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Full text of "A provincia de S. Thomé e Príncipe e suas dependencias, ou, A salubridade e insalubridade relativa das provincias do Brazil, das colonias de Portugal e de outras nações da Europa"

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g,o-rLORt:srN 


§ 


VIÁRIA  ACADÉMICA 
SUBOn  DA  BÍL.VA 
L  Uàam  U  tlMHUi,  11 

iii-rntiui-iELtF.  itin 


I 


on  War,  Revolution,  and  Pei 


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A  província 


DE 


S.  THOMÉ  E  príncipe 


E 


SUAS  DEPENDÊNCIAS 


00 


A  SALliBRlDADE  E  iNSAlEBIUDADE  RELATiTA  DAS  rfiOVUS  DO  BRAZIl, 
DAS  COLÓNIAS  DE  PORTOGAl  E  DE  OUTRAS  NAÇÕES  DA  EOROPA 


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A  província 


DE 


S.  THOMÉ  E  príncipe 


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SUAS   DEPENDÊNCIAS 


OU 


A  SÂLUfiElDADE  E INSÂLOBEIDADE  RELATIVA  DAS  PROVÍNCIAS  DO  BRAZIL, 
DAS  COLÓNIAS  DE  PORTDGAL  E  DE  OUTRAS  NAÇÕES  DA  EDROPA 


POH 


MANUEL  FERREIRA  RIBEIRO 

ledíco  cirurgião  pela  escola  do  Porlo, 

farniutivo  de  i  .^  classe  do  quadro  de  sande  da  províocia  de  S.  Tbomé  e  Priodpe, 

sócio  correspondente  da  sociedade  das  sciencias  medias  de  Lisboa, 

sócio  efectivo  da  sociedade  de  geograpbia  de  Lisboa, 

nedico  da  eipedi^io 

do  caminbo  de  ferro  de  Ambaca,  etc,  etc., 


-^OxC&><C>- 


LISBOA 

IMPRENSA  NACIONAL 

1877 


'   I 


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J> 


-N^ 


Q:-^ 


Aos 


Illnslríssímos  e  Excellenlissíinos  Senhores 


ii 


CcQselheiío  d'Estado.  Presidente  do  Conselho  de  Ministros,  Ministro 
e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  da  Guerra 


ANTÓNIO    RODRIGUES    SAMPAIO 

Ministro  e  Secretario 'd'Estado  dos  Negócios  do  Reino 


JOÃO  DE  ANDRADE  CORVO 

Conselheiro  d'Estado.  Ministro  e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  Estrangeiros 
e  interino  dos  Negócios  da  Marinha  e  Ultramar 


Conigu  doeste  node  o  lei  profiido  igradeciaeito 


H.  F.  Ribeiro 


MAMA  CARLOTA  SIEUVE  DE  SEaUIER  E  RIBEIRO 


GoBO  proTa  de  BiiU  ledícaçâo  e  síicen  aníude 


Oiferece 


O  aaotor 


,A^  sna  onnliada 


D.  MÁTfííLDE  SÍEUVE  DE  BEGUIER 


Como  tfstemonho  de  gratidão  e  alta  estima 


Offerece 


O  anotor 


\ 


índice  das  principaes  matérias 


CONTIDAS  N^ESTE  VOLUME 


Pig. 

PUBFACIO 

blTBODUCÇlo i 

GEOGRAPHU 

CAPITULO  I 
DeBoripgão  dos  rios  e  logares  prinolpaeB  da  otíata  do  mar  de  Qnin^ 

Cabo  de  Lopo  Gonçalves i7 

Bahia  de  Lopo  (jonçalves i8 

Rio  do  Gabáo 18 

Bahia  do  Corisco i9 

Cabo  de  S.  Jofio 20 

Rio  de  S.  Bento ÍO 

As  ilhas  portuguezas  e  a  costa  do  Gabão « 21 

Rio  do  Campo 22 

Enleada  do  Pão  da  Nau  ou  Panavia 22 

Rio  da  Boroa 22 

Rio  dos  Camarões 23 

Pico  Mongo-Ma-Lobah 25 

Bahia  de  Ambozes  ou  de  Zambus  (Ambas  ou  Amboíse) 26 

Rio  de  El-Rei 26 

Velho  Calabar  (Calbary,  Dongo  ou  Oioné) 26 

Rio  Done  (Andoney  ou  António) 27 

Bahia  de  Boni  ou  de  Obáne 27 

Rio  Sombreiro 28 

Rio  de  S.  Barthoiomeu,  dos  Maíras  ou  dos  Três  Irmãos 28 

Rio  de  Santa  Barbara'. 29 

Rio  de  S.  Nicolau 29 

Rio  de  S.  Bento  (St.  John  or  Brass) 29 

Cabo  Formoso 29 

Rio  Niger  ou^Quorra  e  o  celebre  delta  que  elie  forma 29 

AfDiuentes  do  rio  Níger,  e  os^seus  braços  principaes 33 

Rio  Tchadd .' 34 


XII 

Pair. 

Dbiouliba  ou  Níger 36 

O  delta  do  Níger  e  as  ilhas  de  S.  Thonié  e  Príncipe 37 

Grande  mar  interior  ou  lago  de  Tchadd 38 

Rio  Formoso  ou  de  Bením 39 

Rio  da  Lagoa  ou  Lagos , 39 

Badagry 40 

S.  JoSo  Baptista  de  Ajuda  e  o  districto  ou  território  corres|)ondentc 40 

Condições  especiaes  para  o  desembarque  no  porto  de  Ajuda 42 

Magestoso  espectáculo  que  ofTerece  o  mar  na  costa  de  Ajuda 44 

Reino  de  Dahomé * • 46 

(Caminho  de  Ajuda  até  á  capital  de  Dahomé 46 

Estações  intermediarias  entre  o  território  de  Ajuda  e  a  capital  de  Dahomé 49 

Limites  do  golfo  de  Benim 53 

Limites  do  golfo  dos  Mafras f)3 

Mar  de  Guiné,  zona  equatorial  que  lhe  corresponde  e  correntes  que  ali  se  obser- 
vam   , 54 

CAPITULO  n 

'  Desoripção  das  ilhas  do  mar  de  Gninó, 

emuneração  das  terras  que  se  acham  sch  o  equador,  e  distinoçao 

entre  ollma  equatorial  e  tropical 

• 

I — Ilhas  do  mar  de  Guiné : 

Considerações 59 

i.**  Ilhas  altas: 

liba  de  Anno  Bom 61 

ilha  de  S.  Thomé 63 

ilha  do  Príncipe 66 

Ilha  de  Fernão  do  Pó 68 

2.<>  Ilhas  baixas : 

Ilha  de  Lopo  Gonçalves 69 

Ilha  do  Corisco 69 

Elobey,  Corisco  Pequeno  os  dos  Mosquitos 69 

Ilha  Branca 70 

Ilha  de  Mondoleh 70 

Ilha  de  Curamo 70 

3.<>  Quadros  estatisticos-geographicos  : 

Ilhas  altas 7i 

Classificação  dasjlhas  altas 7i 

Ilhas  baixas 72 

II — Enumeração  das  terras  que  se  acham  sob  o  equador: 

Considerações ; 73 

Africa  equatorial 74 

America  equatorial 75 

Oceania  equatorial 75 

í.^  Africa  equatorial': 

Ilha  das  Rolas. 75 

Margem  esquerda  do  rio  Gabão 76 


XIII 

Pag. 

Vasta  região  inexplorada  desde  o  paiz  de  Okanda  até  ás  terras  altas  ao 

occidente  do  sultanado  de  Zanzibar 76 

Pequeno  estado  denominado  Juba 76 

Coinmunicação  entre  Moçambique  e  Angola 77 

2.^^  America  equatorial : 

Considerações 81 

Albermale  e  as  ilhas  Galapagos 81 

Republica  do  equador 82 

Republica  da  Nova  Granada 84 

Terrenos  banhados  por  diíTerentcs  aiiluentes  da  margem  esquerda  do  rio 

Amazonas C 86 

Ilhas  da  foz  do  Amazonas 87 

3.*  Oceania  equatorial : 

Considerações 88 

Ilha  Batoe,  Mintáo,  Battou  ou  Mentáo,  e  as  ilhas  a  O.  de  Sumatra 90 

Ilha  de  Sumatra 90 

Ilha  de  Sumatra  descripta  por  JoSo  de  Barros 95 

Jlha  Linga  e  o  archipelngo  Riouw-Lingga 97 

Ilha  Linga,  segundo  o  diccionario  de  Larousse ^  98 

Ilha  do  Borneo 99 

Ilha  Celebes 102 

Tidore  e  o  archipelago  das  Molucas « 107 

Ilha  de  Ternate 111 

Ilha  Geilolo  (Dgllolo  ou  Halmaheira) 114 

Amboino « 114 

Ilhas  de  Banda,  por  João  de  Barros 116 

Ilhas  Molucas  descriptas,  por  João  de  Barros  e  Diogo  do  Couto 118 

Ilha  Waigiou  e  a  Nova  Guiné 120 

III — Dislincção  entre  clima  equatorial  e  tropical: 

Considerações  geraes 121 

Mappas  comparativos  de  algumas  classificações  a  respeito  dos  climas : 

1."*  Systema  das  linhas  Isolhermicas 124 

2.0  Classificação  dos  climas,  segundo  M.  Levy 125 

3.**  Melhor  classificação  para  a  ethnographia  das  emigrações,  admil- 

lida  pelo  visconde  de  Paiva  Manso 126 

4.<*  Systema  das  linhas  isolhermicas,  segundo  Jules  Rochard 126 

5.**  Divisão  astronómica  dos  climas 127 

6.<'  Systema  mais  simplificando  segundo  os  graus  de  latitude 128 

CAPITULO  m 

Principaes  paizes  oolonisadores  do  seonlo  XIX,  e  emigração  portugueza 

Portugal  e  suas  colónias 129 

Colónias  de  Hespanha,  clima  geral,  supertície,  população  e  principaes  producções  135 

Colónias  de  França,  clima  geral,  superfície,  população  e  principaes  producções  141 

Protectorados  de  França,  clima  geral,  superfície,  populaçíío  e  productos  principaes  143 

Colónias  da  Hollanda,  clímai  eral,  superfície,  população  e  principaes  producções  153 


XIV 

Pap. 

Colónias  inglezas,  clima  geral,  superfície,  pepahtçáo  e  productos  principaes. . . .  i59 

Opinião  do  conselheiro  João  de  Andrade  Corvo  acerca  da  escravatura  (Nota).. .  162 

Porto  Natal  —  Algumas  considerações  acerca  da  colónia  denominada  Natal  172 
Estado  livre  ou  republica  do  rio  Orange  —  Algumas  (X)nsi  de  rações  acerca 

d'este  estado 173 

Republica  do  Transvaal  —  Algumas  considerações  acerca  d'esta  republica.. .  174 
Colónias  de  Portugal,  clima  geral,  superfície,  população  e  principaes  produc- 

ções 183 

Província  de  S.  Thomé  e  Principc  e  suas  dependências 212 

Província  de  Angola 213 

Directriz  do  caminho  de  ferro  áê,  Loanda  ou  Ambaca 239 

Descripção  do  território  reconhecido 244 

Província  de  Moçambique 246 

Ilha  de  Moçambique 254 

Districlo  de  Moçambique 265 

Ibo 279 

Angoche 279 

Uuelimane 280 

Villa  de  S.  Marçal  de  Sena 280 

Zimbo 281 

Spfalla 282 

Povoação  de  Inhacamba 283 

Porto  de  Sofalla 284 

Ilha  de  Chiloane 284 

Ilhas  de  Hazaruto , 285 

Inhambane 286 

Descripção  da  festa  denominada  Banja  (Nota).. 292 

Bahia  de  Lourenço  Marques 299 

Villa  de  Lourenço  Marques 304 

Rio  da  Magaia  ou  Kíng's  George  River 310 

Rio  de  Inhampura,  rio  do  Oiro  ou  rio  Limpopo 313 

Importância  de  Lourenço  Marques 314 

Estado  da  índia 315 

Ilhas  de  Goa 316 

Mappa  demonstrativo  da  superfície  e  população  do  estado  da  índia 316 

Província  de  Macau  e  Timor 317 

Portugal,  undécimo  paiz  da  Europa,  occupa  o  quarto  logar  como  nação  colonial  319 
Estatística  coniparativa  da  superfície  e  população  de  Portugal  com  relação  ás 
principaes  nações  da  Europa,  independentemente  e  comprehendendo  as  coló- 
nias, protectorados  e  territórios  adjacentes 322 

Emigração  para  o  Brazil ; . . . .  323 

Mappa  das  entradas  de  emigrantes  no  porto  do  Rio  de  Janeiro,  nos  annos  de 

1864  a  1 873 325 

Resumo  do  movimento  das  entradas  e  saídas  de  emigrantes  no  porto  do  Rio  de 

Janeiro,  nos  annos  de  1864  a  1873 325 

Mappa  dos  emigrantes  portuguezes,  por  províncias,  desde  1870  a  1874 326 

Mappa  dos  emigrantes  portuguezes,  segundo  as  differentes  localidades,  desde 

1870  a  1874 326 


XV 

Pievincias  do  império  do  Brazil,  clima  geral,  soperlicie,  população  e  productos 

príncipaes • 3^ 

Província  do  Amazonas 328 

Província  do  Gran-Pará 328 

Província  do  MaranhSo 329 

Província  do  Piauhy 329 

Província  do  Ceará 330 

Provincia  do  Rio  Grande  do  Norte 330 

Província  de  Parahyba 33Q 

Provincia  de  Pernambuco 330 

Provincia  de  Alagoas 331 

Provincia  de  Sergipe 331 

Provincia  da  Bahia 331 

Provincia  do  Espirito  Santo 332 

Provincia  do  Rio  de  Janeiro : 332 

Município  da  Corte 332 

Provincia  de  S.  Paulo 333 

Província  do  Paraná 333 

Provincia  de  Santa  Catharina 333 

Provincia  do  Rio  Grande  do  Sul 333 

Província  de  Minas  Geraes 334 

Provincia  de  Goyaz 334 

Província  de  Mato  Grosso 334 

Príncipaes  productos  que  constituem  a  maior  riqueza  do  império  do  Brazii  335 

Mappa  das  colónias  estabelecidas  no  império  do  Brazii,  desde  1812  até  1875  342 

IndiíTerença  pelas  nossas  terras  de  alem-mar 343 

Africa  portugueza  como  terra  de  degredados.. 347 

Receios  infundados  acerca  do  clima  da  nossa  regiSo  africana,  dezoito  vezes  maior 

que  a  metrópole 349 

Mappa  comparativo  dos  climas  equatoríaes  e  tropicaes  referidos  ás  províncias  do 

Brazii  e  Africa  portugueza 352 

CAPITULO  IV 
Topograpbia  da  ilha  de  S.  Thomó 

Aspecto  geral  da  ilha 355 

Costa  septentrional 358 

Costa  Oicidental 361 

Costa  meridional 363 

Pequena  ilha  das  Rolas  e  costa  fronteira  da  ilha  de  S.  Thomé. 365 

Costa  oriental 366 

Montes  e  cordilheiras 370 

Rios  da  ilha  de  S.  Thomé 372 

Estatística  geral  das  correntes  de  agua  de  maior  nomeada 373 

Descripçáo  de  alguns  rios  e  roças  que  lhe  ficam  proxitnas 379 

Cidade  de  S.  Thomé 384 

Limites  da  cidade  de  S.  Thomé 387 


XVI 

Pag. 

Ruas  e  travessas  da  cidade  de  S.  Thoiiié 389 

Estatística  dos  prédios  urbanos  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé 394 

Mappa  estatístico  dos  prédios  urbanos  da  ilha  de  S.  Thonié,  referido  aos  livros 
da  conservatória  da  mesma  ilha,  com  designação  da  sua  construcçáo,  fregue- 

zias  a  que  pertencem,  posiçSo^  valor  estimativo  e  possuidores 397 

Fortaleza  de  S.  Sebastião  e  seus  calabouços 402 

Estação  militar  no  reducto  de  S.  José 404 

Quartéis  e  deposito  dos  addidos 404 

Barracão-quartel  e  praças  adjacentes 404 

Cadeia  civil 405 

Calabouço  da  policia 409 

Villas  ou  principaes  logares  da  ilha  de  S.  Thomé 410 

CAPITULO  V 
Roças  e  fazendas  agrioolas 

Ucsumo  das  roças  uu  fazendas  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé,  classificadas  por 
freguezias,  segundo  o  registo  da  conservatória,  nos  annos  de  1867  a  1872,  di- 
vididas por  grupos  comprehendidos  entre  IrOOOiíOOO  a  80:000^000  réis, 
100^000  a  1:000^000  réis  e  10^000  a  100^000  réis 415 

Designação  das  roças  ou  fazendas  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé,  divididas  por 
grupos  comprehendidos  entre  l:OOOiíOOO  a  80:<J00í000  réis,  100;íiOOO  a 
1:000^000  réis  e  10^000  a  100^000  réis,  valor  arbitrado  por  occasião  do  re- 
gisto na  conservatória 416 

Mappa  contendo  o  numero  total  das  propriedades  registadas  na  conservatória  da 
ilha  de  S.  Thomé,  ;lesde  a  sua  fundação  até  ao  anno  de  1872,  com  a  designa- 
ção da  natureza  das  mesmas  propriedades,  se  estão  livres  ou  hypothecadas,  e 
seus  respectivos  valores 421 

Estatística  dos  maiores  possuidores  de  roças  ou  fazendas  existentes  na  ilha  de 
S.  Thomé,  nos  annos  de  1869  a  1872 , 421 

Quantidades  de  café  c  cacau  produzidos  nas  roças  de  Agua-lzé,  Monte  Café,  Rio 
de  Oiro  e  Bella  Vista,  e  exportados  pelos  portos  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  an- 
nos de  1869  a  1872. 422 

Exportação  de  café  de  diíTorentcs  colónias  portuguezas,  nos  annos  de  1869  e  1876    423 

Numero  de  roças  pertencentes  ao  estado,  com  designação  das  freguezias  onde 
estão  situadas 423 

Posição  e  orientação  das  roças  pertencentes  ao  estado,  com  designação  das  quan- 
tias por  que  estão  arrendadas 424 

CONSIDERAÇÕES  PHVSIGAS  E  MORAES  DOS  HABITANTES 

DA  ILBA  DE  S.  THOHÉ 

CAPITULO  VI  í 

Meio  sooial  em  qnc  se  vive  e  população  ambulante 

Considerações  geracs 431 

Alimentação  dos  habitantes 432 


XVII 

Pag. 

Alimentação  popular 432 

Alimentação  dos  soldados 435 

Alimentação  dos  addidos 436 

Alimentação  dos  libertos 438 

Alimentação  dos  empregados  públicos,  dos  negociantes  e  dos  europeus  em  geral  438 

Vestuário  dos  habitantes 439 

Usos  e  costumes  dos  habitantes 440 

Um  arraial  na  ilha  de  S.  Thomé 44i 

Enterramentos 442 

Religião  dos  habitantes 442 

Estatistica  dos  servidores  do  estado  com  exercicio  nas  repartições  publicas  e  em 

outros  misteres,  desde  1869  a  1872 445 

Numero  de  indivíduos  que  entraram  na  ilha  de  S.  Thomé,  desde  1868  a  1872  447 

Governadores  que  tem  tido  a  província  de  S.  Thomé,  desde  1842  a  1872 448 

CAPITULO  vn 

Navegação,  oredito  e  oapitaes 

Relação  das  casas  commerciaes  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé,  no  anno  de  1872    450 

Mappa  demonstrativo  da  quantidade  de  café  e  cacau  exportados  da  ilha  de  S.  Tho- 
mé, nos  annos  de  1869  a  J872,  e  seu  valor  no  mercado 454 

Valores  dos  géneros  importados  e  exportados  pela  alfandega  de  S.  Thomé,  nos 
annos  de  1869  a  1876 456 

Direitos  de  importação  e  exportação  cobrados  na  alfandega  de  S.  Thomé,  nos 
annos  de  1869  a  1876 463 

Transferencia  de  fundos  da  alfandega  de  S.  Thomé  para  o  cofre  da  fazenda  da 
provinda,  nos  annos  de  1869  a  1876 470 

Numero  de  embarcações  entradas  no  porto  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de 
1868  a  1876 471 

Media  de  duração  das  viagens  de  Lisboa  a  S.  Thomé  e  de  Loanda  a  S.  Thomé, 
nos  annos  de  1870  a  1876,  com  designação  da  classe  das  embarcações  ......    472 

Embarcações  entradas  no  porto  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  1868  a  1876, 
com  designação  de  classes,  procedência  e  nacionalidades 473 

Distancia  em  kilometros,  de  porto  a  porto,  entre  Lisboa,  ilhas  da  Madeira,  S.  Vi- 
cente, S.  Tbiago,  Príncipe  e  S.  Thomé,  Loanda  e  Rio  de  Janeiro 475 

Exportação  dos  géneros  produzidos  nas  províncias  ultramarinas,  no  anno  de  1869    476 

Exportação  dos  géneros  produzidos  nas  províncias  ultramarinas,  no  anno  de  1876     478 

Designação  dos  productos  das  colónias,  que  vieram  para  Lisboa,  no  anno  de  1876    479 

Rendimentos  públicos  nos  annos  económicos  de  1850-1851  e  1875-1876 481 

HYGIENE  PUBLICA 

CAPITULO  vni 

A  oidade  de  S.  Thomó  em  1872 

Considerações  a  respeito  do  actual  estado  da  cidade  de  S.  Thomé 483 

Relatório  da  junta  de  saúde  apresentado  ao  governador  geral  da  província  em 
24  de  dezembro  de  1862,  acerca  da  insalubridade  da  cidade 484 

B 


XVUI 

Pag. 

Meios  julgados  mais  apropriados  para  o  saneamento  da  cidade  de  S.  Thomé ....  489 
Parecer  emittido  pelo  dr.  Lúcio  Augusto  da  Silva  sobre  o  mesmo  assumpto. . . .  401 
Enumeração  de  outras  providencias  mandadas  adoptar  e  resultado  obtido 492 

CAPITULO  IX 
Melhoramentos 

Considerações  geracs  acerca  dos  melhoramentos  de  que  é  susceptivel  a  cidade 
de  S.  Thomé,  dividindo-a  para  isso  em  três  bairros,  promovendo  a  abertura 
de  passeios,  largos,  e  ruas,  aterros  e  dessecamento  de  pântanos  e  canalisaçâo 
do  rio  que  atravessa  a  cidade •  •    499 

CAPITUIO  X 
Insalubridade  relativa 

Opíniílo  de  diffcrentes  escriptores  acerca  da  insalubridade  da  provincia  de  S.  Tho- 
mé     505 

lyiolestias  mais  frequentes,  segundo  a  ordem  descendente,  nas  colónias  porlugue- 

zas,  nosannosdc  1870  a  1873 .' 507 

Estatística  dos  doentes  tratados  nos  hospilaes  das  diíTerentes  cidades  c  villas  das 

províncias  ultramarinas,  nos  annos  de  1870  e  1871 512 

Dita,  referida  aos  annos  de  1872  e  1873 513 

Classificação  das  cidades  das  colónias  portuguezas,  segundo  as  infecções  palustre 

e  necrohemica,  doenças  biliosas  e  cachexia,  no  anno  de  1870 514 

Dita  referida  ao  anno  de  1871 515 

Dita  referida  ao  anno  de  1872 « 516 

Dita  referida  ao  anno  de  1873 517 

Classificação  das  colónias  das  principaes  nações  da  Europa,  segundo  a  sua  popu- 
lação especifica  por  kílomctro  quadrado 518 

Classificação  das  principaes  nações  da  Europa,  segundo  a  sua  população  especi- 
fica por  kilometro  quadrado 523 

Classificação  das  províncias  do  Brazil,  segundo  a  sua  população  especifica  por 
kilometro  quadrado 523 

CAPITULO  XI 

População  geral  e  especifica  da  ilha  de  S.  Thomé» 
e  providencias  hygienicas 

Estatística  dos  fogos  existentes  na  ilha  de  S*  Thomé,  nos  annos  de  1859,  1867, 
1868,  e  1871  a  1875 524 

Mappa  demonstrativo  dos  óbitos  nas  diíTerentes  freguezias  da  ilha  de  S.  Thomé, 
por  oíTeíto  da  moléstia  de  bexigas,  nos  mezes  de  novembro  e  dezembro  de 
1864  e  janeiro  de  1865 525 

Estatística  dos  europeus  existentes  na  ilha  de  Si  Thomé>  nos  annos  de  1859, 1867, 
1868  e  1871  e  1875 526 

Estatística  dos  africanos  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  |859, 
1867, 1868,6  1871  a  1875....;..,  i * ;...**. 527 


XIX 

Pag. 

Mappa  demonstrativo  dos  europeus  fallecidos  na  ilha  de  &  Thomé,  nos  annos 
de  1864  a  1876,  divididos  por  mezes  e  trimestres,  e  com  designação  de  esta- 
dos, sexos,  idades,  condições  e  naturalidades 528 

Mappa  demonstrativo  dos  individuos  fallecidos  na  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos 
de  1868  a  1875,  com  designação  de  idades,  sexos,  estados,  condições  e  na- 
turalidades     530 

Estatistica  dos  nascimentos  que  houve  na  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  1867 
a  1875..... 532 

Mappa  dos  individuos  que  entraram  e  saíram  do  porto  da  ilha  de  S.  Thomé, 
nos  annos  de  1874  a  1876 533 

Mappa  estatistico  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  1874  e  1875 534 

Providencias  hygienieas * 534 

FLORA  PATUOLOGIGA 

CAPITULO  XII 

Preliminares .^ 539 

Resumo  das  principaes  moléstias  observadas  no  hospital  militar  da  ilha  de  S.  Tho- 
mé, 6  numero  de  doentes  curados  e  fallecidos  no  primeiro  semesire  de  1872  540 

Dito  referido  ao  segundo  semestre  do  mesmo  anno 541 

Considerações  sobre  o  mesmo  assumpto 542 

Resumo  comparativo  da  frequência  das  moléstias  observadas  no  hospital  militar 
da  ilha  de  8.  Thomé,  e  da  mortalidade  relativa  dos  doentes  em  cada  um  dos 

mezes  do  anno  de  1872 544 

Considerações  sobre  o  mesmo  assumpto 544 

Numero  de  doentes  entrados  no  hospital  militir  da  ilha  de  S.  Thomé,  no  anno 

de  1872,  segundo  as  classes  a  que  pertencem 545 

Considerações  sobre  o  mesmo  assumpto 546 

Resumo  do  movimento  dos  doentes  no  hospital  militar  da  ilha  de  S.  Ttiomé  c 

.  das  principaes  doenças  ali  obsenadns  no  anno  de  1872 547 

Disposição  segundo  a  ordem  alphabetíca  das  doenças 551 

Distribuição  segundo  o  maior  numero  de  doentes 552 

Distribuição  segundo  a  maior  mortalidade  relativa 553 

Resumo  das  principaes  moléstias  observadas  no  hospital  militar  da  ilha  de  8.  Tho- 
mé em  cada  trimestre  do  anno  de  1872 .* 554 

Mappa  necrologica  do  hospital  militar  dA  ilha  de  S.  Thomé  no  anno  de  1872  556 

Considerações  sobre  o  mesmo  assumpto 558 

HISTORIA  iNATURAL 

Preliminares 563 

CAPITULO  XIII 
Heino  minorai 

Turfa^  cal,  pedra,  óleo  mhicrai,  mercúrio,  manganez,  sai,  etc « 564 


XX 


CAPITULO  XIV 

Reino  vegetal 
I — Madeiras:  Pap- 

Príncipaes  madeiras  de  que  ha  conhecimento - 569 

Arvores  que,  tendo  propriedades  singulares,  sâo  mais  ou  menos  importantes, 

podendo  parte  d'ellas  ser  empregadas  em  cons  tracções 577 

Trepadeiras  ou  cordas  de  que  ha  conhecimento,  entre  as  quaes  existe  uma 
que  deve  ser  considerada  uma  das  maravilhas  do  reino  vegetal  em 

S.  Thomé 580 

Cnsto  das  madeiras  no  mercado  de  Lisboa,  com  designação  do  peso,  quali- 
dades, dimensões  e  príncipaes  applicações 584 

Custo  das  madeiras  no  mercado  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  1873 

a  1876 586 

II — Fructas: 

Príncipaes  fractas  de  que  ha  conhecimento,  nativas  e  aclimadas 587 

III  —  Raizes  alimentícias,  hoataliças  e  condimentos.  Espécies  aromáticas.  Yege- 
taes  diversos : 

Raizes  alimentícias 591 

Hortaliças ,    59 1 

Condimentos,  espécies  aromáticas,  vegetaes  diversos 591 

IV — Drogas  medicinaes : 

Varías  drogas,  agentes  pharmacologicos  e  substancias  que  se  reputam  medi- 
camentos na  ilha  de  S.  Thomé 592 

V — Productos  naturaes  e  de  industría  agrícola  e  fabril  da  ilha  de  S.  Thomé: 

Prodnctos  do  coqueiro. 598 

Productos  da  palmeira 600 

Productos  da  izaquente 601 

Productos  da  arvore  íructa-pão 601 

Productos  do  cajueiro 602 

VI — Comparação  entre  as  dífferentes  epochas  no  progresso  agrícola  c  commer- 
cial  da  ilha  de  S.  Thomé: 
Prodnctos  da  província  de  S.  Thomé  e  Príncipe  que  figuraram  na  exposiç^ 

universal  de  Londres : 604 

Madeiras,  productos  naturaes  e  de  industria  agrícola  e  fabril  das  ilhas  de 

S.  Thomé  e  Príncipe  no  anno  de  1861 < 605 

Ditos  referidos  ao  anno  de  1865 606 

Exportadores  de  artigos  coloniaes  da  ilha  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  1872 
e  1874 608 

CAPITULO  XV 

Reino  animal 
l.«  Serie — Animaes  vertebrados : 

Mammiferos 600 

Aves 610 

Reptis 61i 

Batrachios  ou  amphibios 612 

Peixes * 612 


XXI 

Pag. 

2.*  Serie — Animaes  articulados: 

Insectos 6i4 

Myriapodos 6IÒ 

Arachnides. 615 

Crustáceos 615 

3.«  Serie — Molluscos: 

Cephalopodos 615 

Gasteropodos 6i5 

Acephalos 615 

4.»  Serie — Radiarios: 

Eslrellas  do  mar  e  esponjas 615 

Consideraç(3es  geraes  sobre  a  conveniência  de  se  proceder  rigorosamente  aos  ne- 
cessários estudos  sobre  este  assumpto •  •  616 

CAPITULO  XVI 

Reino  hominal 

Considerações  geraes -. .  .^ 619 

Origem  do  homem 626 

Doutrina  de  L.  Agassiz;  Iheorias  de  Darwin  e  outros  naturalistas;  exame  critico. 

Unidade  do  género  humano 627 

Dispersão  e  formação  das  raças;  sua  reuniSo  nas  planícies  banhadas  pelo  Tigre 

e  Euphrates 632 

Caracteres  distinclivos  e  exclusivos  do  reino  hominal 634 

METEOROLOGIA  E  CLIMATOLOGIA 

Preliminares 637 

CAPITULO  XVII 

Meteorologia 

Considerações  geraes 638 

Media  das  observações  meteorológicas  em  março,  abril  e  maio  de  1872 639 

Ditas  dos  mezes  de  junho,  julho  e  agosto  de  1872 639 

Ditas  dos  mezes  de  setembro,  outubro  e  novembro  de  1872 640 

Ditas  dos  mezes  de  dezembro  de  1872,  e  janeiro  e  fevereiro  ile  1873 641 

Ditas  dos  mezes  de  março,  abril  e  maio  de  1873 643 

Ditas  dos  mezes  de  junho,  julho  e  agosto  de  1873 644 

Medias  do  primeiro  semestre  meteorológico  de  1874 645 

Medias  do  anno  meteorológico  de  1874 646 

Anno  meteorológico  do  l."*  de  dezembro  de  1874  a  30  de  novembro  de  1875.. .  648 

Coniparaçáo  da  meteorologia  d'este  anno  com  a  do  anno  anterior 649 

Primeiro  semestre  do  anno  meteorológico  do  1876 650 

CAPITULO  xvm 

Climatologia 

Considerações  geraes 651 

Resumo  das  observações  meteorológicas  no  anno  de  1858 652 


XXII 

Pag. 

Media  das  décadas  dos  mezes  de  1858 6^3 

Numero  de  ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  no  anno  de  1858  654 
Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mcz^  no  segundo, 
terceiro  e  quarto  trimestre  d  oanno  de  1858  : 

Segundo  trimestre 654 

Terceiro  trimestre 655 

Quarto  trimestre 656 

Resumo  das  observações  meteorológicas,  por  mezes,  no  anno  de  1872 657 

Numero  de  ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  no  anno  de  4872  659 
Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  em  cada  mez,  no  anno  de 

1872 660 

Quadra  das  ventanias  no  anno  de  1872 662 

Quadra  das  chuvas  no  anno  de  1872 663 

Mappa  contendo  o  numero  de  vezes  que  os  ventos  sopraram  de  noite  para  a  ci- 
dade de  S.  Thomé,  de  março  a  dezembro  de  1872 ' 604 

Resumo  das  observações  meteorológicas  no  anno  de  1873 667 

Media  das  décadas  dos  mezes  do  anno  de  1873 668 

Ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  no  anno  de  1873 669 

Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mez  do  anno  de  1873 : 

Primeiro  trimestre ; 670 

Segundo  trimestre *..«... 671 

Terceiro  trimestre 672 

Quarto  trimestre 672 

Resumo  das  observações  meteorológicas  no  anno  de  1874 673 

Media  das  décadas  dos  mezes  do  anno  de  1874 674 

Ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  ThonlS  no  anno  de  1874 675 

Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mez  do  anno  de  1874 : 

Primeiro  trimestre 675 

Segundo  trimestre 676 

Terceiro  trimestre. 676 

Quarto  trimestre 677 

Resumo  das  observações  meteorológicas  no  annos  de  1875 678 

Media  das  décadas  dos  mezes  do  anno  de  1875 679 

Ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  no  anno  de  1875 680 

Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mez  do  anno  de  1875 : 

Primeiro  trimestre 680 

Segundo  trimestre 681 

Terceiro  trimestre 681 

Quarto  trimestre 682 

Resumo  das  observações  meteorológicas  no  anno  de  1876 684 

Media  das  décadas  dos  mezes  do  anno  de  1876 685 

Ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  no  anno  de  1876 686 

Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mez  do  anno  de  1876 : 

Primeiro  trimestre 686 

Segundo  trimestre 687 

Terceiro  trimestre 687 

Quarto  trimestre ,...,, 68y 


XXIII 

CAPITULO  XIX 

Olima  da  oidade  da  ilba  de  S.  Thomó  P^g. 

Clima  local 689 

Maior  e  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  cliuva,  observadas  desde  abril  a  novembro  de  1858 690 

Maior  e  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  chuva,  obser\'adas  desde  março  a  dezembro  de  1872 693 

Maior  c  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  chuva,  observadas  no  anno  de  1873 69-i 

Maior  e  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  chuva,  observadas  no  anno  de  1874 697 

Maior  e  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  chuva,  observadas  no  anno  de  1875 700 

Maior  e  menor  pressão  atmospherica,  temperatura  e  humidade,  e  maior  quanti- 
dade de  chuva,  observadas  no  anno  de  1876 ^.     703 


Relação  das  estampas,  indicando  as  paginas  a  qae  se  referem 

Provlnoia  de  Angola 

Pag. 

Colónia  de  S.  João.  Vista  da  habitação  do  lado  oriental 230 

Rua  de  mangueiras  e  jaroboeiros,  na  fazenda  S.  JoSo,  em  Angola 230 

Rua  de  palmeiras  na  fazenda  Prototypo i3i 

V  i5ta  da  villa  do  Dondo,  na  margem  direita  do  no  Quanza 23i 

Fazenda  Bom  Jesus,  na  margem  do  rio  Quanza 234 

Vista  da  cidade  de  Loanda  (parte  baixa) • 23r> 

Provlnoia  de  Moçambique 

Vi>ta  de  uma  parte  da  cidade  do  lado  do  porio  entre  a  praia  da  Alfandega  até  á  praia  de  S.  Juflo :í30 

Largo  da  União^  vulgo  Pelourinho 257 

Roa  nova  do  Conselheiro  Leal,  em  1875 257 

l^rgo  de  S.  Paulo,  em  1875 23» 

Ponte  da  alfandega,  em  1873 '. . .  261 

Habitação  dos  herdeiros  do  brigadeiro  Cândido  da  Gosta  Soares,  na  Cabaceira  Grande 267 

Palmar  na  (K)Dta  do  Morangal 267 

Palmeira  brava  e  uma  mulambeira,  na  Cabaceira  Grande. 267 

Casa  de  campo  de  Rita  Alves,  em  Migorine 271 

Habitação  do  cidadão  José  Militão  Nunes,  na  villa  de  Quelimane 28(* 

Habitação  do  cidadão  Manuel  Vellozo  da  Rocha,  na  villa  de  Quelimane 28(i 

Inhambane 

igreja  de  Nossa  Senhora  da  Conceição,  cm  Inhambane,  o  parle  da  praça  (Baluarte  de  S.  Rodrigo) 28U 

Provlnoia  de  S.  Thomó 

Foz  do  rio  Agua  Abbade 368 

Vista  da  praia  chamada  Ribeira,  onde  desagua  o  rio  que  serve  de  limite  entre  a  freguezia  de  SantAnna 

e  a  dos  Angolares,  e  onde  terminam  as  terras  da  fazenda  Alto  Douro,  pelo  lado  do  mar 36i^ 

Catarata  Blubu,  do  rio  Agua  Grande,  4  kilometros  distante  da  cidade. 380 

Vista  do  rio  Agua  Abbade,  a  pouca  distancia  da  foz,  na  ilha  de  S.  Thomé.  Lavandeiras  da  fazenda 

Agua-lzé 382 

Rio  e  bahia  da  praça  Rei  o  habitação  da  fazenda  Agua-lzé,  12  kilonletros  distante  da  cidade 383 

Uma  vista  da  cidade  de  S.  Thomé,  tirada  de  cima  da  torre  da  Sé 394 


Mappa  medico>geographico  da  região  Guineana  equatorial,  na  qual  se  comprehende  a  proviacia  de  S.  Thomé 
e  Principe  e  suas  dependências. 


ERRATAS 


Vaf.       Lin.  Erro»  Ememlas 


:« 

41 

confluentes 

forrenles 

'229 

3« 

Angnsto 

Angelo 

rm 

j 

A  imporUncia  pratica  da  liisloria 
pois  que 

natural. 

A  imiwrtancia  pratica  da  historia  natural  é 
manifesta,  pois  que 

56i 

^2 

Maçam  brá 

Maçam  brará 

1)65 

14  oi5 

os  vcgplacs  c  ns  aniniaos. 

(IS  vegetaes,  os  animaes  e  os  homens. 

r>67 

24 

mossadA 

mossandá 

569 

3i 

sapi 

saU 

569 

32 

muanduni 

moandim 

570 

23 

Thorabinthccas 

Therebiuthaceas 

57! 

i8 

Miniosca  giganUsca 

Mimosa  gigantesca 

572 

32 

boabah 

boabab 

573 

36  a  38 

2.*  A  montanhosa,  comprehend(*ndo  Uliccs, 

2.*  A  montanhosa,  couiprehendendo  felins, 

orchidca%,  elacis.  (Lorantando  em 

700  me- 

orchideas,  elacis,  gwnemis,  florestas  passa- 

tros seguindo  \wr  uns  250  kilom^lros  a  con- 

geiras de  plantas  herbáceas,  ele.  (Ltrvanta-se 

tar  da  primeira  Gunicnsií:,  florestas  passa- 

em 700  metros  seguidos  por  uns  250  kilonie- 

geiras  do  plantas  herbáceas,  etc.) 

tros  a  contar  da  primeira.) 

575 

lo2 

cuja  dcscri|>ç3n  enthnsiastica  fez  o  ra}iitão 

0    quo  justifica  a  enthusiastica  doscripc.lo 

que  d'elia  fez  o  capitAo 

15 

queime 

quimc 

577 

33 

Jara 

Java 

577 

37 

alligiana 

artigiana 

577 

38 

omcricus 

quercus 

579 

C 

occobis 

nccolÍ5 

579 

11 

Queime 

Quime 

Omillimos  outras  emendas  por  serem  de  fácil  perc(.«pçAo,  lastimando  que  uma  commissão  de  serviço  nos 
obrigasse  a  partir  rapidamente  para  a  provincia  do  Angola,  sem  rcvermos  este  trabalho  com  o  devido  escrú- 
pulo. A  pessoa  encarregada  da  continuação  da  obra.  desejando,  como  era  natural,  corresponder  á  nossa  con- 
fiança, teve  graves  embaraços,  sendo  o  principal  a  irregularidade  das  copias  rcmcltidas  para  a  imprensa,  que 
nilo  podemos  corrigir  a  tempo  opitorluno.  Dadas  osl.is  explicarõps,  rs|)eràmos  ser  relevado  de  qualquer  fall.i 
que  appareça. 


PREFACIO 


Nao  nos  propomos  fallar  das  vantagens  que  este  livro  pode 
offerecer  em  relação  ás  nossas  províncias  ultramarinas,  nem  do 
fim  para  que  o  publicamos,  pois  que  a  melhor  explicação  está  no 
próprio  livro.  Algumas  circumstancias  ha,  todavia,  que  julgámos 
dever  apresentar  perante  os  que  assignaram  ou  leram  o  prospe- 
cto elaborado  ao  principiar  a  publicação  d'esta  obra. 

Por  motivos  que  não  vem  a  propósito  narrar,  mas  de  que  nos 
oc€uparemos  largamente  em  occasião  opportuna,  resolvemos  es- 
tudar as  Uhas  de  S.  Thomé  e  Prindpe,  apenas  ali  desembarcá- 
mos. O  nosso  primeiro  trabalho  serviu  de  base  ao  relatório  da 
junta  de  saúde  publica  da  respectiva  provincia,  e  foi  impresso 
em  1871.  Não  passou  de  um  ligeiro  ensaio;  mas  ali  ficou  desde 
então  lançado  o  delineamento  geral  d'este  livro,  cuja  publicação 
desejávamos  realisar  antes  de  concluir  o  tempo  de  serviço  que, 
como  aspirante  a  facultativo  do  ultramar,  nos  obrigámos  a  pres- 
tar na  provincia  em  cujo  quadro  de  saúde  fomos  admittido. 

Durante  a  nossa  residência  nas  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe, 
estudámos  a  topographia  das  suas  diversas  localidades  e  olhámos 
sempre  com  interesse  para  as  culturas  das  roças  ou  fazendas  que 
ali  se  encontram.  Não  nos  passava  despercebido  alem  d'i§so  tanto 


XXVI 

o  que  dizia  respeito  aos  habitantes,  como  o  que  se  referia  ao 
conimercio,  á  saúde  publica,  ás  doenças  e  ao  clima.  Era  vaslo  o 
campo  da  nossa  observação  e,  para  maior  facilidade  do  estudo, 
adoptámos  desde  o  principio  as  seguintes  divisões  geraes :  geo- 
graphia,  condições  physicas  e  motaes  dos  habitantes,  hygiene  pu- 
blica, hospitaes  e  pharmacias,  flora  pathologica,  estatística  e,  final- 
mente, apontamentos  para  a  historia  geral  da  provinda. 

Todos  estes  assumptos  nos  pareciam  dignos  de  se  divulgarem, 
o  que  poderia  fazer-se  em  folhetos,  em  vários  opúsculos  ou  n  um 
único  livro:  adoptámos,  porém,  como  mais  conveniente,  esle  ultimo 
meio  de  publicação,  e  por  isso  mesmo  dissemos  no  respectivo 
prospecto : 

O  livro  que  vae  dar-se  á  estampa  comprehende  informações  tõo 
exactas  quanto  minuciosas  sobre  o  commercio,  agricultura  e  salu- 
bridade da  provinda  de  S.  Thomé  e  Principe.  Servirá  de  guia 
segura  e  indispensável  a  todos  aquelles  que  desejarem  conhecer 
tão  útil  possessão  de  alem-mar,  ou  a  ella  se  acham  ligados  por 
algíim  interesse  ou  relações  de  qualquer  ordem.  Reuniram-se neste 
livro  CLSsumptos  que  encheriam  duzentas  paginas  cada  um.  Muito 
de  industria  se  procedeu  assim.  Tratava-se  de  uma  região  equatorial, 
e  onde,  a  par  de  grande  fertilidade,  está  um  clima  quente  sob  o 
qual  se  requerem  midados  que  não  se  têem  muitas  vezes,  com  grave 
prejuizo  de  saúde,  por  se  desconhecerem. 

Um  trabalho  d'esta  ordem  não  podia  deixar  de  ser  muito  com- 
plexo, e  para  se  tornar  mais  profícuo  era  forçoso  que  comprehen- 
desse  algumas  noticias  das  ilhas  mais  próximas  ás  nossas  e  dos 
rios  e  logares  principaes  da  costa  do  continente  da  Africa  que 
lhes  defronta.  Representam  todas  estas  terras  uma  diminutíssima 
fracção  da  zona  equinoccial  africana,  contendo  de  certo  os  logares 
mais  insalubres  do  mundo,  como  os  do  delta  do  rio  Niger,  as 
fpargens  do  rio  Benim,  etc, 


XXVII 

As  regiões  equatoriaes  da  America  e  da  Oceania,  justo  é  dizer- 
se,  lambem  sfio  geralmente  desconhecidas  entre  nós.  Havia  por- 
tanto grande  vantagem  em  poderem  comparar-se  os  principaes 
paizes  que  demoram  sob  a  linha  equinoccial  e  estão  nas  mesmas 
condições  de  latitude  em  que  se  encontra  a  nossa  provincia  gui- 
neana,  região  equatorial  a  que  mais  particularmente  dedicávamos 
a  nossa  altenção. 

Mas  se  por  esle  lado  era  preciso  colligir  os  elementos  mais 
adequados  para  provar  que  a  provincia  de  S.  Thomó,  pela  fer- 
tilidade do  seu  terreno,  tem  mais  importância  do  que  se  julga, 
attenta  a  sua  área  tao  limitada,  por  outro  convinha  mostrar  que 
as  terras  portuguezas  do  ultramar  nâo  têem  menor  valia  do  que  as 
possessões  das  outras  nações  da  Europa,  se  bem  que  as  nossas  estão 
dentro  dos  trópicos  ou  são  todas  equatoriaes,  como  observa  G.  Vo- 
gel,  achando  n'isso  motivo  de  inferioridade  para  ellas, 

E  grave  similhante  questão,  e  não  deve  discutir-se  sem  fados, 
demonstrações  rigorosas  e  provas  bem  documentadas.  E  esle  o 
objecto  do  capitulo  m,  o  qual  de  per  si  só  encerra  mais  de  duzentos 
paginas  e  em  alguns  pontos  ainda  assim  não  satisfaz  ao  nosso 
desejo.  Ficam  todavia  lançadas  as  bases  para  um  trabalho  mais 
completo  e  que  poderá  sair  a  lume  em  livro  separado. 

Tendo  em  vista  este  assumpto,  entendemos  que  o  titulo  com 
que  primitivamente  foi  annunciada  a  obra :  A  provincia  de  S.  Tho- 
mé  e  Principe  e  suas  dependências  devia  ser  ampliado  com  o  se- 
guinte: A  salubridade  e  insalubridade  relativa  das  provindas  do 
Br azil,,  das  colónias  de  Portugal  e  de  outras  nações  da  Europa, 
porque  d'este  modo  se  manifesta  melhor  o  nosso  pensamento  a  res- 
peito de  certas  circumstancias  da  provincia  de  que  tratamos. 

Do  que  levamos  dito  se  conclue  que  ab  initio  não  dispozera- 
mos  as  cousas  para  dividir  este  1í\to  em  diíferentes  volumes,  e 
julgávamos  até,  coroo  no  prospecto  se  declarou,  que  não  excede" 


XXVIII 

ria  seiscentas  paginas  do  impressão.  Não  ora  seguro  oslo  ciílciilo,  o 
mais  tarde  vimo-nos  embaraçados  para  mo  exceder  os  limites 
que  tinhamos  projectado. 

Não  obstante  todas  as  difficuldades,  a  imj)ressão  proseguia  e, 
somente  quando  estava  quasi  em  meio,  é  que  podemos  conven- 
cer-nos  de  que  não  era  possivçl  reunir-se  n'um  s()  volume,  sem  o 
tornar  muito  incommodo,  todo  o  trabalho  que  tencionávamos  dar 
á  luz  da  publicidade. 

Acrescia  alem  d'isto  igualmente  grande  excesso  de  despeza 
com  a  edição,  o  que  nunca  é  para  desattender. 

Urgia,  portanto,  sair  de  similhante  embaraço,  pois  que,  qual- 
quer adiamento,  seria  muito  prejudicial,  não  só  porque  nos  cum- 
pria acompanhar  a  expedição  do  caminho  do  ferro  de  Ambaca, 
junto  a  qual  haviamos  sido  nomeado  medico,  como  também  por- 
que deviamos  evitar  a  diíTicil  posição  em  que  estávamos  para 
com  as  pessoas  que  nos  haviam  coadjuvado  n'esta  publicação. 
Tratámos,  pois,  de  resumir  o .  trabalho,  tendo  sempre  em  mira 
conservar  o  plano  fundamental  da  obra  e  não  sacrificar  as  maté- 
rias de  cada  uma  das  principaes  divisões. 

A  tarefa  tomou-se  muito  espinhosa  e,  se  não  Tosse  o  expe- 
diente a  que  nos  soccorremos,  não  chegaríamos  com  facilidade  a 
bom  resultado. 

Coadjuvado  por  um  zeloso  empregado  da  imprensa  nacional, 
calculou-se,  á  vista  do  manuscjipto,  o  numero  de  jiaginas  que  este 
produziria,  e  sobre  tal  base  escolhemos  o  que  nos  pareceu  har- 
monisar-se  mais  com  o  delineamento  geral  que  se  adoptara. 

Supprimiram-se  em  algumas  secções  geraes  os  capitulos  que 
se  reputavam  secundários,  e  n'outros  refundiu-se  de  novo  o  as- 
sumpto. Mas  ainda  assim  não  era  possivcl  realisar  o  nosso  in- 
tento, porque  havia  capítulos  extensos  que  mal  podiam  ser  modi- 
ficados. 


XXIX 

EUminon-se  parte  da  carta  medico-yeograpkica  da  ilha  de 
S.  Thomè,  e,  coino  n'ella  se  inscreviam  differentes  fazendas  agrí- 
colas, ficaram  estas  também  excluidas.  Alguns  mappas  estatisticos 
nao  tiveram  cabimento,  assim  como  a  descripção  da  nossa  pro- 
vincia  do  Minbo,  que  deveria  ser  apresentada  como  termo  de  com- 
paração. Vimo-nos  igualmente  forçados  a  reduzir  algumas  ques- 
tões medico-hygicnicas  e  muito  especialmente  as  que  diziam  res- 
peito a  hospitaes,  pharmacias  e  tratamento  das  doenças  endémicas 
da  ilha  de  S.  Thomé.  Não  ficou  de  certo  prejudicada  a  parte  do 
livro  refrente  á  salubridade,  e  a  obra  conserva,  a  nosso  ver,  tão 
boa  ordem  como  se  não  houvesse  taes  suppressões. 

Attendeu-se,  como  no  prospecto  se  promettêra,  ao  que  se  refe- 
ria ao  commerdo,  agricultura  e  salubridade,  não  só  da  provincia 
de  S.  Thomé  e  Principe,  como  também  de  todas  as  nossas  pro- 
víncias de  alem-mar,  comparando-as  com  as  das  outras  nações 
colonisadoras  do  século  xix. 

Dispostos  definitivamente  os  assumptos  que  deviam  entrar 
n'este  trabalho,  restava  tomar  em  consideração  os  panoramas, 
paizagens  e  habitações  que  deviam  animar  um  escripto  cuja  lei- 
tura é  quasi  sempre  muito  árida.  Não  era  fácil  a  escolha,  porque, 
a  par  das  bellezas  naturaes  de  cada  uma  das  nossas  províncias 
do  ultramar,  ha  a  grande  variedade  de  plantações  de  differentes 
géneros. 

Entre  as  gravuras  conservaram-sc  as  que  nos  pareceram  mais 
adequadas,  e  retiraram-se,  apesar  de  já  estar etn  impressas,  as  que 
podiam  ser  reunidas  n'outro  volume,  completamente  independente 
d'este,  tendo  por  objecto  principal  a  descripção  das  roças  ou  fa- 
zendas da  ilha,  c  de  tudo  o  que  possa  comprovar  a  importância 
d'esta  possessão  portugueza  no  ultramar. 

lUustram  esta  obia  vinte  e  quatro  gravuras,  e  um  mappa,  sen- 
do algumas  das  gravuras  relativas  ás  províncias  de  Angola  e  Mo- 


XXX 

« 

çambique,  e  pena  6  nao  ser  possível  accrescenlar  aqiiellas  em  que 
brilham  os  panoramas  da  nossa  pittoresca  província  do  Minho. 

Poderia  comparar-sc  d'este  modo  as  paizagens,  e  assim  se 
mostraria  que  sob  o  sol  abrazador  do  equador,  na  chamada  zona 
tórrida,  ha  vegetação  virente,  alegres  habitações  campestres, 
logares  agradáveis  e  quadros  tao  animadores  como  os  da  mais 
risonha  e  amena  província  que  possuímos  no  continente  europeu. 

Esperamos  todavia  satisfazer  este  intento,  se  dermos  á  estam- 
pa  a  parte  do  trabalho  que  nao  poude  ser  impressa  n'este  volume. 
A  publicação  não  se  demorará,  se  estes  estudos  forem  favoravel- 
mente acolhidos  por  todos  aquelles  que  se  interessam  pelas  nossas 
províncias  uhramarinas. 

Não  ajuntamos,  como  era  natural,  uma  nota  bibliographica  das 
obras  que  mais  especialmente  foram  consultadas  para  a  coorde- 
nação d'este  trabalho;  mencionamos,  porém,  os  nomes  dos  au- 
ctores  dos  livros  a  que  nos  soccorremos,  e  apontamos  vários  escla- 
recimentos publicados  sobre  o  assumpto  de  que  nos  occupâmos. 

Cumpre-nos  taníbem  dizer  que,  seguindo  esta  publicação  com 
a  possível  brevidade,  não  poude  concluir-se  no  praso  de  tempo 
que  se  havia  calculado.  Foi  causa  disso  não  só  a  demora  das 
gravuras,  como  muitas  outras  dífliculdades  alheias  á  nossa  vontade. 

No  meio  de  todas  estas  contrariedades  não  nos  poupámos  a 
sacrifícios  para  que  as  pessoas  que  nos  distinguiram  com  a  sua 
assignatura  ficassem  com  uma  obra  em  harmonia  com  o  respe- 
ctivo prospecto,  que  antecedenteinenfe  publicámos.  Não  foi,  por- 
tanto, illudida  a  sua  confiança  nem  desmerecida  a  suft  protecção* 

Se  n'este  novo  Ensaio  hfedico-Estaíklico  sobre  as  nossas  pro- 
viticias  do  ullramarj  conseguimos,  ou  não,  ser  ulil  aos  que  dese- 
jam conhecer  tão  importantes  regiões,  não  nos  é  possível  dízel-o; 
08  leitores  são  os  juízes  competentes,  e  do  seu  veridictum  tirare- 
mos fecundo  ensinamento. 


XXXI 

Seja-nos  permittido  esperar  que  continuaremos  a  encontrar 
apoio  c  protecção  efficaz  para  proseguirmos  nas  observações  e 
apresentar  provas  e  argumentos  irrecusáveis,  demonstrando  que 
as  nossas  províncias  ultramarinas  não  são  apenas  factourieres  ou 
comploin  de  commerce,  staíions  maritimes  plutôt  que  colonies 
dans  le  $ens  propre  du  mot. 

Repetem-SG  estas  palavras  nas  publicações  francezas,  e  os 
mappas  geographicos  são  geralmente  a  reproducção  de  taes  affir- 
matívas. 

Protestaremos  sempre  contra  tão  flagrante  injustiça,  e  diremos 
bem  alto  que  as  nossas  provincias  do  ultramar  valem  tanto  como 
as  das  outras  nações  colonisadores  do  século  actual.  E  verdade 
que  não  havemos  di\iilgado  a  natureza  dos  climas  equatoriaes 
sob  que  temos  vivido,  nem  publicamos  a  sua  flora  pathologica, 
mas  ha  elementos  bastantes  para  o  fazer,  e  não  é  mister  feliz- 
mente grande  esforço  para  isso  se  conseguir. 

Ao  fazermos  estas  considerações  cumpre-nos  relembrar  o  que 
já  dissemos  no  relatório  da  junta  de  saúde  em  1871.  E  necessário 
que  se  augmente  uma  cadeira  de  palhologia  e  hygiene  tropical 
nos  cursos  das  escolas  medico-cirurgicas.  E  alem  d'isso  os  facul- 
tativos do  ultramar  devem  escrever  memorias  sobre  os  seus  tra- 
balhos clinicos,  a  respeito  da  climatologia  e  hygiene,  havendo 
prémios  e  louvores  para  aquelles  que  mais  se  distinguirem.  Es- 
tes e  outros  meios  servirão  de  estimulo,  e  não  faltarão  escriptos 
especiaes  em  que  se  descrevam  minuciosamente  todas  as  nossas 
terrav^  do  ultramar» 

Desenganemo-nos ;  é  preciso  repelir  muitas  vezes,  que  sem 
efitudos  médicos,  bem  dirigidos,  nao  è  fácil  estabelecer  colónias 
ftgricolas,  nem  promover  a  emigração  para  as  íiossas  vastíssimas 
possessões  na  Africa  tropico-equatorial. 

Não  esqueçamos  que  para  esta  parte  do  globo  se  estão. diri- 


XXXII 

gindo  frequentes  expedições  scienlilicas  e  commerciaes,  e  que 
ellas  percorrem  os  territórios  ijue  nós  descobrimos  e  írequenlámos 
ha  nmilos  annos.  Sejamos  por  isso  os  primeiros  a  descrever  to- 
dos estes  paizes  em  relação  á  sua  agricultura,  commercio  e  salu- 
bridade, c  mostremos  que  nao  somos  para  a  colonisaçao  menos 
competentes  do  que  o  fomos  nos  séculos  xv  e  xvi  para  os  des- 
cobrimentos e  conquistas  de  tão  extensas  e  longiquas  regiões. 

Empreguemos  finalmente  a  propaganda,  servindo-nos  de  todos 
os  meios,  que  a  imprensa  nos  offerece,  e  divulguemos  todos  os  ele- 
mentos necessários  para  (|ue  escriptores  taes  como  Leroy-Beau- 
lieu  e  mr.  Charles  Calvo,  modifiquem  as  suas  idéas  acerca  das 
nossas  provincias  ultramarinas,  e  não  faltem  nunca  documentos 
para  que  os  sábios  dos  outros  paizes  colonisadores  fallem  com 
mais  rigor  e  exactidão  sobre  o  que  nos  diz  respeito  como  obrei- 
ros do  progresso  e  da  civilisação  das  nossas  terras  de  Africa. 

Villa  de  Mossamedcs,  8  de  janeiro  de  1878. 


Qyíi^anuet  ^eiieiia  m/ío-cUo, 


INTRODUCÇÃO 


Na  parte  onenlal  do  vastissimo  mar  de  Guiné,  o  qual  se 
estende  desde  o  cabo  das  Palmas  até  ao  cabo  de  Lopo  Gonçal- 
ves, fica  a  productiva  província  portugueza  composta  da  ilha  de 
S.  Thomé,  da  ilha  do  Principe,  do  território  de  S.  João  Baptista 
de  Ajuda,  na  margem  occidental  do  golfo  de  Benim,  e  da  ilha 
das  Rolas.  A  sede  do  governo  geral  d'esta  província  é  actualmente 
na  ilha  de  S.  Thomé,  onde  estão  também  as  repartições  publicas 
superiores. 

As  ilhas  que  servem  de  assumpto  principal  a  este  trabalho 
pertencem  aos  paízes  equinocciaeç  propriamente  ditos,  e  formam 
uma  das  mais  antigas  colónias  portuguezas.  Não  seria  completa 
a  descripção  do  clima  d'aquellas  ilhas,  se  faltassem  os  elementos 
de  comparação  entre  elle  e  os  das  terras  que  se  acham  sob  a  li- 
nha equinoccial,  quer  estejam  na  Africa,  America  ou  Oceania, 
(|uer  sejam  colónias  de  Portugal  ou  de  outras  nações  da  Europa, 
c|uer  províncias  do  Brazil.  O  estudo  comparado  das  regiões  equa* 
toriaes  lança  muita  luz  sobre  o  clima  da  província  de  S.  Thomé, 
a  ijual  tem  grande  importância  não  só  por  se  achar  situada  entr^ 


as  proviíicias  de  Cabo  V\'i(le  o  Angola,  mas  tainhoin  j)on|ue  os 
seus  portos  abertos  ao  conmiercio  uao  eslão  a  grande  distancia  da 
costa  continental. 

A  ilha  das  Rolas,  extremo  meridional  da  província,  eslá  sob 
o  equador  a  O**  de  latitude,  e  separada  da  ilha  de  S.  Tlionió  poi* 
um  canal  de  cerca  de  3\7  de  largura  e  mais  de  13"' ,2  de  pro- 
fundidade, dando  passagem  a  navios  que  ali  podem  fundear,  em 
frente  da  costa  do  N.  da  mesma  ilha. 

A  ilha  de  S.  Thomé  estende-se  de  5^,5  a  55^5  ao  N.  da  ilha 
das  Rolas,  levantando-se  quasi  em  frente  da  foz  do  rio  do  Gabão, 
a  292^6. 

A  ilha  do  Principe,  collocada  a  NNK.  da  de  S.  Thomé,  a 
ISõ*",!,  prolonga-se  desde  169^4  ale  187^9,  distíindo  244^4  do 
rio  de  S.  Bento,  na  margem  oriental  do  mar  de  Guuié. 

Da  costa  do  Gabão  para  qualquer  das  ilhas  pôde  fazer-se  a 
viagem  em  canoas  do  paiz. 

O  território  de  Ajuda,  onde  foi  edificado  ha  cento  noventa  e 
seis  annos  o  forte  de  S.  João  Baptista,  a  88*',9  de  Badagry,  parle 
do  qual  M.  de  Avezac  reputa  idistriclo  porluguez»,  está  ao  S.  do 
reino  de  Dahomé,  700^6  do  equador  ou  833*',4  da  capital  da 
província,  de  onde  dista  também  627*^,8  a  foz  do  rio  de  Benim, 
451\8  a  do  Niger  e  522  kilometFOsa  do  Velho  Calabar. 

A  posição  geographica  da  provhicia  de  S.  Thomé  mostra, 
pois,  a  necessidade  de  se  examinarem  as  terras  banhadas  pelos 
principaes  rios  que  desaguam  no  mar  de  Guiné,  estando,  em  pri- 
meiro logar,  os  terrenos  regados  pelos  vinle  braços  do  rio  Niger, 
e  que  constituem  enorme  centro  miasmatico,  ao  ipial  a  ilha  de 
S.  Thomé  olíerece  a  face  de  NO.  A  máxima  parle  da  costa  insular 
lambem  eslá  exposta  aos  ventos  que  varrem  as  vastas  regiões  de 
Africa,  e  ali  chegam  pelo  SE.,  E.  e  N.  até. a  ONO.,  isto  é,  aos 


3 

vonlos  que  passam  nas  planieies  do  contiiienle  africano,  d(\s(le  o 
rabo  de  L(»po  Gonçalves,  rios  Gabão  e  Calabar  aló  ao  delta  do 
Nifçer,  e  que  vem  mais  ou  menos  impregnados  de  elementos  dele- 
térios prejudiciaes  á  saúde. 

De  ESE.,  SSO.  e  0.  eliegam  a  ilha  de  S.  Thomé  os  ventos  do 
alto  mar. 

Alem  das  ilhas  das  RoIíís,  S.  Thomé  e  Príncipe,  ha  oulras 
nu  mar  de  Guiné  cpie  mo  devem  ser  t^squecidas.  Sâo  as  ilhas 
de  Anno  iJom,  Lopo  (Joncalves,  Corisco,  Eh)b(\v,  Fernão  do  P(), 
Mondoleh,  no  golfo  dos  jMafras,  e  a  do  (juríimo,  que  mais  parece 
fazer  parle  da  costa  do  golfo  de  Beiíim,  do  que  uma  ilha  propria- 
mente dita. 

Não  deve  passar  sem  r(»i)aio  a  circumstancia  que  se  dá  de  es- 
tarem lançadas  ao  mesmo  rumo  SOí  S.-NE'íN.  as  ilhas  de  Anno 
Bom,  S.  Thomé,  Principe  e  Fernão  do  Pó,  e  o  ahissimo  pico 
Mongo-Ma-Lob;di.  As  oulras  ilhas  sao  pe(|uenas,  e  algumas 
d'ellas  mui  chegadns  á  lerra  lirm(»,  como  a  de  (juramo,  já  no- 
meada, e  a  de  Lopo  Gonçalves,  no  extremo  meridional  do  golfo 
dos  Mafras. 

A  costa  do  continente  banhada  i)elo  mar  de  Guiné,  na  extensão 
<le  cerca  de  2:481  kilomelros,  subdivide-se  em  dilFerenles  partes 
dislinclas,  cpiasi  sempre,  por  meio  de  cabos  mais  ou  menos  notá- 
veis. As  divisões  estabelecidas  pelo  illuslrado  geographo  Alexan- 
dre, de  Castilho  serão  adoptadas  de  preferencia  a  todas  as  ipie 
téem  sido  apresentadas  até  hoje. 

Eis-aqui,  seguindo  a  ordem  de  conlinuidadc  de  N.  [nwn  o 
S.,  as  denominações  parciaes  que  devem  acceitar-se:  voMa  do 
Marfim  e  f/os  Quaquas,  da  Mina,  de  Benim.  do  Calabar  c  do  Ga- 
Imo.  E  portanto  indispensável  determinar  a  superlicie  em  (|ue 
estão  as  ilhas  do  mar  de  Guiné  e  os  logares  mais  importantes  da 


cosia,  qac  possam  Icv  alguma  inlluencia  iio  clima  da  província  de 
S.  Thoiué. 

A  zona  eomprchendida  enlre  o  equador  e  um  parallelo  tirado 
por  11°  45',  islo  é,  por  um  ponto  equidistante  do  trópico  de 
câncer  e  do  equador,  terá  a  denominação  de  zona  ecjuatorial  do  N. 
A  secção  d'esta  zona,  resultante  de  dois  meridianos,  passando 
um  por  10"  de  longitude  E  Geenwich  e  outro  por  l""  de  longitu- 
de 0.,  a  contar  do  mesmo  meridiano,  e  a  parte  equinoccial  de 
Africa  de  que  mais  especialmente  nos  occuparemos;  forma  ella 
um  rectângulo  cuja  base  coincide  coui  o  eipiador  terrestre,  re- 
presentando os  meridianos  a  latitude  ou  altura  do  reclangulo.  A 
área  d'esta  zona  é  3  vezes  maior  (pie  a  de  França  e  17,8  que 
a  de  Portugal. 

Náo  seria  preciso  de  certo  tomarem  consideração  tão  grande 
superíicie  se  n'ella  não  estivesse  comprehendida  a  maior  parte  do 
mar  de  Guiné,  ou  se  a  })rovincia  de  S.  Thomé  não  fosse,  como 
SC  disse,  formada  de  dilferentes  districtos,  sendo  os  territórios 
em  que  ella  se  devide  uuii  distanies  entre  si  e  bastante  appro- 
ximados  de  logares  cujas  condições  geológicas  ou  climatéricas  })o- 
dem  iníluir  na  salubridade  ou  insalubridade  dos  climas  insulares 
que  pretendemos  descrever. 

O  reino  de  Daliomc,  ao  N.  do  território  de  Ajuda,  meiece, 
alem  (Kisso,  atteiição  particular. 

Muitos  estrangeiros  têem  feito  viagens  á  região  equatorial 
dahomeana,  publicando  descripçoes  mais  ou  menos  interessaiites, 
mas  de  portuguezes  poucas  possuímos.  A  nossa  incúria,  n'este 
ponto,  tem  sido  tão  grande,  temos  cuidado  tão  pouco  em  promo- 
ver o  progresso  colonial  e  em  proteger  as  feitorias  e  eslabeleci- 
mentos  commerciaes,  ipie  alguns  escriplores  francezes,  fallando 
a  i'espeito  de  Dahomé,  dizem :  Os  portuguezes  nunca  possuíram 


5 

coma  alguma  ao  S.  do  reino  de  Dahomé,  e,  apesar  do  rei  de 
Dahoiné  lhes  dar  terrenos  para  elles  construirem  uma  fortale- 
za, não  a  haviam  começado  pelos  ajinos  de  1730;  e  foi.  o  capi- 
tão de  um  navio  francez  o  primeiro  europeu  (pie  ali  desembarcou, 
exclamando  os  indigenos  ao  verem  um  branco  pela  primeira  vez: 
^Zagoué*,  isto  é  *Elle  chegou». 

Taes  asseverações,  aliás  erróneas,  e  outras,  iiâo  devem  pas- 
sar sem  reparo.  Insinuam  que  nao  foram  os  porluguezes  os  pri- 
meiros descobridores  da  cosia  de  Benim,  e  que  fora  um  ft-ancez 
o  europeu  que  primeiro  chegou  áquella  região! 

E  conlra  similhanles  asserções  que  nunca  deixaremos  de  pro- 
testar, e  faltaríamos  a  iim  dever  se,  fallando  do  afamado  reino  da- 
homeano,  nfâo  pugnássemos  em  prol  da  verdade,  o  nao  nos  esfor- 
çássemos por  divulgar  o  que  se  acha  demonslrado  em  memorias 
(»  obras  portuguezas  de  grande  valia. 

O  erudito  visconde  dií  Santarém,  em  1842,  defendeu  a  prio- 
ridade dos  descobrimenlos  porluguezes  na  cosia  de  Africa;  mas, 
em  i867.  procurou  Pierre  Magry  renovar  uma  questão  sobre 
que  felizmente  vae  apparecendo  a  luz  c  a  verdade  sustentada 
]K)r  escripton\s  nacionaes  e  estrangeiros.  K,  porém,  para  lamen- 
lar  que,  em  publicações  francezas  de  recente  dala,  Iratando-se 
do  ivino  de  Dahomé,  nâo  haja  referencia  aos  nossos  escriptores 
que  se  tócm  occupado  de  tal  assumpto,  e  se  diga  que  o  território 
de  Ajuda  pertence  aos  ingl(»zes  e  nao  aos  porluguezes,  que  sâo 
senhores  d'aqu(dla  região  como  os  francezes  da  do  Gabão,  sendo 
aliás  a  posse  dos  portuguezes  em  Ajuda  muiti»  mais  antiga.  Mas 
nao  é  sómenie  por  este  lado  que  conviMU  conhecíM*  o  districlo  de 
Ajuda  e  o  reino  de  Dahomé,  lí  grande  a  importância  politica 
<reste  ponto  da  Africa  equatoiial,  e  nao  o  é  menos  o  seu  mo- 
vunento  commercial.  podendo  augmentar  muito  com  as  boas  re- 


6 

laçõcs  (los  povos  de  Dahome  e  torras  adjacenles,  se  os  portngue- 
zes  seguirem  n'aqiielle  paiz  o  mesmo  systema  que  os  francezes 
adoptaram  no  Gabão,  onde  entraram  lia  trinta  e  (|ualro  annos  ape- 
nas  e  já  dispõem  de  baslanle  influencia.  E,  portanto,  de  grande  in- 
teresse que  se  achem  archivados  em  livro  apropriado  os  factos, 
acontecimentos  ou  informações  dos  viajantes  nacionaes  e  estran- 
geiros, para  que  possam  servir  de  guia  aos  que  «lesejem  ir  á  cos- 
ta de  Benim,  á  costa  de  Ajuda  ou  ás  ilhas  de  S.  Thomé  e  Prín- 
cipe, e  demorar-se  ali  por  algum  tempo. 

O  medico,  porém,  que  nao  deve  ignorar  Iodas  eslas  circum- 
stancias,  tem  que  examinar  oulra  ordem  de  factos  náo  menos  im- 
portantes. Gumpre-lhe  estudar  a  natureza  das  do(mças  ondemi- 
cas  e  os  meios  mais  adequados  [)ara  as  debellar.  E  esta  a  sua 
missão.  O  campo  é  vasto  e  o  assumpto  difficil,  mas  o  medico  co- 
lonial tem  por  norma  lra})alhar  para  a  conservação  da  vida  e  da 
saúde  dos  colonos,  vcm  se  poupando  para  isso  a  sacriiicios,  por 
maiores  que  elles  sejam. 

A  provincia  de  Cabo  Verde,  com  as  suas  variadas  ilhas,  (»  (í 
vasto  território  de  Guiné  que  mais  devia  sím*  provincia  indepen- 
dente, como  a  de  S.  Thorné,  do  que  subordinada  ao  governo 
geral  de  Gabo  Verde ;  a  larga  região  de  Angola  e  Moçandúípie, 
de  entre  as  quaes  se  deve  fazer  desappan^er  as  trevas  «mu  que 
estão  envolvidos  os  povos  que  as  habilam,  o  que  é  um  dever  da 
nação  porlugueza  e  um  tMnprelu^ndimento  altauienle  civilisador, 
reclamado  ])elo  progr(\sso  e  interesse  da  humanidade,  todas  estas 
regiões,  dizemos,  oífereciMU  diversos  climas  e  condições  de  vida 
muito  especiaes ;  e  é  seui  duvida  grande  temeridade  chamar  para 
ali  a  emigração  sem  (pie  se  indiquení  as  localidad(»s  mais  favo- 
ráveis á  saúde.  Não  se  vive  impuneiiu^nte  n'um  diuia  como  o  de 
Benguella,  na  Africa  tropical,  nem  deixa  de  ser  grande  o  tributo 


que  se  paga  ao  das  províncias  do  Brazil.  Mas  o  progresso,  no  seu 
variado  movimento,  sairá  triumphante  da  luta  estabelecida  para 
a  colonisaçâo  dos  paizes  intertropicaes. 

O  districto  de  Lourenço  Marques  de  um  lado,  e  o  de  Mossame- 
des  do  outro,  são  as  portas  por  onde  devemos  entrar  na  região 
tropical  da  Africa  portugueza.  O  estabelecimento  de  S.  João  Ba- 
ptista de  Ajuda  serviria  de  passagem  para  a  Africa  equatorial  se 
tivéssemos  paciência  para  captar  a  amisade  dos  denominados 
reis  ile  Dahomé,  ou  quizessemos  sustentar  o  nosso  direito  aos 
terrenos  que  ficam  ao  S.  do  reino  dahomeano,  cuja  concessão  é 
attestada  por  auctoridades  insuspeitas  e  por  documentos  incon- 
trastaveis. 

O  que  importa,  porém,  aos  colonos,  é  conhecer  as  vantagens 
que  as  differentes  localidades  lhes  oíTerecem,  seja  qual  for  a  re- 
gião  intertropical  em  que  elles  se  achem,  avaliando  com  verda- 
deiro conhecimento  de  causa  a  importância  do  paiz  para  onde 
desejam  !ransporlar-se.  Devem  portanto  saber  distinguir  a  natu- 
reza dos  climas  parciaes  da  Africa  portugueza  e  das  províncias 
do  Brazil,  visto  que  n  um  continente  e  n  outro  ha  facilidade  em 
obter  terrenos,  cultival-os  e  tirar  d'elles  grande  proveito. 

Não  engrandecemos  as  terras  de  Africa  deprimindo  as  do  im- 
pério de  Brazil;  expomos  a  verdade  tal  qual  se  nos  afigura.  Es- 
crevemos para  utilidade  de  todos  os  portuguezes,  especialmente 
dos  que  pretendam  ir  para  aquellas  regiões. 

Não  é,  pois,  um  livro  de  sciencia  especulativa  que  apresen- 
tamos ao  publico,  é  um  trabalho  pratico,  onde  se  mostra  a  gran- 
deza e  importância  das  nossa  colónias,  onde  se  patenteia  a  salu- 
liridad(í  ou  insalubridade  de  muitos  paizes  intertropicaes,  e  onde, 
finalmente,  se  trata  da  colonisaçâo  de  uma  importante  provincia 
do  ultramar,  da  qual  fazemos  minuciosa  descripção. 


Encorra-se,  porém,  todo  o  nosso  esliulo  nVslas  poucas  pala- 
vras: emigração,  aclimação  e  colonisação. 

A  respeito  da  emigração  escreveu  mr.  Julcs  Duval : 

tE  a  emigração  na  ordem  económica  uma  exportação  de 
trabalho,  capital  e  intelligencia,  que  desenvolve  uma  nova  forç^ 
de  producção  e  de  consumo,  por  meio  da  qual  trocam  as  zonas, 
os  climas,  as  terras  e  os  mares  os  seus  productos. 

«E  na  ordem  politica  uma  diffusão  pacifica  do  sangue,  da 
lingua,  dos  sentimentos,  dos  costumes,  das  idéas,  das  institui- 
ções, que  augmenta  o  prestigio  e  poder  das  metrópoles,  e  as  des- 
embaraça, alem  d'isso,  de  elementos  que  as  enfraqueceriam,  e 
de  fermentos  de  desordem  que  poderiam  perturbal-as. 

*E  na  ordem  eílmographica  a  geração  dos  povos;  a  incapaci- 
dade de  emigração  é.um  signal  de  impotência,  precursor  de  prom- 
pta.  declinação. 

r 

tE  na  ordem  humanitária  a  exploração  do  globo,  progressi- 
vamente purificada  dos  flagellos  dos  reinos  animal  e  vegetal.  O 
clima  e  a  hygiene  melhoram  quando  a  mão  intrépida  do  colono 
faz  seccar  os  panianos,  entrar  os  rios  nos  seus  leitos,  6  fructifi- 
car  o  deserto;  trabalhos  heróicos,  immortalisados  nos  mvthos  de 
Hercules  e  de  Theseu,  e  que,  approximando  as  raças,  fundem 
as  suas  differenças  e  antipathias  em  allianças  de  sangue  e  de  inte- 
resse. 

•  E  na  ordem  cosmogónica,  finalmente,  uma  (ixpansão  da  foi-ça 
intelligente,  que  é  o  homem,  e  que,  como  todas  as  forças,  tende 
ao  equilíbrio.  Circulação  de  sangue,  dilatação  dos  fluidos,  marés 
do  oceano  e  da  almospliera,  vibrações  do  ether,  curso  dos  astios, 
são  applicaçries  variadas  d'(»sta  lei  da  natureza,  que  ivstabelece  o 
cosmos  sflbre  a  harmonia  dos  movimentos,  regulando-se  e  pondtí- 
rando-se  por  atlracçnes  reciprocas. » 


9 

Acorcíi  <la  aclimação  disse  o  illnstrc  visconde  de  Paiva  Manso: 

« E  grave  a  questão  da  aclimação,  que  só  por  si  constitue  um 
(los  ramos  mais  importantes  da  sciencia  medica. 

•  Sem  pretender  entrar  n'uma  questão  que  tão  vasto  campo 
offerece  á  discussão,  ou  seja  com  relação  ã  hygiene  ou  por  estar 
ligada  a  questões  económicas  da  mais  alta  gravidade,  é  certo,  como 
diz  Juíes  Rochard,  que  é  muito  complexa,  que  deve  ser  estudada 
em  relação  ao  individuo  e  em  relação  á  raça.  • 

Para  Leroy  Beaulieu  a  colonísaçao,  finalmente,  é  um  acto  re- 
flectido, sujeito  a  regras  que  somente  as  nações  civilisadas  pode- 
rão indicar;  é  um  dos  phenomenos  mais  complexos  e  mais  deli- 
cados da  physiologia  social;  é,  emfim,  uma  arte  que  se  forma  na 
escola  da  experiência,  e  uma  sciencia  que  formula  as  leis  que  re- 
gulam as  colónias  nascentes. 

A  colonisação  da  Africa  portugueza  é,  na  verdade,  um  dos 
maiores  commettimentos  da  pátria  de  D.  Henrique,  Alvares  Ca- 
bral, Pedro  de  Escobar,  Diogo  Cão,  João  de  Santarém,  Bartholo- 
meu  Dias,  Vasco  da  Gama,  Affonso  de  Albuquerque  e  de  tantos 
oulros  arrojados  nautas  e  destemidos  cavalleiros. 

Sulcaram  os  nossos  antepassados  mares  desconhecidos,  des- 
cobriram ilhas,  cabos,  rios  e  largas  regiões,  assignalando  com 
suas  maravilhosas  viagens  os  últimos  annos  do  século  xv  e 
principio  do  xvi ;  no  ultimo  quartel  do  século  xix  cumpre-nos 
fecundar,  não  c^m  a  espada,  mas  com  o  arado  as  terras  incultas 
e  abandonadas,  abrindo  estradas  e  tirando  das  entranhas  do  solo 
as  immensas  riquezas  que  ali  jazem  sepultadas. 

A  Africa  portugueza  ao  S.  do  equador  é  actualmente  o  campo 
de  acção  e  o  logar  do  trabalho  para  onde  d(»ve  voltar-se  a  atlen- 
çãó  de  todos  os  portuguezes.  . 

O  caminho  de  ferro  no  extremo  S.  de  Moçambi(|ue,  e  o  da 


10 

parle  oriental  da  província  de  Angola,  são  o  principio  d'esla  i(lo- 
riosa  campanha. 

A  par  das  communicíições  rápidas,  levantar-se-hão  colónias 
agricolas,  estabelecimentos  commerciaes  e  plantações  dos  géneros 
da  zona  tropico-equatorial  mais  procurados  nas  praças  da  Europa, 
e  n'esles  primeiros  delineamentos  da  colonisação  dos  vastíssimos 
terrenos  que  possuímos  na  Africa  meridional,  desde  o  trópico  ao 
equador,  serão  derrubadas  as  florestas,  agricultadas  as  planícies 
e  semeados  os  campos.  Trocar-se-hEo  depois  os  productos  natu- 
raes  e  industriaes,  estabelecendo-se  accelerada  navegação  entre 
os  portos  de  Portugal  e  os  da  Nova  Africa,  e  formando-se  assim 
uma  corrente  de  riqueza  que  levará  esta  nação  ao  seu  tempo  dou- 
rado, ao  século  da  sua  maior  gloria. 

O  livro  que  intentámos  publicar  tem  por  objecto  principal 
uma  fracção  diminutíssima  da  Africa,  uma  superfície  de  1:000 
kilometros  quadrados;  e,  estando  hoje  apenas  cultivada  a  decima 
parte  d'essa  área,  os  seus  rendimentos  públicos  sobem  a  mais  de 
100:000^000  réis;  nas  terras  da  Africa  portugueza,  com  uma 
superlicie  de  1.800:000  kilometros  quadrados,  desenvolvida  con- 
venientemente a  colonisação,  a  receita  publica  será  será  oito  vezes 
maior  que  a  de  Portugal. 

A  importância  da  colonisação  da  região  africana  que  hoje 
possuimos,  .demonstra-sc  por  factos  incontraslaveis.  Não  é,  po- 
rém, necessário  discutir  um  assumpto  de  que  ninguém  duvidará. 

Aos  poderes  públicos  cumpre  promover,  pela  sua  parle,  a 
abertura  de  estradas  e  caminhos  de  ferro,  e  premiar  a  iniciativa 
particular,  não  se  envolvendo  din^ctamente  em  contratos  paia  o 
estabelecimento  de  colónias.  Não  se  levantam  cidades  onde  falta 
a  agricultura  e  o  coittinercio,  e  onde  não  pode  realisar-se  a  acli- 
mação. 


Como  exemplo  de  colónia  agrícola  nâo  o  podíamos  achar 
melhor  do  que  a  ilha  de  S.  Thomó.  Descrevol-a  sob  este  ponto 
de  vista  é  também  dever  nosso,  concorrendo  ao  mesmo  tempo 
quanto  em  nós  couber  para  ([uc  se  avalie  o  clima  das  colónias 
portuguezas.  a  riqueza  e  a  abundância  de  seus  productos  natu- 
raes. 

Píira  esse  fim  grupámos  os  variados  maleriacs  d'este  livro  em 
differenles  secções,  dispostas  da  seguinte  forma: 

Geographia. 

Condições  physicas  e  moraes  dos  habitantes  de  S.  Thomé. 

Hygiene  publica. 

Flora  pathologica. 

Historia  natural. 

Meteorologia  e  climatologia. 

Diversos  quadros  estatisticos. 

Sao  assumptos  concernentes  á  provincia  de  S.  Thomé,  mas 
de  entre  elles  destacam-se  questões  de  alto  interesse  colonial, 
tanto  com  respeito  ao  commercio  como  em  relação  á  agricultura 
e  á  aclimação,  base  do  progresso  da  Africa  portugueza  do  occi- 
dente  ao  nascente,  de  Angola  até  Moçambique. 

EnumcTam-se  na  primeira  secção  os  paizes  erpiinocciaes  que 
estão  na  mesma  latitude  da  provincia  de  S.  Thomé;  calcula-se  a 
superfície  de  Portugal,  como  paiz  colonial,  e  compara-se  a  sua 
área  com  a  de  todas  as  nações  da  Euroj)a. 

Patenteia-se  a  iuimensa  vastidão  da  Africa  portugueza,  e  for- 
niidam-se  os  meios  de  chamai*  para  ali  a  emigração. 

I)istinguem-se  os  climas  ecpiatoriaes  dos  (pie  se  acham  sob 
ns  trópicos,  e  mostra-s(í  quanto  é  errónea  a  crença  popular  de  que 
o  calor  da  zona  tórrida  é  jMejudicial  á  saneie  e  impróprio  para  os 
trabalhos  agrícolas. 


<2 

Indicam-so  as  prinripaos  fazendas  da  ilha  do  S.  Thomé,  as- 
sumpto sobre  que  nada  ha  escriplo,  nioslrando-se  a  ferlilidado 
dos  terrenos  e  as  diversas  culturas  do  paiz,  tao  dilTerenles  das 
que  ha  na  província  do  Minho,  cuja  producção  comparamos  em 
presença  de  mappas  estatísticos. 

Ajuntam-se,  alem  d'ísso,  algumas  gravuras  reproduzindo  com 
a  maior  exactidão  as  bellezas  da  vegetação  que  aformoseia  as 
margens  dos  rios,  matiza  os  valles  e  faz  realçar  as  culturas 
daquelle  privilegiado  paiz,  procurando  por  este  meio  aniniar 
os  quadros  que  delineámos.  A  penna  descreve  em  largos  trn- 
ç^s  o  que  a  gravura  approxima  e  reproduz  com  toda  a  naturali- 
dade. 

Conhecida  a  posição  e  extensão  das  colcmias  portuguezas  em 
geral  e  as  fazendas  da  provincia  de  S.  Thomé,  é  natural  fallnr 
das  condições  physicas  e  moraes  dos  habitantes  de  tal  região. 

E  assas  complexa  esta  parte  do  nosso  trabalho,  e  uma  das 
mais  úteis  para  aquelles  que  desejam  viver  em  tâo  longi([uas  pa- 
ragens. 

Refere-se,  pois,  o  que  diz  respeito  aos  funccionarios  públicos, 
negociantes,  agricultores  e  trabalhadores,  e  estuda-se  o  movimento 
commercial  e  agricola  nâo  si')  da  ilha  de  S.  Thomé,  mas  também 
de  todas  as  nossas  províncias  do  ultramar. 

O  credito,  a  navegação  e  os  capitães  sâo  examinados  em  ])re- 
sença  de  estatísticas  organisadas  com  todo  o  cuidado,  entre  as 
quaes  figuram  mappas  de  exportação  das  casas  commerciaes  de 
Lisboa  para  os  negociantes  de  Africa,  e  da  importação  dos  |)ro- 
ductos  coloniaes  para  Lisboa.  DVste  modo  pode  avaliar-se  a  im- 
portância do  movimento  comm(»rcial  entre  a  praça  de  Lisboa  e  a 
Africa  portugueza. 

Os  paizes  iiiteriropicaes  como  o  Brazil.  Angola  e  Moçambique 


i3 

lêem  sido  tlioalro  de  valiosas  explorações  sob  o  ponto  de  visla  das 
sciencias  naUiracs.  0s  trabalhos  de  Livinsgtone  para  a  geographia, 
os  de  F.  Welwitsch  para  a  botânica  e  os  de  Anchieta  para  a  zoo- 
logia, são  muito  úteis,  aproveitando  com  elles  o  commercio,  a  agri- 
cultura e  o  progresso  colonial  portuguez;  mas  nâo  vSâo  menos  im- 
portantes os  trabalhos  dos  médicos,  examinando  os  chmas  e  as 
diversas  causas  que  produzem  as  doenças,  combatendo  acpii  as 
anemias,  mais  alem  o  paludismo,  n'uma  parte  a  febre  amarella,' 
em  outra  a  cholera,  e  ensinando  constantemente  as  regras  e  pre- 
ceitos da  hygiene  publica  e  individual. 

O  medico  colonial  occupa  realmente  um  dos  primeiros  loga- 
res  enire  os  obreiros  do  progresso  e  da  civilisaçâo  das  terras  de 
Africa.  Gumpre-llie  destruir  os  erros  e  preconceitos,  e  dizer  quaes 
são  as  colónias  menos  insalubres  e  as  condições  em  que  ellas  se 
acham. 

N'este  trabalho  faz-se,  pois,  sob  a  denominação — hygiene  pu- 
blica— a  descripção  da  cidade  de  S.  Thomc  e  dos  melhoramentos 
de  que  ella  mais  carece. 

A  planta  da  cidade  toma  mais  visivel  a  sua  posição  e  orien- 
tação, e  as  gravuras  (|ue  acompanham  este  trabalho  completam  a 
descripção  que  d'ella  fazemos* 

E  esta  a  secção  do  livro  mais  apropriada  para  se  tratar  da  in-» 
salubridade  relativa  das  ilhas  do  golfo  dos  Mafras  e  das  colónias 
portuguezas,  comparando  estas  entre  si  e  com  as  de  outras  na^ 
coes  da  Europa  e  províncias  do  Brazil. 

Forma  por  assim  dizer  este  assumpto  a  cúpula  do  ediíicio  lit- 
terario  que  planeámos.  E  d'ali  que  se  observam  as  condições  da 
vida  dos  paizes  intertropicaes  e  as  difficuldades  com  que  se  luta 
para  resistir  á  influencia  do  clima. 

A  provincia  de  S.  Thomé,  cuja  superíicie  é  oitenta  e  sete  ve- 


14 

zes  menor  du  (|ue  a  da  luelropole,  tem  aclualmeiíte  lerca  de  25»000 
alma^,  podendo  este  numero  dobrar  ou  triplicar  sem  haver  excesso 
de  população. 

Tratámos  em  especial  da  ílora  pathologica  da  ilha  d(»  S.  Thomé, 
referida  no  anno  de  1872.  E  um  assumpto  que  nmito  importa  co- 
nhecer. 

A  natureza  de  ipial(|uer  clima  depende,  alem  de  outras  cau- 
sas, da  (pudidade  dos  terrenos,  da  natureza  da  vegetarão  e  dos 
ventos,  (pie  para  nuiitos  auctorcís  representam  o  principal  papel 
na  salubridade  ou  na  insalubridade  de  um  paiz.  E  este  estudo  o 
assumpto  das  grandes  secções  denominadas  —  historia  natural, 
meteorologia  e  climatologia. 

No  reino  vegetal  descrevemos  as  arvores  próprias  para  con- 
strucçoes  e  marceneria,  as  arvores  frucliferas  e  as  que  sao  mais 
úteis  á  agricultura. 

Não  collocàmos  o  homem  no  reino  animal,  nem  aíCiMtàmos 
a  doutrina  do  sábio  naturalista  Darwin  a  similhante  nvspeito. 
Para  nós  o  homem  fornut  um  leino  á  parte,  e  tem  origem  [)ropria 
e  única. 

Não  nos  propomos  dizer  a  ultima  palavra  de  sciencia,  mas 
tratamos  de  pôr  (Mu  relevo  os  factos  que  nos  levam  a  admiltir  dis- 
tincção  entre  o  reino  animal  e  houíinal. 

Tendo  este  trabalho  uma  feição  inteirainelite  pratica,  reuni- 
mos em  grupos  separados  os  map[)as  estalislicos  (pie  não  poderem 
entrar  no  corpo  do  livro. 

As  eslatisticas  t(jcm  para  niis  grande  inlluencia  na  indaga(;ão 
da  verdade  scientiíica.  E  dillicil  organisal-as,  mas  da  dilliculdade 
para  a  inutilidade  vae  grande  dilferença. 

Tal  e  o  plano  da  obra  que  apnísentâmos,  e  onde  expomos,  a 
par  das  observações  feitas  como  medico  colonial  duraiíle  cinco 


15 

aiiijos  que  servimos  em  S.  Thomé,  as  conclusões  a  que  chegámos, 
compulsando  os  livros  dos  mestres  de  sciencia  que  mais  se  lêem 
distinguido,  e  examinando  cuidadosamente  todos  os  documentos 
de  que  tivemos  conhecimento. 

Em  secção  apropriada  patentearemos  as  fontes  a  que  recor- 
remos e  os  meios  de  que  nos  servimos  para  apurar  a  verdade, 
que  sempre  tivemos  por  norma;  e  por  bem  pagos  nos  daremos 
se,  no  meio  das  difBculdades  com  que  lutamos,  fizermos  obra  di- 
gna da  attenção  publica,  e  que  possa  ser  útil  a  todos  a(|uelles  (|ue 
desejam  conhecer  a  provincia  de  S.  Thomé  e  Principe  e  o  clima 
da  Africa  portugueza. 


1 


/. 


A  província 

DE 

S.  THOMÉ  E  príncipe 

SUAS  DEPENDÊNCIAS 


OD 


A  SÀIfBRIDÂDE  E  nSÀLlIBRIDADE  REUTITA  DAS  PROTIIICIAS  DO  BRAm, 
DAS  COLONUS  DE  PORTOGAl  E  DE  OUTRAS  NAÇÕES  DA  EUROPA 


GEOGRAPHU 

L'(BÍ1  de rhomme n^embrasse  à  Ia  fois qaaii étroil 
borizoD ;  il  lai  faot  nno  longuo  série  d'ótude8  pcreéré- 
raots  poor  reeoonattre  de  procbe  eo  procbe  tootet  le< 
parties  d' ao  district,  d'tm  pays,  d*ime  régioD,  et  airÍTer 
ainsi  JQiqo'à  la  notion  géoérale  des  grandes  divisions 
terrestres. 

(L'  Univert,  esqnisse  générale  d'Afriqiie,  par 
mr.  d*ATezac,  pag.  3, 1844.) 

CAPITULO  I 

Desoripção  dos  rios  e  logares  prinoipaes 
da  oosta  do  mar  de  Quino 

Cak«  de  Lopo  GoDçali es^—  Bahia  de  Lopo  GoD^alves.— Rio  do  Gabáo.— Bahia  do  Corisco.— Cabo  de  S.  Joio.— 
lio  df  S.  leDlo.— As  ilhas  portognezas  e  a  costa  do  Gabão.— Rio  do  Campo.— Enseada  do  Pão  da  Nau  ou 
Paiavia.— lio  da  Boroa.— Rio  dos  Canarões.— Pico  longo-la-Lobah,  do  qnal  existe  o  clima  qacnle  oa 
tórrido,  o  temperado  e  o  frio  oa  glacial.— Bahia  de  Ambozes  on  de  Zambús  (Ambas  oa  Amboise).— 
lio  de  EIRei.— Velho  Calabar  (Calhar j,  Dongo  oo  Oióne).- Rio  Done  (Andoney  oa  António).— Bahia 
de  Boni  oa  de  Obáne.— Rio  do  Sombreiro.— Rio  de  S.  Bartholomeu,  dos  Hafras  oa  dos  Três  Ir- 
mãos.-Rio  de  Santa  Barbara.- Rio  de  S.  Nicolau.— Rio  de  S.  Bento  (St.  John  or  Bra.s8).-Cabo  For- 
moso.—Rio  Riger  ou  Qaorra  e  o  celebre  delta  qae  elle  forma.— Afflaenles  do  rio  Niger  e  sens  braços 
prinripaes.— Rio  Tchadd.— Dhionliba  oa  Riger.—  O  delta  do  Niger  e  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Principe.— 
Grande  mar  interior  oa  lago  de  Tchadd.— Rio  Formoso  ou  de  Bepim.- Rio  da  Lagoa  oa  Lagos.— Ba 
dagry.— S.  João  Baptista  de  Ajadá  e  o  distrieto  oa  território  correspondente.— Condições  especiaes 
para  o  desembarqie  lo  porto  de  Ajodá.— lagestoso  espectáculo  qoe  oferece  o  mar  na  costa  de 
Ajidá.— Reino  de  Dahomé.— Caminho  de  Ajadá  até  á  capital  de  Dahomé.— Estações  intermediarias 
entre  o  território  de  Ajuda  e  a  capital  de  Dahomé.— Limites  do  golfo  de  Benim.— Limites  do  golfo 
dos  lafras.— Mar  de  Guiné,  zona  equatorial  que  lhe  corresponde  e  correntes  que  ali  se  observam. 

Cabo  de  Lopo  Gonçalfes.—  Dá-se  este  nome  ao  extremo  N.  de  uma  ilha 
de  Sl^yd  de  comprido  por  7^,4  de  largura,  descoberta  pelos  annos  de 
1 469  ou  1 470  por  Lopo  Gonçalves,  que  lhe  deu  o  nome,  estando  se- 


18 

parada  da  terra  firme  pelas  aguas  de  um  rio  de  mediana  largura.  E 
muito  conhecida  dos  porluguezes  a  bahia  a  que  elle  serve  de  limite. 

Demora  este  cabo  em  66^,9  ao  S.  do  equador  e  a  17®  51'  6''  de  longi- 
tude E.  Avi8ta-se  de  25  a  27  kilometros  ao  largo,  e  está  ao  SE.  da  ilha 
de  S.  Thomé ;  d'este  rumo  sopram  os  ventos  mais  de  cento  e  doze  vezes 
no  anno,  segundo  as  observações  de  1872,  e  chegam  á  velocidade  de  8 
kilometros  por  hora.  Nas  suas  proximidades  não  ba  terrenos  de  alluvião 
e  vastos  pântanos,  como  se  notam  em  outras  partes  da  costa  do  mar  de 
Guiné,  mas  independentemente  da  má  constituição  geológica  do  solo 
mais  próximo  d^aquelle  logar  e  da  qualidade  dos  ventos,  importa  aos 
agricultores  de  S.  Thomé  conhecer  os  logares  fronteiros  á  ilha  até  onde 
chegam  as  canoas  do  paiz. 

Ha  quem  affirme,  diz  o  nosso  illustrado  hydrographo  Alexandre 
Magno  de  Castilho,  existir  uma  lagoa  de  agua  doce  ao  S.  da  aldeia  Fe- 
tish,  e  a  5S5  para  o  sertão,  boa  agua  potável,  abrindo  cacimbas  nas 
praias.  Abunda  o  peixe  na  bahia  de  Lopo  Gonçalves,  onde  vão  muitas 
vezes  em  canoas  do  paiz  alguns  marítimos  de  S.  Thomé. 

Bahia  de  Lopo  GonçalTes. — É  esta,  na  verdade,  uma  das  bahias  da  costa 
mais  visitadas  pelos  habitantes  da  ilha  de  S.  Thomé.  A  0.  flca-lhe  o  cabo 
de  Lopo  Gonçalves  e  a  E.  a  ponta  denominada  dos  Feitiços  (Fetish  ou 
Feetish).  A  sua  área  anda  por  581  kilometros  quadrados  e  n'ella  desa- 
guam o  rio  Gobbi  e  o  de  Lopo  Gonçalves,  sendo  o  primeiro  um  ramo 
do  rio  Ogôoué,  explorado  em  1874,  e  defronte  de  cuja  foz  está  uma  ilha 
baixa  e  silvestre,  que  se  denomina  dos  Mortos,  e  foi  por  nós  abandonada 
não  obstante  haver  ali  abundância  de  coqueiros,  fácil  desembarque  e  boa 
pescaria. 

Rio  do  Gablo.  —  O  cabo  da  Barca  e  o  de  Santa  Clara  ou  de  Joinville 
marcam  a  foz  d'este  grande  e  importante  rio,  cujo  estudo  muito  interessa 
não  só  sob  o  ponto  de  vista  da  hygiene  publica,  mas  também  por  ter  sido 
habitado  pelos  portuguezes  que,  em  1 723,  no  intuito  de  procurarem  nas 
terras  vizinhas  minas  de  oiro»  edificaram  uma  fortaleza  na  ilha  do  Rei  ou 
Kornikey,  segundo  A.  Tardieu;  mas  vendo  frustradas  as  investigações, 
tiveram  de  a  abandonar,  apparecendo  ainda  vestigios  da  sua  estada  ali. 
Os  francezes,  porém,  escolheram  em  1842  aquella  posição,  e,  sem  que 
alguém  os  incommodasse,  começaram  por  fazer  ali  o  deposito  do  seu 
cruzeiro  de  Africa  austral,  e  acabaram  por  obter  terrenos,  estreitar  re- 
lações com  os  naturaes  e  assenhorear-se  doesta  região  equatorial,  não 
86  esquecendo  de  dar  nomes  francezes  aos  pontos  mais  importantes 
d'eUai 


19 

O  rio  é  muito  extenso,  e  alguDS  esciiptores  dSo-lhe  1  i  1^1  de  compri- 
mento, allirmando  que  se  conserva  perpendicular  á  costa,  o  que  mostra 
que  elle  corre  em  toda  a  sua  extensão  sob  a  linha  equinoccial. 

As  duas  bacias  que  se  formam  acima  da  foz  do  rio,  cerca  de  45^5, 
ficam  uma  exterior  á  outra  e  s3o  separadas  por  duas  ilhas  arborisadas, 
tendo  a  do  N.  boa  agua. 

N3o  s3o  mui  distantes  as  margens  do  rio  do  Gabão,  mas  o  que  ô 
digno  de  notar-se  é  ser  reputada  salubre  a  direita,  e  infamada  de  in- 
salubridade a  esquerda. 

Os  francezes  que,  em  1839,  examinaram  este  lado  do  rio,  pouco 
tempo  ali  se  demoraram,  attenta  a  mortalidade  dos  marinheiros  que 
tinham  que  fazer  serviço  em  terra. 

O  rio  e  seus  affluentes  são  orlados  de  mangues,  formando  grandes 
bosques  em  alguns  logares  a  muitos  kilometros  da  foz,  misturando-se  as 
aguas  doces  com  as  salgadas,  alimentando  assim  o  arvoredo  que  lhe  é 
próprio. 

O  cabo  de  Santa  Clara  ou  de  Joinville  está  em  O"  3(y  2"  de  latitude  N.  e 
18*^28' 24"  de  longitude  E.,  ficando  portanto  na  altura  da  Ponta  Figo  da  ilha 
de  S.  Thomé ;  e  a  contar  d'aquelle  logar  até  ao  N.  de  um  outeiro  deno- 
minado Duna  Plana  ou  atè  0^  4'  de  latitude  N.,  ha  a  mesma  distancia  que 
tem  a  ilha  desde  o  N.  ao  S.,  salvo  os  accidentes  de  terreno  que  ha  n'ella, 
os  quaes  lhe  dobram  a  extensão  do  N.  ao  S.  e  de  E.  a  O. 

Entre  a  cosia  insular  a  E.  e  a  margem  esquerda  do  Gabão  e  Dunas 
Grandes,  ha  a  distancia  de  200  kilometros  que,  em  poucas  horas,  pôde 
ser  percorrida  por  qualquer  vento  forte.  Sopram  raras  vezes  para  esta 
ilha  os  ventos  do  E.  e  do  NE.,  registando-se,  em  1872,  aquelle  cincoenta 
e  oito,  e  o  outro  dezeseis,  e  os  de  todo  o  quadrante  oriental  setenta  e 
nove. 

A  cidade  de  S.  Thomè  está,  pois,  exposta  aos  ventos  que  passam  so^ 
bre  as  terras  do  Gabão,  podendo  atravessar  em  pouco  tempo  a  porção  de 
mar  que  separa  as  duas  localidades.  Seriam  de  grande  vantagem  as  ob- 
servações meteorológicas  doestes  dois  pontos,  comparadas  entre  si,  e  afe- 
ridas pelos  mesmos  padrões. 

O  rio  Como,  grande  affluente  do  Gabão,  é  navegável  cerca  de  83S3. 

Os  logares  que  recebem  as  brisas  do  largo  em  toda  a  pureza,  são 
n*estas  latitudes  os  menos  insalubres,  e  na  ilha  de  S.  Thomè  estão  n'este 
caso  as  terras  do  lógo-Iógo  ou  da  Boa  Esperança  ao  S.  da  ilha. 

Bahia  do  Corisco.— Tem  approximadamente  1:234\8  quadrados.  Os 
seus  limites  são  a  ponta  dos  Mosquitos  ao  N.  e  o  cabo  das  Esteiras  ao  S^ 
estando  este  a  59^,2  para  S4S0.  d^aquella. 


20 

Faz  grande  recôncavo  esta  bahia,  e  são  numerosos  os  ilhéus,  ilhotes  e 
baixos  que  n'ella  se  encontram,  tirando-lhe  toda  a  importância  commer- 
cíal.  É  necessário  não  esquecer  que  desaguam  na  bahia  dois  rios,  um  ao 
N.  e  outro  ao  S.  Chama-se  o  primeiro  rio  de  Angra,  Danger  ou  Mooney, 
que,  em  língua  da  terra,  quer  dizer  escuta,  cuidado;  e  o  segundo  deno- 
mina-se  Moondah.  Em  ambos  podem  entrar  navios,  tomando-se  pratico 
entre  os  indigenas  da  ilha  do  Corisco  ou  do  rio  do  Gabão. 

A  foz  do  rio  de  Angra  está  emí"^  V  de  latitude  N.  e  IS"*  44'  de  longi- 
tude E.  Notam-se  na  sua  parte  septentrional  as  coUinas  de  Angra  em  nu- 
mero sufSciente  para  formarem  uma  cordilheira. 

O  rio  de  Moondah  estreita-se  muito  para  o  interior  das  terras,  as  quaes 
são  alagadiças  e  cobertas  de  mangues,  arvores  caracteristicas  dos  paizes 
intertropicaes,  e,  segundo  aiSrmam  alguns  escriptores,  dos  climas  palus- 
tres. 

Este  rio  passa  por  ter  communicação  com  o  Gabão,  fazendo  do  cabo 
das  Esteiras  uma  península  que  se  denomina  de  Louís  Philippe,  nome 
dado  por  M.  de  Langie,  quando  estudou  aquella  região. 

Alem  dos  grandes  seios  do  rio  Gabão,  orlados  de  mangues,  notam*se  as 
bahias  de  Lopo  Gonçalves  e  Corisco,  defronte  das  quaes  ficam  as  ilhas  de 
S.  Thomè  e  Principe,  onde  vem  amiudadas  vezes  navios  procedentes 
d'aquelles  pontos.  São  logares  de  clima  idêntico,  podendo  reputar-se  o 
solo  do  Gabão  igual  ao  da  ilha  do  Principe,  opinião  sustentada  por  A. 
Tardieu. 

Cabo  de  S.  Joio.— Demora  este  cabo  em  í^  í(y  de  latitude  N.  e  18** 
3(y  16''  de  longitude  E.  Está  coberto  de  arvoredo  e  é  talhado  a  prumo. 
Dista  cerca  de  25'',9  da  ilha  do  Corisco  o  &^,5  do  ilhéu  Booenja,  que  lhe 
flca  ao  N.,  fazendo  o  mar  por  ali  muita  arrebentnção. 

Para  o  N.  d'este  cabo  levanlam-se  altos  serros,  e  d'ahi  para  o  se- 
ptentríão  apparecem  montanhas  e  cordilheiras  que  se  estendem  por 
muitos  kilomelros,  devendo  notar-se  o  monte  Shart,  a  ENE.  do  rio  de 
S.  Bento  e  o  dos  Micos  ou  Mitre,  44^,4  da  beira-mar,  ao  SEViS.  do 
mesmo  rio. 

Rio  de  S.  Benfo. —  O  rio  de  S.  Bento  está  fronteiro  á  ilha  do  Principe, 
flcando  ao  N.  da  bahia  do  Corisco.  Tem  entrada  estreita  mas  profunda, 
segundo  informa  A.  Tardieu,  e  a  7'',4  da  foz  dívide-sc  em  dois  ramos,  di- 
rigindo-sc  um  para  ENE.  e  outro  para  ESE . 

A  ponta  do  N.  da  foz  oITerece  boa  conhccença,  por  causa  do  monte 
Haybern  que  repousa  em  1°  36'  do  latitude  N.  c  18^  46'  39"  de  longi- 
tude E.,  dando-se  muitas  vezes  este  nome  ao  próprio  rio. 


21 

As  ilhas  partogaezas  e  a  eosta  do  Gabio. — Â  costa  fronteira  ás  ilhas  de 
S.  Tbomé  e  Príncipe,  isto  é,  a  fracção  da  costa  do  Gabão,  desde  o  cabo 
de  Lopo  Gonçalves  até  ao  rio  de  S.  Bento,  merece  detido  exame. 

Não  estão  ainda  cultivadas  as  terras  adjacentes  á  costa,  nem  actual- 
mente ba  communicações  regulares  entre  as  babias  que  por  ali  se  abrem 
e  as  ilhas  de  que  nos  occupâmos. 

Levantam-se,  todavia,  alguns  povoados  nas  margens  dos  rios  e  em  al- 
guns pontos  da  costa,  mas  de  nenbum  d'elles  se  exportam  productos 
agrícolas  e  fabris,  o  que  mostra  o  atrazo  dos  habitantes  d'aquella  região. 

Entre  o  rio  de  S.  Bento,  fronteiro  á  ilha  do  Príncipe,  e  o  cabo  de  Lopo 
Gonçalves,  ha  cerca  de  i  i  3  kilometros  de  extensão,  havendo  dífiíerentes 
babias  e  rios  que,  apesar  de  serem  pouco  procurados,  não  deixam  de 
ter  importância. 

Os  portuguezes,  segundo  a  informação  do  Paul  Ducbaillu,  ainda  em 
1856  tinham  algumas  feitorias  na  bahia  de  Sengatão  e  suas  proximida- 
des. Foram,  porém,  abandonadas,  como  todas  as  que  havia  na  costa  do 
Gabão. 

São  baixas  as  terras  próximas  ás  margens  da  bahia  de  Lopo  Gonçal- 
ves, e  nota-se  sobre  o  extremo  da  margem  oríental  a  aldeia  denominada 
dos  Feitiços.  É  pobre  e  está  quasi  abandonada.  Não  é  facíl  o  desem- 
barque n*aquelle  local. 

Passada  a  ponta  dos  Feitiços,  apparecem  os  rios  Ogôoué  e  da 
Nazareth  que  desaguam  n'uma  angra  obstruída  com  areia,  cascalho  e 
coral,  formando  alguns  bancos  que  se  estendem  até  111  kilometros  da 
costa. 

O  rio  Ogôoué,  em  cujas  margens  se  levantam  alguns  povoados  e  fei- 
torías,  passa  sob  o  equador,  e  dá  muita  importância  á  angra  da  Nazareth 
OQ  de  Ogôoué,  como  os  francezes  lhe  chamam. 

É  pequena  a  bahia  de  Sengatão,  podendo  calcular-se  a  sua  superGcie 
em  15^,4  quadrados.  Na  margem  direita  ha  um  povoado  e  na  praia  dois 
barracões.  Levanta-se  a  uns  1 1^,1  a  montanha  de  Sengatão,  junto  á  qual  ha 
ama  aldeia.  Apesar  d*esta  não  subir  a  grande  altura,  é  comtudo  boa  marca 
para  se  reconhecer  a  bahia  de  Lopo  Gonçalves. 

A  46^,3  do  equador  está  o  monte  de  Sengatão. 

Das  terras  baixas  que  rodeiam  as  margens  da  bahia  de  Lopo  Gonçal- 
ves para  o  N.  começam  os  terrenos  a  elevar-se,  notando-se  a  cordilheira 
das  Dunas  Grandes,  a  que  também  se  dá  o  nome  de  Fanaes.  Estão  lança- 
das parallelamente  á  costa  na  extensão  de  27S7,  e  ao  meio  das  quaes 
passa  o  equador,  não  sendo  díflicil  reconhecer  o  logar  em  que  a  latitude 
é  nulia,  poisque  a  7*^,4  da  linha  sobresáe  uma  das  Dunas  Grandes,  a  qual 
se  distingue  a  um  terço  da  cordilheira,  contando  do  N.,  e  5^,5  ao  S.  do 


28 

equador  levanta-se  a  chamada  Duna  Plana,  que  se  acha  a  12^,9  da  maior 
das  referidas  collinas.  Está  demonstrado  que  a  linha  equínoccial  passa 
na  costa  do  Gabão  ao  meio  das  Dunas  Grandes,  entre  a  maior  d^ellas» 
7S4  ao  Nm  e  a  chamada  Duna  Plana,  5^,5  ao  S. 

Ao  N.  das  Dunas  Grandes  ou  Fanaes,  descem  de  novo  as  terras  até  á 
margem  esquerda  do  rio  do  Gabão,  de  que  já  falíamos,  assim  como  da 
bahia  do  Corisco,  separada  da  foz  d'aquelle  rio  por  uma  espécie  de  penín- 
sula, ao  O.  da  qual  fica  o  cabo  de  S.  João,  e  uns  53^,7  mais  adiante 
tem  a  foz  o  rio  de  S.  Benta.  Ha  differentes  aldeias  nas  proximidades  doesta 
costa  e  três  ribeiros  que  desaguam  no  mar. 

São  muitas  as  terras  altas  que  se  estendem  para  o  interior,  subindo 
alguns  montes  a  mais  de  1  kilometro  acima  do  nivel  do  mar.  É  esta  uma 
condição  importante  para  a  salubridade  das  povoações  que  se  formarem 
em  taes  latitudes. 

Rio  do  Gampo.^  A  foz  d*e8te  rio  tem  cerca  de  1:8B8  metros  dé  largo, 
e  as  bordas  arborisadas.  Ha  na  sua  margem  esquerda  uma  aldeia  pouco 
importante. 

Snseada  do  Pio  da  Naa  oa  Panayia. —  Tem  esta  enseada  72^,2  de  com- 
primento, segundo  Alexandre  de  Castilho.  Aos  limites  que  a  formam 
chamam  ponta  da  Boroa  e  cabo  do  ilhéu  ou  ponta  do  Carajao  (Garajam), 
ficando  aquella  ao  N.  e  esta  ao  SSG. 

Ha  no  fundo  da  enseada  dois  ribeiros,  sendo  mais  meridional  o  rio 
de  Panno  ou  Panmo. 

No  sitio  mais  recuado  despeja  outro  regato  de  boa  agua,  o  que  deve 
ter-se  em  attenção  quando  se  fundeia  n'aquella  enseada. 

Á  serra  que  se  levanta  para  o  sertão  da  bahia,  e  que  é  boa  marca, 
apesar  de  estar  amiudadas  vezes  encoberta  pelos  nevoeiros,  pozeram  os 
nossos  antigos  o  nome  de  Pâo  da  Nau.  Em  três  banquetas  se  estiram 
aquelles  montes,  a  primeira  a  5^5  da  costa,  a  segunda  ali  kilometros, 
e  a  terceira,  a  mais  alta  de  todas,  a  uns  27^,7.  São  todos  contrafortes 
da  cordilheira  que  se  ergue  mais  para  o  S. 

Rio  da  Boroa. — A  ponta  do  N.  d'este  rio  está  em  3®  35'  de  latitude  e 
18®  47'  òO''  de  longitude  E.,  segundo  Alexandre  de  Castilho.  Fica  pró- 
ximo da  ilha  Branca  e  tem  1:026  metros  de  largura  na  foz. 

A  costa  que  se  estende  desde  o  cabo  de  Lopo  Gonçalves  até  ao  rio 
dos  Camarões  é  a  face  ou  margem  oriental  do  golfo  dos  Mafras.  Levan- 
tam«6e,  quasi  paraUelamente  á  costa,  montes  de  formas  cónicas»  aimílhan^ 


33 

tes  a  um  pao  de  assucar;  sao  solitários  ou  compõem  cordilheiras  mais 
ou  menos  extensas.  Téem  mais  nomeada  os  Micos,  pela  altura  do  cabo 
de  S.  João,  os  montes  Banoko,  Nisus,  as  Mamas,  as  montanhas  da 
Âlouette,  de  Sadle  ou  Sella,  da  Table  ou  Mesa,  o  monte  de  Lavai,  em 
frente  da  bahia  do  Corisco  e  a  montanha  de  Sangatão,  boa  balisa  para 
se  entrar  na  bahia  de  Lopo  Gonçalves. 

Os  ventos  que  varrem  estas  terras  chegam  á  ilha  de  S.  Thomé.pelo 
quadrante  do  SE.  rodando  pelo  E.  para  o  NE.,  onde  apparecem  umas 
vinte  vezes  segundo  as  observações  feitas  em  1872.  Estes  ventos  podem 
saturar-se  dos  vapores  ou  miasmas  palustres  que  um  ou  outro  valle  pan- 
tanoso lhes  transmitta,  mas  não  é  somente  por  este  lado  que  são  prejudi- 
ciaes  aos  climas,  visto  que  elles  transportam  tanto  o  calor  como  o  frio,  se- 
gundo a  região  sobre  que  passam. 

É  por  esta  rasão  que  alguns  escríptores  os  tomam  como  causa  prin- 
cipal da  insalubridade  ou  salubridade  de  muitos  paizes.  Nós,  não  a 
tendo  por  mais  importante,  reputamol-a  comtudo  digna  de  attenta  obser- 
vação. 

Rio  dos  Camarões. —  Este  rio  é  o  limite  entre  a  margem  oriental  e  a  Oc- 
cidental do  golfo  dos  Mafras.  Não  ha  erro  em  assim  o  considerar,  e  por 
este  modo  facilita-se  a  comparação  dos  logares  que  mencionámos. 

A  abertura  entre  o  cabo  dos  Camarões  e  o  do  Gallo  (ponta  Suella- 
ba,  na  carta  geographica  de  Wilson)  mede  12  kílometros.  Forma-se  de- 
pois uma  vasta  bacia,  onde  se  juntam  as  aguas  de  muitos  rios.  Mas  a 
barra  do  rio  dos  Camarões  está  realmente  acima  d'esta  bacia,  devendo 
este  considerar-se  também  um  affluente  como  outros  que  ali  lançam  suas 
aguas. 

Entre  o  cabo  dos  Camarões  e  o  do  Gallo  fica,  pois,  a  abertura  de  uma 
bacia  e  não  a  embocadura  de  um  rio.  Subdivide-se  aquelle  grande  seio  em 
differentes  bacias  interiores,  e  a  sua  margem  esquerda  tem  cerca  de  i8\ti 
de  extensão,  abrindo-se  n'ella  a  foz  dos  rios  Malimba  e  Dongo*  Na  riba 
direita  desaguam  os  rios  Mardocai  e  Matunal,  alem  de  outros  de  menor 
volume  de  agua. 

Do  ENE.  chega  á  bacia  de  que  falíamos  o  rio  dos  Camarões,  depois 
de  um  curso  de  124  kilometros  approximadamente.  Despenha-se  a  sua 
nascente  de  uma  altura  de  15  metros,  desce  para  SE.,  encurvando-se  pelos 
4^  3(y  de  latitude,  sendo  separadas  as  aguas  em  dois  leitos  pela  ilha 
denominada  Wouri,  com  7^,2  de  comprido  sobre  6*^,4  de  largo.  Unem-se 
em  seguida  as  aguas  do  rio  até  encontrarem  a  extensa  ilha  denominada 
Jibareb,  que,  como  a  primeira,  é  muito  povoada.  Corre  de  novo  o  rio 
n'um  só  leito,  confnndindo-se  finalmente  com  as  aguas  da  bacia  entre  a 


24 

ponta  Malimba  e  a  Greeo  Patcb,  extremo  da  margem  esquerda  do  rio  Ma- 
tanal. 

Desapparecem  os  mangues  cerca  de  3^,7  acima  da  ilha  Jibareb,  o  que 
faz  mudar  o  aspecto  das  margens  do  rio  e  estabelece  uma  linba  de  de- 
marcação, em  que  o  medico  bygienista  não  pôde  deixar  de  attentar.  É 
também  por  esta  altura  que  não  se  fazem  sentir  as  marés. 

As  terras  banhadas  pelas  aguas  do  rio  dos  Camarões,  os  alto-planos  e 
montanhas  que  ficam  ao  occidente  d'este  rio  e  as  planícies  do  rio  Níger, 
a  277^,8  ou  305^,5  de  distancia,  téem  climas  tão  diversos  dentro  de  uma 
zona  tão  limitada  que  a  carência  da  sua  descripçSo  seria  grande  lacuna  no 
estudo  da  salubridade  ou  insalubridade  das  regiões  equatoriaes  de  que 
nos  occupámos. 

O  capitão  Âllen,  em  1843,  no  vapor  Wilber force,  subiu  o  rio  dos  Ca- 
marões uns  74  kilometros,  e  deixou  uma  minuciosa  e  importante  descri- 
pção  d'esta  localidade. 

Nos  terrenos  marginaes  de  tão  notável  rio  e  em  algumas  das  suas  ilhas, 
existem  differentes  povoados  ou  muitas  aldeias. 

Não  sabemos  se  a  acclimação  dos  europeus  é  possível  n'aquellas  para- 
gens. Alexandre  de  Castilho  diz  que  são  lindas  ali  as  noites  em  março,  abril 
e  maio,  e  que  os  dias,  principalmente  em  março,  são  muito  quentes,  de- 
clarando que  o  thermometro  á  sombra  tem  marcado  38^  e  40^  centígra- 
dos. Oscilla  então  o  barómetro  entre  758  e  762  millímetros  e  sobe 
quando  terminam  os  tornados. 

Na  cidade  da  ilha  de  S.Thomé  não  se  observou  em  1872  similhante 
temperatura,  havendo  apenas  dois  dias,  em  maio,  em  que  ella  chegou  a 
35^,2  e  3S°,6  centígrados.  Reputámol-a  extraordinária,  e  existindo  acci- 
dentalmente,  talvez,  sob  a  influencia  de  phenomenos  atmospherícos  que 
se  não  observaram  n*aquella  occasião. 

A  necessidade  do  estudo  da  geographia  medica  comparada  é  attes- 
tada  por  muitos  factos,  não  sendo  de  pequena  importância  o  de  se  ver  o 
picoMongo-Ma-Lobah,  erguendo-se  nas  proximidades  do  rio  dos  Cama- 
rões, muitas  vezes  coroado  por  uma  camada  de  neve. 

Sob  a  zona  tórrida,  a  poucos  kílometros  do  equador,  encontra-se  o 
clima  ardente,  bem  como  o  quente,  doce,  temperado  e  frio.  É  importante 
esta  observação,  e  fornece  valiosos  elementos  para  a  questão  de  acclima- 
ção, e  por  conseguinte  para  as  da  emigração  e  colonisação,  assumptos 
momentosos  que  chamam  a  attenção  dos  poderes  públicos  e  dos  homens 
de  sciencia. 

O  cabo  dos  Camarões  está  situado  em  3""  54'  48"  de  latitude  N.  e  18''  38' 
longitude  E.,  e  o  pico  IMongo-Ma-Lobah  levanta-se  em  4^  12'  40"  de  latitude 
N.  e  18^  29'  de  longitude  E.,  o  que  mostra  a  proximidade  dos  sitios  a  que 


25 

nos  referimos.  A  foz  dos  Camarões  dista  da  ilha  de  S.  Thomé  cerca  de 
500  kilometros. 

PÍ60  MMgo-Ma-Lobah.—  É  muito  alto  este  pico  e  merece  descripçâo  es- 
pecial. Transcrevemos,  pois,  sobre  a  topographia  d'elle,  o  que  disse  Ale- 
landre  de  Castilho,  por  satisfazer  plenamente  ao  nosso  fim. 

cNa  ponta  S.  do  golfo  de  El-Rei  começa  a  levantar-se  a  serra  do  MotSo 
(Maton)  ou  dos  Camarões,  cujo  pico  mais  elevado,  por  nome  Mongo-Ma- 
Lobah,  tem  seus  4:200  metros  de  alto,  e  avista-se  a  mais  de  111  kilome- 
tros de  distancia. 

tCorre  essa  cordilheira  ao  N.-S.  para  N.  d'aqueUe  monte,  e  ao  NNE.- 
SSO.  para  S.  d'elle,  e  termina  da  banda  do  S.  na  montanha  Mongo-Ma- 
Etindeb,  a  qual  tem  1:775  melros  de  alto,  e  fica  a  uns  16^,6  d'aquelle. 
Ergue-se  o  Mongo-Ma-Lobah  em  4""  12'  40^'  N.  e  IS""  20'  E.,  quasi  a  igual 
distancia  dos  cabos  Formoso  e  de  S.  João,  extremos  do  golfo  dos  Ma- 
fras,  a  ons  632^,9  do  primeiro  e  a  337  do  segundo,  e  quasi  no  parallelo 
do  Formoso  e  do  meridiano  do  cabo  de  S.  João. 

cCobre-se  quasi  toda  a  serrania  de  frondosas  matas,  e  só  na  costa 
oriental  se  vô  uma  faxa  nua  e  escura  que  se  afigura  leito  de  lava ;  por 
isso,  por  affirmarem  os  naturaes  que  já  em  tempo  saíra  fogo  do  cume 
das  montanhas,  e  por  ser  vulcânica  a  natureza  d'essas  rochas,  se  suppõe, 
com  bom  fundamento,  ser  a  serra  do  Motão  um  vulcão  extincto.  Quasi 
sempre  se  envolve  em  névoas  o  pico  Mongo-Ma-Lobah ;  quando,  porém, 
se  descobre,  mais  parece  um  outeiro  que  se  levanta  sobre  alta  planície,  do 
(fie  montanha  que  sobreleva  outras.  Cobre-se  muita  vez  de  neve  aquelle 
pico. 

iFertilissímos  valles,  povoados  de  gente  das  tribus  dos  bambokos, 
bakwileh  e  batongos,  se  prolongam  por  entre  essas  montanhas  e  entre 
as  serras  do  Motão  e  do  Rumby,  a  qual  deve  ser  também  muito  alta,  pois 
se  avista  a  mais  de  111  kilometros  de  distancia.  Um  rio,  que  é  braço  do 
rio  dos  Camarões,  banha  a  aba  oriental  da  serra,  bem  como  o  valle  que 
jaz  entre  os  montes  Bumby,  do  Motão  e  outros  menos  alentados,  sitos 
para  NE.,  e  que  separam  o  valle  de  Bimbia  do  valle  dos  Camarões.» 

O  Pico  Mongo-Ma-Lobah  é  muito  mais  alto  que  o  tão  nomeado  pico 
de  Teneriffe,  e  excede  também  os  Pyrinéos,  e  tem  povoações  a  maior  al- 
tura do  que  o  celebre  monte  Quito,  que  dá  assento  a  uma  grande  cidade. 

A  posição  d'aquelle  monte  na  região  de  que  nos  occupâmos  é  impor- 
tante, e  presta-nos  valiosos  dados  para  chegarmos  á  resolução  de  muitas 
questões  de  colonisação,  de  hygiene  equatorial  e  especialmente  dè  accli- 
maçio,  a  cujo  estudo  nos  entregámos  desde  1869. 

O  capitão  Allen  traduziu  Mongo-Ma-Lobah  por  cMontanha  de  Deusi, 


86 

6  nós  chamar-lhe-hemos  cMontanha  da  sciencia»,  porque  nos  offerece  a 
explicação  de  muitos  factos  sobre  que  lioje  não  pôde  haver  contestação. 
O  solo  doesta  montanha  é  fértil,  e,  como  se  desdobra  em  collinas,  alto-pla- 
nos  e  vallesi  é  susceptível  de  ser  habitada  a  differentes  alturas.  São  alen- 
tadas as  arvores  que  formam  a  floresta  até  cerca  de  i:800  metros;  d'este 
ponto  para  cima  apparecem  a  relva  e  vegetaes  herbáceos,  e  toda  esta 
magestosa  verdura  vae  desapparecendo  á  maneira  que  o  viandante  se 
approxima  dos  3:400  metros  e  d'ali  para  diante. 

A  julgar  pelo  fumo,  diz  A.  Tardieu,  que  se  eleva  de  muitos  pontos 
até  grande  altura  da  montanha,  os  povos  que  a  habitam  são  numerosos. 
E  o  que  é  singular  é  passar  por  muito  salubre  a  bahia  dos  Ambozes  ou 
Zambús,  que  não  fica  muito  distante  de  localidades  mortíferas. 

Bahia  de  Amboies  oa  de  Zambus  (Ambas  oa  Amboise). — Torna-se  notável 
esta  bahia  por  causa  das  suas  ilhas.  Gosa  alem  d'isso  da  fama  de  salubre, 
o  que  se  attribue  á  sua  posição  especial. 

Na  margem  oriental  levantam-se  quatro  coUinas  altas,  e  fica  de  um 
lado  a  ilha  de  Fernão  do  Pó  e  do  outro  erguem^se  as  soberbas  monta- 
nhas dos  Camarões. 

Rio  de  El-Rei.— Abre  este  rio  a  sua  foz  a  518S.*i  distante  da  ilha  de 
S.  Thomé.  Tem  0^,2  de  largura  entre  a  ponta  Backassey  e  a  da  Pes- 
caria. Cerca  de  11  kilometros  a  E.  está  outro  rio  que,  no  dizer  de  Ale- 
xandre de  Castilho,  se  julga  ser  braço  do  rio  de  El-Rei,  e  acrescenta  que 
este  sítio  é  o  mais  recuado  do  golfo  dos  Mafras,  e  tem  o  nome  de  golfo 
de  El-Rei.  Fica  portanto  n'este  logar  o  vértice  do  angulo  inscripto  ao 
golfo,  8  cujos  lados  se  abrem,  um  para  a  costa  do  Gabão,  terminando  no 
cabo  de  Lopo  Gonçalves,  e  outro  para  a  do  Calabar,  acabando  no  cabo 
Formoso. 

Ao  golfo  de  El-Rei  chegam  as  aguas  de  muitos  riachos  carregados  de 
detritos  animaes  e  vegetaes  e  de  terras  de  alluvião,  e  também  n'elle  se 
reúnem  as  aguas  do  rio  de  Rumby,  que  tem  a  sua  foz  em  4°  31'  de  lati* 
tude  N.  e  {&"  1'  de  longitude  E. 

Velho  Calabar  (Calbary,  Dongo  ou  Oióne). — É  o  primeiro  ou  o  ultimo 
braço  do  Niger,  segundo  se  começam  a  c^ontar  da  margem  oriental  ou 
Occidental  do  delta.  Tem  na  sua  foz  17^,5  entre  as  pontas  elevadas  e  co- 
bertas de  mato  cerrado,  sendo  a  do  0.  denominada  Tom  Shot  e  a  do  E. 
East  Head. 

O  Velho  Calabar,  segundo  diz  Alexandre  de  Castilho,  communica 
com  o  rio  Niger  ou  Quorra  por  meio  de  três  ramos,  o  primeiro  vae  ter 


87 

á  aldeia  de  Kirree  e  o  outro  á  de  Damuggo  ou  Adakuru.  No  curso  do 
rio  ha  duas  ilhas,  a  dos  Papagaios  e  a  James,  sendo  aquella  a  primeira  a 
contar  da  foz  do  rio.  Ha  muitos  afiduentes»  sendo  os  mais  notáveis  Ba- 
ckassey,  Grão  Qua  e  Cross. 

Encontram*se  ali  differentes  aldeias,  cujos  habitantes  têem  a  cõr  ama* 
rella-clara,  estatura  pequena  e  as  formas  do  corpo  dignas  de  attento  exa« 
me,  o  que  faremos  n'outro  logar  d'este  trabalho. 

A  ponta  do  0.  do  rio  está  em  4""  36'  de  latitude  li.eiT  26'  30"  de 
longitude  E. 

O  arvoredo  nas  margens  do  rio  e  nas  duas  ilhas  é  abundante,  não 
permíttindo  os  mangues  o  desembarque. 

O  tbermometro  á  sombra  e  ao  ar  livre  tem  chegado  a  32®  centigra* 
dos,  e  quando  a  brisa  da  manhã  falta,  o  calor  do  meio  dia  á  uma  hora  da 
tarde  é  muito  intenso.  O  barómetro  varia  entre  0,758  e  0,762. 

Os  tornados  em  março  s3o  violentos. 

Kío  Done  (Andonej  oa  António). — Está  este  rio  cerca  de  27^,7  ao  oriente 
da  bahia  de  Boni  e  ainda  mais  29^6  no  mesmo  sentido  ficam  dois  ríbeirosi 
que  n3o  foram  ainda  denominados  nem  estudados,  segundo  a  informação 
de  Alexandre  de  Castilho. 

Sendo  o  nosso  fim  enumerar  os  rios  que  recortam  as  terras  do  delta 
do  Níger,  não  podemos  deixar  de  nomear  os  que  ficam,  a  contar  do 
oriente  para  o  occidente,  na  margem  direita  do  golfo  dos  Mafras  ou 
esquerda  do  delta  do  Níger. 

Bahia  do  Boni  on  do  Obáno.— Téem  ido  á  ilha  de  S.  Thomé  navios  proce« 
dentes  d'esta  bahia,  onde  desaguam  os  rios  Real  ou  Novo  Galabar  e  Boni, 
ficando  este  antes  d'aquelle,  segundo  a  ordem  da  nossa  enumeração. 

O  Novo  Galabar  é  pouco  procurado  pelas  embarcações,  em  conse* 
quencia  da  difiiculdade  para  se  cursar  quando  se  deseja  sair  do  rio,  e  por 
isso  preferem  o  Boni  para  o  commercio  do  azeite  de  palma,  que  é  o  artigo 
principal  de  exportação. 

A  povoação  chamada  Boni  on  Obáne  tem  7:000  almas  e,  segundo 
escreve  Alexandre  de  Castilho,  sobe  a  mais  de  40:000  o  numero  dos  ha- 
bitantes de  todas  as  aldeias  que  lhe  ficam  vizinhas*  Por  ser  mau  o  clima 
do  rio,  devem  poupar-se  os  europeus  á  faina  de  escaleres  e  da  primeira 
purificação  do  azeite  que  se  faz  em  terra,  na  qual  se  poderão  empregar 
08  trabalhadores  da  costa  de  Grãos. 

Tanto  o  rio  Boni  como  o  Novo  Galabar  são  ramos  do  Niger.  Os  natu- 
raes  navegam  até  mais  73^»3  em  grandes  canoas,  percorrendo  os  diffe- 
rentes braços  d*aquelle  riO|  a  fim  de  obterem  aBeíte  de  palma.  Adoram 


28 

os  lagartos  e  crocodilos  que  consideram  divindades,  e  em  que  nSo  se  pôde 
tocar  sem  attrahir  as  iras  d*aquella  gente. 

Da  ilha  de  S.  Thomé  ao  rio  Boni  vão  em  linha  recta  cerca  de  461\l. 

O  vento  forte  pôde  vir  ao  rumo  NO.,  passar  nas  margens  do  rio 
Boni,  percorrer  toda  a  extensSo  de  mar  que  separa  as  ilhas  do  Príncipe  e 
S.  Thomé,  e  chegar  ali  impregnado  de  miasmas  de  que  se  tenha  satu- 
rado. 

Em  geral  os  ventos,  como  é  sabido,  sustentam  duas  correntes,  uma 
próxima  á  terra  e  outra  superior  ou  das  nuvens,  e  por  isso  n3o  6  raro 
apparecer  o  pollen,  areia  finissima  e  differentes  animalculos,  a  500  kilo- 
metros  da  costa,  elementos  estes  que  podem  conservar-se  dois  dias  sus- 
pensos no  ar,  sendo  impellidos  n'uma  direcção  determinada  durante  todo 
esse  tempo. 

O  extremo  occidental  da  bahia  de  Boni  está  4®  23'  35"  de  latitude  N. 
e  16°  9' 20"  de  longitude  E. 

Rio  do  Sombreiro. — Ao  rio  Real  ou  Novo  Calabar  segue-se  o  rio  Som- 
breiro. 

A  beira  oriental  do  delta  torna-se  mais  baixa,  passado  este  rio  que  tem 
a  sua  ponta  esquerda  coberta  de  arvores  muito  unidas  e  copadas,  proje- 
ctando-se  para  fora,  e  dando-lhe  antes  a  figura  de  uma  semi-abobada  do 
que  a  de  um  sombreiro  ou  chapéu  de  sol.  Seja,  porém,  como  for,  tomou 
este  nome  da  forma  que  apresentava  o  arvoredo  que  lhe  cobre  a  ponta  da 
margem  direita. 

O  rio  do  Sombreiro,  não  tendo  a  importância  do  do  Gabão  ou  do  dos 
Camarões,  não  deixa  por  isso  de  chamar  a  attenção  dos  que  desejam 
conhecer  a  natureza  do  clima  da  zona  que  estudámos. 

Ha,  porém,  uma  rasão  que  per  si  sô  mostra  a  necessidade  de  se 
enumerar  tal  no  — é  ser  o  quinto  braço  do  delta  do  celebre  rio  Níger  ou 
Quorra. 

Rio  de  S.  Barthomen,  dos  Hafras  oa  dos  Três  Irmãos. — É  o  sexto  braço  do 
delta  do  Niger,  na  margem  occidental  da  golfo  dos  Mafras,  o  qual  tomou 
o  nome  d*este  rio.  Tem  de  largura  na  entrada  cerca  de  1 :852  metros, 
sendo  baixa  a  margem  direita  e  mais  alta  a  esquerda.  A  alguns  kilome- 
tros  da  foz,  as  terras  regadas  pelas  aguas  do  rio  são  baixas  e  recortadas, 
parecendo  formar  ilhas. 

Não  tem  sido  bem  examinado  o  curso  d'este  no,  mas,  segundo  Ale- 
xandre de  Castilho,  contam-se  differentes  ramos,  indo  um  para  o  Niger  e 
os  outros  para  o  Velho  Calabar.  Encontram-se  também  n'elle  os  mangues, 
como  symbolo  da  insalubridade  d'estas  localidades. 


29 

Rio  de  SanU  Barbara.—  Communica  este  rio,  como  o  antecedente,  com 
o  Níger.  É  o  terceiro  contando  do  cabo  Formoso,  ou  o  sétimo  começando 
do  Velho  Calabar.  As  suas  margens  são  características,  estando  a  direita 
quasi  a  prumo  e  a  esquerda  destacando-se  em  forma  de  escada,  o  que 
Ibe  dá  um  aspecto  singular.  O  que  é  este  rio,  emquanto  á  salubridade, 
avalia-se  pela  posição  em  que  se  acha ;  está  quasi  no  centro  das  margens 
do  delta  do  Niger. 

Rio  de  S.  Nicolau.—  É  este  o  segundo  rio  desde  o  cabo  Formoso,  fican- 
do a  sua  foz  cerca  de  433^3  distante  da  ilha  de  S.  Thomé,  o  que  deve 
ler-se  em  consideração,  attenta  a  localidade  em  que  está  situada. 

Rio  de  S.  Bento  (St.  John  or  Brass).  —  É  o  primeiro  que  se  apresenta, 
dobrado  o  cabo  Formoso  para  se  entrar  no  golfo  dos  Mafras.  A  sua 
ponta  Occidental  está  a  4M6'  de  latitude  N.  e  IS""  ia!  6''  de  longitude  E. 

O  extremo  da  margem  direita  do  golfo  dos  Mafras  é  o  cabo  Formoso, 
o  qual  fica  entre  o  rio  de  S.  Bento  ao  oriente  e  a  foz  do  Niger  ao  occi- 
dente. 

A  entrada  do  rio  de  S.  João  ou  de  S.  Bento  tem  10  kilometros,  e 
communica  por  vários  esteiros  ou  braços  com  o  Quorra  ou  Niger  dd  um 
lado  e  do  outro  com  quasi  lodos  os  rios  que  lhe  ficam  perto  e  para  E. 
Alarga-se  adiante  da  foz  uns  370  metros,  e  tem  de  fundo  20,  e  as  mar- 
gens, para  não  haver  excepção,  são  também  orladas  de  mangues. 

Cabo  Formoso. — Para  se  fazer  idéa  clara  do  que  é  este  cabo,  reprodu- 
zimos o  seguinte  trecho  do  livro  de  Alexandre  de  Castilho. 

cDescreve  quasi  um  arco  circular  de  grande  raio  a  beira-mar  do  vasto 
delta  do  Quorra,  o  qual  sáe  uns  i29\6  para  S.  da  linha  tirada  do 
sitio  mais  recuado  do  golfo  de  Benim  (da  aldeia  de  Jacknah)  ao  mais 
recuado  do  golfo  dos  Mafras  (o  rio  de  El-Rei) ;  se  bem  não  haja  por  ali 
ponta  alguma,  chamaram  os  portuguezes  cabo  Formoso  á  extremidade 
oriental  do  golfo  de  Benim,  onde  a  terra  se  encurva  para  E.  Julgámos  que 
o  mais  acertado  será  dar  esse  nome  á  ponta  das  Palmas,  por  ser  em  toda 
essa  costa  o  sitio  que  mais  resáe.» 

Rio  Niger  on  Qaorra  e  o  celebre  deita  qne  elle  forma. — O  rio  Niger  ou  a  Cruz 
dos  Geographos,  como  lhe  chama  Malte-Brun,  tem  sido  o  objecto  de  gran- 
des discussões  entre  os  sábios  da  Europa.  Mas  não  appareceu  a  luz  sem 
o  sacrifício  de  numerosas  victimas.  Era  indispensável  observar  o  curso 
dos  rios,  os  usos  e  costumes  dos  povos,  a  fertilidade  e  riqueza  d^aquella 
região  desconhecida.  Não  faltaram  ousados  exploradores.  A  morte  de  um 


80 

nSo  fazia  desanimar  os  outros.  Merecem  todos  homenagem,  e  citaremos 
Mungo  Park,  Denham,  Peddle,  Oudney,  Rilchie,  Clapperlon,  Caillé,  Gray, 
Olefield,  os  irm9os  Landers,  como  beneméritos  da  humanidade,  não  es- 
quecendo Allen,  Beecroft,  Trotter,  Richardson,  Overweg,  dr.  Barth  e  T. 
Hutchinson,  porque,  assim  como  os  primeiros,  se  empenharam  na  soln- 
ç8o  de  uma  questão  t3o  debatida  entre  os  geographos  e  a  qual  dependia 
somente  das  observações  feitas  nos  logares  de  que  se  tratava. 

Das  viagens  dos  dififerentes  exploradores  têem-se  obtido  minuciosas 
informações. 

Divide-se  o  Niger  em  três  regiOes,  alta,  media  e  inferior,  sendo  esta 
ultima  a  que  forma  a  região  central  do  delta. 

A  direcção  que  tem  este  celebre  rio,  as  planicies  que  atravessa,  os 
seus  aflDuentes  e  os  lagos  com  que  communica,  estão  summariamente 
descriptos  pelo  nosso  hábil  e  minucioso  hydrographo,  Alexandre  de  Cas- 
tilho. 

A  importância  do  assumpto  Justifica  plenamente  a  seguinte  transcrí- 
pção: 

«Nasce  o  Dhiouliba  na  encosta  de  E.  do  monte  Loma,  um  dos  que  for- 
mam a  serrania  do  Kong,  a  qual,  estendendo-se  E.-O.,  atravessa  toda  a 
Atrm  Central.  Na  costa  oriental  d'essa  cordilheira  fica  a  nascente  do  Dhiou- 
liba, pela  mesma  latitude  em  que  está  a  do  rio  da  Serra  Leoa,  sita  na  ver- 
tente O.  do  mesmo  monte. 

c  Banha  o  Dhiouliba  toda  aquella  cadeia,  á  qual  dá  volta,  seguindo  para 
E.;  atravessa  depois  o  lago  Debo,  e,  subindo  para  N.,  vae  passar  quasiao 
pé  de  Tombuctu,  que  fica  a  uns  9  kilometros  do  rio,  e  por  18°  N.  e  entre 
5°  e  6°  E.  Exagerou-se  muito,  em  outros  tempos,  a  grandeza  e  opulência 
d*essa  cidade  africana,  hoje  pertencente  a  fullaneseatuaregs;  não  passa, 
porém,  de  4'*,5  a  sua  circumferencia,  nem  de  13:000  almas  a  sua  popu- 
lação fixa,  a  que  haverá  a  ajuntar  umas  6:000,  de  novembro  a  janeiro, 
tempo  em  que  ali  chegam  as  caravanas. 

«Corre  depois  o  Dhiouliba  para  SE.,  banha  Gao,  Say,  Boussa,  Rabba, 
Egga,  troca  o  nome  pelo  de  Quorra,  no  sitio  onde  despeja  o  Tchadd,  e 
desce  para  S.,  regando  as  planicies  de  Guiné,  onde  se  divide  em  muitos 
braços  que  retalham  166^,6  de  costa. 

«Os  seus  principaes  affluentes  conhecidos  são:  o  Sirba,  o  Tchadd,  que 
atravessa  as  províncias  de  Kororofa  e  Doma,  e  se  chrisma  depois  em 
Renué;  passa  em  seguida  por  Baber  e  Adanova,  e,  ao  dizer  dos  antigos  e 
também  de  alguns  modernos,  communica-se  com  esse  grande  Caspio  aft-i- 
eano,  o  lago  de  Tchadd,  que  tem  uns  67:912  kilometros  quadrados  de  su- 
perflcie,  e  onde  despejam  os  rios  Chary  ou  Asu,  do  qual  foge  para  o  lago 
Tumbory  um  ramo  que  banha  Logoum,  Komadougea  e  Yeou.  A  essa  ra- 


SI 

mlflcaçSo  vae  ter  outra,  por  nome  Gambarou,  a  qual  nagce  perto  de  Kano, 
cidade  de  30:000  vizinhos,  e  capital  da  província  do  Kano,  onde  se  con- 
tam 150:0001  Também  nas  margens  d*aquelle  lago  assenta  a  cidade  de 
N^gornou  ou  da  BençSo,  muito  limpa,  mas  pobre,  e  cuja  maior  parte  foi 
destruída  pelas  inundações  de  1854  e  1855.  Pouco  para  N.  d'esta  se 
levanta  a  cidade  de  Koulca,  formada  de  dois  bairros  distinctos,  cercados 
ambos  de  muralha,  e  unidos  por  estrada  com  seus  800  metros  de  com- 
prido: n'um  d'esses  bairros,  e  em  grandes  casas  bem  arruadas,  reside  a 
parte  mais  rica  da  população;  no  outro,  porém,  onde  mora  a  gente  po- 
bre, s9o  estreitas  as  ruas  e  formadas  de  cabanas  miseráveis. 

cS3o  também  affluentes  do  Quorra:  o  Condoma,  que  atravessa  as  pro- 
vincias  do  Nufl  e  Igbira,  e  nasce  ponco  para  cima  de  Egga,  e  o  Rima  ou 
Fadama,  que  atravessa  Dendina,  Zaberma,  Zanfera  e  Couber,  e  deita  dois 
ramos,  um  dos  quaes  banha  Solcoto,  residência  de  um  sultão  e  o  outro 
passa  por  Katchena,  cidade  que  nos  séculos  xvii  e  xvm  foi  cabeça  d'aquella 
parte  do  Soudan,  occupa  uma  área  de  20  ou  22  kilometros  quadrados,  e 
conta  hoje  só  8:000  almas. 

cReparte-se  depois  o  Quorra  nos  seguintes  rios: 

€  Para  0.  da  foz:  rio  da  Lagoa  (1  .•),  Formoso  ou  de  Benim,  dos  Escra- 
vos, dos  Forcados  ou  de  Oére,  dos  Ramos,  Dodo,  Pennington,  Middleton, 
Blind,  Winstansley  e  Sengana,  total  onze  braços. 

tPara  E.:  rio  de  S.  Bento,  de  S.  Nicolau,  de  Santa  Barbara,  de  S.  Bar- 
tbolomeu  (ou  dos  Mafras),  do  Sombreiro,  Real  ou  de  Calabar  (New  Ca- 
lebar),  de  Boni,  de  Done  (Andoney),  e  Calbary  ou  Velho  Calabar  (Old  Ca- 
lebar  ou  Dongo),  total  nove  braços.» 

A  descripç3o  que  acaba  de  ler-se  a  respeito  do  tristemente  celebre 
rio  Niger,  dá  idéa  approximada  do  seu  curso  e  dos  numerosos  braços  por 
que  elle  desagua  no  mar.  Para  o  nosso  fim  seria  suíficiente  o  conhecimento 
do  Niger  propriamente  dito  e  do  seu  famoso  delta,  se,  a  par  das  condi- 
ções de  salubridade  ou  insalubridade  de  cada  local,  não  quizessemos 
coordenar  tudo  o  que  possa  concorrer  para  a  resolução  das  principaes 
quest5es  de  colonisação  da  Africa  portugueza,  onde  não  ha  regiões  tão 
infamadas  de  insalubres  como  aquella,  e  cuja  geographia  comparada  6 
muito  útil  conbecer-se. 

Continuaremos,  pois,  a  pôr  em  relevo  os  pontos  principaes  de  que  ô 
preciso  ter  conhecimento,  para  fazer  idéa  de  qualquer  paiz  da  Africa  equa- 
torial. 

O  vértice  do  angulo  superior,  cujos  lados  formam  o  delta  do  Niger, 
está  situado  na  aldeia  denominada  Nidoni,  muito  para  o  S.  do  logar  da 
júncção  das  aguas  do  Tcbadd,  vindo  do  E.,  com  as  do  Dhiouliba,  correndo 
de  0.  para  NO.  e  SE.  Aquelles  dois  rios,  confundidos  n'um  só,  o  Niger, 


32 

descem  depois  para  o  S.  lançando-se  no  mar  nos  pontos  designados  pelo 
illustrado  geographo  Alexandre  de  Castilho : 

cA  11^,1  do  rio  Sengana,  a  203^,3  da  embocadura  do  de  Benim,  para 
E4VfSE.  do  cabo  de  S.  Paulo»  e  finalmente  em  i""  46'  20"  de  latitude 
N.  e  15®  12'  de  longitude  E.,  se  abre  a  foz  do  rio  Quorra,  também  chamado 
Niger,  Kouara,  Dhiouliba,  Mayo,  Eghiriéou,  Isa  e  Baki-nYoua,  que  tudo 
equivale  a  dizer  O  Rio  nas  linguas  da  terra.» 

É  de  1:852  metros  a  largura  da  entrada  do  Quorra  e  de  2:315  a  dis- 
tancia entre  as  pontas,  por  sair  a  extremidade  oriental  do  rio  1:389  me- 
tros mais  para  S.  do  que  a  Occidental.  Ambas  são  arenosas  e  cobertas  de 
arvoredo. 

Os  três  pontos  ou  vértices  principaes  do  delta  do  Niger  são,  finalmente, 
ao  oriente,  a  foz  do  Velho  Calabar,  ao  occidente,  a  do  rio  da  Lagoa,  e, 
da  parte  do  N.,  como  dissemos,  uma  aldeia  ao  S.  da  reunião  dos  grandes 
rios  Dbiouliba  e  Tchadd,  denominada  Nidoni. 

Poderia  também  marcar-se  o  vértice  do  angulo  superior  do  delta  nas 
aldeias  de  Damaggo  ou  Kirri,  de  junto  das  quaes  saem  os  braços  que 
põem  o  Niger  em  communicação  com  o  Velho  Calabar;  mas  da  aldeia  de 
Nidoni  para  baixo  está  o  maior  numero  de  confluentes,  e  fica  por  ali  a 
parte  central  do  delta. 

É  muito  extensa  a  superficie  miasmatica  formada  pelos  braços  do 
Niger,  havendo  logares  em  que  as  febres  perniciosas  acommettem  os 
forasteiros  nos  primeiros  dias  da  sua  chegada.  Nenhum  navio  ali  deve 
commerciar  sem  que  leve  os  soccorros  que  a  sciencia  indica. 

Antes  de  fatiarmos  acerca  dos  rios  principaes  que  formam  o  Niger, 
apresentámos  um  mappa  dos  braços  de  que  se  compõe  o  seu  famoso  del- 
ta, e  a  respeito  de  cuja  forma  e  posição  apparecem  divergências  que  não 
devem  existir. 

cNa  Africa,  diz  o  diccionarío  de  Larousse,  o  Kouara  forma,  approxi- 
mando-se  do  golfo  de  Guiné,  um  vasto  triangulo  equilateral,  envolvido 
pelo  Velho  e  Novo  Calabar  e  rio  de  Noun.» 

O  delta  do  Niger,  pelo  contrario,  tem  por  lado  externo,  direito,  os  rios 
da  Lagoa  e  de  Benim,  e  por  lado  externo,  esquerdo,  um  dos  aflDuentes 
ou  ramos  do  Velho  Calabar.  Alem  disso  chama-se  rio  de  Noun  ao  pró- 
prio Niger,  e  o  Novo  Calabar  fica  entre  os  braços  da  margem  esquerda 
do  delta,  e  não  pôde  portanto  envolvel-o. 

As  numerosas  bocas  do  Niger  mostram  a  fraqueza  da  corrente  das 
suas  aguas  e  o  pouco  declive  dos  terrenos  em  que  elle  corre.  Já  assim 
não  acontece  ao  rio  Amazonas,  na  America  do  Sul,  poisque  a  corrente 
segue  com  tal  força  que  penetra  no  Oceano  até  muitos  kilometros  da  foz^ 
e  não  deixa  atrás  de  si  a  serie  de  confluentes  que  ha  nas  margens  do  Niger. 


33 


AFFLDENTKS  DO  RIO  NÍGER  E  SEUS  BRAÇOS  PRIKCIPAES 


Rio  Dhioidiba,  vindo  do  NO.  e  o  rio  Tchaddj  vindo  do  E. 

(7o  45' de  latitude  N. 
reunem-se  em  jeoigrdelongitudeE.  (Greenwich). 
3^,3  do  Caho  Formoso,  qae  sáe  uns  55^5  para  fora  da  linha  tirada  entre  os  pontos 
mais  recuados  dos  golfos  de  Benim  e  dos  Mafras,  ambos  aquelkes  rios  formam 

O  rio  Ní^ev  ou  Qnomra. 

que  desce  para  o  S.  e  desagua  no  mar  por  20  hócas,  li  para  a  direita  e  9  para  a  es- 
querda da  foz,  dando  assim  origem  ao 

Oele1>re  eleita  cio  Ní^eir 


Margem  occidental,  comprehendendo  398^1  Margem  oriental,  comprehendendo  266S6 
da  costa  oriental  do  golfo  de  Benim.  da  costa  occidental  do  golfo  dos  Mafras. 

Distancia  em  linha  recta 

entre  cada  ama  das  embocadaras 

dos  braços  do  delta 

L»do  «-  (Rio  da  Lagda  ou  Lagos,  n^^^  ^^^^ 

'"'»'.      «"«'» 382'.2  do  rio  Velho  Calabar  !,„  j„  j;,„ 

direi to,jRio  Formoso  ou  de  Be- 

do  delta.\    nim,  dista 305^0  do  rio  Done,  Andoney  ou  António. 

Rio  dos  Escravos,  dista  250S0  do  rio  de  Boni  ou  de  Obáne. 

Rio  dos  Forcados,  dista  214^8  do  rio  Real  ou  Novo  Calabar. 

Rio  dos  Ramos,  dista  . .  Í88S9  do  rio  do  Sombreiro. 

Rio  Dodo,  dista 175^5  do  rio  de  S.  Bartholomeu  ou  dos  Mafras. 

Rio  Pennington,  dista. .  122^2  do  rio  de  Santa  Bafbara. 

Rio  Midleton,  dista. . . .  83'',3  do  rio  de  S.  Nicolau. 

Rio  Blind,  dista 57^4  do  rio  de  S.  Bento,  S*.  John  or  Brass. 

Rio Wiiislansley, dista. .     18^5    |,    ,      ,     .    „. 
ft.    o             a\  jjkj    ida  foz  do  no  Níger. 

Rio  Sengana,  dista ii%i    ) 

í  4»  46'  20"  de  latitude  N. 
I^oas  do  Nifirei-  ou  Qiion*a,  j^g,  ^j,  ^^  longitude  E.  (Lisboa). 

Distando  esta,  finalmente, 

da  foz  do  rio  Velho  Calabar 255^,5  | 

da  foz  do  rio  da  Lagoa 392^6  >  vértices  do  delta. 

da  aldeia  de  Nidoni 138S9  ) 

da  ilha  de  S.  Thomé 444S6 

da  ilha  do  Príncipe 333^3 

O  oentro  do  delta  do  Niger  dista 

da  cosUdo  NO.  da  ilha  de  S.  Thomé  ollSl ;  da  costa  do  NO.  da  ilha  do  Príncipe  348^,9 

3 


34 

Os  rios  que  formam  o  Níger  vem  um  do  nascente  e  outro  do  poen- 
te, regando  largas  planícies.  Nas  proximidades  d'elles  ha  cidades,  víllas  e 
algumas  aldeias  ou  povoações  de  que  nos  occuparemos  resumidamente. 

Rio  Tchadd.— Este  grande  rio,  affluente  do  Níger,  atravessa  paizes  muito 
férteis,  ficando  em  9^  a  11°  de  latitude  N.  É  navegável  para  grandes  em- 
barcações até  ao  interior  de  Âdamova. 

Adjacente  á  margem  esquerda  fica  o  Kororafa  com  a  capital  Wukari; 
lola,  capital  de  Adamova,  que  é  cortado  pelo  rio  Faro,  affluente  do 
Tchadd,  já  chrismado  em  Benué  ou  mãe  das  aguas.  Na  margem  direita 
está  Doma  e  Baber. 

O  rio  Kebbl,  por  0°  de  latitude  N.,  põe  o  Benué  em  communícação 
com  o  lago  Tumbori,  e  d'este  sáe  o  rio  Serbenet  para  o  Grande  Caspio 
ou  lago  Tchadd. 

Ao  dn  Barth  devem-se  minuciosas  informações  dos  paizes  banhados 
por  este  notável  rio,  e  dos  que  se  acham  na  margem  Occidental  do  lago 
Tchadd,  especialmente  de  Kouka,  capital  de  Bornou. 

Segundo  as  dimensões  por  nós  dadas  á  zona  equatorial,  podem  no* 
mear-se  como  povoações  de  transição  entre  a  zona  equatorial  e  a  tropi- 
cal n'esta  parle  da  Africa,  os  paizes  denominados  Baghirmi,  Bornoui 
Houssa,  etc. 

Nos  arredores  de  Mabani,  observa  o  dr.  Barth,  encontram-se  cam- 
pos férteis,  arvoredos  formosos,  muito  capim  ou  herva  de  Guiné,  Índi- 
go, gados,  bastantes  trabalhadores,  aldeias  em  todas  as  direcções  e,  a 
par  de  tudo  isto,  as  herdades  arrendadas,  por  onde  pôde  aferir-se  a  vida 
descuidada  dos  proprietários. 

Os  mamoeiros  erguem-se  por  entre  as  searas,  ostentando  seus  deli- 
ciosos fructoS;  e  os  edificios  s3o  construídos  de  modo  que  denotam  não 
haver  por  ali  as  chuvas  fortes  de  outros  paizes. 

A  viagem,  em  terras  onde  faltam  todas  as  commodidades,  não  pôde 
ser  agradável.  Os  caminhos  são  perigosos,  vadeiam-se  rios,  percorrem-se 
charcos  e  plani&ies  sem  estradas,  estando  a  vida  em  constante  perigo. 

Os  exploradores  da  Africa,  os  obreiros  do  progresso,  que  seguem  na 
frente  da  humanidade,  são  os  martyres  da  seiencia.  A  sua  linguagem  é 
simples  e  sincera,  os  seus  actos  arrojados  e  valorosos.  Para  melhor 
reforçarmos  a  nossa  opinião,  transcrevemos  um  trecho  da  viagem  do 
dr.  Barth,  quando  pela  primeira  vez  se  viu  em  frente  do  rio  Tchadd : 

«Poucas  vezes  o  viajante  deixa  de  ser  enganado  na  sua  esperança, 
quando  se  vé  em  presença  dos  logares  que  havia  imaginado ;  mas  a  rea- 
lidade excedia  a  expectativa,  e  foi  este  um  dos  momentos  mais  felizes  de 
minha  vida. 


35 

tNascido  próximo  ao  Elba,  tive  sempre  predilecção  pelas  margens  dos 
rios,  8,  apesar  do  estado  exclusivo  da  antiguidade,  que  me  occupou  por 
muito  tempo,  nunca  perdi  as  impressões  da  infância.  Logoque  me  foi 
possível  associar  o  estudo  ás  viagens,  sentia  verdadeiro  prazer  quando 
seguia  o  curso  dos  rios,  vendo-os  nascer,  formar  riachos,  crescer,  torna< 
rem-se  em  ribeiros  e  depois  em  rios,  muitas  vezes  caudalosos,  cuja  foz 
me  comprazia  em  observar. 

<Se  percorria  qualquer  paiz  desconhecido,  o  meu  ardente  desejo  bti 
descrever  as  correntes  de  agua  que  o  banhavam,  e  desde  ha  muito  tempo 
pensava  em  conhecer  o  rio  Benué  ou  Tchadd.  Era,  porém,  grande  a  ale^ 
gria  que  sentia  ao  contemplar  aquelle  rio,  e  ao  ver  confirmadas  as  minhas 
idéas  a  respeito  d*eUe. 

tTinha  agora  a  certeza  de  que  por  este  grande  canal  se  poderia  chegar 
ao  centro  da  Nigricía,  ao  interior  da  Africa  Central.  O  caminho  estava  des- 
coberto, e  era  grande  a  minha  satisfação  ao  lembrar-me  de  que  a  in- 
fluencia e  o  commercio  da  Europa  fariam  desapparecer  d'ali  as  guerras  de 
religião  e  a  escravatura,  isto  è,  a  caça  feita  ao  homem,  concorrendo  para 
o  desespero  de  muitos  povos  pacíficos  e  laboriosos. » 

O  dr.  Barth  não  desanimou  em  presença  de  todas  as  difflculdades 
que  se  lhe  apresentaram,  nem  os  perigos  que  o  rodeiavam  o  faziam  de- 
sistir do  seu  intento.  Ora  ameaçado  pela  morte,  ora  perdido  e  exhausto 
de  meios,  nunca  aquelle  espirito  superior  desfallecia. 

Saiu  de  Mabani,  dirigindo-se  para  o  rio  Tchadd,  a  fim  de  visitar 
Adamova.  Depara vam-se-lhê,  nas  proximidades  do  monte  Mendif,  pla- 
nícies em  que  pastavam  rebanhos  de  carneiros  e  de  cavallos,  e  os  ha- 
bitantes empregados  nos  trabalhos  agrícolas.  Mais  alem,  em  Kofa, 
viam*se  prados  esmaltados  de  flores,  vastos  campos  de  sorgho,  vigorosas 
arvores  e  toda  a  exuberância  da  vida  vegetativa  das  regiões  intertropi- 
cães. 

No  meio  das  suas  fadigas,  o  dr.  Barth,  muitas  vezes  cansado  e  doente, 
subia  aos  logares  mais  elevados  para  observar  os  terrenos  que  o  rodea- 
vam, alargando  por  muito  longe  o  seu  horísonte  visual.  Sentia-se  animado, 
observando  as  montanhas  que  se  erguiam  ao  longe  e  o^  campos  da  Africa 
adusta  que  se  lhe  apresentavam  cobertos  de  arvoredos  e  pastagens. 

No  meio  dos  bosques  e  florestas  descansava,  mitigava  a  sede,  hume- 
decendo os  lábios  com  o  sueco  de  alguma  fructa,  e  respirava  o  ar  embal- 
samado com  o  perfume  das  flores.  Achava-se  então  com  mais  forças  para 
continuar  a  sua  viagem  na  provinda  de  Marghis  e  Adamova. 

A  povoação  de  Marghis  fica  a  11^  de  latitude  N.,  emquanto  que  Yola 
está  próximo  de  8°. 

Adamova  ô  uma  das  mais  formosas  províncias  da  Nigrícia.  Numerd- 


36 

SOS  rios  fecundam  os  valles,  as  montanhas  sâo  pouco  elevadas,  ha  bons 
pastos  e  a  vegetação  é  luxuriante;  a  coleira,  a  palmeira  odorífera,  o  im- 
bundeiro,  o  algodoeiro,  a  palmeira  de  azeite  e  as  bananeiras  justifícam 
a  fertilidade  dos  terrenos,  onde  se  apascenta  grande  variedade  de  ani- 
mães. 

Dhioaliba  ou  Nlgcr. —  Percorre  este  rio  varias  planícies  e  passa  por  dif- 
ferentes  villas  e  cidades,  situadas  muito  alem  dos  11°  15'  de  latitude  N., 
Ihnite  entre  as  terras  equatoriaes  propriamente  ditas  e  as  que  se  acham 
sob  o  trópico  boreal. 

O  curso  d'este  rio  toma  diversas  direcções.  Desce  da  face  oriental  do 
monte  Loma  por  9®  20'  de  latitude  N.  e  16°  10'  de  longitude  0.  de  Paris, 
dirige-se  do  SO.  para  NE.,  passando  ao  S.  da  Tombuctu  por  17°  30'  de 
latitude  N.,  tendo,  como  diz  o  dr.  Barlh,  o  seu  Havre  em  Kabara,  for- 
mando ali  uma  bacia  perfeita.  Segue  depois  para  E.  e  começa  a  inclinar-se 
para  0.  do  meridiano  de  Paris,  correndo  em  seguida  para  SE.,  tendo  al- 
guns aflluentes  antes  de  se  reunir  ao  rio  Tchadd. 

Os  paizes  banhados  pelos  grandes  rios  Dhiouliba  e  Tchadd,  e  aquelles 
que  ficam  ao  0.,  S.  e  E.  do  lago  Tchadd,  fazem  contraste  singular  com  as 
regiões  d'essa  immensa  superfície  chamada  Sahará  e  com  as  terras  rasga-, 
das  pelos  braços  do  rio  Niger.  Aqui  as  doenças  com  todo  o  seu  desolador 
cortejo,  alem  o  sol  abrasador  e  nuvens  de  areia,  esterilisando  tudo  e  tor- 
nando a  vida  impossivel ;  entre  estes  dois  extremos,  valles  fertilissimos, 
aldeias  alegres  e  povoações  agrícolas  importantes. 

Que  falsa  idéa  se  faz  na  Europa  doestes  paizes  I  exclama  o  dr.  Barth, 
ao  atravessar  as  terras  da  bacia  do  Tchadd.  Era  logar  da  cordilheira  dos 
montes  da  Lua,  alguns  montes  isolados ;  em  vez  de  planuras  estéreis, 
extensas  planícies  verdejantes  recortadas  por  numerosas  correntes  de 
agua. 

Não  deve  portanto  condemnar-se  um  paiz  por  se  achar  na  zona  tórri- 
da, poisque,  como  já  dissemos,  nos  alto-planos  dos  Camarões,  cerca  de 
4°  de  latitude  N.,  encontram-se  o  clima  temperado,  terrenos  férteis  e  po- 
voações productoras;  e  no  Sahará,  região  sub-tropical,  faltam  todas  as 
condições  de  vida.É  certo  que  o  delta  do  Niger  é  muito  insalubre,  e  que 
algumas  cidades,  taes  como  Kano,  suo  prejudiciaes  á  saúde  dos  europeus; 
mas  as  terras  interiores  de  Dahomé  e  os  paizes  que  lhes  estão  ao  N.  são 
bastante  salubres  e  a  sua  fertilidade  é  admirável.  O  mesmo  pode  dizer-se 
da  região  de  Haoussa,  que  se  estende  á  esquerda  do  rio  Dhiouliba,  das 
planícies  que  ficam  ao  S.  de  Mabani,  dos  alto-planos  das  ilhas  de  S.  Tho- 
mé  e  Principe,  onde  já  se  apresentam  fazendas  abertas  a  mais  de  900 
metros  de  altitude. 


37 

Importa,  pois,  conhecer  as  lerras  favoráveis  á  aclimação  e  as  que  não 
a  permittem,  distinguindo  as  regiões  agrícolas  d'aquellas  em  que  apenas 
pôde  haver  eslabelecimenlos  commerciaes. 

Seria  loucura  abrir  uma  fazenda  nas  margens  do  rio  Formoso  ou  nas 
do  rio  Boni,  mas  nas  melhores  estações  podem  ir  ali  navios,  demorando- 
se  três  a  quatro  mezes  sem  perigo  para  a  tripulação. 

Aos  colonos,  quando  abandonam  os  togares  em  que  nasceram,  o  clima 
a  que  o  seu  organismo  se  havia  accommodado,  e  os  usos  e  costumes  em 
qoe  foram  educados,  convém  saber  em  primeiro  logar  os  meios  higiéni- 
cos de  que  podem  usar  para  não  serem  logo  acommettidos  das  doenças; 
e  em  seguida  conhecer  se  a  terra  é  agrícola,  quaes  os  paizes  mais  próxi- 
mos, e,  finalmente,  as  praças  da  Europa  que  melhor  recebem  osproductos 
cultivados  nas  regiões  para  onde  vão  transportar-se. 

O  delia  do  Niger  e  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe.—  Os  terrenos  reta- 
lhados pelos  vinte  braços  do  Niger  ou  Quorra  são  de  natureza  essencial- 
mente miasmaticos. 

Os  ventos  que  ali  predominam  chegam  á  ilha  de  S.  Thomé  pela  costa 
em  que  está  a  villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves  e  a  fazenda  Diogo  Vaz. 
Os  dos  rumos  O.  e  NO.  foram  em  1872  registados  apenas  vinte  e  seis 
vezes.  A  distancia  que  elles  téem  de  percorrer  está  desempedida  de 
montes  ou  cordilheiras  desde  a  parte  mais  afastada  do  delta,  o  que  não 
acontece  em  grande  parte  da  costa  do  Gabão,  onde  se  levantam  mon- 
tanhas dispostas  quasí  parallelamente. 

A  cidade  de  S.  Thomé  e  as  fazendas  abertas  ao  NE.,  E.  e  SE.  estão 
abrigadas  dos  ventos  que  passam  pelo  delta  do  Niger,  por  meio  de  uma 
cordilheira  bastante  alta,  o  que  deve  ser  tomado  em  consideração. 

Tanto  das  margens  do  Niger  propriamente  dito,  como  das  do  rio  Boni 
e  Formoso  ou  de  Benim,  sopram  os  ventos  com  força.  Os  tornados  e  as 
correntes  superiores  podem  trazer  elementos  ou  miasmas  nocivos  á  saúde 
dos  povos  da  contra-costa  da  ilha  de  S.  Thomé,  e  por  isso  as  praias,  as 
encostas  e  os  alto-planos  d'aquella  parte  da  ilha  não  devem  ser  escolhidos 
para  colónias  penaes,  casas  de  saúde  e  ediíicios  públicos. 

A  exposição  ao  ONO.  e  NO.  pôde  causar  graves  prejuizos  e  será  sem- 
pre má  condição  para  qualquer  villa  ou  freguezia  que,  com  o  desenvol- 
vimento e  progresso  agricola  da  ilha,  se  deseje  estabelecer  ou  formar 
n'este  local;  e  não  se  comprehende  que  motivos  levariam  Álvaro  de  Ca- 
minha a  mudar  a  cidade  de  S.  Thomé  da  costa  do  NO.  para  a  bahia  em 
que  hoje  se  acha. 

No  Gabão,  foram  os  francezes  obrigados  a  sair  da  margem  esquerda, 
onde  a  vida  dos  trabalhadores  e  empregados  corria  bastante  perigo, 


38 

para  a  margem  direita  que  é  considerada  menos  insalubre.  É  necessário, 
porém»  não  esquecer  que  os  455  kilometros  que  separam  a  ilha  de 
S.  Thomé  do  delta  do  Niger  ou  os  333  kilometros  que  medeiam  entre 
elle  e  a  iiba  do  Príncipe  33o  facilmente  atravessados  pelos  ventos  satura- 
dos  dõs  eSluvios  pantanosos  que  se  levantam  de  tão  vasto  delta.  Os  torna- 
dos seguem  sempre  a  mesma  direcção.  Observações  meteorológicas  attes^ 
tam  este  facto»  podendo  citar-se  até  bastantes  casos  bem  determinados. 
Um  tornado  passou  em  29  de  novembro  de  1 836,  em  Londres,  ás  dex 
horas  e  meia,  atravessando  uma  larga  superfície  de  mar;  em  Hambur^ 
go,  sempre  na  direcção  NO.,  ás  seis  horas  da  tarde  do  mesmo  dia,  isto  é, 
approximadamente  612  kilometros,  distancia  muito  maior  do  que  ha 
entre  o  delta  do  Niger  e  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe. 

Os  ventos  superiores,  diz  mr.  Daguin.  transportam  para  longe  as  cin* 
zas  dos  vulcões.  Em  1853  as  cinzas  do  vulcão  de  Gassiguina,  no  estado 
de  Guatemala,  caíram  na  Jamaica,  sita  a  E.,  em  tal  abundância  que  a  ci- 
dade 0COU  obscurecida  por  muitos  dias.  Na  primavera  e  no  outomqo 
viu-se  cair  em  Lyon,  em  Malta  e  em  Génova  um  pó  muito  fino,  trazido 
pelos  ventos  de  longiquas  paragens,  e  sendo  convenientemente  examinado 
se  reconheceu  que  provinha  de  pântanos  deixados  a  descoberto  e  expôs» 
tos  ao  sol.  Aquelle  pó  conservou-se  no  ar  trinta  a  quarenta  dias. 

A  influencia  dos  ventos  sobre  a  natureza  dos  climas  é,  pois,  um  facto 
incontestável  e  que  merece  ser  attentamente  observado,  quando  se  trata 
de  estudar  a  salubridade  de  qualquer  paiz. 

Grande  mar  interior  ou  lago  de  Tehadd.— Este  grande  lago,  cuja  superfi- 
cie  é  quasi  o  dobro  da  da  Bélgica  ou  setenta  e  três  vezes  maior  que  a 
da  ilha  de  S.  Thomé,  fica  por  U""  de  latitude  N„  isto  é,  na  zona  trópico* 
equatorial,  no  chamado  império  de  Bornou.  Elevasse  252  metros  acjma  do 
nível  do  Oceano. 

A  margem  S.  d'este  lago,  o  qual  é  maior  do  que  toda  a  Suissa,  está 
approximadamente  a  1:315  kilometros  da  foz  do  Niger,  1:110  do  rio  dos 
Camarões  e  1:666  da  ilha  de  S,  Thomé.  Toda  a  região  que  o  rodeia  é  po« 
voada  e  tem  sido  observada  em  differentes  epochas  por  exploradores  in-» 
glezes,  aos  quaes  se  devem  minuciosas  informações  a  respeito  dos  habi- 
tantes çircumviiiinhQs, 

Collocado  ao  S,  do  grande  Sahará,  o  lago  Tehadd,  modifica  o  clima 
dospaizes  limitrqphes,  cuja  fertilidade  ô  attestada  por  todos  os  viajantes. 

As  terras  da  bacia  do  lago  Tehadd,  escreve  Malte-Brun,  recebem  as 
aguas  que  banham  Haoussa  ao  O.  e  téem  ao  N.  o  Sahará,  ao  E.  o  Darfour 
e  ao  S,  a  planície  ethiopica  da  Africa  CentraL  O  dr*  Bartb,  tendo  visitado 
este  lago,  escreveu  a  respeito  (1'elle  o  seguiqte ; 


39 

cQuando  cheguei  ás  margens  do  lago  o  sol  era  abrasador,  mas  a  brisa 
fresca  da  manhã  veia  enrugar  a  superQcie  das  aguas,  tornando  o  calor 
supportavel.  Poderia  ter  acalmado  a  sede,  por  pouco  que  me  abaixasse, 
pois  a  agua  cbegava-me  quasi  aos  joelhos.  Estava,  porém,  quente  e  con- 
spurcada de  detritos  vegetaes,  tornando-se  imprópria  para  beber.  Era 
todavia  potável,  e  deve  ter-se  por  errónea  a  opinião  d'aquelles  que  sup- 
põem  ter  o  lago  Tchadd  qualquer  saída  ou  communicação  com  o  mar« 
A  sua  agua  não  é  salgada  como  o  mostra  a  falta  de  sal  n'aquelle  pai?  q 
a  má  qualidade  das  pastagens,  á  qual,  por  carência  de  tal  elemento,  se 
attríbue  o  mau  leite  das  cabras  que  ali  se  alimentam.» 

Muitos  rios  despejam  n'aquelle  lago,  que,  segundo  o  dr.  Barth,  tem 
a  apparencia  de  uma  immensa  lagoa,  cujas  margens  mudam  mensalmente, 
sendo  quasi  impossível  levantar-Ihe  o  plano  com  exactidão. 

Rio  Formoso  on  de  Benim. —  Fazemos  especial  menção  d'este  rio  por  ser 
um  dos  mais  notáveis  braços  da  margem  direita  do  delta  do  Niger.  Foi 
descoberto  em  1484  por  João  Affonso  de  Aveiro.  Atravessa  um  dos 
reinos  mais  importantes  de  Africa  equatorial  e  com  elle  communica  o  ce- 
lebre esteiro  d'Ouére,  junto  ao  qual  tivemos  uma  feitoria  e  uma  igreja.  O 
clima  de  Benim  è  reputado  pelo  naturalista  Palisot  Beauvais  como  o  mais 
insalubre  do  mundo. 

O  rio  Formoso  ou  Benim  está  cheio  de  recordações  francezas,  segundo 
diz  A.  Tardieu.  O  capitão  Landblphe  habitou  e  frequentou  durante  qua- 
tro annos  consecutivos  todas  as  paragens  do  Benim  e  do  Ouére  sem  sus- 
peitar que  o  rio  d'Oére  também  era  um  dos  braços  do  Niger.  É  preciso 
procurar  sitio  apropriado  para  fundear,  e  onde  possam  chegar  as  brisas 
do  largo,  para  de  algum  modo  attenuar  a  insalubridade  do  clima. 

Rio  da  Lagoa  ou  Lagos. — Este  rio  fica  em  6^  26'  29''  de  latitude  N.  e 
it  34'  29"  de  longitude  E.  A  aldeia  de  Lagos  está  situada  na  ilha  da  La- 
goa tão  próximo  á  costa  continental  como  afde  Coramo. 

A  costa  de  Lagos  até  ao  sitio  denominado  costa  dos  Pospôs  tem  diN 
ferentes  territórios  portuguezes,  entre  elles  o  de  Badagry  e  o  de  Ardra. 

Com  a  indicação  do  rio  da  Lagoa,  terminámos  a  enumeração  dos 
braços  do  Niger,  sendo  este  o  primeiro  da  margem  occidental,  contando 
do  occidente  para  o  oriente,  e  chegámos  á  costa  portugueza,  onde  temos 
também,  segundo  a  declaração  de  M.  A.  Lefèvre,  as  colónias  de  Quita  e 
Grão-Popó,  comprehendidas  no  território  portuguez  de  Ajuda,  cuja  posi- 
ção na  costa  de  Benim  é  muito  importante;  e  por  fazer  parte  da  província 
de  S.  Tbomé  o  estabelecimento  ou  forte  que  ali  temos,  julgámos  útil  re- 
unir algumas  informações,  a  fim  de  se  poder  formar  uma  idéa  approximada 
d'aquelle  território  quasi  abandonado. 


40 

Badagry. —  Conhecc-se  por  este  iiomc  uma  cidade  e  um  reino  que 
principia  na  margem  occidental  do  golfo  de  Benim,  e  é  hoje  tributário  de 
larriba.  A.  Tardieu  reputa  parte  de  Badagry  districlo  portuguez,  e  por 
isso  o  mencionámos  antes  de  fallar  do  estabelecimento  de  S.  João  Ba- 
ptista de  Ajuda. 

Badagry  está  a  uns  33S3  para  EVtNE.  do  Porto  Novo,  em  6*  2V 
12"  de  latitude  N.  e  12^  2'  de  longitude  E.,  isto  é,  na  margem  septen- 
trional  da  lagoa,  a  1:234  metros  do  desembarcadouro. 

A  lagoa  tem  cerca  de  617  melros  de  largo  sobre  7  de  profundidade, 
e  a  lingua  de  areia  que  a  separa  do  Oceano  é  calculada  em  largura  quasí 
igual. 

S.  João  Baptista  de  Ajndá  e  o  distrícto  oa  território  correspondente. —  Ajuda 
(Wbydah)  fica  approximadamente  a  2:778  metros  do  mar,  tendo  ao  S.  a 
lagoa,  cuja  largura  orça  por  463  metros  e  a  profundidade  por  l'°,2. 

A  aldeia  de  Gregué  (Griwhee)  está  junta  doeste  estabelecimento. 

Desembarca-se  no  porto  de  Ardra  ou  de  Alada,  passando-se  o  celebre 
banco  de  que  todos  faliam  com  respeito  e  que  poucos  transpõem  sem  te- 
mor. 

Muitas  viagens  téem  sido  feitas  a  Ajuda  e  ao  reino  de  Dahomé,  tor- 
nando-se  curiosas  pela  descripção  dos  usos  e  costumes  dos  povos  d'aquella 
região  e  das  bellezas  naluraes  que  ella  encerra.  A  essa  única  fonte  recor* 
remos  para  descrever  o  estabelecimento  de  Ajuda  e  o  districlo  que  Ibe 
pertence. 

É  pequeno  o  numero  de  brancos  que  residem  em  Ajuda,  segundo  a 
informação  do  dr.  Bepin.  Alem  dos  empregados  da  feitoria  franceza  ha 
três  ou  quatro  famílias  de  origem  portugueza.  Os  mulatos  occupam  una 
parte  distincta  da  cidade,  são  assas  numerosos  e  faliam  uma  espécie  de 
patois  portuguez. 

Em  Ajuda  ha  perto  de  4:500  súbditos  por tuguezes,  segundo  informou 
o  commandante  do  forte  portuguez  em  1874.  Não  ha,  porém,  systema 
administrativo,  e  não  se  tem  cuidado  de  estabelecer  relações  com  os  cha- 
mados reis  de  Dahomé,  procurando  por  todos  os  meios  possíveis  celebrar 
contratos  commerciaes  e  obter  a  concessão  de  terras,  como  os  france- 
zes  téem  conseguido  no  Gabão. 

O  território  de  S.  João  Baptista  de  Ajuda  recebe  não  só  os  ventos  do 
alto  mar  pelo  S.,  tendo  as  brisas  doeste  lado,  como  também  os  que  pas- 
sam sobre  as  aguas  da  lagoa  que  lhe  fica  immediata.  Os  ventos  de  E. 
vem  de  sobre  outra  lagoa  alimentada  de  muitos  rios  e  communicando 
com  Lagos. 

Os  ventos  do  0.  correm  do  lado  da  lagoa  de  Avon. 


S3o  geraes  estas  indicações,  e  mo  dão  idéa  do  clima  de  Ajuda,  nem 
pôde  lambem  ajuizar-se  da  influencia  que  os  ventos  téem  na  salubri- 
dade d'aquella  região. 

É  realmente  singular  a  disposição  da  costa  occidental  do  goifo  de  Be- 
nim.  Desde  o  rio  Volta  até  o  de  Benim  ba  uma  lingua  de  terra  entre  o  mar 
e  uma  extensa  lagoa.  Apparecem  aqui  pântanos,  alem  aguas  estagnadas, 
e,  mais  adiante,  lagos  communicando  entre  si  e  com  o  mar:  mas  bastam 
30  a  50  melros  de  altitude,  para  apparecerem  logares  favoráveis  á  agri- 
cultura e  á  saúde  dos  trabalhadores. 

Do  estabelecimento  portuguez  havia  em  1847  a  linda  capella  e  uma 
grande  casa  circumdada  por  um  jardim,  mas  tudo  em  abandono. 

Para  se  entrar  no  forte  é  necessário  atravessar  o  sarame  portuguez, 
(espécie  de  bairro  ou  aldeia)  que  o  circumda  n'um  raio  de  500  metros. 

A  pequena  igreja  do  forte  portuguez  é  uma  singela  casa  com  as  pa- 
redes caiadas,  e  desde  1865  despidas  de  quadros,  nua  de  paramentos  e 
desprovida  de  alfaias. 

O  estabelecimento  de  Ajuda  não  occupa  grande  extensão  de  terreno, 
mas  ainda  assim  contém  capella,  cemitério,  horta  regular,  duas  casas 
grandes  e  diOerentes  casas  pequenas,  praça  de  armas,  etc,  estando 
tudo  cercado  do  competente  fosso,  ao  qual  se  segue  o  terrapleno  adja- 
cente e  a  muralha.  A  porta  da  entrada  é  ampla  e  dentro  do  estabeleci- 
mento ha  dois  poços  que  fornecem  agua  potável,  que  passa  por  boa. 

Ignorámos  a  média  da  temperatura  da  localidade.  Não  sabemos  se  a 
lagoa  è  de  natureza  miasmatica,  nem  conhecemos  a  constituição  dos  terre» 
nos,  a  humidade  do  ar,  etc. ;  e,  n'este  caso,  faltam-nos  os  principaes  ele- 
mentos para  determinar  com  exactidão  a  qualidade  do  clima  e  as  causas 
que  produzem  as  endemias  predominantes.  É  certo,  porém,  que  não  só 
muitos  brazileiros  téem  vivido  por  largos  annos  sob  a  acção  do  clima  de 
Ajuda,  como  também  differentes  portuguezes. 

O  districto  de  Ajuda  flca  em  posição  vantajosa  para  o  commercio,  e 
com  o  progresso  agrícola  do  paiz  melhorará  a  sua  insalubridade.  Corres- 
ponde-lbe,  como  já  dissemos,  o  porto  de  Ardra  ou  Alada,  e  estão  na  sua 
dependência  os  habitantes  do  sarame  ou  bairro  portuguez  e  catholico. 
O  districto  de  Badagry,  sobre  cuja  existência  se  não  poderá  hesitar,  e 
que,  em  presença  do  respeitável  testemunho  de  A.  Tardieu,  nunca  deve- 
ria ter  sido  abandonado. 

Para  terminarmos,  finalmente,  as  nossas  considerações  acerca  da  po- 
sição dos  portuguezes  junto  ao  paiz  dahomeano,  transcrevemos  o  seguinte 
trecho  de  livro  muito  auctorisado . 

cCom  a  edificação  do  forte,  em  1680,  e  como  consequência  d'elle  o 
estabelecimento  permanente  de  muitos  portuguezes,  resultou  para  Por- 


42 

tugal  uma  espécie  da  supremacia  e  de  poderio  de  que  nao  é  permittido 
duvidar. 

«As  provas  abundam  no  grande  numero  de  mulatos  descendentes  de 
porluguezas  (milhares)  que  lá  existem,  e  na  immensidade  de  palavras  da 
nossa  lingua  que,  sem  mudança  ou  com  ella  quasí  nuUa,  passaram  in- 
sensivelmente a  formar  parte  do  vocabulário  do  paiz.  A  lingua  portu- 
gueza  é  ali  muito  conhecida  e  faltada,  mas  mesmo  na  linguagem  propria- 
mente dahomeana  se  encontram  a  cada  phrase  termos  portuguezes  ou 
de  origem  portugueza». » 

Não  pôde  admittir-se  que  os  portuguezes  construíssem  o  forte  de 
Ajuda,  artilhando-o  com  peças  de  differentes  calibres,  dando-lbe  um 
capitão  director  geral  e  governador,  sem  possuir  terrenos  e  haver  neces- 
sidade de  08  defender  á  mão  armada. 

Não  é  este  um  assumpto  que  possa  desenvolver-se  n'um  trabalho 
d*esta  ordem,  mas  não  podemos  deixar  de  consignar  aqui  a  nossa  opinião 
acerca  de  um  território  que  devemos  conservar  como  parte  integrante  da 
monarcbia. 

Condições  especiaes  para  o  desembarque  no  porto  de  Ajndá. —  Na  costa  Occi- 
dental do  golfo  de  Benim  não  ha  portos  abrigados,  nem  os  escaleres  dos 
navios  servem  para  estabelecer  communícação  de  terra  para  bordo.  Ha 
no  paiz  canoas  adequadas  a  este  fim,  tripuladas  pelos  práticos  d'aquelle 
mar.  O  banco,  segundo  alguns  escríptores,  está  a  220  metros  da  praia  e 
ó  necessário  evitar  o  tempo  das  ventanias,  porque  n'essa  epocba  nem  ^a 
canoas  da  localidade  ali  podem  parar. 

A  respeito  do  banco  e  do  desembarque  no  porto  de  Ajuda,  não  po-* 
demos  dar  melhores  informações  do  que  as  de  um  illustrado  ofiQcial  de 
marinha  que  ali  desembarcou. 

cAs  communicações  com  a  terra  são  muito  difficeis,  se  não  de  todo 
impossíveis,  quando  não  sejam  efiTectuadas  por  meio  de  embarcações  pró- 
prias da  costa;  grandes  mas  leves  canoas  de  duas  proas,  e  algumas  d'ellas 
feitas  de  um  só  pau.  São  tripuladas  por  doze  a  vinte  pretos  minas  (de 
S.  Jorge,  da  Mina  e  arredores),  que  vão  remando  e  pagaiando  com  pás 
(pagaias)  curtas,  ao  som  de  monótonos  cantos,  emquanto  um  a  que  cha- 
mam piloto,  yae  em  pé  á  proa  espreitando  a  sota  em  que  pôde  no  collo  da 
vaga  montar  o  banco,  para  então  fazer  signal  ao  patrão  que  governa  atre- 
vido sobre  a  praia,  mandando  remar  com  toda  a  força.  Estes  pretos  mi- 
nas fazem  ali  todo  o  serviço  das  embarcações  miúdas,  cargas  e  descargas 
de  navios ;  e  todas  as  feitorias  na  costa  téem  engajados  ao  seu  serviço 
companhas  d'elles,  que  mandam  buscar  á  Mina  ou  a  S.  Jorge.  São  pretos 
fortes  e  conhecedores  do  banco,  aindaque,  segundo  dizem,  menos  atrevi- 


43 

dos  que  os  Krowmen's  (homens  de  Krow,  costa  de  Krow  entre  a  Libéria 
8  cabo  de  Palmas),  que  fazem  o  serviço  nos  navios  de  guerra  inglezes. 
Pôde  dizer-se  que  s3o  os  cabindas  do  golfo  de  Guiné»  poisque,  como 
estes  em  Angola,  encontram-se  por  toda  a  parte  no  serviço  das  embarca^ 
ções. 

•Estavam  ancorados  também  em  Ajuda,  alem  do  vapor  inglez,  quatro 
ou  cinco  navios  mercantes  de  varias  nações,  mas  nenhum  portuguez,  Em** 
quanto  ali  nos  demorámos,  largaram  uns  e  chegaram  outros,  não  havendo 
nunca  numero  inferior  ao  apontado.  Largáramos  ancora  em  16"^,5  de 
fando,  e  este  de  areia  e  lodo  duro,  que  segurava  bem  o  ferro ;  mar- 
cavam-se  os  barracões  proximamente  ao  N.  da  agulha,  e  distava-se  da 
praia  talvez  2:778  metros. 

c^o  dia  8  de  março  de  186S  vieram  a  bordo  duas  boas  embarcações 
pertencentes  a  uma  feitoria  brazileira,  e  de  que  o  feitor  ou  agente,  João 
Branco,  portuguez,  natural  da  Figueira,  graciosamente  as  offerecéra  para 
esl^  acto,  bem  como  continuou  a  prestal-as  para  o  serviço  da  escuna, 
sendo  por  isso  só  necessário  pagar  ás  companhas,  o  que  é  baratíssimo,  pois 
se  ajustam  por  viagens,  e  por  cada  uma  se  lhes  pagam  duas  garrafas  de 
aguardente,  e  em  moeda  da  terra  (busio)  o  equivalente  a  333  réis  de  Portu- 
gal. Piga-se  aqui  que  foi  este  Branco  que  muito  se  esmerou  sempre  em 
nos  coadjuvar  em  tudo,  revelando  bem  o  seu  patriotismo  na  alegria  que 
mostrava  ao  apparecimento  de  portuguezes  em  missão  de  serviço.  Por- 
tuguez, vindo  do  Brazil  por  conta  de  uma  casa  commercial  d'aqueUa  na- 
eSo,  estava  aípda  animado  dos  patrióticos  sentimentos  que  tão  dístinctog 
fozem  os  nossos  irmãos  que  ali  vão  buscar  fortuna, 

cLargámos  de  bordo,  e  após  talvez  vinte  minutos  de  navegação  esta- 
vamos  perto  da  orla  do  banco,  que  me  pareceu  distar  cousa  de  80  ou  100 
metros  da  praia,  e  sobre  o  qual  se  viam  desenrolar  as  vagas  que,  não  sendo 
n'est8  dia  muito  altas,  comtudo  encobriam  a  praia,  os  barracões  e  os 
homens.  N'esta  occasião  as  embarcações  pararam,  e  emquanto  os  rema- 
dores debruçados  sobre  as  suas  pás  esperavam  o  signal  para  emprega- 
rem toda  a  sua  força  e  ligeireza,  em  fazerem  vencer  a  passagem  difQcil, 
os  pilotos  em  pé,  na  proa,  esperavam  o  momento  propicio  para  o  darem, 
e  no  emtanto  pretendendo  encarecer  o  seu  merecimento,  faziam  mil  mo^ 
mices  e  tregeitos,  como  se  o  terror  os  possuísse  e  considerassem  o  seu 
papel  superior  ás  forças  humanas ;  invocavam  as  potestades  marítimas, 
pedindo-lhes  que  não  fizessem  mal  aos  brancos,  e  os  deixassem  desem- 
barcar a  salvamento,  e  depois  de  aspergirem  as  ondas  com  algumas  gotas 
(poucas)  de  aguardente,  que  sempre  pedem  para  esse  effeito,  deram  por 
fim  o  signal,  e  aproou-se  á  praia  com  toda  a  velocidade  que  podiam  im- 
primir á  canoa  duas  dúzias  de  vigorosos  braços. 


44 

«Na  praia  estavam,  como  disse,  centenares  de  negros  que,  quaes  des- 
temidos tritões,  se  achavam  já  em  posição  de  se  lançarem  ao  mar  quando 
fosse  preciso  dar  soccorro,  e  por  isso  é  bem  de  suppor  que,  se  n'esta  oc- 
casião  alguma  embarcação  se  virasse,  não  houvesse  a  lamentar  caso  fatal ; 
comludo  bom  foi  que  não  se  fizesse  a  experiência.» 

O  banco  da  costa  de  Ajuda  não  impede  portanto  que  o  porto  seja  pro- 
curado por  navios  de  todas' as  nações,  que  ali  vão  commerciar. 

Tivemos  a  felicidade,  diz  o  commandante  da  escuna  Napier,  auctor 
da  obra  a  que  nos  referimos,  de  effectuar  sempre  os  embarques  e  desem- 
barques sem  novidade,  apesar  de  encontrarmos  algumas  vezes  o  banco 
bravo. 

Magestoso  espectáculo  qae  offerece  o  mar  na  costa  de  Ajadá. —  São  alterosas 
as  ondas  que  se  levantam  sobre  o  banco  da  margem  occidental  do  golfo 
de  Benim.  Todos  os  que  ali  desembarcam  faliam  d*elle  com  respeito.  Não 
queremos  supprir  com  palavras  nossas  o  que  escreveram  aquelles  que 
observaram  tão  magestoso  espectáculo. 

Vejamos,  pois,  a  narração  feita  por  testemunha  ocular. 

«Ficámos  vestidos  apenas  com  uma  calça  e  uma  camisa  fina,  a  fim 
de  estarmos  preparados  para  qualquer  acontecimento,  e,  feitas  as  despedi- 
das, entrámos  muito  alegres  nas  canoas,  mas  não  tardou  que  as  nossas 
palavras  fossem  rareando  e  enfraquecendo  a  ponto  de  se  ouvir  apenas  o 
canto  monótono  e  cadenciado  dos  remadores,  ao  qual  o  bramir  das  vagas 
fazia  estrondoso  acompanhamento.  Estávamos  em  frente  de  um  dos  mais 
magestosos  e  dos  mais  terríveis  phenomenos  do  mar,  a  barra  da  costa 
de  Guiné.  ^ 

«A  ces  moments  solenneis,  continua  o  dr.  Repin,  ou  Thomme  va  jouer 
contre  les  élèments  une  partie  dont  son  existence  est  Tenjeu,  il  se  re- 
cueille  en  lui-méme,  et  le  plus  aguerri  paye  comme  les  autres  ce  tríbut  à 
Tinstinct  de  la  conservation.» 

Diz  um  dos  ex-governadores  de  Ajuda : 

«É  immenso,  é  arriscadíssimo  o  banco  de  areia  que  corre  ao  longo  da 
costa  a  distancia  de  150  metros  da  praia,  e  sobre  o  qual  ha  sempre  uma 
ressaca  mais  ou  menos  considerável. 

•Tão  terrível  quão  magestoso  phenomeno  do  mar  torna-se  mais  respei- 
tável e  temido  durante  os  mezes  de  abríl  a  agosto,  e  opina  o  dr.  Repin 
que  sua  causa  pode  attribuir-se  aos  ventos  de  SO.  que  reinam  no  golfão 
de  Guiné  durante  essa  epocha.  E  diz  mais  que,  segundo  parece,  attrahido  o 
furioso  elemento  pela  rarefacção  do  ar  devida  á  influencia  dos  ralos  solares 
repercutidos  pelas  areias  ardentes  do  vasto  continente  afrícano,  sob  a  sua 
acção  incessante,  cava  o  Oceano  em  longas  ondulações  que  vem  que- 


45 

brar-se  sobre  a  praia,  cujo  declive  para  o  mar  é  quasi  íDsensivel.  Estas 
vagas,  na  verdade  gigantescas,  algumas  das  quaes  se  elevam  a  14  ou  15 
metros,  são  repentinamente  detidas  na  sua  base,  emquanto  que  a  parte 
superior,  obedecendo  ao  impulso  recebido  e  continuando,  sem  obstáculo 
seu  curso  medonho,  rola  em  enormes  volutas,  que  vem  despedaçar-se 
em  terra  com  horrendo  estrepido. 

cFormam  assim  n'este  resaltear  três  linhas  de  ressacas,  quasi  igual- 
mente espaçadas,  a  primeira  das  quaes  fica  a  300  metros  pouco  mais  ou 
menos  da  praia. 

cPara  atravessar  o  banco  é,  pois,  indispensável  haver  grandes  canoas 
de  construcção  própria,  a  fim  de  resistir  aos  elementos  embravecidos. 
Téem  ellas  geralmente  sido  fabricadas  em  França  ou  Inglaterra  ao  preço 
de  315^00  réis.  Medem  12  a  13  melros  de  comprimento  e  2  de  largu- 
ra, de  maneira  que  podem  accommodar  doze  a  quatorze  tripulantes,  al- 
guma carga  e  três  ou  quatro  passageiros. 

cterminam  igualmente  em  ponta  nas  duas  extremidades,  ou  propria- 
mente fallando,  nâo  téem  popa  nem  proa,  e  podem  indislinctamente  avan- 
çar ou  retroceder  sem  virar  de  bordo. 

cSâo  tripuladas  por  destros  marinheiros  que,  por  determinado  tempo 
e  por  bom  preço»  em  Âccará,  Castello  da  Mina  e  Cabo  das  Palmas,  são  ex- 
clusivamente contratados  para  aquelle  serviço. 

«Estes  homens,  completamente  nus,  munidos  de  remos  mui  curtos,  li- 
geiros, elegantemente  cortados,  e  na  extremidade  em  forma  de  pá,  á  simi- 
Ibança  da  folha  do  golfão,  guiam  a  canoa  com  a  maior  destreza,  e  sem  apoiar 
o  remo  na  embarcação,  chegam  a  communicar-lhe  admirável  velocidade. 

«O  piloto  conta  primeiro  três  rolos  de  mar,  que,  passando  successi- 
vos,  vão  quebrar-se  na  coroa  da  restinga ;  depois  aproveita  o  intervallo 
dos  dois  mares  e  sua  calma,  e  segue,  remando  com  toda  a  presteza,  atè 
estar  fora  do  perigo,  t 

Todos  os  viajantes  commemoram  o  magestoso  espectáculo  que  ofie*» 
rece  o  mar  na  costa  de  Ajuda,  mas  nem  todos  são  concordes  a  respeito 
da  altura  a  que  se  levantam  as  vagas.  Também  uns  chamam  «barra»  ao 
que  outros  denominam  cbanco»,  denominação  esta  que  nos  parece  mais 
apropriada. 

O  dr.  Repin  diz  que  as  ondas  chegam  a  16  metros,  opinião  que  tem 
sido  repelida  por  outros  viajantes  que  passaram  o  banco.  Os  officiaes  da 
Ventis,  porém,  nunca  mediram  rolos  de  mar  que  excedessem  7  metros; 
mas  aquelles  que  impugnam  a  opinião  do  medico  francez  confessam  que 
«as  ondas  do  mar  embravecidas  sobem  em  mageslosos  e  altíssimos  rolosj 
quando  encontram,  como  na  cosia  de  Âjudá,  os  fundos  esparcellados  e 
sem  inclinação  notável». 


46 

Reino  de  Dahooiè.—  Está  o  território  de  Ajuda  em  laes  relações  com  os 
povos  dahomeanos»  que  seria  grande  Talta  nSo.  reunirmos  aqui  algumas 
informações  acerca  d'este  paiz,  e  sem  as  quaes  n3o  pôde  formar-se  idéa 
exacta  da  importância  do  território  de  S«  Jofio  Baptista  de  Ajuda,  do 
seu  estado  actual  e  da  natureza  do  clima,  fim  principal  que  procurámos 
attingir  a  respeito  de  cada  localidade  em  particular» 

O  reino  dahomeano  é  vasto,  tetu  ao  N.  os  montes  do  Kong,  a  0.  o 
paiz  dos  Acbantis  e  o  rio  Volta,  a  E.  Yarriba  e  Lagos,  e,  finalmente,  ao 
S.  o  território  portuguez.de  Ajuda  e  muitas  aldeias  da  costa  Occidental  do 
golfo  de  Benim. 

A  capital  de  Dabomé  está,  segundo  a  maior  parte  dos  viajantes,  a  223 
kilometros  da  costa^  mas  uns  avaliam  aquella  distancia  em  277  kilome- 
troSi  e  outros  dão-lbe  menor  numero. 

Junto  do  forte  portuguez  es^  a  povoação  denominada  Wbidab  pelo^ 
inglezes,  e  Juida  ou  Judá  por  muitos  francezes.  É  a  cidade  de  Dabomé 
que  confina  com  o  districto  portuguez. 

O  terreno  é  elevado,  apresentando  ao  observador  panoramas  agra« 
dáveis,  entre  elles  a  lagoa  orlada  de  mangues,  o  que  é  realmente  uma  vista 
animada  e  muito  pittoresca. 

Ha  na  povoação  amplos  jardins  e  alamedas  de  vistosas  arvores,  conuo 
refere  o  dr.  Repin.  Abundam  as  fructas,  sendo  dignas  de  mencionar-se 
as  bananas,  de  cuja  cultura  tomam  ali  particular  cuidado.  Os  mamoeiros 
dio  fructo  maior  que  os  da  ilha  de  S.  Thomé,  e  são  também  mais  estima* 
dos.  As  laranjeiras,  os  cajueiros  e  as  mangueiras,  não  são  raros  no  paiz. 

Os  terrenos  de  Dabomé  produzem  milho,  mandioca,  inhame,  algodão, 
azeite  de  palma,  ele. 

Os  viajantes  não  faliam  do  cultivo  do  café  nem  da  do  cacau* 

Vastas  florestas»  em  que  dominam  as  palmeiras,  cobrem  aquellas  ter<* 
ras.  As  principaes  aldeias  são  rodeadas  de  boas  culturas,  e  as  cercanias 
de  Abomé  e  de  Cana  muito  férteis.  Introduziram-se  ali  diversas  arvores 
que  se  aclimaram  bem,  o  que  demonstra  com  evidencia  a  boa  qualidade 
dos  terrenos,  o  que  já  era  indicado  pela  grande  quantidade  de  palmeiras. 

A  capital  do  reino  é  reputada  salubre  em  relação  aos  povoados  pro^* 
ximos  á  costa.  É,  porém,  de  esperar  que,  com  a  civilisação  e  progresso 
introduzido  entre  aquelles  povos,  desappareçam  na  maior  parte  os  bre- 
jos, pântanos  e  charcos  que  ha  no  paiz,  completamente  abandonado  das 
obras  de  arte  e  da  agricultura,  a  qual  sendo  feita  segundo  o  estado  do^ 
terrenos  e  processos  agronómicos  modernos,  é  um  dos  mais  poderosos 
meios  para  sanear  as  terras  de  qualquer  localidade  insalubre. 

Gamiiilio  de  Ajadá  até  i  capital  de  Dabomé. —  Quando  se  attenta  no  mise- 


47 

ravel  estado  em  que  se  acha  um  paiz  tão  fértil  como  o  de  Dahomé,  não 
podemos  deixar  de  lameotar  aquelles  povos.  Mas  não  são  somente  os  da* 
homeanos  que  habitam  uma  região  tão  abandonada,  a  máxima  parte  dos 
povos  de  Africa  estão  nas  mesmas  circumstancias.  Se  olharmos  para  as 
regiSes  da  Africa  equatorial,  podemos  dizer  que  ainda  não  raiou  para 
ellas  a  luz  de  cívilisação,  nem  téem  os  beneficios  do  progresso  moral  e 
material  de  que  gosam  todos  os  paizes  da  Europa  e  quasi  todos  os  das 
duas  Américas. 

Os  povos  de  Africa  contentam-se  com  os  frtíctos  espontâneos  que  a 
terra  lhes  offerece  em  abundância,  e  occupam-se  em  se  destruírem  uns 
aos  outros.  Quando  lhes  falta  o  pretexto  da  religião,  aproveitam  causas 
fúteis  e  rasões  frívolas  para  talar  campos,  queimar  cidades  e  escravisar 
populações  inteiras.  É  o  direito  do  mais  forte  que  impera ;  não  se  res- 
peitam as  leis  nem  a  fidelidade  dos  contrjitos. 

Não  pôde  durar  por  muito  tempo  similhante^stado.  A  Europa,  a  ca« 
beça  e  o  coração  da  humanidade,  levará  ao  seio  d'esses  povos  os  princí- 
pios da  justiça,  da  rectidão  e  da  liberdade.  O  christianismo  enlaçará  os 
indivíduos^  as  famílias,  as  províncias,  as  nações,  finalmente,  que  se  levan^ 
tarem  n'aquella  zona  privilegiada ;  celebrar-se-hão  contratos  politicos  e 
commerciaes  que  serão  respeitados.  A  familia  não  será  um  mytho,  nem 
69  nações  um  foco  de  immoralidade.  Apparecerão,  emfim,  escolas  nos 
logares  onde  hoje  se  fazem  os  horríveis  sacrifícios  de  victimas  humanas. 

Em  Abomè  estão  os  jazigos  dos  reis  defuntos,  e  ali  se  fazem  as  inaU'' 
gúrações  dos  novos  reis  que  lhe  succedem.  A  pratica  usada  em  taes  oc- 
casiões  é  a  seguinte : 

cNo  centro  d'aquelle  palácio  ha  um  grande  carneiro  subterrâneo  de 
22  metros  em  quadro,  para  receber  os  cadáveres  dos  reis.  Logoque 
um  morre,  colloca-se  no  meio  d'esta  catacumba  uma  espécie  de  eça 
feita  de  grades  de  ferro,  sobre  a  qual  se  põe  um  ataúde  de  barro,  ama-^ 

ÇADO  COM  SANGtJE  DE  CEM  CAPtlVOS  FCITOS  NAS  tLTIMAS  GUEBBA8,  OS  quaeS 

n*este  acto  são  degolados  para  irem  servir  no  outro  mundo  o  fallecido 
rei,  cujo  cadáver  se  deposita  n'este  caixão  sanguíneo,  tendo  por  cabeceira 
a  caveira  de  algum  rei  vizinho  por  elle  vencido  em  guerra ;  e  as  ossadas 
e  caveiras  de  todos  os  outros  reis,  que  elle  similhantemente  tiver  feito 
morrer>  se  collocam  como  trophèus  debaixo  da  eça:  depois  d'isto  assim 
disposto,  obrigam  a  descer  ao  subterrâneo  oitenta  mulheres  dansadeiras 
do  rei,  chamadas  abalas,  e  cincoenta  soldados  da  sua  guarda,  que  o  devem 
acompanhar  na  viagem,  e  para  todos  se  provê  de  mantimentos.  E»  o  que 
é  de  pasmar,  não  faltam  pessoas  de  ambos  os  sexos  que  voluntariamente 
se  offereçam  a  tão  horrorosa  emigração,  e  para  as  quaes  se  conserva  por 
três  dias  aberta  á  estreita  entrada  da  catacumba ;  findo  este  praso,  se  lhe 


48 

impõe  a  pedra  falai,  que  a  cerra,  e  deixa  sepultados  vivos  todos  aquelles 
miseráveis!» 

Similhantes  monstruosidades  parecerão  fabulas,  quando  raiar  a  luz 
da  ínstrucçâo  para  os  povos  de  Africa.  Urge  apressar  essa  hora. 

A  Africa  de  hoje  não  será  a  de  amanhã.  Onde  actualmente  ha  ca- 
minhos intransitáveis,  serão  construidas  vias  férreas  ou  boas  estradas. 
Mas  emquanto  não  chegar  essa  epocha,  os  viajantes,  se  tiverem  cora- 
gem de  seguir  avante,  não  deixarão  de  estar  mettidos  na  agua  até  aos 
joelhos,  como  o  dr.  Bartb,  quando  se  approximou  do  lago  Tchadd,  ou 
andarão  nas  prosaicas  maxillas  ou  tipóias  sujeitos  a  caírem,  batendo 
com  o  dorso  no  chão  ou  tomando  um  banho  forçado  ao  atravessar  qual- 
quer rio  ou  aguas  encharcadas. 

Vem  estas  considerações  ao  altentarmos  nas  prodigiosas  riquezas  na- 
turaes  do  reino  de  Dahomé,  e  na  falta  de  vias  de  communicação  entre  a 
capital  e  a  costa  maritima. 

O  caminho  que  se  segue  para  ir  de  Ajuda  a  Abomé  foi  descripto  pelo 
dr.  Repin,  quando  ha  dez  annos  ali  foi,  como  medico  do  navia  encarre- 
gado de  levar  commissarios  para  dar  presentes  ao  rei  de  Dahomé,  e  pe- 
dir-lhe  que  permittisse  fossem  educados  em  França  um  ou  dois  dos 
seus  filhos . .  • 

c Saindo  da  cidade  de  Ajuda,  observa  o  dr.  Repin,  atravessa-se  uma 
vasta  planície  em  que  ha  diversas  culturas,  vendo*se  magnificas  palmeiras 
de  azeite. 

•Passada  a  primeira  povoação,  encontra-se  um  regato  orlado  de  plan- 
tas aquáticas,  pouco  distante  do  qual  está  outra  povoação.  Deparam-se 
depois  campos  de  mandioca  e  uma  formosa  mata,  uma  d'essas  maravi- 
lhas que  não  se  encontram  nos  paizes  da  Europa. 

cAs  palmeiras  e  os  coqueiros,  cuja  alta  estipe  se  assimilha  a  gracio- 
sas columnas  sustentando  cúpulas  de  verdura,  os  enodendros  de  tronco 
colossal,  as  magnólias  cobertas  de  largas  flores  brancas,  embalsamam  o 
ar  matinal ;  variadas  mimosas  de  elegante  folhagem  e  os  sombrios  man- 
gues crescem  livremente  n'estas  florestas,  onde  não  penetrou  ainda  o 
machado  destruidor.  Protegidas  pela  sua  sombra  impenetrável,  enlaçadas 
em  seus  robustos  ramos,  destacam-se  differentes  trepadeiras  cujas  hastes 
flexiveis  e  caneladas  pendem  em  forma  de  festões  cheios  de  flores.  É  des- 
lumbrante esta  vista,  quando  se  procura  descobrir  o  céu  azulado  que  se 
levanta  por  cima  de  todo  aquelle  arvoredo,  mas  não  são  menos  surpre- 
hendentes  as  arvores  mais  humildes,  mas  mais  úteis  aos  homens.  As  bana- 
neiras e  as  laranjeiras  estão  como  que  a  ofE^erecer  seus  deliciosos  fructos 
ao  viajante,  e  os  ananazes  patenteando  a  brilhante  coroa,  erguem-se  a  pou- 
cos palmos  acima  do  chão,  destacaedo-se  de  entre  suas  robustas  folhas.» 


Cílonii  S.  Jdj3.  Visu  da  hatiiUfio  in  lid^  onenul. 


49 

Não  se  percorre  este  soberbo  bosque  em  menos  de  cinco  horas. 
Apparecem  depois  mais  planicíes  cultivadas  e  outro  grande  bosque,  po- 
dendo descansar-se  algum  tempo  n'uma  das  clareiras  em  que  ha  uma  po- 
voação, ou  seguir,  se  for  possivel,  até  á  cidade  chamada  Alada.  Passada 
esta  e  uma  planura  bem  cultivada,  entra-se  em  terceiro  bosque,  no  qual 
estão  as  denominadas  casas  reaes,  pelas  quaes  aquelles  povos  téem 
grande  veneração.  £  n'essas  casas  que  os  reis  de  Dahomè  descansam 
quando  andam  de  viagem  pelo  seu  pai2. 

O  caminho  por  meio  d'esta  floresta  é  muito  accidentado,  e  não  se 
vence  em  menos  de  seis  a  oito  horas.  Pôde  haver  algum  descanso  em 
Toffõa  ou  Agrymé,  segundo  se  quizer  atravessar  o  brejo  ou  passar  na  sua 
extremidade  direita. 

De  TofTõa  por  diante  o  caminho  é  mau  na  maior  parte.  Apparecem 
ainda  assim  boas  plantações,  tornando-se  cada  vez  mais  vigorosa  a  vege- 
tação. A  custo  se  rompe  por  entre  palmeiras  anãs  e  differentes  plantas 
desconhecidas,  que  formam  bom  reducto  natural  ou  barreira  contra  qual- 
quer assalto  imprevisto.  Para  passar  o  lamaçal  è  necessário  augmentar  o 
numero  de  carregadores.  Prolonga-se  este  caminho  ainda  por  grande  dis- 
tancia. 

Antes  de  se  chegar  a  Cana,  depara-se  uma  extensa  superficie  de  ca- 
pim e  palmares,  e  vadeia-se  em  fim  um  rio  a  pouco  espaço  d'aquella  ci- 
dade. 

Adiante  da  cidade  de  Cana  está  o  bosque  sagrado,  onde  se  levanta 
o  templo  dos  maus  feitiços.  £  indispensável  passar  a  pé  defronte  de  si- 
milhante  barraca,  representando  tão  formal  aberração  de  senso  commum. 
As  duas  ultimas  horas  de  jornada  gastam-se  n*uma  estrada  de  40  metros 
de  largo. 

Em  três  dias  e  meio  chega-se  á  capital  de  Dahomé,  sujeitando-se  o 
viajante  aos  incommodos  causados  pela  tipóia,  levada  por  oito  a  doze  ho- 
mens. 

Não  ha  ali  cavallos  nem  camellos,  òs  quaes  tão  bons  serviços  prestam 
em  outras  regiões  de  Africa. 

Estações  intermediarias  entre  e  territorie  de  Ajndi  e  a  eapital  de  Dahomé.  — 
Entre  o  nosso  districto  de  Ajuda  e  Abomé  ha  as  seguintes  povoações,  se- 
gundo a  informação  do  dr.  Repin :  Havi,  Tauli,  Hazoué,  Alada,  Toflôa, 
Apué,  Ackisaban  e  Cana.  São  aldeias,  villas  ou*cidades  em  que  ás  vezes 
é  necessário  pernoitar. 

O  primeiro  itinerário  de  Ajuda  a  Abomé,  diz  M.  d'Avezac,  foi  publi- 
cado no  livro  de  Archibaldo  Dalzel  em  1793,  ao  qual  o  auctor  ajuntou  a 
viagem  de  Robert  Norris,  dada  á  luz  da  publicidade  cm  1 789. 


50 

Em  1797  chegou  a  Dahoraé  Vicente  Ferreira  Pires,  para  ondô  foi 
como  enviado  de  sua  alteza  o  Principe  Regente  de  Portugal,  em  compa- 
nhia de  D.  João  Carlos  de  Bragança,  embaixador  ethiope  do  rei  de  Da* 
home. 

N5o  tratámos,  porém,  de  examinar  quem  foram  os  primeiros  via- 
jantes que  descreveram  as  terras  de  Dahomé,  o  que  desejámos  é 
enumerar  as  estações  que  ha  entre  o  nosso  forte  e  a  capital  do  reino 
vizinho. 

Uma  das  viagens  que  não  podemos  deixar  de  notar  é  a  de  M.  Brué 
em  1843,  feita  na  companhia  de  Francisco  Félix  de  Sousa.  Foram  em  re- 
des, levados  por  doze  homens  que  se  revezavam  de  duas  em  duas  ho- 
ras. No  primeiro  dia  de  jornada  chegaram  á  aldeia  de  Torry,  que  M.  Bnié 
reputa  a  29S6  de  Âjudá.  Doesta  passagem  á  cidade  de  Alada  andaram 
cerca  de  três  horas  e  meia.  De  Âladá  passaram  ao  sitio  denominado 
Ouabó,  e  depois  á  aldeia  chamada  Âppè,  logarejo  mal  situado  e  próximo 
aos  lamaçaes,  conhecidos  n'aquelle  paiz  sob  a  denominação  geral  de  La- 
mas. Âgrimé  fica  adiante  d'esta  superficie  pantanosa,  e  em  duas  horas  ' 
chega-se  a  Calamina,  cidade  notável  ao  N.  de  Âgrimé.  O  resto  do  cami- 
nho é  magnifico,-  segundo  declara  M.  Brué,  que  teve  a  ventura  de  se  abei- 
rar do  palácio  do  rei  de  Dahomé,  dentro  de  uma  goUette  de  quinze  pieds 
de  longumr  environ,  construite  dans  de  justes  proportions  et  fort  bien 
gréée, 

M.  Brué  e  Francisco  Félix  de  Sousa  saíram  de  Âjudá  a  3  de  maio  e 
chegaram  a  Âbomé  no  dia  5  d'esse  mez. 

De  Âjudá  a  Xavi,  segundo  o  dr.  Repin,  a  jornada  é  de  duas  horas  e 
vae-se  d'ali  a  Tauli,  37  kilometros  ao  N.  de  Âjudá,  em  uma  hora.  Não  pa- 
rando em  Hagoué,  bastam  cinco  horas  para  se  chegar  á  cidade  de  Âladá, 
a  79^^,6  do  nosso  forte.  São  precisas  cerca  de  sete  horas  para  se  entrar 
em  Toffôa,  ficando  ao  NE.  de  Âladá  e  a  129^,9  de  Âjudá.  D'aquella 
estação  até  á  aldeia  de  Âckisaban  passam-se  sete  horas,  tendo-se  atra- 
vessado uma  extensa  superficie  pantanosa  a  que  se  dá  o  nome  de  Lama. 

A  cidade  de  Cana  está  a  duas  horas  de  caminho  de  Âbomé,  fazendo-se 
uma  viagem  de  três  dias  e  meio  para  lá  chegar. 

A  viagem  do  dr.  Repin  realisou-se  no  anno  de  1866;  mas  do  fim  do 
século  passado  data  a  Viagem  da  Africa  ao  reino  de  Dahomé,  escripta  por 
um  portuguez,  a  qual  serviu  de  base  ao  que  Lopes  de  Lima  escreveu  a 
respeito  d'aquelle  paiz  em  1844. 

O  padre  Vicente  Ferreira  Pires  reputava  a  cidade  de  Calamina  (Cana) 
a  dois  dias  de  jornada  do  nosso  forte,  no  que  não  são  concordes  os  mo- 
dernos viajantes.  Nenhum  d'estes  escriptores,  porém,  tratou  da  acli- 
mação dos  europeus,  nem  da  colonisação  d'aquella  região.  Taes  viagens 


31 

miravam  apenas  aos  usos  e  costumes  dos  povos  e  á  importância  commer- 
cial  do  paiz.  Gaiamina,  segundo  a  informação  do  viajante  portuguez,  era 
a  capital  do  reino,  e,  alem  doesta  cidade,  havia  outras,  como  Âladá,  Âbo- 
mé,  Zobodõ,  Meiogui,  Hiagó,  Âdogui  e  Âgonam,  fazendo-se  em  cada  uma 
doestas  sete  povoações  uma  feira  semanal. 

Emquanto  descurámos  os  nossos  direitos  e  interesses  n'aquella  re- 
gião, os  francezes  desde  ha  muito  què  procuram  estreitar  relações  de  ami- 
sade  com  os  reis  de  Dahomé,  não  deixando  de  pedir-lhes  para  consentirem 
que  os  príncipes  dahomeanos  fossem  educados  em  França  sob  a  protec- 
ção do  governo. 

tLe  but  de  notre  mission,  observa  o  dr.  Repin,  était  de  visiter  le  roi 
de  Dahomey,  de  régler  avec  lui  quelques  intérêts  de  commerce  et  de  lui 
remettre,  au  nom  du  gouvernement  français,  de  riches  présents.  Nous 
devions  enfln  remener,  s'il  y  consentait,  un  ou  deux  de  ses  enfants  pour 
ies  faire  élever  en  France  dans  un  de  nos  lycées.» 

Não  se  limitam  somente  a  estas  as  provas  da  importância  dos  po- 
vos de  Dahomé.  Um  historiador,  referindo-se  a  elles,  diz:  cDe  todos 
os  povos  da  Guiné,  nenhum  merece  mais  attençSo  do  que  os  dahomea- 
nos». Eis-aqui,  pois,  o  modo  por  que  se  falia  do  povo  de  Dahomé.  Não 
deve  por  isso  admirar  que  nós,  ao  procurar  os  elementos  indispensáveis 
para  reconhecer  a  natureza  do  clima  d^aquelle  paiz,  façamos  algumas 
considerações  attinentes  a  pôr  em  relevo  as  nossas  relações  politicas  e 
commerciaes  com  os  vizinhos  do  nosso  território  de  Ajuda. 

Nos  últimos  dez  annos  téem  apparecído  diversas  memorias  nacionaes 
e  estrangeiras  acerca  de  Ajuda,  e  dos  usos  e  costumes  dos  povos  daho- 
meanos. Mas,  para  o  caso  de  que  nos  occupãmos,  apenas  temos  que  men- 
cionar as  povoações  situadas  entre  o  território  portuguez  e  a  capital  de 
Dahomé,  segundo  as  informações  dos  respectivos  escriptores  e  viajantes. 
As  cidades  nomeadas  pelo  padre  Vicente  Ferreira  Pires  em  1800  foram 
repetidas  por  José  Joaquim  Lopes  de  Lima  em  1844. 

Differentes  trechos  d^aquelle  ecclesiastico  têem  sido  transcriptos  em 
jomaes  illustrados  e  em  trabalhos  de  alguns  escriptores. 

O  distincto  geographo  Alexandre  de  Castilho,  attenta  a  importância 
do  assumpto,  julgou  conveniente  referír-se,  no  seu  Roteiro  da  costa  occi' 
dental  de  Africa,  ás  estações  que  ficam  entre  o  nosso  forte  e  a  capital  do 
reino  de  Dahomé.  A  tal  respeito  disse  elle  o  seguinte :  «Está  a  cidade 
de  Abomey,  capital  do  reino  de  Dahomé,  em  que  fica  Ajuda,  uns  167 
kilometros  para  N4N0.  do  nosso  forte ;  entre  esses  dois  sitios  se  erguem 
varioí  povoados,  cujos  mais  importantes  são :  Sahy,  Tory,  Havy,  Wipó, 
Apoy,  Calmina  e  Dowey». 

Iteièrinão-íios  ainda  á  viagem  do  dr.  Repin,  notámos  que,  alem  das 


52 

oito  povoações  designadas  pelo  geographo  portuguez,  ha  mais  quatorze, 
Ocando  umas  CDtre  as  que  Alexandre  de  Castilho  nomeou,  e  algumas  para 
o  lado  esquerdo  de  quem  se  dirige  á  capital  no  tempo  em  que  as  chuvas 
permittem  seguir  aquelle  caminho.  A  viagem  de  Ajuda  a  Abomé  pode  fa- 
zer-se  mais  ou  menos  rapidamente,  segundo  as  estações  em  que  se  qui- 
zer  descansar. 

Diz  um  viajante  que,  sendo  chamado  pelo  rei  de  Dahomè,  nao  pôde 
recusar-se  a  obedecer-lhe,  e  viu-se  obrigado  a  ir  a  Abomé. 

tA  26  de  junho  de  1861  saí  de  Ajuda  n*uma  rede  sustentada  por  seis 
homens.  No  mesmo  dia  cheguei  a  Alada,  onde  descansei.  Em  27  atra- 
vessei os  pântanos  denominados  Lamas,  os  quaes  felizmente  tinham  pouca 
agua  n'esta  epocha.  Demoreí-me  pouco  tempo  na  cidade  de  Cana,  e  no  dia 
28  á  tarde  estava  ás  portas  da  capital  do  reino  de  Dahomé.  > 

Foi  de  três  dias  incompletos  a  viagem,  e  pôde  calcular-se  que  é  esta 
a  sua  duração  media.  Os  geographos  Alexandre  de  Castilho,  M.  d'Avezac 
e  o  auctor  do  Manual  da  navegação  da  costa  occidental  de  Africa  ava- 
liam a  distancia  entre  o  nosso  forte  e  Abomé  em  166S6  approximadamen- 
te.  O  dr.  Repin  reputou-a  em  277S8,  não  faltando  também  quem  lhe  dé 
apenas  uns  127S7. 

É  esta,  como  muitas  outras,  uma  questão  pratica,  e  que  não  se  resol* 
verá  sem  as  respectivas  medições  topographicas.  Não  são  de  certo  as  au- 
ctoridades  de  Dahomé  que  hão  de  mandar  fazer  estes  e  outros  trabalhos, 
para  os  quaes  somente  os  europeus  podem  concorrer,  tomando  efiQcaz  a 
probibição  da  escravatura,  comprando  os  productos  agrícolas  e  fabris 
d*aquellas  terras,  animando  assim  a  agricultura  e  o  commercio.  Cuidar- 
se-ha  então  das  estradas  publicas,  escolas,  vias  férreas,  canaes,  de  todos 
os  melhoramentos,  emSm,  a  que  se  deu  principio  já  em  muitos  paizes 
africanos. 

Para  não  darmos  demasiada  extensão  ás  nossas  considerações  a  res- 
peito do  território  de  Ajuda,  não  obstante  o  desejo  que  tinhamos  de  as 
tornar  mais  amplas,  limitámo-nos  ao  pouco  que  temos  dito.  É,  porém, 
necessário  dizer,  antes  de  concluir  este  assumpto,  que  é  um  grave  erro 
abandonar  aquelle  território  cderradeiro  vestígio  do  nosso  antígo  poder, 
observa  com  toda  a  razão  Lopes  de  Lima,  na  dilatada  e  rica  plaga  que  se 
estende  desde  cabo  das  Três  Pontas  até  cabo  de  Lopo  (xonçalves,  costa 
descoberta  pelos  portuguezes  e  por  elles  explorada  no  século  xv. 

cLá  ostentam  ainda  suas  muralhas,  construídas  por  mãos  portugue- 
zas  e  comfpedras  de  Portugal,  S.  Jorge  da  Mina,  Cabo  Corso  e  Aocem;  mas 
estranhos  pendões  n'ellas  tremulam  e  guarnições  estrangeiras  as  guarne- 
cem, e  em  seus  armazéns  accumulam  o  marfim  e  o  oiro  em  pô,  com  que 
86  enriquece  a  Hollanda  e  a  Inglaterra.  Deixou  já,  porém,  de  existir  a  fei- 


53 

íoría  e  igreja  do  rio  Oére,  as  do  rio  de  El-rei,  da  ilha  do  Corisco,  do  rio 
Gabão  e  cabo  de  Lopo  Gonçalves,  assim  como  as  ilhas  de  Fernão  do  Pó 
e  Anno  Bom,  quo  foram  cedidas  á  Hespanha  em  1778.» 

O  território  em  que  está  o  forte  de  S.  João  Baptista  de  Âjudá  faz  parto 
da  monarcbia  portugueza :  é  uma  dependência  do  governo  geral  da  pro- 
víncia de  S.  Tliomé  e  Principe,  e  tem  sido  reconhecido  como  portuguez 
pelos  povos  d'aquella  região,  pelas  nações  da  Europa  que  ali  téem  in- 
teresses políticos  e  commerciaes,  e  pelos  viajantes  estrangeiros.  Não  pôde 
prever-se  hoje  o  que  será  amanhã  o  território  de  Ajuda  logoque  a  civi- 
lisação  e  o  progresso  forem  uma  realidade  nas  terras  da  Africa  equatorial. 

Limites  do  golfo  de  Benim.  —  O  ponto  mais  recuado  do  golfo  do  Be- 
nim,  segundo  Alexandre  de  Castilho,  fica  pouco  mais  ou  menos  em  6® 
26'  40"  de  latitude  N.  e  em  12^  59'  10"  de  longitude  E.  Tem  duas  margens, 
Occidental  e  oriental,  que  são  muito  baixas.  N'uma  está  o  districto  portu- 
guez de  Ajuda,  de  que  já  falíamos,  e  n'outra  o  celebre  rio  Formoso  ou  de 
Benim,  que  deu  o  nome  a  um  dos  golfos  do  mar  de  Guiné,  e  banha  o 
paiz  oriental  dos  povos  d'aquella  região,  onde  o  nome  portuguez  será 
sempre  lembrado. 

A  linha  tirada  do  cabo  Formoso  para  o  de  S.  Paulo  representa  a  abertura 
da  entrada  do  golfo,  para  dentro  do  qual  não  ha  ilhas  altas  e  bem  distinclas. 

Descrevem  os  hydrographos,  entre  outras,  a  ilha  de  Curamo  c  a  da 
Lagoa,  mas  estão  separadas  da  terra  continental  por  canaes  tão  estreitos 
e  pouco  profundos  que  não  merecem  o  nome  de  ilhas  propriamente  chitas, 
se  bem  estejam  rodeadas  de  agua  por  todos  os  lados. 

As  distancias  entre  os  limites  do  golfo  de  Benim  são,  segundo  Ale- 
xandre de  Castilho,  590^,7  em  linha  recta  entre  os  dois  cabos ;  e  tal  é, 
como  dissemos,  a  abertura  do  golfo.  A  costa  tem  103^,7  e  do  centro  da 
abertura  ao  sitio  mais  recuado  medem-se  125^9. 

O  golfo  de  Benim  é  notável,  tanto  pelos  povos  vizinhos  das  suas 
margens,  como  também  porque  n'elle  desaguam  os  rios  da  margem  di- 
reita do  delta  do  Niger,  os  quaes  levam  muitas  substancias  vegetaes, 
que  tingem  até  muito  fora  as  aguas  do  Oceano  Atlântico,  cobrindoas  de 
escuma  pardacenta,  suja,  fétida  e  nauseabunda. 

Limites  do  golfo  dos  Hafras.—  O  golfo  dos  Mafras  está  a  E.  do  mar  de 
<juiné.  O  seu  lognr  mais  afastado  é  o  golfo  de  El-Rei,  que  está  pouco 
mais  ou  menos  em  4**  31'  de  latitude  N.  e  18°  2'  de  longitude  E  ,  na  foz 
do  rio  Rumby. 

Os  limites  d'este  golfo  são  o  cabo  de  Lopo  Gonçalves  e  o  cabo 
Formoso,  servindo-lhe  de  margem  oriental  a  costa  do  Gabão  e  de 


54 

Occidental  a  do  Calabar,  a  qual  ao  mesmo  tempo  é  a  margem  esquerda 
do  delta  do  Niger.  A  linha  tirada  entre  os  limites  do  golfo  dos  Mafras 
mede  611  kilometros,  e  a  costa  888^9.  Do  centro  da  abertura  do  golfo, 
que  é  na  ilha  do  Príncipe,  com  um  raio  de  305^,S,  descreve-se  o  arco 
de  circulo,  que  fecha  o  angulo,  cujo  vértice  está  sobre  a  ilha  do  Prín- 
cipe e  os  lados  passam  nos  respectivos  cabos. 

No  golfo  dos  Mafras  levanta-se  o  archipelago  de  Guiné,  em  que  estSo 
as  duas  ilhas  portuguezas  de  que  especialmente  nos  occupámos.  Ficam 
lançadas  ao  mesmo  rumo  em  que  se  acham  as  de  Anno  Bom  e  Fer- 
não do  Pó  e  os  montes  dos  Camarões,  o  que  é  necessário  relembrar, 
porque  os  montes  das  diversas  ilhas  e  os  dos  Camarões  téem  idên- 
tica composição,  não  devendo  por  isso  ser  uns  reputados  salubres  e 
outros  insalubres.  É  verdade  que  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  do  Príncipe  es- 
tão infamadas  de  insalubridade,  mas  é  grande  erro  condemnar  as  ilhas 
por  causa  das  cidades  que,  estando  ediflcadas  no  littoral  e  rodeadas  de 
pântanos,  não  ficam  livres  das  emanações  palustres  que  lhes  chegam  de 
todos  os  lados. 

Mar  de  Guiné,  zona  equatorial  que  lhe  corresponde  e  correntes  que  ali  se  obser- 
Tam. — Na  região  sub-equiaoccial  que  examinámos,  comprehende-se  uma 
grande  parte  do  mar  de  Guiné,  cujas  relações  com  o  Oceano  Atlântico  e 
continente  africano  merecem  ser  mencionadas. 

Os  mares  que  rodeiam  o  continente  da  Africa,  nota  o  erudito  geogra- 
pho  M.  de  Avezac,  não  abrem  profundas  bahias,  nem  penetram  no  in- 
teridr  das  terras,  cavando-as  profundamente  para  dar  origem  a  qualquer 
mar  interior  ou  mediterrâneo. 

Para  acharmos,  porém,  as  relações  do  mar  de  Guiné  com  o  Oceano 
Atlântico  e  as  terras  de  Africa,  é  indispensável  elevarmo-nos  até  um  ponto 
d*onde  elle  seja  visto  na  sua  totalidade  conjunctamente  com  toda  a  região 
equatorial  que  se  lhe  avizinha.  É  d'ahi  que  o  observador  attento  reco- 
nhece que  o  Oceano  Atlântico  se  alarga  entre  o  cabo  das  Palmas  e  o  de 
Lopo  Gonçalves,  e  occupa  uma  considerável  concavidade  que  não  está 
em  relação  com  a  extensa  abertura  entre  os  cabos  que  servem  de  limites 
a  tão  larga  superfície,  não  devendo  ter,  por  essa  rasão,  o  nome  de  golfo, 
como  muitos  geographos  lhe  chamam. 

Não  é  esta  a  única  observação  que  assalta  logo  a  mente.  Outras  po- 
dem fazer-se  e  que  é  vantajoso  referir. 

Os  climas  situados  entre  o  cabo  das  Palmas  e  o  das  Três  Pontas  apre- 
sentam condições  differentes  das  que  se  observam  na  ropfião  do  rio  Ni- 
ger. Não  é  necessário  procurar  a  explicação  nos  phenomenos  meteoro- 
lógicos, basta  attentar  no  aspecto  das  terras  por  onde  passam  os  vinte 


55 

braços  d'aquelle  rio,  as  quaes  mais  parecem  ilhas  baixas  e  alagadiças  do 
que  terra  firme  de  um  continente. 

Yô-se  também,  examinando  a  planta  hydrographica  d'este  continente, 
que  elle  é  maior  que  o  da  Europa,  e  mais  pequeno  que  o  da  Ásia.  Tem 
extensos  areaes  e  grande  superficie  inexplorada. 

O  mar  de  Guiné  olha  para  a  costa  oriental  da  America  do  Sul,  e  ao 
recôncavo  que  elle  occupa  corresponde  no  littoral  opposto  a  enorme  bo- 
jaoça  do  cabo  Guardafui,  o  que  igualmente  se  nota  em  muitos  outros 
pontos  do  continente  africano. 

A  bahia  de  Lourenço  Marques  está  de  um  lado  em  relação  tom  a  sa- 
liência dos  Namaquas,  a  das  Baleias  com  o  cabo  das  Correntes  e  a  de  So- 
fala  com  o  cabo  Negro. 

Á  depressão  do  littoral  de  Benguella  oppõe-se,  na  contra-costa,  a  sa- 
liência de  Moçambique,  e  á  saliência  do  cabo  de  Lopo  Gonçalves  a  costa 
de  Melinde. 

Parece,  observa  M.  d'Avezac,  que  as  ondulações  de  um  eixo  com-* 
mum  determinaram  simultaneamente  estas  symetricas  configurações. 

O  mar  de  Guiné  está  todo  comprebendido  na  zona  equatorial  ao  N. 
da  linha  equinoccial,  mas  não  deixa  por  isso  de  receber  a  influencia  das 
aguas  dos  mares  glaciaes. 

É  indispensável,  pois,  examinar  as  correntes  maritimas  que  se  obser- 
vam no  mar  de  Guiné,  indicar  as  differenças  de  temperatura  e  assignar-lbes 
também  a  origem  e  direcção  principal.  Os  ventos  que  ali  reinam  merecem 
alem  d'isso  descripção  especial. 

Se  o  conhecimento  dos  ventos  e  das  correntes  maritimas  é  necessá- 
rio para  o  nauta  seguir  uma  derrota  favorável  e  chegar  a  porto  de  salva- 
mento, o  medico  hygienista  não  pôde  dispensar  o  exame  de  taes  phe- 
nomenos  quando  se  propõe  avaliar  a  natureza  de  qualquer  clima. 

A  respeito  dos  ventos  e  correntes  do  mar  de  Guiné  temos  um  im- 
portante trabalho  do  distincto  oQicial  de  marinha  J.  C.  Brito  Capello. 
Ali  estão  designados  os  principaes  elementos  que  são  necessários  aos  pi- 
lotos que  frequentam  a  região  Guineana,  e  soccorremo-nos  também  a 
esse  substancioso  escripto  para  fallar  de  taes  phenomenos. 

íAo  N.  do  equador,  diz  o  sr.  Brito  Capello,  reina  o  vento  geral  NE., 
a  que  se  dá  também  o  nome  de  brizas. 

fNo  mez  de  dezembro  o  vento  é  muito  bonançoso  em  todo  o  mar  de 
Guiné,  principalmente  nas  proximidades  da  costa,  sendo  acompanhado  de 
trovoadas,  geralmente  do  quadrante  NE.  Em  janeiro,  n'esta  região,  o  vento 
já  é  mais  fraco,  e  ainda  mais  em  fevereiro ;  as  trovoadas  são  frequentes 
príDcipahnente  n*este  ultimo  mez. 

f  Eotre  o  equador  e  a  costa  de  Guiné  o  vento  sopra  geralmente  eníre 


56 

S.  e  SO.,  e  é  mais  fresco  n'esta  epocha  do  que  nos  mezes  de  janeiro  e  fe- 
vereiro. Ainda  se  notam  no  mar  de  Guiné  trovoadas  e  calmas  que  os 
acompanham,  principalmente  em  março,  estendendo-se  até  muito  ao  S. 
do  equador. 

f  Nos  mezes  de  agosto  e  setembro,  tanto  o  vento  geral  SE.  como  a 
monção  SO.,  e  os  ventos  SSO.  do  mar  de  Guiné  são  geralmente  frescos. 

cNo  estio  o  aquecimento  extraordinário  das  planuras  centraes  da 
África  determina  uma  corrente  ascendente  do  ar  que  sobre  ellas  a^ssenta, 
a  qual  não  só  impede  a  passagem  ao  geral  NE.,  mas  chama  a  si  o  ar  de 
regiões  que  lhes  ficam  bastante  remotas. » 

São  sufficientes  estas  informações  para  se  formar  idéa  das  correntes 
aéreas  da  região  Guineana  e  da  sua  intensidade.  A  força  com  que  ellas 
passam  sobre  as  ilhas  de  que  nos  occupámos,  e  as  brizas  que  se  estabele- 
cem junto  a  ellas  serão  examinadas  no  logar  competente. 

O  nosso  Gm  é  patentear  apenas  o  que  passa  por  mais  averiguado  e  é 
geralmente  admittido  por  auctoridades  competentes. 

«A  corrente  equatorial,  observa  o  sr.  Capello,  comp5e-se  de  todas  as 
aguas  que  ao  S.  do  mar  de  Guiné  correm  mais  ou  menos  para  0.  e  atra- 
vessam o  Oceano  Atlântico,  proximamente  pela  zona  equatorial. 

cDa  espécie  de  golfo  que  Qca  entre  o  cabo  Negro  e  o  cabo  Lopo  Gon- 
çalves dirigem-sc  as  aguas  a  NO.  e  ONO.;  uma  porção  d'ellas,  a  mais  pró- 
xima da  costa,  toma  as  direcções  de  N.  o  NNO.  e  entra  no  golfo  dos  Ma- 
fras  por  entre  o  cabo  de  Lopo  Gonçalves  e  as  ilhas  de  Anno  Bom  e  S.  Tho- 
mè,  perdendo-se  no  fundo  do  golfo  com  a  corrente  de  Guiné ;  a  outra, 
a  mais  considerável,  continua  para  0.,  engrossando  cada  vez  mais,  e  con- 
stitue  a  corrente  equatorial  propriamente  dita. 

cA  corrente  de  Guiné,  continua  o  mesmo  escríptor,  compõe-se  de  to- 
das as  aguas  que  correm  mais  ou  menos  para  E.  pelo  lado  do  N.  da  cor- 
rente equatorial.  Esta  corrente,  segundo  as  estações,  encontra-se  mais  ou 
menos  a  O.,  assim  como  abrange  diversa  superfície  e  adquire  differentes 
graus  de  velocidade.  Penetra  no  mar  de  Guiné  entre  o  cabo  de  Palmas  e 
a  corrente  equatorial,  sitio  onde  apresenta  menor  largura  e  a  máxima  ve- 
locidade ;  corre  por  todo  o  mar  de  Guiné,  contornando  a  sua  costa  e  indo 
perder-se  no  golfo  dos  Mafras  de  encontro  ás  aguas  que  vem  da  costa 
de  Angola  e  do  Congo,  d'onde  parece  sair  por  uma  corrente  submarina, 
para  se  encorporar  na  corrente  equatorial.» 

Um  escríptor  hespanhol,  para  demonstrar  a  salubridade  relativa  das 
ilhas  do  golfo  dos  Mafras,  referiu-se  á  sua  posição  em  relação  aos  ventos  e 
ás  correntes  maritimas,  e  José  Joaquim  Lopes  de  Lima  não  admittíu  os 
argumentos  baseados  n*estas  observações ;  para  se  conhecer  de  que  lado 
está  a  verdade  não  podemos  deixar  de  expor  o  que  sé  tem  escrípto  com 


57 

resx)eito  a  tão  importante  assumpto.  É  por  isso  que  transcrevemos  alguns 
trechos  dos  livros  de  Alexandre  de  Castilho  e  de  Kerhallet. 

cAs  correntes  marítimas,  diz  Alexandre  de  Castilho,  denominam-se, 
em  geral,  polares/tropicaes  e  equatoriaes. 

<As  correntes  polares  saem  dos  poios  e  dirigem-se  para  o  equador, 
s^uiúdo  as  margens  occidentaes  dos  continentes;  as  tropicaes  vão  do 
equador  para  os  poios  e  percorrem  as  margens  orientaes  dos  continentes ; 
as  equinocciaes  correm  sob  o  equador,  do  nascente  para  o  poente.» 

A  corrente  marítima  denominada  equatorial  dirige-se  do  mar  de 
Guiné  para  a  costa  oriental  da  America  do  Sul.  N'ella  entram  um  ramo  da 
corrente  polar  do  N.  e  outro  da  corrente  polar  do  S.,  e  formam  sob  o  equa- 
dor uma  corrente  geral,  a  qual,  ao  avizinhar-se  da  costa  oriental  da  Ame- 
rica do  Sul,  divide-se  em  corrente  da  Guyana  e  corrente  do  Brazil. 

A  corrente  polar  do  N.,  approximando-se  da  costa  septentrional  da 
África  pela  altura  de  Serra  Leoa,  separa-se  em  dois  ramos,  um  dos  quaes 
se  acerca  da  costa  em  frente  do  cabo  das  Palmas,  atravessa  o  golfo  de 
Benim  e  vae  perder-se  do  golfo  dos  Mafras,  envolvendo  a  ilha  de  Fernão 
do  Pó,  c  a  corrente  polar  do  S.  dirige-se  para  NO.  ao  longo  da  costa  até. 
á  altura  do  cabo  de  Lopo  Gonçalves,  onde,  observa  Kerhallet,  uma  parte 
das  aguas  se  confunde  na  corrente  equatorial,  e  a  outra,  dirigindo-se 
para  N.  e  NNE.,  vae  engrossar  a  corrente  Guineana  propriamente  dita. 

A  corrente  polar  da  Africa  septentrional  passa  nas  alturas  da  Suécia, 
Escócia,  Irlanda,  França  e,  Portugal,  e,  chegando  ás  vizinhanças  do  cabo 
de  S.  Vicente,  separa-se  em  dois  ramos,  um  dos  quaes,  o  que  mais  nos 
importa  conhecer,  segue  para  o  S.,  abeirando-se  da  costa  Occidental  da 
Africa,  e,  seguindo  sempre  até  entrar  no  golfo  dos  Mafras,  rodeia  a  ilha  do 
Príncipe,  envolvendo-se  depois  na  corrente  equatorial. 

A  corrente  polar  do  S.  é  um  dos  ramos  da  impetuosa  corrente  que  se 
approxima  de  Moçambique  e  do  Porto  Natal  e  dobra  o  cabo  de  Boa  Espe- 
rança, dirigindo-se  depois  para  o  equador.  Não  é  tão  importante  como  a 
corrente  polar  do  N.  pelo  que  diz  respeito  ao  clima  dos  paizes  banhados 
pelas  aguas  do  mar  de  Guiné,  por  isso  indicámos  somente  sua  existência 
e  a  circumstancla  de  se  reunir  como  esta  á  corrente  equatorial,  envolvendo 
toda  a  ilha  de  Anno  Bom. 

Alem  das  três  correntes  geraes  de  que  falíamos,  ha  outras  especiaes 
do  mar  de  Guiné  e  que  tomam  os  nomes  das  terras  que  lhe  ficam  mais 
próximas. 

Entre  as  ilhas  do  Príncipe  e  de  S.  Thomé,  diz  mr.  Kerhallet,  a  corrente 
mais  geral  diríge-se  para  NNE.  e  N.  Para  O.  da  ilha  do  Príncipe  e  no  seu 
paraUelo  encontra-se  ella  sempre  pelo  ENE.;  mas  a  E.,  entre  a  ilha  do 
Príocipe  e  a  costa  do  Gabão,  a  direcção  ordinariamente  é  NNE. 


88 

As  correntes  marítimas,  cuja  influencia  nos  climas  insulares  é  unani- 
memente admittida,  não  estão  em  relação  com  a  direcção  dos  ventos  que 
reinam  no  mar  de  Guiné.  Notam-se  em  geral  os  ventos  de  SO.  que  predo- 
minam a  maior  parte  do  anno,  os  de  SSO.  e  SSE.  na  parte  meridional,  ap- 
parjçcendo  os  do  S.  na  altura  e  proximidade  do  cabo  Lopo  Gonçalves. 
O  bermatan  sopra  de  dezembro  a  fevereiro  na  zona  septentrional  do  mar 
de  Guiné,  sendo  tão  dferteiro  como  o  de  SSO.,  que  é  frequente  entre  o 
archipelago  e  a  costa  do  Gabão. 

Não  damos  maior  desenvolvimento  a  este  assumpto,  porque  temos  de 
o  analysar  em  outras  secções  do  nosso  trabalho.  Deixámos,  porém,  con- 
signados alguns  factos  mais  importantes  que  se  referem  ás  correntes  po- 
lares e  á  extensão  do  mar  de  Guiné,  o  qual,  como  se  vé  do  mappa  me- 
dico-geographico  que  vae  junto,  não  é  formado  somente,  como  gerahnente 
se  diz,  pelos  golfos  de  Benim  e  dos  Mafras,  mas  é  muito  mais  largo  e 
extenso  do  que  a  superficie  doestes  golfos;  e  são  também  numerosas 
as  povoações  que  se  levantam  nas  proximidades  da  costa  banhada  pelas 
aguas  d'aquelle  mar,  a  qual,  segundo  Alexandre  de  Castilho,  tem  2:481  a 
2:537  kilomelros.  Não  é  portanto  nosso  intento  examinar  os  climas  de  re- 
giões tão  diversas,  e  por  isso  nos  limitámos  á  zona  equatorial  africana, 
de  que  mais  especiaUnente  nos  occupámos. 


CAPITULO  11 

Desoripção  das  ilhaa  do  mar  de  Quiaé, 

enumeração  das  terras  que  se  aoliam  sob  o  equador, 

e  distinoção  entre  olima  equatorial  e  tropioal 

I.  libas  4o  nar  de  Gninè.  —  1."^  Ilhas  altas:  Ilha  ile  Anoo  Bon.  ~  Ilha  de  S.  Tboné.-  Ilha  4o 
hiacipe.  — Uha  de  Feraâo  do  Pó. — !.®  Ilhas  baixas:  Ilha  de  Lopo  6oB(aUes.— Ilha  do  Corisco.  — 
lUej,  Corisco  peqaeno  oo  dos  Hosqoilos.-Ilha  BraAca.~Ilha  de  Hondoleh.-Ilba  de  Cnnuio.— 3.^  Qua- 
dros eslatisUco-geographicos ;  ilhas  altas;  classifica^  das  ilhas  altas;  ilhas  baixas.— II.  Enume- 
ração das  terras  qae  se  acham  sob  o  equador.  —  1.^  Africa  equatorial:  Ilha  das  Ro- 
las; nargem  esquerda  do  rio  do  Gabão;  vasla  região  inexplorada  desde  o  paiz  de  Okanda  até  ás 
terras  altas  ao  oceidente  do  snilaoado  de  Zanzibar;  commnnicaçâo  entre  loçambique  e  Angola. — 
2.^  America  equatorial:  Albemarle  e  as  ilhas  Galapagos.— Republica  do  Equador— Republica  de 
loTa  firanada.— Terrenos  banhados  por  difereotes  ainentes  da  margem  esquerda  do  rio  Amazo- 
Bu;  ilhas  da  foz  do  Amazonas.  —  3.°  Oceauia  equatorial:  Ilha  Batoe,  lintáo,  Battou  ou  Heotáo  e 
as  ilhas  ao  0.  de  Sumatra.  —  Ilha  de  Sumatra.  —  Ilha  de  Sumatra  descripta  por  João  de  Barroc.— 
Tersos  de  Luiz  de  Camões  a  respeito  d  fóta  ilha.—  Nha  Linga  e  o  archípolago  Houv-Liugga.— Ilha 
Liuga,  segundo  o  dicdouario  de  Larousse. -^  Ilha  de  Borueo.  — ilha  de  Borpeo,  segundo  Joáo  de 
Barros  e  Luiz  de  Camões.  — Ilha  Celehes.  —  lidere  e  o  arcbipelago  das  Holueas.  —  Tersos  de  Ga- 
mões a  respeito  de  Tidore  e  Temate.— Ilha  Ternate.— Volclo  de  Temate,  descripto  por  Joio  de  Bar- 
ros.—Ilha  Geilolo  (Dgilolo  ou  Halmaheira).  —  Amboíno.  —  Ilhas  de  Banda  por  ^oio  it  Barros;  ilhas 
loiucas,  por  Joio  de  Barros  e  Diogo  do  Couto;  ilha  Waigiou  e  a  Nova  Guiné. — III.  Dístiocfio 
entre  clima  equatorial  e  tropical.  —  lappas  comparativos;  syslema  das  linhas  isothermicas; 
classificação  dos  climas,  segundo  I.  LeTj.— lelhor  classificação  para  a  ethnographía  das  emigrações, 
segundo  o  visconde  de  PaÍTa  lanso;  distribuição  astronómica  dos  climas;  classificação  mais  simpli- 
ficada, seguudo  os  graus  de  latitude. 

I 

• 

nhãs  do  mar  de  Quino 

As  ilhas  dos  golfos  de  Benim  e  dos  Mafras  podem  classificar-se  em 
ilhas  altas  e  ilhas  baixas  ou  rasas.  No  primeiro  caso  estão  as  do  golfo  dos 
Mafras,  e  do  segundo  as  que  ficam  próximas  á  costa,  parecendo  algumas 
d'ellas  fazer  parte  da  terra  firme,  mostrando-se  umas  e  outras  dentro  das 
bahias  da  costa  do  mar  de  Guiné,  no  interior  de  alguns  rios.  Não  intentá- 
mos, porém,  descrever  senão  as  ilhas  que  são  banhadas  pelas  aguas  doeste 
mar,  occupando-nos  d'aquellas  que  se  alinl)am  ao  mesmo  rumo  jcom  o 
monte  dos  Camarões  e  das  que  estão  nas  proximidades  da  costa  do 


60 

mar  de  Guiné  desde  o  cabo  de  Lopo  Gonçalves  alé  á  costa  do  lerrilo- 
rio  de  S.  João  Baptista  de  Ajuda,  não  nos  referindo  ás  que  ficam  dentro 
das  bacias  dos  rios. 

As  ilhas  do  golfo  dos  Mafras  e  a  costa  do  mar  de  Guiné  foram  desco- 
bertas nos  annos  de  1470  a  1486,  estando  hoje  plenamente  demonstrada 
a  prioridade  doestes  descobrimetatos  pelos  portuguezes.  Não  é  indiffe- 
rente,  para  o  fim  a  que  nos  propomos  chegar,  o  conhecimento  das  epo- 
chas  em  que  cada  região  foi  habitada  pela  primeira  vez,  e  tudo  o  que  diz 
respeito  aos  povos  que  de  preferencia  as  habitaram.  A  respeito  das  ilhas 
do  golfo  dos  Mafras  e  da  costa  de  Guiné  transcrevemos,  para  elucidar  este 
assumpto,  um  trecho  do  livro  do  incansável  e  erudito  H.  Major,  a  quem 
Portugal  deve  o  mais  relevante  serviço  pela  publicação  do  trabalho  a  que 
nos  referimos  e  de  que  nos  occuparemos  em  logar  competente.  Cingimo- 
nos  á  traducção  portugueza  d^aquelle  escripto,  que  nos  foi  obsequiosa- 
mente mostrada  para  obtermos  as  informações  que  desejávamos. 

Eis-aqui  o  que  o  sábio  inglez  escreveu  a  respeito  do  descobrimento 
da  região  Guineana,  que  faz  objecto  d'este  livro : 

cHa  no  globo  de  Behaim  uma  legenda  de  muita  importância  para  esta 
parte  da  nossa  narrativa.  Por  baixo  das  ilhas  do  Príncipe  e  S.  Thomé  vem 
lá  inscripta  a  declaração  seguinte:  «Estas  ilhas  foram  descobertas  pelos 
navios  de  El-Rei  de  Portugal  em  1484.  Achámos  todas  desertas,  não  ha- 
via senão  bosques  e  aves.  O  rei  de  Portugal  manda  para  lá  todos  os  annos 
os  condemnados  á  morte,  tanto  homens  como  mulheres,  para  cultivar  a 
terra  e  sustentarem-se  do  que  ella  produz,  a  fim  de  poderem  aquellas 
ilhas  ser  habitadas  por  portuguezes.  É  primavera  lá  quando  é  inverno  na 
Europa;  as  aves  e  os  animaes  são  todos  diíTerentes  dos  nossos.  Ha  lá 
grande  abundância  de  âmbar,  chamado  em  Portugal  algalia.i^  Ora  Barros 
e  outros  dão  estas  ilhas  como  descobertas  no  tempo  de  D.  AÍTonso  (antes 
de  1481),  Galvão  diz  1471  ou  1472,  mas  em  geral  não  acho  que  elle  me- 
reça muita  confiança  quanto  a  datas.  Barros  exprime-se  nos  seguintes 
termos:  «Também  se  descobriu  a  ilha  de  S.  Thomé,  Anno  Bom,  e  a  do 
Príncipe  por  mandado  de  El-Rei  D.  Affonso,  e  outras^  das  quaes  não  tra- 
támos em  particular  por  não  sabermos  quando  e  por  que  capitães  foram 
descobertas;  porém  sabemos  pela  voz  commum  serem  mais  descobertas 
no  tempo  d'este  rei  do  que  temos  posto  por  escripto. 

«É  por  conseguinte  impossível  dizer,  attentas  taes  circumstancias,  se  na 
viagem  de  Behaim  em  1484  estas  ilhas  foram  descobertas  pela  primeira 
ou  pela  segunda  vez.  Comtudo  crê-se  geralmente,  e  com  muita  probabili- 
dade, que  João  de  Santarém  e  Pedro  de  Escobar,  ambos  cavnileiros  da 
casa  de  El-Rei,  foram  explonar  a  costa  alem  do  cabo  das  Palmas  era  1470 
por  conta  de  Fernão  Gomes,  levando  por  pilotos  Martim  Fernandes,  de 


64 

• 

Lisboa»  e  Álvaro  Esteves,  de  Lagos,  e  que,  apesar  das  calmarias,  ventos 
do  sul,  e  correntes  do  norte,  frequentes  n'aquelle  golfo,  correram  toda  a 
costa  do  reino  de  Benim,  e  a  21  de  dezembro,  dia  de  S.  Tbomé,  avista- 
ram uma  ilha  alta  coberta  de  arvoredo,  a  que  pozeram  o  nome  d'aquelle 
apostolo.  No  primeiro  de  janeiro  de  1471,  suppõe-se  que  foram  ter  a  uma 
ilha  mais  pequena,  a  que  deram  o  nome  de  Anno  Bom,  em  memoria  do 
feliz  presagio  por  ser  descoberta  n'aquelle  dia.  Ebom  anno  foi,  na  verdade, 
porque  n'esse  mesmo  mez  de  janeiro  fizeram  o  primeiro  resgate  de  oiro  na 
costa  do  Oiro,  na  aldeia  de  Sama,  entre  o  cabo  das  Três  Pontas  e  a  Mina, 
para  onde  as  correntes  e  brisas  do  sul  os  levaram,  depois  de  terem  avis- 
tado a  terra  firme  do  cabo  de  Lopo  Gonçalves.  N'esta  mesma  viagem 
descobriram  a  ilha  do  Príncipe,  mas  não  se  sabe  em  que  dia.  Foi  prova- 
velmente na  passagem  do  cabo  de  Lopo  Gonçalves  para  a  costa  do  Oiro 
em  1 47 1 ;  e  como  deram  originariamente  á  ilha  o  nome  do  Santo  Antão  ou 
Santo  António,  podemos  inferir  que  foi  descoberta  a  1 7  de  janeiro,  que 
é  o  dia  da  commemoração  d'aquelle  santo.  Depois  foi -lhe  dado  o  nome 
de  ilha  do  Príncipe,  porque  o  filho  mais  velho  de  El-Rei  tinha  consignado 
para  seu  proprío  apanágio  o  imposto  dos  assucares  produzidos  na  ilba. 
Não  temos  provas,  que  demonstrem  se  a  ilha  Formosa,  descoberta  por 
Fernando  Pó,  fidalgo  da  casa  de  El-Rei,  e  cujo  nome  ella  depois  recebeu, 
o  foi  n'esta  viagem,  ou,  como  alguns  suppozeram,  em  1486,  quando, 
como  logo  veremos,  João  Affonso  de  Aveiro  foi  mandado  por  El-Rei 
D.  João  II  em  missão  especial  ao  rei  de  Benim  e  de  cuja  viagem  veíu  a  Por- 
tugal a  primeira  pimenta  africana.  Como  quer  que  seja,  parece,  comtudo, 
que  foi  só  por  occasião  da  viagem  de  Diogo  Cam  que  o  governo  teve, 
pela  primeira  vez,  noticia  das  ilhas  e  se  lhes  deu  alguma  importância.  Ha, 
porém,  outro  ponto  a  respeito  das  mesmas  ilhas,  que  requer  attenção.  Já 
se  ha  de  ter  notado  que  nas  viagens  passadas  o  descobrimento  de  ilhas  a 
distancia  do  continente  era  devido  aos  temporaes  que  arrojavam  os  na- 
vios para  ellas. 

«Assim  foi  o  descobrimento  da  ilha  de  Porto  Santo  por  Zarco  e  o  das 
ilbas  de  Cabo  Verde  por  António  de  Nolli  &  Diogo  Gomes;  mas  no  caso 
presente  temos  ilhas,  como  a  de  S.  Thomé,  a  mais  de  cincoenta  léguas 
distante  do  continente,  e  a  de  Anno  Bom,  a  mais  de  oitenta,  descobertas 
sem  intervenção  de  temporal  algum  de  que  tenhamos  noticia. » 

«.«— Ilhas  altM 

Ilha  de  Aono  Bom.— Jaz  esta  ilha  em  l""  2&  30'^  de  latitude  S.  e  S""  37'  de 
longitude  E.  de  Greenwich,  203*", 7  da  ilha  de  S.  Thomé  ao  rumo  SO.  Tem 
om  lago  de  agua  doce  no  centro  da  região  do  N.,  cerca  de  500  metros  de 


62 

* 

altura,  cuja  profundidade  é  de  8  metrofs  e  a  circumferencia  anda  por 
1:389.  É  nfíontanhosa,  e  qnasi  toda  arborisada,  elevando-se  o  principal 
monte  approximadamente  a  1  kilometro  acima  do  nivel  do  mar. 

Esta  ilha  é  a  mais  meridional  do  archipelago  de  Guiné  e  também  a 
mais  afastada  da  costa  occidental  da  África. 

Ê  justo  nomearem-se  as  três  rochas  que  ficam  ao  S.  da  ilha,  ás  qoaes, 
como  diz  M.  d'Avezac,  por  mna  feliz  lembrança,  pozeram  os  nomes  dos 
descobridores  das  ilhas  do  gdtío  dos  Mafras,  perpetuando-se  assim  a  me- 
moria de  Pêro  de  Escobar,  Jo3o  de  Santarém  e  Fernão  do  Pó. 

Acerca  do  dia  em  que  foi  descoberta  esta  ilha  divergem  os  escripto- 
res,  dizettdo-se  no  diccionario  de  Larousse  que  foi  no  anno  de  1473. 

O  que  passa  por  mais  averiguado  é  que  a  ilha  de  Anno  Bom  fora  des- 
coberta no  primeiro  dia  do  anno  de  1471;  ed'aqui  nasceu  a  denominação 
que  Bie  deram  os  navegadores  portuguezes,  eque  os  ínglezes,  sem  rasão 
plamsivel,  transformaram  em  tAnna  bona»,  e  alguns  escriptores  nao  du- 
vidaram até  dizer  Anna  boa ! 

Segundo  M.  d'Avezac,  a  ilha  de  Anno  Bom  tem  7*^,4  de  NNO.  a  SSE. 
e  de  largura  nao  excede  2^,8.  A  superíicie  quadrada  é  de  20  kilometros 
approxtmadamente.  A  povoação  principal  fica  ao  N.,  occupando  uma  área 
de  cerca  de  594  metros  de  comprimento  e  198  de  largura.  A  pouca  dis- 
tancia d'eHa  desagua  no  mar  ura  rio,  onde  pôde  fazer-se  aguada,  empre- 
gando-se  para  isso  barris  de  quinto,  os  quaes  se  conduzem  a  reboque, 
porque  a  foí  dof  rio  tão  permítte  a  entrada  de  escaleres.  Ao  S.  despeja 
o  rio  denominado  Agua  Grande,  e,  segundo  diz  Cunha  Mattos,  ha  na  ilha 
uma  ribeira  chamada  Bôbõ,  de  cuja  agua  só  bebem  os  ecclesiasticos  e  de 
neiihnm  modo  os  seculares.  Alem  d'estes  rios  ha  dififerentes  riachos,  mas 
S3o  poucas  as  correntes  de  agua  em  relação  ás  da  ilha  do  Príncipe  ou  de 
S.  Thomé. 

A  ílh«  tem  madeiras  de  construcçSo,  e  é  muito  arborisada.  Dão-se 
ali  bem  as  laranjeiras,  tamarindeiros,  limoeiros,  coqueiros,  goyabeiras, 
etc. 

Avlsta-se  em  tempo  claro  á  distancia  de  83  kilometros  do  mar,  e  está 
a  300  do  cabo  de  Lopo  Gonçalves. 

A  corrente  marítima  equatorial  approxima-se  da  ilha  de  Anno  Bom  e 
parece  que  a  envolve.  Os  ventos,  segundo  a  informação  de  M.  Kerhallet, 
são  os  de  S.  e  SE. 

N'uma  das  principaes  publicações  portuguezas  da  actualidade  diz-se  a 
respeito  da  ilha  de  Anno  Bom  o  seguinte: 

kAnno  Bom. — liba  no  golfo  de  BiaflFra  (Africa  occidental)  a  1**  24'  de  la- 
lílade  S.  e !  4®  46'  de  longitude  E.  Tem  7  kilometros  de  comprimento  e  €3(5 
de  Isrgura».  fileva-se  a  uma  altura  de  ^0  metros  acima  do  Oceano.  tG&r 


63 

ma  saadavel».  A  popnlaçlo  é  qaasi  anicamente  eompôsla  de  Degffos  teflí 
numero  de  3:000»,  que  se  entregam  á  cultura  da  mandioca,  canna  de 
assQcar  e  algodão,  sendo  importante  a  creação  de  porcos,  caríyeiros  e 
cabras.» 

N3o  sabemos  a  que  anno  se  referem  estas  informações,  mas  nSo  no$ 
consta  que  se  procedesse  a  qualquer  recenseamento,  nem  que  se  estudas- 
sem as  condições  de  salubridade  de  modo  que  possa  affirmar-to  que  o 
clima  é  saudável.  O  que  é  certo  é  que  já  em  1848  M.  d'Avezac  ataTiava 
em  3:000  os  habitantes  da  ilha  de  Anno  Bom.  No  diccionario  de  Larotts^e, 
volume  publicado  em  1866,  dí^-se  também  que  são  3:000,  e  agota  em 
1876,  em  publicação  corrente,  admitte-se  o  mesmo  numero  t  Estas  infor- 
mações passam  de  uns  escriptores  para  outros,  mas  não  sehreiíi  para  se 
calcular  o  movimento  de  população,  nem  o  estado  da  agricultura  da  itfaál 
de  Anno  Bom  é  conhecido. 

Ilha  de  S.  Tkemè.— Está  lançada  ao  rumo  SSO.-NNE.  no  golfo  Útís 
Mafras  e  e$tende-se  de  5*^,5  a  55*^,5  ao  N.  do  equador,  tendo  n'esta  di- 
recção 50  kilometros  approximadamente  em  linha  recta,  e  atarga-sè  de 
6®  27'  a  6®  45'  ao  oriente  do  meridiano  de  Greenwich,  cõntando-se  33*^,3 
n'este  sentido. 

Do  lado  do  N.  termina  n*uma  costa  de  cerca  de  14  kilometros  de  6i- 
tensão  e  no  do  S.  tem  apenas  1^,6.  Forma,  pois,  a  ilha  de  S.  Thomé  ntiia 
superficie  de  926  kilometros  quadrados,  segundo  Lopes  de  Lima,  na  qual 
se  encontram  montes  altos,  climas  differentes,  florestas  notáveis,  rios  cau- 
dalosos e  uma  fertilidade  verdadeiramente  extraordinária. 

A  ilha  de  S.  Thomé  abunda  na  verdade  em  alto-phnos  de  600  é 
1:200  metros  de  altitude,  tem  muitas  várzeas,  bastantes  montes,  umn[ 
grande  serra  e  picos  de  formas  phantasticas,  como  o  de  Anna  de  Cbafve$, 
Cão  Grande,  Cão  Pequeno,  étc.  Os  terrenos  estão,  pois,  na  súa  tãiiMá 
parte,  acima  de  400  metros  de  altitude.  As  fazendas  que  actualmente  áé 
acham  abertas  nos  legares  mais  elevados  são  muitas,  e  ficam  cerca  de* 
800  a  1:000  metros  de  elevação,  e  ha  também  uma  graúde  área,  na  altura 
de  1:200  a  1:500  metros,  susceptível  de  ser  cultivada. 

Tomando  para  altura  media  geral  1 :200  metros,  o  que  nío  è  dema- 
^ado,  as  distancias  a  percorrer  na  ilha  de  N.  a  S.  e  de  E.  a  0.  augmen- 
tam  alguns  kilometros,  podendo  calcular-se,  n'este  caso,  em  mais  xaú 
quinto,  do  que  se  a  considerássemos  uma  superficie  plana. 

S.  Thomé,  diz  o  auctor  de  um  artigo  publicado  n'uma  das  obras  fran- 
cezas  mais  nnportantes,  é  uma  ilha  portugueza  no  golfo  de  Guiné,  a  200 
kilometros  NO.  do  cabo  Lopes,  ficando  por  O®  27'  de  latitude  N.  é  4*  24^ 
de  longitude  E.  Tem  2:000  kilometros  quadrados.  A  capital  teín  2:000 


64 

habitantes,  e  ahi  reside  am  bispo.  Foi  descoberta  em  1471  por  YascoD- 
cellos. 

Alem  d'estas  informações  léem-se  outras  na  obra  a  que  nos  referimos, 
e  que  julgámos  conveniente  reproduzir,  a  fim  de  que  se  avalie  como  os 
estrangeiros  descrevem  as  nossas  colónias. 

«S.  Tbomé  é  uma  ilha  do  mar  de  Guiné,  135  kilometros  a  SO.  da 
ilha  do  Príncipe  e  a  iU\i  a  NE.  da  de  Anno  Bom,  entre  0°  2'  e  O"  30' 
de  latitude  N.,  4^  22'  e  4^  31'  de  longitude.  Tem  51  \8  no  seu  maior 
comprimento,  medido  desde  a  ponta  Figo,  Morro  Carregado  e  Morro-Pei- 
xe,  collocados  todos  três  sobre  a  mesma  linha  ao  N.  até  á  ponta  Balea  ao 
S.,  e  35^,1  na  sua  maior  largura.  A  superficie  é  de  929  a  941  kilo- 
metros quadrados.  A  extensão  da  costa  é  de  I38S9  a  148^,1.  Nas  proxi- 
midades ha  differentes  ilhéus.» 

cA  ilha,  diz  M.  d'Avezac,  é  geralmente  montanhosa.  Para  o  lado  da 
costa  Occidental  levanta-se  um  pico  muito  alto  cheio  de  arvoredo  até  ao 
cume,  sendo  tão  copado  e  unido,  que  nao  dá  fácil  paSsagem.  A  encosta  é 
escarpada  e  tortuosa,  e  por  isso  a  subida  a  tal  monte  é  muito  arriscada. 
O  cume  está  coberto  de  neve  que  resiste  á  acção  do  sol  equatorial,  e  de  to- 
dos os  lados  do  monte  descem  para  o  mar  rios  consideráveis.» 

^  ilha  de  S.  Thomé  não  tem  2:000  kilometros  quadrados,  nem  nos 
seus  montes  mais  elevados  ha  neve.  Não  acceitámos  também  a  opinião 
d'aquelles  que  calculam  a  sua  superficie  em  cerca  de  900  kilometros 
quadrados,  dando-lhe  50  de  comprimento  e  30  de  largura. 

A  ilha  pôde  dizer-se  sem  exagero  que  tem  mais  de  900  kilometros 
quadrados  de  superficie  susceptível  de  cultura.  Imagine-se  a  superficie 
de  uma  pyramide  truncada,  cuja  área  da  base  é  de  926  kilometros  qua- 
drados e  a  altura  de  1:200  metros.  Para  fazer  idéa  da  extensão  de  N.  a  S. 
ou  de  E.  a  O.,  basta  calcular  as  hypothenusas  dos  triângulos  formados  por 
uma  perpendicular  de  1:200  metros  ao  meio  de  uma  recta  de  50  kilome- 
tros tirada  de  N.  a  S.  e  ao  centro  de  outra  recta  de  30  kilometros,  traçada 
de  E.  a  O.  Mas  são  apesar  de  tudo  cálculos  approximados,  e  a  superficie 
da  ilha  de  S.  Thomé  é  augmentada  ou  diminuida,  segundo  a  vontade  dos 
escriptores.  Temos  presente  um  escripto,  que  citámos  por  sabermos  que 
anda  nas  mãos  dos  estudantes  de  geographia,  onde  se  lé : 

€llha  de  S.  Thomé.  Tem  44  kilometros  de  comprido,  5,16  e  32  de 
largo,  e  166  de  superficie  quadrada.  Calcula-se  a  sua  população  em  8:000 
habitantes,  48  por  kilometro  quadrado.  Tem  alguns  edificios  bons,  como 
são:  Sé,  igreja  da  Misericórdia,  da  Madre  de  Deus,  casas  do  governo, 
alfandega  e  camará  municipal.  Não  é  desagradável  o  aspecto  do  paíz. 
Seus  montes  são  basalticos,  altos  e  cónicos;  um  d'elles  avista-se  a  166^,6 
de  distancia  por  ter  1:980  metros  de  altura.  Vai  sendo  mais  sadio  o  seu 


65 

dima.  Era  dt antes  muito  quente  e  desde  setembro  a  março  (estação  das 
chovas)  muito  doentio,  i 

Eis-aqui  o  que  se  escreveu  em  4872,  a  respeito  da  ilha  de  S.  Thomé, 
6  admirâmo-DOS  de  que  a  emigração  nãe  se  dirija  para  este  o  para  outros 
paizes  da  Africa  portugueza !  I 

A  posição  relativa  da  ilha  de  S.  Thomé,  na  costa  occidenlal  de  Africa, 
éexcellente.  É  por  assim  dizer  um  ameno  e  delicioso  oásis  no  meio 
da  vastidão  do  mar  de  Guiné;  os  rios  levam  em  grande  parte  aguas  lím- 
pidas e  potáveis,  são  mimosos  e  agradáveis  os  fructos  naturaes  ou  acli- 
mados»  e  no  interior  ha  logares  pittorescos  e  de  suave  temperatura. 

Dista  a  ilha  de  S.  Thomé  da  sua  irmã  mais  pequena  i  60^,6,  de  porto 
a  porto,  da  de  S.  Thíago  4:129*^,9,  da  da  Madeira,  sua  rival  no  Oceano 
Atlântico,  6:352^,3,  e,  finalmente,  da  nobre  e  antiga  cidade  de  Lisboa 
7:31 5\4. 

A  ilha  da  Madeira,  tão  africana  como  a  de  S.  Thomé,  só  lhe  tem 
a  vantagem  de  estar  no  extremo  N.  da  Africa,  perto  dos  grandes  centros 
civilisados,  mas  não  é  mais  fértil,  nem  mais  pittoresca,  nem  mais  abun- 
dante em  variados  prodoctos  agrícolas  ou  commerciaes,  em  boas  aguas 
00  fructas. 

Um  vapor  que  navegue  22'',2  por  hora  pôde  fazer  a  viagem  entre 
Lisboa  e  a  ilha  de  S.  Thomé  em  treze  dias  pouco  mais  ou  menos,  e 
para  chegar  em  dezeseis  seria  suíficiente  que  navegasse  apenas  1 8^,5  em 
cada  hora. 

O  mar  que  separa  a  ilha  de  S.  Thomé  do  Gabão  mede  194^,4;  para  0. 
e  SO.  não  se  encontram  ilhas  nem  terra  firme.  Ao  S.  da  ilha  fica  o  Ambriz 
a  1:009'',3,  Loanda,  capital  do  reino  de  Angola,  a  1:lll\2,  Benguella 
a  1:529^,7,  e,  finalmente,  a  amena,  salubre  e  joven  villa  de  Mossamedes 
ai:885\3. 

Do  arcbipelago  de  Gabo  Verde  para  a  ilha  de  S.  Thomé  conta-se  a 
maior  extensão  de  mar,  se  não  se  quizer  tocar  em  alguns  pontos  da  costa, 
como  Serra  Leoa,  cabo  das  Palmas,  etc.  Pela  mesma  distancia  fica  o  Se- 
negal e  a  Guiné  portogoeza  de  Cabo  Verde.  Do  estabelecimento  de 
Ajuda,  na  costa  Occidental  do  golfo  de  Benim,  contam-se  apenas  cerca  de 
787M. 

A  posição  geographica  da  ilha  de  S.  Thomé,  absoluta  e  relativa,  dá-lhe 
grandes  vantagens.  Para  o  demonstrar  basta  dizer  que  esta  ilha  tem  pro- 
gredido, não  obstante  as  muitas  difiiculdades  por  que  tem  passado.  Aban- 
donaram-na  os  habitantes,  e  por  espaço  de  um  século  a  ilha  do  Príncipe 
foi  a  capital  da  província ;  mas  era  sempre  mais  ou  menos  explorada  e 
procurada  pelos  navegantes,  que  faziam  ali  boa  aguada  e  recebiam  man- 
timentos e  refrescos.  É  todavia  certo  que  a  emigração  d'aquelles  povos  e  a 


66 

transferencia  da  capital  concorreu  para  o  atrazo  da  j(ba,  que  teve  i^na  cul- 
tura insignificante. 

Âpezar  do  que  temos  dito  em  relação  a  esta  ilha,  quer  seja  relativo  ao 
seu  commercio  e  melhoramentos,  quer  á  salubridade,  não  tem  faltado 
quem  deseje  ir  governal-a  e  já  era  bem  considerada  por  Camões,  coino  se 
vedo  trecho  seguinte: 

O  mar  nas  praias  notas,  que  ali  temos. 
Ficou,  co*a  ilha  illustre  que  tomou 
O  nome  d^hum,  que  o  lado  a  Deus  tocou. 
(CamõeSy  canto  v,  estancia  xu.) 

A  ilha  de  S.  Thomé  será  para  as  regiões  da  Africa  equatorial  o  que 
é  a  ilha  da  Madeira  para  os  paizes  da  Europa,  Mossamedqs  para  as  ter- 
ras tropicaes  do  occidente,  e  Lourenço  Marques  para  as  do  oriente. 

A  ilha  de  S.  Thomé  perderá  a  fama  de  insalubre  logo  que  a  agricul- 
tura se  desenvolva  por  toda  a  parte  e  se  levantem  povoações  nos  a|to- 
pl^ipos,  ficando  no  litoral  apenas  as  casaç  conunerciaes  e  a  alfandega. 
Não  o  temos  feito  até  hoje,  porque  a  colonisação  da  Africa  portugueza 
tem  sido  morosa  e  dirigida  sob  vistas  muito  limitadas. 

Ilha  do  Príncipe.  —Demora  em  4**  37'  de  latitude  N.  e  46^  8'  de  longi- 
tude E.  ou  a  130  kilometros  da  ilha  de  S.  Thomé  e  a  185  da  de  Fernão  do 
Pó.  Pela  fertilidade  dos  terrenos  e  sua  posição  pôde  sair  do  abatimento 
em  que  se  encontra,  mas  é  necessário  acudir-lhe  quanto  antes  com  pro- 
videncias promptas  e  bem  pensadas. 

Ha  escriptores  francezes  que  lhe  deram  un[^a  população  de  10:000 
ahnas,  quando  no  anno  en^  que  se  fazia  tal  pubUcação  (1874)  apenas  n^ 
ilha  do  Príncipe  havia  2:251  habitantes  I 

Mas  não  admira  que  um  escriptor  estrangeiro  apresente  taes  estatísti- 
cas, quando  n'um  livro  que  serve  para  estudo  nas  aulas  de  instrucção  pri- 
marias se  nos  depara  o  segqinte:  «i  ilha  do  Prindpe  fica  de  111  kilometros 
(20  legoas  marítimas)  ao  NE.  de  S.  Thomé.  Tem  33  kilometros  de  com- 
prido, 22  de  maior  largura  e  134  de  superfície  quadrada.  Calculasse  a 
sua  população  em  7:831  habitantes  (anno  de  1872),  68  por  kiUmetro 
quadrado.  Sua.  capital  é  a  linda  cidade  de  Santo  António.  O  paiz  é  alto 
na  paxte  meridional,  baixo  no  resto.  Tem  muito  arvoredo,  muita  verdura 
e  abundância  de  agua  doce  (300  ribeiras  tj.  O  seu  solo,  em  parte  vulcâ- 
nico, é  muito  fértil,  e  produz  as  fructas  intertropicaes.  O  seu  clima  i  mais 
sadio  que  o  de  S.  Thoméi>. 

Desde  N.  a  S.  ha  cerca  de  17  kilometros  da  ponta  das  Burras  até  i 
ponta  Negra,  variando  a  largura  entr^  9  a  1 4  kilometros. 


g7 

A  superQcie  ()a  j|(ia,  sçgmido  se  lé  ^iq  vários  escríptos,  è  de  7á  mi- 
lhas quadradas,  isto  é,  346^9  quadrados.  M.  d^Avezac  dá-lhe  17S5  de 
comprimento  de  N.  a  S.  e  9^,^  de  largura  medis»  de  E.  a  0.,  e  Lopes  de 
Lima  reputa-lhe  4e  14^>8  9  par^  mais  larga. 

Ha  quem  avalie  a  superQcie  em  125  kilometros  quadrados,  o  que  não 
corresponde  ao  resultado  apresentado  pelos  outros  escriptores.  Não  falta 
também  quem  aífirme  que  a  puaior  largura  da  iiba  é  de  13  kilometros  e 
a  superfície  184  kilometros  quadrados,  sendo  a  sua  distancia  á  cidade  de 
S.  Tbomé  de  {44. 

Não  pode  verifícar-se  um  calculo  doesta  ordem  sem  trabalhos  topogra- 
pbicos,  e  na  carência  d'elles  limitápao-nos  a  expor  o  que  é  mais  corrente. 

Da  ilba  do  Príncipe  disse  l/)pes  de  Lima  nos  seus  Ensaios  o  seguinte : 

cMenos  abastada  em  productos  naturaes  que  a  ubérrima  S.  Tbomé, 
avantaja-se  coqitudo  9  ilba  4q  Pnocipe  pelo  movimento  superior  do  seu 
commercio  externo:  ha  n.esta  ipa^ís  qumerosos,  e  ricos  negociantes,  e  ca- 
pitalistas; são  melhores  q^  seus  portos,  e  mais  vizinhos  ao  continente  afri- 
cano ;  e  por  i$so  mais  procurados :  pQftanto  deade  o  século  xvii  tem  ella 
sido  sempre  o  principal  entreposto  do  commercio  da  Europa  e  America 
com  os  portos  de  —Lopo  Gonçalves,  rio  dos  Camarões,  Gabão,  Calabar, 
Oére,  Bepim  e  Ajuda — e  pea^o  com  a  ilba  de  S.  Tbomé:  esta  affluencía 
de  trato  diminuiu  pmitissioM)  (|epois  do  ^ratado  de  1810,  e  ainda  mais  de- 
pois da  separação  do  BT^il :  era  mister  aprender  a  dar  novo  rumo  aos 
capitães ;  ^  psta  trao^ic^o  forçada  produspíu,  como  era  de  esperar,  um  pa- 
roxismo mercantil :  nias  em  Qm  qs  capitães  começaram  a  acordar  do  le- 
tbargo  e  9  çqoheçi^  q^  ^^  adustas  plagas  não  contém  só  homens  ne- 
gros, que  se  vendem  un3  aos  oiitro^ ;— também  lá  tém— barrilinhos  de 
oiro  em  pó,  —dentes  de  marfim,  — cowos  e  pelles,— azeite  e  cera,— gom- 
mas  e  madeiras,  etc,.  cujo  trato  é  mais  buifta^o,  mais  commodo,  e  mais 
seguro :  em  breve  e^fero^  pois,  que  a  ilha  do  Príncipe  seja  o  deposito 
deitas  preàQsas  mercanfiiass  como  o  era  no  século  passado  de  carregar 
ções  semoventes. 

«Commercio  interior  não  o  ha  nesta  ilba,  porque  nem  tem,  como 
S.  Tbomé,  villas  no  sertão,  nem  caminhos  praticáveis  para  alem  da  serra  do 
Papagaio  e  das  montanhas  dos  Picos ;  sendo  ainda  bem  más  as  trilhas, 
que  dão  caminho  para  as  roças  —  todas  próximas  á  cidade,  que  apenas 
abastecem.  1 

São  passados  trinta  e  dois  annos  depois  que  o  auctor  dos  Ensaios  esta- 
tísticos escreveu  estas  palavras  a  respeito  da  ilha  do  Principe,  mas  não  se 
r^lisaraçíi  ioEeUifiRepte  as  si^a^  previsões.  A  ilha  está  reduzida  á  miséria, 
tendo  diminuído  a  população  de  um  modo  assombroso.  Não  é  este,  po- 
^^^  9  IqíW  Vff^  çpUrar  eqpi  CQnsiderações  a  tal  respeito. 


68 

Hba  de  Fernio  do  Pó. — É  a  maior  de  todas  as  do  mar  de  Guiné.  Tem 
<  85^,2  de  circumíerencía,  64^,8  de  comprimento  e  37  de  largura,  e  por- 
tanto o  dobro  da  superficie  da  ilha  de  S.  Tbomé. 

Segundo  M.  de  Avezac,  o  maior  comprimento  de  NNE.  a  SSE.  é  de 
70^,3  e  a  largura  de  24  a  40'',7.  Tem  1:930  kilometros  quadrados  de  su- 
perfície (560  milhas  quadradas). 

Dista  do  continente  37  kilometros,  havendo  entre  a  terra  flrme  e  a 
costa  da  ilha  um  canal  de  71  metros  de  profundidade. 

A  capital  fíca  na  bahia  Maisdstone  e  denomina-se  Glarence,  nome 
dado  no  anno  de  1827  pelos  inglezes,  os  quaes  depois  de  edificarem  a 
cidade  de  Glarence,  passaram  a  outros  logares  da  ilha;  não  excedendo 
a  dezeseis  annos  a  sua  demora^  e  não  havendo  deixado  melhoramentos 
que  mereçam  mencionar-se. 

A  ilha  de  Fernão  do  Pó  é  muito  accidentada,  levantando-se  por  uma  e 
outra  parte  outeiros  de  300  metros,  apparecendo  montes  de  900  e  desta- 
cando para  N.  um  pico  que  sobe  a  3:240,  segundo  M.  de  Avezac.  Entre 
os  montes  abrem-se  várzeas,  formam-se  planuras  e  estendem-se  super- 
ficies  por  onde  correm  abundantes  rios,  despenhando-se  alguns  de  grande 
altura. 

Avista-se  esta  ilha  em  tempo  claro  a  185  kilometros  ao  largo. 

Os  portuguezes,  que  a  descobriram  em  1486,  nunca  fizeram  caso  d'ella, 
nem  lhe  conheciam  o  valor.  Em  1 778  cederam-na  aos  hespanhoes,  en- 
viando elles  uma  expedição  composta  de  cento  e  cincoenta  homens,  mili- 
tares, operários  e  colonos,  para  lançar  as  bases  da  colonisação;  mas  mor- 
rendo em  cada  anno  quarenta  e  dois,  no  fim  de  três  só  restavam  vinte  e 
quatro,  que  ficariam  também  por  aquellas  paragens  se  não  se  retirassem. 

Em  1 781  ficou  outra  vez  abandonada  I 

Gollocada  por  assim  dizer  em  frente  da  foz  dos  rios  Velho  Galabar, 
Boni,  de  El-Rei,  Camarões  e  Rumby,  não  pôde  deixar  de  participar  da 
influencia  do  clima  das  margens  de  taes  rios.  Passa  por  insalubre,  e  so- 
mente nos  logares  altos  poderá  ser  habitada  com  vantagem. 

A  respeito  d'esta  ilha  lêem-se  no  diccionario  de  Larousse  algumas 
informações  que  julgámos  indispensável  reproduzir,  para  se  poder  ava- 
liar a  falta  de  uniformidade  que  ha  nas  descripções  dos  auctores  que  se 
occupam  d'estas  regiões. 

«Fernão  do  Pó,  ilha  da  Africa,  no  mar  de  Guiné,  golfo  de  Biafra,  em 
frente  de  três  grandes  rios,  que  ali  desaguam,  3^  48'  a  3^  13'  de  latitude 
N.,  e  6^  4'  e  6°  37'  de  longitude  E.,  tem  um  perímetro  de  cerca  de  100 ki- 
lometros. O  solo  é  muito  fértil,  e  ha  ali  um  pico  de  1:500  metros  de  al- 
titude. 

«Esta  ilha,  descoberta  no  fim  do  século  xv  por  um  cavalleiro  portu« 


69 

gaez,  chamado  Fernão  do  Pó,  foi  cedida  á  Hespanha  a  que  hoje  pertence 
em  virtude  do  tratado  de  24  de  março  de  1774.» 

Nota-se  n'esta  citação  que,  alem  de  não  ser  exacto  o  anno  em  que  a 
ilha  foi  cedida  aos  hespanhoes,  é  extraordinária  a  differença  de  altitude 
dos  respectivos  montes,  segundo  as  informações  referidas  ao  anno  de 
1867,  que  temos  presentes. 

9.*— Ilha*  IniIxam 

III»  de  Lopo  Gonçahes. — Esta  ilha  prolonga-se  37*^,9  a  NNO.-SSE.  e 
7S4  a  E.-O.,  e  n'ella  se  encontra  o  cabo  de  Lopo  Gonçalves.  A  sua  face 
ou  margem  oriental  está  cerca  de  24  kilometros  para  NO4V2N.  até  ao 
cabo  propriamente  dito.  É  baixa,  encharcada  e  recortada  de  angras  e  pon- 
tas. A  costa  está  separada  do  continente  por  um  canal  ou  rio  não  muito 
estreito.  O  terreno  não  parece  productivo,  nem  sabemos  se  actualmente  é 
habitada. 

Na  bahía  de  Lopo  Gonçalves  ha  muita  pescaria,  e  pelas  terras  adjacen- 
tes encontram-se  elephantes,  tigres,  leões  e  outros  animaes;  tem  um  sof- 
frivel  ancoradouro  a  1:852  metros  para  E474SE.  do  extremo  N.  da  ilha 
ou  do  cabo. 

Ilha  do  Corisco. — É  pequena,  mas  ainda  ha  outras  de  menor  extensão  na 
mesma  bahia,  a  que  chamam  Corisco  Pequeno,  ou  de  Elobey.  Pertence  aos' 
bespanhoes,  como  as  de  Fernão  do  Pó  e  de  Anno  Bom. 

A  ponta  do  N.  fica  em  0°  56'  12"  de  latitude  N.  e  10^  28'  30"  de  lon- 
gitude  E. 

Vista  da  banda  de  0.  do  cabo  de  S.  João  afQgura-se  haver  ali  um  só 
renque  de  arvores,  saídas  do  mar,  e  symetricamente  dispostas ;  mais  de 
perto  parece  que  a  cingem  barreiras  cinzentas;  á  distancia  de  7^,4  distin- 
gue-se  a  terra  baixa  e  toda  vestida  de  matagal. 

A  parte  de  SE.  da  ilha  dista  cerca  de  29^,6  do  cabo  de  S.  João  ou  do 
das  Esteiras.  Tem  5  kilometros  de  comprido  no  sentido  N.-S.  e  3^,1  de 
largura  E.-  0. 

N'uma  angra  de  SO.  está  edificada  a  aldeia  do  Corisco,  de  cujos  usos 
e  costumes  nada  sabemos.  Na  área  de  16  kilometros  quadrados  podem 
habitar  mais  de  400  indivíduos. 

Hobey,  Corisco  Poqaono  ou  dos  Mosquitos.  —  Duas  são  as  ilhas  a  que  os 
nossos  antigos  pozeram  o  nome  de  Corisco  Pequeno  e  que  modernamente 
se  appellidam  Elobey  ou  dos  Mosquitos. 

Estende-se  a  maior,  que  é  baixa,  arborísada  e  a  mais  occidental,  por 


10 

2^,i  de  N.  a  S.  e  ceircâ  dé  !^,3  de  E.  à  0.,  não  chegando  por  isso  a  sua 
superfície  a  Í^,S  quadrados;  a  segunda  é  ainda  mais  pequena,  silvestre, 
rasa  e  muito  estreita.  S3o  numerosos  os  baiicos,  parceis,  ilhéus  e  baixos, 
por  entre  os  quaes  è  preciso  navegar  dentro  da  bahia  do  Corisco,  o  que  a 
torna  perigosissima. 

liba  Branca. — Fica  esta  ilha  quasi  em  frente  da  foz  do  rio  de  Boroa,  é 
silvestre  e  nada  tem  de  notável.  Está  próxima  á  terra. 

liba  de  Mondoleh. — É  de  uma  fiqueza  admirável  o  solo  d'esta  ilha  da 
bahia  de  Âmbozes.  É  a  principsíi  do  pequeno  grupo  da  bahia,  que  è 
limpa  e  muito  mais  segura  que  ú  do  Goríscd.  Ha  no  archípelago  de  Âm- 
bozes  três  ilhas,  cuja  extensão  e  fertilidade  estão,  segundo  A.  Tardieu, 
na  rasão  inversa  da  sua  população.  Téein  agua  todo  o  anno  em  fontes  que 
alimentam  riachos.  Uma  d^ellas  tetii  300  individuos  que  vivem  da  pesca 
e  trocam  o  peixe  por  bananas,  inhames  e  outros  fructos.  Ha  ali  pouca 
agua  e  os  habitantes  a  procuram  nt)  contiífêtite  ou  apanham-a  da  chuva. 
  maior  denomína-se  Mondoleh,  a  immediata  Ameh  ou  Domeh  e  a  mais 
pequena  Bobya.  Todas  são  povoadas. 

Os  habitantes  doestas  ilhas,  acrescenta  A.  Tardieu,  são  hábeis  pesca- 
dores, e  quando  o  tempo  está  bom  véem-se  muitas  canoas  em  que  elles 
se  entregam  á  pesca. 

Em  Mondoleh  são  os  viveres  mais  baratos  dd  que  em  Fernão  do  Pó 
ha  madeiras  e  variados  vegetaes.  N'estás  ilhas  não  ha  pântanos  nem  man- 
gues; a  brisa  que  lhe  chega  do  mtfr  é  ^úhi  é  fWSca,  e  os  Ventos  que  so- 
pram do  continente  encontram  as  altas  montanhas  dos  Camarões  e  não 
são  quentes  nem  miasmaticos. 

A  bahia  de  Ambozes,  acrescenta  A.  Tardieu,  é  talvez  a  localidade 
mais  salubre  da  costa  occidental  da  Africa.  Na  estação  das  chuvas,  raras 
vezes  apparece  mais  de  um  tornado  ou  de  uma  tempestade  em  vinte 
e  quatro  horas;  no  resto  do  dia  o  tempo  é  agradável  epassam-se  muitos 
dias  successivos  sem  chover. 

liba  de  Garamo. — Por  entre  o  lago  Cradoo  e  o  ínar  fica  uma  ilha  plana 
e  coberta  de  arvoredo,  á  qual  os  naturaes  chamaífl  Ikbeku  e  os  nossos  an- 
tigos Curamo.  O  terreno  é  pantanoso  e  eslende-se  desde  a  boca  do  rio 
da  Lagoa  até  á  do  celebre  rio  Formoso  ou  de  Benim.  É  cortada  por  vários 
ribeiros  e  tem  algumas  aldeias.  É  preciso  comtudo  observar  que  esta  ilha 
está  tão  próxima  da  terra  firme,  que  vem  descripta  nos  roteiros  da  costa 
d^Africa  e  não  falia  d'ella  M.  de  Azevac  no  seu  importante  trabalho 
Ilhas  da  Africa, 


71 


^nadroa  e«latl«tlèo-seoKriiphleo« 


libas  altas 


PmíçSo 


Anoo  Bom,  afas-j  1<*  SO'  Ift  S. 
UdaS03k,7  da|3«IO/loDg.E.(Parí8). 
de  S.  TboBié     '  M.  iÃveiac. 


S.  Tliosié,  afãs- 
UdaiSSM  da 
do  Príncipe 


(fV  a0»30/delat. 

K 
i^SS^ai^ai/delong. 

E.  (Paris). 

M.  íAvezãc. 


PrinâiM»  afasta- 
da 185k,3  da  de 
Fernio  do  Pó 


O»  31/  3(V/  a  O»  4i/ 

3(V/  UL  N. 
S^Vi^/aSMí/a?// 

loog.  E.  (Paris). 
Jl.  i'Aveiae. 


l 


Fernio    do   Pó,i3M(y  a3«44/lat.N. 

aCutada  37  ki-f 6«  2/  a  6* 34/  kMig.  E. 

tometros  da  cos- 1     (Paris). 

ta  oootineDtal.  I           if.  ÍÂitiztu:, 
_^__ I  


Disposição 
dos  terrenos 


1 :000  metros  d*altara. 
Avista-se  de  74  a  83 
kilometros  do  mar. 


2:135,  Boteler  e  Kcr- 
balel;  3:200  segun- 
do outros.  Avista-se 
a  111  kilometros  do 
mar. 


800.  Avista-se  a  111 
kilometros  do  mar. 


3:108,  Kerhalet,  ou 
3:240  M.  dAvezac. 
Avisla-se  a  185  ki- 
lometros do  mar. 


Superficie 


90  kilometros  on6  mi- 
lhas qnadradas;  se- 
gundo outros,  17  ki- 
lometros quadrados. 


PopulaçSo 


916  kilometros  ou  270 
milhas  quadradas, 
ou,  segundo  outros, 
166,  900,  1:657  e 
2:000  kilometros 
quadrados ( 


247  kilometros  ou  72  2:251  habitantes, 


3:000  indivíduos. 
(1848). 


25:491  habitan- 
tes, incluindo 
793  europeus. 
(1874). 


milhas  qnadradas, 
e  segundo  outros 
125  kilometros  qua- 
drados I 


1:930  kilometros  ou 
560  milhas  quadra- 
das (4  93:000  hecta- 
res). 


incluindo  35  eu- 
ropeus. 
(1874). 


15:000  individues 
(1848). 

20:000  almas,  se- 
gundo Larousse. 


Classificação  das  ilhas 


1.' 

2. 
Segundo  a  altura  dos  montes {  »  , 

'  4*.' 
1.' 

Segundo  a  superfície \^^ 

4.' 

1.' 

2. 
Segundo  a  população  (1874) {  ^ « 

4.' 


Fernão  do  Pó. 
S.  Thomé. 
Anno  Bom. 
Príncipe. 
Ferrlso  do  Pó. 
S.  Thomé. 
Príncipe. 
Anno  Bom. 
S.  Thomé. 
Femâo  do  Pó. 
Anno  Bom. 
Príncipe. 


'  0  primeiro  oumero  é  o  quo  no^  parece  mais  exacto;  ajuntámos  todavia  a  superGcic  das  ilhas  segundo  os 
aoctoret  inais  conhecidos^  , 


72 


libas  baixas 


Posição 


Ilha     de    I/)poi|7o  5^/  5//  long.  E. 
GoDçalfC».       J    (Lisboa). 

r    Â.  M.dê  CaUilko. 


Corisco 


O»  56/  iVf  laL  N. 
180  28/  36//  long.  E. 

(Lisboa). 

A.  M.  de  CaslUho. 


i»  lai.  N. 

7/  3/  long.  E.  (Paris). 


Elobey,  ilha  do! 
Gonsco  Peque- 
no ou  dos  Mos-* 
quilos. 


Muito  próximo  da  on- 
Ira  ilha,  para  o  N. 


Disposição 
dos  lerrenos 


É  rasa,  lem  mangues 
e  é  recortada  por 
alguns  riachos. 

ATisla-se  a  unsS?'',?* 


Terra  baixa  e  muito  ar- 
borisada,  tem  uma 
matta  eipesta  para 
oN. 


Branca 


i  3»  35/ lai.  N. 
,  180  47/  50//  long.  E. 
(Lisboa). 


Archipelago  dos 
Amooses  ou 
Zambàs,  com- 
posto do  Mon- 
doleh,  Ameh  c 
Bobya. 


l3«  77/    laL' 

N. 
,8»  11/  long." 

E.  (Grccn- 

wícn). 


Mondo- 
leh. 


Ameh. 


É  arborisada  e  baixa. 


2.» 

Tem  arvoredo,  é  rasa 
e  muito  estreita. 


Superfície 


37)^,9  de  comprimen- 
to por  7fc,4  de  lar- 
gura. 


kilometros  de  com- 
primento por  3k,l 
de  largura.  Mede 
Moximamenle  14 
kilometros  quad. 


É  rasa,  silvestre  e  fi- 
ca perto  da  ponta  do 
N.  do  rio  de  Boroa. 


^  Bobya. 


l.« 

É  bastante  alta,  arbo- 
risada o  producti- 
va;  tem  agua  cor- 
rente. 

Í.0 

Rochedo  qnasi  nu  o 
sem  agua  de  verão; 
tem  alguma  vegeta- 
ção. 

3.0 

Ilhéu  basáltico  e  qua- 
si  esteríl. 


Aldeia  de  J(tdcnah. 
6»  26/  40//  lat.  N. 
ir  51/  lOV  long.  E. 
(Lisboa). 


Ilha  de  Curamo.  I^HS?  .fe /f  ?"»^       (*  '*»*•  *«?»  P**"^ 
no  golfo  de Be./5!»;S(y/Jaf  N.      V    ras  e  outro  anore- 

j^  \13o  17/  24//  long.  E.[     do;  é  atravessada 

(Lisboa).  {    por  alguns  esteiros. 

}  Aldeia  de  Odi. 
6»  20/  30//  lat.  N. 
13»  49/  5//  long.  E. 
(Lisboa).  , 

I L 


1.0 

• 

2k,4  de  comprimento 

rr  lk,4  de  largura, 
kilometros  qua- 
drados. 

2.0 

2k,7  de  comprimento 
por  quasi  igual  lar- 
gura. 

E  pequena  a  sua  área. 


1.0 

926  metros  de  compri- 
mento por  6l7",3 
de  largura. 

2.0 

740",8  de  compri- 
mento por  264"',6 
de  largura. 

3.0 

È  muito  pequena  a 
sua*  área. 


População  * 


Tem  sido  habita- 
da, e  os  portu- 
gueses tiveram 
ali  um  forte. 


É  immeosa,  tendo  a 
costa  do  S.  cerca  de 
212k,2  de  compri- 
mento e  a  sua  maior 
largura  é  de  31^,9. 


Tem  habitantes,  e 
ao  SO.  fica  uma 
aldeia. 


Alffuns  soldados 
hespanhoos 
(187Í). 


Ignora-se. 


Ignora-se. 


1.0 

Tem  muitas  fa- 
mílias. 


2.0 

Viviam  ali,  em 
1840.  400  fa- 
mílias. 

3.0 

Não  ha  muitos 
annos  tinha  mi- 
motMos  mora- 
dores. 


Contam- se ,    te- 

Sndo  A.  M.  de 
istilho,   sete 
aldeias. 


*  Referimo-nos,  no  que  diz  respeito  á  população  das  ilhas,  ao  roteiro  de  Alexandre  Magno  de  Castilho  e 
ao  trabalho  de  A.  Tardieu  acerca  da  Guiné.  Foram  ambos  publicados  ha  mais  de  dei  anoot. 


73 

Enumerámos  as  ilhas  do  mar  de  Guiné  com  a  mínuciosídade  indispen- 
sável para  fazermos  a  comparação  entre  todas,  e  reconhecermos  que  a  for- 
mosa ilha  de  S.  Thomé  pôde  rivalisar  com  as  outf*as,  nâo  cedendo  á  pró- 
pria ilha  de  Fernão  do  Pó. 

No  golfo  de  Benim  apenas  se  nota  a  ilha  de  Guramo,  cuja  situação 
baixa  e  condições  climatéricas  não  favorecem  a  agricultura;  só  as  de  Fer- 
não do  Pó,  Príncipe,  S.  Thomé  e  Anno  Bom  podem  ter  colonisação  re- 
gular e  capaz  de  compensar  quaesquer  despezas  ou  sacrificios. 

II 

Enumeração  das  terras  que  se  aoham  sob  o  equador 

São  numerosos  os  paizes  que  ficam  sob  a  linha  equinoccial.  Não  estão 
somente  em  Africa,  estendem-se  pela  America  e  Oceania.  Não  se  encon- 
tram, é  verdade,  na  Europa  nem  na  Ásia,  mas  não  se  segue  por  isso  que 
só  n*estas  duas  partes  do  mundo  haja  climas  temperados;  apparecem 
também  na  parte  mais  central  da  zona  tórrida. 

Estivemos  por  duas  vezes  na  ilha  das  Rolas  em  que  a  latitude  é  nulla, 
segundo  se  acha  demonstrado  e  admíttido  sem  contestação  em  todos  os 
mappas  geographlcos  de  que  temos  conhecimento. 

Percorremol-a  de  N.  a  E.,  marcando  os  thermometros  á  sombra,  em 
quanto  ali  estivemos,  *iV  centígrados,  e  pernoitámos  n*uma  casa  próxima 
á  costa  do  N.,  onde  a  temperatura  durante  a  noite  foi  25^  e  26^  centígrados. 

Desejávamos  descrever  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  collocadas 
alguns  kilomctros  ao  N.  do  equador,  e  para  realisar  o  nosso  intento  apro-' 
vcitavamos  todas  as  occasiões  que  se  nos  offereciam  para  ir  ao  interior 
da  ilha  de  S.  Thomé  visitar  os  logares  menos  conhecidos,  mas  não  a 
podemos  atravessar  de  E.  a  O.  ou  de  N.  a  S.  Foi,  porém,  com  grande 
prazer  que  desembarcámos  na  ilha  das  Rolas,  e  ali  passámos  algumas  ho- 
ras, admirando  o  panorama  que  se  desenrola  diante  do  observador  que 
olha  para  S.  Thomé.  Por  entre  uma  massa  enorme  de  verdura,  de  as- 
pecto sombrio,  levantam-se  montes,  picos,  planuras  extensas,  cobertas  de 
copado  arvoredo.  Era  grande  a  surpreza  ao  observarmos,  sob  a  linha 
equinoccial,  vegetação  tão  viçosa,  tão  útil  e  abundante. 

Perguntávamos  muitas  vezes  a  nós  mesmos  se  os  dífi^erentes  climas 
da  região  equatorial  seriam  todos  palustres,  se  n'elles  poderia  haver  com- 
pleta aclimação,  e  se  os  europeus  poderiam  entregar-se  aos  trabalhos 
agricolas. 

Para  satisfazer  a  tão  natural  curiosidade,  resolvemos  desde  logo  com- 
parar o  clima  do  paiz,  onde  nos  achávamos  em  serviço,  como  medico  co-* 


74 

idnial,  com  o  das  príncipaes  terras  em  iguaes  condições  de  latitude,  isto 
è,  com  os  paizes  em  que  haja  algum  logar  habitado  e  frequentado  por 
eiíropeos  e  em  zero  de  latitude. 

É  este  trabalho  o  i  esultado  das  nossas  primeiras  investigações. 

A  ioná  ^quatdriàl  da  Africa  Centrai  está,  força  è  dizel-o,  em  más  con- 
dições de  exploraçSo.  O  solo  virgem,  uma  extraordinária  força  vegeta- 
tiva è  caminhos  cobertos  de  detritos  vegetaes  sao  elementos  poderosos 
para  tornar  insalubre  a  atmosphera  nas  suas  camadas  inferiores.  Os  ex- 
ploradores correm  de  certo  inuninente  risco  de  vida,  se  andarem  des- 
providos dos  meios  necessários  para  annullar  os  effeitos  da  intoxicação 
tellurica  e  miasmatica. 

Quando  as  aguas  do  Oceano  Atlântico  cobrirem  as  areias  do  Sahará, 
o  clima  da  região  equatorial  da  Africa  será  muito  modificado,  e  podèr- 
se-ha  então  fundar  coloíiials  agrícolas,  onde  hoje  apenas  pôde  haver  esta- 
belecimentos ou  feitorias  commerciaes. 

A  formação  de  um  grande  mar  interior  não  é  o  único  meio  para 
animar  o  commercio  e  agricultura  da  Africa  Central ;  os  rios  Nilo  ao  N., 
o  Zambeze  a  E.,  o  Cunene,  o  Zaire  e  o  Ogôoué,  a  0.,  são  outros  tantos 
canaes  para  $e  penetrar  no  interior  da  Africa,  não  esquecendo  o  rio  Niger, 
cuja  impoHancià  é  geralmente  reconhecida.  N'um  dos  maiores  monumen- 
tos lilterarios  do  secultt  xix,  disse  um  illustrado  escriptor  a  propósito  da 
descoberta  do  rio  Tchàdd: , 

«A  influencia  da  civilisação  europêa,  os  productos  dos  mercados  das 
nações  colonisadoras  podem  penetrar  pelos  rios  navegáveis  como  o  Niger, 
até  ao  Interior  do  continente  africano,  100.000:000  de  homens  estarão 
em  contacto  directo  com  a  nossa  civilisação,  e  novos  centros  commerciaes 
apresentarão  valiosos  productos  de  que  a  industria  se  aproveitará  em  be- 
neficio da  graíide  família  humana;  e  essa  immensa  região  inexplorada,  co- 
berta pelas  trevas  da  ignorância,  offerecerá  novas  correntes  ás  investiga- 
ções das  artes  e  do  progresso  ágricola  ecommercial,  apparecerão  em  fim  os 
thèsourôs  de  tão  misteriosa  quanto  inexgotavel  região,  e  as  nações  afri- 
canas, saindo  de  um  lelhargo  immemorial,  tomar-se-hão  membros  activos 
e  iltéis  da  humanidade,  collocando-se  também  na  grande  estrada  da  civi- 
liádçãò  e  do  commercio.  o 

Eis-aqui  em  geral  os  paizes  equatoriaes  propriamente  ditos. 

Afrfcà  èqtatdíi^ia].  —  Pequena  ilha  das  Rolas,  3S7  ao  S.  da  ilha  de  S.  Tho- 
ffié,  ào  golfo  dos  Mafras,  costa  Occidental  de  Africa ;  margem  esquerda  do 
rio  do  Gabão  fronteiro  á  ilha  de  S.  Thomé,  na  terra  firme;  paiz  de  Olcanda 
iti  Otíeíitè  do  Gabão ;  vasta  superficie  inexplorada  tendo  por  limite  o  N.,  a 
rêgliOf  do  largo  Tchadd,  Ouaday  e  Darfour,  a  0.  as  terras  banhadas  pelo 


rio  (^6006,  a  E.  dífferente^  lagos  fieàíiâo  sob  o  eqaador  o  chamado 
Mroutan  e  o  Nyanza,  ao  occidente  do  sultâtiado  do  Zanzibar  na  costa  orien- 
tal de  Afnca;  ao  S.  a  parte  septentrional  de  Angola;  e,  finalmente,  O  pe- 
queno estado  denominado  Juba  ao  N.  de  Melínde,  na  costa  de  Zanzibar. 

iBfriea  eqvatfrial.—  Àlbermarle  no  archipelago  de  Galapagos  ou  das 
Tartarugas  ao  O.  da  republica  do  Equador  e  a  100  kilondétros  do  Pérú; 
Pechincha  na  republica  do  Equador,  costa  occidental  da  America  do  Sul ; 
parte  meridional  da  Nova  Granada;  ilhas  Caviana  e  Mexiana  e  a  villa  de 
Macapè  na  margem  esquerda  da  foz  do  rio  Amazonas,  na  costa  oriental 
da  America  do  Sul ;  terras  banhadas  pelos  differentes  affluentès  da  mar- 
gem esquerda  do  rio  Amazonas,  desde  a  sua  foz  até  ao  rio  Negro,  que 
banha  a  região  equatorial  propriamente  dita,  e  recebe  diversos  affluentès, 
entre  os  quaes  estão  os  rios  Uaupes  e  Branco ;  e  muito  especialmente  de- 
vemos notar  o  affluente  que  põe  o  rio  Orenoque  em  communicação  com 
os  rios  Negro  e  Amazonas. 

Oeeania  equatorial. — Extremo  N.  de  Batoe  ou  Mintau  a  O.  da  ilha  de 
Sumatra,  residências  de  Padang  e  Indragire,  na  costa  occidental  e  orien- 
tal de  Sumatra,  levantando-se  sob  o  equador  o  monte  Ophir,  que  attinge 
4:568  metros  de  altura;  terras  altas  de  Padang  e  parte  central  de  Su- 
matra; ilha  Linga  no  archipelago  cie  Riouw-Lingga,  situado  a  È.  da  iíha 
de  Sumatra;  residência  de  Pontianak  e  districto- Sintang,  na  parte  occi- 
dental de  Borneo,  ficando  algumas  cidades  em  0^  de  latitude ;  parte  me- 
dia da  ilha  de  Borneo  e  principado  de  Koti  ou  Kotei  na  parte  oriental; 
ilha  Celebes;  a  ilha  chamada  Tidore  no  archipelago  dasMoIucas;  Geiíolo; 
a  parte  septentrional  da  ilha  Waigiou  e  differentes  ilhas  pertencentes  a 
variados  archipelagos  da  Oeeania  equinoccial,  como  as  do  archipelago  Gil- 
ber,  etc. 

Todos  os  paizes  que  enumerámos  ficam  sob  o  equador,  e  trala-se  de 
conhecer  se  os  europeus  podem  aclimar-se  em  taes  regiões  e  entregar-se 
aos  trabalhos  agrícolas. 

É  indispensável,  pois,  examinar  a  posição  e  orientação  das  principaes 
localidades,  estudar  as  povoações,  productos  agrícolas  e  fabris,  o  movi- 
mento da  população  e  a  natureza  pathologica  do  clima.  Obtêem-se  doeste 
modo  os  elementos  necessários  para  a  classificação  das  regiões  equato- 
riaes  que  se  acham  nas  condições  da  província  de  S.  Thonãé  e  Principe. 

f .®  Afk*leA  eqniilorliil 

Uha  da8  Rolas.  — É  pecjiíeiíír  e^ta  ilh*1,  como  já  dissemos,  abt/hda  em 
coqueiros,  cuja  exploração  é  feita  por  conta  de  um  fazendeiro  da  ilha 


76         ' 

de  S.  Thomé.  Tem  um  edificio  regular  na  costa,  o  qual  está  no  rumo  de  9° 
NO.  da  ponta  da  ilha  de  S.  Thomé,  onde  se  levanta  a  pedra  que  tem  a  de- 
nominação de  Homem  da  Capa,  67®NE.  da  ponta  da  ilha  denominada  Baleia 
e  a  42°  5'  para  a  ponta  esquerda  da  bahia  do  logo-logo  ou  Boa  Espe- 
rança. 

Em  4872,  quando  estivemos  na  ilha  das  Rolas,  havia  ali  um  feitor 
com  dez  trabalhadores  africanos  e  logravam  todos  boa  saúde. 

Margem  esquerda  do  rio  do  Gabão. —  É  insalubre  esta  localidade,  de- 
vendo evítar-se  a  estada  ali  sempre  que  for  possível.  Pertence,  como  dis- 
semos, á  França,  que  a  occupa  apenas  com  armazéns  de  carvão.  Na  mar- 
gem direita  estão  algumas  casas  de  negociantes  francezes,  o  palácio  do 
governador,  hospital  e  outros  estabelecimentos,  formando  uma  aldeia 
que  se  denomina  Librezille.  O  que  se  pôde  afiançar,  porém,  é  que  é  um 
protectorado  e  não  uma  colónia  ou  possessão  propriamente  dita.  Não 
passa  de  uma  feitoria  commercial  e  faltam-lhe  muitas  condições  para  po- 
der ser  colónia  agrícola. 

A  região  do  Gabão  pertencente  aos  francezes  não  está  calculada,  igno- 
rando-se  a  superficie  e  limite.  A  zona  marítima  é  carecterisada  pelos  man- 
gues que,  segundo  a  opinião  de  alguns  médicos,  se  por  um  lado  favorecc- 
cem  a  formação  de  pântanos,  difiScultando  a  evaporação  das  aguas  pluviaes, 
por  outro  protegem  as  habitações  francezas,  abrigando-as  contra  os  ven- 
tos terraes  e  emanações  dos  charcos. 

Os  rios  Como  e  Bamboe  foram  explorados  por  M.  Touchard,  cirurgião 
naval  de  1  .^  classe. 

Os  padres  da  missão  catholica  ali  estabelecidos  fizeram  um  vasto  e 
mimoso  jardim,  onde,  a  par  dos  fructos  tropicaes,  crescem  hortaliças  c 
legumes.  E  importante  esta  missão,  e  representa  o  principio  fecundo  da 
civilisação  d'aquella  larga  região  equatorial. 

Vasta  regiio  ineiplorada  desde  o  paiz  de  Okanda  até  ãs  terras  altas  ao  oceidente 
do  sultanado  de  Zanzibar.— Esta  zona  equatorial  chama  actualmente  a  atlen- 
ção  da  Europa  sabia,  que  se  empenha  muito  para  a  sua  exploração. 

Os  inglezes  e  allemães  protegem  os  viajantes  que  se  offerecem  para 
percorrer  a  Africa  Central;  é  também  indispensável  que  não  desampare- 
mos um  emprehendimento  de  tanta  vantagem  para  a  sciencia  e  para  a 
humanidade,  cujos  laços  se  estreitam  cada  vez  mais,  não  tardando  talvez 
o  dia  em  que  todos  os  homens  formem  uma  só  familia. 

Pequeno  estado  denominado  Juba. — Não  ha  informações  doeste  paiz  que 
mereçam  divulgar-se. 


77 

CommaBicicio  entre  Moçanbiqne  e  Angela. — A  Africa  equatorial  nao  está 
ainda  aberta  ao  commercio,  e  desconhecem-se  as  suas  riquezas  naturaes; 
mas  niío  acontece  o  mesmo  ás  terras  da  Africa  tropico-equatorial  no  in- 
terior de  Angola  e  Moçambique,  que  vão  sendo  exploradas,  ainda  que 
vagarosamente. 

Urge,  pois,  que  acordemos  do  lethargo  em  que  ás  vezes  caímos  por 
annos  successivos,  esquecendo-nos  de  que  somos  uma  das  primeiras  na- 
ções coloniaes  da  Europa;  cumpre-nos  proseguir  quanto  antes  as  viagens 
entre  a  província  de  Angola  e  Moçambique,  tirando  d'elias  todas  as  van- 
tagens que  podem  obter-se,  já  em  relação  ao  commercio,  já  em  relação 
á  aclimação,  agricultura  e  emigração  dos  portuguezes. 

Em  dezembro  de  4854  lamentava  o  sr.  Vasco  Guedes  de  Carvalho  e 
Menezes,  governador  de  Moçambique,  que  alguns  mouros  que  ali  chega- 
ram fizessem  a  viagem  de  Benguella  á  contra-costa  sem  irem  acompa- 
nhados de  pessoa  instruída,  que  descrevesse  as  differentes  localidades 
por  onde  passavam. 

Os  negociantes  a  que  se  referia  o  governador  foram  portadores  de 
um  oflicio  do  governador  de  Angola  e  gastaram  na  jornada  quinze  mezes 
e  três  dias. 

É  realmente  para  lamentar  que  estas  e  outras  viagens  não  se  realisas- 
sem  em  boas  condições,  mas  é  tempo  ainda  de  se  attentar  em  tão  impor- 
tante assumpto. 

É  necessário,  não  cessaremos  de  repetir,  que  se  abram  communicações 
amiudadas  entre  os  povos  de  Angola  e  os  de  Moçambique  e  que  nos  mos- 
tremos tão  bons  colonisadores  no  século  xix  como  ousados  navegadores 
fomos  no  Am  do  século  xv  e  no  xvi. 

É  indispensável  confessar,  todavia,  que  desde  ha  muito  que  se  pensa 
em  estabelecer  communicações  por  terra  entre  Angola  e  Moçambique,  e 
vem  a  propósito  dar  por  copia  as  seguintes  informações  que  em  1867 
foram  transcriptas  nos  annaes  do  conselho  ultramarino: 

cA  primeira  tentativa  para  abrir  esta  communicação  entre  as  duas 
costas,  de  que  tenho  achado  memorias,  foi  no  tempo  do  governador  de 
Angola,  D.  Manuel  Pereira  Forjaz,  cujo  governo  começou  em  1606. 

cBalthazar  Pereira  de  Aragão,  militar  resoluto,  foi  o  encarregado  d'esta 
expedição;  porém,  estando  já  em  caminho,  teve  de  retroceder  para  acudir 
á  fortaleza  de  Gambambe,  que  se  achava  sitiada  pelos  negros  revoltados. 
tD.  Francisco  Innocencio  de  Sousa  Goutinho  renovou  a  tentativa,  mas 
também  a  não  pôde  levar  a  effeito.  Seu  neto  D.  Rodrigo  de  Sousa  Gouti- 
nho (conde  de  Linhares),  homem  de  vastas  concepções  e  bastantemente 
illostrado,  apenas  entrou  no  ministério  dos  negócios  da  marinha  e  domí- 
nios ultramarinos,  proseguiu  na  mesma  empreza;  e  para  a  sua  execução 


dpsigqpu  a  f  ra|[^pi$co  José  de  L^^rdq  a  4lR^Í(la*  doutor  em  mathema- 
tica,  poQ^e^ndo-o  com  esta^  vistas  governador  dos  Rios  de  Senna,  d'0Dde 
devi£)  s^if*  a  pxpe4Jc9o. 

ff(,acerda  partiu^  de  Lisbo^  munido  dos  instrumentos  necessários,  e 
chegando  ás  terras  do  seu  governo,  procurou  as  informações  e  noticias, 
de  que  «^presentq  a3  peça$  que  pvidp  obter,  e  poz-se  a  caminlio  para  o  in- 
terior da  Africa  com  grande  ardor.  Chegou  até  ás  terras  do  vei-Cazembe, 
que  parece  serem  po  ponto  mai3  cep(ral  entre  as  duas  costas,  sem  encon- 
tv^v  obstáculos;  e  ahi  fallepeq,  sucpumbindo  ás  inclemências  do  clima. 
Deixou  ]i[p  roteiro  da  sua  yi^gem»  que  eu  não  pude  alcançar,  nem  sei 
que  exista;  e  tal  era  o  seu  eiqpenho  pela  conclusão  da  empreza,  que  es- 
creveu up^a  espécie  de  testamento,  em  que  recommendou  aos  seus  com- 
panheirp$,  ç^ne  prosegu^ssem  n^  $ua  derrota  até  chegarem  ao  seu  destino : 
reçomn^endação  a  qpe  elle^  não  annuíram.  É  esta  a  mallograda  expedi- 
ção, ^Q  q^^  se  lembra  M.  Salt  pa  sua  Viagem  á  Abyssinia. 

«Os  acontecimentos  políticos  e  militares  da  Europa,  e  a  complicação  que 
d'elles  re^ultQu  aq  conde  dp  Linl^ares,  desviaram  o  ministério  de  dar 
attenção  aq3  negócios  do  interior  da  Africa.  Q  conde  de  Porto  Santo,  to- 
mando conta  do  governo  de  Angola  em  1806,  fez  reviver  o  projecto, 
servindo-se  para  es(e  0m  das  (^iUgencías  do  tenente  coronel  de  milicias, 
Francisco  !)onor^tp  da  Costa,  homem  que  tinha  algumas  luzes  e  muito 
pratico  no  paiz  e  que  vivia  retirado  no  presidio  de  Pungo  Andongo,  Foi 
nopieadp,  e^t^  h9,í9<^ui  director  d^  feira  de  Cassange  nas  terras  do  Jaga 
d'esle  non^p,  ultimo  ^os  régulos  avassallados  a  Portugal  n'aquella  direc- 
ção; e  por  este  meio  se  adqiMriu  conhecimento  da  nação  dos  Molluas  e  se 
entrou  em  communicação  com  o  potentado  Muata  Yambo. 

cAs  terfas  de  Ca$sange  fic^^  aq  Np),  de  Angola:  passadas  estas  encon- 
tra-se  um  gr^n^e  rio,  que  se  suppôe  $er  p  Zaire;  e  alem  d'este  rio  ficam 
03  l^ollua^,  e  reinav2\  o  Muata  Yambo. 

«Este  potentado  mandou  uma  embaixada  ao  governador  de  Angola, 
que  recebiiu  os  embaixadores  com  grande  ceremonia,  como  se  fossem 
de  uma  nsjç^o  europea;  e  por  meio  d'elles,  e  dos  pumbeiros  de  Francisco 
HonoratQi,  que  os  vieram  acompanhando,  se  adquiriram  algumas  noções 
sobre  as  t^fras  do  interior.  Soube-se  alem  d'isso  que  estas  terras  se  com- 
municavan^  com  a  costa  oriental,  por  se  conhecer  que  d'ella  eram  proce- 
dentes alguns  dos  objectos  que  os  embaixadores  traziam  de  presente, 
ipela  mesnia  via  se  conseguiram  noticias  do  rei  Cazembe^  que  se  dizia  ser 
tributário  ao  MuaJía  YambOj  e  que  lhe  pagava  um  tributo  de  sal  marinho 
vindo  da  mesma  costa  oriental. 

«Prepç\rado  o  conde  de  forto  Santo  com  estes  conhecimentos,  despa- 
clj^ou  em  fim  os  se^s  emissários,  mas  çm  quanto  estes  caminhavam  para  o 


78 

oriente  com  ordem  de  não  pararem  em  quanto  Dão  cheg^$$em  á:^  terras 
da  capitania  geral  de  Moçambique,  acabou  o  coude  o  seu  governo,  e  re? 
tiron-se,  sem  ter  mais  noticia  d^elles. 

cSoccedeo-lbe  José  de  Oliveira  Barbosa;  e  foi  este  o  que  repolbeu  Q 
firucto  de  tantas  diligencias,  porque  foi  o  que  conseguiu  que  um  negro, 
ofBdal  da  companhia  chamada  dos  Henriques,  atravessasse  aquell^s  dila* 
tados  sertões,  e  lhe  trouxesse  as  cartas  do  governador  de  Moçambique. 
Ficou  porém  inútil  este  descobrimento  pela  qualidade  do  emissário,  que 
nada  podia  adiantar  relativamente  ás  sciencias,  á  politica  e  ao  conuaercíQ : 
ficoo  somente  demonstrada  a  possibilidade  da  communicação  por  terra 
entre  as  duas  costas. 

c  Impedimentos  physicos  não  os  ha,  senão  os  que  resqltaip  da  situação 
d'estes  paizes  e  são  conununs  a  todos  os  outros  p^izes  ^a  Africa  cplloca-: 
dos  na  zona  tórrida;  impedimentos  moraes  ha  aquelles,  que  pàde  oppor 
a  inhospitalidade  dos  povos  que  os  habitam. 

tHa  poucas  terras  no  mundo  habitado,  cuja  geographia  seja  mais  in? 
certa  do  que  aquellas,  que  atravessa  a  linha  de  communicação  entre  An- 
gola e  as  nossas  possessões  de  Africa  orientai.  N'esta  direcção,  segundo 
as  descrípções  dos  geographos,  discorrem  e  devastam  o  inlerior  do  paii 
algumas  tribus  nómades  e  barbaras  dos  Jagas,  que  não  cultivam  a  terra, 
nem  possuem  gados,  senão  aquelles  de  que  se  apoderam  na  guerra.  9 

A  costa  equatorial  de  Africa,  quer  ao  oriente  quer  ao  occidente,  foi  des- 
coberta pelos  portuguezes.  Fomos  nós  quem  primeiro  eptrámps  nQ  rio  do 
Gabão;  foi  Portugal  a  primeira  nação  da  Europa,  cujos  pavios,  dobrando 
o  cabo  da  Boa  Esperança,  aportaram  a  Melinde  que  está  para  a  costa  orieur 
tal  da  Africa  como  o  Gabão  para  a  occidental. 

A  passagem  sob  o  equador  no  Oceano  Atlântico  e  mar  das  índias  pe- 
los navegadores  portuguezes  não  podia  ser  indífferente  ao  nossQ  afamado 
épico.  Consagrou-lhe  elle  uma  estancia  da  sua  epojiéa,  que  aqui  repro? 
duzimos,  porque  nos  dá  idéa  da  estação  equatorial. 

Assi  passando  aquellas  regiões, 
Por  onde  duas  vezes  passa  Apolio, 
Dous  invernos  fazendo,  e  dous  verões, 
Emquanto  corre  d'hum  ao  outro  poio : 
Por  calmas,  por  tormentas  e  oppressões, 
Que  sempre  faz  no  mar  o  irado  Eolo, 
Vimos  as  ursas,  apesar  de  Juno, 
Banharem-se  nas  aguas  de  Neptuno. 

(Camões,  canto  v,  estancia  xv.) 

Esteve  João  de  Barros,  o  Tito  Livio  portuguez,  na  costa  da  Mina,  foi 
Luiz  de  Camões  á  índia,  viveu  Diogo  do  Couto  por  muitos  annos  em  Goa, 
e  tantos  generaes  e  homens  iUustrados  se  afamaram  nas  terras  de  Africa, 


80 

da  Ásia  e  Oceania  que  bastaria  nomeal-os  para  nos  empenharmos  no  en- 
grandecimento, progresso  e  civilisaç3o  das  terras  em  que  elles  viveram,  e 
que  representam  ainda  hoje  uma  superficie  de  mais  de  1.921:915  kilo- 
metros  quadrados,  a  qual  excede  muito  a  de  toda  a  França  e  nos  colloca 
no  quarto  logar,  como  estado  independente  e  colonial  da  actualidade.  Mas 
faita-nos  explorar  o  interior  da  provincia  de  Angola  e  Moçambique.  É  para 
ali  que  deve  encaminhar-se  a  emigraçSo  portugueza,  sendo  aqueile  im- 
menso  território  objecto  da  nossa  attençSo,  como  a  índia  o  foi  nos  últi- 
mos annos  do  século  xv. 

Preparou-se  então  a  primeira  armada,  que,  sulcando  mares  desco- 
nhecidos, passou  sob  o  equador,  em  frente  das  ilhas  de  S.  Thomé  e  Prín- 
cipe, fundeou  na  bahia  de  Santa  Helena  e,  n'uma  quarta  feira,  no  memo- 
rável dia  22  de  novembro  de  1497,  dobrou  o  cabo  das  Tormentas. 

Vasco  da  Gama,  observa  o  illustre  H.  Major,  passou  com  vento  á 
popa  o  temeroso  cabo,  a  que  el-rei  D*  João  II  deu  o  immortal  nome  de 
Boa  Esperança,  antecipando  o  feito  que  já  estava  próximo  de  realisar-se. 
Entrou  a  armada  na  bahia  de  S.  Braz  a  25  dehovembro  e  ancorou 
a  14  de  março  em  frente  da  ilha  de  Moçambique.  Surgiu  depois,  passa- 
das as  ilhas  Querimí)as,  em  Mombaça  e  mais  tarde  em  Melinde,  a  pouca 
distancia  do  equador,  sob  o  qual  repassavam  de  novo  os  corajosos  nau- 
tas, que  ensinavam  o  caminho  das  terras  equatoríaes  que,  no  século  xvi, 
foram  habitadas  por  portuguezes. 

Quinta  feira  17  de  maio  de  1498,  diz  H.  Major,  avistou  Vasco  da 
Gama,  pela  primeira  vez,  uma  terra  alta,  a  distancia  de  oito  léguas;  era 
a  índia,  objecto  de  tantas  anciedades  e  de  tantos  annos  de  esforços  per- 
severantes. 

Não  podemos  deixar  de  nos  recordar  d'esta  arrojada  empreza  que 
nos  approximou  de  Goa,  Malaca,  Timor  e  das  ilhas  das  Especiarias,  nem 
duvidámos  comparal-a,  no  grande  pensamento  que  a  iniciou,  na  sua  im- 
portância politica  e  cominercial,  com  a  que  hoje  nos  esforçámos  em  rea- 
lisar,  mandando  explorar  o  interior  da  Africa  portugueza,  d'onde  pode- 
remos tirar  o  café,  o  algodão  e  o  assucar,  e  muitos  productos  que  por  ali 
jazem  enterrados. 

Gumpre-nos,  pois,  explorar  as  terras  que  ficam  entre  Angola  e  Mo- 
çambique, fronteiras  uma  á  outra,  e  já  percorridas,  como  acima  disse- 
mos, por  differentes  sertanejos  e  negociantes.  Não  está  todavia  examinada 
a  hydrographia,  nem  os  melhores  meios  de  communicação,  desconhe- 
cendo-se  também  os  logares  mais  férteis  e  salubres,  assim  como  as  con- 
dições especiaes  que  elles  offerecem  para  uma  colonisaçao  regular.  A  na- 
ção que  hoje  melhor  sabe  colonisar,  é  de  certo  a  que  promette  um  fu- 
turo mais  prospero,  uma  vida  mais  prolongada. 


Rua  de  mangueiral  e  jaisbeitas  m  lateada  S  Jcío  em  iu^ola 


81 

Nao  se  trata,  portanto,  de  tim  simples  itinerário,  nem  do  reconheci* 
mento  isolado  das  posições  astronómicas.  O  fim  é  mais  iargo,  o  problema 
mais  difficil ;  mas  não  é  este  o  logar  próprio  para  discutir  tio  alto  e 
momentoso  assumpto.  Paliaremos  d'elle  mais  adiante,  aqui  só  queremos 
mostrar  a  importância  que  lho  attribuimos,  e  registámos  com  prazer 
os  esforços  que  se  empregam  para  se  levar  a  cabo,  com  feliz  resultado, 
o  maior  emprehendimento  dos  portuguezes  do  século  xix.  Fazemos  vo- 
tos para  que  da  sua  realisação  nos  resulte  um  império  africano,  como  no 
século  XVI  tivemos  o  império  do  oriente. 

9.*—  AMierlea  e^aatorlal 

A  America  equatorial  compõe-se  do  archipelago  de  Galapagos,  das 
republicas  do  Equador  e  da  Nova  Granada,  da  província  do  Amazonas,  no 
império  do  Brazil,  e  das  ilhas  da  foz  do  rio  Amazonas.  Esta  região  equí- 
noccial,  segundo  a  classificação  que  adoptámos,  estende-se  ao  S.  e  N. 
do  equador  por  uma  zona  de  23^  de  largura.  Nós,  porém,  attendemos 
apenas  aos  paizes  que,  ficando  sob  a  linha,  não  se  afastam  muito  d'ella,  e 
nomearemos  sempre  todos  os  estados  que  actualmente  conservam  sua  in- 
dependência. 

Não  estamos,  pois,  de  accordo  com  os  escriptores  que,  fallando  dos 
actuaes  limites  do  império  do  Brazil  com  outras  nações,  deixam  de  se  re- 
ferir á  republica  do  Equador.  Forma  ella  um  estado  independente  e  como 
tal  deve  ser  considerada,  quando  se  trata  da  moderna  geographia  physica 
da  America  equatorial.  Daremos  portanto  uma  breve  noticia  das  terras  da 
America  do  Sul  que  se  acham  sob  a  Unha  equinoccial,  desde  o  archipe- 
lago de  Galapagos,  ao  occidente,  até  ao  da  foz  do  rio  Amazonas,  ao  oriente' 
da  America  meridional. 

Albenarle  e  as  ilbas  Galapagos. — A  ilha  Albemarle,  a  mais  septentrional  do 
archipelago  Galapagos  ou  das  Tartarugas,  tem  127^,7  kilometros  de  com- 
primento por  88^,9  de  largura.  Todas  estas  ilhas  pertenceram  antes  de 
4854  á  republica  do  Equador,  e  estão  hoje  sujeitas  aos  Estados  Unidos 
da  America  do  Norte,  que  as  obtiveram,  segundo  diz  Larousse,  por 
ã.700:000^SK)00  réis. 

A  ilha  de  Albemarle  é  atravessada  pelo  equador  e  tem,  segundo  di- 
zem, cinco  vulcões. 

O  aspecto  d'estas  ilhas  é  selvagem  e  imponente.  Abundam  em  tartaru- 
gas, que  são  as  maiores  que  se  conhecem,  pesando  algumas  200  e  300 
kilogrammas^  e  servem  para  alimentação.  Encontram-se  também  algu- 
mas plantas  que  ainda  não  foram  descobertas  n'outra  parte  do  globo. 

A  descripção  feita  por  Larousse  com  respeito  a  estas  ilhas,  mostra  que 


82 

não  téem  sido  procuradas  para  colónias  agrícolas,  e  que  para  ali  eram  man- 
dados pelo  governo  da  republica  do  Equador  os  malfeitores.  Têem  bons 
portos  e  fundeadouros  que  ficam  a  1:411  kiiometros  a  O.  da  costa 
continental.  Algumas  d'ellas  téem  agua  corrente,  e  em  todas  se  pôde 
aproveitar  a  agua  da  chuva.  Tornaram-se  notáveis  desde  que  foram  visi- 
tadas pelo  celebre  naturalista  Carlos  Darwin.  Este  eminente  sábio  diz  que  o 
archipelago  Galapagos  é  per  si  só  um  pequeno  mundo  ou  antes  um  satel- 
lite  da  America  do  Sul,  d'onde  recebeu  alguns  colonos  nómadas  e  dea 
seu  cunho  geral  ás  producções  indígenas.  Quando  se  attenta  Ba  peque* 
nez  doestas  ilhas,  observa  o  celebre  viajante,  admirámo-nos  de  encontrar 
ali  tantas  creações  novas,  circumscríptas  em  tão  limitado  espaço.  Mas, 
exclama  eni  seguida  o  mesmo  naturalista : 

cGomment  tant  de  force  créatrice  a-t-elle  été  dépensée  pour  peupler 
ces  rocs  nus  et  stéríles?  Comment  ceite  force  a-t-elle  agi  d'une  façon  di- 
verse,  et  pourtant  analogue,  sur  des  points  aussi  rapprochés?  Les  especas 
nouvelles  ont-elles  été  créés  isolément?  ou  sont-ce  des  variétés  de  quel- 
ques  types  origínaux,  créés  primitivement  ou  importes,  et  que  des  con- 
ditions  aotres  ont  modifié?» 

Carlos  Darwin  tratou  doestas  importantes  questões  no  seu  livro  Ori^ 
gem  das  espécies,  assumpto  de  que  nos  occuparemos  na  secção  vn  doeste 
trabalho,  abstendo  nos  por  emquanto  de  entrar  em  largas  considerações 
a  tal  respeito. 

Repablita  do  Equador.  —  Importa  muito  conhecer  este  paiz  equatorial: 
consíderámol-o  como  uma  das  principaes  regiões  que  se  acham  sob  o 
equador,  e  como  uma  das  maravilhas  do  universo.  Tem  ao  N.  a  re- 
publica da  Nova  Granada,  a  E.  a  provincia  do  Amazonas  no  ímpeno  do 
Brazil,  ao  S.  o  Peru  e  a  0.  o  Oceano  Pacifico.  A  sua  superficie  está  calcu- 
lada em  cerca  de  650:000  kilomelros  quadrados.  Mede  de  E.  a  0. 1:225 
e  de  N.  ao  S.  840. 

Estende-se  desde  6""  de  latitude  S.  a(é  2''  de  latitude  N.,  isto  é,  pro- 
longa-se  de  222^,2  para  o  N.  do  Equador  e  o  dobro  para  a  parte  inferior 
óu  S. 

Muitos  pontos  equinocciaes,  aquelles  em  que  a  latitude  é  milla,  cor- 
respondem á  largura  do  paiz,  sob  os  quaes  passa  o  rio  Ica  ou  Putumayo, 
que  o  atravessa  de  NO.  a  SE.,  e  que  é  um  dos  afliuentes  da  margem  es- 
querda do  Amazonas. 

Os  rios  da  republica  do  Equador  dividem-se  em  duas  classes;  uns 
descem  das  grandes  montanhas  que  cortam  o  paiz  e  desaguam  no  Oceano 
Pacifico,  e  outros  correm  para  o  levante  e  vão  despejar  no  Amazcmas 
oa  em  algum  dos  seus  afQuentes. 


9» 

Pare  lismr-M  idéa  da  elevada  posH^io  da  eidade  de  Quito,  capital  da 
r^ublica  do  Equador,  basta  Dotar-se  que  está  collocada  em  uma  pia- 
Dara  aecídMtada,  n'iima  altura  acima  do  uivei  do  mar,  que  è  superior  á 
da  sem  do  liarão,  addicionada  com  a  do  Oerez,  e  d'oDde  se  avistam  moD- 
tanbas  mais  altas  que  a  da  serra  da  Estrella  I 

Os  cumes  das  dezoito  príDcipaes  mo&tanhas  do  Equador  estão  entre 
4:S18  e  6:B30  metros  de  altitude*  O  vuloio  de  Pechincha  e  o  Gayambé 
ficam  sob  a  linha  equinoccial,  tendo  um  S:9S4  metros  acima  do  nivel  do 
mar  e  o  outro  4:885.  O  mais  alto  de  todos  é  o  Cbimborazo  cuja  altura 
attínge  6:630  metros. 

Os  mcmtes  mais  elevados  das  cordilheiras  formam  como  uma  dupla 
crista ;  os  cumes  príncipaes  esltão  cobertos  de  gelos,  e  foram  escolhi- 
dos pelos  académicos  firancezes  quando  trataram  de  medir  o  grau  equa- 
torial. 

Não  cabe,  porém,  nos  limites  d'esta  obra  a  descripção  das  bellezas  de 
tio  notáveis  panoramas,  nem  a  da  vegetação  que  borda  os  rios  ou  forma  as 
immeosas  Arestas  que  causam  assombro  a  quem  viaja  n'aquelle  extraor- 
dinário paiz.  O  nosso  estudo  não  p^mitte  que  nos  afastemos  dos  pon- 
tos que  se  acham  sob  a  linha  equinoccial,  podendo  reputar-se  sem  im- 
portância a  extensão  de  SOO  a  600  kilometros  ao  N.  ou  ao  S.  do  equa- 
dor, de  modo  que  a  villa  dos  Angolares  na  ilha  de  S.  Thomé,  em  cerca 
de  7'  12"  de  latitude  N.,  pode  considerar-se  em  condições  iguaes  ás  da 
ilha  das  Rolas,  que  fica  sob  aqueiia  linha,  assim  como  algumas  povoações 
das  rqmblicas  do  Equador  e  da  Nova  Granada  são  consideradas  como 
sob-eqoatoriaes,  visto  estarem  a  poucos  kilometros  ao  N.  ou  ao  S.  da 
linha  equinocciah 

A  G^Nlal  da  repubUoa  esti  em  13'  ao  8.  do  equador  próximo  do  vul- 
cão da  província  denominada  Pechincha^  3:200  metros  acima  do  nivel  do 
oceano.  £  si^eíta  a  tremores  de  terra,  e  se  não  tivesse  esta  má  condição 
seria  um  paiz  inoomparaveU  fi,  porém,  certo  que  todos  os  viajantes,  en- 
tre os  quaes  se  conta  Humbold^  faliam  eom  entbusiasmo  d'este  paiz*  As 
palavras  d'este  sábio  toem  sido  repetidas  muitas  vezes  e  não  vem  fóre 
de  propósito  reproduxil-as  aqui : 

tQuem  vive  por  alguns  mezes  sobre  as  alias  planuras  da  republica  do 
Equador  experimenta  irresistivelmente  uma  iHusão  extraordinária;  esqu»* 
ce-se  a  pouco  e  pouco  de  que  essaa  cidades  industriosas  que  o  cercam, 
esses  pastos  em  que  se  apascentam  rebanhos  de  carneiros  e  de  lamas, 
esses  prados  orlados  de  variadas  e  productivas  arvores,  esses  (&mpos, 
em  fimi  cultivados  com  todo  o  cuidado  e  promettendo  abundantes  colhei* 
taSi  estão  suspensos  nas  altas  regiões  da  atmosphera,  e  não  pode  imagínar- 
se  que  o  solo  em  que  se  acha  esteja  mais  elevado  acima  do  Oceano  Pacifico 


84 

do  que  o  pico  Ganigoo  nos  montes  Pyrenéos  sobe  acima  do  Mediterra* 
neo.» 

Não  sao  somente  causa  de  admiração  os  panoramas  que  se  desenro- 
Iam  diante  do  observador  que  percorre  as  provindas  septentrionaes 
d'aquella  republica,  pois  não  é  menos  digno  de  notar-se,  para  o  caso  de 
que  nos  occupámos,  o  movimento  da  população. 

Trata-se  de  um  paiz  equatorial.  A  sua  capital»  afastada  apenas  24  ki- 
lometros  do  Equador»  tem  quatro  vezes  mais  habitantes  do  que  a  cidade 
de  Braga,  capital  da  pittoresca  província  do  Minho  em  Portugal.  E  não 
vem  fora  de  propósito  observar  que  metade  da  população  é  composta 
de  europeus,  cujos  descendentes  se  calculam  em  cerca  de  36:000  almas, 
o  que  prova  evidentemente  que  é  possível  a  aclimação  dos  europeus  sob 
o  equador;  por  isso  não  duvidámos  comparar  aquelle  paiz  com  as  zonas 
tropico-equatoriaes  da  Africa  portugueza  que  tem  tão  boas  condições  de 
fertilidade  e  benignidade  de  clima  como  os  melhores  paizes  do  mundo. 
Estes  assumptos  hão  de  ser  tratados  em  outras  secções  d'este  trabalho 
e  mostraremos  então  que,  assim  como  n'estas  regiões  privilegiadas, 
também  entre  as  nossas  províncias  de  Africa  se  nos  deparam  terras  em 
condições  similhantes  ás  da  ilha  da  Madeira  ou  ás  da  região  em  que  se 
levantam  as  cidades  de  Braga,  Guimarães,  Yianna  do  Gastello  e  outras 
povoações  de  Portugal. 

Republica  da  NoYa  Granada.— A  parte  meridional  d'este  paiz  tem  alguns 
logares  em  0°  de  latitude,  e  por  isso  designaremos  os  limites  d'elle  e  da- 
remos a  notícia  geral  da  sua  posição  e  extensão.  Este  paiz  offerece  con- 
dições especiaes  dignas  de  attenção,  muito  vantajosas  para  a  questão  de 
aclimação  e  colonisação  das  zonas  que  se  acham  sob  a  linha  equinoccial. 

A  immensa  cordilheira  que  se  prolonga  do  S.  ao  N.  na  republica  do 
Equador,  penetra  nas  terras  da  republica  da  Nova  Granada  e  divide-se 
em  três  ramos  denominados  oriental,  central  e  occidental.  Estendem-se 
na  direcção  do  N.  e  vão  gradualmente  diminuindo  de  altura  até  se  reuni- 
rem em  cerca  de  6^  a  7^  de  latitude  N.,  e  chegam  a  confundir-se  com  a 
costa  banhada  pelo  Oceano  Pacifico  ou  pelo  mar  das  Antilhas,  d'onde  se 
avista  a  chamada  serra  nevada  de  Santa  Martha,  que  se  levanta  no  extre- 
mo N.  do  paiz.  A  costa  por  este  lado  é  formada  de  montes  altos  e  áridos, 
sendo  uns  cortados  a  pique  e  tendo  joutros  ladeiras  mais  ou  menos  incli- 
nadas. 

No  famo  oriental  a  altura  media  è  de  4:000  melros;  no  central  ha  pi- 
cos coroados  de  neve,  cuja  altitude  se  calcula  em  4:900  a  5:500;  no  occi- 
dental os  alto-planos  e  os  montes  são  menos  elevados  e  chegam  apenas 
a  1:500  metros  acima  do  nível  do  Oceano. 


85 

Ha  grande  dífferença  entre  as  cordilheiras  da  republica  do  Equador  e 
as  da  Nova  Granada.  Esta  dífferença,  diz  Malte-Brun,  consiste  na  dispo- 
sição em  que  se  acham  os  montes  de  uma  e  de  outra  região. 

Na  republica  do  Equador  são  diversos  os  alto-planos  que  separam  as 
montanhas  que  lhes  ficam  sobranceiras.  Ha  planuras  que  se  abrem  a 
2:750  metros  de  altitude,  ficando  mais  altas  do  que  as  nossas  serras  de 
Montejunto,  Estrella  ou  Suajo.  Na  republica  da  Nova  Granada  os  montes 
e  as  cordilheiras  são  separadas  por  inmiensos  valles  e  bacias  de  grandes 
rios,  cujos  leitos  não  se  erguem  a  muitos  kilometros  de  altura. 

A  provincia  da  republica  da  Nova  Granada  que  se  avizinha  mais  da 
linha  equinoccial  chama-se  Los  Pastos,  sendo  ao  S.  que  as  cordilheiras 
dos  Andes  se  dividem,  distingnindo-se,  como  dissemos,  as  que  ficam 
sob  a  linha  equinoccial  d'aquellas  que  atravessam  o  território  da  repu- 
blica. 

Se  as  montanhas  da  Nova  Granada  são  dignas  de  attenção,  os  rios  a 
que  ellas  dão  origem,  as  catadupas  enormes  que  formam,  as  cascatas,  os 
saltos  ou  immensas  quedas  de  agua  que  frequentemente  se  observam 
constituem  phenomenos  extraordinários  n*aquelle  paiz,  que  tem  sido  cui- 
dadosamente estudado  pelos  mais  afamados  naturalistas  do  mundo. 

O  solo  da  republica  da  Nova  Granada  é  banhado  por  diversos  rios, 
sendo  o  maior  de  todos  o  Magdalena,  o  qual,  depois  de  receber  as  aguas 
do  Cauca,  a  200  kilometros  da  foz,  vae  desaguar  no  mar  das  Antilhas. 
Ambos  estes  rios  percorrem  a  região  septentrional  do  paiz,  nos  valles 
profundos  dos  Andes.  O  rio  Magdalena  é  mais  extenso,  sendo  navegável 
até  cerca  de  556  kilometros  da  sua  foz;  alem  d*este  e  do  seu  afiluente 
principal  deve  nomear-se  o  Atrato,  que  desagua  no  golfo  Darien. 

Para  se  apreciarem  as  correntes  que  banham  as  terras  d'esta  repu- 
bhca,  reproduziremos  as  palavras  do  illustrado  geographo  Malte-Brun : 

«A  Nova  Granada  está  n'uma  das  mais  felizes  situações  hydrographi- 
cas;  communica  por  um  lado  com  o  Oceano  Pacifico,  para  onde  correm 
os  rios  de  menor  volume  de  agua,  por  outro  com  o  mar  das  Antilhas, 
sendo  notáveis  as  cidades  de  Carthagena  e  Santa  Martha,  e  finalmente, 
com  o  Oceano  Atlântico  por  meio  dos  rios  Orenoque,  que  lhe  banha  a 
fronteira,  e  dos  affluentes  do  rio  Amazonas.» 

A  republica  da  Nova  Granada  divide-se  em  differentes  províncias  cujas 
capitães  de  maior  nomeada  são  Santa  Martha,  Carthagena,  Soccorro,  Bo- 
gotá, Medellin,  Popayan,  etc. 

A  cidade  de  Popayan  foi  outr'ora  florescente,  mas  hoje  está  muito 
decaída,  tendo  servido  de  estação  commercíal  entre  as  cidades  de  Car- 
thagena e  Quito.  A  respeito  da  provincia  Antioquia,  de  que  é  capital  Me^ 
dellin,  e  da  planície  em  que  ella  está  assente^  diz  o  doutor  Saffrayi 


m 

tLimitada  de  am  lado  pela  cordilheira  occidental  dos  Andes,  ao  pé  da 
qual  corre  o  rio  Cauca,  a  província  de  Antioquia  é  atravessada  por  nu- 
merosos ramos  da  cordilheira  central,  que  formais,  a  uma  altitude  media 
de  2:500  metros,  planuras  accidentadas  em  que  reina  por  todo  o  anno 
o  clima  da  França,  na  primavera,  t 

Entre  todas  as  povoações,  a  que  merece  especial  menção  é  a  cidade 
principal,  que  se  chama  Santa  Fé  de  Bogotá,  e  é  a  capital  da  republica. 
Tem,  segundo  Malte-Brun,  cinco  soberbas  pontes  e  approximadamente 
40:000  habitantes.  Está  situada,  diz  aquelle  sábio  geographo,  na  mar- 
gem esquerda  do  rio  de  Bogotá,  n'um  dos  mais  pittorescos  e  mais  férteis 
valles  da  America  do  Sul,  próximo  a  um  dos  ramos  da  cordilheira  dos 
Andes,  a  mais  de  2:600  metros  de  elevação  acima  do  nivel  do  mar. 

Os  terrenos  s3o  férteis,  mas  os  príocipaes  produclos  de  exportação 
são  o  Índigo  e  as  pelles.  Possue  minas  de  carvão,  oiro  e  prata;  têem  appa- 
recido  esmeraldas,  diamantes,  etc.  Produs  milho,  café,  cacau,  assucar, 
tabaco  e  outros  géneros. 

Terrenos  banhados  por  diibrentes  s^flluenles  da  niargoM  esqierda  do  rio  Ana- 
zonas. — A  região  equatorial  do  Brazil  comprehende  grande  extensão  de 
terras  desde  a  foz  do  Amazonas,  na  costa  oriental  da  America  do  Sul,  até 
ao  extremo  oriental  da  nepublica  do  Equador,  sendo  a  distancia  enlre  os 
dois  pontos  extremos  1:725  kilometros. 

O  rio  Uaupes,  poucos  kilometros  antes  da  foz  do  afiQuente  Tiquie, 
corre  quasi  sob  o  equador  até  se  reunir  ao  rio  Negro  na  margem  esquerda, 
um  pouco  acima  da  villa  de  S.  Joaquim.  N'este  ponto^  o  rio  Negro,  des- 
cendo do  N.,  recurva-se  e  dirige-se  para  o  nascente,  tomando  uma  di- 
recção quasi  parallela  á  linha  equinoccial  até  aos  aâluentes  Xibaru,  na 
margem  direita  e  Padavixí  na  esquerda.  Começa  então  a  descer  para  SE. 
até  encontrar  o  rio  Branco,  reunindo-se  n^um  só  leito  e  desaguando  no 
Amazonas,  junto  á  cidade  de  Manáos,  capiial  da  província.  A  região  equa- 
torial compõe-se  da  província  do  rio  N^ro  ao  S.  da  republica  da  Nova 
Granada,  das  terras  banhadas  pela  região  inferior  do  rio  Branco  e  pela 
Guyana  brazileira,  ao  S.  das  Guyanas  franceza,  hoUandeza  e  ingleza.  É  ne- 
cessário dizer-se  que,  em  1876,  a  província  do  império  do  Brazil,  denomi- 
nada Amazonas,  confina  com  as  Guyanas,  Estados  Unidos  da  Venuzuela, 
republicas  do  Equador,  Nova  Granada  e  Peru,  e  com  as  províncias  bra- 
zileiras  do  Matto  Grosso  e  Pará.  O  diccionario  de  Larousse  nio  descreve 
a  província  do  Amazonas,  e  em  algumas  publicações  portuguezas  publi- 
cadas modernamente,  como  já  dissemos,  não  se  falia  da  republica  do 
Equador  quando  se  traia  dos  limites  do  império  do  Brazil. 

Descemos  a  estas  mínuciosidades,  porque  o  medico  hygienista,  para 


87 

avaliar  o  clima  patbologico  de  qualquer  paiz,  precisa  conhecer  a  sua  posi- 
fio  e  ext^QsSo»  as  relações  em  que  está  com  as  regiões  mais  próximas  e  a 
f&rma  que  ellas  apresentam,  as  relações  em  que  se  acham  as  montanhas 
que  o  atravessam,  os  rios  que  o  banham,  etc.  Assim  como  não  pôde  haver 
bom  medico  operador  sem  conhecer  a  topographia  anatómica,  do  mesmo 
modo  não  se  pôde  ser  bom  hygienista,  quando  se  desconheça  a  topogra- 
phia geológica  das  localidades,  e  suas  relações  com  as  terras  que  lhes 
&am  mais  próximas. 

Alinha  equinoccial,  depois  de  dividir  os  rios  Negro,  Branco,  Jamandá, 
TnHnbetas,  Pará,  etc.,  passa  na  parte  meridional  da  villa  e  forte  de  Macapá, 
edificado  na  margem  esquerda  da  foz  do  Amazonas  que  em  frente  d*esta 
villa  tem  33  kilometros  de  largura;  mas  a  abertura  da  foz  mede-se  entre 
o  cabo  Razo  ou  do  Norte  e  a  ponta  Maguary,  na  ilha  de  Marajó,  avalian- 
do-se  esta  distancia  em  250  kilometros. 

A  provincia  do  Amazonas  tem  uma  superfície  de  1.951:407  kilometros 
quadrados  e  apenas  57:610  habitantes,  cmquanto  que  a  provincia  da  Ba- 
hia, com  uma  superfície  3,7  vezes  menor,  tem  uma  população  22,4  vezes 
maior  do  que  aquelia.  Não  se  dá  apenas  este  caso  entre  as  provindas  do 
Brazil,  e,  para  tomar  bem  saliente  a  pouca  população  da  provincia  equa- 
torial d'este  império,  notaremos  que  a  provincia  e  Minas  Geraes  é  3,1  ve- 
zes menor  que  a  do  Amazonas,  emquanto  que  a  população  d'aquella  é  34 
vezes  maior  do  que  esta. 

Ao  centro  da  região  equatorial  da  America  vae  ler  o  rio  Orenoque,  en- 
tre o  qual  e  o  rio  Negro  ha  o  canal  Cassiíiiiari  ou  os  rios  que  saem  das 
republicas  do  Peru,  do  Equador  e  Nova  Granada,  e  vão  reunir-se  ao  Ama- 
zonas. 

Todos  esses  rios  têem  sido  percorridos  por  differenles  exploradores, 
subindo  também  alguns  d'elles  desde  a  foz  do  Amazonas  até  ao  rio  Napo, 
que  banha  a  republica  do  Equador  em  toda  a  sua  extensão  de  NO.  a  SE. 
£  de  esperar  que  em  breve  tempo  se  ligue  o  Amazonas  com  o  rio  de  ta  Plata, 
cujos  affluentes  príncipaes  nascem  a  pequena  distancia  uns  dos  outros.  Ê 
portanto  muito  fácil  activar  a  colonisação  da  região  equatorial  da  Ame- 
rica, se  attendermos  á  possibilidade  de  se  utilisarem  tão  importantes  vias 
fluviaes.  N2o  descansam  pela  sua  parle  os  poderes  públicos  do  império 
do  Brazil,  convencidos  de  que  é  irrealisavel  a  colonisação  sem  se  abii- 
rem  communicações  entre  os  centros  mais  ferieis,  e  por  isso  protegem 
as  companhias  de  vapores  que  no  rio  Amazonas  e  seus  affluentes  estabe- 
lecem relações  n'uma  entensão  de  9:000  kilometros. 

Ilhas  4a  foz  do  Amazonas.— O  equador  passa  em  algumas  das  ilhas  que 
se  acham  na  foz  do  rio  Amazonas,  contando-se  n'este  numero  a  Cavia^ai 


88 

Mexiana  e  Jarupary,  segundo  se  vé  de  alguns  mappas  geographícos.  Ha, 
porém,  outras  ilhas  que  estão  mais  para  o  interior  do  rio ;  uma  d'ellas  é 
immensa,  n3o  fica  sob  o  equador,  mas  divide  o  Amazonas  em  dois  ra- 
mos, dlrígindo-so  um  para  NE.  e  outro  para  S.,  formando  o  rio  Mara- 
nhão ou  do  Pará. 

O  Amazonas,  desde  a  foz  do  Xingu,  aflluente  da  margem  direita,  até  A 
ilha  Gurupá,  dirige-se  para  o  N.,  e,  alargando-se  em  seguida,  dá  origem 
a  um  grande  seio  triangular,  onde  se  acham  diíFerentes  ilhas.  É  hmi- 
tado  ao  N.  pela  margem  esquerda  do  Amazonas,  ao  S.  pela  direita  e  a  E. 
pela  costa  occidental  da  ilha  Marajó,  que  se  torna  notável  por  separar 
O  curso  do  Amazonas,  formando  o  braço  meridional  que  recebe  diffe- 
redtes  rios,  banha  a  cidade  do  Pará  e  desagua  no  mar  entre  a  ponta 
álaguary  na  ilha  Marajó  e  a  Tijoca  no  continente^  ficando  ali  a  barra  do 
rio  do  Pará. 

A  ilha  Marajó  ou  Joannes,  como  outros  lhe  chamam,  não  tem  me- 
nos de  135  kilometros  de  N.  a  S.  e  185  de  E.  a  O.  É  productiva,  ali- 
menta muito  gado,  que  ali  se  reproduz  com  extrema  facilidade,  tem 
muita  agua  corrente  e  não  são  altos  seus  terrenos.  Do  archipelago  do 
Amazonas  não  temos  minuciosas  informações,  nem  se  falia  dos  seus  pro- 
ductos  nos  trabalhos  de  que  temos  conhecimento.  Parece-nos  ainda  assim 
muito  importante,  não  devendo  esquecer-se  as  duas  maiores  ilhas  que  se 
acham  sob  a  linha  equinoccial,  as  de  Mexiana  e  Caviana. 

••<>— Oecanla  equatorial 

A  divisão  geographica  da  Oceania  mais  geralmente  seguida  é  a  se- 
guinte: Micronésia  (pequenas  ilhas)  ao  NO.,  composta  das  ilhas  de  Ma- 
galhães ou  Genin,  Sima,  Mariannas,  Carolinas,  Palaos,  Marshall  e  Gil- 
bert;  Melanesia  (ilhas  negras)  a  SO.,  comprehendendo  a  Austrália  ou 
Nova  Hollanda,  Tasmania  ou  Terra  de  Diemen,  Papouasia  ou  Nova  Guiné, 
Novas  Hebrides,  Nova  Caledónia,  ilhas  de  Salomão,  do  Almirantado,  da 
Luziada  e  Viti  ou  Tidgi,  etc.;  Malásia  (archipelago  asiático)  a  O.,  que 
abrange  as  Filippinas,  Molucas,  Gelebes,  Borneo,  Sumatra,  Java,  Timor, 
Sumbava,  etc;  Polynesia  a  E.,  onde  se  encontram  as  ilhas  Sandwich  ou 
Hawao,  Marquezas,  da  Sociedade,  dos  Navegadores,  Tonga  ou  dos  Ami- 
gos» Pomotou  ou  Tormetoa,  Fidgi,  Nova  Zelândia,  etc.  Mas  nós  occupá- 
mo-nos  especialmente  d^aquellas  cm  que  ha  localidades  collocadas  sob  o 
equadar  em  0^  de  latitude,  como  por  muitas  vezes  temos  declarado. 

Se  ha  região  que  devamos  memorar,  a  Oceania  equatorial  é  uma  d'el- 
las.  O  que  ali  fizemos  por  largos  annos,  os  feitos  tão  celebrados  por  tan- 
tos escriptoresi  não  podem  de  certo  repetir-se  n'este  togar,  mas  é-nos  ím« 


89 

possível  fallar  de  Sumatra,  da  Gelebes,  de  Ternate  e  de  outros  territórios 
da  Malásia  sem  nos  recordarmos  de  que  por  tantos  annos  habitámos 
aquellas  regiões.  Foram  os  portuguezes  os  primeiros  europeus  que  as  po- 
voaram, confiados  apenas  no  amor  de  Deus  e  da  pátria.  Devemos  comme* 
morar  o  anno  de  1544,  em  que  descobrimos  as  ilhas  das  Especiarias, 
chegando  ali  em  4548  D.  Tristão  de  Menezes  para  fazer  conmiercio  com 
os  reis  d*aquellas  ilhas.  É  portanto  evidente  que  as  Molucas  foram  des- 
cobertas pelos  portuguezes  e  não  pelos  hespanhoes,  como  se  diz  no  dic- 
cionario  de  Larousse. 

Cumpre-nos,  finalmente,  relembrar  o  tempo  em  que  António  Galvão 
viveu  nas  ilhas  Molucas. 

Foi  este  illustre  governador  homem  de  excellentes  virtudes,  e  para 
lhe  prestarmos  honrosa  homenagem  reproduzimos,  em  1876,  um  trecho 
da  chronica  que  d'elle  nos  legou  o  nosso  João  de  Barros  em  4556. 

€  António  Galvão  era  bemquisto  dos  Portuguezes^  e  a  todos  obrigou  com 
muitos  benefícios,  que  lhes  fez;  porque  devendo-lhes  os  Mouros  muitas  di- 
vidas de  seus  contratos,  e  distratos,  que  faziam  entre  si,  que  os  Capitães 
passados  nunca  foram  poderosos  para  lhas  fazer  cobrar^  elle  fez  com 
que  de  boa  vontade,  e  sem  contenda  lhes  pagassem;  e  devendo  ElRey  de  Por- 
tugal muitos  soldos,  e  mantimentos  aos  Portuguezes,  que  estavam  em  Ter- 
nate, não  tendo  seus  Feitores  dinheiro,  elle  o  emprestava  com  grande  perda 
sua:  da  mesma  maneira  gastava  do  seu  com  os  doentes,  que  curava  d 
sua  custa,  e  em  obras  pias  que  fazia  aos  que  cahiam  em  necessidade;  e  como 
hum  dos  frutos  da  paz  he  o  ornamento,  e  concerto  das  cousas  públicas, 
naquelle  tempo  em  que  se  vio  quieto  reedificou  a  fortaleza  de  edifícios,  e 
officinas  necessárias  de  pedra  e  cal,  que  antes  ao  costume  da  terra  eram  de 
cannas,  e  materiaes  fracos,  e  tudo  cercou  de  muro.  Aos  Portuguezes  fez 
edificar  suas  casas  de  pedra,  e  cal,  e  com  chaminés  ao  nosso  modo,  com  que 
aquella povoação  ficava  parecendo  de  Portugal;  e  por  a  entrada  do  porto 
ser  difficultosa,  por  hum  penedo  qtte  estava  no  meio  da  barra,  mandou  que- 
brar este  penedo,  e  levantar  tanto  o  arrecife  que  ficou  feito  hum  molle, 
com  que  o  porto  ficou  fácil,  e  seguro.  E  porque  o  que  áquella  fortaleza 
mai$  cumpria  era  ter  gente  arreigada,  que  por  qualquer  leve  cousa  se 
lhes  não  fosse,  como  muitas  vezes  se  fazia,  ficando  a  fortaleza  só  sem 
ter  quem  a  defendesse,  formou  huma  nova  colónia,  fazendo  com  ElRey 
CaMl  Aeiro  que  desse  terras  aos  Portuguezes  que  lavrassem  e  plantas- 
sem, com  que  fizeram  quintas,  em  que  traziam  muito  género  de  gado  e 
ave;  e  para  ornamento  da  Cidade  trouxe  agua  de  três  léguas  por  canos 
de  que  a  gente  e  os  gados  bebiam  e  se  regavam  as  hortas  e  os  pomares,  e 
aseim  inêitau  com  seu  exemplo  aos  Mouros,  que  occupados  em  lavrar  $ 


00 

semear  ou  terras  e  crear  gado,  se  esqueciam  das  guerras,  em  que  de  con- 
tinuo andavam  e  de  soldados  se  tornavam  lavradores.  ElRey  de  Temaie 
vendo  o  ornato  da  Cidade,  cobiçou  fazer  outro  tanto  d  sua;  e  com  ordem 
de  António  Galvão  a  ennobreceo  de  edifícios  e  outras  cousas;  muitas  ou- 
tras fez  António  Galvão  perque  com  razão  lhe  puderam  os  Tematos  cha- 
mar Pai  da  Pátria. » 

Ilha  Batoe,  MínUo,  Battau  ou  MeaUo,  e  as  ilhas  ao  0.  de  Somatra. — A  ílba 
Batoe  acha-se  sob  a  linha  equinoccíal  na  mesnia  latitude  do  elevadíssimo 
iDODte  Ophlr,  e  é  dependência  da  residência  ou  província  irlandeza  Pa- 
dang,  na  costa  Occidental  de  Sumatra. 

As  ilhas  que  se  estendem  ao  longo  d'esta  costa,  a  55*^,5  de  distancia, 
terano  médio,  estão  sob  a  dependência  dos  governos  das  respectivas  re- 
sidências ou  províncias  e  alguma  d'ellas  são  notáveis.  Começando  da 
parte  do  S.  depara-se-nos  a  ilha  denominada  Engano,  tendo  55*^,5  de  cír- 
cumferencia;  apparece  em  seguida  Si-Pora  ou  Boa  Fortuna,  Si-Birou  ou 
Mantawai,  e  logo  a  ilha  Batoe,  atravessada  pelo  equador,  havendo  ao  N. 
da  Unha  equinoccíal  a  celebre  ilha  Nias.  Esta  apresenta  133S3  de  com- 
primento por  5&\5  de  largura. 

Os  habitantes  da  ilha  de  Nias,  observa  Malte-Brun,  são  geralmente 
bem  feitos  e  robustos,  téem  a  cõr  clara  como  os  povos  da  Ásia  oriental,  e 
nas  feições  alguma  cousa  do  typo  grego.  As  mulheres  passam  pelas 
mais  formosas  de  toda  a  Malásia.  Calcuia-se  a  população  d'esta  ilha  em 
200:000  habitantes. 

O  que  disse  Malte-Brun  é  corroborado  pelo  dr.  Van  Leent  nas  se- 
guintes palavras : 

«Na  costa  Occidental  da  ilha  de  Sumatra,  encontram-se  mulheres  de 
uma  rara  beUeza,  não  somente  quanto  ás  formas,  n^as  também  quanto 
Í8  feições.  São  na  maior  parte  descendentes  de  europeu  com  escrava  da 
ilha  de  Nias,  que  antes  da  abolição  da  escravatura  foram  levadas  do  seu 
paiz  natal  para  a  ilha  de  Sumatra.  Eram  procuradas  por  causa  da  sua 
forRkusura»  que  se  manifesta  nas  creanças,  principalmente  nas  meninas, 
sendo  mais  bellas  que  as  próprias  mulheres  da  ilha  Nias.» 

£sles  e  outros  factos  serão  apreciados  na  secção  vii  d'este  trabalho,  e 
d^dles  tiraremos  as  conclusões  que  a  rasão  e  a  sciencia  auctorisam. 

Hha  4e  Sninalra. — Esta  ímmensa  ilha  é  quasi  dividida  ao  meio  pela  li- 
nha equinoccíal,  poisque  se  estende  529^,6  para  o  N.  do  equador  e 
644'^,8  para  a  parle  inferior  ou  S.  Foi  conhecida  dos  antigos  e  encontra-se 
em  alguns  mappas  sob  a  denominação  Benae  Fortunatae  Insulae^  mas  não 
i  4e  certo  a  Java  Minor  dos  antigos  viajantes  europeus,  como  dizem  o 


9i 

dr.  Van  Leent  e  Malte-Bruó,  se  attenderfiaos  ao  que  a  tal  respeito  escre- 
veu Diogo  do  Couto : 

cE  considerando  em  Marco  Polo,  observa  aquelle  escriptor,  o  que 
fiilla  de  Java  maior  e  menor,  nos  parece  que  esta  de  que  tratámos  é  a  m&- 
Dor  e  qoe  a  ilha  de  Sumatra  é  a  maior.» 

A  ilha  de  Sumatra,  ^gunda  em  grandeza  do  archipelago  da  Sonda 
oa  da  Malásia,  é  2,7  vezes  maior  que  o  reino  de  Portugal,  tendo^  segundo 
alguns  escriptores,  1:262  kilometros  de  comprimento  e  279  de  largura. 
Ha,  porém,  outros  que,  como  Larousse,  avaliam  a  extensão  de  Sumatra, 
de  NO.  a  SE.  em  1  :S00  kilometros,  e  de  G.  a  0.  em  320,  calculando  a  super- 
ficie  em  70:000  kilometros  quadrados.  £  importante  similhante  diíTe- 
rença,  e  nós  n3o  hesitámos  adoptar  os  cálculos  de  Larousse,  poisque  es- 
tão em  relação  com  os  que  se  acham  exarados  no  Annuario  estatistico  de 
Gotha. 

Esta  ilha  pertence  boje  em  grande  parte  aos  hollandezes,  $aas  foi  des- 
coberta pelos  annos  de  4508  a  1509  por  Di<^o  Lopes  Sequeira,  que  ex- 
plorou a  costa  do  Malabar,  descobriu  a  península  de  Malaca  e  foi  a  Pedir 
e  a  Pacem,  paizes  de  Sumatra,  onde  levantou  padrões,  como  diz  Major, 
na  sua  importante  obra  A  vida  do  infante  B.  Henrique,  o  Navegador. 

A  região  septentrional  de  Sumatra  conservou-se  sempre  independente 
e  d'e11a  faliam  João  de  Barros  e  Diogo  do  Couto,  descr^evendo  a  guerra 
que  constantemente  andou  ateada  entre  os  atchins  e  portuguezes,  a  qual, 
como  muito  bem  recorda  o  dr.  Van  Leent  a  propósito  da  uHima  guerra 
da  HoUanda  (1874)  com  os  atchins,  fora  muito  encarniçada  em  1527. 
Estes  povos  não  se  satisfaziam  com  roubar  os  nossos  navios,  matattdp  os 
tripulantes,  para  o  que  se  serviam  sempre  da  astúcia  e  da  traição,  mas  ora 
propunham  pazes,  ora  procuravam  allianças  contra  X)s  portuguezes.  Por 
muitas  vezes  foram  castigados  e  sempre  derrotados  nas  suas  investidas 
contra  Malaca.  Referimo-nos  a  estes  assumptos,  porque  das  guerras  que 
sustentámos  no  estreito  de  Malaca  e  nas  ilhas  Molucas,  tiraremos  valiosos 
dados  para  apreciar  a  influencia  do  clima  equatorial  da  Oceania  nos  euro- 
peus que  frequentaram  aquellas  paragens  no  século  xvi.  Assim,  não  só  nas 
guerras  cuja  descripção  nos  deixaram  João  de  Barros  e  Diogo  de  Couto, 
mas  também  nas  viagens  que  os  portuguezes'  fizeram  na  Africa  austral, 
apparecem  importantes  elementos  que  o  medico  hygienista  deve  aprovei- 
.tar,  quando  trata  de  mostrar  a  influencia  do  clima  de  paizes  que  se  dese- 
jam colonisar. 

Os  portuguezes  que  no  século  xvi  trabalhavam  na  construcção  da  for- 
taleza da  Mina,  na  costa  do  mar  de  Guiné,  na  da  ilha  de  Ternate,  quasi 
sob  a  linha  equinoccial,  e  em  outras  muitas  que  não  precisámos  enumerar, 
estavam  em  circumstancias  diversas  d'aquellas  em  que  hoje  pretendemos 


98 

explorar  as  terras  da  Africa  portugueza,  assignaladas  por  muitas  viagens 
e  corajosos  feitos  de  que  iremos  dando  conta  no  seguimento  d'esta  obra. 

Os  escriptores  do  século  xvi  contavam  com  enthusiasmo  a  laboriosa 
vida  dos  soldados  destemidos,  nautas  valorosos  e  intrépidos  viajantes.  Os 
do  século  XIX  archivam  os  feitos  dos  colonos  corajosos  e  funccionarios  que, 
luctando  denodadamente  contra  a  influencia  de  um  clima  novo,  conseguem 
no  meio  de  grandes  difiBculdades  semear  terras  incultas  e  lançar  os  pri- 
meiros delineamentos  de  futuras  povoações,  como  as  de  Cazengo  e  Mossa- 
medes,  na  provincia  de  Angola.  E  nós,  descrevendo  a  ilha  de  S.  Thomè 
sob  o  ponto  de  vista  da  sua  agricultura,  e  fazendo  a  comparação  do  seu 
clima  com  o  das  regiões  que  se  acham  em  idênticas  circumstancias,  nâo 
devemos  esquecer  aquelles  portuguezes  que,  nos  tempos  passados,  ao 
percorrerem  esses  logares  desconhecidos,  prestaram  valiosos  serviços  á 
pátria,  á  religião  e  á  humanidade. 

Os  portuguezes  foram  sempre  homens  de  acção,  occupando-se  em  ge- 
ral mais  em  trabalhar  do  que  em  escrever.  Mas  não  faltou  jamais  entre 
elles  homens  como  João  de  Barros,  Luiz  de  Camões,  Diogo  do  Couto,  Azu- 
rara, Castanheda,  Freire  de  Andrade  e  tantos  outros  que  se  encarregaram 
de  mostrar  ao  mundo  o  que  podia  e  valia  a  nação  portugueza.  Os  benefí- 
cios que  esses  obreiros  do  progresso  téem  feito  a  Portugal,  estão  bem 
patentes  nos  famosos  e  modernos  trabalhos  do  visconde  de  Santarém,  II. 
Major  e  visconde  de  Paiva  Manso. 

Mas  voltemos  á  ilha  de  Sumatra,  que,  segundo  o  diccionario  de  La- 
rousse,  só  começou  a  ser  conhecida  depois  da  publicação  das  Memorias 
de  Muller,  em  1778,  apparecendo  as  de  Marden  em  1793. 

Sem  negar  a  importância  dos  escriptores  que  a  descreveram,  tendo 
sempre  em  conta  otempo  em  que  o  fizeram,  não  achámos  todavia  justo 
o  silencio  de  Larousse  com  respeito  a  João  de  Barros,  que  duzentos  c 
quinze  annos  antes  deu  importantes  informações  da  ilha,  como  adiante 
veremos.  E  para  demonstrar  o  erro,  em  que  estão  os  que  julgam  que 
esta  ilha  só  foi  conhecida  na  Europa  nos  últimos  annos  do  século  xvii, 
reproduziremos  também  as  formosas  estancias  que  o  nosso  primeiro  épico 
lhe  consagrou  duzentos  e  seis  annos  antes  das  obras  dos  escriptores  de 
que  falia  Larousse ;  e  note-se  que  os  Lusíadas  de  Camões  têem  sido  tra- 
duzidos nas  príncipaes  linguas  da  Europa. 

Antes,  porém,  de  darmos  as  descripções  dos  escriptores  portugue- 
zes, reuniremos  algumas  informações  dos  viajantes  modernos. 

A  ilha  de  Sumatra  está  entre  5*  40'  de  latitude  N.  e  5^  59'  de  latitude 
S.  e  alarga-se  desde  95«  46'  de  latitude  E.  até  106«  3'  longitude  O.  É  ba- 
nhada pelo  mar  das  índias  e  fica  fronteira  de  um  lado  á  península  de 
Malaca,  a  celebre  Chersoneso  dos  antigos,  no  continente  asiático^  e  do 


98 

outro  á  ilha  de  Java,  de  tão  grande  nomeada  no  mundo  commerciai.  Ê  ro- 
deada por  differentes  ilhas,  algumas  das  quaes  demoram  sob  a  linha  equí- 
nocciaU  c  que  nos  cumpre  nomear,  não  deixando  comtudo  de  recordar 
qualquer  logar  ou  ilha  que  como  a  denominada  de  Engano,  conserva  o 
nome  portuguez.  São  lembranças  de  um  passado  glorioso,  e  homenagem 
a  tantos  portuguezes  que  illustraram  a  pátria  e  serviram  a  humanidade, 
caminhando  na  Trente  de  obreiros  do  progresso. 

A  ilha  de  Sumatra  não  pertence  toda  aos  bollandezes,  que  são  os  úni- 
cos europeus  que  ali  dominam  desde  1824,  em  que  os  inglezes  lhes  ce- 
deram os  direitos  que  tinham  á  parte  occidental.  Divide-se  em  posses- 
sões neerlandezas  e  território  independente. 

A  parte  pertencente  aós  bollandezes  compõe-se  de  uma  grande  su- 
perfície de  terrenos  4p  alluvião,  calculada  em  cerca  de  7 1  kilometros  de 
extensão,  levantando-se  depois  os  terrenos  até  ás  montanhas  do  interior; 
a  oriental  alonga-se  por  532  kilometros  de  terrenos  baixos. 

Ha  n^esta  ilha  muitos  vulcões,  estando  alguns  em  actividade ;  e  é  ali 
também  que  se  encontra  o  vulcão  mais  alto  do  arcbipelago  indiano,  ao 
qual  SC  attribue  uma  altura  de  3:795  metros.  O  Merepiporem,  de  3:300 
metros,  e  o  Kaboé  são  aquelles  em  que  tem  havido  erupções  mais  notá- 
veis. Nomeámos  também  o  monte  Ophir  por  se  achar  quasi  sob  o  equa- 
dor, elevando-se  a  4:568  metros  acima  do  nivel  do  mar,  como  a  famosa 
montanha  dos  Camarões. 

Possue  vastas  planuras,  valles  aprazíveis  e  terrenos  altos  susceptíveis 
de  cultura,  bem  como  differentes  lagos,  ficando  alguns  a  3:300  metros  de 
altitude.  São  numerosos  os  rios  que  banham  os  terrenos,  formando  parte 
d*elles  grandes  deltas. 

Tema  ilha  oiro,  prata,  estanho,  cobre,  ferro,  chumbo  e  outros  metaes 
úteis  ao  commercio  e  á  industria.  É  realmente  extraordinária  a  sua  riqueza. 
A  flora  ofl'ercce  particularidades  importantes  e  que  não  devem  passar 
despercebidas. 

Nas  montanhas  de  Padang  cultivam-se  os  legumes  da  Europa,  e  na 
de  2:770  metros  de  altitude  depara-se  a  temperatura  de  T,  termo  mé- 
dio, o  que  as  torna  comparáveis  ao  clima  da  Madeira  e  de  Lisboa ;  os  co- 
queiros não  dão  fructo  nos  logares  de  mais  de  1:200  metros,  e  segundo 
o  dr.  Yan  Leent,  aquella  ilha  é  a  pátria  do  benjoim,  da  borracha  e  da  cam- 
pbora. 

A  cultura  do  café  tem  tomado  incremento  nos  últimos  annos  e  é  feita 
sob  boas  regras  agronómicas.  É  tratada  com  todo  o  cuidado,  o  que  lhe 
dá  vantagem  especial.  O  arroz,  milho  e  legumes  também  ali  são  cul- 
tivados com  utilidade,  assim  como  varias  espécies  de  fructos,  entre  os 
quaes  flguram  os  mais  saborosos  que  se  dão  nos  trópicos. 


n 

õ  Nie),  o  fttmisear  e  o  marfim  flgoram  entre  os  productos  anímaes, 
a^lm  eomo  a  gomma-lacca. 

8So  abundantes  e  variadas  em  geral  as  producções  da  ilba  de  Suma- 
tra, tanto  para  consumo  dos  habitantes  eomo  para  exportação. 

A  natureza  grandiosa  da  ilha,  diz  o  dr.  Van  Leent,  selvagem  talvez, 
mas  ao  mesmo  tempo  cheia  de  encantos,  n9o  cede  em  cousa  alguma  á 
das  outras  ilhas  do  mar  de  Sonda. 

Nao  foi  ainda  polido  pela  m&o  dos  homens  tSo  notável  diamante.  Es- 
pera apenas  o  trabalho  do  agricultor  ou  o  alvião  do  mineiro  para  dar  a 
riqueza  áquelles  que  desejam  explorar  a  fertilidade  maravilhosa  dos  ter- 
renos ou  arrancar  do  seio  da  terra  os  valores  que  ali  estão  enterrados. 
Tudo  emflm  faz  esperar  que  esta  ilha  será  dotada  de  todos  os  melhora- 
mentos materiaes  o  moraes  que  se  téem  realisadq  n'outras  provindas 
hollandezas,  e  passará  a  ser  a  primeira  do  arcbipelago  malanesiano. 

Goncluidos  os  caminhos  de  ferro  não  só  na  costa  occidental  e  na  orien- 
tal, mas  também  para  o  interior  do  paiz,  o  commercio  alargará  a  sua 
acção  e  a  agricultura  augmentará  a  prosperidade  geral  e  beneficiará  o 
clima  das  planícies,  onde  a  malária  é  sustentada  pelos  terrenos  de  allu- 
vlSo* 

A  ilha  de  Sumatra  é  essencialmente  equatorial,  e  cumpre-nos,  attento 
o  plano  do  nosso  trabalho,  procurar  todas  as  informações  que  mostrem 
se  os  europeus  podem  ali  aclimar-se.  Não  ha  factos  directamente  obser- 
vados a^  tal  respeito,  mas  de  muitos  portuguezes  sabemos  nós  que  per- 
correram parte  da  costa  da  ilha  sem  serem  atacados  pelas  moléstias  do 
puis.  B  digno  denotar-se  que  de  setecentos  homens  que  desembarcaram 
na  costa  occidental,  em  consequência  do  naufrágio  da  nau  S.  Paulo,  ne- 
nhum failecesse  de  doenças  endémicas,  demorando-se  ali  quarenta  dias 
trabalhando  na  construcção  de  novas  embarcações,  a  fim  de  se  dirigi- 
rem a  Malaca.  D'este  extraordinário  caso  nos  dá  descripção  Diogo  do 
Couto,  contando  o  que  n'ella  houve  de  mais  importante.  O  que,  porém, 
é  certo,  6  que  os  naufk^gos  só  perderam  sessenta  pessoas  n'uma  refrega 
com  09  naturaes  que,  captivados  da  formosura  de  uma  mulher  europea, 
a  roubaram  e  levaram  ao  seu  chefe.  «Depois  d'esta  desaventura,  observa 
Diogo  do  Couto,  se  partiram  os  nossos  de  longe  da  costa,  porque  aquelle 
desastre  os  espertou  a  não  se  fiarem  mais  da  gente  da  terra,  e  assim  em- 
bocáram  o  boqueirão  da  Sunda,  aonde  acharam  quatro  náos  Portugue^ 
zas,  de  que  era  capitão  mór  Pêro  Barreto  Rolim  e  recebeu  toda  esta  gente 
muito  bem,  e  a  repartiu  pelas  náos  e  proveo  a  todos  bastantemento». 

A  ilha  de  Sumatra  é  extensa  e  divide-se  em  muitos  reinos,  mas  é  in- 
dispensável dizer  mais  uma  vez  que  não  trataremos  d'aquelles  que  ae 
acham  nos  extremos  septentrional  ou  meridional,  por  estarem  distantes 


da  linha  equinoccíal,  pois  o  nosso  propósito  é  referirmo^nos  somente  aes 
legares  que  ficam  a  0.  e  E.  e  d'onde  os  habitantes  avistam  á  mesma  al- 
tura o  polo  boreal  e  o  austral. 

  população  da  ilha,  observa  o  dr.  Van  Leent,  tem  sido  avaliada  appro- 
ximadamenle.  Algumas  partes  doeste  grande  solo  não  são  bem  determi- 
nadas, e  o  numero  de  habitantes  é  desconhecido.  O  que  pôde  dieer-se  6 
que  a  população  não  está  em  relação  com  a  superficie  da  ilha,  e  que  são 
immensas  as  florestas  virgens  que  ainda  existem. 

Muitas  são  as  causas  que  téem  concorrido  para  o  estacionamento  dos 
habitantes  indígenas,  mas  a  influencia  da  raça  branca  vae  a  pouco  e  pouco 
ganhando  terreno,  e  os  usos  e  costumes  bárbaros  vão-se  modificando  de 
modo  que,  nos  últimos  annos,  se  nota  ali  grande  augmento  de  popu^ 
lação. 

Comparando  os  dois  modernos  recenseamentos,  continua  Van  (joent^ 
vê-se  que  em  poucos  ânuos  a  população,  que  era  de  217:420  alinas>  pad^ 
sou  a  600:000,  augmento  na  verdade  muito  importante  para  um  período 
de  quatro  annos.  No  diccionario  de  Larousse  calcula-se  o  numero  de  ha- 
bitantes em  6.000:000,  estando  sujeitos  aos  hoilandezes  3:190:000. 

liha  de  Snmatra  dencripta  per  Joio  de  Barros.—  «O  lançamento  da  compri- 
dão  da  ilha  de  Çamatra  jaz  peia  nossa  navegação  per  o  rumoy  a  que  oe 
mareantes  chamam  Noroeste,  Sueste,  e  tomada  quarta  do  Sul  e  terá  du^ 
zentas  e  vinte  léguas  de  comprido,  e  de  largo  sessenta,  ou  setenta  b« 
maior  sua  largura.  Â  qual  fica  tão  vizinha  á  terra  de  Malaca^  que  no  lugar 
mais  estreito  do  canal  que  ha  entre  ellas  não  será  mais  que  té  doze  legufiíB 
quasi  na  fronteria  da  Cidade  Malaca;  e  dalli  assi  para  a  parte  do  Le- 
vante, como  do  Ponente,  vai  esta  terra  da  Ilha  affastando-se  da  firme  de 
maneira,  que  faz  estas  duas  entradas  daquelle  estreito  mais  largo  que  no 
meio.  E  porém  per  todo  elle  tudo  são  baixos,  restingas,  ilhetas  com  ca- 
naes,  os  quaes  errados  se  perdem  as  náos  que  por  alli  navegam :  e  daqui 
procedeo  naquelle  antigo  tempo  de  Ptolomeu,  e  dos  outros  geographos, 
não  ser  aquelle  transito  navegável,  como  ora  he,  porque  a  cubica  dos  ho- 
mens todolos  atalhos  busca,  ainda  que  perigosos,  pêra  cohseguir  seu  in- 
tento. 

cFica  esta  ilha  com  a  linha  Equinocial  que  á  corta  pelo  meio  em  figura 
de  huma  aspa,  donde  a  ponta  mais  Oriental  está  em  seis  gráos  da  parte 
do  Sul  e  com  ella  vai  vizinhar  na  terra  de  Jaiia,  fazendo  ambas  um  es- 
treito per  que  antigamente  se  navegava  pêra  aquellas  parteís  Orientaes ;  e 
por  esta  parte  ao  presente  fica  ella  menos  povoada  e  em  torno  mui  cheia 
de  flhas  e  baixos.  E  pela  parte  do  Ponente,  que  está  em  quatro  gráos  e 
três  quartos  da  banda  do  Norte,  be  mais  limpa,  príncipahnente  da  banda 


98 

de  fóra,  mas  muito  mais  povoada,  por  nella  haver  grande  concurso  de 
navegantes  e  a  terra  em  si  ter  muitas  sortes  de  mercadoria.  Geralmente 
per  toda  a  fralda  do  mar  he  terra  alagadiça,  e  de  grandes  rios  e  pelo  ser, 
tão  montuosa,  onde  está  bum  lago,  de  que  alguns  delles  procedem. 

«Alem  da  muita  quantidade  de  ouro  que  nella  ba,  também  se  aclia 
muita  cópia  de  estanho,  ferro  e  algum  cobre,  salitre,  enxofre,  tintas  de 
minas  e  buma  fonte  de  que  mana  óleo,  a  que  chamam  napta  em  o  reino  de 
Pacem,  e  no  meio  tem  um  monte  como  o  chamado  Etbna  em  a  ilba  Sicília, 
per  que  lança  fogo  a  que  os  da  terra  chamam  Baaluan. 

cEntre  o  grande,  e  diverso  numero  de  arvores,  e  plantas  que  cria,  mui- 
tas delias  de  fruitos  de  que  a  gente  commum  se  mantém,  e  outras  que  á 
natureza  deo  pêra  seu  ornamento,  tem  as  do  sândalo  branco,  aguila,  bei- 
joim,  e  as  que  dam  a  cânfora  como  a  da  ilha  Burneo,  posto  que  alguns  di- 
gam que  a  daqui  é  mais  fina  e  de  outro  género  da  que  vemos  que  vem 
da  China,  que  be  composição,  e  estoutra  he  cousa  natural  de  outra  espe- 
cie. 

«Das  especiarias  tem  pimenta  conunum,  pimenta  longa,  gengivre,  ca- 
nella ;  e  cria  seda  em  tanta  quantidade  que  ba  abi  grande  carregação  para 
muitas  partes  da  índia. 

«O  geral  mantimento  da  gente  he  milho,  e  arroz  e  muitaa sementes,  e 
fruítas  agrestes  do  mato,  porque  pêra  razão  do  clima  não  pôde  crear  ou- 
tras sementes  que  venham  com  fruito  maduro,  como  aquellas  de  que  nós 
usamos.» 

A  importância  da  ilha  de  Sumatra  foi,  pois,  demonstrada  por  João  de 
Barros;  e  Luiz  de  Gamões  deu-lhe[um  logar  de  honra  no  seu  poema: 

Dizem,  que  desta  terra,  co'as  possantes 
Ondas  o  mar  entrando,  dividío 
A  nobre  ilha  de  Samatra  qae  já  d*antes 
Juntas  ambas  a  gente  antigna  vio. 
Ghersoneso  foi  dita,  e  das  prestantes 
Veias  d'oaro,  que  a  terra  prodozio. 
Áurea  por  epithéto  lhe  ajuntaram : 
Alguns  qae  fosse  Ophír  imaginaram. 

Vé  naquella,  que  o  tempo  tomou  ilha, 
Qne  também  flammas  tremulas  vapora, 
A  fonte,  que  óleo  mana,  e  a  maravilha 
Do  cheiroso  licor,  que  o  tronco  chora; 
Cheiroso  mais  que  quanto  estílla  a  filha 
De  Gyniras  na  Arábia,  onde  ella  mora, 
E  vé  que  tendo  quanto  as  outras  tem. 
Branda  seda  e  fino  ouro  dá  também. 

(Limadas,  canto  x^  estancias  cxxiv  e  cxxxv.) 


Rui  du  Falneiías  na  fatenda  Ptotoijpo. 


9: 

^^  àas-^  Tl  mil  III  1^  q»  i  31a  àe  f^mnon  t  tJUú^N^  M  Cih 


"^nr!M 


ãí  uiií^flonjpBK  €  â  rgpacDiii  MtatttsMSik  «swMf^ 

coo.  i  fltoiestt*  jTÉcipal  itmt  Iwm,  Mfefuf  «:>«i  iiitig fan «<ra  j»g^ 

■te  iiip  «  •  ariripAfi  ■■»4i^Mk— A  flte  f»  1^>  4e  ftm«  ^ 

O  àr.  \m  Leal,  áesorpvoíio  a  flhi  li^gi  e  a$  qae  fomMi  <»  «^ 
ctig«fag&  ánaeBQs  (NAUiiBOi,  aio  «  wtere  i  estdbni>»S|iMm8im<trs 
qat  jnâkarmk  li  jm^ados  feíte^  o  que  aès  aio  poikMOS  dieíiir  4i^ 
cano  luMB^gca  ao  Talor  e  a(to$  de  beroika»^ 
e  CBSBiadkis  nas  BOssas  esicola& 

UfB  dos  itis  de  BaAio  |vticiaa\a  por  todos  os  «e;^ 
fOi  dos&avios  DO  esu^lo  de  Mabca,  e  cansava  gra>;«$  pitjoiaos  aos  ne^ 
fodoÊÊes  dl  praça.  Para  o  castigar  saio  draquella  capital  Fero  de  Ma$ca« 
máas  ooai  demo w  eflibaitac5es,  condmmdo  mil  cento  e  dncoenta  ho^ 
mois^  entre  os  qoaes  se  achavam  quinhoitos  e  ciocoenla  portoipietos.  O 
qoe  estes  deram  no  memorável  cerco  doesta  ilha  dil^  Diogo  do  OOQto 
em  poucas  palavras,  referindo-se  aos  trabalhos  dos  nossos  soldados  e  ao 
valor  dos  capities. 

cFeroio  Serrio,  obsara  aqoelle  escríptor,  acompanhado  de  dncoonta 
hof&eos,  chiando  á  estacada  lhe  lançaram  aos  pios  grossos  viradores,  e 
goameceodo-os  aos  cabrestantes,  pondo  todos  nelles  suas  forças,  foram 
arraDcando  boma,  e  boma  com  tanto  trabalho,  que  lhes  rebentou  o  sangue 
pdas  bocas  das  forças  que  nos  peitos  punham.  Nisto  gastou  oito  dias 
por  serem  as  estacadas  muitas,  e  se  deterem  em  cada  huma  grande  espaço, 
e  chegou  a  caravela  a  surgir  defronte  da  Cidade,  t 

São  dignos  de  louvor  taes  actos  de  dedicaçio,  e  ao  menos  podemos 
dizer  que  a  coloDísaçSo  da  Africa  portugueza  nSo  exige  similhantes  sacri- 
ficios,  nSo  reclamando  as  culturas  de  que  os  terrenos  silo  susceptíveis 
mais  do  que  boa  vontade,  constância  e  economia  pnra  pagarem  com 
vantagem  o  trabalho  ou  sacriQcío  que  por  elles  se  fizerem. 

Parece-nos,  pois,  que  durante  o  cerco  da  íllia  de  Bintio  fora  salisfa* 
ctoria  a  saúde  dos  combatentes,  porque  Diogo  do  Couto  nOo  deixaria  de 

7 


96 

O  notar,  se  as  febres  endémicas  dizimassem  tão  esforçados  soldados. 
Apesar  d'isso  a  localidade  em  que  assenta  a  cidade  é  má,  como  indica  o 
mesmo  escriptor,  quando  diz: 

«A  parte  da  ilha  em  que  está  a  povoação  he  toda  muito  apaulada  e 
alagadiça:  e  esta  he  a  razão  por  que  todas  suas  casas  são  ediQcadas  so- 
bre grandes  esteios  de  páo,  levantadas  no  ar,  e  a  serventia  he  por  pontes, 
só  as  casas  d*EIRey  são  fundadas  sobre  um  tezo.» 

O  rei  da  ilha  de  Linga,  que  era  muito  amigo  dos  portuguezes,  foi  em 
seu  soccorro,  mas  chegou  depois  de  tomada  a  cidade  de  Bintão.  A  sua 
gente,  porém,  acompanhada  de  alguns  portuguezes,  percorreu  a  ilha 
para  prender  o  senhor  d'ella,  mas  não  o  poderam  realisar,  por  ter  fugido. 

Não  é  nosso  intento  demorarmo-nos  muito  com  a  descripção  d*esta 
ilba,  não  obstante  ella  estlir  próxima  de  Malaca  e  offerecer  condições  espe- 
ciaes  de  salubridade  de  que  devemos  tomar  conhecimento.  Gumpre-nos 
advertir  também  que  a  ilha  de  Bintão  não  fica  sob  o  equador,  como  disse 
Diogo  do  Couto,  mas  está,  segundo  Malte-Brun,  cerca  de  205^,5  ao  N. 
do  equador.  Tem  28  kilomâtros  de  comprimento  por  12  de  largura;  a  sua 
população  era  calculada  no  anno  de  1867  em  23:861  habitantes. 

A  ilha  Linga  tem  um  monte  de  1:188  metros  de  altitude,  e  fabrica^^ 
2di  boa  louça  para  serviço  de  chá.  Não  possue  lagos  nem  rios  importan- 
tes, notando-se  próximo  do  porto  principal  duas  fontes  de  agua  quente. 

As  ilhas  do  arcbipelago  RiouwrUngga  não  são  sujeitas  a  tremores  de 
terra  nem  a  erupções  vulcânicas,  pelo  qm  fazem  um  cojtfraste  singular 
com  as  terras  da  ilha  de  Sumatra,  onde,  no  dizer  de  muitos  viajantes  e 
exploradores  modernos,  se  contam  mais  de  dezeseis  vulcões,  alguns  dos 
quaes  estão  em  actividade. 

lihA  Linga,  s6§uud#  ê  dícGÍ9iiario  4e  Larousse.  r—  «Lioga  ou  Lingga  é  uma 
ilha  da  Oceania  (Malásia),  pertencente  ao  archipelago  de  Sonda,  ao  NE. 
4JU  ilha  de  Sumatra,  de  que  ella  está  separada  por  um  canal  de  60  kilo- 
netros  de  largura,  e  fica  ao  S.  do  estreito  de  Malaca,  sob  a  linha  equinoc- 
ciai  por  lOl""  2r  de  longitude  £. 

cTem  esta  ilha  125  kilometros  de  comprimento  por  28  de  largura.  Cal- 
culam-se  em  15:000  os  seus  habitantes.  A  capital  denomina-se  Koualo  Daí. 

<  A  ilha  Linga  está  rodeada  de  ilhas,  ilhotas  e  recifes,  eé  atravessada, 
na  parte  media,  de  O.  para  E.,  por  uma  corda  de  montanhas,  onde  se 
notam  dois  picos  de  forma  pyramidal,  que  se  descobrem  de  muito  lon- 
ge, quando  se  navega  o  mar  da  Sonda,  em  que  elles  se  acham. 

«A  costa  do  S.  é  baixa  e  geralmente  pantanosa,  subindo  o  mar,  na  maré 
alta,  a  grande  distancia  da  praia.  É  tão  cerrada  a  vegetação,  que  diíficil- 
loente  se  penetra  nos  logares  arborisados. 


90 

«Unga  è  40^3  dps  in^is  r^cp3  (iQf^^  d^  p.^tqreza,  mas  os  habitantes 
d2o se  apf*pv)^itam  d^  tal  fertijidade,  nem  tratap  de  desenvolver  as  culturas 
mais  apropri^^a^  |S  ^Uas  s^guI)do  a$  regras  da  boa  rasão. 

cA  ilba  fbjanda  em  frutos  e  sagu;  co/^e-se  ali  muita  gomma  e  pi- 
ipenta.  O  interior  é  muito  ^r))ori$.adQ^  tem  madeiras  próprias  para  con- 
stracções  n,9vaef,  tintur^H^'  ^tc. 

cNa  cosjta  ba  bom  pejfa,  aei^o  o$  indigenas  pescadores  niuito  activos. 

cEiLploraraa^-se  em  oiitro  t^mpo  algun^^^  minas  de  estanho,  que  havia 
na  parte  meridional  .da  ilh^ :  9ppare.ce  oiro  ew  pequena  quantidade,  mas 
dSo  se  faz  caço  d'ell.e. » 

nhã  de  B^fney. — ]É  ^ta  a  fnsjpf  ili^a  da  Malásia  ou  da  Ásia  austral, 
co^u)  Ibe  ch^fnou  ^0^  ^  ^9^^os.  E.st4  clas$|^ada  por  muitos  escripto- 
res  eotre  as  4o  arcbipelagp  de  Çqçda,  havefí^/?  quen)  a  descreva  á  parte, 
ma$  sem  jiis^li^da  rasão,  ooqi^p  ji^m  f^rchipelago. 

É  ati;avessada  pelp  equador,  çoi^o  a  de  Sflp^tra,  tem  uma  zona  equí- 
nocdal  prop;riaa^nte  dit9  í^  possue  di^ereotes  povoações  em  0°  de  latitude, 
sendo  as  principaes  Pontianak,  capital  da  residência  ou  districto  Occiden- 
tal; SintajQg,  majÚB  para  o  ji^rlor;  e  o  ^islricto  de  Koti  ou  Kotei,  na  costa 
oriental. 

Se  esta  ilha  nao  Q0[ef*ece  bastantes  elementos  para  a  solução  do  t3iQ 
debatido  problema  da  aclimação  dos  europeus  nos  paizes  intertropicaes, 
pois  que  são  pQUAOs  .03  que  a|i  residem,  apresenta  todavia  condições 
especiaes  quanto  ao  clin^i  .e  á  p^jUiplogi^  equatorial,  que  muito  importa 
coi^çflef ; 

A  parte  sepjtentriojji^l  da  llh^  de  porqep  foi  descoberta  por  D.  Jorge 
de  Menezes  ,eip  1526,  ^epdo  )^  sido  p^oqqif-ada  em  1523  por  António  (jie 
Abreu.  Exfx  IÇ.^Q  foi  visitada  por  Gonçalo  Pereira. 

0  diccionarío  deLarousse  traz  a  data  de  ^$18,  e  acrescenta:  «Os por- 
tugueses sO  poderam  estabeieqe;r-se  .em  Córneo  no  anno  de  1690,  occu- 
pando  a  parte  denpminada  j^^i^germaçsijig,  d^onde  foram  logo  repéllidos 
por  meio  do  assassinato  e  traição».  Malte-Brun  diz:  «Osportuguezescher 
garam  á  ilba  de  Córneo  em  1513;  mas  esta  grande  ilha  nâo  se  tornou  tão 
conhecida  como  as  outras.  Em  iò'40  deram-lhe  o  nome  de  Borneo.  Ma- 
galhães chamou-lhe  Qunnè^». 

1  V.  A.  Malte-Brun  fils  —  Géographie  complete  et  uníverselle.  Nouveile  edi- 
tioo.  i85i.  Tomo  i,  |)agina  372.  Na  mesma  obra,  tomo  v,  lé-se  o  seguinte :  «Ao  N. 
de  Java  e  ao  SO.  das  ilhas  Philippinas  estende-sc  o  vasto  território  a  que  os  hoUan- 
dezis  áêram  em  1630  o  nome  de  Borneo»,  Ha  visivelmente  um  erro  n'esta  indica- 
ção, que  se  acha  em  completo  desaceordo  com  o  que  o  auctor  affirma  na  pagina  372 
^  j^o  j,  {^ci^A  ^refe^ido. 


100 

Qaasi  toda  a  ilha  pertence  hoje  aos  hollandezes,  os  quaes  toem  sus- 
tentado os  seus  direitos  por  meio  das  armas,  de  modo  que  apenas  ha 
poucos  annos  poderam  começar  a  explorar  o  interior  do  paiz. 

Esta  ilha,  segundo  Larousse,  tem  de  NE.  a  SO.  ou  de  comprimento 
1 :200  kilometros,  e  de  E.  a  O.  ou  de  largura  500.  A  superficie  excede 
muito  a  da  França,  Bélgica,  Suissa  e  Paizes  Baixos,  o  que  mostra  a  sua 
grande  extensão.  Segundo  o  dr.  Van  Leent,  tem  873:305  habitantes,  e 
Larousse  diz  que  ha  em  toda  ella  4.000:000  por  uma  superficie  de 
675:000  kilometros  quadrados.  São  de  1867  estas  informações,  e  parece- 
nos  mais  verosimil  a  estatística  do  dr.  Van  Leent,  director  do  serviço  de 
saúde. 

  linha  equinoccial  divide  a  ilha  de  Bomeo  em  duas  partes  desiguaes, 
estendendo-se  a  septentríonal  até  7:778  kilometros-  e  a  meridional  463. 
Na  região  do  N.  fica  o  monte  mais  alto,  que  se  eleva  a  3:960  metros. 
A  parte  media  é  montanhosa,  começando  ali  as  cinco  cordilheiras  mais 
notáveis  que  se  approximam  da  costa ;  mas  o  interior  era  ainda  pouco  co- 
nhecido em  1867,  em  que  se  publicava  o  volume  v  do  diccionario  de  La- 
rousse. 

A  orographia  sob  o  equador  merece  especial  attenção,  porque  a  ella 
se  ligam  as  melhores  condições  de  salubridade,  considerando-se  na  ver- 
dade uma  das  partes  mais  importantes  da  geographia  medica,  assim  como 
não  é  menos  a  hydrographia. 

A  ilha  de  Borneo,  sob  este  ponto  de  vista,  oSerece  um  estudo  curioso, 
porque  os  rios  são  caudaes  e  formam  immensos  deltas.  O  rio  que  fica  na 
residência  de  Pontianak,  pouco  ao  S.  do  equador,  tem  grande  influencia 
sobre  a  flora  pathologica  local;  o  Barito,  ao  S.  de  Borneo,  é  notável,  es- 
tando a  cidade  de  Benjermasing  na  margem  esquerda,  a  poucos  kilome- 
tros da  foz;  e  o  Koli  despeja  na  costa  oriental,  formando  um  grande  delta, 
não  mui  distante  da  linha  equinoccial. 

As  localidades  d'esta  ilha  que  se  acham  sob  o  equador  são  a  residên- 
cia de  Pontianak,  o  districto  de  Sintang  no  interior  e  o  sultanado  ou  prin- 
cipado de  Kotei  na  costa  oriental. 

A  residência  de  PonUanak  estende-se  pela  costa  occidental  de  Bomeo, 
desde  o  cabo  de  Sambar  até  ao  rio  Doeri  ao  N.,  e  ao  S.  chega  até  ao  cabo 
Ajer  Mata.  A  O.  ficam-lbe  o  mar  e  a  E.  o  império  de  Kotaringin  e  duas  pro- 
víncias de  Sintang,  cuja  capital  está  sob  o  equador. 

A  capital  de  Pontianak  está  em  O''  T  de  latitude  S.,  166S6  distante 
do  mar,  nas  margens  do  rio  Kapoeas,  e  tem  6:000  habitantes,  en- 
tre os  quaes  ha  alguns  europeus,  e  as  casas  são  construídas  sobre  esta- 
carias. 

O  principado  de  Kotei  prolonga-se  desde  r  30'  de  latitude  S.  até  1* 


<01 

de  latitude  N.  É  por  conseguinte  umdistricto  perfeitamente  equatorial. 
Está  nas  mesmas  condições  de  latitude  em  que  se  acham  as  ilhas  de 
S.  Thomé  e  Príncipe,  tendo  o  mar  a  E.,  emquanto  que  a  SO.,  O.  e  N. 
confina  com  as  montanhas  do  interior  da  ilha.  A  população  é  avaliada  por 
uns  em  60:000  almas  e  por  outros  em  100:000. 

N'esta  região  equinoccial  ha  variadas  producções,  como  o  arroz,  inha- 
me, bambu,  camphora,  cera,  gutta-percba,  oiro,  ferro,  cobre,  chumbo, 
diamantes,  antimonio,  iman  e  carvão.  Foi,  segundo  Larousse,  no  território 
occupado  pelos  chins,  em  Landak,  que  se  encontrou  o  maior  diamante 
conhecido.  Pertence  ao  rajah  de  Matan. 

O  mar  fornece  abundante  quantidade  de  peixe,  que  também  apparece 
nos  numerosos  lagos  da  ilha,  os  quaes,  como  os  de  Sumatra  e  de  Celebes, 
apresentam  panoramas  deslumbrantes,  a  cujo  respeito  disse  o  dr.  Van 
Leent : 

cPlusieurs  iies,  surtout  Sumatra,  Java  et  Célèbes,  possèdent  des  lacs 
d'une  certaine  étendue.  Ges  lacs  contribuent  largement  à  produire  ces 
sites  d'un  aspect  enchanteur,  que  maintes  fois  nous  avons  admires  avec 
une  émotion  vérítable.» 

A  ilha  de  Borneo,  como  já  dissemos,  foi  descoberta  pelos  portuguczcs, 
e  d'ella  fallai^m  João  de  Barros  e  Diogo  do  Couto.  N'aquelle  tempo  não  se 
tratava  de  colonisar,  o  que  se  queria  era  estabelecer  relações  politicas  e 
commei-ciaes,  castigar  os  que  faltavam  á  fé  dos  contratos,  e  saber  quaes 
eram  as  praias  que  offereciam  melhores  ancoradouros. 

O  Bm  do  século  xv  foi  para  as  descobertas  e  viagens  maritimas,  como 
o  fim  do  século  xix  será  para  a  colonisação.  Então  brilhavam  de  enthu- 
siasmo  os  que  em  uma  caravela  se  entregavam  confiadamente  aos  mares 
ignotos;  hoje  levantam-se  os  ânimos  e  pensam  em  estreitar  cada  vez  mais 
a  área  das  terras  incultas  ou  abandonadas  da  Africa,  America  e  Oceania :  e 
Dão  findará  este  século  sem  que  se  abram  as  portas  de  tão  valioso  the- 
souro,  cortando  a  cabeça  do  terrível  dragão  que  a  defende  e  tem  dizi- 
mado milhares  de  victimas.  Mas  vejamos  o  que  os  escriptores  portugue- 
zes  disseram  acerca  da  ilha  de  Borneo,  mostrando  também  a  importância 
em  que  a  tinha  o  sublime  cantor  das  glorias  de  Portugal. 

cHe  terra  mui  abastada  de  carnes,  diz  João  de  Barros,  arroz  e  ou- 
tros muitos  mantimentos,  e  de  mercadorias  da  terra  de  muito  preço.  Nas- 
cem nella  pelas  praias  do  mar  junto  da  cidade  de  Tanjapura  diamantes 
mais  finos  e  de  maior  valor  que  os  da  índia,  e  per  toda  ella  nasce  a  ver- 
dadeira cânfora  em  arvores,  como  na  Europa  nasce  a  resina,  e  esta  he  a 
que  na  índia  tem  grande  preço,  que  a  que  lá  vai  da  Pérsia  he  falsificada. 

c  A  cidade  de  Borneo  he  grande,  cercada  de  muro  de  ladrilho,  de  no- 
bres edificios,  onde  os  Reys  residem,  e  tem  buns  paços  sumptuosos. 


«Habilairi  ètfl  Bofheo,  Lavè,  Tanjd()uraj  Mtídúró  e  Cerava,  poflos  prin- 
cipaes  d'esta  ilha,  muitos  e  liiui  Hcos  mercadores  que  tratam  em  Malaca, 
Samatra,  Sião  na  Ctiina;  6*  outras  pairiès,  a  qtie  levam  diamantes,  Cân- 
fora, páo  de  aguila  e  mantimentos,  c  huiil  vinho  que  chamam  Tampor,  que 
be  o  melhor  que  ha  entre  os  ârtiflciaes.]» 

Fecharemos  esta  brete  notícia  da  ilha  de  Borneo  com  os  versos  que 
lhe  consagrou  Luiz  de  Gamões,  reunindo-a  na  me^a  estancia  com  as 
ilhas  da  Banda,  descobeHas  por  Francisco  Serrão  e  António  de  Abfeu. 

Olha  de  Banda  as  ilhas,  qtie  se  esmaltam 
Da  varia  c6r,  que  pinta  o  roxo  fruto ; 
As  aves  variadas,  que  ali  saltam, 
Da  verde  noz  tomando  seu  tributo: 
Olha  também  Boméo,  onde  nao  faltam 
Lagrimas,  no  licor  coalhado  e  enxuto 
Das  artòres,  qúè  èaiíipÍMrá  fie  chateado, 
Com  que  da  ilha  cl  nome  he  celebrado. 

(lAêsiadas,  canto  x,  estancia  cxxxni.) 

Ilha  Celebes.— Estende-se  esta  ilha  196^3  para  N.  do  eqttador  e  633^3 
t)ara  o  S.,  por  onde  se  vê  que  a  parte  meridional  é  3,2  vt^es  mais  ex- 
tensa que  a  septentrional,  e  fica  erít^é  118^  45'  e  125°  15'  de  longitude 
E.  de  Paris. 

Tornou-se  conhecida,  diz  Larousse  no  seu  diccionario,  desde  que  os 
portuguezes  em  1525  aportaram  a  Macassar,  que  está  a  0.  na  região 
meridional  por  5°  i'  de  latitude  S;  Levantaram  âli  Um  forte,  mas,  diz  o 
mesmo  escriptor,  os  hollandezes,  para  monopolisar  o  commercio  das 
especiarias,  apoderaram-se  da  ilha  em  t660,  e  obrigaram  os  portuguezes 
a  abandonal-a. 

Malte-Brun  relata  que  Garcia  Henrique  quizera  e!tplorar  a  ilha  em  1525 
por  lhe  constar  que  n'ella  havia  oiro,  e  que  os  habittííiles  nflo  lhe  permlt- 
tiram  o  desembarque.  Mas  passado  pouco  tempo  ahi  construíram  uma 
fortaleza  e  fundaram  alguns  estabelecimentos. 

Os  inglezes  estabeleceram-Se  ali  no  principio  d'este  século,  poréíií, 
em  1814,  cederam  todos  os  seus  direitos,  sendo  os  hollandezes  os  úni- 
cos europeus  que  actualmente  téem  ali  Influencia. 

A  superfície  da  ilha  é  1 ,3  vezes  maior  do  que  a  de  Portugal.  Está  a  E. 
da  de  Borneo,  de  que  se  acha  separada  apenas  pelo  estreito  de  Macassar, 
e  é  por  tal  modo  subdividida,  que  parece  formada  de  quatro  penínsulas 
ou  linguas  da  terra  que  se  reúnem  n'um  centro  commum  assas  elevado 
sobre  o  nivel  do  mar.  Sâo  numerosos  os  golfos  e  bahias  da  costa  c  alguns 
muito  extensos. 


103 

A  disposição  dos  terrenos  tem  levado  muitos  escriptores  a  erro,  repu- 
tando-a  um  grupo  de  ilhas  quando  eila  é  uma  só. 

«O  archipeiago  de  Celebes,  diz-se  n'um  livro  popular,  compõe-se  da 
liba  d'esle  uome,  que  é  a  principal ;  Macassar,  ao  Sul,  pertence  aos  hol- 
laodezes,  que  dominão  sobre  os  diversos  soberanos  da  ilha.» 

E  acrescenta  outro  escriptor : 

cSão  Dotáveis,  ua  Notasia,  as  ilhas  Molucas  ou  das  Especiarias,  entre 
as  qnae^  é  notável  Celebes,  a  maior  d'ellas,  que  produz  a-bobonupas, 
arbusto  de  que  sáe  um  sueco  venenoso  de  terrível  actividade,  em  que  os 
Macassares,  habitantes  da  ilha,  molham  as  pontas  de  seus  punhaes  e  fle* 
chás.» 

Eis-aqui  o  que  em  algumas  das  nossas  escolas  se  ensina  a  respeito  de 
uma  ilha  que  serve  de  modelo  a  todas  as  colónias  do  mundo  I 

A  ilha  de  Celebes  n3o  é,  porém,  um  archipeiago,  nem  é  notável  somente 
por  causa  do  veneno  com  que  os  indígenas  temperam  suas  settas  ou  pu- 
nhaes, assim  como  nao  pertence  ao  archipeiago  das  Molucas,  entre  as 
quaes  não  é  contada  pelos  geographos,  embora  a  administração  de  alguns 
pontos  esteja  dependente  do  governo  das  Molucas.  Merece  ser  conhecida 
peias  suas  producçôes,  pela  sua  salubridade  e  natureza  do  clima.  É  pre- 
ciso também  notar  que  ella  pertence  á  Oceania  e  não  á  Ásia,  sendo  para 
admirar  que  haja  um  livro,  em  que  se  supprima  a  divisão  geralmente  se- 
guida da  geographia  physica  do  globo  ^  Não  lia  motivo  que  justifique  tal 
suppressão. 

A  ilha  Celebes  é  montanhosa,  elevando-se  o  monte  mais  alto  que 
está  na  região  S.  da  ilha  a  3:230  metros:  Não  tem  rios  notáveis,  a  vege- 
tação é  abundante  e  os  montes  estão  ató  ao  cume  cobertos  do  copadissí- 
mo  arvoredo. 

Compõe-se  a  ilha  de  alguns  dislrictos  administrativos,  sendo  aliás  im- 
portante o  de  Menado,  que  tem  sob  a  sua  dependência  o  de  Gorantalo, 
mais  próximo  do  equador.  Na  parle  oriental  ha  os  governos  de  Bangaai, 
TomboekfB  e  Tomori  e  na  região  do  S.  o  de  Macassar,  sendo,  como  já 
dissemos,  os  portuguezes,  os  primeiros  europeus  que  ali  chegaram  e 
levantaram  edificios. 

O  aspecto  da  vegetação  em  geral,  dizem  alguns  escriptores,  é  menos 
grandioso  e  menos  imponente  que  o  das  ilhas  de  Sonda.  As  florestas, 
cujas  arvores  são  menos  agigantadas  que  nas  ilhas  de  Java  e  de  Sumatra, 
alternam  com  extensas  campinas. 


>  (^mpendio  de  geographia  contendo  carias  geraes  da  Europa,  Africa,  Ásia  e 
Austrália  e  doze  cartas  especiaes  da  Europa,  pelo  padre  José  de  Sousa  Amado, 
approvado  pela  janta  geral  de  instrucção  publica.  i369.  Preço  ifWO  réíst 


104 

A  faana  é  largamente  representada,  e  sao  abundantes  os  animaes  do- 
mésticos. Não  se  encontram  o  elepbante,  o  tigre  o  o  rhinoceronte,  assim 
como  nao  ha  o  leopardo  nem  o  tapir. 

Tem  ferro,  cobre  e  estanho  em  differentes  togares  e  abundância  de 
oiro  na  região  do  N. 

  cultura  do  café  foi  ali  introduzida  cm  182â  e  a  do  cacau  em  1826. 

A  cidade  de  Menado,  observa  um  viajante,  é  uma  das  mais  lindas 
das  índias  orientaes.  Assimilha-se  a  um  vasto  jardim  abundante  de  povoa- 
ções, onde  as  ediOcios  são  separados  por  largas  ruas  cortando-se  per- 
pendicularmente umas  ás  outras.  Boas  estradas  se  ramificam  em  todos 
os  sentidos,  orladas  de  lindas  cas^s,  caiadas  e  muito  limpas,  e  notam-se 
plantações  florescentes  e  entremeiadas  de  formoso  arvoredo. 

O  distrícto  de  Menado,  quasi  na  mesma  latitude  da  ilha  do  Príncipe, 
mostra  o  poder  da  civilisação  christã,  e  muito  príncipalmenle  põe  em  re- 
levo os  benefícios  do  christianismo,  comparados  com  os  de  outra  religião. 
Serve  certamente  de  lição  aos  padres  que  forem  encarregados  das  nossas 
missões  da  Arríca  e  muito  especialmente  ao  clero  da  ilha  do  Príncipe, 
onde  a  descrença  é  geral  e  a  desanimação  profunda. 

Vale,  pois,  a  pena  fazer  a  comparação  entre  estas  duas  ilhas,  a  Qm  de 
se  formar  uma  idéa  não  só  dos  benefícios  da  civilisação,  mas  também  dos 
males  que  a  ignorância  e  o  fanatismo  podem  acarretar  sobre  um  paiz. 

Começaremos  por  citar  o  parecer  de  auctorídades  competentes.  É  um 
meio  seguro  de  se  apurar  a  verdade. 

A  respeito  da  população  do  distrícto  de  Menado  diz  o  dr.  Van  Leent: 

cA  influencia  salutar  do  culto  christão  e  do  ensino  que  acompanha 
a  propagação  do  chrístianismo  é  attestnda  pela  moralidade  e  felicidade 
dos  habitantes  de  Menado. 

cAs  aldeias  téem  agradável  posição,  as  casas  são  largas  e  arejadas  e 
reúnem  um  certo  numero  de  commodidades,  que  se  reconhecem  á  primeira 
vista. 

cAs  ruas  estão  limpas  e  são  amplas,  ha  jardins  e  pomares  em  que  o 
trabalhador  encontra,  com  muita  vantagem,  o  preço  do  seu  trabalho;  os 
campos  cultivados  ostentam  fructos  e  offerecem  sob  climas  tão  prívilegia- 
dos  cento  por  um  dos  grãos  semeados. » 

£  realmente  agradável  observar  signaes  tão  evidentes  da  felicidade 
de  um  povo  que  outr'ora  gemia  sob  o  jugo  do  paganismo,  que  ainda 
opprime  os  povos  de  outros  distríctos.  È  justo  que  se  preste  homenagem 
aos  eminentes  e  relevantes  serviços  dos  missionários  de  Menado.  O  chrís- 
tianismo tem  o  poder  de  modifícar  o  caracter  de  um  povo,  tornando-o 
simples,  trabalhador,  activo  e  justo. 

Vejamos,  porém,  o  que  acontece  na  ilha  do  Príncipe,  mais  formosa 


<05 

do  que  a  Gelebes,  a  mais  pittoresca  e  agradável  ilba  do  tão  decantado  mar 
teoehroso  dos  antigos. 

Eis  aqui  o  que  em  186S  disse  o  dr.  José  Correia  Nunes: 

cAs  artes  estão  muito  atrazadas;  encontram-se  apenas  alguns  maus 
carpinteiros,  pedreiros  e  ferreiros.  Â  principal  industria  é  a  lavoura,  que 
ainda  assim  está  em  grande  atrazo,  porque,  alem  de  não  empregarem  os 
processos  agronómicos  convenientes  para  melhorarem  e  augmentarem 
as  colheitas  dos  vegetaes  que  plantam,  limitam-se  á  cultura  do  cacau,  de 
algum  café,  mandioca  e  tabaco,  abandonando  outras  muitas  culturas,  taes 
como  o  algodão,  o  anil,  o  açafrão,  a  batata,  a  canella,  etc,  e  a  industria 
de  serrar  madeiras  de  construcção,  que  ali  tanto  abundam.» 

Comparámos  o  estado  da  povoação  de  um  dos  dístrictos  da  ilha  Ceie- 
bes  com  o  da  ilha  do  Príncipe,  mas  é  necessarío  dizer  também  que  na 
primeira  ha  districtos  em  que  impera  o  fanatismo,  poisque  ainda  ali  não 
entrou  a  luz  suave  da  civilisação  christã,  cuja  doutrina  deve  ser  ensinada 
por  homens  de  boa  fé  e  de  honestidade  inconcussa.  Os  bons  exemplos  fru- 
ctificam  sempre,  e  sem  elies  pôde  perder-se  a  melhor  causa,  a  crença 
mais  salutar. 

Sobre  a  influencia  do  christianismo  em  Menado,  é  o  casamento,  a  união 
da  familia,  a  moralidade,  a  prosperidade  publica,  em  fim,  o  fructo  do  sa- 
cerdote honrado  e  sincero ;  em  Gorontalo,  pelo  contrario,  a  dissolução 
dos  costumes,  a  indiíTerença  dos  pães  pela  prostituição  das  filhas,  a  fami- 
lia desprezada,  a  desconfiança,  a  pobreza  e  a  miséria  são  o  resultado  fa* 
tal  de  não  se  acceitarem  as  verdades  christãs.  O  paganismo,  finalmente. 
Dão  pôde  arrancar  a  população  de  tão  mesquinha  sociedade. 

A  ilha  do  Príncipe  está  quasi  despovoada,  as  roças  abandonadas,  os 
edificios  invadidos  pela  vegetação,  o  povo  desmoralisado  e  a  população 
diminuindo  de  dia  para  dia.  Fazem-se  amiudadas  festas  de  igreja,  ha  fre- 
quentes procissões,  e  muitas  novenas  quasi  todos  os  mezes.  As  rezas  no- 
cturnas ás  portas  dos  templos  e  as  ladainhas  no  quarto  dos  doentes  são 
acontecimentos  que  se  repetem.  Gasta-se  n'esta  vida  quasi  todo  o  tempo ! 

Foi  o  que  ali  observámos  em  1873,  quando  fomos  em  serviço  áquella 
ilha;  era  o  que  tínhamos  notado  quando  lá  estivemos  em  1868,  e  de  tudo 
colligimos  documentos  que  servem  de  base  a  estas  considerações. 

Apartemos,  porém,  a  vista  do  quadro  que  apenas  esboçámos  e  passe- 
mos a  fallar  da  ilha  Celebes,  que  muito  importa  conhecer  sob  o  ponto 
de  vista  de  colonisação. 

O  distrícto  de  Menado  está  em  l"*  27'  de  latitude  N.  e  ^W  38'  de 
longitude  E.  Tem  99:000  almas,  população  quasi  igual  á  da  cidade  do 
Porto.  Ha  apenas  621  europeus,  e  esse  núcleo  fecundante  e  civilisador 
espalha  a  felicidade  entre  aquelles  povos. 


106 

O  districto  de  Gorontalo  fica  entre  o  equador  e  o  distrícto  de  Menado. 
Tem  cerca  de  28:00o  habitantes,  entre  os  quaes,  acrescenta  o  dr.  Vàn 
Leent,  ha  200  padres  ignorantes,  fanáticos  e  preguiçosos. 

O  distrícto  de  Macassar  está  ao  S.  da  ilha  em  5"^  T  45''  de  latitude,  no 
raeio  de  uma  planície  fértil  onde  se  cultiva  o  arroz,  a  qual  se  estende  até 
ás  montanhas  do  interior. 

A  brisa  do  mar,  diz  o  dr.  Yan  Leent,  é  fresca  e  embalsamada.  É  muito 
regular  na  boa  estação  e  n9o  falta  muitas  vezes  no  tempo  das  chuvas. 

Macassar  é  uma  estação  desejada  pela  marinha,  observa  o  mesmo 
esGfiplor.  OiTerece  variadas  distracções,  e  os  géneros  de  primeira  necessi- 
dade não  são  caros.  A  caça  é  um  divertimento  aprazível,  assim  como  os 
passeios  a  cavallo  são  agradáveis;  tudo  respira  alegria  n'aquelle  privile- 
giado paiz. 

Quando  não  houvesse  colonisação  nas  regiões  da  America  equatorial, 
como,  por  exemplo^  na  repubUca  do  Equador,  os  principaes  districtos  da 
ilha  Gelebes  de  per  si  somente  mostrariam  que  nos  paizes  equinocciaes  é 
possivel  a  colonisação,  podendo  os  europeus  viver  como  em  qualquer  paiz 
da  Europa. 

Se  temos  áctualmentèi  tioticias  mais  circumstanciadas  da  ilha  Gelebes, 
não  são  de  certo  para  esqtitícer  as  que  nos  legaram  os  nossos  escriptores 
do  século  XVI.  Julgámos  indispensável  transcrever  alguns  trechos  da  his- 
toria portugUeza  da  índia,  e  determinar  as  epochas  em  que  os  nossos  nave- 
gadores e  capitães  frequentaram  aquella  região,  por  isso  que  não  são  exa- 
ctas as  informações  que  se  jéem  nos  trabalhos  de  alguns  escriptores  es- 
trangeiros. E  alem  d'isso  não  pode  resolver-se  o  problema  da  aclimação 
em  qualquer  paiz  sem  se  conhecer  o  movimento  da  população  desde  a 
sua  origem  ou  entrada  ali. 

Yejatnosf  pois,  em  que  epocha  os  portuguezes  chegaram  á  ilha  Gelebes 
e  como  se  estabeleceram  as  relações  entre  elles  e  os  seus  habitantes. 

No  anno  de  i539,  em  que  era  governador  das  Molucas  o  distincto 
governador  Ahtonio  Galvão,  cujo  governo  deveria  ser  sempre  imitado, 
foram  á  Ilha  de  Ternate  embaixadores  das  ilhas  dos  Macacas,  que  estão, 
segundo  Diogo  do  Couto,  sessenta  léguas  ao  poente  das  de  Moluco.  O  go- 
vernador de  Ternate  recebeu-os  muito  bem,  e  conseguiu  que  fossem  bap- 
tisádos  e  abraçassem  a  religião  christã. 

<tAs  ilhas  dos  Macacas»  diz  Diogo  de  Couto,  são  muitas,  e  juntas,  e  an- 
dam nas  cartas  de  marear  lançadas  em  huma  só  muito  grande  pelo  rumo 
a  que  os  tnareantes  chamam  Norte  e  Sul,  perto  de  cem  Jeguas  de  com- 
prido. Quer  esta  Ilha  imitar  a  forma  de  hum  gafanhoto  grosso,  cuja  cabeça 
(que  lança  pêra  o  sul  sinco  gráos  e  meio)  são  os  Gellebes,  que  tem  Rey 
sobre  si. 


tal 

cPela  coda,  que  he  a  parte  tíiais  chegâfda  a  Maldco,  atravessa  a  Equinoc- 
ciai,  e  ainda  lança  quasi  hum  gráo  para  a  banda  do  Norte. 

cSão  estas  Ilhas  senhoreadas  de  Itioltos  Reys,  differenites  nas  línguas, 
desviados  nos  ritos  e  costumes.  Começando  da  parte  da  coda,  tem  o  reifio 
de  Bogis,  por  sima  de  quem  corta  a  Eqdinoccial. 

cA  principal  cidade  chama-se  Savito,  que  he  grande,  de  casas  sobra- 
dadas e  formosas,  mas  todas  de  madeira. 

c  Aqui  queimam  os  mortos,  e  suas  cinzas  se  recolhem  em  rasos,  que  se 
enterram  nos  campos  em  lugares  separados,  onde  fdzem  suas  capellas 
abertas  por  todas  as  partes. 

«Não  tem  templos,  fazetn  suas  oraçOes,  olhando  para  os  Ceos  com  as 
mãos  alevantadas,  por  onde  se  vô  que  tem  conhecimento  dd  verdadeiro 
Deos.  Os  naturaes  nSo  tem  mais  de  huma  mulher  e  os  Reys  três  e  qua- 
tro. 

cTem  logo  o  Reyno  de  Macaçá;  sua  Cidade  principal  se  chama  Ooá; 
aqui  enterram  os  defuntos. 

«Na  ilha  Cellebes,  diz  mais  Diogo  de  Couto,  ha  algodSo^  cobre,  ferro, 
chumbo  e  muito  ouro,  de  que  as  mulheres  fazem  manilhas  pdra  os  bra- 
ços. Tem  pedraria  vermelha  de  que  fatiem  jóias,  sândalo,  sap9o ;  fazem-se 
nellas  muitos  e  bons  pannos  de  seda  de  muitas  feições.  São  estas  ilhas  milito 
abastadas  de  arroz,  legumes,  frutas,  sal;  tem  cavallos)  alinintes,  mui- 
tas gallinbas,  carneiros,  bufaras,  veados,  porcos,  perdizes  e  toda  a  mais 
caça  de  mato,  mas  não  tem  vaccas.  Tem  navios  de  muitas  feições^  huns  a  que 
chamam  Pelan,  que  s3o  muito  ligeiros  de  remo,  com  que  fazem  guerra. 
Ha  outros  chamados  Lopi,  que  são  da  carga,  e  outros  maiores  a  que  cha- 
fliam  Jojoga.  > 

Tidore  e  o  arehipelago  das  Molaeas.— A  ilha  de  Tidore  constttue  lim  paiz 
equatorial  propriamente  dito,  está  situada  na  Malásia  e  pertence  ao  arehi- 
pelago das  Molucas,  i2  kilometros  de  Oeilolo,  ao  S.  da  ilha  Ternate,  de 
que  está  separada  por  um  canal  navegável  que  offerece  bom  ancora- 
douro por  0°  45'  de  latitude  N.  e  i25^  5'  de  longitude  E.  Tem  t2  kilome- 
tros de  comprimento  por  igual  largura.  Calcula-se  a  sua  população  em 
12:000  habitantes. 

Taes  são  as  principaes  informações  que  a  respeito  doesta  ilha  se  en- 
contram no  diccionario  de  Larousse.  Mostram  a  sua  posição  astronómica, 
sendo  a  sua  superfície  igual  á  da  nossa  ilha  do  Príncipe. 

A  ilha  de  Tidore,  collocada  exactamente  sob  a  linha  equinoccial,  tem 
uma  população  seis  vezes  maior  que  a  da  ilha  do  Príncipe,  é  tão  fértil 
como  esta,  e  está  afastada  do  equador  mais  de  i50  kilometros  para  o  N. 

GoDvem  portanto  examinar  com  attenção  as  circumstancias  em  que 


i 


408 

se  acham  estas  ilhas,  a  flm  de  podermos  indicar  os  meios  necessários  para 
fazer  sair  do  abalimento  cm  que  caiu  a  nossa  ilha  do  Príncipe. 

A  ilha  de  Tidore  fica  perto  da  de  Ternale,  como  a  ilha  de  S.  Thomé 
o  está  da  do  Príncipe. 

Viveram  os  portuguezes  muitos  annos  nas  ilhas  Molucas,  e  ainda  hoje 
lá  existem  recordações  de  muitos  dos  seus  governadores.  Mas  alguns 
escriptores  modernos,  de  certo  por  falta  de  informações,  ora  trocam  as 
datas  dos  descobrimentos,  ora  dão  incompletos  os  nomes  dos  portugue- 
zes illustres  que  ali  serviram  a  patría.  Não  é  somente  isto,  infelizmente. 
Dizem  não  só  que  os  habitantes  das  ilhas  Molucas  estavam  sob  a  oppres- 
são  dos  portuguezes,  mas  que  estes  as  haviam  usurpado ! 

Não  podemos  deixar  sem  reparo  taes  asseverações.  Seria  faltar  ao 
nosso  dever,  seria  esquecer  os  serviços  dos  portuguezes  nas  lutas  que 
por  tantas  vezes  se  levantaram  e  em  que  valorosos  soldados  derramaram 
o  seu  precioso  sangue  para  sustentar  a  honra  e  gloría  nacional,  seria, 
em  fim,  fazer  a  maior  das  injustiças  a  muitos  illustres  capitães  e  gover- 
nadores, se  não  lhes  tributássemos  a  devida  homenagem.  Os  nomes  de 
Francisco  Serrão,  António  de  Brito,  António  Galvão,  e  muitos  outros  es- 
tão protestando  contra  asserções  que  não  assentam  em  fados  bem  obser- 
vados. 

O  grande  Affonso  de  Albuquerque  castigava  os  traidores  e  aquelles 
que  tomavam  armas  contra  os  portuguezes.  Se  muitas  vezes  não  fosse 
enérgico,  perderia  o  prestigio  e  não  seria  respeitado.  Mas  o  seu  principal 
empenho  era  adquirir  a  amisade  d'aquelles  povos.  Nunca  os  perseguia, 
pelo  contrario  mandava  tper  aquellas  parles  orienlaes  notificar  que  todos 
viessem  a  Malaca  sem  receio  algum :  cá  lhes  seria  guardada  sua  justiça 
e  feito  todo  o  favor  em  seus  negócios».  Depois  de  tomada  a  cidade  par- 
tiram offlciaes  em  differentes  direcções,  sendo  mandado  para  as  ilhas  Mo- 
lucas António  de  Abreu,  tindo  diante  delle  um  mouro  natural  de  Malaca 
per  nome  Nehodá  Ismael  com  hum  junco  de  mercadoria  de  alguns  mouros 
Jáos  e  Malayos,  que  tratavam  nestas  partes  pêra  que  quando  António  de 
Abreu  chegasse  aquelles  portos  que  fosse  bem  recebido». 

É  preciso,  porém,  observar  que  António  de  Abreu  tomou  primeiro  a 
cidade  de  Agacim,na  ilha  de  Java ;  foi  ter  depois  á  ilha  de  Amboino,  onde 
poz  um  padrão,  como  era  costume  em  todos  os  descobrimentos,  e  em  se- 
guida passou  á  ilha  de  Banda  e  de  ali  «por  lhe  o  tempo  servir  pêra  Ma- 
laca houve  por  mais  serviço  de  EIRey  tornar-se  com  nova  do  que  tinha 
descoberto». 

Francisco  Serrão,  desde  que  se  apartou  de  António  de  Abreu,  foi  ter 
a  umas  ilhas  que  os  da  terra  chamam  Luco  Pino,  isto  é,  ilha  das  Tarta- 
rugas, onde  foi  acommettido  por  alguns  naturaes;  mas,  havendo-se  com 


boa  fortuna,  tomou-lhes  a  embarcação  em  que  iam  e  foi  em  seguida  á  ilha 
de  Amboino,  e  decorrido  algum  tempo  passou  ás  ilhas  de  Temate  e  Ti- 
dore,  a  pedido  dos  governadores  indigenas. 

No  anno  de  1513  foi  mandado  ás  ilhas  Molucas  António  de  Miranda 
de  Azevedo,  o  qual  foi  muito  bem  recebido  em  ambas  as  ilhas,  levantan- 
do-se  questões  entre  seus  reis,  porque  cada  um  d'elles  se  empenhava  para 
que  os  portuguezes  edificassem  uma  fortaleza  na  ilha  em  que  habitavam. 
Houve-se  com  prudência  António  de  Miranda,  e  voltou  tão  carregado  de 
cravo  como  do  requerimento  dos  reis  d'aquellas  ilhas,  pedindo  para  se 
construir  ali  uma  fortaleza.  Começaram  então  os  pedidos  e  solicitações 
para  se  fazer  tal  obra,  resolvendo  por  fim  El-Rei  D.  Manuel  que  fosse 
levantada,  para  o  que  mandou  D.  Tristão  de  Menezes,  que,  apezar  de 
se  demorar  em  Ternate,  não  pôde  dar  principio  á  construcção,  porque 
não  queria  que  se  suscitassem  questões  de  preferencia  entre  os  governa- 
dores de  Ternate  e  Tidore.  Retirou-se,  pois,  da  ilha  de  Ternate,  mas,  por 
causa  de  um  temporal  que  sobreveio,  foi  aportar  no  principio  de  abril  do 
anno  de  1520  á  ilha  de  Banda,  tempo  em  que  os  hespanhoes  ainda  ali  não 
tinham  chegado. 

Circumscre vemos  estas  noticias  somente  ás  datas,  porque  não  só 
Malte-Brun,  mas  lambem  H.  Major  attribuem  a  descoberta  das  ilhas  Molu- 
cas a  António  de  Abreu,  quando  o  primeiro  europeu  que  ali  chegou  foi 
Francisco  Serrão.  Por  esta  exposição  se  vê  também  que  os  portuguezes 
não  conservaram  sob  um  jugo  os  habitantes  das  ilhas  Molucas,  como  dizem 
alguns  escri piores  modernos.  O  que,  porém,  é  certo  é  que  os  mouros  se 
julgavam  senhores  do  commercio  d'aquellas  ilhas,  e  promoviam-nos  tal 
opposição  que  deram  causa  a  encarniçadas  guerras,  algumas  das  quaes 
illustraram  o  nosso  nome  em  todo  o  Oriente,  tornando-se  tão  admirado 
quanto  temido  e  considerado.  E  o  que  fizemos  no  século  xvi  está  desde 
já  demonstrando  o  que  agora  poderemos  praticar  em  prol  da  civilisação  e 
do  commercio  dos  nossos  domínios  do  ultramar. 

Permitla-se-nos,  pois,  que  nos  demoremos  mais  a  respeito  d'estas 
ilhas.  E  não  nos  afastámos  ainda  assim  do  nosso  propósito,  poisque  ao 
examinar  os  trabalhos  dos  portuguezes  em  taes  climas,  ao  relembrar  as 
latas  que  os  mouros  lhes  promoveram,  e  que  os  indigenas  muitas  vezes 
provocaram,  não  deixaremos  de  reunir,  como  por  mais  vezes  temos  feito, 
os  elementos  que  possam  auxiliar-nos  no  estudo  dos  momentosos  proble- 
mas da  colonísação  dos  paizes  intertropicaes  africanos  para  onde  está 
voltada  a  attenção  da  Europa  scientifica. 

Começaremos  por  designar  os  actuaes  limites  do  archipelago  das 
Molucas,  a  que  pertencem  as  ilhas  de  Tidore  e  Ternate,  assim  como  a 
de  Geilolo,  que  nos  cumpre  nomear  por  ser  atravessada  pelo  equador. 


lio 

&ob  a  46Qomiaaçãi3  de  ijtias  Mciuieas,  archipelago  das  Bfolqcas  ou 
Grandâ  Oriente,  diz  o  dr.  Van  Leent,  coooprehendem-se  todas  as  ilhas  si- 
tuadas entre  a  Celebes,  a  O.,  as  Papouas  e  Guiné,  a  E.,  Timor,  ao  S.,  e, 
finaimanle,  fica-lhes  ao  N.  o  Grande  Oceano.  Este  archipelago  está  com- 
prehidndido  entre  ã""  43'  de  latitude  N.  e  8'  23'  de  latitude  S.,  e  entre  IW 
22' a  U4?  5' de  longitude  E. 

No  archipelago  de  que  tratámos  incluem-se  portanto,  continua  o  mesmo 
illustre  ^iBdico,  as  ilhas  Ternatezas  (ilhas  Molucas  propriamente  ditas)  de 
que  Halmabeira  (Djilolo)  é  9  maix)r;  mais  ao  S.  e  a  SO.  os  grupos  de 
Ba.djan,  Ab  Obi  e  de  Soela ;  a$  ilhas  Âmboino,  entre  as  quaes  Ceram  e 
Booroia,  são  as  maiores,  ficam  ao  S.  de  (Seilolo  ou  HaUnareira ;  ao  S.  de 
Garam,  as  ilhas  de  Banda,  sendo  Lontor  (Lonthoir  ou  Gran  Banda)  a 
principal ;  as  ilhas  do  Sudeste  e  do  Sudoeste  e  os  grupos  das  ilhas  Aroe, 
K/8i  B  de  Tenimber  situados  ao  SE.  e  S.  de  Ceram. 

Eâias  importantes  colorias  neerladezas,  segundo  o  referido  medico, 
téem  a  seguinte  superfiicíe : 

Ilhas  Ternatezas i  1:125,1  kilom.  quad. 

firupo  4e  Badjan,  de  Obi »  Soela.. ....  4:858,7 

Hha«  de  Amboino 16:780,3 

U^  de  Banda 27,7 

lias  de  Sudeste  e  Sudoeste 3:253,4 

Ubás  de  A^vqq,  de  Kei  e  de  Tenimber.  •  •  7:717,2 


Total 43:762,4 


Âs  ilbas  Maludas  &  suas  dependências,  onde  dominámos  de  1511  até 
1598,  não  nos  pe^te^cem  hoje,  mas  mo  devemos  esquecer  a  historia  d'a- 
quelies /Oitenta  e  sete  annos.  Ê  útil  a  lição  que  ella  nos  offerece,  e  são  nobi- 
lissimos  os  exemplos  que  aU  deram  alguns  governadores.  E  quando  não 
U\/ôssamos  a  bistoria  ÍMlIhai^te  de  António  Galvão,  deveríamos  comme- 
morar  .0  awo  de  1511,  em  que  os  portuguezes  chegaram  ao  coração  das 
kdias  iOrientaes,  e  muitos  outros  aos  quaes  ou  se  obtiveram  algumas  vi- 
ctonias  iUstres,  ou  se  alargaram  os  limites  do  Novíssimo  Mundo,  justa? 
m^DÁB  denominado  Oceania  por  Malte-Brun. 

('aremos,  pois,  uma  breve  descripção  topographica  e  histórica  das 
ilhas  em  que  os  portuguezes  se  conservaram  por  mais  tempo,  entre  as 
quaes  figuram  as  que  estão  próximas  as  de  Tidore  e  Geilolo,  únicas  de 
qiie  deveríamos  fallar,  segundo  o  plano  do  nosso  trabalho,  por  serem  as 
que  3e  acbam  sob  a  linha  equinoccial. 

A  iUna  de  Tjidore,  vinte  vezes  meoor  do  que  a  de  Geilolo,  ô  ger^- 


tu 

mente  montanhosa  e  possue  muitos  rios.  O  seu  verdadaíFO  nome,  sagundo 
João  de  Barros  e  Diogo  do  Couto,  é  Duco,  e  foi  descoberla  em  (SU  por 
Francisco  Serrão,  que  preferiu  ficar  na  ilha  de  Ternate,  sendo  muito  es- 
timado  do  rei. 

As  ilhas  de  Tidore  e  de  Ternate  estão  tão  vizinhas  qm  coneorrem 
ambas  para  o  bom  porto  da  ilha  de  Ternate.  E  o  que  é  mais  notável  é 
estar  confundida  a  historia  d'estas  ilhas  como  a  de  S.  Tbomé  e  do  Prin- 
cipe,  não  podendo  fazer^se  a  descripção  de  uma  sem  se  fallar  da  outra, 
como  fez  o  dr.  Yan  Leent  no  seu  minucioso  e  útil  trabalho,  huvi  㧠 Ga<> 
moes  reuniu-as  no  mesmo  verso,  e  consagrou-lb^s  uma  estancia  com* 
pleta»  mostrando  assim  a  grande  importância  que  se  lhes  dava  no  s^ulo 
XVI,  sobresaíndo  ellas,  sendo  tão  pequenas  e  passando  quasi  despereer 
bidas,  á  de  Geilolo,  a  maior  das  celebres  e  procuradas  Ilhas  das  Espe- 
ciarias. 

Refere-se  Gamões  ás  aves  do  paraizp,  que  os  nossos  denoininaram 
pássaros  do  sol,  e  que  emigram  para  Ternate,  Tidore  e  Banda,  reputando-se 
ainda  hoje  verdadeira  a  tradição  que  havia  a  respeito  d'aqueUas  aves  no 
tempo  do  grande  poeta  * . 

Eis-aqui  os  versos  do  cantor  de  Vasco  da  Gapia : 

Olha  cá  pelos  mares  do  Oriente 
As  infinitas  ilhas  espalhadas : 
Vé  Tidore  e  Ternate,  co*o  fervente 
Cume,  que  lança  as  fiammas  ondeadas  : 
As  arvores  verás  do  cravo  ardente, 
Co*o  sangue  portuguez ioda  compradas; 
Aqui  ha  as  áureas  aves,  que  não  decem 
Nunca  á  terra,  e  só  mortas  apparecem. 

Lusíadas,  canto  x,  estancia  cxxxir. 

Ilha  deTeroate. — Pertence,  como  a  de  ^'idore,  ao  archípelago  â%A  Mor 
locas,  fronteira  á  costa  O.  de  Geilolo  e  ao  N.  de  Tidore  por  0^  18^  de  la- 
litod^  N.  e  121"  51'  45''  de  longitude  £.  Tem  i8  kilomeiras  áe  eompcir 
mento  e  O  de  largura.  A  sua  superScie  calçularse  em  1)1  kilometi* os  qoa- 
dradros. 

A  capital  denomina-se  Ternate  e  tem  9:000  habitantes.  O  solo  é  fértil, 
caltivando-se  nas  planícies  do  N.  e  NE.  arroz,  milho  e  cocos,  nas  do  S.  ia 


1  Os  portuguezes  chamavam  pássaros  do  sol  ás  aves  que  os  hpllandez;^  ^Pti^ 
saram  eom  o  nome  de  Aves  do  paraizo.  O  sábio  naturalista  que  lhes  deu  este  non^e 
aereseeiíta :  Ninguém  pôde  contemplar  estas  maravilhosas  creaturas  durante  a  vida, 
porque  ellas  habitam  os  ares,  voltando-se  sempre  para  o  sol  e  pousando  na  terra 
ipenfhs  |)ara  morrerem.  (L'archipel  Maiaaien,  por  A.  R.  Widttace.) 


H2 

E.  estão  abandonadas  as  culturas,  ao  SE.  encontram-se  alguns  pântanos 
onde  ba  os  decantados  mangues. 

Larousse  dá-lbe  100:000  almas,  mas  o  dr.  Yan  Leent  calcula  o  nu- 
mero de  babitantes  em  10:000,  o  que  nos  leva  a  suppor  que  ha  erro  na 
estatística  do  diccionario. 

Ternate  foi  a  capital  do  governo  portuguez  no  arcbipelago  das  ilhas 
Molucas,  occupando  nós  aquella  ilha  poucos  annos  depois  da  sua  desco- 
berta: e  é  por  isso  menos  exacto  o  que  diz  o  dr.  Yan  Leent,  dando  a  enten- 
der que  os  portuguezes  só  se  estabeleceram  ali  pelo  meado  do  século  xvi. 
Mas  em  presença  do  que  a  este  respeito  escreveu  Jo3o  de  Barros  não  fica 
a  menor  duvida  acerca  do  anno  em  que  na  ilha  foi  construida  a  nossa  for- 
taleza: 

cElegido  este  lugar  (o  do  porto  da  ilha  de  Ternate)  por  não  haver  ou- 
tro melhor,  e  mais  estar  pegado  na  cidade  Ternate,  começou  António 
de  Brito  entender  na  obra;  e  a  primeira  enxadada  que  se  deo  no  seu  ali- 
cerce, e  pedra  que  se.^elle  lançou,  foi  per  mão  de  António  de  Brito  a 
vinte  e  quatro  dias  de  junho  do  anno  de  mil  e  quinhentos  e  vinte  e  dous, 
estando  elle,  e  todolos  nossos  com  capellas  na  cabeça  e  grande  festa  por 
a  solemnidade  do  dia,  que  era  de  S.  João  Baptista ;  e  todolos  outros  fi- 
dalgos, cavalleiros,  e  gente  de  armas  fizeram  outro  tanto,  e  por  memoria 
deste  santo  houve  a  fortaleza  nome  S.  João.i> 

Não  é  portanto  exacta  a  asseveração  do  sábio  medico  hollandez  a  que 
nos  referimos. 

A  ilha  de  Ternate  é  essencialmente  formada  por  um  vulcão  que  se 
denomina  Gama-Lama,  o  qual  tem  cerca  de  1:749  metros  de  altitude  e 
está  em  actividade,  sendo  memoráveis  as  erupções  de  1686, 1840  e  1855. 

Foi  muito  prejudicial  a  esta  ilha  o  tremor  de  terra  causado  pela  eru- 
pção de  14  de  fevereiro  de  1840,  e  a  prosperidade  publica  tem  sensivel- 
mente diminuído  desde  essa  epocha. 

Diz  o  dr.  Yan  Leent,  ao  qual  nos  referimos  n*esta  breve  noticia  a  res- 
peito da  ilha  de  Ternate,  que  o  naturalista  francez  Hombron  subira  ao 
volcão  e  lhe  tomara  a  altura  por  meio  de  observações  barometricas.  Não 
podemos  deixar  de  dizer  também  que,  no  anno  de  1538,  o  governador  da 
ilha,  António  Galvão,  fez  a  ascensão  ao  monte,  e  d'esse  facto  nos  falia  Joio 
de  Barros. 

tAlgumas  destas  ilhas  lançam  fogo  no  cume  de  sua  maior  altura, 
assi  como  a  Batochina  do  Moro,  e  a  Batochina  de  Muar  e  outras  a  estas 
vizinhas.  E  o  mais  nolavel  aos  nossos  he  o  da  ilha  Ternate,  de  que  somente 
daremos  noticia  pola  que  houvemos  de  António  Galvão ;  o  qual  sendo 
capitão  destas  ilhas  o  anno  de  quinhentos  e  trinta  e  oito  (1538),  residin- 
do nesta  ilha  Ternate  em  a  fortaleza  S.  João  que  hi  temos,  quiz  ir  ver 


il3 

aquelle  mysterio  da  natureza,  porque  daquella  fortaleza  viam  no  cume 
(la  ilha  vaporar  fogo,  ao  modo  que  vemos  hum  forno  de  cal  quando  começa 
cozer,  sem  luz  alguma  de  dia;  e  de  noite  era  cousa  "espantosa  ver  as 
cores  e  faíscas  do  fogo  e  rescaldo  que  lançava  em  torno,  cubrindo  muita 
parte  do  arvoredo,  da  maneira  que  se  cUe  cobre  quando  nestas  nossas 
regiões  neva.  Peró  isto  não  he  em  todo  o  anno,  somente  nos  mezes  de 
setembro  e  abril,  quando  o  sol  se  muda  de  huma  parte  a  outra,  que  passa 
alinha  equinocial,  que  corta  meio  gráo  desta  ilha:  cá  então  venlam  huns 
ventos,  que  accendem  aquelle  natural  fogo  na  matéria  que  lhe  dá  nutri- 
mento  por  tantas  centenas  de  annos.  Subido  António  Galvão  áquella 
altura,  onde  viam  este  fogo,  achou  toda  a  coroa  d'aquelle  monte  escaldada 
e  a  terra  d'elle  fofa,  não  feita  em  cinza,  mas  ligada  huma  á  outra  e  leve.  E 
per  toda  aquella  coroa  havia  huns  redemoinhos  á  maneira  que  vemos  fazer 
a  agua,  quando  estando  estanque  lhe  lançam  huma  pedra,  que  vai  fazendo 
aquelles  circos;  e  porém  os  que  estavam  feitos  nesta  terra  eram  profundos 
em  modo  de  algar,  a  que  podiam  descer  por  aquelles  degráos  circulados 
que  a  terra  fazia.  Contou  mais  António  Galvão  que  do  meio  do  monte 
pêra  baixo  tudo  eram  grandes  arvoredos,  e  a  terra  assi  fragosa  e  cuberta 
delle,  que  em  muitos  passos  elle  e  os  de  sua  companhia  subiam  per  cor- 
das; e  de  entre  esta  fraga  corriam  ribeiros  que  vinham  regar  o  chão 
delia,  como  que  o  fogo  que  andava  no  centro  daquelle  monte  fazia  es- 
tillar  e  suar  aquellas  aguas.  £  se  Plínio,  quando  quiz  ver  o  outro  tal  fogo 
do  monte  Vesúvio,  em  Itália,  buscara  outra  tal  conjuncção,  como  António 
Galvão  buscou,  não  ficara  elle  lá  pêra  sempre,  como  ficou,  segundo  di- 
zem.» 

A  cultura  do  cravo,  outr'ora  tão  florescente  na  ilha  de  Ternate,  está 
em  decadência  e  com  difficuldade  satisfaz  ás  necessidades  locaes;  a  pro- 
ducção  do  café,  cacau,  canna  de  assucar,  e  de  outros  géneros  é  também  di- 
minuta. Ainda  sob  este  ponto  de  vista  as  ilhas  de  Ternate  e  Tidore  nos  fa- 
zem lembrar  as  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  onde  a  producção  de  assucar  no  sé- 
culo XVI  era  abundantíssima  e  está  em  ambas  hoje  de  todo  abandonada,  cul- 
tivando-se  apenas  na  do  Príncipe  pequena  quantidade  de  café  e  pouco  cacau ! 

Para  o  nosso  caso,  porém,  cumpre-nos  observar  que  a  ilha  de  Ter- 
nate, tendo  unicamente  cerca  de  31  kilomelros  quadrados,  sustenta  uma 
população  de  10:000  habitantes,  emquanto  que  a  de  S.  Thomé,  trinta  ve- 
zes maior  do  que  aquella,  não  é  proporcionalmente  mais  povoada. 

O  monte  ou  volcão  de  Ternate  está  1:749  metros  acima  do  nivel  do 
mar,  e  os  de  Tidore  íicam-lhe  a  SE.,  o  os  de  G^ilolo  são  mais  altos 
que  o  da  sua  vizinha.  No  canal  que  separa  as  ilhas  de  Ternate  e  Tidore 
levanta-se  uma  ilha  ou  antes  montanha  que  tem  próximo  de  1:000  metros 
de  altitude»  e  é  muitas  vezes  occupada,  aindaque  temporariamente,  pelos 

8 


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habitanles  da  ilba  de  Ternale,  de  cujo  clima  nos  occuparemos  n'oulro 
logar. 

Ilha  Geílolo  (Dgilolo  oa  Halmaheíra). — Está  na  Malásia  e  é  a  maior  das  Mo- 
lucas.  Levanta-se  a  E.  da  ilha  Celebes,  estendendo-se  desde  O®  50'  de 
latitude  S.  até  2°  20'  de  latitude  N.  e  124°  50'  a  126°  50'  de  longitude  E. 
(Paris).  Tem  de  N.  ao  S.  380  kilometros  e  de  E.  a  0.  70.  A  superfície  é 
inferior  a  22:600  kilometros  quadrados.  A  sua  forma  é  muito  irregular, 
podendo  considerar-se  dividida  em  quatro  peninsulas  ou  quasi  ilhas  dis- 
tinctas  por  differentes  golfos.  Deveria  chamar-se-lhe  a  pequena  Celebes, 
lai  é  a  similhança  que  ambas  estas  ilhas  apresentam.  O  solo  é  fértil  e  pro- 
duz sagu,  que  é  o  principal  alimento  dos  habitantes,  arroz,  fructa,  pão, 
cocos  e  outros  fructos  intertropicaes. 

Os  hollandezes  são  os  únicos  que  ali  têem  estabelecimentos,  mas  os 
portuguezes  foram  os  primeiros  europeus  que  a  frequentaram,  sustentan- 
do guerra  com  os  habitantes,  entre  os  quaes  havia  mouros  que  faziam  pro- 
paganda contra  nós,  ao  verem  que  a  maioria  dos  povos  d'aquella  região 
procuravam  baptisar-se,  abraçando  a  religião  christã. 

A  população  da  ilha,  segundo  Larousse,  é  de  260:000  habitantes. 

AmboiDo. — Foi  descoberta  em  i511  a  1512  por  António  de  Abreu  e 
Francisco  Serrão,  construindo-se  ali  em  1569  uma  fortaleza.  O  dr.  Van 
Leent  apresentou  uma  descripção  medico-geographica  d'esta  ilha,  com 
informações  históricas,  que  nós  completámos  modificando  algumas  noti- 
cias menos  exactas,  que  aquelle  illustre  medico  archivou  por  não  ter  tal- 
vez á  vista  os  trabalhos  dos  escriptores  portuguezes. 

É  verdade  que  o  celebre  AíTonso  de  Albuquerque  expediu  em  1511 
alguns  navios  para  a  descoberta  das  Molucas,  e  que  ellas  ficaram  sujeitas 
desde  então  ao  dominio  de  Portugal.  A  expedição  hespanhola  enviada  por 
Carlos  V,  em  1521,  não  foi  bem  succedida. 

Os  portuguezes,  deixando  em  toda  a  parte  vestígios  da  sua  passagem 
por  meio  de  úteis  plantações,  fortalezas  ou  padrões  e  introducção  de  ani- 
maes,  mostraram  também  que  não  se  esqueceram  de  Ambomo,  e  para 
ella  passaram  a  arvore  do  cravo,  que  se  aclimou  e  desenvolveu  com  ra- 
pidez. 

aSans  cesse  traçasses  par  des  tribus  ennemis,  observa  o  dr.  Van  Leent, 
les  portugais  furent  conlraints  de  se  retirer  de  Tautre  còté  de  la  baie,  à 
Leytimor,  ou  ils  bâtirent  le  fort  Victoria.  Cétait  à  cette  époque  qu'un  prê* 
tre,  Galvaan,  commença  à  propager  le  culte  catholique  parmi  une  partie 
delapopulation.» 

António  Galvão  não  era  padre,  nem  se  Occupou  de  propagar  o  culto 


U5 

cadK>Eo3  Da  iUu  de  AmboiDO.  porque  residia  na  de  Ternate.  capital  das^ 
nossas  oc4o&ii5  D^jquella  região,  e  ali  completou  o  tempo  do  seu  gover- 
no, dmd)  eiemplo  de  aboegação  e  honradez,  que  o  tomou  digno  de  ser 
imitailo  e  >lmirado. 

EíteTe  â  Crecte  da  governação  publica  d'aquellas  ilhas  desde  1537  atè 
1539,  tendo  «ds  habitantes  de  Amboino,  como  os  da  Celebes.  de  Geilolo.  Ti- 
dore, de  Java.  etc,  em  muito  apreço  a  amisade  e  serviços  daquelle gover- 
nador. Mo  se  consideravam  dominados  por  um  governo  despótico,  usur- 
pador, e  sujeitos  a  um  jugo  que  elles  quizessem  quebrar  por  meio  das 
armas,  [«elo  contrario  deixavam  as  guerras  para  cuidar  das  culturas  e 
corriam  de  todos  os  pontos  para  receber  o  baptismo  e  abraçar  a  religião 
christã.  onica  que  pode  tomar  feliz  uma  nação. 

Desejámos  para  as  nossas  possessões  de  hoje  governadores  como  An- 
lonio  Galvão,  e  veremos  augmentar  a  agricultura,  alargar  o  commercio, 
espalbar-se  a  civiUsação  e  apparecer  a  prosperidade  por  toda  a  Africa 
portugaeza,  que  poderá  ser  procurada  como  qualquer  provincia  de  Por- 
tugal, dando  cem  por  um  dos  beneflcios  que  se  lhes  tizerem.  Mas  vol- 
temos a  nossa  attenção  para  a  ilha  de  Amboino,  de  que  nos  occupâmos 
n'este  logar,  e  mais  adiante  fallaremos  do  clima  e  salubridade  da  Africa 
portogueza. 

Os  bollandezes  exigiram  em  1605  a  entrega  do  forle  Victoria  e  a  posse 
da  ilha.  Os  portuguezes  cederam  diante  da  força,  e  a  ilha  foi  entregue,  fi- 
cando ali  todas  as  familias  portuguezas,  que  prestaram  juramento  de  fi- 
delidade ao  governador  hollandez. 

A  ilha  de  Amboino  tem  a  superflcie  de  410,5  kilometros  quadrados, 
que  não  chega  a  ser  a  metade  da  ilha  de  S.  Thomé,  e  comludo  a  sua  po- 
pulação é  de  32:196  habitantes,  entre  os  quaes  se  contam  700  europeus. 
Entre  uma  e  outra  ha  grande  dilTerença  no  numero  de  habitantes,  e  adiante 
apreciaremos  as  causas  que  lhe  dão  origem. 

A  bahia  de  Amboino  é  de  primeira  ordem,  dando-se  ainda  hoje  á 
parte  meridional  o  nome  de  Bahia  dos  portuguezes.  Os  montes  sobem 
apenas  a  300  melros  de  altitude  e  os  rios  são  numerosos,  mas  de  pouco 
volume  de  agua. 

A  ilha  de  Amboino,  diz  o  dr.  Van  Leent,  cobre-se  de  espesso  arvoredo 
desde  as  praias  até  ao  cume  mais  alto  dos  montes.  É  esplendida  a  flora- 
ção das  arvores  do  cravo  c  da  noz  moschada,  e  veem-sc  ali  representados 
os  melhores  exemplares  da  flora  interlropical.  Mas,  apesar  do  tão  pilto- 
resco  arvoredo,  a  ilha  não  merece  o  titulo  de  fértil.  O  solo  ó  magro  e  co- 
berto por  uma  delgada  camada  de  húmus,  e  não  produz  os  géneros  ve- 
getaes  próprios  para  alimentação  dos  habitantes,  que  os  importam  da 
ilha  Ceram,  á  qual  fica  próxima. 


116 

A  ilha  de  Auiboiuo  eslá  a  3^  :28'  de  latitude  S.  e  Iá7"  W  de  longitu- 
de E. ;  devendo  notar-se,  relativamente  á  de  S.  Thomé,  que  lendo  aquella 
o  solo  menos  fértil,  os  montes  menos  elevados  e  os  rios  menos  abundan- 
tes de  agua,  tem  prosperado  mais  e  está  methodicamente  cultivada. 

Deveríamos  terminar  aqui  a  enumeração  das  ilhas  Molucas  ou  das 
Especiarias,  mas  estamos  certos  de  que  não  será  destituído  de  interesse 
relembrar  o  que  de  taes  ilhas  nos  disse  João  de  Barros  na  sua  linguagem 
singela  e  agradável. 

Ilhas  de  Banda,  por  João  de  Barros.  —  tNestas  cinco  ilhas  nasce  toda  a 
noz  e  massa,  que  se  leva  per  todalas  partes  do  mundo,  como  em  Maluco 
o  cravo.  E  a  chamada  Banda  he  a  mais  fresca  e  graciosa  cousa,  que  pôde 
ser  em  deleitação  da  vista :  cá  parece  hum  jardim,  em  que  a  natureza  com 
aquelle  particular  fruito  que  lhe  deo  se  quiz  deleitar  na  sua  pintura. 
Porque  tem  uma  fralda  chã,  cheia  de  arvoredo  que  dá  aquellas  nozes,  as 
quaes  arvores  no  parecer  querem  imitar  huma  pereira.  E  quando  estam 
em  frol,  que  é  no  tempo  que  a  tem  muitas  plantas  e  hervas,  que  nascem 
per  entre  ellas,  faz-se  da  mistura  de  tanta  frol  huma  composição  de  cheiro, 
que  não  pódc  semelhar  a  nenhum  dos  que  cá  temos  entre  nós.  Passado 
o  tempo  das  flores,  em  que  as  nozes  já  estam  coalhadas  e  de  cor  verde, 
(principio  de  lodo  vegetal)  vai-se  pouco  e  pouco  tingindo  aquelle  pomo 
da  maneira  que  vemos  neste  reyno  de  Portugal  huns  pecegos,  a  que  cha- 
mam calvos,  que  parecem  o  arco  do  ceo  chamado  Irís,  variado  de  quatro 
cores  elementaes,  não  em  círculos,  mas  em  manchas  desordenadas,  a 
qual  desordem  natural  o  faz  mais  formozo. 

«E  porque  neste  tempo  que  começam  amadurecer,  acodem  da  serra, 
como  a  novo  pasto,  muitos  papagaios  e  pássaros  diversos,  he  outra  pin- 
tura ver  a  variedade  da  feição,  canlo  e  cores  de  que  a  natureza  os  dotou. 
Passada  esta  fralda  tão  graciosa,  levanta-se  no  meio  da  ilha  huma  serra  pe- 
quena, hum  pouco  Íngreme,  donde  correm  algumas  ribeiras,  que  regam 
o  chão  de  baixo ;  e  como  se  sobe  com  trabalho  o  áspero  d'aquella  subida, 
fica  huma  terra  chã,  assi  cuberta,  e  pintada  como  a  de  baixo.  A  figura 
desta  ilha  he  á  maneira  de  huma  ferraduia,  e  haverá  de  ponta  a  ponta,  que 
jazem  Norle  e  Sul,  quasi  três  léguas,  e  de  largura  huma;  e  na  angra,  que 
ella  faz  com  sua  feição  está  a  povoação  de  seus  moradores,  e  as  arvores  da 
noz.  Na  ilha  chamada  Gnnuâpe  não  ha  arvores  de  noz,  mas  outras  pêra 
madeira  e  lenha  de  que  se  os  moradores  das  que  tem  este  fruito  se  ser- 
vem em  seu  uso;  na  qual  lambem  ha  outra  garganta  de  fogo  como  a  de 
Ternate  em  as  ilhas  de  Maluco,  e  por  esta  razão  lhe  deram  o  nome  que 
tem,  porque  Guno  quer  dizer  aquelle  fogo  e  Ape  é  o  próprio  nome  da 
ilha.  O  qual  Guno  por  ser  pouca  cousa,  os  nossos  vam  a  elle,  e  da  sua  boca 


117 

apanham  enxofre,  de  que  se  aproveitam  por  o  acharem  bom ;  e  toda  a  noz 
qae  ha  nas  outras  três  ilhetas,  a  trazem  a  esta  Banda  como  a  sua  cabeça  por 
a  ella  acudirem  os  mercadores.  A  gente  delias  é  robusta,  e  a  de  peior 
acatadura  d'aquellas  partes,  de  côr  baça  e  cabello  corredio:  segue  a  seita 
de  Mahamed,  e  mui  dada  ao  negocio  do  commercio,  e  as  mulheres  ao 
serviço  das  cousas  da  agricultura.  Não  tem  rey  ou  senhor,  e  todo  o  seu  go- 
verno depende  do  conselho  dos  mais  velhos;  e  muitas  vezes  porque  os 
pareceres  são  diversos,  contendem  huns  com  os  outros.  E  a  gente  que  os 
mais  enfrea  he  aquella  que  povoa  os  portos  de  mar,  per  onde  lhe  entra  o 
necessário  pêra  seus  usos,  e  tem  sabida  suas  novidades,  que  he  massa  e 
noz,  porque  a  terra  não  tem  outra  que  saia  pêra  fora.  O  arvoredo  do 
qual  pomo  he  tanto,  que  a  terra  he  cheia  delle,  sem  ser  plantado  per  al- 
guém, porque  a  terra  o  produzio  sem  beneficio  de  agricultura.  Querem 
imitar  estas  arvores  o  parecer  das  nossas  pereiras,  e  porém  a  sua  folha 
tem  semelhança  de  nogueira,  e  o  pomo  deste  tamanho  he,  e  a  noz  em  verde 
o  mesmo  parecer  tem.  Estas  matas  nâo  são  próprias  de  alguém,  como 
herança  particular,  são  de  todo  o  povo;  e  quando  vem  junho  té  setem- 
bro, em  que  este  pomo  está  de  vez  pêra  ser  colhido,  estam  já  estas 
matas  repartidas  per  os  lugares  e  povoações,  e  cada  hum  acode  a  apa- 
nhar; e  quem  mais  apanha  mais  proveito  faz.  Como  acerca  de  nós  são 
as  matas  do  conselho  assi  da  bolota,  como  as  serras  do  carrasco  da  grã,  que 
no  tempo  de  apanhar  geralmente  se  desconta  aos  da  villa  daquelle  termo.» 

Não  falíamos  de  outras  ilhas,  como  Java,  Timor,  ã  maior  parte  da  qual 
ainda  hoje  nos  pertence, Lantor,  etc,  porque,  como  temos  dito,  não  estão 
comprehendidas  nos  limites  d'esta  secção  do  nosso  trabalho,  e  as  que  no- 
meámos servem  para  mostrar  o  que  são  as  terras  equatoriaes  da  Oceania, 
havendo  assim  elementos  para  comparar  os  paizes  que  se  acham  sob  o 
equador,  seja  qual  for  a  parte  da  terra  em  que  se  achem. 

As  colónias  portuguezas  da  quinta  parte  do  mundo,  como  João  de  Bar- 
ros chamou  às  terras  descobertas  pelos  portuguezes  para  alem  de  Malaca, 
estão  enumeradas,  é  verdade,  na  importante  obra  de  V.  A.  Malte-Brun 
fils  Géographie  complete  et  universelle,  e  a  ellas  se  refere  também  H.  Ma- 
jor no  seu  monumento  geographico,  erigido  em  honra  de  Portugal ;  como 
porém  o  que  tão  auctorisados  auctores  escreveram  não  satisfaz  ao  nos- 
so intento,  ajuntámos  á  breve  noticia  de  cada  paiz  equatorial  da  Oceania 
o  que  a  seu  respeito  disseram  os  escriptores  portuguezes,  e  procurá- 
mos designar  com  a  maior  exactidão  possivel  as  datas  dos  descobrimen- 
tos e  das  explorações  das  terras  que  enumerámos,  e  os  nomes  d'aquel- 
les  que  realisaram  um  ou  outro  emprehendimento.  Ficarão  assim  recti- 
ficadas muitas  epochas  designadas  no  diccionario  de  Larousse,  que  se  re- 
ferem a  estes  mesmos  paizes,  e  as  noções  históricas  que  o  erudito  medico 


118 

Van  Leent  juntou  aos  seus  importantes  trabalhos  acerca  das  colónias 
neerlandezas^  os  quaes  nos  servem  de  modelo  em  grande  parte  d'este 
livro. 

Ilhas  Molucas  descriptas  por  João  de  Barros  e  Diogo  do  Couto. —  cO  seu  sitio 
he  debaixo  da  linha  equinocial.  Per  o  qual  parallelo  distam  contra  o  oriente 
da  nossa  cidade  Malaca  pola  navegação  dos  nossos,  espaço  de  trezentas 
léguas  pouco  mais  ou  menos.  Estas  cinco  ilhas  jazem  huma  ante  outra  pelo 
rumo  de  Norte  Sul  ao  longo  de  outra  ilha  grande:  o  comprimento  da  qual 
per  este  mesmo  rumo  será  té  sessenta  léguas,  e  isto  pela  costa  desta  grande 
ilha  que  está  da  parte  do  ponente,  a  qual  elles  chamam  Batochina  do  Moro. 
E  de  quio  direita  ella  corre  com  esta  face  do  ponente,  tão  curva  e  esca- 
chada he  do  levante,  lançando  três  braços,  hum  na  cabeça,  que  tem  contra 
o  Norte  o  qual  corre  ao  Nordeste  e  dous  no  meio  que  correm  direito  a 
oriente  e  isto  segundo  a  pintam  nas  cartas  de  navegar,  com  a  qual  figura, 
quer  parecer  hum  troço  de  páo  liso  per  huma  face  e  três  esgalhos  pela 
outra. 

«Âs  outras  cinco  ilhas  chamadas  Maluco,  que  jazem  ao  longo  desta, 
todas  estam  huma  á  vista  da  outra  per  distancia  de  vinte  e  cinco  léguas.  E 
n3o  dizemos  serem  cinco  porque  naquelle  contorno  de  Batochina  e  entre 
ellas  nSo  ha  já  hi  outras,  nem  menos  lhe  chamamos  Maluco,  per  n5o  terem 
outro  nome;  mas  dizemos  serem  cinco  porque  naturalmente  nesta  ha  o 
cravo  e  em  três  ha  rey  próprio  de  cada  huma. 

«E  o  de  cada  huma  destas,  começando  da  parte  do  Norte  vindo  pêra 
o  Sul,  o  da  primeira  he  Temate,  que  se  aparta  meio  gráo  da  linha  equi- 
nocial e  a  segunda  se  chama  Tidore,  e  as  seguintes  Moutel,  Maquiem  e 
Bacham.  As  quaes  antigamente  per  nome  do  Gentio  natural  da  terra  se 
chamavam  Gape,  Duco,  Moutil,  Mara  e  Seque.  Todas  sao  mui  pequenas 
porque  a  maior  nao  passa  de  seis  léguas  em  roda. 

«A  terra  destas  ilhas  em  si  é  mal  assombrada,  e  pouco  graciosa;  por- 
que como  o  sol  sempre  anda  mui  vizinho,  ora  passe  ao  solsticio  boreal  ora 
ao  austral,  com  a  humidade  da  terra  cobre-a  de  tanto  arvoredo,  plantas  e 
hervas  que  isto  faz  aquella  terra  carregada  no  ar,  e  vista  delia  com  as 
exhalações  dos  vapores  terrestes,  que  sempre  andam  per  cima  delias, 
que  faz  nunca  as  arvores  estarem  sem  folha.  Porque  ainda  que  mudem 
huma,  já  per  outra  parte  está  com  outra  nova,  e  outro  tanto  he  nas  hervas; 
e  com  tudo  cada  cousa  vem  com  sua  novidade  a  hum  certo  tempo  cada 
anno.  Somente  as  arvores  que  dam  o  cravo  respondem  com  novidade  de 
dous  em  dous  annos,  porque  no  apanhar  quebram-lhe  o  novo,  onde  ella 
lança  os  cachos  delle  á  maneira  da  madre  silva,  como  vemos  que  a  oli- 
veira, se  he  muito  açoutada  da  vara,  dahi  a  dous  annos  não  responde  com 


119 

novidade  porque  ha  mister  aquelle  tempo  peracrear  rama  nova,  em  que 
dé  azeitona. 

iGeralmente  per  a  fralda  destas  ilhas  a  terra  he  sadia  e  isto  a  que  é  al- 
ta; a  que  tem  este  marítimo  alagadiço,  como  a  ilhaBacbam,  é  doentia.  A 
terra  de  todas  pela  maior  parte  he  preta,  grossa  e  tão  sequiosa  e  porosa 
em  si,  que  por  muito  que  choiva,  logo  he  bebida  toda  aquella  agua ;  e  se 
algum  rio  tem  que  venha  do  alto  das  serranias,  primeiro  que  chegue  ao 
mar,  a  terra  o  bebe  todo.  E  assi  dispoz  a  natureza  suas  sementes,  que 
sendo  a  Batochina  maior  que  estas  cinco  juntas  e  todas  dentro  em  bum  pe- 
queno espaço  de  mar,  nesta  grande  não  ha  cravo  e  tudo  o  que  tem  é  man- 
timentos e  nas  cinco  cravo  sem  elles.  Finalmente  veio  a  natureza  a  parti- 
cularizar tanto  a  disposição  de  sua  especifica  virtude  que  té  barro  para 
louça  deo  somente  em  huma  que  jaz  entre  Tidore  e  Moulel,  chamada  PuUo 
Caballe,  que  quer  dizer  ilha  das  Panellas.  E  não  somente  nas  cousas  natu- 
raes,  mais  ainda  nas  artificiaes  assi  estam  repartidas  na  inclinação  e  uso 
dos  homens  pêra  huns  pola  necessidade  delias  se  communicarem  com  os 
outros,  que  na  ilha  Batochina,  em  hum  lugar  chamado  Geilolo,  se  fazem 
os  saccos  em  que  se  enfardella  todo  o  cravo  que  dam  todas  as  cinco  pêra 
se  carregar  pêra  fora,  quando  o  não  queiram  trazer  a  granel  em  suas  pei- 
tacas,  como  elles  costumam.» 

Segundo  Diogo  do  Couto,  as  ilhas  do  mar  de  Levante  tão  conhecidas 
e  frequentadas  pelos  porluguezes  no  século  xvi,  formavam  cinco  archipe- 
lagos. 

€  A  primeira  parte,  diz  aquelle  escriptor,  he  o  archipelago  de  Maluco, 
a  que  os  naturaes  não  sabem  dar  quantidade;  mas  o  mais  certo  he  que 
começa  passando  Mindanáo,  e  tudo  pêra  lá,  charaa-se  Maluco,  em  cujo 
meio  ficam  as  sinco  ilhas  do  cravo,  Ternate,  Tidore,  Maquiem,  Bachão 
e  Moutel.  E  posto  que  Bachão  he  dividida  em  muitas  ilhas  cortadas  por 
muitos  braços  de  mar,  que  se  navegam  com  embarcações  ligeiras,  to- 
davia, por  ser  de  hum  só  senhor,  as  nomeamos  por  huma  só.  Por  cima 
delia  corta  a  equinoccial  e  ao  Norte  delia  corre  a  ilha  de  Ternate,  que  se 
aparta  bum  gráo  para  o  Norte  ficando  entre  huma  e  a  outra  as  ilhas  de 
Moutel  e  Maquiem,  todas  á  vista  huma  das  outras  por  espaço  de  vinte  e 
cíDCO  léguas,  e  todas  se  correm  Norte  e  Sul. 

«A  segunda  parle  ou  o  archipelago  he  o  do  Moro,  que  fica  perto  de  ses- 
senta léguas  de  Maluco  ao  Norte  e  começa  nas  ilhas  Doe,  duas  léguas  á 
ré  da  ponta  de  Bicoa  e  não  adiante,  como  anda  nas  cartas  de  marear  de 
Batochina. 

lA  ilha  de  Batochina  terá  em  circuito  duzentas  e  cincoenta  léguas  e 
nella  ba  dous  reys,  o  de  Geilolo  e  o  de  Lyoloda,  algumas  vinte  e  cinco  lé- 
guas do  outro,  junto  de  huns  ilheos,  onde  acaba  este  archipelago  da  banda 


i20 

do  Norle.  Os  habitadores  desla  ilha  da  banda  do  Norte  sao  selvagens, 
sem  ley  e  sem  rey,  e  não  tem  povoações  senão  pelos  matos.  Mas  da  banda 
de  Leste  he  povoada  de  longo  do  mar  e  tem  grandes  e  bons  lugares,  que 
cada  hum  tem  língua  sobre  si,  posto  que  todos  se  entendam.  A  esta  costa 
chamam  Morotia,  que  quer  dizer  o  Moro  da  terra ;  e  as  ilhas  de  defronte 
chamam  Morotai,  que  é  moro  do  mar,  e  a  todas  as  ilhas  juntamente  cha- 
mam o  Moro. 

«O  terceiro  archipelago  he  o  dos  Pa  puas,  que  está  a  leste  de  Maluco, 
que  he  pouco  frequentado  pelas  ilhas  serem  muitas  e  cheias  de  baixos  e 
restingas.  Os  naturaes  destas  são  pobríssimos.  (Foi  descoberta  por  D.  Jor- 
ge de  Menezes  em  1S27). 

d  O  quarto  archipelago  he  o  dos  Gelebes,  que  está  a  loeste  de  Maluco :  ha 
n'elle  muitas  ilhas  famosas  de  que  as  príncipaes  são  Míndanáo  e  a  própria 
dos  Celebes,  em  que  ha  muitos  reys.  Tem  mais  as  ilhas  Bisaya,  que  tem 
muito  ferro,  e  Mascaga,  Masbate,  que  ambas  tem  muito  ouro,  que  também 
se  acha  em  Míndanáo,  e  a  ilha  de  Sologo,  que  tem  muitas  pérolas,  que 
não  sabem  os  naturaes  tirar.  Tem  todas  estas  ilhas  e  outras  que  não  no- 
meamos muitos  mantimentos,  sândalo,  aguila,  canela,  cânfora,  tartaruga 
gengivre  e  pimenta  longa. 

«O  quinto  archipelago  he  o  de  Amboino,  que  está  ao  Sul  de  Maluco, 
e  tem  muitas  ilhas.» 

Os  primeiros  povoadores  das  ilhas  do  Cravo,  segundo  Diogo  do  Couto, 
foram  os  chins  que  as  frequentaram  por  muitos  séculos,  e  d'ali  exporta- 
vam bastantes  especiarias,  cuja  procedência  se  ignorou  na  Europa  em- 
quanto  os  portuguezes  não  descobriram  as  terras  em  que  ellas  se  produ- 
ziam. 

Ilha  Waígíoa  e  a  Nova  Gaioè. — Fica  a  ilha  Waigiou  na  Malásia,  ao  NO. 
da  Papouasia  ou  Nova  Guiné,  da  qual  está  separada  pelo  estreito  Gammen, 
segundo  Larousse,  ou  Dampier,  segundo  outros.  Está  emO°  i'  de  latitude 
S.  e  liS""  de  longitude  E.  de  Paris. 

Os  terrenos  doesta  ilha  são  elevados  e  cobrem-se  de  arvoredo  desde 
as  praias  até  aos  logares  mais  elevados. 

Foi  descoberta  com  o  grupo  a  que  pertence  por  D.  Jorge  de  Menezes, 
o  qual  saiu  de  Malaca  com  destino  ás  ilhas  Molucas,  seguindo  a  viagem 
por  via  da  ilha  de  Borneo,  como  lhe  fora  ordenado.  Passou  a  pouca  dis- 
tancia da  ilha  de  Moro,  ao  N.  de  Geilolo,  onde  não  encontrou  bom  fun- 
deadouro  por  ser  a  costa  alcantilada. 

Afastando-se,  porém,  das  ilhas  Molucas  e  navegando  para  o  Orien- 
te, descobriu  D.  Jorge  de  Menezes,  no  fim  de  alguns  dias,  uma  ilha 
com  bom  porto,  e  cujos  naturaes,  tanto  homens  como  mulheres,  eram 


12< 

tão  alvos  e  louros  como  allemães,  os  quacs  eram  conhecidos  pelo  nome 
de  Fapuas^ 

Sob  a  denominação  de  Papouasia  estão  reunidas  muitas  ilhas,  sendo 
a  maior  a  Nova  Guiné.  Esta  ilha  estende-se  de  NO.  para  SE.  e  tem,  se- 
gundo A.  R.  Wallace,  2:245  kilomelros  de  comprimento  e  640  de  lar- 
gura. A  superfície  excede  a  da  ilha  de  Borneo,  devendo  considerar-se, 
reputando  a  Austrália  como  um  continente,  uma  das  primeiras  ilhas  do 
mando. 

£  digna  de  estudo  a  Nova  Guiné,  mas  não  apresenta  localidade  alguma 
em  O®  de  latitude,  não  tendo  por  conseguinte  a  condição  essencial  para  ser 
descripta  com  minuciosidade  n'este  livro.  Nomeâmol-a  apenas  por  ella  es- 
tar muito  próxima  da  ilha  Waigiou,  que  lhe  fíca  a  NO. 

Os  bollandezes  procuram  estabelecer-se  no  interior  doestas  ilhas,  e  os 
seus  navios  percorrem  os  differentes  portos,  especialmente  os  da  costa 
Occidental.  Frequentam  a  bahia  de  Dorey  na  costa  da  região  mais  septen- 
trionaU  e  a  de  Humboldt  que  está  mais  para  o  oriente.  É  a  Nova  Guiné 
por  emquanto  pouco  frequentada,  mas  os  seus  habitantes  otTerecem  da- 
dos importantes  para  o  estudo  da  ethnographia.  A.  R.  Wallace  esteve 
por  algum  tempo  na  povoação  de  Dorey,  onde  se  viu  atormentado  por 
grande  quantidade  de  formigas  que  o  incommodavam  constantemente  e 
infestavam  as  collecções  zoológicas  que  elle  preparava.  Ha  ali  poucos  re- 
cursos e  o  paiz  está  inculto. 

Alem  das  ilhas  da  Oceania  equatorial  já  nomeadas,  encontram-se  ou- 
tras, como  as  de  Gilberl,  etc;  mas  só  fatiaremos  da  salubridade  ou  in-. 
salubridade  dos  paízes  de  que  deixámos  tão  rápida  descripção. 


Ill 

DistincQão  entre  clima  equatorial  e  tropical 

Não  é  este  o  logar  adequado  para  o  estudo  da  climatologia;  julgá- 
mos, porém,  indispensáveis  algumas  explicações  para  justificar  a  classi- 
ficação dos  climas  por  nós  adoptada,  e  as  rasões  que  nos  levaram  a  fazer 
distincção  entre  clima  equatorial  e  tropical,  visto  estarem  ambos  compre- 
hendidos  na  chamada  zona  tórrida,  onde  aliás  apparecem  numerosas  re- 
giões temperadas,  localidades  frias  e  não  faltam  também  zonas  glaciaes. 


í  A.  M.  de  Castilho  attribue  a  descoberta  da  Papouasia  ou  Nova  Guiné  a  An- 
tónio de  Abreu  e  Francisco  Serrão;  mas  ha  n'isto  evidente  lapso. 


i2a 

São  na  verdade  variadas  as  classificações  que  se  toem  feilo  dos  cli- 
mas, e  nós  poderíamos  acceitar  qualquer  d'ellas,  porque  lodos  os  escriplo- 
res  s3o  unanimes  em  considerar  equatoriaes  as  zonas  que  flcam  sob  o 
equador;  mas  o  que  se  nâo  pôde,  sem  graves  inconvenientes,  é  dizer  in- 
dififerentemenle :  Este  clima  é  tropical  ou  equatorial.  Ha  na  verdade 
grande  dififerença  entre  os  climas  d'estas  duas  zonas,  e  as  palavras  — 
paizes  Iropicaes — não  devem  nunca  comprehender  os  que  ficam  mais 
próximos  ao  equador  do  que  aos  trópicos.  Admitte-se  em  geral  uma  di- 
visão, mas  não  ha  todavia  accordo  acerca  do  limite  extremo  d*esses  pai- 
zes, dizendo  uns  que  elles  se  estendem  até  15^  de  latitude  e  outros  até 
10°.  Começa  ahi  a  divergência,  e  poucos  geographos  ha  que  não  apre- 
sentem alguma  modificação  na  classificação  climatológica  que  adoptam. 

O  fallecido  visconde  de  Paiva  Manso  admittia  cinco  espécies  de  zo- 
,  zas  isothermicas ;  a  saber:  glaciaes,  frias,  temperadas,  quentes  e  tór- 
ridas. 

Não  nos  satisfaz  esta  classificação,  e,  se  reconhecemos  a  existência 
de  climas  equatoriaes,  devemos  em  primeiro  logar  assignar-lhes  um  li- 
mite que  possa  até  certo  ponto  servir  para  se  distingiíirem  dos  que  fi- 
cam sob  os  trópicos,  e  para  isso  escolhemos  dois  parallelos  tirados  por 
H®  46'  ao  N.  e  ao  S.  da  linha  equinoccial. 

Doeste  modo  o  espaço  inlertropical  fica  dividido  em  quatro  zonas  dis- 
tinctas,  devendo  admittir-se  mais  três,  que,  posto  não  sejam  bem  limita- 
das, téem  comtudo  significação  clara.  Referimo-nos  ás  zonas  de  transição 
que  se  observam  tanto  entre  os  climas  tropicaes,  como  entre  os  equato- 
riaes,  que  se  contam  ao  N.  e  ao  S.  do  equador. 

Chama-se,  n'este  caso,  zona  equatorial  propriamente  dita,  ou  sub-equa- 
torial,  á  região  que  fica  sob  a  linha  equinoccial,  estando  alguns  dos  seus 
logares  a  0^  ou  quasi  a  0°  latitude ;  e  zona  equatorial  do  Norte  ou  do 
Sul  é  a  parte  que  se  estende  d*aquellas  localidades  até  á  linha  divisória 
equidistante  do  equador  e  do  trópico  boreal  ou  austral. 

Clima  tropico-equatorial  é  aquelle  que  está  sob  o  parallelo  equidis- 
tante do  equador  e  dos  trópicos,  e  daremos  o  nome  de  climas  tropicaes  ás 
terras  ou  paizes  que  se  acham  mais  próximos  dos  trópicos  que  do  equa- 
dor. É  necessário  também  advertir  que  ficam  substituídas  as  palavras 
zona  tórrida  por  outras  mais  apropriadas,  como  as  que  acima  ficam  in- 
dicadas. 

Não  são  indifferentes  estas  observações,  porque  se  trata  de  explicar 
a  natureza  dos  climas  intertropicaes,  dizendo  a  verdade  a  todos  os  colo- 
nos que  desejem  ir  para  o  Brazil  ou  para  a  Africa  portugueza. 

Parece-nos  realmente  grande  erro  chamar  insalubre  a  um  paiz  quan- 
do elle  tem  apenas  uma  ou  outra  localidade  palustre,  assim  como  não  é 


123 

racional  repntar  ardentes  aquellas  regiões  em  que  a  maior  parte  da  su- 
perficie  está  sujeita  a  uma  temperatura  moderada,  como  acontece  na  re- 
gião alto-plana  da  ilha  de  S.  Thomé. 

Nas  terras  equatoriaes  (zona  tórrida  ou  ardente  de  muitos  escripto- 
res)  iia,  é  verdade,  legares  em  que  a  temperatura  é  insupportavel;  mas  a 
poucos  kilometros  encontram-se  climas  variados,  sendo  até  necessário 
muitas  vezes  os  habitantes  andarem  t3o  enroupados  como  em  Lisboa 
na  estação  invernosa.  Julgámos,  pois,  que  as  palavras  zona  tórrida  ou  ar^ 
dente  não  satisfazem  ao  estudo  da  aclimação  e  da  colonisação,  e  deixam 
no  espirito  dos  colonos  idéas  que  não  são  verdadeiras  na  sua  comprehen- 
são  e  extensão. 

A  temperatura  é  de  certo  base  acceitavel  para  o  estudo  dos  climas 
meteorológicos,  mas  o  clima  pathologico  não  ficaria  bem  definido,  se  se 
adoptasse  isoladamente  tal  principio.  Âs  divisões  physícas  do  globo  tam- 
bém não  servem  para  distinguir  qualquer  clima,  e  é  realmente  vago  dizer: 
clima  oceânico j  clima  europeu,  clima  asiático,  etc,  como  dizem  alguns 
escriptores  sem  justificada  rasão. 

A  sciencia  climatológica,  é  preciso  dizer-se,  tem  adiantado  pouco,  e  é 
por  isso  que  vemos  reputar  insalubres  alguns  paizes  que  a  tradição  assim 
tem  apresentado  e  não  porque  haja  provas  da  sua  insalubridade,  e  con- 
siderar como  tórrida  uma  zona  que  tem  muitos  tractos  de  terreno  sob  a 
acção  de  uma  temperatura  amena  ou  de  um  clima  temperado  I 

Se  ha  sob  o  equador  localidades  em  que  a  aclimação  é  muito  difQcil  e  a 
vida  muito  arriscada,  vemos  nós  também  viverem  os  europeus  em  loga- 
res  que  se  acham  em  O''  de  latitude,  no  meio  da  zona  tórrida,  cujo  nome 
tem  contra  si  os  gelos  das  montanhas,  o  frio  dos  alto-planos  e  a  ameni- 
dade de  muitas  planuras. 

O  dr.  J.  Rochard  diz  que  a  zona  tórrida,  classificada  segundo  o 
equador  thermal,  comprehende  ao  N.  e  S.  do  equador  os  seguintes  paizes: 

Na  Ásia: 

Arábia,  índia,  península  de  Malacca,  Sião,  Birmânia,  Cochinchina, 
Laos,  Cambodge  e  Annan. 

Na  Africa: 

Sabará,  Fezzan  e  o  Soudan,  na  região  central;  a  Senegambia,  Guiné 
e  o  Congo  a  O. ;  a  E.  a  Abyssinia,  costa  do  mar  Vermelho,  Zanzibar,  Mo- 
çambique, Madagáscar,  ilhas  Comores,  ilha  Reunião  eMauricia. 

Na  America: 

México,  Guyanas,  Antilhas,  Guatemala,  S.  Salvador,  Nicarágua,  Costa 
Rica,  Nova  Granada,  Equador,  Venezuela  e  o  norte  do  Brazil. 

Na  Oceania: 

As  ilhas  da  Malásia,  Taiti,  Pomotou,  Gambier  e  as  ilhas  Marquezas. 


Esta  divisão  dos  climas  tórridos  ou  ardentes^  aliás  arbitraria,  baseia-se 
no  exame  das  linhas  isothermícas,  formando-se  o  equador  thermal  dos  pon- 
tos indicados  pelas  medias  mais  elevadas  da  temperatura  observada  em 
differentes  localidades.  A  zona  tórrida  abrange,  n'este  caso,  todos  os 
paizes  em  que  a  temperatura  se  conserva  acima  de  2õ^  centigrados,  e 
os  limites  das  outras  zonas  obtéem-se  diminuindo  successivamente  10^ 
até  25**  abaixo  de  zero,  o  que  pôde  representar-se  pela  formula — 25**. 
O  clima  glacial  será  representado  por  linhas  isothermicas  referidas  ás 
temperaturas  —  5®  e  — 15"^;  o  clima  frio  por  —  5^  e  +  5°;  o  temperado 
por  +  5°  e  +  15'';  o  quente  +  lõ^  e  +  25**;  o  tórrido,  finalmente,  por 
+  25^  e  +  35^ 

Não  tratámos  de  discutir  as  vantagens  ou  desvantagens  d'esta  classi- 
ficação ;  observámos  apenas  que  a  não  adoptámos,  porque  está  desligada  da 
latitude,  o  que  nos  parece  inacceitavel,  por  isso  que  as  chamadas  linhas 
isothermicas  não  dão  idéa  da  posição  das  localidades  e  servem  apenas 
para  pontos  geraes  de  comparação. 

Os  paizes  equatoriaes  propriamente  ditos  téem  logares  em  que  a  la- 
titude é  nuUá,  e  que  ficam  a  igual  distancia  dos  dois  poios.  Os  astros  pare- 
cem descrever  diariamente  círculos  perpendiculares  ao  plano  do  horisonte 
e  são  todos  visíveis.  Os  dias  são,  durante  o  anno,  iguaes  ás  noites,  isto  é, 
ha  constante  equinoccio  para  os  habitantes  que  ali  vivem,  assim  como  ape- 
nas se  contam  duas  estações. 

Os  paizes  equatoriaes  toem,  pois,  caracteres  physico-mathematicos 
que  os  distinguem  de  todos  os  outros  e  devem  ser  estudados  separada- 
mente. 


Mappas  comparativos  de  algumas  classificações  a  respeito 

dos  dimas 

l.*-9yiitcma  da«  llnhaM  laolhcrmlcaii 


Designação  dos  climas 

Temperaturas  medias 

Observações 

Clima  ardente 

Gima  quente 

Clima  doce 

27» 

20» 

10« 

5» 

Abaixo 

a 
a 
a 
a 
a 
a 
de 

25" 
20° 
15» 
i0« 
5» 
0» 
0» 

0  clima  ardente  pertence  á  zona 
tórrida,  e,  segundo  observa 
M.  Lévy,  cada  uma  das  zonas 
isothermicas  pôde  dividir-se 
em  climas  constantes,  variá- 
veis e  excessivos. 

Clima  temperado 

Clima  frio 

Clima  muito  frio 

Clima  glacial 

125 

Não  julgámos  indifferenle  o  ler  sido  esta  classificação  apresentada 
por  M.  Lévy  no  seu  Tratado  dn  hygiene  publica  e  privada,  porque  este 
esclarecido  medico  não  adoplou  a  divisão  dos  climas  segundo  as  linhas 
isothermicas,  e  admittiu  a  antiga  distincção  de  climas  quentes,  temperados 
e  frios,  a  qual  para  elle  é  um  facto  de  observação.  O  que,  porém,  se 
torna  digno  de  attenção  è  que  tem  conservado  a  mesma  divisão  dos  cli- 
mas em  todas  as  edições  do  seu  importante  livro,  o  que  mostra  que  não 
se  convenceu  ainda  das  vantagens  que  dizem  ler  a  classificação  dos  cli- 
mas segundo  as  linhas  isothermicas.  J.  Rochard  ataca  vivamente  as  idéas 
de  M.  Lévy,  e  esforça-se  por  o  convencer  de  que  é  melhor  escolher  as  li- 
nhas isothermicas  para  ponto  de  partida  do  que  os  graus  de  latitude,  por- 
que doeste  modo,  diz  elle,  reunem-se  dentro  da  mesma  zona  climas  es- 
sencialmente diiTerentes. 

Não  é  este  o  logar  conveniente  para  entrarmos  no  debate  em  que  fi- 
guram dois  médicos  francezes  tão  distlnctos.  Aqui  inscrevemos  apenas  os 
mappas  comparativos  dos  climas,  cujo  estudo  especial  faz  objecto  da 
VII  secção  d'este  livro.  Não  podemos  todavia  deixar  de  dizer  que  as  me- 
dias thermometricas  de  que  se  serve  M.  Lévy  não  são  iguaes  áquellas  que 
emprega  J,  Rochard.  O  equador  Ihermal  e  as  linhas  que  se  traçam,  unindo 
os  pontos  que  apresentam  o  mesmo  grau  de  temperatura,  exigem  nume- 
rosas, variadas  e  ininterrompidas  observações  meteorológicas,  a  fim  de 
que  as  medias  da  temperatura  de  cada  localidade  sejam  o  mais  approxi- 
madas  que  for  possível. 


t.<>-€la«iMlfleaeAo  do»  clinia«,  ncgundo  M.  Lévy 


Designaç&o 


Graus  de  latitude 


Climas  quentes 


j  0«  a  30»  N. 

*"")  Oo  a  3o°  S. 

I  30«  a  5o«  N. 

Climas  temperados. ...  {  „„       „„    „ 

^                )  3o«  a  35»  S. 


Climas  frios 


5ii°  ao  polo  boreal. 
55**  ao  polo  austral. 


Observações 


Devem  tomar-se  em  considera- 
ção as  singularidades  topo- 
graphicas  e  todas  as  modifica- 
ções intermediarias  de  cada 
uma  das  respectivas  zonas 
climatéricas. 


M.  Lévy,  depois  de  mostrar  os  inconvenientes  e  defeitos  da  classifica- 
ção dos  climas  segundo  as  linhas  isothermicas,  diz  o  seguinte: 

lA  questão  dos  climas  depende  do  exame  das  localidades,  assim  como 
o  problema  da  constituição  individual  se  decompõe  n'uma  serie  de  es- 
tudos que  lêem  por  objecto  o  temperamento,  a  idiosyncrasia,  a  heredita- 
riedade, ele.  É  esta  a  rasão  por  que  julgámos,  ao  contrario  de  Guerard, 
que  a  exploração  das  localidades  deve  preceder  o  estudo  dos  climas.» 


i26 

Estamos  plenamente  de  accordo  com  o  sábio  hygienisla  francez,  mas, 
como  já  dissemos,  não  é  este  o  logar  competente  para  examinar  deti- 
damente qualquer  classificação.  Mencionámos  as  que  sao  mais  geralmente 
admdttidas,  a  Qm  de  que  se  reconheça  desde  já  a  necessidade  de  se  ado- 
ptar a  que  seja  mais  apropriada,  e  se  avalie  a  vantagem  da  que  apre- 
sentámos n'este  livro.  Não  nos  propomos  fazer  uma  classificação  nova; 
escolhemos  a  que  nos  parece  mais  simples  e  mais  racional. 


••<*- Melhor  cla0«lfle«çfto  para  a  clhnographla  das  emlsraçoe») 
admlUlda  pelo  vl«eonde  de  Paiva  ManMO 


DusignaçOes 


Grão  de  htitade 


Zonas  tórridas, 


Zonas  quentes 


Zonas  temperadas .... 


Zonas  frias. 


Zonas  glaciaes 


0*  a 
0»  a 
23«  a 
23»  a 
40»  a 
40»  a 
50»  a 
50<»a 
60»  a 
60°  a 


23«  N. 
23»  S. 
40<»N. 
400  s. 
SO^N. 
50*  S. 
60«  N. 
60o  S. 
90»  N. 
90o  S. 


Observações 


O  visconde  de  Paiva  Manso  no 
seu  \i\ro  Memoria  sobre  Lou» 
renço  Marques^  pag.  lii,  não 
diz  quaes  são  os  escriptores 
que  seguem  a  classífícação  que 
elle  não  acceita.    . 


Esta  classificação,  a  quejá  nos  referimos,  foi  preferida  pelo  fallecido  vis- 
conde de  Paiva  Manso,  em  substituição  d'aquella  em  que  se  admittem  zo- 
nas  glaciaes,  temperadas  e  tórridas.  Teremos  occasião  de  a  examinar,  e 
aqui  apenas  observámos  que,  em  geral,  cada  escriptor  introduz  uma  ou 
outra  modificação,  sendo  muitas  vezes  uma  simples  questão  de  forma. 


é*'*^9ymiema  dan  llnhau  l»o(heriiilea«,  scsundo  Jules  Rorliard 


Designações 

Graus  de  tempcralura 
(Media  geral) 

Observações 

2ona  tórrida » 

Zona  quente 

Zona  temperada... 
Zona  fria 

....  até  +25'»  centígrados 
+  25'  a  +15"  centígrados 
+  15*»  a  +  5«  centígrados 
+  5*  a  —  S'»  centígrados 
—  5«  a  — 15»  centígrados 

A  classificação  de  Jules  Rochard 
tem  sido  adoptada  por  alguns 
coliegas,   especialmente   por 
mr.  Rey,  no  seu  excel lente 
escriplo  Geographia  medica, 
inserta  em  o  Novo  dicdonario 
de  medicina  e  cirurgia  prá- 
ticas, tom.  xví. 

Zona  polar 

i27 

Este  dístíDcto  medico  da  marinha  franceza  entende  que  a  única  clas- 
siflcação  rigorosa  é  a  que  tem  por  base  as  linhas  isothermícas,  e  nós,  como 
adiante  veremos,  considerámos  esta  classificação  como  uma  das  mais  de- 
feituosas, como  systema  independente.  É  um  methodo  puramente  numé- 
rico, e,  para  as  conclusões  serem  verdadeiras,  é  preciso  evitar  as  varia- 
dissimas  causas  de  erro  que  influem  em  taes  trabalhos. 

S.^-Dlvls&o  aslronomlca  dos  cllmaa 

As  divisões  astronómicas  do  globo,  isto  é,  as  cintas  que  ficam  entre 
os  trópicos  e  os  circules  polares,  formam  zonas  geraes,  cujas  denomina- 
ções, como  temos  dito,  são  muito  vagas. 

Contam-se  também  sessenta  climas  que  geographicamente  se  definem: 
cUma  porção  de  terra,  cujos  habitantes  têem  os  dias  maiores  ou  meno- 
res que  os  dos  seus  vizinhos».  Marcam-se  vinte  e  quatro  do  equador  ao 
trópico  de  câncer  e  igual  numero  até  ao  trópico  austral,  aos  quaes  se  reú- 
nem os  climas  de  entre  os  poios  e  circulos  polares,  seis  ao  N.  e  seis  ao  S. 
Esta  classificação  tem  por  base  a  latitude,  que  estabelece  a  distincção  de 
cada  um  dos  climas,  o  que  facilmente  se  observa  no  seguinte  quadro: 

0^       de  latitude,  clima  de  12  horas 


16»  44' 

13     > 

W  48' 

14      » 

41°  24' 

15     > 

49°    2' 

16     > 

84'  31' 

17     » 

58°  27' 

]> 

18     » 

61°  19' 

» 

19     > 

63°  23' 

20     » 

64°  50' 

21      » 

66°  21' 

23     » 

66°  32' 

24     » 

67°  23' 

1  mez 

69°  31' 

•  " 

2  mezes 

73°  46' 

3    » 

78°  11'  ' 

4     » 

84°    5' 

5     » 

No  pólo 

6    » 

Esta  disposição  dos  climas  satisfaz  a  geographia,  mas  não  serve  para 
o  estudo  de  colonisação,  que  exige  o  conhecimento  de  outras  condições 


iii(]e[)endeiiles  da  duração  do  tempo,  e  não  achamos  palavras  mais  regu- 
lares do  que  as  que  adoptámos,  dividindo  cada  um  dos  hemispherios  ter- 
restres em  nove  zonas,  sendo  as  da  parte  septentrional :  equatorial, 
equalorial-nortCs  tropico-equatorialj  tropical-quente,  tropical^  tropical- 
temperada,  temperada,  fria  e  glacial. 

Distinguem-se  estas  zonas  unicamente  para  facilidade  do  estudo,  por 
meio -de  paralleios  tirados  por  W  43',  23°  30',  3.V  15',  47^  58°  45',  70° 
30',  82°  13'  de  latitude,  limite  alem  do  qual  difficilmente  se  pôde  viver. 

B.^-têfmícma  maiii  0iiiipliacado  segando  ou  graoM  de  lailinde 


Hemispherio  boreal 
Nomes  da  zona 

Latitude 
Graus  ao  N.  e  ao  S.  do  equador 

Hemispherio  austral 
Nomes  das  sonas 

Eauatorian 

Qo 

Equatorial. 
Equatoiial  S. 
Trópico- equatorial  S. 
Tropical  quente  S. 
Tropical  S. 

Tropical  temperada  S. 
Temperada  S. 
Fria  S. 
Glacial  S. 

Equatorial  N 

Tropico-equalorial  N.* 

Tropical  quente  N 

Tropical  N.' 

Qoa  11»  45' 

lio  45' 

11- 45' a  23»  3(y 

23o  30' 

Tropical  temperada  N. 

Temperada  N 

Fria  N 

23°  3(V  a  35»  15' 

35»  15'  a  47° 

47«  a58*»  45' 

Glaciai  N 

58°  45'  até  aos  poios . . 

Ajuntamos  estes  seis  mappas  para  se  apreciarem  as  príDcipaes  diffe- 
renças  de  cada  uma  das  classificações  mais  geralmente  seguidas.  Alem 
d'estas  ba  outras,  mas  não  são  também  isentas  de  defeitos.  O  que  todavia 
desejámos  accentuar  bem  é  que  se  torna  impossível  fazer  uma  classifica- 
ção rigorosa,  devendo  por  isso  escolher-se  a  mais  simples  e  que  envolva 
menos  causas  de  erro.  É  o  que  nos  parece  se  realisa,  dividindo  o  globo 
em  zonas  de  11°  45',  e  substituindo  a  palavra — zona  tórrida  — por  zona 
equatorial,  ele.  Quando  não  tenha  outras  vantagens,  basla-lbe  a  de  fazer 
com  que  haja  mais  clareza  e  fácil  mnemónica.  Esta  classificação  corres- 
ponde ao  desenvolvimento  dos  vegetaes,  e  tem  uma  base  natural  e  inva- 
ria^ií. 

*  Considera-se  iiiua  zona  de  transição,  á  qual  podo  dar-se  mais  ou  menos  espa- 
ço. Não  deve  exceder  cointudo  1°,  ficando  30'  para  o  N.  e  30'  para  o  S.  do  equador. 

^  Comprchendc  uma  exUíusão  de  60',  contando-se  30'  para  o  S.  c  30^  para  o  N. 
do  parallelo  tirado  por  11°  4o'. 

3  £  uma  zona  que  abrange  30'  de  um  lado  dos  trópicos  e  30^  do  outro. 


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Vim  da  lilla  do  Ikindii.  na  nargen  diieiu  du  lio  Quania 


CAPITULO  III 

Prinoipaes  paizes  oolonisadores  do  seoolo  XTX 

e  emigração  portugrueza 

• 

Portogai  e  suas  coloDÍas.— Colónias  da  Hespaoha,  clima  geral,  superficie,  população  e  prindpaes  pro- 
docçôes.  —  Colónias  da  França,  clima  geral,  superficie,  população  c  principaes  producçôes.— Colónias 
da  Hollanda,  clima  geral,  superficie,  população  e  principaes  producçôes.— Cqlonias  da  Inglaterra,  clima 
geral,  superficie,  população  e  principaes  producçôes.  —  Colónias  de  Portugal,  clima  geral,  superficie, 
população  e  principaes  producçôes.— Provinda  de  Cabo  Verde.— Pro^incia  de  S.  Thomé  c  Principe.— 
Provincia  de  Angola.— Província  de  Moçambique.— Estados  da  índia!  — Provinda  de  Hacau  e  Ti- 
mor—Portugal, undedmo  paiz  da  Europa,  occupa  o  quarto  logar  como  paiz  colonial.— Emigração 
pan  o  Brazil.— Prorincias  do  império  do  Brazil,  clima  geral,  superficie,  população  e  principaes  pro- 
ducçôes.—Indifereuça  pelas  Bossas  terras  de  alemmar.— Africa  portugueza  como  terra  de  degreda- 
dos—Receios infundados  acerca  do  clima  da  nossa  região  africana,  dezoito  vezes  maior  que  a  metró- 
pole.—Happa  comparativo  dos  dimas  equatoriaes  e  tropicaes  referidos  ás  provincias  do  Brazil  e  Africa 
portugueza. 

Portngal  e  snas  colónias  * 

Parece,  á  primeira  vista,  que  em  vez  de  colónias,  deveríamos  escre- 
ver Provincias  do  ultramar,  porque  são  designadas  por  este  nome,  e  não 
por  aquelle,  as  terras  que  actualmente  possuimos  em  África,  Ásia  e  Ocea- 
nia.  Muito  de  propósito,  porém,  procedemos  assim.  Se  sâo  ofScialmente 
reconhecidas  sob  a  denominação  geral  de  provindas^  as  nossas  posses- 
'sues  de  alem-mar,  n'algumas  d^ellas  ha  todavia  colónias  propriamente  di- 
tas, c  são  numerosas  as  plantações  de  café,  algodão  e  canna  saccharina,  as 
quaes  rivalisam  com  as  colónias  das  outras  nações.  Alguns  escriptores  es- 
trangeiros comtudo  ignoram  o  estado  das  nossas  provincias  d*alem-mar, 
e  deixam  de  nos  mencionar  como  nação  colonisadora  do  século  xix,  c  ou- 


^  José  Maria  de  Sousa  Monteiro  entendia  que  as  nossas  possessões  deveriam 
chamar-se  municipios  em  vez  de  provincias  ou  colónias.  Também  se  diz  estados  da 
índia;  mas  o  titulo  que  adoptámos  comprehende  todos  os  territórios,  na  maior  parte 
dos  quaes  existem  ou  podem  existir  colónias  propriamente  ditas. 

9 


130 

Iros  não  duvidam  também  dizer  que  o  povo  portugucz  é  hoje  quasi  impei- 
ceptivel  na  Europa  í 

É  realmente  grave  a  injustiça  que  nos  fazem,  e  talvez  seja  devida  á 
falta  de  tempo  para  se  compulsarem  os  documentos  ofliciaes  que  habili- 
tem aquelles  escriptores  a  conhecer  qual  a  importância  da  nação  portu- 
gueza  quanto  ao  commercio,  industria  e  agricultura,  quer  no  reino,  quer 
nas  colónias. 

Não  somos  de  certo  uma  nação  de  primeira  ordem,  mas  nos  grandes 
torneios  artísticos  do  século  xix,  onde  se  reconhece  a  força  productiva  de 
cada  nação,  temos  representado  um  papel  distincto,  collocando-nos  a  par 
dos  paizes  mais  adiantados.  £  pequena  a  extensão  do  território  que  occu- 
pâmos  na  Europa,  mas  as  nossas  possessões  do  ultramar  elevam-nos  ao 
quarto  logar,  como  paiz  colonial  d'este  século. 

Não  olhemos  somente  para  a  grandeza  territorial.  No  século  xv  e  xvi 
não  era  maior  a  extensão  do  nosso  território,  e  comtudo  occupámos  um 
dos  primeiros  logares  entre  as  nações  do  mundo. 

Os  portuguezes,  diz  Leroy  Beaulieu,  referindo-se  ás  colónias  portu- 
guezas,  antes  do  século  xix,  tiveram  depósitos  (des  entrepôts)  em  Malacca 
para  o  commercio  das  índias  orientaes,  em  Aden  para  o  da  Arábia  e  Egy- 
pto  e  em  Ormuz  para  o  da  Pérsia  e  continente  da  Ásia.  Estabeleceram  re- 
lações entre  as  feitorias  da  Africa  (comptoirs)  que  lhes  forneciam  oiro  em 
pó,  e  a  índia,  onde  encontravam  abundantes  mercadorias.  Traziam  para  a 
Europa  especiarias,  estofos  de  algodão  e  seda,  pérolas  e  outros  géneros 
de  pequeno  volume.  Fundaram  estabelecimentos  commerciaes  em  Ceylão 
no  anno  de  1518  (descoberta  em  1505);  crearam  também  um  estabele- 
cimento em  Cambaia,  e  depois  irradiaram  por  todo  o  archipelago  da  Son- 
da, Java,  Celebes  e  Borneo.  Levaram  ainda  mais  longe  a  esphera  da  sua 
acção.  Por  meio  de  missionários,  enviados  como  embaixadores  (avant-cou- 
reurs)  ao  Japão  e  á  China,  os  portuguezes  obtiveram  relações  vantajosas 
com  estes  abastados  paizes.  Conservarara-se  em  Ningpó  e  em  Macau,  e 
organisaram  entre  a  índia,  China  e  Japão  um  commercio  muito  regular. 

É  na  verdade  deficiente  este  esboço  do  nosso  império  do  Oriente.  Não' 
se  falia  de  Goa,  conquistada  em  1503  por  Afifonso  de  Albuquerque^  €onde, 
diz  H.  Major,  construiu  uma  fortaleza,  e  organisou  um  governo  munici- 
pal, adoptando  acertadas  medidas  de  administração,  com  que  preparou 
o  caminho  para  esta  cidade  vir  a  ser  a  capital  do  império  portuguez  no 
orientei. 

Ficou  também  na  sombra  a  colónia  da  ilha  de  Ternale,  capital  das  Mo- 
lucas,  em  cujo  governo  tanto  se  distinguiu  António  Galvão,  dando  evi- 
dentes provas  de  que  sabia  colonisar. 

lia  silencio  absoluto  a  respeito  da  ilha  de  S.  Thomè,  tão  afamada  pela 


131 

sua  prodacçâo  de  assucar  no  século  xvi,  assim  como  não  ha  rereiencia  ás 
explorações  que  se  mandavam  fazer  em  muitos  territórios  que  descobría- 
mos. 

Não  é  de  certo  animado  o  quadro  que  aquelle  escriptor  faz  do  império 
portugtiez  do  Oriente,  deixando  quasi  perceber  que  apenas  cuidávamos 
em  crear  depósitos  de  mercadorias  e  construir  uma  ou  outra  fortaleza  para 
os  proteger.  Foi,  porém,  altamente  politica  a  idéa  de  os  monarchas  por- 
tuguezes  dilatarem  seus  domínios  na  Africa,  Ásia,  America  e  Oceania ;  e 
se,  apesar  de  nos  termos  coUocado,  no  século  xvi,  a  par  das  primeiras 
nações  do  mundo,  e  de  sermos  ainda  hoje  o  quarto  paiz  colonial  da  Eu- 
ropa, Pierre  Larouse  nos  reputa  um  povo  quasi  imperceptível  no  meio 
das  nações,  o  que  seriamos  nós  para  estes  modernos  escriptores,  se  não 
tivéssemos  alargado  a  esphera  do  nosso  dominio  por  mna  área  muito 
maior  que  a  de  toda  a  França  ? 

Mas  ainda  bem  que  Portugal  não  se  tornou  invisivel  na  Europa,  e  pos- 
sue  c  colónias  de  plantações^,  que  não  são  muito  inferiores  ás  de  qualquer 
outra  nação. 

Desejámos  dar  uma  breve  noticia  das  nossas  províncias  do  ultramar, 
começando  pela  colónia  da  ilha  de  S.  Thomé,  de  que  especialmente  nos 
occupámos  n'este  trabalho,  e  damos  uma  idéa  geral  das  plantações  de 
muitos  pontos  da  província  de  Angola,  reservando-nos  para  d'ellas  nos  oc- 
caparmos  mais  detidamente  em  livro  que  nos  propomos  dar  á  luz  da  pu^ 
blicidade. 

É  fácil  avaliar  o  que  foi  o  império  portuguez  no  Oriente  no  século  xvii 
porque  temos  minuciosas  descripções  de  escriptores  nacionaes  e  estran- 
geiros; mas  é  impossível  dizer  o  que  elle  seria  depois  da  immensa  catas- 
trophe  que,  com  a  morte  do  cardeal  rei,  feriu  todo  o  reino  de  Portugal. 
N3o  seremos  nós  quem  n'esta  occasião  ha  de  avaliar  seus  desgraçados  ef-> 
feitos.  Indicámos  o  testemunho  de  um  escriptor  estrangeiro,  o  qual  se  ex- 
pressa n*estes  termos :  Vunion  de  VEspagne  et  du  Portugal  eut  les  plus 
fácheuses  conséquences  pour  les  colonies  de  ce  dernier  pays. 

São  formaes  as  palavras  do  illustrado  escriptor  francez,  formuladas 
ao  completarem-se  quasi  quatro  séculos  depois  d'essa  desgraçada  epocha. 
Muitos  outros  trechos  poderíamos  citar,  mas  são  desnecessários.  Todos 
os  portQguezes  pensarão  com  horror  no  fatal  anno  de  1S80.  Apartemos 
a  idéa  â'esse  tempo  calamitoso,  e  lembremo-nos  de  que  ainda  hoje  pos- 
suímos extensas  colónias,  tendo  direito  a  ser  contados  entre  as  nações  co- 
lonisadoras  do  século  xix,  como  exuberantemente  provaremos. 

É  de  certo  limitado  o  nosso  território,  mas  não  temos  diante  de  nós 
barreiras  invenciveís  que  nos  circumscrevam  o  espaço,  e  nos  cortem  as 
ambições.  Fica-nos  aos  pés  o  oceano^  e^  lá  ao  longe^  a  vasta  região  dé 


132 

Africa,  Ião  porlugueza  como  o  Algarve  e  Extremadura,  satisfaz  os  nos- 
sos desejos  e  mostra  á  Europa  culta  que  sabemos  dar  impulso  á  colonisa- 
çâo  da  Africa  no  século  xix,  como  soubemos  trabalhar  sempre  em  prol 
da  civilisação  e  do  progresso  scientifico. 

Não  precisámos  de  recordar  as  viagens  do  dr.  Livingstone  na  Africa 
porlugueza,  nem  o  memorável  exame  que  d'ellas  fez  o  erudito  escriptor 
D.  José  de  Lacerda,  para  patentear  o  interesse  que  tomámos  pelas  cousas 
da  Africa.  As  explorações  phyto-geographicas  do  dr.  Frederico  Welwitsch 
na  província  de  Angola,  e  as  dos  naturalistas  Anchieta  e  dr.  Barth  seriam 
documentos  suíDcientes  para  revelar  o  nosso  empenho  pelo  desenvolvi- 
mento das  colónias,  se  o  anno  de  1876  não  viesse  fornecer  provas  evi- 
dentíssimas de  que  desejámos  activar  o  progresso  material  e  moral  das 
províncias  de  alem-mar. 

A  expedição  que  vae  encarregar-se  das  obras  publicas  da  província 
de  Moçambique  e  a  que  igualmente  se  prepara  com  destino  á  província 
de  Angola  são  acontecimentos  que  merecem  detido  exame  e  mostram 
que  occuparemos  sempre  o  logar  que  nos  compete  entre  as  nações  do 
século  XIX. 

Não  nos  limitámos  somente  a  promover  o  incremento  das  obras  pu- 
blicas em  cada  uma  das  colónias,  crearam-se  em  Lisboa  sociedades  scien- 
liflco-geographicas ;  trata-se  de  organisar  uma  expedição  ao  interior  da 
Africa  portugueza  com  o  flm  de  estudar  a  hydrographia,  e  a  disposição 
dos  terrenos.  São  trabalhos  indispensáveis  para  se  conhecerem  os  logares 
mais  férteis  e  mais  salubres,  onde  possam  fundar-se  colónias  agrícolas, 
como  a  de  Mossamedes  na  província  de  Angola,  a  dé  Cazengo,  etc. 

As  altas  questões  de  aclimação  na  Africa  tropico-equatorial  não  nos 
são  desconhecidas,  e  desde  ha  muito  que  nos  empenhámos  no  seu  estudo 
e  resolução.  A  emigração  e  colonisação  da  Africa  equatorial  são  assum- 
ptos momentosos  que  prendem  a  attenção  dos  poderes  públicos  nas  prin- 
cipaes  nações  da  Europa  culta;  e  sobre  os  quaes  temos  opinião  auctori- 
sada,  não  só  por  occuparmos  os  logares  mais  importantes  da  Africa  cen- 
tral, mas  também  por  termos  sido  os  primeiros  europeus  que  descobri- 
mos e  frequentámos  a  maior  parte  do  littoral  d^aquelle  continente. 

Mas  alem  do  que  levámos  dito,  temos  motivos  ponderosos  para  con- 
sagrar algumas  paginas  d'este  livro  ao  estudo  comparativo  de  paizes  ex- 
Ira-europeus,  onde  dominam  as  nações  colonisadoras  d'este  século. 

Muitos  escriptores  estrangeiros,  fallando  da  colonisação  da  Africa, 
America  e  Oceania,  deixam-nos  n'um  logar  inferior  áquelle  a  que  real- 
mente temos  direito. 

M.  Paul  Leroy  Beaulieu,  com  especialidade,  tratando  das  nações  colo- 
nisadoras do  século  xix,  não  se  occupa  das  nossas  colónias  acluaes  e  consi- 


<33 

dera  as  possessões  porluguezas  da  Africa  e  Ásia  como  simplices  estabe- 
lecimentos commerciaes  (des  comptoirs).  Não  se  refere  também  á  nossa 
provincia  do  mar  de  Guiné,  mas  falia  das  colónias  hollandezas  do  golfo 
do  MexicOy  as  quaes  não  são  mais  ferieis  nem  mais  extensas  do  que  as 
que  temos  no  golfo  dos  Mafras. 

Das  nossas  colónias  disse  Carlos  Vogei,  em  1860,  o  seguinte: 

cDebaixo  de  qualquer  ponto  de  vista,  em  que  se  encarem  as  colónias 
portuguezas,  o  seu  estado  apresenta-se  mais  desanimador  do  que  o  da 
metrópole.  É  immenso  o  atrazo  das  colónias,  podendo  dizer-se  que  a  sua 
vida  económica  nao  tem  melhoramento  algum.  A  antiga  grandeza  da  índia 
deixou  por  testemunhas  apenas  suas  ruinas. 

« A  exploração  colonial,  sempre  fraca  e  imperfeita,  não  se  tornou  somente 
estacionaria,  retrogradou  muito,  principalmente  na  provincia  de  Moçam- 
bique, e  vae  enfraquecendo  cada  vez  mais  por  falta  de  trabalhadores,  de 
industria  e  de  capitães. 

<  A  admiaistração  publica  está  mal  organisada  e  acha-se  também  muito 
abandonada. 

«É  preciso  sobre  tudo  não  esquecer  que  as  colónias  portuguezas,  em 
parte  muito  afastadas  entre  si,  ficando  umas  no  Atlântico  e  outras  nas  lon- 
gíquas  e  sinuosas  paragens  do  mar  da  índia  e  da  China,  téem  apenas  de 
commum  o  pertencerem  todas  á  zona  tórrida.^» 

Citámos  as  palavras  d'este  escriptor  para  que  se  faça  idéa  do  modo 
por  que  ha  dezesete  annos  se  fallava  das  nossas  colónias.  Teremos,  porém, 
occasião  de  examinar  mais  largamente  as  informações  que  então  se  fa- 
ziam, em  grande  parte  aliás  bem  fundadas,  e  aqui  só  observámos  que 
as  nossas  colónias,  pelo  facto  de  pertencerem  á  zona  intertropical,  não  de- 
vem ser  consideradas  em  má  posição  geographica.  Sob  o  equador,  e  cor- 
tada pelo  equador  thermal,  está  a  ilha  de  Sumatra,  e  ali  prospera  também 
a  ilha  Celebes  e  ostentam  seu  enorme  progresso  Java,  Cuba  e  Porto  Rico. 

Não  ha  por  conseguinte  grande  perigo  em  pertencer  qualquer  paiz  á 
chamada  zona  tórrida. 

Entre  as  publicações  que  se  téem  feito  nos  últimos  annos  avulta  in- 
questionavehnente  a  do  grande  diccionario  de  Larousse,  e,  se  nos  im- 
pressionou desagradavelmente  o  vermo-nos  excluídos  dos  livros  em  que  se 
falia  das  nações  colonisadoras  do  século  actual,  não  menos  são  para  sentir 
as  limitadas  informações  que  ali  se  dão  das  nossas  possessões,  a  cujo  res- 
peito se  faz  a  seguinte  enumeração : 

<As  actuaes  colónias  de  Portugal  são  o  archipelago  dos  Açores,  no 
Atlântico;  em  Africa  as  ilhas  da  Madeira  e  Porto  Santo,  o  archipelago  de 
Cabo  Verde,  os  estabelecimentos  da  Senegambia,  de  Angola  e  do  Congo, 
as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  e  a  provincia  de  Moçambique ;  na  Ásia, 


<34 

Goa,  Diu  e  Macau;  na  Oceania,  finalmente,  Dilly,  na  ilha  de  Timor  e  Gam- 
bing,  ao  N.  d'esta  ilha.» 

Por  esta  exposição  se  vé  a  confusão  que  ba  a  respeito  das  nossas  co- 
lónias, e  não  admira  que  as  descrípçôes  parciaes  sejam  deficientes. 

As  ilhas  dos  Açores  formam  com  as  da  Madeira  e  Porto  Santo  quatro 
dos  nossos  districtos  administrativos,  téem  governadores  civis,  e  não  po- 
dem por  forma  alguma  ser  classificadas  entre  as  colónias  ou  possessões 
ultramarinas  ^ 

O  archipelago  de  Gabo  Verde  está,  é  verdade,  considerado  como  pos* 
sessão  do  ultramar,  mas  offerece  todas  as  condições  para  receber  uma 
reforma  administrativa,  como  a  das  ilhas  dos  Açores.  Não  é  iudifferente 
esta  circumstancia,  porque  é  uma  prova  de  que  as  nossas  colónias  pro- 
gridem e  vão-se  preparando  para  gosar  todas  as  regalias  dos  povos  liberaes. 

Gumpre-nos  finalmente  mostrar  o  que  são  e  o  que  valem  as  nossas  co- 
lónias, mas  antes  de  tratarmos  doeste  assumpto  apresentaremos  dífferen- 
tes  mappas  estatistico-geographicos  de  cada  uma  das  nações  colonisado- 
ras  do  século  xix,  indicando  em  resumo  a  sua  extensão,  clima,  população 
e  productos.  Indicaremos  depois  qual  é  o  nosso  logar  como  paiz  indepen- 
dente, mostrando  a  superficie  e  população  de  cada  paiz  em  particular. 

São  variadas  estas  estatisticas  que  servem  de  base  ao  nosso  trabalho, 
cujo  objecto  principal,  como  temos  dito,  é  a  descripção  especial  da  pro- 
víncia de  S.  Tbomé,  comparando-a  com  outras  possessões  do  ultramar,  e 
estas  com  as  províncias  do  Brazil  e  colónias  das  nações  a  que  acima  nos 
referimos  sob  o  ponto  de  vista  da  sua  salubridade  absoluta  e  relativa.  Mas 
procuraremos  ser  tão  concisos  quanto  nos  for  possível,  condensando  o  que 
nos  parecer  mais  útil  para  o  nosso  fim. 

Gomeçaremos  pelas  colónias  de  Hespanha,  e  passaremos  em  seguida 
ás  de  França,  Hollanda  e  Inglaterra.  Paliaremos  das  colónias  de  Portugal 
antes  de  mencionarmos  as  províncias  do  Brazil,  porque  desejámos  con- 
frontal-as  também  còm  as  terras  da  Africa  portugueza  e  patentear  as  con- 
dições em  que  se  acham  em  relação  á  colonisação,  assumpto  este  tão 
vasto  quanto  variado,  e  que  não  ficaria  completo  sem  o  estudo  da  emi- 
gração, cuja  importância  é  reconhecida  por  todos  os  povos  do  mundo. 

1  O  reino  de  Portugal  compõe-se  de  21  districtos  administrativos,  sendo  17  no 
continente  e  4  nas  ilhas  adjacentes,  e  de  6  províncias  ultramarinas,  sendo  3  na 
Africa  Occidental,  1  na  Orienta],  1  na  Ásia  Occidental,  e,  finalmente,  1  na  Ásia  Orien- 
tal e  Oceania,  tendo  esta  ultima  província  uma  superQcie  superior  a  17:000  kilo- 
metros  quadrados.  Nao  é  de  certo  desnecessária  esta  explicação  á  vista  do  que  se 
acha  escripto  no  diccionario  de  Larousse,  assim  como  não  podemos  deixar  de  no- 
tar que  somente  por  falta  de  cuidado  em  procurar  informações  a  respeito  das  nos- 
sas colónias  pôde  dizer-se  promiscuamente :  Os  estabelecifnefUos  da  Sefíegambia,  de 
Angola  e  do  Congo.  Adiante  trataremos  d'este  assumpto. 


435 


Oolonias  da  Hespanha,  olima  geral,  snperfioie,  populagão 

6  prinoipaes  prodnoç^es 


Designações 

Clima  geral 

Superfície 
Kil.  quad. 

PopolaçSo 

Productos  prínclpaes 

I  AÍMoa< 

nha  de  Fernão  do  Pó 

Ilha  do  Corisco 

UhaElobey 

liba  de  Asno  Bom. . 

Equatorial  (N.) 

Equatorial  (N.) 

Equatorial  (N.) 

Equatorial  (S.) 

S:074 

44 

% 

47 

35:000 

Azeite  de  palma,  cacau,  madeiras, 
fructas,  ele. 

n  Amerloa 

Ilha  de  Caba 

Ilha  de  Pinos 

Ilha*  de  Porto  Rico 

Tropical  quente (N.)... 
Tropical  quente  (N.). . . 
Tropical  quente  (N.). . . 

445:688 
3:445 
9:064 

4.400:000 
625:000 

Assacar,  tabaco,  café  e  algodão. 

Ilhas  de  VicqaeSjCa- 
lebra  e  Mona  .... 

Tropical  quente (N.)... 

250 

Assucar,  café,  tabaco,  algodão  cpel- 
les. 

m  Ooetnia 

Ilhas  Filippioas.... 

nbas  Carolina»  .... 

ilhas  Paláos 

Ilhas  Marianas 

Tropico-equatorlal  (N.) 

Equatorial  (N.) 

Equatorial  (N.; 

Tropical  quente  (N.). . . 

470:600 

4:384 

897 
4:079 

6.000:000 

48:800 

40:000 
5:640 

Arroz,  assucar,  café,  tabaco,  algo- 
dão 0  trigo. 

Fmctas  e  variados  utensilios  feitos 
pelos  naturaes. 

Diversas  fructas  e  casca  de  tartaruga. 

Fructas;já  foi  introduzida  a  cul- 
tura do  algodão,  índigo,  cacan, 
milho  e  canna  saccbarina. 

304:244 

8.094:440 

*  No  annnario  estatistico  de  Golha  vem  in 
perftrie  se  calcula  em  400  kilometros  qoadrad 
tiTTÍtorío  banhado  pelas  aguas  do  mar  de  Gutn< 

dicado.  no  golfo  de  Guiné,  o  território  de  S.  Jean,  cuja  su- 
[os.  É  de  certo  um  lapso.  Os  bespanhoes  n&o  possuem  tal 

A  Hespanha  possue  actualmente  importantes  colónias,  cuja  superQcio 
está  avaliada  em  304:211  kilometros  quadrados,  com  uma  população  de 
8.094:410  almas,  como  se  vé  do  presente  quadro,  isto  é,  26  habitantes 
por  kilometro  quadrado.  No  continente  esta  relação  é  de  32  para  1.  Taes 
proporções  mostram  não  haver  excesso  de  população  no  reino  vizinho  e 
Dão  estarem  as  suas  colónias  bem  povoadas.  São  geraes  estes  pontos  de 
comparação,  porque  o  numero  de  individuos  que  habitam  as  colónias  hes- 
panholas  da  Africa,  America  e  Oceania  não  nos  parece  exacto;  e,  como  de- 
sejámos apresentar  estatisticas  verdadeiras,  puríflcando-as,  tanto  quanto 
for  possível,  das  difTerentes  causas  de  erro  que  possam  modiflcar-lhes  o 


<36 

valor,  daremos  uma  resumida  noticia  de  cada  uma  das  regiões  coloniaes 
que  a  Hespanha  ainda  hoje  conserva. 

—A  colonisaçâo  hespanhola  das  ilhas  do  golfo  dos  Mafras  tem  tido  mo- 
roso e  diíDcil  movimento.  Falíamos  em  presença  das  informações  que 
podemos  obter,  e  que  lemos  por  fidedignas,  mas  que  não  são  de  escri- 
ptores  hespanhoes. 

Segundo  os  dados  acima  referidos,  nas  colónias  hespanholas  do  golfo 
dos  Mafras,  no  mar  de  Guiné,  ha  apenas  16  habitantes  por  cada  kilome- 
tro  quadrado. 

Esta  media  não  é  ainda  rigorosa,  porque  não  nos  merece  inteira  con- 
fiança a  estatística  dos  habitantes  d*aquellas  ilhas,  e  os  cálculos  planimetri- 
cos  não  têem  sido  repetidos  para  se  avaliar  com  a  exactidão  a  respectiva 
superfície.  Aproveitámos,  porém,  os  dados  que  passam  por  mais  prová- 
veis, e  que  se  acham  inscriptos  no  annuario  estatístico  de  Gotha  que  nos 
serve  de  base,  por  não  termos  á  mão  outros  documentos.  Devemos  toda- 
via observar  que  n'um  importante  trabalho,  que  está  em  via  de  publica- 
ção, Le  Monde  terrestre  de  Charles  Vogel,  são  transcriptos  todos  os  map- 
pas  estatísticos  do  referido  annuario,  o  que  prova  a  grande  importância 
em  que  é  tido  aquelle  curioso  e  notável  trabalho. 

No  primeiro  capitulo  d'este  livro  fizemos  uma  breve  descripção  das 
ilhas  que  a  Hespanha  possue  no  golfo  dos  Mafras,  e  n'este  logar  referimo- 
nos  somente  á  sua  colonisaçâo.  São  assumptos  geraes  e  preliminares,  em 
que  se  baseia  o  estado  da  salubridade  relativa  d'este  paiz,  emquanto  que 
a  natureza  do  clima  será  examinada  mais  tarde  em  presença  dos  dados  me- 
teorológicos e  pathologicos  de  que  tivermos  conhecimento. 

É  innegavel  que  o  estudo  da  salubridade  de  qualquer  paiz  é  complexo 
e  dependente  do  conhecimento  de  muitas  questões  que  antecipadamente 
se  devem  examinar. 

O  clima  é,  na  verdade,  o  producto  de  muitos  factores,  compostos  tam- 
bém de  elementos  variados  e  que  é  preciso  estudar  em  separado.  Quere- 
mos com  isto  dizer  que  é  muito  difflcil  determinar  a  natureza  do  clima 
de  qualquer  região  por  mais  limitada  que  ella  seja.  A  salubridade  e  insa- 
lubridade, é  indispensável  não  esquecer,  podem  variar  muito  de  uns  para 
outros  annos,  sendo  tanto  mais  rápida  quanto  sensível  é  a  mudança  nos 
paizes  palustres. 

Voltando,  porém,  ás  ilhas  hespanholas  do  golfo  dos  Mafras,  cuja  to- 
pographia  geral  já  é  conhecida,  notaremos  que  se  têem  feito  difierentes 
tentativas  para  se  dirigir  para  ali  a  emigração,  mas  até  hoje  sem  resul- 
tado favorável. 

Attríbue-se  este  facto  a  varias  causas,  mas  não  nos  associámos  á  opi- 
nião que  M.  Jules  Duval  apresenta  para  o  explicar. 


i37 

«Para  derivar,  observa  este  sábio  escriptor,  em  proveito  das  colónias 
a  corrente  da  emigração,  a  Hespanha  enviou  ultimamente  (antes  de  4862) 
•  para  as  ilhas  de  Anno  Bom,  Fernão  do  Pó  e  Corisco,  no  golfo  de  Guiné, 
algumas  famílias  de  colonos,  sob  a  direcção  de  missionários  jesuítas  e  a 
protecção  de  uma  pequena  força  militar.  Estas  ilhas,  porém,  perdidas  en- 
tre as  mdas  do  Oceano  e  collocadas  sob  o  fogo  de  um  sol  vertical^  attra- 
hiram  sempre  insigniflcante  emigração.» 

As  colónias  bespanholas  do  golfo  dos  Mafras,  no  mar  de  Guiné,  estão 
expostas  aos  raios  quasi  perpendiculares  do  sol  equatorial,  mas  muito 
mais  exposta  está  a  ilha  de  S.  Tbomé,  perdida  como  a  outra  entre  as  on- 
das do  mar;  e,  incomparavelmente  mais  pequena  é  a  ilha  de  Ternate  ou 
a  de  Tidore,  collocadas  muito  mais  próximas  da  linha  equinoccial,  e  com- 
tudo  a  agricultura  tem  tido  incremento  regular  em  todas  estas  ilhas,  aliás 
tão  férteis  como  a  de  Fernão  do  Pó. 

No  annuario  estatístico  de  Gotha  calcula-se  a  população  das  ilhas  bes- 
panholas guineenses  em  35:000  almas,  mas  não  se  declara  qual  é  o 
numero  de  habitantes  de  cada  uma  das  ilhas,  nem  se  indica  a  quantidade 
de  europeus  que  habitam  cada  uma  d'ellas,  o  que  é  uma  falta  irreme- 
diável para  se  poder  apreciar  com  exactidão  a  possibilidade  da  aclima- 
ção n'aqHellas  ilhas.  Dá-se  todavia  um  facto  extraordinário  que  merece 
attenção,  e  tanto  mais  quanto  é  certo  serem  hoje  geralmente  reconheci- 
dos como  salubres  a  maior  parte  dos  logares  elevados  das  regiões  inter- 
tropicaes. 

O  governo  hespanhol  mandou  construir  um  hospital  militar  na  encosta 
de  um  monte  a  650  metros  de  altitude,  o  qual  foi  considerado  como  casa  de 
saúde,  ou  sanitarium,  e  para  ali  foram  tomar  ares  os  convalescentes  e  as 
pessoas  que  solTriam  de  anemia;  mas  longe  de  obterem  melhoras,  eram 
novamente  accommettidas  de  febres,  e  o  medico  encarregado  do  serviço 
de  saúde  viu-se  obrigado  a  não  deixar  ir  para  a  referida  casa  mais  con- 
valescentes,  preferindo  que  elles  flcassem  na  cidade,  onde  havia  maior 
probabilidade  de  obterem  melhoras  radicaesi 

Este  facto  isolado  não  pôde  ir  de  encontro  ao  que  se  tem  observado 
na  ilha  de  Guadelupe,  no  Campo  Jacob,  nem  ao  que  os  escriptores  as- 
severam com  respeito  ás  povoações  collocadas  a  certa  altura  acima  do 
nivel  do  mar. 

Ainda  que  não  é  este  o  logar  adequado  para  se  discutir  o  assumpto, 
deveiQOS  todavia  lembrar  o  que  succedeu  com  as  conclusões  de  um  me- 
dico francez  a  respeito  da  aclimação  dos  francezes  na  Algéria.  Tratava-se 
de  uma  estatística,  aliás  verdadeira,  mas  cujas  conclusões  a  pratica  não 
saoccionou.  Citámos  este  caso,  a  que  adiante  nos  havemos  de  referir,  por- 
que serve  para  mostrar  a  diiliculdade  de  se  organisarem  estatísticas, 


438 

e  o  cuidado  com  que  devem  forraular-se  conclusões  que  não  sejam  contra- 
provadas por  muitos  e  variados  factos.  É  verdade  que  na  ilha  de  Fernão 
do  Pó  se  escolheu  uma  planura  a  650  metros  acima  do  nivel  do  mar,  e 
que  esta  localidade  se  reputou  mais  insalubre  que  a  própria  cidade,  collo- 
cada  próxima  do  littoral.  Não  deve  todavia  estranhar-se  o  facto. 

O  que  aconteceu  em  Fernão  do  Pó,  succederá  em  qualquer  outra  re- 
gião, quando  o  logar  escolhido  não  estiver  nas  condições  exigidas  pela 
bygiene.  Essas  condições  dependem  da  natureza  do  terreno,  do  estado 
da  vegetação,  da  proximidade  de  superficies  palustres  e  de  outras  circum- 
stancias  particulares,  a  que  muitas  vezes  é  preciso  attender.  É  necessário 
alem  disso  observar  que  as  pessoas  affectadas  de  anemia  palustre  ou  que 
viveram  por  algum  tempo  sob  a  acção  dos  climas  onde  grassam  as  febres 
paludosas,  são  muitas  vezes  accommettidas  de  accessõs  febris  nos  toga- 
res para  que  se  mudam,  embora  estes  sejam  de  reconhecida  salubridade. 
Lembrámos  a  propósito  d'este  caso  o  que  acontece  á  maior  parte  dos 
individuos  que  saem  da  ilha  de  S.  Thomé  com  destino  á  metrópole.  Poucos 
são  os  que  não  téem  alguns  accessos  de  febres  paludosas  nos  primeiros 
mezes  da  sua  estada  na  capital.  Mas  quando  não  tivéssemos  conhecimento 
exacto  do  que  tem  acontecido  a  differentes  pessoas,  e  entre  ellas  algu- 
mas das  nossas  relações,  citávamos  o  que  nos  tem  succedido,  poisque, 
logrando  saúde  na  ilha  de  S.  Thomé,  por  duas  vezes  que  ali  estivemos, 
fomos  accommettidos  de  accessos  febris  depois  que  chegámos  a  Lis- 
boa! 

Não  devemos  portanto  condemnar  a  ilha  de  Fernão  do  Pó,  a  qual, 
comprovada  a  insalubridade  d'aquella  planura,  seria  um  paiz  inhabitavel, 
opinião  que  não  poderá  sustentar-se  em  presença  de  um  facto  isolado,  e 
que  pôde  explicar-se  por  causas  accidentaes  e  de  fácil  remoção. 

— A  Hespanha  possue  actualmente  três  notáveis  colónias,  reconhecen- 
do-se  a  sua  importância  á  vista  da  admirável  posição  em  que  se  acham. 
São  as  ilhas  de  Cuba  e  Porto  Rico  no  mar  das  Antilhas  e  a  ilha  de  Luçan 
nas  Filippinas. 

A  população  da  ilha  de  Cuba  é  de  H  habitantes  por  kilometro  qua- 
drado, a  de  Porto  Rico  67  e  a  das  ilhas  Filippinas  35.  Estando  todos  es- 
tes paizes  entre  os  trópicos,  é  preciso  notar  que  aquellas  ilhas  ficam  mais 
próximas  do  equador  que  as  de  Cuba  e  Porto  Rico,  são  relativamente  mais 
povoadas  e  estão  mais  afastadas  da  linha  equinoccial.  Importa  não  esque- 
cer esta  circumstancia  para  se  ver  que  um  paiz  não  è  menos  habitado  por 
se  achar  mais  vizinho  do  equador,  e  que  não  é  de  certo  que,  por  tal  mo- 
tivo, a  colonisação  da  ilha  de  Fernão  do  Pó  não  tem  podido  ser  convenien- 
temente desenvolvida. 

As  ilhas  de  Cuba  e  Porto  Rico,  reputadas  como  colónias  que  produzem 


<39 

mais  assucar,  passaram  por  muito  tempo  despercebidas,  e  nada  fazia  espe- 
rar a  prodigiosa  riqueza  que  adquiriram. 

O  que  caracterisou  a  situação  da  ilha  de  Cuba,  observa  Leroy  Beaulieu, 
nos  dois  últimos  séculos,  foi  uma  prosperidade  mediocre  e  obscura,  abun- 
dância geral,  civilisaçao  suave,  bom  tratamento  da  população  servil, 'pou- 
cos recursos  e  necessidade  de  subsídios  da  metrópole.  Mas  um  conjuncto 
de  circumstancias  excepcionalmente  favoráveis  fez  mais  tarde  mudar  as 
condições  da  ilba  e  collocou-a  acima  de  todas  as  colónias  das  Antilhas. 

A  causa  principal  do  progresso  d*esta  ilba  foi  a  creaçâo  de  portos  livres 
DO  anno  de  i809. 

Desde  esse  anno,  a  capital  de  Cuba  tornou-se  um  dos  portos  mais  ani- 
mados do  mundo,  desenvolvendo  o  commercio  e  agricultura  de  um  modo 
admirável. 

É  este  realmente  um  estudo  importante,  mas  levar-nos-íam  muito 
longe  estas  considerações,  que  poderíamos  augmentar  com  o  mais  útil  en- 
sinamento que  nos  offerece  a  historia  d*aquella  ilha.  Não  podemos,  porém, 
demorar-nos  n'este  assumpto,  em  que  só  falíamos  por  incidente  e  para 
mostrar  que  muitas  vezes  se  despreza  um  paiz  que  mais  tarde  adquire 
extraordinária  riqueza. 

A  respeito  da  aclimação  dos  europeus  sob  a  acção  de  um  clima  tropi- 
cal quente,  como  o  da  ilha  de  Cuba,  não  servem  somente  as  estatísticas 
geraes;  na  falta  de  outras  mais  desenvolvidas,  apresentámos  a  da  popu- 
lação com  referencia  a  duas  epochas,  entre  as  quaes  ha  um  intervallo  de  4  4 
annos,  mostrando-nos  que  houve  um  augmento  médio  de  8:428  indivi- 
dues por  anno. 

População  geral  da  ilha  de  Cuba : 

1850 

Brancos 605:160 

Homens  livres,  de  côr 201 :470 

Escravos 477:600 

1.284:230 

1874  a  1876 

Homens  de  côr 300:000 

Homens  de  côr,  escravos 300:000 

Koolies 60:000 

Estrangeiros 30:000 

Habitantes  em  geral 710:000 

1.400:000 


140 

N'esta  população  entram  os  creoulos  ou  pessoas  nascidas  nas  ilhas, 
os  hespanhoes,  que  para  ali  se  dirigiram,  e  os  estrangeiros,  entre  os  quaes 
se  contam  americanos,  inglezes,  francezes  e  allemães.  Mas  como  nâo  es- 
tão indicados  os  habitantes  de  cada  classe,  abstemo-nos  de  fazer  outras 
considerações. 

—  A  ilha  de  Porto  Rico  tem  o  clima  tropical  quente  como  a  de  Cuba, 
isto  é,  está  muito  mais  próxima  do  trópico  boreal  que  do  equador.  Â  sua 
população,  como  já  dissemos,  é  representada  pela  relação  67  individuos 
para  cada  kilometro  quadrado.  É  uma  colónia  digna  de  ser  examinada, 
porque  n'ella  se  tem  verificado  a  aclimação. 

Em  1834  a  população  das  cidades  e  das  aldeias  compunha-se  ap- 
proximadamente  de  40:000  pessoas,  contando-se  nos  campos  mais  de 
«160:000  habitantes  espalhados  por  44:295  habitações,  isto  é,  8  individuos 
por  habitação.  Leroy  Beaulieu,  a  quem  recorremos  para  obter  estes  dados, 
diz  que  havia  então  45:000  escravos,  empregando-se  nos  campos  ape- 
nas 30:000,  que  se  repartiam  por  300  engenhos  de  assucar  e  148  planta- 
ções de  café.  Alem  doestes  havia  cerca  de  1 :277  fazendas  de  assucar  culti- 
vadas por  gente  livre. 

Na  America  possue  a  Hespanha  as  ilhas  Filippinas,  mas  são  apenas  co- 
lónias promettedoras,  e,  attenta  a  pequena  população  europea  que  ali  ha, 
não  téem  importância  sob  o  ponto  de  vista  em  que  estudámos  os  paizes 
equatoriaes. 

A  respeito  das  actuaes  possessões  da  Hespanha,  diz  Leroy  Beaulieu  o 
seguinte : 

«São  magnificas  as  colónias  que  a  Hespanha  ainda  possue,  mas  pre- 
cisam de  grandes  reformas.  Nas  Filippinas  principalmente  é  necessário 
introduzir  entre  os  indígenas  o  espirito  de  iniciativa,  o  amor  ao  trabalho, 
a  previdência  e  a  perseverança,  qualidades  indispensáveis  para  que  a  ci- 
vilisação  e  o  progresso  sejam  uma  realidade.  Acabar  emfim  com  os  bens 
de  mão  morta,  pôr  termo  com  prudência,  mas  com  brevidade,  á  escravi- 
dão, e  estreitar  as  relações  politicas  entre  as  colónias  e  a  metrópole,  são 
os  pontos  que  é  mister  resolver  quanto  antes,  assim  como  a  Hespanha 
não  deve  esquecer  que  as  ilhas  de  Cuba  e  Porto  Rico  somente  progredi- 
ram depois  dos  melhoramentos  commerciaes  ali  executados  em  1809  e 
1815.  O  que  é  certo,  porém,  é  que  sem  se  fazerem  taes  reformas  não 
pôde  prever-se  qual  seja  o  futuro  das  colónias  que  a  Hespanha  actual- 
mente possue  nas  diGferentes  partes  do  mundo.» 


441 


Colónias  de  Franga,  olima  geral,  snperficie,  população 

e  prinoipaes  prodnoções 


Designações 


Clima  gnral 


Soperíicie 
Kil.qoad. 


I  Ásia 


Índia     francesa:    Mabéa Tropical  equatorial  (N.)  1 
Kankal,       Poodichéry,  |  Tropical  qnonte  (N) . . . . 
Tanaon,  Cbandema|{or . '  Tropical  temperado  (N.) 


Gocliincbina   francesa  ao 
oriente  de  Siam 

n  Africa 


Algéria Tropical  temperado  (N.) 

Sonegai Tropical  qnente  (N.) . . . 

Gablo Equatorial 

Ilha  da  Renni2o  oa  antiga  )„      .    .        .    ,c  \ 
BoarU» _'^  Trop«al  quente  (S.).  ••  ■ 


Tropical  equatorial  (N.) 


Mayotle. 


Nossi-Bé  e  d^endencias. . 

SanU  Maria,  a  E.  da  ilha 
de  Madagáscar 

m  America 

Gojana 

Ilha  da  Martinica 


Tropical  quente  (S.)  • 


Tropical  qaente(S.)< 


Tropical  quente  (S.)>- 


Goadalapee  depmdeneias 
S.  Pedro,  Grande  e  Peque- 
na Míqoeloii,  ao  S.  da 
Terra  Nova. 

lY  Goeania 

Ilha  da  Nora  Caledónia. . . 
Ilhas  Lojaltj 

Ilhas  Marqoesas* 

ília  de  Cliperton,  ao  SO. 
da  America  do  Norte. . . 


Equatorial  (N.) 

Tropical  qnente  (S.). . 

Tropical  quente  (S.)  . 


Temperado  (N.). 


506,60 


56:244,00 


669:015,00 

2:511,60 
356,30 
164,60 

174,00 


121:413,00 
987,82 

1:845,08 
210,23 


Tropical  quente  (S.). 
Tropical  quente  (S.). 


Equatorial  (S.). 
Equatorial  (N.). 


19:720,00 

1:239.60 

5,30 


874:395.33 


PopnlaçSo 


266:308 


1.335:841 


2.146:225 

210:339 

3:000 

193:362 

12:000 

9:908 

6:680 


24:171 
156:799 

163:600 
4:98i 


60:000 
4:200 


Prodactos 


Viveres  para  abastecimento 
dos  navios. 

Arroz  e  algodão,  madeiras, 
fructas,  pelles,  etc. 


Prodnctos  agrícolas. 
Ginguba,  fructas,  etc. 
Marfim,  borracha,  ele. 

Assucar. 

Assucar,  arroz,  aguardente 
ecafé. 

Assucar,  café,  Índigo,  man- 
dioca, clc. 

Madeiras  e  fructas. 


Café,  assacar  e  cacan. 

Assucar,  café,  cacau  e  fni- 
ctas. 

Bacalhau. 


4.597:418 


Carvão,  madeiras,  variadas 

fructas  e  tabaco. 
Madeiras.  (Dão-se  ali  bem 

os  produclos  tropicacs). 


*  Lemj  Beanlien,  diz  que  a  Uka  ii  Táiti  é  a  principal  das  ilhas  Marffuetas^  cujo  clima  é equatorial  (S.); 
mas  Bio  M  comprpheode  neste  grupo  tal  ilha  :  pt^rtence  ao  archipelago  chamado  da  Sociedade. 


A  França  tem  importantes  possessões  no  ultramar,  que  merecem  ser 
por  nós  conhecidas.  Julgámos  por  isso  vantajoso  dedicar  algumas  paginas 


442 

ás  colónias  d'aquelle  paiz,  podendo  dizer  desde  já  que,  sendo  mais  peque- 
nas que  a  nossa  província  de  Moçambique,  têem  comtudo  sensivel  pro- 
gresso, e  em  muitas  estão  bem  patentes  os  benefícios  da  civilisação. 

Não  nos  afastámos  certamente  do  fím  principal  a  que  nos  propozemos 
chegar,  demorando-nos  n*este  assumpto,  poisque  não  perderemos  de 
vista  tudo  o  que  poder  trazer  mais  luz  ás  debatidas  questões  de  que  nos 
occupámos,  e  que  dizem  respeito  especialmente  ás  colónias  de  Portugal; 
para  estas  devem  dirigir-se,  sob  a  acção  indirecta  dos  poderes  públicos,  oô 
emigrantes  portuguezes  que  se  derem  mal  nas  provindas  do  Brazil,  ou 
que  por  qualquer  circumstancia  desejem  estabelecer-se  nas  terras  de  Afri- 
ca, cujo  clima,  como  demonstraremos,  pôde  competir  com  o  do  Brazil,  e 
onde  a  fertilidade  dos  terrenos  não  é  inferior. 

Mas  voltemos  ao  estudo  das  colónias  de  França,  cuja  importância  se 
avalia  á  vista  do  mappa  estatístico  que  apresentámos.  D'este  modo  mais 
facilmente  podem  comparar-se  as  colónias  francezas  entre  si,  e  estas  com 
as  das  outras  nações  da  Europa. 

Âs  possessões  francezas,  em  geral,  téem  5  habitantes  por  kilometro 
quadrado,  emquanto  que  no  continente  esta  relação  é  de  68  para  1,  diffe- 
rença  que  é  bastante  notável. 

Para  simplificar  a  exposição  que  estamos  fazendo,  seguiremos  o  mes' 
mo  methodo  que  adoptámos  para  as  colónias  de  Hespanha.  Inscrevemos 
alem  d'isso  o  mappa  com  os  diversos  protectorados  da  França,  aindaque 
não  trataremos  d'elles  em  especial.  É  todavia  indispensável  indicar  a  ex- 
tensão de  cada  uma  das  nações  da  Europa,  segundo  a  grandeza  do  seu 
território,  embora  parte  d'elle  seja  considerado  como  um  protectorado. 

A  França  exerce  o  direito  de  protecção  em  alguns  paizes  da  Ásia  e  da 
Oceania.  Devemos,  porém,  observar,  que  o  reino  de  Cambodge  está  nas 
mesmas  condições  da  Cochinchina  franceza,  e  as  ilhas  da  Oceania  não  são 
por  emquanto  cultivadas. 

A  propósito  doestes  protectorados,  e  das  colónias  da  Oceania  em  ge- 
ral, diz  um  escriptor  francez:  «Chegámos  muito  tarde  a  estas  paragens 
e  ao  meio  doestes  numerosos  archipelagos,  onde  os  inglezes,  bollandezes 
e  hespanhoes  nos  precederam  por  muito  tempo»* 

Os  primeiros  europeus  que  chegaram  aos  vastos  archipelagos  da  Ocea^ 
nia  foram  os  portuguezes,  e  foram  elles  também  os  primeiros  que  domina- 
ram em  muitas  d'aquellas  ilhas.  Appareceram  ali  mais  tarde  os  hespanhoes, 
e  depois  os  bollandezes  e  inglezes.  O  papel  que  n'aquellas  regiões  repre- 
sentavam os  differentes  povos  da  Europa  não  pôde  ser  apreciado  n'uma 
obra  que  trata  mais  de  conhecer  a  influencia  do  clima  nos  indivíduos,  do 
que  as  relações  politicas  ou  sociaes  das  nações  colonisadoras. 

Não  deixaremos  todavia  de  pôr  em  relevo  a  verdade,  quando  se  trate 


U3 

de  acontecimentos  que  possam  esclarecer  qualquer  das  questões  de  que 
mais  especialmente  nos  occupâmos. 

Protectorados  de  Franga  S  olima  geral,  snperfloie,  população 

e  prodnotos  prinoipaes 


DesignaçSes 

Clima  geral 

Soperficie 
Kil.  quad* 

Popalaçflo 

Prodaclos  priocipaes 

AbIa 
Reino  de  Cambodge 

Ooetnia' 

Taili  *,  Ifoorea,  Tetonaroa  e 
MaTti>a  ^1864) 

Tropico-eqnatorial  (N.) 

Tropical  quente  (S.). .  • 
Tropical  temperado  (S.) 

Tropical  qaenle 

Tropical  ÍS.Í 

83:861,00 

1:195,97 

144,53 

6:662,60 

29,73 

1.000:000 

13:847 

675 

8:000 

936 

Arrox. 

Assucar,  café,  bauni- 
lha, óleo  de  coco,  etc. 

Toabouai,  Yavitoa  e  Rapa. . . 

TOttamOtOO    ...........    r   r    -   r   r 

fiamhiAr -.-- 

91:893,83 

1.023:458 

'  Referimo-Dos  ao  aanaario  cstalislico  de  Golha  (1876) ;  mai  no  diccionarío  de  Laroasse  (1875)  di2*»e 
qae  as  ilhas  de  Tabnai  não  eslâo  sob  o  protectorado  da  França. 

*  A  respeito  da  agrícollara  da  ilha  de  Taiti  lè-se  no  diccionario  de  Laroasse  o  seguinte :  «Comme  prcs- 
qoe  pariout  les  indigènes  se  lais«ent eodetter  avant  de  produire,  ils  sont  forces  daccepter  d'ètre  payes en 
merchandises». 

Os  protectorados  francezes  têem  pouca  importância  em  relação  á  co- 
lonisação,  como  se  deprehende  das  seguintes  palavras  de  Jules  Duval : 

cLes  émigrants  européens  ne  sont  pas  autorisés  à  devenir  proprié- 
taires  de  lerres  à  Haiti,  exclusion  qui  les  éloignera  toujours  d'un  pays 
dont  leurs  ancêtres  furent  les  maitres  souveraíns.» 

A  França  possue  na  segunda  parte  do  mundo  os  territórios  designados 
pelos  nomes  de  índia  frauceza  e  Cochinchina  franceza. 

— A  índia  franceza  compõe-se  de  cinco  estabelecimentos  ou  feitorias 
{ie%  camptoirsj;  a  saber :  Mahéy  na  costa  de  Malabar,  ao  N.  de  Calicut;  Ka- 
rikal  ou  Corricallj  na  costa  de  Coromandel,  assim  como  Pondichéry  e  Ka- 
naon.  Chandernagor  fica  ao  N.  de  Calcuttá,  na  parte  Occidental  do  delta 
do  Ganges,  e  margem  direita  de  um  dos  seus  braços. 

'  A  índia  franceza  está  comprehendida  na  zona  tropical  quente  N.  É  di^ 
gna  de  ser  estudada,  não  só  por  ter  524  habitantes  por  kilometro  qua- 
drado» mas  porque  algumas  das  suas  localidades  s3o  menos  insalu- 
bres que  a  Cochinchina,  collocada  dentro  da  mesma  zona  astronómica. 

1  A  respeito  dos  protectorados  francezes^  lé-se  no  diccionario  de  Laroasse  o 
9^[uinte:  «11  s'y  prenait  comme  suit:  ua  officier  de  marine  descendait  à  terre  et 
aoqonçait  aux  chefs  ou  róis  que  le  roi  des  Français  daignait  les  preodre  sous  sa 
protecUon.  Cela  faUj  on  imposait  tce  proteclorat*  par  la  {mxe,  comme  le  fU  Vami- 
rol  DupeíU-Tiwíuirs*. 


444 

Os  differentes  paizes  que  pertencem  a  esta  parte  da  França  acbam-se 
afastados  uns  dos  outros,  estando  Pondichéry  quasí  na  mesma  latitude 
que  Saigon,  capital  da  Cocbinchina  franceza,  e  Ghandernagor  fica  quasí  sob 
o  trópico  boreal,  devendo  considerar-se  um  paiz  tropical  propriamente  dito. 

Em  1865,  diz  Leroy  Beaulieu,  a  população  da  índia  franceza  era  de 
327:063  babitantes,  entre  os  quaes  bavía  apenas  1:846  europeus  e  1:666 
mestiços.  Não  se  encontram  ali,  porém,  possessões  próprias  para  coloni- 
sação,  nem  actualmente  ofTerecem  útil  subsidio  para  a  resolução  do  pro- 
blema de  aclimação  dos  europeus  nos  paizes  intertropicaes. 

—A  Cocbinchina  franceza  fica  entre  10®  3'  a  ir  30'  de  latitude  N., 
e  103®  a  105°  ir  de  longitude  E.,  ao  S.  da  Ásia. 

É  diminuto  o  numero  de  europeus  que  habitam  a  Cocbinchina.  Em 
1864,  segundo  o  dr.  Dutroulau,  havia  ali  591,  sendo  a  maior  parte  fran- 
cezes.  O  effectivo  da  tropa  era,  em  1802,  de  8:000  homens. 

Não  pode  avaiiar-se  com  taes  dados  se  é  possível  a  aclimação  dos 
europeus,  aindaque  o  paiz  é  susceptível  de  progresso,  e  tem  condições 
para  admiltír  importante  immigração.  Mas  independentemente  de  uma  co- 
lonisação  regular,  a  Cochinchina  é  um  bóm  ponto  commercial,  podendo 
ofiferecer  em  troca  dos  géneros  francezes,  que  concorram  áquelle  paiz, 
arroz,  marfim,  pelles,  peixe  salgado,  etc,  que  são  abundantes  no  seu 
mercado. 

A  população  indígena  d'esta  colónia  era,  em  1868,  de  900:000  indivi- 
duos,  a  respeito  dos  quaes  disse  um  erudito  medico  francez : 

«O  seu  typo  pertence  á  raça  mongolica;  mas  não  é  bem  pronunciado 
nos  povos  quasí  selvagens  que  habitam  as  montanhas  do  N.  Á  simples 
vista  se  reconhece  a  dififerença  entre  estes  e  os  outros  indigenas,  não  se 
duvidando,  ao  vel-os,  que  houve  cruzamento. 

«Os  annanistas  têem  uma  constituição  fraca,  o  que  não  os  impede  de 
se  entregarem  a  trabalhos  pesados  e  dífficeis.  Acha-se  a  explicação  no 
clima  e  na  hygiene  a  que  estão  subordinados.  Aquelles  que  vivem  com 
os  europeus  adquirem  facilmente  constituição  robusta.» 

Se  os  francezes  se  orgulham  em  nomear  os  exploradores  que  se  têem 
entregado  ao  estudo  da  Cocbinchina,  é  justo  também  Icmbrar-se  o  natu- 
ralista portuguez  que  ali  se  entregou  ao  estudo  da  historia  natural,  e  tem 
sido  apreciado  por  muitos  escriptores  estrangeiros.  Foi  um  dos  primeiros 
que  se  occupou  da  explorarão  d'aquelle  território;  e  prestando  aqui  ho- 
menagem ao  nosso  compatriota  A.  Loureiro,  não  deixamos  de  admirar 
os  arrojados  exploradores  que,  por  caminhos  nunca  visitados,  chegaram 
até  ao  interior  da  China.  Pagaram  alguns  d*elles  com  a  vida  a  sua  de- 
dicação pela  sciencia,  o  que  serve  para  realçar  a  coragem  dos  que  se  en- 
tregam a  estudos  e  trabalhos  tão  arriscados. 


145 

Os  perigos  que  os  homens  da  sciencia  lêem  arrostado  para  explorar 
os  differentes  pontos  do  globo  mostram  que  é  geral  o  consenso  dos  sábios 
em  se  sacriQcarem  em  prol  do  progresso  e  civilisação  de  lodos  os  povos 
do  mundo. 

— A  possessão  mais  extensa  que  a  França  tem  na  Africa  é  a  Algéria, 
onde  se  acha  estabelecida,  ha  cerca  de  quarenta  e  dois  annos,  uma  colo- 
nisação  regular.  Os  outros  paizes  africanos  ao  oriente  e  ao  occidente  es- 
tão em  condições  especiaes,  e  não  podem  competir  com  esta  importante 
possessão. 

Mas,  para  vermos  como  os  escriplores  francezes  fazem  a  propaganda, 
aqui  reproduzimos,  muito  de  industria,  o  seguinte  trecho,  que  revela  o 
interesse  que  os  francezes  têem  pelas  terras  da  Africa  septentrional. 

Diz  assim  Leroy  Beaulieu:  «Nous  sommes  de  ceux  qui  croient  que 
Tavenir  de  la  France  est  en  grand  partie  sur  la  terre  d'Afrique  et  que, 
par  TAIgérie  jointe  au  Senegal,  nous  arriverons  un  jour  a  dominer  et  à 
civiliser  tout  le  nord-ouest  de  V Afrique,  c'est-à-dire,  toute  la  partie  que 
s*élend  de  Tripoli  à  TAtlantique  et  de  la  Méditerranée  au  nord  à  la  Cam- 
bie au  sud.  Nous  pourrons  avoir  là  sous  notre  inlluence  un  territoire 
presque  aussi  grand  que  tEurope  et  dont  il  est  aujourd'hui  démontró 
qu'une  Irès-vasle  partie  est  susceptible  de  culfure». 

Refere-se  este  auctor  á  colónia  da  Algéria  e  aos  estabelecimentos  com- 
merciaes  do  Senegal.  Suscita  aqui  duas  ordens  de  idòas,  c  nós,  para  o 
acompanharmos,  faltaremos  da  Algéria  e  do  Senegal,  apreciando,  como  ó 
de  justiça,  o  que  elle  escreveu  a  propósito  da  França  reunir  o  território 
do  Senegal  com  a  colónia  da  Algéria.  Ê  assumpto  que  em  grande  parte 
nos  diz  respeito,  não  podendo  por  isso  deixar  de  expor  o  que  sobre  elle 
pensámos. 

Em  1835  havia  apenas  na  Algéria,  segundo  Leroy  Beaulieu,  11:221 
europeus.  D'aquella  epocha  até  1845  a  população  subiu  a  95:531  indiví- 
duos, mas  a  emigração  não  se  dirigia  para  ali  com  o  fim  de  colonisar. 
Acercava-se  do  exercito,  com  o  qual  sustentava  um  commercio  próprio, 
prÍDcipal  motivo  que  a  chamava  ás  terras  de  Africa.  O  governo  francez, 
porém,  ircUou  de  construir  algumas  aldeias,  e  mostrou  aos  agricultores 
e  operarias  da  Europa  as  vantagens  que  a  Algéria  lhes  offerecia. 

A  emigração,  comtudo,  não  era  continuada.  O  governo  francez  a  per- 
miltia  ou  prohibia,  segundo  as  circumstancias.  Levantaram-se,  para  este 
fim,  grandes  difliculdades  durante  muitos  annos;  mas  apesar  d'isso 
bouve  um  movimento  importante  de  emigrantes,  especialmente  depois 
de  1854. 

O  numero  de  europeus  augmentou  annualmente  13:493  desde  1840 
a  1845.  Este  acréscimo  foi  apenas  de  5:929  nos  annos  de  1850  a  1855. 

10 


146 

Mas  em  1861  a  população  da  Algéria  subiu  a  192:746  individuos;  no  fím 
de  1863  era  avaliada  em  213:061,  e  no  anno  de  1864  em  235:570. 

É  na  verdade  muito  notável  este  movimento  das  correntes  da  emigra- 
ção e  ímmigração  estabelecida  entre  uma  área  assas  larga  da  Europa  e  um 
ponto  de  Africa;  mas  é  indispensável  advertir  que  a  passagem  se  faz 
entre  os  habitantes  de  uma  região  temperada  e  os  de  uma  zona  tropical 
temperada. 

Realisada  finalmente  a  immigração,  vem  logo  o  estudo  da  aclimação, 
assumpto  vasto  e  difficil,  e  que  exige  grande  pratica,  bom  senso  e  atura- 
do estudo  para  ser  tratada  com  acerto  e  vantagem.  É  este  de  certo  um 
dos  pontos  culminantes  do  nosso  trabalho,  e  que  mais  adiante  será  exa- 
minado com  outras  questões  que  se  levantam  a  respeito  de  alguns  paizes 
africanos. 

Considerando-se  o  anno  de  1835  como  ponto  de  partida,  temos  um 
espaço  de  quarenta  e  um  annos,  pouco  mais  da  media  da  vida  de  cada 
individuo  que  tem  emigrado  para  a  Algéria. 

O  que  succedeu  n'esse  limitado  cyclo  é  descripto  com  toda  a  profi- 
ciência por  Leroy  Beaulieu,  a  quem  nos  referimos  especialmente  n'este 
assumpto. 

Examinou  este  illustrado  escriptor  as  causas  que  modificavam  ou  pro- 
moviam a  emigração,  discutindo  e  condemnando  sempre  o  que  lhe  pare- 
cia exagerado. 

Fixemos  em  fim  o  anno  de  1861,  poisque  n'cssa  epocha,  segundo  o 
mesmo  escriptor,  havia  na  Algéria  os  seguintes  individuos: 

Francezes 112:229 

Hespanhoes 50:021 

Italianos 11:256 

Maltezes 8:260 

Allemães  e  suissos 8:332 

Não  classificados 2:648 

Total 192:746 

Em  presença  d'estes  dados  vê-se  que  o  numero  dos  francezes  algeria- 
nos  é  muito  maior  que  o  dos  hespanhoes ;  mas  a  estatistica  dos  nascimen- 
tos e  óbitos  é  mais  favorável  a  estes  do  que  áquelles,  pelo  menos  em 
relação  ao  anno  de  1856.  O  facto  é  na  verdade  digno  de  registar-se,  mas 
d'elle  não  deve  inferir-se  qualquer  regra  geral  acerca  da  aclimação  nem 
contra  a  colonisação. 


w 


MapiNi  geral  dOH  obICos  c  naseliuentoH  (t^ftO] 

í 

Nacionalidades 

Nasci- 
mentos ; 

Óbitos 

Francezes  . . 

• 

41 

46 
44 
39 
31 

43 
30 
30 

28 
56 

Hespanhoes. 
Mdl  tezes.. .  • 

Italianos ••..^ 

Âllemães 

Esta  estatística  levou  um  medico  francez,  a  quem  se  refere  Leroy 
Beaulieu,  a  dizer  que  os  colonos  francezes  tinham  incapacidade  de  con* 
ãtituição  para  se  aclimarem  em  Africa. 

Tal  proposição  foi  calorosamente  rebatida  por  Leroy  Beaulieu,  e  os 
factos  posteriores  contrariam  o  prognostico  do  medico  hygienista. 

O  assumpto  é  grave,  e  não  vem  fóra  de  propósito  trazer  aqui  o  que  a 
este  respeito  escreveu  o  auctor  da  colonisação  entre  os  povos  modernos. 

Não  deve  dizer-se,  observa  Leroy  Beaulieu,  como  o  medico  a  quem 
nos  referimos  nas  estatísticas  ciladas,  que  o  hespanhol  é  antes  de  tudo  o 
colono  nascido  para  viver  na  Algéria.  O  verdadeiro  colono  é  o  francez, 
porque  é  mais  emprehendedor,  porque  tem  mais  recursos  e  constância, 
porque  sabe  tirar  melhor  partido  da  terra  e  dos  homens. 

Os  italianos,  hespanhoes  e  maltezes  são  úteis  auxiliares,  que  se  fun- 
diram a  pouco  e  pouco  no  elemento  francez,  mas  não  pôde  dizer-se,  sem 
desconhecer  as  condições  acluaes  do  trabalho  e  de  producção  algeriana, 
que  o  primeiro  papel  lhes  pertence. 

Tem-se  levantado  grande  celeuma  a  propósito  dos  obstáculos  physicos 
que  se  oppõem  á  aclimação  dos  europeus ;  insiste-se  na  temperatura  sem- 
pre elevada,  falla-se  do  siroco  ou  vento  do  deserto,  c  das  emanações  lel- 
luricas  e  paludosas.  Mas  a  influencia  doestes  agentes  physicos  tende  a  des- 
apparecer,  como  se  demonstra  por  differenles  rasôes. 

Em  primeiro  logar  muitos  dos  casos  apontados  desapparecem  com  o 
progresso  da  colonisação.  As  emanações  palustres  tornam-^se  raras  e  me- 
nos perigosas,  postos  em  pratica  os  desseccamentos,  realisada  a  boa  cul- 
tura das  terras  e  executada  a  conveniente  repartição  das  aguas.  O  próprio 
siroco  pôde  ser  modiGcado  por  meio  de  um  bom  regimen  florestal. 

Os  temperamentos,  pela  sua  parle,  retemperam-se  ou  modiflcam-se 
com  a  permanência  no  meio  novo  que  os  rodeiam.  A  geração  creoula  af- 
ferece  mais  resistência  que  a  geração  precedente. 


448 

Por  ultimo,  a  hygicne  faz  também  rápidos  progressos,  e  os  soffrimen- 
tos  (los  colonos  mais  antigos  sâo  lição  viva  e  eflicaz  para  os  modernos. 

Todos  os  pretendidos  obstáculos  physicos  nao  são,  pois,  invenciveis,  e 
os  factos  provam  com  evidencia  que  as  difliculdades  referidas  são  de  pou- 
ca importância. 

Aclimaram-se  os  franceses,  prosperaram  e  augmentaram  rapidamente 
na  ilha  de  Reunião,. em  Guadalupe  e  na  Martinica*.  Os  inglezes,  nação 
mais  septentrional,  povoaram  a  ilha  Carolina,  a  Geórgia  e  estados  vizi- 
nhos, assim  como  a  Barbada  e  a  Austrália. 

A  Algéria  oITerece  também  á  população  europêa  um  campo  de  acti- 
vidade cm  que  ella  pode  prosperar  e  augmentar. 

O  movimento  da  população  nos  últimos  annos  é  assas  favorável,  e  não 
pôde  duvidar-se  de  que  o  elemento  europeu,  se  o  regimen  administrati- 
vo, politico  e  económico  não  lhe  for  contrario,  se  accommodará  ao  clima  da 
Algéria,  e  os  agentes  physicos  jamais  se  opporão  ao  desenvolvimento  da 
nova  colónia. 

Leroy  Beaulieu  recorre  aos  dados  estatisticos  do  medico  francez,  os 
quaes  acceita,  reproduz  e  reputa  exactos.  E  na  verdade  a  afirmativa  do 
medico  algeriano  é  verdadeira  quanto  ao  rigor  da  conclusão,  e  em  presen- 
ça das  estatislicas  não  podia  deduzir-se  outra.  Mas  os  factos  posteriores 
vieram  mostrar  que  a  mortalidade  diminuia  de  dia  para  dia  entre  os 
francezes,  tornando-se  o  numero  dos  óbitos  inferior  ao  dos  nascimentos, 
segundo  diz  Leroy  Beaulieu,  o  que  se  demonstrou  em  relação  ao  anno 
de  1874. 

Não  nos  podemos  alargar  mais  cm  considerações  a  respeito  da  acli- 
mação dos  europeus  na  Algéria,  porque  desejamos  fallar  das  colónias  das 
outras  nações  da  Europa,  e  não  cabe  nos  limites  doeste  livro  tratar  com 
desenvolvimento  de  todos  os  assumptos  especiaes  de  cada  uma  das  re- 
giões coloniaes. 

A  Algéria,  a  dar-se  credito  a  Leroy  Beaulieu,  tem  sensível  progresso, 
mas  Pierre  Larousse,  em  1874,  julga-a  estacionaria  e  sem  condições  de 
vitalidade.  Não  curámos  de  saber  de  que  parte  está  a  rasão.  Citamos  os 
fados  e  consignámos  a  opinião  de  cada  escriptor. 

Os  francezes,  alem  da  Algéria,  possuem  na  Africa  diíTerentes  estabeleci* 
mentos  commerciaes  e  estações  militares,  tanto  na  costa  occidental  como 
na  oriental.  Mas  o  território  a  que  ligam  mais  importância  é  o  do  Sene- 
gal, a  respeito  do  qual  diz  Leroy  Beaulieu : 


*  A  ilha  de  Reunião  está  em  20»  til  de  latitude  S.,  como  estão  os  districtos  de 
ínhambane,  na  província  de  Moçambique;  as  de  Guadalupe  e  Martinica  correspon- 
dem a  dííTerentes  districtos  de  Angola  e  Moçambique. 


149 

«O  Senegal  é  antes  iinna  colónia  de  commercio  e  de  in fluência,  se  po- 
demos fallar  d'esle  modo,  do  que  uma  colónia  de  agricultura  e  emigra- 
çio.  Alguns  europeus,  em  muito  pequeno  numero,  estão  estabelecidos  na 
ilha  de  S.  Luiz,  em  Gorée,  em  Dakar  e  era  diversos  estabelecimentos  do 
interior,  estendendo  suas  relações  por  mais  de  i:Há  kilometros.  O  ter- 
ritório sujeito  ao  nosso  dominio,  singularmente  engrandecido  por  uma  po- 
litica babil  e  vigorosa,  contava  em  1860,  segundo  Jules  Duval,  mais  de 
115:000  habitantes,  entre  os  quaes  existiam  apenas  300  europeus  I» 

A  colónia  franceza  do  Senegal  não  tem,  pois,  comparação  com  a  da 
Algéria,  mas  Leroy  Beaulieu  procura  mostrar  as  vantagens  que  a  França 
(l'ella  pôde  tirar. 

Os  escriptores  francezes  não  perdem  occasião  de  fazer  propaganda,  e 
muitas  vezes  são  exagerados  nas  descripções  de  uma  colónia  qualquer; 
o  próprio  Leroy  Beaulieu  reconhece  isto :  e  para  sustentarmos  esta  aíTir- 
mativa,  basta  lembrar  um  trabalho  que  anda  nas  mãos  dos  estudantes 
francezes,  o  atlas  de  geographia  de  Grosselin  Delamarche,  onde  se  acha, 
sob  os  n.®*  74,  47,  75  e  7G,  um  mappa  das  colónias  francezas,  entre  as 
quaes  se  designam  territórios  que  pertencem  a  outras  nações.  É  por  isso 
que  julgámos  necessário  declarar  desde  já,  que  o  nosso  dominio  na  Se- 
negambia  começa  por  13^  10'  de  latitude  N.,  3\7  ao  N.  do  rio  S.  Pedro. 
D'este  ponto  para  o  interior  estende-se  o  nosso  território  até  ao  presidio 
de  Geba,  334  kilometros  da  costa,  que  está  calculada  em  cerca  de  445  ki- 
lometros de  extensão,  sendo  o  rio  Casamansa  o  que  fica  mais  ao  N.  da  re- 
gião que  nos  pertence. 

Foi  portanto  grande  a  nossa  surpreza  quando  notámos  que  sob  as  de- 
nominações de  Senegal  incluiu  o  auctor  do  mappa  a  que  nos  referimos 
parte  do  território  que  nos  pertence,  assim  como  no  mar  de  Guiné  não 
vem  designado  o  nosso  território  de  Ajuda.  Independentemente  d'este  re- 
paro, poderíamos  notar  que  a  ilha  de  Madagáscar  é  apresentada  no  mesmo 
mappa  em  que  se  enumeram  as  colónias  francezas,  como  as  ilhas  de  Bour- 
bon e  áe  França.  Não  achámos  regular  este  modo  vago  de  designar  os 
territórios  de  um  paiz,  e  nós,  descendo  a  estas  minuciosidades,  só  quere- 
mos signíGcar  que  os  portuguezes  devem  sustentar  por  todos  os  meios  ao 
seu  alcance  os  direitos  que  téem  aos  territórios  do  ultramar  que  ainda 
possuem.  Mas  o  que  é  necessário  é  empregar  a  propaganda  justa,  con- 
stante e  efficaz,  para  que  se  conheça,  tanto  em  Portugal  como  no  es- 
trangeiro, que  ainda  boje  somos  o  quarto  paiz  colonial  da  Europa. 

Os  escriptores  francezes  aproveitam  todas  as  occasiões  que  se  lhes  oíTe- 
recem  para  engrandecer  a  pátria  e  para  mostrar  a  confiança  que  têemnas 
colónias,  embora  as  suas  repetidas  tentativas  de  colonisação  tenham  dado 
sempre  resultado  negativo. 


150 

Vale  a  pena  ver  o  que  a  respeito  do  Senegal  escreveu  Leroy  Beaulieu. 

cDe  todas  as  nossas  colónias  nâo  ha  nenbunia,  a  que,  segundo  pen- 
sámos, esteja  reservado  melhor  futuro  do  que  á  do  Senegal.  Está  situada 
a  2:225  kilometros  de  Tombouctou  e  é  relativamente  vizinha  da  nossa 
grande  colónia  de  Algéria;  e,  sendo  governada  por  mãos  hábeis,  será  um 
importante  centro  de  commercio  e  de  civilisação. 

«Pela  nossa  posição  em  Âlger  e  em  S.  Luiz,  em  presença  dos  nossos 
postos  militares  e  dos  nossos  colonos  de  Exaghouat,  de  um  lado,  e,  do 
outro,  dos  de  Bakel;  pela  extensão  da  nossa  influencia  nas  tribus  do  Sa- 
bará  de  uma  parte,  e,  da  outra,  nas  nações  do  Alto-Senegal,  dominámos 
todo  o  noroeste  da  Africa,  e  podemos  ser,  em  tão  vasto  paiz,  os  únicos  se- 
nhores do  commercio  e  da  cultura,  sem  podermos  marcar  um  limite  ás 
nossas  relações  e  influencias.» 

A  parte  de  Africa  que  limita,  ao  N.,  com  a  Senegambia  portugueza,  è, 
como  a  nossa,  uma  colónia  esperançosa,  e  a  França  já  por  duas  vezes  viu 
perdidos  seus  esforços  para  ali  introduzir  a  colonisação.  É  verdade  que  o 
Senegal  é  um  caminho  para  o  interior  da  Africa,  mas  esse  caminho  não 
tem  menos  valor  pela  nossa  possessão. 

Mas  como  no  Senegal  não  tem  havido  emigração  que  mereça  mencio- 
nar-se,  abstemo-nos  por  emquanto  de  outras  considerações,  lembrando 
apenas  que  é  uma  colónia  tropical  quente,  sendo  a  população,  segundo  o 
dr.  Doutroulau,  de  i  16:000  habitantes,  entre  os  quaes  ha  apenas  292  eu- 
ropeus civis,  204  em  S.  Luiz  e  88  na  Gorée,  e  2:265  militares  divididos 
pelos  differentes  estabelecimentos  de  feitorias. 

— A  França  possue  no  mar  da  índia  a  ilha  da  Reunião,  nome  que  to- 
mou em  1848. 

Denominava-se  até  então  Bourbon  ou  Bonaparte.  Fica  a  20*^  51'  de 
latitude  S.,  400  kilometros  da  ilha  de  Madagáscar.  É  uma  das  mais  im- 
portantes ilhas  da  Africa.  Tem  71  kilometros  de  comprimento  por  50  de 
largura,  sendo  calculada  a  superfície  em  2:5H  kilometros  quadrados,  isto 
é,  o  dobro  da  da  ilha  de  S.  Thomè,  ou  pouco  mais.  A  população  especifica 
é  de  55  habitantes  por  kilometro  quadrado. 

Em  1860  havia  na  ilha,  segundo  o  dr.  Dutroulau,  166:558  individuoSi 
sendo  103:292  homens  e  63:268  mulheres. 

Poucos  paizes,  diz  o  sábio  medico  francez,  offerecem  uma  galeria  an- 
thropologica  tão  completa  como  a  ilha  da  Reunião. 

Os  trabalhadores  de  toda  a  procedência,  que  a  escravatura  ali  intro- 
duziu, a  emigração  voluntária  que  hoje  (1868)  se  faz,  deu  occasião  a  que 
se  reunissem  muitos  indivíduos  apresentando  muita  diversidade  de  ty- 
pos  assas  notáveis.  Podem  ali  estudar-se  com  vantagem  as  raças  na  soa 
pureza  primitiva  e  no  producto  do  cruzamento. 


151 

O  clima  é  tropical  quente,  ou  tropical  propriamente  dito,  tão  pequena 
é  a  distancia  da  ilha  ao  trópico  boreal.  Actualmente  a  sua  producção  prin- 
cipal para  exportação  é  o  assucar. 

—  A  Guyana  franceza  é  um  paiz  equatorial  N.  Está  collocado  entre  2° 
e  6**  de  latitude,  entre  a  Guyana  brazileira  e  a  hollandeza,  no  extremo  se- 
plentrional  da  America  do  Sul.  É  muito  pouco  povoada,  havendo 
presentemenle  i  habitante  por  lOkilometros  quadrados  I  O  dr.  Dutroulau 
referindo-se  ao  anno  de  1860  dá  o  seguinte  resultado  : 

Homens  brancos  e  de  côr 18:507 

índios,  aborigines  e  tribus  negras 1:780 

Emigrantes  de  differentes  procedências 2:085 

Europeus,  militares  e  funccionarios 1:520 

Degredados 6:635 

Total 30:527 

Este  numero  de  habitantes  differe  muito  do  que  se  encontra  no  an- 
nuario  estatístico  de  Colha,  e  a  não  haver  deficiência  de  informações,  a 
colónia  franceza  da  Guyana  não  tem  melhorado  de  clima,  e  a  vida  ali  tor- 
na-se  impossível. 

A  questão  de  insalubridade  ou  salubridade  não  é  para  este  logar,  nem 
as  estatísticas  referidas  a  dois  ou  três  annos  podem  servir  para  se  estabe- 
lecerem princípios  de  aclimação.  O  que  desde  já  se  antevê  todavia  é  que 
a  população  da  Guyana  franceza  tende  a  diminuir,  o  que  é  essencialmente 
desfavorável  para  a  coionisação. 

—  As  colónias  mais  importantes  que  a  França  possue,  além  das  que 
deixámos  referidas,  são,  segundo  A.  F.  Dutroulau,  as  ilhas  Guadelupe  e 
Martinica,  nas  pequenas  Antilhas,  a  ilha  Mayotte  entre  as  Cômoros,  ao  N. 
do  canal  de  Moçambique,  Taíti*,  e,  finalmente,  a  Nova  Caledónia  na  Ma- 
lanésia,  a  È.  da  Austrália. 

A  ilha  Martinica  tem  64  kilometros  de  comprimento  e  28  de  largura. 
Apresenta  diversa  configuração,  segundo  se  olha  para  a  região  meridio- 
nal ou  para  a  do  norte,  mas  as  montanhas  mais  elevadas  são  muito  mais 


1  Taítí  é  a  capital  dos  estabelecimentos  francezes  da  Oceanía,  conhecidos  sob 
o  nome  de  protectorados.  Yeja-se  a  pagina  143  d'este  trabalho,  onde  vêem  desi- 
gnadas as  ilhas  comprehendidas  sob  tal  denominação. 

A  ilha  Taiti  se  não  tem  importância  como  colónia  agricola,  é  comtudo  um  paiz 
tropical  digno  de  estudo  em  relação  á  salubridade  que  apresenta.  D*elle  se  occupou 
Dutroulau,  fatiando  da  pathologia,  e  nós  teremos  occasião  de  o  examinar  em  ou- 
tro logar,  sob  este  ponto  de  vista. 


152 

pequenas  que  as  da  ilha  de  S.  Tliomé.  Calcula-se  a  sua  altura  em  1:300 
metros  approximadamente. 

A  ilha  Guadalupe,  maior  que  a  Martinica,  tem  uma  disposição  espe- 
cial, poisque  se  acha,  por  assim  dizer,  partida  em  duas  por  um  rio  que 
a  atravessa  de  um  a  outro  lado,  sendo  uma  composta  de  terrenos  bai- 
xos e  offerecendo  a  outra  alguns  montes  que  se  elevam  a  1:880  melros. 

A  região  montanhosa  das  duas  ilhas  não  é  habitada,  mas  a  zona  me- 
dia comprehendida  entre  300  a  800  metros  de  altitude  compõe-se  de  ter- 
ras cultivadas. 

A  ilha  Mayotte  tem  28  kilometros  de  comprimento  sobre  14  de  largo, 
e  a  sua  superfície  é  mais  pequena  que  a  da  ilha  de  S.  Thomé.  Os  montes 
elevam-se  apenas  a  660  metros  e  as  correntes  de  agua  são  de  pequeno  vo- 
lume. 

A  Nova  Caledónia  tem  280  kilometros  de  comprimento  e  55  de  lar- 
gura, calculando-se  a  sua  superfície  em  mais  de  19:000  kilometros  qua- 
drados. É  pouco  conhecida  a  região  interior  e  não  tem  montanhas  muito 
elevadas. 

De  todas  estas  ilhas  nos  deixou  A.  F.  Dutroulau,  cuja  morte  a  scien- 
cia  deplora  com  sentida  magoa  *,  uma  descripção  m'edicogeographica  que 
merece  consullar-se.  É  realmente  um  livro  clássico,  uma  obra  que  deve 
occupar  um  dos  primeiros  logares  na  livraria  dos  médicos  que  se  empre- 
gam no  estudo  dos  paizes  tropico-equatoriaes.  E  não  podemos  deixar  de 
notar,  aindaque  de  passagem,  a  falta  de  trabalhos  idênticos  acerca  das 
nossas  colónias.  Não  é  este  de  certo  o  único  livro  indispensável,  ha  ou- 
tros cuja  falta  nos  ó  muito  grave,  e  que  vem  aqui  de  molde  lembrarmos 
que  os  devemos  mandar  aos  grandes  certamens  internacionaes.  E  se  pre- 
cisámos de  exemplo,  recordámos  o  que  se  fez  no  Brazil  por  occasião  da 
exposição  de  Vienna  de  Áustria  e  ultimamente  da  de  Philadelphia^.  Assim 
como  se  fazem  conhecer  os  nossos  productos  agricolas  e  coloniaes,  do  mes- 
mo modo  devemos  mostrar  a  extensão  do  território,  seus  limites,  terrenos 
cultivados  e  incultos,  diversidade  de  climas,  população  especifica,  etc. 


*  O  dr.  Augusto  Frederico  Dutroulau  falleceu  em  28  de  fevereiro  de  1872.  Era 
chefe  do  serviço  de  saúde  de  marínlia  e  oíDcial  da  Legião  de  Honra.  O  seu  traba- 
lho principal  é  o  Tratado  das  doenças  dos  europeus  nos  paizes  quentes,  livro  que, 
como  disse  M.  Rochard  ao  despedir-se  do  seu  collega  junto  á  campa,  fura  duas  ve- 
zes coroado,  e  tem  auctoridade  scientifica. 

2  Temos  diante  de  nós  um  livro  com  o  seguinte  titulo :  O  impeno  do  Brazil  na 
exposição  universal  de  1813  em  Vienna  d€  Áustria,  Igual  trabalho  se  preparou 
para  a  exposição  da  Phíladclphía,  sendo  impresso,  segundo  ouvimos  dizer,  em  qua- 
tro linguas  — portuguez,  francez,  allemão  e  inglez.  É  esta  a  mais  efflcaz  e  racionai 
propaganda  que  um  paiz  pôde  fazer  em  seu  favor. 


153 


Colónias  da  HoUanda,  olima  geral,  superfioie,  população 

e  prinolpaes  producgoes 


Designações 


índias  ocoldentaeB 

America: 

Ilha  Coraçáo 

liba  Araba 

Ilha  Donaire , 

Dha  St.  Martin 

UhaSaba , 

Ilha  St.  Kaslachc , 

Snrinam  (Demerara  oa  Guyana  boi 
landeza) , 


índias  orientaes 

Oceaoía : 

Java  com  a  ilba  de  JJadara 

Cosia  Occidental 

Costa  oriental   com  as 

liba     dej    ilhas  de  Hioow 

Soniatra]Donkoulea 

Lampongs 

Palcmbang 

Ilha  Banca 

IlbaDilliton 

Ilha  Ceie*  |  Território  geral 

bes  . . . .  I  Alenado 

...^     ««      I  Costa  Occidental 

Ilha  Bor-^^    ,         ...      , 

^  Costa  meridional 

*  *  *  *  'Cosla  oríenUl 

w    (Temalo  o  dependências 
Ilhas  Mo->-    .   .        j        . 

/Ambomo  e  dependências 

" '  ( Banda  e  dependências. . 

Illiade  Timor  (parte  occidental,  SO.) 

Ilha  Bali 

Ilha  Nova-Gniné. 


Clima  geral 


Tropical  qoente  (N.) 
Tropical  quente  (N.) 

Tropico-equat.  (N.) 
Tropico-equat.  (N.) 
Tropíco-eqnal.  (N.) 

Equatorial  (N.).... 


Equatorial  (S.).... 
Eqnalorial(N.).... 

Equatorial  (."s.).... 

Equatorial  (S.) 

Equatorial  (S.) .... 

Equatorial  (S.).... 
Equatorial  (ÍS.). . . . 
Equatorial  (S.).... 
Equatorial  (N.).... 

Equatorial 

Equatorial  (S.) 

Equatorial 

Equatorial 

Equatorial  (S.) 

Equatorial  (S.) 

Equatorial  (S.).... 
Equatorial  (S.).... 
Equatorial  (S.).... 


Total  geral. 


S 


Supcrficie 
Kil.  quad. 


550,00 

105,00 

333.00 

46,80 

12,83 

20,70 

119:321,00 


120:391.33 


134:607,00 
121:172,00 

45:427,00 
25:087,00 
26:155,00 

160:3(3.00 

13:050,00 

6:552.00 

118:380.00 
69:776.00 

154:506.00 

361:653.00 

02:204,00 
26:370,00 
22:647,00 
10:600.00 
10:462.00 
176:752,00 


1.545:743,00 


1.666:134,33 


População 


Productos  principaes 


22:713 

5:3a3| 

^:370l         ,         .     .„ 
2-959     ^^    e  cochonilha. 

1:975] 
1:750' 

69:834  Assucar,  cale,  algo- 
108:984       ^^^  '  "'""• 


17.786:118 
1.620:979 

69:386 
140:116 
112:784 
577:085 
63:922 
26:639 
335:942 
495:396 
365:798 

889:629 

97:913 

94:745 

155:453 

79:374 


22.931:479 


23.040:463 


Assucar,  café,  indigo, 
arroz,  cacau,  bau- 
nilha, tabaco,  etc. 

Arroz,  tabaco,  café, 
pimenta,  essências 
eoiro. 


Arroz,  milho,  fructa 
6  mineraes. 

Metacs   preciosos  e 
essências. 

Especiarias. 

Algodão,  café,  taba- 
co e  assucar. 


A  Hollanda,  occupaDdo  um  território  assas  limitado  na  Europa,  tem 
comtudo  vastos  domínios  no  ultramar,  distribuídos  por  duas  regiões  muito 
dislínctas.  Fica  uma  sob  a  linha  equinoccial  na  Oceania,  e  outra  na  Ame- 
rica do  Sul  e  golfo  do  México,  estando  a  Guyana  mais  próxima  do  equa- 
dor 8  a  ilha  de  Coração  mais  afastada.  As  colónias  hoilandezas  sao,  pois, 


154 

inteiramente  equatoriaes,  e  mostram  a  possibilidade  de  os  habitantes  das 
regiões  septenlrionaes  da  Europa  viverem  nos  logares  reputados  mais 
quentes  do  mundo,  como  muitos  que  se  encontram  nas  ilhas  de  Sumatra, 
Borneo,  etc. 

Taes  possessões,  porém,  não  offerecem  ainda  vantajosos  elementos 
para  a  resolução  do  problema  da  aclimação  dos  europeus  nos  paizes  in- 
tertropicaes;  mas  embora  não  haja  nas  colónias  hollandezas  verdadeira 
colonisação,  as  nações  da  Europa  têem  muito  que  aprender  no  modo  por 
que  taes  colónias  téem  sido  administradas. 

As  lições  da  historia  nunca  devem  esquecer.  Explicam  a  concalenação 
dos  factos,  deixam  no  espirito  idéas  bem  definidas,  e  animam  os  que  dese* 
jam  conhecer  a  verdade  e  applicar  a  justiça  com  rectidão. 

Os  povos,  como  os  indivíduos,  praticam  acções  de  vida  íntima  que  não 
devem  discutir-se,  mas  as  suas  relações  para  com  os  outros  e  o  modo  por 
que  affirmaram  a  sua  independência  servem  muitas  vezes  de  lição  aos  vin- 
douros ;  e  sem  o  auxilio  da  historia  faltaria  a  verdadeira  pedra  de  toque  para 
as  aferir.  Devemos,  pois,  examinar  não  só  a  nossa  própria  historia  colo- 
nial, mas  também  a  dos  povos  que  nos  seguiram  pelas  differentes  partes 
do  mundo  que  descobrimos.  Não  é  alheia  ao  nosso  fim  esla  analyse  his- 
torico-colonial,  porque,  tratando  de  conhecer  se  os  europeus  podem  acli- 
mar-se  nas  terras  equatorias,  precisámos  avaliar  a  vitalidade  de  cada 
nação  europea  de  onde  partem  os  colonos  que  vão  povoar  as  terras  de 
alem-mar.  Assim  como  é  indispensável  para  a  apreciação  da  constituição 
individual  examinar  a  historia  pregressa  de  cada  homem,  do  mesmo  modo 
os  paizes  extra-europeus  do  século  xix,  ou  sejam  subordinados  ainda  ás 
nações  que  os  crearam,  ou  estejam  independentes,  merecem  detido  exame 
a  respeito  da  origem,  formação  e  desenvolvimento  da  sua  nacionalidade. 
Para  o  caso  de  que  nos  occupámos  trataremos  de  dar  em  resumo  as  no- 
ções principaes  que  se  referem  ao  império  colonial  da  Hollanda. 

Os  hollandezcs  são  um  povo  dotado  de  energia  e  têem  aíDrmado  a  sua 
independência  nos  diversos  campos  da  actividade  humana,  dando  exem- 
plos de  valor  a  todas  as  outras  nações  colonisadoras  da  Europa.  Tive- 
ram Hespanha  e  Portugal  por  mestres,  emquanto  a  colonisação,  mas  não 
imitam  estas  nações  no  modo  por  que  administram  as  colónias  que  es- 
tabeleceram. É  esta  na  verdade  uma  prova  evidente  da  sua  intelligencia  e 
bom  senso.  Não  seguiram  o  melhor  systema,  mas  reconheceram  os  de- 
feitos que  havia  no  que  praticavam  os  povos  que  lhe  iam  na  vanguarda. 

Os  portuguezes,  coUocados  ao  occidente  da  Europa,  conquistaram  o 
reino  palmo  a  palmo.  São  orgulhosos  peia  sua  independência,  e,  aspirando 
sempre  á  liberdade,  téem  dado  inconcussas  provas  de  amor  á  pátria. 
A  sua  historia  é  uma  das  primeiras  entre  a  de  todos  os  povos  do  mundo, 


i55 

por  ella  teve  especial  atlenç3o  o  imperador  da  França,  que  a  mandou  en- 
sinar nos  lyceus.  É  porque  na  historia  portugueza,  diz  um  escriplor  fran- 
cez,  ha  uma  excellente  escola  de  enthusiasmo  e  de  heroismo. 

Recordâmo-nos  com  prazer  dos  heroes  de  1640,  assim  como  nos  re- 
feriremos ao  nosso  captiveiro,  pondo  bem  em  relevo  a  verdade. 

Prende-se  por  tal  modo  a  nossa  historia  colonial  do  século  xv  e  xvi 
com  a  da  Hespanha  e  Hollanda,  que  nâo  podemos  memorar  os  aconteci- 
mentos de  uma  nação  sem  fallar  das  outras.  Seremos  todavia  imparciaes» 
como  nos  cumpre. 

A  Hollanda  não  soffreu  o  dominio  hespanhol  e  reagiu  contra  o  despo- 
tismo de  Filippe  II  de  Hespanha,  havendo-se  com  tanta  fortuna  que  prin- 
cipiou doesse  tempo  a  sua  grandeza  e  prosperidade. 

Prohíbiu-lhe  a  Hespanha,  que  a  tinha  sob  a  mais  cruel  oppressão,  o 
commercio  com  a  cidade  de  Lisboa.  Julgou  que  feria  os  hollandezes^ 
quando  sobre  nós  é  que  se  descarregavam  os  golpes  i 

Não  os  humilhou  a  prohibição  que  lhes  fez  a  orgulhosa  Hespanha. 
Aproveitaram-se,  pelo  contrario,  do  ensejo  para  realisarem  um  grande  em- 
prehendimento.  As  injustiças  e  as  perseguições  engrandecem  muitas  ve- 
zes os  opprimidos.  Quando  não  tivéssemos  outras  provas,  bastava  o  que 
se  passou  entre  os  hollandezes  quando  viram  o  seu  commercio  interrom- 
pido com  os  portuguezes.  A  sua  resolução  não  se  fez  esperar;  dírigiram- 
se  directamente  á  índia,  e  informaram-se  dos  usos  e  costumes  dos  povos 
d'aquellas  regiões.  Foi  esta  a  primeira  consequência  de  tão  arbitraria 
quanto  abusiva  determinação. 

Armaram  alguns  navios,  que  demandaram  as  terras  do  oriente.  Não 
iam  armados  de  grandes  petrechos  de  guerra;  dedicavam-se  especial- 
mente ao  commercio.  Não  se  propunham  atacar  de  frente  os  destemidos 
galeões  de  Portugal;  o  seu  principal  cuidado  era  evital-os.  Tinham  por 
fim  ver  as  terras  do  oriente,  avaliar  o  nosso  poder  e  os  meios  de  o  inuti- 
lisar.  Serviu-lhes  o  commercio  de  pretexto.  E  poucas  viagens  bastaram 
para  saber  como  lhes  convinha  proceder.  Fizeram-se  durante  alguns  an- 
nos  expedições  particulares,  e  depois  creou-se  a  companhia  das  índias,  que 
sob  a  mira  do  commercio  promovia  a  indisposição  dos  indígenas  das  ilhas, 
onde  aportavam,  contra  nós,  e  acabavam  por  nos  declarar  guerra  I  As  nos- 
sas terras  do  oriente  foram  as  primeiras  colónias  dos  hollandezes.  Esta- 
beleceram-se  depois  no  Cabo  da  Boa  Esperança,  de  que  nunca  fizemos 
caso,  e  espalharam-se  por  alguns  pontos  da  America. 

O  centro  do  movimento  commercial  era  na  pequena  ilha  Coração,  que 
foi  para  a  região  septentrional  da  America  do  Sul  o  que  deveria  ser  a 
nossa  ilha  de  S.  Thomé  para  a  região  equatorial  da  Africa,  se  por  acaso 
quizessemos  occupar  o  logar  que  nos  competia  na  sua  exploração. 


i56 

As  colónias  hollandezas,  é  mister  relembrar,  levanlaram-se  sobre  as 
ruínas  das  nossas  possessões  do  oriente  i  Foi  para  nós  uma  perda  immensa. 
A  Hespanha  parecia  comprazer-se  em  ver  ameaçada  a  integridade  do  nosso 
'território  do  ultramar,  julgando  talvez  que  assim  nos  enfraquecia,  mas 
não  logrou  o  seu  intenlo. 

Estivemos  por  sessenta  annos  sob  um  jugo  violentíssimo;  mas  soou  a 
hora  da  liberdade,  e  por  todos  os  ângulos  de  Portugal  se  ouviu  o  mesmo 
grilo — pátria»  Uberdade,  independência. 

Nao  podemos  todavia  acudir  a  todas  as  colónias  de  que  os  hollande- 
zes  se  haviam  já  apoderado. 

Cumpría-nos  sustentar  a  integridade  do  território ;  era  esse  o  nosso 
principal  dever,  e  fomos  obrigados  a  concentrar  na  metrópole  todas  as  for- 
ças para  defender  a  mae  pátria;  e  os  hollandezes,  que  avaliavam  a  nossa 
posição,  aproveitaram  o  tempo  para  atacar  as  províncias  mais  afastadas 
da  monarchia  portugueza,  discutindo  muitas  vezes  a  posse  de  territórios 
onde  chegaram  depois  de  nós. 

Havia-se  fundado,  como  dissemos,  a  companhia  das  índias,  que  pa- 
recia destinada  mais  á  exploração  commercial  do  que  á  colonisação,  mas 
eram  outros  seus  intuitos.  Foi  ella  que  promoveu  a  occupação  de  mui- 
tas ilhas,  e  procurou  apoderar-se  de  bastantes  territórios  de  alem-mar.  Foi 
ella  que  occupou  as  ilhas  de  Java,  Amboino,  Banda  e  Molucas,  na  Ocea- 
nia,  Ceylão,  Malaca,  Macassar,  e  o  Cabo  da  Boa  Esperança,  para  todas 
as  quaes  havia  nomeado  governadores.  O  systema  empregado  pelos  hol- 
landezes  para  com  os  indígenas  foi  bem  calculado ;  mas  não  daria  hoje  bom 
resultado,  poisque  a  prosperidade  das  colónias  não  se  sustenta  senão 
pela  agricultura. 

Como  somente  por  incidente  tocámos  n'estes  assumptos  que  a  historia 
nos  ensina,  não  nos  demorámos  por  mais  tempo  n'estas  considerações,  e 
passámos  a  fallar  da  população  das  colónias  hollandezas,  o  que  tem  rela- 
ção directa  com  o  objecto  d'este  trabalho. 

Em  1869  a  população  das  ilhas  de  Java  e  Madura  era  composta  dos 
seguintes  indivíduos: 

Indígenas 15.791:845 

Chinezes 172:281 

Árabes 7:234 

Europeus 29:139 

Differentes  nacionalidades 9:616 

Total 16.010:115 

A  população  especifica,  n'este  anno,  era,  pois,  de  100  indi\iduos  por 


i57 

kilonictro  quadrado.  Segundo  os  dados  do  annuario  estatislico  de  Golha, 
em  1874,  a  população  subia  a  17.786:118  habitantes. 

As  ilhas  de  Java  e  Madura  devem  o  progresso  e  desenvolvimento 
agrícola  que  n'ellas  se  observam  á  intelligentc  administração  de  alguns  go- 
vernadores que  nos  primeiros  annos  d'este  século  lhes  deram  todo  o  in- 
cremento. Durante  a  administração  d'estes  beneméritos  cidadãos,  a  agri- 
cultura e  o  commercio  augmentaram  de  tal  modo,  que  poucas  colónias  se 
podem  igualar  a  estas  ilhas.  É  realmente  innegavel  que  a  felicidade  de 
■  qualquer  paiz  depende  quasi  sempre  dos  homens  que  estão  á  frente  dos 
seus  negócios  públicos.  Deu-nos  o  grande  Affonso  de  Albuquerque  o  im- 
pério do  oriente,  e  ao  infante  D.  Henrique  se  deve  a  maior  das  nossas 
glorias.  Muitos  monarchas  portuguezes  corresponderam  á  sua  alta  mis- 
são, e  tivemos  ministros  como  o  marquez  de  Pombal. 

Aflirmámos  a  nossa  nacionalidade  perante  todas  as  nações  da  Eu- 
ropa, e  hoje,  como  sempre,  defenderemos  a  todo  o  transe  a  nossa  inde- 
pendência. Moslra-nos  a  historia  que  somos  a  primeira  entre  as  nações  de 
segunda  ordem,  e  que  somos  uma  das  primeiras  nações  colonisadoras  do 
século  XIX.  Se  alguns  escriptores  estrangeiros  não  se  referem  ás  nossas 
plantações  coloniaes,  não  deixam  elles  também  de  condemnar  o  systema 
colonial  dos  hollandezes. 

«Os  hollandezes,  observa  Leroy  Beaulieu,  não  se  occupam  em  civili- 
sar  a  população  indígena ;  olham  apenas  com  attenção  para  as  culturas  e 
commercio  e  não  para  a  instrucção  dos  habitantes.  É,  como  se  vè,  uma 
colonisação  desprovida  do  espirito  elevado  e  pensamento  nobre  com  que 
todo  o  povo  deve  colonisar.  A  colonisação  hollandeza  é,  para  dizer  tudo, 
uma  simples  exploração.» 

A  população  europêa  é  extremamente  rara  nas  colónias  hoUandezas. 
Em  1857  havia  na  ilha  de  Java  apenas  14:000  indivíduos.  O  governo  ten- 
tou augmental-a,  mas  os  emigrantes  preferem  os  Estados  Unidos  ás  ilhas 
da  Sonda,  na  Oceania. 

Os  portuguezes,  pela  sua  parte,  preferem  as  terras  do  Brazil  ás  da 
Africa,  o  que  não  tomará  incremento  se  os  negócios  coloniaes  forem  at- 
lendidos,  como  se  tem  notado  no  corrente  anno  do  1876. 

O  que  é  certo  é  que  a  província  de  Angola,  seis  vezes  maior  que  as 
ilhas  de  Java  e  Madura,  está  em  condições  de  progredir  muito  e  de  poder 
compelir  com  as  colónias  da  Africa,  de  Cuba  e  de  Java  e  até  com  a  Algé- 
ria franceza. 

Alem  das  ilhas  oceânicas,  a  Hollanda  possue,  como  dissemos,  a  Guya- 
na,  território  assas  vasto,  mas  pouco  povoado  relativamente  ás  outras  co^ 
lonias. 

Em  1859  tinha  53:000  habitantes,  sendo  15:959  livres  e  36:963  es^ 


I 


1S8 

cravos.  Em  1874  e  1875  elevava-se  o  numero  dos  habitantes  a  69:834, 
o  que  é  realmente  insignificante  para  um  paiz  com  uma  superfície  dupla 
da  de  Portugal. 

Uma  das  causas  que  téem  concorrido  para  o  estacionamento  da  Guyana 
hollandeza  é  certamente  o  absentheismo,  cancro  que  affecta  também  as 
nossas  colónias. 

O  absentheismo  tem  sido  fatal  para  a  colónia  americana  da  FloUanda, 
poisque  emquanto  os  proprietários  vivem  luxuosamente  em  Amsterdam, 
as  plantações  estão  entregues  a  gerentes  cuja  incapacidade  é  notória,  as- 
sim como  a  sua  negligencia  e  immoralidade.  Os  trabalhadores  são  mal 
tratados  e  a  mortalidade  entre  elles  é  espantosa. 

São  variadas  as  causas  que  têem  concorrido  para  o  limitado  desen- 
volvimento da  celebre  Demarara  ou  Surinam  hollandeza,  para  onde,  ape- 
sar de  tudo,  ha  uma  corrente  de  emigração  assas  regular,  postoque  fraca 
em  apparencia. 

Referimo-nos,  nas  consideraçijes  que  acabámos  de  expor,  a  Leroy 
Beaulieu,  e  por  ellas  pôde  fazer-se  idéa  do  estado  em  que  se  acha  actual- 
mente um  dos  paizes  que  passa  por  um  dos  mais  insalubres  do  mundo. 
É  ali,  sob  o  sol  do  equador,  em  um  terreno  pouco  elevado,  que  alguns 
camponezes  da  Hollanda  se  entregam  á  cultura  do  terreno  que  adquirem. 
Se  os  hoUandezes  em  taes  circumslancias  podem  entregar-se  á  cultura, 
não  desesperemos  nós  de  o  fazer  também  em  muitos  pontos  das  provín- 
cias de  Angola  e  Moçambique,  onde  ha  largos  tractos  de  terreno  em  muito 
melhores  condições  de  salubridade  do  que  em  Demerara  e  n'outras  coló- 
nias de  Hollanda. 

Para  terminar  tão  succinlas  observações  acerca  d'esta  colónia  da 
Hollanda,  notaremos  que  no  século  xviii  havia  n'aquelle  paiz  600  fazen- 
das, nas  quaes  trabalhavam  cerca  de  30:000  escravos.  Em  1845  conta- 
vam-se  apenas  259,  cujo  numero  se  conservou  estacionário  até  1860. 

Vê-se,  pois,  que  a  agricultura  tem  declinado  na  Guyana  hollandeza  de- 
pois da  sua  maior  prosperidade. 

Falla-se  com  admiração  do  império  colonial  da  Hollanda,  cuja  parte 
principal  se  acha  sob  a  linha  equinoccial,  e  indica-se  muitas  vezes  como 
má  condição  a  posição  tropical  das  nossas  possessões  I  Diz-se  também  no 
diccionario  Larousse  que  pertence  á  Neerlandia  o  estabelecimento  deno- 
minado Elmina,  sobre-cosla  do  Ouro,  no  mar  de  Guiné.  Não  sabemos  se 
é  verdadeira  esta  asserção,  poisque  ali  se  reputa  colónia  hollandeza  o  ar- 
chipelago  de  Timor,  quando  a  maior  parte  da  ilha  principal  com  a  pequena 
ilha  Pulo  Cambing  fazem  parte  integrante  da  nossa  província  da  Ásia  Orien- 
tal e  Oceania !  Trataremos  d'estes  e  de  outros  assumptos  análogos  no  de- 
curso d*este  trabalho,  abstendo-nos  por  isso  de  mais  largas  consideraçõeSi 


OoIanla^  Inglezas,  ollma  g;eral,  anperflole,  população 
e  proãnotos  prinoipaes 


Populacho    PradattoiprJDcipaH 


ItkH  d«  KoDiil-HDqria  (E>ta(ii>) 

■~'"    idflwB    (ladoiUa   b   (nila 

— jatal  dofoKb  d«  Bungila) . , . . 

otii«-.-..TT.; 

AnJamiun  (BtlI^1a) 

K.l,itich'.irr.'ii|f.i  .■  fiitwiji  (ãl^- 

h£W"^,"'-.':::::::::::: 

AfriM 

EiuhflivimfDtM  e  fíjloriu  d>  cot- 

Ui>uidi«UI  dn  Aítin 

Dhmda  Akí(uIo  .^.<„ 

llbi  de  Saola  SaJaia 

Ijlu  dt  Tiiitlo  da  CiiDhi  (CMíIo) 

Porta  ihui.. ..:;!!;!!;!.;;;;!;! 

11halU«icla«dnieiidniclH 

Man  Aii»li<rdaa(KsU{ls) 

!>.  Paulo  (EiUclu] 

llodia(EHãfioj 

AmerfM 
aia  diCinadá 

Im  Kíví  (i87() 

tíerniDdu  ■'"...,.....,........  ^ 

Hondorai 

Ilku  da  BihuBa  od  Lneani 

IlhudíTan 

Ilhu  de  CtjEuin,  nuida  e  ptqnena 

B™  (EttaíJo) 

Lvs^ilI  t-ljuilt  (S  d»  iKqiHiui 

Uiri'lu..i.l    Khi,.ll  (6  du  pcqupOJI 

Tri<< ' '        --  ii    !  9  psqneiiai  Anli- 

Gbjíb*  ItuJoa  (AiMríca  do  Sul) . . 
Ilfaai  Falkbad 

Aoimlu  (Ií7t} 

TimuiaiVan-DIcnini) 

HmUaadta 

lll«Gti*lbiun 

Ilka  dAnckUiid 

KtnLdrdHoH 

luaiFKtji.. '.'..'. ','."', '.!*.'."!!;! 

llbaFinDiaE 

llbaUildíB 

IlhaSUrboBCk 

lUiaCmlin 

llb»  dt  KMiiw  (EtUçlo) 


Tro|i<CAl  qi 
Tropical  qi 
Tropical  qi 


Tropical  qoenie  (N.) 
Tropical  queale(N.) 


IHI.II63:a(R 

6:800 

l.t05:»<T 

13^500 


Tropical  iCTip.  (S. 
Tropical  ismp.  jS. 
Tropical  qnenliíS, 


BBI;0a9,0 
tG;IM.O 
liSiU.D 


FrioíN.) 

FrioiN.)    

Tropiu]  Iroip.  (N. 
Tropical  qucnlaiN. 
Tnipkal  tcmp.  (N, 
Tropical  queoIoiN. 
Tropical  quenli'  (N. , 
Tropical  qaeDte(N.) 

Tropical  qiteDU!(N.) 

Tropical  qwni>(N.) 

Troplca.«qual.  (K.) 

Eqoalorial... 


Frio  IS.)' 

~     lical  lemp.  J! 

Tropkal  quriitc(S. 
Equalorial  (N.' 
Equatorial  (S, 
Equaiorial  (b. 


Total  ««ral.,.  S0.!Klt:7(W, 


'.8i7:8i7. . 

B7:Bet,0 

175:ÍU0.D 

l:;iiH,a 


lilho.lricn,  eaW,  Ic 
•a^arina. 


39:161 

1:S7R 

í:9Í5 

506:1» 

S:iOa 

1«):13( 

181:078 


etíei  prccioKit. 
Cari  lo,  cobrp  c 


160 

Siio  immensos  os  paizes  que  a  Inglaterra  possue  na  Ásia,  Africa,  Ame- 
rica e  Oceania.  Independentemente,  porém,  de  tão  extraordinária  extensão 
colonial,  os  inglezes  merecem  com  justilicadu  rasão  o  nome  de  povo  co- 
lonisador  por  excellencia.  Não  toem  direito  a  tão  honroso  titulo  em  pre- 
sença das  suas  colónias  do  século  xix,  merecem-no  pelo  que  fizeram  no 
século  XVI,  quando  Portugal  e  a  Hespanha  alargavam  a  esphera  do  seu 
poder  em  todas  as  partes  do  mundo. 

Um  concurso  feliz  de  muitas  circumstancias,  observa  Leroy  Beaulieu, 
fez  com  que  os  três  primeiros  povos  colonisadores,  Portugal,  Hespanha  e 
Inglaterra,  obtivessem  os  paizes  exlra-europeus  que  mais  se  accommoda- 
vam  á  aptidão  de  cada  uma  d'estas  nações. 

Os  arrojados  e  hábeis  marinheiros  portuguezes  tiveram  por  domínio 
as  índias  Orienlaes,  onde  podiam  enriquecer-se  por  meio  de  umcommer- 
cio  fácil  e  inesgotável. 

Os  emprehendedores  mas  pesados  aventureiros  hespanhoes  obtiveram 
as  minas  da  America  central  e  meridional,  que  elles  podiam  explorar  sem 
esforço. 

Aos  judiciosos  e  pacientes  colonos  da  Inglaterra  tocou  por  sorte  essa 
immensa  região  inculta  e  quasi  despovoada,  que  deveria  torriar-se  a  mais 
brilhante  colónia  do  mundo. 

Nenhuma  terra  correspondia  melhor,  acrescenta  aquelle  escriptor,  aos 
projectos  dUackluyt,  ástheorias  de  Bacon,  aos  desejos  de  WalterRaleigh 
e  de  Humphrey  Gilbert. 

O  governo  inglez,  que  não  toma  jamais  parte  alguma  directa  na  fun- 
dação das  colónias,  ensina  comtudo  aos  colonos  o  que  mais  lhes  convém 
fazer  para  obterem  feliz  resultado.  O  que  o  governo  punha  em  pratica  era 
também  divulgado  pelos  escri[)lores.  Todos  elles  aconselhavam  a  occupa- 
ção  de  terras  virgens,  mas  de  fertilidade  reconhecida,  ondepodessem,  por 
meio  de  trabalho,  crear  a  industria  agrícola  e  commercial. 

A  Inglaterra  é  inquestionavelmente  o  primeiro  paiz  colonial  do  mundo, 
e  Leroy  Beaulieu  dá  minuciosas  informações  a  respeito  do  espirito  colo- 
nisador  d'aquelle  povo,  mas,  quando  se  refere  á  escravatura,  atlribue-lhe 
a  honra  da  iniciativa  para  a  sua  extincção.  Não  recusámos  á  Inglaterra  a 
parte  que  ella  tomou  em  tão  nobre  emprehendimento,  mas  desejámos  que 
se  nos  faça  lambem  justiça,  mostrando  que  se  acceitámos,  como  todas  as 
nações  modernas,  o  principio  da  escravidão,  fomos  os  primeiros  que  a  mo- 
dificámos de  um  modo  muito  honroso  para  nós.  Para  evitar  delongas,  re- 
produzimos os  trechos  de  dois  livros  que  temos  á  mão.  Faliam  bem  alto, 
e  se  um,  por  ser  de  escriptor  porluguez.  podesse  ser  tido  por  suspeito, 
o  outro  que  é  obra  de  um  sábio  inglez,  não  deixará  de  merecer  inteiro 
credito. 


IGI 

n  Muitas  foram  as  providencias  benéficas,  diz  José  Joaquim  Lopes  de 
Lima,  que  o  Senhor  Rei  D.  Manuel  derramou  sobre  aquellepovo  (o  da  ilha 
de  S.  Thomé);  mas  entre  todas — por  parecer  obra  de  séculos  mais  illustra- 
dos — a  carta  regia  de  9  de  janeiro  de  lõlõ,  na  qual»  depois  de  declarar 
que  fora  expressamente  ordenado  no  regimento  que  se  fez  para  a  povoa- 
ção, que  se  desse  a  cada  colono  uma  escrava  para  delia  haver  filhos,  de- 
termina que  taes  escravas  fiquem  livres  com  toda  a  sua  descendência,  e 
nunca  possam  ser  demandadas — ellas,  nem  seus  filhos  e  filhas — como 
captivos  de  elrei,  nem  de  pessoa  alguma;  —  e  a  outra  carta  regia  de 
24  de  janeiro  de  1517,  a  qual  estende  o  mesmo  beneficio  aos  escravos 
machos,  que  similhantemente  foram  dados  para  serviço  dos  primeiros  po- 
voadores e  os  declara  forros  a  elles  e  seus  descendentes. yt 

Isto  prova,  acrescenta  o  mesmo  escriplor,  que  os  reis  de  Portugal  se- 
guiam desinteressadamente  os  dictames  de  uma  útil  e  sensata  philantbro- 
pia  em  seus  domínios,  três  séculos  antes  que  uma  politica  interesseira 
ensinasse  essa  virtude  a  nações  que,  n'aquella  epocha,  traziam  sob  o  jugo 
de  um  duro  feudalismo  os  escravos  brancos  seus  conterrâneos,  e  que  por- 
ventura ainda  hoje  traficam  em  homens  e  mulheres  da  sua  própria  côr. 

H.  Major,  procurando  indagar  o  que  diz  respeito  á  origem  do  trafico 
de  escravos,  á  primeira  deportação  que  d^elles  se  fez  da  Africa  e  quem 
deu  origem  ao  que  hoje  (1869)  se  chama  o  trafico  da  escravatura,  deu 
uma  demonstração  cabal  de  que  não  são  os  portuguezes  os  que  merecem 
censura. 

Em  um  dos  livros  mais  sympatbicos  que  ultimamente  se  publicou  O 
trabalho  rural  africano  e  a  administração  colonial,  pelo  marquez  de  Sá 
da  Bandeira,  dáse  minucioso  desenvolvimento  a  tão  grave  assumpto,  to- 
mando-se  por  base  o  trabalho  de  H.  Major. 

Todos,  sem  excepção,  hespanhoes,  portuguezes,  inglezes,  francezes  e 
hoUandezes.  diz  o  honrado  marquez,  consideram  o  trabalho  dosindigenas 
como  propriedade  sua.  E  obrigando-os,  pelo  modo  o  mais  cruel,  a  fazer 
serviços  acima  das  suas  forças,  d'isso  resultou,  em  muitas  regiões,  a  des- 
povoação  e  mesmo  a  exterminação  de  raças  inteiras. 

Em  1562  o  capitão  de  navios  John  Hawkuis,  nota  o  referido  marquez 
de  Sá,  referindo-se  a  um  escriptor  inglez,  que  depois  fora  thesoureiro  da 
rainha  Izabel,  partira  de  Inglaterra  para  a  Serra  Leoa  com  três  navios, 
em  que  embarcou  trezentos  negros,  alguns  dos  quaes  foram  capturados 
por  força,  e  levados  ás  ilhas  hespanholas,  onde  os  trocou  por  assucar. 

É,  porém,  certo  que  á  Inglaterra  cabe  a  gloria  de  sair  de  entre  seus 
filhos  o  primeiro  grito  de  liberdade  para  toda  a  humanidade  ser  comple- 
tamente livre. 

Foi  em  1773,  diz  Leroy  Beaulieu,  que  pela  primeira  vez  uma  alma 

11 


160 

Sao  immensos  os  paizes  que  a  Inglaterra  possue  na  Ásia,  Africa,  Ame- 
rica e  Oceania.  Independentemente,  porém,  de  lao  extraordinária  extensão 
colonial,  os  inglezes  merecem  com  justificada  rasão  o  nome  de  povo  co- 
lonisador  por  excellencia.  Nâo  lôem  direito  a  tão  honroso  titulo  em  pre- 
sença das  suas  colónias  do  século  xix,  merecem-no  pelo  que  Dzeram  no 
século  XVI,  quando  Portugal  e  a  Hespanha  alargavam  a  esphera  do  seu 
poder  em  todas  as  partes  do  mundo. 

Um  concurso  Teliz  de  muitas  circumstanclas,  observa  Leroy  Beaulíeu, 
fez  com  que  os  Ires  primeiros  povos  colonisadores,  Portugal,  Hespanha  e 
Inglaterra,  obtivessem  os  paizes  extra-europeus  que  mais  se  accommoda- 
vam  â  aptidão  de  cada  uma  d'estas  nações. 

Os  arrojados  e  hábeis  marinheiros  porluguezes  tiveram  por  domínio 
as  índias  Orienlaes,  onde  podiam  enriquecer-se  por  meio  de  umcommer- 
cio  fácil  e  inesgotável. 

Os  emprehendedores  mas  pesados  aventureiros  hespanhoes  obtiveram 
as  minas  da  America  central  e  meridional,  que  elles  podiam  explorar  sem 
esforço. 

Aos  judiciosos  e  pacientes  colonos  da  Inglaterra  tocou  por  sorte  essa 
immensa  região  inculta  e  quasi  despovoada,  que  deveria  torriar-se  a  mais 
brilhante  colónia  do  mundo. 

Nenhuma  terra  correspondia  melhor,  acrescenta  aquelle  escriptor,  aos 
projectos  d'Hackluyt,  ás  theorias  de  Bacon,  aos  desejos  de  Walter  Raleigh 
e  de  Humphrey  Gilbert. 

O  governo  inglez,  que  não  toma  jamais  parte  alguma  directa  na  fun- 
dação das  colónias,  ensina  comtudo  aos  colonos  o  que  mais  lhes  convém 
fazer  para  obterem  feliz  resultado.  O  que  o  governo  punha  em  pratica  era 
também  divulgado  pelos  escri|)tores.  Todos  elles  aconselhavam  a  occupa- 
ção  de  terras  virgens,  mas  de  fertilidade  reconhecida,  ondepodessem,  por 
meio  de  trabalho,  crear  a  industria  agrícola  e  commercial. 

A  Inglaterra  é  inquestionavelmente  o  primeiro  paiz  colonial  do  mundo» 
e  Leroy  Beaulieu  dá  minuciosas  informações  a  respeito  do  espirito  colo- 
nisador  d'aquelle  povo,  mas,  quando  se  refere  á  escravatura,  attribue-lhe 
a  honra  da  iniciativa  para  a  sua  extincção.  Não  recusámos  á  Inglaterra  a 
parle  que  ella  tomou  em  tão  nobre  emprehendimento,  mas  desejámos  que 
se  nos  faça  lambem  justiça,  mostrando  que  se  acceitámos,  como  todas  as 
nações  modernas,  o  principio  da  escravidão,  fomos  os  primeiros  que  a  mo- 
dificámos de  um  modo  muito  honroso  para  nós.  Para  evitar  delongas,  re- 
produzimos os  trechos  de  dois  livros  que  temos  á  mão.  Faliam  bem  alto, 
e  se  um,  por  ser  de  escriptor  porluguez,  podesse  ser  tido  por  suspeito, 
o  outro  que  é  obra  de  um  sábio  inglez,  não  deixará  de  merecer  inteiro 
credito* 


l 


IGl 

9i Muitas  foram  as  providencias  benéficas,  diz  José  Joaquim  Lopes  de 
Lima,  que  o  Senhor  Rei  D.  Manuel  derramou  sobre  aquellepovo  (o  da  ilha 
de  S,  Thomé);  mas  entre  todas — por  parecer  obra  de  séculos  mais  illustra- 
dos— a  carta  regia  de  9  de  janeiro  de  lôlõ,  na  qual,  depois  de  declarar 
que  fora  expressamente  ordenado  no  regimento  que  se  fez  para  a  povoa- 
ção, que  se  desse  a  cada  colono  uma  escrava  para  delia  haver  filhos,  de- 
termina  que  taes  escravas  fiquem  livres  com  toda  a  sua  descendência,  e 
nunca  possam  ser  demandadas — ellas,  nem  seus  filhos  e  filhas — como 
captivos  de  elrei,  nem  de  pessoa  alguma;  —  e  a  outra  carta  regia  de 
24  de  janeiro  de  1517,  a  qual  estende  o  mesmo  beneficio  aos  escravos 
machos,  que  similhantemente  foram  dados  para  serviço  dos  primeiros  po- 
voadores e  os  declara  forros  a  elles  e  seus  descendentes. y* 

Isto  prova,  acrescenta  o  mesmo  escriptor,  que  os  reis  de  Portugal  se- 
guiam desinteressadamente  os  dictames  de  uma  ulil  e  sensata  piíilanthro- 
pia  em  seus  domínios,  três  séculos  antes  que  uma  politica  interesseira 
ensinasse  essa  virtude  a  nações  que,  n'aquella  epoclia,  traziam  sob  o  jugo 
de  um  duro  feudalismo  os  escravos  brancos  seus  conterrâneos,  e  que  por- 
ventura ainda  hoje  traficam  em  homens  e  mulheres  da  sua  própria  cor. 

H.  Major,  procurando  indagar  o  que  diz  respeito  á  origem  do  trafico 
de  escravos,  á  primeira  deportação  que  d'elles  se  fez  da  Africa  e  quem 
deu  origem  ao  que  hoje  (Í8G9)  se  chama  o  trafico  da  escravatura,  deu 
uma  demonstração  cabal  de  que  não  são  os  portuguezes  os  que  merecem 
censura. 

Em  um  dos  livros  mais  sympathicos  que  ultimamente  se  publicou  O 
trabalho  rural  africano  e  a  administração  colonial,  pelo  marquez  de  Sá 
da  Bandeira,  dáse  minucioso  desenvolvimento  a  tão  grave  assumpto,  to- 
mando-se  por  base  o  trabalho  de  H.  Major. 

Todos,  sem  excepção,  hespanhoes,  portuguezes,  inglezes,  francezes  e 
hollandezes.  diz  o  honrado  marquez,  consideram  o  trabalho  dosindigenas 
como  propriedade  sua.  E  obrigando-os,  pelo  modo  o  mais  cruel,  a  fazer 
serviços  acima  das  suas  forças,  d'isso  resultou,  em  muitas  regiões,  a  des- 
povoação  e  mesmo  a  exterminação  de  raças  inteiras. 

Em  1362  o  capitão  de  navios  John  Hawkuis,  nota  o  referido  marquez 
de  Sá,  referindo-se  a  um  escriptor  inglez,  que  depois  fora  thesoureiro  da 
rainha  Izabel,  partira  de  Inglaterra  para  a  Serra  Leoa  com  Ires  navios, 
em  que  embarcou  trezentos  negros,  alguns  dos  quaes  foram  capturados 
por  força,  e  levados  ás  ilhas  hespanholas,  onde  os  trocou  por  assucar. 

É,  porém,  certo  que  á  Inglaterra  cabe  a  gloria  de  sair  de  entre  seus 
filhos  o  primeiro  grito  de  liberdade  para  toda  a  humanidade  ser  comple- 
tamente livre. 

Foi  em  1773,  diz  Leroy  Beaulieu,  que  pela  primeira  vez  uma  alma 

11 


16â 

generosa  e  profundamente  chrislã,  William  Wilberforce,  então  simples  es. 
ludante  na  escola  de  Poktinglon,  escreveu  um  folheto  contra  a  escravatura. 
Em  1780  outro  espirito  elevado,  Thomás  Charkson,  propoz  no  parlamento 
a  abolição  de  tão  miserável  traflco.  Wilberforce  renovou  a  proposta  em 
1787,  e  apresenta va-a  todos  os  annos,  acabando  finalmente  por  triumphar. 

No  anno  de  181  á  foi  abolido  na  Inglaterra  este  commercio  odioso  que, 
desde  três  séculos,  deshonrava  a  civilisação  europea. 

Três  annos  mais  tarde,  no  congresso  de  Vienna,  as  nações  ali  reuni- 
das obrigaram-se  a  empregar  todos  os  esforços  para  acabar  com  o  trafico 
da  escravatura,  «altamente  reprovado  pelas  leis,  pela  religião  e  pela  na- 
tureza». 

O  que  se  tem  passado  a  este  respeito  desde  1812  até  ao  presente  não 
é  assumpto  que  possa  desenvolver-se  nos  estreitos  limites  doeste  traba- 
lho, nem  o  livro  de  Leroy  Beaulieu,  a  que  nos  referimos,  elucida  simi- 
Ihantes  questões,  sendo  completamente  omisso  a  respeito  de  Portugal. 

Cumpre-nos,  pois,  observar  que,  tendo  acompanhado  as  outras  na- 
ções quando  se  trata  da  liberdade  dos  trabalhadores  africanos,  podemos 
afoutamente  dizer  que  temos  feito  em  favor  da  civilisação  das  nossas  ter- 
ras de  Africa*  tanto  ou  mais  do  que  fizemos  em  prol  da  do  Brazil,  a  cujo 
respeito  diz  um  esclarecido  escriptor  francez : 

^  Se  tm  ou  outro  escriptor  estrangeiro  nos  faz  justiça,  a  maior  parte  d'elles 
não  se  dão  ao  trabalho  de  indagar  a  verdade,  e  são  sempre  inexactos  no  tocante  a 
cousas  portuguezas.  Referem-se  depois  aos  outros,  repetem  ou  commentam  as  in- 
exactidões divulgadas,  e  julgam-nos  mal  sem  ter  conhecimento  da  verdade  1 

Não  citámos  nomes,  nem  lembrámos  factos,  porque  isto  está  na  memoria  de  todos. 

O  movimento  colonial  que  se  iniciou  entre  nós  tem  crescido  e  alargado,  e  por 
este  modo  provámos  a  inexactidão  do  que  se  tem  escripto  a  nosso  respeito,  e  mos- 
trámos o  que  somos  e  o  que  vaiemos. 

O  silencio  é  ás  vezes  signal  precursor  do  aniquilamento  moral;  a  propaganda 
é  uma  das  bases  do  desenvolvimento  nacional,  um  dos  meios  do  progresso  das  na- 
ções e  da  humanidade. 

E,  como  elemento  de  propagaçda,  as  sessões  da  camará  dos  deputados  nos  dias 
lo,  16  e  17  de  fevereiro  do  corrente  anno  (1877),  attingiram  o  seu  fim,  fazendo  re- 
percutir em  toda  a  Europa  culta  a  justiça  que  nos  assiste,  no  modo  por  que  temos 
resolvido  a  questão  mais  sympathica  em  que  se  empenharam  as  nações  do  século 
Xi\,  e  afflrmando  mais  uma  vez  a  nossa  existência  como  nação  livre  e  independente. 

Na  impossibilidade  de  nos  alargar  em  considerações  e  á  vista  da  importância 
do  assumpto,  extractámos  um  dos  trechos  do  brilhante  discurso  do  ministro  da  ma- 
rinha e  ultramar,  referindo-se  á  parte  que  tomámos  na  extincçJk)  do  trafico  da  es- 
cravatura e  no  aniquilamento  da  escravidão. 

Eís-aqui  as  palavras  do  sr.  João  de  Andrade  Corvo : 

«Terei  que  lembrar  agora  quanto  temos  feito  em  favor  da  liberdade  dos  ne- 
gros? 

cSerá  necessário  recordar  que  quando  em  1771  se  concedia  a  liberdade  a  todo 


163 

^Le  Brésil,  cest  le  chefSwuvre  de  la  colonisation  portugaise;  et, 
bien  qu'il  ne  lui  appartienne  plus,  c'est  néanmoins  une  gloire  pour  le  Por- 
tugal que  de  Vavoir  conduit  ou  il  est  actuellement,  d'avoir  protege  son  en- 
fance  sans  1'opprifner,  et  d'avoir  su  se  séparer  de  lui  sans  haine  ni  ran- 
cune.  9 


o  escravo  que  vinha  a  Portugal,  quando  em  1773  um  alvará  declarava  livres  todos 
os  filhos  de  escravos  nascidos  em  Portugal,  e  os  considerava  hábeis  para  todos  os 
officios,  honras  e  dignidades,  sem  a  nota  distinctiva  de  libertos,  que  a  superstição 
dos  romanos  estabeleceu  nos  seus  costumes,  e  que  a  união  christã  e  a  sociedade  ci- 
vil fazem  intolerável;  ainda "Granvilie-Sharp,  em  conclusão  de  um  longo  relatório, 
dizia  dever-se  preferir  á  opinião  contraria  a  opinião  de  que  o  negro,  pelo  simples 
facto  de  vir  á  Inglaterra,  ficava  livre  ? 

«Quando  essa  opinião  se  considerava  como  preferível  em  Inglaterra,  em  Por- 
tugal era  já  lei. 

«Ninguém  se  deve  admirar,  em  vista  dos  interesses  mais  ou  menos  licites  que 
se  lhe  oppõem,  que  a  abolição  da  escravatura  encontrasse  grandes  difíiculdades  nas 
colónias  portuguezas. 

«Pois  não  nos  lembram,  os  que  trabalhamos  pela  extincção  do  trafico,  que  em 
1794  se  apresentou  á  camará  dos  communs  o  bill  da  abolição  do  trafico,  e  só  em 
1807  foi  elle  convertido  em  lei? 

«Pois  não  sabem  todos  que,  depois  de  abolido  o  trafico,  a  abolição  da  escravi- 
dão teve  logar  nos  domínios  britannicos  passados  vinte  e  seis  annos  ? 

«Não  se  recordam  todos  das  enormes  resistências  que  encontrou  a  applicação 
d'essa  lei  benéfica? 

«Ha  muito  que  nós  trabalhámos  para  pôr  termo  a  esse  crime  que  envergonha 
a  humanidade. 

«Já  antes  do  tratado  de  1842,  que  muita  gente  suppõe  ter  vindo  acabar  com  o 
trafico  no  território  portuguez,  o  marquez  de  Sá  da  Bandeira,  de  veneranda  memo- 
ria, tinha,  n'um  decreto  de  dictadura,  abolido  o  trafico  da  escravatura  em  toda  a 
monarchia  portugueza. 

«O  tratado  de  1842  não  fez  senão  confirmar  n'um  pacto  internacional  o  que 
era  lei  em  Portugal. 

.  «Desde  este  periodo,  o  trafico  clandestino  tem  ido  successi vãmente  acabando 
nas  possessões  portuguezas.  Abolid^  a  escravatura,  téem  hoje  desapparecido  os  úl- 
timos vestígios  d'ella. 

«Podemos  dizer  com  ufania,  que  em  terra  portugueza  não  ha  senão  homens 
livres. 

«E  não  homens  livres  constituindo  uma  casta  desconsiderada,  como  em  outras 
partes  succede,  mas  homens  livres  que  são  cidadãos  como  nós. 

«E  é  velha  esta  maneira  de  pensar  entre  nós.  Basta  lembrar  as  palavras  do  al- 
vará de  1773,  que  ha  pouco  citei. 

«O  que  dizia  então  o  ms^rquez  de  Pombal,  é  a  nossa  doutrina  á(i  hoje.  Perante 
a  lei  os  cidadãos  portuguezes  são  iguacs,  qualquer  que  seja  a  sua  origem,  quer  se- 
jam filhos  de  antigos  escravos,  quer  sejam  filhos  de  homens  livres. 

«Todos  são  cidadãos,  todos  téem  iguaes  direitos  perantt;  a  lei  fundamental  do 
estado. 


164 

Podem  os  escriptores  inglezes  recordar  os  serviços  por  elles  prestados 
á  causa  da  liberdade,  maravilhoso  astro  que  illumina  toda  a  família  hu- 
mana; mas  na  própria  Inglaterra,  onde  se  levantou  uma  voz  animada  por 
um  coração  magnânimo,  condemnando  a  caça  do  homem  pelo  homem, 
appareceu  um  philosopho  naturalista,  que  não  duvidou  marcar-nos  uma 
vida  como  a  dos  animaes,  asseverando  que  as  espécies  vegelaes  e  animaes 
descendem  todas  por  via  de  transformações  successivas  de  três  ou  quatro 
typos  primitivos  ou  talvez  de  um  único  typo, 

D'esle  modo  nivelam-se  os  differentes  seres  creados,  apaga-se  toda 
a  idéa  da  religião  e  destroe-se  todo  o  sentimento  moral  I  E  se  por  este  lado  é 
condemnavel  similhanle  doutrina,  não  o  é  menos  por  dividir  a  familia  hu- 
mana, dando-se  aos  pretos  uma  origem  diversa  da  dos  brancos,  admittin- 
do-se  a  creação  espontânea  e  coUocando-se  os  homens  a  par  dos  animaes. 

As  idéas  de  Wilberforce,  em  presença  dos  prihcipios  de  Darwin,  seriam 
egoistas,  poisque  se  todos  somos  animaes,  não  devemos  querer  para  nós 
o  que  negámos  aos  outros.  Se  a  origem  é  a  mesma  para  todos  os  entes  do 
universo,  se  os  homens  da  actualidade  tiveram  por  antepassados  alguns 
macacos,  ou  se  são  formados  como  a  agua,  originados  como  stalactites,  ou 
creados  como  as  arvores,  d'onde  vem  a  idéa  do  bello,  a  idéa  do  inQnito  e  o 
desejo  de  explorar  a  terra,  examinar  o  ar  e  adquirir  nome  glorioso!?. . . 

As  forças  physicas  não  dão  uns  productos  mais  nobres  do  que  os  ou- 
tros, e  se  á  creação  dos  seres  do  universo  presidiu  a  mesma  força  incon- 
sciente, como  se  explica  a  consciência  que  domina  a  humanidade?!... 
O  que  significa  entãD  o  amor  da  pátria  e  o  desejo  de  engrandecimento  mo- 
ral?. . .  E  com  que  direito  se  proclama  a  superioridade  de  uns  seres,  obri- 
gando-se  outros  á  escravidão  ou  matando-os  para  nos  servirem  de  ali- 
mento?... 

Perante  os  princípios  de  Darwin,  os  pretos,  os  brancos,  os  cobreados 
merecem  a  liberdade  tanto  como  os  bois,  os  elephantes,  os  cavallos  e  ou- 
tros animaes  que  nós  obrigámos  ao  trabalho  forçado. 

O  que  desde  já  devemos  aflirmar  é  que  estas  idéas  não  podem  ser  ad- 
mittidas;  em  theoria  expõe-se  muitas  vezes  o  que  na  pratica  se  rejeita. 

«Pôde,  porventura,  ser  justamenle  accusada  de  praticar,  ou  mesmo  de  proteger 
a  escravatura,  uma  nação  que  pensa,  sente  e  legisla  por  esta  forma? 

•  Satisfazendo  aos  desejos  da  narào,  está  o  governo  resolvido  a  reprimir  ener^ 
gicamente  lodos  os  actos  que  possam  de  perlo  ou  de  longe  oííender  a  lei  que  deu 
inteira  e  absoluta  liberdade  a  lodos  os  súbditos  porluguczes  no  território  de  Africa; 
a  não  consentir  que  nenhum  homem  possa  ser  sujeito  a  servidão  dentro  dos  limi- 
tes do  nosso  território. 

«Por  actos  successivos,  foram  o  governo  e  o  parlamento  apressando  o  momento 
de  acabar  de  vez  com  a  servidão  nas  nossas  colónias^  não  Ibe  importando  interes- 
ses oíTendidos,  nem  mal  cabidas  queixas.» 


Este  assumpto  momeotoso  será  discutido,  como  temos  dito,  mais 
adiante.  Recordâmol-o  aqui  por  incidente,  porque  nos  causa  assombro  o 
que  se  passa  na  famosa  Inglaterra  com  os  seus  colonos  ecom  os  seus  sá- 
bios e  philosophos. 

É  uma  nação  excepcional  e  que  nao  se  comprehende  á  primeira  vista. 
Merece  certamente  ser  estudada  sob  differentes  pontos,  mas  nâo  o  pode- 
mos fazer  n'este  livro,  onde  apenas  pretendemos  mostrar  a  importância 
das  nossas  colónias  em  relação  ás  das  outras  nações,  sendo  este  o  objecto 
principal  do  presente  capitulo. 

Limitámos,  pois,  as  nossas  considerações  ao  que  se  acha  exposto,  e 
passámos  a  dar  uma  breve  noticia  das  possessões  inglezas,  a  fim  de  as  po- 
dermos comparar  com  as  de  outros  paizes  europeus. 

As  colónias  inglezas  nas  cinco  partes  do  mundo  têem  20.695:079  ki- 
lometros  quadrados  de  superScie  assim  dividida : 

America 9.507:466 

Oceania 7.993:757 

Ásia 2.418:744 

Africa 674:737 

Europa 375 

Não  é  fácil,  decerto,  fazer  a  descripção  de  tão  variadas  quonto  exten- 
sas possessões,  mas  tomaremos  um  ou  outro  ponto  para  servir  de  termo 
de  comparação,  e  mostrarmos  a  importância  de  cada  região  colonial. 

Deveríamos  começar  pelo  território  que  a  Inglaterra  possue  na  Afri- 
ca, por  ser  aquelle  que  mais  nos  importa  conhecer;  mas  seguiremos  a  or- 
dem por  que  as  deixámos  inscríptas,  dando  comtudo  mais  algum  desen- 
volvimento ás  colónias  africanas. 

As  possessões  inglezas  da  Aríierica  téem  uma  disposição  especial  que 
é  indispensável  toipar  em  consideração,  quando  se  trata  de  as  descrever. 

Estendem-se  do  parallelo  tirado  3^  40'  até  alem  do  52°.  Portão  larga 
zona  encontram-se  muitas  ilhas,  largos  territórios  continentaes  e  climas 
variadíssimos. 

Os  maiores  territórios  são  os  do  Canadá,  Guyana,  Terra  Nova,  Hon- 
dura',  das  ilhas  de  Bahama  e  Jamaica,  sendo  a  Guyana  o  único  paiz  equa- 
torial propriamente  dito. 

A  possessão  do  Canadá  è  completamente  extra  tropical,  e  nenhuma 
das  nossas  colónias  se  acha  n'estas  condições.  Não  é  portanto  um  paiz 
que  mais  nos  importa  conhecer.  E  preciso  dizer  também  que  esta  im- 
mensa  região,  maior  que  todo  o  império  do  Brazil,  está  collocada  mais 
ao  N.  do  que  Portugal,  Qcando  quasi  dentro  da  mesma  zona  da  França. 


166 

Tem  por  limites  ao  N.  o  oceano  glacial  árctico,  ao  S.  os  Estados  Uni- 
dos, a  E.  fica-lhe  o  oceano  Atlântico,  e  a  O.  o  mar  Paciflco. 

O  domínio  ou  possessão  do  Canadá  tem  9.099:141  kilometros  qua- 
drados, sendo  a  sua  população  assim  classificada : 

Inglezes 2.102:729 

Francezes 1.082:940 

Allemães 202:991 

Neerlandezes 29:662 

Gaulezes 7:773 

Suissos. 2:962 

Scandinavos 1:623 

Italianos 1:035 

Negros , 21:496 

índios 23:035 

Diversas  nacionalidades 1:954 

De  origem  desconhecida 7:561 

Somma 3.485:761 

Estas  estatísticas  servem  para  dar  uma  idéa  approximada  da  popula- 
ção de  tal  paiz.  Referem-se  apenas  ao  movimento  gefal  dos  habitantes,  e 
não  têem  o  desenvolvimento  que  apresentam  as  da  ilha  de  S.  Thomé,  pois 
tf  estas  não  só  tratamos  do  mo\imento  geral,  mas  também  dos  nascimen- 
tos, óbitos,  população  ambulante,  etc. 

Pelo  que  diz  respeito  aos  habitantes  da  possessão  do  Canadá,  cum- 
pre-nos  notar  que  os  negros  entram  na  proporção  de  1  por  162  habitan- 
tes, facto  que  importa  registar,  attenta  a  latitude  em  que  está  esta  região. 

A  seguinte  estatística  mostra  a  relação  em  que  se  acham  os  habitan- 
tes, segundo  as  respectivas  nacionalidades. 

/para  os  italianos 3:367  1 1 

para  os  scandinavos 2:147  ;  1 

para  diversas  nacionalidades.. .  1:783  1 1 

para  os  suissos 1:176  ;  1 

para  os  de  origem  desconhecida     461  : 1 

Ipara  os  gaulezes 448  ;  1 

Relação  da  população  geral  Lg^^  ^^  ^^^^^^ ^g2  .  , 

para  os  Índios 151  ;1 

para  os  neerlandezes 11711 

para  os  allemães 17  1 1 

para  os  francezes 3,2  ;  1 

para  os  inglezes 1,6  .*  1 


1G7 

É  preciso,  porém,  allender  a  que,  quando  a  Inglaterra  se  apossou  do 
Canadá,  já  ali  havia  um  núcleo  de  população,  representado  por  60:000 
habitantes,  que  se  entregavam  a  diversas  culturas. 

A  França,  em  1608,  entrou  n'este  vasto  território,  e  deu-lhe  o  nome 
de  Nova  França;  lançou  então  os  fundamentos  de  Quebec,  capital  da  coló- 
nia, que  conservou  por  espaço  de  cento  e  cincoenla  annos.  Depois  da  pro- 
longada guerra  de  1 763,  passou  para  a  Inglaterra,  em  poder  da  qual  existe. 

Nâo  nos  deve  portanto  admirar  o  prodigioso  augmento  da  população 
do  Canadá.  As  guerras  que  ali  houve  por  tantos  annos  promoveram  gran- 
de immigração.  Os  soldados,  alem  d'isso,  habituaram-se  ao  cUma,  e  de- 
pois da  guerra  pediam  terrenos  e  n3o  se  retiravam  da  colónia. 

O  território  do  Canadá,  finalmente,  está  para  a  Inglaterra  como  o  ter- 
ritório da  Rússia  asiática  para  o  império  da  Rússia.  S3o  regiões  de  climas 
quasi  idênticos  aos  das  metrópoles,  e  devem  comparar-se  entre  si  e  nâo 
com  as  zonas  tropico-equaloriaes  a  que  principalmente  nos  referimos. 

O  dominio  da  Inglaterra  na  Ásia  occupa  uma  larga  extensão  e  é  mais 
limitado  que  o  da  America;  abrange  localidades  dentro  da  zona  equato- 
rial propriamente  dita,  ficando  as  mais  importantes  na  região  tropical. 

É  notável  esta  distriburção  das  colónias  collocadas  na  mesma  parte  do 
globo,  poisque  os  navios  inglezes  se  podem  demorar  sob  uma  zona  equa- 
torial ou  tropical  á  vontade.  É  immenso  o  movimento  commercial  e  são 
moitas  as  cidades  marítimas  e  não  menos  as  continentaes,  achando-se  to- 
das muito  povoadas  e  ostentando  riquezas  deslumbrantes. 

O  Indo  e  o  Ganges  correm  em  território  inglez,  e  da  ilha  de  Ceylão  ás 
nascentes  de  um  e  de  Singapura  ás  do  outro,  ha  climas  variados,  cidades 
notáveis  6  vastos  territórios,  formando  tudo  um  grandissimo  império,  notá- 
vel pela  sua  riqueza  material  e  sob  o  ponto  de  vista  ethnographico.  Estão  em 
presença  um  do  outro  dois  ramos  da  família  humana,  a  raça  anglo-saxonia 
e  a  raça  asiática,  junto  ás  quaes  se  apresentam  outras  não  menos  notáveis. 

Em  1871-1872  havia  na  índia  a  seguinte  estupenda  população : 

Hindus 149.130:185 

Mahometanos 40.227:552 

Diversos  asiáticos 540:989 

Origem  mixta 108:402 

Inglezes 75:734 

Diversos  europeus 8:000 

Europeus  não  classificados 30:453 

Americanos,  africanos,  etc 6:961 

De  origem  desconhecida 434:772 

Total 190.563:048 


168 

A  relação  d'estes  habitantes  entre  si  é  a  seguinte :    * 

Hindus i,2:i 

Mahometanos 4  : 1 

Diversos  asiáticos 352  ;  1 

Origem  mixta 1:757  ;  1 

Inglezes 2:516  : 1 

Diversos  europeus 23:820 :  1 

Europeus  não  classificados 6:257  : 1 

Americanos,  africanos,  etc 27:375  .'  i 

De  origem  desconhecida 438  : 1 

Não  tentámos  apreciar  as  ondulações  d'esta  immensa  poputação,  cuja 
evolução  rápida  tem  sido  vertiginosa. 

Eis-aqui  os  resultados  mais  geralmente  admittidos : 


Annos 

Habitantes 

AugmeDto 

1850 

123.931:369 
143.271:210 
151.146:516 

19.339:841 
7.875:306 

1861 

1870 

I 


o  recenseamento  de  1871-1872  eleva  o  numero  de  habitantes,  como 
vimos,  a  190.563:048,  o  que  mostra  a  diíBculdade  de  se  proceder  a  mi- 
nuciosas investigações  para  se  apurar  a  verdade  sobre  a  origem  de  tão 
considerável  população,  e  conhecer  o  seu  movimento  em  tão  extenso  paiz. 

O  que  se  vê,  todavia,  é  que  a  população  da  índia  augmentà  de  um 
modo  assombroso. 

As  cidades  mais  importantes  são  Calcuttá,  Bombaim,  Madrasta,  Lu- 
cknow,  Benares,  Patna,  Delhi,  Agra,  Allahadah,  Bangalore,  etc. 

Não  podemos,  todavia,  fallar  d'este  novo  império  britannico,  sem  re- 
lembrar que  d'elle  nos  pertenceu  uma  grande  parte.  Malaca,  Ceylão,  Bom- 
baim e  outros  logares,  onde  domina  hoje  a  soberba  Albion,  fizeram  parte 
das  nossas  possessões  da  índia. 

Se  a  Hollanda  formou  o  seu  império  do  Oriente  sobre  possessões  que 
foram  portuguezas,  a  Inglaterra  entrou  na  índia  pelas  terras  que  também 
eram  nossas. 

Para  se  avaliar  a  enorme  perda  que  soíTremos,  basta  dizer  que  a  su- 
perflcie  dos  territórios  que  deixámos  em  poder  da  Inglaterra,  é  4,3  vezes 
maior  que  Portugal ! 


169 

Na  Oceania  possue  a  Inglaterra  a  maior  ilha  do  mundo.  Pretendem  al- 
guns geographos  que  se  lhe  dé  o  nome  de  continente,  mas  nao  ha  rasão 
que  justifique  tal  denominação. 

É,  porém,  certo  que,  se  for  exacta  a  superfície  que  lhe  attribuera  al- 
guns escriplores*,  esta  ilha  approxima-se,  em  grandeza,  muito  mais  dos 
continentes  que  das  ilhas  de  primeira  ordem.  É  mister,  todavia,  referir 
outra  circumstancia  que  nos  leva  a  classificar  a  Austrália  entre  as  ilhas  e 
nâo  entre  os  continentes. 

Como  é  sabido,  a  Europa  está  unida  á  Ásia,  que  actualmente  se  acha 
separada  da  Africa  por  um  simples  canal. 

A  America  do  Norte  alem,  de  ser  um  grande  território  une-se  á  Ame- 
rica do  Sul  pelo  estreito  de  Panamá,  e  nunca  deixaria  de  ser  contada  como 
um  continente.  O  que  é  certo  é  que  aindaque  se  admitta  como  verdadei- 
ra a  superScie  maior  que  se  tem  attribuido  á  Austrália,  é  ella  comtudo 
inferior  á  do  mais  pequeno  continente,  como  é  fácil  observar: 

Kilom.  quad. 

Asia 45.685:920 

America 38.000:000 

Africa 29.700:000 

Europa 9.600:000 

Austrália 7.627:827 

A  superfície  da  Europa  excede,  pois,  a  de  Austrália  em  (.972:173  ki- 
lometros  quadrados. 

A  comparação  com  as  differentes  ilhas  de  primeira  ordem  pôde  ava- 
liar-se  também  do  modo  seguinte : 


Designação 

Superficie 
Kilomelros 

Popnlação 

Austrália 

7.627:827 
735:000 
675:000 
470:000 
275:200 
190:000 
176:752 
118:220 

1.838:328 

3.500:00(» 

400:000 

600:000 

345:000. 

3.000:000 

13.380:268 

Mddâirascâr 

Borneo 

Sumatra • 

Novâ  Zelândia 

Celebes 

Nova  Guiné 

Java  e  Madura 

1  No  diccionarío  de  Larousse  calcala-se  a  superfície  em  4.827:000  kilometros 
quadrados.  Referimos  o  calculo  admittido  no  annuario  estatistico  de  Gotba. 


170 

  superScie  da  Austrália  excede,  pois,  a  ilha  que  lhe  é  immedia- 
tamente  inferior  em  6.892:287  kilometros  quadrados. 

Considere-se,  porém,  como  um  continente  ou  como  uma  ilha,  será 
sempre  um  território  digno  de  se  estudar.  Pertence  actualmente  á  Ingla- 
terra, e  a  sua  colonisação  é  uma  das  maiores  maravilhas  do  século  xix. 

A  Austrália  é  um  paiz  puramente  tropical,  isto  é,  fica  debaixo  do  tró- 
pico austral,  de  modo  que  n'esta  tão  extensa  região  ha  o  clima  tropical 
quente,  o  tropical  propriamente  dito  e  o  clima  tropical  temperado.  Alem 
doestes  climas  geraes,  ha  outros  segundo  as  diversas  altitudes,  a  maior  ou 
menor  proximidade  da  costa,  etc. 

Divide-se  esta  ímmensa  ilha  em  differentes  districtos;  a  saber:  Nova 
Galles  do  Sul,  Victoria,  Austrália  meridional,  Queensland,  Austrália  Occi- 
dental e  território  do  norte. 

A  população  acha-se  classificada  do  modo  seguinte : 


Nova  Galles  do  Sul 

Victoria 

Aastralia  do  Sul. 

Austrália  occidental •, 

Queensland , 


Sexo 
masculino 

Sexo 
femioino 

275:551 

228:430 

400:252 

329:402 

95:408 

90:218 

15:476 

9:610 

65:629 

45:938 

856:316 

703:598 

503:981 
729:654 
185:626 
25:086 
115:567 


1.559:914 


O  augmento  de  população  pôde  calcular-se,  termo  médio,  em  100:000 
pessoas  por  anno.  Não  se  encontra  de  certo  outro  exemplo  no  mundo,  o 
que  torna  bem  evidente  a  possibilidade  da  aclimação  sob  os  trópicos;  e  de 
passagem  devemos  observar  que  a  nossa  província  de  Moçambique  fica 
pela  mesma  latitude  da  Austrália,  estando  entre  uma  e  outra  região  o 
mar  da  índia. 

A  colonisação  da  Austrália,  finalmente,  divide-se  em  três  períodos 
tanto  mais  limitados  quanto  mais  importantes. 

O  primeiro  estende-se  desde  1788  até  1830;  abrange  por  conseguinte 
quarenta  e  dois  annos. 

N'este  período  foi  diminuta  a  população  livre.  Fazia-se  para  a  Aus- 
trália a  deportação,  podendo  ella  ser  considerada  como  uma  colónia  peni- 
tenciaria ou  terra  de  degredados. 

O  segundo  período  vae  desde  1830  até  1851,  e  torna-se  notável  pela 
venda  das  terras  e  pela  emigração  subsidiada. 


171 

O  terceiro  começa  em  1851  e  chega  até  ao  presente.  Distingue-se  pela 
descoberta  das  mioas  de  oiro  e  pela  emigração  espontânea. 

Poucas  nações  poderão  altingir  o  grau  de  grandeza  colonial  a  que  che- 
gou a  portentosa  Albion. 

O  domínio  na  immensa  região  do  Canadá  na  America  do  Norte,  no 
Indostão  e  na  maior  ilha  conhecida,  parece  que  não  satisfaz  a  ambição  do 
maior  colosso  colonial.  Não  se  contenta  com  os  vastos  territórios  do  novo 
e  novíssimo  mundo,  e  quer  ajuntar  mais  alguma  cousa  ao  que  já  possua 
em  Africa. 

As  colónias  inglezas,  cuja  superfície  é  duas  vezes  maior  que  a  da  Eu- 
ropa, augmentam-se  ainda  com  uma  possessão  africana,  isto  é,  com  o  ter- 
ritório do  Cabo  de  Boa  Esperança. 

Contam-se  maravilhas  da  sua  colonisação,  dizendo-se  que  as  terras  da 
Africa  austral  não  cedem  em  posição  e  bondade  do  clima  ás  melhores  da 
Europa.  Diz-se  que  a  colónia  ingleza  do  Cabo  é  uma  das  terras  mais  favo- 
ráveis do  globo. 

O  território  do  Cabo  de  Boa  Esperança  passou  dos  portuguezes  para 
os  hollandezes  em  1600,  que  a  seu  turno  o  perderam. 

Os  portuguezes  distrahidos  com  as  descobertas  da  índia  e  America  es- 
queceram-se  d'aqueHa  importante  região.  Moslraram-na  ao  mundo,  per- 
correram-na,  mas  não  lhe  deram  a  devida  importância. 

Os  hollandezes  dominaram  ali  por  duzentos  e  quatorze  annos,  e  ha- 
viam promovido  uma  larga  emigração,  de  modo  que  os  inglezes,  ao  to- 
mar conta  da  colónia,  encontraram  já  crescido  numero  de  habitantes. 

Á  colónia  do  Cabo  prende-se,  pois,  a  historia  do  movimento  sempre 
expansivo  dos  colonos  hollandezes,  conhecidos  pelo  nome  de  Boers,  de- 
vendo considerar-se  como  os  primeiros  colonos  do  século  xix.  Estes  po- 
vos, diz  um  escriptor  francez,  que  conservam  em  toda  a  sua  força  a  origi- 
nalidade nacional,  não  só  fundaram  alguns  estados  independentes,  mas 
téem  sustentado  uma  corrente  permanente  de  emigração  da  Hollanda 
para  a  região  que  occupam. 

Os  inglezes,  pela  sua  parte,  trataram  também  de  promover  para  o 
território  conquistado  a  aflluencia  de  emigração,  que  a  principio  não  foi 
coroada  de  bom  resultado. 

Não  devemos  terminar  estas  breves  considerações  sem  dizer  mais  al- 
gumas palavras,  não  só  a  respeito  da  colónia  ingleza  do  Cabo,  á  qual  per- 
tence o  território  do  Porto  Natal,  mas  também  acerca  do  estado  livre  de 
Orange  e  da  republica  dos  Boers  ou  do  Transvaal,  nome  por  que  é  co- 
nhecida. Deveríamos  talvez  occupar-nos  d'esle  ultimo  estado  ao  indi- 
car os  limites  meridionaes  da  nossa  província  de  Moçambique;  mas  dá-se 
uma  circumstancia  importante  que  é  preciso  não  esquecer.  Os  habitantes 


\ 


da  republica  do  Transvaal  saíram  da  colónia  do  Cabo  de  Boa  Esperança  e 
approximaram-se  de  uma  região  tropical,  havendo  passado  da  Europa  para 
o  extremo  da  Africa,  onde  se  estabeleceram,  entregando-se  a  diflferentes 
culturas  e  á  creaçâo  de  gado  lanigero.  Estas  condições  especiaes  de  vida  e 
de  clima  facilitaram-lhes  nova  mudança  de  território,  e  justificam  o  bom 
resultado  que  elles  têem  alcançado. 

A  colonisaçao  do  território  do  Cabo,  como  dissemos,  foi  tentada  por 
muitas  vezes  com  resultado  desfavorável. 

Não  servia  de  estimulo  o  transporte  gratuito,  nuo  só  de  militares  mas 
das  suas  mulheres  e  filhos.  ía  mais  longe  a  liberalidade.  Davam-se-lhes 
alimentos  á  custa  do  estado  ou  o  equivalente  para  o  consumo  de  um  anno. 
Admilliam-se  como  passageiras  do  estado  as  mulheres  que  eram  pedidas 
em  casamento.  Se  eram  vantajosas  estas  condições,  acresciam  outras  não 
menos  importantes,  referentes  aos  terrenos  para  a  construcção  de  casa  e 
para  jardim,  isenção  dos  impostos  por  sete  annos,  etc. 

Houve  todavia  completa  deserção  no  fim  de  algum  tempo ;  mas  não  foi 
isso  motivo  bastante  para  se  desistir  do  emprehendimento  que  se  dese- 
java realisar. 

Os  Boers  ou  agricultores  primitivos  julgaram-se  também  lesados  e 
afastaram-se  do  território  inglez,  estabelecendo-se  na  região  denominada 
Porto  Natal,  e  lançando  em  seguida  os  fundamentos  de  outras  nações  im- 
portantes, de  que  daremos  também  uma  breve  noticia. 

Porto  Natal. — A  colónia  denominada  Natal  fica  na  costa  oriental  da 
Africa,  mas  para  o  S.  de  Lourenço  Marques. 

Conserva  ainda  o  nome  que  lhe  deram  no  dia  em  que  foi  descoberta 
pelos  nossos  incansáveis  nautas. 

Pertence  hoje  á  Inglaterra,  tendo  na  frente  o  oceano  indico,  do  N.  e 
S.  a  Cafraria  e  para  o  interior  limita  com  a  republica  de  Orange,  de  que 
se  acha  separada  pela  serra  Drakensberg. 

Calcula-se  a  população  especifica  d'esta  colónia  em  6,2  habitantes  por 
kilometro  quadrado.  É  um  paiz  tropical  temperado.  Contam-se  ali  cerca 
de  i  7:000  europeus  e  mais  de  180:000  africanos. 

O  território  do  Porto  Natal  foi  colonisado  pelos  Boers  hollandezes,  que 
para  ali  foram  quando  abandonaram  a  colónia  do  Cabo,  pouco  depois 
dos  inglezes  se  apossarem  d'ella.  Levaram  suas  riquezas,  que  consistiam 
principalmente  em  gados,  e  escolheram  alguns  valles  áquem  d'aquelle 
território. 

Em  4838  vários  dos  chefes,  acompanhados  de  umas  poucas  de  deze- 
nas de  cultivadores,  passaram  a  serra  que  lhe  fica  a  O.  a  fim  de  se  appro- 
ximarem  do  Porto  Natal.  Acolhidos  pelos  indígenas  com  benevolência, 


173 

foram  pouco  tempo  depois  muitos  d'elles  mortos  à  traição.  Por  fim  o  ata- 
que era  geral  e  conlavam-se  numerosas  victimas.  Mas  aquella  raça  apu- 
rada DOS  trabalhos  do  campo  não  desanimou,  e  sustentou  a  lucta  com  te- 
nacidade, ficando,  em  1839,  senhora  do  terreno. 

Não  durou,  porém,  a  sua  satisfação  por  muitos  mezes.  Os  inglezes  não 
reconheceram  o  novo  estado.  Os  Boers  viram-se,  pois,  obrigados  a  sus- 
tentar nova  lucta,  e  tiveram  de  ceder  ao  numero. 

Em  1845  foi  declarada  ingleza  a  colónia  do  Porto  Natal,  e  os  cultiva- 
dores hollandezes  deixaram  aquelle  território,  e  lançaram  os  fundamentos 
da  republica  de  Orange  e  do  Transvaal. 

Estado  li? re  ou  republica  do  rio  Orange.  —  É  um  estado  de  data  muito  re- 
cente, creado  pelos  esforços  dos  colonos  mais  arrojados  e  emprehendedo- 
res  do  século  actual. 

Como  vimos,  depois  que  a  Inglaterra  se  apoderou  do  território  do 
Porto  Natal,  os  Boers  abandonaram  aquella  região  e  foram  eslabelecer-se 
junto  ao  rio  Orange,  que  deu  o  nome  á  povoação.  Fica-lhe  a  0.  uma  po- 
voação indigena  denominada  de  Bassulos,  e  ao  N.  a  republica  do  Trans- 
vaal, correndo  n'este  sitio  o  rio  Vaal  que  deu  também  o  nome  á  segunda 
povoação. 

Para  o  NE.  fica  o  tçrrilorio  do  Porto  Natal,  separado  pela  serra  deno- 
minada Drakensberg  *,  a  que  já  nos  temos  referido. 

O  estado  livre  de  Orange  tornou-se  independente  a  23  de  fevereiro 
de  1854,  julgando-se  a  Inglaterra,  até  essa  epocha,  com  direito  á  sobera- 
nia da  maior  parte  do  território  occupado  pelos  Boers. 

A  superficie  doeste  novo  paiz  é  avaliada  por  uns  em  H  0:000  kilome- 
tros  quadrados  e  por  outros  em  14:260.  A  dilferença  é  realmente  enorme, 
mas  esta  desharmonia  encontra-se  muitas  vezes  a  respeito  de  taes  cálculos. 

A  população  também  tem  sido  calculada  de  differente  modo,  e,  a 
dar-se  credito  a  algumas  estalisticas,  a  raça  branca  é  representada  por 
45:000  almas  e  a  indigena  por  200:000.  Ha,  porém,  outros  escriptores  que 
calculam  a  população  em  15:000  brancos  e  10:000  homens  de  côr,  não 
elevando  o  numero  de  habitantes,  incluindo  osindigenas,  amaisde50:000. 

N'esta  incerteza  de  dados  estatísticos  não  formulámos  as  conclusões 
que  deveríamos  fazer  acerca  da  aclimação  e  população  especifica. 

^  Pertence  á  cordilheira  que  se  levanta  próximo  á  cosia  oriental  da  Africa, 
dobrado  o  Cabo  de  Boa  Esperança,  e  segue  quasi  parallela  á  costa,  tomando  diffe- 
rentes  nomes  segundo  os  paizes  que  atravessa.  * ' 

Entre  a  colónia  do  Porto  Natal  e  a  republica  de  Orange  denomina-se,  segundo 
alguns  escriptores,  Drakensbergs,  e  entre  o  dístricto  de  Lourenço  Marques  e  a  re- 
publica de  Transvaal,  recebe  o  nome  de  Libombo. 


174 

Para  se  tratar  doestes  assumptos  com  vantagem  é  indispensável  haver 
estatísticas  minuciosas  e  feitas  com  todo  o  escrúpulo. 

O  commercio  d'este  paiz  consiste  principalmente  em  lã,  e  exportam-se 
também  pennas  de  abestruz  e  couros.  E  como  n3o  tem  porto  de  mar,  to- 
dos os  seus  productos  são  levados,  não  só  ás  colónias  do  Cabo  e  do  Porto 
Natal,  mas  também  ao  Transvaal  ou  republica  do  S.  da  África. 

Republica  do  Transvaal. — Esta  republica  estende-se  de  22°  30'  até  28'  de 
latitude  S.,  entre  24^  e  29°  30'  de  longitude  do  meridiano  de  Paris.  Os 
seus  limites  são,  do  lado  oriental,  os  districtos  de  liOurenço  Marques  e 
Inhambane  e  differentes  tribus  dos  cafres  chamados  Zulus,  ficando  de 
permeio  a  elevada  serra  de  Lobombo*. 

Ao  S.  está  o  rio  denominado  Vaal-River,  que  estabelece  a  divisão  en- 
tre esta  republica  e  a  de  Orange. 

0  que,  porém,  é  notável  é  não  se  referirem  no  diccionario  de  Larous- 
se,  publicado  em  1876,  os  limites  da  republica  do  Transvaal  e  os  do  nosso 
dislricto  de  Lourenço  Marques^.  Não  fanamos  este  reparo  se  alem  d'isso 
não  estivessem  ali  escriptas  as  seguintes  palavras: 

«  Le  Limpasso  ^,  avec  ses  diverses  affluents,  forme  les  limites  du  N.  et 
de  VO,  et  établit  une  ligne  de  démarcation  avec  les  tribus  puissantes  des 
chefs  Mosilikatze-Sechommo,  Sicheli  et  Mahura.  ^u  surplus^  dans  les  di- 
rections  du  N.  et  de  VO.,  le  gouvernement  du  Transvaal  ne  reconnait 
pas  de  limites  proprement  dites. i^ 

Admira-nos  que  se  não  procurassem  informações  para  restabelecer  os 
verdadeiros  limites  da  republica  do  Transvaal  com  o  nosso  districto  de 
Lourenço  Marques,  que,  como  diz  o  visconde  de  Paiva  Manso,  é  limitado 
ao  S.  e  0.  por  uma  linha  que,  tirada  de  26°  30'  de  latitude  S.,  vae  em  re- 
cta para  0.  para  a^  montanhas  do  Libombo,  segue  pelo  cume  doestas  até 
ao  passo  do  rio  Comati^  d'ali  para  o  NNE.  ao  monte  Pokioenieskop  ao  N. 
do  rio  Oliphant,  e  d'elle  para  NNO.  até  junto  á  serra  do  Chicundo,  onde 
conflue  o  rio  Matjatsies  com  o  Umbovo,  e  d*ahi  em  recta  até  á  juncçâo 
dos  rios  Paforis  e  Limpopo. 

Vé-se,  pois,  que  o  nosso  districto  de  Lourenço  Marques  confina  do 

1  Os  limites  que  se  designam  no  diccionario  de  Larousse  não  são  verdadeiros. 
A  colónia  do  Natal  não  fica  ao  oriente  da  republica  de  Transvaal,  como  ali  se  diz. 

2  Procurámos  respeitar  tanto  quanto  é  possivel  a  orthographia  dos  nomes  geo- 
graphicos,  mas  os  francezes,  sem  rasão  plausível,  escrevem  Lorenzo  Marquez  em  vez 
de  Lourenço  Marques,  Mozambique  em  logar  de  Moçambique  I 

3  É  certamente  o  rio  Limpopo,  havendo  talvez  um  lapso  typographico  no  modo 
de  escrever  tal  palavra. 

*  Os  indiginas  chamam  Incomati  ao  rio  de  que  se  trata. 


175 

lado  Occidental  com  a  republica  dos  Boers,  a  qual,  ao  contrario  do  que  se 
assevera  no  díccionario  de  Larousse,  nao  tem  uma  superflcie  illimitada 
da  parle  do  N.  À  este  rumo,  da  margem  boreal  do  rio  Limpopo  para 
cima,  fica  uma  grande  povoação  indigena,  cujo  chefe  tem  o  nome  de  Me- 
siricasse*.  Forma  uma  republica,  que  delimita  com  o  nosso  território, 
mas  cujas  fronteiras  nao  estão  ainda  definidas,  devendo  comtudo  mar- 
car-se  por  uma  linha  recta,  que,  partindo  da  confluência  do  rio  Paforis 
com  o  Limpopo,  vá  terminar  no  Zumbo,  em  que  temos  antigo  dominio  e 
posse. 

Não  desceríamos  a  estas  minuciosidades  se  não  reconhecêssemos  que 
se  acha  dado  um  grande  impulso  á  colonisação  de  Àfríca,  e  que  é  indis- 
pensável fazermos  reconhecer  os  direitos  que  temos  aos  territórios  que 
desde  muito  tempo  occupâmos,  e  mostrar  que  lhes  podemos  levar  o  pro- 
gresso material  e  moral,  como  qualquer  das  outras  nações  da  Europa. 

As  nossas  relações  com  os  Boers  têem-se  estreitado  nos  últimos  tem- 
pos de  um  modo  muito  vantajoso  para  a  civilisação  e  progresso  da  Africa 
austral. 

Cumpre-nos  lembrar  o  tratado  de  commercio  entre  Portugal  e  a 
republica  da  Africa  meridional.  Indicam-se  ali  as  bases  para  se  fazer  um  ca- 
minho de  ferro,  que  parta  do  porto  de  Lourenço  Marques,  ou  de  um  ponto 
da  margem  direita  do  rio  do  mesmo  nome,  onde  chegue  a  navegação  per- 
manente, até  á  fronteira  da  republica  da  Africa  meridional,  e  estabele- 
cem-se  as  relações  commerciaes  entre  os  dois  povos. 

Não  desejámos  prolongar  estas  considerações,  que  de  certo  se  torna- 
riam demasiado  extensas,  se  quizessemos  referir  n*este  logar  os  aconte- 
cimentos que  patenteiam  o  interesse  que  temos  pelo  progresso  material  e 
moral  das  nossas  terras  de  Africa.  Ha,  porém,  um  documento  que  me- 
rece ser  divulgado,  e  que,  posto  se  refira  á  possessão  portugueza  de  Lou- 
renço Marques,  podendo  publicar-se  quando  nos  occupassemos  doesta  re- 
gião, vem  comtudo  elucidar  um  ponto  importante^,  e  mostrar  o  modo 


^  Não  sabemos  se  é  esta  a  verdadeira  orthographia  de  tal  palavra. 

^  Qoando  não  houvesse  outro  motivo  para  justificar  a  reproducção  de  tão  no- 
tável documento,  bastava  a  necessidade  de  termos  sempre  bem  presentes  os  consi- 
derandos que  dizem  respeito  ao  contrato  que  o  capitão  Owen  celebrou  com  alguns 
indígenas.  Ha  ali  um  exemplo  que  pôde  repetir-se  e  uma  lição  que  devemos  apro- 
veitar. 

Mas  não  é  somente  por  este  lado  que  nos  interessa  o  exame  da  sentença  arbi- 
tral do  presidente  da  republica  franceza.  As  memorias  que  lhe  serviram  de  base 
são  um  monumento  para  a  historia  da  nossa  proviucia  de  Moçambique  e  uma  glo- 
ria para  a  pátria.  Devemos  relembral-as,  e  recordar  com  deferência  o  nome  do  seu 
auctor,  o  fallecido  dr.  Levy  Maria  Jordão,  visconde  de  Paiva  Manso. 


176 

por  que  uo  século  xix  se  resolvem  certas  duvidas  sobre  a  posse  de  al- 
guns territórios. 

«Nós  Marie-Edine  Patrício  Mauricio  de  Mac-Mahon,  duque  de  Ma- 
genta, marechal  de  França,  presidente  da  republica  franceza. 

«Estatuindo,  em  virtude  dos  poderes  que  foram  conferidos  ao  presiden- 
te da  republica  franceza,  nos  termos  do  protocollo  assignado  em  Lisboa  a 
15  de  setembro  de  1872,  pelo  qual  o  governo  de  sua  magestade  a  rainha 
de  Gran-Bretanha  e  Irianda  e  o  de  sua  magestade  o  rei  de  Portugal  concor- 
daram em  submetter  ao  presidente  da  republica  franceza,  a  flm  de  ser 
por  elle  decidido  definitivamente  e  sem  appellação,  o  litigio  que  trazem 
pendente  entre  si  desde  o  anno  de  1823,  a  respeito  da  posse  dos  territó- 
rios de  Tembe  (Catembe)  e  de  Maputo,  e  das  ilhas  de  Inyack  (Unhaca)  e 
dos  Elepbantes,  situadas  na  bahia  de  Delagoa,  ou  Lourenço  Marques,  na 
costa  oriental  dá  Africa ; 

«Vistas  as  memorias  entregues  ao  arbitro  pelos  representantes  das  duas 
partes  a  15  de  setembro  de  1873,  e  as  contra-memorias  igualmente  por 
elles  entregues  em  14  e  15  de  setembro  de  1874; 

«Vistas  as  notas  de  s.  ex.*  o  sr.  embaixador  de  Inglaterra  e  do  sr.  mi- 
nistro de  Portugal  em  Paris  com  data  de  8  de  fevereiro  de  1875; 

«Havendo-nos  a  commissão,  creada  a  10  de  março  de  1873  com  o  fim 
de  estudar  os  titulos  e  documentos  respectivamente  apresentados,  dado 
parte  do  resultado  do  seu  exame; 

«Âttendendo  que  o  litigio,  tal  como  foi  determinado  pelas  memorias 
apresentadas  ao  arbitro,  e  em  ultimo  logar,  pelas  notas  citadas  dos  repre- 
sentantes das  duas  partes  em  Paris,  versa  sobre  o  direito  aos  seguintes 
territórios;  a  saber: 

«1.®  O  território  de  Tembe  (Catembe),  limitado  ao  N.  pelo  rio  do 
Espirito  Santo,  ou  English  River,  e  pelo  rio  de  Lourenço  Marques,  ou 
Dundas,  a  0.  pelos  montes  Lebombo,  ao  S.  e  a  E.  pelo  rio  Maputo, 
e  desde  a  foz  doeste  rio  até  á  do  rio  Espirito  Santo  pela  praia  da  bahia  de 
Delagoa  ou  Lourenço  Marques; 

«2.®  O  território  de  Maputo,  em  que  se  acham  comprehendidas  a  pe- 
nínsula e  a  ilha  de  Inyack  (Unhaca),  assim  como  a  ilha  dos  Elepbantes,  e 
que  é  limitado  ao  N.  pelas  margens  da  bahia,  a  0.  pelo  rio  Maputo,  desde 
a  sua  foz  até  ao  parallelo  de  26°  3(y  de  latitude  austral,  ao  S.  por  este 
mesmo  parallelo  e  a  E.  pelo  mar; 

ff  Âttendendo  a  que  a  bahia  de  Delagoa,  ou  de  Lourenço  Marques,  foi 
descoberta  no  século  xvi  pelos  navegadores  portuguezes,  e  que  no  xvu  e 
XVIII  séculos  Portugal  occupou  diversos  pontos  na  costa  do  N.  d'esta 
bahia,  e  a  ilha  de  Inyack  (Unhaca),  da  qual  a  pequena  ilha  dos  Elepbantes 
é  uma  dependência; 


177 

f  AtieDdendo  a  que,  desde  a  descoberta,  Portugal  tem  sempre  reivindi- 
cado os  direitos  de  soberania  sobre  a  totalidade  da  bahia  e  dos  territórios 
marginaes,  assim  como  o  direito  exclusivo  de  ali  commerciar;  attendendo 
alem  d'isso  a  que  apoiou  á  mao  armada  essa  reivindicação  contra  os  hol- 
landezes,  pelo  anno  de  1 732,  e  contra  os  austríacos  em  1 781 ; 

€  Attendendo  a  que  os  actos  com  que  Portugal  apoiou  as  suas  preten- 
sões não  provocaram  nenhuma  reclamação  por  parle  do  governo  das  Pro- 
víncias Unidas;  que  em  1782  essas  pretensões  foram  tacitamente  acceites 
pela  Áustria,  depois  de  explicações  diplomáticas  trocadas  entre  esta  po- 
tencia e  Portugal ; 

cAttendendo  a  que  em  1817  a  própria  Inglaterra  não  contestou  o  di- 
reito de  Portugal,  quando  celebrou  com  o  governo  de  sua  magestade  fi- 
delíssima a  convenção  de  28  de  julho  para  a  repressão  do  trafico  da  es- 
cravatura; e  a  que  de  facto  o  artigo  2.®  da  mesma  convenção  deve  ser  in- 
terpretado DO  sentido  que  designa  como  fazendo  parte  das  possessões 
da  coroa  de  Portugal  a  totalidade  da  bahia,  á  qual  se  applica  indiíTeren- 
temeute  uma  ou  outra  das  denominações  de  Delagoa  ou  de  Lourenço 
Marques ; 

cAttendendo  a  que  em  1822  o  governo  de  sua  magestade  britannica 
quando  encarregou  o  capitão  Owen  de  fazer  um  rcn^onhecimento  hydro- 
graphico  da  bahia  de  Delagoa  e  dos  rios  que  ali  vão  desembocar,  o  re- 
commendou  aos  bons  officios  do  governo  portuguez ; 

cAttendendo  a  que,  se  o  enfraquecimento  accidental  da  auctoridade 
portugneza  n'estas  paragens,  pôde,  em  1823,  induzir  em  erro  o  capitão 
Owen,  e  fazel-o  considerar,  em  boa  fé,  como  realmente  independentes  da 
coroa  de  Portugal  os  chefes  indígenas  dos  territórios  que  hoje  são  con- 
testados, nem  por  isso  são  menos  contrários  aos  direitos  de  Portugal  os 
actos  por  elle  celebrados  com  esses  chefes ; 

cAttendendo  a  que,  quasí  immediatamente  depois  da  partida  dos  na- 
vios inglezes,  os  chefes  indígenas  do  Tembe  (Catembe)  e  de  Maputo  reco- 
nheceram de  novo  a  sua  dependência  a  respeito  das  aucloridades  portu- 
guezas,  altestando  elles  mesmos  por  esta  forma  que  não  tinham  a  capa- 
cidade de  contratar; 

cAttendendo  a  que  as  convenções  assignadas  pelo  capitão  Owen  e  os 
chefes  indígenas  de  Tembe  (Catembe)  e  de  Maputo,  ainda  quando  tivessem 
tido  logar  entre  partes  aptas  para  contratar,  ficariam  hoje  sem  efieito :  es- 
tipulando o  acto  relativo  a  Tembe  (Catembe)  condições  essenciaes  que  não 
tiveram  execução,  e  os  actos  que  dizem  respeito  a  Maputo  rcferindo-se  a 
períodos  determinados  de  tempo,  que  não  foram  renovados  depois  da  ex- 
piração de  taes  períodos;  por  estes  motivos, 

c  Julgámos  e  decidimos  que  as  pretensões  do  governo  de  sua  magestade 


178 

tidetissima  aos  territórios  de  Tembe  (Catembe)  e  de  Maputo,  á  península 
de  Inyack  (Uahaca),  e  ás  ilhas  de  Unhaca  e  dos  Elephanles  se  acham  pro- 
vadas e  estabelecidas. 

«Versailles,  24  de  julho  de  IS1^.= Marechal  de  Mac-Mahon,  duque 
de  Magenta  ^.1^ 

É  este  realmente  um  documento  que  merece  tornar-se  bem  conhe- 
cido. A  sua  publicação  dispensa-nos  de  Tazer  quaesquer  commentarios ; 
mas  Taltariamos,  apesar  d'isso,  ao  nosso  dever,  como  medico  e  coíno 
portuguez,  se  não  expozessemos  com  desassombro  o  que  pensámos  a  res- 
peito das  nossas  possessões  de  Angola  e  de  Moçambique  e  das  suas  re- 
lações com  os  povos  limitrophes.  Não  é  assumpto  que  se  trate  em  pou- 
cas palavras,  justo  é  confessal-o,  mas  nós  encarámol-o  apenas  sob  o  ponto 
de  vista  da  colonisação,  de  que  mais  especialmente  nos  occupámos  n'este 
trabalho. 

Começámos,  todavia,  por  observar  que,  estudar  um  mappa  geogra- 
phico  da  Africa  austral,  examinar  a  conflguração  e  os  limites  de  cada  paiz 
ou  estado  em  que  elle  se  subdivide,  e  attentar  com  todo  o  cuidado  na 
evolução  histórica  de  cada  um  dos  povos  que  se  acham  reunidos  em  es- 
tados mais  ou  menos  independentes,  não  é  com  certeza  o  mesmo  que 
percorrer  as  terras,  observar  as  nascentes  e  o  curso  dos  rios,  estudar  a 
disposição  orographica  dos  terrenos,  e  finalmente  apreciar  os  usos  e  cos- 
tumes dos  habitantes. 

N'um  e  u'outro  caso,  porém,  occorrem  grandes  difliculdades  que  não 
podem  ser  resolvidas  á  primeira  vista,  necessitando-se  realmente  de 
muitas  locubrações  para  se  darem  noticias  tão  úteis  quanto  valiosas.  Ha, 
todavia,  factos  que  sobrcsáem  a  todos,  e  importa  muito  tel-os  em  vista 
para  se  ajuizar  com  toda  a  clareza  da  altura  da  questão  que  se  procura 
elucidar. 

A  carta  geographica  da  Africa  austral,  ha  cerca  de  cincoenta  annos, 
não  dava  grande  trabalho  por  causa  dos  limites  dos  estados  que  ali  exis- 
tiam. Bastou,  porém,  o  apparecimento  de  um  núcleo  de  europeus  n'aquel- 
las  paragens  para  ser  necessário  reformar  o  respectivo  mappa  geographico 
e  começar  algumas  paginas  no  grande  livro  da  historia  das  nações.  Estes 
e  outros  exemplos  são  prova  evidente  de  que  o  homem  è  essencialmente 
cosmopolita,  podendo  occupar  zonas  mui  diversas  em  um  limitado  praso 
de  tempo. 

Implantou-se  flnalmente  o  gérmen  europeu  nas  terras  que  se  nos  de* 
param  na  região  extrema  da  Africa  meridional,  junto  ao  Cabo  da  Boa 
Esperança,  padrão  da  nossa  gloria  e  testemunha  do  nosso  esquecimento. 

>  Diário  do  governo  n.^"  181  do  i  3  de  agosto  de  1875. 


179 

Era  propicio  o  paiz  que  participava  mais  de  uma  temperatura  quente  do 
que  temperada.  Â  aclimação  dos  europeus  ali  tem  sido  attestada  pelo  seu 
numero  rapidamente  augmentado.  Deram-se,  com  effeito,  circumstancias 
extraordinárias  que  fizeram  nascer  uma  corrente  colonisadora  ascendente, 
que  vae  abrindo  caminho  do  S.  para  o  N.,  approximando-se  mais  e  mais 
da  zona  tropical  propriamente  dita. 

A  ninguém  escapará  de  certo  que  essa  onda  europea  lançada  sobre  as 
terras  da  Africa  austral  pode  crescer,  subir  e  abeirar-se  das  possessões 
portuguezas.  Não  aventámos  uma  hypothese  casual.  Dizemos  o  que  pensá- 
mos, tendo  diante  de  nós  uma  carta  geographica  e  estudando  com  a  máxima 
attenção  o  que  se  passa  nas  regiões  da  Arríca  austral.  Leva-nos  a  este 
exame  a  nossa  posição  de  medico  do  ultramar.  Cumpre-nos,  pois,  dizer 
o  que  observámos,  e  olhar  tanto  para  o  futuro  como  para  o  presente  das 
nossas  províncias  de  Africa.  Não  devemos  attentar  com  indifferença  nos 
povos  limitrophes  das  nossas  possessões  da  Africa  austral.  Podemos  ser 
um  dia  surprehendidos  por  qualquer  acontecimento  extraordinário  que 
nos  traga  tantos  desgostos  como  ruina.  Não  nos  afastámos  do  nosso  pro- 
pósito apresentando  estas  considerações;  pelo  contrario,  ao  procurar  ele- 
mentos para  o  estudo  de  salubridade  e  insalubridade  relativas  dos  distri- 
ctos  de  Lourenço  Marques  e  Mòssamedes,  não  podemos  occultar  o  que  se 
passa  em  volta  d'elles. 

Poderemos  nós  crear  outra  corrente  colonisadora  capaz  de  contraba- 
lançar a  corrente  que  nos  é  contraria?. . . 

Temos  bases  suflicientes  para  realisar  este  emprehendimento,  e  está 
dado  já  o  primeiro  passo  que  consiste  na  expedição  das  obras  publicas 
a  Moçambique,  a  qual  é  largo  incitamento  para  se  avançar  no  grande  * 
trajecto  a  percorrer,  devendo  ser  completado  com  as  explorações  geogra- 
phicas  e  commcrcíaes,  as  missões  entre  os  indigenas,  os  estudos  orogra- 
phicos  e  hydrographicos,  e  muito  especialmente  com  o  reconhecimento 
das  terras  mais  salubres  e  das  localidades  mais  férteis. 

Se  a  corrente  colonisadora  ascendente  a  que  nos  temos  referido  pôde 
engrossar  dia  a  dia  e  trasbordar  para  o  interior  da  Africa,  não  deve  igno- 
rar-se  também  que  de  um  momento  para  outro  apparccem  capitães  como 
Owen  que,  sendo  encarregados  de  trabalhos  scientificos,  procuram  tam- 
bém fazer  contratos  para  a  cedência  de  territórios  ou  desviar  o  conii- 
mercio  de  uns  para  outros  pontos,  fomentando-se  inimisades,  apparc- 
cendo  a  anarchia,  e  dando-se  origem  a  desastres  cujo  alcance  não  se  cal- 
cula, mas  são  bem  fáceis  de  prever. 

Não  nos  extasiemos  diante  da  grandeza  das  nossas  colónias  nem 
das  boas  relações  que  temos  com  os  paizes  de  algumas  d*ellas.  É  preciso 
trabalhar.  Estude-se,  pois,  o  meio  de  chamar  para  as  terras  de  Africsl 


i80 

não  só  larga  immigração  procedente  das  nossas  ilhas  adjacentes  e  do  con« 
linenle,  como  lambem  do  Brazil  e  de  outros  paizes.  Nomeiem-se  commis- 
sões  para  marcarem  os  limites  das  nossas  províncias  africanas,  e,  necessário 
é  dizel-o,  imitemos  o  Brazil  que  tem  empregado  todos  os  meios  ao  seu 
alcance  para  construir  uma  carta  physico-geographica  do  paír,  flxando 
com  todo  o  cuidado  as  fronteiras  de  tão  extenso  império.  Tratemos  tam- 
bém de  fazer  o  mesmo  na  Africa  portugueza,  começando  quanto  antes 
por  deQnir  as  fronteiras  entre  as  diversas  povoações  indigenas  e  os  dis- 
trictos  meridionaes  de  Moçambique  e  Angola.  Prestemos  mais  altenção 
para  este  lado  do  que  para  a  região  opposta. 

Quaes  sHo  os  limites  meridionaes  das  nossas  terras  da  Africa  com  os 
diversos  territórios  que  lhe  ficam  ao  S.? 

Aonde  deve  parar  essa  corrente  colonisadora  que  partiu  do  Cabo  da 
Boa  Esperança,  occupou  os  valles  que  rodeiam  a  colónia  do  Porto  Natal, 
passou  alem  do  rio  Vaal  e  já  conta  por  limite  superior  o  rio  Limpopo?  Onde 
nasce  este  rio?. . .  Que  distancia  haverá  entre  as  nascentes  do  rio  Cunene 
e  as  dos  principaes  affluentes  do  Zambeze? 

Até  onde  será  navegável  o  rio.Cunene?. . . 

Diz-se  que  esse  rio  em  um  percurso  superior  a  400  kilometros  ad- 
mitte  embarcações  de  maior  lote,  e  de  ahi  para  E.,  na  altura  oriental 
do  districto  de  Mossamedes,  apenas  recebe  embarcações  pequenas.  A  sete 
dias  de  viagem  mais  para  o  interior  encontra-se  o  rio  Cobango,  de  que 
faliam  alguns  viajantes  portuguezes,  sendo  de  parecer  que  este  rio  segue 
para  a  nossa  costa  oriental.  Consideram-no  eiles  como  algum  ailluente 
do  Zambeze,  e  não  falta  também  quem  diga  ser  aquelte  rio  o  próprio 
Limpopo,  ou  algum  que  despeje  em  qualquer  dos  grandes  lagos  que  por 
ali  se  deparam. 

Descemos  a  estas  minuciosidades,  porque  não  desconhecemos  o  que 
se  está  passando  nas  regiões  meridionaes  da  Africa,  tanto  sob  o  ponto  de 
vista  da  sua  colonisação  como  da  immigração.  É  verdade  que  nos  pertence 
o  extremo  meridional  da  Africa  tropico-equatorial,  mas  é  preciso  dizerse 
que  veremos  essa  região  avassallada  se  não  acompanharmos  o  movimento 
colonisador  quese  acha  iniciado,  e  que  nas  terras  do  S.  da  Africa  tem  dei- 
xado rasto  fecundo,  como  o  attestam  as  estradas  já  abertas,  os  caminhos 
dê  ferro  em  exploração  e  tantos  centenares  de  famílias  em  movimento. 

Cumpre-nos,  pois,  patentear  a  necessidade  de  olhar  para  o  que  se 
passa  ao  S.  das  nossas  possessões  africanas,  e  por  bem  pagos  nos  daremos 
d'este  trabalho  se  despertarmos  alguma  attenção  entre  os  que  se  interes- 
sam pela  causa  da  Africa.  O  que,  porém,  é  certo,  é  que  não  deixaremos 
de  dizer  a  verdade  alto  e  tão  alto  que  possamos  ser  ouvidos  em  todos  os 
ângulos  de  Portugal.  Como  medico,  tratámos  de  estudar  a  salubridade  e 


insalubridade  relativas  das  nossas  possessões,  mostrando  as  condições  em 
que  ellas  se  acham  e  as  vantagens  que  podem  aurerir-se  da  sua  colonisa- 
ç3o  realisada  de  raiz  e  a  preceito;  mas  seria  incompleto  este  trabalho  se 
nao  referíssemos  todas  as  circumstancias  que  podem  perturbar  a  nossa 
colonisação  ou  tolher  a  emigração  que  tentámos  promover  para  a  nossa 
regiSo  tropico-equatorial  ao  S.  do  equador.  Não  possuimos  ali  somente 
as  zonas  marítimas  ao  oriente  e  occidente.  Pertence-nos  de  facto  e  de  di- 
reito todo  o  território  central. 

Percorremol-o  já  por  muitas  vezes,  abeirámo-nos  dos  lagos  que  por 
ali  se  deparam,  vadiámos  os  rios,  transpozemos  os  montes,  e  por  toda  a 
parte  deixámos  vestigios  da  nossa  passagem. 

Se  devemos  memorar  a  viagem  dos  homens  que  foram  encarregados 
de  levar  ao  governador  da  província  de  Moçambique  um  ofScio  do  gover- 
nador de  Angola,  cumpre-nos  muito  especialmente  notar  que -esses  via- 
jantes não  levaram  dezenas  de  carregadores,  para  transportar  animado- 
ras mercadorias. 

Era  natural  este  facto,  poisque  estávamos  em  terrítorio  portuguez  e 

em  terra  de  amigos  ou  de  alliados  o  que  não  acontece  aos  exploradores 

ínglezes.  Tratam  por  isso  de  organisar  boas  facturas  commerciaes  e  cui- 

%dam  em  obter  os  melhores  meios  de  transportei  «E  não  são  ellas  (as 

missões  inglezas)  antes  politicas  e  commerciaes  do  que  religiosas?  Sem 

1  O  dr.  Livingstone  nâo  só  tratava  os  pretos  como  escravos,  mas  não  se  des- 
cuidava da  venda  das  mercadorias,  prejudicando  as  que  os  nossos  negociantes  ali 
tinham.  Houve  reclamação  a  tal  respeito,  mas  não  é  doeste  ponto  que  nos  occupã- 
mos.  Esperámos,  todavia,  mostrar  em  outra  publicação,  como  os  factos  se  passa- 
ram. Mas  para  se  avaliar,  todavia,  a  sinceridade  do  arrojado  explorador  ínglez,  tran- 
screvemos o  que  elle  disse  a  respeito  das  nossas  possessões  de  Africa  oriental : 

«Delagoa  Bay  tem  um  pequeno  forte  chamado  Lourenço  Marques,  porém  que 
não  é  senão  muralhas. 

«Em  Inhambane  possuem  uma  tira  de  terra  por  consentimento  dos  nativos. 

«Sofala  está  em  minas. 

«De  Quelimane  para  o  norte,  por  espaço  de  690  milhas,  possuem  somente  uma 
pequena  estacada,  protegida  por  uma  lancha  armada  na  boca  do  rio  Augoxe,  para 
evitar  que  os  navios  estrangeiros  vão  ali  commerciar. 

«Em  Moçambique  é  sua  a  pequena  ilha,  onde  está  o  forte,  e  uma  nesga  de  quasi 
3  milhas  ao  longo  da  terra  firme,  e  ali  tem  algumas  hortas  e  terras  agricultadas, 
que  são  protegidas  contra  as  hostilidades,  pagando  os  moradores  um  tributo  an- 
nual,  ao  que  chamam  «ter  os  pretos  ao  seu  soldo». 

«O  estabelecimento  tem  ido  em  dec^idencia  no  commercío  c  na  importância. 
Está  guarnecido  por  algnifô  centos  de  soldados  doentes,  que  estão  encerrados  na 
fortalexa;  e  comquanto  lhe  esteja  ao  pé  uma  pequena  ilha  de  coral,  não  se  pôde  re- 
putar segura. 

«Na  ilha  de  Oíbo  ou*  Iboe  (Ibo)  acham-sc  reunidos  muitos  escravos,  mas  o  com- 
mercío, seja  de  que  natureza  for,  é  pouco. 


182 

duvida,  e  a  tal  ponto  que  a  mesma  parte  religiosa,  n^ella  admittida  como 
bandeira  de  protecção  e  refugio,  está  de  todo  o  ponto  subordinada  á  in« 
tenção  politica.» 

Temos,  pois,  óptimo  exemplo  nos  exploradores  inglezes,  e  bom  é  que 
elle  aproveite  e  faça  com  que  mudemos  de  systema,  tratando  de  colonisar  as 
terras,  protegendo  o  commercio,  para  o  que  é  preciso  paciência  e  especial 
cuidado  S  e  animando  a  agricultura  por  meio  da  abertura  de  estradas,  me- 
lhoramentos sanitários  das  povoações,  ensino  fabril,  industrial  e  religioso. 

A  emigração  que  se  dirige  para  o  Brazil  mudará  emGm,  e  irá  fertilisar 
as  planicies  africanas,  para  onde  apenas  se  pôde  entrar  pelos  valles  do  rio 
Cunene,  pelos  alto-planos  ao  N.  da  republica  dos  Boers,  pelas  terras  de 
Lourenço  Marques  e  Quelimane,  e,  finalmente,  pelas  vizinhanças  do  lago 
Niassa,  territórios  que  nos  pertencem. 

Diremos,  por  ultimo,  antes  de  concluir,  que  para  cima  dos  rios  Cunene, 
Cobango  e  Limpopo  não  devem  passar  outros  povos  colonisadores.  E  para 
não  se  realisar  tal  acontecimento  urge  seguir  o  movimento  colonisador 
principiado  entre  as  naçOes  da  Europa,  e  mostrar  que,  assim  como  fomos 
os  primeiros  povos  que  descobrimos  e  explorámos  largos  territórios  da 
Ásia  e  Oceania,  do  mesmo  modo  devemos  ir  na  vanguarda  dos  povos  co- 
lonisadores, não  só  por  sermos  mais  conhecedores  das  terras  da  Africa  cen- 
tral, mas  também  por  nos  acharmos  mais  relacionados  com  os  indígenas 
e  possuirmos  mais  vastos  territorit)s  desde  o  oriente  ao  occidente  do  con- 
tinente africano. 

cEm  Pomba-Bay  foi  construido  um  pequeno  forte;  comtudo  é  muito  duvidoso 
Be  ainda  existe,  e  falhou  inteiramente  a  tentativa  de  formar  ali  um  estabelecimento. 

cPagam  tributo  aos  zulus  (landins)  pelas  terras  que  cultivam  na  margem  ál* 
reíta  do  Zambeze.» 

Eis-aqui  ao  que  se  reduz,  segundo  o  dr.  Livingstone,  a  nossa  província  de  Mo- 
çambique! Encarregou-se  de  lhe  responder  D.  José  de  Lacerda,  e  mosti*ou  o  que 
era  o  districto  de  Lourenço  Marques,  Inhambane,  Sofalla,  Quelimane,  Sena,  Tete^ 
Zumbo,  Manica,  Moçambique,  Cabo  Delgado,  Colónia  ia  Pemba,  Arimba,  Qímsanga 
e  Montepes,  e  depois  acrescenta:  <E  atreve-se  o  missionário  inglez  a  erguer  alto 
brado  contra  o  dominio  portuguez,  como  se  fora  só  desprezado  ou  meramente  no- 
minal. Ao  direito  do  mais  forte,  para  que  appella  o  dr.  Livingstone,  temos  n6d  a  op- 
pôr  a  força  do  nosso  direito  indisputável,  direito  que  o  governo  inglez,  como  é  pró- 
prio de  um  governo  esclarecido,  que  sabe  a  si  nos  outros  considerar-se,  nlo  cessou 
nunca  em  nenhum  tempo  de  nos  reconhecer  e  respeitar». 

1  Não  temos  muitas  vezes  a  paciência  precisa  para  negociar,  e  d*isso  Já  se  quei- 
xava João  de  Barros,  como  se  vô  da  seguinte  passagem : 

<E  como  os  Gentios,  e  Mouros  d'aquelle  Oriente  em  comprar,  e  vender  sao  os 
mais  delgados,  e  sotis  homens  do  mundo,  e  sobre  isso  tão  pacientes,  e  frios  em  des- 
cobrir seus  appetites,  e  necessidades,  que  ninguém  lhas  sente;  sempre  n'este  acto 
do  commercio  nos  levam  debaixo,  como  nós  em  os  (}a  guerra  os  sopeamos.» 


183 


Coloniaii  de  Portugal,  oUma  geral,  superficie,  populaçEo 

e  prinoipaes  produoçôes 


DoiignaçSo 


Ásia 

Dln(l853) 

DamÍo(4é53) 

Goa  e  depeadoQciat 

Macau 

Afrioa 

Ilkãt  ii  Cabo  Verde: 
Ompo  de  barlaveoto : 

Santo  AnUo 

S.  Vicento 

Sania  Lozb 

S.  Nicolau 

Sal 

fioaVisU 

Gmpo  de  lotaTeoto : 

nha  Brava 

Fo«o 

S.  Thiaffo 

Maio 

Senêgambia: 

Bitfao 

Vaehea 

Bolama 

Jlkát  ie  $.  TkomiePrineipe: 

(Faieodai  agrícolas) 

Terrilorio  de  8.  Joio  Baptiita  de 
Ajuda. 

Cosia  oceidental  de  Africa  ao  S.  do 
tfnêior: 

DiitficU)    de  Loanda  (eoloniai 
af  ricolas) 

Distrtclot  de  Benguella  (faiendai 
agrícolas) 

DUtrído  de  Motsamedes  (coló- 
nias agrícolas) 

Cotia  oriental  de  A  frita  (qitasi  em 
frente  dê  Angola) : 

Dístricto  de  Cabo  Delgado ^ 

Dislrieto  de  Moçambique 

Dístricto  de  Aogocbo 

Districlo  de  Quelimane 

Dislrieto  do  Sooa 

Dístricto  de  Tela  e  Zumbo 

Dístricto  de  Sofalla 

Dístricto  de  lohambaoe 

Dístricto  de  Lourenço  Marques. . 

Tolal  da  Africa 

OManla 

Refilo  septeotríooal  (NC)  da  ilha 
de  Timor 

Total  das  oolooias 


(Ilíina  geral 


Tropical  quente  (N. 
Tropical  quente  (N. 
Tropical  quente  (N. 
Tropical 


Tropical 
Tropical 
Tropical 
Tropical 
Tropical 
Tropical 


quente 
quente 
quente 
quente 
quente 
quente 


(S.) 

ÍN.) 

N.) 

m 

(N.) 
(N.) 


Su  porfie  ie 
Kíl.  qnad. 


População 


30 

-     bO 

n:iOO 

4 


5:514 


Tropical  quente  i 
Tropical  quente 
Tropical  quente 
Tropical  quente 


Tropioo.eqoatorial.. 
Tropico-equatorial. . 
Tropico-oquatorial. . 


Equatorial  (N.).... 
Equatorial  (N.).... 


5iG 
91 
40 
483 
203 
468 

54 

218 
718 
408 


Í:W9 


8:400 


Tropical  quente  (S.) 


K:iiiO 


1:025 
35 


4:060 


Equatorial  (S.) .... 
Tropical  quente  (S.) 
Tropical  quente  (S.) 
Tropical  quente  (S.) 
Tropical  quente  (S.) 
Tropical  quente  (S.) 
Tropical  quente  (S.) 

Tropical  (S.) 

Tropical  temp.  (S.) 


600:000 


1.184:000 


Equatorial  (S.)- 


4.2R4:000 


4.896:389 


17:000 


1.918:903 


40:858 

33:950 

363:788 

74:834 


480:430 


17:005 
l:86i 

7:240 

802 

2:534 

6:483 
40:300 
35:534 

4:432 


82:864 


542 
4:884 
3:734 


6:154 


27:734 
4:500 


32:254 


Principaes  producções 


Arroz,  gergelim,  varia- 
das  madeiras,  cairo, 
cafó,  cocos,  pimenta, 
etc. 


Purgueira,   assucar  e 

aguardente. 
Assucar. 


Coral,  purgueira  e  al- 
godão. 


Cafó,  assucar  e  pur- 
gueira. 


Gomma  elástica,  gtn- 
guba,  cera,  coconoie, 
etc. 

Café,  cacau,  tartaru- 
ga, cucos,  etc. 


323:064< 


Tropical  quente  (S.)\     600:000/       87:980 


Tropical  quente  (S.) 


Café,  uriella,  aguar- 
dente, cera,  borra- 
cha, marfim,  algo- 
dão, etc. 

Algod&o,  café,  gingu- 
ba,  mandioca,  borra- 
cha, cera,  coconote, 
axeite  de  palma.  etc. 

ÍAlgod&o,  cera,  borra- 
cha, axeite  de  peixe, 
ele. 


433:397 


6:590 
30:000 

10:000 
3:200 
6:000 
2:600 
106:000 
2:670 

467:060 


721:729 


480:OCO 


1.382:459 


Mantimentos. 
Borracha,  cera,  café  e 

amendoin. 
Gergelim,  cera,  etc. 


Arroz,  cera,  milho,  ele. 


As  nossas  colónias  rivalísam  com  as  da  Hespanlia,  França  e  Hollanda. 
Se  estas  nações  possuem  colónias  de  plantações,  também  nós  as  temos 
ha^uitos  annos.  Não  é  mais  antiga  a  Algéria  do  que  Mossamedes.  Cus-' 
ta-nos  realmente  a  achar  a  rasão  por  que  algiíns  escriptores  estrangeiros 
n3o  nos  consideram  como  nação  cólon isadora  do  século  actual,  mas  é  in- 
dispensável dizer-se  que  não  procuraram  de  certo  informações  a  respeito 
do  que  se  tem  feito  na  província  de  Angola. 

Se  a  Hollanda  possue  as  ilhas  de  Sonda,  onde  se  levanta  a  famosa  ilha 
de  Java;  se  a  Hespanha  se  ufana  das  ilhas  de  Cuba  e  Porto  Rico,  e  i^e,  fi- 
nalmente, a  França  se  orgulha  com  Algéria,  nós  contentamo-nos  com  as 
possessões  que  nos  pertencem  sem  invejar  a  grandeza  colonial  d^aquellas 
nações. 

Da  Inglaterra  não  falíamos,  porque  são  immensos  os  ten*enos  que 
possue  em  todas  as  partes  do  mundo,  e  confessámos  por  isso  a  nossa 
surpreza  ao  vermos  o  demasiado  interesse  com  que  esta  poderosa  nação 
olha  para  os  povos  que  se  avizinham  do  nosso  districto  de  Lourenço 
Marques.  Não  é  menos  para  admirar  a  sympathia  que  ella  mostra  pelas 
margens  do  lago  Niassa,  assim  como  o  cuidado  com  que  attenta  no  nosso 
território  do  Zaire.  O  estabelecimento  de  S.  João  Baptista  de  Ajuda  tam- 
bém não  lhe  é  indifferente. 

Resta-nos  todavia  a  esperança  de  que  a  nação  ingleza  nos  deixará  in- 
teira liberdade  para  occuparmos  os  territórios  que  nos  pertencem,  e  fa- 
zermos a  colonisaçSo  como  melhor  entendermos. 

O  que  não  pôde  negar-se,  sem  grave  injustiça,  é  que  temos  allirmado 
por  todos  os  meios  ao  nosso  alcance  a  perseverante  vontade  de  promo- 
ver o  progresso  e  civilisação  da  Africa  tropico-equalorial.  E  não  duvidá- 
mos dizer  que  os  annos  de  1876  e  1877  nos  fazem  recordar  as  nossas 
viagens  dos  últimos  annos  do  século  xv.  Procurámos  então  navegar  por 
mares  desconhecidos  e  descobrir  paizes  nunca  vistos  dos  povos  da  Eu- 
ropa. Não  nos  poupámos  a  sacriQcios  e  dêmos  exemplo  a  todas  as  nações 
do  mundo,  abrindo  as  portas  do  Oriente.  Hoje  tratámos  de  promover  o 
progresso  e  civilisação  dos  povos  africanos,  desenvolvendo  a  colonisação, 
como  a  de  Mossamedes  e  de  Cazengo. 

Para  abreviarmos  considerações  expomos  a.  largos  traços  o  movi- 
mento colonial  que  se  acha  iniciado. 

Por  decreto  de  17  de  fevereiro  de  1876  foi  creada  junto  ao  ministério 
dos  negócios  da  marinha  e  ultramar  uma  commissão  central  permanente  de 
geographia.Segwnào  a  organisação  d'esta  esperançosa  commissão  cumpre- 
Ihe:  «Colligir,  ordenar  e  aproveitar,  em  beneficio  da  sciencía  e  da  nação, 
todos  os  documentos  que  possam  esclarecer  a  geographia,  a  historia 
ethnologica,  a  archeologia,  a  anthropologia  e  as  .sciencias  naturaes  em 


relaçSo  ao  território  porluguez  e  especialmente  ás  províncias  ultramari- 
nas'». 

Se  é  elevado  o  pensamento  com  que  se  creou  a  commissâo  a  que  nos 
referimos,  a  proposta  de  lei  para  se  dar  impulso  ás  obras  publicas  das 
nossas  vastas  possessões  africanas  revela  a  decidida  vontade  com  que  se 
deseja  o  engrandecimento  colonial,  como  se  verá  quando  fatiarmos  em 
especial  de  cada  uma  das  provindas  da  Africa. 

Para  se  fazer  idéa  do  estado  de  prosperidade  em  que  se  acham  as  co- 
lónias damos  por  copia  o  seguinte  extracto  de  um  importante  documento^: 

f  Pouco  antes  de  1834  os  rendimentos  públicos  nas  nossas  possessões 
africanas  eram  os  seguintes,  segundo  se  lé  no  livro  importante  do  mar- 
quez  de  Sá  da  Bandeira,  intitulado  Trabalho  rural  africano: 

Cabo  Verde 92:522,^000 

S.  Thomé  e  Príncipe 8:490,5000 

Angola 132:879,5000 

Moçambique 56:154,5000 

Total 290:045,5000 

iNo  rendimento  de  Cpbo  Verde  comprehende-se  59:580ÍM)00  réis  do 
monopólio  da  urzella,  no  das  outras  províncias  comprehendia-se  o  im- 
posto cobrado  nas  alfandegas  sobre  a  exportação  dos  escravos. 

«Tomando  os  dados  de  annos  posteriores,  que  se  encontram  nos  En- 
saios sobre  estatística  das  possessões  portugmzas,  reconliece-se  que  a  abo- 
lição do  trafico  não  produziu  a  crise  económica  que  receiavam  os  defen- 
sores d'aquelle  odioso  negocio. 

cEis  a  importância  dos  rendimentos  públicos  nos  annos  em  seguida  de- 
signados : 

Cabo  Verde  (1842-1843) 90:176^(000 

S.  Thomé  e  Príncipe  (1843-1844) . . .      9:821,5000 

Angola  (1845-1846) 259:046^000 

Moçambique  (1857-1858) 88:929,5000 

Total 447:972^(000 


1  Os  trabalhos  da  commissâo  permanente  de  goographía  sao  publicados  nos 
^Qs  ÁMkaes,  cujo  primeiro  volume  traz  a  data  de  dezembro  de  1876. 

*  Diário  do  governo  n."  49  de  3  de  março  de  1876.  —  Rolatorío  que  precede  a 
a  proposta  de  lei  para  se  contrahir  um  empréstimo  de  5.000:000^000  róis  con)  des- 
tino às  obras  publicas  das  nossas  provinoías  de  Africa. 


186 

<É  de  advertir  que  na  receita  de  Cabo  Verde  se  inclaiam  45:000j$000 
réis»  producto  do  monopólio  da  urzella,  dos  quaes  21:000f$000  réis  nao 
eram  applícados  á  província,  mas  entravam  no  thesouro  publico.  O  im- 
posto sobre  escravos  havia  acabado  nos  annos  a  que  se  referem  as  recei- 
tas indicadas. 

cVejamos  agora  qual  é  actualmente  a  importância  das  receitas  publi- 
cas nas  mesmas  provindas,  e  teremos  uma  prova  dos  progressos  realisa- 
dos,  progressos  devidos  á  transformação  promovida  pela  beneOca  acç3o 
de  leis  liberaes. 

•Os  rendimentos  são  aclualmenteos  seguintes: 

Cabo  Verde 220:377i5000 

S.  Thomé  e  Príncipe 109:610,5000 

Angola 566:974)5000 

Moçambique 247:71 3<ÍÍ000 

Total 1.143:674<5000 

•Recorrendo  á  estatística  do  movimento  das  alfandegas,  mais  evidente 
se  torna  ainda  o  desenvolvimento  progressivo  das  nossas  possessões  de 
Afríca. 

•Era  o  movimento  commercíal  nas  alfandegas  que  v9o  designadas  o 
seguinte : 


Cabo  Verde  (1842-1843) 

S.  Thomé  e  Principc  (1842). . 
Angola  (1847) 

Valor 
das  importações 

Valor 
das  exportaçSes 

• 

Movimento 
conunereial 

76:620^000 

26:000J>000 

1.141:000^000 

73:992i3000 

32:250)^000 

608:000^000 

150:612^000 

58:250i$000 

1.749:000^000 

•De  Moçambique  nao  ha  informações  referidas  a  esta  epocha  um  pouco 
remota.  É  digno  de  notar-se  que  em  Angola  o  movimento  médio  com- 
mercíal, nos  annos  de  1830,  18.31  e  1832,  anteriores  á  lei  que  aboliu  o 
trafico  da  escravatura,  foi  apenas  de  728:000í50O0  réis,  sendo  a  impor- 
tação no  valor  de  622:OOOí5íOOO  réis,  e  a  exportação  no  de  106:000|jí000 
réis. 


487 


lEm  relaçSo  a  nm  anno  temos  os  seguintes  dados : 


Cabo  Verde  (1871-1872) .... 
Guino  (1871-1872) 

Valor 
da  importação 

Valor 
da  exportaçSo 

Blovírocnto 
commercial 

326:880|>000 

227:501^000 

335:428^000 

2.263:801^000 

942:834^000 

349:788^000 

383:099^000 

269:314^000 

2.026:51  MOOO 

553:240jO0O 

676:668^000 

610:600^000 

604:742^000 

4.290:312^000 

1.496:074^000 

S.  Thomé  (1872) 

Angola  (1871-1872) 

Moçambique  (1870-1871)  ap- 
Droximado 

«Nos  aDDos  posteriores  o  augmenlo  do  movimeDto  commercial  tem 
continuado.  Assim  em  1874  os  valores  das  importações  e  exportações  su- 
biram em  S.  Thomé  a  810:176^000  réis.  Em  Angola  foi  o  movimento 
commercial  em  1873-1874  de  5.084:466($000  réis.» 

São  realmente  muito  eloquentes  estes  dados,  mas  nSo  nos  parecem 
ainda  os  mais  convenientes  para  se  demonstrar  que  as  nossas  terras  de 
Africa  se  acham  com  o  desenvolvimento  agrícola  e  commercial,  que  lhes 
é  negado  por  alguns  escriptores  francezes. 

NSo  89o  para  nós,  comtudo,  um  encargo,  nem  ali  se  encontram  ape- 
nas feitorias,  como  se  diz  no  diccionario  de  Larousse  a  respeito  das  pro- 
vincias  de  Angola  e  Moçambique. 

Mas  antes  de  fazermos  outras  considerações,  ajuntaremos  os  docu- 
mentos mais  apropriados  ao  nosso  flm. 

Trataremos  em  primeiro  logar  das  obras  publicas  em  geral. 

Eis-aqui  o  que  se  lô  no  documento  a  que  acima  nos  referimos: 

«A  questão  de  obras  publicas  nas  nossas  possessões  de  alem-mar 
nio  é  só  uma  questão  económica,  é  também,  e  principalmente,  uma  ques- 
tão politica.  Os  vastos  domínios  de  Portugal  são  uma  grande  força  se  le- 
varmos lá  promptamente  a  civilisação  pela  religião,  pela  educação,  pelo 
trabalho  e  pela  boa  administração ;  são  porém  uma  fraqueza  se  não  sou- 
bermos cumprir  o  nosso  dever  com  energia  e  com  presteza.  Portugal 
está  nas  condições  de  ser  uma  grande  potencia  colonial ;  saiba-o  pois  ser, 
e  o  futuro  pagará  largamente  os  nossos  esforços. 

cGobram-se  nas  províncias  ultramarinas  impostos  nas  alfandegas  com 
applicação  especial  para  obras  publicas. 

cO  pfoducto  d^esses  impostos,  com  excepção  da  província  de  Cabo 
Verde,  tem  tido  uma  applicação  pouco  proflcua. 

cA  falta  de  systema  na  distribuição  do  fundo  para  obras  publicas,  a 


188 

pequena  importância  annual  doesse  Tundo  c  muitas  causas  que  é  inútil  re- 
cordar agora,  téem  dado  em  resultado  perder-se  muito  dinheiro,  e  estar 
quasí  tudo  por  Tazer.  É  preciso  mudar  radicalmente  de  systema.  Sem  o 
emprego  de  capitães  avultados,  sem  um  plano  bem  combinado,  sem  um 
corpo  technico  habilitado  e  immediatamente  responsável  pelo  estudo  e 
execução  das  obras,  e  sem  a  inspecção  immediata  do  governo  de  accordo 
com  o  que  se  pratica  no  reino,  não  podem  emprehender-se  conveniente- 
mente no  ultramar  as  importantes  obras  publicas  que  são  ali  indispensá- 
veis. 

cOs  impostos  para  obras  publicas  na  provincia  de  Cabo  Verde  são  nos 
últimos  dois  orçamentos  mandados  da  proxincia  calculados:  para  1875- 
1876  em  29:109^000  réis,  sendo  4:109(9;000  réis  do  imposto  sobre  o  car- 
vão de  pedra  em  S.  Vicente:  para  1876-1877  em  tOiioO^OOO  réis,  sendo 
6:250j$000  réis  de  carvão  de  S.  Vicente. 

<Em  S.  Thomé  o  imposto  para  as  obras  publicas  rendeu  nos  três  úl- 
timos annos  o  seguinte : 

1872-1873 14:999,5(571 

1873-1874 16:574^(887 

1874-1875 18:094^(251 

«Em  Angola  o  imposto  de  obras  publicas  em  quatorze  annos,  isto  é, 
desde  que  foi  creado  até  1874-1875,  rendeu  817:071^(714  réis. 
«Nos  derradeiros  três  annos  de  que  ha  noticia  o  rendimento  foi : 

1872-1873 82:550,5(163 

1873-1874 79:504^367 

1874-1875 72:062í(990 

«Sendo  para  advertir  que  não  foram  boas  as  colheitas  nos  dois  últi- 
mos annos. 

«Cm  Moçambique  o  imposto  para  obras  publicas  foi  creado  em  1867; 
desde  então  até  1873-1874  rendeu  221:047,$647  réis. 

«Nos  últimos  três  annos  foi  o  rendimento: 

1871-1872 33:027,S695 

1872-1873 32:388^(293 

1873-1874 40:1665583 

«Pôde,  pois,  calcular-se  o  fundo  para  obras  publicas  em  todas  as  pro- 
vincias  da  Africa  em  160:000f5000  réis. 


189 

t Tendem  os  reodimeDtos  das  alfandegas  manifestamenle  a  crescer,  e 
com  elles  cresce  o  imposto  para  obras  publicas :  demais,  as  províncias 
ultramarinas  podem  pagar  uma  quantia  muito  maior  com  destino  espe- 
cial para  obras  publicas,  toda  a  vez  que  effectivamente  se  executem  n'um 
praso  curto  os  melhoramentos  de  que  depende  a  sua  futura  prosperidade. 
O  que  é  necessário  é  que  isto  seja  uma  realidade,  e  que  cada  uma  das 
províncias  obtenha  vantagens  em  justa  proporção  dos  seus  sacriflcios,  isto 
é,  que  o  capital  empregado  em  cada  uma  d'ellas  corresponda  aos  encargos 
que  pagarem. 

tPara  a  execução  das  obras  a  fazer,  ou  directamente  pelo  estado,  ou 
por  emprezas  subsidiadas,  é  preciso  um  capital  avultado,  que  é  impossí- 
vel calcular  desde  já,  mas  que  não  pode  ser  inferior  a  5.000:000^000 
réis.» 

A  prosperidade  geral  das  nossas  possessões  de  Africa  está  exuberan- 
temente provada.  Não  precisámos  de  recorrer  a  outra  demonstração.  Pa- 
rece-nos  comtudo  de  alguma  vantagem  fallar  também  de  outros  empre- 
hendimentos  que  se  trata  de  realisar.  Consignaremos,  pois,  em  primeiro 
logar,  um  extracto  do  relatório  que  precede  a  proposta  de  lei  apresentada 
ás  camarás  para  se  realisar  a  viagem  scientiQca  ao  interior  da  Africai 

É  do  teor  seguinte  : 

tOs  estudos  geographicos  emprehendidos  por  numerosos  viajantes 
na  Africa  central,  onde  caudalosos  rios  e  vastíssimos  lagos  formam  um 
maravilhoso  systema  hydrographico,  tem  dado  já  valiosos  fructos.  A  scien- 
cia  inscreve  com  nobre  orgulho  nos  seus  annaes  os  factos  que  cada  dia 
alargam  mais  os  seus  conhecimentos  sobre  esse  immenso  continente  em 
cujas  recônditas  regiões  se  encontram  todas  as  riquezas  de  que  a  civilisa- 
ção  carece  para  se  expandir  e  engrandecer.  Os  segredos  da  Africa,  que 
nós  passados  séculos  só  os  portuguezes  tinham  podido  descortinar, 
não  tardarão  em  ser  de  todo  revelados  ao  mundo.  Empenham-se  perse- 
verantemente n'essa  nobilíssima  empreza  os  governos,  as  associações 
scientíficas,  os  incansáveis  e  gloriosos  obreiros  que  levam  a  civilisação 
com  o  Evangelho  ás  mais  remotas  e  perigosas  paragens,  os  inimigos  con- 
victos do  horrível  e  devastador  traRco  da  escravatura,  e  esse  espirito  te- 
naz e  insaciável  de  especulação  que  impelle  os  povos  modernos  a  alargar 

1  Demonstrado  o  aagmento  da  receita  publica  das  nossas  províncias  de  Africa, 
e  depois  de  se  conhecer  o  seu  rendimento  applicavel  às  obras  publicas,  apresentá- 
mos o  modo  por  que  se  encaram  as  explorações  scientíQcas  ao  interior  d^aqueilas 
vastíssimas  províncias.  Ê  preciso  saber  o  que  se  tem  feito  e  patentear  o  que  se  pre- 
tende fazer.  O  methodo  que  empregámos  não  será  o  mais  breve,  mas  é  aquellc  em 
que  temos  mais  confiança.  É  este  um  dos  casos  em  que  a  reproducção  de  documen- 
tos tem  grande  vantagem  para  se  chegar  á  verdade. 


190 

os  mercados,  a  buscar  com  aGnco  todas  as  foDtes  de  producçSo,  a  pro- 
curar férteis  territórios  onde  possam  derramar  as  iuexhauriveis  torrentes 
da  emigração. 

cNa  zona  central,  a  mais  fértil  e  rica  da  África,  ninguém  possue  ter* 
ritorios  tão  vastos  e  tão  ricos  como  Portugal.  Na  costa  occidental  e  na 
costa  oriental  possuímos  Angola  e  Moçambique.  Ao  norte  de  uma  d'estas 
províncias  corre  o  Zaire ;  pelo  centro  da  outra  estende-se  o  Zambeze,  os 
dois  mais  poderosos  rios  da  Africa  central,  o  primeiro  dos  quaes  desem- 
boca no  Atlântico  e  o  segundo  no  mar  das  índias.  Quando  o  curso  d*es- 
tes  dois  caudalosos  rios,  e  de  seus  aíQuentes,  for  perfeitamente  conhe- 
cido ;  quando  se  descobrirem  as  relações  do  Zaire  com  o  systema  dos 
grandes  lagos ;  quando  se  houver  estudado  onde  o  Zaire  e  o  Zambeze 
mais  se  approximam  no  seu  principal  curso  ou  no  de  seus  aíQuentes  de 
modo  a  poderem  facilitar  a  communicação  de  uma  com  a  outra  costa,  um 
dos  principaes  problemas  geographicos,  que  mais  immediatamente  inte- 
ressam a  influencia  dos  europeus  e  especialmente  a  nossa  influencia  no 
centro  da  Africa,  ficará  resolvido. 

cChamar  toda  a  attenção  para  este  assumpto,  c  demonstrar  a  obri- 
gação que  as  nossas  tradições,  a  posição  geographica  das  nossas  pos- 
sessões africanas  e  o  nosso  interesse  imperiosamente  nos  impõe.  Onde 
na  Africa  vão  tantos  exploradores  de  outras  nações,  não  podem  deixar 
de  ir  exploradores  portuguezes.  Falla-se  de  que  nos  sertões  da  Africa 
andam  homens,  que  se  dizem  portuguezes,  praticando  o  criminoso  e  exe- 
crando trafico  da  escravatura.  Ponhamos  termo  aos  protestos  de  que  se 
servem  os  que  injustamente  nos  accusam.  O  nosso  dever  é  promover  e  au- 
xiliar uma  expedição  portugueza,  que  possa  contribuir  para  os  progres- 
sos da  sciencia  geographica;  que  busque  os  caminhos  mais. fáceis,  mais 
rápidos  e  mais  seguros  para  o  commercio  licito  de  Angola  para  Moçambi^ 
que ;  e  que  tenha  também  por  essencial  missão  estudar  o  modo  mais  e(- 
fícaz  de  reprimir  o  trafico  e  de  lançar  de  nós  a  iníqua  suspeita  de  consen- 
tirmos que  em  terras  portuguezas,  ou  á  sombra  da  nossa  bandeira,  secom- 
metta  um  crime  odioso  contra  a  humanidade  ^» 

As  explorações  ao  interior  da  Africa  são  uma  necessidade  indecli- 
nável, mas  não  ha  concordância  definitiva  nos  pontos  de  partida.  Gum- 
pre-nos  nomear  os  alvitres  de  que  mais  se  tem  fallado  apresentando  em 
seguida  o  nosso  modo  de  ver  sobre  tão  vital  assumptOé 

Na  imprensa  e  na  sociedade  geographica  de  Lisboa,  de  que  adiante 
faltaremos,  tem-se  mostrado  qual  a  região  que  mais  convém  explorar  e 
qual  o  modo  mais  fácil  de  realisar  símilhante  emprehendimento. 


*  Diariú  do  doterno  n.«  47  de  i  de  março  de  1877. 


A  commissio  permaDente  de  geographia  tem-se  occupado  por  diffe- 
rentes  vezes  da  expedição  geograpbica  ao  iDterior  do  nosso  território  da 
África,  apresentando-se  alguns  alvitres  quanto  ao  fim  a  que  deve  attíngír 
tão  importante  expedição.  Inscrevemos  aqui  um  dos  projectos  apresenta- 
dos, a  flm  de  que  se  avalie  o  seu  alcance : 

c  I .®  Organisar-se-ha  uma  expedição  de  exploração  scientíflca  e  com* 
mercial  á  Africa  central,  a  expensas  do  estado  e  destinada  a: 

cl.  Investigar  as  condições  do  clima,  conGguração,  producção,  povoa- 
ção, communicações  e  topographia  do  território  a  percorrer,  determi- 
nando as  respectivas  coordenadas  geographicas  e  procurando  emSm  obter 
os  melhores  dados  para  o  conhecimento  geographíco  das  regiões  igno- 
radas ; 

cll.  Estabelecer  relações  de  amisade  e  commercio  com  os  povos  ou  es- 
tados que  encontrar; 

cIII.  Rectificar  quando  for  possivel  as  fronteiras  da  antiga  e  actual  do- 
minação portugueza  para  o  interior,  no  sentido  E.  O. ; 

cIV.  Estudar  os  meios  de  alargar  a  acção  civilisadora  e  commercial  de 
Portugal  no  âertão; 

cV.  Emfim  colligir  todas  as  informações  geographicas  que  importem 
á  sciencia,  ao  commercio  e  á  civilisação. 

c2.®  Escolher-se-hão  para  este  effeito  pessoas  que  ás  necessárias  con- 
dições pbysicas  e  moraes  reunam  as  melhores  aptidões  e  conhecimentos 
scientiflcos,  relativos  ao  fim  que  se  pretende,  e  experiência  de  observa- 
ções meteorológicas,  astronómicas  e  geodésicas. 

c 3.®  A  expedição  será  composta  de  seis  exploradores  scientificos  e  do 
pessoal  de  segurança  e  de  serviço  que  for  julgado  necessário. 

t4.^  A  expedição  subirá  em  transporte  do  estado  o  Zaire  até  o  Porto 
da  Lenha,  onde  estabelecerá  a  primeira  base  das  suas  operações,  proce- 
dendo ao  estudo  d'aquelle  rio  na  sua  próxima  ramificação  em  barcos  con« 
venientemente  preparados»  fazendo  as  necessárias  excursões  pelos  três 
braços  conhecidos  pelos  nomes  Maxwell,  Mamballa  e  do  Sonho,  e  tomando 
as  informações  convenientes  para  os  seus  trajectos  futuros. 

c5.^  Depois  d*este  primeiro  estudo  a  expedição  dividir-se-ha  em  dois 
grupos  compostos  de  três  exploradores  scientificos,  servindo  de  chefe  o 
mais  velho  em  cada  um. 

«6.^  Um  dos  grupos  seguirá  o  2aire  na  direcção  NE.  procurando  in- 
te^la^se  com  o  objectivo  no  Sankorra  ou  no  Njrangowe,  e  sem  perder  de 
tista  que  deve  esfoi^r-se  por  estudar  e  conhecer  o  curso  fluvial  tão  longo 
quanto  seja  possivel.  No  caso  de  attingir  o  Sankorra  procurará  estudar 
este  Idgo,  verificar  se  desagua  n'elle  o  Lualaba  e  se  d*elle  tiasce  o  Zaire» 
seguindo»  em  vista  das  informações  obtidas,  na  direcção  do  lago  taga- 


19a 

nyika,  e  procurando  conhecer  o  melhor  <}ue  possa  o  curso  do  Lualaba  e 
seu  tributário  o  Lukuga. 

«7.^  O  segundo  grupo  dirígir-se-ha  na  direcçio  do  S.  a  intemar-se, 
sendo  possível»  até  encontrar  os  affluentes  superiores  ou  as  cabeceiras  do 
Quanza  e  do  Zambeze. 

«8.^  Para  um  e  outro  grupo  subsistirão  os  mesmos  flns  da  expedição 
anteriormente  enunciados. 

c9.^  Uma  commissão  central  executiva,  formada  mediante  accordo  e 
approvação  do  governo,  de  dois  vogaes  effectivos  da  commissão  central 
permanente  e  de  dois  membros  da  sociedade  geograpbica  de  Lisboa,  sob 
a  presidência  do  sr.  ministro  da  marinha  e  ultramar,  providenciará  du- 
rante o  tempo  que  durar  a  expedição,  que  não  faltem  a  esta  os  meios  e 
auxilios  necessários,  dirigirá  as  remessas  de  objectos  que  convier  fazer, 
administrará  o  subsidio  que  for  destinado  á  expedição,  e  tratará  de  rece- 
ber regularmente  as  communicações,  ele,  da  mesma.» 

Resta-nos  fallar  ainda  da  creação  da  Sociedade  de  geographia  de  Lis- 
boa, cuja  inauguração  se  veriflcou  no  dia  7  de  março  de  1876.  O  seu  fim, 
como  se  declara  nos  estatutos,  ó  o  estudo,  a  discussão  e  o  ensino,  as  in- 
vestigaçiies  e  explorações  scientijicas  da  geographia  nos  seus  diversos  ra- 
mos, principaes  relações,  descobertas,  progressos  e  applicaçoes,  no  que 
diz  respeito  especialmente  á  nação  portugueza.  Para  o  realisap,  a  socie- 
dade de  geographia  emprega  os  meios  que  se  reputam  mais  úteis,  como 
sessões,  conferencias,  prelecções,  cursos  livres,  concursos  e  congressos 
scientificos,  subsídios  de  estudo  e  de  investigação,  viagens,  assim  como 
publicações,  formação  de  biblíothecas,  archivos,  museus,  etc. 

Para  facilidade  dos  trabalhos,  a  sociedade  divide-se  em  seis  grupos 
do  seguinte  modo  : 

Geographia  malhematica,  astronomia,  etc. ; 

Geographia  physica,  geológica,  botânica  e  zoologia ; 

Geographia  anthropologica,  ethnologica,  medica,  histórica,  politica, 
commercial,  etc. ; 

Instrucção  geographica ; 

Ghorographia  e  historia  geographica  portugueza ; 

Cartographia  e  archeologia. 

Cada  uma  doestas  secções  se  acha  a  cargo  de  diferentes  commissões 
nomeadas  por  deliberação  da  asserobléa  geral. 

Às  propostas  dos  sócios  referentes  a  qualquer  assumpto  de  geogra- 
phia, depois  de  apresentadas  na  sociedade,  são  remeltidas  ás  respectivas 
commissões  que  elaboram  sobre  ellas  pareceres,  cujas  conclusões,  pre- 
cedidas de  um  relatório  mais  ou  menos  desenvolvido,  se  discutem  em 
assembléa  geral  e  ali  são  approvadas,  modificadas  ou  ampliadas. 


^^^^^^Hv 

^l^l^M^^^^^nf '^'4  '^'  '^^y^^^^l 

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Hl''-  " 

■     f^mw!^™'''   ''''  u^iwl^H 

1  f,  ^i*^\M^^ÊÂ^^^^^^^Êjjáll^M 

193 

I  

Poderíamos  patentear  mais  documentos  i>ara  mostrar  a  importaocía 
que  DOS  merecem  as  possessões  do  ultramar  e  a  altura  a  que  tem  chegado 
o  moTímeoto  geographico  e  colonial  nos  annos  de  1876  e  1877.  Julgámos, 
porém,  sufficientes  os  que  deixámos  referidos;  e  para  concluir  estas  nos- 
sas considerações,  transcrevemos  alguns  trechos  de  um  parecer  discutido 
em  assembléa  geral  da  sociedade  de  geographia,  e  que  dizem  respeito  á 
eiploração  da  r^ião  septentrional  de  Angola. 

«A  esperança  de  encontrar  no  continente  africano  vastas  regiões  que 
por  favoráveis  condições  climatéricas  facilitem  a  colonisacáo  europea,  e 
com  ella  o  aproveitamento  de  consideráveis  riquezas  naturaes  até  hoje 
apenas  entrevistas ;  a  possibilidade  de  vencer  com  os  recursos  e  auxilio 
de  um  admirável  systema  hydrographico,  que  das  altas  regiões  centraes 
e  dos  lagos  ali  existentes  se  dirige  para  o  N.,  para  L.  e  O.,  desenhando 
extensos  valles,  ramificados  nas  direcções  as  mais  diversas;  esperança  e 
possibilidade  que  já  no  secuUo  decimo  sexto  anunava  entre  outros  a  Bal- 
íhasar  de  Castro  e  Manuel  Pacheco,  promoveram  particularmente  na  se- 
gunda metade  do  século  actual  repetidas  explorações,  que  são^  gloria  das 
nações  que  as  emprehendem,  e  que  téem  feito  inscrever  nas  paginas  da 
historia  dos  commettimentos  geographicos  os  nomes  de  Speke,  de  Burton, 
de  Livingstone,  de  Cameron^,  de  Schweinfurth  e  de  tantos  mais  ousados 
exploradores. 

cBem  pode  a  tal  respeito  afSrmar-se  que  uma  generosa  emulação  se 
apoderou  a  um  tempo  dos  paizes  europeus^  porfiando  não  somente  as 


1  Camcron  foi  um  dos  últimos  viajantes  que  atravessou  o  interior  da  nossa  re* 
^Moo  africana,  vindo  de  Moçambique  para  Angola.  O  dia  em  que  chegou  aBengucila 
e  o  modo  por  que  foi  recebido  consta  do  seguinte  documento : 

«Serie  de  1875 —Secção  militar— N.»  i30.'— 111.»»  sr.— Cumpre-me  participar 
a  V.  s.*.  para  que  seja  presente  a  s.  ex.*  o  governador  geral  da  província,  que  no  dia 
8  do  corrente  chegou  a  esta  cidade  o  capitão  tenente  da  armada  de  Sua  Magestade 
Brilannica,  Y.  Sorett  Cameron,  commandante  da  expedição  á  procura  de  Living- 
stone; c  no  dia  immediato  quatorze  pessoas  da  sua  comitiva,  Geando  maior  numero 
á  retaguarda  pela  morosidade  da  marcha,  por  falta  de  forças. 

«Logoquc  soube  da  chegada  d^aquelle  offlcial,  dirígi-me  á  casa  de  Cauchoix 
Frères,  para  onde  foi  hospedar-se,  e  lhe  dei  noticia  que  tinha  ordens  do  governo 
de  Sua  Magestade  o  Rei  de  Portugal  para  lhe  dispensar  todos  os  auxilio»  de  que 
carecesse,  ofTerecendo-lhe  por  esta  occasião  a  casa  do  governo,  e  tudo  mais  que  en- 
tendesse lhe  poderia  ser  útil. 

«O  sen  estado  de  saúde  era  então  um  pouco  grave,  por  se  lhe  ter  manifestado 
um  ataque  de  escorbuto;  porém  já  hoje  promette  em  breve  restabelecer*se. 

«Dei  ordem  para  se  lhe  fornecer  da  botica  do  hospital  militar  todos  os  medi- 
camentos que  o  facultativo  lhe  receitasse. 

«Quanto  á  comitiva  (gente  de  Zanzibar)  acha-se  aquartelada  no  rez-de-chaussée 

13 


194 

nações  coIoDíacs,  mas  ainda  outras,  que  apenas  índíreclamenlo  poderão 
auferir  vantagens  do  melhor  conhecimento  das  regiões  africanas,  como  a 
Itália,  como  a  Âllemanha  por  exemplo,  em  prestar  valioso  contingente 
n'esse  esforço  commum. 

«O  êxito  feliz  da  tentativa  do  tenente  Cameron,  tentativa  que  de  modo 
solemne  auctorisou  a  esperança  de  conseguir  uma  importante  conmiuni- 
cação  natural  entre  as  duas  costas,  a  que  dariam  base  as  grandes  artérias 
do  Zaire  e  do  Zambeze,  ainda  mais  veiu  influir  nos  espíritos  e  fixar  a  at- 
tenção  publica  sobre  o  grande  problema  africano,  particularmente  em 
Inglaterra,  onde  a  par  do  interesse  scientifico,  se  levantam,  como  é  natu- 
ral e  com  toda  a  vehemencia  que  lhe  pôde  imprimir  a  energia  nacional 
da  raça  anglo-saxonia,  o  interesse  politico  e  o  commerciaK 

€  Portugal,  berço  dos  grandes  navegantes  dos  séculos  xv  e  xvi,  pátria 
dos  homens  que  conceberam  e  levaram  a  bom  termo  emprezas  das  mais 
ousadas^  que  registam  os  annaes  dos  povos ;  Portugal,  cujas  expedições 
africanas  dos  fins  do  século  passado  e  princípios  do  actual,  estão  ainda 
boje  sendo  objecto  de  estudo  para  a  própria  Inglaterra,  onde  a  real  so- 
ciedade geographica  fez,  não  ha  muito,  traduzir  e  publicar  os  roteiros  do 
dr  Lacerda,  dos  pombeiros  P.  J.  Baptista  e  Amaro  José,  do  major 
Gamitto;  Portugal,  que  ha  bem  poucos  annos  apontava  com  orgulho  para 
o  successivo  apparecimento  dos  trabalhos  cosmographicos  do  visconde 
de  Santarém,  para  o  contingente  valioso  fornecido  pelo  illustre  marquez 
de  Sá,  para  a  melhor  descrípção  cartographica  das  nossas  extensas  coló- 
nias africanas;  Portugal,  finalmente,  que  nas  duas  costas,  oriental  e  Occi- 
dental do  grande  continente  vé  reconhecida  a  sua  soberania  em  uma  ex- 
tensão superior  a  20:000  metros  quadrados,  cujo  commercio  mais  do  que 
o  de  nenhum  paiz  tem  penetrado  para  o  interior ;  Portugal,  embora  não 
podesse  talvez  de  prompto  apontar  um  nome  que  hombreasse  com  os  de 
alguns  dos  conferentes  de  Bruxellas,  bem  devia  comtudo  acbar-se  repre- 
sentado entre  elles,  até  mesmo  pela  circumstancia  do  concurso  efScacís- 
simo  com  que  poderá  vir  em  auxílio  d'essa  tentativa,  que  consiste  em  con- 
gregar os  esforços  isolados,  sujeitando-os  a  uma  direcção  commum,  e  for- 
tificando-os  com  a  certeza  da  existência  de  uma  base  segura  de  operações, 
de  um  auxilio  eificaz  e  permanente. 


da  casa  do  antigo  palácio  do  governo,  e  tem  sido  soccotrlda  dos  géneros  alimen-, 
ticios  e  dinheiro  que  o  dito  offlcial  me  tem  requisitado. 

tDeus  guarde  a  v.  s."  Governo  de  Benguella,  9  de  novembro  de  1875.— IU.*«  sr. 
Secretario  geral  do  governo. =Francí>co  José  de  Brito,  governador. 

«Está  conforme.  Secretaria  do  governo  geral  em  Loanda,  20  de  novembro  de 
1875. »0  secretario  geral,  António  do  Nasc^nento  Pereira  de  Sampaio.* 


195 

cE  o  convencimento  de  similhante  verdade  por  tal  forma  se  impunha 
aos  ânimos,  que  a  própria  conferencia  de  Bruxellas,  que  pareceu  esque- 
cer-nos  tía  sua  composição,  e  ató  mesmo  os  dois  grupos  em  que  ella  na- 
turalmente se  dividira,  tomaram  todos  para  ponto  de  partida  o  aprovei* 
tamento  dos  recursos  que  oíTerece  a  nossa  importante  colónia  angolense. 

tSe  nos  recordarmos  que  entre  um  e  outro  d'esse8  limites  se  encon- 
tram, alem  dos  portos  de  Molembo  e  Cabinda,  a  foz  d*esse  grande  rio 
Zaire  ou  Congo,  cuja  forte  corrente  e  enorme  volume  de  aguas  se  torna 
sensivel  a  550  kilometros  da  costa,  facto  este  mencionado  já  pelo  padre 
Balthazar  Telles,  rio  que  tem  em  si  as  proporções  todas  para  se  tornar 
uma  das  grandes  artérias  do  commercio  do  mundo,  aprecia-se  bem  a  rasSo 
das  duvidas,  um  tanto  tardias,  que  se  levantaram  no  animo  muito  inglez 
d'aquelle  famoso  ministro  d'estado.  É  esta  quest3o,  porém,  das  que  me- 
nos têem  sido  descuradas  pelo  governo  e  pela  sciencia  portugueza,  bas- 
tando citar  com  relação  á  ultima  a  Demonstração  dos  direitos  que  a  coroa 
de  Portugal  tem  aos  territórios  de  Molembo^  de  Cabinda  e  Ambriz,  pelo 
visconde  de  Santarém,  e  ainda  os  Factos  e  considerações  relativas  aos 
direitos  de  Portugal  sobre  os  territórios  de  Molembo,  de  Cabinda  e  AmbriZy 
pelo  visconde  de  Sá  da  Bandeira ;  e  com  relação  ao  governo  as  diligencias 
e  esforços,  entre  outros,  d'este  ultimo  estadista  e  geographo  distincto. 
Mas  para  nada  serve  reclamar  um  direito  quando  nenhum  uso  se  faz  ou 
pretende  fazer  d^elle,  e  n'esse  sentido  o  que  mais  importa  é  aflBrmar  por 
factos  essa  soberania,  salvo  o  fazer  valer  os  argumentos  que  provam  o 
nosso  direito  quando  a  legitimidade  d'esses  factos  seja  effectivamente  con- 
testada. 

cNão  occupámos  nós  o  Ambriz  em  1855  apesar  das  reclamações  e  du- 
vidas apresentadas?  Direitos  reservados  é  que  se  não  comprehendem  fa- 
cilmente no  século  xix,  quando  a  força  de  expansão  da  população,  do 
commercio  e  da  industria  assume  proporções  que  a  historia  ainda  não  re- 
gistara. Tudo  quanto  rfaquellas  regiões  tenda  portanto  a  provar  a  nossa 
vitalidade,  não  só  politica  e  militar,  mas  ainda  muito  particularmente 
scientifica,  tem  pois  no  momento  actual  um  valor  e  uma  significação  que 
é  inútil  encarecer. 

«Explica  essa  convicção,  que  se  tomou  geral  entre  nós,  a  maneira  por 
que  foi  prompta  e  feUzmente  reconhecida  por  todos  em  Portugal  a  neces- 
sidade da  expedição  africana,  para  o  que  também  muito  concorreram  os 
esforços  das  duas  corporações  geographicas  recentemente  constituídas,  e 
ainda,  grato  é  confessal-o,  a  intelligente  solicitude  do  sr.  ministro  da  ma- 
rinha, sendo  de  esperar  também  que  um  pensamento  tão  patriótico  en- 
contre junto  aos  membros  dos  corpos  legislativos  o  acolhimento  que  a 
opinião  publica  lhe  dispensou  desde  logo. 


196 

«Parece  também  ir-se  accoiiluando  a  convicção  de  que  a  determinação 
do  curso  superior  do  Zaire,  e  das  suas  relações  com  o  Lukuga,  o  lago 
Tanganika,  o  Lualaba,  e  finalmente  o  Zambeze,  terá  de  ser  uma  parte  e 
muito  importante  da  missão  que  deve  incumbir  á  expedição  portugueza. 
É  esse  o  problema  que  chama  hoje  a  attenção  do  mundo  scientifico;  cum- 
pre-nos  a  nós,  que  desejámos  manter  os  nossos  direitos  sobre  a  foz  do 
Zaire,  ajudar  pelo  menos  a  resolvel-o.  Â  falta  de  um  esforço  sequer  n'esse 
sentido  traria  consequências  fataes  para  o  dominio  portuguez  n'aquellas 
regiões.    . 

cPosta  a  questão  n'estes  termos,  e  sendo  certo,  como  felizmente  já  se 
acha  provado  por  factos,  vistoque  distinctos  ofQciaes  de  marinha  se  dispu- 
tam a  honra  de  ter  uma  parte  em  tão  considerável  commettimento,  que 
existem  em  Portugal  todos  os  elementos  para  organisar  a  expedição  com 
o  pessoal  scientifico  necessário  para  nos  assegurar  o  que  sobretudo  im- 
porta, isto  é,  com  a  exacta  e  rigorosa  determinação  das  coordenadas  geo- 
graphicas,  e  das  altitudes  dos  pontos  percorridos,  um  traçado  rigoroso 
da  região  percorrida  e  explorada,  parece  mais  natural  esperar  pelos  re- 
sultados alcançados  n'esse  commettimento,  antes  de  emprehender  novos, 
embora  de  utilidade  incontestável,  para  o  bom  êxito  dos  quaes  se  carece 
aliás  de  recursos,  que  não  podemos  ainda  dissiminar  sem  fundado  receio 
de  os  ver  ou  destruidos,  ou  pelo  menos  mal  aproveitados. 

cNão  pôde  contestar-se  que  a  exploração  do  Cunene,  que  dehmita  ao 
sul  a  província  de  Angola,  e  nos  recorda  a  nós  portuguezes  o  nome  bene- 
mérito de  Fernando  da  Costa  Leal,  ao  qual  a  geographia  é  devedora  em 
grande  parle  do  pouco  que  ainda  hoje  se  conhece  a  respeito  d'esse  rio,  e 
até  da  situação  da  sua  foz,  offercce  por  muitas  causas  diversas  o  maior 
interesse.  Feracidade  e  felizes  condições  climatéricas  da  região  que  atra- 
vessa ;  proximidade  provável,  na  origem,  dos  aíQuentes  do  Zambeze,  par- 
ticularmente do  Chobe,  e  com  ella  a  descoberta  de  outra  communicação 
fluvial  possível  entre  as  duas  costas;  determinação  das  relações  existen- 
tes entre  o  Cubango,  o  Chobe,  o  Ertibára,  o  Cuanamare,  são  outros  tan- 
tos motivos,  que  fazem  desejar  que  possa  fazer-se  a  exploração  d'esta 
nossa  zona  africana,  e  n'esse  sentido  devem  mais  tarde  convergir  os  esfor- 
ços da  sociedade;  por  emquanto  parece-nos  aconselhável  satisfazer  ao  que 
mais  urge,  e  a  urgência  vemol-a  nós  toda  em  recordar  na  Africa  e  fora 
d'ella  que  a  região  do  Zaire  é  mais  naturalmente  investigada  por  portu- 
guezes, do  que  por  nacionaes  de  qualquer  outro  dos  paizes  europeus.» 

Não  é  possível  adiar-se  por  mais  tempo  a  exploração  geographico- 
commercial  da  provincia  de  Angola.  Entre-se  pelo  território  do  N.  ou  do 
S.,  sigam-sc  as  margens  do  rio  Zaire  ou  do  rio  Cunene,  mas  aproveite-se 
a  occasião  em  que  de  todos  os  ângulos  de  Portugal  se  ouve  o  mesmo 


197 

brado:  Façamos  progredir  as  colónias,  mostremos  o  que  por  ellas  temos 
feito,  e  não  nos  esqueçamos  de  que  somos  o  mais  antigo  paiz  colonial  da 
Europa  e  uma  das  maiores  nações  da  actualidade,  poisque  somente  a 
Rússia,  Turquia  e  Inglaterra  nos  são  superiores  em  territórios. 

O  impulso  está  dado,  e  as  expedições  para  Africa  seguirão  umas  após 
outras,  como  nos  últimos  annos  do  século  xi,  em  que  nos  tornámos  uma 
das  maiores,  senão  a  maior  nação  do  mundo,  poisque  a  nós  se  deveu  o 
conhecimento  de  metade  do  globo. 

cE,  acrescenta  o  erudito  sábio  Henrique  Major,  no  seu  monumento 
levantado  á  gloria  de  Portugal,  afoitamente  digo,  metade  do  globo»  pois 
tal  é  o  fundamento  com  que  intitulo  esta  obra,  Vida  do  infante  D.  Henri- 
que, o  navegador  e  seus  resultados. 

c  gloria  do  infante  consiste  na  concepção  e  persistente  proseguimento 
de  uma  grande  idéa  e  suas  consequências. 

cTende,  pois,  este  livro,  mais  a  rememorar  os  illustres  feitos  do  in- 
fante, do  que  á  simples  descripção  da  sua  vida. 

«Não  é  uma  gloria  de  phantasia  e  vaidade,  mas  realidade  esplendida, 
que  se  projecta  na  historia,  acompanhada  de  successos  transcendentes,  e 
a  que  ao  menos  a  raça  anglo-saxonia  não  tem  desculpa  de  ser  indifferente. 

€As  costas  de  Africa  percorridas;  o  Cabo  da  Boa  Esperança  dobra- 
do; o  novo  mundo  patenteado;  o  caminho  para  a  índia,  para  as  Molucas 
e  para  a  China  franqueado;  o  globo  circumnavegado  e  a  Austrália  desco- 
berta dentro  de  um  século  de  explorações  travadas. 

«Taes  foram,  como  no  meu  ultimo  capitulo  reflro,  os  estupendos  re- 
sultados de  um  grande  pensamento  e  incansável  perseverança,  não  obs- 
tante doze  annos  de  vicissitudes,  gastos  infructiferos,  motejos  e  desani- 
madoras murmurações.» 

Recordámos  os  nossos  brilhantes  feitos  do  século  xv  e  xvi,  para  nos 
servirem  de  exemplo.  Não  será  menor  a  gloria  que  nos  espera,  se  não  des- 
animarmos, se  tornarmos  as  palavras  em  obras,  se  cuidarmos  em6m  de 
colonisar  de  raiz  e  a  preceito  a  província  de  Angola,  e  a  zona  tropico-equa- 
torial  que  se  estende  d'ali  até  á  outra  costa,  a  Africa  portugueza,  onde  po- 
demos crear  um  império  maior  do  que  o  do  Oriente. 

Pr«f ilida  de  Cabo  Verde  e  suas  dependências. — Compõe-se  esta  província 
das  ílbas  de  Cabo  Verde  e  da  Guiné  ou  Senegambia,  no  continente  da  Afri- 
ca. Abstemo-nos  de  fazer  uma  descripção  minuciosa  doesta  importante  pro- 
víncia, e  daremos  unicamente  as  informações  que  nos  parecem  indispen- 
sáveis, para  se  poderem  comparar  os  territórios  que  comprehendem  com 
os  das  outras  nações.  É  este  o  nosso  principal  empenho. 

Paliaremos  primeiro  da  região  insular. 


198 

As  ilhas  de  Cabo  Verde,  segundo  Larousse,  téem  4:400  kilomelros 
quadrados.  N3o  sabemos  se  esta  inrormação  è  exacta,  nem  podemos  apu- 
rar a  verdade  sob  este  ponto  de  vista. 

No  annuario  estatistico  de  Gotha  calcula-se  a  superfície  das  ilhas  em 
4:271  kilometros  quadrados.  A  differença  para  menos  é  sensível,  mas  não 
o  é  menos  a  que  se  encontra  n'outros  escriptores,  se  tomarmos  em  con- 
sideração a  superfície  indicada  por  Carlos  Yogel,  que  a  calcula  em  3:920! 

Se  deixarmos,  porém,  os  escriptores  estrangeiros  para  nos  referirmos 
aos  nacionaes,  não  somos  mais  felizes. 

Lopes  de  Lima  diz  que  a  superfície  das  ilhas  é  de  4:194  kilometros 
quadrados,  área  difTerente  da  calculada  pelos  escriptores  referidos,  mas 
a  nossa  surpreza  augmenta  quando  vemos  calcular  o  território  umas  ve- 
zes em  2:929  kilometros  quadrados  e  outras  em  3:330 1  E  quando  se  dão 
d'estas  irregularidades  a  respeito  das  ilhas  de  Cabo  Verde*,  o  que  se  pôde 
esperar  acerca  das  províncias  de  Angola  e  Moçambique? 

É  de  urgente  necessidade  que  se  proceda  sem  demora  aos  estudos 
convenientes  para  se  determinar  com  exactidão  não  só  a  superfície  de  cada 
uma  das  províncias  ultramarinas,  mas  também  a  sua  população.  De  outro 
modo  não  é  possível  avaliar  a  população  especifíca  nem  fallar  com  funda- 
mento a  respeito  da  aclimação,  base  de  toda  a  colonisação  e  progresso 
colonial. 

É  realmente  innegavel  que  este  assumpto  é  muito  complexo  e  depende 
de  variados  trabalhos  complementares,  cuja  execução  pertence,  não  só 
ás  repartições  de  saúde,  mas  também  ás  dos  concelhos  administrativos  e 
ás  secretarias  dos  governos.  Mas,  sejanjual  for  a  repartição  a  que  perten- 
çam, é  indispensável,  para  se  obter  bom  resultado,  que  haja  um  systema 
bem  definido  e  um  methodo  de  trabalhos  preparatórios  tão  simples 
quanto  bem  calculado. 

As  ilhas  de  Cabo  Verde  toem  uma  posição  importante,  e  acham-se  dis- 
postas de  tal  modo  que  permittcm  a  sua  classificação  em  grupos  como  as 
do  archipelago  dos  Açores,  e  como  estas  deviam  ser  consideradas  ilhas 
adjacentes.  Merecem  esta  dístincção  não  só  pela  distancia  a  que  estão  da  me- 
trópole, mas  também  por  outras  círcumstancias  que  escusámos  enumerar. 

A  urzela  apparece  espontaneamente  em  muitas  ilhas  e  veiu  ao  mer- 
cado de  Lisboa  muito  antes  da  que  se  exporta  da  província  de  Angola. 

0  milho,  apesar  de  ser  semeado  em  covas  á  flor  da  terra,  produz 
duzentos  por  um.  Ninguém  ignora  o  trabalho  que  esta  cultura  exige  na 
província  do  Minho. 

1  Temos  diante  de  nós  um  livro  onde  se  diz  que  o  archipelago  de  Cabo  Verde 
se  compõe  de  mais  de  noventa  ilhas  e  ilhéus.  Este  livro  serve  para  o  ensino  de 
geographia  e  tem  numerosas  edições! 


199 

O  feijSo  dá-se  bem,  e  o  café  nasce,  por  assim  dizer,  espontaneamente, 
e  é  muito  considerado  no  mercado  de  Lisboa  onde  obtém  preço  bastante 
elevado. 

Os  terrenos  em  algumas  ilhas  d'este  archipelago  são  favoráveis. 

O  tabaco  *  é  exceliente. 

A  cultura  da  jague-jague  ou  palma-cbrísti ',  algodão,  anil  e  cocbonílla 
ofiTerece  grande  vantagem  ao  cultivador. 

As  ilhas  de  Cabo  Verde  acham-se  mais  ou  menos  afastadas  umas  das 
outras,  e  por  isso  mesmo  o  solo  é  variado  e  accommodado  a  diversas  cul- 
turas, havendo  algumas  largamente  desenvolvidas. 

A  capital  da  província  è  a  cidade  da  Praia  na  ilha  de  S.  Thiago,  onde 
reside  o  governador  geral  e  onde  estão  as  repartições  superiores.  Publi- 
ca-se  um  boletim  oíDcial,  cujo  primeiro  numero  ^  appareceu  em  janeiro 
de  1842,  e  n'elle  se  acham  impressos  importantes  trabalhos  estatísticos. 

Deveríamos  ajuntar  algumas  informações  a  respeito  de  tão  impor- 
tante archipelago,  mas  seria  sempre  resumida  a  descripção.  O  seguinte 
mappa  estatistico-geographico  põe  em  relevo  as  vantagens  do  archipelago 
de  Cabo  Verde  e  mostra  os  pontos  de  relação  que  ha  entre  este  e  o  dos 
Açores. 


1  «A  respeito  do  tabaco  disseram  offlcialmcnte  ao  governo,  cm  1835,  os  contra- 
tadores, em  resultado  do  exame  a  que  procederam  em  umas  amostras  d*ali  remetti- 
das  cque  era  igual  ao  Kentuky  e  Virgínia,  que  era  mui  bem  cultivado,  bem  secco 
e  bem  preparado,  e  que  nào  duvidariam  comprar  annualmente  14:000  arrobas 
(205:000  kilogrammas)  pelo  preço  por  que  pagavam  aquelle  a  que  o  compara- 
vam.» (Jornal  das  colónias,) 

2  ÀS  mulheres  do  paiz,  depois  do  parto,  banham-se  em  um  cozimento  feito  de 
folhas  do  jaçue-jague.  Lavam  também  os  peitos  com  esta  agua^  a  fim  de  terem  mui- 
to leite. 

3  Nao  podemos  ver  o  primeiro  numero  d'esta  útil  c  interessante  publicação, 
mas  pessoa  auctorísada  julga  que  o  primeiro  numero  do  Boletim  apparec(}ra  no 
aono  a  que  nos  referimos  no  texto. 


Latitude  3&>  57'  N.  n  3»>  41'  N— Longllndc  15>  SO'  a  21>  10'  O.  de  Lisboa 


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85 
100 
131 
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196 
102 
92 
102 
132 
103 
5 

S.  Jorge 

Terceira 

Graciosa 

Pi>[iulacno  espi^cifica  i'iii  geial  102,8  babilanlcã  por  kiloraetro  quadrado. 

ProduopSes.—  Grande  auanliJadi;  de  excellente  laranja,  fmctas,  limOeg, 
ananazes,  aguardente,  trigo,  milho,  legume»,  balata,  intiame,  linho,  vinhatira,  faia, 
castaatias,  pinho  e  gado  para  conRomo. 


Archlpelatn  ale  Caha  Tcrdo 

LaUfu(lRl4>ii>'al7'4l'.N.-l.oi)ei(u<]e  lli'3â'.t  19' 13' O.  de  Usboa 


llliu 

LalilDao 

LoiikUd.Iii 

ií 

tio 

DislriUo 

i 
1 

■3 

í 

SatitnAiil3o 
/^   ..       .        S.VÍ«nlo.. 
5  l                  Snnia  Luíia 
l|                    S.  Nicolau.. 

S  líoriení!.!.  ^f'':"" 
§■  '^                  BoaVjsla.. 

ia 

=                  iBrava 

S    Meridjo-jFogo 

[1      nal....iS.TIiiago.. 
(Maio 

17» 4  IN. 
Ifi^-SVN 

10-40' N. 
!C'3i;'.\. 

IC-7'N. 
HMCN 
I4°50'5.N 

l-i-ã-VN 
13"  0'  N. 

13°  3!)' 0. 

i:í"  w;ó  0. 

i3'iS',0. 

l.i"4!)-0. 
i:í-  40,8  0. 
13°  :U',7  0. 

15"  350. 
13°  H',7  0. 
14°  27',G  0 

l4-9'0. 

SIC 
!H 
40 

48:t 

303 
468 
ãi 
218 
718 
108 

17:005 
1:804 

7:210 

802 

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d-.m 

10:300 

35:534 
1:132 

Lisboa 

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2:929 

82:864 

m  dtircrcal«ii  Ilha* 


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131 
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130 

1 

S.  Thiago 

13 
31 
60 
90 
80 

130 
B5 

110 

13 

62 
42 
80 
92 
15 
87 
135 

31 
62 

100 
124 

90 
125 

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112 

60 
43 

100 

10 
68 
133 
12i 
120 

90 
80 
124 
10 

60 
116 
140 
110 

110 
135 
113 
130 
110 
30 
9 
120 

Fogo. 

Boa^sto. 

S.  Nicolaa 

Suto  Aniso 

S.  Vic«nle 

Popnlfçío  espeãfica  em  gcrnl  38,2  h.tbilantps  por  kilonielro  qu.idrado. 

Px*oduOQ5es. —  Superior  café,  cacau,  urzela,  Rranda  quantidade  de  par- 
goeira,  coni,  aguardente  Je  cannA,  milho,  muito  sal,  algodão,  anil,  boa  laranja,  linjas, 
rímaes  e  diversas  fnicUs,  muilo  taba''iD,  legumes,  papaias,  ananates,  cocos,  horLiliças, 
miadíoci.  Ti oho,  óptimas  melancias  e  melttes,  canna  de  nssucar,  bananas,  cidras,  gado 
nccuiD  e  de  niniUs  oatras  especiea. 


202 

Considera-se  como  dependência  da  província  de  Cabo  Verde  a  Guiné 
ou  Senegambia  portugueza*.  É  uma  importante  possessão,  cujos  limites 
sé  acham  determinados  do  seguinte  modo : 

Começa  em  13®  10',  3^,7  ao  N.  do  rio  de  S.  Pedro,  e  acaba  no  cabo 
da  Verga,  em  10°  20'  de  latitude,  comprehendendo  as  ilhas  de  Bolama, 
Galiinhas  e  Orango,  no  archipelago  de  Bijagoz. 

0  presidio  de  Geba  fica  a  mais  de  111  kilometros  da  costa. 

A  superfície  d'este  território  é,  segundo  G.  Pery  *,  sete  vezes  maior  que 
a  da  provinda  de  S.  Thomó,  havendo  por  este  lado  motivo  sufllciente 
para  fazer  d'elle  um  governo  como  o  d'esta  provinda. 

Eis-aqui  o  que  a  este  respeito  escreveu  o  venerando  marquez  de  Sá 
da  Bandeira,  a  quem  as  colónias  portuguezas  devem  a  mais  acrysolada  de- 
dicação : 

tParece-me  também  conveniente  que  seja  dissolvido  o  governo  geral 
de  Cabo  Verde,  sendo  dividido  em  duas  partes,  das  quaes  uma,  composta 
de  todas  as  ilhas  do  archipelago,  seria  organisada  como  os  distríctos  ad* 
ministrativos,  devendo  ficar  subordinada  ao  ministério  do  reino. 

«Assim,  esta  nova  circumscripção  territorial,  o  districto  da  Praia  de 
Cabo  Verde,  constituiria  o  22.°  districto  e  o  5.®  das  ilhas  adjacentes.  For- 
maria uma  sub-divisão  militar,  e  continuaria  a  ter  duas  comarcas,  a  da 
Praia  e  a  do  Mindello,  para  onde  deveria  transferir-se  a  sede  da  que  está 
na  ilha  de  S.  Nicolau,  poisque  a  ilha  de  S.  Vicente  é  aquella  em  que  as 
communicaçôes  são  mais  frequentes  com  as  mais  ilhas  que  formam  a  co- 
marca, e  com  Lisboa. 

1  A  Guino  portugueza  ou  Senegambia,  achava-se  outr*ora  dividida  em  dois  go- 
vernos subalternos,  isto  é,  capitania  mór  de  Cacheu  e  dependências,  e  sargenteria 
mór  de  Bissau  e  dependências.  Posteriormente,  em  consequência  dos  navios  se  di- 
rigirem em  maior  escala  para  o  porto  de  Bissau,  considerou-se  o  governo  de  Cacheu 
e  dependências  como  subalterno  do  de  Bissau  e  dependências,  dando-se  o  titulo  de 
governo  da  Guiné  portugueza  ao  ultimo,  e  ficando  o  antecedente  com  o  titulo  que  ti« 
nha. 

Estes  governos  eram  civis  e  militares. 

Na  actualidade,  isto  é,  desde  1869,  o  território  da  Guiné  forma  um  só  governo 
civil  e  militar.  Tem  a  sede  em  Bissau  e  é  dependência  do  governo  geral  de  Cabo 
Verde. 

2  Carlos  Vogel  no  seu  importante  trabalho  Le  monde  terrestre,  em  via  de  pu- 
blicação, guiando-se  pelo  annuario  estatístico  de  Gotha,  calcula  a  superficie  do  nos- 
so território  da  Guiné  em  69  kilometros  quadrados !  É  preciso  porém  dizer-se  que 
isto  nao  é  exacto. 

O  sr.  João  Carlos  Cordeiro,  que  de  boa  vontade  nos  deu  minuciosas  Informa- 
ções a  respeito  do  território  da  Guiné,  calcula  em  muito  mais  de  20:000  kilometros 
quadrados  a  superfície  que  ali  temos,  comprehendendo  o  dos  diversos  e84ados  ou 
iribus  gentílicas  feudatarias  a  Portugal. 


203 

cO  districto  da  Praia  de  Cabo  Verde  teria  uma  importância  similhante 
á  que  tem  o  districto  da  Horta.  N'este  a  distancia  maior  entre  as  ilhas  que 
o  compõem,  a  saber,  entre  a  do  Pico  e  a  das  Flores,  excede  a  que  ha  en- 
tre S.  Thiago  e  Santo  AntSo. 

f  A  populaçSo  do  districto  da  Horta  é  de  60:000  a  70:000  habitantes; 
o  archipelago  de  Cabo  Verde  tem  também  60:000  a  70:000  almas.  A  dis- 
tancia d'este  a  Lisboa  percorre-se  actualmente  em  seis  ou  sete  dias,  e  o 
mesmo  succede  entre  Lisboa  e  o  Faial. 

«A  outra  parte  da  província,  a  Guiné  portugueza,  deveria  formar  um 
governo  particular,  da  categoria  do  de  S.  Thomé  e  Príncipe. 

«O  seu  território,  que  é  atravessado  pelo  12**parallelode  latitude  N., 
tem  40  a  50  léguas  (SS2  a  378  kilometros)  da  costa  marítima,  na  qual 
desembocam  os  importantes  rios  Casamansa,  o  de  Cacheu  ou  S.  Domin- 
gos, o  de  Geba,  e  o  vasto  estuário  chamado  Rio  Grande  de  Guinala  ou 
de  Bigubà,  alguns  dos  quaes  communicam  entre  si  por  esteiros  ou  canaes 
naturaes;  alem  d'estes  rios  ha  outros  menos  importantes. 

«A  mancarra,  ou  ginguba,  ou  mendoby  (Arachis  hypogcea)  é  a  prin- 
cipal planta  cultivada  e  dá  grande  interesse ;  o  arroz  é  grangeiado  pelos 
indígenas  e  produz  abundantemente.  Mas  o  solo  é  proprío  para  as  outras 
plantações  tropicaes. 

f  A  canna  de  assucar  seguramente  havia  de  dar  grande  proveito.  E 
conviria  que  o  governo  promovesse  ali  esta  industria  em  grande  escala,  o 
que  lhe  seria  fácil  fazer,  procurando  que  se  formasse  para  esse  flm  uma 
empreza  na  ilha  da  Madeira,  onde.  ha  pessoas  praticas  e  habituadas  a  di- 
rigir bem  um  engenho  e  as  respectivas  plantações.  Uma  fabricação  de 
aguardente  de  canna  deveria  dar  muito  lucro. 

tHa  na  ilha  da  Madeira  muita  gente  que  tem  vivido  na  Guiana  ingle- 
za,  para  onde  a  emigração  tem  sido  grande  desde  alguns  annos  a  esta  par- 
te, e  onde  existem  milhares  de  madeirenses.  Esta  colónia,  cuja  situação  é 
mais  meridional  do  que  a  da  Guiné  portugueza,  tem  um  clima  que  não  é 
melhor  do  que  a  d'esta  parte  da  Africa,  e  aqui  ha  logares  afastados  das 
margens  dos  rios  que  são  relativamente  saudáveis. 

t  A  uma  tal  empreza  deveriam  conceder-se  alguns  favores  temporá- 
rios, bem  como  áquelles  que  se  occupassem  da  cultura  do  algodão  e  de 
algumas  outras  producções,  e  a  todas  se  deveria  dar  segurança  contra 
qualquer  ataque  por  parte  dos  indígenas. 

tPor  meio  de  barcos  de  vapor  apropriados  aos  rios  se  facilitariam  as 
communicações,  e  para  estes,  bem  como  para  as  machinas  de  vapor,  que 
nos  engenhos  se  empregassem,  ha  ali  o  combustível  de  lenha  em  abun- 
dância. 

«Também  deve  atlender-se  a  que  está  próximo  o  tempo  em  que  as 


204 

colónias  europeas  de  Senegambia  hão  de  communicar  com  a  Europa  por 
cabos  submarinos. 

f  Outra  industria  que  ali  deveria  ser  muito  proveitosa  seria  a  da  pre- 
paração de  madeiras  para  exportação. 

f  O  discreto  emprego  de  capitães  em  Guiné,  a  ida  para  lá  de  indivi-  4 
duos  habilitados  a  dirigir  o  trabalho  dos  negros  manjacos,  que  para  isso 
se  assalariariam,  impostos  aduaneiros  mui  baixos  e  em  poucos  géneros, 
bem  conío  algumas  outras  medidas  que  se  tomassem,  poderiam  concorrer 
para  tornar  esta  colónia  florescente,  dentro  de  poucos  annos. 

«Parece-nos,  pois,  que  está  demonstrado,  não  só  a  necessidade  de  se 
modiGcar  a  administração  da  provincia  de  Gabo  Verde,  mas  também  a 
urgência  de  se  crear  uma  provincia  independente  no  vasto  território  da 
Senegambia,  onde  temos  bastantes  presídios  e  algumas  feitorias  de  que 
passámos  a  dar  uma  breve  noticia. 

«A  capital  do  governo  de  Guiné  deveria  estabelecer-se  na  ilha  de  Bo- 
lama, situada  a  meio  caminho  entre  o  Rio  Grande  e  o  rio  de  Geba ;  e  para 
esse  fim  deveria  fundar-se  n'esta  ilha  uma  villa  regular.» 

As-povoaç5es  principaes  do  nosso  território  da  Guiné  são* : 

Bissau  e  Cacheu,  praças  de  guerra ; 

Bolama  e  Gallinhas^,  ilhas; 

1  A  descrípção  da  Guiné  portagueza  teve  por  base  as  informações  dadas  pelo 
sr.  João  Carlos  Cordeiro.  Foi  pablicada  sob  sua  inspecção  e  por  elle  revista  a  parte 
que  diz  respeito  a  tuo  importante  território. 

O  sr.  Cordeiro  chegou  á  provincia  de  Cabo  Verde  em  1862.  Era  segundo  te- 
nente de  artilheria  da  mesma  provincia. 

Exerceu  ali,  alem  de  diversas  commíssoes  militares,  os  cargos  de  administra 
dor  do  concelho,  presidente  da  camará  municipal  e  commandante  militar  da  ilha 
Brava. 

Foi  governador  civil  e  militar  da  praça  de  Cacheu  e  dependências,  districto 
que  então  comprehendia  metade  do  território  da  Guiné. 

Foi  commandante  militar  da  ilha  de  Santo  Antão. 

Esteve  também  encarregado  da  direcção  das  obras  publicas  da  ilha  de  S.  Vi- 
cente, onde  foi  commandante  militar. 

Em  1871  passou  a  servir  na  provincia  de  S.  Thomè,  onde  tivemos  a  honra  de 
o  conhecer. 

Em  1874  regressou  ao  reino  com  licença,  e  foi  de  novo  transferido  para  a  pro- 
vincia de  Cabo  Verde;  mas  o  longo  tempo  de  serviço  na  Guiné  e  na  província  de 
S.  Thomé  e  Príncipe  dava-lhe  direito  á  reforma  que  pediu  e  obteve  no  posto  de  maior. 

O  sr.  Cordeiro  conhece  a  provincia  de  Cabo  Verde,  e  as  informaç.Ões  que  elle 
dá  são  dignas  de  inteiro  credito. 

2  Esta  ilha  foi  dada  por  um  rei  gentio,  em  4830,  ao  negociante  Joaquim  Antó- 
nio de  Matos,  que  indo  para  a  Guiné  ou  Senegambia  portugueza,  como  tripulante 
de  um  navio  mercante,  ali,  depois  de  ser  caixeiro,  adquiriu  alguma  fortuna.  Con- 
stituiu-se  negociante,  e  foi  nomeado  pelo  governo  intruso  de  D.  Miguel  coronel  de 


205 

Colónia,  na  foz  e  margem  direita  do  Rio  Grande  de  Guinala  ou  Bo- 
lota ; 

Geba,  na  margem  direita  do  rio  Geba ; 

Ganjarra  e  Fá,  na  margem  esquerda  do  mesmo  rio  Geba ; 

Farim,  na  margem  direita  do  rio  de  S.  Domingos  ou  de  Cacheu,  que, 
impropriamente,  alguns  geographos  coUocam  na  margem  esquerda ; 

Bolor,  na  margem  direita  e  foz  do  mesmo  rio,  e  do  esteiro  que  conduz 
ao  rio  Gasamansa ; 

Jufunco  ou  Jafunco^,  situado  no  esteiro  que  da  foz  do  rio  de  Gaclieu 
conduz  ao  rio  Gasamansa,  estendendo-se  até  é  costa  de  Varella. 

milícias  (sem  soldados,  por  nao  existir  ali  corpo  algum  de  milícias),  bem  como  foi 
feito  pelo  mesmo  governo  governador  interino  de  Bissau.  Este  negociante  ofTercccu 
ao  então  governo  de  Portugal  esta  ilha.  Em  1869  existiam  em  Guiné,  em  más  cir- 
comstancias,  os  netos  do  referido  Joaquim  António  de  Matos. 

1  Doesta  povoação  e  reino  tomou  posse,  para  a  coroa,  em  1869,  o  governador 
de  Gacbeu  e  dependências,  João  Carlos  Cordeiro,  como  sg  vé  do  seguinte  docu- 
mento : 

«Copia. — Tratado  de  cessão  de  território  feito  à  nação  portugueza  pelos  Fclu- 
pos  de  Jafunco.  —  Aos  13  dias  do  mez  de  agosto  de  1869,  n'este  território  de  Ja- 
funco,  achando-se  presentes  os  ill.°~  srs.  João  Carlos  Cordeiro,  governador  da  pra- 
ça de  Cacheu  e  dependências;  Francisco  José  de  Sousa,  administrador  nomeado 
para  o  mesmo  concelho;  Manuel  da  Luz  Ferreira,  proprietário;  Manuel  Mcolau  de 
Pina  Áraujo,  vigário  e  juiz  foraneo  n'este  districto;  Marcellíno  Marques  de  Barros, 
vigário  da  freguezia  de  S.  Francisco  Xavier  de  Bolor;  César  Augusto  da  Silva,  com- 
mandanle  do  palhabote  de  guerra  Bissau;  Lourenço  Justiniano  Padrel,  segundo  te- 
nente de  artilheria;  Manuel  José  Mendes^  Gscal  no  districto  de  Bolor;  José  Gomes 
Pereira,  negociante;  Joaquim  José  Vieira,  agricultor;  José  Manuel  Barbosa,  caixei- 
ro de  commercio;  Marcos  Gomes  Bebello,  caixeiro  de  commercio;  commigo  Benja- 
mim Fortes  Ferreira,  secretario  do  governo,  de  uma  parte;  e  da  oulra,  Ampá-cá-bú, 
regulo  de  Jafunco;  Abáge,  regulo  da  circumscripção  da  mesma  povoação  e  reino; 
Jaalam;  Éserut;  Jicójóbó;  Jigenimjébé;  Salamumein;  Camínguel;  Siculubriré;  Sami ; 
Émogne  e  Quelor;  grandes,  fidalgos  e  ministros  do  mesmo  território :  —  Pelos  úl- 
timos foi  dito,  que  cedem  de  hoje  para  sempre,  todo  o  território  de  Jafunco,  á  nação 
portugueza,  a  quem  desde  muito  reconhecem  como  legitima  senhoria  d'cste  terri- 
tório, podendo  todos  os  cidadãos  portuguezcs,  com  exclusão  de  estrangeiros,  esta- 
belecerem feitorias  no  mesmo  território;  sendo  aqui  arvorada  a  bandtnra  nacional, 
para  mostrar  aos  estrangeiros,  que  este  território  é  legítima  pertença  da  nação  por- 
tugueza: obrígando-se  elles,  régulos  e  grandes,  a  não  deixarem  estabelecer  n*este 
território  estrangeiro  algum,  sem  prévio  consentimento  das  auctoridades  portugue- 
zas.  E  de  como  assim  o  disseram  solemnemente,  e  foi  acceite  pelo  respectivo  go- 
vernador da  praça  de  Cacheu,  em  nome  da  nação  portugueza,  que  representa,  e  por 
anctorisação  superior,  sq  lavrou  o  presente  tratado,  que  todos  assignam.  Eu  Benja- 
mim Fortes  Ferreira,  secretario  que  o  subscrevi  e  assigno. = (Assígnados),  João  Carlos 
Cordeiro,  governador  de  Cacheu  e  dependências  =  F.  J.  de  Sousa = Manuel  L.  Fer- 
reira =  Manuel  Nicolau  de  Araújo  =  Marcellino  M.  de  Barros  =  César  Augusto  da 
Silva = Lourenço  Justiniano  Padrel  =  Manuel  José  Mendes  =  Como  interprete,  José 


206 

Zeguichor,  situado  na  margem  esquerda  do  rio  Casamaasa. 

Todos  estes  pontos  são  presídios,  isto  é,  logares  mais  ou  menos  for- 
tificados, governados  por  chefes  administrativos  militares. 

Cabe  aqui  dizer  que  também  temos  o  titulo  de  soberania  na  ilha  de 
Orango,  uma  das  mais  férteis  e  maiores  das  de  Bijagoz,  habitada  por  um 
rei  e  súbditos  muito  amigos  da  naç^o  portugueza. 

Os  pontos  mais  afastados  da  costa  são  Farim,  Geba,  Ganjarra  e  Fá. 

De  Farim  a  Geba  faz-se  a  jornada  em  três  dias,  e  de  Geba  a  Ganjarra 
ou  Fá,  vae-se  em  meio  dia. 

O  território  confinante  com  a  Guiné  ou  Senegambia  portugueza,  tanto 
pelo  N.  como  pelo  S.,  pertence  á  nação  ingleza.  Pelo  N.  está  Santa  Maria 
de  Bathurst  de  Gambia,  e  pelo  S.  o  governo  da  Serra  Leoa,  cuja  capital 
é  Freetown. 

O  nosso  território  da  Guiné,  isto  é,  o  Cabo  Roxo  e  os  ilhéus  de  Caio, 
pontos  que  os  navegadores  procuram,  ficam  cerca  de  555  kilometros  das 
ilhas  de  Cabo  Verde  (cidade  da  Praia  de  S.  Thiago);  a  ilha  de  GorSe,  a 
contar  da  barra  do  rio  Casamansa,  dista  240  kilometros;  S.  Luiz  do  Sene- 
gal está  a  15  kilometros  ao  N.  doesta  ilha. 

Os  portuguezes  occupam  a  área  das  praças  e  presidios,  e  terrenos  em 
volta,  cuja  superficie  se  estende  até  onde  alcançam  as  balas  de  artilheria, 
e  em  virtude  de  contratos  solemnes,  feitos  com  as  diversas  tribus  gen- 
tias, pertence-nos  de  direito  o  dominio  pleno  de  todo  o  território  da  Gui- 
né ou  Senegambia  portugueza,  desde  a  foz  do  rio  de  Casamansa  (mar- 
gem direita)  até  ao  Cabo  da  Verga,  e  todo  o  território  que  se  estende 
para  o  interior,  isto  é,  desde  o  Cabo  Roxo  até  ao  meridiano  de  Ganjarra 
no  sertSo*. 

Para  o  interior,  alem  do  meridiano,  que  passa  por  Ganjarra,  sao  pai- 
zes  pouco  conhecidos,  constando,  porém,  serem  habitados  por  gentios, 
que  pouco  tratam  da  agricultura,  mas  que  se  empregam,  em  gerali  na  ex- 


G.  Pereira  =  Joaquim  José  Vieira  =  José  M.  Barbosa  =  Marcos  Gomes  Hebello  =  Do 
regulo  Arapácá-bú  -[-  =  Do  regulo  (rei)  Abáge  +  =  Do  fidalgo  Jaalam  -f-  =  Do  fi- 
dalgo Éserut+  =  Do  fidalgo  JicóJóbó4-  =  Do  fidalgo  Jigenimjébó -[- =  Do  fidalgo 
Salamumein  +  =  Do  fidalgo  Caminguel4-  =  Do  fidalgo  Siculubrlré  +  =  Do  fidalgo 
Sami  +  =  Do  fidalgo  Émogue  +  =  Do  fidalgo  Quelor+=.  Eu,  Benjamim  Fartes 
Ferreira^  secretario». 

1  Os  francezes,  contra  os  nossos  incontestáveis  direitos,  estabeleceram-se  no 
ilhéu  dos  Mosquitos,  na  barra  do  rio  Casamansa,  levantando  ali  uma  povoação  com 
fabricas  de  tecidos,  á  qual  deram  o  nome  de  Carabane,  occupando  outro  ponto  in- 
terior do  mesmo  rio,  na  margem  direita,  onde  construiram  uma  feitoria,  a  que  de- 
ram o  nome  de  Sedhio  ou  Seliu,  onde  ha  grande  movimento  conmiercial,  especial- 
mente de  resinas  e  gonmias. 


207 

pioração  do  oiro,  que  permutam  com  os  mandingas.  Muilo  mais  para  o 
interior,  nada  com  certeza  se  sabe.  Na  área  occupada  pelas  diversas  tribus 
gentias,  que  por  contratos  nos  prestaram  vassallagem,  e  que  poucas  ha 
que  tal  não  tenham  feito,  podem  aforar-se  muito  economicamente  gran- 
des porções  de  terreno  para  agricultar,  mediante  um  pequeno  foro,  censo 
ou  pensão. 

O  terreno  de  277  hectares,  pouco  mais  ou  menos,  pôde  ser  comprado 
pelo  foro  anmlal  de  dois  garrafões  de  aguardente,  dez  libras  de  pólvora 
e  igual  porção  de  tabaco. 

O  terreno  em  geral  é  muitissimo  fértil :  as  chuvas  são  copiosíssimas, 
especialmente  desde  o  mez  de  julho  ^  até  ao  fim  de  outubro. 

A  vegetação  é  de  um  desenvolvimento  tal,  que  a  de  S.  Thomé,  em  re- 
lação a  esta,  pôde  dizer-se  mesquinha. 

O  baobá  ou  embondeiro,  que  é  uma  malvacia,  attinge  dimensões  enor- 
mes ^. 

A  Senegambia  é  um  terreno  altamente  rico  e  susceptível  de  ser  culti- 
vado, porque  ha  ali  todos  os  vegetaes  úteis  dos  paizes  intertropicaes,  e 
é  muito  apropriado  para  a  colonisação. 

Pôde  ser  habitado  por  europeus,  poisque,  embora  em  más  condições, 
vivem  ali  portuguezes,  francezes  e  inglezes,  gosando  regular  saúde,  sof- 
frendo  alguns,  a  menor  parte,  febres  periódicas,  que  ordinariamente  não 
são  mortíferas. 

Os  melhoramentos  que  se  devem  realisar  quanto  antes  são :  melho- 
rar as  fortiflcações  das  praças  de  Bissau  e  Cacheu,  e  fortificar  comjileta- 
mente  os  demais  presídios,  que  muito  bem  o  podem  ser  com  pequeno 
dispêndio,  construindo-se  blokaus  no  circuito  dos  mesmos.  Pontos  ha  que 
muito  carecem  de  igual  systema  de  fortificação,  como  são  Bolor,  Matta 
de  Putama  e  Colónia. 

A  guarnição  militar  deve  promiscuamente  desempenhar  as  funcções 
de  fiscalisação  aduaneira  e  militar  propriamente  dita ;  este  systema  é  gran-* 
demente  económico;  mas  para  que  surta  bom  resultado,  é  também  pre- 

^  Segando  João  Carlos  Cordeiro,  que  ali  foi  governador,  a  gente  da  terra  con- 
sidera o  dia  de  Santo  António  como  o  primeiro  dia  de  chuva;  e  elle  effecti vãmente 
nos  annos  em  que  ali  esteve  presenceou  pequenos  chuveiros  em  tal  dia. 

2  Para  abraçar  o  tronco  de  algumas  doestas  arvores  são  precisos  muitos  ho- 
mens. Algumas  d*ellas,  envelhecendo  e  destruindo-se-lhes  a  medula,  formam  uma 
espécie  de  casa,  em  que  habitam  familias  gentias,  collocando  em  outras  as  suas 
batôbas  ou  chinas,  isto  é,  os  seus  templos. 

Outras  vezes,  estas  arvores,  tendo  destruída  a  medula  pela  parte  superior,  en- 
chem-se  de  agua  na  estação  pluvial,  formando  bons  depósitos  aquáticos,  que  os 
gentios  perfuram  na  base,  fazendo  uma  espécie  de  bica  a  que  adaptam  uma  ro- 
lha, para  tirar  agua  quando  lhes  é  necessária. 


208 

ciso  que  a  recompensa  pecuniária  seja  condigna,  e  o  castigo  esteja  pró- 
ximo do  delicto. 

Em  Guiné  ha  grandes  matas  e  florestas  de  arvores  gigantescas,  que 
dão  ricas  e  formosas  madeiras  próprias  para  marceneria  e  construcções, 
as  quaes  são  propriedade  de  alguns  gentios.  Quando  se  pretende  fazer  um 
corte,  offerece-se  ao  senhor  da  mata  ou  floresta  uma  dacha,  como  com- 
pensação do  corte  a  fazer,  para  carregar  uma  embarcação,  seja  de  grande 
ou  pequena  lotação,  a  qual  dacha  é  sempre  acceite  e  consiste  no  valor 
nominal  de  50f$000  réis,  valor  que  é  realmente  inferior  a  metade  d'esta 
cifra,  porque  é  pago  em  tabaco,  pólvora  e  aguardente :  é  assim  que  se 
effectuam  as  carregações  de  madeira. 

Gomo  n'esta  região  vem  aos  mercados  grande  quantidade  de  azeite  de 
palma,  chabéo  ou  coconote  (semente  para  fazer  azeite),  mancarra  ou  gin- 
guba  (espécie  de  amendobi  ou  amendoim),  couros,  cera,  mel,  arroz,  bor- 
racha, ele,  é  preciso  crear  companhias  para  chamar  os  productos  ao  porto 
de  Lisboa  S  evitando  por  esta  forma  o  monopólio  feito  pelos  estrangei- 
ros*. 

Os  portuguezes  que  ali  commerceiam,  permutam  unicamente  com  o 
gentio  os  géneros  que,  a  credito,  recebem  das  casas  francezas  e  inglezas, 
e  com  as  espécies  obtidas  satisfazem  seus  débitos  ás  mesmas  casas. 

Os  gentios,  em  geral,  não  gostam  dos  inglezes  nem  dos  francezes; 
não  commerceiam  com  elles.  São  amigos  e  affeiçoados  aos  portuguezes 
por  diUerentes  rasões,  tratando-os  pela  expressão  de  tcamaradas». 

Adoptado  o  systema  atrás  desenhado,  a  Guiné  ou  Senegambia  portu- 
gueza  será  conhecida  em  Portugal,  o  que  até  hoje  não  tem  acontecido, 
porque  todas  as  suas  producções  vao  abastecer  os  mercados  de  Marselha 
e  Liverpool. 

Depois,  e  mais  tarde,  quando  as  diversas  tribus  gentias  estiverem 
mais  civilisadas,  para  o  que,  como  é  visível,  caminham  a  passos  agigan- 
tados, devem  crear-se  companhias  agricolas,  para  que  d^aquelle  fértil 
solo  se  possam  tirar  os  grandes  valores  que  encem. 

Cuidando-se  da  colonisação  da  Guiné,  Portugal  terá  ali  um  outro  Bra- 
zil,  de  que  poderá  obter  os  maiores  recursos. 

Os  régulos  da  Guiné  Ozeram  contratos  solemnes,  em  que  esponta* 

^  É  da  maior  convenicncia  que  nos  portos  de  Bissau  c  Bolama  toque  mensal- 
mente um  paquete :  tal  medida  animará  bastante  o  comroercio. 

2  Os  gentios  não  entram  nas  casas  dos  estrangeiros  nem  com  elles  permutam 
cousa  alguma,  porque  ise  consideram  portuguezes,  pelo  fundamento  de  que  os  que 
ali  foram  primeiro,  ha  muitos  séculos,  eram  também  portuguezes,  e  porque,  dizem 
também  elles,  tudo  que  é  portugucz  é  bom,  benv  como  tudo  que  passa  pela  mão 
dos  portuguezes  fica  melhorado. 


209 

oeameDle  se  submetleram  á  aucloridade  portugueza,  sem  reserva  de  di- 
reitos de  natureza  alguma. 

As  fazendas  agrícolas  existentes  são  poucas ;  tem  entretanto  alguns  ri- 
cos pomares  de  laranja  de  excellente  qualidade.  Ha  também  pequenas 
plantações  de  canna  saccharina,  que  attinge  muita  grossura  e  serve  ape- 
nas para  sobremesa. 

As  grandes  culturas  sâo  unicamente  as  do  arroz,  feitas  especialmente 
no  território  Flupo  ou  Felupe  e  Mandinga,  e  as  de  mancarra  ou  gingu- 
ba,  que  se  cultiva  em  grande  escala  nas  margens  do  Rio  Grande  de  Gui- 
nala,  ou  Bolola  ou  Biguba,  e  nas  ilhas  de  Bolama  e  Gallinhas. 

A  ilha  de  Bolama  é  rica,  não  só  pelas  suas  producções,  mas  também 
pela  situação  próxima  ao  Rio  Grande  de  Guinala,  ou  Bolola  ou  Biguba,  e 
pelo  excellente  porto  que  tem. 

A  ilha  das  Gallinhas,  muito  mais  pequena  do  que  a  antecedente, 
abunda  em  producções ;  mas  será  sempre  pobríssima  e  sem  importância, 
como  muitas  outras  do  archipelago  de  Bijagoz,  porque  não  tem  porto 
que  dê  accesso  aos  navios,  e  só  pôde  ser  demandada  por  canoas,  o  que 
encarece  muito  os  géneros,  pela  accumulação  dos  fretes. 

O  ilhéu  do  Rei,  em  frente  de  Bissau  e  na  boca  do  rio  Geba,  é  grande 
e  saudável,  tem  alguma  agua,  e  pôde  ter  mais,  construindo-se  cisternas, 
como  em  Gorée  se  pratica.  Este  ponto  é  o  mais  apropriado  para  se  edifi- 
carem casas,  e  encontram-se  ali  poucos  habitantes. 

Pôde  mudar-se  para  aquelle  logar  a  povoação  principal,  poisque  esta 
localidade  offerece  vantagens  que  não  se  encontram  facilmente  n'outros 
sítios. 

A  ilha  de  Bussis  é  nossa.  Vivem  ali  alguns  negociantes  portuguezes. 

O  paiz  é  abundante  em  pequenas  gallinhas,  grandes  e  formosos  patos, 
gado  vaccum  e  suíno;  e  no  interior  ha  elephantesS  muito  gado  cabrum, 
lanígero  e  cavallar,  sendo  este  de  raça  árabe. 

0  mar  abunda  em  peixe  e  mariscos,  havendo  grande  quantidade  de 
cur^ina. 

Nos  parceis  da  Guiné  existe  a  concha  peroleira. 

Cabe  aqui  dizer  que  no  litoral  dão-se  mal  os  cavallos.  Os  que  tem 

1  Fazemos  aqui  menção  de  ama  circumstancia  ignorada  pela  maior  parte  dos 
europeus  que  não  téem  percorrido  esta  parte  da  Africa.  Os  elephantes  criam-se 
em  grandes  manadas  no  interior  da  Guiné  ou  Senegambia  portugueza,  bem  como 
em  outras  partes  da  Africa;  em  certas  epochas  do  anno  vem  ao  litoral  (em  mana- 
das) e  passam  o  canal,  nadando  entre  a  Colónia  e  a  ilha  de  Bolama,  indo  estacio- 
nar por  algum  tempo  nos  legares  de  pasto  d'esta  ilha^  recolhendo  ao  continente  em 
outras  epochas.  São  inoffensivos,  tanto  para  os  habitantes  da  Colónia  como  para  os 
da  ilha  de  Bolama. 

14 


210 

vindo  de  Geba  e  Farim  para  Bissau  e  Cacheu  apenas  duram  cerca  de  um 
anno.  Será  devido  aos  pastos? 

A  Guiné,  pela  sua  extensão  e  riqueza,  è  muito  superior  á  provincia  de 
S.  Thomé,  e  mesmo  ao  archipelago  de  Cabo  Verde;  é  mais  doentia  do 
que  estas  ilhas ;  alguns  porém  a  julgam  menos  do  que  as  ilhas  de  S.  Tbomé 
e  Príncipe,  que  recebem  as  emanações  palustres  do  rio  Niger  e  as  do 
próprio  solo  pantanoso  lhe  causam  grande  damno. 

As  terras  do  interior  s3o,  em  relação  ás  nossas,  extensíssimos  sertões, 
em  que  também  ha,  aqui  e  ali,  alguns  habitantes  exploradores  de  oiro. 
A  Guiné  ou  Senegambia  portugueza  é  pouco  acidentada ;  não  tem  montes 
dignos  de  mencionar-se. 

Os  habitantes  doeste  território  são,  começando  do  N.,  baiotes,  ílu- 
pos  ou  felupes,  banhumes  ou  benhuns,  cassangas,  papeis  ou  buramos, 
balantas,  bijagós  e  nallús.  No  interior,  porém,  a  300  kilometros  da  costa, 
existem  os  mandingas,  fulas  e  futa-fulas,  povos  muito  mais  civilisados  do 
que  os  que  se  avizinham  ao  litoral. 

Os  mandingas  entregam-se  á  industria  fabril  e  commercial. 

Os  fulas  occupam-se  da  creação  de  gados  e  da  cultura  da  terra. 

Os  fula-fulas  dizem  ser  os  senhores  dominicaes  do  terreno  occupado 
pelas  tribus  precedentes;  são  todos  de  profissão  militar,  e  vivem  dos 
tributos  que  lhe  pagam  pelo  usufructo  dos  terrenos  os  mandingas  e  os 
fulas.  Estanciam  por  alguns  annos  nas  diversas  tabancas  ou  trabancas  das 
tribus  referidas. 

Gabe  aqui  elucidar,  que  tabanca  ou  trabanca  significa  povoação  cercada 
de  paliçada,  geralmente  construída  com  grossos  madeiros  de  pau-car- 
vão,  de  pontas  aguçadas,  e  a  que  addicionam  grande  quantidade  de  abro- 
lhos. 

Os  futa-fulas  formam  grandes  corpos  militares  de  cavallaria  e  infan- 
teria,  sendo  aquella  muito  numerosa :  dizem  ser  indígenas  das  serras 
do  império  de  Marrocos,  d*onde  vem  á  mencionada  região,  de  annos  a 
annos,  cobrar  os  tributos  dominicaes :  tanto  futa-fulas  como  mandingas 
e  fulas  são  em  geral  mahometanos;  dizemos  em  geral,  porque  existem 
algumas  pequenas  povoações,  como  é  amostra  uma,  junto  a  Sancoriá,  em 
que  os  seus  habitantes  se  entregam  ao  uso  de  bebidas  espirituosas  e  da 
carne  de  porco,  e  a  tudo  que  o  Al-Koran  prohibe:  estes  são  chamados 
senenquens.  As  ultimas  três  tribus  de  que  acabámos  de  tratar  são  muito 
mais  civilisadas  do  que  as  que  se  avizinham  ao  litoral. 

No  território  comprehendido  entre  o  rio  de  Geba  e  o  Rio  Grande  de 
Guinala,  ou  Bolola  ou  Biguba,  estanciam  os  biafras,  biaffares  ou  biafadas, 
tribu  menos  civilisada  do  que  as  três  antecedentes,  mas,  ainda  assim,  muito 
mais  civilisada  do  que  as  tribus  que  se  avizinham  ao  litoral.  Os  biaíraSi 


2H 

biafares  ou  biafadas  e  os  mandingas,  futa-fulas  e  fulas,  trajam  uma  es- 
pécie de  capas  dalmaticas,  usando-as  os  ricos  de  seda,  que  também,  em 
geral,  calçam  sandálias,  ou  botas  de  polimento  de  cano  de  marroquim  en- 
camado,  que  importam  de  Gambia  e  de  outros  pontos. 

As  tribus  vizinhas  ao  litoral  usam  apenas  tangas :  as  dos  papeis  ou  bu^ 
ramos  s5o  de  pelle  de  cabra  sem  cortume,  e  as  dos  flupos  ou  felupes  de 
estamenha,  os  baiotes  de  palha,  etc. 

Em  geral  as  tribus  vizinhas  ao  litoral  são  selvagens,  dotadas  de  inau- 
dita barbaridade :  os  papeis  ou  buramos  s3o  os  mais  indomáveis. 

Todas  estas  tribus  se  nutrem  dos  productos  que  a  natureza  apre- 
senta espontaneamente:  apenas  cultivam  pequenas  porções  de  arroz, 
sendo  excepção  doesta  regra  os  flupos  ou  felupes,  que  cultivam  em  ponto 
grande  este  género.  Também  se  occupam  da  pesca,  que  constitue  em 
grande  parte  o  sustento  d'estas  tribus. 

A  necessidade,  que  têem  estes  selvagens,  de  aguardente,  tabaco,  pól- 
vora, armas  de  fogo,  espadas,  etc,  faz  com  que  crestem  as  muitas  col- 
meias que  espontaneamente  se  desenvolvem  no  mato,  para  virem  per- 
mutal-as  ás  praças  e  presidios,  bem  como  permutam  o  azeite  de  palma,  que 
fabricam;  semente  de  chabéo  ou  coconote,  borracha,  etc,  que  exploram. 

Os  mandingas  e  futa-fulas  são  os  que  fornecem  em  grande  quanti- 
dade couros  e  cera,  oiro  e  escravos  (forneciam  escravos). 

Em  geral  ha  segurança  individual  entre  as  differentes  tribus  da  Guiné  : 
ha  factos  que  o  comprovam.  E  devemos  também  recordar  o  preceito 
dos  gentios  emquanto  á  segurança  dos  portuguezes  que  os  visitam,  estão 
de  passagem  nos  territórios  ou  ali  vão  commerciar.  É-lhes  garantida  a 
vídaS  porque  ha  entre  aquelles  gentios  alguns  preceitos  jurídicos  que 
assim  o  determinam.  Sempre  que  algum  portuguez  ou  gentio,  estando 
em  qualquer  ponto,  d'elle  recolhe  á  sua  residência,  è  considerado  como 
hospede,  e  em  tal  caso  se  lhe  acontece  alguma  fatalidade  no  transito,  as 
auctorídades  do  logar  da  permanente  residência  vão  exigir  satisfação  ás 

>  Bstaodo  a  praça  de  Caehea  em  guerra  com  orne  tribos  gentílicas,  achava-se 
DO  reino  do  Churo  (Papeis)  um  negociante.  Era  esta  uma  das  tribus  belligerantes. 

O  negociante  manifestou  desejo  de  se  recolher  á  praça.  O  rei  e  sen  conselho 
dedararam*lhe  que,  sendo,  como  era,  hospede,  lhe  seria  sempre  garantida  a  maior 
segurança,  como  era  preceito  geral.  O  negodante  insistiu  para  se  retirar,  e  liqni* 
dando  os  seus  negócios,  dirigiu-se  para  Cacheu.  Trouxe  os  géneros  qne  tinha  conp 
prado  e  poz-se  a  caminho,  vindo  acompanhado  por  alguns  gentios  até  á  mata  em 
frente  da  praça  sitiada.  Áhi  beberam  aguardente,  como  é  uso  nas  despedidas,  mos- 
trando-lhe  as  gentios  a  maior  affeição,  e  íizeram-lhe  ver,  no  emtanto,  que  quando 
estivesse  dentro  da  praça,  seria  o  primeiro  que  elles  matariam  se  podessem.  Em 
seguida  abraçaram-se  e  despediram-se,  e  o  negociante  entrou  na  praça  sem  ter 
so&ido  o  mais  leve  incommodo. 


242 

do  logar  ou  paiz  de  onde  o  mesmo  recolhia,  pelo  principio  de  que  devem 
garantia  e  segurança  no  caminho  a  percorrer,  por  ser  hospede  ^ 

Os  habitantes,  tanto  do  continente  como  das  ilhas,  incluindo  os  bija- 
goz,  têem  por  crença,  que  em  morrendo,  nascerão  de  novo';  isto  ainda 
que  seja  fora  da  pátria,  e  em  tal  caso  irão  nascer  de  novo  na  pátria,  re- 
sultando d'esta  crença  serem  muito  valentes. 

ProTinda  de  S.  Thomè  e  Príncipe  e  saas  dependeDcias.  —Esta  provincia,  que 
faz  objecto  especial  do  presente  livro,  não  é  tão  limitada  como  á  primeira 
vista  se  pôde  imaginar,  e  por  isso  fazemos  n'esta  secção  algumas  consi- 
derações para  o  demonstrar  ^. 

Dizem  uns  que  a  ilha  de  S.  Thomé  não  tem  importância,  e  outros  re- 
putam-na  muito  pequena,  e  portanto  incapaz  de  grande  desenvolvimento 
agrícola  *. 

O  melhor  modo  de  explicar  este  ponto,  é  chamar  a  attenção  para  as 
seguintes  estatísticas,  que  julgámos  não  deixarão  a  menor  duvida  com 
respeito  á  sua  superficie  e  população: 


1  O  equivalente  pela  morte  de  um  homem  são  seis  vaccas  ou  a  cabeça  do  ma- 
tador, que,  se  tem  meios  para  pagar  as  seis  vaccas,  fica  passeíando  e  livre,  mesmo 
entre  os  parentes  do  morto! 

Igual  penalidade  está  estabelecida  se  qualquer  commette  adultério  com  as  mu- 
lheres do  rei. 

2  Um  banbume,  de  nome  Senebà,  observa  o  sr.  Cordeiro,  apresentou-me  um 
filho,  e  disse-me,  que  no  corpo  d'aqueile  seu  filho  estava  o  espirito  de  om  sen  tio 
(de  Senebá),  e  que  por  isso  se  parecia  em  tudo  com  elie,  até  nas  menores  acções. 

É  principio  geral  de  direito  entro  todas  as  tribus  gentílicas,  que  o  sobrinho 
herde  do  tio,  quando  filho  de  irmà^  expressando  este  principio  assim :  Os  filhos  de 
minha  irmã,  meus  sobrinhos  são;  os  de  meu  irmão  ou  o  serâo  ou  não. 

3  No  capítulo  4.^'  e  seguintes  é  que  descrevemos  com  o  máximo  desenvolvi- 
mento esta  importante  província. 

^  cGausa  espanto,  disse  um  deputado  na  sessão  de  17  de  março  do  corrente 
anno,  a  ingenuidade  com  que  nos  jomaes  inglezes  se  pergunta  se  é  possível  que  a 
pequena  ilha  de  S.  Thomé  precise  de  tão  grande  numero  de  trabalhadores  da  Libé- 
ria, e  em  seguida  se  assevera  que  não  pôde  precisar.» 

Folgamos  ter  occasião  de,  no  capítulo  seguinte,  dar  uma  minuciosa  descrípção 
da  ilha  de  S.  Thomé,  fazendo  ver  não  só  o  numero  de  fazendas  agrícolas  que  se 
acham  abertas,  mas  também  o  numero  de  trabalhadores  de  que  necessita  para  ser 
convenientemente  cultivada. 


213 


Ilhas 

Ilha  de  S.  Thomé 

Madeira • 

S.  Thiago  de  Cabo  Verde 

S.  Miguel 

Terceira 

Faial 

MayoUe 

Coraçáo 

Domínique  (Antilhas) 

Santa  Luzia 

Singapura 

ProTincias,  districtos  e  archipelagos 

Província  de  S.  Thomé 

Districto  de  Ponta  Delgada , 

Madeira  e  dependências 

Districto  de  Angra , 

Paláos 

Saint  Pierre  e  Míquelon 

Bermudas , 

Seychelles 

índias  hollandezas,  occidentaes 


Kilomclros 
quadrados 


UabiUmles 


i:2ii 

864 
550 
8i8 
897 
210 
106 
264 
1:130 


926 

29:488 

600 

118:609 

718 

35:5.34 

747 

100:000 

500 

42:000 

178 

24:000 

366,3 

12:000 

550 

22:713 

7.'>4 

23:173 

642 

31:610 

580 

97:131 

32:200 

124:000 

218:609 

72:000 

10:000 

4:894 

15:309 

11:082 

39:150 


A  proviDcia  de  S.  Thomé  pôde  evidentemente  coUocar-se  a  par  de  al- 
guns districtos  que  passam  por  muito  importantes,  e  a  fertilidade  dos  seus 
terrenos  é  uma  segura  garantia  da  sua  prosperidade. 

Na  capital  da  província  publíca-se  o  Boletim  official,  cujo  primeiro  nu- 
mero saiu  á  luz  a  3  de  outubro  de  1857.  Tem  quasi  vinte  annos  de  exis- 
tência, e  representa  um  valioso  manancial  de  documentos  para  se  apre- 
ciar o  movimento  commercial  e  administrativo  da  provincia. 

Proftada  de  iogola. — N3o  corresponde  esta  denominação  á  grandeza 
do  território,  cuja  superficie  é  quasi  o  dobro  do  Reino  Unido  ou  Inglater- 
ra, e  excede  muito  a  de  Hespanha,  mas  como  está  oíflcialmente  adoptada, 
por  isso  a  tomámos  para  titulo  d'esta  breve  descripçSo. 

A  provincia  de  Angola  compõe-se  actualmente  de  três  districtos,  con- 
tando do  S.  para  o  N.,  Mossamedes,  Benguella  e  Loanda. 


214 

S5o  muitos  os  presídios  que  ha  no  interior,  e  o  numero  de  concelhos 
eleva-se  a  mais  de  (rinta. 

O  domínio  portuguez  estende-se  a  dififerentes  Jogares,  havendo  bas^» 
tantes  régulos  indígenas  nossos  allíados. 

A  capital  da  província  tem  grande  movimento  commercíal  e  n'ella  está 
o  tribunal  da  relação,  á  qual  são  subordinadas  três  comarcas  S  incluindo 
a  da  província  de  S.  Thomé. , 

Se  a  respeito  de  muitas  possessões  estrangeiras  ha  divergências  quan- 
to á  superficie,  não  se  nos  deparam  menos  acerca  d'esta  província.  Como 
temos  dito,  não  é  possível  conhecer  a  população  especifica,  nem  a  acli- 
mação em  geral,  sem  se  ter  noções  exactas  da  grandeza  do  paíz. 

Cumpre-nos,  attenta  a  falta  de  dados  positivos,  acceitar  os  mais  ap-« 
proximados  e  combater  os  que  nos  parecerem  inacreditáveis. 

José  Joaquim  Lopes  de  Lima,  nos  Ensaios  sobre  a  estatística  das  pos^ 
iessões  portugmzas,  publicados  ha  trinta  e  três  annos,  calcula  a  superficie 
da  província  de  Angola  em  524:777  kilometros  quadrados, 

£  um  livro  conhecido  de  todos,  e  se  não  é  isento  de  erros,  como  acon- 
tece quasi  sempre  em  trabalhos  d'esta  ordem,  merece  comtudó  ser  lído^ 
ou  para  o  corrigir  ou  para  corroborar  o  que  ali  se  acha  escripto.  E  a 
rasão  é  o  terem-se  servido  d'elle  muitos  escríptores  estrangeiros,  e  ser 
preciso  divulgar  ou  rectificar  muitas  das  informações  já  por  vezes  repe- 
tidas. 

Não  nos  admira,  porém,  ver  transviados  os  estrangeiros,  quando 
alguns  dos  nossos  escríptores  se  afastam  do  que  passa  por  mais  averi- 
guado. 

Citemos  ao  menos  Carlos  Yogel,  que,  no  seu  importante  livro  Le  Pcr^ 
tugal  et  ses  colonies  reproduziu  a  superficie  da  províncias  de  Angola,  que 
Lopes  de  Lima  indicara. 

Larousse  absteve-se  de  referir  a  superficie  d'esta  notável  província,  e 
nas  quarenta  e  três  linhas  que  lhe  consagra,  não  duvidou  escrever: 

f  Ce  territoire  (refere-se  á  província  de  Angola)  n*est  pas  sous  la  domi- 
nation  du  Portugal,  qui  ne  possêde  en  somme  que  quélques  forts  et  les  com- 
ptoirs  (ou  feiras),  situées  à  de  grands  distances  les  uns  des  autres.i^ 

Apesar  de  se  mostrar  completa  ignorância  a  respeito  d'esta  provín- 
cia, diz-se  comtudo  que  ella  tem  560  kilometros  de  E.  a  0.  e  100  de  N.  a 
S.,  estendendo-se  o  nosso  domínio  até  450  kilometros  para  o  interior. 

Em  1875  publicou  o  sr.  Gerardo  Pery  a  Estatística  geral  de  Portu- 
gal e  colónias,  na  qual  calcula  a  superficie  em  617:380  kilometros  qua- 
drados. 

^  Foi  recentemente  creada  a  nova  comarca  de  Ambaca.  ^ 


218 

No  Annuario  estatístico  de  Gotha  (1876)  eleva-se  a  superflcie  de  An« 
gola  a  809:400,  e  estamos  convencidos  de  que  este  numero  é  ainda  infQ^ 
rior  á  verdade. 

Imagine-se,  pois,  o  nosso  assombro  ao  ver  que  no  Diccionario  dê  geo* 
graphia  universal,  publicação  da  actualidade,  se  admittiu  como  superficie 
da  província  de  Angola  ametade  da  área  apresentada  por  6.  Pery,  e  que 
no  Diccionarío  popular  foi  apresentado,  sem  reparo,  o  mesmo  numero  1 

No  meio  de  tal  divergência,  e  attenta  a  conflança  que  nos  merece  o 
trabalho  do  sr.  Gerardo  Pery,  acceitdmos  o  seu  calculo  por  se  approximar 
mais  da  realidade,  e  estamos  convencidos  que  não  decorrerão  muitos  an- 
nos  sem  se  proceder  aos  estudos  planimetricos,  a  fim  de  se  conhecerem 
os  verdadeiros  limites  da  província  de  Angola,  assim  como  a  sua  super- 
fície, hydrographia  e  cborographía. 

Não  receiâmos  ser  taxados  de  prolixos,  porque  seria  faltar  ao  nosso 
dever  não  mostrar  a  urgente  necessidade  de  se  attender  á  resolução  da 
questão  fundamental — determinar  com  exactidão  os  limites  da  província 
de  Angola,  bem  como  a  respectiva  superficie,  a  fim  de  que  possam  ava- 
liar-se  coín  a  maior  exactidão  possível  os  princípios  da  aclimação,  sem  a 
qual  não  ha  colonisação  durável. 

Angola  S  situada  na  costa  occidental  da  Africa  entre  o  5^  e  18^  de  lati- 
tude O.,  comprehende  para  E.,  no  interior,  os  seguintes  distríctos  e  conce- 
lhos, occupados  pelo  governo  portuguez,  e  ainda  outros  que,  regidos  por 
regulamentos  de  indígenas,  prestam  vassallagem  ao  mesmo  governo: 

Ao  S.,  no  districto  de  Mossamedes,  os  concelhos  do  Bumbo,  com- 
prehendendo  as  colónias  de  Capangombe  e  Biballa,  o  da  Huilla,  Gambos, 
Humbe  e  Camba  na  margem  direita  do  rio  Cunene.  Ao  S.  de  Mossame- 
des a  colónia  do  rio  Kroque  e  ao  N.  a  do  rio  S.  Nicolau. 

No  districto  de  Benguella  o  concelho  da  Catumbella,  a  E.,  Quilengues 
e  Gaconda,  os  pontos  de  feitorias  commercíaes  de  Bihé,  Bailundo  e  Hambo, 
e  mais  ao  N.,  na  costa,  o  Egito  e  Hanha. 

No  districto  de  Loanda,  capital  da  província,  os  concelhos  de  Novo 
Redondo  e  Quícombo,  nas  margens  do  Quanza,  Galumbo,  Muxíma,  Mas- 
sangano  e  Gambambe;  nas  margens  do  Bengo  o  concelho  da  Barra,  IcoUo 


1  cDe  muito  boa  vontade  accedo  ao  seu  pedido,  enviando-lhe  para  o  seu  livro 
uma  rápida  descripçao  da  província  de  Angola  tal  qual  o  pouco  tempo  de  que  para 
este  trabalho  dispuz,  os  poucos  meios  auxiliares  que  possuía  alem  da  minha  expe- 
riência e  a  exiguidade  dos  próprios  cabedaes. 

«É  portanto  débil  o  trabalho,  por  ser  todo  de  uma  pobre  lavra,  mas  esse  dou-o 
de  muito  boa  vontade  para  tão  útil  fim  como  seja  o  de  espalhar  notícias  sobre  as 
nossas  colónias,  por  cuja  prosperidade  eu  sou  sincero  enlhusiasta.= i4/6ír/o  da 
Fonseca,* 


216 

e  Bengo  e  Zenza  do  Golungo ;  ao  N.  Libongo  e  Ambriz  e  a  E.  Golango- 
Alto,  Cazengo,  Ambaca,  Pungo-Andongo,  Malange,  Duque  de  Bragaoça, 
Cassange,  Encoge,  Betnbe  e  S.  Salvador  do  Congo;  comprebendendo  to- 
dos estes  pontos  uma  área  n3o  inferior  a  600:000  kilomelros  quadra- 
dos*. 

Desaguam  na  costa  portugueza  os  seguintes  rios:  Cunene,  Kroque, 
Bero,  Giraul,  S.  Nicolau,  Carun jamba,  Copororo  ou  de  S.  Francisco,  Ca- 
tumbella,  Hanba,  Egito,  Tapado,  Quicombo,  Guenga,  Cuvo,  Longa,  Quanza, 
Bengo,  Dande,  Lifune,  Honzo,  I^ge,  Ambriche,  Zilundo  e  Zaire. 

Os  mais  notáveis  no  interior  sao  o  Lucala,  Quango  e  Cubango. 

Não  cabendo  na  estreiteza  d'este  capitulo  alongar  muito  a  descripção 
de  todos  estes  pontos,  dâo-se  unicamente  alguns  rápidos  apontamentos 
da  sua  geographia  physica  e  politica  consoante  os  conhecimentos  práticos 
que  temos  da  localidade. 

A  parte  Occidental  da  Africa  que  constitue  a  provincia  de  Angola  é 
atravessada  em  toda  a  sua  extensão  de  N.  a  S.  por  uma  prolongada  cor- 
dilheira, a  qual  corre  mais  ou  menos  parallela  á  cosia  atlântica,  parecendo 
até  afastar-se  mais  para  E.,  exactamente  no  ponto  em  que  a  costa  tam- 
bém recolhe  um  pouco  n'este  sentido  entre  Benguella  e  o  rio  Longa.  É 
também  n'este  ponto  em  que  a  cordilheira  mais  se  afasta  para  E.  que  o 
terreno  parece  attingir  maior  altura,  sendo  o  paiz  dos  Ganguellas  e  suas 
vizinhas  serranias  que  dão  origem  aos  principaes  rios  conhecidos,  como 
o  Cunene,  o  Cubango,  o  Cuvo  e  o  próprio  Zaire,  cujas  aguas  parecem  ter 
origem  no  elevado  paiz  dos  Ganguellas  e  no  lado  oriental  da  serra  de  Mo- 
zamba,  assim  também  as  do  Quango  e  do  Kassai  ou  Kassabi,  restando 
ainda  saber  qual  dos  dois  é  af&uente  ou  o  originário  do  Zaire.  Todos  os 
outros  rios  que  desaguam  em  corrente  parallela  á  costa  toem  origem  em 
vários  pontos  da  cordilheira. 

E  toda  esta  disposição  de  terreno,  e  outras  considerações  de  geogra* 
phia  physica  levam  naturalmente  a  dividir  todo  o  território  em  três  gran- 
des zonas,  que  são  a  zona  baixa  ou  da  costa,  a  zona  média  ou  monta- 
nhosa e  a  zona  alta  ou  plan'alta. 

A  zona  baixa,  comprehendida  entre  a  montanhosa  e  o  mar,  é  na 
maior  parte  formada  de  terrenos  aluminosos  e  mui  permeáveis  ás  aguas, 
não  offerecendo  grande  aspecto  de  vegetação  fora  das  bacias  dos  rios  que 
a  atravessam,  alguns  dos  quaes,  grossos  no  interior,  diminuem  de  tal 
forma  de  volume,  que  chegam  a  deixar  de  correr  sobre  o  solo,  conser- 

1  A  saperficie  da  província  de  Angola,  não  cessaremos  de  o  repetir,  não  está 
determinada,  e  cada  escriptor  adopta  um  ou  outro  calculo,  chegando  a  apresentar 
dífTerenças  enormes.  Não  é  conveniente  que  continue  similhante  confusão. 


2i7 

vando  apenas  uma  corrente  subterrânea  mais  ou  menos  Tunda,  que  só 
apparece  sobre  o  leito  em  tempo  de  chuvas. 

O  terreno  geral  n'esta  zona  é  pouco  accidentado,  e  as  chuvas  são  ir- 
regulares ;  ainda  assim  dão-se  n'elle  soffrívelmente  as  plantas  tuberosas 
e  todas  aquellas  que  não  exigem  grande  quantidade  de  humidade  para  o 
seu  desenvolvimento.  Em  muitas  doestas  terras  produz-se  e  cultiva-se  o 
algodão,  a  mandioca  e  alguns  cereaes.  Dão-se  varias  espécies  de  pal- 
meiras, coqueiros,  amendoeiras,  espinheiros,  etc,  e  é  onde  se  produz  a 
urzella  em  determinadas  arvores  caracteristicas,  a  qual  se  não  dá  em  ou- 
tra zona. 

Este  paiz,  desde  Benguella  para  o  S.,  começa  a  ser  estéril,  e  ainda  ao 
S.  de  Mossamedes,  menos  cortado  de  rios  e  tendo  a  serra  mais  próxima, 
forma  um  extenso  e  plano  areial  sem  espécie  nenhuma  de  vegetação,  íi* 
cando-lhe  aquella  a  uns  100  kilometros  a  E.,  cortada  quasi  a  prumo  e 
alterosa  como  um  gigante,  dominando  o  vasto  oceano  de  areia. 

Nas  margens  dos  rios,  formadas  de  fundas  camadas  de  terra  argillosa 
e  fertilisadas  pelas  inundações,  muda  completamente  o  aspecto  dos  terre- 
nos. Ali  a  vegetação  equinoccial  se  ostenta  magestosa  com  todo  o  vigor 
e  viço  das  matas  soberbas  d'aquellc  clima  creador;  e  nas  terras  cultivadas 
das  margens  dos  rios,  regulada  convenientemente  a  estação  e  a  humida- 
de, dá-se  tudo  com  espantosa  fertilidade. 

Florentes  palmeiras,  laranjeiras,  limoeiros,  cidreiras  e  diversas  arvo- 
res de  fructos  indigenas  da  America,  vegetam  ali  quasi  espontaneamente. 

Nos  terrenos  menos  assombrados  de  arvoredo  cultíva-se  com  grande 
vantagem  a  canna  de  assucar,  milho,  feijão,  ervilha,  abóbora,  batata  doce, 
inhames,  gandos,  ananazes,  tabaco  e  toda  a  hortaliça,  sendo  a  mandioca 
sobretudo  a  planta  que  mais  occupa  a  assiduidade  dos  cultivadores. 

Nas  largas  margens  dos  rios  mais  volumosos  vegetam  magestosos  e 
densos  palmares,  porque  esta  utilíssima  arvore  da  zona  tórrida  é  aquella 
que  mais  resiste  ás  grandes  inundações. 

O  Zaire,  o  Quanza,  o  Lucala,  o  Bengo  e  o  Dande  são  também  fertilis- 
simos  em  pescado,  quer  nos  próprios  rios,  quer  nas  grandes  lagoas  que 
communicam  com  o  seu  leito  e  são  por  elles  alimentados  nas  enchentes. 

Este  pescado,  que  não  pôde  ser  todo  consumido  em  fresco,  fornece 
depois  de  secco  uma  grande  parte  da  alimentação  de  muitos  povos  do  in- 
terior, assim  como  a  pesca  nas  costas  do  mar,  que  recentemente  tem  to- 
mado grande  desenvolvimento. 

A  zona  media,  ou  a  montanhosa,  formada  pela  continuada  cordilheira 
e  soas  ramificações,  acha-se  n'uma  distancia  approximada  entre  100  e 
180  kilometros  da  costa,  e  é  incontestavelmente  o  paiz  mais  productivo 
do  grande  reino  de  Angola. 


«18 

A  sua  moderna  exploração  em  differentes  pontos,  depois  que  se  com* 
prehendeu  que  a  agricultura  nas  colónias  era  o  meio  mais  seguro  de  as 
desenvolver,  veio  descobrir  uma  parte  dos  immensos  recursos  que  aquelle 
paíz  é  susceptível  de  prestar. 

Clevn-se  a  cordilheira  em  alguns  pontos  a  muito  mais  de  1:000  me- 
tros acima  do  nivel  do  mar,  e  numerosíssimas  nascentes  de  excellente 
agua  brotam  de  toda  ella,  formando  os  rios  que,  de  menor  volume,  des- 
aguam na  costa. 

Na  parte  mais  baixa  dá-se  perfeitamente  o  algodão,  o  anil,  o  tabaco, 
a  canna  de  assucar,  todos  os  cereaes  e  legumes,  e  ainda  as  grandes  matas 
de  palmares  até  o  13°  de  latitude  S. 

Dá-se  em  toda  ella  o  café,  riquissima  planta  que  deve  de  futuro  vir  a 
constituir  a  sua  principal  riqueza. 

Os  montes  e  valles  estão,  ainda  na  maior  parte,  cobertos  de  magnifi- 
cas florestas,  de  arvores  de  fructo  e  essências  mui  variadas.  Diversas  ma- 
tas produzem  a  borracha  e  algumas  gommas  e  resinas  conhecidas,  o  mui- 
tos productos  de  outras  são  ainda  desconhecidos. 

A  bananeira,  com  suas  variadas  espécies,  é  um  riquíssimo  alimento  da 
população  d'aquelles  sitios. 

As  chuvas  são  ali  regulares,  começando  em  agosto  para*  o  S.  e  em  se- 
tembro e  outubro  para  o  N.  Os  terrenos,  compostos  de  terra  muito  argil- 
losa,  conservam  constante  humidade  durante  os  outros  mezes,  tempo  cha- 
mado do  cacimbo,  e  em  que  um  denso  e  húmido  nevoeiro  pousa  ordina- 
riamente todas  as  manhãs  sobre  o  arvoredo  das  montanhas. 

As  chuvas  no  tempo  próprio  são  torrenciaes,  e  os  permanentes  des- 
pojos do  arvoredo  fertilisam  bastante  o  terreno  adjacente.  Com  estes  com- 
binados elementos  de  humidade,  calor  e  húmus,  entretem-se  sempre  uma 
vegetação  geral  e  poderosa,  que  faz  d'aquelle  paiz  o  mais  productivo  de 
todos. 

Nas  abundantes  nascentes  e  ribeiros  encontra  também  a  agricultura 
excellentes  forças  para  motores  hydraulicos,  infelizmente  ainda  pouco 
aproveitados,  e  também  se  encontram  em  vários  pontos  climas  apropria- 
dos ás  diversas  espécies  de  cultura,  conforme  a  altura  e  a  latitude  da  po- 
sição escolhida. 

Ao  S.  de  Mossamedes  e  a  L.  dos  Cubaes  eleva-se  a  serra  a  grande  al- 
tura, dando  origem  aos  rios  Bero  e  Kroque,  e  mais  ao  S.  é  atravessada 
pelo  Cuncne,  que  desagua  ao  S.  da  bahia  dos  Tigres. 

A  L.  de  Mossamedes  é  muito  conhecida  a  famosa  Chella,  onde  ha 
numerosos  estabelecimentos  agrícolas  nas  colónias  de  Bumbo,  Capam- 
gombe  e  Bivalla ;  correndo  para  o  N.  denomina-se,  no  concelho  de  Quílen^ 
guês.  Munda  do  Hambo,  e  d'ali  parece  afastar-se  muito  para  h.,  daudo 


ei9 

erigem  a  dífferentes  rios,  e  entre  elles  o  Cuvo,  se  não  é  por  elle  atra- 
vessado. 

O  extenso  paíz  percorrido  por  este  rio  é  pouco  conhecido,  mas  sabe- 
se  que  é  bastante  fértil. 

O  paiz  de  Gelles,  que  entesta  com  o  concelho  de  Novo  Redondo,  é  Ter- 
tilissímo,  e  existe  ali  o  café  indigena.     ^ 

Mais  para  o  N.  segue  a  cordilheira  pelo  alto  Libolo,  paiz  também  fertí- 
lissimo  e  coberto  de  espessas  matas,  até  ser  cortada  pelo  Quanza,  e  d'ali 
continua  por  Cazengo,  Golungo  Alto,  Dembos  e  Encoge  até  o  Zaire. 

Sabe-se  por  experiência  que  no  paiz  montanhoso  da  zona  media,  prin- 
cipalmente para  o  lado  do  N.,  se  nao  dão  bem  os  bois,  os  cava  lios,  os 
burros  e  mesmo  os  cães  e  os  carneiros  que  nSo  são  indígenas,  emquanto 
que  se  dão  perfeitamente  os  porcos,  as  gallinhas,  os  patos,  os  perus,  as 
cabras,  os  carneiros  e  os  cães  indígenas. 

Os  bois,  burros  e  cavallos  soltos  no  campo,  principalmente  no  tempo 
das  chuvas,  raras  vezes  duram  um  anno.  Começam  por  entristecer  e  per- 
der a  comida,  emagrecem  e  morrem  ordinariamente  no  flm  de  um  mez 
de  doença,  encontrando-se-lhes  o  pulmão  affectado  e  cheio  de  bolhas,  que 
indicam  a  alteração  d'aquelle  órgão. 

Aos  cães  da  Europa,  excepto  os  de  casta  pequena,  que  nunca  saem 
de  casa,  acontece  quasi  o  mesmo,  com  a  diíTerença  de  que  a  maior  parte 
começam  por  cegar  e  pouco  tempo  duram  depois. 

AUribue  a  gente  da  terra  a  doença  dos  bois  á  hypothese  de  comerem 
junto  com  as  pastagens  plantas  venenosas,  e  é  citada  entre  ellas  uma  es- 
pécie de  ortiga  brava,  ali  denominada  caçáuçáu.  Os  dois  seguintes  factos 
parecem  apoiar  esta  supposição : 

1.^  Os  bois  domesticados  chamados  bois-cavallos,  os  cavallos  e  os 
burros  que  vivem  á  mangedoura  sem  irem  pascer  livremente  no  campo» 
resistem  á  moléstia,  sobretudo  conservando-os  no  tempo  da  chuva  em  es- 
tábulos escuros,  onde  não  entre  a  mosca,  que  em  grande  quantidade  os 
persegue  n'aquella  estação.  Consta  mais  que  no  paiz  montanhoso  do  Bra- 
zíl,  onde  o  gado  também  se  não  dá  bem,  os  lavradores,  para  conseguirem 
coDSorvaI*o,  limpam  e  cercam  uma  determinada  extensão  de  terreno,  se- 
melando  só  gramma,  a  qual  mata  toda  a  outra  herva,  e  é  dentro  d'aquel1e 
cerrado  onde  somente  deitam  os  animaes  a  pastar. 

2.^  Alguns  d'ostes  animaes  creados  á  solta  chegaram  a  ter  a  molés- 
tia e  ficaram  quasi  mortos,  mas  resistiram  a  ella  por  grande  excepção,  e 
viveram  depois  muito  tempo,  continuando  a  andar  soltos,  unicamente  com 
a  prevenção  natural  de  fugirem  durante  os  dias  claros,  e  quando  a  mosca 
mais  os  persegue,  para  um  logar  escuro,  e  saindo  somente  de  motu  próprio 
a  pascer  durante  a  manhã  ou  nas  tardes  mais  encobertas. 


220 

Temos  em  contrario  a  considerar  uma  oulra  hypothese  sobre  a  causa 
(la  mortalidade  do  gado  no  paiz  montanhoso,  a  qual  se  refere  á  celebre 
mosca  chamada  tsé-tsé,  muito  conhecida  na  Africa  oriental,  e  descripta 
por  Livíngstonc,  e  que,  sef;undo  as  observações  d'este  viajante,  mata  os 
bois  e  os  machos  que  permanecem  por  quinze  dias  deutro  dos  districtos 
por  ellas  habitados,  poupando-lhes  as  crias  que  ainda  se  alimentarem  a 
leite.  Ora  esta  mosca,  por  nós  conhecida,  grossa,  parda,  de  grandes  azas 
e  muito  veloz,  existe  mais  ou  menos  no  paiz  montanhoso  e  ainda  na  baixa 
do  Lucalla,  onde  o  mesmo  Livingstone  também  a  encontrou. 

Á  vista  dos  únicos  dados  que  temos,  será  a  tsé-tsé  ou  outra  a  causa 
da  morte  do  gado,  ou  será  o  caçauçau  ou  outra  planta  venenosa  que 
aquelles  animaes  (excepto  o  cão!)  comem  junto  com  o  capim  das  pas- 
tagens? 

Admira  que  os  indígenas,  não  tendo  ali  podido  aclimar  o  gado  bo- 
vino, que  se  dá  bem  nas  planuras  de  Ambaca,  já  fora  da  cordilheira,  nSo 
tenham  conhecido  até  hoje  a  venenosa  mosca  e  attribuam  a  mortandade  do 
gado  a  uma  erva  venenosa.  Alem  d'isso  é  certo  que  a  mosca  não  envenena 
com  a  picada,  porque  os  homens  e  ainda  outros  muitos  animaes  também 
mord  idos  não  téem  outro  incommodo  a  não  ser  a  pequena  dor  que  produz  a 
sua  ferroada  similhante  á  do  mosquito.  Mas  quem  sabe  se  ella  ataca  os  bois 
e  cavallos,  pela  forma  por  que  alguns  animaes  da  sua  espécie  também  os 
atacam  em  outras  parles,  introduzindo-se-lhes  para  os  intestinos  por  al- 
guns dos  canaes  conductores,  com  o  fim  natural  de  ir  depositar,  quando 
gravidas,  os  seus  pequenos  ovos  no  estômago  do  animal  onde  a  natureza 
lhe  ó  favorável  para  a  sua  procreação?! 

Os  cães  que  não  comem  herva  e  o  facto  de  se  darem  bem  os  animaes 
nos  estábulos  escuros,  onde  não  entra  a  mosca,  fazem  um  pouco  inclinar 
para  esta  opinião. 

A  terceira  zona  ou  a  zona  alta  diversiflca  ainda  muito  das  outras  doas. 
N'ella  o  paiz  deixa  de  ser  geralmente  montanhoso,  prolongando-se  para 
L.  em  grandes  planuras,  quasi  todas  com  mais  ou  menos  pendor  para  o 
S.  ou  para  SOE.,  consoante  a  direcção  dos  maiores  rios  que  nascem 
alem  da  cordilheira.  Sendo  este  terreno  todo  elevado^  predomina  n*elle 
muito  mais  a  influencia  da  temperatura,  conforme  as  latitudes  em  que  se 
acha  situado. 

Na  Huila,  por  exemplo,  colónia  agrícola,  formada  em  meíados  de 
1857,  dá-se  o  trígo  e  a  maior  parte  das  plantas  da  Europa,  e  ha  annos 
em  que  a  agua  gela  nos  mezes  de  junho  e  julho. 

Os  terrenos  n'esta  localidade  toem  todos  pendor  para  o  S.  e  para  L., 
com  vertentes  para  o  Gunene,  que  se  dirige  todo  para  SOE. 

As  matas  em  terrenos  de  serra  acima  são  menos  numerosas  e  menos 


fechadas  que  as  da  cordilheira,  c  encoutrain-se  a  espaços  exlensas  planuras 
de  30  e  40  kilometros,  limpas  de  arvoredo,  mas  cobertas  de  excelleutes 
pastagens,  naturalmente  destinadas  á  creaçâo  de  enormes  rebanhos  de 
gado  bovino,  que  n'aquelles  campos  se  dá  perfeitamente,  riqueza  esta 
que  julgámos  de  grande  alcance  para  o  futuro  de  Angola. 

Não  é  raro  avistar  ao  longe,  n'aquellas  immensas  campinas,  grandes 
manadas  de  zebras  e  outros  animaes,  que  de  pescoço  levantado  observam 
o  viajante  a  uma  respeitosa  distancia,  tal  que  se  julgam  seguros  da  sua  ag- 
gressáo  e  da  do  leão,  do  qual  são  caça  favorita,  mas  que  ali  não  en- 
contra matas  para  as  atacar  de  surpreza. 

O  elephante  e  o  rhinoceronte  são  frequentíssimos  para  o  S.,  onde  os 
indígenas  lhe  dão  caça  para  lhes  aproveitar  a  carne,  a  gordura  e  as  pon- 
tas. 

O  abestruz  africano  vive  na  margem  esquerda  do  Cunene.  Nas  aguas 
d'este  rio  e  em  suas  lagoas  abunda  o  hypopotamo  e  uma  casta  de  jacarés 
muito  maiores  do  que  todos  os  que  vimos  nos  outros  rios,  assim  como 
bastante  pescado  e  variedade  de  aves  aquáticas,  algumas  de  grande  porte. 

O  viajante  que  por  ali  divagar  armado  de  espingarda  e  um  anzol,  não 
tem  receio  de  lhe  faltar  caça  e  pesca  em  abundância. 

As  extensíssimas  margens  do  Cunene,  cobertas  ora  de  matas  ora  de 
verdes  campinas,  alimentam  numerosos  rebanhos  de  gado  vaccum,  riqueza 
principal  de  todos  os  povos  do  S.  d'esta  região.  Também  cultivam  com 
vantagem  o  sorgho  ou  massamballa-massango,  e  milho,  que  reduzem  a  fa- 
rinha para  lhes  servir  de  pão,  ou  os  fermentam  em  bebidas,  algumas  das 
quaes  se  as^imilham  á  cerveja ;  e,*alem  de  algum  tabaco,  a  pouco  mais  se 
reduzem  as  suas  culturas. 

Para  o  N.  o  cHma  mais  quente  favorece  as  culturas  das  zonas  equinoc- 
daes. 

Dá-se  bem  e  produz  ali  o  arroz,  ginguba,  batata,  inhame,  algodão, 
canna  de  assucar,  tabaco,  gingibre,  gergelim,  bananeira  e  grande  quan- 
tidade de  fructas  silvestres  e  algumas  cultivadas. 

É  sobre  tudo  fertilissima  no  reino  animal  em  consequência  das  bellas 
campinas  cobertas  de  excellentes  pastagens,  e  por  isso  os  animaes  silves- 
tres e  os  domésticos  abundam  ou  se  criam  n'aquellas  paragens  com  a  mais 
pronunciada  vantagem. 

Tendo  dado  uma  idèa  approximada  de  cada  uma  das  três  zonas  em  que 
se  julga  dividido  o  paíz  comprehendido  na  província  de  Angola,  pôde  esta 
resumir-se  da  seguinte  forma: 

A  zona  baixa  ou  do  litoral,  a  mais  pobre  em  animaes  e  vegetação, 
somente  se  pronuncia  fértil  nas  margens  dos  rios  que  a  atravessam. 

A  zona  media  ou  montanhosa,  a  mais  fértil  de  todas,  distingue-se  pela 


luxuriaDle  vegetação  das  matas,  fresquidão  e  abundância  de  aguas,  e  pela 
riqueza  de  todos  os  productos  vegetaes. 

A  zona  alta  ou  plan'aUa,  sem  deixar  de  ser  fértil  e  abundante  de  aguas 
6  productora  de  úteis  e  variados  fructos,  distingue-se  no  emtanto  pela  ex- 
trema riqueza  no  reino  animai,  que  a  natureza  pródiga  em  grau  elevado 
lhe  concedeu. 

Com  relação  á  exploração  agrícola  classiflcam-se  ainda  as  três  zonas 
da  seguinte  forma : 

A  primeira  é  destinada  nas  margens  dos  rios  á  cultura  de  cereaes,  plan- 
tas tuberculosas,  fructos  e  palmares,  etc. 

A  segunda  para  todas  as  variadas  plantas  dos  climas  intertropicaes,  ri- 
queza de  matas  ainda  não  aproveitadas,  mas  sobre  tudo  riquíssima  para 
a  cultura  do  café. 

A  terceira,  com  climas  variados  para  todas  as  culturas  e  a  mais  rica 
para  a  creaçao  de  gados  de  toda  a  espécie. 

Habitantes. — Os  povos  que  habitam  a  província  de  Angola,  sujeitos 
ao  dominio  de  Portugal,  vivem  governados  por  leis  portuguezas,  e  pos- 
suem mesmo  costumes  nacionaes  ligados  ao  seu  viver  pela  religião  catho- 
lica,  que  desde  remotas  eras  foi  espalhada  pelos  frades  até  muito  ao  inte- 
rior da  província. 

O  povo  de  Ambaca  ou  Pongo-Andongo,  por  exemplo,  que  é  inclinado 
ao  commercio,  o  qual  exerce  em  differentes  pontos  muito  afastados  da  sua 
terra,  aprende  a  ler,  escrever  e  doutrina  christã,  e  transmitte  a  seus  fi- 
lhos o  mesmo  ensino,  -de  sorte  que  não  é  raro  ver  um  ambaquista  longe 
da  sua  terra  citar  com  exactidão  um  dia  santificado,  ou  pegar  na  penna 
é  no  tinteiro,  que  sempre  traz  comsigo,  e  fazer  um  requerimento  a  qual- 
quer auctoridade  para  allegar  de  sua  justiça  quando  sejblgaofiendidonos 
seus  direitos.  Muitos  conhecem,  aindaque  imperfeitamente,  algumas  ar- 
tes e  oflicios,  como  as  de  sangrador,  curandeiro,  ferreiro,  carpinteiro, 
pedreiro,  alfaiate,  sapateiro,  cortidor  e  oleiro ;  tecem  algodões  e  outras  fi- 
bras, fundem  o  ferro  nativo  para  fazer  obra,  e  finalmente  todos  trabalham 
mais  ou  menos  na  agricultura,  já  para  a  própria  alimentação,  já  para  tro- 
carem os  productos  por  outros  artigos  da  Europa  de  que  fazem  uso  e 
que  não  sabem  fabricar.  Á  medida,  porém,  que  se  approxímam  dos  po- 
vos independentes,  mais  predominam  os  costumes  gentílicos,  que  mais 
ou  menos  sobresáem  em  todos  os  actos  da  sua  vida,  mas  o  gérmen  de 
civilisação  portugueza  tende  a  espalhar-se  pelos  povos  mais  afastados. 

Respeitando  a  legislação  portugueza,  nao  exercem  a  lei  da  escravi- 
dão, e  não  só  se  não  escravisam  entre  si,  mas  ainda  todos  aquelles  que 
mais  próximos  vivem  do  seu  contacto.  Admitiem,  porém,  os  escravos  vin- 
dos dos  povos  gentílicos  do  interior  da  Africa,  onde  a  escravidão  é  uma  lei 


â2â 

ligada  iotimamenle  aos  costumes,  mas  recebem-nos  e  tratam-nos  como 
família,  com  a  qual  mesmo  os  ligam  em  casamento,  cousíderaudo  sem- 
pre como  riqueza  o  augmento  da  familia. 

Volvendo  a  vista  um  pouco  atrás  para  considerar  estes  povos  mais 
na  sua  origem  ou  antes  da  dominação  portugueza,  e  dando  alguma  im- 
portância aos  dialectos  que  hoje  faliam,  e  aos  hábitos  de  cada  povo,  po- 
dem estes  dividir-se  da  seguinte  forma : 

Raça  congões. — A  raça  congões  domina  a  bacia  do  rio  Zaire  prova- 
velmente até  o  Loge  ou  Ambriche ;  consta  que  das  bandas  de  alem  norte 
d'este  rio  veiu  em  antigos  tempos  uma  colónia  de  pretos  súbditos  do  Gongo, 
os  quaes  se  situaram  nos  Dembos,  sendo  provável  que  estes  pequenos 
régulos,  independentes  do  rei  da  Ginga,  tenham  origem  n'essa  antiga  emi- 
gração. 

Gultivam  e  exportam  amendoim  ou  ginguba,  com  cujo  óleo  misturado 
com  tacula  untam  o  corpo  muitas  vezes;  tecem  também  uma  palha  muito 
fina,  com  a  qual  fazem  os  pannos  chamados  mabellas. 

Admittem  a  escravidão,  e  no  tempo  d'este  odioso  trafico  exportavam 
muitos  escravos.  Têem  todos  o  habito  de  limarem  os  dois  dentes  incisivos 
da  frente  de  forma  a  tornal-os  ponteagudos.  É  este  costume  entre  elles 
um  signal  de  distincção,  que  não  é  permittido  aos  escravos. 

Soicidam-se  muitas  vezes  em  presença  de  uma  grande  contrariedade, 
e  são  geralmente  estúpidos,  traiçoeiros  e  maus. 

Raça  Angola. — Pertence  esta  raça  ao  poderoso  rei  da  Ginga  ou 
rainha  Ginga.  Ha  similhança  de  lingua  e  costumes  em  todo  o  territó- 
rio das  bacias  do  Quanza,  Bengo  e  Dando.  Tiveram  dominio  até  Loanda, 
onde  a  celebre  rainha  Ginga  se  baptisou  e  tratou  umas  pazes  que  mais 
tarde  n3o  cumpriu,  sendo  depois  vencida;  abrange  a  parte  mais  civilísada 
de  toda  a  província,  da  qual  se  compõe  o  maior  numero  dos  concelhos  oc- 
ciípados.  Dedicam-se  á  agricultura  e  á  creação  de  animaes,  que  possuem 
com  muita  fartura  e  barateza,  e  exercem  varias  industrias,  para  as  quaes 
mostram  elevada  aptidão  por  imitarem  tudo  quanto  vêem,  faltando-lhes 
por  emquanto  o  ensino  profissional ;  entregam-se  também  muito  ao 
commercio,  que  os  leva  a  transitar  por  varias  terras;  são  entretanto  de  um 
caracter  mais  traiçoeiro  e  falso  do  que  o  dos  povos  do  S. ;  a  agricultura 
e  a  creação  de  animaes  é  o  seu  emprego  mais  trivial. 

Raça  fién^e//a.— Desconhecemos  a  origem  d'esta  raça,  a  qual  pôde 
ter  relação  com  o  principio  de  um  grande  povo  em  tempos  mais  remotos, 
por  ter  o  dialecto  que  ali  se  falia  muita  similhança  com  o  de  todos  os 
povos  que  habitam  a  vasta  bacia  do  rio  Cubo  até  tocar  a  do  Quanza  para 
o  N.,  e  estendendo-se  para  S.  até  Quilengues,  abrangendo  portanto  to^ 
dos  os  povos  do  Nano»  Bailundo,  Bibe  e  Hambo.  Governados  por  pe- 


224 

quenos  régulos,  vivem  mais  ou  menos  ligados  entre  si.  Dedicam-se  es- 
pecialmente ao  negocio,  com  o  qual  percorrem  centos  de  kilometros,  e 
téem  creações  de  gado;  sâo  os  mais  guerreiros  de  todos,  e  fazem  por 
vezes  vida  da  guerra.  Ordinariamente  de  dois  ou  de  três  em  três  an- 
nos,  e  no  tempo  próprio,  que  é  aquelle  em  que  ha  mantimentos  na  terra, 
levantam  uma  guerra,  ou  por  outra  uma  grande  quadrilha  de  20:000  e 
30:000  homens,  bem  armados  de  espingardas,  e  assaltam  assim  os  povos 
mais  fracos  e  desprevenidos,  seja  porque  para  isso  são  convidados  por 
outros  povos  que  téem  conveniência  em  guerrear  os  seus  inimigos,  seja 
mesmo  com  o  fim  de  rapina,  que  sempre  exercem  sobre  os  atacados. 
O  destino  doestas  guerras  é  sempre  ignorado  até  dos  próprios  chefes,  que 
depois  do  primeiro  dia  de  marcha  se  dirigem  a  um  ou  outro  ponto,  conforme 
as  circumstancias,  que  influem  até  ao  ãm  no  destino  que  deva  ter  a  execu- 
ção. 

Dirigem  a  guerra  pnra  o  N.  ou  para  o  S.,  mas  para  o  S.  é  que  frequen- 
temente se  encaminham,  guiados  pela  cobiça  dos  numerosos  rebanhos; 
é  de  advertir  que  não  são  ferozes  e  raras  vezes  matam.  Os  povos  atacados, 
desprevenidos  como  estão,  raras  vezes  resistem  e  apenas  fogem,  os  que 
podem,  com  seus  gados  para  sitios  desconhecidos  dos  inimigos. 

Raça  munheca  e  muhumbe.  —  Estes  povos,  habitando  a  bacia  do 
Cuneneeseus  afQuentesaté  Quilengues,  estão  agrupados  em  tribus  impor- 
tantes de  50:000  almas  e  mais. 

Possuem  numerosos  rebanhos  de  gado  vaccum  e  cultivam  o  sorgho 
ou  massamballa,  o  massango  e  o  milho  para  alimento  ordinário,  mas  o 
leite  de  vacca  é  o  seu  mais  usual  alimento ;  téem  caça  e  pesca  em  abun- 
dância, mas  fazem  d'ella  pouco  uso.  São  generosos,  dóceis  e  aceiados, 
três  qualidades  raríssimas  em  outras  tribus.  Parecem  ter  origem  em  Qui- 
lengues, porque  ainda  hoje  ha  ali  uma  familia  chamada  de  Hambas  (no- 
breza ou  príncipes  de  sangue)  que  é  quem  fornece  régulos  para  qualquer 
povo  do  S.,  quando  a  este  falte  a  dynastia  reinante.  As  suas  leis  de  suc- 
cessão,  quasi  geraes  entre  todos  os  povos,  são  pelo  sobrinho  materno  e 
nunca  pelo  fllho. 

Raça  mondombe. — Esta  raça  de  pretos,  chamados  geralmente  mon- 
dombes,  mocuandos,  mocuissos  e  mokroques,  nomes  que  parecem  desi- 
gnar as  torrentes  ou  pequenos  rios  de  beiramar,  junto  dos  quaeselles  vi- 
vem, habitam  todos  na  zona  baixa  situada  ao  S.  de  Benguella  até  ao  rio 
Kroque,  e  a  0.  da  cordilheira  de  Quilengues  e  sua  continuação  com  o 
nome  de  Chella  até  os  Cubaes.  Habita  esta  miserável  gente  opaiz  mais  es- 
téril de  toda  a  provincia.  DifTerem  muito  de  todos  os  outros  povos  do 
interior  na  lingua  e  nos  costumes,  apesar  de  estarem  separados  d^elles 
somente  pela  serra. 


i 


224 

quenos  régulos,  vivem  mais  ou  menos  ligados  entre  si.  Dedicam-se  es- 
pecialmente ao  negocio,  com  o  qual  percorrem  centos  de  kilometros,  e 
têem  creações  de  gado ;  são  os  mais  guerreiros  de  todos,  e  Tazem  por 
vezes  vida  da  guerra.  Ordinariamente  de  dois  ou  de  três  em  três  an- 
nos,  e  no  tempo  próprio,  que  é  aquelle  em  que  ha  mantimentos  na  terra, 
levantam  uma  guerra,  ou  por  outra  uma  grande  quadrilha  de  20:000  e 
30:000  homens,  bem  armados  de  espingardas,  e  assaltam  assim  os  povos 
mais  fracos  e  desprevenidos,  seja  porque  para  isso  são  convidados  por 
outros  povos  que  têem  conveniência  em  guerrear  os  seus  inimigos,  seja 
mesmo  com  o  íim  de  rapina,  que  sempre  exercem  sobre  os  atacados. 
O  destino  doestas  guerras  é  sempre  ignorado  até  dos  próprios  chefes,  que 
depois  do  primeiro  dia  de  marcha  se  dirigem  a  um  ou  outro  ponto,  conforme 
as  circumstancias,  que  influem  até  ao  íim  no  destino  que  deva  ter  a  execu- 
ção. 

Dirigem  a  guerra  para  o  N.  ou  para  o  S.,  mas  para  o  S.  é  que  frequen- 
temente se  encaminham,  guiados  pela  cobiça  dos  numerosos  rebanhos ; 
é  de  advertir  que  não  são  ferozes  e  raras  vezes  matam.  Os  povos  atacados, 
desprevenidos  como  estão,  raras  vezes  resistem  e  apenas  fogem,  os  que 
podem,  com  seus  gados  para  sitios  desconhecidos  dos  inimigos. 

Raça  munheca  e  muhumbe.  —  Estes  povos,  habitando  a  bacia  do 
Cuneneeseus  affluentesaté  Quilengues,  estão  agrupados  em  tribus  impor- 
tantes de  50:000  almas  e  mais. 

Possuem  numerosos  rebanhos  de  gado  vaccum  e  cultivam  o  sorgho 
ou  massamballa,  o  massango  e  o  milho  para  alimento  ordinário,  mas  o 
leite  de  vacca  é  o  seu  mais  usual  alimento ;  téem  caça  e  pesca  em  abun- 
dância, mas  fazem  d'ella  pouco  uso.  São  generosos,  dóceis  e  aceiados, 
três  qualidades  raríssimas  em  outras  tribus.  Parecem  ter  origem  em  Qui- 
lengues, porque  ainda  hoje  ha  ali  uma  familia  chamada  de  Hambas  (no- 
breza ou  príncipes  de  sangue)  que  é  quem  fornece  régulos  para  qualquer 
povo  do  S.,  quando  a  este  falte  a  dynastia  reinante.  As  suas  leis  de  suc- 
cessão,  quasi  geraes  entre  todos  os  povos,  são  pelo  sobrinho  materno  e 
nunca  pelo  filho. 

Raça  mondombe. — Esta  raça  de  pretos,  chamados  geralmente  mon- 
dombes,  mocuandos,  mocuissos  e  mokroques,  nomes  que  parecem  desi- 
gnar as  torrentes  ou  pequenos  rios  de  beiramar,  junto  dos  quaes  elles  vi- 
vem, habitam  todos  na  zona  baixa  situada  ao  S.  de  Benguella  até  ao  rio 
Kroque,  e  a  O.  da  cordilheira  de  Quilengues  e  sua  continuação  com  o 
nome  de  Chella  até  os  Cubaes.  Habita  esta  miserável  gente  opaiz  mais  es- 
téril de  toda  a  provincia.  DifTerem  muito  de  todos  os  outros  povos  do 
interior  na  lingua  e  nos  costumes,  apesar  de  estarem  separados  d*elles 
somente  pela  serra. 


225 

Sao  geralmente  mandriões  c  porcos,  e  mais  ou  menos  nómadas.  Vi- 
vem do  leite  dos  poucos  gados  qoo  possuem,  ou  pescam  nas  praias  o  indis- 
pensável para  comer  e  n3o  morrer.  As  mulheres  nunca  se  lavam  e  un- 
tam-se  a  miúdo  com  manteiga  e  tacuUa,  ou  aromatisam-se  com  uma  raiz 
bem  pouco  cheirosa.  Vestem  alguns  couros  cortidos  por  elles,  ficando, 
tanto  os  homens  como  as  malberes,  mais  nús  do  que  vestidos. 

Consideram  desbonra  o  trabalho,  e  cultivam  apenas  algum  tabaco 
para  fumar  e  pouco  mais,  cousa  que  não  dô  fadiga  nem  cuidado.  Habi- 
tam em  miseráveis  choças,  e  téem  as  suas  ridículas  povoações  em  logares 
próximos  de  algum  rio  ou  torrente,  onde  haja  agua  e  possam  crear  bois 
ou  carneiros. 

Estas  mesmas  povoações  s3o  poucas  e  afastadas  umas  das  outras  por 
50  e  mais  kilometros,  e  raras  são  as  que  excedem  a  cem  ou  duzentas  fa- 
mílias. 

Nómadas  dentro  do  seu  território,  raras  vezes  saem  e  nSo  se  ligam 
com  algum  outro  povo. 

São  fracos  e  pouco  propensos  a  guerras  com  os  demais  povos.  É  quasi 
desconhecida  a  sua  origem  em  relação  aos  outros  habitantes  da  Africa. 

Agricullura. — O  desenvolvimento  da  agricultura  que  possue  a  pro- 
víncia de  Angola  data  approximadamente  de  1837  para  cá.  Até  essa  epo- 
cha  limitava-se  unicamente  aos  chamados  arimos,  que  ainda  hoje  se  con- 
servam quasi  no  mesmo  estado  em  que  até  então  existiam,  especialmente 
nas  margens  do  Bengo,  que  é  o  rio  mais  próximo  da  capital,  e  nas  do  Dande, 
Quanza  e  Gapararo,  ou  no  Dombe  Grande. 

Esta  agricultura  limilava-se  aos  productos  farináceos  e  leguminosos 
para  consumo  da  população,  avultando  entre  elles  a  farinha  de  mandioca, 
que  também  af&uia  ás  grandes  povoações,  proveniente  da  zona  alto-pla- 
na,  onde  esta  planta  se  dá  perfeitamente.  Alguma  hortaliça  e  fructa  com- 
pletavam as  demais  producções  dos  arimos. 

Acontecia  o  mesmo  nos  concelhos  do  interior,  onde  a  agricultura  for- 
necia em  mais  ou  menos  abundância  os  géneros  consumíveis  na  mesma 
localidade. 

Angola  era  então  farta,  mas  não  exportava  senão  os  productos  natu- 
raes  de  marfim  ou  cera,  que  os  pretos  traziam  ao  mercado  para  trocar 
por  fazendas  e  outros  artefactos  que  mais  apreciavam. 

Em  1837  aportou  a  Angola,  vindo  do  Brazil,  um  homem,  a  quem  a 
agricultura  do  N.  da  província  deve  o  seu  primeiro  desenvolvimento. 

Era  João  Guilherme  Pereira  Barbosa,  que  tendo  vivido  alguns  annos 
n'aquelle  império,  veio  para  Angola,  com  o  propósito  de  se  dedicar  a  al- 
guns dos  ramos  agrícolas,  que  ali  tinha  visto  prosperar,  e  sobretudo  o  café. 

Passado  pouco  tempo  foi  estabelecer-se  em  Massangano,  que  era  a 

15 


226 

viUa  mais  importante  do  interior,  e  de  lá  seguiu  para  uma  das  suas  divi- 
sões, occupando-se  na  compra  de  productos  espontâneos^  &  examinando 
os  terrenos  e  a  sua  immensa  fertilidade . 

Na  divisão  em  que  estava  de  Cazengo,  que  pertencia  a  Ma&sangano,  e 
hoje  Cazengo,  encontrou  algum  café  indigena,  que  mandou  para  Loanda 
em  pequenas  quantidades,  pagando  e  incitando  os  pretos  a  apanhar-Ui'o. 

Logoque  verifiicou  a  existência  e  qualidade  do  café  n'aquella8  matas, 
attiiiíaâo  sempre  pelo  nunca  esquecido,  então  governador  geral  lie  An- 
gola, Pedro  ^exandrino  da  Cunha,  requereu  ao  governo  de  Saa  Ma- 
gettade  a  Rainha  D.  Maria  U  a  concessão,  por  sesmaria,  de  50  kilone- 
tros  quadrados  de  terreno. 

Prevendo  também  o  desenvolvimento  d'aquella  cultura  no  paiz  mon- 
tanhoso que  se  acha  afastado  de  Massangano  e  em  condições  diversas  4o 
paiz  da  zona  baixa,  pediu  e  obteve  do  governo  central  a  forma(^o  de  wi 
novo  concelho,  o  de  Cazeogo,  o  qual  se  coypapoz  da  divisão  qme  ji  perten- 
cia a  Massangano,  de  uma  parte  do  Golungo  Âlto  e  de  outra  d^  Âmbaca, 

Incansável  no  desenvojivimento  4a  x^uitura  do  café  n'um  paiz  q\mi  vir- 
gem para  a  agricultura,  fez  João  Guilherme  abrir  algumas  e&trada$t  tapto 
na  sua  propriedade  como  em  outros  pontos  do  concelho,  do  qual  foi  o  fon- 
dador»  e  nomeado  pelo  governo  seu  primeiro  chefe,  conseguindo  sewpre 
ttanter  as  melhores  relações  com  os  indígenas,  de  quenji  foi  constan- 
temente estimado  e  respeitado. 

fim  17  de  outubro  de  1845»  dava  este  presta vel  cidadão  ao  gover- 
nador geral  da  província  uma  extensa  noticia  do  estado  da  agricultara  4o 
café  da  sua  propriedade,  e  mencionava  a  esperança  que  tinha  de  oolber 
&'aquelle  anno  mais  de  10:000  kilogrammas;  por  cujos  serviços  e  perse- 
verança, empregada  n'aqudile  novo  ramo  de  agricultura;  foi,  por  ^tecreto 
ée  11  de  agosto  do  mesmo  anno,  agraciado  com  o  habito  de  Nossa  Se- 
nhora da  Conceição. 

Faleceu  poucos  mezes  depois  este  incansável  ^^içultor,  mas  os  seus 
«forços  e  trabalhos  não  foram  inúteis,  porque  o  eiiemplo  servia  de  esti- 
mulo a  outros  que  n'essa  epocha  começaram  a  emprehender  a  cultora  do 
eafè,  e  entre  elles  João  António  Gomes  Pereira,  que  lhe  seguiu  as  pizadas. 

Não  tomou  logo  a  cultura  d'esta  rica  planta  o  desenvolvimento  que 
era  para  desejar,  por  ser  quasi  desconhecida  e  estar  ainda  pouoo  ou 
nada  desenvolvido  o  espirito  pela  exploração  agrícola  em  Africa,  6  portanto 
não  affluiram  para  ella  os  capitães  necessários,  tendo  de  correr  por  moito 
tempo  com  os  próprios  recursos,  que  são  sempre  morosos  JO^aqueUa  va- 
riedade de  agricultura,  e  por  levarem  as  plantações  muitos  annos  a  .des- 
envolver-se. 

Por  estas  rasões,  dez  annos  depois,  ou  em  1856,  a  colónia  dç  Cazen- 


^7 

go,  (p^  jçiMio  j^  CQf^y^  J^j^tçs  cji^iy<9dpres^  prpdqzia  approxima- 
imkàfAi^  300:0(X)  kilogram^^s  de  çaféi  para  mais  tarde  ser  elevada  á 
producçao  de  2.700:000. 

Clm  |84,9  apprtoy  a  j)([p$39ffiedes  a  primeira  colónia  vinda  do  Brazil, 
Gpm  destino  i  agricuUm^,  ,e  da  qu^l  foi  chefe  promotor  Bernardino  Frei- 
ra (te  Figo^edo  Abreii^  e  Çfl^ro*  )£$td  colónia,  reforçada  por  outra  que 
chegou  no  anno  s^uínte,  compunba-se  de  perto  de  duzentas  famiUas, 
que  Q  gQverpo  subsidiou  e  auiilioi;  fip  que  põde^  jtjievendo  muito  ao  be- 
oemerito  marquez  de  Sá. 

A  Cidanija  ao  e^itanto  foi  i^el);s  qqs  priínejrps  três  annos,  porque  dç- 
rauta  a$to  ^mpo  teve  de  l^fi^  com  secca  e  com  todos  os  inconvenientes 
da  inexperiência  d'esses  nadas  que  tudo  valem  na  agricultura,  como  s3o 
o  coobecimivítfo  ,do  cljuga?^  dos  terrenos^  das  estações  e  da  qualidade  e  es- 
f^ecialidíada  das  jÇjolturas,  p  sQJ)re^do  a  Qenbuma  experiência  dos  colonos, 
qjoe  poucos  e^am  os  que  jtinhíim  luzes  tbeoricas  ou  praticas  da  vida  a  que 
se  dedicayaqi. 

Por  isso  aquella  gente  estava  po  ^  de  três  anqos  tão  dizimada,  que 
BUÍS  de  4oís  terços  tinham  f:etirado  de  Mc^samedes,  ou  se  empregavam 
m  fmtffc^  dJ^^JBffiS  4os  .^9,e  .93  que  ali  09  levara. 

JP^s^ft^io  este  perÂp(jk>  vçii^  ^  inundação  do  Bero  a  Mossamedes,  e  dei- 
xou os  terrenos  aptos  para  produzir. 

Os  pripieiros  çploiwç  fffHd  03  culjlivar9xn  tiraram  boiu  fruoto  dos  seus 
irabalbos. 

A  hortaliça  e  a  batata  dava-se  ali  excelle.Qt^enle,  e  o  paiz  tinha  mu.i- 
(9  fjÊTffp  <^e  yaçca  e  .a[bmndaQC^  dç  peixe,  tudo  barato.  A  industria  da  pesca 
era  já  4e  }0^s  e  f  .(H^lt|^^a  d^  bat^^ta  muito  rendosa  e  bem  vendida^  o^ue 
SQIPftrijí  evi  ^!èf^^Q  parbç  .?$  fqeç^,çi(^des  (}os  cultivadores.  Começava  en- 
J($Q  ji  4i93epvx)lv|w^se  n'/s3sa  f^pc^a^  f 8^^,  a  apanha  da  urzela  no  paiz  do 
Utoqd,  9iQ  S,  de  ^fpxeVi^, 

A  descrença  na  proficuidade  da  nova  agricultura  era  ainda  gerjal,  tan- 
to q^fs  os  b^itantçs  de  3f\i;tfH^,l9  e  I^Q^uda  ^jpostropbavapi  os  de  Mossa- 
medei  de  |i)atateiros,  4e3cri^<lo  em  tudo  da  agricuUura,  a  qual,  débil  como 
era,  se  limitava  a  Mossamedes  e  Cazengo,  e  ao  principio  de  uma  fazenda 
d9  canoa  46  assacar  no  Icollo  e  Bengo,  mandada  fundar  por  D.  Anna  Joa- 
quina dos  Sant03  Silva. 

Grande  parte  das  auctorídades  da  provinda  er^in  as  priQieiras  a  não 
acreditar  no  novo  desenvolvimento  da  agricultura,  apesar  de  ser  est^  mui- 
to recommendada  pelo  governo  da  metrópole,  em  que  teve  grande  parte 
Q  iUustre  m^quez  de  Sá,  enlhusiasta,  como  sempre  foi,  ppr  este  desenvol- 
vimento. 

Os  terreqos  das  margens  do  rio  Bero  e  Giraul,  limitando  a  uma  pe- 


228 

quena  área  a  agricultura  da  colónia,  e  dSo  sendo  de  primeira  qualidade, 
por  precisarem  de  regas,  cujo  emprego  n3o  estava  praticamente  estudado, 
não  davam  horísonte  a  largo  desenvolvimento. 

Começaram,  portanto,  a  voltar-se  as  attenções  para  as  terras  do  inte- 
rior e  abas  da  serra  da  Chella,  e  montou-se  no  Bumbo  a  primeira  fazenda 
de  canna  de  assucar;  o  clima,  porém,  doentio  como  todos  os  d'estes  pon- 
tos, afastava  a  colonisaç3o. 

Propugnador  activo  do  desenvolvimento  agricola  em  Mossamedes,  ap- 
parece  n*esta  epocha  um  homem,  que  n3o  resistimos  ao  desejo  de  no- 
mear, Angelo  de  Sousa  Prado,  de  quem  aliás  os  valiosos  esforços  tiveram 
de  ceder  á  desanimação  e  descrença  geral  que  então  ainda  avassaliava  o 
çspirito  publico  colonial. 

Assim  foi  caminhando  desanimada  e  lentamente  a  agricultura  em  An- 
gola até  ás  proximidades  de  1858,  epocha  em  que  começou  a  fallar-se  na 
cultura  do  algodão,  em  virtude  dos  projectos  de  uma  companhia  estran- 
geira que  quiz  ali  estabelecer  aquella  cultura,  o  que  foi  incentivo  para  al- 
guns colonos  se  dedicarem  também  a  ella. 

Manuel  José  Correia,  de  Benguella,  foi  dos  primeiros  que  cultivou  o  al- 
godão no  Carunjamba  e  em  S.  Nicolau,  pontos  intermédios  entre  Benguella 
e  Mossamedes,  então  muito  explorados  pelas  feitorias  de  apanha  de  ur- 
zela. 

O  negocio  da  escravatura,  como  contrabando  sempre  mal  visto  na  me- 
trópole, começava  também  a  sêl-o  na  colónia,  e  era  alem  d'isso  arriscado 
para  os  que  n'elle  se  mettiam. 

As  vistas  até  então  attentas  para  alem-mar,  começavam  a  volver  para 
a  terra  e  para  a  agricultura,  e  esta  a  ser  vista  com  melhores  olhos. 

Prosperavam  as  fazendas  de  S.  Thomé  e  Príncipe.  Cazengo  lá  se  ia  au- 
gmentando,  e  Mossamedes,  alem  das  batatas  que  vendia  aos  baleeiros 
americanos,  e  da  sua  prospera  industria  da  pesca,  já  produzia  igualmente 
aguardente  e  assucar. 

A  apanha  da  urzela  tinha  deixado  também  alguns  contos  de  réis  na 
provincia,  para  compensar  as  perdas  do  extincto  negocio  da  escrava- 
tura. 

Apparecia  n'aquelle  anno  a  navegação  a  vapor  para  a  Africa,  e  do 
meio  d*esta  primeira  animação  fundaram-se  novas  fazendas  agrícolas  em 
Mossamedes,  S.  Nicolau,  Carunjamba,  Equimina,  Luacho,  Novo  Redon- 
do, Quicombo,  Benguella  Velha,  Yalle  do  Bengo,  Ambriz,  Bembe  e  a  nova 
colónia  de  Capangombe. 

A  cultura  do  algodão  animou-se  então  bastante  com  o  bom  preço 
d'aquelle  producto. 

Iniciou-se  em  Mossamedes  o  systema  da  irrigação  dos  campos,  o  que 


229 

deu  grande  vida  a  toda  a  espécie  de  cultura»  desenvolvendo  muito  a  da 
canna  do  assucar. 

A  cultura  do  café  foi  do  mesmo  modo  mostrando  os  seus  lentos,  mas 
sólidos  resultados. 

Alguns  n^ociantes  de  Benguella  e  Loanda,  que  poucos  annos  antes 
chamavam  aos  agricultores  batateiros,  eram  já  os  próprios  que  se  dedica- 
vam á  agricultura»  e  muitos  d'estes  téem  hoje  n'ella  o  seu  principal  em- 
prego. 

Do  concurso  geral  de  todos  estes  meios  de  producçSo,  animados  pela 
navegação  a  vapor  entre  Portugal  e  a  colónia»  nasceu  a  nova  epocha  agrí- 
cola de  Angola ;  mais  tarde,  com  a  creação  do  banco  nacional  ultramarino, 
e  depois  a  navegação  a  vapor  no  Quanzá,  prosperaram  muito  mais,  pela 
regularidade  que  o  banco  deu  ao  credito  que  tão  indispensável  era  na 
província,  e  pela  facilidade  que  as  carreiras  de  vapor  deram  aos  transpor- 
tes do  interior  a  L.  de  Loanda,  creando  um  novo  e  prospero  centro  de 
commercio  na  villa  do  Dondo. 

A  cultura  do  café,  da  canna  saccharina  e  do  algodão  são  hoje  as  mais 
desenvolvidas  como  meios  de  exploração  agrícola ;  a  dos  cereaes,  legu- 
mes, fructas  e  hortaliças,  de  que  em  geral  ha  fartura,  faz-se  em  toda  a 
parte  e  permuta-se  para  uso  da  população. 

As  duas  colónias  primeiramente  fundadas,  a  de  Cazengo  e  a  de  Mos- 
samedes,  são  hoje  também  as  mais  desenvolvidas  e  as  que  mais  produ- 
ctos  exportam,  caminhando  as  de  mais  recente  data  igualmente  em  via  de 
prosperidade. 

Golungo  Alto,  vizinho  e  em  tudo  similhante  de  Cazengo,  tem-lhe  se- 
guido o  exemplo,  e  pôde  dizer-se  que  constituem  ambos  uma  só  colónia 
com  as  mesmas  producções,  vantagens  e  necessidades  ^ 

Se  a  agricultura  n'esta  colónia,  como  em  muitos  outros  pontos,  se  não 
desenvolve  mais  rapidamente  é  porque  vive  quasi  dos  próprios  recursos, 
resentindo-se  da  falta  de  capitães.  A  recente  crise,  filha  da  alteração  no 
estado  dos  trabalhadores,  activada  pelas  ultimas  seccas,  tendo  retrahido 
o  credito,  que  d'antes  já  não  era  largo,  aíTectou  bastante,  ha  dois  annos 
para  cá,  a  sua  crescente  prosperidade.  É,  porém,  de  suppor  que  essas 
causas  accidentaes  terminem  brevemente. 

Ha  bastantes  propriedades  que,  vivendo  assim  dos  próprios  recursos, 
muito  se  téem  desenvolvido  n'estes  últimos  annos,  e  apresentam  hoje  con- 


1  Esta  colónia  conta  hoje  meia  dúzia  de  propriedades  importantes,  que  devem 
já  produzir  annualmente  entre  1.500:000  e  3.000:000  kilogrammas  de  café,  e  algu- 
mas dúzias  de  outras  mais  pequenas,  nas  quaes  o  desenvolvimento  é  já  conhecido 
pelas  suas  largas  plantações. 


díOões  de  melhoràrnéDtos  qnêf  íhe  dão  á  solides!  daí  í)fospefiâade  futura. 
Em  muitas  d'ellas  ha  já  magníficas  ruas  bèm  arborisadas»  pomares  de 
^  variados  fftctos  indígenas  e  da  Anfíerícd,  úíiide  tambení  se  aciittiam  bas- 
tantes fructas  e  flores  da  Europa,  assim  como  obras  hydraaltcafá  è  ifltfcbi- 
nas  diversaà  appticadas  á  exploração  a^fricola,  édificios  ítúpanàttíêi  ()ara 
habitação»  armazéns  e  o£Bcida^para  todo  ó  trafego  agrícola. 

A  propriedade  denominada  «Colohiá  S.  Jòãõ^,  m^ituida  pòr  Jútó  Qut- 
Iherme,  que  foi  também  o  fundador  d'aquella  agricultura,  tem  um  ^é^o 
ediAciO;  na  maior  parte  jâ  construído,  tí  quái  ásséiita  sobre  títti  títònté  que 
se  eleva  no  meio  do  vaílé  qué  a  consfitbe;  è  fôrio  de  pedra  e  cal  £  ctfberto 
de  telha;  (òm  de  extensão  a  f^ente  qúé  dlbd  parâí  o  N.  1.7^,51,  a  qual  está 
ainda  por  concluir ;  mede  pelo  lado  dô  náscetite,  qné  ê  o  que  representa 
a  gravuras  SO^^^SS,  tendo  sobre  o  t)ofrtão  doesta  fachada  um  caitàpiííÉm 
com  dois  sinos,  um  dos  quaes  faz  paHe  doí  Mbglo,  que  ãll  se  avista;  no 
lado  do  S.  tem  uns  30  metros,  e  ho  dd  i^dénté,  áitída  eín  construção,  tíma 
área  igual  á  do  lado  opposto,  o  que  tudo  perfatt  titúá  extehsão  de  I74'',4. 

A  maior  parte  d'esta  vasta  vivenda  còriJ^íSé^sé  dC  bítí  primeiro  andar 
de  quatro  faces,  com  espaçosas  lojas  t[nb  sehétíi  de  artUazens  e  ofBclnas 
para  o  lado  de  fora.  Em  frente  dos  arnisteeri^  ha  m&a  seHe  de  teiteíros  ou 
eiras  destinados  para  a  secca  do  café  e  afòrtíioseamento  áó  ediflcio ;  e 
no  meio  das  edificações,  ntí  plano  do  p^iãiei^tT  atídaf ,  étíMê  trtfi  magni- 
fico terreiro  arborisado  com  que  commnnicam  {ís  diversas  casas  de  habi- 
tação, e  no  qual,  apesar  do  seu  platío  elevado,  há  êrgtiá  encanada^  vinda 
da  montanha  próxima  e  que  se  eleva  com  uma  carga  de  25  metros  ef  ti^oma 
extensão  de  mais  de  SOO. 

A  propriedade  geral  tem  mais  cinco  povoações  alem  da  qúe  descre- 
vemos e  que  è  a  principal,  e  tnede  10  kiloinetfos  quadrados  de  terreno, 
todo  montanhoso,  fértil  e  cheio  de  nascentes  de  bella  agua,  ás  qiiaes  con- 
vergem á  ribeira  Hubeje,  que  formsí  o  valle  da  propriedade'. 

Em  1872  produziu  esta  fazenda  apprtíximadamente  f  60:000  kilogram- 
mas  de  café. 

Uma  das  principaes  propriedades  da  coloíiia  é  a  fazenda  deiKiminada 
Prototypo.  Possue  extensas  plantações  de  café,  e  tem  ainda,  como  qdsisi 
todas  as  outras,  muitos  matos  pafa  rotear,  próprios  para  aquella  cnltaí^. 
Uma  pequena  machina  de  vapor  faz  ali  o  descasque  e  limpeza  úb  clílé  co- 

1  Copia  de  uma  photographia  tirada  em  1873.  Yeja-se  a  gravura  que  tem  a  se- 
guinte designação :  Colónia  S.  João,  Vista  da  habitação  do  lado  oriental. 

2  A  500  tnetros  da  habitação  principal  lia  um  bonito  lago  formado  por  duas 
poderosas  nascentes,  e  do  qual  segue  uma  agradável  f ua  até  a  habitado  ^ndpal, 
como  se  pôde  fazer  idéa,  observando  a  gravura,  qiie  tem  a  seguinte  designa^: 
Rua  de  mangueiras  e  jamboeiros  na  fazenda  S.  João,  efh  Angola. 


231 

Ihidó.  Tem  bellos  pomares,  dm  lago  artificial  para  creaçSo  de  peixes,  e 
tima  ma  de  palmeiras  de  cuja  regularidade  e  symetria  se  pôde  fazer  idéa 
á  vista  da  gravura  que  ajuntámos  ^  É  a  copia  de  uma  photogf)aphia  tirada 
em  1876. 

A  fazenda  Palmira,  também  uma  das  melhores  da  colónia,  apresenta 
bastantes  melhoramentos. 

Possue  um  excellente  prédio  de  habitação  com  todas  as  officinas  e  ar^ 
mazens  bem  construídos  para  grande  trafego  agrícola,  tendo  igualmente 
agua  encanada  nos  seus  vastos  terreiros.  Ha  ali  magnificas  ruas  arborisa- 
das,  e  é  talvez  a  que  tem  melhores  pomsires  de  laranja,  limão,  cidra,  so- 
berbas mangueiras,  jamboeiros,  coleiras,  tamarindeiros,  fructas  do  conde, 
de  pinha,  cajueiros  é  outras  muitas  arvores  indígenas,  todas  alinhadas  e 
cultivadas. 

A  fazenda  Monte  Alegre,  no  Golungo  Alto,  está  hoje  muito  desen* 
volvida  e  possue  grandes  elementos  de  prosperidade. 

Ha  ainda  mais  outras  em  condições  análogas  pertencentes  a  euro- 
peus, avultando  também  muito  a  pequena  cultura  do  povo  indígena. 

A  producção  de  café  n'esla  colónia,  em  (871,  devia  orçar  por 
200:000  kílogrammas,  apesar  de  se  náo  poder  bem  precisar  pôr  falta  de 
dados  estatísticos. 

Uma  grande  parte  d'esta  producção  acode  á  povoação  chamada  Ca- 
sulo, onde  é  objecto  de  um  commercio  considerável. 

É  n'aquella  povoação,  composta  de  uns  cincoenta  europeus  e  muitos 
íodigeDas,  que  reside  a  auctoridade  administrativa  do  concelho  de  Cazeth 
go.  Possue  alguns  prédios  soffriveis  e  uma  pequena  igreja  da  invocação 
de  S.  João  Baptista  de  Cazengo,  a  qual  serve  de  freguezia  do  concelho. 

A  colónia  em  geral  espera  somente  a  abertura  de  uma  rápida  via  de 
communicação,  como  é  a  via  férrea  projectada,  para  poder  elevar-se  e 
constituir  toda  a  sua  importância  natural  com  um  rendimento  superior 
áquelle  que  hoje  possue  toda  a  província.  Para  isso  basta  considerar  que 
do  nada  se  elevou  ella  ao  que  hoje  é,  no  espaço  de  trinta  annos,  com  di- 
minutíssimo capital  e  sem  auxilio  nenhum  estranho ;  acrescendo  ainda, 
que  os  seus  valiosos  productos  fazem  de  despeza  quasi  um  quarto  do  seu 
Valor  para  se  poderem  collocar  no  primeiro  porto  de  mar,  e  que  a  redacção 
â'essa  despeza,  junta  á  regularidade  do  transporte,  seria  toda  convertida 
em  lucro  e  animação  desenvol vente  para  o  cultivador. 

Ambaca,  a  E.  da  colónia  de  Cazengo,  cultiva  muita  ginguba,  batata  e 
arroz. 

1  V(*ja'se  a  gravura  que  tem  a  designação:  Rua  das  Palmeiras  na  fazetida 
Prototypo. 


232 

Os  concelhos  de  Duque  de  Bragança,  Malange  e  Pungo  Andongo  ex- 
portam gados,  e  também  têem  excellentes  terras  para  agricultura,  mas 
pouco  exportam,  porque  grande  parte  dos  productos  que  ali  se  cultivam 
servem  somente  para  o  consumo  interno,  havendo  alguns  que  muito  con- 
viria agricultar;  morrem  porém  todas  as  tentativas  em  presença  das  diffi- 
culdades  e  dos  enormes  gastos  de  transporte,  que  matam  todo  o  commer- 
cio  d*aquellas  paragens  que  não  tenha  um  valor  muito  elevado  em  relação 
ao  seu  peso.  Assim  os  productos  que  d*ali  acodem  ao  mercado  são  gado, 
cera,  marfim  e  borracha. 

Á  villa  de  Dóndo,  ponto  extremo  da  navegação  do  Quanza,  é  onde 
vão  todos  estes  productos,  tanto  da  colónia  de  Cazengo  como  do  interior. 

Esta  villa,  já  muito  importante,  é  objecto  de  um  considerável  com- 
mercio  de  transito.  A  gravura  que  ajuntámos  mostra  uma  parte  da  po- 
voação que  fica  na  margein  esquerda  do  rio  mais  pittoresco  de  Loanda^ 

A  navegação  a  vapor  no  rio  Quanza  è  o  único  meio  que  ainda  auxilia 
um  pouco  a  vida  productora  dos  concelhos  de  E.;  porém  estando  os  mais 
productivos  afastados  do  rio  por  uma  distancia  de  75  a  100  kilometros, 
dão«se  innumeraveis  difBculdades  no  transporte  até  á  via  fluvial,  alem 
d'aquellas  que  apresenta  a  mesma  via,  pelas  suas  interrupções  annnaes 
Àò  tempo  das  seccas,  passagem  da  barra  e  outros  obstáculos,  o  que  tudo 
fát  com  que  ainda  affluam  á  cidade  muitos  productos  pela  via  terrestre, 
coih  enormes  difliculdades  e  grande  dispêndio. 

Apesar  de  todas  essas  contrariedades,  a  via  fluvial  do  Quanza  apresenta 
um  movimento  de  alguma  importância,  porque  no  anno  de  1871,  que  não 
foi  ainda  dos  melhores,  já  se  exportaram  por  esta  via  valiosos  productos. 


^ae  foram  iraii«|^rfta«l«s  pela  naireffaefto  da  ria  ^aa 

(Abril  de  iCl9i  a  SI  de* marca  de  iS99) 


Géneros 


Ginguba. 
Goconole. 


Unidades 

1 

1 

QaaDtídadcs' 

Vnço 

Arrobas 

1 

63:573 

3^800 

1 

m 

381:746 

^700 

» 

61:257 

1^500 

Importâncias 

24i:577M00 

267:32Si5300 

30:628^300 


539:428^100 


1  Veja-se  a  gravura :  Vista  da  villa  do  Dondo,  na  margem  direita  do  rio  Quanza, 

2  As  quantidades  referidas  n'este  mappa  nao  estão  reduzidas  á  medida  legal  em 
consequência  da  difficuldade  de  approximnr  o  preço  relativo  a  esta  eom  o  da  uni- 
dade adoptada  na  província  de  Angola. 


233 


Géneros 


Tramporie 

Mamona 

Gomma 

Borracha 

Algodão 

Arroz 

BaUtas 

Farinha  de  mandioca 

Feijão 

Milho 

Urzela 

Liconde 

MarGm 

Cera 

Couros 

Tabtco 

Fio  de  algodão 

Aguardente 

Tábuas 

Toros 

Óleo  de  palma 


Unidades 


Arrobas 


Maçarocas 

Pipa 
Volumes 

» 

Toneis 
Pipas 
Barris 


QoaDtidades 

Preço 

674 

^500 

2:080 

54000 

7:502  Vz 

104500 

13:673 

44000 

68V2 

14100 

• 

96  Vz 

4600 

ii:469 

14000 

1:229 

4800 

1:242 

4500 

68 

14500 

513 

4350 

869 

604000 

19:431 1/2 

84100 

153 

4300 

ÍÍV2 

14800 

Importasdu 


2:606 

1 

117 

19 

388 

3:418 

3 


4060 
804000 
4600 
4800 
804000 
554000 
204000 


539:4284100 

3374000 

10:4004000 

78:7764250 

54:6924000 

754350 

574900 

11:4694000 

9834200 

6214000 

1024000 

1794550 

52:1404000 

157:3954150 

454900 

'224500 

1564360 

804000 

704200 

154200 

31:0404000 

187:9904000 

604000 

1.126:136^660 


Já  se  vê  que  não  entram  aqui  os  productos  da  pequena  navegação  do 
Quanza,  nem  os  do  movimento  das  vias  terrestres,  que  se  n3o  mencionam 
por  falta  da  respectiva  estatística,  avultando  entre  elles  toda  a  qualidade 
de  animaes  em  que  as  regiões  de  L.  s3o  fertilissimas:  e  também  se  não 
mencionam  os  géneros  consumidos  nos  diversos  concelhos  e  mais  pontos 
afastados  do  interior,  entre  os  quaes  merece  especial  menção  a  aguar- 
dente. 

As  margens  do  Luinha,  as  do  Lucala,  uma  parte  das  do  Quanza,  e  as 
do  Bengo  e  Dande  são  excellentes  para  a  cultura  da  canna  de  assucar,  e 
em  todas  ellas  ha  plantações  e  algumas  fazendas  bem  montadas. 

Em  Malange  também  se  cultiva  a  canna  saccharina. 

As  margens  do  Lucala,  excellentes  para  esta  cultura,  n'uma  extensão 


^^4 

de  35  kilometros  desde  Oeiras  até  Massangano,  s9o  de  uma  belleza  desr 
iDmbrante;  fertilisadas  annualmente  pelas  inundações  do  rio  e  cobertas 
fia  maior  parte  de  frondosissimo  arvoredo  deixam  ver,  misturado  com 
ésèk  SúhêtM  vegetação,  milhares  de  arvores  de  variados  fructos,  e  entre 
éllii  Soberbas  lai^anjeiras,  que  dão  a  mais  saborosa  laranja  da  província. 
listes'  (éíTéiios  são  geralmente  propriedade  dos  naturaes  de  Massangano, 
é  Kâ  Jí^fénás  ali  úína  fazenda  de  canna  e  fabrico  de  aguardente  onde  está 
montada  cfttta  machina  a  vapor. 

O  Quanza  possue  também  margens  extensíssimas  e  férteis  n'uma  ex-> 
teú^o  de  200  kilometros,  desde  a  villa  do  Dondo  até  á  foz,  mas  a  agri- 
cullufá  tíio  tem  ali  tomado  o  incremento  que  se  manifesta  em  outras  par- 
tes pelas  diflSculdades  que  Ibé  oppõe  o  regimen  especial  das  volumo* 
sas  agUâs.  Os  pretos  cultivaion  alguns  cereaes  e  legumes,  porque  as  ter» 
ras  s9o  fertilissimas  sempre  que  podem  conservar  um  meio  terino  entre 
as  seccas  e  os  alágóS.  A  maior  parte,  porém,  das  melhores  terras  s3o  in- 
tádidas  anúualmeíile  pelas  grandes  inundações,  á  falta  de  defezas  pro- 
ptíi^y  ()ue  àtiás  feriam  muito  dispendiosas,  e  a  outra  está  quasí  sempre 
sdinSlgligida  pelas  aguas,  forinando  amplas  lagoas. 

Ás  maiores  inundações  periódicas  poucas  plantas  resistem  a  oSo  ser 
i  palmeira,  da  qual  se  vêem  extensos  bosques  que  formam  a  riqueza 
importante  dos  poVos  da  localidade. 

Ó  èr.  Feliciano  da  Silva  Oliveira  montou  ha  poucos  annos  uma  grande 
propriedade  de  canna  e  fabrico  de  aguardente,  no  sitio  denominado  Bom 
iesds,  pãM  a  qual  teve  de  fazer  um  dique  ou  defeza  contra  o  rio,  conse- 
gulridò  extinguir  a  lagoa,  e  plantando  canna  nas  terras  descobertas  pela 
agua,  tjue  são  nssim  de  uma  fertilidade  espantosa. 

K^tA  deféza,  similhante  a  outras  a  que  na  província  se  chamam  bon- 
gues,  6  f^it.i  de  terra,  elevandosc  parallela  ao  rio  e  com  altura  sufiSciente 
para  defender  a  invasão  das  aguas,  mas  custou  ao  proprietário  algumas 
dezeh^s  de  contos  de  réis;  assim  mesmo  já  uma  vez  foi  arrombada  pelo 
ríò  e  de  httvo  reedificada. 

EMá  propriedade  possue  hoje  largas  plantações,  tem  todos  os  labora- 
tórios bem  montados  e  oma  machina  de  vapor  para  os  trabalhos  da  moa- 
gem. Calculam-se  as  colheitas  annuaes  em  mais  de  210:000  litros  de 
aguardente. 

As  casas  de  habitação  são  edificadas  junto  á  margem  direita  do  rio 
Quanza,  como  se  mostra  na  gravura  que  ajuntámos'. 

Nas  margens  do  Bengo,  Dande  e  Ambriz  também  ha  importantes 

1  Veja-^c  a  granira  que  tem  a  seguinte  designação:  Fazenda  Bom  Jesus,  na 
fHargèúí  do  rio  O^^^za. 


propriedades  de  cultura  àè  MoDá  e  tàtítitó  ãé  ^gúátãeúiè,  e  algudias  d'èt- 
lad  possuem  bons  motores  de  vápof . 

A  cidade  de  Lòaudái^,  capita!  da  lA-oviacra,  è  ti  oeMro  do  ttátor  lAôVi- 
roeàto  de  tòdás  estas  produc^Oes. 

Partindo  para  o  S.  da  província  ha  em  vários  poírtofs  ttíuHáâ  tàtónálê 
de  canna  e  álgodSò,  podendo  citar-se  QtdcMntM),  GattíttibeKa  é  hiUinik  no 
rio  de  S.  Francisco,  Garunjámba  e  S.  Ifkiolau.  Algóiúêí^  d'eilás  ^HOô 
montadas  em  ponto  grande  e  òom  boas  iftaébinâá  ttotoras  para  oé  diflè^ 
rentes  misteres  da  lavoura. 

Finalmente  o  dístricto  de  Mossamedes,  cotíipòstO  dá  bèlU  títildtíUí 
agrícola  que  em  1849  é  1890  aH  éò  estábelecieu,  è  de  todosi  os  {>óMos 
aquelle  onde  â  raça  branca  mais  prosperai  e  máid  vivtf  catíútí^  úi  babi- 
Uni  dá  Etirópa. 

A  cultura  da  canna,  o  fabrico  dá  ágttá^deíite  e  m^^rno  dè  álgtitíi  á^ 
sucar,  são  a  principal  producção  doesta  colónia. 

Todos  os  terrenos  aproveítaMs  daá  tUit^etíÉ  dò  Bèf o  é  QítM  ãstlo 
bem  agricultados  por  grande  rmmeh)  de  CMotíos  que  áli  viteffi  tioffi  tíiàê 
fiimilias,  e  a  propriedade  tem  dm  itOOf  bastante  stíbido.  À  fáitá  de 
aguas  pluviaes  estabeleceram  o  ^stemá  dè  trrigáçad,  tiráúdo  á  ágtia  de 
poços  ou  cacimbas,  empregando  paM  iSèO  íâáehioás  a  vapM*  apropria- 
das. 

Toda  a  cultura  está  ali  largatíiente  déáentolvidá  e  á  (eri^á  ffiffito  bem 
aproveitada. 

As  colónias  do  Bumbo,  Capangombe  e  Biválla^  originarias  da  de  1Ê0§^ 
samedes,  e  situadas  nas  vertentes  da  serf a  da  Gbdla,  pOístieiA  ti'éiÈH  Co6i 
melhores  meios  de  prosperidade  na  larghHsíá  e  fê(nilídáâ«  dOá  imtitm 
que  occupam,  mas  resentem-se  muito  de  dois  obstáculos^  que  âid  ooifl- 
muns  a  qoasi  toda  a  agricultura  colonial — a  falta  do  capital  deâetlvdlvente 
e  os  meios  económicos  de  communicaçao  e  transporte  páfá  á  conduc^^ 
dos  seus  productos.  Assim  mesmo  o  conjuncto  geral  dá  agricultura  dá 
colónia  é  bastante  importante,  allendehdo  a  que  sustenta  muitos  Mntos 
de  famílias  que  ali  vivem,  exportando  ainda  aguardente,  álgodlo^  bata- 
tas, peixe  fresco  e  bois.  E  preciso  observar  que  háO  entra  em  linha  de 
.conta  a  maior  parle  da  aguardente,  a  qual  é  consumida  no  districto  e  no 
sertão  contíguo'. 

Se  a  colónia  de  Angola,  sem  caminhos  e  com  di£Qceis  meios  de  con- 
ducção,  sem  capitães  desenvolventes  e  até  sem  segurança,  creou,  no 


1  Vista  da  cidade  de  Loanda  (parte  baixa). 

^  Foi-nos  ultimamente  afiando  que  a  colónia  de  Mossamedes  attitiiiá  Já  ttlná 
producção  de  aguardente  entre  2.520:000  a  3.360:000  htros. 


espaço  de  quarenta  annos,  pelo  desenvolvimento  de  deleiminadas  cultu- 
ras que  n'esse  tempo  ião  existiam,  valores  tão  importantes  como  aquelles 
de  que  temos  fallado,  qual  será  a  prosperidade  que  poderá  atlingir  em 
igual  espaço  de  tempo  se  lhe  não  faltarem  esses  meios  necessários  ao  seu 
rápido  desenvolvimento?.  • . 

O  fiituro  das  colónias  de  Angola  poderá  considerar-se  bem  seguro,  se 
se  admittir  como  certa  a  construcçSo  do  primeiro  caminho  de  ferro  de 
Loanda  a  Ambaca,  emprehendimento  este  que  não  pôde  deixar  de  ser  o 
motor  de  todos  os  melhoramentos  de  que  carece  a  agricultura  e  o  com* 
mercio  em  geral  da  província. 

O  credito  tão  necessário  será  o  primeiro  a  constituir-se  e  a  facilitar 
se  com  vantagens  immediatas  para  o  desenvolvimento  da  agricultura. 

A  navegação  e  os  outros  meios  de  communicação,  serão  também  uma 
consequência  de  tão  vital  melhoramento. 

A  segurança  publica,  sobretudo,  considerar-se-ha  bem  mantida,  e  d*es« 
te  conjuncto  de  circumstancias  poderá  nascer  um  novo  estado  de  prospe- 
ridades para  a  província,  superior  á  que  actualmente  gosa. 

Não  é  certamente  tão  desenvolvida  quanto  desejávamos  a  descripção 
que  deixámos  exposta,  mas  è  muito  sufficieote  para  se  reconhecer  que  na 
provipcia  de  Angola  ha  mais  alguma  cousa  do  que  feiras  afastadas  urnas 
das  ataras  e  alguns  fartes  dispersas. 

Queríamos  dar  uma  idèa  das  bellezas  naturaes  do  paiz,  completando 
o  esboço  que  apresentámos  com  gravuras  referentes  a  plantações,  pai- 
zagens  e  ediãcios  dos  principaes  logares  da  província,  mas  não  nos  foi 
possiveP.  As  gravuras  que  ajuntámos  mostram,  comtudo,  o  modo  pouco 
acertado  por  que  alguns  escríptores  estrangeiros  téem  fallado  a  respeito 
das  nossas  colónias  em  geral. 

Ê  indispensável  dizer  as  cousas  como  ellas  são,  e  a  ninguém,  como  ao 
medico  hygienista,  cumpre  examinar  as  condições  em  que  se  acham  as  po- 
voações, cuja  salubridade  procura  conhecer. 

Não  vêem,  pois,  fora  de  propósito  estas  considerações,  poisque  esta- 
mos plenamente  convencidos  da  urgente  e  imperiosa  necessidade  de  se 
responder  á  propaganda  dos  escriptores  estrangeiros,  oppondo  a  verdade 


I  Nao  conseguimos  obter  pbotographias  das  plantações  da  colónia  do  Mos- 
samedes,  assim  como  nos  faltam  as  dos  pontos  mais  notáveis  de  Benguella  e  Am- 
briz;  mas  dentro  em  breve  tempo  daremos  um  trabalho  especial  acerca  da  província 
de  Angola,  e  reuniremos  todas  as  vistas  que  forem  dignas  de  se  observarem. 

Cumpre-nos,  todavia,  palenicar  aqui  o  nosso  sincero  agradecimento  ao  sr.  Al- 
berto da  Fonseca,  que  nos  forneceu  as  photo(n*apbias  qne  serviram  para  as  gniAOi- 
ras  que  damos     respeito  de  Angola. 


237 

■ 

ao  erro,  os  documentos  ás  vagas  asseverações,  os  factos  ás  bypotbeses  in- 
sustentáveis. 

Não  nos  apreciou  com  justiça  A.  Réclus,  mas  as  suas  afiSrmaçSes  fo- 
ram já  rectificadas '. 

Livingstone»  como  já  dissemos,  teve  denodado  athleta,  que  Ibe  des- 
truiu, uma  a  uma,  as  inexactidões.  Não  menos  brilhante  foi  a  resposta 
dada  por  H.  Major  a  Pierre  Magry. 

O  que,  porém,  coroou  todos  os  nossos  esforços  para  se  restabelecer 
a  verdade  a  respeito  das  cousas  de  AfridTforam  as  sessões  da  camará  dos 
senhores  deputados ;  mostrou-se  ali  á  evidencia  que  os  exploradores  Ca- 
meron  e  Young  não  alcançaram  mais  do  que  Livingstone  e  Pierre  Ma- 
gry. Deram,  pelo  contrario,  occasião  a  que  a  verdade  apparecesse  ra- 
diante de  luz,  e  se  levantasse  a  questão  colonial  na  sua  verdadeira  altura. 

Guiou-se  de  certo  este  esclarecido  escriptor  por  informações  espalha- 
das pelos  abolicionistas  inglezes,  que,  tendo  sido  bem  recebidos  nas  nos- 
sas possessões,  não  duvidaram  desdizer-se  muitas  vezes  e  serem  comple- 
tamente injustos  para  comnosco  i 

Tem  sido  tal  a  cegueira  dos  propagandistas  inglezes,  que  nem  ao  me- 
nos relêem  o  que  escrevem,  nem  se  arreceiam  de  se  darem  como  des- 
cobridores do  que  já  havia  sido  visitado. 

Não  deixam  porém  de  ter  merecimento  tão  arriscadas  viagens,  mas 
seria  com  certeza  muito  maior,  se  os  exploradores  fossem  justos  e  ver- 
dadeiros nas  suas  descripções. 

Não  nos  causou  menos  assombro  o  que  de  nós  escreveu^  o  dr.  James 
Comwel  no  seu  livro  de  geograpbia  da  índia. 

Não  foi  nunca  desconhecido  entre  nós  o  que  dizem  os  abolicionistas 
inglezes,  mas  temo-nos  contentado  em  receber  as  provas  de  consideração 


1  É  a  todos  os  respeitos  interessante  a  resposta  do  sr.  marqaez  de  Sousa  Hol- 
stein,  a  propósito  da  apreciação  que  de  nós  faz  A.  Réclos  na  soa  Geographia,  Aeha- 
se  publicada  nos  Annaes  da  cammissão  permanente  de  geographia,  referida  ao  mez 
de  dezembro  de  1876.  É  o  primeiro  numero  da  publicação  offlcial  d*este  instituto 
scientifico. 

2  Paliou  d*este  facto  o  sympathico  escriptor  e  illnstre  poeta  Thomás  Ribeiro. 
É  certamente  um  dos  que  nos  parece  muito  grave  pela  circumstancia  de  que  se 
acha  revestido :  ensín^sc  nas  escolas  da  índia  a  dizer  ás  creanças  que  nâo  mere- 
cemos o  nome  de  naçio  cívilisadal  E  para  isso  empregam  uma  linguagem  indigna 
e  insinuações  repugnantes  1  Gumpre-nos  protestar  contra  similhante  systema  de 
propaganda  c  levar  a  toda  a  parte  a  descripçao  dos  nossos  usos  e  costumes,  e  do 
nosso  paiz,  como  nação  livre  e  independente  e  como  potencia  colonial.  As  repetidas 
edíçdes  da  geographia  para  as  escolas,  do  dr.  James  Comwel,  e  quaesquer  escriptos 
d*esta  ordem  nâo  terão  echo. 


m 

^9  ^^  di^>»wym  ewn^oti^  «i^iptQri^  iflg^e^s  e  fraoicezes;  entre  os 
qnaes  contámos  H.  Major,  Burton  e  Carlos  Vogel. 

Tig»^o.$  4:^pfia4o  Imbm  P^  j.u$tiça  que  nos  assiste^  mas  aquelles  abo- 
licionistas nSo  mostram  ter  examinado  o  que  a  nosso  respeito  escrevem 
^jmsí:fH^\gF^íinp(^,  cu3m  piiocurain  XM)nbecer  as  rectificações  feitas  já  na  im- 
prej)$9^  já  ew  diversas  pieqiQrÂa^  e  valiosos  Uyros.  Embarcam  para  as  ter- 
ras de  Africa  sem  estudarem  os  nossos  paos  e  câstjomeS)  sem  verem  os  li- 
v/x^  qjj^  3.e  sacham  pi^Uça^s  ^|*ca  d'ague|las  possessões  e  sem  se  infor- 
nf^vfiffi  dp  que  ^av^inos  fidjis)  ejfk  pvfíl  do  progresso  e  da  civilisação  colonial. 

O  4Vie  é  cerjlo  é  que  entre  ^  piuii^s  publicações  que  se  tem  feito  com 
r^açãp  á  provjj)cÍ9  de  AngQJ^,  aFulta  9  do  Boletim  oficial  da  provincial 
foTjigíçjò  fí^).^  joro^  yallpsps  .(jlocumentos  para  se  avaliar  com  perfeito  co- 
qibi9çp\iepl9  o  q^viK^ento  .comiooierci^l  ^  agrícola  da  provincia.  A  publica 
«jtal^tr^o  p64e  ali  $er  a^ij^da. 

IlQip  d/^i^erj^os  y^fjp^^iàT  ^  AQssas  considerações  acerca  da  provincia 
4^  4#go)^,  sen)  f^^armQs4?  or^anlsaçlío  das  obras  publicas  feita  em  1876, 
e  sem  dizer  algumas  palavras  a  respeito  do  projectado  caminho  de  ferro 
de  I/panda  £^té  Aqs^aca. 

^  1800  diÂa  jÇarlos  Vpge),  no  Jivro  a  que  já  nos  temos  referido  : 

«La  construction,  jugée  assez  facijle,  d'un  cbemin  de  fer  à  Tamérícaine 
4^ui9  ^a^9>Q&q.9'^  la  y^\]^^  ^  Çã^s^ge,  par  Massangano,  serait,  ain- 
^  4ue  I9  Wv)ga(iQj;i  à  vapçi^  sçr  la  Goaciça  jusqu'à  la  viUe,  un  immense 
bienfait  pour  tout  le  pays. » 

fk.  nçt(^^da4.e  e  urge^pofa  d^  consjlrqcçSo  do  caminho  de  ferro  no  valle 
da  margem  direita  do  Quan^  é,  pois^  reconhecida  desde  ha  muito  tempo, 
íb  Jtwje  tffiiSí'Se  dç  realisar  tão  importante  joaelhorainento,  organis^do-se 
9l^  Ú'}^9f  ^^  9^^  '^;Sa$  yi$.^s,  o  .serv;iço  das  obras  publicas  provin- 
ciaes. 

O  alcance  de  laes  reformas  avalia-se  em  presença  da  distribuição  dos 
trabalhos,  que  se  acham  classificados  do  modo  seguinte : 

jGQpgraphia:  levantamento  de  cartas  e  plantas; 

^;eolagJia:  pe^quiza  jd  lavr?  4^  miua^; 

fiatudos:  jcoostracçio  e  conservação  de  estradas,  pontes  e  tcáeigra- 

phos; 

Obras  de  rios,  canaes,  portos  de  mar,  pharoes,  desseccamento  de 

panjtanQS  e  irrigações ; 

<^nstrucííã^>  reparação  e  conservação  de  edificios  públicos  e  fortifi- 
£a(^; 

>  O  p.rimeiTQ  jaumero  do  BoU^tim  official  de  Angola,  foi  publicado  no  di^  jLj}  (le 
setembro  de  i845. 


Estudos  e  coDstrucçSo  de  caruiobo  de  ferro  de  LQ?Qda  í^  A^b^aií^  '• 
Em  s^uida  a  estas  considerações  apreseat^mos  uia9  i^f»  4?  dire- 
ctriz do  caminho  de  ferro  projectaijo,  bem  como  a  djescripçlk)  tPPQ^ra- 
pbica  da  região  que  ellie  atravessa.  Os  valies  do  Qa^Aza  e  fiA^l^  s|o  4e 
certo  o  coração  da  provinda  de  Angola . 

Directriz  do  caminho  de  ferro  de  L^ç^^fJ^  ofà  Ambaca*.  —Q  pQQlQ  dç 
partida,  origem  da  lioba  férrea,  é  o  extremo  NE.  d^  bm%  d^  f^ojipda, 
no  espaçQ  de  terreno  contiguo  ao  largo  da  Sen^or^  da  Na^ri^i)  #  ^dja- 
ceote  á  {lonta  da  Izabel,  o  qual  rei^ne  as  maiores  va^gj^o»,  pej^s  q^ia^s 
Dão  pôde  deixar  de  ser  aproveitado  para  aM  ^^  instaUiada  s  ç^^ão  prin- 
cipal, testa  do  caminho  de  ferro,  qpe  /adiaal?  seri  espec^Us^d^^t 

A  planicie  marginal,  onde  assenta  a  parte  boixp  da  âdade^  Qçoifi»  o 
flanco  esquerdo  da  reintrancia  da  oosta,  cpwprehendiij^  ^ntm  ps  wr- 
ros  de  S.  Miguel  e  das  Lagosta?,  e  esteode-se  m^  p^s  N^«  gj^  ^ 
loarreiras  da  Conceição,  formando  ^m  faxa  de  lerreno  )^iw  de  áoO  $ 
300  metros  de  largura  média,  circumdada  pela  encosta,  j(Ajgi$  pu  Qçnps 
cortada  de  barrocas,  que  coD3tilgi.e  a  escar|)a(Jl9  pl^iwra  «Bley^d^i  qve  se 
prolonga  para  o  interior  e  separa  os  valies  do  3iengQ  »  úq  ()mm9,n 

Assim,  pois,  a  directriz  da  linha  férrea,  parjtindo  d^  Í4dj.c9j(jl#  or^í^W 
proxin^a  ao  porto  de  Loanda,  não  pôde  deixar  de  sjobir  4  #ss2|  f^A^yrf 
que  se  lhe  interpõe,  com  uma  elevaçãp  de  60  a  7.$  o^etros  «^A^es  ,4^s  ver- 
tentes do  valle  do  Bengo;  portanto,  depois  dos  lilNJite3  da  ^ííJí09p  $^ue 
ella  pela  planicie  marginal  até  i  base  da  ejico$ta^  qaç  iqm^^jaçõ^  4p  Pe- 
nedo, e,  contornando-a  quanto  possivel,  tr^ata  assim  de  $V)íXíf  W^»  9 
fim  de  transpor  em  altura  conveniente  o  contraforte  (jme  Jsva^çji  jiy^a  .$.?- 
qaerda  da  ravina  que  finda  próximo  ás  ruiqas  do  jtpr^e  d[a  Çpnc^o^ 

Aquella  encosta,  muito  enabora  seja  portada  4^  j)9rr.oca$^  4|3yJ4p3  Ji 
sua  constituição  arenosa  e  á  falta  de  vegetação  que  a  sujeita  á  acç|í9  ^K 
aguas  pluviaes,  não  apresenta  difficuldades  para  9  .aber|ur9  ^9  çsfmhOy 
havendo  desde  o  Penedo  até  ás  barreiras  da  £anceip|o  d^ttv^.ç^  .^wl^- 
ciente  para  se  desenvolver  em  acceitave^is  condições  fi  tF9^Í9  4a  áÍF9' 
ctriz,  a  fim  de  passar  já  superior  ao  referido  contraforte  e  aj,cpç^  ji  pl^^ 
Dura  próximo  da  Boa  Vista. 

Com  relação  a  este  primeiro  lanço,  pôde  aíBrmar-$e  $eip  i^ep^ip  4^ 


>  Diário  do  governo  n.*»  60,  de  5  de  março  de  i877. 

*  Primeiros  estudos  do  caminho  de  ferro  em  Angola.  Reconhecimento  do  ter- 
reno para  o  traçado  do  caminho  de  ferro  entre  Loanda  e  Ambaca.  Memoria  MiM- 
0Í99Í  (Biampaorípta),  jMig.  fà.  Lisboa,  21  de  setembro  4e  1876.  ^  Angt^^fg  fietfm  ée 
Sm^  Prado. 


240 

contestação  que,  a  partir  do  local  convenientemente  âxado  para  a  estação 
principal  em  Loanda,  nenhuma  outra  saída  se  encontra  em  melhores  con- 
dições e  tão  conforme  com  a  direcção  geral  da  linha,  alliando  ao  mesmo 
tempo  o  effeito  agradável  de  seguir  em  mais  de  5  kilometros  por  uma  en- 
costa d'onde  se  disfructam  a  bonita  perspectiva  de  uma  parte  da  cidade 
e  o  porto  de  Loanda,  que  por  sua  parte  terá  também  esse  embellezamento, 
o  de  um  lanço  da  linha  férrea  quasi  marginal. 

Da  Boa  Vista  segue  a  directriz  pela  planura  elevada  até  ás  immedia- 
ções  do  morro  do  Cacoaco,  de  onde  desce  para  o  littoral,  desenvolven- 
do«se,  sem  dificuldades,  pelas  encostas  suaves  que  lhe  são  adjacentes, 
não  só  para  se  approximar  da  povoação  de  Gacoaco,  cuja  industria  pis- 
catória lhe  dá  já  actualmente  alguma  importância,  mas  também  para  se 
dirigir  pelo  terreno  marginal,  que  se  encontra  bastante  plano  e  entestando 
com  o  valle  do  Bengo,  pelo  qaal  a  directriz  continua  seguindo  a  margem 
esquerda,  e  passando  em  Quifandongo,  sede  do  concelho  da  Barra  do 
Bengo,  onde  finda  a  primeira  secção,  com  a  exteasão  de  26  kilometros 
desde  a  origem. 

A  directriz  continua  ainda  nas  melhores  condições  pela  favorável  pla- 
nície do  valle,  terminando  a  segunda  secção  no  kilometro  54,  n'uma  pe- 
quena elevação  antes  da  lagoa  de  Quibunda,  onde  convirá  ser  a  estação 
do  Icolo  e  Bengo,  por  se  achar  próxima  de  Ganganriangombe,  sua  actual 
sede.  Esta  secção  mede  28  kilometros. 

Marginando,  pelo  lado  do  S.,  a  lagoa  de  Quibunda,  passando  próximo 
a  Gabiri  e  voltando  um  pouco  á  direita  pela  encosta  do  rio  de  Cabaia  que 
se  acha  junto  com  a  lagoa  Lalama,  chega  a  directriz  próximo  a  Tuco-tnco, 
nos  fundos  d'esta  lagoa,  onde  desemboca  o  valle  d'aquelle  rio,  que  mais 
para  cima  toma  o  nome  de  Calucalla.  Junto  de  Lalame,  em  Tuco-tuco, 
kilometro  85,  finda  pois  a  terceira  secção  com  31  kilometros  de  ex- 
tensão. 

N'estas  ires  secções  não  pôde  ser  mais  favorável  o  terreno  para  a  m- 
stallação  do  caminho  de  ferro,  principalmente  desde  a  baixa  do  Gacoaco. 
Alem  d*isso  o  valle  do  \>mo  Bengo,  que  já  é  percorrido  pela  estrada  que 
segue  para  o  Zenza  do  Golungo,  tendo  as  margens  do  rio  bastante  po- 
voadas e  em  parte  cultivadas,  em  virtude  da  sua  notável  fertilidade,  jus- 
tifica sufBcientemente  a  directriz  escolhida,  que  não  deveria  deixar  de 
seguir,  quando  mesmo  pelo  terreno  elevado  podesse  haver  superiores 
vantagens  technicas  para  o  seu  traçado. 

Ê  a  montante  de  Lalama,  entre  Tandabonde  e  Camotamba,  onde  o 
Bengo  sáe  de  entre  as  collinas  que  apertam  e  accidentam  mais  o  seu  fértil 
valle,  que  se  poderá  considerar  o  principio  do  alto  Bengo;  por  essa 
drcumstancia  e  pela  conveniência  que  no  delineamento  geral  se  reconhe- 


241 

ccu  haver,  na  passagem  para  a  bacia  liydrographica  do  Quanza,  a  dire- 
ctriz deixa  o  valic  principal  para  o  aíQuente  de  Cabaia  ou  Calucalla,  como 
se  denomina  a  montante,  por  cuja  encosta  esquerda  attinge  a  divisória 
nas  alturas  do  sobado  de  Caculo  Casongo,  no  kilometro  120,  onde  esta 
quarta  secção  perfaz  35  kilometros.  D'este  ponto,  não  podendo  facilmente 
passar  a  seguir  logo  o  valle  do  Quanza  na  sua  margem  direita,  por  causa 
das  lagoas  que  lhe  estão  adjacentes,  e  para  não  tornar  tão  sensivel  o  des- 
vio que  soffre  a  direcção  da  linha,  a  directriz  segue  por  isso  no  sentido 
que  mais  a  pôde  encurtar,  até  attingir  a  margem  do  rio  no  sitio  da  Bar- 
raca. 

N'este  percurso,  em  terreno  mais  ou  menos  elevado,  a  directriz  passa 
nos  fundos  ou  vertentes  da  lagoa  Tõa,  kilometro  145,  ponto  o  mais  pró- 
ximo de  Galumguembo  (Zenza  do  Golungo),  onde  limita  a  quinta  secção 
com  25  kilometros ;  restando  igual  numero  de  kilometros  até  á  Barraca, 
kilometro  17Ó,  e  fim  da  sexta  secção,  onde  chega  a  directriz  descendo  da 
planura  elevada  pela  encosta  algum  tanto  levantada  do  contraforte,  em 
cuja  base  está  estabelecida  aquella  feitoria,  e  na  qual  finda  a  primeira 
parte  da  linha  férrea. 

O  desvio  da  direcção  geral,  a  que  se  obriga  a  linha,  a  fim  de  tocar  na 
margem  do  Quanza,  se  não  se  tornava  necessário  para  a  directriz  entrar 
no  valle  do  Lucalla,  depois  de  ter  passado  para  a  bacia  d^aquelle  rio  em 
Caculo  Casongo,  justifica-se  plenamente,  como  adiante  se  verá,  pelas 
vantagens  que  resultam  de  se  fazer  communicar  a  linha  com  a  via  fluvial* 
de  navegação  a  vapor;  alem  de  que  em  pouco  será  augmentado  o  desen- 
volvimento total,  por  isso  que  a  directriz  segue  terreno  menos  ondulado. 

Na  segunda  parte  da  linha,  a  directriz,  ao  sair  da  estação  da  Barraca, 
tem  de  ganhar  novamente  o  terreno  elevado,  podendo  desenvolver  em 
rampa  acceitavel  pela  encosta,  a  fim  de  passar  sobre  o  contraforte  que  a 
jusante  da  grande  lagoa  NGolome  se  prolonga  para  S.  sobranceiro  á 
margem  do  rio,  e  produzindo  com  as  colinas  também  avançadas  da  mar- 
gem opposta  uma  verdadeira  estrangulação  no  valle  do  Quanza,  e  segue 
depois,  rodeando  as  vertentes  d'aquella  lagoa  até  ao  kilometro  196  (de 
Loanda),  na  altura  de  Mabaia,  que  é  no  contraforte  pouco  elevado,  que 
se  estende  até  á  confluência  do  Lucalla,  e  constitue  a  divisória  das  lagoas 
da  margem  do  Quanza  adjacentes  e  agrupadas  com  a  NGolome,  para  as 
da  margem  direita  do  Lucalla,  tendo  esta  sétima  secção  da  linha  geral  26 
kilometros  de  extensão. 

De  Mabaia,  descendo  sem  maior  dificuldade  a  Cavunge,  percorre  a 
grande  planície  que  se  prolonga  por  Caçoalalla  até  á  margem  direita  do 
Lucalla  a  montante  da  lagoa  NZungo,  e  flanqueando  as  elevações  de  Cas- 
saoze  6  NGola-Camana,  segue  por  aquella  margem  até  em  frente  do  si- 
te 


tio  denomioado  Oeiras  na  coDflueDcia  do  rio  Luinha,  cuja  margem  direila 
segue  junto  da  encosta  até  ao  local  das  ruínas  da  antiga  fabrica  de  ferro, 
que  ali  fora  estabelecida  nos  íins  do  século  passado,  completando  esta 
oitava  secção  30  kilometros  de  desenvolvimento  no  kilometro  226. 

O  valle  do  Lucalla,  logo  a  montante  da  confluência  do  Luinha,  apre- 
senta as  encostas  alterosas  e  juntas  ao  rio,  estando  mais  acima  cerca  de  3 
kilometros  as  Cachoeiras,  que  limitam  o  trato  navegável  desde  a  sua  foz. 
Não  era  fácil,  pois,  a  directriz  continuar  a  seguil-o  pela  margem  do  rio, 
convindo  por  isso  dirigil-a  pelo  valle  do  Luinha,  que  se  encontra  n'este 
ponto  favorável  e  permittindo  subir  suavemente  até.á  fabrica  de  ferro. 

A  directriz,  partindo  doeste  ponto,  onde  já  é  mais  sensível  a  região 
montanhosa,  segue  ainda  pelo  mesmo  lado  do  valle  até  cerca  de  3  kilo- 
metros mais  acima,  onde  transpõe  o  rio,  a  flm  de  seguir  pelo  valle  do 
Sumbi,  que  n^esse  sítio  afilue  á  sua  margem  esquerda. 

A  rasão  por  que  convém  deixar  o  valle  do  Luinha,  para  depois  ser  no- 
vamente seguido,  é  porque  no  trato  que  vae  até  ao  extremo  O.  da 
cordilheira  de  Quiloange,  onde  são  as  suas  cachoeiras,  o  valle  é  fundo  e 
de  margens  muito  arrebatadas;  emquanto  que  pelo  valle  do  Sumbi,  pas- 
sados os  primeiros  3  kilometros  desde  a  sua  fòz,  as  encostas  são  baixas 
e  a  directriz  encontra  uma  planura  elevada,  que  atravessa,  encostando-se 
á  vertente  S.  da  cordilheira  de  Quiloange,  para  ganhar  nivel,  e,  trans- 
pondo a  ribeira  Quilandula,  vae  alcançar  o  sitio  de  Quisanga  de  NGola-Ca- 
fuxe,  kilometro  253,  onde  flnda  a  nona  secção  que  mede  27  kilometros. 

No  sitio  da  Quisanga  a  cordilheií^a  de  Cazengo  apresenta  um  coUo,  ou 
mais  propriamente  uma  interrupção  entre  as  montanhas  de  Quiloange  e 
Cusongolo,  por  onde  a  directriz  pôde  seguir  de  novo  para  o  Luinha,  po- 
rém mais  accidentada,  porque  as  diíSculdades  de  toda  a  linha  pode  di- 
^er-se  que  estão  comprehendidas  apenas  entre  este  ponto  e  o  kilometro  310 
na  origem  do  rio  Luce.  Portanto  a  directriz  da  decima  secção,  partindo  da 
pequena  planura  do  Quisanga,  atravessa  a  cordilheira,  descendo  pela  ver- 
tente de  Gatabua  e  Cacuso,  que  aJQQue  ao  Luxinde ;  transpõe  este  rio  pró- 
ximo da  sua  confluência  com  o  Luinha,  cujo  valle  segue  pela  margem  es- 
querda até  á  confluência  do  Luce,  próximo  a  Aguas-Doces,  tendo  de 
atravessar  os  cursos  de  agua  da  vertente  N.  da  cordilheira  de  Cazengo 
e  termina  no  kilometro  280,  onde  é  a  passagem  no  rio  Luce  da  estrada 
de  Caculo  para  a  villa  do  Golungo-Alto,  próximo  ao  sitio  do  Canboca, 
tendo  desenvolvido  27  kilometros. 

Deixando  o  valle  do  Luinha,  a  directriz  segue  pelo  do  Luce,  seu  con- 
fluente, que  se  apresenta  favorável  e  mais  aberto,  attingindo,  comtudo 
algumas  das  montanhas  dos  seus  flancos  altitudes  de  mais  de  300 
metros  acima  do  talweg.  Os  cursos  de  agua  mais  importantes  que  atra* 


< 


243 

vessa  são  os  rios  Lua  e  Nzondo,  mas  pôde  desenvolver-se  sem  excessivas 
rampas  pela  vertente  esquerda  do  valle  até  á  sua  origem,  attingindo  abi 
o  plao^aito  de  Ambaca  pelo  flanco  N.  da  serra  do  Gama,  do  collo,  onde 
tem  igualmente  origem  a  ribeira  denominada  Quisanga,  que  afflue  ao 
Moembeje.  Este  rio  é  também  transposto,  bem  como  aCaringa,  em  cuja 
proximidade  no  sitio  de  Cazongolo,  kilometro  317,  é  o  limite  da  decima 
primeira  secção,  medindo  37  kilometros  de  desenvolvimento. 

Finalmente  na  decima  segunda  secção,  que  mede  36  kilometros,  atra* 
vessando  uma  região  pouco  accidentada,  embora  abundante  em  cursos 
de  agua,  a  directriz  encaminha-se  sem  maior  difflculdade  para  a  margem 
direita  do  rio  Lucalla,  passando  ao  S.  da  povoação  de  Pamba  (sede  do 
concelho  de  Ambaca)  para  ir  findar  10  kilometros  mais  adiante,  no  sitio 
de  NDundo-Amuluro  junto  d'aquella  margem,  e  a  juzante  da  confluên- 
cia do  rio  Gariombua,  completando  por  esta  forma  a  linha  desde  Loanda 
353  kilometros. 

Este  ponto  foi  fixado  para  o  termimis  da  linha  de  Ambaca,  não  só  por- 
que está  proximamente  no  centro  do  concelho,  mas  sobretudo  por  ser 
um  limite  natural,  e  haver  terreno  onde  pôde  ser  perfeitamente  situada  a 
povoação,  que  de  certo  ali  se  ha  de  formar  muito  rapidamente,  em  vir- 
tude áoterminus  do  caminho  de  ferro.  Alem  de  ter  a  vantagem  da  pro- 
ximidade do  rio  e  apoiar-se  n'um  outeiro  isolado  e  dominante,  que  pôde 
e  convém  ser  fortificado,  nada  se  perde  em  abandonar  a  Pamba,  que  ne- 
nhuma importância  tem,  não  sô  pelo  local,  mas  porque  as  poucas  e  arrui- 
nadas casas  que  ali  ha,  são  de  adobe  e  cobertas  de  capim. 

Gom  relação  ás  ultimas  três  secções  da  linha,  parecerá,  observando-se 
a  planta,  que  a  directriz  teria  talvez  vantagem  em  não  atravessar  na  Qui- 
sanga para  o  N.  da  cordilheira  de  Gazengo,  seguindo,  antes  de  subir 
áquelle  ponto,  pelas  planuras  que  se  encontram  desde  o  Sumbi  pelo  Hanga 
até  para  L.  do  rio  Mosulo,  a  fim  de  passar  em  Gaculo,  que  é  a  sede  do 
concelho  de  Gazengo,  e  d'ahi  seguir  para  Ambaca  sem  passar  para  o  N.  da 
cordilheira.  Esta  solução  porém  não  é  preferível,  porque,  se  a  directriz 
até  Gaculo  seria  em  terreno  mais  fácil,  d'esse  ponto  para  Ambaca  augmen- 
tavam  consideravelmente  as  difificuldades,  poisque  o  valle  do  Moembeje, 
sendo  o  mais  favorável  a  seguir,  ainda  assim  é  muito  irregularmente  ar- 
rebatado e  em  partes  bastante  estreito,  não  se  prestando  por  isso  como  o 
do  Luce  para  ganhar  o  nivel  de  Ambaca ;  alem  disso,  o  que  é  mais  im. 
portante  é  que,  sendo  a  região  agricola  constituída  pelos  dois  concelhos 
de  Golungo  e  Gazengo,  entre  os  quaes  a  extrema  é  formada  pelo  Luinha 
e  Luce,  a  directriz  a  S.  da  cordilheira  indo  a  Gaculo,  não  só  seguia  quasi 
o  extremo  da  região  productora,  confinando  pelo  Lucalla  com  uma  região 
que  é  relativamente  estéril»  mas  deixava  de  servir  um  concelho  impor^^ 


244 

tante,  como  é  o  do  Golungo  Alto.  A  direclriz  pelos  valles  de  LuíDha  e 
Luce  tem  evidentemente,  alem  de  mais  facilidade,  a  vantagem  notável  de 
seguir  pelo  centro  da  região  mais  productora,  servindo  ao  mesmo  tempo 
os  dois  referidos  concelhos  que  a  constituem. 

Descripção  succinta  do  território  reconhecido. — O  concelho  de  Am- 
baca,  alem  de  possuir  um  solo  ferlil  e  ser  dos  mais  povoados  da  provin- 
cia  de  Angola,  e  onde  os  habitantes  indígenas  manifestam  a  mais  notável 
tendência  para  a  civilisação,  encontra-se  no  interior  a  E.  de  Loanda, 
n'uma  vantajosa  situação  relativamente  ás  regiões  de  reconhecida  riqueza 
de  producção  que  lhe  são  limilrophes. 

D'essa  situação  resulta  pois  mais  uma  das  rasões  que  justiQcam  a  es- 
colha que  d'elle  se  fez  para  ponto  objectivo  da  primeira  linha  férrea  a  es- 
tabelecer n'aquella  possessão,  como  artéria  principal  de  communicações 
entre  o  porto  de  Loanda  na  costa  Occidental  de  Africa,  a  8**  46'  30"  de  la- 
titude S.,  e  as  mais  afastadas  regiões  do  vastíssimo  sertão  que  lhe  fica 
aE. 

O  território  comprehendido  entre  Loanda  e  Ambaca,  limitado  pelos 
valles  dos  rios  Bengo  e  Quanza,  alem  dos  quaes  nao  foi  preciso  levar  os 
estudos,  abrange  duas  regiões  perfeitamente  dístinctas  e  dispostas  em  zo- 
nas parallelas  á  costa  atlântica.  A  primeira  doestas  zonas,  cuja  largura  na 
parte  reconhecida  regula  por  cerca  de  i50  kilometros,  pertence  á  região 
littoral,  que  no  geral  é  mui  pouco  accidentada  e  cujas  elevações  não  attin- 
gem  a  muito  mais  de  100  a  1 50  metros  sobre  o  nivel  do  mar. 

Caracterisa-se  esta  região  pelo  seu  aspecto  árido,  devendo  á  escassez 
de  aguas  nascentes  a  pobreza  de  vegetação,  que  unicamente  se  apresenta 
luxuriante  nas  margens  dos  rios  e  das  largas  depressões  do  terreno  onde 
as  aguas  pluviacs  se  represam  formando  dilatadas  lagoas.  A  direivção  ge- 
ral E.-O.,  normal  á  costa,  é  a  dos  valles  principaes,  que  na  maior  parte 
d'esta  região  são  largos,  tem  pendentes  pouco  sensíveis  e  encostas  quasi 
isentas  de  affluentes  perennes. 

A  segunda  região,  que  comprehende  já  os  limites  dos  concelhos  de 
Zenza  do  Golungo  com  o  Golungo  Alto,  e  Massangano  com  Cazengo,  api*e- 
senta-se  bastante  montanhosa  e  cortada,  cstendendo-se  até  cerca  de  240 
kilometros  da  costa. 

Abunda  em  aguas  correntes,  e  densas  matas  virgens  revestem  a  maior 
parte  dos  seus  valles  e  collinas,  que  são  de  uma  fertilidade  notável.  Os 
valles  secundários  mais  importantes,  como  são  os  do  Lucalla  e  Luinba, 
embora  já  se  encontrem  com  pendor  mais  rápido  e  encostas  approxima- 
das,  apresentam  comtudo  uma  favorável  direcção  geral  concordante  com 
a  dos  valles  principaes.  Attingem  altitudes  superiores  a  1:000  metros  so- 


^45 

bre  o  mar  os  pontos  culminantes  das  cordilbeiras  mais  alterosas  d'esla 
região,  as  quaes  se  dirigem  também  no  sentido  deE.-O.,  ramiQcando-se 
mais  ou  menos  irregularmente  desde  o  plan'alto  que  se  prolonga  para 
o  sertão,  e  em  cuja  origem  assenta  Âmbaca,  podendo  por  isso  ser  com- 
paradas a  longos  e  accidentados  contrafortes  que,  assentes  na  região  lit- 
tora!,  formam  por  assim  dizer  os  acclives  para  o  plan'alto  a  que  a  região 
que  constituem  serve  de  transição. 

Acha-se,  pois,  o  concelho  de  Âmbaca  em  cerca  de  2i0  a  300  kilome- 
tros  do  littorai,  e  se  está  ainda  longe  do  limite  E.  do  território  portuguez, 
confina  todavia  com  os  últimos  concelhos  actualmente  avassallados,  com 
os  quaes  constitue  a  parte  mais  importante  do  interior  da  provincía  de 
Angola. 

Pelo  lado  de  O.  confina  com  os  concelhos  de  Cazengo  e  Golungo  Alto, 
a  N.  com  os  Dembos,  a  NE.  com  o  concelho  do  Duque  de  Bragança,  a  E. 
com  o  de  Malange  e  a  SE.  e  S.  com  o  de  Pungo  Andongo.  Faz  parte  da 
bacia  hydrographica  do  rio  Lucalla,  que  o  atravessa  em  direcção  SO.  até. 
á  confluência  no  Lotete,  formando  d'ahi  para  juzante  o  limite  entre  Pungo 
Andongo. 

Regado  por  numerosos  tributários  d'aquelle  rio.  correndo  em  valles 
abertos  e  pouco  fundos,  que  nascem  da  vertente  S.  das  cordilheiras  do 
Quio,  de  Camana  e  Caçassa,  apresenta  já  a  feição  amena  da  região  alto- 
plana,  com  uma  vegetação  viçosa  e  variada,  porém  menos  basta  e  fron- 
dosa do  que  na  região  precedente.  A  sua  altitude  media  é  pouco  superior 
a  750  metros  sobre  o  nivel  do  oceano ;  porém  as  cordilheiras  que  lhe  são 
limite  N.  levantam-se  até  1:200  metros,  attingindo  o  alto  do  Quio  1:330 
metros  acima  d'aquelle  nivel. 

Com  relação  á  população  e  agricultura  ha  também  alguma  diíferença 
nas  duas  regiões. 

Pelos  dados  estatisticos  que  existem,  conhece-se  que  a  relação  da 
população  para  a  superfície  d*esta  parte  do  território  de  Angola  pouco 
excede  de  5,7  habitantes  por  kilometro  quadrado;  a  desigualdade,  po- 
rém, com  que  está  distribuída,  dá  para  a  região  mais  fértil  uma  relação 
mais  favorável,  achando-se,  por  exemplo,  que  a  população  especifica  dos 
concelhos  de  Cazengo  e  Golungo,  deduzida  dos  mesmos  dados,  é  appro- 
ximadamente  23  habitantes  por  kilometro  quadrado. 

Na  região  littorai  é  onde  se  acha  menos  densa  a  população,  a  qual 
habita  geralmente  ao  longo  das  margens  dos  rios,  onde  aproveita  indolen- 
temente a  grande  fertilidade  natural  do  solo. 

Encontram-se,  todavia,  n'estas  regiões,  estabelecidas  pela  iniciativa  de 
europeus,  algumas  fazendas  agrícolas  importantes,  que  téem  tido  um  des- 
envolvimento e  prosperidade  apreciáveis. 


246 

A  cultura  principal  é  a  da  canna  saccharina  para  a  fabricação  de  aguar- 
dente, nSo  deixando  de  ser  também  importantes  as  colheitas  de  legumes, 
fructas,  mandioca,  hortaliças,  milho,  batatas  e  outros  géneros. 

As  condições  da  região  montanhosa  são  ainda  mais  lisonjeiras. 

A  população  é  mais  abundante  e  um  pouco  mais  activa,  e  no  meio 
d'aquella  riqueza  florestal,  ainda  virgem  de  exploração,  manifesta-se  já 
em  desenvolvimento  propicio  a  cultura  do  café,  principalmente  nos  con- 
celhos de  Cazengo  e  Golungo,  onde,  pelos  constantes  e  louváveis  esforços 
de  alguns  agricultores  europeus,  se  acham  fundadas  importantíssimas  pro- 
priedades agrícolas,  que  muito  téem  concorrido  para  animar  o  commercio 
da  província. 

N'esta  região  e  na  alto  plana,  que  abunda  em  gado  vaccum,  alem  de 
todas  as  producções  da  precedente,  ha  preciosas  madeiras  de  todos  os 
portes,  e  cultiva-se  o  algodão,  o  arroz  e  o  tabaco,  e  em  maior  escala  a  gin* 
guba,  etc. 

Emâm,  relativamente  á  variedade  de  vegetação  e  importância  dos  seus 
productos  e  essências,  podem  encontrar-se  especiaes  esclarecimentos  no 
bem  elaborado  mappa  phyto-geographico,  sobre  a  Flora  angolense,  do  dr. 
Welwitsch. 

Afora  a  industria  agrícola,  nenhuma  outra  se  encontra  ali  em  escala 
notável,  apesar  de  não  faltarem  os  elementos,  principalmente  para  as  ex- 
tractivas, que  não  téem  passado  de  pequenos  ensaios  sem  critério. 

Finalmente,  a  constituição  geológica,  na  parte  das  duas  regiões  re- 
conhecidas, é  verdadeiramente  complexa:  na  montanhosa,  alem  dos 
terrenos  de  transição,  predominam  os  micaschistos,  mais  ou  menos  ar- 
gillosos,  sobrelevados  irregularmente  pelas  rochas  igneas  que  n'um  ou 
n'outro  ponto  affloram,  e  appa^ecem  depósitos  metalliferos,  ferro  micaceo 
e  hinnatite,  bancos  de  calcareo  saccharoide ;  e  nas  vertentes  menos  eleva- 
das do  Quanza,  escarpados  de  rochas  aggregadas,  alternando  a  calcareos 
grosseiros  e  tufos. 

A  formação  de  terreno  terciário,  cretáceo,  turfas  e  alluviões  modernas, 
apresentando  alternativas,  e  em  muitos  pontos  caracteres  estratigraphi- 
cos  bem  definidos,  isolando-se  das  arenatas  e  marnes  argillosos,  é  a  con- 
stituição notável  da  região  littoral,  embora,  como  aquella,  apreciada  tam- 
bém superficialmente  e  sem  um  estudo  especial. 

Proflnda  de  Moçambique. — É  immenso  o  território  conhecido  sob  este 
nome,  e  por  isso  mesmo  se  torna  assas  diíQcil  a  sua  descripção,  por  mais 
resumida  que  ella  seja. 

Começaremos  por  fallar  dos  seus  limites,  o  que  em  objecto  de  salu- 
bridade e  aclimação  representa  a  parte  principal,  poisque  a  menor  inexa- 


247 

ciidSo  influe  directamente  em  todas  as  conclusões  que  tenhamos  de  for- 
mular. E  seja  attendemos  a  esta  circumstancia,  quando  tratámos  das  ou- 
tras províncias,  não  seremos  menos  attentos  a  respeito  da  de  Moçambique, 
porque  não  expomos  o  resultado  de  apontamentos  de  viagem  própria ;  co- 
ordenámos o  que  nos  parece  mais  rasoavel  á  vista  dos  documentos  e  in- 
formações que  podemos  obter. 

Os  limites  da  parte  oriental  da  província  estão  bem  designados ;  to- 
cam ao  S.  em  26**  3(y  na  costa  do  districto  de  Lourenço  Marques,  próxi- 
mo á  colónia  de  Porto  Natal,  eao  N.  marcam-seno  Cabo  Delgado  em  10^ 
41'  de  latitude  N.  *. 

•  A  extensão  da  costa  de  Moçambique  é  calculada  em  mais  de  20:000 
Idlometros  e  para  o  interior  é  superior  a  800. 

O  logar  mais  recuado  que  occupámos  é  o  Zumbo  ^  ponto  muito  im- 
portante em  virtude  da  sua  posição  central. 

As  fronteiras  de  Moçambique,  no  interior,  estão  mal  determinadas,  e 


1  Referímo-nos  aos  Ensaios  sobre  a  estatística  das  possessões  portuguezas,  de 
Francisco  M.  Bordalo,  e  á  Memoria  sobre  Lourenço  Marques,  do  visconde  de  Paiva 
Manso.  São  as  latitudes  que  nos  parecem  mais  exactas.  Devemos  lembrar  comtudo 
qae  no  diccioDario  de  Larousse  se  toma  a  latitude  N.  de  10°  26'. 

Quando  estávamos  a  rever  as  provas  d*este  capitulo^  veiu-nos  às  mãos  um  jor- 
nal, onde  se  lé  o  segunite : 

cPelo  tratado  com  a  Inglaterra  foi  reconhecido  o  nosso  direito  aos  territórios 
comprehendídos  entre  o  Gabo  Delgado  e  a  bahía  de  Lourenço  Marques.  Pelo  tra- 
tado celebrado  em  1828  entre  o  governador  de  Moçambique,  Sebastião  Xavier  Bo- 
telho, e  o  Iman  de  Mascate,  marcaram-se  os  mesmos  limites.  Não  ha  estabelecimen- 
to algum  portuguez  em  Tungue;  existe  apenas  ali  uma  povoação  de  árabes  e  pre- 
tos sujeitos  a  uma  auctoridade  local,  quasi  independente. 

«Em  1852  permittiu-se  ao  Iman  de  Mascate  que  estabelecesse  ali  uma  alfan- 
dega, mas  a  concessão  foi  annullada  em  consequência  de  reclamações  portuguezas. 

«Sendo  governador  do  Ibo  o  tenente  Jeronymo  Homero,  foi  mandada  a  Tungue 
a  escuna  de  guerra  Quatro  de  Abril,  para  capturar  o  palhabote  francez  Delphina, 
que  ali  se  achava  fazendo  contrabando,  sem  que  houvesse  reclamação  alguma  a  si- 
milhante  respeito,  o  que  prova  como  era  considerada  a  nossa  jurisdicção  n*aquelle 
ponto. 

cA  bahia  de  Tungue  é  formada  ao  N.  pelo  Cabo  Delgado  e  ao  S.  pela  ponta  de 
Sanga;  a  embocadura  é  dividida  em  duas  pela  ilha  de  Ticoma.  A  entrada  do  N.  é 
accessivel  a  toda  a  hora  e  com  qualquer  tempo  para  navios  de  todas  as  lotações.  A 
bahia^é  abrigada  e  segura,  tendo  de  fundo  cerca  de  33  metros  até  8,8  de  areia. 
Desemboca  n'ella  o  rio  Meninquene  que  tem  boa  agua  doce.» 

*  Carlos  Vogel,  no  seu  livro  Le  Portugal  et  ses  colonies,  diz  que  lhe  parece  que 
não  ha  distancia  superior  a  500  kilometros  da  costa  para  o  interior,  se  se  attender 
à  distancia  de  Tete  a  Quelimane. 

É  indispensável  rectificar  estas  e  outras  afirmativas,  para  não  se  dar  curso  a 
taes  informações,  que  não  assentam  em  factos  nem  em  cálculos  positivos. 


248 

nós  indicamos  as  que  se  acham  designadas  no  diccíonario  de  Larousso, 
não  só  com  o  fim  de  as  tornarmos  conhecidas,  mas  também  porque  de- 
sejámos mostrar  a  injustiça  que  nos  fazem,  escrevendo  em  1874  infor- 
mações dadas  em  1860,  como  se  na  provincia  de  Moçambique  não  hou- 
vesse progresso,  por  mais  moroso  que  fosse. 

Segundo  Larousse,  os  limites  d'esta  provincia  são  os  seguintes : 

N.  Zanzibar,  em  Gabo  Delgado;  E.  canal  de  Moçambique;  S.  Gafraria, 
em  Lourenço  Marques ;  0.  não  estão  bem  definidos. 

A  provincia  de  Moçambique  tem  realmente  a  E.  o  canal  de  Moçambi- 
que no  mar  das  índias,  que  banha  a  costa,  onde  não  ha  porto  algmn  que 
não  nos  pertença.  £  verdade  que  os  limites  centraes  não  estão  bem  defi«- 
nidos,  sendo  hypothetico  tudo  o  que  se  disser  n'este  sentido.  Dizer-se 
também^  que  as  fronteiras  no  interior  correspondem  a  uma  cordilhei- 
ra, que,  correndo  do  N.  ao  S.,  começa  no  paiz  dos  cafres  e  acaba  nas 
montanhas  da  Lua,  é  deixar  o  problema  insolúvel,  se  não  mais  compli* 
cado. 

Não  são  inúteis  estas  indagações^  se  bem  que  não  possa  apurar-se  a 
verdade,  mas  servem  para  mostrar  a  urgência  que  temos  de  se  nomear 
uma  commissão  que  se  encarregue  de  estudar  esta  importante  questão. 
Não  é  somente  por  este  lado  que  insistiremos  no  assumpto,  tendo  que 
evitar  a  extensão  das  nossas  considerações,  que  podem  tornar-se  fasti- 
diosas, mas  não  desnecessárias.  É  preciso  pois  observar  que  se  estas 
ponderações  são  indifferentes  para  muitos,  não  o  são  nem  o  podem  ser 
para  aquelles  que  téem  que  dizer  a  verdade  em  presença  das  observações 
feitas  directamente,  ou  compulsando  documentos  e  procurando  informa- 
ções fidedignas,  a  fim  de  auxiliar  os  que  desejam  promover  a  emigração 
e  colonisação  das  possessões  portuguezas. 

O  que  é  sobretudo  indispensável  é  procurar  por  todos  os  modos  pos- 
síveis a  propagação  de  noticias  exactas  sobre  os  melhoramentos  que  se 
vão  realisando,  evitando  por  esta  forma  a  repetição  contínua  do  que  disse 
um  escriptor  em  epochas  mais  remotas,  verdadeiro  aliás  na  occasião  em 
que  elle  o  escreveu,  mas  que  se  não  deve  citar  senão  como  formula  de 
comparação. 

Referindo-se  ás  informações  de  Garlos  Vogel',  embora  se  não  cite  o 
auctor,  diz-se  no  diccíonario  de  Larousse  que  a  provincia  de  Moçam- 
bique não  é  senão  um  encargo  ruinoso  para  Portugal,  e  que  ali  não 
possuímos  mais  do  que  vastos  territórios  a  sustentar,  indígenas  bèliico- 


1  Dlccionario  Larousse.  São  realmente  resumidas  as  informações  que  ali  se  dão 
a  respeito  da  província. 

2  Le  Portugal  et  ses  colonies,  par  Charles  Vogel,  1860,  pag.  365. 


249 

SOS  a  combater,  uma  extensa  costa  a  vigiar,  e,  com  todas  estas  desvan- 
tagens, uma  diminutíssima  população  industriosa  e  civilisada ;  e  para  co- 
lonisar  similhante  território,  diz-se  mais,  é  preciso  dar  protecção  ao  com- 
mercio  por  meio  das  armas. 

São  realmente  injustas  estas  apreciações,  mas  não  menos  injustas  fo-* 
ram  as  informações  dadas  pelo  dr.  Livingstone  com  respeito  a  esta  pos- 
sessão; e  comtudo,  apesar  da  triumphante  resposta  que  em  1867  Ibe 
deu  D.  José  de  Lacerda,  não  vemos  a  verdade  restabelecida  nem  a  jus- 
tiça respeitada. 

0  que  se  torna  também  digno  de  reparo  é  o  modo  cavalheiroso  com 
que  se  falia  d'este  explorador  aliás  eminentíssimo,  mas  quasi  sempre  in- 
justo para  comnosco^ 

A  província  de  Moçambique  compõe-se  de  oito  districtos,  contando 
do  S.  para  o  N.;  a  saber:  Lourenço  Marques,  Inhambane,  Sofalla,  Que- 
limane,  Tete,  Angoche,  Moçambique  e  Cabo  Delgado.  A  estes  districtos 
estão  subordinados  differentes  commandos,  feiras  e  presídios,  perten- 
cendo ao  districto  de  Tete,  no  interior,  o  presidio  do  Zumbo  e  a  feira 
de  Manica,  pontos  estes  mais  afastados  da  costa. 

Não  marcámos  os  limites  de  cada  um  doestes  districtos,  porque  só  se 
poderia  fazer  em  trabalho  especial.  Tratámos  unicamente  dos  assumptos 
sob  um  ponto  de  vista  geral,  elevando-nos  por  assim  dizer  a  um  logar 
mais  alto  de  onde  se  avista  toda  a  província.  Ê  o  meio  mais  simples  de 
observar  as  suas  relações  com  os  estados  que  lhe  ficam  próximos,  e  de 
pôr  em  relevo  o  que  n'ella  ha  de  mais  notável. 

Ninguém  ignora  que  urge  tratar  da  colonisação  doesta  provincial,  a  cujo 
respeito  disse  o  sr.  visconde  de  Arriaga': 

«A  parte  mais  rica  das  possessões  de  Portugal  é  o  Zambeze. 

tAlí  existiram  dois  conventos  de  frades;  ali  houve  grandes  feiras  só 
para  oiro  em  pó  e  marfim,  Manica  e  Zumbo;  ali  existem  ricas  minas  de 
carvão  de  pedra;  ali  ha  uma  riqueza  immensa  a  explorar.  Quem  conhece 
a  geograpWa  de  Africa,  quem  conhece  o  porto  de  Aden,  que  serve  de  in- 
terposto á  índia  e  á  Europa,  quem  sabe  que  aquelle  porto  está  sempre 
cheio  de  navios,  quem  sabe  o  numero  de  vapores  que  ali  tocam  para  se 
abastecer  de  carvão,  quem  conhece  que  temos  ali  as  minas  de  carvão  de 

1  Nas  sessões  da  camará  dos  senhores  deputados  de  15,  16  e  17  de  fevereiro 
de  1877,  tratando  de  combater  as  informações  de  Cameron  e  Young,  referiu-se  o  sr. 
visconde  da  Arriaga  com  a  maior  deferência  á  memoria  de  Livingstone.  Fez-lhe  jus- 
tiça, é  verdade,  como  intrépido  explorador,  mas  como  escriptor  é  que  entendemos 
ser  Josfa  e  fundamentada  a  nossa  queixa. 

<  Diário  da  camará  dos  senhores  deputados,  sessão  de  15  de  fevereiro  de  1877, 
pag.  314.  ' 


aso 

pedra  da  melhor  qualidade*,  é  levado  a  julgar  que  só  isto  é  motivo  mais 
que  sufficiente  para  que  o  caminho  de  ferro  se  faça. 

<E  para  que  se  uao  diga  que  eu  estou  fallaVido  superficialmente  n'este 
negocio,  vou  citar  um  facto  passado  com  o  governador,  o  general  Mari- 
'  nho,  e  com  o  seu  secretario,  que  era  o  meu  irmão  António  Júlio.  EUes 
mandaram  ir  uns  poucos  de  caixões  de  carvão  de  pedra  ao  governador  de 
Bombaim  para  que  elle  visse  a  qualidade  de  carvão  das  minas  que  ha\ia 
na  província  de  Moçambique,  e  elle  disse-lhes:  cO  carvão  é  excellente; 
comprámos  o  carvão  de  pedra,  mandámos  os  vapores  que  forem  neces- 
sários para  ò  seu  transporte  até  um  bom  porto  de  embarque,  e  vós  pagaes 
esses  vapores  com  o  preço  do  mesmo  carvão  de  pedra.» 

A  exploração  e  colonisação  de  Moçambique  demandam  certamente 
muito  cuidado. 

Em  1860  dizia  Carlos  Yogel  o  seguinte : 

<A  necessidade  de  se  tomarem  medidas  radicaes  para  impedir  a  ruina 
total  da  província,  é  perfeitamente  reconhecida  pelo  governo  portuguez; 
mas  a  situação  financeira  paralysa-a  na  applicação  dispendiosa  dos  meios 
que  devem  ser  empregados  para  tirar  a  província  do  abatimento  em  que 
se  acha  e  reanimar  o  desenvolvimento  de  seus  recursos  naluraes. 

tEm  taes  circumstancias  parece  que  uma  companhia  bem  organisada, 
revestida  de  largos  poderes  e  dispondo  de  largos  recursos,  seria  a  única 
capaz  de  emprehender  a  exploração  de  Moçambique.  Ha  alguns  annos, 
alguns  capitalistas  e  homens  de  influencia  apresentaram  ao  governo  pro- 
postas n'este  sentido.  Pediram  a  concessão  de  vastos  terrenos,  o  mono- 
pólio da  exploração  de  minas  e  de  rios  auríferos,  com  o  direito  de  cortar 
madeiras,  e  pediram  também  direitos  políticos  por  noventa  e  nove  an- 
nos, simílhantes  aos  da  antiga  companhia  ingleza  das  índias.» 

Não  teve  andamento  este  projecto,  observa  Carlos  Vogel,  o  que  nos 
parece  fagil  de  prever.  Não  augurámos  bem  de  taes  companhias,  nem 
lhes  são  propícios  os  tempos. 

Actualmente  fez-se  a  concessão  de  terrenos  para  a  plantação  da  pa- 
poula, e  tem-se  tentado  formar  uma  ou  outra  colónia,  mas  não  tem  ha- 
vido methodo  nem  estudos  preliminares  devidamente  feitos. 

Procurámos  obter  informações  fidedignas  de  algumas  pessoas  que 
têem  estado  em  Moçambique  ou  ali  foram  em  serviço,  e  a  maior  parte 
d'ellas  opta  por  que  se  organisem  companhias  de  exploração.  N'este  sen- 
tido offereceram-nos  o  seguinte  esboço  que  publicámos  não  só  por  deferen- 


1  Com  respeito  ao  carvão  de  pedra  fizeram-se  experiências,  cujo  resultado 
nâo  foi  tão  satisfactorio  como  se  esperava.  Segundo  pessoa  que  nos  merece  inteiro 
credito,  a  exploração  doeste  minério  demanda  muitas  despezas. 


251 

cia  á  pessoa  que  o  fez,  mas  por  ser  um  alvitre  que  pôde  esclarecer  a  opi- 
ni5o  d^aquelles  que  desejam  se  organisem  companhias  de  exploração. 

Eis  o  parecer  a  que  nos  referimos : 

tDe  todas  as  províncias  ultramarinas  a  que  me  parece  mais  própria 
para  se  ensaiar  a  colonisação  europêa,  applicada  a  uma  grande  empreza 
agrícola,  é  a  de  Moçambique^  por  ser  aquella  que  ofiferece  maiores  re- 
cursos, pela  variedade  e  excellencia  dos  seus  productos,  pela  proximi- 
dade em  que  as  terras  mais  férteis  se  acham  dos  portos  do  mar,  pela  fa- 
cilidade de  obter  operários  e  gente  para  o  trabalho  rural,  e  pela  diversi- 
dade de  mercados  de  consumo  que  lhe  ficam  não  muito  distantes. 

«As  culturas  mais  ricas  dos  trópicos,  taes  como  as  do  café,  tabaco  e 
canna  de  assucar,  podem  com  vantagem  ser  exploradas  em  todo  o  litto-  . 
ral  da  pro\incia  e  nas  margens  do  Zambeze.  Julgo,  porém,  que  as  pri- 
meiras tentativas  devem  ser  feitas  no  continente  fronteiro  á  capital  em  que 
est3o  as  duas  freguezias  do  Mossuril  e  da  Cabaceira.  Gomo  rasões  de 
preferencia  indico  as  seguintes : 

« 1.°  O  porto  de  Moçambique,  depois  do  de  Lourenço  Marques,  é  o  de 
mais  fácil  accesso  em  toda  a  costa ; 

«2.^  No  continente  ha  muitas  fazendas  organisadas,  que  produzem  já 
vários  géneros  de  valor,  que  téem  algumas  boas  casas  de  habitação  e  of- 
ficinas  de  lavoura,  e  são  cortadas  por  excellentes  caminhos; 

«3*°  As  duas  freguezias  estão  debaixo  das  vistas  immediatas  das  pri- 
meiras auctoridades  da  província  e  quasi  na  sede  de  uma  d^s  comarcas 
do  districto  judicial; 

f  4.°  A  península,  pela  sua  disposição,  presta-se  a  ser  facilmente  de- 
fendida de  qualquer  aggressão  dos  naturaes,  ou  do  lado  dos  cafres  da 
mourama,  ou  dos  árabes,  dos  checados  confinantes  de  Sancul  e  Quítan- 
gonha ; 

«S.°  A  30  kilometros  de  distancia,  atravessando  riquíssimas  florestas, 
encontra-se  a  montanha  da  Meza,  cuja  fertilidade,  abundância  de  agua  e 
bons  ares  a  tornam,  se  não  me  engano,  de  grande  importância  para  base, 
n'um  futuro  mais  ou  menos  próximo,  de  larga  colonisação  europêa ; 

6.^  Estando  as  duas  freguezias  tão  próximas  da  capital,  mais  fácil 
será  ao  governo  dar  as  providencias  necessárias  para  se  obter  a  segu- 
rança da  propriedade,  auxílios  médicos  e  o  estabelecimento  de  es- 
colas. 

€N'estes  termos  não  creio  que  seja  impossível  organisar  uma  socie- 
dade com  fundos  bastantes  para  fazer  acquisíção  de  terras,  que  em  Mo- 
çambique estão  por  preço  infimo,  e  adiantar  aos  colonos  idos  de  Portu- 
gal, da  Madeira  ou  dos  Açores,  capitães  para  a  exploração  agrícola,  a 
qual  seria  feita  de  parceria  entre  a  empreza  e  os  colonos. 


252 

«De  Goa  lambem  podem  ir  operários,  e  gente  muito  própria  para 
guardas  das  fazendas,  agricultores,  etc. 

tO  governo  n5o  duvidaria  por  ventura  contrahir  as  seguintes  obriga- 
ções : 

«1.^  Conservar  nas  freguezias  do  Mussuril  e  da  Cabaceira: 

«I.  Dois  parocbos  de  reconhecida  capacidade,  naturaes  da  Europa, 
para  leccionar  gratuitamente  as  disciplinas  de  instrucçSo  primaria^ ; 

<II.  Um  facultativo  de  algumas  das  escolas  do  reino,  para  prestar 
n'uma  enfermaria  própria  os  auxílios  médicos  gratuitos  de  que  os  colo- 
nos ou  trabalhadores  e  operários  da  empreza  carecerem ; 

«III.  Um  pbarmaceutico  devidamente  habilitado  para  manipular  os 
medicamentos  da  pharmacia  adjunta  á  enfermaria ; 

<IV.  Quatro  enfermeiros  e  praticantes  de  pharmacia  para  auxiliarçm 
o  facultativo  e  o  pbarmaceutico ; 

<V.  Um  veterinário  de  Lisboa,  do  Brazil  ou  de  Goa  para  tratamento 
dos  gados. 

<2.°  Transportar,  por  conta  da  fazenda,  para  Moçambique  colonos  com 
suas  famílias,  trabalhadores  ruraes  e  homens  de  ofiQcios  e  sipaes  da  ín- 
dia para  guardas ; 

<3.°  Transportar  também,  por  conta  da  fazenda  publica  de  Moçambi- 
que, as  macbinas,  utensílios,  ferramentas  e  bagagens  pertencentes  á  em- 
preza, aos  colonos  e  suas  famílias; 

<4.°  Isentar  de  impostos  directos,  durante  quinze  annos,  os  productos 
da  exploração  feita  pela  empreza. 

tà  empreza  adiantaria  ao  governo,  mediante  um  juro  módico,  com 
hypotheca  no  rendimento  da  alfandega,  os  capitães  necessários  para  a 
construcção  de  um  quartel,  escolas,  enfermaria,  botica  e  para  provimento 
dos  moveis  e  utensílios  dos  mesmos  estabelecimentos  e  fornecimento  da 
enfermaria  e  pharmacia. 

«As  obrigações  da  empreza  para  com  os  colonos  seriam  as  seguintes: 

cl."^  Cada  colono  e  cada  pessoa  de  sua  família,  receberia  gratuita- 
mente um  leito  completo,  um  cobertor  de  13,  um  capote  de  panno  ou 
chalé  de  lã,  segundo  o  sexo,  e  a  roupa  e  calçado  que  parecesse  indis- 
pensável; 

«2."^  Alimentação  gratuita  durante  um  anno,  tanto  para  os  colonos 
como  para  suas  famílias ; 

«3.°  Facultar-lhes-ia  os  meios  para  construírem  as  suas  habitações, 

1  Ha  uma  disposição  determinando  que  os  parochos  ensinem  instrucçao  pri- 
maria e  não  sabemos  se  algumas  outras  disciplinas,  peio  que  devem  perceber  ama 
gratificação.  A  questão  é  que  a  lei  se  cumpra. 


253 

6  fornecer-lhes-ía  os  aniiuaes  domésticos,  instrumentos  agrícolas,  utensí- 
lios de  cozinha,  sementes  e  armamento; 

«4.®  Também  lhes  facilitaria  a  acquisiçSo  de  braços  mediante  o  salá- 
rio que  se  ajustasse ; 

c5.°  Emprestaria  aos  colonos  o  dinheiro  indispensável  para  o  gran- 
geio  das  suas  terras,  mediante  um  juro  rasoavel  e  ajuste  particular. 
< As  obrigações  dos  colonos  para  com  a  empreza  seriam : 
cl.°  Agricultar  por  sua  própria  conta,  e  assiduamente,  durante  dez 
annos,  as  terras  que  lhes  fossem  distribuídas,  pagando  á  empreza  por  oc- 
casião  das  colheitas,  a  contar  do  segundo  anno  em  diante,  uma  parte  do 
produclo,  fructo  das  suas  terras; 

«2.**  Pagar  por  meio  de  prestações  annuaes,  por  occasião  da  colheita, 
em  dinheiro  ou  em  géneros,  até  final  amortisaçao,  a  importância  dos  ma- 
teriaes  empregados  na  construcção  das  casas,  na  compra  dos  animaes 
domésticos,  instrumentos  de  lavoura,  utensílios  e  armamento ; 

«3.°  Ter  o  armamento  sempre  em  bom  estado,  concorrendo  para  a 
policia  e  segurança  das  terras  da  empreza  quando  seja  necessário ; 

c4.°  Mandar  os^  filhos  á  escola  e  facilitar  a  educação  dos  trabalhadores 
indigenas ; 

tS.®  Preferir  sempre  a  empreza,  em  igualdade  de  preços,  para  a  venda 
dos  productos  das  suas  lavouras ; 

t6.®  Conservar  limpos  os  caminhos  que  passarem  pelas  suas  terras; 
«7.®  Não  derrubar  arvore  alguma  sem  permissão  da  empreza. 
cPor  esta  forma  a  associação  funccíonaría  como  banco  agrícola,  adian- 
tando os  capitães  necessários  para  serem  explorados  os  terrenos  de  re^ 
conhecida  fertilidade. 

cComo  empreza  industrial,  transformando  a  matéria  prima  fornecida 
pelos  colonos  em  valiosos  géneros  de  commercio,  como  óleos,  fibras,  ca- 
fé, tabaco,  assucar,  etc. 

«Como  negociante,  levando  os  productos  de  sua  exploração  aos  mer- 
cados consumidores  e  ministrando  aos  colonos,  empregados  e  trabalha- 
dores, as  mercadorias  da  Europa,  para  a  venda  das  quaes  não  ha  estabe- 
lecimento algum  commercial  no  continente  fronteiro  á  cidade.» 

A  costa  oriental  da  Africa  portugueza  é  realmente  muito  extensa.  Os 
seus  portos  abertos  á  navegação  e  ao  commercio  com  occupação  portu- 
gueza e  fiscalisação  aduaneira,  são  Lourenço  Marques,  Inhambane,  ilha 
pequena  do  Bazaruto,  ilha  de  Chiloane,  Sofala,  Quilimane,  Angoche,  Mo- 
çambique e  ilha  do  Ibo.  Outros  ha  ainda  em  que  poderiam  entrar  sent 
difficuldade  navios  de  qualquer  tonelagem,  e  onde  o  commercio  e  a  agri- 
cultura se  desenvolveriam  de  uma  maneira  prodigiosa  pela  facilidade 
da  entrada  e  segurança  de  ancoradouro,  e  pela  fertilidade  do  ubérrimo 


254 

solo  que  lhe  fica  adjacente»  o  qual  reúne  á  boa  disposição  dos  seus  im- 
mansos  terrenos,  cercados  de  pequenos  rios,  todas  as  boas  condições  to- 
pographicas  e  atè  climatéricas  ^  necessárias  para  colonisaçSo  em  grande 
escala.  No  entretanto  nunca  foram  nem  estão  actualmente  occupados  por 
auctoridades  portuguezas  nem  téem  fiscalisação  aduaneira,  permittindo-se 
comtudo  nas  alfandegas  próximas,  despacho  a  pequenas  embarcações  de 
cabotagem  que  ali  vão  fazer  permutações  de  géneros  com  os  habitantes 
pretos  do  paiz. 

Taes  portos  são,  seguindo  a  ordem  da  nomenclatura  dos  já  descri- 
ptos,  do  S.  para  o  N.,  os  de  Inhamissengo,  Barra  Catharina  (Bocas  do 
Zambeze),  Macuzi,  Quizungo,  ao  S.  eao  N.  de  Quelimane,  e  próximo  d'elle 
a  bella  e  grandiosa  bahia  do  Mocambo,  e  a  bahia  da  Gonducia,  a  primeira 
ao  S.  e  a  segunda  ao  N.  de  Moçambique,  as  quaes  estão  tão  próximas  que 
se  avistam ;  e  ainda  os  de  Fernão  Velloso,  Porto  Velhaco,  a  formosa  bahia 
de  Pemba,  e  outros  nas  differentes  ilhas  habitadas  de  Gabo  Delgado  de 
que  é  capital  o  Ibo.  Alguns  d'esles  portos  não  são  accessiveis  a  navios  que 
demandem  mais  de  4  metros  de  agua;  comtudo  era  de  toda  a  convenien- 
cia  a  sua  occupação,  não  só  porque  com  ella  se  desenvolveria  a  civilisa- 
ção  tão  necessária  a  povos  que  estão  no  estado  primitivo,  como  porque 
asseguraria  melhor  o  direito  portuguez  áquellas  tão  invejadas  paragens, 
faciUtaria  as  transacções  commerciaes  muito  custosas  de  fazer-se  hoje  pe- 
los meios  deficientes  por  que  se  effectuam,  evitaria  os  riscos  de  um 
transito  longo  e  cheio  de  perigos  que  encarece  e  difiGiculta  a  marcha  bené- 
fica da  civilisação,  pelo  primeiro  elemento  por  que  ella  se  começa  a  pro- 
pagar —  o  commercio  —  que  impõe  a  necessidade  de  consumir,  obrigando 
a  procurar  o  centro  civilisador,  em  contacto  com  o  qual  adquirem  os  povos 
necessidades  que  os  obriga  a  procurar  o  modo  de  as  satisfazer  com  o  seu 
trabalho  por  meio  da  industria  e  agricultura  que  completamente  desconhe- 
cem, e,  emfím,  teriamos  outros  tantos  centros  onde  a  actividade  humana 
procuraria  desenvolver  os  seus  recursos  intellectuaes,  alargando  a  área 
dos  seus  conhecimentos  em  beneficio  de  uma  causa  santa,  como  é  a  pro- 
pagação da  civilisação  em  povos  que  vivem  no  maior  estado  de  rudeza. 

Ilha  de  Moçambique^.— kWhdí  de  Moçambique,  que  a  historia  diz  ter 
sido  visitada  em  1487  pelos  intrépidos  viajantes  João  Peres  da  Covilhã  e 

1  Digo  assim,  e  affirmo,  observa  o  sr.  Francisco  dos  Santos  a  quem  devamos 
estas  informações,  porque  os  factos  o  comprovam.  No  entretanto  nao  é  isto  (acl*e^ 
ditado  por  muita  gente,  que  sobre  a  salubridade  do  paiz  tem  idéas  contrarias  a  estas. 

2  A  descrípçao  da  ilha  e  districto  de  Moçambique  foi-nos  offerecida  da  melhor 
vontade  pelo  sr.  José  Zeferino  Xavier  Alves,  que  não  duvidou  tamb^n  rever  o  sen 
trabalho,  prestando-lhe  nós  toda  a  nossa  coadjuvação. 


255 

Affonso  de  Paiva,  quando  atravessaram  o  Egypto  e  a  Abyssinia,'  e  depois 
por  Vasco  da  Gama  em  1498,  e  por  Pedro  Alvares  Cabral  em  1300,  foi 
deflnitivamenle  occupada  pelos  porluguezes  em  1506.  É  terra  baixa,  e 
tem  2^,5  de  comprimento,  {^,"-2  de  largura  e  5  kilomelros  de  circumfe- 
rencia.  Está  situada  em  IS""  1'  de  latitude  S.  e  49"^  45'  de  longitude  E. 
de  Lisboa. 

Não  tivemos  ainda  occasião  de  visitar  as  nossas  terras  da  Africa  oriental,  e, 
visto  termos  de  indicar  as  moléstias  endémicas  observadas  nas  principaes  localida- 
des d*aquella  provincia,  cumpre- nos  também  dar  algumas  informações  a  respeito 
d*essas  localidades  e  do  estado  em  que  ellas  se  encontram  actualmente. 

O  medico  hygienista,  como  temos  dito,  tem  obrigação  de  cuidar  primeiro  que 
lado  de  estudar  a  natureza  do  solo  cuja  salubridade  se  propõe  conhecer.  Deve  ser 
este  na  verdade  o  seu  principal  empenho. 

Estuda-se  a  estructura  do  corpo  e  as  funcções  orgânicas  para  melhor  se  ava- 
liarem as  doenças  e  applicar  o  remédio :  examinam-se  os  terrenos  e  as  suas  produc- 
ções  para  com  mais  segurança  se  descobrir  a  intensidade  das  endemias.  A  locali- 
dade e  a  doença  endémica,  diz  o  sábio  Dutroulau^  são  idéas  congéneres. 

Fizemos,  pois,  quanto  em  nós  coube  para  dar  uma  breve  noticia  a  respeito  das 
nossas  colónias  em  geral,  procurando  informações  entre  as  pessoas  que  nos  mere- 
cem toda  a  conGança,  sendo  uma  d'elias  o  sr.  José  Zeferino  Xavier  Alves,  que 
conhece  não  só  a  provincia  de  Moçambique,  mas  também  quasi  todas  as  nossas 
possessões  do  ultramar. 

Esteve  na  estação  de  Macau,  sendo  oíllcial  de  fazenda  da  armada,  cerca  de 
dezeseis  mezes,  na  de  Moçambique  cinco  annos,  e  em  Goa  treze  mezes.  Visitou  Can- 
tão, Hong  Kong,  Rio  de  Janeiro,  Table  Bay  no  Cabo  de  Boa  Esperança,  Bombaim 
Bacano,  Chaul  e  outras  colónias  estrangeiras,  Faial,  e  por  duas  vezes  Cabo  Verde, 
Loanda,  Benguella  e  Mossamedes. 

N'estas  circumstancias  não  faltam  ao  sr.  Alves  os  elementos  necessários  para 
avaliar  as  nossas  colónias  em  gorai  e  muito  especialmente  a  provincia  de  Moçam- 
bique, porque,  alem  do  tempo  em  que  ali  residiu  durante  a  estação  a  que  tinha  de 
satisfazer  como  official  de  fazenda  da  armada,  ali  permaneceu  mais  vinte  e  um  annos, 
exercendo  importantes  cargos. 

Foi  offlcial  maior  da  secretaria  do  governo,  escrivão  deputado  da  junta  da  fa- 
zenda, director  da  alfandega,  membro  do  conselho  do  governo  da  provincia,  que 
por  duas  vezes  assumiu  a  governação  publica  na  ausência  do  governador  geral,  e 
presidente  da  camará  municipal. 

Os  serviços  que  o  sr.  Alves  prestou  á  provinciano  Moçambique  nas  dififerentes 
commissões  de  que  foi  encarregado  foram  tomados  em  consideração  pelo  governo  de 
Sua  Magestade,  que  o  agraciou  com  o  habito  da  Conceição  e  commenda  de  Christo. 

Alem  d*isso  o  sr.  Alves  obteve  menções  honrosas  nas  exposições  de  Paris  e 
Porto,  onde  mandou  alguns  productos  de  uma  sua  propriedade.  Em  taes  circum- 
stancias não  lhe  falta  de  certo  a  competência,  e  a  descripção  da  ilha  e  do  districto 
de  Moçambique  são  prova  evidente  do  que  avançámos.  É  com  prazer  que  vemos 
publicados  os  meios  a  que  é  preciso  recorrer  para  se  colonisar  esta  provincia.  Es- 
tamos de  accordo  com  o  sr.  Alves,  e  o  seu  trabalho,  que  examinámos  com  todo  o 
cuidado,  representa  mais  um  serviço  prestado  á  província,  onde  casou  e  passou  o 
melhor  tempo  da  sua  vida. 


356 

É  separada  do  continente  por  um  canal  que  na  sua  maior  largura, 
entre  a  ilha  e  Mossuril,  tem  cerca  de  30  kilometros. 

Na  ponta  da  ilha,  á  entrada  da  barra,  está  a  fortaleza  de  S.  Sebastião, 
começada  em  ^  545  pelo  vice-rei  da  índia  D.  João  de  Castro. 

A  que  fundou  Affonso  de  Albuquerque  foi  abandonada  por  não  estar 
em  logar  tão  importante.  Alguns  annos  depois  foi  esta  concedida  aos 
jesuítas  para  abi  edificarem  o  seu  coUegio,  que  é  actualmente  o  palácio 
do  governo. 

Em  seguida  á  fortaleza  está  o  campo  de  S.  Gabriel,  ou  esplanada  da 
mesma  fortaleza  com  três  compridas  ruas,  cobertas  de  frondoso  arvore- 
do, desde  a  porta  da  fortaleza  até  á  entrada  da  pequena  mas  bonita  cida- 
de de  S.  Sebastião  S  a  qual  apresenta  hoje  ao  viajante,  que  demanda  o 
porto,  alegre  perspectiva,  devida  aos  muitos  melhoramentos  que  n'estes 
últimos  tempos  lhe  tem  sido  feitos  ^ 

É  a  cidade  dividida  em  dois  bairros,  o  de  S.  Domingos  e  do  Conce- 
lho, comprehendendo  estes  vinte  e  quatro  ruas,  vinte  e  uma  travessas, 
sete  largos,  duas  estradas  e  um  campo;  e  o  pequeno  bairro  da  Moran- 
gonha,  é  habitado  quasi  exclusivamente  por  libertos  K 

As  principaes  ruas  são  as  do  Thesouro,  do  Concelho,  do  Arsenal,  de 
S.  Domingos,  da  Fidelidade,  do  Celleiro,  do  Hospital,  Formosa  e  do 
Conselheiro  Leal  \  que  a  gravura  representa,  a  qual  foi  inaugurada  aos 
28  de  janeiro  de  1870  pela  camará  municipal,  á  memoria  do  governa-, 
dor  geral  Fernando  da  Costa  Leal,  fallecido  aos  29  de  dezembro  de  1869. 


1  Não  nos  sendo  possível  apresentar  a  vista  geral  da  cidade,  damos  a  de  uma 
pequena  parte  do  lado  do  porto. 

O  campanário  e  o  tecto  do  templo  que  se  vô  é  da  sé  matriz. 

A  ultima  casa  grande  que  se  nota  pertenceu  ao  deputado  Theodoríco  José  de 
Abranches,  e  servia  em  1870  de  hospital  provisório  de  coléricos. 

Chamam-se  pangaios  aos  barcos  grandes  que  estão  encalhados,  sem  mastros,  os 
quaes  nas  monções  navegam  entre  a  índia  e  Moçambique. 

Veja  a  gravura  que  diz  Vista  de  uma  parte  da  cidade  do  lado  do  porto  etUre  a 
praia  da  alfandega  até  á  praia  de  S.  João. 

2  Grande  parte  dos  melhoramentos  realisados  são  devidos  á  eommissao  muni- 
cipal que  funccionou  no  biennio  de  1873  a  1874,  a  qual  era  composta  dos  srs.  A.  J. 
Machado,  facultativo;  F.  M.  Gomes  Ferreira,  negociante;  F.  P.  Carvalho,  professor; 
J.y.  D.  Mascarenhas,  proprietário;  c  José  Zeferino  Xavier  Alves,  que  foi  o  presi- 
dente d'esta  eommissao. 

3  A  cidade  tem  cinco  edifícios  religiosos,  um  hospital,  dez  edifícios  civis,  um 
mercado  e  um  club,  denominado  Recreativo  Regeneração. 

4  Homenagem  sincera  e  insuspeita  de  respeitosa  gratidão  dos  habitantes  da 
capital  àquelle  governador. 

A  rua^  até  então,  chamava- se  travessa  do  Ó;  a  entrada  pelo  lado  de  O.  era  tão 
estreita  que  mal  podia  passar  um  carro,  em  consequência  de  existir  ali  uma  an* 


1                       ■/                         "'     — . 

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357 

Das  ruas  mais  estreitas  mencionaremos  a  chamada  dos  Banianes»  na 
qual  ainda  assim  pôde  passar  um  carro  sem  offender  quem  transita  pe- 
los lados  ^ 

Das  travessas  citaremos  como  principaes  as  da  Cadeia,  do  Hospital, 
da  Saúde  e  dos  Fornos ;  as  duas  ultimas,  que  eram  intransitáveis,  são 
hoje  as  mais  bellas,  devido  á  commissão  municipal  de  1874. 

Os  largos  mais  notáveis  s3o  o  da  UniSo*  e  o  de  S.  Paulo  3,  represen- 
tados nas  gravuras ;  este,  que  está  em  frente  do  palácio  do  governo,  é  um 
bello  passeio  adornado  de  assentos  de  madeira  com  mu  elegante  coreto  no 
centro,  onde  a  musica  do  batalhSo  de  caçadores  n.®  1  toca  ás  quintas 
feiras  e  aos  domingos,  attrahindo  áquelle  local  numerosa  concorrência. 


tiqoissima  loja  edificada  até  meio  da  ma.  Os  moradores  da  travessa  por  vezes 
tentaram  expropríal-a,  mas  não  o  poderam  conseguir;  até  que  o  governador  Leal, 
com  a  soa  proverbial  energia,  no  principio  do  seu  governo,  ordenou  a  expropria- 
ção, resolvendo  todos  os  embaraços  para  ^la  se  effectoar,  e  facilitou  à  camará  a 
conclusão  do  trabalho  de  reforma  e  alinhamento.  O  rebaixamento  e  arfoorisação  foi 
depois  a  expensas  do  sr.  Alves,  proprietário  da  casa  grande  que  se  vé  a  L. 

A  janella  que  se  devisa  ao  fundo  da  ma  ao  O.  é  da  alfandega. 

Veja-se  a  gravura  Ana  Nova  do  Conselheiro  Leal,  em  1875. 

1  I>ata  do  estabelecimento  dos  banianes,  súbditos  portuguezes,  naturaes  de  Diu, 
em  1687,  os  quaes  logo  que  chegaram  se  constituíram  em  companhia,  monopoli- 
sando  o  commereio.  Ultimamente  os  estrangeiros  batias,  naturaes  de  Caxe,  obti- 
veram igual  permissão,  e,  como  agentes  de  boas  casas  de  Bombaim  e  de  Caxe, 
monopolisaram  o  conmiercio  d'aquelles,  auferindo  grandes  lucros  com  a  mina  dos 
outros,  até  que  finalmente,  com  a  abertura  dos  portos  e  estabelecimento  das  casas 
commereiaes  flrancezas,  também  para  elles  acabou  o  monopólio,  e  actualmente  só 
commereeiamcom  as  fornidas  que  a  estes  compram  e  com  as  que  lhes  vem  da  ín- 
dia, vendendo-as  por  grosso  e  a  retalho. 

É  valioso  o  negocio  que  diariamente  se  faz  n'esta  ma  em  fazendas  pró- 
prias do  sertão,  e  em  producções  do  paiz  para  exportação;  são  notáveis  as  im- 
portantes partidas  de  pontas  de  marfim,  cavallo  marinho  e  abada,  que  nos  me- 
zes  de  maio  e  setembro  (denominados  da  monção  para  a  índia)  se  vêem  esten- 
didas ao  longo  da  ma  para  classificar,  escolher  e  marcar  para,  depois  da  entrada 
na  alfandega  e  pagamento  de  direitos,  seguirem  para  os  portos  da  índia.  Para  se 
avaliar  o  commereio  d*esta  gente,  bastará  dizer  que  ha  lojas  que  annuabnente 
téem  pago  de  direitos  á  alfandega  cerca  de  2O:00OM0O  réis,  mais  da  quarta  parte 
do  rendimento.  Alguns  batias  estão  natnralisados  cidadãos  portuguezes.  Em  outro 
tempo  houve  bastantes  parses  estabelecidos,  súbditos  portuguezes ;  hoje  ha  muito 
poucos. 

2  Veja-se  a  gravura  designada  Largo  da  União,  vulgo  do  Pelourinho. 

O  grande  edificio  que  se  divisa  ao  longe  é  o  hospital  militar  e  civil,  que  foi 
convento  de  S.  João  de  Deus,  demolido  ha  pouco.  Vé-se  também  a  capella  de  Nossa 
Senhora  da  Saúde,  e  o  cemitério. 

'  Veja-se  a  gravura  designada  ÍJirgo  de  S,  Paulo,  em  1875. 

O  edificio  a  SO.  é  a  alfandega. 

i7 


3S8 

O  largo  a  i  ponte  tío  úkmmim  com  eleganias  csmàiaircm  de  petró- 
leo, melhoramento  edle  devido  ao  fallecido  governador  geral  José  Ro« 
drigues  Coelho  do  Amaral. 

0  campo  de  8.  Gabriel  é  uma  liada  alameda  que  ae  prolonga  com  as 
ruas  de  S.  Dcmiingoa  e  S.  Paulo  e  finda  na  fortaleza.  Foi  n'est6  campo 
que  a  23  de  junho  de  Í86Q  teve  logar  a  bengSo  e  juramento  da  hm- 
deira  do  batalhão  expedicionário  da  Zambaua^ 

A  cidade  tem  bons  edíficioa ;  algumas  ruas  e  travessas  sSo  bastante 
largas  e  regulares»  e  em  quasi  todas  ha  passeios  lateraes  de  argamassa. 

Oa  largos,  a  Praia  Grande  e  da  Boa  Vista,  e  as  ruas  da  Missauga  ató  ao 
mercado  do  peixe  e  d'e8te  até  ao  caminho  da  ponta  da  ilha  sio  orlados  de 
arvoredo. 

Fortificações. — Em  outro  tempo  era  a  ilha  defendida  pela  fortaleza 
de  S.  Sebastião  que  a  domina*;  pelo  forte  de  S.  Lourenço',  construído  em 
um  ilhéu  afastado  d'ella  uns  33  metros  do  lado  do  S.,  e  pelo  fortim  dci 
Santo  António,  edificado  no  angulo  que  forma  a  iUia  do  lado  de  E.  Tem  três 
magnificas  cisternas.  &  o  quartel  do  batalhão  da  caçadores  o.''  1^. 

Os  fortes  de  S.  Lourenço  e  Santo  António  estão  desartilhados :  o  pri- 
meiro, que  está  bem  conservado,  foi  em  1888  convenientemente  arranjado 
no  interior  para  arrecadação  da  pólvora  dos  particulares,  a  cargo  da  al- 
fandega ;  e  o  segundo  é  o  quartel  de  veteranos. 

Pariu  ou  futkkadouro.—È  o  melhor  e  o  mm  seguro  de  Ioda  a 
costa,  e  illuminado  como  está,  com  u»  pharol  na  iHia  de  S.  Joi^ 

1  Na  manhã  do  áia  desigDada  para  a  ben^  da  baadeim  havía-ae  araiade  a 
mala  aonpríaMBto  da  alaseda  o  tnãr  eaupal  da  exj^iedi^^  earres^oadeada  jas- 

tamente  ás  minas  de  uma  antiga  igreja  que  em  outro  twaj^  aH  houve». 

De(KM8  da  revista  que  o  governador  Feraando  da  CofiU  Leal  pasaou  ao  hata- 
Ihio,  eomeçou  a  missa,  ae&do  eetebrante  o  capellâo  do  mesmo  corpo.  Legoqae  esta 
ceranoaia  fladoo,  o  govoraador,  empunhando  a  bandeira  peia  haste,  «pproyimwi  ac 
do  aUar^  e  ali  a  bensen  o  capellão,  fira  bordada  com  doHcâdeia  e  perfeição  e  feila 
da  teMaios  eeloios. 

Rn  seguida  honre  pequeaa  pratíea  do  eapeUao,  daado  a  toda  a  eipedi^  a 
bflBçio  a^MMtoHca  que  Uie  havia  «landado  o  santiaumo  podre  Pia  IX.  A  força  for- 
mou depois  em  quadrado  singelo  oom  a  frente  para  o  iolerior,  para  o«de  entrou  o 
gevernador  eoai  a  baodeira,  que  eotte^Mi,  dirigindo  a^  expedicionários  uma  ele- 
gante aHocnçiD  no  ade  do  seu  juramenta 

2  Teve  iOO  bocas  de  fogo  de  bronze;  hoje  as  qae  ha  sâo  de  ferro. 

3  Começou  a  construcçao  em  iS95.  No  ilhéu  ha  casa  para  a  guarda  e  uma  cis- 
terna. 

4  É  mau  o  quartel,  quente,  húmido  e  pouco  ventilada  As  paredes  posteriores 

das  casernas  sâo  formadas  pelas  muralhas  da  fortaleza  por  onde  se  inSltra  a  agua 
das  chuvas  durante  a  invernada.  Eis  uma  das  causas  nocivas  à  saúde  dos  sol- 
dados. 


289 

(Goa)S  os  pbarolias  aa  Cabaceiras  na  fortaleza  de  S.  Sebastião,  e  com 
as  baiisas  que  tem,  póde^ae  ali  entrar  de  noite  sem  risco. 

Ab  boias-balizas  estio  coUocadas  na  entrada  do  porto  do  seguinte  modo : 

OmoI  do  norte. — Uma  bóia  cyiiadríca  vermelha  na  ponta  NE.  da  ilha 
de  S«  iotgid  (Goa) ; 

Usia  bóia  eylindrica  vermelha  oa  ponta  do  baixo  de  S.  Sebastião, 
janta  á  fortaleaa ; 

Duas  boías  cylindrieas  postas  nas  duas  pontas  mais  salientes  do  baixo 
da  Caba€6ira. 

Cbnãl  áo  ^.— Uma  bóia  eytiodrica  vermelha  na  ponta  NE.  da  ilha 
de  S.  Thiago  (Sena) ; 

UjBa  brâi  eyUodrieà  negra  ao  SO.  da  ilha  de  S.  Jorge  (Goa). 

As  bóias  estio  fiindeadas  a^>roximadameDtâ  em  7  metros  de  fundo  na 
baíxMsar  das  maiores  marés,  e  são  pintadas  de  vermelho  as  que  ficam 
a  BB.,  e  pretas  a  EB.  quando  se  entra  no  porto. 

Palaeiú  4o  geverm.—^^  edifício,  residência  do  governador  geral, 
pertemea  ao  coUegio  de  S.  Francisco  Xavier,  dos  padres  jesuitas,  fundado 
nos  priDcipios  do  século  xvii,  depois  da  extincção  da  compaidiia  de  Jesus* 
Foi  recon^míáQ,  aforraoseado  e  adaptado  para  palácio  do  governo  pelo 
capitio  general  D«  Diogo  de  Sousa ;  e  depois  quasi  todos  os  governado* 
res  lhe  téen  feito  algons  melhoramentos,  sendo  o  mais  importante  o  que 
lhe  fesE  o  fiattecklo  AmaraU  que  transferiu  para  o  pavimento  inferior,  de- 
pois  da  eoBveaieQtiBinente  arranjado,  a  secretaria,  a  repartição  militar  e 
o  arebívo^  e  embeite»m  es  aposentos  superiores,  a  fim  de  o  tomar  pró- 
prio da  primeira  anctondade  da  província,  e  poder  receber  sem  des- 
doBTO  66  MlffiB^eíros  de  díiliiicçio  que  sauitas  vezes  visitam  aquele 
porto.  O  ediSeio  tem  treze  janellas  éò  frmte,  dois  mirantes,  boas  cister- 
nas e  magnifica  horta  com  boa  uva  Terral. 

Mfmiâe§a. — A  constmcçio  d*esta  repartição  foi  ordenada  em  1720. 
Desde  1593  até  áqiràla  epoeba  os  direitos  er«n  cobrados  a  bordo  dos 
próprios  navios  na  rasão  de  0  por  ceoto  de  entrada,  e  igual  quantia  de 
saída,  sendo  IHrre  a  qualquer  e  resgate  de  oiro  e  prata  de  SofaUa,  pagando 
para  a  faseada  publica  um  quinto  da  sua  importância. 

No  reinado  da  Senhora  D.  Maria  I,  sendo  governador  e  capitão  general 
António  Manoel  de  Mdk)  e  Castro,  foi  a  actual  alfandega  reedificada  no 
logar  da  antiga,  coqk)  se  deprebende  da  inscripção  que  se  vô  por  cima  da 
porta  do  lado  do  largo  de  S.  Paulo,  que  é  a  da  entrada. 

O  edifício  é  suSicientemenle  forte  e  tem  bons  armazéns ;  a  sala  da  ^ 

í  Começou  a  funceionar  em  18  de  maio  de  1876,  Junlo  ao  pharol  fez-se  uma 
cisterna. 


260 

abertura  e  verificação  é  vasta  e  lageada,  e  os  armazéns  sao  argamaçados. 
O  movimento  commercial  tem  sido  tal  desde  1853,  em  que  se  abriram  os 
portos  ao  commercío  e  se  estabeleceram  algumas  casas  commerclaes  es- 
trangeiras, como  se  vé  das  estatísticas,  que  não  obstante  os  importantes 
melhoramentos  feitos  no  edifício  em  1863,  que  quasi  lhe  daplicaram  o 
espaço,  com  um  sobrado  de  serventia  interior  para  o  qual  sio  elevados 
os  volumes  por  dois  guinchos  convenientemente  collocados  em  forma  de 
guindaste,  ainda  assim  não  satisfaz  e  carece  de  ser  augmentado. 

Outras  bemfeitorias  e  aformoseamentos  de  não  menor  valia  se  lhe  fize- 
ram n*essa  occasião,  como  se  vê  do  relatório  ^  do  director  J.  Z.  X.  Alves, 
sob  cuja  direcção  a  obra  foi  feita,  o  qual  mandou  vir  de  Lisboa,  com 
auctorisação  do  governador  Tavares  de  Almeida,  um  guindaste,  seis  car- 
rinhos para  o  serviço  interno,  quatro  rodas  de  aba  para  a  zorra  conduzir 
as  mercadorias  para  os  armazéns  pelo  rail  que  devia  ser  collocado  no 
centro  da  ponte,  e  dois  guinchos. 

0  governador  geral  Fernando  da  Costa  Leal,  logoque  tomou  posse  do 
governo  e  visitou  a  alfandega,  conheceu  a  necessidade  de  a  ampliar  ou 
mandar  construir  outra  em  melhores  condições,  e  para  isso  tratou  da  ex- 
propriação de  uma  porção  de  casebres  que  havia  á  entrada  da  rua  de  S. 
JPaulo,  formando  o  largo  do  palácio,  e  que  eram  propriedade  quasi  exclu- 
siva de  mahometanos,  quando  a  sua  principal  residência  era  na  Cabaceira 
Pequena.  A  maior  parte  d'estes  casebres  tinha  chegado  a  tal  estado  de 
ruina  pelo  lado  do  mar,  que  causavam  impressão  desagradável  ao  via- 
jante que  demandava  o  porto,  porque  se  lhe  afigurava  á  primeira  vista 
ser  eíTeito  de  um  terremoto.  Effectuada  a  expropriação  e  levantada  a 
planta  da  nova  alfandega,  começaram  as  demolições,  fallecendo  o  gover- 
nador pouco  depois  sem  ter  a  satisfação  de  lançar  a  primeira  pedra  nos 
alicerces  da  obra  que  ordenou. 

Os  governos  interinos  que  lhe  succederam  continuaram  a  demolição, 
sendo  lançados  os  alicerces  da  nova  alfandega  pelo  governador  geral  José 
Rodrigues  Coelho  do  Amaral,  depois  de  algumas  alterações  por  elle  fei- 
tas na  primitiva  planta,  chegando  as  paredes  interiores  e  exteriores  a 
mais  de  um  1  metro  de  altura;  porém,  com  o  seu  fallecimento  a  obra 
parou,  e  a  final  foi  mandada  demolir  pelo  actual  governador,  arborisan- 
do-se  e  ajardinando-se  o  terreno  onde  se  havia  começado  a  edificação.  Con- 
tinua a  velha  alfandega  a  servir  de  deposito  e  no  mesmo  estado,  com 
a  falta  das  commodidades  que  o  commercio  exige,  e  com  os  terraços  de 
alguns  armazéns  especados  e  em  perspectiva  de  desabamento. 
.  Ponte  de  alfandega. — Em  frente  do  palácio  do  governo  está  a  ma- 

1  Boletim  do  governo  n.°  46  de  186:]. 


gestosa  ponte,  denominada  da  alfandega»  assente  sobre  um  arco  e  onze 
pegões  de  alvenaria,  sobre  os  quaes  se  firma  o  taboleiro  de  magnifica 
madeira  de  mocorusse»  tendo  no  extremo  e  de  cada  lado  uma  escada  de 
madeira,  e  ao  centro  um  guindaste  de  ferro  que  Toi  assente  em  1863. 

O  comprimento  desde  o  guindaste  até  á  porta  da  alfandega  é  de 
180  metros»  e  ainda  são  precisos  mais  uns  três  ou  quatro  pegões  para 
que  o  serviço  se  faça  bem  durante  a  baixamar  de  aguas  vivas  ^ 

Às  duas  columnas  que  tinha  na  extremidade  em  que  se  viam  as  armas 
de  Portugal  foram  ultimamente  demolidas  e  substituídas  por  dois  can- 
dieiros  de  petróleo. 

Arsenal. — Está  esta  repartição  situada  junto  ua  sé  matriz,  em  um 
logar  acanhado  e  impróprio ;  porém  com  um  aterro  que  ultimamente  se 
lhe  fez  para  o  mar,  fechado  com  uma  muralha,  augmentou  mais  o  pe- 
queno espaço  de  que  dispunha. 

Conservou-se  este  estabelecimento  em  bastante  decadência  por  muito 
tempo»  mas,  com  os  melhoramentos  ultimamente  introduzidos,  pode  di- 
zer-se  que  está  á  altura  de  poder  satisfazer  ao  fim  para  que  foi  instituído, 
podendo  prestar  importantes  serviços  á  navegação,  poisque  se  acha  habili- 
tado a  fazer  quaesquer  concertos  em  navios,  por  ter  já  montada  a  oílicina 
a  vapor  que  o  transporte  índia  levou  em  1871 ,  uma  ventoinha  a  vapor  na 
ferraria  e  um  forno  de  fundição,  que  em  breve  fundirá  os  reparos  de  ferro 
para  a  artiiheria  da  fortaleza  de  S.  Sebastião.  Tem  pois  esta  repartição 
já  montadas  três  machínas  motrizes  de  officina  e  ferraria  e  todas  as  ma- 
chínas  da  mesma,  que  são  um  torno  automático,  um  outro  mais  pe- 
queno, um  saca-bocados,  um  engenho  vertical  de  furar,  um  de  cortar, 
chapas,  duas  mesas  de  serrar  e  um  rebolo  também  movido  a  vapor,  e 
em  breve  terá  mais  uma  machina  de  vapor  para  serrar  madeira  com  ser- 
ras verticaes,  porque  as  duas  mesas  da  actual  officina  téem  serras  circu- 
lares que  não  servem  para  tabuado. 

É  a  primeira  officina  d'este  género  que  tem  a  província  de  Mo- 
çambique, a  qual  foi  assente  sob  a  direcção  do  machinista  da  armada, 
Carlos  Alaria  Raposo,  e  os  pavilhões  das  officinas  construídos  sob  a  di- 
recção do  conductor  de  trabalhos  Joaquim  José  Lapa,  tendo-se  começado 
o  pavilhão  da  ferraria  e  a  muralha  em  1874,  por  ordem  do  conselho  go- 
vernativo, bem  como  a  construcção  do  pharol  da  ilha  de  Goa,  a  que  deu 
começo  o  mesmo  conductor. 

São  importantes,  sem  duvida,  os  melhoramentos  que  o  porto  de  Mo- 
çambique tem  tido  n'estes  últimos  tempos;  falta-lhe  porém  ainda  addi- 


'  Veja-se  a  gravura  designada  por  Ponte  da  Alfandega,  cm  1875. 
fj  a  melhor  obra  n'e9le  género  que  ha  no  ultramar. 


262 

cionar  uma  doka,  o  que  d3o  estará  longe  de  possuir,  seja  por  iuieiaUva 
particular  ou  oficial ;  em  a  lendo  e  os  navegadores  houverem  a  certeza  de 
encontrar  ali  meios  seguros  de  concertar  os  seus  barcos»  o  porto  será 
um  dos  mais  concorridos  de  alem  do  cabo. 

Edificio  da  junta  de  fazenda. — Era  uma  propriedade  partieular,  que 
foi  comprada  em  hasta  publica,  em  1838,  a  Gabriel  José  Ferreira,  para 
n'ella  se  estabelecer  a  repartiçSo  de  fazenda.  É  boa  casa,  com  doas  cis- 
ternas e  espaçosos  armazéns.  Alojam-se  no  pavimento  superior  a  junta 
de  fazenda,  a  contadoria  geral,  thesouraría  e  arcbivo,  e  no  inferior  o  cor- 
reio geral,  repartição  do  almoxarifado  e  a  casa  da  guarda.  Tem  um  vasto 
quintal  ou  pateo,  que  actualmente  serve  de  deposito  de  carvio  mineral 
para  os  barcos  a  vapor  do  estado. 

Imprensa  nacional  e  escola  principal. — É  um  vasto  edificio  junto 
ao  palácio  do  governo,  que  outr'ora  foi  residência  do6  ouvidores.  Estava 
bastante  arruinado,  porém  o  governador  Leal  mandou-o  restaura*  em 
1869,  ficando  então  com  uma  bonita  fachadd«  Está  aU  estabelecida  a  im- 
prensa, a  escola  principal  para  os  sexes  mascuUoo  e  feminino,  e  è  morada 
da  professora. 

Hospital  militar  e  ctt^7.— Este  estabelecimento,  que  foi  o  cofivento  de 
S.  João  de  Deus,  fundado  em  1681  e  at^n^entado  e  melhorado  em  1703, 
era  um  vasto  edificio  com  accommodações  para  muitos  dottites,  aiem 
de  quartos  para  officiaes,  empregados  civis  e  individuos  de  classe  mais 
elevada.  Â  pharmacia  achava-se  collocada  na  ^eja  do  antigo  convento. 

O  estado  de  ruina  a  que  chegou,  e  a  falta  de  condições  hj^imicas  fez 
com  que  fosse  demolido,  lançando-se  a  pedra  ftmdameotal  do  novo  hos- 
pital em  iO  de  agosto  de  1876. 

Serve  actualmente  de  hospital  a  casa  que  a  eamara  municipal  com- 
prou em  1873  ao  dr.  Balduioo  Severo  de  Mendonça,  por  4:5O0|$O0O  réis, 
sita  no  largo  da  Sé,  para  n'ella  se  estabelecer  o  tr^tooal  de  josâça  e  a 
conservatória,  para  o  que  já  a  camará  em  1874  lhe  tinha  mandado  fezer 
as  convenientes  reparações. 

A  botica  passou  para  uma  casa  do  estado  que  lhe  fica  próxima,  e 
que  servia  de  residência  ao  juiz  de  direito  da  comarca. 

Paço  da  camará  municipal.  —  Foi  este  edificio  propriedade  partieu- 
lar,  é  o  melhor  paço  municipal  das  nossas  possessões  ultramarinas,  ex- 
ceptuando o  de  Macau. 

Estão  ali  acommodados  a  administração  do  concelho,  a  cadeia  civil  e 
o  quartel  da  policia,  e  ultimamente  féz-se-lbe  uma  ab^oaria';  tem  casa 

^  AlguQs  serviços  de  transportes  que  doastes  eram  feitos  á  eabeça  de  negros, 
sao  hoje  executado?  por  carros  puchados  a  bois. 


á63 

para  os  carreiros  e  para  arrecadação  de  materiaes  e  ferramentas,  cisterna 
e,  do  lado  da  rua  do  Tbesouro,  um  tbeatro  em  ama  casa  que  a  camará 
comprou  em  1839  a  Deuchande  Ari  e  juntou  ao  paço.  Em  cima  do  ter- 
raço, no  centro  do  edi6cío  á  face  da  fachada,  foi  collocado  um  relógio* 

É  D'este  edificio  que  se  reúne  a  junta  de  justiça  e  tem  logar  a  m- 
diencia  do  juiz. 

Casa  tíiamada  do  Bispo.  — É  a  residência  prelaticía,  e  habita  D'ellt  o 
reverendo  prelado  José  Caetano  Gonçalves ;  foi  comprada  pelo  bispo  de 
S.  Tbomé,  D.  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  sendo  prelado  de  Moçambi- 
que pelos  annos  de  1821,  para  residência  dos  seus  successores;  á  bom 
edificio,  mas  n9o  foi  acabado;  está  situado  na  Praia  Grande;  tem  boa  eii^ 
tema  e  grande  quintal. 

N'esta  casa  ha  uma  escola  de  instrucçao  primaria  creada  e  dirigids 
pelo  actual  prelado. 

Hepartição  de  obras  publicas. — Está  no  convento  de  S.  Domingos^ 
do  qoid  a  igreja  que  era  dedicada  a  Nossa  Senhora  do  Rosário  e  maior 
que  a  sé  matriz,  já  nSo  existe.  Estão  ali  estabetecidos  o  museu  ccrfonial  e 
a  repartição  de  obras  publicas  soffrivelmente  montada  com  officínas  pro* 
prías  para  o  seu  fim  ^ 

Não  consta  o  anno  da  fundação  do  edificio,  mas  sabe-se  que  fm  no 
reinado  de  El-Rel  D.  João  III. 

Eslá  situado  no  mais  sadio  logar  da  cidade,  alegre,  arejado  e  com 
bella  vista  para  o  mar ;  tem  uma  magnifica  cisterna. 

Eslabdeeimentos  religiosos. — Tem  actualmente  a  cidade  umaparo- 
cbia,  a  nmtriz  ou  sé,  dedicada  a  Nossa  Senhora  da  Purificação  e  do  U< 
vramento,  que  é  um  templo  de  uma  só  nave,  bem  construído,  coberto  de 
terraço,  e  a  capella  mór,  que  por  fára  mostra  figura  oval,  é  elegante, 
toda  fechada  de  abobada  de  pedra.  Tem  três  altares^  alem  da  capella  do 
Santíssimo  Sacramento. 

Peto  estado  de  ruina  a  que  chegou  aquelle  magnifico  templo,  passou 
a  parocbía  para  a  igreja  da  misericórdia. 

N'estes  últimos  tempos  téem  tido  a  cidade  e  os  ediflcios  públicos  mui* 
tos  melhoramentos,  mas  aquelle  templo,  que  com  pouca  despeza  se  po- 
deria reparar,  está  cada  vez  peior,  sentindo  de  deposito  de  materiaes  ptt% 
as  obras  publicas. 

Igreja  da  JKisericor dia. —-Este  templo,  fundado  nos  prhlciploâ  éh 
seeiílo  xvfr,  é  de  mediana  grandeza.  Está  em  bom  estado  de  eonserrí(30^ 
devido  aos  esforços  e  desvelos  que  algumas  commÍ8S?ies  adtninistrMKaá 
lêem  lido  na  gerência  d'aquelle  pio  estabelecimenlo,  e  especialmente  <íí 

*  Tem  seis  carros  com  bois  para  o  serviço. 


a64 

que  serviu  de  1851  a  1856,  poísque  os  seus  primeiros  cuidados  foram 
a  reparação  do  edificio»  que  estava  bastante  arruinado. 

Capellas.—Posme  a  cidade  quatro  cappllas :  a  de  Nossa  Seoliora  do 
Baluarte,  dentro  da  fortaleza  de  S.  Sebastião,  e  edificada  no  baluarte  que 
olha  para  a  barra,  o  qual  tem  a  artílberia  quasi  ao  iume  de  agua,  e  é 
fechado  sobre  si.  Â  capella  é  toda  de  abobada  ebem  construída,  e  só  se 
abre  quando  algum  devoto  quer  mandar  dizer  missa.  É  ali  que  os  go- 
vernadores geraes  tomam  posse  do  governo,  depois  de  lhe  serem  apre- 
sentadas as  chaves  á  entrada  da  praça  pelo  respectivo  commandante  in- 
terino,, dirigindo-se  em  seguida  á  dita  capella,  onde  recebe  das  mãos  do 
governador  rendido  o  bastão  que  está  collocado  sobre  o  altar. 

  de  S.  Paulo,  que  foi  a  igreja  de  S.  Francisco  Xavier,  dos  padres  je- 
suítas, junto  do  palácio  do  governo.  Está  em  bom  estado  e  tem  três  alta- 
res; è  onde  o  batalhão  assiste  á  missa.  Encerra  esta  capella  as  cinzas  de  dois 
governadores  illustres :  D.  Estevão  de  Âthaide  e  o  marquez  de  Aracaty. 
Âo  primeiro  se  deveu  por  duas  vezes  a  conservação  da  cidade  e  ilha,  de- 
fendendo-as  de  dois  cercos  dos  hollandezes,  sendo  castellão  da  praça  e 
general  das  conquistas  das  minas  da  prata;  falleceu  em  1633.  O  segundo 
tomou  posse  do  governo  em  5  de  outubro  de  1 837  e  falleceu  em  30  de 
março  do  anno  seguinte. 

A  de  Santo  António,  que  foi  edificada,  não  se  sabe  em  que  anno,  den- 
tro do  fortim  do  mesmo  nome,  restando-lhe  apenas  a  capella  mór  por  ser 
de  abobada,  que  é  onde  está  depositada  a  imagem. 

Os  gentios  banianes  e  alguns  mahometanos  têem  muita  veneração 
por  este  santo,  e  por  isso  vão  frequentes  vezes  em  devota  romaria  visi- 
tal-o,  levando  velas  que  accendem  diante  da  imagem, ífazendo-lhe  suppli- 
cas  a  seu  modo,  e  subscrevem  sempre  da  melhor  vontade  para  as  despe- 
zas  da  festa. 

A  de  Nossa  Senhora  da  Saúde,  que  foi  igreja  do  hospício  dos  religio- 
sos capuchos,  junto  ao  cemitério,  está  a  cargo  da  camará  municipal,  que 
no  anno  de  1874  a  reedificou  e  embellezou.  É  onde  se  encommendam 
os  corpos  que  se  dão  á  sepultura. 

Mercados  públicos  (bazares).  —  O  único  que  a  cidade  possue  e  a  que 
pôde  dar-se  esse  nome,  é  o  mercado  do  peixe ;  depois  da  sua  reedifica- 
ção  ordenada  pela  camará  municipal  de  1874,  em  que  a  cobertura  que 
tinha  de  olas  de  palmeira  foi  substituída  por  telha  chata  franceza,  e  se 
lhe  collocaram  mesas  de  pedra  ao  centro  para  se  expor  o  peixe  á  venda, 
6  assentos  em  roda,  ficou  um  mercado  regular.  Foi  estabelecido  em 
1828. 

Outro  mercado  está  em  construcção,  maior  e  mais  elegante,  para  a 
venda  de  objectos  de  consumo  diário,  no  terreno  adquirido  na  Missanga, 


265 

onde  foi  o  horroroso  fogo  de  1870,  que  tantas  palhotas  consumia.  O  que 
desde  o  governo  do  marquez  Aracaty  se  não  pôde  levar  a  effeito  para  re- 
golarisar  o  fabrico  das  habitações  n'aquelle  sitio,  que  era  a  principal  ori- 
gem das  moléstias  da  ilha  pela  accumulaçao  de  immundicies  na  povoa- 
ção, foi  cons^[uido  pelo  fogo  em  poucas  horas !  Entretanto  é  tolerada  a 
venda  dos  ditos  objectos  no  alto  da  Marangonha,  e  no  campo  de  S.  Ga- 
briel, no  chão  e  descobertos. 

Cemitérios. — Ha  na  ilha  três  cemitérios:  um  junto  á  capella  de  Nossa 
Senhora  da  Saúde,  outro  em  construcção,  com  capella,  no  fim  da  ilha,  na 
ponta  do  S.,  mandado  fazer  por  deliberação  da  commissSo  municipal  de 
1874,  muito  maior  e  em  logar  mais  apropriado  para  a  saúde  publica,  o 
qual  mede  95  metros  de  comprimento  e  48  de  largura ;  e  o  terceiro  para 
os  mahometanos,  no  campo  de  Sanlo  António.  Ha  ainda  outro  no  extremo 
da  ilha,  onde  os  gentios  batias  e  banianes  s3o  queimados  e  em  seguida 
lançadas  as  cinzas  ao  mar. 

Districto  de  Moçambique. —  A  capital  do  districto  de  toda  a  província 
é  a  cidade  de  S.  Sebastião,  cuja  descrípção  já  apresentámos.  É  sede  do 
governador  geral  que  reúne  attribuições  civis  e  militares. 

Junto  ao  governo  geral  ha  o  seguinte  pessoal  : 

Um  prelado  com  jurísdicção  ecciesíastica  em  toda  a  provmcia;  conse- 
lho do  governo;  conselho  governativo,  que  só  exerce  o  governo  por  falle- 
cimenlo  do  governador;  conselho  da  província  ou  tribunal  administrativo; 
conselho  inspector  de  instrucção  publica ;  junta  de  justiça;  junta  de  fazen- 
da, que  administra  os  rendimentos  públicos;  e  juiz  de  du*eito  da  comarca, 
que  comprehende  os  dístríctos  de  Cabo  Delgado  e  de  Angoche. 

A  repartição  de  justiça  é  subordinada  á  relação  de  Goa,  e  o  prelado 
ao  arcebispado  primaz  do  Oriente. 

Divide-se  a  província  em  oito  districlos  miUtares,  que  são  Moçambi- 
que, Cabo  Delgado,  Angoche,  Quelimane,  Tete  (Zambezia),  Sofala,  Inham- 
banc  e  Lourenço  Marquesa 

Os  districtos  são  divididos  em  concelhos. 

Os  governadores  d'estes  districtos  são  em  tudo  sujeitos  á  auctorídade 
do  governador  geral,  exercem  funcções  civis  e  militares  e  são  os  com- 
mandantes  militares  de  todo  o  districto. 

Força  armada. —  Compoe-se  de  um  batalhão  de  caçadores  (n.®  1), 
que,  quando  completo,  tem  436  praças.  Us  soldados  são,  pela  maior 
parte,  mandados  do  reino  e  da  índia.  Fazem  a  guarnição  da  cidade,  do 


1  Alem  dos  districtos  que  nomeámos  temos  o  presidio  de  Bazaruto,  commando 
militar  estabelecido  em  1855,  e  o  commando  de  Sena,  sajeito  a  Quelimane. 


I 


266 

Ibo  e  àe  Angocbe,  entram  no  serviço  do  corpo  de  policia  e  no  de  guar* 
das  sopranumararios  da  alfandega. 

ÀrrabaUei  dei  eidade*  —  A  terra  firme,  fronteira  á  ilba  de  Moçam- 
bique, distrícto  da  capital,  é  lerritoríp  da  conGgiiraç3o  qam  de  um  semi* 
eirei^  eom  Viu  20  kilomelros  de  comprimento  na  parte  banhada  pdo 
mar,  e  com  10  a  i5  no  interior.  Divide-se  em  differentes  potoaçOes* 

Cabaceira  pequena.  —  Na  extremidade  NE.  está  situada  a  povoaçSo 
de  Cabaceira  Pequena,  defronte  da  fortaleza  de  S.  SebastiSo,  e  na  extre- 
midade do  8.,  em  froale  do  forte  de  S.  Lourenço,  estão  as  de  Sancale  e 
Chaça.  Todas  estas  povoações  s3o  habitadas  por  mabometanos.  lem  bas- 
tantes casas  de  pedra  e  boas  mesquitas; 

Eobre  as  minas  dos  edificios  airtigos  da  Cabaceira  Pequena  eneon- 
tram-M  as  da  igreja  de  S*  Joio,  do  tempo  em  que  foi  babitada  por  chrte- 
tloe  pMlogueaes.  Bsta  localidade  está  quasi  despida  de  arvoredo  e  desti- 
tuída de  cultura. 

Sancule  e  Cbaça  sao  pontos  bonitos,  tendo  esta  bons  e  bem  tratados 
palmares.  Os  babitantes  empregam*se  no  fabrico  de  loiça  de  barro  e  na 
agriciritura,  eforMcem  a  cidade  de  legumes,  fructas,  caça  e  outras  cousas. 

Os  babitantes  da  Cabaceira  Pequena  empregam-se,  uns  no  corte  de 
madeiras  nos  sertões  do  districto,  para  fazer  vigas,  barrotes,  tábuas 
e  cavernas  para  barcos,  que  vendem  no  mercado ;  outros,  porém,  appli- 
cam^se  ao  eommercio  em  vários  pontos  da  costa  e  no  serviço  de  marínbei- 
ros.  As  mottieres  pretas  trabalham  na  fabricação  do  cairo  e  de  loiça  de  bar- 
ro, e  as  braicas  em  fazer  canudos  para  fumar  e  barretes  de  algodão  branco 
bordados  (coifios)  que  os  mouros  usam,  e  em  outras  pequenas  indus- 
trias. 

(faceira  Qrtmáe.  —  A  Cabaceira  Grande  è  uma  aldeia  próxima  á 
Cabaceira  Pequena  e  dividida  d 'esta  por  um  braço  de  mar,  que,  na  occa« 
siSo  da  vasante,  se  atravessa  a  pé  enxoto.  É  menos  povoada,  e  seus  mo- 
radores s3o  todos  cbristSos. 

Ha  ali  boas  casas,  e  a  igreja  parochial  é  consagrada  a  Nossa  Senhora 
dos  Remédios.  Não  se  sabe  com  certeza  quem  foi  o  fundador  do  templo, 
mas  soppõe^e  ser  obra  dos  jesuitas,  por  ter  sido  a  igreja  parocbiada  por 
etles  alé  á  extincçio  da  companhia  de  lesos. 

Esta  igreja  tem  um  só  altar  e  mna  confraria,  intitulada  de  Nossa  Se- 
nhora dos  Remédios  da  Cièaceira  Grande,  a  qual  foi  institoida  em  1775. 
Contigua  ao  t^npio  havia  uma  espaçosa  casa  para  residência  do  parocbo, 
a  qual  se  acha  boje  em  completa  rurna. 

O  districto  d'esta  freguezia  é  todo  cultivado,  apresentando  um  aspe- 
cto agradável  e  civilisado.  Os  palmares  e  laraojaes  são  próximos  da  praia 
e  nos  alios  estão  as  maxambas. 


As  laraDJas  são  excellentes,  e  frequenlemefite  exportadas  para  Bom« 
baim,  oDde  téem  fácil  venda. 

A  maior  parle  dos  palmares  não  apresentam  boa  vegelaçãOi  devido  4 
má  qualidade  do  terreno  ^ 

Ha  n'este  districto  numerosos  rebanhos  de  gado  vaccum  « ianigero. 

Não  tem  agua  nativa»  mas  ha  poços  d'onde  se  tira  boa  agua. 

Para  se  fazer  idéa  dos  palmares  dá-se  uma  vista  ^  do  que  perteuea 
aos  herdeiros  do  falleeido  brigadeiro  Cândido  da  Costa  Soarea#  a  quem 
aquelle  districto  deve  uma^boa  parte  do  seu  afonuoseamento'. 

Dá-se  outra  vista  de  um  caoúnbo  onde  ha  uma  palmeira  iN^ava^  e  uma 
arvore  denominada  mulambeira,  que  abunda  na  p^ovineia. 

Entre  a  Cabaceira  e  a  Mapeta  enconlra-se  um  bom  logar  para  embar^ 
que,  mesmo  na  baixamar  das  grandes  marés.  A  vista  que  sa  apreaenla  é 
a  de  um  palmar  existente  no  ponto  denominado  Ponta  de  Moraugul^ 

Mapeta.— È  uma  pequena  aldeia  habitada  por  pouca  gema  livre  e 
por  alguns  libertos  que  se  occupam  na  cultura  das  propriedades  dos  seus 
patrões. 

A  maior  parte  do  terreno  está  cteserto»  havendo  mato  baldio  e  9rf&^ 
ros  silvestres. 

Mossurti. — É  uma  grande  aldeia  onde  ha  gente  livre  de  todas  as 
raças. 

O  districto  é  muito  arborisado,  com  extensos  palmares  e  bons  poma- 
res, em  que  a  maior  parte  dos  proprietários  de  Moçambicpie  téem  casM 
de  campo. 

Antigamente  havia  n'esta  aldeia  um  batalhão  d8  caçadores  de  seguftda 
linha,  formado  dos  moradores. 

Tem  um  mercado  diário  ou  bazar»  onde  se  encmitram  qoasi  lodos  os 
objectos  de  consumo  ordinário,  e  quasi  todos  os  dias  a  eUe  coiíoofrrai 
muitos  pretos  do  sertão  (macuas)  com  differentes  géneros,  aves  e  en»^ 
das  para  vender. 

Alem  do  bazar,  ha  lojas  onde  se  vendem  fazendas,  diversas  bebidas^ 
etc.  É  d*esta  aldeia  e  do  districto  de  Ampapa  que  se  abastecem  de  vive- 
res e  géneros  necessários  á  vida  a  cidade  e  os  navios  que  demandam  o 
porto. 

A  igreja  parochíal  d'esta  grande  povoação  é  dedicada  a  Nossa  Senho- 

^  Todos  03  da  firovioeia  são  inferiores  aos  belios  palcnares  ée  Goa. 

2  Nao  nos  foi  possivel  apresentar  a  vista  geral  do  sitios  lao  piltoreacosw 

3  Veja-sc  a  gravura  designada  por  Habitação  das  herdeirM  do  brigadeiro  Can- 
âiáo  da  Coiía  Soares,  na  Cabaceira  Grande. 

*  Veja-se  a  gravura  Palmeira  brava  e  uma  mnlambeira  na  Cabaceira  Grande. 
5  Veja-se  a  gravura  Palmar  na  ponta  do  Morangnl. 


268 

ra  da  Conceição.  Está  edificada  em  sitio  sobranceiro  ao  mar.  Ignora-sc 
a  era  da  fundação  e  o  nome  do  fundador,  e  só  se  sabe  que  o  capitão 
general  Baithazar  Manuel  Pereira  do  Lago,  que  governou  a  província 
desde  1765  a  1779,  em  que  morreu,  a  reedificou  por  estar  muito  ar- 
ruinada. Tem  ligada,  da  parte  do  mar,  uma  casa  de  campo,  destinada 
para  os  governadores  geraes,  com  uma  cisterna  c  um  bom  pomar  de  la- 
ranjas. 

O  templo  tem  só  o  altar  da  capella  mór,  com  um  bello  retábulo  guar- 
necido de  rica  e  bem  lavrada  obra  de  talha  dourada. 

Postoque  a  agricultura  se  tenha  desenvolvido  bastante  n*estes  últimos 
tempos  em  todo  o  território  pertencente  ao  districto  da  capital,  comtudo 
as  cercanias  de  Mossuril  levam  vantagam  a  todas  as  outras  aldeias.  A  sua 
cultura  parece  ser  mais  dilatada  e  mais  variada,  em  rasão  do  abasteci- 
mento para  a  cidade,  porque  d*ali  se  obtém  arroz,  feijão  branco,  encar- 
nado e  frade,  fava,  chicote,  jugo,  ervilha,  milho  de  duas  qualidades  deno- 
minadas grosso^  8  fino,  gergelim,  amendoim,  maraca,  muxiri,  mafurra, 
coco,  manga,  ata,  caju,  annanaz,  laranja,  limão,  toranja,  cidra,  banana^ 
goiaba,  amora,  jagoma,  jambo,  jambellão,  melão,  papaia,  romã,  maçã 
silvestre,  carrapato,  purgueira,  couve,  repolho,  alface,  nabo,  cenou- 
ra, rabanete,  rábano,  tomate,  alho,  cebola,  agrião,  salsa,  coentro,  hor- 
telã, mostarda,  pimenta  de  diversas  qualidades,  gonça linho,  abóbora 
carneira  e  menina,  bendas  ou  quiabos,  pepino,  gengivre,  açafrão,  be- 
ringella,  bretalha,  café,  canna  de  assucar  (branca  e  vermelha),  ba- 
tata doce  de  duas  qualidades,  mandioca,  inhame,  inchiquilhe  de  que 
se  faz  polvilho,  algodão  de  differentes  qualidades,  sumaúma  e  seda  ve- 
getal. 

Ha  ali  muita  creação  de  gado  de  todas  as  espécies,  assim  como  aves 
domesticas:  gallinhas,  perus,  patos  marrecos  e  manilhos,  gallinhas  do 
mato  ou  da  índia,  pombos  e  outras  aves. 

No  ponto  mais  elevado  de  Mossuril,  onde  ha  o  mercado,  está  construí- 
do o  forte  de  S.  José,  pequeno  reducto  que  domina  a  langua^. 

É  de  antiga  data  a  fundação  d'este  forte.  Foi  reconstruído  em  1 758 
por  ordem  do  capitão  general  Pedro  de  Saldanha  Albuquerque^.  Tem  um 
excellente  quartel  ha  pouco  construído,  que  o  fecha. 

1  Ao  milho  grosso  dão  o  singular  nome  de  c burro». 

2  É  este  o  nome  que  no  paiz  se  dá  aos  terrenos  baixos  e  planos,  onde  entra  u 
mar  nas  grandes  marés. 

3  Por  ordem  do  governador  geral  João  Tavares  de  Almeida,  foram-lhe  feitas 
algumas  obras.  A  artilhería  e  os  reparos  das  peças  estão  inúteis;  algumas  carona- 
das  que  tem  foram  do  brigue  Tejo;  não  podem  fazer  fogo  por  estarem  montadas 
em  reparos  de  marinha. 


269 

O  terrcDO  comprebendido  entre  a  Cabaceira  Pequena  e  Mossuril,  fron- 
teiro á  ilha,  forma  com  a  bahia  de  Gonducía  mna  peninsula. 

Industria. — Â  industria  d*este  districto  e  a  das  ilbas  de  Cabo  Delgado 
e  Angoche  limitam-se  pouco  mais  ou  menos  ao  fabrico  de  óleo  de  gerge- 
lim,  amendoim  e  coco  para  o  conaumo,  por  um  processo  antigo  e  pre- 
jQdicial  ao  industrial  pelo  desperdicio  que  lhe  causa;  fabrica-se  também 
louça  de  barro  para  consumo  e  exportação»  quiçapos,  alcofas,  esteiras 
grandes  e  compridas,  ditas  pequenas,  finas  e  grossas,  barretes  e  chapéus 
de  palha,  charuteiras,  cairo  para  cabos  das  embarcações  e  para  outros 
misteres,  e  de  que  se  exporta  algum  S  aguardente  de  caju,  de  canna  e  de 
sara,  vinagre  de  sura  e  de  canna,  farinha  de  mandioca  e  de  tapioca,  man- 
teiga fresca,  queijo  fresco,  jagra  de  canna,  cal  de  pedra  e  de  conchas. 

Pesca.  — Só  para  consumo.  Podia  fazer-se  em  grande  escala  nas  ba- 
hias  de  Fernão  Velloso,  Gonducia  e  Mocambo. 

O  peixe  que  n'ellas  abunda,  depois  de  convenientemente  preparado, 
secco  ou  salgado,  levado  aos  mercados  da  Reunião  ou  Maurícias,  nSo  daria 
prejuízo. 

Macaxoxo  ^.  —  Bicho  do  mar,  de  que  as  praias  de  Moçambique  s3o  co- 
bertas, e  ninguém  faz  caso,  sabendo-se  que  os  chins  o  consomem  e  pagam 
por  bom  preço ;  também  tem  prompta  venda  nas  Maurícias,  para  a  coló- 
nia china  que  ali  ha. 

Cauril.— Búzio  pequeno  que  nas  praias  apparece  em  grande  quanti- 
dade, especialmente  na  baixamar  de  aguas  vivas;  o  fino  regulava  ulti- 
mamente por  GOO  réis  a  panja  (24^15).  Depois  de  escolhido  e  preparado, 
è  exportado  pelas  casas  francezas  para  a  Costa  da  Mina,  onde  corre  como 
moeda,  e  serve  também  para  enfeites  dos  indígenas. 

0  refugo  vale  a  quarta  ou  quinta  parte  menos;  exporta-se  para  Bom- 
baim e  de  lá  para  outras  partes,  para  outros  misteres. 

1  A  fabricação  do  cairo  é  imperfeita  e  penosa.  A  casca  do  coco  emquanto 
câtá  verde,  a  qno  no  paiz  se  dá  o  nome  de  macume,  enterra-se  na  praia  pelo 
espaço  de  dois  a  trcs  mezes,  e  em  sitio  onde  a  maré  a  cubra;  passado  este  tempo 
é  lavada  c  collocada  sobre  um  cepo  e  batida  com  um  pau  para  se  despegar  a  fibra^ 
a  que  dào  o  nome  de  sumba,  e  exposta  ao  sol;  depois  de  secca  separam-se^  á  mâo 
as  fibras  grossas  das  finas  e  formam  pavios  meio  torcidos  sobre  as  pernas  nuas; 
obtida  uma  porção  doestes  pavios,  torcem- se  entre  as  mãos  levantadas,  e  assim  vae 
saindo  o  fio  torcido.  Por  este  processo^fazem  as  mulheres,  que  são  quem  se  empre- 
gam mais  n'esto  serviço,  150  a  160  metros  por  dia,  desde  que  batem  o  macume. 

2  O  preparo,  segundo  o  processo  que  usam  em  Madagáscar,  consiste  em  abrir 
o  peixe,  tírar-lhe  o  abdómen,  laval-o,  e  dar-lhe  uma  pequena  fervura,  e  secca- 
se  depois  ao  sol.  Algumas  porçues  d*elle,  preparado  por  esta  forma,  foram^  por  ex- 
periência, ha  tompo  mandadas  á  China,  e  chegaram  a  Hong-Kong  em  bom  es- 
tado. 


8?C 

AfadMra#«^0  pau  preto  (ebéoo  e  pau  ferro),  mocorusse,  imbilia,  etc., 
abaDdam  em  todo  o  sertio ;  e  á  pma,  arvora  que  cresce  dírdta  e  a  uma 
alMM  ^Mraofdffiaria,  de  que  na  Índia  se  fazem  mastros  para  navios,  tem 
sido  uitíiiamente  semeada  e  produz  bem.  A  madeira  è  vermelha.  A  se* 
mente  è  «orno  ts  bolotas. 

Cú^.  -^  Nasce  mesBio  sem  cultura,  e  akida  assim  é  o  melhor  e  o  mais 
aromático  das  nossas  colónias,  e  pouco  differê  em  sabor  do  de  Moka. 

Muitos  dos  caflszeífos  que  aformoseíaai  e  formam  as  ruas  de  alguns 
patauR^  eti  Sfosrartl  e  Cabaceira  crescem  á  sombra  das  mangueiras  e 
de  outras  arvores  frondosas. 

É  notável  encontrar-se  o  café  n^estes  logares,  e  presume*se  que  seja 
levado  para  ali  pelos  pássaros,  que  o  deixam  cair  ao  tirar  a  pellicula  ma- 
dwa  que  o  envolve,  e  que  vio  buscar  aos  cafezeiros  ao  approximar-se  a 
colheita. 

ITeitas  circumstaocias  a  semeni6n*a  é  segura  e  a  planta  desenvolve-se 
rapídaÉMite,  mquanto  que,  cuittvando-se  com  cuidado  e  trabalho,  custa 
mais  a  vingar. 

Tsmbem  ha  muitos  cafeseiros  bellos  e  frondosos,  reproduipdos  por 
esMeat  qué  tfo cortadas  nas  arvores  silvestres,  e  depois  de  limpas  dos  ra- 
mos enterradas  no  chio  no  couieço  da  estaçio  chuvosa.  É  preciso  porém 
no  tempo  secco  deitar-lhes  algumas  gotas  de  agua,  isto  nos  primeiros  an- 
nos, «  prodUMB  depois  magniflco  café. 

N90  oMante  a  facilidade  da  cultura  d'este  producto,  como  se  vê,  e  do 
valor  q«e  tem,  apenas  apparece  no  mercado  o  preciso  para  consumo  pelo 
preço  de  4|000  a  7^9)000  réis  por  16  kilogrammas. 

Algodão.  —  É  espontafteo,  e  são  differentes  as  qualidades  que  ali  se 
dSo,  e  entre  as  sementes  de  fdra  sSo  as  do  Egvpto  que  produzem  melhora 
Tabaco.  —  É  de  boa  qualidade  e  é4he  favorável  o  terreno.  O  que  ap- 
parece no  mercado  vem  do  interior,  e  c  comprado  para  consumo  e  ex- 
porto^i»  para  a  India^ 

AmH. — A  ponta  da  itha  ao  9.  e  o  continente  estão  qoasi  sempre  co- 
bertos d*el(e,  mas  é  completamente  desprezado.  Pelas  experiências  diver- 
sas vezes  feitas  conheceu-se  ser  de  superior  qualidade. 

Casma  de  assucar. — Produz  bem  e  de  todas  as  qualidades  nos  t^- 

1  Ifa  expesíçie  de  Paris,  em  IS57,  mereceu  menção  homrosa  o  algodão  d'esta 
qualidade,  prodiKido  na  propriedade  de  Namiole  de  J.  Z.  X.  Alves^  e  no  qalotai 
da  casa  da  ddade  na  nia  do  Conselheiro  Leal. 

^  Vende-se  no  mercado  a  rasão  de  4  e  6  réis  a  roda,  do  peso  de  1^377  a 

O  preparo  consiste  em  ser  posto  ao  sol  para  seccar,  e  dq)ois  rednzíl-o  a  tran- 
ças e  estas  a  rodas,  e  assim  é  vendido  no  mercado. 


Í7I 

fBQOft  fineseoi,  e  meihor  nas  margeu  dos  ribeiros.  Nãa  obstante,  tíú  ha 
grande  cultura  d'este  prodacto  tão  Talioao. 

Em  MigoríDe,  districto  de  Mossuríl,  na  casa,  cuja  gra\m  aa  apraaen- 
US  fez-fls  ha  annos  assucar  e  aguardeate,  e  ainda  li  extalefflaiii  poaio  pe- 
queno os  uteosilios  para  o  fabrico  e  disiiilaçie,  trazidos  de  Baçaíai^  Tan- 
beaa  ha  algws  iostruiiieBlos  agrários  modernos '. 

Trt^o. — ^Produz  bem,  sendo  boa  a  semente;  c  semeado  nas  lagoas  de- 
pois de  colhido  o  arroi;  mas  o  melhor  de  toda  a  provinda  e  superrar  ao 
do  Gates  (índia)  é  o  do  distríeto  da  Zaoibezia. 

irraz. — Produz  bem  no  districto  da  c^tal,  porém  apeoas  se  aemeia 
o  preciso  para  consumo.  O  melhor  da  província  édeSofalaeInhambane. 

O  districto  da  Zambezia  exporta  bastante,  especialmente  para  Bour- 
bon e  outros  portos. 

Gergelim  e  amendoim. — Como  estes  prodoetos  téem  {HXNnpta  venda, 
são  semeados  em  grande  escala  em  toda  a  prorincia.  O  processo  de  se- 
Bienteira  è  rude  e  imperfeito^. 

JUamUoea. — A  pUutação  doeste  prodoeto  è  sempre  grande,  por  ser  o 
principal  sustento  dos  pretos.  Cortada  e  secca  ao  sol,  dum^-se  macaca. 

Abundam  as  abelhas  no  districto  da  capilal,  mas  eorao  os  indígenas 
Bio  sabem  tirar  partido  d'eHas,  queimam  muitas  vezes  os  enxames  t 


1  Yeja-se  a  gravura  designada  Casa  de  camfo  dê  Rita  Jãtet  sm 

2  Esta  casa  foi  edificada  em  1864  por  J.  Z.  X.  Alves»  em  um  palmar  á  borda  da 
grande  langoa,  chamada  de  Mossuril;  tem  agradável  vista.  Da  margem  opposta  da 
langoa,  está  o  palmar,  com  boa  casa,  dos  herdeiros  de  Urbano  da  Costa  Mattoso;  as 
maxambas  de  vários  proprietários,  e  a  estrada  real  para  o  sertio  sSo  sempre  ttmito 
transitadas  pelos  iadigenas;  também  se  vé  e  mofite  do  Pia  A  casa  tesi  na  frente 
um  pequeno  jardim  com  flórea,  boa  horta,  um  pequeao  poiar,  e  ciaeo  pés  de  ofi- 
veira  idos  do  reino  dispostas  ha  quinie  asnos,  mas  que  aãú  dão  fructo.  OoMs  ar- 
vores de  fructas  do  reino  foram  pordifTerentes  vezes  ali  plantadas,  crescsram>  mas 
nâo  vingaram.  Os  bacelos  da  ava  de  arinto  e  moscatel  de  Setúbal,  produziram  pouco  e 
seccaram  em  breve.  A  uva  ferral  produz  bem.  A  laranja  é  excellente,  e  embtfeada 
a  graael  tem  chegado  a  Bombaim,  com  perto  de  trinta  dias  de  Tiagen,  apenas  com 
o  prejuízo  de  ^  por  eeutof  Algumas  vezes  ali  se  téem  vetdids  a  MíStíO  léis  e  auus 
o  cento.  A  canella  de  Ceylào,  a  papoula  de  Bombaim  (ópio),  a  pimenta  da  Goa,  o  cravo 
de  Zanzibar,  e  algumas  fructas  de  Bourbon  edaMaiotta  ali  se  cultivaram,  mas  nao 
vingaram.  A  baunilha  produz  perfeitamente,  assim  como  a  arvore  chamada  puoa^ 
e  a  areca. 

É  a  ultima  casa  de  Mossuril. 

3  Consiste  primeiro  em  roçar  os  campos,  empregando  para  isso  o  fogo;  depois 
fazem-se  covas  a  pequenas  distancias  umas  das  oi:Éras,  com  enxadas  eoa  fitoma  de 
pás,  deila-se-Ihes  a  semente  aos  punhados,  e  eobrem-se  de  terra.  Qaaadoa  senenfee 
rebenta  e  a  planta  attinge  a  altura  approximadamente  de  â2  eentimetrat^  sao  tira- 
dos alguns  pés  das  covas  e  plantados  em  outro  logar.  O  mesmo  smccede  côas  o  ar- 
roz, trigo,  milho  fino  e  grosso,  etc. 


272 

Borracha.— k  arvore  da  borracha  eocontra-se  em  muitas  partes,  e 
a  exportação  d'este  producto  tem  augmentado  consideravelmente  n'estes 
últimos  tempos. 

Baunilha. — Produz  perfeitamente,  e  podia  ser  um  bom  ramo  de 
commercio,  mas  não  a  sabem  preparar  para  produzir  a  flor.  Em  Bour- 
bon ba  grande  cultura  d'esta  planta,  que  sempre  se  vende  por  bom 
preço. 

Areca.  —  Gonstitue  um  ramo  importante  de  commercio  em  todo  o  In- 
dostão e  Malabar.  Em  Moçambique  produz  bem  nos  terrenos  frescos, 
mas  nSo  a  cultivam;  a  que  consomem  os  banianes  e  os  mouros  é  impor- 
tada das  ilhas  de  Cômoro  e  da  índia. 

População. — Os  pretos  (macuas)  sâo  em  geral  estúpidos  e  maus; 
,  mas  os  livres  e  libertos  que  ha  nas  povoações,  são,  pela  maior  parte,  in- 
dolentes, crapulosos  e  insignes  ladrões. 

Os  macuas  téem  completa  negação  para  aprender  officios  ou  receber 
qualquer  grau  de  instrucção.  Os  mujaus,  ao  contrario,  aprendem  tudo 
com  facilidade  incrível :  os  melhores  carpinteiros,  pedreiros,  calafates,  co- 
zinheiros e  alfaiates,  que  existem  na  capital  e  no  Ibo,  são  na  maior  parte 
escravos  que  os  senhores  mandaram  ensinar. 

Os  muizas,  mais  intelligentes  e  socegados,  são  os  verdadeiros  nego- 
ciantes do  sertão  ^  A  sua  maneira  de  tratar  differe  da  dos  outros  pre- 
tos; não  usam  de  armas  de  fogo,  mas  trazem  arco  e  flexa. 

As  enxadas  de  que  os  indigenas  usam  para  a  cultura  e  amanho  das  ter- 
ras são  fabricadas  pelos  pretos  do  interior  (macuas)  que  residem  ao  pé 
de  Mossuril,  a  quatro  dias  de  caminho,  e  que  as  vem  vender  ao  ba- 
zar de  Mossuril  e  outros  pontos  do  districto  por  50  a  70  réis  cada  uma. 
São  em  forma  de  pá  com  um  bico  para  encabar.  O  ferro  é  de  tão  boa 
qualidade,  que  no  arsenal,  puchando-o  á  fieira,  fazem  d'elle  magnifico 
arame.  Dizem  estes  pretos  que  nas  suas  terras  ha  muito  ferro  e  carvão 
de  pedra'. 

Os  costumes  dos  pretos  do  interior  divergem  pouco  uns  dos  outros : 
adoram  idolos  e  são  em  geral  supersticiosos.  Os  que  habitam  as  praias 
seguem  o  chrístianismo  ou  o  islamismo,  isto  é,  os  escravos  ou  libertos 
seguem  geralmente  a  religião  dos  senhores  ou  patrões.  Ao  maior  numero 
agrada  o  islamismo,  naturalmente  pelo  que  vêem  praticar  aos  musulma- 


1  Ainda  não  ha  muito  tempo  que  os  pretos  vinham  periodicamente  estabele- 
cer feira  em  Mossuril,  com  marfim,  oiro  em  pó,  malaquite,  cobre,  etc.;  porém  de- 
pois que  alguns  régulos  os  bateram  e  roubaram  na  retirada  não  mais  voltaram : 
téem  ido  para  Zanzibar. 

*  Mácala  maluco. 


273 

nos.  Estes  catbechisam,  emquaoto  que  da  nossa  parte  pouco  ou  nada  ^e 
faz. 

Cumpre-nos  ãnalmente  indicar  os  meios  que  se  reputam  mais  apro- 
priados para  desenvolver  o  commercio  e  a  agricultura  na  província  de 
Moçambique. 

A  capital,  que  devia  ser  o  melhor  dos  seus  districtos,  é  o  que  está  em 
peiores  condições  I  Uma  das  causas  principaes  que  impede  ali  o  desen* 
volvimento  da  agricultura  e  a  formação  de  importantes  emprezas,  é  a 
falta  de  segurança  individual ;  se  a  houvesse  já  ha  muito  se  teriam  coa- 
slituido  emprezas  para  a  plantação  em  grande  escala  da  canna  e  fabrica- 
ção do  assucar,  assim  como  do  algodão  e  outros  géneros  agrícolas  a  que 
o  solo  se  presta . 

Por  vezes  se  tentou  a  formação  de  uma  associação  agrícola,  mas  a 
falta  de  segurança  arrefecia  logo  os  ânimos ;  e  emquanto  o  governo  não 
poder  attender  a  esta  importante  e  principal  questão,  pouco  mais  se  pode 
esperar  da  agricultura,  porque  nem  os  particulares  nem  as  emprezas  ar- 
riscarão capitães  sem  a  devida  protecção. 

Sem  a  segurança  individual,  que  importa  que  o  café  nasça  sem  cultura, 
que  o  tabaco  e  o  algodão  cresçam  espontâneos,  que  a  cochonilha  prospere 
e  o  anil  forme  um  tapete  constante  de  verdura? 

Que  importa  que  haja  minas  de  oiro,  ferro  e  carvão? 

Que  valem  tantas  riquezas  encerradas  n'esta  vasta  colónia,  se  se  não 
podem  explorar  por  falta  de  s^urança  publica  ? 

É  este  o  principal  ponto  a  que  temos  de  attender  para  se  promover 
a  colonisação. 

Á  vista  do  que  se  acha  exposto  não  nos  é  possível  fundamentar  as 
nossas  considerações  com  respeito  á  colonisação  e  aclimação  da  provín- 
cia de  Moçambique,  poisque  podemos  ser  levados  em  erro,  attentas  as 
condições  actuaes  que  ali  se  notam.  Onde  falta  a  colonisação,  a  salubri- 
dade e  insalubridade  mal  podem  ser  estudadas. 

Apesar  de  taes  diiDculdades  procurámos  obter  informações  sobre 
este  assumpto.  Pessoa  competente  e  a  quem  devemos  a  descrípção  do 
distríctp  de  Moçambique  julga  que  para  se  promover  o  progresso  e  a 
agricultura  é  indispensável  attender,  entre  outras  muitas  cousas,  aos  se- 
guintes meios  : 

i .°  Acabar  com  os  checados  de  Sancule  e  da  Quitangonha»  ao  N. 
e  ao  S.  da  capital  e  distríctos  d'eila.  Esta  medida  reputámol-a  de  instante 
necessidade,  porque  aquelles  checados  se  oppõem  ao  desenvolvimento 
da  província. 

2.°  Estabelecer  n'esles  pontos  colónias  agrícolas,  especialmente  na 
Quitangonha  em  que  os  terrenos  são  magníficos.  Onde  está  a  montanha  da 

18 


â74 

Mesa  ^  ba  todos  os  elementos  para  a  formação  de  povoação  e  defeza, 
principalmente  na  Cbicoma  á  beiramar. 

3.^  Outra  colónia  composta  de  degredados  que  foreia  chegando  á 
província,  deverá  estabelecer-se  nas  proximidades  do  rio  Monapo^  ou  em 
Nouvera  a  três  boras  de  caminbo  de  Mossuril,  onde  ba  boa  agua  e  terre- 
nos appropriados  para  todo  o  género  de  cultura. 

4.®  N'estas  localidades  serão  antecipadamente  formadas  casas  de  ma- 
deira cobertas  de  telba,  a  qual  já  lá  se  fabrica,  para  receber  os  coloQOS 
que  íbrem  chegando,  tendo  cada  colónia  uma  enfermaria,  facultativo  e 
ambulância,  a  fim  de  não  succumbir  á  nascença,  como  succedea  á  de 
Pemba,  que  sem  piedade  foi  lançada  em  um  terreno  pantanoso  e  com 
cobatas  cobertas  de  palha,  como  as  dos  negros,  para  abrigo  d'aquella 
pobre  gente,  que  no  tempo  da  chuva  chegou  a  ter  a  agua  peto  joelho  ^,  e 
que  por  isso  tão  depressa  se  aniquilou. 

5.^  Âos  colonos  deverão  entregar-se  alguns  cavallos  e  éguas,  não 
só  para  o  seu  serviço  e  da  colónia,  mas  também  para  defeza  d*ella,  por- 
que um  homem  a  cavallo,  por  pequeno  que  este  seja,  infunde  mais  res- 
peito nos  sertões  de  Moçambique  do  qué  se  for  bem  armado  ^.  Os  cavallos 
em  Bombaim  são  muito  baralos,  e  os  indivíduos  a  quem  fossem  entjre- 
gues  deviam,  passado  algum  tempo,  índemnisar  o  governo  da  importân- 
cia por  que  os  comprassem. 

6.®  Â  cada  colónia  deverão  ser  entregues  os  precisos  instrumentos 
agrários  modernamente  adoptados,  %  eas»es  de  carneiro»  ãA  colónia  do 
Cabo»  para  ensaiar  a  propagação  da  casta,  os  quaes  téem  magnifica  lã, 
que  tão  importantes  lucros  ali  dá. 

7.^  Os  ammaes  empregados  na  lavoura  devem  ser  búfalos,  nao  só 
pela  sua  grande  força,  como  porque  resistem  flieihor  ao  clima.  Na  índia 
ingleza  e  mesmo  na  por tugueza  é  este  o  gado  que  mais  se  emprega. 

8.°  Âs  colónias  devem  ser  compostas  de  geaie  de  todas  as  raças 
que  n'ellas  se  quizerem  estabelecer,  sujeitas  a  um  chefe. 

9.°  Para  mm  fácil  augmento  da  população  e  para  que  a  emigração 
se  encaminhe  para  Moçambique,  deverá  o  governo  o^  empreza  mandar 
duas  vezes  no  anno,  e  em  tempo  próprio,  um  transporte  com  escala  pela 
Madeira,  Cabo  Verde,  Loanda,  Benguella  e  Mossamodes,  onde  previa- 

•> 

1  Em  1875  foi  rectificada  a  posição  d*esta  montanha  próximo  da  capital  pelo  te- 
nente da  marinha  britannica  encarregado  dos  estudos  hydrographicos  Francisco  J. 
Gray,  e  reconheceu-so  estar  em  14»  42'  43'  de  latitude  L.  e  40"  39'  30''  de  longi- 
tude a  L.  de  Greenwich:  a  sua  altura  é  de  461'°,35. 

2  O  rio  de  Monapo  desagua  na  bahia  do  Mocambo. 

3  Assim  o  contaram  os  colonos. 

^  Cavallo  é  animal  que  come  ferro,  dizem  os  indigen&s. 


27o 

mente  se  annuDciar á  a  epocba  da  sua  cbegada  e  o  Gm  a  que  lá  vae,  que 
é  o  de  transportar  gratuitamente  a  Moçambique  os  colonos  e  suas  famí- 
lias, de  qualcpier  raça  ou  casta,  que  quizerem  estabelecer-se  na  pro- 
víncia. 

iO.®  Depois  da  chegada  a  Moçambique  partirá  o  transporte  para  Goa, 
Diu,  Damão  e^  Bombaim,  cosa  o  mesmo  fim,  e  onde  se  farão  também 
idênticos  annuncios.  Na  volta  de  Goa  e  Bombaim  podem  ser  transporta- 
dos o  gado  cavallar  e  os  búfalos  para  o  fim  já  dito  ^ 

1 4  .^  No  império  do  Brazíl  ha  bastantes  portuguezes  que  desejam  reti- 
rar-se,  e  a  quem  faltam  os  meios  para  sair  d'ali ;  e  muitos  d'elles,  pelos 
conhecifflenCos  que  téem  da  cultura  das  plantas  tropicaes  e  da  fabricação 
do  assucar,  seriam  de  grande  utilidade  para  Moçambique.  Auxiliar,  pois, 
a  immigraçSo  d'aqueUa  gente  é  negocio  muito  importante. 

A  colónia  de  Mossaiaedes  formou-se  com  portuguezes  saídos  de  Per- 
nambuco em  navios  de  guerra. 

iS."*  A  gente  do  Minho  e  das  ilhas  dos  Açores,  que  tanta  tendência  tem 
para  a  emigração,  era  conveniente  que  fos^e  encaminhada  para  a  Africa, 
facilitando-se-lhe  a  passagem  depois  dos  convenientes  annuncios  feitos 
nas  localidades. 

i3.^  Pela  mesma  forma  deveria  a  emigração  ser  encaminhada  para  a 
Zambezía  e  para  outros  pontos. 

Feito  isto  regularmente,  hão  de  as  colónias  vingar  em  poucos  annos, 
porqcie  ^Me  tãtf  ha  de  bltar. 

4  4.°  Os  chins  não  deverão  ser  mandados  á  província  nem  para  colonos 
nem  para  o  serviço  miUter,  porque  já  lá  são  conhecidos  como  jogado- 
res, indoiebtes  e  ladroes.  Nas  Macuricias  não  se  tem  tirado  bom  resultado 
(festa  gente. 

45.^  A  força  armada  deverá  ser  composta  de  500  praças  do  exercito 
do  reino,  destacadas  por  certo  tempo,  que  partirão  opportunamente  com 
o  governador  geral.  O  que  porém  é  necessário  é  que  os  soldados  che- 
guem na  melhor  e{)ocha  do  anno,  e  sejam  rendidos  sem  adiamento.  Os 
seus  quartéis  permanentes  serão,  uma  parle  na  capital  em  Mossuril,  e 
outra  em  Lourenço  Marques,  em  bons  locaes.  Não  farão  serviço  de  guar- 
nição nem  de  policia,  e  só  serão  empregados  em  caso  de  guerra,  no  ponto 

t  A  pessoa  que  nos  indicou  estes  meios  esteve  em  1857  em  Bombaim,  e  com- 
pron  ali  um  bonito  eavallo,  quasi  de  marca,  por  75  rupias  (331^750  réis),  que  ser- 
via para  cavallaria  e  trabalhava  em  carrinho;  e  uma  égua  com  cria,  garrana,  por 
2  libras,  e  conduziu  estes  animaes  para  Moçambique  na  fragata  D.  Fernando. 
Também  n'aque}la  oeeasião  lhe  vadiam  um  casal  de  búfalos  por  i  libra. 

É  portanto  o  eusto  d'estes  animaes  insigniQcanto  em  relação  ao  importante 
serviço  que  prestam  nas  colónias. 


276 

em  que  Torem  precisos.  Isto  não  è  novo :  é  o  que  se  pratica  nas  coló- 
nias próximas,  como  Natal,  Mayotta,  Âden  e  Bourbon '. 

Ití.^  A  guarnição  da  capital  e  suas  dependências,  a  policia  e  a  guarni- 
ção da  Zambezia  serão  compostas  de  praças  indígenas,  asiáticas,  angolenses 
e  caboverdianos.  Os  indígenas  serão  recrutados  nos  districtos  do  S.  da  pro- 
víncia, para  servirem  nos  do  N.,  e  os  d'este  da  mesma  forma  irão  servir 
nos  do  S.  PTesta  troca  ha  conveniência  para  as  localidades  e  para  o  estado. 
Na  capital,  no  Ibo  e  na  Zambezia  os  indígenas  téem  negação  absoluta  para 
o  serviço  militar;  em  se  lhes  assentando  praça,  quasi  todos  desertam 
para  o  sertão,  e  a  fazenda  perde  o  armamento ;  e,  havendo  a  troca,  não 
será  tão  fácil  a  deserção,  por  não  saberem  os  caminhos  para  o  interior 
nem  a  lingoa,  que  em  todos  os  districtos  differe  muito. 

As  praças  asiáticas,  e  as  africanas  de  áquem  do  Cabo,  serão  engaja- 
das para  servirem  por  tempo  de  três  annos  contados  desde  a  chegada  á 
província. 

17.^  Com  a  força  da  infanteria,  que  deve  ter  o  seu  quarlel  perma- 
nente em  Mossuril,  deverá  haver  mais  20  ou  30  praças  de  cavallaria, 
asiáticos,  para  com  o  seu  auxilio  se  poder  soccorrer  qualquer  das  coló- 
nias quando  seja  preciso,  e  para  haver  entre  estas,  por  terra,  a  necessá- 
ria correspondência. 

A  cavallaria  é  muito  conveniente  no  continente  pelo  respeito  que  os 
indígenas  téem  aos  cavallos. 

18.°  A  fortaleza  de  S.  Sebastião  deve  ter  uma  companhia  de  artilhe- 
ria  de  posição. 

19.*^  A  ãscalisação  costeira  desde  Cabo  Delgado  ao  N.  da  capital,  até 
ao  rio  Licungo'  ao  S.,  feita  por  alguns  lanchões  a  vapor  que  visitem  con- 
stantemente as  bahias,  enseadas  e  rias  entre  estes  dois  pontos,  que  actual- 
mente são  focos  de  contrabando  dos  árabes,  é  de  absoluta  necessidade. 
O  mesmo  deve  haver  de  Quelimane  para  o  S.,  por  barcos  maiores,  por 

1  Ainda  em  novembro  de  1875  era  condozido  para  Bombaim  um  regimento 
com  1:000  praças. 

2  Ao  N.  do  Licungo,  em  terras  pertencentes  ao  districto  de  Quelimane,  ba  ferro 
superior  em  qualidade  a  todos  os  conhecidos :  é  mais  escuro  e  oxyda-se  menos,  pó- 
de-se  fazer  d'elle  um  fuzil,  porque  tem  boa  tempera  e  não  carece  de  ser  calçado  de 
aço.  Ha  porém  quem  aflOirme  que  é  de  igual  qualidade  todo  o  demais  ferro  do  paiz. 
O  ponto  ao  N.  do  Licungo,  mais  abundante  de  ferro,  é  a  serra  a  que  os  pretos  cha- . 
mam  Podo,  que  fica  a  cinco  dias  de  marcha  do  Licungo;  ali  mesmo  na  serra  os 
pretos  estabelecem  forjas  de  fundição,  e  sem  empregarem  nenhum  trabalho  de 
mineração,  derretem  a  seu  modo  os  pedregulhos  que  apparecem  á  superflcie 
do  solo,  servindo-lhcs  de  folies  a  pelle  de  um  cabrito  arranjada  em  forma  de 
sacco;  e  assim  fabricam  enxadas,  azagaias,  manilhas  e  arame,  que  a  tudo  se  amolda 
o  ferro  facilmente,  porque  é  muito  maleável ;  as  ferramentas  de  que  se  servem  são 


277 

haver  aqui  também  muito  contrabando.  Sem  isto,  a  provinda  não  pode 
prosperar  com  a  rapidez  que  necessita. 

20.*^  A  navegação,  a  vapor,  nacional,  que  ponha  directamente  em  rela- 
ções a  provincia  com  a  metrópole,  Cabo  Verde,  Angola  e  índia  portugue- 
za,  é  de  absoluta  necessidade  para  a  sua  colonisação  e  desenvolvimento 
agricola  e  mineiro  e  misera  industria;  estabelecida  que  soja  regularmente 
a  navegação,  será  de  grande  vantagem  futura  para  a  Europa  e  para  as  di- 
tas colónias,  e,  sobretudo,  para  a  mãe  pátria.  A  colonisação  só  de  gente 
do  reino  não  é  a  mais  conveniente,  nem  dará  bons  resultados :  precisa  ser 
mixta. 

21."  Feito  o  que  fica  dito,  e  ligada  a  ilha  de  Moçambique  com  o  con- 
tinente pelo  lado  do  S.,  aterrando-se  primeiro  as  margens  de  um  e  outro 
lado,  tendo  ao  centro  arcos  de  pedra  como  tem  a  ponte  chamada  de  Ri- 
bamar em  Goa,  feita  pelo  systema  moderno,  será  de  uma  importância 
incalculável  para  o  engrandecimento  da  capital  e  para  o  continente  fron- 
teiro, pela  força  e  influencia  que  este  centro  de  população  lhe  dará.  Os 
indígenas  do  sertão  depressa  se  civilisariam  pelo  trato  que  facilmente 
teriam  com  os  brancos  da  cidade,  o  que  actualmente  não  succede,  visto- 
que  ainda  estão  como  no  principio  da  conquista,  com  pequena  diílercnç^. 
Entram  em  Mossuril  desconfiados  e  afastando-se  sempre  dos  brancos,  e 
se  alguns  vêem  á  cidade,  trazidos  por  alguém,  ficam  pasmados  ao  verem 
tanta  grandeza  —  a  fortaleza,  casas  de  pedra,  etc.  Este  estado  desappa- 
recerá  ligando-se  a  ilha,  o  que  é  o  mais  natural,  vistoque  para  uma  nova 
cidade  não  ha  logar  próprio  a  não  ser  mais  no  interior. 

A  questão  da  juncção  da  ilha  ao  continente  já  foi  pedida  pelos  mora- 
dores ao  governador  Lacerda,  em  1868*. 

O  commercio  de  Moçambique  é  directo  com  Lisboa,  Inglaterra,  Ame- 
rica, Marselha,  HoUanda,  Bombaim,  Goa,  Damão,  Diu,  Maurícias,  Re- 
união, Zanzibar,  Madagáscar,  Mayotta,  ilhas  de  Cômoro  e  Cabo  da  Boa 
Esperança. 

Importação,  —Algodão  cru,  branco,  tinto,  em  fio  e  em  peça,  estam- 


duas  pedras,  uma  coroo  bigorna  e  outra  como  martello,  e  um  pau  verde  fendido 
n*ama  das  pontas,  como  tenaz,  o  qual  renovam  logoque  se  queima.  As  enxadas  são 
compradas  em  Quelimane  nunca  a  mais  de  V4  de  peso  (215  réis),  e  muitas  vozes  me- 
nos. O  fallecido  João  Bonifácio  Alves  da  Silva  (conquistador  de  Angoche)  remetteu 
em  1861  ao  governador  de  Quelimane  uma  porção  de  ferro  d'aquella  localidade, 
para  se  avaliar  a  qualidade,  e  dizia  que  havia  abundância  d*elle,  bem  como  de  ou- 
ro, óptimo  algodão,  canna  saccharina,  e  varias  sementes  das  quaes  se  extrahe 
óleo;  que  não  eram  necessárias  experiências,  bastaria  só  aproveit(ir  estas  riquezas, 
mandando  para  ali  pessoas  competentes  que  as  extráhiam  da  terra  segundo  a  arte. 
l  Boletim  do  governo,  n."  9,  de  1868. 


pado  de  todas  as  qualidades,  loupas  e  zuartes  da  índia;  da  Europa,  mis- 
sangas de  todas  as  espécies,  pólvora,  arníias,  chumbo,  ferro,  enxadas;  e 
do  reino,  manilhas  de  cobre  e  de  latão,  aramo  do  dito,  aguardente,  vi- 
nhos, e  todos  os  mais  géneros  necessários  á  vida,  calçado,  roupas,  etc. 

Exportação. — Dentes  de  elephante,  de  cavallo  marinho,  pelles  de 
animaes,  cera,  urzella,  tartaruga,  borracha,  gomma  copal,  maná,  cocos, 
cauril,  arroz,  legumes,  esteiras,  laranjas,  cairo,  gergelim,  amendoim,  pur- 
gueira,  malaquita,  oiro  em  pó,  etc. 

Valor  circulante. — Tem  a  capital  em  circulação  seis  differentes  es- 
pécies de  moeda  denominada  provincial;  a  saber:  de  oiro,  de  prata,  de 
cobre,  de  chumbo,  e  duas  edições  de  papel,  que  sao^notas  da  junta  da 
fazenda.  Tem  mais  as  moedas  do  reino  e  as  estrangeiras,  toleradas  por 
decreto  de  29  de  dezembro  de  4852. 

A  moeda  de  oiro  é  a  barrinha  fundida,  pesando  2  7^  maticaes^  que 
vale  6^600  réis,  e  a  meia  barrinha  3/91300  réis.  Barra  de  prata  (deno- 
minada pataca)  pesa  1  onça  (peso  da  província)  e  vale  600  réis.  As  moe- 
das de  cobre  são  cunhadas  e  representam  20,  40  e  80  réis.  Antes  do  ci- 
tado decreto,  corriam  pelo  duplo  da  cifra  do  seu  cunho,  e  depois  por  me- 
tade do  que  representam ;  bazanico  é  moeda  de  chumbo  e  vale  2  7a  réis^. 

  moeda  papel  consiste  em  notas  da  junta  da  fazenda,  do  valor  de 
5^000  e  2^500  réis,  na  importância  total  de  12:000^000  réis,  emittídas 
pelo  mesmo  decreto. 

Foram  emittidos  mais  30:000/^00  réis  em  notas  de  idêntico  valor, 
no  governo  do  general  Amaral,  em  consequência  dos  apuros  em  que  es- 
tava a  provincia. 

Anteriormente  á  fabricação  das  barrinhas,  effectuavam-se  com  oiro 
em  pó  das  minas  da  Zambezia,  e  com  uma  moeda  de  prata  (muito  boa), 
denominada  canello,  as  transacções  e  o  pagamento  aos  empregados. 

Os  canellos,  tendo  alguns  a  era  de  1763,  consistiam  em  moeda  fun- 
dida, muito  mal  feita,  com  o  peso  de  6  onças  (peso  da  localidade).  Di- 
zia-se  que  o  seu  metal  tinha  sido  extrahido  das  minas  de  Chicova. 

As  primeiras  barrinhas  de  oiro  que  se  fundiram  eram  muito  boas, 
e  por  isso  logo  desappareceram  da  circulação,  sendo  substituídas  por 
outras  de  quilate  mais  inferior;  havendo,  porém,  muitas  falsas,  ajuntada 
fazenda,  em  1850,  viu-se  na  necessidade  de  as  mandar  recolher,  para 
carimbar  as  boas  ou  soffriveis,  porque  as  primeiras  já  não  appareciam  no 
'mercado. 

*  Corresponde  a  4  oitavas  do  peso  da  piovinci.i. 

*  Muilo  pouca  ha  actualmenlc.  As  moedas  de  cobre  de  1,  2  e  3  réis  emittídas 
pelo  decreto  de  29  de  dezembro  de  1852  logo  desappareceram  do  mercado  para  evi- 
tar os  conflictos  a  que  davam  logar. 


á70 

O  recenseamento  então  foi  de  2:576  bí^rrinhas  de  oiro,  91  meias  di* 
tas  e  6:708  patacas  de  prata  no  valor  de  85:568^950  réis  fracos,  corres- 
pondente a  21 :326i5(700  réis  fortes. 

O  carimbo  consistiu  em  uma  estrella  no  centro  da  barrinha. 

Ibo.  — Vílla  do  districto  de  Cabo  Delgado,  a  12^  15'  de  latitude  S.  Oseu 
clima  é  muito  sadio ;  tem  numerosa  população.  Fica  ao  N.  da  capital.  Tem 
bastante  cultura  de  productos  oleaginosos,  cereaes  e  legumes ;  produz 
muita  borracha,  gomma  copal,  maná,  urzella,  ele.  O  seu  commercio  tem 
augmentado  consideravelmente  com  o  estabelecimento  das  feitorias  fran- 
cezas.  Exporta  prqductos  iguaes  aos  dos  outros  portos.  Possue  um  pha- 
rolim  na  barra.  A  villa  é  bonita  e  asseiada,  com  edificações  baixas  e  re- 
gulares, e  está  muito  melhorada. 

Angoche,  —  Ponto  ha  pouco  conquistado  que  fica  ao  S.  de  Moçambi- 
que e  a  pouca  distancia  da  capital.  Foi  tomado,  em  26  de  setembro  de 
1862,  pela  expedição  saída  de  Quellmane  e  Licungo  em  meados  de 
agosto  de  mesmo  anno,  commandada  pelo  cidadão  João  Bonifácio  Alves 
da  Silva,  a  qual  era  composta  de  18  soldados,  2  peças  de  campanha  e  os 
competentes  cypaes,  alem  de  aggregados  que  foram  mais  de  1:000*. 


1  Gastaram  vinte  e  quatro  dias  do  Quisungo  a  Angoche  pelo  interior  do  ser- 
tão, atravessando  grandes  n^atas  quasi  intransitáveis^  campos  alagadiças  e  alguns 
rios,  que  apenas  davam  vau  com  agua  pelo  pescoço  dos  homens,  e  em  outros  foi  pre- 
ciso passar  a  nado,  levando  as  bagagens  e  material  cm  jangadas  de  caniço.  Aos  dez 
dias  de  marcha  do  Quisungo  faltaram-lhes  os  mantimentos,  e  estiveram  três  dias  sem 
comer,  ao  quarto  porém  entraram  n'uma  povoação  onde  os  havia  em  abundância. 
Tiveram  diversas  esperas  do  inimigo,  e  uma  d'eilas  no  rio  Mulale,  mas  foi  sempre 
batido.  No  dia  2o  de  setembro  estava  a  expediçiio  próximo  de  Angoche.  No  dia  26, 
ás  oito  horas  da  manha,  marcharam  em  direcçào  á  praia  para  darem  ataque  á  ilha; 
o  fogo  durou  desde  as  onze  horas  da  manhã  até  ás  quatro  da  tarde;  distribuiram-se 
mais  de  40:000  cartuchos:  mas  como  o  fogo  não  diminuissc  do  lado  de  Angoche, 
e  a  maré  começava  a  encher,  o  commandante,  para  animar  os  seus,  passou  para  a 
frente  e  para  o  ponto  onde  só  se  podia  passar  a  vau  com  agua  pela  cintura,  fez  atra- 
vessar a  sua  gente  com  as  cartncheiras  ao  pescoço,  e  avançando  resolutamente  de- 
baixo de  fogo  passou  á  ilha,  aonde  o  inimigo,  dispersando-se,  abandonou  comple- 
tamente a  defeza.  A  ilha  era  defendida,  pelo  lado  por  onde  fbi  atacada,  com  um 
parapeito  de  saccos  feitos  de  palha  cheios  de  areia,  guarnecido  de  artilheria  e  por 
roais  de  10:000  pessoas  com  difTerentes  armas.  O  sultão  Assnne  (Muguata)  fugiu 
n'um  panpaio  para  Zanzibar.  Na  praia,  junto  á  povoação,  havia  outro  parapeito  de 
areia  que  serviu  de  defeza  quando  a  ilha  foi  em  tempo  atacada  por  forças  man- 
dadas de  Moçambique.  Infelizmente  o  chefe  da  expedição  não  teve  o  gosto  de  ver 
a  conchisfio  da  sua  obra,  nem  de  saber  a  maneira  por  (fue  o  governador  geral  con- 
siderou os  seus  relevantes  serviços,  nomeando-o  coronel  de  2.»  linha  da  pi^ovincia. 


) 


280 

Âclualmenle  tem  commandanle  mililar  e  alfandega,  e  uma  guarnição  de 
100  praças  do  balalhao  de  Moçambique.  Exporta  muito  milho  grosso  e 
fino»  esteiras,  borracha,  gergelim  e  amendoim,  tudo  vindo  do  interior. 
  população  é  pequena,  composta  quasi  toda  de  mouros  e  alguns  banea- 
nes,  que  ali  vão  commerciar. 

Anteriormente  á  occupação  o  seu  maior  commercio  era  de  escravos. 
A  terra  é  baixa  e  pouco  sadia,  porém  o  ponto  do  Parapato,  para  onde  ul* 
timamente  se  mudou  a  povoação,  é  muito  saudável,  com  boa  agua  e  bella 
vista.  Os  limites  do  districto  são  ao  N.  as  terras  de  Sangage,  ao  S.  o  rio 
Quisengo  e  a  O.  o  sertão.  Latitude  4G®  37'  e  longitude  48^  T  E.  de  Lisboa. 

Quelimam.—X  villa  de  S.  Martinho  de  Quelimane  está  situada  em  17^ 
52'  de  latitude  S.  e  45^  56'  de  longitude  a  E.  de  Lisboa,  em  terreno  pa- 
ludoso na  margem  esquerda  do  rio  Zambeze,  20  ou  25  kilometros  dis- 
tante da  barra.  É  terra  muito  baixa,  húmida  e  insalubre;  comprehendc 
quatorze  ruas,  oito  travessas,  quatro  viellas  e  sete  largos,  comludo  a  po- 
voação é  grande.  É  a  chave  de  todo  o  commercio  do  rico  e  dilatado  dis- 
tricto do  Zambeze.  Tem  mesquinha  apparencia  e  os  edificios  públicos 
consistem  na  igreja  de  Nossa  Senhora  do  Livramento,  fundada  pelos  je- 
suítas; o  cemitério  que  tem  uma  capella  dedicada  a  Nossa  Senhora  da 
Saudade ;  a  alfandega  com  uma  ponte  de  madeira ;  os  paços  da  camará 
municipal  e  uma  enfermaria  militar. 

As  casas  são  baixas,  mas  com  bastantes  accommodações  e  cobertas 
de  telha ;  as  representadas  na  gravura  são  dos  srs.  José  Mílitão  Nunes  ^  e 
Manuel  Velloso  da  Rocha  ^.  A  villa  n'estes  últimos  tempos  tem  tido  mui- 
tos melhoramentos  e  aformoseamentos ;  depois  da  prohibição  da  cultura 
do  arroz  está  mais  salubre. 

A  barra  tem  um  pharolim  e  balizas  no  banco. 

A  villa  de  S.  Marçal  de  Sena. — Fica  esta  povoação  a  300  kilometros 
de  Quelimane,  na  margem  direita  do  Zambeze;  é  pouco  povoada  e  muito 

poisque  em  seguida  á  occupação  só  pôde  a  custo  officiar  para  dar  parte  do  suc- 
cesso,  succumblndo  logo  a  tantos  trabalhos  e  privações  que  soffreu.  Os  seus  cabos 
de  guerra,  reunidos  em  conselho,  decidiram  não  o  sepultar  em  Angoche,  e  leval-o 
para  Quelimane  d'onde  era  natural  e  proprietário ;  mas  como  lhes  faltassem  os  meios 
precisos  para  o  encerrarem  e  conduzirem^  resolveram  abril-o  e  salgal-o;  e  assim 
convenientemente  embrulhado^  fora  da  popa  da  embarcação  (pangaio)  entraram  com 
elle  em  Quelimane,  sendo  sepultado  aos  3i  de  outubro;  contando  trinta  e  nove 
annos  de  idade. 

1  Yeja-se  a  gravura  que  tem  a  seguinte  designação :  Habitação  do  cidadão  Joié 
Militão  Nunes.  As  arvores  que  se  véeni  em  frente  da  casa  sao  punas. 

2  Idem,  idem :  Habiiação  do  cidadão  Manuel  Velloso  da  Rocha, 


281 

insalubre.  De  quando  em  quando  é  assaltada  pelos  landins,  que  já  lhe 
usurparam  o  território  adjacente  e  lhe  téem  morto  muita  gente. 

A  igual  distancia,  mais  acima,  em  terreno  elevado  e  sadio,  flca  a  villa 
de  S.  Thiago  Maior  de  Tete.  A  população  é  numerosa;  os  edifícios  peque- 
nos e  os  productos  variados.  O  trigo  é  excellente. 

De  toda  a  Zambezia  se  exportam  cereaes  e  legumes  de  todas  as  qua- 
lidades, produzidos  nas  [suas  fertilissimas  terras,  bem  como  dentes  de 
elephante  e  de  cavallo  marinho,  cera,  oiro  em  pó,  pedra  verde,  etc.  Tete 
está  em  uma  zona  de  carvão  de  pedra  e  ferro. 

Próximo  de  Sena  ha  minas  de  ferro,  cobre  e  oiro. 

Zumbo^,—  cDa  villa  de  Tete  para  cima,  na  distancia  de  100  léguas 
(SOO  kilometros)  pouco  mais  ou  menos,  está  a  villa  de  Zumbo,  que  é 
só  habitada  de  nnturaes  de. Goa;  este  caminho  não  se  pôde  fazer  todo 
pelo  rio,  por  não  ser  navegável  o  espaço  de  20  léguas  (100  kilometros). 
Levam  as  fazendas  ás  costas  de  pretos,  desde  Tete  até  Ghicova,  e  d'ali  as 
transportam  embarcadas  em  canoas,  que  do  Zumbo  vem  para  esse 
Qm. 

«Foi  Chicova  celebrada  nos  tempos  pretéritos,  e  muito  mais  pelo 
descobrimento  de  uma  lage  de  prata,  que  n'ella  achou  um  religioso  domi- 
nico  o  padre  Fr.  Serra;  ha  ainda  em  Moçambique  e  Sena  quem  viu  peças 
de  prata  das  que  se  fizeram  da  mesma  lage;  e  nunca  mais  se  descobriu 
n'aquelle  logar  eslc  metal.  Pessoa  que  duas  vezes  esteve  n'esta  povoação 
indagou  com  exacção,  porém  nâo  alcançou  noticia  alguma  de  que  hou- 
vesse ali  prata.  Oiro  ha,  porém  não  quer  o  regulo  senhor  d'aquelle  con- 
tinente ali  deixar  minerar,  pelo  receio  que  lhe  assiste  de  que  lhe  façam 

1  Esta  descripção  é  extrahida  de  um  curioso  livro  publicado  na  ilha  de  Moçam- 
bique em  1858.  Foi  transcripta  do  um  manuscripto  referido  ao  anno  de  1764. 
A  respeito  d'aquelle  ponto  dizia  o  dr.  Livingstone  o  seguinte : 
«A  situação  do  Zumbo  foi  muito  bem  escolhida.  Pelo  lado  posterior  existem  al- 
tas montanhas  cobertas  de  arvores,  de  onde  se  destacam  os  manzanzonés,  que  se 
estendem  pelo  N.  até  á  margem  esquerda  do  Langoa,  e  pelo  S.  se  vé  uma  campina 
extensa  revestida  de  relva,  onde  se  nota  ao  longe  uma  pequena  montanha  redonda 
que  se  chama  Tafonlo :  os  moradores  do  Zumbo  gosavam  nos  seus  balcões  da  ma- 
gnifica vista  da  confluência  dos  dois  rios,  entre  os  quaes  se  elevava  a  igreja,  e  da 
dos  campos  de  onde  elles  colhiam  trigo,  que,  sem  rega,  era  duas  vezes  maior  que 
o  de  Tete.  Do  Zumbo  podiam  penetrar  os  moradores  a  NNO.  pelo  Langoa,  a  SO. 
pelo  Zambeze  e  a  E.  pelo  Kafúe.  Gomtudo,  é  com  o  N.  que  elles  tinham  mais  re- 
lação, e  o  seu  commercio  consistia  principalmente  em  marfim  e  escravos.  Porém 
as  colónias  portuguezas,  sendo  essencialmente  militares,  e  o  soldo  dos  offlciaes  muito 
ténue,  são  estes  obrigados  a  negociarem  para  viverem,  e  empregam  todos  os  meios 
a  seu  alcance  para  concentrarem  o  negocio  nos  togares  que  commandam,  d'onde 
resulta  serem  no  paiz  as  transac4^ões  comroerciaes  muito  limitadas.» 


alguma  guerra  os  outros  régulos,  principaimeote  o  imperador  Mouomo- 
pata,  cujos  estados  com  elle  coufinam. 

«Da  villa  de  Zumbo  se  expedem  carregações  de  roupas  e  velório  para 
o  reino  de  Abutua,  onde  se  coramuta  tudo  por  oiro,  que  ba  em  muita 
abundância.  O  rei  e  senhor  d'estas  terras  é  o  Cangamira;  este  é  o  terror 
d'aqudte  sertão»  não  pormitte  que  nos  seus  domínios  penetre  algum  cbris- 
tão;  8aba*se  que  elle  é  poderosíssimo,  e  conserva  seu  respeito  na  reputa- 
ção de  suas  armas,  com  as  quaes  se  tem  feito  muito  obedecido. 

«Um  dia  de  caminho  antes  de  chegar  á  villa  de  Zumbo,  está  uma  serra 
muito  grande,  á  qual  no  pais  dão  o  nome  de  Meiooga :  a  ella  vão  minerar 
os  escravos  dos  moradores  do  Zumbo,  mas  o  oiro  que  tiram  é  pouco  e 
de  pequeno  quilate.  Aqui  também  ha  capitão  mór  e  sempre  é  um  mora- 
dor d'aquella  villa. 

«Ha  outras  minas,  que  distam  do  Zumbo  pouco  mais  de  um  dia  de  via- 
gem, que  se  chamam  de  Barda  Pambo;  n'estas  só  vão  minerar  os  escra- 
vos dos  religiosos  dominicos,  e  no  anno  de  17K0  tirou  o  padre  Fr.  Pedro 
da  Trindade  mui tor  e  bom  oiro ;  mas  sendo  eu  capitão  mór  no  anno  de  i  754 
já  produzia  pouco;  mas  sempre  era  da  melhor  qualidade, 

«N^este  tesipo  me  lembro  da  diligencia  que  fiz  por  conseguir  noticias 
dos  nossos  portugueses  da  parte  de  Angola,  pois  parecia  fácil,  por  estar  o 
Zumbo  pelo  sertão  dentro  perto  de  300  léguas  (1:500  kilometros);  mas 
nada  aproveitei  por  falta  de  meios  sufScientes.B 

Sofsúla. — A  capital  d^-este  districto  está  situada  em  20^  13'  de  lati- 
tude e  34^  45'  de  longitude  de  Greenwich.  Corre  de  NO.  a  SE.,  tendo  ao 
presente^  de  comprimento  menos  de  5^,5,  e  de  maior  largura  1^,32,  em 
cujo  espaço  se  acham  construidas  trinta  e  cinco  casas,  sendo  uma  de  pe- 
dra e  cal  e  as  outras  de  madeira,  cobertas  com  palha,  á  excepção  de 
duas,  que  são  cobertas  de  telha. 

Q  terreno  da  villa  é  dividido  pelo  mar  em  duas  partes,  e  as  aguas  pe- 
netram pelos  rios  Nharuquare,  que  corre  de  S.  a  N.  e  por  E.,  e  Cavone 
por  O.,  tendo  ambos  a  foz  no  sitio  denominado  Tacca,  que  communica 
com  Nhumquerere,  canal  por  onde  entrara  os  navios.  Alem  doestes  rios, 
o  mar  também  entra  nas  aguas  vivas  pela  costa  no  sitio  denominado  Quis- 
sanga  que  fica  a  E.  e  S.  da  praça ;  por  vários  alicerces,  que  se  desco- 
brem em  differentes  sítios,  se  conhece  que  antigamente  houve  muitas  ca- 
sas de  pedra  e  cal,  e  que  estas  eram  ricas,  porque  nos  rios  Nharuquare 
e  Cavone  bem  como  no  Quissanga  se  apanham,  em  occasiões  de  cheias,  va- 
rias obras  de  oiro,  o  que  faz  crer  que  em  epochas  remotas  houve  grande 

• 

>  Refere-sc  ao  anno  do  186i. 


invasão  de  iaimigos,  que  fez  cam  q\h^  se  espalhassem  os  cabedaes  dos 
habitantes. 

Este  estabelecimento  portuguez  na  Africa  oriental  ara  antigamente 
conhecido  sob  o  nome  de  povoação  de  Sofaila.  No  anno  de  4764  foi  ele- 
vado á  categoria  de  villa,  e  presentemente  o  local  em  que  elia  está  edi- 
ficada reclama  mudança,  por  estar  muito  arruinada  pelas  aguas  do  mar. 

Praça  de  S.  Caetano. — Fica  na  extremidade  da  villa  ao  S.  Ânti-^ 
gamente  era  conhecida  por  fortaleza  de  Sofalla.  Teve  esta  denominação 
no  anno  de  1764,  e  foi  fundada  em  1305  por  Pêro  Ânnaya. 

Existe  dentro  da  praça  um  poço  de  agua  salobra^  construído  de  pe- 
dra e  cal,  e  parece  que  antigamente  esta  agua  foi  boa,  porque  próximo 
do  mesmo  se  descobriram,  no  anno  de  1822,  algumas  pias  de  pedra,  que 
parece  serviram  para  dar  agua  a  cavallos. 

Igreja  parochial. — Na  distancia  de  57  metros  da  praça  está  edifi- 
cada a  igreja  parochial,  mandada  fabricar  por  João  Pereira  de  Barros, 
e  que  por  devoção  a  oíTereceu  para  o  culto  divino ;  e  desde  essa  epocha 
tem  este  edificio  a  denominação  de  igreja  de  Nossa  Senhora  do  Rosá- 
rio.   , 

Casa  da  camará  municipal. — Na  extremidade  da  villa  aoN.,  em  dis- 
tancia approximadamente  de  44  metros,  está  construída  a  referida  casa,  de 
pedra  e  cal,  e  tendo  sido  de  terraço  batido,  presentemente  tetn  tecto  de 
madeira  coberto  com  palha. 

Pelourinho. — A  pequena  distancia  da  casa  da  camará,  na  rua  princi- 
pal da  villa,  está  o  pelourinho;  é  feito  de  pedra  e  cal,  com  dois  degraus, 
tendo  no  remate  uma  espbera  do  mesmo  material. 

Povoação  de  Inhacamba.  —  Na  extremidade  da  villa  ao  N.  achasse 
uma  langua  com  muito  mangal,  que  fica  na  enchente  da  maré  coberta  de 
agua,  e  que  entra  ao  S.  pelos  rios  Cavone  e  Nharuquare  e  ao  N.  por  ura 
braço  do  rio  Zimboé,  que  communica  com  outro  denominado  Hellangane, 
que  tem  a  sua  foz  no  sitio  Bue. 

Da  villa  a  Inhacamba,  incluindo  o  espaço  da  langua,  contam-sc  pouco 
mais  ou  menos  550  metros  de  distancia,  no  fim  dos  quaes  se  acha  a  po- 
voação denominada  Inhacamba  com  vinte  e  oito  casas  de  madeira,  sendo 
sete  cobertas  com  telha  e  as  outras  com  palha. 

Esta  povoação  foi  fundada  no  anno  de  1815,  quando  os  mouros,  por 
causa  das  ruínas  do  mar,  se  mudaram  da  antiga  povoação  denominada 
Buanca  Muro,  que  ficava  a  E.  da  villa  em  pequena  distancia  d^aquella. 

Até  ao  anno  de  1844  era  somente  habitada  por  mouros,  e  actual- 
mente estão  n'ella  estabelecidos  seis  christãos  que,  por  falta  de  terreno 
na  villa,  se  mudaram  para  ali;  porém  este  local  não  promette  muita  du- 
ração, por  estar  sujeito  ás  mesmas  ruínas  que  o  da  villa,  e  por  este  mo- 


284 

tivo  já  os  mouros  se  viram  obrigados  a  mudar  a  mesquita  para  outro  si- 
tio do  anno  de  1861. 

Porto  de  So falia. — Na  distancia  de  3:750  metros  EO.  está  uma  en- 
seada cheia  de  baixios,  com  a  largura  de  2:S00  metros  pouco  mais  ou 
menos,  a  qual  tem  um  pequeno  canal  por  onde  entram  os  navios  até  ao 
fundeadouro  actual  denominado  Tacca ;  alem  d'este  canal  ha  outi  o  em 
Mato  Grosso»  que  tem  mais  agua,  porém^  em  consequência  de  ser  des- 
abrigado e  distante  do  logar  para  as  descargas  dos  navios,  vao  esles  or- 
dinariamente fundear  na  Tacca. 

Do  Mato  Grosso  corre  a  0.  o  rio  Xexiquire,  que  communica  com  o 
Donda,  que  se  estende  para  o  interior  até  ás  terras  de  Ampara  e  Mugova ; 
e  do  Tacca  corre  um  braço  chamado  Nhaminazl,  que  liga  com  o  Chiu- 
gueni  na  direcção  ONE.  e  chega  até  ás  terras  da  Dandira. 

N'este  porto  ha  um  patrão  mór  ou  pratico  da  barra,  mas  a  falta  de 
embarcação  impede-lhe  muitas  vezes  de  cumprir  os  deveres  do  seu  cargo. 
Quando  algum  navio  quer  entrar  no  porto,  e  carece  d'aquelle  pratico,  é 
necessário  que  áa  embarcação  lhe  mandem  um  escaler  para  se  poder 
transportar :  e  nas  saídas  muitas  vezes  se  tem  visto  na  necessidade  de 
levar  coxe  *  para  n'elle  poder  voltar  para  terra. 

Antes  da  creação  do  referido  emprego  os  navios  que  para  aqui  vinham 
traziam  de  Moçambique  práticos  da  barra. 

Religião  e  parocho.  —  A  falta  que  por  muitos  annos  houve  de  um  ec- 
clesiastico  fez  com  que  se  tornasse  esquecida  n'este  paiz  a  nossa  religião ; 
e  apesar  do  actual  vigário  empregar  todos  os  esforços  para  a  propagação 
do  Evangelho,  pouco  tem  obtido  por  estar  o  mal  muito  inveterado. 

Instrucção  publica.  —  Ha  um  professor  de  primeiras  letras  pago  pelo 
estado,  o  qual  é  de  bons  costumes  e  procura  desempenhar-se  cabalmente 
das  suas  obrigações;  comtudo  não  tem  podido  levar  a  cabo  o  seu  desejo, 
porque  a  maior  parte  dos  alumnos  são  maiores  de  quinze  annos,  cheios 
de  vícios,  que  o  professor  não  pôde  corrigir  sem  se  comprometter  com 
as  famílias,  porque  estas  (salvas  algumas  excepções)  dão  pouco  ou  ne- 
nhum merecimento  á  instrucção  dos  seus  filhos. 

Alem  d'este  professor  ha  uma  senhora,  filha  do  encarregado  da  enfer- 
maria militar,  que  gratuitamente  se  presta  a  ensinar  em  sua  casa  algu- 
mas meninas  a  ler  e  escrever. 

Ilha  de  Chiloane.  —  Jaz  esta  ilha  em  20*^  38'  12"  de  latitude  S.  e  34^ 
48'  30"  de  longitude  £.  Ê  raza  e  tem  approximadamente  22  kilometros 

*  Coxe  é  uma  embarcação  de  um  só  píiu  feita  pelos  cafres,  sem  quilha  nem 
forma  dos  nossos  navios. 


285 

de  comprido  N.  e  11  de  largara ^  £  dividida  ao  centro  por  um  canal  da 
largura  de  9ã  melros  que  na  maré  baixa  do  lado  de  E.  se  passa  a  vau :  a 
parte  do  S.,  onde  os  habilantes  téem  o  gado,  é  cheia  de  mato  e  salgueiral; 
na  parte  do  N.  está  a  povoação  e  a  cultura  que  consiste  em  cereaes  e  ar- 
vores de  fructa. 

O  terreno  é  arenoso,  fértil  e  abundante  em  agua  potável. 

É  separada  do  continente  por  um  canal  da  largura  de  2  kilometros 
proximamente ;  tem  duas  barras,  a  do  N.  é  franca  e  a  do  S.  na  baixamar 
tem  3  metros  de  agua.  No  continente  fronteiro  ha  estabelecimentos  dos 
habitantes  da  ilha  e  de  alguns  negros  da  terra.  A  cultura  ali  é  de  coquei- 
ros e  arvores  fructiferas,  de  legumes  e  cereaes,  e  já  se  fabrica  a  farinha 
de  mandioca.  Na  ilhn  e  no  continente  apanha-se  urzella  e  breu,  e  o  sertão 
fornece  ao  commercio  marfim,  cavallo  marinho,  cera  e  mantimento. 

As  illias  de  Bazarnto. — Em  maio  de  1855  mandou  o  governador 
gerai  da  província,  Vasco  Guedes  de  Carvalho  e  Menezes,  occupar  as  ilhas 
de  Bazaruto.  O  encarregado  d*esta  commissao  foi  Duarte  Manuel  da  Fon- 
seca, que  era  acompanhado  pelo  alferes  João  Eduardo  Ribeiro,  que  com- 
mandava  a  força  e  foi  o  primeiro  commandante  militar  que  ali  houve. 

Foram  mandados  para  ellas  empregados,  operários,  colonos  e  guarni- 
ção militar,  bem  como  material  de  guerra,  ferramentas  e  viveres  para  um 
anno.  Fazia  parte  da  expedição  um  enfermeiro,  que  levava  uma  ambulân- 
cia provida  dos  medicamentos  necessários  para  o  tratamento  dos  doentes. 

O  presidio  de  Bazaruto  constitue  um  grupo  de  sete  ilhas,  sendo  a  mais 
importante  a  ilha  Grande  Bazaruto,  que  dá  a  denominação  a  todo  o  grupo 
e  á  bahia. 

A  ilha  de  Santa  Carolina  (Marc),  assim  chamada  por  ser  o  nome  da 
esposa  do  governador  Vasco  Guedes,  foi  a  escolhida  para  o  estabeleci- 
mento, que  se  ficou  denominando  cEstabelecimento  de  Pedro  V>. 

Não  obstante  esta  ilha  ser  a  mais  pequena,  è  a  que  offerece  mais  se- 
guro desembarque  e  a  que  tem  melhor  ancoradouro. 

Durante  algum  tempo  foi  Bazaruto  governo  independente,  com  a  de- 
nominação €  Estabelecimento  de  D.  Pedro  V».  Por  portaria  do  governo 
geral  foi  considerado  presidio,  reduzido  a  um  commando  militar  e  su- 
jeito ao  governo  de  Sofalla. 


i  Em  1860  foi  mandado  para  aquella  ilha  um  destacamento  commandado  por 
am  official,  e  composto  de  doze  praças  com  uma  peça  de  campanha.  Este  destaca- 
mento tem  ali  quartel.  Deram-se  providencias  para  o  traçado  de  ama  povoação  re- 
gular, marcando  logares  para  edificios  públicos,  largos,  ruas,  etc. 

Desde  1875  que  é  a  sede  do  governo  de  Sofalla,  tem  alfandega  e  pharolim. 


Todas  âs  iibas  sSo  saudáveis  e  piscosas,  sendo  Cbégine  a  que  tem 
mm  vegeU<5o  e  pastos ;  abunda  em  carneiros  de  cinco  quartos,  assim 
deMOQMiados  por  lerem  a  cauda  tio  gorda,  e  chegar  a  tomar  taes  propor- 
es, qo8  parece  outro  quarto. 

  ilha  Grande  tem  muitos  cavallos  marinhos  (hypopotamos).  Vastos 
bancos  de  ostras  existem  n^aqoeMa  bacia,  as  quaes  os  pretos  apanham 
para  seu  alimento,  despr^ando  ai»  óptimas  pérolas  que  n'eilas  se  encon- 
tra» em  abundância. 

Tem  por  aU  apparecido  em  poder  dos  pretos  algum  âmbar,  suppon- 
do-se  que  o  apanham  na  costa. 

A  ilha  de  Santa  Catharina  é  vulcânica  e  rodeada  de  arvores  que  pro- 
dofzem  excellefite  maná. 

A  agricultora  vae-sc  desenvolvendo,  tendo*se  já  semeado  bastantes 
coqueiros. 

Sé  as  ilhas  Grande  Bazarato  e  Cliégine  s3o  habitadas  por  uma  raça 
de  negros  que  vivem  exdusiTamente  da  pesca,  que  seccam  e  vão  trocar 
no  continente  com  os  landins  e  outros  povos  por  fazendas  e  mantimentos. 
Os  burrongueiros  s3o  dóceis  e  obedecem  em  todo  ao  commandante  mili- 
tar de  Bazaruto. 

ínhamtane  ^  ~0  território  de  Inhambane  foi  descoberto  no  anno  de 
«47». 


1  O  distrlcto  de  Inhambane  tem  um  grande  admirador  no  sr.  João  Eduardo 
Ribefro,  que  esteve  n*aquelle  paiz  durante  muitos  annos.  Ali  casou,  e  nâo  só  pe- 
las relações  de  família,  como  pela  longa  permanência  n'aquelle  districto,  onde 
desempttLKou  differentes  coramissões,  adqairiu  conhecimento  especial  do  paiz,  e 
pó(te  deserevel-o  com  perfeito  conheciou^to  de  causa. 

Accedeu  de  boa  vontade  o  sr.  Ribeiro  ao  nosso  pedido,  e  encarregou-se  de  nos 
dar  algumas  informações  acerca  d*aquella  importante  jóia  da  coroa  portugueza,  e 
desempénhoa-se  doeste  encargo  pek)  modo  que  se  pôde  apreciar  no  texto  d'este 
livro. 

O  Sf .  João  Eduardo  Ribeiro  foi  para  Moçambique  na  fragata  D.  Femcmdo,  em 
1854,  acon^anhando  o  governador  Vasco  Guedes  de  Carvalho  e  Menezes,  que  hoje 
se  acha  á  frente  dos  negócios  públicos  da  província  de  Cabo  Verde. 

Permaneceu  na  província  de  Moçambique  vinte  annos,  onde  exerceu  diversas 
commissões,  seguindo  ali  a  sua  carreira  militar,  serviu  no  Ibo  e  nas  ilhas  de  Baza- 
ruto,  que  elle  foi  occupar  por  ordem  do  governo,  sendo  depois  mandado  em  commis- 
sào  ao  antigo  potentado  de  Manicusse  que  dominava  todo  o  sertão,  desde  Lourenço 
Marques  até  aos  nos  de  Sena,  demorando-se  três  mezes  na  viagem  de  ida  e  volta. 

Houve-se  sempre  com  tanto  acerto  nas  referidas  commissões,  que  foi  escolhido 
para  governar  o  districto  de  Inhambane  em  1863,  pelo  sr.  João  Tavares  de  Almei- 
da, então  governador  geral  da  provinoia  e  hoje  dos  estados  da  indla.  A  nomeação 
foi  approvada  peio  governo  de  Sua  Magestade,  por  decreto  de  16  de  desenybro  de 


2»7 

Quando  o  descobrkaos  e  ali  apoHámos,  fomos  bem  recelridos  ^ios  ne- 
gros, cedendo -nos  eiles  terrenos  e  marcando  o  locat  para  iiabHa;í^  onde 
hoje  está  assente  a  praça  de  Nossa  Senhora  da  GoviceiçS^,  ^qb  os  nossos 
descobridores  forliricaram,  e  ati  negociavam  com  oá  Mgros.  Ainda  hoje 
esta  fortificação  se  denomina  feitoria,  nome  por  que  é  designada  por  to- 
dos os  portuguezes  e  cafres  do  sertão. 

Os  descendentes  do  regulo  Tembe,  senhor  das  terras  qm  nos  foram 
doadas,  ainda  hoje  conservam  as  honras  de  régulos  da  víHa,  téera  as- 
sento á  direita  de  todos  os  régulos  do  distrieto,  e  contam  sempre  com 
orgulho  qoe  os  seus  ascendentes  foram  os  primeiros  qne  nos  feeeberam 
e  agasalharam,  dando-nos  as  suas  terras  espcmtaneatnente,  e  tranismittem 
este  facto  a  seus  descendentes. 

Em  1481  (?)  foi  transformado  em  presidio,  com  guarnição  e  goterna- 
dor,  e  n'esta  situação  peraianecen  até  I7G0,  em  que  por  alvará  de  Et^Rei 
D.  José  I,  referendado  pelo  marquez  de  Pomba),  foi  elevado  a  viMa  da 
mesma  denominação  (Inhambane),  e,  por  outro  alvará  de  igemi  data 
foi-lhe  dada  como  padroeira  a  Virgem  da  Conceição,  sob  euja  intocação 
se  fundou  a  igreja  parochial,  que  foi  nlthnafúente  reconstruída  e  augmen- 
tada. 

A  entrada  do  porto  é  accessivel  aos  navios  que  demandetti  até  4  me- 
tros de  agua;  tem  boas  marcações  para  de  dia,  havendo  tand^etti  um 
pharolim  assente  ao  S.  da  barra,  o  qual  se  avista  a  más  de  59  kitometros 
em  tempo  claro. 

A  entrada  dos  navios  não  é  portanto  difScil,  ma^  a  saída  depende  de 


1863.  Sendo  reconduzido  ii'o8te  governo  por  mais  cineo  annos^  por  êserele  de  1 
de  março  do  1871^  nâo  coiK*ltiiu  a  commjssao  por  ter  eu  1874  reesMiido  «  qMfo- 
pole  doente  e  sido  julgado  incapaz  de  continuar  a  servir  em  Africa,  pelo  que  se  re- 
formou. 

O  sr.  João  Eduardo  Ribeiro  mostrou  sempre  tanto  zôlo  e  intelligencia  nas  com- 
missões  com  que  o  distinguiram,  qno  esteve  á  frente  dos  negócios  páMcos  do  dis- 
tricto  durante  nove  annos,  o  que  raras  vezes  tem  acontecido.  Alem  disso  foi  hlMi- 
rado  peio  governo  de  Sua  Magestade  com  o  habito  de  A<viz  e  oom  a  coiaiiieiida  de 
Christo. 

As  informações  que  publicamos  a  respeito  do  districto  de  Inhambane  foram- 
nos,  pois,  dadas  por  pessoa  competente  e  foram  publicadas  sob  a  sua  inspecção. 

Nós  julgamos  prestar  um  bom  serviço  reunindo  n*este  trabalho  todas  as  infor- 
mações, e  ficámos  assim  habilitados  a  comparar  os  climas  de  que  nos  for  possível 
obter  noticias  completas,  não  só  emqoaato  ás  iocalidaâes,  mas  tombem  a  resptko 
das  observações  meteorológicas,  população,  etc. 

Se  não  podemos  dar  um  trabalho  bem  completo,  deixamos  traçado  o  plano  que 
nos  parece  mais  adequado  para  st*  tomarem  bem  conhecidas  as  nossas  possessões 
do  ultramar. 


888 

ventos  terraes  e  marés  próprias  que  algumas  vezes  os  obriga  a  demorar-se, 
perdeudo-se  muito  tempo  á  espera  da  occasião  favorável  para  sair  ^ 

Um  telegrapbo  estabelecido  em  terra,  com  três  poutos  semaphoricos 
intermédios,  annuncia  a  chegada  dos  navios. 

O  rio  é  magnifico,  e  apesar  de  ter  algumas  restingas  de  areia,  possue 
comtudo  um  excellente  canal,  por  onde  os  navios,  sem  grande  risco,  se- 
guem ao  fundeadouro,  que  é  bom  e  seguro.  Na  maior  largura  tem  este 
rio  uns  8  a  10  kilometros  e  na  menor  3,  tendo  de  extensão  até  á  barra  55. 

Perto  de  duzentas  embarcações  miúdas  constituem  a  marinha  do  rio, 
e  são  empregadas  em  serviço  da  população,  na  carga  e  descarga  dos  na- 
vios e  na  pesca  dentro  da  barra. 

0  dístricto  de  Inhambane  é  sem  contestação  o  melhor  e  o  mais  agradá- 
vel da  provincia.  Não  se  toma  notável  somente  pelo  seu  excellente  rio; 
a  belleza  das  margens  e  terras  altas  que  se  avistam  constituem  um  pano- 
rama digno  de  se  admirar. 

Distinguem-se  as  palmeiras  de  elevada  altura,  entre  os  cajueiros, 
mangueiras,  mafureiros,  frondosos  tamarindeiros  e  outras  arvores.  As  po- 
voações dos  pretos  e  os  sombreiros  ^  que  se  descobrem  por  entre  este 
immenso  arvoredo  e  no  meio  das  terras  cultivadas  e  cheias  de  vegeta- 
ção, surprebendem  e  encantam  o  viajante,  que  pela  primeira  vez  entra 
n'aquelle  porto. 

A  villa  de  Inhambane  divide-se  em  quatro  bairros :  Balane,  ondç  ha- 
bitam os  mouros;  Ghivatune,  bairro  commercial;  Tembene e  Chalambe 
menos  povoados,  mas  muito  píttorescos.  As  ruas  d'estes  dois  bairros  são 
extensas  e  regulares,  e  acham-se  guarnecidas  de  fructiferas  e  frondosas 
arvores,  que  lhes  dão  sombra  e  frescura.  Habitam  ali  perto  de  quatro- 
centas famílias,  brancas  e  de  côr,  gente  civilisada  que  segue  differentes 
religiões :  christãos,  mouros,  parse^,  baneanes  e  gentios. 

Tem  cerca  de  duzentas  casas,  algumas  mal  construídas;  conlam-se 
porém  bastantes  cobertas  de  telha,  e  que  se  podem  considerar  regula- 
res. São  innumeras  as  palhotas  ou  habitações  dos  pretos  libertos  e  famí- 
lias pobres. 

A  villa  fica  á  beiramar  do  lado  esquerdo  do  rio,  em  terreno  baixo, 
arenoso  e  de  forma  irregular.  É  vasta  a  sua  área,  em  consequência  das 
casas  terem  espaçosos  quintaes. 

Quando  se  olha  do  mar  para  a  villa  descobre-se  uma  linda  perspe- 
ctiva, havendo  alguns  edificios  que  se  distinguem  das  outras  habitações, 
entre  elles  a  igreja  matriz,  sobresaíndo  a  sua  torre  quadrada  com  seu  terra- 

1  Tudo  isto  se  evitará  logoque  haja  um  pequeno  vapor  de  reboque. 

2  Chamam-se  assim  as  casas  de  campo  que  pertencem  aos  habitantes  da  villa. 


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ço,  elevada  a  iS^.iO  acima  do  soloS  d^onde  se  avistam  parte  do  dístricto, 
a  barra,  grande  extensão  de  mar,  a  praça  com  exceliente  largo  arborisa- 
do',  a  alfandega,  a  mesquita  dos  mouros,  as  casas  de  commercio  na* 
cionaes  e  estrangeiras,  sendo  mais  saliente  a  do  abastado  cidadio  José  de 
Sousa  Teixeira,  a  qual  flca  no  principio  da  villa,  com  a  Trente  para  o  rio, 
em  um  ponto  bastante  elevado. 

O  desembarque  é  fácil,  e  feito  em  uma  boa  ponte '  de  madeira  e  três 
caes^  de  pedra,  que  d3o  muita  commodidade  aos  passageiros,  facilitando 
lambem  as  caibas  e  descargas  dos  navios. 

Nao  tem  a  villa  nascentes  de  boa  agua ;  ha  apenas  alguns  poços  de 
agua  salobra  que  serve  só  para  lavagens.  De  uma  grande  e  proftmda 
lagoa  denominada  Chivanme,  a  I  kilometro  da  villa,  perto  de  Santarém, 
é  que  a  povoação  se  fornece  de  agua  para  beber  e  cozinhar.  É  boa,  mas 
não  deve  ser  tirada  directamente:  abrem*se  pequenas  cacimbas  nas  suas 
proximidades,  e  ali  apparece  agua  capaz  de  se  beber. 

Os  naturaes,  tanto  christãos  como  mouros,  são  muito  hospitaleiros  e 
amigos  de  obsequiar  todos  os  que  ali  aportam,  quer  sejam  europeus  quer 
asiáticos. 

Este  povo  foi  em  tempo  muito  turbulento,  o  que  era  devido  em  parte 
a  alguns  excessos  das  auctoridades ;  boje  é,  porém,  sem  contestação, 
o  mais  socegado  da  provinda,  respeitador  das  leis,  e  seus  costumes  são 
morigerados. 

As  famílias  de  distincção  do  paiz  são  todas  descendentes  de  europeus 
ou  asiáticos.  Alguns  empregados  públicos  e  bastantes  oiliciaes  europeus 
toem  ali  casado,  de  forma  que  é  n'aquelle  districto  onde  a  raça  branca  se 
acha  mais  desenvolvida  e  apurada.  Pôde  dizer-se  em  geral  que  os  euro- 
peus se  dão  bem  n'este  paiz. 


1  Esta  igreja  foi  reconstruída  e  angmentaâa  durante  o  governo  do  tenente  da 
provincia,  J.  E.  Ribeiro,  segundo  risco  sen  e  debaixo  da  sua  direeçio.  Gastou  réis 
6:332|ii76,  sendo  5:557f|155  réis  de  donativos  dos  moradores  (em  operários  a  ma« 
teriaes).  Levou  esta  obra  a  fkzer  dois  annos  e  quatro  meies,  teve  principio  em 
31  de  julho  de  i864  e  terminou  em  S5  de  novembro  de  1867.  Passa  por  ser  a  me- 
lhor igreja  da  provincia  (Boletim  ofíkial  da  provincia  n.^"  38  de  19  de  setembro  de 
1868).  Yeja-se  a  estampa  ^reja  de  Noisa  Senhora  da  Qmceiçõo,  em  ínhambane,  e 
parte  da  praça  (Baluarte  de  S.  BodrigoJ. 

2  Útil  melhoramento  do  governador  Interino  Germano  Augusto  da  Silva,  ofll- 
ciâl  de  marinha,  que  durante  o  seu  governo  também  cuidou  do  edifieío  da  aUmdegi. 

3  Foi  principiada  em  1871  por  iniciativa  do  referido  governador  interino  Ger- 
mano, continuada  pelo  govmnaâor  J.  E.  Ribeiro,  e  eonduída  em  1875,  pelo  gover- 
nador Magalhães  Alvio. 

^  Dois  d'estes  cães  foram  mandados  fazer  pelo  governador  Ribeiro  e  o  terceiro 
pelos  governadores  que  lhe  succederam. 


De  toda  a  província  de  Moçambique  é  lahaiabaAe  o  (li8ti:iQ|ft  dJoade 
n'e8tes  ultímod  anãos  tèem  vindo  mais  estodantos  para  recetMiiai  a  spa 
ednca^  Htteraria  em  Lisboa.  Alguns  cavalbeiros  «  soas  iamilwa  também 
se  tèem  dírij^o  para  a  Europa  com  o  fim  de  vi^  e  cUf  visitar  a  pátria 
dos  sens  ascendentes. 

Os  habitantes  s3o  dados  ao  commercio»  deixando  a  afriolltoiA  i|wsi 
eidnsivamente  entregue  aos  pretos. 

Existem  em  Inhambaoe  os  melhores  officiaes  de  ledMírOi.  caq)iii\tewQ» 
calafate  e  ferreiro ;  alguns  maus  alfaiates,  ourives  e  sapateiros^  e^erMm 
aN  tmbem  os  seus  ofli^ios. 
IMos  os  operários  s3o  Ubertos. 

Mo  tem  Inhambane  senão  uma  iadiustria  de  maior  iimnrUi»Cia>.qittfté 
o  Mbrico  de  enxadas^  para  o  eommercio^  do  sertãA>  chegando acoosumir^se 
em  cada  anno  150:000  a  200:000  kilograrnsMig  d#  ferro. 

As  embarcações  existentes  na  viUa,  4  ei:ceiisift  de  meia  iimk  if^  ca- 
noas, também  s3o  construídas,  pelos  carpinteiros  do  im  e  com  ^  niadei- 
ras  do  districto. 

Fabrica-se  telha,  panellas,  talhas  e  outros  objectos  de  barro  verm^bo,: 
velas  de  cera,  ferragens  grossas  pata  casas  e  embarcaçoesi.  havendo  ai- 
guis  pretos  bons  serraliíeiros,  que  falsem  toda  a  qualidade  de  concer^s 
na  fl^eharia  das  espingardas. 

Os  carpinteiros  também  podi«im  fazer  obras  finas,  e  sobretudano-vei^ 
dls  encritentes  madeiras  que  ali  téem;  porém  CaUao^lhes  mestres  e  oflS- 
ciaes  eoropeiB  cpie  risquem  e  dirijam  os  tcabalhoSf 

Ao  S.  da  villa.  350  metros,  em  iwa  ponto,  elevado,  está  assMiie  a  oít 
mítmo  municipal,  bem  cuidado,  com  a  sua  capella  e  um  guarcU  qpe. 
trata  de  tudo :  deDomina-se  cemitério  de  S.  João. 

Ao  lado  d'este  fica  o  forte  de  S.  João  da  Boa  Vista.  No  bairro  de  Ba- 

l^lffi^  ajuste  ima  capeUioha  da  invocação  de  Sajita  Cruz,  construída  e  sus- 

teiladft  pela  gente  de  Qoa»  comrim,  que  t^omam  muito  interesse  peias 

féelis  de  i^a.  Todos  os  annos,  no  dia  3  de  maiQ,  se  festiyaaestaciapeila 

iUvenç9o  de  Santa  €ruz. 

C^QQuros  téem  o  seu  cemitério  próximo  do  bairro  de  Baftinew 


1  Bnxadfts  (espeeíficadAs  na  panta  das  alfiyidega3  oemei  ^wíAnic^  landínas)^ 
senrmi  para  o  commefeío  oom  o  sertão  unicamente  como  OBoaiJa^  4i}giNMas4a4w- 
mandiadas  pelos  pretos  para  o  fakríco  das  soas  amas,  e  para  leaníMiaB  e  arame 
com  que  enfeitam  o  cabo  das  machadas  de  guerra  e  as  aag^iaa» 

A  enxada  pesa  approximadamente  1:400  grammas;  tem.  Witeeliniat9Mlid%|ir 
tora  e  fS  a  Wtí%  sna  maiop  largnra^  6  o  senvaJor  no  meicadf^.4  dl|:90Í^4Af>iéís. 
Cada  15  kilogrammas  de  ferro  prodaz  dez  enxadas. 


tm»,  Ml  um  piefieMr  eaapov  «  ^m  ekunan  9  sm  eenitano. 

O  districto  de  Inhambane  (terceiro  dístricto  militar)  é  governado  por 
um  ofl^fiial  mpiUr  com  9S  «ttribQíçõe?  administrativas  que  a  lei  marca. 
Constitae  um  concelho  con^  p^a  mm  fregoezia,  e  ba  pooeo  foi  creada 

MÊ  WÊÊtÊftOÊÊÊÊ/nííK 

o  batalhão  de  caçadores  n.^  3  tem  o  seu  quarMeM  latambaoe,  afiiMH 
d(M0  alo|3do  dentro  ãsí  praçãif^,  em  péssimas  casemas»  cpe  de  certo 
Ide  ibeg^Uf»  para  q  batalliS^»  se  ésfe  n$Q  tivesse  mais  de  metade  da  soa 
fbffa  Jtestagada  e»  Lmtws^  Maff^iKasy  Cbíloaoe,  Soialla  e  (azaraU)  para 
oftde  ià  gWÊÊnàfif^. 

Ao  facultativo  de  i.^  fltm»  mmprt  kmc  d  seiptif»  d«  imm  enferma 
ria  míRtár ;  a  ambotandá  esfá  f  cargo^  do  p&ansmeeotíco. 

Umqi  cfek^çSo  €(a  jimta  cia  fazenda^  presidida  pelo  governador  do 
díBUrkti^  aAim»ia>>aww»itowlc»»puMfc^  os  pcoveniantes  dos 

direitos  da  alfandega,  decima  predial»  industrial,  direitos  de  transmisste, 
séBO'  de  wrMy  trtMMGK^  da^  ftrrff9,  ef6^. 

Ao  ^veroadfor  do  dfetricfo  feor  estado  eiUtegae  a  direcção  dás  obra» 
piiWicat^  ma  qqae&  se  empregam  os  cKreltos  de  S  e  {  Vs  por  cento  ad  v€h 

O  di9lviel9  ck  liiha«ilMn»r  eamywhcMto  aa  tenras  aítiKidaa  antr»  0 
caba  de  9.  Sd!»3tí^  ar  #7^  is  hafitfed^  N.  e  (^  rio  Inhamparí,  fec  èe^  rio 
Oiro,  ou  Limpopo  (^,  tendo  0  governador  auctòridade  sobre  (piarenca 
regirioa  e  seasaata  caibio»  Owiew)&  potferosQs  que  os  régulos),  que  habitam 


A  popBtaçi»  pMé  eale«lay<>9t:  appro«ímadamente  em  t30:00&  a^ 
mas. 

Pbr  tom  eslâfístTca  feita  em  rd63r  se  vé  que  as  terras  de  Inhambane 
ecmtt  hahjit4Aafi  par  l\M^  almís^  com.  3Í:7âft  fogos. 

Os  régulos,  em  tempo  de  guerra,  podem  fornecer  20:000  homeas ar- 
maidos  erai^  áMterenlfe^  amae-. 


1^  Em  IhRambane  ha  oa^  segtifni^  empregaáíis'  saMdf ado»  pelo  estado : 
Me  efe  cKreito^  defegadi»  e'  cfof»  eserMer;^  dk««lbf  da  alftadena,  um  efNsFMn, 
nm  porteiro»  dois  guardas  demuKro'  e  o»pMetoe» sapNnniiienriee,  um  liwun 
reivo  almoxaarife  e  escrMo  dlsf  dUbgaçiD;  mii'  paroeho^e  um^saerisâa;  im  oirar- 
gflb  db 2.* d!»se;  mii^pliQrtiiaceiHleo;  e-mn-prol^ssor  deinstrao^  prlnarta. 

^  !faò  se  lhe  pódb  dhr  o  nome  de  jmiça.  6  antes  um^fracafoitiflêação,  moto 
mal  artKhaâSi  e  com  péssimos  e  insaluhBes-  quartéis ;  a'  artUheria  ó  de  (erro  e  eiav 
quasl  1Ddá:8peaâiit  Cféjam«-se  os  relatórios  pnhNcados  em  difl^rentes  RoUHhim  d» 
pTovtiicia.)j 


292 

O  governo  manda  de  tempos  a  tonpos  fazer  banja^,  a  fim  de  fumar 
(investir  no  poder)  os  herdeiros  dos  régulos  qae  tenham  morrido,  oavir 


1  O  sr.  E.  de  Faria  no  seu  diceionarío  diz— Boií/a— aldeia  de  eafres  Junto  a 
Inhambane.  Não  existe  aldeia  com  tal  denominação. 

Banja,  na  accepçao  da  palavra,  quer  dizer  festa  em  que  haja  grande  oomesana, 
e  ó  palavra  da  lingua  bitonga. 

A  reunião  dos  régulos  e  cabos  chama-se  também  bcmjíi.  Esta  reunião  é  impo- 
nente, e  eflectoa-se  com  o  seguinte  ceremonial.  Trinta  dias  (uma  lua)  antes  d'aqoelle 
que  o  governador  do  distrícto  marea  para  a  ceremonia  da  banja,  são  convidados 
os  régulos  e  cabos  sujeitos  á  corda,  para  comparecerem  á  grande  reunião,  que  sem- 
pre tem  logar  no  largo  da  praça,  em  nm  immenso  barracão  construído  para  esse 
fim,  e  que  pôde  acconmiodar  de  duas  a  três  mil  pessoas. 

O  convite  é  feito  pelos  empregados  das  ferras^  que  entregam  ao  convidado,  da 
parte  do  governo,  um  cartucho  de  pimenta  da  índia,  um  ou  dois  pannos  de  loupa^ 
segundo  a  sua  categoria,  mna  tira  de  panno  branco  (touca),  um  qoissambe  (dois 
lenços)  para  a  mulher,  uma  faca,  duas  garrafas  de  aguardente  e  uma  caneca  de 
louça. 

O  governador  prepara-se  durante  este  tempo  para  receber  os  régulos,  e  manda 
l!azer  o  seguinte :  oito  ou  dez  pipas  de  pambe  (bebida  fermentada,  feita  de  cereaes, 
uma  espécie  de  cerveja  sem  ser  depurada),  descascar  600  a  700  kilogrammas  de 
arroz  e  igual  porção  de  milho  e  mexoeira,  armazenar  oito  ou  dez  barris  de  aguar- 
dente de  canna,  e  ter  á  mão  três  ou  quatro  bois,  a  fim  de  poder  sustentar  suas  al- 
tezas e  suas  comitivas,  nos  três  dias  que  se  demoram  na  grande  reunião. 

Dois  dias  antes  d'esta  se  realisar,  dão-se  na  praça  dois  tiros  de  peça.  O  regulo  da 
YiUa  Tembe  toca  logo  o  seu  batuque  de  guerra,  toque  que  é  repetido  por  todos  os 
régulos,  de  forma  que  rapidamente  se  sabe  em  todo  o  território  que  a  banja  vae 
ter  logar.  Em  tempo  de  guerra  também  é  por  este  meio  que  se  reúnem  os  pretos 
para  a  defeza  do  paiz.  Os  régulos  são  recebidos  pelo  governador,  por  todas  as  au- 
ctorídades  civis  e  militares  e  pela  força  armada,  que  lhes  faz  todas  as  honras  mili- 
tares, salvando  a  praça  com  vinte  e  um  tiros.  O  local  da  recepção  está  sempre  bem 
decorado  e  esteirado.  O  retrato  do  monarcha  portuguez,  coUocado  no  logar  princi- 
pal, no  centro  de  bandeiras  e  trophéus,  é  o  que  chama  mais  a  attenção  dos  régulos, 
que  se  admiram  de  nós  respeitarmos  e  fazermos  respeitar  o  Rei,  estando  este  tão 
distante. 

O  governador,  a  camará,  offlciaes  militares,  auctorídades  e  moradores  de  dis- 
tincção  tomam  os  togares  que  lhes  estão  destinados.  Os  régulos  e  cabos  tomam  assento 
no  chão,  em  esteiras,  menos  o  regulo  Cumbana  que  se  assenta  no  collo  de  duas  mu- 
lheres; os  ministros,  as  mulheres  dos  régulos  e  os  seus  mezinheiros  (médicos)  fi- 
cam pela  parte  de  trás  doestes;  o  povo  que  pôde  ter  ingresso  na  barraca  dá-se  por 
muito  feliz,  e  assenta-se  no  chão.  De  pé,  no  largo,  conserva-se  sempre  uma  im- 
mensidade  de  povo,  que  tem  acompanhado  os  régulos. 

O  governador  dá  principio  á  banja  fazendo  uma  allocução  aos  régulos,  em  que 
lhes  faz  saber  o  fim  da  reunião,  recommendando-lhes  que  sejam  justiceiros  e  huma- 
nos para  com  os  seus  povos,  não  os  escravisando,  nem  permittindo  que  alguém 
queira  escravisar  os  seus  filhos;  que  nas  guerras  não  matem  os  prisioneiros,  que 
devem  ser  bem  tratados  e  entregues  no  fim  da  lucta;  que  sejam  sempre  obedioites 
ao  governo,  e  que  não  consintam  inimigos  nas  nossas  terras  fmafrtUesJ;  que  tratem 


293 


as  suas  queixas  contra  as  aoctorídades  das  terras,  decidir-lbes  as  ques- 
tões de  reinados  e  limites,  e  finalmente  fazer-lhes  de  novo  prestar  preito 


bem  os  estrangeiros  qae  por  ali  passem;  que  não  roubem  os  náufragos,  antes  os 
recolham  e  tragam  logo  à  villa;  que  sejam  pontuaes  em  pagar  os  tributos  ao  esta- 
do; que  em  tempo  de  guerra  corram  com  a  sua  gente  em  defeza  do  districto;  que 
n'esta  occasião  apresentem  todas  as  suas  queixas  e  miUmdos  (questões),  para  lhes 
serem  decididas  e  julgadas  pela  maioria  dos  régulos;  e  finalmente  que  prestem 
preito  e  homenagem  ao  Rei  reinante  (o  que  elles  fazem). 

Em  seguida  apresentam  as  offertas  que  trazem,  que  consistem  em  productos 
das  terras,  cera,  mel,  arroz  e  mantimentos.  Os  régulos  landins  ofTerecem  algum  pe- 
queno dente  de  marfim,  e  outros  apresentam  cabritos,  gailinhas,  esteiras,  etc.,  etc., 
sendo  tudo  logo  receitado  á  fazenda  publica  pelo  tbesoureiro  almoxarife  da  mesma 
fazenda,  que  assiste  a  este  acto,  em  logar  distincto,  e  com  os  livros  de  receila  pu- 
blica. 

No  fim  da  banja  todos  os  presentes  são  vendidos  em  leilão,  e  o  seu  producto  é 
applícado  ás  despezas  da  festa,  não  chegando  geralmente  nem  para  o  arroz.  O  ca- 
pitão mór  ou  commandante  das  terras  (que  tem  a  graduação  e  honras  de  coronel), 
é  quem  serve  de  interprete  entre  o  governador  e  os  régulos. 

São  distribuídas  aos  régulos  cabaias,  barretes,  bastões,  cintas,  pannos  e  toalhas, 
que  as  vestem  logo  por  dma  dos  antigos  fatos.  A  cabaia  é  um  fato  amplo  como 
uma  camisa  de  mulher,  feito  de  panno  vermelho  e  avivado  de  amarello  ou  galão 
de  lã.  Os  barretes  são  da  mesma  fazenda  e  do  feitio  de  umas  mitras  de  bispo,  todos 
agaloados.  Só  aos  régulos  compete  cabaia,  barrete  e  bastão.  Aos  cabos  distribuem- 
se  pannos  brancos,  que  elles  vestem,  cingindo-os  aos  rins. 

N'este  primeiro  dia  de  banja  trata-se  da  questão  de  reinados  vagos.  São  chama- 
dos os  regentes,  e  estes  é  que  indicam  o  individuo  que  deve  succeder  ao  regulo 
morto.  O  regente  é  quasi  sempre  o  filho  mais  velho  do  regulo,  nomeado  pelo  go- 
vernador; o  herdeiro  da  coroa  é  o  sobrinho :  entre  estes  ha  sempre  contestação, 
que  é  decidida  pelos  régulos,  por  maioria.  O  individuo  declarado  successor  do  re- 
gulo fallecido  é  logo  investido  do  poder,  entregando-lhe  o  governador  a  cabaia, 
cinta,  bastão  e  barrete.  No  acto  da  imposição  do  barrete,  é  disparado  um  tiro  de 
peça,  e  o  povo  solta  os  seus  gritos  em  ar  de  acclamação.  O  regente  retira-se,  cedendo 
o  logar  ao  novo  regulo.  Assim  se  pratica  com  todos  os  regulatos  que  na  occasião 
téem  regentes.  N^este  districto  existe  a  lei  salica,  as  mulheres  não  governam.  Em 
Lourenço  Marques  dá-se  o  contrario.  Depois  de  investidos  os  régulos  no  poder, 
serve-se-lhes  o  jantar,  que  consiste  em  grandes  pedaços  de  carne  de  vacca  cozida 
com  arroE,  para  os  régulos,  e  com  milho,  para  os  cabos;  havendo  só  um  cabo,  que 
por  distincção,  e  em  consequência  de  qualquer  importante  serviço  que  fez  ao  governo^ 
come  arroz ;  distincção  esta  que  é  muito  ambicionada  pelos  outros  cabos,  mas  que  não 
se  lhes  dá  para  não  offender  suas  altezas.  A  comida,  que  é  muito  apimentada  e  cheia 
de  assafrão,  é  servida  em  grandes  pratos  que  vêem  da  índia,  e  a  que  chamam  pton- 
ganas.  Os  régulos  apenas  tocam  na  comida  por  delicadeza.  Os  ministros  lançam 
logo  mão  d*e]la,  recolhendo-a  em  um  sacco  de  pelle  de  cabrito,  tomam  também  a 
aguardente  que  lhes  é  servida  em  garrafas,  e  levam  tudo  para  a  casa  onde  o  seu 
regulo  está  hospedado. 

O  governador,  depois  d'este  banquete,  levanta-se  e  despede  os  régulos,  convidan- 
do-os  a  comparecerem  no  dia  seguinte  para  o  julgamento  das  causas  e  ouvir  as  qud- 


Ml 


e  ymmiÊgom  m  mdimxiiá  fúhagiaa^  o  fae  «Um  iemim  iNiem  gosto- 
sos, ch^aodo  alguDS  a  pedir  pira  pôr  u  mios  sotire  t  Mgm  éò  Bl-Reí, 
que  sempre  n'estes  actos  está  collocada  em  logar  conveniente. 

Os  régulos  mais  poderosos  do  districto  s|o  Mata  e  Matapíssa  (biton- 
gas)  ao  N. ;  Inguana»  Qwguerr^  a  Zimguzi  (landins)  ao  NO. ;  Blacuaiba 
(biàdin) e Mucombi  (nMndoBgue)  ao  NO.;  m  S.  o  riBguk)  mais  wportante 
áqaem  do  PoeteHa^,  o  QmíbiBa,  ê  «iem  o  iOiWêk^  Mato  piíderoto  e  ha 
pouco  tettpo  sujeito  defMttvámente  á  eófõa. 

Dívidem-se  estes  povos  em  quatro  raças  dlstinctàs:  bitongas,  burron- 
goeiras^  nindiíMigues  e  iaudins.  São  polyganios,  não  têem  religi&o,  mas 
reconhecem  om  ente  supremo,  a  ifmm.  m  sua  lingut  chamam  Nuguo- 
guio,  que  em  português  quer  dizer,  o  maior  sobre  todos. 

Usam  differentes  armas,  arco  t  flecha,  espingiurda  e  zagaia. 

Pagam  tributos  ao  estado  m  serviços  pessoaes,  mantimentos  cafi*caes, 
obras  de  palma,  esteiras»  aLcoJCaSf  saccos  de  palba^  etCr 

Os  rios  mais  ímportairies  do  districto  sio  PoeleUa  (?},  Inbampon  e 
Cobane  ao  S.,  o  Manharra  e  Bembe  a  O»,  Muirumbeoé  e  Msogi  t  NK. 

Alem  doestes  rios  ha  alguns  riachos  e  la|oas  mais  pequenas.  Os  po- 
vos vassallos  da  coroa,  excepmaodo  os  mít)aoiti|:és,  que  Úú  muito  des- 
coofiados  e  ladrOes,  respeitam  os  brancos,  âiyeitam-se  quasi  todos  aos 
trabalhos  agrícolas,  por  pequenos  salários.  Pres(am*se  ao  serviço  de  cir* 


I 


xfes  e  reGianações  que  lhe  pretenâam  faser.  tíê  ragnliM  retin»-se  logo»  e  è  m\ 
mooMmto  que  os  seus  minietrM  lhe  qneieiii  4ar  cravas  de  alfeeley  diipotaiide  a 
primária  de  servir  de  eavallo  lo  aau  ragnle,  ipreeãrtattd<i4he  o  esifcaço  pam  Mt 
aitecâ  montar.  Este  aeeeita  o  mlaistro  qoe  Uie  ias  mêiã  a  geilo^  paim  «ia  cmr 
amiila^^  a  dasinteUigendaa  «o  nkiittcrio. 

É  realmenle  eorioso  ver  oadio  es  mieiMrDs  eorrem  eom  oi  ases  recnlaf  éseos- 
Cãs,  pelo  laeio  do  povo,  que  fac  «ma  griuría  infernal,  acnaeeado  a  bolha  doe  lam- 
beras, marimbas  e  |Milfi|paíaf  (eonieta  de  etaifVe  de  bairiá),  nrasiea  harbara,  da  ^fua 
qnasi  todos  os  regalos  ee  feaem  acompanhar. 

Em  todos  os  pontos  da  vttia  ee  tentem  ee  batmqttse.  Os  reguk»  aiobemraeBbi- 
dM  e  moilo  obsequiados  peias  babHantes,  oom  quen  estie  em  mais  oe  meBee  ra- 
tafSes.  A  casa  do  capitie  mór  é  a  mais  frequentada,  por  ser  aK  qna  eiialB  o  da- 
pestto  das  bebidas,  que  os  prelos  muito  apredam. 

No  fim  do  lereeiro  dia  deqiedem-se  os  regoloe,  que  recolhem  áe  suas  Isms  sem- 
pre satisfeitos  e  eheios  de  reconhecimento  pela  forma  eoSM  feram  por  todos  reoa- 
bidos. 

A  ultima  banja  que  teve  logar  em  Inhambane  foi  no  gov^no  do  teaente  Mo 
Edeardo  Ribeiro^  em  31  de  outubro  de  ises,  sendo  governador  geral  da  pravlaela 
o  conselheiro  António  do  Canto  e  Castro. 

i  Denomina-se  assim  uma  grande  lagoa  ou  rio,  que  ainda  nio  lòi  eiplorada. 
s  Para  mais  desenvolvidas  informações,  v^-se  o  Boletm  BffieM  deUsfaSibi- 
que,  B."»  Si  de  i8Sa,  mappa  de  eomatando  das  terras. 


regadores,  aeompanliMiik)  od  negociantes  que  vio  ao  setiãot^eommer- 
á»  rái  ttialfitt,  traDSpòrtando4hes  as  mercadoHas,  por  uma  certa  e  de- 
terminada paga,  ajustada  entre  si,  sendo  este  por  emquanto  o  único  meio 
de  trafnsporte  qpie  ha,  por  fliita  de  estradas  con\'enientes  por  onde  livre- 
mente possam  transitar  carros. 

A  cultura  do  amendoim  (ginguba),  da  borracha,  do  arroz»  da  cera  « 
dos  mantimentos  cafreaes,  a  caça  aos  macacos,  dmbas,  búfalos  e  outros 
animaes,  para  alcançar  as  suais  pelles^  asi^  como  a  caça  aò  elepbaaite^  é 
occupação  exclusiva  dos  negros,  que  sao  ainda  os  únicos  agricultores  e 
caçadores  do  districto. 

Todas  as  questões  entre  os  pretos  sio  julgadas  segundo  os  seus  usas 
e  costumes,  de  que  se  formou  um  código  muito  curioso. 

Os  régulos  s3o  juizes  de  primeira  instancia,  ficando  ás  partes  o  direito 
de  appdlaçio  para  o  capitão  mór  das  terras  (empregado  nomeado  pelo 
governo  que  superintende  nos  negócios  cafreaes),  que  julga  em  segMdâ 
instancia,  havendo  ainda  direito  de  appellaçio  para  ojuramenio  de  HHm* 
ou  juizo  de  Deus. 


1  Juramento  do  mavi,  forma  e  c^raraonia/. — Estando  as  partes  lítígantes  étm 
MOS  defensores  e  pessoas  de  íámilia,  na  presença  do  capitão  mór,  manda  este  (te- 
mar  o  ctuikecmheiro  (mezfnheiro,  adivinho)  e  o  f ax  recolher  a  uma  palhota,  oirfle 
^nbaneee  inoemmonieavel  por  espaço  de  doze  horas,  pelo  menos,  seaáo  guardado 
á  vista  pelos  parentes  ou  pessoas  do  confiança  de  uma  e  outra  parte,  a  fim  de  qae 
nao  possa  ser  subornado. 

Entretanto  o  capitão  mór  faz  convocar  os  régulos  vizinhos  c  a  sua  gente,  para 
presenciar  o  julgamento.  Depois  de  apparecer  numero  sufiiciente  de  régulos,  são 
diâmados  os  litigantes,  qoe  s%o  nhrSgados  a  prometter  snjeiçSo  á  decislo,  deposftando 
n*este  acto  uma  determinada  quantia,  como  multa,  ou  antes  imposto  de  lieei^ 
para  a  feitenda  publica  (81000  a  lOMOO  réis),  a  pagar  a  Importância  dos  emolu- 
mentos dos  empregados  das  terras,  a  pagar  ao  cuchecucheiro,  e  finalmente  a  de- 
positar a  importância  combinada,  que  deve  receber,  como  índemnisa^,  o  que  fi- 
car absolvido. 

Satisfeitos  estes  encargos  dá-se  principio  á  ceremonia  pela  seguinte  maneira: 
Porma-se  um  grande  circulo  de  povo,  collocam-se  no  centro  os  litigantes,  que  téem 
sempre  ao  pé  de  si  os  padrinhos  (parentes).  Apresenta-se  em  seguida  O  eudMU^ 
cheiro,  sempre  guardadora  vista,  e  depois  do  ter  prontmciado  uma  curta  ai^aiÉ, 
peáe  a  eada  uma  das  partes  uma  manilha  de  metal,  que  estes  costtunam  Iraier  M 
braço  como  adorno,  e  as  guarda  sem  cm'emonia,  entregando  em  troca,  a  eada  ilill^ 
uma  galiinha,  que  toma  das  mãos  do  capitão  mór,  que  assiste,  com  o  sen  estariíÉi^  á 
este  aeto.  Em  seguida  applica  ás  gallinhas  uma  certa  dose  de  veneno,  que  de 
anteniSo  se  prepara  e  é  feito  do  sueco  de  plantas  só  conhecidas  dos  negros.  Aura  ilil<* 
nistrar  o  veneno  lança  mão  de  uma  folha  de  arvore,  que  dobra  em  fónna  àé  fbttR, 
e  qm  lhe  serve  para  o  medir  e  introduzir  no  bico. 

Os  litigantes  e  os  espectadores,  no  maior  silencio  e  com  a  maior  andedtde^  es> 
peram  o  resultado,  que  se  não  faz  demorar. 


396 

As  questões  para  julgamento  que  se  apresentam  com  mais  frequên- 
cia entre  estes  povos  referem-se  a  direitos  de  caça,  a  terras,  adultérios, 
feitiços,  ferimentos  e  poucos  casos  de  morte. 

Em  geral  todos  os  pretos  são  apaixonados  da  bebida,  e  para  satisfa- 
zer a  este  vicio  fabricam  aguardente  de  palmeira,  de  ananaz,  de  laranja, 
de  caju,  de  fructas  silvestres,  de  quasi  todos  os  cereaes,  e  até  de  raiz  de 
mandioca ;  com  duas  panellas  de  barro  e  um  cano  de  espingarda  ou 
um  bambu  furado,  improvisam  um  alambique,  que  satisfaz  perfeita- 
mente. 

Tanto  os  pretos  como  as  pretas  cheiram  rapé,  fabricado  por  et- 
les  de  nícociana,  que  se  dá  ali  perfeitamente.  Muitos  fumam  o  tofi- 
guef  semente  do  linho  cânhamo,  e  quando  o  usam  em  excesso  embría- 
gam*se. 

Fabricam  os  utensílios  de  que  carecem  para  seu  uso  domestico,  ha- 
vendo entre  elles  alguns  muito  industriosos,  bons  ferreiros,  ourives  e 
fundidores  de  cobre,  juntando  a  este  o  estanho  para  o  fabrico  das  mani- 
lhas. 

Os  mindongues  excedem  n'este  ponto  todas  as  outras  raças,  e  não  se 
limitam,  como  o  geral  dos  cafres,  a  fabricar  unicamente  para  seu  uso ; 
bzem  grande  commercio  com  os  productos  da  sua  industria,  que  consiste 
especialmente  em  gamellas  de  madeira,  colheres,  pilões,  quietos  ou  chi- 
nindus,  supôs  de  palha,  esteiras,  flo  de  piteira  para  redes,  cordas  de 


k 


No  lim  de  dez  ou  doze  minutos,  uma  das  galiiokias  morre,  o  vencedor  oleva  en- 
tão a  sua  galiinba  sobre  a  cabeça,  a  fim  de  que  todos  a  vejam  viva  e  reconheçam 
a  sua  innocencia.  Gomo  é  de  prever  esta  galiinba  poucos  minutos  sobrevive  á 
outra. 

Todos  os  cireumstantes  soltam  grandes  gritos,  e  acompanham  o  vencedor  em 
trinmpho!! 

O  vencido  trata  de  desapparecer,  a  líui  de  nào  ser  insultado,  sendo  preciso 
muitas  vezes  recorrer  á  protecção  do  capitão  mór,  porque  tendo  sido  a  questão  de 
feitiço,  por  exemplo,  o  desgraçado  corre  risco  de  ser  morto  pelos  outros  negros! 
Em  1852  ou  1853  o  governador  Pinbo  mandou  dar  mavi  a  ims  negros  da  povoa- 
ção de  Murrumbeni,  accusados  pelo  regulo  de  feiticeiros,  e  permittiu  que  estes  des- 
graçados tomassem  o  veneno,  de  forma  que  morreram  alguns.  D'essa  epocha  em 
diante  não  se  permittiu  mais  tal  barbaridade. 

Consentiu-se  que  houvesse  o  juramento  do  mavi,  mas  determinou-se  que  o  ve- 
neno fosse  applicado  ás  gallinhas.  Não  era  possível  banir  de  repente  este  usa  Im- 
poz-se  uma  multa,  para  o  estado,  aos  pretos  que  quizessem  praticar  este  juramento, 
com  o  fim  único  de  o  difficultar.  Esta  medida  tem  sortido  bons  eíTeitos.  Os  pretos 
ji  raras  vezes  se  apresentam  a  pedir  que  as  suas  pendências  sejam  julgadas  por 
similhante  forma. 


»7 

casca  de  arvores,  inpuítis^,  ingidas^  quitundns  e  maílos  oatros  obje- 
ctos que  os  outros  pretos  e  os  brancos  precisam  para  seu  uso  domes- 
tico. 

Em  tempos  de  lavoura  não  apparecem  os  mindongues;  feita  esta, 
inincipiam  a  entrar  na  viila  em  caravanas  de  cem  e  duzentos,  carregados 
dos  productos  da  sua  industria,  trazendo  também  ao  mercado  muita  cera, 
mel,  mendobi,  milhares  de  gallinhas  e  centos  de  carneiros  e  cabritos,  de 
forma  que  abastessem  a  villa.  Differentes  partidas  d'esta  gente  percor- 
rem as  terras  da  coroa,  negociando  com  os  outros  negros. 

A  distancia  a  que  ficam  as  terras  dos  mindongues,  o  génio  descon- 
fiado doesta  raça  e  a  sua  predilecção  pelo  roubo,  faz  com  que  poucos  bran- 
cos vão  ali  negociar;  e  por  isso  elles  se  vêem  forçados  a  vir  procurar  a 
venda  dos  seus  productos.  São  sem  duvida  as  terras  dos  mindongues  as 
mais  ferieis  do  districto  de  Inhambane.  Os  terrenos  são  magnificos,  cor- 
tados por  vários  rios  com  margens  muito  férteis,  e  que  se  podem  apro- 
veitar  para  todo  o  género  de  cultura  ^. 

Proporcionadas  boas  habitações,  boa  alimentação,  soccorros  médicos 
e  boa  escolha  de  local,  qualquer  colónia  se  pôde  estabelecer  n'este  dis- 
tricto, sem  receio  que  deixe  de  vingar,  de  prosperar  e  desenvolver-se, 
porque  n'este  paiz  é,  sem  contestação,  onde  a  agricultura  pôde  ter  o  maior 
desenvolvimento,  sem  perigo  de  vida  dos  colonos. 

O  governo  deve  auxiliar  qualquer  colónia  que  ali  se  queira  estabele- 
cer, ministrando-lbe  tudo  quanto  lhe  seja  preciso  nos  primeiros  tempos, 
para  sua  estabilidade  e  segurança  pessoal  e  dos  seus  estabelecimentos  que, 
aindaque  montados  em  território  sujeito  á  coroa,  não  estão  isentos  de  uma 
aggressão  dos  negros  vizinhos. 

A  população  preta  sujeita  é  pela  maior  parte  agrícola^  com  especiali- 
dade os  bitongas,  burrongas  e  mindongues.  Os  landins  são  guerreiros, 
sem  comtudo  deixarem  de  se  empregar  na  agricultura. 

A  canua  do  assucar,  o  algodão,  o  café  e  o  anil  dão-sc  perfeitamente. 


1  O  imputo  è  extrabido  do  entre-casco  do  imputeiro.  Serve  para  vestuário  dos 
prelos  e  para  differentes  usos;  tem  geralmente  2  metros  do  comprimento  e  1",5 
de  largura,  parecendo  um  panno  tecido.  Só  depois  de  aoalysado  é  que  se  percebe  que 
c  cntre-casco  de  arvore,  estendido  por  um  processo  usado  por  elles.  Deve  este  pro- 
ducto  servir  para  o  fabrico  de  papel,  assim  como  a  casca  de  muitas  outras  arvo- 
res, com  especialidade  a  do  inbundeiro  ou  mulambeira. 

2  Ingula  é  um  grande  cesto  de  amplo  bojo,  com  a  boca  estreita,  feito  de  palha 
e  vime,  que  serve  para  guardar  os  mantimentos,  havendo  alguns  que  levam  ap- 
proilmadamente  1:400  litros.  Tem  a  conflguração  de  uma  pipa. 

3  Só  consta  haver  ali  uma  mina  de  cobre  nas  terras  invadidas  pelo  regulo  Maun- 
ja,  que  não  é  explorada,  por  elle  não  o  permittir.  Fica  a  três  dias  para  O.  da  villa. 


k 


MMio  â  estas  cutaras  ^  m  éevia  dv  OMitor  «ttncio,  pan  •  ctosaovol- 
râMoto  •  prosperidade  da  provmda. 

O  cidadão  Jo3o  Loforle,  morador  de  Inhambaoe,  foi  o  nnico  que  em 
11164  Ibi  uma  ptaetaçio  de  €«iim>  eom  seaeete  riada  de  Boorboo^  e  nio 
pedando  fabriear  easucar,  fei  ISO  barris  (12:800  litros)  de  aguardaste  de 
eioeUeiile  qoalidMte,  qw  vendeu  a  18($000  r^s  o  barril  para  cmainae 
do  pak,  exportando  apenas  algims  barris  para  Lourenço  Marques.  Depois 
d'eaaa  epooba  seaspre  «ah  eu  neoos  se  fabrica  aguardeMe  de  canna. 

A  cultura  do  algodio  e  caft  ó  também  feita  em  pequena  estria. 

O  algodio  é  da  ndbor  qualidade ;  já  veiu  ao  mercado  de  lisboa 
e  M  ao  de  Inglaterra.  Bm  um  e  outro  foi  bem  classificado  e  obteve  bom 
preço. 

O  café  é  de  superior  qualidade,  mas  muito  pouco  conhecido  na  Eu- 
ropa, porque  Iode  o  que  se  colhe  é  para  consumo  do  paiz.  NoIdosso  mu^ 
seu  ttíkxsM  se  podem  admirar  algumas  amostras  d'este  producto. 

Do  anil  nuoca  ninguém  curou ;  nasce  e  ciesce  em  toda  a  partOi  arran- 
eando-ee  como  plania  kiutM^  para  em  seu  logar  semear  milho  ou  mexoeira ! 

Da  porgueira  e  do  ^rrapateiro  ninguém  faz  caso.  A  purgueira  serve 
apenas  para  guarnecer  es  qnmtaes,  appUcando^e  como  sebes  divisórias 
dk»  terrenos. 

Muitos  terrenos  s3o  também  pfopríos  para  vinha ;  algumas  parreiras 
de  dva  ferral  que  ali  ba,  quando  tratadas  convenientemente,  produzem 
naigoiftM)s  e  saborosos  cachos,  com  a  circumstancia  de  dar  a  videira  bih 
do  duas  veses  no  anno. 

Os  legumes  e  hortaliças  dãose  tSo  bem  ou  melhor  que  na  Europa, 
com  especialidade  nos  terrenos  do  N.,  denominados  Burronga,  onde  no 
tempo  do  (Ho  é  eate  ati  tio  intenso  que  algumas  vezes  se  apresenta  e  solo 
fendido  e  com  umá  crusta  gelada,  n3o  podendo  começar^se  os  trabahos 
agrícolas  senão  depois  das  nove  horas^  que  é  quando  o  sol  principia  a  der- 
reter o  gelo.  Para  as  hortaliças  produzirem  melhor  é  preciso  importar  an* 
nualmente  as  sementes  da  Europa,  porque,  em  geral,  as  que  ali  se  co- 
lhem não  são  boas  no  primeiro  unno  e  no  segundo  degeneram  comple- 
tamente. 

Certa  qualidade  de  couves,  e  com  especialidade  o  repolho,  repro- 
duz-se  por  estaca  e  produz  assim  muito  bem '. 

Produz  o  distrícto  borracha,  mendobi  (ginguba),  arroz  (a  meiher 
qualidade  da  provincia),  cera,  milho  fino  e  grosso,  mexoeira,  gergrite, 


1  Chama-se  estaca  aos  rebentões  que  se  dâo  no  pé  do  repolho,  depefs  de  ae  ler 
aertado  este;  em  atlingindo  um  certo  tamanho  separam-se  do  pé,  e&terram*ae  e,  em 
futtro  ou  ciaeo  dias  d^tam  raises,  faaendo-se  em  pouco  tempo  exeePenies  repelíeis 


«pn,  coeoi,  amUiiM  4e  iobantalk^  «aferi  (sebo  ^^egetal),  anitè  de 
wmtiãM,  caDoa  de  aMicar,  âlgodio,  oák,  mA,  tamaraido,  mandioca,  1»- 
ra^ja,  teSo,  ftangis,  o^k  t  piíMiU  enoirnada;  dio^se  beKilitNnBiiin  Aa 
odomercío»  aplaoUdo«iiíltqaeéeapottaD6a»eabataUdooedaE«ropa; 
(an  Meelkfites  madeiras  para  coDSUuocões  tivis  e  oavaes^  iegumea  éè 
lodM  as  qualidades,  e  hortaliças,  €Oibo  ji  se  disse.  A  aaaior  parte  doestes 
produetos  exporUm-se  em  grande  escala»  bem  como  muito  marfim»  p^ 
les  de  maeaco  e  dmba  (^ra  os  zulu^  e  basiuites  couros  de  bofidot, 
ODgoDba,  zebra,  algumas  pelt^  de  carneiro  e  cabrito  e  bastantes  cos- 
roedeboi.  Tem-se  também  exportado  aguardente  de  canoa,  de  càjà  e  de 
palmeira;  a  maior  p«te,  porém,  d'esl6s  líquidos  consone-se  no  dis^ 
trícto. 

Inbambane  importa  os  mesmos  géneros  que  Quelimane  e  ouiros  por* 
tos,  com  pequena  differeofa  na  oomeadaiQra. 

• 

Bohiã  de  Lourenço  Har quês  K  —Qiismdo  mar  iargo  demanda  a  bahía 
de  Lovenço  Marques,  a  que  os  iagiezes  diamam  Delagoa  Bay,  acbando-ee 
coHocado  no  ponto  central  que  forma  a  sua  boca  ou  embocadura,  arista 
do  lado  do  S.  a  ilba  da  Unlúca  ott  lobaca»  e  do  N.  a  costa  Gaianga  juMo 
á  entrada  do  no  da  Magaia,  a  que  os  ioglezes  denominam  King's  George 
Ri  ver,  e  nós  Manhiça. 

A  extensão  d'esta  embocadura  é  de  i(0  kilom^ros.  A  barra  começa 
no  cabo  da  Inhaca  e  ilha  dos  El^bantes,  a  qual  se  estende  O  a  6  kilo« 
metros  em  um  banco  de  areia  e  alguma  pedra,  banco  a  que  se  dá  o  nomft 
de  Cockburn,  e  que  não  offercce  passagem  a  navios. 

^  As  infunnações  que  pubMeámos  áeeraa  d*este  (Ustricto  foram-nos  dadas  pela 
sr.  FraueisQO  dos  Santos,  muito  conbecedor  da  província  de  Moçambique,  aode  se 
demorou  por  mezes  successivos. 

O  sr.  Francisco  dos  Santos  teve  occasiâo  de  observar  bastantes  logares  dá  òos- 
ta,  percorrer  muitos  rios,  apreciar  a  fmpottdnda  dè  dtdá  uma  das  èttêtánèB 
kMuJidadss  dà  província  de  MoçamtMqne  e  estadar  és  eostmes  dos  Meus  hiM* 
tmâêiy  adquirindo  ali  tao  vastos  conhecimentos  commerciaes  qua  sem  receio  se  pôde 
dizer  que  é  dos  homens  que  mais  sabe  com  respeito  á  província  de  Moçambique, 
gosando  por  isso  de  uma  reputação  bem  merecida. 

Foi  pela  primeira  vez  à  esta  província  em  18S6,  como  offlcial  de  marinha  mer- 
cante, encarregado  dos  negócios  do  navio. 

Tisitou  n'esse  anno  a  bahia  de  Lourenço  Marques,  Inhambane,  Quétimaiw  é 
Moçambique.  Voltou  em  seguida  a  Lisboa,  mas  foi  pouco  demorada  a  sua  estada 
aqui. 

O  distrícto  de  Lourenço  Marques  é  o  que  Oca  mais  ao  S.  na  província  de  Moçam- 
bique, e  ó  por  ali  também  que  nós  devemos  entrar  para  chegar  ao  coração  da 
Africa  eediral,  recebendo  os  europeus  que  desejem  estabeiecer-se  no  nosso  terri- 
tório. 


% 


300 

Para  o  N.  ha  os  Ires  bancos  princípaes  chamados  Hope,  Domett  e  Gul- 
field  Fiat,  com  tortuosos  mas  bons  canaes.  Tem  uiâa  profundidade  nunca 
inferior  a  S^^^S  na  baíxamar  das  marés  grandes.  Nos  dois  primeiros 
bancos  varia  o  fundo  de  6  a  10  metros,  porém  a  926  metros  para  NO. 
do  Hope,  differença-se  a  agua  clara  n'uma  pequena  extensão  que  não  tem 
mais  de  5  metros,  tudo  na  baiiamar  das  referidas  marés.  O  Gulfieid 
Fiat,  que  fica  mais  para  o  N.,  é  o  mais  baixo,  pois  tem  unicamente  7 
metros  n'uma  extensSo  de  5^,5  NViNE  e  SViSO.,  deixando  ver  um  canal 
superior  a  2  kilometros  entre  a  extremidade  N.  e  a^rra  baixa  que  se  es* 
tende  da  costa ;  não  tem  menos  de  19'",8  de  profundidade,  e  é  sem  du- 
vida o  melhor  e  talvez  o  único  livre  de  perigo  para  os  navios  de  maior 
lotação,  vistoque  ainda  não  ha  bóias  para  marcar  os  outros  canaes.  Gul- 
fieid Fiat  é  geralmente  conhecido  pela  cõr  da  agua. 

Nâo  obstante  a  profundidade  mencionada,  o  mar  rebenta  em  toda  esta 
extensão  quando  o  vento  sopra  rijo  do  quadrante  SO.,  mas  não  impede 
que  os  homens  práticos  deixem  de  investir  a  barra  sem  perigo,  porque 
procuram  com  marcações  exactas  o  canal  de  entre  Gockbum  e  Hope,  o 
qual  não  tem  menos  de  13  metros,  mesmo  quando  o  mar  rebenta  sobre  o 
navio.  Esta  é  efiíectivamente  a  derrota  mais  seguida  pelos  navios  do  com- 
mercio  e  vapores  da  companhia  real  ingleza  Union,  porque  lhes  encurta 
o  caminho  e  facilita  a  entrada. 

Actuahnente  existem  pharoes  em  uma  barca,  fundeada  em  6  melros 
de  agua  no  extremo  N.  do  banco  Cockburn,  e  seria  de  grande  utili- 
dade que  se  marcasse  este  canal  por  bóias,  a  fim  de  facilitar  a  entrada 
no  porto,  onde  não  ha  práticos. 

Da  ilha  dos  Elephantes  á  Ponta  Vermelha,  que  é  a  entrada  no  rio  de 
Lourenço  Marques,  a  que  os  inglezes  chamam  erradamente  English  Ri- 
ver,  e  onde  está  a  villa  d'este  nome,  ha  uma  extensão  de  24  kilometros 
sobre  38  de  largura  para  a  parte  do  S.,  formando  uma  espécie  de  lagoa 
baixa,  sempre  coberta  de  agua  em  maré  cheia,  e  semeada  de  canaes  pro- 
fundos. Para  o  N.  fica  a  ilha  Shefina  de  6  a  8  kilometros  de  comprimento,  ja- 
zendo ENE.  e  OSO.  ao  longo  da  costa  da  bahia.  É  bem  arborisada  e  pôde 
obter-se  ali  agua.  A  parte  mais  baixa  é  toda  de  areia  branca,  e  a  certa  dis- 
tancia é  difiQcultoso  distinguir  a  ilha  da  terra  firme.  £  cortada  de  recifes 
que  para  a  parte  de  E.  se  projectam  a  mais  de  7  kilometros  com  um 
fundo  de  6  a  8  metros  a  2^,5  de  distancia ;  porém  depois  doeste  fundo 
encontram-se  bancos  de  areia,  de  pequena  extensão  e  de  pouca  profun- 
didade, o  que  faz  que  estes  recifes  sejam  perigosos  para  os  navios  que 
preferem  entrar  pelo  N.  do  canal  entre  Cockburn  e  Hope. 

Entre  esta,  pois,  e  a  lagoa  mencionada  que  fica  para  o  lado  do  S.,  é 
óptima  e  franca  a  entrada  até  á  Ponta  Vermelha. 


304 

Na  parte  SO.  da  babía  fica  o  rio  do  Maputo,  navegável  a  lOOkílome- 
tros  para  o  interior,  tendo  dois  canaes  salientes,  um  que  vae  do  porto 
Melville  junto  á  ílba  dos  Elephantes,  e  outro  que  segue  do  rio  de  Lourenço 
Marques,  junto  á  terra  de  Gatembe,  e  que  se  junta  com  aquelle  no  sítio 
em  que  o  rio  toma  aquella  denominação,  e  em  que  divide  a  terra  do 
Maputo  ^  da  de  Gatembe. 


1  O  Maputo  pagou  durante  muitos  annos  tributo  aos  portuguezes,  mas  deixou 
de  o  fazer  e  de  lhes  prestar  obediência  desde  o  fim  de  i871,  em  que  se  empenhou 
em  guerra  com  outros  régulos  sujeitos  à  coroa,  guerra  que  a  auctoridade  nao 
evitou,  podendo-o  talvez  conseguir,  se  nao  se  houvesse  collocado  ao  lado  d'es- 
tes^  depois  de  terem  provocado  com  ameaças  stultas  o  regulo  do  Maputo,  que  tem 
mau  caracter  e  é  deshumano. 

Com  a  saída  d'aquella  auctoridade  renovou  este  regulo  as  suas  relações  com- 
noscu,  nao  se  prestando  comtudo  a  pagar  o  tributo  devido,  e  conservando  o  seu  ca- 
racter independente  e  por  vezes  ameaçador.  É,  porém,  contido  em  respeito  pelo 
Techoai,  regulo  dos  zulus,  nosso  amigo,  a  quem  eUe  paga  tributo,  e  lhe  impõe  a 
obrigação  de  respeitar  as  determinações  dos  portuguezes. 

A  Gatembe,  que  confina  pelo  S.  com  aquelle,  estende-se  para  o  N.  até  ao  rio 
de  Lourenço  Marques.  Ali  foi  collocado  em  maio  de  1875,  pelo  governador  Augusto 
Castilho,  um  pequeno  regulo,  a  quem  pertencem  por  direito  de  successão  aquellas 
terras,  que  assim  se  chama  o  território  sujeito  aos  régulos  ou  à  auctoridade  portu- 
gueza. 

Seu  pae  o  regulo  Becuti,  e  senhor  d'este  dominio,  era  homem  valente,  e  com 
a  pouca  gente  de  armas  de  que  dispunha,  sustentou  por  muitos  annos  guerra  de 
gigante  em  defeza  dos  seus  direitos  contra  o  regulo  do  Maputo,  que  ]h'as  queria 
roubar,  abusando  da  superioridade  e  poder  quasi  sempre  maior  do  que  o  d'elle. 
E  se  muitas  vezes  pôde  com  o  seu  valor  e  astúcia  conjurar  o  perigo  e  subtrahir-se 
a  tão  feroz  perseguição  com  sacríficio  de  muitas  vidas  dos  seus,  que  já  se  viam 
em  muito  menor  numero,  e  se  enfraqueciam  n^estas  contínuas  lutas,  não  lhe  era 
dado  nutrir  a  esperança  de  escapar  á  calamidade  que,  dia  a  dia,  lhe  mostrava  o 
abysmo.  E  no  emtanto  não  tinha  auxilio  dos  zulus,  que  por  mais  de  uma  vez  o 
salvaram. 

ITestas  circumstancias  adormeceu  um  bello  dia  nos  seus  domínios,  e  viu  nas- 
cer o  immediato  no  então  presidio  de  Lourenço  Marques  ou  Cheringuina  dos  pre- 
tos, que  procurou  para  refugiar-se.  Tinha  sido  accommettido  de  noite,  sem  o  espe- 
rar, e  não  podendo  reunir  a  sua  gente,  teve  de  (tigir  a  uma  morte  certa,  porque  os 
negros  em  guerra  não  dão  quartel  nedi  fazem  prisioneiros — matam.  Os  seus,  coita- 
dos, foram  quasi  todos  mortos,  e  alguns  mesmo  na  praia,  em  frente  e  próximo  de 
Lourenço  Marques,  pelo  que  a  artilheria  da  praça  jogou  alguns  tiros. 

Não  podendo  rehabilitar-se  para  retomar  o  que  de  justiça  lhe  pertencia,  falle- 
ceu  no  exílio,  succedendo-lhe  nos  seus  direitos  o  filho,  actual  regulo,  que  por  ora 
não  tem  sido  perseguido. 

Os  terrenos  que  pertencem  a  esta  parte  do  nosso  dominio  são  férteis,  e  podiam 
produzir  canna  de  assucar,  café  e  outros  géneros,  se  porventura  fossem  cultivados. 
Nas  montanhas  e  planícies  ha  grande  quantidade  de  gado  bravo  e  caça  grossa,  que 
os  naturaes  procuram  muito,  aproveitando*lhe  a  carnt*  para  comerem  e  trazerem 


aag 

A  irbofi3a(sio  é  ahnnitM^Hj  muí  priae^mÉMotei  juito  m  rio  do 
Maputo^  e,  na  «aior  eslmtfln  à'mèÊ^  è  db  da^iima  beUiza  surprthm- 
éeâto^  porqne  arfoiw  eohnai»  Mtrelifai  os  mio  tmmmào  om  eo- 
poi^  áe  ataboda  lio  agntdmralf»  esioni  o  viqailo. 

Abnia  cbi  k!jrpp^pol»io&  oi^  cskuHoo  mar«à|06. 

Na  parte  NE.  da  bahía  e  da  ilba  SheOna  fica  oriti  d»  Mag»»  oa  Kki§^» 
George  River,  como  lhe  chamam  os  inglezes,  que  é  o  melhor  e  mais  im- 
portante de  todos. 

A  Ponta  Vermelha»  6Q  mâtros  «cima  do  m^l  do  mar  ^  N.,  e  a  Ponta 
ckS^t  4a  Catembe,  a  qm  os  wi/g^^i^  ^^umm^  MmvIumB,  ae  S.,  fonaan 
a  fiBil  «etrada  o«  barr» dtiria d#i Lovress* Marques, 2ffili|aMMBte de- 
H6mi— da  d»  IspirHo  Sanpt»,  sqiMrtton  Itmetrosembaixannr  e  17  eK 
preamar  de  marés  grandes.  É  um  excellente  porto  e  o  melhor  desde  o 
cabo  dia  Boa  Esperança  até  Voçvubique. 

*  Na  ]^>nta  Vemelba  «ige  o»  sbaMlio»  qua  ae  avista»  mí  teaip» 
alan^  a  30  IcikNWIros.  O  úb  tas  botas  ns  pMios  qm  oéfersesai  perigo 
aos  navegantes  menos  experiente»,  as  qmes  sio^  necessárias  p^  htíto 
db  dSò  haver  ali  homens  pratiros.  O  ancoractooro  tem  15  a  t7  metros  de 
bom,  fundo,,  a  1  Idíometra  para  dentiTO  da  Ponta  Vermelha,  em  fireate 
da  ^álla  d^  Lowenço  MarqfíMds^  qiK^è  situada  ao  NE.  á'e^.  Do  lada  SOw 
fica  a  parte  N.  da  Catembe,  a  cujo  extremo  N.  os  inglezes  chamam  Lmk- 
mere,  qm,  eoRjundamente'  een  aqcreHa,  formam  este  ria  qae  ree^e  dif- 
ftrentes  denominações,  como  Maitola,  Dundas  e  Tembe,  á  pn^r^o  qae 
se  vae  internando  e  confonne  a  direcção  que  toma  e  as  tevras  qiiie 

baiAjk 

&  ria  áa  Maiolay  em  segniiiieDt^  ao  de  Lourenço»  Marques,  tema  o 
nome  dos  tributários  mais  a^IfO.  doeste  districto. 

T^  a  Ibz  cerca  de  29?  metros  de  largo  sobre  33  de  profundidade ; 
mas,  f  4  kilometros  acima,  a  sua  largura  diminue  para  27  metros  CQia  t7 
d%  pntfundidade.  Até  pouco  mais.  aaima  d'este  loeai  ainda  podo»  iater- 
na»^.  pequenas  embarcaçiSeav 

Aliõmita-se  este  rio  com  as  marés,  e  por  isao  a  soa  proftandidM^  é 
maior  ou  menor  conforme  o  fluxo  ou  refluxo  d^ellas. 

Não  longe  está  o  insignificaitte  rio  Infulene,  qiiie  deixando  eDti:ar  ^ 
maré  n*uma  ffcmà»  extensão  da  tiíerra  baisa  que  eom  elle  aonfina»  daiu 
navasaate  uaia  grande  langua  que*  oancorre  bastante  para  a  insatabridade 
doeste  sitio. 


a  pane  ao  marcado.  Habitam  também- aqui,  prindpalineiite- no- moiMa^Einpanlie^ 
oasalom-e  mais  feroses  ledes  de  toda  a  AMc^  ád»  qnae»  no  passeio  dtrBMrelM^ 
ha  um  exemplar  ali  apanhadio. 


Ma»  adiiDie  eone  a  rio  laraMie.  mi  doft  Groeaâitos,  q«»  è  de  |M)w» 
importância,  mas  de  difficil  trajecto,  não  só  por  abuadar  mmio  cn  mh 
coditoBi  mas  porqae  06  ter renoa  d^ac^atea  sia  ledosas  a  sem  eaMisten- 
cia.  Tem  imia  ponte  de  madeira^  por  onde  passaaa  aa  aanete  doa  baeta 
com  grandes  cargas.  Fka  aa  estrada  fiie  ewdaa  aai  Inwwaãd. 

OrioDuodas  coirct ao laogo  da  Caleaibe^ por iiaa  canal artreito mas 
prafasda  e  pôde  oiirec^  passagem  a  nanoe.  Gommijca  por  eHe  eaaa 
o  de  Lourenço  Marques  e  com  o  da  Maloias  atena  do  qwt  fie».  VsÊk  eataa 
o  d»  Hatola  e  T^ori^e^  havendo  aaiaiicfiGi  d'eHes.b0aa  afieoradowa.  Até 
1832  pouca  importancifl  se  Hie  dava^  mas  depoia  encetaram-se  tnaisaa^ 
çSm  cemoiareiaes  com  e  regida  Massaote^  qae  ali  deoma,  e  eajae  terras 
são  banhadas  pelo  mesoiO'  ríek,  aiadaqve  somente  na  extei^ia  appioit- 
mMto  de  17  kilometros,  oeaflnjafdo  eoai  ocdras  pequenos  rios  aavega- 
veis  em  botes  só  em  mar6  cheia. 

CoDheceu-se  enISo  a  necessidade  da  o  eapbrar  por  meio  á^ 
qoe  chegam  só  até  Bombai,  uma  das  povoaçõea  d^aqnette  regak^ 
bom  êxito,  facilidade  e  economia  para  o  commercio ;  e  hoje,  depois  de 
reeooheeida  a  saa  importaada  e  ser  freqaealado,  é  eanbeeída  pei^aeme 
deBoflibai. 

  curta  distancia  da  sua  foz  tem  elle  52  metros  de  largo  e  22  de  pro- 
faadidada,  e  uma  embateaeio  á  v^  eo».  bMa  venl»  a  nará^  percorre 
aqaeHa  derrota  em  seis  horas. 

Gomo  fica  dito,  entre  este  rio  e  o  Tembe  ba  um  bom  ancoradouro  para 
navios»  janto  a  uma  pequena  ilha  de  nome  QieXq^o^. 

Contornando  a  Catembe  segue  a  m  Temt^».  mais.  lacgo  a  mais.  fuiid^ 
da  %Be  o  da  Matela. 

£  navegável  para  navios,  que  nSo  demandam  mais  de  4  metrea  é& 
agua  até  38  kiiometros  da  sua  foz,  e  para  emb^ca(^e5  pequenas,  M 
i^5  kiiometros,  ponto  este  em  que  se  divide  emdoiâpeqjoeoQs.br^fifMt. 
dos.quaes  um  dirige-se  para  S.  e  ouíro  paj:a  O. 

O  do  S.  tem  prosúmamenta  VI  metros  de  larga  na  saa  emiiacada9% 
e  a  peqaena  distancia  é  impedida  a  navegaçSo,  porqoe  ha  nWe  wan  ea^ 
pecie  de  barreira  de  arvores  caídas,  que  obstruem  a  passagem*  O  db  N. 
é  pedregoso^  e  também,  como  aquellei^  não  iim  sido  expljorado. 

SoppSe-se  cpie  o  do  S.  vae  encontrar-se  oonoio  m  Maputo»  cer<mda 


^  foii  mandada  eonstndr  pelo  governo  português,  por  iat^meâio  do-entioga» 
veroador  liiyreiso  José  Me»dea  Faloato,  e  eoalratMb  eom^ oameríeaoo Mlllsi  iMè 
cenairaidiBi  oom  poaca  seguraaça  e  nSooffeMee  âmiaçSo. 

^  iâftim  ebanado  porque  4  o  abngo  do»  hjMaatea  d^  MEitola»  aiiihflwaa 
cmaa^at^  qoe  nao. podem  pegar  em  araras  em*  caee  de'giierra. 


304 

ioda  a  Cateiabe>  fazendo  d'ella  uma  ilha  em  vez  de  terra  firme,  como  aié 
agora  era  conhecida. 

O  de  O.,  se,  devidamente  explorado,  se  estendesse  para  o  interior, 
até  a  algumas  kilometros»  seria  de  grande  auxílio  para  as  nossas  relações 
com  a  parte  S.  da  republica  dos  boers,  que  lhe  fica  superior. 

Esta  simples  mas  exacta  descrípção  mostra  quanto  urge  proceder  a 
estudos  n'estas  quasi  desconhecidas  regiões,  cuja  exploração  traria  muita 
luz  a  questões  de  grandes  interesses  sociaes  e  scientificos. 

Este  rio  é  alimentado  por  agua  salgada,  e  por  consequência  sujeito  ao 
seu  fluxo  e  refluxo.  As  margens  s3o  baixas  e  abundantes  de  salguei- 
ros. O  interior  é  revestido  em  muitos  pontos  de  arvores  seculares  e  gran- 
des campinas  de  herva.  A  O.  fica  a  serra  de  Mossuate. 

Todo  o  distrícto  de  Lourenço  Marques  abunda  em  urzella,  conhecida 
nos  mercados  como  de  melhor  qualidade,  mas  no  rio  Tembe  e  Maputo 
a  quantidade  d*este  producto  é  prodigiosa ;  no  entretanto  é  desprezada 
pelo  pouco  valor  que  tem. 

Lmtrenço  Marques^. — A  cerca  de  1^,783  da  Ponta  Vermelha  assenta  a 
villa  de  Lourenço  Marques  em  uma  pequena  língua  de  terra  baixa,  are- 

^  A  respeito  das  obras  publicas  em  Lourenço  Marques^  dão-se  n'ain  jornal  de 
Lisboa,  sempre  solicito  em  fallar  a  respeito  das  nossas  colónias,  as  seguintes  infor- 
mações: 

cNoticias  ultimamente  recebidas  de  Lourenço  Marques^  em  data  de  i6  de  março 
próximo  flndo,  dízem-nos  que  cbegára  á  bahia  d*aquelle  nome,  no  dia  3,  o  trans- 
porte de  guerra  Africa^  conduzindo  o  pessoal  para  as  obras  publicas  da  província 
de  Ifoçambique,  fundeando,  no  dia  5,  a  209  metros  da  villa.  A  descarga  do  navio 
começou  no  dia  7,  e  só  concluiu  no  dia  16,  por  se  baver  interrompido  por  vezes 
em  consequência  do  mau  tempo.  N'esse  mesmo  dia  i6  ficou  instaliada  a  respectiva 
secção  de  obras  publicas.  Todo  o  pessoal  da  secção  trabalhava  já  activamente.  O 
director  das  obras  publicas^  major  de  engenheiros,  Joaquim  José  Machado,  deixou 
as  convenientes  instrucções  ao  tenente  de  engenheiros,  chefe  d'aquella  secção,  João 
António  Ferreira  Maia.  Procedia-se  á  armação  das  barracas,  idas  d'aqui,  e  á  aber- 
tura de  uma  rua  em  boas  condições,  até  à  povoação,  destinada  a  continuar-se  de- 
pois por  uma  estrada  até  ao  pharol  da  Ponta  Vermelha.  Construir-se-ha  um  barra- 
cão para  officinas  e  armazéns,  e  se  for  vantajoso,  um  pavimento  superior  para 
n'eUe  se  estabelecer  a  repartição  das  obras  publicas.  Foi  determinado,  com  a  má- 
xima urgência,  o  projecto  de  um  paiol,  que  possa  acommodar  a  pólvora  do  estado  e 
dos  particulares,  no  peso  approximado  de  125:000  kilogrammas,  devendo  ser  con- 
struído fora  da  villa,  para  substituir  um  antigo  armazém  que  existia  em  perigosas  cir- 
cumstancias.  Mandou-se  proceder  á  pesquiza  de  pedreiras,  ao  fabrico  de  cal,  tijolo  e 
telha.  Trata-se  de  um  projecto  para  casas  económicas,  destinadas  a  operários,  e  de 
outras  para  um  hospital,  com  capacidade  para  cem  doentes,  e  para  uma  igreja.  A 
muitos  outros  estudos  de  obras  importantes  e  indispensáveis  se  ia  ali  proceder 
igualmente,  taes  C/Omo  de  uma  casa  para  escola,  de  um  quartel  para  500  homens. 


305 

oosa>  qaasi  península,  poisque  se  acha  torneada  de  agua  salgada  em 
marés  de  aguas  vivas.  A  sua  extensão  não  excede  1^,783  sobre  660  me- 
tros de  largo  na  maior  largura. 

Contém  três  ruas  principaes,  afóra  a  da  Praia,  as  quaes  correm  ao 
longo  da  povoação  S  havendo  outras  mais  estreitas  que  as  cortam.  São 
safficientemente  espaçosas,  mas  as  transversaes  muito  estreitas  e  im- 
mundas. 

Tem  também  um  largo  que  está  em  relação  com  a  pequenez  da 
villa,  mas  nem  este  nem  as  ruas  são'macadamisadas,  o  que  faz  com  que, 
na  maior  força  do  sol,  a  passagem  sobre  a  areia  se  tome  incommoda  e  pe- 
nosa. As  casas  são  de  pedra  e  cal,  mas  baixas.  As  de  recente  constrac- 
ção  téem  boa  apparencia  e  bastantes  commodidades ;  as  antigas  são  de  te- 
ctos  baixos,  pouco  ventiladas  e  de  más  divisões  interiores. 

A  fortaleza,  que  tem  um  dos  seus  ângulos  para  o  mar,  está  hoje  bem 
reparada.  É  pequena,  e  possue  apenas  dois  baluartes  para  o  lado  da  terra, 
entre  os  quaes  ha  uma  caserna  regular  com  a  competente  tarimba  para 
uma  companhia  de  cem  praças.  Do  lado  de  E.  tem  quartos,  arrecadações, 
calabouços  e  cozinhas,  olhando  para  o  mar ;  fica  d'este  lado  também  a  ba- 
teria e  armazéns,  e  da  parte  do  S.,  que  é  a  entrada,  estão  os  armazéns,  a 
botica,  que  está  em  más  condições,  e  a  enfermaria,  que  é  tão  má  como 
a  casa  da  guarda  e  as  prisões.  Os  armazéns  téem  servido  para  depó- 
sitos de  géneros  da  alfandega,  por  ella  os  não  ter  em  quantidade  suflB- 
ciente  para  as  necessidades  do  commercio. 

A  artilheria  é  muito  antiga,  está  em  mau  estado  e  vae  ser  substituída. 
Ha  somente  doze  peças  de  campanha  que  são  regulares. 

A  alfandega  antiga  compõe-se  de  dois  armazéns  sem  divisões.  Está 
contratada  a  construcção  de  uma  alfandega  nova,  de  dimensões  e  com  ae- 
commodações  que  devem  satisfazer.  É  edificada  em  local  mais  apro- 
priado para  tal  fim,  próximo  da  praia  e  do  rio,  com  o  qual  deve  com- 
municar  por  meio  de  uma  ponte. 


de  um  pharol  para  o  porto  de  Inhaca,  de  uma  fortificação  com  accommodações  para 
90  praças,  de  um  edificio  em  convenientes  condições  para  habitação  do  governa- 
dor do  distrícto,  de  outro  para  a  camará  municipal  e  repartições  publicas,  etc.  Or- 
denaram-se  também  urgentemente  os  estudos  para  o  desseccamento  de  um  pântano 
na  viila,  e  os  da  bahia,  devendo  levantar-se  uma  carta  detalhada  com  as  precisas 
sondagens^  Sabe-se  que  havia  produzido  na  cidade  do  Cabo  excelleute  efféito  o  i^^ 
parecimento  da  expedição,  que  estava  cheia  do  maior  enthusiasmo  pelos  melhora- 
mentos que  iam  emprehender  em  uma  das  nossas  mais  ricas  colónias.» 

1  A  povoação  é  cercada  por  uma  linha  de  defeza  feita  em  poucos  mezes  por 
iniciativa  do  governador  Frederico  Augusto  Gourgelt;  tem  quatro  baluartes  deno- 
minados :  31  de  Mho,  S.  Pedro,  Santo  António  e  S.  João. 

ao 


A  ediflcaçSo  da  villa  no  lo^ar  em  ()ue  sé  âcba,  éó  |[iodería  tet*  desculpa 
em  attehçsrd  á  defeza  é  em  pres'énçá  das  vantágeiis  rtHIitares  que  offerece. 
É  cercada  de  um  paul  bastante  extenso  na  pãHb  N.,  que  é  considerado 
miasmatico  e  muito  prejudicial  á  saúde  dos  habitantes,  e  àdnlira  até  que 
se  deixasse  abandonado  por  tantos  annos,  e  que  a  agua  para  beber  seja 
tirada  de  poços  mal  feitos  e  de  náslcentes  que  áthvessám  logãreà  ibimun- 
dos  e  cheios  de  detritos  vegetaes.  No  paul  nasce  certa  qualidade  de  herVá 
de  junco  e  de  bananeiras  que  foritiam  espesso  inato,  que  áti  apodrecem 
e  augmentam  a  insalubridade  da  vilIá. 

Pará  alem  do  pailU  ou  langua,  coino  ali  lhe  chámàbi,  d  tèri*eÍlo  é 
arénoâb,  e  eleva-se  suavemente  em  fóhna  de  átúpHitheãtro  ai&  tenúiHar 
em  ílbi  cerro  n3o  mui  distante  dia  villa.  Nó  centro  foi  iharcádo  o  local 
para  se  levantar  a  nova  povoação  que  pôde  ter  grande  extens9o,  e  será 
mais  salubre  do  que  a  actual. 

Âponta-se  no  entretanto  como  melhor  o  terreno  contiguo  á  Ponta 
Vermelha,  porque  está  Fôh  da  acção  dos  pântanos,  é  havéHa  Idcál  próprio 
para  o  giro  commercial. 

No  sopé  doeste  pequeno  monte  escoa  bm  toda  a  extensão  grande  abun- 
dância de  agua  que  alitiiéhfa  d  paiithno  db  paiil  de  que  falíamos,  a  qual 
rebenta  de  fortes  veios  que  ali  s&  encontratil,  ou  vedl  dé  algaih  mahán- 
ciai  supèHor,  cujas  ramiâcaç5é§  se  estendeiti  até  abaixo.  £hi  todo  o  caso 
é  necessário  áltento  estudo  para  se  conhecer  i  sda  origem  e  poder  a|)ro- 
veitar-se  convenientemente :  nlas  o  que  sobre  tildo  importa  é  estudar  o 
Dàêio  dè  evitar  que  a  agua  forme  ò  pântano  ))tie  urge  extinguir,  o  que  só 
se  conseguirá  quando  sé  aniquilai  o  pHhcl^âí  éleiãêhtò  ^ 

N'este  sitio  apenas  Se  cultiva  o  milho  e  mexoeih.  Alguns  moradores 
téêm  machambas  onde  há  algdttia  hortaliça. 

^0  aiiiphitheatro  chatíikdo  Gafumò  está  o  régblò  Alho  do  velho  e 
ffèi  Machaqueiié  coiii  o  seu  táinbem  velho  è  B^l  Secretario  Mátídissa,  go- 
vernando toda  a  cafraria  doeste  paiz  que  se  éátehd^  á  È.  ãtè  PãitlaQa,  cujo 
regulo,  Quiguisseca,  também  lhe  obedece  como  o  da  Mahota,  que  fica  ain- 
da a  NE.  d'esta;  e  do  N.  e  a  0.  fica  o  da  Matola,  por  nome  Afetabomo, 
que  por  lei  nossa  também  é  obrigado  a  obedecer-ibe.  Á  NE.  fica  a  gran- 
de Mangaia  com  o  seu  regulo  Mapunga  que  somente  obedece  á  auctori- 
dade  portugueza. 

Antigamente  também  estava  sujeita  ão  nosso  domínio  a  bella  terra  dá 
Mohamba  e  a  Cherinda,  as  quaes  estão  hoje  independentes. 


1  Costa  na  verdade  a  acreditar  que  se  nao  tenha  attendido  a  slínílhàiite  melho- 
ramento, e  será  com  certeza  um  dós  que  ha  de  merecer  a  attençSò  dos  engenheiros 
que  hoje  se  acham  encarregados  das  obras  publicas  dà  prbviricrá  dè  Moçainbf(}tie. 


ab7 

tõtíapfeheilde  êálfe  clíàlHclô  *  á  fôrítb  tfe  iefrèhos  qõè  vae  em  linha 
recta  da  latitude  26^  30'  S.  para  0.  até  á  ret)ublica  dos  boers,  com  os 
qoaes  cbnimtititbiâiiio'^  jpblHlè  tíòsíú  téítaè  dU  Matofò  e  da  Mobámba.  En- 
tre esta^  téH*ás  e  áífiieireá  terrerios  se  interpõem  as  montanhas  do  Lebom- 
bo,  seguindo  idéj^iits  á  diViáSo  (jpiè,  por  contrato  entre  estes  e  o  nosso  ple- 
nipotónéiàríb  Alfredo  bláprát,  jfoi  deferinihada. 

A  montanha  Lebòítlbb  e  ^ba  seguimento  para  o  N.  até  ao  mar  per- 
tence-bòs,  iháá  úío  temerá  dbihitiiò  eBiBlitivo  senão  até  á  Magaia,  que  fica 
para  E.  doesta  divisfò  e  se  é§t'éh(ie  ao  pHiicipío  da  costa  Calango,  na  em- 
bocadura dá  t)á)iia;  sendo  coHá^á  (iéiç)  rio  do  mesmo  nome  ou  King's  Geor- 
[e  RiveK  côbò  os  ihgleSies  lhe  í&haúiâhi.  Estes  terrenos  não  estão  ainda 
lemarcâdos  bor  látitdilès  e  lbtl|lllldeá  certas;  e  nem  os  rios  devidamente 
explorados  por  bbíneús  coiíitietéiltèá.  Apenas  alguns  commerciantes  os 
conhébem  e  freliiiébtáffl: 

É  necessário  nío  éàlltiécer  'qtíé  ò  districtò  de  Lourenço  Marques  é  o 
que  niais  tem  soflfidb  bom  âs  gtléH^ás '. 

Os  hoíneíis  sãó  valènfés;  de  boá  estnlciiírá  é  dados  á  caça  de  elephantes, 
búfalos  e  bútl*oè  ánim'álés;  i  hxéhi  on  a  ti;ábálhbá  braçaes  e  ao  serviço  de 
dlitegâdbres,  qiie  jHlgM  tÍlat^  di^b  d^  li  do  que  a  agricultura,  que  des- 
prezam e  entregam  unicamente  ás  mulheres,  como  objecto  próprio  de 
naturezas  fracas.  Ppr  isso  a  ac^ricultura  é  menor  do  que  relativamente  o 
è  eín  outros  qístríctds^  cómquantb  aqúl  àè  tão  bom  resultado  como  nos 
demais  terrepos  da  proyinciâ. 

Sábm  milhares  de  hoifiens  para  as  colónias  inglezas,  o  que  também 
faz  encSrefcéf  b  áétvlçft;  e  entorpece  ô  desenvolvimento  da  agricultura. 
Apiesálr  íéstás  diffictílcíâdés  exportátil-sè  j)àrá  Porto  Natal  muitos  centos 
de  kiiogramnias  de  miltio  e  báslárifé  arroz,  afora  as  pelles  e  productos 
das  caçadas. 

O  tributo  que  os  régulos  pagam  á  coroa  portugueza  é  em  mantimento 
cafireàl;  ttlilhb  fltío  è  ghóSso;  è  taèXofeira. 

A Jiiáqeilá  abubdá.  tátítò  jhtilõ  aos  rios  còhaó  no  interior,  onde  exis- 
tem matas  virgens  e  arvores  seculares.  I^a  enòniie  quantidade  de  ar- 
vores de  borracha,  mas  não  a  extrahem.  Descobrem-se,  principalmente 


1  O  terfCjno  xjije  legálmçnle  perleíice  a  este  dislricto  eslà  bem  descripto  no  livro 
do  sr.  visconde  de  Paiyá^Manso;  porém^  dós  só  descrevemos  aquelle  até  onde  temos 
dominio  effectivd,  embora  tennamos,  ás  vezes,  iic  nos  referir  a  outros;  alem  disso 
faremos  unicamente  narrações  praticas  do  que  conhecemos. 

.2  Não  ha  upisó  regulo  dos  que  hoje  nos  sao  sujeitos,  que  não  tenha  pegado 
eq^  ^rmás^p^á  nc|3  j^gveáiv,  algumas  vezes  contra  sua  vontade,  outras  de  mandado 
doestes  contra  vontade  de  alguns  de  seus  subdilos.  Na  circumvizinhanca  doeste  dis- 
trictò todas  as  hordas  cafres  são  guerreiras. 


308 

na  Magaia,  grandes  campinas  cobertas  de  pasto>  e  em  toda  a  parte  o  ter- 
reno é  apropriado  para  diversas  culturas. 

A  estrada  de  Lourenço  Marques  para  os  boers  foi  mandada  fazer  pelo 
governo.  No  começo  é  empedrada  e  segue  na  encosta  do  ampbitheatro 
em  direcção  ao  N.  e  E.;  passa  no  rio  Infulene  onde  ha  uma  ponte 
de  alvenaria  com  estrado  de  madeira  e  ferro,  entra  nas  terras  da  Matola, 
em  cujo  rio  passa,  e  nas  da  Mobamba,  no  rio  Incomate,  cuja  ponte  já  des- 
crevemos, até  entestar  com  a  montanba  Lebombo  na  direcção  de  Lidem- 
burg ;  n^este  ponto  ha  um  ramal  em  direcção  a  New  Scotland  ou  Gold 
Fields,  nova  colónia  explorada  já  depois  do  contrato  da  divisão  dos  limi- 
tes entre  nós  e  os  boers,  exploração  emprehendida  mais  pela  natureza 
áurea  do  terreno  do  que  pelas  suas  qualidades  agrícolas  e  sanitárias,  que 
são  más.  O  ramal  de  que  falíamos  tomou-se  necessário  por  causa  das 
relações  commerciaes  que  se  desenvolveram  entre  aquella  colónia  e  o 
nosso  porto,  e  teriam  attingido  um  grande  desenvolvimento  se  não  hou- 
vesse n'este  trajecto  a  região  da  mosca  tsé  tsé,  que  mata  todo  o  gado  ^ 
N*este  caso  não  podem  estabelecer-se  carreiras  de  omnibus  para  passa- 
geiros, nem  carretas  puxadas  a  bois  ou  cavallos  para  conducção  de  mer- 
cadorias, á  imitação  do  que  fizeram  os  habitantes  do  Porto  Natal,  que, 


1  A  mosca  tsé  tsé,  já  muitas  vezes  descripta,  tem  a  configaração  mais  da  mosca 
das  cavalgaduras,  do  que  da  ordinária  que  habita  entre  nós.  É  comprida  e  pequena. 
Habita  principalmente  a  serra  do  Mossuate,  na  parte  E.,  e  segue  para  o  N.  pelas 
nossas  terras  da  Matola,  Mobamba,  sempre  para  o  N.  até  à  Sinquine,  na  altura  do 
Bazaruto,  onde  ha  noticia  que  ella  também  ali  chega ;  mas  nio  transpõe  al^n  d*esta 
linha,  nem  para  O.,  a  montanha  Lebombo  e  outros  terrenos,  nem  para  E.  Assim  é 
que,  havendo  grande  quantidade  de  gado  nas  terras  de  O.,  alem  da  sobredita  linha 
onde  se  cria  muito  bem,  se  se  transportar  para  E.  passando  pela  zona  da  mosca 
e  íòr  mordido,  não  resiste  e  morre  em  poucos  dias;  e  vice- versa,  se  elle  passa  de 
£.  para  O.  No  entretanto,  fora  d'essa  zona,  ha  numerosas  manadas.  Se  porventura 
a  mosca  morde  alguma  pessoa,  o  que  raras  vezes  acontece,  produz  apenas  uma 
pequena  inflammaçao  local,  sem  consequências  futuras.  Está,  porém,  demonstrado 
que  ella  se  ausenta  dos  sitios  habitados  e  das  campinas  para  o  mato  ou  legares  ar- 
borisados,  em  companhia  do  gado  bravo. 

Um  inglez,  Ablet,  mandou  vir  de  Zanzibar  três  camellos,  que  conservou  e  aclí- 
mou  por  algum  tempo  em  Lourenço  Marques,  com  o  fim  especulativo  de  que  a 
mosca  não  lhes  faria  damno,  vistoque  ella,  cousa  notável,  não  prejudica  o  gado 
bravo  com  que  anda.  Na  primeira  viagem,  em  que  os  mandou  ao  rio  Incomate  com 
a  competente  carga,  foram  mordidos  e  morreram  em  poucos  dias,  uns  após  ou- 
tros. 

Um  meio  lembrado  para  afugentar  a  mosca  tsé  tsé  consiste  na  abertura  de 
grandes  clareiras  de  um  c  outro  lado  da  estrada.  Urge  pôl-o  em  pratica,  porque  é 
de  instante  necessidade  que  se  estabeleçam  as  relações  commerciaes  entre  a  nossa 
colónia  e  a  republica  do  Transwaal. 


309 

nao  tendo  no  seu  caminho  para  aquella  nova  colónia  a  mortífera  mosca, 
arranjaram  estes  meios  de  conducção,  com  sacrificio  pecuniário,  poisque 
s3o  muitos  os  dias  de  viagem  e  os  lucros  insignificantes.  Mas  os  inglezes 
sabem  tratar  dos  seus  interesses,  e  n3o  olham  a  sacrificíos  quando  que- 
rem prejudicar  os  seus  competidores. 

  colónia  New  Scotland  pertence  aos  boers,  mas  os  habitantes  e  ex- 
ploradores auí^iferos  e  commerciaes  s3o  quasi  todos  inglezes,  idos  para 
ali  em  procura  de  oiro.  Começou  a  exploração  em  4872,  e  em  1874  já 
tinham  uma  agencia  de  um  banco  do  Porto  Natal,  e  se  publicava  por 
conta  da  empreza  do  jornal  Natal  Mercury,  da  mesma  localidade,  um 
jornal  dependente  d'aquelle.  A  colónia  continua  a  desenvolver-se,  apesar 
de  não  se  ter  colhido  oiro  em  tanta  quantidade  como  se  esperava. 

Mas  deixemos  as  colónias  que  os  inglezes  levantam  junto  ás  nossas,  e 
passemos  a  fallar  de  Lourenço  Marques  e  das  condições  em  que  se  acha  * 
este  districto. 

É  já  sabido  que  pensámos  na  construcção  de  um  caminho  de  ferro, 
mas  se  não  se  realisar  este  emprehendimento,  devemos  prover  de  remé- 
dio e  não  desamparar  por  forma  alguma  os  melhoramentos  da  viação 
publica. 

Os  boers,  para  se  transportarem  em  carretas  desde  os  pontos  mais 
próximos  até  Porto  Natal,  precisam  de  trinta  dias,  e  de  sessenta  desde  os 
mais  afastados,  emquanto  que  de  Lydenburg  a  Lourenço  Marques  só 
gastam  oito  ou  nove  dias.  É  realmente  notável  esta  differença. 

Os  hollandezes  occupam  o  território  que,  como  temos  dito,  delimita 
sobre  parte  da  nossa  província  de  Moçaml)ique,  mas  o  ponto  que  lhe  fica 
mais  próximo  e  que  mais  facilmente  pôde  communicar  com  as  principaes 
cidades  e  com  o  maior  centro  do  seu  desenvolvimento,  é  incontestavel- 
mente Lourenço  Marques.  D'esta  grande  vantagem  e  da  supremacia  do 
nosso  porto,  pôde  agourar-se  um  brilhante  futuro  á  nossa  colónia,  se  nos 
quizermos  aproveitar  de  tão  favoráveis  condições. 

População.  —  Não  temos  estatisticas  por  onde  se  possa  determinar 
com  exactidão  o  numero  de  habitantes,  mas  não  ha  na  villa  mais  de 
1:000  almas  entre  pretos  e  brancos.  Dififerentes  escriptores  elevam  este 
numero,  porque  contam  com  a  população  ambulante  dos  pretos,  que 
de  dia  estão  na  villa  para  o  trabalho  braçal  ou  ofiBcios,  e  de  noite  se 
retiram  para  as  siias  palhotas  que  ficam  fora.  O  numero  de  europeus 
nacionaes  e  estrangeiros  não  excede  a  40.  Os  indianos  canarins  e  banea- 
nes  attingem  a  cifra  de  100.  Os  mais  são  pretos  ou  mulatos.  Infelizmente 
os  europeus  nacionaes  são  cm  menor  numero  do  que  os  estrangeiros,  que 
também  administram  as  maiores  casas  de  commercio  que  ali  ha. 

Commercio.  —  É  feito  com  o  interior  por  meio  de  agentes  ou  viajeiros 


europeus,  iudianos  ou  mesmo  prelos,  que  vão  ali  permutar  fazendas  de 
diversas  naturezas  por  marfim,  ^loje  em  pequena  quantidade,  pélles,  de 
que  ha  grande  abundância,  pouca  cera,  milho,  arroz,  madeira,  ele.  Occu- 
pam-se  n'este  giro  cerca  de  §p  íancjias,  que  percorreni  os  río^s  da  circum- 
vizinhança,  como  o  de  Maputo,  Bombay  e  Çíalaj,  estes  em  pequena  escala, 
e  o  rio  da  Magaia  por  onde  se  (az  o  maior  còmmercio,  e  que  aíjástecé  a 
villa  nao  só  do  sustento  necessário  para  a  sua  população,  màs  de  madei- 
ras para  edificações,  comt)ustivel,  e[c. 

Rio  da  Magaia  ou  King's  George  River.  —  Quando  descrevemos  a  ba- 
hia  de  Lourenço  Marques,  dissemo§  que  este  rio  ficava  por  (r^s  da  ilha 
Shefina,  entre  esta  e  a  terra  arme  do  í^ahota.  *  ' 

Com  effeito,  seguindo  derrota  do  porto  de  {^ourenço  Marques  para  este 
rio,  procura-se  tomar  a  pçnta  Kp-  da  dita  iljia  o  mais  piroximo  possível, 
vistoque  da  terra  firme  at$  ali  ha  grande  espraiado  e  só  uni  canal  com  suffi- 
ciente  fundo  para  lanchas,  em  baixamar,  em  que  é  mais  conveniente  fa- 
zer esta  viagem  para  aproveitar  o  principio  da  enchente  na  em^bocádura 
do  rio,  por  onde  os  mglezes  o  investiram,  daníló-lhe  entáo  a  denominação 
de  Kin^s  George  River. 

Seguindo  pelo  dito  canal  ao  longo  da  ilha,  e  se  a  baixamar  for  de  ma- 
rés grandes,  teremos  de  fundear  sempre  próximo  d'ella  na  ponta  N.  n6 
sitio  da  passagem,  porque  o  espraiamento  é  quasi  completo,  e  só  depois 
de  uma  hora  de  enchente  poderemos  continuar  a  navegação. 

Então  suspende-se  e  navega-sé  com  a  prOa  em  direcção  á  ponta  do 
Maçaneta,  no  continente,  a  qual  é  bem  saliente,  não  só  porque  não 'ha  ali 
nenhuma  outra,  como  porque  começa  então  um  mato  muito  fechado,  que 
se  estende  ao  longo  da  praia,  e  do  qual  6s  moradores  de  Lourenço  Mar- 
ques se  fornecem  mais  principalmente  de  madeiras,  que  são  óptimas  pára 
construcções. 

Chegados  ali  navega-se  então  a  meio  rio,  que  corre  entre  esta  terra 
que  nos  fica  á  direita,  da  qual  toma  o  nome  o  rio  de  Maçaneta  e  a  Shefina 
Grande  á  esquerda,  em  continuação  da  outra  de  que  temos  fatiado,  e  a  que 
os  pretos  chamam  Shefina  Pequena. 

Effectivamente  estas  duas  ilhas,  que  nas  marés  vasias  parecem  uma  só, 
porque  um  braço  de  areia  as  une,  apparecem  inteiramente  separadas 
quando  a  maré  enche  e  cobre  o  dito  baixo. 

A  Shefina  Grande,  por  este  lado,  torna  o  rio  tortuoso  e  em  partes 
baixo,  formando  uma  curva  até  encontrar-se  com  o  que  vae  para  o  inte- 
rior e  com  o  que  vem  directamente  da  bahia,  as  aguas  dos  quaes  a  ba- 
nham pelo  lado  de  E. 

Pelo  lado  S.  forma  a  costa  da  bahia  em  continuação  á  costa  Calungo 
junto  á  enseada  de  Monte  George,  que  os  navios  baleeiros  procuram 


í»ra  ancorar  e  p^iyçr-sç  t^S  rfifr«§cos,  g  Ççs^  ^p  Cj.  do  f^^çif^  (^^  oíjtç| 
ilfaaSbefioa.. 

Entre»  p.Qi$,  a  costa  Calango  ç  a  dita  ilha,  ha  uma  embocadura  que 
forma  a  entrada  do  rio  que  se  está  descrevendo.  (Ista  é  pouco  funda  e  pç- 
ngosa  pela  sua  alt2\  arrebçints^ção,  principalmente  com  os  ventos  do  <}^^- 
drante  do  S.,  na  baixam^r  ^as  marés  g];'audes.  Ç^ega  mesmo,  a  ficar  en- 
xuta e  por  consequência  a  paralysai;'  po;*  moo^ei^t^  a  communícacão  á^ 
aguas  do  rio  com  as  da  bahi?.  ^q  çi^[cçífifi\o  já  ^  |$em  entrado  peque- 
nos navios  ^ 

Fica  portanto  sabido  qi^e,  çoip^  |;)om  tewpp,  aquella  entrada  é  4cces^- 
vel  a  ns^vios  pequeAOS,  sómen^  n^  preamar  ^e  ^iarés  grandes,  if)^,  çom 
mau  tempQ^  nçgpii  mesma  eni  I^Qtias  qu  bptes  $e  deve  demandar,  por- 
que se  corre  risco.  Temos  outra  entrada  que  me^bof  sp  presta  para  ejpo^- 
barcações  vm^  e  tao^l^p.^^  parq  PQqUi^QO^  v^orç3,  que  coopt  a  niaré  cheia 
ou  meia  maré  navegam  ali  francamente  com  bom  pratico. 

Para  a  partei  ^  dentvo  ^'Q^\fi  bpico  e  J4  {lO  ri^p^  ha  fundo  de  li  até  17 
melros,  e  podem  navegar  navios  glandes.  2\f^  Í2%  kilometros  da  sua  em- 
bocadura, segundo  a  opinião  dos  práticos  que  o  conhecem  e  o  téeni  son- 
dado em  diffor^Q.^es  pontojs  !• 

Ifo  Uarr^quene  é  el^  bastante  fundo  de  un;i  a  oqtro  lado.  Da  suá  em- 
bocadura, pois,  até  enc(\fttrar-$e  cojn  o  r^p^da  Mac^ftçta,  haveí*á  2:778  me- 
tros de  extensão  $pt^re  92l6  de  largura,  cpm  ^  qual  continua  poucp  mais 
ou  rnenp^  ^té  ^q  ]iíari:^Qtier^e»  que  eA^ao  si^rg^  ffiuitp  niais.  Pouco  de- 
pois do.  pncoatro  ^'es^es  dpÂs  rios,  apparece-pos  4  esquerda  a  ilb^  ^ 
Bengue^ne,  cercada  pp;:  um  pequenp  ^p  que  yem  também  desagi:^ 
n'aquelle,  como  d'elle  recebe  as  aguas  que  o  enchem. 

Aqui  começa  o  dominio  dp  cegplp  de  Magaia,  estendendo-se  a^p  ^  ilha 
SberÂnda. 

D.*e$te  pprtQ  até  ao  l^^rraquene,  cerca  de  49  ki|pmetro,s,  o  que  ba  np- 
tavel  é  o  magestoso  arvoredo  do  mesmo  rio,  que  orla  constantemente^  ^ 
suas  margens,  deií^antV^no^  ver  algumas  campipas  de  ricas  pa^t^ens  que 


1  Por  ali  entrou,  não  ha  muitos  annos,  o  cuter  inglez  Herald.  Não  tendo  ido 
legalisar  os  seus  papeis  á  respectiva  alfandega,  foi  muito  bem  aprisionado  pelas*au- 
cto^idades  de  Lourenço  Marques,  poisque  se  achava  fazendo  contrabando. 

Mais  tarde,  foi  entregue  com  uma  inc^emnisação,  quatro  vezes  superior  ao  va- 
lor do  navio  e  carga,  a  exigências  do  governo  inglez. 

Çra  entuo  governador  de  Lourenço  Marques,  Francisco  de  Sallcs  Machad9.  Re- 
corda-nos  esta  questão  a  de  Charles  et  George. 

-  Já  houve  quem  o  sondasse,  aindaque  imperfeitamente, a^éáithaii^QsLyiiões, 
mais  no  mterior,  e  com  a  certeza  de  que  tem  um  canal  profundo  e  tiom  nar^  na- 
vios. 


3i2 

se  podiam  aproveitar  para  cultura  de  toda  a  ordem  sem  grande  díspcn- 
dío  e  muita  facilidade  de  communicações. 

As  margens,  que  não  serão  insalubres  quando  cuidadosamente  culti- 
vadas, poderiam  offerecer  productos  que,  por  si  só,  fariam  a  riqueza  e  a 
grandeza  de  uma  colónia  de  primeira  ordem;  no  entretanto  estão  no  seu 
estado  primitivo  por  falta  de  colonisação,  a  qual  não  é  possivel  estabe- 
lecer sem  que  haja  segurança  individuai . 

Ha  ali  uma  povoação  de  palhotas  e  uma  casa  de  zinco  (ferro  zincado) 
pertencentes  aos  moradores  de  Lourenço  Marques,  e  que  lhes  servem 
para  vendas,  depósitos  de  géneros  e  outros  misteres  do  seu  commercio. 

Como  já  se  disse,  o  rio  aqui  é  largo  e  magestoso  e  poderia  ter  fundeada 
com  commodidade  uma  grande  esquadra,  se  eila  porventura  podesse  en- 
trar pela  sua  embocadora. 

Á  dita  povoação  segue-se  uma  enorme  campina  de  óptimos  terrenos, 
sendo  alguns  alagados. 

Como  a  costa  faz  uma  grande  enseada  para  o  N.  e  o  rio  até  ali  segue 
muito  para  E.,  ouve-se  distinctamente  n'aqueHe  local  a  arrebentação 
quando  ha  vento  forte  do  S. 

Um  pouco  acima  d'esta  povoação  começa  o  rio  a  ser  muito  mais  es- 
treito e  tortuoso,  difiScultando  a  navegação  de  vela,  para  a  qual  sendo  de 
feição  o  vento  n'um  sitio,  já  n'outro  não  aproveita. 

Aqui  bifurca-se  um  braço  de  rio  que  dista  para  NNE.  emquanto  que 
o  próprio  rio  toma  uma  direcção  SE.  para  depois  seguir  para  o  N.  e 
para  E.  até  á  ilha  dos  Limões,  assim  chamada  porque  não  tem  senão 
mato  de  limoeiros,  que  produzem  uma  quantidade  enorme  de  fructo 
que  é  de  quem  o  colhe. 

Á  proporção  que  o  rio  se  vae  internando,  diminuo  de  fundo,  dificul- 
tando a  navegação  com  tortuosidades  e  exigindo  cautela  nas  proximida- 
des das  margens,  pelo  perigo  de  ir  de  encontro  ás  arvores  caídas  de 
Irage  em  longe. 

Muda  a  sua  denominação,  conforme  os  sítios  que  vae  percorrendo,  em 
Mautriça,  Manicussa,  Cossíne,  etc. 

Não  ha  estudos  feitos,  mas  calcula-se  que  a  distancia  entre  Lourenço 


1  Diocleciano  Fernandes  das  Neves,  actualmente  residente  na  Figueira  da  Foz, 
mandou  construir  uma  casa  de  pedra  e  cal  no  Marraquene,  e  fez  plantações  de  canna 
de  assucar,  algodão  e  amendobim. 

Um  regulo,  que  se  diz  súbdito  portuguez,  levantou  uma  guerra,  e  passando  por 
ali  obrigou-o  a  fugir,  arrasou-lhe  a  casa  e  destruiu-lhe  as  plantações. 

Não  se  tomaram  providencias,  e  o  agricultor  viu  os  seus  bens  perdidos.  Justi- 
ficou, todavia,  os  prejuízos  que  sofTreu  e  requereu  indemnisações,  que  lhe  não  fo- 
ram dadas  nem  attendidas,  e  nem  sequer  reivindicou  os  terrenos. 


343 

Marques  e  o  poDto  até  onde  chegam  presentemente  as  lanchas»  com  algu- 
ma difficuldade,  um  pouco  acima  da  Cossine,  nSío  é  inferior  a  660  kilo- 
metros,  sendo  possível,  com  pequenos  melhoramentos,  seguir  até  900  ki- 
lometros,  onde  já  não  temos  régulos  sujeitos,  podendo  aliás  tél-os. 

Seria  conveniente  proceder-se  ao  estudo  e  exploração  d'este  rio,  cuja 
importância  se  está  reconhecendo  n'estas  breves  informações. 

Muito  para  o  interior  encontra-se  elle  com  o  Limpopo,  rio  do  Oiro  o^ 
Inhampura,  que  por  todos  estes  nomes  é  conhecido,  e  de  que  passámos 
a  dar  resumida  noticia. 

Rio  Inhampura,  rio  do  Orio,  ou  rio  limpopo,  —  Este  rio,  que  na  sua 
embocadura  na  costa  Calango,  não  longe  da  embocadura  da  bahia  de 
Lourenço  Marques,  tem  a  denominação  Inhampura,  está  a  25^  11'  36"  de 
latitude  S.  eSS""  11'  30"  de  longitude  E.  do  meridiano  de  Greenwich. 

Não  temos  noticias  completas  a  seu  respeito,  no  emtanto  conhecemos 
as  viagens  de  exploração  que  ali  fizeram  os  inglezes  Elton,  actual  cônsul 
inglez  em  Moçambique,  e  Erskine,  filho  do  secretario  da  colónia  ingleza 
de  Porto  Natal,  que  não  confiam  nas  suas  supposiçOes  nem  explicam 
muito  a  foz  do  mesmo  rio.  Dizem  elles,  que,  collocados  em  torra,  não  vi- 
ram embocadura  que  lhe  desse  communicação  com  o  mar;  ao  contrario 
parecia  que  entre  o  rio  e  a  costa  se  antepunha  um  montão  de  areias,  mas 
que,  nuo  obstante,  acreditavam  que  devia  haver  essa  communicação,  vis- 
toque  n'elle  se  percebia  enchente  e  vasante. 

Nem  um  nem  outro  d'esses  investigadores  procederam  a  mais  inda- 
gações por  lhes  faltarem  os  meios  precisos  para  tal  fim — uma  embarcação 
apropriada  —  vistoque  aquella  que  possuíam  era  de  borracha  e  só  servia 
para  passagens  de  rios  sem  ondulações.  Nem  pela  praia  tentaram  as  pes- 
quizas  por  não  agradarem  aos  cafres  d'ali,  que  são  maus  e  desconfia- 
dos. 

É  certo,  porém,  que  no  prolongamento  d'esta  costa  se  vêem  destroços 
de  navios,  de  cuja  perda,  no  entretanto,  não  ha  noticias. 

Isto,  a  má  fama  dos  negros  d'aquella  costa,  e  a  sua  opposição  a  certas 
investigações,  fazem  persuadir  mysterios  em  matéria  de  naufrágios  ^ 


1  O  sr.  Francisco  dos  Santos  a  quem  se  devem  estas  noticias  diz : 
c  Tendo  eu  saído  de  Lourenço  Marques  para  Inhambame  no  hiate  americano 
Wamrightj  com  vento  de  feição,  segui  ao  longo  d^aquella  costa,  da  qual  me  approxi- 
mei  a  perto  de  6  kilometros  no  sitio  de  Inhampura,  de  propósito  para  indagar  a 
sua  foz,  tanto  quanto  me  fosse  possível,  e  só  pado  conhecer  o  seguinte :  que  nave- 
gando-se  do  N.  para  S.  ou  vice-versa  do  longo  da  costa,  nao  se  descobre  cousa  que 
pareça  embocadura,  ao  contrario  uma  constante  continuação  de  costa,  mas  ehe- 
gando-se  á  sua  latitude  e  na  sua  proximidade,  para  o  N.  e  para  o  S.,  avísta-se  en- 


ili 

Importância  de  Lourmco  Mar(nt^s.—\)  ^^\tiÇ\Q  dfi  ^ipurenço  Mar- 
mes,  ^  consequência  da  sua  vantajó^  posij^Q,  p^óde  Jíj^Ti?r-se  grandioso 
se  se  rèàjisareDi  as  mBl&qra|i)eiiK>s  de  que  carece  e  para  o  que  a  fiatu- 
reza  o  predestinoi],  ' 

É  um  porto  próximo  do  Cabo  da  ^pa  ^perança,  que,  em  occasiSes 
de  [eraporaes  é  niuiiti  apro^ri^do  para  receber  toda  a  qualidade  de  em- 
[)arcacúe9,  e  que  ppdfiria  torqar-se'  porto  (^p  arribada  de  primeira  or- 
dem, 'de  gae  re^pl|an9m  o.  ÍIore|cimeDto  t^a  sua  úidustpq  e  outras  vaD(a- 
gens^ 

Cercado  dg  fios  em  (|lyçrs^^  (ilireccões,  ^ão  racilitadas  por  este  pieio 
as  sjias  reta^s  Ç9ip  o>  çòigj^W^^plo,  coii^  a  iqduslda  e  com  a  agricuUiira. 
qóe'wr  ^ep^tVírá  5f  pòU^m  de^j^yplvç^-,  e  de  certo  se  desenvolveriam 
em  ppuçqs  ^nnp^S^  se  à 'a([enp|o  sevol^sse  para  aquella  rica  possessão 

ÇÀmwp  díç^^o  e  fáçi|  p^í)  a  CQpublica  do  Traoswaal,  que  é  cheia 
U  XP  9.  Ib  fegii^í  l^-íi''^'  ^fl^V^U^íl  9  populosa,  ganliaria  a  graa- 
4|SS|m|  v^geç^,  ^§  mj^is  !|i^D^,em  í^,  de  possuir  de  momento  e  sem 

lio  nma  separação  que  forma  uma  embocadura  distincta,  depois  uma  peqaena 
iQ]$  coin  9^10,  e  ao  S.  c|'esta  uma  outra  embocadura  maxi  pequena  do  que  aquella. 

<A  oDf^ulãç^  e^  tó^  31?^  c<)^^  ^  constante,  o  o  rolo  do  mar  na  praia  é 
muito  voTomã»};  por  isso  levanta  uma  certa  vapo^isaçlo  que,  com  os  raios  do  sol, 
dificulta  os  rajos  viauaes  dos  óculos.  ' 

"  ''<'VIpõri3so'dè'cíi^'dt)masIro  do  biale  a  airebentaçSo  continuada  da  costa,  c 
para  dentro  o  mar  manso  do  rio. 

•Entre  aquetU  e  este  (oi-iQç  impossível  divisar  qualquer  communicaçlo  ou 
çojfsa  ç^e  ^  an^pp^e^se  en^rç  ell/es  ç  os  separasse,  sendo  comtudo  possível  que 
^(nim  canal  d^pássagem  a  qualquer  embarca^^o.  Que  a  sua  entrada  não  seja  boa 
a%íliVri'du  cssá 'rònviccão,  mas  que  seja  impossível  também  não  me  parece.  Não 
será  como  a  do  rio  KiDg's  George,  que  na  baixamar  das  marés  grandes  fica  inteí- 
raoienie  'descoberta  pára  na  preamar  dar  accesso  a  embarcações  pequenas  ?  E  a 
embocadura  mais  pequena  que  se  avis;a  a  S.  não  será  melhor?  pelo  menos  a  ar- 
r^Emiação,  a|i  ni^  c  tão  viva.  São  tudo  çoDJectoras,  mas  é  de  grande  interesse  esta 
exploração,  porque  o  r1o  passa  pelas  rcgiíles  mais  férteis  d'estes  scrtSes- 

iParà  mnW  d'esla  einhócMura  6  inanso"o  rio  e  lem  fundo  variado  de  9  a  30 
metros,  bavendo  sitios  cm  que  expraia  inteiramente  até  ao  canal. 

•A  sua  largura,  ali,  calcula-se  approxímadamcnto  em  4  kilomclros,  mas  in- 

lernando-so  estreita  a  i6'i  metros,  é  menos  largo  mas  muito  similbante  ao  rio  da 

igaia  fiii  Kiiii;'s  Genrjn;  River,  c  lambem  como  esle  pôde  ser  navegável  ató  muito 

I  ■!   (imalé  á  sua  communicaçao,  poisque,  como  já  disse,  ellçs 

■  i< ' I"  um  braçA  que  este  deita  para  U.  até  áquelle  e  segue 

^mpn'  .j>'  ..X  ll.lll-^^.irti.  lamaudo  então  o  nome  de  Hío  dos  Glephantes. 

'  '.Este  rio  do  Oiru  jiresume-se  que  segue  para  o  N.  e  para  O.  até  á  republica 
do  Transwaal  que  vae  torneando  pelo  seu  lado  de  L.,  primeiro  e  despis  pelo  O.,  pe- 
íu  sén^,  A)s  |I^qio'i  dh^undo,  Zouipousberg  com  a  4enoE^,i^aç^  de  1Jt]]p(^> 


dispêndio,  uma  grandç  colooisacão,  que  consumiria  grande  quantidade 
de  géneros,  entretendo  so  com  i^so  todo  o  nosSo  raçpiticp  commeròio  e 
fazendo  sair  por  este  bello  porto  Òsséus  avultados  proiiucíos.^*    ^'* ' " 


Estado  da  índia— Dá-se  este  pome  ^  parte  (}ue  ainda  nos  resta  do 
nosso  império  do  oriente!  É  uma  possessão  mais  peaífeiía  (ftáFilossa 
Senegambia*,  e  é  cinco  vezes  maior  que  a  provinda  3fefe.  tholfi^  e'Wô- 
cipe.  Representa  todavia  um  nome  grandioso,  uma  das  venerandas  reli- 
quias  dás  nossas  possessoés^iJo^seciftò^^VL  K  suàV^^ísfSíríJ^ÇíPa  nós 
uma  desventura,  tão  tanto  pela  grandeza  material  como  pela  gloria  que 
4e  todo  se  perdia  com  o  desmembramento  da  colónia  mais  heróica  da  na- 
çSo  portugueza. 

Não  duvidámos  conservar  o  nome  por  qqe  ofQcialmente  se  reconhe- 
ceu o  território  que  ainda  possuímos  na  costa  dècidenta)  (}q  |p(|K§}|9 1  ^^^f 
no  decurso  das  nossas  consiiTéfãções,  usaremos  indifferentemente  da$ 
palavras  índia  portugueza  ou  província  dêGoa^. 

Estas  explicações  não  sao  in^ifiterentes,  porque  o  primeiro  devendo 
medico  hygienista  é  empregar  termos  bem  definidos,  e  assignar-lhes  coná 
a  máxima  clareza  a  sua  comprehens^ô;  a'  fim  de  que  fiquem  desde  logo 
determinadas  as  bases  è  as  (UflerèntSéAperaçõès  cujos  re1§J^(lòs  seríáni 
inexactos  ou  confusos  sem  estas  declarações  preliminares. 

Enlacemos  porém  as  indagações  medicg-geographicas  attinentes  a 

dar  idéa  de  um  paiz  cuja  salubridade  se  deseja  cotflieéier,  com  um  es- 

boço  geral  feito  por  mão  de  mestlre.  E  uma  espécie  (fç  jçirdim  junto 

ás  sementeiras  das  estatisticas  que  têem  tanto  de  utèis  ^(iuanto  de  fasti- 

diosas. 

A  superfície  da  índia  portugueza  tem  sido  avaliada  por  difEerentes  fór- 
*,         .   .     ,  ^'        ,         ^'  ' ,    .  .  ..  ^..  ioc^-xtíHu  •'  fu- 

rnas. Na  estatística  de  Portugal  e  suas  colónias  a  pagina  xvi  e  37o  calcu- 

la-se  a  superfície  geral  em  5:400  kijomelros  quadrados,  ihas  na  pagina 

381  apresenta-se  um  mappa  em  que  se  avalia  em 3:6l2r]^oannuario es- 


tatístico de  Gotta  admitte-se  a  de  3:748. "  " '^ 

Carlos  Vogel  e  Francisco  Bordalo  apresentam  lambem  dados  diver- 
sos, emquanto  á  superficíe,  o  que  nos  coUóca  na  impossibffidáde  de  apu- 
rar a  verdade. 

Os  limites  doesta  nossa  possessão  do  ultramar  são  a  0.  o  mar,  ao  N. 
o  rio  Arondem,  a  E.  a  cordilheira  dos  Gaites  e  ao  S.  fica-lhe  õ  Canará- 
Divide-se  do  seguinte  modo : 


m'      ■   ■   '' 


1  Tomamos  os  dados  que  se  acham  na  estatística  geral  de  Portugal  e  suas  co- 
lónias, pag.  XVI. 

'  Da  índia  portugueza  poucas  palavras  se  escreveram  no  diccionario  Larousse. 


Rhas  de  Goa.  — Comp&e-se  da  ilha  de  Goa  propriamente  dita  e  das 
ilbas  da  I^edade,  Cboi^o  e  Santo  Estevão. 

Bardez. 

Salsele. 

Pernem,  Bicholim,  Sattary,  Pondá,  Embarbacem,  Chandrovaddy,  As- 
targar,  Baliy  e  GaDacooã. 


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3:760 

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8:006 

60.391 

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5:304 
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1,977 

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1:066 
7:174 
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54:796 

16.696 

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1:801 

As  nossas  leis  exceptuam  das  possessões  ultramarinas  a  índia  chaman- 
do-lhe  estado,  emtjuanlo  ás  outras  chamam  províncias.  É  uma  divisa  com 


317 

que  se  galardoam  as  memorias  sempre  gloriosas  dos  Gamas,  Almeidas, 
Albuquerques,  Sampaios,  Braganças,  Castros,  Âloroas,  Egas,  Redondos, 
Ericeíras,  Mellos,  e  tantos  outros  que  ali  derramaram  o  seu  sangue,  e 
com  o  qual  so  pôde  escrever  a  maior  epopéa  do  mundo.  Resta-nos 
bem  pouco  d'aquelle  grande  morgadio;  resta  um  prédio  de  recreio,  for- 
mosíssimo prédio  que  a  natureza  aformoseia  e  que  as  ruinas  condecoram. 
De  um  lado  servem-lhe  de  muro  os  Gattes,  do  outro  proporciona-lhe  ac- 
cesso  o  grande  mar  por  dois  portos  e  innumeras  enseadas.  No  centro  ha 
canaes,  rios,  arrozaes,  palmares,  florestas  insondáveis,  cafesaes,  gados. 
Terás  e  flores  por  toda  a  parte,  uma  população  sempre  crescente,  muitas 
aptidões  para  as  letras  e  sciencias,  muita  indolência,  castas  inapproxima- 
veis,  apesar  de  já  boje  esclarecidas,  religiões  diversas,  sendo  predomi- 
nantes a  christa,  a  mahometana  e  a  gentilica  ou  bramanica;  agricultura 
e  industria  a  primitiva ;  commercio  quasi  nenhum  com  a  Europa,  nenhum 
com  o  interior,  pouquissímo  com  a  China  e  com  a  Africa  oriental;  algum 
com  Bombaim.  Nada  mais.  A  Inglaterra  conseguiu  isolar-nos,  e  monopo- 
lisar  todo  o  commercio  do  levante,  e  comtudo  o  padroado  ainda  se  estende 
por  todo  o  Oriente . 

O  estado  da  índia  portugueza,  observa  Francisco  Bordalo,  afora  as 
praças  de  Diu  e  Damão,  pôde  considerar-se  como  formando  um  sô  corpo 
sem  solução  de  continuidade ;  apenas  pequenos  rios  ou  estreitos  braços 
de  mar  separam  as  ilhas  do  continente  e  dividem  este  em  provmcias  ou 
outras  menores  divisões. 

É  preciso  ter  bem  em  vista  similhante  disposição  dos  terrenos,  e 
como  ali  evidentemente  se  nos  deparam  uns  logares  mais  insalubres  do 
que  outros,  devemos  attender  também  á  divisão  que  geralmente  se  faz 
de  tal  território. 

A  índia  acompanhará  de  certo  o  movimento  de  colonis^ção  de  Mo- 
çambique, se  este  for  convenientemente  desenvolvido,  e  servirá  então  de 
interposto  ás  nossas  possessões  do  Oriente,  representadas  por  Timor, 
Macau,  Goa  e  Africa  oriental,  banhadas  pelo  mar  das  índias,  estendendo-se 
ao  S.  e  ao  N.  do  equador. 

ProYíncía  de  Hacan  e  Timor. — São  estas  as  duas  possessões  que  se 
acham  mais  aTastadas  da  metrópole,  e  podem  sustentar  vantajosas  re- 
lações commerciaes  não  sô  com  a  nossa  província  de  Goa,  mas  também 
com  as  colónias  hoUandezas  e  com  a  província  de  Moçambique. 

Calcula-se  a  distancia  entre  Macau  e  Timor  em  3:666  kilometros, 
isto  è,  em  pouco  mais  do  que  a  distancia  entre  Lisboa  e  a  ilha  de  S.  Thiago 
de  Cabo  Verde.  Goa  e  Macau  ficam  (](uasi  tão  afastados  entre  si,  como 
Lisboa  e  as  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe. 


Jlfe 


E  assas  limitada  à  siiperoçie  *Íé  j^àòáú,  nias  torâa-se  notável,  d3ô  só 
porque  e  um  ponto  míermediano  eútre  os  três  impérios  do  Oriente, 
China^  Japão  e  Siao,  como  j>ov  ser  um  sanitarium  importante,  c  Macáo, 
ÒDsef ya  Carlos  ^ogel,  ésí  áfeVeriíi  pour  les  européens  de  toutes  les  na- 
tions,  gui  se  çressehl  àux  pórlès  de  lá  CHihe,  comme  une  espèce  d'hõtel- 
lerle,  mills  vie^^^  hábíter  de  prèrérehce.  La  légation  française  a  établl 
sâ  cnan'dBÍiérie  dahs  cètte  vilíe,  et  lés  liégocíants  anglais  de  Hong-Kong 
ònt  égaiemènt  taít  cÒnstriiiré,  prés  de  ses  murs,  beaucoup  de  mal  sons  de 

âamoagn^  ou  oungalos  ou  ils  viennent  respirer  le  bon  air,  et  se  recréer 
les  enriuiès.  áú  séjbiir  de  lebr  ÍnSt*ô  rocher » . 
.  Açoáiçao  geo^râphicà  iie  ítacâu  é  determinada  por  22**  10'  W  de 
íatilude  lí.  e  jlí®  l8'  30"  'de  longitude  É.  Pica  portanto  quasi  sobre  o 
tromco  boreal,  dév^^  o  clínia  clássificar-se  entre  os  climas  tropicaes 
prbpnàmeale  (litos.  rfesté  caso  listão  o  distrícto  de  Inhambane,  na 
'  iroyihciá  de  Moçambique,  cblldcado  ao  §.  dó  equador,  e  as  ilhas  de  Cabo 

extraordmana  a  população  especifica  d  este  pequeno  território. 


í 


figují^do  á  frente  de. todas  as  colónias  europeas;  calcula-se  em  18:000 
haéiiaí^les  j^or  cada  ^tlometro  quadrado  ^ 

O  futuro  de  Macau  depende  principalmente  do  progresso  da  provin-   * 
ciá  ae  Moçambique,  dá  animiiçáb  do  estado  da  índia  e  da  prosperidade 
de  Timor. 

É  preciso  também  não  esquecer  que  esta  possessão  é  a  sentinella 
avançada  gué  ínais  se  avizinha  da  qiie  conservámos  na  Oceania,  que,  com 
0  desenvolYiiQ.ento  da  sua  colonisaçao,  será  de  certo  tão  rica  como  as  pro- 
víncias de  S.  tíidmè  e  Cabo  Verde.  Urge,  pois,  animar  a  navegação  enu^e 
a  cidade  de  Macau  e  a  ilha  de  Timor.  E,  se  nos  lembrarmos  do  que  acon- 
teceu com  as  possessões  dá  África  occidental,  hão  devemos  adiar  por 
muita  tempo  a  realisação  de  tál  emprehendiínento. 

Alem  da  navegação,  é  preciso  cuidar  em  proteger  o  commercio  e  a 
agricultura,  e  muito  especialmente  em  fazer  um  tratado  com  a  China, 
para  regular  a  emigração  que  deixou  de  se  fazer  por  Macau,  mas  augmen- 
tou  em  Hong-Kong,  porto  inglez  e  a  poucas  horas  de  viagem  da  nossa 
possessão. 

^0  oeveínos  terminar  este  resumo  de  noticias  a  respeito  de  Ma- 
cau, séin  mencionar  unia  reliqbia  veneranda,  a  gruta  onde  Camões,  se- 


1  Segundo  á  estatística  de  G.  Peir,  á  superflcie  de  Macau  calcula-so  em  4  kílome* 
iros^  quadrados  (pag.  xvi),  ou  em  385  hectares  (pag.  375).  ?}q  annuario  estatístico 
de  Gotha  avalia-se  a  mesma  superfície  em  3^f, 4.  ComoVogel,  diz  que  eila  tem  uma 
légua  quadrada,  a  população  especifica  portanto,  não  pôde  calcular-se  com  rigor. 


gQildo  ã  crença  ^bralmelifê  slèguidã,  cóffi^oz  os  litllmos  cantos  db  seu 
poema. 

A  ilha  de  Timor,  de  qae  possuímos  a  maior  parle,  levanla-se  entre 
8®  2(y  e  10**  22'  Ifle  latitude  S.,  e  deve  pôrUntò  clássibcàr-se  como  um  çlimá 
equatorial  S.  È  de  grande  fertilidade,  mas  à  ágnciillurã^eáà  âè^èz^^^ 
Cultiva-se  ali  milho,  iarròi,  bâtalas,  trigo,  etc.  tià-sè  tíem  ò  tabaco  e  b 
cafê,  que  é  niuilo  estiiiiãdo  dos  hotlàhdezes  ba  iltia  de  iavá,  è  que  se  pro- 
duz ena  menòi*  qbántidade  dó  qtie  em  qualqdef  íazehiia  (ia  iirta  oé  è,  Tlionie. 
Esta  possessão  e  dezeseis  vezes  maior  que  a  ilha  a  que  nos  referimos,  e, 
em  ígualdadté  de  colonisáçáb,  deveria  render,  pelo  menos,  dez  vezes  mais, 
o  que  equivaleria  a  1  .OOÒrOÒOjjOOO  réis. 

Quem  diiriá  que  no  ségilhdb  qiiartb  '(Í'ésÍe  seciilo  à  ilha  dè  S.  Ttiò- 
me,  tao  pobre  e  tao  esquecida,  chegana  a  dar  imi  rendunenfo  de  reis 
iOOrOOOíJOOO? 

A  ilha  de  Timor  não  é  iheriòs  fértil  qiie  a  de  â.  Thòmé,  é  lo  seu  ler- 
rítorio  é  immensamenté  niais  éxténsb^  e  portanto  uinà  esperançosa  còlb- 
nia,  e  o  seu  commercio  augmentará  se  tràtáriíios  da  còlonisácãó  ãas  posses- 
sões, seguindo  o  systemá  ^cloptadò  péla  InRiálerrá  oú  Hollanda. 

A  ilha  de  Tinibr,  segundo  b.  í^èry,  tem  Í7:(Xk}  kllómetros  quadra- 
dos S  más  uãò  se  sabe  o  humero  de  habitantes  que  se  acham  no  térritb- 
no  portuguez.  N  estas  circumstancias  poucas  considerações  temos  que 
fazer,  porque  apenas  nos  resta  pedir  com  instancia  que  se  olhe  cOm  ajlten- 
ç3o  para  um  paiz  tão  fértil,  que  representa  a  quinta  parte  da  superncie  de 
Portugal,  e  que  está  quasi  abandonado  e  esqueciao. 


Portngal,  nndecixno  paiz  da  Europa,  ooonpa  o  qnarto  lo^ár 

ooxno  nação  colonial 

Para  se  poder  comparar  com  facilidade  b  terrltonb  'do  reir^o  dè  Pj^r- 
tugál  com  o  da  itespánha,  frança  é  Holianda,  apreciando  lámbem  o  dás 
principaes  nações  da  Europa,  é  preciso  reunir  os  dados  indispensáveis. 

Os  limites  das  liaçõés  não  se  aevèm  proci^rar  nos  marés  quê  lhes  per- 
cam o  solo,  nem  nas  montanhas  que  lhes  difficiiltàm  as  coniiáumcações. 
Marcam-se  de  modo  mui  diverso.  ^        .  ií?    ) 

As  nações  nascem,  vivem  e  desenvolvém-se  segundo  as  ámnidàdes 
morâes  que  'caracterisam  os  differentes  ramos  da  famiíia  humana,  è  n|p 
estão  em  relação  com  os  tractos  de  terreno  em  que  se  dividem  e  subdi- 
videm as  terras  susceptíveis  de  serem  habitâaas. 


. .  ,  -  / .    .-..1  » 


^  Carlos  Vogel  calcula  em  sete  oitavos  da  área  total  da  ilha  a  superficie  do 
nosso  território. 


380 

A  familia  humana  é  cosmopolita ;  o  homem  individualmente  não  o 
pôde  ser  senão  deptro  de  certos  limites.  E  assim  deve  ser. 

0  homem  é  uma  organisação  circumscripta,  que  não  pôde  partir-se, 
conservando  a  vida;  a  humanidade  é  ill imitada,  pôde  soffrer  cortes  pro- 
fundos ou  grandes  abalos,  mas  conserva  sempre  a  sua  integridade,  com- 
pondo-^ de  uma  cadeia  indeterminada  e  prendendo-se  por  um  lado  á 
terra  e  por  outro  a  Deus,  origem  primitiva  de  todas  as  cousas.  Mas  quaes 
foram  os  primeiros  homens  que  se  estabeleceram  no  território  que  hoje 
se  chama  Portugal  ? 

  porção  de  terra  mais  Occidental  da  Europa  tem  uma  forma  especial 
a  que  os  geographos  deram  o  nome  de  península.  Galculase  a  superficie 
em  584:571  kilometros  quadrados.  É  mai$  pequena  que  a  da  ilha  de  Su- 
matra, puramente  equatorial,  e  cuja  população  é  mais  abundante. 

É  portanto  ponto  indiscutível  que  os  paizes  equatoriaes,  por  estarem 
debaixo  da  linha  equinoccial  ou  por  serem  cortados  pelo  equador  thermal, 
não  deixam  de  ser  habitáveis  e  susceptíveis  de  se  colonisarem.  Os  homens 
espalham-se  por  toda  a  terra,  do  N.  ao  S.  e  do  oriente  ao  occidente,  per- 
manecendo mais  nos  logares  favoráveis  á  sua  conservação. 

A  peninsula  a  que  nos  referimos  é  limitada  ao  oriente  e  ao  meio  dia 
pelo  Mediterrâneo,  ao  occidente  fica-lhe  o  Occeano  Atlântico  e  ao  septen- 
trião  o  mesmo  Oceano  e  uma  parte  do  S.  da  França. 

Os  Pyrenéos,  coUocados  a  NE.  separam  esta  grande  extensão  de  terra 
do  resto  da  Europa.  A  peninsula  transpyreneana  é  conhecida  geralmente 
pelo  nome  dos  povos  que  a  habitam  ou  já  habitaram.  Diz-se  pois  indif- 
ferentemente  peninsula  hispano-portugueza  ou  ibérica;  mas  é  preciso  di- 
zer que  entre  os  portuguezes  e  os  hespanhoes  houve  sempre  completa 
separação. 

É  sobre  este  ponto  que  desejámos  fixar  a  nossa  attenção  e,  para  com- 
memorar  e  não  para  ajuntar  novos  esclarecimentos,  transcrevemos  aqui 
estas  explicações,  que  não  são  de  certo  alheias  ao  fim  a  que  nos  propomos 
chegar. 

Não  é  nosso  intuito  também,  nem  cabe  nos  limites  d'este  trabalho, 
fazer  a  descripção  ethnographica  dos  habitantes  da  peninsula,  mas  não 
deixaremos  de  relembrar  que  os  lusitanos  ^  oppozeram  tenaz  resistência 
ao  domínio  da  soberba  Roma. 

Este  facto  não  é  indifferente;  sçrve  para  demonstrar  que  os  habitan- 
tes do  occidente  da  Europa  não  se  confundirão  nunca  em  um  sô  povo,  e 
não  formarão  jamais  uma  única  nacionalidade.  Os  habitantes  das  margens 

1  Nos  Annaes  da  commissio  permanente  de  geographia  declara  o  sr.  marquez 
de  Sousa  Holstein  que  os  aetoaes  portuguezes  não  são  lusitanos. 


?^ 


32 1 

(Jo  Tejo  e  Douro  terão  em  todos  os  tempos  caracteres  próprios,  vida  in- 
dependente e  costumes  peculiares  que  se  explicam  pelas  condições  clima- 
téricas da  região  que  occupam. 

É,  porém,  necessário  dizer  que  o  território  da  peninsula  hispano-por- 
tugueza  se  acha  desigualmente  dividido  entre  os  dois  povos.  A  Hespanha 
occupa  uma  parte  5,S2  vezes  maior  que  Portugal,  mas  não  tem  dado  por 
isso  prova  de  mais  adiantamento,  nem  tem  trabalhado  com  mais  vantagem 
em  favor  da  civilisação  e  do  progresso  da  humanidade. 

Levar-nos-ía  muito  longe  a  enumeração  dos  factos  que  têem  distin- 
guido a  familia  portugueza  entre  os  habitantes  da  peninsula  occidental  da 
Europa.  O  que  desejámos  demonstrar,  o  Om  com  que  organisámos  este 
trabalho,  temol-o  declarado  por  muitas  vezes;  e  em  obra  tão  complexa  não 
deve  ser  tomada  em  conta  de  prolixidade  ou  repetição  inútil. 

Deve,  pois,  entender-se  que  pretendemos  accentuar  bem  e  patentear 
por  todos  os  modos  que  não  somos  uma  nação  quasi  invisível  na  Europa, 
poisque  se,  entre  as  nações  d'esta  parte  do  mundo,  somos  o  undécimo 
paiz,  não  deixámos  comtudo  de  ter  sido  uma  das  primeiras,  e  occupâmos 
ainda  hoje  o  quarto  logar  como  nação  colonial.  Para  não  sermos  demasiado 
extensos,  recorremos  ás  estatísticas,  que  organisámos  com  todo  o  cuida- 
ilo.  Referem-se  á  situação  de  Portugal  a  respeito  das  outras  nações  da  Eu- 
ropa, segundo  a  superfície  e  população.  Faliam  ellas  bem  alto  e  dispen- 
sam mais  largos  commentarios. 


Si 


im 


KiHiatiMtIca  comparativa  da  Kiípcrllclo  c  popnlarAo  d«  Porlnffal 

coDi  reliíetio  àfii  prlncIpacM  naçècM  da  Karopa, 

iiidependcntonicnfe  c  comprchendendo  a*  colonlaN,  protectorados 

o  tcrrltoriofi  adJarcntCM 


ni^si^maçrioí 


XlliSSitia  •••••■••• 

Aiístro-Hungria.. 

Allemanha 

França  

liespanha 

Saecia 

Turquia 

Noruega 

Inglaterra 

Itália 

Portugal . , 

Grécia 

Suissa 

Dinamarca 

Paizes  Baixos. . . . 
Bélgica 


Indcpeodcntcmenlc  das  colónias, 
proUíClorados  e  territórios  adjacente» 


SuperGcie 
Kil.  qoadradot 

4.909:193,70 

624:044,89 

540:628,50 

528:576,75 

494:946,00 

444:814,00 

364:037,00 

316:694,00 

314:951,00 

290:305,41 

89:371,00 

50:123,00 

41:418,32 

38:236,78 

32:839,97 

29:455,16 


Poiíulaçâo 

«55.704:559 

35.904:435 

41.060:846 

36.102:921 

16.262:422 

4.341:559 

8.500:000 

1.796:000 

33.098:400 

26.801:154 

4.011:908 

1.457:894 

2.669:147 

1.874:000 

3.767:263 

5.253:821 


Comprchendendo  as  colónias, 
protectorados  e  territórios  adjacenlos 


i^upcrficie 
Kil.  quadrados 


21.605:720,40 

624:044,89 

540:628,50 

1.706:936,25 

811:347,00 

444:814,00 

5.717:750,00 

316:694,00 

20.917:275,00 

296:305,41 

1.917:735,00 

50:123,00 

41:418,32 

230:445,18 

1.752:839,97 

29:455,16 


População 


85.685:945 

35.904:435 

41.060:846 

46.321:339 

24.929:916 

4.341:559 

47.627:000 

1.796:000 

236.222:800 

26.801:154 

7.648:729 

1.457:894 

2.669:147 

2.003:200 

28.877:263 

5.253:821 


Organisámos  este  mappa  em  presença  dos  dados  que  encoutrámos  no 
annuario  estatístico  de  Gotha,  publicado  no  anno  de  1876.  Não  ò  esta  com 
certeza  a  superfície  mais  exacta,  mas  acceitámos  os  cálculos  que  ali  se 
acham  publicados  para  mostrar  a  nossa  imparcialidade;  assim  como  nâo 
julgámos  verdadeira  a  área  calculada  no  importante  trabalho  de  G.  Pery. 
É  preciso  dizer-se,  pois,  que  a  superfície  da  Africa  portugueza  é  muito 
maior  do  que  se  pensa,  e  torna-se  da  maior  necessidade  não  só  tratar  de 
fixar  os  limites  com  os  povos  que  nos  ficam  ao  S.,  mas  também  levantar 
uma  carta  topographica  de  Moçambique  e  Angola,  que  comprehenda  to- 
dos os  territórios  que  nos  pertencem  do  oriente  ao  occidente. 

A  Rússia  e  a  Turquia  nâo  sao  paizes  colonisadores  como  a  Hespanha, 
França,  Portugal  e  Inglaterra:  e,  n'este  caso  fica  Portugal,  como  potencia 


323 

colonial,  colíocado  logo  iinmediatamenle  a  esla  ultima  nação.  Cooside- 
rando,  porém,  em  absoluto,  a  extensão  de  cada  paiz..  seja  na  Africa  ou  na 
Ásia,  na  America  ou  na  Oceania,  vê-se  que  nos  pertence  o  quarto  logar  em 
relação  á  grandeza  de  território,  e  que  somos  a  segunda  nação  da  Europa 
como  paiz  colonial. 

Procedemos  a  esta  comparação,  mesmo  não  sendo  de  inteira  confíança 
os  algarismos  que  lhe  serviram  de  base,  não  só  para  tornar  bem  patente 
ainda  mais  uma  vez  a  vastidão  do  nosso  território,  e  mostrar  a  classiflca- 
ção  a  que  temos  jus  entre  as  nações  da  Europa,  mas  também  porque 
muito  nos  orgulhámos  com  os  descobrimentos  e  conquistas  que  tão  res- 
peitados nos  tornaram  nos  séculos  xiv  e  xv.  Não  foi  sem  intenção  que  o 
fizemos,  visto  que  alguns  escriptores  estrangeiros,  fallando  das  terras  do 
domínio  de  Portugal,  manifestam  claramente  o  desejo  de  nos  depreciar, 
pondo  em  duvida,  e  contestando  até,  a  prioridade  da  sua  posse. 

Dadas  estas  explicações,  que  são  um  protesto  pacifico  contra  aprecia- 
ções menos  justas,  passiimos  a  tratar  da  emigração  para  o  Brazil,  que 
tanto  tem  preoccupado  nos  últimos  tempos  a  attenção  pubUca. 


Emigração  para  o  Brazil 

Sol)  oslo  titulo,  qnc  equivale  o  mesmo  que  se  escrevêssemos  emigra- 
ção porlugueza,  e  que  adoptámos  para  designação  geral  d'este  assumpto, 
desejámos  significar  que,  so  por  um  lado  a  corrente  da  nossa  emigração 
tem  apenas  uma  direcção— as  terras  de  Santa  Cruz — ,  por  outro  repre- 
senta um  dos  mais  importantes  e  momentosos  assumptos  de  que  nos  oc- 
cupâmos;  fazendo  d'elle  um  estudo  minucioso,  mostrámos  que  o  temos 
na  devida  consideração.  Antes  porém  de  tratarmos  da  emigração  para  o 
Brazil  devemos  dizer  algumas  palavras  para  mostrar  o  sentido  em  que 
deve  considerar-se  a  palavra  emigração. 

Emigração  é  uma  propriedade  característica  e  exclusiva  do  reino 
hominal,  e  portanto  uma  funcção  exclusiva  da  humanidade,  assim  como 
a  linguagem  fallada,  liberdade. 

É  preciso  não  confundir  o  que  se  chama  por  analogia  emigração  dos 
animaes  com  a  emigração  do  homem. 

Não  é  fácil  todavia  substituir  esta  palavra  por  outra  mais  apropriada, 
(|ue  evite  tal  confusão,  mas  a  deficiência  da  linguagem  não  servirá  para 
confundir  o  verdadeiro  sentido  que  se  lhe  deve  dar. 

Emigrar  é  colonisar,  e  assim  o  entendem  alguns  escriptores.  Recor- 
daremos n'esta  occasião  o  fallecido  visconde  de  Paiva  Manso,  que,  fazendo 
a  traducção  de  um  trecho  do  livTO  de  Jules  Duval,  que  se  refere  á  emi- 


3i4 

graçao,  verteu  a  palavra  franceza  émigralion  por  colonisação*.  Evitou 
assim  o  embaraço  em  que  se  via  para  dar  o  verdadeiro  sentido  á  palavra 
cuja  significação  não  é  explicita. 

Um  esclarecido  escriptor  francez  mostrou  a  distincçao  entre  a  emi- 
gração dos  animaes  e  dos  homens  nos  seguintes  termos  : 

cLes  animaux  émigrent,  Thomme  seul  voyage.  Seul,  de  tous  les  étres, 
Thomme  a  le  pouvoir  de  se  transporter,  dans  un  but  dont  il  à  conscience, 
sur  tous  les  points  du  globe  qu'il  habite ;  des  regions  brulantes  de  Téqua- 
teur,  il  passe  aux  zones  glacées  des  pòies ;  des  profondeurs  souterraines 
ou  du  fond  de  la  mer,  il  gagne  la  címe  des  montagnes  ou  les  couches 
élevés  de  Tatmosphère  * . » 

A  emigração  é>  pois,  uma  funcção  da  humanidade,  e  em  caso  nenhum 
deve  confundir-se  tão  importante  qualidade  exclusiva  do  reino  hominal 
com  o  facto  instinctívo  dos  animaes. 

Formulada  esta  differença  radical,  passámos  a  examinar  a  emigração 
portugueza  para  o  Brazil. 

Faliam  algmis  escriptores  com  louvor  do  modo  por  que  colonisámos 
o  Brazil.  Notam  ainda  assim,  que  começámos  tarde  a  desenvolver  a  colo- 
nisação  d'aquelle  paiz,  que  reputam  um  padrão  da  nossa  gloria.  O  que  é 
certo  é  que  temos  dado  exuberantes  provas  de  que  sabemos  colonisar, 
embora  tenha  havido  intermittencias  mais  ou  menos  prolongadas. 

A  historia  da  emigração  brazileira  dá  occasião  a  largas  considerações, 
a  que  não  podemos  dar  o  desenvolvimento  que  desejávamos,  ipas  procu- 
rámos referir  o  que  ha  de  mais  importante  com  relação  aos  portugue- 
zes. 

Jules  Duval  observa  que  os  portuguezes  e  os  francezes  procuram  o 
Brazil,  mais  com  destino  ao  commercio  que  á  agricultura.  Mas,  seja  como 
for,  é  iunegavel  que  a  emigração  portugueza  excede  a  de  todos  os  outros 
paizes  da  Europa.  Em  1855,  diz  aquelle  escriptor,  entre  12:290  emi- 
grantes que  se  espalharam  pelo  Brazil,  9:000  eram  portuguezes.  É  real- 
mente significativo  este  fado,  e  serve  ao  menos  de  attenuar  o  esqueci- 
mento em  que  temos  deixado  as  nossas  colónias. 

Devemos  notar  alem  d'isto,  aproveitando  os  dados  coUigidos  em  um 
trabalho  importante,  que  os  portuguezes  se  acham  espalhados  por  quasi 
todas  as  províncias  brazileiras,  existindo  o  maior  numero  d'elles  na  do 
Rio  de  Janeiro.  Entre  os  emigrantes  d'esta  província  ó  mais  avultado  o  nu- 
mero de  portuguezes,  dando  as  províncias  do  norte  de  Portugal  o  maior 


1  Memoria  sobre  Lourenço  Marques  pelo  visconde  de  Paiva  Manso,  1870,  Ireeho 
traduzido  do  francez  de  Uhistoire  de  Vémigration  par  J-.  Duval,  1862. 

2  A.  Roi  de  Le  Méricourt,  Archives  de  médedne  novnle,  tome  2«,  pag.  5. 


3aa 

coutiiigeDte,  G  é  exacUimeiíle  n'esses  pontos  que  se  fatia  com  menos  en- 
thusiasmo  a  respeito  das  nossas  colónias. 

Não  nos  propomos  indagar  as  causas  da  difTerença  ijuc  se  nota  nas 
nossas  províncias  do  norte,  porque  nos  referimos  a  este  assumpto  n'oii- 
Ira  jogar;  apenas  desejámos  dar  idéa  do  facto,  da  importância  da  emi- 
^lac^o  portugueza  na  actualidade,  e  por  isso  apresentiunos  os  dados  es- 
talíslicos  que  o  patenteiam. 


:>(riidiia  de  emlyranleit  no  porta  do  Mia  de  JAacIra 


AllomiM 

im 

ims 

ISM 

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6:JiJ 

538 

375 
313 

8:110 
306 

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(1:931 

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nrstuuio  do  n 


l'orlu;'Ui!/<s 

t.aUirM, 

Saínm 

l'iciran) 

60:258 
■;|:í:13 
3:69! 
0:714 

10:C5I 
6:4Si 
4:107 
2:m 

.12:132 
2:273 
2:309 
.x032 
S:G02 
4:188 
2:603 
2:101 

;!i:12tí 
1:1G3 
1:382 
l:6tí2 
3:049 
2:266 
1:504 
343 

103:754 

36:240 

47:514 

326 


Ifai^pa  úom  ewa^ffrmuUtm^  |ior  provlnclmi,  deiiNto  i99*  a  i^V^i 


Provinciaii 


Douro 

Minho  

Açores 

Beira  Alta  .... 
Traz  os  Montes 
Extremadura.. 
Beira  Baixa . . . 

Madeira 

II  Algarve 

Aleratejo 


Totalidade 
dos  emigrantes 


21:630 
8:997 
7:283 
3:i80 
3:068 
2:385 
i$9 

;;3 

13 
10 


46:808 


Media  aimiial 


Relações 


4:326,0 

1:799,4 

1:456,6 

636,0 

613,6 

477,0 

'  37,8 

10,6 

2,6 


2,1 

5,2 

6,0 

14,7 

19,6 

24,7 

88,3 

360,0 


2,0    4:680,8 


9:361.6 


1 
1 
i 
1 
1 
1 
1 
1 
1 
1 


Mapiia  <ION  emlgrnntcN  nefando  am  dlffcrcnleM  localldadcM 

dende  «990  a  1694 


Procedências 


Porto 

Aveiro 

Braga 

Angra 

Vianna 

Vizeu 

Villa  Real 

Lisboa 

Ponta  Delgada.. 

Coimbra 

Uorta 

I  Guarda 

Bragança  

Leiria 

Fuuclial 

Gastei  lo  Branco 

Santarém 

F;ii  u 

Ik'ja.  .! 


Totalidade 
dos  emigrantes 


14:036 

5:931 

5:814 

3:847 

3:183 

3:180 

2:937 

2:295 

1:995 

1:663 

\'M[ 

106 

131 

75 

53 

23 

15 

13 

IO* 

46:808 


Metlia  unnual 


2:807,2 

1:186,2 

1:162,8 

769,4 

636,6 

636,0 

587,4 

459,0 

399,0 

336,6 

288,2 

33,2 

26,2 

15,0 

10,6 

4,6 

3,0 
2,6 
2.0 

9:361,6 


Relações 

3,3: 

7,8: 

8,0; 

12,1: 

14,7  : 

14,7: 

15,9: 

20,4: 

23,4: 

27,8: 

32,4: 

282,0 : 

357,4  : 

624.3  : 

883,5: 

2.036,0 

3:121,8 

3:602,1 

'i:682,H 

II 


:ja7 

O  império  do  Brazil  oíTerece  regiões  e  climas  tâo  favoráveis,  como 
os  de  muitas  outras  partes  do  mundo.  Ha  n'aquelle  paiz  localidades  fer- 
lilissimas,  onde  as  culturas  compensam  com  largueza  os  sacrifícios  que 
por  ellas  se  fazem. 

Em  Africa  acontece  o  mesmo,  encontram-se  zonas  insalubres,  e  não 
faltam  localidades  susceptíveis  de  serem  habitadas.  Servem  de  exemplo 
os  terrenos  occupadas  pelos  boers,  assim  como  Mossamedes  e  Lourenço 
Marques. 

Provinoias  do  império  do  Brazil,  clima  geral,  superfície,  população 

e  produotos  prinoipaes 


DeaiguaçTios 

Clima  gcnil 

.  Superflcie 

Popula- 
ção 

Productos  principaes 

Equatorial 

Kil.  quad. 

Gomma  elástica,  café,  cacau,  cera,  ele. 

Ainazunas 

1.951:407 

57:610 

Gran-Pará 

Equatorial  (S) 

l.(»68:237 

259:821 

Gomina  elástica,  cacau  e  castanha  da  terra. 

Maranh.lo 

Equatorial  (S.) 

306:863 

359:040 

Algoilão,  assacar,  tabaco,  milho,  arroz,  etc. 

Piaaliy 

Equatorial  (S.) 

Equatorial  (S.) 

áli:H()0 

202:222 

Algodilo,  ajiuardcnte,  gados,  ele. 
Assucar.  al?odão.   I.abaeo.  café.  tromnia 

Ceará ^ 

130- 174 

721:686 

elástica,  gado,  queijo,  etc. 

RioGiande  do  Norte 

Equatorial  (S.) 

:ri:l34 

233:979 

Assuoar  e  algodão. 

Parahvba 

• 

Equatorial  (S.) 

52:695 

362:557 

AlgodiU),  assucar,  pau  Urazil,  etc. 

Pernambuco 

Tropico-equat.  (S.) 

il9:800 

841:539 

Assucar,  algodão  e  cereaes. 

Alagoas 

Tropico-equat.  (S.) 
Tropico-equat.  (S.) 

ÍIOI.IS 

348:009 

.Vssucar,  algodão,  tabaco,  lãs,  couros,  etc. 
Assucar,  algodão,  ngnardente,  couros,  c^> 
cos,  olc. 

SírsíDC 

31177 

161:307 

lialiia 

Tiopico-equal.   (S.) 

33()AJ6 

1.283:141 

Assucar,  aguardente,  tabaco,  algodão,  ca- 
fé, cacau,  cravo,  rereaes,  etc. 

E^pirila  San  lo 

Tropiral  quente  . . . 

44:105 

82:137 

Café,  as<iucar.  aguardente,  algodão,  man- 
dioca, cercaes  c  madeiras. 

Kio  (1c  Janeiro. . . . 

Tropical 

.     727:576 

Café,  ;!ásucar,  algodão,  chá,  cereaes,  hor- 
taliças, legumes,  fractas,  ele. 

17;8S« 

Mnniripio  Neutro  . 

Tropical 

1                 1 

'     274:972 

Assucar,  aguardente,  ccreaes  o  mandioca. 

S.  Paulo 

Tropical 

23$"<9I 

H:\7-'\hi 

Café,  assucar,  tabaco,  algo<lão,  chá,  vinho, 
trigo,  cereaes,  etc. 

Paraná 

Tropical  temperado 

- 

ii8M51 

14^:.  74^ 

Diversos  productos. 

Assucar,  aguardente,  cale,  algodão,  linho, 

Santa  Calharina  . . 

49:012 

<  59:802 

mandioca,  cereaes,  etc,  em  quantidade 

S.  Pedro   do   Rio 

limitada. 

Grande  do  Sul  . . 

Tropical  temperado 

á85:446 

430:878 

Gados,  carvão  de  pedra,  aguardente,  fru- 
ctos,  etc. 

Minas  Geraes 

Tropical  qut>nle  . . . 

615:053 

2.009:023 

Gados,  metaes,  diflerantos  Iwidos  de  algo- 
dão, ele. 

Goyax '. . 

Tropico-equaturial .  ', 
Tropical  quente  — 

1 

iiSi- 108 

160-:t95  i:<i<íne    n!rii    <>!.•                                                                  1 

Mato  Grosso 

1 

1 

1.731:740 

60:417 

Assucar,  laranjas,  unil,  niiu,  diauiiuites 

8.515:848 

9.700:187 

1 

gado,  couros,  etc. 

Não  ó  facll  fazer  em  poucas  palavras  a  descripção  lopographlca  das 
províncias  do  Brazil.  É  immensa  a  superfície  de  cada  uma  d'ellas,  e  s$o 


328 

variadíssimas  as  suas  prodacçoes,  mas,  a  exemplo  do  que  fizemos  a  respeito 
das  colónias  de  Hespanha,  França,  HoUanda  e  Inglaterra,  condensámos  o 
que  nos  parece  mais  adequado,  nao  só  para  justificar  as  considerações  que 
apresentámos  a  respeito  da  colonisação  e  emigração  portugueza,  mas 
também  para  mostrar  que  falíamos  da  salubridade  e  insalubridade  do  Bra- 
zíl,  depois  de  proceder  a  um  estudo  tâo  attento  quanto  demorado  de  o^da 
uma  das  provindas. 

O  império  do  Brazil  está  dividido  em  províncias  e  estas  em  comarcas, 
municípios  e  parochias^ 

Profincia  do  Amazonas.  —  Esta  provincia  é  a  mais  septentrional  do  im- 
pério. 

Estende-se  desde  5«  10'  de  latitude  N.  atè  iO^  20'  de  latitudes.  Deve 
portanto  ser  classificada  como  paiz  equatorial  propriamente  dito,  liaven- 
do-nos  por  essa  rasão  referido  já  a  este  território,  quando  fizemos  a  enu- 
meração dos  paizes  equatoriaes. 

Não  tem  porto  de  mar,  e  comprchcnde  as  comarcas  de  Manáos,  Parin- 
tins  e  Solimões.  Encontram-se  ali  as  povoações  de  Manáos,  Teffe,  Taba- 
tinga,  Barcellos,  Serpa  e  outras  villas. 

A  provincia  do  Amazonas  ainda  não  tem  emigração,  mas  a  fertilidade 
dos  terrenos  oflerece  grande  vantagem  para  a  cultura. 

A  extracção  da  borracha  representa  uma  industria  importante,  e  appli- 
cam-se  a  este  ramo  de  trabalho  muitos  indivíduos.  Considera-se  um  paiz 
promeltedor,  e  tem  logares  de  uma  riqueza  espantosa. 

Trata-se  da  construcção  de  algumas  estradas,  e  o  governo  brazileiro 
protege  para  ali  a  emigração  dos  europeus.  São  elles  de  certo  os  únicos 
que  pela  sua  actividade  intellectual  podem  concorrer  para  que  se  desen- 
volva rapidamente  o  progresso  moral  e  material,  e  logoque  a  popula- 
ção se  aclime  em  tão  fértil  território,  a  provincia  do  Amazonas  seiá  uma 
nova  Califórnia. 

Não  ha  nas  nossas  possessões  do  ultramar  território  algum  corres- 
pondente á  parte  central  do  Amazonas,  mas  a  parte  da  zona  do  S.  está 
quasi  no  paralielo  dos  dislrictos  de  Cabinda,  S.  Salvador  c  D.  Pedro  V, 
pertencentes  á  provincia  de  Angola,  onde  não  lemos  ainda  colonisação. 

Provincia  do  (íran-Pará.  — Eslende-se  do  4^^  10'  de  latitude  N.  ató  8"*  10' 
latitude  S.  Tem  ao  N.  o  Oceano  Atlântico,  esse  mesmo  mar  que  banha  as 

í  Para  simplicidade  da  exposição  iiào  falíamos  diis  circumscripí;õcs  adminis- 
trativa nem  ecclesiaslica.  Rcferimo-nos  apenas  á  divisão  judiciaria,  c  por  isso  indi- 
oàmos  tão  somente  as  comarcas. 


329 

costas  da  província  de  Angola,  da  ilha  de  S.  Thomé  e  de  Portugal.  Li- 
mita também  pelo  N.  com  as  Guyanas,  e  a  0.  flca-lhe  a  província  do 
Amazonas. 

A  província  do  Pará  é  o  interposto  commercial  entre  os  portos  de  mar 
e  as  províncias  do  interior  Goyaz  ,e  Mato  Grosso. 

Tem  variados  climas,  sendo  uma  grande  parte  da  província  atraves- 
sada pelo  equador  terrestre  no  sentido  da  sua  maior  largura. 

Gontam-se  n'ella  os  afQuentes  mais  importantes  do  rio  Amazonas,  como 
o  Tocantins,  Xingu,  Tapajós,  etc. 

Entre  as  diversas  producções  nolam-se  o  arroz,  mandioca,  legumes, 
assucar,  café,  algodão  e  vários  fructos  próprios  d'aquella  região. 

A  sua  zona  austral  corresponde  ao  nosso  dislricto  de  S.  José  de  En- 
goge,  na  província  de  Angola. 

ProTíncía  do  Haraolião. — Fica  entre  1^  li'  e  10"*  40'  de  latitude  S.  É  por 
conseguinte  um  paiz  equatorial  S.  e  tem  ao  N.  o  Oceano  Atlântico  e  pelo 
O.,  S.  e  E.  correm  as  províncias  do  Gran-Pará,  Goyaz  e  Piauhy. 

Divide-se  em  quatorze  comarcas  e  grande  numero  de  municípios  e  pa- 
rochías. 

A  capital  denomina-se  S.  Luiz,  e  fica  na  ilha  do  Maranhão. 

Ha  n'isto  alguma  parecença  com  a  nossa  província  de  Moçambique, 
cuja  capital  se  acha  também  edificada  sobre  uma  ilha  fronteira  ao  conti- 
nente. 

O  algodão  é  o  producto  agrícola  mais  importante,  mas  é  hoje  muito 
menor  do  que  foi  ha  cincoenta  e  seis  annos.  A  cultura  do  arroz  também 
diminue  bastante,  cmquanlo  que  o  assucar  se  fabrica  em  muito  maior  quan- 
tidade. 

Corresponde  ao  Ambriz,  Dande,  Bengo  e  Encoge,  na  província  de  An- 
ela. 


nr 


Província  do  Piauby.  — Está  comprehendida  enlre  2®  45'  e  M"  40'  de 
latitude  S.  É,  como  a  antecedente,  equatorial  S.,  e  tem  por  limites  ao  N. 
o  Oceano  Atlântico,  e  pelo  O.,  S.  e  E.  estendem-secomo  em  gigantesco 
amplexo  as  províncias  do  Maranhão,  Bahia,  Goyaz,  Ceará  e  Pernam- 
buco. 

Divide-se  em  doze  comarcas  e  differentes  municípios  e  parochias. 

A  capital  denomina-se  Therezína,  e  alem  d'esta  cidade,  fundada  em 
1832,  tem  a  Parnahyba  e  Oeiras. 

São  baixos  cm  geral  os  terrenos,  e  somente  ao  S.  e  E.  se  deparam  al- 
guns outeiros. 

Cultiva-se  o  algodão,  tabaco,  milho,  assucar  e  aguardente. 


:í3(» 

São  numerosos  os  rebanhos,  os  quaes  constituem  uma  das  industrias 
mais  importantes  do  paiz. 

Província  do  Ceará. — Está  lançada  esta  província  do  2^  45'  até  7**  H' 
de  latitude  S.  O  clima  em  geral  è  equatorial.  Tem  ao  N.  o  Atlântico  e  de 
0.  pelo  S.  até  E.  formam-lhe  um  grande  circuito  as  províncias  de  Piauhy. 
Parahyba,  Pernambuco  e  Rio  Grande  do  Sul. 

Abrange  dezeseis  comarcas,  e  tem  por  capital  a  cidade  denominada 
Fortaleza.  Alem  d'esta  ha  as  cidades  Aracatv,  Icó,  Crato  e  outras  não 
menos  importantes. 

O  solo  é  coberto  de  arvoredo  nos  valles  dos  rios  e  árido  nos  outros 
logares.  As  correntes  de  agu^  são  numerosas,  mas  pouco  abundantes. 

Província  do  Rio  Grande  do  Norle. — Começa  em  4^  54'  e  acaba  em  6^  28' 
de  latitude  S.  É  equatorial  S.  e  tem  por  limites  ao  N.  e  E.  o  Oceano  Atlân- 
tico. No  rumo  opposto  ficamlhe  as  províncias  de  Parahyba  e  do  Ceará. 

Compreliende  oito  comarcas,  diflerentes  municípios  e  parochias. 

A  capital  é  a  cidade  do  Natal. 

É  fértil  este  território,  e  a  cultura  do  algodão  cresce  ali  de  dia  para 
dia.  Próximo  aos  rios  ha  palmares,  alguns  dos  quaes  são  afastados  da 
costa  e  compostos  de  palmeiras  especíaes. 

Província  de  Parabjba.  —  Fica  entre  6^  15'  e  7"  50'  de  latitude  S.,  sendo 
portanto  uma  região  equatorial  S.  Seus  limites  são  a  E.  o  Oceano  Atlân- 
tico, a  0.  o  Ceará,  ao  S.  Pernambuco  e  ao  N.  a  província  do  Rio  Grande, 
de  que  já  falíamos. 

Uivíde-se  em  onze  comarcas.  A  capital  tem  o  mesmo  nome  da  provín- 
cia, e  alem  doesta  ha  a  cidade  de  Sousa. 

O  território  é  pouco  elevado  na  zona  marítima  e  no  interior,  e  apre- 
senta, como  a  província  de  Angola,  uma  importante  regiãoalto-plana.  Pro- 
duz algodão,  assucar  e  madeiras  de  tingir. 

Província  de  Pernambuco.— Estende-se  do  7^  até  !0^  40'  de  latitude  S., 
reputando-se  o  clima  como  equatorial  S.  A  E.  fica-lhe  o  Oceano,  ao  N.  as 
províncias  de  Parahyba  e  Ceará,  ao  S.  Alagoas  e  Bahia  e  a  O.  está  Piau- 
hy ba. 

Divide-se  em  dezenove  comarcas  e  tem  por  capital  a  cidade  do  Recife. 
É  esta  certamente  uma  das  províncias  mais  ricas  do  Brazil.  As  planta- 
ções da  canna  saccharina  são  numerosas  e  é  abundante  a  cultura  do  algo- 
dão e  cereaes. 

A  província  do  Maranhão  corresponde  pela  sua  parte  boreal  ao  nosso 


(lisiricto  de  S.  José  de  Encoge,  na  província  de  Angola,  á  bacia  do  Dande, 
na  parte  media,  e  ao  Ambriz  e  Bengo.  Umas  e  outras  regiões  pertencem 
à  zona  equatorial  S. 

Pro?iDcía  de  Alagoas. — Começa  em  8^  4'  e  acaba  em  10"  32'  de  latitude 
S.  É  um  paiz  tropico-equalorial  cujos  limites  sâo  ao  N.^  O.  a  província 
de  Pernambuco,  ao  S.  a  do  Sergipe  e  Bahia,  e  a  E.  confina  com  o  Oceano 
Atlântico.  Produz  como  as  outras  províncias  assucar,  algodão  e  tabaco. 
É  importante  a  creaçào  de  gados,  e  exportam-se  pelles  cortidas,  couros 
salgados,  ele.  •    » 

Divide-se  esta  província  em  nove  comarcas  e  differenles  municípios. 
Chama-se  Maceió  a  capital,  que  se  acha  era  estado  florescente.  O  com- 
mercio  é  animado. 

Corresponde  a  zona  septenlrional  d'esta  província  ao  nosso  districto 
de  Ambaca,  assim  como  a  bacia  do  Bengo  e  o  districto  do  duque  de  Bra- 
gança. Deve  ser  portanto  indifl*erente  o  procurar  uma  ou  outra  região 
quando  se  tratar  de  lançar  os  primeiros  fundamentos  de  qualquer  co- 
lónia. 

Província  de  Sergipe. — Fica  esta  província  entre  9^  5'  e  1 1  e  28'  de  la- 
titude S.,  devendo  classificar-se  como  paiz  equatorial  S.  Está  nas  mes- 
mas condições  em  que  se  acha  Novo  Redondo,  Cambambe,  Massangano 
e  outros  concelhos  da  província  de  Angola.  Tem  por  limite  ao  N.  a  pro- 
víncia de  Alagoas,  ao  S.  fica-lhe  a  da  Bahia  e  a  E.  tem  o  Oceano  Atlântico, 
conlinando  lambem  pelo  O.  com  a  província  da  Bahia. 

Produz  assucar,  algodão  e  aguardente.  Os  terrenos  são  geralmente  fér- 
teis, dando  em  abundância  os  géneros  Iropicaes. 

l)ívide-se  em  oito  comarcas  e  differenles  municípios  e  parochias.  A  sua 
capital,  fundada  ha  poucos  annos,  chama-se  Aracaju.  Alem  da  capital  ha 
outras  cidades  e  algumas  víllas.  Tem  abundância  de  rebanhos. 

ProTíncía  da  Babia.  —  Ê  com  prehendida  entre  l)**  55'  e  1 3"  1 5'  de  latitude 
S.,  sendo  um  paiz  Iropico-equatorial  bem  definido.  Tem  por  limite  ao  N. 
as  províncias  de  Sergipe,  Alagoas  e  Pernambuco,  ao  S.  as  do  Espirito 
Sanlo  e  Minas  Genes,  a  E.  o  mar  e  a  província  de  Sergipe  e  a  Ò.  as  pro- 
víncias de  Piauhy,  Goyaz  e  Minas  Geraes. 

Divide-se  cm  vinte  e  cinco  comarcas,  que  comprehendem  numerosos 
municípios  e  parochias. 

É  abundante  em  assucar,  aguardente,  café  e  cacau.  Não  escaceiam  os 
cereaes,  e  o  cravo  conslitue  um  importante  género  de  exportação. 

O  districto  de  Benguella  corresponde  a  esta  provincia;  tanto  n'ella 


:i3á 

como  n'aquelle  disiriclo  da  provinda  de  Angola  é  grande  a  fertilidade  do 
terreno. 

Província  do  Espirito  Santo.— Demora  esta  província  entre  IS''  5'  e  2i'*  28' 
de  latitude  S.  O  clima  é  tropical  quente,  e  tem  ao  N.  a  provinda  da  Ba- 
hia, ao  S.  a  do  ftio  de  Janeiro,  a  O.  Minas  Geraes  e  a  E.  fica  o  Oceano 
Atlântico.  Apesar  da  grande  fertilidade  do  território  d'esta  província  o 
commercio  e  a  agricultura  estão  pouco  desenvolvidos.  Corresponde  ao 
nosso  território  austral  de  Moçambique,  onde,  como  na  provinda  bra- 
zileira,  se  podem  fundar  colónias  agrícolas.  As  vantagens  serão  as  mes- 
mas. 

Província  do  Kio  de  Janeiro.  —Fica  esta  província  entre  âO**  íiO'  e  23®  li)' 
de  latitude  S.  O  seu  clima  ò  tropical  quente,  mas  tão  pouco  afastado  do 
tropico-capricornio  que  a  sua  região  meridional  forma  até  certo  ponto 
um  paiz  puramente  tropical. 

O  distficto  do  Rio  de  Janeiro  tem  ao  N.  as  províncias  do  Espírito 
Santo  e  Minas  Geraes,  ao  S.  fica-lhe  o  Oceano  Atlântico  c  a  0.  a  pro- 
víncia de  S.  Paulo. 

As  producções  sao  bem  conhecidas,  mas  não  podemos  deixar  de  as 
'  nomear  para  que  se  não  julgue  que  ali  ha  géneros  mais  importantes  do 
que  nos  nossos  districtos  de  Mossamedes  ou  de  Inhambane.  A  fama  do 
Rio  de  Janeiro  é  justificada  a  todos  os  respeitos,  e  ó  este  um  dos  pontos 
do  império  do  Brazil  mais  procurado  pelos  emigrantes  porluguezes.  Pro- 
curem embora  este  paiz,  mas  saibam  que  temos  terrenos  em  condições 
de  igual  fertilidade. 

O  café,  algodão  e  canna  de  assucar  produzem-se  na  província  de  An- 
gola e  de  Moçambique  com  a  mesma  facilidade.  É  certo,  porém,  que  o  Bra- 
zil tem  condições  especiaes  que  ali  chamam  a  emigração,  e  nós,  para  des- 
viar esta  corrente,  precisámos  apenas  de  cuidar  da  viação  publica  e  fiuvíal 
e  da  segurança  individual ;  com  estes  dois  elementos,  podemos  aliançar 
que  não  seriam  somente  os  portuguezes  que  procurariam  a  nossa  região 
tropical,  seriam  lambem  os  inglezes  e  os  brazileiros,  que  ali  iriam  esta- 
belecer-se. 

Município  da  Côrtc.  — Dá-se  este  nome  á  capital  do  império  do  Brazil, 
que  muitas  vezes  se  designa  pelo  nome  de  Município  Neutro.  Como  se  vê, 
não  se  trata  de  uma  província,  mas  de  uma  cidade  importante. 

O  Munidpio  da  Corte  fica  entre  22®  43'  e  23®  G'  de  latitude  S.  É  um 
paiz  tropical,  a  que  corresponde  o  nosso  districto  de  Inhambane  e  as  ilhas 
de  Bazaruto ;  todavia  é  preciso  dizer-se  que  o  Rio  de  Janeiro  é  qSo  só  a 

i 


333 

primeira  cidade  da  America  do  Sul,  mas  que  rivalisa  com  as  primeiras  do 
mundo.  Tem  cerca  de  230:000  habitantes. 

Provinda  de  S.  Paulo. -^Estende- se  desde  19"  W  até  25"  13'  de  lati- 
tude S.  Fica  por  conseguinte  sob  o  trópico  austral  e  forma  um  paiz  tro- 
pical propriamente  dito. 

É  esta  a  provincia  que  pode  comparar-se  com  os  districtos  de  Lou- 
renço Marques  e  Inhambane. 

Provioeía  do  Paraná.  —  Fica  esta  provincia  entre  22^  4'  e  26°  29'  de  la- 
titude S.  Os  seus  limites  são  ao  N.  a  provincia  de-S.  Paulo,  ao  S,  a  de 
Santa  Catharina  e  Confederação  Argentina,  a  E.  o  Oceano  Atlântico  e  a 
provincia  de  Santa  Catharina  e  a  O.  tem  por  limites  a  republica  do  Para- 
guay  e  a  provincia  de  Mato  Grosso. 

É  uma  provincia  promettedora,  e  íica  pela  mesma  distancia  do  trópico 
austral  em  que  se  acha  o  districto  de  Lourenço  Marques. 

ProTÍncía  de  Santa  Catharina.  —  Começa  esta  provincia  no  mesmo  paral- 
lelo  em  que  termina  o  nosso  districto  de  Lourenço  Marques,  e  estende-se 
até  29**  18'.  O  seu  clima  é  tropical  temperado. 

É  um  paiz  promelledor  como  muttos  districtos  das  nossas  possessões. 

Província  do  Rio  Grande  do  Sul. — Estende- se  esta  provincia  de  27°  5'  a 
.')2°  45'  de  latitude  S.  O  clima  é  pois  tropical  temperado,  e  tem  por  limi- 
tes ao  N.  a  provincia  de  Santa  Catharina,  ao  S.  a  republica  oriental  do  Pa- 
raguay  e  pelo  E.  confina  com  o  mar. 

Tem  extensas  campinas,  notando-se  apenas  a  155  kilometros  da  costa 
uma  serra  bastante  comprida,  que  se  dirige  para  o  S.  e  para  o  interior 
da  republica  do  Uruguay.  A  serra  jaz  no  interior  da  provincia. 

Divide-se  em  dez  comarcas,  diversos  municipios  e  parochias.  A  capi- 
tal chama-se  Porto  Alegre. 

N'esta  provincia  ficam  as  cidades  denominadas  Rio  Grande,  Pelotas,  Jo- 
gurão,  Bagé,  Alegrete  e  outras. 

Possue  dilTerentes  colónias,  e  téem  ali  aflluido  muitos  allemães,  aos 
quaes  se  deve  a  fundação  da  cidade  de  S.  Leopoldo. 

Ê  abundante  de  arroz,  trigo,  cevada,  milho  e  mandioca.  Também  ali 
se  dá  a  vinha  a  par  do  algodão  e  assucar.  O  linho  produz  com  abundância, 
e  são  bons  os  fructos.  Ha  minas  de  oiro,  prata,  enxofre  e  carvão.  A  agri- 
cultura é  notável  e  os  pastos  sustentam  numerosos  rebanhos. 

É  esta  uma  das  províncias  em  que  se  tem  funt^ado  maior  numero  de 
colónias. 


ProfiDcía  das  Hiaas  Geraes. — Esteode-se  de  13^  55'  até  quasi  sob  o  tro 
pico  de  capricórnio.  Gosa  de  um  clima  geral  tropical  quente,  o  qual  se 
acha  bem  definido. 

Fica  no  inierior  do  império,  e  tem  por  limites  ao  N.  a  província  da  Ba- 
hia e  ao  S.  a  do  Rio  de  Janeiro  e  S.  Paulo.  Da  parte  oriental  conGna  com 
as  provincias  da  Bahia,  Espirito  Santo  e  Rio  de  Janeiro,  e  da  occidental 
confronta  com  as  provincias  de  S.  Paulo,  Goyaz  e  Mato  Grosso. 

Esta  vasta  província  comprehende  vintfi  e  quatro  comarcas  e  nume- 
rosos municípios  e  parochias. 

Os  nomes  que  se  lêem  dado  á  capital  recordam  sem  duvida  a  riqueza 
aurífera  da  cidade:  denomina-se  Oiro  Preto  o  outrora  chama va-se  Villa 
Rica.  Alem  d'esta  cidade  éncontram-se  onlrns  coin  bastante  impor- 
tância. 

O  solo  d'esta  província,  segundo  Larousse,  está  cheio  de  arvoredos  e 
apresenta  altas  montanhas.  Sao  abundantes  as  minas  de  oiro,  'cobre,  es- 
tanho, mercúrio  e  de  outros  mineraes.  Ê  o  paiz  da  ipecacuanha,  baunilha 
e  Índigo,  e  entre  os  productos  naturaes  occupam  o  primeiro  logar  o  mi- 
lho, arroz,  algodão,  tabaco  e  assucar. 

ProTincia  do  Gojaz.  —  É  comprehendida  onlro  èJ'  10'  o  19®  iO'  de  lali- 
tude  S.  O  clima  geral  é  tropíco-equatorial. 

Esta  província  tem  pelo  lado  do  N.  as  provincias  do  Gran-Parâ  e  do 
Maranhão,  ao  S.  ficam-lhe  as  de  Mato  Grosso  e  Minas  Geraes,  a  do  Mara- 
nhão, Píauhy,  Bahia  e  parte  da  de  Minas  Geraes. 

Divide-se  em  onze  comarcas  e  tem  por  capital  Goyaz,  antigamente 
Villa  Boa,  e  é  atravessada  pelo  rio  Vermellio. 

A  província  de  Goyaz  está  pouco  povoada,  mas  o  solo  é  fértil.  Ali  se 
encontram  minas  de  oiro,  ferro,  crystal  e  diversos  mineraes.  A  industria 
do  paiz,  porém,  reduz-se  á  creação  de  gado  vaccum  para  o  qual  ha  bons 
pastos. 

Proviocia  do  Mato  Grosso.  —  Fica  esta  província  entre  T  50'  e  24**  10', 
comprehendendo  por  conseguinte  grande  extensão  de  terrenos  que  po- 
dem distríbuir-se  em  cinco  climas  diversos,  a  saber:  equatorial  S.,  tro- 
pico-equatorfal,  tropical  quente,  tropical  e  tropical  temperado.  Da  parte 
superior  estão  as  provincias  do  Amazonas,  a  do  Gran-Pará  e  a  do  Goyaz. 
Ao  S.  tem  a  republica  do  Paraguay  e  a  E.  limita  com  as  provincias  de 
Goyaz  e  Minas  Geraes. 

Divide-se  em  três  comarcas,  e  tem  por  capital  a  cidade  denominada 
Cuyaba.  É  completamente  inculto  o  seu  território,  e  são  immensas  as  fio- 


335 

restas,  onde  apparece  variada  caça.  Díz-se  que  ali  ha  minas  de  oiio  e  nu- 
merosos veios  de  pedras  preciosas. 

Dá-se  bera  o  café,  assucar,  algodão,  labaco,  ele. 

Terminámos  esla  succinta  notícia  a  respeito  do  império  do  Brazil,  mas 
desejámos  pòr  bem  em  relevo  a  sua  riqueza  em  geral,  e  nao  receiâmos  fa- 
zer a  comparação  com  a  riqueza  das  nossas  colónias,  estabelecida  a  natu- 
ral proporção. 

«Café.— Este  género  só  por  si  representa  approximadamente  metade 
(io  valor  total  da  exportação.  A  sua  cultura  estende-se  do  Amazonas  á 
província  de  S.  Paulo,  islo  é,  de  T  EN.  a  23*^  ES.  e  do  litoral  ao  extremo 
Occidental  do  império,  excedendo  463:400  kilometros  quadrados  a  su- 
perflcie  que  lhe  é  conveniente. 

cSendo-lhe  tão  apropriados  o  clima  e  o  solo,  rapidamente  se  desen- 
volveu a  cultura,  embora  no  começo,  como  era  natural,  n3o  houvesse 
grande  cuidado  em  preparar  o  fructo,  provindo  d'ahí  o  descrédito  em  que 
caiu  nos  mercados  europeus. 

«Nos  últimos  quinze  annos,  porém,  a  qualidade  do  café  melhorou  tão 
considera velmenlo  com  n  inlrodiicção  do  machinas  e  processos  aperfoi- 
coados,  que,  ha  muito  tempo,  se  consome  na  Europa  mais  de  metade  do 
café  brazileiro  sob  a  denominação  <le  Java,  Cevlâo,  Martinica,  S.  Domin- 
gos e  até  de  Moka. 

«Doesta  verdade  deu  solemne  testemunho  o  jury  internacional  da  ex- 
posição universal  de  1867,  conferindo  medalha  de  oiro  ao  café  brazileiro, 
e  não  concedendo  igual  recompensa  ao  de  outras  procedências. 

«A  producção  augmenta  no  Brazil,  ao  passo  qu3  se  conserva  estacio- 
naria ou  progride  em  pequena  escala  na  índia,  America  central,  S.  Do- 
mingos e  outros  paizes. 

«O  seguinte  quadro,  organisado  com  documentos  ofDciaes,  mostra  o 
augmento  da  sua  producção: 


EvrcirifK 


1840-Í84Í 
1871-<872 
Augmento 


Quanlidailfs 


Arroba» 


5.0o7:50l 
16.581:644 
11.524:143 


Kilogrammas 


74.294:089 
243.584:360 
169.289:671 


Valores 


20.000:000^000 
7i.645:659i^000 
51.645:659^000 


336 

a  Em  trinta  e  um  annos  a  quantidade  do  caré  e^;  portado  subiu  na  rasao 
de  228  por  cento  e  o  valor  na  de  258  por  cento  ou  7,35  por  cento  e  8,3 
por  cento  ao  anno,  prova  evidente  do  progresso  da  cultura  e  melhora- 
mento na  qualidade  do  producto.  A  producção  do  café  é  calculada  actual- 
mente DO  Brazil  em  perto  de  17.699:115  arrobas  (260.000:000  kilo- 
grammas),  das  quaes  são  consumidas  no  paiz  cerca  de  2.000:000  arrobas 
(29.380:000  kilogrammas).  Calcula-se  existirem  no  império  530.000:000 
cafeseiros,  occupando  approximadamenle  a  superfície  de  574:992  hecta- 
res ou  132  léguas  quadradas. 

c  Algodão. — Este  género  foi  sempre  cultivado  no  Brazil,  principalmente 
nas  provincias  do  N.,  mas  em  pequena  escala  até  certo  tempo,  porque  o 
baixo  preço  que  obtinha  no  mercado  importador  não  remunerava  satisfa- 
ctoriamente  as  despezas  de  producção  e  transporte.  A  alta  occasionada 
pela  guerra  dos  Estados  Unidos,  e  pela  construcção  de  algumas  estradas 
de  ferro,  animou  os  plantadores,  e  a  cultura  desenvolveu-se  com  rapidez 
até  nas  provincias  do  S. 

a  O  quadro  seguinte  mostra  o  progresso  de  sua  exportação  nos  últimos 
onze  annos : 


»^^— lai^l- 


Exercícios 


Í8G0-1861 
187Í-1872 
Áugmciito 


QiuBlidados 


Arroba* 


070:860 
3.648:048 

2.977:188 


Kiloi^raminas 


9.854:933 
53.589:838 
43.734:905 


Valores 


4.682:1 41  i^559 
35.630:914^000 
30.948:772^41 


a  A  exportação  portanto  augmenlou  n'este  período  na  rasão  de  443,8 
por  cento,  ou  40,3  por  cento  annualmente,  prova  do  extraordinário  pro- 
gresso da  cultura  do  algodão,  cujo  valor,  no  mesmo  período,  se  elevou  na 
rasão  de  661  por  cento,  ou  60  por  cento  ao  anno. 

«Importa  observar  que  este  grande  desenvolvimento  na  cultura  não 
prejudica  o  café,  a  canna  e  outros  géneros  do  paiz,  o  que  somente  se  ex- 
plica pela  melhor  applicação  das  forças  económicas. 


I 


cAssnear. — A  canna  de  assucar  cultivada  no  Brazil  desde  os  tempos 
mais  remotos,  constituiu  a  sua  principal  industria  até  á  introducção  do 
cafeseiro,  que  lhe  absorveu  grande  parte  das  forças. 


337 


«Ullimamente  a  producção  d'este  género  tomou  rápido  incremento, 
como  demonstra  o  seguinte  quadro,  acompanhando  assim  o  progresso  do 
algodão  e  do  café : 


Exercicioâ 


1860-18CI. 
1871-1872, 
Áugmento 


Quantidades 


Arrobai 


4.451:188 
9.666:078 
5.214:890 


Kilogrammai 


65.387:951 

141.994:693 

76.606:742 


Valores 


10.900:545M62 
26.277:614^000 
15.377:068^938 


a  Nos  últimos  onze  annos,  o  áugmento  da  exportação  do  assucar  foi  na 
rasão  de  117  por  cento,  ou  annualmente  10,6  por  cento,  e  o  do  valor  na 
de  141  por  cento,  que  corresponde  annualmente  a  12,8  por  cento,  ou 
mais  do  que  o  café. 

«O  assucar  fabricado  actualmente  no  Brazil,  n3o  comprehendendo  o 
melado  e  a  rapadura  em  grande  quantidade,  orça  por  20.000:000  de  ar- 
robas (293.800:000  kilogrammas).  Quasí  metade  d*esta  producção  é 
consumida  no  paiz. 

«Couros  seceos  e  salgados.  —  Comquanto  em  lodo  o  Brazil  se  possa  pro- 
mover em  ponto  grande  a  creação  do  gado,  esta  industria  tem-se  desen- 
volvido especialmente  nas  províncias  de  Piautiy,  Ceará,  Rio  Grande  do 
Norte,  Parahíba,  S.  Paulo,  Paraná,  S.  Pedro  do  Rio  Grande  do  Sul,  Mi- 
nas Geraes,  Mato  Grosso  e  Goyaz. 

«Calcula-se  existirem  actualmente  no  império  cerca  de  15.000:000 
cabeças  de  gado  vaccum,  que  representam  o  capital  de  150.000:000)$000 
réis. 

«Nos  exercícios  alludidos  a  exportação  de  couros  foi  a  seguinte: 


Exercícios 


1860-1861 
1871-1872 
Áugmento 


Qoanlidadef 


Arrobas 


1.285:U7 

1.480:525 

195:078 


Kilogrammas 


18.883:216 

21.748:920 

2.865:704 


Valores 


7.824:309^748 

11.765:714^000 

3.941:4041252 


aNos  últimos  onze  annos  a  quantidade  augmentou,  como  se  vé,  na  ra- 
são de  15  por  cento  e  o  preço  na  de  50,4  por  cento,  ou  1,4  por  cento  e 
4,6  por  cento  annualmente. 


21 


•aomna  eitilki. — Este  geoero,  cujas  applicaç5es  industriaes  se  mul- 
tiplicam constantemento,  \eiú,  pela  maior  parte,  do  valle  das  províDCías 
do  Pará  e  do  Amazonas,  onde  a  siphonia  elástica  de  que  se  extrahe, 
nasce  espontânea  e  profusamente  desde  o  tiloral  alé  á  distancia  de  500 
léguas  (á5:000  kilometros).  Logoque  esta  planta  for  cultivada  regularmen- 
te, é  natural  que  diminua  o  preço  da  gomma  elástica.  Ainda  assim,  po- 
rém, dará  rendimento  certo  e  superior  ao  do  café,  por  quanto  a  do  Brazil 
é  a  melhor  que  se  conhece. 

cA  seguinte  tabeliã  mostra  a  quantidade  e  o  valor  de  sua  exportação 
nos  exercidos  que  h3o  servido  ao  estudo  comparativo: 


Ezerciciot 


Qttaotidades 


àrrobu 


1860-1861 
1871-1872 
Aiigmento 


164:235 
326:679 
162:444 


Kilogrammas 

2.412:612 
4.798:921 
2.386:309 


ValoiYS 


2.863 
7.509 
4.645 


946^576 
4914000 
5UM24 


«O  augraento  foi,  com  relação  á  quantidade  de  99  por  cento,  e  relati- 
vamente ao  preço,  de  102,2  por  cento,  ou  9  por  cento  e  14,7  por  cento 
ao  anno. 


f  Tabaco.— O  solo  brazileiro  presta-se  perfeitamente  â  cultura  do  tabaco, 
cuja  producção  tem  augmentado,  principalmente  nas  províncias  da  Bahia. 
Minas  Geraes,  S.  Paulo,  Pará  e  alguns  togares  do  Rio  de  Janeiro. 

« Nos  referidos  exercícios  a  exportaçSo  foi  a  seguinte : 


Exercícios 

Quantidades 

Valores 

Arrobaii 

Kilogrammas 

1860-1861 

313:750 
873:732 
559;982 

4.608:987       2.376:4351739 

1871-1872 

12.835:126 
8.226:139 

6.748:038|;000 
4.371:6021261 

Aiunnento ,......•,   . . 

tA  elevaçio  total  da  quantidade  foi  de  178,5  por  cento,  e  a  do  valor 
184  por  cento.  A  annual  regulou  por  16,7  por  cento,  quanto  á  qoaoti- 
dade,  e  16,8  por  cento,  com  referencia  ao  valor. 


339 

tHèfrw  mate.— Este  género,  como  objecto  de  exportação,  é  exclusivo 
(las  províncias  do  8.,  Rio  Grande,  Santa  Catharina  e  Paraná. 

«Aproveita-se  ainda  a  producção  silvestre;  tem-se,  porém,  feilo  tenta- 
tivas para  a  siia  cultura.  Do  seu  acerto  deverá  resultar  augmcnlo  da  pro- 
ducç3o,  e,  portanto,  grande  Iticro  ao  paiz,  atlenta  a  utilidade  therapeutfca 
e  alimentícia  do  mate. 

« A  exportação  foi  a  seguinte : 


Uti«ntidádei( 

Nalores 

hxcrcicios 

1 

Arrobas 

* 

KiIo;;raQ)ma!> 

1860-1861 

463: i08 
647:180 
184:072 

6.803:036 
9.307:086 
2.704:030 

1.429:733Mi2 

2.273:816iKO0O 

846:062«tf56 

1871-1872 

Autiiiento 

*    ■■  ■  ■■!  ■  I         .  .  .1  .       ■  -  ■  .  ; 

(frllouve  augmento  em  relação  á  quantidade  de  39,7  por  cento,  e  quanto 
no  valor  S9,l  por  cento.  A  proporção  annual  dá  para  a  quantidade  3,6 
por  cento,  e  para  o  valor  3,4  por  cento. 

iCacan.— É  também  do  valle  do  Amazonas  e  do  Tocantins  que  provém 
a  maior  parte  do  cacau  exportado  do  Brazil.  A  sua  cultura  vae  tomando 
grande  incremento  nas  províncias  da  Bahia  e  do  Ceará. 

«Depois  da  gomma  elástica»  é  este  o  género  que  maior  lucro  dá  ao 
productor. 

a  Vegeta  abundante  e  espontaneamente  nas  florestas  do  Amazonas, 
sendo  principalmente  cultivado  na  província  do  Pará;  mas  pôde  produzir 
bem  no  terreno  que  se  estende  ao  S.  até  ao  Rio  de  Janeiro. 

«A  exportação  foi  a  seguinte: 


Exercícios 


QnaDtidades 


Arrobas 


«860-186!. 
1871-1872. 
Differenca . 


236:986 

216:574 

20:412 


Kilogramraas 

3.481:324 

3.181:471 

299:833 


Valons 


1.476:920^113 

1.309:2te^000 

n:^H987 


340 

«Houve  diminuiçSío  na  quantidade  de  8,6  por  cento,  e  augmento  de 
2,2  por  cento  no  valor,  ou  0,8  por  cento  e  0,2  por  cento  annual. 

cAgnirdeote.— Depois  do  exercício  de  1860-1861,  no  qual  attingiu  o 
valor  oíQcial  de  597:444^9489  réis,  e  a  quantidade  de  2.349:695  canadas 
(3.599:636  litros)  a  exportação  d'este  género,  que  pôde  tomar  grande  des- 
envolvimento, muito  augmentou,  elevando-se  no  exercido  de  1871-1872 
o  valor  a  1.243:363^9000  réis,  e  a  quantidade  a  2.119:957  canadas  (litros 
5.652:908),  como  se  vé  no  seguinte  quadro: 


Exercícios 


1860-1861. 
1871-1872. 
Augmento . 


QoaoUdades 


Canadas 


1.349:695 

2.119:907 

770:262 


Litros 


3.599:636 
5.652:908 
2.053:272 


Valores 


597:444^489 

1.243:363^000 

645:918^511 


tO  augmento  foi  de  57  por  cento  na  quantidade  e  de  108,1  por  cento 
no  valor,  sendo  a  relação  annual  do  primeiro  5,2  por  cento,  e  do  segundo 
9,8  por  cento. 

«Farinha  de  maodioea.— Logoque  forem  melhor  conhecidas  e  aprecia- 
das as  grandes  vantagens  d'este  producto,  a  sua  exportação  deve  augmen- 
tar. 

«No  exercício  de  1860-1861  exportaram-se  89:933  alqueires  (litros 
3.269:963)  de  farinha  de  mandioca,  avaliados  ofiScialmente  na  quantia 
de  102:833jSI760  réis.  De  então  para  cá  tem  crescido  progressivamente 
o  consumo  externo  d'este  producto  da  lavoura  nacional. 

«A  seguinte  tabeliã  comparativa  d'aquelle  exercício  com  o  de  1871- 
1 872  mostra  qual  foi  o  augmento : 


Exercidos 


1860-1861 

1871-1872 

Augmento 


Quantidades 


Alqueires 


89:933 
194:929 
104:996 


Litros 


3.269:963 
7.087:620 
3.817:657 


Valores 


102:833^760 
358:130^000 
255:296^240 


«Este  augmento  corresponde  á  percentagem  total  de  116,7  por  cento, 
e  de  10,6  por. cento  ao  anno,  quanto  á  quantidade;  ou  á  de  248,3  por 
cento,  e  22,6  por  cento  ao  anno,  quanto  ao  valor. 

c Jaearaidi. — No  ultimo  exercício  foi  de  1.051:091t9KMH)  réis  o  seu  va- 
lor ofScial. 

«Existem  as  malas  mais  ricas  d'esta  madeira  nas  provincias  do  Rio 
Grande  do  Norte,  Pernambuco,  Alagoas,  Espirito  Santo,  Rio  de  Janeiro  e 
Minas  Geraes,  que  a  exporta  pelo  rio  Mucury  e  portos  da  Bahia. 

cGabellos  de  animaes  (crina  e  lã).  —  Na  exportação  de  1860-1861  es- 
tes artigos  figuram  na  estatística  oíBcial  com  a  quantidade  de  25:188 
arrobas  (370:012  kilogrammas),  e  o  valor  de  257:946^91000  réis;  no  exer- 
cício de  1871-1872,  porém,  a  quantidade  exportada  foi  de  36:990  ar- 
robas (543:387  kilogrammas),  no  valor  de  428:934^000  réis,  como  se 
vè  no  seguinte  quadro: 


Exercícios 


1860^1861 
187Í-Í872 
Augmento 


Quaolidades 


Arrobas 


25:188 
36:990 
11:802 


Kilogranumas 


370:012 
543:387 
173:375 


Valores 


257:946^000 
428:934^000 
170:988^000 


«Houve  O  augmento  de  46,8  por  cento  na  quantidade  e  66,2  por  cento 
no  valor,  ou  annualmente  4,3  por  cento  para  aquella  e  6  por  cento  para 
este. 


cOiro  e  diamantes.  —  Houve  decrescimento  na  sua  exportação,  cujo  va- 
lor no  exercido  de  1860-1861  foi  de  5.401:590^9000  réis.  No  exercício 
de  1871-1872  baixou  a  3.010:547i9IOOO  réis.  A  diminuição  explica-se 
pelo  descobrimento  de  minas  mais  abundantes  de  diamantes  em  outros 
paizes. 

«Géneros  nio  classifleados. — A  exportação  de  géneros  não  classificados 
importou  em  3.893:540^^000  réis. 

«A  producção  do  algodão  foi  a  que  mais  produziu  no  decennio  de 
1862  a  1872,  confrontada  com  a  do  tabaco,  aguardente,  assucar,  gomma 


343 

elástica,  couros,  café  e  mal«.  O  cacau  diminuiu  em  quaniidadc,  porém 
augmentou  cm  valor.  A  exporlacão  d'este  género  esli  sujeila  a  gr^infles 
oscillações  por  causa  daa  onclientes  do  Amazonas,  que  ipuilas  veaes  pre- 
judicam a  collieita'.B 

U6duzem-30  QaaluieDie  os  géneros  du  exportação  do  Itio  do  Janeiro 
ãquelles  que  offerecem  as  nossas  possessões,  cujo  desenvolvioaonio  é  l(- 
soDjeiro. 

Happa  da»  colonUa  ralubclceldait  do  Brasil  «leaile  lltlS  alé  ISIS 


Protinm. 

1 

13 

53 
10 
3 

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BJiftWÍUOO 

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S.  Pauto 

Hin  do  Janeiro... 
MiníiCetifi.... 
Bipirits  Santo . . . 

9íUa 

PemninbDcu 

li  »  17 

s'  3'- 

i'  a  - 

-l3'l 
('   V- 

Marinlilu 

«•>«■ 

'   Ignoru-H  a  ngigcr»  de  coliinos  ir  «'te  ru]o>           > 

■  IJcmdecinov 
j      *  IJonid.iciii.n. 

d,iB  de  iioalro. 
dera  «to  Ires. 
diw  de  uma. 

>  Exirabido  de  O  hnperio  do  Orasil  na  exposição  Utunrsal  de  1S73  em  Vienna 
<f4M(ria. 


343 


Indifferen^  pelas  nofleas  terras  de  alem  mar 

A  Dossa  índifTerença  pelas  lerras  de  alem  mar  tem  sido  causada  pela 
fama  de  insalubridade  que  ellas  adquiriram  e  pela  continuada  emigração 
que  tem  havido  para  as  províncias  do  império  do  Brazil.  São  estas  cer- 
tamente as  duas  causas  principaes  que  se  devem  tomar  em  consideração, 
mas  outras  ha  também  que  é  preciso  não  esquecer,  e  uma  d'ellas  è  man- 
darem-se  para  ali  os  degredados.  Parece-nos  ser  este  um  dos  grandes  oIh 
slaculos  que  se  oílerece  ao  desenvolvimento  da  colonisação  das  provindas 
ultramarinas.  É  assumpto  grave  e  de  que  adiante  trataremos. 

Poucas  pessoas  se  occupam  das  colónias;  quando  se  lembram  d'ellas  é 
para  contar  alguma  desgraça  ou  para  referir  as  difficuldades  que  se  apre- 
sentam a  quem  as  deseja  ir  habitar,  como  se  não  acontecesse  o  mesmo 
com  todas  as  colónias  dos  outros  paizes,  antes  de  chegarem  ao  grau  de  des- 
envolvimento a  que  as  nossas  podem  também  chegar.  A  respeito  do  Brazil, 
pelo  contrario,  falla-se  com  interesse  e  muitas  vezes  com  entbusiasmo. 
Pouca  gente  ha  que  não  tenha  nas  terras  do  Santa  Cruz  um  parente,  um 
amigo  ou  um  vizinho  de  quem  receba  noticias.  É  isto  o  que  acontece  em 
quasi  todas  as  aldeias  das  nossas  províncias  do  N.,  e  não  falta  portanto 
quem  se  encarregue  de  engrandecer  a  Bahia,  o  Maranhão,  Pernambuco 
ou  o  Uio  Grande  do  Sul,  julgando-sc  sempre  infeliz  aquelle  que  vae  para 
as  nossas  possessões  ultramarinas.  Mas  a  propaganda  que  tem  chamado 
centenares  de  portuguezes  ao  Brazil,  tem  lançado  profundas  raizes  e  alar- 
gado a  sua  acção  por  tal  modo,  que  será  muito  difficil  fazer  com  que  os 
nossos  conterrâneos  troquem  aquellas  terras  pelas  da  nossa  Africa. 

vSe  não  oppozermos  argumentações  iguaes,  se  por  todos  os  meios  pos- 
síveis não  tratarmos  de  patentear  as  vantagens  que  o  solo  africano  é  sus- 
ceptível de  dar  a  quem  o  quizer  explorar,  e  se  não  cuidarmos  nos  meios 
de  tornar  bem  conhecido  o  clima  e  as  producções  tão  abundantes,  quanto 
fáceis  de  obter,  nada  se  conseguirá,  porque  os  agentes  da  emigração  para 
o  Brazil  não  contam  historias,  citam  factos;  não  fazem  discursos  maia  ou 
menos  exagerados,  apontara  para  as  lindas  e  agradáveis  vivendas  perten- 
centes ás  famihas  d^aquelles  que  enriqueceram  no  Brazil.  Argumentos 
d'esta  ordem  dão  coragem  aos  tímidos,  animam  os  ambiciosos,  e  fazem 
com  que  os  navios  da  praça  do  Porto  se  encham  constantemente  de  emi- 
grantes, sem  excepção  de  sexo  nem  de  idade! 

Sabe-se  com  evidencia  a  grande  mortalidade  que  n'estes  últimos  an- 
nos  tem  devastado  os  emigranles  portuguezes  n  aquelle  império,  porque 
todos  os  mezes  se  publicam  as  relações  dos  indivíduos  ali  fallecidos,  e  que 
são  muitos  os  que  se  acham  em  más  circumstancias,  mas  apesar  disso 


344 

será  dífficil  mudar  a  corrente  da  emigração  emquaDlo  campearem  no  meio 
dos  campos  e  no  cenlro  de  villas  e  cidades  os  ostentosos  palácios  dos  bra- 
zileiros^  e  dos  individues  que  d'ali  regressam  com  f<Hluna.  E  o  que  se  diz 
das  nossas  províncias  de  Angola  e Moçambique?. . .  Nadai.  • .  A  historia 
da  Zambezia  e  á  guerra  dos  Dembos,  junta-se  a  leitura  das  listas  dos  sen- 
tenceados  que  nos  paquetes  são  mandados  para  a  Africa.  É  um  mal,  bem 
o  sabemos,  mas  que  os  governos  hão  de  remediar  quando  pelo  progresso 
das  nossas  possessões  se  possam  crear  colónias  para  os  degredados,  como 
já  existem  em  outros  paizes. 

A  falta  de  propaganda  efficaz  c  apropriada,  não  só  para  mostrar  as 
condições  cm  que  se  acham  as  colónias,  mas  também  para  patentear  os 
melhores  meios  de  aclimação,  prejudica  certamente  a  emigração  voluntá- 
ria, que  igualmente  tem  contra  si  as  diíQculdades  dos  transportes,  a  exi- 
gência, a  nosso  ver,  inútil  dos  passaportes  e  outros  obstáculos  análogos. 
Os  colonos  ou  trabalhadores  não  podem»  portanto,  procurar  as  terras  da 
Africa  com  a  mesma  facilidade  com  que  vão  para  o  Brazil.  Alem  d'isso  são 
poucas  as  relações  quu  ali  lêem,  onde  as  mais  das  vezes  não  encontram  pa- 
rentes nem  amigos.  É  esta  também  uma  das  causas  graves  que  se  oppõem 
á  emigração,  e  que  justiQcará  a  intervenção  dos  poderes  públicos  para 
chamar  os  emigrantes  ás  colónias  pelos  meios  indirectos  até  se  estabele- 
cer uma  corrente  de  emigração  nas  condições  em  que  se  acha  hoje  a  do 
Brazil.  ^ 

£  no  meio  das  incertezas  que  ainda  hoje  se  apresentam  queumpae  se 
animará  a  mandar  um  filho  para  S.  Thomé,  para  Moçambique  ou  mesmo 
para  Angola?. . .  Ha  de  certamente  hesitar,  mas  confiámos  que  com  a  at- 
tenção  que  os  governos  estão  tomando  pelas  nossas  possessões  em  breve 
se  desvanecerão  similhantes  obstáculos. 

A  nossa  Africa  occidental  é  apenas  conhecida  em  Lisboa,  e  em  quasi 
todas  as  provindas  do  N.  se  olha  para  ali  com  azedume  ou  com  desprezo. 
Na  própria  cidade  do  Porto  mal  se  conhece  o  café  de  S.  Thomé  ou  de  Ca- 
zengo,  e  a  navegação  d'aquella  praça  limita-se  aos  portos  do  Brazil,  sendo 
quasi  desconhecidos  os  da  Africa '. 


1  No  período  de  oito  annos  falleceram  muitos  milhares  de  porluguezes,  mas  só 
seiscentos  sessenta  e  oito  deixaram  espólios  liquidados,  que  produziram  réis 
3.611:000^000. 

2  Não  perdemos  occasiâo  de  ler  o  que  a  respeito  das  nossas  colónias  dizem  os 
escriptores  estrangeiros,  e,  n*esta  occasiâo,  temos  diante  de  nós  um  livro  intitulado : 
Nouvelles  répétitions  écrites  d'histoire  et  de  géograptUe,  par  C.  Raffy,  deuxiémê  edi- 
iion,  1872.  N^este  livro  a  pag.  192  se  lé  o  seguinte:  <0s  portuguezes  possuem  hoje 
apenas  um  limitado  numero  de  colónias;  a  saber:  Cacheu  (Sencgambia),  ilhas  de 
Gabo  Verde,  S.  Thomé,  iUia  do  Príncipe^  Loanda,  Benguella  (Guiné  inferior);  Ho- 


345 

A  lodífiereDça  pelas  nossas  terras  do  ultramar  tem,  pois,  causas  pró- 
ximas e  remotas  que  facilmente  podem  ser  removidas.  Entre  as  indicações 
que  se  téem  apresentado  para  tal  fim  não  podemos  deixar  de  recordar  as 
que  nos  deixou  o  fallecído  marquez  de  Sá  de  Bandeira.  Transcrevemol-as 
aqui,  como  prova  da  alta  deferência  que  temos  para  com  o  homem  que 
tanto  se  empenhou  em  promover  o  progresso  e  civilisação  das  terras  da 
Africa. 

cSe  pois  a  província  de  Angola  tivesse  agentes  em  Portugal  e  nas  ilhas, 
para  lhe  mandarem  colonos,  e  a  estes  agentes  pagasse  bem,  e  tivesse 
um  fundo  destinado  especialmente  para  esse  fim;  e  se  o  governo  desse  a 
esses  agentes  a  conveniente  protecção  e  transporte  aos  emigrantes,  é  pro- 
vável que  esses  agentes  desempenhariam  satisfactoriamente  a  incumbência 
que  lhes  fosse  commettida. 

«No  primeiro  inquérito  parlamentar  sobre  a  emigração  porlugueza, 
apresentado  á  camará  dos  deputados  em  19  de  fevereiro  ultimo,  acha-se 
este  assumpto  tratado  extensamente,  e  por  um  modo  muito  judicioso;  e 
n'elle  vem  indicadas  varias  medidas  legislativas  que  a  tal  respeito  cum- 
pre adoptar. 

«Alem  da  emigração  porlugueza,  outras  ha  que  seria  útil  attrahir  ás 
nossas  colónias,  como,  por  exemplo,  a  dos  povos  laboriosos  da  Galliza,' 
das  Astúrias,  das  provindas  Vascongadas,  da  Suissa  e  da  Bélgica. 

«Em  varias  colónias  britannicas,  taes  como  o  Canadá,  a  Austrália  e  a 
Nova  Zelândia,  acham-se  estabelecidos  ofliciaes  reformados  do  exercito 
e  da  marinha,  e  bem  assim  outros  pensionistas  do  estado,  os  quaes,  ha- 
vendo adquirido  gratuitamente,  ou  com  pouca  despeza,  boas  terras  para 
cultivar,  se  téem  tomado  lavradores,  e  n'ellas  residem  com  suas  famílias. 
Por  este  meio  téem  elles  obtido  fortuna  e  posição  social  superior  áquella 
que  teriam  se  vivessem  na  mãe  pátria. 

«Se  alguns  dos  nossos  compatriotas,  em  circumstancias  similhantes  ás 


(lambique,  em  Africa;  Goa,  Diu,  Macau,  na  Ásia;  parto  de  Timor,  naOceania*.  Não 
admira,  porém,  que  os  estrangeiros  digam  que  possuimos  apenas  um  limitado 
numero  de  colónias,  quando  até  hoje  temos  descurado  de  lhes  assignalar  os  limites 
e  de  mostrar  que  occupâmos  o  quarto  logar  como  nação  colonial,  tomando  para  base 
os  vastos  territórios  da  Rússia,  da  Inglaterra  e  da  Turquia,  únicas  que  excedem 
actualmente  p  nosso  território. 

Urge,  pois,  não  abandonar  tão  vital  assumpto,  e  desde  já  notamos  que,  devido 
á  propaganda  ultimamente  desenvolvida,  se  deve  certamente  a  diíTerença  que  se 
nota  no  Atlas  de  geographia,  de  Gosselin-Delamarche,  a  respeito  do  modo  por  que  ali 
se  acham  designadas  as  nossas  províncias  de  Angola  e  Moçambique.  Nas  edições 
anteriores  a  1876  apenas  se  marca  uma  estreita  faxa  de  terra,  como  possessão  por- 
tugueza.  Na  ultima  já  se  nos  começa  a  fazer  justiça. 


346 

d^aquelles  rerormados;;,  os  imitassem,  estabelecendo-se  em  Angola  ou  em 
alguma  outra  das  nossas  colónias,  poderiam,  provavelmente,  melhorar  a 
sua  sorte,  tornando-se  fazendeiros,  e  habilitando-se  pelo  seu  trabalho  e  in- 
dustria a  deixarem,  quando  fallecessem,  as  suas  famílias  com  recursos 
abundantes. 

«A  cultura  do  café,  a  do  al((odOo,  a  do  tabaco  e  a  fabricação  da  aguar- 
dente, que  n'esta  província  tem  creado  boas  forlunas,  dentro  de  breves 
annos  poderia  ser  igualmente  proveitosa  para  esta  classe  de  colonos,  se 
ás  mesmas  industrias  se  dedicassem. 

«O  extracto  seguinte,  de  uma  carta  de  Mossamedes,  ultimamente  pu- 
blicada, mostra  como  em  Angola  se  podem  obter  importantes  resultados 
do  trabalho  e  industria. 

«Diz  a  carta:  «que  no  anno  de  18(53  duas  pessoas  se  associaram 
n'aquella  viila  com  o  lim  de  cultivarem  terras  no  sitio  de  Campangombe, 
concelho  de  Bumbo,  entrando  cada  uma  d'ellas  com  o  capital  de  réis 
10:000í5000,  moeda  fraca,  ou  perto  de  G:250M)00  réis.  dinheiro  de  Portu- 
gal; o  que  no  anno  de  1873,  a  sociedade  fora  dis.solvida  amigavelmente, 
retirando-sc  um  dos  sócios  com  40:000?50i)0  réis  fortes,  e  ficando  outro 
com  igual  quantia».  E  acrescenta:  «que  as  duas  propriedades  que  a  so- 
ciedade cultivava  produziam  annualmente  3:000  arrobas  (44:06i  kilo- 
grammas)  de  algodão  e  perto  de  80  pipas  (33:60U  litros)  de  aguardente, 
c  que  o  valor  d'csla  dava  para  o  custeio. 

«Ura  outro  exemplo  de  como,  com  um  módico  capital,  se  podem  adqui- 
rir na  mesma  colónia,  e  em  poucos  annos,  resultados  vantajosos,  foi-me 
communicado  por  um  pro|)rietario  do  referido  concelho  do  BumlK),  o 
qual,  passando  por  Lisboa,  me  visitou;  e  contou,  que  havendo  residido  em 
Pernambuco,  onde  se  occupava  na  cultura  da  canna  de  assucar,  passara 
d^ali  para  Mossamedcs;  c  que  fora  o  primeiro  que  n'aquelledistricto  intro- 
duzira a  dita  cultura  no  sitio  do  Bumbo,  nas  abas  da  serra  de  Chella,  onde 
estabelecera  uma  fabrica  de  aguardente;  e  que  no  fim  de  onze  annos, 
vindo  á  Europa,  deixara  arrendada  a  sua  propriedade  por  alguns  contos 
de  réis.  E  mostrou-me  a  escriptura  do  arrendamento  *.» 


^  Exlraliído  do  Trabalho  rural  africano  e  a  administração  coUmal,  pelo  mai* 
quez  de  Sá  da  Bandeira. 


347 


Africa  portuguesa  oomo  terra  de  degredados 

Ê  csle  um  ilos  mais  graves  assumplos  em  que  somos  obrigados  a  en- 
trar no  decurso  d'este  trabalho.  Não  é  possível  pol  o  de  [íarle,  pois  me- 
rece que  a  seu  respeito  façamos  neste  logar  algumas  considerações. 

Curapre-nos,  pois.  apreciar  os  factos,  pesar-lhe  as  consequências  e 
mostrar  a  necessidade  que  ha  de  se  prover  de  remédio  a  tão  grave  estado 
^de  cousas. 

Quem  podeni  ir  volunlariamenle  para  as  terras  para  onde  mandam  de 
castigo  os  criminosos?! 

Diga-se  toda  a  verdade  em  tão  melindroso  assumpto;  mas  antes  de 
proseguirmos  traremos  cm  nosso  auxilio  uma  voz  auclorisada,  uma  opi- 
nião respeitável. 

«O  degredo,  diz  o  sr.  conde  de  Casal  Ribeiro,  não  é  pena  para  o  cy- 
nico,  que  não  icm  família  nem  pátria.  O  degredo  só  é  pena  para  as  co- 
loniass  porque  é  para  ellas  o  elemento  de  corrupção  moral ;  o  degredo 
^  a  destruição  de  toda  a  idúa  de  penalidade,  é  a  negação  do  horror  do 
crime  e  de  regeneração  do  criminoso  *.i> 

Não  é  só  nos  tribunaes  que  alguns  criminosos,  iirevendo  que  serão 
condemniidos,  pedem  para  serem  julgados*  depressa,  para  irem,  como  el- 
les  dizem,  dar  um  passeio  atò  ás  terras  de  Africa:  outros  observam  que 
algumas  facadas  ou  um  roubo  são  o  melhor  passaporte  ([ue  se  pôde  tirar 
para  irem  alô  Africa! 

Mas  não  é  somente  isto,  ha  outros  casos  que  faliam  bem  alto.  Citare- 
mos um  que  nos  parece  assas  signilicativo. 

Tralava-se  de  uma  das  mais  importantes  expedições  para  as  terras  de 
Africa.  Apresentou-se  nm  operário  altrahido  pelas  vantagens  que  se  lhe 
oíTereciam  e  pela  certeza  de  que  assim  podia  ajudar  sua  velha  mãe,  e  com 
[)razer  e  enlhusiasmo  ouviu  ler  as  condições  com  que  se  ajustava. 

Chegou  a  noticia  ao  conhecimento  da  mãe  que  vivia  nas  proximidades 
de  Lisboa.  Não  se  alegrou,  pelo  contrario,  encheu-se  de  tristeza  e  de  re- 
sulução,  e  sem  grande  demora  veiu  procurar  o  filho. 

A  scena  que  se  passou  foi,  em  parle,  presenciada  por  nós.  De  um  la- 
do, os  rogos  de  uma  mãe  afllicta,  c  do  outro  as  rasões  de  um  bom  (ilho,  e 
a  animação  de  um  amigo  que  servia  de  medianeiro. 

—  Meu  filho,  não  vás  para  a  Africa.  É  uma  terra  tão  má,  que  só  para 
lá  vão  os  degredados.  Tu  não  és  criminoso. 

—  Eu  vou  trabalhar,  minha  mãe,  não  se  aíllija.  liei  de  ser  feliz,  verá. 

1  Diário  da  caroara  dos  dignos  pares,  n.''  9  de  37  de  janeiro  de  1877. 


I 


348 

— Seu  filho  não  se  esquecerá  de  si,  acrescentava  o  amigo.  Vae  por 
pouco  tempo,  e  a  terra  è  boa.  Dão-lhe  vantagens,  e  elle  pôde  fazer  econo- 
mias e  ajuntar  algum  capital. 

—  Prefiro  que  meu  filho  me  não  dê  nada.  Eu  ainda  posso  traba- 
lhar. 

—A  terra  è  muito  boa,  observaram  os  dois  amigos,  a  ver  se  conven- 
ciam aquella  boa  alma. 

— Mas,  se  é  tão  boa  essa  terra,  para  que  mandam  para  lá  os  degre- 
dados? 

■ 

A  isto  não  havia  que  responder. 

Os  dois  amigos  entreolhavam-se  como  quem  diz:  Ella  tem  rasão. 

Não  podemos  assistir  ao  resto  da  sccna,  mas  qual  foi  a  nossa  sur- 
prcza,  quando  vimos  a  chorosa  velha  apresentar-se  cheia  de  coragem,  e 
dizer  ao  director  da  expedição: 

—  Fará  favor  de  riscar  o  nomo  de  meu  filho.  Elle  não  pôde  ir. 

O  director  fcz-lhc  differentes  observações,  mas  de  nada  serviram.  Foi 
preciso  asseverar-lhe  que  ali  só  era  admittido  quem  quizessc  ir  volunta- 
riamente, o  por  isso  nãò  havia  rasão  para  tal  pedido. 

Se  este  caso  indica  o  terror  que  a  Africa  inspira,  como  terra  de  de- 
gredados, ha  outros  que  revelam  a  quasí  impossibilidade  de  se  ir  para 
qualquer  das  nossas  colónias. 

O  que  pôde  fazer  uma  familía  que  deseje  estabelecer-se  nas  ilhas  do 
Príncipe  e  S.  Thomé,  em  Angola  ou  Moçambique  ou  em  Timor? 

É  fácil  de  prever. 

Em  primeiro  logar,  precisa  possuir  um  capital  de  algumas  centenas 
de  mil  réis,  a  fim  de  pagar  a  passagem  que  não  é  nada  moderada.  Se  for 
infeliz,  ou  se  se  não  dér  bem  na  terra  que  escolheu,  quem  lhe  propor- 
cionará os  meios  para  regressar  á  metrópole? 

Não  pretendemos  que  os  poderes  públicos  dêem  protecção  directa 
ao  colonos,  mas  lembrámos  que  não  é  possível  haver  emigração  sem  se- 
gurança, e  sem  se  promover  o  progresso  material  e  moral  dos  paizes  co- 
loniaes. 

Quem  vae  para  o  Brazil,  espera  encontrar  ali  algum  amigo,  parente 
ou  protector,  e  quem  tem  a  coragem  de  ir  para  a  Africa  vê-se  obrigado 
a  viver  nas  cidades  que  são  muito  insalubres,  e  tem  de  lutar  com  dífiScul- 
dades  extraordinárias,  e  não  encontra  a  maior  parte  das  vezes  auxilio  al- 
gum. 

Se  tem  a  ventura  de  voltar  ao  reino,  serve  apenas  para  espalhar  o  des- 
crédito a  respeito  das  terras  onde  esteve,  e  é  mais  um  obstáculo  para  a 
emigração  se  dirigir  livre  e  espontaneamente  para  a  Africa  portugueza. 

É  necessário,  pois,  acabar  com  o  stygma  que  se  tem  lançado  sobre  as 


349 

nossas  possessões,  e  Iralar  de  as  pôr  nas  condições  de  receberem  vanlajo- 
samente  os  colonos  ou  trabalhadores  que  para  ali  desejem  ir.  A  queslão 
reduz-se  a  promover  por  lodos  os  meios  possíveis  as  relações  enlre  as  co- 
lónias e  a  metrópole,  auxiliando  todos  os  que  pretendam  estabelecer- se 
na  Africa,  quer  tenham  estado  no  Brazil  e  ali  se  dessem  mah  quer  saiam 
directamente  da  metrópole  ou  fazendo  parte  das  expedições,  como  as  que 
ultimamente  foram  para  Angola  e  Moçambique,  ou  mesmo  para  acompa- 
nharem os  contingentes  militares  que  se  enviam  às  colónias. 

As  expedições  militares  do  Canadá,  da  Algéria  e  do  Cabo  de  Boa  Es- 
perança chamaram  áquelles  logares  differentes  indivíduos  que  se  occupa- 
vam  de  negocio  a  retalho.  Dava-se-llies  passagem  gratuita,  e  construiam- 
se-lhes  habitações  appropríadas  nas  proximidades  dos  acampamentos. 
Acabada  a  campanha,  olTereceram-se  terrenos  aos  soldados  que  ali  qui- 
zessem  ficar,  e  doeste  modo  se  conservaram  nas  colónias  muitos  indiví- 
duos que  se  estabeleciam  definitivamente  no  paiz. 

Os  inglezes  mandaram  degredados  para  a  Austrália  emquanto  ali  não 
se  desenvolveu  a  colonisação.  Achámos  justo  este  alvitre,  e  é  de  absoluta 
necessidade  proceder  do  mesmo  modo  para  com  as  nossas  colónias  prin- 
cipaes,  nuo  mandando  para  ali  os  condemnados  a  degredou 

Para  que  as  nossas  possessões  da  Africa  possam  ser  regularmente  co- 
lonisadas,  é  necessário  que  não  sejam  consideradas  como  terra  de  degre- 
dados. 


Receios  infundados  àoeroa  do  olima  da  nossa  região  africana, 

dezoito  vezes  maior  que  a  metrópole 

Se  nas  terras  da  Africa  ha  localidades  insalubres,  não  faltam  ali  lam- 
bem largos  tratos  de  terreno,  em  que  a  par  de  grande  fertilidade,  se  en- 
cxínlra  um  clima  favorável  á  colonisação.  Ninguém  ignora  que  em  Portu- 
gal, collocado  na  zona  temperada,  ha  logares  palustres  e  infamados  de 
insalubridade,  e  não  se  dirá  por  isso  que  é  um  paiz  insalubre.  É  preciso, 
pois,  distinguir  os  logares  insalubres  dos  que  o  não  são,  e  fazer  com  que 
primeiramente  sejam  cultivados  os  que  se  acham  em  condições  mais  ap- 
propríadas á  aclimação.  São  já  vantajosamente  conhecidos  o  dislriclo  de 
Mossamedes,  e  os  concelhos  de  Cazengo  e  de  Pungo-Andongo,  na  provín- 


^  Ignorámos  se  cm  todas  as  colónias  é  uso  alistarem  nos  corpos  das  guarnições 
os  degredados.  Na  ilha  de  S.  Thomé  sabemos  que  lhes  duo  esso  destino,  empregan- 
do-os  em  todos  os  serviços  a  que  são  chamadas  as  outras  ppças ;  c  muitos  d*elles 
téem  ali  pequenos  estabelecimentos  onde  vendem  aguardente,  tabaco  e  differentes 
géneros^  já  por  sua  conta,  já  por  conta  de  algumas  casas  commerciaes. 


) 


350 

cia  de  Angola.  Eni  Moçambique  aponla-se  o  districto  de  Inhambane  e  al- 
guns logares  do  interior.  Os  allos-planos  das  ilhas  de  S.  Thomé  e  Principo 
passam  por  salubres,  assim  como  algumas  ilhas  de  Cabo  Verde. 

É  portanto  indispensável  tomar  era  consideração  as  condições  em  que 
se  acham  as  terras  da  nossa  Afiica  tropico-equatorial,  onde  a  vegetação  se 
desenvolve  com  rapidez;  mas  se  lhe  faltar  a  agricultura,  acontece  que  um 
íogar  reputado  salubre  se  torna  em  pouco  tempo  doentio.  É  o  que  succe- 
deu  á  ilha  do  Príncipe,  que  se  acha  quasi  abandonada,  e  onde  os  habitan- 
tes estilo  hoje  cercados  de  perigos. 

A  ilha  de  S.  Thomé  tem  melhorado  de  clima,  o  que  foi  previsto  ha 
muito  tempo  pelo  dr.  Lúcio  Augusto  da  Silva,  o  qual,  apontando  as  cau- 
sas da  sua  insalubridade,  re[)ulava  muito  imporlanle  a  cjue  provinlia  da 
immensa  vegetação  que  ali  havia.  Observava,  porém,  aquelle  dislincto  me- 
dico que  logoque  a  agricultura  alargasse  a  sua  beneflca  acção,  subsli- 
tuindo-se  o  espesso  arvoredo  por  culturífs  úteis  e  bem  cuidadas,  o  clima 
da  ilha  de  S.  Thomé  seria  favoravelmente  modiflcado.  É  o  que  de  facto  se 
tem  observado,  e  estamos  convencidos  que  ha  de  acontecer  o  mesmo  em 
muitas  localidades,  que  actualmente  se  acham  infamadas  de  insalubridade. 
E  é  justo  dizer-se  que  n'uma  área  dezoito  vezes  maior  que  a  da  metrópole 
n3o  faltarão  vastos  campos  lâo  salubros  como  os  molhorcs  que  possuímos 
no  continente  da  Europa. 

Vem  a  propósito  citar  aqui  um  exemplo  que,  com  quanto  não  lenha 
relação  immediata  com  este  assumpto,  porque  estamos  tratando  da  pro- 
víncia de  S.  Thomé,  apresenta  comtudo  alguma  analogia,  e  leva  á  eviden- 
cia que,  procurando-se  colonisar  convenientemente  qualquer  terreno,  as 
condições  de  salubridade  melhoram  consideravelmente. 

É  sabido  que  na  superfície  total  das  províncias  de  Portugal  ha  uma 
grande  extensão  de  terrenos  incultos,  sendo  doestas  as  mais  notáveis  a  do 
Alemtejo  e  a  da  Beira :  pois  na  primeira  d'estas  províncias  ha  um  homem 
dotado  de  força  de  vontade  e  génio  inexcediveis,  que  dispondo  de  recur- 
sos pecuniários,  tem  procurado  cultivar  uma  extensa  área  d'estes  terre- 
nos, formando  ali  uma  espécie  de  colónia  que  bem  pode  chamar-se  a  base 
de  uma  importante  povoação  agrícola.  Para  melhor  conseguir  o  seu  ele- 
vado pensamento,  não  só  tem  tratado  da  plantação  de  arvoredo  próprio 
e  mais  aconselhado  para  beneficiar  a  salubridade  publica,  como  de  bas- 
tantes pomares  e  olivedos.  Adquirindo  os  mais  aperfeiçoados  instrumen- 
tos agrários,  c  empregando  os  melhores  adubos,  ha  conseguido  extrahir 
do  solo  que  se  julgava  iraproductivo  as  riquezas  de  que  é  susceptivel. 

O  homem  que  tudo  isto  tem  feito,  e  que  é  querido  dos  seus  empre- 
gados e  rendeiros,  é  o  sr.  José  Maria  dos  Santos,  actual  deputado  pelo 
districto  de  Évora.  Comprehendeu  que  o  melhor  meio  de  auxiliar  os  Ia- 


351 

vradores,  e  promover  que  oulros  o  possam  ser,  sem  compromeller  a 
soa  fortuna,  era  aforar-Ihes  iratos  de  terreno  e  casas  próprias  que  tem 
mandado  edificar  em  condições  confortáveis,  e  cora  as  acomraodaçôes 
precisas  para  o  fira  a  que  são  destinadas,  fornecendo-lhes  lambera  semen- 
tes e  trem  de  lavoura,  preslando-se  os  foreiros  a  determinados  encargos, 
enlre  elles  o  da  plantarão  de  um  certo  numero  de  arvores  das  espécies 
indicadas  no  contrato,  tudo  no  espaço  de  dez  annos.  E  note*se  que  estes 
contratos  só  começaram  a  vigorar,  emquanto  aos  encargos,  um  anno 
depois  de  escriptura,  sendo  o  pagamento  do  foro  pago  annualmente  e  au- 
gmentado  á  proporção  que  as  culturas  se  desenvolvessem. 

Kslc  systema  tem  dado  óptimos  resultados,  pois  não  só  proporciona 
abundância  de  trabalho  a  muitos  braços,  como  tem  concorrido  efBcaz- 
mente  para  o  augmento  da  riqueza  do  paiz,  melhorando  as  condiçijes  de 
salubridade,  auxiliando  principalmente  o  decrescimenlo  das  febres  inter- 
mittentes  que  tanto  flagellavamfiquelles  povos. 

Findos  os  dez  annos  do  contrato  o  foreiro  pôde  renovar  o  arrenda- 
mento do  terreno  que  cultivou,  ou  adquirir  outro  nas  mesmas  condições. 
Quando  um  homem,  dotado  de  boa  vontade,  e  dispondo  só  dos  seus 
recursos,  consegue  vantagens  tão  palpitantes,  para  si,  para  o  paiz,  e  para 
os  que  se  aproveitam  do  seu  sysloma  de  colonisoçno,  transformando  em 
poucos  annos  extensas  charnecas  era  uma  povoação  agricola,  muito  me- 
lhor o  poderiam  fazer  alguns  abastados  capitalistas  reunidos. 

Estas  reflexões  que  nos  occorrerara  a  propósito  de  assumpto  tão  mo- 
mentoso, aliás  bem  conhecido,  porque  são  factos  passados  a  poucos  kilo- 
metros  da  capital,  não  nos  parecera  inconvenientes,  não  só  para  prestar 
o  devido  preito  ao  seu  iniciador,  corao  porque  pode  erapregar-se  o  mesmo 
systema  nas  nossas  possessões. 

Tratemos,  pois,  de  occu[)ar  os  principaes  terrenos  que  ficam  entre  as 
províncias  de  Angola  e  a  de  Moçambique;  preparemo-nos  para  receber 
os  povos  colonisadores  que  tentara  ali  chegar,  caminhando  do  S.  para  o 
N.,  como  os  boers,  ou  do  N.  para  o  S.,  como  os  inglezes,  e  teremos  dado 
o  primeiro  passo  para  a  vantajosa  colonisação  das  nossas  possessões.  É 
portanto  para  o  districto  de  Lourenço  Marques  e  Inhambane,  na  costa 
oriental  da  Afinca,  e  para  o  de  Mossaraedes,  era  Angola,  que  se  deve  vol- 
tar a  nossa  attenção,  desenganando-nos  de  uma  vez  para  sempre  que  são 
infundados  os  receios  que  tem  havido  a  respeito  do  clima  da  nossa  região 
africana. 

Para  melhor  se  avaliarem  os  climas  equatoriaes  e  tropicaes  da  Africa 
porlugueza  comparados  com  os  das  províncias  do  império  do  Brazil,  pu- 
blicámos o  seguinte  mappa,  colligido  em  presença  das  apreciações  exara- 
das nos  importantes  trabalhos  de  Macedo  e  Larousse. 


352 


Mappa  comparativo  dos  climas  eqaatoriaes  e  tropiosM 


\ 


Clima  gorai 

Brasil 

Províncias 

Clima  segundo  Macedo 

Equatorial  (S.) 

Rio  Grande  do  Norte  e  Coará. 

Rio  Grande  do  Norte :  quente  e  sadio.  -  Ceará :  quen- 
te, húmido,  secco,  salubre. 

EqQAtorial  (S.) 

Parabjba. 

Quente,  secco,  salubre. 

Equatorial  (S.) 

Regiio  austral  do  Grio-Pará,  Amaio« 
uas,  Maranbao»  etc. 

Muito  queote,  húmido,  intermitteotei  próximo  dos 
rios. 

Equatorial  (S.) 

Regi&o  boreal  do  Pernambuco. 

Quente,  húmido,  secco,  geralmente  sadio. 

Equatorial  (S.) 

Hegiito  central  de  Pernambuco  e  Ala- 
goas. 

Quente,  húmido,  secco,  saudável. 

Equatorial  (S.) 

Regi&o  boreal  de  Sergipe. 

Quente,  húmido,  secco ;  nas  margens  de  alguns  rios 
íntermittentes. 

Equatorial  (S.) 

Regiio  boreal  de  Sergipe.             * 

Quente,  húmido,  secco;  ou  margens  de  alguns  rioi 
íntermittentes. 

Equatorial  (S.) 

RegiAo  austral  de  Piauby  e  Sergipe. 

Qoeole,  húmido,  secco^  intermitte&tes  endémicas  nas 
margens  de  alguns  nos;  o  restante  salobre. 

Equatorial  (S.)    ' 

Kegiio  aostral  de  Piauby  e  Sergipe,  e 
região  central  da  Bahia. 

Piauby:  quente  e  húmido,  inlermitteoles  end— int 
próximo  de  alguns  rios :  o  restante  salobre.  «Smií* 
pe :  descripto  acima. «-Bahia:  queote,  homido, se» 
CO,  fresco  e  suave ;  Íntermittentes  nas  margens  de 
S.  Francisco;  o  restante  sadio. 

TropiooHsquatorial . 

ReiriSo  austral  da  Bahia  c  central  de 
Gojas. 

tos  do  sortio,  Íntermittentes  nas  margens  de  alguas 
rios;  0  restante  sadio. -Goyai:  em  geral  secoo  e 
sadio;  intirmiltentes  nas  marfens  de  algoos  rios. 

Tropical  quente. 

Regiio  boreal  de  Minas  Geraes,  e  cen- 
tral de  Goyax  c  Mato  Grosso. 

Minas  Geraes :  Ameno,  saudável,  cakr  forte  e  iat(r> 
mitteotes  nas  margens  de  algons  rios.  -  Gmx :  d» 
cripto acima. -Mato  Grosso:  Em  geral  uivonvelt 
saudável ;  Íntermittentes  próximo  de  rios. 

Tropical  quratc. 

Idem. 

Idem. 

Tropical  qucole. 

Regiio  central  de  Goyaz,  e  austral  dn 
Mato  GrosM)  e  Minas  Geraes. 

Goyaz:  desrripto  acima. -Mato  Grosso:  idem. -Mi- 
nas Geraes :  idem. 

Tropical  queate. 

Rngiio  aostral  de  MinasGcrars,Goyaz, 
Mato  Grosso  o  boreal  do  Espirito 
Santo. 

Minas  Geraes: -descripto  acima. -Goyax:  iden.- 
Mato  Grosso:  idem. -Espirito  Santo:  qotote  e  te* 
niiilo  00  litoral,  brando  no  interior,  gcralmefite  sa- 
lobre. 

Tropical  queote. 

RegiSo  austral  de  Mato  Grosso,  Espi- 
rito Santo  e  Minas  Geraos. 

Descripto  acima. 

Tropical  qucole. 

Regiio  boreal  do  Rio  de  Janeiro  e  aus- 
tral de  Mato  Grosso. 

Rio  de  Janeiro:  quente,  húmido,  intermitteotee  p^ 
río<licas  nas  terras  pantanosas ;  na  parte  septeotrie- 
nal  temperado  e  saluborrímo.-Malo  Grosso:  des- 
cripto acima. 

Tropical. 

Regiio  boreal  do  Paraná  e  austral  do 
S.  Paulo. 

Paraná:  quente  e  húmido;  á  beiramar  temperado e 
muito  sadio. -S.  Paulo :  variável,  saudável  no  inte- 
rior, calor  no  litoral,  no  sul  salubre,  doce,  temperado. 

Tropical  temperado. 

Regiio  austral  do  Paraná. 

Descripto  acima. 

*  Limite  septeutrional  de  Moçambique :  Gabo  Delgado  vi  bahia  de  Tongue. 

*  E  0  extremo  N.  de  Angola,  á  direita  e  esquerda  do  Zaire.  Limilc  sentcDlrional  de  Angola:  rio  Cacongo  eolre  Loango' 

Ig-acydelaUtudeS.                                                                                                                           ^^ 

*  Ha  algumas  colónias  já  estabclecidai. 

*  AchaÚKie  bem  desenvolTídai  algumas  colónias. 

m 


idos  às  proTincias  do  Brazil  e  Africa  Portagueza 


Africa  porln^acsa  rrnlral 

Moçambique  * 

Gllroa 
segundo  Lal-ousso 

• 

Angola* 

Clima 
segundo  Larousso 

— 

— 

Oiritricto  de  Cabinda  e  S.  Sahador. 

Nada  diz. 

— 

— 

Districto  do  Sonho  e  de  D.  Pedro  V. 
Ambriz  c  territórios  adjacentes. 

Idem. 

— 

— 

Idem. 

— 

— 

Districto  de  Encoge. 

Idem. 

.  — 

— 

Dislricio  do  Dande  e  Duque  de  Bra- 
gança. 

Idem. 

^^^ 

Loanda,  terras  do  Icolo  e^engo.  do 
Zenza,  Golungo  Alto,  Ambaca, 
Cazcngo". 

Ilha  de  Loanda :  salu- 
bre; do  mais  nada  diz. 

— 

• 

Pungo  Andongo  c  Songo  Pequeno. 
(Malaoffe,   Cassange,  terras  de 
Talla  Mugongo,  etc.) 

Bcoguella  Velha  e  terras  adjacen- 
tes. 

Nada  diz. 

— 

— 

Idem. 

ido  de  Cabo  Drlgado,  Malub.a. 
rfCDS  orientai  e  occi dental  do 
0  Nyasti  (região  N.)  no  sertão, 
««ia. 

Nada  diz. 

Districto  de  Novo  Bedondo,  Malem- 
bas,  sertào  do  Aiidulo  e  Songo 
Grande. 

Idem. 

lo  Ibo,  bahía  de  Pemba,  mar- 
IS  oriental   o    occidental    do 
iMâ  (regtào  media)  para  o  ser- 
)  Condam. 

0  districto  do  Moçambique, 
rgeos  oriental  c  occidentaf  do 
0  Qiirna  (região  me^ia),  Ma* 
CS,  para  o  sertão  Mogoas  e  Ba- 
fas. 

Idem. 

Benguella,  Bailundo,  Cangucllns  e 
Bihé. 

Bcnguella :    insalubre 
na:>  costas. 

Moçambique:  ci- 
dade insalubre. 

Terras  do  Mossamedeí,  Hiiila  e  ser- 
tfio  do  interior*. 

Nada  diz. 

a  de  Ancoxp,  alto  Zambeze, 
Zombo,  .S.  Buila. 

Nada  diz. 

Terras  banhadas  pelu  no  Cuncne. 

Idom. 

ido  de  Oaelimane,  Sena  e  ter-     Sena :  bnmido  o 
nios  adjacentes.                           insalubre. 

— 

— 

tório  de  Manira.                       i  Nada  diz. 

i 

1 

1 

__     • 

^"^^ 

ieto  de  Sofalla.                           Insalubre. 

i 

— 

— 

de  Bàzaruto.  margem  N.  do 
Bpopo  ou  Bembe. 

'  Nada  diz. 

Icto  de  Inhambane. 

1  Idem. 

1         -        1 

— 

!oço  Marques.                            Sadio. 

)0,  e  0  rio  Zaire  do  distrícto  de  Cabinda  para  cima.  0  limite  meridional  Gca  rnlrc  Cabo  Frio  e  Angra  Fria,  por 

S3 


CAPITULO  IV 
Topographia  da  ilha  de  S.  Tbomé 

Aspecto  geral  da  ilha.  —  CosU  septeiUioBal.  -  Costa  occidenlal.  -  Costa  meridioaai.  —  Peqaeia  iika  das 
Kolas  e  costa  fronteira  da  ilha  de  S.  Thoné.  -  Costa  oriental.  -  Montes  e  cordilheiras. — Rios  dt 
ilha  de  S.  Thomé.  —  Estatistica  geral  das  correntes  de  agoa  de  maior  nomeada.— ftescrip^  de  alguns 
rios  e  rocas  qne  lhe  ficam  proiimas.— Cidade  da  ilha  de  S.  Thomé.— Limites  da  cidade  de  S.  Thomé.— 
Rnas  e  travessas  da  cidade.— Estatistica  geral  dof  prédios  urbanos  da  ilha  de  S.  Thomé,  referida  aos 
liiros  da  conservatória  da  mesma  ilha.— Fortaleza  de  S.  Sebastião  e  seus  calabonços.—Estasâo  militar 
no  reducto  de  S.  José— Quartéis  e  deposito  de  addidos.— Barracáo-quartel  e  praças  adjacentes.— Ca- 
deia civil.  —  Calabouço  da  policia.  —  Villas  ou  principaes  loqares  da  ilha  de  S.  Thomé. 


Aspecto  geral  da  ilha.  —  O  panorama  da  liba  de  S.  Thomé,  observado 
do  mar  a  poucos  kilometros,  quer  se  esteja  ao  N.,  quer  ao  S.,  da  parte 
de  E.  ou  de  O.,  é  surprebendenle,  descobrindo-se  sempre  altas  monta- 
nhas, agudos  picos  e  notáveis  alto-planos. 

Os  montes  elevam-SQ  a  muitos  centos  de  metros,  e  occupam  por  as- 
sim dizer  o  centro  da  superflcie  da  ilha.  O  espectador  não  vé  senão  uma 
das  suas  faces,  segundo  a  costa  onde  for  a  bahia  em  que  estiver  Amdeada 
a  embarcação. 

A  cidade  de  S.  Thomé  Qca  no  extremo  das  planícies  que  se  estendem 
desde  os  alto-planos  adjacentes  â  cordilheira  da  ilha,  na  face  oriental.  Â  sua 
ampla  bahia  está  mais  inclinada  ao  N.  e  pouco  fundo  tem.  É  oíScialmente 
conhecida  por  bahia  de  Anna  de  Chaves,  quando  deveria  ser  de  Álvaro 
de  Caminha. 

Os  vapores  fundeiam  muito  ao  mar,  e  é  d'ali  que  os  viajantes  que,  pela 
primeira  vez,  se  approximam  da  ilha  têem  occasião  de  attentar  na  massa 
informe  de  verdura  que  se  lhes  apresenta  á  vista. 

Olhando  para  a  praia  banhada  pelas  aguas  da  bahia  de  Anna  de  Cha- 
ves ou  de  Álvaro  de  Caminha,  vé-se  destacarem-se  algumas  casas  bran- 
cas dispostas  em  semi-círculo,  voltado  para  o  N.  É  desagradável  a  im- 
pressão que  causa  o  panorama  da  cidade,  coUocada  n'uma  baixa,  pare- 
cendo querer  fugir  do  amplexo  do  immenso  arvoredo  que  a  cerca  por 
todos  os  lados. 


i 


356 

As  pontas  da  bahía  correm  muito  fora,  ficando  n'uma  a  fortaleza  de 
S.  Sebastião  e  n'outra  o  reducto  de  S.  José.  Quem  olha  do  fundeadouro 
da  bahía  de  Anna  de  Chaves  ou  de  Álvaro  de  Caminha  para  esta  face  da 
ilha,  descobre  uma  immensa  bacia,  posta  inclinadamente  e  mettendo  o  seu 
bordo  inferior  nas  aguas  do  mar ;  o  fundo  assenta  no  logar  denominado 
Santa  Luzia,  ao  pé  do  qual  estão  três  notáveis  montes  com  disposição  ca- 
racterística. 

0  horisonte  do  observador,  á  direita,  é  limitado  por  uma  corda  de 
morros  distinctos  collocados  quasi  em  linha  ^  Mais  adiante  apparece  o 
príncipio  da  serra,  por  detrás  da  qual  fica  o  celebre  pico  de  S.  Thomé, 
mostrando  apenas  o  cume,  que  nem  sempre  se  avista  por  estar  coberto 
de  nuvens.  A  mais  de  600  metros  de  altitude,  na  face  da  serra  que  se  tem 
em  frente,  levantam-se  algumas  habitações  e  descobre-se  a  casa  da  conhe- 
cida roça  do  Monte  Café,  a  800  metros  acima  do  plano  do  observador. 
Correndo  com  a  vista  mais  para  a  esquerda,  em  relação  sempre  ao  hori- 
sonte physico,  nota-se  que  a  serra  acaba,  havendo  por  ali  um  morro  re- 
vestido de  poucas  arvores  e  muita  verdura,  e  no  fundo  e  acima  um  monte 
que  só  se  reconhece  segundo  o  logar  em  que  se  está,  o  qual  tem  o  cume 
grosso  e  muito  chegado  á  serra. 

Ao  centro  da  enorme  bacia,  e  na  parte  central  d'ella,  eleva-se  o  monte 
Formoso,  atrás  e  aos  lados  do  qual  se  divisam  dois  outros  montes  de  cu- 
mes agudos,  sendo  o  da  esquerda  mais  alto  que  o  da  direita.  Ao  primeiro 
chamaremos  Maria  Fernandes  e  ao  segundo  Maria  Carlota.  £  caracteris- 
tica  e  singular  a  disposição  doestes  três  montes  que  não  se  poderão  con- 
fundir com  outros  quando  se  olha  do  porto  para  aquelle  lado  da  ilha. 

Admiram-se  sempre  as  elevadíssimas  arvores  colossaes,  entre  as 
quaes  se  distingue  a  denominada  pau  capitão,  que  se  ergue  alterosa  so- 
bre as  planícies,  morros,  várzeas  e  picos. 

Continuando  a  olhar  para  o  lado  esquerdo,  reconhece-se  que  os  mon- 
tes referidos  vão  desapparecendo,  mas  notam-se  quatro  mais  pequenos  em 
relação  aos  primeiros,  a  pouca  distancia  uns  dos  outros,  e  um  d'elles  mais 
próximo  do  monte  Formoso,  ao  qual  parece  seguir-se.  Mais  ao  mar  des- 
cobre-se a  ponta  denominada  Praião,  com  os  seus  coqueiros  ao  extremo, 
o  que  simula  um  navio  á  vela  quando  se  olha  para  aquelle  lado,  e  estando 
na  fortaleza  de  S.  Sebastião.  Ficam  por  ali  praias  outr'ora  mui  afama- 
das. 

A  largos  traços  referimos  os  limites  superiores  ou  marcámos  o  ex- 
tremo do  horisonte  visual,  o  qual  pôde  ser  determinado  por  morros,  ser- 

1  Veja-se  a  gravura  que  tem  a  seguinte  designação :  Uma  vista  da  cidade  de 
S.  Thomé  tirada  da  torre  da  Sé. 


357 

ras,  moDtes  e  picos  dispostos  em  linha  semi-circular.  O  aspecto  é  real- 
mente pittoresco,  e  tanto  mais  curioso  quanto  mais  se  attenta  nos  variados 
panoramas  de  verdura  que  se  desenrolam  diante  do  visitante. 

  bahia  abre-se  a  NE.,  e  a  praia,  verdadeiramente  circular,  foi  a  es- 
colhida para  junto  d'ella  se  levantiir  a  capital  da  ilha. 

A  ponta  S.  Sebastião  sáe  mais  para  fóra  e  no  seu  extremo  começam  os 
edificios  da  cidade.  Por  toda  a  parte  o  terreno  é  baixo  e  raso  até  á  igreja 
de  S.  João,  perto  da  qual  se  construiu  o  cemitério  publico,  no  logar  de- 
nominado da  Boa  Vista,  o  que  causa  bem  triste  impressão,  pois  é  um  dos 
primeiros  espectáculos  que  se  apresentam  ao  observador.  Não  é,  porém, 
este  o  único  nome  paradoxal,  pois  não  causa  menos  surpreza  o  cha- 
mar-se  cemitério  dos  Prazeres  a  um  logar  de  lagrimas  e  saudade*. 

Fica  o  sitio  da  Boa  Vista  em  terreno  a  NO.,  ou  antes  a  ONO.  da  ci- 
dade, que  se  eleva  uns  20  metros  acima  do  nivel  do  mar  e  a  1:600  de 
distancia  da  praia.  Na  mesma  altura  corre  a  ponta  de  S.  José,  que  já 
nomeámos,  desenvolvendo-se  em  uma  vasta  planície  coberta,  de  muito  ca- 
pim ou  herva  de  Guiné,  de  algumas  palmeiras  de  leque  e  poucos  tamarin- 
deiros. 

O  ilhéu  das  Cabras,  quasi  dividido  ao  meio,  parece  querer  fugir  para 
o  mar,  e  atrás  d'elle,  espraiando-se  muito,  corre  a  restinga  ou  ponta  do  S. 
da  bahia  Diogo  Nunes.  O  mar  quebra-se  com  força  nas  pedras  d'esta 
restinga,  e  é  bastante  perigosa  por  ali  a  passagem  das  canoas. 

Á  ponta  S.  Sebastião  segue-se  um  terreno  baixo,  cheio  de  pedras  en- 
negrecidas  e  de  repugnante  aspecto ;  o  mar,  que  se  estende  a  grande  dis- 
tancia, começa  n'esta  lagoa  de  margens  infectas,  á  qual  se  pôde  chamar 
um  extenso  paul,  que  se  prolonga  até  á  igreja  de  Santo  António,  e  que 
muitas  vezes  se  cobre  de  agua^. 

Mal  se  descobrem  as  villas,  que  se  acham  quasi  abafadas  pelas  flores- 
tas que  as  envolvem. 

Do  lado  oriental  da  ilha  descobrem-se  as  villas  de  Guadalupe  e  de 
Santo  Amaro,  á  direita;  a  da  Trindade  fica-lhe  em  frente,  um  pouco  para 
baixo  na  immensa  bacia. 

DilTerentes  estradas  saem  da  cidade  para  o  interior  da  ilha,  cujo  aspe- 
cto é  sempre  o  mesmo,  quer  se  olhe  para  ella  de  cima  da  ponta  de  S.  José 


1  Referimo-nos  ao  cemitério  dos  Prazeres,  em  Lisboa. 

2  O  pântano  a  que  nos  referimos  é  bastante  espaçoso,  e  até  1870  nunca  se 
tratou  do  seu  desscccamento;  n'estc  anno  porém  foram  aterrados  mais  de  20:000 
metros  quadrados.  A  planta  da  cidade  não  foi  por  nós  verificada,  postoque  já  a  con- 
sultámos em  1871,  quando  publicámos  uma  breve  memoria  acerca  dos  negócios 
públicos  da  ilha  de  S.  Thomé. 


% 


356 

ou  da  fortaleza  de  S.  Sebastião,  de  qualquer  ediGcio  da  cidade  ou  dos  na- 
vios fundeados  no  porto. 

Algumas  estradas  sâo  raarginaes,  outras  interiores,  mas  o  observador 
nao  pôde  distinguir  estradas  nem  casas  por  se  acharem  cobertas  de  ma- 
tos Ião  bastos,  tão  altos  e  tão  continuados. 

O  aspecto  geral  da  ilha  pelo  N.,  NE.  e  E.  não  é  tão  pittoresco  como 
pelo  SE.  e  pelo  S.,  e  especialmente  pelo  O.  e  NO. 

Ao  S.  fica  a  pequena  ilha  das  Rolas,  que  se  apresenta  á  direita  sendo 
observada  da  península  denominada  logologo. 

É  verdadeiramente  vistoso  o  rio  de  agua  salgada  ou  braço  de  mar  que 
divide  a  parto  meridional  da  ilha,  o  qual  c  navegável  por  pequenas  em- 
barcações, ao  S.  da  península  a  que  nos  referimos. 

Da  ilha  das  Rolas  descobrc-se  a  zona  meridional  da  ilha  deS.  Thomé, 
cujos  terrenos  se  elevam  cada  vez  mais  até  ao  lendário  pico  que  lem  o 
nome  de  ilha. 

Desde  a  costa  do  S.  até  ao  extremo  visivel  do  horisonte  do  observa- 
dor destacam-se  picos  agudíssimos,  montes  escarpados,  pontas  alias  e 
saídas  ao  mar  que  dão  á  ilha  um  aspecto  singular,  poético  e  grandioso. 

N^aquelles  sitios  não  ha  casas  nem  terras  cultivadas! 

A  SO.  e  O.  a  costa  é  alta.  Fica  por  ali  a  agradável  e  fresca  enseada 
dfe  S.  Miguel,  onde  vem  despejar  suas  aguas  uma  boa  ribeira,  c  a  ampla 
bahia  de  Santa  Catharína. 

A  ilha  divide-se  em  diíTerentes  zonas,  não  só  porque  a  disposição  dos 
montes,  montanhas  e  cordilheiras  lhe  dá  muitas  faces  e  aspectos  pitlores- 
cos,  mas  porque  as  bahias  e  as  praias  téem  exposição  muito  distincta. 

As  cartas  hydrographicas  de  Lopes  de  Lima  e  de  Wilson  estão  muito 
erradas,  c  a  de  Boteler,  especialmente,  tem  erros  notáveis. 

E  de  grande  vantagem  o  conhecimento  da  costa,  das  praias  e  das  plani- 
cies  adjacentes,  assim  como  dos  alto-planos,  montes  e  várzeas. 

Passámos  a  fazer  uma  breve  descripção  de  cada  uma  doestas  par- 
tes. 

Costa  septeifrimial. — Começa  esta  costa  na  enseada  ou  bahia  de  Anna 
de  Chaves  ou  de  Álvaro  de  Caminha.  Fica  a  NE.,  e  nós  tomal-a-hemos 
sempre  para  ponto  de  partida,  e  por  isso  a  nossa  descripção  hydrographica 
tem  principio  na  ponta  N.  doesta  ampla  enseada.  Esta  ponta  ou  bahia  de- 
nomina-se,  como  já  dissemos,  ponta  S.  José ;  é  redonda  e  saliente,  su- 
bindo em  suave  declive  ato  uns  20  metros,  e  separa  o  porto  da  cidade  da 
bahia  denominada  Praia  Lagarto, 

Quem  olha  da  cidade  para  aquelle  lado  da  costa  não  pôde  ver  a  bahia, 
porque  a  restinga  Diogo  Nunes,  espraiando  muito  ao  mar,  é  a  nnica  que. 


m 

fleâàèscobèrlâ.  A  bahiá  t^raia  Lagarto  é  úto  grande  sBlb  dé  ágUâ,  em  cdjà 
pfàiâ  dèáagaà  o  riò  Mello. 

Navegando-se  na  abertura  d'esta  enseada,  em  uma  boa  canoa  de  sèls 
feliios,  procura-sé  vèntér  a  gràride  restinga,  a  qual  sáè  (jtlasí  èííi  linha 
recta  da  parle  mais  recuada  dá  Praia  Lagarto,  còbeftà  de  pedr᧠ e  bdlXÔs 
saídos  aò  mar,  onde  as  ohdàs  se  levantam  muito  e  fàsíerh  árTebéntS^ld. 

O  ettrtgitio  da  í^stinga  è  baixo  e  muito  estendido  tãfilbém  \)ÍiH  dentro 
do  mar,  sendo  preciso  um  bom  pratico  para  guiar  e  dirigir  tís  fetiiaddfés 
áté  se  chegar  em  frenttí  d'ella  c  passar  um  pouco  alem.  Vencida  á  íeslinga 
vê-8c  D  ilhéii  dâs  Cabras  e  a  formosa  e  grande  enseada  Diogo  NbrieSi  clijà 
praia  pôde  subditidir-se  etn  differentes  praias  pequenas  é  que  reéebem 
nomes  particulares. 

Tem  um  rio  que  toma  o  nome  da  enseada. 

À  canoa  demora-se  cería  de  trinta  e  cinco  miriUtos  para  vencer  a  aber- 
tura da  enseada  Diogo  Nunes,  navega-se  perto  da  ponta  S.  do  ilhéu  dás 
Cabras,  a  qual  se  acha  lanhada  em  frente  da  fbz  d'aquelle  rio. 

É  deslumbrante  o  aspecto  quê  se  nos  offerece,  olhando  da  canoa  para 
a  face  do  N.  da  ilha. 

Aos  outeiros  vestidos  de  copado  arvoredo  seguem-se  florestas  continua- 
das. Avistam-se  a  fazenda  Monte  Café,  as  roças  S.  Nicolau,  Màòambrarâ,  è 
lá  em  cima,  na  encosta  de  uma  cordilheira,  sobranceiros  a  todas  éssàs 
habitações,  levántam-se  outros  montes  cobertos  de  arvores  seculares,  por 
detrás  das  quaes  apparece  o  pico  Anna  de  Chaves  e  o  elevado  ciimé  do 
pico  de  S.  Thomé. 

A  canoa  vae  seguindo  entre  a  foz  do  rio  Diogo  Nunes  e  o  ilhéu  das  Ca- 
bras, e  depressa  parece  deixar  o  mar  para  entrar  n'um  lago  cin  íjtíe 
SC  deslisa,  costa  a  costa,  a  começar  em  frente  da  abandonada  capella  de 
S.  Francisco,  situada  sobre  um  morro  ou  elevado  outeiro.  Drrige-se  dfi- 
pOis  em  frente  da  praia  Fernão  Dias.  É  de  um  bello  eITeitocsla  praia  éôm 
o  seu  coqueiral,  dahdd  paáságem  ás  límpidas  aguas  do  riof  de  Oird,  tão 
cheias  de  lendas  populares  quanto  magestosas  e  agradáveis  as  tirisírgéhs  dò 
leito  em  que  ellas  correm.  Aqui  atravessam  furnsfs,  saltam  aleiili  cascatas S 
formam  adiante  cachoeiras,  e  perdendo-se  muitas  vezes  por  edtré  alcanti- 
lados despenhadeiros  vem  sair  mansamente  na  forniosa  priía  FernUo  Diâs. 

0  morro  Peixe  está  sobranceiro  ao  iiíar  e  ê  assim  dcfnominado  poi* 
haver  abundância  de  peixe  nas  praias  que  lhe  flcatíi  proximaís,  a  praia  Gue- 
gue  e  a  agradável  praia  das  Conchas.  Quem  se  approxima  d'elle,  ao  anOt- 

1  Temos  pboiographias  de  algumas  lindas  cascatas  d*este  rio,  mas  não  as  man- 
dámos gravar,  porque  adiariam  a  poblie açao  d*este  trabalho,  o  que  não  é  conve- 
niente. Serão  pablícáda^  logo  qiié  se  eonchia  a  impressão  d'este  livro. 


360 

tecer,  admira-se  por  ver  coberta  de  extenso  manto  alvíssimo  a  sua  face 
voltada  ao  mar:  são  centenares  de  garças  que  á  noite  ali  vão  repou- 
sar. 

A  praia  das  Conchas  tem  a  ponta  do  N.  grossa  e  alta,  seguindo-se-lbe 
uma  extensa  planície.  No  seu  extremo  está  a  habitação  de  uma  fazenda 
importante,  e  por  ali  pastoreia  a  melhor  manada  de  bois  da  ilha. 

O  morro  Carregado  não  tem  aspecto  notável,  é  baixo  e  muito  saído; 
atrás  d'eUe  fica  uma  superficie  baixa  e  sem  arvoredo. 

O  mar  faz  grande  arrebentação  ao  pé  doeste  morro,  e  é  preciso  atten- 
tar  bem  no  tempo  em  que  se  deseja  dobrar  para  nao  se  correr  perigo,  o 
qual  sempre  augmenta  em  consequência  de  uma  ponta  rasa  e  muito  met- 
tida  ao  mar. 

O  aspecto  da  costa  que  se  tinha  notado  desde  a  restinga  Diogo  Nu- 
nes, muda  muito  depois  de  se  passar  o  morro  Carregado.  As  praias  que 
até  ali  são  de  areia,  passam  a  ser  de  pedregulho,  cascalho  e  calhau,  e 
raras  vezes  oITcrecera  desembarque.  As  pontas  são  altas,  e  deixam  entre 
si  legares  baixos  cm  que  ha  basto  arvoredo.  È  desagradável  uma  vista 
assim. 

O  observador  nota  uma  praia  a  que  chamam  Praia  Grande,  onde  não 
pode  desembarcar,  porque  encontra  logo  morros  altos,  escarpados,  assen- 
tando em  rochas  negras  soltas,  e  de  aspecto  triste.  O  morro  Barro  Bóbô 
(ica  sobre  o  mar,  talhado  a  pique  c  sobe  a  mais  de  25  metros.  Da  parte 
mais  alta  téem  caído  grandes  i)edras  e  algumas  parecem  estar  quasi  a 
desabar. 

A  ribeira  Funda  fica  entro  montes  altos,  cobertos  de  arvoredo  e  talha- 
dos quasi  perpendicularmente;  a  praia  offerece  desembarque,  se  bem  que 
é  de  calhaus  negros  e  miúdos.  Tem  uma  fazenda  de  aspecto  agradável, 
mas  por  tal  modo  cercada  de  montes  que  se  assimílha  a  uma  larga  e 
ampla  cova,  pela  qual  sáe  uma  corrente  de  límpida  e  fresca  agua.  Produz 
canna  saccharina  e  óptimas  laranjas  que  se  colhem  nos  Qns  de  abril;  o  café 
dá-se  ali  bem. 

Do  morro  Carregado  avistasse  a  ponta  Figo  e  a  ponta  Diogo  Nunes;  do 
morro  Peixe  avista-se  a  costa  por  grande  extensão.  Entre  aquelles  dois 
morros  estão  a  pequena  praia  Guegue  e  a  linda  praia  das  Conchas.  É  por- 
tanto este  o  logar  mais  saído  ao  mar  na  costa  do  N.  da  ilha. 

A  planície  da  ponta  Figo  é  bastante  extensa,  e  antes  de  ali  se  chegar 
encontra-se  a  foz  do  rio  Rozema,  que  ás  vezes  se  torna  muito  caudaloso. 
A  costa  do  N.  deve  começar  a  ser  contada  da  restinga  Diogo  Nunes  e 
acabar  na  ponta  Figo.  Naturalmente  subdivide-se  em  differentes  partes 
sendo  o  seu  limite  o  morro  Carregado  collocado  em  O®  29'  40''  de  lati- 
tude N.  do  Equador  e  em  15^  50'  longitude  E.  de  Lisboa. 


361 

As  praias  e  rios  de  fazendas  correspondentes,  que  nós  considerámos 
na  costa  do  N.  da  ilha,  são  as  seguintes: 

i  .*  Enseada  de  Diogo  Nunes.  —  Tem  um  rio  com  a  mesma  denomi- 
nação. 

2.*  Uba  Flor.— Mo  tem  rio  e  flca  entre  a  enseada  Diogo  Nunes  e  a 
praia  Fernão  Dias.  Ha  ali  uma  pequena  roça. 

3.*  Praia  Fernão  Dias. — Tem  um  rio  com  o  nome  de  rio  de  Oiro. 
lia  ali  uma  boa  fazenda. 

4.*  Pequenapraia  Gueguc.—  íidiO  tem  rio  e  segue-se  immediataníente 
ao  morro  Peixe.  No  tempo  das  chuvas  ha  ali  uma  corrente  de  agua. 

3.*  Praia  das  Conchas.  —  Tem  um  rio  e  fica  entro  o  morro  Peixe  e 
o  morro  Carregado.  Uma  das  grandes  fazendas  da  ilha  tem  o  mesmo 
nome  e  pertencc-lhc  aquella  praia. 

6.*  Praia  impropriamente  denominada  Praia  Grawde.  — N'ella  não 
pódc  fundear-sc  nem  desembarcar-se. 

7.*  Ribeira  Funda. — Tem  um  rio  denominado  como  a  praia,  com 
agua  limpida  c  fresca.  Existe  ali  uma  pequena  granja. 

8.^  Anna  Ambó  ou  antes  Agna-Ambó. — Tem  ao  N.  o  rio  Rozema,  e 
está  próximo  da  ponta  Figo.  Fica  ali  [\  villa  do  Nossa  Senhora  das  Neves. 

Costa  Occidental.  —  A  circumnavegaçâo  da  ilha  não  será  feita  em  poucos 
dias,  se  houver  necessidade  de  se  tomarem  os  apontamentos  indispensá- 
veis para  descrever  as  praias,  os  rios,  as  pontas  c  os  terrenos  adjacentes. 
E  se,  alem  d'estes  apontamentos  mcdico-chorOçjraphicos,  se  tiverem  de 
escolher  e  acondicionar  cuidadosamente  vegetaes,  mineraes  e  animaes,  é 
preciso  que  a  demora  por  aquelles  sitios  se  prolongue  durante  o  tempo 
sufficiente,  para  se  poder  ser  útil  á  sciencia  e  não  se  sacrificar  a  vida.  O 
que,  porém,  é  certo,  é  que  pouco  se  sabe  da  contra-costa  da  ilha,  espe- 
cialmente da  região  do  SO. 

Temos  algumas  informações  da  enseada  de  Santa  Gatharina  e  da  vis- 
tosa angra  de  S.  Miguel,  mas  são  realmente  muito  incertas. 

Na  costa  de  O.  ha  pontas  altas  e  de  parte  d'ellas  despenham-se  corren- 
tes de  agua  bastante  volumosas. 

Da  praia  da  costa  do  N.  da  ilha  das  Rolas,  demora  por  iO°  NO.  ma- 
gnéticos a  ponta  denominada  o  Homem  da  Capa.  D'ali  até  á  praia  Agua- 
Ambó  não  ha  terrenos  cultivados  a  não  ser  os  da  fazenda  denominada 
Diogo  Vaz. 

É  notável  n'esta  costa  a  ponta  Furada,  o  ilhéu  Joanna  de  Sousa,  e 
muito  especialmente  a  enseada  de  S.  Miguel,  onde  desaguam  dois  rios, 
sendo  um  d'elles  de  ampla  foz.  É  muito  abrigado  este  fundeadouro,  e  o  ar- 
voredo muito  basto  chega  até  próximo  da  praia.  O  mar  por  aquelles  sitios 


^ 


362 

tão  manso  como  desde  a  praia  da  pequena  fazenda  Uba  Flor,  ao  NE. 
da  ilha,  até  ao  extremo  da  praia  das  Conchas.  Pôde  navegar-áe  por  ali  sem 
haver  receio  das  arrebentações  do  mar,  de  bancos,  de  balsas  ou  râstin- 
gas. 

No  livro  de  Lopes  de  Lima  lè-se  o  seguinte: 

«Entre  a  ponta  de  Diogo  Vaz  e  a  ponla  Ailemã  flca  a  bella  enseada  He 
Santa  Catharina,  assombrada  pelo  pico  de  S.  Thomé,  qiie  parace  estar- 
Ihe  imminente. 

«Fundeia-se  á  vontade  ao  longo  da  praia  que  é  toda  de burgalhão  grosso 
em  4  até  20  braças  (8,8  até  44  metros)  de  areia  preta  fina.  Ficam  por 
este  lado  os  montes  mais  altos  da  ilha.» 

Segundo  o  corographo  Cunha  Matos,  deve  haver  por  toda  esta  costa 
as  seguintes  praias,  pontas  e  ilhéus,  desde  a  ponta  denominada  Homem  da 
Capa  ou  do  Capote  até  á  ponta  Figo,  na  extensSo  de  cerca  de  50  kilome- 
tros : 

i  .*  Praia  grande  de  Calaboyo,  —  Não  temos  informações  especiaes 
doesta  praia. 

2.*  Ponla  alia,  —  O  mar  faz  aqui  grande  arrebentação. 

3.*  Ilhéu  Macaco,  —  A  costa  é'alta  por  este  sitio. 

4.*  Enseada  em  que  ha  um  banco  na  entrada, 

S.*  Praia  Pipa,  — Fm  defronte  da  costa,  e  por  esta  altura,  o  agudo 
pico  da  praia  Lança. 

G.^  Enseada  praia  Lança.  — Vm  antes  da  ponla  Azeitona,  cerca  de 
9  kilometros  do  ilhéu  Macaco.  Os  angolares  fabricam  sal  na  praia  d'esla 
enseada. 

7.*  Praia  Lança,  —  Tem  uma  grande  ribeira. 

8.*  Ponta  Gabado.  —  A  um  tiro  de  espingarda  ao  mar  doesta  costa  jaz 
o  ilhéu  Gabado,  a  mais  de  S  kilometros  da  ponta  Azeitona. 

9.^  Ilhéu  de  S,  Miguel  e  ilhéu  Formoso,  —  Ê  pittoresca  e  de  aspeclo 
risonho  a  enseada  abrigada  pelos  Ires  ilhéus,  dispostos  do  S.  para  õ  N., 
apresentando-se  a  quem  vae  n'esta  direcção  em  primeiro  logar  o  Gabada, 
depois  o  de  S.  Miguei,  e  mais  para  cima  o  Formoso.  As  canoas  ou  lan- 
chas passam  com  facilidade  entre  a  terra  e  o  ilhéu  Gabado,  e  desde  que 
se  entra  na  enseada  deve  fundear-se  próximo  á  costa  do  N.,  onde  des- 
agua um  rio  e  pode  entrar  uma  boa  lancha.  A  ponta  N.  da  enseada  é  alta, 
e  o  arvoredo  que  a  cobre  é  bastante  copado.  É  fresco  aquelle  sitio,  onde 
estivemos  algumas  horas  em  janeiro  de  1873. 

10.*  Ilhéu  Joanna  de  Sousa. —  Fica  a  mais  de  8  kilometros  do  ilhéu 
de  S.  Miguel.  É  furado  na  parte  media  e  o  mar  bate  com  força  dentro  da 
caverna  que  elle  apresenta.  A  costa  é  alta  entre  estes  ilhéus. 

H.*  Ilhéu  Coco. — Fica  a  3  kilometros  do  ilhéu  Joanna  de  Sousa. 


363 

12.*  Ponta  Furada.  — k  abertura  d'esta  ponta  é  grande  e  bastante 
ampla. 

i3.*  Praia  sem  denominação  conhecida,  —  Á  ponta  Furada  segue-se 
uma  praia  em  que  desagua  uma  boa  ribeira ;  é  extensa,  mas  nSo  é  fácil  to- 
mar ali  agua. 

14.*  Ponta  Allemã.  —  Da  ponta  Furada  á  ponta  Allemâ  ha  cerca  de 
1:400  metros.  O  mar  é  chão,  o  que  torna  fácil  a  communicação  entre  os 
differentes  sitios  doesta  costa. 

15.*  Ponta  Diogo  Vaz.  —  Entre  esta  ponta  e  a  antecedente  ha  mais 
de  5  kilomelros,  o  que  representa  a  abertura  da  enseada  de  Santa  Catha- 
rina. 

16.*  Prainha.  —  É  uma  ponta  rasa  coberta  de  coqueiros.  Adjacente 
a  esta  ponta  ha  uma  fazenda  cultivada.  Tem  boa  agua. 

17.*  Ponta  Cadão.  —  Entre  esta  ponta  e  a  antecedente  ha  cerca  de 
1:400  metros.  Segundo  Lopes  de  Lima  a  ponta  Cadao  fica  em  28'  de  lati- 
tude N.  e  15®  45'  de  longitude  E.  do  meridiano  de  Lisboa,  e  a  ponta  do 
Homem  da  Capa  está  em  3'  de  latitude  N.  e  15®  43'  de  longitude  E. 

A  ponta  Allemã  jaz  em  19'  de  latitude  N.  e  15®  41'  30"  de  longitude 
E.,  e  a  Diogo  Vaz  em  22'  de  latitude  N.  e  15®  42'  30"  longitude  E.  Bom 
seria  verificar-se  a  exactidão  geographica  doestas  posições,  mas  nem  a 
costa  tem  sido  explorada,  nem  se  tem  tratado  de  levantar  o  plano  da  ilha, 
de  modo  que  a  maior  parte  das  vezes  se  repetem  estatísticas,  que  passam 
de  uns  para  outros  escriptores  sem  as  necessárias  rectificações.  É  por  isso 
que  as  descripçõcs  das  ilhas  ficam  incompletas  e  se  dá  curso  a  erros,  ha- 
vendo raappas  geographicos  e  descripções  hydrographicas  que  parecem 
puras  invenções*. 

Cosia  meridienal.  —  A  costa  do  S.  da  ilha  estende-se  desde  a  ponta  Ba- 
leia até  á  do  Homem  da  Capa. 

A  ponta  Baleia  é  alta,  grossa  e  larga.  Ficam-lhe  na  base  muitas  pedras, 
onde  o  mar  quebra  com  força.  É  preciso  procurar  o  tempo  mais  próprio 
para  se  dobrar,  dando  resguardo  á  restinga. 

Na  costa  do  S.  jaz  a  vasta  enseada  que  denominaremos  Boa  Es- 
perança. Ha  ali  dois  fundeadouros,  um  á  esquerda  e  o  outro  á  direita. 
Chamam  ao  primeiro  logo-Iogó,  e  ao  segundo  dâo  a  denominação  de 


1  É  de  toda  a  vantagem  proceder-se  ao  exame  das  praias  e  ao  levantamento 
do  plano  da  ilha  do  S.  Thomé.  O  qne  se  lé  nos  escriptores  francezes  e  inglezes  é 
realmente  cheio  de  erros.  Da  eosta  continental  possuímos  am  trabalho  importante 
feito  por  A.  M.  de  Castilho.  Urge  que  se  faça  o  mesmo  a  respeito  das  ilhas  de 
S.  Thomé  e  Principe. 


364 

Villa*,  talvez  por  ser  d'aquellc  lado  que  se  acham,  próximo  á  praia,  algu- 
mas miseráveis  cubatas  de  angolares. 

São  de  aspecto  magestoso  as  arvores  que  por  ali  se  levantam,  não  só 
nas  terras  altas  da  ponta  Baleia,  mas  também  nas  dos  terrenos  da  penín- 
sula logo-Iogó,  que  se  deveria  chamar  Jacinto  de  Almeida. 

£  para  lamentar  a  falta  de  uma  boa  estrada  que  da  povoação  principal 
da  ilha  ou  da  praia  officialmente  reconhecida  como  logar  único  de  em- 
barque vá  ter  á  costa  de  SE.  da  ilha,  na  angra  de  S.  João  dos  Angolares 
ou  a  qualquer  outro  logar  do  S.,  como  a  enseada  de  S.  Miguel  onde  estão 
completamente  abandonados  os  terrenos. 

0  mar  na  costa  meridional  próximo  das  pontas,  que  é  necessário  da- 
brar,  anda  quasi  sempre  encapellado  por  causa  dos  ventos  de  travessia. 
Torna-sc  por  isso  necessária  a  abertura  de  estradas  interiores,  cenlraese 
marginaes,  as  quaes  ponham  aquellas  florestas  em  fácil  communicação 
com  os  centros  populosos.  É  o  único  meio  de  promover  a  cultura  dos  ter- 
renos que  não  se  acham  ainda  explorados. 

Não  foi  possível  verificar-se  ainda  a  existência  da  decantada  caverna 
que  atravessa  a  ilha  desde  a  costa  de  SE.  junto  da  alia  ponta  denominada 
16  Grande,  dirigindo-sc  para  a  cosfa  de  0.,  próximo  â  ponta  Diogo  Vaz. 
A  este  respeito  dissemos  no  relatório  de  18G9,  pagina  41 : 

«Parece-nos  digno  de  exame  o  phenomeno,  e  não  deve  continuara 
existir  rodeado  de  mystcrios  como  está  presentemente.  Não  é  infelizmente 
só  n'esle  caso  que  isto  acontece.  Ninguém  dirá  que  esta  ilha  só  tem  930 
kilometros  quadrados  de  superlicie-,  e  uma  costa  de  cerca  de  300  kilo- 
metros. » 

A  costa  meridional  da  ilha  tem  uma  forma  particular,  notando-sen'ella, 
a  contar  do  Homem  da  Capa,  a  praia  Inhame,  a  ponta  0.  da  grande  enseada 
Boa  Esperança  ou  logo-Iogó,  e  a  praia  que  fica  no  recôncavo  da  bahia  na 
sua  parte  central,  ao  meio  da  qual  sáe  o  rio  de  Agua  Salgada.  Estende-se 
depois  para  E.,  saindo  uma  ponta  alta,  redonda  e  arborisada,  tendo  um 
pouco  antes  da  sua  foz  um  regato  de  agua  doce.  Apparece  em  seguida 
uma  pequena  praia  e  logo  a  ponta  Baleia. 

1  Lopes  de  Lima  suppoz  que  a  villa  era  alguma  aldeia,  e  por  isso  imaginou  um 
logar  povoado  junto  á  costa  na  peninsula  logo-Iogó,  que  fica  quasi  em  frente  da 
ilha  das  Rolas. 

2  A  superQcie  da  ilha  de  S.  Thomé,  como  já  por  vezes  temos  dito,  nâo  está  cal- 
culada com  exactidão.  Expozeroos  no  capitulo  n  as  diíferenças  que  encontrámos,  e 
no  mappa  medico-geographico  da  região  guineana  admittimos  o  calculo  que  nos  pa- 
receu mais  rasoavel.  Em  1869,  porém,  regulámo-nos  apenas  pelo  trabalho  de  Lo- 
pes de  Lima,  assim  como  o  acceítâmos  ainda  hoje  como  um  calculo  mais  approxi- 
mado. 


36!} 

Pt^oeia  ilha  tias  Rolas  c  cosU  frooleira  da  ilba  dr  S.  TlioiBé.~-A  iltia  •h\ 
Rolas  estd  ao  S.  de  S.  Thomé.  ficanilo  m:iis  para  O.,  de  modo  ijii^  leiu  o 
ponta  do  Homem  da  C;)pa  peio  N. 

As  Iiabitaçucâ  oslãn  defronte  tio  fundeadouro  na  costa  seplciiln')t»ãt 
marcando-SL>  9''  a  10"  NO.  magnetit:os  com  o  Homem  tia  Capa.  È,  [n-i-i, 
evidente  gue  a  illia  das  liolasjaz  ao  S.  <l'esta  ponta. 

O  fundeadouro  eslá  a  um  terço  O.  pouco  mais  ou  menos  da  costa  do  N. 

De  uma  das  pontas  da  costa  do  0.  vò-se  a  costa  occidental  da  íllia  i\it 
de  S.  Ttiomé  até  Diogo  Vaz,  o  que  corroliora  a  nossa  asserção. 

O  panorama  da  íllia  de  S.  Thomé,  observado  d'aquelle  logar,  é  IjcIIo 
e  imponente.  Avista-se  a  costa  meridional,  começando  os  terrenos  a  !«• 
vantar-se  a  pouco  e  pouco,  formando  aqui  outeiros,  mais  alem  planuras; 
e  no  meio  de  montes  de  variadissiraos  aspectos  é  diflicij  distingutÍ'OM  uns 
dos  outros  sem  os  ter  observado  por  muitas  vezos.  Descolire-se  o  iiico 
denominado  Cão  Pequeno,  que  pela  sua  altura,  grossura  c  posição  siiiUo 
póilo  confundir  com  nenlium  outro,  poisque  tem  a  símilbança  de  uma 
garrafa  gigantesca  e  de  feitio  regular.  Este  exótico  pico  pódc  servir  parj 
designar  o  S.  da  ilha,  poisqne  só  n'esta  direcção  se  descobre  dislú' 
clamente. 

Do  silio  das  habitações  da  ilha  das  Rolas  avistam-se  os  seguíobi  ^ 
gares,  a  contar  da  ponia  Homem  da  Capa  para  o  nascente : 

1 ."  Uma  porção  do  costa,  ficando  na  parle  mais  eiuvaila,  proiíai  ■ 
arvoredo,  a  pedra  qnc  simula  o  Homem  da  Cajia  *. 

"2."  Uma  praia  ile  areia  que  denominam  Iiiliamc. 

H."  O  rio  de  agua  doce  da  enseada  Boa  Ksperança,  i  •"■'TfT  í(ir 
deadouro  cliamatlt)  Villa.  A  agulha  marca  íi^ji"  ^K.  tia  cmx|i 
da  ribeira. 

4.*'  A  ponta  da  margem  direita  (em  relação  a  qnem  entn^á 
ou  bahia  Roa  Esperança,  é  grossa  e  alta. 

5."  A  ponta  Baleia  fica  [)or  iu"  NR.  .A  costa  meridíoiuMB 
de-se,  pois,  entre  0°  NO.  magnéticos,  e  G7°  NE.  suppondtia^B 
guio  nas  habitações  da  ilha  das  Rolas. 

Olhando-sc  de  mejmo  logar  para  a  costa  do  St,i( 
pnnla  alta  denominada  lo-Gramle,  logo  adiaole,  \'m 
de  S.  João.  Alem  d'eslas  lia  mais  iliiasdistincta^,  qnfil| 

■  O  Homem  da  Cupa  ii  um.-i  prJra  que  pareo'  um  1 
poln  aox  h»mbrt)s,  painilu  livrciíionlc.  Tem  aa  niiuis  dd 
cima  de  tírandes  prdrasi,  rnuilo  chepado  ;i3  arvitrcs  r  ■ 
quando  se  olha  para  aquello  logar,  >'  realmence  graaétj 
em  similbante  pedra  mais  se  nos  afflgurava  ver  um  |^ 
livemtis  oceasião  de  ali  srnbir  como  desrjavamoa^^^J 


366 

Nâo  é  graDde  a  ilha  das  Rolas.  Na  costa  de  E.  ba  muitas  pedras  altas, 
em  que  o  mar  bate  com  força,  e  passaudo-lhes  por  debaixo  por  grandes 
cavidades,  faz  sair  areia  fina  ou  vapor  da  agua  pelos  oriQcios  do  terreoQ 
da  ilha  que  commuuicam  com  o  mar  ^  O  vapor  da  agua  sáe  com  força  e 
arrasta  qualquer  objecto  leve  que  se  lançar  na  abertura. 

A  ilha  tem  o  terreno  um  pouco  accidentado  para  O. 

Na  praia  do  N.  ha  uma  lapide  com  a  seguinte  inscripção,  que  fielmente 
copiámos  quando  ali  fomos  em  1873: 

Commemorando  o  hauto  de  posse  que  tomou  José  Maria  de  Freitas 
com  as  formalidades  da  ley,  dos  terrenos  da  villa  ã Angra  de  S.  João  dos 
Angulares,  terra  de  ló  Grande  até  á  pedra  forada  e  d'este  ilhéu  das  Ra- 
las^  em  24  e  25  de  Fevereiro  de  1864. 

Costa  oriental. — Entre  a  ponta  Baléa  ao  S.  da  ilha  de  S.  Tbomé  e  a 
ponta  de  Diogo  Nunes,  na  terceira  bahia  para  o  N.  da  de  Ânna  Chaves, 
a  costa  oriental  pôde  dividir-se  em  differentes  partes,  tomando-se  para 
limite  a  ponta  Praião,  o  ilhéu  de  SanfAnna  e  Angra  de  S.  João.  Esta  di- 
vis3o,  porém,  é  arbitraria,  e  serve  apenas  para  facilitar  a  descripçao  hy- 
drographica  da  costa  oriental  da  ilha  de  S.  Thomé. 

A  margem  oriental  apresenta  aspectos  diversos  e  formas  variadas.  A 
ponta  Praiao  é  aquella  que  sáe  mais  ao  mar.  Vê-se  distinctamente  da  for- 
taleza de  S.  Sebastião. 

É  bello  o  horisonte  que  se  descobre,  estando-se  na  fortaleza,  quer  se 
olhe  para  a  amplidão  dos  mares,  quer  se  attente  nos  conhecidos  morros 
Moquinqui,  Sacli,  Macalíi,  Macaco  e  Mongo,  que  se  acham  dispostos  quasi 
em  linha  recta,  e  parecendo  sair  do  mar  para  irem  engrossar  a  serra  prin- 
cipal da  ilha.  A  sua  disposição  é  característica^. 

1  Cunha  Matos  diz  a  este  respeito  o  seguinte :  cEm  um  valle  tem  dois  atoleiros, 
ou,  para  melhor  dizer,  sorvedouros,  que  communicam  com  o  mar,  cuja  agitação 
ali  se  percebe  muito  bem». 

Estivemos  ao  pé  das  cavernas,  por  algumas  horas.  Ha  effectivameDte  cammu- 
nicaçào  com  o  mar.  O  terreno  é  secco  e  a  costa  alta.  Ha  enormes  pedras  por  entre 
as  quaes  penetram  as  ondas,  c  quando  ellas  se  quebram  com  força,  momentos  de- 
pois sáe  areia  ou  vapor  de  agua  pelos  orifícios,  que  se  acham  na  ilha  a  poucos  me- 
tros do  mar. 

2  Escreve-se  ilhéu  das  Rolas  em  vez  de  ilha  das  Rolas,  por  ser  assim  que  usam 
no  paiz.  Diz- se,  por  exemplo,  na  ilha  de  S.  Thomé,  de  um  individuo  que  embarcou 
com  destino  á  ilha  do  Príncipe,  ou  que  é  natural  d*ali :  Foi  á  ilha,  A  ilha  das  Rolas, 
muito  mais  pequena  que  as  ilhas  do  Príncipe  e  Anno  Bom,  é  conhecida  por  ilhéu 
das  Rolas. 

3  Yeja-sa  a  gravura,  Vista  da  cidade  de  S.  Thomé,  tirada  de  cima  da  torre 
da  igreija  da  Sé-  Ao  longe  descobrem-se  os  morros  Maquinqui,  Sadi,  HaGalú,  Ma- 
caco e  Mongo. 


367 

O  MoDgo  fica  nas  faldas  da  serra ;  seguem-se  os  outros  morros  quasi 
a  iguaes  distancias  até  ao  Moquinquí  mais  próximo  do  mar.  É  alia  e  ex- 
tensa a  serra,  que  tem  variadas  ondulações,  mostrando-se  á  vista  as  fa- 
zendas do  xMonte  Café,  Macambará,  S.  Nicolau,  etc.  Por  detrás  d'esta  ser- 
ra, como  já  dissemos,  saem  as  pontas  de  alguns  montes,  como  o  do  pico 
de  S.  Thomé,  e  no  fim  descobre-se  o  pico  Maria  Carlota,  quasi  similhante 
ao  de  Aona  de  Chaves,  em  cujo  meio  se  apresenta  o  monte  Formoso.  Um 
pouco  para  baixo  e  para  a  esquerda  levanta-se  um  outro  monte  que  pa- 
rece querer  fuj^ir  de  ao  pé  dos  outros,  e  apresenta-se  isolado  e  a  distan- 
cia. 

Os  terrenos  no  extremo  do  borisonte  vão  diminuindo  até  chegarem  á 
costa,  estendendo-se  para  o  interior  do  mar  em  pontas  baixas  e  compri- 
das, como  a  ponta  Praião.  Ao  longe,  para  SO.,  mostram-se  os  cumes  de 
alguns  montes  entre  os  quaes  figura  o  do  pico  Maria  Fernandes. 

Da  cidade  para  o  S.  contam-se  as  seguintes  praias,  começando  da  for- 
taleza de  S.  Sebastião: 

Praia  pequena,  S.  Marçal,  Pantufa,  Praia  Melão  de  baixo  e  Praia 
Melão  de  cinia.  Grande  Ponta  Praião,  Praia  Pomba  ou  das  Pombas,  Al- 
moxarife, Picão,  SanVAnna,  Meda  *,  Ahes,  Praia  Giga,  Amador,  Praia 
Rei,  Traz  Budo  ou  Meme,  Ponta  Agulha  ou  Cruz  dos  Ventos,  Praia  Mor- 
rão dos  Castellos,  Praia  Ribeira,  Pedra  Furada,  Praia  Micondó,  Angra 
Taldo,  Engobó,  Angra  de  S.  João,  Praia  do  ló  Grande,  Azeitona,  Pes- 
queira, Martins  Mendes,  Ribeira  Peixe,  Zambá,  D,  Affonso,  Zavianna, 
Barro  Bobó,  Praia  Grande,  e  a  Ponta  Baleia. 

Poucas  são  as  praias  em  que  não  desagua  algum  rio,  e  em  muitas 
d*ellas  terminam  importantes  fazendas  agrícolas. 

Na  costa  da  fazenda  Agua-Izé  ha  uma  larga  restinga,  a  qual  se  estende 
a  mais  de  200  metros  para  o  mar.  As  pedras  que  a  formam  estão  á  flor 
da  agua  e  as  ondas  quebrando-se  sobre  ellas  formam  rolos  que  se  re- 
volvem com  grande  fragor  até  próximo  de  terra.  O  povo  chama  a  esta 
restinga  Valsa  do  rio  Agua  Abbade. 

Este  rio  tem  uma  pittoresca  bacia  e  corre  por  detrás  da  praia  em  ter- 
reno baixo.  No  extremo  da  bacia  ha  ilhotas  formadas  pela  terra,  que  a 
corrente  arrasta. 

Ú  rio  bifurca-se  e  recebe  ali  uma  pequena  porção  de  agua  que  somente 
no  tempo  das  chuvas  se  torna  volumosa. 

Defronte  da  foz  está  uma  pedra  isolada  ou  pequeno  recife,  que  pôde 
servir  de  balisa  para  se  chegar  á  foz  do  rio. 


Nos  documentos  públicos  esoMve-ae  liessia  e  nao  Meoia. 


368 

É  um  dos  mais  celebres  rios  da  ilha  de  S.  Thomé.  Serve  de  limite  en- 
tre as  terras  de  Agua-Izé  e  differenles  fazendas,  que  nomearemos  quando 
tratarmos  doeste  rio. 

Para  melhor  se  apreciar  o  recife  que  fica  na  foz  d  este  rio  apresentá- 
mos uma  gravura,  copia  liei  de  uma  photographia  que  nos  facultaram  ^ 
Em  nenhuma  das  cartas  geographicas  até  hoje  publicadas  se  acha  deter- 
minada a  sua  foz.  Lopes  de  Lima  não  se  referiu  a  iBlle,  por  não  ter  de  certo 
pessoa  que  o  informasse,  e  Cunha  Matos  parece  que  o  confundia  com  o 
rio  Praia  Rei. 

A  praia  Agua  Abbade  é  de  areia  preta,  assim  como  a  que  lhe  fica  im- 
mediata,  que  se  denomina  Praia  Amador  ou  Praia  Preta  do  Campo  do 
Boca  Queimada,  nome  dado  a  um  morro  que  se  levanta  no  extremo  da 
Praia  Amador.  Não  tem  arvores  e  fica  sobranceiro  ao  mar,  tendo  cerca 
de  60  metros  de  altitude.  Subimos  ali  em  1873,  e  ficámos  surprehendi- 
dos  com  o  deslumbrante  panorama  que  se  desenvolveu  diante  de  nós.  Ao 
longe  e  ao  mar  estão  as  Sete  Pedras  ou  Sete  Irmãs,  o  pico  Mícondó  e 
o  pico  Maria  Fernandes.  Mais  para  o  interior  levanta-se  o  pico  Mizambõ 
e  muitos  outros  de  phantasticas  formas  cobrindo  a  ilha  pela  face  do  nas- 
cente, e  tornando-a  de  um  aspecto  singular  e  ao  mesmo  tempo  triste  e 
pitloresco. 

O  morro  ou  a  ponta  Lebre  tem  algumas  arvores  e  é  bem  conhecido. 
Levanla-se  em  altas  pedras  que  ficam  perpendiculares  ao  mar.  A  sua  co- 
roa de  coqueiros  dá-lhe  as[)eclo  alegre,  e  é  certamente  dás  mais  altas 
que  por  ali  se  encontram. 

Entre  a  ponta  Lebre  e  o  morro  do  Campo  ou  Amador  está  a  peque- 
na praia  Giga. 

O  mar  por  estas  praias  é  bravo,  as  pontas  são  altas,  negras,  feias  e 
escarpadas,  e  desde  a  bahia  Mecia  Alves  até  á  da  Praia  Rei  nlo  se  en- 
contra bom  desembarque.  As  canoas,  quando  o  mar  o  permitte,  procu- 
ram a  praia  Preta  do  Campo  Amador  on  a  pequena  praia  diga  entre 
este  morro  e  a  ponta  Lebre. 

A  praia  Mecia  Alves  não  tem  rio,  mas  na  bahia  da  praia  Rei  desagua  a 
Ribeira  Funda.  A  praia  Rei  começa  na  restinga  da  Agulha  Abbade  e  corre 
em  innumeras  pedras  onde  as  ondas  se  estendem  com  fragor  medonho, 
assim  como  na  praia  Almoxarife. 

No  extremo  SO.  da  praia  o  marmette-se  por  entre  duas  pontas.  Junto 
ao  rio  ha  um  grande  coqueiral  e  duas  boas  pontes  estabelecem  a  commu- 
nicação  da  estrada  que  vae  da  praia  Rei  para  a  fazenda  Castello  do  Sul, 
que  lhe  está  immediata.  A  bahia  da  praia  Rei  pode  abrigar  balandras  oii 

^  Veja-se  a  gravura  Foz  do  rio  Agua  Abbade, 


369 

^  ■   »  I  I  ■  ■- 

palhabotes/  emquanto  que  os  brigues  ou  outras  embarcações  de  maior 
lotação  fundeiam  fora  da  ponta.  Quem  sair  n*uma  canoa  ou  lancbá  da  ba- 
bia  da  praia  Rei  tem  na  frente  e  um  pouco  á  esquerda  a  nascente;  á  ea- 
querda  apresenta-se  a  balsa  de  Água  Âbbade,  a  ponta  Lebre  e  o  ilbèu 
de  SanfAnna,  e  ã  direita  a  Cruz  dos  Ventos  no  extremo  da  ponta  do  S.  da 
bahia,  a  ponta  Agulha  e  as  Sete  Pedras  muito  ao  longe.  O  aspecto  que  a 
ilha  offerece,  vista  dô  mar,  a  E.,  tem  differenças  notáveis,  segundo  se 
olha  para  o  lado  do  S.  ou  do  N.  São  numerosos  e  de  formas  variadíssimas 
os  picos  que  por  ali  se  encontram,  bem  como  várzeas,  planaras,  outei- 
ros e  férteis  morros  entre  450  a  400  metros  de  altitude,  como  nós  verifi* 
cámos. 

A  praia  Ribeira  fica  immediata  á  praia  Morrão  dos  Cástellos.  Sobe-se 
a  ponta  do  Alto  Douro  que  fica  sobranceira  ao  mar  uns  50  metros.  Pas- 
sada esta  descese  para  aquella  praia,  onde  está  o  rio  que  separa  a  fk*e- 
guezia  dos  Angolares  da  de  SanfAnna ;  a  forma  da  babia  e  a  foz  do  rio 
está  representada  na  respectiva  gravura  ^ 

Estivemos  junto  á  margem  esquerda  quando  fomos  â  fazenda  Alto 
Douro  em  4872. 

No  fundo  da  babia  ha  uma  pedra  que  sustenta  um  pequeno  coqueiro, 
a  que  chamam  coqueiro  orphão.  Serve  de  limite  á  costa  na  fazenda  Alto 
Douro. 

A  angra  de  S.  João,  que  se  aponta  como  muito  ampla  e  boa,  não  tem 
sido  descrípta  com  exactidão.  A  importância  que  lhe  damos  auctorisa  a 
extensão  com  que  escrevemos  a  respeito  d'ella.  No  livro  de  Lopes  de  Lima, 
que  é  geralmente  a  fonte  onde  se  recorre  em  assumptos  d'esta  ordem, 
lé-se  a  seguinte  descripção  a  respeito  de  Angra  dos  Angolares : 

cO  porto,  aberto  ao  Sueste  e  o  melhor  de  todos  os  da  ilha,  é  a  Angra 
de  S.  João  entre  a  Ponta  Agua  ao  Nordeste  e  o  Pico  do  Maeurú  ao  Su- 
doeste (que  assim  se  correm;  tem  meia  légua  de  boca  e  qaasí  uma  mi- 
lha de  recôncavo,  com  capacidade  para  recolher  45  a  48  navios  de  qual- 
quer lote  ao  abrigo  de  todos  os  ventos,  menos  o  Sueste,  que  é  travessia; 
na  entrada  acbam-se  20  braças  (44  metros)  de  fundo  de  areia  fina  e  den- 
tro na  abra  5  e  6  braças  (44  e  43'",2)  do  mesmo  fundo,  e  das  5  braças 
(4 1  metros)  para  a  terra  é  tudo  salão  duro ;  desembarca-se  no  fundo  da 
bahia  em  um  areal  muito  raso,  coberto  de  coqueiros,  e  onde  vem  despe- 
jar-se  duas  grandes  ribeiras  de  boa  agua ;  os  dois  lados  do  porto  são  des- 
.penhadeiros  inaccessiveis,  por  cujos  alcantis  se  despenham  copiosas  tor- 


1  Veja  a  gravura,  Vista  da  praia  chamada  Ribeira,  onde  desagua  o  rio  que  ser- 
ve de  limite  entre  a  freguezia  de  San^Anna  e  dos  Angolares,  e  onde  terminam  as 
teiras  da  fazenda  Alto  Dmtro,  pelo  lado  do  mar. 


Z( 


370 

reates,  as  quaes  com  facilidade  se  eacaminham  por  meio  de  caibas,  ou 
mangueiras,  a  encher  as  aguas  dentro  mesmo  das  lanchas,  que  podem 
bem  encostar  á  rocha ;  ao  Nordeste  d*esta  bahia  moram  os  Angoíare$  so- 
bre as  montanhas  que  correm  até  á  Angra  de  Mecia  Alves.^ 

São  inexactas  algumas  das  informações  que  ali  se  lêem,  e  que  oãode* 
vem  passar  sem  ratiflcaçao. 

A  povoação  fica  sobre  um  outeiro  de  30  metros' de  altitude,  correndo 
ao  rumo  geral  magnético  SO-NE.  ou  SO  V^-E  ^A  NE.  Redozem-se  a  isto 
as  três  montanhas  a  NE.  da  angra  de  S.  João. 

As  terras  dos  Angolares  não  se  estendem  até  ao  sitio  da  costa  denomi- 
nada Mecia  Alves.  Estes  povos  occupam  uma  parte  da  ilha  muito  circum- 
scrípta.  Chegam  do  lado  do  N.  até  á  Praia  Ribeira,  limitando  com  as  fa- 
zendas de  Agua-Izé  e  para  0.  e  S.  encontram  também  do  mesmo  modo 
as  terras  pertencentes  á  referida  fazenda  ^ 

Ao  fundo  da  Angra  de  S.  João  dos  Angoiares  desembocam  dois  rios, 
e  na  margem  de  NE.  corre  uma  pequena  porção  de  agua  por  entre  pe- 
dras e  só  poderá  engrossar  em  occasiuo  de  chuvas.  Faltam  pois  i$  co- 
piosas correntes  e  os  despenhadeiros  inaccessiveis. 

A  ponta  do  S.  é  arborisada,  e  terá  de  80  a  400  metros  de  altitude, 
mas  nãp  nos  consta  que  d'ella  desça  corrente  alguma  de  agua. 

Tem  de  se  passar  em  canoa  o  rio  que  desagua  no  mar  do  lado  da 
villa  dos  Angolares.  Não  é  caudaloso,  mas  a  agua  dá  pelos  joelhos  dos 
carregadores  que  o  atravessam  a  vau.  A  ladeira,  que  da  praia  conduz  i 
villa,  é  Íngreme  e  começa  junto  a  uma  grande  pedra  que  está  próxima 
á  margem  esquerda  do  rio.  O  fundo  da  Angra  de  S.  João  ó  limpo  e  muito 
regular. 

Dentro  d'eUa  poucos  navios  cabem,  e  se  outras  embarcações  a  deman- 
darem téem  de  fundear  fora  da  ponta,  esperando  que  as  outras  saiam, 
como  succede  no  porto  de  Anna  dle  Chaves  ou  antes  de  Álvaro  de  Cami- 
nha. A  bahia  é  regular  e  disposta  em  semi-circulo  ou  antes  em  forma  de 
saco. 

iMtes  e  cordilheiras.  —  Os  montes  da  ilha  de  S.  Thomé  eeiSo  quasi 
todos  por  determinar.  Conhecem-se  alguns  dos  mais  altos,  mas  a  deno- 
minação de  um  grande  numero  é  arbitraria. 

Um  observador  collocado  no  extremo  da  ponta  de  S.  José  ao  N.  da  ba- 
hia, ou  no  extremo  da  ponta  de  S.  Sebastião  ao  S.  da  mesma,  ou  ainda  . 


1  No  mappa  mcdico-geograpliíco  da  ilha  de  S.  Thomé  apresentámos  a  arca  exa- 
cta de  muitas  fazendas,  assim  como  pateuleâmos  a  superlicie  occupada  pdos  An- 
golares. A  gravura  doesto  trabalho  nuo  se  fará  esperar  por  muito  tempo. 


371 

•m  qualquer  navio  fundeado  no  porto,  olhando  para  a  ilha  vé  o  seu  hori- 
soQto  visual  jbebado  por  montes,  picos  e  serras,  podendo  julgar-se  no 
centro  de  om  drciàD,  cuja  drcumferencia  regularmente  traçada  coincide 
com  os  comes  d'aqueUea  altos  montes. 

O  arvoredo  começa  a  differençar-se  próximo  ao  vistoso  morro  deno* 
minado  Mongo,  e  um  pouco  para  a  esquerda,  para  cima  e  para  O.,  desço- 
bre-set  rai  dias  claros,  o  come  do  pico  de  S.  Thomé.  Fica  por  ali  i  serra 
encnrvando-se  um  pouco,  para  se  levantar  outra  vez^ 

Nos  pontos  onde  esta  diminue  apparecem  os  três  symetrícos  montes 
dispostos  em  forma  triangular  estando  um  dos  vértices  voltado  para  o 
observador»  e  é  representado  pelo  monte  Formoso;  o  lado  opposto  do 
triangulo  é  formado  pelo  monte  Maria  Carlota  á  direita  e  Maria  Fernan- 
des á  esquerda. 

O  altan^ro  e  agudo  pico  Maria  Fernandes  é  boa  conbecença  d'aquel- 
las  paragens. 

Ao  monte  Formoso  segue-se  para  a  esquerda  e  para  baixo  um  monte 
bastante  alto,  e  mais  para  a  esquerda  ainda  e  para  o  S.  fica  o  pico  que 
dizem  denominar-se  Mísambó.  Alem  d*estes  montes  vêem-se  do  fundea- 
douro  o  pico  Maria  Fernandes  a  ESE.,  o  morro  da  costa  de  E.  ou  do 
PraiSOi  e  dentro  d'esta  circumferenda  alguns  outeiros  e  vistosos  mor- 
ros. 

É  realmente  agradabilíssimo  o  panorama  da  ilha,  vista  d'esle  lado, 
qw  é  o  mais  povoado  e  conhecido.  A  E.,  ao  S.  e  a  SSE.  levantam-se  dif- 
fereotes  montes,  mas  nlo  se  sabe  a  sua  posição  relativa  nem  absoluta. 

Ghama-se  a  um  o  pico  Câo  Grande,  que  só  se  descobre  bem  indo-se 
em  viagem  para  o  S.  da  ilha,  mas  as  suas  proximidades  b2o  têem  sido 
exploradas.  O  mesmo  succede  a  respeito  do  pico  Cão  Pequeno,  e  tanto 
um  como  outro,  pela  sua  forma  singularissima,  podem  comparar-se  a  um 
enomisdmo|[azometro,  posto  ali  por  Malquer  capricho  da  natureza. 

Se  ha  vantagem  em  conhecer  os  numerosos  montes,  picos  e  monta- 
nhas existentes  em  toda  a  ilha,  n3o  é  menos  importante  o  estudo  das  planu- 
ras e  otttdros  susceptíveis  de  cultura,  tornando-se  muito  úteis  as  explo- 
racfies  geológicas  e  mineralógicas  a  que  é  preciso  proceder,  a  fim  de  se 
saber  se  é  possível  habitar  algumas  cumeadas,  várzeas  ou  aberturas  lar- 
gas e  accessiveis. 

9io  numerosos  os  mcM^ros  em  que  já  se  téem  feito  plantações*. 


1  A  maneira  por  que  descrevemos  á  ilha  de  S.  Thomé  obrigou-nos  a  fazer  algU' 
mas  repetições,  procurando  comtado  evital-as  tanto  quanto  nos  foi  possível. 

'  Entre  os  morros  cultivados  eoutam-se  o  monte  Macaco  e  os  morros  da  roça 
Gachoeu^a,  nas  terras  de  Agaa-Izé,  e  todos  os  terrenos  altos  d'osta  vasta  fazenda. 


372 

Rios  da  ilha  de  S.  Tlimè.— Os  rios  da  ilha  de  S.  Thomé  nSo  têem 
sido  explorados,  e  faltam  também  os  estudos  bydrograptiicos  propria- 
mente ditos.  NSo  é  possível  portanto  calcuiar-se  a  saperficie  das  bacias 
dos  rios  qae  fecundam  os  terrenos,  nem  se  conhece  com  exactidão  a  ori- 
gem e  curso  da  maior  parte  d^elles.  A  ilha  é  todavia  recortada  por  nume- 
rosas correntes  de  agua.  Descem  umas  dos  montes  altos  e  desaguam  no 
mar,  e  outras  atravessam  várzeas  e  fertilisam  planícies,  indo  depois  en- 
grossar as  principaes  correntes  de  agua.  A  ilha,  porém,  não  se  toma  notá- 
vel pela  rede  geral  dos  canaes  abertos  pela  natureza :  o  que  ali  é  mais  di- 
gno de  attenção  são  as  variadas  fontes  ou  nascentes  que  ora  apparecem 
entre  o  arvoredo,  onde  se  perdem,  ora  saem  em  crystallinos  fios  de  agua, 
serpenteando  por  entre  mimosa  vegetação. 

O  povo,  no  seu  sincero  pensar,  distingue  a  maior  parte  das  aguas  pe- 
los sítios  em  que  ellas  passam  ou  por  alguma  circumstancia  característica 
que  os  affecta.  Estão  n'estc  caso  as  chamadas  Agua  Mafra,  Ghóchó>  Budo, 
Agua  Areia,  Gallo  Canta,  Agua  Secca,  Agua  Junta,  Clogá  e  outras.  Mas 
independentemente  d*estes  nomes  singulares,  toem  muitos  cheios  de  len- 
das poéticas,  taes  como  o  rio  da  Ponte  que  Deus  fez.  Agua  Casada  e  o 
rio  de  Oiro  de  que  adiante  fatiaremos. 

Agua  Bõbõ  é  o  nome  geral  por  que  se  nomeiam  todas  as  nascentes 
límpidas,  brotando  solitárias  por  entre  copado  arvoredo.  Ha  portanto 
muitas  doeste  nome. 

Não  ha  certamente  paiz  tão  abundante  de  agua  como  a  ilha  de  S.  Thomi. 
Os  rios  não  são  navegáveis,  mas  grande  numero  d'elles  conserva  um  vo- 
lume de  agua  regular  em  todo  o  anno  e  tem  foz  constantemente  aberta. 

O  povo  tem  ainda  denominações  especiaes  para  estas  correntes.  Agua 
Grande  é  o  nome  geral  de  muitos  rios,  assim  como  o  de  ribeira  tem 
sido  applícado  a  outros.  Alguns  tomam  também  o  nome  dos  logares  em 
que  passam^  e  aos  quaes  se  attiibuem  também  lendas  mais  ou  menos 
extraordinárias. 

Não  nos  é  possível  fazer  a  descripção  hydrographica  da  ilha,  apresen- 
tando 08  contornos,  superficies,  direcção  e  afiluentes  dos  diflermtes  rios, 
mas  nomearemos  as  fazendas  que  elles  banham  e  as  praias  em  que 
desaguam,  indicando  o  que  se  nos  depara  de  mais  curioso  e  interes- 
sante. 

Cumpre-nos  também  declarar  que  não  tivemos  occasião  de  seguir  o 
curso  dos  rios  desde  a  foz  até  ás  nascentes,  mas  que  fizemos  quanto  em 


cuja  dcseripçâo  especial  reservámos  para  publicação  adequada,  onde  apresentare- 
mos não  só  um  míippa  medieo-geographico  da  ilha,  mas  díOerentes  vistas  de  plan- 
toçòcs,  ele. 


373 

nós  coube  para  obter  com  a  maior  exactidão  todas  as  informações  que 
nos  podessem  auxiliar  n'esla  descripçio. 

Fazem-se  diversas  supposíções  acerca  da  origem  de  alguns  rios,  não 
faltando  quem  acredite  na  existência  de  um  lago  na  região  montaahosa 
da  ilha,  assim  como  se  falia  de  importantes  cavernas,  soberbas  cataractas 
e  de  immensas  cavidades,  uma  das  quaes  atravessa  a  ilba  de  uma  a  ou- 
tra costa.  Nada  se  sabe,  porém,  com  certeza,  porque  a  ilba  ainda  nao  foi 
explorada  oa  soa  parte  mais  alta. 

Sslalistiea  feral  das  emrentes  ie  afu  de  naier  Mneada. — Agua  Mongo.  — 
Toma  o  nome  do  morro  onde  tem  a  nascente,  corre  nas  freguezias  da 
Santissíma  Trindade  e  Magdalena  e  passa  nos  fundos  da  roça  denomi- 
nada Bemfica  e  a  SO.  da  fazenda  Santa  Margarida.  Dizem  ser  este  o  rio 
que  corre  por  detrás  da  villa  da  Magdalena  e  ahi  recebe  o  nome  de  Agua 
da  Villa. 

Agua  da  Villa.— ^lo  è  volumosa  n^este  logar  e  um  pouco  abaixo  forma 
uma  queda  de  agua.  Tivemos  occasião  de  ver  esta  cataracta,  indo  em  ser- 
viço á  villa  da  Magdalena  para  escolher  o  terreno  apropriado  para  o  cemi- 
tério. 

Agua  Pele-pete. — É  conhecida  por  esta  denominação  uma  agua  que 
passa  nos  fundos  da  roça  Pete-pete,  que  lhe  dá  o  nome.  Fica  na  fre- 
guezia  da  Graça,  no  sitio  da  Monta,  servindo  de  limite  a  algumas  fazen- 
das. 

Agua  Simão.— Denomina-se  assim  uma  corrente  que  serve  de  limite 
á  roç4i  Mesquita,  passando-lhe  ao  fundo. 

Agua  Tio.  —  È  o  nome  de  uma  corrente  que,  na  freguezia  da  Graça, 
limita  umas  terras  de  4:646  metros  de  extensão,  situadas  no  logar  da 
Monta. 

Agua  ignez.  — Fica  na  roça  Ganga,  freguezia  da  Trindade. 

Agua  Garcia  ou  Agua  Vargem,  — É  uma  correntede  pequeno  volume 
de  agua,  á  qual  dão  diversos  nomes  como  os  legares  em  que  passa.  Os  ha- 
bitantes chamam-lhe  Agua  Porca  n'um  sitio,  o  n'outros  toma  o  nome  de 
levada,  o  que  prova  ter  ella  mais  de  um  leito ;  atravessa  a  freguezia  da 
Conceição  e  marca  o  fundo  da  roça  Boa  Esperança ;  divide  em  parte  a 
roça  Mesquita  da  roça  Campo ;  corre  na  cidade  sob  a  ponte  Lucumi ;  serve 
de  limite  pelos  fundos  á  roça  Garcia,  que  lhe  dá  o  nome,  e  com  o  de 
Levada  de  agua  Garcia  limita  pelo  N.  a  roça  denominada  Agua  Porca,  do 
lado  direito,  e  pelo  S.  as  roças  Boa  Morte,  que  pertenceram  á  irmandade 
do  Rosário,  das  quaes  tomou  posse  a  fazenda,  bem  como  limita  a  que 
esta  já  possuia  sob  igual  nome  e  é  composta  de  três  pequenas  fazen- 
das distinctas  entre  si,  tendo  a  primeira  a  mesma  levada  de  agua  Garcia 


374 

pelo  0.,  a  segunda  pelo  S.  e  a  terceira  pelo  O.  Corre  na  freguezia  da  Con- 
ceição, passa  a  O.  das  terras  denominadie  Reboque  e  nm  jimtar-ie  ás 
aguas  que  saem  da  roça  Arrayal  (hoje  horta  milíUr),  formando  vm  regueí- 
rlo  que  o  poto  oom  justificada  rasSo  chama  Agua  Fede. 

Apia  FêéB.^k  fos  doeste  regueirio  está  quasi  sempre  Mtap\àã  pela 
areia  que  ali  se  accumula  nas  marés  cheias« 

Acua  Bóbó.-^  Pertence  á  freguesia  da  Magdalma  e  com  á  frente  de 
umas  terras  da  roça  Cró-Cró.  Chamam  algumas  pessoas  agua  BôMás  Mi* 
cenles  de  agua  límpida  perdendo-se  a  pouca  distancia  do  sitio  em  que  ap- 
parecem.  Ha  muitas  nascentes  com  este  nome^  devendo  designara  i  que 
fica  nas  proiidades  da  cidade  de  8.  Thomé.  É  d*esta  fonte  que  se  abaste» 
cem  muitos  habitantes.  Guarda-se  em  vasos  separados,  e  para  se  dar  a 
certeza  de  que  um  copo  de  agua  é  perfeito  diz-se :  Ê  agua  Búbó. 

Agm  Piedade. — Tem  o  seu  curso  na  freguezia  da  Magdaiena  e  passa 
ao  fundo  de  uma  roça  no  sitio  de  Batepá. 

Agua  Ouíchó. — Corre  nas  freguezias  da  Magdaiena  e  Santo  Amaro, 
passando  a  O.  da  roça  Boa  Entrada.  Na  roça  Santa  Crus  ha  diOèrentes 
nascentes  de  agua  férrea,  flcando  entre  esta  roça  e  a  agua  Cbóchó. 

Agua  Palito.  —  Nasce,  segundo  se  diz,  na  roça  Agua  Palito  e  corre 

na  freguezia  da  Magdaiena,  pelo  lado  inferior  das  terras  denoniínadas 

Allemanha  e  ObA  do  Meio.  Fica  debaixo  do  aqueducto  que  leva  a  agua  do 

rio  Mongo  ou  de  Mello  para  o  hospital  militar.  £  atravessado  pelo  cmni- 

nho  ou  estrada  da  Magdaiena,  sobre  o  qual  existe  uma  ponte  insiguM» 
cante. 

Agua  Anca. — Pertence  á  freguezia  da  Magdaiena  e  passa  ao  S.  da 
roça  Otõtõ  e  na  roça  praia  Melão. 

J^iua  Tanque. — Pertence  á  freguezia  da  Trindade,  corre  ao  fundo 
da  Boca-Boca  e  junta-se  ao  rio  Agua  Grande.  A  freguezia  da  Magdaiena 
chega  ate  este  regato. 

Agua  Pardal. — Tem  o  seu  curso  na  fregu€7.ia  da  Trindade  a  passa 
ao  fundo  da  roça  Cassumá. 

Agua  Caranguejo. — Corre  nas  freguezias  da  Trindade  e  Magdaiena 
e  passa  ao  fundo  da  roça  Cassumá. 

Agua  Prálá.  —  Pertence  á  freguezia  da  Magdaiena  e  costeia  os  fon* 
dos  da  roça  Bô-ízaquente. 

Agua  Casada.  —  Tem  o  seu  curso  na  freguezia  de  Santo  Amaro,  e 
separa  esta  freguezia  da  de  Nossa  Senhora  de  Guadeiupe.  É  lendária  esta 
corrente  ^  Atravessámol-a  quando  fomos  em  serviço  á  villa  da  Magdaiena. 


1  A  respeito  doesta  agua  escreveu  o  sr.  Alfredo  Tronf  um  folhetim  que  aio  re- 
produzimos aqui  para  não  dar  maior  extensão  a  este  trabalho. 


375 

Agua  Machado.  —Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  da  Trindade,  Santa 
Anna  e  Magdalena,  banhando  pela  frente  a  roça  Gullu  e  o  extremo  N.  da 
roça  Pedroma. 

Agua  Panada.  — Pertence  á  Treguezia  da  Trindade  e  corre  ao  N.  da 
fazenda  Plató  Café  e  a  E.  da  roça  Santa  Luzia.  É  affluente  da  margem  di- 
reita do  rio  Manuel  Jorge.  No  ponto  de  reunião  das  aguas  chama-se  Agua 
Junta.  Observámos  esta  corrente  quando  estivemos  na  fazenda  Sacavém, 
cuja  localidade  se  reconhece  por  se  achar  na  direcção  dos  três  montes 
que  symetricamente  se  levantam  no  extremo  da  serra. 

Agua  Coco.  —  Pertence  á  freguezia  da  Graça  e  corre  ao  fundo  de  uma 
terra  que  faz  parte  da  roça  Margarida  Malé ;  também  passa  na  roça  Uba 
Budo,  desembocando  na  praia  Almoxarife,  um  pouco  adiante  do  rio  Clara 
Dias. 

Agua  Magra.  —  Pertence  á  freguezia  de  SanrAnna  e  corre  no  limite 
E.  da  fazenda  Nova  Olinda. 

Agua  S^cm. — Pertence  á  fazenda  da  Trindade,  levando  agua  ap^as 
no  tempo  das  chuvas.  O  leito  de  qualquer  riacho  n'estas  circumstancias 
recebe  o  nome  de  Agua  Secca. 

Agua  Quinftndá.  —  Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  da  Graça  e  Trin- 
dade 6  passa  ao  fundo  da  roça  Lemos. 

Agua  Camilo.  —  Pertence  á  freguezia  da  Trindade,  corre  em  frente 
da  foça  Cabeia  e  ao  N.  da  roça  Canga.  Passa  também  na  roça  Santa  Fé. 

Agua  Mussungú. — Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  de  Santo  Amaro 
e  Magdalena  e  passa  ao  fundo  da  roça  Santa  Cruz. 

Agua  Vaz. — Pertence  á  freguezia  da  Trindade  e  corre  a  O.  da  roça 
Piedade. 

Agua  Filippe. — Pertence  á  freguezia  de  Santo  Amaro  e  corre  ao  fun« 
do  de  umas  terras  no  logar  de  Obõ-Machado. 

Agua  Cléclé.  —  Pertence  á  freguezia  da  Magdalena  e  corre  em  frente 
de  umas  terras  no  logar  de  Potõ. 

Agua  Prevds.  —  Pertence  á  freguezia  de  Nossa  Senhora  das  Neves  e 
corre  a  E.  de  um  pequeno  terreno. 

Agua  Colma. — Pertence  á  freguezia  da  Graça,  corre  ao  S.  da  roça 
Bonança  e  em  frente  da  roça  Cima  Colla.  Atravessámos  esta  agua,  que 
tem  pouca  importância. 

Agua  Falcão.  —  Pertence  á  freguezia  da  Trindade  e  corre  ao  fbndo  de 
uma  fracção  da  roça  Folha  Fede. 

Agua  Serra. — Pertence  á  freguezia  da  Graça  e  corre  ao  fundo  de 
umas  terras  no  sitio  Bom-Bom. 

Agua  Areia.  —  Pertence  á  freguezia  da  Trindade  e  corre  ao  fundo  da 
roça  Uba  Cocundia.  Forma  o  fundo  da  roça  Affna  Grande. 


I 


37(5 

Agua  Thomé.  —Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  da  Graça  e  Trindade, 
corre  ao  Tundo  da  roça  Mão  Três  e  de  umas  terras  no  sitio  da  Monta.  So- 
bre o  curso  e  posição  d'este  rio  tem  havido  contestações. 

Água  Funda. — Pertence  â  freguezia  da  Trindade  e  corre  ao  ftindo 
da  roça  Rocinha  Golia. 

Agua  Pequena. — Ê  a  denominação  geral  de  muitas  correntes.  Entre 
ellas  conta-se  a  que  passa  proiimo  á  villa  da  Trindade  e  vae  juntar-se  ao 
rio  Agua  Grande.  Ovewo  atravessa  a  viila»  dirigindo-se  para  o  sitio  do 
Canga  e  fazenda  próxima  o  tem  á  direita  este  pequeno  riacho;  passa  em 
frente  da  roça  Ganga.  Ha  outras  aguas  com  este  nome,  correndo  uma  em 
frente  da  roça  Agua  Palito.  Â  Agua  Pequena  fica  a  O.  d*esta  roça  que  tem 
um  pântano  ou  sumidouro. 

Agua  Ckió. — Pertence  á  freguezia  da  Graça  e  passa  ao  fundo  de  um 
pequeno  terreno  no  sitio  de  Palha.' 

Agua  Escorrega.  —  Pertence  á  freguezia  da  Graça,  passa  a  O.  de  uma 
terra  no  sitio  da  Praia  Melão  e  corre  na  roça  do  mesmo  nome. 

Ato  de  ikllo  ou  Braz  Francisco.  —  Pertence  á  freguezia  de  Santo 
Amaro,  passa  ao  N.  da  roça  Bella  Vista  e  desagua  na  praia  Lagarto. 

Ato  Minga^Aguorlzé.  —  Pertence  á  freguezia  de  SanfAnna,  passa  a 
O.  da  fazenda  Cachoeira  e  forma  uma  cataracta  bastante  alta,  um  pouco 
antes  de  se  reunir  ao  rio  Agua  Abbade.  Descobriu-se  próximo  a  esta  agua 
uma  nascente  de  petróleo.  Dá-se-lhe  também  o  nome  de  Agua  Thomé,  e 
torna-se  notável  por  servir  de  limite  á  fazenda  denominada  Cacboera,  de 
que  adiante  fallaremos.  A  falta  de  rigor  nas  denominações  dos  rios  tem 
dado  origem  a  differentes  protestos  sobre  o  curso  d*este  riacho,  que  fica 
dentro  da  fazenda  Agua-Izé.  Tivemos  occasião  de  observar  a  cataracta 
d*este  ribeiro  e  vadiámol-o  por  differentes  vezes. 

Rio  Vgunú.  —  Pertence  á  freguezia  da  Trindade  e  passa  ao  S.  da 
roça  Molembú. 

AguaSantarem.—l&ca  este  riacho  o  seu  curso  nas  freguezias  de 
Santo  Amaro  e  Magdalena,  entre  as  qoaes  serve  de  limite,  segundo  as 
respectivas  determinações  officiaes^  Passa  a  O.  da  roça  Mesquita  edo 
lado  de  baixo  de  terras  denominadas  Santarém.  A  freguezia  da  Conceição 
também  se  estende  ale  esta  agua. 

Agua  Gaito  Canta.  — Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  de  Santo  Amaro 
e  Magdalena  e  passa  ao  lado  de  cima  das  terras  denominadas  Santarém, 
Allemanha  c  Obò  do  Meio. 


1  Vejam-se  as  portarias  do  governo  provincial,  de  13  de  outubro  de  1864  e  18 
do  janoiro  de  1865,  publicadas  nas  respectivas  collecções  dos  boletim  offleiai  da 
província. 


377 

Ribeira  Potó.  —Pertence  á  fregaezia  da  Magdalena  e  passa  ao  fundo 
da  roça  Potó. 

Agm  Prata. —Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  da  Trindade  e  Graça^ 
e  corre  a  O.  da  roça  Melhorada. 

Agua  Azeitona. — Pertence  á  freguezía  de  Santo  Amaro  ocorre  ao 
fundo  da  roça  Maíanço. 

Agua  Budo.  —  Pertence  á  freguezía  da  Graça  e  passa  ao  fundo  de 
um  pequeno  terreno  no  sitio  da  Palha. 

Agua  Thatné  Piedade. — Pertence  á  freguezía  da  Trindade  e  passa  ao 
fundo  da  roça  Mio  Três. 

Agua  Uba. — Pertence  á  freguezía  da  Magdalena  e  passa  ao  fundo 
da  roça  Poto-Rei. 

Agua  Pedroma.  —Pertence  á  freguezía  da  Trindade  e  passa  ao  lado 
de  dma  da  roça  Guegu  Brazíl  e  na  roça  Pedroma. 

Agua  Lama. — Pertence  á  freguezía  da  Graça  e  passa  á  fírente  de  uma 
pequena  terra  denominada  Melhorada. 

Agua  Agumi.  —  Pertence  á  freguezía  da  Trindade  e  passa  a  E.  da 
roça  Moiembú. 

Agua  Francisco  Palha. — Pertence  á  freguezía  de  Santo  Amaro. 

Agua  d'Agó.  —  Pertence  á  freguezía  da  Trindade  e  passa  em  frente 
de  uma  terra  denominada  Cabeça  de  Agua. 

Agua  Abbade. — Corre  nas  freguezias  de  SanfAnna  e  Trindade  e  passa 
junto  de  algumas  roças  valiosas,  a  muitas  das  quaes  serve  de  limite.  É 
um  rio  importante,  a  respeito  do  qual  daremos  algumas  informações. 

Agua  Grande. — Nasce,  segundo  dizem,  entre  os  limites  das  fazen- 
das Monte  Café  e  Saudade,  passa  nas  freguezias  da  Magdalena,  Trindade, 
ConceiçSo  e  Graça,  banhando  algumas  roças  importantes.  Separa  a  fre- 
guezía da  Conceição  da  da  Graça.  Alem  da  vista  da  cataracta  denominada 
Blublú,  damos  uma  descripção  do  curso  d'este  rio,  segundo  as  informa- 
ções que  podemos  obter. 

Aio  Manuel  Jorge.  —Nasce  muito  para  cima  da  freguezía  da  Sauda- 
de» corre  nas  da  Trindade,  Sant*Anna  e  Graça  e  desagua  na  praia  Melão 
de  Cima.  Damos  uma  breve  noticia  do  seu  curso  e  nomeámos  algumas 
das  roças  a  que  serve  de  limite.  A  freguezia  da  Graça  chega  até  á  mar- 
gem esquerda,  servindo  de  limite  desde  a  altura  do  Cruzeiro  denomi- 
nado Petpet  até  ao  mar. 

Ato  C/ara  Dta^. — Nasce  na  roça  Pinheiro  e  Uba  Buddo  e  desagua 
na  praia  Almoxaríre,  depois  de  atravessar  as  freguezias  da  Trindade  e 
Sant*Anna.  D'elle  faremos  uma  descripção  especial,  por  passar  junto  a 
algumas  roças  importantes. 

Ribeira  d(i  Enseada  Engoba. — Pertence  á  freguezia  dos  Angolares, 


378 

tomando  o  nome  da  enseada  em  que  desagua,  a  SO.  da  qual  flca,  se- 
gundo Cunha  Matos,  a  grande  furna  dos  Morcegos  ou  Enguíbàs^. 

Ribeiroê  da  Angra  dos  Angolares.  —  Desaguam  na  praia  de  S.  Joio 
dos  Angolares. 

Ato  da  Praia  Io- Gr  ande. —Verience  á  freguezia  dos  Angolares.  A  sua 
foz,  segundo  Cunha  Matos,  torna>-se  inac<^esssivel  por  causa  da  ressaea. 

Regato  da  Praia  Pesqueira. — Pertence  á  freguezia  dos  Angolares, 
onde  se  pôde  chegar  com  bom  pratico. 

Ribeira  Martins  Mendes. — Pertence  á  freguezia  dos  Angolares.  A 
foz  é  uma  cataracta,  próxima  á  qual  bsteve  em  perigo  Cunha  Matos,  quan- 
do em  1600  quiz  ol^rvar  de  perto  a  quédá  da  agua. 

Rio  da  Ribeira  Peixe. — Segundo  dizem,  é  um  dos  maiores  da  ilha. 
Ha  na  praia  onde  desagua  uma  aldeia  dos  Angolares,  e  aflSrmam  ser  sí- 
tio agradável  e  muito  frequentado.  Este  rio  está  officialmente  indicado 
para  separar  a  freguezia  dos  angolares  da  de  Nossa  Senhora  das  Ne- 
ves. N3o  nos  parece,  porém,  que  este  limite  seja  exacto. 

Ribeira  da  Praia  D.  Affonso. — Este  rio  vem  designado  na  choro- 
graphía  de  Cunha  Matos,  e  é  por  isso  que  o  inscrevemos  aqui.  Nunca  ou* 
vimos  fallar  d'elle. 

Ribeira  da  Praia  Palma.  —  Fica  na  costa  de  O.  da  ilha  dos  Angolares. 

Rio  de  S.  Miffuel,  na  costa  O.  da  ilha. — É  notável  por  desembocar 
na  bahia  abrigada  por  três  ilhéus,  dando  bom  fundo  próximo  á  oosta.  Es- 
tivemos ali  em  i873,  e  observámos  o  viçoso  e  variado  arvoredo  que  se 
levanta  junto  á  praia.  Não  podemos  desembarcar. 

Ribeira  da  Praia  do  NE.  da  Ponta  Furada.— Pertence  á  freguesia  de 
Nossa  Senhora  das  Neves. 

Ribeira  ao  S.  da  Ponta  Allemã. — Desce  como  a  de  Martins  Mendes» 
em  forma  de  cascata,  mas  com  menor  volume  de  agua. 

Ribeira  da  Fazenda  Esprainha. — Ignora-se  a  sua  origem  e  curso. 

Ribeira  da  Fazenda  Agua  Funda.  —  Pertence  á  freguezia  de  Guada- 
lupe e  passa  ao  N.  da  ilha.  É  límpida  a  agua,  e  as  margens  do  rio  nSo 
sio  orladas  de  mangues. 

RUfeira  da  Praia  das  Conchas.—  Pertence  á  freguezia  de  Guadahipe 
e  desagua  na  praia  do  mesmo  nome. 

jRto  da  Praia  Preta  ou  Praia  Rei^  ou  Agua  Funda  da  Praia  Rei.  — 
Pertence  á  freguezia  de  SanfAnna  e  passa  ao  N.  da  Fazenda  Castelo  r  na 
parte  do  S.  tem  todo  o  seu  curso  nas  terras  da  fazenda  Agua-Izé. 

Agua  Telha. — Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  de  Santo  Amaro  e 
Magdalena  e  corre  ao  fundo  das  roças  Desejada,  Maianço  e  Matheus  Pi- 

1  É  este  o  nome  por  que  na  ilha  de  S.  Thomé  se  conhecem  os  morcegos. 


379 

na.  NSo  sabemos  onde  otsce  nem  ODde  desagua,  mas  a  saa  imporUficU 
deprebmde-se  das  roças  que  banha  ou  a  que  serve  de  limite  debaixo  de 
tal  deoouiiiiacão.  Ha  dezeseis  fazendas  que  téem  os  fundos  no  ribeiro 
Agoa  Tdba,  ficando  umas  na  freguezia  de  Santo  Aiíiaro  e  outras  na  da 
Blagdalena. 

Bio  de  Oiro. — Tem  o  seu  curso  nas  freguezias  de  Guadelnpe,  Ma- 
gdalena  e  Trindade.  É  um  dos  mais  pittorescos  rios  da  cidade  e  deBagoâ 
na  praia  Femio  Dias.  Serve  de  limite  entre  a  freguezia  da  Magdaleoa  e 
Guadelupe^ 

Ribeira  Diogo  Nunes.  —  Pretence  á  freguezia  de  Santo  Amaro* 

BUmra  da  Praia  Lagarto.  — Pertence  á  freguezia  de  Santo  Antaro  e 
serve  de  limite  entre  ella  a  da  Conceição,  da  parte  do  mar. 

Ato  da  Praia  Ribeira.  —  Serve  de  limite  entre  as  freguezias  dos  Ango- 
lares  e  de  SanfAnna.  Damos  uma  vista  da  praia»  onde  se  vé  a  foz  do  rio. 

Regaio  da  enargem  esquerda  da  hahia  denominada  logo-Iogo. — N2o 
tem  sido  explorado  e  é  aU  que  se  vae  buscar  agua  potável,  quando  se 
fundeia  na  babia. 

Ri0  dê  Agtuí  Salgada  da  bahia  Iogo^Iogo.—EatràmQ&  n'este  rio»  on- 
de navegámos  na  companhia  do  infeliz  governador  João  Glímaco  de  Car- 
valho. É  navegável  por  escaleres '. 

Agiêa  Dois. -^Fnuáo  da  roça  Obô  Laranjeira. 

Agua  Picão.  —Passa  na  roça  Uba  Budo. 

Bo  de  Santa  Caiharina.—Hío  tem  sido  explorado  nem  temos  d'elle 
intdrmacões  algumas. 

Agua  Lemos. — Limita  pelo  SE.  a  gleba  n.®  20  da  roça  António  Vaz. 

Agua  Amoreira.— È  um  dos  affluentes  do  rio  Agua  Grande  e  serve 
de  limite  á  roça  António  Vaz. 

Agua  Angolàr. — £  um  pequeno  regato  que  rega  a  fazenda  Conde  dos 
Frades. 

Agua  Lemos. — £  conhecida  por  este  nome  uma  corrente  que  serve 
de  limite  a  differentes  roças,  havendo  mais  de  dez  que  n'ella  téem  seus 
fundos.  Corre  nas  freguezias  da  Trindade  e  da  Graça. 

BeseriKia  '•  algaos  rias  e  rocas  fie  lhe  fican  ^oxiiMe.— /iíd  Agua  Gram* 
d0.«-Dis-se  que  este  rio  tem  a  nascente  na  roça  denominada  Saudade* 
coUocada  por  800  metros  de  altitude.  É  conhecido  o  seu  c^irso,  porque 
passa  entre  diversas  fazendas  plantadas  de  café  e  atravessa  a  regilo  maia 

1  Vide  pag.  383,  onde  tratámos  d'este  rio. 

*  O  braço  de  mar  a  que  nos  referiaios  fornia  uma  espécie  de  península  ao  S. 
da  ilha.  É  um  logar  agradável  e  onde  ha  boas  madeiras. 


380 

povoada  da  ilha.  Toma  differentes  nomes,  alguns  dos  quaes  merecem 
mencionar-se.  Na  frente  da  roça  Malhem  Angolar  ^  baixo,  è  conhecido 
pelo  nome  vulgar  de  Lava-o-pé,  e  designado  também  por  Agua  Creoula, 
Agua  Ponte.  Desagua  na  bahia  de  Anna  de  Chaves»  atravessando  a  cidade 
quasí  ao  centro.  Â  corrente  ali  é  morosa»  e  as  margens  s3o  cobertas  de  can- 
oas. Podiam-se  fazer  agradáveis  passeios  e  largos  desafogados  de  uma  e 
de  outra  parte  d'este  rio»  mas  prefere-se  deixar  o  terreno  nú  e  esbora- 
cado  pelos  caranguejos»  que  lidam  constantemente  no  seu  destruidor 
trabalho. 

Este  rio  tem  differentes  pontes  de  madeira»  sendo  quatro  na  área  da 
cidade»  e  uma  que  liga  a  estrada  que  vae  da  cidade  para  a  villa  da  Trinda- 
de» no  sitio  denominado  Agua  Grande»  4  kilometros  distante  da  praça  do 
governador  Mello. 

A  sua  foz  fica  ao  lado  esquerdo  do  largo  de  D.  Luiz  I»  a  qual  mui- 
tas vezes  86  obstruo  de  areia.  No  preamar»  todavia»  as  canoas  sobem  rio 
adma  e  vão  descarregar  peixe»  tábuas  e  vários  géneros  que  trazem  das 
viUas  de  SanfAnna  e  dos  Angolares  para  a  cidade. 

Tem  uma  pittoresca  queda  de  agua,  a  que  o  povo  dá  o  nome  de  Blu- 
blu. 

O  rio»  passada  a  ponte  que  liga  a  estrada  publica  da  cidade  á  villa 
da  Trindade»  corre  em  terreno  horisontal  até  á  proximidade  da  queda  de 
agua.  As  margens  s3o  baixas  e  os  terrenos  estão  cultivados.  O  volume 
de  agua  é  grande  no  tempo  secco  ou  das  ventanias»  e  n*esta  occasião 
é  agradável  e  vistoso  aquelle  manancial.  Modificado  por  algumas  pedras» 
sobre  2|s  quaes  se  alarga,  salta  com  suave  murmúrio  de  pedra  em  pedra» 
até  se  despenhar  com  impetuosidade  sem  encontrar  obstáculo  algum. 

Para  se  fazer  idéa  do  volume  e  forma  do  lençol  de  agua  do  rio  Agua 
Grande»  ajuntámos  a  esta  breve  noticia  uma  gravura  S  representando 
a  margem  esquerda  do  rio»  na  encosta  do  Outeiro,  não  se  descobrindo 
por  isso  o  arvoredo  que  se  ergue  aos  lados  de  tão  piltoresco  logar. 

O  curso  doeste  rio  offerece  três  divisões  notáveis,  segundo  as  infor- 
mações que  podemos  obter.  Estende-se  a  primeira  desde  a  foz  até  á  queda 
de  agua»  passando  entre  as  roças  denominadas  Santo  Agostinho  e  Cima 
Coita»  estando  esta  na  margem  esquerda  e  aquella  na  direita,  prolongan- 
do-se  até  defronte  da  roça  Madre  de  Deus.  Todas  estas  roças  eram  do  es- 
tado» e  acham-se  hoje  vendidas  a  particulares»  que  lhe  pozeram  nomes 
distioctivos,  sendo  algumas  assim  registadas  na  conservatória.  Ha  vestí- 
gios evidentes  dos  edificios  onde  havia  em  outro  tempo  engenhos  de  as- 

1  Veja-se  a  gravura  Catarata  BIvblú  do  rio  AQua  Grande,  4  kilometros  distante 
da  cidade. 


381 

sucar,  e  poucos  togares  se  conhecem  mais  apropriados  para  grandes  pas- 
seios, do  que  as  marj^ens  do  rio  na  roça  Santo  Agostinho. 

A  segunda  parte  do  rio  marca-se  entre  a  queda  de  agua  e  o  sitio  em 
que  elle  tem  o  nome  de  Agua  Creoula.  A  roça  denominada  Uba  Flor  é 
cortada  pelo  rio,  havendo  ali  um  moinho  para  moer  milho  e  descascar 
café.  Está  na  margem  esquerda.  Fica  n'esta  parte  a  ponte  da  estrada  da 
villa  de  Trindade  e  a  da  Boca-Boca,  sendo  esta  uma  simples  trave  lança- 
da entre  as  duas  margens. 

Observa-se  aqui  um  phenomeno  curioso  ao  passar  o  rio  pela  estrada 
Boca-Boca.  O  caminhante  acba-se  no  centro  de  uma  curva,  parecendo-lbe 
dois  rios  saindo  d'entre  o  arvoredo,  um  do  lado  esquerdo  e  outro  do  lado 
direito,  rennindo-se  a  seus  pés.  O  curso  do  rio  apresenta  ali  a  fórma  de 
um  S,  o  que  dá  origem  a  tal  illusao. 

A  outra  parte  ò  comprehendida  entre  a  Agua  Creoula  e  a  chamada . 
Cabeça  d'Agua  na  roça  Saudade,  onde  se  suppõe  ser  a  nascente. 

As  roças  que  se  acham  em  relação  com  o  rio  Agua  Grande  são  32, 
divididas  do  seguinte  modo :  na  freguezia  da  Santíssima  Trindade  22,  na 
da  Magdalena  5,  na  de  Nossa  Senhora  da  Conceição  2,  na  da  Graça  2  e  na 
de  Santo  Amaro  1  ^ 

Rio  Manuel  Jorge,— Dk-se  este  nome  á  maior  corrente  que  se  encon- 
tra indo  da  cidade  para  a  villa  de  Sant'Anna.  Não  é  navegável  e  em  mui- 
tos logares  tem  as  margens  alcantiladas  e  cobertas  de  espesso  arvoredo, 
formando-lhe  aqui  e  ali  uma  espécie  de  docel,  sob  o  qual  se  tomam  quasi 
invisíveis  as  aguas.  Para  a  margem  direita  ha  fazendas  importantes,  para 
as  quaes  se  tem  de  vadiar  o  rio  ou  passar  sobre  um  pau  que  se  lança  de 
uma  a  outra  margem. 

Este  rio  parece  nascer  próximo  ao  pico  de  S.  Thomé  ou  nas  suas  pro- 
ximidades, porque  passa  na  frente  da  roça  Macambrará,  que  é  boje  a  que 
fic.a  a  maior  altura.  Banha  depois  fazendas  importantes  e  desagua  na  jmia 
Melão  de  Cima,  tendo  a  foz  45  metros  de  largura. 

Não  possuímos  photographias  de  nenhum  dos  pontos  d'este  píttoresco 
rio,  nem  tivemos  occasião  de  observar  o  lunnel  em  que  passa,  havendo  so- 
bre elle  uma  immensa  ponte  natural,  coberta  de  arvoredo.  Passeia-se  por 
ali,  admiram-se  as  arvores  que  se  erguem  altaneiras,  e  a  poucos  metros 
de  profundidade  corre  um  rio  notável  da  ilha  o  qual  se  esconde  á  vista 
do  observador. 

Este  e  outros  phenomenos  geológicos  ainda  não  foram  examinados 


1  Esta  e  as  seguintes  estatísticas  das  roças  referem-se  ao  anno  de  i872,  e  foram 
organisadas  á  vista  do  registo  da  conservatória  da  ilha  de  S.  Thomé.  Tivemos  de 
as  reunir  para  nao  tornar  o  volume  de  dimensões  incommodas. 


380 

povoada  da  ilha.  Toma  differentes  nomes,  alguDS  dos  quaes  merecem 
meocioDar-se.  Na  frente  da  roça  Matheus  Angolar  ^  baixo,  é  conhecido 
pelo  nome  vulgar  de  Lava-o-pé,  e  designado  também  por  Agua  Creoula, 
Agua  Ponte.  Desagua  na  bahia  de  Anna  de  Chaves,  atravessando  a  cidade 
quasi  ao  centro.  Â  corrente  ali  é  morosa,  e  as  margens  s3o  cobertas  de  can- 
oas. Podiam-se  fazer  agradáveis  passeios  e  largos  desafogados  de  uma  e 
de  outra  parte  d'este  rio,  mas  prefere-se  deixar  o  terreno  nú  e  esbora- 
cado  pelos  caranguejos,  que  lidam  constantemente  no  seu  destruidor 
trabalho. 

Este  rio  tem  differentes  pontes  de  madeira,  sendo  quatro  na  área  da 
cidade,  e  uma  que  liga  a  estrada  que  vae  da  cidade  para  a  villa  da  Trinda- 
de, no  sitio  denominado  Agua  Grande,  4  kilometros  distante  da  praça  do 
governador  Mello. 

A  sua  foz  fica  ao  lado  esquerdo  do  largo  de  D.  Luiz  I,  a  qual  mui- 
tas vezes  86  obstruo  de  areia.  No  preamar,  todavia,  as  canoas  sobem  rio 
adma  e  vão  descarregar  peixe,  tábuas  e  vários  géneros  que  trazem  das 
viUas  de  SanfAnna  e  dos  Angolares  para  a  cidade. 

Tem  uma  piltoresca  queda  de  agua,  a  que  o  povo  dá  o  nome  de  Blu< 
blu. 

O  rio,  passada  a  ponte  que  liga  a  estrada  publica  da  cidade  á  villa 
da  Trindade,  corre  em  terreno  horisontal  até  á  proximidade  da  queda  de 
agua.  As  margens  s3o  baixas  e  os  terrenos  estão  cuUivados.  O  volume 
de  agua  é  grande  no  tempo  secco  ou  das  ventanias,  e  n'esta  occasião 
è  agradável  e  vistoso  aquelle  manancial.  Modificado  por  algumas  pedras, 
sobre  2|s  quaes  se  alarga,  salta  com  suave  murmúrio  de  pedra  em  pedra, 
até  se  despenhar  com  impetuosidade  sem  encontrar  obstáculo  algum. 

Para  se  fazer  idéa  do  volume  e  forma  do  lençol  de  agua  do  rio  Agua 
Grande,  ajuntámos  a  esta  breve  noticia  uma  gravura  S  representando 
a  margem  esquerda  do  rio,  na  encosta  do  Outeiro,  nâo  se  descobrindo 
por  isso  o  arvoredo  que  se  ergue  aos  lados  de  tão  piltoresco  logar. 

O  curso  doeste  rio  offerece  três  divisões  notáveis,  segundo  as  infor- 
mações que  podemos  obter.  Estende-se  a  primeira  desde  a  foz  até  á  qúéda 
de  agua,  passando  entre  as  roças  denominadas  Santo  Agostinho  e  Cima 
Golla,  estando  esta  na  margem  esquerda  e  aquella  na  direita,  prolongan- 
do-se  até  defronte  da  roça  Madre  de  Deus.  Todas  estas  roças  eram  do  es- 
tado, e  acbam-se  hoje  vendidas  a  particulares,  que  lhe  pozeram  nomes 
distinctivos,  sendo  algumas  assim  registadas  na  conservatória.  Ha  vesti- 
gios  evidentes  dos  edificios  onde  havia  em  outro  tempo  engenhos  de  as- 

1  Yeja-se  a  gravura  Catarata  Bhblú  do  rio  Agua  Grande,  4  kilometros  distante 
da  cidade. 


:í8 


sucar,  e  poucos  logares  se  conheoeni  ma.-  :.-~.r.!-*: 
seios,  do  que  as  margens  do  rii«  ui\  rcr .  íiiu     ^• 

  segunda  parte  do  rio  marca-St  eur?      ont^ 
que  elle  tem  o  nome  de  Agua  Creoui. 
cortada  pelo  rio,  havendo  ali  um  moirui    az'  jir 
café.  Eslá  na  margem  esquerda.  Fic  ii  rs:   dt^ 
vílla  de  Trindade  e  a  da  Boca-Hoca.  seno   r.y...jsru. 
da  entre  as  duas  margens. 

Obsena-Str  aqui  um  phenomem  cm'it*>   ::  jèji^^ 
Boca- Boca.  O  camiiibante  aclia-sc  n. :  ceoi:    út 
dois  rios  saÍDdo  d*enlre  o  arvoredi;.  uni  ujíihí* 
direiUi.  reuuiDdo-se  a  seus  pés.  O  cun-   u  rm 
um  S.  o  qiKr  àd  origem  a  tal  ilIusâL 

A  oolní  iiHíifí  ò  íjompreheudiaa  enii 
Cab^.&  d  Agua  na  roca  Saudade,  unut-  se 

A^  rj["úi  qut*  st;  acham  em  reiai.ii.> 
di^JdlCa^  ui.  s^guiule  modo:  na  tresuBzsL 
íIb  Ma:ruai*.'iici  o  ua  df  Nossa  Scmiura  uii 
dr  Saiii -  ^majo  j  * . 

kt(  Matiuel  Jorge,-— bi-^  esit 
in  iDUi  Ut  'jiaadt:  [lan  a  viiia  ue 
10^  lufrart;.  i^^rn  ab  margens  aicauuaii»^ 
iormaiiUi-lii^  aqui  e  ali  uma  esuecit- 
iDVi^ivc;!'  a.^  a:;uas.  Para  a 
a:  au^^  >^  i^m  de  vadiar  o  no 
mu.  i  oui!'í  margtnii. 

Lm'  1 1*  iMirvce  nascer 
^ouiudur*.  ptjrqut:  Mssa  na 
L  V  i  lUHKjr  uiiUTd.  Baoiía 
AK-iti   a-.  (Jima.  leudu  a  ioz 

id-  t^ifr  ume: 

a.    aauuraUí-bc  as 
o-  liroiuuciiQaKie 
u    ui>«ír\duu:. 
Li^- 1  aatros 


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382 

por  pesBoas  competentes,  e  apenas  téem  servido  para  assumptos  de  fo* 
Ibetim  e  para  objecto  de  curiosidade.  Merece,  porém,  ser  estudado  o 
curso  d'este  rio,  que  é  um  dos  mais  extensos  da  ilba  e  atravessa  teoidas 
importantes,  nio  sendo  pequeno  o  numero  d'aquelias  a  que  eUe  serve  de 
limite,  e  passa  na  frente  das  roças  de  Santa  Luzia,  Uba-Metade,  GuUu, 
eoja  frente  olha  para  o  N.,  Sião  Três  e  Agua-Juntá,  todas  situadas  oa  fre* 
gWHàã  da  Trindade.  Alem  doestas  fazendas  ha  outras  que  se  estendem  iMé 
á  margem  onde  marcam  os  fundos. 

As  rocas  de  que  temos  conhecimento  sio  Gró-Gró,  na  freguezia  da  Trin- 
dade, assim  como  Gassumá,  Guingue,  Bemfica,  Moka  ou  Barro  Rr»60, 
Goegue  Brasil,  Cabeça  de  Agua,  Ganga  e  Gabeia. 

Corre  este  rio  a  E.  da  roça  denominada  S.  Nicolau,  collocada  a  900 
metros  de  altitude,  e  serve  de  limite,  pelo  N.,  á  fazenda  Sacavém,  aberta 
n'iNii  dos  sítios  mais  bellos  e  amenos  da  ilha  de  S.  Thomé.  Ftssámos 
ali  alguns  dias  e  podemos  medir  a  altitude  de  alguns  outeiros,  aade 
se  faz  a  cultura  do  café ;  e  subindo  o  morro  mais  alto,  que  fica  em  frijnte 
da  casa  da  babitaçio,  disfructámos  um  dos  mais  lindos  panoramas  que  se 
pôde  offiarecer  n'aquella  privilegiada  ilha. 

Estão  em  relação  com  o  rio  Manuel  Jorge  54  roças,  divididas  do  se- 
goiote  modo :  na  freguezia  da  Santíssima  Trindade  44,  na  de  SanfAsna  4 
e  na  da  Graça  6^ 

Aio  Oara  Dio^.— Desagua  este  rio  na  praia  Almoxarife,  tendo  pa- 
qaeoo  tohwie  de  agua ;  corre  entre  os  rios  Manoel  Jorge  e  Agua  Abbade, 
atravessa  differentes  terrenos  collocados  nas  freguezias  da  Trindade  e  de 
Sanf  Ama  e  passa  a  O.  das  roças  Agua-Izé  e  Uba-Budo,  e  ao  S.  (ra  fandos 
das  roças  Gullú,  Uba  Metade,  Pedroma,  Guegue  Brazil  e  Pinheira. 

As  roças  que  estio  em  relaçio  com  o  rio  Clara  Dias  são  12,  divididas 
pela  fflweira  seguinte :  na  freguezia  da  Santíssima  Trindade  4  e  na  de 
SanCAnna  8. 

Aio  Agua  il^bode.— Desagua  este  rio  a  pouca  distancia  da  caaa  de 
habitado  da  fezenda  denominada  Agua-Izé,  o  qual  fica  dentro  d'estaa  vas- 
tas terras,  onde  tem  todo  o  seu  curso.  Damos  uma  gravura  com  a  vista 
da  foz,  assim  como  da  pittoresca  bacia  onde  a  agua  se  espraia  correndo 
com  suave  murmúrio  por  entre  as  pedras  que  cobram  o  seu  leito.  As  la» 
vendeiras  Téem  ali  lavar  as  roupas,  mas  não  tendo  para  isso  bvadou^ 
ros  regulares,  aproveitam  as  toscas  pedras  do  rio  que  lhes  ficam  mab 
próximas.  As  que  se  representam  na  gravura  slk)  as  da  fazenda  Agaa4zé, 
que  fica  a  pouca  distancia'. 

1  Veja-se  a  gravara  Vista  do  rio  Agtia  Ahbade^  a  poitca  áisimieia  da  f«Sj  m 
ilha  de  S,  Thomé.  Lavandeiras  da  fazenda  Agua^lzé. 


383 

E  vj(060  e  aleoUdo  o  anroredo  di  nuiigeiíi  esqaerda,  que  M  rodeit 
pan  cbc^ar  i  monda  dos  senhores  de  Agua-hé. 

A  iòz  do  rio  é  pequeoa  como  é  geralmeDle  a  dos  rios  mais  conhecidos 
de  &  Thomè.  O  redfe  que  se  levanta  em  firenle  toma-se  irisível  na  granira 
qae  apresentámos.  Delle  falloa  o chorographo Canha  Matos.  A  ponta  es- 
qaerda è  baixa  e  de  areia;  a  direita  pouco  eleirada  e  arborisada.  Fica 
por  ali  ama  plantação  da  anrcMre  diamada  froota-pio.  (Arêoemrpm  tu- 
aza.) 

Passa  este  rio  a  O.  das  roças  Agua-Izó  e  S.  Nicolaa,  e  á  soa  maifeai 
esqaerda  chegam  os  fundos  das  roças  Plató-Gafé,  Santa  Luzia,  Maçam* 
brará  e  Sacavém.  É  um  dos  rios  cuja  origem  importa  conhecer,  pere- 
cendo, porém,  que  elle  nasce  em  algumas  planuras  ou  aberturas  proxí* 
mas  ao  pico  de  S.  Tbomé. 

Ajuntimos  duas  gravuras  d*este  rio,  porque  a  eUe  se  prendem  reeor» 
dações  importantes,  porque  é  dos  mais  extensos  e  atraveasa  a  maior  das 
fazendas  da  ilha  ^ 

Estão  em  relação  com  o  rio  Agua  Abbade  13  roças,  divididas  pela 
seguinte  forma :  na  freguezia  de  Sant*Anna  2  e  na  da  Santíssima  Itin- 
dade  11. 

Âgm  Funda  da  Praia  Rei. — Damos  uma  gravara  da  fos  d*este  rio 
que  passa  no  interior  das  terras  de  Agua-Izé,  o  qual  desagua  na  praia  Rei 
e  tem  o  nome  de  rio  de  Praia  Preta,  de  Praia  Rei  ou  Agua  Funda  de  Praia 
Bei*.  Divide  a  fazenda  Agua-Izé  propriamente  dita  da  fazenda  denomínadi 
Ca^lello  do  Sul. 

As  cartas  geograpbicas  de  Lopes  de  Lima  e  de  Boteler  não  deleraii* 
nam  a  posição  d'e6te  rio,  nem  do  rio  Agua  Abbade.  Regolam-se  todos 
pelas  infipraiaçoes  do  chorographo  Cunha  Matos,  que  descreveu  a  eosta 
da  ilha  de  S.  Tbomé  com  muita  mioucíosidade,  sendo  porém  inexacto  em 
alguns  pontos.  Não  pôde  Lopes  de  Lima  rectificar  a  posição  das  praias  • 
rios,  de  modo  que  os  trabalhos  d'esles  dois  escriptores  sio  hí^e  mnito 
deficientes. 

Rio  de  Oiro.— Nasce  este  rio,  segundo  dizem,  no  Monte  Café,  sobre  o 
qual  se  acha  a  conhecida  fazenda  d'este  nome,  cuja  altitude  varia  entre 
700  a  800  metros  acima  do  nivel  do  mar. 

Encontra-se  a  foz  do  rio  a  cerca  de  12  kilometros  da  cidade  de 


^  o  rio  Agua  Abbade  serve  de  limite  entre  as  terras  da  fazenda  Agoa-Izé  e  as 
fazendas  situadas  na  face  do  NE.  da  ilha. 

2  Veja-se  a  gravura  Bio,  bahia  da  praia  Rei  e  haMação  da  fasenda  Agua-ÍMi, 
12  kilometros  distante  da  cidade. 


384 

S.  Tbomé,  um  pouco  adiante  da  praia  Fernão  Dias,  que  6  uma  das  mais 
a^'adaveís  da  costa  seplentrional  da  ilba.  Passa  entre  coqueiros,  e  atra- 
vessa a  roça  de  Joaquim  José  do  Prado. 

É  um  dos  rios  mais  pittorescos  e  a  respeito  do  qual  vogam  lendas 
mui  curiosas. 

Merecem  ser  visitadas  as  fumas  que  téem  fama  na  ilba»  assim  como 
as  cascatas,  cuja  vista  é  digna  de  ser  apreciada. 

As  roças  que  estão  em  relação  com  o  rio  de  Oiro  são  17,  as  quaes  se 
dividem  do  modo  seguinte :  na  freguezia  de  Nossa  Senhora  de  Guada- 
lupe 4,  na  de  Santo  Amaro  i ,  na  da  Magdalena  10  e  na  da  Santíssima 
Trindade  2. 

Cidaie  d6  8.  Ttené.— Para  se  fazer  idéa  approximada  da  cidade  da  ilba 
de  S.  Tbomé  julgámos  mais  conveniente  que  o  leitor  nos  acompanhe  a 
um  passeio  por  toda  ella.  Sairemos  da  agradável  e  salubre  fortaleza  de 
S.  Sebastião  pelas  quatro  boras  da  tarde  e,  no  espaço  de  duas  horas,  po- 
der-sd-ha  examinar  a  cidade  como  a  vimos  em  1872. 

Perto  da  fortaleza  encontra-se  um  lai^o  no  extremo  da  ponta  meri- 
dional da  babia  de  Anna  de  Cliaves. 

Á  esquerda,  olhando  para  a  cidade,  está  um  muro  marginal,  a  partir 
do  angulo  oriental  da  fortaleza  até  ao  principio  da  lingua  de  terra  que 
se  estende  entre  o  pântano  e  o  mar;  á  direita  existe  uma  pequena  ca- 
lheta» adiante  da  qual  se  vé  uma  ordinária  e  mal  feita  estacaria  para  im- 
pedir que  as  aguas  do  mar  transbordem  para  aquella  parte  do  largo  da 
fortaleza. 

Doeste  largo  passa-se  por  uma  ampla  rua  entre  o  barracão  que  serve 
de  quartel  e  um  retiro  ajardinado,  feito  modernamente,  em  lirente  d*a- 
quelle  mal  collocado  barracão.  No  fim  d'esta  rua  fica  outro  largo  espa- 
çitto. 

De  um  lado  existem  pedras  negras  e  repugnantes,  que  bein  poderiam 
ser  substituídas  por  um  ameno  jardim,  do  outro  a  cozinha  do  batalhão  de 
caçadores  n.^  2,  conjunctamente  com  a  arribana  de  um  boi  e  a  casa  da 
guarda,  tudo  muito  próximo  ao  mar. 

Apparecem  emfim  as  primeiras  casas  e  entra-se  na  rua  do  Espalma- 
dor,  que  é  regular,  tendo  de  um  e  de  outro  lado  edificios  feitos  de  ma- 
deira ;  no  meio  d'esta  rua  depara-se  ao  observador  uma  das  pontas  da  ci- 
dade. Demoremo-nos  ali  por  algum  tempo,  e  observemos  o  que  nos  cer- 
ca em  volta. 

A  agua  do  mar  passa  sob  esta  ponta,  e  alimenta  uma  extensa  e  longa 
lagoa  que  na  vasante  fica  descoberta  e  nas  peiores  condiç-ões  em  que  se 
podem  observar  taes  logares. 


HF"^" 

1      ^ 

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1^:    #   :  Jii 

385 

Vem  á  mente  perguntar  a  rasão  por  que,  durante  quatro  séculos,  não 
houve  quem  se  empenhasse  em  impedir  que  a  agua  do  mar  fosse  crear, 
junto  da  cidade,  pântanos,  charcos  e  logares  infectos.  Ninguém  de  certo 
responderá,  mas  o  pântano  ali  está  e  continuará  a  prejudicar  por  muitos 
annos  a  cidade. 

A  ponta  do  Espalmador  serve  de  communicaçSo  áquella  rua,  e  vô-se 
á  esquerda  a  acanhadíssima  casa  onde  se  recolhem  os  addidos  e  se  deno- 
mina Deposito  penal  I  N'esta  parte  da  rua  só  ha  casas  d'aquelle  lado.  En- 
tre ellas  existem  dois  ediãcios  grandes  e  regulares.  A  vista  é  desafogada, 
mas  nota-se  o  grande  inconveniente  das  numerosas  canoas  e  redes  que 
por  ali  estão  obstruindo  a  praia.  Á  comprida  rua  do  Espalmador  segue-se 
a  rua  da  Praia,  que  vae  passar  ao  pé  da  porta  da  pharmacia  e  da  alfande- 
ga, terminando  no  largo  do  Palácio  do  Governo,  e  a  rua  do  Tronco,  que 
tem  casas  de  ambos  os  lados.  Passámos  por  esta  rua,  que  é  pequena  e 
termina  D'om  largo  de  onde  partem  as  ruas  da  Misericórdia,  de  Domin- 
gos António  e  de  S.  Miguel. 

É  preciso  escolher  uma  d'estas  para  continuarmos  o  passeio.  Optá- 
mos pela  da  Misericórdia  que  tem  a  denominação  do  edificio,  o  qual  é 
muito  antigo,  mas  sem  cousa  alguma  notável. 

No  extremo  d'esta  rua  fica  a  cadeia  civil  e  em  frente  d'ella  a  igreja 
da  Misericórdia,  para  o  largo  do  Palácio,  hoje  de  D.  Luiz  I. 

A  santa  casa  da  misericórdia  tem  o  edificio  arrendado  ao  governo 
para  serviço  da  alfandega,  e  em  alguns  de  seus  velhos  armazéns  esteve 
por  muitos  annos  estabelecida  a  pharmacia. 

Esta  ma  não  é  muito  extensa. 

Atravessemos  rapidamente  o  largo  do  Palácio  para  chegarmos  á  pri- 
meira ponte  do  rio  Agua  Grande. 

O  muro  marginal  que  circumda  o  largo  6  uma  das  úteis  obras  que  se 
tem  feito.  A  foz  do  rio  Agua  Grande  muda  muitas  vezes  por  causa  da 
areia  que  a  entupe. 

Pôde  seguir-se  pela  margem  esquerda  do  rio,  ou  pela  roa  do  General 
Calheiros,  ou  então  pela  da  Praia.  Seguiremos  por  esta  ultima,  a  fim  de 
observar  a  limpeza  da  praia.  A  rua  por  este  lado  6  muito  comprida.  É 
triste  o  passeio.  Falta  ali  o  arvoredo  I 

A  limpeza  não  é  regulara  Difierentes  travessas  convergem  para  esta 
rua,  mas  não  entraremos  em  nenhuma  e  seguiremos  sempre  atè  á  tra- 
vessa próxima  ao  cano  do  esgoto,  que  conduz  as  aguas  do  coqueiral  e 


1  Referimo-nos  ao  que  sempre  observámos  emquanto  estivemos  na  ilha  de  S. 
Thonié 


23 


386 

da  roça  Arrayal,  oode  hoje  está  a  horta  militar  S  para  crear  o  pântano 
a  que  o  povo  dá  o  nome  de  Agua  Fede.  Sobre  este  cano  infecto  está  lan- 
çada uma  ponte  de  madeira.  Paremos  aqui  um  pouco. 

De  um  dos  lados  da  cidade  fica  a  rua  Alegria,  que  é  ampla  e  desafogada, 
e  do  opposto  existe  a  rua  da  Conceição.  O  cano  de  esgoto  dirige-se  para 
o  N.  vindo  de  SO.,  e  a  rua  da  Conceição  tem  o  rumo  de  NO.  Sigunos  por 
esta  e  passemos  sobre  a  ponte  do  ribeiro,  que  dizem  chamar-se  Agaa  Car- 
da. Fazem  lavadouro  ao  pé  da  ponte,  o  que  é  impróprio,  assim  como  é 
inconvenientíssima  a  vegelação  cerrada  que  por  ali  avulta.  N'esta  ponte, 
extremo  da  rua  da  Conceição,  começa  a  rua  de  S.  João,  que  só  tem  casas 
do  lado  direito  e  do  esquerdo  è  tudo  mato,  e  vae  terminar  no  templo  da 
mesma  denominação.  £  ali  o  extremo  N.  da  cidade  de  S.  Tbomé,  de  onde 
se  vé  a  estrada  ou  antes  a  ladeira  que  conduz  ao  cemitério,  e  se  encontra 
mna  superficie  que  se  estende  a  par  da  estrada  publica,  a  qual  seria  uma 
agradável  e  pittoresca  alameda  se,  em  logar  do  baixo  e  rasteiro  mato  de 
purgueiras  e  de  goyabeiras  que  a  cobrem,  estivesse  cooveoieotemente 
tratada. 

É  predso  voltar  pelo  mesmo  caminho  até  chegarmos  á  ponte  lançada 
no  cano  de  esgoto  da  roça  Arrayal,  a  fim  de  passarmos  não  longe  da  igreja 
da  Conceição,  que  não  parece  templo  de  uma  cidade,  porque  está  cercado 
de  mato.  Tudo  por  ali  revela  pobreza  e  descuido. 

Um  pequeno  carreiro,  limite  da  cidade  pelo  SO.,  conduz,  não  para 
uma  rua  em  boas  condições,  mas  para  um  caminho  acanhado,  mal  failo  e 
mal  conservado.  Fica  entre  um  abandonado  e  mal  disposto  palmar  e  os 
quintaes  das  ruas  Alegria  e  Goi,  na  extensão  approximada  de  570  metros. 

£  de  toda  a  conveniência  melhorar  as  condições  d'aqueUe  mal  tratado 
terreno,  transformando-o  em  um  bom  palmar,  jardins  públicos  e  aprazir 
veis  passeios. 

A  rua  do  Rosário,  principio  da  estrada  da  Madre  de  Deus  ou  da  Agua 
Grande,  conduz  ao  caminho  de  que  falíamos,  o  qual  mais  parece  ser  de 
uma  fazenda  abandonada  que  de  uma  cidade  capital  de  província.  Ap- 
proximemo-nos  da  tortuosa  corrente  do  rio  Agua  Grande.  Vamos  até  á 
quarta  ponte  doeste  rio,  ou  ponte  Tavares,  limite  da  cidade  da  parte  de 
SO.  As  margens  estão  cercadas  de  arvores.  Os  zig-zags  que  o  rio  faz 
dão-lhe  feio  aspecto  e  explicam  bem  o  pântano  que  forma  junto  da  terceira 
ponte  denominada  Locumi. 

Por  que  rasão  se  não  fazem  descer  as  aguas  em  linha  recta  até  á  foz? 


1  Referirao-nos  ao  anno  de  1877,  e  é  justo  dizer  que  o  sr.  Henrique  Augusto  Dias 
de  Carvalho  se  empenhou  em  fazer  do  pântano  da  roça  Arrayal  um  logar  útil  e 
agradável. 


887 

Por  qae  rasSo  se  nlo  h3o  de  construir  paredes  marginaes,  embora  sejam 
de  estacas»  a  fim  de  impedir  que  as  aguas,  nas  marés  vivas,  transbordem 
a  ponto  de  n3o  ser  possível  a  passagem  no  principio  da  rua  das  Rosas?  É 
esta  uma  das  obras  de  primeira  necessidade,  e  que  devia  fazer-se  com 
brevidade. 

É  triste  e  desconsolador  descer  pela  abandonada  rua  de  Santo  Antó- 
nio, e  ainda  mais  desconsolador  é  o  abandono  em  que  está  o  largo  que 
fica  entre  a  margem  direita  do  rio,  desde  a  ponte  da  rua  da  Feira  ou  de 
Santo  António  até  á  de  Locumi  por  uma  parte,  e  por  outra  o  lado  es- 
querdo da  rua  de  Santo  António  e  o  da  pequena  rua  que  põe  o  largo  da 
Sè  em  conununicação  com  a  ponte  de  Locumi. 

NSo  é  um  largo,  é  um  mato  baiio,  espesso,  inútil  e  improductivo. 

É  necessário  fazer  ali  uma  vasta  praça,  segundo  todas  as  condições 
da  arte  e  da  boa  bygiene  K 

O  templo  da  Sé  ò  de  apparencia  agradável  e  merece  pela  sua  natureza 
e  importância  ser  visitado. 

Desde  4867  que  está  em  obras,  e  se  não  se  acham  ainda  concluídas 
muito  pouco  lhes  deve  faltar,  se  nao  acontecer  o  que  frequentemente  suc- 
oede  oom  as  casas  que  os  naturaes  mandam  construir,  e  que  muitas  ve- 
ies não  acabam  para  não  se  lhes  appUcar  o  singular  agouro:  cGasa  aca- 
bada morte  chegada». 

O  grau  da  moralidade,  da  civilisação  e  do  progresso  de  uma  cidade 
avatta^se  pelos  templos,  pela  cadeia,  pelas  casas  das  escolas  e  pelo  hospi- 
tal. Na  cidade  de  8.  ThonÃè  os  templos  raras  veses  são  caiados  e  alguns  estão 
sem  solho,  como  o  da  Conceição;  a  cadeia  tem  prisões  impróprias,  como 
os  médicos  téem  demonstrado  e  os  factos  patenteado;  as  casas  das  escolas 
são  inclassificáveis;  no  hospital  não  se  podem  fazer  as  obras  necessárias 
para  commodo  dos  doentes,  porque  o  prédio  nao  pertence  ao  estado. 

Os  pântanos,  os  paúes,  os  terrenos  encharcados  e  as  margens  do  rio 
Agua  Grande  merecem  muita  attenção  dos  poderes  públicos,  a  fim  de  que 
se  attenuem  ou  destruam  as  causas  principaes  da  insalubridade  da  cidade 
de  S.  Thomé. 

Undtes  ^^  cidade  de  S.  Thwi'.— Os  limites  doesta  cidade  são,  segundo 
um  documento  ofiicial  que  possuimos,  os  seguintes :  cdo  Pau  da  Ma/rca  a 
um  coqueiro,  pertencente  ao  casal  do  fallecido  António  José  PiDoentel ; 


1  Causa  pena  ver  o  desleixo  em  que  permanece  este  logar.  Existe  ali  um  paul 
iBlèeto  onde  podia  fuer-se  um  agradável  Jardiín  t 

*  Aehavamo-Bos  encarregados  de  nm  trabalho  offleial  para  a  junta  de  saúde 
publica,  e  precisando  por  isso  saber  os  limites  da  cidade  Ad  S.  Thomé^  requere- 


388 

doeste  coqueiro  á  igreja  de  S.  Miguel,  pelo  nascente.  Da  igreja  de  S.  Mi- 
guel até  um  carreiro  que  existe  no  campo,  o  qual  segue  para  a  igreja  de 
Santo  António.  Da  igreja  de  Santo  António  á  ponte  Tavares.  Da  ponte  Ta- 
vares á  igreja  do  Rosário.  Da  igreja  do  Rosário  para  baixo  até  uma  pai- 
meira,  em  que  se  poz  um  marco.  D'esta  palmeira  per  uma  linha  de  co- 
queiros até  á  roça  Arrayal.  Da  roça  Arrayal  pelo  caminho  denominado 
Juco  até  á  igreja  da  Conceição.  Da  igreja  da  Conceição  por  uma  linha  de 
coqueiros  até  á  ponte  Locumi.  Da  ponte  Locumi  por  uma  linha  de  co- 
queiros até  á  igreja  de  S.  João.» 

Abi  Ocam  designados  os  limites  officiaes  da  cidade  da  ilba  de  S.  Thomé  I 
Não  é  muito  fácil  adivinhar  onde  jaz  aquelle  pau  de  marca,  e  ainda  me- 
nos aquelle  coqueiro,  que  se  torna  reconmiendavel  por  ser  pertencente  a 
certo  individuo! 

Do  tal  coqueiro  á  igreja  de  S.  Miguel  a  linha  de  separação  não  será 
facilmente  calculada,  por  não  se  saber  se  é  representada  por  uma  linha  re- 
cta» curva  ou  quebrada,  se  está  mais  próxima  aos  quintaes  ou  mais  perto 
da  margem  esquerda  do  paul,  campo  ou  descampado  de  S.  Miguel,  o  qual» 
como  dissemos,  tem  por  ali  grande  extensão. 

N'este  campo,  ao  lado  esquerdo  de  quem  desce  para  o  mar,  ha  um 
carreiro  que  foi  escolhido  para  limite  até  á  igreja  de  Santo  António.  Mas 
onde  nos  conduzirá  esse  atalho?  em  que  sitio  do  largo  de  Santo  Antó- 
nio termina  elle?  O  terreno  do  antigo  cemitério  não  pertencerá  á  ci- 
dade? Nas  proximidades  da  igreja  de  Santo  António  ha  outro  carreiro, 
mais  ou  menos  mudável,  mas  que  sempre  é  mais  distincto  em  direcção 
á  ponte  Tavares,  e  fica  logo  adiante  a  igreja  do  Rosário  e  ao  pé  da  estrada 
denominada  Madre  de  Deus  ou  do  Rosário  ^ 


mos  ao  governo  da  província  que  nos  mandasse  passar  a  respectiva  certidão.  Cus- 
tOQ-nos  3í9085  réis,  mas  ao  menos  conservámos  nm  docnmento  original  sem  o  qual 
difficílmente  se  acreditaria  o  qae  se  lé  no  texto.  Não  sabemos  se  os  registos  estão 
assim  feitos,  ou  se  o  documento  foi  passado  por  algum  amanuense  menos  pratico 
d'estes  serviços;  o  que  é  certo  é  que  a  certidão  está  authentícada  devidamente,  e 
que  a  responsabilidade  do  seu  conteúdo  cabe  toda  à  auctoridade  superior  da  secre- 
taria, ainda  mesmo,  o  que  não  é  de  suppor,  a  assignasse  sem  ler  ou  commettesse 
este  serviço  a  pessoa  de  sua  confiança.  Em  papeis  d'esta  ordem  deve  haver  todo  o 
cuidado,  porque  d*elles  depende  muitas  vezes  opinião  mais  ou  menos  favorável  da 
localidade  que  se  descreve. 

1  A  cidade  de  S.  Thomé  parece  condemnada  a  permanecer  eternamente  junto 
à  praia,  o  que  nós  sempre  reprovámos  desde  que  ali  chegámos.  Mas  já  que  a  fa- 
talidade a  persegue,  cuide-se  ao  menos  de  a  dotar  com  os  melhoramentos  de  que 
tanto  carece  e  que  tão  facilmente  podem  ser  realisados;  e  aindaque  se  não  effectuem 
todos  immediatamente,  ao  menos  que  se  prefiram  os  de  mais  instante  necessidade, 
e  conforme  as  forças  do  thesouro  o  permittírem. 


390 

denominação.  Começa  na  ponte  Snm  Mígué,  segunda  do  rio»  onde  mui- 
tas vezes  se  não  pôde  passar,  por  causa  da  2|gua  que  a  invade  •  áitíêA- 
cia  de  uns  iO  metros.  Ao  lado  esquerdo,  subindo,  ba  qaintaes  im^ 
mundos. 

Rua  Baixo  da  Sé,  rua  Cima  da  Sé,  rua  Atrás  da  Si.  — Não  se  deve 
dar  o  nome  de  ruas  ao  que  mais  propriamente  se  deveria  denominar  adro 
ou  largo  da  Sé. 

Rua  da  Ponte  Sum  Migue.  —  É  a  que  limita  o  charco,  pântano  ou  ter- 
reno alagadiço  que  fica  na  margem  direita  do  rio  Agua  Grande,  e  foi  em 
tempo  leito  do  tortuoso  rio  da  cidade.  N'esta  rua  inclue-se  a  de  Trás  da 
Sé,  bavendo  ao  principio  (do  lado  da  Sé)  uma  péssima  descida,  que  fe- 
lizmente é  pequena. 

Rua  da  Feira  Velha. — Conduz  para  o  largo  de  Santo  António,  pas- 
sando sobre  a  terceira  ponte  do  rio  da  cidade.  Não  está  calçada,  nem  sa- 
tisfaz ás  mais  simples  regras  exigidas  em  construcções  doesta  ordem. 

Rua  de  Santo  António. — Não  deve  dar-se  o  nome  de  rua  a  simi- 
Ibante  carreiro,  de  pessinlo  pizo  e  obstruido  por  hervas.  Por  ali  ficam 
matos  espessos  de  bananeiras,  goiabeiras,  etc.  Em  4665  foi  abandonada 
por  causa  da  epidemia  de  varíola,  e  difiBcilmente  se  construíam  ali  pré- 
dios. D'este  abandono  resultou  ser  uma  das  mais  obstruídas  e  perigosas 
da  cidade. 

Travessa  dê  Santo  António  e  rua  do  Amaral. — Correm  para  o  lido 
do  campo,  paul  ou  descampado,  e  por  estarem  mais  ahstadas,  são  total- 
mente esquecidas ;  todos  os  quintaes  que  lhe  ficam  próximos  estão  èm 
péssimas  condições. 

Rita  de  Catharina  Jorge.— \^e  do  largo  da  Sé  para  o  de  S.  Miguel. 
Não  é  calçada  nem  regular.  Poucas  vezes  está  completamente  limpa. 

Travessa  da  Rua  de  Catharina  Jorge.  —  É  uma  viella  inclassificável, 
estreita  e  de  mau  pizo. 

Rua  de  Domingos  António. — Principia  no  largo  da  Sé  e  encontra-se 
com  a  rua  de  S.  Miguel ;  não  é  limpa,  e  ao  lado  esquerdo  fica-lhe  o  alio 
muro  do  quintal  da  casa  da  residência  dos  governadores.  Ha  ali  um  case- 
bre ou  cubata  que  a  camará  municipal  não  tem  mandack)  retirar.  O  seu 
pizo  é  péssimo. 

Rua  da  Misericórdia.  —  É  a  continuação  da  rua  do  Tronco;  é  pouco 
extensa,  não  é  calçada  e  acaba  no  largo  do  Palácio. 

Travessa  da  Misericórdia. — Passa  entre  a  velha  pbarmacia  do  estado 
e  vae  sair  á  praia ;  tem  mau  pizo  e  recebe  as  aguas  que  escoam  das  ruas 
da  Misericórdia,  de  S.  Miguel  e  outras,  as  quaes  formam  um  regueiro 
que  a  tornam  do  mau  pizo. 

Afia  da  Praia  da  M$ertcord'a.  —  Passa  entre  a  ponte  e  a  frente  da 


airandega,  e  segae  até  se  encontrar  com  a  rua  do  Tronco.  Podia  ser  uma 
formosa  rua  se  se  lhe  fizessem  alguns  melhoramentos. 

Rua  de  S.  Miguel,  travessa  de  S.  Miguel  e  beco  de  S.  Miguel  — For- 
mam o  bairro  de  S.  Miguel  que  está  muito  abandonado,  e  onde  as  hervas, 
que  obstruem  esta  parte  da  cidade  e  que  por  ali  apodrecem,  s3o  preju- 
diciaes,  por  serem  em  grande  quantidade  e  levadas  pelas  aguas  pluviaes 
para  outras  ruas. 

Ma  do  Tronco. — Ao  extremo  da  rua  do  Espalmador  seguem-se  as 
ruas  da  Praia  e  do  Tronco,  abrindo-se  em  angulo  agudo,  o  qual  ô  fecha- 
do pela  rua  e  travessa  da  Misericórdia,  formando  assim  um  quadrilátero, 
cujo  lado  maior  é  a  rua  da  Praia. 

Rua  do  Espalmador. — É  uma  das  maiores  ruas  da  cidade,  porque 
comprehende  a  praia  (futuro  boulevard)  e  a  ponte  da  Alagoa,  que  põe 
esta  parte  em  communicação  com  o  seu  seguimento,  o  qual  devia  ter  difie- 
rentenome;  vae  sair  ao  largo  da  fortaleza  de  S.  Sebastião. 

As  ruas,  quer  orientaes  quer  occidentaes,  s3o  irregulares. 

Coqueiros,  bananeiras,  arvores  imiteis,  trepadeiras,  arbustos,  sub-ar- 
bustos,  etc.,  tornam  a  cidade  húmida  e  espantosamente  assaltada  por  mos- 
quitos, meigas,  caranguejos,  ratos  e  por  outros  animaes  incommodos  e 
muito  danminhos. 

N3o  será  fácil  o  melhoramento  da  cidade,  sem  se  tirar  primeiro  a  res- 
pectiva planta  S  nao  só  para  se  dirigirem  os  trabalhos  com  methodo  em 
relação  ás  ruas  largas  e  quíntaes  existentes,  mas  também  aos  parques, 
jardins,  praças,  passeios,  ruas  ou  bairros  que  se  formarem. 

Não  nos  demoraremos  a  faliar  acerca  do  melhor  modo  de  empedrar 
ou  calçar  as  ruas,  nem  da  necessidade  de  haver  limites  bem  determina- 
dos em  volta  da  cidade.  São  assumptos  que  se  patenteiam,  conhecendo-se 
a  direcção,  exposição,  inclinação  e  qualidade  dos  terrenos. 

Parece-nos  também  que  seria  inútil  estabelecer  hypotheses  sobre  um 
objecto  tão  positivo,  pois  é  certo  que  as  obras  são  variáveis  e  de  execução 
mui  diversa,  segundo  as  circumstancias;  as  ruas  devem  ser  bem  calçadas, 
bem  arborisadas  e  construídas  de  maneira  que  recebam  o  vento  do  N., 
NE.,  NNE.,  etc. 

Não  haverá  tfellas  canos  de  despejo,  e  deve-se  attender  mais  que 
tudo  á  sua  inclinação  para  que  as  aguas  não  as  encharquem.  São  estas  as 
regras  geraes,  mas  como  ali  falta  tudo,  não  falte  ao  menos  a  lembrança  I 

A  freguezia  da  Conceição  tem,  como  a  da  Graça,  algumas  ruas  com- 


>  Escrevíamos  em  1873  estas  observações,  e  em  1876  realisava-se  o  nosso  de- 
sejo. Não  foi  preciso  senão  que  chegasse  á  ilha  de  S.  Thoraé  um  trabalhador  e  in- 
teiligente  director  de  obras  publicas. 


392 

muDS,  a  saber :  a  do  General  Galbeiros,  Soares,  das  Rosas  e  da  Praia,  as 
quaes  já  nomeámos. 

Existe  n'esta  freguezia  a  praça  do  Governador  Mello,  á  qual  vem  sair 
as  ruas  do  Pelourinho,  das  Flores,  da  Praia  Tabaco,  do  Morgado,  do  Ge- 
neral Galbeiros,  duas  travessas  da  rua  da  Praia  e  a  rua  Açougue.  Sio  as 
mais  limpas,  com  excepção  da  rua  da  Praia  Tabaco. 

A  rua  Goy  segue  parallela  ao  celebre  caminho  Juco,  assim  como  a  roa 
Alegria. 

A  rua  Agua  Fede  corresponde  ao  nome,  assim  como  o  bairro  que  é 
intolerável. 

Quem  poderá  classificar  o  notável  Mato  Quitibá  ? 

S3o  repugnantes  os  logares  designados  pelos  nomes  Juco,  Agua  Fede, 
Quitibá.  Se  a  parte  oriental  da  cidade  carece  de  melhoramentos,  a  parte 
Occidental  reclama-os  com  mais  urgência  e  necessidade. 

Os  trabalhos  de  saneamento  da  cidade  de  S.  Thomé  serão  mais  dispen- 
diosos do  que  a  mudança  da  cidade?  Será  possível  abandonar  esta? 

S3o  assumptos  mais  para  o  architecto  e  engenheiro  resolverem,  do 
que  para  o  medico  tratar ;  é  porém  indispensável  e  urgentíssimo  fazer-se 
alguma  cousa,  n'um  ou  n'outro  sentido. 

A  actual  cidade  de  S.  Thomé  não  está  á  altura  d'esta  denominação,  e 
podemos  acrescentar  que  nem  nos  parece  aldeia,  nem  campo,  nem  bos- 
que, nem  villa,  nem  logar,  nem  logarejo . . .  é  uma  superScie  de  areia, 
com  casas  pessimamente  coUocadas. 

Para  terminarmos  as  nossas  informações  a  este  respeito,  copiámos  do 
relatório  de  4869  um  trecho,  por  onde  se  vé  que  o  empenho  dos  médi- 
cos tem  sido  o  mesmo  em  todos  os  tempos,  como  está  demonstrado  nos 
relatórios  médicos  de  que  temos  conhecimento  desde  1860  até  4862,  ou 
antes  até  ao  principio  do  anno  de  1873,  em  que  escrevemos  o  do  anno 
anterior.  Quando  os  governos  não  querem  e  os  directores  de  obras  pu- 
blicas não  executam  os  conselhos  dos  médicos,  que  devem  estes  fazer? 
Ao  medico  somente  cumpre  aconselhar;  é  esta  a  nossa  missão,  e  nada 
mais. 

O  que  se  disse  em  1865  e  1869  deve  ser  bem  apreciado,  e  todos  os 
pareceres  dos  médicos  toem  sido  coherentes.  Aprecie-se  finalmente  o  se- 
guinte extracto  do  relatório  de  1869: 

<xV  cidade  de  S.  Thomé  assenta  em  um  terreno  arenoso  e  baixo,  lavado 
pelas  aguas  do  oceano,  em  uma  praia  que  corre  desde  o  N.  até  ESE.,  fi- 
cando-lhe  n'esta  extremidade  um  terreno  pantanoso,  por  onde  entra  o 
mar  nas  grandes  marés,  depositando  ahi  grande  quanUdade  de  sal,  que  os 
indigenas  extraliem  e  purificam  por  meio  de  evaporação  ao  fogo,  para  o§ 
seus  usos  culinários. 


cAo  S.  da  cidade  jaz  outro  pântano,  em  um  vasto  campo  coberto  de 
relva  e  capim,  próximo  ao  muro  do  antigo  cemitério,  na  cerca  do  extin- 
cto  hospicio  de  Santo  António,  até  á  vizinhança  da  igreja  de  S.  Miguel, 
constituindo  uma  verdadeira  fonte  de  exhalações  nocivas  á  saúde  pu- 
blica. 

«Para  remover  os  males  causados  por  este  foco  delinfeoção  e  outros  si- 
miibantes  que  existem  na  povoação,  a  junta  de  saúde  publica  da  provin- 
da (de  que  eu  fazia  parte)  dirigiu  em  4862  ao  governador  de  S.  Thomé 
um  relatório,  no  qual  se  apresentaram  as  considerações  que  um  assumpto 
de  tanta  magnitude  suggere,  e  se  propozeram  os  meios  de  remover  taes 
males;  mas  os  governos  até  boje  (Gns  de  1865)  téem  descurado  comple- 
tamente de  taes  ramos  de  serviço  publicO;  aliás  de  t3o  alta  transcendência, 
tendo*se  unicamente  conseguido  a  mudança  do  cemitério  para  outro  pon- 
to mais  conveniente,  com  exposição  ao  N. 

«Ck)mo  querem,  pois,  que  melhorem  as  condições  de  salubridade  em 
um  paiz  onde  se  desconhecem  os  preceitos  de  hygiene  publica,  e  onde  as 
auctoridades  administrativas,  em  geral,  pouco  curam  do  melhoramento 
material  e  intellectual  de  seus  habitantes  ? 

cQueixam-se  da  grande  mortalidade  que  ha  no  paiz,  pedem  médicos, 
mas  não  applicam  os  meios  que  estes  aconselham. 

cQue  serviço  esperam,  pois,  que  os  médicos  prestem? 

«A  posição  da  cidade  é  má  e  a  sua  exposição  péssima. 

«A  primeira  providencia  seria  fazer  a  mudança,  para  outro  sitio  conve- 
niente, das  repartições  publicas.  Ck)m  o  andar  dos  tempos  deixariam  de 
existir  casas  nos  logares  onde  boje  se  vão  construindo. 

«Ck)mo  é  sabido,  não  foi  o  local  em  que  hoje  assenta  a  cidade  o  pri- 
meiro escolhido ;  passou  da  praia  Anna  Ambó,  a  umas  4  léguas  (20  ki- 
lometros)  da  cidade  actual,  na  costa  do  N.,  para  o  logar  que  occupa  pre- 
sentemente; para  o  melhorar  é  preciso  ao  menos  tentar  alguma  cousa. 
A  cidade  de  Loanda  tem  parte  alta  e  parte  baixa :  n'esta  trata-se  do  com- 
mercio  durante  algumas  horas  do  dia ;  n'aquella  vive-se,  passa-se  a  noite. 
Para  S.  Thomé  aconselhámos  a  mesma  cousa. 

cAs  principaes  repartições  publicas  devem  estar  em  posição  vantajo- 
sa. Pelo  menos  o  palácio  do  governo,  o  hospital,  o  obsen^atorío  meteo- 
rológico, a  cadeia  civil,  etc,  devem  ser  feitos  em  boas  condições.» 

Os  médicos  não  podem  levar  mais  longe  os  seus  trabalhos,  nem  as 
suas  considerações :  cumpre-lhes  mostrar  as  condições  em  que  se  acham 
as  localidades.  Aos  poderes  públicos  incumbe  a  execução  dos  melbora- 
n^entos  que  forem  indispensáveis, 


394 


Mamiiltoa  «o«  tredllMi  vtMbm  eiIstoBlcè  nm  llliii  die  0.  íhléÉié 


Fregaezias 


Nòssâ  Senhora  da  Conceição  (cidade). 
Noésa  Senhora  da  Graça  (cidade) . . . . 

SánfAnna 

Santo  Âtharo 

Santíssima  Trindade 


Nnmvp 
deprediói 


44 

16 
3 
4 

13 


80 


J 


A  estatística  dos  prédios  urbanos  que  apreseutâmos  não  comprebende 
asdifferentes  casas  ediflcadas  nas  fazendas  agrícolas  nem  as  que  se  fizeram 
depois  do  anno  de  1872.  Daremos,  porém,  uma  breve  noticia  das  coih 
strucções  em  geral,  e  do  estado  em  que  ellas  se  acham  em  1876,  segando 
a  informação  do  director  de  obras  publicas,  Henrique  Augusto  Dias  de 
Carvalho;  e  para  complemento  ajuntámos  uma  vista  S  tiradaí  da  torre  da 
igreja  da  Sé,  na  qual  se  distingue  a  cidade  e  a  região  septentríonal  da  ilha, 
o  monte  Macaco  e  o  principio  da  serra  que  se  ergue  ao  rumo  O.  da  cidade 
e  se  estende  por  um  arco  de  circulo  de  20^  magnético. 

cSe  retrogradarmos  trinta  annos,  diz  o  hábil  director  de  obras  publi- 
cas, vemos  a  cidade  de  S.  Thomé  composta,  na  maior  parte,  de  casebres 
ou  choupanas  e  de  muilo  poucas  habitações  com  as  commodídades  pre- 
cisas e  construídas  segundo  as  indicações  da  arte. 

«Ainda  hoje  (i876)  se  vêem  pequenas  casas  de  madeira,  térreas  elei- 
tas com  pouca  solidez,  a  ponto  de  se  encontrarem  mais  ou  menos  inclina- 
das, sendo  preciso  escoral-as  ou  deital-as  abaixo  para  evitar  sinistros. 

•Sem  alicerces,  enterrados  apenas  os  esteios  0™,6  a  0",8  no  solo,  eram 
perfiladas  as  habitações.  Pregavam-se  pelo  lado  exterior  tábuas  delgadas 
e  de  pequena  espessura,  e  assim  ficavam  completas  as  paredes.  N'estas 
deixavam-se  aqui  e  acolá  rasgamentos  ou  aberturas,  que  eram  as  janellas 
e  portas.  O  todo  era  coberto  de  madeira,  e,  mais  tarde,  algumas  recebiam 
ainda  uma  outra  cobertura  de  telha,  vinda  então  da  ilha  do  Príncipe.  No 
tempo  das  chuvas  ou  ventanias  os  rasgamentos  que  serviam  de  janellas 
eram  tapados  com  pannos  ou  com  tábuas. 

^  Veja-se  a  gravura  a  que  já  nos  referimos  :  Uma  vista  da  cidade  de  S,  Th(h 
méj  tirada  de  cima  da  torre  da  Sé. 


cAs  melhores  habitações  em  dois  andares  eram  feitas  quasi  do  mesmo 
modo,  mas  com  melhores  madeiras,  apparelhadas  apenas  a  maohado.  Ti- 
nham portas,  aindaque  grosseiras,  nas  janellas ;  e  quasi  todas  á  frente  pos- 
suíam varandas  sustentadas  sobre  prumos.  Encontram-se  sitios,  em  que 
as  paredes  do  andar  térreo,  a  frente  e  lados,  eram  construídas  de  pedra 
e  barro,  que  ultimamente  bio  sido  rebocadas  a  cal  e  caiadas. 

cAs  casas,  por  mais  pequenas  que  fossem,  ao  lado  e  fundo,  todas  ti- 
nham quintaes  ou  pateos  cercados  por  tábuas  ordinárias,  terminando  su- 
periormente em  ângulos  mais  ou  menos  agudos  ou  por  pequenas  arvores 
unidas  umas  ás  outras  e  de  pouco  crescimento,  conhecidas  pelo  nome  de 
Quimes. 

cGomeçando  a  exportação  do  café  em  maior  escala,  os  proprietários 
das  melhores  fazendas,  tendo  bastantes  braços  aproveitáveis  para  o  officio 
de  carpinteiro,  animaram-se  a  mandar  vir  alguns  artistas  que  foram  edu- 
cando aquelles.  As  arvores  derrubadas  foram  então  serradas  e  apparelha- 
das com  as  devidas  ferramentas,  e  principiaram  nas  fazendas  a  construir 
habitações  mais  regulares,  armazéns,  hospitaes  e  outros  estabelecimen- 
tos. 

cEstes  novos  operários,  com  a  pratica  que  iam  adquirindo,  e  podendo 
OB  agricallores  dispor  de  braços  para  o  transporte  de  madeiras  appare- 
lhadas, começaram  a  construir  habitações  muito  regulares,  obrigadas  a 
riacos  ou  planos,  segundo  o  gosto  e  vontade  dos  proprietários,  e  feitas 
com  mais  segurança  e  solidez  do  que  no  meado  d'este  século. 

cAs  melhores  casas  da  cidade  de  S.  Tbomé  são  a  da  agencia  do  banco 
ultramarino,  as  dos  negociantes  José  Velloso  de  Carvalho,  João  da  Gosta 
Goimaries,  Manuel  Joaquim  de  Sousa,  Salvador  Levy^  Joaquim  António 
Gomes  Roberto,  João  d'Alva  e  António  Paiva  Soares  Dinis,  e  as  dos  agrí- 
enltores  D.  Adelaide  Garção  Stockler,  Manuel  da  Gloria  Costa  Alexandre, 
Ruy  Mattoso  da  Gamara,  Luiz  Joaquim  da  Gunha  Lisboa,  dr.  Gabriel  de 
Bostamante,  José  António  Saavedra  Martins,  José  António  Freire  Sobral, 
Theodosio  ds  Silva  Varella,  Thomás  da  Costa  e  Joaquim  António  Bahia. 

cPóde  dizer-se  que  todas  estas  construcções  hão  sido  feitas  nos  últimos 
dez  annos,  não  sendo  pequeno  o  numero  das  que  se  construíram  desde 
1873  até  hoje  (4876). 

«A  par  d'estas  construcções  apenas  possuia  o  governo  n'esta  cidade 
quairo  edificioês  dos  quaes  três,  casas  particulares  muito  antigas  e  arrui- 
nadas, sem  as  precisas  commodidades  de  vida,  luz  e  pouco  salubres ; 
serve  uma  no  Espalmador  de  quartel  aos  degredados ;  outra,  mui  pequena 
e  acanhada,  junta  ao  palácio  do  governo,  serve  de  cadeia  civil;  a  terceira, 
offerta  de  Anna  Chaves,  por  muitos  annos  tem  sido  residência  dos  gover- 
nadores ;  a  quarta  Gnalmente  não  é  outra  cousa  mais  que  um  barracio  di- 


vidído  interiormente  e  construído  impropriamente  para  quartel,  onde 
está  alojado  o  batalhão  de  caçadores  n.^  2. 

«As  outras  repartições  publicas  acbam-se  em  casas  arrendadas,  distan* 
tes  umas  das  outras,  sem  accommodações,  velhas,  n3o  tendo  a  devida  se- 
gurança, chovendo  em  algumas  e  estando  arruinadas. 

«Assim  estão :  o  tribunal  judicial,  conservatória  e  escola  para  o  sexo 
masculino  n'uma  casa  da  viuva  Freitas,  ao  Espalmador ;  a  alfandega  em 
uns  casebres  da  santa  casa  da  misericórdia,  annexos  á  igreja  da  mesma, 
á  esquina  da  praça  de  D.  Luiz  I ;  o  hospital  n'uma  casa  antiquíssima,  na 
rua  da  Alegria,  que  hoje  (1876)  é  mais  um  foco  de  doenças  que  um  esta- 
belecimento de  saúde,  devido  á  accumulação  de  doentes  e  falta  de  con- 
dições  bygienicas  que  deve  haver  em  taes  estabelecimentos ;  a  escola  do 
sexo  feminino,  em  uma  pequena  casa  na  rua  do  Tronco ;  a  policia  aquar- 
telada em  um  pequeno  barracão  na  rua  Goy,  que  não  tem  a  capacidade 
precisa,  nem  a  conveniente  luz  e  ventilação ;  a  administração  do  concelho 
com  a  camará  municipal  em  uma  casa  abarracada,  que  não  tem  os  aloja- 
mentos indispensáveis  para  uma  só  d'estas  repartições ;  emBm,  a  repar- 
tição das  obras  publicas  acha-se  hoje  na  mesma  casa  em  que  estão  a  se- 
cretaria do  governo,  a  curadoria,  a  contadoria  da  fazenda  e  a  sala  das 
sessões  do  conselho  do  governo  da  província,  etc,  tendo  por  baixo  ar- 
mazéns de  peixe  salgado  e  de  outros  géneros,  d'onde  exhalam  emana- 
ções pútridas,  que  passando  através  das  fendas  dos  sobrados,  enauseiam 
e  incommodam  os  empregados,  principalmente  no  tempo  quente,  o  que 
os  obriga  muitas  vezes  a  sair  das  repartições  para  respirarem  melhor. 

«Todas* estas  propriedades  não  passam  de  casebres  muito  arruinados 
sem  condições  próprias  para  um  clima  quente  como  este,  e  não  mei^ecem 
confiança  pela  pouca  resistência  que  offerecem,  podendo  ser  arrombadas 
ou  assaltadas  a  qualquer  hora  da  noite,  em  que  mal  intencionados  podem 
desviar  quaesquer  documentos  ou  papeis  importantes. 

«Pelo  que  respeita  a  templos,  exceptuando  o  da  Sé,  que  não  astá  con- 
cluído, a  capella  de  S.  Sebastião,  que  foi  o  anno  passado  (1875)  mandada 
reparar  pelo  governo,  e  o  de  Nossa  Senhora  da  Conceição,  que  está  sendo 
reparado  por  esmolas,  as  mais  igrejas  estão  mais  ou  menos  arruinadas  e 
algumas  em  completo  abandono ! 

«As  construcções  de  todas  são  bastante  rústicas,  simples  e  sem  elegân- 
cia alguma.  As  paredes,  feitas  de  pedra  e  barro,  foram  calafetadas  e  caia- 
dos interiormente,  e  só  no  frontispício  exteriormente.  O  madeiramento, 
coberto  de  telha  vã,  forma  os  seus  tectos,  e  o  terreno,  apenas  batido,  o 
seu  pizo. 

«Os  altares  feitos  de  madeira,  muito  toscos,  conservam*se  ainda  com 
figuras  pintadas  mais  ou  menos  grutescas. » 


397 


ippa  enlallatlco  do»  prédio»  urbanos  d* 
referido  aos  livros  da  eonserratorla 


lliia  de  m.  TliaBié 


Designações 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha,  com  i.^  andar, 
lojas,  armasens,  paioes, 
etc. 


Uma  propriedade  de  casas 
de  habitação,  lojas,  ar- 
mauns  e  quintal. 


Uma  propriedade  de  casas 
de  habitação,  lojas,  ar 
eqointal. 


Casa  de  madeira  coberta  de 
telha,  eom  i.*  andar  e  lo- 


Casa  nobre  com  terrenos  e 
qnintaes. 


Fregue- 
zias 


Conceição 


Frente.  ~  Roa  do  General  Ga- 

Iheiros. 
Fundo  ~Praia. 


Conceição 


E.  frente -Largo  do  Governa- 
dor Mello. 
S.— Rna  do  Peloorinho. 


Graça 


O.  frente -Rua  do  Tronco. 


Conceição 


N.  frente -Rua  do  Pelourinho. 
E.-Rqa  das  Flores. 


Conceição 


Uma  morada  de  casas  al- 
tas, com  seus  baixo*,  fei- 
ta de  madeira  e  coberta 
de  telha,  com  quintal  e 
.cozinha  feita  de  madeira 
no  mesmo  quintal. 


Uma  morada  de  casas  altas 
com  duas  meias  paredes 
de  alvenaria,  sobrado,  e 
é  coberta  de  telha. 


Casa  com  meia  parede  de 
pedra  e  cal,  o  resto  de  ma 
deira,  coberta  de  telha. 


Conceição 


Conceição 


Conceição 


Metade  de  nma  casa  de  ma- 
deira, coberta  de  telha, 
com  1."  andar  e  quintal. 


Casa  de  madeira,  coberta 
de  telha,  com  loja,  andar 
superior  e  armazéns. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Um  prédio  de  casas. 


Posição 


Valor 
estima- 
tivo 


Frente -Rua  da  Alegria  ou 

Conceição. 
N.— Rua  da  Praia  Açouj^ue. 
O.— Travessa  da  Alegria  para 

a  Praia  Açougue. 


N.  frente -Rua  da  Praia  Açou< 
gue. 


0.  frente -Rua  Goy. 
O.  ftando-Caminho  para  a  ro- 
ça do  estado  Areai. 


8:4OOi9O0O 


7:000i»000 


4:383^340 


3:500^^000 


Possuidores 


José  Vellosp  de  Carva- 
lho. 


Nicolau  José  da  Costa. 


D.  AnnaLniza  da  Rocha 
Freitas. 


J(Ao  da  Coeta  Guima- 
rães. 


3:000^^000 


3:OO0í;M)0O 


3:000^^000 


N.  frente -Largo  do  governa' 

dor  Mello. 
O.-Rua  das  Flores. 


Conceição 


Conceição 


Conceição 


Graça 


S.  firente-Rua  da  Praia  Açou< 

gue. 
N.  fimdo- Praia. 


Frente-RuadoGoy. 
S.-Rua  do  Contador. 


2:600^^000 


Pedro  Zeferino  BirboM 
Paiva. 


Manuel  Martins  Xavier 
de  Paiva. 


António  Soarei  Neto  de 
Lima. 


Joaquim  RodrjgiM. 


S:500i9000  Maoricio  José  Soares.  (•) 


2:300^^000 


João  António  da  Silva 
Valia.  (.) 


E.  frente  -  Rua  da  Feira  Velha- 
N.— Rua  do  Contador. 


Casa  de  madeira  coberta  de 
telha,  e  meias  paredes  de 
pedra  e  cal. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Graça 


Conceição 


S.  frente -Rua  da  Misericór- 
dia. 
N.  ftando- Praia. 


Frente -Rua  da  Misericórdia. 
Fundo -Rua  de  Domingos  An- 
tónio. 


E.-Rua  das  Flores. 


%:W0fiO00 


SKX)Oi9000 


S:000#000 


João  dAlva. 


João  Caetano  da  Concei- 
ção MoDii.(*) 


Francisco  José  de  Fhm- 
ça  e  Almeida.  (») 


SKWOi^OOO  Joaquim  Vieirt  Rabel- 
lo.  (.) 


398 


Designações 

Fngoe- 
sias 

Posiçio 

Valor 
estinu- 

tiTO 

PowBidoras 

Uma  morada  de  casas  oom 
sobrado,  meias  paredes 
de  pedra  e  cal,  coberta  de 
telha,  dois  qointaes,  co- 
xinha, casa  de  creado  e 
asinèaria. 

Graça 

S.  frente  -  Rua  do  General  Ca- 

Iheiros. 
N.  frente -Rua  da  Praia. 
E.-Rio. 

S:OOO^POO0 

Uma  sodedide  emo  re- 
prweeUMUe  é  Fraa- 
ciscodeAsiiafieUard. 

Uma  propriedade  de  casas 
coberta  de   telha,   com 
meias  paredes  de  pedra  e 
cal. 

Conceiçio 

Frente -Roa  da  Alegria. 
S.— Travessa  para  a  ma  da 
Praia  Açougue. 

1:500^^000 

Pedro  Zeferino  BaitMMa 
Paiva. 

Uma  propriedade  de  ma- 
deira coberta  de  telha, 
com  1.*  aodar,  lojas,  ar- 
rafiifflB  e  qiiiotal;  Iam 
meias  paredes  áfi  pedra  e 
cal. 

Graça 

Frente -Roa  do  General  Ga- 

Iheiros. 
E.- Travessa  do  General  Ca- 

Iheiros. 

l:500i9000 

D.MaríadoNaidanto 
da  GosU  Ventura.  («) 

Q^apQmmMDaredesde 
pedra  e  cal,  coberta  de 

Conceiçio 

S.  frente-  Roa  da  Praia  Açou- 
gue. 
N.  fondo- Praia. 
E.  Um  beco. 

1:500^^000 

TheodorodaSihraBM- 
tosVardta. 

Casa  coberta  de  tflha,  de 
um  só  pavimento. 

Graça 

S.  frente—Rua  da  Praia  Ama- 
dor. 
N.eO. -Praia. 

l:500/f000 

Casal  do  faUeei4a  to- 
qmm  Manoel  de  Al- 
meida. 

Casa  de  madeira  coberta 
ái  telha,  cofl|  i.*^  acidar  • 

Conceiçio 

E.  frente- Rua  das  Flores. 

1:500^^000 

Joio  da  Costa  Goima- 
ries. 

Metade  de  am  prédio  de  ca- 
sas oom  meias  paredes  de 
alvenaria  (o  andar  de  ci- 
ma tam  paredes  de  ma- 
deira]^ coberto  de  telha. 

Graça 

N.  frente -Rua  do  General  Ca- 

Iheiros. 
0.  -Travessa  do  mesmo  nome. 

1:500^9000 

D.  Protaiia  Vas  da  4>- 
sumpçlo. 

Uma  casa. 

Conceiçio 

E.  frente- Rua  Soares. 
S.-Rua  das  Rosas. 

1:050#000 

Luis  Joaonim  da  Gnka 
Lisboa. 

Metade  de  ona  casa  de  pe- 
dra e  caL 

Graça 

Frente- Rua  dos  Espalmados. 

i:000#OQO 

Catharina  Joio  ^imeií- 
tel. 

Metade  de  nma  casa  do  pe- 
dra e  cal  coberta  de  toUia. 

Graça 

Frente -Rua  do  Tronco. 
0.  -  Travessa  para  o  campo. 

1:000^^000 

Tbereiade  Jesus  Piaeií- 
tel. 

Casa  de  madeira  coberta  de 
telha. 

Graça 

N.  frente -Rua  das  Rosas. 
S.  frente -Rio  Agua  Grande. 
0.  -Rio  Agua  Grande. 

1:000^31000 

José  António  de  Olifei* 
ra.  (.) 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha,  com  meias  pare- 
des de  pedra  e  cal  até  ao 
i.*  andar. 

Conceiçio 

E.  frente  -  Rua  Goy. 
S.— Travessa  da  rua  de  Goy 
para  a  rua  das  Fioies. 

l;000^9000 

Padre  Pedro  Soares  dos 
Ramos. 

Casa  coberta  de  telha. 

1 

Conoeiç-io 

Frente- Rua  das  Flores. 

9OOi9O0O 

Eduardo  AatoBio  dai 
Reis. 

Uma  morada  de  casas  de 
madeira  coberta  de  telha, 
eom  i.*  andar,  lojas,  ar- 
maaem  e  qointal. 

Conceiçio 

E.  -  Rua  do  General  Calheiros. 
0.  frente -Rua  do  Morgado. 

900^^000 

Joaquim  António  GooMs 
Roberto. 

Casa  de  madeira  coberta 
I   de  Mha,  janellae  de  ^ 
JH  dnça,  1.^  andar  e  lojas. 

SanfAnna 

N.  frente -Roa  publica. 

900f000 

PMcboal  Bairelo  df 
Sousa  e  Aléeidi. 

Fngue- 

PotiriD 

Vator 

eitÍDia- 

PouDidorei 

Cau  de  madeira  cobEtU 

Cancíi[3o 

0.  fivuk-HnadasFJons. 

80U#000 

rpacw  doi  Sanloí. 

Cata  da  haltiUctd. 

CoecE,ilo 

.V.tr™u-BecodaiiiadaPr»U 

do  Tjbaco. 
O.-UuadaiFlorus. 

smoeo 

"Ks.r  '""■ 

Caia  dt  maileifa  (ubcrla 
J.lella,lojaiíiwis.iaa. 
dar. 

C(iDceiçao 

S.traiU-UríadoGaimi- 

BIWÍOOO 

Manuel  Siiua).(.) 

Uma  morada  de  cauí  ai 
u.. 

CooMiçío 

S.  (nolu-RBaJai&aui. 
K.-ltt«>  da  rua  da  Praia  do 
Tabaco. 

SI10«OOU 

D.  AunaJoaquiBaltir- 
liní. 

Ctu  d<^  ma.teira  (obarU 
<leUj]|u,uuiaiuDaíuin 
III. 

Grac» 

Fmnle-BaalioirBi. 
Fuado-Rio. 

Lado  dir«ila-TraieiM  da  na 
Soarei. 

TSU^WO 

Fraaeisro   da    F«u«i 
Acagla. 

Uma  propriulada  d«  (asa) 

Cooc4^iç40 

- 

eisjoOD 

Heoriqno  da  Cunha  ila- 
loiejuimuUiei. 

Cua  da  madeira. 

Trladadp 

Fronla-flua  de  Santo  Aolo- 
Foudõ-Jt^aaLunoi. 

"tS'»£„'.S-* 

'Í-X"*"""'"'" 

Craca 

E.f«nle-Riia  do  Tronco. 
Ú.- Praia. 

eoofooD 

Rodrijo  Joié  Diai  de 

Ciu  itc  madura  coburla 
da  l>'Lb:>. 

CoBDtitiO 

O.rrenla-Rna  das  Flora.. 
E.  luudo-Kua   da  Praia  do 
Tabaco. 

nÉa.{.) 

llíladadennucuaJcma 

GoQcgtCla 

[■rrale-Bui  da  Praia  Afos- 
Fnmló- Praia. 

COOJOOU 

MarroliiMdaCoitaHo. 

Cua  lia  raadílra  Cuberto 
i^Ulha. 

Tnndade 

FrDDlf  -  Villa  dl  Trindade. 
fuDdat.-A«uaUmoi. 

«mm 

"rsícs?" 

^^ru.lha.'"''""  """"^ 

SaulAimi 

S.-EiUadapwiicid.ide. 
il.  fteale-Larjio  da  V  dia  de 
li  ao  LO  Anun>. 

IgDora-w. 

ClH  il>  nujelra  colxirla 
dalaJb.1. 

Conceitln 

E.IrcDlc-Raa  da,  florai. 
N.-Biwi  úá  ma  dii  FlortJ 
pitaanialioT. 

MUflOOU 

João  iDDorericio  da  Ha- 

Cufe  i>  nadein  ulxna 

Trindadí 

J—Frenlíparaoladodan.- 
Iradi  da  Trmdada.  Etla  n- 

sou,;4x» 

Andreia  Vai  da  Conui- 

(10. 

CoDCuitlO 

Frenta-Rna  da  Praia  *(00- 

4M,ía)U 

da  Oli>«ira  Jnmor 

CaiacoUrladenuJoiraí 
HHi  ijDinlal. 

Trindade 

Freota-RuadeSaoMAslonio. 
Fundo -Agua  Pcigocna. 

ÍSOÍOOO 

LuB  da  Narnelb 

Caia  de  madeira  (obtrla 
da  Olha. 

Trindade 

Ú.-E<Irada  de  Otna  caiado. 

mim 

FrantlMdaSUv». 

Caia  (te  madeira  colierLi 
de  l<.'llia. 

Trindade 

Fmle-Rna  diraiU  da  Tilla 
da  Trindade. 

mim 

"ísaís-hI 

400 


Deúgnaçõei 


Casa  de  madeira  coberta 
dê  telha. 


Fregne- 
lias 


Graça 


Caia  de  madeira  coberta!  Trindade 
de  telha. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Um  tereo  de  mn  prédio  de 
catas  de  madeira  coberto 
detalha. 


Caia  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Metade  de  oma  casa  com 
meias  paredes  de  pedra  e 
eal,  eoDerta  de  telha. 


Casa  de  madeira  coberta 
detalha. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Casa  de  madeira  coberta  Conceiçio 
detalha. 


Casa  feita  e  coberta  de  ma- 
deira. 


Casa  de  madeira. 


Casa  coberta  de  telha  e 
qointal. 


Uma  morada  de  casas  de 
madeira,  coberta  de  telha 
e  quintal. 


Casa  de  madeira. 


Casas  feitas  e  cobertas  de 
madeira. 


Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 


Caia  de  madeira  coberta 
de  telha  e  <|iiintal. 


Conceiçio 


Trindade 


SanfAnna 


Trindade 


PosiçSo 


Lado  de  cima -Roa  Gaida. 


0.  frente -Rua  Grande. 


Frente -Rua  direita  da  Trin- 
dade. 
Fnndo-Agna  Pequena. 


Frente-Rna  direiU  da  Villa 
de  SanVAnna. 


Frente -Cnueiro  da  lirindade. 
S.- Estrada  do  Obd  Longo. 
O.*— Estrada  do  mesmo  era- 
seiro. 


Graça 


Conceiçio 


Goncei^ 


Trindade 


Conceiçio 


Conceiçio 


Conceiçio 


Conceiçio 


Trindade 


Graça 


Conceiçio 


Valor 
estima- 

tÍTO 


400^9000 


400^^000 


Possuidores 


Maria  da  Graça  Ramos 
de  Andrade. 


António  Lais  da  Maa- 
reth. 


«OOi^OOOlJosé  Velloso  de  Carva- 
lho. 


E.  frente- Rua  do  Tronco. 
O.  ftmdo- Praia. 


O.  f^te  -  Rua  da  Feira  Velha 


N.-Rna  do  Morgado. 


Frente -Rua  das  Rosas. 


Frente -Estrada  para  a  Trin- 

dade. 
Fundo -Agua  Ud. 


Frente  -  Rua  do  Rosário. 
S.-Beco  da  ma  do  Rosário 
para  o  largo  da  Conceiçio. 


N.  frente -Rua  Publica. 
S.— Rio  Agua  Grande. 


L.  frente -Rua  Soares. 
N.- Travessa  da  Praia  do  Ta- 
baco. 


N.  frente -Largo  do  Goveraa- 
der  Mello. 


Frente -Estrada  da  Trindade. 
Lado  de  cima  -  Estrada  d' Agua 
Creoula. 


Frente -Rua  de  S.  Miguel. 


Frente -Rua  do  Pelourinho. 


400^^000  D.  Maria  do  Espirito 
Santo  Lendolph. 


400^^000 


400^^000 


400^^000 


400^^000 


400i9000 


300#000 


aoOi^ooo 


300#000 


300^^000 


sso^^ooo 


SiS^^OOO 


nsfioob 


José  Velloso  de  Carva- 
lho. 


losé  Velloto  de  Carva- 
lho. 


IxabelVai  PimenteL 


Cypriano  dos  Santos  e 
soa  mulher. 


António  Aiancot. 


Joaquim  Isidoro  Pires. 


Joio     Sesinando     de 
Abreu. 


aOOi^OOO  José  Joaqoim  Jeronymo. 


António  Simas. 


Uma  sociedade  cujo  re- 
preaentante  éFraMii- 
CO  de  Assis  Bellard. 


António  Simas. 


António  de  Paiva  Soares 


Dinis. 


Athanasio  Lopes  Ban- 
deira Gago. 


tt5#O0OMannel    Francisco   da 
I    Silva. 


401 


DesifDaçSes 

Frqgoe- 
nas 

Posição 

Valor 
estima- 
tivo 

Possuidores 

Una  propriedade  de  ma- 
deira, coberta  de  telha, 
com  i.^  andar,  lojat,  ar- 
maieiM,  tendo  meias  pa- 
redes de  pedra  e  ca). 

Graça 

Krente— Rua  do  Troneo. 
Fando  e  um  lado— Travessa  de 
S.  Miguel. 

200^9000 

DJI  Maria   do  Espirito 
Santo  Lendolph. 

Armaiem  de  madeira  co- 
berto de  telha. 

Cooceiçio 

N.  frente -Travessa  da  roa  das 

Flores. 
S.  ftando-Pateo  de  Manuel 

Martins. 

900^000 

António  Simas. 

Metade  de  uma  casa  de  ma- 
deira coberta  de  telha. 

CoDceiçio 

S.  frente -Rua  da  Praia  Açou- 
gue. 
N.  ftaodo- Praia. 

900^^000 

José  Maria  da  CosU  No- 
gueira. 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha,  de  qnatro  portas 

Cooceiçio 

N.  frente- Praça  da  Quitanda, 
hoje  largo  do  Governador 
Mello. 

SOO^OOO 

Manuel  da  Cunha  Si- 
mas. 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 

S.  Amaro 

Frente -Caminho  da  roça  San- 
tarém. 

1 

180^000 

António  Maria  Teixeira. 

Casa  de  madeira  coberta 
detalha. 

Conceição 

£.  frente- Rua  do  Rosário. 
0.  fundo -Agua  Grande. 

ISOi^OOO 

José  António  de  Olivei- 
ra. 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 

Trindade 

N.-Rio  Agua  Angola. 
S.- Estrada  publica  para  a 
Trindade. 

150^000 

Loii  Barbosa  dos  San- 
tos. 

Casa  de  madeira  eoberta 
deteliia. 

Conceição 

0.  frente  -  Estrada  de   Boa 
Morte. 

100^^000 

José  António  de  Olivei- 
ra. 

Casa  de  madeira. 

Coneeiçio 

0.  frente -Rua  Goy. 

97^^000 

Silvestre    Soares    dot 
Santos. 

Casa  feita  e  eoberta  de  ma- 
deira. 

S.  Amaro 

Frente -Estrada  para  a  roça 
Santarém. 

80^^000 

António  Maria  Teixeirt. 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 

S.  Amaro 

Frente -Estrada  para  a  roça 
Santarém. 

50^^000 

António  Maria  Teixeira. 

Casa  coberta  de  madeira. . 

Conceição 

S.  frente -Rua  do  Pelourinho. 

90^^000 

José  da  Gosta  Gravide. 

Casa  de  madeira  coberla 
de  telha. 

Trindade 

0.  frente- Estrada  de  Folha 

Fede. 
S.  -Estrada  para  Canga. 

50#000 

José  Vieira  Rebello. 

Casa  Mta  e  eoberta  de  ma- 
deira. 

S.  Amaro 

Frente-Estrada   da  fasenda 

Rio  do  Oiro. 
Um  lado-Estrada  para  a  Cmi 

Grande. 

40^9000 

António  Maria  Teixeira. 

Casa  de  madeira  coberta 
de  telha. 

Conceição 

L.  frente-  Rua  das  Flores. 

10#000 

Joaquim  Rodrigues. 

N.  B.  Esta  estaiislica  serve  para  termo  de  comparação  quando  ymr  ventura  se  deseje  avaliar  o  pro- 
gresso material  da  ilha  de  S.  Thomé.  Comprehende  o  período  de  sete  aanos,  e  nio  se  lucreiíeii  prédio 
algum  ooostmido  depois  do  aono  de  1872.  Os  valores  referem-ie  ao  tempo  do  registo. 

0  signal  (•)  indica  que  os  mdividoos  que  fiíeram  o  registo  das  propriedades  na  oonsenratoría  já 
falleceram. 

.^_ . ■ -1 

402 

ForUleza  de  S.  SebasUio  c  seus  calabouços. — Fica  esta  fortaleza  no  ex- 
tremo da  ponta  NE.  da  baliia  Anna  Chaves.  Não  obstante  ser  construída 
ha  muitos  annos  tem  comtudo  uma  apparencia  agradável.  Quasi  todos 
os  governadores  Ibe  téem  mandado  fôzer  obras,  e  é  boje  um  edifido 
regular. 

Em  desempenho  das  ordens  recebidas  do  chefe  do  serviço  de  saúde, 
os  dois  vogaes  da  junta  de  saúde  publica  deram  em  1872  o  seguiute  pa- 
recer acerca  do  estado  dos  calabouços  que  existem  dentro  das  muralhas 
da  fortaleza. 

€lU.°®  e  ex."^  sr.— Para  dar  cumprimento  ás  ordens  de  v.  ex.*,  ex- 
pedidas em  24  de  abril  do  corrente  anno,  passámos  a  examinar  os  cala- 
bouços da  fortaleza  de  S.  Sebastião,  a  fim  dQ  podermos  fazer  a  descripçao 
topographica  doestas  prisões,  com  a  maior  exactidão  possível.  A  fortaleza 
de  S.  Sebastião  fica  em  boa  posição  relativamente  a  qualquer  ponto  da 
cidade,  porque  emquanto  esta  recebe  os  ventos  de  SE.  que  varrem  os 
pântanos  existentes  entre  a  fortaleza  e  a  igreja  de  S.  Miguel,  aquella  está 
livre  d'elles,  as  vagas  vem  quebrar-se  nas  muralhas  d'aquelle  agradável 
ediUcío,  e  as  brizas  ali  são  sempre  puras  e  frescas. 

cÉ  finalmente  a  fortaleza  de  S.  Sebastião  o  edificio  publico  mais  am- 
plo que  esta  província  possue  actualmente,  e  é  também  o  único  que  está 
regularmente  acabado.  É  um  bom  retiro  para  convalescentes,  e  se  bem 
que  não  seja  este  o  logar  proi)rio  para  se  demonstrar  a  necessidade  de 
baver  ali  as  commodidades  precisas  para  alguns  doentes  se  estabelece- 
rem, ou  a  de  se  construir  n  aquelle  sitio  uma  casa  do  estado,  para  este 
Justo  e  humano  fim,  comtudo  não  podemos  deixar  de  recordar  a  salubri- 
dade d'aquelle  edificio,  entre  tantos  doentios  e  insalubres  que  existem  na 
cidade.  A  porta  que  dá  entrada  na  fortaleza  de  S.  Sebastião  é  pequena  e 
a  ella  segue  uma  espécie  de  galeria  que  passa  por  debaixo  da  bateria  que 
olha  para  o  S.  da  ilha.  N'esta  galeria  ha  quatro  degraus,  um  patamar  e 
uma  espécie  de  quarto,  do  qual  se  passa  por  outra  porta  interior  para 
um  largo  central.  A  ventilação  por  esta  communicação  é  nulla,  mas  tam- 
bém não  é  ella  precisa  doeste  lado,  nem  para  os  calabouços,  que  para  as 
salas  ou  para  as  baterias  é  regular.  Para  ellas  abrem-se  oito  portas  e  par- 
tem d'ali  duas  boas  escadas  de  pedra  que  fazem  as  communicações  supe- 
riores. 

«O  ar  penetra  completamente  n'este  largo,  onde  se  renova  facilmente. 
Fronteira  á  porta  da  entrada  fica  a  porta  de  uma  linda  capellínha,  e  das  sete 
restantes  portas  que  se  abrem  para  este  largo  apenas  nos  foram  indica- 
das duas  por  onde  se  entrava  para  os  calabouços  que  tínhamos  a  exami- 
nar. 

«O  calabouço  á  esquerda  de  quem  entra,  e  mais  próximo  á  capelliaba, 


403 

lem  10  metros  de  comprimento,  4™,50  de  largo  e  3'",30  de  alto,  segundo 
a  medição  feita  por  um  carpinteiro  das  obras  publicas.  A  sua  capaci- 
dade é  portanto  de  148  metros  cúbicos.  Â  ventilação  falta  n'este  calabou- 
ço» assim  como  a  luz  é  pouca,  e  a  limpeza  material  não  é  muita. 

cO  ar  renova-se  com  extrema  difficuldade,  sendo  por  isso  necessário 
evitar  todas  as  causas  que  o  possam  conspurcar. 

«Apesar  d'estes  defeitos,  julgámos  bastante  1 2  metros  cúbicos  de  ar  pa- 
ra cada  preso,  demorando-se  elies  ali  só  de  noite.  O  numero  de  indivíduos 
é  portanto,  mais  ou  menos  elevado,  segundo  se  poder  pôr  em  pratica  a 
desaccumulação  e  outros  meios  bygienicos,  de  que  se  tiram  boas  vanta- 
gens ;  o  numero  menor  de  presos  que  pôde  estar  n*este  calabouço  é  por- 
tanto quatorze.  O  calabouço  que  fica  do  mesmo  lado  d'este  tem  114 
metros  cúbicos  de  capacidade,  e  pôde  conter  dez  presos,  sendo  este  nu- 
mero o  limite  inferior. 

cOs  cálculos  que  fizemos  em  presença  das  condições  materiaes  dos 
calabouços  baseiam-se  apenas  na  concessão  de  12  metros  cúbicos  de  ar 
para  cada  preso,  mas  a  humanidade,  a  boa  rasão  e  a  hygiene  exigem  que 
em  caso  nenhum  se  façam  reunir  presos  com  menos  de  6  metros  cúbicos 
para  respirarem.  E  se  em  algum  caso  for  tolerado  este  numero,  è  incon- 
testável que  em  outros  deve  ser  inteiramente  reprovado,  como  acontece 
nas  prisões  da  cadeia  pubUca. 

«Terminámos  as  nossas  considerações  a  respeito  dos  calabouços  da 
fortaleza  de  S.  Sebastião,  formulando,  para  complemento,  as  seguintes 
considerações  : 

« 1  .*  Na  prisão  que  offerece  1 48  metros  cúbicos  de  capacidade,  actual- 
mente, podem  estar  reunidas  doze  pessoas ; 

«2.*  Sendo  o  ar  na  fortaleza  mais  fresco  e  mais  puro  que  o  da  cidade, 
e  dando-se  a  este  calabouço  todas  as  condições  possíveis  de  limpeza, 
pôde  elevar-se  o  numero  de  presos  a  vinte  e  oito,  o  máximo ; 

«3.*  No  calabouço  de  H4  melros  cúbicos  de  capacidade  devem  estar 
relidas  dez  pessoas,  e,  attentas  as  rasões  acima  exaradas,  pôde  elevar-se 
este  numero  a  vinte  pessoas,  o  máximo; 

«4.^  Os  calabouços  da  fortaleza  são  mais  salubres  que  as  prisões  da 
cadeia  publica,  sendo  certo  que  n^aqiiellas  falta  lambem  a  ventilarão  re- 
gular, a  boa  luz  e  a  limpeza; 

«5.^  A  desaccumulação  durante  o  dia,  empregando  os  presos  em  dif- 
forentes  obras  de  utilidade  publica,  é  um  meio  hygienico,  moral  e  civilisa- 
dor  que  se  deve  pôr  constantemente  em  pratica. 

«Cidade  de  S.  Thomé,  aos  10  dias  de  maio  de  1872.-111."°  e  ex."*® 
sr.  dr.  José  Correia  Nunes,  chefe  de  serviço  de  saúde.  Dos  facultativos, 
Manuel  Ferreira  Ribeiro = Aleixo  Sbriano  Fernandes,  t^ 


EsUçâo  militar  uo  rcdacio  de  8.  José. — O  reductx»  cie  S.  José  tica  na 
ponla  N.  da  babia  da  cidade,  e  foi  posto  a  descoberto,  e  em  círcom- 
stancias  de  se  ver,  pelo  intelligeDle  governador  Pedro  Carlos  de  Aguiar 
Craveiro  Lopes.  Aqueila  ponta  prolonga-se  por  cerca  de  2:500  metros 
desde  a  igreja  de  S.  João,  e  dos  últimos  1:000  metros  o  terreno  é  ele- 
vado, descobrindo-se  para  o  N.  e  O.  uma  larga  planície.  Não  ha  erro  sen- 
sível em  lhe  attribuir  20  a  25  metros  de  altitude,  estando  o  redocio  na 
face  da  ponta  que  olha  para  a  fortaleza  de  S.  Sebastião,  próximo  ao  mar. 
Fica-lhe  do  lado  de  cima  uma  casinha  branca  e  de  alegre  vista. 

Existe  ali  um  destacamento  de  alguns  soldados  e  um  cabo. 

O  aspecto  da  ilha  observada  d'aquella  logar  é  agradável. 

O  passeio  ou  caminho  que  ali  conduz  é  amplo,  mas  está  quasí  aban- 
donado. É  talvez  esta  a  rasão  por  que  aquelle  logar  não  é  frequentado, 
sendo  aliás  as  brizas  frescas  e  puras. 

Ha  grande  vantagem  em  se  fazer  uma  estrada  lai^a,  bem  disposta  e 
arborisada,  desde  a  igreja  de  S.  João  até  ao  reducto  de  S.  José. 

Quartéis  e  deposito  dos  iddidos. — A  casa  onde  se  recolhem  os  addidos 
está  situada  na  margem  esquerda,  espécie  de  rio,  que  as  aguas  do  mar 
alimentam  entrando  e  saindo  por  debaixo  da  ponte  do  Espalmador,  e  for- 
mando a  grande  lagoa  a  E.  da  cidade.  É  acanhada  e  não  comporta  o 
numero  de  addidos  que  n'ella  seriam  obrigados  a  viver,  se  não  fossem 
as  licenças  concedidas  áquelles  que  dão  fiador  idóneo  e  desejam  empre- 
gar-se  no  commercío  ou  nos  trabalhos  agrícolas.  Está  em  má  posição  e  é 
de  péssima  construcção.  É  preciso  realmente  cuidar  d'ella  constantemen- 
te, para  não  se  tornar  inhabitavel. 

A  rua  que  lhe  passa  em  frente  foi  nivelada ;  na  margem  esquerda  da 
lagoa,  para  o  lado  do  edifício  e  para  a  retaguarda,  foi  construído  um  re- 
tiro ajardinado,  onde  se  vé  a  maracujá,  a  pimpinella,  dando  fresca  som- 
bra, e  se  produz  hortaliça,  boa  melancia,  pimentas,  hervas  aromáticas,  etc. 

O  deposito  dos  addidos  não  deve  pois  continuar  n'aquella  casa.  É 
preciso  cuidar-se  quanto  antes  da  constiucção  da  colónia  penal,  segundo 
as  regras  da  moderna  colonisação,  recui*sos  da  ilha  e  leis  da  boa  hygie- 
ne  colonial.  É  o  que  nos  cumpre  pedir  em  favor  da  classe  que  mais  sof- 
fre. 

Barracio-quartei  e  praças  adjacentes. — A  respeito  do  quartel  dos  sol- 
dados escrevemos  em  1869  o  seguinte: 

cO  quartel  da  cidade  de  S.  Thomé,  onde  se  recolhem  os  soldados  e 
addidos,  é  mau  e  mal  collocado.  É  um  barracão  construído  sem  se  atten- 
der  ás  mais  ordinárias  regras  de  hygiene  militar»  ficando-lhe  o  mar  ao 


405 

poento,  e  a  poucos  metros  de  dislaiicJa,  muito  próximo  â'elle,  ao  S.,  um 
largo  e  extenso  panUino  que  começou  a  ser  aterrado  em  4868! 

•Consta  este  barracão  de  um  só  pavimento,  flcando  o  soalho  a  poucos 
palmos  do  chão.  Tem  dormitórios  largos  e  espaçosos,  sem  tarimbas,  o 
soalho  completamente  despido,  sobre  o  qual  dormem  em  esteiras  os  sol- 
dados addidos.  Similhante  quartel  é  impróprio  de  uma  capital,  repugna  á 
humanidade  e  á  hygiene  militar,  que  o  condemna  totalmente.» 

Em  4872  fez-se  a  separação  dos  soldados  e  dos  addidos,  melhora- 
mento altamente  moral  e  civilisador,  e  preparou-se  um  retiro  ajardinado, 
de  5:084  metros,  onde  se  ostenta  uma  agradável  vegetação,  e  que  flca 
entre  o  barracão  e  as  negras  aguas  enxarcadas  do  pântano  de  S.  Sebas- 
tião. Os  dois  largos  que  ha  entre  a  fortaleza  de  S.  Sebastião  e  o  deno- 
minado quartel,  e  entre  estes  e  as  primeiras  casas,  onde  se  levanta  a  linda 
casinha  do  activo  officiaj,  António  Victor  Ferreira  de  Carvalho,  estão 
nivelados,  mas  completamente  desarborisados,  o  que  é  realmente  para 
lamentar. 

A  importância  e  urgência  das  obras  por  aquelle  lado  da  cidade,  reco- 
nhece-se  á  vista  do  que  acabamos  de  expor.  Aos  poderes  públicos  e  á 
camará  municipal  pertence  dar-lhes  execução  prompta  e  rápida,  como  re- 
quer a  salubridade  publica,  a  saúde  dos  habitantes  e  a  extrema  prodnc- 
ção  e  abundância  da  ilha. 

Cadeia  civil. — A  respeito  d'este  edifício  copiámos  o  seguinte  trecho 
do  relatório  de  4869: 

«A  cadeia  civil  tem  sido  frequentes  vezes  condemnada  officialmente  e 
ainda  se  acha  no  mesmo  estado.  O  pavimento  térreo  onde  ha  algumas 
prisões,  é  péssimo ;  contém  espeluncas  que  mal  alojariam  três  indivíduos 
e  onde  frequentemente  se  encontram  dezeseis  ou  vinte.» 

Pediram-se  providencias,  até  que  a  final  se  conseguiu  que  no  andar 
superior  houvesse  casas  de  detenção,  e  algumas  salas  hmpas  e  arejadas. 

A  camará  municipal  fazia  ali  as  suas  sessões,  mas  o  digno  juiz  Antó- 
nio Ferreira  de  Lacerda  não  consentiu  que  continuassem  funccionando 
n'aquelle  pavimento,  o  qual  pertence  hoje  á  cadeia. 

Em  487ã,  o  andar  superior  servia  para  escola  principal,  e  os  calabou- 
ços estão  como  em  4862,  e  como  em  48691  É  dolorosa  a  impressão  que 
causa  a  cadeia  civil,  mas  são  notáveis  os  officios  e  documentos  que  se 
téem  trocado  entre  os  médicos  e  os  governadores,  entre  estes  e  a  camará 
municipal. 

Não  queremos  perder  o  propósito  em  que  estamos  de  não  safr  fora 
dos  limites  que  traçámos  para  as  nossas  informações,  se  não  teríamos  a 
fazer  larguíssimas  considerações  a  respeito  d'este  assumpto. 


406 

  cadeia  é  úm  dos  edifícios  públicos  civis  que  pódc  atlestar  o  estado 
da  civilisaçío  e  do  progresso  de  uma  cidade,  mas  n'esta  ilha  nao  se  tem 
cuidado  d'ella.  O  seguinte  documento  tem  muitos  annos  de  existência  e 
merece  ser  aqui  transcripto  *. 

tN.^  8i3.  —  III.*"^  sr.  presidente  e  mais  vereadores  da  camará  mu- 
nicipal.— N3o  é  sem  bastante  pezar  que  hoje  dirijo  á  ill.™*  camará  algu- 
mas expressões  que  talvez  a  possam  resentir,  mas  se  eu  ficasse  silencioso 
depois  de  que  sou  relator,  faltaria  aos  deveres  que  a  minha  posição  me 
incumbe  e  aos  deveres  da  humanidade,  de  que  nunca  me  afastarei.  Hon- 
tem  de  tarde  fui  visitar  a  cadeia  publica,  e  com  a  franqueza  que  me  6 
própria,  direi  que  fiquei  surprehendido  e  horrorisado  de  ver  quatro  mui 
pequenas  prisões  sem  ventilação,  com  as  paredes  tão  denegridas,  que 
se  nSo  differençavam  os  escravos  que  occupavam  uma  d*ellas,  e  onde  se 
respira  um  ar  infecto,  de  que  podem  resultar  graves  inconvenientes. 

«A  condição  de  preso  é  sempre  má,  supposto  que  seja  uma  necessidade. 
As  auctoridades  na  capital  do  reino  se  esmeram  a  melhorar  a  sorte  d*aquel- 
les  cujas  acções  os  fizeram  entregar  á  justiça,  será  para  nós  vergonha, 
que  pelo  facto  de  existirmos  na  Africa,  abandonemos  ao  horror  da  im- 
mundicie  e  insalubridade,  os  que  já  soffrem  o  pesado  jugo  da  falta  de  li- 
berdade. Confiando,  pois,  em  que  a  ill."*  camará  porá  todos  os  meios  ao 
seu  alcance,  para  a  reforma  completa  da  cadeia,  cumpre-me  asseverar- 
Ibe  que  porei  á  disposição  da  mesma  camará  todo  o  auxilio  de  que  care- 
cer e  esteja  ao  alcance  do  governo,  logo  que  seja  pedido  e  justificada  a 
sua  necessidade.  Deus  guarde  a  v.  s.*— Secretaria  geral  do  governo  de 
S.  Thomé,  27  de  dezembro  de  1860.-111."°  sr.  presidente  e  mais  verea- 
dores da  camará  municipal.  =  Joâo  Manuel  de  Mello,  governador  inte- 
rino, p 

Compare-se  o  que  se  acaba  de  ler,  referido  a  ^  860,  com  o  que  escre- 
vem os  membros  da  junta  de  saúde  em  1872,  pelos  facultativos  abaixo 
assignados. 

€lll."®eex.°*®  sr. — Para  dar  cumprimento  ás  ordens  de  v.  ex.*,  rece- 
bidas em  24  de  abril  do  corrente  anno,  dirigimo-nos  á  cadeia  civil  d'esta 
cidade,  a  fim  de  observar  com  exactidão  o  seu  estado  actual,  e  poder  fdn- 
damentar  o  nosso  parecer  a  respeito  d'este  edificio  publico. 

€  A  cadeia  civil  tem  sido  condemnada  por  todos  os  facultativos  que  têem 
sido" encarregados  de  darem  informações  acerca  do  seu  estado;  aquelle 
edificio  publico  foi  com  toda  a  verdade  reputado  escola  permanente  de 
vicios  e  corrupção,  pelo  digno  juiz  António  Ferreira  de  Lacerda.  A  sua 

1  Apesar  do  que  se  lé  no  documento  exarado  no  texto,  a  cadeia  publica  de 
S.  Thomé  tem-se  conservado  no  mesmo  edificio. 


407 

po3iç3o  e  exposição  é  péssima,  e  as  prisões  parciaes  muito  más.  O  edi- 
fício é  bastante  alto,  mas  as  prisões  são  térreas,  e  sem  a  menor  distino 
C9o  para  receberem  os  criminosos,  segundo  a  gravidade  e  natureza  dos 
crimes,  provados  ou  não  provados.  Reunem-se  bons  e  maus  no  mesmo 
cubículo  sem  ar,  sem  luz  e  sem  limpeza  I 

cSSo  estes  os  primeiros  defeitos  que  notámos  e  que  reputámos  muito 
graves. 

<  O  prédio  está  edificado  em  logar  baixo  e  mettido  a  um  canto  do  largo 
do  palácio.  Ao  N.  corre-lhe  a  rua  da  Misericórdia,  ou  antes  um  pequeno 
largo,  pelo  qual  esta  rua  communica  com  o  largo  do  palácio;  ao  S.  tem 
um  quintal,  ao  poente  fica-lhe  o  dito  largo  do  palácio,  e  ao  nascente  uma 
velha  casa  de  madeira,  apenas  separada  da  cadeia  por  um  pequeníssimo 
espaço.  As  prisões  são  formadas  nos  quartos  térreos  d'esta  casa,  e  por 
tanto  estão  sempre  abrigadas  de  todos  os  ventos,  o  que  é  realmente  gra- 
víssimo defeito,  e  muito  concorre  também  para  a  sua  insalubridade  abso- 
luta. 

«Para  se  entrar  na  cadeia  sobe-se  por  um  socalco  de  pedras  negras, 
cavadas  e  desunidas  pelo  bater  da  chuva.  Este  montão  de  pedras  esten- 
de-se  á  direita  e  á  esquerda  da  porta  principal  da  cadeia. 

tPercebe-se  bem  pelo  abandono  exterior  d'este  edifício  o  seu  com- 
pleto desarranjo  interno  I 

«A  porta  principal  abre-se  immediatamente  para  um  acanhadíssimo 
quarto,  ou  o  quer  que  seja,  o  qual  para  se  tornar  ainda  mais  pequeno  está 
dividido  a  um  terço  da  sua  capacidade  por  algumas  tábuas,  por  detrás 
das  quaes  fica  um  cubículo,  onde  na  occasião  da  nossa  visita  se  estava 
cozinhando !  Para  este  único  semi-quarto  central  da  cadeia,  abrem-se  as 
portas  das  quatro  prisões  térreas,  ficando  duas  á  direita  e  duas  á  es- 
querda de  quem  ali  entra.  A  primeira  prisão  á  direita  tem  5'',83  de  com- 
primento, 4°^,29  de  largura  e  5"*,39  de  altura,  segundo  a  medição  feita 
por  um  dos  carpinteiros  das  obras  publicas.  A  capacidade  d'esta  prisão 
épolsdel34'°8,8B7. 

«Em  todos  os  tempos  e  em  todos  os  systemas  penitenciários  tem  sido 
objecto  de  discussão  a  quantidade  de  ar  que  deve  ser  concedido  a  cada 
preso.  Não  querendo  seguir  a  opinião  d'aquelles  que  exigem  30  metros 
cúbicos,  nem  a  dos  que  se  contentam  com  10  metros,  appellámos  por  um 
numero  que  seja  accommodado  á  natureza  d'este  clima,  e  aconselhámos 
10  metros  cúbicos,  para  as  actuaes  prisões,  como  um  dos  meios  neces- 
sários á  conservação  da  saúde  dos  encarcerados. 

«Com  08  dados  acima  exarados  pôde  demonstrar-se  que  na  prisão  a 
que  nos  referimos  deveriam  estar  oito  homens,  e  comtudo  outras  Impor- 
tantes considerações  ha  que  obrigam  a  reduzir  muito  aquelle  numero. 


406 

O  quarto  de  que  tratámos  tem  Ires  jaiiellas,  mas  por  tal  modo  dispostas 
que  difficilmeute  se  pôde  renovar  o  ar  na  prisão  por  meio  d'ellas!  Â  com- 
municaçio  d'este  quarto  com  o  que  lhe  fica  próximo,  a  Talta  de  cozinha, 
de  quarto  para  o  carcereiro,  etc,  são  defeitos  graves  e  permaneotes, 
que  tornam  sempre  péssima  similbaote  cadeia.  Aos  defeitos  de  constroc- 
ç9o  permanente,  reunem-se  accidentaes  que  são  prejudidalissimos.  A 
falta  de  limpeza  nas  prisões,  que  não  estão  caiadas  nem  são  varridas,  as 
péssimas  luzes  que  se  adoptam  durante  a  noite,  a  pouca  limpeza  dos  pa- 
vimentos, a  falta  de  leitos  ou  de  tarimbas,  accommodadas  a  cada  prisão, 
etc,  são  outras  tantas  causas  de  insalubridade,  n'estes  cubículos  ordiná- 
rios e  pestilentos. 

«As  considerações  que  acabámos  de  fazer  são  sufficientes  para  provar 
á  saciedade  a  seguinte  cqnclusão  que  estabelecemos. 

«O  primeiro  quarto,  á  direita  de  quem  entra  na  cadeia  publica  d'esta 
cidade,  só  pôde  conter  actualmente  quatro  presos.  A  prisão  parallela  e 
contigua  á  antecedente  tem  as  mesmas  dimensões,  e  portanto  a  mesma 
capacidade,  está  muito  mais  suja  que  a  outra,  e  tem  o  mesmo  systema 
de  janellas.  É  impossível  renovar-se  ali  completamente  o  ar!  E  como  se 
yeriflcam  n'ella  todos  os  defeitos  da  primeira,  e  muitos  outros  íaceis  de 
reconhecer  á  primeira  vista,  é  claro  que  chegámos  á  mesma  conclusão 
acima  estabelecida. 

«Na  occasião  da  visita  estavam  n'este  quarto  onze  pessoas,  e  segundo 
a  informação  do  carcereiro,  quasi  sempre  ali  téem  estado  vinte  a  vinte  e 
cinco  pessoas  presas ! 

«As  prisões  que  ficam  á  esquerda  de  quem  entra  na  cadeia,  têem  a  me- 
nos 10  metros  cúbicos  de  ar  cada  uma,  e  ambas  téem  igual  capacidade. 

«Avaliada  esta  em  124"',60,  não  se  devem  ter  presas  mais  de  sete 
pessoas  em  cada  uma  das  prisões,  concedendo  16  metros  cúbicos  de  ar 
a  cada  um  preso,  que  não  é  muito  n'uma  cidade  tão  mal  collocada  como 
esta,  e  de  mais  a  mais  completamente  rodeada  de  pântanos!  As  re- 
gras mais  communs  de  bygiene  condemnam  absoluta  e  relativamente 
estas  prisões,  e  portanto  a  construcção  de  um  edificio  para  a  cadeia  pu- 
blica em  logar  alto,  secco,  desafogado  e  bem  batido  aos  ventos,  está  alta- 
mente indicada ;  é  realmente  necessária  uma  cadeia  que  corresponda  ao 
fim  para  que  é  destinada,  poisque  na  cadeia  actual  não  ha  uma  só  con- 
dição material,  moral  ou  hygienica,  essencial  a  edificios  d'esta  ordem. 

«Não  é  este  parecer  adequado  para  conter  a  nossa  opinião,  sobre  se  são 
mais  úteis  as  prisões  coUectivas  ou  individuaes,  mas  seja-nos  somente 
permittido  o  dizer,  que  as  prisões  para  os  criminosos  europeus  devem 
estar  em  condições  mui  diversas  d'aquellas  em  que  se  encarcerarem  os 
africanos,  devendo  estas,  pelo  menos,  ser  no  pavimento  inferior,  e  aqoel- 


409 

las  DO  superior ;  os  quartos  para  detenção  devem  ser  separados  uns  dos 
outros. 

cA  falta  doestes  requisitos  na  actual  cadeia  publica  prova  com  eviden- 
cia que  é  ella  um  foco  de  vicios  e  de  corrupção.  Limitámos  as  nossas 
considerações  ao  exame  do  estado  actual  da  cadeia  civil,  aonde  fomos  no 
dia  7  de  maio  do  corrente  anno,  por  nos  ter  sido  impossível  ir  com  mais 
brevidade,  depois  de  recebermos  as  ordens  de  v.  ex.^ 

«Sem  nos  alargarmos  em  mais  considerações,  apresentámos  finalmente 
as  seguintes  conclusões,  como  resumo  e  resultado  do  nosso  trat^alho : 

«1.^  Nos  quartos  que  formam  a  actual  cadeia  publica,  em  boas  condi- 
ções de  limpeza,*  podem  estar  o  máximo  trinta  pessoas ; 

«2/  Os  quartos  actualmente  estáo  immundos,  parecendo  n3o  terem 
sido  caiados  ha  multo  tempo,  são  térreos,  mal  ventilados  e  mettidos  todos 
n'um  pequeno  espaço,  etc,  e  por  isso  é  necessário  presentemente  redu- 
zir o  numero  de  trinta,  antecedentemente  estabelecido,  a  metade,  ou 
a  dezeseis  presos ; 

<3.^  A  constnicçao  de  uma  cadeia  em  condições  materiaes,  moraes  e 
hygienicas,  accommodada  ao  clima  e  ao  fim  a  que  se  destina,  é  urgentís- 
sima e  de  absoluta  necessidade ; 

«4.^  É  necessário  que  se  obrigue  o  carcereiro  a  não  cozinhar  no  im- 
mundo  cubículo  que  fica  em  frente  da  porta  principal,  que  se  mande  caiar 
cada  quarto  pelo  menos  de  três  em  três  mezes,  sendo  prohibido  accender 
fogo  dentro  d'elles  como  agora  fazem;  que  se  façam  lavar  e  limpar  con- 
stantemente os  pavimentos  e  as  paredes ;  finalmente  que  se  executem  em 
cada  quarto  as  obras  mais  necessárias  para  haver  ventilação,  luz  e  mora- 
lidade. 

cDeus  guarde  a  v.  ex.'  Cidade  de  S.  Thomé,  aos  iO  dias  do  mez  de 
maio  de  1872.— IIL"***  e  ex."®  sr.  dr.  José  Correia  Nunes,  chefe  de  ser- 
viço de  saúde.  —  Dos  facultativos  =  Jfantie/  Ferreira  Ribeiro = Aleixo 
Mariano  Fernandes, i^ 

Por  ser  completamente  impossível  não  transcrevemos  todas  as  porta- 
rias e  ofiQcios  expedidos  a  respeito  da  cadeia  civil,  e  apesar  de  tudo  as 
cousas  estavam  em  1872  como  em  1860,  como  em  1862  e  como  em 
1865! 

Calibotçê  da  policia. — N'um  dos  ângulos  da  praia  José  Pedro  de  Mello, 
fica  o  denominado  calabouço  da  policia.  Não  é  fácil  descrevel-o,  e  ainda 
menos  indicar  as  suas  divisões  internas  e  as  respectivas  paredes.  Fare- 
mos comtudo  todos  os  esforços  para  nos  approximarmos  da  verdade,  de- 
finindo-o  n^estas  poucas  palavras,  que  caracterisam  bem  o  estado  em  que 
se  acha. 


440 

— É  uma  casa  térrea,  sem  luz,  sem  ar  e  sem  espaço  suflQcienle,  onde 
pozeram  umas  grades  grossas  e  toscamente  preparadas.  Ficando  assim  con- 
stituido  o  calabouço  da  polícia  i 

Não  somos  mais  extensos  a  respeito  d'este  assumpto  porque  o  que  abi 
fica  exarado  fr  o  bastante  para  se  tratar  com  urgência  da  constrac^So  de 
prisões  adequadas  para  detenções,  para  correcçSo  ou  para  castigo. 

É  este  um  melhoramento  altamente  reclamado  e  de  primeira  necessi- 
dade na  capitai,  onde  estão  todas  as  auctoridades  superiores. 

Villaa  ea  prineipae^i  lôgaros  da  ilha  it  â.  Thomè  ^  — Villa  de  SaníAtma.— 
A  casa  da  policia,  a  casinha  da  escola  e  a  igreja,  merecem  em  primeiro 
logar  a  attençSo  do  observador.  Mas  que  poderemos  dizer  d'estes  edifí- 
cios? 

A  casa  da  policia  é  ordinarissíma  e  a  da  escola  é  da  mesma  natureza. 
A  igreja  flca  na  base  da  collina  e  está  em  completo  abandono. 

A  villa  de  Sant*Anna  esteiide-se  por  um  outeiro,  cuja  parte  mais  alta 
tem  40  metros  de  altitude,  no  fundo  d*elle  corre  um  ribeiro  de  oude  os 
habitantes  se  abastecem  de  agua.  Antes  de  se  chegar  á  villa  encontra-se 
uma  corrente  de  agua  que  se  tem  de  rodeiar  para  se  evitar  o  risco  de 
uma  queda,  se  se  tenta  passar  sobre  o  tronco  de  uma  arvore,  que  se 
acha  lançado  entre  as  margens.  Ghamam-lhe  uns  Agua  Covo,  outros  Agua 
Lavagem. 

Ha  casas  de  madeira  que  os  naturaes  ali  téem  edificado,  revelando 
todas  grande  pobreza,  no  meio  de  ten%nos  férteis  e  abundantes  I 

O  cume  da  collina  estende-se  para  a  ponte  em  forma  de  planura  alta, 
com  terrenos  cultivados  de  café,  que  por  ali  produz  bem. 

Do  alto  da  planura  em  que  assenta  a  villa,  avista-se  o  ilhéu  de  Santa 
Anna,  coberto  de  coqueiros. 

A  enseada  de  Sant*Anna  olha  para  E.  e  tem  ao  S.  um  morro  que  flca 
a  50  metros  de  altitude.  Não  existem  casas  por  aquelle  lado,  mas  ao  pé 
da  praia  estio  construídas  algumas,  e  segue*se  uma  rua,  rodeando  a  col- 
lina, onde  existem  as  melhores  lojas  da  villa. 

A  flalta  de  uma  estrada  publica  entre  a  villa  de  SanfAnna  e  a  cidade 
concorre  muito  para  o  atrazo  d'aquella  localidade,  digna  a  todos  os  res- 
peitos de  muita  attenção.  A  via  marítima  é  sujeita  a  incommodos  e  não 
poucas  vezes  a  perigos.  É  necessário  dobrar  a  ponta  PraiSo,  sendo  as 


1  Denominam-se  villas  os  logares  em  que  se  acham  as  igrejas  parocbiaes,  pró- 
ximo ás  quaes  ha  algumas  casas.  Nenhuma  d*essas  localidades  merece  actualmente 
o  nome  de  villay  mas  podem  de  futuro  adquirir  muita  importaíicia,  príncipalmontd 
a  villa  da  Trindade  e  a  de  SanfAuna. 


411 

canoas  obrigadas  a  sair  maito  ao  mar.  É  comtudo  este  o  meio  de  mais 
facíl  communícaçSo  da  villa  para  a  cidade  e  vice-versa. 

O  cemitério  pulriico  está  ao  N.  e  em  sitio  elevado,  sobre  uma  ponta 
sobranceira  ao  mar  e  afastado  da  povoação. 

ViUa  da  SanlisHma  Trindade.— Esta  vilia  eleva-se  260  metros  sobre 
o  nivel  do  mar,  e  a  igreja  fica  em  sitio  um  pouco  mais  alto.  É  mau  o  es- 
tado d'esle  templo,  tanto  interior  como  exteriormente. 

A  casa  da  escola  é  ordinária  e  a  cadeia  é,  como  aquella»  impossível 
de  classificar  I  O  cemitério  está  entre  mato  a  NE.  da  villa.  Tem  um  ar- 
cado  de  tábuas,  e  nenhuma  lapide,  nem  inscripçSo  ali  se  encontram !  Por 
toda  a  parte  o  esquecimento  e  o  abandono ! 

A  villa  occupa  um  logar  central,  em  relação  a  algumas  boas  Ai2en- 
das.  Falta-lhe,  porém,  uma  estrada,  bem  feita  e  larga,  e  conveniente- 
mente arborisada. 

Pelo  O.  e  N.  da  povoação  corre  uma  agua  que  a  abastece,  e  ba  tam- 
bém uma  nascente  ou  agua  BobA,  que  se  aproveita  para  beber,  por  ser 
mais  limpa  e  fresca. 

Existem  na  localidade  algumas  lojas  para  negocio,  mas  quasi  todo  o 
conunercio  se  faz  na  cidade. 

Villa  da  Magdalena.—È  doloroso  fallar  d'esta  villa,  porque  é  desola- 
dor o  aspecto  das  poucas  casas  que  ali  ha.  Está  edificada  a  200  metros 
sobre  o  nivel  do  mar,  e  fica  9  kilometros  distante  da  cidade.  Quando  ali 
fomos  em  1870  para  escolher  o  terreno  para  o  cemitério,  tivemos  occa- 
sião  de  observar  o  seu  estado  de  pobrezn  e  abandono.  O  exterior  da  igreja 
revela  o  mais  completo  desamparo,  e  parece  não  ter  sido  caiada  ha  de- 
zenas de  annos  i  Tem  do  lado  direito  um  velho  cercado  onde  em  1872  vi- 
mos um  montão  de  ossos  humanos,  o  que  nos  causou  a  mais  desconsola- 
dora  tristeza. 

A  estrada  que  liga  a  cidade  com  a  villa  da  Magdalena  é  a  mesma 
da  villa  da  Santíssima  Trindade  até  próximo  do  morro  Agua  Grande. 
É  supportavel,  mas  a  arte  pouco  tem  contribuído  para  o  sen  embelleca- 
mento. 

Próximo  da  igreja  de  Nossa  Senhora  do  Rosário  começa  uma  subida 
suave  até  cerca  de  20  metros;  corre  d'ali  um  lanço  direito  e  extenso,  mas 
elevando-se  sempre  de  modo  que,  quando  se  volta  para  a  direita  e  se 
deixa  a  estrada  da  Trindade  e  do  Monte  Café,  as  ladeiras  succedem-se  até 
á  casa  denominada  do  Campo,  a  100  metros  de  altitude. 

Villa  de  Guadalupe,—  Dá-se  este  nome  a  um  logarejo  situado  a  13^,5 
da  cidade  e  a  7*^,5  da  praia  das  Conchas.  Estivemos  ali  por  differentes 
vezes  em  serviço,  e  nio  podemos  deixar  de  nos  referir  á  visita  que  fize- 
mos quando  se  tratou  em  1870  da  escolha  de  local  para  um  cemitério. 


412 

O  terreno  foi  examinado  e  benzido,  derrubou-se  o  arvoredo,  e  de  nada 
serviu  este  trabalho.  Nâo  ha  ainda  cemitério  ^ 

£  uma  vilia  pobríssima  e  abandonada,  onde  não  ha  casa  de  escola, 
onde  a  casa  da  policia  é  um  telheiro  sem  forma,  sem  ordem  e  sem  classi- 
ficação possivel,  e  onde,  fínalmente,  o  templo  não  revela  a  cuidadosa  at- 
tenção  dos  fieis,  que  não  se  empenham  em  o  conservar  bem  limpo,  caiado 
e  singelamente  adornado. 

  situação  da  vilIa  não  é  boa,  porque  está  ao  pé  de  um  morro  saliente, 
de  forma  oval  e  muito  regular  denominado  Monquinqui.  Tem  uma  porção 
de  arvoredo  lançado  de  N.  a  S.,  o  que  lhe  dá  um  aspecto  característico, 
porque  o  resto  da  superfície  não  tem  uma  única  arvore. 

A  povoação  está  cercada  de  copadissimo  arvoredo,  tendo  por  um  lado 
o  morro  a  que  nos  referimos,  e  pelo  outro  o  príncipio  da  falda  da  serra 
oriental  da  ilha.  Doesta  povoação  disse,  em  i844,  Lopes  de  Lima: 

«Légua  e  meia  ao  NO.  da  cidade  (7,5  kilometros)  se  estende  em  uma 
planura  rodeada  de  outeiros  de  altura  mediana  e  aspecto  risonho,  a  villa 
de  Nossa  Senhora  de  Guadalupe. » 

É  uma  villa  apenas  no  nome,  escrevemos  nós  ém  1869.  As  casas  da 
villa  de  Guadalupe,  afogadas,  metlidas  no  meio  de  espesso  arvoredo,  não 
se  avistam  de  longe.  A  estrada  da  cidade  para  aquella  villa  é  a  da  villa 
de  Santo  Amaro.  Não  está  em  peior  estado  do  que  a  da  Magdalena. 

Na  occasião  em  que  visitámos  a  villa  de  Guadalupe,  observámos  que 
Ficava  a  iãO  metros  acima  do  nível  do  mar.  Ha  no  meio  de  um  largo  um 
grande  tamarindeiro,  sob  o  qual  descansámos  por  algumas  horas.  Fica- 
va-nos  ao  N.  o  caminho  da  praia  das  Conchas,  a  O.  via-se  espesso  mato 
e  a  EViSE-NOViO.  levanlava-se  o  morro  Monquinqui. 

Villa  de  Sanlo  Amaro,  —  Parece  que  o  logar  denominado  Santo  Amaro 
devia  prosperar  alguma  cousa  nos  últimos  annos.  Tem  a  vantagem  de  fi- 
car na  estrada  que  põe  a  cidade  em  communicação  com  a  outra  villa  e 
importantes  fazendas,  mas  de  nada  lhe  tem  servido,  porque,  de  1869 
para  cá,  somente  lemos  a  dizer  que  tudo  está  do  mesmo  modo  em  que 
n  encontramos  pela  primeira  vez. 

Villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves. — Está  collocada  no  principio  da 
contra  costa,  ou,  como  se  diz  em  geral,  atrás  da  ilha.  Não  tem  estradas, 
caminhos  ou  atalhos  por  onde  se  possa  vir  á  cidade.  Permanece  no  mesmo 
estado  em  que  estava  ha  muitos  annos  e  não  tem  importância  alguma^. 


1  Não  nos  consta  qac  se  tenham  construído  os  cemitérios  das  villas  cujos  ter- 
renos foram  escolhidos  para  esse  fím. 

2  Pernoitámos  ali  em  janeiro  de  1873.  Dormimos  em  cima  de  umas  toscas  tá- 
buas, e  não  foi  possível  obter  alimentos.  Nunca  vimos  nada  mais  desgraçado. 


413 

Villa  de  Santa  Cruz  dos  Angolares. — A  respeito  doesta  villa  diremos 
quasi  o  mesmo  que  a  respeito  da  villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves.  Tado 
respira  pobreza,  miséria  e  ignorância!  Está  por  assim  dizer  abandonada. 
As  cubatas  ou  as  casas  mostram,  na  máxima  parte,  completa  ruína,  e  o 
templo  é  pobríssimo.  Arvores,  hervas  e  arbustos  approximam-se  da  ci- 
dade a  passos  agigantados,  e  parece  apromptarem-se  para  asphyxiar  a 
villa  n*um  amplexo  estreitamente  dado. 

Âquelles  infelizes  povos  vivem  da  pesca  e  do  vinho  de  palma.  Arran- 
jam algumas  tábuas,  fios  para  redes,  especialmente  feitos  de  ortigas  sil- 
vestres, preparam  gamellas,  e  conduzem  estes  géneros  para  a  cidade  nas 
suas  canoas!  Toem  por  capital  a  residência  do  commandante,  e  por  ci- 
dade de  primeira  ordem  a  praia  denominada  Ribeira  Peixe,  mais  popu- 
losa, mais  frequentada  e  mais  querida. 

Desejam  cultivar  o  cacau  e  o  café,  mas  ignoram  o  que  devem  fazer, 
assim  como  não  conhecem  a  utilidade  de  muitas  arvores.  As  tábuas  ob- 
téem  diminuto  preço  nos  mercados;  servem  apenas  para  cercados  ou 
ubás,  para  cubatas  e  para  outras  obras  ordinárias. 

Vivem  quasi  abandonados,  soffrem  grandes  privações  nas  suas  doen- 
ças, e  medicam-se  com  tisanas  feitas  de  vegetaes  que  alguns  d'elles  co- 
nhecem. Quasi  todos  téem  ulceras  nas  pernas,  rebeldes  ao  tratamento,  e 
muitos  são  victímas  d*esta  enfermidade. 

Ali  não  ha  regedor,  ha  apenas  o  parocho  e  um  commandante  indí- 
gena, que  tem  um  immediato  e  differentes  alferes  nomeados  pelo  go- 
verno da  província ! 


412 

O  terreno  foi  examinado  e  benzido,  derrubou-se  o  arvoredo,  e  de  nada 
serviu  este  trabalho.  Nâo  ha  ainda  cemitério  ^ 

£  uma  vilia  pobríssima  e  abandonada,  onde  não  ha  casa  de  escola, 
onde  a  casa  da  policia  é  um  telheiro  sem  forma,  sem  ordem  e  sem  classi- 
ficaçSio  possivel,  e  onde,  finalmente,  o  templo  não  revela  a  cuidadosa  at- 
tenção  dos  fieis,  que  não  se  empenham  em  o  conservar  bem  limpo,  caiado 
e  singelamente  adornado. 

  situação  da  vilIa  não  é  boa,  porque  está  ao  pé  de  um  morro  saliente, 
de  forma  oval  e  muito  regular  denominado  Monquinqui.  Tem  uma  porção 
de  arvoredo  lançado  de  N.  a  S.,  o  que  lhe  dá  um  aspecto  característico, 
porque  o  resto  da  superficie  não  tem  uma  única  arvore. 

A  povoação  está  cercada  de  copadissímo  arvoredo,  tendo  por  um  lado 
o  morro  a  que  nos  referimos,  e  pelo  outro  o  principio  da  falda  da  serra 
oriental  da  ilha.  Doesta  povoação  disse,  em  i844,  Lopes  de  Lima: 

«Légua  e  meia  ao  NO.  da  cidade  (7,5  kilometros)  se  estende  em  uma 
planura  rodeada  de  outeiros  de  altura  mediana  e  aspecto  risonho,  a  villa 
de  Nossa  Senhora  de  Guadalupe. » 

É  uma  villa  apenas  no  nome,  escrevemos  nós  ém  1869.  As  casas  da 
villa  de  Guadalupe,  afogadas,  metlidas  no  meio  de  espesso  arvoredo,  não 
se  avistam  de  longe.  A  estrada  da  cidade  para  aquella  villa  é  a  da  villa 
de  Santo  Amaro.  Não  está  em  peior  estado  do  que  a  da  Magdalena. 

Na  occasião  em  que  visitámos  a  villa  de  Guadalupe,  observámos  que 
ficava  a  iãO  metros  acima  do  nivel  do  mar.  Ha  no  meio  de  um  largo  um 
grande  tamarindeiro,  sob  o  qual  descansámos  por  algumas  horas.  Fica- 
va-nos  ao  N.  o  caminho  da  praia  das  Conchas,  a  0.  via-se  espesso  mato 
e  a  EViSE-NOViO.  levanlava-se  o  morro  Monquinqui. 

Villa  de  Sanlo  Amaro.  —  Parece  que  o  logar  denominado  Santo  Amaro 
devia  prosperar  alguma  cousa  nos  últimos  annos.  Tem  a  vantagem  de  fi- 
car na  estrada  que  põe  a  cidade  em  communicação  com  a  outra  villa  e 
importantes  fazendas,  mas  de  nada  lhe  tem  servido,  porque,  de  1869 
para  cá,  somente  lemos  a  dizer  que  tudo  está  do  mesmo  modo  em  que 
a  encontramos  pela  primeira  vez. 

Villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves. — Está  coUocada  no  principio  da 
contra  costa,  ou,  como  se  diz  em  geral,  atrás  da  ilha.  Não  tem  estradas, 
caminhos  ou  atalhos  por  onde  se  possa  vir  á  cidade.  Permanece  no  mesmo 
estado  em  que  eslava  ha  muitos  annos  e  não  tem  importância  alguma^. 


1  Não  nos  consta  qac  se  tenham  construído  os  cemitérios  das  villas  cujos  ter- 
renos foram  escolhidos  para  esse  fím. 

2  Pernoitámos  ali  em  janeiro  de  1873.  Dormimos  em  cima  de  umas  toscas  tá- 
buas, e  nâo  foi  possivel  obter  alimentos.  Nunca  vimos  nada  mais  desgraçado. 


413 

Villa  de  Santa  Cruz  dos  Angolares. — A  respeito  desla  villa  diremos 
qaasí  o  mesmo  que  a  respeito  da  villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves.  Tudo 
respira  pobreza,  miséria  e  ignorância!  Está  por  assim  dizer  abandonada. 
As  cubatas  ou  as  casas  mostram,  na  máxima  parte,  completa  ruina,  e  o 
templo  é  pobríssimo.  Arvores,  hervas  e  arbustos  approximam-se  da  ci- 
dade a  passos  agigantados,  e  parece  apromptarem-se  para  asphyxiar  a 
villa  D'um  amplexo  estreitamente  dado. 

Aquelles  infelizes  povos  vivem  da  pesca  e  do  vinho  de  palma.  Arran- 
jam algumas  tábuas,  fios  para  redes,  especialmente  feitos  de  ortigas  sil- 
vestres, preparam  gamellas,  e  conduzem  estes  géneros  para  a  cidade  nas 
suas  canoas!  Toem  por  capital  a  residência  do  commandante,  e  por  ci- 
dade de  primeira  ordem  a  praia  denominada  Ribeira  Peixe,  mais  popu- 
losa, mais  frequentada  e  mais  querida. 

Desejam  cultivar  o  cacau  e  o  café,  mas  ignoram  o  que  devem  fazer, 
assim  como  nao  conhecem  a  utilidade  de  muitas  arvores.  As  tábuas  ob- 
téem  diminuto  preço  nos  mercados;  servem  apenas  para  cercados  ou 
ubás,  para  cubatas  e  para  outras  obras  ordinárias. 

Vivem  quasí  abandonados,  soffrem  grandes  privações  nas  suas  doen- 
ças, e  medicam-se  com  tisanas  feitas  de  vegetaes  que  alguns  d'elles  co- 
nhecem. Quasí  todos  téem  ulceras  nas  pernas,  rebeldes  ao  tratamento,  e 
muitos  s9o  victimas  d'esta  enfermidade. 

Ali  n3o  ha  regedor,  ha  apenas  o  parocho  e  um  commandante  indi- 
gena,  que  tem  um  immediato  e  differentes  alferes  nomeados  pelo  go- 
verno da  província ! 


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II 


CAWTULO  V 
Rogas  e  fiusendas  agrioolaa 


rrjito  áa  cNsenatoni.  mi  ihns  4e  Mil  i  IS7!,  iviMas  ptr  §nif«s  rfplKiiM»  eiln 
fMIMN  I  SMNjIN  rm,  IM^O  i  f :NOS*M  ms  t  il^M  i  IN^OH  ivk- 
loipyit  fa  nos  m  furtte  eibleiln  u  Aa  4e  S.  TkMié.  fivi4i4as  f«r  fripts  CMiptfhfiè* 

rtíi,  lahr  ^  iai  afMri^  fir  tccnât  h  rcfírit  u  c«iKmttría.-<laffa  4as  prtpíeMMfc* 
fMn  c  Rspcdifts  nitres  Mt  a  an  fiila^ât  alé  it  aiM  it  iSIt.— btalkliras  im  wm^ 
tn  ftÊÊ/âÍÊits  èt  raras  •■  íutUa  ms  aitas  4e  iS6)  e  iS72,  — QiaiiiMfs  éi  ciii  t  caui 
prefaiáas  bs  rtcas  akaha  faifiaias,  eipariato  fúu  partis  ila  íika  ^  S.  Tkuir,  m  aiMi 
ét  iS(5  I  fS72.— Kipiriaçâi  ét  rafe  ilas  ctluias  akixi  faifiidas  ms  ams  U  ISII  • 
iS7(.-lai|nrái,  pir  frejioias,  te  n^as  perteiceiles  ai  esla^i.  —  Posi{ii  e  iriMtajii  4ii 
riras  pcfteicfiles  u  estadi,  cia  desigia^^âo  das  qiaitias  pir  qie  eslâi  arreidadas. 


Resuo  das  roças  oa  faiendas  eiistentea  na  ilha  de  S.  Thômè»  classificadas  per 
frefieilas,  segunda  o  registo  da  consertatoria»  nos  annos  do  1867  a  1872, 
difMidas  por  gmpos  ctnpreliendidoè  entro  1:000f$000  a  80:000)$000  rèls, 
«NMOOO  a  1:000M00  r«ís  e  lOMOO  a  iOlMIOOO  réis. 


Frcgtieiias 


De 

A 

80:000^9000 

Tékê 


Saulisiiina  Trindade 

Magdalena 

Nossa  Senhora  da  Graça . . . . 

Saulo  Amaro 

Nossa  Senhora  da  Conceição 

Sant^Anna 

Nossa  Senhora  de  Guadalupe 
Santa  Cruz  dos  Angolares. . . 
Nossa  Senhora  das  Neves  . . 


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DegÍ|yHl«  du  refu  m  fiieidis  eiistoitcs  ■■  illu  de  S.  Tkoaè,  dÍTÍdidas  p«r 
Srapw  foaprebeididss  fotre  IKWO^iWOO  ■  8O:O0OH0O  ríis.  100W00  ■ 
1MWM00  ríiiB  e  lOMOO  ■  100M00  rtiK,  nlw  ^le  M  irkilndt  pv  KraBiia 
dtrcfisU  ■■  censenaloria- 

De  l-.OOO^OO  a  80:0004000  i41b 


Agu-fié. 

BellaVisU 

StnUrem  ohViI-FIot.... 

Caitello  do  Sul  (dominio 
de  Agua-Iié) 

Terras  da  roça  Monte  Café 

Alto  Douro  (domínio  de 
A|iu-Ii6) 

Andrt  Velho 

S.  Nicolau 

TtÈoçfieê  da  roc«  Bo«  En- 
trada   

PlatóCaK 

Santa  llaif  árida 

Terras  da  fazenda  l\io  de 
Oiro 

A II  ema  [il  ia  e  Obó  do  Hcio 

Huculu 

Santa  Lniia 

Ternu  na  roça  Meaquita.. 

Chio  Prelo 

Potó 

Saadadc 

Agua  Panda  

Sacavém 

EitreUa 

Boa  Vista  ou  Qoínglaio.- . 

Prac(Oca  da  roça  Maianfo 

Beuifica 

Rodia 


SO:00OJHnO 
3O:00OM0O 
50:000  WOO 

(ã:0OOW00 
S9:83&M00 

36:O0O»O0O 
»:9QO«000 
Í4:(»0«000 

I9:370«000 
1S:OOOMOO 
18:000«000 

17:3S0i000 
16:000»000 
luiOOOfUOO 
tS.OOOMOO 
16:OOOM0U 
12:600X000 
11:000^000 
IO:OOOSO0O 
10:OOOMOO 
10:0004000 
9:0004000 
8:4004000 
8:0004000 
8:0004000 
8:0004000 


Berallca 

Moka  oatr'ora  Barro  Branco 

Atleminba 

Potó  Hei 

Pedroina 

Mesquita 

Campo 

Terras  em  Mouta 

Praia  das  Conchas  . . . 
i>choei  ra  (dom  in  i  o  de  Agoa- 

lié) 

Uheu  das  Rolas 

Cangi... 

logo-logo  (dominio  deAgva- 

IhJ) 

Mestre  Anloiiiu 

Boa  Nova 

Margarida  Manoel 

Quingai 

Cassumi 

FraccSo  da  Ro^a  Mesqnila. 

Cabeça 

Canga 

Lentoe 

GullD 

Fernando  Dias 

Blubtu 

Bóca-Búca 

CangA 

Agua  Palito 


8:0004000 
8:0004000 
7:5004000 
7:3964000 
7:0004000 
6:0004000 
5:8304000 
5:2954300 
5:S004000 

5:0004000 
5:0004000 
5KI004000 

4:5004000 
4:3004000 
4:1004000 
4:0004000 
3:7504000 
3:5004000 
3:3754000 
3:1644S0O 
3:4054000 
3:0004000 
:0004000 
3:0004000 
3:0004000 
3:0004000 
3:0004000 
3:0004000 


Ds«gMtao                     1        V.lor 

DwiKIUIAn 

V„o, 

3:000W00 
3:000<000 
3:5OO«OO0 
S:100íOOO 

1:000*000 

Í:O00M00 
3:000^100 

umim 

1:5002000 
!:fiO0íO0O 
1:500^000 
ItSOOJOOO 
1:237*500 

Teimem  Agua  Junta 

1:300*000 
1:300*000 
1:157*300 
I:li8*400 
1:080*000 
iiOOOlOOO 
1:000*000 
1:000*000 
1:000*000 
1:000*000 
1:000*000 
1:000*000 

1:000*000 
1:000*000 

Angra  de  S.  João  do  Grande 
Terras  na  roça  Mesquita. . . 

Nova  Olinda  ou  Picão  (do- 
mínio de  Agua-hé) 

Terras  na  freguesia  da  Uag- 

Cassami  e  Barro  Branco  . . 
Terras  na  roça  OWlo 

Terras  em  Agua  Funda  . . . 

Terrenonosiliode  Bdca-  Boca 

Terras  na  fregueria  da  Trin- 

Ttrras  em  Cas»uniá 

Terreno  em  AMemanhi 

j>e  1002000  a  1:000^000  rãls 

Df»ignat*o 

Vilor 

DnifSiiç*! 

v.,„ 

933*U)0 

DOIllOOO 
900*000 
900*000 
870*000 
800*000 
800*000 
8004000 
800*000 
800*000 

7SO*000 
750S000 

720*000 

679*000 
6W*000 
600*000 
600*000 
600*000 
600*000 

600*000 
600*000 
600*000 
600*000 
600*000 
600*000 

1  300*000 
1  S00*000 

Praia  Grande  (domínio  de 

Gnlbu  (no  logar  de) 

Terras  em  Santa  Lniia 

Quinta  da  Grafa  (melade).. 
Terras  em  Macarnbrarl 

Margarida  Hannel 

Terras  em  Margarida  Manuel 
S.  João  da  Vargem  do  PicSo 
Terra  na  roça  Labala 

T«ra  na  íregueiia  da  Trin- 

Terra  no  logar  da  Lemos . . 

Santo   António  de   El-Hei 
(dominio  de  Agua-lié) . . 

Fracção  da  ro-.a  Quibanzá.. 

Terra  na  roça  Obó  Verme- 
ItK) 

Frac.;áodaroçaOtfllo.... 
Fracção  da  roça.  Diogo  Vai 
Terra  ■>oi  Diogo  Vai  e  Praia 

«elao 

Terra  no  aitio  .àe  Bom  Bom 

4IS 


r 


Detignaçio 


Gi^ 

Gaofá 

Tém  em  Madre  de  Deus  . . 

Terra  em  Babau 

Tem  ao  titio  de  VaUáo .  •  • 

Terra  na  roça  Cró-Cró  .... 

Ulba 

B^BÒ 

MaiaBço 

Piedade 

Roça  na  freguezia  da  Trin- 
dade   

Baião 

Terra  na  íregaezia  da  Mag- 
dalena 

Reboque 

Terra  no  sitio  de  Palha  .  • . 

Terra  no  sitio  de  Agua  Ee- 
corregar 

Babo 

Terras  em  Santa  Coelho. . . 

Fracção  da  roça  Ob^  Verme- 
lho.  

Bd-Iíequente 

Terra  no  sitio  de  Agua  Jontá 

Boa  Esperança  em  Agiu 
Porca 

Ubba  Gocundia 

Menlembu 

Melhorada 

Terras  no  sítio  da  Melho- 
rada   

Obd  Vermelho 

Terras  no  sitio  da  Madre  de 
i/eu9  •• ••••.•••• 

Cassumá 

Terra  no  sitio  de  Agua 
CreoQla ,... 


fiOOfOOO 
SOO^OOD 
500«000 
500^000 
4804000 
450^000 
450^000 
450^000 
4501000 
4201000 

400i«;000 
4004000 

4004000 
4004000 
4004000 

4004000 
4004000 
4004000 

4004000 
3964000 
3784000 

3754000 
37S4000 
3504000 
3304000 

3104000 
3004000 

3004000 
3004000 

3004000 


Ubba  Velha 

Terra  no  sitio  de  Fugi  FaUa 

Terra  no  sitio  de  António 
Soares 

Terras  no  sitio  do  Potô  Cor- 
reia  

Ubba  Cocundia 

Terral  em  Allemanha 

PracçSo  da  roça  Agna  Es- 
corregar  • 

Pracçfto  da  roça  Maianço . . 

Carreia « 

Terra  em  Agua  Machado  . . 

Terra  em  Allemanha  Baixa 

Terra  na  freguezia  da  Trin- 
dade   

Quingue  ou  Cassumé 

Quingue 

Terra  em  Ocá  Gentil 

Polo 

Mâo  Três  - 

Agua  Porca 

Obó  Vermelho 

Roça  em  Datepá  . .  • 

Laranjeira 

Terra  em  António  doaree.  • 

Terra  no  sitio  da  Cnu 
Grande 

Terra  da  roça  Oqoe  d'EI-Rei 

GttUn  em  Manuel  Jorge  . . . 

Mathens  Angolar 

Piedade 

Terra  no  sitio  de  Chagra  . . 

Terras  ao  íando  e  á  firenle 
da  roça  Ubba  Metade . . . 

Agua  Junta 

Terra  no  sitio  de  Palha .... 

Molemba 


3004000 
3004000 

3004000 

3004000 
3004000 
3004000 

3004000 
3004000 
3004000 
3004000 
2804000 

2704000 
2704000 
2704000 
2554000 
2504000 
2454000 
2404000 
2304000 
1254000 
2154000 
1254000 

1254000 

1254000 
120400D 
1164000 
1134500 
1IO4000 

10O400O 
2004000 
2004000 
1004000 


4ia 


Olólo 

Totm  no  âtio  de  Oqae  cl'EI- 
Rti 

Sinte  Lum 

Cerca  de  Santo  António.  • . 

PM« 

Terra  no  9itk>  de  Gaixio 
Grande 

Piraeçio  da  roça  Folha  Feda 

Fngi-Falla 

Terra  no  sitio  de  Desejada. 

Rocinha  Colla 

Pau  Branco 

Terra  no  logar  de  Rodia. . . 

Vermelha 

Obô  Vermelho 

Colla  Agua 

Terra  no  sitio  de  Obô  Ver- 
melho   

Terra  no  sitio  de  Bobó. .  • . 

Terra  no  sitio  de  Obó  Ver- 
melho  

Terra  no  sitio  de  Bóca- 
B<5ca 

Terra  no  sitio  de  Canga . . . 

Matheus  Angolar  de  Baixo. 


Valor 

lOOMK) 

lOOMOO 
lOOMOO 
MWOOO 
200M00 

sooimo 

MWOOO 
iâO^OQO 
166^500 
1601000 
Í60ji000 
160^000 
1501000 
150^000 
150^000 

150^000 
150i^000 

150^000 

150^000 
1504000 
147ij(600 


■P 


Oetignaçio 


MSoTres 

Tam  no  sitio  de  Tom 
Dí» 

Tenra  no  logar  de  Obó  Ma- 
obado 

Tam  DO  aitio  de  Maianço.. 

António  Soam 

Terra  no  sitio  de  Monta . . . 

Ttrra  no  sitio  de  Saato 
Amaro •••••• 

Terra  no  sitio  de  Obó  Ma- 
chado   

Bobó 

Roça  no  sitio  do  Cruzeiro. . 

Cassumá 

Terras  no  sitio  de  Potó .... 

Ototô 

Terra  no  sitio  de  Potó 

Terra  no  logar  de  Potó. . . . 

Oque  d'Agó 

Piedade 

Batepá 

Cruzeiro 

Fracção  da  roça  Maianço.. . 

Terra  no  sitio  de  Manuel 
Jorge 


Valor 

1441000 
íWUtí» 

ISdMOO 

ISOMOO 

isoion 

iiOjOOO 

1204000 
1Í04000 
1204000 
11M500 
1124500 
1124500 
1124500 
1124500 
1084000 
1004000 
1004000 
1004000 
1004000 

1004000 


De  104000  a  1004000  róis 


Designação 


Mâo  Três 

Oque  d'Agó 

Terra  no  sitio  de  Agua  Porca 

Terra    da    lova   Margarida 

Malé 


Valor 


994000 
904000 
904000 

874500 


Betignação 


MonfAlvâto 

Terra  no  sítio  da  Capella.. . 
Terra   no    sitio    da    Agua 

Porca 

Terra  no  sitio  do  Vermelho 


Valor 

814000 
804000 

804000 
704000 


421 


lappa  ias  prtpriedaiM  regisUdas  e  respeetiTis  falares 
desda  a  sia  ro4a$ia  até  aa  aaia  ia  1872 


Xatirtia  áa*  propriedades 

Prédios  rusUcos 

Plredios  urtumos 

Moveis 

Diversas 


Livres 

Hypotb». 
eadat 

199 
37 

4 

131 

46 

3 

2 

240 

182 

ToUl 


330 

83 

3 

6 


422 


Valoras 


os 


78O:O49M03 

85:5744840 

5:927^236 

450^000 


872:001M79 


Estatística  das  Balares  passBÍ^^f^  '^  ^H^^  •■  iueidas 

■as  aoas  de  iSN  e  i872 


Europeus.. 
Asiáticos.. 
Africanos.. 
Brazileiros 
Ignorados . 


Desagnaçáo 


iS6e 


28 

33 
3 


64 


1871 


36 

1 


4 

16 


183 


420 


Designação 


Terra  no  sitío  de  Cassumá  e 
Barro  Branco 

Boa  Morte 

Bôea-Bóca 

LeoMM..... 

Santa  Cruz 

Tenra  no  logar  de  Moleroba 

Rocinha  na  freguezía  de 
Santo  Amaro 


Valor 


701^000 
66M00 
60^000 
6OIÍ000 
56^290 
53^000 

48M00 


DesigDaçSo 


Terras  próximas  á  Viila  de 
Santo  Amaro 

Terra  no  sitio  da  Cachoeira. 

Terra  no  sitio  de  Prevas. . . 

Terra  no  sitio  da  Madre  de 
Deus 

Terra  no  sitio  de  Ohba  Co- 
cundia 

Terras  no  sitio  de  Torres  Dias 


Valor 


4OM00 
404000 
404000 

354000 

194500 
194000 


I 


421 


Happa  das  prapriedades  refistadas  t  respecÚTOs  ? alores 
desde  a  aia  fudaçio  ali  aa  aua  de  1872 


Natoreu  das  propriedades 

Prédios  rústicos 

Prédios  urbanos 

Moveis 

Diversas 


Livrei 

Hypotbe- 
eadat 

Total 

199 

131 

330 

37 

46 

83 

— 

3 

3 

4 

± 

6 

240 

182 

422 

Valores 
dotpndios 

legindo 
os  regiftot 


780:049M03 

85:5744840 

5:927|;236 

450^000 


872:00U479 


Estatística  dos  naiores  passnidores  de  rafas  oa  faieadas 

nos  annos  de  i8S9  e  i872 


Designaç&o 

iSM 

1871 

EuroDMis • • • 

28 

33 
3 

36 
1 

96 
4 

16 

Asiáticos ••• • 

Africanos • • 

Brazileiros 

Iff norados 

64 

153 

4t2 


VISaBBBBBn 


gp  9  s  > 


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BipirtafM  4e  uft  iu  Htnin  ataln  éMÍfn4aa 
MS  auH  dt  JM»  •  Wt 


S.  TlioDiâ 

Ilha  do  Príncipe.. 

Louida , 

Benguella 

Aoibrit 

Cabo  Verde 

Nova  Goa 

Hoçambiqoe .  ... 


1081:712,659  167 
182,000    - 
1,1 8.1:349 ,927     24 
93,000    - 
194:754,180 
191:106,907 
4.5,000 


3.631:443,673  260]  3í5 


í 

1.336:899,618 

_ 

1:173,000 

- 

l.222;33«,367 

- 

409,000 

_ 

6*7:062,976 

- 

34:928,000 

30:132 

57,187 

366,062 

3.433:194,210 

30:182 

DesigBi{io,  p«r  fregoeiias,  das  rofas  pertenECates  u  ettido 


Santíssima  Trindade 

NowaSeaborada  Graça 

Nooa  Senhora  de  Guadelupe 

Santo  Amaro 

lUfdaleoa 

SanCAnna 

Nona  Senhora  da  Coneaiçio 

Ignoram-se  as  fr^neiias 


JV.  B.  N3o  w  mentíoDa  uma  roça  por  se  ignorarem  as  circumstancias  em  que 
uacha. 


Positio  t  orienucão  das  roças  ptrteiiceiílea  ao  estado,  um  dtaisiafit 

dus  quaolias  por  que  estão  arrendadas 

rr«u«úi 

iss- 

PducIo  e  oiitwae*" 

dtftab» 

* 
■.t 

rfloo 

UW89 

334110 
3U6S9 

atum 

Frente.- 1:»!-.»  de«ie  o 

6 

t8<883 

antigo  Pau  de  Sabão  (ao 

' 

Mim 

NO. — Limites  lateraes 

9 

33MT0  1 

Fundo.— Agoa  Grande  i  es- 

10 

3*'>»flOO 

querda  da  estrada 

11 
13 
« 

3ll(>8a 
35449t) 
33(930 
33<»0 

Santíssima 
Ttindad». . 

António  Vaa 
(34,1.1».) 

17 

UiTSO 
20UOO 

547(809 

I7M0O 

18 

361960 

Frente.  — 1:149*,9  desde  o 
antigo  Paa  de  Satilo  (es- 
tremo), n.'  17  ao  Untoé 

19 
20 
31 
22 

SMIIS 
S0«980 
4S(410 

38(615 

23 
34 

37(330 
48(060 

SE.— Limites  Uteraea 

2S 

41(400 

i 

36 

5J(9;0 

^ 

27 

41(040 

7 

470(090  1 

425 


itissimâ 
rindade.. 


Fodçio  •  orintafio 


Frente. — 125  metros  desde 
o  Untoé  D.*  28  até  ao  Pau 
de  Sat)So  (extremo) .... 

Pondo. — Manoel  Qoaresma 


:l 


NO. — Gleba  n.*  25  e  seo  pro- 
longamento   

SE. — Agoa  Lemos. 

SO.— Gleba  n.*  26 

NE.- Gleba  n.*  30. 

NO. — Gleba  n.*  24  e  seo  pro- 
longamento   

SE.— Agoa  Lemos 

SO.— Gleba  n.*  29 

NE.— Gleba  n.*  31 


I 


I 


NO. — Gleba  n.*  23  e  seo  pro- 
I    longamento .•.. 

SO.— Gleba  n.*  30 

NE.--Gleba  n.«  32 

NO.— Gleba  n.*  22  e  seo  pro- 
longamento   

SE. — Agoa  Lemos 

SO.— Gleba  n.^  3i 

NE.— Gleba  n.«  33 

NO. — Gleba  n.*  21  e  seo  pro- 
longamento.  

SE. — Agoa  Lemos 

SO.— Gleba  n.*  32 

NE.— Gleba  n.»  34 

NO.— Gleba  n.«  20  e  seo  pro 
longamento 

SE.— Agoa  Lemos , 

SO.— Gleba  n.»  33 , 

NE.— Roçade  Leandro  Frotta 

Rendmento  toíal  da  roça 


I 


dtgMMt 


28 


29 


30 


31 


32 


33 


34 


36^190 


30|;450 


21fM 


27«450 


30|;605 


40M70 


45|3<M) 


1:261M24 


Paslfis  e  •ricDtafie  das  rofis  perltactoleg  lo  esUdo,  c«m  desígnatio 
das  quaDiias  por  que  eslio  arrendadas 


Santissima 
Trindade. . 


Puttrlo  r  ortnila(Ai> 


Frente.  — l:S6l-,9  desde 
■Dligo  Pao  de  Sabão  (ao 

extremo) 

—Limites  tateraes . . 

Fnndo,— Agua  Grande  á 
querda  da  estrada. . . . 


António  Vaz  J 
(34  glehAsy 


Frente.  — !;l49-,9  desde  n 
antigo  Pao  de  SabSo  (es- 
tremo), n.*  17  ao  Unloé 


'SE.~ Limites  lateraes.. 


27«600 
»«8S6 

33X120 

3S«639 
41M00 
W4885 
34IQ20 
331060 
3ÍI670 
3li«000 
3IX(i80 
35^490 
33^930 
33/»0 
48f;20 
20i400 


5474809 


274000 
361960 
SWK 
501980 
42A4IO 
36X615 
37XS30 
46X060 
41«400 
52X970 
44X040 
470X090 


42S 


Fffgoeiias 


Detipiftçio 
•  dl?  i»fto 


Pofiçlo  e  orieDtaçfto 


Frente.— 125  metros  desde 
o  Untoé  n.«  28  ató  ao  Pau 
de  Sal)ão  (extremo) 

FuDdo.— Manuel  Quaresma. 

NO.— Gleba  d.«  25  e  seu  pro- 
longamento   

SE. — Agua  Lemos. 

SO.— Gleba  n.«  26 

NE.- Gleba  n.«  30. 

NO. — Gleba  n.«  24  e  seu  pro- 
longamento • 

SE.— Agua  Lemos 

SO.— Gleba  n.*  29 

NE.— Gleba  n.*  31 

I  NO.— Gldba  n.*  23  e  seu  pro- 


I 


I 


I 


Santíssima 
Trindade.. 


(longamento. 
SE . 


^XU"    SE.-A«-í^"»~ 


SO.— Gleba  n.»  30 , 

NE.— Gleba  n.»  32 

NO.— Gleba  n.«  22  e  seu  pro 

longamento 

SE. — ^Agua  Lemos , 

SO.— Gleba  n.»  31 

NE.— Gleba  n.«  33 , 

NO. — Gleba  n.*  21  e  seu  pro 

longamento 

SE. — ^Agua  Lemos 

SO.— Gleba  n.*  32 

NE.— Gleba  n.»  34 

NO.— Gleba  n.»  20  e  seu  pro 

longamento 

SE.— Agua  Lemos 

SO.— Gleba  n.«  33 

NE.— Roçade  Leandro  Frotta 

RendimêtUo  total  da  roça 


Arrendamentos  annoaes 


Numero 
de  glebas 


28 


29 


30 


31 


32 


33 


34 


Importância 


36|;150 


30^450 


32|;940 


27«450 


30|;605 


40M70 


45|3<M) 


1:261|;324 


■^■wvanF 


iR55S9^S?BnBBB 


SHBBBa 


Fr<tn>^itt<^ 


•  divisão 


Pwfio  •  «ienUçio 


9=9 


AmodaiiiflDtot 


Roça  Bailem 


Frente.— Estrada   que   dei 
A|aa  Greotila  vae  a  Monte] 

(28flebu))    Café 

Ifiiora^-M  a  arta  •  nimos.. 


Santíssima 
Trindadei . 


Roça     Agua 


RenéimmUo  ioUd  da  roça 

Frente.— Estrada  qne  d'e8te| 
sitio  vae  á  tilla  da  Trín- 

Grande! (21<    dade 

glebas) ....  /  Ignoram-se  as  demarcações,] 

área  e  rumos 


Nimflro 
deglebu 


1 

3 

4 

5 

6 

7 

8 

9 

10 

ii 

i2 

13 

14 

15 

i6 

i7 

18 

19 

20 

21 

22 

23 

24 

25 

26 

27 

28 


1 

2 
3 
4 
5 
6 


Importância 


2i^90 
10^070 
31030 
2^705 
6M60 
5^800 
5iS000 
3^825 
4|;180 
3^075 
3«)75 
3|;520 
7|;925 
3^600 
4|;020 
6^965 
84310 
5^765 
4|;085 
44565 
94510 
194130 
14515 
24700 
34240 
64045 
64045 
164950 

1634300 


54825 
54510 
114400 
24460 
74725 
14530 


344450 


487 


FrQfKanias 


Detigiia(in 
f  divitâo 


Pofiffio  e  orieotaçJUi 


AiTMidanMntm 


Nomero 
deglebu 


Traruporte. . . .  / 


/  Roça     Agua  1 


Saotissima 
Trindade.. 


glebas) . . . 


Matheiís  An- 
goli»«  (8 
glebis). . . . 


área  e  ramos. 


Rendimento  total  da  roça 


Ignoram-se  as  demarcações, 
área  e  rumos 


Roça  Gftpellas 


Rendimento  total  da  roça 
Ignoram-se  as  demarcações. 


f    área  e  rumos 


Obudo   Coe- 
lho'  


I 


Bóca-Bôcai.. 


Rendimento  total  da  roça 

Ignoram-se  as  demarcações, 
área  e  rumos 


{ 

M  a  t  h  e  u  s  ( Ignoram-se  as  demarcações,) 
/     Ignei>....|    área  e  rumos ( 


7 
8 
9 
10 
ii 
12 
13 
14 
19 
16 
17 
18 
19 
20 
21 

1 
2 

3 
4 
5 
6 

7 
8 


1 
2 


Importância 


34i^450 

10M20 
6^000 
7iS740 
84010 

20^10 
U870 
54040 

274500  I 
24820 
44080 
94100 
24445 
64{S55 
64480 
24560 


1544980 


1424800 

304800 

224600 

74640 

54100 

604745 

764820  I 

1244520 


4714025 


54130 
34000 


84130 


814000 


304100 


428 


1                     ! 

ArrendameDtoi  aonuaes 

FregueiiaH 

edinsSo 

Policio  e  oríenUção 

NoB6ro 
de  glebas 

Importância 

1 

3M80 

1 

i 

2 

94830 

f  Cruzeiro    da 
Melhorada  1 
(7  glebas).. 

1 

Ignoram -se  as  demarcações, 
área  e  rumos 

3 

4 
5 

1U295 
34825 
34825 

%WS  ^^w      ^      m  \mmMm^^^  9     •■••*••■•• 

Nossa  Senho- 
ra da  Gra-i 

Rendimento  tokU  da  roça 

Ignoram-se  as  demarcações, 
*    área  e  rumos 

6 
7 

i 

34810 
94930 

ra 

Alba  Qnim . . 

;  Melhorada 2..; 

• 

464365 

304040 

Ignoram-se  as  demarcações, 

254000 

«tca  c  rumos ••••••••••• 

94000 

f 

2 

44500 

1 

3 

-4- 

1 

\ 

4 

94400 

5 

34040 

1 

6 

24415 

7 

54000 

8 

34615 

9 
10 

304015 
284065 

Nossa  Senho- 
ra de  Gua- 

Roça      Crui 
*     Grande *. . . 

1  Ignoram-se  as  demarcações,^ 
1    área  e  rumos ' 

ii 
12 
13 

34030 
44200 
24400 

delupe ) 

%^m    ^i*»^        ^i"        S   WWV^^*^    •■■•w^W      VSv' 

14 

14560 

15 

14575 

1 

16 
17 
18 
19 

24670 

34015 

34015 

204000 

1 

20 

14680 

21 

34315 

1 

7  A 
\     7B 

34420 

} 

34450 

1484380 

439 


Fr^gnetias 


Besi^naçio 
•  divisSo 


Roça     Cruz 


Posição  6  orienlaçlo 


TraiufHírte , , . , 


Arrendamentos  annuaes 


Namero 
de  glebas 


!  Ignoram-se  as  demarcações, 


Grande.... (    área  e  rumos. 

f 


Nossa  Senho-I 
ra  de  Gua-j 
delupe. . . . 


Rendimento  total  da  roça 

Obó     Ango- 1  Ignoram-se  as  demarcações, 

lar^ I    área  e  rumos 

Ignoram-se  as  demarcações,) 


16  A 
16  B 
19  A 

Direita 
Esquerda 
Esquerda 


Santo  Amaro 


Maianço 


área  e  rumos i 


.    «    ,  Ignoram-se  as  demarcações,} 
Larangeira2..<  > 

área  e  rumos .) 

Bobó  (roça).  1 

Frente    na  f  Ignoraín-se  as  demarcações, 

Magdalena  . ./    estrada   da  [    área  e  rumos 

Magdalena^l 

^         .*  .    .i  Ignoram-se  as  demarcações,! 
O  que  Volta*    '  ^ 

(    área  e  rumos 

SanfAnna ..)  Rocinha  San-J  Ignoram-se  as  demarcações,. 


Nossa  SenhO' 


fAnna * . . .  {    área  e  rumos. 


Msa  Senho- j  | 

ra  da  Gon.(  Qoií^nga?...  .1  í«noí>^>n-»«  «s  demarcações,) 
ceiçfio....!  I     área  e  rumos ( 


r.       ,       ..    i  Ignoram-se  as  demarcações,) 

Bom  Jesus-'..  {  \ 

f    área  e  rumos \ 

Coima     Bra-i  Ignoram-se  as  demarcações,! 

va  1 )     área  e  rumos i 

I  I 


Importância 


148M80 
2^265 
21295 
211325 
2^900 
8^200 
18^600 
18M20 


203^385 


24^00 


loJíSOO 


67M80 


M545 


22ift5l5 


6^200 


24M80 


18JÍ810 


14^270 


*  o  seu  estado  de  cultora  é  soffrivel 
'  Igoora-ae  o  sen  estado  de  coltora. 

*  0  estado  de  cultora  em  grande  atraso. 

*  Ignoram-se  os  valores  dos  arrendamentos  das  gleba»  ii.'*  3,  existem  uiua  âem  numero  de  ordem  e 
ires  com  a  dassilIcaçSo  de  I  i  direita  e  3  á  Mqaerda.  Ignort-te  também  o  mu  estado  de  cultura. 


I 

i 


CaNDICOES  PHYSIGAS  E  lORAES  DOS  BiUTANTBS 

DA  lUU  DE  S.  THOlfi 


Habitam  m  S.  TbomMses  em  paix  ftitfliuiao  é  ?i- 
fwi pttèraa  •  vifMD  tm  lut  Amam  ••  ■Umaai  ê  má 
cubtUa,  que  transportam  de  um  para  oatro  logar,  e  igno- 
ram completamente  os  beneficios  que  lhes  resoltaria  de 
paawiwi  boM  piídkis.  Ha  ena  amne^tedeit  lecnlos 
eramatsiml 

C  aa  o  grande  aogmento  de  popnlaçio  serre  pata 
ffWMr  qM  naa  paia  é  fMU  a  ataãdaailak  podaria  diw^ 
se  que  a  ilha  de  S.Thomé  nem  é  fértil  nsm  abondattle 
em  preaença  do  estadonameato  oo  da  diminaiçio  do 

(Relalorío  de  1860,  pag.  80  e  U.) 


CAPITDLOVI 
Meio  soolal  em  que  se  vive  e  populaçSo  ambulaiite 

Considerações  geraes.  —  Aiimenlajio  dos  btbitaBtes.— AKnesfaçio  popihr.-Alinéitaçlo  dos  âolla- 
dos.— AlimeDUção  dos  addidos.— Alimentício  dos  libertos.— Alimentarão  dos  empregados  pablieos, 
dgs  ujtciantes  e  los  evipii  em  geral.— lesliarM  im  kabilailes.— Dm  o  kiImmí  iis  hibilin- 
Its.— Dm  arraial  n  ilha  de  8.  IheBé.-Migiie  de§  kalkailii  de  S.  TloBé.-lrrÍBeil»  ditee- 
pregados  nas  repartisêes  fiklieas  da  ilk  de  L  ThoM,  desde  1SM  a  it2l.-leiÍMle  des  íiè- 
lidiis  fie  eatraram  ia  iliia  de  L  Themé  desde  IMI  a  l&22.-(ieienadere8  de  i,  TInmí  dnáe 
i&41alS72. 


Considerações  geraes. — As  condições  physicas  e  moraes  dos  habitantes 
de  qualquer  paiz  fornecem  sempre  os  melhores  elonentos  para  se  resol- 
verem muitas  das  questões  acerca  da  salubridade  e  insalubridade  relativa. 
É  esta  uma  verdade  de  ha  muito  reconhecida,  mas  abstemo-nos  de  dar 
grande  desenvolvimento  a  estas  considerações,  porque  desejámos  apenas 
expor  algumas  observações  com  o  fim  de  fazer  sentir  a  importanda  do 
assumpto,  e  para  que  se  façam  conhecer  aos  povos  de  que  tratámos  as 
vantagens  da  civilisação  e  do  progresso,  e  as  regras  da  agricultura  e  hy- 
giene  colonial. 


432 

Dã  pagina  97  do  relatório  de  Í8G9  transcrevemos  o  seguinte  trecho, 
pelo  qual  se  determina  o  assumpto  d*este  importante  capitulo: 

cNas  proflssões,  modo  de  vestir,  superstições,  linguagem,  etc.,  dos 
habitantes  de  um  paiz,  encontram-se  algumas  particularidades  que  podem 
classiGcar  e  distinguir  os  habitantes  de  certos  logares;  existem  na  mesma 
provincia,  ás  vezes,  modiricações  nos  usos  e  costumes  que  nSo  devem  es- 
quecer; mudam-se  com  os  tempos  as  inclinações  de  um  povo»  e  concor- 
rem muitas  vezes  para  a  sua  felicidade  e  também  para  a  sua  ndoa ;  e  por 
isso  julgámos  necessário  recorrer  ao  methodo  analytico,  não  esquecendo 
circumstancía  alguma  digna  de  se  notar.  Do  exame  de  cada  uma  das  suas 
partes  chegaremos  á  resolução  da  questão  que  pretendemos  desenvolver; 
trata-se  de  avaliar  o  estado  da  população  da  ilha  em  i  SCO.  > 

Alimeita^o  dos  habítaites  de  S.  Thomè.  —  Entre  os  habitantes  d'esta  ilha 
ha  differentes  categorias  ou  classes  de  pessoas,  que  se  alimentam  segundo 
os  meios  de  fortuna  de  que  dispõem.  As  comidas  são  preparadas  ao  gosto 
de  cada  um,  sem  que  se  possa  aflançar  existir  mais  predilecção  pela  co- 
zinha de  um  determinado  sjstema.  Em  muitas  casas  a  alimentação  é  va- 
riada, abundante  e  delicada.  O  que,  porém,  é  certo  é  que  para  se  fazerem 
algumas  considerações  sobre  este  assumpto,  é  de  absoluta  necessidade 
tratar  em  separado  da  alimentação  popular  propriamente  dita»  pois  é  essa 
que  mais  importa  conhecer,  da  dos  soldados,  dos  addidos  e  dos  libertos ; 
e  depois  de  enumerarmos  os  géneros  que  o  palz  fornece  em  geral  e  dos 
que  é  preciso  importar,  diremos  em  conclusão  algumas  palavras  acerca 
da  alimentação  dos  empregados  públicos. 

AIímbUcío  popilar. — Os  inermes  habitantes  da  ilha  de  S.  Tbmné»  lu* 
xuosa  pela  vegetação,  contemplando  o  fructo,  que  facilmente  colhem»  téem 
o  coco,  que  lhes  dá  agua  e  a  celebre  corda-agua  que  lhes  mata  a  sede,  as 
bananas,  que  são  de  fácil  acquisição,  e  a  frueta-pão  lhes  fornece  farinha  e 
amido.  Da  palmeira  extrahem  vinho,  azeite  e  manteiga;  e  alem  disto  ha 
outros  saborosos  fructos  que  a  terra  produz  em  abundância.  A  ginguba, 
o  inhame,  a  mandioca,  crystallinas  aguas,  batatas,  e  finalmente  variados 
vegetaes  com  que  se  preparam  bons  manjares,  tudo  ali  encontram  e  quasi 
sem  trabalho ! 

Abundam  os  peixes,  são  variados  os  fructos,  e  não  é  rara  a  carne  da 
tartaruga»  de  carneiro  e  de  cabrito.  As  espigas  de  milho,  que  assam  quando 
estão  verdes,  a  carne  de  porco,  e  as  sementes  da  izaquente  obtêem-se 
com  extrema  facilidade. 

Dissemos  em  1869  o  seguinte : 
« Encontrar-se-ia  em  qualquer  parte  e  sem  trabalhar  o  que  se  teria  de 


W               '  'iw^^^^^^BwHhP 

1  igfl^^^^^lB^Bvn 

'HiillíBHIIHHIIIib'  R^^^^^HH 

433 

obter  trabalhando,  se  por  acaso  os  terrenos  estivessem  lao  cultivados 
como  no  Minho.  A  abundância  dá  aqui  o  contrario  do  que  se  observa  n'ou- 
tras  partes:  a  população  estaciona  e  foge  do  trabalho;  falta-lhe um  in- 
verno,  uma  estação  rigorosa  em  que  ella  fosse  obrigada  a  guardar  alimen- 
tos, acautelando-se  da  intempérie  do  tempo  e  da  esterilidade  da  terra 
para  nao  morrer  de  fome.  Os  fructos  são  espontâneos,  mas  parece  que  a 
constante  fertilidade  produz  a  pobreza  e  o  enfraquecimento!!» 

A  alimentação  popular  n'esta  ilha  è  hygienica,  variada  e  de  facii  acqui- 
sição,  mas  assim  como  a  terra  não  exige  o  trabalho  do  homem,  assim  este 
não  tem  amor  á  terra.  Não  se  vé  um  jardim  junto  da  casa  do  homem  do 
povo,  não  se  encontra  uma  horta,  não  se  descobre  signal  algum  por  onde 
se  conheça  que  ali  se  vive  com  prazer  e  commodidade ! 

A  riqueza  do  solo,  a  esplendida  vegetaOão  e  os  agradáveis  panoramas 
não  concorrem  em  cousa  alguma  para  a  felicidade  que  se  poderia  disfru- 
ctar  gosando-se  tão  bons  dotes  da  natureza ;  não  se  vê  ali  uma  festa  de 
noivado,  nem  o  viver  feliz  das  famílias,  nem  o  cantar  alegre  da  rapariga, 
nem  o  amor  ao  trabalho  do  aflançado  mancebo;  não  se  encontra  um  vis- 
lumbre da  vida  moral.  As  famílias  não  se  ligam  para  viver  em  qualquer 
logar  com  permanência ;  os  fllhos,  os  pães,  os  irmãos,  ou  os  recemcasa- 
dos  não  perpetuam  o  nome  construindo  vivenda  ao  pé  de  um  outeiro,  nas 
margens  de  um  rio,  n'um  logar  mais  fértil  e  mais  ameno,  formando  aqui 
uma  linda  aldeia,  acolá  um  distincto  logar,  mais  alem  uma  elegante  po- 
voação, onde  os  jardins,  pomares,  as  ruas  e  as  casas  revelem  felicidade, 
gosto  e  amor  á  pátria. 

É  triste  e  melancólica  a  vista  interior  d'esta  ilha !  Onde  a  terra  produz 
com  abundância  géneros  de  toda  a  espécie,  divisa-se  um  abandono  quasí 
completo ;  onde  o  clima  favorece  culturas  variadas  e  úteis,  observa-se  o 
desleixo,  a  pouca  actividade  ou  o  desamparo;  onde  tudo  devia  respirar 
alegria,  só  a  tristeza  e  isolamento  se  descobre ;  onde  a  associação  mais  se 
precisa,  é  onde  ella  não  existe ! 

/  Não  è  somente  isto,  infelizmente,  o  que  acontece.  Se  se  não  tratar  se- 
riamente de  promover  para  esta  desditosa  ilha  a  emigração  de  indivíduos 
de  ambos  os  sexos,  vinte  annos,  unicamente,  lhes  bastarão  para  que  a  popu- 
lação  se  reduza  a  um  numero  insignificantíssimo.  A  força  da  vegetação  e  a 
fertilidade  da  terra,  que  n'outra  parte  seriam  causa  de  progressivo  au- 
gmento  dos  habitantes,  parecem  produzir  ali  o  efifeito  contrario !  Como 
se  poderá  explicar  o  nenhum  augmento  ou  decrescimento  da  população 
da  ilha  de  S.  Thomé?  As  estatísticas  demonstram  claramente  que  ella  vol- 
tará aos  annos  da  sua  descoberta  (i47i)  e  ficará  sem  uma  única  pessoa! 

A  alimentação  terá  alguma  influencia  na  producção  de  similhanle  phe- 
nomeno? 

S8 


434 

Será  a  falta  do  trabalho  a  causa  da  grande  mortalidade  e  da  pouca  fe- 
cundação ? 

A  explicação  doeste  acontecimento  não  se  dará  sem  que  as  estatísticas 
sejam  completamente  a  representação  dos  factos. 

A  alimentação  popular  é  de  certo  curiosa  sob  muitos  pontos  de  vístâ. 
Diz-se  que  ha  uma  cozinha  á  portugueza,  outra  á  franceza  e  também  A 
brazileira ;  pois  deve  dizer-se  igualmente  que  ha  uma  cozinha  original  em 
S.  Thomé. 

Os  habitantes  contentam-se  com  os  alimentos  que  menos  lhes  custam 
a  obter;  a  sardinha  defumada,  se  a  ha ;  se  não  bananas  assadas  oa  espi- 
gas de  milho  também  assadas.  Procuram  a  carne  de  tartaruga  com  prazer  e 
usam  da  pimenta  com  abundância.  O  azeite  de  palma  dá  aos  seus  manjares 
um  aspecto  desagradável,  mas  isso  para  elles  é  o  menos.  A  carne  do  terrivel 
tubarão  (guandu  ou  gandú),  a  do  peixe  agulha,  a  do  voador,  que  pescam 
em  mezes  certos,  ou  a  do  carapau  tem  grande  procura.  O  peixe  miúdo' 
preparado  em  massa  vende-se  na  praça  pelo  preço  de  20  réis»  e  o  vinho 
de  palma  é  vendido  ás  garrafas,  sendo  conduzido  em  cabaças  ou  ocos. 

Esta  gente  tem  as  suas  festas,  e  por  essa  occasião  dão  lautos  jantáfes, 
em  que  figuram  em  profusão  leitões,  gallinhas,  patos,  bananas  cozidas, 
etCé 

Os  manjares  mais  estimados  são  os  seguintes : 

Cazilu  ou  Gadulu,  que  é  feito  de  um  peixe  secco,  a  que  dão  o  nome 
de  placlá,  temperado  com  agua,  sal,  pimenta,  malagueta,  oçami,  folhas 
de  misquito  e  flor  de  micocó.  Pisam  algumas  folhas  de  ocá  tamarindo,  sl- 
máncoiá,  libu,  pedígotto,  manquequé,  rosa  bilausa  (que  é  uma  planta  co- 
nhecida em  Lisboa  pelo  nome  de  boas  noites)  e  deitam  tudo  n'uma  pa- 
nella,  juntando-lhe  quiabos.  Depois  de  bem  cozido  leva  azeite  de  palma. 

Idgiógó,  é  preparado  com  folhas  de  couve  e  de  agriões,  agua,  sal,  pi- 
menta, malaguetas,  oçami  e  pimenta  de  ôgô.  Cozem  uma  porção  de  ba- 
nanas, que  amassam  em  um  almofariz,  e  é  com  esta  espécie  de  pão,  a  que 
chamam  ougú,  que  elles  comem  o  idgiógó. 

Sanous  é  feito  de  peixe  fresco  com  agua,  sal,  pimenta,  malagueta,  li- 
mão, cebola,  alhos  e  azeite  de  palma. 

Izaquente,  é  feito  das  sementes  de  um  fructo,  que  é  maior  que  uma 
melancia,  as  quaes  são  do  tamanho  de  feijões;  fervem-se  em  agua,  lançam-se 


1  o  peixinho  é  apanhado  na  foz  dos  rios,  como  temos  dito,  e  repetimos  de  no- 
vo, a  fím  de  que  as  respectivas  auctoridades,  informando*se  d'este  facto,  tomem  as 
providencias  precisas  para  evitar  similhanle  pesca,  que  causa  de  certo  muito  pre- 
juízo pela  destruição  dos  peixinhos,  que  mais  tarde  povoariam  o  mar  da  ilba  e  se* 
riam  um  elemento  de  abundância  publica. 


435 

depois  D'uma  gamella,  onde  são  raladas  para  lhes  tirar  a  casca ;  de- 
pois deitam-se  D'uma  panella  com  a  agua  necessária,  juntando-se-lhe  peixe 
placlá  ou  outro  qualquer  que  seja  secco,  e  os  mesmos  temperos  usados 
no  caluiú  e  idgiógó.  Também  se  prepara  com  amêndoas  de  coco»  não  le- 
vando, n'este  caso,  nem  peixe,  nem  temperos.  É  uma  espécie  de  arroz 
doce. 

Doce  cangicár,  compõe-se  de  milho  verde  pisado  até  ficar  em  massa; 
envolve-se  esta  em  folhas  de  bananeira  verde,  que  se  aquecem,  mettendo 
depois  tudo  em  agua  bem  quente,  aonde  se  conserva  até  estar  bem  co- 
zido. É-lhe  depois  tirado  o  invólucro  e  posto  ao  fumeiro.  A  esta  massa 
chamam  mácumjá. 

Os  angolares  sustentam-se  somente  de  banana  assada,  peixe  ou  carne 
de  porco  assada.  Não  bebem  agua,  usam  só  do  vinho  de  palma.  £  raro 
alimentarem-se  de  comidas  cozidas,  e  no  emtanto  todos  são  fortes  e  mus- 
culosos. 

Nas  villas  ou  roças  matam,  em  dias  festivos,  porcos  e  cabras,  con- 
forme a  qpantidade  de  convivas.  Fazem  dififerentes  pratos  á  europea,  não 
faltando,  comtudo,  o  idgiógó  e  o  caluiú. 

A  izaquent^ dáse aos creados. 

Alimentação  dos  soldados. — O  que  dissemos  em  {869  acerca  da  alimen- 
tação dos  soldados  referia-se  também  á  dos  addidos,  porque  todos  se 
achavam  reunidos.  Felizmente  realisou-se  um  melhoramento  fecundo,  no- 
bre e  de  grandissima  necessidade — separaram-se  estas  classes  de  indiví- 
duos. 

Devemos  memorar  o  anno  e  o  nome  do  governador  que  deu  o  pri- 
meiro passo  para  se  realisar  um  facto,  que  á  primeira  vista  parece  insigni- 
ficante, mas  que  tem  alta  importância.  Em  1871  foi  creado  o  deposito  pe- 
nal de  addidos,  primeiro  degrau  para  se  chegar  á  colónia  que  lhes  foi 
designada  em  1869.  Ao  governador  Pedro  Carlos  de  Aguiar  Craveiro 
Lopes  se  deve  esta  feliz  mudança,  intermédio  entre  o  mal  e  o  bem. 

Custa  a  conceber  a  rasão  por  que  se  faziam  dormir  sob  o  mesmo  tecto 
os  addidos  com  o  soldado,  que  deve  ter  constantemente  diante  de  si  masi 
escola  de  moralidade  e  não  uma  cohorte  de  infelizes  condemnados  a  tra- 
balhos públicos  por  differentes  crimes ! 

Não  podiamos  deixar  de  fazer  estas  considerações  ao  dar  conta  do  fa- 
cto que  se  realisou — a  separação  de  soldados  e  de  addidos — os  quaes 
estão  agora  em  casas  próprias,  sob  a  vigilância  de  commandantes,  e  su- 
jeitos a  regulamentos  especiaes,  aindaque  o  nosso  fim  n'este  logar  é  fat- 
iar da  alimentação  dos  soldados. 

O  quadro  do  batalhão  não  dá  facultativo  a  este  corpo,  o  que  mal  se 


436 

explica,  visto  ler  uma  organisação  regular,  pelo  que  se  deprehende  da  lei 
orgânica  que  o  creou.  No  regulamento  geral  de  saúde  procurou-se  de 
alguma  fórma  remediar  este  mal,  impondo  aos  facultativos  do  quadro  de 
saúde  a  obrigação  de  desempenhar  o  serviço  medico  das  praças,  corpos 
militares  e  destacamentos  que  não  tenham  facultativos. 

Como  se  poderão  conciliar  todos  os  serviços  a  que  a  lei  *  obriga  os  fa- 
cultativos do  quadro  de  saúde  de  S.  Thomé? 

Os  soldados  devem  ter  uma  ração  diária  de  café  ou  de  vinho,  e  na 
composição  do  rancho  é  conveniente  a  hortaliça,  que  se  pôde  obter  fa- 
cilmente. 

N'esta  ilha,  onde  os  suores  abundantes  e  a  acção  do  calor  diminuem 
as  forças  e  produzem  a  anemia,  é  necessária  a  alimentação  tonica-excí- 
tante,  a  qual  o  paiz  fornecerá  variada,  boa,  barata  e  hygienica,  logoque 
haja  desejo  de  tratar  convenientemente  d'estas  cousas. 

A  alimentação  dos  soldados  continua  a  ser  deficiente,  não  variando  os 
géneros  empregados  no  rancho,  o  que  n'este  paiz  é  de  um  effeito  pouco 
salutar ;  quasi  que  se  sustentam  de  feijão,  ou  arroz  principalmente.  A  agua 
é  apanhada  no  rio  um  pouco  acima  da  foz  e  conduzida  n'uma  pipa  para  o 
quartel,  sendo  necessárias  as  pedras  de  filtrar  em  abundância,  pois  a 
diarrhea  e  a  dysenteria  têem  nas  aguas  immundas  do  rio  uma  das  causas 
principaes;  c  tanto  isto  parece  exacto,  que  as  dysenterias  estão  quasi  cir- 
cumscriptas  aos  soldados  e  addidos. 

São  estas  as  considerações  que  nos  cumpre  fazer,  e  cremos  que  se  não 
farão  esperar  por  muito  tempo  os  melhoramentos  e  reformas  necessárias 
á  conservação  da  vida  dos  soldados,  como  a  rasão  aconselha,  a  lei  exige 
e  a  bygiene  ensina. 

Alimentatão  dos  addidos.— Os  addidos  são  considerados  operários,  e 
como  taes  distribuídos  para  diversas  obras  publicas,  e  n'este  caso  são- 
Ihes  applicaveis  algumas  regras  de  hygiene  dos  pântanos,  que  extrahimos 
do  relatório  de  1869,  pagina  106,  referindo-nos  ao  livro  de  Macedo  Pinto. 

1  .^  Os  trabalhos  dos  aterros,  charcos,  pântanos  ou  paúes  devem  co- 
meçar uma  hora  depois  de  nascer  o  sol,  e  terminar  uma  hora  antes  do  oc- 
caso; 

2.^  Terão  vestidos  adequados  e  alimentação  nutritiva,  bemcondimen- 


*  Pelo  regulamento  incumbe-lhes  assistir  a  lodos  os  corpos  de  delicio,  às  visi- 
tas sanitárias  do  porto  e  diárias  do  liospit(il,  ás  inspecções  militares,  ás  sessões  da 
junta  de  saúde,  c  alem  d*isso  fazerem  o  serviço  do  batalhão,  o  dos  addidos,  o  da 
camará  municipal,  e  ainda  mais  escolher,  preparar  e  remetter  para  Lisboa  produ- 
cios  de  historia  natural,  fazer  um  relatório  annual,  etc,  ele. 


437 

tada  com  sal  e  substancias  aromáticas,  sendo  metade  das  refeições  forma- 
das por  substancias  azotadas; 

3.*  Almoçarão  antes  de  sair  para  o  trabalho,  tomando  em  seguida 
uma  ração  de  café  ou  de  vinho; 

4.*  Próximo  ao  logar  do  trabalho  haverá  agua  bem  límpida  e  compe- 
tentemente acidulada,  empregando-sc  para  isso  o  vinagre,  o  limão,  etc; 

5.*  Ser-lhes-ha  completamente  prohibido  o  deitarem-se  no  chão,  quer 
de  dia  quer  de  noite ; 

6.*  Terão  cama  regular  e  roupa  para  se  agasalhar; 

7.*  Nenhum  dos  operários  será  reputado  doente,  sem  a  visita  de  um 
facultativo,  a  qual  deverá  ser  feita  pelo  medico  da  respectiva  colónia  pe- 
nal. 

Doestas  regras  geraes  de  hygiene  da  cidade  de  S.  Thomé  indicadas  em 
1869,  para  se  applicarem  aos  addidos,  nenhuma  se  poz  em  pratica,  e  por 
isso  a  mortalidade  attingiu  o  grau  que  se  nota  nos  respectivos  mappas. 

É  preciso  fazer-se  a  remoção  dos  addidos  para  outro  logar,  e  é  muito 
conveniente  que  a  colónia  penal  se  estabeleça  em  local  afastado  dos  pân- 
tanos e  que  seja  próximo  do  hospital  geral ;  do  contrario  terá  de  con- 
struir-se  uma  enfermaria  especial  com  competente  pharmacia,  medico, 
pharmaceutico  e  mais  pessoal  indispensável. 

Tanto  o  hospital  geral  e  permanente,  como  a  colónia  penal  conserva- 
rão entre  si  e  a  cidade  relações  regulares,  a  fim  de  que  o  serviço  se  faça 
commodamente. 

Da  colónia  penal  serão  remettidos  os  vegetaes  para  o  batalhão ;  e  se 
for  organisada  em  boas  condições,  os  productos  das  terras  darão  para  as 
despezas  que  ella  fizer,  e  também  para  um  cofre  commum  e  para  os 
soccorros  immediatos,  sendo  d'este  modo  úteis  a  si,  aos  outros,  á  ilha  e 
á  fazenda  publica.  As  consequências  moraes  e  materíaes  de  um  melhora- 
mento d'esta  ordem  são  evidentes,  e  por  isso  nos  abstemos  de  fazer  con- 
siderações a  este  respeito,  porque  não  pertence  á  junta  de  saúde  o  occu- 
par-se  de  tão  importante  assumpto,  mesmo  por  terem  já  sido  encarrega- 
dos alguns  officiaes  de  o  estudar  na  ilha  e  em  outros  pontos;  mas  não 
podemos  deixar  de  levantar  um  brado  de  alegria  ao  lembrarmo-nos  que 
se  trata  de  realisar  um  melhoramento  tão  humano,  tão  civilisador,  tão 
justo,  e  de  facilima  e  económica  execução. . . 

As  condições  dos  addidos  são  actualmente  péssimas,  miseráveis  e  an- 
ti-hygienicas;  não  tecm  nome  nem  classificação  possível,  dormem,  comem 
e  vestem  mal  I ! 

Mudem-se  as  condições  de  tantos  infelizes,  e  veremos  diminuir  a  sua 
mortalidade.  Os  serviços  que  elles  prestam  nas  obras  publicas  serão  re- 
gulares e  úteis,  e  as  despezas  com  dietas  serão  menores. 


à 


438 

A  realisaçao  da  colónia  salisfaz  a  todas  essas  indicações,  e  nós  pugna- 
remos constantemente  pelos  infelizes  addidos  e  pela  colónia  penal.  «Pe- 
de-o  a  humanidade  e  a  religião  christã ;  exige-o  a  hygiene  e  a  caridade ; 
e,  o  que  é  mais,  arrancam-se  muitos  desgraçados  a  uma  morte  certa ;  ha- 
verá mais  operários  para  as  obras  publicas,  e  animam-se  pela  boa  Fama  da 
ilha  os  trabalhadores  que  porventura  convenha  para  o  futuro  introduzir 
aqui». 

Alimentação  dos  libertos. — A  classe  de  liberto  é  a  dos  de  trabalhadores 
regulamentares.  Na  província  do  Minho,  em  Portugal,  ha  reuniões  popu- 
lares, em  que  apparecem  uns  expondo  em  praça  os  seus  serviços,  e  ou- 
tros examinando  aquelles  que  mais  lhes  convém,  a  fim  de  os  contratar 
por  um  preço  rasoavel.  A  essas  reuniões  chamam  feira  de  creadas,  e  di- 
zia-se  muitas  vezes  os  creados  estão  caros.  Ninguém  se  julga  offeodido 
com  estas  palavras,  e  as  feiras  são  muito  concorridas.  Todos  entendem 
que  nasceram  para  trabalhar,  e  encontram  ali  os  lavradores  ou  fazendei- 
ros, desde  o  mais  ignorante  boieiro,  até  ao  mais  babil  trabalhador  de  jar- 
dins, de  campo,  de  hortas,  pomares,  etc. ;  em  S.  Thomè  vê-se  o  contra- 
rio, julgam  que  os  homens  nasceram  para  viver  á  sombra  de  uma  palmeira, 
e  que  a  terra  cumpre  o  seu  dever,  dando  pão,  vinho,  azeite,  fructos,  e  tudo 
o  que  é  necessário  á  vida  sem  ninguém  lhe  pedir  cousa  alguma. 

A  izaquente,  volumoso  fructo  que  abunda  na  ilha,  a  fructa-pão,  os  co- 
cos, o  andim,  as  bananas,  a  liamba,  o  algodão,  o  safu,  o  caju  e  muitos  ou- 
tros géneros  necessários  encontram-se  nas  fazendas,  nos  caminhos,  em  toda 
a  parte.  Os  libertos  julgam  que  aquíllo  é  para  olles,  mas  que  o  trabalho  o 
não  él  Os  fazendeiros  dão-lhes  peixe  de  Mossamedes,  bananas  grandes, 
farinha  de  mandioca,  izaquente  preparada,  e  em  algumas  fazendas  téem 
dinheiro,  cachimbos,  tabaco  e  paunos. 

A  alimentação  dos  libertos  é,  pois,  como  a  dos  indigenas,  e,  como  estes, 
amam  certos  manjares  que  preparam  ao  seu  gosto  e  á  moda  da  sua  terra. 

Alimentação  dos  empregados  públicos,  dos  negociantes  e  dos  earopeaa  em  ge- 
ral.— X  alimentação  á  portugueza  é  rara  e  muito  cara.  Os  empregados 
públicos  soffrem  privações,  porque  á  maior  parte  d'elles  é  impossível  al- 
moçar, jantar  e  tomar  a  noite  alguma  pequena  refeição  sem  gastarem  pelo 
menos  1^500  réis,  que  corresponde  a  um  vencimento  mensal  de  45i5lOOO 
réis,  o  que  poucos  recebem. 

Como  poderá  subsistir  um  oflicial  com  30í5000  réis? 

Que  posição  dolorosa,  dizíamos  já  em  1869  *,  e  continuámos  a  repetir. 

1  Relatório  da  junta,  pag.  108. 


439 

Se  a  alimentação  é  má  e  deficiente,  gastam  na  pharmacia^  os  seus  ven- 
cimentos e  sustentam  uma  lucta  inglória ;  se  quizerem  ter  uma  alimenta- 
ção regular,  não  Ibes  chegam  os  seus  precários  vencimentos! 

cA  maioria  dos  empregados,  n'esta  ilha,  ou  andam  ausentes  dos  seus 
iogares,  ou  estão  doentes  ou  em  convalescença.  Nem  téem  forças  para  o 
serviço,  nem  gosto  para  o  trabalho. » 

Acerca  da  alimentação  dos  habitantes  da  ilha  de  S.  Thomé  mal  se  pôde 
dar  actualmente  uma  descripção  minuciosa  e  completa.  Pelas  genersdida- 
des  enunciadas  n'este  capitulo  pôde  ajuizar-se  até  certo  ponto  da  qualidade 
e  abundância  dos  alimentos,  mas  não  da  sua  quantidade  nutritiva  e  da  sua 
influencia  no  organismo ;  e  é  de  esperar  que  chegue  occasião  opportuna 
de  se  fazerem  analyses,  observações  e  experiências  tendentes  a  esclarecer 
quaesquer  duvidas  que  se  apresentem  a  respeito  d'este  importante  as- 
sumpto. 

Ha  alguns  factos  notáveis  que  exigem  attento  estudo,  sendo  um  d'el- 
les  o  pequeníssimo  augmento  da  população  n'uns  annos  e  grande  dimi- 
nuição n'outros.  Prende-se  esta  questão  á  estatística  da  população,  a  qual 
deve  constar  de  elementos  em  que  se  não  tem  reparado  até  ao  presente, 
correndo  por  isso  as  estatisticas  irregulares,  incertas  e  duvidosas.  Sirva 
de  exemplo  este  facto : 

De  4871  para  1872  desappareceram  do  mappa  dos  habitantes  doesta 
ilha  1:364  individuos,  sem  se  explicar  o  que  foi  feito  d'elles! 

É  necessário  empregar  todos  os  meios  para  que  se  não  repitam  estas 
e  outras  irregularidades,  e  ao  mesmq  tempo  fazer  todos  os  esforços,  a  fim 
de  que  se  torne  possível  o  exame  e  estudos  dos  alimentos  sob  o  ponto  de 
vi&ta  da  sua  quantidade  nutritiva  e  verdadeira  influencia  na  procreação  e 
na  producção  das  doenças  dos  habitantes  d'esta  formosa  e  fértil  ilha. 

Vestuário  dos  habitantes  de  8.  Thomé.  —  Um  [)anno  e  uma  camisa  decotada 
fazem  o  principal  e  um  pouco  livre  vestuário  da  mulher  do  povo. 

O  panno  envolve  a  cintura,  caindo  até  aos  pés,  os  quaes  ficam  comple- 
tamente descobertos.  A  camisa  é  de  braço  curto  e  com  o  seu  competente 
bordado.  Chama-se  a  isto  andar  em  liberdade. 

Os  homens  mandam  vir  roupas  e  calçado  de  Lisboa,  e  trajam  vulgar- 


1  Ao  intelligente  governador  Pedro  Carlos  de  Aguiar  Craveiro  Lopes  devem  os 
«Miiprogados  públicos  o  valiosíssimo  benefício  de  terem  o  receituário  abonado  pela 
fazenda  publica. 

fj  nobre  aquelle  que  deixar  acções  tão  meritórias,  e  que  se  esforce  para  que 
nào  falte  o  pào  aos  empregados  de  um  paiz,  que  percebem  ténues  vencimentos. 


\ 


440 

menle  com  asseio  e  distincçâo.  Ha  muitos  que  apparecem  nas  suas  re- 
partições com  a  maior  decência. 

Em  objecto  de  vestuário  è  necessário  distinguir  também  as  differeotes 
classes  de  habitantes,  e  seriamos  demasiadamente  minuciosos  se  failasse-^ 
mos  dos  soldados,  dos  addidos,  dos  libertos,  dos  empregados  públicos, 
dos  negociantes  c  agricultores,  das  mulheres  de  distincçâo  e  do  povo,  e 
até  dos  padres.  S3o  classes  differentes,  cada  uma  com  as  suas  inclinações, 
com  os  seus  exageros  e  com  o  seu  modo  de  trajar  finalmente. 

Escrevemos  no  relatório  de  i869,  a  pagina  i09 : 

tO  vestuário  pôde  ser  característico  de  um  paiz,  de  uma  província  e 
até  de  uma  cidade;  e  ate  o  pôde  ser  de  uma  ou  de  outra  epocha,  quando 
se  trata  de  usos  e  costumes,  t^ 

Actualmente  pôde  dizer-se  que  não  ha  feição  particular  e  diversa  da 
que  apontámos  n'aquelle  anno. 

A  cidade  desmerece  do  nome  ao  patentear  as  suas  ruas  ordinárias,  ao 
mostrar  os  seus  tristes  cercados,  os  quintaes  e  as  praças !  A  feira  sem  or- 
dem, os  becos  sem  limpeza,  a  tortuosa  e  morosissima  corrente  do  rio  e 
margens  pantanosas  e  encharcadas  fazem-n'a  descer  muito  mais ;  e  se  no 
meio  de  tudo  isto  se  passeia  sobre  herva,  ou  por  entre  aguas  emprazadas 
nas  depressões  das  ruas,  abate-se  a  cidade  de  S.  Thomé  até  se  não  poder 
comparar  com  o  mais  escondido  logarejo  das  provindas  de  Portugal.  E 
quem  poderá  exigir  um  vestuário  rígoroso,  um  toilette  elegante,  um  ves- 
tido de  primeira  ordem? 

O  trajo  dos  angolares  consiste  em  duas  tiras  de  panno  atado  á  cintura 
com  uma  corda;  o  resto  do  corpo  fica  nú,  aindaque  esteja  a  chover. 
Quando  saem  de  casa  para  o  mato  untam-se  com  azeite  do  palma,  jul- 
gando-se  assim,  quando  chover,  ao  abrigo  de  qualquer  resfriamento. 

Usos  e  costumes  dos  habitantes  de  8.  Tliomè.  —  Não  se  deve  fallar  dos  usos 
e  costumes  de  um  paiz  onde  as  escolas  de  instrucção  primaria  são  poucas 
e  mal  dirigidas.  O  povo  recebe  a  instrucção  que  se  lhe  oflferece;  e  quando 
esta  falta,  o  que  se  pôde  exigir  d'clle? 

É  innegavel  que  os  nativos  têem  inlenigencia,  amam  o  estudo,  e  am- 
bicionam gloria*;  mas  se  lhes  faltam  as  escolas  e  os  bons  mestres,  nin- 
guém dirá  que  elles  podem  aprender. 


*  Conhecemos  muitas  creanças  que  lêem  e  escrevem  regularmenle,  c  ha  rapa- 
zes de  quinze  a  vinte  annos  com  boa  cailígraphia,  que  téem  amor  ao  trabalho  e  desejam 
ser  úteis  a  si  c  aos  seus.  O  amanuense  que  fez  a  copia  do  relatório  da  junta  de 
saúde  que  foi  remeltido  para  a  secretaria  em  1872  é  uma  das  provas  do  que  avan- 
çamos, e  poderíamos  também  nomear  os  empregados  da  alfandega  e  das  secretarias 


44i 

A  educação  civil  e  ccclesiastica  tem  grande  poder  no  futuro  dos  po- 
vos, na  sua  felicidade,  no  seu  amor  ao  trabalho  e  á  pátria,  e  aos  seus  si- 
milhantes.  Aos  poderes  públicos  cumpre  estabelecer  uma  e  outra,  empre- 
gando os  meios  ao  seu  alcance  para  dar  a  luz  a  quem  a  nSo  tem. 

Fazem-se  ainda  requerimentos  aos  santos,  esperando  bom  deferimento 
contra  um  inimigo  ou  para  que  desappareça  qualquer  doença.  As  creanças 
trazem  ao  pescoço  contas,  sementes,  bervas,  paus  benzidos,  etc,  para  as 
livrar  do  feitiço  e  maus  olhados  ^  As  mulheres,  aos  sete  dias  do  parto, 
v3o  ajoelhar  ás  porias  das  igrejas,  offerecendo-se  a  Deus.  Nas  suas  cuba- 
tas não  se  pôde  entrar,  porque  são  pequenas,  baixas,  sem  gosto,  sem  or- 
dem e  sem  arranjo.  Não  ha  leitos  regulares,  uma  esteira  estendida  no  chão 
serve  de  cama !  Gostam  de  se  enfeitar,  amam  a  musica  e  a  dansa ;  mas 
nas  festas  e  landús  perdem  toda  a  elegância  pelos  tregeitos  que  fazem. 
Entre  ellas,  porém,  ha  muitas  que  dansam  soffrívelmente,  e  se  apresen- 
tam com  graça  e  simplicidade. 

Um  arrayal  ná  ilha  de  S.  Thomé.  — Na  proximidade  da  igreja  faz-se  uma 
barraca  ou  cubata  muito  grande,  dentro  da  qual  se  põe  a  mesa.  Gompõe-se 
esta  barraca  de  oito  estacas  de  altura  regular  e  sobre  ellas  coUocam-se  tra- 
vessas e  uma  porção  de  andala  de  palmeira,  que  é  amarrada  ás  travessas 
com  corda  feita  da  mesma  andala,  a  que  se  dá  o  nome  do  inhé.  Na  cabe- 
ceira da  mesa  toma  assento  o  juiz  da  festa  e,  para  mais  distincção,  no  es- 
teio ou  estaca  que  lhe  fica  mais  próximo,  põe-se  a  imagem  de  Jesus 
Christo.  Se  porém,  algum  offlcial  da  mesma  festa  se  assentar  n'este  lo- 
gar,  paga  a  multa  (a  que  elles  chamam  condemnação)  de  uma  garrafa  de 
aguardente  ou  botija  de  genebra,  c  o  dinheiro  que  o  juiz  e  mais  officiaes 
arbitrarem. 


do  governo.  Déem-lhes  escolas  regulares  e  bem  dirigidas,  que  a  mocidade  n^estailha 
será  illustrada. 

^  Quando  vimos  pela  primeira  vez  o  immedíato  do  commandante  dos  angola- 
res,  tinha  elle  uma  saliente  corcunda.  Lamentámos  similhante  deformidade,  e  não  o 
encarámos  detidamente  n'aquella  occasião,  reservando-nos  para  no  dia  seguinte 
examinarmos  o  phenomeno  logoque  nos  fosse  possível,  poisque,  tendo  cbegado  à 
capital  pelas  nove  horas  da  noite,  pensávamos  mais  em  descansar  do  que  em  indagar 
das  causas  de  similhante  aleijão.  Mas  qual  não  foi  a  nossa  surpreza  quando,  ainda 
não  tinham  decorrido  vinte  e  quatro  horas,  nos  approximámos  d*aquelle  individuo, 
com  o  Gm  de  o  comprímentar  e  o  vimos  sem  a  corcunda!  Soubemos  depois  a  causa. 

Á  nossa  chegada  tinha  o  pobre  do  homem  vestido  á  pressa  um  casaco,  e  o  seu 
saco  contra  o  feitiço  ou  contra  os  maus  olhados,  não  havia  assentado  bem  e  pro- 
duzira aquelle  grosso  volume  sobre  as  costas. 

A  não  ser  aquelle  incidente,  não  teríamos  conhecido  tão  bem  o  génio  supersti- 
cioso do  homem  do  saco,  o  immedíato  do  rei  dos  angolares. 


442 

As  comidas  sao  compostas,  em  geral,  de  uma  porção  de  lUispeiey  que 
d  feito  da  mandioca,  de  banana  assada,  calulú  e  de  idgiógó.  Em  grandes 
óg69  (cabaças)  está  o  vinho  de  palma,  e  não  falta  vinho  tinto,  genebra  e 
aguardente,  O  arrayal  dura  dois  ou  mais  dias  e  as  dansas  começam  ás  sais 
OQ  sete  boran  da  tarde.  É  muito  conhecida  a  musica  da  irmandade  de  Santo 
liidoro.  Os  instrumentos  limitam-se  a  um  tambor,  zabumba  e  flautas  de 
caniços  toscamente  feitas ! 

Snterrameatos. — O  modo  como  se  fazem  os  enterramentos  também 
tem  alguma  cousa  de  singular. 

Quando  morre  alguém  que  tem  irmãos  ou  mais  parentes,  estes  e  os 
conhecidos  se  juntam  e  principiam  a  chorar ;  depois  lavam  o  cadáver,  ves- 
ttm*-n*o,  tiram  licença  e  faliam  a  um  padre  para  o  encommendar;  mettem 
o  defunto  no  caixão,  que  collocam  em  cima  de  uma  mesa  na  sala,  tendo 
previamente  coberto  a  parede  com  um  panno  preto  e  encostado  a  esta 
uma  outra  mesa  cm  forma  de  altar,  em  cima  da  qual  põem  a  imagem  de 
Cbristo  alumiada  por  duas  velas,  e  convidam  dois  sacristães  para  can- 
tarem na  qcoasião  de  conduzirem  o  cadáver  para  o  cemitério. 

Nos  usos  e  costumes  dos  habitantes  d'esta  ilha  ha  muito  que  refor- 
mafs  no  que  respeita  á  moralidade,  religião  e  clvilisação,  para  que  possa 
tomar  o  seu  logar  na  estrada  do  progresso  colonial,  que  deve  ser  prote- 
gido por  todas  as  auctoridades  superiores. 

Religião  dos  habitantes  de  S.  Thomè.  —  A  religião  dos  povos  d'esta  ilha  é 
a  catholica  romana,  mas  os  templos  são  somente  d'esta  terra ;  não  se  en- 
contram outros  assim  em  parle  alguma. 

O  templo  da  Sé  servia,  em  4872,  de  deposito  das  obras  publicas! 
Tem-se  gasto  ali  quantia  superior  a  i2:000;5000  réis,  e  não  se  vê  de 
igreja  mais  que  as  paredes  exteriores,  porque  o  interior  está  todo  arrui- 
nado. 

Na  villa  da  Magdalena  o  templo  parece  uma  casa  velha  abandonada,  e 
a  igreja  da  villa  da  Trindade,  collocada  n'um  agradável  outeiro,  pelo  es- 
tado em  que  está,  faz  desanimar  o  mais  fervoroso  catholico. 

Não  faltemos  das  outras  igrejas:  não  faltemos  de  cousa  alguma  mais 
a  similhante  respeito,  e  terminaremos  com  as  seguintes  palavras  do  rela- 
tório de  1869,  a  pagina  115: 

cDéem-^e  a  este  povo  bons  mestres  e  bom  clero,  eduquem-no  para  o 
trabalho,  que  não  serão  perdidos  taes  esforços.  Muitos  e  muitos  indígenas 
conhecemos  illustrados,  cortezcs  c  amigos  de  trabalhar,  c  isto  acontece 
nas  circumstancias  em  que  tem  estado  sempre  esta  ilha. 

«O  que  aqui  falta  é  um  bom  e  útil  ensino  fabril,  franco  e  intelligente 


443 

ensino  religiosoi  fácil  e  carinhoso  ensino  lílterarío.  Se  instituir^oi  estes 
três  elementos  do  progresso  e  da  civilização  p'esta  ilha,  ella  sairá  do  aba- 
timento moral  a  que  chegou»  para  entrar  na  senda  do  progresso.  Ver^se-ha 
renascer  por  toda  a  parte  a  esperança.  Formar-se-hão  associações  de  be- 
neCccncia,  desapparecerão  os  costumes  brutaes,  e  a  religião  não  será  um 
simulacro.  Ao  movimento  moral  e  intellectual  seguir«se-ha  a  prosperidade 
publica,  para  a  qual  ha  verdadeiros  elementos,  e  a  ilha  de  S.  Thomè  será 
então  a  Madeira  do  Equador !  t » 

O  assumpto  é  vasto  e  muito  complexo.  Se  por  um  lado  se  tem  a  exa- 
minar as  proflssões,  a  alimentação,  o  vestuário  e  as  habitações  dos  povos 
d'este  paiz,  por  outro  é  necessário  attentar  no  seu  temperamento,  consti- 
tuição media,  longevidade  e  maior  ou  menor  duração  da  vida  de  cada  um. 

Cumpre,  porém,  declarar,  que  muitos  males  se  poderiam  ter  reme- 
diado se  fosse  mais  demorada  nos  conselhos  da  coroa  a  permanência  de 
homens  reconhecidamente  dedicados  á  causa  da  civilisação  e  engrandeci- 
mento das  nossas  colónias,  os  quaes,  havendo  estudado  e  intentado  cer- 
tos melhoramentos  para  as  provindas  ultramarinas,  não  tiveram  tempo 
de  fazer  realisar  a  sua  execução. 

A  falta  de  recursos  pecuniários,  e  o  pouco  ou  nenhum  conhecimento 
que  alguns  deputados  representantes  das  nossas  possessões  têem  das  suas 
necessidades  urgentes,  são  também  causa  de  se  não  attenderem  as  con- 
stantes reclamações  de  muitos  goveniadores.  Como  pôde  advogar,  com 
verdadeiro  conhecimento,  as  vantagens  ou  desvantagens  de  qualquer  me- 
dida,  ura  individuo  que  só  conhece  uma  localidade  por  ter  ouvido  fallar 
n'ella,  ou  por  ter  lido  o  que  muitos  também  escrevem  sem  terem  sido  tes- 
temunhas oculares?  Por  melhores  que  sejam  as  intenções  e  boa  vontade, 
falta  o  principal,  que  é  o  conhecimento  pratico. 

Na  secretaria  do  ultramar  existem  todos  os  elementos  necessários 
para  se  poder  decretar  ou  propor  ao  parlamento  uma  reforma  ampla  e  ra- 
dical; mas  qual  será  o  ministro  que  a  possa  emprehender  de  uma  vez? 
Onde  se  poderiam  ir  buscar  os  recursos  precisos  para  se  augmentar  a 
nossa  esquadra,  provel-a  de  bom  material  e  pessoal  necessário,  sem  ele- 
var consideravelmente  a  divida  publica.  Sem  navios  de  guerra  e  transpor- 
tes não  se  pôde  attender  devidamente  ao  progresso  colonial.  Esta  é  a 
primeira  necessidade.  Depois  seguem-se  as  expedições  compostas  de  in- 
divíduos competentemente  habilitados  para  os  trabalhos  de  obras  publi- 
cas, e  o  augmento  do  exercito  de  terra  e  do  pessoal  das  repartições,  muito 
mais  bem  retribuidos  do  que  actualmente  estão,  para  poderem  supprir 
ás  mais  insignificantes  obrigações  da  vida. 

Tem  sido  esta  sempre  a  nossa  opinião,  e  já  tivemos  o  gosto  de  ver 
organisar  duas  expedições,  que  muito  devem  contribuir  para  o  progresso 


444 

das  possessões  que  vão  explorar.  Oxalá  que  em  breve  possamos  dólar 
todas  as  provindas  com  iguaes  elementos. 

A  attençSo  da  maioria  dos  porluguezes  está  fixa  n'este  assumpto,  e 
parece-nos  que  não  haveria  grande  repugnância  dos  povos  em  fazerem 
algum  sacrificio  para  se  efifectuar  a  reforma  completa  das  nossas  posses- 
sões» o  que  nos  poria  a  par,  como  paiz  colonial,  das  primeiras  nações  da 
Europa,  e  attenuaria  a  repugnância  dos  que  actualmente  olham  para  as 
provincias  de  alem-mar  com  horror,  buscando  em  outras  terras  os  ele- 
mentos de  riqueza  que  ali  poderiam  encontrar. 


\ 


Empregados  nas  repartições  palilicas  ila  illia  lie  S.  TIiouib 
desde  18fi»  a  1872 

DfliíDacats 

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Governadores 

OÍIiciaes 

Ajudantes  de  ordens .... 
Continuo 

Majores 

CapilSes 

Tenentes 

Tenentes  quartéis  mestres 

Alferes 

Alferes  ajudante 

Cónego 

Vigários  capitulares 

Parochos 

CapellSes 

Coadjutores 

Directores. 

Chefes 

Facultativos 

Pharmaceu  ticos 

Ajudantes 

Juizes 

Delegados 

Officiaes  de  diligencias . . 

Ajudante  privativo 

Aj  udanles  da  conservatória 

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Transporlt. . . . 

Contador. 

CoDiluclor  (lelraliilhos.. 

Carcereiro 

Guarda  mór 

Guardas  lie  numero 

PalWSoB  mures 

PatriJes  de  escaleres 

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Escrivão  deputado 

Escrivães 

Tbesoureiros 

Éícripturarios 

AInioxarifos 

Fieis 

Administradores 

Chefes  de  policia 

447 


Namero  de  indiyidaos  qne  entraram  na  ilha  de  S.  Thomè  desde  1868  a  1872 


Designações 


Negociantes 

Caateleiro 

Serventes 

Trabalhadores 

Missionário* 

Governador • . 

Advogados 

Carpinteiros 

Gapitfles  de  navios  . . « 

Caixeiros 

Marinheiro 

Lavradores 

Gerente  do  banco < .  •  • 

Peixeiros 

CoBÍnheiro 

Músicos 

Menores 

Administrador  de  propriedade.  • 
Ignora-ie 


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1868 

1869 

1870 

1871 

1871 

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448 


Governadores  de  S.  Thomé  desde  1842  até  1872 

Bernardo  José  de  Sousa  Soares  de  Andrêa,  ofiQcíal  da  armada,  foi  no- 
meado por  decreto  de  14  de  novembro  de  1838.  —  Ignora-se  a  data 
em  que  tomou  posse. 

Leandro  José  da  Costa,  brigadeiro  reformado  de  milícias. — Tomou  posse 
em  5  de  fevereiro  de  1843. 

José  Maria  Marques,  capitão  tenente  da  armada. — Tomou  posse  em  11 
de  março  de  1843. 

Desde  1  de  maio  de  1846  até  26  de  janeiro  de  1847,  exerceu  a  direcção 
dos  negócios  da  província  o  conselho  do  governo. 

Leandro  José  da  Costa,  brigadeiro  reformado  de  milícias. — Tomou  posse 
em  26  de  janeiro  de  1847. 

Carlos  Augusto  de  Moraes  e  Almeida,  capitão  tenente  da  armada.  —  To- 
mou posse  em  30  de  setembro  de  1847,  e  fallecendo  em  22  de  novem- 
bro do  mesmo  anno,  assumiu  a  direcção  dos  negócios  da  província  até 
20  de  julho  de  1848,  o  conselho  do  governo. 

José  Caetano  Bené  Yímont  Pessoa,  capitão  tenente  da  armada. — Tomou 
posse  em  20  de  julho  de  1848,  e  fallecendo  em  30  de  junho  de  1849, 
assumiu  a  direcção  dos  negócios  da  província  até  12  de  dezembro  de 
1849,  o  conselho  do  governo. 

Leandro  José  da  Costa,  brigadeiro  reformado  de  milícias. — Tomou  posse 
em  12  de  dezembro  de  1849. 

José  Maria  Marques,  capitão  de  fragata.  —Tomou  posse  em  9  de  março 
de  1851. 

Francisco  José  de  Pina  Bollo,  capitão  tenente  da  armada. —Tomou  posse 
em  20  de  março  de  1853. 

Adriano  Maria  Passalaqua,  primeiro  tenente  da  armada. — Tomou  posse 
em  28  de  julho  de  1855,  e  fallecendo  em  21  de  março  de  1857,  assu- 
miu a  direcção  dos  negócios  da  província  até  15  de  janeiro  de  1858  o 
conselho  do  governo. 

Francisco  António  Correia,  capitão  tenente  da  armada. — Tomou  posse 
em  1 5  de  janeiro  de  1 858,  e  fallecendo  em  29  de  maio  do  mesmo  anno, 
assumiu  a  direcção  dos  negócios  da  província  até  7  de  fevereiro  de 
1859,  o  conselho  do  governo. 

Luiz  José  Pereira  e  Horta,  capitão  do  exercito  de  Portugal. — Tomou 
posse  em  7  de  fevereiro  de  1859. 

Desde  8  de  julho  até  21  de  novembro  de  1860,  exerceu  a  direcção  dos  ne- 
gócios da  província  o  conselho  do  governo. 


Pilmeua  braTi  t  uma  mulimlieira.  na  Cabacaua  Giande 


449 

José  Pedro  de  Mello,  major  do  exercito  de  Portugal. —Tomou  posse  em 

21  de  novembro  de  1860. 
Desde  8  de  julho  até  17  de  novembro  de  1862,  exerceu  a  direcção  dos 
.  negócios  da  província  o  conselho  do  governo. 
José  Eduardo  da  Gosta  Moura,  major  do  exercito  de  Portugal. — Tomou 

posse  em  17  de  novembro  de  1862. 
João  Baptista  Brunachy,  primeiro  tenente  de  artilheria  da  província.  — 

Tomou  posse  em  30  de  março  de  1863. 
Estanislau  Xavier  de  Assumpção  e  Almeida,  capitão  do  exercito  de  Por- 

tugal. — Tomou  posse  em  8  de  janeiro  de  1864. 
João  Baptista  Brunachy,  capitão  de  artilheria  da  provinda.— Tomou  posse 

em  11  de  agosto  de  1865. 
António  Joaquim  da  Fonseca,  capitão  de  artilheria  da  província. —Tomou 

posse  em  30  de  julho  de  1867. 
Estanislau  Xavier  de  Assumpção  e  Almeida,  major  do  exercito  de  Portu- 

gal.  —Tomou  posse  em  30  de  outubro  de  1867. 
Pedro  Carlos  de  Aguiar  Craveiro  Lopes,  capitão  tenente  da  armada.  — 

Tomou  posse  em  30  de  abril  de  1869. 
João  Climaco  de  Carvalho,  capitão  tenente  da  armada. — Tomou  posse  em 

7  de  outubro  de  1872,  e  fallecendo  em  julho  de  1873,  assumiu  a  di- 
recção dos  negócios  da  província  até  28  de  outubro  do  mesmo  anno,  o 

conselho  do  governo. 
Gregório  José  Ribeiro,  capitão  tenente  da  armada.  —  Tomou  posse  em 

28  de  outubro  de  1873. 

Por  este  quadro  vé-se,  pois,  que  desde  1842  a  1873,  dirigiram  a  pro- 
víncia de  S.  Thomé  e  Principe  vinte  e  dois  governadores  e  oito  conselhos 
de  governo. 


i9 


CAPITULO  vn 


NavegagãLOi  credito  e  oapltaeif 


l^jio  dis  casas  eommerciaes  existentes  na  ilha  de  S.  Thooé  do  anno  de  (872.  — Caf^  e  cacai  ei- 
portado  nosannos  de  i 869  a  (872  e  sen  Talor  no  mercado.— Valores  dos  géneros  importados  e 
exportados  pela  alfandega  de  S.  Thomé  nos  annos  de  (869  a  (876.— Bireitos  de  importado  e 
exportario  cobrados  na  alfandega  de  8.  Thomé  nos  annos  de  (869  a  (876.— Transfereieii  de 
fnndos  da  alfandega  de  S.  Thomé  para  o  cofre  da  fazenda  nos  annos  de  (8&t  a  (876.— Embar- 
eaçies  entradas  no  porto  de  8.  Thomé  nos  annos  de  (868  a  (876.  — liedia  da  dnra^io  das 
viagens  de  Lbboa  a  S.  Thomé  e  de  Loanda  a  S.  Thomé  nos  annos  de  (870  a  i876.— hbarca- 
cies  entradas  no  porto  de  S.  Thomé  nos  annos  de  (868  a  (876,  com  desigqasiP  de  classei,  pro- 
cedências e  nacionalidades. — Distancias  Ulometricas  entre  dÍTcrsos  portos. — Ezpor(a$âo  du  |rovindas 
ultramarinas  em  (869.— Exportação  d^s  provincias  nllramarínas  em  i876.~Designa{|o  do9  pro- 
dactos  coloniaes,  qne  Tieram  para  Lisboa  em  (876.— Rendimentos  poblicos. 


Relação  das  casas  eommerciaes  eiistentes  na  ilha  de  S.  Thomé 

no  anoo  de  1872 


Frpgoezias 


Nossa  Senho- 
ra da  Graça 
(Cidade) 


Xomps  (los  proprioUrios 

Localidades 

ClassifiraçTics 

/Francisco  de  Assis  Bilard 

• 

Cravid  ót  Santos 

Rua  do  General  Ca- 

Ihciros 

Idem 

Seccose  mo- 
lhados. 
Molhados. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 

Idem. 
Idem. 
Idem. 

Manuel  Simões  da  Silva 

Joaquim  Viegas  de  Abreu 

André  Fernandes  de  Barros 

Manuel  da  Gloria  Costa  Alegre  . . 

José  Fernandes  de  Barros 

l Manuel  Pimentel  Montevorde. . . . 

Rua  da  Misericórdia 
Idem 

Rua  do  Tronco  . .  • 
Rua  do  General  Ca- 

Iheiros 

Rua  de  Cima  da  Sé 
Idem ... 

451 


FregoexíM 


Nomes  dos  proprietários 


João  Pires  dos  Santos. 


Nossa  Senho- 
ra da  Graça 
(Roças) 


Manuel  Pimentel  Monteverde  .  • . 

I Lucinda  Maria  fiarbosa  e  Paiva. . 

Nicolau  José  da  Costa 

JoSo  Innocencio  Machado 

[José  Pires  dos  Santos 

Francisco  José  da  França  c  Al- 
meida   

Feliciano  José  da  Costa 

José  Narciso  da  Costa 

António  Pereira  da  Cunha 

Maria  da  Piedade  França  e  Almei- 

^     da  de  Andrade 

Nossa  Senho- (João  Mendes  da  Costa  e  Silva. . . 
rada  Graça{ André  Gonçalves  Pinto 
(Cidade) 


Nossa  Senho- 


(José  António  Soares  Dias, 

Jo2o  Baptista  de  Macedo  . 
Simfio  Anahory 


Localidades 


José  Afiònso  Bastos 


Manuel  Joaquim  de  Sousa 

1  Joaquim  António  Gomes  Roberto 
Rebello  &  Sobral 
Miguel  de  Sousa 

Amaral  &  Irmão 


Mato  Audim 


Lima  &  Leal 

Lima  á  Leal 

JoSo  Antooio  Pereira  da  C^nha.  • 
António  de  Paiva  Soares  Diniz. . 

João  da  Costa  Guimarães jldem 

João  d*AIva Rua  da  Feira  Velha 


Petepete 

Moula 

Margarida  Malé . . . 

Ubaquime 

Palha 

idem 

Caixão  Grande.... 

Bombom 

Armelim 

Thió 

Rua  do  Tronco  . . . 
Rua  do  General  Ca- 

Iheiros 

Rua  do  Pelourinho 

Rua  das  Flores  . .  • 

Rua  da  Praia  Açou- 
gue...  

Praça  do  Governa- 
dor Mello 

Idem 

Rua  do  Morgado.. 

Rua  das  Flores  . . . 

Rua  do  General  Ca- 
Iheiros 

Rua  do  Rosário... 


CluiifieaçSes 


Roa  de  Góes 

Rua  de  S.  João  . . 
Rua  das  Flores  . . . 
Idem 


Seccose  mo- 
lhados. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 

Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 

Idem. 
Molhados. 

Drogaria. 
Seccose  mo- 
lhados. 
Idem. 

Idem. 

Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 

Molhados. 
Seccose  mo* 

Ihados. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 


4b2 


• 

Frefioias 

Nomei  dos  propríeUrios 

« 

Localidades 

QassilicaçOet 

/Francisco  de  Assis  Bilard 

Rua  de  Góes 

Seccose  mo- 

' 

lhados. 

Francisco  de  Assis  Bilard 

Rua  de  Soares.... 

Idem. 

Manuel  da  Graça  Camplô 

Rua  da  Praia  Açou- 

ime 

Idem. 

António  Pedro  Monforte 

Rua  das  Rosas. . . . 

Molhados. 

Félix  Joaquim  de  Oliveira 

Praça  do  Governa- (Seccose mo- 

. 

dor  Mello (     Ihados. 

António  Eduardo  Reis  ......••. 

Rua  das  Flores  . . . 
Rua  de  Góes 

Molhados. 
Seccose  mo- 

Jo2o António  da  Silva  Valia. . . . 

lhados. 

Manuel  José  Gomes 

Rua  do  Rosário... 
Rua  de  Góes 

Rua  do  General  Ca- 

Molhados. 
Seccose  mo- 
lhados. 

JoSo  d'Alba 

Nossa  Senho- 
ra da  Con- 
ceiç5o.... 
(Cidade) 

'  Sousa  Almeida  &  Thibus 

• 
Sousa  Almeida  &  Thihus 

Iheiros 

Rua  da  Praia  Ta- 

Idem. 

Manuel  Duarte  da  Silveira 

baco  

Idem. 
Idem. 

Rua  do  Morgado. . 

Josó  Maria  Constantino 

Rua  das  Flores  . . . 

Idem. 

Lucrécia  Maria  Barbosa  e  Paiva . . 

Rua  do  Rosário... 

Molhados. 

Nicolau  José  da  Gosta  .......•• 

Praça  do  Governa- í^^^-cosâmo-  II 

1 

dor  Mello 

Ihados. 

António  Auzancot  &.  C* 

Idem • . . . . 

Idem. 
Idem. 
Idem. 

José  Roballo  Gamboa 

Rua  do  Morgado.. 
Rua  Soares 

José  Manuel  da  Costa  França.  • . . 

José  Velloso  de  Carvalho 

Rua  do  General  Ca- 

\  Justino  Teixeira  Guedes 

Iheiros 

Idem. 

Rua  da  Feira  Velha 

Idem. 

1  JoSo  Innocencio  Machado 

Rua  da  Praia  Ta- 

NossaSenho-  Jo2o  da  Costa  GuimarSe» 

hflCO • 

Idem. 
Idem. 

Boa  Morte 

ra  da  Con* 

Jofio  d' Alva ...A.... 

Agua  Grande 

Boa  Morte 

Idem. 
Idem. 

ceiçifo.....\ 

Joaquim  Yiefas  de  Abrea 

(Roças)      J  António  Augusto  Barreto  da  Fon* 

F 

ovvO  '^••••••^••«•••••ééA** 

Agua  Porca 

Bobó 

Idem. 
Idem. 

1 

António  Pereim  Mia  Cunha*  • . . » . 

433 


Fr«gaeiias 


Nomes  dos  proprícUrios 


Santissima/Felix  Joaquim  de  Oliveira 

Trindade . .  | 
(Villa)       f  Manuel  Duarte  da  Silveira 

I 

[Caetano  Bernardo  Pimentel 

Joaquim  de  Carvalho  Pouca|Roupa 

Amaral  &  Irmão 

Amaral  &  Irmão 

Nicolau  José  da  Costa 

Nicolau  José  da  Costa 

João  d'Alva 

Manuel  da  Gloria  Costa  Alegre  . . 

Sanlissima Ij^^  da  Costa  Guimarães 

Trindade,  .(gousa  Almeida  <5t  Thibus 

(Districtos)     prancisco  de  Assis  Bilard 

Rebello  &  Sobral 

José  Velloso  de  Carvalho 

Joaquim  António  Gomes  Roberto 

António  Azancot  6l  C* 

José  da  Costa  França 

I  Rebello  &  Sobral 

\Franeisco  da  Silva 

IJoSo  António  da  Silva  Valia .... 
Simão  Anahory 
Francisco  de  Assis  Bilard 
Sousa  Almeida  &  Thibus 

I  Nicolau  José  da  Costa 
Jofio  Baptista  de  Macedo 
Sousa  &  Irmão 

I António  Pereira  da  Cunha 
Francisco  d'Alva  Brandão 
António  Azancot  &  il.* 
Sousa  Almeida  &  Thibus 

N.  S.  de  Gua-j  Nicolau  José  da  Costa 

delupe  ....  /António  Azancot  &  C* 

Francisco  A.  da  Fonseca  Aragão 

Magdalena . .  \  José  Marques 

Joaquim  Viegas  de  Abreu 


Localídadcf 


Lemos 

Cruzeiro 

Idem 

Ubaquim 

Matheus  Angolar.. 

Batepá 

Matheus  Angolar. . 

Folha  Fede 

Agua  Creoula 

Agua  Funda 

Cima  Cola 

Agua  Tanque 

Belém 

Obó-longo 

Matheus  Angolar.. 

Agua  Doce 

Cruzeiro 

Monte  Fidele 


Mussungu 

Angra 

Angra 

Angra 

Cruz  Grande 

Cruz  Grande 

Obó  Izaquente.... 

PaUto 

Campo 


Classificações 

Seccosemo- 

Ihados. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
(dem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 
Idem. 


4?)4 


Mappa  dcmonslratifo  da  quantidade  do  café  e  cacau, 
eiportados  da  ilha  de  S.  Thomè  nos  annos  de  1869  a  1872, 

e  seu  valor  no  mercado 


Annos 


Mexes 


1869.. 


Janeiro . . . 
Fevereiro . 
Março.. .. 
Abril  .... 

Maio 

Junho .... 

Julho 

Agosto.... 
Setembro  . 
Outubro .. 
Novembro. 
l  Dezembro . 


1870. . 


Janeiro . . . 
Fevereiro  . 
Março.... 
Abril  . . . . 

Maio 

Junho.... 

Julho 

Agosto. . . . 
Setembro . 
Outubro . . 
Novembro. 
1  Dezembro 


Café 


Kilogrammas 


1:113 

153:203 

5:786 

5:692 

6:200 

431:325 

24:600 

326:888 

394:614 

145:506 

443:630 

82:538 


2.021:095 


89:859 

92:201 

35:657 

103:413 

352:921 

404:277 

344:123 

257:021 

31:810 

2:089 

175:00o 


Valor 


165^450 

21:993^267 

8595800 

843^450 

8891400 

63:775^610 

3:515^340 

48:246iS890 

59:149i$510 

24:501)^680 

65:907)^430 

12:373^450 

302:221.^277 


1.888:376 


13:31  U440 

13:895^150 

5:314^275 

15:420^300 

52:188^385 

61:203ifi650 

49:404if>641 

37:489^911 

5:007  j£860 

23U700 

6:988^920 

260:456^232 


Cacaa 


Kilogrammas 


6:981 

531 

13 

1:040 

8:855 

907 

1:746 

6:625 

5:419 

9:895 

1:903 


44:115 


9:780 

16:26:) 
6:461 
2:478 
3:418 
1:035 
5:064 

19:373 

.6:114 
il5 

22:757 

92:858 


Valor 


960j!S520 

73i^780 

ls^820 

112^570 

1:229^200 
1254720 
2724620 
947:^240 
75U660 

l:288i$660 
263  ^9(K) 

6:027^690 

1:355^654 

2:2554000 
9864380 
3544960 
4744740 
1314490 
6944270 

2:6124560 

7284548 

10j;000 

3:0924600 

12:6964202 


45» 


^>*« 


Aniioi 


4871 


MeiM 


Janeiro... 
Fevereiro . 
Março... . 
Abril  . . . . 

Maio 

Junho.... 

Julho 

Agosto  .  • . 
Selembro . 
Outubro ; . 
Novembro. 
\  Dezembro 


/Janeiro... 
Fevereiro. 


Março 


487Í. 


Maio.. 
Junho. 
Julho . 


Agosto 


Setembro . 
Outubro.. 
I  Novembro 
Dezembro 


Café 


Kilognmmafl 


9:084 

7:757 

5:977 

28:037 

28:538 

335:448 

254:823 

679:509 

208:264 

299:103 

39:649 

66:816 


1.903:005 


113:282 

152:785 

3:230 

60:335 
134:119 

95:758 
208:059 
491:209 

58:949 
180:234 

46:976 

51:631 


1.596:567 


Talor 


1:427^150 

1 :096^800 

1:383^650 

4:10U830 

8:532^450 

52:952^550 

39:4285i80 

99:003^470 

30:3275410 

45:76U990 

5:643^280 

9:198;g800 

298:857^860 


16:543^200 

22:285^^890 

470^250 

8:784^460 
19:659^150 
13:970^500 
30:572^580 
72:900^865 

8:571^100 
26:420^250 

8:778^400 
10:042^500 

238:999^145 


Gacaa 


Kitograinmas 


2:556 
3:090 
4:265 
9:248 
2:342 

10:342 
3:200 

35:232 
9:112 
5:080 

17:954 

22:202 


10:408 

10:145 

272 

26:452 

21:895 

1:076 

4:566 

8:539 

4:300 

56:335 

16:204 

52:412 

212:604 


Valor 


119^150 

368^560 

578^300 

1:103^140 

318^500 

1:3795640 

3805220 

4:607^520 

8025640 

1:1375626 

2:9625580 

2:5545120 


124:023      16:4115996 


1:0405600 

1:3915640 

365960 

3:6135080 

2:9765680 

1465660 

6205620 

1:1285380 

5845500 

7:0915080 

2:0085540 

6:8285840 

27:4675580 


4ufi 


Valeres  dos  géneros  importados  e  eiportados  pela  alfandega  de  S.  Thomé, 

nos  annos  de  1S69  a  1876 


Amos 


Meies 


Janeiro 


Fevereiro. 


Março 


Abril 


Maio. 


Junlio. 


1869 


Julho. 


Agosto. 


Setembro 


Outubro 


Novembro 


\  Dezembro 


Somina. 


Total 


Media  mensal, 


Navios 


JNacionaes  .. 
r  Estrangeiros. 
iNacionaes  .. 
1  Estrangeiros. 
iNacionaes  .. 
/Estrangeiros. 


\ 


Nacionaes  . . 


I  Estrangeiros. 

Nacionaes  .. 

Estrangeiros. 

Nacionaes  .. 

Estrangeiros. 
iNacionaes  .. 
f  Estrangeiros. 
JNacionaes  .. 
I  Estrangeiros, 
JNacionaes  .. 
(Estrangeiros. 

Nacionaes  . . 

Estrangeiros. 

Nticionaes  .. 

Estrangeiros . 
J  Nacionaes  . . 
/Estrangeiros. 


Importarão 


7:031^178 

-^- 

7:097^382 

illi^BOO 

15:543i»570 

-*- 

o:2r>7i^2!9 

-í- 

18:80oM84 

21:256  Jí89â 

10:052^466 

556^845 

10:172i^965 

831^853 

Í0:22i^l2i 

41  MOO 

4:232^034 

l:655|i808 

8:47U643 

750^000 

10:689^887 

40^000 

132:789i|!i547 


Ex|>ort3çâo 


237^450 


23:609^560 


1:253^060 


1:385^630 

-*- 

1:412^710 

65:852^590 

-í- 

3:557^580 

127i^200 

50:75U490 

104650 

60:544^030 

24:7284160 
8644320 

72:2994560 
2324500 

13:9174350 
-4- 

320:7834860 


453:5734407 


37:7974783,9 


..... 

..„. 

Sinoi         ]        ImporU^íi. 

EiporUfío 

Ian.1,. 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

Í3:800»S31 
l:45i*7li 

14:716*448 
340*000 

Fevereiro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

I5:l89íá62 

H9Í777 

25*400 
-*- 

Nacionaes  . . . 

15i037i450 

16:723*798 

Estrangeiros.. 

166^830 

-í- 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

12:311  «63 

Í53SÍ.7B 

7:S09*89S 
-á- 

Maio 

Nacionaes  . . . 

19:0tifl94 

IS:I88*8IS0 

369áo«0 

-i- 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros . . 

37:979*693 
70*000 

54:985*958 
'i- 

Julho 

Nacionaes  . . . 

27:704*208 

62:332*180 

Estrangeiros.. 

-*- 

-*- 

Agosto 

Nacionaes... 

Estrangeiro!!.. 

23:699*121 
iO8*S10 

45:749*430 
37*S00 

Selcmbro 

Nacionaes... 

11:094*290 

34:098*060 

Estrangeiros.. 

437*728 

8:731*300 

Otilnbn 

Nacionaes  . . . 

5:998*120 

6:287*398 

Estrangeiros.. 

lOOáOOO 

.-â- 

Novembro 

Nacionaes  . . . 

Estrangeiros.. 

7:668*941 
-í- 

469*400 

-a- 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

13:317*970 

-a- 

32:666*080 
.-*- 

•íomina 

205:532*339 

300:074*694 

5O5:fiO7*033 

M.-Hja  iiiítisal  .... 

Nacionaps  . . . 
Estrangeiros.. 

42:133*919,4 

ll:330*46;t 

2:286*680 

-a- 

1871 

Fevereiro 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

19:391*308 
-*- 

1:468*360 

-a- 

Março 

Nacionaes  . . . 

t(:407*74)l 

2:789*180 

Estrangeiros.. 

-*- 

_*- 

42:189*519 

S:((U*IM 

Kaaot 

Hex'1 

,..,.. 

ImporUclo 

EipofUçia 

IVinutiorfe 

_ 

42:18g«SI9 

6:!»ilfl90 

Nacionaes  ... 

92:858j029 

5:389*740 



Estrangeiros.. 

9W698 

-#- 

Nacionaes  . . . 
EslrangeiroB.. 

33;5SU33S 
402000 

8:988*950 
_*_ 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

17:5051335 
-í- 

33:708*079 
-í- 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

11:989W2S 
-*- 

47:418*780 
-í- 

1871 

Agosto 

Nacionaes... 
EstrangFÍros.. 

11:875^891 

900*000 

104:125*830 
-5- 

Selembro 

Nicionaes  ... 

3i!:556l730 

30:080*800 

Estrangeiros.. 

aaoaooo 

1:879*200 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

27.-951Í986 
-6- 

38:936*796 
8:528*400 

Novembro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

17:08IS186 
-í- 

9:079*320 
-*- 

Doíembro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

6:2134124 

-i- 

13:167*800 
-*- 

Soraoia 

208:056  M58 

:)26:8it5765 

53i:898fi743 

Media  mensal 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

44:374  5895,2 

30:832f7BI 
-í- 

17:982*210 
-*- 

Pever  ro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

17:516^944 

24:385*400 

-a- 

Nacionaes  . . . 

2?:812«08! 

1:013*210 

1872 

Estrangeiros,. 

-i- 

-í- 

Abril 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

49:838Í977 
-í- 

12:198*418 

-a- 

Mab 

Kacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

50:567*404 

23:006*420 
-*- 

Junhu 

Nnuionaps  . . . 

2?;6383846 

13:1333620 

Estrangeiros.. 

-í- 

-&- 

199:207f034 

91:721í278 

^ 

„..,. 

,..,.. 

liupgfl»^ 

EipoiUclD 

Trantport» 

_ 

19g:S07M34 

91:721*278 

Julho 

Nadonaes  . . . 

2S:Sf2fS30 

31:807*660 

Estrangdros.. 

-í- 

-*- 

Nacionaes  .  - . 

S9:319ig9>J 

73:404*743 

Agosto 

Estrangeiros. . 

-t- 

-*- 

Nacionaes  . . . 

9:441^387 

9:330*410 

Estrangeiros.. 

-S- 

-*- 



I87S  i^ 

Nacionais  ... 

16:896*115 

11:379*620 

Oulnbrn 

Estrangeiros. . 

-A- 

22:838*910 

Nacionaes... 

I7:308#2« 

11:073*240 

Novembro 

Estrangeiros. . 

2135000 

-*- 

Nacionaes  ... 

7:630,8100 

18:136*930 

Deiíembro 

Somma 

JqÍSÍ 

Estrangeiros. . 

-3- 
33S:«8S309 

-*- 

2159:314*793 

604:7433102 

Hedii  uiemil 

Janeiro 

Nacionaes  . . . 

30::!95áÍ38,4 

16:115^489 

24:324*980 

Estrangeiros.. 

.4. 

-*~ 

Nacionaes  . . . 

15:7Slí399 

14:739*060 

Fevereiro  >  é  >  >  > . . . » ■  > 

Estrangeiros. . 

-i- 

-*- 

Nacionaes... 
Estrangeiros.. 

94:509í378 

7:800*543 
-#- 

"^^ 

Abril 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

28:735M17 

31:576*400 
-6- 

Nacionaes  ... 

S3:064«S34 

21:147*770 

1873 

Maio 

Estrangeiros. . 

-£- 

-â- 

Nacionaes  . . . 

38:410*638 

44:719*940 

Ealrang-iros. . 

-í- 

-*-      l 



.Nacionaes  . . . 

20;183í747 

107:047*170 

Julho 

Estrangmros.. 

-*- 

-*- 

Agosto 

iNaeionaes  . . . 

36:659*019 

33:340*680 

Estrangsin». . 

-*- 

-*- 

Nacionaes  ... 

37:790*524 

64:931*713 

Seleubro 

Estrangeiros.. 

-*- 

-a- 

m-.usisis 

339:59l«l58 

Ontubro 

Novembro 

Ikíembro 

Somma 

Totil 

Hedia  loniial.. 


Nacionaes  ... 
Eslrangciros. . 
iNaciona'^!'  ... 
"/Estrangeiros.. 
Nacionaes  . . . 
Estrangeiro!.. 


26Í:lUt«875 


339:554^258 
i!):425í520 


lii:560^730 
-i- 


310:432JS251        i«9:!84í708 


f  Nacionaes  . 
Estrangeiros, 
Nacionaes 
Estrangeiros. 
Nacionaes  . 
Estrangeiros, 
, Nacionaes  . 
Estrangeiros, 
Nacionaes  . 
Estrangeiros, 
Nacionaes 
Estrangeiros. 
Nacionaes 
Estrangeiros. 
Nacionaes  . 
Estrangeiros, 
Nationaes  . 
Estrangeiros. 

!  Nacionaes 
Estrangeiros. 
1  Nacionaes 
JEitrangein», 


47:758*100 

-i- 
19:032í608 

-í- 
24:8 13  j4 12 

-í- 
71:6831816 

-S- 
38:6722698 


29:62!!  JII46 

3SOO0 

Í9:08uí269 


19:746«308 
486^4011 

30:997 «803 


11:778*070 

-3- 
83:459*740 

-S- 
42:838*920 
4:361  *Oãíl 
83:378*539 

-*- 
96:141*390 

-*- 

20:511*300 

22*500 

19:971*443 

l:477jliO 

398:896*777 


Abdw 

Mniil 

Natios 

Importa  çilo 

Transporte 

_ 

352:i65í662 

398:8963777 

1874 

Dezembro 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 

ll;ii!8fi601 

486iS378 

17:199*420 

3!t4:080í6il 

416:0Uesi97 

TobI 

810:176^838 

Media  msjisal  .... 

67:5IÍí736,.í 

Janeiro 

ÍSacionaes  . . , 
Estrangeiros.. 

30:020*174 

82:727*470 
-í- 

Fevereiro 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

18:197ía9l 

-i- 

14:892*680 
-*- 

Nacionaes  . . . 

38:84)9/894 

1:363*200 

Estrangeiros.. 

-Ã- 

-*- 

Abril 

\acioDaes  . . . 

a3:717A8SI 

Estrangeiras. . 

l:243i339 

-í- 

Maio 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

89:921^229 
408^300 

20:175*354 
-i- 

!875 

Jdho 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

Estrangeiros. . 

51:792í654 

793Í375 

37:493*233 

-è- 

43:325*794 
-fi- 

60:329*122 
-#- 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

.>i3;  618*048 
6111902 

131:367*383 
-*- 

Setembro 

Nacionaes  ... 

34:639  jS42 

73:478/100 

Estrangeiros. . 

14U572 

7:689*780 

Outubro 

Nacionaes  . . . 

19:858i354 

50:833*146 

Estrangeiros.. 

4«27S 

865*160 

Novembro        .     , 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

2l;883j606 
-í- 

43:809*148 
-*- 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 

2r>:636i644 
-í- 

8:570*390 
-*- 

458:840M39 

313:451*112 

Tolal 

972:2S 

lí.151 

Media  mensal 

81:0244295,92 

^. 

M«IM 

NlliM 

imp«rt>eio 

KipOrtíílg 

Janeiro 

Nacionaes  . . 

98:319^233 
65*309 

12:496*230 
-*- 

«... 

Nacionaes... 

3i:\5likQ6 

2Í8*980 

revereiro 

EslraDgeiroí. 

415^184 

-*- 

"arío 

Nacionaes  . . . 

40:07&í068 

13:733*048 

Estrangeiros. 

lisaooo 

-*- 

Abril 

Nacionaen  . . . 

62:530*754 

2:866*939 

Estrangeiros.. 

l:47S*OO0 

-4- 

Nacionaes  . . . 

34:3035757 

63:o51*630 

Maio 

Estrangeiros.. 

6d6£OO0 

393*000 

Nacionaes  . . . 

£3:4955066 

42:6215820 

1876 

Junliti 

Estrangeiros.. 

6733000 
48:829*431 

53*800 
23:793*888 

Jullio 

Estrangeiros. 

319*050 

37*500 

A«osl(j 

Nacionaes  .■ 

62:701*269 

5i:  4975450 

EslrangeiroB.. 

1:030*800 

-*- 

Seleiuhro 

Nacionaes  . . . 

39:403*507 

.5.):  462*720 

Estrangeiros.. 

849*500 

60*000 

Oululiro 

Nacionaes  . . 

47:003^988 

S1:0;í2*24O 

Estrangeiros. 

M74*720 

-*- 

Novembrn 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. 

30:709*458 

1:25^*200 
-5- 

De»embri> 

Somma 

Total 

Medis  mensal  ... . 

N'aciODaes  .. 
Estrangeiros.. 

28:787ãÍ36 

2:0i4á598 

23:166*200 

-S- 

.)!  6:3545534 

3i3;281*635 

859:6365159 

71:636â347,4 

Direitos  de  importação  e  ciporUcâa  cobrados  oa  altandega  de  S.  Tbooè, 

DOS  aDDOS  de  1869 

11876 

Aludi 

UeiM 

Nivi«> 

toporUíJo 

KipotUcSf 

KacioniM  ... 
EstraoReiros. . 

684^608 

10*689 
-*- 

Fevereiro 

Nacioiu«f  ... 
Eslrangeiroi. . 

206^901 
24íl35 

2:337*374 

Março 

Nadoiitea... 
EsUangeiros. . 

1l374í545 

I03#726 
-*- 

Nacionaes  ... 
Eslraniieiro}.. 

smisi 

116*793 
-*- 

KacioQaes  ..- 

Eslrangeiros.. 

1:053^800 

114*168 
_*. 

Naciooies  ... 
Estrangeiro». . 

2:538^316 
-*- 

9:489*446 
_*_ 

Julho 

Nacíonae»  . . . 

l;089«e43 

3«9*787 

Estrangeiros. . 

10O«37S 

13*720 

rtgoslo  

Xacionae»  . . . 

1:467*303 

4:8(ie*964 

Eslrangeiroi. . 

131*311 

1*069 

Selembro 

Nacionaei  . . . 

Estrangeiros. . 

991*062 
8*4G3 

6:017*111 
-*- 

Outubro 

Naciooaes  . . . 

358*897 

9:156*311 

Eslrangeiroa. , 

132*693 

60*866 

Novembro 

Naciouaes  . . . 

l:l88»ldt 

6:711*779 

Estrangeiros. . 

m»m 

34*424 

Dezembro 

Estrangeiros. . 

1:199*039 
13*387 

1:399*078 

14:4662913 

33:769*306 

48:338í818 

Media  meoMl 

4:019*068,1 

Annos 

Heiei 

,.«» 

ImporUtao 

Nacionaes  . . . 

l:157«3H6 

1:8(0*788 

'  '""^"" 

Eslrangeiros. . 

670*713 

1*013 

Fevereiro 

Nacionaes  ... 

1:6614191 

3*642 

Estrangeiros. . 

79*323 

-3- 

Março 

Nacionaes  ... 

1:853*230 

1:580*910 

Estrangeiros. . 

66*366 

-*- 

Abril 

Nacionaes... 

1:693*353 

604*808 

EstH^ngeiros.. 

30*206 

-6- 

Nacionaes . . . 

3:1159*980 
1^*923 

1 :628*9SO 
-*- 



Junho 

■i:2S9*114 

5:507^905 

1870 

29*660 

-*- 

Julho 

Nacionaes  . . . 

3:579*882 

6:157*372 

Estrangeiros. . 

.■í:  770*341 

3:198*426 

Agoalo 

.Nacionaes  . . . 

97*168 

4*438 

Estrangeiros. . 

-á- 

-*- 

Seteinbw 

Nacionaes  . . . 

1:417*731 
98*246 

3:443*174 
850*713 

Nacionaes  ... 

809*916 
34*77S 

716*.301 
-*- 

Novembro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros. . 

1:362*005 
-í- 

26i678 
-*- 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

1:344*165 

3:636*116 
-*- 

27:519*986 
58:89 

31:170*504 

Total 

0*490 

Hedia  mensal 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

4:890*874,1 

h.m*437 
36*100 

il  8*061 
-*- 

1871 

Fevereiro 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

2:301*673 

179Í889 

-*- 

Marco 

Nacionaes  , . . 
Rstrangeiros. . 

1 :7íi4*691 
-*- 

:):886£86l 

I93*S!3 
-*- 

;>fl1*473 

x™. 

M<u» 

«.™, 

,..,^ 

Kipomçio 

1871 

1872 

Traruporli 

3:U9i670 

liuaa 

4:0liO«7SO 

164271 

iMSÍ%i 

-f- 
2:67(UJ97 

-<- 

í:370<483 

S70I365 

3:2661865 

-t- 
2:6074240 

-t- 
1:8814294 

-4- 
8164498 

-4- 

5914473 
1:4724808 

-4- 
1:0984282 

-4- 
6:2774486 

-4- 
4:7244739 

-4- 
12:8444330 

3:7044699 
2344900 
4:5154158 
1:0634801 
1*334677 

-4- 
1:3684722 

-4- 

Niciooaes... 
Estrangeiros. . 
Niíioiíae.  ... 
Estrangeiras. . 
Nacionaes  ... 
Estrangeiros.. 
Nacionaes  . . . 
Estrangeiros.. 
Nacionaes  . . . 
Eslrangeiros. . 
Nacionais... 
Estrangeiros. . 
Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 
Nacionaes  ... 
Estrangeiros. . 

Estrangeiros. . 

Maio 

Agorto 

30:5004131 

38:9304075 

69:4* 

J4206 

Media  mensal 

Nacionaes  . . . 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

Estrangeiros. . 
Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 
Nacionaes... 
Estrangeiros.. 
Nacionaes... 
Estrangeiros. . 

5:785 

850,5 

.3:li074411 

-4- 
2.0774397 

-4- 
3:9064326 

-4- 
4:0594426 

-4- 
S:3M435S 

-4- 
3:3394244 

-4- 

2:2094836 

-í- 
2:9484193 

-4- 
964507 

-4- 
1:4314913 

-4- 
2:7394777 

-4- 
1:6394691 

-4- 

Março 

Abril 

■2.1:334415» 

H:II6Í!»I7| 

m 


A„ 

:tK/» 

..... 

„,... 

E>i..-,rUçií, 

TrmtpotU 

3:079*736 

-*- 

11:064*917 

3:878*792 

-*- 

Naciouaea  ... 
EtlrsQgeiroi. . 

Agosto..., 

NacionKes  . . . 

3:6iS«6Sl 

9:094*469 

EítrflDgeiroí. . 

-í- 

-*- 

Setembro 

NicioiuM  . . . 
Eitrwgairqi. . 

l:332í36a 

1:140*197 

-4- 

Outubro 

Nkciona»  . . . 

3;  197*730 

1:309*397 

Eetraogeirot . 

-*- 

2:693*495 

Novembro...... 

Eilruigai/ot. . 

2:312*128 
46*180 

1:061  á.^11 

NacÍon»M  . , . 
Estrangeiros.  • 

1:23456115 
-*- 

1:606*350 

-*- 

38:18M<Í33 

J  1:839*  1^8 

70:020*7(51 

MedhraeBsal 



Naciooaeí  .  ■ . 
Esti'aiigeiros, . 

â;83ã*Qe3,4 

1:759*G18 
-*- 

2:262*717 
-*- 

Fevereiro 

Nacionaes  . . . 
Estrangeiros. . 

2:li3á779 

-á- 

1:307*91)8 

»Í"V« 

Nacionae*  ... 

3:813*033 

082*371 

BstrnugeiroK. . 

-/- 

-^- 

Abril 

Naciomes  . . . 

i:  385*620 

l:979íO0l 

Eslruigeiros. . 

-a- 

-í- 

Maio 

Nacionaes  . . . 

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Fevereiro 

Nacionaes  . . . 

Estrangeiros. . 

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1449» 

-4- 

Março 

Nacionaes  . . . 

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1:2034406 

EstraoBeiros. . 

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-4- 

Abril 

Nacionaes  . . . 

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240/475 

Estrangeiros. . 

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Maio 

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Estrangeiros. . 

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Nacionaes  . . . 

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3:9974763 

Eslraugeiros. . 

238J331 

44999 

Í876  [  _  ^ 

Nacionaes  . . . 

6:6304534 

2:0744605 

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Estrangeiros. . 

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14988 

Agosto 

Nacionaes  . . . 

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3:7684507 

Estrangeiros. . 

2214576 

-4- 

Setembro 

Nacionaes  . . . 

9:3864457 

4:6344762 

Estrangeiros. . 

2484516 

4376 

Outubro 

Nacionaes... 

3:5884701 

4:2474566 

2024975 

-4- 

Novembro 

Nacionaes  ... 
Estrangeiros. . 

3:0794136 
-4- 

ÍI2499S 
-4- 

Nacionaes  . . . 

3:7934833 

1:9284719 

uezemoro 

Soiiima 

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Estrangeiros. . 

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Nnttiero  de  etnblrcaçdes  entradas  do  perto  de  S.  Thouiè 

DOS  annos  de  i868  a  1876 


Anãos 


Embarcações 


1868 
1869 
1870 
1871 
1872 
1873 
1874 
1875 
1876 


Somma 


Afapor 

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98 

26 

98 

30 

94 

98 

43 

98 

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31 

34 

37 

99 

49 

16 

40 

90 

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993 

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iV.  B.  O  anno  de  1871  foi  o  de  maior  numero  de  embarcações  de  vela  entra- 
das  no  porto,  e  o  de  1875  foi  o  de  maior  namero  de  vapores. 

Media  das  embarcações  entradas  mensalmente 5 

Media  das  embarcações  entradas  annualmentc 60 


■edil  da  ilnrafão  das  riagens  de  Lisboa  a  S.  Ttatuê  t  de  Loanda  a  S>.  Thoné 
nos  unos  de  1870  a  1876 

(  De  Lisboa  a  5.  Thoraé 
^^P°'^^-i  De  Loanda  aS.Thomé 

1  De  Lisboa  a  S.  Thomé 
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j  De  Lisboa  a  S.  Thomé 

1  De  Loanda  a  S.  Thomé 

(  De  Lisboa  a  S.  Thomé 
Palhabotea   „   ,       ,      ,  ^, 

Da  Loanda  a  fa.  Thomé 

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1876       ISTÍ 

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-    -  53  12 

Embarcações  rslradas  no  perlo  de  S.  Thomé,  nos  annos  de  ISftS  a  1876, 

íoffl  designação  de  classe»,  profedencia  e  naeionalidades 

Oeiigniflo 

isas 

1869 

ISTO 

1871 

IBTS 

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42 

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Vapores 

24 

36 

30 

29 

28 

31 

37 

Brigues. . 

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8 

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5 

5 

4 

5 

4 

3 

47 

Galeras.. 

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1 

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Palhabotei 

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3 

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39 

Cabiqaes. 

12 

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12 

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63 

Escunas.. 

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2 

2 

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59 

Chalupa . 

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1 

4 

Hiales. . . 

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3 

Barcas  .. 

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Patachos. 

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10 

Fragata.. 

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1 

Cutere. . . 

CorTeta, . 

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2 

Catraias.. 

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3 

Brífine- escuna 

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1 

- 

- 

- 

1 

Transporie  de  guerra. .... 

- 

- 

- 

- 

- 

1 

- 

1 

Lugre 

- 

- 

- 

- 

- 

1 

- 

1 

Canhoneira 

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1 

1 

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51 

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Loinda 

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Fernando 

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DesignaçSo 


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Rio  dos  GamitrGes 

Lt Vétpòol 

Serra  Leoa  •  •  • . 
Fontâ  Negnu . . 

Banana • 

Coriflfto 

Bonny.  •••.••• 
leniu  ••••■••• 
Sete  Gamas.... 
Cabo  Verde.... 
Costa  da  Mina. 
Blarselha.  ^  • . .  • 
Portdâ  do  Norte 

Benim 

S.  Jorge  da  Mina 

Libéria  • 

Gabo  de  Palmas 
New  York .... 

Ignora-se 


Portugueses  .••....«....• 

Ingleses 

fhmcezes 

Hespanhoes • 

Dinamarqueses 

BoUandezes 

Americanos 


1868 


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52 

49 

2 


52 


1869 


«MaMiariN 


1870 


46 
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45 
4 
1 


51 


50 
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54 


47 
2 
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i 


54 


1871 


6» 
i 


i 
i 


72 


65 
1 
2 
1 

2 
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72 


1879,1873 


63 

íl 


i 
2 
1 
1 


69 


61 
3 
1 
3 


69 


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1 
1 
1 


65 


62 
1 
1 

1 


65 


1874 
i 


59 


47 

10 

1 

1 


1875 


46 


1876 


T 


i 
i 

9 

i 


58 


39 

17 

2 


41 


10 


1 


60 


40 
20 


59 


58 


60 


Total 

482 
1 

22 
i 
2 
3 
1 
L 
1 
1 
1 
i 
i 
1 
3 
1 
1 
2 
1 
1 
1 
5 

540 

455 
60 
9 
6 
1 
6 
3 

540 


I 


175 


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476 


E^rU(l6  éas  prtTiíeias  iltruurius  ■•  au«  de  4869 


I 


Unidades 


Galé 


UnelU 


A(aardente 


Ainear. 


de    pnr-t 
l^oem  •«••■•••• ' 

Gomaa 


Mandioca 


Tapioca 
Gacaa .. 


Gingaba.. 


Gera 


GerfeiiB< 


Arros..... 
Pimenta.. 
Trigo  .... 
Qoina.... 
Ameodobi. 
Castanhas. 


AlgodSo 


Mamona 


Kilogr. 
Sacas 
Sacas  e  cai- 
xotes 
Caixotes 
Kilogr. 
Sacas 

Kilor- 
Litros 

Barris 

Caixas 
GarralSes 
Garra&s 

Pipas 
Kilogr. 
Barricas 

Litros 

Sacas 
Kilogr. 
Kilogr. 

Sacas 

Litros 
Kilogr. 
Kilogr. 
Kilogr. 

Sacas 

Pa^jas 

Kilogr. 

Encapados 

Kilogr. 

Paqjas 
Kilogr. 
Kilogr. 
Kilogr. 
Kilogr. 
Kilogr. 

Panjas 
Kilogr. 
Volumes 
Kilogr. 

Sacas 


Cabo  Verde 


191:106,907 1 


100:189,406 

11 

1:919 

1:857,5 

3 

10 

76 

19 

239:90(,461 
496 
1.155:336 
160 

9,180 
230 
1 


34:347,845 
99 


46:009,9 
1 


S.Thomé 
ePrincipe 

Angola 

MoçamM- 
qoe 

índia 

Somat 

9.061:894,689 

1.378:397,107 

_ 

45 

zMí'M9jm 

167 

349 

- 

- 

5» 

.. 

. 

5 

-. 

5 

- 

- 

- 

1 

1 

- 

534:157,988 

- 

- 

6»4:347,m 

- 

9 

- 

- 

13 

- 

— 

- 

- 

1.-319 

- 

- 

- 

- 

1:857,5 

9 

— 

— 

— 

5 

10 
6 

4 

5 

mm 

-. 

- 

- 

- 

" 

19 

- 

6 

— 

— 

6 

- 

- 

- 

78:075 

317:379,411 

- 

- 

- 

- 

496 

438:061 

- 

- 

- 

1.593:417 

- 

- 

- 

- 

150 

93 

934:551,933 

358,375 

- 

334.919,») 

39,375 

339,506 

- 

- 

606,861 

1 

1 

- 

- 

3 

13 

9 

- 

- 

15 

— 

65 

— 

- 

65 

15 

89,690 

— 

- 

97,6» 

999:870,5 

- 

- 

- 

293:870,5 

78 

5.359:148,825 

- 

- 

r.3S9:S9638 

- 

888 

- 

- 

888 

- 

- 

9:693 

— 

9HS93 

148,957 

1.06!:301,843 

35:533,937 

- 

1.109:390,881 

- 

- 

- 

- 

99 

- 

11:565 

- 

- 

11:565 

- 

- 

9:538 

— 

3:536 

- 

- 

- 

115:185 

115:1H5 

- 

— 

- 

93:335 

93:335 

•- 

- 

— 

3:750 

3:750 

- 

393,760 

- 

- 

993,710 

36 

- 

- 

- 

36 

- 

- 

1:504 

— 

1:504 

7:366 

556:066.415 

- 

- 

563:439,4» 

- 

17 

— 

- 

17 

- 

17:340,561 

- 

- 

63:349,711 

-  • 

- 

- 

— 

1 

477 


ArUgot 


icha 

re 

1 

iAbuu 

)  CinhaBio. . . . 

M> 

wte 


Unidades 


í 


de  palma. 


de  pflliiia  oa  de 

soba 

Bdeeôco 

sdeginguba . 


ide  peixe. 


Kilogr. 

Kilogr. 

Kilogr. 

KUogr. 

Kilogr. 

Kilogr. 

Kilogr. 

Kiiegr. 

Kilogr. 

AnooreUs 

Barris 

Litros 

Pipas 

GaUOes 

Kilogr. 

Litros 

KUogr. 

Litros 

Pipas 

Barris 

KUogr. 

Litros 

Cascos 

Pipas 

Meias  pipas 

Qoartolas 


Cabo  Verde 


I 


I 


Barris 

KUogr. 

Volnmei 

Numero  de 

objectos 


S.Tbomé 
e  Príncipe 


8:S0I;570 
MO 

186 


- 

3:736^514 

- 

296:160,788 

5:963 

364:514,797 

4 

- 

16 

99 

- 

1.138:519,017 

- 

91 

.. 

11:104 

165:781 
69 

5:730 


Angola 


1:656,457 


1:140,169 

31:045,5U 

140:887,139 

10 

24 

14:500,064 
110:338,358 
1 
18 
1 
1 
4 

16 

88:318,843 

576 

817 


Moçambi* 
que 


961,335 
471,5 


índia 


177:118,437 

8:400 

19:144,760 

5:461,400 

1:784,375 


19:674,478 
14 

11 


1:707,150 


Somma 


165 


178K)80,771 
1:118,967 
8:400 
29:1U,760 
5:461,400 
1:784,375 
3:736^614 
196:160,787 
370:497,797 
4 
114 
1.138009,017 
91 
11:104 

1:140,169 

1:707,180 
31KH5,8U 
140:887,139 
10 
.  14 
14aKX),064 
110:336^386 
1 
18 
1 
1 
4 


1KI64 
6:414 


t 


í 


479 


^^^ 


.ij^-.* 


Bip«rU$io  éi8  prtfíidas  ■itniMriíM  m  ant  4e  487C 


SMmtA    de    puF- 


Uai4adei 


UrealU. 


Aimear. 


Agnardeole. 


Café 


Oomina 


Gert 


Borracha 


Gacan..** 
Mandioca. 


Gingoba. 


Óleo  de  palma. 


ExUido  de  café... 

Oi *.. 

RoUm 


Cairo 


Arrox 


Pimenta. 


Diversos. 


I 


Litros 

Rilogr. 
Volomes 

KUpgr. 
Vofaymes 

Litros 
Garnfòes 

Kitogr- 
Litros 

Volimes 

KUogr. 
Volames 

Kilpgr. 
Volumes 

Kilogr. 
VoUimes 

KUogr. 

Sa«cas 

KHpgr. 

Caiias   . 

Kilfigr. 
Volumes 

Kimr. 
Kilogr. 

Lil^ 

Garr^iOés 

YolJUBai 

Kilogr. 

Kilogr. 
Volumes 

KUogr. 

Kilogr. 
Volames 

Kilogr. 

Litros 

Volames 

Nomero  de 

objectos 


Cabo  Verde 


1.394:379,600 

^:S65 
2á:9UJD9 

«a 

t:32Q 

165 
24:9» 
30:«5S 

885 

116 

6i0 
530 

19 


13:959,5 
13:484.8 
14:964 


S.Tbomé 
e  Príncipe 


1.556.-034,618 


» 


489:371,3ijl 
4 

50 

3 

f:4Í4 


3:358,8 

53 
4:020 


Angola 


17)1:288,506 


1.869:808,343 


131:973,456 


1.172:643,001 
375:025,661 


340:812,044 

344;fp,^l 
106:209,967 
433:277,246 


1.060:693,047 
18:916,200 
2:522 

29 


Moçam- 
bique 


366,062 


4:568,125 

111 

10:864,2 

333 


7:458 


31 


255 


In^ia 
oM4eMi 


261 


57,t«7 


32,334 


59 

17:831,250 

139:503,750 

3:800 

1:142 

38:825,625 

551 


1:522 


1.394:299^ 

204:966,193 
i:265 


2J29 
166 

m 

iS2:99i.lM 

126 
1.U7AI,I2I 
641 
389:922,116 

3U 
489*^71,11] 
4 

50 
3 
342.-236,0U 

7:458 
348:096^ 
106J09,969 
423.-Sn,SM 
31 
59 
17:831,2H 
139:503,751 
3:800 
1:142 
38:825,flB 
551 
1.078HM1,343 
32:401 
19:316 

4:049 


499 


êk 


Designação  dos  prodnetos  das  colónias  qoe  víenm  para  Lisboa  no  anno  de  1876 


Cabo  Verde 


■snonv- 


Mancarra. 

Mel. 

Cppqs. 

CooL 

Café. 

Cera 

Aguardente. 

Semente  de  puff oeira. 

UlTfiUâ. 

Atados  dfi  DÊlifi  dfi  cabcitú* 

Couros  de  boi. 

*  — 

Tabaco. 

Assucar. 

Cidreira. 

Mostarda. 

Feijão. 

Cobre. 

Ct^T^tcQ  de  patroa  I 

L5. 

Coconote. 

Esteiras. 
Gomma. 


S.  Thomó  e  Prinoipe 


Café. 
Cacau. 
Tartaruga, 
Gomma. 


Mandioca. 
Tabaco. 

Farinha  de  pau. 
Gengivre. 


Cocos. 

LS. 

Cravo  do  Maranhão. 


1 

Beii(irii^Ua 

Marfim. 

Borracha. 

Urzella. 

Cera. 

Gomma. 

Algodão. 
Coconote. 
Azeite  de  palma. 
Café 
Mandioca. 

Pimenta. 
Azeite  de  peixe. 
Semente  de  algodão. 
Ginguba. 

Ambriz 

Café. 
Urzella. 
Aguardente. 
Gergelim. 

Ginguba. 
Cera. 
Borracha. 
Gomma. 

Marfim 
Algodão. 

480 


IfOMMUDDLOdMI 


Algodio. 

Unellft. 

Gera. 


Borracha. 
Azeite  de  peixe. 
Semente  de  algodf  o. 


Mandioca. 


Borracha. 
Gera. 


HoçunUqne 


Gaié 
Amendoim. 


Es|iiríto  de  cala. 
Esteiras. 


Qoft 


Assacar. 
Pimenta. 
Arroz. 
Gonro. 


Sumaúma. 
Linho. 
Bambus. 
Borracha. 


Café. 
Botim. 


481 

HeodimeDCos  públicos. — Para  se  poder  veriticàr  o  acréscimo  de  receita 
das  nossas  possessões,  e  avaliar-se  a  quanto  poderá  ascender  quando 
ellas  forem  verdadeiramente  apreciadas,  e  se  desenvolva  conveniente- 
mente a  sua  producçSo,  apresentámos  o  resumo  da  receita  total  dos  im- 
postos cobrados  no  anno  económico  de  1850-1851  e  no  de  1875-1876, 
d^onde  se  vê  que  houve  um  augmento  muito  considerável,  que  nos  faz 
antever  um  futuro  ainda  mais  prospero,  se  os  governos  continuarem  a 
prestar  a  sua  attenção  para  este  ramo  de  administração  como  ultimamente 
téem  feito. 

1850-1851 

Impostos  directos 185:992,5(225 

Ditos  indirectos.* 379:213^(943 

Próprios  e  rendimentos  diversos 148:977}$!068 

714:183,$236 

1875-1876 

Impostos  directos 589:070(5i777 

Ditos  indirectos 929:384,51333 

Próprios  e  rendimentos  diversos 312:921i$333 

Rendimento  com  applicação  especial 195:7774777 

2.027:1544220 
DiQerença  para  mais  no  ultimo  anno  económico: 

Impostos  directos 403:078,$552 

Ditos  indirectos 550:170(5(390 

Próprios  e  rendimentos  diversos 163:944i$26o 

Rendimento  com  applicação  especial 195:777^51777 

1.312:970i5(984 


Infere-se  d'este  quadro  um  acréscimo  de  receita  que  se  não  afasta 
muito  da  percentagem  de  200  por  cento. 

Note-se,  porém,  que  as  despezas  também  augmentaram  relativamente, 
porque  sendo,  no  aono  de  1850-1851, 803:01  6í5í648  réis,  subiram  no  de 
1875-1876  a  1.130:163^828  réis,  devendo  observar-se  que  no  primeiro 
periodo  o  orçamento  apresentava  um  deflcit  de  88:833f5412  réis,  ao 
passo  que  n'este  ultimo  accusa  um  saldo  não  inferior  a  96:990^5(392  réis. 

Sendo  o  commercio  de  Africa  aquelle  que  hoje  mais  interessa  á  praça 
de  Lisboa,  damos  em  seguida  termos  de  comparação,  idênticos  aos  pre- 
cedentes, para  a  receita  privativa  das  quatro  provincias  africanas. 

31 


mi 


1878-1876  

220*377f5O0O 

Differença.. 

...     141:932*730 

I8íi0   I8ÍÍ1 

S.  Thomú 

7*i65í>6Gi 

187ÍÍ-1870 

...     109:6105000 

Differença . . 

...     102:l44í(33G 

Angola 

Í87iÍ-lS7C 

...     565:074,5000 

DífTerciica.. 

...     330:832^280 

Moçambique 

!875-i870 

qi7-713AOOO 

Differença . . 

..       lliO  308,^489 

Entram  n'esle$  lolacs 
çõcs: 

!8;íO    IHHi 

os  impostos  indireclos  nas  seguintes  propor- 

Oabo  Tardo 

Aí)-n9r>.t^l4 

1873-1876 

...      1)0:000^0 

Differença.. 

...       fií):973^fi8M 

S.  Thomú 

Í87S-I87C  

70-6005000 

Differença.. 

...       íli:8  6;M)!íl 

J8a0-)8jl 

Ancola 

...     177'077tí333 

Differença.. 

...     2H:7224667 

I8y0-Í8yi  

Moçambiqno 

C6-888Â6Í)K 

1875-1876  

...     200- 160^00 

Diffei-ença. . 

...     l33.27U34a 

mmm  publica 

CAPITULO  vni 

A  oidade  de  S.  Thoxnó  em  1870 

CoDsiderarôcs  a  respeito  do  estado  actnal  da  cidade  de  S.  Thomé;  consultas  da  joola  de  savde  a  tal  res* 
peito. 

Antes  do  expormos  o  estado  actual  da  cidade  de  S.  Thomè,  convém 
mencionar  algumas  providencias  que  foram  aconselhadas  e  ordenadas  pe- 
las auctoridades  competentes,  com  o  Qm  de  melhorar  as  condições  bygie- 
nicas  da  referida  capital. 

Em  1861  era  tão  reconhecida  a  insalubridade  d'esta  cidade,  que  se 
publicou  um  código  de  posturas,  em  que  se  determinaram  diversas  dis- 
posições tendentes,  n3o  só  ao  asseio  e  policia  da  capital,  como  ao  seu  em- 
bellezamento.  Estas  posturas  n3o  chegaram  a  ter  execução,  não  obstante 
a  approvação  do  conselho  de  districto  e  as  instantes  recommendações  dos 
governadores  da  província. 

Um  tão  manifesto  abandono  nas  cousas  tão  reconhecidamente  úteis  è 
mais  que  reprehensi  vel,  está  abaixo  de  toda  a  classificação.  Custa  a  crer  que, 
sendo  o  queixume  quasi  geral  nos  habitantes,  estes  se  esquivem  também 
a  auxiliar  as  auctoridades  no  empenho  dos  melhoramentos  que,  uma  vez 
iniciados,  seriam  um  principio  de  progresso  e  a  guarda  avançada  de  to- 
dos os  melhoramentos  de  que  a  cidade,  em  especial,  tanto  carece»  e  tão 
recommendados  hão  sido,  não  só  pelo  governo  da  metrópole,  como  por 
muitas  das  auctoridades  administrativas. 

O  nosso  empenho  n*esta  publicação  é  patentear  com  toda  a  clareza 
não  só  o  que  merece  ser  censurado,  como  o  que  è  digno  de  louvor.  N*este 
simples  c  despretencioso  trabalho  não  conhecemos  pessoas,  conhecemos 
factos,  e  apontaI'OS  é  um  dever  de  quem  se  propõe  escrever  obras  doesta 
natureza,  embora  lenha  a  convicção  de  que  não  serão  adoptados  tão  cedo 
08  conselhos  que  se  apresentam,  como  o  nSo  téem  sido  as  determinações 
das  auctoridades  que,  revestidas  da  força  que  a  lei  lhes  dá,  se  vêem  obri- 
gadas a  repetir  tempo  depois,  embora  por  differente  forma,  as  dísposi-  - 
ções  que  haviam  determinado  anteriormente. 


484 

U  código  de  posturas  a  que  nos  referimos  foi  a  primeira  base  para  se 
cuidar  da  limpeza  e  policia  da  cidade  de  S.  Thomé,  tão  afamada  pela  soa 
JDsalubridade ;  e  comtudo,  a  despeito  da  portaria  de  20  de  novembro  de 
1861,  referendada  pelo  governador  José  Pedro  de  Mello,  ficou  ella  sendo 
letra  morta,  n3o  obstante  este  funccionario  chamar  a  attenção  e  responsa- 
bilidade do  administrador  do  concelho  para  que  fizesse  executar  as  pre- 
scripções  das  referidas  posturas,  vistoque  o  policiamento  da  cidade  apre- 
sentava os  maiores  inconvenientes  pelos  abusos  que  appareciam  contra  os 
preceitos  determinados,  e  que  dependiam  da  irregularidade  de  serviço, 
do  pouco  zelo  e  da  falta  de  actividade  da  administração  do  concelho. 

Esta  portaria  é  um  sígnal  evidente  do  que  levámos  dito;  mas  para  que 
se  não  julgue  exagerado  o  que  escrevemos,  publicámos  o  circumstanciado 
relatório  da  junta  de  saúde,  datado  de  24  de  dezembro  de  1862,  que 
foi  elaborado  em  execução  da  portaria  de  26  de  novembro  do  mesmo 
anno,  referendada  pelo  governador  José  Eduardo  da  Ck)sta  Moura,  na 
qual  se  determinou  que  a  referida  corporação,  tendo  estudado  devida- 
mente as  causas  d'onde  provém  a  insalubridade  da  cidade,  e  depois  de 
reconhecida  a  utilidade  que  deverá  resultar  para  a  província  de  serem 
melhoradas  as  condições  bygienicas  em  harmonia  com  os  meios  de  que  a 
mesma  poder  ir  dispondo,  informasse  minuciosamente  das  causas  prová- 
veis que  originam  e  alimentam  aquella  insalubridade,  apontando  os  meios 
que  julgasse  mais  adequados  para  a  sua  extincção. 

cKepartíçlo  de  saúde  da  proTÍocía  de  S.  Tbomé  e  Príncipe. — A  junta  de 
saúde  da  província  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  tendo  entrado  no  exame  e 
indagação  das  causas  que  determinam  ou  favorecem  o  desenvolvimento 
das  moléstias  mais  graves  que  reinam  n'esta  ilha  e  que  alimentam  a  sua 
insalubridade,  em  virtude  da  portaria  de  v.  ex.*  n.®  164  de  26  de  novem- 
bro ultimo  (1862),  tem  a  honra  de  apresentar  a  v.  ex.^  as  seguintes  con- 
siderações como  resultado  d^aquelle  trabalho. 

«Começando  pela  collocação  da  cidade  *^  diremos  que,  estando  esta 
situada  dentro  de  um  amphitheatro  de  montanhas  cobertas  da  mais  lu- 
xuriosa vegetação,  em  terreno  baixo,  com  muito  pouca  inclinação  para  o 
mar,  rodeada  por  quasi  todos  os  lados  de  rios  e  regatos  que  trazem  a 


I 


^  «A  collocação  da  cidade  ha  sido  coiidemuada  em  todos  os  relatórios  ou  iofor* 
iiiaçòes  medicas,  mas  téem  sido  olvidadas  taes  recommendações,  e  comtudo  a  mu- 
dança é  tão  fácil  quanto  necessária  e  económica  para  a  fazenda  publica  e  camará 
municipal.  Não  ha  um  único  estabelecimento  publico  regular,  téem  de  ser  toâos 
construídos;  porque  se  não  procura  logar  próprio?...  (Nota  do  relatório  do  ser- 
viço de  saúde  de  1871.)^ 


485 

sua  origem  dos  altos  picos,  é  esta  existência  muito  favorável  á  accumula- 
ç3o  ou  deposito  das  aguas  das  chuvas,  produzindo  charcos  e  pântanos, 
cujas  exhalações  miasmaticas,  provenientes  dos  detritos  vegelaes  e  ani- 
maes  que  n'elles  se  acham  suspensos,  influem  poderosamente  no  desen- 
volvimento das  Tebres  e  de  outras  enfermidades  com  caracter  mais  ou 
menos  grave.  Mas,  apesar  d'esta  má  collocaçao  e  da  natureza  do  clima 
excessivamente  quente,  a  cidade  tornar-se-ia  menos  insalubre  se  nâo 
concorressem  outras  causas  cuja  influencia  maleGca  talvez  seja  de  mais 
intensidade,  como  vamos  desenvolver  nos  seguintes  paragraphos. 

«A  agua  de  que  em  geral  se  faz  uso  na  cidade  é  tirada  dos  rios  de 
que  acima  falíamos,  e  a  tão  pequena  distancia  da  cidade  que  não  é  pos- 
sivel  obtel-a  pura  e  livre  de  immundicias,  não  só  pela  circumstancia  de 
estarem  as  margens  dos  rios  cobertas  de  lodo  e  hervas,  onde  a  fermenta- 
ção pútrida  se  opera  com  muita  promptidão,  mas  também  porque  os  ha- 
bitantes, pela  maior  parte,  ali  fazem  os  seus  despejos;  por  conseguinte 
os  miasmas  deletérios  não  só  são  ingeridos  na  economia  animal  pelo  ar 
que  se  respira,  mas  também  nas  comidas  e  na  própria  agua  que  se  bebe. 
E  note-se  também  que  é  n'estes  mesmos  rios  onde  toda  a  gente  vae  lavar 
a  roupa,  o  que  não  deixa  de  ser  bastante  nocivo  á  saúde  publicai 

a  Alem  das  causas  de  insalubridade  acima  enumeradas,  não  podemos 
deixar  de  notar  o  péssimo  systema  das  construcções  das  casas,  pela  maior 
parte  de  tábuas  até  ao  chão,  sem  terem  a  ventilação  necessária,  e  rece- 
bendo muito  pouca  luz  solar,  com  quintaes  cobertos  de  plantas  diversas 
sem  conveniência  alguma  aos  usos  domésticos,  e  que  por  suas  exhalações 
só  servem  para  viciar  o  ar  atmospherico  e  para  occultar  a  immundicia 
que  eflectivamente  existe  na  maior  parte  dos  quintaes  ou  cercados  ^ 
Acresce  a  esta  circumstancia  a  pouca  limpeza  que  se  encontra  no  interior 
de  quasi  todas  essas  casas,  assim  como  nas  ruas  que  estão  quasi  sempre 
cobertas  de  herva,  a  qual  no  tempo  das  chuvas  serve  de  deposito  de  aguas 
estagnadas  ou  charcos,  cujas  evaporações  mephyticas  viciam  o  ar  atmos- 


'  Não  se  tomou  at<';  hoje  providencia  alguma  a  similhanle  respeito!  «Os  mias- 
mas deletérios  são  ingeridos  na  economia  na  própria  aj^ua  que  se  bebe»,  repelam 
isto  lodos  os  médicos  desde  i862,  mas  tèem  sido  completamente  desprezadas  eslas 
indicações!  (Nota  do  relatório  referido  a  ISll  e  repetida  em  1872.) 

2  Nas  casas  sogue-se  o  mesmo  syslema  ile  c^nslrucçáo  com  niras  excepções; 
nos  quintaes  continuam  sem  alteração  alguma,  e  sem  haver  quem  faça  desappa- 
i*ecer  aquelles  focos  de  infecção!  (Nota  refeiida  ao  relaiorio  de  1811.) 

A  rua  de  Santo  António  e  o  largo  da  margem  direita  do  rio  Agua  Grande  cor- 
respondente a  esta  rua,  a  rua  de  S.  Miguel  e  os  limites  de  E.,  S.  e  SO.  da  cidade 
estão  ainda  no  máximo  abandono  em  que  podem  estar  os  mais  desprezíveis  legares 
públicos. 


48G 

pberico.  Yé-se  portanto  que  todas  essas  circiimstancias  alimentam  a  insa* 
lubridade  doesta  cidade,  e  concorrem  para  o  desenvolvimento  das  moles* 
tias  endémicas  do  paiz. 

«Depois  doestas  ponderaç5es  apresenta-se  outra  não  menos  impor- 
tante. A  má  alimentação  em  geral  dos  escravos  e  do  povo  miúdo»  in- 
fluindo nas  forças  vitaes,  que  deterioram,  predispondo-lbes  o  organismo 
para  ser  invadido  mais  violentamente  por  qualquer  enfermidade.  É  bem 
sabido  que  s3o  poucas  as  casas  dos  moradores  d'esta  ilha  que  d3o  abun- 
dante e  sadio  alimento  aos  seus  escravos,  e  como  o  alimento  saudável  e 
nutritivo  é  uma  condiçlo  essencial  á  vida,  segue- se  que  a  privação  d'elle 
deve  concorrer  para  a  deterioração  da  saúde,  porque,  diminuindo  as  for- 
ças vitaes,  predispõe  o  organismo  a  ser  acommettido  com  maior  activi- 
dade por  qualquer  causa  morbiQca.  O  povo  miúdo  também  se  alimenta 
muito  mal,  e  para  prova  d'isto  basta  ver-se  as  substancias  de  que  geral* 
mente  fazem  uso  em  suas  comidas. 

«Ora  faltando-lhes  na  sua  alimentação  as  duas  condições  essenciaes, 
abundância  e  boa  qualidade  nutritiva,  segue-se  que  não  podem  gosar  de 
uma  saúde  vigorosa,  e  conseguintemente  ficam  expostos  a  ser  atacados 
com  mais  violência  pelo  desenvolvimento  de  qualquer  enfermidade. 

«Alem  das  desfavoráveis  condições  hygienicas  provenientes  das  aguas 
e  da  má  alimentação,  não  deixaremos  passar  em  silencio  uma  outra  con- 
dição péssima  que  acompanha  este  povo  em  geral.  Queremos  fallar  do 
modo  por  que  se  tratam  nas  suas  enfermidades.  £  por  todos  sabido  que 
os  índigenas  d'este  paiz  raras  vezes  consultam  os  médicos  nas  suas  mo- 
léstias, e  quando  chegam  a  fazel-o  é  sempre  em  estado  tal  de  adiantamento 
de  doença  e  quasi  sem  esperanças  algumas  de  melhorarem  que  pouco  ou 
nada  lhes  aproveitam  as  indicações  medicas  V,  porque  muitas  vezes,  até 
depois  de  consultarem  o  medico,  ainda  assim  não  executam  o  que  elle 
prescreve,  pela  repugnância  que  a  maior  parle  tem  de  tomar  remédios  da 
botica. 

«A  falta  de  limpeza  nas  margens  dos  rios  da  cidade  e  nas  praias  é  uma 
outra  causa  de  insalubridade:  a  herva  ali  se  encontra  crescida  a  ponto  de 
obstruir  os  caminhos,  e  ali  se  acham  grandes  depósitos  de  entulho  e  im- 
mundicias,  exhalando  um  fétido  incommodativo  e  pestifero,  proveniente 
também  muitas  vezes  da  putrefacção  de  animaes  que  para  ali  são  arroja- 
dos depois  de  mortos. 


í  Em  toda  a  parte  do  mundo  apparecem  curandeiro?,  mas  em  nenhuma  se  tor- 
nam Ião  ousados  o  damnlnhos  como  em  S.  Thomi*.  As  victimas  que  elles  causam 
não  sao  inferiores  ás  que  fazem  os  miasmas.  Nào  se  tem  procurado  remédio  para 
destruir  estes,  assim  como  passeiam  impunes  aquelles!  (Nota  refmda  n  Í87J.J 


487 

• 

«Em  seguida  devemos  fallar  do  cemitério,  que  pela  sua  influencia  na 
saúde  publica  já  por  vezes  tem  occupado  a  allençUo  da  aucloridade  go- 
vernativa doesta  província.  A  collocaçSo  do  actual  cemitério  ao  S.  da  ci- 
dade, d'onde  sopram  os  ventos  mais  frequentes  sobre  a  povoação;  a  má 
qualidade  de  seu  terreno,  que  diíBculta  a  consumpçâo  completa  dos  ca- 
dáveres; o  vicioso  systema  dos  enten^amentos  encarregados  a  pretos  bo- 
çaes,  que  nenhuma  importância  ligam  aos  inconvenientes  que  nascem  da 
falta  de  execução  dos  preceitos  dos  respectivos  regulamentos  que  devem 
presidir  a  taes  actos,  são  outras  tantas  causas  de  insalubridade.  A  má  con- 
strucçuo  do  cemitério  no  alto  de  Santo  António,  e  a  sua  inconveniência 
ali,  bem  como  a  sua  influencia  maléfica  sobre  a  saúde  publica,  foram  já 
suflicientemente  estudadas  e  demonstradas  no  relatório  que  sobre  tal  as- 
sumpto foi  publicado  em  <861,  pelo  dr.  Lúcio  Augusto  da  Silva,  ex-cirur- 
gião  de  primeira  classe  ao  serviço  doesta  província.  Nada,  pois,  temos  a 
acrescentar;  porquanto  alimentámos  as  mesmas  idòas  sobre  tal  matéria, 
e  unicamente  diremos  que  a  prompta  construcção  de  outro  cemitério  em 
local  diametralmente  opposto  ao  actual  (devendo  este  ser  logo  abando- 
nado) é  a  providencia  mais  urgente  que  esta  povoação  reclama  K  A  junta 
de  saúde  já  foi  consultada  pelo  ex-governador  da  província  o  sr.  José  Pe- 
dro de  Mello,  sobre  este  assumpto,  e  nós  então  tivemos  occasíão  de  indi- 
car o  local  que  nos  pareceu  mais  apropriado,  e  que  apresentava  as  con- 
dições exigidas.  Este  local  é  o  sitio  chamado  Picão,  terreno  da  fazenda 
publica. 

c  Outra  causa  de  insalubridade  são  os  pântanos'.  Ha  perto  da  cidade  dois 
mais  notáveis,  e  que  seguramente  não  podem  deixar  de  ser  olhados  como 
tendo  uma  grande  influencia  no  desenvolvimento  das  moléstias  graves 
que  têem  apparecido.  Um  d'ostes  dois  pântanos  existe  no  descampado  que 
80  acha  pouco  distante  da  igreja  de  S.  Miguel,  e  estende-se  até  ao  antigo 
forte  de  S.  Jeronymo,  por  um  lado  e  por  outro,  ás  immediações  da  for- 

1  Procedcu-se  á  comlrucçào  do  novo  eemit(>río,  que  ao  acha  em  logar  alto,  ao 
NO.  da  cidadt^  a  300  metros  d(^  distancia  das  ultimas  casaa.  Depoig  do  uma  lula  do 
seis  annos  viram  as  auetoridades  medicas  realisados  os  seus  desejos.  (Nota  referida 
a  ISll.) 

'  Os  pântanos  que  circundam  a  cidade  sào  muitos,  e  apenas  se  abriu  uma  valia 
para  o  que  ge  forma  no  sitio  chamado  Agua  Fede  (nome  popular  bem  apropriado), 
<í  inelhorou-s(»  o  que  sejçiie  em  direcção  ao  pântano  LocumL  Emquanto  aos  outros 
nada  se  fez  a  não  ser  o  aterro  de  30:000  mt^tros  quadrados  no  pântano  da  fortaleza 
dr^  S.  Sebastião,  mas  as  obras  do  aterro  pararam  no  anno  de  1871,  sem  haver  mo- 
tivo que  justifíque  similhante  abandono.  (Nota  referida  a  íSllJ 

Em  1872  os  pântanos  eram  tão  activos  como  em  i86â,  porque  a  superfície 
aterrada  o  o  regueiro  aberto  só  téem  importância  pela  intenção  de  quem  mandou 
fazer  as  obras,  e  não  pela  influencia  que  possa  ter  na  salubridade  publica. 


488 

taleza  de  S.  Sebastião,  produzindo  a  maior  parte  do  anno  um  lodaçal  in- 
fecto em  todo  aquelle  descampado,  abrigado  pela  relva  e  capim,  que  ahi 
é  permanente.  O  outro  é  o  que  existe  em  uma  grande  extensão  de  terreno 
pertencente  á  fazenda  publica,  desde  o  sitio  denominado  Agua  Fede,  junto 
ao  Arraial,  tendo  os  seus  extremos  d'esse  lado  até  perto  da  igreja  do  Ro- 
sário, e  do  outro  até  próximo  da  igreja  da  Conceição,  abrigado  por  uma 
grande  mata  e  que  não  só  conserva  quasi  sempre  alagado  todo  aquelte 
terreno,  mas  também  serve  de  deposito  e  despejo  de  toda  a  qualidade  de 
immundicias  que  ali  lançam  todos  os  moradores  d'aquelle  contorno. 

«D'estes  dois  pântanos  deve  notar-se  que  o  primeiro  tem  communica- 
ção  com  o  mar  pela  ponte  da  praia  Amador,  tomando-se  por  tal  circnm- 
stancia  menos  nocivo  n'esta  sua  parte  inferior,  em  que  existe  uma  salina 
cronde  o  povo  d'esta  cidade  extrahe  o  sal  de  que  faz  uso  em  suas  cozi- 
nhas. O  segundo,  porém,  não  tendo  ventilação  alguma,  por  se  achar  de- 
baixo de  uma  densa  mata,  e  não  tendo  escoante  para  rio  algum,  nem 
communicação  com  o  mar,  toma-se  por  isso  muito  mais  prejudicial  á 
saudç  publica. 

«Ha  também  um  grande  lodaçal  no  campo  de  Santo  António^  próximo 
ao  actual  cemitério,  causado  pelo  afUuxo  das  aguas  para  ali  conduzidas 
por  uns  cannes  ou  regos  que  foram  abertos  n'aquellas  proximidades  para 
fins  de  lavoura,  mas  que,  não  tendo  sido  posteriormente  beneficiados,  tor- 
nam-se  actualmente  prejudiciaes  á  saúde  publica  pela  viciação  que  aquelle 
lodaçal  produz  no  ar  atmospherico.  A  agua  doeste  campo  afflue  também 
ao  descampado  de  S.  Miguel,  passando  por  detrás  do  cemitério,  que  igual- 
mente alaga  e  dá  um  grande  alimento  aquelle  pântano.  Deve,  pois,  ser 
destruido  e  beneficiar-se  o  referido  campo  por  meio  de  uma  boa  capina- 
ção, queima  e  canalisação.  Alem  doestes  ha  outros  pântanos  menos  consi- 
deráveis e  menos  dignos  de  attenção,  não  só  pela  distancia  a  que  se  acham 
da  povoação,  mas  também  pela  sua  collocação — taes  são  uns  dois  pânta- 
nos que  se  acham  para  o  sitio  de  S.  Marçal  e  praia  Pantufo. 

cTambem  notaremos  que  na  direcção  da  rua  de  Santo  António,  lado 
direito,  começando  logo  por  detrás  da  igreja  da  Sé,  junto  á  ponte  Miguel 


1  Em  187â  foi  indicado  este  péssimo  local  para  a  construceao  do  hospital  per- 
manento  e  geral,  mas  foi  depois  condemnado  por  um  distinclo  e  auctorisado  me- 
dico. 

«Fica  por  ali  (escrevia  em  1860  um  respeitável  medico,  dr.  Lúcio  Augusto  du 
Silva)  um  lombo  ile  terra  pouco  regular,  que  elevando-se  suavemente  do  lado  da 
cidade,  ao  S.  da  qual  vae  perder- se  do  lado  opposto  em  um  campo  árido  e  pedre- 
goso a  que  segue  outra  elevação  de  terreno  da  mesma  natureza.» 

Alem  doestas  más  condições  nota-se  a  pouca  elevação  de  terreno  e  proximidade 
dos  pântanos. 


489 

(seguDda  do  rio  Água  Grande)  no  antigo  leito  do  rio  que  corre  por  baixo 
d'esta  ponte,  ha  um  lodaçal,  não  pequeno,  entre  um  denso  canavial,  que 
ali  se  desenvolveu  desde  um  certo  tempo  em  que  se  pretendeu  entulhar 
aquelle  leito,  para  dar  nova  direcção  ao  rio.  Esse  lodaçal  é,  pois,  bastante 
nocivo  á  saúde  publica. 

«Depois  de  investigadas  e  reconhecidas  as  causas  mais  geraes  que  ali- 
mentam a  insalubridade  d'esta  povoação,  apresentaremos  os  meios  que 
nos  parecem  mais  apropriados  para  melhorar  o  estado  sanitário  d'esta 
ilha,  nos  seguintes  artigos: 

« 1  .^  A  construcção  de  um  cemitério  em  sitio  diametralmente  opposto 
áquelle  em  que  se  acha  o  actual,  abandonando-se  este'; 

«S.^  A  limpeza  geral  das  ruas,  praças  e  quintaes,  destruindo-se  n'es- 
tes  toda  a  vegetação  desnecessária  e  prejudicial^; 

«3.^  A  limpeza  do  rio  da  cidade  e  suas  margens  pelo  menos  até  á  ponte 
Tavares,  destruindo-se  toda  a  vegetação  que  favorece  o  deposito  de  aguas 
estagnadas;  devendo  desde  já  prohibir-se  que  para  ali  se  continue  a  lan- 
çar lixo  e  immundicias^; 

<4.^  Beneficiar  as  praias  da  cidade,  Umpando-as  de  todas  as  immundi- 
cias  n'ellas  accumuladas,  fazendo  fogueiras  que  consumam  todos  os  de- 
tritos que  ali  se  contéem^; 

t5.^  A  destruição  completa  dos  dois  pântanos  mais  notáveis  que  acima 
ficam  mencionados,  abrindo-se  canaes  próprios  para  conduzirem  ao  rio 
principal  ou  ao  mar  as  aguas  que  n'elle  podessem  depositar-se^; 

«6.^  Fazer  os  convenientes  reparos  e  melhoramentos  possíveis  no  edi- 
fício do  actual  hospital,  emquanto  se  não  construir  um  hospital  militar 
com  melhores  accommodações  e  que  tenha  as  condições  próprias  de  uma 
casa  para  enfermos,  em  harmonia  com  o  que  esta  junta  fez  ver  em  seu 
relatório  de  24  de  março  do  corrente  anno,  sobre  este  assumpto ; 

«7.^  Construcção  de  uma  nova  cadeia  em  outro  local  e  com  melhores 
condições  hygienicas.  A  actual  cadeia  reúne  péssimas  condições ^  e  pre- 
cisa ser  melhorada  emquanto  se  não  construir  outra,  como  já  se  fez  ver 
ao  presidente  da  camará  municipal,  em  ofiicios  de  10  e  17  do  corrente 
mez; 

«S."*  Fazer  fiscalisar  pela  auctoridade  competente  a  execução  das  pos- 


1  Já  SC  realisou  este  melhoramento. 

2  Não  se  tem  feito  nada. 

3  Idem. 
*  Idem. 

^  Estão  om  1872  como  em  1862. 
^  Sào  peiore»  em  1872. 


400 

turas  municipaes  sobre  hygiene  publica,  conforme  se  acha  consignado  no 
código  administralívo,  impondo-se  penas  pecuniárias  e  de  prisão  aos  in- 
fractores. N'e3tas  posturas  sobre  hygiene  publica  comprebende-se  a  lim- 
peza da  cidade  em  geral,  e  a  boa  qualidade  das  substancias  alimentares 
que  se  vendem  nas  lojas  e  mercados  públicos ; 

a 9.°  Estender  a  fiscalisaçâo  municipal  também  á  margem  do  litoral» 
para  que  n^ella  se  nio  continue  a  deitar  lixo  e  mais  immundicias; 

cio.®  Finalmente  fazer  crear  em  logares  apropriados  depósitos  de  en- 
tulho ou  lixo  e  todos  os  mais  despejos,  que  devem  ser  queimados  amiu- 
dadas vezes. 

«São  estas  idèas  que  a  junta  de  saúde  da  província  submette  á  conside- 
raçSo  de  v.  ex.*,  a  fim  de  que,  empregando  v.  ex."  os  meios  que  tiver  ao 
seu  alcance,  possa  realisar  uma  das  medidas  mais  importantes  do  seu  go- 
verno em  beneficio  doeste  paiz. 

•Deus  guarde  a  v.  ex.* — Repartição  de  saúde  em  S.  Thomé,  24  de  de- 
zembro de  1 862. — 111.™°  e  ex."*°  sr.  governador  da  província  de  S.  Thomé 
e  Príncipe. =P^rfro  António  Fernandes  Pires,  cirurgião  mór  da  provín- 
cia ■««Dr.  Josó  Corrêa  Nunes,  cirurgião  de  1.^  classe  da  província. • 

Por  este  documento  prova-se  á  evidencia  que  se  não  têem  cumprido 
ai  disposições  da  lei  acerca  dos  pareceres  da  junta  de  saúde,  de  um  modo 
claro,  conciso  e  positivo. 

Teem-se  indicado  ás  camarás  municipaes  as  providencias  necessárias 
para  a  limpeza  das  ruas  e  logares  públicos,  pateos  e  quintaes,  e  para  o  sa- 
neamento dos  pântanos,  assim  como  também  se  téem  proposto  ás  auctori- 
.dades  competentes  as  providencias  adequadas  para  extinguir  ou  attenuar 
as  causas  locaes  ou  geraes  do  insalubridade,  isto  é.  tem-se  satisfeito  sem- 
pre e  cabalmente  aos  n.°'  9.**  c  10.°  do  artigo  38.°  do  decreto  de  2  de  de- 
zembro de  1869. 

Por  que  rasão  se  não  organtsou  ainda  uma  companhia  composta  de 
cincoenta  indígenas  válidos,  que  trabalhem  assiduamente  na  limpeza  pu- 
blica da  cidade,  como  indicámos  no  relatório  de  1869,  pagina  287? 

Porque  se  não  canalisou  o  rio  Agua  Grande,  até,  pelo  menos,  ao  logar 
mais  próximo  aos  limites  da  cidade?! 

Porque  se  não  fez  caso  das  providencias  hygienicas  enumeradas  nos 
capítulos  12.°  e  3.°  do  relatório  de  1869?!! 

Desde  ha  dez  annos  que  a  junta  de  saúde  publica  tem  indicado  as  cau- 
sas gcraes  e  parciaes  da  insalubridade  da  ilha  e  téeni  sido  baldados  os 
seus  trabalhos.  É  amarga  e  dolorosíssima  esta  verdade,  mas  os  factos 
e  os  documentos  tornam-n'a  muito  mais  amarga  e  muitíssimo  mais  do- 
lorosa. 


m 

o  interior  da  ilha  de  S.  Tbomé  ò  muito  mais  salubre  do  que  a  capital» 
e  a  causa  d'isto  é  a  sua  má  posição»  como  já  demonstrámos  o^este  livro. 
Ora»  se  se  reconhece  isto  como  uma  verdade  incontestável»  porque  se  não 
trata  de»  ao  menos»  melhorar  as  condições  hygienicas  da  cidade,  para  de 
algum  modo  conjurar  os  maus  effeitos  resultantes  da  sua  posição? 

É  opinião  seguida  pelos  médicos  que  se  dedicam  de  preferencia  ao  es- 
tudo das  moléstias  que  mais  predominam  nos  climas  quentes,  que  os 
miasmas  se  geram  no  solo»  dadas  certas  circumstancias,  e  a  sua  maior  ou 
menor  actividade  depende  da  natureza  dos  terrenos.  Não  offerece  contes- 
tação esta  opinião»  e  todos  mais  ou  menos  estão  concordes  em  que  è  esta 
uma  das  causas  que  mais  concorre  para  a  insalubridade  da  ilha  e  espe- 
cialmente da  cidade ;  e  custa  a  crer  que  se  desprezem  taes  opiniões  e  se 
não  trate  de  evitar  que  os  pântanos  se  conservem  em  logares  que,  conve- 
nientemente aterrados  e  beneficiados»  poderiam  tornar-sc  aprazíveis  e  de 
recreio. 

A  fim  de  corroborar  estas  nossas  opiniões  e  para  se  conhecer  que  já 
datam  de  mais  tempo  as  repetidas  instancias  para  o  melhoramento  da  ci- 
dade» em  virtude  das  causas  que  concorrem  para  a  sua  insalubridade»  pu* 
blicámos  o  parecer»  ainda  mais  antigo  que  o  que  acabámos  de  transcre* 
ver»  elaborado  pelo  dr.  Lúcio  Augusto  da  Silva. 

<A  cidade  de  S.  Thomé  está  collocada  na  bahia  de  Anna  de  Chaves  e 
estende-se  pelos  dois  terços  da  concavidade  da  sua  margem»  approximán- 
do-se  mais  da  ponta  do  S.»  onde  está  edificada  a  fortaleza  de  S.  Sebas- 
tião» de  modo  que  ella  olha  para  o  N.»  emquanto  que  a  bahia  se  abre 
para  NE. 

«Com  similhante  disposição  a  cidade  e  o  porto  ficam  expostos  a  todos 
os  ventos,  desde  o  N.  ató  ao  SE.,  vindo-ll^BS  este  ultimo  e  o  ESE.  por 
sobre  a  terra  baixa  o  raza  que  corre  da  referida  fortaleza  para  o  S.  Todos 
estes  ventos»  bem  como  o  NNO.»  NO.  e  ÒNO.  chegam  á  ilha  depois  de 
atravessarem  as  vastas  regiões  do  continente  africano.  Os  ventos  de  O.  a 
S.  são  todos  do  alto  mar»  e  d'estes  acha-se  a  cidade  abrigada  por  uma 
cinta  de  montanhas  que  começam  a  crescer  não  longe  d*ella.  Entre  estas 
montanhas  e  a  cidade»  que  fica  em  um  local  baixo  e  húmido,  ha  grandes 
depressões  de  terreno»  para  onde»  alem  da  chuva  que  cae  directamente» 
correm  as  aguas  dos  pontos  mais  elevados»  formando  paues»  cobertos  de 
hervas»  arbustos  e  arvores»  cujas  folhas  ali  se  putrefazem  de  mistura 
com  as  immundicias  e  animaes  mortos  que  os  habitantes  da  cidade  lá  vão 
depositar. 

<A  maior  parte  d'esses  paues  seccam  completamente  no  tempo  das 
ventanias,  excepto  o  que  fica  a  E.»  o  qual  communica  com  omareconstí- 


493 

Em  portaria  de  ^4  de  fevereiro  do  mesmo  anno»  mandou  o  mencio- 
nado governador  que  o  tenente  coronel  director  das  obras  publicas,  logo 
que  tivesse  dado  o  conveniente  andamento  ás  obras  do  pântano  da  forta- 
leza de  S.  Sebastião,  passasse  a  fazer  os  necessários  estudos  para  o  enca- 
namento da  agua  até  á  praça  de  D.  Luiz  I,  seguindo  a  mesma  canalisaçSo 
para  aquella  fortaleza,  devendo,  porém,  fazer  em  separado  o  orçamento 
d'esta  ultima  obra. 

É  pena  que  todos  estes  esforços  nâo  produzissem  resultado  algum,  e 
que  em  1873  se  visse  tudo  como  em  1863.  É  realmente  incomprebensi- 
vel  este  estado  de  cousas,  e  não  ba  palavras  que  possam  descrever  o  qua- 
dro em  que  se  apresentam  os  terrenos  da  circumvalação  da  cidade,  mui- 
tas praças,  as  margens  do  rio  e  as  praias,  por  não  haverem  sido  cumpri- 
das as  ordens  tantas  vezes  repetidas ! 

Em  18  de  julho  de  1863,  sendo  ministro  da  marinha  o  sr.  José  da 
Silva  Mendes  Leal,  baixou  uma  portaria  ao  governador  da  província,  em 
que  se  lhe  recommendou  que  empregasse  todos  os  meios  ao  seu  alcance 
para  que  a  camará  municipal  fizesse  roçar  e  limpar  os  matos  dos  quintaes 
a  barlavento  da  cidade,  estabelecendo  para  isso  as  convenientes  posturas 
em  que  se  impunham  multas  aos  contraventores,  com  applicaçao  exclu- 
siva do  seu  producto  á  extincção  dos  pântanos ;  e  determinou-se  ao  mes- 
mo governador  que  fizesse  sentir  á  camará  que  o  bem  publico  exigia  que 
elle  fosse  vigilante  no  cumprimento  do  que  se  ordenava,  e  que  empre- 
gasse todo  o  seu  zelo  para  que  a  pena  fosse  infallivelmente  applicada  aos 
que  não  cumprissem  um  dever  tão  importante  para  o  bem  estar  e  pro- 
gressivo augmento  de  uma  cidade  a  que  o  commercio  dava  cada  dia  mais 
consideração. 

Esta  portaria  terminante,  dimanada  do  governo  da  metrópole,  teve, 
infelizmente,  o  mesmo  resultado.  O  fim,  talvez,  que  a  dictou,  foi  reforçar 
a  auctoridade  do  governador,  abatida  pela  negligencia  das  auctoridades 
subalternas,  e  pelo  nenhum  conhecimento  que  a  generalidade  da  popula- 
ção tem  das  mais  insignificantes  noções  do  que  lhe  é  útil.  É  incrível,  e 
custa  a  conceber,  que  não  haja  ao  menos  um  homem,  que  com  a  sua  au- 
ctorisada  voz  faça  comprehender  áquelles  cegos  de  espirito  que  as  medi- 
das tão  instantemente  recommendadas  são  todas  em  seu  favor,  e  que 
d'ellas  dimana  o  seu  futuro  e  o  dos  seus  filhos. 

N'uma  terra  onde  o  capim  e  outras  hervem  tendem  sempre  a  ani- 
quilar o  trabalho  do  homem,  onde  quinze  dias  apenas  de  descuido  são 
bastantes  para  que  os  differentes  vegetaes  tornem  quasi  intransitáveis  os 
caminhos,  onde  as  grandes  matas  e  infinitos  arbustos  interceptam  as  cor- 
rentes de  ar  e  promovem  a  humidade,  onde  o  sol  abrasador  dardeja  per- 
pendicularmente os  seus  raios,  e  onde  as  abundantes  chuvas,  que  na 


494 

maior  parto  do  anno  correm  torrencialmenle,  predispõem  os  terrenos 
para  formarem  constantes  focos  de  infecção^  nada  se  poderá  fazer  sem  o 
auxilio  mutuo  das  auctoridades  e  dos  habitantes. 

Uma  populaçSo  com  quatro  séculos  de  existência»  que  recebe  constan- 
temente indivíduos  de  ambos  os  sexos,  e  cultiva  apenas  uma  insignificante 
porção  de  terreno  relativamente  á  sua  área,  patenteia  exuberantemente 
a  existência  de  poderosas  causas  que  promovem  a  mortalidade  e  se  op- 
põem  á  procreação.  Estas  causas,  que  se  manifestam  de  preferencia  na 
populaçSo  branca,  poupando  mais  os  indigenas,  e  n3o  s3o  tSo  prejudiciaes 
ás  famílias  descendentes  de  pretos  e  brancos,  exigem  prompto  remédio, 
se  nio  para  as  destruir,  ao  menos  para  as  attenuar. 

A  má  alimenlacSo  exerce  influencia  directa  sobre  a  saúde  dos  habi- 
tantes de  uma  população,  mas  as  péssimas  condições  hygienicas  nlo  s3o 
menos  nocivas.  Juntem-se  agora  estas  duas  causas,  e  pense-se  que  males 
nio  pôde  acarretar  o  descuido  a  que  ha  tantos  annos  está  votada  a  ilha  de 
S.  Tbomè,  não  obstante  o  desejo  das  auctoridades  para  que  se  removam 
as  causas  que  os  produzem. 

O  conselho  extraordinário  de  saúde  publica  do  reino,  creado  por  de- 
creto de  20  de  setembro  de  1857,  por  occasi9o  da  epidemia  de  febre 
amarella  que  assolou  a  cidade  de  Lisboa,  no  importante  e  consciencioso 
relatório  que  dirigiu  ao  governo  em  6  de  julho  de  1859,  dizia  que  «Por- 
tugal, por  seu  clima,  pôde  ser  considerado  um  dos  paizes  mais  saudáveis 
da  Europa.  Se  os  seus  habitantes  fossem  mais  cuidadosos  na  agricultura, 
no  encanamento  dos  rios,  na  limpeza  das  povoações  e  na  observância  das 
regras  de  boa  hygiene,  grande  numero  de  moléstias  desappareceria,  ou. 
pelo  menos,  diminuiria  n^estc  solo  abençoado  da  providencia». 

Dizia  isto  uma  commissSo  composta  de  homens  que  julgámos  auclo- 
risados  pelos  seus  vastos  conhecimentos  e  pratica  adquirida  no  serviço 
medico,  e  em  outros  ramos  da  publica  administração.  Mas  o  que  diriam 
estes  mesmos  individues,  se  lhes  fosse  commetlido  igual  encargo  na  pro- 
víncia de  S.  Thomé? 

NSo  ha  espectáculo  mais  triste  para  quem  preza  o  progresso  de  um 
paiz  do  que  ver  desapparecer  dia  a  dia  a  população,  conhecendo  as  causas 
que  motivam  similhante  mal,  e  sem  se  porem  em  pratica  os  meios  de  re- 
medial-o. 

Pcrcorrem-se  todas  as  obras  que  tratam  doesta  ilha,  folheia-sc  a  sua 
historia,  indagara-se  os  diversos  acontecimentos,  e  vê-se  sempre  o  seu  es- 
tado de  abatimento. 

Os  governos  têem  muito  que  fazer  a  prol  do  progresso  e  da  civilisa- 
ção  d*estes  povos,  mas  para  isso  é  necessário  que  da  parte  d'elles  haja  a 
boa  vontade  e  o  incitamento  ao  trabalho ;  quando  isto  se  conseguir,  po« 


495 

deromos  então  colher  os  fructos  do  progresso  e  nSo  veremos  empregar 
inutilmente  dinheiro  e  tempo,  como  se  arroteássemos  um  terreno  es- 
téril. 

Para  os  pequenos  melhoramentos  era  escusada  a  iniciativa  do  gover- 
no, bastava  só  que  os  habitantes  lhe  pedissem  auxilio,  a  fím  de  não  serem 
perdidos  os  seus  esforços.  As  construcções  regulares  e  em  boas  condi- 
ções, a  limpeza  das  casas,  dos  matos  e  dos  quintaes  s9o  attribuições  ex- 
clusivas dos  proprietários,  e  concorreriam  já  para  melhorar  a  hygiene  da 
cidade. 

Esta  é  que  é  a  verdade,  embora  algumas  vezes  se  divise  na  nossa  lin- 
guagem a  idéa  que  possa  deitar  á  conta  dos  governos  todos  os  males  que 
afiligem  a  provincia  de  S.  Thomé  e  a  maioria  das  nossas  colónias. 

Nas  províncias  do  continente  de  Portugal  ha  melhoramentos  devidos 
só  á  iniciativa  do  governo,  bem  como  á  das  camarás  municipaes,  cobrando 
estas  para  os  executarem  impostos  com  applicaç3o  especial  a  esses  me- 
lhoramentos ;  alem  disto  ha  também  alguns  proprietários  que  téem  au- 
xiliado esses  trabalhos  com  offertas  de  dinheiro  e  cedências  de  terrenos 
que  se  deveriam  expropriar  para  abertura  de  estradas,  quando  estas  d9o 
mais  valor  ás  suas  propriedades.  E  nSo  seria  possível  conseguir  que  as* 
sim  se  praticasse  nas  nossas  colónias?  Em  S.  Thomé  ha  bastantes  pro- 
prietários, senhores  de  extensas  fazendas,  que  muito  lucrariam  com  este 
systema,  quando  iniciado,  o  qual  n3o  nos  parece  impossível  de  conseguir, 
quando  se  organisar  uma  expedição  de  obras  publicas,  como  as  que  ha 
pouco  partiram  para  Moçambique  e  Angola. 

Estabelecida  na  populaçllo  a  conflança  de  que  os  melhoramentos  s9o 
uma  realidade,  convencidos  os  mais  illustrados  de  que  muito  lucrar3o, 
n3o  só  nos  seus  haveres,  mas  muito  principalmente  na  saúde,  com  uma 
bem  dirigida  e  illustrada  serie  de  trabalhos  tendentes  a  transformar  o 
solo  de  miasmatico  em  salubre,  cremos  que  os  mais  incrédulos  e  os  mais 
egoístas  concorrerão  para  que  a  desditosa  ilha  de  S.  Thomé,  hoje  tfío  des- 
prezada e  temida  pela  sua  má  fama,  se  torne  da  maior  importância,  pois 
a  sua  fertilidade,  quando  bem  aproveitada,  a  ha  de  tornar  invejada. 

Temo-nos  afastado  um  pouco  da  enumeração  das  providencias  da  ini- 
ciativa das  auctoridades,  levados  pelo  enthusiasmo  que  sentimos  quando 
imaginámos  o  que  poderá  vir  a  ser  a  ilha  em  que  primeiro  servimos  como 
medico  colonial,  mas  proseguiremos  na  nossa  tarefa,  a  fim  de  tomar  bem 
patente  o  estado  a  que  ella  está  reduzida,  para  que,  se  alguma  vez  se 
realisarem  os  melhoramentos  reclamados,  mais  facilmente  se  possam 
comparar  e  apreciar  os  benefícios  que  ali  se  introduzirem. 

A  alimentação  dos  soldados  è  deficiente,  como  já  dissemos,  e  por  con- 
seguinte uma  das  principaes  causas  das  repelidas  febres  que  os  acom- 


4% 

mettem,  e  que  nâo  tem  sido  possível  melhorar  pela  escassez  e  excessivo 
preço  dos  geoeros  alimeDlicios. 

Com  o  flm  de  melhorar  este  ramo  de  serviço,  determinou  ainda  o  go- 
vernador José  Eduardo  da  Cosia  Moura,  em  portaria  de  27  de  fevereiro 
de  1863,  que  a  roça  Arraial  fosse  cedida  á  bateria  de  artilheria  pelo  es- 
paço de  dez  annos  consecutivos,  para  a  cultivar  e  amanhar,  devendo  o 
rendimento  dos  três  primeiros  annos  constituir  fundo  especial  para  o  ran- 
cho e  para  as  obras  necessárias  na  bateria  e  na  fortaleza  de  S.  Sebastião, 
ficando  dependente  de  determinação  opporluna  do  governador  a  applica- 
çao  do  rendimento  dos  annos  restantes.  N'esta  cedência  era  condição  ex- 
pressa, entre  outras  de  menos  importância»  que  deveria  ficar  impreteri- 
velmente extincto,  até  fim  de  dezembro  do  mesmo  anno,  o  pântano  for- 
mado na  mencionada  roça,  pelo  mal  que  causavam  aos  habitantes  da  ci- 
dade as  constantes  exhalaçoes  mephiticas  que  d'ali  provinham. 

N3o  podemos  deixar  de  louvar  esta  medida ;  assim  ella  tivesse  pro- 
duzido os  effeitos  desejados. 

Em  24  de  março  do  anno  seguinte,  pouco  mais  de  dois  mezes  depois 
de  tomar  posse  do  governo,  determinava  o  novo  gevernador,  Estanislan 
Xavier  de  Assumpção  e  Almeida,  em  uma  portaria  publicada  no  Boletim 
ofíicial,  que  o  presidente  da  camará  municipal  fizesse  publicar  novamente 
o  código  de  posturas  municipaes,  e  que  recommendasse  toda  a  vigilância 
na  sua  execução ;  e  tornando  responsável  o  administrador  do  concelho 
pelo  cumprimento  da  lei,  sem  vexame  para  os  povos,  esperando  do  bom 
censo  dos  habitantes  que  não  seria  preciso  compellil-os  com  as  penas  da 
lei  a  prestarem  a  attenção  devida  ás  ordens  da  auctoridade  superior,  es- 
pecialmente quando  essas  ordens  eram  fundadas  no  bem  geral. 

Esta  portaria  devia  ter  plena  execução  dez  dias  depois  da  sua  publi- 
cação,  e  aos  transgressores  seriam  applicadas  inexoravelmente  as  multas 
comminadas  nas  respectivas  posturas. 

Allegava  este  governador  que,  tendo  observado,  não  obstante  as  re- 
petidas providencias  e  ordens  emíltidas  por  differentes  portarias  do  gover- 
no da  província  acerca  da  limpeza  da  cidade,  continuavam  a  apparecer 
immundicias  aggiomeradas  em  difi^erentes  pontos  e  em  algumas  das  ruas 
principaes  da  povoação,  bem  como  nas  praias,  e  os  quintaes  estavam 
pela  maior  parte  cobertos  de  vegetaes  nocivos;  alem  de  se  notarem  mui- 
tos outros  abusos,  que  se  poderiam  ter  evitado,  se  se  tivesse  executado  o 
código  de  posturas,  o  que,  não  só  revelava  o  não  cumprimento  das  dispo- 
sições dos  artigos  249.^  e  251.^  do  código  administrativo,  como  também 
é  uma  prova  irrefragavel  do  estado  anti-civilisador  em  que  ainda  se  achava 
a  povoação. 

Parece  que  depois  da  publicação  de  um  documento  tão  positivo,  ai- 


497 

gum  resultado  se  deveria  ver,  mas  nao  succedeu  assim ;  as  posturas,  al- 
teradas em  alguns  dos  seus  artigos,  foram  approvadas  por  accordão  do 
conselho  de  districto  em  sessão  de  8  de  abril  do  mesmo  anno,  e  a  cidade 
continuou  sem  o  menor  benencio  emquanto  á  limpeza  tuo  recommendada. 
Só  vendo  é  que  se  pôde  avaliar  bem  o  estado  dos  terrenos  nos  limites  da 
cidade.  * 

^  Este  governador,  que  parecia  animado  a  fazer  cumprir  as  ordens  ten- 
dentes ao  melhoramento  da  província,  entregou  o  governo  em  1 1  de  agosto 
de  1805,  e  por  isso  nao  podemos  asseverar  se  elle  poderia  conseguir  ou 
não  o  seu  louvável  empenho. 

Appareceu  mais  tarde  outra  portaria,  datada  de  8  de  agosto  de  18C7, 
e  referendada  pelo  governador  interino,  António  Joaquim  da  Fonseca,  re- 
commendando  á  camará  municipal  c  ao  administrador  do  concelho  a  exa- 
cta observância  de  código  de  posturas,  e  mandando  limpar  immediata- 
mente  as  praias  e  largos,  multando  os  moradores  que  não  conservassem 
os  quintaes  nas  condições  exigidas ;  mas  ainda  assim  tudo  foi  baldado,  não 
obstante  serem  escolhidos  alguns  logares  mais  apropriados  da  praia  para 
deposito  de  lixo  e  outras  immundicías  que  se  podessem  queimar,  por- 
que um  anno  depois  estes  sitios  eram  outros  tantos  focos  miasmaticos, 
visto  que  a  maior  parte  das  vezes  não  se  lançava  fogo  áquelles  montes  de 
hervas,  paus  e  outros  despojos  que  ali  apodreciam,  e  a  cidade  continuou 
como  anteriormente. 

Em  1872  ordenou-se  que  se  lançassem  ao  mar  todos  os  detritos,  mas 
o  fluxo  e  refluxo  das  aguas  depositou  nas  praias  muitos  vegetaes  que  re- 
sistiam á  acção  dissolvente  pouco  demorada,  tornando-se  outra  vez  ele- 
mentos de  insalubridade. 

O  estado  da  cidade  em  1872  tem  sido  referido  por  diversas  vezes 
n'este  nosso  trabalho,  mas  parece-nos  conveniente  apresentar  ainda  aqui 
algumas  considerações  e  informações  concisas,  devendo  relevar-se-nos  as 
repetições  que  somos  obrigados  a  fazer,  por  ter  dividido  o  relatório  em 
muitos  capitulos,  alguns  dos  quaes  certamente  não  téem  rasão  de  ser  se- 
não por  motivos  especiaes,  que  declarámos. 

Não  è  fácil  fazer  a  enumeração  das  hervas,  arbustos  e  sub-arbustos 
que  enchem  a  rua  de  S.  Miguel  e  o  bairro  próximo  em  todas  as  direcções 
onde  não  é  dado  caminhar  sem  espanto !  Aquelle  espesso  e  continuado 
mato  prolonga-se  em  volta  da  cidade  por  um  modo  singular  e  próprio  da 
vegetação  tropical. 

Não  se  atravessa  facilmente  pelo  meio  doestes  matos,  os  quaes  correm 
entre  o  paul  que  se  segue  á  lagoa  de  S.  Sebastião  e  a  rua  do  Espalmador, 
e  estão  também  ao  pé  da  igreja  de  S.  Miguel  nas  mesmas  condições,  e 
assim  se  dirigem  cercando  a  cidade  por  detrás  da  rua  de  S.  Miguel  e  das 

33 


498 

que  ri'ella  desembocam,  da  rua  de  Santo  António,  etc. ;  o  paíil  estende-se 
do  mesmo  modo  por  aquelle  lado,  vindo  os  matos  a  ficar  entro  o  paul  e 
as  ruas  extremas  de  barlavento  da  cidade.  Na  altura  de  Santo  António  a 
direcção  muda  completamente,  sendo  por  assim  dizer  perpendicular  ao 
romo  indicado.  Encontra-se  ali  a  ponte  Tavares  e  arvores  altas,  espesso 
mato  de  arbustos,  hervas,  trepadeiras,  etc. ;  e  na  margem  direita  do  va- 
garoso rio  Agua  Grande  íicam  o  charco  e  pântano  formado  pelo  antigo 
leito  d'este  rio,  entre  a  ponte  denominada  José  do  Paço  e  a  rua  da  Feira. 

Yê-se  que  esta  parte  está  quasi  no  centro,  da  cidade,  e  as  aguas  mui- 
tas vezes,  em  1872,  não  permitliam  a  passagem  na  primeira  ponte  refe- 
rida (a  segunda  do  rio  Agua  Grande). 

Para  se  avaliar  a  humidade  que  ha  nos  terrenos  da  cidade  é  sufflciente 
recordar  as  oito  pontes  que  dão  passagem  de  umas  para  outras  ruas,  e 
que  nSo  são  de  corrente  rápida  as  aguas,  nem  ião  pouco  de  origem  limpa 
e  de  leito  bom. 

Este  é  o  verdadeiro  estado  em  que  se  acha  a  cidade  de  S.  Thomé.  As 
causas  da  insalubridade  são  conhecidas  e  é  necessário  destruil-as  ou  atte- 
naal-as  conforme  a  sciencia  e  a  boa  rasão  aconselham.  Feito  isto,  não  he- 
sitámos em  asseverar  que,  se  as  condições  hygienicas  téem  melhorado  al- 
guma cousa  relativamente  ao  estado  em  que  estavam  em  1776,  muito  e 
muito  mais  se  conseguiria  em  três  ou  quatro  annos  de  aturado  e  bem  di- 
rigido trabalho  e  com  uma  boa  colonísaçâo. 


I 


CAPÍTULO  IX 


Melhoramentos 


Abertara  de  passeios,  largos  e  mas;  aterros  c  dessecamenlo  de  pântanos;  canalisaeâo  do  rio  i|ae  atra- 
lessa  a  cidade  de  S.  Thoné. 


A  cidade  de  S.  Thomé,  pela  sua  posição  e  Tertilidade,  é  das  que  mais 
se  presta  a  uma  transformação  completa,  de  modo  que,  de  insalubre  e 
pantanosa  como  actualmente  está,  se  possa  tornar  agradável  e  salubl*e,  e 
rivalisar  com  as  principaes  cidades  das  colónias  de  outros  paizes.  Para 
isto  se  conseguir  são  necessárias  principalmente  três  cousas :  boa  vonta- 
de, perseverança  e  recursos  pecuniários.  A  primeira  está  ha  muito  na 
mente  dos  governos,  que  todos  mais  ou  menos  têem  manifestado  bons 
desejos  de  levantarem  as  nossas  colónias  do  abatimento  em  que  jazem;  a 
segunda,  cremos  que  se  não  tem  realisado  pela  pouca  permanência  dos 
ministros  nos  conselhos  da  coroa,  como  dissemos  no  final  do  capitulo  5.^; 
e  a  terceira  é  um  mal  muito  antigo,  que  obsta  a  qualquer  emprebendi- 
mento  de  maior  valia  que  se  queira  fazer,  é  um  cancro  constante  que  des- 
troe  todas  as  idéas  de  progresso  que  se  imaginem,  e  que  f^z  com  que  fi- 
quem sempre  para  o  fatal  dia  de  amanhã,  quando  toda  a  demora  se  trans- 
forma em  maior  sacrificío  futuro. 

Cremos  que  estas  causas  hão  de  um  dia  desapparecer,  se  nSo  dêi  todo, 
ao  menos  em  parte,  e  que  as  constantes  instancias  e  o  verdadeiro  conhe- 
cimento de  que  não  convém  espaçar  por  mais  tempo  assumpto  tão  mo- 
mentoso, farão  com  que  progridam  os  últimos  melhoramentos  encetados, 
e  que  jamais  se  abandone  a  idéa  de  aproveitar  os  recursos  que  aquelle 
solo  pôde  prestar,  derramando  ao  mesmo  tempo  a  civilisa^So  e  a  instruc- 
ção  nos  povos  que  d'ella  tanto  carecem. 

Gomo  base  d'esses  trabalhos  não  podiamos  deixar  de  dedicar  n'este 
livro  xm  capitulo  especial  relativo  aos  melhoramentos  de  que  é  susceptí- 
vel ^  cidade  de  S.  ThoAé.  É  apenas  uma  breve  indicação,  porque  o  pe- 
queno espaço  áb  que  dispomos  não  permitte  que  nos  alarguemos  tanto 
como  desejávamos ;  contudo  datnos  summariamente  a  idéa  das  pírincipaes 


500 

obras,  dividindo  a  cidade  em  três  bairros  com  passeios,  largos  e  ruas, 
aterrando  e  dessecando  os  pântanos  tâo  prejudiciaes  á  salubridade  publica, 
e  canalisando  o  rio  que  atravessa  a  cidade.  São  estes,  a  nosso  ver,  os  pri- 
meiros trabalhos  que  cumpre  fazer,  deixando  para  mais  tarde  outros  que 
de  futuro  se  julguem  necessários. 

Bairro  occiílcDtal. — Da  margem  esquerda  do  rio  Água  Grande,  a  contar 
da  sua  foz  até  á  quebrada  da  fazenda  Boa  Vista  ou  Quingloró,  onde  corre 
a  Agua  Flamenga,  poder-se-ha  formar  em  todo  o  comprimento  da  praia 
um  passeio  de  arvoredo  escolhido  (boulevardj,  construindo-se  para  esse 
fim,  do  lado  do  mar,  um  muro  de  pedra  e  cal,  e  procedendo-se  ao  con- 
veniente aterro  para  o  nivelamento  regular  do  terreno.  As  arvores  podem 
ser  dispostas  com  intervallos  de  10  ou  20  metros,  collocando-se  entre 
cada  uma  um  banco  de  ferro.  Para  maior  utilidade,  e  evitar  o  empoça- 
mento  das  aguas  das  chuvas,  deverá  ser  empedrado.  N3o  será  permittida 
n'este  passeio  edificação  de  casas  baixas,  nem  de  ^onstrucções  que  não  te- 
nham jardins  lateraes. 

O  regueiro  que  vem  da  roça  Arraial,  sobre  o  qual  ha  duas  pontes, 
sendp  a  da  Conceição  no  fim  da  rua  Alegria,  e  o  regato  Agua  Garcia,  que 
passa  no  fim  da  rua  da  Conceição,  sob  a  ponte  Lucumi,  serão  também 
empedrados,  assim  como  o  celebrado  boqueirão  Agua  Fede,  charco  com- 
mum  onde  se  reúne  a  agua  mar,  a  Agua  Garcia  e  a  agua  paludosa  que  sáe 
da  roça  Arraial.  O  povo  na  sua  linguagem  simples  e  despretenciosa  de- 
nominou aquelle  sitio  Agua  Fede. 

É,  pois,  conveniente  que  as  obras  ali  sejam  regularmente  feitas  e  por 
tal  modo  que  façam  desapparecer  de  todo  qualquer  vestigio  ou  signal  da 
Agua  Fede. 

A  Agua  Flamenga,  ao  fundo  da  quebrada  da  roça  Boa  Vista  ou  Quin- 
gloró, deverá  também  correr  em  um  canal  de  pedra  e  cal,  bem  construído 
e  com  o  necessário  declive. 

Estebello  e  agradável  passeio  terá  duas  boas  pontes — uma  no  si- 
tio Agua  Fede  e  outra  na  Agua  Flamenga,  e  pertencerá  á  parte  NO. 
da  cidade,  a  qual  collocada  na  margem  esquerda  do  rio  Agua  Gran- 
de, será  cingida  com  um  muro  de  alvenaria,  construido  no  meio  de  uma 
superficie  ampla  e  bem  nivelada.  Começará  este  muro  junto  á  porta  da 
cidade  que  se  deve  levantar  na  estrada  real,  denominada  do  Rosário  ou 
da  Madre  de  Deus,  e  seguirá  até  á  Cruz  dos  Caminhos,  por  detrás  da 
igreja  da  Conceição,  onde  se  levantará  outra  grande  porta.  O  muro  coo* 
tinuará  até  se  encontrar  com  a  denominada  Agua  Flamenga,  seguindo 
por  detrás  do  cemitério  publico,  o  qual,  coUocado  n'uma  eminência  de 
cerca  de  20  metros,  ficará  dominando  esta  vistosa  parte  da  cidade. 


501 

Em  frente  do  cemitério  ha  uma  planície,  muito  baixa,  plana  e  regular, 
com  cerca  de  600  metros  de  largura  e  talvez  mais  do  triplo  de  compri- 
mento, que  será  uma  poética  e  fresca  alameda,  em  boas  condições  de  sa- 
lubridade. 

As  ruas  d'esta  parte  da  cidadã  devem  ser  calçadas  ou  preparadas  de 
modo  que  não  conservem  a  menor  porção  de  agua  estagnada. 

Este  rápido  esboço,  feito  na  ausência  de  planta,  descripção  ou  carta 
topogràpbica  da  capital  d'esta  riquissima  e  productiva  província,  e  apenas 
com  o  conhecimento  que  d'ella  temos,  serve  para  se  indicarem  as  obras 
de  primeira  ordem  mais  urgentes  e  necessárias,  e  pelas  julgarmos  im- 
portantíssimas, nomeâmol-as  resumidamente  : 

1.°  Passeio  de  arvores  escolhidas,  tendo  um  parapeito  do  lado  do 
mar.  Este  passeio  deve  ser  bem  empedrado  e  nivelado,  com  bancos  de 
espaço  a  espaço  e  com  duas  pontes,  começando  na  margem  esquerda  do 
rio  Agua  Grande,  e  terminando  na  Agua  Flamenga; 

2.^  Alameda,  não  de  alamos,  mas  de  arvores  escolhidas  entre  as  abun- 
dantes Mimosissimas y  ou  entre  as  variadas  Malvaceas,  ou  então,  o  que 
será  preferível,  composta  somente  de  eucalyptos; 

3.°  Grandioso  passeio  ou  jardim  construido  no  pântano  da  roça  Ar- 
raial; as  ruas  centraes  e  lateraes  serão  bem  calçadas,  e  todo  o  terreno 
preparado  para  receber  eucalyptos,  girasoes,  hervas  e  plantas  aromáti- 
cas, e  flores  das  espécies  que  possam  ali  produzir ; 

4.^  Muro  do  alvenaria,  de  2  metros  de  altura  e  com  a  espessura  con- 
veniente, começando  na  porta  da  estrada  real  e  seguindo  até  á  porta  da 
estrada  da  Conceição,  e  d'ahi  até  á  Agua  Flamenga,  em  cuja  margem  di- 
reita descerá  a  encontrar  a  alameda  referida  em  o  n.®  ^.^ 

Deve  organisar-se  uma  companhia  de  cem  indígenas  válidos,  que  se 
occuparão  constantemente  da  limpeza  publica. 

As  três  pequenas  elevações  próximas  á  cidade  de  NO.,  que  são  uma 
no  sitio  em  que  existiu  o  denominado  Forle  Hollandez,  outra  no  local 
onde  está  o  cemitério,  a  outra  no  ponto  em  que  está  edificada  a  casa  co- 
nhecida pelo  nome  de  Quingloró  ou  da  Boa  Vista,  servirão  então  para  se 
construirem  quartéis,  agradáveis  vivendas,  palácios,  etc. 

Bairro  central. — A  parte  central  d'esta  cidade,  isto  é,  a  cidade  com- 
nicrcial  propriamente  dita,  abrangerá  a  área  comprehendída  na  margem 
direita  do  rio  Agua  Grande,  estendendo-se  pelo  largo  da  igreja  de  Santo 
António,  por  toda  a  rua  de  igual  denominação  e  pela  do  Amaral,  largo  da 
Sé,  ruas  Catharina  Jorge  e  Domingos  António,  largo  de  S.  Miguel  e  ruas 
próximas,  tendo  a  frente  na  praia  desde  a  margem  direita  do  indicado 
no  alé  do  logar  onde  desemboca  a  rua  do  Tronco. 


O  templo  da  Sé,  a  casa  que  serve  aclualmenle  de  residência  aos  go- 
,  vernadores  e  a  alfandega  devem  ter  as  fachadas  para  a  lado  da  babia-  fp- 
felizmente  todos  elles  carecem  de  grandes  melhoramentos,  e  com  espe- 
cialidade a  alfandega,  que  tem  de  ser  quasi  reconstruída,  acrescen^ioda- 
se-lbe  vastos  armazéns,  porque  os  que  possue  são  acanhadíssimos.  O  que 
porém  devia  ser  a  área  de  terreno  da  cidade  a  que  nos  referimos  vé-se 
pela  seguinte  concisa  e  breve  exposição. 

Entre  a  igreja  de  Santo  António,  a  margem  direita  do  rio  Agua  Gran- 
de, e  a  rua  de  Santo  António  até  á  rua  detrás  da  Sé,  e  a  sua  continuação 
até  á  ponte  denominada  José  do  Paço  ou  Sum  Migue,  segundo  a  lingua- 
gem da  ilha,  haverá  um  largo  arborisado,  bem  calçado  e  nivelado.  Os  ca- 
sebres que  ficam  entre  o  largo  da  Sé,  formando  a  rua  de  Baixo  da  Sé, 
serão  demolidos,  conservando-se  apenas  alguma  casa  de  melhor  cons- 
trucção,  mas  perdendo  parte  do  quintal  próximo  á  margem  do  rio.  Em 
volta  da  velha  igreja  de  S.  Miguel  formar-se-ha  um  largo.  A  casa  proxiipa 
á  travessa  da  Sé  e  o  armazém  serão  expropriados  para  armazéns  da  alfan- 
dega, amplos  e  hygienicos  que  occuparão  também  a  mesma  travessa.  Em 
logar  da  actual  ponte  de  madeira  far-se-ha  uma  outra  de  ferro,  estenden- 
do-se  até  onde  houver  bom  fundo. 

A  igreja  da  Conceição,  por  se  achar  encravada  no  edifício  da  alfande- 
ga, será  applicada  a  outro  fim,  segundo  as  necessidades  da  casa  fiscal. 

O  muro  que  se  interrompeu  na  estrada  do  Rosário  para  lhe  dar  pas- 
sagem e  ao  rio  Agua  Grande  começará  na  mesma  altura  da  margem  di- 
reita, deixando  espaço  para  a  estrada  publica  do  Caixão  Grande,  etc,  se- 
guirá por  detrás  da  igreja  de  Santo  António  e  voltará  pela  beira  esquerda 
do  extenso  paul  até  defronte  da  igreja  de  S.  Miguel,  onde  haverá  uma  es- 
trada para  a  villa  de  SanfAnna.  O  paul  extenso,  em  cujo  centro  ha  lama- 
çaes,  accommodar-se-ha  a  jardins,  praças,  largos  e  vistosas  alamedas  de 
bellas  sombras,  espongeiras,  anomaceas,  artopos,  incisas,  etc,  correndo 
no  centro,  em  um  bom  canal,  as  aguas  e  todas  as  vertentes  que  para  ali 
affluem  e  possam  ser  dirigidas. 

A  parte  central  da  cidade  seria  então  de  uma  deslumbrante  vista, 
observada  do  fundeadouro  do  porto,  e  demonstraria  cabalmente  o  bom 
gosto,  riqueza  e  importância  da  colónia  porlugueza  no  Equador. 

Uma  outra  companhia  de  cem  indígenas  válidos  se  occupará,  em 
iguaes  condições  á  do  bairro  Occidental,  de  conservar  sempre  em  completo 
e  perfeito  estado  de  limpeza  as  praias,  ruas,  jardins,  alamedas,  canaes, 
etc. 

Ignorámos  se  na  ilha  ha  pedreiras,  e,  no  caso  affirmativo,  se  se  en- 
contrarão ali  indivíduos  habilitados  para  as  explorarem;  mas,  se  os  não 
houver,  pôde  transportar-se  a  pedra  já  preparada  de  Lisboa  ou  do  Porto, 


503 

coino  lastro  dos  navios  que  venham  carregar  géneros  coloniaes.  As  pe- 
dras para  as  calçadas  devem  ser  parallepipedos  regulares,  de  1  decime- 
Iro  por  face.  A  cantaria  para  as  edificaç(5es  e  os  parallepipedos  de  pedra 
para  as  calçadas  das  primeiras  ruas  devem  ser  enviados  com  brevidade 
para  que  os  trabalhos  se  possam  realisar  gradualmente. 

São  cinco  as  estradas  publicas  que  saem  da  cidade,  sendo  duas  na 
parte  oriental  e  três  na  occidental,  e  portanto  haverá  cinco  portas. 

A  canalisaçâo  do  rio  Agua  Grande  deve  realisar-se  com  todas  as  in* 
dicações  da  arte.  Os  lavadouros  públicos  serão  collocados  de  forma  que, 
a  agua  esteja  em  continua  corrente,  a  flm  de  se  conservar  o  mais  límpida 
possivel.  Em  ambas  as  margens  do  rio  haverá  passeios  de  boas  arvores, 
assim  como  bancos  de  ferro,  de  pejdra  ou  de  madeira,  collocados  espe- 
cialmente próximo  ás  pontes. 

Bairro  oriental.  —  A  parte  de  SE.  da  cidade  será  tão  salubre  quanto 
notável  e  bella.  Poderá  nomear-se  o  lado  oriental  em  opposição  ao  de 
NO.,  que  se  denominará  occidental. 

Para  esse  flm  construir-se-ha  um  passeio  de  arvoredo  escolhido  (bau- 
levará  oriental)  desde  a  ultima  parte  da  praia  do  cães  da  alfandega  até  ao 
largo  da  fortaleza  de  S.  Sebastião.  N'este  passeio  ha  apenas  uma  ponte, 
quasi  fronteira  á  ponte  occidental,  ou  do  boqueirão  Agua  Fede,  sendo 
uma  e  outra  amplas,  bem  feitas  e  solidas.  A  oriental  será  lançada  sobre 
a  foz  da  alagoa.  O  pântano  que  rodeia  a  superfície  banhada  pelas  aguas 
do  mar  será  bem  aterrado  e  transformado  em  jardim,  e  o  seu  extremo 
em  relação  á  alagoa  constará  de  um  muro  de  alvenaria  de  modo  que  as 
aguas  não  transbordem.  As  aguas  do  canal  central  feito  pelo  meio  do  paul 
correrão  para  esta  parte,  assim  como  ioda  a  das  vertentes  que  houver  por 
aquelle  lado. 

O  muro  que  havíamos  deixado  pela  altura  do  largo  da  igreja  de  S.  Mi- 
guel será  continuado  segundo  o  plano  que  se  adoptar  para  se  realisarem 
os  melhoramentos  da  cidade,  a  qual,  sem  grande  sacrifício,  poderia  ter  os 
limites  mais  largos,  mais  regulares  e  extensos,  e  n'este  caso  o  muro  a 
que  nos  temos  referido  ou  acaba  na  fortaleza  de  S.  Jeronymo,  ou  então 
em  qualquer  ponto  da  estrada  que  segue  para  a  villa  de  SanfAnna. 

É  condição  essencial  que  ao  lado  do  extenso  muro  se  arranje  uma  su- 
perfície de  100  metros  de  largo  em  toda  a  circumferencia.  Junto  das  por- 
tas haverá  mercado  todos  os  dias  e  um  bi-semanal  dentro  da  cidade.  O 
açougue  ou  talho  de  carnes  verdes  será  construido  fora  das  portas,  e  da 
parte  de  dentro  não  serão  permittidas  as  cacimbas,  isto  é,  covas  ou  focos 
para  se  tirar  agua,  salvo  se  o  dono  as  empedrar  e  mandar  limpar  de  seis 
em  seis  dias. 


504 

9 

Haverá  caminbos  de  feno  americanos  para  a  colónia  penal  e  para  a 
cidade  oílicial,  em  que  estiver  o  palácio  do  governo  e  o  hospital  geral  e 
permanente. 

Três  estradas  atravessarão  a  superficie  da  ilha  de  um  a  outro  lado, 
de  modo  que  se  possa  ir  de  trem  á  freguezia  dos  Angolares,  á  de  Nossa 
Senhora  das  Neves  e  á  villa  de  SanfAnna. 

  praça  do  peixe  será  em  logar  certo  e  bem  determinado  da  parte  do 
mar  e  dos  passeios  construidos  nas  praias  da  bahia. 
,     Terminaremos  estas  considerações  com  as  seguintes  indicações  ^' 

1.°  Pôr  cincoenta  indigenas  váhdos  trabalhando  diariamente  no  aterro 
do  pântano  de  S.  Sebastião ; 

2.°  Formar  uma  companhia  de  qjncoenta  homens  válidos  para  cuidar 
da  limpeza  publica  das  ruas,  praias,  praças  e  logares  próximos  aos  limi- 
tes da  cidade ; 

3.^  Proteger  a  agricultura  de  modo  que  ella  possa  trazer  aos  cofres 
públicos  cerca  de  300:000^000  réis  annuaes,  podendo  applícar-se  réis 
I00:000]$000  ás  despezas  dos  empregados,  I00:000f$000  réis  ás  obràs 
publicas  e  os  outros  I00:000f$000  réis  a  pagar  as  despezas  de  passagens 
dos  empregados  públicos  e  a  indemnisar  o  cofre  da  marinha  e  ultramar 
das  despezas  que  fizer  com  qualquer  melhoramento  que  mande  realisar, 
indo  de  Lisboa  as  plantas,  operários  e  mestres  de  obras,  bem  como  um 
naturalista  consciencioso  que  se  occupe  de  estudar  os  reinos  mineral,  ve- 
getal e  animal,  indicando  os  productos  de  maior  utilidade,  importância  e 
valor ; 

4.°  Mandar  empedrar  de  pedra  e  cal  o  regueiro  que  vem  da  roça  Ar- 
raial e  o  celebrado  boqueirão  Agua  Fede. 


1  Fazem  parte  do  relatório  da  junta  de  saúde,  a  resfioito  do  qual  baixou  em  1873 
a  seguinte  portaria : 

•N.*"  51.— Sua  Magestadc  Ei-Rei,  tendo  tido  conhecimento  do  relatório  elaborado 
pela  junta  de  saúde  da  província  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  relativo  ao  serviço  de  saúde 
da  mesma  província  no  anno  de  1872,  manda,  pela  secretaria  doestado  dos  negócios 
da  marinha  e  ultramar,  que  o  governador  da  dita  província  louve  a  referida  junUk 
por  haver  colligido  n'aquelle  trabalho  minuciosas  informações  acerca  do  serviço  no 
mencionado  anno,  e  outras  também  importantes  a  respeito  da  ilha  de  S.  Thomé,  cm 
additamcnto  ás  que  se  encontram  no  seu  relatório  do  serviç>o  de  saúde  em  1869. 

«Paro,  aos  25  de  julho  de  iS7'ò.^ João  de  Andrade  Cmvo.» 


CAPITULO  X 
l2isalubridade  relativa 

Opinião  de  diferentes  escriftores.— Moléstias  mais  freqnentes  das  colónias  portujieias  nos  annos  de  1 870 
a  1873.— Diferentes  estatisticas  sobre  este  assumpto.— Glas^vifeaçlo  ias  diferentes  colónias. 

Pertence  ao  hygienísta  dar  opinião  acerca  da  natureza  do  solo,  quer 
para  a  edificação  de  alguma  vílla,  quer  para  a  de  um  estabelecimento 
importante,  quer  finalmente  para  se  proceder  a  uma  cultura  apropriada, 
tendo  em  vista  a  purificação  do  ar ;  e  nunca  o  poderá  fazer  sem  estudos 
preliminares  bem  dirigidos.  O  solo  não  é  salubre  somente  por  ser  mon- 
tuoso,  secco  e  bem  batido  pelos  ventos,  nem  também  é  mau  por  ser  bai- 
xo, alagadiço,  bumido  e  pantanoso.  São  d'esta  opinião  Dutroulau  e  Celle, 
e  ambos  concordes  cm  que  deve  haver  analyses  geraes  e  parcíaes  por 
tantas  vezes  repetidas  quantas  forem  precisas  para  se  obterem  conheci- 
mentos completos  e  indestructíveis.  Mas  emquanto  não  vem  a  sciencia 
pronunciar  a  sua  ultima  palavra,  vamos  nós,  pela  nossa  observação  diá- 
ria, protestando  contra  os  trabalhos  dos  europeus  em  S.  Thomé!  Não 
se  sacrifiquem  mais  vidas  inutilmente,  bastam  as  já  sacrificadas  no  es- 
paço de  quatro  séculos,  e  as  que  se  irão  entregando  á  morte  quasi  certa 
emquanto  não  forem  tomadas  as  providencias  que  pela  sciencia  téem  sido 
aconselhadas. 

Eram  estas  com  pequena  differença  as  palavras  que  escrevemos  ao 
Analisar  as  nossas  considerações  sobre  a  salubridade  absoluta,  no  relató- 
rio de  1860  (pag.  131).  Hoje  pouco  podemos  adiantar,  porque  as  causas 
que  produzem  a  insalubridade,  não  só  da  cidade  como  de  toda  a  ilha,  são 
as  mesmas.  Limitámo-nos  porém  a  extractar  as  diversas  opiniões  de  es- 
criptores  distinctos  acerca  das  ilhas  de  S.  Thomè  e  Principe,  opiniões 
que,  juntas  ás  nossas  já  emittidas  no  mencionado  relatório,  servirão  de 
texto  para  o  desenvolvimento  das  ostntisticas  que  fazem  parte  d'este 
r.i[)itulo. 

—  Opinião  de  Lopes  de  Lima  áceixa  da  salubridade  das  duas  ilhas 
S.  Thomè  e  Principe,  parte  ii.*,  pag.  7: 


506 

«Os  argumentos  de  propagação  e  de  longevidade  comparativa  são 
muito  em  favor  da  melhor  salubridade  da  ilha  do  Príncipe  para  os  euro- 
peus, e  parecem-me  mais  convincentes  por  serem  de  facto  mais  impor- 
tantes do  que  a  theoria  scientiflca  das  duas  correntes  (a  que  se  refere 
D.  José  de  Moros  y  Morellon,  por  dar  por  mais  salubre  a  ilha  de  Anno 
Bom).  > 

— Opinião  do  dr.  José  Correia  Nunes  e  de  Thomás  Hutchinson,  extra- 
hida  da  obra  Impressão  da  costa  occidental  de  Africa,  publicada  em 
Londres  no  anno  de  1858,  pag.  207  e  208: 

«As  febres  intermitentes  quotidianas  e  terpãs  sao  as  únicas  febres  da 
manifestação  da  infecção  palustre  na  cidade  da  ilha  do  Principe.  Não  ap- 
parecem  casos  de  febres  remittentes,  biliosas,  ou  typhoides  (remittent 
yellow  or  typhoid  never  having  occurred  in  his  experience,  of  th  dr.  Nu- 
nes). As  febres  intermittentes  são  em  geral  benignas.  A  dysenteria  fere 
mais  os  indígenas.  N'aquella  ilha  não  ha  pântano  algum  (there  is  not 
square  inch  of  swampy  laud  upon  its  whole  sur  face).  O  dr.  Nunes  reputa 
a  i\h^  salubre,  e  a  opinião  deste  consciencioso  eintelligente  medico  deve 
ser  tida  em  mais  consideração  do  que  a  d'aquelles  que  por  ali  não  téem 
estado.  1 

— Opinião  de  F.  Lencastre,  publicada  no  Archivo  pittoresco,  voL  x, 
pag.  309— 1867: 

•A  ilha  do  Principe  pôde  dizer-se  saudável  relativamente  á  maior 
parte  dos  climas  de  Africa,  exceptuando  a  cidade  e  mais  alguns  pontos, 
Qode  as  ribeiras,  espraiando-se  muito,  deixam  aguas  estagnadas,  como 
acontece  em  Praia  Salgada. » 

— Parecer  da  junta  de  saúde  publica  da  província  de  S.  Thomé,  exa- 
rado no  relatório  de  1869,  pag.  142  e  143: 

«Sem  o  conhecimento  exacto  da  constituição  geológica  do  solo,  e  de 
tudo  Q  que  nos  possa  ser  revelado  pelo  estudo  geographico  e  topogra- 
phico  de  cada  ilha  em  separado;  sem  o  conhecimento  da  meteorologia, 
tqmando  em  consideração  os  seus  principaes  problemas,  não  se  pôde 
avaliar  a  natureza  dos  climas,  e  muito  menos  a  das  moléstias  reinantes. 
A  falta  d'estes  dados  inhibe-nos  de  apresentar  a  nossa  opinião  fundamen- 
tada; e  apesar  d'isso  fazemos  a  seguinte  classificação  das  ilhas  do  golfo 
dos  Mafras,  que  pertencem  aos  portuguezes. 

«1.°  Logares  mais  salubres  de  S.  Thomé. — Monte-Café,  Magdalena, 
Mancambrará,  e  muitos  logares  cuja  altitude  é  superior  a  300  metros. 

tf 2.^  Logares  mais  salubres  da  ilha  do  Principe. — Ok-Gaspar,  Sun- 
dim,  Azeitona,  Cima-Lô  o  Ponta  da  Mina. 

«3.°  A  ilha  de  S.  Thomé  é  actualmente  mais  rica,  mais  povoada  e 
mais  fértil  que  a  ilha  do  Principe.» 


507 


Moléstias  mais  frequentes,  segundo  a  ordem  descendente,  nas  colónias 

portugnezas,  nos  ^nupç  i^p  i870  a  1873 

Cidade  da  Praia 

IST^O  —  Febres  iDtennittentes  e  remillentes,  ulceras,  rheumatis- 
mo,  bronchites,  tubérculos  pulmonares,  ^iarrbea,  dois  casos  de  febre 
typhoide. 

l&^X  —  Febres  inl^rmittent^s,  febres  remittentes,  ulc^r^s,  rbeu- 
matismo,  bronchites,  tubérculos  pulmonares,  febre  biliosa,  cacbexia  pa- 
lustre e  febre  paludosa. 

1SV2  —  Febres  intermiltenles,  febres  remittentes,  ulceras,  rheu- 
matismo,  bronchites,  tubérculos  pulmonares,  diarrhea,  cachexias  e  febre 
bilíosa. 

1^'7'3  —  Febres  intermittentes,  bronchile,  tubçrculQg  pulnipn^- 
res,  ulceras,  rheumatismo,  pneumonia  aguda,  cachexia  paludosa,  aqs- 
mia. 

nha  de  S.  Vicente 

—  Tisicas  pulmonares,  anemia. 

Ilha  de  Santo  Antão 

—  Bronchites,  febres  intermittentes,  rheumatismo,  diar- 
rhea, febre  perniciosa,  cachexias,  tuberculose  pulmonar,  febre  remit- 
tente,  anemia,  anazarca,  febres  e  diarrhea,  gastralgia. 

18'7'3  —  Bronchile,  pneumonia,  febre  intermittenle,  diarrhea, 
dysenteria,  cachexia,  rheumatismo,  anazarca,  tubérculos  pulmonares» 
embaraço  gastrico-intestinal,  enlero-colite,  anemia,  febres  perniciosas  e 
remittentes,  um  caso  de  febre  typhoide. 

Ilha  do  Sal 

IST^íi  —  Bronchites,  febre  intermittenle,  rheumatismo,  dois  casos 
de  tubérculos  pulmonares. 

nha  do  Maio 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  broqchites,  qlcersis, 
dois  casos  de  tubérculos  pulmonares. 


308 

—  Febres  intermíttentes,  bronchite,  diarrhea,  rbeumatismo, 
ulceras»  pleorísia,  três  casos  de  tubérculos  pulmonares. 

nha  Brava 

18'7'S  —  Bronchites,  ulceras,  febres  inlermittentes,  rheumatismo, 
diarrhea,  gastralgia,  dois  casos  de  tubérculos  pulmonares. 

Ilha  de  Bolama 

IST'»  —  Febres  inlermittentes,  bronchites,  febres  remittentes, 
ulceras,  diarrhea,  três  casos  de  febre  tvphoide  e  um  de  tubérculos  pul< 
monares. 

nha  do  Príncipe 

IST^O  —  Febres  intermíttentes,  bronchites,  febres  remittentes, 
febres  perniciosas,  dysentería,  anasarca,  um  caso  de  febre  typhoide  e 
cinco  de  tubérculos  pulmonares. 

IST'!  —  Febres  intermittenles,  ulceras,  febres  remittentes,  dysen- 
teria,  bronchite,  rheumatismo,  seis  casos  de  tísica  pulmonar. 

IST'»— Febres  intermillentes,  febres  remittentes,  anemias,  cacbe- 
xias,  embaraço  gástrico,  rheumatismo,  dysenteria,  edema  dos  pés,  dois 
casos  de  tubérculos  pulmonares. 

IST^S  —  Febres  intermíttentes,  cachexias,  ulceras,  anemias,  febres 
remittentes,  bronchites,  um  caso  de  tubérculos  pulmonares. 

S.  Thomé 

IST^O  —  Febres  intermiltentes,  rheumatismo,  ulceras,  bronchites, 
diarrhea,  dysenteria,  anemia,  embaraço  gástrico,  enterite  aguda,  febres 
perniciosas,  gastralgia,  enteralgía,  edema,  um  caso  de  febre  typhoide  e 
dois  de  tubérculos  pulmonares. 

IST'!  —  Febres  intermíttentes,  rheumatismo,  ulceras,  bronchites, 
febres  remittentes,  diarrhea,  dysentería,  cachexia,  embaraço  gástrico, 
edema,  febres  perniciosas,  anasarca,  três  casos  de  febre  typhoide  e  três 
de  tísica  pulmonar. 

XS'7'2  —  Febres  intermíttentes,  ulceras,  bronchites,  diarrhea, 
rheumatismo,  febres  remittentes,  cachexias,  embaraço  gástrico,  dysen- 
teria, anemia,  febre  perniciosa,  anasarca,  edema,  gastralgia,  um  caso  de 
tubérculos  pulmonares. 

—  Febreb  intermillentes,  ulcera:-,  bru^iihiles,  rheumatismo. 


509 

diarrhea,  febres  remiltenles,  dysenteria,  embaraço  gástrico,  aDemia,  ca- 
chexia,  pneumonia»  splenite,  hepatite,  anasarca»  pleurite,  três  casos  de 
tubérculos  pulmonares. 

Mossamedes 

IST"!  —  Febres  intermittentes,  ulceras,  broncbites,  diarrhea  e 
rheumatismo. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  ulceras,  diarrhea,  bronchite,  dy- 
senteria,  rheumatismo,  tubérculos  puhnonares,  anemia,  febre  perniciosa 
e  pneumonia. 

Loanda 

IST^O  — Febres  intermittentes,  broncbites,  rheumatismo,  febres 
remittentes,  diarrhea,  ulceras,  embaraço  gástrico,  febres  perniciosas,  tu- 
bérculos pulmonares,  anemia,  febre  biliosa,  quatro  casos  de  febre  ty- 
phoide. 

IST"!  — Febres  intermittentes,  ulceras,  bronchite,  rheumatismo, 
embaraço  gástrico,  diarrhea,  febres  remittentes,  febre  perniciosa,  anemia, 
tubérculos  pulmonares,  dysenteria,  febre  biliosa,  gastro-enterite,  ascite, 
enterite,  um  caso  de  febre  typhoide. 

IST^â  —  Febres  remittentes,  ulceras,  broncbites,  diarrheas,  rheu- 
matismo, febres  remittentes,  cachexias,  embaraço  gástrico,  dysenteria» 
febre  perniciosa,  anasarca,  edema,  gastralgia,  um  caso  de  tubérculos 
pulmonares. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  ulceras,  broncbites,  embaraço  gas- 
tiíco,  diarrhea,  rheumatismo,  febres  remittentes,  dysenteria,  febres  per- 
niciosas, tubérculos  pulmonares,  anemias,  pneumonias,  febres  biliosas, 
escorbuto,  splenite,  edema,  cachexias,  três  casos  de  febre  typhoide. 


Benguella 

—  Febres  intermittentes,  embaraço  gástrico,  febres  remit- 
tentes, pneumonia,  rheumatismo,  bronchite,  ulceras,  dois  casos  de  febre 
typhoide  e  dois  de  tisica  pulmonar. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  embaraço  gástrico,  ulceras,  pneu- 
monia, diarrhea,  bronchite,  febre  biliosa,  rheumatismo,  escorbuto,  febres 
perniciosas,  três  casos  de  tubérculos  pulmonares  e  dois  de  febre  ty- 
phoide. 


5» 

gasuúo,  rheumatismo,  dysenlcrias,  dian*hea,  splenite,  febres  remillenles, 
(jualro  casos  de  febre  typhoide  e  três  de  tubérculos  pulmonares. 

IHT'!  — Febres  intermittentes,  ulceras,  bronchite,  rheumatismo, 
dysenteria,  diarrhea,  febres  remittentes,  hepatites,  anasarca,  tubérculos 
pulmonares  e  pneumonia. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  bronchite,  ulceras, 
dysenteria,  diarrhea,  hepatite,  tubérculos  pulmonares,  febres  remitten- 
tes, cólicas,  pneumonias,  anasarcas,  ictericia,  anemia,  cinco  casos  de  fe- 
bre typhoide. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  bronchites,  rheumatismo,  emba- 
raço gástrico,  ulceras,  dysenteria,  diarrhea,  hepatite,  cólica,  tubérculos 
pulmonares,  anemia  e  splenite.  três  casos  de  febre  typhoide. 

Macau 

IST' O  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  bronchites,  diar- 
rhea, dysenteria,  ulceras,  gastralgia,  enteralgia,  tubérculos  pulmonares, 
hepatite. 

IST'!  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  bronchites,  diarrhea, 
ulceras,  tubérculos  pulmonares,  febres  remittentes,  enteralgia. 

lÔT^S  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  bronchites,  febres 
remittentes,  diarrhea,  dysenteria,  tubérculos  pulmonares,  hepatite,  em- 
baraço gástrico,  gastrite,  gastralgia,  ulceras  e  ictericia. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  rheumatismo,  bronchite,  diarrhea, 
tubérculos  pulmonares,  ulceras,  dysenteria.  pulmonite.  febres  remitten- 
tes, gastralgia  e  hepatite. 

Diiiy 

IHTO  —  Febres  intermittentes.  ulceras,  bronchites,  embaraço 
gástrico,  tubejculos  pulmonares,  um  caso  de  febre  typhoide. 

18T1  —  Febres  intermittentes,  ulceras,  bronchites,  rheumatismo, 
diarrhea  e  tubérculos  pulmonares. 

IST^íí  —  Febres  intermittentes.  ulceras,  bronchites,  embaraço 
gástrico,  rheumatismo,  tubérculos  pulmonares,  três  casos  de  febre  ty- 
phoide. 

IST^S  —  Febres  intermittentes,  ulceras,  tubérculos  pulmonares, 
bronchite,  rheumatismo  e  embaraço  gástrico. 


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513 


Estatística  dos  doentes  tratados  dos  hospítaes 
das  difTerentes  cidades  e  Yíllas  das  proYÍncias  nltramarinas 

nos  annos  de  1872  e  1873 


Desígnafão 
das  localidades  em  qoo  se  acham  os  hospítaes 


Cidade  da  Praia 

Ilha  de  Santo  Antão  i 

Ilha  do  Sal 

Ilha  do  Maio 

IlhaBrava^ 

Ilha  Bolama 3....... 

IlhadeS.  Tbomé.... 

Ilha  do  Príncipe 

Loanda 

Ambríz 

Benguella  ^ 

Mossamedes^ 

Golungo 

Moçambique 

Nova  Goa 

Damão 

Diu 

Macau . . .  ^ 

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191 

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182 

170 

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210 

199 

285 

250 

11 

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244 

232 

10 

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— 

1:585 

1:408 

106 

1:393 

1:169 

305 

263 

32 

140 

116 

3:182 

2:833 

190 

3:607 

3:241 

151 

129 

16 

559 

456 

760 

712 

29 

711 

655 

539 

499 

23 

469 

402 

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610 

545 

— 

— 

— 

1:123 

1:037 

2:880 

2:775 

49 

2:423 

2:368 

252 

246 

3 

359 

355 

125 

121 

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1:237 

1:122 

523 
15:613 

489 

11 

906 

745 

699 

13:093 

16:103 

13:456 

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62 

21 

3 

2 

65 
18 

1:154 


*  Do  roappa  ofllcíal  não  consta  o  numero  de  corados  nos  annos  de  1872  e  1873. 

-  Dos  roappas  ofliciaos  referidos  ao  anno  de  1873  só  consta  o  movimento  dos  mexes  de  maio  a  de- 
zembro. 

'  Idem. 

*  Não  se  publicaram  os  mappas  nosologícoi  o  nocrulogicos  d'e8te  hospital,  mas  pelos  mappas  do  mo* 
Tímento  se  conhecem  os  nnmeros  acima  indicados. 

*  Idem. 


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Classilicatão  das  CdloDÍas  das  priDci|jaes  nacfles  da  Earoia,  srgondo 
a  Bua  população  especIBca  por  kllsmelro  quadrado 


DciigDiçIo  das  culoniai 


Portugal . 
Inglaterra 
Hol  landa 
Inglaterra 
França  . . 

Portugal . 

França . . 
UoUanda. 


França. 
Hollandi 
Inglaterra 

França 

Inglaterra 

Portugal 


Hol  landa . 
Inglaterra 

França,. 
Inglaterra 
Hollanda. 


Hon-Kong 

Java  coro  a  ilha  de  Maduro 

Aden 

Índia  (diversos  estabelecimenloa).... 

Damlla 

IKu 

Ilha  da  Martinica 

Ilha  Saba '. 

Bermudas 

Windward  Island  (6  das  pequenas 
Antilhas). 

Território  de  8.  JoUo  Baptista  de  Ajuda 

Ilha  Brava 

Ilha  Hauricia  e  dependências 

K^labelcciíiirriio^  e  feitorias  (Singa- 
pura, Malaca,  etc.) 

Guadelupe  e  dependências 

Ilha  de  S.  EusUche 

índia  (IndosLSo  e  costa  oriental  do 
golfo  de  Bengala) 

Ilha  da  Reunião  ou  antiga  Bourbon 

IlhaadeTure 

Goa  e  dependências 

Porto  Rico 

Ilhas  de  Vieques,  (lalebra  e  Mona . . . 

Ilha  S.  Marlin 

Leewarce  Islands  (8  das  pequenas 
Antilhas) 

Nossi-Bé  e  dependências 

Ilha  de  Santa  Helena 

Ilha  Aniba 


Tropical  .... 
Trop.  quente  (fi.) 
Equatorial  (5.) 
Trop.  quente  (N.) 

Trop.  quente  (S.) 
Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (S.) 
Tropico-equat.  (N.) 
Tropical  lerap.  (N.) 

Tropico.eqnal.(N.) 
Equatorial  (N.). 
Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (S.) 


Trop.  quente  (S.) 
Tropico.equat.  (N.) 


Trop.  quente  (S.) 

Trop.  quente  (N.) 

IVop.  quente  (N. 

Trop.  quente  (N.) 

Trop.  quente  (N.) 
Tropico-equat.  (N.) 

Trop,  quente  (N.) 

Trop.  quente  (S.) 

Trop.  quente  (N.) 


158:1 
153:1 
1U:1 

132:1 
138:1 
1)0:1 
117  ;  1 


81:1 
76:1 


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NaçOes 
colooiiadoras 


D«sÍKnaçilo  das  colónias 


Portugal. 

Inglaterra  j 

Hollanda . 
França . . 
Inglaterra 
Hespanha 
França . . 

Portugal. 

Inglaterra 

França  . . 

firazíl . . . 

Portugal . 
Inglaterra 

He;ipanha^ 

Portugal . 
Inglaterra 
Hespanha 
Hollanda. 

Hespanha  < 

Brazil . . . 
Hespanha 

Portugal. 

Hollanda. 
Inglaterra 


Ilha  de  S.  Thiago 

Ilha  do  Fogo 

Jamaica 

Labouan 

Ilha  Coraçio 

Santa  Maria  a  E.  da  ilha  de  Madagáscar 

Ceyláo 

Ilhas  Filippinas 

Mayote 

Santo  Antáo 

Ilhas  de  8.  Thomé  e  Príncipe  (fazen- 
das agrícolas) 

Trindade  (sul  das  pequenas  Antilhas) 

Cochinchina  ao  oriente  de  Siam 

S.  Pedro  Grande  e  pequena  Miquelon 
ao  S.  da  Terra  Nova 

Rio  de  Janeiro 

Município  Neutro 

S.  Vicente 

Ilhas  de  Keeling  (estação) 

Ilha  de  Fernando  do  Pó 

Ilha  de  Corisco 

Ilha  Elobey 

Ilha  de  Anno  Bom 

Ilha  de  S.  Nicolau 

Costa  Occidental  de  Africa 

Ilhas  Carolinas * 

Ilha  Bonaire 

Ilha  de  Cuba 

Ilha  de  Pinos 

Alagoas 

Ilhas  Paláos 

RegiSo  septentrional  (NE.  da  ilha  de 
Timor) 

Ilha  do  Maio 

Ilha  Bali 

Ilhas  Ti^ji 


Clima  geral 


Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (N.) 

Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (S.) 
Trópico  equat..,. 
Troplco-equat.(N.) 
Trop.  quente  (S.) 


Equatorial  (N.)... 

Equatorial 

Tropico-equat(N.) 

Temperado  (N.) .  • 

Tropical 

Tropical 


ProporçSo 


Tropico-equat.  (S.) 
Equatorial  (N.)... 
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Trop.  quente  (N.)j 
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Trop.  quente  (N.) 
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Tropico-equat.  (S.){ 
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16:1 


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13:  i 


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Equatoríal  (S.) . . . }       10  :  I 


Equatorial  (S.)... 
Trop.  quente  (S.) 


7:1 


Brazil. 

HoliaDJa. 

Braiil. 


Inglaterra 

Bruil. 

Portugal. 

Hespaaha 

iQglalerra 

Bnzil... 

Hollanda. 

loglalerra 

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Inglaterra 

Hollanda 

Portugal. 

Hollanda . 

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Franfa.. 

BraEÍI...! 

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Inglalerfa/ 
Hollanda.  I 


Pernambuco 

Banda  e  dependências  (Illjas  Holucas) 
Parahyba. 

Í  Costa  occideotal... 
Costa  oriental  com 
as  ilhas  de  Riow 
Benbolen 
Lampouga 
Paleinbaug 

Porto  Natal 

Ceará- 

Ilha  da  Boa  Vista 

Ilhas  Marianas 

Ilhas  de  Odicog 

Sergipe 

Ilha  Branca. 

Uha  Celebei — (eiritorial  geral 

IlhaCelebea — Menado...> 

IlhaLordHow 

Rio  Grande  do  Norte 

Brac  (EstacOo)  (llhat  de  Cayanian). . 

IlhaBilliton 

Ilha  do  Sal 

Ambúino  e  dependências  (Ilhas  Mo- 

lucas) 

Laccadivas  (EstaçSo) 

Uhaa  Uarqueias 

Algéria 

Santa  Calharias 

Hioas  Geraes 

Ilha  Nova  Caledónia 

Ilhas  Loyaltys 

Camarau  (Elstação) 

Ilha  Panning 

Nicolares  (EstagSo) 

Ilhas  de  Bahama  de  Lucaya 

Ilha  de  Bomeo — costa  occidental. . . 


Trópico- equat.  (S.) 
Equatorial  (S.), 
Equatorial  (S.). 
Equatorial  (S.). 

Equatorial  (S-).../ 
Equatorial  (S.)...l 
Equatorial  (S.)...l 

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Equatorial  (S.) 
Tropico-cquaL(N.) 
Equatorial  (S.)... 
Trópico  temp.  (N.) 

TVop.  quente. 
Trop.  quente  (S.) 
Trop.  quente  (S.) 
Trop.  quente  (N.)' 
Equatorial  (N.)... 
Trop,  quente  (N.) 
Tropical  temp,  (N.) 
Equatorial 


521 


SsLÇòeà 
colooisadoras 


Designação  das  colónias 


Hollanda.l  Illia  de  Borneo 


/ 


Cosia  meridional.. 
(]osta  oriental  . . . . 


Babia 

Andamanes  (Estação) 


Brazil . . . 

Inglaterra 

^     ..       i  Espirito  Santo.. 
Brazu , . . ' 

I  Rio  Grande  do  Sul 

i  Tasmania  (Van-Dienien) 
Inglaterra    ^ 

Terra  Nova 


Clima  geral 


UoUanda. 


Inglaterra* 


Ternate  e  dependências  (Ilhas  Molucas) 

Nova  Zelândia 

Colónia  do  Cabo 

liba  Norfolk 

Guiana  (America  do  Sul) 


Brazil . . . 


Portugal. 


Inglaterra 
Hollanda. 

Brazil . . . 
Inglaterra 


Brazil... 


França . . 


^  Piauhy 

I  Maranhão 

/  Districto  de  Loanda  (colónias  agrícolas) 

Districto  de  Benguelia  (fazendas  agrí- 
colas)   

Districto  de  Mossamedes  (colónias  agrí- 
colas)   

Bissau 

Cacheu  

Bolama 

Honduras 

Surianam  (Demerara  ou  Guyaua  hol- 
landeza) 

Paraná 

Domínio  de  Canadá 

Ilha  de  Tristão  da  Cunha  (Estação). . 

Ilha  da  Ascensão 

Austrália 

Goyaz 


Pará 


Guyana 

Districto  de  Cabo  Delgado. 
Portugal .  l  Distrícto  de  Moçambique  . 
(  Districto  de  Quilimane . . . 


Equatoríal  (S.)... 

Equatoríal 

Trop.  quente  (S.)| 
Trop.  quente  (N.) 

Trop.  quente 

Tropical  temp. . . . 
Temperado  (S.)  . . 

Frio(N.) 

Equatorial 

Temperado  (S.).. . 
Tropical  temp.  (S.) 
Tropical  temp.  (S.). 

Equatoríal  (S.)... 
Equatorial  (S.) . . . 
Trop.  quente  (S.)] 

Trop.  quente  (S.)| 

Trop.  quente  (S.)^ 
Tropico-equat....{ 
Tropico-equat. . . 
Trópico -equat. . . 
Trop.  quente  (N.)^ 

Equatorial  (N.)... 
Tropical  temp. . . . 

Frio(N.) 

Temperado 

Equatorial  (S.) . . . 
Trop.  q.  e  temp. . . 
Tropico-equat . .  • 
Equatorial  (S.)... 
Equatoríal  (N.)... 
Equatoríal  (S.)... 
Trop.  quente  (S.) 
Trop.  quente  (S.) 


Proporçio 


2:  i 


i  :4 


9:i0 


7:10 


5:10 


4:10 


3:  10 


ã:IO 


1  :  10 


K22 


Naç5os 
colonisadorat 


Defígoaç Ao  das  colónias 


Portugal. 


Inglaterra  < 


Brazíl... 


França . . 


Portugal. 


Hollanda. 


Inglaterra^ 


França . . 


Inglaterra^ 


Districto  de  Sena 

Districto  de  Tete  e  Zumbo 

Districto  de  Sofala 

Districto  de  Inhambane 

Districto  de  Lourenço  Marques .... 

IlhaNathan 

Ilhas  Falkland 

Mato  Grosso 

Auiasonas 

Senegal 

Gabão 

Districto  de  Angoche 

Santa  Luzia 

Ilha  de  Timor  (parte  occidental) .... 

Ilha  Nova  Guiné 

Ilha  de  Kouriâ  Mouria  (Estação) .... 

Nova  Amsterdam  (Estaçáo) 

S.  Paulo  (EsUçáo) 

Perin 

Mostra  (Estação) 

Ilha  de  Anchland 

Ilha  de  Ciiperton  a  SO.  da  Aiiiorica 

do  Norte 

Ilha  Maldin 

Ilha  Starbouch 

Ilha  Carolina 


Clima  geral 


Proporção 


Trop.  quente  (S.) 
Trop.  quente  (S.)| 
Trop.  quente  (S.), 

Tropical  (S.) l 

Tropical  temp.  (S.) 
Temperado  (S.) .  • . 

Trop.  quente 

Equatorial 

Trop.  quente  (N.) 

Equatorial 

Trop.  quente  (S.) 


i  :iO 


9 
6 
3 
2 


100 
100 
100 
100 


l|oera-se  i  si- 
p«rfide. 


Equatorial  (S.) . . . 
Equatorial  (S.)...| 
Trop.  quente  (N.) 

Temperado 1  !!■•"-»  *  ?•- 

Temperado [     ^■'*Ç** 

Trop.  quente  (N.) 
Trop.  quente  (N.) 
Frio  (S.) 


Equatorial  (N.) . . .  / 
Equatorial  (S.).. . 
Equatorial  (S.) ..,)  Iikikilaieií. 
Equatorial  (S.)... 


523 


Classilicação  das  príncipacs  nações  da  Europa, 
segundo  a  sua  população  especifica  por  kiloioelro  quadrado 


Coni|)reheiidon(Io  as  colónias,  proleclorados 
e  territórios  adjaceiílCH 


Designações 


Bélgica 

Paízes  Baixos. .. 

Itália 

Ilhas  Brítannicas 

Allemanha 

França 

Suissa 

Austro-Hungria . 

Dinamarca 

Portugal 

Hespanha  

Grécia 

Turquia 

Bussia 

Suécia 

Noruega 


Proporção 

178 

M 

114: 

101  : 

100 

7o: 

68: 

64: 

57: 

49: 

44: 

32: 

29: 

23: 

13: 

9: 

5: 

ludopeodcntfinpult!  do  colónias,  prolertorados 
e  territórios  adjacentes 


Designações 


Proporção 


Bélgica 
Itália.. 


Allemanha. 


oUissa  ••.•*... 
Austro-Hungria 

Hespanha 

Grécia 

França. 

Paizes  Baixos. . 

Inglaterra 

Suécia 


Turquia. . . 
Noruega. . . 
Portugal . . 
Bussia.... 
Dinamarca. 


178 

90 

75 

64 

57 

30 

29 

27 

16 

11 

10 

•    *    ^ 

8 

5 

3 

1 

6 

:  10 

Glassíricaçâo  das  províncias  do  Brazil, 
segundo  a  sua  população  especiflca  por  kilometro  quadradc 


Designações 


Rio  de  Janeiro  (Município 

Neutro) 

Alagoas 

Pernambuco 

Parahyba 

Ceará 

Sergipe 

Rio  Grande  do  Norte 

S.  Paulo 

Santa  Catharina 

Minas  Geraes 


Proporção 

20:1 
11  :1 
7  :1 
6:  1 
5:1 
5:1 
4:1 
3:  1 
3:1 
3:  1 


Designações 


Bahia 

Espirito  Santo  . . . . 
Rio  Grande  do  Sul 

Maranhão 

Piauhy 

Paraná 

Pará 

Goyaz 

Mato  Grosso 

Amazonas < 


Proporçto 

2:1 
1  :1 


i 

9 


1 

10 


8:  10 
4:  10 
2:10 


2 
3 


10 
100 


2:100 


^ 


CAPITULO  XI 

População  geral  e  espeoifloa  da  ilha  de  S.  Thomó 
*  e  providencias  hygrienioas 

EsUtislira  dos  fo(|os  exisleulcs  na  ilha.— Óbitos  por  eíeilo  da  moléstia  de  bciiga^i  nos  aeies  de  i«tHi- 
bro  e  dezembro  de  1864  e  jaoeiro  de  18GS.— Eslalística  dos  eiropeiis.— Eslalislica  dos  africaios.— 
Vappa  demonstrativo  dos  europeus  fallecidos  nos  amos  de  1864a  1876,  diiidídos  pomnes  e  tri- 
mestres, e  com  designarão  dos  estadas,  seios,  idades,  condirdes  e  naturalidades.— Happa  demoislra- 
li«o  dos  indivíduos  fallecidos  nos  annos  de  1868  a  1875,  com  designação  das  idades,  sexoy,  estados, 
coudíc4»es  e  naturalidades.— Estatística  dos  nascimentos  nos  annos  de  1867  a  1875.— Suero  dein- 
dividnos  que  entraram  e  sairam  do  porto  da  ilha  de  S.  Tbomé  nos  annos  de  1874  a  1876.— Popi- 
laçâo  da  ilba  de  8.  Tkomé  nos  annos  de  1874  e  1875.- Providencias  hjgienicas. 


Estatística  dos  fogos  eiJslentes  na  ilha  de  S.  Tlionè 
nos  annos  abaixo  designados 


Fregoezias 


Nossa  Senhora  da  Graça  . . . 
Nossa  Senhora  da  Conceiçáo 

Santíssima  Trindade 

Nossa  Senhora  de  Guadelupe 

Santo  Amaro 

SanfAnna 

Nossa  Senhora  das  Neves.. . 
Santa  Cruz  dos  Angulares . . 
Magdaiena 


1859 

382 

1867 

362 

1868 

364 

1871 

187t 

1873 

1874 

350 

440 

380 

382 

435 

480 

481 

550 

555 

552 

556 

446 

897 

898 

ilO 

120 

250 

250 

99 

153 

154 

250 

255 

190 

i40 

76 

i69 

169 

175 

170 

180 

178 

309 

208 

210 

372 

380 

385 

385 

38 

40 

40 

72 

72 

74 

74 

157 

215 

215 

- 

93 

99 

107 

54 

78 
2:602 

80 

215 

220 

230 

230 

1:996 

2:611 

2:094 

2:305 

2:340 

2:302 

1875 


384 
490 
320 
102 
190 
596 
80 
120 
240 


2:522 


iV.  B.  N.lo  podemos  obter  o  numero  de  fogos  referidos  ao  anno  de  1865,  as- 
sim como  as  estatísticas  da  população  e  nascimentos.  Devemos  notar,  porém,  que 


houve  n'aquelle  aimo  a  epidemia  de  bexigas,  que  ceifou  a  vida  a  um  grande  nu- 
mero  de  indivíduos.  A  mortalidade  proveniente  d'esta  enfermidade  consta  do  se- 
guinte mappa,  que  extrahimos  das  participações  officiaes  remettidas  á  adminis- 
tração do  conceilio,  e  de  outros  documentos  que  nos  facultaram. 


saí) 


Mappa  demoDstratíTO  dos  óbitos  nas  díOerentes  fregnexias  da  ilha  de  S.  Thomè, 

por  f  ITeíto  da  nolestia  de  bexigas,  nos  meies  de  noYembro  e  dezembro  de  4864 

e  janeiro  de  i86S 

Freguesias 

CS 

3" 

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MeMS 

Condições 

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1 

Europeus 

|lDdigenas 

26 

12 

1 

2 

3 

- 

- 

6 

50 

Novembro  i 

Libertos 

10 
10 

5 

2 

1          9 

7 

- 

- 

- 

25 
13 

Escravos 

1 

\Praças  da  bateria.. 

1 

- 

- 

— 

« 

- 

- 

- 

1 

• 

47 

19 

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10 

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— 

6 

89 

í 

Europeus 

• 

- 

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— 

.. 

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llndigenas 

9 

15 

1         - 

- 

— 

— 

1 

26 

Dezembro  < 

Libertos 

3 

3 
6 

— 

9 
4 

— 

— 

— 

— 

12 
13 

Escravos 

Praças  da  bateria.. 

1 

- 

- 

- 

— 

- 

- 

- 

- 

12 

24 

1 

13 

- 

— 

1 

51 

/Europeus 

-> 

— 

~ 

.- 

_ 

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. 

^ 

^ 

Ilndigenas 

10 

3 

- 

— 

2 

— 

— 

— 

i5 

Janeiro. .  .< 

Libertos 

2 

2 

— 

5 

- 

- 

- 

- 

2 
7 

Escravos 

\ Praças  da  bateria.. 

- 

c 

— 

- 

— 

- 

- 

- 

- 

Idades.... 

Maiores  de  15  annos 

12 

65 

5 

38 

- 

5 

2 
7 

- 

- 

6 

24 
134 

2      16 

- 

— 

Menores  de  15annos 

6 
71 

10 
48 

1 

3 

7 
23 

5 
12 

- 

- 

1 
7 

30 

V 

16^ 

1 

EsWhlica  <I«K  europfus  existente»  na  illia  i)e  S.  Themí', 
DU»  aouoa  sliaivo  designados 

KreizMiiai 

- 

272 
3G2 
33 

:t93 

397 

39 
436 
663 

66 
729 
517 

57 
374 
692 

«7 
779 

697 
96 

193 

675 
66 

741 

.„. 

1 

-r 

J 

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1 

1 
72 

1 
1 

1 

26 
43 

47 
G 
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43 
7 
T2 
73 
II 
86 

78 
II 
_89 

70 
10 
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6 

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1 

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1 
1 

10 

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1 

1 

1 

1 

1 

1 

M 

6 
19 

2 
21 
16 

2 
18 
20 

20 
iii 

"26 
20 
2 
"íí 
20 
2 
~22 
92 
3 
25 

I8li7... 
1868. . . 
1871... 
Í87i... 
I87;t... 
Ifl-i... 

Aiiiliosoa  senos 

m 

ia'  10 

li  1 

10  B 

11  13 

i;  1 

lá    14 

7      7 
-!     2 
7;     9 

':í: 

I2i     9 

15_8 
11     6 

«'     S 
22     8 
14     S 

1    - 
"KÍ,     5 

>b<c»lmo 

317  'SÕ 
2Í3    7i 
Ifi    i;! 
aio    87 

i7i  103 

34  ]  ao 

308  m 
332 1  70 
23     li 

3i71  84 
470    98 

•M  :io 

;íI)6  128 
i7ti  103 

38    3i 
oH  Í37 
470  107 

3i    21 

õtWjias 

Masculino 

Feiíiiiiino 

I87:i... 

Feriimino    

iV.  B.  Não  consta  do  boletim  a  desigiunflo  por  sexos  referida  ao  anno  de  ÍS.')Í). 

Sáí 


Estatística  dos  africanos  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé, 
nos  annos  abaixo  designados 


Anoos 


18Õ9... 


Sexos 


Ambos  os  sexos  • 


I 


jgg^j  Masculino 
f  Feminino. 


1868...! 


Masculino 


(»' 


eminino. 


1871... 


(Mascai  IDO. 
F 


'^ominino. 


18731... 


1873... 


1874... 


Masculino 
Feminino . 

Masculino 
Feminino  . 

Masculino 
Feminino  . 


1875...)*^'***^"""^ 


(F. 


em  mino 


2 

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2 


1:245 


7G6 
400 


l:iGG 


766 
438 


1:204 


1:690 
671 


2:361 


1:889 
850 


2:739 


1:940 
742 


2:682 


2:020 

774 


2:794 


2:900 
1:400 


3:900 


o 

12. 


a 
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CA 

O 


2:071 


3:535 


2:021 
1:497 
3:518 


2:82) 
1:855 


4:676 


2:910 
1:895 


4:805 


3:110 
1^990 


5:100 


c« 


tfí 


2:827 


2:042  I  3:505 
1:493 1     804 


3:010 
2:168 


5:178 


2:640 
1:500 


4:140 


4:309 


3:481 
859 


4:340 


1:824 
1:147 


2:971 


1:778 
1:219 


2:992 


9:010 
1:740 


3:750 


3:200 
2:040 

3:020 
2:547 


5:567 


Fregucúas 


S3 
(0 

O 

•o 


es 

o 


527 


473 
432 


905 


476 
433 


909 


625 
540 


1:165 


680 
625 


1:305 


720 
646 


1:366 


778 
760 


1:538 


891 

669 


o 

ã 

CO 


773 


621 
452 


1:073 


608 
439 


1:047 


720 
560 


1:280 


860 
600 


1:460 


960 
625 


1:585 


1:172 

950 

2ÍÍ22 


820 
740 


1:560    1:560 


a 

1 
CA 


1:496 


1:285 
1:115 


2:400 


1:.305 
1:139 
2:444 


1:005 
834 


1:839 


940 
816 


1:756 


1:170 
1:040 


2:210 


1:900 
1:440 


3:430 


2:370 
1:670 


4:040 


« 

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2 

o 

1 

CA 
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2 


120 


151 
77 


228 


148 
86 


234 


206 
184 


390 


215 
181 


396 


208 
180 


388 


208 

178 


386 


3&2 
324 

"7Õ6 


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1:183!     425 


601    1:162 


355 


956 


572 
338 


394 


1:566 


1:087 
381 


910    1:468 


1:500 
1:800 


3:300 


701 
621 


1:322 


778 

727 


1:505 


810 
772 


1:582 


2:600 
1:680 


4:280 


1:026 
474 


1:500 


944 
554 


1:498 


1:286 
592 


1:878 


1:588 

850 

Í438 


2:257 
690 


2:947 


ã 

^ 


10:667 

10:606 

5:522 

16:128 

10:464 

5:610 

16:074 

11:417 

8:065 

19:482 

10:912 

7:361 

18:273 

12:182 

8:182 

20:464 

14:776 

9:932 

24:706 

17:480 
11:220 
28:700 


N.  B,  Não  consta  do  boletim  a  designação  por  sexos  relerida  ao  anno  de  1859. 


\ 


Hippa  ricmonslraliio  dos  earopeus  rallecWos  na  ilha  lif  S.  Tbomé, 

DOR  aouns  de  1801  ii  1876,  ditididos  por  meies  e  Irimeslrcs 

f  roíD  designatâo  dos  rslados,  se\Ds,  idades,  eomliciíes  t  natuntidades 

II 

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6 

1 
3 

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38 

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1 
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10 

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6 
13 
5 

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4 
8 
3 
6 

3 
7 

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De  21  a  30  annos 

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De  61  a  70  annos 

De  71a80 annos 

De  BI  a  90  annos  , 

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Empregadas  civis 

Uililares  de  dílTcrenU-s  g'^- 

Ouadro  de  saúde 

Capiíacs  de  navios 

Marinheiros 

Lavradores 

Trabalhadores 

Empregados  no  comniercio. . 
Livres 

Ex-(legredailos 

Ex-rmlitarcs 

Bachaixl 

Marinheiros  oiililares 

Creanças 

Addidos 

Indigentes 

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Das  illias  adjacentes 

Igiior 

Mappa  tlrmoustrsliio  dos  ÍDilivi<luos  falleciílos 

na  illiH  tle  S.  Thumú,  nos  aiiiios  de  Wá  a  1S7d,  com  dcsigDaiâo  de  idades, 

sf\us,  estados,  coiiditncs  e  naluratidades 


i  isoa  is;ii  !«;!     iiití    í8;i 


le  horas 

>e  dias  (menos  áu  1  mm). . 
ie  tiiezes  (menos  de  1  anno) 

>e  i  a  íi  annoa 

Ic  6  a  10  aiiDos 

le  1)  alSanoos 

iG  16  a  !Í0  annos 

«  31  a  23  aniios 

«  36  a  30  amios 

ie  31  a  33  aiinos 

>e  36  a  40  annos 

le  11  a  4S  annos 

>e  46a50amio3 

«  SI  aSo  anno* 

e  56  a  60  annos 

e  61  a  65  annos 

e  66  a  70  annos 

«  71  a  80  annos 

e  81  a  SO  annos 

c  01  a  100  annos..... 
cl01al2Sanno$... 


j  .Masculino.. 
1  Feminino . . 


Ecclesía.>;  ticos 

lloiiiens,..' 
Hulliorps.., 
Do  iiicnorittadu. 


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Transporte 

I\  Homens. 
Casados...] 
(  Mulheres 
l  Homens. 
Viúvos. •.< ,,  „ 
( Mulheres 

Ignora-se 

S  í  Livres  

'^  {  Libertos 

c   / 

ç3  [  Escravos 

Ignoradas 


/ 


Differcntcs    províncias     de 


Portugal .... 

Lisboa 

Porto 

Cabo  Verde .... 

S.  Thomé 

Loanda 

Bcnguella 

Ilha  do  Príncipe 

Gabão  

Costa  da  Mina.. 

Hespanba 

Brazil 

França  

Bcnim 

Açores 

Madeira 

Angola 

\  Diversos  pontos. 
Ignoradas 


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Khblislica  ilus  iiascimenluíi  gue  lioufc  ui  ilha  de  S.  Tliomè 
nos  amios  abaixo  <Iesti|DadQs 

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280 

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279 

543 

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326 

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533 


Happa  dos  indi?iduos  qae  entraram  c  saíram  do  porto  da  ilha  de  S.  Tbomé, 

DOS  annos  de  1874,  1875  e  1876 


Annos 


1875.. 


I87fi.. 


CondirS^*;;  do»  índividaos 


1H7'k.../ 


Livres 

Libertos , 

Degredados... 
E\-degredados, 

Addidos 

Ex-addidos. .. 
Incorrigíveis. . 

Presos 

Menores 


\  Condioíío  ignorada 


i  Livres 

Degredados. . . 
Ex-degredados 

Addidos , 

Incorrigíveis... 
Presos 


Livres 

Degredados... 
Ex-degredados 

Addidos 

Ex-addidos.. . 
incorri  giveis.,, 
Presos 


(Condição  i''nnrada 

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iV.  li.  Não  podendo  obter  com  exactidão  alguns  algarismos,  por  isso  indicá- 
mos como  condição  ignorada  os  (]ue  extrahimos  do  movimento  marítimo;  todos 
os  mais  foram  coUigidos  do  boletim. 

(*elo  presente  mappa  v^-se  que  a  população  se  elevou  nos  trea  annos  referi- 
dos, sendo  no  de  1874  o  augmento  de  375  indivíduos,  no  de  1875  de  285  e  no  de 
1876  de  2:418. 

O  movimento  foi  em  1874  de  841  indivíduos,  em  1875  de  893  e  em  1876  de 
3:470;  d'onde  se  \ê  que  a  media  mensal  referida  ao  primeiro  anno  foi  de  70,  ao 
segundo  74  o  ao  terceiro  311.  Se  descriminarmos  esta  ainda  pelas  entradas  e 
saídas  do  porto,  temos  que  no  primeiro  anno  foi  a  das  entradas  50  e  das  saídas 
19:  no  segundo,  a  das  entradas  48  e  das  saídas  25,  e  no  terceiro,  a  das  entradas 
425  e  a  das  saídas  43. 


Happa  esuiisllco  da  |ii>pii]a{io  di  illia  de  S.  Iliainr, 
nos  annes  de  1874-187S 

Oeíipaç^s 

<x7i                                (g;s 

Fogos 

População: 

í;302 
ii302 

79;t    - 

24:708'   - 

543    - 

-  tW8 

-  m 

-  :m 

26:044     - 

-     2:5Í!2 

U3I      - 
li:[i  2:íi2í 

741 

28:700 

3SC 

589 
304 
283 

906 

Segundo  o  registo  do  porto: 

Populacho 

«a: 767 

90C 

25:48S              |                2U:146               || 

ProfidcDciaB  higiénicas. — As  medidas  hygienicas  que  nos  parecem  de 
mais  iostaole  necessidade  s3o  as  seguintes* : 

1/  Estudar  a  constituição  do  solo  das  ilhas  de  S.  Tliomé  e  Príncipe, 
com  o  intuito  de  se  saber  quaes  são  culturas  que  devem  aproveitar-se 
para  beneSclar  os  It^ares  mais  doentios.  fiepuU^mos  excellente  a  cultura 
do  caré,  a  do  cacau  e  a  do  algodão,  de  preferencia  à  da  canna  de  nssu- 
car,  que  é  menos  saudável,  e  considei-ámos  prejudicial  a  do  arroz. 

2.*  Determinar  que  os  teirenos  do  estado  sejam  cultivados,  e  que  se 
formem  algumas  granjas  modelos^,  sendo  o  seu  rendimento  destinado 
aos  hospitaes,  casas  de  saúde  e  á  santa  casa  da  miserícordia. 

3.*  Não  enviar  para  aquellas  ilhas  degredados,  empregados  e  colonos, 
desde  o  mez  de  outubro  até  ao  fim  de  maio. 

4.*  Fazer  a  canalisação  da  ribeira  até  á  ponte  de  Cima  Cola,  deulro 
da  cidade,  tomando  as  suas  margens  em  passeios^ ;  e  construir  fontes,  tan- 
ques e  lavadouros  públicos. 


) 


1  Foram  approximadamente  as  cpie  escrevemos'  no  relatório  de  1869  p  repe- 
timos no  de  1871  e  1872,  mas  nada  se  fez  n'esle  senlido. 

I  Não  í>e  (omiaram  ainda  as  granjas  modelos,  nem  se  deu  começo  ãs  colnuias 
penaes. 

>  li  um.i  obra  do  (rrandÍRsima  urgência,  maíi  ainda  não  foi  principiada. 


538 

5.*  Melhorar  o  hospital  da  cidade  de  S.  Thomé  ^  ou,  o  que  é  prefe- 
rível, construir  outro  com  todas  as  condições  hygienicas,  tendo  nos  ter- 
renos adjacentes  jardim,  pomar  ou  horta.  Convém  que  o  hospital  perma- 
nente esteja  fora  da  cidade,  e  que  a  casa  onde  actualmente  existe  este  es- 
tabelecimento seja  destinada  a  um  hospício.  A  ilha  de  S.  Thomé  precisa 
de  dois  hospitaes  para  a  sua  população  de  16:000  almas. 

6.*  Incitar  de  algum  modo  os  proprietários  d'esta  Uha  a  construírem 
um  hospital  commum,  onde  sejam  tratados  somente  os  libertos,  acabando 
assim  com  os  hospitaes  q  boticas  das  roças,  e  com  os  curandeiros,  que 
tSo  prejudiciaes  sao  â  saúde  publica  como  as  carneiradas. 

7.'  Determinar  que  a  limpeza  publica  da  cidade  esteja  a  cargo  de 
uma  companhia,  composta  de  cincoenta  indígenas  válidos,  que  trabalhem 
assiduamente:  publicar  regulamentos  hygienicos  e  policiaes  a  fim  de  que 
a  limpeza  publica  seja  proQcua. 

8.*  Mandar  preparar,  na  praia,  próximo  da  fortaleza  de  S.  Sebastião, 
logares  onde  não  possa  entrar  o  tubarão,  a  fim  de  se  tomarem  ali  banhos 
do  mar*. 

9.*  Fazer  conduzir  a  Agua  Bobo  para  a  cidade,  distribuindo-a  no  hos- 
pital e  em  tanques  nas  duas  praças  principaes. 

10.*  Aconselhar  a  camará  municipal  a  ter  um  medico  de  partido  para 
dar  consultas  gratuitas  aos  pobres,  e  examinar  a  qualidade  da  carne  que 
se  vende  ao  publico,  etc,  etc. 

H.*  Não  consentir  que  se  façam  canos  de  esgoto  na  cidade,  nem  ge- 
raes,  nem  parciaes ;  seriam  um  foco  permanente  de  infecção  miasmatíca. 

12.*  Determinar  que  se  façam  montureiras,  e  que  seja  obrigatória  a 
desinfecção,  formando-se  para  esse  fim  regulamentos  especiaes,  e  impondo 
rigorosas  multas  aos  contraventores  ^. 

13.*  Prohibir  que  nos  trabalhos  agrícolas,  propriamente  ditos,  se  em- 
preguem europeus,  a  fim  de  evitar  que  arrisquem  a  vida. 

1 4.*  Construir  um  bairro  novo  em  logar  conveniente,  tendo  casas  sau- 
dáveis e  económicas,  onde  os  empregados,  colonos  e  quaesquer  outras 
pessoas  que  queiram  residir  na  ilha,  possam  encontrar  meios  de  resisti- 
rem ás  constantes  e  fortíssimas  trovoadas,  chuvas  e  ventanias,  que  tanto 
incommodo  e  prejuízo  causam  á  saúde. 

15.^  Não  permittir  que  nos  quintaes  haja  bananeiras  e  hervas  ruins, 


>  O  hospital  de  1872  é  aindíi  o  de  i877.  Está  porém  em  via  de  eonslrucçào  um 
hospital -barraca. 

2  Ainda  se  nào  fez  nada  n*esle  sentido. 

'  Xao  se  determinou  ainda  cousa  alguma  a  este  respeito. 


536 

e  determinar  que  as  matas  próximas  da  cidade  sejam  convenienleiaeDte 
devastadas  ^ 

16.^  Regular  o  serviço  medíco-militar  de  modo  que  os  facultativos  te- 
nham tempo  para  organisar  trabalhos  estalisticos  sobre  meteorologia^  pa- 
thología  e  historia  natural. 

17.^  Melhorar  a  botica  do  estado  para  que  o  serviço  pharmaceutico 
possa  ser  feito  com  promptidão,  aceio  e  economia. 

18.^  Permittir  que  os  empregados,  principalmente  os  que  tenham 
dado  provas  de  aptidão  e  zelo,  possam  ir  ao  reino,  no  íim  de  cada  trBS 
annos  de  serviço,  para  se  tratarem,  e  demorarem-se  ahi  seis  mezes,  visto 
que  raros  são  os  europeus  que  podem  viver  três  annos  consecutivos  sob 
um  clima  tão  deprimente,  e  em  uma  atmosphera  tuo  viciada,  sem  adqui- 
rirem moléstias,  mais  ou  menos  perigosas. 

A  estas  providencias  juntámos  as  seguintes,  que  também  reputamos  (h 
instante  necessidade : 

^^  Determinar  a  arborisação  dos  largos  e  ruas  principaes  da  cidade», 
empregando  arvores  próprias,  como  larangeiras,  euoalyplus,  mucumblis, 
marimboques  e  muitas  outras  balsâmicas  e  de  crescimento  rápido. 

ã.*  Determinar  que  as  ruas  fiquem  planas  nas  margens  e  abauladas 
no  centro,  de  modo  que  nunca  se  encharquem  com  as  aguas  das  chuvas. 

3.*  Determinar  que  se  escolham  fora  da  cidade  logares  próprios  para 
se  abaterem  as  rezes. 

4.*  Determinar  que  se  colloquem  marcos,  signaes  ou  balisas  na  cir- 
cumvalação  da  cidade,  e  que  se  façam  pelo  menos  dois  jardins  públicos. 

5.*  Mandar  levantar  o  plano  geral  da  cidade  de  S.  Thomé,  para  que 
se  façam  as  construcções  com  regularidade  e  boa  ordem,  e  se  não  con- 
sinta o  grande  numero  de  casebres  arruinados  que  existem,  nem  quintaes 
sem  cercados. 

6.*  Determinar  que  se  abra  uma  estrada  em  boas  condições  para  a 
villa  da  Santíssima  Trindade,  prolongando-se  até  ao  sitio  denominadi) 
Santa  Luzia  e  d'aqui  até  á  costa  de  SE.  da  ilha. 

7.*  Escolher  um  logar  elevado  e  distante  da  colónia  penal,  das  \1l- 
las  principaes  e  da  cidade,  para  se  construir  um  hospital  geral  e  perma- 
nente, tendo  boa  e  abundante  agua,  bons  terrenos  para  jardins,  pomares, 
hortas  e  conveniente  exposição. 


•  Em  i873,  como  em  187i,  e  como  em  1869,  estavam  as  ruas  e  os  quintaes  no 
mesmo  estado,  pejadas  de  hervas  mins,  de  bananeiras,  etc;  citámos  todo  o  bairro 
de  S.  Miguel  e  ruas  próximas;  a  rua  d(^  Santo  António,  a  de  S.  João  e  outras.  Re- 
tiràmo-DOS  da  ilha  de  S.  Thomé  no  principio  do  anno  de  i874  e  nâò  sal>emos  se  es- 
tão hoje  como  estavam  n*aquelia  epocha. 


537 

8.^  Não  consentir  que  se  destruam  as  florestas,  sem  ordem,  sem  me- 
thodo  e  muito  especialmente  sem  se  cuidar  de  as  crear  segundo  as  regras 
da  sylvícultura,  fazendo-se  para  esse  efl^eito  um  regulamento,  no  qual  se 
apontem  ao  mesmo  tempo  a  importância  das  arvores  que  se  devem  con- 
servar por  causa  da  boa  madeira,  bálsamos,  óleos,  resinas,  fructos,  etc. 

9.^  Nao  permittir  que  nas  fozes  dos  rios  se  apanhem  peixinhos  a  pan- 
no,  a  coals  ou  por  outros  meios  que  os  naturaes  costumam  usar. 

10.^  Construir  ediQcios  para  banhos  públicos,  nas  praias  da  bahia  e 
nas  margens  do  rio  Agua  Grande. 

11  .^  Obrigar  os  moradores  da  cidade  a  caiarem  os  cercados  e  as  fren- 
tes de  suas  casas,  ao  menos  uma  vez  por  anno. 

12.^  Fazer  aterrar  os  pântanos  que  rodeiam  a  cidade  para  que  a  su- 
perfície d^elles  se  transforme  em  bellos  e  amplos  jardins,  em  formosas 
alamedas  e  em  passeios  iiteis  e  agradáveis. 


FLORA  PATH0L0r.iC4 


CAPITULO  XII 

PrindfKies  mule&lias  observadas  no  hospital  de  8.  Tlionic  duranie  o  aiino  do  1872;  ronsideracôcs.  —  Re- 
snmo  comparalÍTo  da  freqneiiria  das  moléstias  ubserradas  no  hospital  militar  de  S.  Thomé  c  da  sua 
mortalidade  relativa  em  rada  um  dos  mczes  do  anno  de  1872;  considerações.  -Numero  de  doen- 
les  do  hospital  de  S.  Thomé  em  1872;  considtTarôes.  —  Resnmo  do  movimento  dos  doentes  no  hos- 
pital militar  de  S.  Thomé  e  das  prinrípaes  duenras  ali  observadas;  considcrarúcs.  —  Resumo  por  Iri* 
mestres.— Relaráo  da  mortalidade  para  os  casos  das  moléstias,  etr.;  consíderariíes  ácerra  da  moh 
talidade. 

Âs  gravíssimas  moléstias  que  se  manifestam  na  ilha  de  S.  Thomé  e 
em  muitas  outras  das  nossas  possessões  ultramatinas,  demandam  a  maior 
attençao  dos  médicos  coloniaes  e  dos  governos,  nâo  só  para  lhes  comba- 
ter as  causas  como  para  lhes  attenuar  os  eíTeitos. 

A  maioria  das  causas  são  de  ha  muito  conhecidas,  e  todos  os  clínicos 
as  indicam  nos  seus  relatórios,  baseados  no  estudo  e  longa  pratica  e  nos 
estudos  dos  mais  auctorisados  médicos  e  exploradores;  os  eíTeitos  s3o 
bem  patentes,  e  as  estatísticas  que  apresentámos  manifestam  claramente 
o  quanto  urge  cuidar  das  nossas  colónias,  dotando-as  com  todos  os  ele- 
mentos indispensáveis,  não  só  para  o  seu  desenvolvimento  agrícola  e  com- 
mercial  como  para  melhorar  as  suas  condições  hygienicas. 

É  altamente  necessário  perscrutar  as  círcumstancias  em  que  se  decla- 
ram as  prjncípacs  doenças  e  os  symptomas  que  as  acompanham  conforme 
os  locaes  em  que  se  manifestam ;  do  seu  exame  minucioso  devem  co- 
Iher-se  resultados  fecundos  para  se  estabelecerem  as  regras  praticas,  a  fim 
de  se  fugir  aos  terríveis  ílagellos  que  assolam  aquelles  povos. 

Âs  doenças  que  muitas  vezes  se  manifestam  benignas  complicam-se  e 
aggravam-se  por  phenomenos  que  seriam  talvez  evitados  a  tempo  se  hou- 
vesse os  recursos  precisos,  e  se  os  enfermos  se  tratassem  convenien- 
temente e  apenas  os  symptomas  apparecem,  evitando  que  as  febres  se 
apossem  do  organismo  sem  se  lhes  oppor  algum  obstáculo  que  a  medi- 
cina ou  a  hygiene  aconselham,  devendo  principalmente  fugir-se  de  medica- 
mentos de  pouca  confiança,  porque  as  moléstias  definem-se  e  muitas  ve- 
zes matam  em  poucas  horas ;  e  ó  esta  uma  das  rasões  por  que  aconselhamos 
o  tratamento  logoque  os  mais  leves  symptomas  se  manifestem. 


Rísiimo  das  priocipaes  mnleslias  ohseriiilas 

nD  liospilii)  militar  ili  itlia  de  S.  Tliomé,  c  namiTo  de  dotníps  curados 

e  fallffidos  nn  i."  semestre  de  1S72 

Diatmulirni 

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Resumo  das  priucipaes  uiiilvslias  observadas 

DO  bospilal  militar  <Ia  ilha  de  S.  Tbotiiè,  e  numero  de  doeiílcs  curadus 

e  fiilkcidos  DD  3.°  semrstre  ile  1872 

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542 

Não  flguram  nos  mappas  nosologicos  moléstias  de  caracter  diverso 
d^aqucllc  que  se  tem  examinado  nos  outros  annos. 

A  cachexia  sob  diíTerenles  formas,  a  febre  palustre  e  a  diarrhea  são 
as  doenças  mais  frequentes  e  as  que  causam  maior  mortalidade  nos  soN 
dados  e  nos  addidos  europeus. 

Conservámos  as  designações  que  os  facultativos  do  hospital  adopta- 
ram, porque  desejámos  sustentar  toda  a  exactidão  nos  trabalhos  estatís- 
ticos colhidos  nos  mappas  nosologicos  mensaes  publicados  no  Boletim 
official  da  província. 

Não  fizemos  um  mappa  nosologico  com  a  classificação  sob  um  ponto  de 
vista  geral,  como  doenças  do  systenia  nervoso,  dos  olhos,  dos  ouvidos,  do  va- 
riz, doapparelho  circidatorío,  absorvente,  respiratoriOf  digestivo,  uriná- 
rio e  locomotor,  do  tecido  cellular,  da  pelle,  traumáticas  e  simuladas,  por- 
que a  população  do  hospital,  segundo  a  escripturação  seguida  em  1872, 
não  offerece  elementos  rigorosos  para  essa  classificação;  e  não  separámos 
lambem  as  doenças  dos  soldados  das  dos  addidos,  libertos,  europeus  e 
africanos,  porque  preferimos  a  exposição  das  doenças,  segundo  a  traduc- 
ção  fiel  do  que  se  acha  exarado  nas  papeletas. 

—  A  cachexia  palustre  é  doença  de  todos  os  mezes;  houve  6  casos 
termo  médio.,  por  mez. 

— A  diarrhea  e  a  dysenteria  tiveram  entre  si  a  seguinte  relação:  2,54 
casos  de  diarrhea  para  l  de  dysenteria.  Houve  em  todos  os  mezes  casos 
de  uma  e  de  outra  doença,  apparecendo  as  diarrheas8,44  por  mez,  termo 
médio,  e  as  dysenterias  3,5,  o  que  mostra  muito  maior  frequência  na  pri- 
meira doestas  doenças. 

— A  doença  endémica  principal  da  cidade  de  S.  Thomé  é  a  febre  pa- 
lustre, que  se  manifesta  sob  diversas  formas. 

A  febre  perniciosa  attinge  68  por  cento  dos  atacados.  A  febre  palus- 
tre ó  intermittente,  remittente  ou  perniciosa,  mas  raríssimas  vezes  ím^â, 
e  só  por  acaso  se  encontra  sob  qualquer  outra  forma.  A  infecção  palustre 
desenvolveu  symptomas  primários  em  632  individuos  e  causou  19  falle- 
cimentos,  o  que  representa  uma  mortalidade  de  3  por  cento  sobre  os 
atacados.  É  por  tanto  muito  grave  esta  infecção,  porque  produz  doenças 
características  da  localidade,  mas  não  da  ilha,  onde  pôde  admittir-se 
sem  grande  erro  a  existência  de  três  climas  distinctos. 

— O  rheumatismo  appareceu  sob  diversas  formas,  a  saber:  lumbago, 
pleurodyniaj  rheumatismo  articular,  e  muscular.  Houve  88  doentes 
affectados  d'esta  moléstia,  o  que  dá  o  numero  7,3  por  mez.  O  rheiíina- 
.tísmo  articular  oíTereceu  casos  graves  e  morlaes. 

— A  bronchite  chronica  é  muito  grave  e  muito  rebelde  ao  tratamento; 


543 

são  frequentes  os  casos,  tanto  da  broncbite  chronica  como  de  aguda.  De 
94  doentes  falleceram  6,  isto  é,  15,66  para  1  atacado. 

A  frequência  das  moléstias  em  cada  mez  depende  de  muitas  circum- 
stancias.  A  pneumonia  é  frequente  e  grave,  mas  nao  se  observa  em  todos 
os  mezes.  Em  1 3  doentes  affectados  d'esta  moléstia  houve  4  mortos. 

O  exame  da  frequência  das  moléstias  por  mezes  é  muito  importante, 
mostra  as  doenças  que  se  manifestam  nas  epochas  das  chuvas  e  das  ven- 
tanias. 

Os  elementos  de  que  se  dispõe  s9o  por  emquanto  muito  limitados  e 
comprebendem  apenas  os  europeus  e  os  africanos  que  se  acham  em  peio- 
res  condições  de  vida.  Quando  faltam  commodidades,  quando  a  alimen- 
tação não  é  variada  e  os  trabalhos  são  rudes,  as  doenças  são  mais  fre- 
quentes, mais  rebeldes  e  mais  graves. 

A  cidade  de  S.  Thomc  está  em  péssimas  condições  a  todos  os  respei- 
tos; os  soldados  e  os  addidos,  quer  europeus  quer  africanos,  adquirem 
doenças  graves  em  consequência  de  se  exporem  ao  tempo,  sol  e  chuva, 
conservando  bastantes  vezes  vestida  a  roupa  molhada  pelas  chuvas,  e 
tendo  de  a  deixar  enxugar  no  corpo.  É  esta  uma  gravíssima  causa  de 
doenças  das  vias  respiratórias  e  também  a  occasional  do  apparecimento 
de  febres  perniciosas  quasi  continuas. 

Dos  mappas  parciaes  que  apresentámos  compõe-se  o  seguinte  resumo 
relativo  á  frequência  das  moléstias  observadas  e  á  sua  mortalidade  em 
cada  um  dos  mezes  do  anno  de  1872. 


o44 


Kesumo  comparatÍTO  da  frequeDcía  das  moléstias 

observadas  no  hospital  militar  da  ilha  de  S.  Thomè,  e  da  niortalídade  relativa 

dos  doentes  em  cada  um  dos  mexes  do  anno  de  i872 


Mezcá 


Janeiro... 
Fevereiro. 
Março.... 
Abril  . . . . 

Maio 

Junho.... 
Julho  . . . . 
Agosto . . . 
Setembro . 
Outubro.. 
Novembro 
Dezembro. 


Numero 

de 
muleslias 

Fal- 
tecidos 

Relação  das 

moleslins 

observadas 

p.-ira 
os  fallecidos 

Curados 

192 

•« 
0 

38,40: 

117 

215 

7 

30,71  : 

143 

183 

11 

16,63 ; 

121 

166 

7 

16,57  : 

92 

216 

7 

30,85: 

138 

198 

14 

14,14 

131 

209 

10 

20,9(í : 

121 

i84 

14 

13.14 

121 

145 

29,00 : 

9o 

150 

7 

21,42 

89 

182 

11 

16,54 , 

116 

199 

8 

24,87 

124 
■  1 :408 

2:239 

1U6 

21,12 : 

Helaçao 
doseondos 

pan 
osfalleddot 


o 

de  1871 


23,40; 

20,42: 

10,00: 

13,14 : 

19,71  : 

9,35: 

12,10 . 

8,64; 

19,00: 

12,7i  : 

10,54: 

16,00: 

13,28: 

^*  1 

7i 


7i 


A  media  mensal  das  doenças  observadas  é 186 

A*  media  mensal  dos  curados  é 117 


O  maior  numero  de  moléstias  observadas  corresponde  ao  mez  de 
maio,  e  o  menor  verifíca-se  em  setembro;  e  é  n  este  mez  também  qae  se 
encontra  o  numero  mais  baixo  na  mortalidade. 

À  media  mensal  dos  fallecidos  é  de  8,83  e  a  das  doenças  traladas 
de  186,5. 

A  população  do  hospital  militar  de  S.  Thomè  apresenta-se  em  péssi- 
mas circumstancias.  Os  addidos  do  deposito  penal,  sujeitos  a  grandes  pri- 
vações e  a  trabalhos  de  toda  a  ordem,  entram  ali  em  elevado  numero. 

No  primeiro  trimestre  houve  590  doenças  e  33  fallecidos,  ou  3,80 
por  cento.  Comprehende  este  trimestre  os  mezes  em  que  se  manifestam 
os  maiores  calores  e  apparecem  os  tornados.  Ao  fim  do  mez  de  dezem- 
bro e  princípios  de  janeiro  corresponde  o  tempo  denominado  verauiio, 
havendo  poucas  e  ás  vezes  nenhumas  chuvas. 

No  segundo  trimestre  contam-se  580  doenças  e  ã8  fallecidos,  ou 
4,82  por  cento.  Caem  n'este  periodo  as  grandes  chuvas  e  com  ellas  au- 


/ 


345 

gmenla  o  numero  de  doeoças  observadas,  que,  como  se  vê,  attinge  o  seu 
máximo. 

Nu  terceiro  trimeslre  trataram-se  no  hospital  S38  moléstias,  falle- 
cendo  29  indivíduos,  ou  5,38  por  cento,  o  que  é  extraordinário.  Em  ju- 
lho, agosto  e  setembro,  que  é  o  tempo  mais  fresco  do  anno,  faltaram  as 
cliuvas  por  mais  de  trinta  dias  successivos.  Apreciaremos  em  outro  logar 
as  causas  de  similhante  irregularidade. 

No  quarto  trimestre  a  531  casos  observados  corresponderam  26  fal- 
Iccidos,  ou  4,89  por  cento.  Reinam  n'esle  tempo  as  chuvas  diluviaes. 

Na  composição  e  formação  dos  mappas  ha  elementos  diversos  que 
l>odem  influir  no  resultado;  é  por  isso  que  nós  operamos  do  composto 
para  o  simples.  Os  casos  obervados  representam  um  dividendo  maior  em 
relação  ao  numero  de  doentes  e  muito  maior  em  relação  ao  numero  de 
individues  differenles.  O  divisor  é  sempre  o  mesmo  e  n'esta  circumslan- 
cia  o  quociente  muda  segundo  a  nijtureza  dos  cálculos  que  se  fazem. 


Numero  de  doeales  entridos  do  hospital  da  ilha  de  S.  Tbamè,  em  W2, 
SFgaado  as  classes 


Ofliciaes 

Officiaes  inferiores .... 
C.alxis.  soldados  e  corneteiros 
Additlos  do  ileposilo  penal.. 

Praças  da  aroiaiia  real 

Empregados  públicos 

Dnenles  civis  nosquartos  par- 
ticulares  

Docnles  civis  nas  enfermaria!) 
Indigentes  da  santa  rjisa. 
Libertos 


Relação  dos  europeus  para  os  africanos %fO:  I 


546 


Os  liberlos  entram  no  hospital  geralmente  em  casos  graves  e  chroni- 
cos,  o  que  é  um  elemento  grande  de  mortalidade.  Na  população  do  hos- 
pital houve  1  liberto  por  15,6  indivíduos  entrados,  isto  é,  7  por  cento. 

Contam-se  217  soldados  europeus  e  178  africanos  ou  305  militares, 
isto  é,  1  soldado  por  4  indivíduos  entrados;  e  o  numero  dos  soldados 
europeus  excede  apenas  em  39  por  cento  dos  africanos. 

Os  addídos  foram  quasí  metade  da  população  hospitalar,  sendo  655 
europeus  e  113  africanos,  isto  é,  1  africano  por  5,7  europeus.  Estes  indi- 
víduos estão  nas  mesmas  condições,  e  mostram  com  toda  a  clareza  a  in- 
fluencia do  clima  nos  europeus  e  nos  africanos;  entre  7  d'aquelles  apenas 
adoece  1  d'estes. 

A  questão  dos  trabalhos  da  agricultura,  das  obras  publicas,  etc,  deve 
tirar  doestas  estatísticas  todos  os  elementos  para  ser  resolvida  com  jus- 
tiça. O  europeu  não  pôde  trabalhar  exposto  ao  sol  e  ao  tempo  sem  adoe^ 
cer  e  arriscar  a  vida.  p 

A  população  do  hospital  militar  e  Civil  da  cidade  de  S.  Thomé  chegou 
em  1872  ao  numero  1:585,  isto  é,  a  132,08  doentes  por  mez,  termo  mé- 
dio, tendo  sido  186,5  a  media  mensal  das  doenças  observadas.  São  mui- 
to importantes  estes  dados. 


RelagSo  entre  ob  diversos  individnos  e  a  populaçSo  do 

Oiliciaes 

Oáciaes  inferiores 

Gabos,  soldados  e  corneteiros 

Addidos  do  deposito  penal 

Praças  da  armada  real 

Empregados  públicos 

Doentes  civis  nos  quartos  particulares 

Doentes  civis  nas  enfermarias 

Indigentes  da  santa  casa 

Libertos ♦ 

Europeus  (homens) 

Europeus  (menores  do  sexo  masculino) 

Europeus  (mulheres) . .  é 

Europeus  (menores  do  sexo  feminino) 

Todos  os  europeus 

Africanos  (homens) 

Africanos  (menores  do  sexo  masculino) 

Africanos  (mulheres) 

Africanos  (menores  do  sexo  feminino) 

Todos  os  africanos 


hospital 

176,11 

39,62 

4,01 

2,06 

39,62 

528,33 

158,50 

48,03 

8,52 

15,69 

1,55 

132,08 

28,30 

1585,00 

1,45 

3,49 

528,33 

45,28 

528,33 

3,20 


547 


Resnmo  do  moTimenlo  dos  doentes  no  hospital  militar  da  ilha  de  S.  Thomè 
6  das  principaes  doenças  ali  obsenradas  no  anno  de  1872 


Gropos  das  príncipaes  moléstias  observadas 


a 
.a 

I 


Abcessos 

Adenites 

Alienação 

Amygdalite 

Anasarca. 

Anemia  tropical 

Aneurisma  popliteo 

Dalanite 

Blennorrhagia : .  •  • 

Bronchite  aguda. 

Bronchite  chronica 

Gachexia 

Cachexia  senil,  paraplegia.. 

Cancro  venéreo 

Gephalalgia é, ... 

Cólica  nervosa  (enteralgia). 

Congestão  cerebral « 

Callo  inflammado. ^ . . 

Cysti  te  aguda 

Cystite  chronica 

Dartro  pustuloiso 

Delirium  tremens 

Diarrhea 

Dysentería 

Dilatação  arterial 

Dyspiep^a 

Dores  osleocopas 

Dores  articulares 

Eczema 


é 


•  •« 


3 
5 
1 


3 


1 


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i 


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16 


14 

5 

3 

10 
13 
33 

1 

33 

71 

23 

44 

1 

6 

3 

4 

1 

1 

1 

2 

2 

1 

87 

33 

1 

2 

13 

6 

7 

423 


W9 

i 


13 

5 

1 
10 

4 
29 

1 

2 

33 
75 
17 
28 

1 

3 
4 

1 
1 

2 
2 
1 

63 

28 
1 
2 

13 
6 
6 

361 


8 

Ti 

I 

2 


5 
2 


1 

5 

14 


18 
6 


54 


i 


1 


4 
2 


2 

2 


8 


1 


24 


> 


Grupoi  dai  pfiucitiaH  tu 


Ecíhyraa 

Edema  das  extremidades. 

Embaraço  gaslríco •  • 

ErysilMla 

Enleríte  simples. 

Epilepsia 

EstoDiatite  simples 

EicoriaçOes 

Erythema 

Febre  intermitlente  quotidiana 

Febre  intermittenle  terçS 

Febre  remiltente 

Febre  perniciosa 

Feridas  conlusas  e  conlosOes 

Pendas  incisas  e  penetrantes 

Feridas  por  armas  de  fogo 

Pistolas  nríiurías 

Fractura  do  maxiilar  inferior 

Pnrunculos 

Gastro-enteríle-typboide 

Gastralgia 

Hematúria 

Hemorrhoidas 

Hemiplegia 

Hemoptysis. 

Hydrocele 

Hemia  inguinal 

Hepatite  agada 

Hepatite  aguda,  alicessn  do  ligado  . . . 

Hepatite  clironica,  anemia 

Hypertropliia  do  coraçâo.aiiasarca.. 

Hyperlrophia  do  baço 

Hyperirophia  do  ligado,  anemia 

Hyperlrophia  da  glândula  mamaria. . 


1 

, 

" 

4S3 

364 

S 

5 

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lá 

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2 

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77 

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1 

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3 

3 

3 

2 

1 

4 

2 
1 

ri3i 

l 
1:133 

U9 


Grupos  das  principaes  molMliat  obsenradat 


Transporte. 

Icterícia 

Icterícia  grave,  fórrna  typhoide , 

Impetigo 

Lumbago 

Luxações 

Maculo 

Metrite  chronica 

Odontalgia 

Orchite  blennorrhagica 

Ophthalmia 

Onyxes 

Ozena i 

Palpitações  do  coração 

Paralysia  geral  do  movimento 

Paraplegia 

Peritonite  aguda 

Pleurysia  ou  pleurite 

Pleurodynia 

Pemptiigus 

Phlegmâo 

Pityriasis  do  couro  cabelludo 

Pneumonia 

Piam  de  Alíbert  (bobas) 

Phymoses  e  cancro  venéreo , 

Rheumatismo  articular  chronico 

Rheumatismo  muscular 

Sarna' 

Simuladas  (moléstias) 

Syphilís  terciária 

Syphilides  pustulosas 

Splenite  cbronica 

Tubérculos  pulmonares 

Tétano  traumático 

Ulceras  atonicas  das  pernas 


-a 


28 


i 


i 


S 


44" 


i:234 
4 
2 
1 
8 
6 
3 
i 
5 
9 
2 
1 
1 
1 
i 
1 
i 

12 

41 
I 
1 
1 

13 
1 
i 

37 
2 

10 
O 

13 
1 
3 
1 
1 
106 
1:532 


o 
•o 
a 

a 


1 


133 
4 

1 
8 
5 
2 
1 
5 
10 
2 
1 

1 


13 

40 
1 
1 
1 

10 
1 
1 

31 
1 

10 
6 

13 
1 
3 


94 

1:400 


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1 

- 

1 

— 

7 

16 

ia'') 

71 

KSO 


Gropos  das  priocipaes  moletUat  observadas 


Transporte 

Ulcera  na  margem  do  ânus 

Ulceras  syphiliticas  na  abobada  palatina 

Vegetação  venérea  na  vulva 

Vermes  intestinaes. 

Volvulo  ou  íleo 

Sommas  parciaes 

Total 


§ 


M 


44 


44 


a 

c« 

s 
a 


1 

B 


1:532 
1 
3 
3 
i 
i 

i:541 


i:585 


1:400 
i 
3 
3 
i 


1:408 


I 


Ti 


105 


s 

CS 

w 

s 


71 


106  I     71 


1:585 


Relação  dos  curados  para  os  doentes  1 : 1,12,  ou  88,8  por  cento. 
Relação  dos  fallecidos  para  os  doentes  1 :  14,95,  ou  6,68  por  c«nto. 


I 


tÊàm^tÊtm 


A  traducçSo  d'este  mappa  mostra  que  no  hospital  militar  da  ilha  de 
S.  Thomè  appareceram  102  espécies  patliologicas  em  1:586  doentes. 
Indicámos  nos  seguintes  mappas  a  proporção  da  mortalidade  provenien- 
te das  doenças  pertencentes  áquellas  espécies  e  aos  géneros  ou  grupos 
n'ellas  comprehendidos. 


1.°— Disposição  sagrando  a  ordem  alphabetloa  iaa  doenças 

Entre  cada  espécie  pathologica  e  o  numero  de  doentes  que  lhe  cor> 
respondem  ha  a  seguinte  relac3o: 


DoenLci        l'al|i>clilos 


iVa  etpecie — Alienafao  mental 

Xo  g>>iiero  ou  grupo — Anasarca 

Na  espécie — Anemia  tropical 

Na  espécie — Dronchite  aguda 

Na  espécie— ^ronchile  chronica 

No  género  ou  grupo— Cache x ia 

Na  espécie — CíingesISo  cereliral 

No  grupo  ou  género— Díarrhea 

No  grupo  ou  género— Dy  sen  leria 

Na  espécie — Peljre  romitlente 

No  grupo  ou  género— Febre  perniciosa.. 

Feridas  con lusas  e  contusões 

Feriílas  incisas  e  penetrantes 

Gaslro-enlerile-typhoide 

Henioplyses 

Hemia  inguinal 

Hepatite  aguda. 

Hepatite  aguda,  alieesso  do  Ggado 

Hepatite  chronica,  anemia 

Icterícia  grave,  forma  typlioide 

Hacúlo 

Paraplegia 

Peritonite  aguda 

Pneumonia 

Pleuresia  ou  pleurite 

tllieumatismo  articular  chronico 

Rlieumatismo  muscular. 

Tubérculos  pulmonares 

Telano  traumático 

Ulceras  atonicas  das  pernas 

Viilvulo  ou  iieo 


:  76,00 
4,80 
3,U 
{,00 
i,9i 
5,fi6 

:  39,00 
Í,W 

:  25,00 
9,66 
2,00 
i,00 
4,00 
1,00 
3,00 
3,00 
1,00 
3,00 
1,00 
1,00 
3,S0 

:  14,00 

:  19,00 
2,00 
1,00 
1,00 

:  1G,71 


S52 


2.''  Distribnlgão  segrundo  o  maior  niunero  de  doentes 


Diagnostico 


Ulceras 

Diarrhea 

Febre  remittenle , 

Bronchite  aguda. 

Cachexia 

Rheumatismo  articular 

Dysenteria 

Anemia  tropical 

Feridas  incisas  e  penetrantes . 

Febre  perniciosa 

Feridas  contusas  e  contusões. 

Bronchite  chronica 

Pneumonia 

Pleuresia  ou  pleurite 

Anasarca 

Hepatite 

Hemoptyses 

Hérnia  inguinal , 

Alienação  mental 

Maculo 


Doentes 

Fallecidot 

Re 

117 

7 

89 

18 

79 

2 

76 

1 

44 

14 

38 

2 

34 

6 

33 

2 

29 

3 

25 

17 

25 

1 

24 

5 

14 

4 

14 

1 

13 

5 

7 

3 

4 

1 

4 

1 

3 

2 

3 

1 

16,71 
4,94 

39,50 

76,00 
3,14 

19,00 
5,66 

16,50 
9,66 
1,47 

25,00 
4,80 
3,50 

14,00 
2,60 
2,33 
4,00 
4,00 
1,50 
3,00 


Nao  se  tomaram  em  consideração  as  doenças  manifestadas  apenas 
uma  ou  duas  vezes,  das  quaes  se  contam  nove  espécies.  As  graves 
e  mortíferas,  classificadas  segundo  a  sua  frequência  foram:  Ulceras, 
diarrhea,  febre  remittente,  bronchite  aguda,  cachexia,  rheumatismo 
articular,  dysenteria,  anemia  tropical,  feridas  incisas  e  penetrantes, 
febre  perniciosa,  feridas  contusas  e  contusões,  bronchite  chronica,  pneu- 
monia, pleuresia,  anasarca,  hepatite,  hemoptyses,  hérnia  inguinal,  alie- 
nação mental  e  finalmente  maculo,  correspondendo-lhes  os  números  se- 
guintes: 117,  89,  79,  76,  44,  38,  34,  33,  29,  25,  25,  24.  14,  14,  13, 
7,  4,  4,  3,  3. 


I 


$53 


d.<»—  Distribuição  segundo  a  maior  mortalidade  relativa 


Febre  perniciosa 1 

Alienação  mental i 

Anasarca 1 

Hepatite 1 

Maculo 1 

Cachexia 1 

Pneumonia 1 

Hemoptyses 1 

Hérnia  inguinal 1 

Bronchite  chronica 1 

Diarrhea 1 

Dysenteria 1 

Feridas  incisas  e  penetrantes 1 

Pleuresia i 

Anemia  tropical 1 

Ulceras 1 

Rheumatismo  articular 1 

Feridas  contusas  e  contusões 1 

Febre  remittente l 

Bronchite  aguda 1 


1,47 

1,50 

2,60 

2,33 

3,00 

3,14 

3,50 

4,00 

4,00 

4,80 

4,94 

5,66 

9,66 

14,00 

16,50 

16,71 

19,00 

25,00 

39,50 

76,00 


Contam-se  no  anno  de  1872  como  moléstias  principaes,  muito  frequen- 
tes e  mais  mortíferas,  a  febre  perniciosa,  anasarca,  hepatite,  cachexia, 
pneumonia,  bronchite  chronica,  diarrhea,  dysenteria,  pleuresia,  ane- 
mia tropical,  ulceras  e  febre  remittente;  e  os  seus  números  correspon- 
dentes em  relação  a  1  fallecido  são:  1,47,  2,60,  2,33,  3,14,  3,50,  4,80, 
4,94,  5,66,  14,  16,50,  16,7i,  39,50. 

As  doenças  mais  frequentes  no  hospital  foram:  a  febre  intermittente 
quotidiana,  que  aiíeclou  5o3  indivíduos;  as  ulceras,  117;  as  diarrheas, 
89;  a  febre  remittente,  79  vezes,  e  a  bronchite  aguda,  76. 

O  que  flnalmente  se  conclue  r  que  a  cidade  de  S.  Thomé  é  miasma- 
tica,  como  se  vé  pelo  elevadíssimo  numero  de  doentes  affectados  da  febre 
palustre,  e  até  pôde  dizer-se  sem  grande  erro  que  no  hospital  militar 
todos  tiveram  accessos  d'esta  doença. 


Resumo  das  primipaes  molcalias  observadas  do  liospitil  da  ilha  de  S.  Thomé, 
cui  cada  lrimci>tre  do  uudo  de  1872 


Anemia 

Broncliile , . , . 

Ckcliexia 

Diarrhea 

Dysenleria 

Edema  das  exiremidades  iiireriores 

Enibara^o  gástrico 

Pebrc  paluslni 

Vehio  palustre  rouiíllente 

Febre  pnlusire  iiilerniíl lente  Ut^H.. 

Felire  pernicioui 

Gaglro-eulerile  (yplioide 

Hepalile 

[theuroalismo 

Tubérculos  pulmonares 

Ulceras 

Diversas 


SOO    33  S80    ã8  ;> 


No  1."  trimestre  a  relação  dos  curados  para 

os  fallecidos  foi  de 25,65  :  1 

No  2."  trimestre  de 20,71  :  i 

No  3."  trimestre  de Í8,55  :  1 

No  4.»  trimestre  de 20,42  :  1 


Parece  que  o  terceiro  trimestre  foi  o  mais  insalubre,  quando  todas  a? 
condirues  do  solo  e  da  atmospliera  concorrem  i>ara  ser  mais  ruvorarel 
esta  quadra  do  anno. 


B5g 

A  frequência  das  doenças  está  representada  pelos  seguintes  numeroSi 
os  quaes  são  realmente  muito  approximados,  devendo  notar-se  que  o  mez 
de  setembro  é  o  menos  insalubre. 
p 

1.°  Trimestre 590 

2.*^  Trimestre 580 

3.^  Trimestre 538 

4.°  Trimestre 531 


KS6 


Hsppa  neerologico  do  hospital  miliUr  da  ilha  de  S.  Thonè,  oh  1872 


Gni|K)t  dat  moléstias  observadas  que  tarmÍDaram  pela  morte 


Anemia  tropical 

Cachcxia  palustre 

Total  {A) 

Relaçílo  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

Anasarca  (B). 

RelaçAo  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

Díarrliea 

Dysenteria 

Diarrhea  biliosa 

Total  (C) 

Relaçílo  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

4.» 

Bronchite  chronica 

Bronchite  aguda. 

Tubérculos  pulmonares.  /. 

Total  (D) •.... 

Relação  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 


aS 

a 


32 
70 


102 


2 
14 


16 


6,37  :  i 


21 


4,02:1 


107 
42 

8 


157 


15 
6 
3 


24 


6,54:  1 


37 
102 

2 


5 
1 
1 


141 


20,14:1 


557 


Gropot  das  moloitiM  observadas  que  terminaram  pela  morle 


5.» 
Gastro-enterite-typhoide  (E) 

Relação  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimenlos). 

6.» 

Pneumonia 

Pleuro-pneomonia 

[Meuresia. 

Totol(F) 

itclaç2o  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

7.» 

Hepatite  aguda 

Hepatite  chronica  e  anemia 

Hepatite  aguda  e  abcesso  do  íigado 

Total  (G) 

helaçáo  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

8.0 

l''ebre  perniciosa 

Pebre  palustre,  remittente  gástrica 

Febre  palustre  perniciosa ,..., 

ToUl(//) 

Relação  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 

9.0 

Rlieuiiiatismo  articular .....'. 

Rlieumatismo  muscular,  myelitc 

Rheumatismo  articular  chronico 

ToUl(/) 

Relaçdk)  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallecimentos). 


I 


s 

a 


m 

O 

a 

a 
1 

Cm 


t  :  i 


9 
10 
19 


38 


7,6:1 


1 
1 

5 


4 
4 

2 


1 
1 
1 


10 


3,33  :  1 


18 

7 

15 


40 


2,1  :  1 


9 

2 
8 

19 


40 

2 
8 


1 

.  1 
1 


50 


i6,6G  :  1 


â58 


Grupos  das  mole^lias  otMcrvada«  qae  tormioaram  pela  morto 


iO.« 


Ulceras  das  pernas 

Ulceras  atonícas  das  pernas, 


Tolal  (K) 


Relação  da  mortalidade  (casos  observados  para  os  fallccimentos). 


Peritonite  aguda 

Tétano  traumático 

Alienaçfio  mental 

Feridas  incisas  e  penetrantes 

Hemia  inguinal  e  gangrena  do  escroto ... 

Hemoptyses , 

Feridas  contusas  e  gangrena 

Paraplegia 

Vohoilo  ou  ileo 

Congestão  cerebral 

Icterícia  grave,  forma  t^phoide 

Maculo i . . . .  ^ i 

total 


Total  geral 


V 

ò  S 

a  u 


m 

70 


i 

4 

45 
í 
6 
4 
i 
i 
1 
3 
6 


75 


898 


a 

e 


CS 


5 


! 
I 
2 
3 
1 
1 
1 
I 
I 
1 

1 


16 


106 


Relação  das  moléstias  mais  graves  para  os  fallecidos 


8,47  : 1 


\ 


(A)  A  mortalidade  n'este  grupo  de  doenças  é  realmente  grande.  Re- 
unimos a  anemia  e  a  cachexia  para  mais  facilidade  de  exposição;  mas  não 
porque  reputemos  a  sua  natureza  ou  causa  primaria  idêntica,  e  não  ha  a 
menor  duvida  de  que  a  anemia  não  produz  a  cachexia. 

A  relação  de  1  fallecido  por  6,37  curados,  ou  16  por  cento  em  nome* 
ros  redondos,  fica  attenuada  por  algumas  circumstancias  que  se  devem 
tomar  em  consideração. 


A  demora  dos  doentes,  do  hospital,  incluídos  n'6ste  grupo,  foi  de  1 
a  96  dias.  Um  d'esles  doentes  estava  moribundo  quando  foi  visitado  pelo 
facultativo  da.enfermaria,  outro  falleceu  de  um  accesso  de  febre  perni- 
ciosa ao  quarto  dia  depois  de  ter  entrado  no  hospital,  e  outros  haviam 
padecido  de  moléstias  mais  ou  menos  antigas,  taes  como :  hemorrhagias 
abundantes,  diarrhea  chronica,  dysenteria,  ulceras  cbronicas  nas  pernas, 
pneumonia,  paraplegia,  etc. 

(6)  Â  mortalidade  n'estes  doentes  manifestou-se  entre  1 1  e  40  dias  de 
tratamento  medico  no  hospital,  tendo  a  anasarca  sido  acompanhada  de  le- 
sões orgânicas  do  coração,  de  bypertrophia  do  Qgado,  e  diarrhea. 

(C)  N'este  grupo  a  mortalidade  é  de  ^  por  6,54,  isto  é,  i6por  cento. 
Para  seguirmos  a  mesma  ordem  por  que  começámos,  indicaremos  em 

primeiro  logar  a  demora  relativa  dos  doentes  no  hospital,  a  qual  foi  entre 
3  a  42  dias.  A  cada  doente  doesta  classe  de  moléstias  correspondem  16,4 
dias  de  demora  no  hospital  emquanto  aos  fallecidos,  sendo  o  numero 
dos  atacados  157  e  dos  fallecidos  24.  Em  alguns  d'esles  as  doenças  men- 
cionadas no  grupo  complicaram-se  de  rheumatismp,  febre  palustre,  tubér- 
culos pulmonares  e  cachexia. 

(D)  N'este  grupo  a  relação  dos  casos  observados  para  os  fallecidos  é 
de  1  para  20,14,  isto  é,  141  casos  observados  e  7  fallecidos,  notando-se 
também  em  alguns  dos  que  falleceram  as  seguintes  moléstias :  diarrhea, 
pleuresia  e  anemia. 

(E)  Um  só  caso  se  apresentou  que  merecesse  a  denominação  gastro- 
enterite-typhoide.  Era  um  liberto  natural  do  Gabão,  e  que  contava  trinta  e 
três  annos  de  idade.  Esteve  em  tratamento  no  hospital  durante  144  horas» 

(F)  N'este  grupo  a  relação  dos  fallecidos  para  a  dos  casos  observados 
é  1 :  7^6.  O  que  teve  a  pleuresia  com  derramamento,  foi  também  atacado 
de  febre  typhoide. 

No  relatório  de  1869  lê-se  na  pagina  296:  cÂs  pneumonias  são  raras 
nos  europeus  e  seriam  menos  frequentes  nos  indígenas,  se  elles  seguissem  ' 
os  conselhos  que  os  médicos  lhes  dãoi». 

Dos  5  doentes  fallecidos  apenas  1  era  europeu.  Ficam  portanto  corro- 
boradas as  asserções  do  relatório  de  1869  e  seriam  mais  decisivos  os  factos 
se  se  archivassem  os  casos  observados  em  differentes  partes  da  ilha. 

(G)  Tratando  das  moléstias  designadas  n*este  grupo,  escreveu  o  sá- 
bio clinico  Dutroulau  no  seu  notável  trabalho:  «Â  hepatite,  esta  compa- 
nheira inseparável  da  dysenteria  endémica  grave,  augmenta  ou  dimínue 
com  ella  e  forma  de  um  quarto  a  um  oitavo  do  numero  de  seus  casos  e 
de  seus  fallecimentos» . 

O  numero  dos  fallecidos  no  hospital  é  pequeno,  assim  como  o  dos  ca- 
.  SOS  observados;  nas  dysenterias  esse  numero  é  6  entre  42  casos.  Podemos 


560 

pois  dizer,  como  em  1869:  aA  bepalíte  na  ilha  de  S.  Thomé^ão  está  em 
relação  com  a  dyseDleria,  nem  emquanto  á  frequência,  que  mostra  i,i 
casos  de  dysenteria  por  1  de  hepatite,  nem  emquanto  aos  fallecídosi>. 

(H)  Â  febre  palustre  é  endémica  na  cidade,  e  não  só  é  causa  de 
grande  mortalidade  por  seus  elleitos  immediatos,  como  são  immensos  os 
estragos  que  produz. 

Os  terrenos  adjacentes  á  cidade  de  S.  Thomé  começam  a  subir  gra- 
dualmente na  direcção  S.,  SO.  e  OSO.,  parecendo  o  horisonte  visual  for- 
mado por  montes  isolados  ao  S.,  e  por  uma  alta  serra  de  SO.  a  O.  pouco 
mais  ou  menos,  estando  dispostos  em  semicírculo,  a  cujo  arco  corresponde 
um  raio  de  2:025  kilometros.  A  cidade  é  edificada  em  terreno  alagadiço, 
baixo  e  húmido,  o  que  produz  febres  palustres  graves,  especialmente 
quando  acabam  as  chuvas  e  ficam  os  detrictos  vegetaes  e  animaes  impre- 
gnados de  agua  e  expostos  ao  calor  solar  de  40  a  50  e  até  56  graus  cen- 
tígrados, como  se  pôde  ver  lendo-se  as  observações  meteorológicas  de 
1872  (thermometro  na  relva  e  exposto). 

A  demora  dos  doentes  no  hospital,  fallecidos  de  febre  palustre,  foi  de 
1  a  18  dias. 

Dos  19  que  falleceram,  18  eram  europeus  e  1  de  Angola,  residindo  na 
ilha  de  S.  Thomé  desde  1  semana,  1 , 3  e  6  mezes,  e  4  annos. 

Terminámos  as  explicações  acerca  dos  fallecidos  de  febre  palustre  no 
hospital  civil  e  militar  da  ilha  de  S.  Thomé,  copiando  o  seguinte  trecho  do 
notável  livro  de  Dutroulau :  «O  algarismo  absoluto  dos  óbitos  (na  endemia 
palustre)  tem  por  toda  a  parte  importância  e  é  algumas  vezes  elevadíssi- 
mo; e  se  esse  mesmo  não  parece  estar  em  relação  com  o  dos  observa- 
dos, todos  os  médicos  das  nossas  colónias  são  conformes  em  lhe  attribuir 
a  causa  das  frequentes  retiradas  dos  doentes  que  vão  para  França,  ou 
para  climas  não  palustres,  e  sem  as  quaes  um  numero  considerável  de 
cachetícos  ainda  susceptíveis  de  se  curarem  seriam  irremediavelmente 
votados  á  morte». 

(7)  Nos  casos  de  rheumatismo  ha  3  fallecidos  entre  47  curados,  isto  é, 
1  para  16,66. 

(K)  É  importante  este  grupo  de  doenças,  sendo  notável  a  relação  da 
mortalidade  1  para  37,57,  que  se  apresenta  mais  favorável  do  que  qual- 
quer das  relações  de  mortalidade  referidas  a  outros  grupos. 

Em  geral,  as  ulceras  nos  climas  quentes  téem  uma  feição  particular  e 
são  descriptas  sob  a  denominação  de  ulceras  phagedenicas.  Desenvol- 
vem-se  em  consequência  da  má  alimentação,  da  miséria  e  da  falta  com- 
pleta de  hygiene,  começando  n'uns  por  qualquer  picada  de  animaes, 
u'oulros  por  meio  de  ferimentos  ou  feridas  contusas,  e  em  muitos  sem 
causa  bem  determinada.  Doestes  doentes  escreve  o  sábio  Dutroulau:  tAs 


561 

• 

funcções  digestivas  alleram-se,  observa-se  anorexia  e  diarrhea,  sobre- 
vêem  accessos  de  febre  e  o  doente  cáe  em  profunda  anemia  (le  malade 
tombe  dans  uné  anemie  profondej». 

Entre  os  7  faliecidos  eram  europeus  5,  e  a  maior  parte  d'elles  acba- 
va-se  no  estado  cachetico. 

Todas  as  ulceras  occupavam  os  membros  inferiores,  os  pés  ou  as  per- 
nas até  ao  seu  terço  inferior.  Os  doentes  eram  addidos,  praças  depret  ou 
indigentes;  a  sua  demora  no  hospital  foi  devida  a  não  terem  aquelles  in- 
felizes aonde  se  recolherem,  a  faltarem-lhes  todos  os  meios  e  a  não  haver 
na  ilha  casa  de  saúde,  nem  hospício  de  entrevados,  nem  finalmente  re- 
curso algum  de  que  se  lançar  mão. 

O  tratamento  medico  que  se  fez  aos  ulcerosos  foi  aquelle  que  a  occa- 
siao  permittia. 

Os  grupos  de  doenças  em  que  houve  faliecidos  são :  cachexia  e  ane- 
mia, anasarca,  diarrhea  e  d}'senteria,  bronchite  e  tísica  pulmonar,  febre 
t}  phoide,  pneumonia,  hepatite,  febre  palustre,  rheumatísmo  e  ulceração. 
Diversas  outras  doenças  produziram  16  faliecidos. 

Comparando-se  finalmente  entre  si  as  doenças  acima  referidas  com 
as  de  1869,  nota-se  uniformidade  em  certas  moléstias  e  augmento  em 
outras,  o  que  prova  que  não  houve  melhoramentos  sanitários  na  cidade 
de  S.  Thomé  em  1870, 1871  e  1872. 

I Doenças  mais  graves 222 

Números  dos  faliecidos 48 

Relação  de  mortalidade 4,62 

I Doenças  mais  graves 898 

Números  dos  faliecidos 106 

Relação  de  mortalidade 8,47 

As  classes  a  que  os  106  faliecidos  em  1872  pertenciam  eram:  addi- 
dos  46,  soldados  15,  indigentes  21,  civis  4,  hbertos  19  e  preso  1. 

Em  presença  do  que  acabámos  de  enumerar,  e  que  é  extrahido  dos 
registos  do  hospital  militar  e  civil  de  S.  Thomé,  vê-se  que  houve  13  fal- 
leciroentos  durante  as  primeiras  vinte  e  quatro  horas  de  tratamento,  o 
que  dá  idéa  do  estado  de  gravidade  em  que  os  indivíduos  entraram,  isto 
devido  muitas  vezes  á  repugnância  manifesta  que  téem  em  procurar  o  es- 
tabelecimento hospitalar,  preferindo  empregar  os  medicamentos  aconse- 
lhados por  enfermeiros  inhabeis  e  muitos  remédios  secretos  manipula- 
dos pelos  curandeiros,  aos  que  a  medicina  aconselha  com  bom  critério, 
conhecimento  e  longa  pratica. 

É  uma  providencia  de  ha  muito  reclamada  o  conservar  nas  nossas  co- 
se 


568 

lonias  o  numero  de  médicos  precisos  para  occorrer  a  todas  as  necessida- 
des das  províncias,  bem  como  um  pessoal  de  enfermeiros  devidamente  ha- 
bilitado, a  flm  de  conjurar  de  uma  vèz  aquelle  t3o  nocivo  e  reprehensivel 
abuso.  Quantas  victimas  se  não  poupariam  se  a  propaganda  medica  escla- 
recesse os  espíritos  fracos  e  abatidos,  e  lhes  fizesse  comprehender  o 
erro  em  que  estão,  a  fim  de  que,  logoque  sentissem  os  primeiros  sym- 
plotnas  de  enfermidade,  se  aconselhassem  convenientemente,  ou  se  aco- 
lhessem ao  hospital?  Esta  propaganda,  auxiliada  pelas  auctoridades  supe- 
riores e  subalternas,  faria  talvez  com  que  o  quadro  necrologico  diminuísse 
pelo  menos  um  terço  em  toda  a  população,  porque,  com  respeito  aos 
tratados  no  hospital,  encontrariam  ali,  a  par  de  uma  medícaçio  apropria- 
da, a  dieta  conveniente  e  os  cuidados  constantes  d'aquelles  que  se  dedi- 
cam ao  mister  de  lutar  com  a  parca,  disputando-Ihe  a  vida  de  seus  ir- 
mãos. 

Estâs  sSo  as  causas,  a  nosso  ver,  que  motivaram  o  grande  numero  de 
mortes  nas  primeiras  vinte  e  quatro  horas  do  tratamento,  e  cremos  que 
em  muitas  das  enfermidades  que  terminaram  fatalmente  ter^se-ía  evitado 
este  resultado  se  lhes  fossem  applicados  a  tempo  os  soccorros  precisos. 

Não  è  só  a  insalubridade  do  paiz  que  concorre  para  tão  grande  mor^ 
talidade  (sendo  aliás  uma  das  príncipaes  causas),  é  o  abandono,  è  a  pouca 
iUustração,  è  a  nenhuma  crença  do  que  é  útil  que  domina  a  maioria  da 
povoação;  esta  é  a  verdade.  Os  pântanos  constantes  que  viciam  a  atmos» 
phera,  as  péssimas  condições  das  habitações,  a  inconveniente  e  defi- 
ciente alimentação,  e  o  pouco  ou  nenhum  resguardo  das  chuvas  e  da  sol, 
predispõem  para  as  infecções  que  predominam  n'esta  ilha ;  mas  não  seriam 
todos  estes  males  em  parte  attenuados  se  se  combatessem  a  tempo  tão 
nocivos  agentes?  Aindaque  o  actual  hospital  não  está  em  boas  condições 
hygíenicas,  como  já  dissemos,  não  estará  comtudo  muito  melhor  do  que 
a  maioria  das  cubatas,  em  que  se  albergam  tantos  desgraçados?  Não  en- 
contrariam elles  ali,  durante  a  conTalescença,  uma  alimentação  muito 
mais  restaurante  do  que  o  seu  alimento  quotidiano?  Emfim,  para  anali- 
sarmos estas  considerações,  não  podemos  deixar  de  reproduzir  aqui  al- 
gumas palavras  que  sobre  este  assumpto  escrevemos  no  relatório  de 
1860: 

«...  Entre  os  habitantes  da  cidade  e  os  naturaes  de  toda  a  ilha  dá-se 
pouca  importância  aos  conselhos  médicos;  ha  vicios  gravíssimos  no  trata^ 
mento,  e  commetlem-se  abusos  inclassificáveis. 

«Em  cada  fazenda  ha  boticas  e  enfermarias  dirigidas  por  enfermeiros 
ibhabeis,  que  não  dão  conta  alguma  do  que  fazem;  os  pretos  têem  os  seus 
Inedicos,  os  seus  sábios,  o  seu  manipanso,  quando  são  cabindas,  e  não 
procuram  os  médicos.  i> 


r 

A 


HlsmiA  NATIRAL 


A  importância  pratica  da  historia  naiural,  poisqnc 
cila  ó  um  dos  poderosos  anxiliarcs  da  medicina,  sono 
do  gnia  i  agricnltnra  c  de  baso  á  industria. 

{Curso  de  historia  naturêli  do  J.  Rodrignot  Goedcs.) 


A  historia  natural  comprehende  principalmente  a  biologia  applicada, 
tomada  sob  um  ponto  de  vista  concreto,  descriptivo  on  applicado ;  a  bio- 
logia propriamente  dita  oa  abstracta  estuda  os  seres  da  natureza  em  ge- 
ral ;  para  uma  são  necessários  os  estudos  práticos,  para  outra  bastam 
muitas  vezes  os  de  gabinete.  No  capitulo  de  que  nos  occupâmos  faltam 
ambos  os  elementos  para  se  escrever  com  vantagem  para  a  medicina,  com 
utilidade  para  a  agricultura  e  com  importância  para  a  industria,  mas  o 
nosso  intento  nâo  é  compor  um  tratado  de  historia  natural,  é  tâo  somente 
relatar  o  que  ha  feito  n'este  sentido  e  o  que  é  necessário  fazer-se. 

Achando-se  escriptas  as  nossas  informações  acerca  dos  quatro  reinos 
da  natureza,  deparou-se^nos  um  folheto  ^  do  qual  muito  a  propósito  faze- 
mos o  seguinte  extracto,  como  considerações  preliminares  imporlantissi- 
mas,  com  respeito  ás  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  que  mais  nos  interessa 
conhecer : 

«A  sua  demora  rfestas  ilhas,  diz  aquelie  viajante,  foi  de  poucos  dias, 
e  esses  quasi  sempre  chuvosos,  não  lhe  permillindo  largas  digressões. 

«As  colleçôes  feitas  por  Akerman,  que  estavam  na  posse  de  Van  Ilut, 
nao  haviíim  então  sido  publicadas;  as  de  Mann  tinham-se  distribuido  pe- 
los herbarios  de  kew.  Varias  plantas  das  mesmas  illias,  colhidas  por  Don 
na  digressão  á  Serra  Leoa,  foram  mencionadas  na  Niger  Flora. 

«Da  fauna  occuparam-se  Pfeifer,  Morelet  e  Gunther;  e  a  parte  ento- 
mologica,  acrescenta  Welwitsch,  deve  ser  interessantissima  a  julgar  pelo 
que  observou  nos  poucos  dias  que  estacionou  nas  ilhas.  Nota  mais  ter  ra- 


^  As  explorações  phyto-gcographicas  da  Africa  tropical  e  em  especial  as  da 
Guiné  inferior,  ordenadas  pelo  governo  português  e  executadas  pelo  dr.  Friederich 
Welwitsch,  nos  annos  de  i853  a  1861,  por  Bernardino  António  Gomes.  Extracto  do 
Joi^nal  de  sciencias  viaíkematicas,  physicas  e  tuituraes,  n.«  14,  Lisboa,  1873. 


564 

são  para  suppor  que  na  parte  oriental  e  nas  regiões  elevadas  devem  offe- 
recer  estas  ilhas  o  maior  interesse,  sendo  aliás  já  seduclor  no  litoral  o  lu- 
xuoso da  vegetação,  em  geral  análoga  á  da  costa  vizinha  do  contínenle  e 
notavelmente  invadida  de  plantas  de  origem  americana. 

«Abundam  ahi  beliissimos  fetos  e  as  orchideas  epiphylas,  as  cyatheas 
arbóreas,  que  foram  encontradas  a  4:000  pèSf  (1:200  metros)  de  eleva- 
ção^; foi  assignalado  no  pico  de  S.  Thomè^  uma  espécie  de  podocarpus, 
6  pelas  densas  matas  encontram-se  bastantes  scitamineas,  a  mais  mages- 
tosa  palmeira  da  África  tropical;  o  barassus aethiopica mart  avista-se logo 
nas  vizinhanças  da  capital  de  S.  Thomé;  e  é  das  mesmas  ilhas  a  mimosea 
gigantesca,  a  que  ali  dão  o  nome  de  sucupira.» 

Se  faltam  os  estudos  biológicos,  concretos  e  abstractos,  como  disse- 
mos, escasseiam  também  completamente  os  da  geologia  e  mineralogia. 

Admiltimos  a  existência  de  quatro  reinos,  o  mineral,  vegetal,  animal 
e  bominal  ^  e  vamos  dar  as  informações  que  podemos  obter  a  respeito  de 
cada  um  d'elles,  a  fim  de  fazermos  sentir  a  necessidade  de  se  mandar 
proceder  aos  estudos  que  a  colonisação  da  ilha  reclama  urgentemente. 


CAPITULO  XUI 
Reino  mineral 


Do  solo  da  ilha  do  S.  Thomé  ó  urgente  conheoer  a 
compotiçSo,  oxigeH)  o  estudo  das  cansas  da  nia  reco- 
nhecida e  ioconlcstavel  insalubridade,  e  maito  espc- 
cialmente  o  exacto  conhecimento  das  moléstias  oídemi- 
cas  o  das  endemo-epidemicas,  que  tSo  fatacs  tècm  sido 
para  os  enropeos. 

{Relatório  de  1869,  pagina  S65.) 

Turfa,  cal,  pedra,  óleo  mineral,  mercarío,  manganez,  sal,  ele 

Se  ha  sciencia  em  que  seja  preciso  tomar  em  consideração  os  elemen- 
tos práticos,  a  Mineralogia  é  a  primeira  entre  as  primeiras ;  é  positiva, 
determinada,  palpável  e  exige  perfeito  conhecimento  das  propriedades 
physicas  como  a  forma,  o  peso  especifico  e  a  clareza  dos  corpos  inertes 


1  Corresponde  á  fazenda  Macambrà,  aberta  na  face  oriental  da  notável  cordi- 
lheira^ por  detrás  da  qual  íica  o  celebre  pico  de  S.  Thomé. 

2  Não  consta  if  esta  ilha  que  se  tenha  subido  ao  pico  de  S.  Thomé. 

3  Entre  o  reino  animal  e  hominal  ha  differenças  características,  que  auctori- 
sam,  justificam  e  exigem  a  separação. 


565 

ou  dos  mineraes  que  estuda,  e  de  tudo  o  que  as  propriedades  eléctricas 
e  magnéticas  d^esses  corpos  possam  revelar,  nao  esquecendo  as  demon- 
stradas pelo  tacto,  pelo  gosto  e  peio  olphato.  Se  as  três  primeiras  proprie- 
dades s3o  essenciaes,  mal  se  podem  dispensar  as  outras,  embora  secun- 
darias, assim  como  s3o  de  grande  importância  as  resultantes  das  modifi- 
cações causadas  pelo  calor« 

A  mineralogia  é  pois  essencialmente  pratica,  e  pelo  que  diz  respeito 
á  ilha  de  S.  Thomé,  faltam  esses  conhecimentos  exigidos  por  uma  scíen- 
cia  tão  utíl  quanto  necessária  para  o  estudo  das  endemias  das  locali- 
dades. 

A  mineralogia,  isto  é,  o  estudo  e  classificação  dos  corpos  inertes  ou 
dos  mineraes  em  separado,  é  a  base  da  geologia  ou  do  estudo  d'esses 
mesmos  corpos  reunidos  ou  constituídos  em  grandes  massas,  chamadas 
rochas,  formando  a  crusta  da  terra  e  sustentando  os  vegetaes  e  os  ani- 
maes. 

A  origem  da  ilha  de  S.  Thomé  não  é  fácil  de  determinar  por  falta  dos 
estudos  geológicos.  N3o  ha  noticia  de  ter  havido  algum  abalo  de  terra, 
que,  tendo-lhe  modificado  os  terrenos,  lhe  desse  novas  formas,  oú  expli- 
que o  seu  apparecimento  no  archipelpgo  do  mar  da  Guiné. 

Será  esta  ilha  uma  porção  de  terra  separada  do  continente  da  Africa 
por  effeito  das  aguas  impellidas  sob  qualquer  influencia  poderosa  e  estra- 
nha, como  abalos  submarinos? 

É  inteiramente  impossível  responder  a  esta  pergunta  sem  o  prévio 
exame  dos  mineraes,  e,  ipso  facto,  sem  minucioso  conhecimento  dos  ter- 
renos ou  da  geologia  de  todo  o  archipelego  e  da  costa  do  Gabão  em  ge- 
ral e  d'esta  ilha  em  particular. 

Qual  das  ilhas  do  golfo  dos  Mafras  appareceu  primeiro,  qual  é  a  mais 
antiga?  Appareceriam  todas  pelo  mesmo  tempo? 

Os  terrenos  estão  em  quietação  ha  mais  de  quatro  séculos,  e  não  ha 
tradição  de  existirem  vulcões  no  interior,  nem  nos  mares  próximos,  as- 
sim como  não  dão,  a  este  respeito,  noticia  alguma  os  escriptores  contem- 
porâneos dos  descobridores  d'esta  parte  do  globo,  nem  os  que  se  lhes  se- 
guiram. 

Não  se  encontram  ali  aguas  thermaes  nem  sulphatosas,  nem  signaes 
evidentes  de  que  esta  ilha  seja  producto  de  um  vulcão  já  extincto  ao  tempo 
da  sua  descoberta  ou  de  algum  phenomeno  extraordinário  submarino 
d'esta  ordem. 

Qual  é  a  natureza  dos  mineraes  de  que  são  formados  os  montes  da 
ilha?  Qual  é  a  qualidade  dos  seus  terrenos  nas  várzeas,  nas  planícies,  nos 
alto-planos  ou  nas  costas? 

Todos  os  pântanos  e  baixos  da  ilha  são  palustres? 


566 

Desconhecidos  os  mineraes  que  ha  na  ilha,  ião  se  podem  determinar 
os  terrenos,  e  muito  menos  a  sua  antiguidade  ou  origem,  nem  tSo  pouco 
as  modíQcações  que  téem  soffrido  atè  ao  seu  estado  actual  (1877). 

Não  ha  noticia  de  se  haverem  explorado  minas,  nem  o  solo  abundan- 
temente regado  por  numerosos  rios  tem  exigido  que  se  abram  poços  de 
qualquer  natureza.  A  3  ou  4  melros  e  a  l^^^S  de  profundidade  encontrasse 
agua  nos  terrenos  da  cidade,  e  próximo  das  fazendas  mais  elevadas,  a 
1 :000  metros  actualmente,  correm  rios  caudalosos,  que  descem  dos  mon^- 
tes  mais  altos  para  as  várzeas  e  planuras. 

A  exploração  das  terras  para  descobrir  ferro,  carvão,  petróleo  ou  ou* 
tros  mineraes  importantes  não  se  pôde  fazer  esperar  muito.  Na  fazenda 
.  Cachoeira,  a  SE.  da  ilha,  em  altitude  de  100  até  150  metros,  junto  de 
um  pequeno  ribeiro,  corre  uma  fonte  natural  de  petróleo,  que  será  a  pri- 
meira a  explorara  Ás  perfurações  artesianas  que  de  certo  ali  devem  ser 
empregadas  para  se  reconhecer  a  abundância  d'aquelle  mineral,  podem 
seguir-se  outras  nos  legares  em  que  se  suppQe  haver  turfeiras  oa  outros 
depósitos  importantes  de  minério. 

Não  é  de  esperar  que  se  construam  caminhos  de  ferro,  se  bem  que  a 
immensa  riqueza  da  ilha  e  a  necessidade  de  se  viver  no  seu  interior  recla« 


1  Resultado  dos  ensaios  mandados  fazer  pelo  ex.*^  sr.  Francisco  de  Oliveira 
Chamiço  sobre  uma  amostra  de  óleo  mineral  vindo  de  Afríoa: 

fOleo  bruto,  submettido  á  distillação  a  uma  temperatura  vizinha  de  300»,  deu: 

Alcatrão 20  % 

Óleo  de  primeira  distillação 70Vo 

«O  alcatrão  pôde  servir  para  embreagens,  asphalto  e  outros  usos. 

«O  óleo  de  primeira  distillação,  do  qual  mandámos  uma  amostra,  arde  com  boa 
luz,  e  parece-nos  poder  já  applicar-se  a  certas  illumiaaç5es..£  todavia  muito  Im- 
puro, dando  bastante  fumo  e  mau  cheiro. 

cEste  óleo  refinado  pelas  acções  successivas  do  acido  sulphurico  concentrado 
e  da  soda  cáustica,  dá  um  óleo  pesado,  que  se  pôde  vantajosamente  empregar  na 
lubrificação  de  machinas,  etc,  e  outro  mais  leve  que,  distillado  a  300^,  dá  o  pro- 
dueto  que  remettemos  com  o  titulo  de  óleo  de  segunda  distillação,  e  que  nos  parece 
bom  para  illuminação.  Relativamente  ao  oleo  bruto  a  sua  porção  é  de  44  porcento. 

cAIem  doestes  productos,  talvez  se  possam  extrahir  outros  de  valor  commercial 
importante.  Para  a  solução  d'esta  questão  6  necessário  dispor  de  mais  tempo  e  de 
maiores  porções  de  matéria. 

«O  juizo  que  fazemos  da  matéria  examinada  ô  que  ella  deve  ter  um  valor  im- 
portante, se  as  suas  condições  do  abundância  e  transporte  forem  favoráveis. 

«Lisboa,  3  de  julho  de  iS1±  =  Rezende  e  Car/w/ro. = Laboratório  central  de 
analyses  mineraes  e  consultório  minério. -r  77,  rua  do  Crucifixo,  79,  Lisboa.— Cer- 
tificado de  anaivse.» 


567 

mem  uma  ou  mais  doestas  vias  acceleradas;  e  nSo  haverá  portanto  tão 
c6do  perfurações  de  montes,  nem  terraplenaçciea  que  dêem  occasião  ao 
exame  dos  terrenos  terciários  ou  secundários. 

Em  hyglene  publica,  e  especialmente  na  parte  da  bygiene  tropical  proi- 
pria  da  ilha  de  S.  Thomó,  importa  somente  estudar  os  terrenos  quater^ 
naríos  ou  modernos.  Se  elles  assentam  sobre  uma  ou  outra  ordem  de  ter« 
renos  ou  se  a  ilha  existe  desde  o  principio  do  mundo,  ou  de  outra  epocha, 
decidil-o-hio  aquelles  que  se  occupam  especialmente  do  estudo  da  mine- 
ralogia  e  da  geologia.  Como  medico  clinico  pedimos  que  esses  naturalis* 
tas  nos  dêem  os  elementos  da  composição  das  terras  de  alluvião  que  emer^ 
-  gem  do  mar  e  que  nós  habitámos  ha  406  annos  I 

O  terreno  humoso  doesta  ilha  está  cheio  de  detritos  vegetaes  e  animaes, 
e  tem  uma  potencia  vegetativa  extraordinária.  Â  esta  quaUdade  attribuí- 
mos  uma  das  causas  da  insalubridade,  a  qual  se  deve  corrigir  por  meio 
de  culturas  apropriadas,  escolhendo  não  só  as  úteis  ao  commercio,  como  as 
proveitosas  para  a  saúde  publica. 

Não  condemnámos  as  florestas,  antes  as  desejámos,  visto  que  ellas 
representam  um  dos  meios  de  que  se  deve  lançar  mão  para  modificar  o 
terreno  insalubre  e  humòso,  e  para  conservar  a  regularidade  das  estações 
ou  das  chuvas. 

N'esta  ilha  existem  arvores  accommodadas  ao  fim  que  indicámos;  basta 
somente  mandar  fazer  a  sua  classificação  e  obrigar  os  habitantes,  e  espe- 
cialmente os  fazendeiros,  a  conservarem  as  que  fornecem  bons  géneros 
commerciaes,  como  a  celebre  corda  mossadá,  o  pau-cadeira,  o  pao«oleo. 
a  amoreira,  o  cajueiro,  o  cafezeiro,  o  cacaeiro  e  outras  cujos  produclos 
são  valiosos,  e  a  fazerem  ao  mesmo  tempo,  e  em  logares  apropriados,  as 
sementeiras  das  que  dão  boas  madeiras. 

A  ilha  de  S.  Thomé  é  susceptível  de  grande  desenvolvimento  e  pro- 
gresso agrícola,  mas  para  isso  é  preciso  que  as  culturas  se  façam  com  me- 
thodo,  ordem  e  intelhgencia. 

Por  não  termos  outras  informações  repetimos,  em  1877,  as  que  co- 
piámos de  Lopes  de  Lima,  em  1869: 

a  No  solo  da  ilha  de  S.  Thomé  predomina  a  argilla,  em  parte  combi- 
nada com  sílica,  areia  ou  cal,  mas  por  toda  a  parte  extremamente  fecunda 
e  adaptada  ás  producções  equatoríaes,  até  mesmo  nas  inaccessiveis  mon- 
tanhas que  formam  a  parle  do  sul  d'esta  ilha  importante*.» 

Para  verificarmos  a  opinião  de  Lopes  de  Lima  escrevemos  (n'aquelle 
anno)  «devíamos  ter  feito  a  classificação  dos  principaes  mineraes  compo- 


Lopes  de  Lima,  pagina  8,  parle  1/ 


868 

nentes  das  rochas  que  podessemos  observar,  quer  pelo  que  respeita  á  ex- 
ploração de  minas,  quer  ao  solo  arável*». 

«A  ossada  dos  monles  é  de  rochas,  granito,  quartzo  e  sile:^:  não  ha 
n'elles  vestígios  vulcânicos,  e  dizem  os  que  as  lêem  visto  que  nem  as  aguas, 
nem  as  pedras  dão  indícios  da  existência  de  minas.  Um  húmus  argilloso 
constitue  quasi  geral  o  solo  da  ilha^». 

O  estudo  da  geologia  leva  com  todo  o  rigor  á  demonstração  que  se 
pôde  exigir,  a  fim  de  se  provar  que  o  reino  hominal  está  completamente 
s^arado  do  reino  animal,  mas  reservámos  a  exposição  a  este  respeito 
plira  quando  fatiarmos  dos  habitantes  d'esta  ilha  e  dos  europeus  n*ella  re- 
sidentes ou  do  reino  hominal. 

Ha  jazigos  de  cal  ^,  o  sal  abunda,  as  pedras  sao  negras  e  encontram-se 
em  grandes  massas ;  ha  barro  vermelho  de  primeira  qualidade  que  serve 
para  telhas  e  para  vasos,  e  alguns  ainda  se  fazem,  como  tivemos  occasião 
de  ver  na  villa  de  Nossa  Senhora  das  Neves.  E  portanto  «a  exploração  da 
ilha  de  S.  Thomé  deve  dar  bom  resultado  tanto  para  a  colónia  como  para 
a  metrópole  ^».  Foi  a  nossa  opinião,  em  1869,  a  respeito  do  reino  mineral, 
e  é  essa  mesma  a  que  hoje  reproduzimos. 


»  Relatório  de  1869,  pag.  264. 

2  Lopes  de  Lima,  pag.  12,  ponto  2.° 

3  A  Junta  da  fazenda  despendeu  no  anno  de  1875, 1:171  j30o  réis  com  a  com- 
pra de  6:018  alqueires  (93:048  litros)  de, cal,  cujo  preço  variou  entre  105  e  360  réis 
cada  alqueire  (13,8  litros). 

*  Relatório  de  1869,  pag.  265. 


CAPITULO  XIV 

* 

Reino  vegetal 

Não  nos  consta  quo  se  lenha  procedido  a  alguns  e9> 
ludos  nas  ilhas  de  S.Thomé  e  Frincipc,  c,  coroo  diva- 
^'aç5os,  nilo  li^m  vantagem  alguma;  quando  falia  o  co- 
nhecimento exacto  da  especialidade,  contentdmo-nos 
com  dizer  ^e  tê  deve  começar  a  estudar  a  rica  o  variada 
flora  d>stas  ilhas. 

(Relatório  de  48C9,  pagina  S57.) 

ladeiras  pÍDeipaes  de  S.  Thoné;  abandancia,  qualidade  e  applicaçôes.—  Vantagens  da  exportação  e  n^ 
cessidade  de  se  consenaren  as  inalas. ~ Arvores  dignas  de  especial  menrâo.— Trepadeiras;  singu- 
lar disposição  do  lussandá.— Custo  das  madeiras  nos  mercados  de  Lisboa  e  no  da  ilba  de  S.  Tbomé, 
com  de^ignaçío  do  peso,  qualidades,  dimensiies  e  princípaes  applicaçôes.— Arvores  frudiferas  e  fru- 
ctas  mais  abundantes.— Raizes  alimenlicias.—  Drogas  medicinaes  próprias  do  paiz.— Produdos  natu- 
raes  e  da  industria  agricola  e  fabril  de  S.  Tbomé.--  Comparação  entre  as  diferentes  epocbas  no  pro- 
gresso agrícola  e  commercial  da  ilha  de  S.  Tbomé. 

I 

Madeiras 

1  .^  Lista  das  prineipaes  madeiras  de  qae  temos  conhecimento. — Azeitona,  amo  • 
reira,  cajueiro,  canelleira,  caixão,  estralla-estralla,  soá-soá,  sucupira,  un- 
tuem,  viro,  marapiam,  zamouma,  gofe,  inhé-preto,  go-gó,  macanibrará, 
miltio,  mlcandó,  maogue  do  mato,  nespereira,  ocá,  obá,  pau-oleo  de 
S.  Tliomé,  englelé,  ipé,  pau-branco,  inhé-bobó,  mangue  da  praia,  mangue 
do  rio,  capitão,  dumo,  pau-gamella,  goyabeira,  pau-oleo-barriío,  pinlieiro 
da  terra,  pau-preto  ou  quebra-machado,  ussubi,  pau-vermelho,  zungu, 
zemzem,  guigó,  grumati,  coáco-branco,  sequené,  folha  pequena  K 

Vamos  dar  alguns  esclarecimentos  a  respeito  das  madeiras  de  construc- 
ção  da  ilha  de  S.  Thomé,  os  quaes  são  em  grande  numero  devidos  á  ex- 


1  As  madeiras  que  nos  annos  de  1873  a  1876  appareceram  no  mercado  de 
S.  Thomó  foram  as  seguintes : 

Azeitona,  viro,  caixão,  miúdo,  marpíão,  caibro  dos  angolares,  sapí  de  obó,  obó, 
mangue  do  obó,  perallo,  amoreira,  obá,  soassoá,  ipé,  go-gó,  muandum,  pau-bran- 
CO,  glogu  e  pinho. 


570 

trema  bondade  dos  fazendeiros  barSo  de  Agua-Izè  e  de  seu  irmão  o  com* 
mendador  Jacinto  Carneiro  de  Sousa  e  Almeida,  Joaquim  António  Bahia, 
José  António  de  Oliveira  e  José  António  Freire  Sobral. 

Para  estudarmos  as  bellas  florestas  que  ha  na  ilha  seria  preciso  demo- 
rarmo-nos  muito  tempo  pelo  interior,  o  que  não  podemos  conseguir;  ape- 
nas as  percorremos  de  passagem,  mais  como  curioso  do  que  como  obser- 
vador estudioso.  As  arvores  que  apontámos  são  suílicientes  para  mostrar  a 
importância  das  florestas  existentes  na  ilha  de  S.  Thomé. 

Azeitona. — A  arvore  conhecida  por  este  nome  é  alta,  grossa  e  direita,  e 
tem  o  tronco  limpo.  Preparam-se  com  ella  bons  esteios,  e  dizem  que  é  de 
grande  duração  ^  O  pau  é  muito  pesado,  bem  como  as  foltias.  Dão-Ihe  aqui 
a  denominação  de  amoreira^  os  europeus  em  Angola  chamam  moreira  e 
os  indígenas  mt/cam6a-camòa.  É  uma  espécie  de  morus^(Moracea$),  que 
se  encontrava  com  muita  frequência,  mas  que  presentemente  vae  rareando 
em  consequência  da  applicação  que  lhe  dão  para  construcções.  Cresce 
tanto  6  engrossa  por  forma  tal  que  ha  arvores  d'esta  espécie  com  86, 30 
e  mais  metros  de  altura,  sendo  o  diâmetro  na  base  de  2  e  2,5  metros. 
É  um  dos  colossos  do  reino  vegetal  e  uma  das  mais  importantes  arvores 
doesta  fertilissima  ilha.  As  raízes  desenvolvem-se  tanto  na  superflcie  da 
terra,  que  se  erguem  em  altas  abas,  formando  entre  si  uma  espécie  de 
quartos  onde  podem  esconder-se  muitos  homens. 

Cajueiro. — É  conhecido  por  anacardium  ou  cassuvium  occidental 
(Therabinthceas  anacardeasj.  Produz  boa  madeira  para  mobilia  e  alem 
d'isso  é  muito  importante,  não  só  pelo  fructo  como  pela  gomma  que 
d'ella  se  extrahe. 


i 


1  N*uin  artigo  publicado  no  n,''  21  dos  Annaes  ie  marinha  e  ultramar,  corres- 
pondente ao  anno  de  1867,  pagina  7,  nota  12,  lô-se  o  seguinte ; 

cNo  armazém  das  madeiras  do  arsenal  da  marinha  existe  uma  variada  collec- 
ção  de  amostras  da  índia  o  Africa,  digna  de  entreter  a  curiosidade  í  Ali  se  obser- 
vam, entre  muitas,  as  amostras  das  seguintes  espécies,  que  são  de  primeira  quali- 
dade pela  solidez,  duraçio  e  corpoleneia. 

^Azeitona,  de  S.  Thomé;  pau^ferrOj  do  Brazil;  tmviêlho»  do  Brasúl]  sucupira» 
do  Príncipe  (não  inferior  à  do  Brazil);  e  as  seguintes  também  do  Príncipe:  furiri, 
go-gó,  pO'pó,  urum,  mata-passo,  inosimana,  remo,  espinheiro,  muito  similhjuU6  ao  do 
Brazil,  e  umboló,  alem  de  tantas  outras  que  seria  fatigante  citar.  Das  duas  ilhas  ou 
naturaes  de  qualquer  outra  parte  da  Africa  notaremos  ainda  outras,  o gulanelienu 
iio,  bebambój  alsona^  champô,  inacambrará,  zanunno,  azueira,  cupiuba,jucáj  winhe, 
que  são  madeiras  preciosas.  Ha  n'esta  lista  vinte  e  trcs  arvores  reputadas  madei- 
ras preciosas,  e  nós  damos  informação  de  quarenta  e  três  arvores,  somente  da  ilha 
de  S.  Thomé,  de  primeira  qualidade!» 

*  Synopse  explicativa  das  amostras  de  maderras,  etc,  por  F.  Welw.,  1862,  fo- 
lheio, pagina  8. 


871 

Canelleira  (Laurns  duna). — Tem  bello  porte  esta  útil  arVore,  é  ra- 
ra,  e  pouco  ou  nenhum  caso  se  fazd*ella  na  ilha ;  a  sua  madeira  é  boa  para 
conslrucçao,  mas  o  producto  conhecido  sob  a  denominação  de  canella  o 
exlrahído  da  casca  é  de  primeira  qualidade. 

Caixão.  —  É  vulgar  esta  arvore,  e  fazem-se  d'ella  tábuas,  que  se 
vendem  na  ilha  a  l^SOOO  réis  o  cento.  Empregam-se  nos  cercados,  e 
com  qualquer  corda  de  mato  e  algumas  dezenas  doestas  tábuas  levantam 
os  naturaes  facilmente  as  suas  cubatas.  Ê  um  colosso  do  reino  vegetal  pela 
altura  e  grossura  a  que  pôde  chegar. 

Estralla-eslralla.  —  ?2ivece  haver  alguma  conftisão  em  especificar 
esta  arvore  a  que  uns  chamam  estalla^  e  outros  clá-clá.  Dá  boa  madeira 
para  obras  de  marceneria,  e  tem  uma  linda  côr  de  gemma  de  ovo,  depois 
de  feita  em  obra,  mas  n3o  se  deve  expor  ao  tempo.  Merece  tanto  apreço 
como  o  buxo  de  Portugal. 

Soá-soá.—Ê  uma  óptima  arvore  de  que  se  fazem  caibros  e  barrotes; 
é  madeira  de  muita  duração,  e  por  isso  própria  para  trave»,  vigamentos, 
ele. 

Sucupira  (Mimosca  gigantesca)^.— È  também  conhecida  pelo  nome 
de  muandium.  A  bowdichia  major  de  alguns  naturalistas  abunda  nas 
matas  da  ilha  de  S.  Thomé  e  tem  aspecto  agradável.  Esta  bella  arvore  chega 
a  tornar-se  colossal,  subindo  a  uns  30  metros  de  altura  sobre  uma  base 
de  quasí  2  metros  de  diâmetro.  A  sua  óptima  madeira  pôde  empregar-se 
em  cavername  de  navios,  quilhas  de  escunas,  etc,  tem  grande  duração  e 
é  madeira  de  lei. 

Untuem.  —  É  conhecida  sob  esta  denominação  uma  arvore  de  grande 
altura,  que  dá  boa  madeira  para  construcção  e  um  fructo  agradável  ao  pa*> 
ladar. 

Viro,—É  de  grande  utilidade  esta  arvore;  serve  para  esteiras,  cai- 
bros, barrotes,  etc,  É  diíDcil  tirar  tábuas  do  seu  tronco,  porque  á  propor- 
ção que  se  vae  serrando  vão  ellas  virando  ou  abrindo,  d'onde  lhe  provém 
o  nome  de  pau-viro. 

Marapiam.  —  Dá-se  a  esta  arvore  também  o  nome  de  pau-espinha 
ou  marapinha^.  É  alta  e  grossa.  A  sua  madeira  é  de  uma  linda  côr 
amarellada,  rija  e  muito  boa  para  tábuas,  as  quaes  se  podem  tirar  á  cu- 

1  Lé-se  estala-estala  na  relação  de  madeiras  publicada  no  Boletim  official  da 
província,  em  1862,  n.**  33  de  26  de  outubro,  pagina  431.  Estralla-estralla  é  a  in- 
formaçãa  de  um  fazendeiro  e  clá-clá  a  de  outro,  mas  emquanto  á  arvore  parece  ser 
a  mesma. 

2  Bernardino  António  Gomes,  pagina  7. 

3  Um  fazendeiro  da  ilha  deu-lhe  o  nome  de  Vinte  e  quatro  horas;  é  assim  co- 
nhecida no  pittoresco  sitio  do  Potó. 


í 


572 

nha.  Fnzcm-se  d'ella  canoas  e  serve  para  mastros  c  tábuas  de  costado  de 
navios.  Âhunda  nos  maios,  e,  emqnanto  pequena,  tem  bastantes  espinhos 
no  tronco.  Também  lhe  chamam  pinho  do  Brazil. 

Zamonma  ou  mamuma.  —  Attinge  esta  arvore  a  grande  altura  e  dá 
muito  bons  caibros  e  barrotes. 

Gofe.  —  Ha  quem  assevere  ser  esta  arvore  a  denominada  arvore  da 
preguiça  ou  a  ambayaba  (Cecropia  peltat,  de  LInneu),  bois  trompetíe  das 
Antilhas,  figueira  de  Surinam,  rourouma  cecropia  e  folia  acuminaía,  de 
Martins.  A  singularidade  doesta  arvore  é  o  nâo  ser  a  sua  madeira  atacada 
pelo  cupim,  segundo  algumas  informações. 

Inhé-preto. — D*esta  arvore  fazem-se  ripas,  caibros  e  remos  de  ca- 
noas. A  casca  é  escura  e  entrançada.  É  delgada  e  muito  alta.  A  madeira  é 
bastante  rija  e  nao  devo  estar  exposta  ao  tempo,  por  isso  é  necessário  ha- 
ver cuidado  no  modo  por  que  a  empregam,  e  não  a  applicar  aos  artigos 
que  estejam  n'aquellas  circumstancias. 

Gtí-í^tí.  — Osnaturaesapplicama  madeira  d'esta  arvore  na  conslrac- 
ção  de  canoas,  bons  caibros  e  tábuas  para  costado  de  navios.  Assimi- 
Iha-se  ao  cedro  e  serve  também  á  marcenaria  para  folhear  cadeiras  e  ou- 
tros moveis.  O  lindo  assombreado  da  madeira  quando  está  apparelhada  e 
a  sua  óptima  cõr  dá-lhe  grande  importância,  reputando-se  de  tanto  valor 
como  a  murta  do  Brazil.  É  arvore  de  lei  e  deve  ser  conservada. 

Macambrará.  —  È  arvore  do  interior.  Pega  de  estaca  e  fazem-se 
d'ella  bons  esteios,  traves  e  vigas.  Ha  na  ilha  uma  fazenda  denominada 
Macambrará,  nome  que  dizem  ser  devido  ás  muitas  arvores  d'esta  es- 
pécie que  ali  existem ;  é  a  fazenda  mais  alta  e  interior  das  que  actual- 
mente existem  na  face  de  E.  da  formosíssima  cordilheira  ou  serra  de 
S.  Thomé. 

Milho,  pau-milho  ou  safa  de  obó.  —  O  fructo  d'esta  arvore  parece-se 
na  forma  e  tamanho  com  a  azeitona  de  Portugal.  A  sua  madeira  é  de  uma 
linda  côr  vermelha. 

Micandó  ou  imbundeiro. — É  celebre  a  arvore  conhecida  com  esta  de- 
nominação. É  o  baobah  dos  naturalistas  francezes,  a  adansonta  digiiata,  de 
Linneu,  e  tem  grandes  dimensões.  Da  sua  entrecasca  fazem-se  cordas»  sa- 
cos, redes  e  outros  productos.  Produz-se  mais  na  praia  que  no  interior.  Os 
fructos  s3o  característicos  e  não  permittem  confundir,  ainda  á  primeira  vis- 
ta, o  imbundeiro  com  qualquer  outro  colosso  da  flora  tropical.  É  uma 
malvacea^.  Sendo  de  muito  valor  os  productos  d'este  formoso  vegetal, 
opinámos  pela  sua  conservação. 

*  Bernardino  António  Gomes,  pagina  22;  Frederico  Welwitsch,  Synopse  expli- 
cativa das  amostrai  de  madeiras,  folheto,  1862,  paginas  40  o  47;  Synopse  Annaes 


573 

Mangue  do  maio  ou  de  obô  (Corynanthe,  de  Welw.^. — Chamam-lhe 
em, Angola  mangue  do  monte  ou  paco^.  É  uma  das  mais  estimadas  ma- 
deiras das  matas  virgens  da  segunda  região^  em  Angola.  Emprega-se  em 
cabos  de  machadinbas  e  em  outras  ferramentas,  tem  boa  applicação  para 
pés  de  moveis,  e  pôde  servir  igualmente  de  prego  para  segurar  di- 
versas madeiras. 

Nespereira.—  É  arvore  bastante  alta  e  serve  para  muitas  construcções; 
a  sua  madeira  é  rija  e  de  duração,  e  tem  cõr  avermelhada.  As  tábuas  são 
boas,  e  empregam-se  também  na  cobertura  das  casas,  em  substituição  das 
telhas. 

Ocá. — É  do  género  bombax^,  da  familia  das  bombaceas,  esta  volu- 
mosa arvore.  Em  S.  Thomé  é  conhecida  pela  denominação  de  mafumei- 
raj  nome  aportuguezado  de  ma  fuma,  com  que  os  abundas  (?Jdí  designam 
na  província  de  Angola.  Attinge  a  40  metros  de  altura  sobre  2  a  3  de  diâ- 
metro na  base !  Dá  um  producto  a  que,  segundo  Welwitsch,  chamam  su- 
ma-uma^.  Empregam  a  madeira,  que  é  de  fácil  corte,  no  fabrico  de  ga- 
mellas  de  vários  tamanhos,  em  canoas  para  seis  a  dez  remos,  e  em  solho 
das  edificações  urbanas. 

Obá. — É  um  dos  colossos  do  reino  vegetal,  e  por  isso  se  extrahem 
d'elle  óptimos  pranchões  para  construcção  de  pontes,  bellos  esteios,  boas 
tábuas  e  vigamentos.  Como  tem  muita  duração  quando  se  conserva  den- 
tro de  agua  é  útil  para  estacas  de  pontes. 

PaU'Oleo  de  S.  Thomé,  óleo  belombo. — Deve  pertencer  ás  anacar- 
diaceas:  <a  arvore  que  dá  o  bálsamo  de  S.  Thomé,  pretende  Oliver  ser  a 
que  elle  descreve  com  o  nome  de  sorindeia  trianda,  tendo-lhe  servido 


do  conselho  ultramarino,  serie  i.*,  dezembro  de  1858,  pagina  558^  descreve-se  na 
classe  45.*—Coíi*mní/'i?ríw— familia  Sterculiacea. 

1  Annaes  do  conselho  ultramarino,  pagina  568. 

2  Annaes  do  conselho  ultramarino,  pagina  530. 

Welwitsch  classifica  o  vasto  reino  de  Angola  cm  ires  grandes  regiões : 

i.*  A  do  litoral,  comprehendendo  algas,  plyceas  hiúophitas,  adousonias,  eu- 
phorbeas  arborescentes,  acácias  e  capparideas.  (Superflcíc  iOO  kilomctros  para  o  in- 
terior, conservando  uma  altitude  de  340  metros,  pouco  mais  ou  menos.) 

2.*  A  montanhosa,  comprehendendo  tUices,  oichideas,  elacis.  (Levantando  em 
700  metros  seguindo  por  uns  250  kilometros  a  contar  da  primeira  Gucnensis,  flo- 
restas passageiras  de  plantas  herbáceas,  etc.) 

3.*  A  alto-plano,  comprehendendo  plantas  aromáticas  e  bolbosas,  prados  exten- 
sos com  luxuriante  verdura,  etc,  etc;  a  sua  altitude  é  de  800, 1:000  e  1:400  me- 
tros e  é  muito  interior,  a  cerca  de  425  kilomctros  da  costa. 

3  Synopse  explicativa  de  amostras  de  madeiras,  etc,  de  1862,  por  F.  Welw., 
pagina  21,  e  Annaes  do  conselho  ultramarino,  pagina  554. 

*  Synopse  explicativa,  etc,  pagina  21. 


\ 


574 

para  isso  um  exemplar  com  fruclo  remettido  de  S.  Thomé,  e  que  fora  co- 
lhido Da  parte  montanhosa  da  ilha,  na  altitude  de  3:000  pés  (915  metros). 
Acompanhava  o  specimen  remettido  uma  etiqueta  que  dizia  Bálsamo  de 
S.  Thomé;  a  espécie,  porém,  n3o  ficou  por  ora  bem  determinada  por  fal- 
tar para  isso  uma  parte  dos  órgãos  da  fructificaçao  ainda  desconhecida  *>. 

Julgámos  não  haver  duvida  em  que  as  arvores  de  bálsamo  pertençam  á 
familia  das  burceraceass  de  Kunth,  ou  amyrideasy  de  R.  Br.,  familia  es- 
sencialmente distincta  pelos  suecos  resinosos-aromaticos  que  prodos^. 

Snglelé.— Parece  ser  da  familia  das  mimosas  a  arvore  conhecida  por 
este  nome.  Emquanto  é  nova  cortam-se  d'ella  paus  fortes  e  flexíveis.  Pôde 
reputar-se  igual  ao  crin  do  Brazil.  Ha  differentes  espécies  d*estas  arvores 
sendo  uma  englelé-dia  ou  pau-formiga. 

Ipé.—È  alta  e  slmilhante  ao  freixo  de  Portugal.  Reputa-se  superior 
á  azmlona  por  se  conservar  na  agua,  e  pela  sua  duração. 

Pau^hranco.  —  Ê  uma  arvore  alta  e  bastante  grossa.  Fazem-se  d'eUa 
canoas  e  gamellas.  Tem  madeira  óptima  para  tarimbas,  mas  não  deve  es- 
tar exposta  ao  tempo. 

Inhé-bobó.^È  como  a  anterior  alta  e  grossa.  Tem  appllcaçao  a  Alga- 
mentoS)  barrotes  e  tabuado ;  reproduz^se  por  estaca,  é  rija  e  de  bastante 
duração. 

Mangue  da  praia.  --  Ê  verdadeiramente  notável  esta  arvore  e  a  mais 
afamada  de  todas  as  das  regiões  indígenas.  É  o  celebre  rhy zophor a  man* 
gle^  de  Linneu,  de  que  faliam  médicos,  naturalistas,  viajantes  e  romancis- 
tas ^ 


1  BcrDardino  António  Gomes,  paginas  34  c  2o,  relata  as  ultimas  informações 
(1873)  que  havia  acerca  da  arvore  de  bálsamo  de  S,  Thomé j  d*onde  se  vê  que 
ainda  está  por  classiflcar. 

*  Synopsc  explicativa  das  madeiras,  ctc,  pagina  48. 

3  N'uma  descripçHo  do  Amazonas  feita  por  um  capitto  de  navios  fklla-se  dos 
mangues  com  verdadeiro  enlhusiasmo;  no  livro  de  ThomásHutchínson,  naturalista 
e  medico,  descreve-se  ella  largamente,  e  no  livro  de  Dutroulau  ha  algumas  infor- 
mações que  gostosamente  transcrevemos: 

«As  localidades  equatoriaes  sâo  todas  orladas  de  paUtutieres  (Bizephoramdn* 
gte),  arvores  que  nascem  nas  praias  marítimas  da  America  e  da  Adrica  inter-tropl* 
t^l  e  também  nas  margens  das  suas  ilhas ;  mas  aquellas  ilhas  que  estão  mais  perto 
dos  trópicos  e  separadas  do  continente  são  muitas  veies  desptovidas  d'olÍeS. 

«Sem  pretender  referir  unicamente  a  presença  ou  a  ausência  dos  tnangues  às 
díftercnças  de  salubridade  dos  climas  tropicaes,  estou  polo  menos  auctorisado  «i  at- 
t^ibuir-lhcs  uma  grande  parle  na  intensidade  da  influencia  do  solo  palustre.»  (Du- 
troulau^ Maladies  des  europânis  dans  les  pays  chatids,  1868,  pagina  98.) 

Ê  este  mais  um  argumento  para  se  dividirem  os  climas  da  Africa  em  cquato- 
tiaes  propriamente  ditos  e  em  tropicaes,  divisão  que  julgamos  justa,  necessária  e 
muito  mil. 


575 

O  mangal  mais  extenso  e  mais  pitloresco»  cuja  descripção  enlhusias- 
tica  fez  o  capitão  que  seguiu  aguas  abaixo  o  rio  Amazonas,  fica  n'esta  ilha 
de  S.  Thomé  na  região  do.  S.  Forma  pequenas  ilhas  n*um  ponto  e  mais 
alem  agradáveis  oásis;  por  uma  parte  ha  mandros  attractívos  e  por  ou- 
tras vistas  aprazíveis. 

Mangue  do  no«— AtUnge  10  e  13  metros  de  altura;  dá  boa  madeira 
para  construcçoes  e  marcenaria.  Encontrasse  em  muitos  rios,  sendo  mais 
diíBcíl  díxer  onde  elles  faltam  do  que  onde  existem» 

Capitão.— Mo  ha  arvore  que  rivalise  com  eçta  em  altura»  e  d'aqui 
lhe  veiu  o  nome  de  pau-capitão.  É  direita  e  de  bello  porte ;  eleva-se  a 
uns  50  metros  e  engrossa  até  qoasi  3  de  diâmetro  na  base,  na  qual  se 
levantam  abas.  A  sua  madeira  nSo  é  estimada  na  ilha. 

Dumo^-^È  alta  e  delgada  esta  arvore,  cuja  madeira,  que  tem  cõr  aver- 
melhada, é  applicada  a  bons  pilões  para  descascar  o  café»  e  serve  para 
esteios;  tem  pouca  duração  exposta  ao  tempo,  mas  depois  de  seccaé 
difficil  introduzir-lhe  verruma  ou  prego. 

PathgameUa, — Dizem  uns  que  este  pau  é  o  mesmo  que  o  pau-branco, 
outros  porém  divergem  de  opinião.  Parece,  todavia,  que  são  differentes^ 
Do  chamado  pau-gamella  preparam-se  gamellas  e  canoas  e  as  tábuas  são 
próprias  para  solho.  Extrahe^se  d'esta  arvore  a  borracha  ou  gomma  elás- 
tica, segundo  dtzem  algumas  pessoas  que  lhe  tem  aproveitado  o  abun- 
dante sueco  ou  seiva  leitosa « 

Goyaftwra.— Welwitsch  escreve  guiaveira^  mas  preferimos  antes 
a  outra  orlhographia.  Ê  arvore  conhecida  e  abundantíssima  na  ilha,  e  boa 
para  marcenaria. 

Pau-oleO'harrão  ou  pau-olco-barõo.  —  Ê  uma  arvore  regular,  da  qual 
se  tira  boa  madeira  para  construcçoes. 

Pinheiro  da  f^rra.— Falla-se  com  vantagem  d'esta  arvore  de  dimen- 
sões regulares,  e  affirma^se  que  a  sua  madeira  pôde  ter  as  mesmas  appli- 
cações  do  pinheiro  de  Portugal. 

Pan-preto  ou  çM^ftra-marAado.  —  Assimilha-se  à  azeitona;  è  de 
grandíssima  duração  e  faz  recordar  o  pau-ferro  de  Portugal.  Attinge  esta 
arvore  cerca  de  25  a  30  melros  de  altiira  sobre  1  a  1,5  metro  de  diâ- 
metro. 

Vêsubi.^Sío  bons  os  esteios  feitos  doesta  arvore,  cuja  madeira  é 
rija  e  dura  muito  tempo. 


i  Relatório  acerca  das  madeiras  da  ilha  de  S.  Thomé.  Boktm  officiál  de  '186S, 
pagina  131. 

*  Annaes  do  conselho  ultramarino^  pagina  670* 


s 


576 

Pau-veimclho. — Pôde  cmpregar-se  em  marcenaria  e  dá  bom  tabua- 
do; é  baslanle  alia  e  de  porle  direito. 

Zttfiffu. —Coiíhece-se  n'esta  ilba  uma  arvore  alta  e  grossa,  com  esta 
deDominação,  da  qual  tiram  tabuado  e  esteios  para  casas. 

Zemzem.—É  uma  das  grandes  arvores  da  ilha. 

Guigó.—È  uma  arvore  regular,  própria  para  tabuado  e  para  barro- 
tes; tem  applicaçSo  em  marcenaria  e  produz  um  sueco  amarello. 

Grumaii. — Applica-se  o  tronco  doesta  arvore  para  mastros  de  navios, 
por  ser  grosso,  direito  e  baslante  alto.  É  contada  entre  as  grandes  arvo- 
res da  ilba  de  S.  Tbomé. 

Caáco-bramo. — É  arvore  alta  e  grossa ;  tem  pouca  estimação  oo  paiz 
a  sua  madeira,  a  qual  dizem  ser  mais  rija  que  a  do  pau-branco. 

Sequené.—È  alta,  serve  para  caibros  e  tem  grande  duração. 

Folha  pequena. — É  uma  arvore  regular,  e  d'ella  se  fazem  esteios  para 
casas. 

As  florestas  da  ilha  de  S.  Thomé  estão  ainda  por  explorar»  e  quantas 
riquezas  se  não  terão  perdido  fazendo-se  as  derrubadas  ao  acaso,  e  des- 
truindo arvores  cujos  productos  são  iguaes  ou  mais  valiosos  do  que  o 
próprio  café  e  cacau,  e  sem  se  attender  a  que  ellas  protegiam  o  café 
dando  frescura  á  sua  plantação?  Que  as  cordas  e  trepadeiras  ou  pequenos 
arbustos  e  capim  demandem  trabalhos  da  capina,  entende-se,  pois  que 
o  cafezeiro  está  abafado  por  aquellas  e  o  café  perde-se  entre  elles,  mas 
que  se  cortem  arvores  raras,  altas  e  úteis  não  sabemos  como  se  possa 
justiQcar. 

As  matas  seculares  que  occupam  ainda  nove  decimas  partes  dos 
terrenos  continuarão  a  ser  derrubadas  ao  acaso?  Não  será  grande  e 
valioso  serviço  prestado  a  esta  colónia,  á  agricultura  e  ao  conunercío  o 
fazer  explorar  aquelles  terrenos,  ou  com  os  dados  já  existentes  divulgar 
entre  os  fazendeiros  todas  as  informações  necessárias  á  boa  colooisação 
e  ao  que  mais  importa,  a  salubridade  d'esta  formosa  ilha? 

Para  que  servem  as  importantes  remessas  de  productos  coloniaes 
({ue  se  téem  enviado  a  todas  as  exposições  nacionaes  e  internacionaes  se 
se  não  divulga,  se  não  se  ensina,  se  não  se  explica  a  sua  utilidade,  no- 
tando-se-lhe  os  defeitos,  e  dizendo  o  melhor  modo  de  os  corrigir? 

A  insalubridade  da  ilha  de  S.  Thomé  reclama  urgentemente  que  todas 
as  auctoridades  superiores  appliquem  a  sua  attenção  para  a  melhorar, 
empregando  os  meios  de  debellar  ou  pelo  menos  attenuar  tantos  males. 
Nas  culturas  bem  dirigidas  está  um  poderoso  meio  para  corrigir  a  má 
qualidade  do  terreno  humoso,  e  para  o  fazer  produzir  três  ou  quatro  ve- 
zes mais  do  que  a  sua  actual  producção. 

Existem  ali  planicies,  muitas  várzeas,  alto-planos  e  planuras  cober- 


Cataracu  Blublú  do  lio  kpi  Grande,  4  kiloiDeUDi  distanlB  di  cidade. 


l  9 


577 

tas  de  florestas  antiquíssimas,  nas  quaes  ainda  se  não  penetrou'; 
abram-se  estradas  e  guie-se  a  mão  dos  lenhadores  para  pouparem  as  ar- 
vores de  reconhecida  utilidade,  e  lançarem  por  terra  apenas  as  que  forem 
incompativeís  com  a  cultura  que  se  deseja  fazer.  Convém  publicar  des- 
cripçôes  minuciosas  da  vegetação  das  serras^  e  dos  montes,  e  ao  mesmo 
tempo  a  das  culturas  apropriadas  aos  terrenos  do  litoral  e  do  interior 
da  ilha  ou  dos  terrenos  do  S.  e  do  N.  É  este  o  poderoso  meio  de  concor- 
rer para  que  sejam  destruídas  e  modiflcadas  muitas  causas  da  insalubri- 
dade, que  tão  má  fama  téem  acarretado  a  esta  pequena  Cuba  portugueza. 

2.^  Lista  de  algumas  arvores  que,  tendo  propriedades  singulares,  são  mais  ou 
menos  importantes,  podendo  parte  d'ellas  ser  empregadas  em  construc^s. — Pau- 
ama,  pau-alho,  pau-bungá,  bugi-bugi,  bengue-d'obó,  pau-cabra,  crocoto, 
colma-doido,  figo-porco,  glon  ou  grão,  guegue-falso,  inhé-muda,  iobo, 
laranja-mucambú,  macumbli,  marimboque,  queime,  sangue,  pau-sabão, 
vara-plé,  tapa-olho,  tabaque,  unumú  ou  pandanus,  pau-fede,  bambu,  bor- 
dão, ricinus  communis. 

Pau-amaK — É  muito  activo  o  cheiro  que  exhala  a  madeira  d'esta  ar- 
vore quando  cortada  recentemente.  Diz-se  que  afugenta  os  mosquitos 
agitando  os  ramos  no  interior  das  habitações  em  que  os  haja. 

Pau-alho. — É  uma  arvore  bastante  alta  e  grossa,  e  tem  a  particula- 
ridade de  eihalar  um  cheiro  alliaceo  característico. 

Pau'b'ungd. — Serve  para  instrumentos  de  corda^  bóias  para  redes, 
gamellas  e  canoas.  É  de  fácil  corte. 


1  Em  um  folheto  intitulado  Cultura  das  plantas  que  dão  a  quina,  Lisboa,  1865, 
pagina  97,  lé-se  o  seguinte : 

«Segundo  elle  (o  sr.  Mann)  a  parte  mais  alta  da  ilha  consta  de  uma  estreita 
cumeada  accessivel,  mas  com  grande  difficuldade,  pelo  lado  de  £.> 

Com  o  alto  respeito  que  consagramos  aos  arrojados  exploradores  ínglezes  e  com 
a  devida  vénia  do  auctor  do  folheto,  cumpre-nos  declarar  que  o  sr.  Mann  podia  ter 
subido  a  qualquer  dos  montes  d'esta  ilha,  á  serra  em  cuja  costa  íicaa  fazenda  Ma- 
cambrará  por  exemplo,  mas  nâo  podia  subir  ao  pico  de  S.  Thomé,  nem  ter  ido  à 
sua  cordilheira  principal. 

2  Da  vegetação  das  serras  de  Jara  ha  uma  interessante  descripçao,  segundo 
se  lé  no  folheto  intitulado  Cultura  das  plantas  que  dão  a  quina,  1865,  pagina  4,  e 
ali  se  distinguem  quatro  zonas  principaes;  a  saber: 

!.•  A  região  agricola  das  arecas,  dos  cafezeiros  e  da  ei^ythrina  indica; 

2.»  A  região  de  liquidambar  alliglann,  que  não  excede  a  1:500  metros; 

3.*  A  região  dos  omericus,  dos  podocarpus,  da  astronia,  ele,  e  da  cultura  da 
(juina,  que  se  eleva  até  mais  de  2:000  metros; 

4.»  A  região  das  crateras  ou  pincaros  mais  elevados  da  Thibandia  das  Fteris, 
Mertensia, 

17 


578 

Bugi-bugi.  —  Extrabe-se  d'6sta  arvore  uma  espécie  de  tinta  preta 
própria  para  tinturaria. 

Bengue  d'obó.—Dií  um  fructo  bom  para  alimento  dos  porcos,  e  a 
madeira  applica-se  a  barrotes. 

Pau'Cabra. — É  uma  arvore  de  pequenas  dimensões,  cujas  folhas  ser- 
vem vantajosamente  para  alimento  das  cabras. 

Crocoto.—k  sua  madeira  é  rija. 

Colmardoida.-^ks  sementes  d'esta  arvore  são  applicadas,  como  a 
coca  em  Portugal,  para  se  apanharem  peixes.  Ha  outra  arvore  a  que  cha- 
mam colma- fria,  a  qual  tem  as  mesmas  propriedades. 

Figo-porco. — Tem  esta  arvore  a  propriedade  de  se  poder  descascar 
em  todo  o  comprimento  do  tronco,  extrahindo-se  por  esta  forma  grandes 
porções  de  casca,  a  que  os  naturaes  chamam  couro  vegetal.  O  fructo  é 
muito  similhante  ao  figo  pequeno  de  Portugal,  que  os  habitantes  dos  ar- 
rabaldes do  Porto  denominam  bacurinho.  Dizem  que  quando  os  indíge- 
nas precisam  de  bainhas  para  as  suas  facas,  marcam  no  tronco  as  dimen- 
sões e  cortam-na  com  a  mesma  faca,  arranjando  assim,  depois  de  cozida, 
uma  bainha  de  grande  duração  e  de  boa  consistência.  Â  madeira  é  appli- 
cada  a  gamellas  e  canoas. 

Glon  ou  í^rão. ---Emprega-se  nos  cercados  das  fazendas,  por  pegar 
facilmente  de  estaca  e  ser  abundantíssima  na  ilha.  Esta  pequena  arvore, 
desprezada  em  S.  Thomé,  é  considerada  como  de  grande  riqueza  co^une^ 
ciai  em  Gabo  Verde.  Os  seus  fructos  são  purgativos.  É  o  curcus purgam 
med.j  notável  euphorbeacea,  classe  51.*  das  Tricoceas,  de  Welw. 

Guegue- falso. — Tem  a  madeira  muito  leve,  e  por  isso  serve  para  bóias 
de  rede ;  fazem-se  d'ella  gamellas  de  varias  formas. 

Inhé-muda. — Serve  para  caibros  e  barrotes»  e  dizem  que  è  boa  para 
vergas  de  moinhos. 

lobo. — Âs  sementes  d'esta  arvore  tâem  um  cheiro  aromático  muito 
característico,  e,  depois  de  seccas,  lançando-se-lhe  fogo,  ardem  por  muito 
tempo  produzindo  uma  vistosa  cbamma.  Os  naturaes  téem  esta  semente 
em  grande  reputação  por  livrar  as  creanças  dos  feitiços,  ou  maus  olha- 
res*. Monodora  angolensis  de  Welw.,  que  em  Pungo  Andongo  e  no  Go- 
lungo  Alto  os  indígenas  chamam  n-pepe  e  em  S.  Thomè  iobo.  Âs  sementes 
d'esta  anomacea,  a  que  os  angolenses  chamam  xipepe  ou  gipepe,  são 
similhantes  ás  da  myristica  moschata,  e  podem  ser  como  estas  emprega- 
das *. 


1  Poucas  creanças  ha  em  S.  Thomé  que  não  tragam  ao  pescoço  uns  saqainlios 
bem  recheados  de  objectos  anti-feiticeirosi 

2  Bernardino  António  Gomes,  pagina  15. 


579 

Laranja  mucambà. — Tem  a  má  qualidade  de  prejudicar  o  terreno, 
e  por  conseguinte  a  cultura  dos  cafezeiros.  Fazem-se  d'ella,  quando  nova» 
bons  cacetes,  serve  para  vigamento  e  é  de  grande  duração. 

Macumbli. — É  uma  arvore  em  cujo  tronco,  depois  de  cortado  e  em 
via  de  putrefacção,  os  vagabundos  procuram  os  celebres  bichos  de  pau 
occobis,  que  comem  com  muito  prazer,  assados  ou  preparados  a  seu  modo. 
Serve  para  dar  sombra,  e  existem  alguns  exemplares  no  largo  do  palácio. 
Applica-se  na  construcção  de  gamellas  e  outros  objectos. 

Marimboque. — É  uma  linda  arvore  para  sombra  e  para  jardins.  Pro- 
duz umas  cabacinhas  em  que  os  naturaes  guardam  tabaco. 

Queime. — Tem  a  particularidade  de  pegar  muito  bem  de  estaca,  e 
por  isso  se  emprega  nos  cercados.  É  abundantíssima  no  paiz. 

Sangu£. — O  sueco  d'esta  arvore  é  uma  tinta  vermelha  fixa,  d'onde 
lhe  veiu  a  denominação  pau-sangue.  É  de  primeira  qualidade,  e  serve 
para  tabuado. 

Pau-sabão. — É  de  forma  e  aspecto  singular,  de  modo  que  uma  vez 
vista  nunca  mais  se  confunde  com  as  outras  arvores  do  paiz.  A  este  ex- 
traordinário aspecto  e  á  circumstancia  de  pegar  bem  de  estaca  e  de  cres- 
cer com  incrível  rapidez,  deve  ella  o  nome  de  pau  da  marca,  pois  é  em- 
pregada em  todas  as  balisas  ou  medições  dos  terrenos.  Alem  d'este  uso, 
também  a  sua  dnza  pode  ser  applicada  para  a  fabricação  de  sabão. 

Vara-plé  (Pau  da  Praia). — Serve  para  cajados,  mas  a  sua  propriedade 
mais  característica  é  a  de  servir  para  cintar  as  canoas  com  o  fim  de  dar 
mais  consistência  nos  sítios  onde  trabalham  os  remos  ou  nas  forquilhas. 

Topa-o/Ad.— Espécie  de  euphorbeacea,  cujo  sueco  leitoso  e  adstrin- 
gente produz,  quando  se  chega  aos  olhos,  uma  grande  irritação,  e  d'aqui 
lhe  resultou  o  nome  por  que  é  conhecida  no  paiz.  Emprega-se  em  cerca- 
dos, por  pegar  muito  bem  de  estaca. 

Tabaque. — Pau  leve  que  tem  serventia  para  bóias  de  redes.  A  casca 
é  fibrosa,  e  depois  de  convenientemente  cortada  e  preparada  serve  de  fio 
para  redes. 

Vnumú  ou  pandanus. — Arvore  de  crescimento  singular,  que  existe 
nas  praias.  Os  seus  filamentos  servem,  depois  de  convenientemente  pre- 
parados, para  cordas,  esteiras  e  outros  objectos.  É  da  familia  das  ponda- 
naceass  na  classe  18.*,  Spadici  floras,  de  Welw. 

Pati-fede.  —  É  uma  arvore  alta  e  grossa,  e  que  pouco  tempo  depois 
de  cortada  desenvolve  um  cheiro  nauseabundo. 

Bambu, — É  uma  gramínea  arborescente  que  existe  em  algumas  fazen- 
das. Serve  para  paus  de  redes  e  tipóias. 

Bordão. — É  uma  espécie  de  palmeira  que  dá  bons  paus  para  redes; 
existe  na  Praia  Melão  e  em  varias  fazendas. 


580 

Ricinus  communis. — Abunda  extraordinariamente  e  produz-se  com 
muita  facilidade.  O  oleo  que  se  prepara  com  as  sementes  è  bem  conhe- 
cido. Está  abandonada  como  tantas  outras  de  reconhecida  utilidade. 

3.^  Lista  das  trepadeiras  oa  cordas  de  qne  temos  caDhecímeDto,  entre  as  fiiaea 
ha  uma  qae  deve  ser  considerada  oma  das  maravilhas  do  reino  fOf  etal  n*e8te  pais. — 
Corda-pimenta,  corda-congló-preto,  corda-congló-branco,  corda-agua,  cor- 
da-ubuá,  mafundgi,  mil-liomens,  gunú,  mátri,  mussandá  ou  corda-cadei- 
ra  ou  corda-lembá-lembá. 

Corda-pimenta. — As  sementes  doesta  corda  sao  reputadas  superiores 
á  pimenta  de  Malaca.  Attinge  grande  altura,  e  tem  na  sua  casca  o 
mesmo  efifeito  dos  fructos. 

Corda-congló-preto. — Serve  aos  naturaes  para  atarem  as  tábuas  dos 
tetos  e  das  paredes  das  casas.  É  flexivel  e  de  boa  duração. 

Corda-congló-branco. — Differença-se  da  corda-congíó-preto  pelas  flo- 
res e  fructo  e  até  certo  ponto  também  pela  casca.  É  inferior  em  qualidade 
e  duração  á  outra. 

Corda-aj^wa.— Quando  na  encosta  de  um  monte  falta  agua  e  se  não 
conhece  alguma  nascente  próxima,  a  corda-agua  produz  liquido  suffidente 
para  saciar  a  sede.  É  por  isso  realmente  notável. 

Corda-ubuá. — Trepadeira  de  muita  flexibilidade  e  de  grande  rijeza. 
Tem  differenles  usos. 

Mafundgi. — É  a  mais  forte  de  todas  as  cordas,  e  por  isso  tem  sem- 
pre a  preferencia  quando  se  trata  de  sustentar  grandes  pesos.  Seria  de 
muita  vantagem  preparal-a  convenientemente,  porque  as  suas  fibras  pa- 
recem de  superior  qualidade. 

Mil'homens. — Passa  por  notável  aphrodisiaco.  Sobe  a  muito  alto  e 
chega  a  engrossar  bastante. 

Gunú.  — É  antes  uma  arvore  do  que  uma  corda,  mas  o  seu  singular 
crescimento  auctorisa  o  nome  que  lhe  deram.  Em  attingindo  certa  altura 
começa  a  inclinar  até  tocar  no  solo  onde  lança  novas  raízes,  para  recome- 
çar novamente  o  seu  crescimento,  e  isto  repete-se  por  maneira  tal,  que 
muitas  d'eslas  arvores  chegam  ás  vezes  a  formar  três,  quatro  e  mais  arcos 
que  dâo  passagem  a  um  homem  de  estatura  regular: 

Mátri. — É  uma  corda  digna  de  estudo  pelos  extraordinários  effeilos 
que  occasiona  quando  preparada  pelos  naturaes  e  tomada  em  excesso ; 
produz  surdez,  segundo  dizem. 

Mussandá  ou  corda-cadeira  ou  corda-lembárlembá.  —  Esta  corda 
tem  um  desenvolvimento  extraordinário.  Cresce  agarrada  ou,  por  melhor 
dizer,  quasi  soldada  ao  tronco  das  grandes  arvores  do  paiz.  Á  proporção 
que  se  dilata  vae  deixando  ramos  que  seguem  da  mesma  forma,  estando 


58i 

sempre  bem  presos  á  casca  da  arvore.  Vae  augmentando  em  numero  de 
ramos,  encruzando-se  e  engrossando,  envolvendo  e  apertando  sempre  o 
colosso  a  que  se  agarra,  até  que  por  fim  a  arvore  interior  se  definha, 
estiola  e  secca,  deixando  em  seu  logar  uma  nova  arvore  de  aspecto  sin- 
gularissimo.  Esta  arvore  assim  formada  è  uma  das  maravilhas  do  reino 
vegetal '  de  que  se  não  tem  feito  caso  e  que  é  de  um  valor  considerável. 
Eitrahe-se  d'ella  abundante  quantidade  de  um  sueco  leitoso  que,  pre- 
parado convenientemente,  fica  boa  borracha. 

Depois  da  resumida  descripç?ío  que  apresentámos^  passámos  a  fazer 
algumas  considerações  acerca  das  madeiras  d'esta  ilha  e  de  algumas  ou- 
tras que  se  tentem  introduzir  e  aclimar. 

As  arvores  que  em  S.  Thomé  sao  actualmente  consideradas  como  ma- 
deira mais  útil  s3o:  a  sucupira,  a  azeitona,  a  amoreira,  o  marapiam,  o 
viro,  o  ipé,  a  nespereira,  o  macambrará,  o  gó-gó,  o  inhé-preto,  o  man- 
gue, o  obá  e  o  soá-soá.  É  altamente  necessária  a  reproducção  d'estas  ar- 
vores, as  quaes  se  devem  cortar  methodicamenle  e  de  modo  que  se  con- 
servem as  que  for  possivel,  isoladas  ou  em  florestas,  e  nos  terrenos  onde 
se  não  possam  accommodar  as  culturas  vantajosas,  sendo  obrigados  todos 
os  fazendeiros  a  ter  um  certo  numero  d'ellas  correspondente  á  área  do 
seu  terreno.  Cada  arvore  que  se  cortar  deve  immedíalamente  ser  sub- 
stituída por  outra  por  meio  de  sementeira,  plantação  ou  estaca,  se  este 
meio  for  útil. 

O  pau  assetinado  (Chloroxylon  swetenea)  foi  introduzido  em  1872, 
vindo  em  pequenos  arbustos  para  duas  das  principaes  fazendas  d*esta 
ilha.  É  vantajoso  este  melhoramento  florestal,  mas  paus  tão  bons  ou  me- 
lhores do  que  o  chloroxylon  swetenea  já  ali  existiam  sem  serem  conhe- 
cidos nem  poupados  I  E  que  culpa  se  pode  attribuir  a  um  lenhador  que 
corta  n'um  futuro  próximo  uma  arvore  da  quina,  o  pau-assetinado,  o  pau- 
gó-gó,  ou  o  mussandá,  se  elle  desconhece  a  sua  utilidade?. . . 

O  eucalyptus,  tão  celebre  quanto  útil,  é  uma  arvore  de  grande  im- 
portância, muito  frondosa  e  de  reconhecida  vantagem,  pela  sua  sombra  e 
frescura  na  circumvallação  das  cidades,  e  orlando  as  estradas  e  alamedas 
regulares  *. 


1  Na  agradável  fazenda  de  Bemfica,  pertencente  a  José  António  de  Oliveira, 
existe  uma  doestas  arvores,  a  qual  já  destruiu  o  tronco  da  primitiva  a  que  a  corda 
se  havia  agarrado.  É  de  um  aspecto  maravilhoso. 

2  O  eucalyptus  globulus  tomou-se  actualmente  arvore  da  moda,  e  por  isso 
julgamos  dever  rememorar  a  sua  origem,  pela  curiosidade  que  apresenta. 

«Cerca de  1854,  diz  o  director  dos  trabalhos  do  Jardim  botânico  de  Melbourne 
(Austrália),  uma  pequena  arvore,  que  crescia  destacadamente  n*uma  rua  do  jardim, 
chamou  a  minha  attenção.  Era  um  gommeiro  azul  (Bluegum  Iree),  da  Tasmania, 


582 

As  arvores  da  quina  parecem  aclimar-se  bem,  mas  no  Boletim  da  pro- 
víncia nio  se  publicaram  informações  oflSclaes  que  possam  elucidar  este 
interessantíssimo  ponto  da  nova  flora  da  ilha  de  S.  Thomé,  o  que  certa- 
mente é  para  lamentar. 

Alem  do  eucalyptus  globulus,  da  chinchofia,  da  arvore  fruta-põo  e 
do  pau-assetinado,  outras  arvores  importantes  se  deviam  introduzir  n'esta 
ilha  S  a  qual  de  certo  estaria  bem  pobre  se  n5o  fosse  a  introducçSo  do 
cafezeiro,  no  principio  do  século  actual,  e  do  cacau  em  1822. 

Dos  colossos  vegetaes  contam-se  ali  principalmente  os  ocas,  nos 
quaes  se  notam  abas  grandíssimas,  as  amoreiras,  cujas  abas  são  meno* 
res,  os  obás,  os  micandós,  etc. 

Os  paus  de  maior  elevação  são  o  pau-capit3o,  e  o  inhé-preto,  alguns 
dos  quaes  attingem  uma  altura  extraordinária. 

Dos  ocas  fazem-se  as  maiores  canoas  e  das  amoreiras  as  mais  fortes 
e  duradouras. 

nome  vulgar  do  eucalyptus  glohuhis.  Eu  nâo  conhecia  então  nem  o  nome  nem  o 
vegetal.  Fiquei,  portanto,  surprehendldo  de  tal  maneira  com  a  elegância  particular 
doesta  nova  arvore,  que  se  tornou  para  mim  objecto  de  admiração  e  estudo.»  (Breve 
noticia  sobre  o  eíicalyptos  glóbulos  e  utilidade  da  sua  cultura  em  Portugal,  por  J. 
D.  de  Oliveira  Júnior,  folheto,  pagina  43.) 

<Ha  cerca  de  dezoito  annos  qne  o  eucalyptus  entrou  no  domínio  da  botânica  e  já 
está  uma  arvore  afamada  e  largamente  espalhada.  É  por  factos  d'esta  ordem  qne 
se  ennobrece  e  torna  respeitada  uma  arte  tão  útil  como  a  silvicultura  e  elle.  Ramal, 
o  vulgarisador  d*aquella  arvore,  bem  mereceu  da  humanidade  e  da  sciencia,  porque 
sem  elle  estaria  ainda  desterrada  no  centro  de  algum  jardim  botânico,» 

1  F.  Welwitsch,  Annaes  do  cmiselho  ultramarino,  pag.  S58,  depara-se-nos 
o  seguinte : 

cA  phytolacca  dioica,  arvore  que  os  portuguezes  com  justa  rasão  designam 
com  o  nome  de  bella  sombra,  devia  introduzir-se  quanto  antes  n'esta  província 
(Angola),  porque  o  rápido  desenvolvimento  que  toma  e  a  densíssima  sombra  da 
sua  elegante  folhagem,  a  tornam  muito  própria  para  a  arborisação  de  praças  pu- 
blicas.» 

É  de  querer  as  praças  da  capital  de  Angola  estejam  já  arborisadas  com  aqnella 
elegante  arvore,  e  os  habitantes  desfructem  a  sua  bella  sombra,  e  não  se  deve  fazer 
esperar  que  com  ella  se  arborise  também  a  principal  praça  da  cidade  de  S.  Thomé, 
e  especialmente  o  largo  do  palácio. 

Na  pagina  559  dos  mesmos  annaes  lé-se  também  o  seguinte : 

«Muito  conviria  a  introducçao  da  garcinia  magastarm  de  Malaca,  a  da  mam- 
mea  americana  do  Brazil  e  ahi  conhecida  pelo  nome  de  abricote;  ambas  estas  ar- 
vores dão  fructos  deliciosos,  e  haviam  de  dar-se  bem  á  borda  do  rio  Bengo.» 

As  margens  infectas  do  rio  Agua  Grande  devem  reduzir-se  a  vistosos  e  agra- 
dáveis passeios,  mas  sobre  tudo  devem  fazcr-se  com  urgência  duas  boas  alamedas 
no  principal  paul  que  circumda  a  cidade  pelo  S.  e  SSE. 

Os  contornos  da  capital  da  província  não  devem  continuar  abandonados  como 
em  4872  e  em  1869. 


583 

Para  terminarmos  estas  considerações  reproduzimos  o  seguinte  tre- 
cho do  relatório  de  (869,  pag.  270: 

cEnumerâmos,  não  descrevemos ;  a  nossa  enumeração  é  limitadíssima 
e  só  contém  individuos  vegetaes  muito  conhecidos.  Para  haver  rigor  e 
minuciosidade  são  precisos  trabalhos  prévios  a  que  não  podemos  proce- 
dem 

E  para  se  avaliarem  com  melhor  conhecimento  os  úteis  e  valiosos 
productos  que  este  fértil  solo  nos  dá  no  reino  vegetal,  apresentámos  os 
dois  seguintes  mappas  onde  se  pôde  ver  em  um  estudo  comparado  a  ri- 
queza das  madeiras  que  d^alí  se  extrahem,  não  só  pelas  variadas  appli- 
cações  e  suas  qualidades,  como  pelo  seu  custo  nos  mercados  da  ilba  de 
S.  Thomé  e  de  Lisboa. 


584 


Costo  das  madeiras  n%  mercado  de  Lisboa,  eem  da 


Nomei  dti  madeiras 


1 

2 

3 

4 

5 

6 

7 

9 

10 

ii 

13 

14 

I» 

17 

18 

2() 

31 

22 

23 

24 

26 

27 

28 

30 

31 

32 

33 

35 

36 

37 

38 

39 

40 


Azeitona 

Mangue  do  rio... 

Pao-preto 

Gó-gó 

Zumea 

Ussudí 

Oleo-barSo 

Paa-millio 

!nhé-preto 

Marapinha 

Pau- vermelho.... 

Viro 

Sucupira 

Englélé 

Pau-branco 

Cuaco-branco. ... 

Inhé-bóbó 

Obá 

Muindo 

Colma- doida 

Pau-cata 

Pau-egua 

Pau-capitSo 

Pau-gunnú 

Quebra  prego . . . . 

Zemzem 

Macambrará 

Laranja-mecambú, 
Mangue  de  obá... 

Coqueiro 

Inhé-molle 

Figo-porco 

Safú 


t3 


T3 

a 
O 


!.• 

2.» 
3/ 
1.- 
2.- 
1.- 
3.» 
2.» 
2/ 
3.- 
2.» 
1/ 
3.« 
2.- 
3.» 
3.- 
3.« 
2.» 
2.» 
3.« 
3/ 
3.- 
3.* 
3.» 
3.« 
3.« 
3.- 
3/ 
1.- 
2* 
3.*- 
C* 
1.* 


Gnunmas 
Peso 


1,600 
1,500 
1,500 
1,100 
1,350 
1,200 
0,850 
0.900 
0,850 
1,400 
1,150 
1,650 
0,900 
1,000 
0,650 
1,150 
1,600 
0,950 
1,150 
0,900 
0,900 
0,700 
0,750 
0,900 
1,600 
0,650 
0,800 
0,650 
1,100 
1,400 
0,600 
0,400 
0,950 


Corte 


Rija 

Rija 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Hija 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Rija 

Rija 

Macia.... 

Rija 

Macia.... 
Macia... . 
Macia.... 

Rija 

Rija 

Macia.... 
Macia.... 
Rijo  preso 

«íl» 

Rija 

Macia.... 

Macia...., 

Macia.... 


CAr 


Vermelha 

Vermelha 

Escura 

Arroxeada 

Castanho  claro 

Amarello  escura 

Claro-escuro 

Escura 

Claro-escuro 

Esbranquiçada 

De  mogno  claro 

DiíTerentes 

Escura 

Escura 

Cinzento  clara  ..*.... 

Cinzento  claro 

Cinzento  claro 

Vermelho  escuro  .••• 

Cinzento  claro 

Escura 

Amarello  escura 

Escura 

Cinzento  claro 

Cinzento  claro 

Cinzento  claro 

Escura 

Clara 

Vermelho  desvanecida 

Amarellada 

Escura 

Esbranquiçada 

Escura 

Escura. 


Pêro» 

DimttMettia 

^ 

ApriMifio 

1 

1 
1 

1 

VeLoonrto 

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curo 

Fechados 

Fechados 

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0,32 
0,32 

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0.16 
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0.13 
0.17 
0,17 
0,18 
0,83 
0,17 
0,12 
0,16 
0,SO 
0,16 
0,26 
0,14 
0,20 
0,13 
0,17 
0,15 
0,20 
0,13 
0,12 
0,21 
0,14 
0,17 
0,17 
0,17 
(1,17 
0,24 

0,05,-! 
0.03 
0,025 
0,03 
0.02 
0,02 
0,018 
0,025 
0.02 
0.03 
0,025 
0,02 
0.02 
0,02 
0,025 
0,023 
0,02 
0.025 
0,025 
0,03 
0.03 
0,02 
0,02 
0.02B 
0,025 
0.03 
0,02 
0,03 
0,025 
0.02 
0,025 
0.025 
0,02 

Segeiro.... 
Segeiro — 
Segeiro.... 
Marceneria. 
Segeiro.... 
Segeiro... 
Marceneria. 
Marceneria. 
Marceneria. 
Segeiro.... 
Marceneria. 
Marceneria. 
Segeiro.... 
Segeiro.... 
Marceneria. 
Segeiro.... 

Marceneria. 
Segeiro.... 
Segeiro,, . , 
Segeiro.,,. 
Marceneria. 
Marceneria. 
Marceneria. 
Segeiro.... 
Segeiro.,.. 
Marceneria. 
Marceneria. 
Marceneria 

90 
40 
30 
60 
40 
50 
30 
40 
30 
40 
40 

m 

30 
30 
30 
40 
40 
40 
40 
30 
30 
30 
30 
30 
30 
30 
30 
40 
U 
40 
30 
20 
40 

Fechados 

Fechados 

Abertos 

Fechados.... 

3uro , 

Fechados 

Aberlos 

Fechados 

Aberlos 

Fecliados 

Fechados 

Abertos 

Abertos 

Fechados 

Fechados 

VJdracentos  aberlos. 

Fechados 

Abertos 

Fechados 

quitado  em  ondas... 

Fechados 

Abertos 

Muito  abertos 

Fechados 

Cgsto  das  maileiras  no  mrrcBdo  ia  ilha  Ar>  8.  ThoBé, 
DOS  annoa  abam  designados 

«.,„.. 

„i„.*„.„,™ 

Prrfr.,  nos  DD!  de 

1873 

tS7i 

(8-5 
Rèit 

IST6 

Pnimoa  de  azeitona, . . . 

Prumos  de  moandim., . 
Prumos  de  gb-glo. .... 

Vigaadeviro 

Vigas  de  viro  inferiores 
Vigas  da  obá 

6,oxo,iixo,n 

5,0X0.11X0,13 

4,5X0,08X0,11 

S  a  5,5X0,12X0,14.. 
5,20  a  5,8  X  0,09  a  0.12 
4,6  a  5X0,8X0.12... 
5  tendo  0,13  crossura. .-. 
5,8  lendo  0,13  grossura.. 

6,0  X«,Í1X  0,13 

5,5X0,11X0,13 

5,0X0,11X0,11 

5,80  lendo  0,8  a  0,10  . . . 
5,80  lendo  0,8  a  0,10  . . . 

4,0X0,08X0,11 

5,0  tendo  0.8X0,10.... 

15500 

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Barroto»  gó-gô 

Barrotes  de  ipé 

Barrotes  de  safu  de  obõ 

Caibros  Bó-gú 

Caibros  dos  angolares. . 
Caibros  de  gõ-gõ  muito 

Esteios  de  ipé 

Paus  de  soassoá 

Tdbuas  de  caixSo 

Tabuaa  de  mindo 

Tábnas  marpilo 

Tábuas  doperalto 

Tábuas  de  pau  branco.. 

Tábuas  de  amoreira.... 

Vigas  de  pau  branco... 
íírande  viga  de  oli.'l 

De  torro 

De  solho 

5,ao  tendo  0,8  a  0,10 . . . 
5,80  tendo  0,8  a  0,10... 
5.80  lendo  0,8  a  0,10  .. . 

887 


II 

Fmtaa 

i.^  Lista  das  prindpaes  froetas  de  que  temos  conhecimento,  natifas  e  aciima- 
das.  —  Saftj,  manga,  cacau,  izaquente,  ginguba,  pecego,  untuem,  aracá, 
tamarindo,  pitanga,  cidra,  limSo,  lima,  laranja,  tangerina,  abacate,  nona- 
concha,  nona-creoula,  sap-sap,  romã,  meiSo,  melancia,  pepino,  abóbora, 
mam3o,  goyaba,  maracujá,  ananaz,  caju,  jambo,  coco,  amora,  figos,  ma- 
ç3s,  peras,  fructa-p2o,  colla,  andim,  uvas,  bananas. 

Safú. — Este  fructo  tem  o  tamanho  de  uma  ameixa;  come-se  assado 
e  passa  por  saboroso.  Os  periquitos  gostam  muito  d'elle. 

Manga  (Mangifera  indica,  de  Linneu).  — É  uma  fructa  de  que  se  nSo 
deve  abusar  por  ser  nociva  á  saúde. 

Cacau. — O  cacoeiro  (Theobronia  cacau)  produz  um  fructo  que  se  pre- 
para para  exportação.  Â  sua  importância  é  conhecida.  Foi  aclimada  n'esta 
ilha  ha  pouco  tempo,  e  na  do  Príncipe  foi  introduzida  em  1822  *• 

Izaquente.  —  É  o  fructo  de  uma  arvore  da  família  das  artocarpaceas; 
tem  grandes  dimensões,  é  de  forma  espheríca  e  contém  centenares  de  se- 
mentes que  se  preparam  para  alimento. 

Ginguba  (Arachis  hypogaea,  de  Linneu).  — É  da  familia  das  robinia- 
ceasy  de  Welwitsch,  da  classe  das  leguminosas.  Come-se  em  grão,  depois 
de  torrado,  á  sobremesa. 

Pecego.  — A  arvore  a  que  chamam  pecegueiro  produz  o  fructo  ape- 
nas um  palmo  distante  da  terra.  É  original  nSo  só  por  esta  ras3o  como 
pela  forma  exterior  do  fructo,  no  qual  ha  três  profundos  ângulos  reintran- 
tes.  Parece-se  com  um  solideo. 

Untuem. — Asseveram  que  é  saboroso,  e  que  deixa  nos  lábios  uma 
espécie  de  gordura  viscosa  bastante  íncommoda  quando  se  não  come  com 
cuidado.  A  arvore  tem  a  denominação  do  fructo. 

Aracd  (Psidium  aracá). — Cultiva-se  em  algumas  fazendas  o  araca- 
reiro,  de  cujo  fructo  se  faz  delicado  doce.  É  da  familia  das  myrtaceas, 
classe  das  myrtifloresy  de  Welwitsch. 

Tamarindo.  —  Fructo  do  tamarindus  indica.  É  vistoso  o  tamarin- 
deiro^ e  as  suas  propriedades  são  assas  conhecidas. 


1  Dizem  que  ainda  existe  na  bateria  de  0.  da  ilha  do  Príncipe  um  dos  primei- 
ros pés  de  cacau,  que  ali  deram  fructo  em  I8Í2. 

*  Não  sabemos  a  rasao  por  que  F.  Welwitsch  escreveu  tamarinhciro  e  não 
tamarindeiro.  Annaes  do  conselho  ultramarino,  pagina  fí74. 


► 


588 

Pitanga.  —  É  o  fructo  da  pitangueira  (Eugenia  uniflora,  de  Linneo), 
cultiva-se  em  algumas  fazendas  e  a  arvore  é  própria  para  jardíQs'. 

Cidra,  limão,  lima,  laranja  e  tangerina.  — São  bem  conhecidas  estas 
fructas.  As  arvores  pertencem  á  classe  das  hesperidas.  De  limões  ha  abun- 
dância, mas  de  laranjas  finas  é  menor  a  producçSo.  A  larangeira  (Citrus 
aurantium)  deve  ser  plantada  em  algumas  ruas  da  cidade  e  seria  até 
conveniente  que  se  dispozessem  alguns  pomares  d'esta  espécie*. 

Abacate.  —  £  o  fructo  do  laurus  persea.  cÉ  um  dos  mais  apreciados 
fructos  dos  paizes  quentes ;  a  polpa  moUe  e  oleosa  tem  sabor  a  manteiga 
fresca,  avivado  pelo  agradável  gosto  da  avelã;  come-se  só  ou  com  assu- 
car  e  rhum ;  não  é  perigoso,  nem  d*elle  se  pôde  abusar,  porque  depressa 
enfastia  ^.  > 

Nona-concha.  —  Esta  fructa  é  a  anona  squamosa,  firucta  do  conde  ou 
pinha  do  Brazil,  ata  da  índia.  Passa  por  muito  agradável. 

Nona-creoula.  —  É  a  anona  cheriínolia  que  se  dififerença  da  antece- 
dente por  aquella  ter  uma  espécie  de  escamas  e  esta  ser  apenas  levemente 
ondeada  ^  Ha  opiniões  com  respeito  á  superioridade  relativa  doestes  dois 
fructos,  mas  a  maioria  opina  pela  primeira. 

Sap'Sap. — É  a  anona  muricata.  Passa  por  ser  saborosa. 

Romã.  —  É  a  fructa  da  romeira  (Púnica  granatuno,  de  Linneu).  Cul- 
tiva-se em  algumas  fazendas. 

Melão,  melancia,  pepino  e  abóbora. — São  fructas  da  familia  das  cu- 
curbitaceas,  da  classe  das  pepiniferas,  de  Welwitsch.  Ha  boas  melancias 
e  bons  pepinos,  os  melões  são  mais  raros  e  as  abóboras  não  abundam. 

Mamão. — Em  S.  Thomé  ha  três  espécies  de  mamoeiro  (Caricapa- 
paya).  Pertence  á  classe  das  parietales,  de  Welwitsch. 


1  Nâo  ha  xim  jardim  publico  na  capital!  É  bem  infeliz  esta  ilha! 

*  É  dever  das  camarás  municipaes  promoverem  lodos  os  melhoramentos  para 
o  saneamento  da  cidade,  a  fím  de  não  sacrificar  a  vida  dos  sens  habitantes;  e  se  é 
de  ha  muito  reconhecido  por  todos  que  para  a  salubridade  são  necessárias  as  plan- 
tações adequadas,  porque  se  não  terá  disposto  um  laranjal  em  logar  de  nm  paul? 
Porque  se  não  fará  um  jardim  publico  ao  menos,  e  porque  se  não  cuida  de  arbo- 
risar  as  prsças  e  as  ruas?  Haverá  prazer  em  estar  cercado  de  pântanos,  de  ruas 
immundas  e  de  praias  nojentas?! 

3  Tratado  de  hygiene  fMval,  de  Fonssagríves,  traducção  de  João  Francisco  Bar- 
reiro, 1852,  pagina  509. 

^  Lô-se  nos  Annaes  do  conselho  ultramarino,  pag.  554 : 

iiAnona  squamosa  (alta)  e  anona  cherimolia,  á  qual  os  angolenses  chamam 
fructa  do  conde. t 

No  Tratado  de  hygiene  naval,  traducção  de  João  Francisco  Barreiros,  pagina 
503,  lé-se  «A  anona  cherimolia  e  a  o/a  ou  fructa  do  conde  (Anona  squamosa)^. 

Do  exposto  se  vô  que  é  fácil  confundir  estes  dois  fructos. 


589 

Goyaba. — £  o  fruclo  da  goyabeíra  (Psidium  puniferum)^.  Existe  em 
tanta  profusão  esta  arvore  que  alguns  fazendeiros  a  reputam  como  praga 
dos  terrenos.  Faz-se  bom  doce  do  seu  fructo. 

Maracujá. — É  o  fructo  de  uma  vistosa  trepadeira  (Passiflora  qua- 
drangularisjy  a  qual  é  empregada  nos  jardins  e  quintaes  para  latadas  e 
caramanchões,  porque  produz  uma  sombra  fresca  e  agradável.  Ha  diffe- 
rentes  espécies  d'este  fructo,  que  passa  por  saboroso. 

Ânanaz.  —  É  a  bromelia  ananaz.  Querem  alguns  que  seja  o  rei  das 
fructas  não  só  pelo  bom  gosto  como  pela  elegância.  cO  volume  do  ana- 
naz, as  suas  escamas  rosadas  e  verdes,  o  pennacbo  elegante  de  folbas  fina- 
mente recortadas,  que  o  coroa,  o  perfume  e  gosto  da  sua  polpa  dSo-lhe 
incontestavelmente  supremacia  sobre  os  outros  fructos  dos  trópicos  ^i 
É  um  fructo  que  apenas  se  deve  provar  e  não  todos  os  dias. 

Caju. — É  o  fructo  do  cajueiro  (Cassurium  pomiferum).  Tanto  o  fru- 
cto como  a  arvore  que  o  produz  sao  de  primeira  importância.  Seria  útil  e 
vantajoso  dispor  renques  doestas  arvores  nas  estradas  publicas^,  e  acon- 
selhar os  fazendeiros  a  que  tivessem  as  frentes  das  suas  fazendas  cerca- 
das d'ellas,  bem  como  a  porção  de  estrada  correspondente,  conservan- 
do-as  sempre  em  bom  estado. 

Jambo. — É  o  fructo  do  jamboeiro  (Jambua  vulgaris).  Abunda  no 
paiz,  tem  um  cheiro  característico  e  passa  por  agradável. 

Coco. — É  o  fructo  do  coqueiro  (Cocos  nuciferej.  Existe  em  muita 
abundância,  mas  está  completamente  abandonado.  Ha  duas  palmeiras  dif- 
rentes,  sendo  o  coco  de  uma  maior  que  o  da  outra ;  differençam-se  por- 
que a  que  produz  os  fructos  mais  pequenos  tem  as  folhas  exactamente 
como  um  leque  aberto.  É  esta  uma  das  arvores  mais  importantes  da  ilha 
de  S.  Thomé. 


1  João  Francisco  Barreiros  traduziu  goyaba  e  nós  preferimos  esta  orthographia 
à  de  guiava  ou  guiaveiro. 

2  Fonssagrives,  traducçâo  de  João  Francisco  Barreiros,  pagina  506. 

3  As  estradas  publicas  podiam  ser  largas  e  orladas  de  renques  de  arvores  esco- 
lhidas e  cujo  producto  daria  para  a  desi>eza  da  composição  e  conservação  d^essas 
mesmas  estradas.  D'estc  modo  não  seguiríamos  supportando  um  sol  abrasador,  mas 
caminhariamos  em  ruas  agradáveis  e  frescas,  vendo  aqui  um  renque  das  anona- 
ceas,  e  mais  adianto  de  hespei-úles ;  por  aqui  as  artocaiyeas  e  por  ali  as  bellas  som- 
bios.  Os  eucalyptos  poderiam  flgurar  em  frente  dos  cajueiros,  as  mimossinias  como 
a  sucupira,  as  trístes  mucumblis  seriam  mais  consideradas.  Deixaria  finalmente 
de  haver  os  atalhos  que  nos  conduzem  à  villa  de  Sant^Anna,  os  desabrigados  cami* 
nhos  de  S.  José  e  do  Qningluró,  e  a  desarrai]jada  estrada  das  villas  da  Trindade  e 
da  Magdalena,  as  qnaes  são  comtudo  as  melhores  da  ilha.  Não  conhecemos  paii 
mais  fértil  nem  mais  abandonado! 


Amora,  —  Ê  o  fructo  da  silva  (Rubus  jamaicensis,  de  Liooeu).  Existe 
DOS  legares  superiores  a  600  metros  de  altitude,  pouco  mais  ou  menos. 
S5o  fructos  conhecidos. 

Figos.  — São  o  fructo  da  figueira  (Ficiis  carica).  Os  que  se  produzem 
a  400  metros  de  altitude»  cultivados  por  alguns  curiosos,  são  de  superior 
qualidade,  mas  na  cidade  não  se  dão  tão  bem. 

Maçãs  e  peras.  —  As  arvores  bem  conhecidas  que  produzem  estes  fru* 
ctos,  os  quaes  fazem  as  delicias  das  mesas  de  Portugal,  podem  aclimar-se 
bem  n'esta  ilha,  nas  fazendas  abertas  de  850  metros  para  cima^ 

Fructa-pão. — É  o  fructo  da  artocarpus  incise^  de  Linneu.  Esta  linda 
arvore  foi  introduzida  na  ilha  e  está  bem  aciimada  ^.  É  própria  para  orlar 
as  estradas  publicas  e  particulares.  O  seu  fructo  passa  por  bom  alimento. 

Colla. — É  o  fructo  da  colleira  (Sterculia  acuminata,  de  Palissot  de 
Beauvais).  É  muito  estimado  pelos  naturaes  do  paiz,  e  em  outro  tempo 
fez-se  d'elle  exportação. 

Andim. — Fructo  da  palmeira  de  azeite  (Elacis  guineensis).  Os  natu* 
raes  comem  as  sementes  assadas. 

Uvas. — Fnicto  da  videira  (Vitis  vinifera).  Apparecem  alguns  cachos 
de  uvas  em  perfeita  maturação  e  bom  gosto.  A  videira  é  cultivada  apenas 
por  alguns  curiosos. 

Bananas.  —  São  o  fructo  da  bananeira  (Musa  paradisica,  musa  sa- 
pientium).  Abunda  n'esta  ilha,  e  todas  as  suas  variedades  são  boas.  A  ba- 
nana grande  tem  o  nome  de  banana  pão  e  faz  a  parte  principal  do  alimento 
dos  pobres. 


1  Foi-nos  apresentada  pelo  fazendeiro  José  António  Freire  Sobral  uma  maça  de 
bom  tamanho  creada  na  sua  fazenda  Saudade,  provavelmente  a  cerca  de  7S0  a  800 
melros  de  altitude.  Infelizmente  a  maior  altura  a  que  chegámos  foi  de  580  metros 
na  parte  mais  baixa  do  monte  Formoso,  em  Santa  Luzia,  a  SO.  da  fazenda  Saca- 
vém, ficando-nos  á  esquerda  o  pico  Anni^  de  Chaves  e  á  direita  o  Maria  Carlota,  os 
quaes  se  vêem  da  cidade,  assim  como  se  distingue  perfeitamente  a  encosta  por  onde 
subimos  e  o  logar  onde  parámos  a  580  metros  de  altitude.  Fica  o  monte  Formoso 
approximadamente  a  15  kilometros  da  cidade,  a  SO.  É  esta  occasiâo  de  memorar  e 
agradecer  a  protecção  que  nos  dispensou  o  fazendeiro  Manuel  de  Oliveira  Costa, 
sem  a  qual  nem  áqueila  altitude  chegaríamos,  única  ha  seis  annos  a  que  podemos 
ir  e  em  que  nos  demorámos  por  espaço  de  uma  hora. 

2  N'uin  artigo  acerca  da  arvore  fi*ucta  pão,  por  António  Maria  de  Sousa  e  Al- 
meida, no  Boletim  offlcial,  n.«  i3  de  i  de  abril  de  1865,  lé-se  o  seguinte: 

«Segundo  modo  de  cultura,  um  único  tronco,  que  tem  infinidade  de  pequenas 
raiíes,  pôde  produzir  ao  mesmo  tempo,  sem  prejuízo  da  sua  cultura,  milhares  de 
plantas,  generalisando  no  paiz  a. multiplicação  de  um  vegetal  que,  como  sustento 
do  homem,  deve  ter  um  dos  primeiros  legares  no  catalogo  das  produeções  utUissí- 
mas,  com  que  a  providencia  protege  a  humanidade.» 


59i 

«É  sem  contradicção  o  melhor,  o  mais  nutriente  e  são  de  todos  os  fru- 
ctos  dos  trópicos ;  nunca  enfastia ;  a  sua  polpa  feculenta  contém  assucar, 
acido  e  aromas  diversos,  segundo  a  variedade*.» 

Alem  doestas  fructas  existem  outras*  que  nos  parecem  importantes  e 
de  utilidade ;  de  bananas,  por  exemplo,  ha  diversas  qualidades,  bem  como 
do  mamão,  de  maracujá,  etc.  Valia  pois  a  pena  estudar  todas  as  espécies, 
a  fim  de  se  tomarem  bem  conhecidas.  As  informações  que  levámos  ditas 
dizem  respeito  unicamente  a  algumas  de  que  temos  conhecimento  e  das 
suas  respectivas  arvores. 

III 

Haizes  alimenticlas,  hortaliças  e  condimentos.  Espécies  aromáticas. 

Vegetaes  diversos 

i.°  Lista  das  raízes  alimentidas. — Inhame,  batata  doce,  mandioca,  gen- 
gibre, icóco,  araruta,  batata,  cebolas,  nabos,  rábanos,  rabanetes,  senou- 
ras. 

2.^  Lista  das  hortaliças  3. — Couve  lombarda,  tronchuda,  repolbuda, 
couve  flor  do  Algarve,  couve  portugueza,  couve  gallega,  caparícana,  re* 
polhos,  alfaces,  beldroegas,  agriões. 

« 

3.^  Lista  dos  eoodimeotos,  espeeies  aromáticas,  Tegetaes  díYersos. — Toma* 
tes,  pimentas,  hortelã,  salsa,  aipo,  gengivre,  pimentões,  coentro,  chicória, 
quiabos,  alfaces,  otoni,  corda-pimenta,  pimentões  doces,  ossami,  maque- 
que  (fructo  que  também  se  come),  canella. 


1  Fonssagrives,  traducçâo  de  João  Francisco  Barreiros,  pagina  503. 

2  Temos  ouvido  fallar  de  fructas  de  que  não  conhecemos  a  abundância  e  qiiA* 
lidade  como  o  coca,  luba,  mata-passa,  cabaça  de  mioondó,  pimpinella,  maqaeque^ 
safii  do  mato,  guegue  ou  cajá,  salamba,  jaca,  nespas. 

3  Na  fazenda  Monte  Macaco  houve  couves  de  toda  a  qualidade  tâo  tenras  e  mi- 
mosas como  as  melhores  de  Portugal.  O  actual  administrador  José  António,  teve  ali 
repolhos  de  primeira  ordem  e  perfeição,  e  magnificas  e  abundantes  hortas. 


592 


IV 
Drogas  medioinaes  próprias  do  paiz 

A  mim  parece-me  qne  a  íalU  de  cscriptot  acerca  de 
drogas  medicinaes  da  índia  se  explica  pela  diflieiíldade 
da  tarefa ;  determinar  os  c&racUm  pkftieoi,  dUmioe  e 
historico-naturaei  das  sobstaocias  e  experimeniar  em 
sef  oida  para  conhecer  qaaes  os  eHeilos  ^Uffiolosficn  e 
therapeuticoSt  é  um  trabalho  superior  á  intelligenda  de 
qoAlqaer  dos  mais  illustrados,  qac  pede  exclnsfto  de 
toda  outra  obrigação  e  sobretudo  recursos  da  todo  o 
género. 

(Apontamentos  sobre  alguns  agentes  phanna- 
cologicos  da  índia  porlugueza,  no  Árdúvo  ie 
pkarmacia,  n.®  ^,  agosto  de  1865,  por  i. 
Sluart  da  Fonseca  Torrie.) 

Lista  de  carias  drogas  e  de  ageotes  pharmacologicos  e  substancias  qac  se  re- 
patam  medicamentos  na  ilha  de  S.  Tliomè.  —  Ârtemisia,  malva,  foIha*maIé, 
folha-mícócó,  maioba,  mammalODga,  ióbó,  folha-sapateiro,  pelicano»  libo, 
cabaças  ou  ocos,  soíTi,  macabli,  folha-oundu,  mussandá,  gligo,  butua, 
suque,  queça  ou  quessá,  mostarda,  matri,  folha-coDla  maguit  oio,  pimen- 
ta, foliia-bõba,  tissangá  guegne  ou  cajá,  mucubli,  uva  d*ovo,  airavaca  de 
cobra  ou  parietaria,  massuensuen,  itoto(raiz),  quime,  codoque,  bálsamo 
de  S.  Tliomé,  babosa,  foUia  de  parceira,  feto-macbo,  maracujá,  uaga- 
uaga-d'obó,  quiabos,  algodão,  bananas,  oleo  de  coco,  gomma  de  cajueiro, 
cabaça  de  imbondeiro,  oleo  de  purgueíra,  oleo  de  rícino,  sueco  do  tapa- 
olho,  tamarindo,  canna  fistula,  araruta,  fedegoso,  alcova,  beatas,  gramma, 
gengivre,  herva  de  Santa  Maria,  hortelã,  mil-bomens,  herva-tostão,  folbas 
e  casca  de  azeitona,  folhas  e  raizes  do  pau-aiho,  folhas  e  raizes  do  pau- 
ama,  casca  de  bengue  d'obó,  gomma-resina  da  mangueira,  gomma  elás- 
tica, canella,  café,  cana  saccharina,  cínchona,  laranjas  e  limões,  coUa, 
liamba  ou  diamba,  tabaco,  goyabeira,  folhas,  raizes  e  casca  do  salambá, 
messamfé,  folhas  e  raizes  da  arvore  cata  grande,  jerichó,  pinpim,  piam- 
plé,  folha-gravana,  seiva  do  pau-caixão,  folhas  da  arvore  zenzem,  folhas 
e  casca  da  arvore  unluem,  casca  da  arvore  vum-vum,  folhas  e  casca  da 
arvore  sequcnc,  folhas  do  pau-quine,  seiva  do  pecegueiro,  folhas  e  casca 
da  arvore  omêmê,  folhas  e  casca  da  arvore  marimboque,  folhas  da  arvore 
João  Gomes  Jaca,  fnicto  da  arvore  inhe-muela,  seiva  amarella  do  pau- 
quijó,  raizes  de  eslralla-eslralla  ou  clá-clá,  seiva  da  corda-agua,  folhas  e 
casca  do  arbusto  cacumá,  raizes  crocotó,  folhas  de  arvore  sap-sap,  herva 
santage,  folhas  e  planla-ossamé,  folhas  de  bengallad'obo,  casca  de  muele- 
muele-branco,  folhas,  casca  e  raizes  do  pau-fede,  leite  do  pau-sabão»  fo- 
lhas, casca  e  raiz  da  arvore  gofe,  sueco  da  arvore  amoreira,  principio  vo- 


593 

lalil  e  cheiroso  do  pau-fede,  stramoDio  ou  folba-feitiço,  trombeteiras, 
copabibeira,  plaota  reproductiva,  culu-culu,  principio  volátil  do  pau-ama, 
óleo  de  izaquente,  agriões,  otoni,  óleo  de  saQe,  aqué,  aboboreira  do  mato« 
alcaçus,  agó  ou  anil  do  mato,  bubo-bubo-preto  ou  bobo-bobo  ou  bugo- 
bugo  oquÍDi  (venenoso),  pega,  rato,  otage,  uquilé,  Simão-Goia  (Simão  Cor- 
rêa) maquôqué,  matanzem,  corda,  folha-porco,  berva-doce,  folha*eu-8ó, 
paa-pimenta,  língua  de  vacca,  coçá-coçá,  pega-pega  ou  herva  agulha, 
etc.,  etc. 

São  numerosas  as  substancias  reputadas  medicinaes  na  ilha  de 
S.  Thomé,  e  ha  grande  abundância  de  drogas  ou  productos  vegetaes 
muito  úteis  nas  artes  e  manufacturas,  que  se  podem  estudar  conjuncta- 
mente,  como  gommas,  óleos  voláteis,  tanninos,  carimas,  farinhas,  algo- 
dões, etc. 

Em  presença  da  lista  que  apresentámos,  vé>se  que  o  assumpto  é  vasto 
e  muito  difiQcil,  e  devemos  notar  que  ella  nao  enumera  a  centésima 
parte  dos  productos  úteis  e  de  grande  valia  em  matéria  medica  e  thera- 
peutica. 

Qualquer  trabalho  d'esla  ordem  exige  exclusão  de  toda  a  outra  obri- 
gação e  sobretudo  recursos  de  toda  a  ordem.  Não  devemos  proseguir 
sem  repetir  hoje  o  que  escrevemos  a  paginas  257  e  258  do  relatório  de 
1869: 

fNão  nos  consta  que  se  lenha  procedido  a  alguns  estudos  nas  ilhas  de 
S.  Thomé  e  Principe,  e,  como  as  divagações  não  téem  vantagem  alguma, 
quando  falta  o  conhecimento  exacto  da  especialidade,  contentámo-nos 
com  dizer  que  se  deve  começar  a  estudar  a  rica  e  variada  flora  doestas 
ilhas. 

cO  que  deixámos  enumerado  mostra  com  clareza  a  necessidade  de  se 
proceder  ao  exame  de  drogas  tão  úteis  e  tão  abundantes,  e  de  que  a  me- 
dicina pôde  tirar  bom  proveito. » 

Deve  fazer-se  com  urgência  a  exploração  methodica  e  scientiíica  das 
florestas,  com  o  fim  de  examinar,  classificar  e  mostrar  a  importância  re- 
lativa das  arvores  que  dão  suecos,  gommas,  etc. 

Sabe-se  que  o  mussandá,  o  pau-gamella,  a  mangueira,  o  pau-caixão, 
a  amoreira,  o  tapa-olho,  o  pau-guigó,  o  pau-oleo-barrão,  o  pau-oleo  por 
excellencia  ou  do  bálsamo  de  S.  Thomé,  o  pau-sabão,  o  figo-porco,  o  pe- 
cegueiro  da  terra,  a  corda-agua,  a  copaybeira  e  a  arvore  izaquente,  dão 
productos  de  que  se  não  tem  feito  caso,  mas  que  devem  ser  estudados 
para  se  distinguirem  as  gommas,  as  resinas,  as  gommas-resinas  e  as  gom- 
mas-elasticas,  e  se  conhecerem  as  propriedades  da  seiva  do  pau-caixão 
que  aqui  applicam  na  dor  de  dentes  e  a  da  corda-agua  que  usam  como 
collyrio.  A  importância  e  utilidade  doeste  trabalho  é  evidente  se  se  attcn- 

38 


s 


594 

tar  a  que  é  morosa  a  creaçio  e  formaçSo  de  uma  arvore,  e  a  que  se  podem 
destruir  arvores  adultas  muito  proveitosas  e  de  grande  valor,  se  se  con* 
tinmrem  a  abrir  fazendas  ou  roças  e  a  derrubar  o  arvoredo  As  cegas  e 
ao  acaso. 

Esto  paiz  tSo  rico  e  abundante  em  arvores,  florestas,  trepadeiras,  a^ 
bustos  e  hervas,  dará  cento  por  um  dos  beneQcios  que  receber;  attesta 
esta  verdade  a  sua  historia  agrícola.  Destruir  as  arvores  inúteis,  osarbot- 
tos  e  hervas  ruins,  e  occupar  os  terrenos  que  elles  deixam  com  arvores 
dê  reconhecida  utilidade  é  um  melhoramento  que  só  as  culturas  em 
grande  escala  podem  realisar;  mas  não  deixar  derrubar  uma  an'orf 
adulta  sem  snpprir  a  sua  falta,  se  for  necessário  cortal-a,  parece-nos  ama 
providencia  racional  e  em  que  os  poderes  públicos,  como  fomentadores 
do  progresso  colonial,  não  podem  deixar  de  pensar,  e  para  isso  é  neces* 
sario  que  as  florestas  da  ilha  não  continuem  a  estar  desconhecidas  e  aban- 
donadas como  até  1872. 

Ha  três  espécies  de  lã  ou  algodão  vegetal :  a  do  algodoeiro,  género 
goftgypium;  a  lã  do  ocá,  género  bombax,  a  qual  em  Angola  se  denomina 
sumamma,  e  a  lã  da  elacis  guineensis,  que  aqui  se  chama  upá  e  em  An- 
gola ncácu.  A  importância  d'estas  substancias  vegetaes  em  medicina  è 
grande,  embora  se  não  appliquem  com  frequência. 

Os  usos  médicos  do  gossypium  téem  sido  descriptos  por  diflerentes 
médicos  naturalistas,  e  são  muito  importantes  e  variados. 

Os  quiabos  (Hibi$cu$  esculentos,  de  Linneu),  o  óleo  ou  azeite  de  c6co 
e  o  óleo  ou.  azeite  de  palma  são  excellentes  emollientes,  assim  como  a 
gommi  do  cajueiro  e  as  malvas.  Os  quiabos  entram  na  composição  do  xa- 
rope e  pastilhas  do  celebre  Napbé  de  Arábia. 

'  A  banana  quitibd  é  empregada  em  muitos  casos  e  applict^se  nos 
fumncnlos  como  emolliente.  O  distincto  medico  naturalista,  João  Torne, 
reputa  as  folhas  das  bananeiras  como  o  melhor  succedaneo  do  ceroto  de 
spermaceti  no  curativo  das  superficies  vesicadas. 

O  óleo  de  ridno  e  o  de  purgueira  applícam-se  em  medicina  com  van- 
tagem. 

Será  o  tapa-olho  a  euphorbia  antiquorum  de  Linneu?  Peio  menos 
reputámol-o  uma  espécie  das  eupkorbiaceas. 

A  polpa  do  tamarindo  e  as  suas  sementes,  e  também  os  bolbos  do  ta^^ 
marindeiro,  téem  bom  uso  em  medicina,  assim  como  a  polpa  da  canna* 
flsiula. 

A  corda-matri  passa  nesta  ilha  por  um  violento  drástico,  e  a  casca  da 
arvore  cúhi-cúlu  é  considerada  purgativa,  propriedade  que  se  attríbne 
também  ás  folhas  da  alcova. 

Enumerar  todas  as  raizes  que  são  applícadas  pelos  indígenas  eono 


50S 

purgativas,  sem  lhe  fazer  a  crilica,  é  quasi  inútil,  e  por  isso  nos  abstemos 
de  nomear  muitas  outras  que  nos  foram  indicadas. 

Ha  n'esta  ilha  a  farinha  da  rrucla-pão,  de  mandioca  e  de  milbo,  araruta, 
caríná  ou  amido  da  fructa-pão  e  de  mandioca. 

O  amido  tem  applicação  em  alguns  casos  médicos,  e  com  a  farinha  de 
mandioca  faz-se  a  chamada  cataplasma  americana.  Ha  outras  appiicações 
que  é  inútil  nomear. 

É  bom  o  doce  feito  do  (i*ucto  do  guegue  ou  caju,  e  o  de  goyaba  tem 
fama  %  aconselha-i^e  nas  diarrheas  e  convalesenças. 

DiíTerentes  suecos  de  arvores  e  cordas  sao  applicados  como  collyrios 
e  adstringentes ;  e  a  parte  aquosa  do  coco  bebe-se  com  prazer,  assim 
coroo  o  vinho  de  palma  passa  por  diurético. 

SSo  variadas  o  numerosas  as  folhas  que  servem  para  banhos  aromá- 
ticos, refrigerantes  e  adstringentes,  ou  para  cozimentos  a  que  se  attribuem 
grandes  virtudes  medicas.  Como  lypo  de  uma  receita  popular,  escrevemos 
uma  das  muitas  que  nos  foram  apresentadas  e  em  que  se  nota  o  desejo 
de  combinar  substancias  pharmacologicas  para  augmentar  a  actividade  do 
remédio  que  querem  applicar. . . 

Casca  de  cajueiro  preparada  ....  Uma  porç3o 

Folhas  de  sap-sap Uma  porçJo  igual 

Folhas  de  goyabeira A  mesma  porção 

Ponha-se  a  cozer,  c6e  e  tome  aos  copos. 

Nas  diarrheas 

Os  naturaes  preparam  da  raiz  de  ototo  uma  espécie  de  escovas  com 
que  cuidadosamente  limpam  os  dentes;  de  cabacinhas  ou  suqués  e  das 
sementes  da  folha-conta  arranjam  brinquedos  para  as  creanças;  e  das 
folhas  doestas  hervas  preparam  banhos  frescos  em  que  as  lavam.  Domus- 
sandá  tiram  visco  para  apanharem  passarinhos,  e  nem  por  sombras  lhes 
vem  á  idéa  a  importância  da  arvore  e  do  producto  que  exlrabem. 

Os  habitantes  das  florestas,  como  os  angolarês,  parecem  não  precisar 
das  mais  insignificantes  commodidades:  desconhecem  o  tratamento  me- 
dico nas  enfermidades,  a  vantagem  das  estradas  para  caminharem,  de 
casas  para  se  abrigarem  e  de  cidades  para  commerciarem;  mas  flcam 
surprehendidos  por  alguns  phenomcnos  que  não  entendem  e  que  se  lhes 
apresentam  todos  os  dias,  e  dão  muita  altcn(;ão  a  quem  lh*os  explica. 

Viria  a  propósito  fallar  das  lendas  extraordinárias  que  se  contam  en« 
tre  estes  povos  indolentes  e  preguiçosos,  e  explicar  a  rasãoporqueelles 
não  oiíerecem  o  seu  vinho  de  palma  sem  primeiro  beber  alguns  tragos; 
mas  isso  seria  afastarmo-nos  do  nosso  fim,  com  mais  proveito  para  a 
historia  do  que  para  a  medicina. 


ao  exame  da  flora  e  da  faana  angoleDse.  Devem  divulgar-se  os  resultados 
dos  seus  trabalhos  e  indagações  scientiflcas  a  fim  de  serem  conhecidas 
tanto  na  metrópole  como  nas  colónias.  Procedendo-se  assim,  os  médicos 
poderiam  facilmente  escolher,  estudar  e  indicar  as  substancias  que  fos- 
sem úteis  em  medicina. » 

Os  estudos  e  exame  das  drogas  e  agentes  pharmacologicos  pôde  fa- 
zer-se  se  o  governo  encarregar  pessoa  habilitada  de  escolher,  preparar 
e  fozer  conduzir  para  Lisboa  os  productos  mais  importantes,  os  fructos 
e  flores  das  arvores,  que  lá  mesmo  podem  ser  classiGcadas  e  descriptas. 
O  que  6  para  lamentar  é  que  os  poderes  públicos  continuem  a  deixar  ficar 
abandonadas  as  florestas  da  ilha,  e  a  serem  destruídas  arvores  adultas  e 
de  grande  utilidade  sem  as  mandar  reproduzir  ou  sem  prohibir  que  sejam 
cortadas  sem  necessidade.  Uma  arvore  precisa  de  muitos  annos  para  se 
formar,  e  seria  sufQciente  esta  consideração  para  se  proceder  com  toda  a 
urgência  á  exploração  florestal,  á  classificação  das  madeiras  e  das  arvores 
áh  reconhecida  utilidade  publica;  e  a  par  d'este  estudo  e  classificação 
viria  o  conhecimento  das  arvores  fructiferas,  das  de  simples  ornato  ou 
de  jardins  e  de  todas  aquellas  que  por  alguma  circumstancia  se  tornam 
recommendaveis.  Os  regulamentos  de  silvicultura  são  tão  úteis  como  os 
livros  acerca  da  cultura  do  cacau,  café,  algodão,  etc,,  e  tanto  aquelles 
como  estes  devem  existir  n'um  paiz  onde  a  agricultura  está  incipiente  e 
seguindo  completamento  ás  cegas. 

O  exame  das  liervas,  arbustos  e  trepadeiras,  o  a  sua  respectiva  classi- 
ficação, deve  ser  feita  conjunctamente  com  a  das  florestas,  dos  animaes  o 
dos  mineraes,  pois  são  sempre  mais  fáceis  a  um  naturalista  os  trabalhos 
d'esta  ordem  do  que  a  qualquer  facultativo  ou  pharmaceutico,  cujas  occu- 
paçôes  diárias  não  lhe  permittem  entregar-se  ao  exame  e  estudo  dos  pro- 
ductos de  historia  natural. 

Este  alvitre,  tão  necessário  para  o  progresso  das  colónias  em  geral  e 
da  industria  em  particular,  é  de  ha  muito  reconhecido,  poisque  existem 
ali  ignorados  productos  que,  se  não  se  podem  classificar  como  uma  ri- 
queza, podem  innegavelmente  trazer  immensas  vantagens  quando  explo- 
rados convenientemente.  E  para  prova  do  que  avançámos  podemos  citar  o 
decreto  de  22  de  outubro  de  1874  pelo  qual  se  concedeu  a  Francisco  Fer- 
reira de  Moraes,  súbdito  brazileiro  estabelecido  em  Angola,  o  privilegio, 


lhe  cobre  os  restos  mortaes  precisámos  mais  esquecer  o  que  lhe  ofTusque  a  níemo- 
ria,  e  fazer  o  inventario  de  qaanto  deixou  útil  c  dígoo  d^ella.  Faremos  assim  a  de- 
vida justiça  ao  finado,  o  qual  teve  o  destino  de  tantos  outros  homens  de  sciencia, 
para  os  quaes,  no  fim  da  vida,  mais  se  accnmulam  os  desgostos  e  os  contratempos 
do  que  lhes  sorriem  os  motivos  da  própria  satisfação.» 


í 


:íU8 

por  dez  annos,  para  exportação  de  um  producto  vegetal  por  elle  desco- 
berto, o  qual,  segundo  declarou,  é  exlrahido  das  quipomas  e  arbustivas 
canomínume,  e  que  è  símílbante  á  gatta-percba ;  e  o  decreto  de  13  de 
outubro  de  4875  que  também  concedeu  o  exclusivo  da  exportação»  por 
quinze  annos,  a  José  Thomás  de  Figueiredo,  das  sementes  da  arvore  co- 
nhecida em  África  pelo  nome  de  pau-caixão,  destinadas  ao  fabrico  de 
veias. 

Estes  dois  privilégios  tSo  modernamente  decretados»  bio  de  certo 
estimular  outros  exploradores  a  secundarem  os  esforços  d'estes  invento- 
res, e  acharão  sem  duvida  no  governo  de  Sua  Magestade  o  auxilio  que 
àquelles  foi  concedido. 


Produotos  satnraes  e  de  industria  agrioola  e  falnil 

da  iUia  de  S.  Thomd 


o  iolo  de&U  illia  é  a|iro|príAdn  «  UmU  •  qMlqoar 
plaoUçâo,  quaodo  ajudado  pela  indaslría  e  IrabaUio  do 
agrícnitor;  e  asiia  oUerva-M  q««  aa  gniáa  bhmm 
de  iirodttctos  importanlea  e  qae  laaaiB  a  piia6i|ial  ríq9e> 
xa  u'oQlros  paizes,  D'etla  proviocia  apparacem  espoota* 
Beameote  e  nachnoi  uso  d'ellM  m  aiiraiitiU ;  eiHi«  oa- 
lro«,  por  laemplo,  o  anil»  a  poigaeir»,  o  eanapalairo» 
o  ajueodobi,  o  algodão,  ele. 

(Hebtorio  do  goTaraador  loaé  Fedfo  de  llaflo, 
acompanhando  as  reoMâia*  dM  aoMutrac 
para  a  cxposiçào  de  Loodre»,  BoUiim  ofi- 
cial, D.*  33,  de  i9  do  ouUibro  dt  Ml.) 

i.^  Pnrfaetts  d«  coqneiri^ — Sâo  variados  os  productos  do  coqueiro 
(Ck)cos  nucifera),  e  reputa-se  uma  das  arvores  mais  importantes.  Dá-se 
bem  e  existe  nas  proximidades  de  quasi  todas  as  praias.  As  alamedas  de 
coqueiros  devem  ser  conservadas  e  cultivadas  com  todo  o  cuidado,  pois- 
que  representam  uma  grande  ri(|ueza  para  esta  ilha,  oode  ji  abundam  e 
promeltem  maior  desonvolvimeiíto. 

Em  1861,  segundo  os  cálculos  oOiciaes,  avaliava-se  a  producçSo  de 
azeite  de  coco  em  63:(XK)  litros  ^,  incluindo  a  da  ilha  do  Príncipe;  em  i863 


1  Apresenlareuios  proniiscuainenlc  os  diíTerentes  productos  do  reino  vegetal^ 
se  bem  que  «eria  mais  methudico  rcunil-o»  em  secções  separadas  eomo,  oteos,  tin* 
tas,  drogas  medicinaes,  alimenlos  e  íibraí^.  Na  convicção,  porém,  de  que  para  o 
nosso  fim  e  segundo  a  naturef.a  deslo  trabalho  o  melhodo  que  adoptámos  é  sofi- 
deolemente  claro,  nào  duvidáuios  de  o  seguir. 

2  Boletim  official,  w  33,  de  36  de  ot|t<|Uro  Oe  1861,  pagina  133. 


S«9 

podia  maoufaclurar-se  o  Iriplo  se  se  tratasse  dos  palmares  e  se  aprovei- 
tassem o  seu  importante  fructo. 

O  coqueiro  é  uma  das  mais  belias  e  productivas  arvores  da  ilha  de 
S.  Thomé.  Se  actualmente  se  lhe  dá  pouco  apreço,  não  é  ras3o  para  dei- 
xar de  se  citar  com  eotbusiasmo.  Tudo  u^elie  se  converte  em  utilidade 
para  o  homem ;  e  se  a  indole  do  nosso  trat)albo  não  comporta  o  sermos 
muito  extensos  na  sua  descripção,  não  deixaremos  comtudo  de  indicar  al- 
guns dos  seus  productos  e  appiícações. 

O  resíduo  que  fica  depois  de  se  extrabir  o  óleo  ou  azeite  serve  para  ali- 
mento do  gado ;  e  a  palba  é  muito  útil  e  emprega-se  em  diversos  usos,  ha- 
vendo differentes  processos  para  a  obter :  appiica-se  em  estofos,  camas  e 
cadeiras,  cordas  de  primeira  qualidade,  chapéus,  esteiras,  etc. 

A  seiva,  conhecida  sob  o  nome  de  vinho  de  palma,  è  agradável  e  re- 
frigerante quando  se  bebe  frescal  A  noz  do  fructo  come-se,  e  a  parle  ex- 
terior tem  differentes  applicações. 

Das  folhas  fazem-se  vassouras  e  redes  (impialáj  para  se  defumar  peixe 
e  sardinha,  e  coales  (espécie  de  cestos  mutetes  em  forma  de  canastras). 

Os  palmares  da  ilha  de  S.  Thomè  estão  abandonados,  Umitando-se  oe 
naturaes  a  uUlisarem-se  de  alguns  dos  seus  productos  para  consumo  no 
paix;  mas  poucos^  ou  nenhuns  se  preparam  e  exportam. 

A  palmeira  de  leque  é  abundante  e  encontra-se  nos  logares  em  que 
eitá  a  coem  nucifera,  é,  porém,  muito  menos  frequente  do  que  esta.  Paiaa 
por  dar  productos  tão  importantes  como  o  coqueiro  da  índia,  e  tem  o  fru- 
cto mais  pequeno. 

Á  palmeira  ou  coqueiro  propriamente  dito  chamam  em  Angola  ma- 
leta ',  e  as  suas  folhas  são  boas  para  vassouras,  chapéus  e  outras  obras  de 
paUia. 


1  «O  vinho  da  palmeira  é  o  prodacto  da  fermeDiação  alcoólica  da  seiva  d'esU 
arvore.  O  liquido  ê  adocicado  no  momento  em  que  &e  exU'ahe,  idas  \\m  tarda  em 
lurmeotar:  trausforma-se  em  álcool,  e  quando  recente  o  tiebido  em  pequena  quan- 
tidade é  agradável  ao  paladar;  pela  sua  acyào  sobre  o  cérebro  fuz  lembrar  o  vijiho 
de  chaii)p;iguc ;  estimula  suavemente  o  estômago,  e,  moderado,  conserva  o  ventre 
livre,  e  tem  propriedades  diuréticas;  o  abuso  porém,  pôde  ser  fatal.»  (Yeja-se  o 
livro  de  Fonssagríves,  traducçào  referida,  pagina  490.) 

2  Nas  fazendas  de  Agua  Izé  monlou-se  um  engenho  para  a  extracção  do  azeite 
ou  oieo  de  coco.  N*aquelias  fazendas  sào  grandes  os  palmares,  e  é  o  primeiro  enge- 
nho «resta  natureza  que  se  emprega  na  ilba  para  esta  âm. 

^  Nos  Annaes  do  conselho  uUramarino,  pagina  345,  lé-so  o  seguinte :  c  A  pai- 
iiieiía  chamada  mateva  é  uma  espécie  de  hyphoene,  cujas  folhas  dão  óptimo  mate- 
rial liara  chapéus,  vassouras,  etc,  e  ;>ào  exportadas  para  o  liraiil  com  iiiero  tmn- 
deravel». 


I 


600 

O  coqueiro  ou  palmeira  conhecida  pelo  nome  de  bordão  produz  eicel- 
leutes  paus  para  redes  e  tipóias,  como  já  dissemos,  os  quaes pela  sua  coo- 
sistencia  e  pouco  peso  são  empregados  como  os  bambus,  sendo  tão  bons 
como  estes. 

Os  productos  do  coqueiro  são  pois  de  grande  importância  e  utilidade 
em  muitas  das  necessidades  do  homem. 

O  óleo  ou  azeite  de  coco  pôde,  em  muitos  casos,  substituir  o^deo  de 
amêndoas  doces,  e  até  nas  pbarmacias  se  applica  na  preparação  dosoieo- 
solutos.  Não  é  somente  sob  este  ponto  de  vista  therapeutico  que  elie  se 
toma  vantajoso;  serve  também  para  luzes,  mas  è necessário  preparal-o 
convenientemente  quando  se  lhe  quer  dar  applicação  mais  delicada. 

2.^  PraiaclM  da  paineira.  — A  palmeira  de  neiid  (Elacis  guifícensis) 
produz  o  denominado  e  já  conhecido  azeite  de  palma  e  também  o  de  co- 
conote,  e  uma  espécie  de  banha  que  pôde  ter  diversas  applicações.  Mui- 
tas pessoas  preparam  as  sementes  (andim)  para  alimento. 

Esta  palmeira  é  mais  baixa  e  mais  grossa  que  o  coqueiro  e  que  a  ma- 
teva,  e  os  fructos  doestas  arvores  diíTerem  completamente  uns  dos  outros. 

Na  elacis  guineensis  os  fructos  estão  juntos  aos  ramos  em  forma  de 
uma  grande  pinha,  e  são  da  grossura  de  uma  noz.  Em  cada  seoiente  ba 
uma  parte  externa  fibrosa  e  oleosa,  outra  media  e  dura,  e  uma  outra  in- 
terna e  solida.  cOs  cachos  frucliferos  de  dendem  toem  a  forma  de  gigao* 
tescas  pinhas  ovato-pyramidaes,  das  quaes  cada  uma  contém  de  trezentos 
a  mil  fructos  ^ » 

O  azeite  de  pahna  está  sendo  muito  apreciado  na  Europa,  o  que  Ibe 
augmenta  consideravelmente  a  importância  e  o  valor;  mas,  apesar  disso, 
os  palmares  continuam  quasi  abandonados,  estando  para  ahi  ao  acaso, 
sem  ordem,  sem  methodo  e  sem  sciencia  agrícola. 

Não  querendo  tomar-nos  exagerados  ao  descrever  os  variadíssimos 
productos  das  palmeiras  que  estão  adimadas  n'esta  Hha,  damos  por  copia 
os  seguintes  trechos  que  o  sábio  naturalista  Welwítsch  escreveu : 

«Uma  das  arvores  mais  fecundas  e  mais  úteis  da  zona  tórrida,  em 
Africa,  é  sem  duvida  a  nobre  palmeira  àQ  dizeile  (elacis  guinêenm,  jofuej 
cujos  fructos  são  geralmente  cliamados  dendem,  e  por  isso  á  palmeira  mui* 
tos  chamam  demdem. 


1  Ás  palavras  do  texto  ajuntou  F.  Welwitsch  a  seguinte  nota :  cUm  cacho  de 
dendem  que  me  foi  oíTerecido  pelo  sova  de  Bango-Aquitamba  em  4  de  janeiro  de 
1855,  continha  seiscentos  sessenta  c  quatro  fructos  bem  feitos  o  trezentos  setenta 
e  sete  outros  menores,  menos  desenvolvidos  ou  abortados,  o  que  dá  a  somma  de 
mil  e  quarf^nta  um  fructos  n*am  racho!!»  Synopse  explicativa,  1862,  pagina  52. 


«01 

«  Om  esta  palmeira  a  promdencia  indewmisau  os  povos  da  Africa  tro- 
pical da  falia  da  oliveira,  da  videira  e  da  amendoeira,  pois  ella  fornece- 
Ikes  azeiUy  vinho  e  amêndoas,  e  fora  disso  ainda  mmias  trastes  úteis  na 
vida  domestica. 

«É  notório  que  o  azeite  de  dendem,  que  na  Europa  chamam  azeite  de 
palma,  forma  um  dos  mais  valiosos  géneros  do  commercio  africano,  mas 
o  qoe  nSo  é  l3o  sabido  é  que  a  cultura  d'esta  tSo  utilíssima  arvore,  que 
era  facílima  na  Africa  portngneza,  ainda  nSo  chegou  a  merecer  a  devida 
attençio  nem  da  parte  do  governo,  nem  dos  particulares,  e  muito  menos 
dos  indígenas  que  vAo  raras  vezes  estragam  as  mais  bellas  palmeiras  para 
d*ellas  tirarem  algumas  garrafas  ou  cabazes  de  vinho.  O  azeite  de  coco- 
note  é  particularmente  procurado  nos  mercados  europeus  ^» 

Ao  que  escreveu  penna  l3o  auctorisada  apenas  acrescentaremos  que 
na  ilha  de  S.  Thomé  passam  quasi  desapercebidas  as  palmeiras,  e  nio  ha 
esperanças  de  haver  quem  anime  e  proteja  a  valiosa  cultura  do  rei  dos 
vegetaes. 

S.*  FrtAMtas  ia  iafieile. — A  fructa  da  izaquente  é  redonda,  como  já 
dissmios,  e  contém  dezenas  de  sementes,  asiquaes  se  preparam  para  di- 
versas comidas.  Ex^iõe-se  ao  tempo  para  apodrecer  e  largar  as  sementes; 
estas  sio  postas  ao  sol,  e  depois  de  estarem  bem  seccas  pisam-se,  n*uma 
gamella  apropriada,  com  uma  bala  de  ferro,  ou  com  seixo  ou  pedra  es- 
plierica  bastante  pesado  para  se  lhe  poder  facilmente  tirar  a  casca.  Aca- 
bada esta  operação  lavam-se  e  reduzem-se  a  massa,  com  a  qual  se  prepa- 
ram os  alimentos  dos  libertos  e  dos  naturaes. 

A  respeito  d'esta  arvore  escreveu  o  mestre  dos  naturalistas  da  Africa 
as  seguintes  palavras : 

tOs  indígenas  comem,  depois  de  cozidos  e  descascados,  os  pinhOes  ou 
pequenas  amêndoas  contidas  no  fructo,  os  quaes  também  sSo  aproveita- 
dos para  confeição  de  doces  e  de  orchata,  emprego  a  que  se  prestam 
muito  bem  por  causa  do  sabor  excellente  que  communícam  is  menciona* 
das  confeições  ^» 

É  realmente  de  grande  importância  esta  arvore  que  conserva  a  folha- 
gem sempre  verde,  representando  o  seu  fructo  um  papri  importante  na 
alimentado  dos  naturaes  d'esta  ilha. 

h.^  Prtiaelas  ia  arrare  frieta*pi». — Sobre  esta  arvore  dizia  o  abastado 
lavrador  JoSo  Maria  de  Sousa  e  Almeida,  n*uma  exposição  dirigida  ao 

1  Synopse  expUcaiivaj  paginas  53  e  5i. 

2  S$jnopêe  eopplkafiva,  pagina  54. 


mi 

goveroo  a  propósito  .da  remessa  dos productos  para  a  eiposicio  do  Porto: 
«Seria  de  subida  vantagem  para  a  alimentação  da  população  do  pais  que 
\.  ex.*  (o  governador  da  província)  liouvesse  por  bem  igualmeota  solicitar 
do  governo  de  Sua  Magestadc,  que  pôde  facilmente  sabel-o  por  meio  das 
auctoridades  da  nossa  província  de  Timor,  o  systema  i>or  que  os  indígenas 
da  Oceania,  para  terem  todo  o  anno  e  sempre  em  estado  de  bom  alimento 
aquella  fructa  em  conserva,  por  isso  que  no  tempo  da  colheita  aproveitam- 
D'a,  6  a  superabundante  guardam-n'a  d'aquelle  modo  para  as  occisiões  da 
falta.  Esta  utílissima  fructa  que  é  só  de  per  si  capaz,  quando  cultivada  &sí 
devida  escala,  de  sustentar  constantemente  um  pai2  inteiro,  tem  alem 
d*esta  incalculável  vantagem  a  de  poder  ser  secular  na  sua  duração  indi- 
vidual, e  portanto  poupar  aos  lavradores  incessantes  trabalhos  da  planta 
ou  replanta  a  que  todo  o  outro  género  de  cultura,  para  alimento  humano, 
è  sujeito  aonualmente^t 

O  fructo  d*esta  arvore  produz  farinha,  amido,  etc,  e  alem  doesta  par- 
ticularidade pôde  também  ser  empregada  como  arvore  de  sonubra  pas 
ruas  das  fazendas,  nas  estradas  centraes  que  as  grandes  fazendas  sSo  obri- 
gadas a  abrir,  e  também,  por  parte  da  camará  municipal,  naa  estradas 
publicas. 

a.^  PraéMtos  i$  cijaeira. — O  cajueiro  não  só  produz  excalloote  gom- 
ma,  mas  também  se  obtém  d'elle  vinho  dé  boa  qualidade. 

A  gomma  tem  grande  utilidade,  e  attribuem-lhe  principalm^te  a  im- 
portaotissíma  propriedade  de  impedir  a  invasão  das  traças,  o  que  a  toma 
de  certo  altamente  recommendavel  na  encadernação  e  invernizameoto  de 
livros,  e  no  polimento  de  moveis  de  primeira  ordem,  e  em  muitas  outras 
necessidades  da  vida;  pôde  em  alguns  casos  substituir  vantajosamente  a 
goouna  arábica. 

A  importância  e  utilidade  do  fructo  é  também  reconhecida.  Alem  de 
grandes  vantagens  para  os  agricultores  e  habitantes  da  ilha,  liça  o  cajueiro 
muito  bem  á  beira  das  estradas,  prestando  a  sombra  aos  viandantes  e  pro- 
veito a  quem  os  culliva  com  attenção. 

Iriamos  muito  longe  se  nos  fosse  permittido  expor  algumas  conside- 
rações Acerca  dos  variadissimos  productos  que  se  obtôem  ou  iacilmente 
se  podem  obter  do  preparo  ou  da  cultura  das  differentes  arvores  d'esta 
ilha;  mas  para  se  fazer  uma  idéa  approximada  dos  importantes  fructos  a 
que  nos  referimos,  damos  a  seguinte  relação,  chamando  para  eUa  a  atten- 
çao  dos  amigos  do  progresso  e  colonisação  colonial. 

Canna  saccharina,  assucar  e  aguardente;  urzella;  milho,  que  pro« 

^  O  Boletim  officicd  da  provinda,  u."  31,  de  5  de  ago»tú  de  iWã, 


tt03 

duz  como  1  para  400;  feijão;  gengibre;  finissimos  doces;  bálsamo; 
,  gomma,  como  a  de  S.  Tliomc,  do  cajueiro  e  producto  da  amoreira,  com 
que  os  Daturaes  tornam  os  chapéus  e  casacos  impermeáveis;  fibras  varia- 
díssimas  ou  fios  de  diversas  ordens  e  cordas;  Untas  como  a  do  urucú  e  do 
bugi-bugi ;  tabaco ;  sabão ;  farinhas,  como  a  da  mandioca,  etc. ;  canella ; 
borracha;  óleos,  como  o  de  safú,  de  izaquente,  de  aodim  ou  dendem,  de 
coco,  de  purgueira,  de  ricino  e  de  coconote;  café  e  cacau,  géneros  prin- 
eipaes  e  quasi  únicos  para  exportação;  serrarias;  algodão  e  outros  pro* 
duetos  como  upa  ou  lã  da  palmeira  e  lã  de  ocá. 

Em  vista,  pois,  do  nosso  fim,  não  podemos  demorar-nos  em  conside* 
rações  a  respeito  de  cada  um  d'estes  productos,  os  quaes  tinbam  mais 
racional  cabimento  em  livro  especial,  onde  se  fallasse  também  acerca  da 
producção  do  sal  e  petróleo,  e  da  preparação  de  telha,  vasos  e  outros  ob- 
jectos de  barro,  esponjas,  coales  ou  cestos  de  differentes  qualidades  e  fei-^ 
tios,  cabaças  grandes  (ocos)  e  pequenas  que  abundam,  e  cocos  prepara* 
dos  para  diversos  usos  domésticos. 

Não  existem  ainda  serrarias  montadas  com  methodo,  ha  apenas  alguns 
fazendeiros  que  preparam  as  tábuas,  esteios,  vigas  e  soletas,  nas  florestas 
(obós)  onde  se  lhes  offerece  mais  conmiodidade  e  abundância.  N'estas  dr- 
cumstancias  custam  as  madeiras  um  preço  elevadissimo,  podendo  com  os 
meios  apropriados  tornal-o  moderado,  vistoque  a  natureza  dotou  o  solo 
d'esta  ilha  com  as  condições  necessárias  para  uma  producção  abundante 
e  de  primeira  qualidade. 

Não  está  generaHsada  a  cultura  de  pomares,  de  hortas  e  jardins.  Al- 
guns fazendeiros  possuem  jardins,  poucos  são  os  que  téem  pomares»  o 
das  hortas  apenas  se  colhe  alguma  hortaliça  para  uso  domestico  e  moíto 
pouca  vae  ao  mercado.  Doeste  modo  a  hortaliça  è  rara  e  cara,  podendo 
aliás  ser  barata  e  boa. 

Não  ha  fabricas  para  a  extracçiío  dos  variados  óleos,  de  modo  que  do 
azeite  de  palma  pouco  se  exporta  e  do  de  coconote  não  se  faz  casol  Para 
o  fabrico  do  azeite  de  coco  montou-se  um  engenho  na  fazenda  Praia  Rei, 
mas  a  falta  de  trabalhadores  não  só  obsta  a  que  se  trate  d'este  ramo  de 
commercio,  como  dilliculta  a  exploração  das  florestas  e  do  solo. 

Aos  poderes  públicos  cumpre  remover  as  dlflQculdades  que  impedem 
o  progresso  da  formosa  ilha  de  S.  Thomé,  a  qual  pôde  augmentar  os  ren- 
dimentos do  estado  em  400.-000^000  réis,  livres  de  todas  as  despezas,  ha- 
bilitando-se  então  a  ter  um  ou  dois  caminhos  de  ferro  para  o  local  mais 
salubre,  estradas  ordinárias  que  ponham  em  communicação  todas  as  vil- 
las  e  logares  prodiictivos,  e  finalmente  a  iev  jardins,  alamedas  e  vastos 
passeios  em  volta  da  cidade,  em  loyar  de  pântanos,  de  paúes  e  de  charcos, 
que  aaualn^enle  possue, 


604 


VI 


CtomparaçSo  entre  as  diífcrentes  epoohas  no  progresso  agrícola 

e  oommeroial  da  ilha  de  S.  Thomó 


1.®  Relaçit  dos  prodnclos  da  provinda  de  S.  Thomè  e  Principe  qse  Ijvranui 
M  exposiçio  nniTersal  do  Londres.  —  CaKs  cacau,  algodão,  anil  (conhecido 
por  bugi-bugi^X  bálsamo  de  S.  Thomé  (com  alguns  ramos  da  arvore  e 
flores'),  pecegos  de  S.  Thomé  (de  infusão  em  boa  aguardente),  cássia 
ou  canna-flstnia,  cope  (com  as  folhas  e  flores  das  arvores  e  verniz),  cola, 
cocos,  (sobretudo  da  palmeira  uloá),  jalapa,  izaquente  (espécie  de  gr3ode 
que  muito  se  alimenta  o  povo),  safú  (fructo),  inhame  (diversas  espécies 
incluindo  o  coco),  izá  (fructas  inteiras  em  aguardente),  jaca  (fructas  em 
aguardente),  malagueta,  pimenta  e  cubebas  (especialmente  de  Ajuda), 
mandioca,  farinha  de  pau,  tapioca  e  amidon,  míl-homens  (raiz  medici- 
nal), purgueira  (óleo  e  sementes),  polpa  de  tamarindos,  tabaco  em  folha 
e  fabricado,  canna  de  assucar,  aguardente  de  canna,  azeite  de  palma, 
dendé  (em  caroço  ou  cachos),  canella,  pau-alcaçús,  pau-guigõ,  pau-gogó, 
pau-nespera,  pau-ová,  pau-sangue,  pau-vermelho,  pau-azeitona,  pau-ce- 
dro,  sucupira,  pau-viro,  amoreira,  caixão,  ocá,  upá^  ou  gamella,  gofé, 
safu,  pau-ribeira,  pau-mastro,  e  terra  ocre  de  diversas  cores. 

Por  esta  relação,  que  foi  mandada  para  Lisboa  em  1861  ^,  vé-se  com 
evidencia  que  n*aquella  epocha  poucos  productos  se  conheciam  da  ilha  de 
S.  Thomé  e  Principe,  poisfpie  no  districlo  de  Ajuda  nem  ao  menos  se 
falia  t 

Para  se  tornarem  bem  salientes  as  epochas  a  que  nos  referimos,  IStil, 
1865  e  1872,  passámos  a  reproduzir  a  lista  das  madeiras  e  dos  diversos 
productos  que  foram  remettidos  para  Lisboa,  segundo  as  publicaç^ões  fei- 
tas no  boletim  da  província  e  que  muito  convém  divulgara 


f 


1  O  anil  e  o  bugi-bugi  fazem  dilTerença;  a  tinta  do  bugi-bugi  é  preta. 

2  A  arvore  do  bálsamo  do  S.  Thomé  ainda  não  está  scientificamcnte  conhe- 
cida. 

'  Upà  é  o  nome  que  se  dà  á  lá  da  palmeira;  oáo  sabemos  se  em  algum  logar 
da  ilha  o  pan-gamella  tem  este  nome. 

^  Boletim  offkial  da  província,  n.^"  24,  de  17  de  agosto  de  i86l. 

^  Parece-nos  de  muita  vantagem  que  se  formulem  catálogos  onde  se  designem 
e  descrevam  os  productos  remettidos  para  o  reino,  a  Pm)  de  serem  distribuídos 
aos  fazendeiros  c  agricultores  das  colónias,  de  modo  que  na  ilha  de  S.  Thomé  se 


603 

2.^  Lista  das  madeiras  S  produelos  nataraes  e  da  iodustria  a|rieola  e  bkril 
das  íilias  de  S.  Thomé  e  Príncipe  no  anno  de  186i. — Madeiras.  Agua»  alcaçuz 
ama,  amoreira,  azeitona,  azemama,  bebé,  bõbo-bõbo,  branco,  bugi-bugi 
bungá,  cabra,  caixão,  cacuma,  cadeira,  caju,  capitão,  cata-grande,  cedro 
clá-clá,  coaco-branco,  cola,  colma-frio,  culu-culu,  cuspira,  dumo,  estalla 
estalla,  fede,  Ggo-porco,  gamella,  glou,  glou-congo,  gufe,  gogó,  gaegue 
guegue-falso,  gui[:ó,  imboló,  inhé-bobo,  inhé-branco,  inhé-preto,  iobó 
jaca,  jambo,  laranja-mucambu,  libo,  luba,  macambrará,  malioboque,  man 
gueira,  marapiam,  martro,  me-me,  micondó,  mucambá,  mucumblé,  muío 
do,  mule-mule,  mussandá,  nespera,  nona,  Dona-concha,  ocá,  óleo,  ová 
paga-olbo,  paga-olbo  de  marcação,  tapa-olho,  pecego,  popiam,  preto 
quebra-macbado,  quebra-prego,  guiné,  guiabo,  guime,  ribeira,  safu,  sa 
lamba,  sangue,  sapo-sapo,  setuR  d*obo,  soá-soá,  sucupira,  tabaque,  ta 
marindo,  upá,  untuem,  vara-plé,  vermelho,  viro,  vum-vum,  zamuma. 

Productos  naturaes  e  da  industria  agricola  e  fabril. — Aguardente  de 
canna,  algodão  gomg,  anil,  araruta,  azeite  de  coco,  azeite  de  palma,  bál- 
samo de  S.  Thomé,  batata  doce,  cacau,  café,  canna  de  assucar,  canoa-fis- 
tula,  canella,  carvão  de  caroço  de  palmeira  ou  dendem,  celé-celé,  cesto 
da  folha  da  palmeira,  coador  de  palha,  cabra  negra,  cocas  da  paUneíra 
ou  caroço  de  dendem,  cola,  cope,  dendé,  escada  de  subir  ás  paUneiras, 
esponjas,  farinha  de  pau,  farinha  de  tapioca,  fava,  inhame,  iza,  izaquente, 
icocó,  jaca,  jalapa,  limague,  verme,  malagueta,  mandioca,  maquèqué, 
mendobin,  mil-homens,  ossame,  pecego  de  S.  Thomé,  pimenta,  mala- 
gueta comprida,  polpa  de  tamarindos,  popó,  purgueira,  safu,  sal,  sabão 
feito  com  azeite  de  palmeira,  tabaco,  tabatínga  cancu,  tamarindo,  tapa- 
olho,  urzella,  bálsamo  de  pau-mesa,  gogo  pombo,  poto-poto,  isa  sec- 
co,  canna  preta,  canna  branca,  Go  de  palmeira,  lã  de  palmeira,  carvio 
da  casca  da  semente  da  pahneira,  um  coador  e  duas  vassouras  de  pal- 
meira. 

Vé-se  pela  lista  antecedente  que  se  classificaram,  entre  as  madeiras» 
paus,  arbustos  e  cordas,  e  alem  disso  arvores  que  não  servem  para  ma- 
deiras propriamente  ditas. 


conheçam  os  prodactos  da  índia,  de  Moçambique,  de  Gabo  Verde  e  de  Angola,  e 
n*estas  os  de  S.  thomé. 

As  despezas  da  publicação  seriam  bem  compensadas  peia  vantagem  de  sé  co- 
nhecerem na  metrópole  o  em  todas  as  colónias  as  riquezas  naturaes  que  possuímos 
e  do  que  tão  pouca  vantagem  tiramos. 

1  Dos  boletins  do  anno  de  186i  e  i865  copiámos,  como  já  dissemos,  as  listas 
que  se  vão  ler.  Pela  nossa  parte  apenas  tivemos  occasião  para  entrar  em  três  flo- 
restas, demorando-nos  duas  horas  em  cada  ama. 


C06 

Nota-se  também  o  diverso  modo  de  escrever  as  palavras,  e  parece 
que  $3o  dados  como  paus  diversos  aquelles  que  téem  dííTerentes  nomes. 

A  reproducçâo  dos  productos  remettidos  para  a  exposição  de  Lon- 
dres satisfaz  a  três  fms  muito  importantes  : 

i.^  Mostra  o  conhecimento  que  havia  em  1861  das  florestas  da  ilha 
de  S.  Tbomè  e  Principe,  assim  como  os  productos  que  se  conheciam^ 
quer  agrícolas,  quer  fabris; 

2.^  A  necessidade  de  se  averiguar  bem  as  d^ominaç5es  vulgares 
e  a  de  substiluii-as  por  denominações  correctas  e  bem  determinadas  em- 
quanto  não  se  divulguem  as  scientiGcas; 

3.^  Serve  de  termo  de  comparação  para  se  aferir  o  progresso  agrí- 
cola da  ilha  de  S.  Thomé  desde  1861  até  1872. 

3.*  Lista  das  madeiras,  productos  natnraes  e  de  indostria  africola  e  fabril  da 
iika  de  8.  Thomé  no  anno  de  186S. —  Madeiras.  Agua,  amá,  amoreira,  azeito- 
na, bálsamo  de  S.  Thomé,  bebé,  bengue,  cabra,  cadeira,  cncbSo,  caju, 
capitão,  colla,  cla-cia,  colma-frio,  canella,  café,  cata,  chico-mone,  dumo, 
flgo-porco»  fabao,  fructo-instrelé,  guigo,  gofe,  gogó,  gambo,  goiaba,  gra- 
matí,  inhé-branco,  inhé-preto,  inhé-bobó,  iogó,  ime-mé,  izaqoente,  in- 
gie-lé,  jaca,  laranja-malo,  laranja-mucambu,  lembá,  libo,  luba,  manguei- 
ra, mucumblé,  macambrará,  muindo,  muciquiné,  mangue,  miníngobo, 
mam?io«  mule-mule,  mui,  nespera,obá,  obatá,  ocá,  pecego,  preto,  preto- 
remédio,  pagaoé(paga-olho),  quimé,  quine,  quedano,  sucupira,  salambá. 
sapopo,  soá-soá,  tabaque,  uzubi,  zamumo,  viro,  vermelho,  untuan,  vinte 
e  quatro  horas,  pau-gamella  e  gucegue. 

Productos  naturaes  e  de  industria  agrícola  e  fabril. — Café,  cacau, 
azeite  de  palma  ou  de  dendem,  azeite  de  caroço  de  dendem,  azeite  de 
coco,  azeite  deiza,  fructa-pão,  fructa  izaquente,  preparado  para  extrahiro 
oleo  e  para  alimentação  ordinária  do  paiz,  pinhas  de  andim  ou  dendem, 
fructo  da  arvore  izaquente,  farinha  de  mandioca,  canella,  algodão,  cana- 
flsiula,  caroço  de  dendem,  pinhas  de  jaca  ou  fructo  doesta  arvore,  pi- 
menta, malagueta,  inhame,  batatas,  cócó,  safu,  colla  (fructo),  gengibre, 
mendobim,  sal,  semente  de  purgueira,  balata  doce,  canna  de  assucar.  fi- 
gos do  reino  e  romãs. 

Ao  terminarmos  as  i^ossas  considerações  acerca  dos  productos  da  ilha 
de  S.  Thomé,  diremos  que  as  madeiras  estão  confundidas  entre  arvores 
ordinárias,  fructiferas  e  até  entre  arbustos,  como  se  vê,  comparando  a 
lista  das  madeiras  referidas  a  1861,  a  1865  e  a  1872,  vindo  a  faltar 
n'aquelle  anno  17  paus,  que  em  1872  foram  dados  como  madeiras,  em- 
quanto  que  em  1861  faltavam  15  paus. 

É  certo,  porém,  que  um  grande  numero  de  boas  madeiras  Dão  é  ainda 


607 

conhecido  de  todos,  e  que  os  paus  recebem  nomes  differentes,  segundo 
as  localidades  e  até  segundo  as  Tazendas  em  que  são  cortados. 

Nos  capítulos  anteriores  apresentámos  a  importância  das  exportações, 
as  quantidades  e  qualidades  dos  diversos  artigos,  e  outros  esclarecimen- 
tos tendentes  a  mostrar  a  prosperidade,  bem  como  a  decadência  ée  algu- 
mas culturas,  e  por  isso  não  podemos  deixar  de  publicar  também  aqui  o 
numero  de  exportadores  dos  productos  dos  reinos  v^etal  e  animal  nos 
annos  de  1873  e  4874. 


608 


Eip«r(a4we8  de  arUiM  eolMiaes  n  ilkt  fc  8.  llMBé 
MS  iBMS  de  4873  e  1874 


1873 


1874 


Arligot 


I 


/ 


Cãié.... 

Cacan... 
Aleite  .. 
Madeins. 


ArarnU 

Aieite  de  coco. 

Aleite  de  palma 

Balaamo. ...•...• 

Bamboa 

Cacau. 

Café 

CocoDote 

Cocos 

Gingttba 

Gomma 

Farinha  de  mandioca. .  • . 

í  Barrotes 


Madeira l  Tábuas. . .  • 


I 


( 


(  Desolbo.. 
(  De  mindo. 


lOpá 

vTartamga. 


Vigas 


Noneio 

d» 


I5Í 

06 

4 

16 


St? 


2 
I 
4 

I 
i 

77 
186 
7 
5 
1 
I 
5 
t 
6 
i 
I 
I 
7 

309 


\ 


Visiá  do  rio  Agua  kiibiii.  i  pouca  distancia  da  foi.  na  ilha  de  S.  Tboní. 
Laiadeiiai  da  faionda  Agua-lié. 


OAPlTin.0  XV 
Reino  animal 


Parece  quu  a  classiHcaçâo  vKtlo^ioL  Unu  oerU  iiu|K>r- 
Uncia,  e  os  naUiralislas  qoe  m  occupam  <l'este  esladu 
em  Angola,  por  conta  do  governo,  deviam  passar  alguns 
mezM  em  S.  Thomé. 

(HelMtorio  de  1880,  pag.  363  o  264.) 


k\e»,  reptis,  peixes,  etc.  —  Bois,  cavallos,  cabras,  ele.  —  Productos  zoológicos 

Jorge  Cuvier  dividiu  o  reino  animal  em  quatro  series,  baseando-se 
nas  modificações  do  systema  nervoso *;  a  primeira  comprehende  os  ani- 
maes  vertebrados,  a  segunda  os  articulados,  a  terceira  molluscos  e  a 
quarta  os  radiarios. 

A  classificação  d'aquelle  naturalista  é  geralmente  seguida^  e  é  a  ella 
(]ue  nos  referimos  no  presente  trabalho. 

1.*  Serie  —  Animaes  vertebrados 

Mamniiferos.  —  Ha  morcegos  notáveis,  que  habitam  em  furnas,  tanto 
na  costa  da  ilha  como  nas  margens  de  alguns  rios^;  é  linda  a  espécie  de 


1  É  polo  profundo  exame  da  anatomia  comparada  que  se  demonstram  as  diflíe-  ^ 
roncas  materíaes  dos  centros  nervosos  do  homem  e  dos  animaes ;  no  systema  de 
Linneu  foram  reconhecidos  os  erros  por  i^eio  d*aquelle  exame,  e  tornou-se  inadmis- 
sível a  sua  classificação  zoológica,  e  com  pezar  se  vé  os  médicos  nao  estudarem  as 
doenças  dos  animaes,  as  quaes  são  ainda  pouco  conhecidas.  Os  progressos  das 
sciencías  naluraes  são  morosos,  roas  o  fíat  lux  é  a  aspiração  sublime  e  nobre  dos 
obreiros  do  progresso. 

2  Na  classificação  de  Cuvier  o  jurando  reino  lioniinal  está  encravado  na  classe 
dos  mammiferos,  !.•  ordem,  i.'  sub-classe;  felizmente  ficou  primeira  a  todos  os  res- 
peitos. 

3  Os  morcegos  téem  o  nomo  de  yuembrise.  As  fumas  do  Rio  de  Ouro  são  espa- 
çosas e  uma  está  a  £.  da  ilha.  Não  se  encontra  ali  uma  arvore  como  aquella  que 
o  dr.  Repin  viu  no  reino  de  Dahomé  (Le  tmr  du  monde,  vol.  l.»,  1863,  pagina  76). 

39 


610 

doninhas  que  appareceai  frequentemente;  os  ratos  são  muitos  e  prejudU 
cialissimos  nas  casas  e  nos  campos  ^ ;  encontra-se  uma  espécie  de  gato  al- 
galia,  que  deixa  um  cheiro  muito  similbante  ao  do  almíscar;  os  cães  re- 
produzem-se  espantosamente  e  incommodam  muito  os  habitantes  da 
cidade';  os  gatos  são  mansos;  os  porcos  são  medianos^  e  encontram-se 
bastantes  bravos  pelos  matos;  os  cavallos  são  raros  bem  como  os  jumen- 
tos ;  ha  bodes,  carneiros,  bois  ^  e  cabras.  Ha  uma  só  espécie  de  macacos 
que  causam  damno  ás  plantações  ^  e  aos  fructos. 

Nas  proximidades  da  ilha  apparecem  algumas  baleias  que  não  são 
apanhadas  pelos  naturaes,  nem  pelos  navios  americanos  empregados  na 
pesca  doestes  manmiiferos. 

As  lagaias  ou  teixugos  são  prejudiciaes  porque  comem  as  gallinhas ; 
as  ovelhas  não  téem  lã  que  se  possa  applicar  em  tecidos ;  e  ha  apenas  al- 
gumas mulas  que,  conjunctamente  com  os  jumentos,  já  são  empregadas 
DOS  trabalhos  do  campo,  e  tiram  as  carroças  e  auxiliam  a  difficil  e  morosa 
conducção  dos  objectos  das  fazendas  para  a  cidade  e  vice  versa:  não 
obstante  poderiam  aclimar-se  outros  animaes  de  que  se  podesse  tirar 
vantagem  para  o  commercio  e  para  a  agricultura. 

Aves. — São  notáveis  os  milhafres  e  ha  feias  corujas;  encontram-se 
andorinhas,  cecias,  rolas,  pombos  bravos  e  mansos ;  as  codomizes  são 
numerosas,  assim  como  as  gallinholas  de  Guiné  e  as  gallinhas  bravas  ou 
do  mato;  podem  ver-se  alguns  pavões;  as  garças  são  brancas  ou  escuras, 


1  Os  ratos  são  grandes  e  multiplicam-se  prodigiosamente;  nos  cafetaes  sobem 
ás  arvores,  roem  a  casca  e  destroem  os  fructos. 

2  Os  cães  uivam  muito  de  noite,  o  que  causa  desagradabilissima  impressão; 
são  ordinários  e  de  má  casta  e  andam  em  grandes  alcateas  atormentando  com  seus 
lúgubres  uivos  os  habitantes  da  cidade,  que  se  regosijam  era  lhes  bater  e  maltra- 
tal-os. 

'  A  carne  dos  porcos  é  saborosa,  mas  nao  tem  boa  fama;  attríbuem-lhe  malé- 
fica influencia  e  asseveram  especialmente  que  causa  díarrhea,  dores  intestinaes  e 
outros  incommodos.  Nao  a  reputámos  prejudicial  á  saúde,  mas  recommendaremos 
sempre  que  se  faça  parco  uso  d^ella.  Lopes  de  Lima  diz  que  a  carne  de  porco  eri 
mais  saborosa  no  tempo  dos  engenhos  de  assucar. 

^  Ha  uma  manada  regular  na  praia  das  Conchas,  e  sabemos  que  nao  é  pequena 
a  da  praia  Bei  e  a  de  um  morador  da  cidade.  Pelos  matos  existem  também  alguns 
bois  bravos. 

^  Os  macacos  causaram  grande  prejuízo  nas  primeiras  plantações  das  cincho- 
nas  na  fazenda  denominada  Bio  de  Ouro,  as  quaes  em  1872,  segulido  as  informações 
do  fazendeiro,  estavam  alentadas  e  promettiam  boa  aclimação.  Sao  animaes  tão 
danminhos  como  os  ratos. 


6H 

acompanhando  aquellas  as  manadas  de  gado  nos  campos  ^ ;  ha  muitos 
patos,  e  são  de  um  verde  lindo  os  periquitos*;  ha  tordos,  carniceiras, 
milheiras  e  pastelins. 

Os  ossobos  s5o  lindíssimos,  mas  nao  se  conservam  em  gaiolas*.  Di- 
zem que  têem  canto  agradável  e  sonoro. 

Nomeiam-se  a  canobia,  o  inquieto  tacli,  o  olho  grosso,  o  pardal  *, 
moquem  ^  o  tordo,  a  carniceira,  o  melro,  o  falcão,  o  mocho,  o  rabo  de 
junco,  o  cordivão,  o  estorninho,  o  xinxolo,  o  papaflgo,  o  maçarico,  etc. 

São  numerosas  e  variadas  as  aves  na  ilha  de  S.  Thomé  e  algumas 
d'ellas  téem  particularidades  que  as  tornam  curiosas.  Ha  uma  espécie  de 
passarinhos  pequeníssima,  e  a  ave  maior  parece  ser  a  gallinha  de  Guiné. 

Pouca  gente  se  entrega  ao  exercício  da  caça,  nem  ella  proporciona  a 
distracção  que  n'outros  paizes  ofiferece. 

Reptis. — Ha  duas  espécies  de  tartarugas  uma  pequena  e  outra  maior; 
a  primeira  denomina-se  sarda  e  a  outra  ambó  ^  aproveitando-se  apenas  a 

1  As  garças  brancas  andam  em  numerosos  bandos  e  á  noite  recolbem-se  no 
recôncavo  do  morro  Peixe,  o  qual  olha  para  o  mar;  é  surprehendente  a  vista 
d^aquella  face  do  morro,  a  que  se  pôde  chamar  com  verdade  superfície  láctea, 

2  Os  periquitos  vendem-se  a  100  e  a  140  réis  cada  um,  gostam  muito  de  safú 
e  acostumam-se  facilmente  ao  milho  pisado.  Em  1872  foi  o  anno  em  que  se  expor- 
tou maior  numero  d*estas  aves. 

É  notável  a  circumstancia  de  não  haver  aves  d'esta  espécie  na  ilha  do  Prín- 
cipe nem  papagaios  em  S.  Thomé. 

O  povo,  na  sua  poesia  sublime  e  rude,  procura  explicar  estes  factos,  e  dá  como 
causa  do  phenomeiío  a  guerra  entre  os  falcões  e  os  papagaios,  que  ciosos  das  suas 
terras  não  consentem  que  os  outros  lh'as  devassem. 

3  A  fêmea  do  melancólico  ossobo  não  faz  ninho  para  si;  deposita  os  ovos  nos 
dos  outros  passarinhos,  que  assim  trabalham  em  seu  logar.  É  de  cores  muito  boni- 
tas e  agradáveis  á  vista,  o  que  contrasta  com  o  seu  proceder  egoísta. 

*  Asseveram  algumas  pessoas  que  ha  pardaes  com  canto. 

5  É  triste  o  gemido  do  moquem  e  causa  triste  impressão  a  quem  ao  anoitecer 
percorre  a  ilha  de  S.  Thomé ;  ha  grande  numero  d'estes  pássaros. 

^  A  caça  da  tartaruga  faz-se  em  dezembro  e  janeiro  ou  desde  outubro  a  feve- 
reiro. 

As  fêmeas  vem  á  praia  para  depor  os  ovos  na  areiíu  lia  prelos  estacionados, 
e  de  vigia,  que,  quando  ellas  se  preparam  para  a  postura,  se  approximam  voltando- 
Ihe  as  costas;  por  este  meio,  conseguindo  a  caça,  colhem  também  grande  quanti- 
dade de  ovos  tanto  em  casca  como  em  gemma,  que  vendem  aos  vinténs.  O  macho 
é  apanhado,  ás  vezes,  em  redes. 

A  tartaruga  ambó  tem  armadura  de  má  qualidade  e  é  muito  maior  do  que  a 
sarda,  de  cuja  concha  se  tiram  treze  cascos  ou  pedaços  que  se  desarticulam  bem. 
Da  couraça  não  se  faz  caso.  A  carne  doestes  dois  reptis,  depois  de  bem  preparada, 
é  saborosa  e  serve  para  alimento.  Yeude-se  a  peso,  e  os  naturaes  procuram-na 
com  prazer. 


l 


61i 

casca  das  de  espécie  pequena,  que  é  íiua  e  de  primeira  qualidade.  Tam- 
bém se  encontram  os  kagados,  ou  tartarugas  de  agua  doce. 

Encontram-se  alguns  lagartos,  lagartixas  e  as  innocentes  osgas  que 
habitam  nos  tectos  e  nas  paredes  das  casas  para  apanharem  insectos  e 
outros  animaes  de  que  se  nutrem.  São  muitas  e  variadas  as  espécies  de 
cobras,  distinguindo-se  bem  a  denominada  cobra  preta,  a  qual  habita  os 
matos  e  especialmente  as  terras  do  S. 

Batrachios  oa  amphibios. — Ha  rãs,  sapos  e  salamandras.  Da  rã  não  se 
prepara  comida  alguma»  como  se  usa  em  alguns  paizes. 

Peiíes.  —  Apresentámos  a  lista  dos  peixes  que  todos  os  informadores 
dão  com  o  intuito  de  chamar  para  as  ilhas  a  attenção  dos  curiosos,  dos 
zoologistas  e  dos  poderes  públicos,  a  fim  de  que  a  pesca  se  faça  com  or- 
dem, e  possa -constituir  uma  fonte  de  riqueza  e  de  abundância  D*esta  ilha» 
a  todos  os  respeitos  a  primeira  entre  as  primeiras  do  mundo  tropical. 
Eis  aqui  a  lista  dos  nomes  vulgares  dos  que  ali  se  encontram: 
Corcovado,  cacon  (espécie  de  corcovado),  sele  (bom  para  comer), 
alada  (óptimo  assemelhando-se  no  gosto  ao  sável),  cherne  (bom),  sopa, 
vermelho  da  terra  (bom),  vermelho  do  fundo,  pargo  (bom),  bica  (bom), 
tainha  (bom),  carapau  (de  boa  venda  para  os  pobres),  sardinha  S  bubú 
(tem  muitas  espinhas),  usa  ou  raia,  tubarão  (gandú)  ^  baleia,  baleote,  to- 
ninha, boto,  xinxim,  garoupa  (muito  bom),  sabão,  rainha  (pequeno),  asno 
(bom),  salmonete,  agulha  ^,  mati-pombo,  parenti  (bom),  bisugo  ou  be- 
sugo,  bicudo,  bonito  (bom),  caqui,  mero  *,  chuva,  mulato,  coelho  (coê), 


(  A  sardinha  é  pequena  e  parece  haver  differentes  espécies,  mas  nâo  coosla 
que  haja  alguma  venenosa.  Pesca-se  á  rede  e  vende-se  a  retalho  nas  praças  depois 
de  fumada  e  secca.  Carregada  em  moletes,  que  são  urna  espécie  de  cestos  feitos 
de  folhas  de  palmeira  forrados  de  folhas  de  bananeiras,  cada  carga  d*estas  produz 
3ÍS000  réis. 

2  Sào  muitas  as  espécies  de  tubarões  e  alguns  d'elles  muito  ferozes.  Entre  ou- 
tros, contam-se  o  tuharào-marta,  tubarão-toninha,  tubarao-maria-agua,  tubarão- 
coco,  tubarão-toto,  tubarão,  tubarão-linteiro.  O  tubarão-toninha  tem  enormes  den- 
tes e  é  de  todos  o  mais  feroz.  São  frequentes  em  alguns  legares  da  costa  da  ilha, 
e  especialmente  na  ponta  ou  restinga  Diogo  Nunes.  O  tubarão  é  conhecido  na  terra 
pelo  nome  de  gandú,  e  os  naturaes  comem-no  depois  de  ter  apodrecido;  isto  é, 
achara-no  assim  maduro! 

3  O  peixe  agulha  é  pescado  ao  candeio.  Os  naturaes  juutam-se  em  numero  de 
mais  de  cincoenta,  approximadamente  pelas  sete  horas  da  noite,  e  mettidos  em  ca- 
noas, formadas  estas  em  linha,  assim  se  preparam  para  o  fisgarem  quando  vem  ao 
lume  de  agua  attrahido  pela  luz. 

^  É  um  dos  grandes  peixes  da  costa  da  ilha;  chega  a  ter  3  a  4  metros  de 


hnrbailn,  miissang;'!,  jndon,  rorvina,  voador*,  cosinheira  (hom),  líadejo, 
rohalo,  liiií,'uado,  bodião,  pacalá^  prombeta,  peixinho^, malaguela, bobó- 
queinaá,  lixa,  boto,  plogá,  bagri,  alambá,  serra,  moçangá,  bonga,  celva- 
cora  ou  alvacor,  bebecá,  agolha-buzina,  agulba-espada,  coê  ou  coelho  do 
alto  mar,  corta-olho  (corta vô),  morêa,  barbado,  olêiê,  peixe-porco,  bo- 
lhão, etc. 

Esta  lista  contém  as  diversas  espécies  de  peixes,  segundo  as  notas  dos 
informadores  que  consultámos  a  este  respeito  ^.  Ha  ali  peixes  bem  conhe- 
cidos e  já  classificados;  os  nomes  scientificos  do  maior  numero  estão  em 
muitos  livros,  mas  nós  pretendemos  apenas  relatar  ou  informar  e  n3o 
fazer  sciencia.  Os  livros  doesta  ordem  escrevem-se  em  condições,  como 
se  concederam  aos  naturalistas  Anchieta  e  Welwilsch. 

Os  peixes  multiplicam-se  por  meio  de  ovos,  sendo  estes  deixados 
pelas  fêmeas,  nas  praias,  em  logares  abrigados.  Nem  todos  procriam  d  este 
modo,  mas  aquelles  que  andam  mais  próximos  ás  praias  desenvolvem-se 
por  este  meio  e  d'aqui  se  vê  o  prejuízo  que  a  pesca  do  chamado  peixinho 
rausa  á  riqueza  publica  da  ilha. 

A  pescaria  representa  nos  paizes  cíviiisados  um  ramo  de  commercio 
notável  e  concorre  com  vantagem  para  a  alimentação  publica ;  n'esta  ilha 
nâo  se  attende  a  cousa  alguma  I 

Com  a  enumeração  dos  peixes  completámos  as  cinco  classes  dos  ani- 
mães  vertebrados  ou  a  primeira  serie  dos  animaes,  segundo  Cuvier,  reti- 
rando da  primeira  classe  o  reino  hominal,  de  que  fallaremos  no  capitulo 
seguinte. 


comprimento;  é  feroz  e  infeliz  do  homem  que  cair  ao  mar  próximo  ao  logar  em 
que  elle  estiver. 

1  Faz-se  em  junho  e  julho  a  pesca  do  voador,  que  apparece  em  grande  abundân- 
cia. Os  naturaes,  n* estes  mezes,  carregam  canoas  e  téem  a  singularidade  de  o  pôr 
ao  tempo  para  o  comerem  bem  podre.  Téem  n*isto  grande  fé!  Pescam-no  lambem 
á  linha,  mas  uos  mezes  referidos,  saem  ao  mar  munidos  de  folhas  seccas  e  palha, 
que  espalham  convenientemente,  e  o  peixe,  envolvendo-se  ahi,  facilmente  é  apa- 
nhado e  passado  para  as  canoas. 

2  O  peixinho  é  apanhado  na  foz  dos  rios.  Dois  pretos  collocados  em  pontos 
oppostos,  pegam  n*um  panno  bastante  comprido,  que  emergem  na  agua,  e  esperam 
os  cardumes,  e  quando  estes  passam  por  cima  do  panno  levantam-no,  colhendo 
assim  milhares  de  pebeinhos.  Isto  repete-se  por  centenares  de  vezes  e  em  quasi 
todos  os  rios.  Preparam-no  depois  em  massa  e  é  vendido  a  retalho  na  praça;  tam- 
bém se  come  guisado.  Esta  pesca  é  prejudicial  e  barbara,  e  deve  acabar. 

3  Aos  srs.  commendador  Jacinto  Carneiro  de  Sousa  e  Almeida  e  seu  irmào 
o  barão  de  Agua-Izé,  Joaquim  António  Bahia  e  Paschoal  Barreto  de  Sousa  e  Al- 
meida devemos  a  indicação  dos  peixes  por  elles  conhecidos.  Aproveitamos  a  pre- 
aenti»  occasião  para  agradecermos  lào  valioso  auxilio  para  os  estudos  d  Vsla  ordem. 


614 


2.*  Serie  ^Anlmaes  artlonlados 

Insectos. — Ha  muitas  carochas  e  besouros ;  o  louva  a  Deus ;  os  grillos 
sSo  de  ires  qualidades,  e  os  gafanhotos  frequentes ;  as  formigas  s3o  de  ya* 
rias  espécies  e  uma  d'ellas  denominada  lobo  contém  individues  grandes  e 
avermelhados ;  as  abelhas  existem  em  enxames  pelos  matos  *- ;  apparecem 
borboletas  grandes  e  de  lindíssimas  cores';  as  mariposas  nao  desmentem 
o  seu  triste  fado  quando  entram  n'um  quarto  onde  ha  luz ;  as  pulgas  não 
s3o  raras,  as  moscas  são  abundantíssimas  e  as  meigas  de  um  incommodo 
atroz  ^,  assim  como  os  mosquitos  ^. 

O  bicho  de  seda  exige  para  a  sua  propagação  uma  temperatura  de  20^ 
Reaumur  ou  25®  centígrados,  e  é  por  isso  evidente  que  elles  se  podem 
aclimar  nas  fazendas  altas  desde  a  villa  da  Trindade  para  cima  ^. 

Ninguém  poderá  contestar  a  utilidade  da  creação  do  bicho  de  seda,  e 
a  sua  íntroducçSo  não  se  fará  demorar  muito,  se  o  governo  atteuder  ás 
justas  e  imperiosas  necessidades  da  ilha  de  S.  Thomé. 

Os  estragos  do  cupim  ^,  os  seus  notáveis  castellos  de  barro,  que  elle 
construo  por  entre  os  matos,  são  dignos  de  estudo  e  de  obsarvação.  O  bi- 
cho pólvora,  que,  quando  se  lhe  toca,  exhala  fumo  com  pronunciado  cheiro 
a  pólvora,  d'onde  lhe  veiu  o  nome,  também  deve  ser  examinado. 


1  Ás  abelhas,  que  produzem  o  mel  e  a  cera,  nâo  se  lhes  presta  a  menor  atten- 
çâo!  Avalíe-se  por  esta  e  por  outras  cousas  as  riquezas  que  ali  se  perdem  I 

'  Ás  vezes  as  borboletas  apparecem  em  bandos  extraordinários,  o  que  cansia 
surpreza  aos  mais  indiíTerentes,  como  succedeu  cm  1869;  nas  ruas  da  cidade  pas- 
savam 6  volitavam  milhões  e  milhões  d'estes  pequenos  insectos,  elegantes  e  pretos. 

3  O  modo  de  afugentar  as  meigas  e  evitar  o  terrível  incommodo  que  eausam 
é  fazer  uma  fogueira  à  porta  da  casa  se  é  térrea,  e  não  se  limitar  somente  a  defu- 
mar. 

^  Muitos  são  os  pareceres  dados  com  o  intento  de  afugentar  os  mosquitos, 
l^m-se  aconselhado  a  agua  de  Labarraque,  que  já  experimentámos  sem  bom  re- 
sultado; ha  porém  a  tradição  de  que  os  ramos  do  paa  ama  téem  a  virtude  de  os  afu- 
gentar dos  quartos  em  consequência  do  cheiro  activo  que  exhalam.  O  melhor  meio 
de  os  evitar  é  fechar  cedo  as  janellas,  ter  um  bom  mosqueteiro  e  sacudir  e  limpar 
bem  o  quarto  da  cama. 

^  São  numerosos  os  alto-planos  em  que  é  constante  a  temperatura  de  SS**  cen- 
tígrados. Se  por  desgraça  nossa  vivemos  na  localidade  mais  quente  e  mais  insahi« 
bres,  saiba-se  ao  menos  que  n*esta  Uha  existem  logares  salubres  em  que  se  podon 
levantar  agradáveis  vivendas. 

^  Os  estragos  do  salalé,  cnpim  ou  >thermes  são  grandes.  Este  insignificante  ani- 
mal faz  prodígios.  Chega  a  atravessar  de  lado  a  lado  um  monte  de  saccas,  n'mna 
só  noite,  reduz  a  pó  uma  arvore  e  levanta  montes  de  barro  amarello  que  são  da 
altura  de  um  homem  I 


615 

lyriapodos. — Abundam  as  centopeias  nas  casas,  as  quaes,  quando  são 
feitas  de  madeira  ordinária  e  se  tornam  velhas,  contéem  estes  anímaes  aos 
centos. 

Aradmides. — Ha  muitas  espécies  de  aranhas,  e  as  teias  que  algumas  fa- 
zem são  curiosas  pela  sua  consistência  e  lindo  tecido ;  apparecem  os  la- 
craus e  as  tarântulas  nas  casas  velhas. 

* 
Crustáceos. — Ha  nos  rios  muitos  e  bons  camarões,  lagostas  e  diffe- 

rentes  espécies  de  caranguejos,  passando  por  venenosos  alguns  doestes 

creados  no  mar,  e  que  são  em  geral  de  cõr  vermelha ;  são  brancos  os  ci- 

TiSy  e  os  do  rio  azues. 

São  quatro  as  classes  da  primeira  sub-serie  dos  annelados,  emquanto 
que  na  segunda  se  contam  três;  mas  referimos  somente  duas  espécies. 

Não  consta  infelizmente  que  haja  sanguesugas  n'esta  ilha  ^  as  minho- 
cas servem  de  isco  aos  pescadores  de  anzol. 

3.*  Serie  — MoUusoos 

Esta  serie  de  animaes,  segundo  a  classificação  de  Cuvier,  não  tem  sido 
estudada»  sendo  aliás  muito  curiosa.  Damos  apenas  noticia  dos  molluscos 
verdadeiramente  característicos  nas  praias  d'esta  infeliz  ilha. 

Gephalopodos. — Encontram-se  n'esta  classe  as  lulas,  o  polvo,  os  argo 
nautas  e  as  sibas. 

fiasteropodos. — Os  búzios,  as  porcelanas  e  as  cypreas  são  abundantes, 
e  a  praia  das  Conchas  gosa  boa  fama  a  este  respeito  pela  quantidade  que 
ali  se  encontra. 

Acephalos. — As  ostras  são  abundantes  e  ha  outros  numerosos  mollus- 
cos, que  dão  variadas  e  lindíssimas  conchas. 

4.'  Serie— Radiarlos 

N'esta  serie  ha  cinco  classes,  mas  apenas  citámos  as  espécies  de  duas, 
as  estrellas  do  mar,  que  são  frequentes,  assim  como  as  esponjas  tanto 
finas  como  ordinárias. 


1  As  s«inguesngas  sào  ás  vezes  tào  altamente  reclamadas,  que  urge  por  todos 
os  meios  possíveis  fazer  com  que  ellas  se  aclimem  na  ilha.  As  que  apparecem  sÍo 
importadas  do  Gabão. 


6i6 

Limitámo-nos  a  escrever  os  nomes  vulgares  de  alguns  animaes,  lendo 
somente  em  visla  dar  uma  idéa  da  fauna  da  ilha  de  S.  Thomé. 

O  serviço  clinico  eslá  estabelecido  aqui  de  modo  que  o  facultativo  mal 
tem  tempo  de  descansar*. 

Se  a  fauna  d'esta  ilha  nâo  está  explorada,  a  de  Moçambique,  a  de  An- 
gola, a  do  Ambriz  e  a  de  Benguella  começou  ha  pouco  tempo  a  ser  conhe- 
cida. 

Tem  aqui  cabimento  fazer  menção  do  zeloso,  intelligente  e  sábio  dire- 
ctor do  museu  de  Lisboa,  que  procura  por  todos  os  meios  ao  seu  alcance 
animar  aquelles  que  se  entregam  a  enriquecer  a  sciencia,  expondo  a  vida 
nos  inhospitos  climas  da  Africa  tropical  e  equatorial. 

« Pareceme  conveniente  que  se  saiba  que  a  nossa  terra  também  pro- 
duz homens  dedicados  á  sciencia,  e  capazes  de  ir  a  climas  inhospitos.  ar- 
riscar a  vida  em  seu  serviço.  Ha  muito  que  admirar  e  aprender  n'este  ge- 
neroso desprendimento  de  considerações  egoístas,  n'esta  imprevidência 
sublime  com  que  se  gastam  os  melhores  annos  da  vida,  não  em  grangear 
riquezas,  o  que  exigiria  n'aquellas  regiões  menos  esforços  e  intelligencia, 
mas  em  dilatar  o  horisonte  da  sciencia  á  custa  de  sacriflcios  enormes.  Não 
se  acolha  ao  menos  com  indifferença  ou  com  sorrisos  de  estúpida  commi- 
seraçSo  a  quem  volta  da  Africa,  t3o  pobre  como  para  lá  fora,  trazendo  por 
únicos  haveres  alguns  caixotes  toscos,  cheios,  não  de  oiro  ou  de  marflm. 
mas  de  pelles  de  mammiferos  e  aves,  de  reptis,  de  insectos,  de  mil  baga- 
tellas,  adquiridas  á  custa  de  soffrimentos  e  de  perigos  que  só  á  mais  ex- 
tremada coragem  é  dado  affrontar  e  vencer  ^ » 

N'este  pequeno  quadro  ha  o  brado  do  homem  da  sciencia  em  favor 
dos  homens  do  progresso.  Os  facultativos  e  pharmaceuticos  que  v3o  servir 
no  ultramar  dão  exemplos  d'aquelles  arrojados  naturalistas,  sacrificando 
a  vida  e  o  futuro  das  famílias  em  prol  da  humanidade  enferma  e  voltam 
ao  paiz  mais  arruinados  e  pobres  I 

No  Jornal  de  sciencias  mathematicas,  physicas  e  naturaes  estão  pu- 
blicadas algumas  listas  das  aves  e  reptis,  principalmente  do  vasto  reino 
de  Angola,  enviadas  pelo  naturalista  J.  Anchieta;  com  respeito  á  ilha  de 
S.  Thomé  apenas  encontrámos  as  espécies  indicadas  no  n.^  2  do  mesmo 


1  O  facultativo  do  quadro  n*esta  ilha  nao  pôde  sair  da  cidade  sem  licença;  tem 
numerosos  corpos  de  delícto  que  Ibe  exigem  a  assistência,  tem  os  navios  qne  po- 
dem chegar  ao  porto  de  um  instante  para  outro,  e  o  serviço  clinico  do  hospital  ó 
diário.  N*estas  circumstancias  que  fazer? 

2  Introducção  á  lista  dos  reptis  das  possessões  portuguezas  da  Africa  Occiden- 
tal que  existe  no  museu  de  Lisboa,  por  J.  Y.  Barbosa  du  Bocage,  Jornal  de  stcien- 
cias  nuUhematicas,  physicas  e  naturaes,  publicado  sob  os  auspicies  da  academia 
real  das  sciencias  de  Lisboa,  n.*"  i,  novembro  de  1866,  pagina  39. 


(Hl 

jornal,  de  i8fi7,  as  qnaes  existem  no  museu  de  Lisboa.  São  valiosos  estes 
trabalhos,  e  lemos  d^elles  conhecimento  porque  o  seu  auclor,  o  sr.  J.  V. 
Barbosa  du  Bocage,  nos  offertou  os  números  em  que  publicou  as  referi- 
das listas;  se  assim  não  fosse  talvez  os  desconhecêssemos. 

cOs  trabalhos  d'estes  naturalistas  deviam  ser  impressos,  pelo  menos, 
de  seis  em  seis  mezes,  dizíamos  nós  na  pagina  259  do  relatório  de  1869, 
de  outro  modo  só  tira  proveito  d'estas  explorações  um  ou  outro  indi- 
víduo que  possa  estudar  as  coliecções  remettidas  para  Lisboa.»  E  pen- 
sámos ainda  do  mesmo  modo,  pois  entendemos  que  só  a  máxima  publi- 
cidade tornará  bem  conhecidas  as  riquezas  das  nossas  possessões :  ganha 
com  isso  a  sciencia. 

Vé-se  pois  que  ha  muito  a  fazer  para  a  exploração,  estudo  e  classiR- 
cação  dos  animaes  que  habitam  a  ilha  de  S.  Thomé. 

Têem-se  aclimado  ali  muito  bem  os  bois,  os  carneiros,  os  cavallos,  os 
c^es  e  os  porcos,  e  é  muito  útil  que  se  empreguem  todos  os  meios  possi- 
veis  para  que  estes  mammiferos  augmentem  e  se  espalhem  na  ilha. 

As  cabras  também  se  aclimaram  e  reproduzem-se  maravilhosamente; 
o  seu  leite  é  bom  e  útil,  assim  como  o  da  vacca,  que  é  mais  raro. 

O  bicho  da  seda  ou  phalena  da  amoreira  deve  ser  introduzido  nas  fa- 
zendas da  Cachoeira,  Monte  Café,  Alto  Douro,  Sacavém,  BemRca,  Ma- 
cambrará,  Plato  café.  Quinta  das  Flores,  etc. 

A  distribuição  geographica  dos  animaes  prova  indirectamente  que  o 
homem  tem  única  origem,  e  se  é  cosmopolita  conserva  sempre  as  formas 
do  centro  commum  d'onde  partiu. 

Nos  poios  predominam  os  molluscos,  os  peixes  e  os  insectos,  nos  tró- 
picos os  leões,  os  tigres,  e  em  Qm  os  animaes  maiores,  mais  elegantes  e 
formosos;  o  homem  originário  da  Ásia,  isto  é,  de  um  centro  médio  a  res- 
peito dos  climas  frigidos  e  tórridos,  não  adquire  formas  bellas,  elegantes 
e  agradáveis  nos  trópicos,  pelo  contrario  torna-se  fraco  e  esverdinhado; 
se  é  branco  chega  a  perder  a  sua  cõr,  a  qual  de  séculos  para  séculos  se 
transforma  em  parda,  negra,  cobreada,  etc. 

Phenomenos  particulares  se  observam  também  nos  climas  frigidos. 

Os  macacos  não  podem  viver  para  lá  dos  trópicos ;  produzidos  nos  cli- 
mas quentes  ali  téem  a  sua  localidade  própria  sem  a  poderem  ultrapassar. 

Se  os  animaes  estivessem  nas  mesmas  condições  do  homem,  seria  in- 
classificável o  seu  procedimento  a  respeito  d'elles. 

Os  homens  procuram  obter  raças  puras  de  animaes,  destroem  umas, 
protegem  outras,  educam-nos  para  lhes  serem  proveitosos,  e  matam  um 
grande  numero  d'elles  para  a  sua  alimentação.  E  poderiam  obrar  d'este 
modo  sem  que  as  leis  da  natureza  o  permittissem?! 

O  assumpto  é  vasto,  e  levar-nos-ia  muito  fora  dos  limites  do  que  nos 


618 

propozemos  tratar,  e  por  isso  repetiremos  apenas  que  os  homens  podem» 
segundo  as  leis  da  natureza,  fazer  dos  animaes  tudo  o  que  desejem  em 
seu  proveito  particular  e  da  sociedade  em  geral. 

c  E  Deus  creou  o  homem  á  sua  imagem  e  disse-lhe :  Senhorea  sobre 
os  peia^es  do  mar,  sobre  as  aves  do  céu  e  sobre  todo  o  animal  que  se  move 
sobre  a  terra.»  (Génesis,  cap.  1.®) 

Pelo  que  deixámos  dito  vé-se  claramente  o  quanto  o  solo  da  ilha  de 
S.  Thomé  produz,  e  muito  mais  valiosos  seriam  os  lucros  a  auferir  se  se 
cuidasse  da  sua  exploração  com  o  methodo  e  com  as  precauções  que  a 
sciencia  aconselha. 


^ 


CAPITULO  XYI 
Reino  hominal 


Os  homens,  p«la  estrnetnra,  pela  força  que  os  ani- 
ma e  vivifica,  são  inteiramente  dilTerentes  de  todos  os 
onlros  seres;  constituem  um  grupo  com  caracteres  dis* 
ti  netos  e  exciQsivos,  devendo  por  isso  formar  um  reino 
Á  parte  —  o  reino  homiotl. 

(Relatório  de  1869,  pagina  S73.) 


Origem.  —  Doutrini  de  L.  Agassiz;  theoria  de  Darwin;  exame  critico.— Unidade  do  género  humano. — 
Dispersão  e  forma-lo  das  raças;  sua  reunião  nas  planicies  banhadas  pelo  Tigre  e  Euphrates.— Ca* 
racteres  dislinctos  e  exclusivos  no  reiuo  hominal. 

Para  darmos  uma  demonstração  bem  fundamentada  da  divisão  dos 
seres  que  povoam  a  superfície  da  terra  em  quatro  grandes  reinos,  são  ne- 
cessários elementos  que  não  é  possivel  obter  n'uma  ilba  como  a  de 
S.  Thomé,  onde  apenas  se  encontram  poucos  europeus,  alguns  america- 
nos e  asiáticos  entre  muitos  africanos.  É  todavia  certo  que,  sem  preten- 
dermos resolver  a  questão  da  origem  do  homem,  podemos  entrar  D'ella, 
dizendo  o  que  pensámos  a  tal  respeito. 

Começámos,  pois,  por  observar  que  os  africanos  que  povoam  as  ilhas 
de  S.  Thomé  e  Príncipe  são  muito  similhantes  aos  europeus*.  A  elegância 
de  formas,  o  rasgado  dos  olhos,  a  disposição  da  testa  e  o  porte  agradá- 
vel, apparecem  igualmente  n'uns  e  n'outros. 

Não  serão  certamente  os  ângulos  de  Gamper,  a  modificação  dos  pés, 
a  grossura  dos  lábios,  a  saliência  dos  seios  maxillares  que  hão  de  servir 


*  O  npgro  de  Guiné,  depois  de  passar  para  a  America,  approxima-se  do  branco, 
não  só  quanto  à  côr  da  pelle,  mas  também  relativamente  ao  craneo  e  á  intelligen- 
cia;  perdeu,  alem  disso,  o  cheiro  característico  da  sua  raça. 

É  um  facto  do  domínio  da  sciencia,  que  o  negro  independentemente  do  cruza- 
mento com  o  branco,  mas  vivendo  no  meio  d'elle,  sob  a  acção  do  mesmo  clima  e 
com  alimentação  quasi  idêntica,  approxima-se  do  branco  um  grau  por  cada  gera- 
ção, (í^  Darwinísnie,  par  Émile  Ferrière,  1872,  pagina  392.) 


6S0 

para  so  pôr  cm  relevo  a  dilTerença  enlre  os  indígenas  das  ilhas  de  S.  Tho- 
me  e  Principe  e  os  europeus  que  as  habilam^ 

A  primeira  vista  acode  logo  á  mente  a  idéa  de  que  pretos  e  brancos 
são  irmãos.  Mas  os  cafres,  liottentotes,  malaios,  esquimaus  e  outros  indí- 
viduos  que  elevam  alterosa  a  cabeça,  olhando  sobranceiros  para  a  terra 
e  procurando  dominar  o  espaço,  estarão  no  mesmo  caso  em  que  se  acham 
ali  os  pretos  e  os  brancos? 

As  nossas  considerações  téem  forçosamente  de  ser  resumidas.  Repre- 
sentam antes  um  voto  do  que  uma  demonstração.  Cumpre-nos,  porém, 
explicar  o  motivo  que  nos  levou  a  estudar  similhante  assumpto  e  as  ra- 
sões  que  temos  para  dizer  que  a  verdadeira  doutrina  acerca  da  origem 
do  homem  é  aí&rmada  pelos  monogenistas^.  Antes,  porém,  de  entrar  na 
parte  principal  da  questão,  parece-nos  de  alguma  vantagem  reproduzir 
aqui  o  que  a  tal  respeito  expozemos  no  relatório  do  serviço  de  saúde  re- 
ferente ao  anno  de  1 869  ^. 

Eis-aqui  o  que  ali  se  lè: 

I 

ff  A  historia  natural  estuda  o  homem,  os  animaes,  os  mineraes,  os  ve- 
getaes.  E  importante  este  estudo,  e.  postoque  não  seja  compativel  com  a 


>  As  ilhas  de  S.  Thomé  c  Principe  estavam  despovoadas  na  epocha  em  qoe  fo- 
ram descobertas. 

2  Ao  desembarcar  na  ilha  do  Principe,  em  30  de  setembro  de  1867,  mal  jul- 
gávamos que  íamos  encontrar  um  preto  no  logar  de  escrivão  do  adjunto  da  fa- 
zenda publica.  Na  primeira  conversação  que  tivemos,  mostron-se  agradável  e  re- 
velou íntelligencia  clara.  A  cabeça  era  bem  feita,  e  o  rosto  bem  desenhado.  Inspi- 
rava sympathia. 

As  nossas  relações  estreitaram -se  durante  a  nossa  estada  na  ilha  e  fomos  sem- 
pre  amigos.  Este  acontecimento,  tão  simples  na  sua  essência,  dispoz-nos  todavia 
para  examinar  uma  questão  em  que  havíamos  entrado  no  tempo  de  estudante,  mas 
sobre  que  não  tínhamos  idéas  bem  definidas. 

Devemos,  porém,  confessar  que  a  nossa  posição  de  empregado  publico  nio  nos 
permíttia  estudar  um  assumpto  que  demandava  observações  muito  especiaes  e  para 
as  quaes  não  nos  sobrava  tempo.  Perguntávamos  muitas  vezes  a  nós  mesmos  se  os 
pretos  teriam  a  mesma  origem  dos  brancos,  ou  se  teriam  sido  creados  em  epochas 
e  em  logares  differentes.  Formulávamos  d' este  modo  uma  parte  da  questão  acerca 
da  origem  do  homem,  e  não  podíamos  chegar  a  qualquer  resultado  sem  estudar  os 
factos.  Não  o  tendo  podido  fazer,  cumpria-nos  examinar  os  trabalhos  dos  homens 
de  sciencia  que  se  tivessem  occupado  do  assumpto.  Aqui  apresentámos  os  primei- 
ros delineamentos  do  nosso  estudo  em  tão  importante  questão.  É  apenas  um  en- 
s^iio. 

3  Estivemos  na  ilha  do  Príncipe  desde  30  de  setembro  de  4867  até  melado  do 
anno  de  1868,  em  que  passámos  para  a  de  S.  Thomé. 


mi 

extensão  de  um  relatório,  julgámos  necessário  mencionar  o  que  a  scien- 
cia  tem  ensinado  a  seu  respeito. 

cDe  todos  os  problemas  da  sciencia  humana,  aquelles  que  téem  o  ho- 
mem por  objectos  sao  os  que  em  todos  os  tempos  offerecem  grande  e 
importantissimo  interesse. 

ff  Para  uns,  o  homem  è  um  reino  da  historia  natural,  e  para  outros, 
uma  classe.  Ha  quem  o  considere  uma  ordem  dos  mammiferos,  um  gé- 
nero e  até  uma  espécie  do  mesmo  género,  na  qual  entram  outras  espé- 
cies de  animaes  1 1 

«La  Metbéríe  disse: 

ff  O  homem  é  a  primeira  espécie  do  macaco,  e,  sendo  organisado  como 
elle,  tem  os  mesmos  costumes,  os  dos  frttgiveros.i^ 

ff  A  consciência  própria  falia  mais  alto  do  que  taes  discursos  e  pala- 
vras. 

ffA  dignidade  de  cada  um  repelle  immediatamente  comparações,  que, 
nem  brincando,  se  podem  admitlir.  Se  em  tal  assumpto  fosse  necessário 
invocar  a  opinião  de  homens  auclorisados,  recorreriamos  á  de  quem  con- 
siderou o  homem  sem  igual,  ouviríamos  Línneu : 

ffO  homem  é  uma  intelligencia,  servida  por  órgãos,  movidos  por  um 
agente  dynamico ;  não  está  n'este  caso  nenhum  outro  ser  da  natureza. 

ff  As  descobertas  a  respeito  da  natureza  e  das  suas  leis,  e  o  conhe- 
cimento dos  seres  que  ella  contém,  levam  e  dirigem  naturalmente  as 
investigações  para  o  homem,  o  mais  perfeito  ser  de  toda  a  creaçUo, 
e  marcam-lhe,  por  assim  dizer,  o  seu  logar,  o  seu  principio  e  o  seu  iim. 

«O  homem  está  collocado  na  grande  e  extensíssima  cadeia  dos  seres 
organisados.  Carus  fez  d'elle  uma  só  classe ;  considerou-o  a  synthese  de 
todo  o  seu  quadro  zoológico.  Daubenton  considerou-o  o  rei  dos  três  rei- 
nos da  natureza,  por  não  achar  n^estes  logar  para  elle. 

ffEnlre  humanidade  e  animalidade  está  um  abysmo ;  não  ha  meio  ter- 
mo que  possa  fazer  a  transição. 

«O  orangotango,  reputado  o  ser  mais  perfeito  das  famílias  dos  maca- 
cos, está  tão  afastado  da  espécie  humana,  quão  próximo  ás  outras  espé- 
cies da  mesma  família.  Assim  o  escreve  com  muita  rasão  Macedo  Pinto, 
hygienista  portuguez. 

tOs  homens,  pela  sua  estruclura,  pela  força  que  os  anima  e  viviGca, 
são  inteiramente  differentes  de  todos  os  outros  seres;  constituem  um 
grupo  com  caracteres  distinctos  e  exclusivos,  devendo  por  isso  formar 
um  reino  á  parte,  o  reino  hominal. 

^  Homo  sapiens,  creatorum  operum  perfectísâimom,  ultimam  et  sammum. 
(Linneu.) 


b 


622 

cO  reino  bominal  não  tem  entre  os  seres  creados,  nem  espécie  vizi- 
nha, nem  consanguínea,  verdade  luminosa  e  bem  assente  inoculada  no 
espirito  de  cada  pessoa.  Só  a  lembrança  de  consanguinidade  entre  um 
homem  e  um  animal,  um  c9o  por  exemplo,  surprehenderia  a  imaginado 
mais  fecunda  em  hypotheses,  porque  o  sentimento  de  que  o  homem  con- 
stitue  um  reino  exclusivo,  independente,  com  leis  próprias,  com  ordem, 
harmonia  e  unidade,  é  natural,  profundo,  innato  no  coração  de  todos ;  é 
sentimento  universal  e  absoluto. 

cEsta  simples,  mas  poderosa  consideração,  não  é  a  principal. 

«A  espécie  propriamente  animal  foi,  é,  e  será  sempre  a  mesma ;  não 
é  susceptível  de  perfectibilidade,  nem  de  progresso,  e  de  per  si  só  não  é 
capaz  de  cousa  alguma.  Não  queremos  dizer  com  isto  que  os  animaes  se- 
jam irracionaes. 

cO  homem  é  um  ente  racional,  mas  um  cão,  por  exemplo,  não  é  um 
ente  irracional ;  é  erro  que  deve  ser  banido  da  sciencia. 

tQualquer  animal  é  susceptível  de  se  aperfeiçoar;  a  espécie,  não. 

cSe  um  animal  pôde  individualmente  aprender  e  receber  certa  in- 
strucção,  não  é  capaz  de  a  transmittir  aos  outros. 

cSe  assim  não  fosse,  o  que  seria  do  homem? 

«Poderia  acaso  resistir  a  uma  alliança  de  todos  os  animaes  con- 
tra si  ? 

«Deus  disse: 

^Façamos  o  homem  d  nossa  imagem  e  similhança,  e  senhoreie  sobre 
os  peixes  do  mar,  sobre  as  aves  do  céu,  sobre  o  gado  e  sobre  todo  o  reptil 
que  se  move  sobre  a  terra,  i^ 

«Da  palavra  sagrada  se  conclue  que  os  animaes  não  podem  lígar-se 
contra  o  homem;  pelo  contrario,  servem-lhe  de  pasto. 

«Dos  animaes  pôde  dizer-se :  a  geração  de  hoje  será  a  de  amanhã. 

«O  homem  é  capaz  de  progresso,  tem  reflexão,  essa  suprema  facul- 
dade, que  não  é  mais  do  que  a  acção  do  espirito  sobre  o  espirito;  e  note- 
se,  possue  um  completo  e  perfeito  meio  de  transmissão. 

«Do  estudo  do  espirito  sobre  o  espírito  nasce  o  methodo  ou  arte  que 
elle  não  tem  e  desconhece  absolutamente,  e  por  elle  é  que  o  homem  pôde 
descobrir,  inventar,  comparar,  imitar  e  progredir  I 

«O  espirito  de  todos  os  homens  é  um  só  espirito  universal  e  único, 
que  se  continua  de  geração  em  geração  e  não  acaba ;  teve  principio  e  não 
tem  flm.  E  na  verdade  o  espirito  é  único  em  todos  os  homens  e  em  to- 
dos os  tempos. 

a  Apresenta-se  esplendido  em  Homero,  em  Virgílio,  em  Camões,  etc, 
etc. 

«Quatrocentos  annos  antes  de  Jesus  Ghristo  fallou  HippocrateS)  o 


683 

creador  da  medicina.  A  palawa  do  sábio  de  Cós,  pronunciada  ha  dois  mil 
duzentos  sessenta  e  nove  annos,  passou  através  dos  séculos  e  chegou  até 
nós,  revelando-nos  muitos  princípios  da  sciencia  medica,  que  se  acceitam 
como  se  fossem  escriptos  em  nossos  dias  1 1 

«E  não  provará  isto  a  nossa  asserção? 

cUma  geração  faz  uma  descoberta ;  a  nova  geração  continua,  engran- 
dece e  aperfeiçoa  essa  descoberta.  Porque?. .  • 

c  Porque  o  espirito  é  um  e  único  em  todos  os  homens  e  em  todos  os 
tempos. 

«Pela  sua  natureza  própria  e  exclusiva,  pelo  conhecimento  do  es- 
pirito pelo  espirito,  da  rasão  pela  rasão,  tendo  por  base  a  consciên- 
cia, o  homem  eleva-se  ao  intellectual,  á  rasão  primitiva  de  tudo  —  a 
Deus. 

cE  que  se  passa  de  similhante  entre  os  animaes? 

ff  A  natureza  humana  é  formada  por  uma  dualidade — matéria  e  es- 
pírito, bem  e  mal,  attracção  e  repulsão,  saúde  e  doença,  geração  e  des- 
truição, corrupção  e  vida  I  A  natureza  humana  é  composta,  finalmente, 
de  corpo  e  alma. 

ff  Ora  o  espirito  é  único  e  indivisível,  e  está  em  toda  a  parte,  assis- 
tindo igualmente  ao  que  se  passa,  e  ãca-lhe  depois  o  direito  de  julgar. 

ffPara  o  espirito  não  ha  limites;  a  intelligencia  do  homem  não  se  en- 
cerra, como  a  dos  animaes,  nos  limites  d'este  globo ;  deixa  o  visível  pelo 
invisível,  e  despindo-se  da  matéria,  vae  perder-se  nas  contemplações  do 
infinito.  N'um  só  ponto  reúne  o  homem  as  maravilhas  da  natureza  e  as 
profundidades  do  abysmo ;  n'esse  ponto,  e  ao  mesmo  tempo,  vê  reunido 
o  que  ha  de  grande,  immenso  e  real ;  ha  ali  um  pequeno  mundo,  um  mi- 
crocosmo I  Tal  é  o  poder  da  imaginação. 

cE  será  esta  faculdade  uma  secreção  do  cerebroj  como  querem  al- 
guns? 

tNão,  com  certeza. 

«Não  ha  em  nós  quem  contradiga  e  condemne  os  pensamentos  e  as 
paixões  más? 

«É  ou  não  real  a  consciência? 

«Gomo  pôde  ser  propriedade  da  matéria  o  sentimento  do  infinito^ 
que  nem  o  tempo  nem  o  espaço  contém  ? 

«Como  pôde  ser  propriedade  ou  secreção  dó  cérebro  o  sentimento  do 
bello,  que  não  tem  modelo  no  mundo  ? 

iComo  se  pôde  comparar  ás  correntes  eléctricas,  o  sentimento  moral 
que  combate  as  nossas  paixões  ? 

ff  Quem  explicará  a  natureza  intima  da  consciência,  que  nos  condemna 
ou  absolve?! 


«U  coração  e  o  cérebro  são  o  theatro  de  grandes  maravilhas.  Como 
explíar  pelas  propriedades  da  matéria  cousas  tão  oppostas  e  diversas — 
prazer  e  dor,  amor  e  ódio,  amisade  e  desprezo? 

«Como  se  podem  admittir  para  tão  variados  productos  os  mesmos  fa- 
ctores? 

cSe  os  elementos  da  substancia  cerebral  dão,  n'um  instante,  amor, 
como  é  que  esses  mesmos  elementos,  n'esse  mesmo  instante,  produzem 
rancor  e  ódio?  , 

Q  Como  se  poderá  explicar  pelo  numero  dos  elementos  materiaes  do 
cérebro  e  pelas  suas  propriedades,  a  existência  d'essa  potencia  que  me 
leva,  por  meio  do  meu  braço,  a  reproduzir  n^este  papel  o  que  se  passa 
dentro  em  mim,  coordenando  os  conhecimentos  adquiridos  na  leitura  dos 
mestres  da  sciencia? 

«Bem  demonstrado  fica  que  o  homem  deve  ser  estudado  pbysica  e 
moralmente. 

«Para  ser  moralisado  apresentam-se  os  exemplos  do  bello,  da  ver- 
dade, da  virtude  e  do  bom.  O  homem  inclinado  á  imitação  eleva-se,  e  se- 
gue com  passo  firme  na  senda  do  f)rogresso  e  da  civilisação. 

«O  homem  physico,  porém,  para  se  purificar  e  aperfeiçoar,  tem  de 
attender  á  acção  combinada  do  ar,  das  aguas,  dos  logares,  das  subsis- 
tências e  de  mil  outras  circnmstancias,  que  deve  conhecer  para  as  saber 
aproveitar  ou  para  saber  fugir  d'ellas. 

« Pertence  esta  parte  á  hygiene,  e  aqucUa  á  physiologia  moral.  > 


II 


cTem-se  escripto  muito  acerca  do  importante  assumpto  —  unidade 
ou  multiplicidade  da  espécie.  Não  discutimos  este  ponto  para  defender  os 
textos  biblicos,  nem  para  repetir  a  ultima  palavra  da  sciencia.  Apresentá- 
mos as  nossas  observações,  unindo-nos  áquelles  que  proclamam  a  uni- 
dade de  origem  no  reino  hominal. 

cOs  usos  e  os  costumes  modificam  muito  as  formas  do  corpo  huma- 
no, de  pães  a  filhos,  de  filhos  a  netos,  e  assim  por  diante  se  vão  transmit* 
tindo  essas  modificações.  Não  é  preiciso  fazer  uma  historia  etbnographica 
minuciosa  para  se  conhecer  que  entre  as  famílias  que  povoam  a  terra  não 
ha  différenças  profundas,  absolutas  e  exclusivas. 

a  Os  pés,  as  cadeiras j  os  beiços,  o  nariz  e  a  forma  da  cabeça  variam 
muito  dos  brancos  para  os  pretos,  e  até  de  pretos  para  pretos.  São  cara- 
cteres exteriores  e  accidentaes. 

cAs  articulações  podem  modíficar-se  á  maneira  que  a  creança  cresce. 


Ru,  tahii  dl  Piiia  Rti  e  iiatiita;3ii  da  fuendii  Agui-Iié,  U  kilometids  disiaus  dâ  cidade. 


685 

£  pela  educação  que  o  arlequim  faz  ás  pernas  e  aos  braços  o  que  nao  fa* 
ria  sem  risco  de  os  quebrar  quem  n3o  estivesse  educado. 

<A  tracção  constante  das  orelhas  e  dos  beiços  toma-os  maiores;  a 
falta  de  cuidado  com  a  cabeça  torna-a  defeituosa  e  até  desastrada;  o 
mesmo  acontece  com  os  pès.  S^be•se  que  ba  povos  que  tornam  os  pés 
das  mulheres  tão  pequenos  que  ellas  mal  podem  conservar-se  em'  posição 
vertical  I 

ff  A  cõr  da  pelle  varia  do  preto  ao  branco  por  difiTerentes  gradações  de 
cores,  segundo  as  latitudes.  Os  phenomenos  meteorológicos  e  geológicos 
reunidos  actuam  so{)re  o  homem  fazendo  dominar  mais  uns  elementos 
do  que  outros.  Entre  os  europeus  encontram-se  casos  bem  distinctos, 
nâo  só  na  cõr,  mas  até  no  systema  nervoso,  no  sangue,  músculos,  etc, 
etc.  O  que  dizemos  das  partes  physicas,  verifica-se  nas  qualidades  mo- 
raes. 

«Na  ilha  de  S.  Thomé  deparam-se  pretos  bem  apessoados  e  pretas 
formosas ;  os  nativos  de  Gabo  Verde  são  mais  claros  que  os  da  ilha  de 
S.  Thomé. 

ff  A  classificação  dos  indivíduos  que  constituem  o  reino  hominal,  as- 
senta portanto  em  caracteres  exteriores,  muito  variáveis.  Não  são  exclu- 
sivos de  um  povo ;  são  o  resultado  das  modificações  dos  climas,  que 
actua  constantemente  e  de  um  modo  muito  enérgico  sobre  as  funcções 
da  pelle  e  sobre  alguns  dos  órgãos  essenCiaes  á  vida ;  é  o  resultado 
da  educação,  dos  usos  e  dos  costumes,  modificadores  poderosos  da  forma 
de  muitos  órgãos. 

<iOs  negros  occupam  uma  grande  parte  da  Africa.  A  sua  cõr  não  é 
igualmente  negra,  os  lábios  não  são  grossos  e  salientes  em  todos  os  po- 
vos d  esta  região :  o  nariz,  se  é  muito  chato  n'uns,  n'outros  apresenta 
uma  forma  regular,  etc,  etc. 

«Se  pelos  caracteres  exteriores  provenientes  da  acção  dos  climas  e 
(los  usos  e  costumes  das  familias,  querem  alguns  naturalistas  classificar 
dílTerentes  raças  de  individuos  com  origem  própria,  independentes,  hão 
de  forçosamente  admittir  que  a  própria  raça  negra  teve  origens  múlti- 
plas, e  tantas  quantas  as  diíTerenças  exteriores  que  se  notam  na  cabeça, 
nos  cabellos,  na  còr,  no  rosto,  nos  pés,  nas  bacias,  que  são  enormemente 
Iwrgas  em  algumas  pretas. 

a  Transplantem  os  negros  para  os  climas  temperados,  e  os  brancos 
para  os  climas  da  Africa,  e  observarão  no  fim  de  alguns  séculos  um  cjua- 
dro  inverso  d*aquelle  que  se  observa  no  século  actual. 

a  Os  factos  que  auctorisam  estas  asserções  sobrosaírão  muito  com  o 
progresso  e  civilisação  de  Africa,  estreitando-se  as  relações  entre  os  po- 
vos de  Angola  e  Moçambique  e  a  nação  portugueza. 

40 


628 

«Com  o  andar  dos  tempos  veremos  os  brancos  estabelecerem-se  em 
muitos  logares  dos  trópicos  e  os  negros  nos  climas  temperados;  o  que 
hoje  parecerá  utopia,  será  então  realidade.  O  estudo  comparado  dos  dif- 
ferentes  climas  inter  e  extra  tropicaes  está  pouco  adiantado ;  mas  é  já 
incontestável  que  as  febres  paludosas  faltam  n  um  grande  numero  d*elles, 
e  que  a  aclimação  é  realisavel  nas  localidades  não  palustres. 

cA  unidade  da  origem,  a  existência  absoluta,  independente,  de  todos 
os  seres  creados,  animaes,  mineraes  e  vegetaes,  e  a  sua  creaçao  divina 
constituem  problemas  importantes  que  se  estudam  em  zoologia,  anato- 
mia comparada,  physiologia  o  ethnographia.  Não  cabe  nos  limites  de  um 
relatório  a  discussão  ampla  a  respeito  d'estes  assumptos,  e  ainda  menos 
o  seu  desenvolvimento  scientifico.  O  conhecimento  que  temos  dos  ho- 
mens pretos  e  brancos,  as  idéas  que  se  advogaram  n'este  paiz  suppondo 
o  preto  como  um  animal,  determinaram-nos  a  fazer  algumas  considerações 
acerca  da  natureza  do  homem,  do  seu  logar  na  terra  e  da  sua  missão.  Não 
resolvemos,  indicámos. 

«O  espirito  humano  tem  poder  para  realisar  grandes  descobertas 
uleis  á  perfeição  do  homem,  tanto  individualmente  como  em  conmium; 
6  um  só  em  todos  os  homens,  em  todos  os  tempos  e  em  todos  os  logares. 
A  origem  foi  a  mesma  para  todos.  Gonserva-se  o  espirito  em  gérmen 
quando  lhe  falta  a  educação,  a  comparação  e  a  imitação;  três  poderosas 
alavancas  que  arrancam  do  esquecimento  o  filho  do  pobre  humilde  ou  fa- 
zem universalmente  conhecido  quem  nasceu  ignorado. 

«O  que  se  dá  entre  os  brancos  vae  acontecendo  entre  os  pretos,  e 
pode  verificar-se  n'um  homem  de  qualquer  paiz. 

cÉ  impossível  admiltir  origens  diversas  do  homem,  dando-se  um  es- 
pirito susceptível  de  se  educar  e  de  produzir  maravilhosas  descobertas, 
podendo  ser  continuadas,  aperfeiçoadas  por  differentes  homens,  em  di£fe- 
rentes  tempos  e  em  diversas  regiões  do  mundo. 

cA  origem  do  reino  hominal  não  pôde  de  modo  algum  ser  múltipla. 
O  homem  pelo  pensamento  pôde  livrar-se  por  momentos  da  matéria,  e 
elevar-se  a  outras  regiões  e  observar  do  alto  o  que  se  passa  na  terra  que 
elle  vé,  notando  em  todas  as  suas  diversas  partes  a  harmonia  e  a  unidade 
que  se  enlaça  e  domina.  Reconhecem  esta  fóculdade  do  espirito  todos  os 
materialistas.  O  auctor  da  força  e  matéria  ministra  os  principaes  argú^* 
mentos  em  favor  das  nossas  asserções.  É  o  que  demonstraremos  em  tra- 
balho especial. 1» 

Origem  do  homem. — Gumpre-nos  expor  as  theorias  ou  doutrinas  dos 
sábios  que  se  téem  occupado  d'este  assumpto,  e  faremos  depois  as  apre- 
ciações que  nos  parecerem  mais  adequadas.  Bem  sabemos  que  a  solução 


627 

doeste  importante  assumpto  não  é  fácil, poisque  se  de  um  lado  está  Darwm 
e  os  seus  sectários,  do  outro  levanta-se  o  voz  de  Emiie  Ferrièrei  Fois- 
sac  e  outros  que  se  declaram  monogenistas,  e  demonstram  á  saciedade 
que  a  espécie  humana  tem  uma  origem  única,  independente* 

Não  são  poucos  os  sábios  que  tratam  d'esta  questão  na  sua  verda*- 
deira  altura.  Está  sem  duvida  n'este  caso  Emile  Ferrière,  o  qual,  de- 
pois de  analysar  com  imparcialidade  a  theoria  do  naturalista  ínglez,  diz 
o  seguinte:  «O  que  tem  prejudicado  a  theoria  de  Darwin  são  as  exage- 
rações dos  seus  partidários,  á  frente  dos  quaes  se  acha  Ernest  Haec- 
kel*. 

Para  se  fallar  acerca  da  origem  do  homem  é  indispensável  conhecer  o 
que  ó  espécie  orgânica,  base  de  toda  a  classificação  *.  É  sobre  este  ponto 
que  assenta  a  discussão,  e  não  podemos  deixar  de  indicar  as  idéas  a  tal 
respeito  apresentadas  por  dois  dos  naturalistas  mais  eminentes  que  se 
têem  occupado  doeste  grave  assumpto.  Referimo-nos  a  L.  Agassiz  e  a 
G.  Darwin.  Não  è  indifferente  também  a  opinião  dos  naturalistas  que 
com  mais  cuidado  téem  tratado  a  questão.  Aqui  inscrevemos  as  d'aquel- 
les  que  se  podem  considerar  mais  distinctos '. 

Espécie  orgânica  segundo  Buffon^. — Este  eminente  naturalista  diz 
que  a  espécie  orgânica  tem  por  base  uma  funcção  e  não  a  forma,  a  pby- 
síologia  e  não  a  anatomia.  O  caracter  positivo  da  espécie  é  a  fecundidade 
continua.  É  esta  propriedade  que  dá  a  unidade  e  a  realidade  da  espécie, 
assim  como  determina  a  fíxidade  e  constância.  Deve  reputar-se  como  a 
mesma  espécie  aquella  que  se  perpetua  por  meio  da  geração  conser- 

*  Ilistoire  de  la  création  ães  êtres  organisés  d'aprê$  les  lois  naturelles,  par 
Ernest  Haockel,  traduite  de  Tallemand  par  le  docteur  Gh.  Letoumeau,  1874. 

Esta  obra  appareceu  pela  primeira  vez  em  i868.  Gomprebende  as  conferen- 
cias feitas  durante  o  inverDo  de  1867  a  1868,  e  não  foi  precedida  dos  trabalhos 
preliminares  a  que  Darwin  se  soccorreu  para  levar  a  cabo  o  seu  trabalho.  Um 
estudou  a  natureza,  outro  examinou  principalmente  os  livros  dos  naturalistas,  in- 
terpretando-os  a  seu  modo.  Nas  viagens  e  estudos  a  que  se  entregou  Ilaeckel  ia 
preoccupado  dos  princípios  que  desejava  demonstrar,  poisque  jà  na  idade  de  doze 
annos,  segundo  um  dos  seus  biographos,  tinha  duvidas  acerca  da  existência  e  le- 
gitimidade das  espécies,  O  observador  deve  estudar  os  factos  sem  a  menor  preoc- 
cupaçâo.  A  phanlasia  individual,  observa  um  esclarecido  escriptor,  a  imaginação, 
as  idéas  preconcebidas  são  muitas  vezes  causa  involuntária  de  grandes  erros,  e  fa- 
zem sempre  ver  as  cousas  sob  um  aspecto  de  vista  diiTerente  do  qne  ellas  téem  na 
realidade. 

2  Tornar-se-iam  demasiado  extensas  estas  considerações  se  quizessemos  fallar 
também  a  respeito  da  variedade  do  género  e  cruzamento  das  raças. 

3  Seguimos  a  disposição  que  se  acha  no  diccionario  de  Larousse  a  que  nos 
referimos. 

4  BuíTon  mudou  de  parecer. 


vaiido  a  simiibança  d'essa  espécie  e  como  espécies  diflferentes  as  que 
pelo  mesmo  meio  não  podem  dar  producção. 

A  espécie  d'este  modo  Gca  claramente  designada.  Assim,  todos  os  in- 
díviduos  que  produzem  outros  indivíduos  simílhantes  são  da  mesma  es- 
pécie. O  homem  está  n'este  caso.  Tem  uma  origem  única,  poisque  os 
homens  de  todos  os  grupos,  de  todas  as  regiões  e  de  todas  as  cores 
misturam-se  e  produzem  indivíduos  simílhantes  entre  si  e  aos  progeni- 
tores. 

Espécie  orgânica  segundo  Cuvier. — Este  eminente  sábio  pertence  á 
escola  positiva.  Defende  a  estabilidade  da  espécie  que,  segundo  sua  opi- 
nião, comprehende  não  só  os  indivíduos  que  descendem  uns  dos  outros 
ou  de  pães  conmiuns,  mas  também  aquelles  que  se  lhes  assimilbam  tanto 
quanto  elles  se  assimilbam  entre  si.  A  natureza,  observa  o  sábio  natura- 
lista, impediu  a  mistura  das  espécies,  desenvolvendo  n'ellas  mutua  aver- 
são. 

D'este  modo  não  se  alteram  as  espécies,  conservando-se  sempre  inde- 
pendentes. O  que,  porém,  é  um  facto  incontestável  na  espécie  hominal, 
deixa  de  o  ser  nas  differentes  espécies  animaes,  o  que  prova  que  entre 
humanidade  e  animalidade  ha  um  abysmo  insondável. 

Espécie  orgânica  segundo  Flourens. — Para  este  naturalista  a  espécie 
é  caracterisada  pela  fecundidade  contínua.  A  idéa  de  similhança  é  apenas 
um  accessorio  e  não  serve  para  definir  a  espécie  ^ 

Espécie  orgânica  segundo  M.  Quaírefage.  —  Este  naturalista  diz  que 
a  espécie  tem  alguma  cousa  de  primitivo,  de  fundamental.  A  espécie,  se- 
gundo este  sábio,  é  a  reunião  de  todos  os  indivíduos,  mais  ou  menos  si- 
mílhantes entre  si,  e  que  descendem  ou  podem  descender  de  um  par  pri- 
mitivo, único,  por  meio  de  uma  successão  ininterrompida  de  família. 

Esta  definição  é,  na  sua  essência,  como  a  de  Cuvier.  A  filiação  é  o 
caracter  da  espécie. 

Espécie  orgânica  segundo  L  Agassiz. — Este  eminente  naturalista 
rejeita  não  só  a  definição  e  parentesco,  mas  também  o  systema  de  uni- 
dade originaria  de  cada  espécie  segundo  uma  origem  commum,  um  par 
primitivo. 

A  espécie,  segundo  este  sábio,  não  tem  realidade,  a  realidade  está  no 
individuo.  Os  indivíduos  não  formam  a  espécie,  representam-na  tempo- 
rariamente. A  espécie  é,  pois,  uma  entidade  ideal.  Existe  emquanto  não 


^  Flourens  procura  determinar  ou  precisar  as  relações  que  ba  entre  a  idéa  de 
espécie,  género  e  raça,  A  fecundidade  contínua,  segundo  este  sábio  naturalista,  ca- 
racterisa  a  espécie,  c  a  fecundidade  limitada  designa  o  gcnero.  A  perbereditaríeda- 
de,  isto  é,  a  propriedade  de  berdar  as  variações  adquiridas,  determina  a  raça. 


«29 

flesapparecom  os  indivíduos  que  a  represenlam.  Mr.  Agassiz  admille  as 
creaçôes  snccessivas;  e  se  os  indivíduos  da  mesma  espécie  se  ajuntam  na 
procreação  é  porque  a  natureza  os  formou  para  isso  e  n3o  para  lançar  os 
fundamentos  da  sua  espécie. 

O  naturalista  suisso  tem  um  modo  de  ver  muito  especial  a  respeito 
da  creação.  Não  admitte  a  unidade  da  composição  orgânica,  nem  a  varia- 
bilidade das  espécies,  nem  a  unidade  da  creação.  Âs  raças  humanas,  se- 
gundo Agassiz,  são  formas  distioctas,  primordiaes  do  typo  humano. 

Espécie  orgânica  segundo  Lamarck  e  Ur.  Darwin. — Segundo  estes 
naturalistas  a  espécie  orgânica  não  tem  um  caracter  primitivo,  absoluto, 
constante.  Resulta,  pelo  contrario,  das  variações  progressivas  accumula- 
das  no  mesmo  individuo.  A  espécie  representa  por  assim  dizer  um  mo- 
mento da  evolução  vital  que  vae  estabelecendo  as  diíTerenças  entre  os  ser^s 
vivos,  e  separando-os  uns  dos  outros.  A  variedade  n'este  caso  é  uma  es- 
pécie nascente. 

As  divergências  que  se  notam  entre  os  naturalistas  que  acabámos  de 
citar  não  são  totalmente  difTerentes.  Definem  a  espécie  segundo  a  impor- 
tância que  ligam  a  um  ou  a  outro  dos  caracteres  por  que  a  podem  distin- 
guir. Tomam  por  base  idéas  subjectivas  e  não  a  realidade  objectiva,  os 
factos  palpáveis.  Agassiz,  porém,  tornou-se  notável  pela  originalidade  da 
sua  opinião,  mas  não  chamou  a  attenção  do  mundo  scientifico,  como  a  theo- 
ria  de  Darwin.  Esta  tem  sido  largamente  discutida  e  merece  detido  exame. 

O  naturalista  inglez  Carlos  Darwin  no  seu  importante  livro :  A  origem 
das  espécies  por  meio  da  selecção  natural  mi  luta  para  a  eocistencia  em  a 
natureza^  revela  grande  saber  e  elevado  estudo.  A  sua  theoria,  porém, 
vale  mais  pelas  leis  naturaes  que  n^ella  se  contém,  do  que  pela  conclusão 
a  que  se  quer  chegar.  Mas,  justo  é  confessal-o,  o  trabalho  do  sábio  natu- 
ralista acha-se  exposto  com  toda  a  clareza.  Ha  ali  verdades  inconcussas, 
a  argumentação  é  leal  e  vigorosa.  Aquella  robusta  e  potente  intelligencia 
não  é  de  certo  a  modificação  de  um  macaco,  nem  a  transformação  de  um 
cao.  As  forças  naturaes  não  produzem,  não  geram  indivíduos  que  as  do- 
minem, expliquem,  prescrutando-lhes  os  mysterios,  dizendo  o  que  ellas 
valem  e  dando-lhes  direcção.  Se  o  homem  fosse  creado  pela  natureza 
não  seria  composto  da  alma,  cujas  faculdades  illuminam  o  mundo.  A  ele- 
ctricidade é  maravilhosa,  mas  sem  a  mão  do  homem  seria  inútil.  A  ve- 
getação é  esplendida,  mas  se  o  homem  não  a  devastasse,  se  não  trans- 
pozesse  as  sementes  de  um  para  outros  logares,  se  não  substituísse 


í  Uorifjine  des  espéces  an  moyen  de  la  Rélectim  natnrelle  mi  la  hitte  pmtr 
Vexisltnce  dam  !a  mature,  par  f.harles  Darwin,  M.  A.,  F.  R.  S.,  traduit  sur  ia  si- 
xií^ine  étliiion  anglaise,  par  Ed.  Barbier,  1876, 


630 

umas  arvores  por  outras,  a  terra  seria  uma  mata  immensa,  para  que  niD* 
guem  olhava.  Os  cavallos  que  servem  de  meio  de  couducção  do  homem, 
os  cães  que  lhe  servem  de  companheiros  e  até  de  amigos,  os  bois  que 
lhe  dão  alimentos,  assim  como  as  aves  e  os  peixes,  podem  acaso  adquirir 
uma  alma  sob  a  influencia  das  forças  naturaes?. . . 

Mas  deixemos  estas  considerações,  e  passemos  a  faltar  do  celebre  na* 
turalista  inglez. 

Nasceu  em  Sprewsbury  no  anno  de  4809,  e  aos  vinte  e  dois  annosde 
idade  obteve  o  grau  de  doutor  em  sciencias  naturaes.  Foi  logo  em  seguida 
admittido  na  qualidade  de  naturalista  n*uma  expedição,  tendo  occasião 
de  visitar  o  Brazil,  o  estreito  do  Magalhães,  a  costa  occidental  da  America 
do  Sul  e  differentes  ilhas  do  oceano  paciflco.  Regressou  doesta  viagem  no 
anno  de  4837  ^  Impressionára-o,  durante  a  exploração  dos  territórios  em 
que  tocou,  o  modo  por  que  se  acham  distribuidos  os  seres  organisados 
que  povoam  a  America  do  Sul.  Resolveu,  pois,  estudar  os  factos  que 
observara  com  toda  a  attenção,  e  não  se  tem  poupado  a  trabalhos  nem  a 
fadigas  para  o  conseguir. 

No  fim  de  cinco  annos  de  aturado  trabalho  formulou  os  primeiros 
delineamentos  da  sua  importante  theoria,  e  em  1844  transformou  as  suas 
observações  n'uma  memoria  em  que  indica  os  resultados  dos  seus  es- 
tudos. 

São  indispensáveis  estas  informações  não  só  para  conhecer  o  sábio 
inglez,  mas  também  para  lembrar  que  as  obras  d'aquella  ordem  não  se 
escrevem  em  pouco  tempo. 

Publicada  a  memoria  a  que  nos  referimos,  sete  annos  depois  da  via- 
gem e  oito  depois  de  concluir  o  curso  de  sciencias  naturaes,  Darwin  con- 
tinuou o  estudo  com  assiduidade,  e  no  fim  de  vinte  e  dois  annos  dava  á 
luz  o  seu  livro  sobre  a  origem  das  espécies  e  fazia  uma  ftvolução  em 
sciencias  naturaes. 

Propoz-se  sustentar  que  as  espécies  animaes  e  vegetaes  não  são  im- 
mutaveis.  Mostra-se  convencido  de  que  as  espécies  que  pertencem  ao 
mesmo  género  descendem  directamente  de  outra  espécie  extincla,  assim 
como  as  variedades  reconhecidas  de  uma  espécie,  qualquer  que  ella  seja, 
descendem  directamente  d'essa  espécie.  Diz  o  sábio  naturalista,  flnalmente, 
que  a  selecção  natural  representa  o  principal  papel  na  modificação  das 
espécies,  não  devendo  esquecer  a  influencia  que  outros  agentes  exercem 
também. 

Doeste  modo  estão  definidos  os  campos.  Não  ha  meio  termo.  Enlra- 

1  Em  Laronsge  dá-se  a  chegada  do  dr.  Darwin  no  anno  de  i836;  masnao|)r3 
supracitada  diz  o  auctor  que  chegara  no  anno  de  1837, 


631 

remos,  pois,  na  questSo  examioando  os  argumentos  que  se  apresentam 
de  um  e  de  outro  lado,  e  acceitaremos  a  que  nos  parecer  mais  conforme 
á  sciencia,  á  ras3o  e  á  verdade. 

Devemos  notar,  antes  de  seguir  mais  adiante,  que  o  próprio  Darwin 
confessa  que,  por  muito  tempo,  acceitára  a  opini&o  geralmente  seguida  de 
que  cada  espécie  tem  uma  creação  independente,  um  principio  determi- 
nado, uma  origem  única. 

Vira-se,  porém,  obrigado  a  mudar  de  opini5o,  procurando  demons- 
trar que  a  natureza  tem  em  si  o  poder  de  crear.  A  doutrina  de  tão  emi- 
nente naturalista  fez  epocha,  e  s3o  numerosos  os  seus  sectários,  para  os 
quaes  o  Deus  da  creação  ó  a  selecção  natural.  É  um  Deus. 

Pela  nossa  parte  reputámos  a  selecção  natural  como  a  expressão  de 
um  facto,  mas  não  como  uma  força  capaz  de  tirar  alguma  cousa  do  nada« 

A  Iheoria  de  Darwin  não  tem  o  consenso  geral,  e  outros  homens  aba- 
lisados  apresentam  argumentos  completamente  dilTerentes  sobre  a  ori- 
gem do  reino  bominal. 

O  dr.  Foissac  escreveu,  em  1873,  o  seguinte: 

«Quoique  des  novateurs  insensés  aient  prétendu  le  contraire,  il 
n'exíste  pas  une  moindre  séparation  entre  les  diverses  classes  d'animaux 
qu'entre  ceux-ci  et  Thomme.  Les  espèces  sont  stables,  immuables.» 

Este  sábio  medico  é  ardente  sectário  da  conservação  ou  immobilidade 
de  cada  espécie  com  seus  caracteres  physicos  e  moraes.  N'i8to  consiste  a 
lei  da  hereditariedade.  Mas  se  o  dr.  Foissac  se  exprime  d'este  modo, 
Émile  Ferriòre  demonstra  á  saciedade  que  os  homens  tem  uma  origem 
única. 

Diz  Émile  Ferrière: 

«O  que  separa  os  monogenistas  e  os  polygenistasé  a  maneira  por  que 
elles  encaram  a  espécie  *.» 

Os  monogenistas  dizem  que  a  espécie  tem  por  caracter  essencial  a  fl- 
liação;  é  a  espécie  physiologica.  Os  polygenístas  tomam  para  base  da  de- 
finição de  espécie  a  estructura  e  a  forma;  é  a  espécie  morphologica. 


1  A  discussão  entre  os  monogenistas  e  polygenístas,  diz  Émile  Ferrière,  tem 
sido  acalorada.  Envolveuse  no  principio  com  uma  questão  religiosa  e  com  uma 
qm^stão  social. 

Como  a  Bíblia  ensina  que  os  homens  descendem  de  Adam  e  Eva,  os  que  se- 
guem a  doutrina  da  Bíblia  íizeram-se  monogenistas;  os  que  atacavam  aquelle  livro, 
por  um  sentimento  de  hostilidade,  adoptaram  a  opinião  dos  polygenístas. 

Os  partidários  da  escravatura,  na  America,  sustentaram  o  polygenismo,  a  fim 
d(i  rollocar  os  negros,  suas  victimas,  n*uma  espécie  inferior.  O  negro  não  era  ir- 
mão do  branco,  era  uma  espécie  de  intermediário  entre  o  branco  e  o  bruto,  de- 
vendo ser  tratado  como  os  outros  animaes, 


632 

A  espécie  é  única,  e  as  variedades  qne  n'eila  ha  s?io  o  resultado  dos 
climas.  A  espécie  humana  viaja  e  nlo  emigra,  colonisa,  adapta-se  ao  cli- 
ma, o  que  nâo  acontece  em  geral  aos  animaes. 

Dhpersio  e  foriiiaçio  das  raças*.  —  Se  podesse  ser  admittida  a  plurali- 
dade de  origens,  seria  preciso  provar  que  em  differentes  pontos  da  ter- 
ra, em  condições  de  temperatura  mui  diversas,  appareceram  indivíduos 
com  brilhantes  faculdades  affectivas  e  íntellectuaes. 

A  hypothese  mais  racional  é  que  o  primeiro  homem  foi  creado  em 
alguns  dos  pontos  da  antiga  Média  e  collocado  no  golfo  pérsico  nas  plani- 
'  cies  regadas  pelo  Eufrates  e  Tigre,  que  ali  se  formou  a  primeira  familia, 
e  os  seus  descendentes  occuparam  os  terrenos  que  se  estendem  ao  orien- 
te, até  ao  mar  Vermelho,  e  ao  occidente  até  ás  margens  do  Oxus  que  des- 
agua no  mar  de  Arai. 

Eram  então  desconhecidos  os  processos,  ainda  os  mais  elementares, 
da  agricultura,  e  os  rebanhos,  principal  riqueza  d'aquelle  tempo,  torna- 


1  Temos  diante  de  nós  um  folheto,  cujo  titulo  é  assim  designado :  Ensaio  de 
philosophia  anthropologica.  i*  Tasciculo.  Agentes  de  transformação  e  classiíieaçào 
das  raças  humanas.  Coimbra.  1875.  É  seu  auctor  Pedro  Gastão  Mesnier,  o  qoal 
começa  o  seu  escrípto  por  estas  palavras:  cDepois  de  ter  vivido  durante  bastante 
tempo  em  contacto  com  muitas  variedades  da  espécie  humana,  julguei  dever  apre- 
sentar ao  publico  o  resultado  dos  meus  estudos  e  observações  sobre  alguns  assum- 
ptos anthropologicos.  Creio  que  as  leis  principaes  que  deduzi,  se  encontrarão  enun- 
ciadas pela  primeira  vez  n'este  trabalho,  e  espero  que  a  critica  e  a  discussão  que 
resultarem  da  publicidade  determinarão  melhor  o  seu  valor  a  todos  os  respeitos.» 
Eis-aqui  um  specimen  da  doutrina  que  ali  se  acha  expendida: 

cA  alteração  no  uso,  isto  é,  uma  modificação  tal  na  direcção  do  movimento 
que  resulte  ficar  o  or|âo  exposto  a  uma  classe  nova  de  Torças  exteriores,  produz 
modificações  mais  ou  wios  profundas. 

cA  faculdade  de  prehensão  com  os  dedos  dos  pés,  que  subsiste  em  algumas 
raças  humanas  inferiores,  desappareceu  totalmente  nas  raças  superiores,  modifi- 
cando-se  certos,  músculos  do  pé  quando  elle  serve  unicamente  para  a  locomo- 
ção. 

cAs  differenças  notáveis  da  mão  nas  varias  classes  dos  mammiferos  (differen- 
ças  que  não  poderam  comtudo  fazer  desapparecer  as  analogias)  procedem  da  mo- 
dificação de  uso.  Assim  a  mão  é  barbatana  na  baleia,  aza  qo  morcego,  órgão  exclu- 
sivo de  locomoção  no  cavallOy»orgão  mixto  de  prehensão  e  locomoção  nos  macacos 
superiores  e  nas  raças  humanas  inferiores,  e  órgão  exclusivo  de  prehensão  nas 
raças  humanas  superiores. 

•Raras  são  as  modificações  que  se  limitam  a  um  órgão  único  nos  homens  e 
nos  animaes.  É  tal  a  dependência  orgânica  das  diversas  funcções,  que  uma  altera- 
ção qualquer  n'um  ponto  vae  influir  em  toda  a  circumferenda.  É  sabido  que  a 
grossura  dos  ossos  está  em  relação  immediata  com  a  energia  dos  músculos  que 
n*elles  se  apoiam;  e  a  rasão  do  desapparecimento  do  appendice  caudal  nos  maca- 


6^3 

vam  os  terrenos  áridos,  sendo  necessário  procurar  aquelles  que  apresen- 
tavam melhores  condições  para  a  vida. 

Os  homens  que  acampavam  nas  locaUdades  mais  Terteis,  lendo  melhores 
meios  de  commutiicação,  formavam  populações  permanentes,  outros  pas- 
savam aos  logares  que  tinham  melhores  pastagens,  etc.  Passaram  á  Eu- 
ropa uns,  e  outros  para  a  Africa,  e  espalharam-se  muitos  pela  Ásia;  e 
asáim  foram  occupando  diversos  pontos,  até  que  no  século  xix  occupam 
a  superficie  de  todo  o  mundo. 

As  formações  de  diversos  grupos  humanos  explicam-se,  pois,  facil- 
mente, poisqne  são  poucas  as  causas  que  as  determinam. 

A  origem  do  homem  refere-se  a  uma  região  determinada. 


eos  anthropoides  deve-se  principalmente  á  maior  frequência  da  posição  vertical, 
desenvolvendo-se  então  os  membros  inferiores  á  custa  d'esse  órgão,  que,  lendo-se 
utilisado  para  dirigir  o  movimento  na  posição  recumbente,  se  tornaria  depois  no- 
civo contribuindo  para  desequilibrar  o  animal  levantado. 

«Como  é  necessário  para  a  reproducção  o  concurso  de  dois  entes  independen- 
tes, segue-se  que  aquelles  característicos  que  facilitarem  esse  cx)ncurso  serão  os 
que  permanecerão  na  espécie,  sendo  transmittidos  hereditariamente  á  prole. 

c  Assim,  particularidades  orgânicas,  insignificantes  para  a  vida  individual,  po- 
dem ser  de  uma  importância  capital  para  a  conservação  da  espécie,  determinando 
a  escolha  dos  indivíduos  de  um  sexo  assim  caracterisado  pelo  outro.  Não  ha  du- 
vida que  infinitas  parUcularidades  orgânicas,  das  que  parecem  mais  mysteriosas, 
são  de  facíl  explicação  pela  theoria  da  selecção  sexual.  Tarde  ou  cedo  o  ideal  es- 
thetico  no  homem  e  nos  animaes  attinge  a  sua  realisação. 

« Pôde  crer-se  que,  se  todos  os  homens  desejassem  unicamente  mulheres  com 
azas,  e  este  desejo  se  conservasse  durante  sutHciente  tempo,  a  transformação  se 
operaria  gradualmente.  E  lembraremos  que  não  deve  parecer  ^o  extravagante  esta 
supposição,  pois  realmente  existem  na  natureza  animaes  em  que  um  dos  sexos  tem 
azas  e  o  outro  não. 

<Âs  difTerenças  de  forma,  que  são  tão  características  no  mundo  animal  entre 
o  macho  e  a  fêmea  na  mesma  espécie,  téem  a  sua  origem  na  escolha  esthetica  de 
um  dos  sexos.  O  amor  que  vestiu  as  aves  da  mais  brilhante  plumagem,  também 
desenhou  as  feições  da  mulher,  deu-lhe  a  sua  loura  coroa  de  lonj^os  e  ondeantes 
cabollos,  formando-a  segundo  uma  norma  de  belleza  que  existe  igualmente  no 
mais  humilde  insecto  e  no  pintor  mais  idealista,  pois  essa  norma  procede  de  um 
sentimento  que  pôde  variar  em  quantidade  na  serie  animal,  mas  que  é  sempre  um 
só  em  qualidade. 

c  Apresentaremos  na  forma  tabular,  para  mclhocintelligencia,omododeacção 
dos  vários  agentes  transformadores,  resumindo  os  processos  geraes,  pelos  quaes 
se  produzem,  entre  outras,  essas  difTerenças  que  nos  servem  para  distinguir  as 
raças  humanas. 

«Convém  observar  que,  posto  appliquemos  especialmente  ao  homem  estas  con- 
siderações, ellas  referem-se  igualmente  a  todos  os  entes  organisados,  pois  jamais 
devemos  esperar,  em  questões  geraes  de  morphologia  biológica,  descobrir  leis  de 
applícação  exclusiva  ao  género  humano.» 


I 

\ 


634 

É  innegavel  a  existência  do  diluvio  universal,  o  qual  modiflcou  a 
crusta  da  terra,  elevando  montes  e  formando  novas  correntes  de  agua. 

Nas  proximidades  do  monte  Arará  estiveram  por  muitos  annos  Noé 
e  os  seus  descendentes.  Se  d'esse  facto  incontestável  se  pôde  concluir 
que  o  paraizo  terreal  existira  ao  occidente  da  Ásia  em  34^  de  latitude  N.  e 
40°  de  longitude  E.,  não  se  negará  também  que  os  primeiros  povoado- 
res da  terra  occcuparam  uma  região  tropical  e  d'ali  partiram  para  outras 
era  que  continuaram  a  propagar  a  espécie. 

Estabeleceram-se  finalmente  ao  N.  da  Africa,  no  centro  da  Ásia  e  na 
parte  oriental  e  meridional  da  Europa  *. 

Os  povos  que  seguiram  para  as  regiões  frias,  receberam  as  modifica- 
ções próprias  dos  climas  por  que  iam  passando.  Não  chegaram  de  repente 
ao  ponto  em  que  hoje  se  encontram;  passaram  gradualmente  de  umas 
localidades  para  as  outras.  Succedeu  igualmente  aos  que  seguiram  para 
as  regiões  quentes:  occuparam  primeiro  os  legares  que  mais  vantagens 
lhes  offereciam.  Os  que  permaneceram  nas  regiões  temperadas,  espalha- 
ram-se  mais  facilmente,  porque  a  terra  lhes  offerecia  meios  mais  vantajo- 
sos de  sustentar  a  vida. 

Caracteres  dístinctívos  e  excIusi?os  do  reino  hominal.  —  Reunimos  sob  este 
titulo  n3o  só  alguns  factos  de  immediata  observação,  mas  também  o  pa- 
recer de  alguns  médicos  e  naturalistas.  Não  citámos  as  obras  em  que  en- 
contrámos muitos  dos  factos  que  registámos,  não  só  porque  seria  tornar 
mais  extensa  esta  enumeração,  mas  porque  desejámos  separar  os  factos 
das  auctoridades  que  os  demonstram  ou  apresentam.  Eis  aqui  os  caracte- 
res que  são  exclusivos  do  reino  hominal. 

1 .°  A  união  do  branco  e  do  negro  produz  invariavelmente  um  mulato. 
É  um  facto  necessário,  absoluto. 

O  branco  e  o  mulato  geram  um  mestiço  que  representa  um  .meio 
termo  entre  estes  dois  individues.  Do  mestiço  finalmente  e  do  branco 
resulta  um  branco. 

O  cruzamento  que  se  faz  entre  a  raça  branca  e  preta,  verifica-se  lam- 
bem entre  os  brancos  e  amarellos,  entre  estes  e  os  americanos  ou  entre 
aquelles  e  os  malaios. 

2.°  A  rasão  e  a  consciência  são  próprias  do  homem  e lutam  constan- 
temente contra  os  instinctos. 


*  A  narrativa  bíblica  diz  que  Japhet  se  dirigira  para  a  Europa,  Sem  para  a 
Ásia  e  Cham  para  a  Africa.  Do  primeiro  descendem  os  phryglos,  scythas,  gregos, 
ele;  do  segundo  resultaram  os  persas,  assyrios,  lydios,  ctc,  e;  flnalmente,  do  ler- 
ceiroj  provieram  os  babylouios,  egypcios  e  mauritanos. 


035 

3.*^  O  livre  arbítrio,  o  mérito  e  demérito  são  próprios  l5o  somente 
do  reino  hominal. 

Nos  animaes  ha  apenas  instincto;  no  reino  hominal  ha  a  concepção 
intellectiial,  que  não  tem  Hmites. 

A  acção  do  homem  sobre  todos  os  animaes,  marca  profunda  e  radical 
diíTerença  entre  a  animalidade  e  humanidade. 

4.°  A  côr  da  pelle  não  é  caracter  dislinctivo  da  espécie,  no  que  res- 
peita á  origem,  entre  os  brancos,  pretos,  cobreados,  etc. 

3.®  Os  cabellos  não  servem  também  para  distinguir  os  indios  dos  eu- 
ropeus, africanos,  etc. 

0.^  O  estudo  do  esqueleto  humano  mostra  que  não  ha  dilTorenças 
sensíveis  nos  individuos  do  reino  hominal. 

7.°  O  tempo  de  gestação  é  o  mesmo  entre  os  pretos,  brancos  ou  in- 
dianos. As  excepções  não  destroem  a  regra  geral. 

8.*"  Todos  os  cruzamentos  entre  os  individuos  de  diílerentes  grupos 
do  reino  hominal  são  fecundos. 

9.**  São  attributo  primitivo  do  homem  as  faculdades  effectivas,  e  elle 
nunca  pôde  nivelar-se  com  o  bruto. 

10.®  O  monogenista  toma  a  Oliação  por  caracter  de  espécie,  o  poly- 
genista  toma  a  estructura  e  a  forma  por  base  da  sua  argumentação. 

H.°  A  theoria  que  faz  descender  o  homem  do  macaco,  representa 
apenas  uma  espécie  de  gymnastica  de  espirito.  Invoca  a  seu  favor  tão  so- 
mente hypotheses  mais  ou  menos  floreadas  que  se  acham  em  contra- 
dicção  com  os  factos  bem  observados. 

12.®  O  homem  não  descende,  nem  é  a  transformação  nem  a  modifi- 
cação de  um  gorilla,  nem  de  um  orangotango,  nem  de  um  chimpanzé, 
nem  de  uma  phoca,  nem  de  um  peixe  nem  de  qualquer  outro  animal. 

13.®  No  homem  desenvolve- se  em  primeiro  logar  o  lóbulo  anterior 
do  cérebro  e  no  macaco  o  temporal. 

14.®  Alors  méme  que  Thomme  semble  tomber  au-dessous  de  la  bete 
par  rimperfection  des  organes  de  la  pensée  il  ne  devient  pas  pour  cela 
un  animal,  anatomiquement. 

O  homem  ó  um  ser  creado,  contingente,  mas  tem  origem  única,  in- 
dependente, quer  seja  branco,  quer  preto,  quer  amarello  ou  pardo. 

O  riso,  a  rasão  e  a  consciência  só  se  encontram  na  espécie  humana. 

A  vontade  é  um  caracter  distinctivo  do  homem.  Sem  a  existência  da 
vontade  não  poderia  admittir-se  a  idéa  de  premio  e  de  castigo.  A  vontade 
é  inquestionavelmente  um  attributo  próprio  do  reino  humano. 


METEOROLOGU  E  CLIMATOLOGIA 


Garaetériaar  an  Glimai  cst  une  eatreprise  lon^^ae  et 
peoible. 

(Dagnio,  Trtado  elementar  4e  jéffiiea,  toI.  u, 
pag.  5iO.) 


Emprega-se  muitas  vezes  índiffereDtemenIe  o  termo  meteorologia  em 
vez  de  climatologia,  parecendo  inferir-se  que  uma  palavra  é  synonyma  de 
outra,  o  que  não  é  exacto.  Para  nós  ha  grande  differença  entre  estas  scien- 
cias.  A  climatologia  tem  por  base  a  meteorologia,  assim  como  esta,  sem  o 
estudo  da  pbysica,  fícaria  estacionaria. 

A  meteorologia  tem  por  objecto  os  phenomenos  atmosphcricos,  os  me- 
teoros; é  uma  sciencia  em  que  ha  leis  próprias  e  fados  bem  observados. 
O  seu  fím  tem  elevada  importância,  seja  qual  for  o  ponlo  de  vista  sob  que 
se  estude  tal  sciencia.  O  que,  porém,  é  certo  é  que  ha  relação  immediata 
e  necessária  entre  a  meteorologia  e  a  pathologia,  hygiene  e  therapeutica. 
Aos  médicos  cumpre  por  isso  interessar-se  no  seu  adiantamento. 

As  leis  meteorológicas  precisam  de  observações  completas  e  unifor- 
mes; os  factos  sao  de  difiScilima  interpretação,  e  os  prognósticos  n3o  po- 
dem ser  feitos  sem  haver  muita  exactidão  nos  phenomenos  observados. 

A  climatologia  appiica-se  ao  estudo  de  uma  região  limitada.  Tem  leis 
próprias,  factos  distínctos  e  fim  especial.  São  grandes  as  differenças  que 
se  notam  no  campo  de  observação. 

Por  clima  deve  enlender-se  o  conjuncto  de  phenomenos  atmospheri- 
cos  que  exercem  influencia  característica  nos  seres  organisados  de  uma 
localidade  qualquer.  Um  immenso  valle,  por  exemplo,  offerece  um  clima 
determinado,  cujo  estudo  assenta  em  observações  próprias,  referidas  á 
natureza  do  solo  e  do  ar  que  o  circumda,  e,  como  sabemos,  o  estudo  do 
solo  e  do  ar  está  subordinado  ás  differentes  sciencias  naturaes.  Os  climas 
não  devem  multiplicar-se  indefinidamente,  assim  como  ha  grande  inconve- 
niência em  os  reduzir  a  um  numero  muito  limitado,  regulando-se  já  pelos 
continentes  em  que  se  acha  dividido  o  globo,  já  pelos  graus  de  latitude 
ou  pelas  linhas  isothermicas.  É  indispensável  seguir  o  meio  termo,  e  nós 
já  apresentámos  o  modo  por  que  encarávamos  tão  importante  assumpto. 


r>38 

Aqui  tratHinos  de  examinar  as  condições  ciamatcricas  em  qu 
ilha  dtí  S.  Tliomé. 

Julgamos,  pois,  de  grande  vaniagom  dividir  este  assumpto 
capiluios,  procurando  assim  expor  com  mais  clareza  as  cunsidera; 
temos  (pic  fazer  acerca  da  meteorologia  e  climatologia  respeilanl 
de  S.  Tliomé,  As  conclusijes,  a  que  chegãiiios,  não  são  de  cerlo 
teorologicas  definidas,  nem  o  clima  d'cãta  illia  íica  bem  deteniiiiia< 
que  nos  faltam  os  meios  de  conhecer  com  exactidão  um  clima  e 
entre  3"  e  30'  ao  N.  do  Equador,  e  G'  30'  a  C"  43'  ao  oriente  do  mt 
o  de  Greenwich. 

CAPITULO  XVII 
HeteoTOlogria 


Depuii  i|dB  \a  obimaliont  nrtnroIttpK 

iiii  Anlillu  íiK  da  Luni  uiilniiiiciiU  d  i 
réíiW  uniliirDi'',  te  llirrnioiiii'lrr  n';i  pju  icri 
rulinai  ai  In  lumlrurt  tugn^i  >l|ailéu 

(DalrODlao.  pag.  33.) 


Comidcrarúti  gcraci.— llcilii  Jií  (iliHni{ur;i  melFlroliijiicas  de  iiar^'<i,  abril  c  min  ir  (Si 
de  junb,  julb  eagoslo  de  (lil— Idem  ilc  sclcmbro,  oulnbro  e  novfnbrii  dt  Íl1l- 
dciemliro  de  illl  e  janeiro  c  frtemra  de  IS73.-Meiii  dr  mRr{<i,  abríl  c  miio  de  tS7 
de  jiinlin,  julbn  e  agoalo  de  (S73.— Heilias  do  primeiro  seme^Iíe  metcoralogicci  de  HH. 
do  annv  nfleoralDjiro  de  ÍiU.—kni\  mplcnrolcgire,  i."  de  deicnbro  de  iiU  i  .10  i 
bro  de  1S7S.--CoBpira;ía  da  ine1íorolet[ii  i'ftít  anno  rem  a  do  anne  pinad*.— Prímr 
Ire  do  nn»  nelcorologito  de  I S76. 

Em  março  de  I81i  foram  publicados  no  Boletim  official  o»  prí 
mappas  meteorológicos  depois  das  observações  do  dr.  Lacio  Augi 
Silva  cm  18;í8  e  ISÍiO.  Representam  ensaios  e  não  verdadeiras  ol 
ções.  ^ão  só  o  posto  não  estava  convenientemente  cotloado,  m; 
bem  em  muitos  dias  deixou  de  haver  trabalhos  por  falta  de  pesgo 
se  encarregasse  de  substituir  o  director  no  sou  impedimento. 

Os  instrumentos  estavam  dispostos  na  varanda  do  palácio,  vi 
ao  S.  O  anemómetro  tinha  por  um  lado  a  igreja  da  Sé  e  por  outro  o  i 
palácio. 

Nos  mappas  faltam  as  variações  diurnas  dos  barómetros  e  nyctei 
dos  tliermomelro,':. 

Damos  na  sua  integra  os  mappas  meteorológicos,  contendo  o  r 
das  medias  das  observações  que  se  fizeram  de  1873  a  1876. 


Barómetros. 


63!) 


Medias  das  observações  meteorologioas 
em  março,  abril  e  maio  de  1872 

l  Pressão  atmospherica 759^'",57 

'    ^^ j  Adjunto,  gr.  c 27^7 

,  ,  Pressão  atmospherica 762""",5 

Anerovcle j  .  ,.    ,  cioo  b.. 

I  Adjuntí),  gr.  c 28^5 

/  _-      ,     ,^      ^   i  Máxima  •  •  •  00,1 1  c^^n  r\ 

i  Na  relva  (9  m.) .  L-.  .  an  1    gr.  c. . .  26^9 

\  ^       ^  (Mmima 20,1  p 

Thermomelros  { Exposto  (3  t.)  gr.  c 40^9 

A  sombra  (9  n.)    ....       "  *  ^'     gr.  c. . .  25^8 
^      ^  I  Mmima 21,8  p 

Tensão  do  vapor  almospherico 21™'",63 

Humidade  relativa 80 

Evaporação 4"°,2 

Ozone 7,7 

Vento  (velocidade  horária) 12S05 

Chuva  recolhida  tfeste  período 463"''",0 

Aspecto  do  céu,  gr.  med 3 

Os  ventos  de  mais  frequência  foram :  em  março  dos  quadrantes  de  E. 
e  SE. ;  em  abril  de  SE.  e  SSE.,  observando-se,  não  obstante,  alguma  va- 
riedade nos  ventos  superiores  que  frequentaram  S.,  O.  e  SO.;  em  maio 
houve  grande  variedade  tanto  nos  ventos  superiores,  como  nos  inferiores  *. 

Medias  das  observações  meteorológicas 
em  Junho,  Julho  e  agosto  de  1872 

,  .  ,.  j  Pressão  atmospherica 7f>l'"™,07 

Barómetros    .  I        '  ^^j""^^'  »'•  ' 2^''* 

'  "    .  ,  l  Pressão  atmospherica 7S6"'",6 

^     I  Adjunto,  gr.  c 25^9 

í  Na  relva  (9  m.).  í  U'^/""^ ' ' '  f'^  j  gr.  c . . .  2(^,5 
l  ^       ^  (Mmima..* .  17,0  p 

Thermometros  \  Exposto  (3  l.)  gr.  c 48^4 

^--"(»"-)|:„ir.:;-JÒ;?|«— •^".' 

í  Junho 25,7  j 

Temperatura  ao  ar  livre 1  Julho 24,6  l  gr.  c. . .  21^5 

( Agosto 25,0 ) 

1  Boletim  official  da  pfovincia,  n."  20^  do  O  de  agosto  de  1873. 


t 


640 

Tensão  do  vapor  atmospherico I9™",33 

Humidade  relaliva 81 

Evaporação i^^^i 

Ozone 9,2 

Vento  (velocidade  horária) 8*^,04 

Aspecto  do  céu,  gr.  médios 4 

Chuva  recolhida  n'este  periodo. 3"",6 

As  nuvens  em  junho  e  julho  apresentaram  formas  primarias  e  secun- 
darias, notando-se  mais  d'eslas  do  que  d'aquellas.  O  tempo  n'este  ultimo 
mez  observava-se,  á  noite,  bem  limpo  e  seguro.  Em  agosto,  as  nuvens 
apresentaram-se  na  forma  primaria,  com  exclusão  de  poucas  observações 
em  que  figuraram  cirro-cumulos  e  cirro-straítis.  Os  ventos  de  mais  fre- 
quência n*esta  estação  foram  doS.,  variando  pelos  quadrantes  de  O.,  SSO. 
e  SSE.  e  mui  pouco  pelo  N.  * 


Medias  das  obsorvaQoes  meteorológicas'  em  setembro, 

ontubro  e  novembro  de  1872 


.  |.  J  Pressão  atraospherica 7d9""",55 

,        Adjunto,  gr.  c 26^á 

Barómetros...'^  n      *     ;        u    -  -^-mm  li 

,  ,  Pressão  atmospherica  ^ /So"'™,^ 

Anerovde ...     .  *^  ^..^  ^ 

I  Adjunto,  gr.  c 2b**,9 

("» '^'"  <»"■•'•  I  "Sa.: :: '8.8  !«'--'--»"'^' 

Theimometros  <  Exposto,  gr.  c.  (3  t.) 41**,! 

j  i        ,      /n     \  i  Máxima . . .  25,5  i  ^«^  u 

fAsombra(9n.)jj^.^.^^      ^2,2[-^''-^----'^'« 

í  Setembro. .  25,8  1 
Temperatura  ao  ar  livre |  Outubro. . .  24,4  >  gr.  c. . .  2G'',1 

( Novembro.  27,1  ) 

Tensão  do  vapor  «itmospherico lir™,97 

[lumidade  relativa 80 

Evaporação 4'",  1 

Ozone 7,3 

Vento  (velocidade  horária) 4*^,76 

Chuva  recolhida  d'este  período 451  """,4 

i\specto  do  céu,  gr.  médios 3 

*  Boletim  offlcial  da  provinda,  n.°  M),  de  15  de  novembro  de  1872. 


641 

Foram  mais  frequentes  n'esta  estação  os  ventos  dos  quadrantes  de  E. 
a  0.  pelo  S.  Notaram-se  poucos  dos  quadrantes  do  N.,  e  mais  raros  foram 
os  ventos  superiores.  Quanto  á  sua  velocidade  nada  ha  digno  de  reparo. 

As  nuvens  apresentaram-se  com  formas  variadissimas,  não  entrando 
D*ellas,  porém,  os  cirrus^  assim  como  os  stratus,  que  rarissimas  vezes 
se  observam. 

Em  27  de  novembro,  das  oito  para  as  nove  horas  da  noite,  precipita- 
ram-se  para  a  terra  pela  sua  attracção,  no  sentido  dos  quadrantes  entre  S.  e 
NNO.,  diversos  teroides,  cujo  numero  era  admirável.  As  trovoadas  come- 
çaram em  20  de  outubro,  frequentando  mnis  os  quadrantes  de  N.  a  E.  A 
sua  approximação  nunca  chegou  a  mais  de  G80  metros,  segundo  os  nos- 
sos cálculos.  O  ozone,  desde  o  1.^  de  dezembro  tornou-se  menos  abun- 
dante na  atmospbera,  presagiando,  em  vista  da  sua  acção  sobre  os  mias- 
mas pútridos,  grande  numero  de  enfermidades  *. 

Medias  das  observações  meteorológicas  em  dezembro  de  1872 

janeiro  e  fevereiro  de  1873 

-.         .  i  Pressão  atmospherica 758"*",23 

Barómetros .  ,.    ,  ^  a/m 

(  Adjunto,  gr.  c 2G,9 

/   m«  t  //\  \       1  iMaXima  ...     «5o, l    \  rk%»n   m 

i  Na  relva  (9  m.) .   „•  •  *«  o   ST-  c. . .  25S7 

\  ^       ^  (Mmima... .  16,3)^ 

Thermometros  \  Exposto  (3  t.)  gr.  c 43^,5 

A  sombra  (9  n.)  j ^2. \ '. \  % \i'-'-"  ^^"'"^ 

I  Dezembro  .  26,5  j 
Janeiro. . . .  26,9  >  gr.  c. . .  26^,1 
Fevereiro..  24,8) 

Ten^o  do  vapor  atmospherico 2P'°,90 

Humidade  relativa 80 

Evaporação 3",7 

Ozone 4,7 

Vento  (velocidade  horária) S^^.TÔ 

Chuva  recolhida  n'este  período 230",8 

Aspecto  do  céu  (gr.  médios) 3 

N^esta  estação  os  ventos  variaram  extraordinariamente,  conhecendo- 
se-lhes  mais  persistência  nos  rumos  entre  S.  o  0. ;  sendo  todavia  notável 
a  sua  mui  pequena  velocidade. 

1  Boletim  oficial  da  provinda,  n.«  5,  de  i  de  fevereiro  de  i87;(. 

41 


642 

As  formas  mais  frequentes  que  as  nuvens  apresentaram  foram  os  nim- 
bas e  os  cumulus. 

Em  10  de  fevereiro,  pela  uma  hora  da  manbS,  começou  uma  descarga 
eléctrica  ao  rumo  de  NNO.,  com  relâmpagos  de  contornos  perfeitamente 
determinados.  Âpproximou-se,  e  ás  três  horas  e  vinte  minutos  fulminou 
com  faísca  de  relâmpago  da  quarta  espécie  a  superficie  pantanosa  perto 
d'este  posto. 

No  dia  12  do  mesmo  mez,  achando-se  desde  as  nove  horas  da  ma« 
nhã  trovoada  armada  para  NE.,  formaram-se  ás  onze  horas,  no  mesmo 
rumo  e  com  espaços  mal  divididos,  três  trombas  marinhas,  que  produ* 
ziam  fortes  aspirações.  A  duração  d'este  phenomeno  permaneceu  entre 
quinze  a  vinte  segundos. 

A  conflguraçao  de  uma  era  afunilada,  a  das  outras,  porém,  de  mao* 
gueira.  O  seu  trajecto  foi  para  E.,  direcção  qne  também  tomaram  os  ou- 
tros meteoros  eléctricos*. 


Nao  podemos  classificar  o  clima  meteorológico  da  ilha  de  S.  Thomé 
em  geral,  nem  ao  menos  um  dos  seus  climas  locaes,  o  da  cidade  por 
exemplo!  As  observações  meteorológicas  dos  dez  mezes  do  anno  de  1872 
servem  apenas  para  se  ter  uma  idéa  approximada  de  alguns  phenomenos 
atmosphericos,  e  para  se  reconhecer  a  necessidade  momentosa  de  se  con- 
struir um  observatório  regular,  tendo  differenles  postos  sob  a  sua  depen- 
dência. No  relatório  de  1869  (capitulo  xi)  demonstrámos  a  utilidade  (^'es- 
tas observações,  e  hoje  insistimos  na  importância  de  taes  trabalhos. 

As  observações  meteorológicas  s3o  sujeitas  a  muitas  causas  de  erro. 
Dependem  umas  da  posição  e  da  exposição  dos  instrumentos;  outras  pro- 
vêm  das  horas  da  observação  e  do  modo  de  se  contarem  as  medias. 

O  posto  ou  estação  meteorológica  da  ilha  de  S.  Thomé  estava,  como 
já  dissemos,  na  varanda  do  edificio  do  palácio,  tendo  em  frente  um  toldo 
de  lona.  Os  instrumentos  olhavam  para  o  S.  e  a  casa  corre  de  E.  a  0. 

O  local  do  posto  era  determinado  por  O®  21'  25''  de  latitude  e  6°  43' 
18"  E.,  Greenwich.  Estava  afastado  do  marSO^^ylt,  e  os  instrumentos 
collocados  a  P,73  sobre  o  terreno  adjacente.  Os  thermometros  funcciona* 
vam  no  posto  e  na  relva,  e  as  observações  eram  feitas  ás  oove  horas  da 
manhã,  ás  três  da  tarde  e  ás  nove  da  noite. 

A  estação  meteorológica  foi  mudada  do  corredor  ou  varanda  do  palá- 
cio do  governo  para  a  casa  do  deposito  penal. 


f 


Boletim  official  da  provinda,  n.«  18,  de  3  maio  do  1873. 


643 

A  este  respeito  lé-se,  nas  observações  á  terceira  década  do  mez  de 
setembro,  o  seguinte: 

cNos  dias  22  a  25  não  foi  possível  fazer  observações  em  consequên- 
cia do  observatório  ter  sido  removido.  Âcha-se  estabelecido  próximo  á 
ponte  do  Espalmador,  e  aindaque  se  note  não  preencher  o  posto  as  con- 
dições que  scientiflcamente  sSo  exigidas,  não  é  de  admirar,  porque  nao 
são  ellas  mui  poucas,  e  as  quaes  única  e  exclusivamente  dependem  de  um 
edificio  de  construcção  apropriada  ao  mister.  No  entretanto  approximam*se 
mais  que  as  precedentes  (as  que  se  fizeram  no  corredor  do  palácio  desde 
março  a  princípios  de  setembro).» 

O  novo  local  está  determinado,  segundo  o  que  se  lê  no  mappa  publi- 
cado no  Boletim  official  da  provinda,  por  0^  20'  45"  S.  (?)  de  latitude  e  por 
6°  42'  43"  de  longitude  E.  Greenv^  ich.  A  sua  dístóncia  do  mar  é  27"*,30, 
elevando-se  os  instrumentos  sobre  os  terrenos  adjacentes  l'",60. 

Fomos  minuciosos  n'estas  informações  para  mostrar  que  a  posição  e 
exposição  dos  thermometros  no  posto  na  ilha  de  S.  Thomé  ó  viciosa  e  su- 
jeita a  muitos  erros.  Não  fatiaremos  do  primeiro  posto,  porque  apenas  du- 
rou sete  mezes  do  anno;  rcferimo-nos  ao  local  onde  ficou  no  fim  do  anno 
de  1872. 

Os  thermometros  e  os  outros  instrumentos  meteorológicos  acham-se 
coliocados  n'um  quarto  da  casa,  o  qual  está  na  frente  do  ediOcio  que  olha 
para  0.,  e  é  pequeno  e  acanhado. 

O  anemómetro,  no  primeiro  posto,  tinha  por  um  lado  o  edificio  do  pa- 
lácio, e  por  outro  a  igreja  da  Sé.  Ê  evidente  ser  esta  posição  viciosa  e  su- 
jeita a  muitos  erros,  não  podendo  contar-se  com  exactidão  a  velocidade 
do  vento.  No  segundo  está  mais  baixo  que  a  casa  do  deposito  penal,  da 
qual  flca  próximo  ao  rumo  0.  e  SO. 

Não  se  tomaram  as  oscíllações  diurnas  dos  barómetros,  no  que  ha  im- 
portante falta  para  o  completo  conhecimento  do  climn  doesta  ilha. 


Medias  das  observações  meteorológicas 
em  março,  abril  e  maio  de  1873 

-.         .  j Pressão athmosphericn....  ToS'""*,^? 

Barómetro {.,.    .  *  d-n , 

1  Adjunto,  gr.  c 2/^'^ 

,  .,      ,     .^     .1  Máxima ,  •  i  ^^.  ^ 

Na  relva  (9  m.).  j  j^j.^^.^^ j  gr.  c. . .  2B*,3 

Thermometros  |  Exposto  (3  t.)  gr.  c 4Ii^4 

A  sombra  (9  n.)   ^^^^\  ..\...\ ^^'  ^' ' '  ^^''^ 


644 

Março 27,1 

Temperatura  ao  ar  livre •  •  { Abril 28,0 }  gr.  c. . .  27^4 

Maio 27,1 

Tensão  do  vapor  atmospherico 21*",64 

Humidade  relativa 80 

Evaporação 4'"°,4 

Ozoue 5,0 

Vento  (velocidade  horária,  media  diurna). : 4S12 

Chuva  recolhida  n'este  período 305"",0 

Aspectos  do  céu  (gr.  médios) 3 

Os  ventos  n'esta  estação  frequentaram  os  quatro  pontos  cardeaes, 
sendo  bem  conhecida  a  persistência  no  quadrante  do  S. 

Os  de  E.  e  0.  apresentaram  uma  relação  para  o  N.,  como  de  20 
para  30. 

A  sua  velocidade  foi  maior  que  a  da  estação  anterior,  regulando  a  me- 
dia entre  1  e  6. 

O  dia  mais  ventoso,  31  de  maio. 

0  dia  menos  ventoso,  3  de  abril. 

Os  ventos  de  0.  e  SO.  predominaram  de  noite. 
A  conflguração  das  nuvens,  comquanto  não  fosse  muito  variada,  ap- 
pareceram  comtudo  Gí-G.  G-st,  e  raras  vezes  Gi-st^ 

Medias  das  observaoSes  meteorologioas 
em  Junho,  Julho  e  agosto  de  1873 

^         .  I  Pressão  atmospherica 761*",17 

Barómetro j  .  ,.    .    ^    /  a/io  j 

( Adjunto,  gr.  c 26M 

XT      1     /f^     \  i  Máxima  • . .  34,2 )  ^-^  o 

Narelva(9m.).j„i„,^3        ,g4(gr.c...24%3 

Thermometros  { Exposto  (3 1.) 40^,8 

A»mta,(9..)jj;|^^::;^;5|gr.«...«..0 

I  Junho 29,1  \ 
Julho 25,4  >  gr.  c. .  •  26^7 
Agosto. .  •  •  25,7 ) 

Tensão  do  vapor  atmospherico 19^,14 

Humidade  relativa 75 

Evaporação 5~,2 

1  Boletim  official  da provinciaj  n*  31,  de  16  de  agosto  de  1873. 


645 

Ozone 4,7 

Vento  (velocidade  horária,  media  diurna) 8S42 

Chuva  recolhida  n'este  periodo 38"",4 

Aspecto  do  céu  (gr.  médios) 3 

Os  ventos  n*esta  estação  pouco  se  afastaram  da  sua  frequência  ordi« 
naria  e  mui  conhecida,  qual  é  a  do  quadrante  de  S.  e  SO. 

A  configuração  das  nuvens  também  pouco  variou,  porque  no  céu 
quasi  sempre  se  viam  Ni,  C  Ni,  ou  Ene.  e  raras  vezes  Ci-st^ 

Medias  do  primeiro  semestre  meteorológico  de  1874 

Barómetro  759°''",16.  Velocidade  do  vento  {i^,13.  Graus  de  humi- 
dade 84.  Graus  de  ozone  8. 

^.  ,        ( Á  sombra :  máxima  ã9,4 ;  mínima  23,0. 

Thermometros .  <«,      ,  .      «*  /\  «.•  -^^  Ê't  i- 

I  Na  relva:  máxima  34,0;  mmima  17,5. 

Quantidade  de  chuva  recolhida  683'°'",9.  Quantidade  de  agua  evapo- 
rada 729™,  4. 

A  serenidade  do  céu  foi  de  O  a  G,  c  a  sua  media  de  2. 

A  configuração  das  nuvens  foi  cumulus,  cumulo-nimhus  c  cirrus, 
predominando  cumnlus. 

0  estado  do  mar:  chão,  algumas  vezes,  porém,  observou-se  agitado 
entre  as  dez  horas  da  manhã  e  três  da  tarde ;  c  de  pequena  vaga  cm  ^5  do 
fevereiro  do  meio  dia  ás  duas  horas  da  tarde. 

Dia  de  tempestade :  25  de  fevereiro. 

Dias  de  chuva:  em  dezembro,  1,  3,  4,  5,  9,  13,  14,  19  e  30;  em 
janeiro,  4,  7,  11,  13,  24,  26  e  29;  em  fevereiro,  3,  5,  7, 12,  13,  25,  26 
e  27:  em  março,  1,  6,  10, 16, 17,  22  e  23;  em  abril,  2,  3,  12, 16, 19, 
21  e  22;  em  maio,  3,  4,  5,  6  e  30;  total  43. 

Dias  de  trovoada :  em  dezembro,  4,  9,  13, 18, 19,  20,  23,  24  e  29; 
em  janeiro,  1,  4,  7, 11  e  13;  em  fevereiro,  3,  7, 10, 25  e  27;  em  março, 
6,  9, 16,  17,  18  e  22;  em  abril,  nenhum;  em  mato,  3;  total  26. 

Dia  mais  chuvoso :  2  de  maio. 

Dia  mais  ventoso:  25  de  fevereiro. 

Rumos  dominantes  dos  ventos:  S.  e  SO.,  sendo  o  primeiro  muito 
mais  frequente^. 

1  Boletim  ofpcial  da  provinda,  n.'>  43,  de  8  de  novembro  de  1873. 

2  Boletim  official  da  provinda,  n.*"  24,  de  13  de  junho  de  1874. 

O  posto  meteorológico  foi  mudado  da  casa  do  deposito  penal  dos  addidos  para 
a  residência  do  novo  observador.  Estava  muito  próximo  da  fortaleza  de  S.  Sebas- 
ti$o. 


647 

ma.  O  estado  do  céu,  de  dia  quasi  sempre  nublado  como  na  estação  secca, 
de  noite,  entre  as  dez  e  duas  horas  está  frequentemente  limpo,  especial- 
mente quando  nas  tardes  anteriores  houve  chuvas  e  trovoadas.  A  configu- 
ração das  nuvens  é  de  cumulas  e  nimbus  ao  S.  e  SO. 

No  pico  da  ilha  de  S.  Thomé,  serro  altíssimo  e  inacessível,  já  pela 
sua  configuração,  já  pelo  cerrado  arvoredo  que  o  circumda  e  vegeta  sobre 
um  terreno  alagado  e  escorregadio,  e  n'outras  montanhas  também  de 
grandíssima  altura  os  nevoeiros  são  perpétuos,  e  da  sua  perenne  conden- 
sação na  folhagem  de  uma  flor  sempre  verde  formam-se  pelas  suas  faldas 
verdadeiros  regatos  de  agua  crystallina.  Âli  a  temperatura  é  sempre  bai- 
xa ;  os  dias,  especialmente  na  estação  secca,  são  muito  frescos,  e  as  noi- 
tes frigídissimas.  Não  temos  d'estes  phenomenos  conhecimentos  theorfcos 
ou  práticos,  baseámo-nos  apenas  no  testemunho  de  pessoas  fidedignas. 

Nos  mezes  de  dezembro  a  maio  são  frequentes  as  grandes  tro- 
voadas; apparecem  ao  N.,  NE.,  ENE.  ou  E.  sobre  o  horisonte  visível 
densas  nuvens  negras,  que  sobem  com  muita  velocidade  durante  quin- 
ze a  trinta  minutos,  ímpellidas  por  um  vento  fresco  ou  forte  dos  mes- 
mos rumos. 

Os  trovões  que  se  ouviam  longe,  approximam-se  com  a  mesma  ra- 
pidez e  a  tão  pequena  distancia  do  porto,  que  é  inapreciável  o  espaço  de 
'tempo  entre  o  clarão  do  relâmpago  e  o  estampido  do  trovão;  uma  cbuva 
copiosíssima,  que  muitas  vezes  dura  doze  e  mais  horas,  acompanha  este 
plHsnomeno,  cessando  o  vento  completamente;  e  o  estado  do  mar  que  é 
em  geral  chão  e  muito  poucas  vezes  de  pequena  vaga,  chega  a  ser  de  gran- 
de vaga,  (|uando  principia  a  trovoada.  Observam-se  n'esta  occasiao  gran- 
de numero  de  ]  olampagos  das  três  seguintes  formas :  em  zig-zag,  com 
apparencía  do  globos  do  fogo,  e  em  faíscas  eléctricas  que  se  precipitam 
00  mar  ou  se  perdem  totalmente  no  espaço. 

Não  se  deve  pelas  observações  feitas  no  nosso  posto  julgar  da  quan- 
tidade da  chuva  que  cáe  durante  o  anno  na  ilha  de  S.  Thomé.  É  na  ver- 
dade na  cidade  onde  menos  chove. 

Durante  a  quadra  das  chuvas  é  raríssimo  o  dia  em  que  não  chove 
torrencialmente  no  interior  da  ilha,  phenomeno  que  infinitas  vezes  temos 
presenciado  olhando  do  porto  para  o  S.  e  SO.,  sem  que  possamos  reco- 
Iber  no  udomelm  seqlier  uma  gota  de  agua.  Saigy  calculou  a  media  annaal 
da  chuva  caída  em  mais  de  3:000  millímetros,  e  nós  queremos  que,  em- 
bora tenhamos  apenas  registado  nas  nossas  folhas  87S'*'",8,  a  quantidade 
total  se  deve  approximar  muito  da  calculada  por  aquelle  observador. 

Ê  necessário  atlendermos  lambem  a  que  este  anno  foi  um  dos  menos 

t*  chuvosos  n'esta  ilha. 
[      Os  nimbus  formados  do  S.  e  SO.  da  terrai  raras  vezes  caem  sobre 


^ 


64» 


Medias  do  anno  meteorológico  de  1874 

Barómetro  700""*,16.  Velocidade  do  vento  5S16.  Graus  de  humi- 
dade 81.  Graus  de  ozone  7.  Serenidade  do  céu  2. 

^.  •      i  Na  relva:  máxima  32,1 ;  mínima  17,6. 

Thermometro Ar        .  *  '  '  ^ 

( A  sombra :  máxima  28,7 ;  mmima  22,2 

Total  da  chuva  recolhida  872*^,8 ;  e  da  evaporaçSo  1342,8.     . 

Houve  durante  o  anno  sessenta  e  um  dias  de  chuva  e  trinta  e  um  de 
trovoada;  os  do  primeiro  semestre  já  foram  publicados  n'esta  folha,  e  os 
do  segundo  são:  em  junho,  chuva  nenhum,  trovoada  nenhum;  em  julho, 
chuva  nenhum,  trovoada  nenhum ;  em  agosto,  chuva  nenhum,  trovoada 
nenhum;  em  setembro,  chuva  8,  9  e  25,  trovoada  nenhum ;  em  outubro, 
chuva  9,  12,  14,  15,  1(5,  19,  21,  24  e  27,  trovoada  nenhum ;  em  novem- 
bro, chuva  1,  2,  O,  IG,  18,  24  e  28,  trovoada  1,  IG,  2i  e  28. 

O  dia  mais  chuvoso  do  anno  3  de  maio,  e  o  mais  ventoso  25  de  fe- 
vereiro. 

Os  ventos  predominantes  foram  os  do  quadrante  do  S.  os  geraes; 
todavia  poucos  dias  houve  em  que  entre  as  dez  horas  da  manhã  e  as  três 
da  tarde  não  soprassem  do  N. 

Na  ilha  de  S.  Thomé  ha  duas  estações  bem  caraclerisadas,  a  secca, 
que  dura  dos  principios  de  junho  ao  meado  ou  Qns  de  setembro,  e  a  das 
chuvas,  que  são  todos  os  mais  mezes  do  anno.  Na  secca  o  barómetro  sobe 
a  sua  media  (referindo-nos  ao  trimestre  de  julho  a  setembro)  762*^,23, 
o  ar  é  menos  húmido,  a  evaporação  é  maior,  sopram  com  grande  intensi- 
dade os  ventos  do  S.,  os  dias  e  as  noites  couservam-se  sempre  frescos, 
marcando  os  thermometros :  o  exposto  entre  35  e  40  graus,  os  da  relva, 
de  máxima  media  30  graus  e  de  minima  17,3,  e  os  da  sombra  de  má- 
xima media  28  e  de  minima  26,6.  O  estado  do  céu  de  dia  é  bastante 
nublado,  e  representada  por  2  a  sua  serenidade  media;  de  noite  a  sere- 
nidade é  maior;  ás  nove  horas  è  vulgar  ser  de  4,  e  depois  doesta  hora  vé-se 
frequentemente  o  céu  quasi  limpo.  A  confíguração  das  nuvens  que  mais 
predomina  é  cumuluss  cirrus  e  cirro-cumiUus. 

Nas  estações  das  chuvas  o  barómetro  desce,  a  sua  media  é  de  769"**,  16, 
(rcferimo-nos  ao  semestre  de  dezembro  a  maio).  O  ar  é  muito  húmido,  ha- 
vendo dias  em  que  a  media  do  vapor  atmospherico  chega  a  ser  de  90 
graus,  dados  pelo  psychromelro  de  Augusto;  a  evaporação  é  pequena,  o 
vento  ordinariamente  não  passa  de  uma  muita  ligeira  bafagem,  cuja  velo- 
cidade media  por  hora  é  de  5^13,  os  theiínoniclros  marcam:  o  exposto 
entre  42  e  50  graus,  e  os  da  relva  de  inuxíaia  34  graus  c  de  minima 
17,5;  e  os  da  sombra  de  máxima  temperatura  media  29,4  e  23  de  mini- 


(347 

ma.  O  estado  do  céu,  de  dia  quasi  sempre  nublado  como  Da  estação  secca, 
de  noite,  entre  as  dez  o  duas  horas  está  frequentemente  limpo,  especial- 
mente quando  nas  tardes  anteriores  houve  chuvas  e  trovoadas.  Â  conflgu- 
ração  das  nuvens  é  de  cumulas  e  nimbiis  ao  S.  e  SO. 

No  pico  da  ilha  de  S.  Thomé,  serro  altíssimo  e  inacessível,  já  pela 
sua  configuração,  já  pelo  cerrado  arvoredo  que  o  circumda  e  vegeta  sobre 
um  terreno  alagado  e  escorregadio,  e  n'outras  montanhas  também  de 
grandíssima  altura  os  nevoeiros  são  perpétuos,  e  da  sua  perenne  conden- 
sação na  folhagem  de  uma  flor  sempre  verde  formam-se  pelas  suas  faldas 
verdadeiros  regatos  de  agua  crystailína.  Âlí  a  temperatura  é  sempre  bai- 
xa ;  os  dias,  especialmente  na  estação  secca,  são  muito  frescos,  e  as  noi- 
tes frigidissimas.  Não  temos  d'estes  phenomenos  conhecimentos  theoricos 
ou  práticos,  baseámo-nos  apenas  no  testemunho  de  pessoas  fidedignas. 

Nos  mezes  de  dezembro  a  maio  são  frequentes  as  grandes  tro- 
voadas; apparecem  ao  N.,  NE.,  ENE.  ou  E.  sobre  o  horísonte  vísivel 
densas  nuvens  negras,  que  sobem  com  muita  velocidade  durante  quin- 
ze a  trinta  minutos,  impellidas  por  um  vento  fresco  ou  forte  dos  mes- 
mos rumos. 

Os  trovões  que  se  ouviam  longe,  approximam-se  com  a  mesma  ra- 
pidez e  a  tão  pequena  distancia  do  porto,  que  é  inapreciável  o  espaço  de 
'tempo  entre  o  clarão  do  relâmpago  e  o  estampido  do  trovão;  uma  cbuva 
copiosíssima,  que  muitas  vezes  dura  doze  e  mais  horas,  acompanha  este 
phenomeno,  cessando  o  vento  completamente;  e  o  estado  do  mar  que  é 
em  geral  chão  e  muito  poucas  vezes  de  pequena  vaga,  chega  a  ser  de  gran- 
de vaga,  (|uando  principia  a  trovoada.  Observamse  n'esta  occasião  gran- 
de numero  de  relâmpagos  das  três  seguintes  formas:  em  zig-zag,  com 
apparencia  de  globos  de  fogo,  e  em  faíscas  eléctricas  que  se  precipitam 
00  mar  ou  se  perdem  totalmente  no  espaço. 

Não  se  deve  pelas  observações  feitas  no  nosso  posto  julgar  da  quan- 
tidade da  chuva  que  cáe  durante  o  anno  na  ilha  de  S.  Thomé.  É  na  ver- 
dade na  cidade  onde  menos  chove. 

Durante  a  quadra  das  chuvas  é  raríssimo  o  dia  em  que  não  chove 
torrencialmente  no  interíor  da  ilha,  phenomeno  que  infinitas  vezes  temos 
preseiiciado  olhando  do  porto  para  o  S.  e  SO.,  sem  que  possamos  reco- 
lher no  udometix)  sequer  uma  gota  de  agua.  Saigy  calculou  a  media  annaal 
da  chuva  caída  em  mais  de  3:000  millímetros,  e  nós  queremos  que,  em- 
bora tenhamos  apenas  registado  nas  nossas  folhas  87S"'",8,  a  quantidade 
total  se  deve  approximar  muito  da  calculada  por  aquelle  observador. 

È  necessário  attendennos  também  a  que  este  anno  foi  um  dos  menos 
'  chuvosos  n^esta  ilha. 

Os  nimbas  formados  do  S.  e  SO.  da  terrai  raras  vezes  caem  sobre 


í 


64» 


Medias  do  anno  meteorológico  de  1874 

Baromelro  700""*,  16.  Velocidade  do  vento  5Sl6.  Graus  de  humi- 
dade 81.  Graus  de  ozone  7.  Serenidade  do  céu  2. 

^.  .      i  Na  relva:  máxima  32,1 ;  mínima  17,6. 

Thermometro .    ,        .  *  '  '  ^ 

( A  sombra:  máxima  28,7 ;  mmima  22,2 

Total  da  chuva  recolhida  872*^,8;  e  da  evaporaçSo  1342,8.     . 

Houve  durante  o  anno  sessenta  e  um  dias  de  chuva  e  trinta  e  um  de 
trovoada;  os  do  primeiro  semestre  já  foram  publicados  n'esta  folha,  e  os 
do  segundo  s3o:  em  junho,  chuva  nenhum,  trovoada  nenhum;  em  julho, 
chuva  nenhum,  trovoada  nenhum ;  em  agosto,  chuva  nenhum,  trovoada 
nenhum;  em  setembro,  chuva  8,  9  c  25,  trovoada  nenhum ;  em  outubro, 
chuva  9,  12,  14,  15,  10,  19,  21,  24  e  27,  trovoada  nenhum ;  em  novem- 
bro, chuva  1,  2,  O,  10,  18,  24  c  28,  trovoada  1,  10,  24  e  28. 

O  dia  mais  chuvoso  do  anno  3  de  maio,  e  o  mais  ventoso  25  de  fe- 
vereiro. 

Os  ventos  predominantes  foram  os  do  quadrante  do  S.  os  geraes; 
todavia  poucos  dias  houve  em  que  entre  as  dez  horas  da  manhã  e  as  três 
da  tarde  nâo  soprassem  do  N. 

Na  ilha  de  S.  Tliomé  ha  duas  estações  bem  caracterisadas,  a  secca, 
que  dura  dos  princípios  de  junho  ao  meado  ou  Qns  de  setembro,  e  a  das 
chuvas,  qup  são  todos  os  mais  mezes  do  anno.  Na  secca  o  barómetro  sobe 
a  sua  media  (referindo-nos  ao  trimestre  de  julho  a  setembro)  762''%23, 
o  ar  é  menos  húmido,  a  evaporação  é  maior,  sopram  com  grande  intensi- 
dade os  ventos  do  S.,  os  dias  e  as  noites  conservam-se  sempre  frescos, 
marcando  os  thermometros:  o  exposto  entre  35  e  40  graus,  os  da  relva, 
de  máxima  media  30  graus  e  de  mínima  17,3,  e  os  da  sombra  de  má- 
xima media  28  e  de  mínima  26,6.  O  eslado  do  céu  de  dia  é  bastante 
nublado,  e  representada  por  2  a  sua  serenidade  media;  de  noite  a  sere- 
nidade é  maior;  ás  nove  horas  è  vulgar  ser  de  4,  e  depois  doesta  hora  vé-se 
frequentemente  o  céu  quasi  limpo.  A  configuração  das  nuvens  que  mais 
predomina  é  cumulas,  cirrus  e  cirro-camulus. 

Nas  estações  das  chuvas  o  barómetro  desce,  a  sua  media  è  de  760"",  i  6, 
(referimo-nos  ao  semestre  de  dezembro  a  maio).  O  ar  é  muito  húmido,  ha- 
vendo dias  em  que  a  media  do  vapor  atmospherico  chega  a  ser  de  90 
graus,  dados  pelo  psychrometro  de  Augusto;  a  evaporação  é  pequena,  o 
vento  ordinariamente  não  passa  de  uma  muita  ligeira  bafagem,  cuja  velo- 
cidade media  por  hora  é  de  oSl3,  os  theruioniclros  marcara:  o  exposto 
entre  42  e  50  graus,  e  os  da  relva  de  muxiuia  34  graus  e  de  mínima 
17,5;  e  os  da  sombra  de  máxima  temperatura  media  29,4  e  23  de  miui^ 


(347 

ma.  O  estado  do  céu,  de  dia  quasi  sempre  nublado  como  Da  estação  secca, 
de  noite,  entre  as  dez  e  duas  horas  está  Trequcntemente  limpo,  especial* 
mente  quando  nas  tardes  anteriores  houve  chuvas  e  trovoadas.  Â  configu- 
ração das  nuvens  é  de  cumulas  e  nimbus  ao  S.  e  SO. 

No  pico  da  ilha  de  S.  Thomé,  serro  altíssimo  e  inacessível,  já  pela 
sua  configuração,  já  pelo  cerrado  arvoredo  que  o  circumda  e  vegeta  sobre 
um  terreno  alagado  e  escorregadio,  e  n'outras  montanhas  também  de 
grandíssima  altura  os  nevoeiros  são  perpétuos,  e  da  sua  perenne  conden- 
sação na  folhagem  de  uma  flor  sempre  verde  Tormam-se  pelas  suas  faldas 
verdadeiros  regatos  de  agua  crystallina.  Âti  a  temperatura  é  sempre  bai- 
xa ;  os  dias,  especialmente  na  estação  secca,  são  muito  frescos,  e  as  noi- 
tes frigidissimas.  Não  temos  d'estes  phenomenos  conhecimentos  theoricos 
ou  práticos,  baseámo-nos  apenas  no  testemunho  de  pessoas  fidedignas. 

Nos  mezes  de  dezembro  a  maio  são  frequentes  as  grandes  tro- 
voadas; apparecem  ao  N.,  NE.,  ENE.  ou  E.  sobre  o  horisonte  visivel 
densas  nuvens  negras,  que  sobem  com  muita  velocidade  durante  quin- 
ze a  trinta  minutos,  impellidas  por  um  vento  fresco  ou  forte  dos  mes- 
mos rumos. 

Os  trovões  que  se  ouviam  longe,  approximam-se  com  a  mesma  ra- 
pidez e  a  tão  pequena  distancia  do  porto,  que  é  inapreciável  o  espaço  de 
tempo  entre  o  clarão  do  relâmpago  e  o  estampido  do  trovão;  uma  cbuva 
copiosíssima,  que  muitas  vezes  dura  doze  e  mais  horas,  acompanha  este 
phenomeno,  cessando  o  vento  completamente;  e  o  estado  do  mar  que  é 
em  geral  chão  e  muito  poucas  vezes  de  pequena  vaga,  chega  a  ser  de  gran- 
de vaga,  (|uando  principia  a  trovoada.  Observamse  n'esta  occasião  gran- 
de numero  de  lelampagos  das  Ires  seguintes  formas:  em  zig-zag,  com 
apparencia  de  globos  de  fogo,  e  em  faíscas  eléctricas  que  se  precipitam 
00  mar  ou  se  perdem  totalmente  no  espaço. 

Não  se  deve  pelas  observações  feitas  no  nosso  posto  julgar  da  quan- 
tidade da  chuva  que  cáe  durante  o  anno  na  ilha  de  S.  Thomé.  É  na  ver- 
dade na  cidade  onde  menos  chove. 

Durante  a  quadra  das  chuvas  é  raríssimo  o  dia  em  que  não  chove 
torrencialmente  no  interior  da  ilha,  phenomeno  que  infinitas  vezes  tédios 
preseiiciado  olhando  do  porto  para  o  S.  e  SO.,  sem  que  possamos  reco- 
lher no  udometix)  seqUer  uma  gola  de  agua.  Saígy  calculou  a  media  annaal 
da  chuva  caída  em  mais  de  3:000  millimetros,  o  nós  queremos  que,  em- 
bora tenhamos  apenas  registado  nas  nossas  folhas  87â"'",8,  a  quantidade 
total  se  deve  approxímar  muito  da  calculada  por  aquclle  observador. 

É  necessário  attendermos  também  a  que  este  anno  foi  um  dos  menos 
'  chuvosos  n^esta  ilha. 

Os  nimbus  formados  do  S.  e  SO.  da  tenai  raras  vezes  caem  sobre 


648 

a  cidade.  Quando  apparecem  os  fiimbus  a  O.,  NO.,  N.,  e  NE.  oa  E.,  d 
mar,  e  são  acompanhados  por  vento  fraco,  moderado,  fresco  ou  forti 
podemos  ter  como  certo  que  uma  chuva  intensíssima  e  duradoara  ei 
sobre  toda  a  cidade  ^ 

Anno  meteorológico  do  1."  de  dezembro  de  1874 
a  30  de  novembro  do  1876 

Pressão  barométrica  7 59'"*°, 72. 

Thermometro:  exposto  43,7;  na  relva  o  de  máxima,  32,3,  e  o  è 
minima  21,3 ;  á  sombra,  o  de  máxima  28,8,  e  o  de  minima  22,0. 

Psychrometro :  graus  de  humidade  82. 

Anemómetro :  velocidade  do  vento  (horária)  4  kilometros. 

Ozonometro:  graus  de  ozone  5. 

Quantidade  das  nuvens  que  encobriram  o  céu  8. 

Serenidade  do  céu  2. 

Estado  do  mar  1  (chão). 

Total  da  evaporação  l:544'""',d. 

Total  da  chuva  recolhida  1:305  millimelros. 

Houve  durante  o  anno  noventa  c  seis  dias  de  chuva  e  cincoenta  e  ui 
de  trovoada. 

De  chuva  foram:  cm  dezembro,  os  dias  2,  8,  9,  12,  lU,  23,  24,  í 
e  27;  em  janeiro,  os  dias  3,  4,  5,  8, 10,  13,  14,  17,  18  e  27^  em  Tev 
reiro,  os  dias  2,  7,  9, 14, 17,  22  e  23;  em  março,  os  dias  1, 10, 11,  |i 
18,  21,  23,  25,  27,  29  e  31 ;  em  abril,  os  dias  5,  6,  7,  9  e  16;  emmai 
os  dias  8,  14,  15,  IG,  17,  22,  25,  27,  28,  29  e  30;  cm  junho,  os  dias 
e  3 ;  em  julho,  o  dia  21 ;  em  agosto,  os  dias  11, 16, 17,  20,  21,  25,  2 
27,  28,  29  o  31 ;  em  setembro,  os  dias  4,  7,  14, 16,  17,  21  e27;  e 
outubro,  os  dias  2,  8,  9,  II,  14,  15,  16,  17,  18,  19,  22,  23,  30  6  3^ 
e  em  novembro,  os  dias  5,  7,  i),  15,  17,  19,  24  e  28. 

Os  de  trovoada  foram :  em  dezembro,  os  dias  4,  5,  16,  1 7, 23,  24 
26;  cm  janeiro,  os  dias  3,  4,  5,  G,  13,  14,  e  27 ;  em  fevereiro,  os  dias 
7,  9,  14,  17,  22  e  23;  em  março,  os  dias  1,  11,  16,  21,  23,  25,  27,  í 
e  31 ;  em  abril,  os  dias  5,  6, 12  e  23 ;  em  maio,  os  dias  5,  8, 13, 14, 1 
18,  21  e  25 ;  em  junho  e  julho  não  houve  trovoadas ;  em  agosto,  o  dia  21 
em  setembro,  não  houve  trovoadas;  em  outubro.  Os  dias  4,  7, 12  e  li 
c  em  novembro,  os  dias  9,  24  e  28. 

As  trovoadas  foram  todas  de  pequena  intensidade. 

O  dia  de  maior  chuva  foi  cm  23  de  março. 

Observámos  no  anno  1:080  vezes  a  direcção  do  vento,  e  registam 


\ 


*  Boletim  official  da  provincial  n.°  11,  de  i3  de  março  de  1875. 


649 

7  do  quadrante  de  E.,  i2  de  NE,  79  do  N.»  25  de  NO.,  i4  de  O.,  i57  do 
SO.,  588  do  S.,  12  de  SE.,  3  de  SSO.  e  183  de  calma.  Predominou  o  vento 
S.  O  dia  de  mais  vento  foi  em  1  de  março. 

Não  houve  tempestades. 

O  estado  do  mar  foi  sempre  chão;  algumas  vezes,  porém,  fora  das  três 
horas  das  observações  diárias,  observámol-o  de  pequena  vaga,  e  de  grande 
vaga  entre  o  ancoradouro  da  bahia  de  Ânna  de  Chaves  e  o  horisonte. 

  configuração  das  nuvens  foi  cumidus,  cirrtês,  cirro-cumulus,  ntm- 
bus  e  cumulo-mfnbus. 

Predominaram  eumulus  e  cirrus-eumulus. 

O  estado  do  céu,  de  dia,  foi  geralmente  muito  nublado  ou  encoberto, 
sendo-ihe  registrada  a  quantidade  das  nuvens  por  7,  8  e  10;  e  de  noite 
foi  quasi  limpo  entre  as  oito  e  dez  horas,  e  limpo  muitas  vezes  das  dez  até 
ás  duas  e  três  horas. 

ComparagSo  da  meteorologia  d'e8te  anno  oom  a  do  anno  anterior 

Pressão  barométrica.  —Foi  menor  a  d*este  anno;  differença  72  míl- 
iimetros. 

Thermometria.— A  temperatura  foi  igual  á  do  anno  precedente  (de- 
duzido dá  comparação  das  máximas  e  mínimas  na  relva,  e  máximas  e  mi- 
nimas  á  sombra). 

Humidade.  —  Foi  mais  húmido  este  anno;  differença  I  grau. 

Ozonometria. — A  quantidade  do  ozone  foi  menor  este  anno;  diffe- 
rença 2  graus. 

Anemometria.— A  velocidade  do  vento  foi  menor  este  anno;  diffe- 
rença 1^,16. 

Serenidade  do  céu.  —A  doeste  anno  foi  igual  á  do  anno  anterior. 

Pluviometria.  —  A  quantidade  de  chuva  foi  menor  este  anno ;  diffe- 
rença  na  totalidade  o32'"^8. 

Evaporimetro.  —  A  evaporação  foi  maior  este  anno ;  differença  na  to- 
talidade 196'"™,!  ^ 

Primeiro  semestre  do  anno  meteorológico  de  1876 

(Barómetro,  pressão 759"",73 

Medias /Na  relva      í  **^*™* '*'* 

Un  •  Minima 16,2 

Thermometros  <  ,.    .  '^ 

/        .         Máxima 29,2 

A  sombra..  ...  .  ' 

Mínima 20 


\ 


Boletim  official  da  provinda,  n.*  3,  de  i5  de  jandiro  de  1876. 


680 

Elposto 43ȉ 

Psycbrometro,  humidade 84^  J 

^  ,.  JOzonometro,  ozone 5,4 

lOscillaçoes  baromelricas 2™,10 

Quantidade  de  nuvens  que  encobriram  o  céu. . .  7 

Estado  do  mar 1 

,|,     ,  l  Chuva  recolhida 733™,9 

j  Evaporação 728,6 

Mez  mais  chuvoso  (quantidade  de  chuva  191"",!)  março. 
Houve  n'este  semestre  quarenta  e  oito  dias  de  chuva  e  trinta  e  nove 
de  trovoada. 

Os  de  chuva  foram:  cm  dezembro,  5,  8,  11,  12,  17,  22,  26  e28; 
em  janeiro,  1,  3,  7, 18,  20,  22,  27  e  31 ;  em  fevereiro,  1,  8, 11, 15, 17, 
18,  19,  21,  22  e  25;  em  março,  4,  7,  H,  12,  13,  18,  21,  22,  26  e29; 
em  abril,  8,  9,  12,  13,  17,  20,  21,  22  e  30;  em  maio,  12,  13  e  10. 

Os  de  trovoada  foram:  em  dezembro,  3,  5,  12,  i4,  17,  20  e  28;  em 
janeiro,  1,  7,  18  e  27 ;  em  fevereiro,  8,  11,  13,  17,  18,  21,  22,24  e  25; 
em  março,  2,  4,  6,  10, 1 1,  12,  13,  18,  20,  21,  22, 26  c  29;  em  abril,  8, 
20,  21,  22  e  30;  em  maio,  6. 

No  mesmo  semestre  observámos  484  vezes  â  direcç3o  dos  ventos  e 
registámos  282  do  quadrante  do  S.,  75  de  SO.,  39  do  N.,  7  de  SE.,  6  de 
O.,  4  de  NO.,  3  de  E.,  3  de  NE.  e  45  de  calma  ^ 


Se  o  calor  e  a  humidade  exercem  muita  influencia  nos  seres  organisa- 
dos,  a  da  pressão  atmospherica  nao  é  menos  notável,  bem  como  as  da 
natureza  do  solo  o  das  aguas,  o  estado  da  agricultura  e  das  florestas,  a 
posição  dos  montes,  etc,  etc.  Podemos  portanto  dizer  que  a  meteorolo- 
gia e  a  geologia  fornecem  valiosos  elementos  para  se  conhecer  a  natureza 
do  clima  das  ilhas  de  S.  Thomé  e  Príncipe  e  do  de  Ajudi,  que  formam  a 
província  de  S.  Thomé  e  Príncipe,  e  suas  dependências;  nlo  se  teodo  to- 
davia feito  até  hoje  os  necessários  estudos  acerca  das  duas  sciencias  re- 
feridas com  applicação  á  mais  Tertil  província  da  coroa  de  Portugal  nu 
ultramar. 


I 


1  Boletim  ofíkial  da  proviticiaj  1870. 


CAPITULO  XVIII 


Climatologia 


La  pluparl  des  goaveroeruenlá,  coroproial  combíea 
les  études  climalniogiques  ont  «rimportanco  pour  Tagri- 
rulture,  la  navigaliuo  d  riiy^iònc  publique,  ool  coo- 
struil  des  obsenaloirrs  de  mól(H)rologie  placós  daiiH  des 
stations  choisies  avec  soin. 

(P.  A.  Itaguln,  \ol.  3.',  |>ag.  3U.) 

CoDsideraçifs  geraes.— Icsomo  dis  tbserTi{5es  meteorológicas  no  aoDO  de  1838. -Media  das  ^das 
dos  Bfzes  cm  1838.— Ventos  qie  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  em  1858.  — Resumi  dos 
Yritos  que  se  observaram  por  décadas  de  cadamez  em  1858.— Resumo  das  observações  mete«rolo- 
jicas,  por  meies,  lo  anuo  de  187!.— Numero  de  ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thoinc 
em  187?.— Resumo  dos  ventos  que  se  observaram  por  décadas  em  cada  mcz  em  1872.— Quadra 
das  ventanias,  estação  secca,  em  1872.—  Quadra  das  chuvas  em  1872.— Happa  contendo  o  numero 
de  vezes  qne  os  ventos  sopraram  de  noite  para  a  cidade  de  S.  Thomé  nos  mezes  de  março  a  dezem- 
bro de  1872.— Resumo  das  observações  meteorológicas  no  anno  de  1873.— ledias  das  décadas  dos 
mezes  dtaaioie  1873.- lappa  dos  ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  em  1873.— 
Resimo  dos  veitos  qie  se  observaram  por  décadas  de  cada  mei  em  1873.— Resumo  das  observa- 
Mies  meteorológicas  lo  anno  de  1874.— Hedia  das  décadas  dos  mezes  de  187-1.— Ventos  que  sopra- 
ram para  a  cidade  de  8.  Thomé  em  1 8  7  4.—  Resumo  dos  ventos  que  se  «bsenrarim  por  deciéii  éb  cada 
mrz  em  1874.— Resumo  das  obsenaçôes  meteorológicas  no  anno  de  1875.— Hedia  das  dctadasdos 
mezrs  de  1 8  75.—  Ventos  que  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomé  em  1 8  75.—  Resumo  dos  ventos  que 
se  observaram  por  deradas  de  cada  mez  em  1875.- Resumo  das  observações  ueteorologiras  no  anno 
de  1876.— ledia  das  décadas  dos  mezes  do  amo  de  1876.— lappa  dos  ventos  que  sopraram  para 
a  cidade  4e  8.  Thomé  em  1876.— Resumo  dos  \entos  que  se  observaram  por  décadas  de  cada  mez 
em  1876. 

(jual  será  a  natureza  do  clima  da  ilha  de  S.  Thomé? 

Ê  este  o  assumpto  de  que  nos  vamos  occupar,  e  antes  de  entrar  n'ou- 
trás  considerações,  apresentamos  os  seguintes  mappas,  que  extrahimos 
das  observações  publicadas  no  Boletim  o/ficial  da  província.  Referem-se 
a  dilTercnles  annos,  tendo  as  observações  sido  feitas  por  vários  observa- 
dores, o  em  diversos  logares  da  cidade.  Começaremos  pelo  anno  de  1858, 
que  foi  o  primeiro  em  que  se  flzeram. 


Resumo  d)s  obsrrrafôrs  mrleorologicag  do 


Janeiro 

Fevereiro 

Março 

Abril 

Maio 

lunbo 

Julho 

Agosto 

Sclembro 

Oulubro 

NoTenibro 

Detembro 

ICedioB  trimestres 

t.' 

2.' 

3.' 

4.' 

Uediae  do  oito  mezea 


758,I0|  28,41 
759,58  39.71 
760.5l'  28,94 


761,80 
761,4-! 
761.1  li 
75Í1.33, 


JV.  B.  Nos  meies  tie  janeiro,  fevereiro,  iriarco  e  óeti 
KiytçOei,  e  do  de  abril  faliam  as  Uuaa  primeiraa  decaJa 
de  quasi  cineo  meies. 


653 


Hedia  das  deeadas  dis  mexes  de  Í8!i8 


MeiM 


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Thormoinetro 

Alturas    b. 
tricas 

Maiima   1 
absoluta  f 

SI 

•mm  ^S 

a  g 

- 

- 

- 

758,10 

29,2 

23,7 

759,18 

28,88 

23,66 

759,54 

30,5 

23,8 

759,93 

30,1 

23,7 

760,10 

28,9 

23,1 

760,53 

28,3 

23,1 

760,97 

27,6 

21,6 

761,24 

27,0 

21,3 

76135 

26,6 

21,6 

762,17 

26,6 

20,9 

761,99 

27,6 

21,1 

761,43 

27,4 

21,2 

760,81 

27,6 

21,6 

761,39 

27,9 

21,7 

762,03 

28,4 

22,6 

leofis 

26,3 

28,4 

759,86 

26,6 

28,8 

759,06 

27,2 

29,0 

759,89 

30,7 

22,9 

759,20 

30,7 

23,5 

759,59 

28,1 

22,0 

758,96 

29,5 

23,1 

l 

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- 

- 

SO. 

1,«) 

s. 

0,9 

s. 

1,3 

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U 

s. 

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1,9 

s. 

1.7 

Se  sso. 

1,9 

SSO. 

í,« 

SSO.  e  SSE. 

1,7 

SSE. 

1,7 

SSO. 

1,9 

SSO.  e  SSE. 

1,7 

s. 

1.4 

s. 

• 

1,8 

s.  sso. 

1,5 

s. 

1,6 

SB.  e  SSO. 

1,4 

SSE. 

1.6 

SSE. 

1,3 

SB. 

1,1 

S. 

l,í 

1,09 
4,7 

8,4 


1.1 
0.5 

0,1 

1.8 
1.0 
1.0 
0,1 

IM 

61,0 
19,1 


'.  B.  Nfo  se  mencionam  n'este  mappa  os  mezes  de  janeiro,  fevereiro,  mar(0, 
embro,  porque  nos  faltam  as  obsenraçOes  que  lhes  diiem  respeito. 


Vínlos  que  sopraram  pari  a  cidadt  de  S.  Tboinè,  r: 


Superiores . 

N 

14 

Inferiores... 
Occidenta» . 

Orienlaes... 

NNK 

.   .    ..     SO 

0 

SO 

SE 

32 

28 

19S 

ENE 

3J 

Resumo  dns  vcnlos  que  se  obsenaram  por  décadas  de  cada  míi 
no  2.",  i.°  e  -1.°  Irimeslre  de  18SS 


Segundo  trimeatre 


ESE 

oso 

NNE 

0... 

s. .. 

SE. 

SSE 

SSO 

NE. 

N... 

NO. 
F,... 

Teroeiro  trimestre 


SO.... 
ESE... 
NNB.. 


B 

ENE.. 
NKO.. 


Jd 

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Pecid.ii 

SfKmliro 
Decadat 

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13 

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40 

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1 

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1 

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3 

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1 

- 

- 

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- 

1 

- 

- 

1 

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3 

3 

1 

- 

2 

iS 

12 

14 

39     19 

1 
16 

31 

i 
52 

i3 

i 
13 

~ 

^^ 

i:t5  I 


Quarto  trimestre 

Kdidoi 

NQVímbni 

1.' 

i 

1 

1 
_ 

8 
3 

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1.* 

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1 

ESE. 

oso 

NHE 

SE 

13 

49 

8S0 

NO 

ENE. 

Itesnmo  das  observiífôcs  meteorológicas,  por  meies,  no  anno  de  1S7S 

'        acia 

TeiiipLTJliir.i 

lliiraúkile 

„.,.,.,„.. 

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5    ^ 

A  toatbn 

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1 

Margo(a) 

758,89 

46,69 

á'J,o6 

21, It 

23.33 

32,62 

79,0 

12 

n.70 

21,24 

íl,04 

80,9 
83,36 

aaio(i.) 

758,i>0 

39,a7 

39,91 

22,C6 

25,78 

11 

19,51 

Juiiliu(r) 

7ai,i6 

46.84 

26,94 

26,88 

26,91 

19,27 

79,6 

3 

14,4 

Julho  (,í) 

738.77 

49,43 

22,n 

19,91 

2i,0S 

18,30 

70,3 

- 

- 

AeosIoM 

7C0,ai 

48,63 

23,29 

21,19 

22,2i 

20,41 

86,15 

3 

0,39 

Seleiíibro  (/).... 

760,49 

47,83 

24,07 

21,74 

22,90 

18,78'  72,2 

4 

3,80 

Oulubro 

7o!l.87 

41,50 

27,07 

23.53 

24,81 

20,58 1  83,6 

15 

13,81 

NovcniLro 

7o8,í)8 

42,89 

20,06 

22,39 

24,32 

20,53  RI, 5 

9 

28,7 

Dezariiliro  (g).... 

738,  iã 

43,02 

27,;ío 

23,37 

25,43 

21,11    81,6 

9 

12.46 

(r)  ano  i'Uut<'u  noi  Mmoi  Úet  Mm.  I'[lw'ir>í<>  <lii  i-ilarãu  MCU  ou  venluias. 

(rf|»atíi»i.-auiiiM< 

a  Nctie  lun.  Km  11),  9I> r  H  riirain oi dúi d<-  maia  Kii»  Icmpirnlu». 

(()  NloclMvran<urriinelroid«Jlis<in,i»;:iii>.1a.l».-iil»b«i»JolidinsJi'Chii>ii,  eln-íiulfr.c<>a. 

tf)  Klm  bimic  DlHur>«{ik»  tm  quatro  iliiu  d»  iilllmi  iIccuU. 
il)  Ito  dIUdu  (Irradi  iHo  u  Uicnm  obKr>i{itM  n>  hU  diii. 

o  mez  de  abril  foi  o  mais  quente. 
O  mez  de  jullio  foi  o  mais  fresco. 

lAbril  (mais  alia) 76i""',í!S 

"^^''^ (Dezembro  fmais  baixa) 758— ,15 


Differença  enlre  as  medias  d'estes  dois  mezes  . 


3,10 


Temperatura  (ã  sombra))!^™^^^;;;'^^^;-/^;; 


30,S2 
19,91 


DlETerença . 


lff,6l 


Outubro,  março  e  abril  foram  os  mez^s  em  que  liouve  mais  dias  de 
cbuva. 

As  veutanias  começaram  em  junho,  prolongaram-se  pelos  mezes  de 
julbo,  agosto  e  setembro;  é  esta  a  estação  própria  para  excursi^es  ao  in- 
terior da  ilba,  sendo  os  mezes  ào  julho  o  agosto  os  mais  favoráveis  para 
esse  fim. 


TrliDítltci 

7S8,I0 
739,9.1 

7SS,00 

Hum 

,.,, 

c„. 

3  Cild. 

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26J(7 

2y,87 
S0,94 
22,83 

2G.33 

22,03 
21.85 

20,51 
Í9.I8 
30,74 

80,!10 
80,07 
81  ^ 

i:;.t8 

1,39 
18,39 

0  segundo  Irimeslre  foi  o  mais  quente  e  o  lerctir 
JV.  D.  Et,ias  (ibsKrv atoes  nSo  correspondem  a  lodos 

0  mais  íieseo. 
oa  dias  dus  differt 

iiles  iiiezts. 

PaltaraiD  as  observações  de  janeiro  e  fevereiro,  assim  como  se  nSo 
Qzerem  em  muitos  dias  dos  dez  mezes  observados,  e  por  isso  não  se  tirou 
a  media  animal. 

N3ú  se  calcularam  as  variações  diurnas  da  pressão  atmospberica,  om 
as  nocturnas  da  temperatura. 


65» 


Ventos  qne  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thomè  em  1S72 


Roídos 


NE.. 

NNE. 
N... 
NNO. 
NO.. 
SE.. 
SSE. 
S..., 
SSO. 
SO.. 
OSO, 
O... 
ONO 
E8E. 
E... 
ENE 


Namero 
de  vezes 


20 

40 
4 

14 
112 

30 
379 

22 

23 

O 

130 

12 

16 


Observações 


Venlos  superiores.  —  O  porlo  da  cidade 
está  exposto  aos  ventos  do  N. 


Ventos  inferiores.  —  O  vento   do   SO.  è 
o  mais  prejudicial  á  cidade. 


5 


873 


Venlos  occidentaes.  —  Ficam  d'estc  lado 
as  altas  montanhas  da  ilha. 

Ventos  orienlaes. — A  costa  oriental  da 
ilha  olha  para  o  continente  africano  e  o 
porto  da  cidade  está  exposto  a  E. 


Os  venlos  de  O.  o  do  S.  chegam  â  ilha  depois  de  alravessareni  as 
aguas  do  mar  da  Guiné.  As  montanhas,  que  começam  a  elevar-se  a  45 
ou  ^0  kilometros  da  cidade,  formam  cordilheiras,  subindo  a  2: SOU  me- 
tros de  allura  e  algumas  a  3:000  melros,  oppondo  assim  uma  enorme 
barreira  á  violência  dos  ventos  e  á  sua  direcção  de  O.  para  OSO.  ou  para 
NO. 

Nos  terrenos  da  illia  encontram  os  ventos  SE.  e  £SE.  pântanos^  paueSi 
lagoas  e  charcos,  os  quaes  correm  da  fortaleza  de  S.  Sebastião  para  o  S. 
São  estes  os  ventos  mais  prejudíciaes  á  cidade  de  S.  Thomé. 

A  bahia  de  Anna  de  Chaves  e  a  cidade  de  S.  Thomé  estão  exposta? 
aos  ventos  de  NE.  e  SE.,  os  quaes  podem  prejudicar  as  embarcações  sur- 
tas no  porlo,  trazendo-as  á  terra. 

Os  ventos  vindos  do  continente  africano,  atravessando  a  porção  do 
mar  que  fica  entre  a  costa  do  golfo  dos  Mafras,  chegam  á  ilha  pela  sua 
margem  septentrional  e  oriental.  São  os  ventos  ONO.,  NO.,  NNO.,  N., 
E.,  ESE.  A  ilha  n3o  offerece  terrenos  aos  ventos  de  N.  e  de  E.,  mas  a 


660 

todos  os  outros,  sem  excepção,  oppõe  serras,  e  inrelizmente  a  alguDs 
d'elles  logares  pantaocsos,  como  acima  dissemos. 

Os  ventos  que  mais  predominam  são  os  do  S.,  e  d'este  lado  chegam 
á  ilba,  e  açoutam>na  com  violência,  tornando  perigosas  as  praias  do  S. 

Os  rumos  dos  ventos  observados  correspondem  ás  nove  horas  da  ma- 
nhã e  ás  nove  da  noite.  Para  se  conhecer  o  clima  da  ilha  de  S.  Thomé,  e 
especialmente  o  da  cidade,  onde  reside  a  maioria  dos  europeus,  pre- 
cisa-se  de  maior  numero  de  observações  meteorológicas. 

O  estudo  dos  ventos  nunca  será  surGcienlemente  dirigido  sem  que  se 
façam  o  maior  numero  possivel  de  ohservatões  de  mite  e  de  dia.  sem 
que  se  note  o  tempo  do  começo  e  duração  das  aragens,  das  brisas  ou  dos 
ventos  iocaes,  etc. 


llesumo  dos  vcnlos  que  se  oiíservaram  por  decutas  em  cada  mei 

DO  anne  de  1872 

Macpj 

Abril 

»^. 

Sm\w 

DecailiM 

Ilerad» 

Decadm 

OfciíJaf 

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233 

661 

Durante  as  observações  ás  nove  horas  da  manh3,  no  mez  de  março, 
predominou  o  vento  SE.,  e  depois  o  N.,  SO.  e  ESE. 

Nos  dias  25  a  S8  de  março  houve  a  mais  alta  temperatura,  notando-se 
os  ventos  E.,  SE.  e  ESE. 

O  dia  de  mais  chuva  Toí  o  dia  28  com  o  vento  de  SE.  de  manhã  e  E. 
pelas  nove  horas  da  noite. 

No  mez  de  abril  foi  o  vento  de  SE.  mais  frequente  do  que  em  março, 
e  depois  d'elle  foi  o  E. 

Choveu  muito  no  dia  18  do  abril,  havendo  de  manhã  vento  N. ;  no  dia 
13  foi  também  muita  a  chuva,  mas  o  vento  foi  SE. 

No  mez  de  maio  começou  o  vento  S.  a  substituir  o  SE.,  e  emquanto 
que  este  soprou  dezoito  vezes,  aquelle  apresentou-se  vinte  e  três,  sendo 
notável  que  no  dia  de  maior  chuva  se  marcasse  ás  nove  horas  da  ma- 
nhã o  vento  N.,  direcção  inferior.  Os  ventos  n'estes  dias  não  foram  fracos. 

No  mez  de  junho  ha  a  completa  substituição  do  vento  SE.  pelo 
S.  que  predominou  sobre  todos  os  outros  com  grande  differença.  As 
ventanias  começam  na  ultima  década  doeste  mez,  e  é  evidente  que  lho 
abrem  as  portas  os  ventos  do  S.  Nos  últimos  dez  dias  d*este  mez  não 
choveu. 


QuMilrn  dns  veolitniss  em  1873 

Jullio 

Asoílo 

Selíinl.ro 

Buino9 

D^uilu 

Di'ud:is 

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17 

O  mez  de  julho  é  o  principal  das  ventanias;  não  houve  era  todo  f 
iim  só  dia  de  chuva,  e  o  vento  do  S.  soprou  com  frequência.  Os  dias 
mais  baixa  temperatura  corresponderam  a  17  a  20  de  julho,  reinandi 
noite  e  de  manhã  o  vento  S.  e  0. 

Em  algumas  fazendas  da  ilha  ha  frio,  segundo  asseveram  os  fazi 
deiros. 

No  mez  de  agosto  predominou  o  vento  S.  Os  primeiros  chuvisc 
depois  de  sessenta  e  sete  dias  successivos  sem  chuva,  appareceram 
dia  \  7,  marcando-sc  o  vento  N.  de  manhã  e  á  noite  o  S.  No  mez  de  ago 
houve  chuviscos  nos  dias  17,  18,  SI,  28e  31 ,  mas  em  quantidade  ir 
gnificanle. 


Em  cada  um  dos  últimos  quatro  dias  ile  setembro  clioven,  e  as  ven- 
tanias chegaram  ao  seu  termo,  mas  ainda  o  vento  S.  dominou  todos  os 
outros. 


Qaadra  de  chavas  fir  1^73 

Oululiro 

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171 

No  mez  de  outubro  predominarnm  os  ventos  do  S.,  mas  os  de  SE. 
e  os  de  O.  foram  quasi  metade  do  numero  que  representa  o  vento  S. 

Choveu  nos  dias  2  e  3,  raarcando-se  o  vento  N.  e  o  S.  no  dia  22  com 
o  ESE.,  e  o  dia  3i,  especialmente,  foi  notável  pela  quantidade  de  agua 
caída,  sendo  o  venlo  SO.,  iis  nove  horas  da  manha,  nquehe  que  pre- 
dominava. 

No  mez  de  novembro  o  vento  do  S,  foi  excedido  pelo  vento  de  O. 
O  ília  6  foi  muito  chuvoso,  r  o  vento  de  O.  foi  o  que  se  marcou  ás  nove 


664 

hora<;  da  manhã;  foi  nolavel  pela  qiiatitiilade  de  a; 
qual  correspondeu  o  vento  SE. 

No  mez  de  ilezembro  iiotaram-se  os  venlos  S, 
lante  no  dia  2  com  venio  de  SO.,  e  no  dia  13  com 
um  dia  de  chuva  com  o  vento  E. 


Happa  contenilo  a  numero  de  T»es  qne  os  ventos  ; 
para  a  eidaile  de  S.  Thnm^  de  mnrfo  »  deiem 

Matto                    Abril                      Hiio 
Deuilii                 Derjilai                I>ec.iil:ií 

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O  anemómetro  foi  ohservado.  segundo  o  que 
nliã,  ás  nove  horas.e  de  noite  a  igual  hora.  Pare( 
ohservações  são  insuílicientes  e  por  ellas  n3o  se 
idéa  approximada  da  frequência  de  alguns  dos  ven 

Março  —  Os  ventos  em  todo  este  mez  foram  : 
ram-se  aos  que  os  marítimos  cliamam  bafagens. 

O  exame  e  conhecimento  da  duração,  força  e  | 


66S 

n'uina  ou  n'outra  praia  parecc-nos  de  grande  utilidade  n'uma  ilba  como 
a  de  S.  Thomé,  otiilc  a  sua  capital  está  encravada  entre  pântanos,  lagoas, 
paúes.  charcos,  lezírias  e  canos  de  esgoto  sem  declive  e  infectos. 

As  brisas  durante  o  dia,  chegando  do  mar  á  terra,  devem  ser  menos 
prejudicíaes  do  que  aquellas  que  passam,  de  noite,  de  terra  para  o  mar. 
Qualquer  ediDcio  construído  para  os  lados  dos  muros  arruinados  da  for- 
taleza de  S.  Jeronyrao  deve  ser  insalubre.  . 

Âhhl— Os.  ventos  não  passaram  de  bafagens;  e  predominaram  os 
de  SE. 

Maio  —  Os  ventos  não  passaram  de  moderados,  e  alguns  dias  de  ara- 
gens ;  o  vento  de  mais  força  foi  em  28  de  maio  (moderado  oujionançoso), 
choviscou  n'esle  dia.  o  céu  esteve  sempre  encoberto.  Foi  o  S.  o  principal 
vento,  tanto  de  noite  como  de  dia. 

Junho  —  Houve  a  22  d'este  mez  uma  tempestade,  sem  haver  chuva ; 
no  dia  23  vento  forle,  e  cm  alguns  dias  foi  moderado:  predominou  o 
vento  S.,  como  quasi  sempre  acontece. 


Julho 

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Betada. 

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38 

88 

066 

É  esta  a  estação  denominada  vulgarmente  das 

Julho  —  Sopraram  apenas  os  ventos  S.  e  0.  eu 

taram-se  onze  ventos  differentes,  aragens  e  uma  s 

Agosto — Heduziram-se  ao  vento  do  S.  osve 

noite  no  mez  de  agosto;  o  S.  foi  o  vento  princ 

Houve  em  muitos  dias  ventos  moderados. 


únlubro 

No.anbro 

Rumai 

DkxI». 

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Outubro  —  Predominaram  o  S.  e  O.,  aragens 

Novembro  —  O  vento  O.  soprou  mais  vezes  q 

mais  sensível  esie  excesso  do  que  de  dia.  Aragen: 

Dezembro  -  -  Silo  os  ventos  S.  e  O.  únicos  po 


1 

Resamo  dis  observicões  neleorologiets  no  udo  do  1873 

liatt 

.   1 

TímpprtWra 

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1 
1 
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Janeiro 

758,06 

.15,1 

13,3 

28,4 

2J,3 

21,3e  8 

1    6 

7,3 

3.37 

Fevereiro 

788,53 

37.4 

16,8 

J83 

tiA 

21,30  7 

8  11 

7.4 

3.41 

Março 

758,02 

35,1 

17,3 

29,1 

23,6 

21,51  8 

0  11 

8,5 

3.80 

Abril 

758,36 

39,7 

14,1 

30,1 

24,0 

31,87  7 

7    9 

5.7 

4.39 

Maio 

758,51 

37.0 

18.6 

28,7 

23.8 

21,35  8 

1  12 

14,0 

4,14 

Junho 

7fiO,55 

35.1 

!S,3 

28,7 

23,9 

20,56  7 

7    ( 

9,0 

7,82 

Julho 

761,47 

3!,6 

15,5 

27,2 

23.1 

18.23  7 

5    1 

2,0 

9.6 

Agosto 

761.60 

3Í,8 

15,6 

J-,0 

22.6 

18,7a  7 

'i    1 

0.2 

8.36 

Setembro 

760,45 

35,0 

18,í 

29,9 

23.6 

20,51  7 

1    2 

7.6 

6.65 

Ontuhro 

_ 

_ 

- 

_ 

_ 

_ 

_ 

_ 

Novembro 

- 

- 

- 

- 

- 

- 

- 

- 

- 

Dezembro 

739,76 

38,8 

17,9 

28,9 

23.4 

21.58  8 

i  (2 

16.8 

4.70 

758,20 
7511,14 
761,17 

75!l,76 

35,8 
37,8 

28,7 
29,1 
28,0 
28.9 

4:i,i 
23,9 
23,1 

21.37  7 
21,32  7 
19,17  7 

21.38  8 

7,1 
9.5 
3,2 
16,8 

3.52 
5.45 

2«    

15,0 
16,4 

17.9 

383 

4.70 

Hedla  annnal 

753.81 

36,06 

15.96 

28,5 

23.y 

20,72  - 

8  69 

7.8 

6,48 

N.  B.  Paliam  !u  observaçrtes  dos  mexes  Jm  ontubro  e  novfmbm. 

Media  ihis  (Irmilas  dos  mezfs  >\iaho  moncíuitndn.- 


Deíeniliro l  2.' 


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28,0 

758.08 

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28.3 

7:í8.60 

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2K,7 

7:í7,73 

28.7 

758,19 

28,6 

7ÍÍ8.3Í 

29.3 

757,58 

29,4 

8y,3a 

30,2 

758.16 

30,1 

759.00 

30,0 

758.2» 

29,3 

758.81 

28,0 

758,00 

28.7 

75y.9.1 

28.9 

760,62 

28.8 

761.03 

28,4 

701,2.1 

30,8 

27,.S 
28,0 
28,0 
27,5 


N.  B.  Faliam  as  nliservaçíles  dos  mraes  di*  outubro  e 


669 


Veutos  qne  sopraram  para  a  cidade  de  S.  Thonié  em  1873 


Hunios 


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Observações 


Inferiores. 


8 
13 
16  }  Superiores. 

G 

1 

9 

23 
18 
96 
175 
20 

5 

1 
43 

3 

O 

5 

22  )  Orieiílaes. 

4 
478 


Occidcntaes. 


670 


Resniiio  dos  reilos  qne  se  rtsemran  por  decaias  de  cada  mei  de  auo  de  187 


Primeiro  trimestre 

/ 

Janeiro 

Fevereiro 

Março 

Rumos 

Décadas 

Décadas 

Décadas 

3 

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Segundo  trimoBtre 


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íia    8  2»  ao 


Terceiro  trimestre 

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Quarta  trimestre 

Outuliro 

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338    .,   . 

Inferiores. 

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1    Inferi  ores. 
37 

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OrienUea. 

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JeeNiIflH  it  fia  ■»  m  1874 

melro  trimestre 

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190 

679 


Hf  dia  das  décadas  dos  mezes  do  anno  de  1875 


Mozoí 


Janeiro, 


Fevereiro 


Março 


Abril 


Maio 


Junho 


Julho 


Agosto 


1. 

2. 

3. 

1. 

2. 

3. 

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Novembro 


Dezembro 


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759,05 
758,65 
760,02 
760,22 
760,24 
761,43 
762,82 
762,81 
762,89 
762,93 
761,40 
762,09 
761,20 
760,10 
759.63 
759,39 
759,53 
759,39 
759,31 
759,99 
759,03 
760,13 
759,59 
759,13 


TomperntDra 

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29,25 

22,63 

4,03 

28,93 

22,35 

3,88 

28,73 

22,23 

3,75 

30.77 

23,23 

3,49 

30,02 

22,62 

5.12 

30,10 

22,41 

4,31 

28,54 

21,43 

2,84 

28.79 

21,92 

2,50 

29,61 

23,04 

3,59 

29,72 

23,37 

3,95 

30,92 

24,56 

4,23 

28,84 

22,98 

3,78 

28,78 

22,78 

3,97 

28,74 

22,90 

6,53 

28,31 

21,97 

6.47 

28,05 

22,05 

8,07 

28,88 

22,95 

4,77 

28,98 

20,58 

3,72 

28,79 

20,41 

4,04 

28,30 

20,94 

3,52 

27,86 

22^5 

4,58 

27,52 

21,43 

3,33 

27,67 

21.82 

5,24 

28,17 

21,60 

2,79 

28,28 

21,43 

3,84 

28,18 

21.65 

3,91 

27,62 

20,81 

3,32 

28,57 

20,77 

1,33 

29,05 

20,36 

— 

28,83 

20,85 

— 

29,46 

19,88 

§ 

29,42 

20.68 

29,14 

20,42 

— 

28,78 

20.95 

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13,2 
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15,5 
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44,3 
24,7 
4,0 

9,« 
10,0 

18,7 

3,1 


8,6 
9,8 

2,0 

3,1 

10,2 

12,2 

12,1 

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13,1 
27,4 
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10,4 


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Segundo  trimestre 

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Terceiro  trimestre 

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883 

dades;  os  terrenos  do  S.  e  os  do  N.  esl3o  lambem  em  condições  diver- 
sas uns  dos  outros.  Damos  como  provável  que  haja  três  climas  difleren- 
tes  na  ilha  de  S.  Thomé,  mas  só  trabalhos  posteriores  poder5o  justifi- 
car a  bypothe>e  que  apresentámos. 

As  praias  ou  logares  baixos  mais  notáveis  e  dignos  de  se  estudarem, 
a  contar  da  praia  de  Anna  de  Chaves  seguindo  para  E.,  S.,  O.  e  N,  sHo 
as  seguintes:  Melão,  SanfAnna,  Mecia  Alves,  Rei,  Pedra  Farada,  Angra 
de  S.  João  dos  Angolares,  Ribeira  Peixe,  logo-Iogo  (Boa  Esperança),  a 
do  N.  na  pequena  ilha  das  Rolas,  a  da  pittoresca  angra  de  S.  Miguel, 
Santa  Calharina,  Agua  Ambó,  das  Conchas.  Fernando  Dias,  Diogo  Nu- 
nes e  Lagarto. 

Os  logares  de  mediana  altura,  como  os  de  Santa  Mar<;arida  e  rodeando 
a  ilha  pelo  E.,  S.,  O.  e  N.,  os  do  monte  Café,  Santa  Luzia,  Cachoeira, 
Alto  Douro,  etc,  os  quaes  podem  tomar  os  nomes  das  Tazendas  n  ellas 
abertas,  ficam  entre  350  e  800  metros  de  altitude  e  pertencem  todos 
provavelmente  á  linha  isothermica  difl^erenle  da  /]ue  se  observa  na  pri- 
meira região. 

Somente  por  meio  das  linhas  isothermicas  pôde  fuzer-se  a  classifi- 
cação rigorosa,  e  por  isso  não  nos  demorámos  mais  neste  importante 
assumpto  e  terminámos  por  pedir  com  instancia  que  se  façam  os  estudos 
necessários  para  elle  se  completar. 


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Hedia  annaal 


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S.  fí.  NSo  pxislem  as  ohwrvarõ«  refpriíias  ao  mi 
ilu  ;i.*  ilfi^aili  ile  jiillio  e  I.'  de  sflemhm,  vindo  porlan 


ii8:> 


Vf  dia  das  deeadas  dos  mexes  do  anno  de  187G 


3lczos 


1. 

Janeiro {  2. 

f  3. 

\  *• 
Fevereiro .'  2. 

(  3. 

Março l  2. 

3. 

1. 
Abril \  2. 

(  3. 

l  *• 
Maio {  2. 

I  3. 

l   *• 
Junho 2. 

*  3. 
1. 
Jullio  .^ J  2. 

3. 

1. 

Setembro {  2. 

3. 

{  <• 
Outubro 2. 

|3. 

^  1. 
Novembro /  2. 

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Dezeinliro |  2. 

3. 


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759,39 
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29,72 
29,82 
28,98 
28.50 
28,87 
28.()0 
28.95 
29,40 
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28,13 
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27,64 
27.63 


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29,91 
29,58 
30,22 
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29.93 
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19.50 
18,85 
19,34 
19,01 
19.50 
21,97 
20,74 
21.90 
21,42 
21.18 
21,59 
20,65 
22,22 


21,73 
22,48 
22.28 
23,24 
24.21 
22.79 
21,79 
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18,4 
17.2 
25,2 

7.0 
36,2 

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14,8 


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20,1 

10.4 

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9,0 

9,0 


N,  B.  Não  exiblem  a»  observações  referidas  ao  m<'z  de  a;;o!»to,  btfiii  como  as 
da  3.*  década  de  julho  e  1.»  de  set<'mbro,  vindo  portanto  a  faltar  a»  observar;/^» 
em  quasi  dois  meze». 


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Vedía  das  décadas  dos  mexes  do  auDo  de  1876 


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758,91 
758,59 
758.14 
760,32 
758,15 
759,92 
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760,38 
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759,39 
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28,50 
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29,40 
29.30 
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27,63 


29,26 
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22,79 
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21,80 
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22,00 
25,64 


24,9 

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16,2 

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24,2 

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22,4 
18,1 
18,4 
17,2 
25.2 

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36,2 

3,9 

14,8 


0.1 

5,1 

14,1 

20,1 

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9,0 

9,0 


N,  B.  Não  exihlem  as  observações  referidas  ao  iiiez  de  a^^osto,  Lcmii  como  as 
da  3.*  década  de  julho  e  1.*  de  setctubro,  vindo  portanto  a  faltar  as  observações 
em  quasi  dois  u)ezes. 


Secado  trfmeatro 

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23 

4i 

83 

CAPITULO  XIX 
Clima  da  cidade  da  ilha  de  S.  Thomó 


o  palácio  do  governo  está  delermioado  em  0<^riri'/ 
do  lai.  N.  r  6»  4i'i8"  long.  E.  Creonwch,  o  leiu  I^TS  de 
aliilud^  89",H  do  distancia  do  mar. 

(Pedro  Carlos  de  Aguiar  Craveim  Lope«, 
governador  dt  proviocii,  março  d« 
1872.) 


Clina  local  — laior  e  menor  pmsio  alnospkerifa,  Icaperalura  e  kunidadf,  e  naior  quanlídade  de  cki- 
\a,  obscnadas  dfsde  abril  a  novfnbro  de  1HS8.-  Iden  de  narro  a  dezenbro  de  1872.— Iden 
do  anno  de  1873.— Iden  do  aaio  de  1874.  -  Uen  do  aono  de  1873.- iden  do  aiio  de  1876. 


Clima  local  é  aquellc  que  comprchendc  uma  zona  limitada  em  relação 
a  qualquer  região.  Um  valle  pode  ter  um  clima  sui  gencris,  muito  parti- 
cular. A  cidade  de  S.  Thomé  e  a  planície  que  lhe  fíca  pro.ximn,  represen- 
tando uma  área  bastante  larga,  téem  um  clima  diíTerentc  dos  que  se  obser- 
vam em  outros  logares  da  mesma  ilha.  E  não  deve  esquecer-se  que  se 
nuo  determina  a  natureza  de  qualquer  clima  local  sem  se  conhecer  a  com- 
posição dos  terrenos,  a  sua  cultura,  florestas,  dírecçiío  e  forma  dos  valles, 
a  extensão  e  qualidade  dos  pântanos,  etc. 

Faltam-nos  as  observações  meteorológicas  referidas  aos  diflerentes 
logares  que  se  acham  cultivados,  como  o  monte  Café,  S.  Nicolau,  e  ou- 
tros, e  por  isso  não  podemos  fazer  uma  comparação  exacta  entre  o  cli- 
ma da  cidade  e  o  da  parte  montanhosa  da  ilha.  Trataremos,  porém,  de 
organisar  as  estatísticas  meteorológicas,  segundo  os  dados  fornecidos  no 
posto  que  se  fundou  em  1873,  na  cidade,  e  que  tem  occupado  já  difle- 
rentes logares,  c  aproveitaremos  as  informações  que  podem  colher-se  a 
respeito  da  temperatura  dos  locaes  mais  elevados.  Ficam  assim  lança- 
dos os  primeiros  dehniamentos  para  se  avaliar  a  natureza  do  clima  da 
ilha  de  S.  Thomé,  principalmente  pelo  que  diz  respeito  i  cidade. 

4i 


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Dias  de  chnTa:  — Abril  7,  maio  5,  agoKlo  3,  setembro  3,  outubro  4cnoveoi- 
bi»7. 

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Dias  de  chn»a:  —Janeiro  6,  fevereiro  "J,  marfo  8.  abri 

6,  maio  4,  setembro 

1,  ouLubro  10,  novembro  6  c  dezembro  10. 

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S.  O. 
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S.,  SO. 

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S.,  N.,  SO. 


Não  houve  observaijões  no  iiicz  de  ajíuslo. 

Dias  de  chuva:  —  Jant>iro  8,  fevereim  11.  iiiairo  10,  abril  9,  rnaio  4,  junho  1, 
outubro  5,  novembro  5  e  de7.eml)ro  4. 


15 


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DT  615  .R484  C.1 

A  províncta  (to  8.  Im.  APP7168 
Hoovsr  Instttutlon  ur 


3  6105  083  128  806 


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