
muitas  vezes  inchado. 

Quando  hum  escriptor  chega  a  prostituir  de  tal 
sorte  a  sua  consciência ,  ou  a  assoalhar  de  tal  modo 
a  sua  incapacidade  ^  deve  ser  estranho  a  toda  a  critica , 
por  isso  mesmo  que  a  he  a  toda  a  ideia  de  decência , 
de  bom  senso  e  de  verdade. 

Quem  não  conhece  a  Arte  nao  a  estima ; 

porém  M.  d'Hautefort,  justo  avaliador  do  mereci- 
mento, não  recusa  aos  sábios  da  nação  portugueza 
o  elogio  que  elles  merecem ,  e  não  podendo  consagrar 
na  sua  obra  os  nomes  de  todos,  deo,  comtudo  ,  nella 
hum  lugar  dislincto  aos  poucos,  que,  ou  por  conheci- 
mento pessoal ,  ou  pelo  dos  seus  escriptos  e  geral 
reputação,  reclamavão  d^elle  esta  justiça.  He  por  certo 
muito  agradável  para  nós ,  trasladarmos  das  paginas 
de  huma  Obra  estrangeira  para  as  dos  nossos  Annaes  , 
os  nomes  ,  produzidos  nella  com  veneração  e  respeito, 
do  sábio  António  Pereira  de  Figueiredo  ,  dos  Doutores 
José  Monteiro  da  Rocha ,  José  Anaslasio  da  Cunha , 
Francisco  António  Ciera,  Maya  e  Faria,  dos  Sn.'** 
Corrêa  da  Serra  e  Garção  Stockler ,  dos  beneméritos 
ofliciaes  Caula  ,  Franzini  e  Pedro  Fole,  e  do  Sn^  Joa- 
quim José  da  Costa  de  Macedo,  que  M.  d'Hautefort 
teve  occasião  de  conhecer  mais  particularmente. 

Pelo  que  toca  ao  physico  dos  habitantes,  e  aos  seus 
costumes,  deo  M.  d4lautefort  mais  huma  prova  de 


Resenha  Analytica.  i5 

discernimento  e  de  prudência ,  dizendo  que  seria  ridi- 
cnlo  tratar  dos  hábitos  e  affecçòes  moraes  de  hum 
povo ,  que  elle  não  teve  tempo  para  estudar.  Quanto 
melhor  convém  esta  expressão  á  dignidade  de  hum 
phiiosophoy  do  que  os  juizos  precipitados  e  falsos  ^ 
que  muitos  achão  do  seu  dever  publicar,  ou  tenhão 
ou  não  j  todas  as  bases  suíBcientes  para  os  estabelecer? 

Taes  são  as  observações  geraes,  que  nos  ofiereceo 
a  leitura  do  escripto  de  M.  d'Hautefort ,  relativamente 
ao  que  elle  diz  de  Lisboa.  O  autor  tendo  desembar- 
cado naquella  cidade,  só  depois  de  passar  o  Tejo,  e 
sahir  de  Aldeia  Gallega  para  os  Pegões ,  he  que  podia 
aperceber-se  das  más  estradas ,  ou  antes,  da  falta  d'ellas 
em  Portugal.  Nesta  parte,  com  eSeito,  era  impossível, 
sem  faltar  á  verdade,  desmentir  o  que  tem  escripto 
todos  os  viajantes. 

Dissemos  que  a  posição  geographica  de  Portugal ,  e 
as  poucas  raridades  da  arte  ,  ou  da  natureza,  que  nelle 
se  encontrão ,  nem  facilitão,  nem  desaíiào  o  concurso 
dos  sábios ,  que  tomão  por  empreza  viajar  para  ins- 
truir-se;  porém  devemos  accrescentar  que,  ainda 
d*aquelles,  a  quem  estas  circumstancias  não  servirão 
de  obstáculo ,  e  que  a  pezar  d'ellas ,  quizerào  conhece- 
lo ,  não  poucos ,  desanimados  pela  falta  de  communi- 
cações  interiores ,  contentárào-se  erradamente  com 
examinar  as  vizinhanças  da  costa ,  e  pelos  costumes 
de  Lisboa  e  do  Porto  julgarão  poder  avaliar  os  do 
resto  do  Reino,  dos  quaes  aliás  a  pouca  largara  do 
território   parecia  aí&ançar-lbes  a    smalogia  :  assim , 


iG    '  Ite^enha  jérudjrticá. 

aquella  difficuldade  não  só  tem  concomdo  para  induzir 
em  erro  ainda  os  poucos  viajantes  de  boa  fé,  mas 
autorisa  sobre  maneira  o  conceito  pouco  vantajoso, 
que  de  Portugal  formão  ainda  hoje  os  outros  paizes. 

Não  pode  na  verdade  negar-se  que  a  falta  de  com- 
municações  mata  todos  os  géneros  de  industria ,  não 
promove  a  população  e  propaga  a  pobreza;  e  para 
sermos  justos  com  os  viajantes,  de  quem  não  nos 
temos  poupado  a  censurar  os  defeitos ,  devemos  convir 
que  a  falta  de  pontes  e  de  estradas  em  hum  paiz  em 
que  ellas  são  tão  essencialmente  necessárias,  não  só 
he  hum  justo  obstáculo  ás  viajens  no  interior  d'elle ; 
mas,  o  que  he  muito  peior,  serve  aos  viajantes  de  prova 
irrecusável  do  seu  atrazamento» 

Nem  já  hoje  pode  contentá-los  dizer-se-íhes.  que 
este  apparente  desleixo  he  hum  systema  politico  para 
augmentar  a  força  do  paiz,  contra  as  invasões  inimigas : 
se  a  passagem  do  S.  Bernardo  podesse  ter  deixado 
ainda  voga  a  esta  opinião , infelizmente  iSo-j^e  muito 
mais  1810  acabarião  de  a  destruir.  Não  he  a  falta  de 
estradas  quem  ha  de  defender  Portugal  contida  hum 
exercito  inimigo;  nesse  caso,  seria  necessário  fazer 
retrogi^adar  a  corrente  de  todos  os  rios  que  o  banhão  > 
e  que  são ,  conforme  a  phrase  de  Pascal ,  caminhos  que 
andào  :  quem  conhece  o  paiz  sabe  muito  bem  que  a 
sua  defeza  immediata  depende  das  suas  bellas  posi- 
ções bem  guarnecidas ,  de  poucos  pontos  essenciaes 
bem  occupados,  e  de  hum  systema  de  Ordenanças 
vigoroso  e  solido ;  islo  he  ,  supeiior  a  todo  o  género 


Resenha  Anaíyíica»  í*) 

de  pertençâo  e  de  intrig;) ,  atado  pelo  vihctilò  sagrado 
e  indissolúvel  do  interesse  da  propriedade  ,  e  escorado' 
pelo  dobre  esteio  do  espiriti  nacional  e  do  amor  da 
pátria;  porém  este  ultimo  e  mais  poderoso  meio  de 
dcfeza  iminediata  na  guerra  j  dependendo  essencial-^ 
mente  da  prosperidade  do  p  âz  na  p^z ,  a  abertura  de 
canaeis ,  b  èstabeb^ciíhentò  dé  esli*adá^  ,  à  couâtriic^ào 
de  pontes  está  tâo  longe  de  ser  nociva  á  sua  defeza» 
que  pelo  contrario ,  seurl  estes  dteios ,  o  progresso  da 
sua  agricidtura  ^  o  desenvolvimento  da  sUa  Industria  ^ 
ás  váfitajens  do  seu  co  umercio  interno  ,  o  atigmentò 
da  sua  população  ,  a  salubridade  da  sua  ihais  exterisá 
e  knnis  Fértil  provinda  ^  em  huma  palavra ,  todos  bs 
princípios  da  sua  defeza  mediata  se  acharão ,  por  esta 
só  causa  y  paralysados. 

Já  desde  1791  a  Sn.»^".  D.  Maria  I,de  saudosa  me* 
Iboria  para  a  Nação  portugueza ,  lhe  tinha  dado  hutha 
prova  decisiva  do  seu  patriotismo ,  e  sobre  tudo  ^  da 
sua  esclarecida  opinião  a  ente  respeito  ,  ordenando , 
pela  saudável  lei  de  iS  de  Mal*ço  ^  a  construcção  daá 
estradas  do  Reino,  e  fazendo  começar  desde  logo^ 
com  a  maior  actividade,  huma  communicação  magni-^ 
fica  entre  as  duas  cidades  principaes  d*elle ;  porém, 
O  que  he  muito  mais  terminante  para  o  nosso  assunlpto» 
seii  Augusto  Fillio ,  logo  qíie  tomou  as  rédeas  do 
governo,  penetrado  de  toda  a  importância  de  tão  útil 
Disposição ,  òrdètlou  o  levantamento  do  terreno  e  o 
projecto  de  huma  estrada ,  (fue  pHncipiando  em  Aldei» 
Gallega ,  e  passando  pot  Elvas  >  terminasse  com  huma* 
Tom.  X.  P.  !■•  a  A 


i8  Resenha  AnaJortica. 

ponte  sobre  o  Caya ;  projecto  bem  digno  do  amor 
com  que  este  Soberano  deseja  a  felicidade  dos  seus 
povos  'y  mas  que ,  provavelmente ,  as  circumst^ncias  ex- 
traordinárias e  bem  conhecidas  ^  que  depois  sobrevie*- 
râo ,  não  lhe  permittirão  realisar. 

Nós  temos  á  vista  a  planta  e  o  projecto  d*esta  utíl 
empreza ,  que  nos  parece  perfeitamente  ordenado ;  e 
se  os  embaraços  em  que  huma  guerra  perfiada  e 
gloriosa  poz  até  hoje  o  Governo ,  lhe  permittirem  hum 
dia  desenvolver ,  a  este  respeito  ,  os  seus  bons  desejos 
e  o  seu  patriotismo ,  estamos  certos  que  o  autor  d'a- 
quelle  trabalho  precioso  ofierecerá  ao  publico  ^  por 
meio  dos  Â.nnaes ,  e  só  para  servir  de  termo  de  comr 
paração  ao  projecto  que  então  houver  de  adoptar-se, 
os  elementos  e  a  topographia  doeste ,  com  a  mesma 
boa  vontade,  com  que  sempre  consagrou  honrada- 
mente os  seus  desvelos  e  a  sua  fazenda  ao  interesse 
da  Nação  e  da  Pátria.  ; 

O  resto  da  viajem  de  M.  d^Hautefort,  desde  que 
sahio  de  Lisboa,  até  entrar  em  Hespanha ,  não  he  mais 
do  que  huma  descripção  concisa  e  fiel  do  paiz,  por 
onde  passou ,  e  não  oQerece  hum  interesse  particular* 
Ha  porém  nesta  parte  do  seu  escripto  ,  a  que  limitámos 
as  nossas  observações ,  huma  reflexão  geral ,  que  não 
deixaremos  escapar. 

A  longa  residência  de  M.  d*Hautefort  em  Hespanha  » 
antes  de  emprehender  a  viajem  de  que  nos  dá  agora 
a  narração ,  tinha-lhe  proporcionado  os  meios  de  co- 


Resenha  Analytica.  19 

nliecer  perfeitamente  a  língua  hespanhola  ^  e  o  conhe*^ 
cimento  doesta  não  podia  deixar  de  facilitar-lhe  o  dà 
portuguesa ;    assim  ,  este  escripto   distingue  -  se  pela 
exacção  orthograpbica  das  palavras ,  e  até  das  phrases 
inteiras  y  que  nelle  se  encontrão  escriptas  em  portuguez ; 
o  que  prova  l)em  que  M.  d^Hautefort ,  chegando  a 
Lisboa,  poude  mais  facilmente  examinar  com  miude-^ 
za ,  e  referir ,  por  consequência  ^  com  verdade  y  as 
cousas  que  observou ;  e  que  não  se  vio  no  embaraço 
em  que  se   tem   achado  em  Portugal  a  maior  parte 
dos  outros  viajantes ,  pela  diíEculdade  de  comprehen« 
derem  a  lingua  do  paiz »  resultado  necessário  do  pouco 
que  ella  está  hoje  generalisada  na  Europa»  Este  as** 
sumpto  toca  tanto  de  perto  a  gloria  nacional ,  que  o 
leitor  não  recusará  entrar  comnosco  em  algumas  ob» 
servaçòes  a  respeito  d*elle^  que,  talvez^  não  serão  sem 
interesse» 

Entre  as  muitas  causas  >  que  concorrem  para  gene-* 
ralisar  huma  lingua »  as  mais  importantes  são «  sem 
duvida  9  a  reputação  e  a  importância  da  NaÇão  que  a 
falia  9  e  o  interesse  que  inspira  a  literatura  d*el)a. 
Quando  as  armadas  portuguezas  aVassalavão  os  mares 
da  índia  ^  e  ao  som  estrondoso  da  sua  artilharia  cahiáo 
por  terra  os  muros  das  fortalezas  da  Ásia  ^  os  Sobe^ 
ranos  d*ella  enviavào  respeitosamente  ao  Tejo  o  ouro 
e  as  pérolas  de  Ganges ,  e  os  povos  açceitavâo  submis^* 
SOS  a  linguagem  e  a  religião  de  hum  punhado  de 
homens ,  que »  dispondo  a  seu  sabor  do  trovão  e  do 
raio,  se  lhes  fígm^avão  entes  de  huma  ordem  superior 


20  Kesenha  Analítica. 

á  natureza  humana.  Bem  depressa  a  importância  do 
seu  commercio  acabou  de  confirmar  o  ascendente , 
que  lhes  tinha  dado  a  reputação  das  suas  armas ,  e 
huma  e  outra  forào  tão  poderosas»  que,  a  pezar  da 
decadência  ,  quasi  total ,  de  ambas ,  naquella  parte  do 
mundo ,  ainda  hoje  a  lingua  portuguesa  he  alli  mui 
universalmente  conhecida. 

Ás  Letras  não  forão  de  todo  estranhas  a^  este  feliz 
resultado ;  os  primeiros  Missionários ,  que  então  pas- 
sarão á  Ásia  y  deixando  na  Metrópole  correr  ati*az  das 
honras  e  das  privanças  os  seus  companheiros  ambi- 
ciosos e  intrigantes ,  erão  homens  de  bem ,  d^  saber  e 
de  virtudes ,  e  sinceramente  votados  ao  progresso  da 
religião  :  he  verdade  que  o  amor  do  commercio  não 
foi  depois  estranho  aos  que  lhes  succedérão  mais  tarde ; 
porem  huns  e  outros ,  interessados  para  os  seus  fins 
em  propagar  a  linguaguem  que  fallavão,  fundarão 
cadeiras  delia ,  estabelecerão  typographias,  composerão 
Diccionarios  e  Àrtes ,  em  que  a  língua  do  paiz  >  a  la- 
tina e  a  portugueza  reciprocamente  se  explicavão.  São 
ainda  hoje  testemunhos  vivos  e  honrosos ,  para  esta 
ultima ,  as  edições  nitidas  e  correctas  de  obras  d*este 
género ,  compostas  e  dadas  ao  prelo  ,  nos  últimos  con- 
fins da  Ásia,  pelos  cuidados  do  P.  João  Rodrigues ^e 
de  alguns  Padres  e  Irmãos  da  Missão  de  Nangasaqui » 
e  de  outros  collegios  do  Japão. 

A  Euix>pa  não  podia  então  recusar  á  nação  portu-* 
gueza  aquella  veneração  e  aquelle  respeito ,  que  ai 
suas  conquistas  e  o  seus  descobrimentos  lhe  tinhão 


Resenha  Analytica»  sii 

granges^do :  o&  feitos  dos  Gamas  e  dos  Âlbuquerques 
faziào  aprender  com  gosto  a  língua  em  que  tinhào  es- 
crípto  os  Camões  e  os  Barros ;  e  os  espíritos ,  picados 
da  curiosidade  de  conhecer  paizes  inteiramente  novos , 
meditavào,  com  pasmo  as  Peregrinações   de*  Femào 
Mendes  Pinto.  He  verdade  que  a  Europa ,  excegtuaodo 
a  Itália  ,  estava  ainda  então  muito  atrasada ,  para  ceder 
ao  interesse ,  que  podia  inspirar  a'  nossa  literatura ; 
mas   a  reputação  do  nome   portuguez  sobejava  para 
fazer  generalisar  a  sua  linguagem  ^  e  a  importância  do 
seu  commercio  de  tal  modo  a  propagava ,  que,  ainda 
nos  tempos  de  Duarte  Nunes ,  os  mercadores  e  tratantes 
da  Flandres  mandavãq  a  Portugal  seus  filhos  para  a 
aprenderem,   os  quaes  ahi  serviào   só  por  o  premia 
de  arcarem  sabendo- 

As  areias  de  África  septittárão  mui  cedo  a  gloria  dã 
nação  portugueza ,  e  quando  eUa  conquistou  género* 
sãmente  a  sua  independência,  os  bellos  dias  do  seu 
esplendor  tinhão  passado  :  Portugal  tomou  de  novo  o 
seu  lugar  entre  as  nações  da  Europa ,  mas  a  Europa 
tinha  mudado   inteiramente  de  face;  sessenta  annos 
tinhão  produzido   acontecimentos,  para  que  apenas 
parecia  terem  bastado  muitos  séculos  ;  a  sua  prepctn? 
derance  na  Ásia  tinha  acabado.,  o  bceptro  dos  mares 
e  o  do  commercio  tinhão  passado  a  mãos  mais  felizes, 
e  os  vestígios  da  sua  língua,  seguindo  necessariamente 
a  decadência  da  sua  grandeza  commerciaV,  e  a  aniqui- 
lação momentânea  da  sua  existência  politica ,  tínbãQ»^ 
$e  apagado  na  Europa.* 


^%  Resenha  Analyticaé 

O  impulso,  que  huma  grande  Rainha  havia  dadoi 
civilisação  dos  povos  de  huma  ilha  notável,  fortificando- 
$e ,  pela  uniào  de  dois  tronos  antigos  e  rivaes ,  tinha 
preparado  a  sua  grandeza  futura ,  que  hum  novo  sjs** 
tema  politico  devia  bem  dep^pessa  consolidar* 

No  centro  da  Europa  tinha  despertado  huma  nação , 
que  o  feudalismo  por  muito  tempo  adormecera ,  e  que 
a  foituna  da  sua  posição  ,  a  influencia  do  seu  clima  ^ 
o  caracter  dos  seus  habitantes  fazião  própria  para  todo 
o  género  de  gloria;  hum  homem  novo  e  ambicioso, 
munido  da  autoridade  de  hum  Princepe  que  elle^dó- 
minava ,  senhor  das  riquezas  de  hum  Estado ,  de  que 
elle  dispunha ,  e  superior  ás  intrigas  e  ás  pertençôes 
de  huma  Nobreza ,  que  elle  opprimia  e  castigava , 
pelo  seu  despotismo,  horror  de  innumeraveis  íamilias, 
e  «idmiraçào  da  Europa,  com  huma  mão,  abatia  no 
porte  a  arrogância  de  huma  grande  Potencia,  e  qoxsx 
a  outra ,  arrancava  no  seu  paiz  o  germe  da  ignorância , 
e  plantava  o  da  civilisação  e  o  da  industria. 

O  governo  desastroso  de  Philippe  II  tinha  preparado , 
á  custa  da  desgraça  da  sua  nação,  a  felicidade  e  a 
independência  de  outras,  e  o  poder  colossal  da  Hes* 
panha ,  minado  pelos  crimes  e  pela  atroz  politica  do 
successor  de  Carlos  V,  tinha-se  prostrado  diante  das 
vastas  concepções  e  do  génio  da  soberba  Izabel. 

Pelos  eíTeitos  da  reforma ,  tinha  escapado  das  mãos 
dos  succes&ores  de  Leão  X  aquella  preponderância 
do  Sacerdócio  sobre  o  Império,  á  sombra  da  qual  havia 


Resenha  Anàfytiea.  aJ 

nascido  e  prosperado  a  independência  e  a  majestade 
da  Itália;  e  a  sua  beUa  reputação  liteAiria,  que  as 
almas  generosas  de  Gosme  e  de  Lourenço  de  Medicis 
tinhàb  creado »  devião  vir  desvanecer-se  diante  d*este 
século  brilhante  de  Luiz  XIV,  que,  pela  fecundidade 
dos  talentos  que  o  honrárâo ,  pela  abundância  e  pelo 
merecimento  das  composições  que  o  distinguirão , 
pela  rapidez  das  conquistas  que  o  enriquecerão,  e  pelo 
desenvolvimento  de  todos  os  géneros  de  industria ,  deo 
á  Europa  assomibrada  a  sua  táctica  ,a  sua  literatura ,  o 
seu  theatro  ,  o  seu  gosto  e  as  sua3  modas ,  e  exercendo 
sobre  ella ,  por  todos  estes  meios,  hum  império  irrer 
sistivel  de  opinião  ,  impoz-lhe  por  fim  a  necessidade 
de  aprender  a  sua  lingua.  Desde  então,  começou  esta 
a  ser  a  dominante  por  toda  a  parte ,  e  reproduzindo 
os  mais  bellos  monumentos  do  saber  e  da  literatura 
de  todas  as  nações  ^  acabou  de  ganhar  huma  univer- 
salidade ,  de  que  não  he  possivel  determinar  os  limites. 

Debaixo  da  influencia  d*este  império  absoluto ,  não 
toca  hoje  a  todas  as  outras  linguas  da  Europa ,  senão 
buma  representação  e  generalidade  de  huma  ordem 
inferior ;  e  quando  a  importância  commercial  e  politica 
da  Gran -Bretanha  nãp  tem  dado  á  lingua  ingleza 
eclipsar  a  sua  rival ,  hé  evidente  que  ás  outras  não 
resta,  para  não  succumbirem  de  todo ,  senão  o  recurso 
da  sua  literatura ,  e  particularmente  o  da  sua  poesia  ; 
linguagem  sagrada,  na  qual  o  caracter  da  lingua» 
como  o  do  poeta ,  conservão  huma  physionomia  pro^ 
piia ,  e  huma  expressão  nacional ,  que  asi  outras  1íq« 


B^  Resenha  Anàlorieá. 

guas  debalde  pertendem  fa/er  suas.  Pode  naturaKsar» 
se  a  helleza  das  narrações  históricas ,  a  profundidade 
das  máximas  da  philosophia ,  e  ainda ,  com  difficol^ 
dade ,  os  rasgos  atrevidos  da  eloquência ;  porém  of 
voos  arrebatados  da  imaginação  monstruo.sa  de  S\izr 
Içespear ,  a  majestade  das  concepções  de  Milton ,  a 
fecundidade  sgblime  do  epthusiasmo  do  Tasso ,  e  a 
l-iq*  eza  e  a  variedade  prodigiosa  de  Camões, bàod^ 
fazer  sempre  as  nações  estranhas  tributarias  das  lin^p 
^as^qqe  estes  grandes  génios  honrarão  e  enri  luecérãou 

.  Nestas  circumstancias  pois,  toca  hoje  exclusivamente 
aos  nossos  sábios, e  em  particular  aos  nossos  poetas i 
propag:\r  a  lingua  portugueza,e  protege- la  nesta  luta 
tão  desigual.  Mas,  para  que  estes  últimos  o  consigão  ,^ 
he  indispensável  que  elles  mesmos  se  proponhàq  alcan- 
çar huma  reputação  ',  e  sobre  os  meios  de  a  consegui^;*, 
nos  parece  que  huma  boa  paite  d*elles  se  epgana. 

Com  a  infeliz  extincçào  da  nossa  Arcádia  acabou-se  a 
influencia  benéfica,  que  esta  Sociedade  recommendavel 
tinha  exercitado  sobre  a  nossa  poesia  ,  e  malogrou-^e , 
em  grande  parte,  a  direcção, que ella  tão  dignamente 
tinha  procurado  imprimir  aos  espiritos ,  para  os  di-« 
versos  géneros  :  desde  então  tomou  posse  da  imagi- 
nação de  muitos  dos  nossos  poetas  ,  huma  certa  inde- 
cisão ,  por  extremo  nociva  ao  verdadeiro  merecimento  , 
pu  hum  espirito  de  frivolidade ,  incompativel  com  a 
verdadeira  glpria ;  a  primeira  faz  çom  que  muitos  não 

se  deciUão  a  escolher  hum  género,  cultivá-lo  e  des-» 

• 

tinguirem-&e  nelle ,  com  o  que ,  correndo  atraz  da  re- 


Resenha  AruãYÚca.  aS 

putaçào  em  todos ,  dif&cilmente  conseguirão  fixá-la  em  , 
alguui  \  o  sei^undo  dá4hes  huma  indiferença  pei-judi^ 
ciai  sobre  a  escolha  de  assumptos  dignos ,  fazendo-os 
esquecer  de  que  o  interesse  doestes  hasta  para  conseguir 
muito  maior  reputação  a  quem  os  trata , 

Quam  versas  inopes  renim  ,  nagaeque  canorae. 

Não  confundimos  9  comtudo,  comos  poetas  de  que 
falíamos,  aquelles ,  que  tem  prostituído  a  sua  imagi- 
nação e  os  seus  talentos  a  hum  género  burlesco  e  sem 
gloria ;  e  que ,  ainda  neste  mesmo  género ,  esquecendo-se 
de  que 

Le  stjle  le  moins  noble  a  pourtant  sa  noblesse , 

nas  suas  composições  infelizes ,  como  Boileau  dizia  do 
tempo  em  que  reinava  hum  gosto  estragado  na  poesia 
iranceza  y 

Le  Parnasse  parla  le  langage  des  halles. 

I 
A  diSerença  entre  huns  e  outros  não  tem  limite  :  os 

primeiros ,  caminhando  na  direcção  verdadeira  9  o 
amor  bem  entendiJo  da  sua  fama  facilmente  os  trará 
á  estrada  direita  d*ella  ;  os  segundos  ,  pelo  contrario , 
voltando-lhe  as  costas,  parece  comprazerem-se  por 
capricho ,  em  renunci.  r  a  e^te  género  de  gloria. 

Nem  tenhào  os  nossos  compatriotas  esta  digressão 
como  filha  de  hum  certo  espiíito  m^igistral  e  desde- 
nhoso y  que  muitos  pertendem  que  se  introduz  nos 
homens ,  que  escrevem  fjra  do  seu  paiz;  opinião  afiec- 
tada  9  á  sombra  da  qual  alguns  espíritos  pouco  dóceis 
procurào  pôi^-se  a  coberto  da  censura,  a  que  a  sua 


a6  Resenha  Antãyúca. 

mesma  cooscienda  não  lhes  permiite  de  outro  moda 
escapar.  Se  todas  as  paginas  dos  nossos  AnniE^es  nàd 
tivessem  dado  hum  testemunho  publico  do  interesse , 
que  tomamos  pela  reputação  nacional  ^  e  do  muito 
que  desejamos  fazer  conhecer  o  merecimento  dos  sá- 
bios portugueses ,  o  ol)iecto  do  presente  Artigo ,  e  o 
que  nelle  temos  escripto ,  bastaria  para  o  confirmar* 
Amamos  a  gloria  da  nação ,  respeitamos  a  dos  homens  : 
a  fim  de  que  a  nossa  Obra  coopere  (  se  tanto  lhe  he 
dado  )  para  a  primeira.,  cumpre  que ,  sem  atacar  os 
individuos »  systema  tão  indigno  do  homeip  que  se 
respeita ,  como  pei^udicial  ao  progresso  das  Letras  , 
mas  despida  de  prejuízos ,  e sobre  tudo ,  de  lisonja,  faça 
conhecer,  no  tribunal  da  opinião  publica ,  tudo  quanto 
pode  retardar  o  interesse  nacional;  e  para  que  seja 
digna  de  conservar  os  nomes  dos  homens  beneméritos 
da  pátria ,  he  necessário  fazer  respeitar  o  lugar ,  que 
só  a  elles  he  devido ,  por  meio  da  independência  e 
da  verdade. 

Abundào  entre  nós  os  talentos  ,  abunda  o  amor  da 
pátria  e  não  faltão  os  exemplos ;  estes  germes  fecundos» 
desenvolvidos  pelas  luzes  do  século ,  devem  produzir 
hum  impulso  generoso,  que,  apoderando-se  do  en-» 
thusiasmo  dos  nossos,  poetas ,  lhes  faça  sentir  o  mtiito 
que  podem , por  mais  de  hum  motivo,  influir  na  con- 
sideração nacional ;  a  fim  de  que ,  penetrados  d*este 
sentimento ,  troquem  objectos  frívolos  e  composições 
ephemeras  ,  por  assumptos  dignos  d*eUes  e  da  patría. 
Com  isto^não  só  a  reputação  individual  ganharia  muito  ( 


Resenha  Anafytica»  37 

mas  a  do  paiz  até  conseguiría  mais  facilínente  de»- 
mentii*  as  iaexactidões  e  calumnias ,  que  a  seu  respeito» 
de  continuo  ^  impunemente  se  publicào. 

«  Seria  para  desejar,  diz,  com  muita  razão,  a  este 
respeito  M.  d'Hautcfort,  que  os  poetas  portuguezes 
nos  fossem  mais  familiares;  ver-se-hia  então  que  o 
seu  Parnasso  não  he  sem  fecundidade ,  nem  sem  glo- 
.  ria.  Para  ter  a  certeza,  continua  o  mesmo  viajante, 
de  que  não  faltão  a  Portugal  poetas  e  escriptores  em 
muitos  géneros,  leia-se  a  introduqçâo  á  literatura 
d*este  paiz  por  M.  Sane  y  que  vem  no  principio  da 
sua  traducção  das  Odes  do  celebre  lyríco  MAjrora* ,  de 
quem  hoje  se  deplora  a  perda  recente ,  e  ter-se-ha  a 
prova  de  que  os  juizos  de  alguns  arístarchos,  contra  a 
literatura  portugueza  são ,  exagerados»  » 

Citamos  com  tanto  maior  satisfação  esta  passagem 
de  M.  fHautefort,  não  só  por  que  he  exactamente 
justa,  mas  porque  dá  ao  mesmo  tempo  testemunho 
das  vantajens ,  que ,  entre  as  nações  estrangeiras  ,  re- 
sultaríão  a  Portugal  de  huma  historia  da  sua  litera- 
tura, ainda  sem  contar  a  necessidade  absoluta,  que 
d'ella  tem  o  paiz  *,  e  de  quanto  os  bons  poetas  con- 
correm eficazmente  para  generalisar  o  conhecimento 
da  lingua  em  que  escreverão. 

Hum  raio  luminoso ,  destacando-se  de  outros  muitos, 
que  esdarecião  então  o  nosso  faoriftonte,  penetrou  em 
França  ,e  elie  só  foi  bastante  para  dar  novo  alento » na 
capital  d*este  paiz  clássico  4as  Letras  9  fto  interesse  péla 


o6  Resenha  Anafytica. 

poesia  portugueza ;  interesse  que  o  génio  de  Camõet. 
tinha  creado ,  e  que  o  espirito  de  novidade  e  o  poder  ir- 
resistível dos  séculos  tinhào  quasi  de  todo  amortecido* 
O  merecimento  e  a  justa  reputação  de  Filinto  Elysio 
fizerâo  sentir  a  alguns  literatos  francezes  a  vantajem  de 
estudar  a  lingua ,  que  as  producções  d*este  poeta  dis^ 
tincto  enríqueciào ,  e  esta  circumstanòia  feliz ,  que  lhe 
mereceo  a  distincçào  de  ver,  em  seus  dias,  muitas  das 
suas  composições  traduzidas  e  impressas  em  huma 
lingua  estranha ,  contínua ,  ainda  depois  da  sua  morte  , 
a  produzir,  para  a  literatura  nacional,  felizes  resultados* 

Todos  sabem  que ,  no  meio  do  século  passado , 
quando  o  nosso  Verney ,  ambicioso  de  fazer  conhecer 
na  Europa  o  seu  F^erdadeiro  methodo  de  estudar  ,  per- 
tendeo  que  elle  fosse  annunciado  no  Diário  dos  sábios 
de  França ,  para  conseguir  esta  distincção ,  foi  forçado 
a  compor  elle  mesmo,  em  latím,  o  extracto  da  sua  obra^ 
que  remetteo  aos  redactores ;  hoje  he  tão  sensivel  a 
diderença  a  este  respeito ,  que ,  no  momento  em  que 
escreviamos  o  presente  Artígo ,  duas  obras  periódicas , 
cada  huma  de  merecimento  distincto  no  seu  género , 
acabarão  de  dar  conta ,  por  extenso ,  das  Georgicas 
Portuguezas ,  de  que  falíamos  no  principio  do  nosso 
IX  Volume. 

M.  Baynouard ,  Secretario  da  Academia  franceza ,  a 
quem  ha  pouco  a  memoria  do  nosso  primeiro  épico 
mereceo  hum  digno  tributo  de  veneração  ,  com  o  gosto 
seguro»  que  se  lhe  conhece  em  Bellas' Letras ,  no 


Besenha  Analydca*  39 

primeiro  Diário  scientifico  de  França  (i)  publicou  o 
seu  juizo  sobre  aquelle  poema.  Assim ,  entre  as  ana<- 
lyses  das  obras  mais  distinctas  em  todos  os  generog , 
tomarão  lugar,  pela  primeira  vez ,  que  nós  saibamos , 
nas  paginas  d^aquella  coUecção  preciosa » largas  tiradas 
de  versos  portuguezes  ,  de  que  M.  Raynouard  inserio 
no  seu  Artigo  a  traducção  em  prosa. 

Outro  Artigo  anonymo ,  porém  não  menos  bem  es** 
cripto,  oSereceo  ,  em  hum  periódico  estimável  de  lite* 
ratura  (2)  hum  segundo  exame  do  mesmo  poema* 
Distingue-se  este  especialmente  do  primeiro ,  em  que 
o  seu  redactor  tomou  a  empreza  de  pôr  livremente 
em  verso  as  passagens  das  Georgicas ,  que  nelle  pro- 
duzio  ;  e  como  esta  circumstancia  dá  mais  huma  nova 
força  ao  que  vimos  provando ,  pai^a  que  o  leitor  faça 
huma  ideia  d'estç  ultimo  trabalho ,  copiaremos  aqui 
a  traducção  da  passagem  em  que  o  poeta  descreve  a 
gruta  de  Sileno. 

Et  moi  j  moi-méme ,  hélas!  )*al  ya  sur  ce  rivage  , 
De  ces  temps  malheureux  j'ai  vu  Taífreuse  image ; 
J'ai  vu  le  laboureur  par  la  faím  toarmenté , 
Du  champ  qu*il  moissonn^t  s'eiifaír  époa vante , 
Tournaoi  vers  son  asyle  an  oeil  baigné  de  larmes. 
*    J'ai  vu  •  • . .  mais ,  6  Niza  !  pourquoi  du  bruit  des  armes 
Eífrayer  de  nouveau  too  oreille  et  ton  co^ar  ? 
Ah !  platòt  de  Bacchus  exprimons  la  liqaear , 

k 

(1 )  Journal  des  Savans  \  cahier  de  Juillet* 
(a)  Licée  françaís,  Tom.  Y«  i^^«  Livrai^on. 


3o  Resenha  Atuãyiicà. 

Songeoii8  \  {>rrfparer  Ia  retraite  choisie 

Ou  le  lemps  doii  márir  ceiie  douce  ambroisie. 

Yois-TU  cette  ile  ?  au  pied  de  ^s  riants  côteaux 
Que  la  vigue  embellit  de  ses  riches  rameaux  , 
Vois-tu  dans  le  rocher  cette  grotte  champétre  ? 
Asyle  sombre  et  frais ,  là  jamais  ne  penetre 
Du  midi  dévorant  la  dangereuse  ardeur. 
L'ombre  en  cache  Tentrée;  et  de  sa  profoudeur, 
A  travers  les  caiUoux  une  onde  toujours  puré 
Jaillit,  fuit  et  8'échappe  avec  un  doux  murmure. 
Un  air  suave  y  règne ,  et  sur  ses  bords  fleuris 
De  mousse  et  de  gazon  s'étend  un  verd  tapis , 
Ou  Zéphire  se  joue  amoureux  de  Tombrage. 
Là ,  le  lierre  k  Tarbuste  enlaçant  sou  feuillage. 
Grimpe  de  brancbe  eu  branche ,  habile  à  se  líer. 
Plus  loin  ,  s'élance  auz  cieux  Télégant  peuplier ; 
Et  le  pampre  à  Bacchus  présentant  ses  offrandes  , 
Jusqu'à  son  fatte  monte  ,  et  retombe  en  guirlandes» 
De  son  néctar  chéri  Silène  dans  ces  lieux 
Conserve  prudemment  le  dépòt  précieux ; 
Du  brúlant  Sirius  pour  prevenir  l*injure , 
11  oppose  à  ses  feux  un  rampart  de  verdure.  (a) 


(a)  Eu  mesmo  ,  eu  mesmo  a  vi ,  hórrida  imagem 
Be  tempos  infelizes !  vi  a  espada 
Nas  mios  de  guerra  desolar  os  campos , 
Fugir  o  camponez  do  pobre  asjlo 
Por  inimigos  braços  despojado. 
Tl  a  fome  cruel.  Vi . . .  mas  que  horrores 
Te  pinto  ,  oh  Nize  í  he  tempo  em  que 


Uesenha  Analortica.  3i 

Possão  taes  exemplos  estimular  os  talentos  de  qne  a 
Lusitânia  nào  he  escassa ,  fazendo-lhes  conhecer  a  in- 
fluencia, que  lhes  está  reservada  na  propagação  da 
lingua  9  e  nos  resultados  felizes,  que  d*ella  deve  esperar 
a  nação  e  a  pátria :  e  se  no  momento  em  que ,  fa« 
pouco,  os  povos  bellicosos  iulgavfto  nuUos  nas  armas 
os  modernos  Portuguezes »  os  seus  guerreiros  sonberão 


Of  celleirot  de  BaccKo  te  descreva. 


Dl  Naxo  nas  mootanhas  ,  qae  povòão 
Vor  toda  a  parte  verdejantet  cepas  , 
Huma  gruta  se  vé  de  toscas  penhas  ; 
De  hum  lado  e  outro  crjstallíuas  foutes , 
Brandamente  sahindo  de  entre  as  lapas, 
Sosurrio  com  doçura  ;  as  lentas  vides 
De  Apollo  aos  raios  ,  com  viçosas  folhas , 
A  entrada  impedem  ,  e  subiudo  ao  cume 
Dos  álamos  frondosos  que  a  guarnecem  , 
Pendem  em  mil  festões  por  toda  a  parte* 
Hunu  relva  mimosa*  e  sempre  verde  , 
De  varias ,  lindas  flores  esmaltada , 
Uie  forma  o  pavimento  :  allí  da  calma 
Jamais  penetra  a  força ,  hum  ar  suave 
De  continuo  temp*rado  se  respira 
Kntre  as  heras  ,  que  a  par  das  negras  hagas 
Mostrao  lustrosas  folhas  sempre  verdes. 
Vo  mais  profundo  d* este  íresco  asjlo 
Guarda  o  ébrio  Sileno  o  doce  mosto, 
Seu  amor ,  seu  desvelo  t  sen  cuidado. 


Sn  Resenha  Analítica. 

fazer  respeitar  a  independenciA  do  paiz  em  que  nas* 
cêrào  os  Mun  Alvares  e  os  Castros ,  nào  consintào, 
na  me!>nia  epoclia  ,  os  seus  philologos  e  os  seus  poetas 
que  a  Europi  Ulustrada  supponba  Portug  d  adorme- 
cido para  as  letras  >  e  que  se  percào  de  todo  nella  os 
vestígios  da  bella  lingua  em  que  escreverão  os  Ber* 
nardes  e  os  Lucenas. 

C.X. 


0l»^l>^^^^^%%»»»%%^l 


Resenha  Analydca^  33 

A  III  ■  I     II  I    ■    I  1. 1  -    1  .  ■   ■   ■ ; 

NOUVEAU  SYSTÈME 

DE  MINÉRALOGIE; 

Par  /»  /.  Berzelius ,  etc.  tradmt  du  suédois  sous  les 
yexAX  de  Vautewr  ,eí  publié  par  lui  méme*  Paris  1819* 
I  Tom.  80. 


l»^^^^<^^i^^<^V»i 


JlisTA  excellente  obra,  necessária  a  todo  o  homem  que 
SC  dedica  ao  estudo  da  Mineralogia ,  he  ainda  menos 
susceptivel  de  analyse  que  o  Ensaio  sobre  as  Propor-* 
ções  Chymicas  de  que  dêmos  hama  succincta  conta 
no  Tomo  VII  dos  Annaes.  Este  systema  de  Minera-^ 
logia  precisa  com  eíleito  ser  lido  e  meditado,  e  o  nosso 
intento  he  mais  de  o  recommendar  aos  nossos  leitores 
que  de  lhes  dar  d^elle  huma  ideia  ainda  mui  imperfeita* 

Esta  nova  classificação  das  substancias  mineraes  he 
fundada  nas  bases  strictamente  chymicas  ,  e  nas  rela-* 
ções  electro-chymicas  entre  as  substancias  que  entrào 
na  composição  de  cada  mineral*  Para  melhor  fazer  ver 
a  diílerença  que  existe  entre  o  systema  de  M.  Berzelius 
e  os  que  o  precederão ,  vamos  eictrahir  do  seu  Tratado 
hum  exame  dos  principaes  systemas  anteriores  de  mi^ 
neralogia.  Estes  se  podem  reduzir  a  três  clases,  t^.  os 
que  tem  por  base  única  os  caracteres  exteriores; 
Tom.  X.  P.  !•.  3  A 


34  Resenha  Analytica. 

3^.  os  que  são  fundados  sobre  estes  caracteres ,  e  ao 
mesmo  tempo  sobre  a  composição  chymica;  e  3^.  os   * 
que  só  se  fundão  na  composição  chymica. 

Entre  os  primeiros  pode  citar-se  o  de  Brunner.  Este, 
assim  como  os  mais  dos  mineralogistas ,  adoptou  a 
divisão  geral  de  Cronstedt  em  quatro  classes  |  as  terras , 
ossaes»  os  bitumes  e  os  metaes;  dividio  cada  huma 
em  ordens,  caracterisadas  pela  sua  contextui^*,  carac- 
terisou  os  saes  pelo  sabor,  etc.  e  assim  em  quanto  ás 
mais  ordens.  Hum  tal  systema  he  sem  duvida  commo- 
do ,  mas  scientificamente  não  tem  outra  utilidade 
senão  de  ofierecer  huma  taboada  ou  registo  onde  se 
vêem  ) untos  os  mineraes  cuja  composição  he  a  mais 
diversa,  só  porque  tem  em  commum  huma  certa  ap- 
parencia  exterior;  da  mesma  maneira  que  se  em  hum 
registo  qualquer  se  achassem  dispostos  objectos  só  por 
terem  as  primeiras  letras  semelhantes ,  ou  segundo  a 
sua  analogia  alphabetica.  Esta  vantajem  até  se  toma 
de  mui  pouca  importância  pela  difficuldade  de  expres- 
sar por  palavras  o  habito  exterior  dos  corpos  ,  de  huma 
maneira  bastantemente  determinada  para  que  o  inves- 
tigador não  se  engane.  Outro  inconveniente  não  menos 
grave  doesta  classificação  he  que  não  só  ajunta  corpos 
os  mais  heterogéneos ,  mas  separa  os  que  tem  a  mesma 
composição,  só  por  terem  diflerença  de  forma.  Por 
exemplo ,  o  spatho  íluor  e  o  spatho  pesado  formão  não 
menos  de  três  espécies  neste  systema.  Em  geral  esta 
classiGcação  e  todas  as  que  tem  a  mesma  base  não 
merecem  a  menor  consideração. 


Resenha  Analytica^  35 

Entre  os  systemas  da  segunda  classe  tem  lium  dis- 
lincto  lugar  os  de  Werner  e  de  Hausmann.  Werner 
não  coordenou  o  seu  systema »  o  qual  só  se  pode  col"» 
ligír  dos  trabalhos  dos  seus  discípulos ,  que  não  con-^ 
cordão  todos  y  visto  que  o  mestre  não  cessou  de  mo- 
dificar a  sua  classificação  em  quanto  viveo.  M.  Berzelius 
nota,  antes  de  tudo,  e  com  razão ,  a  impossibilidade 
de  conciliar  os  caracteres  chy micos  com  os  exteriores, 
e  portanto  de«approva  a  base  da  classificação  de 
Werner  e  todas  as  mais  que  se  fundão  no  mesmo 
principio.  Mas ,  independentemente  d'esta  observação 
fundamental  y  mostra  M.  Berzelius  as  muitas  incon" 
sequencias  que  se  encontrão  na  classificação  do  pro^ 
fessor  de  Freyberg. 

Eis-aqui  hum  esboço  do  systema  de  Werner.  Consta 
de  4  Classes  :  i*.  Fosseis  térreos  ;  a*.  Fosseis  salinos  , 
3^».  Fosseis  inflammaveis ;  e  4*.  Fosseis  metalUcos.  A  pri- 
meira classe  comprehende  9  géneros  ,  a  saber  í  —  1^.  o 
diamante  ;  'i^.  o  zirconio  ;3o.  o  silicioso  \^^.o  argiloso ; 
5«>.  o  magnesiano  ,  ô**.  o  calcário  >  70.  o  barytico ,  8<>.  o 
strontianio  ,690.  o  hallite*  A  segunda  classe  compõe^ 
se  de  4  géneros ,  os  carbonates  >  os  nitrates ,  os  mu* 
riates  e  os  sulphates.  A  terceira  consta  de  4  géneros  ^ 
o  enxofre ,  o  bituminoso ,  o  grapbite  ,  o  resinoso.  A 
((uarta  comprehende  em  11  géneros  todos  os  metaes 
conhecidos  até  ao  tempo  do  autor* 

M*  Berzelius  nota  com  razão  a  impropriedade  de 
pôr  o  diamante  ,  que  he  hum  corpo  inQammavel ,  ao 
pé  do  zircone ,  e  a  inconsequência  de  fazer  hum  ger 

3  * 


36  Resenha  Aruãrtica. 

nero  do  liallite  derivado  do  grego  a>c ,  ^al ,  e  qu«  s6 
comprehende  dois  saes  insolúveis  na  agua,  o  borate  de 
magnesia  ( boracite  )>  e  o  fluate  duplo  de  aluminia  é^e 
soda  ( chryoltte  ) ,  quando  nos  géneros  precedentes  se 
encontra  o  spatho  fluor^a  apatite  e  outros  fosseis  salinos 
Bão  menos  insolúveis  nem  menos  duros  (fue  os  que  for- 
mão o  género  kalUte,  Tudo  isto  nasce  de  não  ter  Werner 
encontrado  no  género  magnesiano  outro  fóssil  que  ti- 
vesse analogia  exterior  com  o  borate  de  magnesia  > 
como  no  género  aluminoso  não  achou  hum  que  se 
parecesse  exteriormente  com  a  chryolite  ou  fluate  duplo 
de  aluminia  e  soda.  Werner  sacrificou  pois  os  carac* 
teres  chymioos  ao  desejo  de  dispor  os  mineraes  em 
classes  fundadas  nos  caracteres  tirados  da  semelhança 
exterior. 

Outra  inconsequência  do  systêma  de  Werner  ^ 
considerado  chymicamente ,  he  disseminar  os  saes , 
quasi  sem  ordem  pelas  outras  classes ,  em  vez  de  os 
comprehender  todos  na  segunda  que  lhes  he  consa- 
grada. Assim,  por  exemplo,  acha-sa  o  gesso  e  o  spatho 
flúor  debaixo  do  género  calcário ;  o  boracite  está  de- 
baixo do  hallite  da  primeira  classe  ;  o  sulphate  de 
magnesia  e  os  vitriolos  estão  entre  os  sulphates  da  se- 
gunda ;  e  os  arseniates  e  phosphates  de  ferro  e  de  cobi'€ 
se  achão  com prehend idos  debaixo  dos  géneros  ferro  e 
cobre  da  quarta  classe. 

Parece  que  a  intenção  de  Werner  fora  de  pôr  os 
saes  solúveis  junto  ás  suas  bases ,  e  os  saes  insolúveis 
junto  aos  seus  ácidos ;  mas  até  nisto  se  aflasta  Werner 


Resenha  Analordca.  i^ 

do  principio ,  pondo  os  tungstates  de  cal  e  de  ferro , 
que  ambos  são  insolúveis ,  no  género  do  radical  do 
acido* 

No  arranjo  interior  do  systema  não  são  menores  as 
inconsequencias ,  e  sempre  causadas  pelo  desejo  de 
formar  grupos  naturaes,que  Wemer  chama  sippschaft\ 
d' onde  resulta  que  muitas  substancias  análogas  estão 
separadas y  e  outras  que  diderem  estão  reunidas. 

O  systema  de  Hausmann  he^  assim  como  o  de 
Werner,  fundado  sobre  buma  base  cfaymica ,  mas 
nelle  os  mincraes  são  distribuídos  em  grupos  segundo 
os  seus  caracteres  exteriores ,  os  quaes  determinão  o 
lugar  que  deve  occupar  cada  espécie.  Este  systema  tem 
oi5  mesmos  defeitos  radicaes  que  o  de  Wemer,  se  bem 
que  seja  mais  consequente  em  quanto  á  parte  chymica. 

He  dividido  em  duas  classes  ,  a  i*.  dos  corpos  com- 
bustíveis, isto  he  dos  corpos  oxydaveis  e  das  suas^  com- 
binações mutuas ;  a  a**,  dos  corpos  incombustíveis.  A 
primeira  classe  divide-se  em  três  ordens,  i<«.  dos  cor- 
pos inflaminaveis ,  e  he  subdividida  em*  duas,  a  dos 
corpos  simples,  e  dos  corpos  combinados  entre  si;  a 
2*.  ordem  comprehende  os  metaes  e  suas  ligas ;  a  3l*.. 
os  mineraes  ou  sulphm*etos  metaUicojs. 

A  segunda  classe  comprehende  quatro  ordens ;  a  i*.. 
a  dos  oxydos  que  são  bases  salinaveis,  subdividida 
lo.  em  oxydos  metallicos,  parte  puros  e  parte  combi- 
nados  entre  si  ou  com  as  ten*as,  ou  com  os  oocydoides^ 
e  !à^^  em  terras  ,  formando  dois  grupos  j^  i^^  o  das.teiraa 


38  Resenha  Analyiica. 

simples  ou  não  essencialmente  combinadas  com  outra 
substancia  ,  e  s^'.  das  compostas ,  isto  he  combinadas 
chymicamente  entre  si ,  ou  com  oxydos  metallicos  ou 
cora  oxydoides.  A  2*.  ordem  he  a  dos  oxydoides ,  ou 
corpos  que  não  são  nem  ácidos  nem  bases  snlinaveis  : 
taes  são ,  na  opinião  de  M.  Hausmann ,  o  ar  atmosphe- 
rico  e  a  agua,  A  3*».  ordem  comprehende  os  ácidos , 
e  a  4^.  os  saes,  de  que  forma  três  subdivisões  y  a  saber 
i«.  saes  térreos,  em  dois  grupos ,  i<>.  com  base  de 
aluminia ,  'iP.  com  base  de  magnesia  ;  a^.  subdivisão , 
saes  alcalinos  y  nos  grupos  seguintes  :  —  !<>•  com  base 
de  soda ;  a^.  —  de  potassa  *,  3<^.  —  de  ammonia ;  4°-  — 
de  cal*,  5<^.  —  de  sti*ontiana ;  6°.  —  de  barytes.  A  terceira 
subdivisão  comprehende  os  saes  metallicos  em  nove 
grupos,  a  saber ,  i*'.  com  base  de  oxydo  de  prata  ;  a*>. 
— -  de  mercúrio ;  3^.  —  de  cobre  ;  f^^.  —  de  ferro  j  5«.  — 
de  manganese ;  60.  •*-  de  chumbo  j  'j®,  —  de  zinco  j  8<*^ 
•*-  de  cobalto ;  9^.  -^  de  nickel. 

Depois  de  ter  feito  esta  classificação  geral  distinbue 
os  mineiaes  em  familias  ,  em  substancias  ,  formações  e 
variedades.  Chama  substancia  hum  gi'upo  de  corpos 
inorgânicos  cujos  caracteres  exteriores  se  parecem, 
mas  que  se  distinguem  por  alguma  propriedade ,  tanto 
exterior  como  chymica,  dos  mais  corpos  inorgânicos. 
As  diílerenças  entre  os  corpos  do  mesmo  grupo  ou 
substancia  produzem  o  que  M.  Hausmann  chama/or- 
maçoes ,  e  as  diíTerenças  accidentaes  nos  membros  de 
buma  mesma  formação,  dão  origem  ás  variedades. 

A  base  chymica  doeste  systema  não  he  susceptível 


Resenha  Analytica.  Zc^ 

de  objecção ,  excepto  em  quanto  á  Ordem  Oxydoides , 
a  qual  o  seu  autor  diz  que  só  adoptara  provisoria- 
mente. Mas ,  assim  como  Werner,  para  juntar  em  hum 
grupo  corpos  que  se  parecem  pela  sua  dureza  e  trans- 
parência, sacrificou  o  principio  chymico,  assim  M. 
Hausmann ,  para  não  alterar  o  arranjamento  chymico  y 
sacrificou  o  principio  da  analogia  dos  caracteres  exte- 
riores, pondo  na  primeira  Ordem  da  sua  primeira 
Classe  o  diamante ,  o  enxofre  e  o  gaz  hydrogeneo  y 
corpos  os  mais  dessemelhantes  em  quanto  ao  seu  ha- 
bito exterior;  isto  bastaria  para  lhe  ter  feito  ver  a 
impossibihdade  de  se  servir  simultaneamente  dos  dois 
principios  de  classificação ,  visto  que  não  basta  que  a 
classificação  geral  concorde  com  o  principio  funda- 
mental ,  mas  he  alem  disso  necessário  que  todas  as^ 
subdivisões  se  liguem  com  elle.  Por  isso  M.  Hausmann^ 
levado  da  analogia  dos  caracteres  exteriores ,  sacrifica 
muitas  vezes  a  esta  a  analogia  de  composição  chy- 
mica. 

He  de  notar  que  ,  tanto  Werner  como  Hausmana 
seguirão  o  principio  chymico  com  bastante  exacçào , 
na  distribuição  dos  mincraes  metallicos  e  salinos,  e 
que  só  na  classe  das  pedras ,  propriamente  dittas,  he 
que  confundu*ão  os  dois  principios*  Isto  me  parece 
provar,  diz  M.  Berzelius,  que  estes  autores  reconhe- 
cerão a  necessidade  de  seguirem  strictamente  o  prin- 
cipio chymico  todas  as  vezes  que  era  possível  conhecé- 
lo.  Mas  se  a  preferencia  dos  principios  chymicos  de 
classificação  he  reconhecida  em  huma  par.te  do  sys-^ 


4i  ReseiAa  Analytica. 

tema  mineralógico  y  he  impossível  que  o  não  seja  para 
todas  as  mais. 

Entre  os  systemas  fundados  exclusivamente  sobre 
principios  cbymicos  cita  M.  Berzelius  o  de  Karsten  e 
o  de  M.  Haiij. 

Karsten  admilte  as  quatro  classes  de  Werner,  a 
saber ,  terras ,  saes ,  corpos  combustíveis  e  metaes.  A 
classe  das  teiTas  comprebende  as  famílias  seguintes : 
zirconia,  yttria  ,  silicia,  aluminia,  magnesia,  cal, 
strontiana  e  barytes.  A  clâfsse  dos  saes  contém  todos 
os  saes  solúveis  em  agua  >  dispostos  segundo  os  seus 
ácidos.  Os  saes  térreos  insolúveis  estão  postos  junto 
ás  suas  bases,  e  os  saes  metallicos  junto  aos  metaes. 
A  terceira  classe  comprebende  os  mineraes  combustí- 
veis, simples  e  compostos.  A  quarta  classe  compre* 
hende  todos  os  mineraes  que  contém  substancias  me- 
talUcas  I  excepto  os  siliciates  de  ferro  e  de  manganese» 

Este  systema  be  mui  superior  aos  antecedentes ,  e 
oQerece  ideias  mais  claras  e  correctas  sobre  a  natureza 
das  producções  do  reino  mineral ,  se  bem  que  involve 
ainda  não  poucas  contradicçôes  em  quanto  á  applica- 
ção  dos  princípios ,  achando-se  nelle  muitas   substan^ 
cias  mal  collocadas.  A  parte  a  mais  defeituosa  doeste , 
assim  como  de  todos  os  mais  systemas  ,  be  a  que  diz 
respeito  ás  combinações  da  silicia  (  oxydo  de  silicium  ) 
com  outros  oxydos ,  nas  quaes  a  silicia  faz  as  vezes  de 
acido,  e  que  M.  Berzelius  chama  siUcates  e  que  nos 
parece  mais  próprio  denominar  siliciates ^  cuja  natu- 
reza era  mui  pouco  conhecida  antes  de  M*  Berzelius. 


Resenha  Anafyúca,  4» 

O  sjsteroa  de  M.  Haúy  he  muito  mais  conhecido ,  e 
para  o  tempo  em  que  foi  feito  he  o  mais  consequente 
de  todos.  M.  Berzehus  dedicou  ao  seu  illustre  autor 
este  novo  sjstema  de  mineralogia ,  e  com  a  generosa 
franqueza  própria  dos  grandes  homens  fez  em  breves 
palavras  hum  pomposo  elogio  de  hum  sábio  em  quem 
outros  terião  ^visto  hum  rival.  Eis-aqui  a  dedicatória 
de  M.  Berzelius  a  qual  honra  tanto  quem  a  faz  como 
quem  o  recebe. 

Ao  Senhor 
RENATO-JUSTO  HAIJY, 
cujo  engenho  elevou  a  Mineralogia  ao  grão  de  Sciencia. 
Tributo  do  respeito  e  da  admiração  do  Autor. 

Pouco  diremos  de  systema  de  M.  Haiiy,  não  só  por 
9er  mui  conhecido,  mas  porque  o  seu  autor  está 
preparando  huma  nova  edição  d'elle  na  qual  sem  du- 
vida fará  desapparecer  algumas  imperfeições  e  porá 
a  sua  classificação  ao  par  dos  conhecimentos  recente- 
mente' adquiridos  sobre  a  natureza  dos  alcalis ,  sobre 
as  combinações  das  terras  y  etc. 

Eis-aqui  a  exposição  geral  do  systema  de  M.  Haiiy. 

PRIMEIRA  CLASSE.  Substancias  acidiferas. 

Primeira  Ordem,  Substancias  acidiferas  livres. 
Segunda  Or^ífm.  Substancias  acidiferas  térreas^ 
Terceira  Ordem.  Siibst.ncias  acidiferas  alcalinas. 
Quurta  Ordem.  Substancias  acidiièras  alcahno-terrcas. 


4^  Resenha  Anàl^ca^ 

SEGUNDA  CLASSE.  Substancias  térreas. 

TERCEIRA  CLASSE.    Substancias   combusUveis 

nào  metallicas. 

Primeira  Ordem.  Sul)stancias  simples  ;  2».  substancias 
compostas. 

QUARTA  CLASSE.  SuBstancias  metaUicas. 

Primeira  Ordem.  Nâo  òxydaveis  immediatamente. 

Segunda  Ordem.  Òxydaveis  e  reduziveis  immediata* 
mente. 

Terceira  Ordem.  Òxydaveis ,  mas  não  reduziveis  imme- 
diatamente. 
a.  Sensivelmente  dúcteis,  b.  Não  dúcteis. 

Neste  sjstema  todos  os  saes  estão  debaixo  das  snas 
))ases9  ou  elles  sejão  solúveis  na  agua  ou  não,  excepto 
os  tungstatesy  que  estão  collocados  junto  ao  seu  acido* 
A  segunda  classe  comprehende  os  siliciates  com  bases 
alcalinas,  térreas  e  de  oxydo  de  ferro.  M.  Haiiy  os 
ajuntou  sem  pertender  dar-lhes  huma  ordem  scienti- 
ilca  ;  começa  pelos  mais  simples  e  duros,  e  acaba  pelos 
menos  duros  e  térreos.  A  classe  dos  metaes  he  distri- 
buída de  maneira  tão   bem   entendida  que,  a  pezar 
de  quantos  descobrimentos  se  tem  feito ,  nào  he  pos- 
sivel  fazer  nella  a  menor  alteração ,  o  que,  attendendo 
aos  escassos  conhecimentos  sobre   a  composição  dos 
mineraes  na  epocha  em  que  M.  Haiiy  formou  o  seu 
systema ,  he  prova  da  rara  sagacidade  d'este  sábio  em 
descobrir  a  verdade,  ainda  quando  lhe  faltavâo  os  meio6 


^  llesenlia  Ana\ytica»  43 

cuílicientes  de  investigação.  O  estudo  assiduo  das  fór* 
mas  crystailínas  e  das  relações  das  suas  variedades 
com  certas  formas  primitivas  fizerào  ,  por  assim  dizer, 
adivinhar  a  M.  Haiiy  os  resultados  da  analyse  chy- 
mica  y  e  o  puzerào  em  estado  de  determinar  de  huma 
maneira  mui  positiva  o  que  deve  ser  considerado  como 
espécie  particular ,  isto  be  como  combinação  cbymica 
I  definita. 

Por  bum  eíTeito  necessário  do  metbodo  adoptado 
por  M.  Haiiy  foi-lbe  forçoso  não  dar  bum  lugar  na 
sua  classificação  a  mineraes  dos  quaes  não  tinba  ainda 
cabal  conbecimento ,  o  que  sendo  digno  de  louvor 
não  deixou  de  ser  censurado  por  críticos  superficiaes 
que  preferem  conjecturas  a  conhecimentos  positivos. 
As  imperfeições  do  systema  de  M.  Haiiy  provém  uni- 
camente do  estado  dos  conhecimentos  na  epocha  em 
que  elle  foi  disposto  ;  e  M.  Berzelius ,  com  modéstia 
mas  não  sem  verdade ,  diz  que  o  novo  systema  que 
elle  propõe  deve  considerar-se  unicamente  como  huma 
applicação  dos  descobrimentos  cbymicos  recentes  ao 
systema  de  M.  Haiiy. 

Vamos  agora  dar  buma  ideia  do  systema  de  M.  Ber- 
zelius, o  qual  cada  dia  vai  merecendo  mais  a  appro- 
vação  dos  sábios,  não  se  lhe  tendo  até  agora  feito 
crítica  alguma  solida.  M.  Berzelius  respondeo  ás  ob- 
jecções pouco  fundadas  que  lhe  fez  M.  Hausmann^e 
a  Memoria  em  que  refuta  este  mineralogista  vai  in* 
duida  DO  presente  Tratado. 


44  Resenha  Analytica. 

He  evidente  » diz  M.  Berzelius  ,  que  o  principio  que 
serve  de  base  á  classirieação  das  substancias  metallicas 
deve  igualmente  applicar-se  aos  outros  mineraes, 
visto  estar  hoje  provado  que  as  teiras  e  os  alcalis 
não  são  outra  cousa  mais  que  oxydos  metallicos,  e 
que  todas  as  combinações  de  corpos  ozydados  devem 
ser  consideradas  como  saes ,  que  tem  as  suas  bases 
simples  ou  compostas  e  os  seus  ácidos ,  e  entre  estes 
deve  contar-se  a  silicia ,  o  oxydo  de  tantalio ,  o  oxydo 
de  titânio,  etc.  He  pois  necessário  classificar  todas 
as  combinações  de  corpos  oxydados  da  mesma  ma- 
neira que  os  saes  >  isto  he ,  ou  debaixo  da  sua  base  ou 
do  seu  acido. 

O  systema  de  M.  Berzelius  compõe-se  de  duai 
classes ;  a  primeira  he  formada  dos  corpos  simples ,  e 
dos  compostos  que  são  combinados  segundo  o  princi- 
pio da  natureza  inorgânica  \  a  segunda  comprehende 
os  que  seguem  os  princípios  da  composição  orgânica. 

A  primeira  classe  he  subdividida  em  familias ,  e  cada 
corpo  simples  pode  formar  huma  familia.  As  íamilias 
são  distribuídas  em  ordem  tal  que  principião  pelo 
corpo  simples  o  mais  electro-negativo ,  o  oxygeneo,e 
depois  delle  vão-se  seguindo  os  corpos  á  medida  que 
tendem  mais  e  mais  a  ser  electro-positivos ,  e  a  serie 
se  termina  pelo  mais  electro-positivo  de  todos,  o  po* 
tassium.  M.  Berzelius  determinou  as  propriedades 
electro-chy micas  dos  corpos  simples  pelo  seu  grão  de 
oxydaçào  que  he  dotado  das  affinidades  as  mais  ener- 


Resenha  Analytica,  4^ 

gicàs.  Para  ajudar  a  memoria  divide  as  famílias  em 
ordens  y  da  maneira  seguinte, 

i».  Ordem.  M etalloides ,  ou  corpos  combustíveis  sim- 
ples que  nào  possuem  os  principaes  caracteres  dos 
metaes ;  taes  são,  por  exemplo,  o  enxofre,  o  bore, 
o  carvão. 

2*.  Ordem.  Metaes  electro-negativos ;  isto  he ,  cujos 
oxydos  tem  mais  tendência  a  fazer  as  vezes  de  acido 
que  de  base,  nas  suas  combinações  com  outros  corpos 
oxydados<  Taes  são  o  arsénico ,  o  chrome ,  o  molyb- 
dene,  o  antimonio,  o  titânio  e  o  silicium. 

3*.  Ordem.  Metaes  electi'o-negativos ,  cujos  oxydos 
formão  de  preferencia  bases  salinaveis;  esta  ordem 
comprehende  todos  os  outros  metaes ,  e  contém  duas 
subdivisões,  a  i".  dos  melaes  cujos  oxydos  se  deixào 
reduzir  pelo  carvão  da  maneira  ordinária ,  e  compre- 
hende os  metaes  antigamente  conhecidos ;  a  segunda 
encerra  os  metaes  que  se  nào  deixào  reduzir  pelos 
meios  ordinários.  Estes  últimos  são  os  radicaes  dos 
alcalis  e  das  terras. 

M*  Berzelius  diz  que  esta  distribuição  pode  servir 
até  que  novos  descobrimentos  nos  dêem  noções  claras 
e  seguras  para  fazer  huma  disposição  mais  correcta 
e  mais  perfeita  em  quanto  ás  propriedades  eléctricas 
dos  corpos.  Incluio  o  silicium  entre  os  metaes  electro* 
negativos ,  a  pezar  de  parecer  por  algumas  experiên- 
cias de  M.  Davy  que  elle  tem  muita  analogia  com  os 
metalloides ,  nào  só  porque  este  ponto  não  está  ainda 


46  Resenha  Analytic€u 

determinado,  mas  porque  de  collocar  o  silicium  entre 
os  metaes  electro-negativos  resulta  maior  vantajem 
para  toda  a  classificação  mineralógica. 

As  bases  da  disposição  das  espécies  mineraes  em 
cada  familia  são  expostas  por  extenso  no  Tratado  que 
analysamos ,  e  nelle  se  devem  ler. 

O  arranjo  systematico  não  abranje  senão  os  mine- 
raes puros ,  ou  de  tal  modo  confundidos  que  a  vista 
não  perceba  nelles  mistura  apparente. 

Cada  espécie  he  composta  dos  mesmos  ingredientes 
nas  mesmas  proporções.  A  mais  pequena  addicão  de 
huma  substancia  que  possa  fazer  parte  essencial  da  com** 
binação  produz  huma  nova  espécie.  Até  ao  presente 
não  temos  meio  algum  de  saber  se  huma  substancia  he 
ou  não  essencial  em  hum  mineral,  senão  observando 
as  modificações  produzidas  na  sua  forma  crystallina  ,  e 
algumas  vezes  pelo  conhecimento  de  huma  com  bina- 
ção  análoga  que  podemos  formar  nos  nossos  labora*^ 
tórios.  Por  esta  razão  considera  M.  Berzelius  o  gesso 
anhydro  como  huma  espécie ,  e  o  gesso  com  agua  de 
crystallisação  como  outra,  o  stilbitc  como  huma  es- 
pécie e  a  chabasia  como  outra ,  a  pezar  da  pequena 
diíTerença  na  proporção  dos  ingredientes.  As  experiên- 
cias recentes  de  M.  Mitscherlich  ,  de  que  damos  noticia 
na  segunda  parte  d'este  tomo  coníirmào  maravilhosa- 
mente o  acerto  do  paitido  que  tomou  M.  Berzelius , 
pois  mostrão  a  grande  importância  da  agua  de  crys* 
tallisação  sobre  a  forma  dos  crystaes. 

A   mesma    espécie    pode    mostrar -se  debaixo    de 


Resenha  Analxtica.  47 

áiííerentes  variedades  de  cor  e  de  transparência , 
de  formas  crystallinas  e  segundarias ,  e  com  misturas 
adventícias.  As  duas  primeiras  variedades  nào  pertenr* 
cem  a  huma  classificação  systematica ,  e  só  intcressào 
a  Mineralogia  descriptiva.  Porém  as  variedades  que 
provém  de  misturas  adventicias  merecem  considera- 
ção. O  principio  de  M.  Berzelius  he  coUocar  hum 
mineral  com  mistura  de  partes  estranhas  invisiveis 
debaixo  da  espécie  da  qual  elle  possue  os  caracteres 
os  mais  notáveis y  como,  por  exemplo, a  forma  crys- 
tallina ;  e  só  se  aOasta  doeste  principio  quando  huma 
substancia  toma  a  forma  de  outra  da  qual  só  contém 
mui  poucas  partes  por  cento.  Assim  y  por  exemplo  ^ 
coUoca  debaixo  do  carbonate  de  cal  todas  as  misturas 
ci7Stallisadas  doesta  espécie  com  carbonate  de  ferro 
e  de  manganese ;  mas  o  carbonate  de  ferro  que  não 
contém  senão  5  ou  G  por  loo  de  carbonate  de  cal 
he  posto  na  familia  do  ferro ,  se  bem  qup  pareça  fun- 
dido no  molde  dos  crystaes  de  carbonate  de  cal.  Se 
em  casos  taes  quizessemos  ,  diz  M.  Berzelius ,  attender 
só  ás  formas  crystallinas ,  isto  nos  desviaria  do  prin- 
cipio do  nosso  systema ,  que  he  fundado  na  compo- 
sição chymica  e  não  em  circumstancias  accidentaes , 
como  o  são  formas  estranhas  communicadas  por  cau- 
sas pouco  conhecidas  á  substancia  que  se  trata  de 
classificar.  Na  enumeração  systematica  que  M.  Berze- 
lius dá  no  fim  da  sua  obra ,  põe  mui  poucas  misturas 
de  mineraes ,  e  essas  escreve-as  em  letras  itálicas  para 
as  distinguir  das  espécies ,  e  dá-as  quasi  como  meros 
exemplos. 


48  Resenha  Anályticã, 

Os  mineraes  de  cada  família  sào  distribuídos  «m 
géneros  cby micos  ^  como  sulpliuretos ,  oxydos,  sul- 
phates ,  muriates ,  etc.  Por  exemplo »  o  género  sulphate 
da  família  do  fen^o  contém  quatro  espécies  ,  a  saber , 
o  vitríolo  verde  ,  o  vitríolo  rubro ,  a  occa  vitriolica  ou 
ferro  sub-sulpbatado  teireo^eo  feiTO  sub-sulphatado 
resinite.  O  género  siliciate  da  família  das  terras  con- 
tém muitas  vezes  bum  grande  numero  de  espécies 
das  quaes  a  maior  parte  tem  duas  bases,  e  a  mais 
forte  d'ellas  determiua  a  que  família  o  siliciate  deve 
pertencer.  He  necessário  formar  subdivisões  dos  síli- 
ciates,  em  razão  das  differentes  bases  addicionaes.  Em. 
cada  buma  doestas  subdivisões  o  numero  das  espécies 
pode  augmentar  muito  por  duas  causas ,  i^.  porque 
a  base  dupla  pode  ser  composta  de  bum  numero 
diíTciente  de  moléculas  de  cada  base  simples ;  e  i®. 
porque  as  bases  podem  achar>se  em  grãos  diilerentes 
de  saturação  com  a  silicia.  Algumas  vezes  as  duas 
bases  estão  saturadas  igualmente ,  e  outras  a  base  a 
mais  forte  está  mais  saturada  de  silicia  que  a  mais 
frouxa. 

A  segunda  classe  de  M.  Berzelius ,  que  se  compõe 
das  substancias  fosseis  em  que  ba  restos  de  corpos  or- 
ganisados  ,  deve  ser  disposta  por  bum  principio  análogo 
ao  da  bistoria  natural  dos  corpos  orgânicos ,  isto  be , 
em  grupos,  cujos  diversos  membros  tem  aflinidade 
de  formas  exteriores  ,  visto  que  os  elementos  são  sem- 
pre os  mesmos  e  só  varião  nas  proporções.  Esta  classe 
be  dividida  em  seis  géneros ,  principiando  por  aquelles 


Mesenlia  Analjrtica^  4^ 

em  que  òs  vestígios  do  estado  primitivo  estão  mais 
bem  conservados ,  e  acabando  por  aquelles  em  que 
a  alteração  he  tal  que  não  restão  signaes  da  origem 
donde  procedem.  A  classe  he  terminada  pelos  saes 
fosseis  dos  quaes  hum  dos  princípios  conslituentes  he 
orgânico  ;  estes  são  :  o  sulphate  e  o  muriate  de  am* 
monia ,  e  o  mellate  de  aluminia  (  mellilithe  ). 

M»  Berzelins  nota  que  seria  igualmente  possível  ar* 
ranjar  os  mineraes  segundo  os  seus  elementos  electro* 
negativos» 

As  taboas  que  terminâo  a  obra  estão  dispostas  em 
columnas ;  a  primeira  conlêm  o  género  chymico,  a 
segunda  o  nome  do  mineral,  e  a  este  despeito  M* 
Berzelins  ado^Ha  geralmente  a.  nomenclatura  de  M« 
líaiiy;  a  lerccíra  columna  contém  as  formulas  que 
exprimem  a  composição  dos  mineraes,  e  a  quarta  as 
citações  das  analyses  sobre  as  quaes  estas  formulas 
forào  calculadas.  Muitas  d  eUas  precisão  sem  duvida 
coiTCCções  ,  mas  só  o  tempo  pode  rectificar  o  que 
nellas  pode  haver  de  inexacto.  M.  Berzelins  admittio 
algumas  analyses  de  chymicos  celebres ,  fundado  nas 
quaes  formou  espécies  particulares  de  mineraes  ,  que , 
debaixo  de  hum  ponto  de  vista  crystallographícO;  não 
podem  ser  consideradas  como  taes;  porque  não  se 
julgou  ,  diz  elle  ,  autorisado  a  rejeitar  hum  resultado 
sem  primeiro  ter  verificado  estar  errado.  A  pedra  dp 
Labrador  pode  servir  de  exemplo,  tíe  considerada 
como  liuma  variedade  de  fcldspatho^  mas  Klaproth 
Tom*  X  P.  i*.  4  A. 


5o  Resenha  Analyiica. 

nâo  achou  nella  potassa  ,  e  por  conseguinte  não,  pode 
ser  hum  feldspatho  ,  se  com  eifeito  a  analyse  de  Kla* 
proth  he  exacta. 

Empregou  duas  sortes  de  formulas  ,  as  chjmicas  e 
as  mineralógicas ,  e  para  as  distinguir  imprimio  as  se* 
gundas  em  letras  itálicas.  As  formulas  mineralógicas 
não  dependem  de  hypothese  alguma  ^  e  não  são  mais 
que  liiima  expr  ssão  extremamente  simples  da  com- 
posição qualitativa  e  quantitativa  de  hum  mineral.  Já 
no  artigo   do    Tomo  VII  dêmos  ideia  das  formulas 
chymicas  de  M.  Berzelius.  As  mineralógicas  constão 
de  huma  ou  duas  letras  inicíaes  que  indicão  a  sub* 
stancia  principal,  por  exemplo  «S.  silicia.  St.  stron* 
tiana,  etc.  Quando  o  primeiro  caracter  não  he  prece- 
dido nem  seguido  de  numero  algum,  he  signal  que  a 
quantidade  de  oxygeneo  d'este  primeiro  corpo  he    a 
unidade  na  formula;  hum  numero  á  esquerda  denota 
hum  numero  igual  de  unidades  semelhantes;  e  hum 
pequeno  numero  á  direita  e  em  cima  denota  huma 
quantidade  de  oxygeneo  que  he  hum  múltiplo  do  oxy* 
geneo  da  substancia  antecedente.  Por  exemplo  o  spatho 
em  laminas,  em  que  a  siiicia  contém   duas   vezes  o 
oxygeneo  da  Glncina  ,exprime-se  pela  formula  G  5*. 
As  formulas  complicadas  são  formadas  das  simples  { 
humas  e  outras  devera  estudar-se  na  obra  de  M.  Ber- 
zelius ,  para   se  familiarisar  o  leitor  com  ellas  ,  visto 
que  hoje  começào  a  ser  adoptadas  por  muitos   dos 
mais  distinctos  mineralogistas. 

F*  b*  C« 


Resenha  Anal(^ca^  5i 


EXPOSIÇÃO 

Dos  productos  da  Industria  nacional  ^  em  Paris  ^ 

em  18194 


^^^^^ê%^^i^l^^ 


(QUARTO  ARTIGO.) 

Chàpelaeia. 

A  chapelaria  franceza  he  superior  a  muitas  outras ', 
na  qualidade  do  feltro ,  e  excede  todas  na  tinta  e  no 
preparo.  Nestas  duas  ultimas  cousas  tem  havido  grande 
melhoramento,  depois  de  1816.  A  Commissão  fez 
menção  honorifica  de  três  fabricantes,  que  mais  se 
distinguirão  neste  objecto,  e  deo  huma  medalha  de 
bronze  a  M,^^  Manceau  e  companhia ,  de  Patis ,  por 
ter  exposto  chapeos  tecidos  coia  sed^  jipc^itando  a 
palha ,  ligeiros ,  de  hum  agradável  effeiti^,  e  de  preços 
módicos ;  ramo  novo  de  industria ,  que  he  de  esperai; 
possa  substituir,  para  o  uso  ordinário,  os  chapeos  de 
palha  de  Toscana. 

TurTuftÁiiiA. 

Observações  geraes^ 

A  arte  da  tinturaria  não  se  tem  adiantado  menos 
em  França » do  que  a  da  fiação  e  a  da*&]>ricaçã9  dot . 

4* 


S%  Mesenha  Analytica. 

tecidos;  a  Exposição  de  1819  apresentou  provas  convin- 
centes d'esta  verdade. 

Gonseguio-se  substituir  a  cochenilha  ,  para  tingir  a 
Jan  ,  por  duas  substancias  diiTerentes.  Applícou-se  á 
teda  o  azul  de  Prússia,  e  conseguio-se  hum  azul  mais 
perfeito  ,  do  que  o  que  se  obtinha  pelos  meios  antigos- 
Descobtio-se  hum  verde  solido  para  a  impressão  sobre 
os  tecidos  de  algodão  \  e  o  vermelho  adquirio  ,  sobre 
os  mesmos  tecidos ,  maior  vivacidade.  Conseguio-se 
fixar  no  fio  de  linho  cores  que ,  até  agora ,  só  se  tinha 
conseguido  fixar  sobre  o  algodão  \  achou-se  o  meio  de 
extrahir  e  de  combinar  os  principies  colorantes  do 
cartbamo ,  da  cochenilha  ,  do  kermes ,  e  dos  paos  pro* 
prios  pai*a  a  tinturaria ,  de  sorte  que  se  obteve  empregá-- 
los em  estado  de  extrac  to  ,  o  que  facilita  as  operações, 
diminue  a  mão  d'obra  e  produz  cores  mais  vivas. 

Tinias  em  Icau 

Ha  annos  que  M.  Gonin^  tintureiro  de  LySo,  fomeceo 
do  commcr^t^  peças  de  panno  escarlate >  tintas  só« 
ffiente  com  a  ruwa  :  esta  bella  côr  pareceo  tão  boá  ^ 
como  a  rue  se  obtém  por  meio  da  cochenilha ;  porém 
expostas  ambas,  por  tempo  de  seis  semanas ,  á  impres^ 
são  da  atmosphera ,  a  côr  da  ruiva  esmoreceo ,  sen^ 
perder  o  tom  de  escarlate,  ao  mesmo  passo  que  a 
da  cochenilha  tornou-se  avinhada,  conservando,  com- 
tudo,  grande  fundo  de  côr.  M.  Gonin  ,  em  1819  expoz 
amostras  da  maior  belleza,  nas  quaes  procurou  dar 
á  cor  escarlate  a  maior  solidez  que  pod^  de^eiar-se. 


HeseriJta  Anàfyúca.  53 

A  Commissão  julgou  este  tintureiro  digno  da  distinc* 
ção  y  que  já  tinha  merecido ,  sendo  contado  no  nu- 
mero dos  homens  que  tem  concorrido  para  os  proges« 
SOS  da  industria. 

M.  Beawisagej  tintureiro  em  Parts,  obteve  humà 
medalha  de  prata ,  por  ter  sido  o  primeiro  qne  em- 
pregou em  França  a  laca -laca  na  tinturaria ,  e  aper- 
feiçoou o  seu  uso  f  para  tingir  de  escarlate  a  lan ,  de 
que  ezpoz  excellentes  amostras. 

Tintas  em  seda» 

O  mais  importante  descobrimento  y  qne  se  tem  (eito 
para  tingir  a  seda  ,  he  o  emprego  do  azul  de  Priissta  ^ 
em  vez  do  anil.  A  côr  he  mais  viva,  mais  agradável, 
e  tem-se  conseguido  dar-lhe  todas  as  variações  que  se 
podem  desejar.  Este  invento  deve- se  a  M.  Raymond^ 
de  quem  esta  côr  toma  hoje  o  nomCs  chamaudo-se 
azul-raymond. 

A  respeito  de  tintas  em  seda ,  hum  tintureiro  de 
Tours  e  dois  de  Avinhào ,  todos  três  discipulos  da  es- 
chola  dos  Gohelins  ^  merecerão  menções  iionuriticas , 
por  terem  exposto  amostras  de  dillerentes  còrcs  de 
grande  vivacidade  e  belleza,  e  sobre  tudo,  mui  lixas* 

Tintas  em  linho. 

He  sabido  qne  o  cânamo  e  o  linho  se  tingem  mais 
diíficilmeiíte  do  que  o  algodão,  e  que  nellcs,  as  cores 
nunca  se  conseguem  nem  tão  fixas ,  nem  tão  bri- 
lhantes :  este  inconveniente  he  o  que  alé  agora  loi  çav^ 


^4  Resenha  jánalytica. 

os  fabricantes  de  lenços  de  linho  a  empregar  o  algodão , 
para  formar  as  cercaduras  e  quadrados  vermelhos, 
roxos  e  côr  de  castanha  ,  com  que  se  guarnecem  estes 
tecidos :  na  Exposição  apparecêrão  amostras  de  tintas 
qm  linho ,  que  fazem  esperar  grandes  melhoramentos 
a  este  respeito,  em  consequência  do  que,  dois  tintu- 
reiros merecerão  medalhas  de  bronze, 

Tintas  em  algodão. 

Ha  apenas  quarenta  annos  que  os  tintureiros  gregos , 
estabelecidos  no  Languedoc,  introduzirão  em  França 
a  bella  còr  da  ruiva ,  de  cujo  processo  fazião  hum 
segredo ;  hoje  porem ,  os  melhoramentos ,  que  tem 
obtido ,  fazem  d'este  objecto  huma  paite  importante 
da  industria  franceza.  A  arte  já  não  se  contenta  de 
produzir  cores  muito  superiores  ás  que  se  conhecião 
então  do  Levante ;  mas  consegue  todas  as  variedades 
de  tons ,  desde  o  encarnado  côr  de  sangue  de  boi ,  de 
Madrás ,  até  ás  variedades  as  mais  delicadas  da  côr  de 
rosa  •,  obtém  desde  a  côr  de  castanha  mais  escura  , 
até  ao  mais  claro  lilás ;  e  dá  a  todas  as  cores  tal  so- 
lidez, que  as  mais  fortes  barreias  não  conseguem 
alterá-las. 

Esta  industria  em  França  nasceo  em  Montpellier , 
aperfeiçoou-se  em  Ruão;  nesta  ultima  conseguio  humia 
superioridade,  com  a  qual  nenhum  paiz  da  Europa 
pode  rivalisar. 

  Commissão  notou  nos  objectos  d'este  género ,  que 
concorrerão  á  Exposição ,  hum  melhoramento  consi* 


Resenha  Analytica.  55 

deravel  sobre  a  Exposição  antecedente  ;  porém ,  mais 
que  tudo  ,  fixou  a  sua  attençào  em  duas  cousas,  i*.  na 
constância ,  por  meio  da  qual  os  tintureiros  consegui- 
rão finalmente  fazerem-se  senhores  do  processo ,  ao 
ponto  de  vencerem  todos  os  inconvenientes  próprios 
de  operações  longas  e  difficeis  ,  pelas  quaes  he  neces- 
sário empregar  dez  ou  doze  substancias  diSerentes,  a 
fim  de  obter  a  solidez  das  cores  ;  i>.  a  igt  aldade^  que 
se  observava  em  todas  as  cores  ,  de  todos  os  géneros, 
ainda  nas  variedades  mais  delicadas. 

A  Commissão,  depois  de  ter  declarado  que  M.fíoardy 
antigo  Director  da  Eschola  de  tinturaria  dos  GoLelinSy 
e  M.  Fitalisy  professor  de  chymica  especial  em  Lyão  > 
deviào  ser  contados  no  numero  dos  homens,  que  mais 
poderosamente  tem  contribuído  para  o  progresso  da 
industria  franceza »  destinou  neste  ramo  huma  meda- 
lha de  prata  e  seis  menções  honorificas^ 

Ciura  e  Preparo. 

MM.  Gombert  e  Michelez ,  de  S.  Deniz  ,  expozerão 
pannos  de  linho,  curados  pelo  processo  BertholUano 
(  de  M.  BerthoUet),  de  huma  alvura  excellente;  a 
Commissão  observou  ,  particularmente ,  lenços  ,  cujo 
fundo  estava  perfeitamente  branqueado  ,  sem  perjuizo 
das  cores  das  guarnições ,  o  que  mereceu  aos  sobre- 
dittos  branqueadores  huma  medalha  de  prata ;  outro 
tanto  obteve  M.  Caron-Langlois  de  Beauvais. 

M.  Julien  Delarue  mereceu  ser  contado  no  numero 
dos  altistas  úteis  á  industiia  franceza » e  M.  AnquetUr 


S6  Resenha  Analjrtica. 

Desmarets  alcançou  hunia  medalha  de  bronze,  por 
terem  exposto  ambos,  alem  de  ouU*os  objectos,  gangas 
tão  bem  preparadas,  que  imitavào  perfeitamente  as 
da  índia. 

ImpressIo  sobre  estoffos* 

Sobre  panno  \de  lan. 

Na  Exposição  ,  de  que  tratamos ,  distingutrão*se  os 
pannos  e  outros  estolTos  de  lan ,  sobre  os  quaes  se 
achavão  impressos  em  relevo  desenhos  mui  variados 
€  agradáveis,  que  representavào  bordado ,  e  que, pela 
perfeição  ,  lhe  erão  superiores.  Estes  estoQos  são  pró- 
prios para  moveis. 

  Commissão  destinou  medalhas  de  bronze  a  M. 
Lojffctf  de  Paris ,  que  expoz  hum  chalé  de  merinos , 
com  huma  cercadura  de  flores  com  as  cores  mais 
bellas,  e  que  tinhào  sido  imprimidas;  e  a  MM.  Z>e- 
menou  e  Delamberia  também  de  Paris,  por  terem 
apresentado  hum  tapete  de  ponto  de  agulha  ,  com 
desenhos  de  cores ,  applicadas  por  meio  de  impressão. 
Objecto  que  muito  se  dislinguio. 

peludos  d UtrecH.  Neste  artigo,  obti verão  medalhas 
de  bronze  três  fabricantes ,  e  mereceo  menção  hono- 
rifica outro ,  que  expoz  os  ornatos  e  desenhos  no  ve- 
ludo ,  de  cor  diílercnte  do  fundo. 

Sohre  panno  de  algodão. 

A  fabricação  das  chitas  tem  tido  grande  melhora* 
mento  *,  não  só  o  gosto  dos  desenhos  se  tem  aperfei- 


Resenha  Analytica.  S7 

coado ,  porém  achou*  se  o  meio  de  produzir  cores  y  que 
todos  os  esforços  da  arte  aioda  não  tinhào  podido 
obter. 

M.  Widmer ,  de  Jouy ,  descobrio  huma  c6r  verde  # 
que  se  (ixa  no  panno  de  algodão ,  e  que  se  faz  de  liuma 
só  vez  y  sem  ter  necessidade  de  combinar  successiva- 
mente  o  amarello  e  o  azul.  Todas  as  fabricas  reco- 
nhecem hoje  a  vantajem  d'este  verde.  Conseguio-se 
tingir,  com  encarnado  de  Andrinopla ,  os  pannos  de 
algodão  em  peça ,  e  deo-se  a  esta  côr  huma  igualdade 
e  huma  belleza ,  que  ,  até  agora ,  só  se  tinha  podido 
conseguir  no  algodão  em  íio.  Alem  d*isso » tem-se  sim- 
plificado os  processos  mechanicos  de  execução;  a  acção 
rápida ,  continua  e  regular  do  cylindro  substitue  hoje 
a  npplicaçào  lenta  ,  successiva,  e  muitas  vezes  inexacta 
das  chapas  de  madeira  ;  e  descobrirão-se  agentes  chy- 
micos  j  que  tem  o  poder  de  esmorecer  a  côr,  e  dar-lhe 
os  diversos  tons  ,  que  se  requerem  ,  ou  de  a  comer  in- 
teiramente ,  de  modo ,  que  torne  a  apparecer  o  branco, 
sem  detrimento  do  estoflb.  M  .Daniel  KcechUn ,  de 
Mulhausen,  achou  os  meios  de  tirar  tão  vantajoso 
partido  do  vermelho  d'Ândhnopla  ,  que  até  então  não 
sofiria  esta  operação. 

Neste  ramo  de  industria ,  M.  Oberkampfy  estabele- 
cido em  Jouj,  MM.  Gros-Da\^illier ,  Roman  e  compa- 
nhia em  Wesserling  e  em  Paris ,  MM.  Kceciúin  e  ir- 
mãos, Heilman  e  irmãos,  Dolfns-Aíieg  e  companhia  , 
Hofer  e  companhia,  todos  estabelecidos  em  Mulhausen, 
Haussmann  e  irmãos,  em  Colmar,  obti verão  medalhas 


58  jResenha  AnàfyUea. 

de  ouro,  pelos  preciosos  productos  d»s  suas  fabricas 9 
distinctos ,  nào  só  pela  perfeição  dos  tecidos  y  mas  pela 
belleza  da  impressão  e  variedade  e  perfeição  das  cores* 
Mais  seis  fabricantes  receberão  medalhas  de  prata  ,  e 
doisy  medalhas  de  bronze,  pelo  merecimento  dos  ob- 
jectos d*este  género ,  productos  das  suas  fabricas. 

Couros  e  Pidlles. 

Processo  de  cuTiidor» 

A  Commissão ,  reconhecendo  que  o  processo  está 
muito  adiantado  nas  fabricas  de  sola  em  França  , 
comtudoy  achou  que  os  progressos  neste  género,  nào 
tem  sido  muito  sensiveis,  depois  da  ultima  Exposição; 
porém  y  ainda  assim  mesmo  ,  entendeo  que  dois  fabri- 
cantes devião  obter  ue^te  lamo  medalhas  de  prata; 
hum,  medalha  de  bronze;  dois,  menção  honoriíica,e 
outros  dois ,  menção  simples. 

Processo  de  surrador- 

Quanto  ás  pelles  ,  a  Commissão  achou  que  a  classe 
dos  surradores  não  tinha  concorrido  em  grande  nu- 
mero á  Exposição ;  porém  entendeo  que  M.  Brélder^ 
de  Rennes,  merecia  huma  medalha  Je  [rata,  pela  per- 
feição com  que  tinha  tral)alhado  huma  pelle  de  vacca, 
a  qual,  á  belleza  do  couro  amarello  ,  próprio  para  as 
sellas,  juntava  a  solidez  do  couro  alisado  para  sola; 
a  Commissão  entendeo  que  o  producto,  de  que  falía- 
mos ,  era  liutn  dos  niais  bellos  qiie  se  podem  obter  neste 
género. 


Resenha  jánalytica.  Kg 

Alem  d'esle ,  mais  cinco  fabricantes  obtiverão  meu* 
çôes  honoriíicas,  e  dois ,  menções  simples. 

Camurcas  e  Lu^as, 

Os  artigos  de  camurcas  e  luvas  não  concorrerão  em 
grande  abundância ,  porém  nelles  obteve  hum  fabri* 
cante  medalha  de  bronze ; cinco  ,  menções  honorificas; 
^  quatro,  menções  simples. 

Pergaminhos* 

Hum  fabricante  obteve  menção  honorifica ,  por  ter 
apresentado  pergaminhos  perfeitamente  preparados , 
que  já  lhe  tinhào,  merecido  a  mesma  honra  ,  pa  ultima 
Exposição. 

Marroquins. 

A  fabricação  de  man^oquins  estabeleceo-se  em  França 
no  principio  d'este  século;  na  Exposição  de  i8oi  MM- 
Fauler  e  Kempff  apresentarão  productos ,  os  quaes , 
sendo  então  reconhecidos  superiores  aos  maiToquins 
do  Levante  e  aos  das  melhores  fabricas  da  Europa, 
obtiverão  áquelles  fabricantes  huma  medalha  de  ouro. 

Desde  então ,  esta  arte  tcm-se  propagado,  e  tem 
feito  progressos  verdadeiros,  não  só  quanto  á  belleza , 
mas  ainda  pelo  que  respeita  á  diminuição  de  pi*eço, 
o  que  lhe  dá  hoje  huma  superioridade  decidida  na 
industria  franceza. 

M.  Matler,  de  Paris,  que  já, na  ultima  Exposição, 
tinha  merecido ,  por  este  objecto ,  huma  medalha  de 


6o  Resenha  Analyticã. 

prata  ,recebeo  em  181 9  huma  de  ouro.  Os  productos, 
que  elle  expoz,  sào ,  disse  a  Couimissào ,  o  que  se  tem 
visto  mais  perfeito  neste  género  ,  tanto  pela  belleza  do 
preparo ,  como  pela  das  cores-  Todos  os  artistas  fran- 
^cezes  preferem  boje  as  pelles  da  fabrica  de  M.  Matler 
ás  mais  belias  que  vem  de  fora ,  e  comtudo  ,  aquellas 
\endem-se  por  preços  inferiores.  Outro  fabricante  me- 
reccoy  neste  ramo  ,  a  medalba  de  prata»  e  três  obtiverão 
menções  honoríficas. 

Couros  ens^ernizados. 

A  arte  de  applicar  os  vernizes  nos  couros  nasceo  em 
França )  também  no  principio  doeste  século ,  e  os  seus 
productps  apparecérào ,  pela  primeira  vez  ,  na  Exposi- 
ção de  1802 y  e  merecerão,  já  então  ,  aos  seus  autores 
huma  medalha  de  f)rata.  Flsta  arte  tem  continuado 
a  fazer  progressos ,  e  boje  não  só  se  applica  aos  cou- 
ros y  mas  ao  papel  e  ao  feltro. 

A  Commissào  )ulgou  dever  cenfirroar  a  M.  Didier^ 
de  Parts  y  a  honra  que  tinha  obtido ,  de  huma  medalba 
de  prata ,  na  Exposição  antecedente ,  não  só  por  ter 
melborado  aquelle  processo,  mas  pela  perfeita  fabri- 
cação de  uslensilios  de  mesa  e  de  serviço  domestico, 
que  expoz ,  feitns  de  couro  ,  ou  de  feltro  envernizado} 
oulro  fabricante  alcançou  menção  honorifica. 

Sapataria. 

M.  Boucher^  de  Paris ,  obteve  huma  menção  sim- 
ples, pelos  excelleutc;»  sapatos  corio-claves  ^  (  sem 
costura  )• 


Resenha  Anàfyiióa*  6í 

FáBIUCAB  de  PAPEb« 

PapeL 

Antigamente  acfaava*se  que  os  papeis  de  França  erâo 
mal  collados  ;  o  que ,  talvez ,  resultava  de  ser  o  trapo 
macerado  de  mais  :  porém  hoje  este  defeito  emendou- 
66 ,  e  não  só  a  fabricação  do  papel  ordinário  se  tem 
adiantado  muito  neste  paiz ;  porém  os  preços  ponjae 
se  pagava  o  papel  Kno  estrangeiro  ,  convidarão  os  fa- 
bricantes a  não  se  pouparem  ao  grande  cuidado  ne- 
cessário para  o  fabricarem  em  França.  De  tudo  resulta 
que  a  arte  de  fazer  o  papel  se  acha  hoje  neste  pais 
em  estado  de  progressão.  Accresce  a  isto  que  desde  i8i  i 
elle  possue  hum  estal)olecimento ,  onde  a  fabricação 
ordinária  do  papel  se  faz  por  meio  de  machinas,  ideia 
que  já  em  1798  M.  jRo&erf  tinha  suscitado. 

Esta  fabricação  y  por  machinas  ,  ainda  não  iguala  a 
perfeição  dos  productos  obtidos  á  mão ;  porém  tem 
conseguido  já  hum  grão  d^ella  muito  bom  ,  para  o  uso 
ordinário ,  e  visto  que  muitos  artistas  se  occupão  boje 
em  aperfeiçoaras  machinas ,  ou  em  inventar  outras  ^ 
he  de  esperar  que ,  em  breve ,  a  grande  perfeição  se 
obtenha. 

Neste  ramo  importante ,  aCommissão  distribuio  três 
medalhas  de  ouro,  duas  de  prata,  três  de  bronze,  e 
seis  menções  honorificas. 

Papelões  para  dar  lastro. 

Os  papelões ,  chamados  para  dar  lustro ,  servem  part 


63  Resenha  AnaJytica. 

os  pannos :  dobra-se  o  panno,  de  modo  que  cada  buma 
das  partes  da  sua  superfície  esteja  em  contacto  com 
a  do  papelão ;  e  por  melo  de  buma  forte  pressão ,  em 
hum  certo  grão  de  temperatura ,  o  panno  recebe  o 
lustro,  que  be  o  ultimo  preparo,  e  buma  operação 
essencial  y  por  ser  das  que  mais  influem  nos  com- 
pradores. Não  ba  mais  de  cíncoenta  annos  que  os 
francezes  tiravão  do  estrangeiro  todo  o  papelão 
necessário ,  para  este  uso »  ás  suas  manufacturas  de 
pannos.  Na  Exposição  de  que  nos  occupamos ,  os  pro- 
ductos  dVste  ramo  de  industiia  obtiverào  ji  buma 
medalba  de  prata ,  e  duas  de  bronze. 

Papeis  pintados. 

A  applicação  ao  desenbo  ,  que  se  acba  boje  tão 
propagada  em  França,  e  que  entra  geralmente  na 
educação  das  classes  industriosas ,  tem  produzido  nos 
consumidores  o  tacto  para  avaliar,  e  nos  artistas  o 
gosto  para  executar,  c  ambas  estas  circumstancias 
concorrem  para  o  alto  grão  de  perfeição  em  que  se 
acba  boje  neste  paiz  a  fabricação  do  papel  pintado. 

M.  Jacçuemart  f  de  Paris,  foi  julgado  digno  da  me- 
dalba de  prata,  que  já  na  ultima  Exposição  tinba 
obtido  ;  e  distinguiorse  nesta ,  especialmente  ,  por  bum 
novo  meio  que  emprega  para  imitar  no  papel  os  orna- 
tos em  ouro.  Mais  dois  fabricantes  obtiverão  a  mesma 
distincção  ;  outro  mereceo  buma  medalba  de  bronze^ 
e  dois,  menções  bonòriíieas. 


Resenha  Anafytica,  ^ 

4  Preparação  dos  metaes* 

Ferro^ 

Em  1807  não  existia  em  França  senão  hum  esta* 
belecimento  de  forjassem  que  a  mina  de  ferro  fosse 
fundida  per  meio  do  carvão  de  pedra  carbonisado ,  e 
em  nenhuma  se  sabia  fazer  uso  do  ferro  carbonetado 
térreo  j  espécie  de  mina  que  se  acha  nas  de  carvão  de 
pedra ,  e  a  que  certas  foijas  estrangeiras  devem  a  sua 
celebridade,  e  a  abundância  e  o  baixo  preço (}os  seas 
productos.  Em  nenhuma  parte  ,  em  França,  se  procu- 
rava esta  mina  preciosa  ;  porém  a  Expoaiçào  de  que 
tratamos ,  já  provou  que  a  industria  íranceza  se  tinha 
apercebido  de  hum  tal  descuido  »  c  actualmente  estão- 
se  formando  grandes  estabelecimentos  para  seguir  este 

ramo. 

» - 

Alem  disso ,  os  processos  para  preparar  o  ferro , 
vào-se  melhorando  consideravelmente ,  não  só  pelo 
que  toca  á  perfeição /mas  também  á  economia,  ks 
fabricas,  para  a  preparação  doeste  importantíssimo  me- 
tal ,  vão-se  multiplicando  em  França  de  modo ,  que 
boje  conta  358  fornos  altos  ,  e  98  forjas  catalãos.  Cada 
anno 9  os  primeiros  produzem  ,  pouco  mais  ou  menoSi 
i4o:ooo  quintaes  métricos  de  objectos  de  ferro  fundido^ 
e  64<J*ooo  de  ferro  forjado ;  as  segundas  dão  ,  pouco 
mais  ou  menos,  i3o:ooo  quintaes  métricos  de  ferix» 
forjado. 

Já  na  ultima  Exposição ,  a  Commissãio  se  tinha  con- 
vencido de  que  a  França  era  mais  ricca  em  bons  fer* 


64  Jlesenha  Anaífticãé 

ros  9  do  que ,  até  então,  se  tinha  julgado ;  a  Exposição 
actual  confirmou  o  mesmo  \  e  he  de  esperar  que  os 
progressos  da  industria , neste  género ,  obtenbào  para  os 
ferros  fr^ncezes  huma  diminuição  no  preço ,  qualidade 
em  que ,  por  ora ,  são  inferioi^s  aos  estrangeiros. 

MM.  PaiUot  e  VAhhé ,  expozerào  barras  de  ferro  e 
laminas  para  canos  de  espingarda.  Estes  ferros  forào 
fabricados  por  meio  de  hum  processo  novo ,  inventado, 
ha  dois  annos,por  M.  Dufaad\o  qual  consiste  em 
passar  o  ferro  entre  cylindros ,  em  vez  de  o  bater.  As 
laminas  forào  obtidas  por  meio  de  huma  macbina  , 
que  fabrica  mil  laminas  por  dia ,  e  que  lhes  dá  muito 
maior  regularidade ,  do  que  temas  que  se  fazem  pelo 
methodo  ordinário.  A  Commissão  concedeo  a  estes 
fabricantes  huma  medalha  de  ouro. 

MM.  Blumenstein  e  Frerejean^  pela  boa  qualidade 
dos  ferros  da  sua  fabrica,  e  por  terem  introduzido 
nella  o  processo  inglez,até  agora  não  usado  em  França^ 
obtiverào  huma  medalha  de  prata.  Mais  onze  fabri- 
cantes conseguirão  menção  honorifica.- 

Aço, 

Muito  tempo  havia  que  já  se  fabricava  aço  em  In* 
glaterra  e  em  AUemanha,  quando  MM.  BerthoUet, 
Monge  e  Vandermonde  em  1786  fizerão  conhecer  a 
composição  d'elle ,  em  que  elle  didere  do  ferro ,  e  o  que 
constitue  a  operação  da  sua  formação.  A  França  fa- 
bricava o  aço  natural ;  mas  até  então  quasi  que  des- 
conhecia a  fabricação  do  aço  cementado  e  do  aço 
fundido. 


Resenha  Ahafyticà^  65 

Nâ  Exposição  de  1801  não  apparecérão  atno^tra^ 
de  aço.;  nade  iSoti^ muito  poucas;  na  ultima^  mais 
algumas >  as  quaes  a  Commissào  achou  então,  por 
meio  de  experiências ,  todas  boas ,  e  algumas  excel^ 
lentes.  Desde  essa  epocha  começarão  a  generalisar-si» 
as  fabricas  de  aço  por  toda  a  França;  porém  ainda 
assim  mesmo,  só  em  1 809  se  principiou  a  fabricar  mais 
amplamente  o  aço  fundido» 

À  Exposição  de  18 19  provotl^  que  este  grande  e  im*- 
portantissimo  ramo  se  acha  perfeitamente  estabelecido  > 
e  fornece 9 com  abundância,  as  necessidades  do  seu 
commercio.  Fabricas  de  aço,  estabelecidas  emm  De- 
pai^tamentos ,  éitpozerão  amostras  de  todas  ad  quali- 
dades ;  e  o  merecimento  doestes  productos ,  tão  vai  iíi^ 
dos ,  Como  abundantes ,  não  só  tinha  já  O  voto  dod 
compradores  franceses ,  e  a  approvação  da  Adtmhjbf" 
traçâo  das  Minas ,  mas  foi  verificado  por  experiências 
da  CommissãO)  que^  em  todo  o  sentido,  o  âchóíi 
perfeitOi 

Entre  os  fabricantes  beneméritos  ^neste  ramo,  não 
poude  a  Commissào  deixar  de  distinguir  M.  MiUeret^ 
cuja  fabrica  não  existe  senão  ha  tires  aiinos.  M.  IVIil-^ 
leret  expoz  hum  Sortimento  completto  de  açlos  de  fodoà 
os  géneros ,  necessários  ás  artes  r  desde  9  aço  natural  ^ 
até  ao  aço  fniididd  e  refinado ,  próprio  para  limas  ^ 
buris,  e  os  objectos  mais  delicados  da  cutelaria<  A 
Commissão  examinou  estes  aços  ^  com  o  maior  des-> 
velo,  e  achou-os  eminentemente  próprios (  são  pala* 
vras  suas  )  para  os  usos  aos  quaes  cada  hum  be 
Tomé  X  P*  !■-  «A 


C6  Resenha  Aruãydca. 

destinado.  Esta  fabrica  trabalha  em  grande;  os  seus 
aços  são  muito  procurados ,  e  os  baixos  preços  ^  por 
que  se  vendem ,  tem  forçado  a  diminuir  os  de  alguns 
aços  estrangeiros  mais  preciosos.  A  Commissào  des- 
tinou a  M.  Milleret  huma  medalba  de  ouro. 

Três  medalhas  de  ouro  forão  igualmente  destinadas 
a  MM.  Irroy ,  Dequenne  ,  e  Monímouceau :  mais  três 
fabricantes  obtiverão  medalhas  de  prata ;  hum  obteve 
medalha  de  bronze  ^  e  oito  conseguirão  menções  ho- 
norificas. 

Latão  e  Zinco» 

Ainda  em  1806  não  se  fabricava,  no  antigo  território 
de  França,  o  latão  bruto ,  o  qual  se  consegue  ,  ligando 
o  cobre  como  zinco ;he  verdade  que  em  alguns  dos 
Dcpaitaoientos  conquistados ,  como  nos  do  Roer  e  do 
Ourthe,  se  fazia  grande  commercio  d*aquelle  ultimo 
metal ,  que  no  seu  estado  de  oxydo  $e  chama  Cala^ 
mina ;  porém  ,  na  antiga  França ,  bem  que  se  conhe** 
cessem  algumas  minas  de  zinco ,  em  parte  nenhuma 
Se  cuidava  na  sua  excavação. 

Só  em  1810  se  naturalisou ,  no  território  da  antiga 
França ,  a  fabricação  do  latão;  e  boje  acha*se  em  plena 
actividade ,  ^  muitos  e  grandes  estabelecimentos  de 
forjas,  posto  que,  por  ora,  estes  não  possão  ainda 
bastar  para  o  consumo  do  paiz. 

Como  actualmente  a  França  já  não  tem  calamína  ^ 
desde  1818  tem  cuidado  os  fabricantes  em  verse  po- 
dem substituir  esta  substancia,  por  meio  dablcndc ,  ou 


liesi^nha  Analytica.  G7 

zinco  sulphuretado ,  de  que  o  paiz  abunda  :  a  Admt^ 
nistração  das  Minas  pvotegeo  estas  experieneias  ,  e  na 
Exposição y  de  que  falíamos,  apparecérâo  amostras  de 
latão  bruto  fabricado  com  a  blende^  em  vez  da  oa^^ 
lamina. 

Neste  ramo ,  a  Commissão  destinou  a  M .  Boúclier 
huma  medalha  de  ouro  ,  e  a  M.  Saillard  buma  men^^ 
ção  bonorificav 

Platina. 

As  excellentes  qualidades  da  platina ,  fezém  precioso 
este  metaL  De  todos  os  que  se  conhecem  he  este  o 
que  se  oxyda  mais  difficilmente  ^  e  não  he  ntacavcl 
pelos  ácidos ,  que  mais  commummcnte  se  empregão 
nas  artes ;  por  estes  motivos  y  a  platina  he  de  hum 
uso  importantissimo ,  na  consti^ucçãõ  de  instrumentou 
em  que  se  exige  p]recisão,e  para  fazer  d'ella  utensilids 
para  as  fabricas  de  ácidos  y  para  os  laboratoHos  ch^* 
micos  y  e  para  a  cozinha. 

Porém  este  metal ,  no  comniércio ,  achasse  misturado 
com  outras  substancias  metallicas ,  que  alterão  a  sua 
pureza ,  e  o  fazem  quebradiço  ^  t  difficil  de  ser  traba^» 
Ihado; 

M.  i?rea/zf,  ensaiador  da  Moeda,  achou  hum  ^ró^* 
cesso  para  purificar  a  platina ,  que  faz  este  metal  fa- 
cilmente malleável.  Este  invento  diminuio  de  modo  o 
preço  dos  utensílios  de  platina  ,  que  hoje  o  uso  d'clles, 
nas  fabricas  está  generalisadoi  A  Commissão  contou 

5  * 


68  liesenlta  Analytica. 

M.  Bréant  no  numero  dos  artístas ,  que  tem  conti  ibuido 

para  os  progressos  da  industria» 

MM*  Cuoq  e  Couturierj  de  Parts »  expozerão  hum 
grande  vaso  de  platina  inteiriço  ,  e  que  continha  aoo 
litres  de  liquido ;  alem  disso  ,  muitos  vasos  de  menor 
dimensão^  cafeteiras»  medalhas»  e  folhas  de  platina 
tão  delgadas,  como  as  folhas  de  ouro;  expozerão 
também  hum  vaso  de  cobre ,  coberto  de  casquinha  de 
platina  9  de  huma  execução  perfeita.  Â  Commissão 
destinou  a  estes  dois  fabricantes  huma  medalha  de 
prata ,  e  outra  igualmente  a  MM.  Jeannety  e  Chatenay, 
lambem  de  Pàrts ,  que  entre  muitos  productos  de  pia** 
tina ,  expozerão  grandes  regoas  do  mesmo  metal ,  des- 
tinadas para  transmittir  á  Sociedade  Real  de  Londres  , 
e  á  Academia  das  Sciencias  de  Petersburgo ,  os  padrões 
das  medidas  francezas.  M.  Michaud-Labonté  obteve  , 
neste  ramo,  huma  medalha  de  bronze. 

Estanho^ 

» 

A  extracção  do  estanho  nasceo  em  França  ,.depois 
de  1806;  naquella  epocha,  o  paiz  não  possuia  mina 
alguma  doeste  metal.  Alguns  indicios  fizerão  presentir 
duas^  e  a  Administração  Real  das  Minas  conseguio 
descobri-las  :  o  estanho  delias ,  quando  he  tratado 
com  cuidado ,  não  cede  ao  de  Malaca. 

Na  Exposição ,  de  que  damos  conta ,  apparecérâo 
productos  d'aquellas  duas  minas  ,  e  ao  lado  do  esta- 
nho provindo  d^ellas,  estava  hum  espelho  perfeito  ^ 


Resenha  AnaJytica,  ^ 

cujo  aço  era  obtido  por  meio   de  hama   folba  do 
mesmo  estanho. 

  Commissão  deo  elogios  á  Administração  Real  das 
Minas  y  por  ter  descoberto  hum  metal  tão  necessário 
e  tão  importante  para  as  artes ,  e  qae ,  até  ao  principio 
d'este  século ,  se  julgava  não  existir  em  França. 

Metal  em  lahiuas^ 
Ferro. 

Também  a  fabricação  do  ferro,em  laminas,  era  pouco 
vulgar  em  França  em  1806,  e  hoje  está  em  grande 
actividade  neste  paiz.  Ha  cinco  annos  que  se  entendia 
que  a  França  não  fabricava  o  terço  de  folha  de  ferro 
precisa  para  seu  consumo;  boje  está  em  estado. de 
fornecer  ao  commercio  interior,  todo  o  necessário- 
neste  artigo ;  e  os  seus  productos  são  da  maior  bon- 
dade ,  c  da  melhor  execução- 

Quasi  o  mesmo  acontecia  á  folha  de  Flandres ;  na- 
quella  epocha ,  este  producto  só  se  fabricava  em  hun^ 
Departamento ,  que  |á  hoje  não  pertence  á  França ; 
porém,  na  Exposição  de  1819,  apparecérão  muitas 
amostras  de  folha  de  Flandres  íranceza ,  de  grande  per- 
feição y  e  a  abundância  de  productos ,  que  hoje  existe 
neste  ramo ,  parece  ser  já  suficiente  ,  para  as  necessi- 
dades do  paiz. 

Pela  bella  fabricação  da  folha  de  ferro  obtivérão 
MM.  Boigues  ,  Débladis  e  Guérin  ,  d*lmphy  (  Nièvre  } 


7»  Resenha  Anàljtica. 

huma  medalha  de  ouro  ;  M.  Foii^ik?  ,  huma  de  prata  ; 
e  piais  quatro  fabricantes  y  menções  hoDoríficas, 

Oá  três  primeiros  obtiverão  outra  medalha  de  ouro , 
pela  excellente  folha  de  Flandres  que  expozérào ;  e 
neste  ramO)  MM.  Mertian  e  Irmãos  receberão  a  mesma 
distincçào  :  dois  fabricantes  mais  merecerão  medalha 
de  bronze ,  e  três ,  menções  honorificas. 

Cobre. 

A  fabrica  de  Romilfy  obteve  huma  medalha  de  ouro^ 
pelas  excellentes  folhas  de  cobre ,  da  mais  perfeita 
execução;  entre  ellas  havia  duas,  de  mais  de  qoatrd 
metros  de  comprido,  sobre  mais  de  dois  metros  de 
largo.  * 

Mais  ti*es  fabricas  obtiverão ,  neste  género  de  pro-* 
duelos,  menções  honorificas. 

Zinco. 

M.  Saillardyde  Paris,  expoz  folhas  de  zinco,  de 
bella  execução  ,  mui  delgadas,  flexiveis,  tiradas  com 
grande  igualdade ,  e  perfeitamente  lizas ;  a  Commis3ãa 
destinou-lhe  huma  medalha  de  prata, 

Cluimbo. 

M.  Boucher^  de  Paris,  obteve  huma  medalha  de 
bronze ,  por  ter  exposto  follias  de  chumbo  ,  de  nove 
oes  de  largo,  e  perfeitamente  fabricadas.  Mais  dois 
fabricantes  receberão ,  por  este  género  de  productos  , 
menções  honorificas. 


Resenha  jinafytíca.  7 1 

Metal  em  fio. 

A  fabricação  do  arame  de  ferro  lie  antiga  em  França; 
a  do  de  aço  conheceo-se ,  pela  primeira  vez ,  em  1806. 
Os  productos  doeste  género  em  ferro  e  em  latãa ,  que 
os  fabricantes  expozerâo  em  iSig,  são  de  huma  per- 
feição y  alem  da  qual  nada  se  pode  desejar.  O  arame 
de  aço  era  de  boa  qualidade.  A  fabricação  franceza , 
nestes  artigos  ,  be  maior  que  o  seu  consumo ,  e  o  com* 
mercio  faz  d*ella  exportação. 

M.  Mouchel  foi  julgado  digno  de  huma  medalha  de 
ouro ,  não  só  por  ter  exposto  excellentes  arames  de 
ferro  ,  de  cobre ,  de  aço  y  agulhas ,  e  cordas  de  piano  ; 
mas  porque  a  sua  fabrica  occupa  mais  de  Soo  obreiros ,. 
e  os  preços  dos  seus  productos  são  muito  moderados* 
Mais  dois  fabricantes  merecerão  medalhas  de  prata  ^ 
e  cinco,  menções  honorificas. 

No  Artigo  seguinte^  trataremos  da  fabrícaçãa  de 
utensílios  de  feiTO ,  dos  objectos  de  prata,  ouro  e  cas<- 
quinha ;  das  jóias ;  de  diversas  machinas ,  e  do  impoc<» 
(ante  ramo  de  relojaria,  etc. 

C.  X. 


99  Besenha  Anafytica. 


REFLEXÕES 

^  cerca  ãe    algumas   questões  relativas  d  Economia 
Politica ,  e  sobre  a  Obra  reçenfe  de  AT.  Makhus. 

ISe  as  questões  relativas  á  riqueza »  ao  commeroio, 
aos  preços  ,á  renda  das  terras,  fossem  propostas  ao  mais 
rude  aldeão ,  em  phrase  accommodada  á  sua  intélU* 
gencia ,  as  respostas  que  elie  daria  seriào  indubitável* 
mente  conformes  aos  principios  que  ha  hum  século 
Os  mais  hábeis  escriptores  tem  forcejado  estabelecer, 
e  persuadir  ás  classes  distinctas  e  cultas  da  sociedade» 
Tanto  he  certo  que  mais  verdades  obscurece  o  falso 
saber  do  que  a  ignorância  encobre.  Pergunte-*se  a  hum 
camponez  o  que  elle  entende  pela  riqueza  ou  pelos 
bçns  d*e$tç  miando  de  que  o  homem  pode  dispor. 
Diráy  por  exemplo,  o  nosso  aldeão  portuguez,  que 
a  sua  fortuna  ou  o  seu  remédio  são  os  frúctos  da  sua 
lavra ,  e  os  do  seu  trabalho ,  tanto  em  géneros  como 
em  dinheiro;  por  certo  não'  sustentará  o  insigne  ab« 
surdo  que  o  dinheiro  he  a  única  riqueza ,  proposição 
admittida  por  muitos  homens  acima  do  vulgar, 
que  foi  a  base  do  systema  chamado  mercantil»  e 
que  ainda  hoje  he  opinião  dominante  entre  muitoa 
dos  individuos  que  regem  estados  civilisados. 


Resenha  Ana\ytica.  78 

Pergunte' se  mais  a  qualquer  rústico,  se  em  hum  con» 
ti^acto  ou  troca  feita  por  dois  homens  em  seu  juizo 
perfeito  e  conhecendo  cada  hum  o  que  vale  a  sua 
mercadoria^hum  dos  dois  he  necessariamente  enganado 
pelo  outro ,  ou  se  para  hum  d'elles  ganhar  he  preciso 
que  o  outro  perca.  O  mais  ignorante  responderá  ne- 
gativamente a  estas  questões,  e  rirá  de  quem  lhe 
quizer  provar  que  o  pastor  que  vende  hum  carneiro 
por  huma  certa  quantidade  de  trigo ,  cujo  valor  he 
conhecido,  faz  hum  mao  mercado,  ou  engana  quem  lhe 
vende  o  grão.  Ainda  mais  rirá  qualquer  mercador  se 
ihe  disserem  que  quando  vende  o  seu  género  por 
mais  do  que  lhe  custa ,  cuidando  ganhar,  não  faz  mais 
que  trocar  yalor  por  valor,  e  que  tal  ganho  não  existe. 
E  proseguindo  assim  por  todos  os  mais  objectos  rela- 
tivos á  riqueza  e  prosperidade  das  nações ,  parece-nos 
igualmente  evidente  que  a  mais  curta  intelligencia 
basta  para  decidir  muitas  das  questões  sobre  as  quaes 
ha  tanto  tempo  disputão  os  autores ,  unicamente  pelo 
abusivo  e  variável  uso  que  fazem  dos  termos,  ou  pela 
falsa  applicaçâo  de  princípios  evidentes. 

Huma  das  causas  principaes  da  diílerença  de  opinião 
que  subsiste  ainda  á  cerca  das  mais  importantes  questões 
practicas  da  Economia  Politica ,  nasce  de  confundir  o 
interesse  dos  governos  com  o  dos  povos.  Todos  os 
governos  devem  ter  por  objecto  o  bem  dos  povos; 
porém  a  necessidade  de  manter  exércitos ,  marinha  e 
liuma  immensa  quantidade  de  empregados,  para  o 


/ 


<j4  Resenha  Anàlyticã. 

pagamento  dos  quaes  e  de  ou  tias  despezas  relatívas 
á  segurança  e  conservação  do  estado,  sào  precisos 
impostos  mais  ou  menos  onerosos.  Daqui  resulta  ine- 
vitavelmente que  ,  até  bum  certo  ponto  ,  he  necessário 
que  o  bem  geral  seja  sacrificado  a  certos  objectos 
que  interessào  mais  particularmente  quem  governa, 
e  certas  classes  da  sociedade  >  que  o  maior  numem 
dos  individuos  de  que  ella  se  compõe.  Quanto  mais  os 
interesses  dos  que  governão  se  identificarem  com.  os 
d*aquellès  que  sào  governados ,  mais  perfeito  será  • 
iysiema  de  administração  y  e  vice  versa ;  porém  ainda 
DOS  melhores  governos  be  forçoso  q«e  baja  alguma 
desigualdade  na  porçáo  do  bem  e  ^o  mal  que  toca  a 
cada  ordem  de  individuos.  A  menor  desigualdade  posr 
sivel  na  partecipação  dos  bens  e  na  parte  dos  sacrificio^ 
he  ou  deve  ser  o  objecto  de  todas  as  instituições  poliiicss 
na  sua  primeira  creaçio ;  mas  infeiizmeiite  ,  aaqueUas 
que  subsistem  ha  mutio  tempo »  nem  sempre  he  fadi 
fazer  cessai*  o  mal «  estabelecer  o  bein  ^  sem  causar  kir 
convenientes  mais  ou  menos  attendiveis ;  e  ha  casos  em 
que  o  bem  só  se  pode  obter  por  sacrifícios  momenla* 
neamente  mui  custosos  e  árduos. 

• 
Esta  he  a  razão  porque  alguns  autores,  tratandb 
dos  interesses  das  nações  abstractamente,  e  prescin*- 
dindo  da  constante  opposiçao  entre  os  seus  governos 
respectivos,  das  permanentes  rivalidades  e  guerras 
frequentes  ,  tem  aconselhado  hum  systema  de  adpiinis- 
tração  fundado  em  mera  theoria,  o  qu^  em  muitas  da$ 
suas  partes ,  he  inexecutavel  no  estado  actual  das  coa« 


Resenha,  Ãnalytica.  5  5 

sas.  Outros ,  pelo  contrario ,  querendo  que  o  futuro  seja 
em  tudo  a  imagem  do  passado  ,  e  inimigos  de  todo  a 
melhoramento ,  constituem-se  defensores  do^  abusos , 
e  pertendem ,  em  linguagem  mais  ou  menos  sopbis*» 
tica ,  que  tudo  o  que  existe  he  regulado  ^  senào  da 
melhor  modo,  ao  menos  do  melhor  possível ,  e  que 
toda  a  innovação  deve  produzir  maiores  inconvenientes 
do  que  os  que  actualmente  existem.  Alguns  doestes  • 
que  não  querem  expôr-se  a  que  as  suas  opiniões 
sejão  attribuidas  meramente  a  interesses  pessoaes^ 
convém  dos  males  enormes  que  existem  no  estado 
actual  da  sociedade,  mas  procurão  encobri-los  ou 
palliá-los,  e  em  todo  o  caso  nos  ameaçâo  de  males 
muito  maiores  ,  para  nos  dissuadir  de  tentar  melhora<^ 
mento  algum  radical ;  e  não  poucas  vezes  procurão 
involver  as  questões  as  mais  simples  e  de  obvia  so- 
lução em  tal  obscuridade,  que  as  pessoas  não  ver* 
sadas  na  matéria  se  acbào  mui  embaraçadas  para  as 
resolver. 

Entre  estes  dois  sjstemas  requer-^e  não  vulgar  dis- 
cernimento para  escolher  o  caminho,  o  qual ^  com  o 
menor  numero  de  inconvenientes  conduz  á  prosperí* 
dade  e  força  das  nações.  O  primeiro  1  que  he  o  de 
Smith  e  de  toda  a  sua  eschola ,  seria ,  com  algumas 
modificações ,  o  que  dcveríão  seguir  todos  os  povos  • 
se  hum  dia  cessassem  de  se  considerar  como  inimigos 
liuns  dos  outros :  mas  em  quanto  houver  homens  pro- 
curarão sobrepujar  os  seus  rivaes ;  e  em  quanto  durar 
esta  lutta  entre  as  nações ,  será  preciso  a  cada  huma  t 


76  Resenha  AruJyticà.  v 

para  não  se  expor  a  buma  ruína  certa  e  immediata  ^ 
consultar  as  circumstancias,  e  regular  pelas  medidas 
dos  seuà  vizinhos  os  mais  poderosois  as  suas  próprias. 
Por  esta  razão  muitas  das  máximas  de  Smith  e  de  seus 
discipulos  y  são  inapplicaveis  na  practica  ás  relações 
actuaes  entre  as  nações ,  excepto  no  que  diz  respeito 
ao  regime  interior  de  cada  húma,  relativamente  ao 
qual  he  incomparavelmente  mais  fácil  a  applicaçào 
dos  principios  geraes  da  Economia  Politica.  O  estado 
de  rivalidade  em  que  hoje  se  achào  as  nações  em 
quanto  a  industria,  commercio  e  influencia  politica, 
conduzirá  necessariamente  a  huma  grande  diminuição 
das  suas  relações  mutuas ,  tendendo  assim  a  destruir  a 
influencia  das  que  preponderão  de  mais ,  e  obrigando 
todas  a  considerarem  o  commercio  interior  como  a 
base  da  riqueza  nacional ,  base  solida ,  e  menos  sujeita 
ás  vicissitudes  funestas  do  commercio  exterior ,  cujos 
brilhantes  resultados  por  nenhum  modo  compensâo 
os  terríveis  males  que  ameaçãò  as  nações  que  sobre 
elle  fundão  o  seu  poder  e  riqueza.  Esta  revoliição, 
vai-se  executando  com  hum  progresso  rápido ,  e  será 
em  grande  parte  devida  ao  sjstema  de  alfandegas  uni- 
versalmente estabelecido  ,  e  de  prohibiçôes  e  direitos 
sobre  os  productos  estrangeiros ,  justamente  reprova- 
dos em  these  geral  pela  eschola  de  Smith.  A  nosso 
ver  será  hum  grande  bem  que  resultará  de  hum  grande 
mal. 

Hum  escriptor  já  conhecido  por  outras  Obras  pu- 
blicou recentemente  hum  novo  Tratado  de  Economia 


Resenha  Analítica»  77 

Politica,  DO  qual  reconhece  o  estado  imperfeito  da 
sciencia  y  e  a  diversidade  de  opiniões  que  sobre  im* 
portantissimos  pontos  subsiste  ainda  hoje  entre  os  mais 
distinctos  escriptores.  A  obra  a  que  alludo  he  a  de  M. 
Malthus  9  da  qual  acabo  de  publicar  huma  traducçào 
em  francez ,  a  que  ajuntei  algumas  notas. 

M.  Malthus  conhece  a  fundo  o  objecto  e  os  limites 
da  sciencia  cíijos  princípios  expõe ,  confessa  que  ella 
tem  mais  analogia  com  as  sciencias  moraes  que  com 
as  maithematicas ,  e  que  mais  se  compõe  de  verdades 
relativas  que  de  proposições  absolutas.  O  seu  objecto 
he  fazer  ver  que ,  para  pôr  em  practica  os  preceitos 
doesta  sciencia ,  he  preciso  nào  adoptar  regras  geraes 
sem  consultar  a  experiência ,  e  ainda  menos  fazer 
d^ellas  applicaçào  á  practica  sem  attender  ás  circum- 
stancias  particulares  do  caso  que  se  tiver  em  vista. 
Toda  a  sua  obra  tende  a  provar  que  a  Economia  Po- 
litica he  huma  sciencia  de  p^*oporções  ,  e  que  nella 
não  ha  verdades  practicas  absolutas. 

O  autor y  como  era  de  esperar ,  applica  os  seus 
principies  á  Gran-Bretanha ,  e  o  resultado  da  sua 
obra  ,em  quanto  a  estepaiz,  he  que  os  males  existen- 
tes não  admittem  remédio  algum  efficaz ,  pois  aquelles 
que  pareceriào  melhores  e  que  theorícamente  deve- 
riào  ser  radicaes,  causaríào  ainda  desastres  maiores. 
Isto  que  acabamos  de  dizer  em  poucas  palavras  pare- 
cerá provavelmente  exagerado  a  quem  nào  ler  a  obra, 
mas  os  que  a  examinarem  com  attençào  devem  re- 
conhecer que  a  nos&a  asserção  he  exactissima.  Coma 


^8  ItesenJiã  Ãnályicãi 

esta  conclusão  de  M.  Malthus  diz  respeito  k  hum 
paiz  que  tantos  autores  nos  ofierecem  cdmo  modelo 
para  imitar >  e  como  hum  prodígio  de  riqueza  e  pros- 
peridade, he  de  sumula  importância  examinar  o  estado 
actual  d'esta  nação ,  cuja  elevação  e  decadência  quasi 
temos  presenciado ,  e  que  huma  e  outra  podem  servir 
de  útil  lição  aos  mais  povos.  Tracemos  rapidamente 
o  quadro  da  elevação  da  Inglaterra ,  vejamos  qual  he 
o  seu  estado  actual,  e  de  factos  inegáveis  procuremos 
tirar  algumas  inferências  úteis  para  as  mais  nações , 
ainda  que  o  não  sejão  para  a  Inglaterra » 

Hum  território  extenso  e  fértil,  com  particulares 
vantajens  para  a  agricultura  e  para  o  commercio ; 
huma  nação  culta  e  industriosa,  regida  por  huma 
constituição  mui  superior  ás  dos  mais  estados  da 
l5uropa,deviào  forçosamente  desenvolver  em  Inglaterra 
todo  o  género  de  industria,  e  elevá-la  a  hum  grão 
de  força,  e  de  influencia  politica  muito  alem  do 
que  parecia  permittir  a  sua  população ,  e  seus  re- 
cursos naturaes.  Assim  aconteceo  com  effeito,  e  o 
rápido  progresso  da  industria  fabril  e  commercial  veio 
ao  mesmo  tempo  promover  a  riqueza  nacional ,  e  pal- 
liar  os  funestos  eíTeitos  da  demasiada  concentraciâo 
da  propriedade  territorial .  nas  mãos  de  poucas  fami^ 
lias  ,  a  qual ,  como  M .  Malthus  reconhece ,  hc  o  maior 
obstáculo  ao  desenvolvimento  da  riqueza  de  huma 
nação.  A  ambição  do  governo  inglez,eoseu  espirito 
de  dominação,  que  se  fortificarão  pela  inépcia  e  versátil 
poUlica  dos  mais  governos,  necessitarão  grandes  des-* 


Resenha  Ana^jrtica'  79 

pazas ,  e  obrigarão  a  Inglaterra  a  recorrer  a  empres* 
timos  successivos ,  de  que  resultou  huma  divida  na- 
cional 9  a  qual  desde  a  sua  primeira  creação  nào  tem 
cessado  de  augmentar.  Como  os  recursos  nacionaes 
augmentárão  ao  mesmo  passo  que  a  divida ,  e  até  por 
effeito  delia,  nào  se  sentio  por  muito  tempo  o  seu  peso, 
e  fez-se  pouco  caso  das  prophecias  dos  amigos  da 
pátria  que  anteviào  para  o  futuro  as  teníveis  conse- 
quências de  hum  systema  tanto  mais  perigoso  quanto 
mais  seduzia  por  vantajens  immediatas  e  quasi  mila- 
grosas. Com  eOeito,  a  facilidade  de  obter  emprésti- 
mos j  a  perspectiva  de  tirar  gi*ande  proveito  e  riqueza 
de  novas  guerras,  que  arruinando  a  industria,  nave- 
gação, colónias  e  commercio  das  mais  nações  enri- 
quecessem a  Inglaterra,  foi  causa  que  o  gabinete  de 
S.  James ,  depondo  todo  o  receio ,  e  desprezando 
as  regras  da  prudência  ,  proseguio  affouto  a  dispender 
sem  conta  nem  medida ,  e  ufano  do  constante  aug- 
mento  dos  productos  da  industria  nacional ,  e  da  na- 
vegação ,  commercio  e  conquistas  da  Gran-Bretanha , 
)ulgou-se  superior  a  todos  os  acontecimentos. 

He  verdade  que  no  meio  d*este  rápido  progresso  de 
riqueza  e  industria  nacional,  era  fácil  ao  observador 
attento  descobrir  terriveis  indicies  de  males  gravissi- 
mos  no  estado,  os  qnaes  ião  crescendo  de  dia  em 
dia ,  nào  obstante  a  apparente  e  seductora  prosperi- 
dade da  nação.  He  bem  sabido  que  Pitt,  principal 
promotor  do  systema  moderno  da  Inglaterra,  morreo 
com  a  intima  convicção  de  se  ter  deixado  illudir ,  e 


8o  Resenha  Anafytica. 

como  amante  da  pátria  deplorando  os  males  que  lhe 
tinha  causado  ^e  a  que  a  deixava  exposta.  Porém  novos 
e  espantosos  successos  (izerào  crer  aos  successores 
d' este  ministro  que  os  seus  terrores  erào  vãos ,  e  jul* 
gárão  ter  chegado,  pelo  abatimento  da  potencia  da 
França ,  a  hum  auge  de  poder  e  de  prosperidade  que 
nada  tinha  a  recear  de  acontecimentos  futuros. 

Quão  pouco  durou  esta  sonhada  ventura!  Apenas 
se  fez  a  paz  vtrào  com  pasmo  os  Inglezes  que  a  mi* 
seria  geral  das  classes  industriosas ,  e  a  diminuição  no* 
tavel  da  abastança  das  classes  medias  era  o  resultado 
dè  tantos  tríumphos  e  de  tanta  riqueza !  Com  pasmo 
e  dôr  comtemplárão  os  Inglezes  viajando  peia  Europa  ^ 
quanto  a  condição  do  jornaleiro,  nos  paizes  que  elles 
estavão  costumados  a  considerar  como  pobres  e  infeli- 
zes f  era  superior  á  dos  da  Inglaterra.  Desde  a  epocha 
de  que  falíamos  não  tem  o  povo  inglez  cessado  de  soflrer 
doestes  males ;  e  tudo  o  que,  sobre  as  causas  d^ellese 
remédios  que  se  lhes  podem  applicar,  se  tem  escripto  p 
prova  que  são  incuráveis  no  estado  presente  da  organisa*- 
ção  social  da  Gran-Bretanha ,  e  que  provém  de  causas 
que  ha  muito  operào^e  das  quaes  muitas  são  as  mesmas 
que  produzirão  o  immenso  augmento  da  riqueza  total 
do  paiz.  M.  Malthus  occupa-se  na  sua  ultima  obra 
com  grande  desvelo  em  examinar  as  causas  da  situa- 
ção </i£o/erâ^e2  da  Inglaterra  ye  procura  descobrir-lhe 
remédio.  Em  quanto  ás  primeiras ,  em  vez  de  remontar 
ás  causas  primaiías,  contenta^e  com  as  segundarias,  e 
attribue  todo  o  mal  que  actualmente  soifine  a  Inglaterra, 


Rcsenlia  Analytica'  8i 

á  stágnação  do  comtnercio  causada  pela  paz,  e  ao 
diniinuido  consumo  dos  productos  da  sua  industria ; 
cujo  resultado  he  o  ter  deixado  sem  occupaçào  mais 
de  Gooyooo  jornaleiros.  Pelo  que  toca  aos  remédios  ^ 
os  que  M-  Malthus  propõe  são  insignificantes  >  e  bem 
se   vé  que  elle  não  conhece  nenhum  efficaz,  entre 
aquelles   que  julga  compatíveis  com  a  existência  da 
constituição  politica  da  Inglaterra,  qual  ella  hoje  existe. 
M.  Malthus  quer  que  se  conserve  a  actual  divisão  da 
propriedade ,  a  divida  nacional   e  os  gastos  enormes 
do  governo ,  lião  porque  que  tudo  isto  seja  essencial- 
mente bom  e  proveitoso,  mas  por  lhe  parecer  que 
alguns  doestes  males  diminuem  outros  ,  e  que  de  huma 
reforma  resultariào  males  ainda  maiores.  Por  isso  ,  não 
he  de  admirar  que ,  buscando  rediedio  a  huma  doença 
cujas  causas  quer  deixar  subsistir ,  não  encontre  senão 
fracos  paliiativos.  Eis-aqui  os  principaes  remédios  que 
M.  Malthus  propõe  para  diminuir  a  triste  condição  das 
classes  industriosas  da  Inglaterra,  i^.  Que  os  grandes  e 
riccos  tomem  muito  maior  numero  de  criados  ^  ao.  que 
empreguem  muito  mais  trabalhadores  nas  suas  quintas 
e  casas  de  campo;  e  3^.  que  o  governo  faça  executar 
trabalhos  públicos  que  occupem  muitos  braços^  dando 
a  estes  trabalnadores  o  salário  o  mais  módico  possível  ^ 
para  que  elles  não  supponhào  que  o  paiz  está  prospero, 
e  que ,  levados  d'esta  ideia ,  não  pensem  em  casar ,  aug- 
mentando  assim  ainda  mais  o  numero  dos  desgraçados ! 
P^ào  se  requer  grande  conhecimento  da  Inglaterra » 
nem  singular  sagacidade ,  para  mostrar  que  M.  Malthus 
não  conheceo  ,  ou  antes  não  quiz  expor  as  verdadeiras 
Tom.   X  JP*  I*.  CA 


iga  Resenha  Analyúca. 

causas  a  que  a  sua  pátria  deve  ver-se  ao  mesmo  tempo 
DO  auge  da  gloria  e  no  excesso  da  miséria. 

He  manifesto  á  mais  vulgar  intelligencia  ,  que  huma 
simples  stagnaçào  do  commercio  e  das  exportações  não 
he  capaz  de  produzir  hum  estado  de  soíTnmento  pro* 
longado  por  cinco  annos^em  huma  nação  summamente 
ricca,  se  nella  não  ha  germes  de  ruina»  que  muito 
antes  se  tem  ido  nutrindo  e  desenvolvendo  no  seu  seio. 

As  causas  principaes  a  que  a  Inglaterra  deve  a  sua 
condição  actual,  e  em  razão  das  quaes,  acontecimentos, 
por  si  incapazes  de  produzir  os  males  que  hoje  soffi^  a 
nação ,  tem  occasionado  a  miséria  geral  das  três  quintas 
partes  do  povo  inglez ,  são ,  a  nosso  ver,  as  seguintes. 

i<>.  A  repartição  extremamente  desigual  da  propiie» 
dade  territorial ,  a  qual  em  Inglaterra  está  nas  mãos 
de  apenas  3o:ooo  individues. 

2<>.  Por  huma  consequência  immediata  doesta  grande 
concentração  da  propriedade ,  do  peso  enorme  dos 
impostos ,  e  da  economia  da  cultura  em  grande  das 
terras  de  pão  ,  e  de  outi*os  trabalhos  ruraes ,  be  mui 
pequeno  numero  dos  rendeiros ,  tendo  successivamente 
os  rendeiros  de  gi^andes  propriedades  absoi*vido  todos  os 
pequenos  arrendamentos.  O  numero  total  dos  proprie* 
iarios  e  rendeiros  calcula-se  ser  hoje,  em  Inglaterra  e 
Escócia  j  de  iSo^ooo ,  sobre  onze  milhões  de  habitantes. 

Z^,  Destas  duas  causas  tem  resultado  que  o  numero 
dos  indivíduos  que  cultivão  a  terra  e  vivem  imme- 
diatamcnte  dos  seus  productos,  he  incomparavelmente 


Resenha  Analytica.  83 

menor  em  Inglaterra  que  em  paiz  algum  do  mundo ,  e 
que  este  numero  tem  ido  diminuindo  ha  muitos  annos^ 
por  eOeito  de  cada  notável  melhoramento  nos  instru*^ 
mentos  da  agricultura  e  nos  processos  da  economia 
rural.  O  numero  total  das  pessoas  empregadas  na 
agricultura,  he  de  dois  milhões^ 

4^.  A  insufEciencia  dos  jornaes ,  que  apenas  bastão 
para  o  sustento  do  trabalhador  e  de  sua  mulher. 

50.  O  numero  excessivo  de  pessoas  empregadas  nas 
fabricas ,  o  qual  quasi  iguala  o  dos  agricultores ,  pois 
he  de  1:600:0004  A  pezar  da  introducçào  das  infinitas 
machinas  que  economisão  a  mão-d'obra  ,  e  das  quaes 
muitas  supprem  quasi  inteiramente  os  braços ,  a  ex- 
tensão da  industria  tem  sido  tal  em  Inglaterra,  ha  meio 
século  j  que  o  numero  dos  operários  tem  augmentado 
em  vez  de  diminuir,  não  obstante  equivaler  o  trabalho 
feito  pelas  machinas  ao  dobro  do  que   he  feito  por 
homens  \  de  maneira  que  ^  se  todo  elle  fosse  feito  por 
estes  y  occuparia  a  Inglaterra  perto  de  cinco  milhões 
de  indivíduos  nas  fabricas.  O  mal  que  resulta  de  hum 
tão  grande  numero  de  jornaleiros  fabrts  he  mui  gt*ande^ 
pois  sendo  o  consumo  do  producto  das  fabricas  pre- 
cário y  e  exposto  a  mil  vicissitudes  imprevistas  e  irre« 
mediáveis,  particularmente  quando  a  extracção  dos 
seus  productos  depende  em  grande  parte  dos  mercados 
estrangeiros ,  qualquer  stagnaçâo  considerável   basta 
para  obrigar  os  fabricantes  a  despedirem  muitos  dos 
seus  operários,  e  a  restringirem  a  sua  fabricação;  estei 
desgraçados  não  podem  mudar  de  occupaçào,  nem 


I. 


84  Resenha  Anàlcrtica. 

ainda  que  pudessem,  achariào  em  que  ganhar  a  sua 
vida  y  e  de  hum  dia  para  o  outro  se  vêem  reduzidos 
á  mais  horivel  miséria ,  tanto  mais  que  os  seus  sala* 
rios  y  ainda  quando  os  ganhão  j  são  ainda  mais  escassos 
que  os   do   agricultor  :  isto  procede  do  gi^ande   nu* 
mero  de  homens  que  ,pela  actual  distribuição  da  pro* 
priedade  em  Inglaterra ,  não  tem  outro  recurso  senão 
trabalhar  nas   fabricas.  D*esta  concuirencia  nasce  o 
baixo  preço  da  mão-d'obra  ,  sem  o  qual  seria   impos- 
sivel  aos  fabricantes  inglezes  sustentarem  nos  mercados 
estrangeiros  a  concurrencia  das  mais  nações  ,  a  pezár 
da  economia  que  as  machinas  empregadas  em  grande 
dão  á  industria  ingleza.  Alem  disto ,  como  a  conserva- 
ção das   machinas  não  requer  senão  huma  despeza 
insignificante,  comparada  com  os  salários  dos  operários 
e  com  o  sustento  dos  animaes,  e  como  o  producto 
delias  he  o  dobro  do  dos  braços,  segue-sc  que  todas 
ars  vezes  que  o  dono  de  huma  fabrica  se  vir  obrigado  a 
fazer  economias  por  falta  de  extracção  dos  seus  produc* 
tos , elle  diminuirá  o  numero  dos  operários,  e  procu- 
rará com  os  que  conserva,  e  com  a  ajuda  das  machinas, 
fabricar  quanto  lhe  pareça  sufficiente  ;  e  até  pode  des- 
pedir todos   por  algum  tempo ,  se  a   suspensão   da 
fabricação  lhe   parecer  menos  damnosa   aos  seus  in- 
teresses futuros  do  que  a  continuação,  ainda  diminuta, 
da  fabricação.  As  fabricas  que  tem  por  base  hum  sys- 
tema  de  machinismo,  gozão  da  propriedade  particular, 
que  podem  deixar  de  ti*abalhar  e  de  novo  ser  postas 
em  acção  quando   convenha  ao  dono,  sem  que  isto 
comprometta  as  faculdades  productivas  das  machinas. 


Resenha  Analítica.  85 

Outro  tant(mão  acontece  á  terra  ,  ou  ás  arvores,  que 
deixadas  sem  cultura  em  certas  estações ,  ou  por  certo 
tempo  y  perdem  por  muitos  annos  consecutivos  a  sua 
faculdade  de  produzir. 

Por  esta  e  outras  muitas  razões  obvias,  quanto  maiov 
for  o  numero  dos  homens  empregados  na  agricultura, 
especialmente  sendo  elles  proprietários  do  terreno ,  me- 
nos risco  haverá  de  miséria  entre  as  classes  laborio- 
sas. E  quanto  maior  for  o  numero  dos  individues 
empregados  nas  manufacturas  de  objectos  de  expor- 
tação, cnjo  consumo  depende  de  mil  circumstancias 
exteriores  ao  paiz ,  mais  estará  a  nação  exposta  á$ 
calamidades  que  hoje  soíTre  a  Gran-Bretanha. 

6^,  Por  huma  consequência  do  systema  das  machir 
nas,  e  da  superior  vantajem  do  emprego  de  grandes 
capitães ,  tanto  nas  fabricas  como  na  agricultura ,  he 
tão  diminuto  em  Inglaterra  o  numero  de  pequenos 
rendeiros  de  terras ,  como  o  de  fabricas  pequenas  ; 
isto  ainda  tende  mais  a  concentrar  as  fortunas,  e  a 
augmentar  o  numero  dos  proletários ,  que  não  pos* 
suem  mais  que  o  seu  trabalho^ 

7°.  O  enorme  peso  dos  impostos,  com  todos  os  seus 
eOeitos  bem  conhecidos ,  e  optimamente  descriptos  por 
M.  Say  no  seu  Tratado  de  Economia  Politica, e  por 
outros  escriptores. 

8<>.  X  immensa  quantidade  de  excellentes  terrenos 
destinados,  a  dar  pasto  para  hum  numero  de  cavallos 
de  luxo ,  que  se  calcula  em  Inglaterra  ser  de  mais  de 
900^000  cabeças  i  e  exigir  para  seu  sustento  hum  milhão 


8S  Resenha  Anafytica 

de  acres  ou  geiras  inglezas  ^  que  he  quasi  a  terça  parta 

das  teiTassemeadasdepào,  avaliadas  em  3yo8o,ooo  ocre^. 

Vejamos  agora  o  quadro  actual  da  Inglaterra,  segundo 
os  escriptores  que  menos  podem  ser  suspeitados  de  o 
quererem  afear. 

A  Inglaterra  tem  hum  capital  immenso ;  huma  agri- 
cultura mui  aperfeiçoada ,  hum  commercio  superior  ao 
de  todas  as  nações  ^  manufacturas  cujo  productohe  pro- 
digioso,  6  que  tem  ido,  até  ha  pouco,  sempre  crescendo, 
bum  governo  que  dispõe  de  riquezas  incalculáveis ,  e 
goza  de  huma  preponderância  extraordinária  nas  qu^o 
partes  do  mundo.  A  nação  consta ,  sem  fallar  na 
Irlanda ,  de  onze  milhões  de  habitantes ;  d*esteSy  mais 
de  hum  decimo  está  obrigado  a  recorrer  á  caridade 
do  publico  para  existir,  e  três  quintos  da  nação 
sofireni  privações ,  a  que  não  se  acha  exposta  huma 
Igual  proporção  dos  habitantes  do  paiz  considerado 
como  o  mais  pobre  da  Europa. 

Em  geral ,  o  jornaleiro  inglez  he  tão  mal  pago  que  , 
para  elle  e  huma  pequena  familia  poderem  subsistir»  he 
pi^ciso  que  a  nação  pague  hum  imposto ,  cujo  pro* 
dueto  annqal  he  hoje  de  perto  de  oitenta  milhões  de 
cruzados ,  do  qual  se  dá  a  cada  familia  necessitada 
de  trabalhadores  o  que  lhe  falta  para  poder  sus- 
tentasse. A  prova  que  o  mal  radical  de  que  falíamos 
não  he  recente,  he  a  existência  d*este  imposto»  cha- 
mado dos  Pobres,  que  foi  estabelecido  ha  mais  de 
dois  séculos ,  e  que  está  em  pleno  vigor  ha  mais  de 
cem  annos.  Para  rematar  este  quadro,  diremos  que, 


Resenha  Analytica.  87 

tendo  a  riqueza  e  productos  da  Inglaterra  multipli- 
cado extraordinariamente  ha  século  e  meio ,  a  sua  po- 
pulação apenas  tem  dobrado  no  mesmo  espaço  de 
tempo  y  e  he  hoje  evidentemente  mui  inferior  á  fertili- 
dade do  seu  território ,  e  á  immensidade  dos  seus  pro- 
ductos e  recursos. 

Tiraremos  pois  d'esta  resumida  exposição  de  ver- 
dades incontestadas ,  as  seguintes  conclusões. 

1*.  A  felicidade  de  huma  nação  não  pode  medir-sè 
só  pela  quantidade  e  valor  total  dos  seus  productos. 

a*.  A  riqueza  e  recursos  do>^overno  e  das  classes 
opulentas ,  não  indicão  o  estado  feliz  do  maior  nu^ 
mero  dos  cidadãos. 

Z^.  A  demasiada  proporção  de  individues  que  não 
possuem  outra  propiedade  mais  que  o  seu  trabalho  cor* 
poreo  y  he  signal  de  huma  péssima  distribuição  da  ri- 
queza,  e  caracterisa  huma  nação  cujas  clases  mais 
úteis  e  numerosas  vivem  de  huma  subsistência  pre- 
cária e  muitas  vezes  pouco  abundante ,  e  e^tào  con* 
tinuamente  expostas  a  cahir  na  indigência. 

4"».  Estes  males  são  tanto  mais  graves ,  que  huma 
vez  que  existem,  he  quasi  impossivel dar-lhes  remédio » 
sem  expor  hum  paiz  ao  risco  de  huma  revolução. 

5*.  O  remédio  mais  practicavel  parece  ser  a  melhor 
e  mais  igual  divisão  da  propriedade ,  efiectuada  por 
huma  lei  que  estabeleça  a  repartição  igual  entre  os 
filhos.  M.  Malthus  admit^e  em  principio  que  esta  he  a 


âS  Resenha  jinaj^tica. 

fonte  principal  da  prosperidade  das  nações ,  mas  receia 
os  eQeitos  de  huma  nimia  divisão  da  propriedade ,  que 
venhn  a  ser  nociva  ao  progresso  da  riqueza  nacional , 
e  vaticina  este  triste  resultado  á  França.  Porém  isto 
he  huma  mera  asserção  inteiramente  destituida  de 
provas,  e  desmentida  pela  experiência  de  todos  os  tem- 
pos e  de  todas  as  ns^çôes.  A  natureza  do  homem  e  a 
das  cousas  obsta  a  que  ^  divisão  das  successõçs  terri- 
toriaes  se  tome  excessiva  ;  o  interesse  de  cada  hum 
pão  deixará  nunca  que  esta  divisão  venha  a  ser  tal 
que  caiba  a  cada  individuo  huma  porção  de  terra  que 
lhe  seja  impossivel  cultivar  ou  arrendar  com  proveito. 

6o.  E  finalmente ,  as  nações  que  quizerem  gozar  do 
maior  grão  possível  de  felicidade  solida  e  durável  >  não 
devem  deixar  oiTuscar-se  pelo  exemplo  fallaz  da  In- 
glaten^;   ao   desejo  de  ostentarem  grande  riqueza  e 
poder»  farão  acertadamente  se  preferirem  a  mediocri- 
dade mais  igualmente  distribuída  entre  os  cidadãos ,  e 
as  solidas  vantajensda  agricultura,  industria  e  commer* 
cio  interno ,  á  brilhante  mas  perigosa  preponderância 
de  hum  mui  extenso  commercio  exterior.  Os  governos, 
seguindo  o  mesmo  principio,  farão  bem,  se  antepuzerem 
a  economia  ao  desperdício ,  e  o  desejo  de  fazerem  feliz 
a  sua  nação  ^  á  van  gloria  de  dominar  as  outras. 

No  Tomo  XI  examinaremos  algumas  outras  doutrinas 
de  M.  Malthus,  quando  dermos  conta  da  obra  recente 
de  M.  J.  B.  Say. 

F.  S.  C. 


Resenha  Aruãytiea.  89 


ENSINO  MUTUO 

em  1819. 

A  Sociedade  de  Educação  de  Parts  publicou  os  Re- 
latórios,  que  hum  dos  seus  Secretários  lhe  apresentou , 
conforme  o  costume  ^  na  Sessão  publica  do  presente 
annoy  á  cerca  do  estado  do  Ensino  mutuo  em  1819» 
Os  Artigos,  que,  em  diíTerentes  volumes  (1)  temos 
dado  sobre  esta  matéria ,  nos  dispensào  de  tornarmos 
aqui  a  fallar,  com  individuação,  de  hum  systema, 
cuja  utilidade,  já  hoje,  he  tão  geralmente  reconhe- 
cida ;  porém  ,  por  isso  mesmo  que  julgámos  então  do 
nosso  dever  consagrar  nos  Ânnaes  as  vantajens  e  os 
principies  d'este  methodo  ,  por  isso  mesmo  nos  in- 
cumbe sempre  termos  os  leitores  ao  corrente  dos  pro- 
gressos d*elle.  O  conhecimento  regular  da  marcha  de 
bum  systema  interessa  muito  particularmente  todos  os 
que  conhecem  o  ponto  de  que  elle  partio;  por  que, 
sendo-lhes ,  por  isso ,  fácil  comparar  com  exacçào  as 
diiíerentes  phases  ,  que  ella  apresenta ,  podem  appre- 
ciar,  por  si  mesmos,  o. valor  que  lhe  compete,  ou  seja 


(i)  V.  Tom.  11  dos  Annaes  ,  P.  i«.  pag.  i.  Tom,  VI  P.   i». 
pag.   35, 


Qo  ItesenJia  Analítica. 

calculando  as  vaniajens ,  que  elle  procura ,  ou  òbser* 
vando  o  grão  de  interesse ,  com  que  ke  promovido  e 
cultivado. 

Para  conseguirmos  pois  este  im^portante  fim  ,  limitar- 
nos-hemos  agora  a  recolher ,  dos  sobredittos  Relató- 
rios ,  puramente  os  factos ,  que ,  fundados  sobre  peças 
officiaesy  ou  sobre  a  correspondência  da  Sociedade, 
estabelecem  com  certeza  o  estado  do  Ensino  mutuo , 
assim  em  França,  como  nos  paizes  estrangeiros  no 
i^.  de  Outubro  de  1819;  isto  he,  hum  anno  depois 
dos  Relatórios  antecedentes  9  de  que  demos  conta  no 
VI  Volume  da  nossa  obra.  A.  fim  de  que  este  traba- 
lho ofiereça  a  maior  simplicidade  e  clareza, em  que 
só  pode  consistir  todo  o  seu  merecimento,  classifica- 
remos geographicamente,  em  hum  só  quadro,  os  resul- 
tados dos  dois  Relatórios ,  o  que  tornará ,  ao  mesmo 
tempo ,  mais  interessante  o  quadro  em  que  os  dispu- 
zermos. 

Europa. 

França.  O  numero  das  escholas,  comprehendidas  nos 
Mappas  remettidos  pelos  Prefeitos  ao  Ministro  do  In- 
terior y  e  por  este  á  Sociedade ,  montava  a  807 ,  que 
podião  comprehender  92:000  discipulos 

Doestas  807  escholas,  contavão-se  para  meninos  734. 

Para  meninas 67 

Para  homens 5 

Nas  prisões .  4 


Resenha  Analytiea.  91 

?Ios  hospícios  de  rapazes  desamparados  •    ^    •  a 

De  desenho  linear 16 

Escholas  protestantes •  36 

Escholas  israehtas 3 

Na  classe  militar ,  tinha-se  formado  huma  Socie- 
dade ,  composta  de  oíBciaes  reformados ,  para  ajudar  e 
dirigir  o  trabalho ,  a  fun  de  propagar  o  methodo  em 
todo  o  exercito  \  no  qual  estavão  já  emplena  actividade 

Escholas  reglmentaes io5 

(  Faziào-se  disposições  para  mais  57  ) 

Para  os  corpos  dè  Policia  (  Gendarmerie)    ••    •  4 

Nos  portos  de  mar a 

Como  porém  ,  no  progresso  rápido  d'estes  estabele- 
cimentos y  em  França ,  havia  alguns ,  que  ainda  não 
tinhào  remettido  estados  legaes ,  posto  que ,  pela  cor* 
respondencia  constasse  que  existiào ,  avaliavão-se  ,  ao 
todo,  as  escholas  em  i34o ,  que  podiào ser  frequentadas 
por  154:000  discipulos ;  por  quanto  o  termo  médio  de 
cada  huma  he  de  ii4  a  ii5. 

Em  Paris  e  seus  arredores  ha  88,  i4  ruraes,  e  74 
urbanas,  das  qiiaes  ig  gratuitas. 

Os  progressos  correspondem  á  rapidez  com  que  as 
escholas  se  multiplicào.  Proximamente  i  dos  discipulos 
passào  de  huma  classe  a  outra ,  em  hum  mez ,  em  ler 
e  escrever ,  e  f  d*este  numero  em  contar. 

Os  modelos  calligraphicog,espalhados  pela  Sociedade» 
tinhào  produzido  excellentes  effisitos,  assim  pelo  que 


9^  Resenha  Anafytica,, 

toca  á  sua  execução ,  como  á  uniformidade  do  caracter. 
Trabalhava -se  em  preparar  quadros  uniformes  para 
os  elejnenlQs  de  musica  e  de  grammatica ;  e  o  mesmo 
se  contava  fazer  a  respeito  do  systema  métrico  ,  e  da 
escrípturaçào  mercantil. 

Os  productos  mais  distinctoSique  o  Relator  apre* 
sentou  á  Sociedade ,  forao  :  as  amostras  de  escrípta  de 
dois  meninos ,  filhos  de  [dois  Príncipes  Soberanos  da 
costa  oríentalde  Madagáscar ,  que  seus  Pais  mandarão 
educar  a  França»  dos  quaes  hum  tem  ia  annos  e  meio, 
e  o  outro  6 :  estes  meninos  passarão,  em  hum  mez » 
por  cinco  classes  >  e  em  menos  de  quatro  mezes  lião  e 
cscreviào  \  fcMo  inaudào  cUé  hoje ,  dizia  o  Relator  á 
Sociedade. 

Fazião-se  igualmente  recommendaveis  as  amostrai 
de  desenho  linear  dos  discípulos  das  escholas  Gaultim 
e  de  S.  Jean  de  Beauvcds  em  Parts ,  e  as  de  costura, 
das  meninas  da  eschola  fundada  por  M.  Delessert »  na 
mesma  cidade »  as  quaes  amostras  o  Relator  propôs 
como  modelos,  que  seria  útil  espalharem-se  nas  es- 
cholas de  meninas  de  todo  o  Reino. 

O  numero  de  sociedades,  ou  fundadores  particulares» 
que  sustentavâo  escholas  constantemente  á  sua  custa » 
era  de  loi. 

Em  consequência  do  que  (ica  ditto,  de  todos  os  Map« 
pas  apresentados  officialmente  á  Sociedade ,  resultava 
que ,  nos  86  Departamentos  de  França  existiào  807  es- 
cholas ,  em  que  havia  lugar  para  92:000  discípulos»  e 


Resenha  Analytica*  g3 

que  erào  então  frequentadas  por  53:ooo;  que  doestes, 
i3:4oo  ( termo  médio )  erâo  promovidos ,  em  hum  mez, 
de  huma  a  outra  classe  de  leitura ,  ii:8oo,de  huma 
a  outra  de  escripta^  8:100  de  huma  a  outra  de  arith» 
metica. 

Suissa.  O  grão  Conselho  de  Friburgo  ordenou  o  es- 
tabelecimento de  huma  eschola  em  cada  freguezia  do 
seu  Districto ;  formárão-se  outras  novas  no  Cantão  de 
Vaud ;  em  Nyon  existia  huma  eschola  normal ;  e  o 
methodo  principiava  a  estabelecer-se  nos  Cantões  de 
Ârgovia  e  em  Zurích.  Os  livros  de  instrucção ,  publi- 
cados pela  Sociedade  de  Paris ,  erão  traduzidos  em 
AUemão  j  na  Suissa ,  e  o  celebre  P.  Gerard  compunha 
outros,  e  tinha  feito  publicar  56  quadros  na  mesma 
lingua  para  o  uso  das  escholas. 

Piemonte  e  Sardenha.  A  eschola  fundada  em  Nice , 
pelo  Abbade  Covin ,  protegida  hoje  eficazmente  por 
M.  TAbbé  Cessollcy  servia  de  eschola  normal,  e  tinha 
já  por  affiliadas  outra  eschola  em  Nice ,  e  mais  três 
em  Pisa  e  em  Villafranca;  abrío-se  huma  nova  es- 
chola em  Voghera  ;  o  Pnncepe  de  Carígnan  continuava 
a  proteger  o  Ensino  mutuo  no  Piemonte  j  e  o  clero 
ajudava  notavelmente  o  impulso  feliz  com  que  o  me* 
thodo  se  propagava. 

Toscana.  A  Princeza  Corsini,  a  Condessa  d'Albani , 
u  sábio  Fabroni ,  e  outros  membros  da  Sociedade  dos 
Georgophilos  y  continuavão  os  seus  úteis  esforços  para 
propagar  o  methodo  na  Toscana  :  no  mez  de  Agosto 


ç4  Resenha  Arusdytica. 

de  1819  duas  novas  e  scbolas   se  tinhãq  estabelecido 

naquelle  paiz. 

Milanez.  Em  Brescia ,  debaixo  dos  auspícios  do  sá- 
bio Fiiddani ,  tinha-se  fundado  Iiuma  eschola  para  i3o 
discípulos.  Em  Milão  acliava-se  estabelecida  huma 
para  3oo  meninos  pobres  y  e  outra  era  destinada  para 
formar  mestres,  e  propagar  o  methodo  nas  cidades 
e  nos  campos  d^aquelles  Estados. 

Nápoles.  O  Governo  continuava  a  proteger  a  bella 
eschola  estabelecida  na  capital ;  todas  as  classes  prin- 
cipiavào  a  decidir-se  por  este  methodo ,  e  tinha-se 
dado  ordem  para  se  abrirem  novos  estabelecimentos 
doeste  género  ,  tanto  na  capital  j  como  nas  Províncias. 

Maka.  O  Governo  e  os  amigos  da  humanidade  pro- 
moviào  neste  paiz  o  Ensino  mutuo  ,  e  M.  Naudi ,  mal- 
tez ,  que  veio  estudar  o  methodo ,  6  mezes  em  Londres, 
e  passou  depois  a  examinar  as  escholas  de  França,  devia 
ter  estabelecido  huma  grande  eschola  naquella  Uba, 
onde  o  P.  Luigi ,  tinha  fundado  outra  em  Zeitoun  ,  a 
duas  léguas  de  Valette. 

Hespanlia*  ElRei  ordenou  que  se  estabelecesse  huma 
eschola  de  Ensino  mutuo  em  todas  as  cidades  do  Reino- 
A  de  Madrid  proseguia  com  grande  desvelo*,  ElRei  e 
a  Familia  Real  tinbào-na  visitado  duas  vezes,  e  o 
Duque  de  Frias  tinha  feito  doação ,  para  este  estabe* 
lecimento  ,  de  huma  salla  de  baile  ,  que  lhe  pertencia. 
Em  Madrid  ,  em  Cadiz  ,  em  Saragoça  ,  em  Grenada  , 
em  Àlcalá  exisllào  já  escholas  florescentes;  e  huma 


Resenha  jíruHytíca.  95 

pessoa,  empregada  na  Embaixada  hespanhola  em  Parts, 
tinha  aqui  seguido  a  Eschola  normal  do  Ensino  ma<» 
tuo,  por  ordem  do  seu  Governo. 

Portugal.  As  esperanças  que  tinhamos  concebido  e 
justificado  em  outros  volumes  dos  AnnaesCi),  feliz- 
mente se  confirmáiào :  Portugal  occupou  em  fim  y  a 
este  respeito ,  o  lugar  que  lhe  era  devido  no  quadro  da 
educação  geral  da  Europa ;  com  muita  satisfação 
transcreveremos  aqui  fielmente  as  palavras  porque  M. 
Jomard  ,  no  seu  Relatório  ,  se  exprimio  a  respeito  da 
nossa  Pátria. 

«  Desde  o  mez  de  Outubro  de  iSiS,  huma  Deter- 
minação da  Regência  creou  em  Portugal  escholas  de 
Ensino  mutuo.  Em  181 7  ,  achavào-se  em  plena  activi- 
dade :  hoje  estão  florescentes.  A  ignorância  em  que  se 
estava  da  existência  das  escholas  portuguezas  ,  na  epo* 
cha  da  ultima  Assemblea  geral ,  nos  obrigou  a  deixa* 
las  em  sdencio ;  hoje  corrigimos  esta  omissão ,  com 
o  mais  vivo  prazer.  Em  Outubro  de  1818,  erào  fi-e- 
qucntadas  55  escholas  portuguezas ,  por  3:843  discí- 
pulos 9  tanto  paisanos ,  como  militares  ;  a  prosperidade 
doestas  escholas  he  de  feliz  presagio  para  a  propagação 
do  methodoycm  todo  o  continente  portuguez.  » 

Accrcscentaremos  a  isto ,  que  a  Sociedade  de  Edu* 
cação  de  Parts  recebeo  com  reconhecimento ,  a  collec- 


( I )  V.  Tom.  VI  P.  x«.  pag,  7 1  e  Tom.  VII  P.  a«.  pag.  59. 


96  Resenha  Analytità* 

çào  dos  trabalhos ,  publicados  pelo  Sn^.  João  Cbiisos- 
thomo  do  Couto  e  Mello,  a  qual  este  zeloso  Director 
das  Escholas  de  Ensino  mutuo »  em  Portugal ,  nos 
remetteo;  para  lhe  olTerecermos  ,  em  seu  nome ,  e  que 
não  só  ordenou  que  se  desse  conta  d^elles  no  seu 
Journal  d'Educationj  mas,  querendo  prov^ar  ao  Sn*". 
João  Chrisosthomo ,  a  sua  alia  satisfação  pelos  ser^ 
viços  que  eUe  tinha  feito  d  educação  publica  ^  na  creação 
de  hum  grande  numero  de  escholas  em  Portugal ,  houve 
por  bem,  na  sua  sessão  de  16  de  Agosto,  do  corrente 
anno, nomeá-lo  Membro  correspondente  da  Sociedade, 
cujo  Diploma ,  a  mesma  Sociedade  nos  encarregou  de 
remettermos  áquelle  nosso  compatiiota  (1). 

^*       ■■  '— ■  '  I  ■  ■   ■  .1  ■       — 

(i)  Eis-aqui  a  copia  da  carta  com  que  a  Sociedade  nos 
remetteo  o  ditto  Diploma. 

Paris ,  le  18  Aoàt  i  820 

Le  Secrétalre  de  la  Socíété  pour  rinstruction  Elémeutaire , 

A  Messieurs  les  Rédacteurs  des  Annales  des  Sciences  >  des  Arts 
et  de  la  Littérature  ,  ea  langue  portugaise. 

Messieurs  , 

Becevez  mes  remerciemcns  pour  les  soins  que  vous  avez  pris 
de  faireconnaitrc  à  M.  le  capitáine  BirecteUr  des  Ecoles  militaires 
en  Portugal ,  les  travaux  de  la  Société  de  Paris  ,  et  les  progrès 
des  Ecoles  françaises.  J'ai  presente  à  la  Société  les  ou?rages 
dont  on  lui  est  redevable  ;  cet  homraage  a  éié  accueilli  avec 
reconnaissance.  L'Assemblée  a  ordonné  qu'il  en  serait  reudu 


Resenha  Analydcà.  g^ 

Poi*  tànto^y  hoje ,  que  penetrados  de  huma  viVa  sa- 
tisfação 9  podemos  lisonjear-nos  de  ter  conse^çuido 
estabelecer  assim  felizmente  huma  correspondência 
philanthropica  enti*e  a  Sociedade  de  Paiis^e  as  escholas 
portuguezas,  seja-nos  licito  esperar  que  não  será  in« 
terrompiaa  ,  e  que  o  novo  sócio ,  correspondendo  á 
distincçào,  que  acaba  de  receber,  e  aos  séntimentoâ 
de  patriotismo  ,  que  o  animão  ,  não  permittirá  qiie  ó 
progresso  d'eslas  deixe  para  o  futuro  de  figurar,  todoâ 
os  annos  ,  no  Mappa  da  Educação  gei^aL 

Bélgica»  A  Sociedade  de  Educação  de  Bruxellas  y 
fundada  a  instancias  do  D»*.  Hamel,  e  animada  e  pre- 
sidida pêlo  Princepe  d'Orange ,  contava  já  3o5  sub- 
striptores  ;  a  eschola  d*aquella  cidade  fazia  progressos ; 
tinhào-se  estabelecido  duas  em  Liége  ,  das  quaes  huma 
continha  3íjo  discípulos ;  pí^eparava-se  huma  terceira; 
A  Sociedade  de  Huy  tinha  creado  outra  eschola  nesta 
cidade  ;  e  na  eschola  normal  de  Luxembourg  tinhào-se 

Compte  (lans  íoti  Journal  d*£duca(iba  ,  et  elle  s'cst  émpressée 
de  douner  le  titre  de  Correspondant  à  M.  le  Directeur  dcs 
Ecoles  portugaises.  Veiiillez,  Messíeurs,  quand  vous  aures 
une  occasion  ,  adresser  de  ma  part ,  k  ce  zélé  philantrope  i  le» 
deux  imprimes  ci-joints ,  et  agréer ,  avec  mes  remerciemens , 
Tassurance  de  ma  considération  distinguée. 

(  Signé  )  Le  Duo  de  la  YAuovToif . 

(  Signé )  JoM\BD. 

(  Signo  )  Bé  Degijiando. 
Tom.  X.  P.   !■.  7  A 


qS  Resenha  AnalYtica. 

formado  i5o  mestres  ,  destinados  para  propagar  o  me- 
thodo  em  todo  o  grão  Ducado.  Achavào-se  em  acti- 
vidade escholas  em  Horíoa  ,  Hozemont ,  Cornessevizé  ^ 
Mortier  ^  Hodimont »  Warenne ,  Hasselt  e  Tongres* 

Hollanda»  A  Sociedade  do  Bem  publico  continuava 
a  promover  o  ensino  naquelle,paiz,com  a  mesina  efB- 
cacia  ;  tinha  publicado  até  áquella  epocha  149  livros 
difierentes ,  de  que  se  serve  nas  suas  escholas ,  e  tinha 
feito  traduzir  em  hollandez  Simon  de  Nantua ,  que  a 
Sociedade  de  Educação  de  Paris  approvou ,  para  uso 
das  escholas  do  Ensino  mutuo  em  França. 

AUemanha.  O  Duque  de  Saxe  Weimar  tinha  man* 
dado  hum  mancebo  a  Londres  aprender  o  methodo , 
para  o  introduzir  nos  sçus  Estados;  achava-se  ulti- 
mamente estabelecida  já  nelles  huma  eschola. 

Riíssia.  Na   Rússia    continuava    a    propagar -se   o 
Ensino ,  mutuo  debaixo  da  protecção  do  Imperador 
Alexandre  y   que   ordenou  que   se   fizessem   e  impri- 
missem quadros  de  leitura  para  as  escholas  militares. 
Em  S.  Petersburgo  tinha-se  formado  huma  Sociedade 
livre,  para  a  propagação  do  methodo,  cujo  Regula- 
mento   he  fundado   sobre  as    mesmas  bases  do    da 
Sociedade  de  Paris.  Na  Lithuania  tinhào-se  estabe- 
lecido três  novas  escholas ,  debaixo  dos  auspicios  do 
Princepe  Czartorinzky ;  e  mais  huma  acabava  de  ser 
organisada  em  Irkutzk ,   na   Ásia,  a   1800  léguas  de 
Petersburgo,  pelos    cuidados  do  general  Speransky, 
governador  do  paiz. 


Resenha  Analjrtica.  99 

Suécia  e  Dinamarca.  A  Suécia  e  a  Norwega  imita* 
vào  o  exemplo  da  Rússia  \  e  em  Dinamarca ,  creou 
ElRei  hunia  eschola  normal ,  para  d'alli  sahirem  mes* 
treSy  que  propaguem  ^  nas  3:ooo  escholas  d^aquelle 
Reino  ,  o  methodo,  que  M.  Rlotz ,  Oinamarquez ,  veio 
aprender  em  Parts »  e  que  ,  na  sua  passagem ,  devia 
estabelecer  primeiramente  em  Francfort. 

Moldávia  e  Grécia.  A  instrtuiçào  das  escholas  de 
M.  Roznovano ,  primeiro  Aga  dTassy,  continua  a  pro- 
pagar-se  na  Moldávia.  A  Grécia  e  a  Turquia  tinhâo  sido 
ultimamente  visitadas  por  M.  William  Allen ,  acom*- 
panhado  de  M.  Grellet  de  New- York,  thesoureií^o  da 
Sociedade  das  escholas  biitannicas^  com  d  (im  de 
estabelecerem  ahi  o  Ensino  mutuo.  Estes  dois  philan- 
thropos  tinhâo  percorrido  Constantinopla ,  Smjrna  ^ 
Athenas ,  Corintho ,  Zante ,  Corfú  e  Seio ,  onde  o 
Primaz  grego  aceitou  a  presidência  das  escholas  ele- 
mentares 4  que  alli  se  formarão. 

Inglaterra.  A  Sociedade  das  escholas  britannicas  e 
estrangeiras  ,  assim  como  a  das  escholas  do  D^.  Bell , 
ou  do  systema  de  Madrás ,  proseguião  constantemente 
os  seus  bem  conhecidos  esforços ,  para  a  generalisaçào 
da  instrucção  publica;  eis-aqui  o  resumo  do  estado 
d*ella ,  conforme  os  Relatórios  apresentados  á  Socie- 
dade Britannica ,  e  os  documentos  remettidos  ao  Par- 
lamento. 

A  Inglaterra  e  Paiz  de  Galles  tem  pouco ,  mais  ou 
menos » i  o  milhões  de  habitantes ;  frequentâo  escho- 

7*  • 


loo  Resenha  Ajuúyúca. 

las  45o:ooo  indivíduos ,  isto  he  proximamente  j^  da 
povoação;  e  56o:ooo  meninos ^  de  5  até  i4  annos  , 
não  seguem  escbola  nenhuma.  Na  Manda  não  ha  mais 
de  80:000  individuos  ^  que  aprendào  a  ler  e  escrever^ 
isto  he  y  pouco  mais  ou  menos ,  ro  da  povoação.  Na 
Escócia ,  quasi  todos  os  meninos  seguem  as  escholas  ,  6 
que  dá ,  proximamente,  180:000.  Conforme  estas  bases  , 
o  total  dos  que  aprendem  a  ler  e  escrever  em  todos 
aquelles  três  Reinos  (  por  toda  a  casta  de  methodo  ) , 
seria  ,  por  approi^imação ,  de  710:000',  e  o  dos  que  não 
aprendem  por  methodo  algum,  de  785:000;  isto  he, 
mais  de  metade  do  numero  total  das  crianças  de  5 
até  i4  annos. 

Não  deixaremos  de  pôr  aqui  hum  resultado  muito 
interessante  a  favor  da  instrucção  publica ,  e  vem  a 
ser  y  que  no  Condado  de  Bedford  onde  somente  j^  da 
povoação  frequentava  as  escholas,  havia  rs  de  pobres , 
e  no  Cumberland ,  onde  rr  dos  individuos  se  instruía» 
não  se  contava  senão  :^de  pobres. 

AsiA. 

A  Sociedade  de  Educação  de  Calcutta  continuava 
nos  seus  esforços  para  propagar  as  escholas;  os  mis- 
sionarips  anabaptistas  instruião,  na  linguagem  de  Ben- 
gala, i5:5oo  Índios  nos  arredores  de  Serampore  ;  e 
tinhão-se  creado  muitas  eschoTas  em  Ceilão.  Bombaim 
possuia  huma  Sociedade,  para  promover  os  progressos 
da  educação ;  os  seus  regulamentos  achavão-se  publi- 
cados   nas  línguas    persa,  indostan  e  guzarate.  Em 


Resenha  Anal^ca*  loi 

Dacca ,  tinha-se  também  estabelecido  buma  no\a  es- 
chola. 

África. 

Os  progressos  da  eschola  de  S.  Luiz ,00  Senegal^ 
erão  consideráveis  ;  nós  tínhamos  fallado  no  liosso  VI 
Volume  d*este  estabelecimento ,  e  da  Grammatica'  e 
Diccionario  da  lingua  Wolof  ^  em  que  entào  se  tra* 
balhava  alli ;  M.  Jomard,  para  apoiar  agora  esta  parte 
do  seu  Relatório ,  apresentou  á  Sociedade  a  Conta 
que  M.  Dard ,  mestre  d'aquella  eschola ,  deo  dos  pro- 
gressos d'ella  a  M.  le  Baron  Mackau^  Commissario 
d'ElRei  y  e  Inspector  dos  Estabelecimentos  públicos 
no  Senegal ,  acompanhada  da  carta  com  que  M.  Dard 
remetteo  á  Sociedade  de  Paris  copia  da  ditta  conta. 
Hum  e  outro  Documento  comprehendem  circumstani- 
cias  tào  curiosas .  que  nós ,  deixando  por  hum  instante 
o  Relatório  de  M.  Jomard,  daremos  ao  leitor  hum 
extracto  d* aquellas  duas  peças , que  ,ao  mesmo  tempo, 
lhe  farào  conhecer  o  estado  em  que  se  acha  a  propa« 
gaçào  do  methodo ,  naquelle  paiz. 

Cento  e  vinte  rapazes  frequentavão  em  ao  de  Jar 
neirode  18:2o  a  eschola  de  S.  Luiz  ^  que  [á  se  achava 
inteiramente  renovada  em  discipulos.  Quasi  i5o  ne- 
gros ,  ou  mulatos  y  tinhão  alli  sido  instruidos  y  e  pos ' 
suiào  muito  bem  a  instrucção  primaria ,  e  ainda  ai ' 
gumas  noções  das  Sciencias  exactas.  Muitos  se  achavâo 
já  empregados  pelo  Governo ,  outros  no  commercio  , 
e  alguns  na  navegação. 


103  Reienha  Anàfytiau 

M.  Dard  entende  qae  a  mocidade  do  Senegal  he 
dotada  de  grande  intelligencia ;  escreve  e  calcula  bem , 
e  lê  ,  o  melhor  possível ,  mas  tem  grande  dificuldade 
em  comprehender  a  lingua  franceza.  As  observações 
aturadas  de  M.  Dard  a  este  respeito ,  oonvencérão-no 
de  que ,  para  lhes  ensinar  aquella ,  era  necessário ,  ao 
mesmo  tempo ,  fazer-lhes  ler  e  escrever  a  sua.  Por  esta 
causa,  entendeo  que  devia  occupar-se  seriamente  da 
lingua  Wolof.  M.  Dard  compoz  quadros  para  a  lei- 
tura em  Francez  e  em  Wolof,  que  lhe  produzírâo 
excellentes  resultados.  Os  seus  trabalhos  sobre  esta 
lingua ,  fizerão-lhe  conhecer  que  ella  tem  principios 
claros  y  simples ,  precisos  ,  e  que  he ,  sobre  tujo ,  àd- 
mirauel  na  composição  dos  seus  verbos.  Reduzindo  a 
^rte  as  suas  observações »  formou  huma  grammatica  , 
a  que  ajuntou  grande  numero  de  themas  e  provérbios  , 
nas  duas  linguas ;  trabalhou  depois  em  hum  Diccio- 
nario  francez-woloí  e  wolof- francez ;  e  classificou 
grande  quantidade  de  palavras  wolofes  para  a  forma- 
ção dos  quadros  de  huma  eschola  mutua  wolofe-fran* 
ceza.  Actualmente  trabalha  em  huma  coUecçào  de 
fabulas  wolofes,  e  na  traducção  de  Simon  de  Nantua^ 
na  mesma  lingua ,  na  qual  também  já  tem  concluido 
a  traducção  do  antigo  e  novo  Testamento. 

M.  Dard  remetteo  manuscriptos  á  Sociedade  de  Parts, 
com  as  duas  peças  que  eztractamos ,  a  sua  gramma- 
tica, os  seus  Diccionarios ,  e  as  suas  Taboadas  wo- 
lofes,a  fim  de  ser  tudo  impresso,  para  se  propagar 
no  Senegal. 


Resenha  Analytica'  to3 

Quanto  ao  estado  presente  da  sua  eschola ,  havia 
já  nella  muitos  Instructores  promptos  para  os  novos 
estabelecimentos  d'este  género,  que  o  Governador  se 
propunha  crear,  no  interior  do  paiz.  Os  Príncipes 
d^aquelles  contornos  vinhào  visitar  a  eschola  de  M. 
Dard ,  e  três  doestes  tinhão  tomado  noções  do  systema 
mutuo ,  com  a  intenção  de  o  pôr  em  practica  para  o 
ensino  do  Alcorão.  Na  epocha  em  que  M.  Dard  es- 
crevia,  frequentavão  o  seu  Estabelecimento  quatro 
filhos  dos  reis  de  Galam  e  de  Bambuk ,  para  apren- 
derem as  linguas  wolof  e  franceza,  a  fim  de  as  ensi- 
narem depois  nos  seu$  paizes. 

A  eschola  mutua  das  meninas  y  dirigida  pelas  Saurs 
de  S.  Joseph ,  achava-se  em  plena  actividade ,  e  con- 
tava já  5o  discípulas. 

America. 

Na  Uha  de  S.  Domingos  promovia-sé  com  grande 
proveito  o  Ensino  mutuo.  Na  cidade  do  Cabo ,  os  pro- 
gressos dos  discípulos  erào  pasmosos ;  muitos  tinhâo 
sido  já  admittidos  no  coUegio  ,  para  se  habilitarem  allt 
para  os  empregos  públicos.  A  Sociedade  de  Parts  linha 
feito  presente  de  Soo  exemplares  de  livros  para  uso  de 
nova  eschola  do  Port-au-Prince,  para  o  estabelecimento 
da  qual ,  hum  anonymo  tinha  dado  aooo  francos.  A 
antiga  eschola  ,  fundada  naquella  cidade  por  M.  Bos- 
worth,  e  hoje  dirigida  por  hum*  filho  do  paiz,  está 
debaixo  da  protecção  do  Presidente,  que  fez  vestir 
os  díscipulos ,  á  custa  do  Estado. 


'io4  Resenha  Analytica. 

Em  Buenos  Ayres ,  para  onde  a  Sociedade  de  Paris 
já  tinha  mandado  quadros  e  modelos  ^  como  dissemos 
em  outra  occasião ,  fizerào-se  instruir  homens ,  a  fim 
de  se  habilitarem  ^  para  propagar  o  methodo  no  paiz. 

Para  o  Chili  mandou  a  Sociedade  collecçâo  de 
quadros  e  modelos ,  que  d*aquella  provincia  lhe  forâo 
pedidos  y  ç  huma  igual  remessa  fez  para  o  Brasil , 
pnde  luim  francez  fundou  huma  eschola  >  para  a 
ipstrucçào  dos  rapazes  negros  de  ambos  os  sexo$. 

Nos  Estados-UnidoSy  o  methodo  continuava  a  fazer 
progressos.  A  Sociedade  de  Philadelphia  propunha*se 
a  estal)elecer  correspondência  com  a  de  Pails.  Na 
Pensjlvania ,  onde  já  existia  huma  eschola  para  mil 
discípulos,  deviáOy  em  virtude  de  huma  nova  lei, 
estabelecer-se  outras  para  3ooo;  estas  escholas  serão 
dirigidas  pelo  celebre  Joseph  Lancaster ,  hoje  residente 
em  Philadelphia. 

No  Condado  de  New-York  havia  escholas  para  3:6oo 
meninos.  Havia  igualmente  estabelecimentos,  da  mesma 
natureza ,  na  Nova-Escocia  ,  em  Halifax  ,  em  George- 
Town,  em  Cincinnati y  ein  Boston ,  em  Washington, 
em  Alexandria  ,  em  Baltimore  y  em  Louisville ,  em 
Lexington,  e  em  Norfolk. 

Tal  he  o  resultado  dos  Relatorios^em  que  M.  Jomard 
apresentou  á  Sociedade  ,  de  que  he  hum  dos  Secre- 
tários ,  o  estado  de  propagação  e  os  progressos  das 
escholas  elementares ,  em  1819 ,  em  todas  as  paites  da 
Mundo. 


Hesenha  Analytica:  io5 

Concluiremos  o  presente  Arligo  com  as  expressôe&y 
com  que  M.  Joniard  conclue  o  seu  Relatório  ,  á  cerca 
dos  paizes  estrangeiros.  «  O  Governo ,  diz  elle ,  felicita- 
nos  y  pelos  vínculos  que  nós  multíplicamos ,  fora  de 
França  ^  com  todos  os  antigos  do  Ensino  mutuo  (  são 
palavras  oíBciaes  do  Governo) ,  e  anima  as  nossas  com- 
municaçôes ,  em  vez  de  lhes  pôr  obstáculos.  Com  o 
tempo,  continua  M.  Jomard ,  poderemos  pois  conse- 
guir ajuntar  noções  assaz  importantes  ,  para  o  conhe- 
cimento dos  progressos  da  educação  universal ;  objecto 
final  dos  esforços  dos  verdadeiros  philanthropos  e  de 
todas  as  Sociedades  instituidas  para  o  mesmo  fim  ^ 
que  se  propõe  a  nossa*  » 

C.  X. 


i^^t^^i^^f^n^^^mi 


io6  Resenha  Anàfyueiu 


CONSIDERAÇÕES 

Sobre  as  thearias  medicas,  e  particularmente  sobre  os 

opiniões  do  D^,  Broossais. 


1»»»^^* 


(SEGUNDO  ARTIGO.) 

lliRÁ  nossa  intenção  consagrar  este  sqpindo  Arti{;« 
directamente  ao  exame  da  doutrina  de  M.  Broussais 
sobre  a  origem  das  Febres  \  mas  a  certeza  que  temos 
de  que  este  autor  já  começou  a  imprimir  huma  nova 
edição  da  sua  obra ,  na  qual  promette  ezplicar*se  sem 
ambiguidade  sobre  as  bases  do  seu  systema,  e  ajuntar- 
Ihe  elucidações  importantes ,  julgámos  conveniente 
esperar  pela  publicação  d'este  trabalho  para  então 
examinarmos  as  opiniões  do  seu  autor ,  as  quaes  por 
ora  involvem  contradicções ,  e  oSerecem  tanta  ob* 
scurídade  que  não  he  fácil  saber  qual  seja  o  verda* 
deiro  modo  de  pensar  de  M.  Broussais.  Alem  do  que , 
o  seu  caracter  imtavel  e  inimigo  de  contradicçào ,  o 
torna  mui  susceptivel  de  accusar  os  que  não  são  da 
sua  opinião ,  de  intencionalmente  alterarem  as  expres- 
sões de  que  elle  se  serve  nas  diversas  obras  e  artigos 
avulsos  que  tem  successivamente  publicado  ha  alguns 
annos.  Para  evitarmos ,  quanto  for  possivel  ^  ser  accu- 


Resenha  Anàfyuca.  107 

sados  de  hum  delicio  já  a  tantos  médicos  imputado 
por  M.  Broussais  e  seus  sectários ,  suspenderemos  por 
ora  o  exame  directo  da  sua  doutiina  \  mas  para  preparar 
o  leitor  para  elle,  e  para  tornar  mais  fácil  o  trabalho 
que  intentamos  fazer y  vamos  neste  artigo  proseguirna 
investigação  de  certos  pontos  fundamentaes  de  phj* 
siologia  e  de  pathologia ,  que  tem  connexào  directa, 
não  só  com  a  doutrina  de  M.  Broussais ,  mas  igual- 
mente com  a  de  quantos  autores  tem  escripto  sobre 
Inflammação  e  Febres ,  e  especialmente  os  D.""®*  Bcd- 
does  e  Philips  Wilson  em  Inglaterra,  e  muitos  mé- 
dicos em  Mlemanha ,  ItaUa ,  etc. 

Não  sendo  possivel  abranger  em  poucas  paginas 
-quanto  diz  respeito  aos  diílerentes  systemas  que  sobre 
as  leis  da  Economia  animal  tem  procurado  estabelecer 
os  physiologístas  os  mais  distinctos,  limitar-nos- hemos 
aqui  ao  exame  de  algumas  opiniões  relativas  á  In- 
flammação. O  motivo  porque  preferimos  esta  inves- 
tigação he  y  não  só  porque  M.  Broussais  ,  assim  como 
muitos  outros  autores  antes  d'elle,  tem  procurado 
reduzir  todas  as  Febres,  e  muitas  outras  doenças  a 
meras  inflammâçòes ,  mas  também  porque  estas  alte- 
rações mórbidas ,  pela  sua  simplicidade ,  frequên- 
cia ,  situação ,  e  facilidade  com  que  podem  a  nosso 
arbitrio  ser  excitadas  em  partes  apparentes,  parecem 
muito  mais  fáceis  de  averiguar  ;  e  com  eOeito ,  o  que 
mais  lisonjea  os  médicos  que  pertendem  ter  reduzido 
quasi  todas  as  doenças  á  inflammação,  he  sem  duvida 
iulgarem  que  esta  he  huma  dpença  simples^  de  cuja 


io8  Resenha  Anafytíca. 

natureza  e  tratamento  elles  tem  hum  cabal  conheci- 
mento. Não  he  agora  o  nosso  objecto  examinar  até 
que  ponto  esta  opinião  he  fundada  em  quanto  ao 
tratamento ,  e  se  com  eíTeito  existe  tal  concordância 
na  therapeutica  de  todas  as  doenças  inflammatorías. 
O  quQ  por  ora  nos  importa  investigar  he ,  se  a  theoria 
a  mais  geralmente  admittida  a  respeito  da  inflamma* 
çào  he  ou  não  bem  fundada . 

Não  fafUaremos  dos  antígos ,  que  ignorando  a  circu- 
lação do  sangue  e  a  existência  e  funcções  dos  vasos 
lymphaticosy  attribuirão  todos  os  phenomenos  da 
inflammaçào  á  congestão  ou  qffluxo  dos  diversos  hu- 
mores do  corpo.  Também  pouco  diremos  da  theoria  de 
Boerhaave  que  he  demasiadamente  mechanica  ,  e  evi- 
dentemente incapaz  de  explicar  os  phenomenos  :  alem 
de  que^a  obstrucçào  mechanica  não  pode  ser  admit- 
tida como  causa  da  inflammação;  e  a  obstrucção 
pathologica ,  suppondo  a  sua  existência ,  não  pode 
ser  a  causa  próxima  da  inflammaçào ,  pois  que  ella 
não  pode  conceberse  sem  ser  hum  resultado  immer 
diato  de  huma  alteração  anterior  dos  sólidos  ou  dos 
liquídos,  a  qual  >  nesse  caso  ,  seria  a  verdadeira  causa 
próxima  da  inflammação.  Em  quanto  á  supposta  acrí- 
monia  dos  líquidos  ou  á  cooperação  doeste  elemento 
com  os  mais  que  são  susceptíveis  de  produzir  inflam- 
mação,  basta  dizer  que  nada  ainda  se  sabe  positi- 
vamente a  este  respeito ,  se  bem  que  nos  pai^ce  mais 
que  temerário  negar  que  pode  haver,  e  que  ha  com 
eíleito  alterações  nos  fluidos  circulantes^  capazes  de 


Resenha  Anafytica.  109 

causarem  em  certos  orgàos  alteração  produCtiva  de 
ÉK  doença ,  e  isto  só  por  não  conhecermos  ainda  bas- 
srtantemente  a  natureza  d*estes  fluidos ,  tanto  no  estado 
\  ^  de  saúde  como  no  de  doença.  Ha  doenças  tão  eviden- 
e-  temente  produzidas  por  matéria  inoculada ,  e  susce- 
r  ptivel  de  se  reproduzir  e  de  communicar  a  outros  in- 
dividuos  a  mesma  doença ,  que  estes  casos  bastarião 
para  admittir  como  elemento  necessário  de  algumas 
inflammaçôes  a  natureza  das  matérias  que  circulào 
com  os  nossos  liquidos.  Outivas  considerações  nos  fa- 
zem igualmente  ver  que  as  alterações  manifestas  dos 
liquidos  circulantes,  ou  a  applicaçào  a  hum  órgão 
dos  fluidos  que  lhe  não  são  propríos,  são  capazes  de 
excitar  hum  estado  mórbido  e  frequentemente  a  in« 
flammação*  Isto  he  tão  frequente  que  apenas  carece 
de  provas.  Basta  considerar  o  estado  do  sangue  no  es- 
corbuto j  no  carbúnculo ,  os  efleitos  da  ourína  extra- 
vasada ,  os  phenomenos  das  concreções  biliares  ,  got- 
tosas ,  etc.  a  existência  provada  da  bilis  no  sangue  e 
06  seus  edeitosy  para  nos  convencermos  que  toda  a 
theoria  que  não  considerar  os  liquidos  como  coope- 
rando com  os  sólidos,  tanto  na  producção  dos  phe- 
nomenos da  saudç  como  nos  da  doença,  não  dará 
nupca  senão  huma  explicação  incompletta,  e  por  tanto 
inexacta  dos  factos.  Faremos  só  huma  observação 
mais  em  quanto  á  acção  dos  liquidos ,  a  respeito  dos 
quaes  só  pertendemos  estabelecer  em  these  geral  que 
a  sua  acção  deve  ser  estudada ,  e  que  he  indispen- 
sável conhecé-la ,  para  podermos  explicar  os  pheno- 
menos da  economia  animal  \  convindo  todavia ,  que  r 


iiô  Resenha  Anafytica* 

DO  estado  actual  dos  nossos  conhecimentos,  ke  impes* 
sivel  fundar  sobre  os  fluidos  animaes  raciocínio  algum 
admissível  relativo  á  physiologia  ou  á  pathologia  :  por 
ora  he  forçoso  contentar-nos  com  o  pouco  que  sabe* 
mos  a  respeito  dos  sólidos ,  os  quaes  nos  be  menos 
dii&cil  estudar  no  estado  de  vitalidade,  que  ellet 
possuem  mais  privativamente  e  de  huma  maneira 
menos  transiente  que  os  liquidos.  A  observação  a  que 
alludimos  be,  que  todos  os  fluidos  circulantes  não 
s6  exercem  sobre  os  sólidos  huma  acção  mechanica , 
mas  que ,  ha ,  entre  huns  e  outros,  acções  e  reacções  , 
e  que,  se  as  alterações  das  propriedades ,  phjsicas  e 
chymicas  dos  fluidos,  são  muitas  vezes  effekos  da 
acção  dos  sólidos,  também  não  poucas  s&o  causas 
immediatas  das  alterações  d*estes. 

« 

A  theoría  de  CuUen  quasi   que  não  diíTere  da   de 
Boerhaave -senão  em  substituir  a  palavra  spasmo  á  de 
obstrucção ,  e  em  admittir  que  ,  ao  mesmo  passo  que 
na  inflammação   as  extremidades  das  artérias   estão 
spasmodicamente  contrahidas  ,  os  troncos  im mediatos 
são  dotados  de  maior  acçào.  Esta  theoria  he  tão  mal 
expressada  e  ainda  mais  mal  desenvolvida  nos  escri- 
ptos  de.CuUen,  que  he  difficil  ajuizar  do  que  nella 
ha  de  exacto ,  e  de  bjpothetico  e  inadmissiveL  Cul'* 
len  não  prova  a  existência  do  spasmo ,  nem  diz  bem 
o  que  entende  por  esta  palavra ;  alem  do  que  ,  attri* 
bue  o  spasmo  á  congestão ,  em   vez  de   attribuir  a 
congestão  ao  spasmo  \  e  em  huma  palavra  não  merece 
a  sua  bypothese  hum  serio  exame.  JNella  não  se  ex- 


p 


Resenha  Arudytijca.  iit 

iplicão   os   princLpaes  phenomenos  inflaiamatoriós;  e 
para  provar  a  fal&idade  delia ,  basta  a  simples  ohser* 

I  vaçào  y  que  a  ligadura  de  huma  artéria  considerável 
nào  produz  necessariamente  inflamniaçào ,  posto  que 
nesta  experiência  a  obstrucção  á  paisagem  do  sangu& 
seja  evidentemente  mui  superior  a  qualquer  obstáculo 
procedido  do  spasmo  das  extremidades  arteriaes. 

Nada  diremos  das  opiniões  de  João  Hunter  nesta 
matéria ,  pois  sào  tão  vagas  ,  confusas  e  mal  digeridas » 
que  he  impossivel  fazer  delias  huma  exposição  que 
se  entenda,  e  menos  ainda  que  satisfaça.  Falia  de 
acção  augmentada  dos  vasos  y  e  diz  que  a  principio 
he  accompanhada  da  distensão  dos  mesmos  vasos; 
quer  que  este  augmento  de  acção  proceda  de  huma 
diminuição  da  força  muscular  das  artérias»  ao  mesmo 
passo  que  a  sua  elasticidade  admitte  maior  dilatação ; 
e  huma  serie  de  outras  proposições  y  a  nosso  ver,  inin- 
telligiveisy  ou  contradictorias ,  e  nenhuma  fundada 
em  experiências  ou  em  factos  bem  analysados. 

No  meio  da  confusão  que  neste  assumpto,  assim 
como  em  todas  as  mais  questões  de  medecina ,  tem 
reinado  desde  a  infância  d*esta  sciencia »  a  opinião 
que. hoje  está  mais  espalhada  he ,  que  a  acçào  oagmen* 
toda  dos  vasos  constituea  essência  om  he  a  causa  pro-. 
xirna  da  inflammação  :  buns  querem  que  este  aug- 
mento  de  acção  comprehenda  todas  as  artérias  da 
parte  inflammada;  outros ,  e  este  he  o  maior  numero, 
limitào  este  excesso  de  acção  aos  capillares.  Esta  opi- 


II!»  Hesenha  Aruãytiira* 

niào  deve  a  sua  origem  ás  ideias  de  Stahl  sobre  o 
tom  ou  a  acção  vital  dos  capillares,  e  enti*e  os  seus 
discípulos  que  a  propagarão,  deve  contar^se  oD>'.Gorter, 
o  qual,  no  seu  Compendium  Medicince  eno,  Chirurgia 
Mepurgata  ,  diz  que  «  a  causa  próxima  da  inílamma- 
ção  consiste  no  augmento  da  acção  vital  de  huma 
artéria  ou  artérias,  por  eíTeito  do  qual  o  sangue  he 
propellido  com  maior  força  que  de  ordinário ,  nos 
vasos  lympliaticos  e  brancos  que  commumcào  com 
estas  artérias.  » 

Todos  concordão  em  dois  pontos ,  i^.  que  a  inffam- 
mação  tem  o  seu  assento  nos  capillares*,  eti^.  que  a 
parte  iáflammada  contém  mais  sangue  que  no  estado 
natural.  Na  explicação  dos  symptomas ,  a  dôr  oíTerece  a 
difficuldade  notável  de  saber  como  os 'nervos  augmen- 
tão  de  sensibilidade,  a  ponto  que  as  partes  as  mais 
insensíveis  no  estado  de  saúde  se  tornão  as  mais  dolo- 
rosas quando  estão  inflammadas.  Parece  impossível 
attribuir  isto  á  simples  distensão  produzida  pela  maior 
quantidade  de  sangue ,  por  muitas  razoes ,  e  particu- 
larmente porque  a  dôr  precede  a  congestão,  e  não 
tem  com  ella  a  menor  proporção.  He  de  crer  que 
alguma  causa  occulta  modifica  directamente  a  sen- 
sibilidade; mas  julgamos  mais  acertado  confessar  a 
nossa  ignorância  a  este  respeito  ,  do  que  contentar-nos 
com  a  explicação  de  Bichat,o  qual  diz  que,  neste  caso, 
a  sensLt)ilidade  orgânica  se  converte  em  sensibilidade 
animal  \  pois  semelhante  asserção  nada  elucida  e  he 
apenas  intelligivel. 


Resenha  j4nalyticã.  1 13 

A  vermelhidão  he  por  todos  attribuida  á  maior  quan^^ 
lidade  de  sangue  arterial  na  parte  inflammada ,  e  por 
alguns  ,  a  este  fluido  conservar  nas  veias  immediatasafl 
propriedades  de  sangue  arterial.  Isto  não  está  bem  pro- 
vado i  mas  a  constância  da  crosta  inflam matoría ,  eOfeito 
da  menor  promptidào  com  que  o  sangue  coagula  nas 
inflammações ,  a  maior  consistência  do  coalho ,  quando 
huma  vez  se  forma ,  e  a  maior  quantidade  de  soro 
que  d'elle  he  expellido ,  são  provas  superabundantes 
de  alterações  notáveis  nas  propriedades  do  sangue 
das  partes  inflammadas^  que  influem  sobre  a  côr »  con*- 
sistencia ,  etc.  doeste  fluido.  O  que  prova  que  estas 
alterações^do  sangue  não  dependem  meramente  da  ac-* 
çào  local  dos  vasos  inflammados ,  he  observarem-se 
no  sangue  tii*ado  de  qualquer  veia,  nas  phiegmasias 
do  bofe  e  das  mais  visceras  :  he  notável  que  o  sangue 
das  mulheres  gravidas  offerece  constantemente  os 
mesmos  phenomenos. 

O  calor  inflammatorio  tem  sido  explicado  de  mil 
maneiras  ,  segundo  as  theorias  que  na  physica  tem 
predominado ,  porém  a  verdade  he  que ,  sobre  esta 
matéria  nada  absolutamente  se  sabe,  e  só  conhecemos 
perfeitamente  a  futilidade  das  conjecturas  que  a  este 
respeito  se  tem  feito.  He  indubitável  que  o  calor  não 
procede  da  fricção  e  rapidez  do  movimento  do  sangue , 
pois  ,  ainda  suppondo-a  infinitamente  maior  que  em  to* 
das  as  hjpotheses,  nenhum  calor  notável  pode  resultar 
d'essa  supposta  velocidade.  Referi-lo  á  maior  acção 
dos  vasos  he  mera  supposição,  e  logo  veremos  quão 
pouco  fundada ,  e  em  todo  o  caso  he  inadequada 
Tom.  X  P.  ia.  8  \ 


ii4  Resenha  Analytica. 

para  a  explicação  dos  pbenomenos.  Attríbut-lo  a  ma- 
danças  chymicas  determinadas ,  he  mui  precipitado ' 
porque  nenhuma  he  ainda  conhecida  que  dé  razão 
doeste  augmento  do  calor ,  no  sangue.  Em  huma  pa-^ 
lavra ,  em  quanto  a  origem  do  calor  animal  não  for 
conhecida,  he  escusado  procurar  a  causa  do  calor 
inflammatorio.  O  influxo  nerveo,  seja  elle  qual  for, 
he  evidentemente  indispensável  para  a  producçào  do 
calor  animal ,  como  o  provào  decisivamente  os  expe- 
rimentos de  M.  Brodie  (  V.  PhilosophicalTransactions 
for  i8i  i')j  pelos  quaes  se  vé  que  a  separação  da  massa 
cerebral  j  ainda  continuando  a  respiração  e  a  circu- 
lação por  meios  artiíiciaes,  faz  diminuir  rapidamente 
o  calor  do  animal.  He  também  de  notar  que  as  mu- 
danças do  calor  animal  difierem  muito ,  segundo  são 
medidas  pela  thermometro,  ou  pelas  sensações  de  cada 
individuo  y  pois  muitas  vezes  quando  o  doente  expe- 
rimenta o  mais  violento  calor,  apenas  o  thermometro 
indica  poucos  grãos  de  aiigmento  de  temperatura ,  e 
até  ha  casos  em  que  este  instrumento  não  marca 
diOerença  notável ,  ou  até  indica  diminuição  de  calor. 

Não  se  conhecendo  pois  a  explicação  da  doença 
reputada  a  mais  simples  e  a  mais  fácil  de  se  produzir 
artificial  e  externamente  ,  alguns  médicos  tem  procu- 
rado y  ao  menos  ,  acclarar  alguns  dos  pbenomenos  que 
a  constituem.  Persuadidos  da  insufficiencia  de  todas 
as  tbeorias  existentes  ,  tentarão  M.  Allen  eoD^  Lub- 
bock  ,  em  Edimburgo,  provar  a  falsidade  de  huma  das 
proposições    fundameataes  das  tbeorias   mais  geral- 


Resenha  Arudytica^  ii5 

mente  recebidas,  a  saber ,  que  a  acção  angt^entada 
das  artérias  capillares  constitue  a  causa  próxima  da 
inflammaçào»  Ambos  estes  autores  j  que  forão  seguidos 
por  M.  Thomson  e  pelo  D**.  Wilson ,  ignoravão  que 
as  mesmas  opiniões  tinbào  já  sido  professadas  pelo 
professor  de  Pisa  y  Vacca  Berlingbieri ,  o  qual  publi- 
cou em  Florença  em  1765  hum  pequeno  Tratado  inti- 
tulado :  Liber  de  Inflammationis  morboòos  ,  quce  in  hu- 
mano corporejit,  naturd,  causis,  effeçtibus  ,  et  curalione, 
no  qual ,  em  forma  mathematica  se  propoz  demonstrar 
a  falsidade  da  hypothese  geralmente  admittida,  da  ac- 
ção augmentada  dos  vasos  inílammados.  Os  argumentos 
de  MM.  AUen  e  Lubbock  são  os  mesmos  que  os  do 
professor  Vacca )  e  nos  parecem  demonstrar  perfeita- 
mente a  impossibilidade  da  opinião  recebida.  Como  a 
obra  do  professor  Vacca  he  pouco  conhecida  fora  dât 
Itália ,  vamos  dar  alguns  extractos  das  principaes  pro- 

« 

posições  que  ella  encerra ,  e  da  maneira  por  que  elle 
as  demostra* 

c  Prop.  /.  — *  Inflam matio  cujusvi  partis  humani  coi*porís 
nunquam  íit,  msi  in  ipsa  parte  sangois  Coacervetur  et  fere 
quicscat» 

»  Demonsiratio.  —  Id  experientia  ,  qttae  nunquam  fallit  ,cla- 
rissime  consta t.  Videmus  enim  >  antequam  inflammatio  incipiat , 
partis  inflammatse  molem  semper  modo  magÍ8>  modo  minus 
augescere  :  et  ex  colore  rubro ,  quo  pars  eadem  perfunditur , 
evidenlissime  infertur  >  sanguinem  tum  in  canalibos  propriít 
ipsius  partis  majori  copia  colligi  >  tum  alios  canales  non  rubros/ 
veiutt  serosos  ingredi.  Utrumque  vero  iicri  non  potest,  nis» 

8^ 


1 16  Resenha  Analítica. 

major  sangulnis  quantitas  ad  partem  ipsam  confluat,et  in  eadem. 
coacervetur.  Tandem  si  cultello  vel  phlebotomo ,  pars  iuílam^ 
mata  incida tur ,  magna  in  ea  sanguinis  coacer\ari  copia  repe- 
ritur.  Ergo  patet  propositum. 

»  Prop.  11.  -—  Goaceryatío  et  semistagnatio  sanguinis  ,  vel 
alius  humoris  corporis  huraani  in  quacumque  ipsius  corporis 
parte  minime  contingere  potest  sine  ipsius  partis  absoluta  vel 
relativa  debilitale. 

»  Debilltatem  absolutam  vocamus  eam  realem  vigoris  cana- 
lium  ^  et  solidorum  imminutionem ;  relative  autem  debilia  fieri 
solida  alicujus  partis  intelligimus^  cum  crescente  sanguinis  xtor 
petu ,  et  in  eadem  ratione  crescente  solidorum  aliaram  partium 
vigore, in  canalibus  ,  et  solidis  e}us  partis  vigor  soUtus  remanet, 
qui  idcirco  aucto  sanguinis  momento  resistere  nequit. 

»  Prop.  III.  —  Data  eadem  partis  cujusdam  debilitate  ,  non 
solum  coacervatio,  et  semistagnatio  sanguinis  fict  in  ipsius  partis 
sanguineis  vasculis  ,  ut  demonstratum  est ,  verum  etium  eanales 
laterales  Ijmpba ticos  et  adiposos  ipsius  partis  sanguis  ingredi 
debit. 

«  Prop.  IV%  —  Ex  majori  collectione  sanguinis  in  vasculis 
sanguineis  alicujus  partis ,  et  ex  ingressu  ipsius  in  canales  tam 
Ijmpbaticos  quam  adiposos ,  Pt  ex  ejusdem  sanguinis  per  ipsos 
atque  sariguineos  canales  lentíssimo  motu  inílammatio  morbosa 
in  eadem  parte  oriri  potest. 

»  Prop,  V.  —  Ex  majori  sanguinis  in  parte  quacumque  in- 
ílaminatione,  inflammatio  pinguedinís  circumpositae,  et  iu  ea 
parte  cxistentis ,  exorietur. 

»  Prop.  VI.  —  Kx  enata  inflammatione  in  aliqna  hominí 
corpoiis  parte  major  sanguinis  >  et  bumorum  quantitas  in  eam- 


llesenha  jánalytica .  1 1 7 

6em  partem  inílait ,  atque  ideo  tumor  necessari»  major  fieri 
debet.  » 

Aqui  não  ha  de  inexacto  senão  a  supposiçâo  gra- 
tuita que  mais  sangue  corre  para  a  parte  inflammada, 
quando  he  evidente  que  elle  se  accumula  nella  uni- 
camente por:]ue  o  sangue  transmittido  pelo  coração 
circula  com  menos  facilidade.  A.  passagem  seguinte 
mostra  que,  a  pczar  da  incorrecção  das  ideias  chy-' 
micas  do  autor,  são  mui  acertadas  as  suas  indicações 
de  tratamento. 

«  Si  humores  ínflammata  parte  collecti ,  et  efiusi  qutescente 
diu  mancant ,  corram puntur,  et  suppurationera  vel  gangraraam 
producunt ,  aut  durescuut ,  et  scirrhus  supervenit.  Ut  igitor 
ea  mala  evitentur ,  necesse  est  ut  fluida  stagnantia  resorbean- 
tur  ,  et  circulatório  motu  rursus  in  gyrum  circumagantur.  Quod 
ut  íiat ,  vigor  partis  iuílammatse  solidis  reddí  debet ;  cum  jam 
demonstrayerimus,  stagnatioDes  inílammatorías  ex  partis  ipsius 
debilitate  nasci.  Vigor  partis  inílammatae  augeri  potest,  vel 
immediale  et  directe ,  vel  indirecte  «t  raediate.  Immediate  au- 
getur  applicando  eidem  parti  iriedicamenta  roborantia.  Indi- 
recte autem  roborantur  partes ,  vim ,  qna  fluida  contra  ipsas 
agunt ,  iufringendo.  » 

Estes  extractos  bastão  para  provar  que  o  professor 
Vacca  reconheceo  plenamente  o  erro  da  tbeoria  ge- 
ralmente recebida  sobre  a  inflammaçâOy  pelo  que  toca 
ao  estado  de  acção  dos  vasos  arteriaes,  que  he  a 
parte  a  mais  importante ,  tanto  para  o  conhecimento 
pathologico,  como  para  o  tratamento  d'esta  enfermi- 
dade. Vamos  resumir  os  principaes  argumentos  contra 
a  supposta  causa  da  inflammação. 


ii8  Resenha  Analítica. 

lO.  Nenhnm  experimento  ou  prova  directa  demostra 
que  os  capillares  de  huma  parte  inflamroada  tenhào 
maior  vigor ,  ou  que  o  sangue  se  mova  nelles,  durante 
o  período  inflammatorío  ,  com  mais  velocidade. 

a®.  Muitos  experimentos  feitos  pelo  D*".  Wilson ,  M. 
Boraston ,  e  outros  médicos  j  provào  directamente  o 
contrario ;  d*elles  resulta ,  que  o  augmento  de  acção 
dos  vasos  de  qualquer  parte  de  hum  animal  não  produz 
inflammação^  quando  ella  sobrevem ,  por  qualquer 
causa  y  os  vasos  se  enchem  de  sangue ,  diminuem  de 
acção y  e  o  sangue  circula  com  menos  velocidade; 
e  emfim  he  possivel  muitas  vezes  directamente  re* 
mover  a  inflammação  já  começada ,  stimulando  os 
vasos  da  parte. 

I 

Z^*  A  congestão  e  inchação  são  absolutamente  inex* 
plicaveis  e  incomprehensiveis  na  hypothese  de  huma 
âcçâo  augmentada  da  circulação  local,  cujo  efieito 
incontestável  deve  ser  a  passagem  rápida  de  maior 
quantidade  de  sangue  pelos  vasos ,  e  por  modo  ne- 
nhum de  o  fazer  demorar  nelles. 

4^.  O  principio  e  progresso  de  toda  e  qualquer  in- 
flammação não  denotào  augmento  de  secreções ,  antes 
pelo  contrario  todas  são  caracterisadas  pela  diminui- 
ção dos  fluidos  que  no  estado  de  saúde  manão  dos 
vasos  da  parte.  Se  nisto  ha  algumas  excepções,  são 
antes  apparentes  que  reaes ,  e  procedem ,  ou  da  inac- 
ção ainda  maior  dos  absorventes,  ou  da  absorpçào 
<las  particulas  mais  fluidas  das  secreções. 


Resenha  Analjtica.  119 

50.  As  causas  que  produzem  inílammação,  diminuem 
directamente  a  acção  dos  vasos ,  ou  alterão  parte 
da  organisaçào  local ,  e  por  tanto  não  he  possivel 
suppôr  que  augmentem  o  vigor  do  órgão  ofiendido. 
Como  he  crivei  que  o  frio  e  o  calor  excessivo ,  que 
huma  contusão ,  buma  fenda  que  lacera ,  corta  e 
destroe  os  vasos ,  dêem  origem  a  huma  acção  mais 
enérgica  que  no  estado  de  saúde  ? 

€^.  Todos  os  phenomenos  se  explicão  pela  suppo* 
sição  y  que  os  vasos  inflammados  tem  menos  energia 
que  os  seus  troncos ;  o  que  não  acontece  na  suppo*» 
sição  contraria. 

Em  quanto  ao  tratamento  da  inflammação ,  seria 
absurdo  tirar  d*elle  argumentos  pro  ou  contra  qual- 
quer theoria  ,  pois  que ,  seja  qual  for  a  que  se  adopte» 
sempre  será  forçoso  confessar,  não  só  que  inílamma- 
ções  diversas  e  de  tecidos  diíTerentes  se  curão  por 
tratamentos  oppostos ,  mas  até  que  inflammações 
idênticas  podem  curar-se  de  maneira  mui  diiTerente, 
e  he  incontestável  que  muitas  se  curão  pela  applica- 
ção  de  agentes  chamados  stimulantes.  O  profes3or 
Vacca  estabeleceo  com  muito  acerto  que  ha  dois  me- 
thodos  curativos  ,  hum  directo  ,  e  o  outro  indirecto  ; 
os  dois  partidos  só  podem  diOerir  sobre  qual  d*estas 
denominações  convenha  a  hum  methodo  curativo , 
mas  todos  devem  convir  que  por  ambos  os  methodos  se 
cura,  pois  esse  he  hum  facto  incontestável;  e  he  de 
notar  que  dos  dois  o  que  cura  mais  promptamente » 
quando  be  indicado ,  he  o  methodo  stimulante. 


lao  Resenlia  Analytica, 

A  estas  razoes  ajuntaremos  outras ,  tiradas  de  con- 
siderações mais  elevadas  á  cerca  das  leis  da  economia 
animal ,  ás  quaes  nos  parece  que  os  escriptores  em 
medecina  não  tem  feito  a  devida  attencào. 

Os  movimentos  conservadores  de  cada  animal  con- 
stituem a  vida;  o  equilibrio  ou  a  justa  proporção 
entre  elles  constitue  a  saúde ;  e  a  alteração  d*estas 
proporções  produz  a  doença.  A  preponderância  con- 
stitucional de  qualquer  funcção ,  sjstemâ ,  ou  órgão 
constitue  os  temperamentos  e  idiosyncrasias ;  e  cada 
sexo  e  idade  he  caracterisa^do  pela  preponderante  in- 
fluencia de  hum  systema  ou  órgão. 

Todas  as  partes  que  compõem  o  corpo  humano 
requerem  para  a  continuação  das  suas  funcções,  nas 
pro.  orções  que  constituem  a  saúde ,  alternativas  de 
actividade  e  de  descanso;  e  entre  os  principaes  sys- 
temas  e   funcções  existe  hum  constante  antagonismo 

« 

de  acção.  D'aqui  se  segue ,  que  he  absolutamente  im* 
possível  que  todos  os  movimentos  e  funcções  da  eco- 
nomia animal  sejão  augmcntados  ao  mesmo  tempo  , 
ou  diminuídos  no  mesmo  grão. 

Por  esta  razão  ,  até  no  estado  da  mais  perfeita  saúde, 
nas  mais  vigorosas  couNtituições  ,  e  em  qualquer  idade 
e  sexo ,  ha  sempre  hum  systema ,  ou  funcção  que 
predomina  sohre  os  mais ,  e  quando  esta  preeminente 
energia  he  mui  for!e,  .ipproxima-se  muito  ao  estado  de 
doença.  Por  exemplo,  as  muilieres  dotadas  de  huma 
exquisita  sensibilidade  physica  e  moral^  tem  geralmente 


liesenha  Analrtica*  lai 

•ò  systema  muscular  frouxo ;  os  homens  athleticos  tem 
pouca  sensibilidade,  e  de  ordinário  huma  circulação 
muito  menos  activa  que  os  individuos  delicados ;  as 
pessoas  de  talentos  ti*anscendentes ,  ou  de  huma  viva 
imaginação  y  são  em  geral  pouco  vigorosas  y  em  quanto 
á  maior  parte  das  funcçôes  da  vida  orgânica.  Doesta 
observação  nascem  as  prediSi>osições  ás  diãerentes 
doenças  :  todos  os  médicos  philosophos  .concordão 
sobre  este  ponto* 

He  possivel  augmentar  a  acção  de  qualquer  órgão 
ou  systema  por  hum  certo  espaço  de  tempo  sem  que 
dahi  resulte  doença ,  com  tanto  que  esta  acção  não 
seja  nem  immoderada,nem  mui  prolongada.  Também 
hum  individuo  pode  adquirir  maior  vigor  geral  do 
corpo  y  por  eíleito  de  huma  melhor  dieta  e  regime  ;  mas 
isto  he  resultado  lento  y  e  nunca  pode  ter  lugar  rapida- 
mente ,  conservando-se  a  pessoa  em  estado  de  saúde. 

O  vigor  consiste  na  intensidade  e  regularidade  dos 
movimentos  naluraes  ,  e  na  possibilidade  de  os  execu- 
tar pelo  maior  espaço  de  tempo ,  sem  doesse  exercicio 
resultar  inaptidão  para  os  continuar,  maior  da  que  deve 
nascei^  das  alternativas  de  acção  e  repouso,  de  que 
as  partes  carecem  para  recuperar  as  suas  forças. 

Por  conseguinte ,  todo  o  movimento  iiregular,  ainda 
que  momentaneamente  seja  enérgico ,  como  nas  con- 
vulsões ;  e  toda  a  cessação  de  movimento ,  ainda  que 
a  parte  esteja  extremamente  contrahida  e  rija ,  como  ' 
nos  spasmos  e  no  tetanos  ,  indica  doença ,  e  por  tanto, 
falta  de  vigor  vitaL 


ia!i  Resenha  jínafytica. 

As  expressões  de  —  exaltação  de  movimento » energia 
augmentada ,  excesso  de  acção  ou  de  tom  ,  appUcadas 
a  estes  e  a  outros  casos  semelhantes ,  são  evidentemente 
impróprias ,  inexactissimas ,  e  dão  lugar  a  erros  graves 
na  explicação  e  tratamento  das  doenças.  Dizer  que  a 
energia  muscular  de  huma  mulher  delicada  está  aug- 
mentada ^  porque  os  seus  músculos  se  contrahem  con- 
vulsivamente com  huma  força  que  custa  a  superar  , 
he  confundir  hum  defeito  ou  aberração  das  proprie- 
dades vitaes  y  com  o  augmento  das  condições  da  saúde ; 
he  confundir  a  inhabilidade  com  a  aptidão,  e  em 
huma  palavra  he  confundir  a  debilidade  com  o  vigor, 
fazendo  huma  errada  applicação  de  noções  Uradas  da 
natureza  morta  ao  corpo  vivo.  Se  a  tensão ,  a  rijeza , 
e  a  diíBculdade  de  Jazer  que  hum  corpo ,  mais  ou  me- 
nos elástico  ou  flexivel ,  mude  de  posição ,  são  signaes 
de  íorça  em  huma  barra  de  ferro  ,  não  o  são  por  certo 
nos  corpos  animados ,  pois  em  tal  caso  seria  hum 
cadáver  mais  vigoroso  que  o  corpo  vivo;  e  he  bem 
sabido  que  a  rijeza  cadavérica  ,  e  a  tensão  dos  múscu- 
los, em  certos  casos ,  he  tal,  que  não  ha  força  de  homem 
que  as  possa  superar.  O  doente  delicado ,  nas  mais  vio- 
lentas convulsões  hystericas ,  e  na  maior  tensão  do  te- 
tanos  ,  está  tão  longe  do  vigor  animal  dos  corpos  vivos , 
quanto  mais  estes  dois  estados  se  avizinhão  da  morte. 
E  tanta  he  a  debilidade  vital  do  epiléptico  ,  quanto  a  do 
marasmado ,  e  do  hydropico ;  a  maior  relaxação  e  a 
maior  contracção  são  igualmente  aberrações  da  saúde 
e  do  vigor ;  e  posto  que  o  estado  das  partes  seja  diílè- 
reute,  ambos    conduzem  á  destruição   das  funcções 


Resenha  Analítica*  ia3 

conservadoras  da  vida ,  e  por  consequência  rigorosa , 
<le  nenhum  pode  dizer-se  que  indica  vigor  vital. 

Por  esta  razão  he  que  Brown  fez  hum  serviço  nota^ 
vel  á  Medecina  quando  chamou  debilidade  todo  o  es- 
tado de  doença ;  só  se  enganou  quando ,  referindo 
tudo  á  ideia  vaga  de  stimulo,  pertendeo  determinarem 
que  casos  havia  excesso  ou  falta  d*elle.  Isto  he  patente 
na  questão  da  inílammaçào  que  nos  occupa. 

Admittido  pois ,  que  nenhuma  doença  local  ou  geral 
pode  consistir  no  augmento  durável  das  funcçôes  ha* 
bituaes  da  parle  ou  do  systema  atacado  ^  e  que  toda  a 
doença  consiste  em  huma  desigualdade  dos  movimen- 
tos habítuaes  da  economia  animal ,  segue-se,  que  em 
toda  a  lesão  mórbida  deve  haver  acção  relativamente 
augmentada  de  alguma  parte,  systema  ou  funcção; 
mas  isto  he  eíTeito  e  não  causa  da  doença  primitiva, 
a  qual  invariavelmente  depende  de  diminuição  da  justa 
proporção  entre  as  forças  locaes  da  parte.  Esta  dimi- 
nuição pode  ser  acompanhada  com  augmento  de  sen- 
sibilidade ou  dor,  a  qual,  em  vez  de  ser  hum  signal 
de  vigor  yhe  a  sensação  a  mais  nociva  á  vida^epor- 
tanto  a  mais  debilitante  (  no  sentido  rigoroso  doesta 
palavra  applicada  aos  animaes ).  Â  dor  indica  huma 
alteração  mórbida  dos  nervos,  huma  diminuição  das 
condições  necessárias  ás  suas  funcçôes  ,  pois  que  toda 
a  parte  dolorosa  cessa  de  fazer,  ou  faz  menos  bem 
todas  as  suas  funcçôes  habituaes ,  todos  os  seus  mo- 
vimentos I  as  suas  secreções,  etc. 


124  Resenha  Analytica. 

Os  movinrentos  angmentados  nas  doenças,  são,  como 
)á  dissemos y  efieitos  da  afiecção  morlnda  primitiva, 6 
só  tem  alguma  duração  e  permanência  quando  o  sjs- 
tema  ou  órgão   em  que  se  maniieslào  está  são ;  por 
exemplo ,  o  coração  pode  contrahir-se  com  mais  fre- 
quência e  vigor^por  algum  tempo,  quando  não  lie  o 
assento  da  doença ,  e  quando  por  efieito  de  sympathfas 
ou  de  hum  obstáculo  positivo  á  circulação ,  que  obra 
como  hum  excitante  mechanico ,  he  forçado  este  órgão 
a  contrahir-se  com  mais  energia ;  mas   esta  energia 
não  pode  conservar-se  muito  tempo  sem  debilitar  o 
oi^ão.  Nas  mais  violentas  phlegmasias,  v.g.  do  cérebro, 
do  bofe,  o   coração  está  são;  outro  tanto  acontece 
nas  febres.  E  he  bem  digno  de  notar-se  que  o  coração 
e  as   fibras  musculares,   órgãos  em  que   se  observa 
nas  doenças  maior  augmento  de  acção  momentânea , 
são  precisamente  as  partes  do  corpo  humano  menos 
frequentemente    atacadas    de    doenças    primitivas   e 
graves.  O  assento  de  quasi  todas  as  doenças ,  he  nos 
vasos  ténues  ,  e  nos  tecidos  onde  he  menos  sensivel  a 
acção  da  circulação,  menos  apparente  a  sensibilidade, 
e  em  huma  palavra  onde  ha   menos  forças  vitaes ,  e 
por  conseguinte  menos  meios  de  vencer  qualquer  ob- 
stáculo á  continuação  dos  movimentos  de  que  depen. 
dem  as  funcções  do  órgão ;  ou   nas  partes  onde  ha 
maior  complicação  de  operações  vitaes ,  e  nas  super- 
fícies expostas  á  influencia  directa  de  agentes  externos, 
cuja   acção  não  pode  ser  directamente  superada  pela 
vitalidade  local. 

Brovsn  teve  razão  de  exprimir  pela  palavra  excita- 


Resenha  Ãnàlytica»  ia5 

Lilidade  a  simples  aptidão  a  executar  movimentos 
vitaes ,  sem  considerar  nem  o  influxo  nerveo  nem  a 
fibra  muscular;  teve  igualmente  razão  em  chamar 
debilidade  todo  o  estado  mórbido ,  de  dar  o  nome 
de  indirecta  á  que  procede  do  augmento  dos  stimulos 
habituaes  e  saudáveis ,  e  de  chamar  directa  aquella 
que  he  causada  ,  ou  pela  diminuição  doestes  ,  oa 
pela  applicaçào  dos  que  são  mais  ou  menos  noci- 
vos á  vida.  Até  aqui  não  fez  mais  que  exprimir 
verdades  ,  que  he  impossivel  contestar  ;  mas  logo  que 
pertendeo  desenvolver  o  seu  systema»  cahio  em  grar 
vissimos  erros ,  que  tem  depois  grassado ,  não  só  entre 
os  seus  numerosos  sectários ,  mas  não  menos  entre  os 
que  professão  ser  seus  antagonistas. 

Doestes  erros  os  principaes  são  os  dois  seguintes : 

i®.  Considerar  o  corpo  como  homogéneo  em  pro* 
priedades ,  e  a  acção  dos  agentes  como  idêntica ,  e  só 
diíFerindo  em  grão ;  e  olhar  todos  os  phenomenos  da 
vida.  como  huma  simples  stimulação. 

*i9.  Suppôr  que  nas  doenças  j  tanto  locaes  como  ge- 
raes » a  natureza  da  alteração  das  funcçôes  he ,  em  toda 
a  economia  animal ,  a  mesma  j  diíTcrendo  só  em  grão. 

De  hum  e  outro  doestes  priucipios  falsos  tirou  por 
consequência ,  que  na  inflammação ,  que  elle  attribuia 
a  excesso  de.  irritação ,  todo  o  corpo  estava  mais  oa 
menos  em  hum  estado  análogo  ao  da  parte;  e  pela 
mesma  razão  concluio ,  que  nas  doenças  que  elle  at^ 


i;)6  Resenha  Analfdca. 

tribue  a  asthenia ,  toda  a  economia  estava  atacada  de 
debilidade  directa. 

A  nosso  ver,  he  manifesta  a  falsidade  doestas  proposi- 
ções ^  e  parece-nos  que  pelo  contrario  pode  aífirmar-se : 

i<>.  Que  as  partes  de  que  he  formado  o  corpo  hu<* 
mano  diflerem  notavelmente  pela  sua  organisação  , 
propriedades «  futicções  e  modo  de  acçào,  na  saúde 
e  na  doença ,  e  pelos  effeitos  que  em  cada  huma  pro- 
duz a  applicaçào  de  diversos  agentes. 

a^.  Ainda  entre  as  que  mais  se  assemelhão  pela 
structura ,  ha  grandes  diiTerenças  ,  e  ás  vezes  até  oppo- 
siçào.  A  verdade  he  que  apenas  se  encontra  structura 
e  circumstancias  locaes  idênticas ,  ainda  nas  membra- 
nas que  são  prolongaçôes  de  outras  do  mesmo  género. 

30.  Nào  ha  doença   sem  opposição  de  acção  e  de 
funcçôes  enti*e  a  parte  doente  e  as  sans;    e  nào  ha 
doença  que  abranja  ao  mesmo  tempo  toda  a  econo- 
mia animal.  Ou,  em  outras^palavras, não  ha  doença 
alguma  rigorosamente  geral, posto  que  pela  intensidade 
e  duração  de  huma  aflecção ,  pela  impoitancia  e  ex- 
tensão das  partes  offendídas ,  possa  o  resto  do  systema 
achar-se  mui  debilitado  ,  isto  he ,  mui  pouco  disposto 
a  continuar  a  exercer  as  suas  funcçôes  habituaes  com 
o  mesmo  vigor.  Por  isso  ,  todas  as  doenças  prolongadas 
tem  por  symptoma,  constante  esta  diminuição  geral 
de  vigor,  que,  strictamente  fallando ,  não  he  doença 
mas  efieito  delia ,  e  por  isso  ,  melhor  se  cura  esta  de- 
bilidade quando  se  pode  remover  a   doença  de  que 


Resenha  Analytica.  la^ 

ella  procede,  do  que  se  vence  a  doença  procurando 
directamente  restabelecer  as  foiças  do  individuo.  Dê 
ordinário,  ambas  as  cousas  sào  mui  difficeis,  e  he  pre* 
ciso  combinar  as  duas  indicações  para  se  vencer  o  mal, 
ou  para  o  mitigar ,  pois  as  mais  das  vezes  he  incurá- 
vel ,  quando  chega  a  ser  chronico. 

4®.  Toda  a  vez  que  huma  lesão  de  parte  impor- 
tante perturba  a  circulação  ou  outra  qualquer  func- 
çào  y  e  augmenta  assim  a  acção  de  hum  systema  j  este 
excesso  de  actividade  he  pouco  durável, e  quanto  mais 
forte  he ,  mais  depressa  conduz  á  prostração  consecu- 
tiva das  forças ;  por  isso  he  tão  prompta  a  terminação 
do  primeiro  periodo  de  todas  as  doenças  agudas. 

b9.  Toda  a  vez  que  huma  doença  conserva  por  muito 
tempo  o  seu  caracter,  de  huma  maneira  permanente , 
c  sem  alteração  notável ,  não  só  he  signal  que  a  vita- 
lidade da  parte  vai  em  diminuição  ,  mas  que  á  propor- 
ção vai  diminuindo  a  reacção  das  outras, e  vai  sendo 
cada  vez  menois  apparente  e  enérgico  o  estado  de  op- 
posição  das  partes  não  oífendidas  da  economia  animal. 

6^.  A  reacção  das  partes  sans  sobre  as  doentes ,  he 
hum  eifeito  necessário  das  suas  connexões  e  depen- 
dência ,  e  do  estado  de  opposição  e  de  desigualdade  de 
acção  que  constitue  a  doença.  Neste  ponto  de  vista  he 
que  a  vis  mcdicatrix  naturce  oflíerece  hum  sentido  ra- 
zoável ,  e  pode  definir-se  a  acção  augmentada  ,  abso- 
luta ou  relativamente  ,  das  partes  sans ,  por  efieito  da 
alteração  e  diminuido  vigor  das  funcções  das  partes 


ia8  Rèsenlia  udnàlyticn, 

doentes.  Como  esta  reacção  das  partes  sans  nem  sem* 
pre  pode  vencer  o  estado  mórbido ^e  muitas  vezes  a 
aggrava  »  por  isso  o  epitheto  medicalrix  he  imprópria 
em  muitos  casos,  se  bem  que  o  não  seja  em  todos. 

70.  Avinda  nas  doenças  que  se  prolongão  com  inter^ 
miltencias  ou  intervallos  maiores  ou  menores ,  cada 
vez  vai  diminuindo  a  reacção  das  partes  sans,e  aug- 
mentando  a  debilidade  ou  a  inaptidão  a  executar  os 
movimentos  naturaes. 

8<>.  Toda  a  doença  admitte  dois  methodos  curativos  ^ 
hum  mais  ou  menos  directo ,  outro  mais  ou  menos 
indirecto  ,  e  muitas  vezes  a  combinação  de  kuns  e 
outros  meios  he  indispensável.  D*aqui  procede  ,  de 
hum  lado»  a  difficuldade  da  medecina  practica,  que 
se  não  deixa  reduzir  a  principios  restrictos  e  simples, 
como  o  tentou  Brown  ^  e  muitos  antes  e  depois  d*  elle) 
mas  também  d'aqui  resulta  poder  o  medico  curar 
doenças  que  só  imperfeitamente  conhece.  D'aqui 
provêm  também  a  incerteza  das  provas  tiradas  do 
tratamento  feliz  ou  funesto  de  qualquer  doença ,  para 
estabelecer  a  natureza  delia. 

€f,  O  methodo  directo  de  curativo  he  aquelle  que 
tende  a  remover  o  estado  que  constitue  essencialmente 
a  doença ;  o  indirecto  he  aquelle  que ,  removendo  as 
principacs  circumslancias  e  efleitos  que  a  aggravào , 
peruHtte  ás  partes  doentes  recuperarem  pouco  a  pouco 
o  seu  estado  natural.  A  bondade  de  cada  hum  d  estes 
tratamentos,  e  a  sua  combinação ^  dependem  da  natu"* 


Resenha  Analítica-  129 

reza  da  parte ,  das  terminações  ordinárias  da  doença , 
da  difficuldade  comparativa  de  conseguir  a  cura  por 
hum  dos  dois  metbodos,  eda  importância ,  maior  ou 
menor,  da  brevidade  do  curativo. 

10°.  Como  todas  as  applicações  não  immediatamente 
mortiferas  se  approximão  dos  meios  curativos  directos 
e  indirectos  j  por  isso  a  practica  das  divei*sas  escholas , 
posto  ique  diversa  e  até  opposta  em  appareocia  ^  tem 
muitas  vezes  dado  resultados  geraes  mui  semelhantes ; 
e  por  isso  as  theorias  falsas  não  tem  sido  tão  funes- 
tas á  humanidade ,  como  á  primeira  vista  pareceria 
dever  ser. 

ii*'.  De  ordinário  os  meios  indirectos  applicão-se  ás 
partes  sans,  e  até  as  mais  das  vezes  os  directos ,  cuja 
acção  doeste  modo  se  torna  muito  menos  directa ,  e  atá 
se  faz  indirecta ,  pois  antes  de  chegar  á  parte  doente , 
ou  vão  já  alterados  9  ou  tem  no  seu  progresso  produ* 
zido  nas  partes  sans  alterações  mais  ou  menos  con- 
trarias á  indicação  directa.  Não  damos  exemplos  do 
que  temos  affirmado ,  para  não  alongar  demais  este 
artigo  y  que  he  só  destinado  para  médicos ,  os  quaes 
farão  com  muita  facilidade  a  applicação  dos  princí- 
pios expendidos. 

Fazendo  applicação  doestes  princípios  á  inflammação , 
julgamos  poder  estabelecer  algumas  verdades  impor- 
tantes sobre  esta  matéria. 

lO.  A  inflammaçâo  ke  hum  pbenomeno  complexo  t 
composto  de  diversos  elementos ,  cuja  natureza,  ia- 
Tom.  X.  P*  i«.  9  A. 


i3o  Resenha  Analyica. 

fluência  e  caracter  particular»  em  cada  género  de  partes 
atacadas ,  sãú  ainda  mui  imperfeitamente  conhecidos. 
Esta  doutrina  he  a  que  professão  ba  muitos  annos 
os  mais  distinctos  professores  da  celebre  eschola  de 
Montpellier. 

20.  Por  conseguinte,  todas  as  explicações  que  até 
agora  se  tem  dado  da  causa  próxima  das  inflamma- 
çôes  j  e  todas  as  tentativas  para  confundir  debaixo 
de  huma  só  denominação  todos  os  casos  em  que  ha 
mais  ou  menos  dôr,  calor  e  intumescência  recente 
ou  antiga  ,  são  por  extremo  temerárias ,  de  mui  per- 
nicioso eOeito  y  e  em  vez  de  acclarar ,  obscurecem  a 
matéria. 

V^.  Ignoramos  ainda  se  as  artérias  capillares  são  do- 
tadas de  muscularídade ,  e  todas  as  probabilidades 
resultantes  de  experimentos  são  que  não  gozâo  delia  í 
em  todo  a  caso ,  a  natureza  da  acção  dos  capillares 
nos  he  absolutamente  desconhecida ,  e  por  tanto  seria , 
absurdo  fundar  sobre  as  suas  funcções  huma  expli- 
cação dos  phenomenos. 

4^.  O  estado  das  veias  na  inflammação,  he  inteira- 
mente desconhecido ,  e  comtudo  ,  depois  que  os  expe- 
rimentos do  professor  Meyer  -de  Berne  tornarão  ex- 
ticmamente  provável ,  para  não  dizer  certo,  que  ellas 
absorvem ,  posto  que  ninguém  lhes  tenha  attribuido 
muscularidatle,  faz  indispensável  para  huma  theoría 
da  inflammaçào ,  o  conhecimento  do  estado  relativo 
das  veias ,  das  artérias ,  assim  como  dos  absorventes* 


Resenha  Analjticãé  í3i 

50.  Em  todo  o  caso,  he  indubitável  que  o  assento  da 
inflammação  he  nas  extremidades  vasculares  remotas 
da  acção  do  coração  j  onde  a  circulação  he  mais  lan* 
guida  j  onde  encontra  maiores  embaraços ,  e  onde ,  por 
conseguinte  j  qualquer  obstáculo  >ou  lesão  parcial  pode 
causar  accumulaçào  de  liquidos. 

&>.  A  accumulação  maior  ou  menor  de  liquidos 
parece  indispensável  para  haver  inflammação ,  e  parece 
ser  o  primeiro  phenomeno  delia. 

7^.  O  axioma  de  Hippocrates  itbi  dolor  ibijluxus  he 
inexacto.  Se  fora  verdadeiro  ,  toda  a  parte  dolorida 
oilereceria  symptomas  de  inflammaçâOi  A  dôr  he  phe-* 
nomeno  concomitante  da  inflammação ,  e  de  ordinário 
sul)sequente  a  ella ;  quando  a  precede ,  he  causada  por 
agentes  que  alterão  a  organisação  da  parte  ,  e  que  pro« 
duzem  extravasação  de  liquidos^ou  accumulação  d*dles 
pela  destruição  de  vasos  venosos  e  absorventes  >  ou  por 
diminuição  da  sua  energia.  He  o  que  vemos  nas  feri-* 
das  com  laceração ,  nas  queimaduras  f  nos  elieilos  dos 
vesicatórios  etc.  Alem  do  que,  a  dôr  não  tem  pro- 
porção alguma  com  os  mais  elementos  constitutivos 
da  inflammação ,  e  só  he  relativa  á  sensibilidade  da 
parte ,  e  á  distensão  ou  laceração  dos  seus  nervos ,  e  á 
natureza  dos  agentes  a  cuja  acção  elles  estão  expostos^ 
Ha  violentissimas  inflammações  sem  dôr  pefceptivel  ^ 
como  as  do  figado ;  e  em  partes  excessivamente  do-* 
lorosas  não  se  nota  muitas  vezes  a  menor  inchaçâd 
ou  vermelhidão ,  nem  muitas  vezes  calor  augmentada. 
Ma  gotta,  e  em   mil  outros  casos,  tão  longe  está  a 

9* 


iSa  ResenJia  Analytica. 

inflaminação  de  ser  causada  pela  dor,  que  esta  cessa  , 
ou  diminue  notavelmente ,  logo  que  aquella  chega  ao 
seu  auge. 

8o.  Tudo  indica  a  verdade  da  opinião  do  D^  Vacca  , 
e  de  MM.  AUen ,  Lubbock  e  Philip  Wilson ,  que  os 
vasos  capillares  das  partes  inflammadas  >  e  nós  ajun- 
taremos, as  venulas  e  vasos  absorventes ,  tem  menos 
acção  que  os  troncos  arteriaes;  e  que  ,  as  mais  das 
vezes  y  esta  acção  he  inferior  á  que  existia  na  saúde, 

9^.  Quando  a  congestão  he  grande ,  e  as  anastomoses 
e  communicações.  dos  troncos  arteriaes  são  poucas  e 
difliceis , estes  troncos  contém  mais  sangue,  e  se  con- 
trahem  sobre  elle  com  mais  força  por  algum  tempo  , 
passado  o  qual ,  diminuem  de  vigor  as  túnicas  arte- 
riaes. Este  eflíeito  se  communica  ao  coração  ,  e  produ2 
neste  órgão  os  mesmos  resultados  quando  a  inflam  ma- 
ção he  de  parte  mui  importante  ,  pela  quantidade  de 
sangue  que  contêm ,  e  sua  proximidade  ao  coração  , 
ou  pela  communicaçào  mais  directa  com  elle.  Mas  este 
periodo  de  acção  augmentada  dos  vasos  não  doentes 
he  limitado  ao  primeiro  periodo  indammatorio ,  que 
nunca  dura  alem  de  poucos  dias. 

io<^.  Doesta  ultima  observação  se  segue  que ,  ainda 
quando  se  admittisse ,  contra  toda  a  razão ,  que  as 
inílammaçòes  começão  pela  energia  da  acção  vascular, 
seria  forçoso  convir  que  dentro  de  pouco  tempo  pas- 
são  ao  estado  opposto. 

II o.  Segue-se  também, que  todas  as  inílammações 


Resenha  A nalytica.  i3S 

clironicas  tem  sido  com  muita  razào  consideradas  por 
quasi  todos  os  autores  como  effcitos  incontestáveis 
da  debilidade  dos  vasos ;  posto  que  doesta  verdade  não 
se  siga  que  o  meio  de  as  curar  seja  sempre  o  excitar 
directamente  maior  energia  de  acção  neiles. 

1^0.  Os  períodos  em  que  o  augmento  da  acção  das 
extremidades  arteriaes,  venosas  e  absorventes  he  ma- 
nifesto ,  he  na  resolução  spontanea  da  inflammação , 
e  na  suppuraçào  benigna  e  saudável.  Este  facto  bas- 
taria,  em  quanto  a  nós,  para  derribar  por  huma 
vez  a  theoria  geralmente  recebida  do  augmento  de 
acção  vascular  considerado  como  causa  próxima  da 
iuflammacào. 

A  applicação  d*estes  princípios  ás  hemorrhagias  he 
obvia. 

F,  S.  C. 


s34  Resenha  Analítica. 


CONSroERAÇOES 


Sohre  a  Statistica. 


^(WIVW%^t^%  l^j^j^ 


lliH  quanto  o  homem ,  vivendo  como  as  feras ,  fazia 
consistir  todo  o  bem  da  sua  existência  na  simples 
satisfação  das  necessidades  orgânicas ,  todos  os  germes 
fecundos  da  sua  riqueza  jaziàò  ociosos  :  nascido  para 
ter  o  senhorio  e  mando  de  todas  as  cousas  creadas » 
não  lhe  bastava  ,  comtudo ,  o  direito  do  nascimento , 
era-]he  necessário ,  para  exercer  este  majestoso  im- 
pério ,  invadir  os  domínios  da  natureza ,  conquistar 
gloriosamente  os  seus  thesouros,  e  forçá-la  a  reco- 
nhecer nelle  o  ente  dotado  de  huma  força  prodigiosa 
de  intelligencia ,  a  quem  só  era  dado  penetrar  os  seus 
segredos  e  dispor  das  suas  riquezas. 

Mas  o  homem  só  e  isolado  achava-se  mui  fraco  para 
cmprehender  tão  árdua  conquista ;  era  preciso  que  o 
sentimento  intimo  da  sua  fraqueza  lhe  inspirasse  o 
desejo  de  viver  em  sociedade ,  que  as  .necessidades 
reciprocas  d'esta  fizessem  nascer  o  amor  do  trabalho  , 
que  o  desenvolvimento  d*elle  despeitasse  os  diílerentes 
géneros  de  industria ,  e  que  a  ambição  de  interesses 
e  de  gloria  desse  o  ultimo  e  o  mais  poderoso  impulso 


Resenha  Analytka,  'iSS 

a  este  concurso  feliz  de  circumstancias ,  de  %ue  de- 
pendia a  obra  maravilhosa  da  civilisaçào. 

O  complemento  d'esta  devia  ser  longo ,  e  entre  à 
imbecillidade  e  os  príncipios  do  desenvolvimento  da 
razão  j  devião  passar-se  séculos  ,  na  duração  dos  quaes 
o  estado  social  havia  facilitar  ao  homem  os  meios ,  e 
sobre  tudo  ,  impor  a  nece^ssidade  de  promover  a  mar- 
cha vagarosa  á  custa  da  qual  elle  devia  civilisar-se ; 
mas  também ,  logo  que  chegou  esta  epocha  feliz,  nada 
poude  resistir  á  sua  sagacidade  e  ás  suas  combina- 
ções :  simples  medidas  grosseiras  e  arbitrarias  de  polí- 
cia inculta  ,  convertêrào-se  em  código  de  justiça  e  de 
razão ,  e  ao  seu  aspecto  soberano ,  e  ao  abrigo  da  sua 
influencia  celeste ,  as  paixões  brutaes  e  os  costumes 
bárbaros  trocárão-se  em  sentimentos  de  humanidade 
e  de  bdo ;  o  amor  da  propriedade  fixou  os  homens , 
0  a  segurança  dos  bens  e  das  pessoas  gerou  o  amor  da 
pátria  ,  e  cada  nação,  ligada  por  este  vinculo  sagrado  , 
em  huma  grande  família,  teve  necessidade  de  reduzir 
a  systema  a  sua  administração  :  desde  então  nascerão 
as  duas  grandes  sciencias  do  governo ,  a  saber  a  Poli* 
tica  e  a  Economia  politica. 

A  primeira  occupou-se  em  contemplar,  ou  as  acções 
moraes,  a  distribuição  dos  poderes  e  a  regulação  das 
diversas  ordens ,  que  entravão  na  composição  de  cada 
governo ,  ou  as  relações  exteriores ,  isto  he ,  a  posição 
particular  dos  interesses  de  huma  nação,  a  respeito 
das  outras  :  a  segunda  tomou  por  objecto  indagar  a 
verdadeira  natureza  das  riquezas ,  as  -difficuldades  que 


i36  Resenha  Anàljtica. 

era  preciso  vencer  para  adquirt-las ,  a  marcha  qne 
seguião  j  distríbuindo-se  na  sociedade  ,  o  seu  uso  ,  os 
phenomenos  que  acompanbavão  a  sua  decadência ,  c 
o  modo  por  que  tudo  isto  influía  na  felicidade  dos 
povos.  A  Politica  tomou  em  consideração,  por  hum 
lado  y  as  pessoas  e  as  instituições ,  relativamente  ás  Jeis 
do  poder  e  da  obediência ,  e  pelo  outro ,  considerou  , 
bem  como  a  Economia  politica,  as  instituições  e  as 
cousas ;  com  a  difierenca  porém  ,  que  a  primeira  con- 
sidero u-as  y  nesta  parte ,  particularmente  com  relação 
ás  forças  e  ao  poder  de  hum  Estado,  e  a  segunda  ^ 
em  respeito  á  riqueza  e  prosperidade  d^elle. 

Qualquer  que   fosse   porém  o  fim  que  estas  duas 
sciencias ,  realmente  distinctas ,  se  propozessem  con-^ 
seguir,  do  que  fica  ditto  se  vé  que  lhes  era  indispen* 
sável ,  para  isso ,  profundar  o  conhecimento  das  Insti*^ 
tuições  e  o  das  cousas ;  e  para  o  fazerem  com  acerto,'* 
não  podia  deixar  de  servir-lhes  de  base  a  analyse  dos 
resultados   de  humas,  e  dos  dtfierentes   géneros  de 
recursos  que  offereciào  as  outi'as.  Este  hc  o  objecto 
de  huma  sciencia  particular,  ciijos  principios  erão  já 
mais  ou  menos  conhecidos  e  practicados  pelos  Gregos 
e  Romanos,  mas  qne,  nestes  últimos  tempos  ,  se  tem 
mais  amplamente  desenvolvido ,  debaixo  do  nome  de 
Statistica, 

Porém  a  regularidade  de  certos  resultados  geraes  da 
natureza ,  e  a  uniformidade  de  relações  existentes  em 
certa  ordem  de  factos ,  derão  occasiào  de  applicar  a 
estes  a  analyse  mathematica  ;  d^aqui  nasceo  a  Anthme^ 


Resenha  Analytica.  iS*} 

liça  politica  ,  a  qual ,  vindo  em  soccorro  da  Statistica  ^ 
formou-lhe  dados  9  que  podem  ter-se  como  evidentes, 
e  de  que  ella  sabe  tirar  proveito^ 

Assim /a  Statistica  occupa-se  em  ajuntar  factos  com 
escrúpulo  j  e  apresentá-los  com  ordem  ,  como  elemen* 
tos  propiios  para  guiar  o  espirito ;  e  por  meio  da  enu* 
meraçàodos  objectos,  recolhe  huma  collecção  de  i'e- 
sultados  positivos ,  fundados  sobre  hu^na  analyse  assai 
completta ,  para  produzir  a  certeza  moral ,  única  que 
neste  género  de  conhecimentos  se  pode  pertender.  A. 
Ârithmetica  politica  9  pelo  contrario ,  não  obtém  0% 
seus  resultados  pela  enumeração  dos  objectos ;  mas 
substitue  a  esta  o  calculo  ,  e  de  dados  certos ,  ou  pi*o- 
vaveiSy  tira  consequências  que  estabelece  como  factos  « 
e  resolve  muitos  problemas  interessantes,  que,  humas 
vezes ,  facilitáo ,  e  não  poucas  substituem  as  ihdaga- 
ções  statisticas.  A  Economia  politica  porém  ,  apoiada 
na  experiência  e  no  conhecimento  dos  factos  certos , 
que  a  Statistica  lhe  ministra ,  ou  nos  prováveis ,  que  a 
ârithmetica  politica  lhe  procura,  comparando-os  entre 
si ,  explica  e  prova  a  applicaçào  e  a  utilidade  dos  prin- 
cípios de  administração ,  de  que  o  raciocinio  lhe  tinha 
feito  conceber  a  theoria. 

Tal  he  a  filiação  successiva  e  a  ordem  dos  limites 
naturaes  entre  estas  diiferentes  sciencias,  a  qual  nos 
pareceo  tanto  mais  essencial  distinguir  aqui ,  quanto , 
quasi  todos  os  que  até  hoje  tem  escripto  d^ellas ,  ou 
não  a  tem  cabalmente  definido,  ou  enganados  pelos 
continuos  pontos  de  contacto  em  que  todas  se  achào , 


i38  Resenha  AruHytica. 

• 

e  ainda  pela  mutua  relação,  que  entre  si  tem  a  udÍ'- 
versalidade  dos  conhecimentos  humanos ,  persistirão 
em  confundi-las ,  não  só  entre  si ,  mas  até  com  ou- 
tras,  que  ás  vezes  lhes  servem  de  illustração,  ou  de 
apoio  y  e  converterão  cém  isto  em  encyclopedias  os 
seus  tratados  de  Statistica. 

Qualquer  que  seja  pois  o  plano  que  se  escolha  ,  em 
huma  obra  d*esta  natureza ,  para  que  eUa  comprehenda 
todos  os  objectos,  e  só  os  objectos,  que  são  real- 
mente da  sua  competência ,  he  necessário  estabelecer 
bem  claramente  em  principio ,  que  huma  statistica 
tem  por  fim  :  colUgir  todos  os  elementos  da  força  reS" 
pectii^a  e  da  riqueza  de  huma  nação ,  e  os  Jactos  que 
proyão  os  effeitos  das  suas  instituições  cisais ;  por  quanto 
ainda  que  estas  não  sejào  nem  fontes  de  riqueza  da 
nação  l  nem  meios  ímmediatos  da  sua  força ,  são  com- 
tudo  9  nas  mãos  do  Governo  ,  instrumentos  indispensá- 
veis de  ordem ,  de  justiça  e  de  instrucção ,  sem  os  quaes 
a  força  não  poderia  nem  crescer,  nem  conservar-se. 

Em  consequência,  he  necessário  que  a  Statistica  ob- 
serve e  descreva : 

1®.  A  extensão  do  território  ,  e  as  suas  divisões  na- 
turaes,  as  diOerenças  do  seu  clima,  a  configuração  e 
natureza  do  seu  terreno ,  e  a  direcção  e  uso  das  suas 
aguas. 

Mas  nesta  parte ,  não  he  huma  geologia ,  huma 
physica ,  nem  huma  topographia  completta ,  que  se 
pertende :  as  grandes  massas  de  montanhas ,  que  sepa* 


iiesenha  AnalYtica»  i3g 

,  rando  os  terrenos  inclinados  para  os  grandes  mares , 
formão  as  bacias  terrestres  (i)  d*elles ;  as  serras,  d'onde 
fiascem  os  rios ;  os  contrafortes ,  que  dividindo  os 
terrenos  inclinados  para  aquelles ,  fixão  as  suas  bacias 
particulares  ;  as  costas ,  quoêcircumscrevendo  a  vasta 
bacia  das  aguas ,  formão ,  de  quando  em  quando ,  no 
seu  seio ,  enseadas  e  babias ,  mais  ou  menos  commo- 
das  y  mais  ou  menos  vantajosas ,  são  os  accidentes 
do  terreno  importantes  á  Statistica  :  com  elles  estão 
ligadas  as  diflerentes  propriedades  e  variações  do  cli- 
ma y  elles  fazem  o  paiz  mais  ou  menos  disposto  para 
os  diíTerentes  géneros  de  cultura ,  mais  ou  menos  de- 
fensável ,  mais  ou  menos  próprio  para  facilitar  as  com- 
municações  por  agua,  por  terra ,  dentro  do  paiz,  ou 
para  fora  delle.  D' aqui  se  segue  a  necessidade  de 
examinar : 

2^.  O  estado  dos  caminhos ,  o  da  navegação  dos  rios, 
o  dos  canacs  e  o  dos  portos. 

PL  divisão  natural  do  territoiio  segue-se  :  ^ 

?»^.  A  sua  divisão  civil ,  e  a   organisação  politica  ^ 
administrativa,  judicial  e  religiosa  d*elle. 

40.  As  suas  producções ,  ou  sejào  vegetaes ,  mine- 
raesyou  animaes,  e  o  consumo  delias. 

4^.  O  estado  da  agricultura  ,  da  industria  e  do  com- 
mercio ;  os   processos  que   estes  três  grandes  ramos 


(1}  As  que  lhes  íorDeccm  a^as. 


i4o  Resenha  Amãytieá. 

empregão ;  os  estabelecimentos ,  qae  d*eslés  processos 
'  resultao  e  os  productos  d'elles. 

6^.  Â  povoação ,  classificada  por  sexos ,  idades ,  es- 
tados e  profissões  y  nasi^entos  e  mortalidade. 

70.  As  rendas  do  Estado ,  as  fontes  d'ellas  e  as  des- 
pesas necessárias  para  a  arrecadação  da  fazenda. 

9^.  Os  Estabelecimentos  destinados  aos  soccorros  e 
Instrucção  publica  e  os  resultados  da  administração 
de  cada  hum  doestes  ramos. 

I 

€)<>.  Ultimamente,  as  difierentes  partes ,  que  compõem 
a  força  de  mar  e  terra  e  a  forma  e  custo  da  sua 
administração  particular. 

Taes  são   os   elementos   essenciaes  e   próprios    de 
huma  statistica,  qualquer  que  seja  a  origem  do  seu 
nome,   porém  considerada  como  base  essencial  da 
marcha  segura  de  hum  Governo,  da  riqueza  solida 
d^  huma  nação ,  e  por  consequência ,  da  força  e  da 
prosperidade   de  hum   Estado.  Tudo  quanto  excede 
estes  limites ,  já  assaz  dilatados,  he  estranho  á  scien- 
cia ,  complica  a  simplicidade  dos  seus  princípios ,  e 
distrahe  a  attenção  da  importância  primitiva  do  seu 
verdadeiro  objecto.  A  statistica  pura  apresenta  o  que 
existe ,  sem  subir  á  sua  origem  ,  nem  descer  as  suas 
consequências  ;  sem  distinguir  os  defeitos ,  nem  |icon- 
selhar  os  melhoramentos.  A  outros  ramos  dos  conhe- 
cimentos humanos  toca  fazerem  á  sociedade  estes  re- 
levantíssimos serviços;  a  Statistica  tem  huma  tarefa 


Resenha  Ãnàl}tica*  i4i 

assaz  importante  em  pôr  na  sua  verdadeira  luz  as 
bases  solidas  e  exactas  ,  sobre  que  deve  assentar,  com 
segurança »  o  trabaltuo  de  todos  os  outros. 

Se  julgámos  necessário ,  para  fixar  a  ideia  pura  e 
simples  da  Statistica ,  descrever ,  com  precisão ,  o  cir- 
culo ,  dentro  do  qual  se  encerrào  as  indagações  d*eUa , 
este  mesmo  trabalho  dará  mais  facilmente  ao  leitor 
occasião  de  sentir  a  sua  utilidade^  Huma  sciencia 
que  se  occupa  em  fazer  conhecer  as  forças  reaes  e 
os  meios  de  conservação ,  de  augmento  e  de  prospe* 
ridade  de  huma  nação»  por  si  mesmo  se  recommenda, 
e  deixa  de  merecer  o  nome  desdenhoso ,  còm  que 
alguns  modernos  pertendêrão  tratá-la,  de  nomencla* 
tura  secca  e  estéril ;  mas  he  ,  pelo  contrario ,  de  hum 
alto  interesse ,  por  isso  mesmo  que  tende  constante* 
mente  a  hum  fim  grande ,  útil  e  positivo  :  sem  ella  a 
Economia  politica  não  seria  mais  do  que  huma  me- 
taphysica  embrulhada  e  confusa ,  susceptível  de  todas 
as  hypotheses ,  de  todas  as  applicaçõcs ,  c  por  conse* 
quencia ,  de  todos  os  erros  ;  a  Diplomacia ,  sem  bases 
positivas,  em  que  assentasse  as  suas  combinações » 
converter-se-hia  em  huma  sciencia  de  capricho;  a 
Legislação, privada,  em  muitos  casos,  do  conhecimento 
dos  factos,  para  regular  a  sua  experiência,  erraria 
>muitas  vezes  nas  suas  disposições;  a  Administração , 
reduzida  a  theorias  abstractas,  ver-se-hia  destituida 
dos  meios  de  imprimir  nos  seus  actos  o  caracter  de 
Solidez  e  de  exacçào  ,  tão  indispensável  á  marcha  dos 
Governos  e  a  todos  os  projectos  de  Economia  publica ; 


i42  Resenha  Analytica. 

e  a  philosophia  dos. costumes  e  a  da  razão,  carecendo 
de  factos ,  em  que  assentasse  as  suas  comparações , 
ficaria  privada  da  massa  poderosa  de  argumentos  irre- 
cusáveis, para  provar,  com  segurança,  o  effeitd  das 
instituições ,  o  império  da  moral  e  a  influencia  das  leis. 

Comtudo ,  esta  sciencia ,  tão  útil  ao  Legislador  ,  tão 
indispensável  ao  administrador  e  ao  homem  doestado  , 
e  tão  própria  de  todo  o  cidadão  amante  da  prospe- 
ridade da  pátria ,  lie  incrível  a  indiíTerença ,  com  que 
tem  sido  abandonada  ,  e  o  atrazamento  em  que  ,  ainda 
hoje ,  se  acha ,  em  muitos  paizes  civiUsados.  Que  o 
homem, semelhante  ao  philosopho ,  que  sem  conhecer 
o  terreno  que  pisava ,  punha  todo  o  seu  desvelo  em 
observar  as  estrellas  ,  procure  anciosamente  verificar , 
com  Mungo  Park,  a  direcção  duvidosa  da  corren^ 
do  Niger,  e  seguindo,  com  o  seu  espirito  ,  Cook^  La- 
peyrouse ,  á  roda  do  mundo ,  estude  paizes ,  aonde 
provavelmente  nunca  as  suas  circumstancias  poderão 
levá-lo,  ignorando  muitas  vezes  qs  cousas  mais  im* 
portantes  da  terra  em  que  nasceo,  he  hum  pheno- 
meno ,  que  só  pode  explicar-se  pelo  capricho  e  incon- 
sequência do  espirito  humano. 

He  verdade  que  a  organisação  da  statistica  com- 
pletta  de  hum  Estado  he  hum  trabalho  difficíl,  de- 
pendente do  concurso  de  muitos  trabalhos  auxiliares, 
que  necessariamente  devem  ser  feitos  por  muitos  ho- 
mens; que  d'estes,  nem  todos  tem  os  mesmos  meios 
moraes,  e  o  talento  de  examinar  as  cousas  com  a 
paciência  e  miudeza ,  particular  a  este  ramo  de  inda- 


/ 


Hesenha  yénafytica*  i43 

gações ,  e  mui  poucos  se  achào  em  posição  favorável , 
para  ver  os  objectos ,  com  aquella  extensão  ,  que  a 
matéria  requer ;  que ,  sendo  os  Governos  os  únicos 
que  tem  á  sua  disposição  grande  parte  dos  dados  es- 
senciaes  para  este  género  de  trabalhos  ,  a  cooperação 
d*elles  he  indispensável ,  e  finalmente ,  que  a  somma 
total  dos  exames  e  das  observações,  devendo  ser  con- 
fiada á  redacção  de  hum  só ,  não  somente  he  essen- 
cíal  que  o  redactor  saiba  apresentar  aquella  massa 
de  indagações  de  hum  modo  conveniente  ao  interesse 
geral  da  obra,  mas  nas  mãos  d'elle  vem,  para  assim 
o  dizer,  expirar  a  gloria  individual  dos  coUaboradores , 
o  que  amortece  consideravelmente  os  estimulos  do 
amor  próprio ,  movei  o  mais  poderoso  e  o  mais  digno 
de  hum  espirito  cultivado. 

Esta  enymeração  rápida  dos  obstáculos ,  que  tomão 
longa  e  difficil  a  composição  da  statistica  de  hum 
paiz ,  he  huma  prova  mais  da  dignidade  e  da  impor- 
tância doesta  sciencia  :  delles  se  vé  que  ella  só  pode 
ser  obra  do  concurso  unanime  do  patriotismo  do  Go- 
verno ,  com  o  dos  cidadãos ,  c&racter  distinctivo  dos 
grandes  projectos  de  utilidade  publica. 

Mas ,  qualquer  que  seja  a  influencia  que  estas  diffi- 
culdades  possão  ter  em  hum  objecto  tão  importante , 
ella  he  sempre  muito  inferior  á  que  podem  e  devem 
empregar  nelle  o  Governo,  sem  grandes  despezas ,  e 
os  cidadãos,  sem  grande  trabalho.  Se  esta  obra  de- 
pende de  muitos  elementos,  também  abre  ao  patrio- 
tismo hum  concurso,  em  que  he  dado  a  todos  ter 


\ 


i44  Resenlia  jénalytica. 

parte 9  para  commuQi  interesse.  Se  por  hum  lado,  o 
Governo  necessita  de  fornecer  huma  somma  conside- 
rável de  bases  para  este  trabalho ,  o  seu  result«'ido 
dá'lhe  a  medida  segura  da  sua  justiça  e  da  sua  força  ^ 
ese  pelo  outro ,  lie  necessário  que  o  cidadão  concorra 
com  as  suas  observações ,  tem  a  vantajem  de  que  estas 
se  combinão  com  os  seus  interesses  particulares ,  e 
sàOy  alem  d*isso  »  susceptiveis  de  huma  inQnita  divisi- 
bilidade. 

Quando  o  naturalista ,  tendo  passeado  para  sua  ia- 
strucçào  e  para  seu  recreio  ,  pelo  paiz  em  que  habita  , 
toma  lembrança  dos  factos  que  lhe  apresentou  o  seu 
exame*,  quando  o  medico,  observando  diariamente 
a  natureza ,  para  não  esquecer  o  fructo  das  suas 
observações,  põe  successivamente  em  memoria  que 
moléstias ,  nas  diflerentes  estações » dominarão  mais  na 
povoação  em  que  reside ,  que  symptomas  mais  geral- 
mente as  accompanhárào  e  a  que  tratamento  mais 
facilmente  cederão ;  quando  o  proprietário  registra  as 
producções  annuaes  do  seu  gado  e  da  sua  cultura  , 
compara  estas  com  as  dos  seus  vizinhos ,  nota  os 
preços  dos  diflerentes  jornaes  que  no  anno  se  pagarão 
no  seu  districto ,  e  o  valor  por  que  nelle  se  reputarão 
os  productos;  quando  o  traficante,  prompto  a  abraçar 
todo  o  género  de  comraercio ,  toma  nota  dos  difTerentes 
ramos  de  industria ,  que ,  nas  vizinhanças  da  sua  terra , 
podem  ser  objecto  das  suas  especulações ,  e  se  infor- 
ma ,  para  seu  governo ,  da  extensão  e  resultados  de 
cada  hum  doestes,  todos  elles,  sem  se  aperceberem  , 


hèschíia  jínalyíiíia  14a 

ftj  união  elementos  preciosos  para  a  statistíca  do  seu 
t>aiz  ',  donde  residta ,  que  asr  observações  necessarfàfi 
para  ella  j  estando  assim  ligadas  com  os  interesses  t 
profissões  individuaes ,  por  pouco  qiie  a  attençào  e  o 
es;nrito  público  sejâo  convidados  para  este  género  d^ 
trabalho,  concorrerá  facilmente ^  de  todas  as  partes  ^ 
grande  quantidade  de  elementos  para  a  sua  compo- 
sição. 

Definidos  pois  os  limites  da  Statistica  ,  assentadas  as 
suas  bases  geraes ,  e  reconhecida  a  sua  utilidade ,  he 
justo  que  façamos  o  applicação  doestes  princípios  aos 
Dominios  portuguezes^a  cuja  prosperidade  cònsagramòa 
sempre  todos  os  nossos  trabalhos  >  e  aonde  esta  scien^^ 
cia  tem  sido ,  até  hoje  >  tão  pouco  Cultivada ;  e  para 
referirmos  a  hum  só  ponto  todo  o  interesse  das  nossas 
considerações  a  este  respeito,  contentar-nos-hemos  com 
examinar  quaes  nos  parecem  ser  em  geral  os  obsta*- 
Gulos  que  nelles  fazem  mais  difficil  a  execução  de  huma 
statistica »  e  que  meios  nos  occorrem  mais  applicaveis 
para  os  vencen 

Posto  que  tudo  quanto  aqui  dissermos  deverá  geral" 
mente  entender-se  de  toda  a  extensão  do  Reino-Unido  ^ 
comtudo,  não  poderá  deixar  de  ter  huma  relação 
mais  particular  com  o  Portugal  e  o  Algarve ;  por  se^ 
rem  estes  os  paizes  portuguezes  de  que  poderemd 
fallar  com  mais  algum  conhecimento. 

Já  em  outro  Artigo  (  Tom.  V,  P.  i*«,pag4  3i )  C  a 
outro  respeito ,  tivemos  occasião  de  ponderar  que  o 
systema  administrativo  confundido  com  o  judiciário  ^ 
Tom.  X.  P.  1*.  10  A 


i46  Resenha  Anafytíea. 

e  ambos  combinados  com  a  amovibilidade  perpetua 
da  Magistratura ,  tendiào  por  sua  natureza  a  paralysar 
a  marciía  e  os  bons  desejos  do  Governo ,  em  todos 
os  objectos  de  utilidade  publica.  Esta  confusão  de 
jurisdicçòes  9  de  responsabilidades  e  de  vigilância  he, 
a  todos  os  respeitos ,  por  extremo  nociva  aos  inte- 
resses ^  tão  essencialmente  diíTerentes  ,  da  justiça  e  da 
fazenda;  cada  hum  dos  quaes  pede  diversa  instruc- 
ção ,  diversa  ordem  de  cuidado ,  e  até  talentos  diver- 
sos nas  pessoas  que  os  promovem  :  d'ella  resulta  ,  para 
cada  individuo,  huma  complicação  e  augmento  de 
trabalho ,  que  difficulta  muito  a  prompta  e  bem  en- 
tendida execução  d'elle. 

Alem  de  que,  acfaando-se ,  hão    só  os  diflferentes 
ramos  de  administração  confiados ,  em  cada  distrícto , 
a  diílerentes  autoridades  ^  mas  até  o    mesmo    ramo- 
raríando  de  administração  e  de  administrador ,  nos 
diãerentes  districtos;  como  se   não  bastasse  aquellá 
primeira  confusão  para  embaraçar  a  marcha  franca 
e  proveitosa    da    Autoridade ,    esta  irregularidade  e 
fluctuação  produz  de  mais   a  mais    a  falta   de  hum 
centro  commumy'onde  venhào,  para  assim  o  dizer, 
atar-se  todos  os  fios  e  ramificações  da  administração  , 
e  donde  possào  ,  com  perfeito  conhecimento  de  causa  , 
sahir  noções   claras   c   precisas    do    seu  estado ,  dos 
motivos  da  sua  decadência ,  e  dos  melhoramentos  de 
que  ella  he  susceptivel. 

E   pma  não  considerarmos  os  inconvenientes ,  que 
de  tudo  isto  rcsulUo ,  senão  relativamente  á  Statistica, 


Resetiliã  Analjtica.  j47 

que  faz  o  objecto  do  presente  Artigo ,  o  cidadão ,  qae 
desde  os  seus  primeiros  estudos  ,  teve  unicamente 
por  fito  pesar )  hum  dia,  com  igualdade  os  direitos 
dos  seus  concidadãos ,  quando  huma  vez  he  investido 
doeste  augusto  poder ,  absorvido  pelos  cuidados  que 
elle  pede,  não  pode  deixar  de  reputar  a  parte  ad- 
ministrativa ,  que  se  lhe  encarrega ,  como  hum  acces- 
sorio  ,  alheio  da  profissão  a  que  sempre  se  destinou; 
e  assaz  occupado  pelos  importantíssimos  e  solemnes 
trabalhos  doesta,  ainda  quando  tenha  os  talentos  e  o 
gosto  da  administração ,  falta-lhe  o  tempo  para  redu- 
zir a  systema  as  diOerentes  partes  d^ella,  para  prer 
parar  e  estabelecer  base^  solidas  doeste  systema ,  e 
para  conformar  com  elle,  não  dizemos  nós  trabalhos 
spontaneos ,  mas  nem  ainda  as  muhiplicadas  e  con- 
tinuas informações,  que  outras  muitas  Autoridades 
superiores  tem  sempre  direito ,  e  não  poucas  vezes 
necessidade  ,  de  exigir  d'elle. 

D^aqui  vem  que,  nas  indagações  statlsticas ,  em  qu6 
o  interesse  particular  dos  administrados  parece  menos 
sensível,  por  se  achar  confundido  no  interesse  pu^ 
blico  ,  o  Magistrado ,  pór  algumas ,  ou  por  todas  as 
causas  acima  indicadas,  he  úiuitas  vezes  forçado  a 
commetter  a  outrem  huma  grande  parte  dos  exames  ^ 
que  a  matéria  requer.  Desde  esse  momento^  he-lhe 
forçoso  confiar-se  na  boa  fé  e  na  intelligencia  do 
delegado ,  sem  ter  bases  fixas  pelas  quaes  possa  depois 
verificar  e  corrigir  os  trabalhos  d'elle  j  e  se  este  dele- 
gado   também    delegou ,  o  que   he  muito   natural , 

IO  * 


]48  Resenha  Anafytica* 

quando  não  resulta ,  do  objecto  que  se  examina  ^  nefii 
responsabilidade  y  nem  interesse  immediatOy  fácil  h« 
de  avaliar  o  merecimento  idas  noções  recolhidas »  • 
a  conformidade  e  exacçào  do  resultado  final. 

Quando y  nos  .fins  de  iSiti^a  Real  Junta  do  Com-» 
mercio  quiz  conhecer ,  em  Portugal,   a  situação  das 
fabricas  do  Reino,  e  para  esse  fim  recorreo  ás   Au* 
toridades  locaes ,  eis-aqui  o  que  aconteceo,  conforme 
as  próprias  palavras  de  huma  testemunha  irrecusável 
na  matéria  (i) ,  e  que  confirma  tudo  quanto  a  theo- 
ria  exposta  nos  parece  ter  provado.  «  Nem  todos  os 
Magistrados  forão  igualmente  promptos ,  e  houve  bas-' 
tante  falta  de  uniformidade,  não  satisfazendo  muitos 
d^elles  a  todas  as  declarações  que  se  exigirão.  Hun^ 
entenderão  a  palavra  Fabrica  com  mais ,  e  outros  com 
menos  extensão.  O  Ministro  do  bairro  da  Ribeira  en- 
tendeo  que  devia   contemplar  como  taes  as  fabricas 
de  chocolate  ,  e  o  contrario  entenderão  os  dos  outros 
bairros,  que  não  fizerão  menção  dos  outros  muitos 
estabelecimentos ,  ou  officinas  do  mesmo  género,  que* 
existem  em  toda  a  cidade.  O  mesmo  aconteceo  com 
as  fabricas  de  aguardente,  obras  de  cobre  e  ferrarias > 
de  que  apparecérão  descriptas  huma  sómenle  de  cada 
género   em  Lisboa;  e   aconteceria    provavelmente  a 
respeito  de  outros  artigos  interessantes,  que  se  omit* 
tírão.  Não  forão    contemplados   os    estabelecimentos 


(i)  O  Snr.  José  Accorslo  das  Neves  |  nas  soas  yàriedadeé  , 
Tom.  xo.  pag.   178* 


Resenha  Anafytica.  x4g 

que  se  achavào  debaixo  de  Administração  Regia,  dq 
que  alguns  sào  mpito  importantes ,  ebc.  » 

No  Ministério  de  D.  Rodrigo  dê  Souza  ,  o  Governo 
reconheceo  os  embaraços  que  resultavào  da  falta  de 
hum  centro  para  as  averiguações  statisticas,  e  per* 
tendeo  occorrer,  com  a  creaçào  dos  cosmographos ,  a 
este  grande  inconveniente ;  porém  aquelle  projecto  não 
vingou ,  ou  fosse  pelas  despczas  que  occasionava ,  ou 
porque  não  estando  sufficientemente  posto  em  har- 
monia com  as  instituições  antigas,  podia  produzir 
conflictos  de  jurisdicçào,  em  que  sempre  quem  perde 
he  a  causa  publica ;  comtudo ,  tal  he  a  força  das 
instituições  úteis ,  ainda  apenas  indicadas ,  que  aquella 
lei ,  assim  mesmo  sem  execução  ,  não  deixou  de  pro^ 
duzir  resultados  importantes  para  a  Statistica.  Lembra- 
nos  ainda  com  gosto  hum  trabalho  sobi*e  a  comarca 
de  Setúbal,  feito  por  aquella  occasião,  e  que  deve 
existir  na  Secretaria  d^Estado  competente,  o  qual 
provava  bem  o  merecimento  e  o  patriotismo  do  digno 
Magistrado,  que  o  tinha  emprehendido;  e  he  natural 
que  muitos  outros  concorressem  com  este,  de  hum 
interesse  não  vulgar ;  porém  o  silencio,  em  que  todos 
ficarão  sepultados ,  tornou  inúteis  para  o  publico ,  e 
para  a  Administração  mesma,  aquelles  importantes 
resultados. 

Se  a  mistura  de  jurisdicções,  e  a  falta  de  hum  centra 
conimum  de  administração  oppõem  embaraços  de 
mais  de  hum  género  á  organisaçào  de  huma  Stati^-* 
tica  enti*e  nós,  o  que  acaba  de  os  confirmar  he  a 


i5o  Resenha  Analytica. 

nenhuma  analogia  que  existe  nas  divisões  territoriâes 
e  jurisdiccionaes  do  paiz.  Âs  divisões  das  Províncias , 
que  jade  seu  são  arbitrarias ,  e  raras  vezes  reguladas 
por  limites  naturaes,  .assim  mesmo. ,  não  quadrão 
perfeitamente  com  as  dos  Governos  militares ,  nem 
com  os  districtos  exactos  de  hum  certo  numero  de 
Comarcas ,  ou  de  Provedorias ,  ao  mesmo  tempo 
que  os  districtos  doestas  duas  ultimas  também  não  se 
ajuslão  entre  si;  se  a  isto  se  ajuntao  novas  irregula- 
ridades que  resultào  das  encravações ,  e  as  anomalias  , 
que  as  antigas  jurisdicções  de  Donatários  tiohào  creado, 
e  que  a  ultima  legislação  a  este  respeito  continuou 
a  consagrar ,  poderá  facilmente  inferir-se  quanto  tudo 
isto  difliculta  a  regularidade '  dos  exames ,  e  a  centra- 
lisaçào  dos  seus  resultados  ;  e  ainda  que  para  segu- 
rança se  empreguem  diversas  Autoridades  nestes  exa- 
mes ,  alem  do  inconveniente  de  complicar  o  trabalho » 
a  demarcação  territorial  das  )urisdicçòes  sendo  para 
todas  differente ,  he  impossivel  verificá-los  ,  pelo  meio 
fácil  e  seguro  da  coincidência  de  liuns  com  os  outros. 

Estes  poderosos  inconvenientes  ,  tendo  pela  duração 
dos  séculos,  as  suas  raizes  profundamente  lançadas 
na  organisação  civil  do  território,  requerem  meios 
particulares  e  próprios,  para  chegar,  a  travez  d'elles,  a 
bons  resultados  stalisticos  *,  porém,  seja-nos  licito 
apontar  outi^os ,  cujo  remédio  dependendo  simples- 
mente da  vontade  do  Governo  ,  desappareceriio  logo 
que  elle  se  proposesse  conseguir  trabalhos  úteis  áquelle 
respeito. 


Resenha  Analytica.  iSi 

Al  entrada  ou  a  sabida  de  mais  hum  individuo  na 
Sociedade  deve ,  por  muitos  motivos ,  interessar  parti- 
cularmente quem  a  governa ,  por  isso  mesmo  que 
interessa  a  Sociedade  toda.  Ha  quasi  três  séculos  que 
os  registos  ecclesiasticos  começarão  a  servir  para  isto  ^ 
nos  Estados  Christàos  da  Europa ;  a  França ,  que 
usou  d'elles  até  ao  tempo  da  Revolução ,  estabeleceo 
então  os  registos  civis ,  modelo  de  exacção  nesta  ma- 
téria ;  porém  todos  os  outros  Estados  ^  que  ainda  con- 
servào  os  primeiros ,  tem  posto  nisto  a  maior  vigilân- 
cia y  e  dado  as  pravidencias ,  especialmente  a  Suécia 
e  a  Prússia  ,  para  que  nelles  haja  a  maior  exacção  á 
cerca  dos  nascimentos  e  óbitos. 

Nos  Domínios  portuguezes,  esta  matéria  necessi- 
taria serias  atlençôes,  para  evitar  as  irregularidades^ 
que  nella  forçosamente  se  commettem.  Não  tomando 
até  agora  a  Autoridade  ecclesiastica ,  entre  nós,  co- 
nhecimento do  recem-nascido ,  senão  desde  o  momento 
em  que  elle  he  recebido  no  grémio  da  Igreja ,  segue- 
se  y  que  de  todos  os  que  morrem ,  antes  de  serem 
baptisados ,  não  fica  na  sociedade  titulo  algum  da  sua 
existência;  mas  o  que  be  ainda  peior,  não  sendo  a 
mesma  Autoridade  ecclesiastica  ajudada,  para  os  seus 
registos ,  pela  Autoridade  civil ,  nenhum  vestígio  pode 
conservar  nelles  da  morte  d'aquellas  crianças ,  cujos 
cadáveres  y  por  hum  abuso  tão  incompatível  com  a 
civilisaçãoy  como  com  a  humanidade,  se  depositào 
nos  adros  e  no  interior  de  todas  as  Igrejas,  para 
serem  enterrados  por  caridade ,  ou  estas  sejão  filhos 
reconhecidos  9  ou  expostos. 


,5*^  Resenha  Analytic0.    - 

Quantas  considerações  importantes  oflferece  tste 
abuso  ?  Quantas  desordens  ,  quantps  crimes  horror 
rosos  podem  resultar  d*esta  liberdade  illimitada ,  pela 
qual»  aos  pais,  ás  amas,  ás  famílias,  ás  pessoas  res-» 
pousáveis  he  permiltido  fazer  enterrar  estes  entes 
desgraçados ,  sem  preceder  declaração  -alguma  legal  ^ 
sem  se  preencher  formalidade  alguma?  Mas  aqui 
/  iiào  pertence  considerar  esta  matéria ,  senão  pelo  quo 
toca  á  Statistica,  a  qual  também,  por  mais  este  mor 
tivo  ^  se  vá  privada ,  entre  nós ,  de  elementos  essen« 
ciaes  para  avaliar  facilmente ,  nas  circumstancias  or» 
dinarías,  com  a  exacção  precisa,  o.estadoda  povoa*» 
ção ;  recurso  de  hum  grande  interesse ,  ou  quandq 
ella  não  pode  obter-se  por  via  do  censo,  ou  como 
meio  de  verificar  os  resultados  d'este^ 


/■ 


QutTQ  obstáculo,  muito  essencial  ao  progresso  das 
observações  statisticas  entre  nós ,  he  a  diíficuldade  quo 
se  experimenta  no  paiz  para  generalisar  por  meio  da 
imprensa  os  trabalhos  individuaes*  Nem  pertence  aqui , 
nem  nós  pertendemos  intrometter-nos  na  solução  da 
questão  geral ,  de  que  depende  a  prova  d' esta  verdade } 
porôm  parece-nos  que  o  interesse  da  Autoridade,  que 
não  podemos  separar  do  interesse  publico ,  merecia 
nesta  matéria  huma  medida  particular,  a  favor  d'a- 
quoUes  escriptos  e  discussões  innocentes  e  interessantes, 
que ,  taes  como   as    de   Statistica ,  não  podem  servir 
senão   para  utilidade   do  Governo  e  da  Nação.  Esla 
silencio  cm  que  jazem  os  ti^abalhos  úteis,  que  já  exis- 
tem ,  privão  a  sociedade  de  huma  massc^  de  nquç^£^  ^ 


Resenha  Ancdytica.  i53 

que ,  se  tivesse  sido  successivamente  lançada  ^m  cir-* 
D  culacào,  poderia  com  ella  ter-se  já  conseguido  hum 
t    fundo  considerável  para  aquelle  importaute  objecto. 


B 


i 

S 


Huma  obra  emprehendida  para  utilidade  de  todos, 
e  para  que  todos  podem  concorrer  j  pede  huma  plena 
e  inteira  publicidade  nos  seus  resultados ;  os  efTeitos 
dVsta  são  muilDs  e  mui  felices :  em  huns  picão  o  amor 
pi*oprío ,  em  outros  ajudão  e  estimulão  o  patriotismo ;  * 
e  as  observações  já  feitas  j  huma  vez  postas  ao  alcance 
de  todos  y  facilitão  as  que  devem  fazer-se^e  dàooc- 
casião  a  correcções  e  a  emendas ,  que  ,  sem  isso» 
serião  impracticaveis.  Não  he  impossivel ,  mas  não  he 
razoado  pertender  da  natureza  do  homem,  que  elle 
ponha  o  mesmo  cuidado  no  seu  trabalho ,  quando 
suppõe  que  este  ha  de  ficar  para  sempre  coberto  do 
pó  do  esquecimento  ,  ou  servir,  em  particular,  para 
utilidade  e  proveito  de  alguém ,  ou  quando  sabe  de 
certo  que  deve  chegar  im mediatamente  ao  conheci- 
mento de  todos  y  e  ser  consagrado  ao  interesse  publico. 

Se  os^  obstáculos  até  aqui  ponderados  são  particu- 
lares ás  circumstancias  dos  Dominios  portuguezes , 
outro  obstáculo  poderoso  existe  j  que  lhes  he  commum 
com  a  maior  parte  dos  Estados  civilisados-  Logo  que 
a  Autoridade  administrativa  faz  indagações ,  todos  os 
administrados  se  assustão ,  e  julgão  infelizmente  do  seu 
interesse  enganá-la*  Se  ella  inquire  de  hum  lavrador 
qual  foi  o  producto  das  suas  searas ,  quantas  cabeças 
de  gado  lhe  nascerão,  que  quantidade  e  qualidade 
de  bosques  possue }  se   perguata  ao  fabricante  qu^ 


.  » 


i5G  Resenha  Anatytica. 

a  que  a  administração  de  cada  hum  d^esses  elementot 
pertence  legalmente ,  em  vez  de  os  commetler  todos  a 
huma  só  Autoridade  em  cada  districto. 

Assim,  os  Prelados  seculares  e  regulares  fornecerão » 
com  exacçâo  e  sem  diíliculdade ,  o  numero  de  Cathe* 
draes ,  de  Parochias ,  de  Conventos ,  de  Seminários 
e  CoUegios;  os  seus  rendimentos ,  a  quantidade  e 
condições  das  pessoas  empregadas  ou  residentes  nestes 
estabelecimentos,  e  o  numero  de  nascimentos,  casa*- 
mentose  óbitos  em  cada  povoação,  e  em  cadaanno* 
Os  Capitães  mores  darão  ,  sem  custo ,  e  ao  nosso  ver » 
muito  mais  exactamente  do  que  os  parochos ,  o  nu- 
mero dos  fogos ,  e  por  elles,  listas  numéricas  de  povoa- 
ção ,  tanto  mais  verdadeiras,  quanto  mais  facilmente , 
por  occasião  das  revistas  mensaes ,  pedindo  ao  indi^ 
viduo  presente  de  cada  fogo  as  clarezas  que  lhe  fal* 
tarem  ,  podem  estabelecé-las ,  veríficá-las  e  corrigt-las. 

Só  estes  dois  recursos ,  alem  dos  mais  que  f  a 
exemplo  d'elles ,  occorrerào  ao  leitor ,  bastarão  para 
simplificar  consideravelmente,  a  este  respeito » o  tra- 
balho dos  Magistrados  das  Comarcas ,  que  assai 
tem  em  que  mostrar  o  seu  patriotismo  e  a  seu  zelo, 
em  ajuntar  os  materiaes ,  que  dizem  respeito  aoa 
fundos  e  impostos  de  todos  os  géneros,  aos  movi- 
mentos acontecidos  no  anno,  nos  individuos  e  na 
administração  da  fazenda  do  Estado ,  dos  Conselhos  , 
dos  Hospitaes  ,  das  Prisões ,  das  Irmandades  e  Coar 
(valias*,  em  huma  palavra,  de  tudo  aquillo»  de  qua 


IlesenJia  Annlytica.  i5«j 

lhes  toca    privativamente  a  intendência  e  a  respon- 
sabilidade* 

Para  que  cada  Iiuma  doestas  Jur isdicções ,  comtudo , 
corresponda  perfeitamente  aO  plano,  que  o  Governo 
tiver  adoptado,  será  necessário  que  o  resultado  dos 
seus  exames  quadre  perfeitamente  com  os  dizeres  de 
Mappas  individuados  de  cada  ramo  difierente,  que 
a  pessoa  j  ou  a  Commissão  nomeada  para  redigir  o 
trabalho ,  deve  ter  preparado  de  antemão ,  e  que  de- 
vem ser  distribuidos  com  instrucções  claras ,  que  não 
deixem  duvida  sobre  a  maneira  de  os  encher. 

Distribuidas  assim  as  indagações »  a  que  só  a  ku* 
loridade  pode  proceder ,  incumbe  ao  Governo ,  como 
já  dissemos ,  dirigir  o  patriotismo  dos  cidadãos  para 
fazer  o  resto.  He  para  sentir  que  entre  nós  não  haja 
ainda  Sociedades  de  agricultura ;  que  serviço  poderiio 
estes  úteis  Estabelecimentos  fazer ,  em  muitos  ramos , 
áquelle  respeito  ?  Porém ,  na  falta  d^ellas  y  o  meio  mais 
próprio  nos  parece  o  de  abrir  correspondências  com 
os  homens  dignos ,  que  se  conhecerem  nas  Províncias, 
e  convidarem-se  a  concorrer  com  o  interesse  iH*oprio 
para  o  interesse  geral  do  Governo  e  da  Pátria.  Ani- 
mem-se  a  escrever  os  proprietários  intelligentes  de 
terras  e  de  manufacturas,  os  Médicos,  os  homens 
industriosos;  mande m-se-lbes  instrucções  e  Mappas 
x:ircumstanciados  que  os  guiem;  determinem-se-lhes 
quaesquer  medidas  de  capacidade  e  de  extensão ,  pp- 
rém  humas  só  e  constantes » para  que  se  conformem 


i58  Resenlia  Analyticá, 

cora  ellas  nas  suas  avaliações  *>  e  estamos  persuadidos 
que  se  hão  de  obter  grandes  resultados. 

Porém  esta  correspondência  não  deve  tomar  hum 
caracter  severo  e  oíBcial  y  que  muitas  vezes,  a  húns 
inspira  huma  resposta  dictada  somente  pelo  desejo 
de  satisfazer ,  sem  interesse  de  acertar ,  e  a  outros 
parece  investi-los  de  huma  espécie  de  autoridade , 
que  pesa  depois  aos  que  podem  ajudá-los.  Nesta 
con^espondencia  deve  fallar  só  o  amor  da  patiia  (i). 


(i)  Talvez  não  seja  5em  interesse  darmos  aqui  ao  Leitor 
huma  ideia  do  modo  por  que  o  Ministro  do  Interior  convidava 
em  França  os  Prefeitos  em  iSoi  a  concorrerem  para  as  in- 
vestigações sobre  a  Statísúca  d' este  Faiz.  Eis-aqui  algumas 
das  expressões  da  sua  circular. 

Je  saisirai.  toutes  les  occasions  d^exciter  la  bienveillance 
du  Gouvernemeut  en  faveur  de  ceux  qui  mettront  au  premie^ 
rang  de  leurs  devoirs»  le  soin  de  bien  étudier  le  territoire 
quils  doivcut  admiuistrer.... 

Cette  Fi-anre  si  belle  ,  cette  terre  si  féconde  et  si  heureuse  , 
cetle  patrie  ú  favorisée  de  la  Providence  ,  ne  peut  étre  trop 
couuue  ;  plus  on  rdtudie ,  plus  on  sy  attache  ;  vous  me  secon- 
derez  de  tous  vos  eíTorts  ,  fen  suis  cerlain  .  . .  ce  u  est  pas  par 
devuir,c*cst  par  senlimcnt ,  cVst  par  uu  noble  orgueil  national, 
que  \  ous  vous  iivrerez  aux  rechercbcs  que  j*attcuds  de  vous.  Je 
n'hcsitc  pas  à  vous  dire  qu'cn  voas  cousultant  ,  c'cst  en  quel- 
que  sorte  moiíis  au  magistrat  que  je  m*adresse  qu'à  Thorame 
qui ,  par  sa  situation  ,  ses  lumièrcs  et  son  attachement  au  hicn 
de  re'lat ,  osl  le  plus  à  porlée  de  me  donner  dcs  notions  posi- 
tives. J'ai  fait  csporcr  au  Gouvernemeut  que  nous  parvíendrions 


Jiesentia  Analytica^  iSf) 

:  Convidados,  em  nome  da  sua  reputação  e  do  inte- 
resse geral ,  os  homens  dotados  de  probidade  y  de 
saber  e  de  experiência ,  acertarão  facilmente  com  as 

'  fontes  onde  hão  de  achar  os  resultados  numéricos  e 
positivos  que  a  Autoridade  procuraria ,  por  muito 
tempo  j  em  vão. 

A  practica  da  cultura  das  terras ,  os  exercicios  da' 
caça  e  da  pesca  facilitarão  ao  proprietário ,  que  vive 
nas  suas  fazendas  ,  e  que y  sem  duvida  y  conhece  huma' 
certa  extensão  do  paiz  em  que  reside  y  os  meios  para 
desempenhar  aquelle  trabalho.  Da  experiência  conti-> 
nua  e  reflectida  da  sua  nobre  profissão  tirará  elle  o 
conhecimento  da  natureza ,  variedade    e   valor    das. 
terras ;  da  lavoura  que  a  estas  mais  convém  \  do  modo 
mais  ou  menos  vantajoso  que  se  emprega  emas  estrumar, 
e  agricultar;  das  plantas  e  sementes  que  nellas  mais 
prosperão ;  do  valor  médio  de   todos   os  productos , 
assim  como  da  importação  e  exportação  d*elles ,  em  ^ 
cada  anno  ;  da  quantidade  e  qualidade  de  alimentos  y 
que  ordinariamente  se  consomem ,  e  dos  vários  preços 
que  pelos  diOerentes  trabalhos  se  pagão  ao  jornaleiro. 
■  -  -■  ■  ■- . 

euíin  a  connaitre  la  Frauce  ;  vous  ni'aiderez  à  m^acquíttcr  de 
ma  parole.  . .  .  Dcs  ^crivalns  distingues >  conduits  seulemcDt 
par  un  généreux  patriotisme  y  ont  donnd  des  Statistiqucs  de 
leur  pajrs.  ...  La  Franca  aura-t-elle  molns ,  doít-elle  raoíns 
attcndre  de  rdlite  de  ses  citoyens  ?  Non  ,  Fespoir  du  Gouver- 
riement  ne  será  pas  trompé ;  et  cette  gloire  Iní  est  encore 
réservéc ,  de  présenter  enân  à  FEuropo  le  véritable  état  de 
ce  beau  pajs. 


í€o  Jlesenha  Âtutlytica. 

A  pratica  com  os  seus  vizinhos  y  e  o  olho  aòostu* 
mado  a  esta  casta  de  ol)servações  lhe  fará  conhecer 
a  quantidade  de  rebanhos  e  manadas  de  todas  as  es- 
pécies, a  qualidade  e  a  somma  dos  animaes  empre- 
gados na  agricultura  e  em  transportes.  O  Recebedor 
dos  dizimos  do  seu  districto  lhe  facilitará  os  meio9 
de  obter  o  conhecimento  da  quantidade  de  grão  que 
se  recolheo ,  e  de  cabeças  de  gado ,  que  nascerão  em 
cada  anno. 

Os  exercícios  da  caça  e  da  pesca  serão  para  elle  de 
grande  recurso  :  este  lhe  fará  conhecer  a  direcção  dos 
rios  e  ribeiras ,  os  seus  nomes  \  as  suas  fontes  i  as  suas 
confluencias ;  os  vãos  e  os  pegos  profundos  d^elles ;  até 
que  ponto  se  faz  uso  das  suas  aguas  para  a  agricultura 
e  para  transportes ;  o  diíTerente  volume  d^essas  aguas ; 
as  causas  que  o  diminuem  ou  augmentão  nas  diversas 
estações;  e  a  quantidade  e  qualidade  de  peixes  que 
as  habitão  :  aquelle  o  porá  em  estado  de  conhecer 
perfeitamente  os  nomes  e  a  direcção  das  Serras  e  dos 
YaUes ;  das  estradas  e  das  pontes ;  a  existência  de 
fontes  e  arroios ;  de  lagos  e  pântanos ;  de  minas  e 
pedreiras;  dos  terrenos  incultos  e  das  matas  ;  da  qua-* 
lidade  de  arvores  que  compõem  estas,  e  da  abun** 
dancia  e  espécies  diflerentes  de  caça  y  que  as  povoào* 
Cada  hum,  no  seu  ramo,  achará  a  facilidade  que 
apresenta  o  habito  e  a  profissão ,  e  os  resultados  não 
podem  deixar  de  ser  naturaes  e  verdadeiramente  úteis. 

Para  ajudar  o  Governo ,  neste  impulso  geral ,  a  nossa 
Academia ,  com  o  zelo ,  que  a  anima ,  pelo  adianta* 


liesenlia  Artályticã.  i6t 

lliento  da$  Sciencias ,  e  pelo  bem  da  Nàçâo,  podería 
propòi:  hum  premio  fixo  ^  para  a  obra  que  lhe  íosse 
remettida  ,  ou  que  se  impiirmsse  y  em  cada  anno,  e 
que  contivesse  as  indagações  mais  úteis  sobre  huma, 
ou  muitas  questões  relativas  á  Statistica  do  Reino  x 
assim  o  faz  y  desde  iBid,  a  Academia  das  Sciencias  de 
Paris  j  a  pezar  do  muito ,  que  já  oeste  Artigo  possue 
a  França. 

Mas  j  sobretudo ,  cotívem  dar*se  a  maior  e  a  maid 
prompta  publicidade ,  pelo  meio  da  imprensa,  a  todos 
estes  resultados  e  aos  nomes  dos  seus  autores ,  e  dis-^ 
tribuirem^-se  gratuitamente ,  e  com  abundância ,  exem- 
plares d*elles  na  Capital ,  e  pelas  Provincias  \  serão  os 
quadros  de  Apelles  expostos  á  censura  dos  qtie  pas-^ 
são ;  cada  hum  lhes  fará  as  suas  observações ,  e  de 
tudo  o  Governo  tirará  proveito.  Abertas  liuma  vez  ^ 
e  bem  seguidas  e  centralisadas  as  correspondências, 
seria  fácil  até  estabelecer  hum  Buletim ,  por  meio  do 
qual ,  em  períodos  determinados  ,  se  espalhassem  por 
todo  o  Reino  os  resultados  mais  importantes  que  se 
tivessem  obtido  :  estes   buletins    interessariào ,  desde 
logo ,  todas  as  classes ,  se  ao  mesmo  tempo  dessem 
a  conhecer,   por  exemplo »  o  preço  dos   differentes 
grãos ,  o  dos  vinhos ,  o  do  azeite ,  o  dos  jomaes  ^  a 
abundância  ou  escassez  promettida,  ou  realisada  das 
producções ,  nos  differentes  distríctos ;  as  novas  expe- 
riências ,  que  em  algum-  d'elles  tivessem  produzido 
resultados  úteis;  e  infinitas  outras  particularidades ,« 
de  hum  igual  interesse »  que  advertem  utilmente  qs 
Tom.  X.  P.  iK  II  A 


j(j2  Rpsenlui  Analytica. 

proprietários,  e  põem  em  movimento  todos  os  géneros 

de  industria. 

Talvez ,  e  he  natural ,  que  grande  som  ma  de  ma- 
teriaes  para  huma  Statistica  existào  já  hoje  entre  nós  ^ 
e  que  não  falte ,  senão  o  impulso  Conveniente  para 
que  elles  appareçào.  Os  homens  sós  e  isolados  esmo- 
recem ;  he  necessário  facilitar  e  animar  as  suas  relá*- 
ções  reciprocas,  para  conseguir  resultados  de  utili- 
dade geral. 

Nós  possuimos  nesta  matéria  três  documentos  cri-» 

ginaes ,  que  a  pezar  de  todas  as  circumstancias ,  ainda 

podemos  conservar ,  e  que  publicaremos ,  no  fim  do 

presente  Artigo ,  para  darmos  nelle  o  exemplo  conx 

a  doutrina;  methodo  o  mais  efficaz  de  a  fazer  propagar. 

Hum  d*estes  documentos  he  hum  Mappa  Statistico 
da  Comarca  de  Guimarães  em  1787,  devido  ao  des- 
velo e  ao  pati'iotismo  do  Corregedor,  que  então  era , 
d*aquella  Comarca,  e  cujas  virtudes  nos  vedào  pôr 
aqui  o  seu  nome.  Nada  diremos  d'este  Mappa ;  o  leitor 
saberá  facilmente  apreciar  o  merecimento  dos  dados 
que  elle  encerra. 

O  outro  he  hum  Resumo  Statistico  da  Posfoação  da 
Pro\^incia  do  Minho  ,  sem  comprehcnder  terra  alguma , 
que  esteia  fora  dos  limites  da  Provincia ,  posto  que , 
pelas  irregularidades ,  que  já  ponderámos ,  pertença 
a  alguma  das  Comarcas  d*ella ,  como  acontece  nas 
do  Porto  ,  Guimarães  e  Barcellos.  Esta  observação  he 
indispensável  para  explicar  a  diíTerença,  que  esteRe* 


Resenha  Analytica.  i63 

sumo  apresenta  y  em  fogos  e  em  povoação,  nào  só 
á  cerca  do  Mappa  Statistico  de  que  acima  falíamos, 
mas  do  resultado  obtido  pelo  Sn**.  Franzini ,  e  pu- 
blicado nas  suas  Instrucçóes  Statisticas^  a  respeito 
d*aquella  Província. 

Este  Resumo  lie  extrahido  de  hum  trabalho  longo 
e  feito  com  o  maior  escrúpulo ,  do  qual ,  para  nào 
sermos  demasiadamente  extensos,  guardamos,  por 
ora ,  todos  os  elementos  parciaes  e  autôgraphos , 
recolhidos  pelo  benemérito  Engenheiro  Custodio  José 
Gomes  de  Villasboas ,  que  por  serviço  da  pátria  perdeo 
tão  cedo  huma  vida  ,  que  sempre  consagníra  tão  eflicaz* 
mente  á  utilidade  d'ella. 

Posto  que  os  elementos  ,  comprehendidos  nestes  dois 
Mappas ,  fossem  coUigidos  em  huma  epocha  mais  ar- 
redada ,  comtudo ,  comparados  com  o  estado  presente, 
podem  servir  hoje  de  base  para  muitos  exames  e  con- 
siderações úteis.  Huma  Statistica  completta  he  obra 
de  muitos  annos ,  e  as  observações ,  sobre  que  cila 
deve  fundar-se ,  por  antigas  que  sejào ,  não  perdem , 
antes  muitas  vezes  ganhão  ,  em  estimação  e  interesse. 

O  outro  documento  he  de  huma  importância  mais 
geral ,  e  traz  com  sigo  mesmo  a  marca  e  signal  ca* 
racteristico  ,  de  ser  devido  ao  cuidado  do  Cro- 
verno  ;  o  qual ,  reconhecendo ,  em  i8o5 ,  a  necessi- 
dade de  verificar  a  justiça  com  que  se  distribuia  a 
imposição  do  tributo  oneroso  ,  mas  indispensável ,  do 
recrutamento  do  exercito ,  mandou  os  Ofíiciaes  do  R. 

11  * 


\ 


]64  Resenha  Analytica. 

Corpo  de  Engenheiros  João  Manoel  da  Silva ,  e  José 
Carlos  de  Figueiredo ,  munidos  das  autorisações  ne- 
cessárias y  reôolher  por  todo  o  Reino ,  com  o  maior 
escrúpulo ,  os  elementos  indispensáveis  para  isto.  Do ' 
trabalho  d'estes  Officiaes  resultou  huma  divisão  de 
todo  o  território  em  vinte  e  quatro  diçtrictos,  que, 
por  meio  de  demarcações  naturaes ,  ou  de  limites  de 
termos  de  Conselhos ,  se  fizerão  o  mais  proporcionaes 
possivel ,  em  numero  de  fogos ,  e  que  se  represen^ 
tárào  em  hum  Mappa ,  de  grande  escala.  D*este ,  por 
circumstanciaSy  conservamos  o  original ,  de  que  temos 
por  mui  conveniente  dar  conhecimento  ao  nosso  lei* 
tor  y  com  o  presente  Artigo,  havendo-o  para  esse  fim , 
reduzido  com  a  maior  exacção,^e  feito  illuininari 
p^ra  mais  fácil  inte|IigeDçia< 

Nelle  não  se  encontrão  designadas  senão  aquellas 
terras ,  que  ou  são  capitães  de  distríeto ,  ou  de  Ter- 
mos que  o  limitão}huma  Taboada,  coUocada ,  por 
maior  commodidade  ,  em  frente  do  Mappa ,  indicará 
o  numero  de  fogos,  correspondente  a  cada  districto. 

Este  documento  statistico,  revestido  de  hun^  ca- 
racter tal  de  confiança ,  nos  parece  do  mais  alto  in- 
teresse y  não  só  pelos  dados  que  apresenta  ,  mas  ))elas 
reflexões  importantes  y  que  facilita ,  e  a  que  natural- 
mente conduz.  D'eUe  se  vé,  que  em  Portugal  e  no 
Algarve  ha  756:267  fogos  ^e  se  attendermos  ao  estado 
da  agricultura  y  ao  pouco  comipercio  ,  á  pequena  in- 
dustria e  a  muitas  putras  causas  que  influem  em  geral 
sobre  a  povoação  do  paiz ,  e  em  paiticular  sobre  a 


Resenha  Analítica.  lõS 

de  certas  Provindas  j  v,eremos  que  ,  segundo  as  bases 
recebidas  em  arithmetica  politica ,  será  demasiada- 
mente forte  a  proporção  de  4  itidividuos^  por  fogo: 
assim  ,  multiplicando  aquelle  numero  por  3  § ,  será 
o  total  da  povoação  de  2.980:534  habitantes;  o  que  he 
assaz  conforme  com  o  total  de  11,9119:000 ,  produzido 
pelo  Sn*".  Franzini ,  nas  Instmcçôes  de  que  acima  fal- 
íamos ,  e  calculado  y  segundo  elle  aíTirma,  sobre  as 
melhores  noticias ,  que  em  i8i5y  se  possuião,  a  este 
respeito ,  em  Portugal.  Vê-se  igualmente ,  que ,  sendo 
o  termo  médio  do  numero  de  fogos  nos  i/í  districtos^ 
3i:5ii,  poderemos  avaliar  a  povoação  de  cada  hum 
d'elles  em  122:10!)  habitantes ,  e  fundarmos,  sobre 
estas  bases  y  muitas  e  mui  úteis  reflexões. 

Huma  porém  das  mais  importantes ,  que  resulta , 
com  summa  clareza  ,  da  simples  inspecção  do  Mappa, 
sem  dependência  alguma  de  calculo ,  he  a  desigual- 
dade de  povoação  ,  nas  difierentes  Provincias  :  todo  o 
vasto  paiz ,  por  exemplo ,  situado  desde  o  Tejo  até 
alem  do  Guadiana ,  he  muito  inferior ,  a  este  respeito , 
á  fértil ,  mas  estreita  Provincia  do  Minho ;  toda  a 
extensão  de  Traz-os-Montes  equivale  a  pouco  mais 
do  pequeno  paiz,  comprehendido  entre  o  Minho  eo 
Cávado  ! 

Outra  reflexão  não  menos  ponderável  offerece  a 
combinação  d'este  Mappa  com  aquelle  Resumo  sta* 
tistico  da  Provincia  do  Minho.  D*este  Resumo  consta 
quedem  17989  havia  naquella  Provincia ,  7:781  habi« 
Vantes  d^   ambos  os  sexos,  votados  ao  estado  eccle- 


i6G  ResenJia  Ancãytica. 

siastico ;  d'aquelle  Mappa  se  vê  que  a  Povoação  da 
ditta  Provincia  he,  com  pouca  dilTerença  ,  1P4  da  de  Por- 
tugal e  Algarve :  ora ,  suppondo  o  estado  ecclesiastico 
na  mesma  proporção  com  a  povoação  ,  em  todo  o  ter- 
ritório ,  o  que  nos  não  parece  excessivo,  resultaria 
que  37:343  indivíduos ,  ou  proximamente  /g  da  povoa- 
ção y  erào ,  pelo  seu  instituto ,  privados  de  concorrer 
para  o  augmento  d*ella  ! 

Quantas  outras  considerações  de  interesse  publico  , 
que,  por  brevidade,  omittimos  agora,  mas  que  o 
leitor  supprirá  facilmente ,  podem  deduzir-se ,  só 
doestes  poucos  documentos!  Quanto  provão  ,  elles  sós  , 
a  necessidade  de  se  cuidar  da  statistica  do  paiz ! 

Taes  são  as  reflexões  ,  que  nos  inspirou ,  em  geral , 
este  importante  assumpto,  e  os  elementos  que,  por 
ora,  publicamos  com  ellas;  possa  a  exposição  das 
primeiras  merecer  a  attençào  dos  nossos  compatriotas  , 
e  a  publicação  dos  segundos  decidir  muitos  d'entre 
elles  a  fazerem  conhecer  o  fructo  das  suas  observações 
statisticas :  huma  e  outra  cousa  preparará,  de  ante- 
mão ,  trabalhos  úteis  ,  que  facilitarão  os  do  Governo  , 
logo  que  este  achar  conveniente  começá-los. 

Não  deixamos  de  conhecer  que ,  no  Brasil ,  os  ob- 
stáculos, nesta  matéria  ,  devem  ser  ainda  maiores 
do  que  era  Portugal ,  em  razão  da  extensão  do  paiz , 
e  do  muito  que  resta  para  conhecer  d'elle :  porem  a 
fertilidade  e  a  abundância  d'aquella  vasta  região  deve 
também  convidar  mais,  para  hum  tal  género  de  tra- 
balho ,  o  zelo  dos  particulares  e  a  attençào  do  Governok 


Resenha  Anàlytica»  tC*» 

Mas  j  ou  seja  na  America  ou  na  Europa  ,  o  estado 
em  que  se  acha  a  agricult\u*a ,  a  industiia  e  o  com- 
mercio  nos  Domínios  portuguezes ,  recommenda  cada 
vez  mais  9  que  se  trate  seriamente  de  conhecer  os  seus* 
recursos  e  as  suas  necessidades.  Para  nos  penetrarmos 
bem  da  importância  d'isto  ,  basta  termos  presente  que 
a  verdadeira  riqueza  não  consiste  no  ouro  nem  na- 
prata ;  quem  possuio  mais  do  que  Carlos  V  e  Filippe  II? 
Deixemos  aos  néscios  declamadores  a  opinião  ridicula 
e  insensata  de  que  he  escusada  a  industria  a. quem 
possue  dinheiro :  solidamente  ricca  he  só  áqueila  Na- 
ção, que  funda  a  sua  riqueza  na  fecundidade  das  suas 
terras ,  no  numero  dos  seus  habitantes ,  e  na  extensão 
de  todos  os  géneros  da  sua  industria. 

C.  X. 


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Resenha  AnaJytica. 


TABOADA 

Do  numero  de  fogos  em  cada  Districto. 


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3.0 

5.0 
6.0 

8.0 

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21.0 

a3.o 
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N®.  DOS  FOGOS. 

81:570 

3o:8i2 

3o:443 

31:469 

3a:o47 

3o:5ao 

3a:65i 

3o:33o 

3o:665 

3o:327 

3i:€)3i 

32:933 

3i:3o2 

30:687 

32:724 
3o:  395 
32:995 
32:852 
3o:37o 
3o:i53 
3i:3ii 
32:169 

32:608 
82:903 


MAPA 


rliviíliclos  em  <l4  uivificeâproxiinamcnile 
iguAes  em  numero  de  Fooob  . 


A .  /írkA  j^Â/v  A . 


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TABOADA 

Do  mmero  de  fogos  em  cada  Distrícto. 


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N».  DM  DUmCTOS.  N».  008  rOGOt. 

'•°  3 1:570 

a-"  3o:8ia 

S-"»  30:443 

4."  31:469 

5'°  3a:o47 

o.<*  3o:5ao 

l-"  3a:65i 

8-»  3o:33o 

9-°  3o:665 

"••  3o:3a7 

"'^  3i:93i 

»=••  32:933 

»3.«>  3i:3oa 

'4.*  30:687 

>5o  3a:7a4 

•6."  3o:395 

'7'°  33:995 

«8.0  3a:85a 

»9'  3o:37o 

=">•*  3o:i53 

=»'•"  3i:3ii 

"••  32:169 

aS.»  3a:6o8 

a4.«  32:903 


MAPA 


diviclido  8  em  ^  4  divi  â  o  es  proxiinamenle 
igxiaes  em  numero  de  Fogo  b  . 


/*'r.  p4r^-ls.^  -M.  f/t^Àiòejéj^ner^uc. 


A .  ^dltUK^icMír^. 


iíi4|>iclit) 


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PARTE  SEGUNDA. 


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CORRESPONDÊNCIA, 


NOTICIAS  DAS  SCIENCIAS,  DAS  ARTES,  etc 


Tom.  X.  P.  »••  »  B 


Jrfi.-M^  fHVVÍ 


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CORRESPONDÊNCIA. 


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TRADUCÇAO 


DA  ODE  n^  DO  LIVKO  I«.  DE  HORA.CIO, 


OobeJ.v  neve,  ríspida  saraiva 
Do  Empyrco  Jove  arremessou  furioso, 
£  o  raio  ardente ,  baqueando  as  aras  ^ 
Eucheo  de  susto  o  Lacio. 

Tremendo  o  Povo  renascer  julgava 
Horrendos  monstros ,  séculos  de  Pyrrha  , 
liá  quando  as  serras  de  Protheo  nutriao 
As  equorcas  manadas. 

Dos  olmos  assombradas  revoarão 
A  par  do  mudo  peixe  ás  castas  pombas; 
Pávidos  gamos  nos  desertos  mares 
Aqui^alli  boiarão* 

O  flavo  Tibre  attonito  fugindo 
Vimos  do  Etrusco  mar;  vimos  sumir-se 
De  Yesta  o  Templo ,  e  o  Real  Palácio 
Do  benéfico  Numa ; 


Correspondência^  • 

Em  quanto  a  Silria ',  mísera  consorte ,  ' 
Punir  o  rio  jura  o  Crime  infando ; 
£ ,  a  despeito  de  Joto  ,  arromba  os  diqaet 
Pela  sinistra  margem. 

As  gerações  vindouras  ,  apoucadas 
C*os  pátrios  yicios ,  ouTÍrao  que  o  ferro 
Amolao  Gdadaos ,  que  os  graves  Persas 
Atassalhar  devera. 

Nas  ruioas  do  Império  o  Povo  errante 
Que  Deos  invocará  7  De  santas  Virgens 
Que  frios  votos  fatigar  presumem 

A  ensurdecida  Yesta  ? 

• 

A  quem  reservas  Júpiter  potente 
Da  culpa  a  expiação  ?  Tu ,  Vate  ApoHo  ^ 
Annue  ás  preces  nossas ,  desce  ao  mando 
Envolto  em  áurea  nuvem. 

• 
Ou  tu  fagueira  Deosa ,  que  acompanhao 
Os  magos  visos,  fervidos  desejos, 
Ou  tu  Mavorte ,  se  respeitas  ainda 
Teus  desgraçados  netos  ^ 

Farto  de  lidas ,  com  clamores  folgas  , 
Com  férreos  morrioes  ^  e  o  vulto  horrendo 
Das  hostes  Mouras ,  rápidas  marchando 
Contra  o  feroz  imigo. 


Correspondência. 
Troca ,  filho  de  Maya ,  a  forma  egrégia 
£m  mancebo  gentil ,  que  imitar  sabes  \ 
E ,  justo  TÍDgador  do  morto  Jolio 
Te  chamemos ,  consente. 

Tardio  gostes  de  sobir  ao  Olympo 
Regendo  em  tanto  a  Quirinal  progénie  ; 
Nao  te  affugentem ,  nao  qual  vento  leye  ^ 
Impunidos  peccados. 

No  Carro  triumphal  chamado  sejas 
De  Roma  o  pai ,  o  Rei...  Mas  tu  ,  oh  Gesar  y 
Que  Medos  esquadrões ,  os  campos  talem 
Inultos^  nao  te  apraza. 


M««<«««%^M^I^M»«M^ 


5  Correspondência. 


COLUMELLA, 

TBAPUZIDO  POR  FERNAM  COUVEIBA, 


( Continuação. ) 


CAPrrOLO  ONZE, 


Dos  pastos  dos  gados  ^  e  aUmarias  de  eaza^ 


Hà  muntos  géneros  de  pastos,  como   são   alfalfa, 
ervilliaca,  fervày^  avea,  feno,  ervas  ,  e  cícera;  e   ou* 
tros  que  nào    he  necessário  nomear,  nem    semear, 
tirando  o  cythiso ,  do  qual  diremos  nos  livros  que  es* 
crevemos  dos  géneros  das  prantas.  Mas  deites  que  aqui 
tratamos  o  principal  he  alfalfa,  a  qual  semeada  buma 
vez  dura  dez  anos  na  terra  em  erva  ,  e  segão-na  cada- 
no  quatro,  e  sinco  ,  e  seis  vezes  segundo  a  qualidade 
das  terras  em  que  a  semeiào.  Tem  mais ,  que  esterca 
a  terra ,    engorda   o  gado  magro ,    cura  o  doente  ,  e 
huma  gejra  delia  mantém  trez  cavallos.  Semease  desta 
maneira ;  abrese  a  terra  em  principio  de  Outubro ,  e 
estaa  assy  aberta  apodrecendo  todo  o  inverno,  e  no 
começo  de  Fevereiro  tornão  a  lavrar  e  a  limpar  das 
pedras ,  e  quebrar  os  torroens }  depois  no  cabo  deste 


Correspondência.  fj 

mez  terçâo  e  destorroào  outra  vez,  c  fejta  assy  a 
terra  fazemna  em  leyras  de  dez  pees  em  largo,  e  sinco- 
enta  em  longo  ,  de  feyção  que  se  possa  regar  como  orta, 
e  fiquem  entre  as  leyras  caminhos  para  os  sachadores 
poderem  entrar  a  sachar  de  qualquer  parte  que  qui- 
zerem,  e  nas  leyras  depois  de  feitas  lançãp  esterco 
velho  bem  podre.  Feito  tudo  isto  no  fim  d  Abril 
lançào  a  semente  em  espaço  de  dez  pees  de  longo , 
e  sinco  de  largo  medida  de  meio  quartilho ,  e  logo  a 
cobrem  sem  tardar,  antes  que  a  queime  o  Sol,  por 
que  lhe  faz  muito  mal,  e  cobremna  com  encinho^  de 
pào ,  e  não  de  ferro  como  dixe ,  e  digo  muitas  ve^es , 
por  que  a  outra  erva  nào  tenha  Iqgar  de  nacer,  por 
que  em  quanto  hè  fraca  fazlhe  a  monda  muito  nqjp 
e  a  afoga.  A  primeira  colheita  não  seja  antecipada  > 
por  que  tenha  espaço  para  nacer  toda ,  e  crecer ,  e 
tomar  força,  mas  depois  as  outras >  quando  ja  estaa 
firme  e  arreigada,  podemse  fazer,  e  segar  quando 
quiserem,  ainda  que  a  erva  seja  tenra.  Porém  tenhão 
este  avizo ,  que  quando  a  derem  de  novo  a  qu^quer 
besta,  demlhe  pouca  e  pouca  atee  que  se  acostume 
a  ella ,  por  que  lhe  nào  faça  mal ,  por  quanto  enche 
munto ,  e  cria  munto  sangue.  Quando  a  segarem  ,  re- 
guemna  muntas  vezes,  e  quando  crecer,  tornemna  a 
mondar ,  e  aixanquèlhe  as  outras  ervas  que  nascerem 
antre  ella.  E  assy  curada  podese  cplher  seis  vezes 
cada  anno,  e  duraraa  todos  dez  anpos.  A  ervilhaca 
tem  duas  sementeiras,  huma  no  Outono  para  pasto , 
na  qual  por  que  cumpre  ser  mais  basta,  cada  geyra 
leva  sete  almudes  de  semente  ^  e  outra  em  Janeiro , 


8  Correspondência. 

ou  mais  tarde  se  qulzerem ,  para  semente ;  e  nestsi 

al>astão  seis  almudes  em  cada  geyra.  Asay  hama  como 

a  outra  se  pode  fazer  em  terra  crua  sem  lavrar  y  mas 

meUior  se  faz    em   teira  lavrada,  e  abasta   hum  sò 

arado,  porem  cumpre  que   a  cubrào  logo,  por  que 

não  quer  que  lhe  chova ,  ou  orvalhe  antes  de  cuberfa , 

nem  quer  que  a  lancem  sobre  o  orvalho  de  pela  ma- 

nhàa ,  por  que  se  corrompe ,  apodrece ;  portanto  he 

necessário  semeala  depois  que  o  sol  aquece ,  e  seca  o 

orvalho,  e  nào  seméem  mais  do  que  quanto  se  cubra 

naquelle  dia.  Tenhào  aviso  que  a  nào  semeiem  antes 

di)s   \inte    sinco   de  lua,  por  que  tenho  alcançado, 

qae  semeada  antes  come  a  o  caracol ,  elezme.  Àferrày 

se   a  semei  rem   de  sevada   cantberinba ,  ou  cavalar 

em   restolho  que  fosse   bem  estercado,  lavrado  duas 

vezes ,  darseaa  boa.   Querse  semeada  em  tempo  que 

lhe  chova  logOj    e   naça    asinha,  e  creça   antes  que 

venha  a,  A)rça  do  inverno,  quando  faltão   os   outros 

pastos ,  para  entàp  suprir ,  e  acodir  ao  gado ,  em  es* 

pecial  do  que  trabalha ,  por  que  nào  pereça.  Lancem 

em  cada   geyra   de^   almudes,    por  qve  naça  basta. 

Podemna  segar,  ou  pacer  q  antas  vezes  quizerem  atee 

Q    tnez    de  Maio,  e  dahi  por   diante   se  a  quizerem 

guardar  para  grão,  n»o  bulâo  mais  com  ella.  A  mesma 

sementeyia  tem    a   aveya ,  e  da    mesma   maneira  se 

colhe,  e  guarda  para  semente  como  dixemos  da  se-- 

vada.  O  feno  g  ego ,  a  que  os  rústicos  chamào  siliqua , 

também   tem    duas   sementeiras,  huma  no  mez  de 

Septembro  junto  do  equinócio,  nos  mesmos  dias  em 

que  acima  fica  dito  que  se  deve  semear  a  ervilhaca , 


Correspondência.  9 

isto  hè  para  colher  em  verde ,   ou  pacer;    a   outra 
antre  Janeiro  e  Fevereiro  para   colher  maduro  para 
semente.  Para   esta  segunda  sementeira  abastào  seis 
q1  mudes  de  semente  para  cada  geyra  de  terra  ^e  para 
a  primeira  ha  mester  septe ,  por  que  hade  ser  mais 
basto.  Ambas  estas  sementeiras  do  feno  se  fazem  em 
teiTa  crua ,  se  querem ,  e  ao  cobrir   hão  de  lavrar 
meudo,  e  não  alto,  por  que  se  a  semente  fica  mais 
alta  que  quatro  dedos  y   não  nace  ;  pelo  que   alguns 
lavrào  primeiro  a  terra  com  arados  pequenos,  e  de- 
pois cobrem  a  semente   com  sachos ,  ou  encinhos , 
ou  grades  pequenas.  O  ervo  semeese  em  terra  fraca  ,  e 
não  húmida,  por  que   nas  terras  gi ossas  c  viçosas, 
veceja ,  e  perdese.  Podese  semear  no  Outono ,  e  tam^ 
bem  depois  da  bruma  no  fim  de  Janeiro,  e  per  todo 
o  Fevereiro ,  mas  não  em  Março ,  no  qual  mez  dizem 
os  lavradores,  que  não  convém  semear  este  legume, 
porque  semeado  neste  mez  faz  mal  ao  gado ,  em  es- 
pecial aos  bois ,  os  quaes  embebeda ,  e  faz  doudos. 
Sinco  almudes  desta  semente  abastào  para  huma  geyra 
de  teiTa.  Em  lugar  de  eros  acostumão  na  Andaluzia , 
terra  de  Espanha,  dar  aos  bois  cicera  machucada,  a 
qual  machocão  em    qualquer  moenda  com   a   moo 
alevantada ,  de  feyção  que  quebre  somente  o  grão , 
e  assy  quebrado  lentengemno  com  agoa ,  e  misturado 
com  palha  meuda  se  dee  ao  gado.  Mas  dos  eros  doze 
libras  abastào  para  huma  jugada  de  bois ,  e  da  cicera 
dezaseis.  A   qual  também  hè  boa  para  os  homens , 
se  tem  bom    gosto.  No   sabor  não  he   differeute    da 
cicerula  i  mas  na  cor  sim ,  por  que  hè   hum  pouco 


IO  Correspondência, 

mais  preta.  Semease  no  primeiro  ,  ou'  segundo  arado , 
no  mez  de  Março ,  e  segundo  a  força ,  e  virtude  da 
terra  assy  lhe  lançào  a  qualidade  da  semente  por 
geyra ;  em  humas  quatro  almudes ,  em  outras  dous , 
e  nas  melhores  meio. 

CAPITOLO  DOZE. 

*     De  como  as  semeadas  do  pão,  e  legumes  de^em  ser 

curadas  y  e  quantas  vezes. 


Por  quanto  jaa  dixemos  quando  se  devia  semear 
cada  semente ,  agora  mostraremos  como ,  e  quantas 
vezes  se  deve  cada  huma  delias  curar  depois  de  se- 
meada. Depois  da  sementeira ,  a  primeira  obra  de  que 
o  lavrador  ba  de  ter  cuidado  ,  bè  o  sacbo  \  ainda  que 
os  autores  da  agricultura  não  são  todos  deste  pare- 
cer ;  mas  dizem  alguns^que  não  aproveita  sachar ,  an- 
tes hè  prejudicial ,  por  que  descobre  as  raizes  do  pão , 
e  corta  algumas  delias ;  e  se  sobre  o  sacho  acerta 
de  vir  frio,  ou  calma  rija,  mata  a  semeada,  e  por 
tanto  dizem  que  bè  melhor  mondar  a  seu  tempo» 
Porém  os  mais  são  de  parecer  que  se  sachem  as  se- 
meadas, mas  não  concertão  todos  no  modo  e  tempo 
de  sachar ;  por  que  huns  dizem  que  nas  terras  secas 
•  quentes,  tanto  que   as    semeadas   poderem  sofrer 


Correspondência.  ii 

sacha ,  qae  as  devem  sachar ,  e  achegarlhe  a  terra , 
para  que  possào  fazer  cana ,  que  hè  necessário  que 
facão  antes  do  inverno  ^e  passado  o  inverno  tornallas 
outra  vez  a  sachar  :  mas  nos  lugares  frios  e  apaula* 
dos,  sachallas  depois  do  inverno  deiíando  a  terra 
chàa  y  e  igual ,  sem  achegar  montes  aos  pees  do  pão. 
Porem  nos  temos  alcançado ,  que  em  muntas  regioens 
hè  bom  sachar  no  inverno ,  convém  a  saber,  nas  terras 
que  tem  o  ar  seco ,  e  quente;  mas  nem  por  isso  di- 
zemos ,  que  se  faça  em  toda  a  parte ,  senão  que  nos 
conformemos  com  o  costume  dos  lavradores  antigos 
na  terra ,  por  que  ha  terras  que  tem  virtudes  particu* 
laresy  como  tem  o  Egypto  e  Africa»  nas  quaes  Re- 
gioens os  lavradores  depoifi  que  lançam  a  semente  aa 
terra ,  não  vem  mais  a  semeada ,  senão  quando  a  vão 
colher;  porque  hè  tal  a  natureza  do  ai^  e  bondade 
da  terra ,  que  poucas  vezes  nace  erva  alguma  outra , 
senão  a  da  semente  que  lhe  lançào ;  isto  ou  por  que 
chove  laa  poucas  ve^es ,  ou  por  que  a  qualidade  da 
terra  serve  assy  aos  lavradores «  e  he  seu  natural  criar 
as  boas  sementes ,  e  não  as  ruins ;  coroo  em  muitas 
partes  caa  vemos ,  que  se  daa  bem  o  trigo  »  e  em  ou<r 
trás  se  não  daa  ;  e  assy  todas  as  sementes  e  prantas 
•e  dão  melhor  em  humas  partes  que  noutras.  Final-^ 
mente  onde  hè  necessário  sachar  as  semeadas ,  não 
Das  devem  semear  atee  que  a  erva  cubra  a  terra » 
posto  que  o  tempo  o  permitta.  O  trigo^e  ador  que* 
remse  sachados  depois  que  começão  ter  quatro  raizes, 
e  a  sevada  sinco,  as  favas,  e  outi^os  legumes,  depois 
que  tiverem  quatro  dedos  dalto  sobre  a  teiTa.  Desta 


»i  Correspondência. 

obrigação  de  sachar  nos  excusa  o  tramoço ,  por  que 
não  tem  mais  que  huma  raiz ,  a  qual  se  for  ferida 
com  ferro ,  logo  se  seca  o  tramoceyro :  e  mais  ainda 
que  senão  secara ,  não  era  necessário  saehalo,  por  qae 
as  outras  ei^as  lhe  não  fazem  nojo  algum ,  antes  ao 
contrario  elle  as  mata  se  nacem  antre  elle.  Posto  que 
algumas  semeadas  se  poderião  sachar  com  tempo  hú- 
mido,  todavia  melhor  hèsachallas  com  tempo  enxuto  ^ 
por  que  sachadas  com  tempo  húmido  crião  fenisigem  y 
e  a  sevada  sobre  todas  se  quer  sachada  munto  seca^ 
As  favas ,  muitos  dizem ,   que  as  não  sachem  ,  por 
que  sem  mais ,  soo  com  as  maõs  facilmente  se  pode 
apailar  da  monda  ao  tempo  do  colher :  e  mais  dizem 
qúe  as  eiTas  que  nacem  antrellas  aproveitão  para  feno, 
e  pasto  do  gado  depois  de  colhidas ,  da  qual  opimio 
hé  também  Comelio  Celso ,  e  diz  que  entre  os  bom 
dotes  que  tem  as  favas ,  hé  este  hum  delles ,  que  da 
terra  que  deu  favas ,  depois  delias  colhidas ,  podeia 
também  colher  feno.  Mas  a  mim  pareceme  eouza  de 
muito  mão  lavrador  deixar  criar  erva  nas  semeadas» 
por  que  diminuese  no  fructo,  onde  cresce  a  monda« 
Nem  hé  de  lavrador  prudente   curar  mais   do  pasta 
das  bestas  9  que  do  mantimento  dos  homens ;  princi«» 
pai  mente  podendo    criar  feno   nos   prados  que   para 
isso  são  ordenados.  E  em  tanto  sou  eu  de  parecer, 
que  se  devem  sachar  as  favas ,  que  não  somente  buma 
vez  y  mas  trez  digo  que  devem  ser  sachadas  ,  por  que 
tenho  alcançado  que  sendo  assy  sachadas  fazem  mais 
fniyto,  e  menos  casca  ;  emt  anto  que  quebradas  ,  e 
limpas  das  cascas,  falta  muy  pouco  da  medida  que 


Correspondência*  xS 

tinlião  dantes*  Assy  que  geraluieate  o  sacho  fazpro^ 
veito  a  toda  semeada  ,  como  dixemos  ,  em  especial , 
no  inverno  em  dias  serenos  e  secos ,  depois  da  bruma 
no  mez  de  Janeiro  sem  geada.  E  os   sachadores  bào 
de  sachar  de  maneira  que  não  escalavrem  as  raízes 
da  semeada,  mas   antes   as  cubrâo  e  ajuntem   para 
ellas  a  terra  em  montes  :  isto  farào  no  primeiro  sa- 
cho y  que  he  o  do  inverno ,  por  que  a   terra  assim 
amontoada  agazalhe  e  ampare  as  raizes,  e  a  erva  tome 
seu  nutrimento  ,  e  creça ,  e  o  fr\o  lhe  não  faça  damno. 
Mas  no  segundo  sacho,,  que  seraa   logo    passado  o 
equinócio  do  verão,  e  não  passaraa  vinte  dias  depois, 
não  ajuntarão  a  terra  ao  pee  da  erva ,  por  que  não 
apodreça  com  o  viço ,  e  quentura  do  tempo ,  que  jaa 
então  hè  quente  e  viçoso ;  mas  soomente  então  boli- 
ràõ  a  terra  quebrandolhe  a  côdea,  e   an*ancando  a 
erva  ruim  que  houver,  e  deixarão  a  terra  igual;  isto, 
como  digo,  farão  logo  passado  o   equinócio   denti*o 
em  vinte  dias  antes  que  a  semeada  crie  cana  ,  por 
que  então  quebra  a  cana  tenra ,  e  secase  facilmente 
com  a  quentura  do  tempo ,   que  jaa  então  hé   mais 
quente  e  seco.   Logo   depois  deste   sacho  do  verão  , 
mondem  as  semeadas  >  antes  que  comecem  enflorecer^ 
por  que  estando  em  flor ,  não  convém  boUr  com  ellas , 
senão  antes,  ou  depois  que  alimpão.  E  para  se  saber 
quando  hão  de  floreceras  semeadas,  haveis  de  notar 
que  todo  pão  que  tem  hum  sò   grão  em  cada  fole- 
Iho,  como  trigo  e  cevada,  começa  espigar  do  terceiro 
noo  atee  o  quarto ;  e  depois  que  lança  toda  a  espiga 
dahi  a  outo    dias  enflorece ,  e  depois  da  flor  a*ece 


1 4  Correspondência^ 

ainda  quarenta  dias ,  nos  ({uaes  engraece ,  e  amadu- 
rece. E  os  legumes  que  tem  em  cada  folelho ,  ou 
bainha  muntos  grãos,  como  sào  favas ,  emlhaSy  c 
lentilhas  nos  quai^enta  dias  soos  enflorecem ,  e  crecem 
juntamente* 


CAPITOLO  TREZE. 

De  quantos  serviços  ha  mester  cada  %eyra  de  terra  , 
segundo  a  semente  que  Hw  lançáo. 


Por  que  se  saiba  a  gente  que  lião  mester  as  her« 
dades  que  queremos  grangcar ,  be  necessário  que  teu* 
teemos  os  serviços  pessoaes  que  ha  mester  eada  gejra 
de  terra  desde  o  primeiro  arado ,  atee  por  na  eyra  • 
que  semeamos.   E  para   isto   hé  necessário  que  nos 
lembre  quehuma  geyra  de  tena  leva  de  trigo  quatro 
ou  sinco  almudes ,  os  quaes  hão  mester  quatro  ser- 
viços do  lavrador  para  lavrar  e  semear ;  e  hão  mester 
para  desterroar  hum  serviço ,  e  para  o  primeiro  sacbo 
dous;e  pnra  o  segundo  hum*,  para  mondar  hum ,  e 
para  segar  hutn  e  meio  :  os  quaes  serviços  assoma  o 
todos  dez  e  meio.  De  candeal  leva  cada  geyra  tam* 
bem  sinco  aln)udeSy  e  também  hão  de  mestei*  outros 
tantos  serviços  y  como  do  trigo.  Deescandia  leva  nove 
ou  dez,  e  ha  mester  o  mesmo  numero  de   serviços. 
De  sevada  cinco  ou  seis  almudes,    bão  mester  trez 


Correspondência*  5  S 

•erviços  para  lavrar  e  semear,  bom  para  defttfrrMr^ 
e  hum  e  meio  para  sachar ,  e  bum  para  se;;ar;  mk 
mão  todos  seis  e  meio.  De  favas  cada  í$ef  ra  leva  ée 
quatro  a  seis  almudes ,  e  se  ^o  semeadas  em  al^oeve 
hão  mester  dous  serviços  do  lavrador,  mis  em  res* 
leva  hum  abasta ;  para  destorroar  bâo  me^ler  kam  e 
meio,  para  sachar  outro  e  meio  no  primeiro  sadio, 
e  no  segundo  hum  soo,  e  no  terceiro  outro  §00 f  e 
para  colher  outro  soo;  somâo  todos  oito,  oa  sete 
em  resteva.  De  vicia,  ou  ervilhaca  leva  cada  t^rfí 
seis  ou  sete  almudes  ,  os  qoaes  semeados  em  alqueve 
hão  mester  serviços  do  lavrador  dous,  e  semeados 
em  resteva  abastalhe  hum  para  lavrar  e  semear;  para 
destorroar  hão  mester  hum ,  e  para  colher  outro  :  so- 
mão  quatro  em  alqueve,  e  trez  em  resteva.  De  ervos, 
ou  eros  leva  cada  gejra  cinco  almudes ,  ha  mester  para 
lavrar  e  semear  tantos  serviços  como  a  vicia ,  e  para 
destorroar,  sachar,  mondar  e  colher  cada  bum  seu, 
e  todos  em  soma  fazem  seis.  A  gejra  de  siliqaa  leva 
seis  ou  sete  almudes ,  e  para  semear  ha  mester  tantos 
serviços  como  a  vicia*  A.  geyra  dos  feyjoens  ba  mester 
para  semear  tantos  serviços  como  a  vicia ,  mas  para 
destorroar  hum  soo  ,  e  para  colher  outro.  De  chicharos 
a  geyra  leva  quatro  almudes ;  hão  mester  trez  serviços 
do  lavrador ,  para  destorroar  hum  ^  para  mondar  ou- 
tro, e  para  arrancar  outro;  são  por  todos  seis  ser- 
viços. Das  lentilhas  em  cada  geyra  almude  e  meio; 
para  semear  trez  serviços  ^  para  destorroar  hum ,  para 
sachar  dous  ,  para  mondar  hum  ,  para  arrancar  hum , 
iàzem  em  soma  outo.  A  geira  dos  tramocos  leva  dez 


tC  Correspondência 

almudles  ^  ha  mester  para  cobrir  hum  serviço  i  e  para 
deston*oar  outro  ,  e  para  colher  outro.  De  milho  quatro 
seystaríoS)  que  sâo  dous  terços  daloiude,  e  de  painço 
outro  tanto ,  em  cada  geyra  hão  mester  quatro  ser- 
viços de  lavrador,  e  para  destoiToar  trez,  e  para  sa<* 
char  trez;  para  colher  não  tem  certo  numero  de 
serviços,  porque  as  vezes  hè  forte  e  basto,  às  vezes 
ralo,e  também  às  vezes  o  segào,  e  outras  o  arran* 
çào  ,  e  segundo  isto  ha  mesler  humas  vezes  mais 
serviços ,  e  outras,  menos.  De  grãos  huuia  gejra  leva 
trez  almudes ,  e  ha  mester  ouiros  tantos  serviços  para 
semear,  e  para  destorroar  dous,  hum  para  sachar,  e 
outro  para  mondar,  e  trez  para  arrancar-,  assomào 
todos  dez  serviços.  Huma  geyi^a  de  linho  leva  outo 
atee  dez  almudes  de  semente ,  semease  com  quatro 
jugadas,  ou  serviços  de  bois,  destorroase  com  trez 
serviços  dhomens,  mondase  com  hum  serviço,  arran- 
case  com  ti*ez  :  fazem  em  soma  todos  trez.  Hutna 
geyra  de  gergelim  leva  atee  seis  seystarios  que  fazem 
hum  almude  de  semente  ;  semease  com  trez  jugadas 
de  bois  desdo  primeii*o  arado,  destorroase  com  qua- 
tro serviços ;  sachase  com  outros  quatro  no  primeiro 
sacho,  e  no  segundo  com  dous,  escolhese  com.  outros 
dous  :  assomào  todos  quinze.  O  linho  alcaneve  semea-^ 
se  como  acima  ensinamos ,  mas  nào  hé  certo  que 
despeza,  ou  diligencia  ha  mester,  k  alfalfa  cobrese 
como  dixemos,  não  com  arado  de  ferro,  senão  com 
encinhos  de  pào;  huma  geyra  delia  destorroase  com 
com  dous  serviços  ,  sachase  com  hum,  e  colhese  com. 
outro.  Teuteada  e  acabada  bem  esta  conta,  podese 


Correspondência .  1 7 

coUlgir,  que  huma  herdade  de  duzentas  geyras  dç 
terra  ha  mester  para  se  lavrar  duas  juntas  de  bois,  e 
outros  tantos  lávf adores  para  ellas ,  e  ha  mester  seis 
trabalhadores y  se  a  terra  for  limpa  sem  mato,  e  se 
tem  mato>  diz  Saserna,  qtie  ha  mester  mais  outro| 
trez  homens.  A  qual  conta  nos  ensina  que  huma  junta 
abasta  pata  semear  cento  e  vinte  e  sinco  almudes  de 
trigo,  e  sincoenta  na  principal  sementeyra,  que  hé 
a  do  Outono^  quando  os  bois  ainda  estão  fartos y  e 
tem  força.  E  depois  na  segunda  dos  tremezes  pode 
semear  septenta  e  sinco  almudesi.  O  que  aqui  preten** 
demos  ensinar,  que  hè  saber  quantos  serviços  hão 
mester  as  fazendas  que  grangeamos  >  consta  também 
per  outra  maneyra  assy*  Âs  sementes  que  se  semeão 
per  quatro  arados,  quero  dizer >  lavrando  a  teiTa 
quatro  vezes ,  para  vinte  sinco  geyras  de  terra  hão 
mester  cento  e  quinze  serviços  darado ,  por  que  abrem 
a  terra,  por  dura  que  seja^  com  sincoenta  serviços ^ 
e  talhàona  com  vinte  e  sinco ,  e  terçào  e  mais  semeião 
com  quarenta.  Os  outros  legumes  hão  mester  sessenta 
serviços,  que  são  dous  mezes  de  tempo.  Contàose 
também  os  dias  de  chuyva ,  e  ferias  em  que  não  la* 
vrão  ,  a  que  dão  quarenta  e  sinco.  Item  mais  outros 
trinta  de  folga  acabada  a  sementeyra»  E  assy  por  todos 
são  outo  mezes  e  dez  dias,  eficàotres  mezes  e  vinte*» 
sinco  dias  para  encher  o  ano ,  os  quaes  se  gastão  na 
sementeira  dos  tremezes,  ou  no  carreto  do  feno,  e 
pastos ,  e  esterco  e  outras  couzas."* 


Tom.  X  P.  aa.  a  B 


i8  CarrespenJãneia. 

CAPrrOLO  QUATORZE. 

Dos   legumes  guê  damnâe  as  terras,  e  d^  çme  of 

ajudào ,  e  esteroâo* 


Das  sementes  que  acima  referi  >  bumas ,  diz  Sa'** 
sema,  estercào  e  ajtidào  as  terras,  e  outras  ao  con- 
trario as  qneimào ,  e  lhe  castão  a  força.  Estercio  os 
tramoços,favas,  ervilhaca ,  eíVo^,  lentilhas »  chicharos  , 
t  ervilhas.  Dos  tramoços  nâo  duvido  nada ,  e  também 
da  ervilhaca  de  pasto,  se  a  lavrarehi  logo  acabando 
de  a  segar  em  verde ,  e  aquillo  que  deixar  a  foudnha 
cobrirão  arado  antes  que  se  seque,  por  que  aquillo 
assim  Verde  fica  em  lugar  de  esterco.,  e  se  aquelas 
raizes  que  íicào ,  se  secarem ,  tirão  e  consumem  o 
çumo  e  força  da  terra.  O  que  também  por  seme- 
lhante rezào  acontece  nas  favas,  e  nos  outros  legu-* 
mes ,  com  os  quaes  a  terra  parece  que  se  alegra  e 
engrossa;  por  que  se  nào  lavrarem  logo  a  terra  aca- 
bando de  os  tirar  dela,  não  aproveitaraa  nada  para 
as  outras  sementes  que  ali  lançarem.  Os  legumes  que 
se  colhem  arrancados  fazem  damno  à  terra ,  em  es- 
pecial os  grãos ,  e  linho ,  segundo  diz  Tremelio ,  por 
que  a  peçonha  destes  queima  a  terra  mais  que  dos 
outros ,  huma  por  salgada  ,  e  outra  por  quente.  O  que 
Vergilio  significa  destes,  e  doutros  dizendo: a  semeada 
do  hnho  queima  a  terra ,  como  também  a  da  aveya 


Correspondência.  ty 

9  a  das  durmideiras.  E  nào  hà  danda  sénio  q«e 
prejudicào  estas  sementes  a  terra ,  como  também  Ah 
zem  o  milho,  e  painço.  Mas  para  as  terras  qae  pade* 
cem  este  detrimento,  temos  hum  certo,  e  prestei 
remédio  que  hé  estercallas ,  por  que  com  isso  reeu* 
perão  suas  forças ,  como  com  seu  próprio  mantimento. 
Nàp  somente  para  as  sementes  que  semeamos  comi 
arado,  mas  também  para  as  arvores ^  e  todaapranta 
hé  proveitozo ,  e  necessário  o  esterco ,  por  que  tudo 
se  daa  melhor  com  elle  que  sem  clle«  Portanto  aoa 
agricultores  convém  ter  ter  muito  cuidado  de  o  fazer^ 
e  curar  com  diligencia.  E  por  que  os  autores  antigos 
posto  que  (izerào  delle  alguma  menção,  passarão  to*** 
davia  levemente  por  isso;  eu  agora  quero  tratar  per 
extenso  o  que  elles  deixarão. 

cAPrroLo  QumzE. 

Dos  géneros  do  esterco  f  e  de  como  se  fmrà,  e  qmsnd^^ 

Kè  hom. 


Trez  géneros  ha  de  esterco  principaes  entre  os 
outros ;  e  são ,  o  primeiro  das  aves ,  o  segundo  doá 
homens ,  o  terceiro  do  gado.  Do  das  aves  o  melhor 
hé  o  das  pombas  e  logo  o  das  galinhas,  e  depois  o 
das  outras  aves ,  com  tanto  que  nào  sejão  aves  d'agoa 
como  patas ,  adens ,  cujo  esterco  he  prejudicial  para 
as  terras  e  fazlhe  damno.  Aprovamos  sobre  todos  • 

a* 


S^  Cortespcndencia, 

das  pombas,  por  que  achamos  por  experiência  que 
pouco   delle   espalhado-  apodrenta  a  terra  mais  que 
munto  do  outro.  O  segundo  dos  princípaes  que  hè  o 
dos  homens ,  hade  ser  misturado  com  cisco  ou  qual- 
quer outro  monturo ,  por  que  elle  sò  he  mui  quente 
e  queima  a  terra.  A  ourina  da* gente,  se  a  deijíarem 
apodrecer  por  espaço  de  seis  mezes,  hé  muito  boa 
para  enxertos.  Se  a  lançarem  ao  pè  das  videiras ,  ou 
arvores  de  fruito,  darão  mais  firuito,  mas  também 
terá  gostozo ,  e  o  vinho  cheirozo  e  de  mais  dura.  £  se 
com  esta  ourina  velha  mesturarem  também  agua  ruça 
velha  sem  sal ,  e  regarem  assi  com  isso  as  arvores  , 
em  especial  as  oliveiras  darão  mais   fruito,  por  que 
não  somente  assim  mesturada  a  agua  ruça,  mas  tam- 
bém estreme  por  si,  ajuda   muito.   Assi  huma  com 
outra  no  inverno  aproveitâo  mais,  e  no  verão  antes 
das  calmas  do  estio,  em  quanfo  as  arvores  e  vinhas 
estão  ainda  escavadas ,  e  com  as  raizes  quasi  desco- 
bertas para   que  possão  gozar  desta  regaduia ,  e  nu- 
trimento  deVla.  O  terceiro  lugar  dos  géneros  de  esterco 
tem  o  do  gado  ,  no  qual  também  hà  diflferenças ,  por 
que  dizem  que  o  dos  asnos  he  melhor  que  todos ,  e  a 
rezào    he  por  que  este  animal  quando  come  masca 
muito  de  vagar ,  e  coze  no  estômago  a  comida  mais 
facilmente  e  melhor ,  e  por  isso  lança  o  esterco  mais 
podre   e  mais   idóneo  para  a  terra.  Depois   deste  o 
das  ovelhas  hè  bom ,  e  depois  das  ovelhas  o  das  ca- 
bras ,  e  depois  das  cabras  o  do  gado  grosso.  O  peor 
de  todos  hé  o  dos  porcos  ;  quando  falta  esterco,  tam- 
bèm.iai  proveito  às  teiTas  a  cinza  e  faullia  de  fogo. 


Correspondência*  ^t 

A  palha  de  tremoço  meuda  tem  \irtude  dê  b<hn  es-^ 
tcrco.  Também  lançào  nas  terras  frias  para  a  aquentar 
fauma  espécie  de  terra  branca,  que  chamáo  giz.  Bem 
sei  que  hà  algumas  terras  em  que  nao  hà  creação  de 
gado  nem  aves  para  fazer  esterco  \  mas  bem  dezaazado 
será  o  rústico  que  não  souber  fazer  esterco^  posto 
que  não  tenha  criação ;  por  que  pode  ajuntar  folhas 
e  ramos  y  e  tojo  e  feito  sem  fazer  nojo  a  seus  vezinhos  t 
mas  antes  proveito ,  por  que  lhe  alimpará  as  terras » 
e  lançar  tudo  no  pateo  das  quintas  e  nos  caminhos 
por  onde  anda  a  gente  que  o  pize ,  e  com  a  chuva 
do  inverno  apodreça.  Também  pode  fazer  huma  cova^ 
como  dixemos,  no  primeiro  livro,  e  lançar  nelia 
cinza  e  cisco ,  palha  e  todas  as  immundicias  de  caza , 
e  de  quando  em  quando  alguma  agua  por  que  se 
não  seque ,  mas  que  apodreça  e  faça  esterco.  E  pof 
que  se  não  criem  ou  acolhào  sapos  ou  bichos  outros 
peçonhentos  ,  que  corrompão  o  ar  nesta  cova ,  lancem 
nella  alguma  madeira  de  carvalho  ,  por  que  os  bichos 
peçonhentos  fogem  delia.  Isto  digo  para  as  terras  onde 
não  hà  gado;  que  para  onde  hà  gada  que  piza  e  faz 
esterco,  cada  dia  lanção  a  immundicia  da  cozinha 
e  da  camará;  e  nos  dias  de  chuva  dos  curraes  dos 
bois  e  ovelhas ;  e  mais  vezes  das  esti^ebarias  que  se 
devem  alimpar  quando  for  necessário.  De  todas  estas 
partes  se  faz  esterqueira ,  ao  menos  para  terras  de  pão 
commumente ,  ainda  que  não  hé  tão  bom  o  esterco 
destas  esterqueiras ,  como  alguns  dos  que  acima  dixe-^ 
mos.  Mas  nas  terras  em  que  se  não  seméa  outra 
couza  senão  pão  ,  abasta  qualquer  esterco , .  e  ofto  h4 
necessário  apartac  os  género^,  dos  estercos  que  dixe- 


%t  Cerresponãtmcia' 

mos.  Porbfli  aonde  ba  sementeira  e  arv^^s  e  praâos , 
devese  apartar  eada  género  de  per  si ,  ao  menos  o 
das  aves,  oTelhas,  e  cabras  $  t  os  outros  laneemse 
todos  juntos  na  cova  sobredita ,  onde  lhe  hão  de  lan« 
çar  muitas  vezes  humor  algum ,  para  que  apodreçào 
as  erras  e  suas  raíses ,  e  palha  e  qualquer  couza  crua 
t  dura  que  estiver  misturada.  E  nos  mexes  do  Estio 
irevidv&o  o  de  cima  para  baixo ,  por  que  se  não  seque , 
mas  que  apodreça  tudo  e  seja  idóneo  para  estercar  as 
terras.  Muito  carrego  devem  ter  os  lavradores  de  fazer 
esterco  tanto,  que  lhes  não  falte,  e  podem  fazer  cada 
cabeça  de  gado  meudo  em  hum  mez  hnma  carrega 
desterco  ,  e  cada  cabeça  de  gado  maior  em  hum  mez 
dez,  e  outras  tantas  faz  cada  homem;  os  quaes  com 
o  seu  esterco  podem  ajuntar  o  cisco',  e  toda  a  im« 
mundicia  da  casa  e  pateo  ou  curral  da  quinta.  Também 
quero  am&estar  que  o  esterco  ^  que  dixemos  que  se 
curtisse  dhum  anno  para  outro  ,  não  passe  d'hum  ano  , 
porque  perde  as  forças,  e  para  os  prados  quanto  mais 
novo  tanli> melhor,  por  que  cria  erva*,  mas  para  as 
semeadas  ao  ^.contrario ,  por  que  não  cumpre  para 
dias  senão  o  bem  pobre  que  as  não  crie.  E  nos  prados 
hade  se  lançar  o  esterco  novo  no  mez  de  Fevreiro  no 
crescente  da  Lua ,  por  que  isto  ajuda  muito  a  criação 
da  erva  que  então  lança  de  si  nestas  partes ,  onde  pela 
vinda  do  Sol  naturalmente  naquele  tempo  produz  seus 
frttitos.  Quanto  ao  que  toea  ao  uso  do  esterco  que  se 
deve  lançar  a  cada  semente ,  e  eouzas  outras  ,  então  o 
diremos  quando  tratarmos  de  cada  huma  deUas  em 
parlíeulBr. 


CarrespcnJmicia. 


SENHORES  REDACTORES, 

A  honra,  que  tenho  de  ser  contado  no  ni 
dos  seus  Correspondentes,  me  anima  a  communicar- 
lhes  a  Nota  inclusa ,  sobre  hum  novo  prooeaso  paim 
ober  a  Zirconia  pura,  resultado  doi  irabalbot  de 
M*  Dubois ,  e  dos  meus ,  e  o  qual  acaba  de  aer  p»- 
blicado  nos  Annaes  de  Chjmica,  e  de  Pbysíca  d^ 
mez  de  Maio  do  presente  anno« 

Se  este  pequeno  tributo  do  meu  reconhecimento 
poder  ser-lhes  agradável,  lisonjear-me^hei  muito, 
que  a  elle  e  a  mim  facão  a  honra  de  o  publicar  no 
seu  excellente  periódico  dos  Annaes  das  Sciencías  das 
Artes,  e  das  Letras. 

Este  processo  consiste  em  rtdaúr  a  p6  fino  oe  Zir- 
cons ,  de  os  misturar  com  duas  partes  de  poCassa 
purificada  pelo  alcobol ,  e  de  expor  esta  mistura  em 
hum  cadinho  de  prata  a  hum  fogo  rubro  diffaate 
huma  hora.  Desfaz-se  esta  massa  em  agua  distiUada, 
a  qual  então  he  lançada  sobre  li«m  filtro,  para  a  agua 
dissolver,  e  separar  da  matéria  insolúvel  a  maior 
parte  da  potassa ,  em  quanto  o  que  fica  do  filtro  he 
hum  composto  de  zirconia,  de  silicia,  de  potassa  (^), 

(*)  Efte  campotlo  ke  oeasicknMlo  por  M*  Chevreid  «eme  hama 
•speoif  ât  sal  4a)N»  a  ^it  aUt  ahama  ttrcoaate  de  peta»ft««^ 


2(  Correspondência» 

de  oxjdo  de  feiTO ,  e  ás  vezes  de  alguns  átomos  À 
titânio.  A  suDStancia ,  que  fica  no  filtro ,  depois  de 
))em  lavuda^  he  dissolvida  no  acido  bjrdroch}orico  puro, 
(^muriatico )  e  evaporada  até  ao  secco,  para  separar 
a  silicia.  Dissolvem- se  na  agua  os  hydrochlorates  de 
^Irconia ,  e  de  fbrro ;  e  para  sepai^r  as  ultimas  por- 
ções de  zirconia ,  que  possão  ter  ido  mbturadas  coni 
a  silicia  precipitada  ,  pega-se  desta  ,  e  tratasse  por  hum. 
pouco  de  acido  bydrochlorico  diluido,  que  se  fas 
ferver  sobre  eUa ,  e  que  se  ajunta  á  primeira  dissolu- 
ção. Depois  de  filtrados  os  bydrocblorates ,  a  zirconia 
e  o  ferro  sào  precipitados  pela  ammonia  pura ,  que 
çe  ajunta  até  haver  na  dissolução  bum  pequeno  ex- 
cesso delia.  Estes  bjdrates ,  depois  de  bem  lavados, 
%ko  tratados  pelo  acido  oxalicp,  tomando  o  cuidado 
de  fazer  ferver  o  liquido  ,  para  que  o  acido  ataque 
perfeitamente  o  ferro ,  o  qual  fica  em  dissolução  ,  em 
quanto  a  zirconia  se  precipita  no  estado  de  oxalate 
perfeitamente  insolúvel.  Para  separar  do  feiro  a  ma-r 
teria  insolúvel  filtra-se  9  e  o  oxalate  que  fica  no  filtrQ 
he  lavado  até  que  aç  aguas  de  lavagem  não  dêem  si-- 
gnaes  alguns  de  ferro  pelos  reagentes  próprios  para  o 
descobrir.  Este  oxalate ,  depois  de  bem  lavado  e  secco, 
he  de  huma  cor  opalina,  e  deve  ser  decomposto  ex- 
pondo'0  a  acção  de  hum  fogo  rubro  em  hum  cadi-*- 
nho  de  platina^ 

A  zirconia  obtida  por  este  methodo,  he  perfeita- 
mente pura,  porém  he  quasi  insolúvel  nos  ácidos. 
Para  a  tornar  solúvel,  he  de  novo  tratada  pela  po«- 


Correspondência.  dS 

tassa,  como  dissemos  acima ,  e  bem  lavada  até  que 
as  aguas  de  lavagem  não  dêem  indicios  alguns  de 
alcali.  Então  he  dissolvida  no  acido  hydrochiorico , 
e  precipitada  pela  ammonia.  O  hydrate  assim  obtido  e 
bem  lavado  he  inteiramente  solúvel  nos  ácidos. 

Vé-se  pelo  que  acabamos  de  expor,  que  este  processo 
dlSere  do  que  publicou  M.  Chevreul  nos  Annaes  de 
Cbymica  y  e  de  Physica  do  mez  de  Março  de  1820. 
Nós  não  trataremos  das  combinações  salinas  da  zir-< 
conía  y  tendo  M.  Chevreul  annunciado  ,  que  isto  seria 
o  objecto  da  sua  segunda  Memoria.  Julgaríamos 
faltar ,  primeiramente  a  toda  a  espécie  de  delicadeza  , 
e  attenção ,  e  em  segundo  lugar ,  fazemos  demasiado 
apreço  da  amizade  de  M.  Chevreul  para  que  possa^ 
mos  fazer  cousa  alguma,  que  possa  denotara  intenção 
de  nos  querermos  appropriar  a  sua  descoberta. 

Parts  117  de  Julho  de  iSao. 

Sou  de  V.  M.««* 

Attento  vener^dor,  e  obrigado  criado 

Joio  BA  SiLVBnÀ  Caldeika* 


96  Correiponâõwda. 


SbVSQR»  RE9ACT0]IE9  MM   AhIT AE8  »AS  SciE]íClA$  , 

»À«  Artbs  y  s  9AS  Lirnàt. 

Vindo-me  agora  á  mão  o  Tomo  6o.  do  seu  Periódico, 
•alli  VI,  pela X primeira  vez,  huma  Memoria  sobre  o 
Plano  da  CoUecção  dos  Tratados  Políticos  de  Por- 
tugal ,  organizada  pelo  Sn^.  Diogo  Vieira  de  Tovar  e 
Âlbuquetxiue ,  em  consequência  de  cuja  publicação  , 
vou  rogar-lhes ,  queirão  ter  a  bondade  de  annunciar 
no  seu  Jornal  o  estado  ,  em  que  tenho  hum  trabalho 
desta  natureza,  cujo  annuncio  tenho  retardado,  ha 
muito  tempo,  contra  o  voto  de  mpi  hábeis  literatos, 
só  com  o  fim  de  não  publicar  projecto  sem  obra. 

Quando  a  Academia  Real  das  Scien^ias  de  Lisboa 
propozno  seu  Programma  de  i8i5  o  desempenho  de 
hum  índice  Chronologico  Remisswo  dos  Diplomas  ,  e 
mais  Documentos  públicos  pertencentes  d  Historia  de 
Portugal  j  desde  a  epocha  da  restauração  das  Hespa- 
nhãs  do  jugo  dos  Mouros  j  até  o  anno  de  i6o3  exclur 
si^amente  j  os  quaes  Documentos  se  achassem  já  im- 
pressos èm  obras  nacionaes ,  ou  estrangeiras  ,  podia  eu 
então  nessa  epocha  ofierecer  á  mesma  Academia,  pelo 
que  pertencia  a  Documentos  da  Historia  Politica  de 
Portugal  y  huma  gi^ande  copia  de  Monumentos ,  que 
para  meu  particular  estudo  havia  coUigiJo.  Conheci , 
que  o  meu  trabalho  era  mais  importante,  do  que  o 


CtnresponJemcia.  37 

propQtto  no  mesmo  Programma  ;  por  isso  que  eite  só 
tratava  dos  Documeotos  públicos  pertenceiítes  á  Hit^ 
toria  de  Portugal,  que  se  achassem  iijapressos  em 
obras  nacionaes ,  ou  estrangeiras ;  e  aquelle  não  s6 
comprehendia  já  então  grande  parte  do  que  se  achava 
impresso  em  obras  nacionaes ,  ou  esti*anhas ,  mas  tam* 
bem  grandes  series  de  Tratadps ,  e  Confrontações  ter- 
ritoriaes^  em  virtude  de  reciprocas  Convenções  dos 
respectivos  Soberano^  entre  as  difierentes  Provinciag 
da  Hespanha  e  Portugal;  alem  de  muitas  Negociações» 
que  ainda  não  tinhào  visto  a  lus ,  e  de  tal  importaii<- 
cia,  como  são  :  i^.  todas  as  Negociações  do  Tratado  de 
faz  entre  o  Senhor  Rei  D.  ÂÍTonso  5^.  e  o  Duque  de 
Bretanha »  celebrado  a  2§  de  Agosto  de  1 476 ;  a<^.  as 
Negociações  do  Barão  de  Alvito  com  o  Plenipoten«- 
ciario  de  Castella  no  anno  de  i479»  ^^  prepararão 
o  Tratado  de  6  de  Março  de  1480;  3^  todas  as  Ne- 
gociações sobre  as  Terceirias  de  Moira  nos  Reinados 
dos  Senhores  l^eis  ]3.  A>fionso  5^. ,  e  D.  João  a<». ,  que 
nenhum  dos  nossos  chronistas  conheceo ,  e  apenas 
indicarão ;  as  Cartas  de  Creusa ,  Instrucções ,  Capitu  - 
Ips,  Ajustes  ,e  Tratados  sobre  esta  importante  Nego- 
ciação t  ião  singular  na  Historia  da  Diplomacia  Por* 
tugueza  -,  4***  toda  a  Missão  de  Pedro  Corrêa  de  Atou- 
guia,  no  Reinado  do  Senhor  Rei  D.  Manoel ,  de  1496 
em  diante ;  5®.  Ioda  a  Correspondência  official  de 
Francisco  Zuzarte ,  Ministro  do  dito  Rei  em  Inglaterra, 
Negociação ,  a  que  sérvio  de  base  e  sua  Instrucção  de  5 
de  Abril  de  i5o6;  6;  toda  a  Correspondência  official 
do  Bispe  de  Ceola  D.  Fr.  Henrique ,  Negociação ,  a 


a8  Correspondência. 

qae  servirão  de  base  as  Instmcções  dadas  pelo  Senhor 
Rei  D.  Manoel  2i  ^  Ae  Dezembro  de  i5o6 ;  7<*.  toda  a 
Con-espondencia  de  Álvaro  Annes ,  Ministro  do  dito 
Rei  em  Saboya»  de  5  de  Novembro  em  diante,  de  i5ai; 
8®.  toda  a  Correspondência  Ministerial  do  Senhor  Rei 
D.  João  30.  com  Balthazar  de  Faria  9  seu  Ministro  na 
Ciuia,  desde  ao  de  Janeiro  de  i5a3  ,  em  que  lhe  deo 
as  suas  Instrucções ;  9^.  toda  a  Correspondência  do 
mesmo  Rei  com  Braz  de  AJvide ,  seu  Embaixador  em 
França,  de  i546  em  diante;  iqo.  todas  as  Negocia- 
ções,   e  Cartas  de  Lourenço  Pires  de  Távora,  Em- 
baixador em  Castella,  de  i55a  em  diante-,  ii<>.  toda 
a  Missão  de  Duarte  de  Almeida ,  desde  a4  de  Maio 
de  i555  em  diante;  além  de  muitos  volumes  manus- 
criptos  de  Negociações  posteriores  aos  Filippes ,  e  de 
huma  longa  serie  de  Tratados ,  e  outros  Documentos, 
que  /á  na  dita  epocha  possuia,  de  cuja  riqueza  julguei 
dever  retardar  a  publicação  ,  para  quando  tivesse  ca- 
balmente preenchido  o  fim ,  a  que   desde  então  me 
propuzera,  dando  em  corpo  systematico  a  vastíssima 
CoUecção  de  todos  os  nossos  Documentos  Politicos , 
pertencentes  ao   Direito  Publico,  Externo ,  e  Diplo- 
mático Portuguez,   desde  o  principio  da  Monarchia 
ate  os  nossos  dias. 

O  methodo ,  que  segui  no  arranjo  d*estes  Diplomas ; 
o  systema  da  sua  classificação,  e  em  geral  os  tra* 
balhos,  a  que  me  tenho  dado  no  exame  analrtico 
das  difierentes  obras  estrangeiras  doeste  gencn»»^  4mm 
de  expurgar  esta  dos  erros ,  em  que  caUrio  os  outros. 


Con^espondencia.  sg 

que  me  precederão »  formão  o  teor  da  Dissertação 
Preliminar  delia ,  que ,  occupaado  mais  de  meio  vo« 
lume  de  folio  grande  ,  seria  impos^ivel  o  poder  insert* 
la  no  seu  Jornal ;  e  por  isso  direi  summariamente , 
que  na  i'.  Parte  exponho  os  motivos ,  que  me  fize*% 
rào  emprehender  esta  obra;  na  a",  o  modo,  porque 
pude  alcançar  os  Mss.  inéditos ;  na  a',  o  methodo  e 
systema ,  que  segui ,  e  as  razões ,  porque  o  adoptei ; 
na  4*-  os  Documentos,  que  nella  tem  lugar ,  e  as  ra- 
zões porque ;  na  5>.  a  utilidade ,  que  resulta  a  Portugal 
desta  CoIIecçãOy  por  isso  que  em  geral  quasi  todos 
os  seus  Historiadores  escreverão  essencialmente  da 
Historia  de  suas  Conquistas ,  deixando  apenas  algumas 
indicações  das  relações  externas. 

Depois  d'aquella  epocha  tenho  augmentado  consider 
ravelmente  esta  CoUecçào ,  chegando  já  a  mais  de  3,000 
Documentos,  contendo  todos  os  Tratados   de  Paz, 
de  Limites ,  de  Garantia  ,  de  AUiança ,  de  Confedera- 
ção e  Amizade ,  de  Liga  OQenslva  e  Defensiva ,  de 
Commercio,   Contractos  Matrimoniaes ,  Escambos  c 
Doações,    Manifestos,    Capitulações,   Armistícios,    e 
todas  as  Negociações  entre  a  Coroa  de  Portugal,  e  as 
diSerentes  Potencias  da  Europa ,  bem  como  doS  mais 
Dominios  Portuguezes  nas  outras   partes  do  Globo  : 
todos  os  Privilégios  concedidos  a  favor  dos   Estran- 
geiros, e  seu  Commercio,  em  consequência  de  Trata- 
dos ,  Convenções .  etc. 

As  Negociações ,  que  prepararão  estes  Actos ,  ou  que 
os  invalidarão ,  as  coUoquei  na  Historia  das  Missões 


S#  Correêponiefuda. 

ou  Embaixadas  mandadas  9  ourecebidaè»  c>iide  na 
sua  classificação  sjstèmatica  se  Té  o  motivo  de  cada 
huma  y  a  extensão  dos  Poderes  dos  Ministros ,  ò  sen 
resultado  y  e  sua  final  consequência ,  com  a  remissão 
ao  Corpo  geral  dos  Tratados. 

Para  escrever  a  Historia  doestas  Missões,  não  só 
tenho  consultado ,  e  extrahido  as  indicações  das  His- 
torias da  nossa  Monarchia,  e  das  estranhas,  e  das 
Memorias  manuscriptas  dos  nossos  Ministros';  mas 
também  tudo  p  que  ba  concernente  a  Portugal  nas 
diversas  outras,  que  na  Europa  se  tem  publicado 
desde  o  principio  do  século  16^.  das  quaes  deixo  de 
fazer  aqui  a  enumeração,  que  só  tem  lugar  no  isiltimo 
volume  da  minha  obra ,  dos  Autores  consultados. 

Para  dar  huma  ideia  do  estado  de  adiantamento, 
em  que  se  acha  esta  obra ,  e  da  utilidade ,  que  d# 
conhecimento  delia  deve  resultar,  referirei  rapida- 
mente, sobre  cada  hum  dos  Reinados,  o  que  cabtf 
nos  limites  doesta  Carta. 

O  Reinado  do  Senhor  D.  AÍIonso  i<^. ,  pertencendo 
mais  á  Historia  Militar ,  do  que  á  Historia  Politica  » 
tem  poucos  Actos  Diplomáticos,  mas  todavia  foi  neste 
mesmo  Reinado ,  que  se  derão  os  primeiros  Privilé- 
gios aos  estrangeiros  ,  que  ajudarão  este  Soberano  a 
conquistar  sobre  os  Mouros  a  maior  paite  das  Praças 
doeste  Reino:  contém  algumas  transacções  com  a  Cúria, 
mas  não  he  abundante  em  Documentos ,  nem  se  po- 
derão facilmente  descobrir  nos   Cartórios  do  Reino , 


Correspondência.  It 

por  isso  4fue  naquella  epocha  ainda  nio  hãyna  Arcld?<i 
algum  fixo. 

O  Reinado  do  Senhor  D.  Sancbo  i^  he  lá  maii 
abundante ,  do  que  o  precedente  ,  contendo  Negociar 
ções  com  a  Cúria  desde  ii85  até  1198  ;  algumas  Doa- 
ções ,  Confrontações,  e  as  Relações  Commerciaes,  e 
Politicas  com  Inglaterra,  aonde  então  forào  mandados 
Embaixadores  d'este  Rei  a  3o  de  Junho  de  1199. 

O  Reinado  do  Senhor  D.  AíTonso  a^.  nào  he  ti6 
abundante  em  Diplomas  ,  como  o  precedente  j  mas  he 
também  importante  na  Historia  Politica. 

O  Reinado ,  que  se  lhe  segue ,  do  Senhor  D.  San<» 
cho  ^^.y  he  também  mui  importante  pelas  questôei 
com  a  Cúria  até  á  notável  Bulia  de  Innocencio  4'-  # 
de  34  d^  Julho  de  ia4^- 

• 

Com  a  Regência,  e  Reinado  do  Senhor  D.  Affonsp  3». 
começão  a  ser   mais    frequentes   os    Contractos,    as 
Doações,  as  Embaixadas  ,  as  Negociações,  os  Tratados, 
as  Confrontações   ten  itoriaes ,  e  mui  importantes  a» 
Negociações  sobre  o  Algarve. 

O  Reinado,  que  selheseguio,  do  Senhor  D.  Diniz , 
he  já  mais  interessante  na  Historia  da  Diplomacia 
Portugueza ,  do  que  todos  os  precedentes  :  nelle  co- 
meção os  primeiros ,  e  mais  importantes  arestos  do 
modo  de  tratar  Diplomático  d*aquelles  tempos.  Neste 
periodo  são  frequentes  as  Negociações  com  a  Cúria , 
com  os  Reis  de  Leão  ,  de  Castella ,  e  de  Aragão.  Ha 


33  Correspondência. 

as  priiúeifa3  Concessões  de  Duarte  i^.  de  Inglaterra  a 
favor  do  Commercio  dos  Vassallos  Portuguezes  na- 
quelle  Reino;   Negociações  sobre   IJfavios  capturados 
pelos  Portuguezes  aos    Inglezes;  toda  a  Conespon- 
dencia  do  Senhor  Rei  D.  Diniz  como  o  ditto  Rei  de 
Inglaterra ;  muilas    acquisições  terrítoriaes ,    com  a^ 
suas  confrontações  estabelecidas  pot  Convenções  ^  Tra^^ 
tados,  e  Juizes  árbitros  :  vé-se  o  formulário  das  Cartai 
de  Crensa  d'aquella  epocha;estabele(iem-se  os  primeiro^ 
Tratados  de  Commercio  com  Inglaterra ;  véem-se  as 
Convenções  de  hypotheca,  e  penhor,  que* celebravão 
os  respectivos  Soberanos  para  segui^nça  das  estipu- 
lações de  seus  Tratados,  por  exemplo,  o  de  D- Fer- 
nando /Rei  de  Castella  ,  dando  em  penlior  ao  Senbor 
Rei  D.  Diniz  a  Cidade  de  Badajoz ,  e-  outros  Castellòs  ^ 
e   Villas;  vê-se   o    celebre   formulário   dos  Tratados 
entre  Soberanos,  outorgados ,  e  ratificados  pelos  Se^ 
nbores  Fcudaes ,  como  por  exemplo  a  Ratificação  de 
Alcanizes  a  i4  de  Septembro  da  Era  de  i335^  que 
se  lhes  punhão  os  sellos  pendentes  dos  Senhores ,   é 
não  os  rodados ;  em  cuja  ratificação  os  mesmos  grandes 
Senhores  de  Castella  dizem,  que  no  caso  d'ElRei  de 
Castella  não  cumprir  o  estipulado  ,  serão  contra  elle; 
e  seus  successores.  Vê-se  o  formulário  da  Troca  das 
Ratificações,  e  Tratados,  como  foráo  as  tues,  que  sú 
tiocárào  em  Agreda;  nas  Cartas  Credenciaes,  em  que 
se  declaravão   os  Plenos   Poderes,  compromettiâo-se 
os  Soberanos  a  api  rovar  tudo  ,  que  fizessem  seus  Mi- 
nistios,  jurando  em  que  promettião,    hjpothecando 
iodos  os  seus  bens,  por  mais  privilegiados  que  fosseux. 


correspondência.  33 

\c'se  a  reserva  da  acceitaçào  das  L6tl*as  Apostólica»  ^ 
os  Tratados  a  que  o  mesmo  Rei  foi  chamado  como 
Juiz  Arbitro  para  decidir  as  causas  entre  Soberanos  |. 
por  exemplo,  o  Tratíido  authentico,  pelo  qual  o  Senhor 
Kei  D.  Diniz ,  e  D.  Jaime  de  Aragão  i  como  Juizes 
Ai'bitros  do  Rei  D.  Affonsô  >  e  do  Infante  D.  Fernando, 
dcrào  áquelle   Bejar,   e  outros  muitos  lugares  >  dei-» 
xando  elle  a  voz,  e  nome  de  Rei;  e  a  D.  Fernando i 
filho  do  Rei  Dv  Sancho ,  o  Reino  de  Castella^  Neste 
Reinado  se    regulái*ào  as  entrevistas  dos  Reis ,  e  se 
começarão  outras  Negociações,  que  se  desenvolverão 
no  Reinado  seguinte  do  Senhor  D.  AQbnso  4"^  ^  <iual, 
a  pezar  de  pertencer  muito  á  Historia  Militar  ,  não  he 
todavia  menos  abundante  em  Documentos  da  Historia 
Politica.  São  frequentes  neste  Reinado  as  Negociações 
entre  o  Senhor  Rei  D.  AflTonso  4®. ,  e  Duarte  a®,  de 
Inglaterra;  as  com  os  Reis  de  Castella,  e  outros;  as 
Demarcações  temtoriaes ,  Doações,  e  Escambos ;  nesta 
epocha  se  estabeleceo  o  notável  formulário  Diploma* 
tico  da  Ratificação ,  e  Confirmação  de  Rei  a  Rei ,  de 
todos  os  Aclos  Diplomáticos  do  Reinado  precedente , 
como  por  exemplo  ,  o  Tratado  de  Escalona  ,  entre  o 
Senhor  Rei  D.  AÍIonso  40. ,  e  o  Rei  de  Castella ,  em 
que  ratillcárão  ,  e  confirmarão  os  Tratados  celebrados 
por  seus  Pais  o  Senhor  D.  Diniz,  e  D*  Fernando.  Véem- 
se  as  Negociações,  e  Resposta  dada  pelo  Senhor  D. 
Aílbnso  40.  ao  Núncio  ,  e  aos  Embaixadores  de  França 
em  matéria  mui  importante.  Continuào  a  celebra r-se 
Tratados  de  Caução  com  entrega  de  Villas ,  Castellos , 
e  outros  lugares  ;  celebrão-se  muitas  ,  e  notáveis  Cou- 
Tom.  A.  P.  jf .  3  B 


34  Correspandcncia. 

federações ,  sendo  mui  digna  de  altenção  a  de  Coim- 
bra entre  o  Senhor  Rei  D.  Aifonso  4». ,  e  D.  Pedro 
de  Aragão ,  promettendo  ajudar-se  mutuamente  no 
caso  de  terem  guerra  com  o  Rei  de  Castella  :  vêem- 
se  as  Negociações  com  Duarte  3<^.  de  Inglaterra ,  e 
novas  Concessões  doeste  Rei  a  favor  do  Commercio 
dos  Vassallos  Portuguezes,  que  depois  se  reduzirão 
ás  estipulações  do  Tratado  de  Commercio  feito  em 
Londres ,  e  assignado  por  Affonso  Martins  Alho ,  En- 
viado das  Cidades  marítimas  de  Portugal;  e  outras 
muitas,  etc 

O  Reinado  do  Senhor  D.  Pedro  i®.  não  ofierece 
Documentos  importantes:  forâo  lo  annos  de  dissen- 
ções  domesticas ,  de  que  dão  notícia  as  Historias  pu- 
blicas doeste  Reino. 

O  Reinado ,  que  se  lhe  seguíò  ,  do  Senhor  D.  FeN 
pando  y  não  be  menos  notável ,  que  os  precedentes , 
na  abundância  de  Diplomas  -,  e  mais  digno  de  altenção 
pela  variedade  dos  Planos  PòUticos  doeste  Soberano. 
Neste  Remado  se  vêem  as  pertençòes  do  mesmo  Bei 
i  Coroa  de  Castella;  as  suas  communicações  officiaes 
com  os  principaes  Senhores  d*aquelle  Reino ;  as  suas 
Negociações  com  os  Reis  de  Granada ,  e  Aragão ;  a 
Embaixada  do  Conde  de  Barcellos,  dos  Bispos  de 
Évora,  e  Sylves;  as  Negociações  dos  Núncios  de 
Gregório  n®. ;  as  Conferencias  de  Alcoutim,  onde  se 
csUpulou  o  celebre  Tratado  de  Cazamento  da  Infan^i 
D.Leonor,  filha  d'ElBei  D.  Henrique ,  cora  o  Senhor 
Rei  D.  Fernando ,  o  qual  se  publiôou  em  iS^t.  Vêem- 


Correspondência*  35 

se  os  primeiros  Tratados  entre  este  Rei ,  e  o  Dnqoe^ 
e  Communidades  de  Génova;  novas  Concessões  de 
Duarte  3^.  de  Inglaterra  ao  Commercio  de  Portugal; 
a  Correspondencifi  doestes  Reis  sobre  matérias  politt- 
cas  j  e  commerciáes ,  a  qual  forma  huma  Negociação. 
Vé-se  o  teor  das  primeiras  Plenipotencias ,  comp 
forão  y  as  que  levou  João  Fernandes  Andeiro ,  quando 
este  Soberano  o  mandou  por  Embaixadora  Inglaterra; 
observa-se^  que  ElRei  de  Inglaterra  nas  Cartas  Cre- 
denciaes  de  seus  Plenipotenciários ,  não  só  os  acredi- 
tava junto  do  Senhor  Rei  D.  Fernando ;  mas,  o  que 
he  mais  singular,  junto  da  Rainha  D.  Leonor,  que 
chegou  a  ratiíicar  alguns  Tratados.  Celebrão-se  varia,s 
Âllianças  dignas  de  ponderação ,  com  o  Princepe  de 
Aquitania,  e  outros ;  forma-se  o  Tratado  com  o  Duque 
de  Anjou  contra  o  Rei  de  Aragão.  Vêem-se  as  pri- 
meiras Convenções  sobre  a  isenção  de  Direitos  dos 
objectos  pertencentes  a  Embaixadores,  e  Ministros; 
o  estylo  da  prorogaçào  dos  Tratados ;  e  outros  arestos 
de  muita  importância;  varias  Doações ,  Escambos ,  etc. 

O  Interregno,  que  se  seguio  á  morte  do  Senhor 
Rei  D.  Fernando ,  oiTerece  também  hum  pequeno 
quadro  de  Negociações  com  Ricardo  a®,  de  Inglaterra, 
sobre  armamentos ,  subsidios  ,  etc. 

Com  o  accesso  do  Senhor  D.  João  i<>.  aoThrono, 
começou  huma  nova  ordem  de  formulários  Diploma^- 
ticos :  he  já  este  Reinado  mais  clássico  na  Historia  da 
Diplomacia  Portugueza ,  que  os  precedentes  :  passão 
successivamente  a  Inglaterra  us  Emjbaixadoref  Lou.- 

3  ^ 


36  Correspondência* 

renço  Gomes  Fogaça  ,  e  o  Mestre  de  Sant-Iago ,  onde 
tialào  em  i385  as  Negociações,  que  prepararão  o 
Tratado  de  Windsor ,  firmado  no  anno  seguinte ,  a 
que  se  segutrào  os  de  Westminster,  e  outras  Tran- 
sacções igualmente  importantes  :  passa  logo  depois  ao 
mesmo  Reino  ò  Senhor  Infante  D.  Diniz ,  a  negociar 
tcom  aquèUa  Corte  :  no  anno  de  i4o4  passão  á  mesma 
Corte  os  Embaixadores  João  Gomes  da  Silva ,  e  Mar- 
linho  de  Souza,  a  proporem  a  Henrique  4^.  varias 
Negociações ,  entre  estas,  o  enti^ar  nas  Tregoas  entre 
Portugal ,  e  Castella.  São  mais  frequentes ,  e  mais 
importantes ,  do  que  nos  outros  Reinados ,  as  Nego** 
ciações  destas  duas  Cortes.  Trata  este  Rei  com  o 
Duque,  e  Conde  de  HoUanda  sobre  os  Privilégios  por 
este  concedidos  aos  Portuguezes ,  e  seu  Commercio : 
ha  o  mesmo  systema  da  Coníirmaçào  dos  Tratados 
dos  Reinados  precedentes  :  negoceia  Álvaro  Gonçalves 
Coutinho  Com  o  Duque  de  Borgonha  sobre  os  Pri- 
vilégios ,  e  izenções ,  que  por  sua  intervenção  conce- 
deo  aos  Homens  de  negocio  Pottuguezes  nos  seus 
Estados  ,  ctc.  Vêem-se  todas  as  Negociações  dos  Em- 
baixadores doeste  Soberano  no  Concilio  de  Constança; 
muitas  Negociações  com  a  Cúria ,  e  outros  Estados , 
etc. 

O  Reinado  do  Senhor  D.  Duarte  não  he  tão  amplo, 
nem  tão  interessante  na  Historia  Politica,  e  Diplo- 
mática de  Portugal,  como  o  precedente.  O  período 
de  5  annos ,  e  hum  mez,  que  tanto  foi  o  tempo,  que 
este  Soberano  governou  este  Reino ,  occupando-o  mais 


Correspondências  Sj 

çm  Regulamentos  X>egislativos ,  e  nos  Negócios  de 
Africa ,  não  permittio  a  mesma  frequência  de  Rela^ 
çôes  externas.  Não  deixarão  todavia  de  haver  algumas 
de  grande  importância,  como  forào  as  Negociações, 
no  Concilio  de  Basilea  -,  as  Reclamações  de  soccorros  ». 
que  os  Reis  de  Aragão ,  e  de  Inglaterra  (izerão  a  este 
Moqarcha  *,  as  Ratificações  feitas  em  Santarém  aos  Tra- 
tados y  que  se  liavião  celebrado  entre  o  Senhor  Rei 
D.  João  i®. ,  e  os  Reis  de  Inglaterra  Ricardo  a®..,  Hen- 
rique 4^. ,  e  Henrique  5^. :  as  Negociações  de  Bolonha 
entre  o  Papa  Eugénio  4®..,  e  o  Conde  de  Ourem ,  Em-^ 
baixador  de  Portugal ;  a  Negociação  sobre  a  Bulia.,, 
em  que  este  Pontifice  concedeo  ao  Senhor  Rei  D. 
Duarte  ,  e  seus  successores ,  o  poderem  ser  Ungidoa , 
e  Sagrados  pelo  Arcebispo  de  Braga ,  do  mesmo  modo  ^ 
que  o  erão  os  Imperadores  :  outras  Negociações  entre 
o  mesmo  Pontífice ,  e  Vasco  Fernandes  de  Lucena  y 

os  Negócios  de  Ceuta ,  as  Negaciações  com  Cs^tella,. 
algumas  Doações ,  etc. 

As  desordens  domesticas.,  que  sobrevierão  durante, 
a  minoridade  do  Senhor  D.  Âílonso  5^- » não  priváràa. 
o  Infante  D.  Pedro  ,  Regente  d'estes  Reinos  ,  de  occupar. 
hum  lugar  mui  distincto  entre  os  Políticos  do  seu 
século.  No  periodo  da  sua  Regência  se  vêem  17  Em- 
baixadas I  e  Missões  mandadas  ^  e  recebidas  por  este 
Princepe  :  tratárào-se  as  Negociações  sobre  a  desmem- 
braçào  final  dos  Mestrados  de  Aviz,  e  Sant-J^go  da. 
obediência  aps  Metropolitanos  de  Castella ;  decidirão^ 
se  as  questões  sobre  o  Arcebispo  de  Sevilha  1  Metf:^^ 


38  Correspondência. 

polftano  f  que  pertendia  ser  de  alguns  Bispados  doestes 
ReÍDOs,  o  que  foi  proposto  por  huma  Embaixada. 
Vé-se  a  Missão  á  Guria ,  de  João  Lourenço  Farinha ; 
as  de  Martim  de  Távora ,  e  de  Gomes  Eannes  ;  as 
Negociações  do  Regente  com  D.  Álvaro  de  Luna  contra 
os  Infantas  de  Aragão ,  e  suas  consequências  :  véem-se 
as  Negociações  de  Ruy  da  Cunha/  e  do  Bispo  de 
Ceuta y  Embaixadores  em  Roma;  e  as  de  Fernão 
Lopes  de  Azevedo » Ministro  na  mesma  Cúria  ;  véem-se 
as  Negociações  de  Leonel  de  Lima,  e  Ruy  Gomes  de 
Alvarenga ,  em  Gastella ,  e  frequentes  outras  com  In- 
glaterra y  e  outros  Estados ,  etc. 

* 

Quasi  todo  o  Reinado  do  Senhor  D.  Ailbnso  5^. , 
que  se  seguio  á  Regência  do  Infante  seu  sogro,  con^ 
sistio  em  snccessivas  Negociações ,  Embaixadas  ,  En* 
tre vistas 9  Congressos,  Tratados,  e  outras  Transac* 
çôeSy  que  ornão  superabundantemente  este  período 
da  Historia  Politica.  Depois  que  este  Soberano  tomou 
o  governo^  de  seus  Reinos,  vêem-se  19  Embaixadas, 
entre  as  que  recebeo  ,  e  enviou ;  as  Negociações  de 
Fernandes  da  Silveira,  Embaixador  de  Portugal,  com 
Federico  Rei  dos  Romanos ,  as  dos  Plenipotenciários 
d'este  Rei ,  que  prepararão  o  Tratado  de  10  de  Dez- 
embro de  i45o,  que  se  celebrou  diante  d'ElRei  D. 
Afibnso  de  Ai^agão;  as  Negociações  com  Henrique  6<*. 
de  Inglaterra ;  a  Correspondência  official  de  Lopo  de 
Almada ;  os  Privilégios  concedidos  por  este  Soberano 
aos  Flamengos ,  Allemàes ,  Francezes ,  etc.  Observa-se 
o  mesmo  systema  da  Ratificação  dos  Tratados  prece- 


Correspondência*  3(> 

dentes;  estabelecem-se  novos  estylos  para  a  recepção 
dos  Embaixadores,  que,  sendo  actualmente  recebidos 
por  hum   giande  do   Reino,  o  erào  então   por  hum 
Infante,  dando-lhes  este  Soberano  Audiência  sentado, 
em  presença  de  todos  os  Grandes ,  Titulos ,  e  Dona- 
tários. Véem-se  neste  Reinado  accompanharem  muitos 
Cavalheiros  aos  Embaixadores  Portuguezes,  os  quaes 
depois  forão  Ministros  nas  diversas  Cortes ;  por  exem- 
plo :  ao  Marquez   de    Valença ,  Embaixador  a  AUe- 
manha ,  accompanhárão  Álvaro  de  Souza ,  AQonso  de 
Miranda ,  Gomes  de  Miranda ,  Gomes  Freire ,  D.  Diogo 
de  Castello  Rranco,  Fernão  da   Silveira,   e  Martim 
de  Ren-edo^  Vêem-se  as  Negociações  em  Roma  de  Luiz 
Gonçalves  Malafaia  ,  a  sua  controvérsia  com  o  Em-^ 
baixador  de  Aragão ,  e  outras  cousas  de  mui  particu- 
lar consideração  ;  as  Negociações  do  Papa  Calixto  3^.  , 
que  se  mallográrão  com  a  Expedição  de  Africados 
Tratados  com  o  Duque  de  Rorgonha;  muitas  Nego- 
ciações com  Inglaterra  *,  algumas  em  Africa  ,  todas  as 
com  Castella,  que  prepararão  os  diversos  Tratados, 
que  s«  celebrarão  neste  Reinado  ;  e  de  grande  consi- 
deração as  do  Tratado  concluido  na  villa  das  Alcá- 
çovas Sí  ^  de  Septembro  de  i479>  a  que  se  seguioa 
Coiivenção  Addicional,  em  cujo  Artigo   3o.  se  con- 
cordou a  verdadeira  possessão  do  senhorio  de  Guiné ,    ' 
e  de  vários  outros  lugares  de  Africa ;  cujo  Tratado , 
e  Convenção  forão  garantidos  pelos  Reis  de  França , 
e  de  Nápoles  por  parte  de  Castella  \  e  pelo  Rei  de 
Inglaterra  pela  de  Portugal.  Véem-se  vários  estylos  do 
modo,  com  que  se  praticavão  as  entregas  das  frin- 


4o  Correspondência. 

cezas ,  como  foi  a  da  Senhora  Infanta  D.  Joaima. 
Vêem-se  novas  etiquetas  nas  entrevistas  dos  Reis ,  como 
forào  as  de  Elvas,  as  de  Gibrahar^  as  Negociações, 
que  alh  se  tratarão ,  e  suas  consequências  ;  as  do 
Lugar  da  Ponte  do  Arcebispo ,  e  finalmente  as  cele- 
bradas entre  Elvas ,  e  Badajoz.  As  Embaixadas  a  Ná- 
poles y  de  Martim  Mendes  de  Berredo ,  seus  motivos  ^ 
e  suas  consequências;  as  Nef;ociaçôe8  de  Lopo  de 
Almeida  ,  e  de  João  Fernandes  da  Silveira  ,  Embai- 
'xadores  de  Portugal  no  Congresso  de  Fontarabia  ;  ds 
do  Senhor  D.  Álvaro  ,  e  de  Ruj  de  Souza,  senhor  de 
de  Sagres ,  Plenipotenciários  Portuguczes  no  Congresso 
Junto  a  ToiH),  com  o  Duque  de  Alvi,  e  o  Almirante 
de  Castella ,  Plenipotenciários  da  mesma  Corte ,  as 
quaes ,  não  pondo  termo  ás  desordens  dos  Soberanos 
conlractantes ,  forào  a  origem  primordial  das  Negocia- 
ções posteriores  com  Luiz  ii®.  de  França ,  sobre  tft 
pertençôes  do  Senhor  D.  Affonso  5o.  á  successão  dos 
Reinos  de  Castella,  pelos  direitos  da  Excellente  Se- 
nhora :  toda  esta  Negociação ,  bem  como  as  Cartas 
Credenciaes  dadas  a  Pedro  de  Souza  ,  e  a  D.  Fernando 
de  Almeida,  a  que  se  seguirão  as  Conferencias  de 
Pciris  entre  o  Senhor  Rei  D.  Affonso  S».,  e  ElRei  de 
Franca;  e  doestas  a  notável  Embaixada  mandada  á 
Cúria,  a  que  forào  o  Conde  de  Pennamacor,  o  Chan- 
celler  Mór  João  Teixeira  ,  e  Diogo  de  Saldanha  ,  como 
Embaixadores  creste  Rei ;  e  a  outiva  de  Luiz  n®.  á 
mesma  Cúria  ,  a  que  se  seguirão  as  celebres  Confe- 
rencias de  Arrá ,  formão  hum  periodo  mui  curioso 
da  Historia  Politica  doeste  Reinado, 


Correspondência.  ^f 

Se  o  Reinado  do  Senhor  D.  ÂQonso  S^.  excede  em 
Monumentos ,  e  arestos  para  a  Historia  Diplomática 
<le  Portugal  a  todos  os   precedentes ,  não  são  menof 
interessantes  as  nossas  relações  externas  no  que  se  lhe 
seguio   de   seu  filho  o  Senhor  D.  João  a^*.  Véem-se 
varias  Negociações  com  Inglaterra  desde  8  de  Feve* 
i^iro  de  148*2  até  8  de  Dezembro  de  1489»  as  qaaes 
prepararão  5  Actos  principaes ,  que  se  celebrarão  com 
a  referida  Corte  :  observa-se  huma  notável  Plenipo* 
tencia  de  Henrique  7^'.  de  Inglaterra ,  na  qual  não  s6 
confere  plenissimos   poderes  aos  seus  Embaixadores 
para  tratarem  com  o  Senhor  Rei  D.  João  a^. ;  mas 
até  y  sem  reservar  para  si  a  Ratificação  do  que  elles 
estipulassem  ,  promette ,  e  jura  de  approvar  os  mesmos 
Tratados.  Vé-se  a  Embaixada  a  França ,  de  João  de 
Figueiredo  ,  mui  curiosa  pelo  aresto  ,  que  forma  :  to- 
das as  Negociações  com  CastelJa  neste  Reinado  são 
mais  importantes,  que  as  dos  precedentes;  a  Embai- 
xada do  Barão  de    Alvito  em    148a,  as  Instrucçóes  y 
que  levou ,  o  comportamento  d*este  Embaixador  para 
sustentar  a  letra  das  mesmas  Instmcções;  a  Missão 
de  Ruy  de  Pina  aos  mesmos  Soberanos ,  as  Confe- 
rencias de  Guadalupe ;  as  consequências  de  toda  esta 
Negociação  ;  as  que  se  lhe  seguirão  em  Janeiro  de  i483y 
as  Negociações  de  Moira  sobre  as  Terceirias ;  a  Missão 
de  Fernão  da  Silva  ,  e  de  Estevão  Vaz ,  a  de  Ruy  de 
Sande  ,  as  de  Fernão  da  Silveira ,  e  do  Doutor  João 
Teixera  ,  seus  motivos  ,  e  suas  consequências ,  e  outras 
muitas  9  oiFerecem  hum  tecido  de  Negociações ,  que 
accreditào  sobre  modo ,  não  só   aquelles ,  que  delias 


4!i  Correspondência» 

forão  encarregados ,  mas  ainda  mais  o  Soberano  ^  cuja 
Politica  foi  sem  duvida  mui  superior  á  de  oiitros 
Monarchas  9  seus  contemporâneos.  Véem-se  as  Embai> 
xadas  á  Guria ,  de  D.  Pedro  de  Noronha ,  e  de  Vasco 
Fernandes  de  Lucena ;  todas  as  Negociações  com  os 
Papas  Xisto  4<>. ,  Innocencio  8^. ,  e  Alexandre  60. ,  até 
á  Bulia  sobre  a  divisão  das  Conquistas ,  de  que  se 
seguirão  as  Conferencias  de  Barcelona  y  onde  foi  man- 
dado Ruy  de  Pina ,  e  logo  depois  a  Concórdia  de 
Tordesillas  de  7  de  Junho  de  i494>  ^  o  Tratado 
celebrado  no  mesmo  lugar ^  dia,  e  anno  sobre  as 
referidas  Conquistas,  em  que  forão  Plenipotenciários 
de  Portugal  Ruy  de  Souza  ,  seu  filho  D.  João  de  Souza, 
e  A.yres  d* Almada.  Véem-se  as  Negocií^çôes  entre  El- 
Reiy  e  Carlos  S^,.  de  França,  que  prepararão  o  Tra- 
tado de  AUiança  feito  em  Montemor,  no  qual  se  con- 
firmarão os  Tratados  antecedentes ,  e  o  mais ,  que 
nos  mesmos  se  tinha  estabelecido  a  favor  do  Com* 
mercio  de  ambas  as  Nações.  Vé-se  o  formulário  Di- 
plomático ,  com  que  se  recebião  os  Príncipes  Estran- 
geiros, como  por  exemplo,  na  recepção  publica  feita 
no  Paço  das  Alcáçovas  ao  irmão  da  Rainha  de  Ingla- 
terra. Vêem-se  vários  Ttatados  ,  e  Capitulações  feitas 
pelos  Mouros,  e  no  anno  de  1488  as  Negociações  do 
Imperador  Maximiliano  com  o  Senhor  Rei  D.  João  2% 
de  que  resultou  a  Embaixada  de  Duarte  Galvão ,  que 
entre  os  plenissimos  Poderes ,  que  levava ,  foi  hum , 
o  de  poder  declarar  a  guerra  entre  elle  Rei,  e  os 
inimigos  do  Imperador;  sendo  esta  Negociação  huma 
prova  do  respeito ,  e  consideração,  que  os  outros  So- 


Correspondência.  43 

keranos  prestavão  ao  Senhor  Rei  D.  João  a<>.  Yéem-se 
finalmente  outras  muitas  Negociações,  que  ordenei 
systematicamente  em  6  volumes  de  4^.  grande. 

Se  a  dilatação  dos  Dominios  Portuguezes ,  a  exten- 
ção  das  suas  relações  commerciaes ,  e  os  tríumphos 
do  Oriente  (izerão  do  Reinado  do  Senhor  Rei  D.  Ma- 
noel y  que  se  seguio ,  a  mais  brilhante  epocha  da  nossa 
Historia  ,  não  he  este  mesmo  Reinado  menos  interes* 
sante  na  sua  influencia  politica,  e  na  Historia  da  nossa 
Diplomacia.  Achão  -  se  Correspondências  originaes 
d'este  Rei  com  o  de  Castella ,  mui  interessantes ;  véem- 
se  as  Negociações  com  Francisco  i®. ,  que  começâó 
em  i5o6  ;  muitos  Tratados  feitos  na  Ásia;  muitas  con* 
frontações  territoriaes  ,  como  forão  as  de  tta  de  Março 
de  i5o9,  as  de  Setembro  do  mesmo  anno,  e  vaiias 
outras  a  respeito  dos  lugares  de  Africa ;  as  Negocia- 
ções em  Castella ,  de  João  de  Faria  ,  a  que  servirão 
de  base  as  Instrucções  dadas  a  9  de  Outubro  de  iSog, 
que  produzirão  a  Ratificação  de  14  de  Novembro  do 
referido  anno.  Vê-se  o  Tratado  de  Paz  feito  no  mesmo 
anno  com  os  Mouros ,  sobre  o  Commercio  ;  as  Negocia- 
ções de  Diogo  Pacheco ,  cm  Roma ,  no  Pontificado 
de  Leão  io<>.;  a  Embaixada  de  Tristão  da  Cunha  ao 
mesmo  Pontífice ,  e  seus  motivos ;  todas  as  Concessões, 
que  se  obtiverãoda  Cúria  por  meio  de  Negociações; 
vé'se  o  plano  ,  e  Negociação  para  coroar  hum  Infante 
de  Portugal  Rei  de  Marrocos ;  vé-se  toda  a  Correspon- 
dência official  com  o  Almirante  de  Castella  em  i5'io, 
e  frequentes  outras  Transacções  dignas  de  verem  a  luz. 


44  Corresponãencia. 

O  longo  período  das  nossas  relações  Diplomáticas 
no  Reinado  ,  que  se  seguio  ,  do  Senhor  D.  João  3^. , 
comprehendendo  huma  seríe  deDocamentos  desde  iSsa 
até  i577y  oQerece  monumentos  não  só  mui  curiosos, 
mas  até  mui  importantes  em  a  nossa  Historia  Politica* 
Vêem- se  as  Negociações  com  o  Imperador ,  tratadas 
na  Embaixada  de  Luiz  da  Silveira ,  seus  motivos ,  e 
suas  consequências  \  as  que  se  lhes  seguirão  do 
Embaixador  D.  Gil  Eannes  da  Costa,  cnj|os  Officios 
Ministerraes,  desde  i5!24  até  1 55a ,  formão  huma  Ne-^ 
fociação  cômpletta  ;  o  Tratado  assignado  em  Victoría 
a  19  de  Fevereiro  de  i5!i4;  toda  a  Negociação  sobre 
as  Molucas  ;  as  Conferencias  d'Elvas ,  as  Negociações 
de  i5  de  Abril  de  iSsg;  as  de  António  de  Azevedo 
Coutinho ;  as  Conferencias  de  Bayonna  entre  os  Com-» 
missarios  Portuguezes,  e  os  de  Francisco  lo.  Rei  de 
França,  e  o  Tratado,  que  se  lhes  seguio  de  i4  cie 
Julho  de  i536;  muitas  Negociações  sobre  as  Conquis-* 
tas ;  todas  as  Negociações  com  a  Cúria ,  sendo  de  muita 
importância  as  de  Balthazar  de  Faria,  e  Francisco 
Botelho ,  começadas  em  consequência  das  Instmcções 
originaes ,  assigiiadas  por  ElRei  a  10  de  Janeiro  de 
1543,  onde,  entre  outras  cousas,  que  o  mesmo  So^ 
berano  lhes  ordena ,  diz ,  que  lhe  escrevão  regular- 
mente as  Negociações,  deixando  registo  dos  OQicios» 
que  mandarem  ;  vendo-se  assim  o  estabelecimento  do$ 
Archivos  das  Missões;  as  Negociações  com  Henrique  8<*. 
de  InglateiTa  \  as  de  João  Rebello ,  de  i537  em  diaote  ; 
a  Correspondência  Ministerial  de  Diogo  Lopes  de 
Souza,  Embaixador  em  Inglaterra  ,  OíBcios  não  só  mui 


Correspondência.  45 

bem  escriptos  para  aquelle  tempo  ,  em  qUe  a  verda- 
deira arte  da  Composição  Diplomática  era  inteiramente 
ignorada ;  mas  também  extremamente  curiosos  ,  entre 
outroSyO,  em  que  avisa  a  necessidade  de  impedir  aos 
Inglezes  o  irem  á  Costa  de  Guiné;  expondo  os  mo- 
tivt)Sye  os  protestos  y  que  tinha  feito  naquella  Corte; 
e  o  Duti*o ,  em  que  participa  a  ElRei ,  que  o  de  In^ 
glaterra  se  descobria  nas  A.udiencias ,  que  lhe  dava , 
o  que  até  então  lhe  não  havia  feito  y  dando  por  mo^ 
tivo  y  que  o  de  Portugal  o  não  fizera  aos  Embaixa- 
dores d*ElRei  seu  Pai.  He  de  summa  importância  toda 
a  Negociação ,  que  tratou ,  a  fim  de  que  o  Cardial 
Infante  D.  Henrique  fosse  eleito  Pontifice  na  vaca n te 
de  Marcello  2^.;  a  sua  Con*espondencia  com  o  Cardial 
Protector ,  e  com  D.  Diniz  de  Lencastre,  Embaixador 
Portuguez  na  Curla  ,  he  clássica  nas  Negociações  d'este 
Reinado :  esta  Negociação  deo  motivo  a  este  Embai"* 
xador  exigir  de  ElRei  de  Inglaterra  a  mediação  do 
Imperador.  Vê- se ,  que  o  mesmo  Diogo  liOpes  sérvio 
de  medianeiro  nas  Pazes  do  ditto  Rei  com  sua  mulher , 
e  com  a  Princeza  Izabel,  sua  irman,  que  depois  lhe 
succedeo  no  Reino,  ele. 

A  Regência  da  Senhora  D.  Catharina ,  durante  a 
minoridade  do  Senhor  D.  Sebastião,  seu  Neto,  e  todo 
o  Reinado  doeste  Soberano ,  não  só  he  interessante  na 
Historia  particular  da  Nação ,  mas  também  mui  fértil 
em  Documentos  para  a  Historia  Politica.  Sem  tratar 
de  outras  Negociações  dignas  de  serem  citadas,  direi 
apenas,  que  no  anno  de  i557  se  vê  Imma  nova  Em* 


46  Correspondência* 

baixada  ao  Imperador ,  a  que  foi  D.  Gil  Eannes  da 
Costa ;  algumas  Negociações  de  bastante  importância 
com  Henrique  a^.  de  França ;  algumas  com  Saboja , 
muitas  com  a  Guria ;  a  Embaixada  de  Lourenço  Pires 
de  Távora  a  Pio  4**«  ?  as  Goncessôes  d*este  Pontífice  a 
favor  de  Portugal ;  vários  Tratados  na  índia  ;  as  Ne- 
gociações com  o  Príncipe  de  Parma  Alexandre  Far- 
nezi;  algumas  Correspondências  do  Senhor  Rei  D» 
Sebastião  com  diversos  Príncipes  sobre  Negociações , 
e  interesses  do  Reino;  algumas  Concessões  do  Papa 
Pio  5^, ;  as  Negociações  com  Castella  começadas  em 
virtude  das  Instrucções  dadas  em  o  i^'.  de  Setembro 
de  i569 ',  as  Correspondências  d'ElBei  de  Castella  com 
o  de  Portugal  neste  mesmo  anno » desde  !i8  de  Feve- 
reiro até  9  de  Dezembro  :  a  Correspondência  com  o 
Papa  Pio  50.  p  as  Negociações  com  Carlos  9^.  Rei  de 
França ;  a  dç  Portugal  com  Inglaterra  em  157^ ,  sobre 
o  Comraercio  livre  com  Guiné;  as  de  D*  João  da 
Silva,  4*'.  Conde  de  Portalegre,  Embaixador  do  Se- 
nhor Rei  D.  Sebastião  ,  em  Castella  ;  as  entrevistas  de 
Guadalupe ,  algumas  Negociações  com  a  Rainha  Izabel 
de  Inglhterra  ,  as  com  o  Papa.  Gregório  iS**. ,  e  outros 
Documentos,  que  comprovão  sobejamente  a  Historia 
Politica  doeste  Reinado. 

O  cui  to  período  do  Reinado ,  que  se  lhe  seguio  , 
do  Senhoj^  D.  Henrique  ,  oflíerece  Negociações  inteiras 
á  cerca  dos  pertendentes  á  Coroa  de  Portugal,  sendo 
esta  huma  epocha  muito  interessante  em  a  nossa  His- 
toria PoUtica  ,  pela  revolução,  que  nella  começou  a 


Correspondência.  ^V 

experimentar  o  nosso  Direito  Publico ,  Externo  ,  e 
Diplomático  até  á  sua  restauração  no  Reinado  do 
Senhor  D.  João  4°« 

Os  acontecimentos  do  Interregno ,  que  se  seguio  á 
morte  do  Senhor  Bei  D.  Henrique,  tem  o  seu  lugar 
na  divisão  systematica  d' esta  obra.  Todas  as  Negocia- 
ções do  Senhor  D.  António  com  os  Estados  Geraes , 
com  a  Rainha  de  Inglaterra ,  com  o  Imperador  de 
Marrocos  y  etc. ,  são  de  igual  interesse  nesta  epocha* 

No  intruso  Governo  dos  Filippes  houverâo  Negocia^ 
ções  mui  importantes  para  a  Historia  Politica  :  entre 
estas  as  da  Missão  de  Francisco  de  Andrade  Leitão , 
em  Inglaterra ,  què  prepararão  o  Tratado  de  Agosto 
da  i6o4  :  algumas  Negociações  de  Carlos  i<>.  sobre  o 
Commercio  na  índia  Oriental ,  etc. 

Nesta  parte  do  meu  trabalho ,  guiado  pelos  Monu- 
mentos ,  que  tenho  podido  descobrir  ,  mostro  qual  (oi 
a  influencia  ,  que  teve  sobre  as  cousas  politicas  d* este 
Reino,  a  fatal  batalha  de  Alcácer;  a  perda  do  Senhor 
Rei  D.  Sebastião ,  as  usurpações  das  nossas  Conquis- 
tas ;  e  finalmente  todas  as  circumstancias ,  que  prepa- 
rarão a  epocha  mais  clássica  do  nosso  Direito  Publico  , 
como  foi  j  a  que  se  seguio  á  Acclamação  do  Senhor 
Rei  D.  João  4^. ,  que  sendo  numerosissimos  os  Docu- 
mentos, as  Negociações,  as  Embaixadas,  c  os  diífe- 
rentes  arestos  Diplomáticos,  que  desde  então  se  esta- 
belecerão nos  seis  periodos  posteriores ,  formando  estes 
de  per  si  hum  grande  corpo ,  seria  impossivel  dar  nesta 


^%  Correspondência, 

Carta  hnina  ideia  de  quão  interessante  he  o  conheci- 
mento de  taes  Kegociaçôes. 

Devo  accrescentar ,  que  pelo  exame ,  que  tenho  feito 
nos  Documentos  Políticos  doeste  Beino  ,  que  até  agora 
se  tem  consertado  manuscriptos ,  entrei  no  conheci- 
mento,  com  p^ande  sutisfaçào  minha,  de  que  poucas 
^'acôes  y  antes  da  Paz  de  Westphalia ,  tratarão  melhor 
Diplomaticamente,  do  que  Portugal. 

Esta  CoUeccão  deve  aperfeiçoar-se  muito  mais  agora 
com  asReaes  Ordens,  que  ^.  Mag«.  foi  servido  man- 
dar expedir  ao  Governo  íestcs  Reinos  ,  em  data  de  3*1 
de  Março  de  1819,  para  se  me  darem  do  Real  Ar* 
chivo  da  Torre  do  Tombo  todas  as  copias  dos  Docu- 
mentos ,  que  cu  necessitar ,  e  pedir ;  tendo  eu  já  de- 
pois dVsta  faculdade  additado  ao  meu  trabalho  5'2o 
Diplomas ,  que  nenhum  dos  nossos  Historiadores , 
que  comprovarão  as  suas  Historias  com  os  Monumen- 
tos, ((ue  puderão  descobrir  nos  Ajrchivos  do  Reino, 
produiio. 

E  como  \iuma  obra  de  semelliante  vastidão  ,  ha  de 
precisamente  ser  imperfeita  ,  a  pezar  de  todos  os  soe* 
COITOS  da    Critica ,  e  dos  esforços  do  zelo  ,  que   na 
mesma  tenho   posto ;  e  conhecendo  perfeitamente  a 
miiiija  pouca  ca['acidade,  assento  em  oflíerecer  á  cen- 
sura da  Academia  Real  das  Sciencias ,  dentro  em  pou* 
cos  mezes,  a  i*.  Dynastia,  que  comprehende  14  volume* 
de  quarto  grande  de  Diplomas,  e  7  de  Kmbaixai/.is 
mandadas,  e  recebidas;    para  que,  achanJo-a  digna 
de  apparccer,  a  poder  eu  eutão  publicar* 


Correspondência'  49 

Teria  sido  sém  duvida  este  trabalho  mais  suave ,  e 
por  certo  mais  bem  orgauisado ,  se  a  Memoria  sobre 
o  Plano  dá  CoUecçâo  dos  Tratadas  PoUtiCoi  de  Por^ 
tugal,  do  Sú^.  Diogo  Vieira ,  tivesse  sido  produzida» 
ha  mais  tempo ,  ttindo  eu  agora  ó  dissabor  de  me  nào 
podèr^sek*vir  de  nok*ma ,  e  de  estimulo  o  mesmo  Plano , 
pelo  adiantamento  y  em  que  tenho  a  tninhiaobra; 
tendo-me  proposto  também  ,  desde  a  primeira  ideia , 
que  tive  a  este  respeito ,  a  nào  seguir  nem  os  Com- 
|>ilaâore8  espúrios  ,  nem  os  summaristas ,  nem  ^  em 
matérias  de  Direito  Publico ,  conjecturas  indiscretas, 
a  que  dão  lugar  algumas  indicações  históricas  produ- 
zidas em  epochas^em  que  as  regras  da  boa  Critica 
erào  inteiramente  ignoradas. 

Sou 

Sn.''«>  Redactores  dos  Àânaésdas  Scienciaâ  >  das 
Artes,  e  das  Letras; 

Seu  muito  attento  Servidor , 

O  VlSCOITDB  OB  Sa^TTAEDí. 

Lisboa,  4  de  Junho  de  i8gío. 


Tom.  X.  P.  3^- 


5o  Correspondência. 


Acabamos  de  receber,  para  ser  publicada  nos  A.Dnae;^ 
a  composição  seguinte  do  Sn^*.  Moratin ,  que  viaja 
actualmente  na  Itália,  e  que,  pelas  suas  excellenles 
composições  drammaticas ,  tem  merecido  ser  chamado 
o  Molière  da  Hespanha. 


A.  D.  Luís  de  Sils^a  Mozinho  de  Albuquerque  ^  autor 
de  las  Georgicas  Portuguezas. 


SONETO. 

Canto  el  de  Mantna  con  sonoro  acento 
La  cuJlura  dei  campo  j  los  pastores : 
Despues  ,  empresas  celebro  mayores , 
Y  à  Roma  aliò  durablc  monumento. 

Tu  asi ,  que  en  el  bucólico  iustrumento 
Ensayastc  dei  arte  los  primores; 
Desdonando  las  selvas  y  las  flores. 
Épica  trompa  haràs  sonar  ai  viento. 

Si  ,  que  en  los  fuerles  Lusitanos  dura 
TA  uiisuio  aliento  ,  que  les  dio  victoria 
En  Jos  opuestos  limites  dei  mundo. 

y  si  ai  valor  y  à  la  virlud  procura , 
Silva ,   tu  verso  ,  iuextinguible  gloria  , 
De  tu  pátria  serás  Maròn  segundo. 

J^EA?fDRO    FeRXAIVDEZ    DE   MoRATtS, 


\ 


NOTICIAS 

DAS  SCIENCIAS ,  DAS  ARTES ,  etc 


»v^^^/^^>%'»^<»%^%i^» 


RESUMO 


Dos  mais  nota\>eis  descobrimentos  e  principaes  trahgúhoê 
nas  Sciencias  ,  no  anno  de  1819* 

(  Continuado- ) 


PIIYSICA, 

játtracçào, 

M.  de  Laplace  publicou  sobre  a  attfâcçào  capillar 
liuma  interessante  Memoria ,  a  qual  foi  inserida  em 
todas  os  periódicos  scientificos  da  França  ^  e  que  tem 
sido  traduzida  em  quasi  todos  os  estrangeiros^  mas 
que  não  ho  susceptivel  de  ser  extractada  aqui« 

r 

Da  Luz. 

O  singular  plienomeno  da  diflíracção  da  lu2,  isto 
he  do  desvio  que  ella  experimenta  passando  rente 
das  bordas  de  hum  corpo ,  primeiro  observada  pelo 
Padre  Grimaldi  9  tem   sido  pouco   estudada   até  aos 

4* 


5a  Noticias  das  Sciencias, 

nossos  dias.  Recentemente  M.  Flaugergues  provou 
que  este  phenomeno  não  he  devido  nem  á  natureza 
dos  corpos  y  nem  á  sua  6gura ,  densidade ,  tempera- 
tura >  electricidade  ou  magnetismo»  e  que  também 
não  depende  da  natui^za  da  luz ,  pois  tem  igualmente 
lugar y  ouella  seja  directa  ou  reflectida,  natural  ou 
artificial  >  solar ,  lunar ,  estellar,  polarisada  ou  nâo. 
M-  Fresnel ,  que  ganhou  o  premio  proposto  pela  Aca- 
demia das  Sciencias  de  Paris  ,  confirma  a  maior  parte 
doestas  observações  y  e  estabelece  que  a  dififracçào  de 
cada  raio  he  tanto  maior  quanto  maior  he  a  distancia 
donde  vem.  Também  se  occupou  muito  d(%  eífeitos 
que  a  luz  produz  sobre  a  sombra  geométrica ,  e  prin- 
cipalmente do  que  M.  Toung  chama  phenomenos  in- 
terferentes; e  prova  por  huma  engenhosa  experiência  , 
que  a  serie  das  listras  obscuras  e  brilhantes  que  se 
formão  nestes  casos  he  evidentemente  causada  pelo 
encontro  de  fachos  luminosos ,  inflectidos  sobre  a 
borda  mesma  do  corpo ,  como  o  tinha  já  estabelecido 
M.  Young. 

A  polarisaçào  da  luz  tem  continuado  a  ser  objecto 
das  investigações  de  MM.  Biot,  Aiago,  Fresnel,  e 
principalmente  do  D»*.  Brewster ,  o  qual  começou  a 
dar  huma  historia  mui  interessante  d'este  objecto  no 
segundo  caderno  do  novo  Jornal  de  Edimburgo. 

Seguindo  o  exemplo  de  M.  Young ,  que  tinha  de- 
terminado qual  era  a  influencia  que  os  raios  da  luz 
ordinária  exercem  huns  sobre  os  outros ,  MM.  Arago 
e  Fresnel  procurarão  descobrir  qual  he  a  dos  raios 


ãàs  Artes  j  etc.  53 

polarísados  enti^e  si.  Os  seus  experimentos  os^  conâu<- 
zirào  aos  seguintes  resultados  :  i^.  nas  mesmas  cii> 
cumstancias  em  que  dois  raios  de  luz  ordinária  pai- 
recém  destruir-se  mutuamente  ,  dois  raios  polansados 

m 

em  sentidos  contrários  não  exercem  hum  sobre  o  outro 
influencia  ^lguma ;  i,^.  os  raios  de  luz  polarisados  era 
hum  só  sentido  obrão  hum  sobre  o  outro  como  os  raios 
naturaes ;  3o.  dois  raios  primitivamente  polarisados 
em  sentidos  contrários  podem  ainda  ser  trazidos  ao 
mesmo  plano  de  polarisaçào  y  sem  que  comtudo  por 
isso  adquirào  a  faculdade  de  influir  hum  sobre  o  ou* 
tro  ;  4^-  dois  raios  polarisados  em  sentidos  contrários^ 
e  trazidos  depois  a  polarisaçôes  análogas ,  tem  huns 
sobre  os  outros  a  mesma  acção  que  os  raios  natu* 
raes ,  se  procedem  de  hum  fasciculo  primitivamente 
polarisado  em  hum  só  sentido;  5<>»  nos  pheoomenos 
interferentes  produzidos  pelos  i;aios  que  tem  experi- 
mentado a  refracção  dupla ,  a  lugar  das  franjas  não 
he  determinado  unicamente  pela  diffepença  da  direc- 
ção e  pela  dos  velocidades  \  e  em  algumas  ciroumstan- 
cias  9  he  preciso  levar  em  conta ,  alem  diaso.^  huma 
diOerença  igual  a  huma  meia  ondulação.. 

M.  Arago  parece  ter  sido  o  primeiro  que  teve  co- 
nhecimento dos  phenomenos  da  absorpçào  da  luz  poi 
larísada  pelos  crystaes  dotados  da  dupla  refracção ,  na 
barytes  sulphatada.  Depois  d'elle  M.  Biot  fez  ver  que 
hum  dos  dois  raios  refractados  por  esta  substancia, 
experimentava ,  ao  atravessá-la  j  huma  absorpção  in-^ 
comparavelmente  maior ,  e  de  huma  natureza  difie- 


5  i  Noticias  das  Sciencias  , 

rcDle  do  qne  sofiria  o  outro  raio.  Como  esta  didorençn 
se  observava  a  pezar  de  os  dois  raios  atravessarem 
a  substancia  em  buma  mesma  direcção  ,  tinha  con- 
cluído que  hum  d'elles  era  preservado  pela  espécie 
parlicubir  de  refracção  que  experimentava ;  porém 
M.  Brew&ter  parece  ter  considerado  a  male/ia  de  huina 
maneira  muito  mais  geral  e  completta  y  como  he  pa- 
tente pela  Memoria  que  leo  a  i!;i  de  Kovembro  de  18 iB 
á  Sociedade  de  Londres  sobre  as  leis  que  regulâo  a 
absorpçào  da  lui  polarisada  pelos  crjstaes  de  dupla 
refracção.  Nesta  Memoria ,  que  só  será  publicada  na 
segunda  parte  das  Transacções  philosophicas  para  iBic), 
M.  Brevrster  examina  succe^sivamente  esta  absorpçào 
nos  ciystaes  que  tem  só  hum  axe  de  dupla  refrac- 
ção, depois  nos  que  tem  dois,  e  em  íim  a  influencia 
que  o  calor  tem  sobre  a  faculdade  absorvente  d'est;is 
duas  sortes  de  crystaes ;  o  que  ainda  ninguém  tinlia 
feito.  Conclue  dos  seus  experimentos,  que  as  partí- 
culas color  antes ,  em  vei  de  estarem  disseminadas  ao 
acaso  por  toda  a  massa ,  tem  buma  disposição  rela- 
tiva ás  forças  ordinárias  e  extraordinárias  que  os  crjs- 
taes exercem  sobre  a  luz.  M.  Biot  achou  também 
que  a  esta  absorpçào  era  devida  a  singular  J)roprie- 
dado  de  muitos  crjstaes  que  parecem  coloridos  quando 
são  vistos  por  luz  transmittida ,  e  que  oSerecem  cores 
diversas  quando  são  vistos  em  sentidos  differentes. 
Achou  esta  singular  propriedade  no  epidote  ,  em  hum 
certo  mica  de  Wilna,  na  dichroíte  de  Haiij,  sub- 
sUinda  á  qual  esta  diíTcrença  de  coloração,  quando 
be  vista  em  dois  sentidos  diíTcrentes»  fez  dar  o  nome 


das  Artes  y  etc.  55 

de  corindon.  Outro  tanto  tinha  igualmente  observado 
M.  Brewster  na  Memoria  já  citada* 

M.  Bioty  tendo  suspeitado  que  as  vibrações  longí* 
tudinaes  que  se  fdzem  executar  a  folhas  compridas 
de  vidro  y  podiào  determinar  entre  as  particulas ,  re* 
laçòes  de  posição ,  que  as  tornassem  capazes  de  obrar 
sobre  a  luz  polarisada,  achou  com  efTeito  por  expe- 
riência alguns  traços  de  cores  correspondentes  ás  dos 
primeiros  anneis  da  taboa  de  Newton  ,  mui  parecidas 
com  as  que  se  obtém  com  laminas  de  vidro  aque* 
cidas  e  esfriadas  de  repente.  Às  suas  experiências  foràa 
feitas  com  o  auxilio  do  D*".  Savart  de  quem  logo  fal- 
laremos. 

V 

o  mesmo  sábio,  em  huma  Memoria  lida  a  19  de 
Março  de  1810  no  Instituto  de  Franca,  estabeleceo  as 
leis  da.  dupla  refracção  e  da  polarisação,  nos  corpos 
regularmente  crystaUisados,  por  meio  das  quaes  podem 
determinar-se  ,  pelo  simples  calculo ,  todas  as  parti- 
cularidades, de  intensidade  e  dos  tons  de  cor  que 
oíTerecem  as  laminas  dos  cr}staes  de  hum  ou  dois 
axes,  quando  são  expostas  a  raios  polarisados.  Podem 
de  antemão  annunciar-sc  em  que  direcções  as  cores 
tem  de  aihouxar  ou  desapparecer  inteiramente , tanto 
nos  casos  em  que  se  forma  huma  perfeita  cruz  negra, 
como  no  spatho  de  Islândia  e  em  outros  crjstaes  de 
hum  só  axe,  como  quando  os  anneis  coloridos  assim 
formados ,  são  atra^ssados  por  huma  só  linha  preta 
de  forma  e  posição  vaiiavel ,  como  acontece  na  mica 


56  P/otíci^  das  Sciendas  ^ 

de  Sibéria ,  no  topázio  e  em  outros  crystaes  de  dupU 
refracçào. 

A  maneira  porque  as  membranas  e  os  humores  do 
olho  obrào  sobre  a  luz  ,  tem  dado  recentemente  lugar 
a  novas  investigações  experimentaes*  M.  Brewster 
achou ,  contra  a  opinião  geralmente  recebida  ,  que  a 
potencia  refringente  do  humor  aquoso  he  sensivel*^ 
mente  maior  que  a  da  agua ,  e  que  a  das  camadas 
do  crystallino  cresce  progressivamente  da  superficie 
exterior  para  o  centro  *,  o  que  se  approxima  dos  re-^ 
sultados  obtidos  o  anno  passado  por  M.  Ghossat. 

jécustica, 

M.  Haiij  •  em  huma  Memoria  inserta  no  Journal 
(k  Pl^siquc ,  tom.  LXXXIX,  pag.  4^5 ,  fez  conhecer 
resultados  curiosos ,  que  obteve  fazendo  vibrar  laminas 
d^  vidro  cobertas  dè  poeira ,  por  meio  de  hum  arco 
de  rabeca  applicado  ás  bordas  das  dittas  laminas ,  da 
mesma  maneira  que  o  pratica  M.  Chladni ,  a  quem  a 
Sciencia  deve  os  novos  conhecimentos  que  temos 
adquirido  sobre  a  propagação  do  som. 

M.  Savart ,  Doutor  em  M edecina ,  communicou  á 
Academia  das  Sciencias  do  Instituto  de  Franca  e  á 
Sociedade  Philomatica ,  huma  serie  de  investigações 
experimentaes  da  mesma  natureza  das  de  que  acaba- 
mos de  fallar,  porém  muito  maia  importantes,  e  em- 
prehendidas  com  o  (ito  no  aperfeiçoamento  dos  in&- 


das  jártes  etc*  5^ 

IrumeDtQS  de  cordas  e  arco.  Começou  pela  analyse 
dos  difiereDtes  pontos  essenciaes  da  theoria  doestes 
instrumentos,  da  qual  vamos  dar  buma  succinctn 
ideia  y  para  depois  melhor  se  oomprehenderem  o«  re« 
sultados  practicos« 

Os  instrumentos  de  cordas  são  compostos  de  doii 
elementos  que''  contribuem  a  formar  os  sons ;  hum 
coQsiste  nas  cordas  que  se  fazem  vibrar  por  meio  da 
arco  ;  o  outro  consta  de  huma  combinação  de  laminasi 
de  madeira  delgadas ,  seccas  y  elásticas ,  ora  ligadas 
em  forma  de  caixa  vazia ,  ora  servindo  simplesmente 
de  esteio  ás  cordas  que  em  todos  os  casos  estàa 
presas  ao  instrumento.  Quando  se  fazem  vibrar  a& 
cordas  também  vibrão  as  laminas ,  donde  resulta  que 
as  vibraçõe3  das  taboas  excitão  movimentos  no  ar,  que 
se  místurão  aos  que  são  produzidos  pela  vibração  das 
cordas,  compondo-se  o  som  do  instrumento  doestes 
dois  eifeitos.  A  maneira  por  que  são  produzidos  estes 
movimentos  não  tinha  ainda  sido  analysada  a  fundo 
por  experiências  antes  de  M.  Savart.  Este  sábio  mos- 
trou que  ^  vibração  das  cordas  faz  vibrar  a  taboa 
superior  do  instrumento,  mas  que  estas  vibrações 
não  são  uniformes  em  todos  os  pontos »  sendo  a  elas- 
ticidade menor  no  sentido  transverso  do  que  no  lon- 
^tudinal. 

As  taboas  sonoras  podem  também  communicar  as 
soas  vibrações  humas  ás  outras  ,  ou  sej^  por  contacto 
immediato,  ou  transmittindo-se  por  meio  de  huma 
haste  de   madeira.  Esta  haste  he  o  que   se  chama 


58  Noticias  das  Sciencias  , 

alma  (Ja  rabeca.  O  movimenlo  he  também  transmit*- 
tido  em  parte ,  por  todas  as  peças  de  madeira  inter- 
postas entre  as  duas  taboas  ^  e  até  pelo  ar  contido 
dentro  do  instrumento ;  poisem  de  todas  estas  trans- 
missões reconlieceo  M.  Savart  que  a  mais  eíBcaz  he 
a  que  se  faz  pela  alma  da  rabeca ,  e  pensa  que  esta 
transmissão  se  propaga  por  ondulações  longitudinaes  , 
excitadas  em  huma  das-  extremidades  da  baste  por 
aquella  das  duas  laminas  que  se  faz  vibrar  immedia* 
tamente. 

A  transmissão  dos  movimentos  vibratórios  por  meio 
de  ondulações  longitudinaes,  e  a  conversão  doestas 
em  vibrações  transversaes ,  he  hum  facto  mui  digno 
de  attenção  ,  tanto  em  si  mesmo ,  como  pela  frequen* 
cia  ate  agora  apenas  suspeitada  das  suas  applicações. 

Depois  de  ter  determinado,   por    experiências  de- 
cisivas ,   este    modo  de   transmissão ,    fez  M.   Savart 
applicação  dos  seus  princípios  á  conslrucção  dos  ins- 
trumentos   de   cordas,  c  para   exemplo  escolheo    de 
preferencia   a  rabeca;    para  isso    procurou  descobrir 
as  condições  necessárias  na  construcçào  d'este  instru- 
mento para  conseguir  dar-lhe  ao  mesmo  tempo  pureza 
e  igualdade  de  sons ,  e  facilidade  de  vibração ,  e  isto 
não  á  força  de  mil  tentativas  empiricas ,  como  até  ao 
presente    o  tem    sempre    praticado   os   mais    celebres 
fabricantes  de  rabecas ,  taes  como  Amati ,  Slradiva- 
rius,  Steiner  ,  Guarnerius,   etc. ,  mas   por    efieilo    de 
regras  constantes  e   invariáveis.   Para  obter  todas  as 
vantajens  referidas ,  consti^uio  M.  Savart  a  sua  rabeca 


■  Sas  Artes  j  etx:.  5<j 

de  laboas  planas,  ás  quaes  dá  huma  leve  degra- 
dação de  grossura ,  a  partir  do  eixo  onde  a  vibração 
lie  excitada  pelo  contacto  do  cavalete.  Em  vez  de 
dar  ás  taboas  apenas  liuma  linha  de  espessura ,  como 
de  ordinário  se  dá  ás  partes  as  mais  solidas  das 
taboas  das  rabecas  ordinárias ,  elle  dá  ás  suas  a 
grossura  de  três  linhas  menos  hum  quarto  no  eixo, 
e  ainda  na  extremidade  conservão  mais  de  huma 
linha  de  grossura  ;  por  este  modo  tem  huma  solidez 
que  afiança  a  longa  duração  do  instrumento ,  o  qual , 
não  obstante ,  vil)ra  com  mais  facilidade  que  as  rabecas 
ordLnarías. 

A  rabeca  de  M.  Savart  tem  o  comprimento  das 
ordinárias,  e  na  forma  he  hum  trapézio  cujo  mais 
pequeno  lado  está  da  parte  do  cabo.  Não  tem  xan- 
fraduras  lateraes  como  as  rabecas  ordinárias.  Â  ele- 
vação  do  cavalete  he    calculada  de  maneira  que  o 

arco  acha  espaço  sufiiciente  para  correr  por  cima  de 
cada  corda  sem  tocar  nas  roais ,  e  particularmente 
em  quanto  á  ultima,  ks  duas  taboas  estão  unidas  por 
meio  de  tiras  de  madeira  planas ,  as  quaes  conservão 
toda  a  rectidão,  elasticidade  e  regularidade  das  suas 
fibras;  qualidades  que  he  forçoso  sacrificar  para  as 
dobrar  de  feição  a  seguirem  o  contorao  curvilineo  das 
rabecas  ordinárias.  Dá  a  estas  tiras  huma  grossura 
maior  que  he  usual. 

Para  pôr  a  taboa  superior  em  estada  de  resistir  á 
pressão  exercida  pelas  cordas ,  fortifica-a  mettendo- 
Ihe  por  baixo  huma  barra  de  pao  dirigida  no  sentido 


iu  Noticiais  das  Sciencias  , 

ím  c^mpriinento  do  instrumento  :  he  o  qne  se  chama 
a  7arrtt  de  harmonia;  M.  Savart  a  põe  no  axe  da 
taboa  y  aBm  de  conservar  ás  duas  metades  dVsta  a 
mais  perfeita  symmebria  de  elasticidade.  Convencec- 
se  por  experiência  que  a  alma  não  faz  o  ofScio  de 
sustentar  a  taboa  superior ,  e  que  serve  unicamente 
de  transmittir  á  inferior  o  movimento  das  vibrações 
da  superior. 

Também  mudou  a  forma  das  aberturas  da  taboa 
superior.  Em  vez  de  lhe  dará  figura  de  hum/,  sub- 
stituio-lhe  a  de  hum  rectângulo  cujo  comprimento 
segue  a  direcção  das  fibras  da  madeira  do  instrumento* 
Poi^  este  systema  corta  hum  numero  muito  menor 
doestas  fibras ,  cuja  elasticidade  fica  portanto  mais 
enérgica.  Mostra  que  hum  dos  usos  d*estas  aberturas 
consiste  em  reforçsír  o  som  do  instrumento  pela  com" 
municâcáo  que  estabelecem  entre  o  ar  interior  da 
caixa  e  o  exterior.  Em  fim ,  antes  de  unir  as  laminas 
para  (ormar  ÀeWas  o  corpo  Ao  instrumento  íá-\as 
anles  vVbrar  e  soar  separadamente  ,  e  modifica  a  sua 

espessura  até  que  ambas  dêem  exactamente  hum  som 

idêntico. 

Dopois  de  ter  theoricamente  analysado  todas  as 
innovaçóes  inventadas  por  M.  Savart,  os  commissa- 
rios  nomeados  pelo  Instituto  de  Franca  pedirão  a 
M.  Lcfcvre ,  primeiro  rabeca  do  theatro  Faydeau  ou 
Opera  Cómica  de  Paris  ,  e  mui  hábil  tocador ,  qne 
fizesse  diante  delles  o  ensaio  da  nova  rabeca.  Elle 
aunuio,  e   notou-se   que  o   som  doeste  insti-umento 


díis  Artes,  etCé  6t 

era  o  mais  puro  e  ao  mesmo  tempo  da  mais  perfeita 
igualdade.  Ouvido  de  perto  parecia  algum  tanto  menos 
sonoro  que  huma  rabeca  de  autor  de  que  M.  Lefevre 
se  serve  habitualmente ,  porém  em  maior  distancia 
de  tal  modo  se  igualarão ,  que  era  impossivel  distin* 
guir  buma  rabeca  da  outra ;  e  se  havia  diíTerença 
entre  as  duas  era  alguma  suavidade  mais  na  de  M. 
Savart.    '  ' 

A  opinião  unanime  dos  Commissarios  foi  que  a 
nova  rabeca  podia  competir  com  as  melhores;  e, 
como  a  sua  construcção  nada  tem  de  arbitrário  ,  nada 
que  dependa  do  acaso ,  hum  hábil  fabricante  poderá 
ainda  ajuntar  ás  suas  qualidades ,  por  huma  escolha 
cuidadosa  da  madeira  e  pelo  acabado  da  execução , 
visto  que  o  instrumento  que  sérvio  neste  ensaio  tinha 
sido  inteiramente  executado  por  M.  Savart ,  sem  o 
soccorro  de  artista  algum  costumado  a  trabalhar  em 
obra  doesta  natureza.  Porém ,  ainda  sem  attender  a 
esta  maior  perfeição  futura  ,  o  certo  he  ,  que  o  official 
o  mais  ordinário  pode  desde  já,  seguindo  as  regras 
descobertas  pelo  autor,  fazer  excellentes  rabecas  por 
preços  muito  módicos ,  porque  a  igualdade  e  belleza 
dos  sons  dependem  unicamente  dos  princípios  theo- 
ricos  que  devem  regular  a  construcção  do  instrumento. 

M.  Savart  explica  de  huma  maneira  mui  sati^fac* 
toria  a  razão  por  que  a  sua  rabeca ,  ouvida  de  perto  , 
deve  ser  hum  pouco  menos  sonora;  o  que  não  he 
hum  defeito,  pois  na  âist£y:icia  em  quede  ordinário 
se  ouve  este  instrumento  nos  theatros  e  nas  salas  de 


62  Noticias  das  Sciencias  , 

concertos ,  nada  perde  o  de  M.  Savart.  Kis-aqui  tex- 
tualmente a  conclusão  dos  Comoiissarios ,  cujos  nomes 
bastão  para  que  não  possa  ficar  a  mais  leve  duvida 
na  matéria.  Â.  Commíssão  se  compunha  de  MM.  Haúj, 
Charles ,  de  Prony ,  e  Biot  relator ,  membros  da  Aca- 
demia das  Sciencias;  e  de  MM.  Cherubini,  Cate]  « 
Berton  e  le  Sueur^  membros  da  Academia  das  Delias 
Artes  e  primeiros  compositores  da  França. 

«  O  autor,  dizem  os  Commissarios ,  conseguio  por 
este  modo  descobrir  os  principios  de  que  dependem 
as  bellas  qualidades  dos  instrumentos  de  cordas  ,  e 
realisou-os  fazendo-os  servir  á  construcção  de  huma 
nova  rabeca  cujas  qualidades  podem  considcrar-se 
como  huma  excellente  confirmação  de  todos  os  prin* 
cipios  theoricos.  Julgamos  que  este  trabalho^  cheio  de 
invenção  e  de  sagacidade,  merece  a  approvaçào  das 
duas  Academias ,  e  que  he  mui  digno  de  ser  impresso 
na  Collecçào  das  Memorias  dos  sábios  estrangeiros.  » 

M.  Poisson  leo  no  Instituto  de  Franca  a  8  de  Feve- 
rciío  de  i8i()  huma  segunda  Memoria  sobre  o  movi- 
mento dos  fluidos  elásticos  em  tubos  cylindricos  ,  e 
sobre  a  tlieoria  dos  instrumentos  de  sopro ,  a  qual  he 
huma  continuação  da  que  no  anno  antecedente  tinha 
lido  diante  da  mesma  Academia  a  3o  de  Marco  de  iBiB. 
Esta  Memoria  he  mui  interessante,  porém  pouco  sus- 
ceptível de  se  extractar  com  proveito  :  encerra  huma 
digressão  relativa  a  luz,,  em  que  o  autor  deduz  de 
varias  experiências  e  raciocínios   a    maior  probabili- 


das  Artes  ,  ele,  63 

dade  da  hypoUiese  que  suppõe  a  luz  transmittida  por 
ondulações  e  não  por  emissão. 

M.  Cagniard  de  la  Totir  inventou  huma  nova  ma- 
chína  de  acústica,  destinada  a  medir  a  vibração  do 
ar  que  constitue  o  som.  O  intuito  principal  do  autor 
era  obter  esta  medida  por  hum  movimento  de  rotação. 
O  seu  processo  consiste  em  fazer  sabir  o  vento  de  x 
hum  folie  por  bum  ou  mais  orifícios  ,  em  face  dos 
quaes  está  posta  huma  lamina  circular ,  furada  obli- 
quamente por  hum  certo  numero  de  aberturas  dis- 
postas circularmente  e  em  espaços  regulares;  impri- 
mindo-se  á  lamina  hum  movimento  de  rotação  mais 
ou  menos  rápido,  ou  pela  acção  da  corrente  do  arou 
por  qualquer  meio  mechanico,  produz-se  hum  som 
mais  ou  menos  agudo,  e  análogo  á  voz  humana;  e 
como  em  vez  de  ar ,  se  pode  usar  de  agua ,  no  meio 
da  qual  a  machina  produz  os  mesmos  sons ,  por  isso 
M.  Cagniard  lhe  deo  o  nome  de  Sereia.  Por  alguns 
resultados  preliminares  que  publicou  no  tomo  XII 
da  continuação  dos  Annales  de  ChinUe  ,  vé-se  que  se 
approximào  muito  aos  da  theoria  de  Sau^enr. 

Electricidade' 

M.  Dana ,  tendo  observado  que  as  batterias  elec- 
tiicas  construidas  pela  maneira  ordinária  ,  são  incom* 
modas  pela  sua  grandeza  e  carestia ,  propoz  de  lhes 
substituir  outras ,  as.  quaes  debaixo  de  bum  volume 
muito  mais  pequeno ,  oQerecem  comtudo  huma  muito 
maior  superfície.  Compõeni-se  de  nove  placas  de  vidrcr 


64  Noticias  das  ScientiiU' 

e  lamitias  de  estanho  stratificadas  e  Convenientemente 
dispostas. 

M.  Haiij  confirmou  a  elcellencia  dos  meios  pro- 
postos por  elle  uq  seu  Traiiá  des  Pierres  précieiises^ 
para  reconhecer  as  pedras  preciosas  pelo  meio  da 
elecli-icidade  ^  mosti^ando  que  o  spatho,  electrisado 
pela  pressão ,  conserva  a  sua  propriedade ,  ainda  de* 
pois  de  se  ter  mergulhado  em  agua ,  e  por  conseguinte 
quando  se  expõe  ao  maior  grão  de  humidade  possí- 
vel ;  e  fez  ver  que  na  sua  machina  resinosa  a  baste 
de  lacre  exerce  sobre  o  mostrador  huma  influencia 
que  o  conserva  no  seu  estado  eléctrico,  e  isto  em 
razão  de  gozar  este  corpo  de  hum  modo  sensi- 
vel ,  em  parte  da  propriedade  conductriz  f  e  em  parte 
da  isolante. 

GalyaHismó» 

Até  ao  dia  de  hoje  os  physicos  estavâo  divididos 
entre  as  três  únicas  theorias  do  galvanismo  que  se 
tem  proposto ,  posto  que  nenhuma  d*ellas  satisfaça 
plenamétite  ,  a  saber:  1°.  a  de  Volta,  que  considera 
todos  os  phenomenos  galvânicos  como  eíleitos  da 
electricidade ;  2<^.  a  de  M.  Donavan  que  julga  serem 
chymicos ;  e  eul  fira  a  de  M.  WoUaston ,  explicada , 
elucidada  e  sustentada  por  M.  Bostock  no  seu  Tratado 
sobre  o  estado  actual  do  galvanismo ,  publicado  em 
1818,  a  qual  admilte  que  os  phenomenos  são  elec* 
tricôs ,  mas  que  a  electricidade  he  desenvolvida  pela 
acção  cliymica.  M'  Robert  Haie ,  em  huma  Memoria 


das  Anes^  ètCk  M 

publicada  no  quarto  caderno   do  Joimal  Americano 
de  M.  Siliinan  ,  propõe  huma  quarta  opinião  ,  e  cOtt* 
sidera  o  principio  produzido  pela  pilha  voltaica  como 
hum  composto  de    calórico    e    de  electricidade.  As 
observações  e  as  experiências  que  foi  obrigado  a  fazer 
a  fím   de  sustentar   esta  hypothese  ^  o  conduzirão  a 
inventar  hum  novo  apparelho ,  a  que  dá  o  nome  de 
calqrimotor  y  por  meio  do  qual  consegue  produzir  hum 
grão  de  calor  sufficientemente  enérgico  para  queimai' 
mui  rapidamente  hum  (lo  de  ferro    de  hum    oitavo 
de  poUegadà  de  diâmetro,  e  hum  (lo  de  platitía  do 
Tí^,  18.  Compõe-se  de  ao  discos  de  cobre  e  outfos  taútoâ 
de  zinco,  de  perto  de  18  pollegadas   quadradas,  si- 
tuados  veutical    e    alternadamente   em    distancia  de 
huma  pollegada  hum  do  outro,  estando  cada  espécie 
de  discos  mettidos  em  hum  encaixe  da  mesma  sub-" 
stancia ,  de  maneira  a  formarem  duas  únicas  e  extensas 
superficies  metallicas.  Se ,  depois  de  ter  ligado  a  su^ 
períicie   zinco  com  a  superfície  cobre,  por  meto  do 
fío  de  ferro ,  se  mergulha  todo  o  apparelho  em  huma 
dissolução  aceto-sallna ,  o  fen^o  entra  em  combustão , 
e  o  hydrogeneo  que  se  separa  ^  inflam ma-se  de  ordi« 
nario ,  e  dá  huma  chamma  mui  viva. 

M.  Zamboni^  debaiico  de  cujo  nome  he  geralmente 
conhecida  a  pilha  galvânica  secca,  fez  conhecer  al-^ 
guns  aperfeiçoamentos  na  construcçào  d'este  appare* 
lho ;  o  qual ,  como  todos  sabem ,  he  composto  de 
hum  certo  numero  de  rodinhas  de  papel  estanhado 
e  de  oxjdo  preto  de  maDgaae8e«  Recommenda  M. 
Tom.  X.  P.  a*,  5  B 


96  Noticias  das  Scimtoias  , 

Zamboni  que  o  papel  seja  fino,  sem  f^mina ,  impne- 
gai^p  qa  ^uperficie  nào  Dietallica  4e  huma  dissolução 
de  iweo»  e  que  esteja  bem  secco.  antes  de  se  cobrir 
dç  manganese :  deve  terminar-se  a  operação  sem  de- 
ipora»  em  tempo  secco,  e  sem  coo  tacto  do  ar.  O 
melhor  modo  de  pOBservar  esta  pilha  be  de  a  enceirar 
em  huma  manga  de  vidro  bastantemente  grande,, 
enchendo  o  espaço  intermediário  com  huma  compo* 
siçãp  de  cera  e  de  terebenthina. 

O  me^o  ph]^ico  cónseguio  formar  huma  pilha  áe 
dois  elemeptos;  hum  não  conductor,  v.  g.  a  agua,  e 
o|itrp  metallico,  porém  dispostos  de  maneira  que  o 
seu  contacto  sp  faça  por  superficies  desiguaes.  Cou 
este  fim  forma  hum  circulo,  interrompido  em  hum 
ponto ,  com  3o  vidros  de  relógio  cheios  de  agua  dís- 
tillada,  e    estabelece  a  communicação  por  meio  da 
pequenos  quadrados  de  folha  de  estanho  de  meia  poln 
legada  de  lada,  terminados  por  hum  prolongamento 
mui  delgado  de  a  a  4  poUegadas,   os  quaes  ifiergn* 
Ihào   profundamente   pela  extvemidade  larga ,  e  só 
tocão  na  superfície  pela  outra  extremidade.  Estando 
o  apparelho  bem  isolado ,  faz-se  communicai*  huma 
extremidade  do  circulo  com  o  chão ,  e  a  outra  com 
hum  condensador,  e  immediatamentç  se  reconhece- 
rão os  doi$  poios ,  hum  viti^eo ,  do  lado  dos  quadrados , 
e  o  outro  resinoso ,  do  lado  da$  pontas. 

Reconheceo  também  que  huma  pilha  composta  de 
de  10   discos  de  papel   estanhado,  dava  sigoaes   de 


t         das  Artes  ^  efe.  6'} 

electi  icidade  ,  vitrea  do  lado  metalUco  ,  e  resinosa  da 
banda  do  papel  y  e  que  os  eOeitos  aagmentaTào  com 
o  numero  dos  discos« 

MagnetismOé 

M.  BarloW  principiou  huma  serie  de  cfxperimentos 
curiosos  com  o  fim  de  determinar  as  leis  da  distri'* 
buição  das  fordas  magnéticas.  O  coronel  Gibbs  que 
cré  que  a  luz  he  a  grande  fonte  do  magnetismo  ,  (et 
varias  experiências  para  confirmar  esta  opinião  ;  e  pro* 
vou  por  huma  d*ellas  que  hum  iman  guardado  por 
muito  tempo  em  hum  lugar  escuro  ganhara  ii  onças 
de  potencia  magnética ,  depois  de  ter  estado  exposto 
por  espaço  de  ifo  minutos  aos  raios  do  sol ,  e  que  só 
adquirira  i4  onças  da  mesma  potencia  depois  de  huma 
exposição  de  5  horas.  Esta  hjpothese  de  M.  Gibbs  he 
bastantemente  concorde  com  os  experimentos  de  Mo- 
ricliini )  os  quaes  ptovão  que  oe  raiot  roxos  do  spectro 
solar  tem  a  propriedade  de  coHuntinicar  a  virtude  ma- 
gnética a  huma  agulha  de  feiro.  He  certo  que  ainda 
ha  quem  davide  da  verdade  ò^estt  facto ,  sendo  doeste 
numero  M.  d'Hombres  Firmas ,  observador  exacto  ,qiie 
não  poude  conseguir  este  effeite.  He  mui  singular  que 
até  ao  dia  de  ho)e  ninguém  em  França  tenha  obtido 
o  resultado  annunciado  por  M.  Moriòlúnf ,  e  de  qne 
forão  testemunhas  em  Itália  vaiios  sábios  estrangeiros , 
como  MM.  Playfair,  H.  Davr,  etc.  Também  MM' 
Girpi  e  Ridolphi  conseguirão  communicar  pelo  mesmo 
methodo  o  magnetismo  a  agulhas  de  ferro. 

5  * 


68  Noticias  das  Seiencias  j 

Do  Calórico» 

Já  annunciámos  no  Tomo  III  dos  Annaes  ,  Parte  a'*, 
pag.  Qc)  o  interessante  trabalho  de  MM.  Petit  e  Dulong 
sobre  as  leis  da  communicação  do  calor.  Depois  d'elles 
MM.  Clément  e  Desormes  publicarão  no  tomo  LXXXIX 
do  Journal  de  Physique  a  pag.  1 1 1  huma  Memoria  na 
qual  oíTerecem  huma  serie  de  experiências  que  os 
conduzem  a  resultados  mui  curiosos  sobre  o  zero 
natural ,  e  outras  questões  intimamente  ligadas  com  os 
phenomenos  do  calórico.  Em  outra  occasião  tornare- 
mos a  fallai*  d'este  trabalho,  do  qual  agora  não  damos 
mais  extensa  noticia ,  porque  diversos  sábios  tem  contes- 
tado^ algumas  das  proposições  fundamentaes  de  MM. 
Clément  e  Desormes.  Esperaremos  portanto ,  que  a 
controvérsia  esteja  decidida ,  ou  ao  menos  mais  elu^ 
cidadã  a  questão ,  para  communicarmos  aos  nossos 
leitores  o  que  parecer  mais  bem  averiguado. 

.  O  D*".  Ure ,  de  Glasgow»  publicou  numerosas  expe- 
periencias  sobre  o  calor,  feitas  principalmente  com  o 
intuito  de  aperfeiçoar  as  bombas   de  vapor.  No  seu 
primeiro  artigo  trata  da   força    elástica  do  vapor ;  e 
por  hum  grande  numero  de  experiências  ,  que  fez  com 
hum  apparelbo  de  sua  própria  Jnvençàa  ,  desde    240 
até  3i20  de  Fahr.   vê-se  que  concorda  bastante  com 
os  resultados  de  M.   Dalton ,  desde  340  ate'  iioo;  mas 
dalli  para  cima  a  diíTerença  he  considerável ;  isto  faz 
crer  ao  D^  Ure  que  a  escala  de  M.  Dalton  he  inexacta 
de  210°  para  cima.  Concorda  muito  mais  com  os  re- 
sultados de  M.  Bettencourt.  Por  meio  dos  dados  que 


das  Artesj  etc.  69 

deduzio  das  suas  experiências ,  dá  M.  Ure  huma  for- 
mula empírica ,  para  determinar  a  tensão  do  vapor  da 
agua  em  huma  temperatura  qualquer.  Posto  que  seja 
simples,  e  que  segundo  o  autor  se  cinja  mais  aos  pbe- 
nomenos  que  a  formula  que  M.  Biot  deo  no  seu  Tra* 
tado  de  Phjsica ,  comtudo  M.  W.  Crighton  publicou 
outra  que  não  he  menos  simples  que  a  do  D^.  Ure. 
Na  segunda  parte  do  seu  trabalho  dá  M.  Ure  os  re- 
sultados que  obteve  na  determinação  da  força  elástica 
do  vapor  do  alcohol ,  do  ether ,  do  óleo  de  tereben- 
thina  e  do  petrole;o.  A  terceira  parte  trata  da  medida 
thermometrica  ,  e  da  doutrina  da  capacidade ;  em  (im 
o  ultimo  artigo  he  consagrado  a  investigações  sobre  q 
calor  latente  de  diversos  vapores.  Nas  experiências  so- 
bre este  ultimo  objecto  serve-se  de  hum  apparelho  mui 
simples  composto  de  huma  pequena  retorta  de  vidro  , 
que  communica  por  hum  coUo  mui  curto  com  hum 
recipiente  spherico  de  vidro  mui  grosso ,  e  de  perta 
de  três  poUegadas  de  diâmetro.  Este  recipiente  está 
rodeado  de  huma  certa  quantidade  de  agua  em  huma 
temperatura  determinada ,  e  está  mettido  em  hum  vasa 
de  vidro.  Introduzem-se  na  retorta  !2oo  grãos  do  liqui- 
do cujo  vapor  se  pertende  examinar  y  e  distilla-se 
rapidamente  por  meio  de  huma  lâmpada  de  prata ;  a 
temperatura  do  ar  estando  a  4^0  Fahr* ,  e  a  da  agua 
do  vaso  de  4^^  a  4^^»  o  augmento  de  temperatura  oc^ 
casionado  pela  condensação  do  vapor,  nunca  excedea 
a  da  atmosphera  de  mais  de  4^*  Depois  de  ter  cal- 
culado os  resultados  d*estas  experiências,  M.  Ure  dá 
<i  taboa  seguinte  do  calor  latente  de  oito  substancias^ 


I 


7^  *  Noticias  das  Sciendas^ 

V^^r  da  agua  na  temperatura  da  agua  fer- 

->       vendo 967^ 

—      do  alcohol 442 

do  ether 3^t>!i,37g 

r~       do  petróleo '  .  177,87 

*—       do  óleo  de  t^rebentliina    .    •    •    .  ^Ilfi7 

'—       do  acido  nítrico ^3 1,^9 

•—       da  ammoma  liquida  ......  83-7 ,a8 

^      do  vinagre 875,00 

E  como  dos  phenomenos  observados  na  condensa* 
ção  meqhanica ,  e  na  i^efacçào  dos  gazes  e  dos  vapores, 
bem  como  da  sua  constituição  geral ,  pode  inferir-se 
que  existe  huma  connexào  intima  e  necessária  entre 
o  seu  calor  latente ,  a  sua  força  elástica  e  a  sua  den-» 
sidade  ou  gravidade  especifica  ,  condue  M.  CIre  que 
todas  as  vezes  que  o  estado  de  tensão  for  o  mesmo , 
parece  natural  suppôr  que  o  produclo  da  sua  densi-*. 
dade  na  quantidade  de  calor  latente  deverá  ser  igual, 
A  força  repulsiva  sierá  proporcional  á  quantidade  do 
calor  y  isto  he ,  á  potencia  repulsiva   condensada  ou 
contida  em  hum  espaço  determinado.  Então  se  o  es- 
paço que  (ica  pela  sua  interposição  he,  em  hum  vapor, 
a  metade  ou  o  terço  do  de  outi^o,  deve  achar-se  huma 
tensão  igual  produzida  no  primeiro  caso  pela  metade 
ou  o  terço  do  calor  latente  ^  necessário  no  segundo. 
He  o  que  M.  Ure  prova,  tomando  poi*  exemplo  os 
únicos  três  vapores  cuja  gravidade  especifica  he  exac- 
tamente conhecida,  isto  he  o  ether,  o  alcohol ,  e  a 
agua  \  e  acha  que  sendo  1,00  a  da  agua ,  a  do  alcohol 


dtts  Artes  ^  ete,  tjf 

he  iy3o )  e  a  «do  ether  3,55.  Em  algamas  itídàcçõès 
que  tira ,  concorda  com  as  experiências  de  M.  WatI,  6 
qual  tinha  achado  o  calórico  latente  da  vapor  da  agua 
menor  y  quando  o  vapor  he  prodiízido  por  huma 
grande  pressão  ou  em  hum  estado  mais  denso ,  e 
maior  no  caso  contrario.  Em  fim ,  M.-  Ure  termina  a 
sua  Memoria  por  algumas  conclusões  practicas.  Poid 
que,  diz  elle,  o  vapor  do  alcohol  tendo  a  mesma 
força  elástica  que  a  atmosphera  f  contém  i^  do  calor 
latente  do  vapor  ordinário,  e  que  a  sua  força  dastica 
dobra  no  3060  grão  (  6^  abaixo  da  agua  a  ferver ) 
não  seria  possível  ,com  a  addiçào  talvez  de  bum  terço 
de  calórico ,  em  certas  circumstancias ,  empregar  este 
vapor  para  pôr  ém  movimento  a  bomba  de  vapor? 

M.  J.  MoUet ,  secretario  da  Academia  de  Lyão , 
também  se  occupa ,  ha  alguns  annos ,  de  investiga* 
çòes  que  tem  muita  analogia  com  as  precedentes^ 
  siia  Memoria, lida  a  17  de  Junho  de  181 7 ,  mas  que 
só  recentemente  vimos ,  he  intitulada  :  Da  constituição 
intima  dos  Gazçs ,  e  da  sua  capacidade  para  o  Calórico. 
Entre  outros  resultados  e  observações  notáveis ,  con- 
firma as  conclusões  de  MM.  Bérard  e  Delaroctie  sobre 
a  capacidade  do  gaz  acido  carbónico,  do  hydroge^ 
neo ,  e  do  ar  atmospherico ,  para  o  calórico ,  a  pez^r 
de  ter  M.  MoUet  empi*egado  hum  processo  mui  diP- 
fereute  e  muito  menos  dilecto. 

Mdehaniea. 
O  uso  cada  dia  maU  frequente  que  os  Ingleze»  £ar 


7*  Noticias  das  Sciencias  , 

vem  das  bombas  de  vapor  explica  sufficientemcnte  o 
muito  que  oç  escriptores  d'aquella  nação  se  occupào 
de  tudo  o  que  diz  respeito  a  esta  invenção  ^  que  data 
do  DOieiado  do  XVII  século.  A  primeira  ideia  d*ella 
he  devida  ao  Marquez  de  Worcester  em  1 663 ,  porém 
era  mui  vaga  e  obscura ;  e  quem  se  deve  considerar 
como  o  verdadeiro  inventor  doestas  mackinas  he  Sa- 
vary  que  construio  a  primeira  em  1669.  Foi  depois 
aperfeiçoada  por  Newcomen  e  Crawley  ;  e  estes  ^jun^ 
tamente  com  Savary,  obtiverão  huma  patente  de  in- 
venção e  de  aperfeiçoamento  em  1705.  Não  obstante  y 
foi  só  em  17 12  que  se  começou  a  fazer  uso  de  bombas 
de  vapor  nas  minas  de  carvão  de  pedra ,  e  antes  de 
1720  já  estavão  bastantemente  generalisadas ;  e  em  1^35 
foi  introduzida  em  Escócia  a  primeira  bomba  de  va- 
por. Parece  também  indubitável  que  já  em  1 786  J. 
HuUe  tinha  tomado  huma  patente  pela  invenção  de 
hum  barco  movido  pelo  vapor,  do  qual  publicou  em 
Londres  em  1737  huma  descripçào  debaixo  do  titulo 
de  :  A  description  and  draught  of  a  new  inuented  ma- 
chine  j  for  carrying  vessels  or  ships  outof ,  or  into  any 
harbouTj  port  or  ris^er ,  against  wind  and  tide ,  or  in  a 
calm.  Porem  não  consta  que  J.  HuUe  fizesse  construir 
hum  semelhante  batel.  O  primeiro  que  íez  tentativas 
pr^cticas  a  este  respeito  foi  Pat.  Miller,  o  qual  não 
só  publicou  em  1787  hum  Tratado  sobre  este  objecto ^ 
mas  fez  ensaios  no  canal  de  Fortii  e  de  Clyde , 
com  hum  barco  movido  por  meio  de  huma  roda , 
como  aquelles  de  que  hoje  se  faz  uso.  He  bem  sin- 
jgular  á  vista  d*isto ,  que  hum  invento  que  parece  ter 


das  Artes  ^  etc.  73 

nascido  em  Inglaterro  ,  só  fosse  introduzido,  naquelle 
paiz  trazido  dos  Estados-Unidos  da  America  em  i8i3. 
M.  Sullivan  publicou  no  tom.  I  do  Jornal  Amenctxno 
das  ScienciaSj  a  individuação  de  humá  importante 
simplificação   feita  por   M,  Sam.  Marey  aos   barcos 

movidos  pelo  vapor. 

• 

Por  huma-  lista  doestes  barcos  que  navegão  no 
Mississipi  e  nos  rios  que  desemboccâo  nelle,p  numero 
d^elles  he  de  35,  do  porte  tolal.de  7,359  toneladas, 
e  estão-se  construindo  outros  3o  do  porte  total  de  5,995 
toneladas, 

MM.  Clément  e  Desormes  publicarão  hum  extracto 
de  huma  Memoria  sobre  a  theoria  das  bombas  de 
vapor,  lida  na  Academia  das*  Sciencias  do  Instituto 
dé  França  a  16  e  a  a3  de  Agosto  de  1 819.  Os  resul- 
tados que  obtiverão  de  experiências  multiplicadas  são 
extremamente  curiosos  ;  determinarão  a  quantidade  de 
calor  que  exige  a  constituição  do  vapor  da  agua ,  de- 
baixo de  todas  as  pressões^  e  em  todas  as  tempera- 
turas ,  e  (izerào  conhecer  a  lei  segundo  a  qual  dimi* 
nue  a  força  elástica  dos  gazes ,  em  consequência  da 
sua  dilatação  mechanica. 

MM.  Wingrode  e  J.  Farey  publicarão  no  Ptuloso- 
phical  Magazine  hiim  trabalho  sobre  o  aperfeiçoa- 
mento das  estradas,. e  das  rodas  dos  carros. 

M.  Th.  Tregold  publicou  no  mesmo  Periódico  huma 
Memoria  sobre  a  natureza  e  as  leis  da  fricção  nas 
machinas,  porém  não  cita  experiências,   e  por  isso 


<j4  Noticias  Jãs  Scténcuis, 

'  nào  he  Sacil  ajoisar  de  huma  maneira  decisiva  òm 
mereoimento  de  moitas  das  ideias  essenciaes  que  estr 
autor  offerece  sobre  os  meios  de  conseguir  a  menor 
fricção  possível. 

As  experiências  curiosas  e  úteis  que  M.  Rennie  pu- 
blicou o  anno  passado  sobre  a  resistência  dos  materiaes 
empregados  na  construcçào  recebérãa  novos  addita- 
mentos.  M.  Dunlop  pubKcou  no  tonKl  XIII  dos  Aimaís 
tfPhilosophjr  a  pag.  aoo ,  hum  trabalho  so^bfe  ò  làesmo 
assumpto ,  e  cujo  objecto  ke  cotihecér  o  graõ  de  re* 
sistencia  que  oflerecem  certas  peças  de  ferro  fundido  , 
de  que  de  ordinário  se  usa  nos  moinhos ,  e  qual  he 
a  proporção  entre  esta  resistência  e  o  diâmetro  das 
peças.  Dispoz  ós  resultados  das  suas  experiências  ena 
forma  de.  mappa ,  por  meio  do  qual  e  de  huma  for- 
mula mui  simples  >  he  fácil  deduzir  esta  proporção. 

M.  J.  Hnnter  inventou  e  descreveo  no  Jornal  Philo' 
soplúcp  de  Edimburgo ,  tomo  I ,  pag.  Sg  huma  bomba 
mui  singular,  que  trabalha  espontaneamente.  Por  meio 
d*ella  a  agua  pode  ser  elevada  acima  do  seu  reser* 
vatorio  primitivo  pela  queda  de  huma  porção  da  mes^ 
ma  agua. 

M.  Roussell-Galle  propoz-se ,  nas  investigações  sobre 
os  efieitos  dynamicos  das  rodas  movidas  pelo  impulso 
da  agua ,  que  inserio  no  tomo  IV  dos  Afindtes  des 
Mines  y  pag.  44^  >  examinar  as  diversas  tbeorias  ima- 
ginadas qar£^  explicar  os  eíleitos  observados.  Resulta 


das  Arie9,  etc.  rS 

do  sen  trabalho  que  a  hypothese  de  Bossut  he  a  qae  se. 
approxima  mais  da  verdade ,  a  ponto  que  muitas  da^ 
formulas  d'ella  deduzidas  concordào  bastante  com  o 
que  na  piactica  se  observa ,  quando  as  outras  theo* 
rias  conduzem  a  eiTos  graves.  O  principio  de  Bossut» 
apoiado  em  experiências ,  be  que  o  impulso  do  fluido 
dirigido  perpendicularmente  sobre  as  pennashe  pro- 
porcional ao  quadrado  da  velocidade  ao  qual  eUe  hef 
devido ,  e  á  superfície  que  recebe  o  choque. 

METEOROLOGIA. 

M.  Castellani  publicou  na  BibUcahè<iue  UimerseUe 
huma  interessante  Memoria  sobre  observações  meteo- 
rológicas feitas  em  Turim  durante  o  anno  de  1818 , 
no  qual  propõe  modificações  que  parecem  importantes 
sobre  a  maneira  de  fazer  as  observações ,  e  insiste 
fortemente  na  necessidade  de  se  entenderem  todos  òs 
observadores  sobre  a  identidade  dos  instrumentos  ,  e 
de  tudo  o  que  diz  respeito  ao  methodo  de  observar, 
devendo  notar  com  todo  o  cuidado  as  circumstancias 
particulares  e  locaes,  que  muitas  vezes  tem  humtf 
notável  influencia  sobre  muitos  dos  phenomenos. 

Das  diSerentes  series  de  observações  dos  phenome- 
nos atmosphericos ,  a  mais  completta  parece  ser  a 
que  continua  o  coronel  Beaufoj  em  Bushey-Heath  / 
perto  de  Stanmore,  e  na  qual  faz  entrar  igualmente 
observações  astronómicas  mui  interessantes ,  qual  he 
a  dos  eclipses  dos  satellitet  de.  Júpiter.  M.  Howard 
faz  junto  a  Londres  buma  serie  semelhante  de  obsar-r. 


-^  X<aicias  das  ScUTicias^ 

vações ,  e  tanto  elle  com  o  coronel  Beaufoy  publicão 

os  seus  resaltados  nos  Annals  of  PMlasophy, 

M.  Bouvard  continua  a  publicar  no  Journal  de  Phj- 
sigue  e  nos  Annales  de  Chinúe  d  de  Pl^sique  de  Paiis 
a  individuação  das  numerosas  observações  meteoix)- 
logicas  que  elle  continua  a  fazer  com  todas  as  pre- 
cauções necessárias  no  Observatório  de  Paiis. 

A  Biblioihèçue  UnU^erseUe  ,  publicada  em  Genebra , 
recolhe  com  muito  cuidado  todas  as  observações  me- 
teorológicas feitas  em  Genebra,  no  monte  São  Ber- 
nardo e  nas  diversas  pailes  da  Europa. 

Também  se  encontrarão  excellentes  materiaes  em 
hum  artigo  da  Viajem  de  Clarke,  no  appendix  do 
tomo  V,  que  encerra  os  resultados  de  observações  do 
barómetro ,  do  tbermometro  e  da  agulha  magnética  ^ 
feitas  no  decurso  de  92  annos  em  Drontheim  na  Nor- 
uega ,  desde  i';6a  até  x^fi'^* 

Em  fim,  as  differentes  coUecções  scientificas  pu- 
blicadas em  AUemanha  por  M.  Gilbert,  por  TA, 
Schweiger ,  pelos  Amigos  da  Natureza  de  Berlim  ,  epi 
Hollanda ,  em  Moscow ,  em  Munich ,  em  Inglaterra , 
na  America  Septentrional ,  dão  mensalmente  o  re- 
sumo das  observações  meteorológicas. 

li  falíamos  com  o  devido  louvor  das  observações 
meteorológicas  que  em  Lisboa  começou  a  fazer  e 
proscgue  com  o  maior  desvelo  e  com  a  mais  cuida- 
doit  atlençào ,  o  nosso  amigo  e  cori-espondente  o  Sn^ 


-das  'Aries  ,  ctc.  ^^ 

Marino  Miguel  Franzini,  que  proínetteo  communi- 
car-nos  regularmente  o  resumo  delias  todos  os  tri>- 
mestres.  Lamentamos  não  podermos  publicar  neste 
tomo  o  trimestre  que  sabemqs  ter-nos  )á  sido  remet- 
tijdo  pelo  Snc.  Franzini ,  mas  que  ainda  nos  não  veio 
á  mão. 

jáeroUthes. 

Pouco  temos  que  ajuntar  ao  que  nos  tomos  prece- 
dentes temos  ditto  a  respeito  dos   aerolithes.        «^ 

* 

Neste  anno  se  propuzerão  duas  novas  hypotheses 
5obre  a  formação  doestas  singulares  pedras  conhecidas 
desde  a  mais  remota  antiguidade.  Huma  d*ellas  suppôe 
que  o  gaz  hydrogeneo  pela  sua  propriedade  dissol- 
vente se  apodera  dos  principios  que  as  constituem ,  na 
superfície  da  terra ,  e  os  leva  ás  regiões  elevadas  da 
atmosphera,  onde  duas  nuvens  caiTegadag  doestas  sub- 
stancias em  dissolução  e  dotadas  de  electricidades 
oppostas }  produzem  liuma  detonação  e  huma  pie- 
cipitaçào  subsequente  das  moléculas  minéraes  :  esta 
theoria  he  a  que  M.  Murray  propoz  no  Philosoplúcal 
Magazine ,  tomo  LIV ,  pag.  39.  A  outra  bypothese , 
tem  analogia  com  esta,  esódiíTere  d'ella  emattribiiir 
ao  calórico  e  ao  ar  o  que  M.  Murray  suppôe  do  hy- 
drogeneo. Nenhum  doestes  systemas  se  estriba  em  pro- 
vais sufficientes  para  dever  ser  admittido»  e  outro 
tanto  se  pode  dizer  de  quantos  até  ao  dia  da  hoje  se 
tem  proposto.  O  primeiro  foi  fortemente  combatido 
por  M.  Atkinson  po  tomo  LIV  pag.  336  do  mesmo 


^8  N^oíiciás  ãas  Scitncias  , 

Philosophical  Magazine]  e  em  quanto  ao  que  foi  pro- 
posto por  M.  Rejnolds  no  American  Journal  of  Scien- 
ces f  tomo  I  pag.  "!i6ô  y  parte  das  objecções  feitas  ao  de^ 
M.  Murray  igualmente  lhe  são  applicaveis. 

Poeira  Atmospherica. 

He  talvez  M.  Raffinesque  o  primeiro  que  se  occupou 
em  examinar  a  natureza  d*aquella  poeira  de  que  toda 
a  atmosphera  parece  cheia ,  e  que  se  vé  gyrar  em  todos 
os  ^entidoa  quando  hum  raio  do  sol  entra  em  huma 
camará  que  tem  pouca  luz.  Este  sabio  cré  que  ella 
não  pode  ser  devida ,  como  se  julfa  de  ordinário ,  á 
destruição  dos  moveis ,  do  fato  oa  de  quaesquér  ou* 
tros  corpos  existentes  na  superficie  da  terra ,  vtsto 
té-Ia  achado  no  cimo  dos  mais  altas  montanhas  dâ 
Sicilia  j  nos  Alpes ,  e  até  no  meiu  do  Oceano.  Pensa 
que  esta  poeira  se  forma  chymicamente  na  atmosphera 
pela  combinação  das  partes  gazosas  que  nella  se  achão 
dissolvidas,  e  que  he  hum  composto  térreo  no  qual 
a  aluminia  predomina.  Avalia  a  accumulação  doesta 
poeira «  em  hum  quarto  fechado  ,  estando  o  ar  sereno , 
a  hum  quarto  de  pollegada  até  huma  pollegada ,  no 
decurso  do  anno ;  o  que  pela  pressão  se>  reduz  a  hum 
sexto  de  pollegada.  Nos  lugares  descobertos  a  varia^ 
ção  he  maior ,  mas  calcula-a  de  6  a  i^  poUegadas 
no  decurso  de  loo  annos.  De  sorte  que  M.  Raffinesque 
vé  nesta  espécie  de  meteoro  chronico  (  he  a  expressão 
de  que  elle  se^serve)  huma  causa  das  mudanças  que 
se  operào  na  superficie  da  terra  ,e  que  por  conseguinte 
he  digaa  da  attençào  dos  geólogos. 


das  Artes ,  eíe. 


79 


Das  Chtvas  ou  da  Ombrometria, 

Como  esta  espécie  de  observações  parece  mais  faeil 
de  fazer,  acha-se  comprehendida  em  quasi  todas  as 
series  de  observações  meteorológicas.  Aqui  só  daremos 
alguns  dos  principaes  resultados. 


Lugqres.    |  Latàude* 


Bombaim 

* 

Palermo 


Gosport 

Bushejr-Heath 

Tottenham 

Genebiti 

Cork 

Turim 

Parts 


1 8056' 4o' 

38.  6.44 


5o.  ij.  88 
5i.  3^.43 

46.  13.  o 
5i.  53.54 
43.   4*  o 

48.5o.  i4 


Afmas. 

Quantidi^* 

i8o3 

90  polleg.  inglezas. 

1804    . 

ii5  do. 

Resultado  de 

29  do« ,  94  máximo  | 

ia   annos   de 

e  io,ai8  mínimo. 

obsenração. 

1818 

279940  d^. 

id. 

2i,4o5  d*. 

id. 

a5,9o5  d^. 

id. 

ai/*-  3'-  ^frmwe*éUL 

id. 
id. 

38,03^  poli.  ingfezas. 
i3,i8   dec.^  CDUva, 

neve  e  saraiva. 

id. 

6Sig  1 9  cent  no  puteo 

e  61,5^4  sobre   a 

plataforma. 

Devemos,  ajuntar  que  a  forma  do  ombrometro  on 
instrumento  próprio  para  medir  a  quantidade  de  chuva 
que  cabe  em  hum  espaço  determiqado ,  dá  ainda  lugap 
a  alguma  discussão  entre  os  observadores.  M.  Meikle , 
nos  jánpals  of  Philosophy  ^  tomo  XIV,  pag.  Sis,  nào 
admitte  com  M.  Flaugergues  que  a  differença  entre 
a  quantidade  de  chuva  que  se  recolhe  no  cimo  ou  na 
base  de  hum  observatório ,  be  devida  ao  vento  que 
lhe  muda  a  direcção.  M.  Tardy  de  la  Brosse  repete 
no  tomo  X »  paf.  9a  da  BijbUotJwque  Umverselle  a  des  * 


8t>  Noticias  .das  .Sciencias , 

cripção  de  hum  instrumento  doesta  natureza  que  elle 
propoz  ha  já  anhos',  e  cuja  execução  e  uso  parecem 
ser  igualmente  fáceis. 

ffjrgrometria^ 

As  mais  interessantes  observações  hygrometricas 
são  as  que  M.^Pictet  publicou  no  tomoXpag.  a6o  da 
Bibliothpgue  UnwerseUe  j  debaixo  do  titulo  de  Resumo 
das  observações  hygrometric^is  feitas  todos  os  dias  ao 
na!iòer''do  soly  e  ás  3  horas  depois  do  meio  dia  y  em 
Grenebra  e  no  hospicio  do  Grande  São  Bernardo ,  no 
decurso  dos' três  últimos  mezes  de  1817  e  no  anno 
de  1818.  Os  resultados  principaes  são  os  seguintes: 
•  aornascer  do  sol  o  ar  está  notavelmente  mais  secco 
no'«éu  strato  àuperior  que  no  inferior,  e  isto  com 
huma  diQerença  media  de  11^  \  mas  no  meio  do  dia 
esta  diíTerença  he  muito  menor,  pois  que  entre  Genebra 
e  a  montanha  do  São  Bernardo  a  difierença  media 
he  só  de  4  grãos ;  a  extensão  da  oscillação  hygrome- 
trica  desde  a  manhan  até  depois  do  meio  dia  he 
muitp  maior  nos  mezes  de  verão  que  nos  do  inverno 
em  ambos  os  sítios,  mais  a  sua  quantidade  absoluta 
he  muito  maior  em^Genebra  ;  finalmente  hum  máximo 
de  seccura ,  qual  ainda  não  fora  observado ,  e  que 
aconteceo  a  a3  de  Março  desde  o  nascer  do  sol  até 
ás  duas  hoi^as  depois  do  meio  dia  ,  e  durante  o  qual 
o  hygrometro  cursou  de  58^  a  38^,  e  que  coincidio 
com  huma  elevação  quasi  súbita  de  16°  de  tempera- 
tura ,  faz  concluir  a  M.  Pictet,  que ,  entre  .as  modiíica-^ 


áas  Artes  j  etc^  $i 

çôeà  ihals  ou  ménoâ  variáveis  daatmospheray  exísteiii 
algumas  cujas  causas  ainda  desconhecidas  percorn^m 
ao  mesmo  tempo  huma  região  ^  ou  se  manifestiQ  .si- 
multânea e  spontaneamente  na  massa  de  ar  solM*e- 
posta» 

À  maior  parte  dos  observadores  servem-ise  do  íiy- 
grometro  de  cabello  inventado  por  Saussure ,  e  aper- 
feiçoado por  alguns  artistas  de  Genebra.  Posto  que 
este  instrumento  ,  executado  por  mãois  babeis  ^  pãl*ece 
jpreehcher  perfeitamente  o  objecto  desejado ,  coihtitdo 
M.  AI.  Adie  y  que  ha  atihd^  anda  ém  busca  de  humà 
.Substancia  qiie  seja  áo  mèsmò  tempo  tlais  sensiVél 
que  o  cabello  y  t  cuja  extensão  de  grao^  de  contracção 
entre  a  éxtrertia  seccura  é  a  extrema  humidade  seja 
i^al,  julga  tê-lá  achado  Ha  membrana  intetna  da 
plana  conhecida  pelo  nome  dé  Arando  pfiragnutélt. 
Porma  délla  huma  pequena  bolsa ,  qúe  enche  de  mei^ 
burio  j  a  qUàl  pode  subir  por  hum  du  dois  orificios 
jpraticados  ao  longo  de  hiim  tubo  dé  thermomeitò 
graduado  ,  qué  atravessa  a  bolsa  ou  bexiga  éni  tbdo 
o  seu  comprimento  ,  para  augmeritar  a  solidei  do  ins- 
trumento; a  contracção  ou  a  dilatação  bygrometríca 
faz  subir  ou  descer  o  mercúrio  no  tubo,  e  mostra 
assim  o  grão  de  seccura  ou  de  humidade  sobre  huma 
escala  coílocadà  ao  lado  do  tubo. 

Este  hygromctro  de  M.  Adie  tem  muita  semelhança 
com  o  que  M;  Wilson  tinha  ideado ,  e  de  que  falía- 
mos na  nossa  analjse  dos  descobrimentos  de  18179 
e  em  cuja  construcçãd  elle  emprega  linma  bexiga  de 
Tom.  X  P.  %r  6  B 


83  Notícias  iias  Sciencias  j 

hlto ;  TK>réai  outro  instramento  doesta  natureza  inven- 
tado por  M.  Liviogstón,  medico  iqglez  em  Cantão^ 
fae  fundado  em  oatro  principio ,  e  tem  a  ser ,  sobre 
a  propriedade  <pie  tem  o  acido  sulpburico  de  seguir 
huma   marcha  uniforme  em  todos  os  seus  gnios  de 
saturação.  Para  construir  este  hygrometro  basta  pôr 
sobre  hum  dos  pratos  de  huma  balança  exacta  bum 
ilisco  de  porcelana,  no  qual  se   deitào   ai    grãos  de 
^do  sulpburico  a  I9845,  e  89  grammas  de  agua  dis^ 
filiada  :  exposto  ao  maior  grão  de  humidade  artificial 
achou-se  que  tinha  ganhado  5o  grammas  em  a4  horas  ; 
pondo-se  então  este  vaso  ao  lado  de  outro  de  platina 
cheio  de   acido  sulphuiico  concentrado   debaixo  do 
recipiente  do  apparelho  pneumático  de  M.  Leslie  para 
fazer  gelo,  achou-se  que,  passada  huma  noite ,  o  peso 
total  estava  reduzido    a  5o  grãos.    Meio    grão  bast»^ 
para  que  a  borda  da  bacia  descreva  hum  arco  de  huma 
pollegada  acima  e  abaixo  do  nivel.  Cada  hum  d'estcs 
espaços  he  dividido  em   dez  partes  iguaes,  ou  cada 
grão  em  10  partes ;  o  que ,  multiplicado  por  5o  grãos 
dá  huma  escala  de  1000. 

Erupções  f^olcanicas* 

O  celebre  volcão  do  Etna  que  desde  181 1  tinha 
estado  perfeitamente  tranquillo,  teve  huma  erupção 
em  1819  na  noite  de  a^  a  aS  de  Maio  pela  1  hora  da 
manhati.  O  estado  meteorológico  d' este  mez  nào  tinha 
offerecido  cousa  alguma  extraordinária ;  no  dia  27 
ventou  rijo  de   oeste  j  antes  da  meia  noite  sentirão- 


das  Aftes  ,  etc.  83 

SC  alguns  abolós  em  Niccòlsi,  ^  daas  hardi  depoiâ 
rompeo  a  erupção  por  tx-ès  boírcàs ,  qae  àe  àbrtrâo  àò 
mesmo  tempo  a  perto  de  i5o  toesas  abaixo  do  cimo , 
e  depois  por  huma  quarta  bocca  que  se  abrio  na 
mesma  noite  na  parte  superior  do  vai  do  Tri/bglietto 
ou  dcl  Bue.  Nada  ofTereceo  esta  erupção  de  notável* 
A  lava  do  Etna  parece  ser  menos  liquida  e  tenac  que 
a  do  Vesúvio.  M.  Moricand  ,  que  observou  esta  erup-* 
çào  f  diz  que  o  nome  de  chammas  que  se  dá  aos  globos 
de  fogo  ou  fumo  que  se  levanlào  do  crater  dos  vol- 
caos  li6  impróprio ,  pois  qae  este  phenomeno  não  tem 
relação  alguma  com  a  chauima  produtida  pdla  <}9m« 
bustào  de  qualquer  gaz  flammiferot 

Hum  volcáo  notável  pela  sua  pequenhez^  que  he 
de  7  pés  de  alto,  49  ^^  circumferencia  total ,  e  9  pés 
e  a  poUegadas  a  do  crater,  foi  descoberto  em  iBi8 
nos  estados  do  príncipe  Jorge,  na  vizinhança  do  indian 
lUi^er^  íreguezia  de  São  João. 

Huma  nova  ilha  volcanica  se  lévantom  ne  Archipelago 
aleutio,  a  pouca  distancia  de  Unalaschka ,  no  alino  Ò4 
i8i4,  no  meio  de  huma  tormenta  acompanhada  dè 
chammas  e  de  tremores  de  terra.  Alguns  Russos  qué 
forão  ao  sitio  no  primeiro  de  Junho ,  depois  de  o  mar 
se  ter  acalmado,  acharão  a  ilha  cheia  de  fendail  ê 
pi^cipiciôs ;  só  a  superfície,  ém  altura  de  alguns  me<- 
troa, tinha  esfriado;  não  se  achou  tiella  o  menor  Ves* 
tígio  de  agua ;  os  vapores  que  delia  se  levantavão  nad(( 
tinhão  que  oíTendessc  ,  e  já  os  phocas  se  tinhào  apos* 
sado  delia  em  i8i5.  Neste   anno  já  tinha  diminuide 

6  * 


84  Noticias  das  Sciencias  ^ 

de  altura ;  o  seu  comprimento  era  de  peito  de  duas 

milhas»  Deo-sé-lLe  o  nome  de  Boguslaw^ 

Terremotos. 

À  ga%éta  de  Pekin  de  a  de  Maio  de  tSi";,  dá  a  rela^ 
çâo  de  hum  terremoto  acontecido  no  mez  antecedente, 
em  Chang-Ruh  nos  confins  da  província  de  Szeehuen, 
da  frotileira  occidental  da  China.  Mais  de  ti*e2e  mil 
casas  forão  denibadas ,  e  mais  de  2,800  mortas. 

• 

No  anno  de  1818 ,  M.  Agatioo  Longo  publicou  huma 
"^  ipteressante  Memoria  sobre  o  ten*emoto  que  devastou 
a  Sicilia  a  20  de  Fevereiro  do  mesmo  anno.  No  ultimo 
dia  de  Maio  de  1818,  hum  violento  terremoto  destruio 
grande  parte  dos  principaes  monumentos  da  cidade 
de   México.  A  a  de  Outubro  do  mesmo  anno,  pela 
hora  e  meia  depois  do  meio  dia  sentio*se  outro  mui 
violento  em  Brutenzorg,  perto  de  Batavia,  mas  irào 
causou  outro  accidente  senão  a  destruição  de  algumas 
casas.  No  mesmo  mez  a  Islândia  experiípenlou  outro 
tremor  y  que  parece  ter  sido  ainda  m.ais  violento,  aco«7i- 
panhado  de  terrivel  ruido  subteiraneo ,  ao  qual  se  se- 
guio  huma  erupção  do  monte  Hecla.  A  11  do  mesmo 
mez  ^entio-se  outro  violento  em  Quebec  no  Canadá; 
e  a  3i  a  cidade  de  Dalton  no  Condado  de  Lancaster 
lambem  experimentou  hum  abalo  de  terremoto.  Houve 
outro  violento  em  Inverness  na  Escócia,  e  a  alguma 
distancia  da  cidade,  ao  minutos  depois  da  meia  noite 
a  ao  de    Novembro.   Neste  mesmo   dia    houve  hum 
terremoto  no  Cabo  Henrique  na  ilha  de  S»  Domingos  , 


das  Artes  ,  ete,  85 

em  qae  morrêrâo  algumas  pessoas. 'A  «7  de  Dezembra 
houve  hum  abalo  de  tremor  em  Bangor ,  que  fòi  mais 
sensível  na  vizinhança  de  Penter.  Finalmente  ^  a  ro  de 
Dezembro  de  181 8  a  cidade  de  Reggio,  no  Ducado  de 
Modena ,  experimentou  hum  terremoto  pelas  i  o  horas 
da  noite « 

No  anno  de  1819  parecem  ter  sido  mais  frequentes 
os  terremotos.  Hum  dos  mais  violentos  fòi  o  que  se 
sentio  por  toda  a  costa  de  Génova  na  direcção  do  porto 
de  S.  Maurício  a  S.  Romi  a  8  de  Janeiro.  A  ^4  e  a5  de 
Janeiro  sentlião-se  em  Setúbal  alguns  abalos.  Na  noite 
de  29  do  mesmo  mez ,  diversos  edifícios  velhos  forão 
den^ibados  em  Tefflis  na  Geórgia  ,  por  eflíeito  de  hum 
terremoto  que  foi  precedido  de  buma  tempestade»  e  de 
ruido  subtenaneo  que  se  tornou  mui  violento  pelas  10 
hof as.  Outro  aconteceo  em  Ballenloan  ou  Gtenbyon , 
a  1 1  de  Abril  pelas  5  horas  da  tarde ,  e  foi  seguido 
im mediatamente  de  hum  furacão  terrivel,  e  de  muita 
neve.  Roma,  Frascati,  Alba  e  as  vizinhanças  expen* 
mentárào  hum  tremor  na  direcção  do  S.-E.  ao  N.-O. 
a  a6  do  mesmo  mez ;  houve  três  abalos  a  8  de  Abril 
em  Temiswar  na  Hungria,  e  outro  mui  ligeiro  em 
Landsbut ,  e  em  Augsburg  a  10  do  mesmo  mez.  A  3, 
4  9  e  1 1  de  Abríl  a  cidade  de  Copálípo ,  no  Chili ,  sentio 
hum  violento  tremor  de  terra.  Houve  em  Cometo  a  a6 
de  Maio ,  hum  abalo  violento  que  causou  bastante 
damno.  Sentio*se  outro  na  ilha  da  Trindade  a  ia  de 
Agosto y  pelas  duas  horas  depois  do  meio  dia,  e  foi 
acompanhado  de  hum  grande  vento ,  e  ruido*  A  i5  da 


\ 


8G  Noticias  das  Scíencias  , 

ijieimo  vàtz  houve  bum  terremoto  em  5.  André »  ad* 
4eiacla  bai^o  Çana^c}^ ,  no  quad  se  sentio  huma  expio* 
S9A>  Qomo.a  de  buma  peça  d^  avlilberia*  A  4  de  Se- 
ptç^Upro^ »  p^Us  9  boras  da  tarde  seqtio-^e  em  Corfá 
\^iç^  Ui^mo^r  violf^pipi  que  causou  danmo  considerável 
a  alguns  edificios ;  o  ar  estava  sereno  e  os  habitaotcis 
julgarão  que  poderia  ter  relação  com  alguma  erupção 
4o£toao9  do  Vesúvio.  A  aldeia  de,  Comríe^  Condado 
4ei  P^rtb  >  na  Escócia »  não  tinba  sentido  bavia  1  o 
ly^QQ^  hum  tremor  igu4  ^o  que  experimentou  a  a8  de 
I^ovembro;  os  cboques  duráirãQ  10  ^e^undos^com  ex* 
jp|osôes  subterran^a&,  e  se  communicárão  na  distancia 
4e  algumas  roilbás  da  aldeia,  na  direcção  do  N^-O^ 
2^0  $.-E.  Mas  o  mais  desastroso  de  todos  os  terremotos 
4^  181 Q  que  teDbão  vindo  ao  nosso  conhecimento  ^ 
be.  o  de  que  dá  conta  a  g;azeta  de  Qombaim  de  7  de 
Julho.  Fez-se  sentir  a  16  de  Junho,  pelas  8  horas,  da 
tardei  9  e  destruio  as  cidades  e  aldeias  de  toda  o  dis- 
tricto  de  Kutcb ;  mais  de  t^^Qo  pessoas  morrerão;  as 
commoçòes  não  cessarão  por  espaço  de  três  dias.  Parece 
ter  sido  causado  pela  erupção  de  hum  volcão  de  buoia 
montanha  a  20  milhas  de  Bhooj. 

Kentos  ,  Furacões ,  etc» 

M.  Mathieu  Dombasle  propoz  huma  nova  theoria 
sobre  a  causa  do  vento  que  se  seqte  alguns  instantes 
aptes  de  huma  trovoada  ,  por  lhe  ter  parecido  pouco 
conforme  aos  factos  a  theoria  que  attribue  e^te  vento , 
muitas  vezes  impetuoso ,  ao  vácuo  produzido  pela 
condensação  do  vapor  aquoso.  Fundando-se  na  obser- 


*  das  Artes,  etCé  97 

vaçãOy  que  a  agua  na  soa  queda  leva  comsigokama 
quantidade  considerável  do  ar  que  encontra,  coma 
acontece  nas  trompas  dos  fornos  de  foiia,  julga  qnf 
as  tormentas  com  grandes  aguaceiros  são  devidas  a 
formarem-se  debaixo  das  nuvens  d'onde  cabe  a  chuva 
|[rossa  ,  duas  correntes  mui  distinctas,  biima  égffbêentff^ 
ç  a  outra  qffbAente^  em  raios  convergentes  ,  que  se  fas 
sentir  por  detraz  d*ella. 

Em  quanto  á  direcção  e  frequência  das  correntes  de 
ar  ou  dos  ventos  locaes ,  podem  consultai^se  as  obser* 
vaçôes  de  M.  Caleb  Atwater  sobre  as  coixentes  que 
occorrem  no  Estado  do  Ohio  e  nas  regiões  occiden- 
taes  da  America  septentríonal.  Estas  coiTcntes  sãoi 
três  em  numero ;  a  primeira  leva  o  que  sabe  de  mais 
quente  e  bumido  do  golfo  do  México,  e  sobe  o  Mis* 
sissipi  y  e  os  seus  grandes  braços  até  ao  nascente ;  a  s&* 
gunda  vem  do  revez  das  montanbas  do  oeste  ^  desce 
o  Missuri  até  á  sua  emboccadura ,  e  espalba-se  por 
liuma  grande  parte  do  paiz ;  cm  (im  a  terceira ,  que  se 
extende  desde  os  grandes  lagos  norte  e  nor-oeste  ao 
sul  do  lago  Mihigan  e  do  Lago  Erié,  d'onde  vai  es« 
praiar-se  sobre  toda  a  região  que  fica  ao  sul. 

Peso  do  ar,  ou  Baremetria. 

Já  falíamos  do  mappa  comparativo  de  M.  Pictet  sobre 
as  variações  barometiícas  observadas  no  &m  de  1817  y 
e  no  decurso  de  1818  em  Genebra  e  no  monte  São 
Gotbardy  das  quaes  resulta  que  o  peso  da  columna 
do  ar  bc  maior  no  inverno  que  no  verão ,  entre  «jS^ 


88  Noticias  das  Sciencias , 

c  38®, de  dia  que  de  noite.  Em  geral ,  o  barómetro , 
ém  Genebra ,  desce  desde  pela  manhan  até  ao  meio 
dia,  e  sobe  pelo  contrario  no  São  Bernardo;  adifie-^ 
i^nça  entre  os  máximos  segue  a  mesma  marcha  que  a 
das  alturas  medias ,  ou  he  maior  nas  estações  frias  que 
na$  quentes.  A  media  annual,  em  Genebra, he  de  7,74  » 
e  7,1 4  no  monte  S.  Gothard,  a  pe^ar  da  grande 
difierença  de  elevação. 

Posto  que  o  barómetro  de  mercúrio  tenha  chegado  a 
hum  grão  notável  de  aperfeiçoamento ,  pçlo  emprego 
que  delle  se  faz  frequentemente  para  medir  alturas, 
Mt .  Adie ,  com  o  fim  de  medir  as  mais  pequenas  va- 
riações no  peso  do  ar,  as  quaes  se  podem  suppôr  cau- 
sadas pçla  acção  do  sol  e  da  lua ,  procurou  medir  a 
pressão  da  atmosphera  pelos  efièitos  que  ella  produz 
cobre  huma  cplumna  de  gaz  difierente  do  ar  atmosphe- 
rico  ;  de  sorte  que  o  instrumento  qpe  elle  ideou  e  que 
chama  sjmpicsometro ,  he  composto  de  gaz  hydrogeneo 
ç  de  hum  óleo,  con^o  óleo  de  amêndoas  colorido  com 
a  raiz  de  (inchusa^  tudo  mettido  em  huro  tubo  de 
vidro  de  \8  pollegadas  ^nglezas  de  comprido  sobre  0,7 
de  diâmetro ,  terminado  superiormente  por  huma  dila- 
tação do  tubo  de  duas  pollegadas  de  comprido  e  meia 
de  diâmetro,  e  inferiormente  por  hum  globo^inho 
curvo  e  aberto  no  cimo.  Parece  que  este  instrumento 
he  mui  vantajoso  e  pode  supprir  o  barometi^o  náutico , 
porém  he  talvez  demasiadamente  sensivel  em  certas 
circumstancia^.  Por  isso ,  nos  cassos  ordinários  pode 
ser  que  baste  ,  para  conhecer  variações  ligeiras  no  peso 


das  Artes  ete.  9^ 

da  colamna  atmospherica  ,  empregar  o  processo  indi^ 
cado  por  M.  Dombasle ,  que  consiste  eúi  inclinar  a 
Ibarometro  de  mercúrio. 

Do  Calor* 

Do  resumo  que  M.  Pictet  publicou  das  observações 
tiíermometricas  que  forào  feitas  no  decurso  de  1818 
em  Genebra  e  no  monte  S.  Bernardo',  se  coUige  que 
no  strato  atmospherico  de  1000  toesas  que  separa  estes 
dois  pontos,  hum  grão  de  depressão  de  temperatura 
corresponde  com  bastante  precisão  a  100  toesas  de 
elevação.  Este  resultado  se  approxima  muito  do  que 
M.  SchoWy  botânico  dínamarquez,  obteve  no  monte 
Etna;  com  eSeito ,  pelas  observações  simultâneas  do 
thermometro  feitas  em  Niccolsi,  em  Gatania ,  e  na  sta- 
çào  chamada  a  Casa  ingleza  ,  sobre  o  monte  Etna , 
calcula  em  565,8  a  590  e  até  648  pés  inglezes  de 
elevação  cada  grão  que  o  thermometro  desce. 

Os  trabalhos  de  M.  J.  Davy  sobre  a  temperatura 
das  aguas  do  mar ,  publicados  o  anno  passado ,  tem 
sido  continuados  em  diílerentes  expedições  marítimas, 
e  entre  outras  na  que  os  Inglezes  mandarão  ao  polo 
do  norte.  M.  Abel  Clarke  publicou  hum  certo  numero 
4'cllas  y  na  sua  viajem  á  China  ,  as  quaes  forão  feitas 
no  Mar  Amarello ,  e  que  provão  diminuir  a  tempe- 
ratura á  medida  que  se  penetra  mais  na  agua;  isto 
se  acha  confirmado  pelo  experí  mento  do  capitão 
Wanhope,  o  qual,  a  alguns  grãos  do  equador,  achou 
3i<^  Fahr.  de  difièrença  entre  a  temperatura  da  agua 


4|o  NotícÍ€K  das  Sciencias  , 

FecolliÂda  a  looo  metros  d€  profundidade  e  a  da  super- 
ficie ,  sendo  a  d'9Std  '73<>  e  a  da  primeira  kx^.  Mm 
este  resultado  não  concorda  com  as  experiências  feítia 
pela  expedição  ingleza  ao  polo  do  norte.  Da  compa- 
ração que  fez  o  D' .  Marcet ,  nas  Transacções  Philoso- 
pliicas  para  181$), sobre  a  densidade  e  a  temperatura 
da  agua  do  mar »  resulta  que ,  no  Estreito  de  Davis 
e  na  Bahia  de  BaíBn »  as  aguas  do  mar  são  tanto  mais 
fiias  quanto  são  profundas ;  e  com  efieito  o  capitão 
Boss  reconheceo  que  cm  Soo,  600 ,  700 ,  8qo  e  100^ 
melros I  a  temperatura  desce  successivamente  de  35^ 
Fabr.  até  28»  4 ,  quando  a  Leste  do  Groenland,  e  em 

liatitudes  mais  elevadas  se  observa  o  contrario ,  isto  he, 
que  a  agua  tirada  em  grande  profundidade  pelo  te- 
nente Franklin ,  acbou-se  quasi  sempre  ser  4^  a  S<^ 
Fabr.  mais  quente  que  a  da  superfície.  Tudo  isto  pa- 
rece provar  que  ha  causas  locaes  doestas  modificações. 
M.  Murray ,  na  sua  viajem  de  Inglaterra  a  Itália  con- 
venceo-se  que  a  temperatura  da  agua  do  mar  augmenta 
na  proximidade  da  emboccadura  de  hum  rio  bum 
pouco  considerável;  por  exemplo,  a  10  milhas  perto 
da  do  Ombrone  ,  no  Mediterrâneo ,  achou  que  a  tcm-^ 
peratura  da  agua  que  no  mar  tinha  estado  constan-^ 
temente  a  7o«>  Fabr.  subio  a  71,52®. 

O  mesmo  sábio  fez,  no  Mont-Cenis,  algumas  ob- 
servações sobre  a  temperatura  da  neve  em  diflerentes 
alturas,  mas  não  são  bastantemente  numerosas  para 
d*ellas  se  poderem  tirar  conclusões. 

Se ,  a  pezar  da  anomalia  que  acabamos  de  citar , 


^^H 

^  .         1 

M                 ^^^ 

[\a«Uil.Hereol«. 

P  -^  - 

ik^nulmculehttin                            | 

li  ■" 

aepoií  salilrio 

Il^t 

iij  noite  de  ai  d« 

^^^^^ 

i  de  Fevereiro 

^^^K. 

if,  observuL-se                             i 

^^^^L. 

'>'oi'o  ignco  que 

^^^K. 

-wparaoS.O. 

^^^^L 

1'aiece  ilue  foi 

^^^^^^^^_~ 

y ,  Condado  de 

^^^^^^~^ 

MdeLowick. 

^^^^^^^^^ 

Ifpois  do  meio      ■— ^i^^J 

^^^^^^^^^  — 

iiro.vio-sehaHi    ^^^^U 

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!•- honia  e&padt  ^^^^^H 

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•bre  Bevwicky.^^^^^^H 

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cia  pertencer  ^^^^^H 

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SufiticrlíKií-^^^^^H 

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^  boriis  da             ^^H 

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"bservoa               ^^| 

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'Choruda             ^| 

m       -^ 

^Mnhir« .                H 

^H 

«Ital,  for-             ^H 

f 

,Q^  Noticias  das  Sciehcias  , 

«  He  certo  que  o  calor  augmeDla  nas  minas  do 
Ertgebirge  na  razão  da  profundidade.  Experiências 
feitas  com  cuidado  me  derão  +'ii<>,  8  centígrados  a 
huma  profundidade  de  ^oò  pés  ,  e  +  «j-^^,  5  na  profun* 
didade  de  900  pés.  Estes  plienomenos  são  constantes  1, 
e  não  dependem  da  influencia  accidental  da  ozydaçâo 
dos  metaes ;  porque  o  ar  he  tão  abundante  em  oxyge^ 
neo  no  ponto  em  que  a  temperatura  he  elevada  como 
Dasuperficie.  » 

Meteoros  luminosos» 

Sem  procurarmos  dar  aqui  a  explicação  dos  diffe- 
rentes  meteoros  que  se  observão  em  alturas  mais  od 
menos  consideráveis  da  nossa  atmosphera ,  he  certo 
que  nem  todos  são  da  mesma  natureza.  Ha  alguns  que 
de  ordinário  acompanhão  a  cahida  das  pedras  me- 
teóricas ;  tal  nos  parece  ter  sido  o  brilhante  meteoro , 
debaixo  da  forma  de  hum  globo  de  fogo  com  huma 
cauda  curta ,  que   appareceo  a  5  de  Maio  de  1819  ^ 
cousa  de  meia  hora  depois  do  meio  dia ,  em  Aber- 
deen  ,  a  36^  de   elevação;  dirigia-se  para  a  teira,   e 
dentro  de  5  minutos,  rompeo-se  com  huma  explosão 
tal,  que  espantou  os  animaes,  e  sahio  d*elle  huma 
massa  de  fumo  em  forma   de  nuvem ,  que    se   sus- 
teve  por  algum  tempo.  No  ultimo  dia   de  Outubro 
de  1818,  vio-se ,  pelas  10  horas  da  noite,  em  Bucha- 
rest,  outro  meteoro  da  mesma  forma,  que  se  alongou 
'  e  terminou  por  huma  luz  frouxa   que   desappareceo 
totalmente  no  cabo  de  a  minutos.  He  talvez  o  mesmo 
meteoro  que  foi  visto  no  mesmo  dia ;  pelas  8  horas  e 


díis  Artes  ,  etê^  ({3 

meia  da  tarde ,  nas  vizinhanças  do  Banho  de  Hercules » 
perto  de  Mehadia ,  no  Bannato.  Vio-se  igaalmeute  hum 
globo  de  fogo  do  qual  pouco  tempo  depois  sahtrào 
faiscas,  em  Juhnen  na  Dinamarca ,  na  noite  de  ai  de 
Dezembro  do  mesmo  anno.  A  a  oii  3  de  Fevereiro 
de  i8iQydas4  para  as  5  horas  da  tarde,  observou-sç 
na  vizinhança  de  Cantorbej  hum  meteoro  ígneo  que 
se  comparou  a  hum  foguete ,  dirigindo-se  para  o  S.*0. 
e  parallelamente  á  superfície  da  terra.  Parece  que  foi 
igualmente  visto  na  freguezia  de  Beckley ,  Condado  de 
Sdssex  em  Inglaterra.  A  5  de  Junho  ,  perto  de  Lowick  9 
na  vizinhança  de  Berwick ,  meia  hora  depois  do  meio 
dia  I  estando  o  tempo  perfeitamente  claro,  vio*se  hum 
globo  de  fogo,  que  tinha  a  apparencia  de  huma  espada 
Ígnea ,  que  parecia  dirigir-se  ao  norte  sobre  Berwick , 
a  pouca  distancia  da  terra.  Todos  estes  phenomeno^ 
parecem  ter  analogia  entre  si* 

y 

I 

Varias  auroras  boreaes ,  as  quaes  parecem  peitencer 
aos  phenomenos  do  magnetismo  terrestre ,  forào  vtstAs 
nos  fíns  do  anno  de  1818  ou  no  decurso  de  1B19. 
A3i  de  Outubro  de  1818  os  habitantes  de  Sunderland 
observarão  huma  mui  bella,  entre  as  7  e  8  horas  da 
tarde;  vírão  huma  nuvem  escura,  espessa,  da  qual 
sahiào  raios  de  huma  luz  brilhante  de  10^  de  com* 
prido  \  parece  ser  a  mesma  que  M;  Burney  observou 
em  Gosport  no  mesmo  dia ,  entre  as  1 1  horas  e  meia 
da  noite.  A  19  de  Fevereiro  de  1819,  pelas  8  horas  da 
tarde ,  appareceo  huma  magnifíca  no  Aberdeenshire , 
pelo  57^^  11'  lat.  norte  e  2<»3o'  long.  Occidental;  for- 


,  j  y odeias  ãas  Sciencias  , 

nia\a  quasi  bum  angulo  recto  coro  o  meridiano  ma- 
snr*tico .  e  a  3o^  acima  do  horisonte .  buma  zona 
biilbanle  de  còr  esverdinbada ,  com  cbammas  tintas 
de  còr  encarnada  alaranjada  e  roxa  ,  e  que  tinha 
quasi  i!io''  de  extensão.  Outro  pbenomeno  semelbante 
foi  também  observado  em  todo  o  norte  da  Inglaterra 
e  sul  da  Flscocia,  na  noite  de  17  de  Outubro  de  j8iq  ; 
depois  de  se  ter  conservado  hum  quarto  de  hora  ná 
disposição  ordinária  ,  a  zona  luminosa  se  diriglo  para 
o  norteiem  buma  po5Íção  inversa  da  primeira. 

Acha-sc  nos  Annals  of  Plulosophy  lomo  Xlll ,  pag. 
3o4 ,  a  observação  de  bum  duplo  aixío  iris ,  notável 
principalmente  por  estarem  as  cores  de  cada  arco  na 
mesma  ordem.  A.  este  respeito  cumpre  notar  que  o 
D»".  Walt ,  pouco  satisfeito  da  tbeoria  geralmente  re- 
cel)i(la  a  respeito  da  formação  dos  arcos  iris  propor 
outra  nova.  Julga  que ,  para  haver  Lum  arco  iris  he 
necessário  que  haja  entre  o  obsenador  e  o  sol  as 
bordas  de  buma  nuvem ,  que ,  occuhando  buma  parle 
d'aquelle  astro  y  faça  sobre  os  seus  raios  o  eíTeito  de 
bum  prisma. 

Magnetismo  tetràsCfe. 

Começào  a  multiplicar-se  as-  observações  sobre  o 
magnetismo.  O  coronel  Beaufoy  em  InglateiTa  ,  a  Junta 
das  Longitudes  em  Parts,  que  dispoz  no  Observatorío 
doesta  capital  hum  apparelljo  de  Fortin  para  eôte  gé- 
nero de  oI)sei  vaçôes ,  e  o  Marechal  Marmont,  na  sua 


Jas  Artes ,  etc,  g5 

t|uinta  de  Châtillon ,  fasem  espet*ar  que  daqui  a  algum 
tempo  possa  haver  liuma  serie  de  observações  com^ 
paráveis,  das  quaes  se  possão  deduzir  alguns  resultados 
iDais  coucludenCes  que  os   que   até  agora   possuimos. 
Talves  hum  dia  seja  possível  descobrir  a  causa  das 
oscillaçôes  diurilas  da  agulha  magnética,  que  parecem 
ser  extremamente  variáveis  ^e  descenderem  de  influxos 
meteorológicos ,  pelo  menos  segundo  o  que  o  capitão 
Ross  julga  ter  observado.  He  incontestável  que  a  au- 
rora  boreal   tem  grande   influencia   sobre   a  agulha 
magnética.  Por  huma  comparação  ((ue  M.  Beauíoy  fe« 
entre  as  suas  observações  nos  annos  de  1817  e  1818, 
vê  se  que  a  variação  diurna  crescera  desde  o  mez  do 
Abril  de  1817  ate  ao  mez  de  Janeiro  de  1819,  e  que 
diminuíra  no  mez  de  Fevereiro  seguinte ,  para  de  novo 
augmentar  em  Março »  de  sorte  que  elle  não  está  ainda 
certo  se  a   agulha   chegou  á  sua   maior  inclinação 
Occidental.  Tomando  a  media  das  observações  da  ma- 
nhan,  uo   decurso  de  1817  e  1818,  o  augmento  da 
decUnaçào  he  de  t^'   18''  *,  para  as  observações  da  tarde, 
acha*se  :»'  4^'  >   ^^  s^i^  4^^  ^  media  de  todas   he 
de  a'  aS". 

Segundo  algumas  observações  de  M.  Wlinglel ,  vé  se 
que  em  Copenhague  a  declinação ^  a  8  de  Septembro 
de  1817,  era  de  170,56,  e  a  inclinação  de  17^26.  Nq 
intervallo  de  i8<>6  a  1817  a  variação  total  diminuio , 
porém  teve  muitas  oscillaçôes.  Observou  que  a  varia* 
ção  Occidental  he  maior  no  mez  de  Septembro ;  a' 
roais  forte  variação  diurna  ,  que  excede  apenas  ao  mi- 


<)6  Noticias  das  Sciencms^ 

I 

nulos  nas  circumstaocias  ordinàiias »  chega   ao  seu 
máximo  pela  n  horas  depois  do  meio  dia< 

Porém  o  que  deo  principalmente  hum  gi*andé  im- 
pulso ás  ohservações    magnéticas ,  foi  a    publicação 
em  Inglaterra  das  que  os  capitães  da  expedição  in- 
gleza  mandada  ao  polo  do  norte  fizerào  cum  instl-u- 
mentos  de  huma  grande  perfeição,  em  latitudes  ftiui 
elevadas «  e  cujo  objecto  principal  foi  ver  se  era  pos- 
sível descobrir  hum   processo  seguro |  por  meio  do 
qual  os  navegantes,  reduzidos  em  certas  Gircumstanciasr 
á  bússola ,  podessem  determinar  a  sua  verdadeira  de- 
clinação. M.  Wales^que  fez  parte  da  primeira  expe* 
dição  de  Cook  ,  foi  quem  primeiro  notou  que  a  bofdo 
dos  navios  a  agulha  experimentava  variações  que  não 
tinhão  relação  algumit  com  as  qqe  procedem  da  de- 
clinação ;  porém  foi  o  capitão  Flinders  que  descobrio 
a  causa  d*estas  variações,  e  fez  ver  que  procíedião  das 
massas   mais   ou   menos  consideráveis  de   feiTo  que 
existem  nas  embarcações.  Tentou  estabelecer  algumas 
regras  para  avaliar  estas  variações,  mas  parece  que 
não  se  tem  achado  applicaveis  a  todos  os  casos.   O 
capitão    Sabine  publicou  ,  nas  Transacções   Philoso- 
phicas  para  i8 19,  observações   sobre  este  assumpto 
feitas  na  sua  expedição  ao  polo  do  norte ;  e  o  capitão 
Ross  publicou  as  suas  no  appendix  da  viajem  publi- 
cada por  ordem    do   almirantado  inglez,  e    ajuntou 
hum  meio  empírico  para  achar  a  verdadeira  inchna- 
ção  a  bordo  de  hum  navio.    Com   effeito  facilmente 
se  vê  que  deve  haver  grande  dií&culdade  em  desço- 


ãas  Attes  ttd  gy 

brir  hum  que  seja  racional ,  e  cuja  applicaçâo  seja 
geral.  Não  obstante,  parece  que  M.  Barlow  conseguio 
este  objecto^  ao  tnenoá  segundo  se  colhe  do  extracto 
de  huma  Memoria  que  elle  leo  á  Sociedade  Real ,  e 
que  se  acha  inserido  no  segundo  numero  do  Eilinburgh 
Journal.  O  certo  he  que,  no  proseguimento  das  ex*- 
peiiencias  mui  curiosas  que  emprehendeo  sobre  esta 
matéria  ,  descobrio  factos  mui  singulares  ;  achou,  por 
exemplo,  que  á  roda  de  qualquer  globo  ou  massa  de 
ferro  ha  hu,m  grande  circulo  inclinado  do  norte  ao 
sul,  que  forma  com  o  horisonte  hum  angulo  de  19P 
a  200  ,  no  plano  do  qual  o  ferro  não  altera  a  direcção 
da  agulha  magnética.  Observou  igualmente  que  huma 
bola  de  ferro  ouça ,  do  peso  de  aS  onças ,  não  tem 
menos  eíleito  sobre  a  agulha  que  huma  baila  massiça 
do  mesmo  metal ,  de  igual  diâmetro,  e  do  peso  de  iaS 
libras ;  o  que  estabelece  humà  nova  analogia  entre 
as  forças  magnéticas  e  as  eléctricas,  O  coronel  Gibbs 
fez  huma  observação  que  tem  alguma  semelhança  com 
esta ,  e  que  se  lé  no  tomo  I  pag.  BS  do  American 
Journal  qf  Sciences  *  Em  huma  mina  de  ferro  magne^ 
tico  em  Succassuny ,  achou  que  a  parte  superior  do 
veio  era  magnética  com  polaridade  ,  e  a  parte  inferior, 
para  adquirir  esta  propriedade  carecia  de  estar  ex- 
posta algum  tempo  aos  influxos  atmosphericos  j  o  que 
faz  suppor  a  M.  Gibbs  que  he  possivel  que  o  magne* 
tismo  não  exista  no  interior  da  terra,  mas  resida  un»- 
ca  mente  na  sua  superfície* 


Tom.  X  P.  a*.  7  B 


g8  NoUcias  das  Sciettcias  , 

CHYMICA. 

A  rapidez  com  que  a  Chymica  de  dia  em  dia  faz 
novos  e  importantes  progressos  nos  tem  determinado 
a  communicar  ao  publico  os  novos  descobrimentos 
á  medida  que  chegão  á  nossa  noticia ,  sem  esperar- 
mos pelo  fim  do  anno ,  para  os  oflerecer  no  quadro 
resumido  dos  progressos  de  cada  sciencia  natural.  Por 
esta  razão,  desde  o  Tomo  V  dos  Annaes,  em  que  oile- 
recemos  o  resumo  dos  trabalhos  chjmicos  do  anno 
^e  i8i8y  temos  continuado  em  cada  hum  dos  tomos 
«ubsequentes  a  dar  as  noticias  recentes  dos  descobri- 
mentos chymicos  com  bastante  individuação ;  e  por 
esse  motivo  agora  só  tocaremos  mui  levemente  os 
objectos  de  que  já  temos  dado  sufficiente  noticia. 

ITieoria  geral. 

A  pezar  de  alguma  opposição ,  cada  dia  vão  as  ideias 
de  M .  Berzelius  adquirindo  novas  provas  e  novos  se- 
quazes ,  entre  os  quaes  deve  contar-se  M.  Gay-Lussac. 
M.  Lucock ,  no  tomo  LIII  pag.  i33  do  Philosophical 
Magazine  tentou  refutar  a  theoria  atomistica,  proposta 
por  Dalton ,  e  adoptada  por  muitos  chymicos  inglezes ; 
prefere  a  ella  a  theoria  que  M.  Higgins  concebera 
antes  de  Dalton  ,  e  de  quantos  tem  pertendido  usurpar 
a  gloria  de  serem  os  descobridores  do  systema  das 
proporções  defínitas. 

M.  Murray  tem  procurado  aperfeiçoar  a  theoria  de 
que  tratamos  y  e  com  este  intuito  publicou  nos  Annals 


das  Artes,  etc.  gg 

qf  Philosopf\y  observações  mui  extensas  sobre  as  rela- 
ções que  existem  entre  a  lei  das  proporções  definitas 
e  a  composição  dos  ácidos  i  dos  alcalis  e  das  terras , 
he  a  continuação  de   outras  Memorias  análogas  que 
tínha  publicado  no  anno  antecedente  ,  e  em  huma  das 
quaes  tinha  observado  que  as  relações  entre  as  pro- 
porções do  oxjgeneo  que   formão  a   parte    supposta 
de    agua   combinada   nos  ácidos   são   provavelmente 
de  hum  ou  dois  doestes   elementos  directamente  com 
o   radical.   Disto  dá  por  exemplo  os  compostos  do 
acido  sulphurico ,   cuja   constituição ,  á  primeira  vis^ 
la,    parece   estar    em    contradicçào   com    a  lei    das 
proporções  defmitas.  Com  eOeito  M.  Murrajr  explica 
a  difliculdade,  e  sem  outra  hypothese  mais  que  esta 
de  que  acabamos  de  faltar,  mostra  que,  ainda  sup- 
pondo  que  exista  hum  oxydo  de  enxofre ,  e  o  que  se 
chama  acido   sulphurico   real,  as  suas  combinações 
serão  rigorosamente  confornies  á  lei^  pois  que  serão 
de  huma  parte  de  enxofre  com  i » a  ,  3  e  4  de  oxyge^ 
neo.  Applica  a  mesma  explicação  aos  ácidos  cujo  ra- 
dical  he   o  carbone ;  e   considerando   que  os  ácidos 
vegetaes  são  compostos  de  huma  base  simples ,  o  car- 
bone acidificado  pelo  oxygeneo  e  o  hjdrogeneo  ,  e  não 
como  pertendia  Lavoisier ,  que  julgava  serem  formados 
de  hum  radical  composto  acidificado  pelo  oxygeneo, 
e  estribando-se  sobre  a  mesma  lei  que   applicou  ao 
enxofre  ,  parece-lhe  provável  que  o  oxygeneo  e  o  hy- 
drogeneo  estejão  nestes  ácidos  era  proporções  defínitas, 
as  quaes  observa  cada  hum  de   per  si  relativamente 
ao  carbone  ,  e  cré  que  as  diQ^OTcntes   proporções  em 

7* 


loo  Noticias  das  Scíencias  j 

que  se  combinão  com  este  elemento  dão  origem  a  hum 
certo  numero  de  compostos.  O  carbone  com  huma 
primeira  proporção  de  oxygeneo  forma  hum  oxydo.  O 
hydrogeneo  he  hum  principio  acidifícante ;  por  conse- 
guinte não  he  improvável  que  a  addiçào  delle  produza 
a  qualidade  acida  ,  cuja  energia  será  determinada  pela 
;primeira  ou  segunda  proporção  com  o  carbone ,  ou  por 
aníbaft*  O  carbone ,  com  a  sua  segunda  proporção  de 
oxygeneo  dá  origem  a  hum  acido  frouxo.  A  addição 
do  hydrogeneo  augmentará  igualmente  a  sua  acidez , 
como  no  caso  precedente  *,  de  sorte  que  se  podem 
admittir  quatro  compostos  distinctos  ,  que  serão  repre-* 
sentados  pelo  oxydo  carbónico  com  huma  certa  pro- 
porção de  hydrogeneo;  e  como  he  possivel  conceber 
que  haja  outros  com  diversas  proporções  de  oxygeneo 
e  de  carbone,  pode  applicar-se-ihes  o  mesmo  rácio- 
cmio*  M.  Murray  mostra  por  este  modo  que  os  acides 
vegetaes  estão  sujeitos  a  esta  lei;  o  que  prova  de  huma 
maneira  mui  curiosa  ,  desde  o  acido  oxalico  que  con- 
têm a  menor  porção  de  hydrogeneo  até  ao  acido  ga- 
Ihico  ,  no  qual  a  proporção  de  hydrogeneo  comparada 
aos  dois  outros  principios  he  a  maior.  Finalmente  , 
termina  M.  Murray  esta  parte  do  seu  trabalho  dizendo 
que  este  modo  de  considerar  os  ácidos  vegetaes  como 
compostos  de  hum  simples  radical ,  o  carbone  ,  aci- 
dificado pelo  oxygeneo ,  applicando-lhes  a  lei  de  todas 
as  combinações  ternárias  ,  isto  he  ,  que  dois  dos  ele- 
mentos guarduo  as  relações  determinadas  de  proporção 
com  o  terceiro  como  fom  huma  base  ,  poderá  prova- 
velmente  abranger   todas   as   substancias  vegetaes ,  e 


das  Aries  ^  ctc»  lot 

ainda  talvez  os  productos  animaes  os  mais  complica- 
dos ;  e  admittindo^  huma  serie  mais  extensa  de  pro- 
porções definitas  nos  elementos  primários,  poder-se- 
ha  rejeitar  a  lei  de  M.  Berzelius  actualmente  recebida 
pelos  sectários  do  systema  atomistico ,  segundo  a  qual 
nos  corpos  inorgânicos  hum  dos  príncipios  constituen- 
tes  está  sempre    no  estado  de  hum   átomo  simples, 
quando  o  contrario  acontece  nos  corpos  orgânicos.  Se 
esta  lei  vier  a  ser  rejeitada  ,  e  se  o  contrario  se  estabe* 
'  lecer ,  nesse  caso  a  composição  dos  corpos  organisados 
e  a  dos  inorgânicos  serão  semelhantes,  o  que  contribui- 
ria muito ,  alem  da  vantajem  da  uniformidade  e  da 
simplicidade ,  a  acclarar  a  constituição  das  substan- 
cias organisadas ,  que  até  ao  presente  oílerece  grande 
obscuridade. 

Huma  interessantissima  Memoria  lida  a  q  de  Dezem- 
bro de  i8j9,  á  Academia  das  Sciencias  de  Berlim  por 
M.  £.  Mitscherlich  ,  sobre  a  relação  que  existe  entre  a 
forma  crystallina  e  as  proporções  eh y micas ,  derrama 
grande  luz  sobre  a  theoria  das  proporções  e  á  cerca  das 
leis  da  crystallisação ,  e  por  tanto  interessa  igualmente 
os  Chymicos  e  os  Mineralogistas ,  especialmente  depois 
da  tentativa  de  M.  Berzelius  para  estribar  a  classifica- 
ção mineralógica  sobre  bases  chymieas. 

Esta  primeira  Memoria  de  M.  Mitscherlich  he  in- 
titulada :  Primeira   Memoria  sobre   a    Identidade    da 
forma  crystaUina  de  que  sào  dotadas  muitas  substancias 
dijferentes ,   e  sobre  a   relação   que  existe  entre  esta 
forma  e  o  numero  dos  átomos  elementares  nos  crxstacs^ 


toi  yoticias  das  Scimcias  , 

Como  esta  Memoria  deve  ser  seguida  por  outras ,  trans- 
QTt\  eremos  só  aqui  algumas  passagens  d'ella  que  possão 
djT  a  conhecer  ao  leitor  a  sua  importância.  O  autor 
d<?poi$  de  a  ter  escrípto ,  repetio  no  laboratório  de  M. 
Berzelius  todos  os  experimentos  principaes  em  que  es- 
triba as  suas  conclusões ,  e  por  meio   de  processos 
nuito  mais  exactos  e  delicados  que  lhe  forão  sugge- 
liJos  piX"  aquelle  insigne  chjmico,  teve  a  satisfação 
lie  achar  huma  tal  conicurmidade  nos  resultados ,  que , 
^al4icando    mui   recentemente   a   sua  Memoria   nos 
Annaes  de  Chjmica  de  Junho  próximo  pussado ,  nada 
uella  mudou. 

'  OoxTeeneOy  nos  ácidos  pbosphoroso  e  arsenioso, 
^'>ti  para  o  dos  ácidos  phospboríco  e   arseniaco ,  na 
miio  de  3:5:  e  do  super-phosphate  e  snper-arseniale 
(1^  potassj^  o  oxygeneo  de  p<^assa  he  para  o  do  acido 
como  1 :  5  y  e  para  o  da  agua  de  cryslalUsação  como 
I  ■  a.  Esles  saes  são  compostos  do  mesmo  numero  de 
alomos  ou  volumes  elementai^es ,  e  s6  difierem  entre 
si  por  ser  o  radical  de  hum  o  phosphoro,  e  do  outro 
o  arsénico.  A  forma  crystallina  doestes  dois  saes  he  a 
mesma.  O  phosphale  e  o  arseniate  de  soda ,  o  pbos- 
pbate  e  o  arseniate  de  ammonia ,  o  super-phosphate 
e  o  super-arseniale   de  ammonia,    como   também  o 
sapcr-phosphate  e  o  super-ai*seniate  de  barytes,  con- 
têm cada  par  os  mesmos  volumes  de  acido ,  de  base 
e  de  agua  de  crystaUisaçào ,  e  cada  par  tem  exacta- 
menle  i  mesma  forma  ci^stallina.  Quando  proseguir 
o  meu  trabalho  tratarei  mais  especialmente  das  copi- 


das  Artes  ,  etc.  lo3 

Lioações  dos  ácidos  phosphorico  e  arseniaco ,  as  quaes » 
quando  estes  ácidos  estào  combinados  com  as  n^esmai 
bases,  no  mesmo  grão  de  saturação  ,  nào  só  participào 
da  mesma  forma  crystailinay  mas  possuem  inteira- 
mente as  mesmas  propriedades  chymicas.  Pareceo-me 
seguir-se  da  sua  composição  chymica  análoga  ^e  das 
suas  formas  crystallinas  idênticas  ,  que  ,  se  dois  corpos 
diOerentes  se  combinão  com  o  mesmo  numero  de  vo* 
lumes  de  outi^o ,  por  exemplo,  o  arsénico  e  o  phos« 
phoro,  cada  hum  com  cinco  átomos  de  oxygeneo,  e 
se  as  duas  combinações  se  unem  com  outro  coi*po  na 
mesma  proporção  ,  que  o  arseniate  e  o  phosphate  que 
resuitào  doesta  união  devem  ter  exactamente  a  mesma 
forma:  e  isto  hc  justamente  o  que  acontece;  pois, 
não  só  .  forma  primitiva ,  mas  ainda  todas  as  varie- 
dades se  parecem  <^e  tal  modo  em  quanto  á  grandeza, 
ao  numero  de  planos  ,  e  ao  valor  dos  seus  ângulos , 
que  he  impossivel  achar  nellas  a  menor  diSerença , 
nem  se  quer  nos  caracteres  que  parecem  totalmente 
accidentaes.  Hum  copia  a  forma  do  outro  coma  o 
cobalto  pardo  copta  a  forma  do  ferro  suiphuretado ,. 
e  como  o  ferro  carbonatado  a  da  cal  carbonatada. 
Esla  concordância  do  meu  raciocínio  com  o  resultado 
da  experiência  me  decidio  a  submetter  a  huma  se- 
melhante investigação  todos  os  ácidos  e  todas  as  bailes. 
Achei  desde  logo ,  que  a  potassa  e  a  ammonia  ,  com- 
binadas com  o  mesmo  acido,  dão  hum  sal  que  tem 
a  mesma  forma  crystalHna  ,  com  tanto  que  o  sal  de 
ammonia  encerre  duas  proporções  de  agua  de  cry^ 
tallisaçào  :  isto  he  hum  mero  facto  independente  de 


I  o4  Notícias  das  Sciencias , 

toda  e  qualquer  theoria.  Achei  depois ,  que  as  fornias 
crysiallinas  dos  saes  de  barytes ,  de  chumbo  e  de 
'  strontiana  se  assemeihavào  entre  si :  o  oxygeneo  dos 
oxydos  de  barium  e  de  chumbo  está. para  a  dos  seus 
hyper-oxydos  iia  razão  dé  i  :  a ;  os  sulphates  de  barytes 
e  de  chumbo  tem  exactamente  a  mesma  forma;  o 
sulpbate  de  strontiana  de  Sicilia  encontra-se  de  ordi- 
nário debaixo  de  huma  forma  que  não  achei  senão 
mui  laras  vezes  entre  a$  variedades  do  sulphate  de 
barytes,  mas  nunca  entre  as  do  sulphate  de  chumbo. 
Posso  ainda  ajuntar  a  isto ,  que  as  formas  dos  saes 
artiíiciaes  de  barytes  ,  de  strontiana  e  de  chumbo  tem 
a  mais  exacta  semelhança.  » 

Proseguindo  na  investigação  relativamente  a  diversos 
oxydos,  achou  que  os  mais  d'elles  combinados  com 
)ium  mesmo  acido  tem  huma  forma  crystallina  íden* 
tica  ,  cpmo  já  se  tinha  observado  em  quanto  aos  car- 
bonates de  magnesia  ,  de  cal ,  de  zinco  ,  etc.  Por  ora 
limitou  as  suas  experiências  ás  combinações  do  acido 
sulphurico  com  vários  oxydos ,  porque  a  sua  natureza 
permitte  serem  examinadas  com  exacçâo  ;  a  sua  forma 
foi  descripta  com  escrupuloso  rigor  por  M.  Haiiy,  e  a 
sua  composição  foi  examinada  e  demonstrada  com  exac- 
çâo por  M.  Berzelius  ',  a  relação  do  oxygeneo  do  oxydo 
ao  do  acido  he  como   i  :  3  ;  porem  combinão-se  com 
diversas  porções  de  agua  de  crystalhsaçào ,  e  por  isso 
os  distribue  M.  Mitscherlich  em  três  classes,  A  primeíiu 
compreliende  os  sulphates  de  manganese  ,  e  de  cobre  ; 
nelles  o  oxygeneo  do  oxydo  he  para  o  da  agua  como  i :  5, 


das  Artes  ,  ele.  io5 

A  segunda  classe  comprehcnde  o  sulpbate  de  ferro 
e  o  de  cobalto ;  a  relação  do  oxjgetieo  do  oxydo  para 
o  da  agua  de  crystaLisação  lie  como  i  :  6.  A  terceira 
comprehende  os  suiphates  de  zinco,  de  nickel  e  de 
magnesia  :  a  relação  do  oxygeneo  dos  oxydos  he  ][)ara 
o  da  agua  de  crystallisaçào  como  i  :  7. 

Examinando  os  saes  de  hum  mesmo  acido ,  tíos 
qnaes  as  bases^  moslrão  a  mesma  forma  crystallina, 
nota-se  que  huma  proporção  ou  átomo  de  agua  de 
crystaliisaçào  pode  mudar  a  forma  dos  crystaes;  o 
tuuriate  de  barytes  e  o  de  sti^ontiana,  o  super-phos- 
phate  de  ammonia  e  de  potassa ,  o  sulphate  de  cal , 
ordinário  e  anhydro ,  diíTerem  em  quanto  ás  proporções 
de  agua  de  crystallisaçào;  e  a  forma  crystallina  dos 
carbonates  de  manganese  ,  de  ferro  e  de  zinco  que 
ligâo  estas  três  ciasses  torna  mui  provável  que  a  difie- 
rença  que  se  nota  entre  as  formas  crystallinas  doestes 
sete  saes  nào  he  devida  senão  á  quantidade  differente 
da  agua  de  crystallisaçào,  e  que  os  suiphates  anhydros 
(  sem  agua  )  doestas  bases  tem  todos  a  mesma  forma 
crystallina. 

A  observação  que  as  combinações  chymicas  com* 
postas  nas  mesmas  proporções  tem  a  mesma  forma, 
confirma  ainda  a  identidade  das  formas  doestes  saes  ; 
porque  o  metal  da  base  combina-se  com  as  mesmas 
proporções  ou  átomos  de  oxygeneo.  O  oxygeneo  no 
protoxydo  de  ferro ,  de  manganese ,  de  cobalto  e 
de  nickel  está  para  o  do  deutoxydo  na  razão  de  a 
para  3.  M*  Berzclius  cré  que  huma  tal  proporção  dá 


loG  Noticias  das  Sciendas  , 

lugar  a  suspeitar  que  o  metal  no  protoxydo  está  com- 
binado com  dois  .'ttomos  de  oxygeneo.  Com  eSeito, 
a  relação  do  oxygeneo  no  protoxydo  de  cobre ,  e  tal- 
vez também  no  de  nickel,  he  com  i :  a,  e  os  deutoxydos 
destes  metaes  combinados  com  o  mesmo  acido  ,  dão 
saes  que  tem  a  mesma  forma  que  os  saes  dos  prot- 
oxydos  dos  quatro  metaes  acima  mencionados. 

Se  estas  razões  bastão  para  tornar  mui  provável 
que  a  forma  crystallina  dos  sulpbates  anhydros  de 
cobre ,  de  manganese  ,  de  ferro ,  de  cobalto ,  de  nickel, 
de  zinco  e  de  magnesia  ,  deve  ser  idêntica ,  podemos 
decidir  aflíoutamente  do  merecimento  das  experiências 
de  MM.  Bernhardi  e  Beudant ,  das  quaes  elles  conclui- 
rão que  bastaVa  buma  minutíssima  porção  de  huma 
substancia  em  buma  composição  para  imprimirá  massa 
bnma  forma  crystallina  determinada  ,  todas  as  vezes 
que  o  corpo  que  se  acha  em  ténue  quantidade  he 
dotado  de  buma  energia  particular  de  crystallisação. 
As  experiências  de  M.  Mitscherlich  llie  fizerão  ver  a 
falsidade  doesta  opinião ,  que  tinha  sido  adoptada  por 
MM.  Haúy  ,  Vauquelin  e  Brochant ,  no  Relatório  que 
das  experiências  de  M.  Beudant  fizerão  ao  Instituto  de 
França.  M.  Mitscherlich  achou  que  a  mistura  dos 
sulphates  que  tem  a  mesma  forma  cr}'stallina  que  o 
sulphate  de  ferro  e  de  cobalto ,  não  contém  nem  sul- 
phate  de  zinco  nem  sulphate  de  cobre,  aquelle  com 
sete  partes  de  agua  de  crystallisaçào  e  este  com  cinco  , 
mas  ambos  elles  combinados  y:om  seis  partes  de  agua  , 
que  são  as  mesmas  que  se  encontrão  no  sulphate  de 


das  Artes ,  etc,  107 

« 

L  "Cobalto  e  de  ferro.  Se  os  sulphates  de  ferro ,  de  cobre, 
^~^e  zinco,  combinados   com  as   mesmas  proporções 
L.^^e  agua  de  crystallisação ,  tem  a  mesma  forma  crjs- 
%allina ,  nesse  caso  he  forçoso  que  as  misturas  doestes 
Sulphates,  se  contiverem  a  mesma  quantidade  de  agua 
de  crjstallisaçào ,  como  o  sulpbate  deferro  e  de  co- 
balto, tenhào  a  mesma  forma  ci7stallina  doestes  ulr 
timos. 

Em  segundo  lugar,  para  não  deixar  duvida  na  ma- 
téria, combinou  M.  Mitscherlich  saes  que  encerrào 
cinco  proporções  de  agua  de  crjstallisaçào  com  outros 
que  contém  sete  ,  e  obteve  combinações  que  continhão 
seis  proporções  doesta  agua ,  que  tinhào  a  forma  do 
sulpbate  de  ferro  e  do  de  co])alto,sem  encerrai^m  buma 
só  partícula  de  nenhum  doestes  sae&.  Tal  he  a  com- 
binação ou  antes  a  mistura  crystallisada  dos  sulphates 
de  cobre  e  de  zinco  descoberta  porM.  WoUaston^  a 
dos  sulphates  de  cobre  e  de  magnesia  ,  a  dos  sulphates 
de  cobre  e  nickel,  a  dos  sulphates  de  manganese  e 
de  zinco ,  e  finalmente  a  dos  sulphates  de  manganese 
e  de  magnesia. 

«  Âs  conclusões ,  diz  M.  Mitscherlich ,  tiradas  da 
relação  que  existe  entre  a  forma  e  o  numero  dos  áto- 
mos nos  arseniates  e  nos  phosphates ,  as  quaes  se 
confirmão  ulteriormente  nestes  sete  sulphates ;  a  iden- 
tidade entre  a  forma  crystallina  do  sulpbate  de  cobre 
a  do  sulpbate  de  manganese,  a  do  sulpbate  de  ferro  e 
a  do  sulpbate  de  cobalto ,  a  do  sulpbate  de  zinco  e  a 
dos  sulphates  de  magnesia  e  de  nickel ;  a  identidade 


lio  Noticias  das  Sciencias ^ 

mesma  forma  crystallina ,  o  oxydo  ou  a  base  isolada 
do  acido  deve  também  ter  huma  mesma  forma  de 
crystaes;  verdade  que  M.  Mitscherlich  demostra  por 
hum  exemplo  tirado  da  classe  dos  oxydos  que  contém 
por  cada  átomo  de  metal  y  três  de  oxygeneo  ,  isto  be 
a  aluminia ,  o  oxydo  rubro  de  ferro  e  o  oxydo  de  man- 
ganese;  pois  não  lhe  foi  possivel  obter  nenhum  dos 
mais  sete  oxydos  acima  designados  debaixo  de  fóroiai 
crystalUnas  distinctas.  Os  crystaes  de  ferro  oxydulado 
(Jerroso^ferricum ) ,  do  spinella  e  do  spinella  zincifero 
(  gahnite),  fazem  mui  provável  qne  a  aluminia  e  o 
oxydo  rnbro  de  feiro  dêem ,  combinados  com  a  mesma 
substancia  na  mesma  proporção  y  hum  sal  da  mesma 
forma  crystallina  ;  visto  que  o  oxydo  de  zinco ,  o  oxy- 
dulo  de  feiYo  e  a  magnesia  y  combinados  com  o  mesma 
acido ,  dão  saes  que  tem  a  mesma  forma  crystaUina : 
d*aqui  se  segue  que  se  obtivermos  combinações  d^esf^s 
duas  bases   com    ácidos  differentes ,  mas  nas  mesmas 
proporções  e  tendo  a  mesma  forma  ,  estes  dois  ácidos 
deverão  também  ter  a  mesma  forma. Misturando-se  sul' 
phate  de  ferro  oxydado  rubro  e  sulphate  de  ammonia 
ou  de  potassa ,  obtem-se  bellos  e  grandes  octafaedros, 
com  todas  as  variedades  deformas  que  o  sulphate  de 
aluminia  e  de  potassa  ou  de  ammonia  nos  dão  :  o  oxydo 
de  ferro  rubro  e  a  aluminia   dào  y  combinados  com  o 
mesmo  acido ,   saes  da  mesma  forma;  ambos  se  en- 
contrão puros  e  crystallisados  na  natureza  ,  e  a  forma 
d*elles  se  assemelha  a  ponto  que  he  impossível  duvidar 
da  sua  identidade. 
M.  Mitscherlich  y  depois  de  ler  esta  Memoria  apre- 


das  Artes  ,   etc.  i  o§ 

^e  contém    potassa  » como  i  :  6.  Esta  identidade  de 

tSftmsL  resulta  de  huma  observação  que  eu  (iz  anterior- 

S&ente ,  e  vem  a  ser ,  que  o  sulphate  de  potassa  an- 

liydro  tem  a  mesma  forma  crystallina  que  o  sulpbate 

de  ammonia ,  que  contém  duas  proporções  de  agua*. 

A  .forma  crystallina  d'estes  treze  saes  triplos  foi  des- 

cripta  por  M.  Haiiy  debaixo  da  forma  do  sulphate  de 

nickel ,  que  sem  duvida  era  hum  sal  triplo  com  base 

de  nickel  e  de  potassa.  » 

Reflectindo  sobre  a  composição  doestes  saes  triplos, 
assim  como  sobre  as  misturas  crystallisadas  dos  sete 
sulphates  huns  com  os  outros,  advertiremos  no  sin-' 
guiar  resultado  y  que  os  saes  que  tem  a  mesma  forma 
se  combinão,  ou  para  melhor  dizer,  crystallisãojuii* 
lamente,  em  quaesquer  proporções,  como  estes  sete 
sulphates ,  e  como  os  carbonates  dos  mesmos  oxydos ; 
mas  que ,  se  a  forma  dos  saes  que  se  combinão  he  dif- 
ferente ,  como  a  do  sulphate  de  potassa  e  de  ammo* 
nia,  a  sua  crystallisaçào  differe  da  d* estes  sete  sul- 
phates ',  nesse  caso ,  ha  proporções  fixas.  Este  resultado 
acclarará  a  composição  de  vários  mineraes,  em  que  a 
crystallographia  parecia  estar  em  coatradicção  com  a 
analyse  chymica  ,  por  exemplo,  nos  granates ,  nos  am« 
phiboles  y  pyro^enes ,  e  tantos  outros  nos  quaes  algu- 
mas das  mencionadas  bases  enti*ào  em  proporções  tão 
variáveis ,  e  muitas  vezes  apparentemente  contrarias 
jís  leis  chymicas. 

Em  (im ,  do  raciocinio  seguido  pelo  autor  resulta 
que  y  quando  saes  formados  pelo  mesmo  ácido  tem  a 


113  Noticias  das  Sciencias  ^ 

MM.  Gay-Lussac  e  Welter.  M.  A.  B.  W.  Herschell 
annimcia  ter  descoberto  bum  novo  acido  de  enxofre  , 
ao  qual  dá  o  nome  de  acido  hypo-sidp/mroso  ,  mas 
parece  que  ainda  não  conseguio  obtê-lo  livre.  Poi*  isso 
só  o  caracterisa  pelas  combinações  que  forma  com  as 
bases  salinaveis ;  todas  sào  solúveis ;  o  calor  e  todos 
os  ácidos  as  decompõem ,  excepto  o  carbónico.  As 
suas  dissoluções  precipitão  o  chumbo  da  sua  disso- 
lução em  hum  pó  branco,  que  he  hum  hypo-sul- 
phate  de  chumbo ;  o  oxy-nitrate  de  prata  e  o  nitrate  de 
mercúrio,  deitados  em  excesso  na  solução  diluida  de 
hum  hypo-sulpliite  precipitão  o  metal  em  estado  de 
sulphureto.  Â  propriedade  a  mais  singular  que  oflerece 
este  acido ,  he  de  dividir  o  muriate  de  prata  em  dis- 
solução, precipitando  parte  d'elle  e  conser\'ando 
huma  quantidade  considerável  em  solução  constante. 
Finalmente ,  tem  huma  tendência  particular  a  formar 
saes  duplos  com  o  oxydo  de  prata  e  huma  base 
variável ,  como  com  a  soda ,  a  ammonia ,  a  cal ,  a 
strontiana  e  o  chumbo. 

M.  Murray  publicou  hum  extenso  trabalho  sobre  a 
acido  muriatico,  no  tomo  XIII  pag.  2G  dos  Annals  of 
PJiilosophj,  Persi -te  na  sua  opinião ,  que  existe  agua 
neste  giz ,  o  que  inclina  M.  Murray  a  crer  que  o  cliloitt 
he  realmente  hum  composto  de  acido  muriatico  e  de 
oxygeneo ,  segundo  a  antiga  opinião.  Comtudo  ,  diz 
este  chymico,de  haver  agua  no  acido  muriatico  não 
se  segue  necessariamente  que  ella  exista  nelle  já  for- 
mada ,  sendo  possivcl   conceber  à  priori  que  os  seus 


das  AfteSj  etc.  ii3 

elementos  se  achem  em  composição  simultânea  com  o 
acido  ou  com  o  seu  radical ,  e  nesse  caso  seria  o  acido 
hum  composto  ternário  de  hum  radical  com  oxygeneo 
e  hydrogeneo  y  cuja  decomposição  produziria  a  agua; 
opinião   que  condiz   com  a  theoria  geral  do  mesmo 
chymico  á  cerca  dos  ácidos.  Segundo  esta  theoria  ad- 
mitte  que  o  gaz   acido  muriatico  he   o   acido  real, 
composto  ternário  de  hum  radical  ^  até  agora  desco- 
nhecido ,  com  oxygeneo  e  hydrogeneo.  Posto  em  con- 
tacto com  huma  basealcaUna,  decompôe-se ;  o  oxy- 
geneo e  huma  parte  do  hydrogeneo  combinào-se  par^ 
formar  agua,  e  o   radical  com  o  resto  de  oxygeneo 
forma  hum  acido  composto  neutro.  O  acido  muriatico 
oxygenado  he  igualmente  considerado  por  M*  Murray 
como  hum  composto  de  hum  radical  desconhecido^ 
que  se  pode  chamar  muriouy  com  oxygeneo;  e  este 
acido  muriatico  oxygenado ,  com  a  addição  de  huma 
porção  de  hydrogeneo  forma  o  acido  muriatico ;  o  que 
segundo  este  chymico  explica  a  anomalia  na  theoria 
de  Lavoisier,  na  qual  o  acido  muriatico  oxygenado, 
a  pezar  de  conter  mais  oxygeneo  ,  he  comtudo  menos 
acido  que  o  muriatico  simples. 

M.  Berzelius  confirmou  as  experiências  de  M .  Dulong 
e  as  suas  próprias ,  sobre  a  composição  do  acido  phos*- 
phorico  e  do  acido  phosphoroso»  em  opposiçáo  ao  resul- 
tado obtido  por  M«  H.  Davy  j  o  qual  tinha  procurado 
estabelecer^como  dissemos  no  Resumo  do  adno  passado, 
que  o  acido  phosphorico  estava  para  o  acido  phos- 
phoroso  na  razão  de  4  para  a.  M.  Berzelius  mostra  quo 
Tom,  X.  P.  aa.  8  B 


114  ^  ctícias  ãáts  Sciencias  , 

as  expcnencias  de  M.  Davj  não  são  concludentes  ,e 
raião  do  melhodo  de  que  este  se  sérvio  para  deU 
minar  o  peso  do  átomo  do  phosphoro ,  e  das  diil 
renças  entre  dirersas  experiências ,  sendo  alias  coi 
quasi  incrivel  que  M.  Dulon^  cahisse  exacta  menle 
mesmo  erro  que  M.  Berzelius ;  e  Gnalmente  rejeita 
condnsòes  de  M.  Davr,  por  ter  descoberto  huma  1 
que  liga  as  combinações  de  huma  certa  dasse  de  a< 
dos,  que  tem  em  commom  ,  que  o  ozjgeneo  do  aci 
terminado  em  oso  esti  para  o  do  terminado  em  ico 
iaeo  na  raiÍM>  de  3  para  5 ;  he  precisamente  o  q 
acontece  ao  pWisphoro ,  como  ao  arsénico  e  ao  azot 
considerado  este  como  substancia  elementar. 

O  azotet  que  M.  Gimbemat  aebou  primeiro  nas  age 

mineraes  de  Aix-la-Cbapelle,  está  em  combinação  i 

unm ,  e  não  em  estado  de  combiDãçào  chjmica.  Ks\ 

foi  sempre  «  opinião  de  M.  Gimbemat,  confirmad 

depois  por  MM.  PbA  e  Vogel. 

Ko  tomo  Xiii  dos  anuais  of  Philosopl^  fez  ver  ! 
Fox  que  a  platina  forma  liga  com  o  estanho  e  o  a 
timonio  ,  fazendo-se  a  combinação  com  vehemencia 
com  grande  emissão  de  calor  c  de  luz.  Com  o  zin( 
ha  inflammação  ,  combustão  viva ,  e  o  zinco  he  co 
vertido  em  oxydo  branco. 

M.  Marshall  fez  hum  grande  numero  de  experíei 
cias  sobre  a  oxjrdação  do  ferro  por  meio  da  agua,  da 
qates  cooclue  que  a  presença  do  aratmosp/ierico  o 


das  Artes  ,  etc.  ^i  5 

do  gaz  oxygeneo  he  necessário  para  esta  ozydaçào  se 
realisar. 

M.  Thomson  determiaou  por  eiçperíeixcias  direclas 
que  os  pós  de  M.  TeQoant  para,  bran^jcear  ^  qa/e  se. 
fazem  passando  o  chlore  ( ou  aci4o,  muriatico  oxyge* 
nado  )  pelo  hydrate  de  cal  ^  cc^n^tsio  dç  liuma  certa 
quantidade  de  cal  hydr atada  livre ,  e » como  se  julgava  f 
de  hum  verdadeiro  chloratede  cal,  e  não  d^  calcium* 
Igualmente  achou  que  a  barytes  i  a  atrantiaua^  a  potassa 
e  a  soda  podiào  combinar^se  com  o  chlore ,  e  oJ>ter-se 
pela  dupla  decomposição  do  ohlorate  de  cai* 

M.  Bichard  Phillipps  examinou  de  novo  a  composi^ 
cão  do  carbonate  de  ammonia  e  do  de  soda.  O  prí-^ 
Dieiro  obtido  pela  decomposição  do  carbonate  de  cal 
e  do  muriate  de  ammonia ,  he  hum  sub-carbonate , 
que  julga  ser  composto  de  54,5  de  acido  carbónico , 
de  99,3  de  ammonia  e  de  i6,5  de  agua.  Quando  se 
expõe  este  sal  á  acção  do  are  se  torna  inodoro ^  e% 
não  tem  acção  sobre  o  papel  tinto  de  curcuma  %  istq 
provam  de  conter  huma  maior  proporção  de  agua  >  9 
com  efieito  encerra  u3  partes  d'eUa  ^obre  55, 80  df 
acido  carbónico,  e  at,  iG  de  ammonia. 

O  mesmo  autor  examinou  o  bi-carbonate  de  toda 
obtido  pelo  processo  de  BerthoUet^  e  achou  que  he 
hum  sesqui-carbonate ,  análogo  ao  de  Africa  que  Mk 
Thomson  analysou  ;  isto  he  hum  composto  de  hum 
Carbonate  e  de  hum  bi-carbonate.  Por  analyse  achou 
ser  hum  composto  de  4o  p<«rtes  de  acido  carbónico , 
ag,3'i  de  soda  e  ao,i^  de  agua* 

8  ♦ 


ii6  Noticias  das  Sciencias  , 

Na  mesma  MeAioría  de  que  já  fatiámos  em  hnin 
>dos  tomos  antecedentes  y  em  que  M.  Donavan  não 
admitte  mais  que  dois  oxydos  de  mercúrio ,  o  preto 
e  o  rubro  y  o  primeiro  composto,  sobre  loo  partes  ,  de 
96,04  de  metal  e  de  3,96  de  oxjgeneo ,  e  o  segundo 
de  7,!25  de  oxygeneo  e  9^2,75  de  metal,  nào  admitte, 
em  quanto  aos  ácidos  nítrico  e  sulphurico ,  senão  com- 
binações reaes  e  sub-saes ,  e  reputa  meras  misturas 
todas  as  outras  variedades.  Examinando  o  estado  em 
que  se  acha  o  mercúrio  no  unguento  mercurial ,  reco- 
nheceo  que  em  parte  estava  em  estado  de  oxydo  pardo ; 
e  tendo  suspeitado  que  be  só  este  que  faz  eífeito  no 
uso  medecinal  do  unguento,  propoz  substituiMbe  huma 
combinação  de  gordura  e  d*este  oxydo ,  o  que  pai*ece 
tem  produzido  pleno  eífeito, e com  muita  vantajem , 
em  vários  casos  em  que  se  fez  uso  d*este  novo  un- 
guento* 

M.  Thomson  notou  que  o  protoxydo  de  chumbo  hc 
mais  volátil  do  que  suppunha -,  e  descobrio  igualmente 
liuma  nova  combinação  d'este  metal  com  o  acido  acé- 
tico. Este  sal  be  bi^apco ,  translúcido  e  inalterável  ao 
arjcrystallisa  em  prismas  comprimidos  ,  rhomboidaes  , 
terminados  por  summidades  diedras.  A  sua  gravidade 
especifica  he  de  2,275.  Considera-o  composto  de  a^^^oo 
de  acido  acético ,  de  59,00  de  protoxydo  de  chumbo , 
e  de  19,1 5  de  agua. 

M.  Cooper,  no  tomo  XIII  pag.  298  dos  Ann,  ofPlUL 
descreve  buma  nova  espécie  de  per-sulphate  de  ferro, 
composta  ,  sobre  38o  grãos  de  per-oxydo,  de   lao  de 


das  Artes,  etc.  '%vj 

eido  sulpliurico  e  de  100  de  agua  ;  crystallisà  em 
"íHÉKStahedros  ,  e  obtem-se  tratando  o  per-oxydo  de  fen*o 
centemente  precipitado  do  acido  nítrico  pela  ammo- 
ia,  por  hum  excesso  considerável  de  acido  sulphu«* 
^jtico ,  e  fazendo  evaporar  até  ao  secco.  M.  Sylvestre 
j^clama  a  prioridade  d^^este  descobrimento  cufa  exis- 
l^ftencia  M.  Thomson  parece  ter  antevisto  quando  tratou 
bT^o  seu  per-quadri-sulphate  de  ferro.  M.  Cooper  falia 
m  de  outra  combinação  de  acido  sulphurico  e  de  ferro, 
dr  que  contém  ainda  mais  acido ,  e  que  se  obtém  deitando 
V  no'  liquido  do  qual  foi  precipitado  o  per-snlpbate , 
■*  acido  sulphurico;  pela  evaporação  obtem-se  bum  sal 
"    que  crystallisà  em   palhetas  como  de  madre  pérola. 

Mi\f .  Colin  e  Talllefer,  no  tomo  XII  pag.  62,  dos  novos 
Annales  de  Chimie » (izerào  ver  que  o  deuto-carbonate 
de  cobre  ,  que  se  torna  escuro  depois  de  ter  fervido 
por  algum  tempo  na  agua  a  mais  pura,  se  eonverte 
«ssim  em  hum  deuto-carbonate  anhydro»  isto  he  que 
só  perde  a  sua  agua  de  ci7StaUisação  y  e  que  não  dif- 
fere  do  verde  senão  por  conter  menos  agua  que  o 
verdeje  este  menos  que  o  azul.  Continuando  a&  suas 
investigações  sobre  os  saes  de  cobre ,  acharão  que  existe, 
hum  proto-carbonate  y  cuja  côr  se  assemelha  á  do 
protoxydo,e  que  o  proto-chlorureto  de  cobre  he  branco 
e  transparente ,  quando  da  sua  dissolução  se  separou 
bem  o  deutoxydo.  A  côr  escura  do  chlorureto  denota 
huma  falta  de  agua  j  e  basta  hum  pouco  doeste  liquldiv 
para  fazer  passar  as  suas  dissoluções  do  pardo  ao  verd^^ 
e&meralda. 


•* 
^ 


ii5  Noticias  dás  Sciencias  j, 

CiiYMicJk  Vegetal»    • 

Temos ,  nos  tomos  antecedentes  dos  Annaes  dado 
ampla  noticia  dos  novos  alcalis  vegetaes  descobertos 
por  MM.  Pelletier  e  Caventou^que  proseguem  a  sua 
.interessante  investigação  sobre  as  substancias  vegetaes 
que  tem  huma  acção  enérgica  na  economia  animal. 
Mais  adiante  fallaremos  de  outi^o  alcali  descoberto  por 
elles.  Também  já  faltámos  do  alcali  achado  por  MM. 
Lassaigne  e  FeneuUe  no  Delphiniwnstaph'sagria,a.  que 
derào  o  nome  de  Delphina,  Também  já  falíamos  do 
Acido  Igasurico  descoberto  por  MM.  Pelletier  e  Caven- 
tou  ;  da  analyse  que  M.  Weber  deo  do  fructo  da  ar^ 
vore  da  cera;  da  transformação  em  gomma  e  em  assucar 
de  varias  substancias  vegetaes ;  e  do  acido  descoberto 
por  M.  Faraday  formado  na  combustão  do  ether,  na 
lâmpada  aphiogistíca  ,  a  que  deo  o  mal  escolhido  nome 
de  Acido  íampico.  Vejào-se  as  noticias  recentes  dos 
tomos  Vil ,  VIU  e  IX  dos  Annaes. 

SegiiVido  ô  pròlfessor  Doberçfher,  o  anil,  que  elle 
considera  como  composto  dos  mesmos  principios  quo 
o  carvão  animal ,  forma  com  o  hydrogeneo  hum  acido 
sem  côr,  sohivcl  em  agua  ,  a  que  chfimou  Acido  Isa-' 
tinico  ye\)or  conseguinte  á  sua  comlânaçào  com  a  cal 
isalanate,  Nestn  hypothese  dá  huma  explicação  diffe- 
rente  da  que  he  grralmenle  adftiiltiJa  da  descoloração 
spontnnea  de  hnitia  cuva  tie  anil;e  explicai  obser- 
vação de  M.  Holt,  que  misturando-se  limalha  de  ferro 
ou  de  zinco    em  li  um  a  dissolução  de  anil  no  acido 


-  das  jírteSy  etc*  tig 

•ulphurico,  perde  esta  a  cor;  e  attribue  eàte  eQeito 
ft   ao  hydrogeneo  que  estes  metaes  separào  da  agua» 


M.  Bainbridge  acbou  que  as  batatas  contém  huma 
grande  quantidade  de  acido  tartarico ,  com  hum  pouco 
de  acido  malico. 

M.  Dumont  mostrou  por  experiências  que  fhictos 
xnettidos  em  huma  atmosphera  de  acido  carbónico 
dão  huma  grande  quantidade  de  alcohol.  Quatro  libras 
e  doze  onças  de  peras  derào  em  dez  semanas  huma 
matéria  fluida  ,  a  qual  distillada  produzio  quatro  otíças 
de  alcohol  a  i3<>. 

MM.  Pelletier  e  Caventou  (izerão  em  1819  hum  im<» 
portante  trabalho  sobre  a  familia  das  colchiceas,  para 
descobrir  os  seus  principios  activos  ,  mas  que  só  mui 
recentemente  appareceo  nos  Annaes  de  Cbymica.  Exa- 
minarão particularmente  a  cevadilha  (veratrum  soba- 
dilla ) ,  o  helleboro  branco  (  veratrani  album  ) ,  é  o 
Colchico  commum  (  colchicum  autwnnale  ),  plantas 
cujo  uso  he  bem  conhecido  entre  os  médicos ,  e  das 
quaes  a  ultima  tem  sido  mui  preconisada  por  E.  Home 
contra  a  gotta.  Nesta  analyse  seguirão  com  pouca  dif- 
ferença  e  mesma  marcha  que  tinhào  adoptado  bo  es-- 
tudo  das  outras  substancias  vegetaes  que  d*antes  tinhào 
examinado. 

Acharão  na  cevadilha  hum  novo  acido  que  deno- 
minarão ce»^ad!tco,  que  tem  muita  analogia  com  o  bw 
tjrico  e  ^ipAimco  y  descobertos  por  M.  Chevreul  na 
manteiga»  e  na  gordura  do  delplúnus  globiceps ^  poréuà 


110  Noticias  das  Sciendas  , 

o  resultado  o  mais  curioso  doesta  iavèstigaçâo  foi  o 
terem  descoberto  nestas  três  plantas  huma  nova  sub- 
stancia alcalina  a  que  chamái^ão  veratrina,  cujos  ca- 
racteres são  os  seguintes. 

A  veratrina  he  branca  e  pulverulenta;  não  tem 
cheiro ,  mas  posta  em  contacto  com  as  membranas 
do  nariz  provoca  espirros  violentos  a  ponto  de  pode- 
rem ser  perigosos :  huma  quantidade  quasi  imponde- 
ravel  pode  produzir  este  efieito.  O  sabor  da  veratrina 
he  extremamente  acre ,  mas  sem  a  menor  mistura  de 
amargo  ;  em  doses  mui  ténues  excita  horriveis  vómitos , 
pela  irritação  que  causa  nas  membranas  muscosas : 
quando  a  dose  he  hum  tanto  mais  forte  este  eífeito 
se  propaga  aos  intestinos  ;  e  as  experiências  feitas  so- 
bre animaes  mostrào  que  poucos  grãos  bastão  para 
causar  a  morte. 

A  veratrina  he  mui  pouco  solúvel  em  agua  fria  ,  e 
neste  respeito  pode  comparar-se  á  morpliina  e  á  strych- 
nina.  A  agua  a  ferver  dissolve  ãoõõ  do  seu  peso  e  ad- 
quire huma  acrimonia  sensivel.  He  extremamente 
solúvel  no  alcohol ;  o  ether  também  a  dissolve ,  porém 
em  menor  quantidade. 

Exposta  á  acção  do  calor ,  derrete-se  coin  muita 
facilidade; basta  para  isso  huma  temperatura  de  +  5oo ; 
neste  estado  parece  cera ,  e  esfriando  toma  huma  côr 
de  âmbar  e  translúcida.  Distillada  a  fogo  descoberto , 
incha y  decompõe-se,  produz  agua,  muito  óleo,  etc.  e 
deixa  hum  carvão  volumoso ,  o  qual ,  incinerado  deixa 


dns  Artes  etc.  lai 

hum  resíduo  apenas  sensivel  e  ligeiramente  alcalino , 
mas  que  não  he  a  causa  da  propriedade  alcalina 
da  veratrina.  Tratada  ao  fogo  com  o  deutoxydo  de 
cobre  ,  não  dá  a  veratrina  signal  algum  de  aa^ote ;  he 

pois  hum  composto  de  hydrogeneo »  de  carbone  e  de 

« • 

oxygeneo,  como  a  strychnina. 

A  veratrina  restitue  a  cor  azul  ás  cores  vegetaes 
avermelhadas  por  hum  acido,  e  satura  os  mesmos 
ácidos,  formando  com  elles  saes  incrystallisaveis.  Pela 
evaporação  estes  saes  tomão  a  apparencia  de  gomma 
ou  de  malate  acido  de  cal.  Só  o  sulphate  apresenta 
rudimentos  de  crystaes ,  quando  tem  excesso  de  acido. 
Porém  se  be  fácil  verificar  a  propriedade  que  a  veratrina 
tem  de  neutralisar  perfeitamente  os  ácidos ,  he  diíEcil 
obter  as  suas  combinações,  porque  logo  que  se  lhes 
mistura  huma  pequena  quantidade  de  agua,  para  se- 
parar o  sal  da  veratrina  insolúvel  que  pode  achar-se 
em  excesso,  logo  o  liquido  dá  indicies  de  acidez.  Esta 
propriedade,  junta  á  impossibilidade  de  fazer  crystal- 
lisar  estes  saes ,  toma  o  seu  estudo  ingrato  e  quasi 
impossivel ;  e  por  isso  se  limitarão  os  autores  á  analyse 
do  sulphate  e  do  muriate.  O  iode  e  o  clilore  compor- 
tào-se  com  a  veratrina  como  com  os  alcalis  vegetaes  já 
conhecidos  ;  resultào  destas  combinações  saes  incrystal- 
lisaveis. O  acido  nitrico  combina-se  com  a  veratrina, 
mas  he  preciso  empregá-lo  com  cuidado ,  pois  de  outra 
maneira  altera  promptamente  a  substancia  vegetal.  Não 
se  nota  neste  caso  a  còr  vermelha  que  se  manifesta 
•operando  sobre  a  morphina ,  a  strychnina  e  a  brucina. 


laa  Noticias  das  Scieneias 

A  veratrína  mão  parece  sasceptivel  de  se  oxydar  come 
estas  Ires  substancias  ,  porém  altera-se  nos  seus  ele- 
mentos, dá  kuma  matéria  amarella ,  detonante ,  aná- 
loga ao  amargo  de  JVekcr. 

A  veratrína  he  insolúvel  nos  alcalis  e  dissolve- se 
em  todos  os  acides  vegetaes. 

Se  compararmos, dizem  os  autores  da  Memoriada 
veratrína  aos  outros  alcalis  vegetaes  já  conhecidos , 
veremos  que ,  independentemente  da  sua  acção  sobre 
a  economia  animal ,  diOere  especialmente  da  mor- 
phina  j  da  strychniua  e  da  brucina ,  pela  impossibili- 
dade de  dar  saes  crystallisaveis ,  nem  ainda  saes 
neutros  y  excepto  pela  addiçào  de  hum  grande  excesso 
de  base ,  da  qual ,  nesse  caso ,  huma  parte  está  só 
misturada  ^  nisto  parece  ter  analogia  com  a  pícro- 
toxina  ,  a  gnai  lambem,  não  se  tinge  de  vermelho  pelo 
acido  nítrico  y  e  cujos  saes  são  sempre  ácidos. 

A  classe  das  substancias  vegetaes  alcalinas  >  que 
em  181G  não  comprebendia  senão  duas  espécies ,  a 
morphtna  e  o  alcali  do  daphne ,  enríqueceo-se  succes- 
sivamente  da  slrychnina,  da  picrotoxina,  da  brucina 
c  da  veratrína.  Hemaiçque  provável  que  outras  sub* 
slancias  da  mesma  natureza  se  descubrão  ainda  com 
o  tempo,  e  talvez  seja  ainda  maior  o  nudaeix)  dos 
alcalis  que  o  dos  ácidos  vegetaes.  Muitas  doestas  sub- 
stancias tem  até  agora  escapado  ás  investigações  dos 
cbymicos>  em  razão  da  solubilidade  d'elias ,  que  se 
oppõç  á  sua  purificação,  e  á  separação  da  matería  colo- 


das  Artes  ,  etc.  il3 

rante.  Por  isso ,  quando  se  tratào  os  extractos  de  hjos- 
ciamo  y  de  aconito ,  de  rhus  radicans ,  etc-  pela  ma- 
gnesia ,  obtém- se  liquidou  mui  alcalinos ,  e  que  exigem 
pai^a  serem  saturados  muito  mais  acido  do  que  as 
cinzas  dos  mesmos  extractos. 

He  também  mui  provável  que  as  forças  que  >  du- 
i*ante  o  processo  da  vegetação  ,  dão  origem  a  substan- 
cias acid;)S  y  produzem  ainda  maior  numero  de  alcalis, 
de  sorte  que  a  producçào  de  huma  molécula  alcalina 
he  huma  consequência  da  producçào  de  varias  molé- 
culas acidas ,  visto  que  as  substancias  alcalinas  vege- 
taes  se  achão  sempi^e  na  natureza  no  estado  de  super- 
sal,  ou  sal  com  excesso  de  acido.  Esta  ideia  iiypotlietica 
concorda  mui  bem  com  o  systema  das  forças  eléctricas, 
que  parecem  ter  tantia  influencia  na  composição 
chymica. 

Na  raiz ,  do  colchico  acharão  grande  quantidade  de 
inulina  misturada  com  amido.  À  este  respeito  obsér- 
vào  que  he  mui  difiicil  separar  a  inulina ,  e  propõem 
para  o  conseguir  o  meio  seguinte.  Deite-se  infusão  de 
galhas  no  cozimento  amiláceo ,  e  logo  se  manifestará 
hum  precipitado  sénsivel ;  ^as  exposto  o  licor  a  hum 
calor  graduado,  o  precipitado  desapparecerá  peito  de 
5oo  cent. ,  como  o  notou  M.  Thomson ,  se  o  amido  for 
puro ;  mas  ,  se  houver  inulina  ,  o  precipitado  não  des- 
ai)parecerá  senão  perto  do  ponto  de  ebuUição. 

MM.  Pelfótier  e  Gavèrítou  também  descobrirão  ita 
raiz  da  beUadoná  huma  substancia  pulverulenta »  so- 


I  x4  Solidais  àas  Scieneias  , 

lavei  DOS  aâdos ,  e  que  tem  moita  analogia  com  9 
veratrina  ,  pelas  suas  propriedades  chjmicas ;  comtudo 
nem  he  acre  nem  amai^osa. 

M.  Brande  parece  ter  igualmente  descoberto  esta 
CO*,  a  substancia  na  belladona ,  na  qual  diz  ter  achado 
bom  alcali^que  denominou  Atropiwn^e  que  diz  achai^e 
em  estado  de  super-malate.  Segundo  M-Brande,oatropio 
iònsa  parte  da  substancia  á  qual  M.  Vauquelin  tinha 
attnbiiido  a  propriedade  lethargica  da  planta ,  e  M. 
Brande  chama  esta  matéria  pseudotodaxia.  Cré  que  ao 
a!rof*ij  he  derida  a  qualidade  narcótica  da  planta  , 
«2>io  qoe  a  mais  tcnne  porção  d'elle  basta  para  causar 
a  diaiaçfto  da  popilla,  e  nas  i^essoas  de  constituição 
irr^tatd .  o  vapor  dos  saes  de  atropio ,  durante  a  ebul- 
Lç^ú  da  sua  liúna »  pode  produzir  o  mesmo  elleito. 
O  Atropco  neatralisa  maior  quantidade  dos  ácidos  que 
A>  mã^  ãlcALs  vegetaes:  eipondo-o  ao  hum  fogo  i*ubro 
cMn  a  potassa  não  se  forma  acido  hydrocjanico  (  prus- 
ssco  ,  mas  oblem-se  pda  ebuUiçào  da  af^a  hum  li- 
quido qne  depõe  bum  addo  ,0  qual  avermelha  os  saes 
de  ferro. 

CoTincA  AsiMAI.. 

M.  Vauquelin  tinha  recusado  admittir  os  dois  des- 
cobrimentos do  acido  erythico  de  M.  Brugnatelli  e 
do  ad«1o  purpurico  do  D**.  Pk*out ,  de  que  falíamos  no 
Tc«i.  ^  I  dos  Annaes,  Parte  a*,  pag.  184.  O  D^  Prout 
xcpbcon  a  M.  Vauqudin  no  tomo  XIY  pag.  363  dos 
jttOL  iffPhil. ,  e  de  novo  ai&rma  ter  verificado  a  exis- 


d€is  Artes  ,  etc*  laS 

tencia  do  acido  purpurico  que  elle  descobrío  tratando 
o  acido  lírico  pelo  nitrico  ;  attribue  a  falta  de  successo 
das  experiências  de  M.  Vauquelin  a  ter  este  empregado 
hum  acido  úrico  impuro,  quando  o  D^".  Prout  usou  de 
que  he  extraliido  do  excremento  das  serpentes ,  que. 
elle  diz  ser  perfeitamente  puro.  E  com  eíTeito  vé-se  ^  ♦ 
pela  analyse  que  o  D^.  Davy  deo  da  ourina  dos  reptis 
de  escamas ,  que  este  fluido  he  quasi  inteiramente  com- 
posto de  acido  úrico,  pelo  menos  nos  Saunos  e  nos 
Opbydios. 

M.  Braconnot  publicou  a  analyse  que  fez  do  fígado 
de  boi;  d'ella  se  vé  que  sobre  loo  partes  do  que  elle 
chama  parenchyma,,  que  he  para  o  tecido  vascular  e 
membranoso  como  8i,o6  :  io,o4  '  achou  68,64  de  agua  , 
20,19  de  albumina  secca,  3,89  de  óleo  phosphored 
solúvel  no  alcohol  e  semelhante  ao  do  cérebro ,  o,o4 
de  muriate  de  potassa  e  phosphate  ferruginoso  de 
cal,  de  0,1  de  hum  sal  acido,  insolúvel  no  alcohol , 
formado  de  hum  acido  combustivel  com  a  potassa , 
e  finalmente  de  hum  pouco  de  sangue. 

M.  Lassaigne,  applicando  ao  kermes  vegetal  os  pro- 
cessos empregados  por  MM.  Pelletier  e  Caventou  na 
analyse  da  cochonilha  ,  convenceo-se  que  aquella  subr 
stancia  tem ,  pela  sua  composição  chymica ,  a  maior 
analogia  com  esta ;  o  que  era  facil  de  prever ,  vista  a 
mui  leve  differença  que  existe  entre  os  animaes  dos 
dois  géneros. 

O  mesmo  chymico  examinou  as  concreções  que  se 


]i6  Noticias  das  SciendaSj 

encontrão  no  fluido  contido  na  allantoide  do  feto  da,' 
-vacca,  e  acbou  que  con&táo  de  muco,  de  huma  |>e-. 
quena  quantidade  de  albumina  e  de  muriate  de  soda, 
e  que  contém  27  por  cento  de  oxylate  de  cal ,  sal  que 
até  agora  se  não  tinha  «encontrado  nos  animaes,  excepto. 
Qos  cálculos  urinários  do  homem  e  de  alguns  animaes^ 
de  sorte  que  estas  concreções  parecerílo  ser  espécies 
de  cálculos;  o  que  confirma  a  ideia  de  M^Blainville 
que  ha  muitos  annos  considera  o  allantoide  como  hum. 
simples  appendix  da  bexiga  urinaria* 

Hum  facto  não  menos  curioso ,  e  que  [á  annunciá- 
mos  9  he  ter  M.  Chevreul  descoberto  no  fructo  do 
Vtburnwn  opulus  hum  acido  livre  ,  inteiramente  seme- 
lhante ao  acido  delplúnico^  que  o  mesmo  chjmicoj 
tinha  d^antes  descoberto  na  gordura  dos  delphins. 

M.  Lnssaigne  achou  que  a  ourina  dos  porcos  contém; 
ur^a^  muriates  de  ammonia  ,  de  potassa  ,  de  soda,  sul- 
phate  de  potassa  ,  hum  pouco  de  sulphate  de  soda,  e 
finalmente  vestígios  de  sulphate  e  de  carbonate  de  cal. 

M.  Thoinson,no  tomo  XIV  png.  10  dos  Ann,  ofPhiL^ 
analysou  o  picromel,  obtido  da  bilis  de  boi  pelo  pro- 
cesso de  M.  Berzelius  ,  e  achou  que  era  composto 
de  0,53 1  de  carbone  ,  0,022  de  hydrogeneo  ,  e  0,447  ^^ 
oxygeneo  ,  de  sorte  que  só  difiere  da  gomma  em  ter 
menos  hydrogeneo. 

]V1.  Porrett  tem  continuado  a  occupar-se  dos  prus- 
siates  ,  e  depois  de  ter  rectificado  as  suas  primeiras 
opiniões ,  cré  agora  que  o  acido  dos  prussiates  triplos , 


das  jirLcs  ,  ele.  itin 

que  elle  chama  Acido  chyazico  ferruretado ,  e  que  se 
obtém  do  prussiate  triplo  de  potassa  tratado  pelo  acido 
tartarico  ,  empregando  por  vehicDio  o  alcohol  em  vez 
de  agua^he  positivamente  formado ,  segundo  a  ana** 
lyse  que  elle  fez  do  ferro  -  çhyazate  de  potassa ,  dç 
quatro  átomos  de  carbone,  de  hum  átomo  de  ferro 
no  estado  mets^Uico ,  e  de  hum  átomo  de  hydrogeneo ; 
estes  saes  são  também  formados  de  hum  átomo  de 
base  e  de  dois  de  agua. 

A  pezar  doesta  mudança  nos  primeiros  resultados 
obtidos  por  M.  Porrett,  he  impossivel  considerá-los 
ainda  como  Certos  ,  pelo  menos  se  attendermos  a  hum 
artigo  he  M.  Robiquet  inserido  no  tomo  XII  pag.  877 
dos  Annales  de  C/Umie^  de  que  já  falíamos  no  Tomo 
VIII  Parte  2^.  pag.  i35  dos  nossos  Annaes. 

Também  já  no  Tomo  VII' Parte  a»,  dêmos  noticia  do 
trabalho  de  M .  Prout  sobre  o  acido  caseico  e  o  oxydo 
caseoso  ,  que  elle  descobrio  no  queijo,  e  que  lhe  com- 
municào  o  seu  gosto  particular* 

Artes  e  Processas  Cl^micos. 

Já  falíamos  no  aperfeiçoamento  importante  e  facil 
que  M.  Berzelius  introduzio  na  construcçào  do  maça- 
rico formado  de  mistura  detonante,  mettendo  no 
tubo  de  communicaçào  com  o  reservatorío  hum  sys- 
tema  de  volantes  ou  tecidos  finos  metallicos.  Doesta 
maneira  pode  produzir-se  huma  grande  intensidade  de 
calor  y  sem  receio  de  accidentes. 


ia8  Noticias  dãs  Sciencias  j 

M.  Gay-Lussac  imaginou  hum  meio  de  produiir 
li  um  frio  artificial  qúasi  ao  infinito  ;  be  fundado  sobre 
a  observação  que  a  temperatura  de  hum  corpo  diminue. 
ou  augmenta  com  o  seu  volume.  Comprimindo-se  pois 
o  ar,  ou  ainda  melhor  hum  gazque  tenha  maior  ca- 
pacidade para  o  calórico  9  e  deixando-se  escapar  subi- 
tamente em  forma  de  huma  corrente ,  por  meio  de 
hum  tubo  y  e  projectado  sobre  huma  pequena  porção 
de  matéria ,  he  certo  que  a  expansão  do  gax  produ- 
zirá hum  grão  de  frio  illimitado;  e  d'aqui  deduz  M. 
Gay-Lussac  que  o  zero  absoluto  he  chimerico.  Parece 
que  M.  Marshall  Hall  tinha  já  proposto  hum  processo 
semelhante  ha  mais  tempo. 

M.  Berzelius  deo  como  meio  certo  de  reconhecer 
a  presença  do  lithium  em  huma  pedra  ,  aquecer  huma 
pequena  porção  d'eliâ  ao  maçarico  ,  com  bum  pequeno 
excesso  de  sodA  em  cima  de  hum  pedaço  de  platina  \ 
a  extensão  e  a  intensidade  da  côr  escura  que  se  ma- 
nifestará sobre  a  placa  metaUlca  fará  julgar  da  quan- 
tidade do  litlúum. 

Não  repetiremos  o  que  já  dissepios ,  tomo  VIU  parte 
a*,  pag.  i33  dos  nossos  Annaes  sobre  o  processo  de  M. 
Longcbarap  para  obter  a  magnesia  pura.  M.  Phillipps, 
com  o  mesmo  fim  de  separar  a  magnesia  da  cal , 
propõe  ajuntar  á  solução  nilrica  ou  muriatica  d' estas 
terras  ,  sulphate  de  ammonia ,  tratando  pelo  calor  ate' 
que  o  muriate  ou  nitrate  de  ammonia  que  se  forma 
seja  volalilisado ;  depois  pesa ,  reduz  a  pó  ,  satura 
como  sulpbate  de  cal,  até  que  o  de  magnesia  esteja 


das  Artes  ,  etc*  lag 

inteiramente  dissolvido,  seccar  o  sulpliate  de  cal 
precipitado  ,  e  deduzindo  o  seu  peso  do  da  mistura  ^ 
conhecer-se^ba  a  quantidade  do  sulphate  de.magnesiai 

M.  Guibourt ,  no  Joutnàl  dé  Pharmacie ,  tomo  V, 
pag.  58y  mostrou  que  (|uaiido  se  prepara  o  sub-car- 
bonate  de  polassa,  deitando  pouco  a  pouco  huma 
mistura  de  duas  partes  de  Cremor  de  taklaro  e  dei 
de  nitro  em  hum  cadinho  em  braza',  e  depois  exposto 
a  hum  calor  mais  violento,  se  obtém  com  este  sal 
muito  cyanureto  de  potassia;  e  que,  pelo  contrario 
se  obtém  o  sal  puro,  deitando  esta  mesma  mistura  em 
huma  caldeira  cujo  fundo  esteja  apenas  rubro,  como 
o  ensina  M.  Thenard ,  è  lixiviando  o  producto  da  de-** 
flagraçào  im  mediata  mente  depois  de  ter  esfriado. 

M.  Berthier ,  no  Journal  des  Mines  tomo  III  >  pag» 
555  ,  fez  ver  que,  para  separar  o  sulphureto  de  anti-^ 
tnonio,  particularmente  quando  a  mina  hé  pobre  ^  he 
preferivel  a  lavagem  á  fusão ,  porque  por  este  se^ 
gundo  methodo  ha  sempre  huma  perda  de  hutn 
quinto* 

Deve-se  a  M.  BouiUon  Lagrange  hum  novo  processo 
para  preparar  o  ether  nitrico ;  consiste  em  metter 
aparas  de  cobre  em  hum  frasco  munido  de  hum  tubo 
em  Cárma  de  S ,  para  ir  deitando  dentro  d^elle  pouco 
a  pouco  acido  nitrico ,  e  de  outro  tubo  pai*a  conduíii' 
o  gaz  nitroso  a  huma  mistura  de  partes  iguaes  de 
acido  nitrico  a  36o  ^  e  de  alcohol  a  4o^»  contida  cm 
hum  matrás.  A  este  frasco  está  junto  hum  apparelb# 


}3o  Soticiiàs  da$  Sciencias  , 

de  Woulf «  oqo»  Inscos  eitão  nieio&  cheios  de  a^oa 
satnradA  de  maríate  de  soda,  e  mettido  em  huma 
mistur»  refirigeranie.  Por  este  processo  obtem-se ,  de  8 
oDças  de  alcohol  e  de  acido ,  perto  de  3  onças  de  ether 
perftítanenie  poio. 

Contra  a  asserção  de  M.  Braconnot,  que  tinha  an- 
nuDciado  em  buma  Memoria  sobre  o  acido  galhico , 
Dão  ter  podido  obter  hum  só  átomo  d*este  acido  pelo 
processo  de  M.  Barmel,  isto  he,  precipitando  huma 
dissoliição  de  nozes  de  galha  por  hum  excesso  de 
dará  de  ovo  ,  e\aporando  ao  secco  e  tratando  a  massa 
pelo  alcohol ,  M.  Gaulhier  de  Qaobry  verificou  que 
este  processo  pode ,  não  só  ser  empregado  com  pro* 
veitOf  mas  qne  dá  hum  acido  mais  puro.  Comtudo 
confessa  que  o  methodo  de  M.  Braconnot  he  mais 
simples^ 

M.  Cb.  JobosoBf  teado  feito  a  observação  que  o 
acido  sdh&co  decompõe  o  nitrale  ammoniacal  de  prata, 
oa  huma  soluto  de  oxydo  ou  de  muriate  de  prata 
na  ammonia ,  formando  hum  precipitado  mui  abun- 
dante mas  pouco  persistente ,  pensa  que  por  este  meio 
he  possivd  descobrir  huma  mui  ténue  porção  de 
prata  e  de  adJo  galhico. 

M.  Thomson  publicou  no  tomo  XIV  pag.  i^a  dos 
jimn,  of  PhiL  hum  processo  para  obter  em  crystaes  o 
acolate  de  ammonia  ,  e  provavelmente  outros  saes 
iguahnente  difHceis  de  se  conseguirem  pela  maneíi^ 
ordiuaiia.  Consiste  em  deitar  sobre  huma  certa  quan- 


das  Artes  ^  etc.  i3i 

tidade  de  acido  acetioo  mui  foi  te ,  mettido  em  hum 
graiule  vaso  cjrlindrico  de  vidro,  carbonate  de  ammo- 
Dia  em  pó ,  até  perfeita  saturação ;  toma-se  depois  esta 
solução  concentrada  de  ammonia  em  agua,  pôe-se  sobre 
hum  disco  evaporatorío  de  Wedgewood ,  cobrindo-a 
com  huma  capsula  em  que  se  faa  o  vácuo ,  e  na  qual 
se  mette  bum  vaso  com  acido  sulpburico  concentrado; 
dentro  de  dois  ou  três  dias,  obter-se-ha  acetate  de 
ammonia  crystallisado  em  agulhas  compridas. 

  fabricação  das  pedras  artificiaes  imitando  as  pe-* 
dras  preciosas  naturaes  >  be  hum  artigo  não  pouco  im- 
portante do  commercio  da  França ,  e  por  essa  razão 
propoz  a  Sociedade  Promotora  da  Industria  hum 
premio  pára  a  composição  das  pedras  artificiaes ,  de 
maneira  que  não  fosse  preciso  tirá-las  de  ÂUemanha 
onde  até  ha  pouco  erão  quasi  exclusivamente  fabri- 
cadas. M.  Douault-Wieland  ganhou  o  premio ,  e  M • 
Lançou  lho  disputou.  Eis-aqui  hum  extracto  dos  pro- 
cessos de  ambos  estes  fabricantes  que  forão  reconhe- 
cidos superiores  pelos  Commissarios  nomeados  peU 
ditta  Sociedade. 

A  base  de  todas  as  pedras  artificiaes  he  o  5íra^5,  que 
se  pode  chamar  fundente  quando  se  une  aos  oxydos 
metallicos  (  cães  metallicas  )  para  formar  as  pedras 
coloridas.  Trabalhado  de  per  si ,  serve  a  imitar  os  bri- 
lhantes e  os  diamantes  rosas. 

O  slrass  he  hum  composto  de  silicia  ,potassa ,  bórax , 
oxydo  de  chumbo ,  e  algumas  vezes  de  arsénico* 

9* 


t3ii  Noticias  das  Sciencias  ^ 

A  silicia  pode  tirar-se  i^.  do  crystal  de  rocha,  a«.  da 
areia  ,  3o.  do  silex  (  pederneira ).  O  crystal  de  rocha  dá 
hum  vidro  mais  branco;  o  silex  contém  sempre  hum 
pouco  de  ferro  que  tinge  o  vidro  de  amarello ;  a  areia 
que  se  escolhe  a  mais  pura  e  translúcida  precisa  ser 
lavada  em  acido  muriatico ,  e  depois  em  agua  antes 
de  se  fazer  uso  d*ella.  Para  pulverisar  e  joeirar  o  crystal 
de  rocha,  assim  como  a  pederneira,  he  preciso  pi imeiro 
aquecer  os  fragmentos  de  ambos  até  estarem  em  braza , 
depois  deitá-los  em  agua  fria  para  os  fazer  estalar ,  e 
então  se  pulverísào  e  joeirão. 

A.  potassa  não  deve  ter  mistura  de  outros  saes , 
deve  escolher-se  a  mais  bella ,  ou  a  potassa  cáustica 
purificada  pelo  alcohol.  Os  chymicos  que  tem  feito 
investigações  sobre  a  composição  áo  flint-glass  tem 
reconhecido,  que  só  com  a  potassa  a  mais  pura  se 
obtém  vidro  branquíssimo.  Os  crystaes  os  mais  bellos 
de  soda  dão  sempre  slo  vidro  huma  côr  amarellada. 

O  bórax  do  commercio ,  o  de  Hollanda  por  exem- 
plo ,  daria  hum  vidro  escuro.  Deve  preferir-se  o  acido 
bórico  crystallisado  ,  extrahido  do  bórax  de  Toscana; 
lie  branco  ,  folhado,  mui  fusível,  e  he  o  melhor  fun- 
dente. 

O  oxydo  de  chumbo  deve  ser  perfeitamente  puro. 
Basta  conter  hum  átomo  de  estanho  para  tornar  o 
vidro  baço  e  leitoso.  O  minio  deve  preferir  se  ao  mais 
bello  lithargyrio  ( fezes  de  ouro  ),  e  ate'  á  cerusa  (  al- 
vaiade  )  de  Clichy  ,  que  dá  hum  bello  vidro  ,  mas  não 
iz«nto  de  bolhas.   He  preciso  analysar  o  minio  antes 


das  jártesy  etc.  iSS 

de  o  empregar ,  para  ter  certeza  que  não  encerra  ou- 
tro algum  oxydo. 

O  arsénico  deve  ser  igualmente  mui  puro.  M.  Lançon 
não  se  serve  de  arsénico,  e  julga  que  não  he  neces- 
sário y  pois  elle  fabrica  bello  strass  sem.  esta  addição. 
Tem  alem  disso  o  arsénico  o  gi*ande  mconveniente 
de  incommodar  os  operários  que  trabalhão  sobre  mas- 
sas d*elle. 

A  escolha  dos  cadinhos  he  mui  importante.  Os  de 
Uesse  são  preferíveis  aos  de  porcelana.  Os  que  contém 
algum  ferro  tingem  a  matéria  em  amarello  ou  pardo.. 
Para  fundir  a  matéria  usa-se  de  hum  forno  de  oleiro 
ou  de  porcellana,  e  os  cadinhos  (icão  ao  íbgo  por  espaça 
de  ^4  horas.  Quanto  mais  tranquilla  e-  prolongada  for 
a  fusão  mais  o  strass  será  duro  e  bello*  Se  os  cadinhos 
são  da  melhor  qualidade  pode  preferír-se  o-  focno  de 
porcelana ,  mas  não  sendo  assim  ,  basta  o  dos  oleiros 
onde  não  se  quebrão  tantos  cadinhos.  O  verdadeira 
seria  ter  hum  forno  feito  de  propósito ,  o  qual  he  de 
forma  cylindiica  terminado  em  cúpula  ;  parece-se  com- 
hum  cortiço  de  abelhas ,  e  tem  de  altura  7  pés,  e  4 
de  diâmetro. 

Eis-aqui  4  misturas  que  dão  strass  igualmente  bello. 

o.    I. 


Crystal  de  rocha ,. 

7  onças. 

»  oitavas» 

a4  grãos 

Minio , 

>o 

7i 

» 

Potassa  pura. 

3 

5i 

3o 

Bórax , 

» 

35 

114 

Arsénico, 

» 

9 

ia 

22  onças.      I  i  oitavas.    i8grãos« 


i34 


Noticias  das  Sciencias^ 


hxoiai , 

6onç. 

2  oiL 

»  gr. 

Alvalade  de  CUchj, 

II 

Si 

18 

Potassa , 

a 

>i 

j» 

Borai  j 

» 

5 

« 

Arsénico , 

» 

» 

12 

20  onças. 

6  oitavas. 

3o  grãos. 

Ko.  3. 

Cryslal  de  rocha  t 

6onç. 

»oit. 

»    gr. 

Minio , 

9 

2 

» 

Potassa  • 

3 

3 

V 

Bórax, 

» 

3 

3» 

Arsénico, 

9 

A» 

õ 

ip  ottçss- 

»  oitaFas. 

Cgi-ãos, 

Tí^  4. 

Crystal  de  rocha , 

6onç. 

aoil. 

»gr. 

Alf  aíade  de  Clichy , 

it 

5i 

18 

Potassa, 

2 

li 

n 

Bom, 

» 

5 

» 

ao  onças.      6  oitavas.     18  gi*àos« 

O  strass  obtido  pelo  crystal  de  rocha  he  em  geral 
mais  duro  que  o  em  que  entra  a  areia  ou  a  pederneira  , 
mas  he    demasiadamente  branco,  o  que  diminue  a 
hcUeia  da  agua.  O  bello  strass  deve  sempre  ter  buma 
Ii$eini  c6r  amarellada ,  a  qual  desappanece  ao  Japidar. 


das  Aries  j  ete,  i35 

M.  Lançon  faz  bello  strass  nas  proporções  seguintes. 

Litharg3Tk>  ( fezes  de  ouro  ),    i  oo  libras* 
Areia  branca ,  75 

Tártaro  branco ,  ou  potassa ,      i  o. 

Topázio. 

Esta  pedra  artifícial  he  mui  difficil  de  obter  no  com- 
mercio  ^  porque  he  mui  sujeita  a  aiterar-se  na  fusão ,  a 
ponto  que  M.  Douault  lhe  chama  camelão  vítreo.  Eis* 
aqui  como  elie  a  prepara. 

Strass  mui  branco ,      i  onç.       6    oit.       » gr. 
Vidro  de  antímonio  ,     »  »  |  «7 

Purpura  de  Cassius  ,    »  »  i 


I  onça«      6 1  oitavas.  8  grãos. 

Deve  escol her-se  o  vidro  de  antimonio  o  mais  trans- 
parente e  de  hum  amarello  alaranjado  claro.  As  mu- 
danças que  esta  composição  experimenta  ao  fogo ,  se- 
gundo os  diversos  grãos  de  temperatura ,  são  mui  dignas 
da  attençào  dos  chymicos  ,  e  a  theoria  d*ellas  he  até  aó 
presente  ignorada.  A  matéria  passa  do  amarello  ao  yer- 
melhoy  e  doesta  cor  ao  branco  \  toma  a  passar  do  branco 
ao  vermelho  ^e  ao  amarello ,  segundo  se  opera  com 
òu  sem  o  contacto  do  ar. 

Pode  também  com  o  ferro  só   obter-se  hum  bello 
topázio ,  empregando  a  mistura  seguinte. 
Stress  mui  branco ,  6  onç.  »  eit  * 

Oxydo  de  ferro ,  vulgarmente  açafrão 

de  marte ,  »  » i 


l35  Noticias  das  Sciencias  , 

Rubi. 

He  a  mais  rara  e  a  mais  cara  das  pedras  artiíiciaes* 
M.  Douault  coDsegaio  fabricá-la  de  huma  ^ande  bel^ 
leza ,  tomando  a  massa  do  topázio  quando  sabe  opaca » 
e  misturando-a  com  oito  partes  de  strass  mui  branco, 
fundio-a  em  hum  cadinho  de  Hesse^que  ficou  por  trinta 
horas  exposto  ao  íogo  de  hum  forno  de  oleiro ;  o 
resultado  foi  hum  bello  crystal  amarellado  semelhante 
ao  strass ,  o  qual  fundido  de  novo  ao  maçarico  deo 
o  mais  bello  rubi  oriental.  Pode  fazer-se  hum  rubi 
menos  bello  e  de  huma  cor  differeqte »  empit^gsii^do 
os  proporções  seguntes  : 

Strass  mui  branco ,  5  onças.    »  oitavas. 

Oxydo  de  manganese ,      »  i 

5  onçs^s.     i  oitava.. 
JSsmeralda. 

A  compo^ção  que  imita  melhor  a  esmeralda  he  ^ 
$eguinte  : 

Strass  mui  branco ,  8  onç.    »  oit        » «r. 

Oxydo  verde  de  cobre  puro ,  »  »  i  6 

Oxydo  de  chrome ,  »  »   ,  a         . 

8  onças.  » 3  oitava.  8  gràos. 

Augmentando  a  proporção  do  chrome  ou  do  oxydo 
dç  cobre ,  e  misturando-Ihe  o^ydo  de  feiro ,  pode 
fazer-se  variar  a  côr,  e  imitar  a  esmeralda  escura  ou 
peridotO' 


áas  Artes  j  etê.  i37 

Saphira. 

Para  produzir  huma  cor  de  hum  bello  azul  oriental , 
he  preciso  empregar  strass  mui  branco  e  oxydo  de 
cobalto  mui  puro.  Deve  metter-se  a  composição  em 
hum  cadinho  de  Hesse  bem  lutado  e  ficar  trinta  horas 
ao  fogo.  Se  a  fusão  for  bem  conduzida,  obter^se-ha  hum 
vidro  mui  duro  e  sem  bolhas  y  que  admitte  facilmente 
ser  polido.  Eis-aqui  as  proporções : 

Strass  mui  branco  ,      8  onças.    »  oit.  » gr. 

Oxydo  de  cobalto ,        »  » i  Z^ 


8  onças.    »  \  oitava.  3^  grâos« 
Amethysta» 


Strass  mui  branco ,  8  onç.  »  oit.  »  gr. 

Oxydo  de  manganese ,  »  » |  » 

Oxydo  de  cobalto ,  »  »  ^4 

Purpura  de  Gassius,  »  »  i 


8  onças.    »  \  oitavas.  25  grãos. 

As  proporções  de  M.  Luçon  são  melhores.  M.  Douault 
emprega  manganese  em  demasia.  Eisaqui  as  de  M. 
Luçon : 

Strass  mui  branco  i  libra. 

Oxydo  de  manganese ,  i5  a  a4  grãos. 

Oxydo  de  cobalto ,  i  grão. 

Aguas-Marinhas. 
São  pedras  pouco  estimadas  y  ainda  sendo  naturaes. 


i3S  Soiicias  das  ScieFmas^ 

Sko  esmeraldas  pallidas ,  mais  azuladas   que  verdes, 

e  que  imiiâo  a  cor  da  agua  do  mar.  Obtem-se  mis- 

furando 

Strass  mui  branco ,  6  onç.       »  grãos. 

Vidro  de  antimonio »         »  a4 

Oirdo  de  cobalto ,  » 


i4 


6  onças.    a5 1  grãos. 

Granada  de  Sr  ria. 

Esta  pedra,  qae  os  antigos  chamaTãoeoriímcuío,  tem 
kama  côr  viva  qae  agrada  muito ,  e  que  he  mui  pro- 
curada para  jóias  pequenas.  A  granada  artificial  be 
buma  espccie  de  mbi  carregado  de  côr  e  que  se  fa- 
brica pela  formula  seguinte : 


Strass  mui  branco ,       »  ooç. 

7  oit. 

8  gr. 

Vidro  de  antimonio ,     » 

3i 

4 

Purpura  de  Cassius ,    « 

1» 

a 

Oxvdo  de  manganese ,  > 

» 

^ 

I  onça.    ai  oitavas.  i6  grãos. 

Na  fabricação  das  pedras  artíficiaes ,  ba  muitas  pre- 
cauções a  tomar  y  que  só  o  habito  doesta  manipulação 
pode  ensinar.  Em  geral  be  preciso  pulverísar  e  até 
porphyrisar  os  ingredientes  com  muita  attenção  e  joei- 
rar repetidas  vezes,  nunca  servindo-se  da  mesma  joeira 
para  matérias  diíTerentes.  Devem  só  empregar-se  sub- 
stancias mui  puras  e  misturarem-se  só  no  maior  estado 
de  tenuidade ;  devem  escolber^e  os  melhcNres  cadinhos, 


das  Artes  ,  etc.  iSg 

e  fundir-se-hâo  as  matérias  em  fogo  graduado  e  bem 
igual  no  máximo  da  temperatura ;  as  matérias  ficarão 
ao  fogo  por  espaço  de  a4  ou  3o  horas ,  e  os  cadinhos 
não  devem  deixai^se  arrefecer  senão  mui  de  vagar- 

M.  Cadetde  Gassicourt,  que  foi  hum  dos  commis- 
sarios  encarregados  de  examinar  as  Memorias  que 
concorrerão  para  o  premio  j  ajuntou  as  seguintes  re* 
flexões. 

^  Se  bem  que  M.  Douault-Wieland  achasse  huma 
composição  de  strass  superior  á  das  Âllemães ,  e  que 
imita  perfeitamente  as  pedras  naturaes  de  cores ,  não 
se  deve  crer  que  a  arte  de  colorir  o  vidro  por  meio 
dos  oxydos  metallicos  tenha  ainda  chegado  á  sua  per- 
feição. Seria  para  desejar  que  hum  chymico  experi- 
'  mentado  se  occupasse  da  theoria  d*esta  coloração. 
Desde  que  as  terras  vitrificáveis  e  os  alcalis  são  reco- 
nhecidos serem  oxydos  metallicos;  depois  que  se  des- 
cobrio  o  potassium  ^  o  sodium  ,  o  silicium  ,  o  calcium  ^ 
etc.  devem  considerar-se  os  vidros  como  ligas.  Seria 
pois  útil  combiná-los  no  seu  estado  de  pureza  ,  com 
os  outros  oxydos ,  e  submetté-los  á  vilrificaçào.  Alem 
d'istOy  ha  ainda  muitas  substancias  de  que  poderia 
fazer-se  ensaio  na  fabricação  do  vidro  ;  taes  são  o  bis- 
muth  ,  o  nickel ,  o  tungstene,  o  tellurio,  o  molybdene , 
a  platina,  o  urane,  o  titânio,  a  colombium,  o  palia- 
diiim  y  o  rhodium  ,  o  iridium  ,  o  cerium  ,  o  barium  c 
o  strontium ;  vários  saes  ,  como  os  fluates,  os  phos- 
phates  solúveis  e  o  vidro  phosphorico.  Já  se  empregou 


i4o  Noêícíms  das  Scientias , 

com  bom  êxito  o  tangstate  de  cal  para  imitar  a  opala , 
e  o  cliromate  de  potassa  para  o  chrysopraso  artificial. 
He  pois  de  esperar  qae  esta  arte  agradável  faça  ainda 
novos  progressos. » 

O  maçarico  de  Hare,  de  (pieiá  temos  fallado  mais 
de  huma  vez ,  he,  como  se  sabe,  composto  de  duas  cor- 
rentes ,  huma  de  gaz  hjdrogeneo  e  outra  de  gaz  oxyge- 
neo ,  as  quaes  só  se  misturão  no  momento  da  combus- 
rão.  Elste  maçarico  continua  a  dar  os  resultados  os  mais 
satisfactorios ,  e  he  (M^eferivel  ao  de  Brook  (  que  he  o 
verdadeiro  inventor ,  e  não  Newman ) ,  por  não  ter 
risco  algum  o  uso  d^elle,  e  apenas  lhe  he  inferior  em 
intensidade  de  temperatura.  Com  este  instrumento 
tem  M.  Hare  e  M.  Silliman  fundido  as  substancias  as 
mais  refractárias  ^  como  a  aluminia ,  a  bar jtes ,  a  stron- 
tiana,  a  glucina,  a  zirconia,  a  cal»  a  magnesia  ,  o 
crrstal  de  rocha,  etc.  3f.  SíUinian  reduzio  com  elle 
a  vapor ,  a  platina ,  o  ouro ,  a  prata  e  outros  metaes , 
que  oiferecêrào  ao  mesmo  tempo  o  aspecto  de  huma 
brilhante  e  viva  combustão.  Parece-nos  digno  da  at- 
tenção  dos  sábios  tentar  que  eSeito  teria  sobre  estes 
vapores  metallicos  a  electricidade  e  o  galvanismo. 

F.  S.  C 


das  Artes  ,  etc. 


i4i 


RESUMO 

Das  Observações  Meteorológicas  feitas  em  Lisboa  pelo 
Sul*.  Marino  Miguel  Franzini.  (i) 

N.  B,  As  observações  são  feitas  em  Lisboa ,  no  alto  de  3. 
Fedro  de  Alcântara ,  elevado  ZZl  palmos  (  ^3  metros  )  sobre  o 
uivei  do  Tejo ,  na  Latit.  de  38<).  4^'* 

As  alturas  do  barómetro  denotão  pollegadas  inglezas  ,  e  seus 
decimaes ,  e  vio  reduzidas  á  temperatura  media  de  Lisboa  ,  oa 
de  63^  do  tbermometro  de  Fahrenheit. 

O  tbermometro  he  observado  ao  ar  livre,  pelas  7^  da  manhao, 
a^  da  tarde  ,  e  1 1^  da  noite. 

O  barómetro  ás  9^  da  manhan  ,  5^  da   tarde  ,  e  1 1^  da  noite.) 

O  hygrometro  he  de  barba  de  baleia,  marcando  looo  a  hu- 
midade máxima ;  observa-se  ás  8^  da  manhan ,  5^  da  tarde  ,  e 
11^  da  noite. 

O  médio  he  deduzido  da  somma  de  todas  as  observações  diárias. 

Os  algarismos  postos  sobre  as  iniciaes  dos  ventos  denotão  y 

I  Vento  fresco.         3  Vento  muito  forte.         V.  Variável, 
a  Vento  forte.  4  Tempestade.  B.  Bonança^ 

Abreviaturas. 


Age. 
At. 

d. 

Aguaceiros 

Atmosphera 

Clara 

Nub. 
Sc. 

Nublado 

Quente 

Secca 

Chu. 

Chuva 

T. 

Tarde 

Chuvs. 
Fr 
Frsc. 
Gr. 

Humiti. 

Chuvisco 

Frio 

Fresca 

Granizo 

Humidade 

Tep. 

Tmpd. 

Tmpt. 

Tps. 

Trov. 

Tépido 

Temperado 

Temperatura 

Tempestade 

Trovoada 

Hm. 

Húmido 

Var. 

Variável 

M. 

li. 

Manhan  . 
-Noite 

Vap. 
Vnt. 

Vaporoso 
Ventosa. 

líev. 

* 

Névoa 

(1)0  seguinte  Re*umo  ,  tendo-nos  vindo  á  mão  quando  já  a 
Correspondência  d' este  tomo  se  achava  impressa  ,  >ai  fora  do 
lugar  que  lhe  tínhamos  destinado  na  Segunda  Parte  dos  Anoaes  , 
pois  não  quizemos  privar  os  nossos  leitores  da  continuação  àc 
tão  útil  serie  de  observações.  Os  Redactores. 


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Março  de  i8ao. 


143 


Numero  de 
dias  cm  que 
ventou  do 


N.-E. 

E. 
S.-E. 

S. 

s.-o. 
o. 


6 

4 
I 

1 


3 


l   N.-0 5  i 


Bonança.  3 

Variáveis 5 

7 


Dias  em  (|ue 
ventou  ri)  o  do 


N.3aN.E.3      de  3    a 
S.-O.2.     .    .    a    II 
S.-E.i    .    •    a    2oe2i 


Numero  dos  dias  ventosos  .•.«..••      8 


T9umero  de 
dias 


claros i3 

id.  altern.  com  nuvens.     .     .      6! 
nublados 2 


de  chuva  

id.  de  aguaceiros  e  darSes .  • 
de  trovoada  e  chuva  .... 
de  nev.  matutina ,  com  o  dia  claro 


3 


21 


8 


Dias  de  frio  notável       i  e  5,  até  9 
Tmpt.  med.  das  manbaná  doestes  dias    4^^ 
Dias  de  frio  menos  notável    2  a  4  9  e  9  a  12 
Temperatura  media  das  tardes  d'estes  dias 

^     11    •    j-      iTmpt.  med.  ás  7^  m. 
OsciUaçao  diur- 1     ^  2      t 

nadotherm.    j     ^;  ^^      ^ 

ÍHumid.  med.  ás  8  ^  m. 
id.  3     t. 

id. 


46< 


II      n. 


.    •    49,'a 
.     .    62. 
.    .    5i,  8 

.     .    68,  4 
.    .    63,  3 

.    .    67,  4 

.    .    0,043  poL 
•    •    o^o36 

,.   .    .  (Descida da manhan 

rd.  do  barom.  ^  ^^^ensao  da  noite  .     . 

Pluvimetro.  —  Gida  palmo  quadrado  de  superfície  recebeo 
2,89  canadas  de  agua  da  chuva  na  totalidade  do  mez. 


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Abril  de  i8ao. 


145 


numero  da 
dia»  em  que 
veulou  do 


N. 
N.E. 

E. 
S.E. 

S. 
S.-O. 

O. 


Bonança 
Variáveis 


.{ 


2» 

6-i 


•^  à 
'1 

41 


Dias  cm  que 
ventou  rijo  do' 

Numero  dos  dias  ventosos 6 


N.>aN.-0.>    de  5a  7 
N.-E.»      .     a  iG,  17,19 


Numero  de 
dias 


claros 4 

úL  altern.  com  nuvens.     .     .  9 

uublados a 

id,  com  alguma  chuva.     •     .  6 

de  chuva •     .  I 

id,  de  aguaceiros  e  ciardes.    .  3 

de  trov.  e  chu.,  com  algum  gr.  4 

Dia  de  nevot ,  e  sol 1 

Dias  de  frio  nouvcl     a  5,  7,14,15,  17     .     .  5 

TmpC.  med.  das  manhans  dos  sobredittos  dias  5l^ 


t5 


i4 


Oscilla^o  do  jTmj>l.  med.  is  7  ^  m. 


therm. 


íd. 


II 


o. 


ÍHumid.  med.  ás  8  ^  m. 
id.  3       i. 

id.  1 1      n. 

Id.  do  barom.fOescida  di  roanhan   • 

|Ascensfto  da  noite  •     • 

Pluvimetro.  — Cadt  palmo  quadrado  de  superficie  rrce« 
beo  2,7 1  canadas  de  agua  da  chuva  ,  ua  totalidade  do  mex. 


55* 


.    68 

o,o3o  poK 
o,o3j 


Tom.  X.  P.  2* 


B  10 


Maio  de  1820.  t^^^ 


N 5  1 

Mumero  dd 
dias  em  c 
ventou  do 


NE !i  - 

E.        *...•.... 

ias  em  que    \     c  x 

m7/«nfrki«   Áe%  I  •  •  •  ^ 

ó.'    !  !;!!!:  !    4 

N.-O II 

Bonança  «     .     •     •     .       i  ^ 

Variáveis*       •..     é     4     *..'••     •      « 

Dias  em  que     (  S.-O*^      a     8  ; 

ventou  rijo  áo\     N.>        a  28  e  3i 

Numero  dos  dias  ventosos  .•«..•..      3 

claros  ••«,«••«.  7  ] 

lí/.  altern.  com  nuvens^     .     ;  17)26 

Numero  d6       1  nublados 23 

dias  j     id,  com  alguma  chuva.     «     .       i  j 

de  chuva «       '  1  ^ 

id.  de  aguaceiros^  e  clarões    •      3  ) 

Dias  de  calor  notável    a2o^2i,e22      •     *     .      3 
Temp«  medi  das  tardes  d'estes  dias    ....       790 

OsciUacaodo   ITcmp.  med.  ás  7  »«  m.       .    .     5()%2 

rheTm?  '^-  •       ^     *•       —     7-' J 

\     idí  II      n.       .     .     5o  y  2 

ÍHumid.med.ás8      m.     •     é    62,^ 
iirf.  3       t.      •     .    59 ,6 

iVí.  II       n.      .     •    62 ,7 

r j  j    V  I  Descida   da    manhan  .     •     .     o,025  poL 

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'     Pluvimetro.  —  Cada  palmo  quadrado  de  superfície  rece- 
beo  0,56  canadas  de  agua  da  chuva ,  na  totalidade  do  mes. 


10  * 


i48  Noticias  das  Sciencias* 

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NOTICIAS 

RECENTES  DAS  SCIENCIAS,  etc. 


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PHYSICA.. 


jyi.  David  Brewster  publicou  huma  serie  de  experiên- 
cias sobre  a  phosphorescencia  dos  mineraes ,  das  quaes 
tirou  as  seguintes  conclusões. 

lO.  A  propriedade  de  emittir  luz  phospborica  em 
ceirta  temperatura ,  he  commum  a  muitos  mineraes. 

2^.  Os  mineraes  que  gozão  doesta  propriedade,  são  em 
geral  coloridos  ou  imperfeitamente  ti^ansparentes. 

'3°.  A  cor  da  luz  emittida  nào  tem  relação  constante 
com  a  cor  do  mineral. 

4*^.  A  applicação  do  calor  intenso  deti'oe  esta  pro- 
priedade. 

5^.  Geralmente  fallando ,  a  luz  não  he  reabsorbida 
pelos  corpos  phosphorescentes  expostos  á  sua  acção. 

€o.  A  existência  da  luz  phospborica  que  he  desen-- 
volvida  por  eíleito  do  calor ,  he  inteiramente  distincta 
da  luz  obtida  por  fricção ,  visto  que  hum  corpo  ,  de- 
pois de  ter  perdido  a  faculdade  de  emittir  a  primeira, 
pode  continuar  a  produzir  a  segunda. 


das  Artes  ,  etc*  1.49 

«70.  Esta  luz  phosphorica  tem  as  mesmas  proprie- 
dades que  a  luz  directa  do  sol ,  ou  a  de  qualquer  corpo 

< 

luminoso. 

8^.  Entre  diíTerentes  espécies  de  substancias  phosti 
phorescentes  y  ha  pedaços  de  muitas  delias ,  que  não  se 
tornào  phosphorescentes  pelo  calor;  d'ohde  se  pode 
concluir  que  a  pliosphorcscencia  não  pode  ser  consi- 
derada como  hum  caracter  essencial  dos  mineraes 
que  possuem  esta  propriedade. 

Em  outra  Memoria  julgou  M.  D.  Brewster  ter  des^ 
coberto  o  singular  facto ,  que  em  muitos  mineraes  a 
matéria  phosphorescente  estai^a  disposta  pot  veios  ou 
camadas  parallelas  ás  do  mineral ;  o  que  elle  observou 
em  hum  pedaço  de  spatho-fluor ',  porém,  já  em  1783 
o  celebre  Palias  tinha  publicado  a  mesma  observação 
no  I^.  tomo  das  Memorias  de  Petersburgo  y  a  respeito 
do  spatho-fluor  de  Catherínenburgo.  Os  Redactores  dos 
Annales  de  Chimie  promettem  communicar  ao  pu- 
blico resultados  curiosos  á  cerca  da  polarisação  da 
luz  phosphorica. 

M.  CNEerstedty  secretario  da  Academia  Real  de  Copen- 
hague, descobrio  a  singular  influencia  do  galvaoismo 
sobre  a  agulha  magnética ,-  e  M.  Pictet ,  M.  Ârago  e 
M.  Ampere  confu^máiâo  por  experimentos  a  opinião  do 
sábio  dinamarquez;  entretanto  proseguem  nesta  in- 
vestigação y  e  no  tomo  XI  esperamos  poder  oQerecer 
ao  publico  noções  exactas  sobre  tão  importante  as- 
sumpto. 


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Março  de  i8ao.  i43 

N 6 

N.-E 4 

r^umero  de       I      ^ ' 

dias  em  que     /   S.-E a  | 

ventou  do         i      S | 

S.-0 3 

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Bonança.  3 

Variáveis 5 

~  l     N.3aN.E.3     de  3    a     n 

Diasemcjue     1  ^  ç^ ,      .     .    a    ii 
ventou  rijo  do]     g  .^  .    .    .    a    2oe2i 

Numero  dos  dias  ventosos  ........      8 

claros i3) 

iV/.  altern.  com  nuvens.     .     .  6>  ai 

nublados 2) 

ISÍumerode      /de  chuva 3 

dias  ^     id,  de  aguaceiros  e  daroes .     •  a  ^  8 

de  trovoada  e  chuva     ....  3 

de  nev.  matutina ,  com  o  dia  claro  a 

Dias  de  frio  notável       i  e  5,  até  9 
Tmpt.  med.  das  manbanft  d'estes  dias    4^^ 
Dias  de  frio  menos  notável    a  a  4 ,  e  9  a  i  a     . 
Temperatura  media  das  tardes  d'e8tes  dias    4^ 

^     11    -    j-      iTmpt.  med.  ás  n  ••  m. 
Oscillaçao  dmr- 1     ^  a      t 

nadotherm.    j     ^;  „      ^^ 

ÍHumid.  med.  ás  8  ^  m. 
id.  3     t. 

id,  1 1       D. 

,.  j    ,  (Descida  da  manhan 

rd.  do  barom.  ^J^^ensao  da  noite  .     . 

Pluvimetro.  —  dda  palmo  quadrado  de  superfície  receboo 
2,89  canadas  de  agua  da  chuva  na  totalidade  do  mez. 


•  •    49,*a 

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.    .    5i,  8 

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.    .    67,  4 

.    .    0,043  pol. 
.    •    o^o36 

i5»  Ifoiicias  das  Sciendas  , 

M.  Lassaigne  obteve  ham  sulphureto  de  chrome, 
misturando  o  muriate  de  chrome  secco  com  cinco 
partes  >  por  peso ,  de  enxofre ,  e  aquecendo  graduai-^ 
mente  até  ao  branco.  M.  Lassaigne  obtém  o  muriate 
de  chrome  puro ,  que  elle  julga  ser  hum  chlorureto , 
fazendo  ferver  acido  chromico  com  acido  hydro-chJo* 
rico  (  muríatico  )  em  excesso  ,  e  evaporando  ao  secco 
em  huma  capsula  de  porcelana.  Este  sulphureto  he 
de  côr  cinzenta  escura,  nnctuoso  ao  tacto,  e  deixa 
nos  corpos  sobre  que  se  esfrega ,  traços  como  a  plom- 
bagina.  Aquecido  ao  Termelho  côr  de  cereja,  em  hum 
pequeno  cadinho  de  platina  ,  arde  como  phosphoro , 
exb alando  hum  cheiro  mui  activo  de  acido  sulpbu- 
rosoy  e  dá  origem  a  jium  oxydo  de  chrome  verde 
escuro.  O  acido  nitrico  não  o  ataca,  ainda  ajudado 
do  calor ,  mais  a  agua  regia  o  converte  em  acido  sul- 
phurico  e  em  chlorureto  de  chrome  verde.  Consta 
de  chrome,   loo^oo,  e  enxofre  10,54. 

O  mesmo  cbymico  descobrio  bum  processo  mais 
prompto  e  económico  para  preparar  o  oxydo  de  chrome 
de  huma  bella  còr  verde ,  e  que  se  obtém  sempre  de 
hum  mesmo  grão  de  intensidade.  Consiste  em  calcinar 
em  hum  cadinho  de  teira  tapado ,  huma  mistura  de 
partes  iguaes  de  chromate  de  potassa  e  de  enxofre ; 
li\ivia-se  a  massa  esverdinhada  que  se  obtém ,  a  fim 
de  dissolver  o  sulphate  e  o  sulphureto  de  potassa  que 
se  formão  por  esta  operação;  o  oxydo  de  chrome 
precipita-se ,  e  depois  de  algumas  lavagens  obtem-se 
i)uro  *,  he  insolúvel  nos  ácidos. 


das  Artes  j  etc,  i53 

Não  he  necessário  que  o  chromate  de  potassa  esteja 
crystallisado  para  extrahir  d^elle o  axydo  poreste  pro- 
cesso. M.  Lass.iigne  o  obteve  de  huma  côr  igualmente 
bella ,  cplcinando  com  o  enxofre  o  producto  da  ev?i- 
poração  da  dissolução  do  chromate  de  ferro  tratado 
pelo  nitro,  que  tinha  primeiro  satiH^Rdo  pelo  acido 
sulphurico  frouxo  para  precipitar  a  aluminia  e  a  si- 
licia  que  se  achão  muitas  vezes  misturadas  com  este 
mineral. 

M.  Beudant  publicou  no  caderno  de  Julho  dos  Aif 
nales  de  Chimie  huma  carta  a  M.  Gay-Lussac ,  que  en- 
cerra observações  mui  judiciosas  sobre  os  experimentos 
e  conclusões  de  M .  Mitscherlich ,  de  que  damos  suF- 
ficiente  noticia  no  Resumo  dos  descobrimentos  chy- 
micos  do  anno  de  1B19,  que  vai  neste  tomo.  M.  Haiíj 
também  fez  algumas  observações  sobre  a  Memoria 
do  chymico  de  Berlim ;  mas  o  que  nellas  ha  que  nos 

« 

parece  merecer  attenção  ,  acha-se  mui  bem  exposto 
por  M.  Beudant,  o  qual  faz  mais  justiça  a  M.  Mits- 
cherlich. 

M.  Beudant  nega ,  assim  como  M.  Haiiy ,  que  haja 
identidade  de  systcma  crystallino  das  substancias 
uaturaes  citadas  por  M.  Mitscherlich,  mas  convém 
que  entre  muitas  d'ellas  ha  analogia  de  systema  de 
crystaes ;  o  que  he  já  hum  pheuomeno  mui  impor- 
tante, pois  coincide,  nestes  casos,  com  a  identidade  que 
existe  entre  ds  proporções  chymicas  d*estas  substan- 
cias. D'aqui  tira  as  duas  seguintes  conclusões. 

i<>.  Que  o  estudo  dos  systemas    crystallinos  pode 


i54  Kctàdas  das  SòÍÊneias, 

condutir  a  formar  grupos  de  corpos  nos  qaaes  os  ele^ 
mentos ,  quaesqaer  qae  elles  sejio ,  se  achão  combi* 
ttadosem  proporções  idênticas. 

<i^.  Que  a  medida  dos  angules  pode  depois  conduzir 
a  separar  cada,  hum  d*estes  grupos  de  systemas  ciys- 
tallinos  de  espécie  análoga ,  e  serrir  de  caracter  para 
reconhecer  a  natureza  das  partes  componentes.  Porém 
deve  confessar-se  que,  a  este  respeito,  se  oQerecem  mui- 
tas excepções^e  só  o  tempo  pode  acdarar^neste  ponto, 
ás  nossas  duvidas. 

a  Em  quanto  aos  saes  formados  artifidalmente ,  dis 
M.Beudant,  he'  certo  pelas  observações  de  M.  Mits- 
cheilich  e  pelas  minhas,  que  existe  hum  numero  con- 
siderável d^elles ,  que  sendo  totalmente  difierentes 
pda  sua  natureza ,  tomâo  todavia  formas  idmaicas^ 
posto  que  estas  formas  não  tenhão  a  menor  relação 
com  as  do  systema  crystallino  cubico ,  que  M.  Haiiy 
designou  pdo  nome  de^rmos  Umites.  »  Este  facto 
he  mui  importante. 

«  Porém  9  continua  M.  Bendant ,  podem  os  factos 
crystallogrsphicos  que  ofierecem  as  substancias  artifi- 
ciaes  ,  applicar-se  ás  substancias  mineraes  ?  Esta  he  a 
única  duvida  que  pode  subsistir.  Eu  não  posso  ,  para 
ser  consequente  comigo  mesmo ,  deixar  de  responder 
afirmativamente ,  visto  ter  já  por  varias  vezes  sesten- 
tado  que  nos  saes  artificiaes,  susceptíveis  de  serem 
compostos  e  decompostos  a  nosso  arbitrío ,  he  que  se 
deve  procurar  a  solução  de  todas  as  questões  crystaUo- 


A 


das  Artes  ,  ctc,  i55 

grapliicas  que  as  substancias  mineraes  apresentão.  Ora, 
pois  que  os  snes  artificiaes  nos  fazem  ver  directamente 
que  corpos  inteiramente  diSerentes  pela  sua  natureza 
chymica,  tomào  realmente  formas  idênticas  j  parece-me 
por  analogia  que  outro  tanto  deve  acontecer  ás  subs- 
tancias naturaes  ,  as  quaes,  só  dífferem  das  outras  em 
cis  não  sa))ermos  ainda  recompor  a  nosso  arbitrío.  Mas 
d'aqui  resulta  que  já  não  basta  a  simples  observação 
da  forma  crystallina  para  estabelecer  a  semelhança 
ou  a  difiêrença  especifica  entre  duas  substancias  mi* 
neraes.  Porém ,  nem  por  isso  nos  devemos  julgar  au* 
torisados  a  rejeitar  o  exame  crystallographico ,  porque 
no  estado  actual  da  sciencia ,  elle  nos  conduz ,  pelo 
menos ,  a  suspeitar  semelhança  ou  diíTerença  entre  as 
proporções  dos  principios  componentes,  sejào  elles 
quaes  forem. 

Doeste  modo  a  forma  bastará  para  nos  conduzir  a 
estabelecer  grupos,que  tenhão  entre  si  huma  certa  ana- 
logia chymica  ;  mas  a  analyse  exacta  he  que  nos  deve 
indicar  depois  as  divisões  que  he  preciso  fazer  doestes 
grupos.  Estes  resultados  são  huma  extensão  dos  que 
já  possuiamos  relativamente  á&  formas  limites.  » 

A  identidade  das  formas  parece  pois  indicar^segundo 
M.  Mitscherlich  e  M.  Beudant,  não  identidade  de 
principios,  mas  sim  identidade  ou  analogia  de  propor- 
ções chymicas.  D'aqui  se  segue  que  a  forma  crystal- 
lina he  a  melhor  base  de  huma  classificação  minera* 
lógica ,  posto  que  não  possa  entender-se  no  sentido 
de  M.  Haiiy. 


356  Ifotidáu  das  Scimcias  , 

O  meUl  que  M.  Lampadius  iulgoa  ter  descoY)erU> , 
qne  denominoa  ffodanium ,  e  de  que  falíamos  no 
Resamo  das  processos  das  sciencias  em  1819 «  parece 
DÃ3  ter  existência  real.  M.  Stromejer ,  anal ysando  pe- 
daços do  mesmo  mineral ,  no  qual  M.  Lampadius  disse 
ter  achado  o  novo  metal ,  não  achou  mais  que  huma 
mistura  de  nickel,  cobalto,  ferro ,  cobre,  chumbo, 
antimonio,  arsénico  e  enxofre. 

M.  Yoçel  acaba  de  achar  no  sal  ^mma  o  chlom- 
reto  de  potassinm,  que  M.  WoUaston  tinha  reconhe- 
cido existir  cm  pequena  quantidade  na  agua  do  mar. 
M.  Vogel  observa  também  que  M.  John  Murray  e  o 
ly.  Marcet  se  enganarão  em  suppôr  a  agua  do  mar 
demasiadamente  simples ,  pois  não  advertirão  no  acido 
carbónico ,  e  nos  carix>nates  de  cal  e  de  magnesia 
que  ella  contêm. 

GEOLOGIA. 

M.  Abel  Kemusal,  bem  conhecido  pelo  seu  profundo 
conhecimento  das  línguas  orientaes ,  e  da  chineza  em 
particular ,  achou  na  edição  japoneia  da  Encyclopedia 
Chim,  livro  summamente  curioso  que  existe  na  Bil)lio- 
theca  regia  de  Paris,  qualhe  a  origem  do  sal  ammo- 
niaco  que  os  Kalmucos  levão  a  diflferentes  partes  da 
Ásia.  Eis-aqui  a  traducção  da  passagem  relativa  a  este 
objecto. 

«  O  sal ,  chamado  (  em  chim  )  nao-cha  ,  e  também 
ud  da  Tartaria  ,  sal  volátil ,  extrahe-se  de  duas  mon- 
tanhas da  Tartaria-Central.  Huma  he  o  volcão  de  Tur- 


áas  Artes  ^  etc.  157 

n  (i)  que  deo  a  esta  cidade  (  ou ,  para  melhor  dizer, 
huma  cidade  que  está  situada  a  três  léguas  de 
urfan  do  lado  do  Este ) ,  o  nome  de  Ho-Tcheú , 
idade  de  Fogo.  A  outra  fae  a  Montanha-Branca,  no 
liz  de  Bisch-Balikh  (2).  Estas  duas  montanhas  lançào 
3ntinuamente  chammas  e  fumo.  tia  nellas  cavidades 
lie  se  enchem  de  hum  liquido  esverdinhado  ,  o  qual 
cposto  ao  ar  se  converte  em  sal  y  que  he  o  nao-cha. 
s  naturaes  da  terra  o  recolhem^para  d'elle  se  servirem 
3  curtimento  dos  coiros. » 

«  Em  quanto  á  montanha  de  Turfan,  d'ella  se  vé 
ihir  continuamente  huma  columna  de  fumo ,  a  qual 
s  noite  apparece  conio  huma  chamma  semelhante  á 
3  hum  archote.  Os  pássaros  e  outros  animaes  que  são 
stos  ao  clarão  d'ella ,  parecem  vermelhos.  Chama-se 
ita  montanha  Monte  de  Fogo»  Para  ir  recolher  o  nao" 
ia  y  calçâo-se  sapatos  de  pao  y  porque  solas  de  coiro 
tríão  logo  queimadas. » 

«  Os  naturaes  do  paiz  recolhem  também  as  aguas - 
iãiSy  que  fazem  ferver  em  caldeiras ,  e  extrahem  assim 

sal  ammoniaco  debaixo  da  forma  de  pães  seme- 
lantes  aos  do  sal  commum.  O  naò-cha  o  mais  branco 
;puta-se  o  melhor.  Suspende-se  em  cima  do  lume 
n  huma  frigideira,  para  o  seccar,  e  ajunta-se-lhe 
mgibre  para  o  conservar.  Exposto  ao  frio  ou  á  humi* 
ade ,  deliquesce  e  perde-se.  » 


(i)  Lat.  430  3o' ;  long.  870  11',  segundo  o  Padre  Gaubil. 

(2)  Cidade  situada  sobre  o  rio  Ili ,  ao  S.-O.  do  Lago  de  Bal- 
isch  ,  que  os  Chinas  chamão  tanibem  Mar  Quente,  A  lat.  d'este 
ago  y  segundo  o ^ Padre  Gaubil  ,he  de  ifi^  o  ;  loog.  'j^  11'. 


i6o 


Oòs.  Sleteor* 


Maio. 


Maior  elevação  do  mercurio  •       '^66^^^  66 

Menor  4itta 744,        a6    ,  ,. 

Maior  grao  de  calor.    .     .      .  +    240,        o    ^  "^^  °*^* 

Menor  ditto +      8,         2 

claros 3 

nublados aS 

de  chuva a 

j       1  d*  vento 5  r 

Numero  de     J    , 

*      ,.  /  de  névoa o 

^^  ^  de  gelo o 

de  neve o 

de  saraiva o 

de  trovoada o 

N 3 

N.-E a 

E £ 

Días  em  que  J   S.-E.    ..*..•.  3 

ventou  do     1     S.        ..••.••  j 

S.-0 8 

O G 

N.-O I 

SHopateodo>         ,,    ^^ 
Observatório,  i  ^       * 
Sobre  o  Ob-  í    ^         ^^^ 
,  ser\'a tório,  j         ' 


Obs.  Meteor» 

JVNHO. 

Maior  elevação  do  mercúrio  .       766""*,6i    \ 

Menor  ditta*     .....      75o,      3;   V  ^^s  dias 
Maior  grão  de  calor.    .     •     .  +    ^lO,       o   i 
Meuurditto  .....'.—    ii,         ay 

claros    • •       6 

nublados ^4 

de  chuva    ....*•       ^ 

^,  1      I  de  vento 3o 

Numero  de    /    , 

1.  /    de  névoa    .••••«       o 

de  gelo o 

de  neve o 

de  saraiva  .-••••  o 

de  trovoada     .     •     .     .     *  o 

N a 

N.-E 2 

E 5 

Dias  era  que  I  S.-E i 

ventou  do    I     S i 

S.-0 6 

O. II 

N.-O a 

ÍTío  pateo  do)  j^^t    ,5^ 
Observatório.!         ' 
Sobre  o  Ob-  1  ^  - 

senratorío.   í         *  ^^ 


t6 


FIM  DA  PARTE  SECUNDA 


Tom.  X.  P.  a«' 


n  B 


ERRATA.  DO  TOMO  IX. 


mm0tMmm0tm0*f*mm/t^^ 


Na  Hota  á  lista  dos  Aiâgnanlrt 
iin.  ^  Ida-se  —  na  Ilha  «—  em  lugar  de  —  da  Uha. 

»AKTB   rmivEi&A. 

Pag.  Um.  ERROS.  EUHXDAS. 

36  —  1  Pbillip  Philip  Wilson 

4  ■  —  3  dis  Iqnidos  do9  líquidos 

43  —  5  inconlesterel  inconteataTe| 

ih.  —  6  amerella  amarella 

5o  —  1 4  Vinel  Pinei , 

68  —  12  Os  pernadas  As  pernada» 

^•2  —  i3  cuidapo  cuidado 

94  —  II  a  lamente  altameiíte 

PA&TE   SSGUirDA* 

4  —  21  horas  her^ 

28  —  jg  torDÍp'Sfi  tomão-^e 

4i  —     I  ci  do      -  acido 

52  —  22  descld^l  desddf 

^9  —  25  literaes  lateraes 

84  —  ^^  heoria  thpori^ 

i5i   —     9  Momoria  Memoria 

ib.  —  25  Seefdos  da  Monarpoia  Séculos  da  Monarquia 

Neste  tomo  X ,  Farte  2^.  pag.  i35 ,  Iin.  8 ,  leia^-se  cameleão  em 
vez  de  camelão» 

AOS  CORRESPONDENTES. 

A  poema  lyrico  de  J.  B.  S.  L.  d' A.  G.  em  louvor  de 
Filtnto ,  não  |>ode  ser  inserido  por  ser  mui  extenso ^ 
mas  d^elle  daremos  alguns  extractos. 


CATALOGO 

Uas  obras  rnáis,  notáveis  que  sé  tem  publicado 
até  aojim  de  Junho  de  1820  ,  em  diversas 
linguas  y  Sobre  aá  Scientiai  j  Artes  è  Ijetràs  y 
com  o  preço  das  que  sào  impressas  em  Franga^ 
encadernadas  em  papeL 

N.  B,  Èin  quanto  ás  encadernações ,  veja-se  a  adTertencia 
110  Catalogo  do  Tomo  ÍII. 


^^h^^  ^^^  ^^*'^*'%'%'^«V%i^%«t 


OBRAS  IMPRESSAS  EM  FRAldÇA. 

Obras  j d  annunciadas  nos  catálogos  antecedentes  ,  que 
46  pU/^licão  por  subscripção  ^  e  de  que  sahtrâó  novos  vó- 
himes^  ou  secções  : 

N.  B.    Os  números  encerrados  entre  parentheses   indicão  o 
Jbmo  dos  AnnaeSj  e  a  pagina ,  ou  no,  no  catalogo  em  que  a  obra 
Jói  annunciada, 

Histoire  naturelle  des  Orangers ,  etc. ;   par   Bisso*    (  III.    2,  ) 
Sahirão  a  16».,   17».  e  18».  secções. 

Histoire  dAn^efèrre depuis  Viàvasíon  de  Julu-Cètúr,  etc; par 
Home.  (  \I.   19.  )  Sabirão  o  IX  e  X  volumes. 

Dictionnaire^5  Sciences  naturelles ,  etc. }  (  It*  1 1-  )  Sahtrao  oi 
Tom.  XVI  e  X\  II.  (  FIL— FY3.  ) 

II  * 


(O 

Fl&ntes  de  Ut  Fraj^e^  etc.  par  Janme  Salnt-HiUire.  ( IV.  i. ) 
Salir >.  a    lí*. ,  i9»-  »,ío*-,  3í*-  «  2^*«  secções. 

HÍ5:oire  natnrelie  áies  muummiferes,  etc.;  par  MM.  Saint-Hilaire 
et  Caner.  '  V.  4  /  Safairão  a  i4'* »  i5'.^  16'.  e  17*.  secções. 

ColíectioD  ComÊplieU  dê  Mêmoires  reUiUfi  à  rhigtoire  de  France , 
etc. ;  (MU-  M.  Petitot  (  M.  17. ).  Sahirio  os  Tomos  IX  e  X. 

bicbcnitaire  des  Sciences  métUcales  ,  etc. ;  ( I*  p*  8.  )  Sabirão  os 
Tom.  XLII ,  XLIU  ,  XLIV,  XLV  c  XL\I.  (  POUR— RACH.  ) 

Flore  du  Dictionnaire  des  Sciences  médicales ,  etc  ;  ( IV.  5.  } 
Tem  sabido  a  98'. ,  gg*.  j  ioo>  ,  10 1>.  e  loa*.  secções^ 

Victoires ,  Conquétes ,  etc.  ( VI.  3 1 .  }•  Sahirio  os  XVIII  e  XIX 
Volumes. 

Plans  raisonnés  de  tcuies  espèces  de  jardins;  par  G.  Thouln. 
(  VI.  I.  )  3dhirão  as  10*.  e  11*.  secções.  ^ 

De  la  Chine;  par  M.  VAbhé  Grosicr.  (  III.  23.  )  Sahírão  o  III  ^ 
IV  ,  V,  VI ,  Vil  c  ultimo  Volume. 

Flore  des  AntUles ,  ele  ;  par  F.  E.  de  Tassac  ( II.  8.  )  Sahio  a 
a*,  secção  do  Tom.  II. 

Traité  sur  Vari  de  la  charpente ,  etc. ;  par  J.  Ch.  Krafft  ( IX.  i  ^) 
Sahio  a  2>.  secção. 

Histoire  de  PEmpire  de  Russie ,  etc. ;  par  Karam$in  (  VII.  4*  } 
Sabirão  o  V  e  VI  Volumes. 

Vojage  de  MM.  de  Humboldt  et  A.  Bonpland ,  etc.  (  VI.  57.). 
Tem  sabido  até  á  i5<*.  secção. 

Herbier  généml  de  Vamateur ,  etc.  ;  par   Mordant-Delaunaj^ 
( II.  10.)  Sabirão  a  4^^«»  44"*'!  4^"*}  4^"*  ^  47"*  secções^ 


<5) 
M^ntttnens  aneieHã  et  moáèmes  de  Vlnãoutían  >  etc.  ( lY.  1 1 .  ) 
flahio  a  211*.  secçio. 

Hístoire  naturelle  générale  et  partículière  des  moUusques^  etc.  ; 
par  M.  le  BaroQ  -á^  Fémssftc.  ( I.  p*  i.  ).9aHio  a  7*.  secção. 

Jraíté  complet  de  mécanique  appliquée  aux  Aris »  ^tc. ;  par 
Borgnis  (  III.  3i»).  Sahio  o  90.  Tratado  (  Machinas  imita* 
tivas ,  e  machinas  theatraes  ;. 

AomicuLTURÀ  y  EcoNomÀ  rural  e  Domestica  ,  Hutoria. 
HATURÀLy  Chtmka^  Botànica,  Ihdustria  e  Aetes. 

I.  Observations  anatomiques  sur  la  slructure  intérieure  et  le 
squelette  de  plusieurs  espèces  de  cétacées  ;  par  Pierre  Camper, 
etc.  avec  des  notes  par  M.  Cuvíer.  i  vol.  4^.  com  hum  atlas 
com  S5  estampas ;  pr.  3o  fr. 

I.  Mamiel  d^èconomie  rurale  et  domestique  ou  Recueil  de  plus 
de  sept  cents  receites  ou  instructions  pour  Vèconomie  rurale  et 
domestique  pour  la  santé  et  les  agrémens  de  ia  vie ,  tirées 
des  ouvrages  les  plus  estimes  sur  cette  matikre,  et  garanties 
par  des  savans  d^un  mèrUe  reconnu,  Traduit  de  Vanglais  par 
M***.  I  rol  ia®. ;  pr.  3  fr.  5o  c. 

3.  Élèmens  de  Chimie  appliquée  à  Pagrieulture ,  suivis  d*un 
Trailé  sur  la  chimie  des  terres  ;  par  Sir  Humphrjr  Davy ,  tra- 
duits  littéralement  de  Tanglais  et  augmentés  de  notes  et 
d* observations  pratiques;  par  M.  Marchais  de  Migiieaux^ 
avec  six  planches.  i  vol.  8^.  \  pr.  6  fr.  5o  c.  (  V.  o  catalogo 
do  Tom.  VIII  dos  Annaes  nO.  i.  ). 

4.  Traité  d^anatomie  vétérinaire ,  ou  Hisíoire  aÒrégée  de  íana' 
lomie  ,  et  de  la  physiologie  des  principaux  animaux  ilomes- 
tiques  ;  par  J.  Girard  ,  directeur  de  TEcole  rurale  et  vété- 
rinaire d'Alfort.  a  toI.  8<>. ;  pr.   ia  fr. 

II  * 


(4) 

5.  Arcbítecture  rurale  iftéoriguç  et  pratique,  à  Vusage  des 
propriélaires  et  des  ouvriersde  la  campagne.  i  yol*  S^'.  com 
1 1  estampas  ^  pr.  7  ir. 

LITERATURA  E  HISTORIA, 

6.  Histoire  de  Mane  Síuart ,  reine  de  France ,  d*Angleterrè 
et  ífEcosse ;  rédigée  sur  les  pièces  onginales ,  et  les  Mé- 
moires  authentiques  du  temps ;  par  C.  M,  D.  C,  a  yol,  in 
lao.  •  pr.  5  fr. 

^.  EssaL  bistoríqae  sttr  Vécole  d^ Alexandrie ,  et  Coup-^asil 
comparatif  sur  la  littérature  ^cque ,  depuis  le  temps 
d* Alexandre  le  Grand ,  jusqu'à  celui  d* Alexandre  Sévere. 
Ouvrage  coiironné  par  TAcadéniie  des  Inscriptions  et 
Belles-Lettres ;  par  Jacques  Matter.  3  yol.  %o,  •  pr.  10  fr. 

^.  Aqnales   statistiques  des    États-lJnis;  par  Adam  Seybcrt*, 

membre  de  la  chambre  des  re|)résentants  des   États-Unis 

pour  ]a  viile  de  PhjJadeJphie )  traduit  dç  Tan^Iaís  parC,  A. 
Schcffèr.  1   vol.    80,  ;  pr.  8  fr. 

Q.  Anpaleçi  du  regne  de  George  III ,  roí  ãAnf^eterre ,  tra- 
dultes  de  Vanglals  de  Jobn  Aítkín  ,  par  M.  Ejríès  ,  et  con- 
tinudes  par  M-  Tbéremiu ,  ayeç  le  portrait  de  George  III. 
3  vol.  80.  pr.  18  fr. 

10.  Foròê  militaire  de  la  Grande-Bretagne ;  par  Charles  Dupin. 
3  \o\.  4^-  ^^^^  hum  atlas  de  10  estampas;  pr.  aS  fr. 

1 1.  nisto  ire  de  Vesprit  des  peuples  de  VEurope  j  depuis  la  con- 
i^cr^ion  de  Clóvis ,  roi  des  Francs,jusqu*à  lajin  du  regne 
de  Charlemagne ,  Empereur  d'Occident ,  eic  ;  par  le  com  lo 
de  Ríoux  de  Messimj.  a  yol.  80. ;  pr.  1 1  fr. 

1 1 ,  Histoire  des  révolulions  et  des  guerres  de  la  Grèce  et  de 


(5) 

ruásie^depids  Cyna  jusqu*aux  successeurs  d^ Alexandre ;  par 
M.  Delagrave.  Tom,  I.er;  pr.  5  fr. . 

x3.  Coup-d'OEil  sur  Usbonne  et  Madrid  en  i8i4>  ^^c. ;  par 
Ch.  V.  d'Haulefort.    i   vol.  8©. ;  pr.  6  fr. 

i4<  Les  femmes  ,  leur  condiUon  et  leur  influence  dans  Vordre 
social ,  chez  différens  peuples  anciens  et  mpdemes  ;  par  le 
Viçomte   de  Ségur.  4  vol.  i8o,  •  pr.  6  fr. 

|5.  Memo  ires  de  VAcadémie  Royale  des  Sciences  de  Vlnstitut 
de  France,  Amiée  de  i8i8.  Tom.   III.  in  4^-j  pr-  ^5  fr, 

i6.  Mdanges  de  liltérature  et  de  critique;  par  M.  C,  Nodier ; 
publiées  par  Alexandre  Barginet.  i  vol.  8o. ;  pr.  lo  fr, 

ly.  OEuvres  completes  de  Montesquieu;  précédées  de  la  Vie  de 
Fauteur.  5  vol.  8». ;  pr.  3o  fr. 

MATHEMATICA ,    PHYSICA,    ARTE   MILITAR,    NÁUTICA, 
GEOGRAPHIA  ,  TOPOGRAPHIA ,   DESENHO. 

1 8.  Trai  té  du  nivellement ;  par  J.  J.  Verkaven  ;  revu  et  aug- 
menté  par  un  ancien  Ingénieur,  officier  au  corps  Rojai 
d*Elat-major.   i  vol  8^  ;  pr.  7  fr. 

19.  Gnomonique  graphique  y  om  Méthode  simple  et  facile  pour 
tracer  les  cadrans  sur  toutes  sortes  de  plans ,  et  sur  les 
surfaces  de  la  sphere  et  du  cylindre  droit,  sons  aucun 
calcul  et  en  ncfaisnni  usàge  que  de  la  règle  et  du  compas, 
Salvie  de  la  Gnomonique  analytique  ,  ou  solution ,  pir  la 
seule  analyse  ^  de  ce  prvbleme  general :  Trouver  des  cercles 
horaires  avec  une  surface  donnée;  par  J.  MoUeU  £m  8o. 
com  8  estampas;  pr.  2  fr.  5o  c« 


MEDEONA  ,    CIRURGIA ,  PHARMAaA ,  ARTE 

VETERINÁRIA. 

«o.  Histoira  naturelle  de$  méditamens ,  des  alimens  ei  des  poi-^ 
sons  ,  tires  des  trais  rhgnes  de  la  hature ,  elatsès  suivant  les 
méthodes  naturelies  modemes  les  plus  exactes  ;  avec  Vindi' 
cation  de  leurs  propriétés ,  de  leurs  usages  et  de  leurs  qua* 
lités  nuisibles  ei  des  mojens  d^y  remédier;  leur  anafyse  chi' 
mique  ^  leur  emploi  medicai  yeic.;  par  J.  J.  Yírej.  i  yol.  8o.; 
pr.  7  fr. 

Hl  •há  Médeeine  et  la  ckirurgie  des  pauvres  ^  qui  coníiennent 
des  remedes  choisis  ,JacUes  à  préparer^  et  sans  dépense , 
pour  la  pluparl  des  maladies  internes  et  externes  qui  aiia^ 
quent  le  corps  humain,  i  vol.  i^o.*  pr.  3  fr.  5o  c« 

3'i.  Traité  de  la  fièvre  jaune ;  par  J.  Devêze  «D.  M.  de  la  Faculte 
de  Paris.  I  vol.  8°. ;  pr.  5  fr, 

^3.  Cours  eie  matière  médica/e, -  par  Af.  !*•  Huuiu  ,  O.   BC.  de    Ia 

Faculró  de  Paris,  a  vol.  80. ;  pr.  11  fr. 

34.  Hifttoire  de  la  Médecine  depms  son  origine  jusqu'au  ig^. 
Siècle  ;  par  Kurt  Sprengel ;  tradaíte  de  rAlleroand ,  par  A. 
J.  L.  Jourdan>  D,  M.  9  vol.  8<>. ;  preço  de  cada  voK 
7  fr.  5o  c. 

a5.  De  la  folie.  Considéralions  sur  eette  maladie  ,  son  siége  et 
ses  symptómes ,  etc,  ;  par  M.  Georget ,  D.  M.  i  vol.  80.  * 
pr.  6  fr. 

* 

POLITICA  ,  VIAJENS  ,    COMMERCIO. 

a6.  Consid^ratíons  surfélatdes  Sociétés  en  Europe,  i  voj.  8^.  ^ 
pr.  6  fr. 


(  7  )  ^ 

OBRAS  IMPRESSAS  EM  PAIZES  ESTRANGEIROS. 

Inglaterba, 

The  Architectural    Aniíquiiies  of  Normandy ,  in  a  Series  of 
1  oo  Etchings  ;  with  historical  and  descríptive  JVoiices,  By  T. 
S,    Cotman,  Pari,  I  (  containinç  25  plaies  ),  Rojai  Folio, 

The  Cyclopasdia  of  Commerce ;  comprismg  a  Code  of  Com" 
mercial  Law  ,  Praclice ,  Curíoms  ,  and  Information  ,  and 
exhibiting  the  Present  State  of  Commerce  ,  home ,  foreign 
and  colonial ,  etc.  By  Samuel  Clarke  ,  and  John  Jf^illiants , 
Esgrs,  4*^. 

Jntroduction  to  Solid  Geometry ,  and  to  the  Study  of  cristal^ 
lography ,  containing  an  Inve^ligation  of  some  of  the  PrO" 
perties  belonging  lo  the  Platonic  Bodies  independent  of  the 
Sphere,  By  N,  Larkin.  8«, 

Taxidermy .  or  a  complete  Treaiise  ón  the  Ari  ofpreparing^ 
mounting  and   preserving  every    Objcct  of  Natural  History 
for  Museums,    i  ti®,  piates, 

A  Commentary  on  the  Systems  which  have  beem  advancedfor 
explaining  the  Planetary  moiions,  By  J,  Bumey ,  R,  N,  F, 
R.  S.  80. 

An  Account  of  the  Arciic  Regions ,  with  a  History  and  Des^ 
cription  of  the  Northern  IVhale  Flshery.  By  ÍF^  Scoreshy  , 
jun,  F.  R.  S.  E.  2  vol.  8o. 

History  ofthe  Indian  Archipelago.  By  John  Crawfurd ,  F,  A 
S.  late  Bristih  Resident  at  the  court  of  the  Sultan  of  Java, 
5  volo  89.  v^ith  35    maps  and  olher  piates^