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VIÁRIA ACADÉMICA
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MANUEL FERREIRA RIBEIRO
ledíco cirurgião pela escola do Porlo,
farniutivo de i .^ classe do quadro de sande da províocia de S. Tbomé e Priodpe,
sócio correspondente da sociedade das sciencias medias de Lisboa,
sócio efectivo da sociedade de geograpbia de Lisboa,
nedico da eipedi^io
do caminbo de ferro de Ambaca, etc, etc.,
-^OxC&><C>-
LISBOA
IMPRENSA NACIONAL
1877
' I
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Aos
Illnslríssímos e Excellenlissíinos Senhores
ii
CcQselheiío d'Estado. Presidente do Conselho de Ministros, Ministro
e Secretario d'Estado dos Negócios da Guerra
ANTÓNIO RODRIGUES SAMPAIO
Ministro e Secretario 'd'Estado dos Negócios do Reino
JOÃO DE ANDRADE CORVO
Conselheiro d'Estado. Ministro e Secretario d'Estado dos Negócios Estrangeiros
e interino dos Negócios da Marinha e Ultramar
Conigu doeste node o lei profiido igradeciaeito
H. F. Ribeiro
MAMA CARLOTA SIEUVE DE SEaUIER E RIBEIRO
GoBO proTa de BiiU ledícaçâo e síicen aníude
Oiferece
O aaotor
,A^ sna onnliada
D. MÁTfííLDE SÍEUVE DE BEGUIER
Como tfstemonho de gratidão e alta estima
Offerece
O anotor
\
índice das principaes matérias
CONTIDAS N^ESTE VOLUME
Pig.
PUBFACIO
blTBODUCÇlo i
GEOGRAPHU
CAPITULO I
DeBoripgão dos rios e logares prinolpaeB da otíata do mar de Qnin^
Cabo de Lopo Gonçalves i7
Bahia de Lopo (jonçalves i8
Rio do Gabáo 18
Bahia do Corisco i9
Cabo de S. Jofio 20
Rio de S. Bento ÍO
As ilhas portuguezas e a costa do Gabão « 21
Rio do Campo 22
Enleada do Pão da Nau ou Panavia 22
Rio da Boroa 22
Rio dos Camarões 23
Pico Mongo-Ma-Lobah 25
Bahia de Ambozes ou de Zambus (Ambas ou Amboíse) 26
Rio de El-Rei 26
Velho Calabar (Calbary, Dongo ou Oioné) 26
Rio Done (Andoney ou António) 27
Bahia de Boni ou de Obáne 27
Rio Sombreiro 28
Rio de S. Barthoiomeu, dos Maíras ou dos Três Irmãos 28
Rio de Santa Barbara'. 29
Rio de S. Nicolau 29
Rio de S. Bento (St. John or Brass) 29
Cabo Formoso 29
Rio Niger ou^Quorra e o celebre delta que elie forma 29
AfDiuentes do rio Níger, e os^seus braços principaes 33
Rio Tchadd .' 34
XII
Pair.
Dbiouliba ou Níger 36
O delta do Níger e as ilhas de S. Thonié e Príncipe 37
Grande mar interior ou lago de Tchadd 38
Rio Formoso ou de Bením 39
Rio da Lagoa ou Lagos , 39
Badagry 40
S. JoSo Baptista de Ajuda e o districto ou território corres|)ondentc 40
Condições especiaes para o desembarque no porto de Ajuda 42
Magestoso espectáculo que ofTerece o mar na costa de Ajuda 44
Reino de Dahomé * • 46
(Caminho de Ajuda até á capital de Dahomé 46
Estações intermediarias entre o território de Ajuda e a capital de Dahomé 49
Limites do golfo de Benim 53
Limites do golfo dos Mafras f)3
Mar de Guiné, zona equatorial que lhe corresponde e correntes que ali se obser-
vam , 54
CAPITULO n
' Desoripção das ilhas do mar de Gninó,
emuneração das terras que se acham sch o equador, e distinoçao
entre ollma equatorial e tropical
•
I — Ilhas do mar de Guiné :
Considerações 59
i.** Ilhas altas:
liba de Anno Bom 61
ilha de S. Thomé 63
ilha do Príncipe 66
Ilha de Fernão do Pó 68
2.<> Ilhas baixas :
Ilha de Lopo Gonçalves 69
Ilha do Corisco 69
Elobey, Corisco Pequeno os dos Mosquitos 69
Ilha Branca 70
Ilha de Mondoleh 70
Ilha de Curamo 70
3.<> Quadros estatisticos-geographicos :
Ilhas altas 7i
Classificação dasjlhas altas 7i
Ilhas baixas 72
II — Enumeração das terras que se acham sob o equador:
Considerações ; 73
Africa equatorial 74
America equatorial 75
Oceania equatorial 75
í.^ Africa equatorial':
Ilha das Rolas. 75
Margem esquerda do rio Gabão 76
XIII
Pag.
Vasta região inexplorada desde o paiz de Okanda até ás terras altas ao
occidente do sultanado de Zanzibar 76
Pequeno estado denominado Juba 76
Coinmunicação entre Moçambique e Angola 77
2.^^ America equatorial :
Considerações 81
Albermale e as ilhas Galapagos 81
Republica do equador 82
Republica da Nova Granada 84
Terrenos banhados por diíTerentcs aiiluentes da margem esquerda do rio
Amazonas C 86
Ilhas da foz do Amazonas 87
3.* Oceania equatorial :
Considerações 88
Ilha Batoe, Mintáo, Battou ou Mentáo, e as ilhas a O. de Sumatra 90
Ilha de Sumatra 90
Ilha de Sumatra descripta por JoSo de Barros 95
Jlha Linga e o archipelngo Riouw-Lingga 97
Ilha Linga, segundo o diccionario de Larousse ^ 98
Ilha do Borneo 99
Ilha Celebes 102
Tidore e o archipelago das Molucas « 107
Ilha de Ternate 111
Ilha Geilolo (Dgllolo ou Halmaheira) 114
Amboino « 114
Ilhas de Banda, por João de Barros 116
Ilhas Molucas descriptas, por João de Barros e Diogo do Couto 118
Ilha Waigiou e a Nova Guiné 120
III — Dislincção entre clima equatorial e tropical:
Considerações geraes 121
Mappas comparativos de algumas classificações a respeito dos climas :
1."* Systema das linhas Isolhermicas 124
2.0 Classificação dos climas, segundo M. Levy 125
3.** Melhor classificação para a ethnographia das emigrações, admil-
lida pelo visconde de Paiva Manso 126
4.<* Systema das linhas isolhermicas, segundo Jules Rochard 126
5.** Divisão astronómica dos climas 127
6.<' Systema mais simplificando segundo os graus de latitude 128
CAPITULO m
Principaes paizes oolonisadores do seonlo XIX, e emigração portugueza
Portugal e suas colónias 129
Colónias de Hespanha, clima geral, supertície, população e principaes producções 135
Colónias de França, clima geral, superfície, população e principaes producções 141
Protectorados de França, clima geral, superfície, populaçíío e productos principaes 143
Colónias da Hollanda, clímai eral, superfície, população e principaes producções 153
XIV
Pap.
Colónias inglezas, clima geral, superfície, pepahtçáo e productos principaes. . . . i59
Opinião do conselheiro João de Andrade Corvo acerca da escravatura (Nota).. . 162
Porto Natal — Algumas considerações acerca da colónia denominada Natal 172
Estado livre ou republica do rio Orange — Algumas (X)nsi de rações acerca
d'este estado 173
Republica do Transvaal — Algumas considerações acerca d'esta republica.. . 174
Colónias de Portugal, clima geral, superfície, população e principaes produc-
ções 183
Província de S. Thomé e Principc e suas dependências 212
Província de Angola 213
Directriz do caminho de ferro áê, Loanda ou Ambaca 239
Descripção do território reconhecido 244
Província de Moçambique 246
Ilha de Moçambique 254
Districlo de Moçambique 265
Ibo 279
Angoche 279
Uuelimane 280
Villa de S. Marçal de Sena 280
Zimbo 281
Spfalla 282
Povoação de Inhacamba 283
Porto de Sofalla 284
Ilha de Chiloane 284
Ilhas de Hazaruto , 285
Inhambane 286
Descripção da festa denominada Banja (Nota).. 292
Bahia de Lourenço Marques 299
Villa de Lourenço Marques 304
Rio da Magaia ou Kíng's George River 310
Rio de Inhampura, rio do Oiro ou rio Limpopo 313
Importância de Lourenço Marques 314
Estado da índia 315
Ilhas de Goa 316
Mappa demonstrativo da superfície e população do estado da índia 316
Província de Macau e Timor 317
Portugal, undécimo paiz da Europa, occupa o quarto logar como nação colonial 319
Estatística coniparativa da superfície e população de Portugal com relação ás
principaes nações da Europa, independentemente e comprehendendo as coló-
nias, protectorados e territórios adjacentes 322
Emigração para o Brazil ; . . . . 323
Mappa das entradas de emigrantes no porto do Rio de Janeiro, nos annos de
1864 a 1 873 325
Resumo do movimento das entradas e saídas de emigrantes no porto do Rio de
Janeiro, nos annos de 1864 a 1873 325
Mappa dos emigrantes portuguezes, por províncias, desde 1870 a 1874 326
Mappa dos emigrantes portuguezes, segundo as differentes localidades, desde
1870 a 1874 326
XV
Pievincias do império do Brazil, clima geral, soperlicie, população e productos
príncipaes • 3^
Província do Amazonas 328
Província do Gran-Pará 328
Província do MaranhSo 329
Província do Piauhy 329
Província do Ceará 330
Provincia do Rio Grande do Norte 330
Província de Parahyba 33Q
Provincia de Pernambuco 330
Provincia de Alagoas 331
Provincia de Sergipe 331
Provincia da Bahia 331
Provincia do Espirito Santo 332
Provincia do Rio de Janeiro : 332
Município da Corte 332
Provincia de S. Paulo 333
Província do Paraná 333
Provincia de Santa Catharina 333
Provincia do Rio Grande do Sul 333
Província de Minas Geraes 334
Provincia de Goyaz 334
Província de Mato Grosso 334
Príncipaes productos que constituem a maior riqueza do império do Brazii 335
Mappa das colónias estabelecidas no império do Brazii, desde 1812 até 1875 342
IndiíTerença pelas nossas terras de alem-mar 343
Africa portugueza como terra de degredados.. 347
Receios infundados acerca do clima da nossa regiSo africana, dezoito vezes maior
que a metrópole 349
Mappa comparativo dos climas equatoríaes e tropicaes referidos ás províncias do
Brazii e Africa portugueza 352
CAPITULO IV
Topograpbia da ilha de S. Thomó
Aspecto geral da ilha 355
Costa septentrional 358
Costa Oicidental 361
Costa meridional 363
Pequena ilha das Rolas e costa fronteira da ilha de S. Thomé. 365
Costa oriental 366
Montes e cordilheiras 370
Rios da ilha de S. Thomé 372
Estatística geral das correntes de agua de maior nomeada 373
Descripçáo de alguns rios e roças que lhe ficam proxitnas 379
Cidade de S. Thomé 384
Limites da cidade de S. Thomé 387
XVI
Pag.
Ruas e travessas da cidade de S. Thoiiié 389
Estatística dos prédios urbanos existentes na ilha de S. Thomé 394
Mappa estatístico dos prédios urbanos da ilha de S. Thonié, referido aos livros
da conservatória da mesma ilha, com designação da sua construcçáo, fregue-
zias a que pertencem, posiçSo^ valor estimativo e possuidores 397
Fortaleza de S. Sebastião e seus calabouços 402
Estação militar no reducto de S. José 404
Quartéis e deposito dos addidos 404
Barracão-quartel e praças adjacentes 404
Cadeia civil 405
Calabouço da policia 409
Villas ou principaes logares da ilha de S. Thomé 410
CAPITULO V
Roças e fazendas agrioolas
Ucsumo das roças uu fazendas existentes na ilha de S. Thomé, classificadas por
freguezias, segundo o registo da conservatória, nos annos de 1867 a 1872, di-
vididas por grupos comprehendidos entre IrOOOiíOOO a 80:000^000 réis,
100^000 a 1:000^000 réis e 10^000 a 100^000 réis 415
Designação das roças ou fazendas existentes na ilha de S. Thomé, divididas por
grupos comprehendidos entre l:OOOiíOOO a 80:<J00í000 réis, 100;íiOOO a
1:000^000 réis e 10^000 a 100^000 réis, valor arbitrado por occasião do re-
gisto na conservatória 416
Mappa contendo o numero total das propriedades registadas na conservatória da
ilha de S. Thomé, ;lesde a sua fundação até ao anno de 1872, com a designa-
ção da natureza das mesmas propriedades, se estão livres ou hypothecadas, e
seus respectivos valores 421
Estatística dos maiores possuidores de roças ou fazendas existentes na ilha de
S. Thomé, nos annos de 1869 a 1872 , 421
Quantidades de café c cacau produzidos nas roças de Agua-lzé, Monte Café, Rio
de Oiro e Bella Vista, e exportados pelos portos da ilha de S. Thomé, nos an-
nos de 1869 a 1872. 422
Exportação de café de diíTorentcs colónias portuguezas, nos annos de 1869 e 1876 423
Numero de roças pertencentes ao estado, com designação das freguezias onde
estão situadas 423
Posição e orientação das roças pertencentes ao estado, com designação das quan-
tias por que estão arrendadas 424
CONSIDERAÇÕES PHVSIGAS E MORAES DOS HABITANTES
DA ILBA DE S. THOHÉ
CAPITULO VI í
Meio sooial em qnc se vive e população ambulante
Considerações geracs 431
Alimentação dos habitantes 432
XVII
Pag.
Alimentação popular 432
Alimentação dos soldados 435
Alimentação dos addidos 436
Alimentação dos libertos 438
Alimentação dos empregados públicos, dos negociantes e dos europeus em geral 438
Vestuário dos habitantes 439
Usos e costumes dos habitantes 440
Um arraial na ilha de S. Thomé 44i
Enterramentos 442
Religião dos habitantes 442
Estatistica dos servidores do estado com exercicio nas repartições publicas e em
outros misteres, desde 1869 a 1872 445
Numero de indivíduos que entraram na ilha de S. Thomé, desde 1868 a 1872 447
Governadores que tem tido a província de S. Thomé, desde 1842 a 1872 448
CAPITULO vn
Navegação, oredito e oapitaes
Relação das casas commerciaes existentes na ilha de S. Thomé, no anno de 1872 450
Mappa demonstrativo da quantidade de café e cacau exportados da ilha de S. Tho-
mé, nos annos de 1869 a J872, e seu valor no mercado 454
Valores dos géneros importados e exportados pela alfandega de S. Thomé, nos
annos de 1869 a 1876 456
Direitos de importação e exportação cobrados na alfandega de S. Thomé, nos
annos de 1869 a 1876 463
Transferencia de fundos da alfandega de S. Thomé para o cofre da fazenda da
provinda, nos annos de 1869 a 1876 470
Numero de embarcações entradas no porto da ilha de S. Thomé, nos annos de
1868 a 1876 471
Media de duração das viagens de Lisboa a S. Thomé e de Loanda a S. Thomé,
nos annos de 1870 a 1876, com designação da classe das embarcações ...... 472
Embarcações entradas no porto da ilha de S. Thomé, nos annos de 1868 a 1876,
com designação de classes, procedência e nacionalidades 473
Distancia em kilometros, de porto a porto, entre Lisboa, ilhas da Madeira, S. Vi-
cente, S. Tbiago, Príncipe e S. Thomé, Loanda e Rio de Janeiro 475
Exportação dos géneros produzidos nas províncias ultramarinas, no anno de 1869 476
Exportação dos géneros produzidos nas províncias ultramarinas, no anno de 1876 478
Designação dos productos das colónias, que vieram para Lisboa, no anno de 1876 479
Rendimentos públicos nos annos económicos de 1850-1851 e 1875-1876 481
HYGIENE PUBLICA
CAPITULO vni
A oidade de S. Thomó em 1872
Considerações a respeito do actual estado da cidade de S. Thomé 483
Relatório da junta de saúde apresentado ao governador geral da província em
24 de dezembro de 1862, acerca da insalubridade da cidade 484
B
XVUI
Pag.
Meios julgados mais apropriados para o saneamento da cidade de S. Thomé .... 489
Parecer emittido pelo dr. Lúcio Augusto da Silva sobre o mesmo assumpto. . . . 401
Enumeração de outras providencias mandadas adoptar e resultado obtido 492
CAPITULO IX
Melhoramentos
Considerações geracs acerca dos melhoramentos de que é susceptivel a cidade
de S. Thomé, dividindo-a para isso em três bairros, promovendo a abertura
de passeios, largos, e ruas, aterros e dessecamento de pântanos e canalisaçâo
do rio que atravessa a cidade • • 499
CAPITUIO X
Insalubridade relativa
Opíniílo de diffcrentes escriptores acerca da insalubridade da provincia de S. Tho-
mé 505
lyiolestias mais frequentes, segundo a ordem descendente, nas colónias porlugue-
zas, nosannosdc 1870 a 1873 .' 507
Estatística dos doentes tratados nos hospilaes das diíTerentes cidades c villas das
províncias ultramarinas, nos annos de 1870 e 1871 512
Dita, referida aos annos de 1872 e 1873 513
Classificação das cidades das colónias portuguezas, segundo as infecções palustre
e necrohemica, doenças biliosas e cachexia, no anno de 1870 514
Dita referida ao anno de 1871 515
Dita referida ao anno de 1872 « 516
Dita referida ao anno de 1873 517
Classificação das colónias das principaes nações da Europa, segundo a sua popu-
lação especifica por kílomctro quadrado 518
Classificação das principaes nações da Europa, segundo a sua população especi-
fica por kilometro quadrado 523
Classificação das províncias do Brazil, segundo a sua população especifica por
kilometro quadrado 523
CAPITULO XI
População geral e especifica da ilha de S. Thomé»
e providencias hygienicas
Estatística dos fogos existentes na ilha de S* Thomé, nos annos de 1859, 1867,
1868, e 1871 a 1875 524
Mappa demonstrativo dos óbitos nas diíTerentes freguezias da ilha de S. Thomé,
por oíTeíto da moléstia de bexigas, nos mezes de novembro e dezembro de
1864 e janeiro de 1865 525
Estatística dos europeus existentes na ilha de Si Thomé> nos annos de 1859, 1867,
1868 e 1871 e 1875 526
Estatística dos africanos existentes na ilha de S. Thomé, nos annos de |859,
1867, 1868,6 1871 a 1875....;.., i * ;...**. 527
XIX
Pag.
Mappa demonstrativo dos europeus fallecidos na ilha de & Thomé, nos annos
de 1864 a 1876, divididos por mezes e trimestres, e com designação de esta-
dos, sexos, idades, condições e naturalidades 528
Mappa demonstrativo dos individuos fallecidos na ilha de S. Thomé, nos annos
de 1868 a 1875, com designação de idades, sexos, estados, condições e na-
turalidades 530
Estatistica dos nascimentos que houve na ilha de S. Thomé, nos annos de 1867
a 1875..... 532
Mappa dos individuos que entraram e saíram do porto da ilha de S. Thomé,
nos annos de 1874 a 1876 533
Mappa estatistico da ilha de S. Thomé, nos annos de 1874 e 1875 534
Providencias hygienieas * 534
FLORA PATUOLOGIGA
CAPITULO XII
Preliminares .^ 539
Resumo das principaes moléstias observadas no hospital militar da ilha de S. Tho-
mé, 6 numero de doentes curados e fallecidos no primeiro semesire de 1872 540
Dito referido ao segundo semestre do mesmo anno 541
Considerações sobre o mesmo assumpto 542
Resumo comparativo da frequência das moléstias observadas no hospital militar
da ilha de 8. Thomé, e da mortalidade relativa dos doentes em cada um dos
mezes do anno de 1872 544
Considerações sobre o mesmo assumpto 544
Numero de doentes entrados no hospital militir da ilha de S. Thomé, no anno
de 1872, segundo as classes a que pertencem 545
Considerações sobre o mesmo assumpto 546
Resumo do movimento dos doentes no hospital militar da ilha de S. Ttiomé c
. das principaes doenças ali obsenadns no anno de 1872 547
Disposição segundo a ordem alphabetíca das doenças 551
Distribuição segundo o maior numero de doentes 552
Distribuição segundo a maior mortalidade relativa 553
Resumo das principaes moléstias observadas no hospital militar da ilha de 8. Tho-
mé em cada trimestre do anno de 1872 .* 554
Mappa necrologica do hospital militar dA ilha de S. Thomé no anno de 1872 556
Considerações sobre o mesmo assumpto 558
HISTORIA iNATURAL
Preliminares 563
CAPITULO XIII
Heino minorai
Turfa^ cal, pedra, óleo mhicrai, mercúrio, manganez, sai, etc « 564
XX
CAPITULO XIV
Reino vegetal
I — Madeiras: Pap-
Príncipaes madeiras de que ha conhecimento - 569
Arvores que, tendo propriedades singulares, sâo mais ou menos importantes,
podendo parte d'ellas ser empregadas em cons tracções 577
Trepadeiras ou cordas de que ha conhecimento, entre as quaes existe uma
que deve ser considerada uma das maravilhas do reino vegetal em
S. Thomé 580
Cnsto das madeiras no mercado de Lisboa, com designação do peso, quali-
dades, dimensões e príncipaes applicações 584
Custo das madeiras no mercado da ilha de S. Thomé, nos annos de 1873
a 1876 586
II — Fructas:
Príncipaes fractas de que ha conhecimento, nativas e aclimadas 587
III — Raizes alimentícias, hoataliças e condimentos. Espécies aromáticas. Yege-
taes diversos :
Raizes alimentícias 591
Hortaliças , 59 1
Condimentos, espécies aromáticas, vegetaes diversos 591
IV — Drogas medicinaes :
Varías drogas, agentes pharmacologicos e substancias que se reputam medi-
camentos na ilha de S. Thomé 592
V — Productos naturaes e de industría agrícola e fabril da ilha de S. Thomé:
Prodnctos do coqueiro. 598
Productos da palmeira 600
Productos da izaquente 601
Productos da arvore íructa-pão 601
Productos do cajueiro 602
VI — Comparação entre as dífferentes epochas no progresso agrícola c commer-
cial da ilha de S. Thomé:
Prodnctos da província de S. Thomé e Príncipe que figuraram na exposiç^
universal de Londres : 604
Madeiras, productos naturaes e de industria agrícola e fabril das ilhas de
S. Thomé e Príncipe no anno de 1861 < 605
Ditos referidos ao anno de 1865 606
Exportadores de artigos coloniaes da ilha de S. Thomé, nos annos de 1872
e 1874 608
CAPITULO XV
Reino animal
l.« Serie — Animaes vertebrados :
Mammiferos 600
Aves 610
Reptis 61i
Batrachios ou amphibios 612
Peixes * 612
XXI
Pag.
2.* Serie — Animaes articulados:
Insectos 6i4
Myriapodos 6IÒ
Arachnides. 615
Crustáceos 615
3.« Serie — Molluscos:
Cephalopodos 615
Gasteropodos 6i5
Acephalos 615
4.» Serie — Radiarios:
Eslrellas do mar e esponjas 615
Consideraç(3es geraes sobre a conveniência de se proceder rigorosamente aos ne-
cessários estudos sobre este assumpto • • 616
CAPITULO XVI
Reino hominal
Considerações geraes -. . .^ 619
Origem do homem 626
Doutrina de L. Agassiz; Iheorias de Darwin e outros naturalistas; exame critico.
Unidade do género humano 627
Dispersão e formação das raças; sua reuniSo nas planícies banhadas pelo Tigre
e Euphrates 632
Caracteres distinclivos e exclusivos do reino hominal 634
METEOROLOGIA E CLIMATOLOGIA
Preliminares 637
CAPITULO XVII
Meteorologia
Considerações geraes 638
Media das observações meteorológicas em março, abril e maio de 1872 639
Ditas dos mezes de junho, julho e agosto de 1872 639
Ditas dos mezes de setembro, outubro e novembro de 1872 640
Ditas dos mezes de dezembro de 1872, e janeiro e fevereiro ile 1873 641
Ditas dos mezes de março, abril e maio de 1873 643
Ditas dos mezes de junho, julho e agosto de 1873 644
Medias do primeiro semestre meteorológico de 1874 645
Medias do anno meteorológico de 1874 646
Anno meteorológico do l."* de dezembro de 1874 a 30 de novembro de 1875.. . 648
Coniparaçáo da meteorologia d'este anno com a do anno anterior 649
Primeiro semestre do anno meteorológico do 1876 650
CAPITULO xvm
Climatologia
Considerações geraes 651
Resumo das observações meteorológicas no anno de 1858 652
XXII
Pag.
Media das décadas dos mezes de 1858 6^3
Numero de ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé no anno de 1858 654
Resumo dos ventos que se observaram por décadas de cada mcz^ no segundo,
terceiro e quarto trimestre d oanno de 1858 :
Segundo trimestre 654
Terceiro trimestre 655
Quarto trimestre 656
Resumo das observações meteorológicas, por mezes, no anno de 1872 657
Numero de ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé no anno de 4872 659
Resumo dos ventos que se observaram por décadas em cada mez, no anno de
1872 660
Quadra das ventanias no anno de 1872 662
Quadra das chuvas no anno de 1872 663
Mappa contendo o numero de vezes que os ventos sopraram de noite para a ci-
dade de S. Thomé, de março a dezembro de 1872 ' 604
Resumo das observações meteorológicas no anno de 1873 667
Media das décadas dos mezes do anno de 1873 668
Ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé no anno de 1873 669
Resumo dos ventos que se observaram por décadas de cada mez do anno de 1873 :
Primeiro trimestre ; 670
Segundo trimestre *..«... 671
Terceiro trimestre 672
Quarto trimestre 672
Resumo das observações meteorológicas no anno de 1874 673
Media das décadas dos mezes do anno de 1874 674
Ventos que sopraram para a cidade de S. ThonlS no anno de 1874 675
Resumo dos ventos que se observaram por décadas de cada mez do anno de 1874 :
Primeiro trimestre 675
Segundo trimestre 676
Terceiro trimestre. 676
Quarto trimestre 677
Resumo das observações meteorológicas no annos de 1875 678
Media das décadas dos mezes do anno de 1875 679
Ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé no anno de 1875 680
Resumo dos ventos que se observaram por décadas de cada mez do anno de 1875 :
Primeiro trimestre 680
Segundo trimestre 681
Terceiro trimestre 681
Quarto trimestre 682
Resumo das observações meteorológicas no anno de 1876 684
Media das décadas dos mezes do anno de 1876 685
Ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé no anno de 1876 686
Resumo dos ventos que se observaram por décadas de cada mez do anno de 1876 :
Primeiro trimestre 686
Segundo trimestre 687
Terceiro trimestre 687
Quarto trimestre ,...,, 68y
XXIII
CAPITULO XIX
Olima da oidade da ilba de S. Thomó P^g.
Clima local 689
Maior e menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de cliuva, observadas desde abril a novembro de 1858 690
Maior e menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de chuva, obser\'adas desde março a dezembro de 1872 693
Maior c menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de chuva, observadas no anno de 1873 69-i
Maior e menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de chuva, observadas no anno de 1874 697
Maior e menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de chuva, observadas no anno de 1875 700
Maior e menor pressão atmospherica, temperatura e humidade, e maior quanti-
dade de chuva, observadas no anno de 1876 ^. 703
Relação das estampas, indicando as paginas a qae se referem
Provlnoia de Angola
Pag.
Colónia de S. João. Vista da habitação do lado oriental 230
Rua de mangueiras e jaroboeiros, na fazenda S. JoSo, em Angola 230
Rua de palmeiras na fazenda Prototypo i3i
V i5ta da villa do Dondo, na margem direita do no Quanza 23i
Fazenda Bom Jesus, na margem do rio Quanza 234
Vista da cidade de Loanda (parte baixa) • 23r>
Provlnoia de Moçambique
Vi>ta de uma parte da cidade do lado do porio entre a praia da Alfandega até á praia de S. Juflo :í30
Largo da União^ vulgo Pelourinho 257
Roa nova do Conselheiro Leal, em 1875 257
l^rgo de S. Paulo, em 1875 23»
Ponte da alfandega, em 1873 '. . . 261
Habitação dos herdeiros do brigadeiro Cândido da Gosta Soares, na Cabaceira Grande 267
Palmar na (K)Dta do Morangal 267
Palmeira brava e uma mulambeira, na Cabaceira Grande. 267
Casa de campo de Rita Alves, em Migorine 271
Habitação do cidadão José Militão Nunes, na villa de Quelimane 28(*
Habitação do cidadão Manuel Vellozo da Rocha, na villa de Quelimane 28(i
Inhambane
igreja de Nossa Senhora da Conceição, cm Inhambane, o parle da praça (Baluarte de S. Rodrigo) 28U
Provlnoia de S. Thomó
Foz do rio Agua Abbade 368
Vista da praia chamada Ribeira, onde desagua o rio que serve de limite entre a freguezia de SantAnna
e a dos Angolares, e onde terminam as terras da fazenda Alto Douro, pelo lado do mar 36i^
Catarata Blubu, do rio Agua Grande, 4 kilometros distante da cidade. 380
Vista do rio Agua Abbade, a pouca distancia da foz, na ilha de S. Thomé. Lavandeiras da fazenda
Agua-lzé 382
Rio e bahia da praça Rei o habitação da fazenda Agua-lzé, 12 kilonletros distante da cidade 383
Uma vista da cidade de S. Thomé, tirada de cima da torre da Sé 394
Mappa medico>geographico da região Guineana equatorial, na qual se comprehende a proviacia de S. Thomé
e Principe e suas dependências.
ERRATAS
Vaf. Lin. Erro» Ememlas
:«
41
confluentes
forrenles
'229
3«
Angnsto
Angelo
rm
j
A imporUncia pratica da liisloria
pois que
natural.
A imiwrtancia pratica da historia natural é
manifesta, pois que
56i
^2
Maçam brá
Maçam brará
1)65
14 oi5
os vcgplacs c ns aniniaos.
(IS vegetaes, os animaes e os homens.
r>67
24
mossadA
mossandá
569
3i
sapi
saU
569
32
muanduni
moandim
570
23
Thorabinthccas
Therebiuthaceas
57!
i8
Miniosca giganUsca
Mimosa gigantesca
572
32
boabah
boabab
573
36 a 38
2.* A montanhosa, comprehend(*ndo Uliccs,
2.* A montanhosa, couiprehendendo felins,
orchidca%, elacis. (Lorantando em
700 me-
orchideas, elacis, gwnemis, florestas passa-
tros seguindo \wr uns 250 kilom^lros a con-
geiras de plantas herbáceas, ele. (Ltrvanta-se
tar da primeira Gunicnsií:, florestas passa-
em 700 metros seguidos por uns 250 kilonie-
geiras do plantas herbáceas, etc.)
tros a contar da primeira.)
575
lo2
cuja dcscri|>ç3n enthnsiastica fez o ra}iitão
0 quo justifica a enthusiastica doscripc.lo
que d'elia fez o capitAo
15
queime
quimc
577
33
Jara
Java
577
37
alligiana
artigiana
577
38
omcricus
quercus
579
C
occobis
nccolÍ5
579
11
Queime
Quime
Omillimos outras emendas por serem de fácil perc(.«pçAo, lastimando que uma commissão de serviço nos
obrigasse a partir rapidamente para a provincia do Angola, sem rcvermos este trabalho com o devido escrú-
pulo. A pessoa encarregada da continuação da obra. desejando, como era natural, corresponder á nossa con-
fiança, teve graves embaraços, sendo o principal a irregularidade das copias rcmcltidas para a imprensa, que
nilo podemos corrigir a tempo opitorluno. Dadas osl.is explicarõps, rs|)eràmos ser relevado de qualquer fall.i
que appareça.
PREFACIO
Nao nos propomos fallar das vantagens que este livro pode
offerecer em relação ás nossas províncias ultramarinas, nem do
fim para que o publicamos, pois que a melhor explicação está no
próprio livro. Algumas circumstancias ha, todavia, que julgámos
dever apresentar perante os que assignaram ou leram o prospe-
cto elaborado ao principiar a publicação d'esta obra.
Por motivos que não vem a propósito narrar, mas de que nos
oc€uparemos largamente em occasião opportuna, resolvemos es-
tudar as Uhas de S. Thomé e Prindpe, apenas ali desembarcá-
mos. O nosso primeiro trabalho serviu de base ao relatório da
junta de saúde publica da respectiva provincia, e foi impresso
em 1871. Não passou de um ligeiro ensaio; mas ali ficou desde
então lançado o delineamento geral d'este livro, cuja publicação
desejávamos realisar antes de concluir o tempo de serviço que,
como aspirante a facultativo do ultramar, nos obrigámos a pres-
tar na provincia em cujo quadro de saúde fomos admittido.
Durante a nossa residência nas ilhas de S. Thomé e Príncipe,
estudámos a topographia das suas diversas localidades e olhámos
sempre com interesse para as culturas das roças ou fazendas que
ali se encontram. Não nos passava despercebido alem d'i§so tanto
XXVI
o que dizia respeito aos habitantes, como o que se referia ao
conimercio, á saúde publica, ás doenças e ao clima. Era vaslo o
campo da nossa observação e, para maior facilidade do estudo,
adoptámos desde o principio as seguintes divisões geraes : geo-
graphia, condições physicas e motaes dos habitantes, hygiene pu-
blica, hospitaes e pharmacias, flora pathologica, estatística e, final-
mente, apontamentos para a historia geral da provinda.
Todos estes assumptos nos pareciam dignos de se divulgarem,
o que poderia fazer-se em folhetos, em vários opúsculos ou n um
único livro: adoptámos, porém, como mais conveniente, esle ultimo
meio de publicação, e por isso mesmo dissemos no respectivo
prospecto :
O livro que vae dar-se á estampa comprehende informações tõo
exactas quanto minuciosas sobre o commercio, agricultura e salu-
bridade da provinda de S. Thomé e Principe. Servirá de guia
segura e indispensável a todos aquelles que desejarem conhecer
tão útil possessão de alem-mar, ou a ella se acham ligados por
algíim interesse ou relações de qualquer ordem. Reuniram-se neste
livro CLSsumptos que encheriam duzentas paginas cada um. Muito
de industria se procedeu assim. Tratava-se de uma região equatorial,
e onde, a par de grande fertilidade, está um clima quente sob o
qual se requerem midados que não se têem muitas vezes, com grave
prejuizo de saúde, por se desconhecerem.
Um trabalho d'esta ordem não podia deixar de ser muito com-
plexo, e para se tornar mais profícuo era forçoso que comprehen-
desse algumas noticias das ilhas mais próximas ás nossas e dos
rios e logares principaes da costa do continente da Africa que
lhes defronta. Representam todas estas terras uma diminutíssima
fracção da zona equinoccial africana, contendo de certo os logares
mais insalubres do mundo, como os do delta do rio Niger, as
fpargens do rio Benim, etc,
XXVII
As regiões equatoriaes da America e da Oceania, justo é dizer-
se, lambem sfio geralmente desconhecidas entre nós. Havia por-
tanto grande vantagem em poderem comparar-se os principaes
paizes que demoram sob a linha equinoccial e estão nas mesmas
condições de latitude em que se encontra a nossa provincia gui-
neana, região equatorial a que mais particularmente dedicávamos
a nossa altenção.
Mas se por esle lado era preciso colligir os elementos mais
adequados para provar que a provincia de S. Thomó, pela fer-
tilidade do seu terreno, tem mais importância do que se julga,
attenta a sua área tao limitada, por outro convinha mostrar que
as terras portuguezas do ultramar nâo têem menor valia do que as
possessões das outras nações da Europa, se bem que as nossas estão
dentro dos trópicos ou são todas equatoriaes, como observa G. Vo-
gel, achando n'isso motivo de inferioridade para ellas,
E grave similhante questão, e não deve discutir-se sem fados,
demonstrações rigorosas e provas bem documentadas. E esle o
objecto do capitulo m, o qual de per si só encerra mais de duzentos
paginas e em alguns pontos ainda assim não satisfaz ao nosso
desejo. Ficam todavia lançadas as bases para um trabalho mais
completo e que poderá sair a lume em livro separado.
Tendo em vista este assumpto, entendemos que o titulo com
que primitivamente foi annunciada a obra : A provincia de S. Tho-
mé e Principe e suas dependências devia ser ampliado com o se-
guinte: A salubridade e insalubridade relativa das provindas do
Br azil,, das colónias de Portugal e de outras nações da Europa,
porque d'este modo se manifesta melhor o nosso pensamento a res-
peito de certas circumstancias da provincia de que tratamos.
Do que levamos dito se conclue que ab initio não dispozera-
mos as cousas para dividir este 1í\to em diíferentes volumes, e
julgávamos até, coroo no prospecto se declarou, que não excede"
XXVIII
ria seiscentas paginas do impressão. Não ora seguro oslo ciílciilo, o
mais tarde vimo-nos embaraçados para mo exceder os limites
que tinhamos projectado.
Não obstante todas as difficuldades, a imj)ressão proseguia e,
somente quando estava quasi em meio, é que podemos conven-
cer-nos de que não era possivçl reunir-se n'um s() volume, sem o
tornar muito incommodo, todo o trabalho que tencionávamos dar
á luz da publicidade.
Acrescia alem d'isto igualmente grande excesso de despeza
com a edição, o que nunca é para desattender.
Urgia, portanto, sair de similhante embaraço, pois que, qual-
quer adiamento, seria muito prejudicial, não só porque nos cum-
pria acompanhar a expedição do caminho do ferro de Ambaca,
junto a qual haviamos sido nomeado medico, como também por-
que deviamos evitar a diíTicil posição em que estávamos para
com as pessoas que nos haviam coadjuvado n'esta publicação.
Tratámos, pois, de resumir o . trabalho, tendo sempre em mira
conservar o plano fundamental da obra e não sacrificar as maté-
rias de cada uma das principaes divisões.
A tarefa tomou-se muito espinhosa e, se não Tosse o expe-
diente a que nos soccorremos, não chegaríamos com facilidade a
bom resultado.
Coadjuvado por um zeloso empregado da imprensa nacional,
calculou-se, á vista do manuscjipto, o numero de jiaginas que este
produziria, e sobre tal base escolhemos o que nos pareceu har-
monisar-se mais com o delineamento geral que se adoptara.
Supprimiram-se em algumas secções geraes os capitulos que
se reputavam secundários, e n'outros refundiu-se de novo o as-
sumpto. Mas ainda assim não era possivcl realisar o nosso in-
tento, porque havia capítulos extensos que mal podiam ser modi-
ficados.
XXIX
EUminon-se parte da carta medico-yeograpkica da ilha de
S. Thomè, e, coino n'ella se inscreviam differentes fazendas agrí-
colas, ficaram estas também excluidas. Alguns mappas estatisticos
nao tiveram cabimento, assim como a descripção da nossa pro-
vincia do Minbo, que deveria ser apresentada como termo de com-
paração. Vimo-nos igualmente forçados a reduzir algumas ques-
tões medico-hygicnicas e muito especialmente as que diziam res-
peito a hospitaes, pharmacias e tratamento das doenças endémicas
da ilha de S. Thomé. Não ficou de certo prejudicada a parte do
livro refrente á salubridade, e a obra conserva, a nosso ver, tão
boa ordem como se não houvesse taes suppressões.
Attendeu-se, como no prospecto se promettêra, ao que se refe-
ria ao commerdo, agricultura e salubridade, não só da provincia
de S. Thomé e Principe, como também de todas as nossas pro-
víncias de alem-mar, comparando-as com as das outras nações
colonisadoras do século xix.
Dispostos definitivamente os assumptos que deviam entrar
n'este trabalho, restava tomar em consideração os panoramas,
paizagens e habitações que deviam animar um escripto cuja lei-
tura é quasi sempre muito árida. Não era fácil a escolha, porque,
a par das bellezas naturaes de cada uma das nossas províncias
do ultramar, ha a grande variedade de plantações de differentes
géneros.
Entre as gravuras conservaram-sc as que nos pareceram mais
adequadas, e retiraram-se, apesar de já estar etn impressas, as que
podiam ser reunidas n'outro volume, completamente independente
d'este, tendo por objecto principal a descripção das roças ou fa-
zendas da ilha, c de tudo o que possa comprovar a importância
d'esta possessão portugueza no ultramar.
lUustram esta obia vinte e quatro gravuras, e um mappa, sen-
do algumas das gravuras relativas ás províncias de Angola e Mo-
XXX
«
çambique, e pena 6 nao ser possível accrescenlar aqiiellas em que
brilham os panoramas da nossa pittoresca província do Minho.
Poderia comparar-sc d'este modo as paizagens, e assim se
mostraria que sob o sol abrazador do equador, na chamada zona
tórrida, ha vegetação virente, alegres habitações campestres,
logares agradáveis e quadros tao animadores como os da mais
risonha e amena província que possuímos no continente europeu.
Esperamos todavia satisfazer este intento, se dermos á estam-
pa a parte do trabalho que nao poude ser impressa n'este volume.
A publicação não se demorará, se estes estudos forem favoravel-
mente acolhidos por todos aquelles que se interessam pelas nossas
províncias uhramarinas.
Não ajuntamos, como era natural, uma nota bibliographica das
obras que mais especialmente foram consultadas para a coorde-
nação d'este trabalho; mencionamos, porém, os nomes dos au-
ctores dos livros a que nos soccorremos, e apontamos vários escla-
recimentos publicados sobre o assumpto de que nos occupâmos.
Cumpre-nos taníbem dizer que, seguindo esta publicação com
a possível brevidade, não poude concluir-se no praso de tempo
que se havia calculado. Foi causa disso não só a demora das
gravuras, como muitas outras dífliculdades alheias á nossa vontade.
No meio de todas estas contrariedades não nos poupámos a
sacrifícios para que as pessoas que nos distinguiram com a sua
assignatura ficassem com uma obra em harmonia com o respe-
ctivo prospecto, que antecedenteinenfe publicámos. Não foi, por-
tanto, illudida a sua confiança nem desmerecida a suft protecção*
Se n'este novo Ensaio hfedico-Estaíklico sobre as nossas pro-
viticias do ullramarj conseguimos, ou não, ser ulil aos que dese-
jam conhecer tão importantes regiões, não nos é possível dízel-o;
08 leitores são os juízes competentes, e do seu veridictum tirare-
mos fecundo ensinamento.
XXXI
Seja-nos permittido esperar que continuaremos a encontrar
apoio c protecção efficaz para proseguirmos nas observações e
apresentar provas e argumentos irrecusáveis, demonstrando que
as nossas províncias ultramarinas não são apenas factourieres ou
comploin de commerce, staíions maritimes plutôt que colonies
dans le $ens propre du mot.
Repetem-SG estas palavras nas publicações francezas, e os
mappas geographicos são geralmente a reproducção de taes affir-
matívas.
Protestaremos sempre contra tão flagrante injustiça, e diremos
bem alto que as nossas provincias do ultramar valem tanto como
as das outras nações colonisadores do século actual. E verdade
que não havemos di\iilgado a natureza dos climas equatoriaes
sob que temos vivido, nem publicamos a sua flora pathologica,
mas ha elementos bastantes para o fazer, e não é mister feliz-
mente grande esforço para isso se conseguir.
Ao fazermos estas considerações cumpre-nos relembrar o que
já dissemos no relatório da junta de saúde em 1871. E necessário
que se augmente uma cadeira de palhologia e hygiene tropical
nos cursos das escolas medico-cirurgicas. E alem d'isso os facul-
tativos do ultramar devem escrever memorias sobre os seus tra-
balhos clinicos, a respeito da climatologia e hygiene, havendo
prémios e louvores para aquelles que mais se distinguirem. Es-
tes e outros meios servirão de estimulo, e não faltarão escriptos
especiaes em que se descrevam minuciosamente todas as nossas
terrav^ do ultramar»
Desenganemo-nos ; é preciso repelir muitas vezes, que sem
efitudos médicos, bem dirigidos, nao è fácil estabelecer colónias
ftgricolas, nem promover a emigração para as íiossas vastíssimas
possessões na Africa tropico-equatorial.
Não esqueçamos que para esta parte do globo se estão. diri-
XXXII
gindo frequentes expedições scienlilicas e commerciaes, e que
ellas percorrem os territórios ijue nós descobrimos e írequenlámos
ha nmilos annos. Sejamos por isso os primeiros a descrever to-
dos estes paizes em relação á sua agricultura, commercio e salu-
bridade, c mostremos que nao somos para a colonisaçao menos
competentes do que o fomos nos séculos xv e xvi para os des-
cobrimentos e conquistas de tão extensas e longiquas regiões.
Empreguemos finalmente a propaganda, servindo-nos de todos
os meios, que a imprensa nos offerece, e divulguemos todos os ele-
mentos necessários para (|ue escriptores taes como Leroy-Beau-
lieu e mr. Charles Calvo, modifiquem as suas idéas acerca das
nossas provincias ultramarinas, e não faltem nunca documentos
para que os sábios dos outros paizes colonisadores fallem com
mais rigor e exactidão sobre o que nos diz respeito como obrei-
ros do progresso e da civilisação das nossas terras de Africa.
Villa de Mossamedcs, 8 de janeiro de 1878.
Qyíi^anuet ^eiieiia m/ío-cUo,
INTRODUCÇÃO
Na parte onenlal do vastissimo mar de Guiné, o qual se
estende desde o cabo das Palmas até ao cabo de Lopo Gonçal-
ves, fica a productiva província portugueza composta da ilha de
S. Thomé, da ilha do Principe, do território de S. João Baptista
de Ajuda, na margem occidental do golfo de Benim, e da ilha
das Rolas. A sede do governo geral d'esta província é actualmente
na ilha de S. Thomé, onde estão também as repartições publicas
superiores.
As ilhas que servem de assumpto principal a este trabalho
pertencem aos paízes equinocciaeç propriamente ditos, e formam
uma das mais antigas colónias portuguezas. Não seria completa
a descripção do clima d'aquellas ilhas, se faltassem os elementos
de comparação entre elle e os das terras que se acham sob a li-
nha equinoccial, quer estejam na Africa, America ou Oceania,
(|uer sejam colónias de Portugal ou de outras nações da Europa,
c|uer províncias do Brazil. O estudo comparado das regiões equa*
toriaes lança muita luz sobre o clima da província de S. Thomé,
a ijual tem grande importância não só por se achar situada entr^
as proviíicias de Cabo V\'i(le o Angola, mas tainhoin j)on|ue os
seus portos abertos ao conmiercio uao eslão a grande distancia da
costa continental.
A ilha das Rolas, extremo meridional da província, eslá sob
o equador a O** de latitude, e separada da ilha de S. Tlionió poi*
um canal de cerca de 3\7 de largura e mais de 13"' ,2 de pro-
fundidade, dando passagem a navios que ali podem fundear, em
frente da costa do N. da mesma ilha.
A ilha de S. Thomé estende-se de 5^,5 a 55^5 ao N. da ilha
das Rolas, levantando-se quasi em frente da foz do rio do Gabão,
a 292^6.
A ilha do Principe, collocada a NNK. da de S. Thomé, a
ISõ*",!, prolonga-se desde 169^4 ale 187^9, distíindo 244^4 do
rio de S. Bento, na margem oriental do mar de Guuié.
Da costa do Gabão para qualquer das ilhas pôde fazer-se a
viagem em canoas do paiz.
O território de Ajuda, onde foi edificado ha cento noventa e
seis annos o forte de S. João Baptista, a 88*',9 de Badagry, parle
do qual M. de Avezac reputa idistriclo porluguez», está ao S. do
reino de Dahomé, 700^6 do equador ou 833*',4 da capital da
província, de onde dista também 627*^,8 a foz do rio de Benim,
451\8 a do Niger e 522 kilometFOsa do Velho Calabar.
A posição geographica da provhicia de S. Thomé mostra,
pois, a necessidade de se examinarem as terras banhadas pelos
principaes rios que desaguam no mar de Guiné, estando, em pri-
meiro logar, os terrenos regados pelos vinle braços do rio Niger,
e que constituem enorme centro miasmatico, ao ipial a ilha de
S. Thomé olíerece a face de NO. A máxima parle da costa insular
lambem eslá exposta aos ventos que varrem as vastas regiões de
Africa, e ali chegam pelo SE., E. e N. até. a ONO., isto é, aos
3
vonlos que passam nas planieies do contiiienle africano, d(\s(le o
rabo de L(»po Gonçalves, rios Gabão e Calabar aló ao delta do
Nifçer, e que vem mais ou menos impregnados de elementos dele-
térios prejudiciaes á saúde.
De ESE., SSO. e 0. eliegam a ilha de S. Thomé os ventos do
alto mar.
Alem das ilhas das RoIíís, S. Thomé e Príncipe, ha oulras
nu mar de Guiné cpie mo devem ser t^squecidas. Sâo as ilhas
de Anno iJom, Lopo (Joncalves, Corisco, Eh)b(\v, Fernão do P(),
Mondoleh, no golfo dos jMafras, e a do (juríimo, que mais parece
fazer parle da costa do golfo de Beiíim, do que uma ilha propria-
mente dita.
Não deve passar sem r(»i)aio a circumstancia que se dá de es-
tarem lançadas ao mesmo rumo SOí S.-NE'íN. as ilhas de Anno
Bom, S. Thomé, Principe e Fernão do Pó, e o ahissimo pico
Mongo-Ma-Lob;di. As oulras ilhas sao pe(|uenas, e algumas
d'ellas mui chegadns á lerra lirm(», como a de (juramo, já no-
meada, e a de Lopo Gonçalves, no extremo meridional do golfo
dos Mafras.
A costa do continente banhada i)elo mar de Guiné, na extensão
<le cerca de 2:481 kilomelros, subdivide-se em dilFerenles partes
dislinclas, cpiasi sempre, por meio de cabos mais ou menos notá-
veis. As divisões estabelecidas pelo illuslrado geographo Alexan-
dre, de Castilho serão adoptadas de preferencia a todas as ipie
téem sido apresentadas até hoje.
Eis-aqui, seguindo a ordem de conlinuidadc de N. [nwn o
S., as denominações parciaes que devem acceitar-se: voMa do
Marfim e f/os Quaquas, da Mina, de Benim. do Calabar c do Ga-
Imo. E portanto indispensável determinar a superlicie em (|ue
estão as ilhas do mar de Guiné e os logares mais importantes da
cosia, qac possam Icv alguma inlluencia iio clima da província de
S. Thoiué.
A zona eomprchendida enlre o equador e um parallelo tirado
por 11° 45', islo é, por um ponto equidistante do trópico de
câncer e do equador, terá a denominação de zona ecjuatorial do N.
A secção d'esta zona, resultante de dois meridianos, passando
um por 10" de longitude E Geenwich e outro por l"" de longitu-
de 0., a contar do mesmo meridiano, e a parte equinoccial de
Africa de que mais especialmente nos occuparemos; forma ella
um rectângulo cuja base coincide coui o eipiador terrestre, re-
presentando os meridianos a latitude ou altura do reclangulo. A
área d'esta zona é 3 vezes maior (pie a de França e 17,8 que
a de Portugal.
Náo seria preciso de certo tomarem consideração tão grande
superíicie se n'ella não estivesse comprehendida a maior parte do
mar de Guiné, ou se a })rovincia de S. Thomé não fosse, como
SC disse, formada de dilferentes districtos, sendo os territórios
em que ella se devide uuii distanies entre si e bastante appro-
ximados de logares cujas condições geológicas ou climatéricas })o-
dem iníluir na salubridade ou insalubridade dos climas insulares
que pretendemos descrever.
O reino de Daliomc, ao N. do território de Ajuda, meiece,
alem (Kisso, atteiição particular.
Muitos estrangeiros têem feito viagens á região equatorial
dahomeana, publicando descripçoes mais ou menos interessaiites,
mas de portuguezes poucas possuímos. A nossa incúria, n'este
ponto, tem sido tão grande, temos cuidado tão pouco em promo-
ver o progresso colonial e em proteger as feitorias e eslabeleci-
mentos commerciaes, ipie alguns escriplores francezes, fallando
a i'espeito de Dahomé, dizem : Os portuguezes nunca possuíram
5
coma alguma ao S. do reino de Dahomé, e, apesar do rei de
Dahoiné lhes dar terrenos para elles construirem uma fortale-
za, não a haviam começado pelos ajinos de 1730; e foi. o capi-
tão de um navio francez o primeiro europeu (pie ali desembarcou,
exclamando os indigenos ao verem um branco pela primeira vez:
^Zagoué*, isto é *Elle chegou».
Taes asseverações, aliás erróneas, e outras, iiâo devem pas-
sar sem reparo. Insinuam que nao foram os porluguezes os pri-
meiros descobridores da cosia de Benim, e que fora um ft-ancez
o europeu que primeiro chegou áquella região!
E conlra similhanles asserções que nunca deixaremos de pro-
testar, e faltaríamos a iim dever se, fallando do afamado reino da-
homeano, nfâo pugnássemos em prol da verdade, o nao nos esfor-
çássemos por divulgar o que se acha demonslrado em memorias
(» obras portuguezas de grande valia.
O erudito visconde dií Santarém, em 1842, defendeu a prio-
ridade dos descobrimenlos porluguezes na cosia de Africa; mas,
em i867. procurou Pierre Magry renovar uma questão sobre
que felizmente vae apparecendo a luz c a verdade sustentada
]K)r escripton\s nacionaes e estrangeiros. K, porém, para lamen-
lar que, em publicações francezas de recente dala, Iratando-se
do ivino de Dahomé, nâo haja referencia aos nossos escriptores
que se tócm occupado de tal assumpto, e se diga que o território
de Ajuda pertence aos ingl(»zes e nao aos porluguezes, que sâo
senhores d'aqu(dla região como os francezes da do Gabão, sendo
aliás a posse dos portuguezes em Ajuda muiti» mais antiga. Mas
nao é sómenie por este lado que conviMU conhecíM* o districlo de
Ajuda e o reino de Dahomé, lí grande a importância politica
<reste ponto da Africa equatoiial, e nao o é menos o seu mo-
vunento commercial. podendo augmentar muito com as boas re-
6
laçõcs (los povos de Dahome e torras adjacenles, se os portngue-
zes seguirem n'aqiielle paiz o mesmo systema que os francezes
adoptaram no Gabão, onde entraram lia trinta e (|ualro annos ape-
nas e já dispõem de baslanle influencia. E, portanto, de grande in-
teresse que se achem archivados em livro apropriado os factos,
acontecimentos ou informações dos viajantes nacionaes e estran-
geiros, para que possam servir de guia aos que «lesejem ir á cos-
ta de Benim, á costa de Ajuda ou ás ilhas de S. Thomé e Prín-
cipe, e demorar-se ali por algum tempo.
O medico, porém, que nao deve ignorar Iodas eslas circum-
stancias, tem que examinar oulra ordem de factos náo menos im-
portantes. Gumpre-lhe estudar a natureza das do(mças ondemi-
cas e os meios mais adequados [)ara as debellar. E esta a sua
missão. O campo é vasto e o assumpto difficil, mas o medico co-
lonial tem por norma lra})alhar para a conservação da vida e da
saúde dos colonos, vcm se poupando para isso a sacriiicios, por
maiores que elles sejam.
A provincia de Cabo Verde, com as suas variadas ilhas, (» (í
vasto território de Guiné que mais devia sím* provincia indepen-
dente, como a de S. Thorné, do que subordinada ao governo
geral de Gabo Verde ; a larga região de Angola e Moçandúípie,
de entre as quaes se deve fazer desappan^er as trevas «mu que
estão envolvidos os povos que as habilam, o que é um dever da
nação porlugueza e um tMnprelu^ndimento altauienle civilisador,
reclamado ])elo progr(\sso e interesse da humanidade, todas estas
regiões, dizemos, oífereciMU diversos climas e condições de vida
muito especiaes ; e é seui duvida grande temeridade chamar para
ali a emigração sem (pie se indiquení as localidad(»s mais favo-
ráveis á saúde. Não se vive impuneiiu^nte n'um diuia como o de
Benguella, na Africa tropical, nem deixa de ser grande o tributo
que se paga ao das províncias do Brazil. Mas o progresso, no seu
variado movimento, sairá triumphante da luta estabelecida para
a colonisaçâo dos paizes intertropicaes.
O districto de Lourenço Marques de um lado, e o de Mossame-
des do outro, são as portas por onde devemos entrar na região
tropical da Africa portugueza. O estabelecimento de S. João Ba-
ptista de Ajuda serviria de passagem para a Africa equatorial se
tivéssemos paciência para captar a amisade dos denominados
reis ile Dahomé, ou quizessemos sustentar o nosso direito aos
terrenos que ficam ao S. do reino dahomeano, cuja concessão é
attestada por auctoridades insuspeitas e por documentos incon-
trastaveis.
O que importa, porém, aos colonos, é conhecer as vantagens
que as differentes localidades lhes oíTerecem, seja qual for a re-
gião intertropical em que elles se achem, avaliando com verda-
deiro conhecimento de causa a importância do paiz para onde
desejam !ransporlar-se. Devem portanto saber distinguir a natu-
reza dos climas parciaes da Africa portugueza e das províncias
do Brazil, visto que n um continente e n outro ha facilidade em
obter terrenos, cultival-os e tirar d'elles grande proveito.
Não engrandecemos as terras de Africa deprimindo as do im-
pério de Brazil; expomos a verdade tal qual se nos afigura. Es-
crevemos para utilidade de todos os portuguezes, especialmente
dos que pretendam ir para aquellas regiões.
Não é, pois, um livro de sciencia especulativa que apresen-
tamos ao publico, é um trabalho pratico, onde se mostra a gran-
deza e importância das nossa colónias, onde se patenteia a salu-
liridad(í ou insalubridade de muitos paizes intertropicaes, e onde,
finalmente, se trata da colonisaçâo de uma importante provincia
do ultramar, da qual fazemos minuciosa descripção.
Encorra-se, porém, todo o nosso esliulo nVslas poucas pala-
vras: emigração, aclimação e colonisação.
A respeito da emigração escreveu mr. Julcs Duval :
tE a emigração na ordem económica uma exportação de
trabalho, capital e intelligencia, que desenvolve uma nova forç^
de producção e de consumo, por meio da qual trocam as zonas,
os climas, as terras e os mares os seus productos.
«E na ordem politica uma diffusão pacifica do sangue, da
lingua, dos sentimentos, dos costumes, das idéas, das institui-
ções, que augmenta o prestigio e poder das metrópoles, e as des-
embaraça, alem d'isso, de elementos que as enfraqueceriam, e
de fermentos de desordem que poderiam perturbal-as.
*E na ordem eílmographica a geração dos povos; a incapaci-
dade de emigração é.um signal de impotência, precursor de prom-
pta. declinação.
r
tE na ordem humanitária a exploração do globo, progressi-
vamente purificada dos flagellos dos reinos animal e vegetal. O
clima e a hygiene melhoram quando a mão intrépida do colono
faz seccar os panianos, entrar os rios nos seus leitos, 6 fructifi-
car o deserto; trabalhos heróicos, immortalisados nos mvthos de
Hercules e de Theseu, e que, approximando as raças, fundem
as suas differenças e antipathias em allianças de sangue e de inte-
resse.
• E na ordem cosmogónica, finalmente, uma (ixpansão da foi-ça
intelligente, que é o homem, e que, como todas as forças, tende
ao equilíbrio. Circulação de sangue, dilatação dos fluidos, marés
do oceano e da almospliera, vibrações do ether, curso dos astios,
são applicaçries variadas d'(»sta lei da natureza, que ivstabelece o
cosmos sflbre a harmonia dos movimentos, regulando-se e pondtí-
rando-se por atlracçnes reciprocas. »
9
Acorcíi <la aclimação disse o illnstrc visconde de Paiva Manso:
« E grave a questão da aclimação, que só por si constitue um
(los ramos mais importantes da sciencia medica.
• Sem pretender entrar n'uma questão que tão vasto campo
offerece á discussão, ou seja com relação ã hygiene ou por estar
ligada a questões económicas da mais alta gravidade, é certo, como
diz Juíes Rochard, que é muito complexa, que deve ser estudada
em relação ao individuo e em relação á raça. •
Para Leroy Beaulieu a colonísaçao, finalmente, é um acto re-
flectido, sujeito a regras que somente as nações civilisadas pode-
rão indicar; é um dos phenomenos mais complexos e mais deli-
cados da physiologia social; é, emfim, uma arte que se forma na
escola da experiência, e uma sciencia que formula as leis que re-
gulam as colónias nascentes.
A colonisação da Africa portugueza é, na verdade, um dos
maiores commettimentos da pátria de D. Henrique, Alvares Ca-
bral, Pedro de Escobar, Diogo Cão, João de Santarém, Bartholo-
meu Dias, Vasco da Gama, Affonso de Albuquerque e de tantos
oulros arrojados nautas e destemidos cavalleiros.
Sulcaram os nossos antepassados mares desconhecidos, des-
cobriram ilhas, cabos, rios e largas regiões, assignalando com
suas maravilhosas viagens os últimos annos do século xv e
principio do xvi ; no ultimo quartel do século xix cumpre-nos
fecundar, não c^m a espada, mas com o arado as terras incultas
e abandonadas, abrindo estradas e tirando das entranhas do solo
as immensas riquezas que ali jazem sepultadas.
A Africa portugueza ao S. do equador é actualmente o campo
de acção e o logar do trabalho para onde d(»ve voltar-se a atlen-
çãó de todos os portuguezes. .
O caminho de ferro no extremo S. de Moçambi(|ue, e o da
10
parle oriental da província de Angola, são o principio d'esla i(lo-
riosa campanha.
A par das communicíições rápidas, levantar-se-hão colónias
agricolas, estabelecimentos commerciaes e plantações dos géneros
da zona tropico-equatorial mais procurados nas praças da Europa,
e n'esles primeiros delineamentos da colonisação dos vastíssimos
terrenos que possuímos na Africa meridional, desde o trópico ao
equador, serão derrubadas as florestas, agricultadas as planícies
e semeados os campos. Trocar-se-hEo depois os productos natu-
raes e industriaes, estabelecendo-se accelerada navegação entre
os portos de Portugal e os da Nova Africa, e formando-se assim
uma corrente de riqueza que levará esta nação ao seu tempo dou-
rado, ao século da sua maior gloria.
O livro que intentámos publicar tem por objecto principal
uma fracção diminutíssima da Africa, uma superfície de 1:000
kilometros quadrados; e, estando hoje apenas cultivada a decima
parte d'essa área, os seus rendimentos públicos sobem a mais de
100:000^000 réis; nas terras da Africa portugueza, com uma
superlicie de 1.800:000 kilometros quadrados, desenvolvida con-
venientemente a colonisação, a receita publica será será oito vezes
maior que a de Portugal.
A importância da colonisação da região africana que hoje
possuimos, .demonstra-sc por factos incontraslaveis. Não é, po-
rém, necessário discutir um assumpto de que ninguém duvidará.
Aos poderes públicos cumpre promover, pela sua parle, a
abertura de estradas e caminhos de ferro, e premiar a iniciativa
particular, não se envolvendo din^ctamente em contratos paia o
estabelecimento de colónias. Não se levantam cidades onde falta
a agricultura e o coittinercio, e onde não pode realisar-se a acli-
mação.
Como exemplo de colónia agrícola nâo o podíamos achar
melhor do que a ilha de S. Thomó. Descrevol-a sob este ponto
de vista é também dever nosso, concorrendo ao mesmo tempo
quanto em nós couber para ([uc se avalie o clima das colónias
portuguezas. a riqueza e a abundância de seus productos natu-
raes.
Píira esse fim grupámos os variados maleriacs d'este livro em
differenles secções, dispostas da seguinte forma:
Geographia.
Condições physicas e moraes dos habitantes de S. Thomé.
Hygiene publica.
Flora pathologica.
Historia natural.
Meteorologia e climatologia.
Diversos quadros estatisticos.
Sao assumptos concernentes á provincia de S. Thomé, mas
de entre elles destacam-se questões de alto interesse colonial,
tanto com respeito ao commercio como em relação á agricultura
e á aclimação, base do progresso da Africa portugueza do occi-
dente ao nascente, de Angola até Moçambique.
EnumcTam-se na primeira secção os paizes erpiinocciaes que
estão na mesma latitude da provincia de S. Thomé; calcula-se a
superfície de Portugal, como paiz colonial, e compara-se a sua
área com a de todas as nações da Euroj)a.
Patenteia-se a iuimensa vastidão da Africa portugueza, e for-
niidam-se os meios de chamai* para ali a emigração.
I)istinguem-se os climas ecpiatoriaes dos (pie se acham sob
ns trópicos, e mostra-s(í quanto é errónea a crença popular de que
o calor da zona tórrida é jMejudicial á saneie e impróprio para os
trabalhos agrícolas.
<2
Indicam-so as prinripaos fazendas da ilha do S. Thomé, as-
sumpto sobre que nada ha escriplo, nioslrando-se a ferlilidado
dos terrenos e as diversas culturas do paiz, tao dilTerenles das
que ha na província do Minho, cuja producção comparamos em
presença de mappas estatísticos.
Ajuntam-se, alem d'ísso, algumas gravuras reproduzindo com
a maior exactidão as bellezas da vegetação que aformoseia as
margens dos rios, matiza os valles e faz realçar as culturas
daquelle privilegiado paiz, procurando por este meio aniniar
os quadros que delineámos. A penna descreve em largos trn-
ç^s o que a gravura approxima e reproduz com toda a naturali-
dade.
Conhecida a posição e extensão das colcmias portuguezas em
geral e as fazendas da provincia de S. Thomé, é natural fallnr
das condições physicas e moraes dos habitantes de tal região.
E assas complexa esta parte do nosso trabalho, e uma das
mais úteis para aquelles que desejam viver em tâo longi([uas pa-
ragens.
Refere-se, pois, o que diz respeito aos funccionarios públicos,
negociantes, agricultores e trabalhadores, e estuda-se o movimento
commercial e agricola nâo si') da ilha de S. Thomé, mas também
de todas as nossas províncias do ultramar.
O credito, a navegação e os capitães sâo examinados em ])re-
sença de estatísticas organisadas com todo o cuidado, entre as
quaes figuram mappas de exportação das casas commerciaes de
Lisboa para os negociantes de Africa, e da importação dos |)ro-
ductos coloniaes para Lisboa. DVste modo pode avaliar-se a im-
portância do movimento comm(»rcial entre a praça de Lisboa e a
Africa portugueza.
Os paizes iiiteriropicaes como o Brazil. Angola e Moçambique
i3
lêem sido tlioalro de valiosas explorações sob o ponto de visla das
sciencias naUiracs. 0s trabalhos de Livinsgtone para a geographia,
os de F. Welwitsch para a botânica e os de Anchieta para a zoo-
logia, são muito úteis, aproveitando com elles o commercio, a agri-
cultura e o progresso colonial portuguez; mas nâo vSâo menos im-
portantes os trabalhos dos médicos, examinando os chmas e as
diversas causas que produzem as doenças, combatendo acpii as
anemias, mais alem o paludismo, n'uma parte a febre amarella,'
em outra a cholera, e ensinando constantemente as regras e pre-
ceitos da hygiene publica e individual.
O medico colonial occupa realmente um dos primeiros loga-
res enire os obreiros do progresso e da civilisaçâo das terras de
Africa. Gumpre-llie destruir os erros e preconceitos, e dizer quaes
são as colónias menos insalubres e as condições em que ellas se
acham.
N'este trabalho faz-se, pois, sob a denominação — hygiene pu-
blica— a descripção da cidade de S. Thomc e dos melhoramentos
de que ella mais carece.
A planta da cidade toma mais visivel a sua posição e orien-
tação, e as gravuras (|ue acompanham este trabalho completam a
descripção que d'ella fazemos*
E esta a secção do livro mais apropriada para se tratar da in-»
salubridade relativa das ilhas do golfo dos Mafras e das colónias
portuguezas, comparando estas entre si e com as de outras na^
coes da Europa e províncias do Brazil.
Forma por assim dizer este assumpto a cúpula do ediíicio lit-
terario que planeámos. E d'ali que se observam as condições da
vida dos paizes intertropicaes e as difficuldades com que se luta
para resistir á influencia do clima.
A provincia de S. Thomé, cuja superíicie é oitenta e sete ve-
14
zes menor du (|ue a da luelropole, tem aclualmeiíte lerca de 25»000
alma^, podendo este numero dobrar ou triplicar sem haver excesso
de população.
Tratámos em especial da ílora pathologica da ilha d(» S. Thomé,
referida no anno de 1872. E um assumpto que nmito importa co-
nhecer.
A natureza de ipial(|uer clima depende, alem de outras cau-
sas, da (pudidade dos terrenos, da natureza da vegetarão e dos
ventos, (pie para nuiitos auctorcís representam o principal papel
na salubridade ou na insalubridade de um paiz. E este estudo o
assumpto das grandes secções denominadas — historia natural,
meteorologia e climatologia.
No reino vegetal descrevemos as arvores próprias para con-
strucçoes e marceneria, as arvores frucliferas e as que sao mais
úteis á agricultura.
Não collocàmos o homem no reino animal, nem aíCiMtàmos
a doutrina do sábio naturalista Darwin a similhante nvspeito.
Para nós o homem fornut um leino á parte, e tem origem [)ropria
e única.
Não nos propomos dizer a ultima palavra de sciencia, mas
tratamos de pôr (Mu relevo os factos que nos levam a admiltir dis-
tincção entre o reino animal e houíinal.
Tendo este trabalho uma feição inteirainelite pratica, reuni-
mos em grupos separados os map[)as estalislicos (pie não poderem
entrar no corpo do livro.
As eslatisticas t(jcm para niis grande inlluencia na indaga(;ão
da verdade scientiíica. E dillicil organisal-as, mas da dilliculdade
para a inutilidade vae grande dilferença.
Tal e o plano da obra que apnísentâmos, e onde expomos, a
par das observações feitas como medico colonial duraiíle cinco
15
aiiijos que servimos em S. Thomé, as conclusões a que chegámos,
compulsando os livros dos mestres de sciencia que mais se lêem
distinguido, e examinando cuidadosamente todos os documentos
de que tivemos conhecimento.
Em secção apropriada patentearemos as fontes a que recor-
remos e os meios de que nos servimos para apurar a verdade,
que sempre tivemos por norma; e por bem pagos nos daremos
se, no meio das difBculdades com que lutamos, fizermos obra di-
gna da attenção publica, e que possa ser útil a todos a(|uelles (|ue
desejam conhecer a provincia de S. Thomé e Principe e o clima
da Africa portugueza.
1
/.
A província
DE
S. THOMÉ E príncipe
SUAS DEPENDÊNCIAS
OD
A SÀIfBRIDÂDE E nSÀLlIBRIDADE REUTITA DAS PROTIIICIAS DO BRAm,
DAS COLONUS DE PORTOGAl E DE OUTRAS NAÇÕES DA EUROPA
GEOGRAPHU
L'(BÍ1 de rhomme n^embrasse à Ia fois qaaii étroil
borizoD ; il lai faot nno longuo série d'ótude8 pcreéré-
raots poor reeoonattre de procbe eo procbe tootet le<
parties d' ao district, d'tm pays, d*ime régioD, et airÍTer
ainsi JQiqo'à la notion géoérale des grandes divisions
terrestres.
(L' Univert, esqnisse générale d'Afriqiie, par
mr. d*ATezac, pag. 3, 1844.)
CAPITULO I
Desoripção dos rios e logares prinoipaes
da oosta do mar de Quino
Cak« de Lopo GoDçali es^— Bahia de Lopo GoD^alves.— Rio do Gabáo.— Bahia do Corisco.— Cabo de S. Joio.—
lio df S. leDlo.— As ilhas portognezas e a costa do Gabão.— Rio do Campo.— Enseada do Pão da Nau ou
Paiavia.— lio da Boroa.— Rio dos Canarões.— Pico longo-la-Lobah, do qnal existe o clima qacnle oa
tórrido, o temperado e o frio oa glacial.— Bahia de Ambozes on de Zambús (Ambas oa Amboise).—
lio de EIRei.— Velho Calabar (Calhar j, Dongo oo Oióne).- Rio Done (Andoney oa António).— Bahia
de Boni oa de Obáne.— Rio do Sombreiro.— Rio de S. Bartholomeu, dos Hafras oa dos Três Ir-
mãos.-Rio de Santa Barbara.- Rio de S. Nicolau.— Rio de S. Bento (St. John or Bra.s8).-Cabo For-
moso.—Rio Riger ou Qaorra e o celebre delta qae elle forma.— Afflaenles do rio Niger e sens braços
prinripaes.— Rio Tchadd.— Dhionliba oa Riger.— O delta do Niger e as ilhas de S. Thomé e Principe.—
Grande mar interior oa lago de Tchadd.— Rio Formoso ou de Bepim.- Rio da Lagoa oa Lagos.— Ba
dagry.— S. João Baptista de Ajadá e o distrieto oa território correspondente.— Condições especiaes
para o desembarqie lo porto de Ajodá.— lagestoso espectáculo qoe oferece o mar na costa de
Ajidá.— Reino de Dahomé.— Caminho de Ajadá até á capital de Dahomé.— Estações intermediarias
entre o território de Ajuda e a capital de Dahomé.— Limites do golfo de Benim.— Limites do golfo
dos lafras.— Mar de Guiné, zona equatorial que lhe corresponde e correntes que ali se observam.
Cabo de Lopo Gonçalfes.— Dá-se este nome ao extremo N. de uma ilha
de Sl^yd de comprido por 7^,4 de largura, descoberta pelos annos de
1 469 ou 1 470 por Lopo Gonçalves, que lhe deu o nome, estando se-
18
parada da terra firme pelas aguas de um rio de mediana largura. E
muito conhecida dos porluguezes a bahia a que elle serve de limite.
Demora este cabo em 66^,9 ao S. do equador e a 17® 51' 6'' de longi-
tude E. Avi8ta-se de 25 a 27 kilometros ao largo, e está ao SE. da ilha
de S. Thomé ; d'este rumo sopram os ventos mais de cento e doze vezes
no anno, segundo as observações de 1872, e chegam á velocidade de 8
kilometros por hora. Nas suas proximidades não ba terrenos de alluvião
e vastos pântanos, como se notam em outras partes da costa do mar de
Guiné, mas independentemente da má constituição geológica do solo
mais próximo d^aquelle logar e da qualidade dos ventos, importa aos
agricultores de S. Thomé conhecer os logares fronteiros á ilha até onde
chegam as canoas do paiz.
Ha quem affirme, diz o nosso illustrado hydrographo Alexandre
Magno de Castilho, existir uma lagoa de agua doce ao S. da aldeia Fe-
tish, e a 5S5 para o sertão, boa agua potável, abrindo cacimbas nas
praias. Abunda o peixe na bahia de Lopo Gonçalves, onde vão muitas
vezes em canoas do paiz alguns marítimos de S. Thomé.
Bahia de Lopo GonçalTes. — É esta, na verdade, uma das bahias da costa
mais visitadas pelos habitantes da ilha de S. Thomé. A 0. flca-lhe o cabo
de Lopo Gonçalves e a E. a ponta denominada dos Feitiços (Fetish ou
Feetish). A sua área anda por 581 kilometros quadrados e n'ella desa-
guam o rio Gobbi e o de Lopo Gonçalves, sendo o primeiro um ramo
do rio Ogôoué, explorado em 1874, e defronte de cuja foz está uma ilha
baixa e silvestre, que se denomina dos Mortos, e foi por nós abandonada
não obstante haver ali abundância de coqueiros, fácil desembarque e boa
pescaria.
Rio do Gablo. — O cabo da Barca e o de Santa Clara ou de Joinville
marcam a foz d'este grande e importante rio, cujo estudo muito interessa
não só sob o ponto de vista da hygiene publica, mas também por ter sido
habitado pelos portuguezes que, em 1 723, no intuito de procurarem nas
terras vizinhas minas de oiro» edificaram uma fortaleza na ilha do Rei ou
Kornikey, segundo A. Tardieu; mas vendo frustradas as investigações,
tiveram de a abandonar, apparecendo ainda vestigios da sua estada ali.
Os francezes, porém, escolheram em 1842 aquella posição, e, sem que
alguém os incommodasse, começaram por fazer ali o deposito do seu
cruzeiro de Africa austral, e acabaram por obter terrenos, estreitar re-
lações com os naturaes e assenhorear-se doesta região equatorial, não
86 esquecendo de dar nomes francezes aos pontos mais importantes
d'eUai
19
O rio é muito extenso, e alguDS esciiptores dSo-lhe 1 i 1^1 de compri-
mento, allirmando que se conserva perpendicular á costa, o que mostra
que elle corre em toda a sua extensão sob a linha equinoccial.
As duas bacias que se formam acima da foz do rio, cerca de 45^5,
ficam uma exterior á outra e s3o separadas por duas ilhas arborisadas,
tendo a do N. boa agua.
N3o s3o mui distantes as margens do rio do Gabão, mas o que ô
digno de notar-se é ser reputada salubre a direita, e infamada de in-
salubridade a esquerda.
Os francezes que, em 1839, examinaram este lado do rio, pouco
tempo ali se demoraram, attenta a mortalidade dos marinheiros que
tinham que fazer serviço em terra.
O rio e seus affluentes são orlados de mangues, formando grandes
bosques em alguns logares a muitos kilometros da foz, misturando-se as
aguas doces com as salgadas, alimentando assim o arvoredo que lhe é
próprio.
O cabo de Santa Clara ou de Joinville está em O" 3(y 2" de latitude N. e
18*^28' 24" de longitude E., ficando portanto na altura da Ponta Figo da ilha
de S. Thomé ; e a contar d'aquelle logar até ao N. de um outeiro deno-
minado Duna Plana ou atè 0^ 4' de latitude N., ha a mesma distancia que
tem a ilha desde o N. ao S., salvo os accidentes de terreno que ha n'ella,
os quaes lhe dobram a extensão do N. ao S. e de E. a O.
Entre a cosia insular a E. e a margem esquerda do Gabão e Dunas
Grandes, ha a distancia de 200 kilometros que, em poucas horas, pôde
ser percorrida por qualquer vento forte. Sopram raras vezes para esta
ilha os ventos do E. e do NE., registando-se, em 1872, aquelle cincoenta
e oito, e o outro dezeseis, e os de todo o quadrante oriental setenta e
nove.
A cidade de S. Thomè está, pois, exposta aos ventos que passam so^
bre as terras do Gabão, podendo atravessar em pouco tempo a porção de
mar que separa as duas localidades. Seriam de grande vantagem as ob-
servações meteorológicas doestes dois pontos, comparadas entre si, e afe-
ridas pelos mesmos padrões.
O rio Como, grande affluente do Gabão, é navegável cerca de 83S3.
Os logares que recebem as brisas do largo em toda a pureza, são
n*estas latitudes os menos insalubres, e na ilha de S. Thomè estão n'este
caso as terras do lógo-Iógo ou da Boa Esperança ao S. da ilha.
Bahia do Corisco.— Tem approximadamente 1:234\8 quadrados. Os
seus limites são a ponta dos Mosquitos ao N. e o cabo das Esteiras ao S^
estando este a 59^,2 para S4S0. d^aquella.
20
Faz grande recôncavo esta bahia, e são numerosos os ilhéus, ilhotes e
baixos que n'ella se encontram, tirando-lhe toda a importância commer-
cíal. É necessário não esquecer que desaguam na bahia dois rios, um ao
N. e outro ao S. Chama-se o primeiro rio de Angra, Danger ou Mooney,
que, em língua da terra, quer dizer escuta, cuidado; e o segundo deno-
mina-se Moondah. Em ambos podem entrar navios, tomando-se pratico
entre os indigenas da ilha do Corisco ou do rio do Gabão.
A foz do rio de Angra está emí"^ V de latitude N. e IS"* 44' de longi-
tude E. Notam-se na sua parte septentrional as coUinas de Angra em nu-
mero sufSciente para formarem uma cordilheira.
O rio de Moondah estreita-se muito para o interior das terras, as quaes
são alagadiças e cobertas de mangues, arvores caracteristicas dos paizes
intertropicaes, e, segundo aiSrmam alguns escriptores, dos climas palus-
tres.
Este rio passa por ter communicação com o Gabão, fazendo do cabo
das Esteiras uma península que se denomina de Louís Philippe, nome
dado por M. de Langie, quando estudou aquella região.
Alem dos grandes seios do rio Gabão, orlados de mangues, notam*se as
bahias de Lopo Gonçalves e Corisco, defronte das quaes ficam as ilhas de
S. Thomè e Principe, onde vem amiudadas vezes navios procedentes
d'aquelles pontos. São logares de clima idêntico, podendo reputar-se o
solo do Gabão igual ao da ilha do Principe, opinião sustentada por A.
Tardieu.
Cabo de S. Joio.— Demora este cabo em í^ í(y de latitude N. e 18**
3(y 16'' de longitude E. Está coberto de arvoredo e é talhado a prumo.
Dista cerca de 25'',9 da ilha do Corisco o &^,5 do ilhéu Booenja, que lhe
flca ao N., fazendo o mar por ali muita arrebentnção.
Para o N. d'este cabo levanlam-se altos serros, e d'ahi para o se-
ptentríão apparecem montanhas e cordilheiras que se estendem por
muitos kilomelros, devendo notar-se o monte Shart, a ENE. do rio de
S. Bento e o dos Micos ou Mitre, 44^,4 da beira-mar, ao SEViS. do
mesmo rio.
Rio de S. Benfo. — O rio de S. Bento está fronteiro á ilha do Principe,
flcando ao N. da bahia do Corisco. Tem entrada estreita mas profunda,
segundo informa A. Tardieu, e a 7'',4 da foz dívide-sc em dois ramos, di-
rigindo-sc um para ENE. e outro para ESE .
A ponta do N. da foz oITerece boa conhccença, por causa do monte
Haybern que repousa em 1° 36' do latitude N. c 18^ 46' 39" de longi-
tude E., dando-se muitas vezes este nome ao próprio rio.
21
As ilhas partogaezas e a eosta do Gabio. — Â costa fronteira ás ilhas de
S. Tbomé e Príncipe, isto é, a fracção da costa do Gabão, desde o cabo
de Lopo Gonçalves até ao rio de S. Bento, merece detido exame.
Não estão ainda cultivadas as terras adjacentes á costa, nem actual-
mente ba communicações regulares entre as babias que por ali se abrem
e as ilhas de que nos occupâmos.
Levantam-se, todavia, alguns povoados nas margens dos rios e em al-
guns pontos da costa, mas de nenbum d'elles se exportam productos
agrícolas e fabris, o que mostra o atrazo dos habitantes d'aquella região.
Entre o rio de S. Bento, fronteiro á ilha do Príncipe, e o cabo de Lopo
Gonçalves, ha cerca de i i 3 kilometros de extensão, havendo dífiíerentes
babias e rios que, apesar de serem pouco procurados, não deixam de
ter importância.
Os portuguezes, segundo a informação do Paul Ducbaillu, ainda em
1856 tinham algumas feitorias na bahia de Sengatão e suas proximida-
des. Foram, porém, abandonadas, como todas as que havia na costa do
Gabão.
São baixas as terras próximas ás margens da bahia de Lopo Gonçal-
ves, e nota-se sobre o extremo da margem oríental a aldeia denominada
dos Feitiços. É pobre e está quasi abandonada. Não é facíl o desem-
barque n*aquelle local.
Passada a ponta dos Feitiços, apparecem os rios Ogôoué e da
Nazareth que desaguam n'uma angra obstruída com areia, cascalho e
coral, formando alguns bancos que se estendem até 111 kilometros da
costa.
O rio Ogôoué, em cujas margens se levantam alguns povoados e fei-
torías, passa sob o equador, e dá muita importância á angra da Nazareth
OQ de Ogôoué, como os francezes lhe chamam.
É pequena a bahia de Sengatão, podendo calcular-se a sua superGcie
em 15^,4 quadrados. Na margem direita ha um povoado e na praia dois
barracões. Levanta-se a uns 1 1^,1 a montanha de Sengatão, junto á qual ha
ama aldeia. Apesar d*esta não subir a grande altura, é comtudo boa marca
para se reconhecer a bahia de Lopo Gonçalves.
A 46^,3 do equador está o monte de Sengatão.
Das terras baixas que rodeiam as margens da bahia de Lopo Gonçal-
ves para o N. começam os terrenos a elevar-se, notando-se a cordilheira
das Dunas Grandes, a que também se dá o nome de Fanaes. Estão lança-
das parallelamente á costa na extensão de 27S7, e ao meio das quaes
passa o equador, não sendo díflicil reconhecer o logar em que a latitude
é nulia, poisque a 7*^,4 da linha sobresáe uma das Dunas Grandes, a qual
se distingue a um terço da cordilheira, contando do N., e 5^,5 ao S. do
28
equador levanta-se a chamada Duna Plana, que se acha a 12^,9 da maior
das referidas collinas. Está demonstrado que a linha equínoccial passa
na costa do Gabão ao meio das Dunas Grandes, entre a maior d^ellas»
7S4 ao Nm e a chamada Duna Plana, 5^,5 ao S.
Ao N. das Dunas Grandes ou Fanaes, descem de novo as terras até á
margem esquerda do rio do Gabão, de que já falíamos, assim como da
bahia do Corisco, separada da foz d'aquelle rio por uma espécie de penín-
sula, ao O. da qual fica o cabo de S. João, e uns 53^,7 mais adiante
tem a foz o rio de S. Benta. Ha differentes aldeias nas proximidades doesta
costa e três ribeiros que desaguam no mar.
São muitas as terras altas que se estendem para o interior, subindo
alguns montes a mais de 1 kilometro acima do nivel do mar. É esta uma
condição importante para a salubridade das povoações que se formarem
em taes latitudes.
Rio do Gampo.^ A foz d*e8te rio tem cerca de 1:8B8 metros dé largo,
e as bordas arborisadas. Ha na sua margem esquerda uma aldeia pouco
importante.
Snseada do Pio da Naa oa Panayia. — Tem esta enseada 72^,2 de com-
primento, segundo Alexandre de Castilho. Aos limites que a formam
chamam ponta da Boroa e cabo do ilhéu ou ponta do Carajao (Garajam),
ficando aquella ao N. e esta ao SSG.
Ha no fundo da enseada dois ribeiros, sendo mais meridional o rio
de Panno ou Panmo.
No sitio mais recuado despeja outro regato de boa agua, o que deve
ter-se em attenção quando se fundeia n'aquella enseada.
Á serra que se levanta para o sertão da bahia, e que é boa marca,
apesar de estar amiudadas vezes encoberta pelos nevoeiros, pozeram os
nossos antigos o nome de Pâo da Nau. Em três banquetas se estiram
aquelles montes, a primeira a 5^5 da costa, a segunda ali kilometros,
e a terceira, a mais alta de todas, a uns 27^,7. São todos contrafortes
da cordilheira que se ergue mais para o S.
Rio da Boroa. — A ponta do N. d'este rio está em 3® 35' de latitude e
18® 47' òO'' de longitude E., segundo Alexandre de Castilho. Fica pró-
ximo da ilha Branca e tem 1:026 metros de largura na foz.
A costa que se estende desde o cabo de Lopo Gonçalves até ao rio
dos Camarões é a face ou margem oriental do golfo dos Mafras. Levan-
tam«6e, quasi paraUelamente á costa, montes de formas cónicas» aimílhan^
33
tes a um pao de assucar; sao solitários ou compõem cordilheiras mais
ou menos extensas. Téem mais nomeada os Micos, pela altura do cabo
de S. João, os montes Banoko, Nisus, as Mamas, as montanhas da
Âlouette, de Sadle ou Sella, da Table ou Mesa, o monte de Lavai, em
frente da bahia do Corisco e a montanha de Sangatão, boa balisa para
se entrar na bahia de Lopo Gonçalves.
Os ventos que varrem estas terras chegam á ilha de S. Thomé.pelo
quadrante do SE. rodando pelo E. para o NE., onde apparecem umas
vinte vezes segundo as observações feitas em 1872. Estes ventos podem
saturar-se dos vapores ou miasmas palustres que um ou outro valle pan-
tanoso lhes transmitta, mas não é somente por este lado que são prejudi-
ciaes aos climas, visto que elles transportam tanto o calor como o frio, se-
gundo a região sobre que passam.
É por esta rasão que alguns escríptores os tomam como causa prin-
cipal da insalubridade ou salubridade de muitos paizes. Nós, não a
tendo por mais importante, reputamol-a comtudo digna de attenta obser-
vação.
Rio dos Camarões. — Este rio é o limite entre a margem oriental e a Oc-
cidental do golfo dos Mafras. Não ha erro em assim o considerar, e por
este modo facilita-se a comparação dos logares que mencionámos.
A abertura entre o cabo dos Camarões e o do Gallo (ponta Suella-
ba, na carta geographica de Wilson) mede 12 kílometros. Forma-se de-
pois uma vasta bacia, onde se juntam as aguas de muitos rios. Mas a
barra do rio dos Camarões está realmente acima d'esta bacia, devendo
este considerar-se também um affluente como outros que ali lançam suas
aguas.
Entre o cabo dos Camarões e o do Gallo fica, pois, a abertura de uma
bacia e não a embocadura de um rio. Subdivide-se aquelle grande seio em
differentes bacias interiores, e a sua margem esquerda tem cerca de i8\ti
de extensão, abrindo-se n'ella a foz dos rios Malimba e Dongo* Na riba
direita desaguam os rios Mardocai e Matunal, alem de outros de menor
volume de agua.
Do ENE. chega á bacia de que falíamos o rio dos Camarões, depois
de um curso de 124 kilometros approximadamente. Despenha-se a sua
nascente de uma altura de 15 metros, desce para SE., encurvando-se pelos
4^ 3(y de latitude, sendo separadas as aguas em dois leitos pela ilha
denominada Wouri, com 7^,2 de comprido sobre 6*^,4 de largo. Unem-se
em seguida as aguas do rio até encontrarem a extensa ilha denominada
Jibareb, que, como a primeira, é muito povoada. Corre de novo o rio
n'um só leito, confnndindo-se finalmente com as aguas da bacia entre a
24
ponta Malimba e a Greeo Patcb, extremo da margem esquerda do rio Ma-
tanal.
Desapparecem os mangues cerca de 3^,7 acima da ilha Jibareb, o que
faz mudar o aspecto das margens do rio e estabelece uma linba de de-
marcação, em que o medico bygienista não pôde deixar de attentar. É
também por esta altura que não se fazem sentir as marés.
As terras banhadas pelas aguas do rio dos Camarões, os alto-planos e
montanhas que ficam ao occidente d'este rio e as planícies do rio Níger,
a 277^,8 ou 305^,5 de distancia, téem climas tão diversos dentro de uma
zona tão limitada que a carência da sua descripçSo seria grande lacuna no
estudo da salubridade ou insalubridade das regiões equatoriaes de que
nos occupámos.
O capitão Âllen, em 1843, no vapor Wilber force, subiu o rio dos Ca-
marões uns 74 kilometros, e deixou uma minuciosa e importante descri-
pção d'esta localidade.
Nos terrenos marginaes de tão notável rio e em algumas das suas ilhas,
existem differentes povoados ou muitas aldeias.
Não sabemos se a acclimação dos europeus é possível n'aquellas para-
gens. Alexandre de Castilho diz que são lindas ali as noites em março, abril
e maio, e que os dias, principalmente em março, são muito quentes, de-
clarando que o thermometro á sombra tem marcado 38^ e 40^ centígra-
dos. Oscilla então o barómetro entre 758 e 762 millímetros e sobe
quando terminam os tornados.
Na cidade da ilha de S.Thomé não se observou em 1872 similhante
temperatura, havendo apenas dois dias, em maio, em que ella chegou a
35^,2 e 3S°,6 centígrados. Reputámol-a extraordinária, e existindo acci-
dentalmente, talvez, sob a influencia de phenomenos atmospherícos que
se não observaram n*aquella occasião.
A necessidade do estudo da geographia medica comparada é attes-
tada por muitos factos, não sendo de pequena importância o de se ver o
picoMongo-Ma-Lobah, erguendo-se nas proximidades do rio dos Cama-
rões, muitas vezes coroado por uma camada de neve.
Sob a zona tórrida, a poucos kílometros do equador, encontra-se o
clima ardente, bem como o quente, doce, temperado e frio. É importante
esta observação, e fornece valiosos elementos para a questão de acclima-
ção, e por conseguinte para as da emigração e colonisação, assumptos
momentosos que chamam a attenção dos poderes públicos e dos homens
de sciencia.
O cabo dos Camarões está situado em 3"" 54' 48" de latitude N. e 18'' 38'
longitude E., e o pico IMongo-Ma-Lobah levanta-se em 4^ 12' 40" de latitude
N. e 18^ 29' de longitude E., o que mostra a proximidade dos sitios a que
25
nos referimos. A foz dos Camarões dista da ilha de S. Thomé cerca de
500 kilometros.
PÍ60 MMgo-Ma-Lobah.— É muito alto este pico e merece descripçâo es-
pecial. Transcrevemos, pois, sobre a topographia d'elle, o que disse Ale-
landre de Castilho, por satisfazer plenamente ao nosso fim.
cNa ponta S. do golfo de El-Rei começa a levantar-se a serra do MotSo
(Maton) ou dos Camarões, cujo pico mais elevado, por nome Mongo-Ma-
Lobah, tem seus 4:200 metros de alto, e avista-se a mais de 111 kilome-
tros de distancia.
tCorre essa cordilheira ao N.-S. para N. d'aqueUe monte, e ao NNE.-
SSO. para S. d'elle, e termina da banda do S. na montanha Mongo-Ma-
Etindeb, a qual tem 1:775 melros de alto, e fica a uns 16^,6 d'aquelle.
Ergue-se o Mongo-Ma-Lobah em 4"" 12' 40^' N. e IS"" 20' E., quasi a igual
distancia dos cabos Formoso e de S. João, extremos do golfo dos Ma-
fras, a ons 632^,9 do primeiro e a 337 do segundo, e quasi no parallelo
do Formoso e do meridiano do cabo de S. João.
cCobre-se quasi toda a serrania de frondosas matas, e só na costa
oriental se vô uma faxa nua e escura que se afigura leito de lava ; por
isso, por affirmarem os naturaes que já em tempo saíra fogo do cume
das montanhas, e por ser vulcânica a natureza d'essas rochas, se suppõe,
com bom fundamento, ser a serra do Motão um vulcão extincto. Quasi
sempre se envolve em névoas o pico Mongo-Ma-Lobah ; quando, porém,
se descobre, mais parece um outeiro que se levanta sobre alta planície, do
(fie montanha que sobreleva outras. Cobre-se muita vez de neve aquelle
pico.
iFertilissímos valles, povoados de gente das tribus dos bambokos,
bakwileh e batongos, se prolongam por entre essas montanhas e entre
as serras do Motão e do Rumby, a qual deve ser também muito alta, pois
se avista a mais de 111 kilometros de distancia. Um rio, que é braço do
rio dos Camarões, banha a aba oriental da serra, bem como o valle que
jaz entre os montes Bumby, do Motão e outros menos alentados, sitos
para NE., e que separam o valle de Bimbia do valle dos Camarões.»
O Pico Mongo-Ma-Lobah é muito mais alto que o tão nomeado pico
de Teneriffe, e excede também os Pyrinéos, e tem povoações a maior al-
tura do que o celebre monte Quito, que dá assento a uma grande cidade.
A posição d'aquelle monte na região de que nos occupâmos é impor-
tante, e presta-nos valiosos dados para chegarmos á resolução de muitas
questões de colonisação, de hygiene equatorial e especialmente dè accli-
maçio, a cujo estudo nos entregámos desde 1869.
O capitão Allen traduziu Mongo-Ma-Lobah por cMontanha de Deusi,
86
6 nós chamar-lhe-hemos cMontanha da sciencia», porque nos offerece a
explicação de muitos factos sobre que lioje não pôde haver contestação.
O solo doesta montanha é fértil, e, como se desdobra em collinas, alto-pla-
nos e vallesi é susceptível de ser habitada a differentes alturas. São alen-
tadas as arvores que formam a floresta até cerca de i:800 metros; d'este
ponto para cima apparecem a relva e vegetaes herbáceos, e toda esta
magestosa verdura vae desapparecendo á maneira que o viandante se
approxima dos 3:400 metros e d'ali para diante.
A julgar pelo fumo, diz A. Tardieu, que se eleva de muitos pontos
até grande altura da montanha, os povos que a habitam são numerosos.
E o que é singular é passar por muito salubre a bahia dos Ambozes ou
Zambús, que não fica muito distante de localidades mortíferas.
Bahia de Amboies oa de Zambus (Ambas oa Amboise). — Torna-se notável
esta bahia por causa das suas ilhas. Gosa alem d'isso da fama de salubre,
o que se attribue á sua posição especial.
Na margem oriental levantam-se quatro coUinas altas, e fica de um
lado a ilha de Fernão do Pó e do outro erguem^se as soberbas monta-
nhas dos Camarões.
Rio de El-Rei.— Abre este rio a sua foz a 518S.*i distante da ilha de
S. Thomé. Tem 0^,2 de largura entre a ponta Backassey e a da Pes-
caria. Cerca de 11 kilometros a E. está outro rio que, no dizer de Ale-
xandre de Castilho, se julga ser braço do rio de El-Rei, e acrescenta que
este sítio é o mais recuado do golfo dos Mafras, e tem o nome de golfo
de El-Rei. Fica portanto n'este logar o vértice do angulo inscripto ao
golfo, 8 cujos lados se abrem, um para a costa do Gabão, terminando no
cabo de Lopo Gonçalves, e outro para a do Calabar, acabando no cabo
Formoso.
Ao golfo de El-Rei chegam as aguas de muitos riachos carregados de
detritos animaes e vegetaes e de terras de alluvião, e também n'elle se
reúnem as aguas do rio de Rumby, que tem a sua foz em 4° 31' de lati*
tude N. e {&" 1' de longitude E.
Velho Calabar (Calbary, Dongo ou Oióne). — É o primeiro ou o ultimo
braço do Niger, segundo se começam a c^ontar da margem oriental ou
Occidental do delta. Tem na sua foz 17^,5 entre as pontas elevadas e co-
bertas de mato cerrado, sendo a do 0. denominada Tom Shot e a do E.
East Head.
O Velho Calabar, segundo diz Alexandre de Castilho, communica
com o rio Niger ou Quorra por meio de três ramos, o primeiro vae ter
87
á aldeia de Kirree e o outro á de Damuggo ou Adakuru. No curso do
rio ha duas ilhas, a dos Papagaios e a James, sendo aquella a primeira a
contar da foz do rio. Ha muitos afiduentes» sendo os mais notáveis Ba-
ckassey, Grão Qua e Cross.
Encontram*se ali differentes aldeias, cujos habitantes têem a cõr ama*
rella-clara, estatura pequena e as formas do corpo dignas de attento exa«
me, o que faremos n'outro logar d'este trabalho.
A ponta do 0. do rio está em 4"" 36' de latitude li.eiT 26' 30" de
longitude E.
O arvoredo nas margens do rio e nas duas ilhas é abundante, não
permíttindo os mangues o desembarque.
O tbermometro á sombra e ao ar livre tem chegado a 32® centigra*
dos, e quando a brisa da manhã falta, o calor do meio dia á uma hora da
tarde é muito intenso. O barómetro varia entre 0,758 e 0,762.
Os tornados em março s3o violentos.
Kío Done (Andonej oa António). — Está este rio cerca de 27^,7 ao oriente
da bahia de Boni e ainda mais 29^6 no mesmo sentido ficam dois ríbeirosi
que n3o foram ainda denominados nem estudados, segundo a informação
de Alexandre de Castilho.
Sendo o nosso fim enumerar os rios que recortam as terras do delta
do Níger, não podemos deixar de nomear os que ficam, a contar do
oriente para o occidente, na margem direita do golfo dos Mafras ou
esquerda do delta do Níger.
Bahia do Boni on do Obáno.— Téem ido á ilha de S. Thomé navios proce«
dentes d'esta bahia, onde desaguam os rios Real ou Novo Galabar e Boni,
ficando este antes d'aquelle, segundo a ordem da nossa enumeração.
O Novo Galabar é pouco procurado pelas embarcações, em conse*
quencia da difiiculdade para se cursar quando se deseja sair do rio, e por
isso preferem o Boni para o commercio do azeite de palma, que é o artigo
principal de exportação.
A povoação chamada Boni on Obáne tem 7:000 almas e, segundo
escreve Alexandre de Castilho, sobe a mais de 40:000 o numero dos ha-
bitantes de todas as aldeias que lhe ficam vizinhas* Por ser mau o clima
do rio, devem poupar-se os europeus á faina de escaleres e da primeira
purificação do azeite que se faz em terra, na qual se poderão empregar
08 trabalhadores da costa de Grãos.
Tanto o rio Boni como o Novo Galabar são ramos do Niger. Os natu-
raes navegam até mais 73^»3 em grandes canoas, percorrendo os diffe-
rentes braços d*aquelle riO| a fim de obterem aBeíte de palma. Adoram
28
os lagartos e crocodilos que consideram divindades, e em que nSo se pôde
tocar sem attrahir as iras d*aquella gente.
Da ilha de S. Thomé ao rio Boni vão em linha recta cerca de 461\l.
O vento forte pôde vir ao rumo NO., passar nas margens do rio
Boni, percorrer toda a extensSo de mar que separa as ilhas do Príncipe e
S. Thomé, e chegar ali impregnado de miasmas de que se tenha satu-
rado.
Em geral os ventos, como é sabido, sustentam duas correntes, uma
próxima á terra e outra superior ou das nuvens, e por isso n3o 6 raro
apparecer o pollen, areia finissima e differentes animalculos, a 500 kilo-
metros da costa, elementos estes que podem conservar-se dois dias sus-
pensos no ar, sendo impellidos n'uma direcção determinada durante todo
esse tempo.
O extremo occidental da bahia de Boni está 4® 23' 35" de latitude N.
e 16° 9' 20" de longitude E.
Rio do Sombreiro. — Ao rio Real ou Novo Calabar segue-se o rio Som-
breiro.
A beira oriental do delta torna-se mais baixa, passado este rio que tem
a sua ponta esquerda coberta de arvores muito unidas e copadas, proje-
ctando-se para fora, e dando-lhe antes a figura de uma semi-abobada do
que a de um sombreiro ou chapéu de sol. Seja, porém, como for, tomou
este nome da forma que apresentava o arvoredo que lhe cobre a ponta da
margem direita.
O rio do Sombreiro, não tendo a importância do do Gabão ou do dos
Camarões, não deixa por isso de chamar a attenção dos que desejam
conhecer a natureza do clima da zona que estudámos.
Ha, porém, uma rasão que per si sô mostra a necessidade de se
enumerar tal no — é ser o quinto braço do delta do celebre rio Níger ou
Quorra.
Rio de S. Barthomen, dos Hafras oa dos Três Irmãos. — É o sexto braço do
delta do Niger, na margem occidental da golfo dos Mafras, o qual tomou
o nome d*este rio. Tem de largura na entrada cerca de 1 :852 metros,
sendo baixa a margem direita e mais alta a esquerda. A alguns kilome-
tros da foz, as terras regadas pelas aguas do rio são baixas e recortadas,
parecendo formar ilhas.
Não tem sido bem examinado o curso d'este no, mas, segundo Ale-
xandre de Castilho, contam-se differentes ramos, indo um para o Niger e
os outros para o Velho Calabar. Encontram-se também n'elle os mangues,
como symbolo da insalubridade d'estas localidades.
29
Rio de SanU Barbara.— Communica este rio, como o antecedente, com
o Níger. É o terceiro contando do cabo Formoso, ou o sétimo começando
do Velho Calabar. As suas margens são características, estando a direita
quasi a prumo e a esquerda destacando-se em forma de escada, o que
Ibe dá um aspecto singular. O que é este rio, emquanto á salubridade,
avalia-se pela posição em que se acha ; está quasi no centro das margens
do delta do Niger.
Rio de S. Nicolau.— É este o segundo rio desde o cabo Formoso, fican-
do a sua foz cerca de 433^3 distante da ilha de S. Thomé, o que deve
ler-se em consideração, attenta a localidade em que está situada.
Rio de S. Bento (St. John or Brass). — É o primeiro que se apresenta,
dobrado o cabo Formoso para se entrar no golfo dos Mafras. A sua
ponta Occidental está a 4M6' de latitude N. e IS"" ia! 6'' de longitude E.
O extremo da margem direita do golfo dos Mafras é o cabo Formoso,
o qual fica entre o rio de S. Bento ao oriente e a foz do Niger ao occi-
dente.
A entrada do rio de S. João ou de S. Bento tem 10 kilometros, e
communica por vários esteiros ou braços com o Quorra ou Niger dd um
lado e do outro com quasi lodos os rios que lhe ficam perto e para E.
Alarga-se adiante da foz uns 370 metros, e tem de fundo 20, e as mar-
gens, para não haver excepção, são também orladas de mangues.
Cabo Formoso. — Para se fazer idéa clara do que é este cabo, reprodu-
zimos o seguinte trecho do livro de Alexandre de Castilho.
cDescreve quasi um arco circular de grande raio a beira-mar do vasto
delta do Quorra, o qual sáe uns i29\6 para S. da linha tirada do
sitio mais recuado do golfo de Benim (da aldeia de Jacknah) ao mais
recuado do golfo dos Mafras (o rio de El-Rei) ; se bem não haja por ali
ponta alguma, chamaram os portuguezes cabo Formoso á extremidade
oriental do golfo de Benim, onde a terra se encurva para E. Julgámos que
o mais acertado será dar esse nome á ponta das Palmas, por ser em toda
essa costa o sitio que mais resáe.»
Rio Niger on Qaorra e o celebre deita qne elle forma. — O rio Niger ou a Cruz
dos Geographos, como lhe chama Malte-Brun, tem sido o objecto de gran-
des discussões entre os sábios da Europa. Mas não appareceu a luz sem
o sacrifício de numerosas victimas. Era indispensável observar o curso
dos rios, os usos e costumes dos povos, a fertilidade e riqueza d^aquella
região desconhecida. Não faltaram ousados exploradores. A morte de um
80
nSo fazia desanimar os outros. Merecem todos homenagem, e citaremos
Mungo Park, Denham, Peddle, Oudney, Rilchie, Clapperlon, Caillé, Gray,
Olefield, os irm9os Landers, como beneméritos da humanidade, não es-
quecendo Allen, Beecroft, Trotter, Richardson, Overweg, dr. Barth e T.
Hutchinson, porque, assim como os primeiros, se empenharam na soln-
ç8o de uma questão t3o debatida entre os geographos e a qual dependia
somente das observações feitas nos logares de que se tratava.
Das viagens dos dififerentes exploradores têem-se obtido minuciosas
informações.
Divide-se o Niger em três regiOes, alta, media e inferior, sendo esta
ultima a que forma a região central do delta.
A direcção que tem este celebre rio, as planicies que atravessa, os
seus aflDuentes e os lagos com que communica, estão summariamente
descriptos pelo nosso hábil e minucioso hydrographo, Alexandre de Cas-
tilho.
A importância do assumpto Justifica plenamente a seguinte transcrí-
pção:
«Nasce o Dhiouliba na encosta de E. do monte Loma, um dos que for-
mam a serrania do Kong, a qual, estendendo-se E.-O., atravessa toda a
Atrm Central. Na costa oriental d'essa cordilheira fica a nascente do Dhiou-
liba, pela mesma latitude em que está a do rio da Serra Leoa, sita na ver-
tente O. do mesmo monte.
c Banha o Dhiouliba toda aquella cadeia, á qual dá volta, seguindo para
E.; atravessa depois o lago Debo, e, subindo para N., vae passar quasiao
pé de Tombuctu, que fica a uns 9 kilometros do rio, e por 18° N. e entre
5° e 6° E. Exagerou-se muito, em outros tempos, a grandeza e opulência
d*essa cidade africana, hoje pertencente a fullaneseatuaregs; não passa,
porém, de 4'*,5 a sua circumferencia, nem de 13:000 almas a sua popu-
lação fixa, a que haverá a ajuntar umas 6:000, de novembro a janeiro,
tempo em que ali chegam as caravanas.
«Corre depois o Dhiouliba para SE., banha Gao, Say, Boussa, Rabba,
Egga, troca o nome pelo de Quorra, no sitio onde despeja o Tchadd, e
desce para S., regando as planicies de Guiné, onde se divide em muitos
braços que retalham 166^,6 de costa.
«Os seus principaes affluentes conhecidos são: o Sirba, o Tchadd, que
atravessa as províncias de Kororofa e Doma, e se chrisma depois em
Renué; passa em seguida por Baber e Adanova, e, ao dizer dos antigos e
também de alguns modernos, communica-se com esse grande Caspio aft-i-
eano, o lago de Tchadd, que tem uns 67:912 kilometros quadrados de su-
perflcie, e onde despejam os rios Chary ou Asu, do qual foge para o lago
Tumbory um ramo que banha Logoum, Komadougea e Yeou. A essa ra-
SI
mlflcaçSo vae ter outra, por nome Gambarou, a qual nagce perto de Kano,
cidade de 30:000 vizinhos, e capital da província do Kano, onde se con-
tam 150:0001 Também nas margens d*aquelle lago assenta a cidade de
N^gornou ou da BençSo, muito limpa, mas pobre, e cuja maior parte foi
destruída pelas inundações de 1854 e 1855. Pouco para N. d'esta se
levanta a cidade de Koulca, formada de dois bairros distinctos, cercados
ambos de muralha, e unidos por estrada com seus 800 metros de com-
prido: n'um d'esses bairros, e em grandes casas bem arruadas, reside a
parte mais rica da população; no outro, porém, onde mora a gente po-
bre, s9o estreitas as ruas e formadas de cabanas miseráveis.
cS3o também affluentes do Quorra: o Condoma, que atravessa as pro-
vincias do Nufl e Igbira, e nasce ponco para cima de Egga, e o Rima ou
Fadama, que atravessa Dendina, Zaberma, Zanfera e Couber, e deita dois
ramos, um dos quaes banha Solcoto, residência de um sultão e o outro
passa por Katchena, cidade que nos séculos xvii e xvm foi cabeça d'aquella
parte do Soudan, occupa uma área de 20 ou 22 kilometros quadrados, e
conta hoje só 8:000 almas.
cReparte-se depois o Quorra nos seguintes rios:
€ Para 0. da foz: rio da Lagoa (1 .•), Formoso ou de Benim, dos Escra-
vos, dos Forcados ou de Oére, dos Ramos, Dodo, Pennington, Middleton,
Blind, Winstansley e Sengana, total onze braços.
tPara E.: rio de S. Bento, de S. Nicolau, de Santa Barbara, de S. Bar-
tbolomeu (ou dos Mafras), do Sombreiro, Real ou de Calabar (New Ca-
lebar), de Boni, de Done (Andoney), e Calbary ou Velho Calabar (Old Ca-
lebar ou Dongo), total nove braços.»
A descripç3o que acaba de ler-se a respeito do tristemente celebre
rio Niger, dá idéa approximada do seu curso e dos numerosos braços por
que elle desagua no mar. Para o nosso fim seria suíficiente o conhecimento
do Niger propriamente dito e do seu famoso delta, se, a par das condi-
ções de salubridade ou insalubridade de cada local, não quizessemos
coordenar tudo o que possa concorrer para a resolução das principaes
quest5es de colonisação da Africa portugueza, onde não ha regiões tão
infamadas de insalubres como aquella, e cuja geographia comparada 6
muito útil conbecer-se.
Continuaremos, pois, a pôr em relevo os pontos principaes de que ô
preciso ter conhecimento, para fazer idéa de qualquer paiz da Africa equa-
torial.
O vértice do angulo superior, cujos lados formam o delta do Niger,
está situado na aldeia denominada Nidoni, muito para o S. do logar da
júncção das aguas do Tcbadd, vindo do E., com as do Dhiouliba, correndo
de 0. para NO. e SE. Aquelles dois rios, confundidos n'um só, o Niger,
32
descem depois para o S. lançando-se no mar nos pontos designados pelo
illustrado geographo Alexandre de Castilho :
cA 11^,1 do rio Sengana, a 203^,3 da embocadura do de Benim, para
E4VfSE. do cabo de S. Paulo» e finalmente em i"" 46' 20" de latitude
N. e 15® 12' de longitude E., se abre a foz do rio Quorra, também chamado
Niger, Kouara, Dhiouliba, Mayo, Eghiriéou, Isa e Baki-nYoua, que tudo
equivale a dizer O Rio nas linguas da terra.»
É de 1:852 metros a largura da entrada do Quorra e de 2:315 a dis-
tancia entre as pontas, por sair a extremidade oriental do rio 1:389 me-
tros mais para S. do que a Occidental. Ambas são arenosas e cobertas de
arvoredo.
Os três pontos ou vértices principaes do delta do Niger são, finalmente,
ao oriente, a foz do Velho Calabar, ao occidente, a do rio da Lagoa, e,
da parte do N., como dissemos, uma aldeia ao S. da reunião dos grandes
rios Dbiouliba e Tchadd, denominada Nidoni.
Poderia também marcar-se o vértice do angulo superior do delta nas
aldeias de Damaggo ou Kirri, de junto das quaes saem os braços que
põem o Niger em communicação com o Velho Calabar; mas da aldeia de
Nidoni para baixo está o maior numero de confluentes, e fica por ali a
parte central do delta.
É muito extensa a superficie miasmatica formada pelos braços do
Niger, havendo logares em que as febres perniciosas acommettem os
forasteiros nos primeiros dias da sua chegada. Nenhum navio ali deve
commerciar sem que leve os soccorros que a sciencia indica.
Antes de fatiarmos acerca dos rios principaes que formam o Niger,
apresentámos um mappa dos braços de que se compõe o seu famoso del-
ta, e a respeito de cuja forma e posição apparecem divergências que não
devem existir.
cNa Africa, diz o diccionarío de Larousse, o Kouara forma, approxi-
mando-se do golfo de Guiné, um vasto triangulo equilateral, envolvido
pelo Velho e Novo Calabar e rio de Noun.»
O delta do Niger, pelo contrario, tem por lado externo, direito, os rios
da Lagoa e de Benim, e por lado externo, esquerdo, um dos aflDuentes
ou ramos do Velho Calabar. Alem disso chama-se rio de Noun ao pró-
prio Niger, e o Novo Calabar fica entre os braços da margem esquerda
do delta, e não pôde portanto envolvel-o.
As numerosas bocas do Niger mostram a fraqueza da corrente das
suas aguas e o pouco declive dos terrenos em que elle corre. Já assim
não acontece ao rio Amazonas, na America do Sul, poisque a corrente
segue com tal força que penetra no Oceano até muitos kilometros da foz^
e não deixa atrás de si a serie de confluentes que ha nas margens do Niger.
33
AFFLDENTKS DO RIO NÍGER E SEUS BRAÇOS PRIKCIPAES
Rio Dhioidiba, vindo do NO. e o rio Tchaddj vindo do E.
(7o 45' de latitude N.
reunem-se em jeoigrdelongitudeE. (Greenwich).
3^,3 do Caho Formoso, qae sáe uns 55^5 para fora da linha tirada entre os pontos
mais recuados dos golfos de Benim e dos Mafras, ambos aquelkes rios formam
O rio Ní^ev ou Qnomra.
que desce para o S. e desagua no mar por 20 hócas, li para a direita e 9 para a es-
querda da foz, dando assim origem ao
Oele1>re eleita cio Ní^eir
Margem occidental, comprehendendo 398^1 Margem oriental, comprehendendo 266S6
da costa oriental do golfo de Benim. da costa occidental do golfo dos Mafras.
Distancia em linha recta
entre cada ama das embocadaras
dos braços do delta
L»do «- (Rio da Lagda ou Lagos, n^^^ ^^^^
'"'»'. «"«'» 382'.2 do rio Velho Calabar !,„ j„ j;,„
direi to,jRio Formoso ou de Be-
do delta.\ nim, dista 305^0 do rio Done, Andoney ou António.
Rio dos Escravos, dista 250S0 do rio de Boni ou de Obáne.
Rio dos Forcados, dista 214^8 do rio Real ou Novo Calabar.
Rio dos Ramos, dista . . Í88S9 do rio do Sombreiro.
Rio Dodo, dista 175^5 do rio de S. Bartholomeu ou dos Mafras.
Rio Pennington, dista. . 122^2 do rio de Santa Bafbara.
Rio Midleton, dista. . . . 83'',3 do rio de S. Nicolau.
Rio Blind, dista 57^4 do rio de S. Bento, S*. John or Brass.
Rio Wiiislansley, dista. . 18^5 |, , , . „.
ft. o a\ jjkj ida foz do no Níger.
Rio Sengana, dista ii%i )
í 4» 46' 20" de latitude N.
I^oas do Nifirei- ou Qiion*a, j^g, ^j, ^^ longitude E. (Lisboa).
Distando esta, finalmente,
da foz do rio Velho Calabar 255^,5 |
da foz do rio da Lagoa 392^6 > vértices do delta.
da aldeia de Nidoni 138S9 )
da ilha de S. Thomé 444S6
da ilha do Príncipe 333^3
O oentro do delta do Niger dista
da cosUdo NO. da ilha de S. Thomé ollSl ; da costa do NO. da ilha do Príncipe 348^,9
3
34
Os rios que formam o Níger vem um do nascente e outro do poen-
te, regando largas planícies. Nas proximidades d'elles ha cidades, víllas e
algumas aldeias ou povoações de que nos occuparemos resumidamente.
Rio Tchadd.— Este grande rio, affluente do Níger, atravessa paizes muito
férteis, ficando em 9^ a 11° de latitude N. É navegável para grandes em-
barcações até ao interior de Âdamova.
Adjacente á margem esquerda fica o Kororafa com a capital Wukari;
lola, capital de Adamova, que é cortado pelo rio Faro, affluente do
Tchadd, já chrismado em Benué ou mãe das aguas. Na margem direita
está Doma e Baber.
O rio Kebbl, por 0° de latitude N., põe o Benué em communícação
com o lago Tumbori, e d'este sáe o rio Serbenet para o Grande Caspio
ou lago Tchadd.
Ao dn Barth devem-se minuciosas informações dos paizes banhados
por este notável rio, e dos que se acham na margem Occidental do lago
Tchadd, especialmente de Kouka, capital de Bornou.
Segundo as dimensões por nós dadas á zona equatorial, podem no*
mear-se como povoações de transição entre a zona equatorial e a tropi-
cal n'esta parle da Africa, os paizes denominados Baghirmi, Bornoui
Houssa, etc.
Nos arredores de Mabani, observa o dr. Barth, encontram-se cam-
pos férteis, arvoredos formosos, muito capim ou herva de Guiné, Índi-
go, gados, bastantes trabalhadores, aldeias em todas as direcções e, a
par de tudo isto, as herdades arrendadas, por onde pôde aferir-se a vida
descuidada dos proprietários.
Os mamoeiros erguem-se por entre as searas, ostentando seus deli-
ciosos fructoS; e os edificios s3o construídos de modo que denotam não
haver por ali as chuvas fortes de outros paizes.
A viagem, em terras onde faltam todas as commodidades, não pôde
ser agradável. Os caminhos são perigosos, vadeiam-se rios, percorrem-se
charcos e plani&ies sem estradas, estando a vida em constante perigo.
Os exploradores da Africa, os obreiros do progresso, que seguem na
frente da humanidade, são os martyres da seiencia. A sua linguagem é
simples e sincera, os seus actos arrojados e valorosos. Para melhor
reforçarmos a nossa opinião, transcrevemos um trecho da viagem do
dr. Barth, quando pela primeira vez se viu em frente do rio Tchadd :
«Poucas vezes o viajante deixa de ser enganado na sua esperança,
quando se vé em presença dos logares que havia imaginado ; mas a rea-
lidade excedia a expectativa, e foi este um dos momentos mais felizes de
minha vida.
35
tNascido próximo ao Elba, tive sempre predilecção pelas margens dos
rios, 8, apesar do estado exclusivo da antiguidade, que me occupou por
muito tempo, nunca perdi as impressões da infância. Logoque me foi
possível associar o estudo ás viagens, sentia verdadeiro prazer quando
seguia o curso dos rios, vendo-os nascer, formar riachos, crescer, torna<
rem-se em ribeiros e depois em rios, muitas vezes caudalosos, cuja foz
me comprazia em observar.
<Se percorria qualquer paiz desconhecido, o meu ardente desejo bti
descrever as correntes de agua que o banhavam, e desde ha muito tempo
pensava em conhecer o rio Benué ou Tchadd. Era, porém, grande a ale^
gria que sentia ao contemplar aquelle rio, e ao ver confirmadas as minhas
idéas a respeito d*eUe.
tTinha agora a certeza de que por este grande canal se poderia chegar
ao centro da Nigricía, ao interior da Africa Central. O caminho estava des-
coberto, e era grande a minha satisfação ao lembrar-me de que a in-
fluencia e o commercio da Europa fariam desapparecer d'ali as guerras de
religião e a escravatura, isto è, a caça feita ao homem, concorrendo para
o desespero de muitos povos pacíficos e laboriosos. »
O dr. Barth não desanimou em presença de todas as difflculdades
que se lhe apresentaram, nem os perigos que o rodeiavam o faziam de-
sistir do seu intento. Ora ameaçado pela morte, ora perdido e exhausto
de meios, nunca aquelle espirito superior desfallecia.
Saiu de Mabani, dirigindo-se para o rio Tchadd, a fim de visitar
Adamova. Depara vam-se-lhê, nas proximidades do monte Mendif, pla-
nícies em que pastavam rebanhos de carneiros e de cavallos, e os ha-
bitantes empregados nos trabalhos agrícolas. Mais alem, em Kofa,
viam*se prados esmaltados de flores, vastos campos de sorgho, vigorosas
arvores e toda a exuberância da vida vegetativa das regiões intertropi-
cães.
No meio das suas fadigas, o dr. Barth, muitas vezes cansado e doente,
subia aos logares mais elevados para observar os terrenos que o rodea-
vam, alargando por muito longe o seu horísonte visual. Sentia-se animado,
observando as montanhas que se erguiam ao longe e o^ campos da Africa
adusta que se lhe apresentavam cobertos de arvoredos e pastagens.
No meio dos bosques e florestas descansava, mitigava a sede, hume-
decendo os lábios com o sueco de alguma fructa, e respirava o ar embal-
samado com o perfume das flores. Achava-se então com mais forças para
continuar a sua viagem na provinda de Marghis e Adamova.
A povoação de Marghis fica a 11^ de latitude N., emquanto que Yola
está próximo de 8°.
Adamova ô uma das mais formosas províncias da Nigrícia. Numerd-
36
SOS rios fecundam os valles, as montanhas sâo pouco elevadas, ha bons
pastos e a vegetação é luxuriante; a coleira, a palmeira odorífera, o im-
bundeiro, o algodoeiro, a palmeira de azeite e as bananeiras justifícam
a fertilidade dos terrenos, onde se apascenta grande variedade de ani-
mães.
Dhioaliba ou Nlgcr. — Percorre este rio varias planícies e passa por dif-
ferentes villas e cidades, situadas muito alem dos 11° 15' de latitude N.,
Ihnite entre as terras equatoriaes propriamente ditas e as que se acham
sob o trópico boreal.
O curso d'este rio toma diversas direcções. Desce da face oriental do
monte Loma por 9® 20' de latitude N. e 16° 10' de longitude 0. de Paris,
dirige-se do SO. para NE., passando ao S. da Tombuctu por 17° 30' de
latitude N., tendo, como diz o dr. Barlh, o seu Havre em Kabara, for-
mando ali uma bacia perfeita. Segue depois para E. e começa a inclinar-se
para 0. do meridiano de Paris, correndo em seguida para SE., tendo al-
guns aflluentes antes de se reunir ao rio Tchadd.
Os paizes banhados pelos grandes rios Dhiouliba e Tchadd, e aquelles
que ficam ao 0., S. e E. do lago Tchadd, fazem contraste singular com as
regiões d'essa immensa superfície chamada Sahará e com as terras rasga-,
das pelos braços do rio Niger. Aqui as doenças com todo o seu desolador
cortejo, alem o sol abrasador e nuvens de areia, esterilisando tudo e tor-
nando a vida impossivel ; entre estes dois extremos, valles fertilissimos,
aldeias alegres e povoações agrícolas importantes.
Que falsa idéa se faz na Europa doestes paizes I exclama o dr. Barth,
ao atravessar as terras da bacia do Tchadd. Era logar da cordilheira dos
montes da Lua, alguns montes isolados ; em vez de planuras estéreis,
extensas planícies verdejantes recortadas por numerosas correntes de
agua.
Não deve portanto condemnar-se um paiz por se achar na zona tórri-
da, poisque, como já dissemos, nos alto-planos dos Camarões, cerca de
4° de latitude N., encontram-se o clima temperado, terrenos férteis e po-
voações productoras; e no Sahará, região sub-tropical, faltam todas as
condições de vida.É certo que o delta do Niger é muito insalubre, e que
algumas cidades, taes como Kano, suo prejudiciaes á saúde dos europeus;
mas as terras interiores de Dahomé e os paizes que lhes estão ao N. são
bastante salubres e a sua fertilidade é admirável. O mesmo pode dizer-se
da região de Haoussa, que se estende á esquerda do rio Dhiouliba, das
planícies que ficam ao S. de Mabani, dos alto-planos das ilhas de S. Tho-
mé e Principe, onde já se apresentam fazendas abertas a mais de 900
metros de altitude.
37
Importa, pois, conhecer as lerras favoráveis á aclimação e as que não
a permittem, distinguindo as regiões agrícolas d'aquellas em que apenas
pôde haver eslabelecimenlos commerciaes.
Seria loucura abrir uma fazenda nas margens do rio Formoso ou nas
do rio Boni, mas nas melhores estações podem ir ali navios, demorando-
se três a quatro mezes sem perigo para a tripulação.
Aos colonos, quando abandonam os togares em que nasceram, o clima
a que o seu organismo se havia accommodado, e os usos e costumes em
qoe foram educados, convém saber em primeiro logar os meios higiéni-
cos de que podem usar para não serem logo acommettidos das doenças;
e em seguida conhecer se a terra é agrícola, quaes os paizes mais próxi-
mos, e, finalmente, as praças da Europa que melhor recebem osproductos
cultivados nas regiões para onde vão transportar-se.
O delia do Niger e as ilhas de S. Thomé e Príncipe.— Os terrenos reta-
lhados pelos vinte braços do Niger ou Quorra são de natureza essencial-
mente miasmaticos.
Os ventos que ali predominam chegam á ilha de S. Thomé pela costa
em que está a villa de Nossa Senhora das Neves e a fazenda Diogo Vaz.
Os dos rumos O. e NO. foram em 1872 registados apenas vinte e seis
vezes. A distancia que elles téem de percorrer está desempedida de
montes ou cordilheiras desde a parte mais afastada do delta, o que não
acontece em grande parte da costa do Gabão, onde se levantam mon-
tanhas dispostas quasí parallelamente.
A cidade de S. Thomé e as fazendas abertas ao NE., E. e SE. estão
abrigadas dos ventos que passam pelo delta do Niger, por meio de uma
cordilheira bastante alta, o que deve ser tomado em consideração.
Tanto das margens do Niger propriamente dito, como das do rio Boni
e Formoso ou de Benim, sopram os ventos com força. Os tornados e as
correntes superiores podem trazer elementos ou miasmas nocivos á saúde
dos povos da contra-costa da ilha de S. Thomé, e por isso as praias, as
encostas e os alto-planos d'aquella parte da ilha não devem ser escolhidos
para colónias penaes, casas de saúde e ediíicios públicos.
A exposição ao ONO. e NO. pôde causar graves prejuizos e será sem-
pre má condição para qualquer villa ou freguezia que, com o desenvol-
vimento e progresso agricola da ilha, se deseje estabelecer ou formar
n'este local; e não se comprehende que motivos levariam Álvaro de Ca-
minha a mudar a cidade de S. Thomé da costa do NO. para a bahia em
que hoje se acha.
No Gabão, foram os francezes obrigados a sair da margem esquerda,
onde a vida dos trabalhadores e empregados corria bastante perigo,
38
para a margem direita que é considerada menos insalubre. É necessário,
porém» não esquecer que os 455 kilometros que separam a ilha de
S. Thomé do delta do Niger ou os 333 kilometros que medeiam entre
elle e a iiba do Príncipe 33o facilmente atravessados pelos ventos satura-
dos dõs eSluvios pantanosos que se levantam de tão vasto delta. Os torna-
dos seguem sempre a mesma direcção. Observações meteorológicas attes^
tam este facto» podendo citar-se até bastantes casos bem determinados.
Um tornado passou em 29 de novembro de 1 836, em Londres, ás dex
horas e meia, atravessando uma larga superfície de mar; em Hambur^
go, sempre na direcção NO., ás seis horas da tarde do mesmo dia, isto é,
approximadamente 612 kilometros, distancia muito maior do que ha
entre o delta do Niger e as ilhas de S. Thomé e Príncipe.
Os ventos superiores, diz mr. Daguin. transportam para longe as cin*
zas dos vulcões. Em 1853 as cinzas do vulcão de Gassiguina, no estado
de Guatemala, caíram na Jamaica, sita a E., em tal abundância que a ci-
dade 0COU obscurecida por muitos dias. Na primavera e no outomqo
viu-se cair em Lyon, em Malta e em Génova um pó muito fino, trazido
pelos ventos de longiquas paragens, e sendo convenientemente examinado
se reconheceu que provinha de pântanos deixados a descoberto e expôs»
tos ao sol. Aquelle pó conservou-se no ar trinta a quarenta dias.
A influencia dos ventos sobre a natureza dos climas é, pois, um facto
incontestável e que merece ser attentamente observado, quando se trata
de estudar a salubridade de qualquer paiz.
Grande mar interior ou lago de Tehadd.— Este grande lago, cuja superfi-
cie é quasi o dobro da da Bélgica ou setenta e três vezes maior que a
da ilha de S. Thomé, fica por U"" de latitude N„ isto é, na zona trópico*
equatorial, no chamado império de Bornou. Elevasse 252 metros acjma do
nível do Oceano.
A margem S. d'este lago, o qual é maior do que toda a Suissa, está
approximadamente a 1:315 kilometros da foz do Niger, 1:110 do rio dos
Camarões e 1:666 da ilha de S, Thomé. Toda a região que o rodeia é po«
voada e tem sido observada em differentes epochas por exploradores in-»
glezes, aos quaes se devem minuciosas informações a respeito dos habi-
tantes çircumviiiinhQs,
Collocado ao S, do grande Sahará, o lago Tehadd, modifica o clima
dospaizes limitrqphes, cuja fertilidade ô attestada por todos os viajantes.
As terras da bacia do lago Tehadd, escreve Malte-Brun, recebem as
aguas que banham Haoussa ao O. e téem ao N. o Sahará, ao E. o Darfour
e ao S, a planície ethiopica da Africa CentraL O dr* Bartb, tendo visitado
este lago, escreveu a respeito (1'elle o seguiqte ;
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cQuando cheguei ás margens do lago o sol era abrasador, mas a brisa
fresca da manhã veia enrugar a superQcie das aguas, tornando o calor
supportavel. Poderia ter acalmado a sede, por pouco que me abaixasse,
pois a agua cbegava-me quasi aos joelhos. Estava, porém, quente e con-
spurcada de detritos vegetaes, tornando-se imprópria para beber. Era
todavia potável, e deve ter-se por errónea a opinião d'aquelles que sup-
põem ter o lago Tchadd qualquer saída ou communicação com o mar«
A sua agua não é salgada como o mostra a falta de sal n'aquelle pai? q
a má qualidade das pastagens, á qual, por carência de tal elemento, se
attríbue o mau leite das cabras que ali se alimentam.»
Muitos rios despejam n'aquelle lago, que, segundo o dr. Barth, tem
a apparencia de uma immensa lagoa, cujas margens mudam mensalmente,
sendo quasi impossível levantar-Ihe o plano com exactidão.
Rio Formoso on de Benim. — Fazemos especial menção d'este rio por ser
um dos mais notáveis braços da margem direita do delta do Niger. Foi
descoberto em 1484 por João Affonso de Aveiro. Atravessa um dos
reinos mais importantes de Africa equatorial e com elle communica o ce-
lebre esteiro d'Ouére, junto ao qual tivemos uma feitoria e uma igreja. O
clima de Benim è reputado pelo naturalista Palisot Beauvais como o mais
insalubre do mundo.
O rio Formoso ou Benim está cheio de recordações francezas, segundo
diz A. Tardieu. O capitão Landblphe habitou e frequentou durante qua-
tro annos consecutivos todas as paragens do Benim e do Ouére sem sus-
peitar que o rio d'Oére também era um dos braços do Niger. É preciso
procurar sitio apropriado para fundear, e onde possam chegar as brisas
do largo, para de algum modo attenuar a insalubridade do clima.
Rio da Lagoa ou Lagos. — Este rio fica em 6^ 26' 29'' de latitude N. e
it 34' 29" de longitude E. A aldeia de Lagos está situada na ilha da La-
goa tão próximo á costa continental como afde Coramo.
A costa de Lagos até ao sitio denominado costa dos Pospôs tem diN
ferentes territórios portuguezes, entre elles o de Badagry e o de Ardra.
Com a indicação do rio da Lagoa, terminámos a enumeração dos
braços do Niger, sendo este o primeiro da margem occidental, contando
do occidente para o oriente, e chegámos á costa portugueza, onde temos
também, segundo a declaração de M. A. Lefèvre, as colónias de Quita e
Grão-Popó, comprehendidas no território portuguez de Ajuda, cuja posi-
ção na costa de Benim é muito importante; e por fazer parte da província
de S. Tbomé o estabelecimento ou forte que ali temos, julgámos útil re-
unir algumas informações, a fim de se poder formar uma idéa approximada
d'aquelle território quasi abandonado.
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Badagry. — Conhecc-se por este iiomc uma cidade e um reino que
principia na margem occidental do golfo de Benim, e é hoje tributário de
larriba. A. Tardieu reputa parte de Badagry districlo portuguez, e por
isso o mencionámos antes de fallar do estabelecimento de S. João Ba-
ptista de Ajuda.
Badagry está a uns 33S3 para EVtNE. do Porto Novo, em 6* 2V
12" de latitude N. e 12^ 2' de longitude E., isto é, na margem septen-
trional da lagoa, a 1:234 metros do desembarcadouro.
A lagoa tem cerca de 617 melros de largo sobre 7 de profundidade,
e a lingua de areia que a separa do Oceano é calculada em largura quasí
igual.
S. João Baptista de Ajndá e o distrícto oa território correspondente. — Ajuda
(Wbydah) fica approximadamente a 2:778 metros do mar, tendo ao S. a
lagoa, cuja largura orça por 463 metros e a profundidade por l'°,2.
A aldeia de Gregué (Griwhee) está junta doeste estabelecimento.
Desembarca-se no porto de Ardra ou de Alada, passando-se o celebre
banco de que todos faliam com respeito e que poucos transpõem sem te-
mor.
Muitas viagens téem sido feitas a Ajuda e ao reino de Dahomé, tor-
nando-se curiosas pela descripção dos usos e costumes dos povos d'aquella
região e das bellezas naluraes que ella encerra. A essa única fonte recor*
remos para descrever o estabelecimento de Ajuda e o districlo que Ibe
pertence.
É pequeno o numero de brancos que residem em Ajuda, segundo a
informação do dr. Bepin. Alem dos empregados da feitoria franceza ha
três ou quatro famílias de origem portugueza. Os mulatos occupam una
parte distincta da cidade, são assas numerosos e faliam uma espécie de
patois portuguez.
Em Ajuda ha perto de 4:500 súbditos por tuguezes, segundo informou
o commandante do forte portuguez em 1874. Não ha, porém, systema
administrativo, e não se tem cuidado de estabelecer relações com os cha-
mados reis de Dahomé, procurando por todos os meios possíveis celebrar
contratos commerciaes e obter a concessão de terras, como os france-
zes téem conseguido no Gabão.
O território de S. João Baptista de Ajuda recebe não só os ventos do
alto mar pelo S., tendo as brisas doeste lado, como também os que pas-
sam sobre as aguas da lagoa que lhe fica immediata. Os ventos de E.
vem de sobre outra lagoa alimentada de muitos rios e communicando
com Lagos.
Os ventos do 0. correm do lado da lagoa de Avon.
S3o geraes estas indicações, e mo dão idéa do clima de Ajuda, nem
pôde lambem ajuizar-se da influencia que os ventos téem na salubri-
dade d'aquella região.
É realmente singular a disposição da costa occidental do goifo de Be-
nim. Desde o rio Volta até o de Benim ba uma lingua de terra entre o mar
e uma extensa lagoa. Apparecem aqui pântanos, alem aguas estagnadas,
e, mais adiante, lagos communicando entre si e com o mar: mas bastam
30 a 50 melros de altitude, para apparecerem logares favoráveis á agri-
cultura e á saúde dos trabalhadores.
Do estabelecimento portuguez havia em 1847 a linda capella e uma
grande casa circumdada por um jardim, mas tudo em abandono.
Para se entrar no forte é necessário atravessar o sarame portuguez,
(espécie de bairro ou aldeia) que o circumda n'um raio de 500 metros.
A pequena igreja do forte portuguez é uma singela casa com as pa-
redes caiadas, e desde 1865 despidas de quadros, nua de paramentos e
desprovida de alfaias.
O estabelecimento de Ajuda não occupa grande extensão de terreno,
mas ainda assim contém capella, cemitério, horta regular, duas casas
grandes e diOerentes casas pequenas, praça de armas, etc, estando
tudo cercado do competente fosso, ao qual se segue o terrapleno adja-
cente e a muralha. A porta da entrada é ampla e dentro do estabeleci-
mento ha dois poços que fornecem agua potável, que passa por boa.
Ignorámos a média da temperatura da localidade. Não sabemos se a
lagoa è de natureza miasmatica, nem conhecemos a constituição dos terre»
nos, a humidade do ar, etc. ; e, n'este caso, faltam-nos os principaes ele-
mentos para determinar com exactidão a qualidade do clima e as causas
que produzem as endemias predominantes. É certo, porém, que não só
muitos brazileiros téem vivido por largos annos sob a acção do clima de
Ajuda, como também differentes portuguezes.
O districto de Ajuda flca em posição vantajosa para o commercio, e
com o progresso agrícola do paiz melhorará a sua insalubridade. Corres-
ponde-lbe, como já dissemos, o porto de Ardra ou Alada, e estão na sua
dependência os habitantes do sarame ou bairro portuguez e catholico.
O districto de Badagry, sobre cuja existência se não poderá hesitar, e
que, em presença do respeitável testemunho de A. Tardieu, nunca deve-
ria ter sido abandonado.
Para terminarmos, finalmente, as nossas considerações acerca da po-
sição dos portuguezes junto ao paiz dahomeano, transcrevemos o seguinte
trecho de livro muito auctorisado .
cCom a edificação do forte, em 1680, e como consequência d'elle o
estabelecimento permanente de muitos portuguezes, resultou para Por-
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tugal uma espécie da supremacia e de poderio de que nao é permittido
duvidar.
«As provas abundam no grande numero de mulatos descendentes de
porluguezas (milhares) que lá existem, e na immensidade de palavras da
nossa lingua que, sem mudança ou com ella quasí nuUa, passaram in-
sensivelmente a formar parte do vocabulário do paiz. A lingua portu-
gueza é ali muito conhecida e faltada, mas mesmo na linguagem propria-
mente dahomeana se encontram a cada phrase termos portuguezes ou
de origem portugueza». »
Não pôde admittir-se que os portuguezes construíssem o forte de
Ajuda, artilhando-o com peças de differentes calibres, dando-lbe um
capitão director geral e governador, sem possuir terrenos e haver neces-
sidade de 08 defender á mão armada.
Não é este um assumpto que possa desenvolver-se n'um trabalho
d*esta ordem, mas não podemos deixar de consignar aqui a nossa opinião
acerca de um território que devemos conservar como parte integrante da
monarcbia.
Condições especiaes para o desembarque no porto de Ajndá. — Na costa Occi-
dental do golfo de Benim não ha portos abrigados, nem os escaleres dos
navios servem para estabelecer communícação de terra para bordo. Ha
no paiz canoas adequadas a este fim, tripuladas pelos práticos d'aquelle
mar. O banco, segundo alguns escríptores, está a 220 metros da praia e
ó necessário evitar o tempo das ventanias, porque n'essa epocba nem ^a
canoas da localidade ali podem parar.
A respeito do banco e do desembarque no porto de Ajuda, não po-*
demos dar melhores informações do que as de um illustrado ofiQcial de
marinha que ali desembarcou.
cAs communicações com a terra são muito difficeis, se não de todo
impossíveis, quando não sejam efiTectuadas por meio de embarcações pró-
prias da costa; grandes mas leves canoas de duas proas, e algumas d'ellas
feitas de um só pau. São tripuladas por doze a vinte pretos minas (de
S. Jorge, da Mina e arredores), que vão remando e pagaiando com pás
(pagaias) curtas, ao som de monótonos cantos, emquanto um a que cha-
mam piloto, yae em pé á proa espreitando a sota em que pôde no collo da
vaga montar o banco, para então fazer signal ao patrão que governa atre-
vido sobre a praia, mandando remar com toda a força. Estes pretos mi-
nas fazem ali todo o serviço das embarcações miúdas, cargas e descargas
de navios ; e todas as feitorias na costa téem engajados ao seu serviço
companhas d'elles, que mandam buscar á Mina ou a S. Jorge. São pretos
fortes e conhecedores do banco, aindaque, segundo dizem, menos atrevi-
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dos que os Krowmen's (homens de Krow, costa de Krow entre a Libéria
8 cabo de Palmas), que fazem o serviço nos navios de guerra inglezes.
Pôde dizer-se que s3o os cabindas do golfo de Guiné» poisque, como
estes em Angola, encontram-se por toda a parte no serviço das embarca^
ções.
•Estavam ancorados também em Ajuda, alem do vapor inglez, quatro
ou cinco navios mercantes de varias nações, mas nenhum portuguez, Em**
quanto ali nos demorámos, largaram uns e chegaram outros, não havendo
nunca numero inferior ao apontado. Largáramos ancora em 16"^,5 de
fando, e este de areia e lodo duro, que segurava bem o ferro ; mar-
cavam-se os barracões proximamente ao N. da agulha, e distava-se da
praia talvez 2:778 metros.
c^o dia 8 de março de 186S vieram a bordo duas boas embarcações
pertencentes a uma feitoria brazileira, e de que o feitor ou agente, João
Branco, portuguez, natural da Figueira, graciosamente as offerecéra para
esl^ acto, bem como continuou a prestal-as para o serviço da escuna,
sendo por isso só necessário pagar ás companhas, o que é baratíssimo, pois
se ajustam por viagens, e por cada uma se lhes pagam duas garrafas de
aguardente, e em moeda da terra (busio) o equivalente a 333 réis de Portu-
gal. Piga-se aqui que foi este Branco que muito se esmerou sempre em
nos coadjuvar em tudo, revelando bem o seu patriotismo na alegria que
mostrava ao apparecimento de portuguezes em missão de serviço. Por-
tuguez, vindo do Brazil por conta de uma casa commercial d'aqueUa na-
eSo, estava aípda animado dos patrióticos sentimentos que tão dístinctog
fozem os nossos irmãos que ali vão buscar fortuna,
cLargámos de bordo, e após talvez vinte minutos de navegação esta-
vamos perto da orla do banco, que me pareceu distar cousa de 80 ou 100
metros da praia, e sobre o qual se viam desenrolar as vagas que, não sendo
n'est8 dia muito altas, comtudo encobriam a praia, os barracões e os
homens. N'esta occasião as embarcações pararam, e emquanto os rema-
dores debruçados sobre as suas pás esperavam o signal para emprega-
rem toda a sua força e ligeireza, em fazerem vencer a passagem difQcil,
os pilotos em pé, na proa, esperavam o momento propicio para o darem,
e no emtanto pretendendo encarecer o seu merecimento, faziam mil mo^
mices e tregeitos, como se o terror os possuísse e considerassem o seu
papel superior ás forças humanas ; invocavam as potestades marítimas,
pedindo-lhes que não fizessem mal aos brancos, e os deixassem desem-
barcar a salvamento, e depois de aspergirem as ondas com algumas gotas
(poucas) de aguardente, que sempre pedem para esse effeito, deram por
fim o signal, e aproou-se á praia com toda a velocidade que podiam im-
primir á canoa duas dúzias de vigorosos braços.
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«Na praia estavam, como disse, centenares de negros que, quaes des-
temidos tritões, se achavam já em posição de se lançarem ao mar quando
fosse preciso dar soccorro, e por isso é bem de suppor que, se n'esta oc-
casião alguma embarcação se virasse, não houvesse a lamentar caso fatal ;
comludo bom foi que não se fizesse a experiência.»
O banco da costa de Ajuda não impede portanto que o porto seja pro-
curado por navios de todas' as nações, que ali vão commerciar.
Tivemos a felicidade, diz o commandante da escuna Napier, auctor
da obra a que nos referimos, de effectuar sempre os embarques e desem-
barques sem novidade, apesar de encontrarmos algumas vezes o banco
bravo.
Magestoso espectáculo qae offerece o mar na costa de Ajadá. — São alterosas
as ondas que se levantam sobre o banco da margem occidental do golfo
de Benim. Todos os que ali desembarcam faliam d*elle com respeito. Não
queremos supprir com palavras nossas o que escreveram aquelles que
observaram tão magestoso espectáculo.
Vejamos, pois, a narração feita por testemunha ocular.
«Ficámos vestidos apenas com uma calça e uma camisa fina, a fim
de estarmos preparados para qualquer acontecimento, e, feitas as despedi-
das, entrámos muito alegres nas canoas, mas não tardou que as nossas
palavras fossem rareando e enfraquecendo a ponto de se ouvir apenas o
canto monótono e cadenciado dos remadores, ao qual o bramir das vagas
fazia estrondoso acompanhamento. Estávamos em frente de um dos mais
magestosos e dos mais terríveis phenomenos do mar, a barra da costa
de Guiné. ^
«A ces moments solenneis, continua o dr. Repin, ou Thomme va jouer
contre les élèments une partie dont son existence est Tenjeu, il se re-
cueille en lui-méme, et le plus aguerri paye comme les autres ce tríbut à
Tinstinct de la conservation.»
Diz um dos ex-governadores de Ajuda :
«É immenso, é arriscadíssimo o banco de areia que corre ao longo da
costa a distancia de 150 metros da praia, e sobre o qual ha sempre uma
ressaca mais ou menos considerável.
•Tão terrível quão magestoso phenomeno do mar torna-se mais respei-
tável e temido durante os mezes de abríl a agosto, e opina o dr. Repin
que sua causa pode attribuir-se aos ventos de SO. que reinam no golfão
de Guiné durante essa epocha. E diz mais que, segundo parece, attrahido o
furioso elemento pela rarefacção do ar devida á influencia dos ralos solares
repercutidos pelas areias ardentes do vasto continente afrícano, sob a sua
acção incessante, cava o Oceano em longas ondulações que vem que-
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brar-se sobre a praia, cujo declive para o mar é quasi íDsensivel. Estas
vagas, na verdade gigantescas, algumas das quaes se elevam a 14 ou 15
metros, são repentinamente detidas na sua base, emquanto que a parte
superior, obedecendo ao impulso recebido e continuando, sem obstáculo
seu curso medonho, rola em enormes volutas, que vem despedaçar-se
em terra com horrendo estrepido.
cFormam assim n'este resaltear três linhas de ressacas, quasi igual-
mente espaçadas, a primeira das quaes fica a 300 metros pouco mais ou
menos da praia.
cPara atravessar o banco é, pois, indispensável haver grandes canoas
de construcção própria, a fim de resistir aos elementos embravecidos.
Téem ellas geralmente sido fabricadas em França ou Inglaterra ao preço
de 315^00 réis. Medem 12 a 13 melros de comprimento e 2 de largu-
ra, de maneira que podem accommodar doze a quatorze tripulantes, al-
guma carga e três ou quatro passageiros.
cterminam igualmente em ponta nas duas extremidades, ou propria-
mente fallando, nâo téem popa nem proa, e podem indislinctamente avan-
çar ou retroceder sem virar de bordo.
cSâo tripuladas por destros marinheiros que, por determinado tempo
e por bom preço» em Âccará, Castello da Mina e Cabo das Palmas, são ex-
clusivamente contratados para aquelle serviço.
«Estes homens, completamente nus, munidos de remos mui curtos, li-
geiros, elegantemente cortados, e na extremidade em forma de pá, á simi-
Ibança da folha do golfão, guiam a canoa com a maior destreza, e sem apoiar
o remo na embarcação, chegam a communicar-lhe admirável velocidade.
«O piloto conta primeiro três rolos de mar, que, passando successi-
vos, vão quebrar-se na coroa da restinga ; depois aproveita o intervallo
dos dois mares e sua calma, e segue, remando com toda a presteza, atè
estar fora do perigo, t
Todos os viajantes commemoram o magestoso espectáculo que ofie*»
rece o mar na costa de Ajuda, mas nem todos são concordes a respeito
da altura a que se levantam as vagas. Também uns chamam «barra» ao
que outros denominam cbanco», denominação esta que nos parece mais
apropriada.
O dr. Repin diz que as ondas chegam a 16 metros, opinião que tem
sido repelida por outros viajantes que passaram o banco. Os officiaes da
Ventis, porém, nunca mediram rolos de mar que excedessem 7 metros;
mas aquelles que impugnam a opinião do medico francez confessam que
«as ondas do mar embravecidas sobem em mageslosos e altíssimos rolosj
quando encontram, como na cosia de Âjudá, os fundos esparcellados e
sem inclinação notável».
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Reino de Dahooiè.— Está o território de Ajuda em laes relações com os
povos dahomeanos» que seria grande Talta nSo. reunirmos aqui algumas
informações acerca d'este paiz, e sem as quaes n3o pôde formar-se idéa
exacta da importância do território de S« Jofio Baptista de Ajuda, do
seu estado actual e da natureza do clima, fim principal que procurámos
attingir a respeito de cada localidade em particular»
O reino dahomeano é vasto, tetu ao N. os montes do Kong, a 0. o
paiz dos Acbantis e o rio Volta, a E. Yarriba e Lagos, e, finalmente, ao
S. o território portuguez.de Ajuda e muitas aldeias da costa Occidental do
golfo de Benim.
A capital de Dabomé está, segundo a maior parte dos viajantes, a 223
kilometros da costa^ mas uns avaliam aquella distancia em 277 kilome-
troSi e outros dão-lbe menor numero.
Junto do forte portuguez es^ a povoação denominada Wbidab pelo^
inglezes, e Juida ou Judá por muitos francezes. É a cidade de Dabomé
que confina com o districto portuguez.
O terreno é elevado, apresentando ao observador panoramas agra«
dáveis, entre elles a lagoa orlada de mangues, o que é realmente uma vista
animada e muito pittoresca.
Ha na povoação amplos jardins e alamedas de vistosas arvores, conuo
refere o dr. Repin. Abundam as fructas, sendo dignas de mencionar-se
as bananas, de cuja cultura tomam ali particular cuidado. Os mamoeiros
dio fructo maior que os da ilha de S. Thomé, e são também mais estima*
dos. As laranjeiras, os cajueiros e as mangueiras, não são raros no paiz.
Os terrenos de Dabomé produzem milho, mandioca, inhame, algodão,
azeite de palma, ele.
Os viajantes não faliam do cultivo do café nem da do cacau*
Vastas florestas» em que dominam as palmeiras, cobrem aquellas ter<*
ras. As principaes aldeias são rodeadas de boas culturas, e as cercanias
de Abomé e de Cana muito férteis. Introduziram-se ali diversas arvores
que se aclimaram bem, o que demonstra com evidencia a boa qualidade
dos terrenos, o que já era indicado pela grande quantidade de palmeiras.
A capital do reino é reputada salubre em relação aos povoados pro^*
ximos á costa. É, porém, de esperar que, com a civilisação e progresso
introduzido entre aquelles povos, desappareçam na maior parte os bre-
jos, pântanos e charcos que ha no paiz, completamente abandonado das
obras de arte e da agricultura, a qual sendo feita segundo o estado do^
terrenos e processos agronómicos modernos, é um dos mais poderosos
meios para sanear as terras de qualquer localidade insalubre.
Gamiiilio de Ajadá até i capital de Dabomé. — Quando se attenta no mise-
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ravel estado em que se acha um paiz tão fértil como o de Dahomé, não
podemos deixar de lameotar aquelles povos. Mas não são somente os da*
homeanos que habitam uma região tão abandonada, a máxima parte dos
povos de Africa estão nas mesmas circumstancias. Se olharmos para as
regiSes da Africa equatorial, podemos dizer que ainda não raiou para
ellas a luz de cívilisação, nem téem os beneficios do progresso moral e
material de que gosam todos os paizes da Europa e quasi todos os das
duas Américas.
Os povos de Africa contentam-se com os frtíctos espontâneos que a
terra lhes offerece em abundância, e occupam-se em se destruírem uns
aos outros. Quando lhes falta o pretexto da religião, aproveitam causas
fúteis e rasões frívolas para talar campos, queimar cidades e escravisar
populações inteiras. É o direito do mais forte que impera ; não se res-
peitam as leis nem a fidelidade dos contrjitos.
Não pôde durar por muito tempo similhante^stado. A Europa, a ca«
beça e o coração da humanidade, levará ao seio d'esses povos os princí-
pios da justiça, da rectidão e da liberdade. O christianismo enlaçará os
indivíduos^ as famílias, as províncias, as nações, finalmente, que se levan^
tarem n'aquella zona privilegiada ; celebrar-se-hão contratos politicos e
commerciaes que serão respeitados. A familia não será um mytho, nem
69 nações um foco de immoralidade. Apparecerão, emfim, escolas nos
logares onde hoje se fazem os horríveis sacrifícios de victimas humanas.
Em Abomè estão os jazigos dos reis defuntos, e ali se fazem as inaU''
gúrações dos novos reis que lhe succedem. A pratica usada em taes oc-
casiões é a seguinte :
cNo centro d'aquelle palácio ha um grande carneiro subterrâneo de
22 metros em quadro, para receber os cadáveres dos reis. Logoque
um morre, colloca-se no meio d'esta catacumba uma espécie de eça
feita de grades de ferro, sobre a qual se põe um ataúde de barro, ama-^
ÇADO COM SANGtJE DE CEM CAPtlVOS FCITOS NAS tLTIMAS GUEBBA8, OS quaeS
n*este acto são degolados para irem servir no outro mundo o fallecido
rei, cujo cadáver se deposita n'este caixão sanguíneo, tendo por cabeceira
a caveira de algum rei vizinho por elle vencido em guerra ; e as ossadas
e caveiras de todos os outros reis, que elle similhantemente tiver feito
morrer> se collocam como trophèus debaixo da eça: depois d'isto assim
disposto, obrigam a descer ao subterrâneo oitenta mulheres dansadeiras
do rei, chamadas abalas, e cincoenta soldados da sua guarda, que o devem
acompanhar na viagem, e para todos se provê de mantimentos. E» o que
é de pasmar, não faltam pessoas de ambos os sexos que voluntariamente
se offereçam a tão horrorosa emigração, e para as quaes se conserva por
três dias aberta á estreita entrada da catacumba ; findo este praso, se lhe
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impõe a pedra falai, que a cerra, e deixa sepultados vivos todos aquelles
miseráveis!»
Similhantes monstruosidades parecerão fabulas, quando raiar a luz
da ínstrucçâo para os povos de Africa. Urge apressar essa hora.
A Africa de hoje não será a de amanhã. Onde actualmente ha ca-
minhos intransitáveis, serão construidas vias férreas ou boas estradas.
Mas emquanto não chegar essa epocha, os viajantes, se tiverem cora-
gem de seguir avante, não deixarão de estar mettidos na agua até aos
joelhos, como o dr. Bartb, quando se approximou do lago Tchadd, ou
andarão nas prosaicas maxillas ou tipóias sujeitos a caírem, batendo
com o dorso no chão ou tomando um banho forçado ao atravessar qual-
quer rio ou aguas encharcadas.
Vem estas considerações ao altentarmos nas prodigiosas riquezas na-
turaes do reino de Dahomé, e na falta de vias de communicação entre a
capital e a costa maritima.
O caminho que se segue para ir de Ajuda a Abomé foi descripto pelo
dr. Repin, quando ha dez annos ali foi, como medico do navia encarre-
gado de levar commissarios para dar presentes ao rei de Dahomé, e pe-
dir-lhe que permittisse fossem educados em França um ou dois dos
seus filhos . . •
c Saindo da cidade de Ajuda, observa o dr. Repin, atravessa-se uma
vasta planície em que ha diversas culturas, vendo*se magnificas palmeiras
de azeite.
•Passada a primeira povoação, encontra-se um regato orlado de plan-
tas aquáticas, pouco distante do qual está outra povoação. Deparam-se
depois campos de mandioca e uma formosa mata, uma d'essas maravi-
lhas que não se encontram nos paizes da Europa.
cAs palmeiras e os coqueiros, cuja alta estipe se assimilha a gracio-
sas columnas sustentando cúpulas de verdura, os enodendros de tronco
colossal, as magnólias cobertas de largas flores brancas, embalsamam o
ar matinal ; variadas mimosas de elegante folhagem e os sombrios man-
gues crescem livremente n'estas florestas, onde não penetrou ainda o
machado destruidor. Protegidas pela sua sombra impenetrável, enlaçadas
em seus robustos ramos, destacam-se differentes trepadeiras cujas hastes
flexiveis e caneladas pendem em forma de festões cheios de flores. É des-
lumbrante esta vista, quando se procura descobrir o céu azulado que se
levanta por cima de todo aquelle arvoredo, mas não são menos surpre-
hendentes as arvores mais humildes, mas mais úteis aos homens. As bana-
neiras e as laranjeiras estão como que a ofE^erecer seus deliciosos fructos
ao viajante, e os ananazes patenteando a brilhante coroa, erguem-se a pou-
cos palmos acima do chão, destacaedo-se de entre suas robustas folhas.»
Cílonii S. Jdj3. Visu da hatiiUfio in lid^ onenul.
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Não se percorre este soberbo bosque em menos de cinco horas.
Apparecem depois mais planicíes cultivadas e outro grande bosque, po-
dendo descansar-se algum tempo n'uma das clareiras em que ha uma po-
voação, ou seguir, se for possivel, até á cidade chamada Alada. Passada
esta e uma planura bem cultivada, entra-se em terceiro bosque, no qual
estão as denominadas casas reaes, pelas quaes aquelles povos téem
grande veneração. £ n'essas casas que os reis de Dahomè descansam
quando andam de viagem pelo seu pai2.
O caminho por meio d'esta floresta é muito accidentado, e não se
vence em menos de seis a oito horas. Pôde haver algum descanso em
Toffõa ou Agrymé, segundo se quizer atravessar o brejo ou passar na sua
extremidade direita.
De TofTõa por diante o caminho é mau na maior parte. Apparecem
ainda assim boas plantações, tornando-se cada vez mais vigorosa a vege-
tação. A custo se rompe por entre palmeiras anãs e differentes plantas
desconhecidas, que formam bom reducto natural ou barreira contra qual-
quer assalto imprevisto. Para passar o lamaçal è necessário augmentar o
numero de carregadores. Prolonga-se este caminho ainda por grande dis-
tancia.
Antes de se chegar a Cana, depara-se uma extensa superficie de ca-
pim e palmares, e vadeia-se em fim um rio a pouco espaço d'aquella ci-
dade.
Adiante da cidade de Cana está o bosque sagrado, onde se levanta
o templo dos maus feitiços. £ indispensável passar a pé defronte de si-
milhante barraca, representando tão formal aberração de senso commum.
As duas ultimas horas de jornada gastam-se n*uma estrada de 40 metros
de largo.
Em três dias e meio chega-se á capital de Dahomé, sujeitando-se o
viajante aos incommodos causados pela tipóia, levada por oito a doze ho-
mens.
Não ha ali cavallos nem camellos, òs quaes tão bons serviços prestam
em outras regiões de Africa.
Estações intermediarias entre e territorie de Ajndi e a eapital de Dahomé. —
Entre o nosso districto de Ajuda e Abomé ha as seguintes povoações, se-
gundo a informação do dr. Repin : Havi, Tauli, Hazoué, Alada, Toflôa,
Apué, Ackisaban e Cana. São aldeias, villas ou*cidades em que ás vezes
é necessário pernoitar.
O primeiro itinerário de Ajuda a Abomé, diz M. d'Avezac, foi publi-
cado no livro de Archibaldo Dalzel em 1793, ao qual o auctor ajuntou a
viagem de Robert Norris, dada á luz da publicidade cm 1 789.
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Em 1797 chegou a Dahoraé Vicente Ferreira Pires, para ondô foi
como enviado de sua alteza o Principe Regente de Portugal, em compa-
nhia de D. João Carlos de Bragança, embaixador ethiope do rei de Da*
home.
N5o tratámos, porém, de examinar quem foram os primeiros via-
jantes que descreveram as terras de Dahomé, o que desejámos é
enumerar as estações que ha entre o nosso forte e a capital do reino
vizinho.
Uma das viagens que não podemos deixar de notar é a de M. Brué
em 1843, feita na companhia de Francisco Félix de Sousa. Foram em re-
des, levados por doze homens que se revezavam de duas em duas ho-
ras. No primeiro dia de jornada chegaram á aldeia de Torry, que M. Bnié
reputa a 29S6 de Âjudá. Doesta passagem á cidade de Alada andaram
cerca de três horas e meia. De Âladá passaram ao sitio denominado
Ouabó, e depois á aldeia chamada Âppè, logarejo mal situado e próximo
aos lamaçaes, conhecidos n'aquelle paiz sob a denominação geral de La-
mas. Âgrimé fica adiante d'esta superficie pantanosa, e em duas horas '
chega-se a Calamina, cidade notável ao N. de Âgrimé. O resto do cami-
nho é magnifico,- segundo declara M. Brué, que teve a ventura de se abei-
rar do palácio do rei de Dahomé, dentro de uma goUette de quinze pieds
de longumr environ, construite dans de justes proportions et fort bien
gréée,
M. Brué e Francisco Félix de Sousa saíram de Âjudá a 3 de maio e
chegaram a Âbomé no dia 5 d'esse mez.
De Âjudá a Xavi, segundo o dr. Repin, a jornada é de duas horas e
vae-se d'ali a Tauli, 37 kilometros ao N. de Âjudá, em uma hora. Não pa-
rando em Hagoué, bastam cinco horas para se chegar á cidade de Âladá,
a 79^^,6 do nosso forte. São precisas cerca de sete horas para se entrar
em Toffôa, ficando ao NE. de Âladá e a 129^,9 de Âjudá. D'aquella
estação até á aldeia de Âckisaban passam-se sete horas, tendo-se atra-
vessado uma extensa superficie pantanosa a que se dá o nome de Lama.
A cidade de Cana está a duas horas de caminho de Âbomé, fazendo-se
uma viagem de três dias e meio para lá chegar.
A viagem do dr. Repin realisou-se no anno de 1866; mas do fim do
século passado data a Viagem da Africa ao reino de Dahomé, escripta por
um portuguez, a qual serviu de base ao que Lopes de Lima escreveu a
respeito d'aquelle paiz em 1844.
O padre Vicente Ferreira Pires reputava a cidade de Calamina (Cana)
a dois dias de jornada do nosso forte, no que não são concordes os mo-
dernos viajantes. Nenhum d'estes escriptores, porém, tratou da acli-
mação dos europeus, nem da colonisação d'aquella região. Taes viagens
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miravam apenas aos usos e costumes dos povos e á importância commer-
cial do paiz. Gaiamina, segundo a informação do viajante portuguez, era
a capital do reino, e, alem doesta cidade, havia outras, como Âladá, Âbo-
mé, Zobodõ, Meiogui, Hiagó, Âdogui e Âgonam, fazendo-se em cada uma
doestas sete povoações uma feira semanal.
Emquanto descurámos os nossos direitos e interesses n'aquella re-
gião, os francezes desde ha muito què procuram estreitar relações de ami-
sade com os reis de Dahomé, não deixando de pedir-lhes para consentirem
que os príncipes dahomeanos fossem educados em França sob a protec-
ção do governo.
tLe but de notre mission, observa o dr. Repin, était de visiter le roi
de Dahomey, de régler avec lui quelques intérêts de commerce et de lui
remettre, au nom du gouvernement français, de riches présents. Nous
devions enfln remener, s'il y consentait, un ou deux de ses enfants pour
ies faire élever en France dans un de nos lycées.»
Não se limitam somente a estas as provas da importância dos po-
vos de Dahomé. Um historiador, referindo-se a elles, diz: cDe todos
os povos da Guiné, nenhum merece mais attençSo do que os dahomea-
nos». Eis-aqui, pois, o modo por que se falia do povo de Dahomé. Não
deve por isso admirar que nós, ao procurar os elementos indispensáveis
para reconhecer a natureza do clima d^aquelle paiz, façamos algumas
considerações attinentes a pôr em relevo as nossas relações politicas e
commerciaes com os vizinhos do nosso território de Ajuda.
Nos últimos dez annos téem apparecído diversas memorias nacionaes
e estrangeiras acerca de Ajuda, e dos usos e costumes dos povos daho-
meanos. Mas, para o caso de que nos occupãmos, apenas temos que men-
cionar as povoações situadas entre o território portuguez e a capital de
Dahomé, segundo as informações dos respectivos escriptores e viajantes.
As cidades nomeadas pelo padre Vicente Ferreira Pires em 1800 foram
repetidas por José Joaquim Lopes de Lima em 1844.
Differentes trechos d^aquelle ecclesiastico têem sido transcriptos em
jomaes illustrados e em trabalhos de alguns escriptores.
O distincto geographo Alexandre de Castilho, attenta a importância
do assumpto, julgou conveniente referír-se, no seu Roteiro da costa occi'
dental de Africa, ás estações que ficam entre o nosso forte e a capital do
reino de Dahomé. A tal respeito disse elle o seguinte : «Está a cidade
de Abomey, capital do reino de Dahomé, em que fica Ajuda, uns 167
kilometros para N4N0. do nosso forte ; entre esses dois sitios se erguem
varioí povoados, cujos mais importantes são : Sahy, Tory, Havy, Wipó,
Apoy, Calmina e Dowey».
Iteièrinão-íios ainda á viagem do dr. Repin, notámos que, alem das
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oito povoações designadas pelo geographo portuguez, ha mais quatorze,
Ocando umas CDtre as que Alexandre de Castilho nomeou, e algumas para
o lado esquerdo de quem se dirige á capital no tempo em que as chuvas
permittem seguir aquelle caminho. A viagem de Ajuda a Abomé pode fa-
zer-se mais ou menos rapidamente, segundo as estações em que se qui-
zer descansar.
Diz um viajante que, sendo chamado pelo rei de Dahomè, nao pôde
recusar-se a obedecer-lhe, e viu-se obrigado a ir a Abomé.
tA 26 de junho de 1861 saí de Ajuda n*uma rede sustentada por seis
homens. No mesmo dia cheguei a Alada, onde descansei. Em 27 atra-
vessei os pântanos denominados Lamas, os quaes felizmente tinham pouca
agua n'esta epocha. Demoreí-me pouco tempo na cidade de Cana, e no dia
28 á tarde estava ás portas da capital do reino de Dahomé. >
Foi de três dias incompletos a viagem, e pôde calcular-se que é esta
a sua duração media. Os geographos Alexandre de Castilho, M. d'Avezac
e o auctor do Manual da navegação da costa occidental de Africa ava-
liam a distancia entre o nosso forte e Abomé em 166S6 approximadamen-
te. O dr. Repin reputou-a em 277S8, não faltando também quem lhe dé
apenas uns 127S7.
É esta, como muitas outras, uma questão pratica, e que não se resol*
verá sem as respectivas medições topographicas. Não são de certo as au-
ctoridades de Dahomé que hão de mandar fazer estes e outros trabalhos,
para os quaes somente os europeus podem concorrer, tomando efiQcaz a
probibição da escravatura, comprando os productos agrícolas e fabris
d*aquellas terras, animando assim a agricultura e o commercio. Cuidar-
se-ha então das estradas publicas, escolas, vias férreas, canaes, de todos
os melhoramentos, emSm, a que se deu principio já em muitos paizes
africanos.
Para não darmos demasiada extensão ás nossas considerações a res-
peito do território de Ajuda, não obstante o desejo que tinhamos de as
tornar mais amplas, limitámo-nos ao pouco que temos dito. É, porém,
necessário dizer, antes de concluir este assumpto, que é um grave erro
abandonar aquelle território cderradeiro vestígio do nosso antígo poder,
observa com toda a razão Lopes de Lima, na dilatada e rica plaga que se
estende desde cabo das Três Pontas até cabo de Lopo (xonçalves, costa
descoberta pelos portuguezes e por elles explorada no século xv.
cLá ostentam ainda suas muralhas, construídas por mãos portugue-
zas e comfpedras de Portugal, S. Jorge da Mina, Cabo Corso e Aocem; mas
estranhos pendões n'ellas tremulam e guarnições estrangeiras as guarne-
cem, e em seus armazéns accumulam o marfim e o oiro em pô, com que
86 enriquece a Hollanda e a Inglaterra. Deixou já, porém, de existir a fei-
53
íoría e igreja do rio Oére, as do rio de El-rei, da ilha do Corisco, do rio
Gabão e cabo de Lopo Gonçalves, assim como as ilhas de Fernão do Pó
e Anno Bom, quo foram cedidas á Hespanha em 1778.»
O território em que está o forte de S. João Baptista de Âjudá faz parto
da monarcbia portugueza : é uma dependência do governo geral da pro-
víncia de S. Tliomé e Principe, e tem sido reconhecido como portuguez
pelos povos d'aquella região, pelas nações da Europa que ali téem in-
teresses políticos e commerciaes, e pelos viajantes estrangeiros. Não pôde
prever-se hoje o que será amanhã o território de Ajuda logoque a civi-
lisação e o progresso forem uma realidade nas terras da Africa equatorial.
Limites do golfo de Benim. — O ponto mais recuado do golfo do Be-
nim, segundo Alexandre de Castilho, fica pouco mais ou menos em 6®
26' 40" de latitude N. e em 12^ 59' 10" de longitude E. Tem duas margens,
Occidental e oriental, que são muito baixas. N'uma está o districto portu-
guez de Ajuda, de que já falíamos, e n'outra o celebre rio Formoso ou de
Benim, que deu o nome a um dos golfos do mar de Guiné, e banha o
paiz oriental dos povos d'aquella região, onde o nome portuguez será
sempre lembrado.
A linha tirada do cabo Formoso para o de S. Paulo representa a abertura
da entrada do golfo, para dentro do qual não ha ilhas altas e bem distinclas.
Descrevem os hydrographos, entre outras, a ilha de Curamo c a da
Lagoa, mas estão separadas da terra continental por canaes tão estreitos
e pouco profundos que não merecem o nome de ilhas propriamente chitas,
se bem estejam rodeadas de agua por todos os lados.
As distancias entre os limites do golfo de Benim são, segundo Ale-
xandre de Castilho, 590^,7 em linha recta entre os dois cabos ; e tal é,
como dissemos, a abertura do golfo. A costa tem 103^,7 e do centro da
abertura ao sitio mais recuado medem-se 125^9.
O golfo de Benim é notável, tanto pelos povos vizinhos das suas
margens, como também porque n'elle desaguam os rios da margem di-
reita do delta do Niger, os quaes levam muitas substancias vegetaes,
que tingem até muito fora as aguas do Oceano Atlântico, cobrindoas de
escuma pardacenta, suja, fétida e nauseabunda.
Limites do golfo dos Hafras.— O golfo dos Mafras está a E. do mar de
<juiné. O seu lognr mais afastado é o golfo de El-Rei, que está pouco
mais ou menos em 4** 31' de latitude N. e 18° 2' de longitude E , na foz
do rio Rumby.
Os limites d'este golfo são o cabo de Lopo Gonçalves e o cabo
Formoso, servindo-lhe de margem oriental a costa do Gabão e de
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Occidental a do Calabar, a qual ao mesmo tempo é a margem esquerda
do delta do Niger. A linha tirada entre os limites do golfo dos Mafras
mede 611 kilometros, e a costa 888^9. Do centro da abertura do golfo,
que é na ilha do Príncipe, com um raio de 305^,S, descreve-se o arco
de circulo, que fecha o angulo, cujo vértice está sobre a ilha do Prín-
cipe e os lados passam nos respectivos cabos.
No golfo dos Mafras levanta-se o archipelago de Guiné, em que estSo
as duas ilhas portuguezas de que especialmente nos occupámos. Ficam
lançadas ao mesmo rumo em que se acham as de Anno Bom e Fer-
não do Pó e os montes dos Camarões, o que é necessário relembrar,
porque os montes das diversas ilhas e os dos Camarões téem idên-
tica composição, não devendo por isso ser uns reputados salubres e
outros insalubres. É verdade que as ilhas de S. Thomé e do Príncipe es-
tão infamadas de insalubridade, mas é grande erro condemnar as ilhas
por causa das cidades que, estando ediflcadas no littoral e rodeadas de
pântanos, não ficam livres das emanações palustres que lhes chegam de
todos os lados.
Mar de Guiné, zona equatorial que lhe corresponde e correntes que ali se obser-
Tam. — Na região sub-equiaoccial que examinámos, comprehende-se uma
grande parte do mar de Guiné, cujas relações com o Oceano Atlântico e
continente africano merecem ser mencionadas.
Os mares que rodeiam o continente da Africa, nota o erudito geogra-
pho M. de Avezac, não abrem profundas bahias, nem penetram no in-
teridr das terras, cavando-as profundamente para dar origem a qualquer
mar interior ou mediterrâneo.
Para acharmos, porém, as relações do mar de Guiné com o Oceano
Atlântico e as terras de Africa, é indispensável elevarmo-nos até um ponto
d*onde elle seja visto na sua totalidade conjunctamente com toda a região
equatorial que se lhe avizinha. É d'ahi que o observador attento reco-
nhece que o Oceano Atlântico se alarga entre o cabo das Palmas e o de
Lopo Gonçalves, e occupa uma considerável concavidade que não está
em relação com a extensa abertura entre os cabos que servem de limites
a tão larga superfície, não devendo ter, por essa rasão, o nome de golfo,
como muitos geographos lhe chamam.
Não é esta a única observação que assalta logo a mente. Outras po-
dem fazer-se e que é vantajoso referir.
Os climas situados entre o cabo das Palmas e o das Três Pontas apre-
sentam condições differentes das que se observam na ropfião do rio Ni-
ger. Não é necessário procurar a explicação nos phenomenos meteoro-
lógicos, basta attentar no aspecto das terras por onde passam os vinte
55
braços d'aquelle rio, as quaes mais parecem ilhas baixas e alagadiças do
que terra firme de um continente.
Yô-se também, examinando a planta hydrographica d'este continente,
que elle é maior que o da Europa, e mais pequeno que o da Ásia. Tem
extensos areaes e grande superficie inexplorada.
O mar de Guiné olha para a costa oriental da America do Sul, e ao
recôncavo que elle occupa corresponde no littoral opposto a enorme bo-
jaoça do cabo Guardafui, o que igualmente se nota em muitos outros
pontos do continente africano.
A bahia de Lourenço Marques está de um lado em relação tom a sa-
liência dos Namaquas, a das Baleias com o cabo das Correntes e a de So-
fala com o cabo Negro.
Á depressão do littoral de Benguella oppõe-se, na contra-costa, a sa-
liência de Moçambique, e á saliência do cabo de Lopo Gonçalves a costa
de Melinde.
Parece, observa M. d'Avezac, que as ondulações de um eixo com-*
mum determinaram simultaneamente estas symetricas configurações.
O mar de Guiné está todo comprebendido na zona equatorial ao N.
da linha equinoccial, mas não deixa por isso de receber a influencia das
aguas dos mares glaciaes.
É indispensável, pois, examinar as correntes maritimas que se obser-
vam no mar de Guiné, indicar as differenças de temperatura e assignar-lbes
também a origem e direcção principal. Os ventos que ali reinam merecem
alem d'isso descripção especial.
Se o conhecimento dos ventos e das correntes maritimas é necessá-
rio para o nauta seguir uma derrota favorável e chegar a porto de salva-
mento, o medico hygienista não pôde dispensar o exame de taes phe-
nomenos quando se propõe avaliar a natureza de qualquer clima.
A respeito dos ventos e correntes do mar de Guiné temos um im-
portante trabalho do distincto oQicial de marinha J. C. Brito Capello.
Ali estão designados os principaes elementos que são necessários aos pi-
lotos que frequentam a região Guineana, e soccorremo-nos também a
esse substancioso escripto para fallar de taes phenomenos.
íAo N. do equador, diz o sr. Brito Capello, reina o vento geral NE.,
a que se dá também o nome de brizas.
fNo mez de dezembro o vento é muito bonançoso em todo o mar de
Guiné, principalmente nas proximidades da costa, sendo acompanhado de
trovoadas, geralmente do quadrante NE. Em janeiro, n'esta região, o vento
já é mais fraco, e ainda mais em fevereiro ; as trovoadas são frequentes
príDcipahnente n*este ultimo mez.
f Eotre o equador e a costa de Guiné o vento sopra geralmente eníre
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S. e SO., e é mais fresco n'esta epocha do que nos mezes de janeiro e fe-
vereiro. Ainda se notam no mar de Guiné trovoadas e calmas que os
acompanham, principalmente em março, estendendo-se até muito ao S.
do equador.
f Nos mezes de agosto e setembro, tanto o vento geral SE. como a
monção SO., e os ventos SSO. do mar de Guiné são geralmente frescos.
cNo estio o aquecimento extraordinário das planuras centraes da
África determina uma corrente ascendente do ar que sobre ellas a^ssenta,
a qual não só impede a passagem ao geral NE., mas chama a si o ar de
regiões que lhes ficam bastante remotas. »
São sufficientes estas informações para se formar idéa das correntes
aéreas da região Guineana e da sua intensidade. A força com que ellas
passam sobre as ilhas de que nos occupámos, e as brizas que se estabele-
cem junto a ellas serão examinadas no logar competente.
O nosso Gm é patentear apenas o que passa por mais averiguado e é
geralmente admittido por auctoridades competentes.
«A corrente equatorial, observa o sr. Capello, comp5e-se de todas as
aguas que ao S. do mar de Guiné correm mais ou menos para 0. e atra-
vessam o Oceano Atlântico, proximamente pela zona equatorial.
cDa espécie de golfo que Qca entre o cabo Negro e o cabo Lopo Gon-
çalves dirigem-sc as aguas a NO. e ONO.; uma porção d'ellas, a mais pró-
xima da costa, toma as direcções de N. o NNO. e entra no golfo dos Ma-
fras por entre o cabo de Lopo Gonçalves e as ilhas de Anno Bom e S. Tho-
mè, perdendo-se no fundo do golfo com a corrente de Guiné ; a outra,
a mais considerável, continua para 0., engrossando cada vez mais, e con-
stitue a corrente equatorial propriamente dita.
cA corrente de Guiné, continua o mesmo escríptor, compõe-se de to-
das as aguas que correm mais ou menos para E. pelo lado do N. da cor-
rente equatorial. Esta corrente, segundo as estações, encontra-se mais ou
menos a O., assim como abrange diversa superfície e adquire differentes
graus de velocidade. Penetra no mar de Guiné entre o cabo de Palmas e
a corrente equatorial, sitio onde apresenta menor largura e a máxima ve-
locidade ; corre por todo o mar de Guiné, contornando a sua costa e indo
perder-se no golfo dos Mafras de encontro ás aguas que vem da costa
de Angola e do Congo, d'onde parece sair por uma corrente submarina,
para se encorporar na corrente equatorial.»
Um escríptor hespanhol, para demonstrar a salubridade relativa das
ilhas do golfo dos Mafras, referiu-se á sua posição em relação aos ventos e
ás correntes maritimas, e José Joaquim Lopes de Lima não admittíu os
argumentos baseados n*estas observações ; para se conhecer de que lado
está a verdade não podemos deixar de expor o que sé tem escrípto com
57
resx)eito a tão importante assumpto. É por isso que transcrevemos alguns
trechos dos livros de Alexandre de Castilho e de Kerhallet.
cAs correntes marítimas, diz Alexandre de Castilho, denominam-se,
em geral, polares/tropicaes e equatoriaes.
<As correntes polares saem dos poios e dirigem-se para o equador,
s^uiúdo as margens occidentaes dos continentes; as tropicaes vão do
equador para os poios e percorrem as margens orientaes dos continentes ;
as equinocciaes correm sob o equador, do nascente para o poente.»
A corrente marítima denominada equatorial dirige-se do mar de
Guiné para a costa oriental da America do Sul. N'ella entram um ramo da
corrente polar do N. e outro da corrente polar do S., e formam sob o equa-
dor uma corrente geral, a qual, ao avizinhar-se da costa oriental da Ame-
rica do Sul, divide-se em corrente da Guyana e corrente do Brazil.
A corrente polar do N., approximando-se da costa septentrional da
África pela altura de Serra Leoa, separa-se em dois ramos, um dos quaes
se acerca da costa em frente do cabo das Palmas, atravessa o golfo de
Benim e vae perder-se do golfo dos Mafras, envolvendo a ilha de Fernão
do Pó, c a corrente polar do S. dirige-se para NO. ao longo da costa até.
á altura do cabo de Lopo Gonçalves, onde, observa Kerhallet, uma parte
das aguas se confunde na corrente equatorial, e a outra, dirigindo-se
para N. e NNE., vae engrossar a corrente Guineana propriamente dita.
A corrente polar da Africa septentrional passa nas alturas da Suécia,
Escócia, Irlanda, França e, Portugal, e, chegando ás vizinhanças do cabo
de S. Vicente, separa-se em dois ramos, um dos quaes, o que mais nos
importa conhecer, segue para o S., abeirando-se da costa Occidental da
Africa, e, seguindo sempre até entrar no golfo dos Mafras, rodeia a ilha do
Príncipe, envolvendo-se depois na corrente equatorial.
A corrente polar do S. é um dos ramos da impetuosa corrente que se
approxima de Moçambique e do Porto Natal e dobra o cabo de Boa Espe-
rança, dirigindo-se depois para o equador. Não é tão importante como a
corrente polar do N. pelo que diz respeito ao clima dos paizes banhados
pelas aguas do mar de Guiné, por isso indicámos somente sua existência
e a circumstancla de se reunir como esta á corrente equatorial, envolvendo
toda a ilha de Anno Bom.
Alem das três correntes geraes de que falíamos, ha outras especiaes
do mar de Guiné e que tomam os nomes das terras que lhe ficam mais
próximas.
Entre as ilhas do Príncipe e de S. Thomé, diz mr. Kerhallet, a corrente
mais geral diríge-se para NNE. e N. Para O. da ilha do Príncipe e no seu
paraUelo encontra-se ella sempre pelo ENE.; mas a E., entre a ilha do
Príocipe e a costa do Gabão, a direcção ordinariamente é NNE.
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As correntes marítimas, cuja influencia nos climas insulares é unani-
memente admittida, não estão em relação com a direcção dos ventos que
reinam no mar de Guiné. Notam-se em geral os ventos de SO. que predo-
minam a maior parte do anno, os de SSO. e SSE. na parte meridional, ap-
parjçcendo os do S. na altura e proximidade do cabo Lopo Gonçalves.
O bermatan sopra de dezembro a fevereiro na zona septentrional do mar
de Guiné, sendo tão dferteiro como o de SSO., que é frequente entre o
archipelago e a costa do Gabão.
Não damos maior desenvolvimento a este assumpto, porque temos de
o analysar em outras secções do nosso trabalho. Deixámos, porém, con-
signados alguns factos mais importantes que se referem ás correntes po-
lares e á extensão do mar de Guiné, o qual, como se vé do mappa me-
dico-geographico que vae junto, não é formado somente, como gerahnente
se diz, pelos golfos de Benim e dos Mafras, mas é muito mais largo e
extenso do que a superficie doestes golfos; e são também numerosas
as povoações que se levantam nas proximidades da costa banhada pelas
aguas d'aquelle mar, a qual, segundo Alexandre de Castilho, tem 2:481 a
2:537 kilomelros. Não é portanto nosso intento examinar os climas de re-
giões tão diversas, e por isso nos limitámos á zona equatorial africana,
de que mais especiaUnente nos occupámos.
CAPITULO 11
Desoripção das ilhaa do mar de Quiaé,
enumeração das terras que se aoliam sob o equador,
e distinoção entre olima equatorial e tropioal
I. libas 4o nar de Gninè. — 1."^ Ilhas altas: Ilha ile Anoo Bon. ~ Ilha de S. Tboné.- Ilha 4o
hiacipe. — Uha de Feraâo do Pó. — !.® Ilhas baixas: Ilha de Lopo 6oB(aUes.— Ilha do Corisco. —
lUej, Corisco peqaeno oo dos Hosqoilos.-Ilha BraAca.~Ilha de Hondoleh.-Ilba de Cnnuio.— 3.^ Qua-
dros eslatisUco-geographicos ; ilhas altas; classifica^ das ilhas altas; ilhas baixas.— II. Enume-
ração das terras qae se acham sob o equador. — 1.^ Africa equatorial: Ilha das Ro-
las; nargem esquerda do rio do Gabão; vasla região inexplorada desde o paiz de Okanda até ás
terras altas ao oceidente do snilaoado de Zanzibar; commnnicaçâo entre loçambique e Angola. —
2.^ America equatorial: Albemarle e as ilhas Galapagos.— Republica do Equador— Republica de
loTa firanada.— Terrenos banhados por difereotes ainentes da margem esquerda do rio Amazo-
Bu; ilhas da foz do Amazonas. — 3.° Oceauia equatorial: Ilha Batoe, lintáo, Battou ou Heotáo e
as ilhas ao 0. de Sumatra. — Ilha de Sumatra. — Ilha de Sumatra descripta por João de Barroc.—
Tersos de Luiz de Camões a respeito d fóta ilha.— Nha Linga e o archípolago Houv-Liugga.— Ilha
Liuga, segundo o dicdouario de Larousse. -^ Ilha de Borueo. — ilha de Borpeo, segundo Joáo de
Barros e Luiz de Camões. — Ilha Celehes. — lidere e o arcbipelago das Holueas. — Tersos de Ga-
mões a respeito de Tidore e Temate.— Ilha Ternate.— Volclo de Temate, descripto por Joio de Bar-
ros.—Ilha Geilolo (Dgilolo ou Halmaheira). — Amboíno. — Ilhas de Banda por ^oio it Barros; ilhas
loiucas, por Joio de Barros e Diogo do Couto; ilha Waigiou e a Nova Guiné. — III. Dístiocfio
entre clima equatorial e tropical. — lappas comparativos; syslema das linhas isothermicas;
classificação dos climas, segundo I. LeTj.— lelhor classificação para a ethnographía das emigrações,
segundo o visconde de PaÍTa lanso; distribuição astronómica dos climas; classificação mais simpli-
ficada, seguudo os graus de latitude.
I
•
nhãs do mar de Quino
As ilhas dos golfos de Benim e dos Mafras podem classificar-se em
ilhas altas e ilhas baixas ou rasas. No primeiro caso estão as do golfo dos
Mafras, e do segundo as que ficam próximas á costa, parecendo algumas
d'ellas fazer parte da terra firme, mostrando-se umas e outras dentro das
bahias da costa do mar de Guiné, no interior de alguns rios. Não intentá-
mos, porém, descrever senão as ilhas que são banhadas pelas aguas doeste
mar, occupando-nos d'aquellas que se alinl)am ao mesmo rumo jcom o
monte dos Camarões e das que estão nas proximidades da costa do
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mar de Guiné desde o cabo de Lopo Gonçalves alé á costa do lerrilo-
rio de S. João Baptista de Ajuda, não nos referindo ás que ficam dentro
das bacias dos rios.
As ilhas do golfo dos Mafras e a costa do mar de Guiné foram desco-
bertas nos annos de 1470 a 1486, estando hoje plenamente demonstrada
a prioridade doestes descobrimetatos pelos portuguezes. Não é indiffe-
rente, para o fim a que nos propomos chegar, o conhecimento das epo-
chas em que cada região foi habitada pela primeira vez, e tudo o que diz
respeito aos povos que de preferencia as habitaram. A respeito das ilhas
do golfo dos Mafras e da costa de Guiné transcrevemos, para elucidar este
assumpto, um trecho do livro do incansável e erudito H. Major, a quem
Portugal deve o mais relevante serviço pela publicação do trabalho a que
nos referimos e de que nos occuparemos em logar competente. Cingimo-
nos á traducção portugueza d^aquelle escripto, que nos foi obsequiosa-
mente mostrada para obtermos as informações que desejávamos.
Eis-aqui o que o sábio inglez escreveu a respeito do descobrimento
da região Guineana, que faz objecto d'este livro :
cHa no globo de Behaim uma legenda de muita importância para esta
parte da nossa narrativa. Por baixo das ilhas do Príncipe e S. Thomé vem
lá inscripta a declaração seguinte: «Estas ilhas foram descobertas pelos
navios de El-Rei de Portugal em 1484. Achámos todas desertas, não ha-
via senão bosques e aves. O rei de Portugal manda para lá todos os annos
os condemnados á morte, tanto homens como mulheres, para cultivar a
terra e sustentarem-se do que ella produz, a fim de poderem aquellas
ilhas ser habitadas por portuguezes. É primavera lá quando é inverno na
Europa; as aves e os animaes são todos diíTerentes dos nossos. Ha lá
grande abundância de âmbar, chamado em Portugal algalia.i^ Ora Barros
e outros dão estas ilhas como descobertas no tempo de D. AÍTonso (antes
de 1481), Galvão diz 1471 ou 1472, mas em geral não acho que elle me-
reça muita confiança quanto a datas. Barros exprime-se nos seguintes
termos: «Também se descobriu a ilha de S. Thomé, Anno Bom, e a do
Príncipe por mandado de El-Rei D. Affonso, e outras^ das quaes não tra-
támos em particular por não sabermos quando e por que capitães foram
descobertas; porém sabemos pela voz commum serem mais descobertas
no tempo d'este rei do que temos posto por escripto.
«É por conseguinte impossível dizer, attentas taes circumstancias, se na
viagem de Behaim em 1484 estas ilhas foram descobertas pela primeira
ou pela segunda vez. Comtudo crê-se geralmente, e com muita probabili-
dade, que João de Santarém e Pedro de Escobar, ambos cavnileiros da
casa de El-Rei, foram explonar a costa alem do cabo das Palmas era 1470
por conta de Fernão Gomes, levando por pilotos Martim Fernandes, de
64
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Lisboa» e Álvaro Esteves, de Lagos, e que, apesar das calmarias, ventos
do sul, e correntes do norte, frequentes n'aquelle golfo, correram toda a
costa do reino de Benim, e a 21 de dezembro, dia de S. Tbomé, avista-
ram uma ilha alta coberta de arvoredo, a que pozeram o nome d'aquelle
apostolo. No primeiro de janeiro de 1471, suppõe-se que foram ter a uma
ilha mais pequena, a que deram o nome de Anno Bom, em memoria do
feliz presagio por ser descoberta n'aquelle dia. Ebom anno foi, na verdade,
porque n'esse mesmo mez de janeiro fizeram o primeiro resgate de oiro na
costa do Oiro, na aldeia de Sama, entre o cabo das Três Pontas e a Mina,
para onde as correntes e brisas do sul os levaram, depois de terem avis-
tado a terra firme do cabo de Lopo Gonçalves. N'esta mesma viagem
descobriram a ilha do Príncipe, mas não se sabe em que dia. Foi prova-
velmente na passagem do cabo de Lopo Gonçalves para a costa do Oiro
em 1 47 1 ; e como deram originariamente á ilha o nome do Santo Antão ou
Santo António, podemos inferir que foi descoberta a 1 7 de janeiro, que
é o dia da commemoração d'aquelle santo. Depois foi -lhe dado o nome
de ilha do Príncipe, porque o filho mais velho de El-Rei tinha consignado
para seu proprío apanágio o imposto dos assucares produzidos na ilba.
Não temos provas, que demonstrem se a ilha Formosa, descoberta por
Fernando Pó, fidalgo da casa de El-Rei, e cujo nome ella depois recebeu,
o foi n'esta viagem, ou, como alguns suppozeram, em 1486, quando,
como logo veremos, João Affonso de Aveiro foi mandado por El-Rei
D. João II em missão especial ao rei de Benim e de cuja viagem veíu a Por-
tugal a primeira pimenta africana. Como quer que seja, parece, comtudo,
que foi só por occasião da viagem de Diogo Cam que o governo teve,
pela primeira vez, noticia das ilhas e se lhes deu alguma importância. Ha,
porém, outro ponto a respeito das mesmas ilhas, que requer attenção. Já
se ha de ter notado que nas viagens passadas o descobrimento de ilhas a
distancia do continente era devido aos temporaes que arrojavam os na-
vios para ellas.
«Assim foi o descobrimento da ilha de Porto Santo por Zarco e o das
ilbas de Cabo Verde por António de Nolli & Diogo Gomes; mas no caso
presente temos ilhas, como a de S. Thomé, a mais de cincoenta léguas
distante do continente, e a de Anno Bom, a mais de oitenta, descobertas
sem intervenção de temporal algum de que tenhamos noticia. »
«.«— Ilhas altM
Ilha de Aono Bom.— Jaz esta ilha em l"" 2& 30'^ de latitude S. e S"" 37' de
longitude E. de Greenwich, 203*", 7 da ilha de S. Thomé ao rumo SO. Tem
om lago de agua doce no centro da região do N., cerca de 500 metros de
62
*
altura, cuja profundidade é de 8 metrofs e a circumferencia anda por
1:389. É nfíontanhosa, e qnasi toda arborisada, elevando-se o principal
monte approximadamente a 1 kilometro acima do nivel do mar.
Esta ilha é a mais meridional do archipelago de Guiné e também a
mais afastada da costa occidental da África.
Ê justo nomearem-se as três rochas que ficam ao S. da ilha, ás qoaes,
como diz M. d'Avezac, por mna feliz lembrança, pozeram os nomes dos
descobridores das ilhas do gdtío dos Mafras, perpetuando-se assim a me-
moria de Pêro de Escobar, Jo3o de Santarém e Fernão do Pó.
Acerca do dia em que foi descoberta esta ilha divergem os escripto-
res, dizettdo-se no diccionario de Larousse que foi no anno de 1473.
O que passa por mais averiguado é que a ilha de Anno Bom fora des-
coberta no primeiro dia do anno de 1471; ed'aqui nasceu a denominação
que Bie deram os navegadores portuguezes, eque os ínglezes, sem rasão
plamsivel, transformaram em tAnna bona», e alguns escriptores nao du-
vidaram até dizer Anna boa !
Segundo M. d'Avezac, a ilha de Anno Bom tem 7*^,4 de NNO. a SSE.
e de largura nao excede 2^,8. A superíicie quadrada é de 20 kilometros
approxtmadamente. A povoação principal fica ao N., occupando uma área
de cerca de 594 metros de comprimento e 198 de largura. A pouca dis-
tancia d'eHa desagua no mar ura rio, onde pôde fazer-se aguada, empre-
gando-se para isso barris de quinto, os quaes se conduzem a reboque,
porque a foí dof rio tão permítte a entrada de escaleres. Ao S. despeja
o rio denominado Agua Grande, e, segundo diz Cunha Mattos, ha na ilha
uma ribeira chamada Bôbõ, de cuja agua só bebem os ecclesiasticos e de
neiihnm modo os seculares. Alem d'estes rios ha dififerentes riachos, mas
S3o poucas as correntes de agua em relação ás da ilha do Príncipe ou de
S. Thomé.
A ílh« tem madeiras de construcçSo, e é muito arborisada. Dão-se
ali bem as laranjeiras, tamarindeiros, limoeiros, coqueiros, goyabeiras,
etc.
Avlsta-se em tempo claro á distancia de 83 kilometros do mar, e está
a 300 do cabo de Lopo Gonçalves.
A corrente marítima equatorial approxima-se da ilha de Anno Bom e
parece que a envolve. Os ventos, segundo a informação de M. Kerhallet,
são os de S. e SE.
N'uma das principaes publicações portuguezas da actualidade diz-se a
respeito da ilha de Anno Bom o seguinte:
kAnno Bom. — liba no golfo de BiaflFra (Africa occidental) a 1** 24' de la-
lílade S. e ! 4® 46' de longitude E. Tem 7 kilometros de comprimento e €3(5
de Isrgura». fileva-se a uma altura de ^0 metros acima do Oceano. tG&r
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ma saadavel». A popnlaçlo é qaasi anicamente eompôsla de Degffos teflí
numero de 3:000», que se entregam á cultura da mandioca, canna de
assQcar e algodão, sendo importante a creação de porcos, caríyeiros e
cabras.»
N3o sabemos a que anno se referem estas informações, mas nSo no$
consta que se procedesse a qualquer recenseamento, nem que se estudas-
sem as condições de salubridade de modo que possa affirmar-to que o
clima é saudável. O que é certo é que já em 1848 M. d'Avezac ataTiava
em 3:000 os habitantes da ilha de Anno Bom. No diccionario de Larotts^e,
volume publicado em 1866, dí^-se também que são 3:000, e agota em
1876, em publicação corrente, admitte-se o mesmo numero t Estas infor-
mações passam de uns escriptores para outros, mas não sehreiíi para se
calcular o movimento de população, nem o estado da agricultura da itfaál
de Anno Bom é conhecido.
Ilha de S. Tkemè.— Está lançada ao rumo SSO.-NNE. no golfo Útís
Mafras e e$tende-se de 5*^,5 a 55*^,5 ao N. do equador, tendo n'esta di-
recção 50 kilometros approximadamente em linha recta, e atarga-sè de
6® 27' a 6® 45' ao oriente do meridiano de Greenwich, cõntando-se 33*^,3
n'este sentido.
Do lado do N. termina n*uma costa de cerca de 14 kilometros de 6i-
tensão e no do S. tem apenas 1^,6. Forma, pois, a ilha de S. Thomé ntiia
superficie de 926 kilometros quadrados, segundo Lopes de Lima, na qual
se encontram montes altos, climas differentes, florestas notáveis, rios cau-
dalosos e uma fertilidade verdadeiramente extraordinária.
A ilha de S. Thomé abunda na verdade em alto-phnos de 600 é
1:200 metros de altitude, tem muitas várzeas, bastantes montes, umn[
grande serra e picos de formas phantasticas, como o de Anna de Cbafve$,
Cão Grande, Cão Pequeno, étc. Os terrenos estão, pois, na súa tãiiMá
parte, acima de 400 metros de altitude. As fazendas que actualmente áé
acham abertas nos legares mais elevados são muitas, e ficam cerca de*
800 a 1:000 metros de elevação, e ha também uma graúde área, na altura
de 1:200 a 1:500 metros, susceptível de ser cultivada.
Tomando para altura media geral 1 :200 metros, o que nío è dema-
^ado, as distancias a percorrer na ilha de N. a S. e de E. a 0. augmen-
tam alguns kilometros, podendo calcular-se, n'este caso, em mais xaú
quinto, do que se a considerássemos uma superficie plana.
S. Thomé, diz o auctor de um artigo publicado n'uma das obras fran-
cezas mais nnportantes, é uma ilha portugueza no golfo de Guiné, a 200
kilometros NO. do cabo Lopes, ficando por O® 27' de latitude N. é 4* 24^
de longitude E. Tem 2:000 kilometros quadrados. A capital teín 2:000
64
habitantes, e ahi reside am bispo. Foi descoberta em 1471 por YascoD-
cellos.
Alem d'estas informações léem-se outras na obra a que nos referimos,
e que julgámos conveniente reproduzir, a fim de que se avalie como os
estrangeiros descrevem as nossas colónias.
«S. Tbomé é uma ilha do mar de Guiné, 135 kilometros a SO. da
ilha do Príncipe e a iU\i a NE. da de Anno Bom, entre 0° 2' e O" 30'
de latitude N., 4^ 22' e 4^ 31' de longitude. Tem 51 \8 no seu maior
comprimento, medido desde a ponta Figo, Morro Carregado e Morro-Pei-
xe, collocados todos três sobre a mesma linha ao N. até á ponta Balea ao
S., e 35^,1 na sua maior largura. A superficie é de 929 a 941 kilo-
metros quadrados. A extensão da costa é de I38S9 a 148^,1. Nas proxi-
midades ha differentes ilhéus.»
cA ilha, diz M. d'Avezac, é geralmente montanhosa. Para o lado da
costa Occidental levanta-se um pico muito alto cheio de arvoredo até ao
cume, sendo tão copado e unido, que nao dá fácil paSsagem. A encosta é
escarpada e tortuosa, e por isso a subida a tal monte é muito arriscada.
O cume está coberto de neve que resiste á acção do sol equatorial, e de to-
dos os lados do monte descem para o mar rios consideráveis.»
^ ilha de S. Thomé não tem 2:000 kilometros quadrados, nem nos
seus montes mais elevados ha neve. Não acceitámos também a opinião
d'aquelles que calculam a sua superficie em cerca de 900 kilometros
quadrados, dando-lhe 50 de comprimento e 30 de largura.
A ilha pôde dizer-se sem exagero que tem mais de 900 kilometros
quadrados de superficie susceptível de cultura. Imagine-se a superficie
de uma pyramide truncada, cuja área da base é de 926 kilometros qua-
drados e a altura de 1:200 metros. Para fazer idéa da extensão de N. a S.
ou de E. a O., basta calcular as hypothenusas dos triângulos formados por
uma perpendicular de 1:200 metros ao meio de uma recta de 50 kilome-
tros tirada de N. a S. e ao centro de outra recta de 30 kilometros, traçada
de E. a O. Mas são apesar de tudo cálculos approximados, e a superficie
da ilha de S. Thomé é augmentada ou diminuida, segundo a vontade dos
escriptores. Temos presente um escripto, que citámos por sabermos que
anda nas mãos dos estudantes de geographia, onde se lé :
€llha de S. Thomé. Tem 44 kilometros de comprido, 5,16 e 32 de
largo, e 166 de superficie quadrada. Calcula-se a sua população em 8:000
habitantes, 48 por kilometro quadrado. Tem alguns edificios bons, como
são: Sé, igreja da Misericórdia, da Madre de Deus, casas do governo,
alfandega e camará municipal. Não é desagradável o aspecto do paíz.
Seus montes são basalticos, altos e cónicos; um d'elles avista-se a 166^,6
de distancia por ter 1:980 metros de altura. Vai sendo mais sadio o seu
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dima. Era dt antes muito quente e desde setembro a março (estação das
chovas) muito doentio, i
Eis-aqui o que se escreveu em 4872, a respeito da ilha de S. Thomé,
6 admirâmo-DOS de que a emigração nãe se dirija para este o para outros
paizes da Africa portugueza ! I
A posição relativa da ilha de S. Thomé, na costa occidenlal de Africa,
éexcellente. É por assim dizer um ameno e delicioso oásis no meio
da vastidão do mar de Guiné; os rios levam em grande parte aguas lím-
pidas e potáveis, são mimosos e agradáveis os fructos naturaes ou acli-
mados» e no interior ha logares pittorescos e de suave temperatura.
Dista a ilha de S. Thomé da sua irmã mais pequena i 60^,6, de porto
a porto, da de S. Thíago 4:129*^,9, da da Madeira, sua rival no Oceano
Atlântico, 6:352^,3, e, finalmente, da nobre e antiga cidade de Lisboa
7:31 5\4.
A ilha da Madeira, tão africana como a de S. Thomé, só lhe tem
a vantagem de estar no extremo N. da Africa, perto dos grandes centros
civilisados, mas não é mais fértil, nem mais pittoresca, nem mais abun-
dante em variados prodoctos agrícolas ou commerciaes, em boas aguas
00 fructas.
Um vapor que navegue 22'',2 por hora pôde fazer a viagem entre
Lisboa e a ilha de S. Thomé em treze dias pouco mais ou menos, e
para chegar em dezeseis seria suíficiente que navegasse apenas 1 8^,5 em
cada hora.
O mar que separa a ilha de S. Thomé do Gabão mede 194^,4; para 0.
e SO. não se encontram ilhas nem terra firme. Ao S. da ilha fica o Ambriz
a 1:009'',3, Loanda, capital do reino de Angola, a 1:lll\2, Benguella
a 1:529^,7, e, finalmente, a amena, salubre e joven villa de Mossamedes
ai:885\3.
Do arcbipelago de Gabo Verde para a ilha de S. Thomé conta-se a
maior extensão de mar, se não se quizer tocar em alguns pontos da costa,
como Serra Leoa, cabo das Palmas, etc. Pela mesma distancia fica o Se-
negal e a Guiné portogoeza de Cabo Verde. Do estabelecimento de
Ajuda, na costa Occidental do golfo de Benim, contam-se apenas cerca de
787M.
A posição geographica da ilha de S. Thomé, absoluta e relativa, dá-lhe
grandes vantagens. Para o demonstrar basta dizer que esta ilha tem pro-
gredido, não obstante as muitas difiiculdades por que tem passado. Aban-
donaram-na os habitantes, e por espaço de um século a ilha do Príncipe
foi a capital da província ; mas era sempre mais ou menos explorada e
procurada pelos navegantes, que faziam ali boa aguada e recebiam man-
timentos e refrescos. É todavia certo que a emigração d'aquelles povos e a
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transferencia da capital concorreu para o atrazo da j(ba, que teve i^na cul-
tura insignificante.
Âpezar do que temos dito em relação a esta ilha, quer seja relativo ao
seu commercio e melhoramentos, quer á salubridade, não tem faltado
quem deseje ir governal-a e já era bem considerada por Camões, coino se
vedo trecho seguinte:
O mar nas praias notas, que ali temos.
Ficou, co*a ilha illustre que tomou
O nome d^hum, que o lado a Deus tocou.
(CamõeSy canto v, estancia xu.)
A ilha de S. Thomé será para as regiões da Africa equatorial o que
é a ilha da Madeira para os paizes da Europa, Mossamedqs para as ter-
ras tropicaes do occidente, e Lourenço Marques para as do oriente.
A ilha de S. Thomé perderá a fama de insalubre logo que a agricul-
tura se desenvolva por toda a parte e se levantem povoações nos a|to-
pl^ipos, ficando no litoral apenas as casaç conunerciaes e a alfandega.
Não o temos feito até hoje, porque a colonisação da Africa portugueza
tem sido morosa e dirigida sob vistas muito limitadas.
Ilha do Príncipe. —Demora em 4** 37' de latitude N. e 46^ 8' de longi-
tude E. ou a 130 kilometros da ilha de S. Thomé e a 185 da de Fernão do
Pó. Pela fertilidade dos terrenos e sua posição pôde sair do abatimento
em que se encontra, mas é necessário acudir-lhe quanto antes com pro-
videncias promptas e bem pensadas.
Ha escriptores francezes que lhe deram un[^a população de 10:000
ahnas, quando no anno en^ que se fazia tal pubUcação (1874) apenas n^
ilha do Príncipe havia 2:251 habitantes I
Mas não admira que um escriptor estrangeiro apresente taes estatísti-
cas, quando n'um livro que serve para estudo nas aulas de instrucção pri-
marias se nos depara o segqinte: «i ilha do Prindpe fica de 111 kilometros
(20 legoas marítimas) ao NE. de S. Thomé. Tem 33 kilometros de com-
prido, 22 de maior largura e 134 de superfície quadrada. Calculasse a
sua população em 7:831 habitantes (anno de 1872), 68 por kiUmetro
quadrado. Sua. capital é a linda cidade de Santo António. O paiz é alto
na paxte meridional, baixo no resto. Tem muito arvoredo, muita verdura
e abundância de agua doce (300 ribeiras tj. O seu solo, em parte vulcâ-
nico, é muito fértil, e produz as fructas intertropicaes. O seu clima i mais
sadio que o de S. Thoméi>.
Desde N. a S. ha cerca de 17 kilometros da ponta das Burras até i
ponta Negra, variando a largura entr^ 9 a 1 4 kilometros.
g7
A superQcie ()a j|(ia, sçgmido se lé ^iq vários escríptos, è de 7á mi-
lhas quadradas, isto é, 346^9 quadrados. M. d^Avezac dá-lhe 17S5 de
comprimento de N. a S. e 9^,^ de largura medis» de E. a 0., e Lopes de
Lima reputa-lhe 4e 14^>8 9 par^ mais larga.
Ha quem avalie a superQcie em 125 kilometros quadrados, o que não
corresponde ao resultado apresentado pelos outros escriptores. Não falta
também quem aífirme que a puaior largura da iiba é de 13 kilometros e
a superfície 184 kilometros quadrados, sendo a sua distancia á cidade de
S. Tbomé de {44.
Não pode verifícar-se um calculo doesta ordem sem trabalhos topogra-
pbicos, e na carência d'elles limitápao-nos a expor o que é mais corrente.
Da ilba do Príncipe disse l/)pes de Lima nos seus Ensaios o seguinte :
cMenos abastada em productos naturaes que a ubérrima S. Tbomé,
avantaja-se coqitudo 9 ilba 4q Pnocipe pelo movimento superior do seu
commercio externo: ha n.esta ipa^ís qumerosos, e ricos negociantes, e ca-
pitalistas; são melhores q^ seus portos, e mais vizinhos ao continente afri-
cano ; e por i$so mais procurados : pQftanto deade o século xvii tem ella
sido sempre o principal entreposto do commercio da Europa e America
com os portos de —Lopo Gonçalves, rio dos Camarões, Gabão, Calabar,
Oére, Bepim e Ajuda — e pea^o com a ilba de S. Tbomé: esta affluencía
de trato diminuiu pmitissioM) (|epois do ^ratado de 1810, e ainda mais de-
pois da separação do BT^il : era mister aprender a dar novo rumo aos
capitães ; ^ psta trao^ic^o forçada produspíu, como era de esperar, um pa-
roxismo mercantil : nias em Qm qs capitães começaram a acordar do le-
tbargo e 9 çqoheçi^ q^ ^^ adustas plagas não contém só homens ne-
gros, que se vendem un3 aos oiitro^ ;— também lá tém— barrilinhos de
oiro em pó, —dentes de marfim, — cowos e pelles,— azeite e cera,— gom-
mas e madeiras, etc,. cujo trato é mais buifta^o, mais commodo, e mais
seguro : em breve e^fero^ pois, que a ilha do Príncipe seja o deposito
deitas preàQsas mercanfiiass como o era no século passado de carregar
ções semoventes.
«Commercio interior não o ha nesta ilba, porque nem tem, como
S. Tbomé, villas no sertão, nem caminhos praticáveis para alem da serra do
Papagaio e das montanhas dos Picos ; sendo ainda bem más as trilhas,
que dão caminho para as roças — todas próximas á cidade, que apenas
abastecem. 1
São passados trinta e dois annos depois que o auctor dos Ensaios esta-
tísticos escreveu estas palavras a respeito da ilha do Principe, mas não se
r^lisaraçíi ioEeUifiRepte as si^a^ previsões. A ilha está reduzida á miséria,
tendo diminuído a população de um modo assombroso. Não é este, po-
^^^ 9 IqíW Vff^ çpUrar eqpi CQnsiderações a tal respeito.
68
Hba de Fernio do Pó. — É a maior de todas as do mar de Guiné. Tem
< 85^,2 de circumíerencía, 64^,8 de comprimento e 37 de largura, e por-
tanto o dobro da superficie da ilha de S. Tbomé.
Segundo M. de Avezac, o maior comprimento de NNE. a SSE. é de
70^,3 e a largura de 24 a 40'',7. Tem 1:930 kilometros quadrados de su-
perfície (560 milhas quadradas).
Dista do continente 37 kilometros, havendo entre a terra flrme e a
costa da ilha um canal de 71 metros de profundidade.
A capital fíca na bahia Maisdstone e denomina-se Glarence, nome
dado no anno de 1827 pelos inglezes, os quaes depois de edificarem a
cidade de Glarence, passaram a outros logares da ilha; não excedendo
a dezeseis annos a sua demora^ e não havendo deixado melhoramentos
que mereçam mencionar-se.
A ilha de Fernão do Pó é muito accidentada, levantando-se por uma e
outra parte outeiros de 300 metros, apparecendo montes de 900 e desta-
cando para N. um pico que sobe a 3:240, segundo M. de Avezac. Entre
os montes abrem-se várzeas, formam-se planuras e estendem-se super-
ficies por onde correm abundantes rios, despenhando-se alguns de grande
altura.
Avista-se esta ilha em tempo claro a 185 kilometros ao largo.
Os portuguezes, que a descobriram em 1486, nunca fizeram caso d'ella,
nem lhe conheciam o valor. Em 1 778 cederam-na aos hespanhoes, en-
viando elles uma expedição composta de cento e cincoenta homens, mili-
tares, operários e colonos, para lançar as bases da colonisação; mas mor-
rendo em cada anno quarenta e dois, no fim de três só restavam vinte e
quatro, que ficariam também por aquellas paragens se não se retirassem.
Em 1 781 ficou outra vez abandonada I
Gollocada por assim dizer em frente da foz dos rios Velho Galabar,
Boni, de El-Rei, Camarões e Rumby, não pôde deixar de participar da
influencia do clima das margens de taes rios. Passa por insalubre, e so-
mente nos logares altos poderá ser habitada com vantagem.
A respeito d'esta ilha lêem-se no diccionario de Larousse algumas
informações que julgámos indispensável reproduzir, para se poder ava-
liar a falta de uniformidade que ha nas descripções dos auctores que se
occupam d'estas regiões.
«Fernão do Pó, ilha da Africa, no mar de Guiné, golfo de Biafra, em
frente de três grandes rios, que ali desaguam, 3^ 48' a 3^ 13' de latitude
N., e 6^ 4' e 6° 37' de longitude E., tem um perímetro de cerca de 100 ki-
lometros. O solo é muito fértil, e ha ali um pico de 1:500 metros de al-
titude.
«Esta ilha, descoberta no fim do século xv por um cavalleiro portu«
69
gaez, chamado Fernão do Pó, foi cedida á Hespanha a que hoje pertence
em virtude do tratado de 24 de março de 1774.»
Nota-se n'esta citação que, alem de não ser exacto o anno em que a
ilha foi cedida aos hespanhoes, é extraordinária a differença de altitude
dos respectivos montes, segundo as informações referidas ao anno de
1867, que temos presentes.
9.*— Ilha* IniIxam
III» de Lopo Gonçahes. — Esta ilha prolonga-se 37*^,9 a NNO.-SSE. e
7S4 a E.-O., e n'ella se encontra o cabo de Lopo Gonçalves. A sua face
ou margem oriental está cerca de 24 kilometros para NO4V2N. até ao
cabo propriamente dito. É baixa, encharcada e recortada de angras e pon-
tas. A costa está separada do continente por um canal ou rio não muito
estreito. O terreno não parece productivo, nem sabemos se actualmente é
habitada.
Na bahía de Lopo Gonçalves ha muita pescaria, e pelas terras adjacen-
tes encontram-se elephantes, tigres, leões e outros animaes; tem um sof-
frivel ancoradouro a 1:852 metros para E474SE. do extremo N. da ilha
ou do cabo.
Ilha do Corisco. — É pequena, mas ainda ha outras de menor extensão na
mesma bahia, a que chamam Corisco Pequeno, ou de Elobey. Pertence aos'
bespanhoes, como as de Fernão do Pó e de Anno Bom.
A ponta do N. fica em 0° 56' 12" de latitude N. e 10^ 28' 30" de lon-
gitude E.
Vista da banda de 0. do cabo de S. João afQgura-se haver ali um só
renque de arvores, saídas do mar, e symetricamente dispostas ; mais de
perto parece que a cingem barreiras cinzentas; á distancia de 7^,4 distin-
gue-se a terra baixa e toda vestida de matagal.
A parte de SE. da ilha dista cerca de 29^,6 do cabo de S. João ou do
das Esteiras. Tem 5 kilometros de comprido no sentido N.-S. e 3^,1 de
largura E.- 0.
N'uma angra de SO. está edificada a aldeia do Corisco, de cujos usos
e costumes nada sabemos. Na área de 16 kilometros quadrados podem
habitar mais de 400 indivíduos.
Hobey, Corisco Poqaono ou dos Mosquitos. — Duas são as ilhas a que os
nossos antigos pozeram o nome de Corisco Pequeno e que modernamente
se appellidam Elobey ou dos Mosquitos.
Estende-se a maior, que é baixa, arborísada e a mais occidental, por
10
2^,i de N. a S. e ceircâ dé !^,3 de E. à 0., não chegando por isso a sua
superfície a Í^,S quadrados; a segunda é ainda mais pequena, silvestre,
rasa e muito estreita. S3o numerosos os baiicos, parceis, ilhéus e baixos,
por entre os quaes è preciso navegar dentro da bahia do Corisco, o que a
torna perigosissima.
liba Branca. — Fica esta ilha quasi em frente da foz do rio de Boroa, é
silvestre e nada tem de notável. Está próxima á terra.
liba de Mondoleh. — É de uma fiqueza admirável o solo d'esta ilha da
bahia de Âmbozes. É a principsíi do pequeno grupo da bahia, que è
limpa e muito mais segura que ú do Goríscd. Ha no archípelago de Âm-
bozes três ilhas, cuja extensão e fertilidade estão, segundo A. Tardieu,
na rasão inversa da sua população. Téein agua todo o anno em fontes que
alimentam riachos. Uma d^ellas tetii 300 individuos que vivem da pesca
e trocam o peixe por bananas, inhames e outros fructos. Ha ali pouca
agua e os habitantes a procuram nt) contiífêtite ou apanham-a da chuva.
 maior denomína-se Mondoleh, a immediata Ameh ou Domeh e a mais
pequena Bobya. Todas são povoadas.
Os habitantes doestas ilhas, acrescenta A. Tardieu, são hábeis pesca-
dores, e quando o tempo está bom véem-se muitas canoas em que elles
se entregam á pesca.
Em Mondoleh são os viveres mais baratos dd que em Fernão do Pó
ha madeiras e variados vegetaes. N'estás ilhas não ha pântanos nem man-
gues; a brisa que lhe chega do mtfr é ^úhi é fWSca, e os Ventos que so-
pram do continente encontram as altas montanhas dos Camarões e não
são quentes nem miasmaticos.
A bahia de Ambozes, acrescenta A. Tardieu, é talvez a localidade
mais salubre da costa occidental da Africa. Na estação das chuvas, raras
vezes apparece mais de um tornado ou de uma tempestade em vinte
e quatro horas; no resto do dia o tempo é agradável epassam-se muitos
dias successivos sem chover.
liba de Garamo. — Por entre o lago Cradoo e o ínar fica uma ilha plana
e coberta de arvoredo, á qual os naturaes chamaífl Ikbeku e os nossos an-
tigos Curamo. O terreno é pantanoso e eslende-se desde a boca do rio
da Lagoa até á do celebre rio Formoso ou de Benim. É cortada por vários
ribeiros e tem algumas aldeias. É preciso comtudo observar que esta ilha
está tão próxima da terra firme, que vem descripta nos roteiros da costa
d^Africa e não falia d'ella M. de Azevac no seu importante trabalho
Ilhas da Africa,
71
^nadroa e«latl«tlèo-seoKriiphleo«
libas altas
PmíçSo
Anoo Bom, afas-j 1<* SO' Ift S.
UdaS03k,7 da|3«IO/loDg.E.(Parí8).
de S. TboBié ' M. iÃveiac.
S. Tliosié, afãs-
UdaiSSM da
do Príncipe
(fV a0»30/delat.
K
i^SS^ai^ai/delong.
E. (Paris).
M. íAvezãc.
PrinâiM» afasta-
da 185k,3 da de
Fernio do Pó
O» 31/ 3(V/ a O» 4i/
3(V/ UL N.
S^Vi^/aSMí/a?//
loog. E. (Paris).
Jl. i'Aveiae.
l
Fernio do Pó,i3M(y a3«44/lat.N.
aCutada 37 ki-f 6« 2/ a 6* 34/ kMig. E.
tometros da cos- 1 (Paris).
ta oootineDtal. I if. ÍÂitiztu:,
_^__ I
Disposição
dos terrenos
1 :000 metros d*altara.
Avista-se de 74 a 83
kilometros do mar.
2:135, Boteler e Kcr-
balel; 3:200 segun-
do outros. Avista-se
a 111 kilometros do
mar.
800. Avista-se a 111
kilometros do mar.
3:108, Kerhalet, ou
3:240 M. dAvezac.
Avisla-se a 185 ki-
lometros do mar.
Superficie
90 kilometros on6 mi-
lhas qnadradas; se-
gundo outros, 17 ki-
lometros quadrados.
PopulaçSo
916 kilometros ou 270
milhas quadradas,
ou, segundo outros,
166, 900, 1:657 e
2:000 kilometros
quadrados (
247 kilometros ou 72 2:251 habitantes,
3:000 indivíduos.
(1848).
25:491 habitan-
tes, incluindo
793 europeus.
(1874).
milhas qnadradas,
e segundo outros
125 kilometros qua-
drados I
1:930 kilometros ou
560 milhas quadra-
das (4 93:000 hecta-
res).
incluindo 35 eu-
ropeus.
(1874).
15:000 individues
(1848).
20:000 almas, se-
gundo Larousse.
Classificação das ilhas
1.'
2.
Segundo a altura dos montes { » ,
' 4*.'
1.'
Segundo a superfície \^^
4.'
1.'
2.
Segundo a população (1874) { ^ «
4.'
Fernão do Pó.
S. Thomé.
Anno Bom.
Príncipe.
Ferrlso do Pó.
S. Thomé.
Príncipe.
Anno Bom.
S. Thomé.
Femâo do Pó.
Anno Bom.
Príncipe.
' 0 primeiro oumero é o quo no^ parece mais exacto; ajuntámos todavia a superGcic das ilhas segundo os
aoctoret inais conhecidos^ ,
72
libas baixas
Posição
Ilha de I/)poi|7o 5^/ 5// long. E.
GoDçalfC». J (Lisboa).
r Â. M.dê CaUilko.
Corisco
O» 56/ iVf laL N.
180 28/ 36// long. E.
(Lisboa).
A. M. de CaslUho.
i» lai. N.
7/ 3/ long. E. (Paris).
Elobey, ilha do!
Gonsco Peque-
no ou dos Mos-*
quilos.
Muito próximo da on-
Ira ilha, para o N.
Disposição
dos lerrenos
É rasa, lem mangues
e é recortada por
alguns riachos.
ATisla-se a unsS?'',?*
Terra baixa e muito ar-
borisada, tem uma
matta eipesta para
oN.
Branca
i 3» 35/ lai. N.
, 180 47/ 50// long. E.
(Lisboa).
Archipelago dos
Amooses ou
Zambàs, com-
posto do Mon-
doleh, Ameh c
Bobya.
l3« 77/ laL'
N.
,8» 11/ long."
E. (Grccn-
wícn).
Mondo-
leh.
Ameh.
É arborisada e baixa.
2.»
Tem arvoredo, é rasa
e muito estreita.
Superfície
37)^,9 de comprimen-
to por 7fc,4 de lar-
gura.
kilometros de com-
primento por 3k,l
de largura. Mede
Moximamenle 14
kilometros quad.
É rasa, silvestre e fi-
ca perto da ponta do
N. do rio de Boroa.
^ Bobya.
l.«
É bastante alta, arbo-
risada o producti-
va; tem agua cor-
rente.
Í.0
Rochedo qnasi nu o
sem agua de verão;
tem alguma vegeta-
ção.
3.0
Ilhéu basáltico e qua-
si esteríl.
Aldeia de J(tdcnah.
6» 26/ 40// lat. N.
ir 51/ lOV long. E.
(Lisboa).
Ilha de Curamo. I^HS? .fe /f ?"»^ (* '*»*• *«?» P**"^
no golfo de Be./5!»;S(y/Jaf N. V ras e outro anore-
j^ \13o 17/ 24// long. E.[ do; é atravessada
(Lisboa). { por alguns esteiros.
} Aldeia de Odi.
6» 20/ 30// lat. N.
13» 49/ 5// long. E.
(Lisboa). ,
I L
1.0
•
2k,4 de comprimento
rr lk,4 de largura,
kilometros qua-
drados.
2.0
2k,7 de comprimento
por quasi igual lar-
gura.
E pequena a sua área.
1.0
926 metros de compri-
mento por 6l7",3
de largura.
2.0
740",8 de compri-
mento por 264"',6
de largura.
3.0
È muito pequena a
sua* área.
População *
Tem sido habita-
da, e os portu-
gueses tiveram
ali um forte.
É immeosa, tendo a
costa do S. cerca de
212k,2 de compri-
mento e a sua maior
largura é de 31^,9.
Tem habitantes, e
ao SO. fica uma
aldeia.
Alffuns soldados
hespanhoos
(187Í).
Ignora-se.
Ignora-se.
1.0
Tem muitas fa-
mílias.
2.0
Viviam ali, em
1840. 400 fa-
mílias.
3.0
Não ha muitos
annos tinha mi-
motMos mora-
dores.
Contam- se , te-
Sndo A. M. de
istilho, sete
aldeias.
* Referimo-nos, no que diz respeito á população das ilhas, ao roteiro de Alexandre Magno de Castilho e
ao trabalho de A. Tardieu acerca da Guiné. Foram ambos publicados ha mais de dei anoot.
73
Enumerámos as ilhas do mar de Guiné com a mínuciosídade indispen-
sável para fazermos a comparação entre todas, e reconhecermos que a for-
mosa ilha de S. Thomé pôde rivalisar com as outf*as, nâo cedendo á pró-
pria ilha de Fernão do Pó.
No golfo de Benim apenas se nota a ilha de Guramo, cuja situação
baixa e condições climatéricas não favorecem a agricultura; só as de Fer-
não do Pó, Príncipe, S. Thomé e Anno Bom podem ter colonisação re-
gular e capaz de compensar quaesquer despezas ou sacrificios.
II
Enumeração das terras que se aoham sob o equador
São numerosos os paizes que ficam sob a linha equinoccial. Não estão
somente em Africa, estendem-se pela America e Oceania. Não se encon-
tram, é verdade, na Europa nem na Ásia, mas não se segue por isso que
só n*estas duas partes do mundo haja climas temperados; apparecem
também na parte mais central da zona tórrida.
Estivemos por duas vezes na ilha das Rolas em que a latitude é nulla,
segundo se acha demonstrado e admíttido sem contestação em todos os
mappas geographlcos de que temos conhecimento.
Percorremol-a de N. a E., marcando os thermometros á sombra, em
quanto ali estivemos, *iV centígrados, e pernoitámos n*uma casa próxima
á costa do N., onde a temperatura durante a noite foi 25^ e 26^ centígrados.
Desejávamos descrever as ilhas de S. Thomé e Príncipe, collocadas
alguns kilomctros ao N. do equador, e para realisar o nosso intento apro-'
vcitavamos todas as occasiões que se nos offereciam para ir ao interior
da ilha de S. Thomé visitar os logares menos conhecidos, mas não a
podemos atravessar de E. a O. ou de N. a S. Foi, porém, com grande
prazer que desembarcámos na ilha das Rolas, e ali passámos algumas ho-
ras, admirando o panorama que se desenrola diante do observador que
olha para S. Thomé. Por entre uma massa enorme de verdura, de as-
pecto sombrio, levantam-se montes, picos, planuras extensas, cobertas de
copado arvoredo. Era grande a surpreza ao observarmos, sob a linha
equinoccial, vegetação tão viçosa, tão útil e abundante.
Perguntávamos muitas vezes a nós mesmos se os dífi^erentes climas
da região equatorial seriam todos palustres, se n'elles poderia haver com-
pleta aclimação, e se os europeus poderiam entregar-se aos trabalhos
agricolas.
Para satisfazer a tão natural curiosidade, resolvemos desde logo com-
parar o clima do paiz, onde nos achávamos em serviço, como medico co-*
74
idnial, com o das príncipaes terras em iguaes condições de latitude, isto
è, com os paizes em que haja algum logar habitado e frequentado por
eiíropeos e em zero de latitude.
É este trabalho o i esultado das nossas primeiras investigações.
A ioná ^quatdriàl da Africa Centrai está, força è dizel-o, em más con-
dições de exploraçSo. O solo virgem, uma extraordinária força vegeta-
tiva è caminhos cobertos de detritos vegetaes sao elementos poderosos
para tornar insalubre a atmosphera nas suas camadas inferiores. Os ex-
ploradores correm de certo inuninente risco de vida, se andarem des-
providos dos meios necessários para annullar os effeitos da intoxicação
tellurica e miasmatica.
Quando as aguas do Oceano Atlântico cobrirem as areias do Sahará,
o clima da região equatorial da Africa será muito modificado, e podèr-
se-ha então fundar coloíiials agrícolas, onde hoje apenas pôde haver esta-
belecimentos ou feitorias commerciaes.
A formação de um grande mar interior não é o único meio para
animar o commercio e agricultura da Africa Central ; os rios Nilo ao N.,
o Zambeze a E., o Cunene, o Zaire e o Ogôoué, a 0., são outros tantos
canaes para $e penetrar no interior da Africa, não esquecendo o rio Niger,
cuja impoHancià é geralmente reconhecida. N'um dos maiores monumen-
tos lilterarios do secultt xix, disse um illustrado escriptor a propósito da
descoberta do rio Tchàdd: ,
«A influencia da civilisação europêa, os productos dos mercados das
nações colonisadoras podem penetrar pelos rios navegáveis como o Niger,
até ao Interior do continente africano, 100.000:000 de homens estarão
em contacto directo com a nossa civilisação, e novos centros commerciaes
apresentarão valiosos productos de que a industria se aproveitará em be-
neficio da graíide família humana; e essa immensa região inexplorada, co-
berta pelas trevas da ignorância, offerecerá novas correntes ás investiga-
ções das artes e do progresso ágricola ecommercial, apparecerão em fim os
thèsourôs de tão misteriosa quanto inexgotavel região, e as nações afri-
canas, saindo de um lelhargo immemorial, tomar-se-hão membros activos
e iltéis da humanidade, collocando-se também na grande estrada da civi-
liádçãò e do commercio. o
Eis-aqui em geral os paizes equatoriaes propriamente ditos.
Afrfcà èqtatdíi^ia]. — Pequena ilha das Rolas, 3S7 ao S. da ilha de S. Tho-
ffié, ào golfo dos Mafras, costa Occidental de Africa ; margem esquerda do
rio do Gabão fronteiro á ilha de S. Thomé, na terra firme; paiz de Olcanda
iti Otíeíitè do Gabão ; vasta superficie inexplorada tendo por limite o N., a
rêgliOf do largo Tchadd, Ouaday e Darfour, a 0. as terras banhadas pelo
rio (^6006, a E. dífferente^ lagos fieàíiâo sob o eqaador o chamado
Mroutan e o Nyanza, ao occidente do sultâtiado do Zanzibar na costa orien-
tal de Afnca; ao S. a parte septentrional de Angola; e, finalmente, O pe-
queno estado denominado Juba ao N. de Melínde, na costa de Zanzibar.
iBfriea eqvatfrial.— Àlbermarle no archipelago de Galapagos ou das
Tartarugas ao O. da republica do Equador e a 100 kilondétros do Pérú;
Pechincha na republica do Equador, costa occidental da America do Sul ;
parte meridional da Nova Granada; ilhas Caviana e Mexiana e a villa de
Macapè na margem esquerda da foz do rio Amazonas, na costa oriental
da America do Sul ; terras banhadas pelos differentes affluentès da mar-
gem esquerda do rio Amazonas, desde a sua foz até ao rio Negro, que
banha a região equatorial propriamente dita, e recebe diversos affluentès,
entre os quaes estão os rios Uaupes e Branco ; e muito especialmente de-
vemos notar o affluente que põe o rio Orenoque em communicação com
os rios Negro e Amazonas.
Oeeania equatorial. — Extremo N. de Batoe ou Mintau a O. da ilha de
Sumatra, residências de Padang e Indragire, na costa occidental e orien-
tal de Sumatra, levantando-se sob o equador o monte Ophir, que attinge
4:568 metros de altura; terras altas de Padang e parte central de Su-
matra; ilha Linga no archipelago cie Riouw-Lingga, situado a È. da iíha
de Sumatra; residência de Pontianak e districto- Sintang, na parte occi-
dental de Borneo, ficando algumas cidades em 0^ de latitude ; parte me-
dia da ilha de Borneo e principado de Koti ou Kotei na parte oriental;
ilha Celebes; a ilha chamada Tidore no archipelago dasMoIucas; Geiíolo;
a parte septentrional da ilha Waigiou e differentes ilhas pertencentes a
variados archipelagos da Oeeania equinoccial, como as do archipelago Gil-
ber, etc.
Todos os paizes que enumerámos ficam sob o equador, e trala-se de
conhecer se os europeus podem aclimar-se em taes regiões e entregar-se
aos trabalhos agrícolas.
É indispensável, pois, examinar a posição e orientação das principaes
localidades, estudar as povoações, productos agrícolas e fabris, o movi-
mento da população e a natureza pathologica do clima. Obtêem-se doeste
modo os elementos necessários para a classificação das regiões equato-
riaes que se acham nas condições da província de S. Thonãé e Principe.
f .® Afk*leA eqniilorliil
Uha da8 Rolas. — É pecjiíeiíír e^ta ilh*1, como já dissemos, abt/hda em
coqueiros, cuja exploração é feita por conta de um fazendeiro da ilha
76 '
de S. Thomé. Tem um edificio regular na costa, o qual está no rumo de 9°
NO. da ponta da ilha de S. Thomé, onde se levanta a pedra que tem a de-
nominação de Homem da Capa, 67®NE. da ponta da ilha denominada Baleia
e a 42° 5' para a ponta esquerda da bahia do logo-logo ou Boa Espe-
rança.
Em 4872, quando estivemos na ilha das Rolas, havia ali um feitor
com dez trabalhadores africanos e logravam todos boa saúde.
Margem esquerda do rio do Gabão. — É insalubre esta localidade, de-
vendo evítar-se a estada ali sempre que for possível. Pertence, como dis-
semos, á França, que a occupa apenas com armazéns de carvão. Na mar-
gem direita estão algumas casas de negociantes francezes, o palácio do
governador, hospital e outros estabelecimentos, formando uma aldeia
que se denomina Librezille. O que se pôde afiançar, porém, é que é um
protectorado e não uma colónia ou possessão propriamente dita. Não
passa de uma feitoria commercial e faltam-lhe muitas condições para po-
der ser colónia agrícola.
A região do Gabão pertencente aos francezes não está calculada, igno-
rando-se a superficie e limite. A zona marítima é carecterisada pelos man-
gues que, segundo a opinião de alguns médicos, se por um lado favorecc-
cem a formação de pântanos, difiScultando a evaporação das aguas pluviaes,
por outro protegem as habitações francezas, abrigando-as contra os ven-
tos terraes e emanações dos charcos.
Os rios Como e Bamboe foram explorados por M. Touchard, cirurgião
naval de 1 .^ classe.
Os padres da missão catholica ali estabelecidos fizeram um vasto e
mimoso jardim, onde, a par dos fructos tropicaes, crescem hortaliças c
legumes. E importante esta missão, e representa o principio fecundo da
civilisação d'aquella larga região equatorial.
Vasta regiio ineiplorada desde o paiz de Okanda até ãs terras altas ao oceidente
do sultanado de Zanzibar.— Esta zona equatorial chama actualmente a atlen-
ção da Europa sabia, que se empenha muito para a sua exploração.
Os inglezes e allemães protegem os viajantes que se offerecem para
percorrer a Africa Central; é também indispensável que não desampare-
mos um emprehendimento de tanta vantagem para a sciencia e para a
humanidade, cujos laços se estreitam cada vez mais, não tardando talvez
o dia em que todos os homens formem uma só familia.
Pequeno estado denominado Juba. — Não ha informações doeste paiz que
mereçam divulgar-se.
77
CommaBicicio entre Moçanbiqne e Angela. — A Africa equatorial nao está
ainda aberta ao commercio, e desconhecem-se as suas riquezas naturaes;
mas niío acontece o mesmo ás terras da Africa tropico-equatorial no in-
terior de Angola e Moçambique, que vão sendo exploradas, ainda que
vagarosamente.
Urge, pois, que acordemos do lethargo em que ás vezes caímos por
annos successivos, esquecendo-nos de que somos uma das primeiras na-
ções coloniaes da Europa; cumpre-nos proseguir quanto antes as viagens
entre a província de Angola e Moçambique, tirando d'elias todas as van-
tagens que podem obter-se, já em relação ao commercio, já em relação
á aclimação, agricultura e emigração dos portuguezes.
Em dezembro de 4854 lamentava o sr. Vasco Guedes de Carvalho e
Menezes, governador de Moçambique, que alguns mouros que ali chega-
ram fizessem a viagem de Benguella á contra-costa sem irem acompa-
nhados de pessoa instruída, que descrevesse as differentes localidades
por onde passavam.
Os negociantes a que se referia o governador foram portadores de
um oflicio do governador de Angola e gastaram na jornada quinze mezes
e três dias.
É realmente para lamentar que estas e outras viagens não se realisas-
sem em boas condições, mas é tempo ainda de se attentar em tão impor-
tante assumpto.
É necessário, não cessaremos de repetir, que se abram communicações
amiudadas entre os povos de Angola e os de Moçambique e que nos mos-
tremos tão bons colonisadores no século xix como ousados navegadores
fomos no Am do século xv e no xvi.
É indispensável confessar, todavia, que desde ha muito que se pensa
em estabelecer communicações por terra entre Angola e Moçambique, e
vem a propósito dar por copia as seguintes informações que em 1867
foram transcriptas nos annaes do conselho ultramarino:
cA primeira tentativa para abrir esta communicação entre as duas
costas, de que tenho achado memorias, foi no tempo do governador de
Angola, D. Manuel Pereira Forjaz, cujo governo começou em 1606.
cBalthazar Pereira de Aragão, militar resoluto, foi o encarregado d'esta
expedição; porém, estando já em caminho, teve de retroceder para acudir
á fortaleza de Gambambe, que se achava sitiada pelos negros revoltados.
tD. Francisco Innocencio de Sousa Goutinho renovou a tentativa, mas
também a não pôde levar a effeito. Seu neto D. Rodrigo de Sousa Gouti-
nho (conde de Linhares), homem de vastas concepções e bastantemente
illostrado, apenas entrou no ministério dos negócios da marinha e domí-
nios ultramarinos, proseguiu na mesma empreza; e para a sua execução
dpsigqpu a f ra|[^pi$co José de L^^rdq a 4lR^Í(la* doutor em mathema-
tica, poQ^e^ndo-o com esta^ vistas governador dos Rios de Senna, d'0Dde
devi£) s^if* a pxpe4Jc9o.
ff(,acerda partiu^ de Lisbo^ munido dos instrumentos necessários, e
chegando ás terras do seu governo, procurou as informações e noticias,
de que «^presentq a3 peça$ que pvidp obter, e poz-se a caminlio para o in-
terior da Africa com grande ardor. Chegou até ás terras do vei-Cazembe,
que parece serem po ponto mai3 cep(ral entre as duas costas, sem encon-
tv^v obstáculos; e ahi fallepeq, sucpumbindo ás inclemências do clima.
Deixou ]i[p roteiro da sua yi^gem» que eu não pude alcançar, nem sei
que exista; e tal era o seu eiqpenho pela conclusão da empreza, que es-
creveu up^a espécie de testamento, em que recommendou aos seus com-
panheirp$, ç^ne prosegu^ssem n^ $ua derrota até chegarem ao seu destino :
reçomn^endação a qpe elle^ não annuíram. É esta a mallograda expedi-
ção, ^Q q^^ se lembra M. Salt pa sua Viagem á Abyssinia.
«Os acontecimentos políticos e militares da Europa, e a complicação que
d'elles re^ultQu aq conde dp Linl^ares, desviaram o ministério de dar
attenção aq3 negócios do interior da Africa. Q conde de Porto Santo, to-
mando conta do governo de Angola em 1806, fez reviver o projecto,
servindo-se para es(e 0m das (^iUgencías do tenente coronel de milicias,
Francisco !)onor^tp da Costa, homem que tinha algumas luzes e muito
pratico no paiz e que vivia retirado no presidio de Pungo Andongo, Foi
nopieadp, e^t^ h9,í9<^ui director d^ feira de Cassange nas terras do Jaga
d'esle non^p, ultimo ^os régulos avassallados a Portugal n'aquella direc-
ção; e por este meio se adqiMriu conhecimento da nação dos Molluas e se
entrou em communicação com o potentado Muata Yambo.
cAs terfas de Ca$sange fic^^ aq Np), de Angola: passadas estas encon-
tra-se um gr^n^e rio, que se suppôe $er p Zaire; e alem d'este rio ficam
03 l^ollua^, e reinav2\ o Muata Yambo.
«Este potentado mandou uma embaixada ao governador de Angola,
que recebiiu os embaixadores com grande ceremonia, como se fossem
de uma nsjç^o europea; e por meio d'elles, e dos pumbeiros de Francisco
HonoratQi, que os vieram acompanhando, se adquiriram algumas noções
sobre as t^fras do interior. Soube-se alem d'isso que estas terras se com-
municavan^ com a costa oriental, por se conhecer que d'ella eram proce-
dentes alguns dos objectos que os embaixadores traziam de presente,
ipela mesnia via se conseguiram noticias do rei Cazembe^ que se dizia ser
tributário ao MuaJía YambOj e que lhe pagava um tributo de sal marinho
vindo da mesma costa oriental.
«Prepç\rado o conde de forto Santo com estes conhecimentos, despa-
clj^ou em fim os se^s emissários, mas çm quanto estes caminhavam para o
78
oriente com ordem de não pararem em quanto Dão cheg^$$em á:^ terras
da capitania geral de Moçambique, acabou o coude o seu governo, e re?
tiron-se, sem ter mais noticia d^elles.
cSoccedeo-lbe José de Oliveira Barbosa; e foi este o que repolbeu Q
firucto de tantas diligencias, porque foi o que conseguiu que um negro,
ofBdal da companhia chamada dos Henriques, atravessasse aquell^s dila*
tados sertões, e lhe trouxesse as cartas do governador de Moçambique.
Ficou porém inútil este descobrimento pela qualidade do emissário, que
nada podia adiantar relativamente ás sciencias, á politica e ao conuaercíQ :
ficoo somente demonstrada a possibilidade da communicação por terra
entre as duas costas.
c Impedimentos physicos não os ha, senão os que resqltaip da situação
d'estes paizes e são conununs a todos os outros p^izes ^a Africa cplloca-:
dos na zona tórrida; impedimentos moraes ha aquelles, que pàde oppor
a inhospitalidade dos povos que os habitam.
tHa poucas terras no mundo habitado, cuja geographia seja mais in?
certa do que aquellas, que atravessa a linha de communicação entre An-
gola e as nossas possessões de Africa orientai. N'esta direcção, segundo
as descrípções dos geographos, discorrem e devastam o inlerior do paii
algumas tribus nómades e barbaras dos Jagas, que não cultivam a terra,
nem possuem gados, senão aquelles de que se apoderam na guerra. 9
A costa equatorial de Africa, quer ao oriente quer ao occidente, foi des-
coberta pelos portuguezes. Fomos nós quem primeiro eptrámps nQ rio do
Gabão; foi Portugal a primeira nação da Europa, cujos pavios, dobrando
o cabo da Boa Esperança, aportaram a Melinde que está para a costa orieur
tal da Africa como o Gabão para a occidental.
A passagem sob o equador no Oceano Atlântico e mar das índias pe-
los navegadores portuguezes não podia ser indífferente ao nossQ afamado
épico. Consagrou-lhe elle uma estancia da sua epojiéa, que aqui repro?
duzimos, porque nos dá idéa da estação equatorial.
Assi passando aquellas regiões,
Por onde duas vezes passa Apolio,
Dous invernos fazendo, e dous verões,
Emquanto corre d'hum ao outro poio :
Por calmas, por tormentas e oppressões,
Que sempre faz no mar o irado Eolo,
Vimos as ursas, apesar de Juno,
Banharem-se nas aguas de Neptuno.
(Camões, canto v, estancia xv.)
Esteve João de Barros, o Tito Livio portuguez, na costa da Mina, foi
Luiz de Camões á índia, viveu Diogo do Couto por muitos annos em Goa,
e tantos generaes e homens iUustrados se afamaram nas terras de Africa,
80
da Ásia e Oceania que bastaria nomeal-os para nos empenharmos no en-
grandecimento, progresso e civilisaç3o das terras em que elles viveram, e
que representam ainda hoje uma superficie de mais de 1.921:915 kilo-
metros quadrados, a qual excede muito a de toda a França e nos colloca
no quarto logar, como estado independente e colonial da actualidade. Mas
faita-nos explorar o interior da provincia de Angola e Moçambique. É para
ali que deve encaminhar-se a emigraçSo portugueza, sendo aqueile im-
menso território objecto da nossa attençSo, como a índia o foi nos últi-
mos annos do século xv.
Preparou-se então a primeira armada, que, sulcando mares desco-
nhecidos, passou sob o equador, em frente das ilhas de S. Thomé e Prín-
cipe, fundeou na bahia de Santa Helena e, n'uma quarta feira, no memo-
rável dia 22 de novembro de 1497, dobrou o cabo das Tormentas.
Vasco da Gama, observa o illustre H. Major, passou com vento á
popa o temeroso cabo, a que el-rei D* João II deu o immortal nome de
Boa Esperança, antecipando o feito que já estava próximo de realisar-se.
Entrou a armada na bahia de S. Braz a 25 dehovembro e ancorou
a 14 de março em frente da ilha de Moçambique. Surgiu depois, passa-
das as ilhas Querimí)as, em Mombaça e mais tarde em Melinde, a pouca
distancia do equador, sob o qual repassavam de novo os corajosos nau-
tas, que ensinavam o caminho das terras equatoríaes que, no século xvi,
foram habitadas por portuguezes.
Quinta feira 17 de maio de 1498, diz H. Major, avistou Vasco da
Gama, pela primeira vez, uma terra alta, a distancia de oito léguas; era
a índia, objecto de tantas anciedades e de tantos annos de esforços per-
severantes.
Não podemos deixar de nos recordar d'esta arrojada empreza que
nos approximou de Goa, Malaca, Timor e das ilhas das Especiarias, nem
duvidámos comparal-a, no grande pensamento que a iniciou, na sua im-
portância politica e cominercial, com a que hoje nos esforçámos em rea-
lisar, mandando explorar o interior da Africa portugueza, d'onde pode-
remos tirar o café, o algodão e o assucar, e muitos productos que por ali
jazem enterrados.
Gumpre-nos, pois, explorar as terras que ficam entre Angola e Mo-
çambique, fronteiras uma á outra, e já percorridas, como acima disse-
mos, por differentes sertanejos e negociantes. Não está todavia examinada
a hydrographia, nem os melhores meios de communicação, desconhe-
cendo-se também os logares mais férteis e salubres, assim como as con-
dições especiaes que elles offerecem para uma colonisaçao regular. A na-
ção que hoje melhor sabe colonisar, é de certo a que promette um fu-
turo mais prospero, uma vida mais prolongada.
Rua de mangueiral e jaisbeitas m lateada S Jcío em iu^ola
81
Nao se trata, portanto, de tim simples itinerário, nem do reconheci*
mento isolado das posições astronómicas. O fim é mais iargo, o problema
mais difficil ; mas não é este o logar próprio para discutir tio alto e
momentoso assumpto. Paliaremos d'elle mais adiante, aqui só queremos
mostrar a importância que lho attribuimos, e registámos com prazer
os esforços que se empregam para se levar a cabo, com feliz resultado,
o maior emprehendimento dos portuguezes do século xix. Fazemos vo-
tos para que da sua realisação nos resulte um império africano, como no
século XVI tivemos o império do oriente.
9.*— AMierlea e^aatorlal
A America equatorial compõe-se do archipelago de Galapagos, das
republicas do Equador e da Nova Granada, da província do Amazonas, no
império do Brazil, e das ilhas da foz do rio Amazonas. Esta região equí-
noccial, segundo a classificação que adoptámos, estende-se ao S. e N.
do equador por uma zona de 23^ de largura. Nós, porém, attendemos
apenas aos paizes que, ficando sob a linha, não se afastam muito d'ella, e
nomearemos sempre todos os estados que actualmente conservam sua in-
dependência.
Não estamos, pois, de accordo com os escriptores que, fallando dos
actuaes limites do império do Brazil com outras nações, deixam de se re-
ferir á republica do Equador. Forma ella um estado independente e como
tal deve ser considerada, quando se trata da moderna geographia physica
da America equatorial. Daremos portanto uma breve noticia das terras da
America do Sul que se acham sob a Unha equinoccial, desde o archipe-
lago de Galapagos, ao occidente, até ao da foz do rio Amazonas, ao oriente'
da America meridional.
Albenarle e as ilbas Galapagos. — A ilha Albemarle, a mais septentrional do
archipelago Galapagos ou das Tartarugas, tem 127^,7 kilometros de com-
primento por 88^,9 de largura. Todas estas ilhas pertenceram antes de
4854 á republica do Equador, e estão hoje sujeitas aos Estados Unidos
da America do Norte, que as obtiveram, segundo diz Larousse, por
ã.700:000^SK)00 réis.
A ilha de Albemarle é atravessada pelo equador e tem, segundo di-
zem, cinco vulcões.
O aspecto d'estas ilhas é selvagem e imponente. Abundam em tartaru-
gas, que são as maiores que se conhecem, pesando algumas 200 e 300
kilogrammas^ e servem para alimentação. Encontram-se também algu-
mas plantas que ainda não foram descobertas n'outra parte do globo.
A descripção feita por Larousse com respeito a estas ilhas, mostra que
82
não téem sido procuradas para colónias agrícolas, e que para ali eram man-
dados pelo governo da republica do Equador os malfeitores. Têem bons
portos e fundeadouros que ficam a 1:411 kiiometros a O. da costa
continental. Algumas d'ellas téem agua corrente, e em todas se pôde
aproveitar a agua da chuva. Tornaram-se notáveis desde que foram visi-
tadas pelo celebre naturalista Carlos Darwin. Este eminente sábio diz que o
archipelago Galapagos é per si só um pequeno mundo ou antes um satel-
lite da America do Sul, d'onde recebeu alguns colonos nómadas e dea
seu cunho geral ás producções indígenas. Quando se attenta Ba peque*
nez doestas ilhas, observa o celebre viajante, admirámo-nos de encontrar
ali tantas creações novas, circumscríptas em tão limitado espaço. Mas,
exclama eni seguida o mesmo naturalista :
cGomment tant de force créatrice a-t-elle été dépensée pour peupler
ces rocs nus et stéríles? Comment ceite force a-t-elle agi d'une façon di-
verse, et pourtant analogue, sur des points aussi rapprochés? Les especas
nouvelles ont-elles été créés isolément? ou sont-ce des variétés de quel-
ques types origínaux, créés primitivement ou importes, et que des con-
ditions aotres ont modifié?»
Carlos Darwin tratou doestas importantes questões no seu livro Ori^
gem das espécies, assumpto de que nos occuparemos na secção vn doeste
trabalho, abstendo nos por emquanto de entrar em largas considerações
a tal respeito.
Repablita do Equador. — Importa muito conhecer este paiz equatorial:
consíderámol-o como uma das principaes regiões que se acham sob o
equador, e como uma das maravilhas do universo. Tem ao N. a re-
publica da Nova Granada, a E. a provincia do Amazonas no ímpeno do
Brazil, ao S. o Peru e a 0. o Oceano Pacifico. A sua superficie está calcu-
lada em cerca de 650:000 kilomelros quadrados. Mede de E. a 0. 1:225
e de N. ao S. 840.
Estende-se desde 6"" de latitude S. a(é 2'' de latitude N., isto é, pro-
longa-se de 222^,2 para o N. do Equador e o dobro para a parte inferior
óu S.
Muitos pontos equinocciaes, aquelles em que a latitude é milla, cor-
respondem á largura do paiz, sob os quaes passa o rio Ica ou Putumayo,
que o atravessa de NO. a SE., e que é um dos afliuentes da margem es-
querda do Amazonas.
Os rios da republica do Equador dividem-se em duas classes; uns
descem das grandes montanhas que cortam o paiz e desaguam no Oceano
Pacifico, e outros correm para o levante e vão despejar no Amazcmas
oa em algum dos seus afQuentes.
9»
Pare lismr-M idéa da elevada posH^io da eidade de Quito, capital da
r^ublica do Equador, basta Dotar-se que está collocada em uma pia-
Dara aecídMtada, n'iima altura acima do uivei do mar, que è superior á
da sem do liarão, addicionada com a do Oerez, e d'oDde se avistam moD-
tanbas mais altas que a da serra da Estrella I
Os cumes das dezoito príDcipaes mo&tanhas do Equador estão entre
4:S18 e 6:B30 metros de altitude* O vuloio de Pechincha e o Gayambé
ficam sob a linha equinoccial, tendo um S:9S4 metros acima do nivel do
mar e o outro 4:885. O mais alto de todos é o Cbimborazo cuja altura
attínge 6:630 metros.
Os mcmtes mais elevados das cordilheiras formam como uma dupla
crista ; os cumes príncipaes esltão cobertos de gelos, e foram escolhi-
dos pelos académicos firancezes quando trataram de medir o grau equa-
torial.
Não cabe, porém, nos limites d'esta obra a descripção das bellezas de
tio notáveis panoramas, nem a da vegetação que borda os rios ou forma as
immeosas Arestas que causam assombro a quem viaja n'aquelle extraor-
dinário paiz. O nosso estudo não p^mitte que nos afastemos dos pon-
tos que se acham sob a linha equinoccial, podendo reputar-se sem im-
portância a extensão de SOO a 600 kilometros ao N. ou ao S. do equa-
dor, de modo que a villa dos Angolares na ilha de S. Thomé, em cerca
de 7' 12" de latitude N., pode considerar-se em condições iguaes ás da
ilha das Rolas, que fica sob aqueiia linha, assim como algumas povoações
das rqmblicas do Equador e da Nova Granada são consideradas como
sob-eqoatoriaes, visto estarem a poucos kilometros ao N. ou ao S. da
linha equinocciah
A G^Nlal da repubUoa esti em 13' ao 8. do equador próximo do vul-
cão da província denominada Pechincha^ 3:200 metros acima do nivel do
oceano. £ si^eíta a tremores de terra, e se não tivesse esta má condição
seria um paiz inoomparaveU fi, porém, certo que todos os viajantes, en-
tre os quaes se conta Humbold^ faliam eom entbusiasmo d'este paiz* As
palavras d'este sábio toem sido repetidas muitas vezes e não vem fóre
de propósito reproduxil-as aqui :
tQuem vive por alguns mezes sobre as alias planuras da republica do
Equador experimenta irresistivelmente uma iHusão extraordinária; esqu»*
ce-se a pouco e pouco de que essaa cidades industriosas que o cercam,
esses pastos em que se apascentam rebanhos de carneiros e de lamas,
esses prados orlados de variadas e productivas arvores, esses (&mpos,
em fimi cultivados com todo o cuidado e promettendo abundantes colhei*
taSi estão suspensos nas altas regiões da atmosphera, e não pode imagínar-
se que o solo em que se acha esteja mais elevado acima do Oceano Pacifico
84
do que o pico Ganigoo nos montes Pyrenéos sobe acima do Mediterra*
neo.»
Não sao somente causa de admiração os panoramas que se desenro-
Iam diante do observador que percorre as provindas septentrionaes
d'aquella republica, pois não é menos digno de notar-se, para o caso de
que nos occupámos, o movimento da população.
Trata-se de um paiz equatorial. A sua capital» afastada apenas 24 ki-
lometros do Equador» tem quatro vezes mais habitantes do que a cidade
de Braga, capital da pittoresca província do Minho em Portugal. E não
vem fora de propósito observar que metade da população é composta
de europeus, cujos descendentes se calculam em cerca de 36:000 almas,
o que prova evidentemente que é possível a aclimação dos europeus sob
o equador; por isso não duvidámos comparar aquelle paiz com as zonas
tropico-equatoriaes da Africa portugueza que tem tão boas condições de
fertilidade e benignidade de clima como os melhores paizes do mundo.
Estes assumptos hão de ser tratados em outras secções d'este trabalho
e mostraremos então que, assim como n'estas regiões privilegiadas,
também entre as nossas províncias de Africa se nos deparam terras em
condições similhantes ás da ilha da Madeira ou ás da região em que se
levantam as cidades de Braga, Guimarães, Yianna do Gastello e outras
povoações de Portugal.
Republica da NoYa Granada.— A parte meridional d'este paiz tem alguns
logares em 0° de latitude, e por isso designaremos os limites d'elle e da-
remos a notícia geral da sua posição e extensão. Este paiz offerece con-
dições especiaes dignas de attenção, muito vantajosas para a questão de
aclimação e colonisação das zonas que se acham sob a linha equinoccial.
A immensa cordilheira que se prolonga do S. ao N. na republica do
Equador, penetra nas terras da republica da Nova Granada e divide-se
em três ramos denominados oriental, central e occidental. Estendem-se
na direcção do N. e vão gradualmente diminuindo de altura até se reuni-
rem em cerca de 6^ a 7^ de latitude N., e chegam a confundir-se com a
costa banhada pelo Oceano Pacifico ou pelo mar das Antilhas, d'onde se
avista a chamada serra nevada de Santa Martha, que se levanta no extre-
mo N. do paiz. A costa por este lado é formada de montes altos e áridos,
sendo uns cortados a pique e tendo joutros ladeiras mais ou menos incli-
nadas.
No famo oriental a altura media è de 4:000 melros; no central ha pi-
cos coroados de neve, cuja altitude se calcula em 4:900 a 5:500; no occi-
dental os alto-planos e os montes são menos elevados e chegam apenas
a 1:500 metros acima do nível do Oceano.
85
Ha grande dífferença entre as cordilheiras da republica do Equador e
as da Nova Granada. Esta dífferença, diz Malte-Brun, consiste na dispo-
sição em que se acham os montes de uma e de outra região.
Na republica do Equador são diversos os alto-planos que separam as
montanhas que lhes ficam sobranceiras. Ha planuras que se abrem a
2:750 metros de altitude, ficando mais altas do que as nossas serras de
Montejunto, Estrella ou Suajo. Na republica da Nova Granada os montes
e as cordilheiras são separadas por inmiensos valles e bacias de grandes
rios, cujos leitos não se erguem a muitos kilometros de altura.
A provincia da republica da Nova Granada que se avizinha mais da
linha equinoccial chama-se Los Pastos, sendo ao S. que as cordilheiras
dos Andes se dividem, distingnindo-se, como dissemos, as que ficam
sob a linha equinoccial d'aquellas que atravessam o território da repu-
blica.
Se as montanhas da Nova Granada são dignas de attenção, os rios a
que ellas dão origem, as catadupas enormes que formam, as cascatas, os
saltos ou immensas quedas de agua que frequentemente se observam
constituem phenomenos extraordinários n*aquelle paiz, que tem sido cui-
dadosamente estudado pelos mais afamados naturalistas do mundo.
O solo da republica da Nova Granada é banhado por diversos rios,
sendo o maior de todos o Magdalena, o qual, depois de receber as aguas
do Cauca, a 200 kilometros da foz, vae desaguar no mar das Antilhas.
Ambos estes rios percorrem a região septentrional do paiz, nos valles
profundos dos Andes. O rio Magdalena é mais extenso, sendo navegável
até cerca de 556 kilometros da sua foz; alem d*este e do seu afiluente
principal deve nomear-se o Atrato, que desagua no golfo Darien.
Para se apreciarem as correntes que banham as terras d'esta repu-
bhca, reproduziremos as palavras do illustrado geographo Malte-Brun :
«A Nova Granada está n'uma das mais felizes situações hydrographi-
cas; communica por um lado com o Oceano Pacifico, para onde correm
os rios de menor volume de agua, por outro com o mar das Antilhas,
sendo notáveis as cidades de Carthagena e Santa Martha, e finalmente,
com o Oceano Atlântico por meio dos rios Orenoque, que lhe banha a
fronteira, e dos affluentes do rio Amazonas.»
A republica da Nova Granada divide-se em differentes províncias cujas
capitães de maior nomeada são Santa Martha, Carthagena, Soccorro, Bo-
gotá, Medellin, Popayan, etc.
A cidade de Popayan foi outr'ora florescente, mas hoje está muito
decaída, tendo servido de estação commercíal entre as cidades de Car-
thagena e Quito. A respeito da provincia Antioquia, de que é capital Me^
dellin, e da planície em que ella está assente^ diz o doutor Saffrayi
m
tLimitada de am lado pela cordilheira occidental dos Andes, ao pé da
qual corre o rio Cauca, a província de Antioquia é atravessada por nu-
merosos ramos da cordilheira central, que formais, a uma altitude media
de 2:500 metros, planuras accidentadas em que reina por todo o anno
o clima da França, na primavera, t
Entre todas as povoações, a que merece especial menção é a cidade
principal, que se chama Santa Fé de Bogotá, e é a capital da republica.
Tem, segundo Malte-Brun, cinco soberbas pontes e approximadamente
40:000 habitantes. Está situada, diz aquelle sábio geographo, na mar-
gem esquerda do rio de Bogotá, n'um dos mais pittorescos e mais férteis
valles da America do Sul, próximo a um dos ramos da cordilheira dos
Andes, a mais de 2:600 metros de elevação acima do nivel do mar.
Os terrenos s3o férteis, mas os príocipaes produclos de exportação
são o Índigo e as pelles. Possue minas de carvão, oiro e prata; têem appa-
recido esmeraldas, diamantes, etc. Produs milho, café, cacau, assucar,
tabaco e outros géneros.
Terrenos banhados por diibrentes s^flluenles da niargoM esqierda do rio Ana-
zonas. — A região equatorial do Brazil comprehende grande extensão de
terras desde a foz do Amazonas, na costa oriental da America do Sul, até
ao extremo oriental da nepublica do Equador, sendo a distancia enlre os
dois pontos extremos 1:725 kilometros.
O rio Uaupes, poucos kilometros antes da foz do afiQuente Tiquie,
corre quasi sob o equador até se reunir ao rio Negro na margem esquerda,
um pouco acima da villa de S. Joaquim. N'este ponto^ o rio Negro, des-
cendo do N., recurva-se e dirige-se para o nascente, tomando uma di-
recção quasi parallela á linha equinoccial até aos aâluentes Xibaru, na
margem direita e Padavixí na esquerda. Começa então a descer para SE.
até encontrar o rio Branco, reunindo-se n^um só leito e desaguando no
Amazonas, junto á cidade de Manáos, capiial da província. A região equa-
torial compõe-se da província do rio N^ro ao S. da republica da Nova
Granada, das terras banhadas pela região inferior do rio Branco e pela
Guyana brazileira, ao S. das Guyanas franceza, hoUandeza e ingleza. É ne-
cessário dizer-se que, em 1876, a província do império do Brazil, denomi-
nada Amazonas, confina com as Guyanas, Estados Unidos da Venuzuela,
republicas do Equador, Nova Granada e Peru, e com as províncias bra-
zileiras do Matto Grosso e Pará. O diccionario de Larousse nio descreve
a província do Amazonas, e em algumas publicações portuguezas publi-
cadas modernamente, como já dissemos, não se falia da republica do
Equador quando se traia dos limites do império do Brazil.
Descemos a estas mínuciosidades, porque o medico hygienista, para
87
avaliar o clima patbologico de qualquer paiz, precisa conhecer a sua posi-
fio e ext^QsSo» as relações em que está com as regiões mais próximas e a
f&rma que ellas apresentam, as relações em que se acham as montanhas
que o atravessam, os rios que o banham, etc. Assim como não pôde haver
bom medico operador sem conhecer a topographia anatómica, do mesmo
modo não se pôde ser bom hygienista, quando se desconheça a topogra-
phia geológica das localidades, e suas relações com as terras que lhes
&am mais próximas.
Alinha equinoccial, depois de dividir os rios Negro, Branco, Jamandá,
TnHnbetas, Pará, etc., passa na parte meridional da villa e forte de Macapá,
edificado na margem esquerda da foz do Amazonas que em frente d*esta
villa tem 33 kilometros de largura; mas a abertura da foz mede-se entre
o cabo Razo ou do Norte e a ponta Maguary, na ilha de Marajó, avalian-
do-se esta distancia em 250 kilometros.
A provincia do Amazonas tem uma superfície de 1.951:407 kilometros
quadrados e apenas 57:610 habitantes, cmquanto que a provincia da Ba-
hia, com uma superfície 3,7 vezes menor, tem uma população 22,4 vezes
maior do que aquelia. Não se dá apenas este caso entre as provindas do
Brazil, e, para tomar bem saliente a pouca população da provincia equa-
torial d'este império, notaremos que a provincia e Minas Geraes é 3,1 ve-
zes menor que a do Amazonas, emquanto que a população d'aquella é 34
vezes maior do que esta.
Ao centro da região equatorial da America vae ler o rio Orenoque, en-
tre o qual e o rio Negro ha o canal Cassiíiiiari ou os rios que saem das
republicas do Peru, do Equador e Nova Granada, e vão reunir-se ao Ama-
zonas.
Todos esses rios têem sido percorridos por differenles exploradores,
subindo também alguns d'elles desde a foz do Amazonas até ao rio Napo,
que banha a republica do Equador em toda a sua extensão de NO. a SE.
£ de esperar que em breve tempo se ligue o Amazonas com o rio de ta Plata,
cujos affluentes príncipaes nascem a pequena distancia uns dos outros. Ê
portanto muito fácil activar a colonisação da região equatorial da Ame-
rica, se attendermos á possibilidade de se utilisarem tão importantes vias
fluviaes. N2o descansam pela sua parle os poderes públicos do império
do Brazil, convencidos de que é irrealisavel a colonisação sem se abii-
rem communicações entre os centros mais ferieis, e por isso protegem
as companhias de vapores que no rio Amazonas e seus affluentes estabe-
lecem relações n'uma entensão de 9:000 kilometros.
Ilhas 4a foz do Amazonas.— O equador passa em algumas das ilhas que
se acham na foz do rio Amazonas, contando-se n'este numero a Cavia^ai
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Mexiana e Jarupary, segundo se vé de alguns mappas geographícos. Ha,
porém, outras ilhas que estão mais para o interior do rio ; uma d'ellas é
immensa, n3o fica sob o equador, mas divide o Amazonas em dois ra-
mos, dlrígindo-so um para NE. e outro para S., formando o rio Mara-
nhão ou do Pará.
O Amazonas, desde a foz do Xingu, aflluente da margem direita, até A
ilha Gurupá, dirige-se para o N., e, alargando-se em seguida, dá origem
a um grande seio triangular, onde se acham diíFerentes ilhas. É hmi-
tado ao N. pela margem esquerda do Amazonas, ao S. pela direita e a E.
pela costa occidental da ilha Marajó, que se torna notável por separar
O curso do Amazonas, formando o braço meridional que recebe diffe-
redtes rios, banha a cidade do Pará e desagua no mar entre a ponta
álaguary na ilha Marajó e a Tijoca no continente^ ficando ali a barra do
rio do Pará.
A ilha Marajó ou Joannes, como outros lhe chamam, não tem me-
nos de 135 kilometros de N. a S. e 185 de E. a O. É productiva, ali-
menta muito gado, que ali se reproduz com extrema facilidade, tem
muita agua corrente e não são altos seus terrenos. Do archipelago do
Amazonas não temos minuciosas informações, nem se falia dos seus pro-
ductos nos trabalhos de que temos conhecimento. Parece-nos ainda assim
muito importante, não devendo esquecer-se as duas maiores ilhas que se
acham sob a linha equinoccial, as de Mexiana e Caviana.
••<>— Oecanla equatorial
A divisão geographica da Oceania mais geralmente seguida é a se-
guinte: Micronésia (pequenas ilhas) ao NO., composta das ilhas de Ma-
galhães ou Genin, Sima, Mariannas, Carolinas, Palaos, Marshall e Gil-
bert; Melanesia (ilhas negras) a SO., comprehendendo a Austrália ou
Nova Hollanda, Tasmania ou Terra de Diemen, Papouasia ou Nova Guiné,
Novas Hebrides, Nova Caledónia, ilhas de Salomão, do Almirantado, da
Luziada e Viti ou Tidgi, etc.; Malásia (archipelago asiático) a O., que
abrange as Filippinas, Molucas, Gelebes, Borneo, Sumatra, Java, Timor,
Sumbava, etc; Polynesia a E., onde se encontram as ilhas Sandwich ou
Hawao, Marquezas, da Sociedade, dos Navegadores, Tonga ou dos Ami-
gos» Pomotou ou Tormetoa, Fidgi, Nova Zelândia, etc. Mas nós occupá-
mo-nos especialmente d^aquellas cm que ha localidades collocadas sob o
equadar em 0^ de latitude, como por muitas vezes temos declarado.
Se ha região que devamos memorar, a Oceania equatorial é uma d'el-
las. O que ali fizemos por largos annos, os feitos tão celebrados por tan-
tos escriptoresi não podem de certo repetir-se n'este togar, mas é-nos ím«
89
possível fallar de Sumatra, da Gelebes, de Ternate e de outros territórios
da Malásia sem nos recordarmos de que por tantos annos habitámos
aquellas regiões. Foram os portuguezes os primeiros europeus que as po-
voaram, confiados apenas no amor de Deus e da pátria. Devemos comme*
morar o anno de 1544, em que descobrimos as ilhas das Especiarias,
chegando ali em 4548 D. Tristão de Menezes para fazer conmiercio com
os reis d*aquellas ilhas. É portanto evidente que as Molucas foram des-
cobertas pelos portuguezes e não pelos hespanhoes, como se diz no dic-
cionario de Larousse.
Cumpre-nos, finalmente, relembrar o tempo em que António Galvão
viveu nas ilhas Molucas.
Foi este illustre governador homem de excellentes virtudes, e para
lhe prestarmos honrosa homenagem reproduzimos, em 1876, um trecho
da chronica que d'elle nos legou o nosso João de Barros em 4556.
€ António Galvão era bemquisto dos Portuguezes^ e a todos obrigou com
muitos benefícios, que lhes fez; porque devendo-lhes os Mouros muitas di-
vidas de seus contratos, e distratos, que faziam entre si, que os Capitães
passados nunca foram poderosos para lhas fazer cobrar^ elle fez com
que de boa vontade, e sem contenda lhes pagassem; e devendo ElRey de Por-
tugal muitos soldos, e mantimentos aos Portuguezes, que estavam em Ter-
nate, não tendo seus Feitores dinheiro, elle o emprestava com grande perda
sua: da mesma maneira gastava do seu com os doentes, que curava d
sua custa, e em obras pias que fazia aos que cahiam em necessidade; e como
hum dos frutos da paz he o ornamento, e concerto das cousas públicas,
naquelle tempo em que se vio quieto reedificou a fortaleza de edifícios, e
officinas necessárias de pedra e cal, que antes ao costume da terra eram de
cannas, e materiaes fracos, e tudo cercou de muro. Aos Portuguezes fez
edificar suas casas de pedra, e cal, e com chaminés ao nosso modo, com que
aquella povoação ficava parecendo de Portugal; e por a entrada do porto
ser difficultosa, por hum penedo qtte estava no meio da barra, mandou que-
brar este penedo, e levantar tanto o arrecife que ficou feito hum molle,
com que o porto ficou fácil, e seguro. E porque o que áquella fortaleza
mai$ cumpria era ter gente arreigada, que por qualquer leve cousa se
lhes não fosse, como muitas vezes se fazia, ficando a fortaleza só sem
ter quem a defendesse, formou huma nova colónia, fazendo com ElRey
CaMl Aeiro que desse terras aos Portuguezes que lavrassem e plantas-
sem, com que fizeram quintas, em que traziam muito género de gado e
ave; e para ornamento da Cidade trouxe agua de três léguas por canos
de que a gente e os gados bebiam e se regavam as hortas e os pomares, e
aseim inêitau com seu exemplo aos Mouros, que occupados em lavrar $
00
semear ou terras e crear gado, se esqueciam das guerras, em que de con-
tinuo andavam e de soldados se tornavam lavradores. ElRey de Temaie
vendo o ornato da Cidade, cobiçou fazer outro tanto d sua; e com ordem
de António Galvão a ennobreceo de edifícios e outras cousas; muitas ou-
tras fez António Galvão perque com razão lhe puderam os Tematos cha-
mar Pai da Pátria. »
Ilha Batoe, MínUo, Battau ou MeaUo, e as ilhas ao 0. de Somatra. — A ílba
Batoe acha-se sob a linha equinoccíal na mesnia latitude do elevadíssimo
iDODte Ophlr, e é dependência da residência ou província irlandeza Pa-
dang, na costa Occidental de Sumatra.
As ilhas que se estendem ao longo d'esta costa, a 55*^,5 de distancia,
terano médio, estão sob a dependência dos governos das respectivas re-
sidências ou províncias e alguma d'ellas são notáveis. Começando da
parte do S. depara-se-nos a ilha denominada Engano, tendo 55*^,5 de cír-
cumferencia; apparece em seguida Si-Pora ou Boa Fortuna, Si-Birou ou
Mantawai, e logo a ilha Batoe, atravessada pelo equador, havendo ao N.
da Unha equinoccíal a celebre ilha Nias. Esta apresenta 133S3 de com-
primento por 5&\5 de largura.
Os habitantes da ilha de Nias, observa Malte-Brun, são geralmente
bem feitos e robustos, téem a cõr clara como os povos da Ásia oriental, e
nas feições alguma cousa do typo grego. As mulheres passam pelas
mais formosas de toda a Malásia. Calcuia-se a população d'esta ilha em
200:000 habitantes.
O que disse Malte-Brun é corroborado pelo dr. Van Leent nas se-
guintes palavras :
«Na costa Occidental da ilha de Sumatra, encontram-se mulheres de
uma rara beUeza, não somente quanto ás formas, n^as também quanto
Í8 feições. São na maior parte descendentes de europeu com escrava da
ilha de Nias, que antes da abolição da escravatura foram levadas do seu
paiz natal para a ilha de Sumatra. Eram procuradas por causa da sua
forRkusura» que se manifesta nas creanças, principalmente nas meninas,
sendo mais bellas que as próprias mulheres da ilha Nias.»
£sles e outros factos serão apreciados na secção vii d'este trabalho, e
d^dles tiraremos as conclusões que a rasão e a sciencia auctorisam.
Hha 4e Sninalra. — Esta ímmensa ilha é quasi dividida ao meio pela li-
nha equinoccíal, poisque se estende 529^,6 para o N. do equador e
644'^,8 para a parle inferior ou S. Foi conhecida dos antigos e encontra-se
em alguns mappas sob a denominação Benae Fortunatae Insulae^ mas não
i 4e certo a Java Minor dos antigos viajantes europeus, como dizem o
9i
dr. Van Leent e Malte-Bruó, se attenderfiaos ao que a tal respeito escre-
veu Diogo do Couto :
cE considerando em Marco Polo, observa aquelle escriptor, o que
fiilla de Java maior e menor, nos parece que esta de que tratámos é a m&-
Dor e qoe a ilha de Sumatra é a maior.»
A ilha de Sumatra, ^gunda em grandeza do archipelago da Sonda
oa da Malásia, é 2,7 vezes maior que o reino de Portugal, tendo^ segundo
alguns escriptores, 1:262 kilometros de comprimento e 279 de largura.
Ha, porém, outros que, como Larousse, avaliam a extensão de Sumatra,
de NO. a SE. em 1 :S00 kilometros, e de G. a 0. em 320, calculando a super-
ficie em 70:000 kilometros quadrados. £ importante similhante diíTe-
rença, e nós n3o hesitámos adoptar os cálculos de Larousse, poisque es-
tão em relação com os que se acham exarados no Annuario estatistico de
Gotha.
Esta ilha pertence boje em grande parte aos hollandezes, $aas foi des-
coberta pelos annos de 4508 a 1509 por Di<^o Lopes Sequeira, que ex-
plorou a costa do Malabar, descobriu a península de Malaca e foi a Pedir
e a Pacem, paizes de Sumatra, onde levantou padrões, como diz Major,
na sua importante obra A vida do infante B. Henrique, o Navegador.
A região septentrional de Sumatra conservou-se sempre independente
e d'e11a faliam João de Barros e Diogo do Couto, descr^evendo a guerra
que constantemente andou ateada entre os atchins e portuguezes, a qual,
como muito bem recorda o dr. Van Leent a propósito da uHima guerra
da HoUanda (1874) com os atchins, fora muito encarniçada em 1527.
Estes povos não se satisfaziam com roubar os nossos navios, matattdp os
tripulantes, para o que se serviam sempre da astúcia e da traição, mas ora
propunham pazes, ora procuravam allianças contra X)s portuguezes. Por
muitas vezes foram castigados e sempre derrotados nas suas investidas
contra Malaca. Referimo-nos a estes assumptos, porque das guerras que
sustentámos no estreito de Malaca e nas ilhas Molucas, tiraremos valiosos
dados para apreciar a influencia do clima equatorial da Oceania nos euro-
peus que frequentaram aquellas paragens no século xvi. Assim, não só nas
guerras cuja descripção nos deixaram João de Barros e Diogo de Couto,
mas também nas viagens que os portuguezes' fizeram na Africa austral,
apparecem importantes elementos que o medico hygienista deve aprovei-
.tar, quando trata de mostrar a influencia do clima de paizes que se dese-
jam colonisar.
Os portuguezes que no século xvi trabalhavam na construcção da for-
taleza da Mina, na costa do mar de Guiné, na da ilha de Ternate, quasi
sob a linha equinoccial, e em outras muitas que não precisámos enumerar,
estavam em circumstancias diversas d'aquellas em que hoje pretendemos
98
explorar as terras da Africa portugueza, assignaladas por muitas viagens
e corajosos feitos de que iremos dando conta no seguimento d'esta obra.
Os escriptores do século xvi contavam com enthusiasmo a laboriosa
vida dos soldados destemidos, nautas valorosos e intrépidos viajantes. Os
do século XIX archivam os feitos dos colonos corajosos e funccionarios que,
luctando denodadamente contra a influencia de um clima novo, conseguem
no meio de grandes difiBculdades semear terras incultas e lançar os pri-
meiros delineamentos de futuras povoações, como as de Cazengo e Mossa-
medes, na provincia de Angola. E nós, descrevendo a ilha de S. Thomè
sob o ponto de vista da sua agricultura, e fazendo a comparação do seu
clima com o das regiões que se acham em idênticas circumstancias, nâo
devemos esquecer aquelles portuguezes que, nos tempos passados, ao
percorrerem esses logares desconhecidos, prestaram valiosos serviços á
pátria, á religião e á humanidade.
Os portuguezes foram sempre homens de acção, occupando-se em ge-
ral mais em trabalhar do que em escrever. Mas não faltou jamais entre
elles homens como João de Barros, Luiz de Camões, Diogo do Couto, Azu-
rara, Castanheda, Freire de Andrade e tantos outros que se encarregaram
de mostrar ao mundo o que podia e valia a nação portugueza. Os benefí-
cios que esses obreiros do progresso téem feito a Portugal, estão bem
patentes nos famosos e modernos trabalhos do visconde de Santarém, II.
Major e visconde de Paiva Manso.
Mas voltemos á ilha de Sumatra, que, segundo o diccionario de La-
rousse, só começou a ser conhecida depois da publicação das Memorias
de Muller, em 1778, apparecendo as de Marden em 1793.
Sem negar a importância dos escriptores que a descreveram, tendo
sempre em conta otempo em que o fizeram, não achámos todavia justo
o silencio de Larousse com respeito a João de Barros, que duzentos c
quinze annos antes deu importantes informações da ilha, como adiante
veremos. E para demonstrar o erro, em que estão os que julgam que
esta ilha só foi conhecida na Europa nos últimos annos do século xvii,
reproduziremos também as formosas estancias que o nosso primeiro épico
lhe consagrou duzentos e seis annos antes das obras dos escriptores de
que falia Larousse ; e note-se que os Lusíadas de Camões têem sido tra-
duzidos nas príncipaes linguas da Europa.
Antes, porém, de darmos as descripções dos escriptores portugue-
zes, reuniremos algumas informações dos viajantes modernos.
A ilha de Sumatra está entre 5* 40' de latitude N. e 5^ 59' de latitude
S. e alarga-se desde 95« 46' de latitude E. até 106« 3' longitude O. É ba-
nhada pelo mar das índias e fica fronteira de um lado á península de
Malaca, a celebre Chersoneso dos antigos, no continente asiático^ e do
98
outro á ilha de Java, de tão grande nomeada no mundo commerciai. Ê ro-
deada por differentes ilhas, algumas das quaes demoram sob a linha equí-
nocciaU c que nos cumpre nomear, não deixando comtudo de recordar
qualquer logar ou ilha que como a denominada de Engano, conserva o
nome portuguez. São lembranças de um passado glorioso, e homenagem
a tantos portuguezes que illustraram a pátria e serviram a humanidade,
caminhando na Trente de obreiros do progresso.
A ilha de Sumatra não pertence toda aos bollandezes, que são os úni-
cos europeus que ali dominam desde 1824, em que os inglezes lhes ce-
deram os direitos que tinham á parte occidental. Divide-se em posses-
sões neerlandezas e território independente.
A parte pertencente aós bollandezes compõe-se de uma grande su-
perfície de terrenos 4p alluvião, calculada em cerca de 7 1 kilometros de
extensão, levantando-se depois os terrenos até ás montanhas do interior;
a oriental alonga-se por 532 kilometros de terrenos baixos.
Ha n^esta ilha muitos vulcões, estando alguns em actividade ; e é ali
também que se encontra o vulcão mais alto do arcbipelago indiano, ao
qual SC attribue uma altura de 3:795 metros. O Merepiporem, de 3:300
metros, e o Kaboé são aquelles em que tem havido erupções mais notá-
veis. Nomeámos também o monte Ophir por se achar quasi sob o equa-
dor, elevando-se a 4:568 metros acima do nivel do mar, como a famosa
montanha dos Camarões.
Possue vastas planuras, valles aprazíveis e terrenos altos susceptíveis
de cultura, bem como differentes lagos, ficando alguns a 3:300 metros de
altitude. São numerosos os rios que banham os terrenos, formando parte
d*elles grandes deltas.
Tema ilha oiro, prata, estanho, cobre, ferro, chumbo e outros metaes
úteis ao commercio e á industria. É realmente extraordinária a sua riqueza.
A flora ofl'ercce particularidades importantes e que não devem passar
despercebidas.
Nas montanhas de Padang cultivam-se os legumes da Europa, e na
de 2:770 metros de altitude depara-se a temperatura de T, termo mé-
dio, o que as torna comparáveis ao clima da Madeira e de Lisboa ; os co-
queiros não dão fructo nos logares de mais de 1:200 metros, e segundo
o dr. Yan Leent, aquella ilha é a pátria do benjoim, da borracha e da cam-
pbora.
A cultura do café tem tomado incremento nos últimos annos e é feita
sob boas regras agronómicas. É tratada com todo o cuidado, o que lhe
dá vantagem especial. O arroz, milho e legumes também ali são cul-
tivados com utilidade, assim como varias espécies de fructos, entre os
quaes flguram os mais saborosos que se dão nos trópicos.
n
õ Nie), o fttmisear e o marfim flgoram entre os productos anímaes,
a^lm eomo a gomma-lacca.
8So abundantes e variadas em geral as producções da ilba de Suma-
tra, tanto para consumo dos habitantes eomo para exportação.
A natureza grandiosa da ilha, diz o dr. Van Leent, selvagem talvez,
mas ao mesmo tempo cheia de encantos, n9o cede em cousa alguma á
das outras ilhas do mar de Sonda.
Nao foi ainda polido pela m&o dos homens tSo notável diamante. Es-
pera apenas o trabalho do agricultor ou o alvião do mineiro para dar a
riqueza áquelles que desejam explorar a fertilidade maravilhosa dos ter-
renos ou arrancar do seio da terra os valores que ali estão enterrados.
Tudo emflm faz esperar que esta ilha será dotada de todos os melhora-
mentos materiaes o moraes que se téem realisadq n'outras provindas
hollandezas, e passará a ser a primeira do arcbipelago malanesiano.
Goncluidos os caminhos de ferro não só na costa occidental e na orien-
tal, mas também para o interior do paiz, o commercio alargará a sua
acção e a agricultura augmentará a prosperidade geral e beneficiará o
clima das planícies, onde a malária é sustentada pelos terrenos de allu-
vlSo*
A ilha de Sumatra é essencialmente equatorial, e cumpre-nos, attento
o plano do nosso trabalho, procurar todas as informações que mostrem
se os europeus podem ali aclimar-se. Não ha factos directamente obser-
vados a^ tal respeito, mas de muitos portuguezes sabemos nós que per-
correram parte da costa da ilha sem serem atacados pelas moléstias do
puis. B digno denotar-se que de setecentos homens que desembarcaram
na costa occidental, em consequência do naufrágio da nau S. Paulo, ne-
nhum failecesse de doenças endémicas, demorando-se ali quarenta dias
trabalhando na construcção de novas embarcações, a fim de se dirigi-
rem a Malaca. D'este extraordinário caso nos dá descripção Diogo do
Couto, contando o que n'ella houve de mais importante. O que, porém,
é certo, 6 que os naufk^gos só perderam sessenta pessoas n'uma refrega
com 09 naturaes que, captivados da formosura de uma mulher europea,
a roubaram e levaram ao seu chefe. «Depois d'esta desaventura, observa
Diogo do Couto, se partiram os nossos de longe da costa, porque aquelle
desastre os espertou a não se fiarem mais da gente da terra, e assim em-
bocáram o boqueirão da Sunda, aonde acharam quatro náos Portugue^
zas, de que era capitão mór Pêro Barreto Rolim e recebeu toda esta gente
muito bem, e a repartiu pelas náos e proveo a todos bastantemento».
A ilha de Sumatra é extensa e divide-se em muitos reinos, mas é in-
dispensável dizer mais uma vez que não trataremos d'aquelles que ae
acham nos extremos septentrional ou meridional, por estarem distantes
da linha equinoccíal, pois o nosso propósito é referirmo^nos somente aes
legares que ficam a 0. e E. e d'onde os habitantes avistam á mesma al-
tura o polo boreal e o austral.
 população da ilha, observa o dr. Van Leent, tem sido avaliada appro-
ximadamenle. Algumas partes doeste grande solo não são bem determi-
nadas, e o numero de habitantes é desconhecido. O que pôde dieer-se 6
que a população não está em relação com a superficie da ilha, e que são
immensas as florestas virgens que ainda existem.
Muitas são as causas que téem concorrido para o estacionamento dos
habitantes indígenas, mas a influencia da raça branca vae a pouco e pouco
ganhando terreno, e os usos e costumes bárbaros vão-se modificando de
modo que, nos últimos annos, se nota ali grande augmento de popu^
lação.
Comparando os dois modernos recenseamentos, continua Van (joent^
vê-se que em poucos ânuos a população, que era de 217:420 alinas> pad^
sou a 600:000, augmento na verdade muito importante para um período
de quatro annos. No diccionario de Larousse calcula-se o numero de ha-
bitantes em 6.000:000, estando sujeitos aos hoilandezes 3:190:000.
liha de Snmatra dencripta per Joio de Barros.— «O lançamento da compri-
dão da ilha de Çamatra jaz peia nossa navegação per o rumoy a que oe
mareantes chamam Noroeste, Sueste, e tomada quarta do Sul e terá du^
zentas e vinte léguas de comprido, e de largo sessenta, ou setenta b«
maior sua largura. Â qual fica tão vizinha á terra de Malaca^ que no lugar
mais estreito do canal que ha entre ellas não será mais que té doze legufiíB
quasi na fronteria da Cidade Malaca; e dalli assi para a parte do Le-
vante, como do Ponente, vai esta terra da Ilha affastando-se da firme de
maneira, que faz estas duas entradas daquelle estreito mais largo que no
meio. E porém per todo elle tudo são baixos, restingas, ilhetas com ca-
naes, os quaes errados se perdem as náos que por alli navegam : e daqui
procedeo naquelle antigo tempo de Ptolomeu, e dos outros geographos,
não ser aquelle transito navegável, como ora he, porque a cubica dos ho-
mens todolos atalhos busca, ainda que perigosos, pêra cohseguir seu in-
tento.
cFica esta ilha com a linha Equinocial que á corta pelo meio em figura
de huma aspa, donde a ponta mais Oriental está em seis gráos da parte
do Sul e com ella vai vizinhar na terra de Jaiia, fazendo ambas um es-
treito per que antigamente se navegava pêra aquellas parteís Orientaes ; e
por esta parte ao presente fica ella menos povoada e em torno mui cheia
de flhas e baixos. E pela parte do Ponente, que está em quatro gráos e
três quartos da banda do Norte, be mais limpa, príncipahnente da banda
98
de fóra, mas muito mais povoada, por nella haver grande concurso de
navegantes e a terra em si ter muitas sortes de mercadoria. Geralmente
per toda a fralda do mar he terra alagadiça, e de grandes rios e pelo ser,
tão montuosa, onde está bum lago, de que alguns delles procedem.
«Alem da muita quantidade de ouro que nella ba, também se aclia
muita cópia de estanho, ferro e algum cobre, salitre, enxofre, tintas de
minas e buma fonte de que mana óleo, a que chamam napta em o reino de
Pacem, e no meio tem um monte como o chamado Etbna em a ilba Sicília,
per que lança fogo a que os da terra chamam Baaluan.
cEntre o grande, e diverso numero de arvores, e plantas que cria, mui-
tas delias de fruitos de que a gente commum se mantém, e outras que á
natureza deo pêra seu ornamento, tem as do sândalo branco, aguila, bei-
joim, e as que dam a cânfora como a da ilha Burneo, posto que alguns di-
gam que a daqui é mais fina e de outro género da que vemos que vem
da China, que be composição, e estoutra he cousa natural de outra espe-
cie.
«Das especiarias tem pimenta conunum, pimenta longa, gengivre, ca-
nella ; e cria seda em tanta quantidade que ba abi grande carregação para
muitas partes da índia.
«O geral mantimento da gente he milho, e arroz e muitaa sementes, e
fruítas agrestes do mato, porque pêra razão do clima não pôde crear ou-
tras sementes que venham com fruito maduro, como aquellas de que nós
usamos.»
A importância da ilha de Sumatra foi, pois, demonstrada por João de
Barros; e Luiz de Gamões deu-lhe[um logar de honra no seu poema:
Dizem, que desta terra, co'as possantes
Ondas o mar entrando, dividío
A nobre ilha de Samatra qae já d*antes
Juntas ambas a gente antigna vio.
Ghersoneso foi dita, e das prestantes
Veias d'oaro, que a terra prodozio.
Áurea por epithéto lhe ajuntaram :
Alguns qae fosse Ophír imaginaram.
Vé naquella, que o tempo tomou ilha,
Qne também flammas tremulas vapora,
A fonte, que óleo mana, e a maravilha
Do cheiroso licor, que o tronco chora;
Cheiroso mais que quanto estílla a filha
De Gyniras na Arábia, onde ella mora,
E vé que tendo quanto as outras tem.
Branda seda e fino ouro dá também.
(Limadas, canto x^ estancias cxxiv e cxxxv.)
Rui du Falneiías na fatenda Ptotoijpo.
9:
^^ àas-^ Tl mil III 1^ q» i 31a àe f^mnon t tJUú^N^ M Cih
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ãí uiií^flonjpBK € â rgpacDiii MtatttsMSik «swMf^
coo. i fltoiestt* jTÉcipal itmt Iwm, Mfefuf «:>«i iiitig fan «<ra j»g^
■te iiip « • ariripAfi ■■»4i^Mk— A flte f» 1^> 4e ftm« ^
O àr. \m Leal, áesorpvoíio a flhi li^gi e a$ qae fomMi <» «^
ctig«fag& ánaeBQs (NAUiiBOi, aio « wtere i estdbni>»S|iMm8im<trs
qat jnâkarmk li jm^ados feíte^ o que aès aio poikMOS dieíiir 4i^
cano luMB^gca ao Talor e a(to$ de beroika»^
e CBSBiadkis nas BOssas esicola&
UfB dos itis de BaAio |vticiaa\a por todos os «e;^
fOi dos&avios DO esu^lo de Mabca, e cansava gra>;«$ pitjoiaos aos ne^
fodoÊÊes dl praça. Para o castigar saio draquella capital Fero de Ma$ca«
máas ooai demo w eflibaitac5es, condmmdo mil cento e dncoenta ho^
mois^ entre os qoaes se achavam quinhoitos e ciocoenla portoipietos. O
qoe estes deram no memorável cerco doesta ilha dil^ Diogo do OOQto
em poucas palavras, referindo-se aos trabalhos dos nossos soldados e ao
valor dos capities.
cFeroio Serrio, obsara aqoelle escríptor, acompanhado de dncoonta
hof&eos, chiando á estacada lhe lançaram aos pios grossos viradores, e
goameceodo-os aos cabrestantes, pondo todos nelles suas forças, foram
arraDcando boma, e boma com tanto trabalho, que lhes rebentou o sangue
pdas bocas das forças que nos peitos punham. Nisto gastou oito dias
por serem as estacadas muitas, e se deterem em cada huma grande espaço,
e chegou a caravela a surgir defronte da Cidade, t
São dignos de louvor taes actos de dedicaçio, e ao menos podemos
dizer que a coloDísaçSo da Africa portugueza nSo exige similhantes sacri-
ficios, nSo reclamando as culturas de que os terrenos silo susceptíveis
mais do que boa vontade, constância e economia pnra pagarem com
vantagem o trabalho ou sacriQcío que por elles se fizerem.
Parece-nos, pois, que durante o cerco da íllia de Bintio fora salisfa*
ctoria a saúde dos combatentes, porque Diogo do Couto nOo deixaria de
7
96
O notar, se as febres endémicas dizimassem tão esforçados soldados.
Apesar d'isso a localidade em que assenta a cidade é má, como indica o
mesmo escriptor, quando diz:
«A parte da ilha em que está a povoação he toda muito apaulada e
alagadiça: e esta he a razão por que todas suas casas são ediQcadas so-
bre grandes esteios de páo, levantadas no ar, e a serventia he por pontes,
só as casas d*EIRey são fundadas sobre um tezo.»
O rei da ilha de Linga, que era muito amigo dos portuguezes, foi em
seu soccorro, mas chegou depois de tomada a cidade de Bintão. A sua
gente, porém, acompanhada de alguns portuguezes, percorreu a ilha
para prender o senhor d'ella, mas não o poderam realisar, por ter fugido.
Não é nosso intento demorarmo-nos muito com a descripção d*esta
ilba, não obstante ella estlir próxima de Malaca e offerecer condições espe-
ciaes de salubridade de que devemos tomar conhecimento. Gumpre-nos
advertir também que a ilha de Bintão não fica sob o equador, como disse
Diogo do Couto, mas está, segundo Malte-Brun, cerca de 205^,5 ao N.
do equador. Tem 28 kilomâtros de comprimento por 12 de largura; a sua
população era calculada no anno de 1867 em 23:861 habitantes.
A ilha Linga tem um monte de 1:188 metros de altitude, e fabrica^^
2di boa louça para serviço de chá. Não possue lagos nem rios importan-
tes, notando-se próximo do porto principal duas fontes de agua quente.
As ilhas do arcbipelago RiouwrUngga não são sujeitas a tremores de
terra nem a erupções vulcânicas, pelo qm fazem um cojtfraste singular
com as terras da ilha de Sumatra, onde, no dizer de muitos viajantes e
exploradores modernos, se contam mais de dezeseis vulcões, alguns dos
quaes estão em actividade.
lihA Linga, s6§uud# ê dícGÍ9iiario 4e Larousse. r— «Lioga ou Lingga é uma
ilha da Oceania (Malásia), pertencente ao archipelago de Sonda, ao NE.
4JU ilha de Sumatra, de que ella está separada por um canal de 60 kilo-
netros de largura, e fica ao S. do estreito de Malaca, sob a linha equinoc-
ciai por lOl"" 2r de longitude £.
cTem esta ilha 125 kilometros de comprimento por 28 de largura. Cal-
culam-se em 15:000 os seus habitantes. A capital denomina-se Koualo Daí.
< A ilha Linga está rodeada de ilhas, ilhotas e recifes, eé atravessada,
na parte media, de O. para E., por uma corda de montanhas, onde se
notam dois picos de forma pyramidal, que se descobrem de muito lon-
ge, quando se navega o mar da Sonda, em que elles se acham.
«A costa do S. é baixa e geralmente pantanosa, subindo o mar, na maré
alta, a grande distancia da praia. É tão cerrada a vegetação, que diíficil-
loente se penetra nos logares arborisados.
90
«Unga è 40^3 dps in^is r^cp3 (iQf^^ d^ p.^tqreza, mas os habitantes
d2o se apf*pv)^itam d^ tal fertijidade, nem tratap de desenvolver as culturas
mais apropri^^a^ |S ^Uas s^guI)do a$ regras da boa rasão.
cA ilba fbjanda em frutos e sagu; co/^e-se ali muita gomma e pi-
ipenta. O interior é muito ^r))ori$.adQ^ tem madeiras próprias para con-
stracções n,9vaef, tintur^H^' ^tc.
cNa cosjta ba bom pejfa, aei^o o$ indigenas pescadores niuito activos.
cEiLploraraa^-se em oiitro t^mpo algun^^^ minas de estanho, que havia
na parte meridional .da ilh^ : 9ppare.ce oiro ew pequena quantidade, mas
dSo se faz caço d'ell.e. »
nhã de B^fney. — ]É ^ta a fnsjpf ili^a da Malásia ou da Ásia austral,
co^u) Ibe ch^fnou ^0^ ^ ^9^^os. E.st4 clas$|^ada por muitos escripto-
res eotre as 4o arcbipelagp de Çqçda, havefí^/? quen) a descreva á parte,
ma$ sem jiis^li^da rasão, ooqi^p ji^m f^rchipelago.
É ati;avessada pelp equador, çoi^o a de Sflp^tra, tem uma zona equí-
nocdal prop;riaa^nte dit9 í^ possue di^ereotes povoações em 0° de latitude,
sendo as principaes Pontianak, capital da residência ou districto Occiden-
tal; SintajQg, majÚB para o ji^rlor; e o ^islricto de Koti ou Kotei, na costa
oriental.
Se esta ilha nao Q0[ef*ece bastantes elementos para a solução do t3iQ
debatido problema da aclimação dos europeus nos paizes intertropicaes,
pois que são pQUAOs .03 que a|i residem, apresenta todavia condições
especiaes quanto ao clin^i .e á p^jUiplogi^ equatorial, que muito importa
coi^çflef ;
A parte sepjtentriojji^l da llh^ de porqep foi descoberta por D. Jorge
de Menezes ,eip 1526, ^epdo )^ sido p^oqqif-ada em 1523 por António (jie
Abreu. Exfx IÇ.^Q foi visitada por Gonçalo Pereira.
0 diccionarío deLarousse traz a data de ^$18, e acrescenta: «Os por-
tugueses sO poderam estabeieqe;r-se .em Córneo no anno de 1690, occu-
pando a parte denpminada j^^i^germaçsijig, d^onde foram logo repéllidos
por meio do assassinato e traição». Malte-Brun diz: «Osportuguezescher
garam á ilba de Córneo em 1513; mas esta grande ilha nâo se tornou tão
conhecida como as outras. Em iò'40 deram-lhe o nome de Borneo. Ma-
galhães chamou-lhe Qunnè^».
1 V. A. Malte-Brun fils — Géographie complete et uníverselle. Nouveile edi-
tioo. i85i. Tomo i, |)agina 372. Na mesma obra, tomo v, lé-se o seguinte : «Ao N.
de Java e ao SO. das ilhas Philippinas estende-sc o vasto território a que os hoUan-
dezis áêram em 1630 o nome de Borneo», Ha visivelmente um erro n'esta indica-
ção, que se acha em completo desaceordo com o que o auctor affirma na pagina 372
^ j^o j, {^ci^A ^refe^ido.
100
Qaasi toda a ilha pertence hoje aos hollandezes, os quaes toem sus-
tentado os seus direitos por meio das armas, de modo que apenas ha
poucos annos poderam começar a explorar o interior do paiz.
Esta ilha, segundo Larousse, tem de NE. a SO. ou de comprimento
1 :200 kilometros, e de E. a O. ou de largura 500. A superficie excede
muito a da França, Bélgica, Suissa e Paizes Baixos, o que mostra a sua
grande extensão. Segundo o dr. Van Leent, tem 873:305 habitantes, e
Larousse diz que ha em toda ella 4.000:000 por uma superficie de
675:000 kilometros quadrados. São de 1867 estas informações, e parece-
nos mais verosimil a estatística do dr. Van Leent, director do serviço de
saúde.
 linha equinoccial divide a ilha de Bomeo em duas partes desiguaes,
estendendo-se a septentríonal até 7:778 kilometros- e a meridional 463.
Na região do N. fica o monte mais alto, que se eleva a 3:960 metros.
A parte media é montanhosa, começando ali as cinco cordilheiras mais
notáveis que se approximam da costa ; mas o interior era ainda pouco co-
nhecido em 1867, em que se publicava o volume v do diccionario de La-
rousse.
A orographia sob o equador merece especial attenção, porque a ella
se ligam as melhores condições de salubridade, considerando-se na ver-
dade uma das partes mais importantes da geographia medica, assim como
não é menos a hydrographia.
A ilha de Borneo, sob este ponto de vista, oSerece um estudo curioso,
porque os rios são caudaes e formam immensos deltas. O rio que fica na
residência de Pontianak, pouco ao S. do equador, tem grande influencia
sobre a flora pathologica local; o Barito, ao S. de Borneo, é notável, es-
tando a cidade de Benjermasing na margem esquerda, a poucos kilome-
tros da foz; e o Koli despeja na costa oriental, formando um grande delta,
não mui distante da linha equinoccial.
As localidades d'esta ilha que se acham sob o equador são a residên-
cia de Pontianak, o districto de Sintang no interior e o sultanado ou prin-
cipado de Kotei na costa oriental.
A residência de PonUanak estende-se pela costa occidental de Bomeo,
desde o cabo de Sambar até ao rio Doeri ao N., e ao S. chega até ao cabo
Ajer Mata. A O. ficam-lbe o mar e a E. o império de Kotaringin e duas pro-
víncias de Sintang, cuja capital está sob o equador.
A capital de Pontianak está em O'' T de latitude S., 166S6 distante
do mar, nas margens do rio Kapoeas, e tem 6:000 habitantes, en-
tre os quaes ha alguns europeus, e as casas são construídas sobre esta-
carias.
O principado de Kotei prolonga-se desde r 30' de latitude S. até 1*
<01
de latitude N. É por conseguinte umdistricto perfeitamente equatorial.
Está nas mesmas condições de latitude em que se acham as ilhas de
S. Thomé e Príncipe, tendo o mar a E., emquanto que a SO., O. e N.
confina com as montanhas do interior da ilha. A população é avaliada por
uns em 60:000 almas e por outros em 100:000.
N'esta região equinoccial ha variadas producções, como o arroz, inha-
me, bambu, camphora, cera, gutta-percba, oiro, ferro, cobre, chumbo,
diamantes, antimonio, iman e carvão. Foi, segundo Larousse, no território
occupado pelos chins, em Landak, que se encontrou o maior diamante
conhecido. Pertence ao rajah de Matan.
O mar fornece abundante quantidade de peixe, que também apparece
nos numerosos lagos da ilha, os quaes, como os de Sumatra e de Celebes,
apresentam panoramas deslumbrantes, a cujo respeito disse o dr. Van
Leent :
cPlusieurs iies, surtout Sumatra, Java et Célèbes, possèdent des lacs
d'une certaine étendue. Ges lacs contribuent largement à produire ces
sites d'un aspect enchanteur, que maintes fois nous avons admires avec
une émotion vérítable.»
A ilha de Borneo, como já dissemos, foi descoberta pelos portuguczcs,
e d'ella fallai^m João de Barros e Diogo do Couto. N'aquelle tempo não se
tratava de colonisar, o que se queria era estabelecer relações politicas e
commei-ciaes, castigar os que faltavam á fé dos contratos, e saber quaes
eram as praias que offereciam melhores ancoradouros.
O Bm do século xv foi para as descobertas e viagens maritimas, como
o fim do século xix será para a colonisação. Então brilhavam de enthu-
siasmo os que em uma caravela se entregavam confiadamente aos mares
ignotos; hoje levantam-se os ânimos e pensam em estreitar cada vez mais
a área das terras incultas ou abandonadas da Africa, America e Oceania : e
Dão findará este século sem que se abram as portas de tão valioso the-
souro, cortando a cabeça do terrível dragão que a defende e tem dizi-
mado milhares de victimas. Mas vejamos o que os escriptores portugue-
zes disseram acerca da ilha de Borneo, mostrando também a importância
em que a tinha o sublime cantor das glorias de Portugal.
cHe terra mui abastada de carnes, diz João de Barros, arroz e ou-
tros muitos mantimentos, e de mercadorias da terra de muito preço. Nas-
cem nella pelas praias do mar junto da cidade de Tanjapura diamantes
mais finos e de maior valor que os da índia, e per toda ella nasce a ver-
dadeira cânfora em arvores, como na Europa nasce a resina, e esta he a
que na índia tem grande preço, que a que lá vai da Pérsia he falsificada.
c A cidade de Borneo he grande, cercada de muro de ladrilho, de no-
bres edificios, onde os Reys residem, e tem buns paços sumptuosos.
«Habilairi ètfl Bofheo, Lavè, Tanjd()uraj Mtídúró e Cerava, poflos prin-
cipaes d'esta ilha, muitos e liiui Hcos mercadores que tratam em Malaca,
Samatra, Sião na Ctiina; 6* outras pairiès, a qtie levam diamantes, Cân-
fora, páo de aguila e mantimentos, c huiil vinho que chamam Tampor, que
be o melhor que ha entre os ârtiflciaes.]»
Fecharemos esta brete notícia da ilha de Borneo com os versos que
lhe consagrou Luiz de Gamões, reunindo-a na me^a estancia com as
ilhas da Banda, descobeHas por Francisco Serrão e António de Abfeu.
Olha de Banda as ilhas, qtie se esmaltam
Da varia c6r, que pinta o roxo fruto ;
As aves variadas, que ali saltam,
Da verde noz tomando seu tributo:
Olha também Boméo, onde nao faltam
Lagrimas, no licor coalhado e enxuto
Das artòres, qúè èaiíipÍMrá fie chateado,
Com que da ilha cl nome he celebrado.
(lAêsiadas, canto x, estancia cxxxni.)
Ilha Celebes.— Estende-se esta ilha 196^3 para N. do eqttador e 633^3
t)ara o S., por onde se vê que a parte meridional é 3,2 vt^es mais ex-
tensa que a septentrional, e fica erít^é 118^ 45' e 125° 15' de longitude
E. de Paris.
Tornou-se conhecida, diz Larousse no seu diccionario, desde que os
portuguezes em 1525 aportaram a Macassar, que está a 0. na região
meridional por 5° i' de latitude S; Levantaram âli Um forte, mas, diz o
mesmo escriptor, os hollandezes, para monopolisar o commercio das
especiarias, apoderaram-se da ilha em t660, e obrigaram os portuguezes
a abandonal-a.
Malte-Brun relata que Garcia Henrique quizera e!tplorar a ilha em 1525
por lhe constar que n'ella havia oiro, e que os habittííiles nflo lhe permlt-
tiram o desembarque. Mas passado pouco tempo ahi construíram uma
fortaleza e fundaram alguns estabelecimentos.
Os inglezes estabeleceram-Se ali no principio d'este século, poréíií,
em 1814, cederam todos os seus direitos, sendo os hollandezes os úni-
cos europeus que actualmente téem ali Influencia.
A superfície da ilha é 1 ,3 vezes maior do que a de Portugal. Está a E.
da de Borneo, de que se acha separada apenas pelo estreito de Macassar,
e é por tal modo subdividida, que parece formada de quatro penínsulas
ou linguas da terra que se reúnem n'um centro commum assas elevado
sobre o nivel do mar. Sâo numerosos os golfos e bahias da costa c alguns
muito extensos.
103
A disposição dos terrenos tem levado muitos escriptores a erro, repu-
tando-a um grupo de ilhas quando eila é uma só.
«O archipeiago de Celebes, diz-se n'um livro popular, compõe-se da
liba d'esle uome, que é a principal ; Macassar, ao Sul, pertence aos hol-
laodezes, que dominão sobre os diversos soberanos da ilha.»
E acrescenta outro escriptor :
cSão Dotáveis, ua Notasia, as ilhas Molucas ou das Especiarias, entre
as qnae^ é notável Celebes, a maior d'ellas, que produz a-bobonupas,
arbusto de que sáe um sueco venenoso de terrível actividade, em que os
Macassares, habitantes da ilha, molham as pontas de seus punhaes e fle*
chás.»
Eis-aqui o que em algumas das nossas escolas se ensina a respeito de
uma ilha que serve de modelo a todas as colónias do mundo I
A ilha de Celebes n3o é, porém, um archipeiago, nem é notável somente
por causa do veneno com que os indígenas temperam suas settas ou pu-
nhaes, assim como nao pertence ao archipeiago das Molucas, entre as
quaes não é contada pelos geographos, embora a administração de alguns
pontos esteja dependente do governo das Molucas. Merece ser conhecida
peias suas producçôes, pela sua salubridade e natureza do clima. É pre-
ciso também notar que ella pertence á Oceania e não á Ásia, sendo para
admirar que haja um livro, em que se supprima a divisão geralmente se-
guida da geographia physica do globo ^ Não lia motivo que justifique tal
suppressão.
A ilha Celebes é montanhosa, elevando-se o monte mais alto que
está na região S. da ilha a 3:230 metros: Não tem rios notáveis, a vege-
tação é abundante e os montes estão ató ao cume cobertos do copadissí-
mo arvoredo.
Compõe-se a ilha de alguns dislrictos administrativos, sendo aliás im-
portante o de Menado, que tem sob a sua dependência o de Gorantalo,
mais próximo do equador. Na parle oriental ha os governos de Bangaai,
TomboekfB e Tomori e na região do S. o de Macassar, sendo, como já
dissemos, os portuguezes, os primeiros europeus que ali chegaram e
levantaram edificios.
O aspecto da vegetação em geral, dizem alguns escriptores, é menos
grandioso e menos imponente que o das ilhas de Sonda. As florestas,
cujas arvores são menos agigantadas que nas ilhas de Java e de Sumatra,
alternam com extensas campinas.
> (^mpendio de geographia contendo carias geraes da Europa, Africa, Ásia e
Austrália e doze cartas especiaes da Europa, pelo padre José de Sousa Amado,
approvado pela janta geral de instrucção publica. i369. Preço ifWO réíst
104
A faana é largamente representada, e sao abundantes os animaes do-
mésticos. Não se encontram o elepbante, o tigre o o rhinoceronte, assim
como nao ha o leopardo nem o tapir.
Tem ferro, cobre e estanho em differentes togares e abundância de
oiro na região do N.
 cultura do café foi ali introduzida cm 182â e a do cacau em 1826.
A cidade de Menado, observa um viajante, é uma das mais lindas
das índias orientaes. Assimilha-se a um vasto jardim abundante de povoa-
ções, onde as ediOcios são separados por largas ruas cortando-se per-
pendicularmente umas ás outras. Boas estradas se ramificam em todos
os sentidos, orladas de lindas cas^s, caiadas e muito limpas, e notam-se
plantações florescentes e entremeiadas de formoso arvoredo.
O distrícto de Menado, quasi na mesma latitude da ilha do Príncipe,
mostra o poder da civilisação christã, e muito príncipalmenle põe em re-
levo os benefícios do christianismo, comparados com os de outra religião.
Serve certamente de lição aos padres que forem encarregados das nossas
missões da Arríca e muito especialmente ao clero da ilha do Príncipe,
onde a descrença é geral e a desanimação profunda.
Vale, pois, a pena fazer a comparação entre estas duas ilhas, a Qm de
se formar uma idéa não só dos benefícios da civilisação, mas também dos
males que a ignorância e o fanatismo podem acarretar sobre um paiz.
Começaremos por citar o parecer de auctorídades competentes. É um
meio seguro de se apurar a verdade.
A respeito da população do distrícto de Menado diz o dr. Van Leent:
cA influencia salutar do culto christão e do ensino que acompanha
a propagação do chrístianismo é attestnda pela moralidade e felicidade
dos habitantes de Menado.
cAs aldeias téem agradável posição, as casas são largas e arejadas e
reúnem um certo numero de commodidades, que se reconhecem á primeira
vista.
cAs ruas estão limpas e são amplas, ha jardins e pomares em que o
trabalhador encontra, com muita vantagem, o preço do seu trabalho; os
campos cultivados ostentam fructos e offerecem sob climas tão prívilegia-
dos cento por um dos grãos semeados. »
£ realmente agradável observar signaes tão evidentes da felicidade
de um povo que outr'ora gemia sob o jugo do paganismo, que ainda
opprime os povos de outros distríctos. È justo que se preste homenagem
aos eminentes e relevantes serviços dos missionários de Menado. O chrís-
tianismo tem o poder de modifícar o caracter de um povo, tornando-o
simples, trabalhador, activo e justo.
Vejamos, porém, o que acontece na ilha do Príncipe, mais formosa
<05
do que a Gelebes, a mais pittoresca e agradável ilba do tão decantado mar
teoehroso dos antigos.
Eis aqui o que em 186S disse o dr. José Correia Nunes:
cAs artes estão muito atrazadas; encontram-se apenas alguns maus
carpinteiros, pedreiros e ferreiros. Â principal industria é a lavoura, que
ainda assim está em grande atrazo, porque, alem de não empregarem os
processos agronómicos convenientes para melhorarem e augmentarem
as colheitas dos vegetaes que plantam, limitam-se á cultura do cacau, de
algum café, mandioca e tabaco, abandonando outras muitas culturas, taes
como o algodão, o anil, o açafrão, a batata, a canella, etc, e a industria
de serrar madeiras de construcção, que ali tanto abundam.»
Comparámos o estado da povoação de um dos dístrictos da ilha Ceie-
bes com o da ilha do Príncipe, mas é necessarío dizer também que na
primeira ha districtos em que impera o fanatismo, poisque ainda ali não
entrou a luz suave da civilisação christã, cuja doutrina deve ser ensinada
por homens de boa fé e de honestidade inconcussa. Os bons exemplos fru-
ctificam sempre, e sem elies pôde perder-se a melhor causa, a crença
mais salutar.
Sobre a influencia do christianismo em Menado, é o casamento, a união
da familia, a moralidade, a prosperidade publica, em fim, o fructo do sa-
cerdote honrado e sincero ; em Gorontalo, pelo contrario, a dissolução
dos costumes, a indiíTerença dos pães pela prostituição das filhas, a fami-
lia desprezada, a desconfiança, a pobreza e a miséria são o resultado fa*
tal de não se acceitarem as verdades christãs. O paganismo, finalmente.
Dão pôde arrancar a população de tão mesquinha sociedade.
A ilha do Príncipe está quasi despovoada, as roças abandonadas, os
edificios invadidos pela vegetação, o povo desmoralisado e a população
diminuindo de dia para dia. Fazem-se amiudadas festas de igreja, ha fre-
quentes procissões, e muitas novenas quasi todos os mezes. As rezas no-
cturnas ás portas dos templos e as ladainhas no quarto dos doentes são
acontecimentos que se repetem. Gasta-se n'esta vida quasi todo o tempo !
Foi o que ali observámos em 1873, quando fomos em serviço áquella
ilha; era o que tínhamos notado quando lá estivemos em 1868, e de tudo
colligimos documentos que servem de base a estas considerações.
Apartemos, porém, a vista do quadro que apenas esboçámos e passe-
mos a fallar da ilha Celebes, que muito importa conhecer sob o ponto
de vista de colonisação.
O distrícto de Menado está em l"* 27' de latitude N. e ^W 38' de
longitude E. Tem 99:000 almas, população quasi igual á da cidade do
Porto. Ha apenas 621 europeus, e esse núcleo fecundante e civilisador
espalha a felicidade entre aquelles povos.
106
O districto de Gorontalo fica entre o equador e o distrícto de Menado.
Tem cerca de 28:00o habitantes, entre os quaes, acrescenta o dr. Vàn
Leent, ha 200 padres ignorantes, fanáticos e preguiçosos.
O distrícto de Macassar está ao S. da ilha em 5"^ T 45'' de latitude, no
raeio de uma planície fértil onde se cultiva o arroz, a qual se estende até
ás montanhas do interior.
A brisa do mar, diz o dr. Yan Leent, é fresca e embalsamada. É muito
regular na boa estação e n9o falta muitas vezes no tempo das chuvas.
Macassar é uma estação desejada pela marinha, observa o mesmo
esGfiplor. OiTerece variadas distracções, e os géneros de primeira necessi-
dade não são caros. A caça é um divertimento aprazível, assim como os
passeios a cavallo são agradáveis; tudo respira alegria n'aquelle privile-
giado paiz.
Quando não houvesse colonisação nas regiões da America equatorial,
como, por exemplo^ na repubUca do Equador, os principaes districtos da
ilha Gelebes de per si somente mostrariam que nos paizes equinocciaes é
possivel a colonisação, podendo os europeus viver como em qualquer paiz
da Europa.
Se temos áctualmentèi tioticias mais circumstanciadas da ilha Gelebes,
não são de certo para esqtitícer as que nos legaram os nossos escriptores
do século XVI. Julgámos indispensável transcrever alguns trechos da his-
toria portugUeza da índia, e determinar as epochas em que os nossos nave-
gadores e capitães frequentaram aquella região, por isso que não são exa-
ctas as informações que se jéem nos trabalhos de alguns escriptores es-
trangeiros. E alem d'isso não pode resolver-se o problema da aclimação
em qualquer paiz sem se conhecer o movimento da população desde a
sua origem ou entrada ali.
Yejatnosf pois, em que epocha os portuguezes chegaram á ilha Gelebes
e como se estabeleceram as relações entre elles e os seus habitantes.
No anno de i539, em que era governador das Molucas o distincto
governador Ahtonio Galvão, cujo governo deveria ser sempre imitado,
foram á Ilha de Ternate embaixadores das ilhas dos Macacas, que estão,
segundo Diogo do Couto, sessenta léguas ao poente das de Moluco. O go-
vernador de Ternate recebeu-os muito bem, e conseguiu que fossem bap-
tisádos e abraçassem a religião christã.
<tAs ilhas dos Macacas» diz Diogo de Couto, são muitas, e juntas, e an-
dam nas cartas de marear lançadas em huma só muito grande pelo rumo
a que os tnareantes chamam Norte e Sul, perto de cem Jeguas de com-
prido. Quer esta Ilha imitar a forma de hum gafanhoto grosso, cuja cabeça
(que lança pêra o sul sinco gráos e meio) são os Gellebes, que tem Rey
sobre si.
tal
cPela coda, que he a parte tíiais chegâfda a Maldco, atravessa a Equinoc-
ciai, e ainda lança quasi hum gráo para a banda do Norte.
cSão estas Ilhas senhoreadas de Itioltos Reys, differenites nas línguas,
desviados nos ritos e costumes. Começando da parte da coda, tem o reifio
de Bogis, por sima de quem corta a Eqdinoccial.
cA principal cidade chama-se Savito, que he grande, de casas sobra-
dadas e formosas, mas todas de madeira.
c Aqui queimam os mortos, e suas cinzas se recolhem em rasos, que se
enterram nos campos em lugares separados, onde fdzem suas capellas
abertas por todas as partes.
«Não tem templos, fazetn suas oraçOes, olhando para os Ceos com as
mãos alevantadas, por onde se vô que tem conhecimento dd verdadeiro
Deos. Os naturaes nSo tem mais de huma mulher e os Reys três e qua-
tro.
cTem logo o Reyno de Macaçá; sua Cidade principal se chama Ooá;
aqui enterram os defuntos.
«Na ilha Cellebes, diz mais Diogo de Couto, ha algodSo^ cobre, ferro,
chumbo e muito ouro, de que as mulheres fazem manilhas pdra os bra-
ços. Tem pedraria vermelha de que fatiem jóias, sândalo, sap9o ; fazem-se
nellas muitos e bons pannos de seda de muitas feições. São estas ilhas milito
abastadas de arroz, legumes, frutas, sal; tem cavallos) alinintes, mui-
tas gallinbas, carneiros, bufaras, veados, porcos, perdizes e toda a mais
caça de mato, mas não tem vaccas. Tem navios de muitas feições^ huns a que
chamam Pelan, que s3o muito ligeiros de remo, com que fazem guerra.
Ha outros chamados Lopi, que são da carga, e outros maiores a que cha-
fliam Jojoga. >
Tidore e o arehipelago das Molaeas.— A ilha de Tidore constttue lim paiz
equatorial propriamente dito, está situada na Malásia e pertence ao arehi-
pelago das Molucas, i2 kilometros de Oeilolo, ao S. da ilha Ternate, de
que está separada por um canal navegável que offerece bom ancora-
douro por 0° 45' de latitude N. e i25^ 5' de longitude E. Tem t2 kilome-
tros de comprimento por igual largura. Calcula-se a sua população em
12:000 habitantes.
Taes são as principaes informações que a respeito doesta ilha se en-
contram no diccionario de Larousse. Mostram a sua posição astronómica,
sendo a sua superfície igual á da nossa ilha do Príncipe.
A ilha de Tidore, collocada exactamente sob a linha equinoccial, tem
uma população seis vezes maior que a da ilha do Príncipe, é tão fértil
como esta, e está afastada do equador mais de i50 kilometros para o N.
GoDvem portanto examinar com attenção as circumstancias em que
i
408
se acham estas ilhas, a flm de podermos indicar os meios necessários para
fazer sair do abalimento cm que caiu a nossa ilha do Príncipe.
A ilha de Tidore fica perto da de Ternale, como a ilha de S. Thomé
o está da do Príncipe.
Viveram os portuguezes muitos annos nas ilhas Molucas, e ainda hoje
lá existem recordações de muitos dos seus governadores. Mas alguns
escriptores modernos, de certo por falta de informações, ora trocam as
datas dos descobrimentos, ora dão incompletos os nomes dos portugue-
zes illustres que ali serviram a patría. Não é somente isto, infelizmente.
Dizem não só que os habitantes das ilhas Molucas estavam sob a oppres-
são dos portuguezes, mas que estes as haviam usurpado !
Não podemos deixar sem reparo taes asseverações. Seria faltar ao
nosso dever, seria esquecer os serviços dos portuguezes nas lutas que
por tantas vezes se levantaram e em que valorosos soldados derramaram
o seu precioso sangue para sustentar a honra e gloría nacional, seria,
em fim, fazer a maior das injustiças a muitos illustres capitães e gover-
nadores, se não lhes tributássemos a devida homenagem. Os nomes de
Francisco Serrão, António de Brito, António Galvão, e muitos outros es-
tão protestando contra asserções que não assentam em fados bem obser-
vados.
O grande Affonso de Albuquerque castigava os traidores e aquelles
que tomavam armas contra os portuguezes. Se muitas vezes não fosse
enérgico, perderia o prestigio e não seria respeitado. Mas o seu principal
empenho era adquirir a amisade d'aquelles povos. Nunca os perseguia,
pelo contrario mandava tper aquellas parles orienlaes notificar que todos
viessem a Malaca sem receio algum : cá lhes seria guardada sua justiça
e feito todo o favor em seus negócios». Depois de tomada a cidade par-
tiram offlciaes em differentes direcções, sendo mandado para as ilhas Mo-
lucas António de Abreu, tindo diante delle um mouro natural de Malaca
per nome Nehodá Ismael com hum junco de mercadoria de alguns mouros
Jáos e Malayos, que tratavam nestas partes pêra que quando António de
Abreu chegasse aquelles portos que fosse bem recebido».
É preciso, porém, observar que António de Abreu tomou primeiro a
cidade de Agacim,na ilha de Java ; foi ter depois á ilha de Amboino, onde
poz um padrão, como era costume em todos os descobrimentos, e em se-
guida passou á ilha de Banda e de ali «por lhe o tempo servir pêra Ma-
laca houve por mais serviço de EIRey tornar-se com nova do que tinha
descoberto».
Francisco Serrão, desde que se apartou de António de Abreu, foi ter
a umas ilhas que os da terra chamam Luco Pino, isto é, ilha das Tarta-
rugas, onde foi acommettido por alguns naturaes; mas, havendo-se com
boa fortuna, tomou-lhes a embarcação em que iam e foi em seguida á ilha
de Amboino, e decorrido algum tempo passou ás ilhas de Temate e Ti-
dore, a pedido dos governadores indigenas.
No anno de 1513 foi mandado ás ilhas Molucas António de Miranda
de Azevedo, o qual foi muito bem recebido em ambas as ilhas, levantan-
do-se questões entre seus reis, porque cada um d'elles se empenhava para
que os portuguezes edificassem uma fortaleza na ilha em que habitavam.
Houve-se com prudência António de Miranda, e voltou tão carregado de
cravo como do requerimento dos reis d'aquellas ilhas, pedindo para se
construir ali uma fortaleza. Começaram então os pedidos e solicitações
para se fazer tal obra, resolvendo por fim El-Rei D. Manuel que fosse
levantada, para o que mandou D. Tristão de Menezes, que, apezar de
se demorar em Ternate, não pôde dar principio á construcção, porque
não queria que se suscitassem questões de preferencia entre os governa-
dores de Ternate e Tidore. Retirou-se, pois, da ilha de Ternate, mas, por
causa de um temporal que sobreveio, foi aportar no principio de abril do
anno de 1520 á ilha de Banda, tempo em que os hespanhoes ainda ali não
tinham chegado.
Circumscre vemos estas noticias somente ás datas, porque não só
Malte-Brun, mas lambem H. Major attribuem a descoberta das ilhas Molu-
cas a António de Abreu, quando o primeiro europeu que ali chegou foi
Francisco Serrão. Por esta exposição se vê também que os portuguezes
não conservaram sob um jugo os habitantes das ilhas Molucas, como dizem
alguns escri piores modernos. O que, porém, é certo é que os mouros se
julgavam senhores do commercio d'aquellas ilhas, e promoviam-nos tal
opposição que deram causa a encarniçadas guerras, algumas das quaes
illustraram o nosso nome em todo o Oriente, tornando-se tão admirado
quanto temido e considerado. E o que fizemos no século xvi está desde
já demonstrando o que agora poderemos praticar em prol da civilisação e
do commercio dos nossos domínios do ultramar.
Permitla-se-nos, pois, que nos demoremos mais a respeito d'estas
ilhas. E não nos afastámos ainda assim do nosso propósito, poisque ao
examinar os trabalhos dos portuguezes em taes climas, ao relembrar as
latas que os mouros lhes promoveram, e que os indigenas muitas vezes
provocaram, não deixaremos de reunir, como por mais vezes temos feito,
os elementos que possam auxiliar-nos no estudo dos momentosos proble-
mas da colonísação dos paizes intertropicaes africanos para onde está
voltada a attenção da Europa scientifica.
Começaremos por designar os actuaes limites do archipelago das
Molucas, a que pertencem as ilhas de Tidore e Ternate, assim como a
de Geilolo, que nos cumpre nomear por ser atravessada pelo equador.
lio
&ob a 46Qomiaaçãi3 de ijtias Mciuieas, archipelago das Bfolqcas ou
Grandâ Oriente, diz o dr. Van Leent, coooprehendem-se todas as ilhas si-
tuadas entre a Celebes, a O., as Papouas e Guiné, a E., Timor, ao S., e,
finaimanle, fica-lhes ao N. o Grande Oceano. Este archipelago está com-
prehidndido entre ã"" 43' de latitude N. e 8' 23' de latitude S., e entre IW
22' a U4? 5' de longitude E.
No archipelago de que tratámos incluem-se portanto, continua o mesmo
illustre ^iBdico, as ilhas Ternatezas (ilhas Molucas propriamente ditas) de
que Halmabeira (Djilolo) é 9 maix)r; mais ao S. e a SO. os grupos de
Ba.djan, Ab Obi e de Soela ; a$ ilhas Âmboino, entre as quaes Ceram e
Booroia, são as maiores, ficam ao S. de (Seilolo ou HaUnareira ; ao S. de
Garam, as ilhas de Banda, sendo Lontor (Lonthoir ou Gran Banda) a
principal ; as ilhas do Sudeste e do Sudoeste e os grupos das ilhas Aroe,
K/8i B de Tenimber situados ao SE. e S. de Ceram.
Eâias importantes colorias neerladezas, segundo o referido medico,
téem a seguinte superfiicíe :
Ilhas Ternatezas i 1:125,1 kilom. quad.
firupo 4e Badjan, de Obi » Soela.. .... 4:858,7
Hha« de Amboino 16:780,3
U^ de Banda 27,7
lias de Sudeste e Sudoeste 3:253,4
Ubás de A^vqq, de Kei e de Tenimber. • • 7:717,2
Total 43:762,4
Âs ilbas Maludas & suas dependências, onde dominámos de 1511 até
1598, não nos pe^te^cem hoje, mas mo devemos esquecer a historia d'a-
quelies /Oitenta e sete annos. Ê útil a lição que ella nos offerece, e são nobi-
lissimos os exemplos que aU deram alguns governadores. E quando não
U\/ôssamos a bistoria ÍMlIhai^te de António Galvão, deveríamos comme-
morar .0 awo de 1511, em que os portuguezes chegaram ao coração das
kdias iOrientaes, e muitos outros aos quaes ou se obtiveram algumas vi-
ctonias iUstres, ou se alargaram os limites do Novíssimo Mundo, justa?
m^DÁB denominado Oceania por Malte-Brun.
('aremos, pois, uma breve descripção topographica e histórica das
ilhas em que os portuguezes se conservaram por mais tempo, entre as
quaes figuram as que estão próximas as de Tidore e Geilolo, únicas de
qiie deveríamos fallar, segundo o plano do nosso trabalho, por serem as
que 3e acbam sob a linha equinoccial.
A iUna de Tjidore, vinte vezes meoor do que a de Geilolo, ô ger^-
tu
mente montanhosa e possue muitos rios. O seu verdadaíFO nome, sagundo
João de Barros e Diogo do Couto, é Duco, e foi descoberla em (SU por
Francisco Serrão, que preferiu ficar na ilha de Ternate, sendo muito es-
timado do rei.
As ilhas de Tidore e de Ternate estão tão vizinhas qm coneorrem
ambas para o bom porto da ilha de Ternate. E o que é mais notável é
estar confundida a historia d'estas ilhas como a de S. Tbomé e do Prin-
cipe, não podendo fazer^se a descripção de uma sem se fallar da outra,
como fez o dr. Yan Leent no seu minucioso e útil trabalho, huvi 㧠Ga<>
moes reuniu-as no mesmo verso, e consagrou-lb^s uma estancia com*
pleta» mostrando assim a grande importância que se lhes dava no s^ulo
XVI, sobresaíndo ellas, sendo tão pequenas e passando quasi despereer
bidas, á de Geilolo, a maior das celebres e procuradas Ilhas das Espe-
ciarias.
Refere-se Gamões ás aves do paraizp, que os nossos denoininaram
pássaros do sol, e que emigram para Ternate, Tidore e Banda, reputando-se
ainda hoje verdadeira a tradição que havia a respeito d'aqueUas aves no
tempo do grande poeta * .
Eis-aqui os versos do cantor de Vasco da Gapia :
Olha cá pelos mares do Oriente
As infinitas ilhas espalhadas :
Vé Tidore e Ternate, co*o fervente
Cume, que lança as fiammas ondeadas :
As arvores verás do cravo ardente,
Co*o sangue portuguez ioda compradas;
Aqui ha as áureas aves, que não decem
Nunca á terra, e só mortas apparecem.
Lusíadas, canto x, estancia cxxxir.
Ilha deTeroate. — Pertence, como a de ^'idore, ao archípelago â%A Mor
locas, fronteira á costa O. de Geilolo e ao N. de Tidore por 0^ 18^ de la-
litod^ N. e 121" 51' 45'' de longitude £. Tem i8 kilomeiras áe eompcir
mento e O de largura. A sua superScie calçularse em 1)1 kilometi* os qoa-
dradros.
A capital denomina-se Ternate e tem 9:000 habitantes. O solo é fértil,
caltivando-se nas planícies do N. e NE. arroz, milho e cocos, nas do S. ia
1 Os portuguezes chamavam pássaros do sol ás aves que os hpllandez;^ ^Pti^
saram eom o nome de Aves do paraizo. O sábio naturalista que lhes deu este non^e
aereseeiíta : Ninguém pôde contemplar estas maravilhosas creaturas durante a vida,
porque ellas habitam os ares, voltando-se sempre para o sol e pousando na terra
ipenfhs |)ara morrerem. (L'archipel Maiaaien, por A. R. Widttace.)
H2
E. estão abandonadas as culturas, ao SE. encontram-se alguns pântanos
onde ba os decantados mangues.
Larousse dá-lbe 100:000 almas, mas o dr. Yan Leent calcula o nu-
mero de babitantes em 10:000, o que nos leva a suppor que ha erro na
estatística do diccionario.
Ternate foi a capital do governo portuguez no arcbipelago das ilhas
Molucas, occupando nós aquella ilha poucos annos depois da sua desco-
berta: e é por isso menos exacto o que diz o dr. Yan Leent, dando a enten-
der que os portuguezes só se estabeleceram ali pelo meado do século xvi.
Mas em presença do que a este respeito escreveu Jo3o de Barros não fica
a menor duvida acerca do anno em que na ilha foi construida a nossa for-
taleza:
cElegido este lugar (o do porto da ilha de Ternate) por não haver ou-
tro melhor, e mais estar pegado na cidade Ternate, começou António
de Brito entender na obra; e a primeira enxadada que se deo no seu ali-
cerce, e pedra que se.^elle lançou, foi per mão de António de Brito a
vinte e quatro dias de junho do anno de mil e quinhentos e vinte e dous,
estando elle, e todolos nossos com capellas na cabeça e grande festa por
a solemnidade do dia, que era de S. João Baptista ; e todolos outros fi-
dalgos, cavalleiros, e gente de armas fizeram outro tanto, e por memoria
deste santo houve a fortaleza nome S. João.i>
Não é portanto exacta a asseveração do sábio medico hollandez a que
nos referimos.
A ilha de Ternate é essencialmente formada por um vulcão que se
denomina Gama-Lama, o qual tem cerca de 1:749 metros de altitude e
está em actividade, sendo memoráveis as erupções de 1686, 1840 e 1855.
Foi muito prejudicial a esta ilha o tremor de terra causado pela eru-
pção de 14 de fevereiro de 1840, e a prosperidade publica tem sensivel-
mente diminuído desde essa epocha.
Diz o dr. Yan Leent, ao qual nos referimos n*esta breve noticia a res-
peito da ilha de Ternate, que o naturalista francez Hombron subira ao
volcão e lhe tomara a altura por meio de observações barometricas. Não
podemos deixar de dizer também que, no anno de 1538, o governador da
ilha, António Galvão, fez a ascensão ao monte, e d'esse facto nos falia Joio
de Barros.
tAlgumas destas ilhas lançam fogo no cume de sua maior altura,
assi como a Batochina do Moro, e a Batochina de Muar e outras a estas
vizinhas. E o mais nolavel aos nossos he o da ilha Ternate, de que somente
daremos noticia pola que houvemos de António Galvão ; o qual sendo
capitão destas ilhas o anno de quinhentos e trinta e oito (1538), residin-
do nesta ilha Ternate em a fortaleza S. João que hi temos, quiz ir ver
il3
aquelle mysterio da natureza, porque daquella fortaleza viam no cume
(la ilha vaporar fogo, ao modo que vemos hum forno de cal quando começa
cozer, sem luz alguma de dia; e de noite era cousa "espantosa ver as
cores e faíscas do fogo e rescaldo que lançava em torno, cubrindo muita
parte do arvoredo, da maneira que se cUe cobre quando nestas nossas
regiões neva. Peró isto não he em todo o anno, somente nos mezes de
setembro e abril, quando o sol se muda de huma parte a outra, que passa
alinha equinocial, que corta meio gráo desta ilha: cá então venlam huns
ventos, que accendem aquelle natural fogo na matéria que lhe dá nutri-
mento por tantas centenas de annos. Subido António Galvão áquella
altura, onde viam este fogo, achou toda a coroa d'aquelle monte escaldada
e a terra d'elle fofa, não feita em cinza, mas ligada huma á outra e leve. E
per toda aquella coroa havia huns redemoinhos á maneira que vemos fazer
a agua, quando estando estanque lhe lançam huma pedra, que vai fazendo
aquelles circos; e porém os que estavam feitos nesta terra eram profundos
em modo de algar, a que podiam descer por aquelles degráos circulados
que a terra fazia. Contou mais António Galvão que do meio do monte
pêra baixo tudo eram grandes arvoredos, e a terra assi fragosa e cuberta
delle, que em muitos passos elle e os de sua companhia subiam per cor-
das; e de entre esta fraga corriam ribeiros que vinham regar o chão
delia, como que o fogo que andava no centro daquelle monte fazia es-
tillar e suar aquellas aguas. £ se Plínio, quando quiz ver o outro tal fogo
do monte Vesúvio, em Itália, buscara outra tal conjuncção, como António
Galvão buscou, não ficara elle lá pêra sempre, como ficou, segundo di-
zem.»
A cultura do cravo, outr'ora tão florescente na ilha de Ternate, está
em decadência e com difficuldade satisfaz ás necessidades locaes; a pro-
ducção do café, cacau, canna de assucar, e de outros géneros é também di-
minuta. Ainda sob este ponto de vista as ilhas de Ternate e Tidore nos fa-
zem lembrar as de S. Thomé e Príncipe, onde a producção de assucar no sé-
culo XVI era abundantíssima e está em ambas hoje de todo abandonada, cul-
tivando-se apenas na do Príncipe pequena quantidade de café e pouco cacau !
Para o nosso caso, porém, cumpre-nos observar que a ilha de Ter-
nate, tendo unicamente cerca de 31 kilomelros quadrados, sustenta uma
população de 10:000 habitantes, emquanto que a de S. Thomé, trinta ve-
zes maior do que aquella, não é proporcionalmente mais povoada.
O monte ou volcão de Ternate está 1:749 metros acima do nivel do
mar, e os de Tidore íicam-lhe a SE., o os de G^ilolo são mais altos
que o da sua vizinha. No canal que separa as ilhas de Ternate e Tidore
levanta-se uma ilha ou antes montanha que tem próximo de 1:000 metros
de altitude» e é muitas vezes occupada, aindaque temporariamente, pelos
8
444
habitanles da ilba de Ternale, de cujo clima nos occuparemos n'oulro
logar.
Ilha Geílolo (Dgilolo oa Halmaheíra). — Está na Malásia e é a maior das Mo-
lucas. Levanta-se a E. da ilha Celebes, estendendo-se desde O® 50' de
latitude S. até 2° 20' de latitude N. e 124° 50' a 126° 50' de longitude E.
(Paris). Tem de N. ao S. 380 kilometros e de E. a 0. 70. A superfície é
inferior a 22:600 kilometros quadrados. A sua forma é muito irregular,
podendo considerar-se dividida em quatro peninsulas ou quasi ilhas dis-
tinctas por differentes golfos. Deveria chamar-se-lhe a pequena Celebes,
lai é a similhança que ambas estas ilhas apresentam. O solo é fértil e pro-
duz sagu, que é o principal alimento dos habitantes, arroz, fructa, pão,
cocos e outros fructos intertropicaes.
Os hollandezes são os únicos que ali têem estabelecimentos, mas os
portuguezes foram os primeiros europeus que a frequentaram, sustentan-
do guerra com os habitantes, entre os quaes havia mouros que faziam pro-
paganda contra nós, ao verem que a maioria dos povos d'aquella região
procuravam baptisar-se, abraçando a religião christã.
A população da ilha, segundo Larousse, é de 260:000 habitantes.
AmboiDo. — Foi descoberta em i511 a 1512 por António de Abreu e
Francisco Serrão, construindo-se ali em 1569 uma fortaleza. O dr. Van
Leent apresentou uma descripção medico-geographica d'esta ilha, com
informações históricas, que nós completámos modificando algumas noti-
cias menos exactas, que aquelle illustre medico archivou por não ter tal-
vez á vista os trabalhos dos escriptores portuguezes.
É verdade que o celebre AíTonso de Albuquerque expediu em 1511
alguns navios para a descoberta das Molucas, e que ellas ficaram sujeitas
desde então ao dominio de Portugal. A expedição hespanhola enviada por
Carlos V, em 1521, não foi bem succedida.
Os portuguezes, deixando em toda a parte vestígios da sua passagem
por meio de úteis plantações, fortalezas ou padrões e introducção de ani-
maes, mostraram também que não se esqueceram de Ambomo, e para
ella passaram a arvore do cravo, que se aclimou e desenvolveu com ra-
pidez.
aSans cesse traçasses par des tribus ennemis, observa o dr. Van Leent,
les portugais furent conlraints de se retirer de Tautre còté de la baie, à
Leytimor, ou ils bâtirent le fort Victoria. Cétait à cette époque qu'un prê*
tre, Galvaan, commença à propager le culte catholique parmi une partie
delapopulation.»
António Galvão não era padre, nem se Occupou de propagar o culto
U5
cadK>Eo3 Da iUu de AmboiDO. porque residia na de Ternate. capital das^
nossas oc4o&ii5 D^jquella região, e ali completou o tempo do seu gover-
no, dmd) eiemplo de aboegação e honradez, que o tomou digno de ser
imitailo e >lmirado.
EíteTe â Crecte da governação publica d'aquellas ilhas desde 1537 atè
1539, tendo «ds habitantes de Amboino, como os da Celebes. de Geilolo. Ti-
dore, de Java. etc, em muito apreço a amisade e serviços daquelle gover-
nador. Mo se consideravam dominados por um governo despótico, usur-
pador, e sujeitos a um jugo que elles quizessem quebrar por meio das
armas, [«elo contrario deixavam as guerras para cuidar das culturas e
corriam de todos os pontos para receber o baptismo e abraçar a religião
christã. onica que pode tomar feliz uma nação.
Desejámos para as nossas possessões de hoje governadores como An-
lonio Galvão, e veremos augmentar a agricultura, alargar o commercio,
espalbar-se a civiUsação e apparecer a prosperidade por toda a Africa
portugaeza, que poderá ser procurada como qualquer provincia de Por-
tugal, dando cem por um dos beneflcios que se lhes tizerem. Mas vol-
temos a nossa attenção para a ilha de Amboino, de que nos occupâmos
n'este logar, e mais adiante fallaremos do clima e salubridade da Africa
portogueza.
Os bollandezes exigiram em 1605 a entrega do forle Victoria e a posse
da ilha. Os portuguezes cederam diante da força, e a ilha foi entregue, fi-
cando ali todas as familias portuguezas, que prestaram juramento de fi-
delidade ao governador hollandez.
A ilha de Amboino tem a superflcie de 410,5 kilometros quadrados,
que não chega a ser a metade da ilha de S. Thomé, e comludo a sua po-
pulação é de 32:196 habitantes, entre os quaes se contam 700 europeus.
Entre uma e outra ha grande dilTerença no numero de habitantes, e adiante
apreciaremos as causas que lhe dão origem.
A bahia de Amboino é de primeira ordem, dando-se ainda hoje á
parte meridional o nome de Bahia dos portuguezes. Os montes sobem
apenas a 300 melros de altitude e os rios são numerosos, mas de pouco
volume de agua.
A ilha de Amboino, diz o dr. Van Leent, cobre-se de espesso arvoredo
desde as praias até ao cume mais alto dos montes. É esplendida a flora-
ção das arvores do cravo c da noz moschada, e veem-sc ali representados
os melhores exemplares da flora interlropical. Mas, apesar do tão pilto-
resco arvoredo, a ilha não merece o titulo de fértil. O solo ó magro e co-
berto por uma delgada camada de húmus, e não produz os géneros ve-
getaes próprios para alimentação dos habitantes, que os importam da
ilha Ceram, á qual fica próxima.
116
A ilha de Auiboiuo eslá a 3^ :28' de latitude S. e Iá7" W de longitu-
de E. ; devendo notar-se, relativamente á de S. Thomé, que lendo aquella
o solo menos fértil, os montes menos elevados e os rios menos abundan-
tes de agua, tem prosperado mais e está methodicamente cultivada.
Deveríamos terminar aqui a enumeração das ilhas Molucas ou das
Especiarias, mas estamos certos de que não será destituído de interesse
relembrar o que de taes ilhas nos disse João de Barros na sua linguagem
singela e agradável.
Ilhas de Banda, por João de Barros. — tNestas cinco ilhas nasce toda a
noz e massa, que se leva per todalas partes do mundo, como em Maluco
o cravo. E a chamada Banda he a mais fresca e graciosa cousa, que pôde
ser em deleitação da vista : cá parece hum jardim, em que a natureza com
aquelle particular fruito que lhe deo se quiz deleitar na sua pintura.
Porque tem uma fralda chã, cheia de arvoredo que dá aquellas nozes, as
quaes arvores no parecer querem imitar huma pereira. E quando estam
em frol, que é no tempo que a tem muitas plantas e hervas, que nascem
per entre ellas, faz-se da mistura de tanta frol huma composição de cheiro,
que não pódc semelhar a nenhum dos que cá temos entre nós. Passado
o tempo das flores, em que as nozes já estam coalhadas e de cor verde,
(principio de lodo vegetal) vai-se pouco e pouco tingindo aquelle pomo
da maneira que vemos neste reyno de Portugal huns pecegos, a que cha-
mam calvos, que parecem o arco do ceo chamado Irís, variado de quatro
cores elementaes, não em círculos, mas em manchas desordenadas, a
qual desordem natural o faz mais formozo.
«E porque neste tempo que começam amadurecer, acodem da serra,
como a novo pasto, muitos papagaios e pássaros diversos, he outra pin-
tura ver a variedade da feição, canlo e cores de que a natureza os dotou.
Passada esta fralda tão graciosa, levanta-se no meio da ilha huma serra pe-
quena, hum pouco Íngreme, donde correm algumas ribeiras, que regam
o chão de baixo ; e como se sobe com trabalho o áspero d'aquella subida,
fica huma terra chã, assi cuberta, e pintada como a de baixo. A figura
desta ilha he á maneira de huma ferraduia, e haverá de ponta a ponta, que
jazem Norle e Sul, quasi três léguas, e de largura huma; e na angra, que
ella faz com sua feição está a povoação de seus moradores, e as arvores da
noz. Na ilha chamada Gnnuâpe não ha arvores de noz, mas outras pêra
madeira e lenha de que se os moradores das que tem este fruito se ser-
vem em seu uso; na qual lambem ha outra garganta de fogo como a de
Ternate em as ilhas de Maluco, e por esta razão lhe deram o nome que
tem, porque Guno quer dizer aquelle fogo e Ape é o próprio nome da
ilha. O qual Guno por ser pouca cousa, os nossos vam a elle, e da sua boca
117
apanham enxofre, de que se aproveitam por o acharem bom ; e toda a noz
qae ha nas outras três ilhetas, a trazem a esta Banda como a sua cabeça por
a ella acudirem os mercadores. A gente delias é robusta, e a de peior
acatadura d'aquellas partes, de côr baça e cabello corredio: segue a seita
de Mahamed, e mui dada ao negocio do commercio, e as mulheres ao
serviço das cousas da agricultura. Não tem rey ou senhor, e todo o seu go-
verno depende do conselho dos mais velhos; e muitas vezes porque os
pareceres são diversos, contendem huns com os outros. E a gente que os
mais enfrea he aquella que povoa os portos de mar, per onde lhe entra o
necessário pêra seus usos, e tem sabida suas novidades, que he massa e
noz, porque a terra não tem outra que saia pêra fora. O arvoredo do
qual pomo he tanto, que a terra he cheia delle, sem ser plantado per al-
guém, porque a terra o produzio sem beneficio de agricultura. Querem
imitar estas arvores o parecer das nossas pereiras, e porém a sua folha
tem semelhança de nogueira, e o pomo deste tamanho he, e a noz em verde
o mesmo parecer tem. Estas matas nâo são próprias de alguém, como
herança particular, são de todo o povo; e quando vem junho té setem-
bro, em que este pomo está de vez pêra ser colhido, estam já estas
matas repartidas per os lugares e povoações, e cada hum acode a apa-
nhar; e quem mais apanha mais proveito faz. Como acerca de nós são
as matas do conselho assi da bolota, como as serras do carrasco da grã, que
no tempo de apanhar geralmente se desconta aos da villa daquelle termo.»
Não falíamos de outras ilhas, como Java, Timor, ã maior parte da qual
ainda hoje nos pertence, Lantor, etc, porque, como temos dito, não estão
comprehendidas nos limites d'esta secção do nosso trabalho, e as que no-
meámos servem para mostrar o que são as terras equatoriaes da Oceania,
havendo assim elementos para comparar os paizes que se acham sob o
equador, seja qual for a parte da terra em que se achem.
As colónias portuguezas da quinta parte do mundo, como João de Bar-
ros chamou às terras descobertas pelos portuguezes para alem de Malaca,
estão enumeradas, é verdade, na importante obra de V. A. Malte-Brun
fils Géographie complete et universelle, e a ellas se refere também H. Ma-
jor no seu monumento geographico, erigido em honra de Portugal ; como
porém o que tão auctorisados auctores escreveram não satisfaz ao nos-
so intento, ajuntámos á breve noticia de cada paiz equatorial da Oceania
o que a seu respeito disseram os escriptores portuguezes, e procurá-
mos designar com a maior exactidão possivel as datas dos descobrimen-
tos e das explorações das terras que enumerámos, e os nomes d'aquel-
les que realisaram um ou outro emprehendimento. Ficarão assim recti-
ficadas muitas epochas designadas no diccionario de Larousse, que se re-
ferem a estes mesmos paizes, e as noções históricas que o erudito medico
118
Van Leent juntou aos seus importantes trabalhos acerca das colónias
neerlandezas^ os quaes nos servem de modelo em grande parte d'este
livro.
Ilhas Molucas descriptas por João de Barros e Diogo do Couto. — cO seu sitio
he debaixo da linha equinocial. Per o qual parallelo distam contra o oriente
da nossa cidade Malaca pola navegação dos nossos, espaço de trezentas
léguas pouco mais ou menos. Estas cinco ilhas jazem huma ante outra pelo
rumo de Norte Sul ao longo de outra ilha grande: o comprimento da qual
per este mesmo rumo será té sessenta léguas, e isto pela costa desta grande
ilha que está da parte do ponente, a qual elles chamam Batochina do Moro.
E de quio direita ella corre com esta face do ponente, tão curva e esca-
chada he do levante, lançando três braços, hum na cabeça, que tem contra
o Norte o qual corre ao Nordeste e dous no meio que correm direito a
oriente e isto segundo a pintam nas cartas de navegar, com a qual figura,
quer parecer hum troço de páo liso per huma face e três esgalhos pela
outra.
«Âs outras cinco ilhas chamadas Maluco, que jazem ao longo desta,
todas estam huma á vista da outra per distancia de vinte e cinco léguas. E
n3o dizemos serem cinco porque naquelle contorno de Batochina e entre
ellas nSo ha já hi outras, nem menos lhe chamamos Maluco, per n5o terem
outro nome; mas dizemos serem cinco porque naturalmente nesta ha o
cravo e em três ha rey próprio de cada huma.
«E o de cada huma destas, começando da parte do Norte vindo pêra
o Sul, o da primeira he Temate, que se aparta meio gráo da linha equi-
nocial e a segunda se chama Tidore, e as seguintes Moutel, Maquiem e
Bacham. As quaes antigamente per nome do Gentio natural da terra se
chamavam Gape, Duco, Moutil, Mara e Seque. Todas sao mui pequenas
porque a maior nao passa de seis léguas em roda.
«A terra destas ilhas em si é mal assombrada, e pouco graciosa; por-
que como o sol sempre anda mui vizinho, ora passe ao solsticio boreal ora
ao austral, com a humidade da terra cobre-a de tanto arvoredo, plantas e
hervas que isto faz aquella terra carregada no ar, e vista delia com as
exhalações dos vapores terrestes, que sempre andam per cima delias,
que faz nunca as arvores estarem sem folha. Porque ainda que mudem
huma, já per outra parte está com outra nova, e outro tanto he nas hervas;
e com tudo cada cousa vem com sua novidade a hum certo tempo cada
anno. Somente as arvores que dam o cravo respondem com novidade de
dous em dous annos, porque no apanhar quebram-lhe o novo, onde ella
lança os cachos delle á maneira da madre silva, como vemos que a oli-
veira, se he muito açoutada da vara, dahi a dous annos não responde com
119
novidade porque ha mister aquelle tempo peracrear rama nova, em que
dé azeitona.
iGeralmente per a fralda destas ilhas a terra he sadia e isto a que é al-
ta; a que tem este marítimo alagadiço, como a ilhaBacbam, é doentia. A
terra de todas pela maior parte he preta, grossa e tão sequiosa e porosa
em si, que por muito que choiva, logo he bebida toda aquella agua ; e se
algum rio tem que venha do alto das serranias, primeiro que chegue ao
mar, a terra o bebe todo. E assi dispoz a natureza suas sementes, que
sendo a Batochina maior que estas cinco juntas e todas dentro em bum pe-
queno espaço de mar, nesta grande não ha cravo e tudo o que tem é man-
timentos e nas cinco cravo sem elles. Finalmente veio a natureza a parti-
cularizar tanto a disposição de sua especifica virtude que té barro para
louça deo somente em huma que jaz entre Tidore e Moulel, chamada PuUo
Caballe, que quer dizer ilha das Panellas. E não somente nas cousas natu-
raes, mais ainda nas artificiaes assi estam repartidas na inclinação e uso
dos homens pêra huns pola necessidade delias se communicarem com os
outros, que na ilha Batochina, em hum lugar chamado Geilolo, se fazem
os saccos em que se enfardella todo o cravo que dam todas as cinco pêra
se carregar pêra fora, quando o não queiram trazer a granel em suas pei-
tacas, como elles costumam.»
Segundo Diogo do Couto, as ilhas do mar de Levante tão conhecidas
e frequentadas pelos porluguezes no século xvi, formavam cinco archipe-
lagos.
€ A primeira parte, diz aquelle escriptor, he o archipelago de Maluco,
a que os naturaes não sabem dar quantidade; mas o mais certo he que
começa passando Mindanáo, e tudo pêra lá, charaa-se Maluco, em cujo
meio ficam as sinco ilhas do cravo, Ternate, Tidore, Maquiem, Bachão
e Moutel. E posto que Bachão he dividida em muitas ilhas cortadas por
muitos braços de mar, que se navegam com embarcações ligeiras, to-
davia, por ser de hum só senhor, as nomeamos por huma só. Por cima
delia corta a equinoccial e ao Norte delia corre a ilha de Ternate, que se
aparta bum gráo para o Norte ficando entre huma e a outra as ilhas de
Moutel e Maquiem, todas á vista huma das outras por espaço de vinte e
cíDCO léguas, e todas se correm Norte e Sul.
«A segunda parle ou o archipelago he o do Moro, que fica perto de ses-
senta léguas de Maluco ao Norte e começa nas ilhas Doe, duas léguas á
ré da ponta de Bicoa e não adiante, como anda nas cartas de marear de
Batochina.
lA ilha de Batochina terá em circuito duzentas e cincoenta léguas e
nella ba dous reys, o de Geilolo e o de Lyoloda, algumas vinte e cinco lé-
guas do outro, junto de huns ilheos, onde acaba este archipelago da banda
i20
do Norle. Os habitadores desla ilha da banda do Norte sao selvagens,
sem ley e sem rey, e não tem povoações senão pelos matos. Mas da banda
de Leste he povoada de longo do mar e tem grandes e bons lugares, que
cada hum tem língua sobre si, posto que todos se entendam. A esta costa
chamam Morotia, que quer dizer o Moro da terra ; e as ilhas de defronte
chamam Morotai, que é moro do mar, e a todas as ilhas juntamente cha-
mam o Moro.
«O terceiro archipelago he o dos Pa puas, que está a leste de Maluco,
que he pouco frequentado pelas ilhas serem muitas e cheias de baixos e
restingas. Os naturaes destas são pobríssimos. (Foi descoberta por D. Jor-
ge de Menezes em 1S27).
d O quarto archipelago he o dos Gelebes, que está a loeste de Maluco : ha
n'elle muitas ilhas famosas de que as príncipaes são Míndanáo e a própria
dos Celebes, em que ha muitos reys. Tem mais as ilhas Bisaya, que tem
muito ferro, e Mascaga, Masbate, que ambas tem muito ouro, que também
se acha em Míndanáo, e a ilha de Sologo, que tem muitas pérolas, que
não sabem os naturaes tirar. Tem todas estas ilhas e outras que não no-
meamos muitos mantimentos, sândalo, aguila, canela, cânfora, tartaruga
gengivre e pimenta longa.
«O quinto archipelago he o de Amboino, que está ao Sul de Maluco,
e tem muitas ilhas.»
Os primeiros povoadores das ilhas do Cravo, segundo Diogo do Couto,
foram os chins que as frequentaram por muitos séculos, e d'ali exporta-
vam bastantes especiarias, cuja procedência se ignorou na Europa em-
quanto os portuguezes não descobriram as terras em que ellas se produ-
ziam.
Ilha Waígíoa e a Nova Gaioè. — Fica a ilha Waigiou na Malásia, ao NO.
da Papouasia ou Nova Guiné, da qual está separada pelo estreito Gammen,
segundo Larousse, ou Dampier, segundo outros. Está emO° i' de latitude
S. e liS"" de longitude E. de Paris.
Os terrenos doesta ilha são elevados e cobrem-se de arvoredo desde
as praias até aos logares mais elevados.
Foi descoberta com o grupo a que pertence por D. Jorge de Menezes,
o qual saiu de Malaca com destino ás ilhas Molucas, seguindo a viagem
por via da ilha de Borneo, como lhe fora ordenado. Passou a pouca dis-
tancia da ilha de Moro, ao N. de Geilolo, onde não encontrou bom fun-
deadouro por ser a costa alcantilada.
Afastando-se, porém, das ilhas Molucas e navegando para o Orien-
te, descobriu D. Jorge de Menezes, no fim de alguns dias, uma ilha
com bom porto, e cujos naturaes, tanto homens como mulheres, eram
12<
tão alvos e louros como allemães, os quacs eram conhecidos pelo nome
de Fapuas^
Sob a denominação de Papouasia estão reunidas muitas ilhas, sendo
a maior a Nova Guiné. Esta ilha estende-se de NO. para SE. e tem, se-
gundo A. R. Wallace, 2:245 kilomelros de comprimento e 640 de lar-
gura. A superfície excede a da ilha de Borneo, devendo considerar-se,
reputando a Austrália como um continente, uma das primeiras ilhas do
mando.
£ digna de estudo a Nova Guiné, mas não apresenta localidade alguma
em O® de latitude, não tendo por conseguinte a condição essencial para ser
descripta com minuciosidade n'este livro. Nomeâmol-a apenas por ella es-
tar muito próxima da ilha Waigiou, que lhe fíca a NO.
Os bollandezes procuram estabelecer-se no interior doestas ilhas, e os
seus navios percorrem os differentes portos, especialmente os da costa
Occidental. Frequentam a bahia de Dorey na costa da região mais septen-
trionaU e a de Humboldt que está mais para o oriente. É a Nova Guiné
por emquanto pouco frequentada, mas os seus habitantes otTerecem da-
dos importantes para o estudo da ethnographia. A. R. Wallace esteve
por algum tempo na povoação de Dorey, onde se viu atormentado por
grande quantidade de formigas que o incommodavam constantemente e
infestavam as collecções zoológicas que elle preparava. Ha ali poucos re-
cursos e o paiz está inculto.
Alem das ilhas da Oceania equatorial já nomeadas, encontram-se ou-
tras, como as de Gilberl, etc; mas só fatiaremos da salubridade ou in-.
salubridade dos paízes de que deixámos tão rápida descripção.
Ill
DistincQão entre clima equatorial e tropical
Não é este o logar adequado para o estudo da climatologia; julgá-
mos, porém, indispensáveis algumas explicações para justificar a classi-
ficação dos climas por nós adoptada, e as rasões que nos levaram a fazer
distincção entre clima equatorial e tropical, visto estarem ambos compre-
hendidos na chamada zona tórrida, onde aliás apparecem numerosas re-
giões temperadas, localidades frias e não faltam também zonas glaciaes.
í A. M. de Castilho attribue a descoberta da Papouasia ou Nova Guiné a An-
tónio de Abreu e Francisco Serrão; mas ha n'isto evidente lapso.
i2a
São na verdade variadas as classificações que se toem feilo dos cli-
mas, e nós poderíamos acceitar qualquer d'ellas, porque lodos os escriplo-
res s3o unanimes em considerar equatoriaes as zonas que flcam sob o
equador; mas o que se nâo pôde, sem graves inconvenientes, é dizer in-
dififerentemenle : Este clima é tropical ou equatorial. Ha na verdade
grande dififerença entre os climas d'estas duas zonas, e as palavras —
paizes Iropicaes — não devem nunca comprehender os que ficam mais
próximos ao equador do que aos trópicos. Admitte-se em geral uma di-
visão, mas não ha todavia accordo acerca do limite extremo d*esses pai-
zes, dizendo uns que elles se estendem até 15^ de latitude e outros até
10°. Começa ahi a divergência, e poucos geographos ha que não apre-
sentem alguma modificação na classificação climatológica que adoptam.
O fallecido visconde de Paiva Manso admittia cinco espécies de zo-
, zas isothermicas ; a saber: glaciaes, frias, temperadas, quentes e tór-
ridas.
Não nos satisfaz esta classificação, e, se reconhecemos a existência
de climas equatoriaes, devemos em primeiro logar assignar-lhes um li-
mite que possa até certo ponto servir para se distingiíirem dos que fi-
cam sob os trópicos, e para isso escolhemos dois parallelos tirados por
H® 46' ao N. e ao S. da linha equinoccial.
Doeste modo o espaço inlertropical fica dividido em quatro zonas dis-
tinctas, devendo admittir-se mais três, que, posto não sejam bem limita-
das, téem comtudo significação clara. Referimo-nos ás zonas de transição
que se observam tanto entre os climas tropicaes, como entre os equato-
riaes, que se contam ao N. e ao S. do equador.
Chama-se, n'este caso, zona equatorial propriamente dita, ou sub-equa-
torial, á região que fica sob a linha equinoccial, estando alguns dos seus
logares a 0^ ou quasi a 0° latitude ; e zona equatorial do Norte ou do
Sul é a parte que se estende d*aquellas localidades até á linha divisória
equidistante do equador e do trópico boreal ou austral.
Clima tropico-equatorial é aquelle que está sob o parallelo equidis-
tante do equador e dos trópicos, e daremos o nome de climas tropicaes ás
terras ou paizes que se acham mais próximos dos trópicos que do equa-
dor. É necessário também advertir que ficam substituídas as palavras
zona tórrida por outras mais apropriadas, como as que acima ficam in-
dicadas.
Não são indifferentes estas observações, porque se trata de explicar
a natureza dos climas intertropicaes, dizendo a verdade a todos os colo-
nos que desejem ir para o Brazil ou para a Africa portugueza.
Parece-nos realmente grande erro chamar insalubre a um paiz quan-
do elle tem apenas uma ou outra localidade palustre, assim como não é
123
racional repntar ardentes aquellas regiões em que a maior parte da su-
perficie está sujeita a uma temperatura moderada, como acontece na re-
gião alto-plana da ilha de S. Thomé.
Nas terras equatoriaes (zona tórrida ou ardente de muitos escripto-
res) iia, é verdade, legares em que a temperatura é insupportavel; mas a
poucos kilometros encontram-se climas variados, sendo até necessário
muitas vezes os habitantes andarem t3o enroupados como em Lisboa
na estação invernosa. Julgámos, pois, que as palavras zona tórrida ou ar^
dente não satisfazem ao estudo da aclimação e da colonisação, e deixam
no espirito dos colonos idéas que não são verdadeiras na sua comprehen-
são e extensão.
A temperatura é de certo base acceitavel para o estudo dos climas
meteorológicos, mas o clima pathologico não ficaria bem definido, se se
adoptasse isoladamente tal principio. Âs divisões physícas do globo tam-
bém não servem para distinguir qualquer clima, e é realmente vago dizer:
clima oceânico j clima europeu, clima asiático, etc, como dizem alguns
escriptores sem justificada rasão.
A sciencia climatológica, é preciso dizer-se, tem adiantado pouco, e é
por isso que vemos reputar insalubres alguns paizes que a tradição assim
tem apresentado e não porque haja provas da sua insalubridade, e con-
siderar como tórrida uma zona que tem muitos tractos de terreno sob a
acção de uma temperatura amena ou de um clima temperado I
Se ha sob o equador localidades em que a aclimação é muito difQcil e a
vida muito arriscada, vemos nós também viverem os europeus em loga-
res que se acham em O'' de latitude, no meio da zona tórrida, cujo nome
tem contra si os gelos das montanhas, o frio dos alto-planos e a ameni-
dade de muitas planuras.
O dr. J. Rochard diz que a zona tórrida, classificada segundo o
equador thermal, comprehende ao N. e S. do equador os seguintes paizes:
Na Ásia:
Arábia, índia, península de Malacca, Sião, Birmânia, Cochinchina,
Laos, Cambodge e Annan.
Na Africa:
Sabará, Fezzan e o Soudan, na região central; a Senegambia, Guiné
e o Congo a O. ; a E. a Abyssinia, costa do mar Vermelho, Zanzibar, Mo-
çambique, Madagáscar, ilhas Comores, ilha Reunião eMauricia.
Na America:
México, Guyanas, Antilhas, Guatemala, S. Salvador, Nicarágua, Costa
Rica, Nova Granada, Equador, Venezuela e o norte do Brazil.
Na Oceania:
As ilhas da Malásia, Taiti, Pomotou, Gambier e as ilhas Marquezas.
Esta divisão dos climas tórridos ou ardentes^ aliás arbitraria, baseia-se
no exame das linhas isothermícas, formando-se o equador thermal dos pon-
tos indicados pelas medias mais elevadas da temperatura observada em
differentes localidades. A zona tórrida abrange, n'este caso, todos os
paizes em que a temperatura se conserva acima de 2õ^ centigrados, e
os limites das outras zonas obtéem-se diminuindo successivamente 10^
até 25** abaixo de zero, o que pôde representar-se pela formula — 25**.
O clima glacial será representado por linhas isothermicas referidas ás
temperaturas — 5® e — 15"^; o clima frio por — 5^ e + 5°; o temperado
por + 5° e + 15''; o quente + lõ^ e + 25**; o tórrido, finalmente, por
+ 25^ e + 35^
Não tratámos de discutir as vantagens ou desvantagens d'esta classi-
ficação ; observámos apenas que a não adoptámos, porque está desligada da
latitude, o que nos parece inacceitavel, por isso que as chamadas linhas
isothermicas não dão idéa da posição das localidades e servem apenas
para pontos geraes de comparação.
Os paizes equatoriaes propriamente ditos téem logares em que a la-
titude é nuUá, e que ficam a igual distancia dos dois poios. Os astros pare-
cem descrever diariamente círculos perpendiculares ao plano do horisonte
e são todos visíveis. Os dias são, durante o anno, iguaes ás noites, isto é,
ha constante equinoccio para os habitantes que ali vivem, assim como ape-
nas se contam duas estações.
Os paizes equatoriaes toem, pois, caracteres physico-mathematicos
que os distinguem de todos os outros e devem ser estudados separada-
mente.
Mappas comparativos de algumas classificações a respeito
dos dimas
l.*-9yiitcma da« llnhaM laolhcrmlcaii
Designação dos climas
Temperaturas medias
Observações
Clima ardente
Gima quente
Clima doce
27»
20»
10«
5»
Abaixo
a
a
a
a
a
a
de
25"
20°
15»
i0«
5»
0»
0»
0 clima ardente pertence á zona
tórrida, e, segundo observa
M. Lévy, cada uma das zonas
isothermicas pôde dividir-se
em climas constantes, variá-
veis e excessivos.
Clima temperado
Clima frio
Clima muito frio
Clima glacial
125
Não julgámos indifferenle o ler sido esta classificação apresentada
por M. Lévy no seu Tratado dn hygiene publica e privada, porque este
esclarecido medico não adoplou a divisão dos climas segundo as linhas
isothermicas, e admittiu a antiga distincção de climas quentes, temperados
e frios, a qual para elle é um facto de observação. O que, porém, se
torna digno de attenção è que tem conservado a mesma divisão dos cli-
mas em todas as edições do seu importante livro, o que mostra que não
se convenceu ainda das vantagens que dizem ler a classificação dos cli-
mas segundo as linhas isothermicas. J. Rochard ataca vivamente as idéas
de M. Lévy, e esforça-se por o convencer de que é melhor escolher as li-
nhas isothermicas para ponto de partida do que os graus de latitude, por-
que doeste modo, diz elle, reunem-se dentro da mesma zona climas es-
sencialmente diiTerentes.
Não é este o logar conveniente para entrarmos no debate em que fi-
guram dois médicos francezes tão distlnctos. Aqui inscrevemos apenas os
mappas comparativos dos climas, cujo estudo especial faz objecto da
VII secção d'este livro. Não podemos todavia deixar de dizer que as me-
dias thermometricas de que se serve M. Lévy não são iguaes áquellas que
emprega J, Rochard. O equador Ihermal e as linhas que se traçam, unindo
os pontos que apresentam o mesmo grau de temperatura, exigem nume-
rosas, variadas e ininterrompidas observações meteorológicas, a fim de
que as medias da temperatura de cada localidade sejam o mais approxi-
madas que for possível.
t.<>-€la«iMlfleaeAo do» clinia«, ncgundo M. Lévy
Designaç&o
Graus de latitude
Climas quentes
j 0« a 30» N.
*"") Oo a 3o° S.
I 30« a 5o« N.
Climas temperados. ... { „„ „„ „
^ ) 3o« a 35» S.
Climas frios
5ii° ao polo boreal.
55** ao polo austral.
Observações
Devem tomar-se em considera-
ção as singularidades topo-
graphicas e todas as modifica-
ções intermediarias de cada
uma das respectivas zonas
climatéricas.
M. Lévy, depois de mostrar os inconvenientes e defeitos da classifica-
ção dos climas segundo as linhas isothermicas, diz o seguinte:
lA questão dos climas depende do exame das localidades, assim como
o problema da constituição individual se decompõe n'uma serie de es-
tudos que lêem por objecto o temperamento, a idiosyncrasia, a heredita-
riedade, ele. É esta a rasão por que julgámos, ao contrario de Guerard,
que a exploração das localidades deve preceder o estudo dos climas.»
i26
Estamos plenamente de accordo com o sábio hygienisla francez, mas,
como já dissemos, não é este o logar competente para examinar deti-
damente qualquer classificação. Mencionámos as que sao mais geralmente
admdttidas, a Qm de que se reconheça desde já a necessidade de se ado-
ptar a que seja mais apropriada, e se avalie a vantagem da que apre-
sentámos n'este livro. Não nos propomos fazer uma classificação nova;
escolhemos a que nos parece mais simples e mais racional.
••<*- Melhor cla0«lfle«çfto para a clhnographla das emlsraçoe»)
admlUlda pelo vl«eonde de Paiva ManMO
DusignaçOes
Grão de htitade
Zonas tórridas,
Zonas quentes
Zonas temperadas ....
Zonas frias.
Zonas glaciaes
0* a
0» a
23« a
23» a
40» a
40» a
50» a
50<»a
60» a
60° a
23« N.
23» S.
40<»N.
400 s.
SO^N.
50* S.
60« N.
60o S.
90» N.
90o S.
Observações
O visconde de Paiva Manso no
seu \i\ro Memoria sobre Lou»
renço Marques^ pag. lii, não
diz quaes são os escriptores
que seguem a classífícação que
elle não acceita. .
Esta classificação, a quejá nos referimos, foi preferida pelo fallecido vis-
conde de Paiva Manso, em substituição d'aquella em que se admittem zo-
nas glaciaes, temperadas e tórridas. Teremos occasião de a examinar, e
aqui apenas observámos que, em geral, cada escriptor introduz uma ou
outra modificação, sendo muitas vezes uma simples questão de forma.
é*'*^9ymiema dan llnhau l»o(heriiilea«, scsundo Jules Rorliard
Designações
Graus de tempcralura
(Media geral)
Observações
2ona tórrida »
Zona quente
Zona temperada...
Zona fria
.... até +25'» centígrados
+ 25' a +15" centígrados
+ 15*» a + 5« centígrados
+ 5* a — S'» centígrados
— 5« a — 15» centígrados
A classificação de Jules Rochard
tem sido adoptada por alguns
coliegas, especialmente por
mr. Rey, no seu excel lente
escriplo Geographia medica,
inserta em o Novo dicdonario
de medicina e cirurgia prá-
ticas, tom. xví.
Zona polar
i27
Este dístíDcto medico da marinha franceza entende que a única clas-
siflcação rigorosa é a que tem por base as linhas isothermícas, e nós, como
adiante veremos, considerámos esta classificação como uma das mais de-
feituosas, como systema independente. É um methodo puramente numé-
rico, e, para as conclusões serem verdadeiras, é preciso evitar as varia-
dissimas causas de erro que influem em taes trabalhos.
S.^-Dlvls&o aslronomlca dos cllmaa
As divisões astronómicas do globo, isto é, as cintas que ficam entre
os trópicos e os circules polares, formam zonas geraes, cujas denomina-
ções, como temos dito, são muito vagas.
Contam-se também sessenta climas que geographicamente se definem:
cUma porção de terra, cujos habitantes têem os dias maiores ou meno-
res que os dos seus vizinhos». Marcam-se vinte e quatro do equador ao
trópico de câncer e igual numero até ao trópico austral, aos quaes se reú-
nem os climas de entre os poios e circulos polares, seis ao N. e seis ao S.
Esta classificação tem por base a latitude, que estabelece a distincção de
cada um dos climas, o que facilmente se observa no seguinte quadro:
0^ de latitude, clima de 12 horas
16» 44'
13 >
W 48'
14 »
41° 24'
15 >
49° 2'
16 >
84' 31'
17 »
58° 27'
]>
18 »
61° 19'
»
19 >
63° 23'
20 »
64° 50'
21 »
66° 21'
23 »
66° 32'
24 »
67° 23'
1 mez
69° 31'
• "
2 mezes
73° 46'
3 »
78° 11' '
4 »
84° 5'
5 »
No pólo
6 »
Esta disposição dos climas satisfaz a geographia, mas não serve para
o estudo de colonisação, que exige o conhecimento de outras condições
iii(]e[)endeiiles da duração do tempo, e não achamos palavras mais regu-
lares do que as que adoptámos, dividindo cada um dos hemispherios ter-
restres em nove zonas, sendo as da parte septentrional : equatorial,
equalorial-nortCs tropico-equatorialj tropical-quente, tropical^ tropical-
temperada, temperada, fria e glacial.
Distinguem-se estas zonas unicamente para facilidade do estudo, por
meio -de paralleios tirados por W 43', 23° 30', 3.V 15', 47^ 58° 45', 70°
30', 82° 13' de latitude, limite alem do qual difficilmente se pôde viver.
B.^-têfmícma maiii 0iiiipliacado segando ou graoM de lailinde
Hemispherio boreal
Nomes da zona
Latitude
Graus ao N. e ao S. do equador
Hemispherio austral
Nomes das sonas
Eauatorian
Qo
Equatorial.
Equatoiial S.
Trópico- equatorial S.
Tropical quente S.
Tropical S.
Tropical temperada S.
Temperada S.
Fria S.
Glacial S.
Equatorial N
Tropico-equalorial N.*
Tropical quente N
Tropical N.'
Qoa 11» 45'
lio 45'
11- 45' a 23» 3(y
23o 30'
Tropical temperada N.
Temperada N
Fria N
23° 3(V a 35» 15'
35» 15' a 47°
47« a58*» 45'
Glaciai N
58° 45' até aos poios . .
Ajuntamos estes seis mappas para se apreciarem as príDcipaes diffe-
renças de cada uma das classificações mais geralmente seguidas. Alem
d'estas ba outras, mas não são também isentas de defeitos. O que todavia
desejámos accentuar bem é que se torna impossível fazer uma classifica-
ção rigorosa, devendo por isso escolher-se a mais simples e que envolva
menos causas de erro. É o que nos parece se realisa, dividindo o globo
em zonas de 11° 45', e substituindo a palavra — zona tórrida — por zona
equatorial, ele. Quando não tenha outras vantagens, basla-lbe a de fazer
com que haja mais clareza e fácil mnemónica. Esta classificação corres-
ponde ao desenvolvimento dos vegetaes, e tem uma base natural e inva-
ria^ií.
* Considera-se iiiua zona de transição, á qual podo dar-se mais ou menos espa-
ço. Não deve exceder cointudo 1°, ficando 30' para o N. e 30' para o S. do equador.
^ Comprchendc uma exUíusão de 60', contando-se 30' para o S. c 30^ para o N.
do parallelo tirado por 11° 4o'.
3 £ uma zona que abrange 30' de um lado dos trópicos e 30^ do outro.
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Vim da lilla do Ikindii. na nargen diieiu du lio Quania
CAPITULO III
Prinoipaes paizes oolonisadores do seoolo XTX
e emigração portugrueza
•
Portogai e suas coloDÍas.— Colónias da Hespaoha, clima geral, superficie, população e prindpaes pro-
docçôes. — Colónias da França, clima geral, superficie, população c principaes producçôes.— Colónias
da Hollanda, clima geral, superficie, população e principaes producçôes.— Cqlonias da Inglaterra, clima
geral, superficie, população e principaes producçôes. — Colónias de Portugal, clima geral, superficie,
população e principaes producçôes.— Provinda de Cabo Verde.— Pro^incia de S. Thomé c Principe.—
Provincia de Angola.— Província de Moçambique.— Estados da índia! — Provinda de Hacau e Ti-
mor—Portugal, undedmo paiz da Europa, occupa o quarto logar como paiz colonial.— Emigração
pan o Brazil.— Prorincias do império do Brazil, clima geral, superficie, população e principaes pro-
ducçôes.—Indifereuça pelas Bossas terras de alemmar.— Africa portugueza como terra de degreda-
dos—Receios infundados acerca do clima da nossa região africana, dezoito vezes maior que a metró-
pole.—Happa comparativo dos dimas equatoriaes e tropicaes referidos ás provincias do Brazil e Africa
portugueza.
Portngal e snas colónias *
Parece, á primeira vista, que em vez de colónias, deveríamos escre-
ver Provincias do ultramar, porque são designadas por este nome, e não
por aquelle, as terras que actualmente possuimos em África, Ásia e Ocea-
nia. Muito de propósito, porém, procedemos assim. Se sâo ofScialmente
reconhecidas sob a denominação geral de provindas^ as nossas posses-
'sues de alem-mar, n'algumas d^ellas ha todavia colónias propriamente di-
tas, c são numerosas as plantações de café, algodão e canna saccharina, as
quaes rivalisam com as colónias das outras nações. Alguns escriptores es-
trangeiros comtudo ignoram o estado das nossas provincias d*alem-mar,
e deixam de nos mencionar como nação colonisadora do século xix, c ou-
^ José Maria de Sousa Monteiro entendia que as nossas possessões deveriam
chamar-se municipios em vez de provincias ou colónias. Também se diz estados da
índia; mas o titulo que adoptámos comprehende todos os territórios, na maior parte
dos quaes existem ou podem existir colónias propriamente ditas.
9
130
Iros não duvidam também dizer que o povo portugucz é hoje quasi impei-
ceptivel na Europa í
É realmente grave a injustiça que nos fazem, e talvez seja devida á
falta de tempo para se compulsarem os documentos ofliciaes que habili-
tem aquelles escriptores a conhecer qual a importância da nação portu-
gueza quanto ao commercio, industria e agricultura, quer no reino, quer
nas colónias.
Não somos de certo uma nação de primeira ordem, mas nos grandes
torneios artísticos do século xix, onde se reconhece a força productiva de
cada nação, temos representado um papel distincto, collocando-nos a par
dos paizes mais adiantados. £ pequena a extensão do território que occu-
pâmos na Europa, mas as nossas possessões do ultramar elevam-nos ao
quarto logar, como paiz colonial d'este século.
Não olhemos somente para a grandeza territorial. No século xv e xvi
não era maior a extensão do nosso território, e comtudo occupámos um
dos primeiros logares entre as nações do mundo.
Os portuguezes, diz Leroy Beaulieu, referindo-se ás colónias portu-
guezas, antes do século xix, tiveram depósitos (des entrepôts) em Malacca
para o commercio das índias orientaes, em Aden para o da Arábia e Egy-
pto e em Ormuz para o da Pérsia e continente da Ásia. Estabeleceram re-
lações entre as feitorias da Africa (comptoirs) que lhes forneciam oiro em
pó, e a índia, onde encontravam abundantes mercadorias. Traziam para a
Europa especiarias, estofos de algodão e seda, pérolas e outros géneros
de pequeno volume. Fundaram estabelecimentos commerciaes em Ceylão
no anno de 1518 (descoberta em 1505); crearam também um estabele-
cimento em Cambaia, e depois irradiaram por todo o archipelago da Son-
da, Java, Celebes e Borneo. Levaram ainda mais longe a esphera da sua
acção. Por meio de missionários, enviados como embaixadores (avant-cou-
reurs) ao Japão e á China, os portuguezes obtiveram relações vantajosas
com estes abastados paizes. Conservarara-se em Ningpó e em Macau, e
organisaram entre a índia, China e Japão um commercio muito regular.
É na verdade deficiente este esboço do nosso império do Oriente. Não'
se falia de Goa, conquistada em 1503 por Afifonso de Albuquerque^ €onde,
diz H. Major, construiu uma fortaleza, e organisou um governo munici-
pal, adoptando acertadas medidas de administração, com que preparou
o caminho para esta cidade vir a ser a capital do império portuguez no
orientei.
Ficou também na sombra a colónia da ilha de Ternale, capital das Mo-
lucas, em cujo governo tanto se distinguiu António Galvão, dando evi-
dentes provas de que sabia colonisar.
lia silencio absoluto a respeito da ilha de S. Thomè, tão afamada pela
131
sua prodacçâo de assucar no século xvi, assim como não ha rereiencia ás
explorações que se mandavam fazer em muitos territórios que descobría-
mos.
Não é de certo animado o quadro que aquelle escriptor faz do império
portugtiez do Oriente, deixando quasi perceber que apenas cuidávamos
em crear depósitos de mercadorias e construir uma ou outra fortaleza para
os proteger. Foi, porém, altamente politica a idéa de os monarchas por-
tuguezes dilatarem seus domínios na Africa, Ásia, America e Oceania ; e
se, apesar de nos termos coUocado, no século xvi, a par das primeiras
nações do mundo, e de sermos ainda hoje o quarto paiz colonial da Eu-
ropa, Pierre Larouse nos reputa um povo quasi imperceptível no meio
das nações, o que seriamos nós para estes modernos escriptores, se não
tivéssemos alargado a esphera do nosso dominio por mna área muito
maior que a de toda a França ?
Mas ainda bem que Portugal não se tornou invisivel na Europa, e pos-
sue c colónias de plantações^, que não são muito inferiores ás de qualquer
outra nação.
Desejámos dar uma breve noticia das nossas províncias do ultramar,
começando pela colónia da ilha de S. Thomé, de que especialmente nos
occupámos n'este trabalho, e damos uma idéa geral das plantações de
muitos pontos da província de Angola, reservando-nos para d'ellas nos oc-
caparmos mais detidamente em livro que nos propomos dar á luz da pu^
blicidade.
É fácil avaliar o que foi o império portuguez no Oriente no século xvii
porque temos minuciosas descripções de escriptores nacionaes e estran-
geiros; mas é impossível dizer o que elle seria depois da immensa catas-
trophe que, com a morte do cardeal rei, feriu todo o reino de Portugal.
N3o seremos nós quem n'esta occasião ha de avaliar seus desgraçados ef->
feitos. Indicámos o testemunho de um escriptor estrangeiro, o qual se ex-
pressa n*estes termos : Vunion de VEspagne et du Portugal eut les plus
fácheuses conséquences pour les colonies de ce dernier pays.
São formaes as palavras do illustrado escriptor francez, formuladas
ao completarem-se quasi quatro séculos depois d'essa desgraçada epocha.
Muitos outros trechos poderíamos citar, mas são desnecessários. Todos
os portQguezes pensarão com horror no fatal anno de 1S80. Apartemos
a idéa â'esse tempo calamitoso, e lembremo-nos de que ainda hoje pos-
suímos extensas colónias, tendo direito a ser contados entre as nações co-
lonisadoras do século xix, como exuberantemente provaremos.
É de certo limitado o nosso território, mas não temos diante de nós
barreiras invenciveís que nos circumscrevam o espaço, e nos cortem as
ambições. Fica-nos aos pés o oceano^ e^ lá ao longe^ a vasta região dé
132
Africa, Ião porlugueza como o Algarve e Extremadura, satisfaz os nos-
sos desejos e mostra á Europa culta que sabemos dar impulso á colonisa-
çâo da Africa no século xix, como soubemos trabalhar sempre em prol
da civilisação e do progresso scientifico.
Não precisámos de recordar as viagens do dr. Livingstone na Africa
porlugueza, nem o memorável exame que d'ellas fez o erudito escriptor
D. José de Lacerda, para patentear o interesse que tomámos pelas cousas
da Africa. As explorações phyto-geographicas do dr. Frederico Welwitsch
na província de Angola, e as dos naturalistas Anchieta e dr. Barth seriam
documentos suíDcientes para revelar o nosso empenho pelo desenvolvi-
mento das colónias, se o anno de 1876 não viesse fornecer provas evi-
dentíssimas de que desejámos activar o progresso material e moral das
províncias de alem-mar.
A expedição que vae encarregar-se das obras publicas da província
de Moçambique e a que igualmente se prepara com destino á província
de Angola são acontecimentos que merecem detido exame e mostram
que occuparemos sempre o logar que nos compete entre as nações do
século XIX.
Não nos limitámos somente a promover o incremento das obras pu-
blicas em cada uma das colónias, crearam-se em Lisboa sociedades scien-
liflco-geographicas ; trata-se de organisar uma expedição ao interior da
Africa portugueza com o flm de estudar a hydrographia, e a disposição
dos terrenos. São trabalhos indispensáveis para se conhecerem os logares
mais férteis e mais salubres, onde possam fundar-se colónias agrícolas,
como a de Mossamedes na província de Angola, a dé Cazengo, etc.
As altas questões de aclimação na Africa tropico-equatorial não nos
são desconhecidas, e desde ha muito que nos empenhámos no seu estudo
e resolução. A emigração e colonisação da Africa equatorial são assum-
ptos momentosos que prendem a attenção dos poderes públicos nas prin-
cipaes nações da Europa culta; e sobre os quaes temos opinião auctori-
sada, não só por occuparmos os logares mais importantes da Africa cen-
tral, mas também por termos sido os primeiros europeus que descobri-
mos e frequentámos a maior parte do littoral d^aquelle continente.
Mas alem do que levámos dito, temos motivos ponderosos para con-
sagrar algumas paginas d'este livro ao estudo comparativo de paizes ex-
Ira-europeus, onde dominam as nações colonisadoras d'este século.
Muitos escriptores estrangeiros, fallando da colonisação da Africa,
America e Oceania, deixam-nos n'um logar inferior áquelle a que real-
mente temos direito.
M. Paul Leroy Beaulieu, com especialidade, tratando das nações colo-
nisadoras do século xix, não se occupa das nossas colónias acluaes e consi-
<33
dera as possessões porluguezas da Africa e Ásia como simplices estabe-
lecimentos commerciaes (des comptoirs). Não se refere também á nossa
provincia do mar de Guiné, mas falia das colónias hollandezas do golfo
do MexicOy as quaes não são mais ferieis nem mais extensas do que as
que temos no golfo dos Mafras.
Das nossas colónias disse Carlos Vogei, em 1860, o seguinte:
cDebaixo de qualquer ponto de vista, em que se encarem as colónias
portuguezas, o seu estado apresenta-se mais desanimador do que o da
metrópole. É immenso o atrazo das colónias, podendo dizer-se que a sua
vida económica nao tem melhoramento algum. A antiga grandeza da índia
deixou por testemunhas apenas suas ruinas.
« A exploração colonial, sempre fraca e imperfeita, não se tornou somente
estacionaria, retrogradou muito, principalmente na provincia de Moçam-
bique, e vae enfraquecendo cada vez mais por falta de trabalhadores, de
industria e de capitães.
< A admiaistração publica está mal organisada e acha-se também muito
abandonada.
«É preciso sobre tudo não esquecer que as colónias portuguezas, em
parte muito afastadas entre si, ficando umas no Atlântico e outras nas lon-
gíquas e sinuosas paragens do mar da índia e da China, téem apenas de
commum o pertencerem todas á zona tórrida.^»
Citámos as palavras d'este escriptor para que se faça idéa do modo
por que ha dezesete annos se fallava das nossas colónias. Teremos, porém,
occasião de examinar mais largamente as informações que então se fa-
ziam, em grande parte aliás bem fundadas, e aqui só observámos que
as nossas colónias, pelo facto de pertencerem á zona intertropical, não de-
vem ser consideradas em má posição geographica. Sob o equador, e cor-
tada pelo equador thermal, está a ilha de Sumatra, e ali prospera também
a ilha Celebes e ostentam seu enorme progresso Java, Cuba e Porto Rico.
Não ha por conseguinte grande perigo em pertencer qualquer paiz á
chamada zona tórrida.
Entre as publicações que se téem feito nos últimos annos avulta in-
questionavehnente a do grande diccionario de Larousse, e, se nos im-
pressionou desagradavelmente o vermo-nos excluídos dos livros em que se
falia das nações colonisadoras do século actual, não menos são para sentir
as limitadas informações que ali se dão das nossas possessões, a cujo res-
peito se faz a seguinte enumeração :
<As actuaes colónias de Portugal são o archipelago dos Açores, no
Atlântico; em Africa as ilhas da Madeira e Porto Santo, o archipelago de
Cabo Verde, os estabelecimentos da Senegambia, de Angola e do Congo,
as ilhas de S. Thomé e Príncipe, e a provincia de Moçambique ; na Ásia,
<34
Goa, Diu e Macau; na Oceania, finalmente, Dilly, na ilha de Timor e Gam-
bing, ao N. d'esta ilha.»
Por esta exposição se vé a confusão que ba a respeito das nossas co-
lónias, e não admira que as descrípçôes parciaes sejam deficientes.
As ilhas dos Açores formam com as da Madeira e Porto Santo quatro
dos nossos districtos administrativos, téem governadores civis, e não po-
dem por forma alguma ser classificadas entre as colónias ou possessões
ultramarinas ^
O archipelago de Gabo Verde está, é verdade, considerado como pos*
sessão do ultramar, mas offerece todas as condições para receber uma
reforma administrativa, como a das ilhas dos Açores. Não é iudifferente
esta circumstancia, porque é uma prova de que as nossas colónias pro-
gridem e vão-se preparando para gosar todas as regalias dos povos liberaes.
Gumpre-nos finalmente mostrar o que são e o que valem as nossas co-
lónias, mas antes de tratarmos doeste assumpto apresentaremos dífferen-
tes mappas estatistico-geographicos de cada uma das nações colonisado-
ras do século xix, indicando em resumo a sua extensão, clima, população
e productos. Indicaremos depois qual é o nosso logar como paiz indepen-
dente, mostrando a superficie e população de cada paiz em particular.
São variadas estas estatisticas que servem de base ao nosso trabalho,
cujo objecto principal, como temos dito, é a descripção especial da pro-
víncia de S. Tbomé, comparando-a com outras possessões do ultramar, e
estas com as províncias do Brazil e colónias das nações a que acima nos
referimos sob o ponto de vista da sua salubridade absoluta e relativa. Mas
procuraremos ser tão concisos quanto nos for possível, condensando o que
nos parecer mais útil para o nosso fim.
Gomeçaremos pelas colónias de Hespanha, e passaremos em seguida
ás de França, Hollanda e Inglaterra. Paliaremos das colónias de Portugal
antes de mencionarmos as províncias do Brazil, porque desejámos con-
frontal-as também còm as terras da Africa portugueza e patentear as con-
dições em que se acham em relação á colonisação, assumpto este tão
vasto quanto variado, e que não ficaria completo sem o estudo da emi-
gração, cuja importância é reconhecida por todos os povos do mundo.
1 O reino de Portugal compõe-se de 21 districtos administrativos, sendo 17 no
continente e 4 nas ilhas adjacentes, e de 6 províncias ultramarinas, sendo 3 na
Africa Occidental, 1 na Orienta], 1 na Ásia Occidental, e, finalmente, 1 na Ásia Orien-
tal e Oceania, tendo esta ultima província uma superQcie superior a 17:000 kilo-
metros quadrados. Nao é de certo desnecessária esta explicação á vista do que se
acha escripto no diccionario de Larousse, assim como não podemos deixar de no-
tar que somente por falta de cuidado em procurar informações a respeito das nos-
sas colónias pôde dizer-se promiscuamente : Os estabelecifnefUos da Sefíegambia, de
Angola e do Congo. Adiante trataremos d'este assumpto.
435
Oolonias da Hespanha, olima geral, snperfioie, populagão
6 prinoipaes prodnoç^es
Designações
Clima geral
Superfície
Kil. quad.
PopolaçSo
Productos prínclpaes
I AÍMoa<
nha de Fernão do Pó
Ilha do Corisco
UhaElobey
liba de Asno Bom. .
Equatorial (N.)
Equatorial (N.)
Equatorial (N.)
Equatorial (S.)
S:074
44
%
47
35:000
Azeite de palma, cacau, madeiras,
fructas, ele.
n Amerloa
Ilha de Caba
Ilha de Pinos
Ilha* de Porto Rico
Tropical quente (N.)...
Tropical quente (N.). . .
Tropical quente (N.). . .
445:688
3:445
9:064
4.400:000
625:000
Assacar, tabaco, café e algodão.
Ilhas de VicqaeSjCa-
lebra e Mona ....
Tropical quente (N.)...
250
Assucar, café, tabaco, algodão cpel-
les.
m Ooetnia
Ilhas Filippioas....
nbas Carolina» ....
ilhas Paláos
Ilhas Marianas
Tropico-equatorlal (N.)
Equatorial (N.)
Equatorial (N.;
Tropical quente (N.). . .
470:600
4:384
897
4:079
6.000:000
48:800
40:000
5:640
Arroz, assucar, café, tabaco, algo-
dão 0 trigo.
Fmctas e variados utensilios feitos
pelos naturaes.
Diversas fructas e casca de tartaruga.
Fructas;já foi introduzida a cul-
tura do algodão, índigo, cacan,
milho e canna saccbarina.
304:244
8.094:440
* No annnario estatistico de Golha vem in
perftrie se calcula em 400 kilometros qoadrad
tiTTÍtorío banhado pelas aguas do mar de Gutn<
dicado. no golfo de Guiné, o território de S. Jean, cuja su-
[os. É de certo um lapso. Os bespanhoes n&o possuem tal
A Hespanha possue actualmente importantes colónias, cuja superQcio
está avaliada em 304:211 kilometros quadrados, com uma população de
8.094:410 almas, como se vé do presente quadro, isto é, 26 habitantes
por kilometro quadrado. No continente esta relação é de 32 para 1. Taes
proporções mostram não haver excesso de população no reino vizinho e
Dão estarem as suas colónias bem povoadas. São geraes estes pontos de
comparação, porque o numero de individuos que habitam as colónias hes-
panholas da Africa, America e Oceania não nos parece exacto; e, como de-
sejámos apresentar estatisticas verdadeiras, puríflcando-as, tanto quanto
for possível, das difTerentes causas de erro que possam modiflcar-lhes o
<36
valor, daremos uma resumida noticia de cada uma das regiões coloniaes
que a Hespanha ainda hoje conserva.
—A colonisaçâo hespanhola das ilhas do golfo dos Mafras tem tido mo-
roso e diíDcil movimento. Falíamos em presença das informações que
podemos obter, e que lemos por fidedignas, mas que não são de escri-
ptores hespanhoes.
Segundo os dados acima referidos, nas colónias hespanholas do golfo
dos Mafras, no mar de Guiné, ha apenas 16 habitantes por cada kilome-
tro quadrado.
Esta media não é ainda rigorosa, porque não nos merece inteira con-
fiança a estatística dos habitantes d*aquellas ilhas, e os cálculos planimetri-
cos não têem sido repetidos para se avaliar com a exactidão a respectiva
superfície. Aproveitámos, porém, os dados que passam por mais prová-
veis, e que se acham inscriptos no annuario estatístico de Gotha que nos
serve de base, por não termos á mão outros documentos. Devemos toda-
via observar que n'um importante trabalho, que está em via de publica-
ção, Le Monde terrestre de Charles Vogel, são transcriptos todos os map-
pas estatísticos do referido annuario, o que prova a grande importância
em que é tido aquelle curioso e notável trabalho.
No primeiro capitulo d'este livro fizemos uma breve descripção das
ilhas que a Hespanha possue no golfo dos Mafras, e n'este logar referimo-
nos somente á sua colonisaçâo. São assumptos geraes e preliminares, em
que se baseia o estado da salubridade relativa d'este paiz, emquanto que
a natureza do clima será examinada mais tarde em presença dos dados me-
teorológicos e pathologicos de que tivermos conhecimento.
É innegavel que o estudo da salubridade de qualquer paiz é complexo
e dependente do conhecimento de muitas questões que antecipadamente
se devem examinar.
O clima é, na verdade, o producto de muitos factores, compostos tam-
bém de elementos variados e que é preciso estudar em separado. Quere-
mos com isto dizer que é muito difflcil determinar a natureza do clima
de qualquer região por mais limitada que ella seja. A salubridade e insa-
lubridade, é indispensável não esquecer, podem variar muito de uns para
outros annos, sendo tanto mais rápida quanto sensível é a mudança nos
paizes palustres.
Voltando, porém, ás ilhas hespanholas do golfo dos Mafras, cuja to-
pographia geral já é conhecida, notaremos que se têem feito difierentes
tentativas para se dirigir para ali a emigração, mas até hoje sem resul-
tado favorável.
Attríbue-se este facto a varias causas, mas não nos associámos á opi-
nião que M. Jules Duval apresenta para o explicar.
i37
«Para derivar, observa este sábio escriptor, em proveito das colónias
a corrente da emigração, a Hespanha enviou ultimamente (antes de 4862)
• para as ilhas de Anno Bom, Fernão do Pó e Corisco, no golfo de Guiné,
algumas famílias de colonos, sob a direcção de missionários jesuítas e a
protecção de uma pequena força militar. Estas ilhas, porém, perdidas en-
tre as mdas do Oceano e collocadas sob o fogo de um sol vertical^ attra-
hiram sempre insigniflcante emigração.»
As colónias bespanholas do golfo dos Mafras, no mar de Guiné, estão
expostas aos raios quasi perpendiculares do sol equatorial, mas muito
mais exposta está a ilha de S. Tbomé, perdida como a outra entre as on-
das do mar; e, incomparavelmente mais pequena é a ilha de Ternate ou
a de Tidore, collocadas muito mais próximas da linha equinoccial, e com-
tudo a agricultura tem tido incremento regular em todas estas ilhas, aliás
tão férteis como a de Fernão do Pó.
No annuario estatístico de Gotha calcula-se a população das ilhas bes-
panholas guineenses em 35:000 almas, mas não se declara qual é o
numero de habitantes de cada uma das ilhas, nem se indica a quantidade
de europeus que habitam cada uma d'ellas, o que é uma falta irreme-
diável para se poder apreciar com exactidão a possibilidade da aclima-
ção n'aqHellas ilhas. Dá-se todavia um facto extraordinário que merece
attenção, e tanto mais quanto é certo serem hoje geralmente reconheci-
dos como salubres a maior parte dos logares elevados das regiões inter-
tropicaes.
O governo hespanhol mandou construir um hospital militar na encosta
de um monte a 650 metros de altitude, o qual foi considerado como casa de
saúde, ou sanitarium, e para ali foram tomar ares os convalescentes e as
pessoas que solTriam de anemia; mas longe de obterem melhoras, eram
novamente accommettidas de febres, e o medico encarregado do serviço
de saúde viu-se obrigado a não deixar ir para a referida casa mais con-
valescentes, preferindo que elles flcassem na cidade, onde havia maior
probabilidade de obterem melhoras radicaesi
Este facto isolado não pôde ir de encontro ao que se tem observado
na ilha de Guadelupe, no Campo Jacob, nem ao que os escriptores as-
severam com respeito ás povoações collocadas a certa altura acima do
nivel do mar.
Ainda que não é este o logar adequado para se discutir o assumpto,
deveiQOS todavia lembrar o que succedeu com as conclusões de um me-
dico francez a respeito da aclimação dos francezes na Algéria. Tratava-se
de uma estatística, aliás verdadeira, mas cujas conclusões a pratica não
saoccionou. Citámos este caso, a que adiante nos havemos de referir, por-
que serve para mostrar a diiliculdade de se organisarem estatísticas,
438
e o cuidado com que devem forraular-se conclusões que não sejam contra-
provadas por muitos e variados factos. É verdade que na ilha de Fernão
do Pó se escolheu uma planura a 650 metros acima do nivel do mar, e
que esta localidade se reputou mais insalubre que a própria cidade, collo-
cada próxima do littoral. Não deve todavia estranhar-se o facto.
O que aconteceu em Fernão do Pó, succederá em qualquer outra re-
gião, quando o logar escolhido não estiver nas condições exigidas pela
bygiene. Essas condições dependem da natureza do terreno, do estado
da vegetação, da proximidade de superficies palustres e de outras circum-
stancias particulares, a que muitas vezes é preciso attender. É necessário
alem disso observar que as pessoas affectadas de anemia palustre ou que
viveram por algum tempo sob a acção dos climas onde grassam as febres
paludosas, são muitas vezes accommettidas de accessõs febris nos toga-
res para que se mudam, embora estes sejam de reconhecida salubridade.
Lembrámos a propósito d'este caso o que acontece á maior parte dos
individuos que saem da ilha de S. Thomé com destino á metrópole. Poucos
são os que não téem alguns accessos de febres paludosas nos primeiros
mezes da sua estada na capital. Mas quando não tivéssemos conhecimento
exacto do que tem acontecido a differentes pessoas, e entre ellas algu-
mas das nossas relações, citávamos o que nos tem succedido, poisque,
logrando saúde na ilha de S. Thomé, por duas vezes que ali estivemos,
fomos accommettidos de accessos febris depois que chegámos a Lis-
boa!
Não devemos portanto condemnar a ilha de Fernão do Pó, a qual,
comprovada a insalubridade d'aquella planura, seria um paiz inhabitavel,
opinião que não poderá sustentar-se em presença de um facto isolado, e
que pôde explicar-se por causas accidentaes e de fácil remoção.
— A Hespanha possue actualmente três notáveis colónias, reconhecen-
do-se a sua importância á vista da admirável posição em que se acham.
São as ilhas de Cuba e Porto Rico no mar das Antilhas e a ilha de Luçan
nas Filippinas.
A população da ilha de Cuba é de H habitantes por kilometro qua-
drado, a de Porto Rico 67 e a das ilhas Filippinas 35. Estando todos es-
tes paizes entre os trópicos, é preciso notar que aquellas ilhas ficam mais
próximas do equador que as de Cuba e Porto Rico, são relativamente mais
povoadas e estão mais afastadas da linha equinoccial. Importa não esque-
cer esta circumstancia para se ver que um paiz não è menos habitado por
se achar mais vizinho do equador, e que não é de certo que, por tal mo-
tivo, a colonisação da ilha de Fernão do Pó não tem podido ser convenien-
temente desenvolvida.
As ilhas de Cuba e Porto Rico, reputadas como colónias que produzem
<39
mais assucar, passaram por muito tempo despercebidas, e nada fazia espe-
rar a prodigiosa riqueza que adquiriram.
O que caracterisou a situação da ilha de Cuba, observa Leroy Beaulieu,
nos dois últimos séculos, foi uma prosperidade mediocre e obscura, abun-
dância geral, civilisaçao suave, bom tratamento da população servil, 'pou-
cos recursos e necessidade de subsídios da metrópole. Mas um conjuncto
de circumstancias excepcionalmente favoráveis fez mais tarde mudar as
condições da ilba e collocou-a acima de todas as colónias das Antilhas.
A causa principal do progresso d*esta ilba foi a creaçâo de portos livres
DO anno de i809.
Desde esse anno, a capital de Cuba tornou-se um dos portos mais ani-
mados do mundo, desenvolvendo o commercio e agricultura de um modo
admirável.
É este realmente um estudo importante, mas levar-nos-íam muito
longe estas considerações, que poderíamos augmentar com o mais útil en-
sinamento que nos offerece a historia d*aquella ilha. Não podemos, porém,
demorar-nos n'este assumpto, em que só falíamos por incidente e para
mostrar que muitas vezes se despreza um paiz que mais tarde adquire
extraordinária riqueza.
A respeito da aclimação dos europeus sob a acção de um clima tropi-
cal quente, como o da ilha de Cuba, não servem somente as estatísticas
geraes; na falta de outras mais desenvolvidas, apresentámos a da popu-
lação com referencia a duas epochas, entre as quaes ha um intervallo de 4 4
annos, mostrando-nos que houve um augmento médio de 8:428 indivi-
dues por anno.
População geral da ilha de Cuba :
1850
Brancos 605:160
Homens livres, de côr 201 :470
Escravos 477:600
1.284:230
1874 a 1876
Homens de côr 300:000
Homens de côr, escravos 300:000
Koolies 60:000
Estrangeiros 30:000
Habitantes em geral 710:000
1.400:000
140
N'esta população entram os creoulos ou pessoas nascidas nas ilhas,
os hespanhoes, que para ali se dirigiram, e os estrangeiros, entre os quaes
se contam americanos, inglezes, francezes e allemães. Mas como nâo es-
tão indicados os habitantes de cada classe, abstemo-nos de fazer outras
considerações.
— A ilha de Porto Rico tem o clima tropical quente como a de Cuba,
isto é, está muito mais próxima do trópico boreal que do equador. Â sua
população, como já dissemos, é representada pela relação 67 individuos
para cada kilometro quadrado. É uma colónia digna de ser examinada,
porque n'ella se tem verificado a aclimação.
Em 1834 a população das cidades e das aldeias compunha-se ap-
proximadamente de 40:000 pessoas, contando-se nos campos mais de
«160:000 habitantes espalhados por 44:295 habitações, isto é, 8 individuos
por habitação. Leroy Beaulieu, a quem recorremos para obter estes dados,
diz que havia então 45:000 escravos, empregando-se nos campos ape-
nas 30:000, que se repartiam por 300 engenhos de assucar e 148 planta-
ções de café. Alem doestes havia cerca de 1 :277 fazendas de assucar culti-
vadas por gente livre.
Na America possue a Hespanha as ilhas Filippinas, mas são apenas co-
lónias promettedoras, e, attenta a pequena população europea que ali ha,
não téem importância sob o ponto de vista em que estudámos os paizes
equatoriaes.
A respeito das actuaes possessões da Hespanha, diz Leroy Beaulieu o
seguinte :
«São magnificas as colónias que a Hespanha ainda possue, mas pre-
cisam de grandes reformas. Nas Filippinas principalmente é necessário
introduzir entre os indígenas o espirito de iniciativa, o amor ao trabalho,
a previdência e a perseverança, qualidades indispensáveis para que a ci-
vilisação e o progresso sejam uma realidade. Acabar emfim com os bens
de mão morta, pôr termo com prudência, mas com brevidade, á escravi-
dão, e estreitar as relações politicas entre as colónias e a metrópole, são
os pontos que é mister resolver quanto antes, assim como a Hespanha
não deve esquecer que as ilhas de Cuba e Porto Rico somente progredi-
ram depois dos melhoramentos commerciaes ali executados em 1809 e
1815. O que é certo, porém, é que sem se fazerem taes reformas não
pôde prever-se qual seja o futuro das colónias que a Hespanha actual-
mente possue nas diGferentes partes do mundo.»
441
Colónias de Franga, olima geral, snperficie, população
e prinoipaes prodnoções
Designações
Clima gnral
Soperíicie
Kil.qoad.
I Ásia
Índia francesa: Mabéa Tropical equatorial (N.) 1
Kankal, Poodichéry, | Tropical qnonte (N) . . . .
Tanaon, Cbandema|{or . ' Tropical temperado (N.)
Gocliincbina francesa ao
oriente de Siam
n Africa
Algéria Tropical temperado (N.)
Sonegai Tropical qnente (N.) . . .
Gablo Equatorial
Ilha da Renni2o oa antiga )„ . . . ,c \
BoarU» _'^ Trop«al quente (S.). •• ■
Tropical equatorial (N.)
Mayotle.
Nossi-Bé e d^endencias. .
SanU Maria, a E. da ilha
de Madagáscar
m America
Gojana
Ilha da Martinica
Tropical quente (S.) •
Tropical qaente(S.)<
Tropical quente (S.)>-
Goadalapee depmdeneias
S. Pedro, Grande e Peque-
na Míqoeloii, ao S. da
Terra Nova.
lY Goeania
Ilha da Nora Caledónia. . .
Ilhas Lojaltj
Ilhas Marqoesas*
ília de Cliperton, ao SO.
da America do Norte. . .
Equatorial (N.)
Tropical qnente (S.). .
Tropical quente (S.) .
Temperado (N.).
506,60
56:244,00
669:015,00
2:511,60
356,30
164,60
174,00
121:413,00
987,82
1:845,08
210,23
Tropical quente (S.).
Tropical quente (S.).
Equatorial (S.).
Equatorial (N.).
19:720,00
1:239.60
5,30
874:395.33
PopnlaçSo
266:308
1.335:841
2.146:225
210:339
3:000
193:362
12:000
9:908
6:680
24:171
156:799
163:600
4:98i
60:000
4:200
Prodactos
Viveres para abastecimento
dos navios.
Arroz e algodão, madeiras,
fructas, pelles, etc.
Prodnctos agrícolas.
Ginguba, fructas, etc.
Marfim, borracha, ele.
Assucar.
Assucar, arroz, aguardente
ecafé.
Assucar, café, Índigo, man-
dioca, clc.
Madeiras e fructas.
Café, assacar e cacan.
Assucar, café, cacau e fni-
ctas.
Bacalhau.
4.597:418
Carvão, madeiras, variadas
fructas e tabaco.
Madeiras. (Dão-se ali bem
os produclos tropicacs).
* Lemj Beanlien, diz que a Uka ii Táiti é a principal das ilhas Marffuetas^ cujo clima é equatorial (S.);
mas Bio M comprpheode neste grupo tal ilha : pt^rtence ao archipelago chamado da Sociedade.
A França tem importantes possessões no ultramar, que merecem ser
por nós conhecidas. Julgámos por isso vantajoso dedicar algumas paginas
442
ás colónias d'aquelle paiz, podendo dizer desde já que, sendo mais peque-
nas que a nossa província de Moçambique, têem comtudo sensivel pro-
gresso, e em muitas estão bem patentes os benefícios da civilisação.
Não nos afastámos certamente do fím principal a que nos propozemos
chegar, demorando-nos n*este assumpto, poisque não perderemos de
vista tudo o que poder trazer mais luz ás debatidas questões de que nos
occupámos, e que dizem respeito especialmente ás colónias de Portugal;
para estas devem dirigir-se, sob a acção indirecta dos poderes públicos, oô
emigrantes portuguezes que se derem mal nas provindas do Brazil, ou
que por qualquer circumstancia desejem estabelecer-se nas terras de Afri-
ca, cujo clima, como demonstraremos, pôde competir com o do Brazil, e
onde a fertilidade dos terrenos não é inferior.
Mas voltemos ao estudo das colónias de França, cuja importância se
avalia á vista do mappa estatístico que apresentámos. D'este modo mais
facilmente podem comparar-se as colónias francezas entre si, e estas com
as das outras nações da Europa.
Âs possessões francezas, em geral, téem 5 habitantes por kilometro
quadrado, emquanto que no continente esta relação é de 68 para 1, diffe-
rença que é bastante notável.
Para simplificar a exposição que estamos fazendo, seguiremos o mes'
mo methodo que adoptámos para as colónias de Hespanha. Inscrevemos
alem d'isso o mappa com os diversos protectorados da França, aindaque
não trataremos d'elles em especial. É todavia indispensável indicar a ex-
tensão de cada uma das nações da Europa, segundo a grandeza do seu
território, embora parte d'elle seja considerado como um protectorado.
A França exerce o direito de protecção em alguns paizes da Ásia e da
Oceania. Devemos, porém, observar, que o reino de Cambodge está nas
mesmas condições da Cochinchina franceza, e as ilhas da Oceania não são
por emquanto cultivadas.
A propósito doestes protectorados, e das colónias da Oceania em ge-
ral, diz um escriptor francez: «Chegámos muito tarde a estas paragens
e ao meio doestes numerosos archipelagos, onde os inglezes, bollandezes
e hespanhoes nos precederam por muito tempo»*
Os primeiros europeus que chegaram aos vastos archipelagos da Ocea^
nia foram os portuguezes, e foram elles também os primeiros que domina-
ram em muitas d'aquellas ilhas. Appareceram ali mais tarde os hespanhoes,
e depois os bollandezes e inglezes. O papel que n'aquellas regiões repre-
sentavam os differentes povos da Europa não pôde ser apreciado n'uma
obra que trata mais de conhecer a influencia do clima nos indivíduos, do
que as relações politicas ou sociaes das nações colonisadoras.
Não deixaremos todavia de pôr em relevo a verdade, quando se trate
U3
de acontecimentos que possam esclarecer qualquer das questões de que
mais especialmente nos occupâmos.
Protectorados de Franga S olima geral, snperfloie, população
e prodnotos prinoipaes
DesignaçSes
Clima geral
Soperficie
Kil. quad*
Popalaçflo
Prodaclos priocipaes
AbIa
Reino de Cambodge
Ooetnia'
Taili *, Ifoorea, Tetonaroa e
MaTti>a ^1864)
Tropico-eqnatorial (N.)
Tropical quente (S.). . •
Tropical temperado (S.)
Tropical qaenle
Tropical ÍS.Í
83:861,00
1:195,97
144,53
6:662,60
29,73
1.000:000
13:847
675
8:000
936
Arrox.
Assucar, café, bauni-
lha, óleo de coco, etc.
Toabouai, Yavitoa e Rapa. . .
TOttamOtOO ........... r r - r r
fiamhiAr -.--
91:893,83
1.023:458
' Referimo-Dos ao aanaario cstalislico de Golha (1876) ; mai no diccionarío de Laroasse (1875) di2*»e
qae as ilhas de Tabnai não eslâo sob o protectorado da França.
* A respeito da agrícollara da ilha de Taiti lè-se no diccionario de Laroasse o seguinte : «Comme prcs-
qoe pariout les indigènes se lais«ent eodetter avant de produire, ils sont forces daccepter d'ètre payes en
merchandises».
Os protectorados francezes têem pouca importância em relação á co-
lonisação, como se deprehende das seguintes palavras de Jules Duval :
cLes émigrants européens ne sont pas autorisés à devenir proprié-
taires de lerres à Haiti, exclusion qui les éloignera toujours d'un pays
dont leurs ancêtres furent les maitres souveraíns.»
A França possue na segunda parte do mundo os territórios designados
pelos nomes de índia frauceza e Cochinchina franceza.
— A índia franceza compõe-se de cinco estabelecimentos ou feitorias
{ie% camptoirsj; a saber : Mahéy na costa de Malabar, ao N. de Calicut; Ka-
rikal ou Corricallj na costa de Coromandel, assim como Pondichéry e Ka-
naon. Chandernagor fica ao N. de Calcuttá, na parte Occidental do delta
do Ganges, e margem direita de um dos seus braços.
' A índia franceza está comprehendida na zona tropical quente N. É di^
gna de ser estudada, não só por ter 524 habitantes por kilometro qua-
drado» mas porque algumas das suas localidades s3o menos insalu-
bres que a Cochinchina, collocada dentro da mesma zona astronómica.
1 A respeito dos protectorados francezes^ lé-se no diccionario de Laroasse o
9^[uinte: «11 s'y prenait comme suit: ua officier de marine descendait à terre et
aoqonçait aux chefs ou róis que le roi des Français daignait les preodre sous sa
protecUon. Cela faUj on imposait tce proteclorat* par la {mxe, comme le fU Vami-
rol DupeíU-Tiwíuirs*.
444
Os differentes paizes que pertencem a esta parte da França acbam-se
afastados uns dos outros, estando Pondichéry quasí na mesma latitude
que Saigon, capital da Cocbinchina franceza, e Ghandernagor fica quasí sob
o trópico boreal, devendo considerar-se um paiz tropical propriamente dito.
Em 1865, diz Leroy Beaulieu, a população da índia franceza era de
327:063 babitantes, entre os quaes bavía apenas 1:846 europeus e 1:666
mestiços. Não se encontram ali, porém, possessões próprias para coloni-
sação, nem actualmente ofTerecem útil subsidio para a resolução do pro-
blema de aclimação dos europeus nos paizes intertropicaes.
—A Cocbinchina franceza fica entre 10® 3' a ir 30' de latitude N.,
e 103® a 105° ir de longitude E., ao S. da Ásia.
É diminuto o numero de europeus que habitam a Cocbinchina. Em
1864, segundo o dr. Dutroulau, havia ali 591, sendo a maior parte fran-
cezes. O effectivo da tropa era, em 1802, de 8:000 homens.
Não pode avaiiar-se com taes dados se é possível a aclimação dos
europeus, aindaque o paiz é susceptível de progresso, e tem condições
para admiltír importante immigração. Mas independentemente de uma co-
lonisação regular, a Cochinchina é um bóm ponto commercial, podendo
ofiferecer em troca dos géneros francezes, que concorram áquelle paiz,
arroz, marfim, pelles, peixe salgado, etc, que são abundantes no seu
mercado.
A população indígena d'esta colónia era, em 1868, de 900:000 indivi-
duos, a respeito dos quaes disse um erudito medico francez :
«O seu typo pertence á raça mongolica; mas não é bem pronunciado
nos povos quasí selvagens que habitam as montanhas do N. Á simples
vista se reconhece a dififerença entre estes e os outros indigenas, não se
duvidando, ao vel-os, que houve cruzamento.
«Os annanistas têem uma constituição fraca, o que não os impede de
se entregarem a trabalhos pesados e dífficeis. Acha-se a explicação no
clima e na hygiene a que estão subordinados. Aquelles que vivem com
os europeus adquirem facilmente constituição robusta.»
Se os francezes se orgulham em nomear os exploradores que se têem
entregado ao estudo da Cocbinchina, é justo também Icmbrar-se o natu-
ralista portuguez que ali se entregou ao estudo da historia natural, e tem
sido apreciado por muitos escriptores estrangeiros. Foi um dos primeiros
que se occupou da explorarão d'aquelle território; e prestando aqui ho-
menagem ao nosso compatriota A. Loureiro, não deixamos de admirar
os arrojados exploradores que, por caminhos nunca visitados, chegaram
até ao interior da China. Pagaram alguns d*elles com a vida a sua de-
dicação pela sciencia, o que serve para realçar a coragem dos que se en-
tregam a estudos e trabalhos tão arriscados.
145
Os perigos que os homens da sciencia lêem arrostado para explorar
os differentes pontos do globo mostram que é geral o consenso dos sábios
em se sacriQcarem em prol do progresso e civilisação de lodos os povos
do mundo.
— A possessão mais extensa que a França tem na Africa é a Algéria,
onde se acha estabelecida, ha cerca de quarenta e dois annos, uma colo-
nisação regular. Os outros paizes africanos ao oriente e ao occidente es-
tão em condições especiaes, e não podem competir com esta importante
possessão.
Mas, para vermos como os escriplores francezes fazem a propaganda,
aqui reproduzimos, muito de industria, o seguinte trecho, que revela o
interesse que os francezes têem pelas terras da Africa septentrional.
Diz assim Leroy Beaulieu: «Nous sommes de ceux qui croient que
Tavenir de la France est en grand partie sur la terre d'Afrique et que,
par TAIgérie jointe au Senegal, nous arriverons un jour a dominer et à
civiliser tout le nord-ouest de V Afrique, c'est-à-dire, toute la partie que
s*élend de Tripoli à TAtlantique et de la Méditerranée au nord à la Cam-
bie au sud. Nous pourrons avoir là sous notre inlluence un territoire
presque aussi grand que tEurope et dont il est aujourd'hui démontró
qu'une Irès-vasle partie est susceptible de culfure».
Refere-se este auctor á colónia da Algéria e aos estabelecimentos com-
merciaes do Senegal. Suscita aqui duas ordens de idòas, c nós, para o
acompanharmos, faltaremos da Algéria e do Senegal, apreciando, como ó
de justiça, o que elle escreveu a propósito da França reunir o território
do Senegal com a colónia da Algéria. Ê assumpto que em grande parte
nos diz respeito, não podendo por isso deixar de expor o que sobre elle
pensámos.
Em 1835 havia apenas na Algéria, segundo Leroy Beaulieu, 11:221
europeus. D'aquella epocha até 1845 a população subiu a 95:531 indiví-
duos, mas a emigração não se dirigia para ali com o fim de colonisar.
Acercava-se do exercito, com o qual sustentava um commercio próprio,
prÍDcipal motivo que a chamava ás terras de Africa. O governo francez,
porém, ircUou de construir algumas aldeias, e mostrou aos agricultores
e operarias da Europa as vantagens que a Algéria lhes offerecia.
A emigração, comtudo, não era continuada. O governo francez a per-
miltia ou prohibia, segundo as circumstancias. Levantaram-se, para este
fim, grandes difliculdades durante muitos annos; mas apesar d'isso
bouve um movimento importante de emigrantes, especialmente depois
de 1854.
O numero de europeus augmentou annualmente 13:493 desde 1840
a 1845. Este acréscimo foi apenas de 5:929 nos annos de 1850 a 1855.
10
146
Mas em 1861 a população da Algéria subiu a 192:746 individuos; no fím
de 1863 era avaliada em 213:061, e no anno de 1864 em 235:570.
É na verdade muito notável este movimento das correntes da emigra-
ção e ímmigração estabelecida entre uma área assas larga da Europa e um
ponto de Africa; mas é indispensável advertir que a passagem se faz
entre os habitantes de uma região temperada e os de uma zona tropical
temperada.
Realisada finalmente a immigração, vem logo o estudo da aclimação,
assumpto vasto e difficil, e que exige grande pratica, bom senso e atura-
do estudo para ser tratada com acerto e vantagem. É este de certo um
dos pontos culminantes do nosso trabalho, e que mais adiante será exa-
minado com outras questões que se levantam a respeito de alguns paizes
africanos.
Considerando-se o anno de 1835 como ponto de partida, temos um
espaço de quarenta e um annos, pouco mais da media da vida de cada
individuo que tem emigrado para a Algéria.
O que succedeu n'esse limitado cyclo é descripto com toda a profi-
ciência por Leroy Beaulieu, a quem nos referimos especialmente n'este
assumpto.
Examinou este illustrado escriptor as causas que modificavam ou pro-
moviam a emigração, discutindo e condemnando sempre o que lhe pare-
cia exagerado.
Fixemos em fim o anno de 1861, poisque n'cssa epocha, segundo o
mesmo escriptor, havia na Algéria os seguintes individuos:
Francezes 112:229
Hespanhoes 50:021
Italianos 11:256
Maltezes 8:260
Allemães e suissos 8:332
Não classificados 2:648
Total 192:746
Em presença d'estes dados vê-se que o numero dos francezes algeria-
nos é muito maior que o dos hespanhoes ; mas a estatistica dos nascimen-
tos e óbitos é mais favorável a estes do que áquelles, pelo menos em
relação ao anno de 1856. O facto é na verdade digno de registar-se, mas
d'elle não deve inferir-se qualquer regra geral acerca da aclimação nem
contra a colonisação.
w
MapiNi geral dOH obICos c naseliuentoH (t^ftO]
í
Nacionalidades
Nasci-
mentos ;
Óbitos
Francezes . .
•
41
46
44
39
31
43
30
30
28
56
Hespanhoes.
Mdl tezes.. . •
Italianos ••..^
Âllemães
Esta estatística levou um medico francez, a quem se refere Leroy
Beaulieu, a dizer que os colonos francezes tinham incapacidade de con*
ãtituição para se aclimarem em Africa.
Tal proposição foi calorosamente rebatida por Leroy Beaulieu, e os
factos posteriores contrariam o prognostico do medico hygienista.
O assumpto é grave, e não vem fóra de propósito trazer aqui o que a
este respeito escreveu o auctor da colonisação entre os povos modernos.
Não deve dizer-se, observa Leroy Beaulieu, como o medico a quem
nos referimos nas estatísticas ciladas, que o hespanhol é antes de tudo o
colono nascido para viver na Algéria. O verdadeiro colono é o francez,
porque é mais emprehendedor, porque tem mais recursos e constância,
porque sabe tirar melhor partido da terra e dos homens.
Os italianos, hespanhoes e maltezes são úteis auxiliares, que se fun-
diram a pouco e pouco no elemento francez, mas não pôde dizer-se, sem
desconhecer as condições acluaes do trabalho e de producção algeriana,
que o primeiro papel lhes pertence.
Tem-se levantado grande celeuma a propósito dos obstáculos physicos
que se oppõem á aclimação dos europeus ; insiste-se na temperatura sem-
pre elevada, falla-se do siroco ou vento do deserto, c das emanações lel-
luricas e paludosas. Mas a influencia doestes agentes physicos tende a des-
apparecer, como se demonstra por differenles rasôes.
Em primeiro logar muitos dos casos apontados desapparecem com o
progresso da colonisação. As emanações palustres tornam-^se raras e me-
nos perigosas, postos em pratica os desseccamentos, realisada a boa cul-
tura das terras e executada a conveniente repartição das aguas. O próprio
siroco pôde ser modiGcado por meio de um bom regimen florestal.
Os temperamentos, pela sua parle, retemperam-se ou modiflcam-se
com a permanência no meio novo que os rodeiam. A geração creoula af-
ferece mais resistência que a geração precedente.
448
Por ultimo, a hygicne faz também rápidos progressos, e os soffrimen-
tos (los colonos mais antigos sâo lição viva e eflicaz para os modernos.
Todos os pretendidos obstáculos physicos nao são, pois, invenciveis, e
os factos provam com evidencia que as difliculdades referidas são de pou-
ca importância.
Aclimaram-se os franceses, prosperaram e augmentaram rapidamente
na ilha de Reunião,. em Guadalupe e na Martinica*. Os inglezes, nação
mais septentrional, povoaram a ilha Carolina, a Geórgia e estados vizi-
nhos, assim como a Barbada e a Austrália.
A Algéria oITerece também á população europêa um campo de acti-
vidade cm que ella pode prosperar e augmentar.
O movimento da população nos últimos annos é assas favorável, e não
pôde duvidar-se de que o elemento europeu, se o regimen administrati-
vo, politico e económico não lhe for contrario, se accommodará ao clima da
Algéria, e os agentes physicos jamais se opporão ao desenvolvimento da
nova colónia.
Leroy Beaulieu recorre aos dados estatisticos do medico francez, os
quaes acceita, reproduz e reputa exactos. E na verdade a afirmativa do
medico algeriano é verdadeira quanto ao rigor da conclusão, e em presen-
ça das estatislicas não podia deduzir-se outra. Mas os factos posteriores
vieram mostrar que a mortalidade diminuia de dia para dia entre os
francezes, tornando-se o numero dos óbitos inferior ao dos nascimentos,
segundo diz Leroy Beaulieu, o que se demonstrou em relação ao anno
de 1874.
Não nos podemos alargar mais cm considerações a respeito da acli-
mação dos europeus na Algéria, porque desejamos fallar das colónias das
outras nações da Europa, e não cabe nos limites doeste livro tratar com
desenvolvimento de todos os assumptos especiaes de cada uma das re-
giões coloniaes.
A Algéria, a dar-se credito a Leroy Beaulieu, tem sensível progresso,
mas Pierre Larousse, em 1874, julga-a estacionaria e sem condições de
vitalidade. Não curámos de saber de que parte está a rasão. Citamos os
fados e consignámos a opinião de cada escriptor.
Os francezes, alem da Algéria, possuem na Africa diíTerentes estabeleci*
mentos commerciaes e estações militares, tanto na costa occidental como
na oriental. Mas o território a que ligam mais importância é o do Sene-
gal, a respeito do qual diz Leroy Beaulieu :
* A ilha de Reunião está em 20» til de latitude S., como estão os districtos de
ínhambane, na província de Moçambique; as de Guadalupe e Martinica correspon-
dem a dííTerentes districtos de Angola e Moçambique.
149
«O Senegal é antes iinna colónia de commercio e de in fluência, se po-
demos fallar d'esle modo, do que uma colónia de agricultura e emigra-
çio. Alguns europeus, em muito pequeno numero, estão estabelecidos na
ilha de S. Luiz, em Gorée, em Dakar e era diversos estabelecimentos do
interior, estendendo suas relações por mais de i:Há kilometros. O ter-
ritório sujeito ao nosso dominio, singularmente engrandecido por uma po-
litica babil e vigorosa, contava em 1860, segundo Jules Duval, mais de
115:000 habitantes, entre os quaes existiam apenas 300 europeus I»
A colónia franceza do Senegal não tem, pois, comparação com a da
Algéria, mas Leroy Beaulieu procura mostrar as vantagens que a França
(l'ella pôde tirar.
Os escriptores francezes não perdem occasião de fazer propaganda, e
muitas vezes são exagerados nas descripções de uma colónia qualquer;
o próprio Leroy Beaulieu reconhece isto : e para sustentarmos esta aíTir-
mativa, basta lembrar um trabalho que anda nas mãos dos estudantes
francezes, o atlas de geographia de Grosselin Delamarche, onde se acha,
sob os n.®* 74, 47, 75 e 7G, um mappa das colónias francezas, entre as
quaes se designam territórios que pertencem a outras nações. É por isso
que julgámos necessário declarar desde já, que o nosso dominio na Se-
negambia começa por 13^ 10' de latitude N., 3\7 ao N. do rio S. Pedro.
D'este ponto para o interior estende-se o nosso território até ao presidio
de Geba, 334 kilometros da costa, que está calculada em cerca de 445 ki-
lometros de extensão, sendo o rio Casamansa o que fica mais ao N. da re-
gião que nos pertence.
Foi portanto grande a nossa surpreza quando notámos que sob as de-
nominações de Senegal incluiu o auctor do mappa a que nos referimos
parte do território que nos pertence, assim como no mar de Guiné não
vem designado o nosso território de Ajuda. Independentemente d'este re-
paro, poderíamos notar que a ilha de Madagáscar é apresentada no mesmo
mappa em que se enumeram as colónias francezas, como as ilhas de Bour-
bon e áe França. Não achámos regular este modo vago de designar os
territórios de um paiz, e nós, descendo a estas minuciosidades, só quere-
mos signíGcar que os portuguezes devem sustentar por todos os meios ao
seu alcance os direitos que téem aos territórios do ultramar que ainda
possuem. Mas o que é necessário é empregar a propaganda justa, con-
stante e efficaz, para que se conheça, tanto em Portugal como no es-
trangeiro, que ainda boje somos o quarto paiz colonial da Europa.
Os escriptores francezes aproveitam todas as occasiões que se lhes oíTe-
recem para engrandecer a pátria e para mostrar a confiança que têemnas
colónias, embora as suas repetidas tentativas de colonisação tenham dado
sempre resultado negativo.
150
Vale a pena ver o que a respeito do Senegal escreveu Leroy Beaulieu.
cDe todas as nossas colónias nâo ha nenbunia, a que, segundo pen-
sámos, esteja reservado melhor futuro do que á do Senegal. Está situada
a 2:225 kilometros de Tombouctou e é relativamente vizinha da nossa
grande colónia de Algéria; e, sendo governada por mãos hábeis, será um
importante centro de commercio e de civilisação.
«Pela nossa posição em Âlger e em S. Luiz, em presença dos nossos
postos militares e dos nossos colonos de Exaghouat, de um lado, e, do
outro, dos de Bakel; pela extensão da nossa influencia nas tribus do Sa-
bará de uma parte, e, da outra, nas nações do Alto-Senegal, dominámos
todo o noroeste da Africa, e podemos ser, em tão vasto paiz, os únicos se-
nhores do commercio e da cultura, sem podermos marcar um limite ás
nossas relações e influencias.»
A parte de Africa que limita, ao N., com a Senegambia portugueza, è,
como a nossa, uma colónia esperançosa, e a França já por duas vezes viu
perdidos seus esforços para ali introduzir a colonisação. É verdade que o
Senegal é um caminho para o interior da Africa, mas esse caminho não
tem menos valor pela nossa possessão.
Mas como no Senegal não tem havido emigração que mereça mencio-
nar-se, abstemo-nos por emquanto de outras considerações, lembrando
apenas que é uma colónia tropical quente, sendo a população, segundo o
dr. Doutroulau, de i 16:000 habitantes, entre os quaes ha apenas 292 eu-
ropeus civis, 204 em S. Luiz e 88 na Gorée, e 2:265 militares divididos
pelos differentes estabelecimentos de feitorias.
— A França possue no mar da índia a ilha da Reunião, nome que to-
mou em 1848.
Denominava-se até então Bourbon ou Bonaparte. Fica a 20*^ 51' de
latitude S., 400 kilometros da ilha de Madagáscar. É uma das mais im-
portantes ilhas da Africa. Tem 71 kilometros de comprimento por 50 de
largura, sendo calculada a superfície em 2:5H kilometros quadrados, isto
é, o dobro da da ilha de S. Thomè, ou pouco mais. A população especifica
é de 55 habitantes por kilometro quadrado.
Em 1860 havia na ilha, segundo o dr. Dutroulau, 166:558 individuoSi
sendo 103:292 homens e 63:268 mulheres.
Poucos paizes, diz o sábio medico francez, offerecem uma galeria an-
thropologica tão completa como a ilha da Reunião.
Os trabalhadores de toda a procedência, que a escravatura ali intro-
duziu, a emigração voluntária que hoje (1868) se faz, deu occasião a que
se reunissem muitos indivíduos apresentando muita diversidade de ty-
pos assas notáveis. Podem ali estudar-se com vantagem as raças na soa
pureza primitiva e no producto do cruzamento.
151
O clima é tropical quente, ou tropical propriamente dito, tão pequena
é a distancia da ilha ao trópico boreal. Actualmente a sua producção prin-
cipal para exportação é o assucar.
— A Guyana franceza é um paiz equatorial N. Está collocado entre 2°
e 6** de latitude, entre a Guyana brazileira e a hollandeza, no extremo se-
plentrional da America do Sul. É muito pouco povoada, havendo
presentemenle i habitante por lOkilometros quadrados I O dr. Dutroulau
referindo-se ao anno de 1860 dá o seguinte resultado :
Homens brancos e de côr 18:507
índios, aborigines e tribus negras 1:780
Emigrantes de differentes procedências 2:085
Europeus, militares e funccionarios 1:520
Degredados 6:635
Total 30:527
Este numero de habitantes differe muito do que se encontra no an-
nuario estatístico de Colha, e a não haver deficiência de informações, a
colónia franceza da Guyana não tem melhorado de clima, e a vida ali tor-
na-se impossível.
A questão de insalubridade ou salubridade não é para este logar, nem
as estatísticas referidas a dois ou três annos podem servir para se estabe-
lecerem princípios de aclimação. O que desde já se antevê todavia é que
a população da Guyana franceza tende a diminuir, o que é essencialmente
desfavorável para a coionisação.
— As colónias mais importantes que a França possue, além das que
deixámos referidas, são, segundo A. F. Dutroulau, as ilhas Guadelupe e
Martinica, nas pequenas Antilhas, a ilha Mayotte entre as Cômoros, ao N.
do canal de Moçambique, Taíti*, e, finalmente, a Nova Caledónia na Ma-
lanésia, a È. da Austrália.
A ilha Martinica tem 64 kilometros de comprimento e 28 de largura.
Apresenta diversa configuração, segundo se olha para a região meridio-
nal ou para a do norte, mas as montanhas mais elevadas são muito mais
1 Taítí é a capital dos estabelecimentos francezes da Oceanía, conhecidos sob
o nome de protectorados. Yeja-se a pagina 143 d'este trabalho, onde vêem desi-
gnadas as ilhas comprehendidas sob tal denominação.
A ilha Taiti se não tem importância como colónia agricola, é comtudo um paiz
tropical digno de estudo em relação á salubridade que apresenta. D*elle se occupou
Dutroulau, fatiando da pathologia, e nós teremos occasião de o examinar em ou-
tro logar, sob este ponto de vista.
152
pequenas que as da ilha de S. Tliomé. Calcula-se a sua altura em 1:300
metros approximadamente.
A ilha Guadalupe, maior que a Martinica, tem uma disposição espe-
cial, poisque se acha, por assim dizer, partida em duas por um rio que
a atravessa de um a outro lado, sendo uma composta de terrenos bai-
xos e offerecendo a outra alguns montes que se elevam a 1:880 melros.
A região montanhosa das duas ilhas não é habitada, mas a zona me-
dia comprehendida entre 300 a 800 metros de altitude compõe-se de ter-
ras cultivadas.
A ilha Mayotte tem 28 kilometros de comprimento sobre 14 de largo,
e a sua superfície é mais pequena que a da ilha de S. Thomé. Os montes
elevam-se apenas a 660 metros e as correntes de agua são de pequeno vo-
lume.
A Nova Caledónia tem 280 kilometros de comprimento e 55 de lar-
gura, calculando-se a sua superfície em mais de 19:000 kilometros qua-
drados. É pouco conhecida a região interior e não tem montanhas muito
elevadas.
De todas estas ilhas nos deixou A. F. Dutroulau, cuja morte a scien-
cia deplora com sentida magoa *, uma descripção m'edicogeographica que
merece consullar-se. É realmente um livro clássico, uma obra que deve
occupar um dos primeiros logares na livraria dos médicos que se empre-
gam no estudo dos paizes tropico-equatoriaes. E não podemos deixar de
notar, aindaque de passagem, a falta de trabalhos idênticos acerca das
nossas colónias. Não é este de certo o único livro indispensável, ha ou-
tros cuja falta nos ó muito grave, e que vem aqui de molde lembrarmos
que os devemos mandar aos grandes certamens internacionaes. E se pre-
cisámos de exemplo, recordámos o que se fez no Brazil por occasião da
exposição de Vienna de Áustria e ultimamente da de Philadelphia^. Assim
como se fazem conhecer os nossos productos agricolas e coloniaes, do mes-
mo modo devemos mostrar a extensão do território, seus limites, terrenos
cultivados e incultos, diversidade de climas, população especifica, etc.
* O dr. Augusto Frederico Dutroulau falleceu em 28 de fevereiro de 1872. Era
chefe do serviço de saúde de marínlia e oíDcial da Legião de Honra. O seu traba-
lho principal é o Tratado das doenças dos europeus nos paizes quentes, livro que,
como disse M. Rochard ao despedir-se do seu collega junto á campa, fura duas ve-
zes coroado, e tem auctoridade scientifica.
2 Temos diante de nós um livro com o seguinte titulo : O impeno do Brazil na
exposição universal de 1813 em Vienna d€ Áustria, Igual trabalho se preparou
para a exposição da Phíladclphía, sendo impresso, segundo ouvimos dizer, em qua-
tro linguas — portuguez, francez, allemão e inglez. É esta a mais efflcaz e racionai
propaganda que um paiz pôde fazer em seu favor.
153
Colónias da HoUanda, olima geral, superfioie, população
e prinolpaes producgoes
Designações
índias ocoldentaeB
America:
Ilha Coraçáo
liba Araba
Ilha Donaire ,
Dha St. Martin
UhaSaba ,
Ilha St. Kaslachc ,
Snrinam (Demerara oa Guyana boi
landeza) ,
índias orientaes
Oceaoía :
Java com a ilba de JJadara
Cosia Occidental
Costa oriental com as
liba dej ilhas de Hioow
Soniatra]Donkoulea
Lampongs
Palcmbang
Ilha Banca
IlbaDilliton
Ilha Ceie* | Território geral
bes . . . . I Alenado
...^ «« I Costa Occidental
Ilha Bor-^^ , ... ,
^ Costa meridional
* * * * 'Cosla oríenUl
w (Temalo o dependências
Ilhas Mo->- . . j .
/Ambomo e dependências
" ' ( Banda e dependências. .
Illiade Timor (parte occidental, SO.)
Ilha Bali
Ilha Nova-Gniné.
Clima geral
Tropical qoente (N.)
Tropical quente (N.)
Tropico-equat. (N.)
Tropico-equat. (N.)
Tropíco-eqnal. (N.)
Equatorial (N.)....
Equatorial (S.)....
Eqnalorial(N.)....
Equatorial (."s.)....
Equatorial (S.)
Equatorial (S.) ....
Equatorial (S.)....
Equatorial (ÍS.). . . .
Equatorial (S.)....
Equatorial (N.)....
Equatorial
Equatorial (S.)
Equatorial
Equatorial
Equatorial (S.)
Equatorial (S.)
Equatorial (S.)....
Equatorial (S.)....
Equatorial (S.)....
Total geral.
S
Supcrficie
Kil. quad.
550,00
105,00
333.00
46,80
12,83
20,70
119:321,00
120:391.33
134:607,00
121:172,00
45:427,00
25:087,00
26:155,00
160:3(3.00
13:050,00
6:552.00
118:380.00
69:776.00
154:506.00
361:653.00
02:204,00
26:370,00
22:647,00
10:600.00
10:462.00
176:752,00
1.545:743,00
1.666:134,33
População
Productos principaes
22:713
5:3a3|
^:370l , . .„
2-959 ^^ e cochonilha.
1:975]
1:750'
69:834 Assucar, cale, algo-
108:984 ^^^ ' "'""•
17.786:118
1.620:979
69:386
140:116
112:784
577:085
63:922
26:639
335:942
495:396
365:798
889:629
97:913
94:745
155:453
79:374
22.931:479
23.040:463
Assucar, café, indigo,
arroz, cacau, bau-
nilha, tabaco, etc.
Arroz, tabaco, café,
pimenta, essências
eoiro.
Arroz, milho, fructa
6 mineraes.
Metacs preciosos e
essências.
Especiarias.
Algodão, café, taba-
co e assucar.
A Hollanda, occupaDdo um território assas limitado na Europa, tem
comtudo vastos domínios no ultramar, distribuídos por duas regiões muito
dislínctas. Fica uma sob a linha equinoccial na Oceania, e outra na Ame-
rica do Sul e golfo do México, estando a Guyana mais próxima do equa-
dor 8 a ilha de Coração mais afastada. As colónias hoilandezas sao, pois,
154
inteiramente equatoriaes, e mostram a possibilidade de os habitantes das
regiões septenlrionaes da Europa viverem nos logares reputados mais
quentes do mundo, como muitos que se encontram nas ilhas de Sumatra,
Borneo, etc.
Taes possessões, porém, não offerecem ainda vantajosos elementos
para a resolução do problema da aclimação dos europeus nos paizes in-
tertropicaes; mas embora não haja nas colónias hollandezas verdadeira
colonisação, as nações da Europa têem muito que aprender no modo por
que taes colónias téem sido administradas.
As lições da historia nunca devem esquecer. Explicam a concalenação
dos factos, deixam no espirito idéas bem definidas, e animam os que dese*
jam conhecer a verdade e applicar a justiça com rectidão.
Os povos, como os indivíduos, praticam acções de vida íntima que não
devem discutir-se, mas as suas relações para com os outros e o modo por
que affirmaram a sua independência servem muitas vezes de lição aos vin-
douros ; e sem o auxilio da historia faltaria a verdadeira pedra de toque para
as aferir. Devemos, pois, examinar não só a nossa própria historia colo-
nial, mas também a dos povos que nos seguiram pelas differentes partes
do mundo que descobrimos. Não é alheia ao nosso fim esla analyse his-
torico-colonial, porque, tratando de conhecer se os europeus podem acli-
mar-se nas terras equatorias, precisámos avaliar a vitalidade de cada
nação europea de onde partem os colonos que vão povoar as terras de
alem-mar. Assim como é indispensável para a apreciação da constituição
individual examinar a historia pregressa de cada homem, do mesmo modo
os paizes extra-europeus do século xix, ou sejam subordinados ainda ás
nações que os crearam, ou estejam independentes, merecem detido exame
a respeito da origem, formação e desenvolvimento da sua nacionalidade.
Para o caso de que nos occupámos trataremos de dar em resumo as no-
ções principaes que se referem ao império colonial da Hollanda.
Os hollandezcs são um povo dotado de energia e têem aíDrmado a sua
independência nos diversos campos da actividade humana, dando exem-
plos de valor a todas as outras nações colonisadoras da Europa. Tive-
ram Hespanha e Portugal por mestres, emquanto a colonisação, mas não
imitam estas nações no modo por que administram as colónias que es-
tabeleceram. É esta na verdade uma prova evidente da sua intelligencia e
bom senso. Não seguiram o melhor systema, mas reconheceram os de-
feitos que havia no que praticavam os povos que lhe iam na vanguarda.
Os portuguezes, coUocados ao occidente da Europa, conquistaram o
reino palmo a palmo. São orgulhosos peia sua independência, e, aspirando
sempre á liberdade, téem dado inconcussas provas de amor á pátria.
A sua historia é uma das primeiras entre a de todos os povos do mundo,
i55
por ella teve especial atlenç3o o imperador da França, que a mandou en-
sinar nos lyceus. É porque na historia portugueza, diz um escriplor fran-
cez, ha uma excellente escola de enthusiasmo e de heroismo.
Recordâmo-nos com prazer dos heroes de 1640, assim como nos re-
feriremos ao nosso captiveiro, pondo bem em relevo a verdade.
Prende-se por tal modo a nossa historia colonial do século xv e xvi
com a da Hespanha e Hollanda, que nâo podemos memorar os aconteci-
mentos de uma nação sem fallar das outras. Seremos todavia imparciaes»
como nos cumpre.
A Hollanda não soffreu o dominio hespanhol e reagiu contra o despo-
tismo de Filippe II de Hespanha, havendo-se com tanta fortuna que prin-
cipiou doesse tempo a sua grandeza e prosperidade.
Prohíbiu-lhe a Hespanha, que a tinha sob a mais cruel oppressão, o
commercio com a cidade de Lisboa. Julgou que feria os hollandezes^
quando sobre nós é que se descarregavam os golpes i
Não os humilhou a prohibição que lhes fez a orgulhosa Hespanha.
Aproveitaram-se, pelo contrario, do ensejo para realisarem um grande em-
prehendimento. As injustiças e as perseguições engrandecem muitas ve-
zes os opprimidos. Quando não tivéssemos outras provas, bastava o que
se passou entre os hollandezes quando viram o seu commercio interrom-
pido com os portuguezes. A sua resolução não se fez esperar; dírigiram-
se directamente á índia, e informaram-se dos usos e costumes dos povos
d'aquellas regiões. Foi esta a primeira consequência de tão arbitraria
quanto abusiva determinação.
Armaram alguns navios, que demandaram as terras do oriente. Não
iam armados de grandes petrechos de guerra; dedicavam-se especial-
mente ao commercio. Não se propunham atacar de frente os destemidos
galeões de Portugal; o seu principal cuidado era evital-os. Tinham por
fim ver as terras do oriente, avaliar o nosso poder e os meios de o inuti-
lisar. Serviu-lhes o commercio de pretexto. E poucas viagens bastaram
para saber como lhes convinha proceder. Fizeram-se durante alguns an-
nos expedições particulares, e depois creou-se a companhia das índias, que
sob a mira do commercio promovia a indisposição dos indígenas das ilhas,
onde aportavam, contra nós, e acabavam por nos declarar guerra I As nos-
sas terras do oriente foram as primeiras colónias dos hollandezes. Esta-
beleceram-se depois no Cabo da Boa Esperança, de que nunca fizemos
caso, e espalharam-se por alguns pontos da America.
O centro do movimento commercial era na pequena ilha Coração, que
foi para a região septentrional da America do Sul o que deveria ser a
nossa ilha de S. Thomé para a região equatorial da Africa, se por acaso
quizessemos occupar o logar que nos competia na sua exploração.
i56
As colónias hollandezas, é mister relembrar, levanlaram-se sobre as
ruínas das nossas possessões do oriente i Foi para nós uma perda immensa.
A Hespanha parecia comprazer-se em ver ameaçada a integridade do nosso
'território do ultramar, julgando talvez que assim nos enfraquecia, mas
não logrou o seu intenlo.
Estivemos por sessenta annos sob um jugo violentíssimo; mas soou a
hora da liberdade, e por todos os ângulos de Portugal se ouviu o mesmo
grilo — pátria» Uberdade, independência.
Nao podemos todavia acudir a todas as colónias de que os hollande-
zes se haviam já apoderado.
Cumpría-nos sustentar a integridade do território ; era esse o nosso
principal dever, e fomos obrigados a concentrar na metrópole todas as for-
ças para defender a mae pátria; e os hollandezes, que avaliavam a nossa
posição, aproveitaram o tempo para atacar as províncias mais afastadas
da monarchia portugueza, discutindo muitas vezes a posse de territórios
onde chegaram depois de nós.
Havia-se fundado, como dissemos, a companhia das índias, que pa-
recia destinada mais á exploração commercial do que á colonisação, mas
eram outros seus intuitos. Foi ella que promoveu a occupação de mui-
tas ilhas, e procurou apoderar-se de bastantes territórios de alem-mar. Foi
ella que occupou as ilhas de Java, Amboino, Banda e Molucas, na Ocea-
nia, Ceylão, Malaca, Macassar, e o Cabo da Boa Esperança, para todas
as quaes havia nomeado governadores. O systema empregado pelos hol-
landezes para com os indígenas foi bem calculado ; mas não daria hoje bom
resultado, poisque a prosperidade das colónias não se sustenta senão
pela agricultura.
Como somente por incidente tocámos n'estes assumptos que a historia
nos ensina, não nos demorámos por mais tempo n'estas considerações, e
passámos a fallar da população das colónias hollandezas, o que tem rela-
ção directa com o objecto d'este trabalho.
Em 1869 a população das ilhas de Java e Madura era composta dos
seguintes indivíduos:
Indígenas 15.791:845
Chinezes 172:281
Árabes 7:234
Europeus 29:139
Differentes nacionalidades 9:616
Total 16.010:115
A população especifica, n'este anno, era, pois, de 100 indi\iduos por
i57
kilonictro quadrado. Segundo os dados do annuario estatislico de Golha,
em 1874, a população subia a 17.786:118 habitantes.
As ilhas de Java e Madura devem o progresso e desenvolvimento
agrícola que n'ellas se observam á intelligentc administração de alguns go-
vernadores que nos primeiros annos d'este século lhes deram todo o in-
cremento. Durante a administração d'estes beneméritos cidadãos, a agri-
cultura e o commercio augmentaram de tal modo, que poucas colónias se
podem igualar a estas ilhas. É realmente innegavel que a felicidade de
■ qualquer paiz depende quasi sempre dos homens que estão á frente dos
seus negócios públicos. Deu-nos o grande Affonso de Albuquerque o im-
pério do oriente, e ao infante D. Henrique se deve a maior das nossas
glorias. Muitos monarchas portuguezes corresponderam á sua alta mis-
são, e tivemos ministros como o marquez de Pombal.
Aflirmámos a nossa nacionalidade perante todas as nações da Eu-
ropa, e hoje, como sempre, defenderemos a todo o transe a nossa inde-
pendência. Moslra-nos a historia que somos a primeira entre as nações de
segunda ordem, e que somos uma das primeiras nações colonisadoras do
século XIX. Se alguns escriptores estrangeiros não se referem ás nossas
plantações coloniaes, não deixam elles também de condemnar o systema
colonial dos hollandezes.
«Os hollandezes, observa Leroy Beaulieu, não se occupam em civili-
sar a população indígena ; olham apenas com attenção para as culturas e
commercio e não para a instrucção dos habitantes. É, como se vè, uma
colonisação desprovida do espirito elevado e pensamento nobre com que
todo o povo deve colonisar. A colonisação hollandeza é, para dizer tudo,
uma simples exploração.»
A população europêa é extremamente rara nas colónias hoUandezas.
Em 1857 havia na ilha de Java apenas 14:000 indivíduos. O governo ten-
tou augmental-a, mas os emigrantes preferem os Estados Unidos ás ilhas
da Sonda, na Oceania.
Os portuguezes, pela sua parte, preferem as terras do Brazil ás da
Africa, o que não tomará incremento se os negócios coloniaes forem at-
lendidos, como se tem notado no corrente anno do 1876.
O que é certo é que a província de Angola, seis vezes maior que as
ilhas de Java e Madura, está em condições de progredir muito e de poder
compelir com as colónias da Africa, de Cuba e de Java e até com a Algé-
ria franceza.
Alem das ilhas oceânicas, a Hollanda possue, como dissemos, a Guya-
na, território assas vasto, mas pouco povoado relativamente ás outras co^
lonias.
Em 1859 tinha 53:000 habitantes, sendo 15:959 livres e 36:963 es^
I
1S8
cravos. Em 1874 e 1875 elevava-se o numero dos habitantes a 69:834,
o que é realmente insignificante para um paiz com uma superfície dupla
da de Portugal.
Uma das causas que téem concorrido para o estacionamento da Guyana
hollandeza é certamente o absentheismo, cancro que affecta também as
nossas colónias.
O absentheismo tem sido fatal para a colónia americana da FloUanda,
poisque emquanto os proprietários vivem luxuosamente em Amsterdam,
as plantações estão entregues a gerentes cuja incapacidade é notória, as-
sim como a sua negligencia e immoralidade. Os trabalhadores são mal
tratados e a mortalidade entre elles é espantosa.
São variadas as causas que têem concorrido para o limitado desen-
volvimento da celebre Demarara ou Surinam hollandeza, para onde, ape-
sar de tudo, ha uma corrente de emigração assas regular, postoque fraca
em apparencia.
Referimo-nos, nas consideraçijes que acabámos de expor, a Leroy
Beaulieu, e por ellas pôde fazer-se idéa do estado em que se acha actual-
mente um dos paizes que passa por um dos mais insalubres do mundo.
É ali, sob o sol do equador, em um terreno pouco elevado, que alguns
camponezes da Hollanda se entregam á cultura do terreno que adquirem.
Se os hoUandezes em taes circumslancias podem entregar-se á cultura,
não desesperemos nós de o fazer também em muitos pontos das provín-
cias de Angola e Moçambique, onde ha largos tractos de terreno em muito
melhores condições de salubridade do que em Demerara e n'outras coló-
nias de Hollanda.
Para terminar tão succinlas observações acerca d'esta colónia da
Hollanda, notaremos que no século xviii havia n'aquelle paiz 600 fazen-
das, nas quaes trabalhavam cerca de 30:000 escravos. Em 1845 conta-
vam-se apenas 259, cujo numero se conservou estacionário até 1860.
Vê-se, pois, que a agricultura tem declinado na Guyana hollandeza de-
pois da sua maior prosperidade.
Falla-se com admiração do império colonial da Hollanda, cuja parte
principal se acha sob a linha equinoccial, e indica-se muitas vezes como
má condição a posição tropical das nossas possessões I Diz-se também no
diccionario Larousse que pertence á Neerlandia o estabelecimento deno-
minado Elmina, sobre-cosla do Ouro, no mar de Guiné. Não sabemos se
é verdadeira esta asserção, poisque ali se reputa colónia hollandeza o ar-
chipelago de Timor, quando a maior parte da ilha principal com a pequena
ilha Pulo Cambing fazem parte integrante da nossa província da Ásia Orien-
tal e Oceania ! Trataremos d'estes e de outros assumptos análogos no de-
curso d*este trabalho, abstendo-nos por isso de mais largas consideraçõeSi
OoIanla^ Inglezas, ollma g;eral, anperflole, população
e proãnotos prinoipaes
Populacho PradattoiprJDcipaH
ItkH d« KoDiil-HDqria (E>ta(ii>)
■~'" idflwB (ladoiUa b (nila
— jatal dofoKb d« Bungila) . , . .
otii«-.-..TT.;
AnJamiun (BtlI^1a)
K.l,itich'.irr.'ii|f.i .■ fiitwiji (ãl^-
h£W"^,"'-.'::::::::::::
AfriM
EiuhflivimfDtM e fíjloriu d> cot-
Ui>uidi«UI dn Aítin
Dhmda Akí(uIo .^.<„
llbi de Saola SaJaia
Ijlu dt Tiiitlo da CiiDhi (CMíIo)
Porta ihui.. ..:;!!;!!;!.;;;;!;!
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Man Aii»li<rdaa(KsU{ls)
!>. Paulo (EiUclu]
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tíerniDdu ■'"...,.....,........ ^
Hondorai
Ilku da BihuBa od Lneani
IlhudíTan
Ilhu de CtjEuin, nuida e ptqnena
B™ (EttaíJo)
Lvs^ilI t-ljuilt (S d» iKqiHiui
Uiri'lu..i.l Khi,.ll (6 du pcqupOJI
Tri<< ' ' -- ii ! 9 psqneiiai Anli-
Gbjíb* ItuJoa (AiMríca do Sul) . .
Ilfaai Falkbad
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TimuiaiVan-DIcnini)
HmUaadta
lll«Gti*lbiun
Ilka dAnckUiid
KtnLdrdHoH
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llbaFinDiaE
llbaUildíB
IlhaSUrboBCk
lUiaCmlin
llb» dt KMiiw (EtUçlo)
Tro|i<CAl qi
Tropical qi
Tropical qi
Tropical qoenie (N.)
Tropical queale(N.)
IHI.II63:a(R
6:800
l.t05:»<T
13^500
Tropical iCTip. (S.
Tropical ismp. jS.
Tropical qnenliíS,
BBI;0a9,0
tG;IM.O
liSiU.D
FrioíN.)
FrioiN.)
Tropiu] Iroip. (N.
Tropical qucnlaiN.
Tnipkal tcmp. (N,
Tropical queoIoiN.
Tropical quenli' (N. ,
Tropical qaeDte(N.)
Tropical qiteDU!(N.)
Tropical qwni>(N.)
Troplca.«qual. (K.)
Eqoalorial...
Frio IS.)'
~ lical lemp. J!
Tropkal quriitc(S.
Equalorial (N.'
Equatorial (S,
Equaiorial (b.
Total ««ral.,. S0.!Klt:7(W,
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B7:Bet,0
175:ÍU0.D
l:;iiH,a
lilho.lricn, eaW, Ic
•a^arina.
39:161
1:S7R
í:9Í5
506:1»
S:iOa
1«):13(
181:078
etíei prccioKit.
Cari lo, cobrp c
160
Siio immensos os paizes que a Inglaterra possue na Ásia, Africa, Ame-
rica e Oceania. Independentemente, porém, de tão extraordinária extensão
colonial, os inglezes merecem com justilicadu rasão o nome de povo co-
lonisador por excellencia. Não toem direito a tão honroso titulo em pre-
sença das suas colónias do século xix, merecem-no pelo que fizeram no
século XVI, quando Portugal e a Hespanha alargavam a esphera do seu
poder em todas as partes do mundo.
Um concurso feliz de muitas circumstancias, observa Leroy Beaulieu,
fez com que os três primeiros povos colonisadores, Portugal, Hespanha e
Inglaterra, obtivessem os paizes exlra-europeus que mais se accommoda-
vam á aptidão de cada uma d'estas nações.
Os arrojados e hábeis marinheiros portuguezes tiveram por domínio
as índias Orienlaes, onde podiam enriquecer-se por meio de umcommer-
cio fácil e inesgotável.
Os emprehendedores mas pesados aventureiros hespanhoes obtiveram
as minas da America central e meridional, que elles podiam explorar sem
esforço.
Aos judiciosos e pacientes colonos da Inglaterra tocou por sorte essa
immensa região inculta e quasi despovoada, que deveria torriar-se a mais
brilhante colónia do mundo.
Nenhuma terra correspondia melhor, acrescenta aquelle escriptor, aos
projectos dUackluyt, ástheorias de Bacon, aos desejos de WalterRaleigh
e de Humphrey Gilbert.
O governo inglez, que não toma jamais parte alguma directa na fun-
dação das colónias, ensina comtudo aos colonos o que mais lhes convém
fazer para obterem feliz resultado. O que o governo punha em pratica era
também divulgado pelos escri[)lores. Todos elles aconselhavam a occupa-
ção de terras virgens, mas de fertilidade reconhecida, ondepodessem, por
meio de trabalho, crear a industria agrícola e commercial.
A Inglaterra é inquestionavelmente o primeiro paiz colonial do mundo,
e Leroy Beaulieu dá minuciosas informações a respeito do espirito colo-
nisador d'aquelle povo, mas, quando se refere á escravatura, atlribue-lhe
a honra da iniciativa para a sua extincção. Não recusámos á Inglaterra a
parte que ella tomou em tão nobre emprehendimento, mas desejámos que
se nos faça lambem justiça, mostrando que se acceitámos, como todas as
nações modernas, o principio da escravidão, fomos os primeiros que a mo-
dificámos de um modo muito honroso para nós. Para evitar delongas, re-
produzimos os trechos de dois livros que temos á mão. Faliam bem alto,
e se um, por ser de escriptor porluguez. podesse ser tido por suspeito,
o outro que é obra de um sábio inglez, não deixará de merecer inteiro
credito.
IGI
n Muitas foram as providencias benéficas, diz José Joaquim Lopes de
Lima, que o Senhor Rei D. Manuel derramou sobre aquellepovo (o da ilha
de S. Thomé); mas entre todas — por parecer obra de séculos mais illustra-
dos — a carta regia de 9 de janeiro de lõlõ, na qual» depois de declarar
que fora expressamente ordenado no regimento que se fez para a povoa-
ção, que se desse a cada colono uma escrava para delia haver filhos, de-
termina que taes escravas fiquem livres com toda a sua descendência, e
nunca possam ser demandadas — ellas, nem seus filhos e filhas — como
captivos de elrei, nem de pessoa alguma; — e a outra carta regia de
24 de janeiro de 1517, a qual estende o mesmo beneficio aos escravos
machos, que similhantemente foram dados para serviço dos primeiros po-
voadores e os declara forros a elles e seus descendentes. yt
Isto prova, acrescenta o mesmo escriplor, que os reis de Portugal se-
guiam desinteressadamente os dictames de uma útil e sensata philantbro-
pia em seus domínios, três séculos antes que uma politica interesseira
ensinasse essa virtude a nações que, n'aquella epocha, traziam sob o jugo
de um duro feudalismo os escravos brancos seus conterrâneos, e que por-
ventura ainda hoje traficam em homens e mulheres da sua própria côr.
H. Major, procurando indagar o que diz respeito á origem do trafico
de escravos, á primeira deportação que d^elles se fez da Africa e quem
deu origem ao que hoje (1869) se chama o trafico da escravatura, deu
uma demonstração cabal de que não são os portuguezes os que merecem
censura.
Em um dos livros mais sympatbicos que ultimamente se publicou O
trabalho rural africano e a administração colonial, pelo marquez de Sá
da Bandeira, dáse minucioso desenvolvimento a tão grave assumpto, to-
mando-se por base o trabalho de H. Major.
Todos, sem excepção, hespanhoes, portuguezes, inglezes, francezes e
hoUandezes. diz o honrado marquez, consideram o trabalho dosindigenas
como propriedade sua. E obrigando-os, pelo modo o mais cruel, a fazer
serviços acima das suas forças, d'isso resultou, em muitas regiões, a des-
povoação e mesmo a exterminação de raças inteiras.
Em 1562 o capitão de navios John Hawkuis, nota o referido marquez
de Sá, referindo-se a um escriptor inglez, que depois fora thesoureiro da
rainha Izabel, partira de Inglaterra para a Serra Leoa com três navios,
em que embarcou trezentos negros, alguns dos quaes foram capturados
por força, e levados ás ilhas hespanholas, onde os trocou por assucar.
É, porém, certo que á Inglaterra cabe a gloria de sair de entre seus
filhos o primeiro grito de liberdade para toda a humanidade ser comple-
tamente livre.
Foi em 1773, diz Leroy Beaulieu, que pela primeira vez uma alma
11
160
Sao immensos os paizes que a Inglaterra possue na Ásia, Africa, Ame-
rica e Oceania. Independentemente, porém, de lao extraordinária extensão
colonial, os inglezes merecem com justificada rasão o nome de povo co-
lonisador por excellencia. Nâo lôem direito a tão honroso titulo em pre-
sença das suas colónias do século xix, merecem-no pelo que Dzeram no
século XVI, quando Portugal e a Hespanha alargavam a esphera do seu
poder em todas as partes do mundo.
Um concurso Teliz de muitas circumstanclas, observa Leroy Beaulíeu,
fez com que os Ires primeiros povos colonisadores, Portugal, Hespanha e
Inglaterra, obtivessem os paizes extra-europeus que mais se accommoda-
vam â aptidão de cada uma d'estas nações.
Os arrojados e hábeis marinheiros porluguezes tiveram por domínio
as índias Orienlaes, onde podiam enriquecer-se por meio de umcommer-
cio fácil e inesgotável.
Os emprehendedores mas pesados aventureiros hespanhoes obtiveram
as minas da America central e meridional, que elles podiam explorar sem
esforço.
Aos judiciosos e pacientes colonos da Inglaterra tocou por sorte essa
immensa região inculta e quasi despovoada, que deveria torriar-se a mais
brilhante colónia do mundo.
Nenhuma terra correspondia melhor, acrescenta aquelle escriptor, aos
projectos d'Hackluyt, ás theorias de Bacon, aos desejos de Walter Raleigh
e de Humphrey Gilbert.
O governo inglez, que não toma jamais parte alguma directa na fun-
dação das colónias, ensina comtudo aos colonos o que mais lhes convém
fazer para obterem feliz resultado. O que o governo punha em pratica era
também divulgado pelos escri|)tores. Todos elles aconselhavam a occupa-
ção de terras virgens, mas de fertilidade reconhecida, ondepodessem, por
meio de trabalho, crear a industria agrícola e commercial.
A Inglaterra é inquestionavelmente o primeiro paiz colonial do mundo»
e Leroy Beaulieu dá minuciosas informações a respeito do espirito colo-
nisador d'aquelle povo, mas, quando se refere á escravatura, attribue-lhe
a honra da iniciativa para a sua extincção. Não recusámos á Inglaterra a
parle que ella tomou em tão nobre emprehendimento, mas desejámos que
se nos faça lambem justiça, mostrando que se acceitámos, como todas as
nações modernas, o principio da escravidão, fomos os primeiros que a mo-
dificámos de um modo muito honroso para nós. Para evitar delongas, re-
produzimos os trechos de dois livros que temos á mão. Faliam bem alto,
e se um, por ser de escriptor porluguez, podesse ser tido por suspeito,
o outro que é obra de um sábio inglez, não deixará de merecer inteiro
credito*
l
IGl
9i Muitas foram as providencias benéficas, diz José Joaquim Lopes de
Lima, que o Senhor Rei D. Manuel derramou sobre aquellepovo (o da ilha
de S, Thomé); mas entre todas — por parecer obra de séculos mais illustra-
dos— a carta regia de 9 de janeiro de lôlõ, na qual, depois de declarar
que fora expressamente ordenado no regimento que se fez para a povoa-
ção, que se desse a cada colono uma escrava para delia haver filhos, de-
termina que taes escravas fiquem livres com toda a sua descendência, e
nunca possam ser demandadas — ellas, nem seus filhos e filhas — como
captivos de elrei, nem de pessoa alguma; — e a outra carta regia de
24 de janeiro de 1517, a qual estende o mesmo beneficio aos escravos
machos, que similhantemente foram dados para serviço dos primeiros po-
voadores e os declara forros a elles e seus descendentes. y*
Isto prova, acrescenta o mesmo escriptor, que os reis de Portugal se-
guiam desinteressadamente os dictames de uma ulil e sensata piíilanthro-
pia em seus domínios, três séculos antes que uma politica interesseira
ensinasse essa virtude a nações que, n'aquella epoclia, traziam sob o jugo
de um duro feudalismo os escravos brancos seus conterrâneos, e que por-
ventura ainda hoje traficam em homens e mulheres da sua própria cor.
H. Major, procurando indagar o que diz respeito á origem do trafico
de escravos, á primeira deportação que d'elles se fez da Africa e quem
deu origem ao que hoje (Í8G9) se chama o trafico da escravatura, deu
uma demonstração cabal de que não são os portuguezes os que merecem
censura.
Em um dos livros mais sympathicos que ultimamente se publicou O
trabalho rural africano e a administração colonial, pelo marquez de Sá
da Bandeira, dáse minucioso desenvolvimento a tão grave assumpto, to-
mando-se por base o trabalho de H. Major.
Todos, sem excepção, hespanhoes, portuguezes, inglezes, francezes e
hollandezes. diz o honrado marquez, consideram o trabalho dosindigenas
como propriedade sua. E obrigando-os, pelo modo o mais cruel, a fazer
serviços acima das suas forças, d'isso resultou, em muitas regiões, a des-
povoação e mesmo a exterminação de raças inteiras.
Em 1362 o capitão de navios John Hawkuis, nota o referido marquez
de Sá, referindo-se a um escriptor inglez, que depois fora thesoureiro da
rainha Izabel, partira de Inglaterra para a Serra Leoa com Ires navios,
em que embarcou trezentos negros, alguns dos quaes foram capturados
por força, e levados ás ilhas hespanholas, onde os trocou por assucar.
É, porém, certo que á Inglaterra cabe a gloria de sair de entre seus
filhos o primeiro grito de liberdade para toda a humanidade ser comple-
tamente livre.
Foi em 1773, diz Leroy Beaulieu, que pela primeira vez uma alma
11
16â
generosa e profundamente chrislã, William Wilberforce, então simples es.
ludante na escola de Poktinglon, escreveu um folheto contra a escravatura.
Em 1780 outro espirito elevado, Thomás Charkson, propoz no parlamento
a abolição de tão miserável traflco. Wilberforce renovou a proposta em
1787, e apresenta va-a todos os annos, acabando finalmente por triumphar.
No anno de 181 á foi abolido na Inglaterra este commercio odioso que,
desde três séculos, deshonrava a civilisação europea.
Três annos mais tarde, no congresso de Vienna, as nações ali reuni-
das obrigaram-se a empregar todos os esforços para acabar com o trafico
da escravatura, «altamente reprovado pelas leis, pela religião e pela na-
tureza».
O que se tem passado a este respeito desde 1812 até ao presente não
é assumpto que possa desenvolver-se nos estreitos limites doeste traba-
lho, nem o livro de Leroy Beaulieu, a que nos referimos, elucida simi-
Ihantes questões, sendo completamente omisso a respeito de Portugal.
Cumpre-nos, pois, observar que, tendo acompanhado as outras na-
ções quando se trata da liberdade dos trabalhadores africanos, podemos
afoutamente dizer que temos feito em favor da civilisação das nossas ter-
ras de Africa* tanto ou mais do que fizemos em prol da do Brazil, a cujo
respeito diz um esclarecido escriptor francez :
^ Se tm ou outro escriptor estrangeiro nos faz justiça, a maior parte d'elles
não se dão ao trabalho de indagar a verdade, e são sempre inexactos no tocante a
cousas portuguezas. Referem-se depois aos outros, repetem ou commentam as in-
exactidões divulgadas, e julgam-nos mal sem ter conhecimento da verdade 1
Não citámos nomes, nem lembrámos factos, porque isto está na memoria de todos.
O movimento colonial que se iniciou entre nós tem crescido e alargado, e por
este modo provámos a inexactidão do que se tem escripto a nosso respeito, e mos-
trámos o que somos e o que vaiemos.
O silencio é ás vezes signal precursor do aniquilamento moral; a propaganda
é uma das bases do desenvolvimento nacional, um dos meios do progresso das na-
ções e da humanidade.
E, como elemento de propagaçda, as sessões da camará dos deputados nos dias
lo, 16 e 17 de fevereiro do corrente anno (1877), attingiram o seu fim, fazendo re-
percutir em toda a Europa culta a justiça que nos assiste, no modo por que temos
resolvido a questão mais sympathica em que se empenharam as nações do século
Xi\, e afflrmando mais uma vez a nossa existência como nação livre e independente.
Na impossibilidade de nos alargar em considerações e á vista da importância
do assumpto, extractámos um dos trechos do brilhante discurso do ministro da ma-
rinha e ultramar, referindo-se á parte que tomámos na extincçJk) do trafico da es-
cravatura e no aniquilamento da escravidão.
Eís-aqui as palavras do sr. João de Andrade Corvo :
«Terei que lembrar agora quanto temos feito em favor da liberdade dos ne-
gros?
cSerá necessário recordar que quando em 1771 se concedia a liberdade a todo
163
^Le Brésil, cest le chefSwuvre de la colonisation portugaise; et,
bien qu'il ne lui appartienne plus, c'est néanmoins une gloire pour le Por-
tugal que de Vavoir conduit ou il est actuellement, d'avoir protege son en-
fance sans 1'opprifner, et d'avoir su se séparer de lui sans haine ni ran-
cune. 9
o escravo que vinha a Portugal, quando em 1773 um alvará declarava livres todos
os filhos de escravos nascidos em Portugal, e os considerava hábeis para todos os
officios, honras e dignidades, sem a nota distinctiva de libertos, que a superstição
dos romanos estabeleceu nos seus costumes, e que a união christã e a sociedade ci-
vil fazem intolerável; ainda "Granvilie-Sharp, em conclusão de um longo relatório,
dizia dever-se preferir á opinião contraria a opinião de que o negro, pelo simples
facto de vir á Inglaterra, ficava livre ?
«Quando essa opinião se considerava como preferível em Inglaterra, em Por-
tugal era já lei.
«Ninguém se deve admirar, em vista dos interesses mais ou menos licites que
se lhe oppõem, que a abolição da escravatura encontrasse grandes difíiculdades nas
colónias portuguezas.
«Pois não nos lembram, os que trabalhamos pela extincção do trafico, que em
1794 se apresentou á camará dos communs o bill da abolição do trafico, e só em
1807 foi elle convertido em lei?
«Pois não sabem todos que, depois de abolido o trafico, a abolição da escravi-
dão teve logar nos domínios britannicos passados vinte e seis annos ?
«Não se recordam todos das enormes resistências que encontrou a applicação
d'essa lei benéfica?
«Ha muito que nós trabalhámos para pôr termo a esse crime que envergonha
a humanidade.
«Já antes do tratado de 1842, que muita gente suppõe ter vindo acabar com o
trafico no território portuguez, o marquez de Sá da Bandeira, de veneranda memo-
ria, tinha, n'um decreto de dictadura, abolido o trafico da escravatura em toda a
monarchia portugueza.
«O tratado de 1842 não fez senão confirmar n'um pacto internacional o que
era lei em Portugal.
. «Desde este periodo, o trafico clandestino tem ido successi vãmente acabando
nas possessões portuguezas. Abolid^ a escravatura, téem hoje desapparecido os úl-
timos vestígios d'ella.
«Podemos dizer com ufania, que em terra portugueza não ha senão homens
livres.
«E não homens livres constituindo uma casta desconsiderada, como em outras
partes succede, mas homens livres que são cidadãos como nós.
«E é velha esta maneira de pensar entre nós. Basta lembrar as palavras do al-
vará de 1773, que ha pouco citei.
«O que dizia então o ms^rquez de Pombal, é a nossa doutrina á(i hoje. Perante
a lei os cidadãos portuguezes são iguacs, qualquer que seja a sua origem, quer se-
jam filhos de antigos escravos, quer sejam filhos de homens livres.
«Todos são cidadãos, todos téem iguaes direitos perantt; a lei fundamental do
estado.
164
Podem os escriptores inglezes recordar os serviços por elles prestados
á causa da liberdade, maravilhoso astro que illumina toda a família hu-
mana; mas na própria Inglaterra, onde se levantou uma voz animada por
um coração magnânimo, condemnando a caça do homem pelo homem,
appareceu um philosopho naturalista, que não duvidou marcar-nos uma
vida como a dos animaes, asseverando que as espécies vegelaes e animaes
descendem todas por via de transformações successivas de três ou quatro
typos primitivos ou talvez de um único typo,
D'esle modo nivelam-se os differentes seres creados, apaga-se toda
a idéa da religião e destroe-se todo o sentimento moral I E se por este lado é
condemnavel similhanle doutrina, não o é menos por dividir a familia hu-
mana, dando-se aos pretos uma origem diversa da dos brancos, admittin-
do-se a creação espontânea e coUocando-se os homens a par dos animaes.
As idéas de Wilberforce, em presença dos prihcipios de Darwin, seriam
egoistas, poisque se todos somos animaes, não devemos querer para nós
o que negámos aos outros. Se a origem é a mesma para todos os entes do
universo, se os homens da actualidade tiveram por antepassados alguns
macacos, ou se são formados como a agua, originados como stalactites, ou
creados como as arvores, d'onde vem a idéa do bello, a idéa do inQnito e o
desejo de explorar a terra, examinar o ar e adquirir nome glorioso!?. . .
As forças physicas não dão uns productos mais nobres do que os ou-
tros, e se á creação dos seres do universo presidiu a mesma força incon-
sciente, como se explica a consciência que domina a humanidade?!...
O que significa entãD o amor da pátria e o desejo de engrandecimento mo-
ral?. . . E com que direito se proclama a superioridade de uns seres, obri-
gando-se outros á escravidão ou matando-os para nos servirem de ali-
mento?...
Perante os princípios de Darwin, os pretos, os brancos, os cobreados
merecem a liberdade tanto como os bois, os elephantes, os cavallos e ou-
tros animaes que nós obrigámos ao trabalho forçado.
O que desde já devemos aflirmar é que estas idéas não podem ser ad-
mittidas; em theoria expõe-se muitas vezes o que na pratica se rejeita.
«Pôde, porventura, ser justamenle accusada de praticar, ou mesmo de proteger
a escravatura, uma nação que pensa, sente e legisla por esta forma?
• Satisfazendo aos desejos da narào, está o governo resolvido a reprimir ener^
gicamente lodos os actos que possam de perlo ou de longe oííender a lei que deu
inteira e absoluta liberdade a lodos os súbditos porluguczes no território de Africa;
a não consentir que nenhum homem possa ser sujeito a servidão dentro dos limi-
tes do nosso território.
«Por actos successivos, foram o governo e o parlamento apressando o momento
de acabar de vez com a servidão nas nossas colónias^ não Ibe importando interes-
ses oíTendidos, nem mal cabidas queixas.»
Este assumpto momeotoso será discutido, como temos dito, mais
adiante. Recordâmol-o aqui por incidente, porque nos causa assombro o
que se passa na famosa Inglaterra com os seus colonos ecom os seus sá-
bios e philosophos.
É uma nação excepcional e que nao se comprehende á primeira vista.
Merece certamente ser estudada sob differentes pontos, mas nâo o pode-
mos fazer n'este livro, onde apenas pretendemos mostrar a importância
das nossas colónias em relação ás das outras nações, sendo este o objecto
principal do presente capitulo.
Limitámos, pois, as nossas considerações ao que se acha exposto, e
passámos a dar uma breve noticia das possessões inglezas, a fim de as po-
dermos comparar com as de outros paizes europeus.
As colónias inglezas nas cinco partes do mundo têem 20.695:079 ki-
lometros quadrados de superScie assim dividida :
America 9.507:466
Oceania 7.993:757
Ásia 2.418:744
Africa 674:737
Europa 375
Não é fácil, decerto, fazer a descripção de tão variadas quonto exten-
sas possessões, mas tomaremos um ou outro ponto para servir de termo
de comparação, e mostrarmos a importância de cada região colonial.
Deveríamos começar pelo território que a Inglaterra possue na Afri-
ca, por ser aquelle que mais nos importa conhecer; mas seguiremos a or-
dem por que as deixámos inscríptas, dando comtudo mais algum desen-
volvimento ás colónias africanas.
As possessões inglezas da Aríierica téem uma disposição especial que
é indispensável toipar em consideração, quando se trata de as descrever.
Estendem-se do parallelo tirado 3^ 40' até alem do 52°. Portão larga
zona encontram-se muitas ilhas, largos territórios continentaes e climas
variadíssimos.
Os maiores territórios são os do Canadá, Guyana, Terra Nova, Hon-
dura', das ilhas de Bahama e Jamaica, sendo a Guyana o único paiz equa-
torial propriamente dito.
A possessão do Canadá è completamente extra tropical, e nenhuma
das nossas colónias se acha n'estas condições. Não é portanto um paiz
que mais nos importa conhecer. E preciso dizer também que esta im-
mensa região, maior que todo o império do Brazil, está collocada mais
ao N. do que Portugal, Qcando quasi dentro da mesma zona da França.
166
Tem por limites ao N. o oceano glacial árctico, ao S. os Estados Uni-
dos, a E. fica-lhe o oceano Atlântico, e a O. o mar Paciflco.
O domínio ou possessão do Canadá tem 9.099:141 kilometros qua-
drados, sendo a sua população assim classificada :
Inglezes 2.102:729
Francezes 1.082:940
Allemães 202:991
Neerlandezes 29:662
Gaulezes 7:773
Suissos. 2:962
Scandinavos 1:623
Italianos 1:035
Negros , 21:496
índios 23:035
Diversas nacionalidades 1:954
De origem desconhecida 7:561
Somma 3.485:761
Estas estatísticas servem para dar uma idéa approximada da popula-
ção de tal paiz. Referem-se apenas ao movimento gefal dos habitantes, e
não têem o desenvolvimento que apresentam as da ilha de S. Thomé, pois
tf estas não só tratamos do mo\imento geral, mas também dos nascimen-
tos, óbitos, população ambulante, etc.
Pelo que diz respeito aos habitantes da possessão do Canadá, cum-
pre-nos notar que os negros entram na proporção de 1 por 162 habitan-
tes, facto que importa registar, attenta a latitude em que está esta região.
A seguinte estatística mostra a relação em que se acham os habitan-
tes, segundo as respectivas nacionalidades.
/para os italianos 3:367 1 1
para os scandinavos 2:147 ; 1
para diversas nacionalidades.. . 1:783 1 1
para os suissos 1:176 ; 1
para os de origem desconhecida 461 : 1
Ipara os gaulezes 448 ; 1
Relação da população geral Lg^^ ^^ ^^^^^^ ^g2 . ,
para os Índios 151 ;1
para os neerlandezes 11711
para os allemães 17 1 1
para os francezes 3,2 ; 1
para os inglezes 1,6 .* 1
1G7
É preciso, porém, allender a que, quando a Inglaterra se apossou do
Canadá, já ali havia um núcleo de população, representado por 60:000
habitantes, que se entregavam a diversas culturas.
A França, em 1608, entrou n'este vasto território, e deu-lhe o nome
de Nova França; lançou então os fundamentos de Quebec, capital da coló-
nia, que conservou por espaço de cento e cincoenla annos. Depois da pro-
longada guerra de 1 763, passou para a Inglaterra, em poder da qual existe.
Nâo nos deve portanto admirar o prodigioso augmento da população
do Canadá. As guerras que ali houve por tantos annos promoveram gran-
de immigração. Os soldados, alem d'isso, habituaram-se ao cUma, e de-
pois da guerra pediam terrenos e n3o se retiravam da colónia.
O território do Canadá, finalmente, está para a Inglaterra como o ter-
ritório da Rússia asiática para o império da Rússia. S3o regiões de climas
quasi idênticos aos das metrópoles, e devem comparar-se entre si e nâo
com as zonas tropico-equaloriaes a que principalmente nos referimos.
O dominio da Inglaterra na Ásia occupa uma larga extensão e é mais
limitado que o da America; abrange localidades dentro da zona equato-
rial propriamente dita, ficando as mais importantes na região tropical.
É notável esta distriburção das colónias collocadas na mesma parte do
globo, poisque os navios inglezes se podem demorar sob uma zona equa-
torial ou tropical á vontade. É immenso o movimento commercial e são
moitas as cidades marítimas e não menos as continentaes, achando-se to-
das muito povoadas e ostentando riquezas deslumbrantes.
O Indo e o Ganges correm em território inglez, e da ilha de Ceylão ás
nascentes de um e de Singapura ás do outro, ha climas variados, cidades
notáveis 6 vastos territórios, formando tudo um grandissimo império, notá-
vel pela sua riqueza material e sob o ponto de vista ethnographico. Estão em
presença um do outro dois ramos da família humana, a raça anglo-saxonia
e a raça asiática, junto ás quaes se apresentam outras não menos notáveis.
Em 1871-1872 havia na índia a seguinte estupenda população :
Hindus 149.130:185
Mahometanos 40.227:552
Diversos asiáticos 540:989
Origem mixta 108:402
Inglezes 75:734
Diversos europeus 8:000
Europeus não classificados 30:453
Americanos, africanos, etc 6:961
De origem desconhecida 434:772
Total 190.563:048
168
A relação d'estes habitantes entre si é a seguinte : *
Hindus i,2:i
Mahometanos 4 : 1
Diversos asiáticos 352 ; 1
Origem mixta 1:757 ; 1
Inglezes 2:516 : 1
Diversos europeus 23:820 : 1
Europeus não classificados 6:257 : 1
Americanos, africanos, etc 27:375 .' i
De origem desconhecida 438 : 1
Não tentámos apreciar as ondulações d'esta immensa poputação, cuja
evolução rápida tem sido vertiginosa.
Eis-aqui os resultados mais geralmente admittidos :
Annos
Habitantes
AugmeDto
1850
123.931:369
143.271:210
151.146:516
19.339:841
7.875:306
1861
1870
I
o recenseamento de 1871-1872 eleva o numero de habitantes, como
vimos, a 190.563:048, o que mostra a diíBculdade de se proceder a mi-
nuciosas investigações para se apurar a verdade sobre a origem de tão
considerável população, e conhecer o seu movimento em tão extenso paiz.
O que se vê, todavia, é que a população da índia augmentà de um
modo assombroso.
As cidades mais importantes são Calcuttá, Bombaim, Madrasta, Lu-
cknow, Benares, Patna, Delhi, Agra, Allahadah, Bangalore, etc.
Não podemos, todavia, fallar d'este novo império britannico, sem re-
lembrar que d'elle nos pertenceu uma grande parte. Malaca, Ceylão, Bom-
baim e outros logares, onde domina hoje a soberba Albion, fizeram parte
das nossas possessões da índia.
Se a Hollanda formou o seu império do Oriente sobre possessões que
foram portuguezas, a Inglaterra entrou na índia pelas terras que também
eram nossas.
Para se avaliar a enorme perda que soíTremos, basta dizer que a su-
perflcie dos territórios que deixámos em poder da Inglaterra, é 4,3 vezes
maior que Portugal !
169
Na Oceania possue a Inglaterra a maior ilha do mundo. Pretendem al-
guns geographos que se lhe dé o nome de continente, mas nao ha rasão
que justifique tal denominação.
É, porém, certo que, se for exacta a superfície que lhe attribuera al-
guns escriplores*, esta ilha approxima-se, em grandeza, muito mais dos
continentes que das ilhas de primeira ordem. É mister, todavia, referir
outra circumstancia que nos leva a classificar a Austrália entre as ilhas e
nâo entre os continentes.
Como é sabido, a Europa está unida á Ásia, que actualmente se acha
separada da Africa por um simples canal.
A America do Norte alem, de ser um grande território une-se á Ame-
rica do Sul pelo estreito de Panamá, e nunca deixaria de ser contada como
um continente. O que é certo é que aindaque se admitta como verdadei-
ra a superScie maior que se tem attribuido á Austrália, é ella comtudo
inferior á do mais pequeno continente, como é fácil observar:
Kilom. quad.
Asia 45.685:920
America 38.000:000
Africa 29.700:000
Europa 9.600:000
Austrália 7.627:827
A superfície da Europa excede, pois, a de Austrália em (.972:173 ki-
lometros quadrados.
A comparação com as differentes ilhas de primeira ordem pôde ava-
liar-se também do modo seguinte :
Designação
Superficie
Kilomelros
Popnlação
Austrália
7.627:827
735:000
675:000
470:000
275:200
190:000
176:752
118:220
1.838:328
3.500:00(»
400:000
600:000
345:000.
3.000:000
13.380:268
Mddâirascâr
Borneo
Sumatra •
Novâ Zelândia
Celebes
Nova Guiné
Java e Madura
1 No diccionarío de Larousse calcala-se a superfície em 4.827:000 kilometros
quadrados. Referimos o calculo admittido no annuario estatistico de Gotba.
170
 superScie da Austrália excede, pois, a ilha que lhe é immedia-
tamente inferior em 6.892:287 kilometros quadrados.
Considere-se, porém, como um continente ou como uma ilha, será
sempre um território digno de se estudar. Pertence actualmente á Ingla-
terra, e a sua colonisação é uma das maiores maravilhas do século xix.
A Austrália é um paiz puramente tropical, isto é, fica debaixo do tró-
pico austral, de modo que n'esta tão extensa região ha o clima tropical
quente, o tropical propriamente dito e o clima tropical temperado. Alem
doestes climas geraes, ha outros segundo as diversas altitudes, a maior ou
menor proximidade da costa, etc.
Divide-se esta ímmensa ilha em differentes districtos; a saber: Nova
Galles do Sul, Victoria, Austrália meridional, Queensland, Austrália Occi-
dental e território do norte.
A população acha-se classificada do modo seguinte :
Nova Galles do Sul
Victoria
Aastralia do Sul.
Austrália occidental •,
Queensland ,
Sexo
masculino
Sexo
femioino
275:551
228:430
400:252
329:402
95:408
90:218
15:476
9:610
65:629
45:938
856:316
703:598
503:981
729:654
185:626
25:086
115:567
1.559:914
O augmento de população pôde calcular-se, termo médio, em 100:000
pessoas por anno. Não se encontra de certo outro exemplo no mundo, o
que torna bem evidente a possibilidade da aclimação sob os trópicos; e de
passagem devemos observar que a nossa província de Moçambique fica
pela mesma latitude da Austrália, estando entre uma e outra região o
mar da índia.
A colonisação da Austrália, finalmente, divide-se em três períodos
tanto mais limitados quanto mais importantes.
O primeiro estende-se desde 1788 até 1830; abrange por conseguinte
quarenta e dois annos.
N'este período foi diminuta a população livre. Fazia-se para a Aus-
trália a deportação, podendo ella ser considerada como uma colónia peni-
tenciaria ou terra de degredados.
O segundo período vae desde 1830 até 1851, e torna-se notável pela
venda das terras e pela emigração subsidiada.
171
O terceiro começa em 1851 e chega até ao presente. Distingue-se pela
descoberta das mioas de oiro e pela emigração espontânea.
Poucas nações poderão altingir o grau de grandeza colonial a que che-
gou a portentosa Albion.
O domínio na immensa região do Canadá na America do Norte, no
Indostão e na maior ilha conhecida, parece que não satisfaz a ambição do
maior colosso colonial. Não se contenta com os vastos territórios do novo
e novíssimo mundo, e quer ajuntar mais alguma cousa ao que já possua
em Africa.
As colónias inglezas, cuja superfície é duas vezes maior que a da Eu-
ropa, augmentam-se ainda com uma possessão africana, isto é, com o ter-
ritório do Cabo de Boa Esperança.
Contam-se maravilhas da sua colonisação, dizendo-se que as terras da
Africa austral não cedem em posição e bondade do clima ás melhores da
Europa. Diz-se que a colónia ingleza do Cabo é uma das terras mais favo-
ráveis do globo.
O território do Cabo de Boa Esperança passou dos portuguezes para
os hollandezes em 1600, que a seu turno o perderam.
Os portuguezes distrahidos com as descobertas da índia e America es-
queceram-se d'aqueHa importante região. Moslraram-na ao mundo, per-
correram-na, mas não lhe deram a devida importância.
Os hollandezes dominaram ali por duzentos e quatorze annos, e ha-
viam promovido uma larga emigração, de modo que os inglezes, ao to-
mar conta da colónia, encontraram já crescido numero de habitantes.
Á colónia do Cabo prende-se, pois, a historia do movimento sempre
expansivo dos colonos hollandezes, conhecidos pelo nome de Boers, de-
vendo considerar-se como os primeiros colonos do século xix. Estes po-
vos, diz um escriptor francez, que conservam em toda a sua força a origi-
nalidade nacional, não só fundaram alguns estados independentes, mas
téem sustentado uma corrente permanente de emigração da Hollanda
para a região que occupam.
Os inglezes, pela sua parte, trataram também de promover para o
território conquistado a aflluencia de emigração, que a principio não foi
coroada de bom resultado.
Não devemos terminar estas breves considerações sem dizer mais al-
gumas palavras, não só a respeito da colónia ingleza do Cabo, á qual per-
tence o território do Porto Natal, mas também acerca do estado livre de
Orange e da republica dos Boers ou do Transvaal, nome por que é co-
nhecida. Deveríamos talvez occupar-nos d'esle ultimo estado ao indi-
car os limites meridionaes da nossa província de Moçambique; mas dá-se
uma circumstancia importante que é preciso não esquecer. Os habitantes
\
da republica do Transvaal saíram da colónia do Cabo de Boa Esperança e
approximaram-se de uma região tropical, havendo passado da Europa para
o extremo da Africa, onde se estabeleceram, entregando-se a diflferentes
culturas e á creaçâo de gado lanigero. Estas condições especiaes de vida e
de clima facilitaram-lhes nova mudança de território, e justificam o bom
resultado que elles têem alcançado.
A colonisaçao do território do Cabo, como dissemos, foi tentada por
muitas vezes com resultado desfavorável.
Não servia de estimulo o transporte gratuito, nuo só de militares mas
das suas mulheres e filhos. ía mais longe a liberalidade. Davam-se-lhes
alimentos á custa do estado ou o equivalente para o consumo de um anno.
Admilliam-se como passageiras do estado as mulheres que eram pedidas
em casamento. Se eram vantajosas estas condições, acresciam outras não
menos importantes, referentes aos terrenos para a construcção de casa e
para jardim, isenção dos impostos por sete annos, etc.
Houve todavia completa deserção no fim de algum tempo ; mas não foi
isso motivo bastante para se desistir do emprehendimento que se dese-
java realisar.
Os Boers ou agricultores primitivos julgaram-se também lesados e
afastaram-se do território inglez, estabelecendo-se na região denominada
Porto Natal, e lançando em seguida os fundamentos de outras nações im-
portantes, de que daremos também uma breve noticia.
Porto Natal. — A colónia denominada Natal fica na costa oriental da
Africa, mas para o S. de Lourenço Marques.
Conserva ainda o nome que lhe deram no dia em que foi descoberta
pelos nossos incansáveis nautas.
Pertence hoje á Inglaterra, tendo na frente o oceano indico, do N. e
S. a Cafraria e para o interior limita com a republica de Orange, de que
se acha separada pela serra Drakensberg.
Calcula-se a população especifica d'esta colónia em 6,2 habitantes por
kilometro quadrado. É um paiz tropical temperado. Contam-se ali cerca
de i 7:000 europeus e mais de 180:000 africanos.
O território do Porto Natal foi colonisado pelos Boers hollandezes, que
para ali foram quando abandonaram a colónia do Cabo, pouco depois
dos inglezes se apossarem d'ella. Levaram suas riquezas, que consistiam
principalmente em gados, e escolheram alguns valles áquem d'aquelle
território.
Em 4838 vários dos chefes, acompanhados de umas poucas de deze-
nas de cultivadores, passaram a serra que lhe fica a O. a fim de se appro-
ximarem do Porto Natal. Acolhidos pelos indígenas com benevolência,
173
foram pouco tempo depois muitos d'elles mortos à traição. Por fim o ata-
que era geral e conlavam-se numerosas victimas. Mas aquella raça apu-
rada DOS trabalhos do campo não desanimou, e sustentou a lucta com te-
nacidade, ficando, em 1839, senhora do terreno.
Não durou, porém, a sua satisfação por muitos mezes. Os inglezes não
reconheceram o novo estado. Os Boers viram-se, pois, obrigados a sus-
tentar nova lucta, e tiveram de ceder ao numero.
Em 1845 foi declarada ingleza a colónia do Porto Natal, e os cultiva-
dores hollandezes deixaram aquelle território, e lançaram os fundamentos
da republica de Orange e do Transvaal.
Estado li? re ou republica do rio Orange. — É um estado de data muito re-
cente, creado pelos esforços dos colonos mais arrojados e emprehendedo-
res do século actual.
Como vimos, depois que a Inglaterra se apoderou do território do
Porto Natal, os Boers abandonaram aquella região e foram eslabelecer-se
junto ao rio Orange, que deu o nome á povoação. Fica-lhe a 0. uma po-
voação indigena denominada de Bassulos, e ao N. a republica do Trans-
vaal, correndo n'este sitio o rio Vaal que deu também o nome á segunda
povoação.
Para o NE. fica o tçrrilorio do Porto Natal, separado pela serra deno-
minada Drakensberg *, a que já nos temos referido.
O estado livre de Orange tornou-se independente a 23 de fevereiro
de 1854, julgando-se a Inglaterra, até essa epocha, com direito á sobera-
nia da maior parte do território occupado pelos Boers.
A superficie doeste novo paiz é avaliada por uns em H 0:000 kilome-
tros quadrados e por outros em 14:260. A dilferença é realmente enorme,
mas esta desharmonia encontra-se muitas vezes a respeito de taes cálculos.
A população também tem sido calculada de differente modo, e, a
dar-se credito a algumas estalisticas, a raça branca é representada por
45:000 almas e a indigena por 200:000. Ha, porém, outros escriptores que
calculam a população em 15:000 brancos e 10:000 homens de côr, não
elevando o numero de habitantes, incluindo osindigenas, amaisde50:000.
N'esta incerteza de dados estatísticos não formulámos as conclusões
que deveríamos fazer acerca da aclimação e população especifica.
^ Pertence á cordilheira que se levanta próximo á cosia oriental da Africa,
dobrado o Cabo de Boa Esperança, e segue quasi parallela á costa, tomando diffe-
rentes nomes segundo os paizes que atravessa. * '
Entre a colónia do Porto Natal e a republica de Orange denomina-se, segundo
alguns escriptores, Drakensbergs, e entre o dístricto de Lourenço Marques e a re-
publica de Transvaal, recebe o nome de Libombo.
174
Para se tratar doestes assumptos com vantagem é indispensável haver
estatísticas minuciosas e feitas com todo o escrúpulo.
O commercio d'este paiz consiste principalmente em lã, e exportam-se
também pennas de abestruz e couros. E como n3o tem porto de mar, to-
dos os seus productos são levados, não só ás colónias do Cabo e do Porto
Natal, mas também ao Transvaal ou republica do S. da África.
Republica do Transvaal. — Esta republica estende-se de 22° 30' até 28' de
latitude S., entre 24^ e 29° 30' de longitude do meridiano de Paris. Os
seus limites são, do lado oriental, os districtos de liOurenço Marques e
Inhambane e differentes tribus dos cafres chamados Zulus, ficando de
permeio a elevada serra de Lobombo*.
Ao S. está o rio denominado Vaal-River, que estabelece a divisão en-
tre esta republica e a de Orange.
0 que, porém, é notável é não se referirem no diccionario de Larous-
se, publicado em 1876, os limites da republica do Transvaal e os do nosso
dislricto de Lourenço Marques^. Não fanamos este reparo se alem d'isso
não estivessem ali escriptas as seguintes palavras:
« Le Limpasso ^, avec ses diverses affluents, forme les limites du N. et
de VO, et établit une ligne de démarcation avec les tribus puissantes des
chefs Mosilikatze-Sechommo, Sicheli et Mahura. ^u surplus^ dans les di-
rections du N. et de VO., le gouvernement du Transvaal ne reconnait
pas de limites proprement dites. i^
Admira-nos que se não procurassem informações para restabelecer os
verdadeiros limites da republica do Transvaal com o nosso districto de
Lourenço Marques, que, como diz o visconde de Paiva Manso, é limitado
ao S. e 0. por uma linha que, tirada de 26° 30' de latitude S., vae em re-
cta para 0. para a^ montanhas do Libombo, segue pelo cume doestas até
ao passo do rio Comati^ d'ali para o NNE. ao monte Pokioenieskop ao N.
do rio Oliphant, e d'elle para NNO. até junto á serra do Chicundo, onde
conflue o rio Matjatsies com o Umbovo, e d*ahi em recta até á juncçâo
dos rios Paforis e Limpopo.
Vé-se, pois, que o nosso districto de Lourenço Marques confina do
1 Os limites que se designam no diccionario de Larousse não são verdadeiros.
A colónia do Natal não fica ao oriente da republica de Transvaal, como ali se diz.
2 Procurámos respeitar tanto quanto é possivel a orthographia dos nomes geo-
graphicos, mas os francezes, sem rasão plausível, escrevem Lorenzo Marquez em vez
de Lourenço Marques, Mozambique em logar de Moçambique I
3 É certamente o rio Limpopo, havendo talvez um lapso typographico no modo
de escrever tal palavra.
* Os indiginas chamam Incomati ao rio de que se trata.
175
lado Occidental com a republica dos Boers, a qual, ao contrario do que se
assevera no díccionario de Larousse, nao tem uma superflcie illimitada
da parle do N. À este rumo, da margem boreal do rio Limpopo para
cima, fica uma grande povoação indigena, cujo chefe tem o nome de Me-
siricasse*. Forma uma republica, que delimita com o nosso território,
mas cujas fronteiras nao estão ainda definidas, devendo comtudo mar-
car-se por uma linha recta, que, partindo da confluência do rio Paforis
com o Limpopo, vá terminar no Zumbo, em que temos antigo dominio e
posse.
Não desceríamos a estas minuciosidades se não reconhecêssemos que
se acha dado um grande impulso á colonisação de Àfríca, e que é indis-
pensável fazermos reconhecer os direitos que temos aos territórios que
desde muito tempo occupâmos, e mostrar que lhes podemos levar o pro-
gresso material e moral, como qualquer das outras nações da Europa.
As nossas relações com os Boers têem-se estreitado nos últimos tem-
pos de um modo muito vantajoso para a civilisação e progresso da Africa
austral.
Cumpre-nos lembrar o tratado de commercio entre Portugal e a
republica da Africa meridional. Indicam-se ali as bases para se fazer um ca-
minho de ferro, que parta do porto de Lourenço Marques, ou de um ponto
da margem direita do rio do mesmo nome, onde chegue a navegação per-
manente, até á fronteira da republica da Africa meridional, e estabele-
cem-se as relações commerciaes entre os dois povos.
Não desejámos prolongar estas considerações, que de certo se torna-
riam demasiado extensas, se quizessemos referir n*este logar os aconte-
cimentos que patenteiam o interesse que temos pelo progresso material e
moral das nossas terras de Africa. Ha, porém, um documento que me-
rece ser divulgado, e que, posto se refira á possessão portugueza de Lou-
renço Marques, podendo publicar-se quando nos occupassemos doesta re-
gião, vem comtudo elucidar um ponto importante^, e mostrar o modo
^ Não sabemos se é esta a verdadeira orthographia de tal palavra.
^ Qoando não houvesse outro motivo para justificar a reproducção de tão no-
tável documento, bastava a necessidade de termos sempre bem presentes os consi-
derandos que dizem respeito ao contrato que o capitão Owen celebrou com alguns
indígenas. Ha ali um exemplo que pôde repetir-se e uma lição que devemos apro-
veitar.
Mas não é somente por este lado que nos interessa o exame da sentença arbi-
tral do presidente da republica franceza. As memorias que lhe serviram de base
são um monumento para a historia da nossa proviucia de Moçambique e uma glo-
ria para a pátria. Devemos relembral-as, e recordar com deferência o nome do seu
auctor, o fallecido dr. Levy Maria Jordão, visconde de Paiva Manso.
176
por que uo século xix se resolvem certas duvidas sobre a posse de al-
guns territórios.
«Nós Marie-Edine Patrício Mauricio de Mac-Mahon, duque de Ma-
genta, marechal de França, presidente da republica franceza.
«Estatuindo, em virtude dos poderes que foram conferidos ao presiden-
te da republica franceza, nos termos do protocollo assignado em Lisboa a
15 de setembro de 1872, pelo qual o governo de sua magestade a rainha
de Gran-Bretanha e Irianda e o de sua magestade o rei de Portugal concor-
daram em submetter ao presidente da republica franceza, a flm de ser
por elle decidido definitivamente e sem appellação, o litigio que trazem
pendente entre si desde o anno de 1823, a respeito da posse dos territó-
rios de Tembe (Catembe) e de Maputo, e das ilhas de Inyack (Unhaca) e
dos Elepbantes, situadas na bahia de Delagoa, ou Lourenço Marques, na
costa oriental dá Africa ;
«Vistas as memorias entregues ao arbitro pelos representantes das duas
partes a 15 de setembro de 1873, e as contra-memorias igualmente por
elles entregues em 14 e 15 de setembro de 1874;
«Vistas as notas de s. ex.* o sr. embaixador de Inglaterra e do sr. mi-
nistro de Portugal em Paris com data de 8 de fevereiro de 1875;
«Havendo-nos a commissão, creada a 10 de março de 1873 com o fim
de estudar os titulos e documentos respectivamente apresentados, dado
parte do resultado do seu exame;
«Âttendendo que o litigio, tal como foi determinado pelas memorias
apresentadas ao arbitro, e em ultimo logar, pelas notas citadas dos repre-
sentantes das duas partes em Paris, versa sobre o direito aos seguintes
territórios; a saber:
«1.® O território de Tembe (Catembe), limitado ao N. pelo rio do
Espirito Santo, ou English River, e pelo rio de Lourenço Marques, ou
Dundas, a 0. pelos montes Lebombo, ao S. e a E. pelo rio Maputo,
e desde a foz doeste rio até á do rio Espirito Santo pela praia da bahia de
Delagoa ou Lourenço Marques;
«2.® O território de Maputo, em que se acham comprehendidas a pe-
nínsula e a ilha de Inyack (Unhaca), assim como a ilha dos Elepbantes, e
que é limitado ao N. pelas margens da bahia, a 0. pelo rio Maputo, desde
a sua foz até ao parallelo de 26° 3(y de latitude austral, ao S. por este
mesmo parallelo e a E. pelo mar;
ff Âttendendo a que a bahia de Delagoa, ou de Lourenço Marques, foi
descoberta no século xvi pelos navegadores portuguezes, e que no xvu e
XVIII séculos Portugal occupou diversos pontos na costa do N. d'esta
bahia, e a ilha de Inyack (Unhaca), da qual a pequena ilha dos Elepbantes
é uma dependência;
177
f AtieDdendo a que, desde a descoberta, Portugal tem sempre reivindi-
cado os direitos de soberania sobre a totalidade da bahia e dos territórios
marginaes, assim como o direito exclusivo de ali commerciar; attendendo
alem d'isso a que apoiou á mao armada essa reivindicação contra os hol-
landezes, pelo anno de 1 732, e contra os austríacos em 1 781 ;
€ Attendendo a que os actos com que Portugal apoiou as suas preten-
sões não provocaram nenhuma reclamação por parle do governo das Pro-
víncias Unidas; que em 1782 essas pretensões foram tacitamente acceites
pela Áustria, depois de explicações diplomáticas trocadas entre esta po-
tencia e Portugal ;
cAttendendo a que em 1817 a própria Inglaterra não contestou o di-
reito de Portugal, quando celebrou com o governo de sua magestade fi-
delíssima a convenção de 28 de julho para a repressão do trafico da es-
cravatura; e a que de facto o artigo 2.® da mesma convenção deve ser in-
terpretado DO sentido que designa como fazendo parte das possessões
da coroa de Portugal a totalidade da bahia, á qual se applica indiíTeren-
temeute uma ou outra das denominações de Delagoa ou de Lourenço
Marques ;
cAttendendo a que em 1822 o governo de sua magestade britannica
quando encarregou o capitão Owen de fazer um rcn^onhecimento hydro-
graphico da bahia de Delagoa e dos rios que ali vão desembocar, o re-
commendou aos bons officios do governo portuguez ;
cAttendendo a que, se o enfraquecimento accidental da auctoridade
portugneza n'estas paragens, pôde, em 1823, induzir em erro o capitão
Owen, e fazel-o considerar, em boa fé, como realmente independentes da
coroa de Portugal os chefes indígenas dos territórios que hoje são con-
testados, nem por isso são menos contrários aos direitos de Portugal os
actos por elle celebrados com esses chefes ;
cAttendendo a que, quasí immediatamente depois da partida dos na-
vios inglezes, os chefes indígenas do Tembe (Catembe) e de Maputo reco-
nheceram de novo a sua dependência a respeito das aucloridades portu-
guezas, altestando elles mesmos por esta forma que não tinham a capa-
cidade de contratar;
cAttendendo a que as convenções assignadas pelo capitão Owen e os
chefes indígenas de Tembe (Catembe) e de Maputo, ainda quando tivessem
tido logar entre partes aptas para contratar, ficariam hoje sem efieito : es-
tipulando o acto relativo a Tembe (Catembe) condições essenciaes que não
tiveram execução, e os actos que dizem respeito a Maputo rcferindo-se a
períodos determinados de tempo, que não foram renovados depois da ex-
piração de taes períodos; por estes motivos,
c Julgámos e decidimos que as pretensões do governo de sua magestade
178
tidetissima aos territórios de Tembe (Catembe) e de Maputo, á península
de Inyack (Uahaca), e ás ilhas de Unhaca e dos Elephanles se acham pro-
vadas e estabelecidas.
«Versailles, 24 de julho de IS1^.= Marechal de Mac-Mahon, duque
de Magenta ^.1^
É este realmente um documento que merece tornar-se bem conhe-
cido. A sua publicação dispensa-nos de Tazer quaesquer commentarios ;
mas Taltariamos, apesar d'isso, ao nosso dever, como medico e coíno
portuguez, se não expozessemos com desassombro o que pensámos a res-
peito das nossas possessões de Angola e de Moçambique e das suas re-
lações com os povos limitrophes. Não é assumpto que se trate em pou-
cas palavras, justo é confessal-o, mas nós encarámol-o apenas sob o ponto
de vista da colonisação, de que mais especialmente nos occupámos n'este
trabalho.
Começámos, todavia, por observar que, estudar um mappa geogra-
phico da Africa austral, examinar a conflguração e os limites de cada paiz
ou estado em que elle se subdivide, e attentar com todo o cuidado na
evolução histórica de cada um dos povos que se acham reunidos em es-
tados mais ou menos independentes, não é com certeza o mesmo que
percorrer as terras, observar as nascentes e o curso dos rios, estudar a
disposição orographica dos terrenos, e finalmente apreciar os usos e cos-
tumes dos habitantes.
N'um e u'outro caso, porém, occorrem grandes difliculdades que não
podem ser resolvidas á primeira vista, necessitando-se realmente de
muitas locubrações para se darem noticias tão úteis quanto valiosas. Ha,
todavia, factos que sobrcsáem a todos, e importa muito tel-os em vista
para se ajuizar com toda a clareza da altura da questão que se procura
elucidar.
A carta geographica da Africa austral, ha cerca de cincoenta annos,
não dava grande trabalho por causa dos limites dos estados que ali exis-
tiam. Bastou, porém, o apparecimento de um núcleo de europeus n'aquel-
las paragens para ser necessário reformar o respectivo mappa geographico
e começar algumas paginas no grande livro da historia das nações. Estes
e outros exemplos são prova evidente de que o homem è essencialmente
cosmopolita, podendo occupar zonas mui diversas em um limitado praso
de tempo.
Implantou-se flnalmente o gérmen europeu nas terras que se nos de*
param na região extrema da Africa meridional, junto ao Cabo da Boa
Esperança, padrão da nossa gloria e testemunha do nosso esquecimento.
> Diário do governo n.^" 181 do i 3 de agosto de 1875.
179
Era propicio o paiz que participava mais de uma temperatura quente do
que temperada. Â aclimação dos europeus ali tem sido attestada pelo seu
numero rapidamente augmentado. Deram-se, com effeito, circumstancias
extraordinárias que fizeram nascer uma corrente colonisadora ascendente,
que vae abrindo caminho do S. para o N., approximando-se mais e mais
da zona tropical propriamente dita.
A ninguém escapará de certo que essa onda europea lançada sobre as
terras da Africa austral pode crescer, subir e abeirar-se das possessões
portuguezas. Não aventámos uma hypothese casual. Dizemos o que pensá-
mos, tendo diante de nós uma carta geographica e estudando com a máxima
attenção o que se passa nas regiões da Arríca austral. Leva-nos a este
exame a nossa posição de medico do ultramar. Cumpre-nos, pois, dizer
o que observámos, e olhar tanto para o futuro como para o presente das
nossas províncias de Africa. Não devemos attentar com indifferença nos
povos limitrophes das nossas possessões da Africa austral. Podemos ser
um dia surprehendidos por qualquer acontecimento extraordinário que
nos traga tantos desgostos como ruina. Não nos afastámos do nosso pro-
pósito apresentando estas considerações; pelo contrario, ao procurar ele-
mentos para o estudo de salubridade e insalubridade relativas dos distri-
ctos de Lourenço Marques e Mòssamedes, não podemos occultar o que se
passa em volta d'elles.
Poderemos nós crear outra corrente colonisadora capaz de contraba-
lançar a corrente que nos é contraria?. . .
Temos bases suflicientes para realisar este emprehendimento, e está
dado já o primeiro passo que consiste na expedição das obras publicas
a Moçambique, a qual é largo incitamento para se avançar no grande *
trajecto a percorrer, devendo ser completado com as explorações geogra-
phicas e commcrcíaes, as missões entre os indigenas, os estudos orogra-
phicos e hydrographicos, e muito especialmente com o reconhecimento
das terras mais salubres e das localidades mais férteis.
Se a corrente colonisadora ascendente a que nos temos referido pôde
engrossar dia a dia e trasbordar para o interior da Africa, não deve igno-
rar-se também que de um momento para outro apparccem capitães como
Owen que, sendo encarregados de trabalhos scientificos, procuram tam-
bém fazer contratos para a cedência de territórios ou desviar o conii-
mercio de uns para outros pontos, fomentando-se inimisades, apparc-
cendo a anarchia, e dando-se origem a desastres cujo alcance não se cal-
cula, mas são bem fáceis de prever.
Não nos extasiemos diante da grandeza das nossas colónias nem
das boas relações que temos com os paizes de algumas d*ellas. É preciso
trabalhar. Estude-se, pois, o meio de chamar para as terras de Africsl
i80
não só larga immigração procedente das nossas ilhas adjacentes e do con«
linenle, como lambem do Brazil e de outros paizes. Nomeiem-se commis-
sões para marcarem os limites das nossas províncias africanas, e, necessário
é dizel-o, imitemos o Brazil que tem empregado todos os meios ao seu
alcance para construir uma carta physico-geographica do paír, flxando
com todo o cuidado as fronteiras de tão extenso império. Tratemos tam-
bém de fazer o mesmo na Africa portugueza, começando quanto antes
por deQnir as fronteiras entre as diversas povoações indigenas e os dis-
trictos meridionaes de Moçambique e Angola. Prestemos mais altenção
para este lado do que para a região opposta.
Quaes sHo os limites meridionaes das nossas terras da Africa com os
diversos territórios que lhe ficam ao S.?
Aonde deve parar essa corrente colonisadora que partiu do Cabo da
Boa Esperança, occupou os valles que rodeiam a colónia do Porto Natal,
passou alem do rio Vaal e já conta por limite superior o rio Limpopo? Onde
nasce este rio?. . . Que distancia haverá entre as nascentes do rio Cunene
e as dos principaes affluentes do Zambeze?
Até onde será navegável o rio.Cunene?. . .
Diz-se que esse rio em um percurso superior a 400 kilometros ad-
mitte embarcações de maior lote, e de ahi para E., na altura oriental
do districto de Mossamedes, apenas recebe embarcações pequenas. A sete
dias de viagem mais para o interior encontra-se o rio Cobango, de que
faliam alguns viajantes portuguezes, sendo de parecer que este rio segue
para a nossa costa oriental. Consideram-no eiles como algum ailluente
do Zambeze, e não falta também quem diga ser aquelte rio o próprio
Limpopo, ou algum que despeje em qualquer dos grandes lagos que por
ali se deparam.
Descemos a estas minuciosidades, porque não desconhecemos o que
se está passando nas regiões meridionaes da Africa, tanto sob o ponto de
vista da sua colonisação como da immigração. É verdade que nos pertence
o extremo meridional da Africa tropico-equatorial, mas é preciso dizerse
que veremos essa região avassallada se não acompanharmos o movimento
colonisador quese acha iniciado, e que nas terras do S. da Africa tem dei-
xado rasto fecundo, como o attestam as estradas já abertas, os caminhos
dê ferro em exploração e tantos centenares de famílias em movimento.
Cumpre-nos, pois, patentear a necessidade de olhar para o que se
passa ao S. das nossas possessões africanas, e por bem pagos nos daremos
d'este trabalho se despertarmos alguma attenção entre os que se interes-
sam pela causa da Africa. O que, porém, é certo, é que não deixaremos
de dizer a verdade alto e tão alto que possamos ser ouvidos em todos os
ângulos de Portugal. Como medico, tratámos de estudar a salubridade e
insalubridade relativas das nossas possessões, mostrando as condições em
que ellas se acham e as vantagens que podem aurerir-se da sua colonisa-
ç3o realisada de raiz e a preceito; mas seria incompleto este trabalho se
nao referíssemos todas as circumstancias que podem perturbar a nossa
colonisação ou tolher a emigração que tentámos promover para a nossa
regiSo tropico-equatorial ao S. do equador. Não possuimos ali somente
as zonas marítimas ao oriente e occidente. Pertence-nos de facto e de di-
reito todo o território central.
Percorremol-o já por muitas vezes, abeirámo-nos dos lagos que por
ali se deparam, vadiámos os rios, transpozemos os montes, e por toda a
parte deixámos vestigios da nossa passagem.
Se devemos memorar a viagem dos homens que foram encarregados
de levar ao governador da província de Moçambique um ofScio do gover-
nador de Angola, cumpre-nos muito especialmente notar que -esses via-
jantes não levaram dezenas de carregadores, para transportar animado-
ras mercadorias.
Era natural este facto, poisque estávamos em terrítorio portuguez e
em terra de amigos ou de alliados o que não acontece aos exploradores
ínglezes. Tratam por isso de organisar boas facturas commerciaes e cui-
%dam em obter os melhores meios de transportei «E não são ellas (as
missões inglezas) antes politicas e commerciaes do que religiosas? Sem
1 O dr. Livingstone nâo só tratava os pretos como escravos, mas não se des-
cuidava da venda das mercadorias, prejudicando as que os nossos negociantes ali
tinham. Houve reclamação a tal respeito, mas não é doeste ponto que nos occupã-
mos. Esperámos, todavia, mostrar em outra publicação, como os factos se passa-
ram. Mas para se avaliar, todavia, a sinceridade do arrojado explorador ínglez, tran-
screvemos o que elle disse a respeito das nossas possessões de Africa oriental :
«Delagoa Bay tem um pequeno forte chamado Lourenço Marques, porém que
não é senão muralhas.
«Em Inhambane possuem uma tira de terra por consentimento dos nativos.
«Sofala está em minas.
«De Quelimane para o norte, por espaço de 690 milhas, possuem somente uma
pequena estacada, protegida por uma lancha armada na boca do rio Augoxe, para
evitar que os navios estrangeiros vão ali commerciar.
«Em Moçambique é sua a pequena ilha, onde está o forte, e uma nesga de quasi
3 milhas ao longo da terra firme, e ali tem algumas hortas e terras agricultadas,
que são protegidas contra as hostilidades, pagando os moradores um tributo an-
nual, ao que chamam «ter os pretos ao seu soldo».
«O estabelecimento tem ido em dec^idencia no commercío c na importância.
Está guarnecido por algnifô centos de soldados doentes, que estão encerrados na
fortalexa; e comquanto lhe esteja ao pé uma pequena ilha de coral, não se pôde re-
putar segura.
«Na ilha de Oíbo ou* Iboe (Ibo) acham-sc reunidos muitos escravos, mas o com-
mercío, seja de que natureza for, é pouco.
182
duvida, e a tal ponto que a mesma parte religiosa, n^ella admittida como
bandeira de protecção e refugio, está de todo o ponto subordinada á in«
tenção politica.»
Temos, pois, óptimo exemplo nos exploradores inglezes, e bom é que
elle aproveite e faça com que mudemos de systema, tratando de colonisar as
terras, protegendo o commercio, para o que é preciso paciência e especial
cuidado S e animando a agricultura por meio da abertura de estradas, me-
lhoramentos sanitários das povoações, ensino fabril, industrial e religioso.
A emigração que se dirige para o Brazil mudará emGm, e irá fertilisar
as planicies africanas, para onde apenas se pôde entrar pelos valles do rio
Cunene, pelos alto-planos ao N. da republica dos Boers, pelas terras de
Lourenço Marques e Quelimane, e, finalmente, pelas vizinhanças do lago
Niassa, territórios que nos pertencem.
Diremos, por ultimo, antes de concluir, que para cima dos rios Cunene,
Cobango e Limpopo não devem passar outros povos colonisadores. E para
não se realisar tal acontecimento urge seguir o movimento colonisador
principiado entre as naçOes da Europa, e mostrar que, assim como fomos
os primeiros povos que descobrimos e explorámos largos territórios da
Ásia e Oceania, do mesmo modo devemos ir na vanguarda dos povos co-
lonisadores, não só por sermos mais conhecedores das terras da Africa cen-
tral, mas também por nos acharmos mais relacionados com os indígenas
e possuirmos mais vastos territorit)s desde o oriente ao occidente do con-
tinente africano.
cEm Pomba-Bay foi construido um pequeno forte; comtudo é muito duvidoso
Be ainda existe, e falhou inteiramente a tentativa de formar ali um estabelecimento.
cPagam tributo aos zulus (landins) pelas terras que cultivam na margem ál*
reíta do Zambeze.»
Eis-aqui ao que se reduz, segundo o dr. Livingstone, a nossa província de Mo-
çambique! Encarregou-se de lhe responder D. José de Lacerda, e mosti*ou o que
era o districto de Lourenço Marques, Inhambane, Sofalla, Quelimane, Sena, Tete^
Zumbo, Manica, Moçambique, Cabo Delgado, Colónia ia Pemba, Arimba, Qímsanga
e Montepes, e depois acrescenta: <E atreve-se o missionário inglez a erguer alto
brado contra o dominio portuguez, como se fora só desprezado ou meramente no-
minal. Ao direito do mais forte, para que appella o dr. Livingstone, temos n6d a op-
pôr a força do nosso direito indisputável, direito que o governo inglez, como é pró-
prio de um governo esclarecido, que sabe a si nos outros considerar-se, nlo cessou
nunca em nenhum tempo de nos reconhecer e respeitar».
1 Não temos muitas vezes a paciência precisa para negociar, e d*isso Já se quei-
xava João de Barros, como se vô da seguinte passagem :
<E como os Gentios, e Mouros d'aquelle Oriente em comprar, e vender sao os
mais delgados, e sotis homens do mundo, e sobre isso tão pacientes, e frios em des-
cobrir seus appetites, e necessidades, que ninguém lhas sente; sempre n'este acto
do commercio nos levam debaixo, como nós em os (}a guerra os sopeamos.»
183
Coloniaii de Portugal, oUma geral, superficie, populaçEo
e prinoipaes produoçôes
DoiignaçSo
Ásia
Dln(l853)
DamÍo(4é53)
Goa e depeadoQciat
Macau
Afrioa
Ilkãt ii Cabo Verde:
Ompo de barlaveoto :
Santo AnUo
S. Vicento
Sania Lozb
S. Nicolau
Sal
fioaVisU
Gmpo de lotaTeoto :
nha Brava
Fo«o
S. Thiaffo
Maio
Senêgambia:
Bitfao
Vaehea
Bolama
Jlkát ie $. TkomiePrineipe:
(Faieodai agrícolas)
Terrilorio de 8. Joio Baptiita de
Ajuda.
Cosia oceidental de Africa ao S. do
tfnêior:
DiitficU) de Loanda (eoloniai
af ricolas)
Distrtclot de Benguella (faiendai
agrícolas)
DUtrído de Motsamedes (coló-
nias agrícolas)
Cotia oriental de A frita (qitasi em
frente dê Angola) :
Dístricto de Cabo Delgado ^
Dislrieto de Moçambique
Dístricto de Aogocbo
Districlo de Quelimane
Dislrieto do Sooa
Dístricto de Tela e Zumbo
Dístricto de Sofalla
Dístricto de lohambaoe
Dístricto de Lourenço Marques. .
Tolal da Africa
OManla
Refilo septeotríooal (NC) da ilha
de Timor
Total das oolooias
(Ilíina geral
Tropical quente (N.
Tropical quente (N.
Tropical quente (N.
Tropical
Tropical
Tropical
Tropical
Tropical
Tropical
Tropical
quente
quente
quente
quente
quente
quente
(S.)
ÍN.)
N.)
m
(N.)
(N.)
Su porfie ie
Kíl. qnad.
População
30
- bO
n:iOO
4
5:514
Tropical quente i
Tropical quente
Tropical quente
Tropical quente
Tropioo.eqoatorial..
Tropico-equatorial. .
Tropico-oquatorial. .
Equatorial (N.)....
Equatorial (N.)....
5iG
91
40
483
203
468
54
218
718
408
Í:W9
8:400
Tropical quente (S.)
K:iiiO
1:025
35
4:060
Equatorial (S.) ....
Tropical quente (S.)
Tropical quente (S.)
Tropical quente (S.)
Tropical quente (S.)
Tropical quente (S.)
Tropical quente (S.)
Tropical (S.)
Tropical temp. (S.)
600:000
1.184:000
Equatorial (S.)-
4.2R4:000
4.896:389
17:000
1.918:903
40:858
33:950
363:788
74:834
480:430
17:005
l:86i
7:240
802
2:534
6:483
40:300
35:534
4:432
82:864
542
4:884
3:734
6:154
27:734
4:500
32:254
Principaes producções
Arroz, gergelim, varia-
das madeiras, cairo,
cafó, cocos, pimenta,
etc.
Purgueira, assucar e
aguardente.
Assucar.
Coral, purgueira e al-
godão.
Cafó, assucar e pur-
gueira.
Gomma elástica, gtn-
guba, cera, coconoie,
etc.
Café, cacau, tartaru-
ga, cucos, etc.
323:064<
Tropical quente (S.)\ 600:000/ 87:980
Tropical quente (S.)
Café, uriella, aguar-
dente, cera, borra-
cha, marfim, algo-
dão, etc.
Algod&o, café, gingu-
ba, mandioca, borra-
cha, cera, coconote,
axeite de palma. etc.
ÍAlgod&o, cera, borra-
cha, axeite de peixe,
ele.
433:397
6:590
30:000
10:000
3:200
6:000
2:600
106:000
2:670
467:060
721:729
480:OCO
1.382:459
Mantimentos.
Borracha, cera, café e
amendoin.
Gergelim, cera, etc.
Arroz, cera, milho, ele.
As nossas colónias rivalísam com as da Hespanlia, França e Hollanda.
Se estas nações possuem colónias de plantações, também nós as temos
ha^uitos annos. Não é mais antiga a Algéria do que Mossamedes. Cus-'
ta-nos realmente a achar a rasão por que algiíns escriptores estrangeiros
n3o nos consideram como nação cólon isadora do século actual, mas é in-
dispensável dizer-se que não procuraram de certo informações a respeito
do que se tem feito na província de Angola.
Se a Hollanda possue as ilhas de Sonda, onde se levanta a famosa ilha
de Java; se a Hespanha se ufana das ilhas de Cuba e Porto Rico, e i^e, fi-
nalmente, a França se orgulha com Algéria, nós contentamo-nos com as
possessões que nos pertencem sem invejar a grandeza colonial d^aquellas
nações.
Da Inglaterra não falíamos, porque são immensos os ten*enos que
possue em todas as partes do mundo, e confessámos por isso a nossa
surpreza ao vermos o demasiado interesse com que esta poderosa nação
olha para os povos que se avizinham do nosso districto de Lourenço
Marques. Não é menos para admirar a sympathia que ella mostra pelas
margens do lago Niassa, assim como o cuidado com que attenta no nosso
território do Zaire. O estabelecimento de S. João Baptista de Ajuda tam-
bém não lhe é indifferente.
Resta-nos todavia a esperança de que a nação ingleza nos deixará in-
teira liberdade para occuparmos os territórios que nos pertencem, e fa-
zermos a colonisaçSo como melhor entendermos.
O que não pôde negar-se, sem grave injustiça, é que temos allirmado
por todos os meios ao nosso alcance a perseverante vontade de promo-
ver o progresso e civilisação da Africa tropico-equalorial. E não duvidá-
mos dizer que os annos de 1876 e 1877 nos fazem recordar as nossas
viagens dos últimos annos do século xv. Procurámos então navegar por
mares desconhecidos e descobrir paizes nunca vistos dos povos da Eu-
ropa. Não nos poupámos a sacriQcios e dêmos exemplo a todas as nações
do mundo, abrindo as portas do Oriente. Hoje tratámos de promover o
progresso e civilisação dos povos africanos, desenvolvendo a colonisação,
como a de Mossamedes e de Cazengo.
Para abreviarmos considerações expomos a. largos traços o movi-
mento colonial que se acha iniciado.
Por decreto de 17 de fevereiro de 1876 foi creada junto ao ministério
dos negócios da marinha e ultramar uma commissão central permanente de
geographia.Segwnào a organisação d'esta esperançosa commissão cumpre-
Ihe: «Colligir, ordenar e aproveitar, em beneficio da sciencía e da nação,
todos os documentos que possam esclarecer a geographia, a historia
ethnologica, a archeologia, a anthropologia e as .sciencias naturaes em
relaçSo ao território porluguez e especialmente ás províncias ultramari-
nas'».
Se é elevado o pensamento com que se creou a commissâo a que nos
referimos, a proposta de lei para se dar impulso ás obras publicas das
nossas vastas possessões africanas revela a decidida vontade com que se
deseja o engrandecimento colonial, como se verá quando fatiarmos em
especial de cada uma das provindas da Africa.
Para se fazer idéa do estado de prosperidade em que se acham as co-
lónias damos por copia o seguinte extracto de um importante documento^:
f Pouco antes de 1834 os rendimentos públicos nas nossas possessões
africanas eram os seguintes, segundo se lé no livro importante do mar-
quez de Sá da Bandeira, intitulado Trabalho rural africano:
Cabo Verde 92:522,^000
S. Thomé e Príncipe 8:490,5000
Angola 132:879,5000
Moçambique 56:154,5000
Total 290:045,5000
iNo rendimento de Cpbo Verde comprehende-se 59:580ÍM)00 réis do
monopólio da urzella, no das outras províncias comprehendia-se o im-
posto cobrado nas alfandegas sobre a exportação dos escravos.
«Tomando os dados de annos posteriores, que se encontram nos En-
saios sobre estatística das possessões portugmzas, reconliece-se que a abo-
lição do trafico não produziu a crise económica que receiavam os defen-
sores d'aquelle odioso negocio.
cEis a importância dos rendimentos públicos nos annos em seguida de-
signados :
Cabo Verde (1842-1843) 90:176^(000
S. Thomé e Príncipe (1843-1844) . . . 9:821,5000
Angola (1845-1846) 259:046^000
Moçambique (1857-1858) 88:929,5000
Total 447:972^(000
1 Os trabalhos da commissâo permanente de goographía sao publicados nos
^Qs ÁMkaes, cujo primeiro volume traz a data de dezembro de 1876.
* Diário do governo n." 49 de 3 de março de 1876. — Rolatorío que precede a
a proposta de lei para se contrahir um empréstimo de 5.000:000^000 róis con) des-
tino às obras publicas das nossas provinoías de Africa.
186
<É de advertir que na receita de Cabo Verde se inclaiam 45:000j$000
réis» producto do monopólio da urzella, dos quaes 21:000f$000 réis nao
eram applícados á província, mas entravam no thesouro publico. O im-
posto sobre escravos havia acabado nos annos a que se referem as recei-
tas indicadas.
cVejamos agora qual é actualmente a importância das receitas publi-
cas nas mesmas provindas, e teremos uma prova dos progressos realisa-
dos, progressos devidos á transformação promovida pela beneOca acç3o
de leis liberaes.
•Os rendimentos são aclualmenteos seguintes:
Cabo Verde 220:377i5000
S. Thomé e Príncipe 109:610,5000
Angola 566:974)5000
Moçambique 247:71 3<ÍÍ000
Total 1.143:674<5000
•Recorrendo á estatística do movimento das alfandegas, mais evidente
se torna ainda o desenvolvimento progressivo das nossas possessões de
Afríca.
•Era o movimento commercíal nas alfandegas que v9o designadas o
seguinte :
Cabo Verde (1842-1843)
S. Thomé e Principc (1842). .
Angola (1847)
Valor
das importações
Valor
das exportaçSes
•
Movimento
conunereial
76:620^000
26:000J>000
1.141:000^000
73:992i3000
32:250)^000
608:000^000
150:612^000
58:250i$000
1.749:000^000
•De Moçambique nao ha informações referidas a esta epocha um pouco
remota. É digno de notar-se que em Angola o movimento médio com-
mercíal, nos annos de 1830, 18.31 e 1832, anteriores á lei que aboliu o
trafico da escravatura, foi apenas de 728:000í50O0 réis, sendo a impor-
tação no valor de 622:OOOí5íOOO réis, e a exportação no de 106:000|jí000
réis.
487
lEm relaçSo a nm anno temos os seguintes dados :
Cabo Verde (1871-1872) ....
Guino (1871-1872)
Valor
da importação
Valor
da exportaçSo
Blovírocnto
commercial
326:880|>000
227:501^000
335:428^000
2.263:801^000
942:834^000
349:788^000
383:099^000
269:314^000
2.026:51 MOOO
553:240jO0O
676:668^000
610:600^000
604:742^000
4.290:312^000
1.496:074^000
S. Thomé (1872)
Angola (1871-1872)
Moçambique (1870-1871) ap-
Droximado
«Nos aDDos posteriores o augmenlo do movimeDto commercial tem
continuado. Assim em 1874 os valores das importações e exportações su-
biram em S. Thomé a 810:176^000 réis. Em Angola foi o movimento
commercial em 1873-1874 de 5.084:466($000 réis.»
São realmente muito eloquentes estes dados, mas nSo nos parecem
ainda os mais convenientes para se demonstrar que as nossas terras de
Africa se acham com o desenvolvimento agrícola e commercial, que lhes
é negado por alguns escriptores francezes.
NSo 89o para nós, comtudo, um encargo, nem ali se encontram ape-
nas feitorias, como se diz no diccionario de Larousse a respeito das pro-
vincias de Angola e Moçambique.
Mas antes de fazermos outras considerações, ajuntaremos os docu-
mentos mais apropriados ao nosso flm.
Trataremos em primeiro logar das obras publicas em geral.
Eis-aqui o que se lô no documento a que acima nos referimos:
«A questão de obras publicas nas nossas possessões de alem-mar
nio é só uma questão económica, é também, e principalmente, uma ques-
tão politica. Os vastos domínios de Portugal são uma grande força se le-
varmos lá promptamente a civilisação pela religião, pela educação, pelo
trabalho e pela boa administração ; são porém uma fraqueza se não sou-
bermos cumprir o nosso dever com energia e com presteza. Portugal
está nas condições de ser uma grande potencia colonial ; saiba-o pois ser,
e o futuro pagará largamente os nossos esforços.
cGobram-se nas províncias ultramarinas impostos nas alfandegas com
applicação especial para obras publicas.
cO pfoducto d^esses impostos, com excepção da província de Cabo
Verde, tem tido uma applicação pouco proflcua.
cA falta de systema na distribuição do fundo para obras publicas, a
188
pequena importância annual doesse Tundo c muitas causas que é inútil re-
cordar agora, téem dado em resultado perder-se muito dinheiro, e estar
quasí tudo por Tazer. É preciso mudar radicalmente de systema. Sem o
emprego de capitães avultados, sem um plano bem combinado, sem um
corpo technico habilitado e immediatamente responsável pelo estudo e
execução das obras, e sem a inspecção immediata do governo de accordo
com o que se pratica no reino, não podem emprehender-se conveniente-
mente no ultramar as importantes obras publicas que são ali indispensá-
veis.
cOs impostos para obras publicas na provincia de Cabo Verde são nos
últimos dois orçamentos mandados da proxincia calculados: para 1875-
1876 em 29:109^000 réis, sendo 4:109(9;000 réis do imposto sobre o car-
vão de pedra em S. Vicente: para 1876-1877 em tOiioO^OOO réis, sendo
6:250j$000 réis de carvão de S. Vicente.
<Em S. Thomé o imposto para as obras publicas rendeu nos três úl-
timos annos o seguinte :
1872-1873 14:999,5(571
1873-1874 16:574^(887
1874-1875 18:094^(251
«Em Angola o imposto de obras publicas em quatorze annos, isto é,
desde que foi creado até 1874-1875, rendeu 817:071^(714 réis.
«Nos derradeiros três annos de que ha noticia o rendimento foi :
1872-1873 82:550,5(163
1873-1874 79:504^367
1874-1875 72:062í(990
«Sendo para advertir que não foram boas as colheitas nos dois últi-
mos annos.
«Cm Moçambique o imposto para obras publicas foi creado em 1867;
desde então até 1873-1874 rendeu 221:047,$647 réis.
«Nos últimos três annos foi o rendimento:
1871-1872 33:027,S695
1872-1873 32:388^(293
1873-1874 40:1665583
«Pôde, pois, calcular-se o fundo para obras publicas em todas as pro-
vincias da Africa em 160:000f5000 réis.
189
t Tendem os reodimeDtos das alfandegas manifestamenle a crescer, e
com elles cresce o imposto para obras publicas : demais, as províncias
ultramarinas podem pagar uma quantia muito maior com destino espe-
cial para obras publicas, toda a vez que effectivamente se executem n'um
praso curto os melhoramentos de que depende a sua futura prosperidade.
O que é necessário é que isto seja uma realidade, e que cada uma das
províncias obtenha vantagens em justa proporção dos seus sacriflcios, isto
é, que o capital empregado em cada uma d'ellas corresponda aos encargos
que pagarem.
tPara a execução das obras a fazer, ou directamente pelo estado, ou
por emprezas subsidiadas, é preciso um capital avultado, que é impossí-
vel calcular desde já, mas que não pode ser inferior a 5.000:000^000
réis.»
A prosperidade geral das nossas possessões de Africa está exuberan-
temente provada. Não precisámos de recorrer a outra demonstração. Pa-
rece-nos comtudo de alguma vantagem fallar também de outros empre-
hendimentos que se trata de realisar. Consignaremos, pois, em primeiro
logar, um extracto do relatório que precede a proposta de lei apresentada
ás camarás para se realisar a viagem scientiQca ao interior da Africai
É do teor seguinte :
tOs estudos geographicos emprehendidos por numerosos viajantes
na Africa central, onde caudalosos rios e vastíssimos lagos formam um
maravilhoso systema hydrographico, tem dado já valiosos fructos. A scien-
cia inscreve com nobre orgulho nos seus annaes os factos que cada dia
alargam mais os seus conhecimentos sobre esse immenso continente em
cujas recônditas regiões se encontram todas as riquezas de que a civilisa-
ção carece para se expandir e engrandecer. Os segredos da Africa, que
nós passados séculos só os portuguezes tinham podido descortinar,
não tardarão em ser de todo revelados ao mundo. Empenham-se perse-
verantemente n'essa nobilíssima empreza os governos, as associações
scientíficas, os incansáveis e gloriosos obreiros que levam a civilisação
com o Evangelho ás mais remotas e perigosas paragens, os inimigos con-
victos do horrível e devastador traRco da escravatura, e esse espirito te-
naz e insaciável de especulação que impelle os povos modernos a alargar
1 Demonstrado o aagmento da receita publica das nossas províncias de Africa,
e depois de se conhecer o seu rendimento applicavel às obras publicas, apresentá-
mos o modo por que se encaram as explorações scientíQcas ao interior d^aqueilas
vastíssimas províncias. Ê preciso saber o que se tem feito e patentear o que se pre-
tende fazer. O methodo que empregámos não será o mais breve, mas é aquellc em
que temos mais confiança. É este um dos casos em que a reproducção de documen-
tos tem grande vantagem para se chegar á verdade.
190
os mercados, a buscar com aGnco todas as foDtes de producçSo, a pro-
curar férteis territórios onde possam derramar as iuexhauriveis torrentes
da emigração.
cNa zona central, a mais fértil e rica da África, ninguém possue ter*
ritorios tão vastos e tão ricos como Portugal. Na costa occidental e na
costa oriental possuímos Angola e Moçambique. Ao norte de uma d'estas
províncias corre o Zaire ; pelo centro da outra estende-se o Zambeze, os
dois mais poderosos rios da Africa central, o primeiro dos quaes desem-
boca no Atlântico e o segundo no mar das índias. Quando o curso d*es-
tes dois caudalosos rios, e de seus aíQuentes, for perfeitamente conhe-
cido ; quando se descobrirem as relações do Zaire com o systema dos
grandes lagos ; quando se houver estudado onde o Zaire e o Zambeze
mais se approximam no seu principal curso ou no de seus aíQuentes de
modo a poderem facilitar a communicação de uma com a outra costa, um
dos principaes problemas geographicos, que mais immediatamente inte-
ressam a influencia dos europeus e especialmente a nossa influencia no
centro da Africa, ficará resolvido.
cChamar toda a attenção para este assumpto, c demonstrar a obri-
gação que as nossas tradições, a posição geographica das nossas pos-
sessões africanas e o nosso interesse imperiosamente nos impõe. Onde
na Africa vão tantos exploradores de outras nações, não podem deixar
de ir exploradores portuguezes. Falla-se de que nos sertões da Africa
andam homens, que se dizem portuguezes, praticando o criminoso e exe-
crando trafico da escravatura. Ponhamos termo aos protestos de que se
servem os que injustamente nos accusam. O nosso dever é promover e au-
xiliar uma expedição portugueza, que possa contribuir para os progres-
sos da sciencia geographica; que busque os caminhos mais. fáceis, mais
rápidos e mais seguros para o commercio licito de Angola para Moçambi^
que ; e que tenha também por essencial missão estudar o modo mais e(-
fícaz de reprimir o trafico e de lançar de nós a iníqua suspeita de consen-
tirmos que em terras portuguezas, ou á sombra da nossa bandeira, secom-
metta um crime odioso contra a humanidade ^»
As explorações ao interior da Africa são uma necessidade indecli-
nável, mas não ha concordância definitiva nos pontos de partida. Gum-
pre-nos nomear os alvitres de que mais se tem fallado apresentando em
seguida o nosso modo de ver sobre tão vital assumptOé
Na imprensa e na sociedade geographica de Lisboa, de que adiante
faltaremos, tem-se mostrado qual a região que mais convém explorar e
qual o modo mais fácil de realisar símilhante emprehendimento.
* Diariú do doterno n.« 47 de i de março de 1877.
A commissio permaDente de geographia tem-se occupado por diffe-
rentes vezes da expedição geograpbica ao iDterior do nosso território da
África, apresentando-se alguns alvitres quanto ao fim a que deve attíngír
tão importante expedição. Inscrevemos aqui um dos projectos apresenta-
dos, a flm de que se avalie o seu alcance :
c I .® Organisar-se-ha uma expedição de exploração scientíflca e com*
mercial á Africa central, a expensas do estado e destinada a:
cl. Investigar as condições do clima, conGguração, producção, povoa-
ção, communicações e topographia do território a percorrer, determi-
nando as respectivas coordenadas geographicas e procurando emSm obter
os melhores dados para o conhecimento geographíco das regiões igno-
radas ;
cll. Estabelecer relações de amisade e commercio com os povos ou es-
tados que encontrar;
cIII. Rectificar quando for possivel as fronteiras da antiga e actual do-
minação portugueza para o interior, no sentido E. O. ;
cIV. Estudar os meios de alargar a acção civilisadora e commercial de
Portugal no âertão;
cV. Emfim colligir todas as informações geographicas que importem
á sciencia, ao commercio e á civilisação.
c2.® Escolher-se-hão para este effeito pessoas que ás necessárias con-
dições pbysicas e moraes reunam as melhores aptidões e conhecimentos
scientiflcos, relativos ao fim que se pretende, e experiência de observa-
ções meteorológicas, astronómicas e geodésicas.
c 3.® A expedição será composta de seis exploradores scientificos e do
pessoal de segurança e de serviço que for julgado necessário.
t4.^ A expedição subirá em transporte do estado o Zaire até o Porto
da Lenha, onde estabelecerá a primeira base das suas operações, proce-
dendo ao estudo d'aquelle rio na sua próxima ramificação em barcos con«
venientemente preparados» fazendo as necessárias excursões pelos três
braços conhecidos pelos nomes Maxwell, Mamballa e do Sonho, e tomando
as informações convenientes para os seus trajectos futuros.
c5.^ Depois d*este primeiro estudo a expedição dividir-se-ha em dois
grupos compostos de três exploradores scientificos, servindo de chefe o
mais velho em cada um.
«6.^ Um dos grupos seguirá o 2aire na direcção NE. procurando in-
te^la^se com o objectivo no Sankorra ou no Njrangowe, e sem perder de
tista que deve esfoi^r-se por estudar e conhecer o curso fluvial tão longo
quanto seja possivel. No caso de attingir o Sankorra procurará estudar
este Idgo, verificar se desagua n'elle o Lualaba e se d*elle tiasce o Zaire»
seguindo» em vista das informações obtidas, na direcção do lago taga-
19a
nyika, e procurando conhecer o melhor <}ue possa o curso do Lualaba e
seu tributário o Lukuga.
«7.^ O segundo grupo dirígir-se-ha na direcçio do S. a intemar-se,
sendo possível» até encontrar os affluentes superiores ou as cabeceiras do
Quanza e do Zambeze.
«8.^ Para um e outro grupo subsistirão os mesmos flns da expedição
anteriormente enunciados.
c9.^ Uma commissão central executiva, formada mediante accordo e
approvação do governo, de dois vogaes effectivos da commissão central
permanente e de dois membros da sociedade geograpbica de Lisboa, sob
a presidência do sr. ministro da marinha e ultramar, providenciará du-
rante o tempo que durar a expedição, que não faltem a esta os meios e
auxilios necessários, dirigirá as remessas de objectos que convier fazer,
administrará o subsidio que for destinado á expedição, e tratará de rece-
ber regularmente as communicações, ele, da mesma.»
Resta-nos fallar ainda da creação da Sociedade de geographia de Lis-
boa, cuja inauguração se veriflcou no dia 7 de março de 1876. O seu fim,
como se declara nos estatutos, ó o estudo, a discussão e o ensino, as in-
vestigaçiies e explorações scientijicas da geographia nos seus diversos ra-
mos, principaes relações, descobertas, progressos e applicaçoes, no que
diz respeito especialmente á nação portugueza. Para o realisap, a socie-
dade de geographia emprega os meios que se reputam mais úteis, como
sessões, conferencias, prelecções, cursos livres, concursos e congressos
scientificos, subsídios de estudo e de investigação, viagens, assim como
publicações, formação de biblíothecas, archivos, museus, etc.
Para facilidade dos trabalhos, a sociedade divide-se em seis grupos
do seguinte modo :
Geographia malhematica, astronomia, etc. ;
Geographia physica, geológica, botânica e zoologia ;
Geographia anthropologica, ethnologica, medica, histórica, politica,
commercial, etc. ;
Instrucção geographica ;
Ghorographia e historia geographica portugueza ;
Cartographia e archeologia.
Cada uma doestas secções se acha a cargo de diferentes commissões
nomeadas por deliberação da asserobléa geral.
Às propostas dos sócios referentes a qualquer assumpto de geogra-
phia, depois de apresentadas na sociedade, são remeltidas ás respectivas
commissões que elaboram sobre ellas pareceres, cujas conclusões, pre-
cedidas de um relatório mais ou menos desenvolvido, se discutem em
assembléa geral e ali são approvadas, modificadas ou ampliadas.
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193
I
Poderíamos patentear mais documentos i>ara mostrar a importaocía
que DOS merecem as possessões do ultramar e a altura a que tem chegado
o moTímeoto geographico e colonial nos annos de 1876 e 1877. Julgámos,
porém, sufficientes os que deixámos referidos; e para concluir estas nos-
sas considerações, transcrevemos alguns trechos de um parecer discutido
em assembléa geral da sociedade de geographia, e que dizem respeito á
eiploração da r^ião septentrional de Angola.
«A esperança de encontrar no continente africano vastas regiões que
por favoráveis condições climatéricas facilitem a colonisacáo europea, e
com ella o aproveitamento de consideráveis riquezas naturaes até hoje
apenas entrevistas ; a possibilidade de vencer com os recursos e auxilio
de um admirável systema hydrographico, que das altas regiões centraes
e dos lagos ali existentes se dirige para o N., para L. e O., desenhando
extensos valles, ramificados nas direcções as mais diversas; esperança e
possibilidade que já no secuUo decimo sexto anunava entre outros a Bal-
íhasar de Castro e Manuel Pacheco, promoveram particularmente na se-
gunda metade do século actual repetidas explorações, que são^ gloria das
nações que as emprehendem, e que téem feito inscrever nas paginas da
historia dos commettimentos geographicos os nomes de Speke, de Burton,
de Livingstone, de Cameron^, de Schweinfurth e de tantos mais ousados
exploradores.
cBem pode a tal respeito afSrmar-se que uma generosa emulação se
apoderou a um tempo dos paizes europeus^ porfiando não somente as
1 Camcron foi um dos últimos viajantes que atravessou o interior da nossa re*
^Moo africana, vindo de Moçambique para Angola. O dia em que chegou aBengucila
e o modo por que foi recebido consta do seguinte documento :
«Serie de 1875 —Secção militar— N.» i30.'— 111.»» sr.— Cumpre-me participar
a V. s.*. para que seja presente a s. ex.* o governador geral da província, que no dia
8 do corrente chegou a esta cidade o capitão tenente da armada de Sua Magestade
Brilannica, Y. Sorett Cameron, commandante da expedição á procura de Living-
stone; c no dia immediato quatorze pessoas da sua comitiva, Geando maior numero
á retaguarda pela morosidade da marcha, por falta de forças.
«Logoquc soube da chegada d^aquelle offlcial, dirígi-me á casa de Cauchoix
Frères, para onde foi hospedar-se, e lhe dei noticia que tinha ordens do governo
de Sua Magestade o Rei de Portugal para lhe dispensar todos os auxilio» de que
carecesse, ofTerecendo-lhe por esta occasião a casa do governo, e tudo mais que en-
tendesse lhe poderia ser útil.
«O sen estado de saúde era então um pouco grave, por se lhe ter manifestado
um ataque de escorbuto; porém já hoje promette em breve restabelecer*se.
«Dei ordem para se lhe fornecer da botica do hospital militar todos os medi-
camentos que o facultativo lhe receitasse.
«Quanto á comitiva (gente de Zanzibar) acha-se aquartelada no rez-de-chaussée
13
194
nações coIoDíacs, mas ainda outras, que apenas índíreclamenlo poderão
auferir vantagens do melhor conhecimento das regiões africanas, como a
Itália, como a Âllemanha por exemplo, em prestar valioso contingente
n'esse esforço commum.
«O êxito feliz da tentativa do tenente Cameron, tentativa que de modo
solemne auctorisou a esperança de conseguir uma importante conmiuni-
cação natural entre as duas costas, a que dariam base as grandes artérias
do Zaire e do Zambeze, ainda mais veiu influir nos espíritos e fixar a at-
tenção publica sobre o grande problema africano, particularmente em
Inglaterra, onde a par do interesse scientifico, se levantam, como é natu-
ral e com toda a vehemencia que lhe pôde imprimir a energia nacional
da raça anglo-saxonia, o interesse politico e o commerciaK
€ Portugal, berço dos grandes navegantes dos séculos xv e xvi, pátria
dos homens que conceberam e levaram a bom termo emprezas das mais
ousadas^ que registam os annaes dos povos ; Portugal, cujas expedições
africanas dos fins do século passado e princípios do actual, estão ainda
boje sendo objecto de estudo para a própria Inglaterra, onde a real so-
ciedade geographica fez, não ha muito, traduzir e publicar os roteiros do
dr Lacerda, dos pombeiros P. J. Baptista e Amaro José, do major
Gamitto; Portugal, que ha bem poucos annos apontava com orgulho para
o successivo apparecimento dos trabalhos cosmographicos do visconde
de Santarém, para o contingente valioso fornecido pelo illustre marquez
de Sá, para a melhor descrípção cartographica das nossas extensas coló-
nias africanas; Portugal, finalmente, que nas duas costas, oriental e Occi-
dental do grande continente vé reconhecida a sua soberania em uma ex-
tensão superior a 20:000 metros quadrados, cujo commercio mais do que
o de nenhum paiz tem penetrado para o interior ; Portugal, embora não
podesse talvez de prompto apontar um nome que hombreasse com os de
alguns dos conferentes de Bruxellas, bem devia comtudo acbar-se repre-
sentado entre elles, até mesmo pela circumstancia do concurso efScacís-
simo com que poderá vir em auxílio d'essa tentativa, que consiste em con-
gregar os esforços isolados, sujeitando-os a uma direcção commum, e for-
tificando-os com a certeza da existência de uma base segura de operações,
de um auxilio eificaz e permanente.
da casa do antigo palácio do governo, e tem sido soccotrlda dos géneros alimen-,
ticios e dinheiro que o dito offlcial me tem requisitado.
tDeus guarde a v. s." Governo de Benguella, 9 de novembro de 1875.— IU.*« sr.
Secretario geral do governo. =Francí>co José de Brito, governador.
«Está conforme. Secretaria do governo geral em Loanda, 20 de novembro de
1875. »0 secretario geral, António do Nasc^nento Pereira de Sampaio.*
195
cE o convencimento de similhante verdade por tal forma se impunha
aos ânimos, que a própria conferencia de Bruxellas, que pareceu esque-
cer-nos tía sua composição, e ató mesmo os dois grupos em que ella na-
turalmente se dividira, tomaram todos para ponto de partida o aprovei*
tamento dos recursos que oíTerece a nossa importante colónia angolense.
tSe nos recordarmos que entre um e outro d'esse8 limites se encon-
tram, alem dos portos de Molembo e Cabinda, a foz d*esse grande rio
Zaire ou Congo, cuja forte corrente e enorme volume de aguas se torna
sensivel a 550 kilometros da costa, facto este mencionado já pelo padre
Balthazar Telles, rio que tem em si as proporções todas para se tornar
uma das grandes artérias do commercio do mundo, aprecia-se bem a rasSo
das duvidas, um tanto tardias, que se levantaram no animo muito inglez
d'aquelle famoso ministro d'estado. É esta quest3o, porém, das que me-
nos têem sido descuradas pelo governo e pela sciencia portugueza, bas-
tando citar com relação á ultima a Demonstração dos direitos que a coroa
de Portugal tem aos territórios de Molembo^ de Cabinda e Ambriz, pelo
visconde de Santarém, e ainda os Factos e considerações relativas aos
direitos de Portugal sobre os territórios de Molembo, de Cabinda e AmbriZy
pelo visconde de Sá da Bandeira ; e com relação ao governo as diligencias
e esforços, entre outros, d'este ultimo estadista e geographo distincto.
Mas para nada serve reclamar um direito quando nenhum uso se faz ou
pretende fazer d^elle, e n'esse sentido o que mais importa é aflBrmar por
factos essa soberania, salvo o fazer valer os argumentos que provam o
nosso direito quando a legitimidade d'esses factos seja effectivamente con-
testada.
cNão occupámos nós o Ambriz em 1855 apesar das reclamações e du-
vidas apresentadas? Direitos reservados é que se não comprehendem fa-
cilmente no século xix, quando a força de expansão da população, do
commercio e da industria assume proporções que a historia ainda não re-
gistara. Tudo quanto rfaquellas regiões tenda portanto a provar a nossa
vitalidade, não só politica e militar, mas ainda muito particularmente
scientifica, tem pois no momento actual um valor e uma significação que
é inútil encarecer.
«Explica essa convicção, que se tomou geral entre nós, a maneira por
que foi prompta e feUzmente reconhecida por todos em Portugal a neces-
sidade da expedição africana, para o que também muito concorreram os
esforços das duas corporações geographicas recentemente constituídas, e
ainda, grato é confessal-o, a intelligente solicitude do sr. ministro da ma-
rinha, sendo de esperar também que um pensamento tão patriótico en-
contre junto aos membros dos corpos legislativos o acolhimento que a
opinião publica lhe dispensou desde logo.
196
«Parece também ir-se accoiiluando a convicção de que a determinação
do curso superior do Zaire, e das suas relações com o Lukuga, o lago
Tanganika, o Lualaba, e finalmente o Zambeze, terá de ser uma parte e
muito importante da missão que deve incumbir á expedição portugueza.
É esse o problema que chama hoje a attenção do mundo scientifico; cum-
pre-nos a nós, que desejámos manter os nossos direitos sobre a foz do
Zaire, ajudar pelo menos a resolvel-o. Â falta de um esforço sequer n'esse
sentido traria consequências fataes para o dominio portuguez n'aquellas
regiões. .
cPosta a questão n'estes termos, e sendo certo, como felizmente já se
acha provado por factos, vistoque distinctos ofQciaes de marinha se dispu-
tam a honra de ter uma parte em tão considerável commettimento, que
existem em Portugal todos os elementos para organisar a expedição com
o pessoal scientifico necessário para nos assegurar o que sobretudo im-
porta, isto é, com a exacta e rigorosa determinação das coordenadas geo-
graphicas, e das altitudes dos pontos percorridos, um traçado rigoroso
da região percorrida e explorada, parece mais natural esperar pelos re-
sultados alcançados n'esse commettimento, antes de emprehender novos,
embora de utilidade incontestável, para o bom êxito dos quaes se carece
aliás de recursos, que não podemos ainda dissiminar sem fundado receio
de os ver ou destruidos, ou pelo menos mal aproveitados.
cNão pôde contestar-se que a exploração do Cunene, que dehmita ao
sul a província de Angola, e nos recorda a nós portuguezes o nome bene-
mérito de Fernando da Costa Leal, ao qual a geographia é devedora em
grande parle do pouco que ainda hoje se conhece a respeito d'esse rio, e
até da situação da sua foz, offercce por muitas causas diversas o maior
interesse. Feracidade e felizes condições climatéricas da região que atra-
vessa ; proximidade provável, na origem, dos aíQuentes do Zambeze, par-
ticularmente do Chobe, e com ella a descoberta de outra communicação
fluvial possível entre as duas costas; determinação das relações existen-
tes entre o Cubango, o Chobe, o Ertibára, o Cuanamare, são outros tan-
tos motivos, que fazem desejar que possa fazer-se a exploração d'esta
nossa zona africana, e n'esse sentido devem mais tarde convergir os esfor-
ços da sociedade; por emquanto parece-nos aconselhável satisfazer ao que
mais urge, e a urgência vemol-a nós toda em recordar na Africa e fora
d'ella que a região do Zaire é mais naturalmente investigada por portu-
guezes, do que por nacionaes de qualquer outro dos paizes europeus.»
Não é possível adiar-se por mais tempo a exploração geographico-
commercial da provincia de Angola. Entre-se pelo território do N. ou do
S., sigam-sc as margens do rio Zaire ou do rio Cunene, mas aproveite-se
a occasião em que de todos os ângulos de Portugal se ouve o mesmo
197
brado: Façamos progredir as colónias, mostremos o que por ellas temos
feito, e não nos esqueçamos de que somos o mais antigo paiz colonial da
Europa e uma das maiores nações da actualidade, poisque somente a
Rússia, Turquia e Inglaterra nos são superiores em territórios.
O impulso está dado, e as expedições para Africa seguirão umas após
outras, como nos últimos annos do século xi, em que nos tornámos uma
das maiores, senão a maior nação do mundo, poisque a nós se deveu o
conhecimento de metade do globo.
cE, acrescenta o erudito sábio Henrique Major, no seu monumento
levantado á gloria de Portugal, afoitamente digo, metade do globo» pois
tal é o fundamento com que intitulo esta obra, Vida do infante D. Henri-
que, o navegador e seus resultados.
c gloria do infante consiste na concepção e persistente proseguimento
de uma grande idéa e suas consequências.
cTende, pois, este livro, mais a rememorar os illustres feitos do in-
fante, do que á simples descripção da sua vida.
«Não é uma gloria de phantasia e vaidade, mas realidade esplendida,
que se projecta na historia, acompanhada de successos transcendentes, e
a que ao menos a raça anglo-saxonia não tem desculpa de ser indifferente.
€As costas de Africa percorridas; o Cabo da Boa Esperança dobra-
do; o novo mundo patenteado; o caminho para a índia, para as Molucas
e para a China franqueado; o globo circumnavegado e a Austrália desco-
berta dentro de um século de explorações travadas.
«Taes foram, como no meu ultimo capitulo reflro, os estupendos re-
sultados de um grande pensamento e incansável perseverança, não obs-
tante doze annos de vicissitudes, gastos infructiferos, motejos e desani-
madoras murmurações.»
Recordámos os nossos brilhantes feitos do século xv e xvi, para nos
servirem de exemplo. Não será menor a gloria que nos espera, se não des-
animarmos, se tornarmos as palavras em obras, se cuidarmos em6m de
colonisar de raiz e a preceito a província de Angola, e a zona tropico-equa-
torial que se estende d'ali até á outra costa, a Africa portugueza, onde po-
demos crear um império maior do que o do Oriente.
Pr«f ilida de Cabo Verde e suas dependências. — Compõe-se esta província
das ílbas de Cabo Verde e da Guiné ou Senegambia, no continente da Afri-
ca. Abstemo-nos de fazer uma descripção minuciosa doesta importante pro-
víncia, e daremos unicamente as informações que nos parecem indispen-
sáveis, para se poderem comparar os territórios que comprehendem com
os das outras nações. É este o nosso principal empenho.
Paliaremos primeiro da região insular.
198
As ilhas de Cabo Verde, segundo Larousse, téem 4:400 kilomelros
quadrados. N3o sabemos se esta inrormação è exacta, nem podemos apu-
rar a verdade sob este ponto de vista.
No annuario estatistico de Gotha calcula-se a superfície das ilhas em
4:271 kilometros quadrados. A differença para menos é sensível, mas não
o é menos a que se encontra n'outros escriptores, se tomarmos em con-
sideração a superfície indicada por Carlos Yogel, que a calcula em 3:920!
Se deixarmos, porém, os escriptores estrangeiros para nos referirmos
aos nacionaes, não somos mais felizes.
Lopes de Lima diz que a superfície das ilhas é de 4:194 kilometros
quadrados, área difTerente da calculada pelos escriptores referidos, mas
a nossa surpreza augmenta quando vemos calcular o território umas ve-
zes em 2:929 kilometros quadrados e outras em 3:330 1 E quando se dão
d'estas irregularidades a respeito das ilhas de Cabo Verde*, o que se pôde
esperar acerca das províncias de Angola e Moçambique?
É de urgente necessidade que se proceda sem demora aos estudos
convenientes para se determinar com exactidão não só a superfície de cada
uma das províncias ultramarinas, mas também a sua população. De outro
modo não é possível avaliar a população especifíca nem fallar com funda-
mento a respeito da aclimação, base de toda a colonisação e progresso
colonial.
É realmente innegavel que este assumpto é muito complexo e depende
de variados trabalhos complementares, cuja execução pertence, não só
ás repartições de saúde, mas também ás dos concelhos administrativos e
ás secretarias dos governos. Mas, sejanjual for a repartição a que perten-
çam, é indispensável, para se obter bom resultado, que haja um systema
bem definido e um methodo de trabalhos preparatórios tão simples
quanto bem calculado.
As ilhas de Cabo Verde toem uma posição importante, e acham-se dis-
postas de tal modo que permittcm a sua classificação em grupos como as
do archipelago dos Açores, e como estas deviam ser consideradas ilhas
adjacentes. Merecem esta dístincção não só pela distancia a que estão da me-
trópole, mas também por outras círcumstancias que escusámos enumerar.
A urzela apparece espontaneamente em muitas ilhas e veiu ao mer-
cado de Lisboa muito antes da que se exporta da província de Angola.
0 milho, apesar de ser semeado em covas á flor da terra, produz
duzentos por um. Ninguém ignora o trabalho que esta cultura exige na
província do Minho.
1 Temos diante de nós um livro onde se diz que o archipelago de Cabo Verde
se compõe de mais de noventa ilhas e ilhéus. Este livro serve para o ensino de
geographia e tem numerosas edições!
199
O feijSo dá-se bem, e o café nasce, por assim dizer, espontaneamente,
e é muito considerado no mercado de Lisboa onde obtém preço bastante
elevado.
Os terrenos em algumas ilhas d'este archipelago são favoráveis.
O tabaco * é exceliente.
A cultura da jague-jague ou palma-cbrísti ', algodão, anil e cocbonílla
ofiTerece grande vantagem ao cultivador.
As ilhas de Cabo Verde acham-se mais ou menos afastadas umas das
outras, e por isso mesmo o solo é variado e accommodado a diversas cul-
turas, havendo algumas largamente desenvolvidas.
A capital da província è a cidade da Praia na ilha de S. Thiago, onde
reside o governador geral e onde estão as repartições superiores. Publi-
ca-se um boletim oíDcial, cujo primeiro numero ^ appareceu em janeiro
de 1842, e n'elle se acham impressos importantes trabalhos estatísticos.
Deveríamos ajuntar algumas informações a respeito de tão impor-
tante archipelago, mas seria sempre resumida a descripção. O seguinte
mappa estatistico-geographico põe em relevo as vantagens do archipelago
de Cabo Verde e mostra os pontos de relação que ha entre este e o dos
Açores.
1 «A respeito do tabaco disseram offlcialmcnte ao governo, cm 1835, os contra-
tadores, em resultado do exame a que procederam em umas amostras d*ali remetti-
das cque era igual ao Kentuky e Virgínia, que era mui bem cultivado, bem secco
e bem preparado, e que nào duvidariam comprar annualmente 14:000 arrobas
(205:000 kilogrammas) pelo preço por que pagavam aquelle a que o compara-
vam.» (Jornal das colónias,)
2 ÀS mulheres do paiz, depois do parto, banham-se em um cozimento feito de
folhas do jaçue-jague. Lavam também os peitos com esta agua^ a fim de terem mui-
to leite.
3 Nao podemos ver o primeiro numero d'esta útil c interessante publicação,
mas pessoa auctorísada julga que o primeiro numero do Boletim apparec(}ra no
aono a que nos referimos no texto.
Latitude 3&> 57' N. n 3»> 41' N— Longllndc 15> SO' a 21> 10' O. de Lisboa
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103
5
S. Jorge
Terceira
Graciosa
Pi>[iulacno espi^cifica i'iii geial 102,8 babilanlcã por kiloraetro quadrado.
ProduopSes.— Grande auanliJadi; de excellente laranja, fmctas, limOeg,
ananazes, aguardente, trigo, milho, legume», balata, intiame, linho, vinhatira, faia,
castaatias, pinho e gado para conRomo.
Archlpelatn ale Caha Tcrdo
LaUfu(lRl4>ii>'al7'4l'.N.-l.oi)ei(u<]e lli'3â'.t 19' 13' O. de Usboa
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90
80
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10
60
116
140
110
110
135
113
130
110
30
9
120
Fogo.
Boa^sto.
S. Nicolaa
Suto Aniso
S. Vic«nle
Popnlfçío espeãfica em gcrnl 38,2 h.tbilantps por kilonielro qu.idrado.
Px*oduOQ5es. — Superior café, cacau, urzela, Rranda quantidade de par-
goeira, coni, aguardente Je cannA, milho, muito sal, algodão, anil, boa laranja, linjas,
rímaes e diversas fnicUs, muilo taba''iD, legumes, papaias, ananates, cocos, horLiliças,
miadíoci. Ti oho, óptimas melancias e melttes, canna de nssucar, bananas, cidras, gado
nccuiD e de niniUs oatras especiea.
202
Considera-se como dependência da província de Cabo Verde a Guiné
ou Senegambia portugueza*. É uma importante possessão, cujos limites
sé acham determinados do seguinte modo :
Começa em 13® 10', 3^,7 ao N. do rio de S. Pedro, e acaba no cabo
da Verga, em 10° 20' de latitude, comprehendendo as ilhas de Bolama,
Galiinhas e Orango, no archipelago de Bijagoz.
0 presidio de Geba fica a mais de 111 kilometros da costa.
A superfície d'este território é, segundo G. Pery *, sete vezes maior que
a da provinda de S. Thomó, havendo por este lado motivo sufllciente
para fazer d'elle um governo como o d'esta provinda.
Eis-aqui o que a este respeito escreveu o venerando marquez de Sá
da Bandeira, a quem as colónias portuguezas devem a mais acrysolada de-
dicação :
tParece-me também conveniente que seja dissolvido o governo geral
de Cabo Verde, sendo dividido em duas partes, das quaes uma, composta
de todas as ilhas do archipelago, seria organisada como os distríctos ad*
ministrativos, devendo ficar subordinada ao ministério do reino.
«Assim, esta nova circumscripção territorial, o districto da Praia de
Cabo Verde, constituiria o 22.° districto e o 5.® das ilhas adjacentes. For-
maria uma sub-divisão militar, e continuaria a ter duas comarcas, a da
Praia e a do Mindello, para onde deveria transferir-se a sede da que está
na ilha de S. Nicolau, poisque a ilha de S. Vicente é aquella em que as
communicaçôes são mais frequentes com as mais ilhas que formam a co-
marca, e com Lisboa.
1 A Guino portugueza ou Senegambia, achava-se outr*ora dividida em dois go-
vernos subalternos, isto é, capitania mór de Cacheu e dependências, e sargenteria
mór de Bissau e dependências. Posteriormente, em consequência dos navios se di-
rigirem em maior escala para o porto de Bissau, considerou-se o governo de Cacheu
e dependências como subalterno do de Bissau e dependências, dando-se o titulo de
governo da Guiné portugueza ao ultimo, e ficando o antecedente com o titulo que ti«
nha.
Estes governos eram civis e militares.
Na actualidade, isto é, desde 1869, o território da Guiné forma um só governo
civil e militar. Tem a sede em Bissau e é dependência do governo geral de Cabo
Verde.
2 Carlos Vogel no seu importante trabalho Le monde terrestre, em via de pu-
blicação, guiando-se pelo annuario estatístico de Gotha, calcula a superficie do nos-
so território da Guiné em 69 kilometros quadrados ! É preciso porém dizer-se que
isto nao é exacto.
O sr. João Carlos Cordeiro, que de boa vontade nos deu minuciosas Informa-
ções a respeito do território da Guiné, calcula em muito mais de 20:000 kilometros
quadrados a superfície que ali temos, comprehendendo o dos diversos e84ados ou
iribus gentílicas feudatarias a Portugal.
203
cO districto da Praia de Cabo Verde teria uma importância similhante
á que tem o districto da Horta. N'este a distancia maior entre as ilhas que
o compõem, a saber, entre a do Pico e a das Flores, excede a que ha en-
tre S. Thiago e Santo AntSo.
f A populaçSo do districto da Horta é de 60:000 a 70:000 habitantes;
o archipelago de Cabo Verde tem também 60:000 a 70:000 almas. A dis-
tancia d'este a Lisboa percorre-se actualmente em seis ou sete dias, e o
mesmo succede entre Lisboa e o Faial.
«A outra parte da província, a Guiné portugueza, deveria formar um
governo particular, da categoria do de S. Thomé e Príncipe.
«O seu território, que é atravessado pelo 12**parallelode latitude N.,
tem 40 a 50 léguas (SS2 a 378 kilometros) da costa marítima, na qual
desembocam os importantes rios Casamansa, o de Cacheu ou S. Domin-
gos, o de Geba, e o vasto estuário chamado Rio Grande de Guinala ou
de Bigubà, alguns dos quaes communicam entre si por esteiros ou canaes
naturaes; alem d'estes rios ha outros menos importantes.
«A mancarra, ou ginguba, ou mendoby (Arachis hypogcea) é a prin-
cipal planta cultivada e dá grande interesse ; o arroz é grangeiado pelos
indígenas e produz abundantemente. Mas o solo é proprío para as outras
plantações tropicaes.
f A canna de assucar seguramente havia de dar grande proveito. E
conviria que o governo promovesse ali esta industria em grande escala, o
que lhe seria fácil fazer, procurando que se formasse para esse flm uma
empreza na ilha da Madeira, onde. ha pessoas praticas e habituadas a di-
rigir bem um engenho e as respectivas plantações. Uma fabricação de
aguardente de canna deveria dar muito lucro.
tHa na ilha da Madeira muita gente que tem vivido na Guiana ingle-
za, para onde a emigração tem sido grande desde alguns annos a esta par-
te, e onde existem milhares de madeirenses. Esta colónia, cuja situação é
mais meridional do que a da Guiné portugueza, tem um clima que não é
melhor do que a d'esta parte da Africa, e aqui ha logares afastados das
margens dos rios que são relativamente saudáveis.
t A uma tal empreza deveriam conceder-se alguns favores temporá-
rios, bem como áquelles que se occupassem da cultura do algodão e de
algumas outras producções, e a todas se deveria dar segurança contra
qualquer ataque por parte dos indígenas.
tPor meio de barcos de vapor apropriados aos rios se facilitariam as
communicações, e para estes, bem como para as machinas de vapor, que
nos engenhos se empregassem, ha ali o combustível de lenha em abun-
dância.
«Também deve atlender-se a que está próximo o tempo em que as
204
colónias europeas de Senegambia hão de communicar com a Europa por
cabos submarinos.
f Outra industria que ali deveria ser muito proveitosa seria a da pre-
paração de madeiras para exportação.
f O discreto emprego de capitães em Guiné, a ida para lá de indivi- 4
duos habilitados a dirigir o trabalho dos negros manjacos, que para isso
se assalariariam, impostos aduaneiros mui baixos e em poucos géneros,
bem conío algumas outras medidas que se tomassem, poderiam concorrer
para tornar esta colónia florescente, dentro de poucos annos.
«Parece-nos, pois, que está demonstrado, não só a necessidade de se
modiGcar a administração da provincia de Gabo Verde, mas também a
urgência de se crear uma provincia independente no vasto território da
Senegambia, onde temos bastantes presídios e algumas feitorias de que
passámos a dar uma breve noticia.
«A capital do governo de Guiné deveria estabelecer-se na ilha de Bo-
lama, situada a meio caminho entre o Rio Grande e o rio de Geba ; e para
esse fim deveria fundar-se n'esta ilha uma villa regular.»
As-povoaç5es principaes do nosso território da Guiné são* :
Bissau e Cacheu, praças de guerra ;
Bolama e Gallinhas^, ilhas;
1 A descrípção da Guiné portagueza teve por base as informações dadas pelo
sr. João Carlos Cordeiro. Foi pablicada sob sua inspecção e por elle revista a parte
que diz respeito a tuo importante território.
O sr. Cordeiro chegou á provincia de Cabo Verde em 1862. Era segundo te-
nente de artilheria da mesma provincia.
Exerceu ali, alem de diversas commíssoes militares, os cargos de administra
dor do concelho, presidente da camará municipal e commandante militar da ilha
Brava.
Foi governador civil e militar da praça de Cacheu e dependências, districto
que então comprehendia metade do território da Guiné.
Foi commandante militar da ilha de Santo Antão.
Esteve também encarregado da direcção das obras publicas da ilha de S. Vi-
cente, onde foi commandante militar.
Em 1871 passou a servir na provincia de S. Thomè, onde tivemos a honra de
o conhecer.
Em 1874 regressou ao reino com licença, e foi de novo transferido para a pro-
vincia de Cabo Verde; mas o longo tempo de serviço na Guiné e na província de
S. Thomé e Príncipe dava-lhe direito á reforma que pediu e obteve no posto de maior.
O sr. Cordeiro conhece a provincia de Cabo Verde, e as informaç.Ões que elle
dá são dignas de inteiro credito.
2 Esta ilha foi dada por um rei gentio, em 4830, ao negociante Joaquim Antó-
nio de Matos, que indo para a Guiné ou Senegambia portugueza, como tripulante
de um navio mercante, ali, depois de ser caixeiro, adquiriu alguma fortuna. Con-
stituiu-se negociante, e foi nomeado pelo governo intruso de D. Miguel coronel de
205
Colónia, na foz e margem direita do Rio Grande de Guinala ou Bo-
lota ;
Geba, na margem direita do rio Geba ;
Ganjarra e Fá, na margem esquerda do mesmo rio Geba ;
Farim, na margem direita do rio de S. Domingos ou de Cacheu, que,
impropriamente, alguns geographos coUocam na margem esquerda ;
Bolor, na margem direita e foz do mesmo rio, e do esteiro que conduz
ao rio Gasamansa ;
Jufunco ou Jafunco^, situado no esteiro que da foz do rio de Gaclieu
conduz ao rio Gasamansa, estendendo-se até é costa de Varella.
milícias (sem soldados, por nao existir ali corpo algum de milícias), bem como foi
feito pelo mesmo governo governador interino de Bissau. Este negociante ofTercccu
ao então governo de Portugal esta ilha. Em 1869 existiam em Guiné, em más cir-
comstancias, os netos do referido Joaquim António de Matos.
1 Doesta povoação e reino tomou posse, para a coroa, em 1869, o governador
de Gacbeu e dependências, João Carlos Cordeiro, como sg vé do seguinte docu-
mento :
«Copia. — Tratado de cessão de território feito à nação portugueza pelos Fclu-
pos de Jafunco. — Aos 13 dias do mez de agosto de 1869, n'este território de Ja-
funco, achando-se presentes os ill.°~ srs. João Carlos Cordeiro, governador da pra-
ça de Cacheu e dependências; Francisco José de Sousa, administrador nomeado
para o mesmo concelho; Manuel da Luz Ferreira, proprietário; Manuel Mcolau de
Pina Áraujo, vigário e juiz foraneo n'este districto; Marcellíno Marques de Barros,
vigário da freguezia de S. Francisco Xavier de Bolor; César Augusto da Silva, com-
mandanle do palhabote de guerra Bissau; Lourenço Justiniano Padrel, segundo te-
nente de artilheria; Manuel José Mendes^ Gscal no districto de Bolor; José Gomes
Pereira, negociante; Joaquim José Vieira, agricultor; José Manuel Barbosa, caixei-
ro de commercio; Marcos Gomes Bebello, caixeiro de commercio; commigo Benja-
mim Fortes Ferreira, secretario do governo, de uma parte; e da oulra, Ampá-cá-bú,
regulo de Jafunco; Abáge, regulo da circumscripção da mesma povoação e reino;
Jaalam; Éserut; Jicójóbó; Jigenimjébé; Salamumein; Camínguel; Siculubriré; Sami ;
Émogne e Quelor; grandes, fidalgos e ministros do mesmo território : — Pelos úl-
timos foi dito, que cedem de hoje para sempre, todo o território de Jafunco, á nação
portugueza, a quem desde muito reconhecem como legitima senhoria d'cste terri-
tório, podendo todos os cidadãos portuguezcs, com exclusão de estrangeiros, esta-
belecerem feitorias no mesmo território; sendo aqui arvorada a bandtnra nacional,
para mostrar aos estrangeiros, que este território é legítima pertença da nação por-
tugueza: obrígando-se elles, régulos e grandes, a não deixarem estabelecer n*este
território estrangeiro algum, sem prévio consentimento das auctoridades portugue-
zas. E de como assim o disseram solemnemente, e foi acceite pelo respectivo go-
vernador da praça de Cacheu, em nome da nação portugueza, que representa, e por
anctorisação superior, sq lavrou o presente tratado, que todos assignam. Eu Benja-
mim Fortes Ferreira, secretario que o subscrevi e assigno. = (Assígnados), João Carlos
Cordeiro, governador de Cacheu e dependências = F. J. de Sousa = Manuel L. Fer-
reira = Manuel Nicolau de Araújo = Marcellino M. de Barros = César Augusto da
Silva = Lourenço Justiniano Padrel = Manuel José Mendes = Como interprete, José
206
Zeguichor, situado na margem esquerda do rio Casamaasa.
Todos estes pontos são presídios, isto é, logares mais ou menos for-
tificados, governados por chefes administrativos militares.
Cabe aqui dizer que também temos o titulo de soberania na ilha de
Orango, uma das mais férteis e maiores das de Bijagoz, habitada por um
rei e súbditos muito amigos da naç^o portugueza.
Os pontos mais afastados da costa são Farim, Geba, Ganjarra e Fá.
De Farim a Geba faz-se a jornada em três dias, e de Geba a Ganjarra
ou Fá, vae-se em meio dia.
O território confinante com a Guiné ou Senegambia portugueza, tanto
pelo N. como pelo S., pertence á nação ingleza. Pelo N. está Santa Maria
de Bathurst de Gambia, e pelo S. o governo da Serra Leoa, cuja capital
é Freetown.
O nosso território da Guiné, isto é, o Cabo Roxo e os ilhéus de Caio,
pontos que os navegadores procuram, ficam cerca de 555 kilometros das
ilhas de Cabo Verde (cidade da Praia de S. Thiago); a ilha de GorSe, a
contar da barra do rio Casamansa, dista 240 kilometros; S. Luiz do Sene-
gal está a 15 kilometros ao N. doesta ilha.
Os portuguezes occupam a área das praças e presidios, e terrenos em
volta, cuja superficie se estende até onde alcançam as balas de artilheria,
e em virtude de contratos solemnes, feitos com as diversas tribus gen-
tias, pertence-nos de direito o dominio pleno de todo o território da Gui-
né ou Senegambia portugueza, desde a foz do rio de Casamansa (mar-
gem direita) até ao Cabo da Verga, e todo o território que se estende
para o interior, isto é, desde o Cabo Roxo até ao meridiano de Ganjarra
no sertSo*.
Para o interior, alem do meridiano, que passa por Ganjarra, sao pai-
zes pouco conhecidos, constando, porém, serem habitados por gentios,
que pouco tratam da agricultura, mas que se empregam, em gerali na ex-
G. Pereira = Joaquim José Vieira = José M. Barbosa = Marcos Gomes Hebello = Do
regulo Arapácá-bú -[- = Do regulo (rei) Abáge + = Do fidalgo Jaalam -f- = Do fi-
dalgo Éserut+ = Do fidalgo JicóJóbó4- = Do fidalgo Jigenimjébó -[- = Do fidalgo
Salamumein + = Do fidalgo Caminguel4- = Do fidalgo Siculubrlré + = Do fidalgo
Sami + = Do fidalgo Émogue + = Do fidalgo Quelor+=. Eu, Benjamim Fartes
Ferreira^ secretario».
1 Os francezes, contra os nossos incontestáveis direitos, estabeleceram-se no
ilhéu dos Mosquitos, na barra do rio Casamansa, levantando ali uma povoação com
fabricas de tecidos, á qual deram o nome de Carabane, occupando outro ponto in-
terior do mesmo rio, na margem direita, onde construiram uma feitoria, a que de-
ram o nome de Sedhio ou Seliu, onde ha grande movimento conmiercial, especial-
mente de resinas e gonmias.
207
pioração do oiro, que permutam com os mandingas. Muilo mais para o
interior, nada com certeza se sabe. Na área occupada pelas diversas tribus
gentias, que por contratos nos prestaram vassallagem, e que poucas ha
que tal não tenham feito, podem aforar-se muito economicamente gran-
des porções de terreno para agricultar, mediante um pequeno foro, censo
ou pensão.
O terreno de 277 hectares, pouco mais ou menos, pôde ser comprado
pelo foro anmlal de dois garrafões de aguardente, dez libras de pólvora
e igual porção de tabaco.
O terreno em geral é muitissimo fértil : as chuvas são copiosíssimas,
especialmente desde o mez de julho ^ até ao fim de outubro.
A vegetação é de um desenvolvimento tal, que a de S. Thomé, em re-
lação a esta, pôde dizer-se mesquinha.
O baobá ou embondeiro, que é uma malvacia, attinge dimensões enor-
mes ^.
A Senegambia é um terreno altamente rico e susceptível de ser culti-
vado, porque ha ali todos os vegetaes úteis dos paizes intertropicaes, e
é muito apropriado para a colonisação.
Pôde ser habitado por europeus, poisque, embora em más condições,
vivem ali portuguezes, francezes e inglezes, gosando regular saúde, sof-
frendo alguns, a menor parte, febres periódicas, que ordinariamente não
são mortíferas.
Os melhoramentos que se devem realisar quanto antes são : melho-
rar as fortiflcações das praças de Bissau e Cacheu, e fortificar comjileta-
mente os demais presídios, que muito bem o podem ser com pequeno
dispêndio, construindo-se blokaus no circuito dos mesmos. Pontos ha que
muito carecem de igual systema de fortificação, como são Bolor, Matta
de Putama e Colónia.
A guarnição militar deve promiscuamente desempenhar as funcções
de fiscalisação aduaneira e militar propriamente dita ; este systema é gran-*
demente económico; mas para que surta bom resultado, é também pre-
^ Segando João Carlos Cordeiro, que ali foi governador, a gente da terra con-
sidera o dia de Santo António como o primeiro dia de chuva; e elle effecti vãmente
nos annos em que ali esteve presenceou pequenos chuveiros em tal dia.
2 Para abraçar o tronco de algumas doestas arvores são precisos muitos ho-
mens. Algumas d*ellas, envelhecendo e destruindo-se-lhes a medula, formam uma
espécie de casa, em que habitam familias gentias, collocando em outras as suas
batôbas ou chinas, isto é, os seus templos.
Outras vezes, estas arvores, tendo destruída a medula pela parte superior, en-
chem-se de agua na estação pluvial, formando bons depósitos aquáticos, que os
gentios perfuram na base, fazendo uma espécie de bica a que adaptam uma ro-
lha, para tirar agua quando lhes é necessária.
208
ciso que a recompensa pecuniária seja condigna, e o castigo esteja pró-
ximo do delicto.
Em Guiné ha grandes matas e florestas de arvores gigantescas, que
dão ricas e formosas madeiras próprias para marceneria e construcções,
as quaes são propriedade de alguns gentios. Quando se pretende fazer um
corte, offerece-se ao senhor da mata ou floresta uma dacha, como com-
pensação do corte a fazer, para carregar uma embarcação, seja de grande
ou pequena lotação, a qual dacha é sempre acceite e consiste no valor
nominal de 50f$000 réis, valor que é realmente inferior a metade d'esta
cifra, porque é pago em tabaco, pólvora e aguardente : é assim que se
effectuam as carregações de madeira.
Gomo n'esta região vem aos mercados grande quantidade de azeite de
palma, chabéo ou coconote (semente para fazer azeite), mancarra ou gin-
guba (espécie de amendobi ou amendoim), couros, cera, mel, arroz, bor-
racha, ele, é preciso crear companhias para chamar os productos ao porto
de Lisboa S evitando por esta forma o monopólio feito pelos estrangei-
ros*.
Os portuguezes que ali commerceiam, permutam unicamente com o
gentio os géneros que, a credito, recebem das casas francezas e inglezas,
e com as espécies obtidas satisfazem seus débitos ás mesmas casas.
Os gentios, em geral, não gostam dos inglezes nem dos francezes;
não commerceiam com elles. São amigos e affeiçoados aos portuguezes
por diUerentes rasões, tratando-os pela expressão de tcamaradas».
Adoptado o systema atrás desenhado, a Guiné ou Senegambia portu-
gueza será conhecida em Portugal, o que até hoje não tem acontecido,
porque todas as suas producções vao abastecer os mercados de Marselha
e Liverpool.
Depois, e mais tarde, quando as diversas tribus gentias estiverem
mais civilisadas, para o que, como é visível, caminham a passos agigan-
tados, devem crear-se companhias agricolas, para que d^aquelle fértil
solo se possam tirar os grandes valores que encem.
Cuidando-se da colonisação da Guiné, Portugal terá ali um outro Bra-
zil, de que poderá obter os maiores recursos.
Os régulos da Guiné Ozeram contratos solemnes, em que esponta*
^ É da maior convenicncia que nos portos de Bissau c Bolama toque mensal-
mente um paquete : tal medida animará bastante o comroercio.
2 Os gentios não entram nas casas dos estrangeiros nem com elles permutam
cousa alguma, porque ise consideram portuguezes, pelo fundamento de que os que
ali foram primeiro, ha muitos séculos, eram também portuguezes, e porque, dizem
também elles, tudo que é portugucz é bom, benv como tudo que passa pela mão
dos portuguezes fica melhorado.
209
oeameDle se submetleram á aucloridade portugueza, sem reserva de di-
reitos de natureza alguma.
As fazendas agrícolas existentes são poucas ; tem entretanto alguns ri-
cos pomares de laranja de excellente qualidade. Ha também pequenas
plantações de canna saccharina, que attinge muita grossura e serve ape-
nas para sobremesa.
As grandes culturas sâo unicamente as do arroz, feitas especialmente
no território Flupo ou Felupe e Mandinga, e as de mancarra ou gingu-
ba, que se cultiva em grande escala nas margens do Rio Grande de Gui-
nala, ou Bolola ou Biguba, e nas ilhas de Bolama e Gallinhas.
A ilha de Bolama é rica, não só pelas suas producções, mas também
pela situação próxima ao Rio Grande de Guinala, ou Bolola ou Biguba, e
pelo excellente porto que tem.
A ilha das Gallinhas, muito mais pequena do que a antecedente,
abunda em producções ; mas será sempre pobríssima e sem importância,
como muitas outras do archipelago de Bijagoz, porque não tem porto
que dê accesso aos navios, e só pôde ser demandada por canoas, o que
encarece muito os géneros, pela accumulação dos fretes.
O ilhéu do Rei, em frente de Bissau e na boca do rio Geba, é grande
e saudável, tem alguma agua, e pôde ter mais, construindo-se cisternas,
como em Gorée se pratica. Este ponto é o mais apropriado para se edifi-
carem casas, e encontram-se ali poucos habitantes.
Pôde mudar-se para aquelle logar a povoação principal, poisque esta
localidade offerece vantagens que não se encontram facilmente n'outros
sítios.
A ilha de Bussis é nossa. Vivem ali alguns negociantes portuguezes.
O paiz é abundante em pequenas gallinhas, grandes e formosos patos,
gado vaccum e suíno; e no interior ha elephantesS muito gado cabrum,
lanígero e cavallar, sendo este de raça árabe.
0 mar abunda em peixe e mariscos, havendo grande quantidade de
cur^ina.
Nos parceis da Guiné existe a concha peroleira.
Cabe aqui dizer que no litoral dão-se mal os cavallos. Os que tem
1 Fazemos aqui menção de ama circumstancia ignorada pela maior parte dos
europeus que não téem percorrido esta parte da Africa. Os elephantes criam-se
em grandes manadas no interior da Guiné ou Senegambia portugueza, bem como
em outras partes da Africa; em certas epochas do anno vem ao litoral (em mana-
das) e passam o canal, nadando entre a Colónia e a ilha de Bolama, indo estacio-
nar por algum tempo nos legares de pasto d'esta ilha^ recolhendo ao continente em
outras epochas. São inoffensivos, tanto para os habitantes da Colónia como para os
da ilha de Bolama.
14
210
vindo de Geba e Farim para Bissau e Cacheu apenas duram cerca de um
anno. Será devido aos pastos?
A Guiné, pela sua extensão e riqueza, è muito superior á provincia de
S. Thomé, e mesmo ao archipelago de Cabo Verde; é mais doentia do
que estas ilhas ; alguns porém a julgam menos do que as ilhas de S. Tbomé
e Príncipe, que recebem as emanações palustres do rio Niger e as do
próprio solo pantanoso lhe causam grande damno.
As terras do interior s3o, em relação ás nossas, extensíssimos sertões,
em que também ha, aqui e ali, alguns habitantes exploradores de oiro.
A Guiné ou Senegambia portugueza é pouco acidentada ; não tem montes
dignos de mencionar-se.
Os habitantes doeste território são, começando do N., baiotes, ílu-
pos ou felupes, banhumes ou benhuns, cassangas, papeis ou buramos,
balantas, bijagós e nallús. No interior, porém, a 300 kilometros da costa,
existem os mandingas, fulas e futa-fulas, povos muito mais civilisados do
que os que se avizinham ao litoral.
Os mandingas entregam-se á industria fabril e commercial.
Os fulas occupam-se da creação de gados e da cultura da terra.
Os fula-fulas dizem ser os senhores dominicaes do terreno occupado
pelas tribus precedentes; são todos de profissão militar, e vivem dos
tributos que lhe pagam pelo usufructo dos terrenos os mandingas e os
fulas. Estanciam por alguns annos nas diversas tabancas ou trabancas das
tribus referidas.
Gabe aqui elucidar, que tabanca ou trabanca significa povoação cercada
de paliçada, geralmente construída com grossos madeiros de pau-car-
vão, de pontas aguçadas, e a que addicionam grande quantidade de abro-
lhos.
Os futa-fulas formam grandes corpos militares de cavallaria e infan-
teria, sendo aquella muito numerosa : dizem ser indígenas das serras
do império de Marrocos, d*onde vem á mencionada região, de annos a
annos, cobrar os tributos dominicaes : tanto futa-fulas como mandingas
e fulas são em geral mahometanos; dizemos em geral, porque existem
algumas pequenas povoações, como é amostra uma, junto a Sancoriá, em
que os seus habitantes se entregam ao uso de bebidas espirituosas e da
carne de porco, e a tudo que o Al-Koran prohibe: estes são chamados
senenquens. As ultimas três tribus de que acabámos de tratar são muito
mais civilisadas do que as que se avizinham ao litoral.
No território comprehendido entre o rio de Geba e o Rio Grande de
Guinala, ou Bolola ou Biguba, estanciam os biafras, biaffares ou biafadas,
tribu menos civilisada do que as três antecedentes, mas, ainda assim, muito
mais civilisada do que as tribus que se avizinham ao litoral. Os biaíraSi
2H
biafares ou biafadas e os mandingas, futa-fulas e fulas, trajam uma es-
pécie de capas dalmaticas, usando-as os ricos de seda, que também, em
geral, calçam sandálias, ou botas de polimento de cano de marroquim en-
camado, que importam de Gambia e de outros pontos.
As tribus vizinhas ao litoral usam apenas tangas : as dos papeis ou bu^
ramos s5o de pelle de cabra sem cortume, e as dos flupos ou felupes de
estamenha, os baiotes de palha, etc.
Em geral as tribus vizinhas ao litoral são selvagens, dotadas de inau-
dita barbaridade : os papeis ou buramos s3o os mais indomáveis.
Todas estas tribus se nutrem dos productos que a natureza apre-
senta espontaneamente: apenas cultivam pequenas porções de arroz,
sendo excepção doesta regra os flupos ou felupes, que cultivam em ponto
grande este género. Também se occupam da pesca, que constitue em
grande parte o sustento d'estas tribus.
A necessidade, que têem estes selvagens, de aguardente, tabaco, pól-
vora, armas de fogo, espadas, etc, faz com que crestem as muitas col-
meias que espontaneamente se desenvolvem no mato, para virem per-
mutal-as ás praças e presidios, bem como permutam o azeite de palma, que
fabricam; semente de chabéo ou coconote, borracha, etc, que exploram.
Os mandingas e futa-fulas são os que fornecem em grande quanti-
dade couros e cera, oiro e escravos (forneciam escravos).
Em geral ha segurança individual entre as differentes tribus da Guiné :
ha factos que o comprovam. E devemos também recordar o preceito
dos gentios emquanto á segurança dos portuguezes que os visitam, estão
de passagem nos territórios ou ali vão commerciar. É-lhes garantida a
vídaS porque ha entre aquelles gentios alguns preceitos jurídicos que
assim o determinam. Sempre que algum portuguez ou gentio, estando
em qualquer ponto, d'elle recolhe á sua residência, è considerado como
hospede, e em tal caso se lhe acontece alguma fatalidade no transito, as
auctorídades do logar da permanente residência vão exigir satisfação ás
> Bstaodo a praça de Caehea em guerra com orne tribos gentílicas, achava-se
DO reino do Churo (Papeis) um negociante. Era esta uma das tribus belligerantes.
O negociante manifestou desejo de se recolher á praça. O rei e sen conselho
dedararam*lhe que, sendo, como era, hospede, lhe seria sempre garantida a maior
segurança, como era preceito geral. O negodante insistiu para se retirar, e liqni*
dando os seus negócios, dirigiu-se para Cacheu. Trouxe os géneros qne tinha conp
prado e poz-se a caminho, vindo acompanhado por alguns gentios até á mata em
frente da praça sitiada. Áhi beberam aguardente, como é uso nas despedidas, mos-
trando-lhe as gentios a maior affeição, e íizeram-lhe ver, no emtanto, que quando
estivesse dentro da praça, seria o primeiro que elles matariam se podessem. Em
seguida abraçaram-se e despediram-se, e o negociante entrou na praça sem ter
so&ido o mais leve incommodo.
242
do logar ou paiz de onde o mesmo recolhia, pelo principio de que devem
garantia e segurança no caminho a percorrer, por ser hospede ^
Os habitantes, tanto do continente como das ilhas, incluindo os bija-
goz, têem por crença, que em morrendo, nascerão de novo'; isto ainda
que seja fora da pátria, e em tal caso irão nascer de novo na pátria, re-
sultando d'esta crença serem muito valentes.
ProTinda de S. Thomè e Príncipe e saas dependeDcias. —Esta provincia, que
faz objecto especial do presente livro, não é tão limitada como á primeira
vista se pôde imaginar, e por isso fazemos n'esta secção algumas consi-
derações para o demonstrar ^.
Dizem uns que a ilha de S. Thomé não tem importância, e outros re-
putam-na muito pequena, e portanto incapaz de grande desenvolvimento
agrícola *.
O melhor modo de explicar este ponto, é chamar a attenção para as
seguintes estatísticas, que julgámos não deixarão a menor duvida com
respeito á sua superficie e população:
1 O equivalente pela morte de um homem são seis vaccas ou a cabeça do ma-
tador, que, se tem meios para pagar as seis vaccas, fica passeíando e livre, mesmo
entre os parentes do morto!
Igual penalidade está estabelecida se qualquer commette adultério com as mu-
lheres do rei.
2 Um banbume, de nome Senebà, observa o sr. Cordeiro, apresentou-me um
filho, e disse-me, que no corpo d'aqueile seu filho estava o espirito de om sen tio
(de Senebá), e que por isso se parecia em tudo com elie, até nas menores acções.
É principio geral de direito entro todas as tribus gentílicas, que o sobrinho
herde do tio, quando filho de irmà^ expressando este principio assim : Os filhos de
minha irmã, meus sobrinhos são; os de meu irmão ou o serâo ou não.
3 No capítulo 4.^' e seguintes é que descrevemos com o máximo desenvolvi-
mento esta importante província.
^ cGausa espanto, disse um deputado na sessão de 17 de março do corrente
anno, a ingenuidade com que nos jomaes inglezes se pergunta se é possível que a
pequena ilha de S. Thomé precise de tão grande numero de trabalhadores da Libé-
ria, e em seguida se assevera que não pôde precisar.»
Folgamos ter occasião de, no capítulo seguinte, dar uma minuciosa descrípção
da ilha de S. Thomé, fazendo ver não só o numero de fazendas agrícolas que se
acham abertas, mas também o numero de trabalhadores de que necessita para ser
convenientemente cultivada.
213
Ilhas
Ilha de S. Thomé
Madeira •
S. Thiago de Cabo Verde
S. Miguel
Terceira
Faial
MayoUe
Coraçáo
Domínique (Antilhas)
Santa Luzia
Singapura
ProTincias, districtos e archipelagos
Província de S. Thomé
Districto de Ponta Delgada ,
Madeira e dependências
Districto de Angra ,
Paláos
Saint Pierre e Míquelon
Bermudas ,
Seychelles
índias hollandezas, occidentaes
Kilomclros
quadrados
UabiUmles
i:2ii
864
550
8i8
897
210
106
264
1:130
926
29:488
600
118:609
718
35:5.34
747
100:000
500
42:000
178
24:000
366,3
12:000
550
22:713
7.'>4
23:173
642
31:610
580
97:131
32:200
124:000
218:609
72:000
10:000
4:894
15:309
11:082
39:150
A proviDcia de S. Thomé pôde evidentemente coUocar-se a par de al-
guns districtos que passam por muito importantes, e a fertilidade dos seus
terrenos é uma segura garantia da sua prosperidade.
Na capital da província publíca-se o Boletim official, cujo primeiro nu-
mero saiu á luz a 3 de outubro de 1857. Tem quasi vinte annos de exis-
tência, e representa um valioso manancial de documentos para se apre-
ciar o movimento commercial e administrativo da provincia.
Proftada de iogola. — N3o corresponde esta denominação á grandeza
do território, cuja superficie é quasi o dobro do Reino Unido ou Inglater-
ra, e excede muito a de Hespanha, mas como está oíflcialmente adoptada,
por isso a tomámos para titulo d'esta breve descripçSo.
A provincia de Angola compõe-se actualmente de três districtos, con-
tando do S. para o N., Mossamedes, Benguella e Loanda.
214
S5o muitos os presídios que ha no interior, e o numero de concelhos
eleva-se a mais de (rinta.
O domínio portuguez estende-se a dififerentes Jogares, havendo bas^»
tantes régulos indígenas nossos allíados.
A capital da província tem grande movimento commercíal e n'ella está
o tribunal da relação, á qual são subordinadas três comarcas S incluindo
a da província de S. Thomé. ,
Se a respeito de muitas possessões estrangeiras ha divergências quan-
to á superficie, não se nos deparam menos acerca d'esta província. Como
temos dito, não é possível conhecer a população especifica, nem a acli-
mação em geral, sem se ter noções exactas da grandeza do paíz.
Cumpre-nos, attenta a falta de dados positivos, acceitar os mais ap-«
proximados e combater os que nos parecerem inacreditáveis.
José Joaquim Lopes de Lima, nos Ensaios sobre a estatística das pos^
iessões portugmzas, publicados ha trinta e três annos, calcula a superficie
da província de Angola em 524:777 kilometros quadrados,
£ um livro conhecido de todos, e se não é isento de erros, como acon-
tece quasi sempre em trabalhos d'esta ordem, merece comtudó ser lído^
ou para o corrigir ou para corroborar o que ali se acha escripto. E a
rasão é o terem-se servido d'elle muitos escríptores estrangeiros, e ser
preciso divulgar ou rectificar muitas das informações já por vezes repe-
tidas.
Não nos admira, porém, ver transviados os estrangeiros, quando
alguns dos nossos escríptores se afastam do que passa por mais averi-
guado.
Citemos ao menos Carlos Yogel, que, no seu importante livro Le Pcr^
tugal et ses colonies reproduziu a superficie da províncias de Angola, que
Lopes de Lima indicara.
Larousse absteve-se de referir a superficie d'esta notável província, e
nas quarenta e três linhas que lhe consagra, não duvidou escrever:
f Ce territoire (refere-se á província de Angola) n*est pas sous la domi-
nation du Portugal, qui ne possêde en somme que quélques forts et les com-
ptoirs (ou feiras), situées à de grands distances les uns des autres.i^
Apesar de se mostrar completa ignorância a respeito d'esta provín-
cia, diz-se comtudo que ella tem 560 kilometros de E. a 0. e 100 de N. a
S., estendendo-se o nosso domínio até 450 kilometros para o interior.
Em 1875 publicou o sr. Gerardo Pery a Estatística geral de Portu-
gal e colónias, na qual calcula a superficie em 617:380 kilometros qua-
drados.
^ Foi recentemente creada a nova comarca de Ambaca. ^
218
No Annuario estatístico de Gotha (1876) eleva-se a superflcie de An«
gola a 809:400, e estamos convencidos de que este numero é ainda infQ^
rior á verdade.
Imagine-se, pois, o nosso assombro ao ver que no Diccionario dê geo*
graphia universal, publicação da actualidade, se admittiu como superficie
da província de Angola ametade da área apresentada por 6. Pery, e que
no Diccionarío popular foi apresentado, sem reparo, o mesmo numero 1
No meio de tal divergência, e attenta a conflança que nos merece o
trabalho do sr. Gerardo Pery, acceitdmos o seu calculo por se approximar
mais da realidade, e estamos convencidos que não decorrerão muitos an-
nos sem se proceder aos estudos planimetricos, a fim de se conhecerem
os verdadeiros limites da província de Angola, assim como a sua super-
fície, hydrographia e cborographía.
Não receiâmos ser taxados de prolixos, porque seria faltar ao nosso
dever não mostrar a urgente necessidade de se attender á resolução da
questão fundamental — determinar com exactidão os limites da província
de Angola, bem como a respectiva superficie, a fim de que possam ava-
liar-se coín a maior exactidão possível os princípios da aclimação, sem a
qual não ha colonisação durável.
Angola S situada na costa occidental da Africa entre o 5^ e 18^ de lati-
tude O., comprehende para E., no interior, os seguintes distríctos e conce-
lhos, occupados pelo governo portuguez, e ainda outros que, regidos por
regulamentos de indígenas, prestam vassallagem ao mesmo governo:
Ao S., no districto de Mossamedes, os concelhos do Bumbo, com-
prehendendo as colónias de Capangombe e Biballa, o da Huilla, Gambos,
Humbe e Camba na margem direita do rio Cunene. Ao S. de Mossame-
des a colónia do rio Kroque e ao N. a do rio S. Nicolau.
No districto de Benguella o concelho da Catumbella, a E., Quilengues
e Gaconda, os pontos de feitorias commercíaes de Bihé, Bailundo e Hambo,
e mais ao N., na costa, o Egito e Hanha.
No districto de Loanda, capital da província, os concelhos de Novo
Redondo e Quícombo, nas margens do Quanza, Galumbo, Muxíma, Mas-
sangano e Gambambe; nas margens do Bengo o concelho da Barra, IcoUo
1 cDe muito boa vontade accedo ao seu pedido, enviando-lhe para o seu livro
uma rápida descripçao da província de Angola tal qual o pouco tempo de que para
este trabalho dispuz, os poucos meios auxiliares que possuía alem da minha expe-
riência e a exiguidade dos próprios cabedaes.
«É portanto débil o trabalho, por ser todo de uma pobre lavra, mas esse dou-o
de muito boa vontade para tão útil fim como seja o de espalhar notícias sobre as
nossas colónias, por cuja prosperidade eu sou sincero enlhusiasta.= i4/6ír/o da
Fonseca,*
216
e Bengo e Zenza do Golungo ; ao N. Libongo e Ambriz e a E. Golango-
Alto, Cazengo, Ambaca, Pungo-Andongo, Malange, Duque de Bragaoça,
Cassange, Encoge, Betnbe e S. Salvador do Congo; comprebendendo to-
dos estes pontos uma área n3o inferior a 600:000 kilomelros quadra-
dos*.
Desaguam na costa portugueza os seguintes rios: Cunene, Kroque,
Bero, Giraul, S. Nicolau, Carun jamba, Copororo ou de S. Francisco, Ca-
tumbella, Hanba, Egito, Tapado, Quicombo, Guenga, Cuvo, Longa, Quanza,
Bengo, Dande, Lifune, Honzo, I^ge, Ambriche, Zilundo e Zaire.
Os mais notáveis no interior sao o Lucala, Quango e Cubango.
Não cabendo na estreiteza d'este capitulo alongar muito a descripção
de todos estes pontos, dâo-se unicamente alguns rápidos apontamentos
da sua geographia physica e politica consoante os conhecimentos práticos
que temos da localidade.
A parte Occidental da Africa que constitue a provincia de Angola é
atravessada em toda a sua extensão de N. a S. por uma prolongada cor-
dilheira, a qual corre mais ou menos parallela á cosia atlântica, parecendo
até afastar-se mais para E., exactamente no ponto em que a costa tam-
bém recolhe um pouco n'este sentido entre Benguella e o rio Longa. É
também n'este ponto em que a cordilheira mais se afasta para E. que o
terreno parece attingir maior altura, sendo o paiz dos Ganguellas e suas
vizinhas serranias que dão origem aos principaes rios conhecidos, como
o Cunene, o Cubango, o Cuvo e o próprio Zaire, cujas aguas parecem ter
origem no elevado paiz dos Ganguellas e no lado oriental da serra de Mo-
zamba, assim também as do Quango e do Kassai ou Kassabi, restando
ainda saber qual dos dois é af&uente ou o originário do Zaire. Todos os
outros rios que desaguam em corrente parallela á costa toem origem em
vários pontos da cordilheira.
E toda esta disposição de terreno, e outras considerações de geogra*
phia physica levam naturalmente a dividir todo o território em três gran-
des zonas, que são a zona baixa ou da costa, a zona média ou monta-
nhosa e a zona alta ou plan'alta.
A zona baixa, comprehendida entre a montanhosa e o mar, é na
maior parte formada de terrenos aluminosos e mui permeáveis ás aguas,
não offerecendo grande aspecto de vegetação fora das bacias dos rios que
a atravessam, alguns dos quaes, grossos no interior, diminuem de tal
forma de volume, que chegam a deixar de correr sobre o solo, conser-
1 A saperficie da província de Angola, não cessaremos de o repetir, não está
determinada, e cada escriptor adopta um ou outro calculo, chegando a apresentar
dífTerenças enormes. Não é conveniente que continue similhante confusão.
2i7
vando apenas uma corrente subterrânea mais ou menos Tunda, que só
apparece sobre o leito em tempo de chuvas.
O terreno geral n'esta zona é pouco accidentado, e as chuvas são ir-
regulares ; ainda assim dão-se n'elle soffrívelmente as plantas tuberosas
e todas aquellas que não exigem grande quantidade de humidade para o
seu desenvolvimento. Em muitas doestas terras produz-se e cultiva-se o
algodão, a mandioca e alguns cereaes. Dão-se varias espécies de pal-
meiras, coqueiros, amendoeiras, espinheiros, etc, e é onde se produz a
urzella em determinadas arvores caracteristicas, a qual se não dá em ou-
tra zona.
Este paiz, desde Benguella para o S., começa a ser estéril, e ainda ao
S. de Mossamedes, menos cortado de rios e tendo a serra mais próxima,
forma um extenso e plano areial sem espécie nenhuma de vegetação, íi*
cando-lhe aquella a uns 100 kilometros a E., cortada quasi a prumo e
alterosa como um gigante, dominando o vasto oceano de areia.
Nas margens dos rios, formadas de fundas camadas de terra argillosa
e fertilisadas pelas inundações, muda completamente o aspecto dos terre-
nos. Ali a vegetação equinoccial se ostenta magestosa com todo o vigor
e viço das matas soberbas d'aquellc clima creador; e nas terras cultivadas
das margens dos rios, regulada convenientemente a estação e a humida-
de, dá-se tudo com espantosa fertilidade.
Florentes palmeiras, laranjeiras, limoeiros, cidreiras e diversas arvo-
res de fructos indigenas da America, vegetam ali quasi espontaneamente.
Nos terrenos menos assombrados de arvoredo cultíva-se com grande
vantagem a canna de assucar, milho, feijão, ervilha, abóbora, batata doce,
inhames, gandos, ananazes, tabaco e toda a hortaliça, sendo a mandioca
sobretudo a planta que mais occupa a assiduidade dos cultivadores.
Nas largas margens dos rios mais volumosos vegetam magestosos e
densos palmares, porque esta utilíssima arvore da zona tórrida é aquella
que mais resiste ás grandes inundações.
O Zaire, o Quanza, o Lucala, o Bengo e o Dande são também fertilis-
simos em pescado, quer nos próprios rios, quer nas grandes lagoas que
communicam com o seu leito e são por elles alimentados nas enchentes.
Este pescado, que não pôde ser todo consumido em fresco, fornece
depois de secco uma grande parte da alimentação de muitos povos do in-
terior, assim como a pesca nas costas do mar, que recentemente tem to-
mado grande desenvolvimento.
A zona media, ou a montanhosa, formada pela continuada cordilheira
e soas ramificações, acha-se n'uma distancia approximada entre 100 e
180 kilometros da costa, e é incontestavelmente o paiz mais productivo
do grande reino de Angola.
«18
A sua moderna exploração em differentes pontos, depois que se com*
prehendeu que a agricultura nas colónias era o meio mais seguro de as
desenvolver, veio descobrir uma parte dos immensos recursos que aquelle
paíz é susceptível de prestar.
Clevn-se a cordilheira em alguns pontos a muito mais de 1:000 me-
tros acima do nivel do mar, e numerosíssimas nascentes de excellente
agua brotam de toda ella, formando os rios que, de menor volume, des-
aguam na costa.
Na parte mais baixa dá-se perfeitamente o algodão, o anil, o tabaco,
a canna de assucar, todos os cereaes e legumes, e ainda as grandes matas
de palmares até o 13° de latitude S.
Dá-se em toda ella o café, riquissima planta que deve de futuro vir a
constituir a sua principal riqueza.
Os montes e valles estão, ainda na maior parte, cobertos de magnifi-
cas florestas, de arvores de fructo e essências mui variadas. Diversas ma-
tas produzem a borracha e algumas gommas e resinas conhecidas, o mui-
tos productos de outras são ainda desconhecidos.
A bananeira, com suas variadas espécies, é um riquíssimo alimento da
população d'aquelles sitios.
As chuvas são ali regulares, começando em agosto para* o S. e em se-
tembro e outubro para o N. Os terrenos, compostos de terra muito argil-
losa, conservam constante humidade durante os outros mezes, tempo cha-
mado do cacimbo, e em que um denso e húmido nevoeiro pousa ordina-
riamente todas as manhãs sobre o arvoredo das montanhas.
As chuvas no tempo próprio são torrenciaes, e os permanentes des-
pojos do arvoredo fertilisam bastante o terreno adjacente. Com estes com-
binados elementos de humidade, calor e húmus, entretem-se sempre uma
vegetação geral e poderosa, que faz d'aquelle paiz o mais productivo de
todos.
Nas abundantes nascentes e ribeiros encontra também a agricultura
excellentes forças para motores hydraulicos, infelizmente ainda pouco
aproveitados, e também se encontram em vários pontos climas apropria-
dos ás diversas espécies de cultura, conforme a altura e a latitude da po-
sição escolhida.
Ao S. de Mossamedes e a L. dos Cubaes eleva-se a serra a grande al-
tura, dando origem aos rios Bero e Kroque, e mais ao S. é atravessada
pelo Cuncne, que desagua ao S. da bahia dos Tigres.
A L. de Mossamedes é muito conhecida a famosa Chella, onde ha
numerosos estabelecimentos agrícolas nas colónias de Bumbo, Capam-
gombe e Bivalla ; correndo para o N. denomina-se, no concelho de Quílen^
guês. Munda do Hambo, e d'ali parece afastar-se muito para h., daudo
ei9
erigem a dífferentes rios, e entre elles o Cuvo, se não é por elle atra-
vessado.
O extenso paíz percorrido por este rio é pouco conhecido, mas sabe-
se que é bastante fértil.
O paiz de Gelles, que entesta com o concelho de Novo Redondo, é Ter-
tilissímo, e existe ali o café indigena. ^
Mais para o N. segue a cordilheira pelo alto Libolo, paiz também fertí-
lissimo e coberto de espessas matas, até ser cortada pelo Quanza, e d'ali
continua por Cazengo, Golungo Alto, Dembos e Encoge até o Zaire.
Sabe-se por experiência que no paiz montanhoso da zona media, prin-
cipalmente para o lado do N., se nao dão bem os bois, os cava lios, os
burros e mesmo os cães e os carneiros que nSo são indígenas, emquanto
que se dão perfeitamente os porcos, as gallinhas, os patos, os perus, as
cabras, os carneiros e os cães indígenas.
Os bois, burros e cavallos soltos no campo, principalmente no tempo
das chuvas, raras vezes duram um anno. Começam por entristecer e per-
der a comida, emagrecem e morrem ordinariamente no flm de um mez
de doença, encontrando-se-lhes o pulmão affectado e cheio de bolhas, que
indicam a alteração d'aquelle órgão.
Aos cães da Europa, excepto os de casta pequena, que nunca saem
de casa, acontece quasi o mesmo, com a diíTerença de que a maior parte
começam por cegar e pouco tempo duram depois.
AUribue a gente da terra a doença dos bois á hypothese de comerem
junto com as pastagens plantas venenosas, e é citada entre ellas uma es-
pécie de ortiga brava, ali denominada caçáuçáu. Os dois seguintes factos
parecem apoiar esta supposição :
1.^ Os bois domesticados chamados bois-cavallos, os cavallos e os
burros que vivem á mangedoura sem irem pascer livremente no campo»
resistem á moléstia, sobretudo conservando-os no tempo da chuva em es-
tábulos escuros, onde não entre a mosca, que em grande quantidade os
persegue n'aquella estação. Consta mais que no paiz montanhoso do Bra-
zíl, onde o gado também se não dá bem, os lavradores, para conseguirem
coDSorvaI*o, limpam e cercam uma determinada extensão de terreno, se-
melando só gramma, a qual mata toda a outra herva, e é dentro d'aquel1e
cerrado onde somente deitam os animaes a pastar.
2.^ Alguns d'ostes animaes creados á solta chegaram a ter a molés-
tia e ficaram quasi mortos, mas resistiram a ella por grande excepção, e
viveram depois muito tempo, continuando a andar soltos, unicamente com
a prevenção natural de fugirem durante os dias claros, e quando a mosca
mais os persegue, para um logar escuro, e saindo somente de motu próprio
a pascer durante a manhã ou nas tardes mais encobertas.
220
Temos em contrario a considerar uma oulra hypothese sobre a causa
(la mortalidade do gado no paiz montanhoso, a qual se refere á celebre
mosca chamada tsé-tsé, muito conhecida na Africa oriental, e descripta
por Livíngstonc, e que, sef;undo as observações d'este viajante, mata os
bois e os machos que permanecem por quinze dias deutro dos districtos
por ellas habitados, poupando-lhes as crias que ainda se alimentarem a
leite. Ora esta mosca, por nós conhecida, grossa, parda, de grandes azas
e muito veloz, existe mais ou menos no paiz montanhoso e ainda na baixa
do Lucalla, onde o mesmo Livingstone também a encontrou.
Á vista dos únicos dados que temos, será a tsé-tsé ou outra a causa
da morte do gado, ou será o caçauçau ou outra planta venenosa que
aquelles animaes (excepto o cão!) comem junto com o capim das pas-
tagens?
Admira que os indígenas, não tendo ali podido aclimar o gado bo-
vino, que se dá bem nas planuras de Ambaca, já fora da cordilheira, nSo
tenham conhecido até hoje a venenosa mosca e attribuam a mortandade do
gado a uma erva venenosa. Alem d'isso é certo que a mosca não envenena
com a picada, porque os homens e ainda outros muitos animaes também
mord idos não téem outro incommodo a não ser a pequena dor que produz a
sua ferroada similhante á do mosquito. Mas quem sabe se ella ataca os bois
e cavallos, pela forma por que alguns animaes da sua espécie também os
atacam em outras parles, introduzindo-se-lhes para os intestinos por al-
guns dos canaes conductores, com o fim natural de ir depositar, quando
gravidas, os seus pequenos ovos no estômago do animal onde a natureza
lhe ó favorável para a sua procreação?!
Os cães que não comem herva e o facto de se darem bem os animaes
nos estábulos escuros, onde não entra a mosca, fazem um pouco inclinar
para esta opinião.
A terceira zona ou a zona alta diversiflca ainda muito das outras doas.
N'ella o paiz deixa de ser geralmente montanhoso, prolongando-se para
L. em grandes planuras, quasi todas com mais ou menos pendor para o
S. ou para SOE., consoante a direcção dos maiores rios que nascem
alem da cordilheira. Sendo este terreno todo elevado^ predomina n*elle
muito mais a influencia da temperatura, conforme as latitudes em que se
acha situado.
Na Huila, por exemplo, colónia agrícola, formada em meíados de
1857, dá-se o trígo e a maior parte das plantas da Europa, e ha annos
em que a agua gela nos mezes de junho e julho.
Os terrenos n'esta localidade toem todos pendor para o S. e para L.,
com vertentes para o Gunene, que se dirige todo para SOE.
As matas em terrenos de serra acima são menos numerosas e menos
fechadas que as da cordilheira, c encoutrain-se a espaços exlensas planuras
de 30 e 40 kilometros, limpas de arvoredo, mas cobertas de excelleutes
pastagens, naturalmente destinadas á creaçâo de enormes rebanhos de
gado bovino, que n'aquelles campos se dá perfeitamente, riqueza esta
que julgámos de grande alcance para o futuro de Angola.
Não é raro avistar ao longe, n'aquellas immensas campinas, grandes
manadas de zebras e outros animaes, que de pescoço levantado observam
o viajante a uma respeitosa distancia, tal que se julgam seguros da sua ag-
gressáo e da do leão, do qual são caça favorita, mas que ali não en-
contra matas para as atacar de surpreza.
O elephante e o rhinoceronte são frequentíssimos para o S., onde os
indígenas lhe dão caça para lhes aproveitar a carne, a gordura e as pon-
tas.
O abestruz africano vive na margem esquerda do Cunene. Nas aguas
d'este rio e em suas lagoas abunda o hypopotamo e uma casta de jacarés
muito maiores do que todos os que vimos nos outros rios, assim como
bastante pescado e variedade de aves aquáticas, algumas de grande porte.
O viajante que por ali divagar armado de espingarda e um anzol, não
tem receio de lhe faltar caça e pesca em abundância.
As extensíssimas margens do Cunene, cobertas ora de matas ora de
verdes campinas, alimentam numerosos rebanhos de gado vaccum, riqueza
principal de todos os povos do S. d'esta região. Também cultivam com
vantagem o sorgho ou massamballa-massango, e milho, que reduzem a fa-
rinha para lhes servir de pão, ou os fermentam em bebidas, algumas das
quaes se as^imilham á cerveja ; e,*alem de algum tabaco, a pouco mais se
reduzem as suas culturas.
Para o N. o cHma mais quente favorece as culturas das zonas equinoc-
daes.
Dá-se bem e produz ali o arroz, ginguba, batata, inhame, algodão,
canna de assucar, tabaco, gingibre, gergelim, bananeira e grande quan-
tidade de fructas silvestres e algumas cultivadas.
É sobre tudo fertilissima no reino animal em consequência das bellas
campinas cobertas de excellentes pastagens, e por isso os animaes silves-
tres e os domésticos abundam ou se criam n'aquellas paragens com a mais
pronunciada vantagem.
Tendo dado uma idèa approximada de cada uma das três zonas em que
se julga dividido o paíz comprehendido na província de Angola, pôde esta
resumir-se da seguinte forma:
A zona baixa ou do litoral, a mais pobre em animaes e vegetação,
somente se pronuncia fértil nas margens dos rios que a atravessam.
A zona media ou montanhosa, a mais fértil de todas, distingue-se pela
luxuriaDle vegetação das matas, fresquidão e abundância de aguas, e pela
riqueza de todos os productos vegetaes.
A zona alta ou plan'aUa, sem deixar de ser fértil e abundante de aguas
6 productora de úteis e variados fructos, distingue-se no emtanto pela ex-
trema riqueza no reino animai, que a natureza pródiga em grau elevado
lhe concedeu.
Com relação á exploração agrícola classiflcam-se ainda as três zonas
da seguinte forma :
A primeira é destinada nas margens dos rios á cultura de cereaes, plan-
tas tuberculosas, fructos e palmares, etc.
A segunda para todas as variadas plantas dos climas intertropicaes, ri-
queza de matas ainda não aproveitadas, mas sobre tudo riquíssima para
a cultura do café.
A terceira, com climas variados para todas as culturas e a mais rica
para a creaçao de gados de toda a espécie.
Habitantes. — Os povos que habitam a província de Angola, sujeitos
ao dominio de Portugal, vivem governados por leis portuguezas, e pos-
suem mesmo costumes nacionaes ligados ao seu viver pela religião catho-
lica, que desde remotas eras foi espalhada pelos frades até muito ao inte-
rior da província.
O povo de Ambaca ou Pongo-Andongo, por exemplo, que é inclinado
ao commercio, o qual exerce em differentes pontos muito afastados da sua
terra, aprende a ler, escrever e doutrina christã, e transmitte a seus fi-
lhos o mesmo ensino, -de sorte que não é raro ver um ambaquista longe
da sua terra citar com exactidão um dia santificado, ou pegar na penna
é no tinteiro, que sempre traz comsigo, e fazer um requerimento a qual-
quer auctoridade para allegar de sua justiça quando sejblgaofiendidonos
seus direitos. Muitos conhecem, aindaque imperfeitamente, algumas ar-
tes e oflicios, como as de sangrador, curandeiro, ferreiro, carpinteiro,
pedreiro, alfaiate, sapateiro, cortidor e oleiro ; tecem algodões e outras fi-
bras, fundem o ferro nativo para fazer obra, e finalmente todos trabalham
mais ou menos na agricultura, já para a própria alimentação, já para tro-
carem os productos por outros artigos da Europa de que fazem uso e
que não sabem fabricar. Á medida, porém, que se approxímam dos po-
vos independentes, mais predominam os costumes gentílicos, que mais
ou menos sobresáem em todos os actos da sua vida, mas o gérmen de
civilisação portugueza tende a espalhar-se pelos povos mais afastados.
Respeitando a legislação portugueza, nao exercem a lei da escravi-
dão, e não só se não escravisam entre si, mas ainda todos aquelles que
mais próximos vivem do seu contacto. Admitiem, porém, os escravos vin-
dos dos povos gentílicos do interior da Africa, onde a escravidão é uma lei
â2â
ligada iotimamenle aos costumes, mas recebem-nos e tratam-nos como
família, com a qual mesmo os ligam em casamento, cousíderaudo sem-
pre como riqueza o augmento da familia.
Volvendo a vista um pouco atrás para considerar estes povos mais
na sua origem ou antes da dominação portugueza, e dando alguma im-
portância aos dialectos que hoje faliam, e aos hábitos de cada povo, po-
dem estes dividir-se da seguinte forma :
Raça congões. — A raça congões domina a bacia do rio Zaire prova-
velmente até o Loge ou Ambriche ; consta que das bandas de alem norte
d'este rio veiu em antigos tempos uma colónia de pretos súbditos do Gongo,
os quaes se situaram nos Dembos, sendo provável que estes pequenos
régulos, independentes do rei da Ginga, tenham origem n'essa antiga emi-
gração.
Gultivam e exportam amendoim ou ginguba, com cujo óleo misturado
com tacula untam o corpo muitas vezes; tecem também uma palha muito
fina, com a qual fazem os pannos chamados mabellas.
Admittem a escravidão, e no tempo d'este odioso trafico exportavam
muitos escravos. Têem todos o habito de limarem os dois dentes incisivos
da frente de forma a tornal-os ponteagudos. É este costume entre elles
um signal de distincção, que não é permittido aos escravos.
Soicidam-se muitas vezes em presença de uma grande contrariedade,
e são geralmente estúpidos, traiçoeiros e maus.
Raça Angola. — Pertence esta raça ao poderoso rei da Ginga ou
rainha Ginga. Ha similhança de lingua e costumes em todo o territó-
rio das bacias do Quanza, Bengo e Dando. Tiveram dominio até Loanda,
onde a celebre rainha Ginga se baptisou e tratou umas pazes que mais
tarde n3o cumpriu, sendo depois vencida; abrange a parte mais civilísada
de toda a província, da qual se compõe o maior numero dos concelhos oc-
ciípados. Dedicam-se á agricultura e á creação de animaes, que possuem
com muita fartura e barateza, e exercem varias industrias, para as quaes
mostram elevada aptidão por imitarem tudo quanto vêem, faltando-lhes
por emquanto o ensino profissional ; entregam-se também muito ao
commercio, que os leva a transitar por varias terras; são entretanto de um
caracter mais traiçoeiro e falso do que o dos povos do S. ; a agricultura
e a creação de animaes é o seu emprego mais trivial.
Raça fién^e//a.— Desconhecemos a origem d'esta raça, a qual pôde
ter relação com o principio de um grande povo em tempos mais remotos,
por ter o dialecto que ali se falia muita similhança com o de todos os
povos que habitam a vasta bacia do rio Cubo até tocar a do Quanza para
o N., e estendendo-se para S. até Quilengues, abrangendo portanto to^
dos os povos do Nano» Bailundo, Bibe e Hambo. Governados por pe-
224
quenos régulos, vivem mais ou menos ligados entre si. Dedicam-se es-
pecialmente ao negocio, com o qual percorrem centos de kilometros, e
téem creações de gado; sâo os mais guerreiros de todos, e fazem por
vezes vida da guerra. Ordinariamente de dois ou de três em três an-
nos, e no tempo próprio, que é aquelle em que ha mantimentos na terra,
levantam uma guerra, ou por outra uma grande quadrilha de 20:000 e
30:000 homens, bem armados de espingardas, e assaltam assim os povos
mais fracos e desprevenidos, seja porque para isso são convidados por
outros povos que téem conveniência em guerrear os seus inimigos, seja
mesmo com o fim de rapina, que sempre exercem sobre os atacados.
O destino doestas guerras é sempre ignorado até dos próprios chefes, que
depois do primeiro dia de marcha se dirigem a um ou outro ponto, conforme
as circumstancias, que influem até ao ãm no destino que deva ter a execu-
ção.
Dirigem a guerra pnra o N. ou para o S., mas para o S. é que frequen-
temente se encaminham, guiados pela cobiça dos numerosos rebanhos;
é de advertir que não são ferozes e raras vezes matam. Os povos atacados,
desprevenidos como estão, raras vezes resistem e apenas fogem, os que
podem, com seus gados para sitios desconhecidos dos inimigos.
Raça munheca e muhumbe. — Estes povos, habitando a bacia do
Cuneneeseus afQuentesaté Quilengues, estão agrupados em tribus impor-
tantes de 50:000 almas e mais.
Possuem numerosos rebanhos de gado vaccum e cultivam o sorgho
ou massamballa, o massango e o milho para alimento ordinário, mas o
leite de vacca é o seu mais usual alimento ; téem caça e pesca em abun-
dância, mas fazem d'ella pouco uso. São generosos, dóceis e aceiados,
três qualidades raríssimas em outras tribus. Parecem ter origem em Qui-
lengues, porque ainda hoje ha ali uma familia chamada de Hambas (no-
breza ou príncipes de sangue) que é quem fornece régulos para qualquer
povo do S., quando a este falte a dynastia reinante. As suas leis de suc-
cessão, quasi geraes entre todos os povos, são pelo sobrinho materno e
nunca pelo fllho.
Raça mondombe. — Esta raça de pretos, chamados geralmente mon-
dombes, mocuandos, mocuissos e mokroques, nomes que parecem desi-
gnar as torrentes ou pequenos rios de beiramar, junto dos quaeselles vi-
vem, habitam todos na zona baixa situada ao S. de Benguella até ao rio
Kroque, e a 0. da cordilheira de Quilengues e sua continuação com o
nome de Chella até os Cubaes. Habita esta miserável gente opaiz mais es-
téril de toda a provincia. DifTerem muito de todos os outros povos do
interior na lingua e nos costumes, apesar de estarem separados d^elles
somente pela serra.
i
224
quenos régulos, vivem mais ou menos ligados entre si. Dedicam-se es-
pecialmente ao negocio, com o qual percorrem centos de kilometros, e
têem creações de gado ; são os mais guerreiros de todos, e Tazem por
vezes vida da guerra. Ordinariamente de dois ou de três em três an-
nos, e no tempo próprio, que é aquelle em que ha mantimentos na terra,
levantam uma guerra, ou por outra uma grande quadrilha de 20:000 e
30:000 homens, bem armados de espingardas, e assaltam assim os povos
mais fracos e desprevenidos, seja porque para isso são convidados por
outros povos que têem conveniência em guerrear os seus inimigos, seja
mesmo com o íim de rapina, que sempre exercem sobre os atacados.
O destino doestas guerras é sempre ignorado até dos próprios chefes, que
depois do primeiro dia de marcha se dirigem a um ou outro ponto, conforme
as circumstancias, que influem até ao íim no destino que deva ter a execu-
ção.
Dirigem a guerra para o N. ou para o S., mas para o S. é que frequen-
temente se encaminham, guiados pela cobiça dos numerosos rebanhos ;
é de advertir que não são ferozes e raras vezes matam. Os povos atacados,
desprevenidos como estão, raras vezes resistem e apenas fogem, os que
podem, com seus gados para sitios desconhecidos dos inimigos.
Raça munheca e muhumbe. — Estes povos, habitando a bacia do
Cuneneeseus affluentesaté Quilengues, estão agrupados em tribus impor-
tantes de 50:000 almas e mais.
Possuem numerosos rebanhos de gado vaccum e cultivam o sorgho
ou massamballa, o massango e o milho para alimento ordinário, mas o
leite de vacca é o seu mais usual alimento ; téem caça e pesca em abun-
dância, mas fazem d'ella pouco uso. São generosos, dóceis e aceiados,
três qualidades raríssimas em outras tribus. Parecem ter origem em Qui-
lengues, porque ainda hoje ha ali uma familia chamada de Hambas (no-
breza ou príncipes de sangue) que é quem fornece régulos para qualquer
povo do S., quando a este falte a dynastia reinante. As suas leis de suc-
cessão, quasi geraes entre todos os povos, são pelo sobrinho materno e
nunca pelo filho.
Raça mondombe. — Esta raça de pretos, chamados geralmente mon-
dombes, mocuandos, mocuissos e mokroques, nomes que parecem desi-
gnar as torrentes ou pequenos rios de beiramar, junto dos quaes elles vi-
vem, habitam todos na zona baixa situada ao S. de Benguella até ao rio
Kroque, e a O. da cordilheira de Quilengues e sua continuação com o
nome de Chella até os Cubaes. Habita esta miserável gente opaiz mais es-
téril de toda a provincia. DifTerem muito de todos os outros povos do
interior na lingua e nos costumes, apesar de estarem separados d*elles
somente pela serra.
225
Sao geralmente mandriões c porcos, e mais ou menos nómadas. Vi-
vem do leite dos poucos gados qoo possuem, ou pescam nas praias o indis-
pensável para comer e n3o morrer. As mulheres nunca se lavam e un-
tam-se a miúdo com manteiga e tacuUa, ou aromatisam-se com uma raiz
bem pouco cheirosa. Vestem alguns couros cortidos por elles, ficando,
tanto os homens como as malberes, mais nús do que vestidos.
Consideram desbonra o trabalho, e cultivam apenas algum tabaco
para fumar e pouco mais, cousa que não dô fadiga nem cuidado. Habi-
tam em miseráveis choças, e téem as suas ridículas povoações em logares
próximos de algum rio ou torrente, onde haja agua e possam crear bois
ou carneiros.
Estas mesmas povoações s3o poucas e afastadas umas das outras por
50 e mais kilometros, e raras são as que excedem a cem ou duzentas fa-
mílias.
Nómadas dentro do seu território, raras vezes saem e nSo se ligam
com algum outro povo.
São fracos e pouco propensos a guerras com os demais povos. É quasi
desconhecida a sua origem em relação aos outros habitantes da Africa.
Agricullura. — O desenvolvimento da agricultura que possue a pro-
víncia de Angola data approximadamente de 1837 para cá. Até essa epo-
cha limitava-se unicamente aos chamados arimos, que ainda hoje se con-
servam quasi no mesmo estado em que até então existiam, especialmente
nas margens do Bengo, que é o rio mais próximo da capital, e nas do Dande,
Quanza e Gapararo, ou no Dombe Grande.
Esta agricultura limilava-se aos productos farináceos e leguminosos
para consumo da população, avultando entre elles a farinha de mandioca,
que também af&uia ás grandes povoações, proveniente da zona alto-pla-
na, onde esta planta se dá perfeitamente. Alguma hortaliça e fructa com-
pletavam as demais producções dos arimos.
Acontecia o mesmo nos concelhos do interior, onde a agricultura for-
necia em mais ou menos abundância os géneros consumíveis na mesma
localidade.
Angola era então farta, mas não exportava senão os productos natu-
raes de marfim ou cera, que os pretos traziam ao mercado para trocar
por fazendas e outros artefactos que mais apreciavam.
Em 1837 aportou a Angola, vindo do Brazil, um homem, a quem a
agricultura do N. da província deve o seu primeiro desenvolvimento.
Era João Guilherme Pereira Barbosa, que tendo vivido alguns annos
n'aquelle império, veio para Angola, com o propósito de se dedicar a al-
guns dos ramos agrícolas, que ali tinha visto prosperar, e sobretudo o café.
Passado pouco tempo foi estabelecer-se em Massangano, que era a
15
226
viUa mais importante do interior, e de lá seguiu para uma das suas divi-
sões, occupando-se na compra de productos espontâneos^ & examinando
os terrenos e a sua immensa fertilidade .
Na divisão em que estava de Cazengo, que pertencia a Ma&sangano, e
hoje Cazengo, encontrou algum café indigena, que mandou para Loanda
em pequenas quantidades, pagando e incitando os pretos a apanhar-Ui'o.
Logoque verifiicou a existência e qualidade do café n'aquella8 matas,
attiiiíaâo sempre pelo nunca esquecido, então governador geral lie An-
gola, Pedro ^exandrino da Cunha, requereu ao governo de Saa Ma-
gettade a Rainha D. Maria U a concessão, por sesmaria, de 50 kilone-
tros quadrados de terreno.
Prevendo também o desenvolvimento d'aquella cultura no paiz mon-
tanhoso que se acha afastado de Massangano e em condições diversas 4o
paiz da zona baixa, pediu e obteve do governo central a forma(^o de wi
novo concelho, o de Cazeogo, o qual se coypapoz da divisão qme ji perten-
cia a Massangano, de uma parte do Golungo Âlto e de outra d^ Âmbaca,
Incansável no desenvojivimento 4a x^uitura do café n'um paiz q\mi vir-
gem para a agricultura, fez João Guilherme abrir algumas e&trada$t tapto
na sua propriedade como em outros pontos do concelho, do qual foi o fon-
dador» e nomeado pelo governo seu primeiro chefe, conseguindo sewpre
ttanter as melhores relações com os indígenas, de quenji foi constan-
temente estimado e respeitado.
fim 17 de outubro de 1845» dava este presta vel cidadão ao gover-
nador geral da província uma extensa noticia do estado da agricultara 4o
café da sua propriedade, e mencionava a esperança que tinha de oolber
&'aquelle anno mais de 10:000 kilogrammas; por cujos serviços e perse-
verança, empregada n'aqudile novo ramo de agricultura; foi, por ^tecreto
ée 11 de agosto do mesmo anno, agraciado com o habito de Nossa Se-
nhora da Conceição.
Faleceu poucos mezes depois este incansável ^^içultor, mas os seus
«forços e trabalhos não foram inúteis, porque o eiiemplo servia de esti-
mulo a outros que n'essa epocha começaram a emprehender a cultora do
eafè, e entre elles João António Gomes Pereira, que lhe seguiu as pizadas.
Não tomou logo a cultura d'esta rica planta o desenvolvimento que
era para desejar, por ser quasi desconhecida e estar ainda pouoo ou
nada desenvolvido o espirito pela exploração agrícola em Africa, 6 portanto
não affluiram para ella os capitães necessários, tendo de correr por moito
tempo com os próprios recursos, que são sempre morosos JO^aqueUa va-
riedade de agricultura, e por levarem as plantações muitos annos a .des-
envolver-se.
Por estas rasões, dez annos depois, ou em 1856, a colónia dç Cazen-
^7
go, (p^ jçiMio j^ CQf^y^ J^j^tçs cji^iy<9dpres^ prpdqzia approxima-
imkàfAi^ 300:0(X) kilogram^^s de çaféi para mais tarde ser elevada á
producçao de 2.700:000.
Clm |84,9 apprtoy a j)([p$39ffiedes a primeira colónia vinda do Brazil,
Gpm destino i agricuUm^, ,e da qu^l foi chefe promotor Bernardino Frei-
ra (te Figo^edo Abreii^ e Çfl^ro* )£$td colónia, reforçada por outra que
chegou no anno s^uínte, compunba-se de perto de duzentas famiUas,
que Q gQverpo subsidiou e auiilioi; fip que põde^ jtjievendo muito ao be-
oemerito marquez de Sá.
A Cidanija ao e^itanto foi i^el);s qqs priínejrps três annos, porque dç-
rauta a$to ^mpo teve de l^fi^ com secca e com todos os inconvenientes
da inexperiência d'esses nadas que tudo valem na agricultura, como s3o
o coobecimivítfo ,do cljuga?^ dos terrenos^ das estações e da qualidade e es-
f^ecialidíada das jÇjolturas, p sQJ)re^do a Qenbuma experiência dos colonos,
qjoe poucos e^am os que jtinhíim luzes tbeoricas ou praticas da vida a que
se dedicayaqi.
Por isso aquella gente estava po ^ de três anqos tão dizimada, que
BUÍS de 4oís terços tinham f:etirado de Mc^samedes, ou se empregavam
m fmtffc^ dJ^^JBffiS 4os .^9,e .93 que ali 09 levara.
JP^s^ft^io este perÂp(jk> vçii^ ^ inundação do Bero a Mossamedes, e dei-
xou os terrenos aptos para produzir.
Os pripieiros çploiwç fffHd 03 culjlivar9xn tiraram boiu fruoto dos seus
irabalbos.
A hortaliça e a batata dava-se ali excelle.Qt^enle, e o paiz tinha mu.i-
(9 fjÊTffp <^e yaçca e .a[bmndaQC^ dç peixe, tudo barato. A industria da pesca
era já 4e }0^s e f .(H^lt|^^a d^ bat^^ta muito rendosa e bem vendida^ o^ue
SQIPftrijí evi ^!èf^^Q parbç .?$ fqeç^,çi(^des (}os cultivadores. Começava en-
J($Q ji 4i93epvx)lv|w^se n'/s3sa f^pc^a^ f 8^^, a apanha da urzela no paiz do
Utoqd, 9iQ S, de ^fpxeVi^,
A descrença na proficuidade da nova agricultura era ainda gerjal, tan-
to q^fs os b^itantçs de 3f\i;tfH^,l9 e I^Q^uda ^jpostropbavapi os de Mossa-
medei de |i)atateiros, 4e3cri^<lo em tudo da agricuUura, a qual, débil como
era, se limitava a Mossamedes e Cazengo, e ao principio de uma fazenda
d9 canoa 46 assacar no Icollo e Bengo, mandada fundar por D. Anna Joa-
quina dos Sant03 Silva.
Grande parte das auctorídades da provinda er^in as priQieiras a não
acreditar no novo desenvolvimento da agricultura, apesar de ser est^ mui-
to recommendada pelo governo da metrópole, em que teve grande parte
Q iUustre m^quez de Sá, enlhusiasta, como sempre foi, ppr este desenvol-
vimento.
Os terreqos das margens do rio Bero e Giraul, limitando a uma pe-
228
quena área a agricultura da colónia, e dSo sendo de primeira qualidade,
por precisarem de regas, cujo emprego n3o estava praticamente estudado,
não davam horísonte a largo desenvolvimento.
Começaram, portanto, a voltar-se as attenções para as terras do inte-
rior e abas da serra da Chella, e montou-se no Bumbo a primeira fazenda
de canna de assucar; o clima, porém, doentio como todos os d'estes pon-
tos, afastava a colonisaç3o.
Propugnador activo do desenvolvimento agricola em Mossamedes, ap-
parece n*esta epocha um homem, que n3o resistimos ao desejo de no-
mear, Angelo de Sousa Prado, de quem aliás os valiosos esforços tiveram
de ceder á desanimação e descrença geral que então ainda avassaliava o
çspirito publico colonial.
Assim foi caminhando desanimada e lentamente a agricultura em An-
gola até ás proximidades de 1858, epocha em que começou a fallar-se na
cultura do algodão, em virtude dos projectos de uma companhia estran-
geira que quiz ali estabelecer aquella cultura, o que foi incentivo para al-
guns colonos se dedicarem também a ella.
Manuel José Correia, de Benguella, foi dos primeiros que cultivou o al-
godão no Carunjamba e em S. Nicolau, pontos intermédios entre Benguella
e Mossamedes, então muito explorados pelas feitorias de apanha de ur-
zela.
O negocio da escravatura, como contrabando sempre mal visto na me-
trópole, começava também a sêl-o na colónia, e era alem d'isso arriscado
para os que n'elle se mettiam.
As vistas até então attentas para alem-mar, começavam a volver para
a terra e para a agricultura, e esta a ser vista com melhores olhos.
Prosperavam as fazendas de S. Thomé e Príncipe. Cazengo lá se ia au-
gmentando, e Mossamedes, alem das batatas que vendia aos baleeiros
americanos, e da sua prospera industria da pesca, já produzia igualmente
aguardente e assucar.
A apanha da urzela tinha deixado também alguns contos de réis na
provincia, para compensar as perdas do extincto negocio da escrava-
tura.
Apparecia n'aquelle anno a navegação a vapor para a Africa, e do
meio d*esta primeira animação fundaram-se novas fazendas agrícolas em
Mossamedes, S. Nicolau, Carunjamba, Equimina, Luacho, Novo Redon-
do, Quicombo, Benguella Velha, Yalle do Bengo, Ambriz, Bembe e a nova
colónia de Capangombe.
A cultura do algodão animou-se então bastante com o bom preço
d'aquelle producto.
Iniciou-se em Mossamedes o systema da irrigação dos campos, o que
229
deu grande vida a toda a espécie de cultura» desenvolvendo muito a da
canna do assucar.
A cultura do café foi do mesmo modo mostrando os seus lentos, mas
sólidos resultados.
Alguns n^ociantes de Benguella e Loanda, que poucos annos antes
chamavam aos agricultores batateiros, eram já os próprios que se dedica-
vam á agricultura» e muitos d'estes téem hoje n'ella o seu principal em-
prego.
Do concurso geral de todos estes meios de producçSo, animados pela
navegação a vapor entre Portugal e a colónia» nasceu a nova epocha agrí-
cola de Angola ; mais tarde, com a creação do banco nacional ultramarino,
e depois a navegação a vapor no Quanzá, prosperaram muito mais, pela
regularidade que o banco deu ao credito que tão indispensável era na
província, e pela facilidade que as carreiras de vapor deram aos transpor-
tes do interior a L. de Loanda, creando um novo e prospero centro de
commercio na villa do Dondo.
A cultura do café, da canna saccharina e do algodão são hoje as mais
desenvolvidas como meios de exploração agrícola ; a dos cereaes, legu-
mes, fructas e hortaliças, de que em geral ha fartura, faz-se em toda a
parte e permuta-se para uso da população.
As duas colónias primeiramente fundadas, a de Cazengo e a de Mos-
samedes, são hoje também as mais desenvolvidas e as que mais produ-
ctos exportam, caminhando as de mais recente data igualmente em via de
prosperidade.
Golungo Alto, vizinho e em tudo similhante de Cazengo, tem-lhe se-
guido o exemplo, e pôde dizer-se que constituem ambos uma só colónia
com as mesmas producções, vantagens e necessidades ^
Se a agricultura n'esta colónia, como em muitos outros pontos, se não
desenvolve mais rapidamente é porque vive quasi dos próprios recursos,
resentindo-se da falta de capitães. A recente crise, filha da alteração no
estado dos trabalhadores, activada pelas ultimas seccas, tendo retrahido
o credito, que d'antes já não era largo, aíTectou bastante, ha dois annos
para cá, a sua crescente prosperidade. É, porém, de suppor que essas
causas accidentaes terminem brevemente.
Ha bastantes propriedades que, vivendo assim dos próprios recursos,
muito se téem desenvolvido n'estes últimos annos, e apresentam hoje con-
1 Esta colónia conta hoje meia dúzia de propriedades importantes, que devem
já produzir annualmente entre 1.500:000 e 3.000:000 kilogrammas de café, e algu-
mas dúzias de outras mais pequenas, nas quaes o desenvolvimento é já conhecido
pelas suas largas plantações.
díOões de melhoràrnéDtos qnêf íhe dão á solides! daí í)fospefiâade futura.
Em muitas d'ellas ha já magníficas ruas bèm arborisadas» pomares de
^ variados fftctos indígenas e da Anfíerícd, úíiide tambení se aciittiam bas-
tantes fructas e flores da Europa, assim como obras hydraaltcafá è ifltfcbi-
nas diversaà appticadas á exploração a^fricola, édificios ítúpanàttíêi ()ara
habitação» armazéns e o£Bcida^para todo ó trafego agrícola.
A propriedade denominada «Colohiá S. Jòãõ^, m^ituida pòr Jútó Qut-
Iherme, que foi também o fundador d'aquella agricultura, tem um ^é^o
ediAciO; na maior parte jâ construído, tí quái ásséiita sobre títti títònté que
se eleva no meio do vaílé qué a consfitbe; è fôrio de pedra e cal £ ctfberto
de telha; (òm de extensão a f^ente qúé dlbd parâí o N. 1.7^,51, a qual está
ainda por concluir ; mede pelo lado dô náscetite, qné ê o que representa
a gravuras SO^^^SS, tendo sobre o t)ofrtão doesta fachada um caitàpiííÉm
com dois sinos, um dos quaes faz paHe doí Mbglo, que ãll se avista; no
lado do S. tem uns 30 metros, e ho dd i^dénté, áitída eín construção, tíma
área igual á do lado opposto, o que tudo perfatt titúá extehsão de I74'',4.
A maior parte d'esta vasta vivenda còriJ^íSé^sé dC bítí primeiro andar
de quatro faces, com espaçosas lojas t[nb sehétíi de artUazens e ofBclnas
para o lado de fora. Em frente dos arnisteeri^ ha m&a seHe de teiteíros ou
eiras destinados para a secca do café e afòrtíioseamento áó ediflcio ; e
no meio das edificações, ntí plano do p^iãiei^tT atídaf , étíMê trtfi magni-
fico terreiro arborisado com que commnnicam {ís diversas casas de habi-
tação, e no qual, apesar do seu platío elevado, há êrgtiá encanada^ vinda
da montanha próxima e que se eleva com uma carga de 25 metros ef ti^oma
extensão de mais de SOO.
A propriedade geral tem mais cinco povoações alem da qúe descre-
vemos e que è a principal, e tnede 10 kiloinetfos quadrados de terreno,
todo montanhoso, fértil e cheio de nascentes de bella agua, ás qiiaes con-
vergem á ribeira Hubeje, que formsí o valle da propriedade'.
Em 1872 produziu esta fazenda apprtíximadamente f 60:000 kilogram-
mas de café.
Uma das principaes propriedades da coloíiia é a fazenda deiKiminada
Prototypo. Possue extensas plantações de café, e tem ainda, como qdsisi
todas as outras, muitos matos pafa rotear, próprios para aquella cnltaí^.
Uma pequena machina de vapor faz ali o descasque e limpeza úb clílé co-
1 Copia de uma photographia tirada em 1873. Yeja-se a gravura que tem a se-
guinte designação : Colónia S. João, Vista da habitação do lado oriental.
2 A 500 tnetros da habitação principal lia um bonito lago formado por duas
poderosas nascentes, e do qual segue uma agradável f ua até a habitado ^ndpal,
como se pôde fazer idéa, observando a gravura, qiie tem a seguinte designa^:
Rua de mangueiras e jamboeiros na fazenda S. João, efh Angola.
231
Ihidó. Tem bellos pomares, dm lago artificial para creaçSo de peixes, e
tima ma de palmeiras de cuja regularidade e symetria se pôde fazer idéa
á vista da gravura que ajuntámos ^ É a copia de uma photogf)aphia tirada
em 1876.
A fazenda Palmira, também uma das melhores da colónia, apresenta
bastantes melhoramentos.
Possue um excellente prédio de habitação com todas as officinas e ar^
mazens bem construídos para grande trafego agrícola, tendo igualmente
agua encanada nos seus vastos terreiros. Ha ali magnificas ruas arborisa-
das, e é talvez a que tem melhores pomsires de laranja, limão, cidra, so-
berbas mangueiras, jamboeiros, coleiras, tamarindeiros, fructas do conde,
de pinha, cajueiros é outras muitas arvores indígenas, todas alinhadas e
cultivadas.
A fazenda Monte Alegre, no Golungo Alto, está hoje muito desen*
volvida e possue grandes elementos de prosperidade.
Ha ainda mais outras em condições análogas pertencentes a euro-
peus, avultando também muito a pequena cultura do povo indígena.
A producção de café n'esla colónia, em (871, devia orçar por
200:000 kílogrammas, apesar de se náo poder bem precisar pôr falta de
dados estatísticos.
Uma grande parte d'esta producção acode á povoação chamada Ca-
sulo, onde é objecto de um commercio considerável.
É n'aquella povoação, composta de uns cincoenta europeus e muitos
íodigeDas, que reside a auctoridade administrativa do concelho de Cazeth
go. Possue alguns prédios soffriveis e uma pequena igreja da invocação
de S. João Baptista de Cazengo, a qual serve de freguezia do concelho.
A colónia em geral espera somente a abertura de uma rápida via de
communicação, como é a via férrea projectada, para poder elevar-se e
constituir toda a sua importância natural com um rendimento superior
áquelle que hoje possue toda a província. Para isso basta considerar que
do nada se elevou ella ao que hoje é, no espaço de trinta annos, com di-
minutíssimo capital e sem auxilio nenhum estranho ; acrescendo ainda,
que os seus valiosos productos fazem de despeza quasi um quarto do seu
Valor para se poderem collocar no primeiro porto de mar, e que a redacção
â'essa despeza, junta á regularidade do transporte, seria toda convertida
em lucro e animação desenvol vente para o cultivador.
Ambaca, a E. da colónia de Cazengo, cultiva muita ginguba, batata e
arroz.
1 V(*ja'se a gravura que tem a designação: Rua das Palmeiras na fazetida
Prototypo.
232
Os concelhos de Duque de Bragança, Malange e Pungo Andongo ex-
portam gados, e também têem excellentes terras para agricultura, mas
pouco exportam, porque grande parte dos productos que ali se cultivam
servem somente para o consumo interno, havendo alguns que muito con-
viria agricultar; morrem porém todas as tentativas em presença das diffi-
culdades e dos enormes gastos de transporte, que matam todo o commer-
cio d*aquellas paragens que não tenha um valor muito elevado em relação
ao seu peso. Assim os productos que d*ali acodem ao mercado são gado,
cera, marfim e borracha.
Á villa de Dóndo, ponto extremo da navegação do Quanza, é onde
vão todos estes productos, tanto da colónia de Cazengo como do interior.
Esta villa, já muito importante, é objecto de um considerável com-
mercio de transito. A gravura que ajuntámos mostra uma parte da po-
voação que fica na margein esquerda do rio mais pittoresco de Loanda^
A navegação a vapor no rio Quanza è o único meio que ainda auxilia
um pouco a vida productora dos concelhos de E.; porém estando os mais
productivos afastados do rio por uma distancia de 75 a 100 kilometros,
dão«se innumeraveis difBculdades no transporte até á via fluvial, alem
d'aquellas que apresenta a mesma via, pelas suas interrupções annnaes
Àò tempo das seccas, passagem da barra e outros obstáculos, o que tudo
fát com que ainda affluam á cidade muitos productos pela via terrestre,
coih enormes difliculdades e grande dispêndio.
Apesar de todas essas contrariedades, a via fluvial do Quanza apresenta
um movimento de alguma importância, porque no anno de 1871, que não
foi ainda dos melhores, já se exportaram por esta via valiosos productos.
^ae foram iraii«|^rfta«l«s pela naireffaefto da ria ^aa
(Abril de iCl9i a SI de* marca de iS99)
Géneros
Ginguba.
Goconole.
Unidades
1
1
QaaDtídadcs'
Vnço
Arrobas
1
63:573
3^800
1
m
381:746
^700
»
61:257
1^500
Importâncias
24i:577M00
267:32Si5300
30:628^300
539:428^100
1 Veja-se a gravura : Vista da villa do Dondo, na margem direita do rio Quanza,
2 As quantidades referidas n'este mappa nao estão reduzidas á medida legal em
consequência da difficuldade de approximnr o preço relativo a esta eom o da uni-
dade adoptada na província de Angola.
233
Géneros
Tramporie
Mamona
Gomma
Borracha
Algodão
Arroz
BaUtas
Farinha de mandioca
Feijão
Milho
Urzela
Liconde
MarGm
Cera
Couros
Tabtco
Fio de algodão
Aguardente
Tábuas
Toros
Óleo de palma
Unidades
Arrobas
Maçarocas
Pipa
Volumes
»
Toneis
Pipas
Barris
QoaDtidades
Preço
674
^500
2:080
54000
7:502 Vz
104500
13:673
44000
68V2
14100
•
96 Vz
4600
ii:469
14000
1:229
4800
1:242
4500
68
14500
513
4350
869
604000
19:431 1/2
84100
153
4300
ÍÍV2
14800
Importasdu
2:606
1
117
19
388
3:418
3
4060
804000
4600
4800
804000
554000
204000
539:4284100
3374000
10:4004000
78:7764250
54:6924000
754350
574900
11:4694000
9834200
6214000
1024000
1794550
52:1404000
157:3954150
454900
'224500
1564360
804000
704200
154200
31:0404000
187:9904000
604000
1.126:136^660
Já se vê que não entram aqui os productos da pequena navegação do
Quanza, nem os do movimento das vias terrestres, que se n3o mencionam
por falta da respectiva estatística, avultando entre elles toda a qualidade
de animaes em que as regiões de L. s3o fertilissimas: e também se não
mencionam os géneros consumidos nos diversos concelhos e mais pontos
afastados do interior, entre os quaes merece especial menção a aguar-
dente.
As margens do Luinha, as do Lucala, uma parte das do Quanza, e as
do Bengo e Dande são excellentes para a cultura da canna de assucar, e
em todas ellas ha plantações e algumas fazendas bem montadas.
Em Malange também se cultiva a canna saccharina.
As margens do Lucala, excellentes para esta cultura, n'uma extensão
^^4
de 35 kilometros desde Oeiras até Massangano, s9o de uma belleza desr
iDmbrante; fertilisadas annualmente pelas inundações do rio e cobertas
fia maior parte de frondosissimo arvoredo deixam ver, misturado com
ésèk SúhêtM vegetação, milhares de arvores de variados fructos, e entre
éllii Soberbas lai^anjeiras, que dão a mais saborosa laranja da província.
listes' (éíTéiios são geralmente propriedade dos naturaes de Massangano,
é Kâ Jí^fénás ali úína fazenda de canna e fabrico de aguardente onde está
montada cfttta machina a vapor.
O Quanza possue também margens extensíssimas e férteis n'uma ex->
teú^o de 200 kilometros, desde a villa do Dondo até á foz, mas a agri-
cullufá tíio tem ali tomado o incremento que se manifesta em outras par-
tes pelas diflSculdades que Ibé oppõe o regimen especial das volumo*
sas agUâs. Os pretos cultivaion alguns cereaes e legumes, porque as ter»
ras s9o fertilissimas sempre que podem conservar um meio terino entre
as seccas e os alágóS. A maior parte, porém, das melhores terras s3o in-
tádidas anúualmeíile pelas grandes inundações, á falta de defezas pro-
ptíi^y ()ue àtiás feriam muito dispendiosas, e a outra está quasí sempre
sdinSlgligida pelas aguas, forinando amplas lagoas.
Ás maiores inundações periódicas poucas plantas resistem a oSo ser
i palmeira, da qual se vêem extensos bosques que formam a riqueza
importante dos poVos da localidade.
Ó èr. Feliciano da Silva Oliveira montou ha poucos annos uma grande
propriedade de canna e fabrico de aguardente, no sitio denominado Bom
iesds, pãM a qual teve de fazer um dique ou defeza contra o rio, conse-
gulridò extinguir a lagoa, e plantando canna nas terras descobertas pela
agua, tjue são nssim de uma fertilidade espantosa.
K^tA deféza, similhante a outras a que na província se chamam bon-
gues, 6 f^it.i de terra, elevandosc parallela ao rio e com altura sufiSciente
para defender a invasão das aguas, mas custou ao proprietário algumas
dezeh^s de contos de réis; assim mesmo já uma vez foi arrombada pelo
ríò e de httvo reedificada.
EMá propriedade possue hoje largas plantações, tem todos os labora-
tórios bem montados e oma machina de vapor para os trabalhos da moa-
gem. Calculam-se as colheitas annuaes em mais de 210:000 litros de
aguardente.
As casas de habitação são edificadas junto á margem direita do rio
Quanza, como se mostra na gravura que ajuntámos'.
Nas margens do Bengo, Dande e Ambriz também ha importantes
1 Veja-^c a granira que tem a seguinte designação: Fazenda Bom Jesus, na
fHargèúí do rio O^^^za.
propriedades de cultura àè MoDá e tàtítitó ãé ^gúátãeúiè, e algudias d'èt-
lad possuem bons motores de vápof .
A cidade de Lòaudái^, capita! da lA-oviacra, è ti oeMro do ttátor lAôVi-
roeàto de tòdás estas produc^Oes.
Partindo para o S. da província ha em vários poírtofs ttíuHáâ tàtónálê
de canna e álgodSò, podendo citar-se QtdcMntM), GattíttibeKa é hiUinik no
rio de S. Francisco, Garunjámba e S. Ifkiolau. Algóiúêí^ d'eilás ^HOô
montadas em ponto grande e òom boas iftaébinâá ttotoras para oé diflè^
rentes misteres da lavoura.
Finalmente o dístricto de Mossamedes, cotíipòstO dá bèlU títildtíUí
agrícola que em 1849 é 1890 aH éò estábelecieu, è de todosi os {>óMos
aquelle onde â raça branca mais prosperai e máid vivtf catíútí^ úi babi-
Uni dá Etirópa.
A cultura da canna, o fabrico dá ágttá^deíite e m^^rno dè álgtitíi á^
sucar, são a principal producção doesta colónia.
Todos os terrenos aproveítaMs daá tUit^etíÉ dò Bèf o é QítM ãstlo
bem agricultados por grande rmmeh) de CMotíos que áli viteffi tioffi tíiàê
fiimilias, e a propriedade tem dm itOOf bastante stíbido. À fáitá de
aguas pluviaes estabeleceram o ^stemá dè trrigáçad, tiráúdo á ágtia de
poços ou cacimbas, empregando paM iSèO íâáehioás a vapM* apropria-
das.
Toda a cultura está ali largatíiente déáentolvidá e á (eri^á ffiffito bem
aproveitada.
As colónias do Bumbo, Capangombe e Biválla^ originarias da de 1Ê0§^
samedes, e situadas nas vertentes da serf a da Gbdla, pOístieiA ti'éiÈH Co6i
melhores meios de prosperidade na larghHsíá e fê(nilídáâ« dOá imtitm
que occupam, mas resentem-se muito de dois obstáculos^ que âid ooifl-
muns a qoasi toda a agricultura colonial — a falta do capital deâetlvdlvente
e os meios económicos de communicaçao e transporte páfá á conduc^^
dos seus productos. Assim mesmo o conjuncto geral dá agricultura dá
colónia é bastante importante, allendehdo a que sustenta muitos Mntos
de famílias que ali vivem, exportando ainda aguardente, álgodlo^ bata-
tas, peixe fresco e bois. E preciso observar que háO entra em linha de
.conta a maior parle da aguardente, a qual é consumida no districto e no
sertão contíguo'.
Se a colónia de Angola, sem caminhos e com di£Qceis meios de con-
ducção, sem capitães desenvolventes e até sem segurança, creou, no
1 Vista da cidade de Loanda (parte baixa).
^ Foi-nos ultimamente afiando que a colónia de Mossamedes attitiiiá Já ttlná
producção de aguardente entre 2.520:000 a 3.360:000 htros.
espaço de quarenta annos, pelo desenvolvimento de deleiminadas cultu-
ras que n'esse tempo ião existiam, valores tão importantes como aquelles
de que temos fallado, qual será a prosperidade que poderá atlingir em
igual espaço de tempo se lhe não faltarem esses meios necessários ao seu
rápido desenvolvimento?. • .
O fiituro das colónias de Angola poderá considerar-se bem seguro, se
se admittir como certa a construcçSo do primeiro caminho de ferro de
Loanda a Ambaca, emprehendimento este que não pôde deixar de ser o
motor de todos os melhoramentos de que carece a agricultura e o com*
mercio em geral da província.
O credito tão necessário será o primeiro a constituir-se e a facilitar
se com vantagens immediatas para o desenvolvimento da agricultura.
A navegação e os outros meios de communicação, serão também uma
consequência de tão vital melhoramento.
A segurança publica, sobretudo, considerar-se-ha bem mantida, e d*es«
te conjuncto de circumstancias poderá nascer um novo estado de prospe-
ridades para a província, superior á que actualmente gosa.
Não é certamente tão desenvolvida quanto desejávamos a descripção
que deixámos exposta, mas è muito sufficieote para se reconhecer que na
provipcia de Angola ha mais alguma cousa do que feiras afastadas urnas
das ataras e alguns fartes dispersas.
Queríamos dar uma idèa das bellezas naturaes do paiz, completando
o esboço que apresentámos com gravuras referentes a plantações, pai-
zagens e ediãcios dos principaes logares da província, mas não nos foi
possiveP. As gravuras que ajuntámos mostram, comtudo, o modo pouco
acertado por que alguns escríptores estrangeiros téem fallado a respeito
das nossas colónias em geral.
Ê indispensável dizer as cousas como ellas são, e a ninguém, como ao
medico hygienista, cumpre examinar as condições em que se acham as po-
voações, cuja salubridade procura conhecer.
Não vêem, pois, fora de propósito estas considerações, poisque esta-
mos plenamente convencidos da urgente e imperiosa necessidade de se
responder á propaganda dos escriptores estrangeiros, oppondo a verdade
I Nao conseguimos obter pbotographias das plantações da colónia do Mos-
samedes, assim como nos faltam as dos pontos mais notáveis de Benguella e Am-
briz; mas dentro em breve tempo daremos um trabalho especial acerca da província
de Angola, e reuniremos todas as vistas que forem dignas de se observarem.
Cumpre-nos, todavia, palenicar aqui o nosso sincero agradecimento ao sr. Al-
berto da Fonseca, que nos forneceu as photo(n*apbias qne serviram para as gniAOi-
ras que damos respeito de Angola.
237
■
ao erro, os documentos ás vagas asseverações, os factos ás bypotbeses in-
sustentáveis.
Não nos apreciou com justiça A. Réclus, mas as suas afiSrmaçSes fo-
ram já rectificadas '.
Livingstone» como já dissemos, teve denodado athleta, que Ibe des-
truiu, uma a uma, as inexactidões. Não menos brilhante foi a resposta
dada por H. Major a Pierre Magry.
O que, porém, coroou todos os nossos esforços para se restabelecer
a verdade a respeito das cousas de AfridTforam as sessões da camará dos
senhores deputados ; mostrou-se ali á evidencia que os exploradores Ca-
meron e Young não alcançaram mais do que Livingstone e Pierre Ma-
gry. Deram, pelo contrario, occasião a que a verdade apparecesse ra-
diante de luz, e se levantasse a questão colonial na sua verdadeira altura.
Guiou-se de certo este esclarecido escriptor por informações espalha-
das pelos abolicionistas inglezes, que, tendo sido bem recebidos nas nos-
sas possessões, não duvidaram desdizer-se muitas vezes e serem comple-
tamente injustos para comnosco i
Tem sido tal a cegueira dos propagandistas inglezes, que nem ao me-
nos relêem o que escrevem, nem se arreceiam de se darem como des-
cobridores do que já havia sido visitado.
Não deixam porém de ter merecimento tão arriscadas viagens, mas
seria com certeza muito maior, se os exploradores fossem justos e ver-
dadeiros nas suas descripções.
Não nos causou menos assombro o que de nós escreveu^ o dr. James
Comwel no seu livro de geograpbia da índia.
Não foi nunca desconhecido entre nós o que dizem os abolicionistas
inglezes, mas temo-nos contentado em receber as provas de consideração
1 É a todos os respeitos interessante a resposta do sr. marqaez de Sousa Hol-
stein, a propósito da apreciação que de nós faz A. Réclos na soa Geographia, Aeha-
se publicada nos Annaes da cammissão permanente de geographia, referida ao mez
de dezembro de 1876. É o primeiro numero da publicação offlcial d*este instituto
scientifico.
2 Paliou d*este facto o sympathico escriptor e illnstre poeta Thomás Ribeiro.
É certamente um dos que nos parece muito grave pela circumstancia de que se
acha revestido : ensín^sc nas escolas da índia a dizer ás creanças que nâo mere-
cemos o nome de naçio cívilisadal E para isso empregam uma linguagem indigna
e insinuações repugnantes 1 Gumpre-nos protestar contra similhante systema de
propaganda c levar a toda a parte a descripçao dos nossos usos e costumes, e do
nosso paiz, como nação livre e independente e como potencia colonial. As repetidas
edíçdes da geographia para as escolas, do dr. James Comwel, e quaesquer escriptos
d*esta ordem nâo terão echo.
m
^9 ^^ di^>»wym ewn^oti^ «i^iptQri^ iflg^e^s e fraoicezes; entre os
qnaes contámos H. Major, Burton e Carlos Vogel.
Tig»^o.$ 4:^pfia4o Imbm P^ j.u$tiça que nos assiste^ mas aquelles abo-
licionistas nSo mostram ter examinado o que a nosso respeito escrevem
^jmsí:fH^\gF^íinp(^, cu3m piiocurain XM)nbecer as rectificações feitas já na im-
prej)$9^ já ew diversas pieqiQrÂa^ e valiosos Uyros. Embarcam para as ter-
ras de Africa sem estudarem os nossos paos e câstjomeS) sem verem os li-
v/x^ qjj^ 3.e sacham pi^Uça^s ^|*ca d'ague|las possessões e sem se infor-
nf^vfiffi dp que ^av^inos fidjis) ejfk pvfíl do progresso e da civilisação colonial.
O 4Vie é cerjlo é que entre ^ piuii^s publicações que se tem feito com
r^açãp á provjj)cÍ9 de AngQJ^, aFulta 9 do Boletim oficial da provincial
foTjigíçjò fí^).^ joro^ yallpsps .(jlocumentos para se avaliar com perfeito co-
qibi9çp\iepl9 o q^viK^ento .comiooierci^l ^ agrícola da provincia. A publica
«jtal^tr^o p64e ali $er a^ij^da.
IlQip d/^i^erj^os y^fjp^^iàT ^ AQssas considerações acerca da provincia
4^ 4#go)^, sen) f^^armQs4? or^anlsaçlío das obras publicas feita em 1876,
e sem dizer algumas palavras a respeito do projectado caminho de ferro
de I/panda £^té Aqs^aca.
^ 1800 diÂa jÇarlos Vpge), no Jivro a que já nos temos referido :
«La construction, jugée assez facijle, d'un cbemin de fer à Tamérícaine
4^ui9 ^a^9>Q&q.9'^ la y^\]^^ ^ Çã^s^ge, par Massangano, serait, ain-
^ 4ue I9 Wv)ga(iQj;i à vapçi^ sçr la Goaciça jusqu'à la viUe, un immense
bienfait pour tout le pays. »
fk. nçt(^^da4.e e urge^pofa d^ consjlrqcçSo do caminho de ferro no valle
da margem direita do Quan^ é, pois^ reconhecida desde ha muito tempo,
íb Jtwje tffiiSí'Se dç realisar tão importante joaelhorainento, organis^do-se
9l^ Ú'}^9f ^^ 9^^ '^;Sa$ yi$.^s, o .serv;iço das obras publicas provin-
ciaes.
O alcance de laes reformas avalia-se em presença da distribuição dos
trabalhos, que se acham classificados do modo seguinte :
jGQpgraphia: levantamento de cartas e plantas;
^;eolagJia: pe^quiza jd lavr? 4^ miua^;
fiatudos: jcoostracçio e conservação de estradas, pontes e tcáeigra-
phos;
Obras de rios, canaes, portos de mar, pharoes, desseccamento de
panjtanQS e irrigações ;
<^nstrucííã^> reparação e conservação de edificios públicos e fortifi-
£a(^;
> O p.rimeiTQ jaumero do BoU^tim official de Angola, foi publicado no di^ jLj} (le
setembro de i845.
Estudos e coDstrucçSo de caruiobo de ferro de LQ?Qda í^ A^b^aií^ '•
Em s^uida a estas considerações apreseat^mos uia9 i^f» 4? dire-
ctriz do caminho de ferro projectaijo, bem como a djescripçlk) tPPQ^ra-
pbica da região que ellie atravessa. Os valies do Qa^Aza e fiA^l^ s|o 4e
certo o coração da provinda de Angola .
Directriz do caminho de ferro de L^ç^^fJ^ ofà Ambaca*. —Q pQQlQ dç
partida, origem da lioba férrea, é o extremo NE. d^ bm% d^ f^ojipda,
no espaçQ de terreno contiguo ao largo da Sen^or^ da Na^ri^i) # ^dja-
ceote á {lonta da Izabel, o qual rei^ne as maiores va^gj^o», pej^s q^ia^s
Dão pôde deixar de ser aproveitado para aM ^^ instaUiada s ç^^ão prin-
cipal, testa do caminho de ferro, qpe /adiaal? seri espec^Us^d^^t
A planicie marginal, onde assenta a parte boixp da âdade^ Qçoifi» o
flanco esquerdo da reintrancia da oosta, cpwprehendiij^ ^ntm ps wr-
ros de S. Miguel e das Lagosta?, e esteode-se m^ p^s N^« gj^ ^
loarreiras da Conceição, formando ^m faxa de lerreno )^iw de áoO $
300 metros de largura média, circumdada pela encosta, j(Ajgi$ pu Qçnps
cortada de barrocas, que coD3tilgi.e a escar|)a(Jl9 pl^iwra «Bley^d^i qve se
prolonga para o interior e separa os valies do 3iengQ » úq ()mm9,n
Assim, pois, a directriz da linha férrea, parjtindo d^ Í4dj.c9j(jl# or^í^W
proxin^a ao porto de Loanda, não pôde deixar de sjobir 4 #ss2| f^A^yrf
que se lhe interpõe, com uma elevaçãp de 60 a 7.$ o^etros «^A^es ,4^s ver-
tentes do valle do Bengo; portanto, depois dos lilNJite3 da ^ííJí09p $^ue
ella pela planicie marginal até i base da ejico$ta^ qaç iqm^^jaçõ^ 4p Pe-
nedo, e, contornando-a quanto possivel, tr^ata assim de $V)íXíf W^» 9
fim de transpor em altura conveniente o contraforte (jme Jsva^çji jiy^a .$.?-
qaerda da ravina que finda próximo ás ruiqas do jtpr^e d[a Çpnc^o^
Aquella encosta, muito enabora seja portada 4^ j)9rr.oca$^ 4|3yJ4p3 Ji
sua constituição arenosa e á falta de vegetação que a sujeita á acç|í9 ^K
aguas pluviaes, não apresenta difficuldades para 9 .aber|ur9 ^9 çsfmhOy
havendo desde o Penedo até ás barreiras da £anceip|o d^ttv^.ç^ .^wl^-
ciente para se desenvolver em acceitave^is condições fi tF9^Í9 4a áÍF9'
ctriz, a fim de passar já superior ao referido contraforte e aj,cpç^ ji pl^^
Dura próximo da Boa Vista.
Com relação a este primeiro lanço, pôde aíBrmar-$e $eip i^ep^ip 4^
> Diário do governo n.*» 60, de 5 de março de i877.
* Primeiros estudos do caminho de ferro em Angola. Reconhecimento do ter-
reno para o traçado do caminho de ferro entre Loanda e Ambaca. Memoria MiM-
0Í99Í (Biampaorípta), jMig. fà. Lisboa, 21 de setembro 4e 1876. ^ Angt^^fg fietfm ée
Sm^ Prado.
240
contestação que, a partir do local convenientemente âxado para a estação
principal em Loanda, nenhuma outra saída se encontra em melhores con-
dições e tão conforme com a direcção geral da linha, alliando ao mesmo
tempo o effeito agradável de seguir em mais de 5 kilometros por uma en-
costa d'onde se disfructam a bonita perspectiva de uma parte da cidade
e o porto de Loanda, que por sua parte terá também esse embellezamento,
o de um lanço da linha férrea quasi marginal.
Da Boa Vista segue a directriz pela planura elevada até ás immedia-
ções do morro do Cacoaco, de onde desce para o littoral, desenvolven-
do«se, sem dificuldades, pelas encostas suaves que lhe são adjacentes,
não só para se approximar da povoação de Gacoaco, cuja industria pis-
catória lhe dá já actualmente alguma importância, mas também para se
dirigir pelo terreno marginal, que se encontra bastante plano e entestando
com o valle do Bengo, pelo qaal a directriz continua seguindo a margem
esquerda, e passando em Quifandongo, sede do concelho da Barra do
Bengo, onde finda a primeira secção, com a exteasão de 26 kilometros
desde a origem.
A directriz continua ainda nas melhores condições pela favorável pla-
nície do valle, terminando a segunda secção no kilometro 54, n'uma pe-
quena elevação antes da lagoa de Quibunda, onde convirá ser a estação
do Icolo e Bengo, por se achar próxima de Ganganriangombe, sua actual
sede. Esta secção mede 28 kilometros.
Marginando, pelo lado do S., a lagoa de Quibunda, passando próximo
a Gabiri e voltando um pouco á direita pela encosta do rio de Cabaia que
se acha junto com a lagoa Lalama, chega a directriz próximo a Tuco-tnco,
nos fundos d'esta lagoa, onde desemboca o valle d'aquelle rio, que mais
para cima toma o nome de Calucalla. Junto de Lalame, em Tuco-tuco,
kilometro 85, finda pois a terceira secção com 31 kilometros de ex-
tensão.
N'estas ires secções não pôde ser mais favorável o terreno para a m-
stallação do caminho de ferro, principalmente desde a baixa do Gacoaco.
Alem d*isso o valle do \>mo Bengo, que já é percorrido pela estrada que
segue para o Zenza do Golungo, tendo as margens do rio bastante po-
voadas e em parte cultivadas, em virtude da sua notável fertilidade, jus-
tifica sufBcientemente a directriz escolhida, que não deveria deixar de
seguir, quando mesmo pelo terreno elevado podesse haver superiores
vantagens technicas para o seu traçado.
Ê a montante de Lalama, entre Tandabonde e Camotamba, onde o
Bengo sáe de entre as collinas que apertam e accidentam mais o seu fértil
valle, que se poderá considerar o principio do alto Bengo; por essa
drcumstancia e pela conveniência que no delineamento geral se reconhe-
241
ccu haver, na passagem para a bacia liydrographica do Quanza, a dire-
ctriz deixa o valic principal para o aíQuente de Cabaia ou Calucalla, como
se denomina a montante, por cuja encosta esquerda attinge a divisória
nas alturas do sobado de Caculo Casongo, no kilometro 120, onde esta
quarta secção perfaz 35 kilometros. D'este ponto, não podendo facilmente
passar a seguir logo o valle do Quanza na sua margem direita, por causa
das lagoas que lhe estão adjacentes, e para não tornar tão sensivel o des-
vio que soffre a direcção da linha, a directriz segue por isso no sentido
que mais a pôde encurtar, até attingir a margem do rio no sitio da Bar-
raca.
N'este percurso, em terreno mais ou menos elevado, a directriz passa
nos fundos ou vertentes da lagoa Tõa, kilometro 145, ponto o mais pró-
ximo de Galumguembo (Zenza do Golungo), onde limita a quinta secção
com 25 kilometros ; restando igual numero de kilometros até á Barraca,
kilometro 17Ó, e fim da sexta secção, onde chega a directriz descendo da
planura elevada pela encosta algum tanto levantada do contraforte, em
cuja base está estabelecida aquella feitoria, e na qual finda a primeira
parte da linha férrea.
O desvio da direcção geral, a que se obriga a linha, a fim de tocar na
margem do Quanza, se não se tornava necessário para a directriz entrar
no valle do Lucalla, depois de ter passado para a bacia d^aquelle rio em
Caculo Casongo, justifica-se plenamente, como adiante se verá, pelas
vantagens que resultam de se fazer communicar a linha com a via fluvial*
de navegação a vapor; alem de que em pouco será augmentado o desen-
volvimento total, por isso que a directriz segue terreno menos ondulado.
Na segunda parte da linha, a directriz, ao sair da estação da Barraca,
tem de ganhar novamente o terreno elevado, podendo desenvolver em
rampa acceitavel pela encosta, a fim de passar sobre o contraforte que a
jusante da grande lagoa NGolome se prolonga para S. sobranceiro á
margem do rio, e produzindo com as colinas também avançadas da mar-
gem opposta uma verdadeira estrangulação no valle do Quanza, e segue
depois, rodeando as vertentes d'aquella lagoa até ao kilometro 196 (de
Loanda), na altura de Mabaia, que é no contraforte pouco elevado, que
se estende até á confluência do Lucalla, e constitue a divisória das lagoas
da margem do Quanza adjacentes e agrupadas com a NGolome, para as
da margem direita do Lucalla, tendo esta sétima secção da linha geral 26
kilometros de extensão.
De Mabaia, descendo sem maior dificuldade a Cavunge, percorre a
grande planície que se prolonga por Caçoalalla até á margem direita do
Lucalla a montante da lagoa NZungo, e flanqueando as elevações de Cas-
saoze 6 NGola-Camana, segue por aquella margem até em frente do si-
te
tio denomioado Oeiras na coDflueDcia do rio Luinha, cuja margem direila
segue junto da encosta até ao local das ruínas da antiga fabrica de ferro,
que ali fora estabelecida nos íins do século passado, completando esta
oitava secção 30 kilometros de desenvolvimento no kilometro 226.
O valle do Lucalla, logo a montante da confluência do Luinha, apre-
senta as encostas alterosas e juntas ao rio, estando mais acima cerca de 3
kilometros as Cachoeiras, que limitam o trato navegável desde a sua foz.
Não era fácil, pois, a directriz continuar a seguil-o pela margem do rio,
convindo por isso dirigil-a pelo valle do Luinha, que se encontra n'este
ponto favorável e permittindo subir suavemente até.á fabrica de ferro.
A directriz, partindo doeste ponto, onde já é mais sensível a região
montanhosa, segue ainda pelo mesmo lado do valle até cerca de 3 kilo-
metros mais acima, onde transpõe o rio, a flm de seguir pelo valle do
Sumbi, que n^esse sítio afilue á sua margem esquerda.
A rasão por que convém deixar o valle do Luinha, para depois ser no-
vamente seguido, é porque no trato que vae até ao extremo O. da
cordilheira de Quiloange, onde são as suas cachoeiras, o valle é fundo e
de margens muito arrebatadas; emquanto que pelo valle do Sumbi, pas-
sados os primeiros 3 kilometros desde a sua fòz, as encostas são baixas
e a directriz encontra uma planura elevada, que atravessa, encostando-se
á vertente S. da cordilheira de Quiloange, para ganhar nivel, e, trans-
pondo a ribeira Quilandula, vae alcançar o sitio de Quisanga de NGola-Ca-
fuxe, kilometro 253, onde flnda a nona secção que mede 27 kilometros.
No sitio da Quisanga a cordilheií^a de Cazengo apresenta um coUo, ou
mais propriamente uma interrupção entre as montanhas de Quiloange e
Cusongolo, por onde a directriz pôde seguir de novo para o Luinha, po-
rém mais accidentada, porque as diíSculdades de toda a linha pode di-
^er-se que estão comprehendidas apenas entre este ponto e o kilometro 310
na origem do rio Luce. Portanto a directriz da decima secção, partindo da
pequena planura do Quisanga, atravessa a cordilheira, descendo pela ver-
tente de Gatabua e Cacuso, que aJQQue ao Luxinde ; transpõe este rio pró-
ximo da sua confluência com o Luinha, cujo valle segue pela margem es-
querda até á confluência do Luce, próximo a Aguas-Doces, tendo de
atravessar os cursos de agua da vertente N. da cordilheira de Cazengo
e termina no kilometro 280, onde é a passagem no rio Luce da estrada
de Caculo para a villa do Golungo-Alto, próximo ao sitio do Canboca,
tendo desenvolvido 27 kilometros.
Deixando o valle do Luinha, a directriz segue pelo do Luce, seu con-
fluente, que se apresenta favorável e mais aberto, attingindo, comtudo
algumas das montanhas dos seus flancos altitudes de mais de 300
metros acima do talweg. Os cursos de agua mais importantes que atra*
<
243
vessa são os rios Lua e Nzondo, mas pôde desenvolver-se sem excessivas
rampas pela vertente esquerda do valle até á sua origem, attingindo abi
o plao^aito de Ambaca pelo flanco N. da serra do Gama, do collo, onde
tem igualmente origem a ribeira denominada Quisanga, que afflue ao
Moembeje. Este rio é também transposto, bem como aCaringa, em cuja
proximidade no sitio de Cazongolo, kilometro 317, é o limite da decima
primeira secção, medindo 37 kilometros de desenvolvimento.
Finalmente na decima segunda secção, que mede 36 kilometros, atra*
vessando uma região pouco accidentada, embora abundante em cursos
de agua, a directriz encaminha-se sem maior difflculdade para a margem
direita do rio Lucalla, passando ao S. da povoação de Pamba (sede do
concelho de Ambaca) para ir findar 10 kilometros mais adiante, no sitio
de NDundo-Amuluro junto d'aquella margem, e a juzante da confluên-
cia do rio Gariombua, completando por esta forma a linha desde Loanda
353 kilometros.
Este ponto foi fixado para o termimis da linha de Ambaca, não só por-
que está proximamente no centro do concelho, mas sobretudo por ser
um limite natural, e haver terreno onde pôde ser perfeitamente situada a
povoação, que de certo ali se ha de formar muito rapidamente, em vir-
tude áoterminus do caminho de ferro. Alem de ter a vantagem da pro-
ximidade do rio e apoiar-se n'um outeiro isolado e dominante, que pôde
e convém ser fortificado, nada se perde em abandonar a Pamba, que ne-
nhuma importância tem, não sô pelo local, mas porque as poucas e arrui-
nadas casas que ali ha, são de adobe e cobertas de capim.
Gom relação ás ultimas três secções da linha, parecerá, observando-se
a planta, que a directriz teria talvez vantagem em não atravessar na Qui-
sanga para o N. da cordilheira de Gazengo, seguindo, antes de subir
áquelle ponto, pelas planuras que se encontram desde o Sumbi pelo Hanga
até para L. do rio Mosulo, a fim de passar em Gaculo, que é a sede do
concelho de Gazengo, e d'ahi seguir para Ambaca sem passar para o N. da
cordilheira. Esta solução porém não é preferível, porque, se a directriz
até Gaculo seria em terreno mais fácil, d'esse ponto para Ambaca augmen-
tavam consideravelmente as difificuldades, poisque o valle do Moembeje,
sendo o mais favorável a seguir, ainda assim é muito irregularmente ar-
rebatado e em partes bastante estreito, não se prestando por isso como o
do Luce para ganhar o nivel de Ambaca ; alem disso, o que é mais im.
portante é que, sendo a região agricola constituída pelos dois concelhos
de Golungo e Gazengo, entre os quaes a extrema é formada pelo Luinha
e Luce, a directriz a S. da cordilheira indo a Gaculo, não só seguia quasi
o extremo da região productora, confinando pelo Lucalla com uma região
que é relativamente estéril» mas deixava de servir um concelho impor^^
244
tante, como é o do Golungo Alto. A direclriz pelos valles de LuíDha e
Luce tem evidentemente, alem de mais facilidade, a vantagem notável de
seguir pelo centro da região mais productora, servindo ao mesmo tempo
os dois referidos concelhos que a constituem.
Descripção succinta do território reconhecido. — O concelho de Am-
baca, alem de possuir um solo ferlil e ser dos mais povoados da provin-
cia de Angola, e onde os habitantes indígenas manifestam a mais notável
tendência para a civilisação, encontra-se no interior a E. de Loanda,
n'uma vantajosa situação relativamente ás regiões de reconhecida riqueza
de producção que lhe são limilrophes.
D'essa situação resulta pois mais uma das rasões que justiQcam a es-
colha que d'elle se fez para ponto objectivo da primeira linha férrea a es-
tabelecer n'aquella possessão, como artéria principal de communicações
entre o porto de Loanda na costa Occidental de Africa, a 8** 46' 30" de la-
titude S., e as mais afastadas regiões do vastíssimo sertão que lhe fica
aE.
O território comprehendido entre Loanda e Ambaca, limitado pelos
valles dos rios Bengo e Quanza, alem dos quaes nao foi preciso levar os
estudos, abrange duas regiões perfeitamente dístinctas e dispostas em zo-
nas parallelas á costa atlântica. A primeira doestas zonas, cuja largura na
parte reconhecida regula por cerca de i50 kilometros, pertence á região
littoral, que no geral é mui pouco accidentada e cujas elevações não attin-
gem a muito mais de 100 a 1 50 metros sobre o nivel do mar.
Caracterisa-se esta região pelo seu aspecto árido, devendo á escassez
de aguas nascentes a pobreza de vegetação, que unicamente se apresenta
luxuriante nas margens dos rios e das largas depressões do terreno onde
as aguas pluviacs se represam formando dilatadas lagoas. A direivção ge-
ral E.-O., normal á costa, é a dos valles principaes, que na maior parte
d'esta região são largos, tem pendentes pouco sensíveis e encostas quasi
isentas de affluentes perennes.
A segunda região, que comprehende já os limites dos concelhos de
Zenza do Golungo com o Golungo Alto, e Massangano com Cazengo, api*e-
senta-se bastante montanhosa e cortada, cstendendo-se até cerca de 240
kilometros da costa.
Abunda em aguas correntes, e densas matas virgens revestem a maior
parte dos seus valles e collinas, que são de uma fertilidade notável. Os
valles secundários mais importantes, como são os do Lucalla e Luinba,
embora já se encontrem com pendor mais rápido e encostas approxima-
das, apresentam comtudo uma favorável direcção geral concordante com
a dos valles principaes. Attingem altitudes superiores a 1:000 metros so-
^45
bre o mar os pontos culminantes das cordilbeiras mais alterosas d'esla
região, as quaes se dirigem também no sentido deE.-O., ramiQcando-se
mais ou menos irregularmente desde o plan'alto que se prolonga para
o sertão, e em cuja origem assenta Âmbaca, podendo por isso ser com-
paradas a longos e accidentados contrafortes que, assentes na região lit-
tora!, formam por assim dizer os acclives para o plan'alto a que a região
que constituem serve de transição.
Acha-se, pois, o concelho de Âmbaca em cerca de 2i0 a 300 kilome-
tros do littorai, e se está ainda longe do limite E. do território portuguez,
confina todavia com os últimos concelhos actualmente avassallados, com
os quaes constitue a parte mais importante do interior da provincía de
Angola.
Pelo lado de O. confina com os concelhos de Cazengo e Golungo Alto,
a N. com os Dembos, a NE. com o concelho do Duque de Bragança, a E.
com o de Malange e a SE. e S. com o de Pungo Andongo. Faz parte da
bacia hydrographica do rio Lucalla, que o atravessa em direcção SO. até.
á confluência no Lotete, formando d'ahi para juzante o limite entre Pungo
Andongo.
Regado por numerosos tributários d'aquelle rio. correndo em valles
abertos e pouco fundos, que nascem da vertente S. das cordilheiras do
Quio, de Camana e Caçassa, apresenta já a feição amena da região alto-
plana, com uma vegetação viçosa e variada, porém menos basta e fron-
dosa do que na região precedente. A sua altitude media é pouco superior
a 750 metros sobre o nivel do oceano ; porém as cordilheiras que lhe são
limite N. levantam-se até 1:200 metros, attingindo o alto do Quio 1:330
metros acima d'aquelle nivel.
Com relação á população e agricultura ha também alguma diíferença
nas duas regiões.
Pelos dados estatisticos que existem, conhece-se que a relação da
população para a superfície d*esta parte do território de Angola pouco
excede de 5,7 habitantes por kilometro quadrado; a desigualdade, po-
rém, com que está distribuída, dá para a região mais fértil uma relação
mais favorável, achando-se, por exemplo, que a população especifica dos
concelhos de Cazengo e Golungo, deduzida dos mesmos dados, é appro-
ximadamente 23 habitantes por kilometro quadrado.
Na região littorai é onde se acha menos densa a população, a qual
habita geralmente ao longo das margens dos rios, onde aproveita indolen-
temente a grande fertilidade natural do solo.
Encontram-se, todavia, n'estas regiões, estabelecidas pela iniciativa de
europeus, algumas fazendas agrícolas importantes, que téem tido um des-
envolvimento e prosperidade apreciáveis.
246
A cultura principal é a da canna saccharina para a fabricação de aguar-
dente, nSo deixando de ser também importantes as colheitas de legumes,
fructas, mandioca, hortaliças, milho, batatas e outros géneros.
As condições da região montanhosa são ainda mais lisonjeiras.
A população é mais abundante e um pouco mais activa, e no meio
d'aquella riqueza florestal, ainda virgem de exploração, manifesta-se já
em desenvolvimento propicio a cultura do café, principalmente nos con-
celhos de Cazengo e Golungo, onde, pelos constantes e louváveis esforços
de alguns agricultores europeus, se acham fundadas importantíssimas pro-
priedades agrícolas, que muito téem concorrido para animar o commercio
da província.
N'esta região e na alto plana, que abunda em gado vaccum, alem de
todas as producções da precedente, ha preciosas madeiras de todos os
portes, e cultiva-se o algodão, o arroz e o tabaco, e em maior escala a gin*
guba, etc.
Emâm, relativamente á variedade de vegetação e importância dos seus
productos e essências, podem encontrar-se especiaes esclarecimentos no
bem elaborado mappa phyto-geographico, sobre a Flora angolense, do dr.
Welwitsch.
Afora a industria agrícola, nenhuma outra se encontra ali em escala
notável, apesar de não faltarem os elementos, principalmente para as ex-
tractivas, que não téem passado de pequenos ensaios sem critério.
Finalmente, a constituição geológica, na parte das duas regiões re-
conhecidas, é verdadeiramente complexa: na montanhosa, alem dos
terrenos de transição, predominam os micaschistos, mais ou menos ar-
gillosos, sobrelevados irregularmente pelas rochas igneas que n'um ou
n'outro ponto affloram, e appa^ecem depósitos metalliferos, ferro micaceo
e hinnatite, bancos de calcareo saccharoide ; e nas vertentes menos eleva-
das do Quanza, escarpados de rochas aggregadas, alternando a calcareos
grosseiros e tufos.
A formação de terreno terciário, cretáceo, turfas e alluviões modernas,
apresentando alternativas, e em muitos pontos caracteres estratigraphi-
cos bem definidos, isolando-se das arenatas e marnes argillosos, é a con-
stituição notável da região littoral, embora, como aquella, apreciada tam-
bém superficialmente e sem um estudo especial.
Proflnda de Moçambique. — É immenso o território conhecido sob este
nome, e por isso mesmo se torna assas diíQcil a sua descripção, por mais
resumida que ella seja.
Começaremos por fallar dos seus limites, o que em objecto de salu-
bridade e aclimação representa a parte principal, poisque a menor inexa-
247
ciidSo influe directamente em todas as conclusões que tenhamos de for-
mular. E seja attendemos a esta circumstancia, quando tratámos das ou-
tras províncias, não seremos menos attentos a respeito da de Moçambique,
porque não expomos o resultado de apontamentos de viagem própria ; co-
ordenámos o que nos parece mais rasoavel á vista dos documentos e in-
formações que podemos obter.
Os limites da parte oriental da província estão bem designados ; to-
cam ao S. em 26** 3(y na costa do districto de Lourenço Marques, próxi-
mo á colónia de Porto Natal, eao N. marcam-seno Cabo Delgado em 10^
41' de latitude N. *.
• A extensão da costa de Moçambique é calculada em mais de 20:000
Idlometros e para o interior é superior a 800.
O logar mais recuado que occupámos é o Zumbo ^ ponto muito im-
portante em virtude da sua posição central.
As fronteiras de Moçambique, no interior, estão mal determinadas, e
1 Referímo-nos aos Ensaios sobre a estatística das possessões portuguezas, de
Francisco M. Bordalo, e á Memoria sobre Lourenço Marques, do visconde de Paiva
Manso. São as latitudes que nos parecem mais exactas. Devemos lembrar comtudo
qae no diccioDario de Larousse se toma a latitude N. de 10° 26'.
Quando estávamos a rever as provas d*este capitulo^ veiu-nos às mãos um jor-
nal, onde se lé o segunite :
cPelo tratado com a Inglaterra foi reconhecido o nosso direito aos territórios
comprehendídos entre o Gabo Delgado e a bahía de Lourenço Marques. Pelo tra-
tado celebrado em 1828 entre o governador de Moçambique, Sebastião Xavier Bo-
telho, e o Iman de Mascate, marcaram-se os mesmos limites. Não ha estabelecimen-
to algum portuguez em Tungue; existe apenas ali uma povoação de árabes e pre-
tos sujeitos a uma auctoridade local, quasi independente.
«Em 1852 permittiu-se ao Iman de Mascate que estabelecesse ali uma alfan-
dega, mas a concessão foi annullada em consequência de reclamações portuguezas.
«Sendo governador do Ibo o tenente Jeronymo Homero, foi mandada a Tungue
a escuna de guerra Quatro de Abril, para capturar o palhabote francez Delphina,
que ali se achava fazendo contrabando, sem que houvesse reclamação alguma a si-
milhante respeito, o que prova como era considerada a nossa jurisdicção n*aquelle
ponto.
cA bahia de Tungue é formada ao N. pelo Cabo Delgado e ao S. pela ponta de
Sanga; a embocadura é dividida em duas pela ilha de Ticoma. A entrada do N. é
accessivel a toda a hora e com qualquer tempo para navios de todas as lotações. A
bahia^é abrigada e segura, tendo de fundo cerca de 33 metros até 8,8 de areia.
Desemboca n'ella o rio Meninquene que tem boa agua doce.»
* Carlos Vogel, no seu livro Le Portugal et ses colonies, diz que lhe parece que
não ha distancia superior a 500 kilometros da costa para o interior, se se attender
à distancia de Tete a Quelimane.
É indispensável rectificar estas e outras afirmativas, para não se dar curso a
taes informações, que não assentam em factos nem em cálculos positivos.
248
nós indicamos as que se acham designadas no diccíonario de Larousso,
não só com o fim de as tornarmos conhecidas, mas também porque de-
sejámos mostrar a injustiça que nos fazem, escrevendo em 1874 infor-
mações dadas em 1860, como se na provincia de Moçambique não hou-
vesse progresso, por mais moroso que fosse.
Segundo Larousse, os limites d'esta provincia são os seguintes :
N. Zanzibar, em Gabo Delgado; E. canal de Moçambique; S. Gafraria,
em Lourenço Marques ; 0. não estão bem definidos.
A provincia de Moçambique tem realmente a E. o canal de Moçambi-
que no mar das índias, que banha a costa, onde não ha porto algmn que
não nos pertença. £ verdade que os limites centraes não estão bem defi«-
nidos, sendo hypothetico tudo o que se disser n'este sentido. Dizer-se
também^ que as fronteiras no interior correspondem a uma cordilhei-
ra, que, correndo do N. ao S., começa no paiz dos cafres e acaba nas
montanhas da Lua, é deixar o problema insolúvel, se não mais compli*
cado.
Não são inúteis estas indagações^ se bem que não possa apurar-se a
verdade, mas servem para mostrar a urgência que temos de se nomear
uma commissão que se encarregue de estudar esta importante questão.
Não é somente por este lado que insistiremos no assumpto, tendo que
evitar a extensão das nossas considerações, que podem tornar-se fasti-
diosas, mas não desnecessárias. É preciso pois observar que se estas
ponderações são indifferentes para muitos, não o são nem o podem ser
para aquelles que téem que dizer a verdade em presença das observações
feitas directamente, ou compulsando documentos e procurando informa-
ções fidedignas, a fim de auxiliar os que desejam promover a emigração
e colonisação das possessões portuguezas.
O que é sobretudo indispensável é procurar por todos os modos pos-
síveis a propagação de noticias exactas sobre os melhoramentos que se
vão realisando, evitando por esta forma a repetição contínua do que disse
um escriptor em epochas mais remotas, verdadeiro aliás na occasião em
que elle o escreveu, mas que se não deve citar senão como formula de
comparação.
Referindo-se ás informações de Garlos Vogel', embora se não cite o
auctor, diz-se no diccíonario de Larousse que a provincia de Moçam-
bique não é senão um encargo ruinoso para Portugal, e que ali não
possuímos mais do que vastos territórios a sustentar, indígenas bèliico-
1 Dlccionario Larousse. São realmente resumidas as informações que ali se dão
a respeito da província.
2 Le Portugal et ses colonies, par Charles Vogel, 1860, pag. 365.
249
SOS a combater, uma extensa costa a vigiar, e, com todas estas desvan-
tagens, uma diminutíssima população industriosa e civilisada ; e para co-
lonisar similhante território, diz-se mais, é preciso dar protecção ao com-
mercio por meio das armas.
São realmente injustas estas apreciações, mas não menos injustas fo-*
ram as informações dadas pelo dr. Livingstone com respeito a esta pos-
sessão; e comtudo, apesar da triumphante resposta que em 1867 Ibe
deu D. José de Lacerda, não vemos a verdade restabelecida nem a jus-
tiça respeitada.
0 que se torna também digno de reparo é o modo cavalheiroso com
que se falia d'este explorador aliás eminentíssimo, mas quasi sempre in-
justo para comnosco^
A província de Moçambique compõe-se de oito districtos, contando
do S. para o N.; a saber: Lourenço Marques, Inhambane, Sofalla, Que-
limane, Tete, Angoche, Moçambique e Cabo Delgado. A estes districtos
estão subordinados differentes commandos, feiras e presídios, perten-
cendo ao districto de Tete, no interior, o presidio do Zumbo e a feira
de Manica, pontos estes mais afastados da costa.
Não marcámos os limites de cada um doestes districtos, porque só se
poderia fazer em trabalho especial. Tratámos unicamente dos assumptos
sob um ponto de vista geral, elevando-nos por assim dizer a um logar
mais alto de onde se avista toda a província. Ê o meio mais simples de
observar as suas relações com os estados que lhe ficam próximos, e de
pôr em relevo o que n'ella ha de mais notável.
Ninguém ignora que urge tratar da colonisação doesta provincial, a cujo
respeito disse o sr. visconde de Arriaga':
«A parte mais rica das possessões de Portugal é o Zambeze.
tAlí existiram dois conventos de frades; ali houve grandes feiras só
para oiro em pó e marfim, Manica e Zumbo; ali existem ricas minas de
carvão de pedra; ali ha uma riqueza immensa a explorar. Quem conhece
a geograpWa de Africa, quem conhece o porto de Aden, que serve de in-
terposto á índia e á Europa, quem sabe que aquelle porto está sempre
cheio de navios, quem sabe o numero de vapores que ali tocam para se
abastecer de carvão, quem conhece que temos ali as minas de carvão de
1 Nas sessões da camará dos senhores deputados de 15, 16 e 17 de fevereiro
de 1877, tratando de combater as informações de Cameron e Young, referiu-se o sr.
visconde da Arriaga com a maior deferência á memoria de Livingstone. Fez-lhe jus-
tiça, é verdade, como intrépido explorador, mas como escriptor é que entendemos
ser Josfa e fundamentada a nossa queixa.
< Diário da camará dos senhores deputados, sessão de 15 de fevereiro de 1877,
pag. 314. '
aso
pedra da melhor qualidade*, é levado a julgar que só isto é motivo mais
que sufficiente para que o caminho de ferro se faça.
<E para que se uao diga que eu estou fallaVido superficialmente n'este
negocio, vou citar um facto passado com o governador, o general Mari-
' nho, e com o seu secretario, que era o meu irmão António Júlio. EUes
mandaram ir uns poucos de caixões de carvão de pedra ao governador de
Bombaim para que elle visse a qualidade de carvão das minas que ha\ia
na província de Moçambique, e elle disse-lhes: cO carvão é excellente;
comprámos o carvão de pedra, mandámos os vapores que forem neces-
sários para ò seu transporte até um bom porto de embarque, e vós pagaes
esses vapores com o preço do mesmo carvão de pedra.»
A exploração e colonisação de Moçambique demandam certamente
muito cuidado.
Em 1860 dizia Carlos Yogel o seguinte :
<A necessidade de se tomarem medidas radicaes para impedir a ruina
total da província, é perfeitamente reconhecida pelo governo portuguez;
mas a situação financeira paralysa-a na applicação dispendiosa dos meios
que devem ser empregados para tirar a província do abatimento em que
se acha e reanimar o desenvolvimento de seus recursos naluraes.
tEm taes circumstancias parece que uma companhia bem organisada,
revestida de largos poderes e dispondo de largos recursos, seria a única
capaz de emprehender a exploração de Moçambique. Ha alguns annos,
alguns capitalistas e homens de influencia apresentaram ao governo pro-
postas n'este sentido. Pediram a concessão de vastos terrenos, o mono-
pólio da exploração de minas e de rios auríferos, com o direito de cortar
madeiras, e pediram também direitos políticos por noventa e nove an-
nos, simílhantes aos da antiga companhia ingleza das índias.»
Não teve andamento este projecto, observa Carlos Vogel, o que nos
parece fagil de prever. Não augurámos bem de taes companhias, nem
lhes são propícios os tempos.
Actualmente fez-se a concessão de terrenos para a plantação da pa-
poula, e tem-se tentado formar uma ou outra colónia, mas não tem ha-
vido methodo nem estudos preliminares devidamente feitos.
Procurámos obter informações fidedignas de algumas pessoas que
têem estado em Moçambique ou ali foram em serviço, e a maior parte
d'ellas opta por que se organisem companhias de exploração. N'este sen-
tido offereceram-nos o seguinte esboço que publicámos não só por deferen-
1 Com respeito ao carvão de pedra fizeram-se experiências, cujo resultado
nâo foi tão satisfactorio como se esperava. Segundo pessoa que nos merece inteiro
credito, a exploração doeste minério demanda muitas despezas.
251
cia á pessoa que o fez, mas por ser um alvitre que pôde esclarecer a opi-
ni5o d^aquelles que desejam se organisem companhias de exploração.
Eis o parecer a que nos referimos :
tDe todas as províncias ultramarinas a que me parece mais própria
para se ensaiar a colonisação europêa, applicada a uma grande empreza
agrícola, é a de Moçambique^ por ser aquella que ofiferece maiores re-
cursos, pela variedade e excellencia dos seus productos, pela proximi-
dade em que as terras mais férteis se acham dos portos do mar, pela fa-
cilidade de obter operários e gente para o trabalho rural, e pela diversi-
dade de mercados de consumo que lhe ficam não muito distantes.
«As culturas mais ricas dos trópicos, taes como as do café, tabaco e
canna de assucar, podem com vantagem ser exploradas em todo o litto- .
ral da pro\incia e nas margens do Zambeze. Julgo, porém, que as pri-
meiras tentativas devem ser feitas no continente fronteiro á capital em que
est3o as duas freguezias do Mossuril e da Cabaceira. Gomo rasões de
preferencia indico as seguintes :
« 1.° O porto de Moçambique, depois do de Lourenço Marques, é o de
mais fácil accesso em toda a costa ;
«2.^ No continente ha muitas fazendas organisadas, que produzem já
vários géneros de valor, que téem algumas boas casas de habitação e of-
ficinas de lavoura, e são cortadas por excellentes caminhos;
«3*° As duas freguezias estão debaixo das vistas immediatas das pri-
meiras auctoridades da província e quasi na sede de uma d^s comarcas
do districto judicial;
f 4.° A península, pela sua disposição, presta-se a ser facilmente de-
fendida de qualquer aggressão dos naturaes, ou do lado dos cafres da
mourama, ou dos árabes, dos checados confinantes de Sancul e Quítan-
gonha ;
«S.° A 30 kilometros de distancia, atravessando riquíssimas florestas,
encontra-se a montanha da Meza, cuja fertilidade, abundância de agua e
bons ares a tornam, se não me engano, de grande importância para base,
n'um futuro mais ou menos próximo, de larga colonisação europêa ;
6.^ Estando as duas freguezias tão próximas da capital, mais fácil
será ao governo dar as providencias necessárias para se obter a segu-
rança da propriedade, auxílios médicos e o estabelecimento de es-
colas.
€N'estes termos não creio que seja impossível organisar uma socie-
dade com fundos bastantes para fazer acquisíção de terras, que em Mo-
çambique estão por preço infimo, e adiantar aos colonos idos de Portu-
gal, da Madeira ou dos Açores, capitães para a exploração agrícola, a
qual seria feita de parceria entre a empreza e os colonos.
252
«De Goa lambem podem ir operários, e gente muito própria para
guardas das fazendas, agricultores, etc.
tO governo n5o duvidaria por ventura contrahir as seguintes obriga-
ções :
«1.^ Conservar nas freguezias do Mussuril e da Cabaceira:
«I. Dois parocbos de reconhecida capacidade, naturaes da Europa,
para leccionar gratuitamente as disciplinas de instrucçSo primaria^ ;
<II. Um facultativo de algumas das escolas do reino, para prestar
n'uma enfermaria própria os auxílios médicos gratuitos de que os colo-
nos ou trabalhadores e operários da empreza carecerem ;
«III. Um pbarmaceutico devidamente habilitado para manipular os
medicamentos da pharmacia adjunta á enfermaria ;
<IV. Quatro enfermeiros e praticantes de pharmacia para auxiliarçm
o facultativo e o pbarmaceutico ;
<V. Um veterinário de Lisboa, do Brazil ou de Goa para tratamento
dos gados.
<2.° Transportar, por conta da fazenda, para Moçambique colonos com
suas famílias, trabalhadores ruraes e homens de ofiQcios e sipaes da ín-
dia para guardas ;
<3.° Transportar também, por conta da fazenda publica de Moçambi-
que, as macbinas, utensílios, ferramentas e bagagens pertencentes á em-
preza, aos colonos e suas famílias;
<4.° Isentar de impostos directos, durante quinze annos, os productos
da exploração feita pela empreza.
tà empreza adiantaria ao governo, mediante um juro módico, com
hypotheca no rendimento da alfandega, os capitães necessários para a
construcção de um quartel, escolas, enfermaria, botica e para provimento
dos moveis e utensílios dos mesmos estabelecimentos e fornecimento da
enfermaria e pharmacia.
«As obrigações da empreza para com os colonos seriam as seguintes:
cl."^ Cada colono e cada pessoa de sua família, receberia gratuita-
mente um leito completo, um cobertor de 13, um capote de panno ou
chalé de lã, segundo o sexo, e a roupa e calçado que parecesse indis-
pensável;
«2."^ Alimentação gratuita durante um anno, tanto para os colonos
como para suas famílias ;
«3.° Facultar-lhes-ia os meios para construírem as suas habitações,
1 Ha uma disposição determinando que os parochos ensinem instrucçao pri-
maria e não sabemos se algumas outras disciplinas, peio que devem perceber ama
gratificação. A questão é que a lei se cumpra.
253
6 fornecer-lhes-ía os aniiuaes domésticos, instrumentos agrícolas, utensí-
lios de cozinha, sementes e armamento;
«4.® Também lhes facilitaria a acquisiçSo de braços mediante o salá-
rio que se ajustasse ;
c5.° Emprestaria aos colonos o dinheiro indispensável para o gran-
geio das suas terras, mediante um juro rasoavel e ajuste particular.
< As obrigações dos colonos para com a empreza seriam :
cl.° Agricultar por sua própria conta, e assiduamente, durante dez
annos, as terras que lhes fossem distribuídas, pagando á empreza por oc-
casião das colheitas, a contar do segundo anno em diante, uma parte do
produclo, fructo das suas terras;
«2.** Pagar por meio de prestações annuaes, por occasião da colheita,
em dinheiro ou em géneros, até final amortisaçao, a importância dos ma-
teriaes empregados na construcção das casas, na compra dos animaes
domésticos, instrumentos de lavoura, utensílios e armamento ;
«3.° Ter o armamento sempre em bom estado, concorrendo para a
policia e segurança das terras da empreza quando seja necessário ;
c4.° Mandar os^ filhos á escola e facilitar a educação dos trabalhadores
indigenas ;
tS.® Preferir sempre a empreza, em igualdade de preços, para a venda
dos productos das suas lavouras ;
t6.® Conservar limpos os caminhos que passarem pelas suas terras;
«7.® Não derrubar arvore alguma sem permissão da empreza.
cPor esta forma a associação funccíonaría como banco agrícola, adian-
tando os capitães necessários para serem explorados os terrenos de re^
conhecida fertilidade.
cComo empreza industrial, transformando a matéria prima fornecida
pelos colonos em valiosos géneros de commercio, como óleos, fibras, ca-
fé, tabaco, assucar, etc.
«Como negociante, levando os productos de sua exploração aos mer-
cados consumidores e ministrando aos colonos, empregados e trabalha-
dores, as mercadorias da Europa, para a venda das quaes não ha estabe-
lecimento algum commercial no continente fronteiro á cidade.»
A costa oriental da Africa portugueza é realmente muito extensa. Os
seus portos abertos á navegação e ao commercio com occupação portu-
gueza e fiscalisação aduaneira, são Lourenço Marques, Inhambane, ilha
pequena do Bazaruto, ilha de Chiloane, Sofala, Quilimane, Angoche, Mo-
çambique e ilha do Ibo. Outros ha ainda em que poderiam entrar sent
difficuldade navios de qualquer tonelagem, e onde o commercio e a agri-
cultura se desenvolveriam de uma maneira prodigiosa pela facilidade
da entrada e segurança de ancoradouro, e pela fertilidade do ubérrimo
254
solo que lhe fica adjacente» o qual reúne á boa disposição dos seus im-
mansos terrenos, cercados de pequenos rios, todas as boas condições to-
pographicas e atè climatéricas ^ necessárias para colonisaçSo em grande
escala. No entretanto nunca foram nem estão actualmente occupados por
auctoridades portuguezas nem téem fiscalisação aduaneira, permittindo-se
comtudo nas alfandegas próximas, despacho a pequenas embarcações de
cabotagem que ali vão fazer permutações de géneros com os habitantes
pretos do paiz.
Taes portos são, seguindo a ordem da nomenclatura dos já descri-
ptos, do S. para o N., os de Inhamissengo, Barra Catharina (Bocas do
Zambeze), Macuzi, Quizungo, ao S. eao N. de Quelimane, e próximo d'elle
a bella e grandiosa bahia do Mocambo, e a bahia da Gonducia, a primeira
ao S. e a segunda ao N. de Moçambique, as quaes estão tão próximas que
se avistam ; e ainda os de Fernão Velloso, Porto Velhaco, a formosa bahia
de Pemba, e outros nas differentes ilhas habitadas de Gabo Delgado de
que é capital o Ibo. Alguns d'esles portos não são accessiveis a navios que
demandem mais de 4 metros de agua; comtudo era de toda a convenien-
cia a sua occupação, não só porque com ella se desenvolveria a civilisa-
ção tão necessária a povos que estão no estado primitivo, como porque
asseguraria melhor o direito portuguez áquellas tão invejadas paragens,
faciUtaria as transacções commerciaes muito custosas de fazer-se hoje pe-
los meios deficientes por que se effectuam, evitaria os riscos de um
transito longo e cheio de perigos que encarece e difiGiculta a marcha bené-
fica da civilisação, pelo primeiro elemento por que ella se começa a pro-
pagar — o commercio — que impõe a necessidade de consumir, obrigando
a procurar o centro civilisador, em contacto com o qual adquirem os povos
necessidades que os obriga a procurar o modo de as satisfazer com o seu
trabalho por meio da industria e agricultura que completamente desconhe-
cem, e, emfím, teriamos outros tantos centros onde a actividade humana
procuraria desenvolver os seus recursos intellectuaes, alargando a área
dos seus conhecimentos em beneficio de uma causa santa, como é a pro-
pagação da civilisação em povos que vivem no maior estado de rudeza.
Ilha de Moçambique^.— kWhdí de Moçambique, que a historia diz ter
sido visitada em 1487 pelos intrépidos viajantes João Peres da Covilhã e
1 Digo assim, e affirmo, observa o sr. Francisco dos Santos a quem devamos
estas informações, porque os factos o comprovam. No entretanto nao é isto (acl*e^
ditado por muita gente, que sobre a salubridade do paiz tem idéas contrarias a estas.
2 A descrípçao da ilha e districto de Moçambique foi-nos offerecida da melhor
vontade pelo sr. José Zeferino Xavier Alves, que não duvidou tamb^n rever o sen
trabalho, prestando-lhe nós toda a nossa coadjuvação.
255
Affonso de Paiva, quando atravessaram o Egypto e a Abyssinia,' e depois
por Vasco da Gama em 1498, e por Pedro Alvares Cabral em 1300, foi
deflnitivamenle occupada pelos porluguezes em 1506. É terra baixa, e
tem 2^,5 de comprimento, {^,"-2 de largura e 5 kilomelros de circumfe-
rencia. Está situada em IS"" 1' de latitude S. e 49"^ 45' de longitude E.
de Lisboa.
Não tivemos ainda occasião de visitar as nossas terras da Africa oriental, e,
visto termos de indicar as moléstias endémicas observadas nas principaes localida-
des d*aquella provincia, cumpre- nos também dar algumas informações a respeito
d*essas localidades e do estado em que ellas se encontram actualmente.
O medico hygienista, como temos dito, tem obrigação de cuidar primeiro que
lado de estudar a natureza do solo cuja salubridade se propõe conhecer. Deve ser
este na verdade o seu principal empenho.
Estuda-se a estructura do corpo e as funcções orgânicas para melhor se ava-
liarem as doenças e applicar o remédio : examinam-se os terrenos e as suas produc-
ções para com mais segurança se descobrir a intensidade das endemias. A locali-
dade e a doença endémica, diz o sábio Dutroulau^ são idéas congéneres.
Fizemos, pois, quanto em nós coube para dar uma breve noticia a respeito das
nossas colónias em geral, procurando informações entre as pessoas que nos mere-
cem toda a conGança, sendo uma d'elias o sr. José Zeferino Xavier Alves, que
conhece não só a provincia de Moçambique, mas também quasi todas as nossas
possessões do ultramar.
Esteve na estação de Macau, sendo oíllcial de fazenda da armada, cerca de
dezeseis mezes, na de Moçambique cinco annos, e em Goa treze mezes. Visitou Can-
tão, Hong Kong, Rio de Janeiro, Table Bay no Cabo de Boa Esperança, Bombaim
Bacano, Chaul e outras colónias estrangeiras, Faial, e por duas vezes Cabo Verde,
Loanda, Benguella e Mossamedes.
N'estas circumstancias não faltam ao sr. Alves os elementos necessários para
avaliar as nossas colónias em gorai e muito especialmente a provincia de Moçam-
bique, porque, alem do tempo em que ali residiu durante a estação a que tinha de
satisfazer como official de fazenda da armada, ali permaneceu mais vinte e um annos,
exercendo importantes cargos.
Foi offlcial maior da secretaria do governo, escrivão deputado da junta da fa-
zenda, director da alfandega, membro do conselho do governo da provincia, que
por duas vezes assumiu a governação publica na ausência do governador geral, e
presidente da camará municipal.
Os serviços que o sr. Alves prestou á provinciano Moçambique nas dififerentes
commissões de que foi encarregado foram tomados em consideração pelo governo de
Sua Magestade, que o agraciou com o habito da Conceição e commenda de Christo.
Alem d*isso o sr. Alves obteve menções honrosas nas exposições de Paris e
Porto, onde mandou alguns productos de uma sua propriedade. Em taes circum-
stancias não lhe falta de certo a competência, e a descripção da ilha e do districto
de Moçambique são prova evidente do que avançámos. É com prazer que vemos
publicados os meios a que é preciso recorrer para se colonisar esta provincia. Es-
tamos de accordo com o sr. Alves, e o seu trabalho, que examinámos com todo o
cuidado, representa mais um serviço prestado á província, onde casou e passou o
melhor tempo da sua vida.
356
É separada do continente por um canal que na sua maior largura,
entre a ilha e Mossuril, tem cerca de 30 kilometros.
Na ponta da ilha, á entrada da barra, está a fortaleza de S. Sebastião,
começada em ^ 545 pelo vice-rei da índia D. João de Castro.
A que fundou Affonso de Albuquerque foi abandonada por não estar
em logar tão importante. Alguns annos depois foi esta concedida aos
jesuítas para abi edificarem o seu coUegio, que é actualmente o palácio
do governo.
Em seguida á fortaleza está o campo de S. Gabriel, ou esplanada da
mesma fortaleza com três compridas ruas, cobertas de frondoso arvore-
do, desde a porta da fortaleza até á entrada da pequena mas bonita cida-
de de S. Sebastião S a qual apresenta hoje ao viajante, que demanda o
porto, alegre perspectiva, devida aos muitos melhoramentos que n'estes
últimos tempos lhe tem sido feitos ^
É a cidade dividida em dois bairros, o de S. Domingos e do Conce-
lho, comprehendendo estes vinte e quatro ruas, vinte e uma travessas,
sete largos, duas estradas e um campo; e o pequeno bairro da Moran-
gonha, é habitado quasi exclusivamente por libertos K
As principaes ruas são as do Thesouro, do Concelho, do Arsenal, de
S. Domingos, da Fidelidade, do Celleiro, do Hospital, Formosa e do
Conselheiro Leal \ que a gravura representa, a qual foi inaugurada aos
28 de janeiro de 1870 pela camará municipal, á memoria do governa-,
dor geral Fernando da Costa Leal, fallecido aos 29 de dezembro de 1869.
1 Não nos sendo possível apresentar a vista geral da cidade, damos a de uma
pequena parte do lado do porto.
O campanário e o tecto do templo que se vô é da sé matriz.
A ultima casa grande que se nota pertenceu ao deputado Theodoríco José de
Abranches, e servia em 1870 de hospital provisório de coléricos.
Chamam-se pangaios aos barcos grandes que estão encalhados, sem mastros, os
quaes nas monções navegam entre a índia e Moçambique.
Veja a gravura que diz Vista de uma parte da cidade do lado do porto etUre a
praia da alfandega até á praia de S. João.
2 Grande parte dos melhoramentos realisados são devidos á eommissao muni-
cipal que funccionou no biennio de 1873 a 1874, a qual era composta dos srs. A. J.
Machado, facultativo; F. M. Gomes Ferreira, negociante; F. P. Carvalho, professor;
J.y. D. Mascarenhas, proprietário; c José Zeferino Xavier Alves, que foi o presi-
dente d'esta eommissao.
3 A cidade tem cinco edifícios religiosos, um hospital, dez edifícios civis, um
mercado e um club, denominado Recreativo Regeneração.
4 Homenagem sincera e insuspeita de respeitosa gratidão dos habitantes da
capital àquelle governador.
A rua^ até então, chamava- se travessa do Ó; a entrada pelo lado de O. era tão
estreita que mal podia passar um carro, em consequência de existir ali uma an*
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357
Das ruas mais estreitas mencionaremos a chamada dos Banianes» na
qual ainda assim pôde passar um carro sem offender quem transita pe-
los lados ^
Das travessas citaremos como principaes as da Cadeia, do Hospital,
da Saúde e dos Fornos ; as duas ultimas, que eram intransitáveis, são
hoje as mais bellas, devido á commissão municipal de 1874.
Os largos mais notáveis s3o o da UniSo* e o de S. Paulo 3, represen-
tados nas gravuras ; este, que está em frente do palácio do governo, é um
bello passeio adornado de assentos de madeira com mu elegante coreto no
centro, onde a musica do batalhSo de caçadores n.® 1 toca ás quintas
feiras e aos domingos, attrahindo áquelle local numerosa concorrência.
tiqoissima loja edificada até meio da ma. Os moradores da travessa por vezes
tentaram expropríal-a, mas não o poderam conseguir; até que o governador Leal,
com a soa proverbial energia, no principio do seu governo, ordenou a expropria-
ção, resolvendo todos os embaraços para ^la se effectoar, e facilitou à camará a
conclusão do trabalho de reforma e alinhamento. O rebaixamento e arfoorisação foi
depois a expensas do sr. Alves, proprietário da casa grande que se vé a L.
A janella que se devisa ao fundo da ma ao O. é da alfandega.
Veja-se a gravura Ana Nova do Conselheiro Leal, em 1875.
1 I>ata do estabelecimento dos banianes, súbditos portuguezes, naturaes de Diu,
em 1687, os quaes logo que chegaram se constituíram em companhia, monopoli-
sando o commereio. Ultimamente os estrangeiros batias, naturaes de Caxe, obti-
veram igual permissão, e, como agentes de boas casas de Bombaim e de Caxe,
monopolisaram o conmiercio d'aquelles, auferindo grandes lucros com a mina dos
outros, até que finalmente, com a abertura dos portos e estabelecimento das casas
commereiaes flrancezas, também para elles acabou o monopólio, e actualmente só
commereeiamcom as fornidas que a estes compram e com as que lhes vem da ín-
dia, vendendo-as por grosso e a retalho.
É valioso o negocio que diariamente se faz n'esta ma em fazendas pró-
prias do sertão, e em producções do paiz para exportação; são notáveis as im-
portantes partidas de pontas de marfim, cavallo marinho e abada, que nos me-
zes de maio e setembro (denominados da monção para a índia) se vêem esten-
didas ao longo da ma para classificar, escolher e marcar para, depois da entrada
na alfandega e pagamento de direitos, seguirem para os portos da índia. Para se
avaliar o commereio d*esta gente, bastará dizer que ha lojas que annuabnente
téem pago de direitos á alfandega cerca de 2O:00OM0O réis, mais da quarta parte
do rendimento. Alguns batias estão natnralisados cidadãos portuguezes. Em outro
tempo houve bastantes parses estabelecidos, súbditos portuguezes ; hoje ha muito
poucos.
2 Veja-se a gravura designada Largo da União, vulgo do Pelourinho.
O grande edificio que se divisa ao longe é o hospital militar e civil, que foi
convento de S. João de Deus, demolido ha pouco. Vé-se também a capella de Nossa
Senhora da Saúde, e o cemitério.
' Veja-se a gravura designada ÍJirgo de S, Paulo, em 1875.
O edificio a SO. é a alfandega.
i7
3S8
O largo a i ponte tío úkmmim com eleganias csmàiaircm de petró-
leo, melhoramento edle devido ao fallecido governador geral José Ro«
drigues Coelho do Amaral.
0 campo de 8. Gabriel é uma liada alameda que ae prolonga com as
ruas de S. Dcmiingoa e S. Paulo e finda na fortaleza. Foi n'est6 campo
que a 23 de junho de Í86Q teve logar a bengSo e juramento da hm-
deira do batalhão expedicionário da Zambaua^
A cidade tem bons edíficioa ; algumas ruas e travessas sSo bastante
largas e regulares» e em quasi todas ha passeios lateraes de argamassa.
Oa largos, a Praia Grande e da Boa Vista, e as ruas da Missauga ató ao
mercado do peixe e d'e8te até ao caminho da ponta da ilha sio orlados de
arvoredo.
Fortificações. — Em outro tempo era a ilha defendida pela fortaleza
de S. Sebastião que a domina*; pelo forte de S. Lourenço', construído em
um ilhéu afastado d'ella uns 33 metros do lado do S., e pelo fortim dci
Santo António, edificado no angulo que forma a iUia do lado de E. Tem três
magnificas cisternas. & o quartel do batalhão da caçadores o.'' 1^.
Os fortes de S. Lourenço e Santo António estão desartilhados : o pri-
meiro, que está bem conservado, foi em 1888 convenientemente arranjado
no interior para arrecadação da pólvora dos particulares, a cargo da al-
fandega ; e o segundo é o quartel de veteranos.
Pariu ou futkkadouro.—È o melhor e o mm seguro de Ioda a
costa, e illuminado como está, com u» pharol na iHia de S. Joi^
1 Na manhã do áia desigDada para a ben^ da baadeim havía-ae araiade a
mala aonpríaMBto da alaseda o tnãr eaupal da exj^iedi^^ earres^oadeada jas-
tamente ás minas de uma antiga igreja que em outro twaj^ aH houve».
De(KM8 da revista que o governador Feraando da CofiU Leal pasaou ao hata-
Ihio, eomeçou a missa, ae&do eetebrante o capellâo do mesmo corpo. Legoqae esta
ceranoaia fladoo, o govoraador, empunhando a bandeira peia haste, «pproyimwi ac
do aUar^ e ali a bensen o capellão, fira bordada com doHcâdeia e perfeição e feila
da teMaios eeloios.
Rn seguida honre pequeaa pratíea do eapeUao, daado a toda a eipedi^ a
bflBçio a^MMtoHca que Uie havia «landado o santiaumo podre Pia IX. A força for-
mou depois em quadrado singelo oom a frente para o iolerior, para o«de entrou o
gevernador eoai a baodeira, que eotte^Mi, dirigindo a^ expedicionários uma ele-
gante aHocnçiD no ade do seu juramenta
2 Teve iOO bocas de fogo de bronze; hoje as qae ha sâo de ferro.
3 Começou a construcçao em iS95. No ilhéu ha casa para a guarda e uma cis-
terna.
4 É mau o quartel, quente, húmido e pouco ventilada As paredes posteriores
das casernas sâo formadas pelas muralhas da fortaleza por onde se inSltra a agua
das chuvas durante a invernada. Eis uma das causas nocivas à saúde dos sol-
dados.
289
(Goa)S os pbarolias aa Cabaceiras na fortaleza de S. Sebastião, e com
as baiisas que tem, póde^ae ali entrar de noite sem risco.
Ab boias-balizas estio coUocadas na entrada do porto do seguinte modo :
OmoI do norte. — Uma bóia cyiiadríca vermelha na ponta NE. da ilha
de S« iotgid (Goa) ;
Usia bóia eylindrica vermelha oa ponta do baixo de S. Sebastião,
janta á fortaleaa ;
Duas boías cylindrieas postas nas duas pontas mais salientes do baixo
da Caba€6ira.
Cbnãl áo ^.— Uma bóia eytiodrica vermelha na ponta NE. da ilha
de S. Thiago (Sena) ;
UjBa brâi eyUodrieà negra ao SO. da ilha de S. Jorge (Goa).
As bóias estio fiindeadas a^>roximadameDtâ em 7 metros de fundo na
baíxMsar das maiores marés, e são pintadas de vermelho as que ficam
a BB., e pretas a EB. quando se entra no porto.
Palaeiú 4o geverm.—^^ edifício, residência do governador geral,
pertemea ao coUegio de S. Francisco Xavier, dos padres jesuitas, fundado
nos priDcipios do século xvii, depois da extincção da compaidiia de Jesus*
Foi recon^míáQ, aforraoseado e adaptado para palácio do governo pelo
capitio general D« Diogo de Sousa ; e depois quasi todos os governado*
res lhe téen feito algons melhoramentos, sendo o mais importante o que
lhe fesE o fiattecklo AmaraU que transferiu para o pavimento inferior, de-
pois da eoBveaieQtiBinente arranjado, a secretaria, a repartição militar e
o arebívo^ e embeite»m es aposentos superiores, a fim de o tomar pró-
prio da primeira anctondade da província, e poder receber sem des-
doBTO 66 MlffiB^eíros de díiliiicçio que sauitas vezes visitam aquele
porto. O ediSeio tem treze janellas éò frmte, dois mirantes, boas cister-
nas e magnifica horta com boa uva Terral.
Mfmiâe§a. — A constmcçio d*esta repartição foi ordenada em 1720.
Desde 1593 até áqiràla epoeba os direitos er«n cobrados a bordo dos
próprios navios na rasão de 0 por ceoto de entrada, e igual quantia de
saída, sendo IHrre a qualquer e resgate de oiro e prata de SofaUa, pagando
para a faseada publica um quinto da sua importância.
No reinado da Senhora D. Maria I, sendo governador e capitão general
António Manoel de Mdk) e Castro, foi a actual alfandega reedificada no
logar da antiga, coqk) se deprebende da inscripção que se vô por cima da
porta do lado do largo de S. Paulo, que é a da entrada.
O edifício é suSicientemenle forte e tem bons armazéns ; a sala da ^
í Começou a funceionar em 18 de maio de 1876, Junlo ao pharol fez-se uma
cisterna.
260
abertura e verificação é vasta e lageada, e os armazéns sao argamaçados.
O movimento commercial tem sido tal desde 1853, em que se abriram os
portos ao commercío e se estabeleceram algumas casas commerclaes es-
trangeiras, como se vé das estatísticas, que não obstante os importantes
melhoramentos feitos no edifício em 1863, que quasi lhe daplicaram o
espaço, com um sobrado de serventia interior para o qual sio elevados
os volumes por dois guinchos convenientemente collocados em forma de
guindaste, ainda assim não satisfaz e carece de ser augmentado.
Outras bemfeitorias e aformoseamentos de não menor valia se lhe fize-
ram n*essa occasião, como se vê do relatório ^ do director J. Z. X. Alves,
sob cuja direcção a obra foi feita, o qual mandou vir de Lisboa, com
auctorisação do governador Tavares de Almeida, um guindaste, seis car-
rinhos para o serviço interno, quatro rodas de aba para a zorra conduzir
as mercadorias para os armazéns pelo rail que devia ser collocado no
centro da ponte, e dois guinchos.
0 governador geral Fernando da Costa Leal, logoque tomou posse do
governo e visitou a alfandega, conheceu a necessidade de a ampliar ou
mandar construir outra em melhores condições, e para isso tratou da ex-
propriação de uma porção de casebres que havia á entrada da rua de S.
JPaulo, formando o largo do palácio, e que eram propriedade quasi exclu-
siva de mahometanos, quando a sua principal residência era na Cabaceira
Pequena. A maior parte d'estes casebres tinha chegado a tal estado de
ruina pelo lado do mar, que causavam impressão desagradável ao via-
jante que demandava o porto, porque se lhe afigurava á primeira vista
ser eíTeito de um terremoto. Effectuada a expropriação e levantada a
planta da nova alfandega, começaram as demolições, fallecendo o gover-
nador pouco depois sem ter a satisfação de lançar a primeira pedra nos
alicerces da obra que ordenou.
Os governos interinos que lhe succederam continuaram a demolição,
sendo lançados os alicerces da nova alfandega pelo governador geral José
Rodrigues Coelho do Amaral, depois de algumas alterações por elle fei-
tas na primitiva planta, chegando as paredes interiores e exteriores a
mais de um 1 metro de altura; porém, com o seu fallecimento a obra
parou, e a final foi mandada demolir pelo actual governador, arborisan-
do-se e ajardinando-se o terreno onde se havia começado a edificação. Con-
tinua a velha alfandega a servir de deposito e no mesmo estado, com
a falta das commodidades que o commercio exige, e com os terraços de
alguns armazéns especados e em perspectiva de desabamento.
. Ponte de alfandega. — Em frente do palácio do governo está a ma-
1 Boletim do governo n.° 46 de 186:].
gestosa ponte, denominada da alfandega» assente sobre um arco e onze
pegões de alvenaria, sobre os quaes se firma o taboleiro de magnifica
madeira de mocorusse» tendo no extremo e de cada lado uma escada de
madeira, e ao centro um guindaste de ferro que Toi assente em 1863.
O comprimento desde o guindaste até á porta da alfandega é de
180 metros» e ainda são precisos mais uns três ou quatro pegões para
que o serviço se faça bem durante a baixamar de aguas vivas ^
Às duas columnas que tinha na extremidade em que se viam as armas
de Portugal foram ultimamente demolidas e substituídas por dois can-
dieiros de petróleo.
Arsenal. — Está esta repartição situada junto ua sé matriz, em um
logar acanhado e impróprio ; porém com um aterro que ultimamente se
lhe fez para o mar, fechado com uma muralha, augmentou mais o pe-
queno espaço de que dispunha.
Conservou-se este estabelecimento em bastante decadência por muito
tempo» mas, com os melhoramentos ultimamente introduzidos, pode di-
zer-se que está á altura de poder satisfazer ao fim para que foi instituído,
podendo prestar importantes serviços á navegação, poisque se acha habili-
tado a fazer quaesquer concertos em navios, por ter já montada a oílicina
a vapor que o transporte índia levou em 1871 , uma ventoinha a vapor na
ferraria e um forno de fundição, que em breve fundirá os reparos de ferro
para a artiiheria da fortaleza de S. Sebastião. Tem pois esta repartição
já montadas três machínas motrizes de officina e ferraria e todas as ma-
chínas da mesma, que são um torno automático, um outro mais pe-
queno, um saca-bocados, um engenho vertical de furar, um de cortar,
chapas, duas mesas de serrar e um rebolo também movido a vapor, e
em breve terá mais uma machina de vapor para serrar madeira com ser-
ras verticaes, porque as duas mesas da actual officina téem serras circu-
lares que não servem para tabuado.
É a primeira officina d'este género que tem a província de Mo-
çambique, a qual foi assente sob a direcção do machinista da armada,
Carlos Alaria Raposo, e os pavilhões das officinas construídos sob a di-
recção do conductor de trabalhos Joaquim José Lapa, tendo-se começado
o pavilhão da ferraria e a muralha em 1874, por ordem do conselho go-
vernativo, bem como a construcção do pharol da ilha de Goa, a que deu
começo o mesmo conductor.
São importantes, sem duvida, os melhoramentos que o porto de Mo-
çambique tem tido n'estes últimos tempos; falta-lhe porém ainda addi-
' Veja-se a gravura designada por Ponte da Alfandega, cm 1875.
fj a melhor obra n'e9le género que ha no ultramar.
262
cionar uma doka, o que d3o estará longe de possuir, seja por iuieiaUva
particular ou oficial ; em a lendo e os navegadores houverem a certeza de
encontrar ali meios seguros de concertar os seus barcos» o porto será
um dos mais concorridos de alem do cabo.
Edificio da junta de fazenda. — Era uma propriedade partieular, que
foi comprada em hasta publica, em 1838, a Gabriel José Ferreira, para
n'ella se estabelecer a repartiçSo de fazenda. É boa casa, com doas cis-
ternas e espaçosos armazéns. Alojam-se no pavimento superior a junta
de fazenda, a contadoria geral, thesouraría e arcbivo, e no inferior o cor-
reio geral, repartição do almoxarifado e a casa da guarda. Tem um vasto
quintal ou pateo, que actualmente serve de deposito de carvio mineral
para os barcos a vapor do estado.
Imprensa nacional e escola principal. — É um vasto edificio junto
ao palácio do governo, que outr'ora foi residência do6 ouvidores. Estava
bastante arruinado, porém o governador Leal mandou-o restaura* em
1869, ficando então com uma bonita fachadd« Está aU estabelecida a im-
prensa, a escola principal para os sexes mascuUoo e feminino, e è morada
da professora.
Hospital militar e ctt^7.— Este estabelecimento, que foi o cofivento de
S. João de Deus, fundado em 1681 e at^n^entado e melhorado em 1703,
era um vasto edificio com accommodações para muitos dottites, aiem
de quartos para officiaes, empregados civis e individuos de classe mais
elevada. Â pharmacia achava-se collocada na ^eja do antigo convento.
O estado de ruina a que chegou, e a falta de condições hj^imicas fez
com que fosse demolido, lançando-se a pedra ftmdameotal do novo hos-
pital em iO de agosto de 1876.
Serve actualmente de hospital a casa que a eamara municipal com-
prou em 1873 ao dr. Balduioo Severo de Mendonça, por 4:5O0|$O0O réis,
sita no largo da Sé, para n'ella se estabelecer o tr^tooal de josâça e a
conservatória, para o que já a camará em 1874 lhe tinha mandado fezer
as convenientes reparações.
A botica passou para uma casa do estado que lhe fica próxima, e
que servia de residência ao juiz de direito da comarca.
Paço da camará municipal. — Foi este edificio propriedade partieu-
lar, é o melhor paço municipal das nossas possessões ultramarinas, ex-
ceptuando o de Macau.
Estão ali acommodados a administração do concelho, a cadeia civil e
o quartel da policia, e ultimamente féz-se-lbe uma ab^oaria'; tem casa
^ AlguQs serviços de transportes que doastes eram feitos á eabeça de negros,
sao hoje executado? por carros puchados a bois.
á63
para os carreiros e para arrecadação de materiaes e ferramentas, cisterna
e, do lado da rua do Tbesouro, um tbeatro em ama casa que a camará
comprou em 1839 a Deuchande Ari e juntou ao paço. Em cima do ter-
raço, no centro do edi6cío á face da fachada, foi collocado um relógio*
É D'este edificio que se reúne a junta de justiça e tem logar a m-
diencia do juiz.
Casa tíiamada do Bispo. — É a residência prelaticía, e habita D'ellt o
reverendo prelado José Caetano Gonçalves ; foi comprada pelo bispo de
S. Tbomé, D. Fr. Bartholomeu dos Martyres, sendo prelado de Moçambi-
que pelos annos de 1821, para residência dos seus successores; á bom
edificio, mas n9o foi acabado; está situado na Praia Grande; tem boa eii^
tema e grande quintal.
N'esta casa ha uma escola de instrucçao primaria creada e dirigids
pelo actual prelado.
Hepartição de obras publicas. — Está no convento de S. Domingos^
do qoid a igreja que era dedicada a Nossa Senhora do Rosário e maior
que a sé matriz, já nSo existe. Estão ali estabetecidos o museu ccrfonial e
a repartição de obras publicas soffrivelmente montada com officínas pro*
prías para o seu fim ^
Não consta o anno da fundação do edificio, mas sabe-se que fm no
reinado de El-Rel D. João III.
Eslá situado no mais sadio logar da cidade, alegre, arejado e com
bella vista para o mar ; tem uma magnifica cisterna.
Eslabdeeimentos religiosos. — Tem actualmente a cidade umaparo-
cbia, a nmtriz ou sé, dedicada a Nossa Senhora da Purificação e do U<
vramento, que é um templo de uma só nave, bem construído, coberto de
terraço, e a capella mór, que por fára mostra figura oval, é elegante,
toda fechada de abobada de pedra. Tem três altares^ alem da capella do
Santíssimo Sacramento.
Peto estado de ruina a que chegou aquelle magnifico templo, passou
a parocbía para a igreja da misericórdia.
N'estes últimos tempos téem tido a cidade e os ediflcios públicos mui*
tos melhoramentos, mas aquelle templo, que com pouca despeza se po-
deria reparar, está cada vez peior, sentindo de deposito de materiaes ptt%
as obras publicas.
Igreja da JKisericor dia. —-Este templo, fundado nos prhlciploâ éh
seeiílo xvfr, é de mediana grandeza. Está em bom estado de eonserrí(30^
devido aos esforços e desvelos que algumas commÍ8S?ies adtninistrMKaá
lêem lido na gerência d'aquelle pio estabelecimenlo, e especialmente <íí
* Tem seis carros com bois para o serviço.
a64
que serviu de 1851 a 1856, poísque os seus primeiros cuidados foram
a reparação do edificio» que estava bastante arruinado.
Capellas.—Posme a cidade quatro cappllas : a de Nossa Seoliora do
Baluarte, dentro da fortaleza de S. Sebastião, e edificada no baluarte que
olha para a barra, o qual tem a artílberia quasi ao iume de agua, e é
fechado sobre si. Â capella é toda de abobada ebem construída, e só se
abre quando algum devoto quer mandar dizer missa. É ali que os go-
vernadores geraes tomam posse do governo, depois de lhe serem apre-
sentadas as chaves á entrada da praça pelo respectivo commandante in-
terino,, dirigindo-se em seguida á dita capella, onde recebe das mãos do
governador rendido o bastão que está collocado sobre o altar.
 de S. Paulo, que foi a igreja de S. Francisco Xavier, dos padres je-
suítas, junto do palácio do governo. Está em bom estado e tem três alta-
res; è onde o batalhão assiste á missa. Encerra esta capella as cinzas de dois
governadores illustres : D. Estevão de Âthaide e o marquez de Aracaty.
Âo primeiro se deveu por duas vezes a conservação da cidade e ilha, de-
fendendo-as de dois cercos dos hollandezes, sendo castellão da praça e
general das conquistas das minas da prata; falleceu em 1633. O segundo
tomou posse do governo em 5 de outubro de 1 837 e falleceu em 30 de
março do anno seguinte.
A de Santo António, que foi edificada, não se sabe em que anno, den-
tro do fortim do mesmo nome, restando-lhe apenas a capella mór por ser
de abobada, que é onde está depositada a imagem.
Os gentios banianes e alguns mahometanos têem muita veneração
por este santo, e por isso vão frequentes vezes em devota romaria visi-
tal-o, levando velas que accendem diante da imagem, ífazendo-lhe suppli-
cas a seu modo, e subscrevem sempre da melhor vontade para as despe-
zas da festa.
A de Nossa Senhora da Saúde, que foi igreja do hospício dos religio-
sos capuchos, junto ao cemitério, está a cargo da camará municipal, que
no anno de 1874 a reedificou e embellezou. É onde se encommendam
os corpos que se dão á sepultura.
Mercados públicos (bazares). — O único que a cidade possue e a que
pôde dar-se esse nome, é o mercado do peixe ; depois da sua reedifica-
ção ordenada pela camará municipal de 1874, em que a cobertura que
tinha de olas de palmeira foi substituída por telha chata franceza, e se
lhe collocaram mesas de pedra ao centro para se expor o peixe á venda,
6 assentos em roda, ficou um mercado regular. Foi estabelecido em
1828.
Outro mercado está em construcção, maior e mais elegante, para a
venda de objectos de consumo diário, no terreno adquirido na Missanga,
265
onde foi o horroroso fogo de 1870, que tantas palhotas consumia. O que
desde o governo do marquez Aracaty se não pôde levar a effeito para re-
golarisar o fabrico das habitações n'aquelle sitio, que era a principal ori-
gem das moléstias da ilha pela accumulaçao de immundicies na povoa-
ção, foi cons^[uido pelo fogo em poucas horas ! Entretanto é tolerada a
venda dos ditos objectos no alto da Marangonha, e no campo de S. Ga-
briel, no chão e descobertos.
Cemitérios. — Ha na ilha três cemitérios: um junto á capella de Nossa
Senhora da Saúde, outro em construcção, com capella, no fim da ilha, na
ponta do S., mandado fazer por deliberação da commissSo municipal de
1874, muito maior e em logar mais apropriado para a saúde publica, o
qual mede 95 metros de comprimento e 48 de largura ; e o terceiro para
os mahometanos, no campo de Sanlo António. Ha ainda outro no extremo
da ilha, onde os gentios batias e banianes s3o queimados e em seguida
lançadas as cinzas ao mar.
Districto de Moçambique. — A capital do districto de toda a província
é a cidade de S. Sebastião, cuja descrípção já apresentámos. É sede do
governador geral que reúne attribuições civis e militares.
Junto ao governo geral ha o seguinte pessoal :
Um prelado com jurísdicção ecciesíastica em toda a provmcia; conse-
lho do governo; conselho governativo, que só exerce o governo por falle-
cimenlo do governador; conselho da província ou tribunal administrativo;
conselho inspector de instrucção publica ; junta de justiça; junta de fazen-
da, que administra os rendimentos públicos; e juiz de du*eito da comarca,
que comprehende os dístríctos de Cabo Delgado e de Angoche.
A repartição de justiça é subordinada á relação de Goa, e o prelado
ao arcebispado primaz do Oriente.
Divide-se a província em oito districlos miUtares, que são Moçambi-
que, Cabo Delgado, Angoche, Quelimane, Tete (Zambezia), Sofala, Inham-
banc e Lourenço Marquesa
Os districtos são divididos em concelhos.
Os governadores d'estes districtos são em tudo sujeitos á auctorídade
do governador geral, exercem funcções civis e militares e são os com-
mandantes militares de todo o districto.
Força armada. — Compoe-se de um batalhão de caçadores (n.® 1),
que, quando completo, tem 436 praças. Us soldados são, pela maior
parte, mandados do reino e da índia. Fazem a guarnição da cidade, do
1 Alem dos districtos que nomeámos temos o presidio de Bazaruto, commando
militar estabelecido em 1855, e o commando de Sena, sajeito a Quelimane.
I
266
Ibo e àe Angocbe, entram no serviço do corpo de policia e no de guar*
das sopranumararios da alfandega.
ÀrrabaUei dei eidade* — A terra firme, fronteira á ilba de Moçam-
bique, distrícto da capital, é lerritoríp da conGgiiraç3o qam de um semi*
eirei^ eom Viu 20 kilomelros de comprimento na parte banhada pdo
mar, e com 10 a i5 no interior. Divide-se em differentes potoaçOes*
Cabaceira pequena. — Na extremidade NE. está situada a povoaçSo
de Cabaceira Pequena, defronte da fortaleza de S. SebastiSo, e na extre-
midade do 8., em froale do forte de S. Lourenço, estão as de Sancale e
Chaça. Todas estas povoações s3o habitadas por mabometanos. lem bas-
tantes casas de pedra e boas mesquitas;
Eobre as minas dos edificios airtigos da Cabaceira Pequena eneon-
tram-M as da igreja de S* Joio, do tempo em que foi babitada por chrte-
tloe pMlogueaes. Bsta localidade está quasi despida de arvoredo e desti-
tuída de cultura.
Sancule e Cbaça sao pontos bonitos, tendo esta bons e bem tratados
palmares. Os babitantes empregam*se no fabrico de loiça de barro e na
agriciritura, eforMcem a cidade de legumes, fructas, caça e outras cousas.
Os babitantes da Cabaceira Pequena empregam-se, uns no corte de
madeiras nos sertões do districto, para fazer vigas, barrotes, tábuas
e cavernas para barcos, que vendem no mercado ; outros, porém, appli-
cam^se ao eommercio em vários pontos da costa e no serviço de marínbei-
ros. As mottieres pretas trabalham na fabricação do cairo e de loiça de bar-
ro, e as braicas em fazer canudos para fumar e barretes de algodão branco
bordados (coifios) que os mouros usam, e em outras pequenas indus-
trias.
(faceira Qrtmáe. — A Cabaceira Grande è uma aldeia próxima á
Cabaceira Pequena e dividida d 'esta por um braço de mar, que, na occa«
siSo da vasante, se atravessa a pé enxoto. É menos povoada, e seus mo-
radores s3o todos cbristSos.
Ha ali boas casas, e a igreja parochial é consagrada a Nossa Senhora
dos Remédios. Não se sabe com certeza quem foi o fundador do templo,
mas soppõe^e ser obra dos jesuitas, por ter sido a igreja parocbiada por
etles alé á extincçio da companhia de lesos.
Esta igreja tem um só altar e mna confraria, intitulada de Nossa Se-
nhora dos Remédios da Cièaceira Grande, a qual foi institoida em 1775.
Contigua ao t^npio havia uma espaçosa casa para residência do parocbo,
a qual se acha boje em completa rurna.
O districto d'esta freguezia é todo cultivado, apresentando um aspe-
cto agradável e civilisado. Os palmares e laraojaes são próximos da praia
e nos alios estão as maxambas.
As laraDJas são excellentes, e frequenlemefite exportadas para Bom«
baim, oDde téem fácil venda.
A maior parle dos palmares não apresentam boa vegelaçãOi devido 4
má qualidade do terreno ^
Ha n'este districto numerosos rebanhos de gado vaccum « ianigero.
Não tem agua nativa» mas ha poços d'onde se tira boa agua.
Para se fazer idéa dos palmares dá-se uma vista ^ do que perteuea
aos herdeiros do falleeido brigadeiro Cândido da Costa Soarea# a quem
aquelle districto deve uma^boa parte do seu afonuoseamento'.
Dá-se outra vista de um caoúnbo onde ha uma palmeira iN^ava^ e uma
arvore denominada mulambeira, que abunda na p^ovineia.
Entre a Cabaceira e a Mapeta enconlra-se um bom logar para embar^
que, mesmo na baixamar das grandes marés. A vista que sa apreaenla é
a de um palmar existente no ponto denominado Ponta de Moraugul^
Mapeta.— È uma pequena aldeia habitada por pouca gema livre e
por alguns libertos que se occupam na cultura das propriedades dos seus
patrões.
A maior parte do terreno está cteserto» havendo mato baldio e 9rf&^
ros silvestres.
Mossurti. — É uma grande aldeia onde ha gente livre de todas as
raças.
O districto é muito arborisado, com extensos palmares e bons poma-
res, em que a maior parte dos proprietários de Moçambicpie téem casM
de campo.
Antigamente havia n'esta aldeia um batalhão d8 caçadores de seguftda
linha, formado dos moradores.
Tem um mercado diário ou bazar» onde se encmitram qoasi lodos os
objectos de consumo ordinário, e quasi todos os dias a eUe coiíoofrrai
muitos pretos do sertão (macuas) com differentes géneros, aves e en»^
das para vender.
Alem do bazar, ha lojas onde se vendem fazendas, diversas bebidas^
etc. É d*esta aldeia e do districto de Ampapa que se abastecem de vive-
res e géneros necessários á vida a cidade e os navios que demandam o
porto.
A igreja parochíal d'esta grande povoação é dedicada a Nossa Senho-
^ Todos 03 da firovioeia são inferiores aos belios palcnares ée Goa.
2 Nao nos foi possivel apresentar a vista geral do sitios lao piltoreacosw
3 Veja-sc a gravura designada por Habitação das herdeirM do brigadeiro Can-
âiáo da Coiía Soares, na Cabaceira Grande.
* Veja-se a gravura Palmeira brava e uma mnlambeira na Cabaceira Grande.
5 Veja-se a gravura Palmar na ponta do Morangnl.
268
ra da Conceição. Está edificada em sitio sobranceiro ao mar. Ignora-sc
a era da fundação e o nome do fundador, e só se sabe que o capitão
general Baithazar Manuel Pereira do Lago, que governou a província
desde 1765 a 1779, em que morreu, a reedificou por estar muito ar-
ruinada. Tem ligada, da parte do mar, uma casa de campo, destinada
para os governadores geraes, com uma cisterna c um bom pomar de la-
ranjas.
O templo tem só o altar da capella mór, com um bello retábulo guar-
necido de rica e bem lavrada obra de talha dourada.
Postoque a agricultura se tenha desenvolvido bastante n*estes últimos
tempos em todo o território pertencente ao districto da capital, comtudo
as cercanias de Mossuril levam vantagam a todas as outras aldeias. A sua
cultura parece ser mais dilatada e mais variada, em rasão do abasteci-
mento para a cidade, porque d*ali se obtém arroz, feijão branco, encar-
nado e frade, fava, chicote, jugo, ervilha, milho de duas qualidades deno-
minadas grosso^ 8 fino, gergelim, amendoim, maraca, muxiri, mafurra,
coco, manga, ata, caju, annanaz, laranja, limão, toranja, cidra, banana^
goiaba, amora, jagoma, jambo, jambellão, melão, papaia, romã, maçã
silvestre, carrapato, purgueira, couve, repolho, alface, nabo, cenou-
ra, rabanete, rábano, tomate, alho, cebola, agrião, salsa, coentro, hor-
telã, mostarda, pimenta de diversas qualidades, gonça linho, abóbora
carneira e menina, bendas ou quiabos, pepino, gengivre, açafrão, be-
ringella, bretalha, café, canna de assucar (branca e vermelha), ba-
tata doce de duas qualidades, mandioca, inhame, inchiquilhe de que
se faz polvilho, algodão de differentes qualidades, sumaúma e seda ve-
getal.
Ha ali muita creação de gado de todas as espécies, assim como aves
domesticas: gallinhas, perus, patos marrecos e manilhos, gallinhas do
mato ou da índia, pombos e outras aves.
No ponto mais elevado de Mossuril, onde ha o mercado, está construí-
do o forte de S. José, pequeno reducto que domina a langua^.
É de antiga data a fundação d'este forte. Foi reconstruído em 1 758
por ordem do capitão general Pedro de Saldanha Albuquerque^. Tem um
excellente quartel ha pouco construído, que o fecha.
1 Ao milho grosso dão o singular nome de c burro».
2 É este o nome que no paiz se dá aos terrenos baixos e planos, onde entra u
mar nas grandes marés.
3 Por ordem do governador geral João Tavares de Almeida, foram-lhe feitas
algumas obras. A artilhería e os reparos das peças estão inúteis; algumas carona-
das que tem foram do brigue Tejo; não podem fazer fogo por estarem montadas
em reparos de marinha.
269
O terrcDO comprebendido entre a Cabaceira Pequena e Mossuril, fron-
teiro á ilha, forma com a bahia de Gonducía mna peninsula.
Industria. — Â industria d*este districto e a das ilbas de Cabo Delgado
e Angoche limitam-se pouco mais ou menos ao fabrico de óleo de gerge-
lim, amendoim e coco para o conaumo, por um processo antigo e pre-
jQdicial ao industrial pelo desperdicio que lhe causa; fabrica-se também
louça de barro para consumo e exportação» quiçapos, alcofas, esteiras
grandes e compridas, ditas pequenas, finas e grossas, barretes e chapéus
de palha, charuteiras, cairo para cabos das embarcações e para outros
misteres, e de que se exporta algum S aguardente de caju, de canna e de
sara, vinagre de sura e de canna, farinha de mandioca e de tapioca, man-
teiga fresca, queijo fresco, jagra de canna, cal de pedra e de conchas.
Pesca. — Só para consumo. Podia fazer-se em grande escala nas ba-
hias de Fernão Velloso, Gonducia e Mocambo.
O peixe que n'ellas abunda, depois de convenientemente preparado,
secco ou salgado, levado aos mercados da Reunião ou Maurícias, nSo daria
prejuízo.
Macaxoxo ^. — Bicho do mar, de que as praias de Moçambique s3o co-
bertas, e ninguém faz caso, sabendo-se que os chins o consomem e pagam
por bom preço ; também tem prompta venda nas Maurícias, para a coló-
nia china que ali ha.
Cauril.— Búzio pequeno que nas praias apparece em grande quanti-
dade, especialmente na baixamar de aguas vivas; o fino regulava ulti-
mamente por GOO réis a panja (24^15). Depois de escolhido e preparado,
è exportado pelas casas francezas para a Costa da Mina, onde corre como
moeda, e serve também para enfeites dos indígenas.
0 refugo vale a quarta ou quinta parte menos; exporta-se para Bom-
baim e de lá para outras partes, para outros misteres.
1 A fabricação do cairo é imperfeita e penosa. A casca do coco emquanto
câtá verde, a qno no paiz se dá o nome de macume, enterra-se na praia pelo
espaço de dois a trcs mezes, e em sitio onde a maré a cubra; passado este tempo
é lavada c collocada sobre um cepo e batida com um pau para se despegar a fibra^
a que dào o nome de sumba, e exposta ao sol; depois de secca separam-se^ á mâo
as fibras grossas das finas e formam pavios meio torcidos sobre as pernas nuas;
obtida uma porção doestes pavios, torcem- se entre as mãos levantadas, e assim vae
saindo o fio torcido. Por este processo^fazem as mulheres, que são quem se empre-
gam mais n'esto serviço, 150 a 160 metros por dia, desde que batem o macume.
2 O preparo, segundo o processo que usam em Madagáscar, consiste em abrir
o peixe, tírar-lhe o abdómen, laval-o, e dar-lhe uma pequena fervura, e secca-
se depois ao sol. Algumas porçues d*elle, preparado por esta forma, foram^ por ex-
periência, ha tompo mandadas á China, e chegaram a Hong-Kong em bom es-
tado.
8?C
AfadMra#«^0 pau preto (ebéoo e pau ferro), mocorusse, imbilia, etc.,
abaDdam em todo o sertio ; e á pma, arvora que cresce dírdta e a uma
alMM ^Mraofdffiaria, de que na Índia se fazem mastros para navios, tem
sido uitíiiamente semeada e produz bem. A madeira è vermelha. A se*
mente è «orno ts bolotas.
Cú^. -^ Nasce mesBio sem cultura, e akida assim é o melhor e o mais
aromático das nossas colónias, e pouco differê em sabor do de Moka.
Muitos dos caflszeífos que aformoseíaai e formam as ruas de alguns
patauR^ eti Sfosrartl e Cabaceira crescem á sombra das mangueiras e
de outras arvores frondosas.
É notável encontrar-se o café n^estes logares, e presume*se que seja
levado para ali pelos pássaros, que o deixam cair ao tirar a pellicula ma-
dwa que o envolve, e que vio buscar aos cafezeiros ao approximar-se a
colheita.
ITeitas circumstaocias a semeni6n*a é segura e a planta desenvolve-se
rapídaÉMite, mquanto que, cuittvando-se com cuidado e trabalho, custa
mais a vingar.
Tsmbem ha muitos cafeseiros bellos e frondosos, reproduipdos por
esMeat qué tfo cortadas nas arvores silvestres, e depois de limpas dos ra-
mos enterradas no chio no couieço da estaçio chuvosa. É preciso porém
no tempo secco deitar-lhes algumas gotas de agua, isto nos primeiros an-
nos, « prodUMB depois magniflco café.
N90 oMante a facilidade da cultura d'este producto, como se vê, e do
valor q«e tem, apenas apparece no mercado o preciso para consumo pelo
preço de 4|000 a 7^9)000 réis por 16 kilogrammas.
Algodão. — É espontafteo, e são differentes as qualidades que ali se
dSo, e entre as sementes de fdra sSo as do Egvpto que produzem melhora
Tabaco. — É de boa qualidade e é4he favorável o terreno. O que ap-
parece no mercado vem do interior, e c comprado para consumo e ex-
porto^i» para a India^
AmH. — A ponta da itha ao 9. e o continente estão qoasi sempre co-
bertos d*el(e, mas é completamente desprezado. Pelas experiências diver-
sas vezes feitas conheceu-se ser de superior qualidade.
Casma de assucar. — Produz bem e de todas as qualidades nos t^-
1 Ifa expesíçie de Paris, em IS57, mereceu menção homrosa o algodão d'esta
qualidade, prodiKido na propriedade de Namiole de J. Z. X. Alves^ e no qalotai
da casa da ddade na nia do Conselheiro Leal.
^ Vende-se no mercado a rasão de 4 e 6 réis a roda, do peso de 1^377 a
O preparo consiste em ser posto ao sol para seccar, e dq)ois rednzíl-o a tran-
ças e estas a rodas, e assim é vendido no mercado.
Í7I
fBQOft fineseoi, e meihor nas margeu dos ribeiros. Nãa obstante, tíú ha
grande cultura d'este prodacto tão Talioao.
Em MigoríDe, districto de Mossuríl, na casa, cuja gra\m aa apraaen-
US fez-fls ha annos assucar e aguardeate, e ainda li extalefflaiii poaio pe-
queno os uteosilios para o fabrico e disiiilaçie, trazidos de Baçaíai^ Tan-
beaa ha algws iostruiiieBlos agrários modernos '.
Trt^o. — ^Produz bem, sendo boa a semente; c semeado nas lagoas de-
pois de colhido o arroi; mas o melhor de toda a provinda e superrar ao
do Gates (índia) é o do distríeto da Zaoibezia.
irraz. — Produz bem no districto da c^tal, porém apeoas se aemeia
o preciso para consumo. O melhor da província édeSofalaeInhambane.
O districto da Zambezia exporta bastante, especialmente para Bour-
bon e outros portos.
Gergelim e amendoim. — Como estes prodoetos téem {HXNnpta venda,
são semeados em grande escala em toda a prorincia. O processo de se-
Bienteira è rude e imperfeito^.
JUamUoea. — A pUutação doeste prodoeto è sempre grande, por ser o
principal sustento dos pretos. Cortada e secca ao sol, dum^-se macaca.
Abundam as abelhas no districto da capilal, mas eorao os indígenas
Bio sabem tirar partido d'eHas, queimam muitas vezes os enxames t
1 Yeja-se a gravura designada Casa de camfo dê Rita Jãtet sm
2 Esta casa foi edificada em 1864 por J. Z. X. Alves» em um palmar á borda da
grande langoa, chamada de Mossuril; tem agradável vista. Da margem opposta da
langoa, está o palmar, com boa casa, dos herdeiros de Urbano da Costa Mattoso; as
maxambas de vários proprietários, e a estrada real para o sertio sSo sempre ttmito
transitadas pelos iadigenas; também se vé e mofite do Pia A casa tesi na frente
um pequeno jardim com flórea, boa horta, um pequeao poiar, e ciaeo pés de ofi-
veira idos do reino dispostas ha quinie asnos, mas que aãú dão fructo. OoMs ar-
vores de fructas do reino foram pordifTerentes vezes ali plantadas, crescsram> mas
nâo vingaram. Os bacelos da ava de arinto e moscatel de Setúbal, produziram pouco e
seccaram em breve. A uva ferral produz bem. A laranja é excellente, e embtfeada
a graael tem chegado a Bombaim, com perto de trinta dias de Tiagen, apenas com
o prejuízo de ^ por eeutof Algumas vezes ali se téem vetdids a MíStíO léis e auus
o cento. A canella de Ceylào, a papoula de Bombaim (ópio), a pimenta da Goa, o cravo
de Zanzibar, e algumas fructas de Bourbon edaMaiotta ali se cultivaram, mas nao
vingaram. A baunilha produz perfeitamente, assim como a arvore chamada puoa^
e a areca.
É a ultima casa de Mossuril.
3 Consiste primeiro em roçar os campos, empregando para isso o fogo; depois
fazem-se covas a pequenas distancias umas das oi:Éras, com enxadas eoa fitoma de
pás, deila-se-Ihes a semente aos punhados, e eobrem-se de terra. Qaaadoa senenfee
rebenta e a planta attinge a altura approximadamente de â2 eentimetrat^ sao tira-
dos alguns pés das covas e plantados em outro logar. O mesmo smccede côas o ar-
roz, trigo, milho fino e grosso, etc.
272
Borracha.— k arvore da borracha eocontra-se em muitas partes, e
a exportação d'este producto tem augmentado consideravelmente n'estes
últimos tempos.
Baunilha. — Produz perfeitamente, e podia ser um bom ramo de
commercio, mas não a sabem preparar para produzir a flor. Em Bour-
bon ba grande cultura d'esta planta, que sempre se vende por bom
preço.
Areca. — Gonstitue um ramo importante de commercio em todo o In-
dostão e Malabar. Em Moçambique produz bem nos terrenos frescos,
mas nSo a cultivam; a que consomem os banianes e os mouros é impor-
tada das ilhas de Cômoro e da índia.
População. — Os pretos (macuas) sâo em geral estúpidos e maus;
, mas os livres e libertos que ha nas povoações, são, pela maior parte, in-
dolentes, crapulosos e insignes ladrões.
Os macuas téem completa negação para aprender officios ou receber
qualquer grau de instrucção. Os mujaus, ao contrario, aprendem tudo
com facilidade incrível : os melhores carpinteiros, pedreiros, calafates, co-
zinheiros e alfaiates, que existem na capital e no Ibo, são na maior parte
escravos que os senhores mandaram ensinar.
Os muizas, mais intelligentes e socegados, são os verdadeiros nego-
ciantes do sertão ^ A sua maneira de tratar differe da dos outros pre-
tos; não usam de armas de fogo, mas trazem arco e flexa.
As enxadas de que os indigenas usam para a cultura e amanho das ter-
ras são fabricadas pelos pretos do interior (macuas) que residem ao pé
de Mossuril, a quatro dias de caminho, e que as vem vender ao ba-
zar de Mossuril e outros pontos do districto por 50 a 70 réis cada uma.
São em forma de pá com um bico para encabar. O ferro é de tão boa
qualidade, que no arsenal, puchando-o á fieira, fazem d'elle magnifico
arame. Dizem estes pretos que nas suas terras ha muito ferro e carvão
de pedra'.
Os costumes dos pretos do interior divergem pouco uns dos outros :
adoram idolos e são em geral supersticiosos. Os que habitam as praias
seguem o chrístianismo ou o islamismo, isto é, os escravos ou libertos
seguem geralmente a religião dos senhores ou patrões. Ao maior numero
agrada o islamismo, naturalmente pelo que vêem praticar aos musulma-
1 Ainda não ha muito tempo que os pretos vinham periodicamente estabele-
cer feira em Mossuril, com marfim, oiro em pó, malaquite, cobre, etc.; porém de-
pois que alguns régulos os bateram e roubaram na retirada não mais voltaram :
téem ido para Zanzibar.
* Mácala maluco.
273
nos. Estes catbechisam, emquaoto que da nossa parte pouco ou nada ^e
faz.
Cumpre-nos ãnalmente indicar os meios que se reputam mais apro-
priados para desenvolver o commercio e a agricultura na província de
Moçambique.
A capital, que devia ser o melhor dos seus districtos, é o que está em
peiores condições I Uma das causas principaes que impede ali o desen*
volvimento da agricultura e a formação de importantes emprezas, é a
falta de segurança individual ; se a houvesse já ha muito se teriam coa-
slituido emprezas para a plantação em grande escala da canna e fabrica-
ção do assucar, assim como do algodão e outros géneros agrícolas a que
o solo se presta .
Por vezes se tentou a formação de uma associação agrícola, mas a
falta de segurança arrefecia logo os ânimos ; e emquanto o governo não
poder attender a esta importante e principal questão, pouco mais se pode
esperar da agricultura, porque nem os particulares nem as emprezas ar-
riscarão capitães sem a devida protecção.
Sem a segurança individual, que importa que o café nasça sem cultura,
que o tabaco e o algodão cresçam espontâneos, que a cochonilha prospere
e o anil forme um tapete constante de verdura?
Que importa que haja minas de oiro, ferro e carvão?
Que valem tantas riquezas encerradas n'esta vasta colónia, se se não
podem explorar por falta de s^urança publica ?
É este o principal ponto a que temos de attender para se promover
a colonisação.
Á vista do que se acha exposto não nos é possível fundamentar as
nossas considerações com respeito á colonisação e aclimação da provín-
cia de Moçambique, poisque podemos ser levados em erro, attentas as
condições actuaes que ali se notam. Onde falta a colonisação, a salubri-
dade e insalubridade mal podem ser estudadas.
Apesar de taes diiDculdades procurámos obter informações sobre
este assumpto. Pessoa competente e a quem devemos a descrípção do
distríctp de Moçambique julga que para se promover o progresso e a
agricultura é indispensável attender, entre outras muitas cousas, aos se-
guintes meios :
i .° Acabar com os checados de Sancule e da Quitangonha» ao N.
e ao S. da capital e distríctos d'eila. Esta medida reputámol-a de instante
necessidade, porque aquelles checados se oppõem ao desenvolvimento
da província.
2.° Estabelecer n'esles pontos colónias agrícolas, especialmente na
Quitangonha em que os terrenos são magníficos. Onde está a montanha da
18
â74
Mesa ^ ba todos os elementos para a formação de povoação e defeza,
principalmente na Cbicoma á beiramar.
3.^ Outra colónia composta de degredados que foreia chegando á
província, deverá estabelecer-se nas proximidades do rio Monapo^ ou em
Nouvera a três boras de caminbo de Mossuril, onde ba boa agua e terre-
nos appropriados para todo o género de cultura.
4.® N'estas localidades serão antecipadamente formadas casas de ma-
deira cobertas de telba, a qual já lá se fabrica, para receber os coloQOS
que íbrem chegando, tendo cada colónia uma enfermaria, facultativo e
ambulância, a fim de não succumbir á nascença, como succedea á de
Pemba, que sem piedade foi lançada em um terreno pantanoso e com
cobatas cobertas de palha, como as dos negros, para abrigo d'aquella
pobre gente, que no tempo da chuva chegou a ter a agua peto joelho ^, e
que por isso tão depressa se aniquilou.
5.^ Âos colonos deverão entregar-se alguns cavallos e éguas, não
só para o seu serviço e da colónia, mas também para defeza d*ella, por-
que um homem a cavallo, por pequeno que este seja, infunde mais res-
peito nos sertões de Moçambique do qué se for bem armado ^. Os cavallos
em Bombaim são muito baralos, e os indivíduos a quem fossem entjre-
gues deviam, passado algum tempo, índemnisar o governo da importân-
cia por que os comprassem.
6.® Â cada colónia deverão ser entregues os precisos instrumentos
agrários modernamente adoptados, % eas»es de carneiro» ãA colónia do
Cabo» para ensaiar a propagação da casta, os quaes téem magnifica lã,
que tão importantes lucros ali dá.
7.^ Os ammaes empregados na lavoura devem ser búfalos, nao só
pela sua grande força, como porque resistem flieihor ao clima. Na índia
ingleza e mesmo na por tugueza é este o gado que mais se emprega.
8.° Âs colónias devem ser compostas de geaie de todas as raças
que n'ellas se quizerem estabelecer, sujeitas a um chefe.
9.° Para mm fácil augmento da população e para que a emigração
se encaminhe para Moçambique, deverá o governo o^ empreza mandar
duas vezes no anno, e em tempo próprio, um transporte com escala pela
Madeira, Cabo Verde, Loanda, Benguella e Mossamodes, onde previa-
•>
1 Em 1875 foi rectificada a posição d*esta montanha próximo da capital pelo te-
nente da marinha britannica encarregado dos estudos hydrographicos Francisco J.
Gray, e reconheceu-so estar em 14» 42' 43' de latitude L. e 40" 39' 30'' de longi-
tude a L. de Greenwich: a sua altura é de 461'°,35.
2 O rio de Monapo desagua na bahia do Mocambo.
3 Assim o contaram os colonos.
^ Cavallo é animal que come ferro, dizem os indigen&s.
27o
mente se annuDciar á a epocba da sua cbegada e o Gm a que lá vae, que
é o de transportar gratuitamente a Moçambique os colonos e suas famí-
lias, de qualcpier raça ou casta, que quizerem estabelecer-se na pro-
víncia.
iO.® Depois da chegada a Moçambique partirá o transporte para Goa,
Diu, Damão e^ Bombaim, cosa o mesmo fim, e onde se farão também
idênticos annuncios. Na volta de Goa e Bombaim podem ser transporta-
dos o gado cavallar e os búfalos para o fim já dito ^
1 4 .^ No império do Brazíl ha bastantes portuguezes que desejam reti-
rar-se, e a quem faltam os meios para sair d'ali ; e muitos d'elles, pelos
conhecifflenCos que téem da cultura das plantas tropicaes e da fabricação
do assucar, seriam de grande utilidade para Moçambique. Auxiliar, pois,
a immigraçSo d'aqueUa gente é negocio muito importante.
A colónia de Mossaiaedes formou-se com portuguezes saídos de Per-
nambuco em navios de guerra.
iS."* A gente do Minho e das ilhas dos Açores, que tanta tendência tem
para a emigração, era conveniente que fos^e encaminhada para a Africa,
facilitando-se-lhe a passagem depois dos convenientes annuncios feitos
nas localidades.
i3.^ Pela mesma forma deveria a emigração ser encaminhada para a
Zambezía e para outros pontos.
Feito isto regularmente, hão de as colónias vingar em poucos annos,
porqcie ^Me tãtf ha de bltar.
4 4.° Os chins não deverão ser mandados á província nem para colonos
nem para o serviço miUter, porque já lá são conhecidos como jogado-
res, indoiebtes e ladroes. Nas Macuricias não se tem tirado bom resultado
(festa gente.
45.^ A força armada deverá ser composta de 500 praças do exercito
do reino, destacadas por certo tempo, que partirão opportunamente com
o governador geral. O que porém é necessário é que os soldados che-
guem na melhor e{)ocha do anno, e sejam rendidos sem adiamento. Os
seus quartéis permanentes serão, uma parle na capital em Mossuril, e
outra em Lourenço Marques, em bons locaes. Não farão serviço de guar-
nição nem de policia, e só serão empregados em caso de guerra, no ponto
t A pessoa que nos indicou estes meios esteve em 1857 em Bombaim, e com-
pron ali um bonito eavallo, quasi de marca, por 75 rupias (331^750 réis), que ser-
via para cavallaria e trabalhava em carrinho; e uma égua com cria, garrana, por
2 libras, e conduziu estes animaes para Moçambique na fragata D. Fernando.
Também n'aque}la oeeasião lhe vadiam um casal de búfalos por i libra.
É portanto o eusto d'estes animaes insigniQcanto em relação ao importante
serviço que prestam nas colónias.
276
em que Torem precisos. Isto não è novo : é o que se pratica nas coló-
nias próximas, como Natal, Mayotta, Âden e Bourbon '.
Ití.^ A guarnição da capital e suas dependências, a policia e a guarni-
ção da Zambezia serão compostas de praças indígenas, asiáticas, angolenses
e caboverdianos. Os indígenas serão recrutados nos districtos do S. da pro-
víncia, para servirem nos do N., e os d'este da mesma forma irão servir
nos do S. PTesta troca ha conveniência para as localidades e para o estado.
Na capital, no Ibo e na Zambezia os indígenas téem negação absoluta para
o serviço militar; em se lhes assentando praça, quasi todos desertam
para o sertão, e a fazenda perde o armamento ; e, havendo a troca, não
será tão fácil a deserção, por não saberem os caminhos para o interior
nem a lingoa, que em todos os districtos differe muito.
As praças asiáticas, e as africanas de áquem do Cabo, serão engaja-
das para servirem por tempo de três annos contados desde a chegada á
província.
17.^ Com a força da infanteria, que deve ter o seu quarlel perma-
nente em Mossuril, deverá haver mais 20 ou 30 praças de cavallaria,
asiáticos, para com o seu auxilio se poder soccorrer qualquer das coló-
nias quando seja preciso, e para haver entre estas, por terra, a necessá-
ria correspondência.
A cavallaria é muito conveniente no continente pelo respeito que os
indígenas téem aos cavallos.
18.° A fortaleza de S. Sebastião deve ter uma companhia de artilhe-
ria de posição.
19.*^ A ãscalisação costeira desde Cabo Delgado ao N. da capital, até
ao rio Licungo' ao S., feita por alguns lanchões a vapor que visitem con-
stantemente as bahias, enseadas e rias entre estes dois pontos, que actual-
mente são focos de contrabando dos árabes, é de absoluta necessidade.
O mesmo deve haver de Quelimane para o S., por barcos maiores, por
1 Ainda em novembro de 1875 era condozido para Bombaim um regimento
com 1:000 praças.
2 Ao N. do Licungo, em terras pertencentes ao districto de Quelimane, ba ferro
superior em qualidade a todos os conhecidos : é mais escuro e oxyda-se menos, pó-
de-se fazer d'elle um fuzil, porque tem boa tempera e não carece de ser calçado de
aço. Ha porém quem aflOirme que é de igual qualidade todo o demais ferro do paiz.
O ponto ao N. do Licungo, mais abundante de ferro, é a serra a que os pretos cha- .
mam Podo, que fica a cinco dias de marcha do Licungo; ali mesmo na serra os
pretos estabelecem forjas de fundição, e sem empregarem nenhum trabalho de
mineração, derretem a seu modo os pedregulhos que apparecem á superflcie
do solo, servindo-lhcs de folies a pelle de um cabrito arranjada em forma de
sacco; e assim fabricam enxadas, azagaias, manilhas e arame, que a tudo se amolda
o ferro facilmente, porque é muito maleável ; as ferramentas de que se servem são
277
haver aqui também muito contrabando. Sem isto, a provinda não pode
prosperar com a rapidez que necessita.
20.*^ A navegação, a vapor, nacional, que ponha directamente em rela-
ções a provincia com a metrópole, Cabo Verde, Angola e índia portugue-
za, é de absoluta necessidade para a sua colonisação e desenvolvimento
agricola e mineiro e misera industria; estabelecida que soja regularmente
a navegação, será de grande vantagem futura para a Europa e para as di-
tas colónias, e, sobretudo, para a mãe pátria. A colonisação só de gente
do reino não é a mais conveniente, nem dará bons resultados : precisa ser
mixta.
21." Feito o que fica dito, e ligada a ilha de Moçambique com o con-
tinente pelo lado do S., aterrando-se primeiro as margens de um e outro
lado, tendo ao centro arcos de pedra como tem a ponte chamada de Ri-
bamar em Goa, feita pelo systema moderno, será de uma importância
incalculável para o engrandecimento da capital e para o continente fron-
teiro, pela força e influencia que este centro de população lhe dará. Os
indígenas do sertão depressa se civilisariam pelo trato que facilmente
teriam com os brancos da cidade, o que actualmente não succede, visto-
que ainda estão como no principio da conquista, com pequena diílercnç^.
Entram em Mossuril desconfiados e afastando-se sempre dos brancos, e
se alguns vêem á cidade, trazidos por alguém, ficam pasmados ao verem
tanta grandeza — a fortaleza, casas de pedra, etc. Este estado desappa-
recerá ligando-se a ilha, o que é o mais natural, vistoque para uma nova
cidade não ha logar próprio a não ser mais no interior.
A questão da juncção da ilha ao continente já foi pedida pelos mora-
dores ao governador Lacerda, em 1868*.
O commercio de Moçambique é directo com Lisboa, Inglaterra, Ame-
rica, Marselha, HoUanda, Bombaim, Goa, Damão, Diu, Maurícias, Re-
união, Zanzibar, Madagáscar, Mayotta, ilhas de Cômoro e Cabo da Boa
Esperança.
Importação, —Algodão cru, branco, tinto, em fio e em peça, estam-
duas pedras, uma coroo bigorna e outra como martello, e um pau verde fendido
n*ama das pontas, como tenaz, o qual renovam logoque se queima. As enxadas são
compradas em Quelimane nunca a mais de V4 de peso (215 réis), e muitas vozes me-
nos. O fallecido João Bonifácio Alves da Silva (conquistador de Angoche) remetteu
em 1861 ao governador de Quelimane uma porção de ferro d'aquella localidade,
para se avaliar a qualidade, e dizia que havia abundância d*elle, bem como de ou-
ro, óptimo algodão, canna saccharina, e varias sementes das quaes se extrahe
óleo; que não eram necessárias experiências, bastaria só aproveit(ir estas riquezas,
mandando para ali pessoas competentes que as extráhiam da terra segundo a arte.
l Boletim do governo, n." 9, de 1868.
pado de todas as qualidades, loupas e zuartes da índia; da Europa, mis-
sangas de todas as espécies, pólvora, arníias, chumbo, ferro, enxadas; e
do reino, manilhas de cobre e de latão, aramo do dito, aguardente, vi-
nhos, e todos os mais géneros necessários á vida, calçado, roupas, etc.
Exportação. — Dentes de elephante, de cavallo marinho, pelles de
animaes, cera, urzella, tartaruga, borracha, gomma copal, maná, cocos,
cauril, arroz, legumes, esteiras, laranjas, cairo, gergelim, amendoim, pur-
gueira, malaquita, oiro em pó, etc.
Valor circulante. — Tem a capital em circulação seis differentes es-
pécies de moeda denominada provincial; a saber: de oiro, de prata, de
cobre, de chumbo, e duas edições de papel, que sao^notas da junta da
fazenda. Tem mais as moedas do reino e as estrangeiras, toleradas por
decreto de 29 de dezembro de 4852.
A moeda de oiro é a barrinha fundida, pesando 2 7^ maticaes^ que
vale 6^600 réis, e a meia barrinha 3/91300 réis. Barra de prata (deno-
minada pataca) pesa 1 onça (peso da província) e vale 600 réis. As moe-
das de cobre são cunhadas e representam 20, 40 e 80 réis. Antes do ci-
tado decreto, corriam pelo duplo da cifra do seu cunho, e depois por me-
tade do que representam ; bazanico é moeda de chumbo e vale 2 7a réis^.
 moeda papel consiste em notas da junta da fazenda, do valor de
5^000 e 2^500 réis, na importância total de 12:000^000 réis, emittídas
pelo mesmo decreto.
Foram emittidos mais 30:000/^00 réis em notas de idêntico valor,
no governo do general Amaral, em consequência dos apuros em que es-
tava a provincia.
Anteriormente á fabricação das barrinhas, effectuavam-se com oiro
em pó das minas da Zambezia, e com uma moeda de prata (muito boa),
denominada canello, as transacções e o pagamento aos empregados.
Os canellos, tendo alguns a era de 1763, consistiam em moeda fun-
dida, muito mal feita, com o peso de 6 onças (peso da localidade). Di-
zia-se que o seu metal tinha sido extrahido das minas de Chicova.
As primeiras barrinhas de oiro que se fundiram eram muito boas,
e por isso logo desappareceram da circulação, sendo substituídas por
outras de quilate mais inferior; havendo, porém, muitas falsas, ajuntada
fazenda, em 1850, viu-se na necessidade de as mandar recolher, para
carimbar as boas ou soffriveis, porque as primeiras já não appareciam no
'mercado.
* Corresponde a 4 oitavas do peso da piovinci.i.
* Muilo pouca ha actualmenlc. As moedas de cobre de 1, 2 e 3 réis emittídas
pelo decreto de 29 de dezembro de 1852 logo desappareceram do mercado para evi-
tar os conflictos a que davam logar.
á70
O recenseamento então foi de 2:576 bí^rrinhas de oiro, 91 meias di*
tas e 6:708 patacas de prata no valor de 85:568^950 réis fracos, corres-
pondente a 21 :326i5(700 réis fortes.
O carimbo consistiu em uma estrella no centro da barrinha.
Ibo. — Vílla do districto de Cabo Delgado, a 12^ 15' de latitude S. Oseu
clima é muito sadio ; tem numerosa população. Fica ao N. da capital. Tem
bastante cultura de productos oleaginosos, cereaes e legumes ; produz
muita borracha, gomma copal, maná, urzella, ele. O seu commercio tem
augmentado consideravelmente com o estabelecimento das feitorias fran-
cezas. Exporta prqductos iguaes aos dos outros portos. Possue um pha-
rolim na barra. A villa é bonita e asseiada, com edificações baixas e re-
gulares, e está muito melhorada.
Angoche, — Ponto ha pouco conquistado que fica ao S. de Moçambi-
que e a pouca distancia da capital. Foi tomado, em 26 de setembro de
1862, pela expedição saída de Quellmane e Licungo em meados de
agosto de mesmo anno, commandada pelo cidadão João Bonifácio Alves
da Silva, a qual era composta de 18 soldados, 2 peças de campanha e os
competentes cypaes, alem de aggregados que foram mais de 1:000*.
1 Gastaram vinte e quatro dias do Quisungo a Angoche pelo interior do ser-
tão, atravessando grandes n^atas quasi intransitáveis^ campos alagadiças e alguns
rios, que apenas davam vau com agua pelo pescoço dos homens, e em outros foi pre-
ciso passar a nado, levando as bagagens e material cm jangadas de caniço. Aos dez
dias de marcha do Quisungo faltaram-lhes os mantimentos, e estiveram três dias sem
comer, ao quarto porém entraram n'uma povoação onde os havia em abundância.
Tiveram diversas esperas do inimigo, e uma d'eilas no rio Mulale, mas foi sempre
batido. No dia 2o de setembro estava a expediçiio próximo de Angoche. No dia 26,
ás oito horas da manha, marcharam em direcçào á praia para darem ataque á ilha;
o fogo durou desde as onze horas da manhã até ás quatro da tarde; distribuiram-se
mais de 40:000 cartuchos: mas como o fogo não diminuissc do lado de Angoche,
e a maré começava a encher, o commandante, para animar os seus, passou para a
frente e para o ponto onde só se podia passar a vau com agua pela cintura, fez atra-
vessar a sua gente com as cartncheiras ao pescoço, e avançando resolutamente de-
baixo de fogo passou á ilha, aonde o inimigo, dispersando-se, abandonou comple-
tamente a defeza. A ilha era defendida, pelo lado por onde fbi atacada, com um
parapeito de saccos feitos de palha cheios de areia, guarnecido de artilheria e por
roais de 10:000 pessoas com difTerentes armas. O sultão Assnne (Muguata) fugiu
n'um panpaio para Zanzibar. Na praia, junto á povoação, havia outro parapeito de
areia que serviu de defeza quando a ilha foi em tempo atacada por forças man-
dadas de Moçambique. Infelizmente o chefe da expedição não teve o gosto de ver
a conchisfio da sua obra, nem de saber a maneira por (fue o governador geral con-
siderou os seus relevantes serviços, nomeando-o coronel de 2.» linha da pi^ovincia.
)
280
Âclualmenle tem commandanle mililar e alfandega, e uma guarnição de
100 praças do balalhao de Moçambique. Exporta muito milho grosso e
fino» esteiras, borracha, gergelim e amendoim, tudo vindo do interior.
 população é pequena, composta quasi toda de mouros e alguns banea-
nes, que ali vão commerciar.
Anteriormente á occupação o seu maior commercio era de escravos.
A terra é baixa e pouco sadia, porém o ponto do Parapato, para onde ul*
timamente se mudou a povoação, é muito saudável, com boa agua e bella
vista. Os limites do districto são ao N. as terras de Sangage, ao S. o rio
Quisengo e a O. o sertão. Latitude 4G® 37' e longitude 48^ T E. de Lisboa.
Quelimam.—X villa de S. Martinho de Quelimane está situada em 17^
52' de latitude S. e 45^ 56' de longitude a E. de Lisboa, em terreno pa-
ludoso na margem esquerda do rio Zambeze, 20 ou 25 kilometros dis-
tante da barra. É terra muito baixa, húmida e insalubre; comprehendc
quatorze ruas, oito travessas, quatro viellas e sete largos, comludo a po-
voação é grande. É a chave de todo o commercio do rico e dilatado dis-
tricto do Zambeze. Tem mesquinha apparencia e os edificios públicos
consistem na igreja de Nossa Senhora do Livramento, fundada pelos je-
suítas; o cemitério que tem uma capella dedicada a Nossa Senhora da
Saudade ; a alfandega com uma ponte de madeira ; os paços da camará
municipal e uma enfermaria militar.
As casas são baixas, mas com bastantes accommodações e cobertas
de telha ; as representadas na gravura são dos srs. José Mílitão Nunes ^ e
Manuel Velloso da Rocha ^. A villa n'estes últimos tempos tem tido mui-
tos melhoramentos e aformoseamentos ; depois da prohibição da cultura
do arroz está mais salubre.
A barra tem um pharolim e balizas no banco.
A villa de S. Marçal de Sena. — Fica esta povoação a 300 kilometros
de Quelimane, na margem direita do Zambeze; é pouco povoada e muito
poisque em seguida á occupação só pôde a custo officiar para dar parte do suc-
cesso, succumblndo logo a tantos trabalhos e privações que soffreu. Os seus cabos
de guerra, reunidos em conselho, decidiram não o sepultar em Angoche, e leval-o
para Quelimane d'onde era natural e proprietário ; mas como lhes faltassem os meios
precisos para o encerrarem e conduzirem^ resolveram abril-o e salgal-o; e assim
convenientemente embrulhado^ fora da popa da embarcação (pangaio) entraram com
elle em Quelimane, sendo sepultado aos 3i de outubro; contando trinta e nove
annos de idade.
1 Yeja-se a gravura que tem a seguinte designação : Habitação do cidadão Joié
Militão Nunes. As arvores que se véeni em frente da casa sao punas.
2 Idem, idem : Habiiação do cidadão Manuel Velloso da Rocha,
281
insalubre. De quando em quando é assaltada pelos landins, que já lhe
usurparam o território adjacente e lhe téem morto muita gente.
A igual distancia, mais acima, em terreno elevado e sadio, flca a villa
de S. Thiago Maior de Tete. A população é numerosa; os edifícios peque-
nos e os productos variados. O trigo é excellente.
De toda a Zambezia se exportam cereaes e legumes de todas as qua-
lidades, produzidos nas [suas fertilissimas terras, bem como dentes de
elephante e de cavallo marinho, cera, oiro em pó, pedra verde, etc. Tete
está em uma zona de carvão de pedra e ferro.
Próximo de Sena ha minas de ferro, cobre e oiro.
Zumbo^,— cDa villa de Tete para cima, na distancia de 100 léguas
(SOO kilometros) pouco mais ou menos, está a villa de Zumbo, que é
só habitada de nnturaes de. Goa; este caminho não se pôde fazer todo
pelo rio, por não ser navegável o espaço de 20 léguas (100 kilometros).
Levam as fazendas ás costas de pretos, desde Tete até Ghicova, e d'ali as
transportam embarcadas em canoas, que do Zumbo vem para esse
Qm.
«Foi Chicova celebrada nos tempos pretéritos, e muito mais pelo
descobrimento de uma lage de prata, que n'ella achou um religioso domi-
nico o padre Fr. Serra; ha ainda em Moçambique e Sena quem viu peças
de prata das que se fizeram da mesma lage; e nunca mais se descobriu
n'aquelle logar eslc metal. Pessoa que duas vezes esteve n'esta povoação
indagou com exacção, porém nâo alcançou noticia alguma de que hou-
vesse ali prata. Oiro ha, porém não quer o regulo senhor d'aquelle con-
tinente ali deixar minerar, pelo receio que lhe assiste de que lhe façam
1 Esta descripção é extrahida de um curioso livro publicado na ilha de Moçam-
bique em 1858. Foi transcripta do um manuscripto referido ao anno de 1764.
A respeito d'aquelle ponto dizia o dr. Livingstone o seguinte :
«A situação do Zumbo foi muito bem escolhida. Pelo lado posterior existem al-
tas montanhas cobertas de arvores, de onde se destacam os manzanzonés, que se
estendem pelo N. até á margem esquerda do Langoa, e pelo S. se vé uma campina
extensa revestida de relva, onde se nota ao longe uma pequena montanha redonda
que se chama Tafonlo : os moradores do Zumbo gosavam nos seus balcões da ma-
gnifica vista da confluência dos dois rios, entre os quaes se elevava a igreja, e da
dos campos de onde elles colhiam trigo, que, sem rega, era duas vezes maior que
o de Tete. Do Zumbo podiam penetrar os moradores a NNO. pelo Langoa, a SO.
pelo Zambeze e a E. pelo Kafúe. Gomtudo, é com o N. que elles tinham mais re-
lação, e o seu commercio consistia principalmente em marfim e escravos. Porém
as colónias portuguezas, sendo essencialmente militares, e o soldo dos offlciaes muito
ténue, são estes obrigados a negociarem para viverem, e empregam todos os meios
a seu alcance para concentrarem o negocio nos togares que commandam, d'onde
resulta serem no paiz as transac4^ões comroerciaes muito limitadas.»
alguma guerra os outros régulos, principaimeote o imperador Mouomo-
pata, cujos estados com elle coufinam.
«Da villa de Zumbo se expedem carregações de roupas e velório para
o reino de Abutua, onde se coramuta tudo por oiro, que ba em muita
abundância. O rei e senhor d'estas terras é o Cangamira; este é o terror
d'aqudte sertão» não pormitte que nos seus domínios penetre algum cbris-
tão; 8aba*se que elle é poderosíssimo, e conserva seu respeito na reputa-
ção de suas armas, com as quaes se tem feito muito obedecido.
«Um dia de caminho antes de chegar á villa de Zumbo, está uma serra
muito grande, á qual no pais dão o nome de Meiooga : a ella vão minerar
os escravos dos moradores do Zumbo, mas o oiro que tiram é pouco e
de pequeno quilate. Aqui também ha capitão mór e sempre é um mora-
dor d'aquella villa.
«Ha outras minas, que distam do Zumbo pouco mais de um dia de via-
gem, que se chamam de Barda Pambo; n'estas só vão minerar os escra-
vos dos religiosos dominicos, e no anno de 17K0 tirou o padre Fr. Pedro
da Trindade mui tor e bom oiro ; mas sendo eu capitão mór no anno de i 754
já produzia pouco; mas sempre era da melhor qualidade,
«N^este tesipo me lembro da diligencia que fiz por conseguir noticias
dos nossos portugueses da parte de Angola, pois parecia fácil, por estar o
Zumbo pelo sertão dentro perto de 300 léguas (1:500 kilometros); mas
nada aproveitei por falta de meios sufScientes.B
Sofsúla. — A capital d^-este districto está situada em 20^ 13' de lati-
tude e 34^ 45' de longitude de Greenwich. Corre de NO. a SE., tendo ao
presente^ de comprimento menos de 5^,5, e de maior largura 1^,32, em
cujo espaço se acham construidas trinta e cinco casas, sendo uma de pe-
dra e cal e as outras de madeira, cobertas com palha, á excepção de
duas, que são cobertas de telha.
Q terreno da villa é dividido pelo mar em duas partes, e as aguas pe-
netram pelos rios Nharuquare, que corre de S. a N. e por E., e Cavone
por O., tendo ambos a foz no sitio denominado Tacca, que communica
com Nhumquerere, canal por onde entrara os navios. Alem doestes rios,
o mar também entra nas aguas vivas pela costa no sitio denominado Quis-
sanga que fica a E. e S. da praça ; por vários alicerces, que se desco-
brem em differentes sítios, se conhece que antigamente houve muitas ca-
sas de pedra e cal, e que estas eram ricas, porque nos rios Nharuquare
e Cavone bem como no Quissanga se apanham, em occasiões de cheias, va-
rias obras de oiro, o que faz crer que em epochas remotas houve grande
•
> Refere-sc ao anno do 186i.
invasão de iaimigos, que fez cam q\h^ se espalhassem os cabedaes dos
habitantes.
Este estabelecimento portuguez na Africa oriental ara antigamente
conhecido sob o nome de povoação de Sofaila. No anno de 4764 foi ele-
vado á categoria de villa, e presentemente o local em que elia está edi-
ficada reclama mudança, por estar muito arruinada pelas aguas do mar.
Praça de S. Caetano. — Fica na extremidade da villa ao S. Ânti-^
gamente era conhecida por fortaleza de Sofalla. Teve esta denominação
no anno de 1764, e foi fundada em 1305 por Pêro Ânnaya.
Existe dentro da praça um poço de agua salobra^ construído de pe-
dra e cal, e parece que antigamente esta agua foi boa, porque próximo
do mesmo se descobriram, no anno de 1822, algumas pias de pedra, que
parece serviram para dar agua a cavallos.
Igreja parochial. — Na distancia de 57 metros da praça está edifi-
cada a igreja parochial, mandada fabricar por João Pereira de Barros,
e que por devoção a oíTereceu para o culto divino ; e desde essa epocha
tem este edificio a denominação de igreja de Nossa Senhora do Rosá-
rio. ,
Casa da camará municipal. — Na extremidade da villa aoN., em dis-
tancia approximadamente de 44 metros, está construída a referida casa, de
pedra e cal, e tendo sido de terraço batido, presentemente tetn tecto de
madeira coberto com palha.
Pelourinho. — A pequena distancia da casa da camará, na rua princi-
pal da villa, está o pelourinho; é feito de pedra e cal, com dois degraus,
tendo no remate uma espbera do mesmo material.
Povoação de Inhacamba. — Na extremidade da villa ao N. achasse
uma langua com muito mangal, que fica na enchente da maré coberta de
agua, e que entra ao S. pelos rios Cavone e Nharuquare e ao N. por ura
braço do rio Zimboé, que communica com outro denominado Hellangane,
que tem a sua foz no sitio Bue.
Da villa a Inhacamba, incluindo o espaço da langua, contam-sc pouco
mais ou menos 550 metros de distancia, no fim dos quaes se acha a po-
voação denominada Inhacamba com vinte e oito casas de madeira, sendo
sete cobertas com telha e as outras com palha.
Esta povoação foi fundada no anno de 1815, quando os mouros, por
causa das ruínas do mar, se mudaram da antiga povoação denominada
Buanca Muro, que ficava a E. da villa em pequena distancia d^aquella.
Até ao anno de 1844 era somente habitada por mouros, e actual-
mente estão n'ella estabelecidos seis christãos que, por falta de terreno
na villa, se mudaram para ali; porém este local não promette muita du-
ração, por estar sujeito ás mesmas ruínas que o da villa, e por este mo-
284
tivo já os mouros se viram obrigados a mudar a mesquita para outro si-
tio do anno de 1861.
Porto de So falia. — Na distancia de 3:750 metros EO. está uma en-
seada cheia de baixios, com a largura de 2:S00 metros pouco mais ou
menos, a qual tem um pequeno canal por onde entram os navios até ao
fundeadouro actual denominado Tacca ; alem d'este canal ha outi o em
Mato Grosso» que tem mais agua, porém^ em consequência de ser des-
abrigado e distante do logar para as descargas dos navios, vao esles or-
dinariamente fundear na Tacca.
Do Mato Grosso corre a 0. o rio Xexiquire, que communica com o
Donda, que se estende para o interior até ás terras de Ampara e Mugova ;
e do Tacca corre um braço chamado Nhaminazl, que liga com o Chiu-
gueni na direcção ONE. e chega até ás terras da Dandira.
N'este porto ha um patrão mór ou pratico da barra, mas a falta de
embarcação impede-lhe muitas vezes de cumprir os deveres do seu cargo.
Quando algum navio quer entrar no porto, e carece d'aquelle pratico, é
necessário que áa embarcação lhe mandem um escaler para se poder
transportar : e nas saídas muitas vezes se tem visto na necessidade de
levar coxe * para n'elle poder voltar para terra.
Antes da creação do referido emprego os navios que para aqui vinham
traziam de Moçambique práticos da barra.
Religião e parocho. — A falta que por muitos annos houve de um ec-
clesiastico fez com que se tornasse esquecida n'este paiz a nossa religião ;
e apesar do actual vigário empregar todos os esforços para a propagação
do Evangelho, pouco tem obtido por estar o mal muito inveterado.
Instrucção publica. — Ha um professor de primeiras letras pago pelo
estado, o qual é de bons costumes e procura desempenhar-se cabalmente
das suas obrigações; comtudo não tem podido levar a cabo o seu desejo,
porque a maior parte dos alumnos são maiores de quinze annos, cheios
de vícios, que o professor não pôde corrigir sem se comprometter com
as famílias, porque estas (salvas algumas excepções) dão pouco ou ne-
nhum merecimento á instrucção dos seus filhos.
Alem d'este professor ha uma senhora, filha do encarregado da enfer-
maria militar, que gratuitamente se presta a ensinar em sua casa algu-
mas meninas a ler e escrever.
Ilha de Chiloane. — Jaz esta ilha em 20*^ 38' 12" de latitude S. e 34^
48' 30" de longitude £. Ê raza e tem approximadamente 22 kilometros
* Coxe é uma embarcação de um só píiu feita pelos cafres, sem quilha nem
forma dos nossos navios.
285
de comprido N. e 11 de largara ^ £ dividida ao centro por um canal da
largura de 9ã melros que na maré baixa do lado de E. se passa a vau : a
parte do S., onde os habilantes téem o gado, é cheia de mato e salgueiral;
na parte do N. está a povoação e a cultura que consiste em cereaes e ar-
vores de fructa.
O terreno é arenoso, fértil e abundante em agua potável.
É separada do continente por um canal da largura de 2 kilometros
proximamente ; tem duas barras, a do N. é franca e a do S. na baixamar
tem 3 metros de agua. No continente fronteiro ha estabelecimentos dos
habitantes da ilha e de alguns negros da terra. A cultura ali é de coquei-
ros e arvores fructiferas, de legumes e cereaes, e já se fabrica a farinha
de mandioca. Na ilhn e no continente apanha-se urzella e breu, e o sertão
fornece ao commercio marfim, cavallo marinho, cera e mantimento.
As illias de Bazarnto. — Em maio de 1855 mandou o governador
gerai da província, Vasco Guedes de Carvalho e Menezes, occupar as ilhas
de Bazaruto. O encarregado d*esta commissao foi Duarte Manuel da Fon-
seca, que era acompanhado pelo alferes João Eduardo Ribeiro, que com-
mandava a força e foi o primeiro commandante militar que ali houve.
Foram mandados para ellas empregados, operários, colonos e guarni-
ção militar, bem como material de guerra, ferramentas e viveres para um
anno. Fazia parte da expedição um enfermeiro, que levava uma ambulân-
cia provida dos medicamentos necessários para o tratamento dos doentes.
O presidio de Bazaruto constitue um grupo de sete ilhas, sendo a mais
importante a ilha Grande Bazaruto, que dá a denominação a todo o grupo
e á bahia.
A ilha de Santa Carolina (Marc), assim chamada por ser o nome da
esposa do governador Vasco Guedes, foi a escolhida para o estabeleci-
mento, que se ficou denominando cEstabelecimento de Pedro V>.
Não obstante esta ilha ser a mais pequena, è a que offerece mais se-
guro desembarque e a que tem melhor ancoradouro.
Durante algum tempo foi Bazaruto governo independente, com a de-
nominação € Estabelecimento de D. Pedro V». Por portaria do governo
geral foi considerado presidio, reduzido a um commando militar e su-
jeito ao governo de Sofalla.
i Em 1860 foi mandado para aquella ilha um destacamento commandado por
am official, e composto de doze praças com uma peça de campanha. Este destaca-
mento tem ali quartel. Deram-se providencias para o traçado de ama povoação re-
gular, marcando logares para edificios públicos, largos, ruas, etc.
Desde 1875 que é a sede do governo de Sofalla, tem alfandega e pharolim.
Todas âs iibas sSo saudáveis e piscosas, sendo Cbégine a que tem
mm vegeU<5o e pastos ; abunda em carneiros de cinco quartos, assim
deMOQMiados por lerem a cauda tio gorda, e chegar a tomar taes propor-
es, qo8 parece outro quarto.
 ilha Grande tem muitos cavallos marinhos (hypopotamos). Vastos
bancos de ostras existem n^aqoeMa bacia, as quaes os pretos apanham
para seu alimento, despr^ando ai» óptimas pérolas que n'eilas se encon-
tra» em abundância.
Tem por aU apparecido em poder dos pretos algum âmbar, suppon-
do-se que o apanham na costa.
A ilha de Santa Catharina é vulcânica e rodeada de arvores que pro-
dofzem excellefite maná.
A agricultora vae-sc desenvolvendo, tendo*se já semeado bastantes
coqueiros.
Sé as ilhas Grande Bazarato e Cliégine s3o habitadas por uma raça
de negros que vivem exdusiTamente da pesca, que seccam e vão trocar
no continente com os landins e outros povos por fazendas e mantimentos.
Os burrongueiros s3o dóceis e obedecem em todo ao commandante mili-
tar de Bazaruto.
ínhamtane ^ ~0 território de Inhambane foi descoberto no anno de
«47».
1 O distrlcto de Inhambane tem um grande admirador no sr. João Eduardo
Ribefro, que esteve n*aquelle paiz durante muitos annos. Ali casou, e nâo só pe-
las relações de família, como pela longa permanência n'aquelle districto, onde
desempttLKou differentes coramissões, adqairiu conhecimento especial do paiz, e
pó(te deserevel-o com perfeito conheciou^to de causa.
Accedeu de boa vontade o sr. Ribeiro ao nosso pedido, e encarregou-se de nos
dar algumas informações acerca d*aquella importante jóia da coroa portugueza, e
desempénhoa-se doeste encargo pek) modo que se pôde apreciar no texto d'este
livro.
O Sf . João Eduardo Ribeiro foi para Moçambique na fragata D. Femcmdo, em
1854, acon^anhando o governador Vasco Guedes de Carvalho e Menezes, que hoje
se acha á frente dos negócios públicos da província de Cabo Verde.
Permaneceu na província de Moçambique vinte annos, onde exerceu diversas
commissões, seguindo ali a sua carreira militar, serviu no Ibo e nas ilhas de Baza-
ruto, que elle foi occupar por ordem do governo, sendo depois mandado em commis-
sào ao antigo potentado de Manicusse que dominava todo o sertão, desde Lourenço
Marques até aos nos de Sena, demorando-se três mezes na viagem de ida e volta.
Houve-se sempre com tanto acerto nas referidas commissões, que foi escolhido
para governar o districto de Inhambane em 1863, pelo sr. João Tavares de Almei-
da, então governador geral da provinoia e hoje dos estados da indla. A nomeação
foi approvada peio governo de Sua Magestade, por decreto de 16 de desenybro de
2»7
Quando o descobrkaos e ali apoHámos, fomos bem recelridos ^ios ne-
gros, cedendo -nos eiles terrenos e marcando o locat para iiabHa;í^ onde
hoje está assente a praça de Nossa Senhora da GoviceiçS^, ^qb os nossos
descobridores forliricaram, e ati negociavam com oá Mgros. Ainda hoje
esta fortificação se denomina feitoria, nome por que é designada por to-
dos os portuguezes e cafres do sertão.
Os descendentes do regulo Tembe, senhor das terras qm nos foram
doadas, ainda hoje conservam as honras de régulos da víHa, téera as-
sento á direita de todos os régulos do distrieto, e contam sempre com
orgulho qoe os seus ascendentes foram os primeiros qne nos feeeberam
e agasalharam, dando-nos as suas terras espcmtaneatnente, e tranismittem
este facto a seus descendentes.
Em 1481 (?) foi transformado em presidio, com guarnição e goterna-
dor, e n'esta situação peraianecen até I7G0, em que por alvará de Et^Rei
D. José I, referendado pelo marquez de Pomba), foi elevado a viMa da
mesma denominação (Inhambane), e, por outro alvará de igemi data
foi-lhe dada como padroeira a Virgem da Conceição, sob euja intocação
se fundou a igreja parochial, que foi nlthnafúente reconstruída e augmen-
tada.
A entrada do porto é accessivel aos navios que demandetti até 4 me-
tros de agua; tem boas marcações para de dia, havendo tand^etti um
pharolim assente ao S. da barra, o qual se avista a más de 59 kitometros
em tempo claro.
A entrada dos navios não é portanto difScil, ma^ a saída depende de
1863. Sendo reconduzido ii'o8te governo por mais cineo annos^ por êserele de 1
de março do 1871^ nâo coiK*ltiiu a commjssao por ter eu 1874 reesMiido « qMfo-
pole doente e sido julgado incapaz de continuar a servir em Africa, pelo que se re-
formou.
O sr. João Eduardo Ribeiro mostrou sempre tanto zôlo e intelligencia nas com-
missões com que o distinguiram, qno esteve á frente dos negócios páMcos do dis-
tricto durante nove annos, o que raras vezes tem acontecido. Alem disso foi hlMi-
rado peio governo de Sua Magestade com o habito de A<viz e oom a coiaiiieiida de
Christo.
As informações que publicamos a respeito do districto de Inhambane foram-
nos, pois, dadas por pessoa competente e foram publicadas sob a sua inspecção.
Nós julgamos prestar um bom serviço reunindo n*este trabalho todas as infor-
mações, e ficámos assim habilitados a comparar os climas de que nos for possível
obter noticias completas, não só emqoaato ás iocalidaâes, mas tombem a resptko
das observações meteorológicas, população, etc.
Se não podemos dar um trabalho bem completo, deixamos traçado o plano que
nos parece mais adequado para st* tomarem bem conhecidas as nossas possessões
do ultramar.
888
ventos terraes e marés próprias que algumas vezes os obriga a demorar-se,
perdeudo-se muito tempo á espera da occasião favorável para sair ^
Um telegrapbo estabelecido em terra, com três poutos semaphoricos
intermédios, annuncia a chegada dos navios.
O rio é magnifico, e apesar de ter algumas restingas de areia, possue
comtudo um excellente canal, por onde os navios, sem grande risco, se-
guem ao fundeadouro, que é bom e seguro. Na maior largura tem este
rio uns 8 a 10 kilometros e na menor 3, tendo de extensão até á barra 55.
Perto de duzentas embarcações miúdas constituem a marinha do rio,
e são empregadas em serviço da população, na carga e descarga dos na-
vios e na pesca dentro da barra.
0 dístricto de Inhambane é sem contestação o melhor e o mais agradá-
vel da provincia. Não se toma notável somente pelo seu excellente rio;
a belleza das margens e terras altas que se avistam constituem um pano-
rama digno de se admirar.
Distinguem-se as palmeiras de elevada altura, entre os cajueiros,
mangueiras, mafureiros, frondosos tamarindeiros e outras arvores. As po-
voações dos pretos e os sombreiros ^ que se descobrem por entre este
immenso arvoredo e no meio das terras cultivadas e cheias de vegeta-
ção, surprebendem e encantam o viajante, que pela primeira vez entra
n'aquelle porto.
A villa de Inhambane divide-se em quatro bairros : Balane, ondç ha-
bitam os mouros; Ghivatune, bairro commercial; Tembene e Chalambe
menos povoados, mas muito píttorescos. As ruas d'estes dois bairros são
extensas e regulares, e acham-se guarnecidas de fructiferas e frondosas
arvores, que lhes dão sombra e frescura. Habitam ali perto de quatro-
centas famílias, brancas e de côr, gente civilisada que segue differentes
religiões : christãos, mouros, parse^, baneanes e gentios.
Tem cerca de duzentas casas, algumas mal construídas; conlam-se
porém bastantes cobertas de telha, e que se podem considerar regula-
res. São innumeras as palhotas ou habitações dos pretos libertos e famí-
lias pobres.
A villa fica á beiramar do lado esquerdo do rio, em terreno baixo,
arenoso e de forma irregular. É vasta a sua área, em consequência das
casas terem espaçosos quintaes.
Quando se olha do mar para a villa descobre-se uma linda perspe-
ctiva, havendo alguns edificios que se distinguem das outras habitações,
entre elles a igreja matriz, sobresaíndo a sua torre quadrada com seu terra-
1 Tudo isto se evitará logoque haja um pequeno vapor de reboque.
2 Chamam-se assim as casas de campo que pertencem aos habitantes da villa.
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ço, elevada a iS^.iO acima do soloS d^onde se avistam parte do dístricto,
a barra, grande extensão de mar, a praça com exceliente largo arborisa-
do', a alfandega, a mesquita dos mouros, as casas de commercio na*
cionaes e estrangeiras, sendo mais saliente a do abastado cidadio José de
Sousa Teixeira, a qual flca no principio da villa, com a Trente para o rio,
em um ponto bastante elevado.
O desembarque é fácil, e feito em uma boa ponte ' de madeira e três
caes^ de pedra, que d3o muita commodidade aos passageiros, facilitando
lambem as caibas e descargas dos navios.
Nao tem a villa nascentes de boa agua ; ha apenas alguns poços de
agua salobra que serve só para lavagens. De uma grande e proftmda
lagoa denominada Chivanme, a I kilometro da villa, perto de Santarém,
é que a povoação se fornece de agua para beber e cozinhar. É boa, mas
não deve ser tirada directamente: abrem*se pequenas cacimbas nas suas
proximidades, e ali apparece agua capaz de se beber.
Os naturaes, tanto christãos como mouros, são muito hospitaleiros e
amigos de obsequiar todos os que ali aportam, quer sejam europeus quer
asiáticos.
Este povo foi em tempo muito turbulento, o que era devido em parte
a alguns excessos das auctoridades ; boje é, porém, sem contestação,
o mais socegado da provinda, respeitador das leis, e seus costumes são
morigerados.
As famílias de distincção do paiz são todas descendentes de europeus
ou asiáticos. Alguns empregados públicos e bastantes oiliciaes europeus
toem ali casado, de forma que é n'aquelle districto onde a raça branca se
acha mais desenvolvida e apurada. Pôde dizer-se em geral que os euro-
peus se dão bem n'este paiz.
1 Esta igreja foi reconstruída e angmentaâa durante o governo do tenente da
provincia, J. E. Ribeiro, segundo risco sen e debaixo da sua direeçio. Gastou réis
6:332|ii76, sendo 5:557f|155 réis de donativos dos moradores (em operários a ma«
teriaes). Levou esta obra a fkzer dois annos e quatro meies, teve principio em
31 de julho de i864 e terminou em S5 de novembro de 1867. Passa por ser a me-
lhor igreja da provincia (Boletim ofíkial da provincia n.^" 38 de 19 de setembro de
1868). Yeja-se a estampa ^reja de Noisa Senhora da Qmceiçõo, em ínhambane, e
parte da praça (Baluarte de S. BodrigoJ.
2 Útil melhoramento do governador Interino Germano Augusto da Silva, ofll-
ciâl de marinha, que durante o seu governo também cuidou do edifieío da aUmdegi.
3 Foi principiada em 1871 por iniciativa do referido governador interino Ger-
mano, continuada pelo govmnaâor J. E. Ribeiro, e eonduída em 1875, pelo gover-
nador Magalhães Alvio.
^ Dois d'estes cães foram mandados fazer pelo governador Ribeiro e o terceiro
pelos governadores que lhe succederam.
De toda a província de Moçambique é lahaiabaAe o (li8ti:iQ|ft dJoade
n'e8tes ultímod anãos tèem vindo mais estodantos para recetMiiai a spa
ednca^ Htteraria em Lisboa. Alguns cavalbeiros « soas iamilwa também
se tèem dírij^o para a Europa com o fim de vi^ e cUf visitar a pátria
dos sens ascendentes.
Os habitantes s3o dados ao commercio» deixando a afriolltoiA i|wsi
eidnsivamente entregue aos pretos.
Existem em Inhambaoe os melhores officiaes de ledMírOi. caq)iii\tewQ»
calafate e ferreiro ; alguns maus alfaiates, ourives e sapateiros^ e^erMm
aN tmbem os seus ofli^ios.
IMos os operários s3o Ubertos.
Mo tem Inhambane senão uma iadiustria de maior iimnrUi»Cia>.qittfté
o Mbrico de enxadas^ para o eommercio^ do sertãA> chegando acoosumir^se
em cada anno 150:000 a 200:000 kilograrnsMig d# ferro.
As embarcações existentes na viUa, 4 ei:ceiisift de meia iimk if^ ca-
noas, também s3o construídas, pelos carpinteiros do im e com ^ niadei-
ras do districto.
Fabrica-se telha, panellas, talhas e outros objectos de barro verm^bo,:
velas de cera, ferragens grossas pata casas e embarcaçoesi. havendo ai-
guis pretos bons serraliíeiros, que falsem toda a qualidade de concer^s
na fl^eharia das espingardas.
Os carpinteiros também podi«im fazer obras finas, e sobretudano-vei^
dls encritentes madeiras que ali téem; porém CaUao^lhes mestres e oflS-
ciaes eoropeiB cpie risquem e dirijam os tcabalhoSf
Ao S. da villa. 350 metros, em iwa ponto, elevado, está assMiie a oít
mítmo municipal, bem cuidado, com a sua capella e um guarcU qpe.
trata de tudo : deDomina-se cemitério de S. João.
Ao lado d'este fica o forte de S. João da Boa Vista. No bairro de Ba-
l^lffi^ ajuste ima capeUioha da invocação de Sajita Cruz, construída e sus-
teiladft pela gente de Qoa» comrim, que t^omam muito interesse peias
féelis de i^a. Todos os annos, no dia 3 de maiQ, se festiyaaestaciapeila
iUvenç9o de Santa €ruz.
C^QQuros téem o seu cemitério próximo do bairro de Baftinew
1 Bnxadfts (espeeíficadAs na panta das alfiyidega3 oemei ^wíAnic^ landínas)^
senrmi para o commefeío oom o sertão unicamente como OBoaiJa^ 4i}giNMas4a4w-
mandiadas pelos pretos para o fakríco das soas amas, e para leaníMiaB e arame
com que enfeitam o cabo das machadas de guerra e as aag^iaa»
A enxada pesa approximadamente 1:400 grammas; tem. Witeeliniat9Mlid%|ir
tora e fS a Wtí% sna maiop largnra^ 6 o senvaJor no meicadf^.4 dl|:90Í^4Af>iéís.
Cada 15 kilogrammas de ferro prodaz dez enxadas.
tm», Ml um piefieMr eaapov « ^m ekunan 9 sm eenitano.
O districto de Inhambane (terceiro dístricto militar) é governado por
um ofl^fiial mpiUr com 9S «ttribQíçõe? administrativas que a lei marca.
Constitae um concelho con^ p^a mm fregoezia, e ba pooeo foi creada
MÊ WÊÊtÊftOÊÊÊÊ/nííK
o batalhão de caçadores n.^ 3 tem o seu quarMeM latambaoe, afiiMH
d(M0 alo|3do dentro ãsí praçãif^, em péssimas casemas» cpe de certo
Ide ibeg^Uf» para q batalliS^» se ésfe n$Q tivesse mais de metade da soa
fbffa Jtestagada e» Lmtws^ Maff^iKasy Cbíloaoe, Soialla e (azaraU) para
oftde ià gWÊÊnàfif^.
Ao facultativo de i.^ fltm» mmprt kmc d seiptif» d« imm enferma
ria míRtár ; a ambotandá esfá f cargo^ do p&ansmeeotíco.
Umqi cfek^çSo €(a jimta cia fazenda^ presidida pelo governador do
díBUrkti^ aAim»ia>>aww»itowlc»»puMfc^ os pcoveniantes dos
direitos da alfandega, decima predial» industrial, direitos de transmisste,
séBO' de wrMy trtMMGK^ da^ ftrrff9, ef6^.
Ao ^veroadfor do dfetricfo feor estado eiUtegae a direcção dás obra»
piiWicat^ ma qqae& se empregam os cKreltos de S e { Vs por cento ad v€h
O di9lviel9 ck liiha«ilMn»r eamywhcMto aa tenras aítiKidaa antr» 0
caba de 9. Sd!»3tí^ ar #7^ is hafitfed^ N. e (^ rio Inhamparí, fec èe^ rio
Oiro, ou Limpopo (^, tendo 0 governador auctòridade sobre (piarenca
regirioa e seasaata caibio» Owiew)& potferosQs que os régulos), que habitam
A popBtaçi» pMé eale«lay<>9t: appro«ímadamente em t30:00& a^
mas.
Pbr tom eslâfístTca feita em rd63r se vé que as terras de Inhambane
ecmtt hahjit4Aafi par l\M^ almís^ com. 3Í:7âft fogos.
Os régulos, em tempo de guerra, podem fornecer 20:000 homeas ar-
maidos erai^ áMterenlfe^ amae-.
1^ Em IhRambane ha oa^ segtifni^ empregaáíis' saMdf ado» pelo estado :
Me efe cKreito^ defegadi» e' cfof» eserMer;^ dk««lbf da alftadena, um efNsFMn,
nm porteiro» dois guardas demuKro' e o»pMetoe» sapNnniiienriee, um liwun
reivo almoxaarife e escrMo dlsf dUbgaçiD; mii' paroeho^e um^saerisâa; im oirar-
gflb db 2.* d!»se; mii^pliQrtiiaceiHleo; e-mn-prol^ssor deinstrao^ prlnarta.
^ !faò se lhe pódb dhr o nome de jmiça. 6 antes um^fracafoitiflêação, moto
mal artKhaâSi e com péssimos e insaluhBes- quartéis ; a' artUheria ó de (erro e eiav
quasl 1Ddá:8peaâiit Cféjam«-se os relatórios pnhNcados em difl^rentes RoUHhim d»
pTovtiicia.)j
292
O governo manda de tempos a tonpos fazer banja^, a fim de fumar
(investir no poder) os herdeiros dos régulos qae tenham morrido, oavir
1 O sr. E. de Faria no seu diceionarío diz— Boií/a— aldeia de eafres Junto a
Inhambane. Não existe aldeia com tal denominação.
Banja, na accepçao da palavra, quer dizer festa em que haja grande oomesana,
e ó palavra da lingua bitonga.
A reunião dos régulos e cabos chama-se também bcmjíi. Esta reunião é impo-
nente, e eflectoa-se com o seguinte ceremonial. Trinta dias (uma lua) antes d'aqoelle
que o governador do distrícto marea para a ceremonia da banja, são convidados
os régulos e cabos sujeitos á corda, para comparecerem á grande reunião, que sem-
pre tem logar no largo da praça, em nm immenso barracão construído para esse
fim, e que pôde acconmiodar de duas a três mil pessoas.
O convite é feito pelos empregados das ferras^ que entregam ao convidado, da
parte do governo, um cartucho de pimenta da índia, um ou dois pannos de loupa^
segundo a sua categoria, mna tira de panno branco (touca), um qoissambe (dois
lenços) para a mulher, uma faca, duas garrafas de aguardente e uma caneca de
louça.
O governador prepara-se durante este tempo para receber os régulos, e manda
l!azer o seguinte : oito ou dez pipas de pambe (bebida fermentada, feita de cereaes,
uma espécie de cerveja sem ser depurada), descascar 600 a 700 kilogrammas de
arroz e igual porção de milho e mexoeira, armazenar oito ou dez barris de aguar-
dente de canna, e ter á mão três ou quatro bois, a fim de poder sustentar suas al-
tezas e suas comitivas, nos três dias que se demoram na grande reunião.
Dois dias antes d'esta se realisar, dão-se na praça dois tiros de peça. O regulo da
YiUa Tembe toca logo o seu batuque de guerra, toque que é repetido por todos os
régulos, de forma que rapidamente se sabe em todo o território que a banja vae
ter logar. Em tempo de guerra também é por este meio que se reúnem os pretos
para a defeza do paiz. Os régulos são recebidos pelo governador, por todas as au-
ctorídades civis e militares e pela força armada, que lhes faz todas as honras mili-
tares, salvando a praça com vinte e um tiros. O local da recepção está sempre bem
decorado e esteirado. O retrato do monarcha portuguez, coUocado no logar princi-
pal, no centro de bandeiras e trophéus, é o que chama mais a attenção dos régulos,
que se admiram de nós respeitarmos e fazermos respeitar o Rei, estando este tão
distante.
O governador, a camará, offlciaes militares, auctorídades e moradores de dis-
tincção tomam os togares que lhes estão destinados. Os régulos e cabos tomam assento
no chão, em esteiras, menos o regulo Cumbana que se assenta no collo de duas mu-
lheres; os ministros, as mulheres dos régulos e os seus mezinheiros (médicos) fi-
cam pela parte de trás doestes; o povo que pôde ter ingresso na barraca dá-se por
muito feliz, e assenta-se no chão. De pé, no largo, conserva-se sempre uma im-
mensidade de povo, que tem acompanhado os régulos.
O governador dá principio á banja fazendo uma allocução aos régulos, em que
lhes faz saber o fim da reunião, recommendando-lhes que sejam justiceiros e huma-
nos para com os seus povos, não os escravisando, nem permittindo que alguém
queira escravisar os seus filhos; que nas guerras não matem os prisioneiros, que
devem ser bem tratados e entregues no fim da lucta; que sejam sempre obedioites
ao governo, e que não consintam inimigos nas nossas terras fmafrtUesJ; que tratem
293
as suas queixas contra as aoctorídades das terras, decidir-lbes as ques-
tões de reinados e limites, e finalmente fazer-lhes de novo prestar preito
bem os estrangeiros qae por ali passem; que não roubem os náufragos, antes os
recolham e tragam logo à villa; que sejam pontuaes em pagar os tributos ao esta-
do; que em tempo de guerra corram com a sua gente em defeza do districto; que
n'esta occasião apresentem todas as suas queixas e miUmdos (questões), para lhes
serem decididas e julgadas pela maioria dos régulos; e finalmente que prestem
preito e homenagem ao Rei reinante (o que elles fazem).
Em seguida apresentam as offertas que trazem, que consistem em productos
das terras, cera, mel, arroz e mantimentos. Os régulos landins ofTerecem algum pe-
queno dente de marfim, e outros apresentam cabritos, gailinhas, esteiras, etc., etc.,
sendo tudo logo receitado á fazenda publica pelo tbesoureiro almoxarife da mesma
fazenda, que assiste a este acto, em logar distincto, e com os livros de receila pu-
blica.
No fim da banja todos os presentes são vendidos em leilão, e o seu producto é
applícado ás despezas da festa, não chegando geralmente nem para o arroz. O ca-
pitão mór ou commandante das terras (que tem a graduação e honras de coronel),
é quem serve de interprete entre o governador e os régulos.
São distribuídas aos régulos cabaias, barretes, bastões, cintas, pannos e toalhas,
que as vestem logo por dma dos antigos fatos. A cabaia é um fato amplo como
uma camisa de mulher, feito de panno vermelho e avivado de amarello ou galão
de lã. Os barretes são da mesma fazenda e do feitio de umas mitras de bispo, todos
agaloados. Só aos régulos compete cabaia, barrete e bastão. Aos cabos distribuem-
se pannos brancos, que elles vestem, cingindo-os aos rins.
N'este primeiro dia de banja trata-se da questão de reinados vagos. São chama-
dos os regentes, e estes é que indicam o individuo que deve succeder ao regulo
morto. O regente é quasi sempre o filho mais velho do regulo, nomeado pelo go-
vernador; o herdeiro da coroa é o sobrinho : entre estes ha sempre contestação,
que é decidida pelos régulos, por maioria. O individuo declarado successor do re-
gulo fallecido é logo investido do poder, entregando-lhe o governador a cabaia,
cinta, bastão e barrete. No acto da imposição do barrete, é disparado um tiro de
peça, e o povo solta os seus gritos em ar de acclamação. O regente retira-se, cedendo
o logar ao novo regulo. Assim se pratica com todos os regulatos que na occasião
téem regentes. N^este districto existe a lei salica, as mulheres não governam. Em
Lourenço Marques dá-se o contrario. Depois de investidos os régulos no poder,
serve-se-lhes o jantar, que consiste em grandes pedaços de carne de vacca cozida
com arroE, para os régulos, e com milho, para os cabos; havendo só um cabo, que
por distincção, e em consequência de qualquer importante serviço que fez ao governo^
come arroz ; distincção esta que é muito ambicionada pelos outros cabos, mas que não
se lhes dá para não offender suas altezas. A comida, que é muito apimentada e cheia
de assafrão, é servida em grandes pratos que vêem da índia, e a que chamam pton-
ganas. Os régulos apenas tocam na comida por delicadeza. Os ministros lançam
logo mão d*e]la, recolhendo-a em um sacco de pelle de cabrito, tomam também a
aguardente que lhes é servida em garrafas, e levam tudo para a casa onde o seu
regulo está hospedado.
O governador, depois d'este banquete, levanta-se e despede os régulos, convidan-
do-os a comparecerem no dia seguinte para o julgamento das causas e ouvir as qud-
Ml
e ymmiÊgom m mdimxiiá fúhagiaa^ o fae «Um iemim iNiem gosto-
sos, ch^aodo alguDS a pedir pira pôr u mios sotire t Mgm éò Bl-Reí,
que sempre n'estes actos está collocada em logar conveniente.
Os régulos mais poderosos do districto s|o Mata e Matapíssa (biton-
gas) ao N. ; Inguana» Qwguerr^ a Zimguzi (landins) ao NO. ; Blacuaiba
(biàdin) e Mucombi (nMndoBgue) ao NO.; m S. o riBguk) mais wportante
áqaem do PoeteHa^, o QmíbiBa, ê «iem o iOiWêk^ Mato piíderoto e ha
pouco tettpo sujeito defMttvámente á eófõa.
Dívidem-se estes povos em quatro raças dlstinctàs: bitongas, burron-
goeiras^ nindiíMigues e iaudins. São polyganios, não têem religi&o, mas
reconhecem om ente supremo, a ifmm. m sua lingut chamam Nuguo-
guio, que em português quer dizer, o maior sobre todos.
Usam differentes armas, arco t flecha, espingiurda e zagaia.
Pagam tributos ao estado m serviços pessoaes, mantimentos cafi*caes,
obras de palma, esteiras» aLcoJCaSf saccos de palba^ etCr
Os rios mais ímportairies do districto sio PoeleUa (?}, Inbampon e
Cobane ao S., o Manharra e Bembe a O», Muirumbeoé e Msogi t NK.
Alem doestes rios ha alguns riachos e la|oas mais pequenas. Os po-
vos vassallos da coroa, excepmaodo os mít)aoiti|:és, que Úú muito des-
coofiados e ladrOes, respeitam os brancos, âiyeitam-se quasi todos aos
trabalhos agrícolas, por pequenos salários. Pres(am*se ao serviço de cir*
I
xfes e reGianações que lhe pretenâam faser. tíê ragnliM retin»-se logo» e è m\
mooMmto que os seus minietrM lhe qneieiii 4ar cravas de alfeeley diipotaiide a
primária de servir de eavallo lo aau ragnle, ipreeãrtattd<i4he o esifcaço pam Mt
aitecâ montar. Este aeeeita o mlaistro qoe Uie ias mêiã a geilo^ paim «ia cmr
amiila^^ a dasinteUigendaa «o nkiittcrio.
É realmenle eorioso ver oadio es mieiMrDs eorrem eom oi ases recnlaf éseos-
Cãs, pelo laeio do povo, que fac «ma griuría infernal, acnaeeado a bolha doe lam-
beras, marimbas e |Milfi|paíaf (eonieta de etaifVe de bairiá), nrasiea harbara, da ^fua
qnasi todos os regalos ee feaem acompanhar.
Em todos os pontos da vttia ee tentem ee batmqttse. Os reguk» aiobemraeBbi-
dM e moilo obsequiados peias babHantes, oom quen estie em mais oe meBee ra-
tafSes. A casa do capitie mór é a mais frequentada, por ser aK qna eiialB o da-
pestto das bebidas, que os prelos muito apredam.
No fim do lereeiro dia deqiedem-se os regoloe, que recolhem áe suas Isms sem-
pre satisfeitos e eheios de reconhecimento pela forma eoSM feram por todos reoa-
bidos.
A ultima banja que teve logar em Inhambane foi no gov^no do teaente Mo
Edeardo Ribeiro^ em 31 de outubro de ises, sendo governador geral da pravlaela
o conselheiro António do Canto e Castro.
i Denomina-se assim uma grande lagoa ou rio, que ainda nio lòi eiplorada.
s Para mais desenvolvidas informações, v^-se o Boletm BffieM deUsfaSibi-
que, B."» Si de i8Sa, mappa de eomatando das terras.
regadores, aeompanliMiik) od negociantes que vio ao setiãot^eommer-
á» rái ttialfitt, traDSpòrtando4hes as mercadoHas, por uma certa e de-
terminada paga, ajustada entre si, sendo este por emquanto o único meio
de trafnsporte qpie ha, por fliita de estradas con\'enientes por onde livre-
mente possam transitar carros.
A cultura do amendoim (ginguba), da borracha, do arroz» da cera «
dos mantimentos cafreaes, a caça aos macacos, dmbas, búfalos e outros
animaes, para alcançar as suais pelles^ asi^ como a caça aò elepbaaite^ é
occupação exclusiva dos negros, que sao ainda os únicos agricultores e
caçadores do districto.
Todas as questões entre os pretos sio julgadas segundo os seus usas
e costumes, de que se formou um código muito curioso.
Os régulos s3o juizes de primeira instancia, ficando ás partes o direito
de appdlaçio para o capitão mór das terras (empregado nomeado pelo
governo que superintende nos negócios cafreaes), que julga em segMdâ
instancia, havendo ainda direito de appellaçio para ojuramenio de HHm*
ou juizo de Deus.
1 Juramento do mavi, forma e c^raraonia/. — Estando as partes lítígantes étm
MOS defensores e pessoas de íámilia, na presença do capitão mór, manda este (te-
mar o ctuikecmheiro (mezfnheiro, adivinho) e o f ax recolher a uma palhota, oirfle
^nbaneee inoemmonieavel por espaço de doze horas, pelo menos, seaáo guardado
á vista pelos parentes ou pessoas do confiança de uma e outra parte, a fim de qae
nao possa ser subornado.
Entretanto o capitão mór faz convocar os régulos vizinhos c a sua gente, para
presenciar o julgamento. Depois de apparecer numero sufiiciente de régulos, são
diâmados os litigantes, qoe s%o nhrSgados a prometter snjeiçSo á decislo, deposftando
n*este acto uma determinada quantia, como multa, ou antes imposto de lieei^
para a feitenda publica (81000 a lOMOO réis), a pagar a Importância dos emolu-
mentos dos empregados das terras, a pagar ao cuchecucheiro, e finalmente a de-
positar a importância combinada, que deve receber, como índemnisa^, o que fi-
car absolvido.
Satisfeitos estes encargos dá-se principio á ceremonia pela seguinte maneira:
Porma-se um grande circulo de povo, collocam-se no centro os litigantes, que téem
sempre ao pé de si os padrinhos (parentes). Apresenta-se em seguida O eudMU^
cheiro, sempre guardadora vista, e depois do ter prontmciado uma curta ai^aiÉ,
peáe a eada uma das partes uma manilha de metal, que estes costtunam Iraier M
braço como adorno, e as guarda sem cm'emonia, entregando em troca, a eada ilill^
uma galiinha, que toma das mãos do capitão mór, que assiste, com o sen estariíÉi^ á
este aeto. Em seguida applica ás gallinhas uma certa dose de veneno, que de
anteniSo se prepara e é feito do sueco de plantas só conhecidas dos negros. Aura ilil<*
nistrar o veneno lança mão de uma folha de arvore, que dobra em fónna àé fbttR,
e qm lhe serve para o medir e introduzir no bico.
Os litigantes e os espectadores, no maior silencio e com a maior andedtde^ es>
peram o resultado, que se não faz demorar.
396
As questões para julgamento que se apresentam com mais frequên-
cia entre estes povos referem-se a direitos de caça, a terras, adultérios,
feitiços, ferimentos e poucos casos de morte.
Em geral todos os pretos são apaixonados da bebida, e para satisfa-
zer a este vicio fabricam aguardente de palmeira, de ananaz, de laranja,
de caju, de fructas silvestres, de quasi todos os cereaes, e até de raiz de
mandioca ; com duas panellas de barro e um cano de espingarda ou
um bambu furado, improvisam um alambique, que satisfaz perfeita-
mente.
Tanto os pretos como as pretas cheiram rapé, fabricado por et-
les de nícociana, que se dá ali perfeitamente. Muitos fumam o tofi-
guef semente do linho cânhamo, e quando o usam em excesso embría-
gam*se.
Fabricam os utensílios de que carecem para seu uso domestico, ha-
vendo entre elles alguns muito industriosos, bons ferreiros, ourives e
fundidores de cobre, juntando a este o estanho para o fabrico das mani-
lhas.
Os mindongues excedem n'este ponto todas as outras raças, e não se
limitam, como o geral dos cafres, a fabricar unicamente para seu uso ;
bzem grande commercio com os productos da sua industria, que consiste
especialmente em gamellas de madeira, colheres, pilões, quietos ou chi-
nindus, supôs de palha, esteiras, flo de piteira para redes, cordas de
k
No lim de dez ou doze minutos, uma das galiiokias morre, o vencedor oleva en-
tão a sua galiinba sobre a cabeça, a fim de que todos a vejam viva e reconheçam
a sua innocencia. Gomo é de prever esta galiinba poucos minutos sobrevive á
outra.
Todos os cireumstantes soltam grandes gritos, e acompanham o vencedor em
trinmpho!!
O vencido trata de desapparecer, a líui de nào ser insultado, sendo preciso
muitas vezes recorrer á protecção do capitão mór, porque tendo sido a questão de
feitiço, por exemplo, o desgraçado corre risco de ser morto pelos outros negros!
Em 1852 ou 1853 o governador Pinbo mandou dar mavi a ims negros da povoa-
ção de Murrumbeni, accusados pelo regulo de feiticeiros, e permittiu que estes des-
graçados tomassem o veneno, de forma que morreram alguns. D'essa epocha em
diante não se permittiu mais tal barbaridade.
Consentiu-se que houvesse o juramento do mavi, mas determinou-se que o ve-
neno fosse applicado ás gallinhas. Não era possível banir de repente este usa Im-
poz-se uma multa, para o estado, aos pretos que quizessem praticar este juramento,
com o fim único de o difficultar. Esta medida tem sortido bons eíTeitos. Os pretos
ji raras vezes se apresentam a pedir que as suas pendências sejam julgadas por
similhante forma.
»7
casca de arvores, inpuítis^, ingidas^ quitundns e maílos oatros obje-
ctos que os outros pretos e os brancos precisam para seu uso domes-
tico.
Em tempos de lavoura não apparecem os mindongues; feita esta,
inincipiam a entrar na viila em caravanas de cem e duzentos, carregados
dos productos da sua industria, trazendo também ao mercado muita cera,
mel, mendobi, milhares de gallinhas e centos de carneiros e cabritos, de
forma que abastessem a villa. Differentes partidas d'esta gente percor-
rem as terras da coroa, negociando com os outros negros.
A distancia a que ficam as terras dos mindongues, o génio descon-
fiado doesta raça e a sua predilecção pelo roubo, faz com que poucos bran-
cos vão ali negociar; e por isso elles se vêem forçados a vir procurar a
venda dos seus productos. São sem duvida as terras dos mindongues as
mais ferieis do districto de Inhambane. Os terrenos são magnificos, cor-
tados por vários rios com margens muito férteis, e que se podem apro-
veitar para todo o género de cultura ^.
Proporcionadas boas habitações, boa alimentação, soccorros médicos
e boa escolha de local, qualquer colónia se pôde estabelecer n'este dis-
tricto, sem receio que deixe de vingar, de prosperar e desenvolver-se,
porque n'este paiz é, sem contestação, onde a agricultura pôde ter o maior
desenvolvimento, sem perigo de vida dos colonos.
O governo deve auxiliar qualquer colónia que ali se queira estabele-
cer, ministrando-lbe tudo quanto lhe seja preciso nos primeiros tempos,
para sua estabilidade e segurança pessoal e dos seus estabelecimentos que,
aindaque montados em território sujeito á coroa, não estão isentos de uma
aggressão dos negros vizinhos.
A população preta sujeita é pela maior parte agrícola^ com especiali-
dade os bitongas, burrongas e mindongues. Os landins são guerreiros,
sem comtudo deixarem de se empregar na agricultura.
A canua do assucar, o algodão, o café e o anil dão-sc perfeitamente.
1 O imputo è extrabido do entre-casco do imputeiro. Serve para vestuário dos
prelos e para differentes usos; tem geralmente 2 metros do comprimento e 1",5
de largura, parecendo um panno tecido. Só depois de aoalysado é que se percebe que
c cntre-casco de arvore, estendido por um processo usado por elles. Deve este pro-
ducto servir para o fabrico de papel, assim como a casca de muitas outras arvo-
res, com especialidade a do inbundeiro ou mulambeira.
2 Ingula é um grande cesto de amplo bojo, com a boca estreita, feito de palha
e vime, que serve para guardar os mantimentos, havendo alguns que levam ap-
proilmadamente 1:400 litros. Tem a conflguração de uma pipa.
3 Só consta haver ali uma mina de cobre nas terras invadidas pelo regulo Maun-
ja, que não é explorada, por elle não o permittir. Fica a três dias para O. da villa.
k
MMio â estas cutaras ^ m éevia dv OMitor «ttncio, pan • ctosaovol-
râMoto • prosperidade da provmda.
O cidadão Jo3o Loforle, morador de Inhambaoe, foi o nnico que em
11164 Ibi uma ptaetaçio de €«iim> eom seaeete riada de Boorboo^ e nio
pedando fabriear easucar, fei ISO barris (12:800 litros) de aguardaste de
eioeUeiile qoalidMte, qw vendeu a 18($000 r^s o barril para cmainae
do pak, exportando apenas algims barris para Lourenço Marques. Depois
d'eaaa epooba seaspre «ah eu neoos se fabrica aguardeMe de canna.
A cultura do algodio e caft ó também feita em pequena estria.
O algodio é da ndbor qualidade ; já veiu ao mercado de lisboa
e M ao de Inglaterra. Bm um e outro foi bem classificado e obteve bom
preço.
O café é de superior qualidade, mas muito pouco conhecido na Eu-
ropa, porque Iode o que se colhe é para consumo do paiz. NoIdosso mu^
seu ttíkxsM se podem admirar algumas amostras d'este producto.
Do anil nuoca ninguém curou ; nasce e ciesce em toda a partOi arran-
eando-ee como plania kiutM^ para em seu logar semear milho ou mexoeira !
Da porgueira e do ^rrapateiro ninguém faz caso. A purgueira serve
apenas para guarnecer es qnmtaes, appUcando^e como sebes divisórias
dk» terrenos.
Muitos terrenos s3o também pfopríos para vinha ; algumas parreiras
de dva ferral que ali ba, quando tratadas convenientemente, produzem
naigoiftM)s e saborosos cachos, com a circumstancia de dar a videira bih
do duas veses no anno.
Os legumes e hortaliças dãose tSo bem ou melhor que na Europa,
com especialidade nos terrenos do N., denominados Burronga, onde no
tempo do (Ho é eate ati tio intenso que algumas vezes se apresenta e solo
fendido e com umá crusta gelada, n3o podendo começar^se os trabahos
agrícolas senão depois das nove horas^ que é quando o sol principia a der-
reter o gelo. Para as hortaliças produzirem melhor é preciso importar an*
nualmente as sementes da Europa, porque, em geral, as que ali se co-
lhem não são boas no primeiro unno e no segundo degeneram comple-
tamente.
Certa qualidade de couves, e com especialidade o repolho, repro-
duz-se por estaca e produz assim muito bem '.
Produz o distrícto borracha, mendobi (ginguba), arroz (a meiher
qualidade da provincia), cera, milho fino e grosso, mexoeira, gergrite,
1 Chama-se estaca aos rebentões que se dâo no pé do repolho, depefs de ae ler
aertado este; em atlingindo um certo tamanho separam-se do pé, e&terram*ae e, em
futtro ou ciaeo dias d^tam raises, faaendo-se em pouco tempo exeePenies repelíeis
«pn, coeoi, amUiiM 4e iobantalk^ «aferi (sebo ^^egetal), anitè de
wmtiãM, caDoa de aMicar, âlgodio, oák, mA, tamaraido, mandioca, 1»-
ra^ja, teSo, ftangis, o^k t piíMiU enoirnada; dio^se beKilitNnBiiin Aa
odomercío» aplaoUdo«iiíltqaeéeapottaD6a»eabataUdooedaE«ropa;
(an Meelkfites madeiras para coDSUuocões tivis e oavaes^ iegumea éè
lodM as qualidades, e hortaliças, €Oibo ji se disse. A aaaior parte doestes
produetos exporUm-se em grande escala» bem como muito marfim» p^
les de maeaco e dmba (^ra os zulu^ e basiuites couros de bofidot,
ODgoDba, zebra, algumas pelt^ de carneiro e cabrito e bastantes cos-
roedeboi. Tem-se também exportado aguardente de canoa, de càjà e de
palmeira; a maior p«te, porém, d'esl6s líquidos consone-se no dis^
trícto.
Inbambane importa os mesmos géneros que Quelimane e ouiros por*
tos, com pequena differeofa na oomeadaiQra.
•
Bohiã de Lourenço Har quês K —Qiismdo mar iargo demanda a bahía
de Lovenço Marques, a que os iagiezes diamam Delagoa Bay, acbando-ee
coHocado no ponto central que forma a sua boca ou embocadura, arista
do lado do S. a ilba da Unlúca ott lobaca» e do N. a costa Gaianga juMo
á entrada do no da Magaia, a que os ioglezes denominam King's George
Ri ver, e nós Manhiça.
A extensão d'esta embocadura é de i(0 kilom^ros. A barra começa
no cabo da Inhaca e ilha dos El^bantes, a qual se estende O a 6 kilo«
metros em um banco de areia e alguma pedra, banco a que se dá o nomft
de Cockburn, e que não offercce passagem a navios.
^ As infunnações que pubMeámos áeeraa d*este (Ustricto foram-nos dadas pela
sr. FraueisQO dos Santos, muito conbecedor da província de Moçambique, aode se
demorou por mezes successivos.
O sr. Francisco dos Santos teve occasiâo de observar bastantes logares dá òos-
ta, percorrer muitos rios, apreciar a fmpottdnda dè dtdá uma das èttêtánèB
kMuJidadss dà província de MoçamtMqne e estadar és eostmes dos Meus hiM*
tmâêiy adquirindo ali tao vastos conhecimentos commerciaes qua sem receio se pôde
dizer que é dos homens que mais sabe com respeito á província de Moçambique,
gosando por isso de uma reputação bem merecida.
Foi pela primeira vez à esta província em 18S6, como offlcial de marinha mer-
cante, encarregado dos negócios do navio.
Tisitou n'esse anno a bahia de Lourenço Marques, Inhambane, Quétimaiw é
Moçambique. Voltou em seguida a Lisboa, mas foi pouco demorada a sua estada
aqui.
O distrícto de Lourenço Marques é o que Oca mais ao S. na província de Moçam-
bique, e ó por ali também que nós devemos entrar para chegar ao coração da
Africa eediral, recebendo os europeus que desejem estabeiecer-se no nosso terri-
tório.
%
300
Para o N. ha os Ires bancos princípaes chamados Hope, Domett e Gul-
field Fiat, com tortuosos mas bons canaes. Tem uiâa profundidade nunca
inferior a S^^^S na baíxamar das marés grandes. Nos dois primeiros
bancos varia o fundo de 6 a 10 metros, porém a 926 metros para NO.
do Hope, differença-se a agua clara n'uma pequena extensão que não tem
mais de 5 metros, tudo na baiiamar das referidas marés. O Gulfieid
Fiat, que fica mais para o N., é o mais baixo, pois tem unicamente 7
metros n'uma extensSo de 5^,5 NViNE e SViSO., deixando ver um canal
superior a 2 kilometros entre a extremidade N. e a^rra baixa que se es*
tende da costa ; não tem menos de 19'",8 de profundidade, e é sem du-
vida o melhor e talvez o único livre de perigo para os navios de maior
lotação, vistoque ainda não ha bóias para marcar os outros canaes. Gul-
fieid Fiat é geralmente conhecido pela cõr da agua.
Nâo obstante a profundidade mencionada, o mar rebenta em toda esta
extensão quando o vento sopra rijo do quadrante SO., mas não impede
que os homens práticos deixem de investir a barra sem perigo, porque
procuram com marcações exactas o canal de entre Gockbum e Hope, o
qual não tem menos de 13 metros, mesmo quando o mar rebenta sobre o
navio. Esta é efiíectivamente a derrota mais seguida pelos navios do com-
mercio e vapores da companhia real ingleza Union, porque lhes encurta
o caminho e facilita a entrada.
Actuahnente existem pharoes em uma barca, fundeada em 6 melros
de agua no extremo N. do banco Cockburn, e seria de grande utili-
dade que se marcasse este canal por bóias, a fim de facilitar a entrada
no porto, onde não ha práticos.
Da ilha dos Elephantes á Ponta Vermelha, que é a entrada no rio de
Lourenço Marques, a que os inglezes chamam erradamente English Ri-
ver, e onde está a villa d'este nome, ha uma extensão de 24 kilometros
sobre 38 de largura para a parte do S., formando uma espécie de lagoa
baixa, sempre coberta de agua em maré cheia, e semeada de canaes pro-
fundos. Para o N. fica a ilha Shefina de 6 a 8 kilometros de comprimento, ja-
zendo ENE. e OSO. ao longo da costa da bahia. É bem arborisada e pôde
obter-se ali agua. A parte mais baixa é toda de areia branca, e a certa dis-
tancia é difiQcultoso distinguir a ilha da terra firme. £ cortada de recifes
que para a parte de E. se projectam a mais de 7 kilometros com um
fundo de 6 a 8 metros a 2^,5 de distancia ; porém depois doeste fundo
encontram-se bancos de areia, de pequena extensão e de pouca profun-
didade, o que faz que estes recifes sejam perigosos para os navios que
preferem entrar pelo N. do canal entre Cockburn e Hope.
Entre esta, pois, e a lagoa mencionada que fica para o lado do S., é
óptima e franca a entrada até á Ponta Vermelha.
304
Na parte SO. da babía fica o rio do Maputo, navegável a lOOkílome-
tros para o interior, tendo dois canaes salientes, um que vae do porto
Melville junto á ílba dos Elephantes, e outro que segue do rio de Lourenço
Marques, junto á terra de Gatembe, e que se junta com aquelle no sítio
em que o rio toma aquella denominação, e em que divide a terra do
Maputo ^ da de Gatembe.
1 O Maputo pagou durante muitos annos tributo aos portuguezes, mas deixou
de o fazer e de lhes prestar obediência desde o fim de i871, em que se empenhou
em guerra com outros régulos sujeitos à coroa, guerra que a auctoridade nao
evitou, podendo-o talvez conseguir, se nao se houvesse collocado ao lado d'es-
tes^ depois de terem provocado com ameaças stultas o regulo do Maputo, que tem
mau caracter e é deshumano.
Com a saída d'aquella auctoridade renovou este regulo as suas relações com-
noscu, nao se prestando comtudo a pagar o tributo devido, e conservando o seu ca-
racter independente e por vezes ameaçador. É, porém, contido em respeito pelo
Techoai, regulo dos zulus, nosso amigo, a quem eUe paga tributo, e lhe impõe a
obrigação de respeitar as determinações dos portuguezes.
A Gatembe, que confina pelo S. com aquelle, estende-se para o N. até ao rio
de Lourenço Marques. Ali foi collocado em maio de 1875, pelo governador Augusto
Castilho, um pequeno regulo, a quem pertencem por direito de successão aquellas
terras, que assim se chama o território sujeito aos régulos ou à auctoridade portu-
gueza.
Seu pae o regulo Becuti, e senhor d'este dominio, era homem valente, e com
a pouca gente de armas de que dispunha, sustentou por muitos annos guerra de
gigante em defeza dos seus direitos contra o regulo do Maputo, que ]h'as queria
roubar, abusando da superioridade e poder quasi sempre maior do que o d'elle.
E se muitas vezes pôde com o seu valor e astúcia conjurar o perigo e subtrahir-se
a tão feroz perseguição com sacríficio de muitas vidas dos seus, que já se viam
em muito menor numero, e se enfraqueciam n^estas contínuas lutas, não lhe era
dado nutrir a esperança de escapar á calamidade que, dia a dia, lhe mostrava o
abysmo. E no emtanto não tinha auxilio dos zulus, que por mais de uma vez o
salvaram.
ITestas circumstancias adormeceu um bello dia nos seus domínios, e viu nas-
cer o immediato no então presidio de Lourenço Marques ou Cheringuina dos pre-
tos, que procurou para refugiar-se. Tinha sido accommettido de noite, sem o espe-
rar, e não podendo reunir a sua gente, teve de (tigir a uma morte certa, porque os
negros em guerra não dão quartel nedi fazem prisioneiros — matam. Os seus, coita-
dos, foram quasi todos mortos, e alguns mesmo na praia, em frente e próximo de
Lourenço Marques, pelo que a artilheria da praça jogou alguns tiros.
Não podendo rehabilitar-se para retomar o que de justiça lhe pertencia, falle-
ceu no exílio, succedendo-lhe nos seus direitos o filho, actual regulo, que por ora
não tem sido perseguido.
Os terrenos que pertencem a esta parte do nosso dominio são férteis, e podiam
produzir canna de assucar, café e outros géneros, se porventura fossem cultivados.
Nas montanhas e planícies ha grande quantidade de gado bravo e caça grossa, que
os naturaes procuram muito, aproveitando*lhe a carnt* para comerem e trazerem
aag
A irbofi3a(sio é ahnnitM^Hj muí priae^mÉMotei juito m rio do
Maputo^ e, na «aior eslmtfln à'mèÊ^ è db da^iima beUiza surprthm-
éeâto^ porqne arfoiw eohnai» Mtrelifai os mio tmmmào om eo-
poi^ áe ataboda lio agntdmralf» esioni o viqailo.
Abnia cbi k!jrpp^pol»io& oi^ cskuHoo mar«à|06.
Na parte NE. da bahía e da ilba SheOna fica oriti d» Mag»» oa Kki§^»
George River, como lhe chamam os inglezes, que é o melhor e mais im-
portante de todos.
A Ponta Vermelha» 6Q mâtros «cima do m^l do mar ^ N., e a Ponta
ckS^t 4a Catembe, a qm os wi/g^^i^ ^^umm^ MmvIumB, ae S., fonaan
a fiBil «etrada o« barr» dtiria d#i Lovress* Marques, 2ffili|aMMBte de-
H6mi— da d» IspirHo Sanpt», sqiMrtton Itmetrosembaixannr e 17 eK
preamar de marés grandes. É um excellente porto e o melhor desde o
cabo dia Boa Esperança até Voçvubique.
* Na ]^>nta Vemelba «ige o» sbaMlio» qua ae avista» mí teaip»
alan^ a 30 IcikNWIros. O úb tas botas ns pMios qm oéfersesai perigo
aos navegantes menos experiente», as qmes sio^ necessárias p^ htíto
db dSò haver ali homens pratiros. O ancoractooro tem 15 a t7 metros de
bom, fundo,, a 1 Idíometra para dentiTO da Ponta Vermelha, em fireate
da ^álla d^ Lowenço MarqfíMds^ qiK^è situada ao NE. á'e^. Do lada SOw
fica a parte N. da Catembe, a cujo extremo N. os inglezes chamam Lmk-
mere, qm, eoRjundamente' een aqcreHa, formam este ria qae ree^e dif-
ftrentes denominações, como Maitola, Dundas e Tembe, á pn^r^o qae
se vae internando e confonne a direcção que toma e as tevras qiiie
baiAjk
& ria áa Maiolay em segniiiieDt^ ao de Lourenço» Marques, tema o
nome dos tributários mais a^IfO. doeste districto.
T^ a Ibz cerca de 29? metros de largo sobre 33 de profundidade ;
mas, f 4 kilometros acima, a sua largura diminue para 27 metros CQia t7
d% pntfundidade. Até pouco mais. aaima d'este loeai ainda podo» iater-
na»^. pequenas embarcaçiSeav
Aliõmita-se este rio com as marés, e por isao a soa proftandidM^ é
maior ou menor conforme o fluxo ou refluxo d^ellas.
Não longe está o insignificaitte rio Infulene, qiiie deixando eDti:ar ^
maré n*uma ffcmà» extensão da tiíerra baisa que eom elle aonfina» daiu
navasaate uaia grande langua que* oancorre bastante para a insatabridade
doeste sitio.
a pane ao marcado. Habitam também- aqui, prindpalineiite- no- moiMa^Einpanlie^
oasalom-e mais feroses ledes de toda a AMc^ ád» qnae» no passeio dtrBMrelM^
ha um exemplar ali apanhadio.
Ma» adiiDie eone a rio laraMie. mi doft Groeaâitos, q«» è de |M)w»
importância, mas de difficil trajecto, não só por abuadar mmio cn mh
coditoBi mas porqae 06 ter renoa d^ac^atea sia ledosas a sem eaMisten-
cia. Tem imia ponte de madeira^ por onde passaaa aa aanete doa baeta
com grandes cargas. Fka aa estrada fiie ewdaa aai Inwwaãd.
OrioDuodas coirct ao laogo da Caleaibe^ por iiaa canal artreito mas
prafasda e pôde oiirec^ passagem a nanoe. Gommijca por eHe eaaa
o de Lourenço Marques e com o da Maloias atena do qwt fie». VsÊk eataa
o d» Hatola e T^ori^e^ havendo aaiaiicfiGi d'eHes.b0aa afieoradowa. Até
1832 pouca importancifl se Hie dava^ mas depoia encetaram-se tnaisaa^
çSm cemoiareiaes com e regida Massaote^ qae ali deoma, e eajae terras
são banhadas pelo mesoiO' ríek, aiadaqve somente na extei^ia appioit-
mMto de 17 kilometros, oeaflnjafdo eoai ocdras pequenos rios aavega-
veis em botes só em mar6 cheia.
CoDheceu-se enISo a necessidade da o eapbrar por meio á^
qoe chegam só até Bombai, uma das povoaçõea d^aqnette regak^
bom êxito, facilidade e economia para o commercio ; e hoje, depois de
reeooheeida a saa importaada e ser freqaealado, é eanbeeída pei^aeme
deBoflibai.
 curta distancia da sua foz tem elle 52 metros de largo e 22 de pro-
faadidada, e uma embateaeio á v^ eo». bMa venl» a nará^ percorre
aqaeHa derrota em seis horas.
Gomo fica dito, entre este rio e o Tembe ba um bom ancoradouro para
navios» janto a uma pequena ilha de nome QieXq^o^.
Contornando a Catembe segue a m Temt^». mais. lacgo a mais. fuiid^
da %Be o da Matela.
£ navegável para navios, que nSo demandam mais de 4 metrea é&
agua até 38 kiiometros da sua foz, e para emb^ca(^e5 pequenas, M
i^5 kiiometros, ponto este em que se divide emdoiâpeqjoeoQs.br^fifMt.
dos.quaes um dirige-se para S. e ouíro paj:a O.
O do S. tem prosúmamenta VI metros de larga na saa emiiacada9%
e a peqaena distancia é impedida a navegaçSo, porqoe ha nWe wan ea^
pecie de barreira de arvores caídas, que obstruem a passagem* O db N.
é pedregoso^ e também, como aquellei^ não iim sido expljorado.
SoppSe-se cpie o do S. vae encontrar-se oonoio m Maputo» cer<mda
^ foii mandada eonstndr pelo governo português, por iat^meâio do-entioga»
veroador liiyreiso José Me»dea Faloato, e eoalratMb eom^ oameríeaoo Mlllsi iMè
cenairaidiBi oom poaca seguraaça e nSooffeMee âmiaçSo.
^ iâftim ebanado porque 4 o abngo do» hjMaatea d^ MEitola» aiiihflwaa
cmaa^at^ qoe nao. podem pegar em araras em* caee de'giierra.
304
ioda a Cateiabe> fazendo d'ella uma ilha em vez de terra firme, como aié
agora era conhecida.
O de O., se, devidamente explorado, se estendesse para o interior,
até a algumas kilometros» seria de grande auxílio para as nossas relações
com a parte S. da republica dos boers, que lhe fica superior.
Esta simples mas exacta descrípção mostra quanto urge proceder a
estudos n'estas quasi desconhecidas regiões, cuja exploração traria muita
luz a questões de grandes interesses sociaes e scientificos.
Este rio é alimentado por agua salgada, e por consequência sujeito ao
seu fluxo e refluxo. As margens s3o baixas e abundantes de salguei-
ros. O interior é revestido em muitos pontos de arvores seculares e gran-
des campinas de herva. A O. fica a serra de Mossuate.
Todo o distrícto de Lourenço Marques abunda em urzella, conhecida
nos mercados como de melhor qualidade, mas no rio Tembe e Maputo
a quantidade d*este producto é prodigiosa ; no entretanto é desprezada
pelo pouco valor que tem.
Lmtrenço Marques^. — A cerca de 1^,783 da Ponta Vermelha assenta a
villa de Lourenço Marques em uma pequena língua de terra baixa, are-
^ A respeito das obras publicas em Lourenço Marques^ dão-se n'ain jornal de
Lisboa, sempre solicito em fallar a respeito das nossas colónias, as seguintes infor-
mações:
cNoticias ultimamente recebidas de Lourenço Marques^ em data de i6 de março
próximo flndo, dízem-nos que cbegára á bahia d*aquelle nome, no dia 3, o trans-
porte de guerra Africa^ conduzindo o pessoal para as obras publicas da província
de Ifoçambique, fundeando, no dia 5, a 209 metros da villa. A descarga do navio
começou no dia 7, e só concluiu no dia 16, por se baver interrompido por vezes
em consequência do mau tempo. N'esse mesmo dia i6 ficou instaliada a respectiva
secção de obras publicas. Todo o pessoal da secção trabalhava já activamente. O
director das obras publicas^ major de engenheiros, Joaquim José Machado, deixou
as convenientes instrucções ao tenente de engenheiros, chefe d'aquella secção, João
António Ferreira Maia. Procedia-se á armação das barracas, idas d'aqui, e á aber-
tura de uma rua em boas condições, até à povoação, destinada a continuar-se de-
pois por uma estrada até ao pharol da Ponta Vermelha. Construir-se-ha um barra-
cão para officinas e armazéns, e se for vantajoso, um pavimento superior para
n'eUe se estabelecer a repartição das obras publicas. Foi determinado, com a má-
xima urgência, o projecto de um paiol, que possa acommodar a pólvora do estado e
dos particulares, no peso approximado de 125:000 kilogrammas, devendo ser con-
struído fora da villa, para substituir um antigo armazém que existia em perigosas cir-
cumstancias. Mandou-se proceder á pesquiza de pedreiras, ao fabrico de cal, tijolo e
telha. Trata-se de um projecto para casas económicas, destinadas a operários, e de
outras para um hospital, com capacidade para cem doentes, e para uma igreja. A
muitos outros estudos de obras importantes e indispensáveis se ia ali proceder
igualmente, taes C/Omo de uma casa para escola, de um quartel para 500 homens.
305
oosa> qaasi península, poisque se acha torneada de agua salgada em
marés de aguas vivas. A sua extensão não excede 1^,783 sobre 660 me-
tros de largo na maior largura.
Contém três ruas principaes, afóra a da Praia, as quaes correm ao
longo da povoação S havendo outras mais estreitas que as cortam. São
safficientemente espaçosas, mas as transversaes muito estreitas e im-
mundas.
Tem também um largo que está em relação com a pequenez da
villa, mas nem este nem as ruas são'macadamisadas, o que faz com que,
na maior força do sol, a passagem sobre a areia se tome incommoda e pe-
nosa. As casas são de pedra e cal, mas baixas. As de recente constrac-
ção téem boa apparencia e bastantes commodidades ; as antigas são de te-
ctos baixos, pouco ventiladas e de más divisões interiores.
A fortaleza, que tem um dos seus ângulos para o mar, está hoje bem
reparada. É pequena, e possue apenas dois baluartes para o lado da terra,
entre os quaes ha uma caserna regular com a competente tarimba para
uma companhia de cem praças. Do lado de E. tem quartos, arrecadações,
calabouços e cozinhas, olhando para o mar ; fica d'este lado também a ba-
teria e armazéns, e da parte do S., que é a entrada, estão os armazéns, a
botica, que está em más condições, e a enfermaria, que é tão má como
a casa da guarda e as prisões. Os armazéns téem servido para depó-
sitos de géneros da alfandega, por ella os não ter em quantidade suflB-
ciente para as necessidades do commercio.
A artilheria é muito antiga, está em mau estado e vae ser substituída.
Ha somente doze peças de campanha que são regulares.
A alfandega antiga compõe-se de dois armazéns sem divisões. Está
contratada a construcção de uma alfandega nova, de dimensões e com ae-
commodações que devem satisfazer. É edificada em local mais apro-
priado para tal fim, próximo da praia e do rio, com o qual deve com-
municar por meio de uma ponte.
de um pharol para o porto de Inhaca, de uma fortificação com accommodações para
90 praças, de um edificio em convenientes condições para habitação do governa-
dor do distrícto, de outro para a camará municipal e repartições publicas, etc. Or-
denaram-se também urgentemente os estudos para o desseccamento de um pântano
na viila, e os da bahia, devendo levantar-se uma carta detalhada com as precisas
sondagens^ Sabe-se que havia produzido na cidade do Cabo excelleute efféito o i^^
parecimento da expedição, que estava cheia do maior enthusiasmo pelos melhora-
mentos que iam emprehender em uma das nossas mais ricas colónias.»
1 A povoação é cercada por uma linha de defeza feita em poucos mezes por
iniciativa do governador Frederico Augusto Gourgelt; tem quatro baluartes deno-
minados : 31 de Mho, S. Pedro, Santo António e S. João.
ao
A ediflcaçSo da villa no lo^ar em ()ue sé âcba, éó |[iodería tet* desculpa
em attehçsrd á defeza é em pres'énçá das vantágeiis rtHIitares que offerece.
É cercada de um paul bastante extenso na pãHb N., que é considerado
miasmatico e muito prejudicial á saúde dos habitantes, e àdnlira até que
se deixasse abandonado por tantos annos, e que a agua para beber seja
tirada de poços mal feitos e de náslcentes que áthvessám logãreà ibimun-
dos e cheios de detritos vegetaes. No paul nasce certa qualidade de herVá
de junco e de bananeiras que foritiam espesso inato, que áti apodrecem
e augmentam a insalubridade da vilIá.
Pará alem do pailU ou langua, coino ali lhe chámàbi, d tèri*eÍlo é
arénoâb, e eleva-se suavemente em fóhna de átúpHitheãtro ai& tenúiHar
em ílbi cerro n3o mui distante dia villa. Nó centro foi iharcádo o local
para se levantar a nova povoação que pôde ter grande extens9o, e será
mais salubre do que a actual.
Âponta-se no entretanto como melhor o terreno contiguo á Ponta
Vermelha, porque está Fôh da acção dos pântanos, é havéHa Idcál próprio
para o giro commercial.
No sopé doeste pequeno monte escoa bm toda a extensão grande abun-
dância de agua que alitiiéhfa d paiithno db paiil de que falíamos, a qual
rebenta de fortes veios que ali s& encontratil, ou vedl dé algaih mahán-
ciai supèHor, cujas ramiâcaç5é§ se estendeiti até abaixo. £hi todo o caso
é necessário áltento estudo para se conhecer i sda origem e poder a|)ro-
veitar-se convenientemente : nlas o que sobre tildo importa é estudar o
Dàêio dè evitar que a agua forme ò pântano ))tie urge extinguir, o que só
se conseguirá quando sé aniquilai o pHhcl^âí éleiãêhtò ^
N'este sitio apenas Se cultiva o milho e mexoeih. Alguns moradores
téêm machambas onde há algdttia hortaliça.
^0 aiiiphitheatro chatíikdo Gafumò está o régblò Alho do velho e
ffèi Machaqueiié coiii o seu táinbem velho è B^l Secretario Mátídissa, go-
vernando toda a cafraria doeste paiz que se éátehd^ á È. ãtè PãitlaQa, cujo
regulo, Quiguisseca, também lhe obedece como o da Mahota, que fica ain-
da a NE. d'esta; e do N. e a 0. fica o da Matola, por nome Afetabomo,
que por lei nossa também é obrigado a obedecer-ibe. Á NE. fica a gran-
de Mangaia com o seu regulo Mapunga que somente obedece á auctori-
dade portugueza.
Antigamente também estava sujeita ão nosso domínio a bella terra dá
Mohamba e a Cherinda, as quaes estão hoje independentes.
1 Costa na verdade a acreditar que se nao tenha attendido a slínílhàiite melho-
ramento, e será com certeza um dós que ha de merecer a attençSò dos engenheiros
que hoje se acham encarregados das obras publicas dà prbviricrá dè Moçainbf(}tie.
ab7
tõtíapfeheilde êálfe clíàlHclô * á fôrítb tfe iefrèhos qõè vae em linha
recta da latitude 26^ 30' S. para 0. até á ret)ublica dos boers, com os
qoaes cbnimtititbiâiiio'^ jpblHlè tíòsíú téítaè dU Matofò e da Mobámba. En-
tre esta^ téH*ás e áífiieireá terrerios se interpõem as montanhas do Lebom-
bo, seguindo idéj^iits á diViáSo (jpiè, por contrato entre estes e o nosso ple-
nipotónéiàríb Alfredo bláprát, jfoi deferinihada.
A montanha Lebòítlbb e ^ba seguimento para o N. até ao mar per-
tence-bòs, iháá úío temerá dbihitiiò eBiBlitivo senão até á Magaia, que fica
para E. doesta divisfò e se é§t'éh(ie ao pHiicipío da costa Calango, na em-
bocadura dá t)á)iia; sendo coHá^á (iéiç) rio do mesmo nome ou King's Geor-
[e RiveK côbò os ihgleSies lhe í&haúiâhi. Estes terrenos não estão ainda
lemarcâdos bor látitdilès e lbtl|lllldeá certas; e nem os rios devidamente
explorados por bbíneús coiíitietéiltèá. Apenas alguns commerciantes os
conhébem e freliiiébtáffl:
É necessário nío éàlltiécer 'qtíé ò districtò de Lourenço Marques é o
que niais tem soflfidb bom âs gtléH^ás '.
Os hoíneíis sãó valènfés; de boá estnlciiírá é dados á caça de elephantes,
búfalos e bútl*oè ánim'álés; i hxéhi on a ti;ábálhbá braçaes e ao serviço de
dlitegâdbres, qiie jHlgM tÍlat^ di^b d^ li do que a agricultura, que des-
prezam e entregam unicamente ás mulheres, como objecto próprio de
naturezas fracas. Ppr isso a ac^ricultura é menor do que relativamente o
è eín outros qístríctds^ cómquantb aqúl àè tão bom resultado como nos
demais terrepos da proyinciâ.
Sábm milhares de hoifiens para as colónias inglezas, o que também
faz encSrefcéf b áétvlçft; e entorpece ô desenvolvimento da agricultura.
Apiesálr íéstás diffictílcíâdés exportátil-sè j)àrá Porto Natal muitos centos
de kiiogramnias de miltio e báslárifé arroz, afora as pelles e productos
das caçadas.
O tributo que os régulos pagam á coroa portugueza é em mantimento
cafireàl; ttlilhb fltío è ghóSso; è taèXofeira.
A Jiiáqeilá abubdá. tátítò jhtilõ aos rios còhaó no interior, onde exis-
tem matas virgens e arvores seculares. I^a enòniie quantidade de ar-
vores de borracha, mas não a extrahem. Descobrem-se, principalmente
1 O terfCjno xjije legálmçnle perleíice a este dislricto eslà bem descripto no livro
do sr. visconde de Paiyá^Manso; porém^ dós só descrevemos aquelle até onde temos
dominio effectivd, embora tennamos, ás vezes, iic nos referir a outros; alem disso
faremos unicamente narrações praticas do que conhecemos.
.2 Não ha upisó regulo dos que hoje nos sao sujeitos, que não tenha pegado
eq^ ^rmás^p^á nc|3 j^gveáiv, algumas vezes contra sua vontade, outras de mandado
doestes contra vontade de alguns de seus subdilos. Na circumvizinhanca doeste dis-
trictò todas as hordas cafres são guerreiras.
308
na Magaia, grandes campinas cobertas de pasto> e em toda a parte o ter-
reno é apropriado para diversas culturas.
A estrada de Lourenço Marques para os boers foi mandada fazer pelo
governo. No começo é empedrada e segue na encosta do ampbitheatro
em direcção ao N. e E.; passa no rio Infulene onde ha uma ponte
de alvenaria com estrado de madeira e ferro, entra nas terras da Matola,
em cujo rio passa, e nas da Mobamba, no rio Incomate, cuja ponte já des-
crevemos, até entestar com a montanba Lebombo na direcção de Lidem-
burg ; n^este ponto ha um ramal em direcção a New Scotland ou Gold
Fields, nova colónia explorada já depois do contrato da divisão dos limi-
tes entre nós e os boers, exploração emprehendida mais pela natureza
áurea do terreno do que pelas suas qualidades agrícolas e sanitárias, que
são más. O ramal de que falíamos tomou-se necessário por causa das
relações commerciaes que se desenvolveram entre aquella colónia e o
nosso porto, e teriam attingido um grande desenvolvimento se não hou-
vesse n'este trajecto a região da mosca tsé tsé, que mata todo o gado ^
N*este caso não podem estabelecer-se carreiras de omnibus para passa-
geiros, nem carretas puxadas a bois ou cavallos para conducção de mer-
cadorias, á imitação do que fizeram os habitantes do Porto Natal, que,
1 A mosca tsé tsé, já muitas vezes descripta, tem a configaração mais da mosca
das cavalgaduras, do que da ordinária que habita entre nós. É comprida e pequena.
Habita principalmente a serra do Mossuate, na parte E., e segue para o N. pelas
nossas terras da Matola, Mobamba, sempre para o N. até à Sinquine, na altura do
Bazaruto, onde ha noticia que ella também ali chega ; mas nio transpõe al^n d*esta
linha, nem para O., a montanha Lebombo e outros terrenos, nem para E. Assim é
que, havendo grande quantidade de gado nas terras de O., alem da sobredita linha
onde se cria muito bem, se se transportar para E. passando pela zona da mosca
e íòr mordido, não resiste e morre em poucos dias; e vice- versa, se elle passa de
£. para O. No entretanto, fora d'essa zona, ha numerosas manadas. Se porventura
a mosca morde alguma pessoa, o que raras vezes acontece, produz apenas uma
pequena inflammaçao local, sem consequências futuras. Está, porém, demonstrado
que ella se ausenta dos sitios habitados e das campinas para o mato ou legares ar-
borisados, em companhia do gado bravo.
Um inglez, Ablet, mandou vir de Zanzibar três camellos, que conservou e aclí-
mou por algum tempo em Lourenço Marques, com o fim especulativo de que a
mosca não lhes faria damno, vistoque ella, cousa notável, não prejudica o gado
bravo com que anda. Na primeira viagem, em que os mandou ao rio Incomate com
a competente carga, foram mordidos e morreram em poucos dias, uns após ou-
tros.
Um meio lembrado para afugentar a mosca tsé tsé consiste na abertura de
grandes clareiras de um c outro lado da estrada. Urge pôl-o em pratica, porque é
de instante necessidade que se estabeleçam as relações commerciaes entre a nossa
colónia e a republica do Transwaal.
309
nao tendo no seu caminho para aquella nova colónia a mortífera mosca,
arranjaram estes meios de conducção, com sacrificio pecuniário, poisque
s3o muitos os dias de viagem e os lucros insignificantes. Mas os inglezes
sabem tratar dos seus interesses, e n3o olham a sacrificíos quando que-
rem prejudicar os seus competidores.
 colónia New Scotland pertence aos boers, mas os habitantes e ex-
ploradores auí^iferos e commerciaes s3o quasi todos inglezes, idos para
ali em procura de oiro. Começou a exploração em 4872, e em 1874 já
tinham uma agencia de um banco do Porto Natal, e se publicava por
conta da empreza do jornal Natal Mercury, da mesma localidade, um
jornal dependente d'aquelle. A colónia continua a desenvolver-se, apesar
de não se ter colhido oiro em tanta quantidade como se esperava.
Mas deixemos as colónias que os inglezes levantam junto ás nossas, e
passemos a fallar de Lourenço Marques e das condições em que se acha *
este districto.
É já sabido que pensámos na construcção de um caminho de ferro,
mas se não se realisar este emprehendimento, devemos prover de remé-
dio e não desamparar por forma alguma os melhoramentos da viação
publica.
Os boers, para se transportarem em carretas desde os pontos mais
próximos até Porto Natal, precisam de trinta dias, e de sessenta desde os
mais afastados, emquanto que de Lydenburg a Lourenço Marques só
gastam oito ou nove dias. É realmente notável esta differença.
Os hollandezes occupam o território que, como temos dito, delimita
sobre parte da nossa província de Moçaml)ique, mas o ponto que lhe fica
mais próximo e que mais facilmente pôde communicar com as principaes
cidades e com o maior centro do seu desenvolvimento, é incontestavel-
mente Lourenço Marques. D'esta grande vantagem e da supremacia do
nosso porto, pôde agourar-se um brilhante futuro á nossa colónia, se nos
quizermos aproveitar de tão favoráveis condições.
População. — Não temos estatisticas por onde se possa determinar
com exactidão o numero de habitantes, mas não ha na villa mais de
1:000 almas entre pretos e brancos. Dififerentes escriptores elevam este
numero, porque contam com a população ambulante dos pretos, que
de dia estão na villa para o trabalho braçal ou ofiBcios, e de noite se
retiram para as siias palhotas que ficam fora. O numero de europeus
nacionaes e estrangeiros não excede a 40. Os indianos canarins e banea-
nes attingem a cifra de 100. Os mais são pretos ou mulatos. Infelizmente
os europeus nacionaes são cm menor numero do que os estrangeiros, que
também administram as maiores casas de commercio que ali ha.
Commercio. — É feito com o interior por meio de agentes ou viajeiros
europeus, iudianos ou mesmo prelos, que vão ali permutar fazendas de
diversas naturezas por marfim, ^loje em pequena quantidade, pélles, de
que ha grande abundância, pouca cera, milho, arroz, madeira, ele. Occu-
pam-se n'este giro cerca de §p íancjias, que percorreni os río^s da circum-
vizinhança, como o de Maputo, Bombay e Çíalaj, estes em pequena escala,
e o rio da Magaia por onde se (az o maior còmmercio, e que aíjástecé a
villa nao só do sustento necessário para a sua população, màs de madei-
ras para edificações, comt)ustivel, e[c.
Rio da Magaia ou King's George River. — Quando descrevemos a ba-
hia de Lourenço Marques, dissemo§ que este rio ficava por (r^s da ilha
Shefina, entre esta e a terra arme do í^ahota. * '
Com effeito, seguindo derrota do porto de {^ourenço Marques para este
rio, procura-se tomar a pçnta Kp- da dita iljia o mais piroximo possível,
vistoque da terra firme at$ ali ha grande espraiado e só uni canal com suffi-
ciente fundo para lanchas, em baixamar, em que é mais conveniente fa-
zer esta viagem para aproveitar o principio da enchente na em^bocádura
do rio, por onde os mglezes o investiram, daníló-lhe entáo a denominação
de Kin^s George River.
Seguindo pelo dito canal ao longo da ilha, e se a baixamar for de ma-
rés grandes, teremos de fundear sempre próximo d'ella na ponta N. n6
sitio da passagem, porque o espraiamento é quasi completo, e só depois
de uma hora de enchente poderemos continuar a navegação.
Então suspende-se e navega-sé com a prOa em direcção á ponta do
Maçaneta, no continente, a qual é bem saliente, não só porque não 'ha ali
nenhuma outra, como porque começa então um mato muito fechado, que
se estende ao longo da praia, e do qual 6s moradores de Lourenço Mar-
ques se fornecem mais principalmente de madeiras, que são óptimas pára
construcções.
Chegados ali navega-se então a meio rio, que corre entre esta terra
que nos fica á direita, da qual toma o nome o rio de Maçaneta e a Shefina
Grande á esquerda, em continuação da outra de que temos fatiado, e a que
os pretos chamam Shefina Pequena.
Effectivamente estas duas ilhas, que nas marés vasias parecem uma só,
porque um braço de areia as une, apparecem inteiramente separadas
quando a maré enche e cobre o dito baixo.
A Shefina Grande, por este lado, torna o rio tortuoso e em partes
baixo, formando uma curva até encontrar-se com o que vae para o inte-
rior e com o que vem directamente da bahia, as aguas dos quaes a ba-
nham pelo lado de E.
Pelo lado S. forma a costa da bahia em continuação á costa Calungo
junto á enseada de Monte George, que os navios baleeiros procuram
í»ra ancorar e p^iyçr-sç t^S rfifr«§cos, g Ççs^ ^p Cj. do f^^çif^ (^^ oíjtç|
ilfaaSbefioa..
Entre» p.Qi$, a costa Calango ç a dita ilha, ha uma embocadura que
forma a entrada do rio que se está descrevendo. (Ista é pouco funda e pç-
ngosa pela sua alt2\ arrebçints^ção, principalmente com os ventos do <}^^-
drante do S., na baixam^r ^as marés g];'audes. Ç^ega mesmo, a ficar en-
xuta e por consequência a paralysai;' po;* moo^ei^t^ a communícacão á^
aguas do rio com as da bahi?. ^q çi^[cçífifi\o já ^ |$em entrado peque-
nos navios ^
Fica portanto sabido qi^e, çoip^ |;)om tewpp, aquella entrada é 4cces^-
vel a ns^vios pequeAOS, sómen^ n^ preamar ^e ^iarés grandes, if)^, çom
mau tempQ^ nçgpii mesma eni I^Qtias qu bptes $e deve demandar, por-
que se corre risco. Temos outra entrada que me^bof sp presta para ejpo^-
barcações vm^ e tao^l^p.^^ parq PQqUi^QO^ v^orç3, que coopt a niaré cheia
ou meia maré navegam ali francamente com bom pratico.
Para a partei ^ dentvo ^'Q^\fi bpico e J4 {lO ri^p^ ha fundo de li até 17
melros, e podem navegar navios glandes. 2\f^ Í2% kilometros da sua em-
bocadura, segundo a opinião dos práticos que o conhecem e o téeni son-
dado em diffor^Q.^es pontojs !•
Ifo Uarr^quene é el^ bastante fundo de un;i a oqtro lado. Da suá em-
bocadura, pois, até enc(\fttrar-$e cojn o r^p^da Mac^ftçta, haveí*á 2:778 me-
tros de extensão $pt^re 92l6 de largura, cpm ^ qual continua poucp mais
ou rnenp^ ^té ^q ]iíari:^Qtier^e» que eA^ao si^rg^ ffiuitp niais. Pouco de-
pois do. pncoatro ^'es^es dpÂs rios, apparece-pos 4 esquerda a ilb^ ^
Bengue^ne, cercada pp;: um pequenp ^p que yem também desagi:^
n'aquelle, como d'elle recebe as aguas que o enchem.
Aqui começa o dominio dp cegplp de Magaia, estendendo-se a^p ^ ilha
SberÂnda.
D.*e$te pprtQ até ao l^^rraquene, cerca de 49 ki|pmetro,s, o que ba np-
tavel é o magestoso arvoredo do mesmo rio, que orla constantemente^ ^
suas margens, deií^antV^no^ ver algumas campipas de ricas pa^t^ens que
1 Por ali entrou, não ha muitos annos, o cuter inglez Herald. Não tendo ido
legalisar os seus papeis á respectiva alfandega, foi muito bem aprisionado pelas*au-
cto^idades de Lourenço Marques, poisque se achava fazendo contrabando.
Mais tarde, foi entregue com uma inc^emnisação, quatro vezes superior ao va-
lor do navio e carga, a exigências do governo inglez.
Çra entuo governador de Lourenço Marques, Francisco de Sallcs Machad9. Re-
corda-nos esta questão a de Charles et George.
- Já houve quem o sondasse, aindaque imperfeitamente, a^éáithaii^QsLyiiões,
mais no mterior, e com a certeza de que tem um canal profundo e tiom nar^ na-
vios.
3i2
se podiam aproveitar para cultura de toda a ordem sem grande díspcn-
dío e muita facilidade de communicações.
As margens, que não serão insalubres quando cuidadosamente culti-
vadas, poderiam offerecer productos que, por si só, fariam a riqueza e a
grandeza de uma colónia de primeira ordem; no entretanto estão no seu
estado primitivo por falta de colonisação, a qual não é possivel estabe-
lecer sem que haja segurança individuai .
Ha ali uma povoação de palhotas e uma casa de zinco (ferro zincado)
pertencentes aos moradores de Lourenço Marques, e que lhes servem
para vendas, depósitos de géneros e outros misteres do seu commercio.
Como já se disse, o rio aqui é largo e magestoso e poderia ter fundeada
com commodidade uma grande esquadra, se eila porventura podesse en-
trar pela sua embocadora.
Á dita povoação segue-se uma enorme campina de óptimos terrenos,
sendo alguns alagados.
Como a costa faz uma grande enseada para o N. e o rio até ali segue
muito para E., ouve-se distinctamente n'aqueHe local a arrebentação
quando ha vento forte do S.
Um pouco acima d'esta povoação começa o rio a ser muito mais es-
treito e tortuoso, difiScultando a navegação de vela, para a qual sendo de
feição o vento n'um sitio, já n'outro não aproveita.
Aqui bifurca-se um braço de rio que dista para NNE. emquanto que
o próprio rio toma uma direcção SE. para depois seguir para o N. e
para E. até á ilha dos Limões, assim chamada porque não tem senão
mato de limoeiros, que produzem uma quantidade enorme de fructo
que é de quem o colhe.
Á proporção que o rio se vae internando, diminuo de fundo, dificul-
tando a navegação com tortuosidades e exigindo cautela nas proximida-
des das margens, pelo perigo de ir de encontro ás arvores caídas de
Irage em longe.
Muda a sua denominação, conforme os sítios que vae percorrendo, em
Mautriça, Manicussa, Cossíne, etc.
Não ha estudos feitos, mas calcula-se que a distancia entre Lourenço
1 Diocleciano Fernandes das Neves, actualmente residente na Figueira da Foz,
mandou construir uma casa de pedra e cal no Marraquene, e fez plantações de canna
de assucar, algodão e amendobim.
Um regulo, que se diz súbdito portuguez, levantou uma guerra, e passando por
ali obrigou-o a fugir, arrasou-lhe a casa e destruiu-lhe as plantações.
Não se tomaram providencias, e o agricultor viu os seus bens perdidos. Justi-
ficou, todavia, os prejuízos que sofTreu e requereu indemnisações, que lhe não fo-
ram dadas nem attendidas, e nem sequer reivindicou os terrenos.
343
Marques e o poDto até onde chegam presentemente as lanchas» com algu-
ma difficuldade, um pouco acima da Cossine, nSío é inferior a 660 kilo-
metros, sendo possível, com pequenos melhoramentos, seguir até 900 ki-
lometros, onde já não temos régulos sujeitos, podendo aliás tél-os.
Seria conveniente proceder-se ao estudo e exploração d'este rio, cuja
importância se está reconhecendo n'estas breves informações.
Muito para o interior encontra-se elle com o Limpopo, rio do Oiro o^
Inhampura, que por todos estes nomes é conhecido, e de que passámos
a dar resumida noticia.
Rio Inhampura, rio do Orio, ou rio limpopo, — Este rio, que na sua
embocadura na costa Calango, não longe da embocadura da bahia de
Lourenço Marques, tem a denominação Inhampura, está a 25^ 11' 36" de
latitude S. eSS"" 11' 30" de longitude E. do meridiano de Greenwich.
Não temos noticias completas a seu respeito, no emtanto conhecemos
as viagens de exploração que ali fizeram os inglezes Elton, actual cônsul
inglez em Moçambique, e Erskine, filho do secretario da colónia ingleza
de Porto Natal, que não confiam nas suas supposiçOes nem explicam
muito a foz do mesmo rio. Dizem elles, que, collocados em torra, não vi-
ram embocadura que lhe desse communicação com o mar; ao contrario
parecia que entre o rio e a costa se antepunha um montão de areias, mas
que, nuo obstante, acreditavam que devia haver essa communicação, vis-
toque n'elle se percebia enchente e vasante.
Nem um nem outro d'esses investigadores procederam a mais inda-
gações por lhes faltarem os meios precisos para tal fim — uma embarcação
apropriada — vistoque aquella que possuíam era de borracha e só servia
para passagens de rios sem ondulações. Nem pela praia tentaram as pes-
quizas por não agradarem aos cafres d'ali, que são maus e desconfia-
dos.
É certo, porém, que no prolongamento d'esta costa se vêem destroços
de navios, de cuja perda, no entretanto, não ha noticias.
Isto, a má fama dos negros d'aquella costa, e a sua opposição a certas
investigações, fazem persuadir mysterios em matéria de naufrágios ^
1 O sr. Francisco dos Santos a quem se devem estas noticias diz :
c Tendo eu saído de Lourenço Marques para Inhambame no hiate americano
Wamrightj com vento de feição, segui ao longo d^aquella costa, da qual me approxi-
mei a perto de 6 kilometros no sitio de Inhampura, de propósito para indagar a
sua foz, tanto quanto me fosse possível, e só pado conhecer o seguinte : que nave-
gando-se do N. para S. ou vice-versa do longo da costa, nao se descobre cousa que
pareça embocadura, ao contrario uma constante continuação de costa, mas ehe-
gando-se á sua latitude e na sua proximidade, para o N. e para o S., avísta-se en-
ili
Importância de Lourmco Mar(nt^s.—\) ^^\tiÇ\Q dfi ^ipurenço Mar-
mes, ^ consequência da sua vantajó^ posij^Q, p^óde Jíj^Ti?r-se grandioso
se se rèàjisareDi as mBl&qra|i)eiiK>s de que carece e para o que a fiatu-
reza o predestinoi], '
É um porto próximo do Cabo da ^pa ^perança, que, em occasiSes
de [eraporaes é niuiiti apro^ri^do para receber toda a qualidade de em-
[)arcacúe9, e que ppdfiria torqar-se' porto (^p arribada de primeira or-
dem, 'de gae re^pl|an9m o. ÍIore|cimeDto t^a sua úidustpq e outras vaD(a-
gens^
Cercado dg fios em (|lyçrs^^ (ilireccões, ^ão racilitadas por este pieio
as sjias reta^s Ç9ip o> çòigj^W^^plo, coii^ a iqduslda e com a agricuUiira.
qóe'wr ^ep^tVírá 5f pòU^m de^j^yplvç^-, e de certo se desenvolveriam
em ppuçqs ^nnp^S^ se à 'a([enp|o sevol^sse para aquella rica possessão
ÇÀmwp díç^^o e fáçi| p^í) a CQpublica do Traoswaal, que é cheia
U XP 9. Ib fegii^í l^-íi''^' ^fl^V^U^íl 9 populosa, ganliaria a graa-
4|SS|m| v^geç^, ^§ mj^is !|i^D^,em í^, de possuir de momento e sem
lio nma separação que forma uma embocadura distincta, depois uma peqaena
iQ]$ coin 9^10, e ao S. c|'esta uma outra embocadura maxi pequena do que aquella.
<A oDf^ulãç^ e^ tó^ 31?^ c<)^^ ^ constante, o o rolo do mar na praia é
muito voTomã»}; por isso levanta uma certa vapo^isaçlo que, com os raios do sol,
dificulta os rajos viauaes dos óculos. '
" ''<'VIpõri3so'dè'cíi^'dt)masIro do biale a airebentaçSo continuada da costa, c
para dentro o mar manso do rio.
•Entre aquetU e este (oi-iQç impossível divisar qualquer communicaçlo ou
çojfsa ç^e ^ an^pp^e^se en^rç ell/es ç os separasse, sendo comtudo possível que
^(nim canal d^pássagem a qualquer embarca^^o. Que a sua entrada não seja boa
a%íliVri'du cssá 'rònviccão, mas que seja impossível também não me parece. Não
será como a do rio KiDg's George, que na baixamar das marés grandes fica inteí-
raoienie 'descoberta pára na preamar dar accesso a embarcações pequenas ? E a
embocadura mais pequena que se avis;a a S. não será melhor? pelo menos a ar-
r^Emiação, a|i ni^ c tão viva. São tudo çoDJectoras, mas é de grande interesse esta
exploração, porque o r1o passa pelas rcgiíles mais férteis d'estes scrtSes-
iParà mnW d'esla einhócMura 6 inanso"o rio e lem fundo variado de 9 a 30
metros, bavendo sitios cm que expraia inteiramente até ao canal.
•A sua largura, ali, calcula-se approxímadamcnto em 4 kilomclros, mas in-
lernando-so estreita a i6'i metros, é menos largo mas muito similbante ao rio da
igaia fiii Kiiii;'s Genrjn; River, c lambem como esle pôde ser navegável ató muito
I ■! (imalé á sua communicaçao, poisque, como já disse, ellçs
■ i< ' I" um braçA que este deita para U. até áquelle e segue
^mpn' .j>' ..X ll.lll-^^.irti. lamaudo então o nome de Hío dos Glephantes.
' '.Este rio do Oiru jiresume-se que segue para o N. e para O. até á republica
do Transwaal que vae torneando pelo seu lado de L., primeiro e despis pelo O., pe-
íu sén^, A)s |I^qio'i dh^undo, Zouipousberg com a 4enoE^,i^aç^ de 1Jt]]p(^>
dispêndio, uma grandç colooisacão, que consumiria grande quantidade
de géneros, entretendo so com i^so todo o nosSo raçpiticp commeròio e
fazendo sair por este bello porto Òsséus avultados proiiucíos.^* ^'* ' "
Estado da índia— Dá-se este pome ^ parte (}ue ainda nos resta do
nosso império do oriente! É uma possessão mais peaífeiía (ftáFilossa
Senegambia*, e é cinco vezes maior que a provinda 3fefe. tholfi^ e'Wô-
cipe. Representa todavia um nome grandioso, uma das venerandas reli-
quias dás nossas possessoés^iJo^seciftò^^VL K suàV^^ísfSíríJ^ÇíPa nós
uma desventura, tão tanto pela grandeza material como pela gloria que
4e todo se perdia com o desmembramento da colónia mais heróica da na-
çSo portugueza.
Não duvidámos conservar o nome por qqe ofQcialmente se reconhe-
ceu o território que ainda possuímos na costa dècidenta) (}q |p(|K§}|9 1 ^^^f
no decurso das nossas consiiTéfãções, usaremos indifferentemente da$
palavras índia portugueza ou província dêGoa^.
Estas explicações não sao in^ifiterentes, porque o primeiro devendo
medico hygienista é empregar termos bem definidos, e assignar-lhes coná
a máxima clareza a sua comprehens^ô; a' fim de que fiquem desde logo
determinadas as bases è as (UflerèntSéAperaçõès cujos re1§J^(lòs seríáni
inexactos ou confusos sem estas declarações preliminares.
Enlacemos porém as indagações medicg-geographicas attinentes a
dar idéa de um paiz cuja salubridade se deseja cotflieéier, com um es-
boço geral feito por mão de mestlre. E uma espécie (fç jçirdim junto
ás sementeiras das estatisticas que têem tanto de utèis ^(iuanto de fasti-
diosas.
A superfície da índia portugueza tem sido avaliada por difEerentes fór-
*, . . , ^' , ^' ' , . . .. ^.. ioc^-xtíHu •' fu-
rnas. Na estatística de Portugal e suas colónias a pagina xvi e 37o calcu-
la-se a superfície geral em 5:400 kijomelros quadrados, ihas na pagina
381 apresenta-se um mappa em que se avalia em 3:6l2r]^oannuario es-
tatístico de Gotta admitte-se a de 3:748. " " '^
Carlos Vogel e Francisco Bordalo apresentam lambem dados diver-
sos, emquanto á superficíe, o que nos coUóca na impossibffidáde de apu-
rar a verdade.
Os limites doesta nossa possessão do ultramar são a 0. o mar, ao N.
o rio Arondem, a E. a cordilheira dos Gaites e ao S. fica-lhe õ Canará-
Divide-se do seguinte modo :
m' ■ ■ ''
1 Tomamos os dados que se acham na estatística geral de Portugal e suas co-
lónias, pag. XVI.
' Da índia portugueza poucas palavras se escreveram no diccionario Larousse.
Rhas de Goa. — Comp&e-se da ilha de Goa propriamente dita e das
ilbas da I^edade, Cboi^o e Santo Estevão.
Bardez.
Salsele.
Pernem, Bicholim, Sattary, Pondá, Embarbacem, Chandrovaddy, As-
targar, Baliy e GaDacooã.
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As nossas leis exceptuam das possessões ultramarinas a índia chaman-
do-lhe estado, emtjuanlo ás outras chamam províncias. É uma divisa com
317
que se galardoam as memorias sempre gloriosas dos Gamas, Almeidas,
Albuquerques, Sampaios, Braganças, Castros, Âloroas, Egas, Redondos,
Ericeíras, Mellos, e tantos outros que ali derramaram o seu sangue, e
com o qual so pôde escrever a maior epopéa do mundo. Resta-nos
bem pouco d'aquelle grande morgadio; resta um prédio de recreio, for-
mosíssimo prédio que a natureza aformoseia e que as ruinas condecoram.
De um lado servem-lhe de muro os Gattes, do outro proporciona-lhe ac-
cesso o grande mar por dois portos e innumeras enseadas. No centro ha
canaes, rios, arrozaes, palmares, florestas insondáveis, cafesaes, gados.
Terás e flores por toda a parte, uma população sempre crescente, muitas
aptidões para as letras e sciencias, muita indolência, castas inapproxima-
veis, apesar de já boje esclarecidas, religiões diversas, sendo predomi-
nantes a christa, a mahometana e a gentilica ou bramanica; agricultura
e industria a primitiva ; commercio quasi nenhum com a Europa, nenhum
com o interior, pouquissímo com a China e com a Africa oriental; algum
com Bombaim. Nada mais. A Inglaterra conseguiu isolar-nos, e monopo-
lisar todo o commercio do levante, e comtudo o padroado ainda se estende
por todo o Oriente .
O estado da índia portugueza, observa Francisco Bordalo, afora as
praças de Diu e Damão, pôde considerar-se como formando um sô corpo
sem solução de continuidade ; apenas pequenos rios ou estreitos braços
de mar separam as ilhas do continente e dividem este em provmcias ou
outras menores divisões.
É preciso ter bem em vista similhante disposição dos terrenos, e
como ali evidentemente se nos deparam uns logares mais insalubres do
que outros, devemos attender também á divisão que geralmente se faz
de tal território.
A índia acompanhará de certo o movimento de colonis^ção de Mo-
çambique, se este for convenientemente desenvolvido, e servirá então de
interposto ás nossas possessões do Oriente, representadas por Timor,
Macau, Goa e Africa oriental, banhadas pelo mar das índias, estendendo-se
ao S. e ao N. do equador.
ProYíncía de Hacan e Timor. — São estas as duas possessões que se
acham mais aTastadas da metrópole, e podem sustentar vantajosas re-
lações commerciaes não sô com a nossa província de Goa, mas também
com as colónias hoUandezas e com a província de Moçambique.
Calcula-se a distancia entre Macau e Timor em 3:666 kilometros,
isto è, em pouco mais do que a distancia entre Lisboa e a ilha de S. Thiago
de Cabo Verde. Goa e Macau ficam (](uasi tão afastados entre si, como
Lisboa e as ilhas de S. Thomé e Príncipe.
Jlfe
E assas limitada à siiperoçie *Íé j^àòáú, nias torâa-se notável, d3ô só
porque e um ponto míermediano eútre os três impérios do Oriente,
China^ Japão e Siao, como j>ov ser um sanitarium importante, c Macáo,
ÒDsef ya Carlos ^ogel, ésí áfeVeriíi pour les européens de toutes les na-
tions, gui se çressehl àux pórlès de lá CHihe, comme une espèce d'hõtel-
lerle, mills vie^^^ hábíter de prèrérehce. La légation française a établl
sâ cnan'dBÍiérie dahs cètte vilíe, et lés liégocíants anglais de Hong-Kong
ònt égaiemènt taít cÒnstriiiré, prés de ses murs, beaucoup de mal sons de
âamoagn^ ou oungalos ou ils viennent respirer le bon air, et se recréer
les enriuiès. áú séjbiir de lebr ÍnSt*ô rocher » .
. Açoáiçao geo^râphicà iie ítacâu é determinada por 22** 10' W de
íatilude lí. e jlí® l8' 30" 'de longitude É. Pica portanto quasi sobre o
tromco boreal, dév^^ o clínia clássificar-se entre os climas tropicaes
prbpnàmeale (litos. rfesté caso listão o distrícto de Inhambane, na
' iroyihciá de Moçambique, cblldcado ao §. dó equador, e as ilhas de Cabo
extraordmana a população especifica d este pequeno território.
í
figují^do á frente de. todas as colónias europeas; calcula-se em 18:000
haéiiaí^les j^or cada ^tlometro quadrado ^
O futuro de Macau depende principalmente do progresso da provin- *
ciá ae Moçambique, dá animiiçáb do estado da índia e da prosperidade
de Timor.
É preciso também não esquecer que esta possessão é a sentinella
avançada gué ínais se avizinha da qiie conservámos na Oceania, que, com
0 desenvolYiiQ.ento da sua colonisaçao, será de certo tão rica como as pro-
víncias de S. tíidmè e Cabo Verde. Urge, pois, animar a navegação enu^e
a cidade de Macau e a ilha de Timor. E, se nos lembrarmos do que acon-
teceu com as possessões dá África occidental, hão devemos adiar por
muita tempo a realisação de tál emprehendiínento.
Alem da navegação, é preciso cuidar em proteger o commercio e a
agricultura, e muito especialmente em fazer um tratado com a China,
para regular a emigração que deixou de se fazer por Macau, mas augmen-
tou em Hong-Kong, porto inglez e a poucas horas de viagem da nossa
possessão.
^0 oeveínos terminar este resumo de noticias a respeito de Ma-
cau, séin mencionar unia reliqbia veneranda, a gruta onde Camões, se-
1 Segundo á estatística de G. Peir, á superflcie de Macau calcula-so em 4 kílome*
iros^ quadrados (pag. xvi), ou em 385 hectares (pag. 375). ?}q annuario estatístico
de Gotha avalia-se a mesma superfície em 3^f, 4. ComoVogel, diz que eila tem uma
légua quadrada, a população especifica portanto, não pôde calcular-se com rigor.
gQildo ã crença ^bralmelifê slèguidã, cóffi^oz os litllmos cantos db seu
poema.
A ilha de Timor, de qae possuímos a maior parle, levanla-se entre
8® 2(y e 10** 22' Ifle latitude S., e deve pôrUntò clássibcàr-se como um çlimá
equatorial S. È de grande fertilidade, mas à ágnciillurã^eáà âè^èz^^^
Cultiva-se ali milho, iarròi, bâtalas, trigo, etc. tià-sè tíem ò tabaco e b
cafê, que é niuilo estiiiiãdo dos hotlàhdezes ba iltia de iavá, è que se pro-
duz ena menòi* qbántidade dó qtie em qualqdef íazehiia (ia iirta oé è, Tlionie.
Esta possessão e dezeseis vezes maior que a ilha a que nos referimos, e,
em ígualdadté de colonisáçáb, deveria render, pelo menos, dez vezes mais,
o que equivaleria a 1 .OOÒrOÒOjjOOO réis.
Quem diiriá que no ségilhdb qiiartb '(Í'ésÍe seciilo à ilha dè S. Ttiò-
me, tao pobre e tao esquecida, chegana a dar imi rendunenfo de reis
iOOrOOOíJOOO?
A ilha de Timor não é iheriòs fértil qiie a de â. Thòmé, é lo seu ler-
rítorio é immensamenté niais éxténsb^ e portanto uinà esperançosa còlb-
nia, e o seu commercio augmentará se tràtáriíios da còlonisácãó ãas posses-
sões, seguindo o systemá ^cloptadò péla InRiálerrá oú Hollanda.
A ilha de Tinibr, segundo b. í^èry, tem Í7:(Xk} kllómetros quadra-
dos S más uãò se sabe o humero de habitantes que se acham no térritb-
no portuguez. N estas circumstancias poucas considerações temos que
fazer, porque apenas nos resta pedir com instancia que se olhe cOm ajlten-
ç3o para um paiz tão fértil, que representa a quinta parte da superncie de
Portugal, e que está quasi abandonado e esqueciao.
Portngal, nndecixno paiz da Europa, ooonpa o qnarto lo^ár
ooxno nação colonial
Para se poder comparar com facilidade b terrltonb 'do reir^o dè Pj^r-
tugál com o da itespánha, frança é Holianda, apreciando lámbem o dás
principaes nações da Europa, é preciso reunir os dados indispensáveis.
Os limites das liaçõés não se aevèm proci^rar nos marés quê lhes per-
cam o solo, nem nas montanhas que lhes difficiiltàm as coniiáumcações.
Marcam-se de modo mui diverso. ^ . ií? )
As nações nascem, vivem e desenvolvém-se segundo as ámnidàdes
morâes que 'caracterisam os differentes ramos da famiíia humana, è n|p
estão em relação com os tractos de terreno em que se dividem e subdi-
videm as terras susceptíveis de serem habitâaas.
. . , - / . .-..1 »
^ Carlos Vogel calcula em sete oitavos da área total da ilha a superficie do
nosso território.
380
A familia humana é cosmopolita ; o homem individualmente não o
pôde ser senão deptro de certos limites. E assim deve ser.
0 homem é uma organisação circumscripta, que não pôde partir-se,
conservando a vida; a humanidade é ill imitada, pôde soffrer cortes pro-
fundos ou grandes abalos, mas conserva sempre a sua integridade, com-
pondo-^ de uma cadeia indeterminada e prendendo-se por um lado á
terra e por outro a Deus, origem primitiva de todas as cousas. Mas quaes
foram os primeiros homens que se estabeleceram no território que hoje
se chama Portugal ?
 porção de terra mais Occidental da Europa tem uma forma especial
a que os geographos deram o nome de península. Galculase a superficie
em 584:571 kilometros quadrados. É mai$ pequena que a da ilha de Su-
matra, puramente equatorial, e cuja população é mais abundante.
É portanto ponto indiscutível que os paizes equatoriaes, por estarem
debaixo da linha equinoccial ou por serem cortados pelo equador thermal,
não deixam de ser habitáveis e susceptíveis de se colonisarem. Os homens
espalham-se por toda a terra, do N. ao S. e do oriente ao occidente, per-
manecendo mais nos logares favoráveis á sua conservação.
A peninsula a que nos referimos é limitada ao oriente e ao meio dia
pelo Mediterrâneo, ao occidente fica-lhe o Occeano Atlântico e ao septen-
trião o mesmo Oceano e uma parte do S. da França.
Os Pyrenéos, coUocados a NE. separam esta grande extensão de terra
do resto da Europa. A peninsula transpyreneana é conhecida geralmente
pelo nome dos povos que a habitam ou já habitaram. Diz-se pois indif-
ferentemente peninsula hispano-portugueza ou ibérica; mas é preciso di-
zer que entre os portuguezes e os hespanhoes houve sempre completa
separação.
É sobre este ponto que desejámos fixar a nossa attenção e, para com-
memorar e não para ajuntar novos esclarecimentos, transcrevemos aqui
estas explicações, que não são de certo alheias ao fim a que nos propomos
chegar.
Não é nosso intuito também, nem cabe nos limites d'este trabalho,
fazer a descripção ethnographica dos habitantes da peninsula, mas não
deixaremos de relembrar que os lusitanos ^ oppozeram tenaz resistência
ao domínio da soberba Roma.
Este facto não é indifferente; sçrve para demonstrar que os habitan-
tes do occidente da Europa não se confundirão nunca em um sô povo, e
não formarão jamais uma única nacionalidade. Os habitantes das margens
1 Nos Annaes da commissio permanente de geographia declara o sr. marquez
de Sousa Holstein que os aetoaes portuguezes não são lusitanos.
?^
32 1
(Jo Tejo e Douro terão em todos os tempos caracteres próprios, vida in-
dependente e costumes peculiares que se explicam pelas condições clima-
téricas da região que occupam.
É, porém, necessário dizer que o território da peninsula hispano-por-
tugueza se acha desigualmente dividido entre os dois povos. A Hespanha
occupa uma parte 5,S2 vezes maior que Portugal, mas não tem dado por
isso prova de mais adiantamento, nem tem trabalhado com mais vantagem
em favor da civilisação e do progresso da humanidade.
Levar-nos-ía muito longe a enumeração dos factos que têem distin-
guido a familia portugueza entre os habitantes da peninsula occidental da
Europa. O que desejámos demonstrar, o Om com que organisámos este
trabalho, temol-o declarado por muitas vezes; e em obra tão complexa não
deve ser tomada em conta de prolixidade ou repetição inútil.
Deve, pois, entender-se que pretendemos accentuar bem e patentear
por todos os modos que não somos uma nação quasi invisível na Europa,
poisque se, entre as nações d'esta parte do mundo, somos o undécimo
paiz, não deixámos comtudo de ter sido uma das primeiras, e occupâmos
ainda hoje o quarto logar como nação colonial. Para não sermos demasiado
extensos, recorremos ás estatísticas, que organisámos com todo o cuida-
ilo. Referem-se á situação de Portugal a respeito das outras nações da Eu-
ropa, segundo a superfície e população. Faliam ellas bem alto e dispen-
sam mais largos commentarios.
Si
im
KiHiatiMtIca comparativa da Kiípcrllclo c popnlarAo d« Porlnffal
coDi reliíetio àfii prlncIpacM naçècM da Karopa,
iiidependcntonicnfe c comprchendendo a* colonlaN, protectorados
o tcrrltoriofi adJarcntCM
ni^si^maçrioí
XlliSSitia •••••■•••
Aiístro-Hungria..
Allemanha
França
liespanha
Saecia
Turquia
Noruega
Inglaterra
Itália
Portugal . ,
Grécia
Suissa
Dinamarca
Paizes Baixos. . . .
Bélgica
Indcpeodcntcmenlc das colónias,
proUíClorados e territórios adjacente»
SuperGcie
Kil. qoadradot
4.909:193,70
624:044,89
540:628,50
528:576,75
494:946,00
444:814,00
364:037,00
316:694,00
314:951,00
290:305,41
89:371,00
50:123,00
41:418,32
38:236,78
32:839,97
29:455,16
Poiíulaçâo
«55.704:559
35.904:435
41.060:846
36.102:921
16.262:422
4.341:559
8.500:000
1.796:000
33.098:400
26.801:154
4.011:908
1.457:894
2.669:147
1.874:000
3.767:263
5.253:821
Comprchendendo as colónias,
protectorados e territórios adjacenlos
i^upcrficie
Kil. quadrados
21.605:720,40
624:044,89
540:628,50
1.706:936,25
811:347,00
444:814,00
5.717:750,00
316:694,00
20.917:275,00
296:305,41
1.917:735,00
50:123,00
41:418,32
230:445,18
1.752:839,97
29:455,16
População
85.685:945
35.904:435
41.060:846
46.321:339
24.929:916
4.341:559
47.627:000
1.796:000
236.222:800
26.801:154
7.648:729
1.457:894
2.669:147
2.003:200
28.877:263
5.253:821
Organisámos este mappa em presença dos dados que encoutrámos no
annuario estatístico de Gotha, publicado no anno de 1876. Não ò esta com
certeza a superfície mais exacta, mas acceitámos os cálculos que ali se
acham publicados para mostrar a nossa imparcialidade; assim como nâo
julgámos verdadeira a área calculada no importante trabalho de G. Pery.
É preciso dizer-se, pois, que a superfície da Africa portugueza é muito
maior do que se pensa, e torna-se da maior necessidade não só tratar de
fixar os limites com os povos que nos ficam ao S., mas também levantar
uma carta topographica de Moçambique e Angola, que comprehenda to-
dos os territórios que nos pertencem do oriente ao occidente.
A Rússia e a Turquia nâo sao paizes colonisadores como a Hespanha,
França, Portugal e Inglaterra: e, n'este caso fica Portugal, como potencia
323
colonial, colíocado logo iinmediatamenle a esla ultima nação. Cooside-
rando, porém, em absoluto, a extensão de cada paiz.. seja na Africa ou na
Ásia, na America ou na Oceania, vê-se que nos pertence o quarto logar em
relação á grandeza de território, e que somos a segunda nação da Europa
como paiz colonial.
Procedemos a esta comparação, mesmo não sendo de inteira confíança
os algarismos que lhe serviram de base, não só para tornar bem patente
ainda mais uma vez a vastidão do nosso território, e mostrar a classiflca-
ção a que temos jus entre as nações da Europa, mas também porque
muito nos orgulhámos com os descobrimentos e conquistas que tão res-
peitados nos tornaram nos séculos xiv e xv. Não foi sem intenção que o
fizemos, visto que alguns escriptores estrangeiros, fallando das terras do
domínio de Portugal, manifestam claramente o desejo de nos depreciar,
pondo em duvida, e contestando até, a prioridade da sua posse.
Dadas estas explicações, que são um protesto pacifico contra aprecia-
ções menos justas, passiimos a tratar da emigração para o Brazil, que
tanto tem preoccupado nos últimos tempos a attenção pubUca.
Emigração para o Brazil
Sol) oslo titulo, qnc equivale o mesmo que se escrevêssemos emigra-
ção porlugueza, e que adoptámos para designação geral d'este assumpto,
desejámos significar que, so por um lado a corrente da nossa emigração
tem apenas uma direcção— as terras de Santa Cruz — , por outro repre-
senta um dos mais importantes e momentosos assumptos de que nos oc-
cupâmos; fazendo d'elle um estudo minucioso, mostrámos que o temos
na devida consideração. Antes porém de tratarmos da emigração para o
Brazil devemos dizer algumas palavras para mostrar o sentido em que
deve considerar-se a palavra emigração.
Emigração é uma propriedade característica e exclusiva do reino
hominal, e portanto uma funcção exclusiva da humanidade, assim como
a linguagem fallada, liberdade.
É preciso não confundir o que se chama por analogia emigração dos
animaes com a emigração do homem.
Não é fácil todavia substituir esta palavra por outra mais apropriada,
(|ue evite tal confusão, mas a deficiência da linguagem não servirá para
confundir o verdadeiro sentido que se lhe deve dar.
Emigrar é colonisar, e assim o entendem alguns escriptores. Recor-
daremos n'esta occasião o fallecido visconde de Paiva Manso, que, fazendo
a traducção de um trecho do livTO de Jules Duval, que se refere á emi-
3i4
graçao, verteu a palavra franceza émigralion por colonisação*. Evitou
assim o embaraço em que se via para dar o verdadeiro sentido á palavra
cuja significação não é explicita.
Um esclarecido escriptor francez mostrou a distincçao entre a emi-
gração dos animaes e dos homens nos seguintes termos :
cLes animaux émigrent, Thomme seul voyage. Seul, de tous les étres,
Thomme a le pouvoir de se transporter, dans un but dont il à conscience,
sur tous les points du globe qu'il habite ; des regions brulantes de Téqua-
teur, il passe aux zones glacées des pòies ; des profondeurs souterraines
ou du fond de la mer, il gagne la címe des montagnes ou les couches
élevés de Tatmosphère * . »
A emigração é> pois, uma funcção da humanidade, e em caso nenhum
deve confundir-se tão importante qualidade exclusiva do reino hominal
com o facto instinctívo dos animaes.
Formulada esta differença radical, passámos a examinar a emigração
portugueza para o Brazil.
Faliam algmis escriptores com louvor do modo por que colonisámos
o Brazil. Notam ainda assim, que começámos tarde a desenvolver a colo-
nisação d'aquelle paiz, que reputam um padrão da nossa gloria. O que é
certo é que temos dado exuberantes provas de que sabemos colonisar,
embora tenha havido intermittencias mais ou menos prolongadas.
A historia da emigração brazileira dá occasião a largas considerações,
a que não podemos dar o desenvolvimento que desejávamos, ipas procu-
rámos referir o que ha de mais importante com relação aos portugue-
zes.
Jules Duval observa que os portuguezes e os francezes procuram o
Brazil, mais com destino ao commercio que á agricultura. Mas, seja como
for, é iunegavel que a emigração portugueza excede a de todos os outros
paizes da Europa. Em 1855, diz aquelle escriptor, entre 12:290 emi-
grantes que se espalharam pelo Brazil, 9:000 eram portuguezes. É real-
mente significativo este fado, e serve ao menos de attenuar o esqueci-
mento em que temos deixado as nossas colónias.
Devemos notar alem d'isto, aproveitando os dados coUigidos em um
trabalho importante, que os portuguezes se acham espalhados por quasi
todas as províncias brazileiras, existindo o maior numero d'elles na do
Rio de Janeiro. Entre os emigrantes d'esta província ó mais avultado o nu-
mero de portuguezes, dando as províncias do norte de Portugal o maior
1 Memoria sobre Lourenço Marques pelo visconde de Paiva Manso, 1870, Ireeho
traduzido do francez de Uhistoire de Vémigration par J-. Duval, 1862.
2 A. Roi de Le Méricourt, Archives de médedne novnle, tome 2«, pag. 5.
3aa
coutiiigeDte, G é exacUimeiíle n'esses pontos que se fatia com menos en-
thusiasmo a respeito das nossas colónias.
Não nos propomos indagar as causas da difTerença ijuc se nota nas
nossas províncias do norte, porque nos referimos a este assumpto n'oii-
Ira jogar; apenas desejámos dar idéa do facto, da importância da emi-
^lac^o portugueza na actualidade, e por isso apresentiunos os dados es-
talíslicos que o patenteiam.
:>(riidiia de emlyranleit no porta do Mia de JAacIra
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Provinciaii
Douro
Minho
Açores
Beira Alta ....
Traz os Montes
Extremadura..
Beira Baixa . . .
Madeira
II Algarve
Aleratejo
Totalidade
dos emigrantes
21:630
8:997
7:283
3:i80
3:068
2:385
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13
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46:808
Media aimiial
Relações
4:326,0
1:799,4
1:456,6
636,0
613,6
477,0
' 37,8
10,6
2,6
2,1
5,2
6,0
14,7
19,6
24,7
88,3
360,0
2,0 4:680,8
9:361.6
1
1
i
1
1
1
1
1
1
1
Mapiia <ION emlgrnntcN nefando am dlffcrcnleM localldadcM
dende «990 a 1694
Procedências
Porto
Aveiro
Braga
Angra
Vianna
Vizeu
Villa Real
Lisboa
Ponta Delgada..
Coimbra
Uorta
I Guarda
Bragança
Leiria
Fuuclial
Gastei lo Branco
Santarém
F;ii u
Ik'ja. .!
Totalidade
dos emigrantes
14:036
5:931
5:814
3:847
3:183
3:180
2:937
2:295
1:995
1:663
\'M[
106
131
75
53
23
15
13
IO*
46:808
Metlia unnual
2:807,2
1:186,2
1:162,8
769,4
636,6
636,0
587,4
459,0
399,0
336,6
288,2
33,2
26,2
15,0
10,6
4,6
3,0
2,6
2.0
9:361,6
Relações
3,3:
7,8:
8,0;
12,1:
14,7 :
14,7:
15,9:
20,4:
23,4:
27,8:
32,4:
282,0 :
357,4 :
624.3 :
883,5:
2.036,0
3:121,8
3:602,1
'i:682,H
II
:ja7
O império do Brazil oíTerece regiões e climas tâo favoráveis, como
os de muitas outras partes do mundo. Ha n'aquelle paiz localidades fer-
lilissimas, onde as culturas compensam com largueza os sacrifícios que
por ellas se fazem.
Em Africa acontece o mesmo, encontram-se zonas insalubres, e não
faltam localidades susceptíveis de serem habitadas. Servem de exemplo
os terrenos occupadas pelos boers, assim como Mossamedes e Lourenço
Marques.
Provinoias do império do Brazil, clima geral, superfície, população
e produotos prinoipaes
DeaiguaçTios
Clima gcnil
. Superflcie
Popula-
ção
Productos principaes
Equatorial
Kil. quad.
Gomma elástica, café, cacau, cera, ele.
Ainazunas
1.951:407
57:610
Gran-Pará
Equatorial (S)
l.(»68:237
259:821
Gomina elástica, cacau e castanha da terra.
Maranh.lo
Equatorial (S.)
306:863
359:040
Algoilão, assacar, tabaco, milho, arroz, etc.
Piaaliy
Equatorial (S.)
Equatorial (S.)
áli:H()0
202:222
Algodilo, ajiuardcnte, gados, ele.
Assucar. al?odão. I.abaeo. café. tromnia
Ceará ^
130- 174
721:686
elástica, gado, queijo, etc.
RioGiande do Norte
Equatorial (S.)
:ri:l34
233:979
Assuoar e algodão.
Parahvba
•
Equatorial (S.)
52:695
362:557
AlgodiU), assucar, pau Urazil, etc.
Pernambuco
Tropico-equat. (S.)
il9:800
841:539
Assucar, algodão e cereaes.
Alagoas
Tropico-equat. (S.)
Tropico-equat. (S.)
ÍIOI.IS
348:009
.Vssucar, algodão, tabaco, lãs, couros, etc.
Assucar, algodão, ngnardente, couros, c^>
cos, olc.
SírsíDC
31177
161:307
lialiia
Tiopico-equal. (S.)
33()AJ6
1.283:141
Assucar, aguardente, tabaco, algodão, ca-
fé, cacau, cravo, rereaes, etc.
E^pirila San lo
Tropiral quente . . .
44:105
82:137
Café, as<iucar. aguardente, algodão, man-
dioca, cercaes c madeiras.
Kio (1c Janeiro. . . .
Tropical
. 727:576
Café, ;!ásucar, algodão, chá, cereaes, hor-
taliças, legumes, fractas, ele.
17;8S«
Mnniripio Neutro .
Tropical
1 1
' 274:972
Assucar, aguardente, ccreaes o mandioca.
S. Paulo
Tropical
23$"<9I
H:\7-'\hi
Café, assucar, tabaco, algo<lão, chá, vinho,
trigo, cereaes, etc.
Paraná
Tropical temperado
-
ii8M51
14^:. 74^
Diversos productos.
Assucar, aguardente, cale, algodão, linho,
Santa Calharina . .
49:012
< 59:802
mandioca, cereaes, etc, em quantidade
S. Pedro do Rio
limitada.
Grande do Sul . .
Tropical temperado
á85:446
430:878
Gados, carvão de pedra, aguardente, fru-
ctos, etc.
Minas Geraes
Tropical qut>nle . . .
615:053
2.009:023
Gados, metaes, diflerantos Iwidos de algo-
dão, ele.
Goyax '. .
Tropico-equaturial . ',
Tropical quente —
1
iiSi- 108
160-:t95 i:<i<íne n!rii <>!.• 1
Mato Grosso
1
1
1.731:740
60:417
Assucar, laranjas, unil, niiu, diauiiuites
8.515:848
9.700:187
1
gado, couros, etc.
Não ó facll fazer em poucas palavras a descripção lopographlca das
províncias do Brazil. É immensa a superfície de cada uma d'ellas, e s$o
328
variadíssimas as suas prodacçoes, mas, a exemplo do que fizemos a respeito
das colónias de Hespanha, França, HoUanda e Inglaterra, condensámos o
que nos parece mais adequado, nao só para justificar as considerações que
apresentámos a respeito da colonisação e emigração portugueza, mas
também para mostrar que falíamos da salubridade e insalubridade do Bra-
zíl, depois de proceder a um estudo tâo attento quanto demorado de o^da
uma das provindas.
O império do Brazil está dividido em províncias e estas em comarcas,
municípios e parochias^
Profincia do Amazonas. — Esta provincia é a mais septentrional do im-
pério.
Estende-se desde 5« 10' de latitude N. atè iO^ 20' de latitudes. Deve
portanto ser classificada como paiz equatorial propriamente dito, liaven-
do-nos por essa rasão referido já a este território, quando fizemos a enu-
meração dos paizes equatoriaes.
Não tem porto de mar, e comprchcnde as comarcas de Manáos, Parin-
tins e Solimões. Encontram-se ali as povoações de Manáos, Teffe, Taba-
tinga, Barcellos, Serpa e outras villas.
A provincia do Amazonas ainda não tem emigração, mas a fertilidade
dos terrenos oflerece grande vantagem para a cultura.
A extracção da borracha representa uma industria importante, e appli-
cam-se a este ramo de trabalho muitos indivíduos. Considera-se um paiz
promeltedor, e tem logares de uma riqueza espantosa.
Trata-se da construcção de algumas estradas, e o governo brazileiro
protege para ali a emigração dos europeus. São elles de certo os únicos
que pela sua actividade intellectual podem concorrer para que se desen-
volva rapidamente o progresso moral e material, e logoque a popula-
ção se aclime em tão fértil território, a provincia do Amazonas seiá uma
nova Califórnia.
Não ha nas nossas possessões do ultramar território algum corres-
pondente á parte central do Amazonas, mas a parte da zona do S. está
quasi no paralielo dos dislrictos de Cabinda, S. Salvador c D. Pedro V,
pertencentes á provincia de Angola, onde não lemos ainda colonisação.
Provincia do (íran-Pará. — Eslende-se do 4^^ 10' de latitude N. ató 8"* 10'
latitude S. Tem ao N. o Oceano Atlântico, esse mesmo mar que banha as
í Para simplicidade da exposição iiào falíamos diis circumscripí;õcs adminis-
trativa nem ecclesiaslica. Rcferimo-nos apenas á divisão judiciaria, c por isso indi-
oàmos tão somente as comarcas.
329
costas da província de Angola, da ilha de S. Thomé e de Portugal. Li-
mita também pelo N. com as Guyanas, e a 0. flca-lhe a província do
Amazonas.
A província do Pará é o interposto commercial entre os portos de mar
e as províncias do interior Goyaz ,e Mato Grosso.
Tem variados climas, sendo uma grande parte da província atraves-
sada pelo equador terrestre no sentido da sua maior largura.
Gontam-se n'ella os afQuentes mais importantes do rio Amazonas, como
o Tocantins, Xingu, Tapajós, etc.
Entre as diversas producções nolam-se o arroz, mandioca, legumes,
assucar, café, algodão e vários fructos próprios d'aquella região.
A sua zona austral corresponde ao nosso dislricto de S. José de En-
goge, na província de Angola.
ProTíncía do Haraolião. — Fica entre 1^ li' e 10"* 40' de latitude S. É por
conseguinte um paiz equatorial S. e tem ao N. o Oceano Atlântico e pelo
O., S. e E. correm as províncias do Gran-Pará, Goyaz e Piauhy.
Divide-se em quatorze comarcas e grande numero de municípios e pa-
rochías.
A capital denomina-se S. Luiz, e fica na ilha do Maranhão.
Ha n'isto alguma parecença com a nossa província de Moçambique,
cuja capital se acha também edificada sobre uma ilha fronteira ao conti-
nente.
O algodão é o producto agrícola mais importante, mas é hoje muito
menor do que foi ha cincoenta e seis annos. A cultura do arroz também
diminue bastante, cmquanlo que o assucar se fabrica em muito maior quan-
tidade.
Corresponde ao Ambriz, Dande, Bengo e Encoge, na província de An-
ela.
nr
Província do Piauby. — Está comprehendida enlre 2® 45' e M" 40' de
latitude S. É, como a antecedente, equatorial S., e tem por limites ao N.
o Oceano Atlântico, e pelo O., S. e E. estendem-secomo em gigantesco
amplexo as províncias do Maranhão, Bahia, Goyaz, Ceará e Pernam-
buco.
Divide-se em doze comarcas e differentes municípios e parochias.
A capital denomina-se Therezína, e alem d'esta cidade, fundada em
1832, tem a Parnahyba e Oeiras.
São baixos cm geral os terrenos, e somente ao S. e E. se deparam al-
guns outeiros.
Cultiva-se o algodão, tabaco, milho, assucar e aguardente.
:í3(»
São numerosos os rebanhos, os quaes constituem uma das industrias
mais importantes do paiz.
Província do Ceará. — Está lançada esta província do 2^ 45' até 7** H'
de latitude S. O clima em geral è equatorial. Tem ao N. o Atlântico e de
0. pelo S. até E. formam-lhe um grande circuito as províncias de Piauhy.
Parahyba, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Abrange dezeseis comarcas, e tem por capital a cidade denominada
Fortaleza. Alem d'esta ha as cidades Aracatv, Icó, Crato e outras não
menos importantes.
O solo é coberto de arvoredo nos valles dos rios e árido nos outros
logares. As correntes de agu^ são numerosas, mas pouco abundantes.
Província do Rio Grande do Norle. — Começa em 4^ 54' e acaba em 6^ 28'
de latitude S. É equatorial S. e tem por limites ao N. e E. o Oceano Atlân-
tico. No rumo opposto ficamlhe as províncias de Parahyba e do Ceará.
Compreliende oito comarcas, diflerentes municípios e parochias.
A capital é a cidade do Natal.
É fértil este território, e a cultura do algodão cresce ali de dia para
dia. Próximo aos rios ha palmares, alguns dos quaes são afastados da
costa e compostos de palmeiras especíaes.
Província de Parabjba. — Fica entre 6^ 15' e 7" 50' de latitude S., sendo
portanto uma região equatorial S. Seus limites são a E. o Oceano Atlân-
tico, a 0. o Ceará, ao S. Pernambuco e ao N. a província do Rio Grande,
de que já falíamos.
Uivíde-se em onze comarcas. A capital tem o mesmo nome da provín-
cia, e alem doesta ha a cidade de Sousa.
O território é pouco elevado na zona marítima e no interior, e apre-
senta, como a província de Angola, uma importante regiãoalto-plana. Pro-
duz algodão, assucar e madeiras de tingir.
Província de Pernambuco.— Estende-se do 7^ até !0^ 40' de latitude S.,
reputando-se o clima como equatorial S. A E. fica-lhe o Oceano, ao N. as
províncias de Parahyba e Ceará, ao S. Alagoas e Bahia e a O. está Piau-
hy ba.
Divide-se em dezenove comarcas e tem por capital a cidade do Recife.
É esta certamente uma das províncias mais ricas do Brazil. As planta-
ções da canna saccharina são numerosas e é abundante a cultura do algo-
dão e cereaes.
A província do Maranhão corresponde pela sua parte boreal ao nosso
(lisiricto de S. José de Encoge, na província de Angola, á bacia do Dande,
na parte media, e ao Ambriz e Bengo. Umas e outras regiões pertencem
à zona equatorial S.
Pro?iDcía de Alagoas. — Começa em 8^ 4' e acaba em 10" 32' de latitude
S. É um paiz tropico-equalorial cujos limites sâo ao N.^ O. a província
de Pernambuco, ao S. a do Sergipe e Bahia, e a E. confina com o Oceano
Atlântico. Produz como as outras províncias assucar, algodão e tabaco.
É importante a creaçào de gados, e exportam-se pelles cortidas, couros
salgados, ele. • »
Divide-se esta província em nove comarcas e differenles municípios.
Chama-se Maceió a capital, que se acha era estado florescente. O com-
mercio é animado.
Corresponde a zona septenlrional d'esta província ao nosso districto
de Ambaca, assim como a bacia do Bengo e o districto do duque de Bra-
gança. Deve ser portanto indifl*erente o procurar uma ou outra região
quando se tratar de lançar os primeiros fundamentos de qualquer co-
lónia.
Província de Sergipe. — Fica esta província entre 9^ 5' e 1 1 e 28' de la-
titude S., devendo classificar-se como paiz equatorial S. Está nas mes-
mas condições em que se acha Novo Redondo, Cambambe, Massangano
e outros concelhos da província de Angola. Tem por limite ao N. a pro-
víncia de Alagoas, ao S. fica-lhe a da Bahia e a E. tem o Oceano Atlântico,
conlinando lambem pelo O. com a província da Bahia.
Produz assucar, algodão e aguardente. Os terrenos são geralmente fér-
teis, dando em abundância os géneros Iropicaes.
l)ívide-se em oito comarcas e differenles municípios e parochias. A sua
capital, fundada ha poucos annos, chama-se Aracaju. Alem da capital ha
outras cidades e algumas víllas. Tem abundância de rebanhos.
ProTíncía da Babia. — Ê com prehendida entre l)** 55' e 1 3" 1 5' de latitude
S., sendo um paiz Iropico-equatorial bem definido. Tem por limite ao N.
as províncias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, ao S. as do Espirito
Sanlo e Minas Genes, a E. o mar e a província de Sergipe e a Ò. as pro-
víncias de Piauhy, Goyaz e Minas Geraes.
Divide-se cm vinte e cinco comarcas, que comprehendem numerosos
municípios e parochias.
É abundante em assucar, aguardente, café e cacau. Não escaceiam os
cereaes, e o cravo conslitue um importante género de exportação.
O districto de Benguella corresponde a esta provincia; tanto n'ella
:i3á
como n'aquelle disiriclo da provinda de Angola é grande a fertilidade do
terreno.
Província do Espirito Santo.— Demora esta província entre IS'' 5' e 2i'* 28'
de latitude S. O clima é tropical quente, e tem ao N. a provinda da Ba-
hia, ao S. a do ftio de Janeiro, a O. Minas Geraes e a E. fica o Oceano
Atlântico. Apesar da grande fertilidade do território d'esta província o
commercio e a agricultura estão pouco desenvolvidos. Corresponde ao
nosso território austral de Moçambique, onde, como na provinda bra-
zileira, se podem fundar colónias agrícolas. As vantagens serão as mes-
mas.
Província do Kio de Janeiro. —Fica esta província entre âO** íiO' e 23® li)'
de latitude S. O seu clima ò tropical quente, mas tão pouco afastado do
tropico-capricornio que a sua região meridional forma até certo ponto
um paiz puramente tropical.
O distficto do Rio de Janeiro tem ao N. as províncias do Espírito
Santo e Minas Geraes, ao S. fica-lhe o Oceano Atlântico c a 0. a pro-
víncia de S. Paulo.
As producções sao bem conhecidas, mas não podemos deixar de as
' nomear para que se não julgue que ali ha géneros mais importantes do
que nos nossos districtos de Mossamedes ou de Inhambane. A fama do
Rio de Janeiro é justificada a todos os respeitos, e ó este um dos pontos
do império do Brazil mais procurado pelos emigrantes porluguezes. Pro-
curem embora este paiz, mas saibam que temos terrenos em condições
de igual fertilidade.
O café, algodão e canna de assucar produzem-se na província de An-
gola e de Moçambique com a mesma facilidade. É certo, porém, que o Bra-
zil tem condições especiaes que ali chamam a emigração, e nós, para des-
viar esta corrente, precisámos apenas de cuidar da viação publica e fiuvíal
e da segurança individual ; com estes dois elementos, podemos aliançar
que não seriam somente os portuguezes que procurariam a nossa região
tropical, seriam lambem os inglezes e os brazileiros, que ali iriam esta-
belecer-se.
Município da Côrtc. — Dá-se este nome á capital do império do Brazil,
que muitas vezes se designa pelo nome de Município Neutro. Como se vê,
não se trata de uma província, mas de uma cidade importante.
O Munidpio da Corte fica entre 22® 43' e 23® G' de latitude S. É um
paiz tropical, a que corresponde o nosso districto de Inhambane e as ilhas
de Bazaruto ; todavia é preciso dizer-se que o Rio de Janeiro é qSo só a
i
333
primeira cidade da America do Sul, mas que rivalisa com as primeiras do
mundo. Tem cerca de 230:000 habitantes.
Provinda de S. Paulo. -^Estende- se desde 19" W até 25" 13' de lati-
tude S. Fica por conseguinte sob o trópico austral e forma um paiz tro-
pical propriamente dito.
É esta a provincia que pode comparar-se com os districtos de Lou-
renço Marques e Inhambane.
Provioeía do Paraná. — Fica esta provincia entre 22^ 4' e 26° 29' de la-
titude S. Os seus limites são ao N. a provincia de-S. Paulo, ao S, a de
Santa Catharina e Confederação Argentina, a E. o Oceano Atlântico e a
provincia de Santa Catharina e a O. tem por limites a republica do Para-
guay e a provincia de Mato Grosso.
É uma provincia promettedora, e íica pela mesma distancia do trópico
austral em que se acha o districto de Lourenço Marques.
ProTÍncía de Santa Catharina. — Começa esta provincia no mesmo paral-
lelo em que termina o nosso districto de Lourenço Marques, e estende-se
até 29** 18'. O seu clima é tropical temperado.
É um paiz promelledor como muttos districtos das nossas possessões.
Província do Rio Grande do Sul. — Estende- se esta provincia de 27° 5' a
.')2° 45' de latitude S. O clima é pois tropical temperado, e tem por limi-
tes ao N. a provincia de Santa Catharina, ao S. a republica oriental do Pa-
raguay e pelo E. confina com o mar.
Tem extensas campinas, notando-se apenas a 155 kilometros da costa
uma serra bastante comprida, que se dirige para o S. e para o interior
da republica do Uruguay. A serra jaz no interior da provincia.
Divide-se em dez comarcas, diversos municipios e parochias. A capi-
tal chama-se Porto Alegre.
N'esta provincia ficam as cidades denominadas Rio Grande, Pelotas, Jo-
gurão, Bagé, Alegrete e outras.
Possue dilTerentes colónias, e téem ali aflluido muitos allemães, aos
quaes se deve a fundação da cidade de S. Leopoldo.
Ê abundante de arroz, trigo, cevada, milho e mandioca. Também ali
se dá a vinha a par do algodão e assucar. O linho produz com abundância,
e são bons os fructos. Ha minas de oiro, prata, enxofre e carvão. A agri-
cultura é notável e os pastos sustentam numerosos rebanhos.
É esta uma das províncias em que se tem funt^ado maior numero de
colónias.
ProfiDcía das Hiaas Geraes. — Esteode-se de 13^ 55' até quasi sob o tro
pico de capricórnio. Gosa de um clima geral tropical quente, o qual se
acha bem definido.
Fica no inierior do império, e tem por limites ao N. a província da Ba-
hia e ao S. a do Rio de Janeiro e S. Paulo. Da parte oriental conGna com
as provincias da Bahia, Espirito Santo e Rio de Janeiro, e da occidental
confronta com as provincias de S. Paulo, Goyaz e Mato Grosso.
Esta vasta província comprehende vintfi e quatro comarcas e nume-
rosos municípios e parochias.
Os nomes que se lêem dado á capital recordam sem duvida a riqueza
aurífera da cidade: denomina-se Oiro Preto o outrora chama va-se Villa
Rica. Alem d'esta cidade éncontram-se onlrns coin bastante impor-
tância.
O solo d'esta província, segundo Larousse, está cheio de arvoredos e
apresenta altas montanhas. Sao abundantes as minas de oiro, 'cobre, es-
tanho, mercúrio e de outros mineraes. Ê o paiz da ipecacuanha, baunilha
e Índigo, e entre os productos naturaes occupam o primeiro logar o mi-
lho, arroz, algodão, tabaco e assucar.
ProTincia do Gojaz. — É comprehendida onlro èJ' 10' o 19® iO' de lali-
tude S. O clima geral é tropíco-equatorial.
Esta província tem pelo lado do N. as provincias do Gran-Parâ e do
Maranhão, ao S. ficam-lhe as de Mato Grosso e Minas Geraes, a do Mara-
nhão, Píauhy, Bahia e parte da de Minas Geraes.
Divide-se em onze comarcas e tem por capital Goyaz, antigamente
Villa Boa, e é atravessada pelo rio Vermellio.
A província de Goyaz está pouco povoada, mas o solo é fértil. Ali se
encontram minas de oiro, ferro, crystal e diversos mineraes. A industria
do paiz, porém, reduz-se á creação de gado vaccum para o qual ha bons
pastos.
Proviocia do Mato Grosso. — Fica esta província entre T 50' e 24** 10',
comprehendendo por conseguinte grande extensão de terrenos que po-
dem distríbuir-se em cinco climas diversos, a saber: equatorial S., tro-
pico-equatorfal, tropical quente, tropical e tropical temperado. Da parte
superior estão as provincias do Amazonas, a do Gran-Pará e a do Goyaz.
Ao S. tem a republica do Paraguay e a E. limita com as provincias de
Goyaz e Minas Geraes.
Divide-se em três comarcas, e tem por capital a cidade denominada
Cuyaba. É completamente inculto o seu território, e são immensas as fio-
335
restas, onde apparece variada caça. Díz-se que ali ha minas de oiio e nu-
merosos veios de pedras preciosas.
Dá-se bera o café, assucar, algodão, labaco, ele.
Terminámos esla succinta notícia a respeito do império do Brazil, mas
desejámos pòr bem em relevo a sua riqueza em geral, e nao receiâmos fa-
zer a comparação com a riqueza das nossas colónias, estabelecida a natu-
ral proporção.
«Café.— Este género só por si representa approximadamente metade
(io valor total da exportação. A sua cultura estende-se do Amazonas á
província de S. Paulo, islo é, de T EN. a 23*^ ES. e do litoral ao extremo
Occidental do império, excedendo 463:400 kilometros quadrados a su-
perflcie que lhe é conveniente.
cSendo-lhe tão apropriados o clima e o solo, rapidamente se desen-
volveu a cultura, embora no começo, como era natural, n3o houvesse
grande cuidado em preparar o fructo, provindo d'ahí o descrédito em que
caiu nos mercados europeus.
«Nos últimos quinze annos, porém, a qualidade do café melhorou tão
considera velmenlo com n inlrodiicção do machinas e processos aperfoi-
coados, que, ha muito tempo, se consome na Europa mais de metade do
café brazileiro sob a denominação <le Java, Cevlâo, Martinica, S. Domin-
gos e até de Moka.
«Doesta verdade deu solemne testemunho o jury internacional da ex-
posição universal de 1867, conferindo medalha de oiro ao café brazileiro,
e não concedendo igual recompensa ao de outras procedências.
«A producção augmenta no Brazil, ao passo qu3 se conserva estacio-
naria ou progride em pequena escala na índia, America central, S. Do-
mingos e outros paizes.
«O seguinte quadro, organisado com documentos ofDciaes, mostra o
augmento da sua producção:
EvrcirifK
1840-Í84Í
1871-<872
Augmento
Quanlidailfs
Arroba»
5.0o7:50l
16.581:644
11.524:143
Kilogrammas
74.294:089
243.584:360
169.289:671
Valores
20.000:000^000
7i.645:659i^000
51.645:659^000
336
a Em trinta e um annos a quantidade do caré e^; portado subiu na rasao
de 228 por cento e o valor na de 258 por cento ou 7,35 por cento e 8,3
por cento ao anno, prova evidente do progresso da cultura e melhora-
mento na qualidade do producto. A producção do café é calculada actual-
mente DO Brazil em perto de 17.699:115 arrobas (260.000:000 kilo-
grammas), das quaes são consumidas no paiz cerca de 2.000:000 arrobas
(29.380:000 kilogrammas). Calcula-se existirem no império 530.000:000
cafeseiros, occupando approximadamenle a superfície de 574:992 hecta-
res ou 132 léguas quadradas.
c Algodão. — Este género foi sempre cultivado no Brazil, principalmente
nas provincias do N., mas em pequena escala até certo tempo, porque o
baixo preço que obtinha no mercado importador não remunerava satisfa-
ctoriamente as despezas de producção e transporte. A alta occasionada
pela guerra dos Estados Unidos, e pela construcção de algumas estradas
de ferro, animou os plantadores, e a cultura desenvolveu-se com rapidez
até nas provincias do S.
a O quadro seguinte mostra o progresso de sua exportação nos últimos
onze annos :
»^^— lai^l-
Exercícios
Í8G0-1861
187Í-1872
Áugmciito
QiuBlidados
Arroba*
070:860
3.648:048
2.977:188
Kiloi^raminas
9.854:933
53.589:838
43.734:905
Valores
4.682:1 41 i^559
35.630:914^000
30.948:772^41
a A exportação portanto augmenlou n'este período na rasão de 443,8
por cento, ou 40,3 por cento annualmente, prova do extraordinário pro-
gresso da cultura do algodão, cujo valor, no mesmo período, se elevou na
rasão de 661 por cento, ou 60 por cento ao anno.
«Importa observar que este grande desenvolvimento na cultura não
prejudica o café, a canna e outros géneros do paiz, o que somente se ex-
plica pela melhor applicação das forças económicas.
I
cAssnear. — A canna de assucar cultivada no Brazil desde os tempos
mais remotos, constituiu a sua principal industria até á introducção do
cafeseiro, que lhe absorveu grande parte das forças.
337
«Ullimamente a producção d'este género tomou rápido incremento,
como demonstra o seguinte quadro, acompanhando assim o progresso do
algodão e do café :
Exercicioâ
1860-18CI.
1871-1872,
Áugmento
Quantidades
Arrobai
4.451:188
9.666:078
5.214:890
Kilogrammai
65.387:951
141.994:693
76.606:742
Valores
10.900:545M62
26.277:614^000
15.377:068^938
a Nos últimos onze annos, o áugmento da exportação do assucar foi na
rasão de 117 por cento, ou annualmente 10,6 por cento, e o do valor na
de 141 por cento, que corresponde annualmente a 12,8 por cento, ou
mais do que o café.
«O assucar fabricado actualmente no Brazil, n3o comprehendendo o
melado e a rapadura em grande quantidade, orça por 20.000:000 de ar-
robas (293.800:000 kilogrammas). Quasí metade d*esta producção é
consumida no paiz.
«Couros seceos e salgados. — Comquanto em lodo o Brazil se possa pro-
mover em ponto grande a creação do gado, esta industria tem-se desen-
volvido especialmente nas províncias de Piautiy, Ceará, Rio Grande do
Norte, Parahíba, S. Paulo, Paraná, S. Pedro do Rio Grande do Sul, Mi-
nas Geraes, Mato Grosso e Goyaz.
«Calcula-se existirem actualmente no império cerca de 15.000:000
cabeças de gado vaccum, que representam o capital de 150.000:000)$000
réis.
«Nos exercícios alludidos a exportação de couros foi a seguinte:
Exercícios
1860-1861
1871-1872
Áugmento
Qoanlidadef
Arrobas
1.285:U7
1.480:525
195:078
Kilogrammas
18.883:216
21.748:920
2.865:704
Valores
7.824:309^748
11.765:714^000
3.941:4041252
aNos últimos onze annos a quantidade augmentou, como se vé, na ra-
são de 15 por cento e o preço na de 50,4 por cento, ou 1,4 por cento e
4,6 por cento annualmente.
21
•aomna eitilki. — Este geoero, cujas applicaç5es industriaes se mul-
tiplicam constantemento, \eiú, pela maior parte, do valle das províDCías
do Pará e do Amazonas, onde a siphonia elástica de que se extrahe,
nasce espontânea e profusamente desde o tiloral alé á distancia de 500
léguas (á5:000 kilometros). Logoque esta planta for cultivada regularmen-
te, é natural que diminua o preço da gomma elástica. Ainda assim, po-
rém, dará rendimento certo e superior ao do café, por quanto a do Brazil
é a melhor que se conhece.
cA seguinte tabeliã mostra a quantidade e o valor de sua exportação
nos exercidos que h3o servido ao estudo comparativo:
Ezerciciot
Qttaotidades
àrrobu
1860-1861
1871-1872
Aiigmento
164:235
326:679
162:444
Kilogrammas
2.412:612
4.798:921
2.386:309
ValoiYS
2.863
7.509
4.645
946^576
4914000
5UM24
«O augraento foi, com relação á quantidade de 99 por cento, e relati-
vamente ao preço, de 102,2 por cento, ou 9 por cento e 14,7 por cento
ao anno.
f Tabaco.— O solo brazileiro presta-se perfeitamente â cultura do tabaco,
cuja producção tem augmentado, principalmente nas províncias da Bahia.
Minas Geraes, S. Paulo, Pará e alguns togares do Rio de Janeiro.
« Nos referidos exercícios a exportaçSo foi a seguinte :
Exercícios
Quantidades
Valores
Arrobaii
Kilogrammas
1860-1861
313:750
873:732
559;982
4.608:987 2.376:4351739
1871-1872
12.835:126
8.226:139
6.748:038|;000
4.371:6021261
Aiunnento ,......•, . .
tA elevaçio total da quantidade foi de 178,5 por cento, e a do valor
184 por cento. A annual regulou por 16,7 por cento, quanto á qoaoti-
dade, e 16,8 por cento, com referencia ao valor.
339
tHèfrw mate.— Este género, como objecto de exportação, é exclusivo
(las províncias do 8., Rio Grande, Santa Catharina e Paraná.
«Aproveita-se ainda a producção silvestre; tem-se, porém, feilo tenta-
tivas para a siia cultura. Do seu acerto deverá resultar augmcnlo da pro-
ducç3o, e, portanto, grande Iticro ao paiz, atlenta a utilidade therapeutfca
e alimentícia do mate.
« A exportação foi a seguinte :
Uti«ntidádei(
Nalores
hxcrcicios
1
Arrobas
*
KiIo;;raQ)ma!>
1860-1861
463: i08
647:180
184:072
6.803:036
9.307:086
2.704:030
1.429:733Mi2
2.273:816iKO0O
846:062«tf56
1871-1872
Autiiiento
* ■■ ■ ■■! ■ I . . .1 . ■ - ■ . ;
(frllouve augmento em relação á quantidade de 39,7 por cento, e quanto
no valor S9,l por cento. A proporção annual dá para a quantidade 3,6
por cento, e para o valor 3,4 por cento.
iCacan.— É também do valle do Amazonas e do Tocantins que provém
a maior parte do cacau exportado do Brazil. A sua cultura vae tomando
grande incremento nas províncias da Bahia e do Ceará.
«Depois da gomma elástica» é este o género que maior lucro dá ao
productor.
a Vegeta abundante e espontaneamente nas florestas do Amazonas,
sendo principalmente cultivado na província do Pará; mas pôde produzir
bem no terreno que se estende ao S. até ao Rio de Janeiro.
«A exportação foi a seguinte:
Exercícios
QnaDtidades
Arrobas
«860-186!.
1871-1872.
Differenca .
236:986
216:574
20:412
Kilogramraas
3.481:324
3.181:471
299:833
Valons
1.476:920^113
1.309:2te^000
n:^H987
340
«Houve diminuiçSío na quantidade de 8,6 por cento, e augmento de
2,2 por cento no valor, ou 0,8 por cento e 0,2 por cento annual.
cAgnirdeote.— Depois do exercício de 1860-1861, no qual attingiu o
valor oíQcial de 597:444^9489 réis, e a quantidade de 2.349:695 canadas
(3.599:636 litros) a exportação d'este género, que pôde tomar grande des-
envolvimento, muito augmentou, elevando-se no exercido de 1871-1872
o valor a 1.243:363^9000 réis, e a quantidade a 2.119:957 canadas (litros
5.652:908), como se vé no seguinte quadro:
Exercícios
1860-1861.
1871-1872.
Augmento .
QoaoUdades
Canadas
1.349:695
2.119:907
770:262
Litros
3.599:636
5.652:908
2.053:272
Valores
597:444^489
1.243:363^000
645:918^511
tO augmento foi de 57 por cento na quantidade e de 108,1 por cento
no valor, sendo a relação annual do primeiro 5,2 por cento, e do segundo
9,8 por cento.
«Farinha de maodioea.— Logoque forem melhor conhecidas e aprecia-
das as grandes vantagens d'este producto, a sua exportação deve augmen-
tar.
«No exercício de 1860-1861 exportaram-se 89:933 alqueires (litros
3.269:963) de farinha de mandioca, avaliados ofiScialmente na quantia
de 102:833jSI760 réis. De então para cá tem crescido progressivamente
o consumo externo d'este producto da lavoura nacional.
«A seguinte tabeliã comparativa d'aquelle exercício com o de 1871-
1 872 mostra qual foi o augmento :
Exercidos
1860-1861
1871-1872
Augmento
Quantidades
Alqueires
89:933
194:929
104:996
Litros
3.269:963
7.087:620
3.817:657
Valores
102:833^760
358:130^000
255:296^240
«Este augmento corresponde á percentagem total de 116,7 por cento,
e de 10,6 por. cento ao anno, quanto á quantidade; ou á de 248,3 por
cento, e 22,6 por cento ao anno, quanto ao valor.
c Jaearaidi. — No ultimo exercício foi de 1.051:091t9KMH) réis o seu va-
lor ofScial.
«Existem as malas mais ricas d'esta madeira nas provincias do Rio
Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Espirito Santo, Rio de Janeiro e
Minas Geraes, que a exporta pelo rio Mucury e portos da Bahia.
cGabellos de animaes (crina e lã). — Na exportação de 1860-1861 es-
tes artigos figuram na estatística oíBcial com a quantidade de 25:188
arrobas (370:012 kilogrammas), e o valor de 257:946^91000 réis; no exer-
cício de 1871-1872, porém, a quantidade exportada foi de 36:990 ar-
robas (543:387 kilogrammas), no valor de 428:934^000 réis, como se
vè no seguinte quadro:
Exercícios
1860^1861
187Í-Í872
Augmento
Quaolidades
Arrobas
25:188
36:990
11:802
Kilogranumas
370:012
543:387
173:375
Valores
257:946^000
428:934^000
170:988^000
«Houve O augmento de 46,8 por cento na quantidade e 66,2 por cento
no valor, ou annualmente 4,3 por cento para aquella e 6 por cento para
este.
cOiro e diamantes. — Houve decrescimento na sua exportação, cujo va-
lor no exercido de 1860-1861 foi de 5.401:590^9000 réis. No exercício
de 1871-1872 baixou a 3.010:547i9IOOO réis. A diminuição explica-se
pelo descobrimento de minas mais abundantes de diamantes em outros
paizes.
«Géneros nio classifleados. — A exportação de géneros não classificados
importou em 3.893:540^^000 réis.
«A producção do algodão foi a que mais produziu no decennio de
1862 a 1872, confrontada com a do tabaco, aguardente, assucar, gomma
343
elástica, couros, café e mal«. O cacau diminuiu em quaniidadc, porém
augmentou cm valor. A exporlacão d'este género esli sujeila a gr^infles
oscillações por causa daa onclientes do Amazonas, que ipuilas veaes pre-
judicam a collieita'.B
U6duzem-30 QaaluieDie os géneros du exportação do Itio do Janeiro
ãquelles que offerecem as nossas possessões, cujo desenvolvioaonio é l(-
soDjeiro.
Happa da» colonUa ralubclceldait do Brasil «leaile lltlS alé ISIS
Protinm.
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d,iB de iioalro.
dera «to Ires.
diw de uma.
> Exirabido de O hnperio do Orasil na exposição Utunrsal de 1S73 em Vienna
<f4M(ria.
343
Indifferen^ pelas nofleas terras de alem mar
A Dossa índifTerença pelas lerras de alem mar tem sido causada pela
fama de insalubridade que ellas adquiriram e pela continuada emigração
que tem havido para as províncias do império do Brazil. São estas cer-
tamente as duas causas principaes que se devem tomar em consideração,
mas outras ha também que é preciso não esquecer, e uma d'ellas è man-
darem-se para ali os degredados. Parece-nos ser este um dos grandes oIh
slaculos que se oílerece ao desenvolvimento da colonisação das provindas
ultramarinas. É assumpto grave e de que adiante trataremos.
Poucas pessoas se occupam das colónias; quando se lembram d'ellas é
para contar alguma desgraça ou para referir as difficuldades que se apre-
sentam a quem as deseja ir habitar, como se não acontecesse o mesmo
com todas as colónias dos outros paizes, antes de chegarem ao grau de des-
envolvimento a que as nossas podem também chegar. A respeito do Brazil,
pelo contrario, falla-se com interesse e muitas vezes com entbusiasmo.
Pouca gente ha que não tenha nas terras do Santa Cruz um parente, um
amigo ou um vizinho de quem receba noticias. É isto o que acontece em
quasi todas as aldeias das nossas províncias do N., e não falta portanto
quem se encarregue de engrandecer a Bahia, o Maranhão, Pernambuco
ou o Uio Grande do Sul, julgando-sc sempre infeliz aquelle que vae para
as nossas possessões ultramarinas. Mas a propaganda que tem chamado
centenares de portuguezes ao Brazil, tem lançado profundas raizes e alar-
gado a sua acção por tal modo, que será muito difficil fazer com que os
nossos conterrâneos troquem aquellas terras pelas da nossa Africa.
vSe não oppozermos argumentações iguaes, se por todos os meios pos-
síveis não tratarmos de patentear as vantagens que o solo africano é sus-
ceptível de dar a quem o quizer explorar, e se não cuidarmos nos meios
de tornar bem conhecido o clima e as producções tão abundantes, quanto
fáceis de obter, nada se conseguirá, porque os agentes da emigração para
o Brazil não contam historias, citam factos; não fazem discursos maia ou
menos exagerados, apontara para as lindas e agradáveis vivendas perten-
centes ás famihas d^aquelles que enriqueceram no Brazil. Argumentos
d'esta ordem dão coragem aos tímidos, animam os ambiciosos, e fazem
com que os navios da praça do Porto se encham constantemente de emi-
grantes, sem excepção de sexo nem de idade!
Sabe-se com evidencia a grande mortalidade que n'estes últimos an-
nos tem devastado os emigranles portuguezes n aquelle império, porque
todos os mezes se publicam as relações dos indivíduos ali fallecidos, e que
são muitos os que se acham em más circumstancias, mas apesar disso
344
será dífficil mudar a corrente da emigração emquaDlo campearem no meio
dos campos e no cenlro de villas e cidades os ostentosos palácios dos bra-
zileiros^ e dos individues que d'ali regressam com f<Hluna. E o que se diz
das nossas províncias de Angola e Moçambique?. . . Nadai. • . A historia
da Zambezia e á guerra dos Dembos, junta-se a leitura das listas dos sen-
tenceados que nos paquetes são mandados para a Africa. É um mal, bem
o sabemos, mas que os governos hão de remediar quando pelo progresso
das nossas possessões se possam crear colónias para os degredados, como
já existem em outros paizes.
A falta de propaganda efficaz c apropriada, não só para mostrar as
condições cm que se acham as colónias, mas também para patentear os
melhores meios de aclimação, prejudica certamente a emigração voluntá-
ria, que igualmente tem contra si as diíQculdades dos transportes, a exi-
gência, a nosso ver, inútil dos passaportes e outros obstáculos análogos.
Os colonos ou trabalhadores não podem» portanto, procurar as terras da
Africa com a mesma facilidade com que vão para o Brazil. Alem d'isso são
poucas as relações quu ali lêem, onde as mais das vezes não encontram pa-
rentes nem amigos. É esta também uma das causas graves que se oppõem
á emigração, e que justiQcará a intervenção dos poderes públicos para
chamar os emigrantes ás colónias pelos meios indirectos até se estabele-
cer uma corrente de emigração nas condições em que se acha hoje a do
Brazil. ^
£ no meio das incertezas que ainda hoje se apresentam queumpae se
animará a mandar um filho para S. Thomé, para Moçambique ou mesmo
para Angola?. . . Ha de certamente hesitar, mas confiámos que com a at-
tenção que os governos estão tomando pelas nossas possessões em breve
se desvanecerão similhantes obstáculos.
A nossa Africa occidental é apenas conhecida em Lisboa, e em quasi
todas as provindas do N. se olha para ali com azedume ou com desprezo.
Na própria cidade do Porto mal se conhece o café de S. Thomé ou de Ca-
zengo, e a navegação d'aquella praça limita-se aos portos do Brazil, sendo
quasi desconhecidos os da Africa '.
1 No período de oito annos falleceram muitos milhares de porluguezes, mas só
seiscentos sessenta e oito deixaram espólios liquidados, que produziram réis
3.611:000^000.
2 Não perdemos occasiâo de ler o que a respeito das nossas colónias dizem os
escriptores estrangeiros, e, n*esta occasiâo, temos diante de nós um livro intitulado :
Nouvelles répétitions écrites d'histoire et de géograptUe, par C. Raffy, deuxiémê edi-
iion, 1872. N^este livro a pag. 192 se lé o seguinte: <0s portuguezes possuem hoje
apenas um limitado numero de colónias; a saber: Cacheu (Sencgambia), ilhas de
Gabo Verde, S. Thomé, iUia do Príncipe^ Loanda, Benguella (Guiné inferior); Ho-
345
A lodífiereDça pelas nossas terras do ultramar tem, pois, causas pró-
ximas e remotas que facilmente podem ser removidas. Entre as indicações
que se téem apresentado para tal fim não podemos deixar de recordar as
que nos deixou o fallecído marquez de Sá de Bandeira. Transcrevemol-as
aqui, como prova da alta deferência que temos para com o homem que
tanto se empenhou em promover o progresso e civilisação das terras da
Africa.
cSe pois a província de Angola tivesse agentes em Portugal e nas ilhas,
para lhe mandarem colonos, e a estes agentes pagasse bem, e tivesse
um fundo destinado especialmente para esse fim; e se o governo desse a
esses agentes a conveniente protecção e transporte aos emigrantes, é pro-
vável que esses agentes desempenhariam satisfactoriamente a incumbência
que lhes fosse commettida.
«No primeiro inquérito parlamentar sobre a emigração porlugueza,
apresentado á camará dos deputados em 19 de fevereiro ultimo, acha-se
este assumpto tratado extensamente, e por um modo muito judicioso; e
n'elle vem indicadas varias medidas legislativas que a tal respeito cum-
pre adoptar.
«Alem da emigração porlugueza, outras ha que seria útil attrahir ás
nossas colónias, como, por exemplo, a dos povos laboriosos da Galliza,'
das Astúrias, das provindas Vascongadas, da Suissa e da Bélgica.
«Em varias colónias britannicas, taes como o Canadá, a Austrália e a
Nova Zelândia, acham-se estabelecidos ofliciaes reformados do exercito
e da marinha, e bem assim outros pensionistas do estado, os quaes, ha-
vendo adquirido gratuitamente, ou com pouca despeza, boas terras para
cultivar, se téem tomado lavradores, e n'ellas residem com suas famílias.
Por este meio téem elles obtido fortuna e posição social superior áquella
que teriam se vivessem na mãe pátria.
«Se alguns dos nossos compatriotas, em circumstancias similhantes ás
(lambique, em Africa; Goa, Diu, Macau, na Ásia; parto de Timor, naOceania*. Não
admira, porém, que os estrangeiros digam que possuimos apenas um limitado
numero de colónias, quando até hoje temos descurado de lhes assignalar os limites
e de mostrar que occupâmos o quarto logar como nação colonial, tomando para base
os vastos territórios da Rússia, da Inglaterra e da Turquia, únicas que excedem
actualmente p nosso território.
Urge, pois, não abandonar tão vital assumpto, e desde já notamos que, devido
á propaganda ultimamente desenvolvida, se deve certamente a diíTerença que se
nota no Atlas de geographia, de Gosselin-Delamarche, a respeito do modo por que ali
se acham designadas as nossas províncias de Angola e Moçambique. Nas edições
anteriores a 1876 apenas se marca uma estreita faxa de terra, como possessão por-
tugueza. Na ultima já se nos começa a fazer justiça.
346
d^aquelles rerormados;;, os imitassem, estabelecendo-se em Angola ou em
alguma outra das nossas colónias, poderiam, provavelmente, melhorar a
sua sorte, tornando-se fazendeiros, e habilitando-se pelo seu trabalho e in-
dustria a deixarem, quando fallecessem, as suas famílias com recursos
abundantes.
«A cultura do café, a do al((odOo, a do tabaco e a fabricação da aguar-
dente, que n'esta província tem creado boas forlunas, dentro de breves
annos poderia ser igualmente proveitosa para esta classe de colonos, se
ás mesmas industrias se dedicassem.
«O extracto seguinte, de uma carta de Mossamedes, ultimamente pu-
blicada, mostra como em Angola se podem obter importantes resultados
do trabalho e industria.
«Diz a carta: «que no anno de 18(53 duas pessoas se associaram
n'aquella viila com o lim de cultivarem terras no sitio de Campangombe,
concelho de Bumbo, entrando cada uma d'ellas com o capital de réis
10:000í5000, moeda fraca, ou perto de G:250M)00 réis. dinheiro de Portu-
gal; o que no anno de 1873, a sociedade fora dis.solvida amigavelmente,
retirando-sc um dos sócios com 40:000?50i)0 réis fortes, e ficando outro
com igual quantia». E acrescenta: «que as duas propriedades que a so-
ciedade cultivava produziam annualmente 3:000 arrobas (44:06i kilo-
grammas) de algodão e perto de 80 pipas (33:60U litros) de aguardente,
c que o valor d'csla dava para o custeio.
«Ura outro exemplo de como, com um módico capital, se podem adqui-
rir na mesma colónia, e em poucos annos, resultados vantajosos, foi-me
communicado por um pro|)rietario do referido concelho do BumlK), o
qual, passando por Lisboa, me visitou; e contou, que havendo residido em
Pernambuco, onde se occupava na cultura da canna de assucar, passara
d^ali para Mossamedcs; c que fora o primeiro que n'aquelledistricto intro-
duzira a dita cultura no sitio do Bumbo, nas abas da serra de Chella, onde
estabelecera uma fabrica de aguardente; e que no fim de onze annos,
vindo á Europa, deixara arrendada a sua propriedade por alguns contos
de réis. E mostrou-me a escriptura do arrendamento *.»
^ Exlraliído do Trabalho rural africano e a administração coUmal, pelo mai*
quez de Sá da Bandeira.
347
Africa portuguesa oomo terra de degredados
Ê csle um ilos mais graves assumplos em que somos obrigados a en-
trar no decurso d'este trabalho. Não é possível pol o de [íarle, pois me-
rece que a seu respeito façamos neste logar algumas considerações.
Curapre-nos, pois. apreciar os factos, pesar-lhe as consequências e
mostrar a necessidade que ha de se prover de remédio a tão grave estado
^de cousas.
Quem podeni ir volunlariamenle para as terras para onde mandam de
castigo os criminosos?!
Diga-se toda a verdade em tão melindroso assumpto; mas antes de
proseguirmos traremos cm nosso auxilio uma voz auclorisada, uma opi-
nião respeitável.
«O degredo, diz o sr. conde de Casal Ribeiro, não é pena para o cy-
nico, que não icm família nem pátria. O degredo só é pena para as co-
loniass porque é para ellas o elemento de corrupção moral ; o degredo
^ a destruição de toda a idúa de penalidade, é a negação do horror do
crime e de regeneração do criminoso *.i>
Não é só nos tribunaes que alguns criminosos, iirevendo que serão
condemniidos, pedem para serem julgados* depressa, para irem, como el-
les dizem, dar um passeio atò ás terras de Africa: outros observam que
algumas facadas ou um roubo são o melhor passaporte ([ue se pôde tirar
para irem alô Africa!
Mas não é somente isto, ha outros casos que faliam bem alto. Citare-
mos um que nos parece assas signilicativo.
Tralava-se de uma das mais importantes expedições para as terras de
Africa. Apresentou-se nm operário altrahido pelas vantagens que se lhe
oíTereciam e pela certeza de que assim podia ajudar sua velha mãe, e com
[)razer e enlhusiasmo ouviu ler as condições com que se ajustava.
Chegou a noticia ao conhecimento da mãe que vivia nas proximidades
de Lisboa. Não se alegrou, pelo contrario, encheu-se de tristeza e de re-
sulução, e sem grande demora veiu procurar o filho.
A scena que se passou foi, em parle, presenciada por nós. De um la-
do, os rogos de uma mãe afllicta, c do outro as rasões de um bom (ilho, e
a animação de um amigo que servia de medianeiro.
— Meu filho, não vás para a Africa. É uma terra tão má, que só para
lá vão os degredados. Tu não és criminoso.
— Eu vou trabalhar, minha mãe, não se aíllija. liei de ser feliz, verá.
1 Diário da caroara dos dignos pares, n.'' 9 de 37 de janeiro de 1877.
I
348
— Seu filho não se esquecerá de si, acrescentava o amigo. Vae por
pouco tempo, e a terra è boa. Dão-lhe vantagens, e elle pôde fazer econo-
mias e ajuntar algum capital.
— Prefiro que meu filho me não dê nada. Eu ainda posso traba-
lhar.
—A terra è muito boa, observaram os dois amigos, a ver se conven-
ciam aquella boa alma.
— Mas, se é tão boa essa terra, para que mandam para lá os degre-
dados?
■
A isto não havia que responder.
Os dois amigos entreolhavam-se como quem diz: Ella tem rasão.
Não podemos assistir ao resto da sccna, mas qual foi a nossa sur-
prcza, quando vimos a chorosa velha apresentar-se cheia de coragem, e
dizer ao director da expedição:
— Fará favor de riscar o nomo de meu filho. Elle não pôde ir.
O director fcz-lhc differentes observações, mas de nada serviram. Foi
preciso asseverar-lhe que ali só era admittido quem quizessc ir volunta-
riamente, o por isso nãò havia rasão para tal pedido.
Se este caso indica o terror que a Africa inspira, como terra de de-
gredados, ha outros que revelam a quasí impossibilidade de se ir para
qualquer das nossas colónias.
O que pôde fazer uma familía que deseje estabelecer-se nas ilhas do
Príncipe e S. Thomé, em Angola ou Moçambique ou em Timor?
É fácil de prever.
Em primeiro logar, precisa possuir um capital de algumas centenas
de mil réis, a fim de pagar a passagem que não é nada moderada. Se for
infeliz, ou se se não dér bem na terra que escolheu, quem lhe propor-
cionará os meios para regressar á metrópole?
Não pretendemos que os poderes públicos dêem protecção directa
ao colonos, mas lembrámos que não é possível haver emigração sem se-
gurança, e sem se promover o progresso material e moral dos paizes co-
loniaes.
Quem vae para o Brazil, espera encontrar ali algum amigo, parente
ou protector, e quem tem a coragem de ir para a Africa vê-se obrigado
a viver nas cidades que são muito insalubres, e tem de lutar com dífiScul-
dades extraordinárias, e não encontra a maior parte das vezes auxilio al-
gum.
Se tem a ventura de voltar ao reino, serve apenas para espalhar o des-
crédito a respeito das terras onde esteve, e é mais um obstáculo para a
emigração se dirigir livre e espontaneamente para a Africa portugueza.
É necessário, pois, acabar com o stygma que se tem lançado sobre as
349
nossas possessões, e Iralar de as pôr nas condições de receberem vanlajo-
samente os colonos ou trabalhadores que para ali desejem ir. A queslão
reduz-se a promover por lodos os meios possíveis as relações enlre as co-
lónias e a metrópole, auxiliando todos os que pretendam estabelecer- se
na Africa, quer tenham estado no Brazil e ali se dessem mah quer saiam
directamente da metrópole ou fazendo parte das expedições, como as que
ultimamente foram para Angola e Moçambique, ou mesmo para acompa-
nharem os contingentes militares que se enviam às colónias.
As expedições militares do Canadá, da Algéria e do Cabo de Boa Es-
perança chamaram áquelles logares differentes indivíduos que se occupa-
vam de negocio a retalho. Dava-se-llies passagem gratuita, e construiam-
se-lhes habitações appropríadas nas proximidades dos acampamentos.
Acabada a campanha, olTereceram-se terrenos aos soldados que ali qui-
zessem ficar, e doeste modo se conservaram nas colónias muitos indiví-
duos que se estabeleciam definitivamente no paiz.
Os inglezes mandaram degredados para a Austrália emquanto ali não
se desenvolveu a colonisação. Achámos justo este alvitre, e é de absoluta
necessidade proceder do mesmo modo para com as nossas colónias prin-
cipaes, nuo mandando para ali os condemnados a degredou
Para que as nossas possessões da Africa possam ser regularmente co-
lonisadas, é necessário que não sejam consideradas como terra de degre-
dados.
Receios infundados àoeroa do olima da nossa região africana,
dezoito vezes maior que a metrópole
Se nas terras da Africa ha localidades insalubres, não faltam ali lam-
bem largos tratos de terreno, em que a par de grande fertilidade, se en-
cxínlra um clima favorável á colonisação. Ninguém ignora que em Portu-
gal, collocado na zona temperada, ha logares palustres e infamados de
insalubridade, e não se dirá por isso que é um paiz insalubre. É preciso,
pois, distinguir os logares insalubres dos que o não são, e fazer com que
primeiramente sejam cultivados os que se acham em condições mais ap-
propríadas á aclimação. São já vantajosamente conhecidos o dislriclo de
Mossamedes, e os concelhos de Cazengo e de Pungo-Andongo, na provín-
^ Ignorámos se cm todas as colónias é uso alistarem nos corpos das guarnições
os degredados. Na ilha de S. Thomé sabemos que lhes duo esso destino, empregan-
do-os em todos os serviços a que são chamadas as outras ppças ; c muitos d*elles
téem ali pequenos estabelecimentos onde vendem aguardente, tabaco e differentes
géneros^ já por sua conta, já por conta de algumas casas commerciaes.
)
350
cia de Angola. Eni Moçambique aponla-se o districto de Inhambane e al-
guns logares do interior. Os allos-planos das ilhas de S. Thomé e Principo
passam por salubres, assim como algumas ilhas de Cabo Verde.
É portanto indispensável tomar era consideração as condições em que
se acham as terras da nossa Afiica tropico-equatorial, onde a vegetação se
desenvolve com rapidez; mas se lhe faltar a agricultura, acontece que um
íogar reputado salubre se torna em pouco tempo doentio. É o que succe-
deu á ilha do Príncipe, que se acha quasi abandonada, e onde os habitan-
tes estilo hoje cercados de perigos.
A ilha de S. Thomé tem melhorado de clima, o que foi previsto ha
muito tempo pelo dr. Lúcio Augusto da Silva, o qual, apontando as cau-
sas da sua insalubridade, re[)ulava muito imporlanle a cjue provinlia da
immensa vegetação que ali havia. Observava, porém, aquelle dislincto me-
dico que logoque a agricultura alargasse a sua beneflca acção, subsli-
tuindo-se o espesso arvoredo por culturífs úteis e bem cuidadas, o clima
da ilha de S. Thomé seria favoravelmente modiflcado. É o que de facto se
tem observado, e estamos convencidos que ha de acontecer o mesmo em
muitas localidades, que actualmente se acham infamadas de insalubridade.
E é justo dizer-se que n'uma área dezoito vezes maior que a da metrópole
n3o faltarão vastos campos lâo salubros como os molhorcs que possuímos
no continente da Europa.
Vem a propósito citar aqui um exemplo que, com quanto não lenha
relação immediata com este assumpto, porque estamos tratando da pro-
víncia de S. Thomé, apresenta comtudo alguma analogia, e leva á eviden-
cia que, procurando-se colonisar convenientemente qualquer terreno, as
condições de salubridade melhoram consideravelmente.
É sabido que na superfície total das províncias de Portugal ha uma
grande extensão de terrenos incultos, sendo doestas as mais notáveis a do
Alemtejo e a da Beira : pois na primeira d'estas províncias ha um homem
dotado de força de vontade e génio inexcediveis, que dispondo de recur-
sos pecuniários, tem procurado cultivar uma extensa área d'estes terre-
nos, formando ali uma espécie de colónia que bem pode chamar-se a base
de uma importante povoação agrícola. Para melhor conseguir o seu ele-
vado pensamento, não só tem tratado da plantação de arvoredo próprio
e mais aconselhado para beneficiar a salubridade publica, como de bas-
tantes pomares e olivedos. Adquirindo os mais aperfeiçoados instrumen-
tos agrários, c empregando os melhores adubos, ha conseguido extrahir
do solo que se julgava iraproductivo as riquezas de que é susceptivel.
O homem que tudo isto tem feito, e que é querido dos seus empre-
gados e rendeiros, é o sr. José Maria dos Santos, actual deputado pelo
districto de Évora. Comprehendeu que o melhor meio de auxiliar os Ia-
351
vradores, e promover que oulros o possam ser, sem compromeller a
soa fortuna, era aforar-Ihes iratos de terreno e casas próprias que tem
mandado edificar em condições confortáveis, e cora as acomraodaçôes
precisas para o fira a que são destinadas, fornecendo-lhes lambera semen-
tes e trem de lavoura, preslando-se os foreiros a determinados encargos,
enlre elles o da plantarão de um certo numero de arvores das espécies
indicadas no contrato, tudo no espaço de dez annos. E note*se que estes
contratos só começaram a vigorar, emquanto aos encargos, um anno
depois de escriptura, sendo o pagamento do foro pago annualmente e au-
gmentado á proporção que as culturas se desenvolvessem.
Kslc systema tem dado óptimos resultados, pois não só proporciona
abundância de trabalho a muitos braços, como tem concorrido efBcaz-
mente para o augmento da riqueza do paiz, melhorando as condiçijes de
salubridade, auxiliando principalmente o decrescimenlo das febres inter-
mittentes que tanto flagellavamfiquelles povos.
Findos os dez annos do contrato o foreiro pôde renovar o arrenda-
mento do terreno que cultivou, ou adquirir outro nas mesmas condições.
Quando um homem, dotado de boa vontade, e dispondo só dos seus
recursos, consegue vantagens tão palpitantes, para si, para o paiz, e para
os que se aproveitam do seu sysloma de colonisoçno, transformando em
poucos annos extensas charnecas era uma povoação agricola, muito me-
lhor o poderiam fazer alguns abastados capitalistas reunidos.
Estas reflexões que nos occorrerara a propósito de assumpto tão mo-
mentoso, aliás bem conhecido, porque são factos passados a poucos kilo-
metros da capital, não nos parecera inconvenientes, não só para prestar
o devido preito ao seu iniciador, corao porque pode erapregar-se o mesmo
systema nas nossas possessões.
Tratemos, pois, de occu[)ar os principaes terrenos que ficam entre as
províncias de Angola e a de Moçambique; preparemo-nos para receber
os povos colonisadores que tentara ali chegar, caminhando do S. para o
N., como os boers, ou do N. para o S., como os inglezes, e teremos dado
o primeiro passo para a vantajosa colonisação das nossas possessões. É
portanto para o districto de Lourenço Marques e Inhambane, na costa
oriental da Afinca, e para o de Mossaraedes, era Angola, que se deve vol-
tar a nossa attenção, desenganando-nos de uma vez para sempre que são
infundados os receios que tem havido a respeito do clima da nossa região
africana.
Para melhor se avaliarem os climas equatoriaes e tropicaes da Africa
porlugueza comparados com os das províncias do império do Brazil, pu-
blicámos o seguinte mappa, colligido em presença das apreciações exara-
das nos importantes trabalhos de Macedo e Larousse.
352
Mappa comparativo dos climas eqaatoriaes e tropiosM
\
Clima gorai
Brasil
Províncias
Clima segundo Macedo
Equatorial (S.)
Rio Grande do Norte e Coará.
Rio Grande do Norte : quente e sadio. - Ceará : quen-
te, húmido, secco, salubre.
EqQAtorial (S.)
Parabjba.
Quente, secco, salubre.
Equatorial (S.)
Regiio austral do Grio-Pará, Amaio«
uas, Maranbao» etc.
Muito queote, húmido, intermitteotei próximo dos
rios.
Equatorial (S.)
Regi&o boreal do Pernambuco.
Quente, húmido, secco, geralmente sadio.
Equatorial (S.)
Hegiito central de Pernambuco e Ala-
goas.
Quente, húmido, secco, saudável.
Equatorial (S.)
Regi&o boreal de Sergipe.
Quente, húmido, secco ; nas margens de alguns rios
íntermittentes.
Equatorial (S.)
Regiio boreal de Sergipe. *
Quente, húmido, secco; ou margens de alguns rioi
íntermittentes.
Equatorial (S.)
RegiAo austral de Piauby e Sergipe.
Qoeole, húmido, secco^ intermitte&tes endémicas nas
margens de alguns nos; o restante salobre.
Equatorial (S.) '
Kegiio aostral de Piauby e Sergipe, e
região central da Bahia.
Piauby: quente e húmido, inlermitteoles end— int
próximo de alguns rios : o restante salobre. «Smií*
pe : descripto acima. «-Bahia: queote, homido, se»
CO, fresco e suave ; Íntermittentes nas margens de
S. Francisco; o restante sadio.
TropiooHsquatorial .
ReiriSo austral da Bahia c central de
Gojas.
tos do sortio, Íntermittentes nas margens de alguas
rios; 0 restante sadio. -Goyai: em geral secoo e
sadio; intirmiltentes nas marfens de algoos rios.
Tropical quente.
Regiio boreal de Minas Geraes, e cen-
tral de Goyax c Mato Grosso.
Minas Geraes : Ameno, saudável, cakr forte e iat(r>
mitteotes nas margens de algons rios. - Gmx : d»
cripto acima. -Mato Grosso: Em geral uivonvelt
saudável ; Íntermittentes próximo de rios.
Tropical quratc.
Idem.
Idem.
Tropical qucole.
Regiio central de Goyaz, e austral dn
Mato GrosM) e Minas Geraes.
Goyaz: desrripto acima. -Mato Grosso: idem. -Mi-
nas Geraes : idem.
Tropical queate.
Rngiio aostral de MinasGcrars,Goyaz,
Mato Grosso o boreal do Espirito
Santo.
Minas Geraes: -descripto acima. -Goyax: iden.-
Mato Grosso: idem. -Espirito Santo: qotote e te*
niiilo 00 litoral, brando no interior, gcralmefite sa-
lobre.
Tropical queote.
RegiSo austral de Mato Grosso, Espi-
rito Santo e Minas Geraos.
Descripto acima.
Tropical qucole.
Regiio boreal do Rio de Janeiro e aus-
tral de Mato Grosso.
Rio de Janeiro: quente, húmido, intermitteotee p^
río<licas nas terras pantanosas ; na parte septeotrie-
nal temperado e saluborrímo.-Malo Grosso: des-
cripto acima.
Tropical.
Regiio boreal do Paraná e austral do
S. Paulo.
Paraná: quente e húmido; á beiramar temperado e
muito sadio. -S. Paulo : variável, saudável no inte-
rior, calor no litoral, no sul salubre, doce, temperado.
Tropical temperado.
Regiio austral do Paraná.
Descripto acima.
* Limite septeutrional de Moçambique : Gabo Delgado vi bahia de Tongue.
* E 0 extremo N. de Angola, á direita e esquerda do Zaire. Limilc sentcDlrional de Angola: rio Cacongo eolre Loango'
Ig-acydelaUtudeS. ^^
* Ha algumas colónias já estabclecidai.
* AchaÚKie bem desenvolTídai algumas colónias.
m
idos às proTincias do Brazil e Africa Portagueza
Africa porln^acsa rrnlral
Moçambique *
Gllroa
segundo Lal-ousso
•
Angola*
Clima
segundo Larousso
—
—
Oiritricto de Cabinda e S. Sahador.
Nada diz.
—
—
Districto do Sonho e de D. Pedro V.
Ambriz c territórios adjacentes.
Idem.
—
—
Idem.
—
—
Districto de Encoge.
Idem.
. —
—
Dislricio do Dande e Duque de Bra-
gança.
Idem.
^^^
Loanda, terras do Icolo e^engo. do
Zenza, Golungo Alto, Ambaca,
Cazcngo".
Ilha de Loanda : salu-
bre; do mais nada diz.
—
•
Pungo Andongo c Songo Pequeno.
(Malaoffe, Cassange, terras de
Talla Mugongo, etc.)
Bcoguella Velha e terras adjacen-
tes.
Nada diz.
—
—
Idem.
ido de Cabo Drlgado, Malub.a.
rfCDS orientai e occi dental do
0 Nyasti (região N.) no sertão,
««ia.
Nada diz.
Districto de Novo Bedondo, Malem-
bas, sertào do Aiidulo e Songo
Grande.
Idem.
lo Ibo, bahía de Pemba, mar-
IS oriental o occidental do
iMâ (regtào media) para o ser-
) Condam.
0 districto do Moçambique,
rgeos oriental c occidentaf do
0 Qiirna (região me^ia), Ma*
CS, para o sertão Mogoas e Ba-
fas.
Idem.
Benguella, Bailundo, Cangucllns e
Bihé.
Bcnguella : insalubre
na:> costas.
Moçambique: ci-
dade insalubre.
Terras do Mossamedeí, Hiiila e ser-
tfio do interior*.
Nada diz.
a de Ancoxp, alto Zambeze,
Zombo, .S. Buila.
Nada diz.
Terras banhadas pelu no Cuncne.
Idom.
ido de Oaelimane, Sena e ter- Sena : bnmido o
nios adjacentes. insalubre.
—
—
tório de Manira. i Nada diz.
i
1
1
__ •
^"^^
ieto de Sofalla. Insalubre.
i
—
—
de Bàzaruto. margem N. do
Bpopo ou Bembe.
' Nada diz.
Icto de Inhambane.
1 Idem.
1 - 1
—
!oço Marques. Sadio.
)0, e 0 rio Zaire do distrícto de Cabinda para cima. 0 limite meridional Gca rnlrc Cabo Frio e Angra Fria, por
S3
CAPITULO IV
Topographia da ilha de S. Tbomé
Aspecto geral da ilha. — CosU septeiUioBal. - Costa occidenlal. - Costa meridioaai. — Peqaeia iika das
Kolas e costa fronteira da ilha de S. Thoné. - Costa oriental. - Montes e cordilheiras. — Rios dt
ilha de S. Thomé. — Estatistica geral das correntes de agoa de maior nomeada.— ftescrip^ de alguns
rios e rocas qne lhe ficam proiimas.— Cidade da ilha de S. Thomé.— Limites da cidade de S. Thomé.—
Rnas e travessas da cidade.— Estatistica geral dof prédios urbanos da ilha de S. Thomé, referida aos
liiros da conservatória da mesma ilha.— Fortaleza de S. Sebastião e seus calabonços.—Estasâo militar
no reducto de S. José— Quartéis e deposito de addidos.— Barracáo-quartel e praças adjacentes.— Ca-
deia civil. — Calabouço da policia. — Villas ou principaes loqares da ilha de S. Thomé.
Aspecto geral da ilha. — O panorama da liba de S. Thomé, observado
do mar a poucos kilometros, quer se esteja ao N., quer ao S., da parte
de E. ou de O., é surprebendenle, descobrindo-se sempre altas monta-
nhas, agudos picos e notáveis alto-planos.
Os montes elevam-SQ a muitos centos de metros, e occupam por as-
sim dizer o centro da superflcie da ilha. O espectador não vé senão uma
das suas faces, segundo a costa onde for a bahia em que estiver Amdeada
a embarcação.
A cidade de S. Thomé Qca no extremo das planícies que se estendem
desde os alto-planos adjacentes â cordilheira da ilha, na face oriental. Â sua
ampla bahia está mais inclinada ao N. e pouco fundo tem. É oíScialmente
conhecida por bahia de Anna de Chaves, quando deveria ser de Álvaro
de Caminha.
Os vapores fundeiam muito ao mar, e é d'ali que os viajantes que, pela
primeira vez, se approximam da ilha têem occasião de attentar na massa
informe de verdura que se lhes apresenta á vista.
Olhando para a praia banhada pelas aguas da bahia de Anna de Cha-
ves ou de Álvaro de Caminha, vé-se destacarem-se algumas casas bran-
cas dispostas em semi-círculo, voltado para o N. É desagradável a im-
pressão que causa o panorama da cidade, coUocada n'uma baixa, pare-
cendo querer fugir do amplexo do immenso arvoredo que a cerca por
todos os lados.
i
356
As pontas da bahía correm muito fora, ficando n'uma a fortaleza de
S. Sebastião e n'outra o reducto de S. José. Quem olha do fundeadouro
da bahía de Anna de Chaves ou de Álvaro de Caminha para esta face da
ilha, descobre uma immensa bacia, posta inclinadamente e mettendo o seu
bordo inferior nas aguas do mar ; o fundo assenta no logar denominado
Santa Luzia, ao pé do qual estão três notáveis montes com disposição ca-
racterística.
0 horisonte do observador, á direita, é limitado por uma corda de
morros distinctos collocados quasi em linha ^ Mais adiante apparece o
príncipio da serra, por detrás da qual fica o celebre pico de S. Thomé,
mostrando apenas o cume, que nem sempre se avista por estar coberto
de nuvens. A mais de 600 metros de altitude, na face da serra que se tem
em frente, levantam-se algumas habitações e descobre-se a casa da conhe-
cida roça do Monte Café, a 800 metros acima do plano do observador.
Correndo com a vista mais para a esquerda, em relação sempre ao hori-
sonte physico, nota-se que a serra acaba, havendo por ali um morro re-
vestido de poucas arvores e muita verdura, e no fundo e acima um monte
que só se reconhece segundo o logar em que se está, o qual tem o cume
grosso e muito chegado á serra.
Ao centro da enorme bacia, e na parte central d'ella, eleva-se o monte
Formoso, atrás e aos lados do qual se divisam dois outros montes de cu-
mes agudos, sendo o da esquerda mais alto que o da direita. Ao primeiro
chamaremos Maria Fernandes e ao segundo Maria Carlota. £ caracteris-
tica e singular a disposição doestes três montes que não se poderão con-
fundir com outros quando se olha do porto para aquelle lado da ilha.
Admiram-se sempre as elevadíssimas arvores colossaes, entre as
quaes se distingue a denominada pau capitão, que se ergue alterosa so-
bre as planícies, morros, várzeas e picos.
Continuando a olhar para o lado esquerdo, reconhece-se que os mon-
tes referidos vão desapparecendo, mas notam-se quatro mais pequenos em
relação aos primeiros, a pouca distancia uns dos outros, e um d'elles mais
próximo do monte Formoso, ao qual parece seguir-se. Mais ao mar des-
cobre-se a ponta denominada Praião, com os seus coqueiros ao extremo,
o que simula um navio á vela quando se olha para aquelle lado, e estando
na fortaleza de S. Sebastião. Ficam por ali praias outr'ora mui afama-
das.
A largos traços referimos os limites superiores ou marcámos o ex-
tremo do horisonte visual, o qual pôde ser determinado por morros, ser-
1 Veja-se a gravura que tem a seguinte designação : Uma vista da cidade de
S. Thomé tirada da torre da Sé.
357
ras, moDtes e picos dispostos em linha semi-circular. O aspecto é real-
mente pittoresco, e tanto mais curioso quanto mais se attenta nos variados
panoramas de verdura que se desenrolam diante do visitante.
 bahia abre-se a NE., e a praia, verdadeiramente circular, foi a es-
colhida para junto d'ella se levantiir a capital da ilha.
A ponta S. Sebastião sáe mais para fóra e no seu extremo começam os
edificios da cidade. Por toda a parte o terreno é baixo e raso até á igreja
de S. João, perto da qual se construiu o cemitério publico, no logar de-
nominado da Boa Vista, o que causa bem triste impressão, pois é um dos
primeiros espectáculos que se apresentam ao observador. Não é, porém,
este o único nome paradoxal, pois não causa menos surpreza o cha-
mar-se cemitério dos Prazeres a um logar de lagrimas e saudade*.
Fica o sitio da Boa Vista em terreno a NO., ou antes a ONO. da ci-
dade, que se eleva uns 20 metros acima do nivel do mar e a 1:600 de
distancia da praia. Na mesma altura corre a ponta de S. José, que já
nomeámos, desenvolvendo-se em uma vasta planície coberta, de muito ca-
pim ou herva de Guiné, de algumas palmeiras de leque e poucos tamarin-
deiros.
O ilhéu das Cabras, quasi dividido ao meio, parece querer fugir para
o mar, e atrás d'elle, espraiando-se muito, corre a restinga ou ponta do S.
da bahia Diogo Nunes. O mar quebra-se com força nas pedras d'esta
restinga, e é bastante perigosa por ali a passagem das canoas.
Á ponta S. Sebastião segue-se um terreno baixo, cheio de pedras en-
negrecidas e de repugnante aspecto ; o mar, que se estende a grande dis-
tancia, começa n'esta lagoa de margens infectas, á qual se pôde chamar
um extenso paul, que se prolonga até á igreja de Santo António, e que
muitas vezes se cobre de agua^.
Mal se descobrem as villas, que se acham quasi abafadas pelas flores-
tas que as envolvem.
Do lado oriental da ilha descobrem-se as villas de Guadalupe e de
Santo Amaro, á direita; a da Trindade fica-lhe em frente, um pouco para
baixo na immensa bacia.
DilTerentes estradas saem da cidade para o interior da ilha, cujo aspe-
cto é sempre o mesmo, quer se olhe para ella de cima da ponta de S. José
1 Referimo-nos ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
2 O pântano a que nos referimos é bastante espaçoso, e até 1870 nunca se
tratou do seu desscccamento; n'estc anno porém foram aterrados mais de 20:000
metros quadrados. A planta da cidade não foi por nós verificada, postoque já a con-
sultámos em 1871, quando publicámos uma breve memoria acerca dos negócios
públicos da ilha de S. Thomé.
%
356
ou da fortaleza de S. Sebastião, de qualquer ediGcio da cidade ou dos na-
vios fundeados no porto.
Algumas estradas sâo raarginaes, outras interiores, mas o observador
nao pôde distinguir estradas nem casas por se acharem cobertas de ma-
tos Ião bastos, tão altos e tão continuados.
O aspecto geral da ilha pelo N., NE. e E. não é tão pittoresco como
pelo SE. e pelo S., e especialmente pelo O. e NO.
Ao S. fica a pequena ilha das Rolas, que se apresenta á direita sendo
observada da península denominada logologo.
É verdadeiramente vistoso o rio de agua salgada ou braço de mar que
divide a parto meridional da ilha, o qual c navegável por pequenas em-
barcações, ao S. da península a que nos referimos.
Da ilha das Rolas descobrc-se a zona meridional da ilha deS. Thomé,
cujos terrenos se elevam cada vez mais até ao lendário pico que lem o
nome de ilha.
Desde a costa do S. até ao extremo visivel do horisonte do observa-
dor destacam-se picos agudíssimos, montes escarpados, pontas alias e
saídas ao mar que dão á ilha um aspecto singular, poético e grandioso.
N^aquelles sitios não ha casas nem terras cultivadas!
A SO. e O. a costa é alta. Fica por ali a agradável e fresca enseada
dfe S. Miguel, onde vem despejar suas aguas uma boa ribeira, c a ampla
bahia de Santa Catharína.
A ilha divide-se em diíTerentes zonas, não só porque a disposição dos
montes, montanhas e cordilheiras lhe dá muitas faces e aspectos pitlores-
cos, mas porque as bahias e as praias téem exposição muito distincta.
As cartas hydrographicas de Lopes de Lima e de Wilson estão muito
erradas, c a de Boteler, especialmente, tem erros notáveis.
E de grande vantagem o conhecimento da costa, das praias e das plani-
cies adjacentes, assim como dos alto-planos, montes e várzeas.
Passámos a fazer uma breve descripção de cada uma doestas par-
tes.
Costa septeifrimial. — Começa esta costa na enseada ou bahia de Anna
de Chaves ou de Álvaro de Caminha. Fica a NE., e nós tomal-a-hemos
sempre para ponto de partida, e por isso a nossa descripção hydrographica
tem principio na ponta N. doesta ampla enseada. Esta ponta ou bahia de-
nomina-se, como já dissemos, ponta S. José ; é redonda e saliente, su-
bindo em suave declive ato uns 20 metros, e separa o porto da cidade da
bahia denominada Praia Lagarto,
Quem olha da cidade para aquelle lado da costa não pôde ver a bahia,
porque a restinga Diogo Nunes, espraiando muito ao mar, é a nnica que.
m
fleâàèscobèrlâ. A bahiá t^raia Lagarto é úto grande sBlb dé ágUâ, em cdjà
pfàiâ dèáagaà o riò Mello.
Navegando-se na abertura d'esta enseada, em uma boa canoa de sèls
feliios, procura-sé vèntér a gràride restinga, a qual sáè (jtlasí èííi linha
recta da parle mais recuada dá Praia Lagarto, còbeftà de pedr᧠e bdlXÔs
saídos aò mar, onde as ohdàs se levantam muito e fàsíerh árTebéntS^ld.
O ettrtgitio da í^stinga è baixo e muito estendido tãfilbém \)ÍiH dentro
do mar, sendo preciso um bom pratico para guiar e dirigir tís fetiiaddfés
áté se chegar em frenttí d'ella c passar um pouco alem. Vencida á íeslinga
vê-8c D ilhéii dâs Cabras e a formosa e grande enseada Diogo NbrieSi clijà
praia pôde subditidir-se etn differentes praias pequenas é que reéebem
nomes particulares.
Tem um rio que toma o nome da enseada.
À canoa demora-se cería de trinta e cinco miriUtos para vencer a aber-
tura da enseada Diogo Nunes, navega-se perto da ponta S. do ilhéu dás
Cabras, a qual se acha lanhada em frente da fbz d'aquelle rio.
É deslumbrante o aspecto quê se nos offerece, olhando da canoa para
a face do N. da ilha.
Aos outeiros vestidos de copado arvoredo seguem-se florestas continua-
das. Avistam-se a fazenda Monte Café, as roças S. Nicolau, Màòambrarâ, è
lá em cima, na encosta de uma cordilheira, sobranceiros a todas éssàs
habitações, levántam-se outros montes cobertos de arvores seculares, por
detrás das quaes apparece o pico Anna de Chaves e o elevado ciimé do
pico de S. Thomé.
A canoa vae seguindo entre a foz do rio Diogo Nunes e o ilhéu das Ca-
bras, e depressa parece deixar o mar para entrar n'um lago cin íjtíe
SC deslisa, costa a costa, a começar em frente da abandonada capella de
S. Francisco, situada sobre um morro ou elevado outeiro. Drrige-se dfi-
pOis em frente da praia Fernão Dias. É de um bello eITeitocsla praia éôm
o seu coqueiral, dahdd paáságem ás límpidas aguas do riof de Oird, tão
cheias de lendas populares quanto magestosas e agradáveis as tirisírgéhs dò
leito em que ellas correm. Aqui atravessam furnsfs, saltam aleiili cascatas S
formam adiante cachoeiras, e perdendo-se muitas vezes por edtré alcanti-
lados despenhadeiros vem sair mansamente na forniosa priía FernUo Diâs.
0 morro Peixe está sobranceiro ao iiíar e ê assim dcfnominado poi*
haver abundância de peixe nas praias que lhe flcatíi proximaís, a praia Gue-
gue e a agradável praia das Conchas. Quem se approxima d'elle, ao anOt-
1 Temos pboiographias de algumas lindas cascatas d*este rio, mas não as man-
dámos gravar, porque adiariam a poblie açao d*este trabalho, o que não é conve-
niente. Serão pablícáda^ logo qiié se eonchia a impressão d'este livro.
360
tecer, admira-se por ver coberta de extenso manto alvíssimo a sua face
voltada ao mar: são centenares de garças que á noite ali vão repou-
sar.
A praia das Conchas tem a ponta do N. grossa e alta, seguindo-se-lbe
uma extensa planície. No seu extremo está a habitação de uma fazenda
importante, e por ali pastoreia a melhor manada de bois da ilha.
O morro Carregado não tem aspecto notável, é baixo e muito saído;
atrás d'eUe fica uma superficie baixa e sem arvoredo.
O mar faz grande arrebentação ao pé doeste morro, e é preciso atten-
tar bem no tempo em que se deseja dobrar para nao se correr perigo, o
qual sempre augmenta em consequência de uma ponta rasa e muito met-
tida ao mar.
O aspecto da costa que se tinha notado desde a restinga Diogo Nu-
nes, muda muito depois de se passar o morro Carregado. As praias que
até ali são de areia, passam a ser de pedregulho, cascalho e calhau, e
raras vezes oITcrecera desembarque. As pontas são altas, e deixam entre
si legares baixos cm que ha basto arvoredo. È desagradável uma vista
assim.
O observador nota uma praia a que chamam Praia Grande, onde não
pode desembarcar, porque encontra logo morros altos, escarpados, assen-
tando em rochas negras soltas, e de aspecto triste. O morro Barro Bóbô
(ica sobre o mar, talhado a pique c sobe a mais de 25 metros. Da parte
mais alta téem caído grandes i)edras e algumas parecem estar quasi a
desabar.
A ribeira Funda fica entro montes altos, cobertos de arvoredo e talha-
dos quasi perpendicularmente; a praia offerece desembarque, se bem que
é de calhaus negros e miúdos. Tem uma fazenda de aspecto agradável,
mas por tal modo cercada de montes que se assimílha a uma larga e
ampla cova, pela qual sáe uma corrente de límpida e fresca agua. Produz
canna saccharina e óptimas laranjas que se colhem nos Qns de abril; o café
dá-se ali bem.
Do morro Carregado avistasse a ponta Figo e a ponta Diogo Nunes; do
morro Peixe avista-se a costa por grande extensão. Entre aquelles dois
morros estão a pequena praia Guegue e a linda praia das Conchas. É por-
tanto este o logar mais saído ao mar na costa do N. da ilha.
A planície da ponta Figo é bastante extensa, e antes de ali se chegar
encontra-se a foz do rio Rozema, que ás vezes se torna muito caudaloso.
A costa do N. deve começar a ser contada da restinga Diogo Nunes e
acabar na ponta Figo. Naturalmente subdivide-se em differentes partes
sendo o seu limite o morro Carregado collocado em O® 29' 40'' de lati-
tude N. do Equador e em 15^ 50' longitude E. de Lisboa.
361
As praias e rios de fazendas correspondentes, que nós considerámos
na costa do N. da ilha, são as seguintes:
i .* Enseada de Diogo Nunes. — Tem um rio com a mesma denomi-
nação.
2.* Uba Flor.— Mo tem rio e flca entre a enseada Diogo Nunes e a
praia Fernão Dias. Ha ali uma pequena roça.
3.* Praia Fernão Dias. — Tem um rio com o nome de rio de Oiro.
lia ali uma boa fazenda.
4.* Pequenapraia Gueguc.— íidiO tem rio e segue-se immediataníente
ao morro Peixe. No tempo das chuvas ha ali uma corrente de agua.
3.* Praia das Conchas. — Tem um rio e fica entro o morro Peixe e
o morro Carregado. Uma das grandes fazendas da ilha tem o mesmo
nome e pertencc-lhc aquella praia.
6.* Praia impropriamente denominada Praia Grawde. — N'ella não
pódc fundear-sc nem desembarcar-se.
7.* Ribeira Funda. — Tem um rio denominado como a praia, com
agua limpida c fresca. Existe ali uma pequena granja.
8.^ Anna Ambó ou antes Agna-Ambó. — Tem ao N. o rio Rozema, e
está próximo da ponta Figo. Fica ali [\ villa do Nossa Senhora das Neves.
Costa Occidental. — A circumnavegaçâo da ilha não será feita em poucos
dias, se houver necessidade de se tomarem os apontamentos indispensá-
veis para descrever as praias, os rios, as pontas c os terrenos adjacentes.
E se, alem d'estes apontamentos mcdico-chorOçjraphicos, se tiverem de
escolher e acondicionar cuidadosamente vegetaes, mineraes e animaes, é
preciso que a demora por aquelles sitios se prolongue durante o tempo
sufficiente, para se poder ser útil á sciencia e não se sacrificar a vida. O
que, porém, é certo, é que pouco se sabe da contra-costa da ilha, espe-
cialmente da região do SO.
Temos algumas informações da enseada de Santa Gatharina e da vis-
tosa angra de S. Miguel, mas são realmente muito incertas.
Na costa de O. ha pontas altas e de parte d'ellas despenham-se corren-
tes de agua bastante volumosas.
Da praia da costa do N. da ilha das Rolas, demora por iO° NO. ma-
gnéticos a ponta denominada o Homem da Capa. D'ali até á praia Agua-
Ambó não ha terrenos cultivados a não ser os da fazenda denominada
Diogo Vaz.
É notável n'esta costa a ponta Furada, o ilhéu Joanna de Sousa, e
muito especialmente a enseada de S. Miguel, onde desaguam dois rios,
sendo um d'elles de ampla foz. É muito abrigado este fundeadouro, e o ar-
voredo muito basto chega até próximo da praia. O mar por aquelles sitios
^
362
tão manso como desde a praia da pequena fazenda Uba Flor, ao NE.
da ilha, até ao extremo da praia das Conchas. Pôde navegar-áe por ali sem
haver receio das arrebentações do mar, de bancos, de balsas ou râstin-
gas.
No livro de Lopes de Lima lè-se o seguinte:
«Entre a ponta de Diogo Vaz e a ponla Ailemã flca a bella enseada He
Santa Catharina, assombrada pelo pico de S. Thomé, qiie parace estar-
Ihe imminente.
«Fundeia-se á vontade ao longo da praia que é toda de burgalhão grosso
em 4 até 20 braças (8,8 até 44 metros) de areia preta fina. Ficam por
este lado os montes mais altos da ilha.»
Segundo o corographo Cunha Matos, deve haver por toda esta costa
as seguintes praias, pontas e ilhéus, desde a ponta denominada Homem da
Capa ou do Capote até á ponta Figo, na extensSo de cerca de 50 kilome-
tros :
i .* Praia grande de Calaboyo, — Não temos informações especiaes
doesta praia.
2.* Ponla alia, — O mar faz aqui grande arrebentação.
3.* Ilhéu Macaco, — A costa é'alta por este sitio.
4.* Enseada em que ha um banco na entrada,
S.* Praia Pipa, — Fm defronte da costa, e por esta altura, o agudo
pico da praia Lança.
G.^ Enseada praia Lança. — Vm antes da ponla Azeitona, cerca de
9 kilometros do ilhéu Macaco. Os angolares fabricam sal na praia d'esla
enseada.
7.* Praia Lança, — Tem uma grande ribeira.
8.* Ponta Gabado. — A um tiro de espingarda ao mar doesta costa jaz
o ilhéu Gabado, a mais de S kilometros da ponta Azeitona.
9.^ Ilhéu de S, Miguel e ilhéu Formoso, — Ê pittoresca e de aspeclo
risonho a enseada abrigada pelos Ires ilhéus, dispostos do S. para õ N.,
apresentando-se a quem vae n'esta direcção em primeiro logar o Gabada,
depois o de S. Miguei, e mais para cima o Formoso. As canoas ou lan-
chas passam com facilidade entre a terra e o ilhéu Gabado, e desde que
se entra na enseada deve fundear-se próximo á costa do N., onde des-
agua um rio e pode entrar uma boa lancha. A ponta N. da enseada é alta,
e o arvoredo que a cobre é bastante copado. É fresco aquelle sitio, onde
estivemos algumas horas em janeiro de 1873.
10.* Ilhéu Joanna de Sousa. — Fica a mais de 8 kilometros do ilhéu
de S. Miguel. É furado na parte media e o mar bate com força dentro da
caverna que elle apresenta. A costa é alta entre estes ilhéus.
H.* Ilhéu Coco. — Fica a 3 kilometros do ilhéu Joanna de Sousa.
363
12.* Ponta Furada. — k abertura d'esta ponta é grande e bastante
ampla.
i3.* Praia sem denominação conhecida, — Á ponta Furada segue-se
uma praia em que desagua uma boa ribeira ; é extensa, mas nSo é fácil to-
mar ali agua.
14.* Ponta Allemã. — Da ponta Furada á ponta Allemâ ha cerca de
1:400 metros. O mar é chão, o que torna fácil a communicação entre os
differentes sitios doesta costa.
15.* Ponta Diogo Vaz. — Entre esta ponta e a antecedente ha mais
de 5 kilomelros, o que representa a abertura da enseada de Santa Catha-
rina.
16.* Prainha. — É uma ponta rasa coberta de coqueiros. Adjacente
a esta ponta ha uma fazenda cultivada. Tem boa agua.
17.* Ponta Cadão. — Entre esta ponta e a antecedente ha cerca de
1:400 metros. Segundo Lopes de Lima a ponta Cadao fica em 28' de lati-
tude N. e 15® 45' de longitude E. do meridiano de Lisboa, e a ponta do
Homem da Capa está em 3' de latitude N. e 15® 43' de longitude E.
A ponta Allemã jaz em 19' de latitude N. e 15® 41' 30" de longitude
E., e a Diogo Vaz em 22' de latitude N. e 15® 42' 30" longitude E. Bom
seria verificar-se a exactidão geographica doestas posições, mas nem a
costa tem sido explorada, nem se tem tratado de levantar o plano da ilha,
de modo que a maior parte das vezes se repetem estatísticas, que passam
de uns para outros escriptores sem as necessárias rectificações. É por isso
que as descripçõcs das ilhas ficam incompletas e se dá curso a erros, ha-
vendo raappas geographicos e descripções hydrographicas que parecem
puras invenções*.
Cosia meridienal. — A costa do S. da ilha estende-se desde a ponta Ba-
leia até á do Homem da Capa.
A ponta Baleia é alta, grossa e larga. Ficam-lhe na base muitas pedras,
onde o mar quebra com força. É preciso procurar o tempo mais próprio
para se dobrar, dando resguardo á restinga.
Na costa do S. jaz a vasta enseada que denominaremos Boa Es-
perança. Ha ali dois fundeadouros, um á esquerda e o outro á direita.
Chamam ao primeiro logo-Iogó, e ao segundo dâo a denominação de
1 É de toda a vantagem proceder-se ao exame das praias e ao levantamento
do plano da ilha do S. Thomé. O qne se lé nos escriptores francezes e inglezes é
realmente cheio de erros. Da eosta continental possuímos am trabalho importante
feito por A. M. de Castilho. Urge que se faça o mesmo a respeito das ilhas de
S. Thomé e Principe.
364
Villa*, talvez por ser d'aquellc lado que se acham, próximo á praia, algu-
mas miseráveis cubatas de angolares.
São de aspecto magestoso as arvores que por ali se levantam, não só
nas terras altas da ponta Baleia, mas também nas dos terrenos da penín-
sula logo-Iogó, que se deveria chamar Jacinto de Almeida.
£ para lamentar a falta de uma boa estrada que da povoação principal
da ilha ou da praia officialmente reconhecida como logar único de em-
barque vá ter á costa de SE. da ilha, na angra de S. João dos Angolares
ou a qualquer outro logar do S., como a enseada de S. Miguel onde estão
completamente abandonados os terrenos.
0 mar na costa meridional próximo das pontas, que é necessário da-
brar, anda quasi sempre encapellado por causa dos ventos de travessia.
Torna-sc por isso necessária a abertura de estradas interiores, cenlraese
marginaes, as quaes ponham aquellas florestas em fácil communicação
com os centros populosos. É o único meio de promover a cultura dos ter-
renos que não se acham ainda explorados.
Não foi possível verificar-se ainda a existência da decantada caverna
que atravessa a ilha desde a costa de SE. junto da alia ponta denominada
16 Grande, dirigindo-sc para a cosfa de 0., próximo â ponta Diogo Vaz.
A este respeito dissemos no relatório de 18G9, pagina 41 :
«Parece-nos digno de exame o phenomeno, e não deve continuara
existir rodeado de mystcrios como está presentemente. Não é infelizmente
só n'esle caso que isto acontece. Ninguém dirá que esta ilha só tem 930
kilometros quadrados de superlicie-, e uma costa de cerca de 300 kilo-
metros. »
A costa meridional da ilha tem uma forma particular, notando-sen'ella,
a contar do Homem da Capa, a praia Inhame, a ponta 0. da grande enseada
Boa Esperança ou logo-Iogó, e a praia que fica no recôncavo da bahia na
sua parte central, ao meio da qual sáe o rio de Agua Salgada. Estende-se
depois para E., saindo uma ponta alta, redonda e arborisada, tendo um
pouco antes da sua foz um regato de agua doce. Apparece em seguida
uma pequena praia e logo a ponta Baleia.
1 Lopes de Lima suppoz que a villa era alguma aldeia, e por isso imaginou um
logar povoado junto á costa na peninsula logo-Iogó, que fica quasi em frente da
ilha das Rolas.
2 A superQcie da ilha de S. Thomé, como já por vezes temos dito, nâo está cal-
culada com exactidão. Expozeroos no capitulo n as diíferenças que encontrámos, e
no mappa medico-geographico da região guineana admittimos o calculo que nos pa-
receu mais rasoavel. Em 1869, porém, regulámo-nos apenas pelo trabalho de Lo-
pes de Lima, assim como o acceítâmos ainda hoje como um calculo mais approxi-
mado.
36!}
Pt^oeia ilha tias Rolas c cosU frooleira da ilba dr S. TlioiBé.~-A iltia •h\
Rolas estd ao S. de S. Thomé. ficanilo m:iis para O., de modo ijii^ leiu o
ponta do Homem da C;)pa peio N.
As Iiabitaçucâ oslãn defronte tio fundeadouro na costa seplciiln')t»ãt
marcando-SL> 9'' a 10" NO. magnetit:os com o Homem tia Capa. È, [n-i-i,
evidente gue a illia das liolasjaz ao S. <l'esta ponta.
O fundeadouro eslá a um terço O. pouco mais ou menos da costa do N.
De uma das pontas da costa do 0. vò-se a costa occidental da íllia i\it
de S. Ttiomé até Diogo Vaz, o que corroliora a nossa asserção.
O panorama da íllia de S. Thomé, observado d'aquelle logar, é IjcIIo
e imponente. Avista-se a costa meridional, começando os terrenos a !«•
vantar-se a pouco e pouco, formando aqui outeiros, mais alem planuras;
e no meio de montes de variadissiraos aspectos é diflicij distingutÍ'OM uns
dos outros sem os ter observado por muitas vezos. Descolire-se o iiico
denominado Cão Pequeno, que pela sua altura, grossura c posição siiiUo
póilo confundir com nenlium outro, poisque tem a símilbança de uma
garrafa gigantesca e de feitio regular. Este exótico pico pódc servir parj
designar o S. da ilha, poisqne só n'esta direcção se descobre dislú'
clamente.
Do silio das habitações da ilha das Rolas avistam-se os seguíobi ^
gares, a contar da ponia Homem da Capa para o nascente :
1 ." Uma porção do costa, ficando na parle mais eiuvaila, proiíai ■
arvoredo, a pedra qnc simula o Homem da Cajia *.
"2." Uma praia ile areia que denominam Iiiliamc.
H." O rio de agua doce da enseada Boa Ksperança, i •"■'TfT í(ir
deadouro cliamatlt) Villa. A agulha marca íi^ji" ^K. tia cmx|i
da ribeira.
4.*' A ponta da margem direita (em relação a qnem entn^á
ou bahia Roa Esperança, é grossa e alta.
5." A ponta Baleia fica [)or iu" NR. .A costa meridíoiuMB
de-se, pois, entre 0° NO. magnéticos, e G7° NE. suppondtia^B
guio nas habitações da ilha das Rolas.
Olhando-sc de mejmo logar para a costa do St,i(
pnnla alta denominada lo-Gramle, logo adiaole, \'m
de S. João. Alem d'eslas lia mais iliiasdistincta^, qnfil|
■ O Homem da Cupa ii um.-i prJra que pareo' um 1
poln aox h»mbrt)s, painilu livrciíionlc. Tem aa niiuis dd
cima de tírandes prdrasi, rnuilo chepado ;i3 arvitrcs r ■
quando se olha para aquello logar, >' realmence graaétj
em similbante pedra mais se nos afflgurava ver um |^
livemtis oceasião de ali srnbir como desrjavamoa^^^J
366
Nâo é graDde a ilha das Rolas. Na costa de E. ba muitas pedras altas,
em que o mar bate com força, e passaudo-lhes por debaixo por grandes
cavidades, faz sair areia fina ou vapor da agua pelos oriQcios do terreoQ
da ilha que commuuicam com o mar ^ O vapor da agua sáe com força e
arrasta qualquer objecto leve que se lançar na abertura.
A ilha tem o terreno um pouco accidentado para O.
Na praia do N. ha uma lapide com a seguinte inscripção, que fielmente
copiámos quando ali fomos em 1873:
Commemorando o hauto de posse que tomou José Maria de Freitas
com as formalidades da ley, dos terrenos da villa ã Angra de S. João dos
Angulares, terra de ló Grande até á pedra forada e d'este ilhéu das Ra-
las^ em 24 e 25 de Fevereiro de 1864.
Costa oriental. — Entre a ponta Baléa ao S. da ilha de S. Tbomé e a
ponta de Diogo Nunes, na terceira bahia para o N. da de Ânna Chaves,
a costa oriental pôde dividir-se em differentes partes, tomando-se para
limite a ponta Praião, o ilhéu de SanfAnna e Angra de S. João. Esta di-
vis3o, porém, é arbitraria, e serve apenas para facilitar a descripçao hy-
drographica da costa oriental da ilha de S. Thomé.
A margem oriental apresenta aspectos diversos e formas variadas. A
ponta Praiao é aquella que sáe mais ao mar. Vê-se distinctamente da for-
taleza de S. Sebastião.
É bello o horisonte que se descobre, estando-se na fortaleza, quer se
olhe para a amplidão dos mares, quer se attente nos conhecidos morros
Moquinqui, Sacli, Macalíi, Macaco e Mongo, que se acham dispostos quasi
em linha recta, e parecendo sair do mar para irem engrossar a serra prin-
cipal da ilha. A sua disposição é característica^.
1 Cunha Matos diz a este respeito o seguinte : cEm um valle tem dois atoleiros,
ou, para melhor dizer, sorvedouros, que communicam com o mar, cuja agitação
ali se percebe muito bem».
Estivemos ao pé das cavernas, por algumas horas. Ha effectivameDte cammu-
nicaçào com o mar. O terreno é secco e a costa alta. Ha enormes pedras por entre
as quaes penetram as ondas, c quando ellas se quebram com força, momentos de-
pois sáe areia ou vapor de agua pelos orifícios, que se acham na ilha a poucos me-
tros do mar.
2 Escreve-se ilhéu das Rolas em vez de ilha das Rolas, por ser assim que usam
no paiz. Diz- se, por exemplo, na ilha de S. Thomé, de um individuo que embarcou
com destino á ilha do Príncipe, ou que é natural d*ali : Foi á ilha, A ilha das Rolas,
muito mais pequena que as ilhas do Príncipe e Anno Bom, é conhecida por ilhéu
das Rolas.
3 Yeja-sa a gravura, Vista da cidade de S. Thomé, tirada de cima da torre
da igreija da Sé- Ao longe descobrem-se os morros Maquinqui, Sadi, HaGalú, Ma-
caco e Mongo.
367
O MoDgo fica nas faldas da serra ; seguem-se os outros morros quasi
a iguaes distancias até ao Moquinquí mais próximo do mar. É alia e ex-
tensa a serra, que tem variadas ondulações, mostrando-se á vista as fa-
zendas do xMonte Café, Macambará, S. Nicolau, etc. Por detrás d'esta ser-
ra, como já dissemos, saem as pontas de alguns montes, como o do pico
de S. Thomé, e no fim descobre-se o pico Maria Carlota, quasi similhante
ao de Aona de Chaves, em cujo meio se apresenta o monte Formoso. Um
pouco para baixo e para a esquerda levanta-se um outro monte que pa-
rece querer fuj^ir de ao pé dos outros, e apresenta-se isolado e a distan-
cia.
Os terrenos no extremo do borisonte vão diminuindo até chegarem á
costa, estendendo-se para o interior do mar em pontas baixas e compri-
das, como a ponta Praião. Ao longe, para SO., mostram-se os cumes de
alguns montes entre os quaes figura o do pico Maria Fernandes.
Da cidade para o S. contam-se as seguintes praias, começando da for-
taleza de S. Sebastião:
Praia pequena, S. Marçal, Pantufa, Praia Melão de baixo e Praia
Melão de cinia. Grande Ponta Praião, Praia Pomba ou das Pombas, Al-
moxarife, Picão, SanVAnna, Meda *, Ahes, Praia Giga, Amador, Praia
Rei, Traz Budo ou Meme, Ponta Agulha ou Cruz dos Ventos, Praia Mor-
rão dos Castellos, Praia Ribeira, Pedra Furada, Praia Micondó, Angra
Taldo, Engobó, Angra de S. João, Praia do ló Grande, Azeitona, Pes-
queira, Martins Mendes, Ribeira Peixe, Zambá, D, Affonso, Zavianna,
Barro Bobó, Praia Grande, e a Ponta Baleia.
Poucas são as praias em que não desagua algum rio, e em muitas
d*ellas terminam importantes fazendas agrícolas.
Na costa da fazenda Agua-Izé ha uma larga restinga, a qual se estende
a mais de 200 metros para o mar. As pedras que a formam estão á flor
da agua e as ondas quebrando-se sobre ellas formam rolos que se re-
volvem com grande fragor até próximo de terra. O povo chama a esta
restinga Valsa do rio Agua Abbade.
Este rio tem uma pittoresca bacia e corre por detrás da praia em ter-
reno baixo. No extremo da bacia ha ilhotas formadas pela terra, que a
corrente arrasta.
Ú rio bifurca-se e recebe ali uma pequena porção de agua que somente
no tempo das chuvas se torna volumosa.
Defronte da foz está uma pedra isolada ou pequeno recife, que pôde
servir de balisa para se chegar á foz do rio.
Nos documentos públicos esoMve-ae liessia e nao Meoia.
368
É um dos mais celebres rios da ilha de S. Thomé. Serve de limite en-
tre as terras de Agua-Izé e differenles fazendas, que nomearemos quando
tratarmos doeste rio.
Para melhor se apreciar o recife que fica na foz d este rio apresentá-
mos uma gravura, copia liei de uma photographia que nos facultaram ^
Em nenhuma das cartas geographicas até hoje publicadas se acha deter-
minada a sua foz. Lopes de Lima não se referiu a iBlle, por não ter de certo
pessoa que o informasse, e Cunha Matos parece que o confundia com o
rio Praia Rei.
A praia Agua Abbade é de areia preta, assim como a que lhe fica im-
mediata, que se denomina Praia Amador ou Praia Preta do Campo do
Boca Queimada, nome dado a um morro que se levanta no extremo da
Praia Amador. Não tem arvores e fica sobranceiro ao mar, tendo cerca
de 60 metros de altitude. Subimos ali em 1873, e ficámos surprehendi-
dos com o deslumbrante panorama que se desenvolveu diante de nós. Ao
longe e ao mar estão as Sete Pedras ou Sete Irmãs, o pico Mícondó e
o pico Maria Fernandes. Mais para o interior levanta-se o pico Mizambõ
e muitos outros de phantasticas formas cobrindo a ilha pela face do nas-
cente, e tornando-a de um aspecto singular e ao mesmo tempo triste e
pitloresco.
O morro ou a ponta Lebre tem algumas arvores e é bem conhecido.
Levanla-se em altas pedras que ficam perpendiculares ao mar. A sua co-
roa de coqueiros dá-lhe as[)eclo alegre, e é certamente dás mais altas
que por ali se encontram.
Entre a ponta Lebre e o morro do Campo ou Amador está a peque-
na praia Giga.
O mar por estas praias é bravo, as pontas são altas, negras, feias e
escarpadas, e desde a bahia Mecia Alves até á da Praia Rei nlo se en-
contra bom desembarque. As canoas, quando o mar o permitte, procu-
ram a praia Preta do Campo Amador on a pequena praia diga entre
este morro e a ponta Lebre.
A praia Mecia Alves não tem rio, mas na bahia da praia Rei desagua a
Ribeira Funda. A praia Rei começa na restinga da Agulha Abbade e corre
em innumeras pedras onde as ondas se estendem com fragor medonho,
assim como na praia Almoxarife.
No extremo SO. da praia o marmette-se por entre duas pontas. Junto
ao rio ha um grande coqueiral e duas boas pontes estabelecem a commu-
nicação da estrada que vae da praia Rei para a fazenda Castello do Sul,
que lhe está immediata. A bahia da praia Rei pode abrigar balandras oii
^ Veja-se a gravura Foz do rio Agua Abbade,
369
^ ■ » I I ■ ■-
palhabotes/ emquanto que os brigues ou outras embarcações de maior
lotação fundeiam fora da ponta. Quem sair n*uma canoa ou lancbá da ba-
bia da praia Rei tem na frente e um pouco á esquerda a nascente; á ea-
querda apresenta-se a balsa de Água Âbbade, a ponta Lebre e o ilbèu
de SanfAnna, e ã direita a Cruz dos Ventos no extremo da ponta do S. da
bahia, a ponta Agulha e as Sete Pedras muito ao longe. O aspecto que a
ilha offerece, vista dô mar, a E., tem differenças notáveis, segundo se
olha para o lado do S. ou do N. São numerosos e de formas variadíssimas
os picos que por ali se encontram, bem como várzeas, planaras, outei-
ros e férteis morros entre 450 a 400 metros de altitude, como nós verifi*
cámos.
A praia Ribeira fica immediata á praia Morrão dos Cástellos. Sobe-se
a ponta do Alto Douro que fica sobranceira ao mar uns 50 metros. Pas-
sada esta descese para aquella praia, onde está o rio que separa a fk*e-
guezia dos Angolares da de SanfAnna ; a forma da babia e a foz do rio
está representada na respectiva gravura ^
Estivemos junto á margem esquerda quando fomos â fazenda Alto
Douro em 4872.
No fundo da babia ha uma pedra que sustenta um pequeno coqueiro,
a que chamam coqueiro orphão. Serve de limite á costa na fazenda Alto
Douro.
A angra de S. João, que se aponta como muito ampla e boa, não tem
sido descrípta com exactidão. A importância que lhe damos auctorisa a
extensão com que escrevemos a respeito d'ella. No livro de Lopes de Lima,
que é geralmente a fonte onde se recorre em assumptos d'esta ordem,
lé-se a seguinte descripção a respeito de Angra dos Angolares :
cO porto, aberto ao Sueste e o melhor de todos os da ilha, é a Angra
de S. João entre a Ponta Agua ao Nordeste e o Pico do Maeurú ao Su-
doeste (que assim se correm; tem meia légua de boca e qaasí uma mi-
lha de recôncavo, com capacidade para recolher 45 a 48 navios de qual-
quer lote ao abrigo de todos os ventos, menos o Sueste, que é travessia;
na entrada acbam-se 20 braças (44 metros) de fundo de areia fina e den-
tro na abra 5 e 6 braças (44 e 43'",2) do mesmo fundo, e das 5 braças
(4 1 metros) para a terra é tudo salão duro ; desembarca-se no fundo da
bahia em um areal muito raso, coberto de coqueiros, e onde vem despe-
jar-se duas grandes ribeiras de boa agua ; os dois lados do porto são des-
.penhadeiros inaccessiveis, por cujos alcantis se despenham copiosas tor-
1 Veja a gravura, Vista da praia chamada Ribeira, onde desagua o rio que ser-
ve de limite entre a freguezia de San^Anna e dos Angolares, e onde terminam as
teiras da fazenda Alto Dmtro, pelo lado do mar.
Z(
370
reates, as quaes com facilidade se eacaminham por meio de caibas, ou
mangueiras, a encher as aguas dentro mesmo das lanchas, que podem
bem encostar á rocha ; ao Nordeste d*esta bahia moram os Angoíare$ so-
bre as montanhas que correm até á Angra de Mecia Alves.^
São inexactas algumas das informações que ali se lêem, e que oãode*
vem passar sem ratiflcaçao.
A povoação fica sobre um outeiro de 30 metros' de altitude, correndo
ao rumo geral magnético SO-NE. ou SO V^-E ^A NE. Redozem-se a isto
as três montanhas a NE. da angra de S. João.
As terras dos Angolares não se estendem até ao sitio da costa denomi-
nada Mecia Alves. Estes povos occupam uma parte da ilha muito circum-
scrípta. Chegam do lado do N. até á Praia Ribeira, limitando com as fa-
zendas de Agua-Izé e para 0. e S. encontram também do mesmo modo
as terras pertencentes á referida fazenda ^
Ao fundo da Angra de S. João dos Angoiares desembocam dois rios,
e na margem de NE. corre uma pequena porção de agua por entre pe-
dras e só poderá engrossar em occasiuo de chuvas. Faltam pois i$ co-
piosas correntes e os despenhadeiros inaccessiveis.
A ponta do S. é arborisada, e terá de 80 a 400 metros de altitude,
mas nãp nos consta que d'ella desça corrente alguma de agua.
Tem de se passar em canoa o rio que desagua no mar do lado da
villa dos Angolares. Não é caudaloso, mas a agua dá pelos joelhos dos
carregadores que o atravessam a vau. A ladeira, que da praia conduz i
villa, é Íngreme e começa junto a uma grande pedra que está próxima
á margem esquerda do rio. O fundo da Angra de S. João ó limpo e muito
regular.
Dentro d'eUa poucos navios cabem, e se outras embarcações a deman-
darem téem de fundear fora da ponta, esperando que as outras saiam,
como succede no porto de Anna dle Chaves ou antes de Álvaro de Cami-
nha. A bahia é regular e disposta em semi-circulo ou antes em forma de
saco.
iMtes e cordilheiras. — Os montes da ilha de S. Thomé eeiSo quasi
todos por determinar. Conhecem-se alguns dos mais altos, mas a deno-
minação de um grande numero é arbitraria.
Um observador collocado no extremo da ponta de S. José ao N. da ba-
hia, ou no extremo da ponta de S. Sebastião ao S. da mesma, ou ainda .
1 No mappa mcdico-geograpliíco da ilha de S. Thomé apresentámos a arca exa-
cta de muitas fazendas, assim como pateuleâmos a superlicie occupada pdos An-
golares. A gravura doesto trabalho nuo se fará esperar por muito tempo.
371
•m qualquer navio fundeado no porto, olhando para a ilha vé o seu hori-
soQto visual jbebado por montes, picos e serras, podendo julgar-se no
centro de om drciàD, cuja drcumferencia regularmente traçada coincide
com os comes d'aqueUea altos montes.
O arvoredo começa a differençar-se próximo ao vistoso morro deno*
minado Mongo, e um pouco para a esquerda, para cima e para O., desço-
bre-set rai dias claros, o come do pico de S. Thomé. Fica por ali i serra
encnrvando-se um pouco, para se levantar outra vez^
Nos pontos onde esta diminue apparecem os três symetrícos montes
dispostos em forma triangular estando um dos vértices voltado para o
observador» e é representado pelo monte Formoso; o lado opposto do
triangulo é formado pelo monte Maria Carlota á direita e Maria Fernan-
des á esquerda.
O altan^ro e agudo pico Maria Fernandes é boa conbecença d'aquel-
las paragens.
Ao monte Formoso segue-se para a esquerda e para baixo um monte
bastante alto, e mais para a esquerda ainda e para o S. fica o pico que
dizem denominar-se Mísambó. Alem d*estes montes vêem-se do fundea-
douro o pico Maria Fernandes a ESE., o morro da costa de E. ou do
PraiSOi e dentro d'esta circumferenda alguns outeiros e vistosos mor-
ros.
É realmente agradabilíssimo o panorama da ilha, vista d'esle lado,
qw é o mais povoado e conhecido. A E., ao S. e a SSE. levantam-se dif-
fereotes montes, mas nlo se sabe a sua posição relativa nem absoluta.
Ghama-se a um o pico Câo Grande, que só se descobre bem indo-se
em viagem para o S. da ilha, mas as suas proximidades b2o têem sido
exploradas. O mesmo succede a respeito do pico Cão Pequeno, e tanto
um como outro, pela sua forma singularissima, podem comparar-se a um
enomisdmo|[azometro, posto ali por Malquer capricho da natureza.
Se ha vantagem em conhecer os numerosos montes, picos e monta-
nhas existentes em toda a ilha, n3o é menos importante o estudo das planu-
ras e otttdros susceptíveis de cultura, tornando-se muito úteis as explo-
racfies geológicas e mineralógicas a que é preciso proceder, a fim de se
saber se é possível habitar algumas cumeadas, várzeas ou aberturas lar-
gas e accessiveis.
9io numerosos os mcM^ros em que já se téem feito plantações*.
1 A maneira por que descrevemos á ilha de S. Thomé obrigou-nos a fazer algU'
mas repetições, procurando comtado evital-as tanto quanto nos foi possível.
' Entre os morros cultivados eoutam-se o monte Macaco e os morros da roça
Gachoeu^a, nas terras de Agaa-Izé, e todos os terrenos altos d'osta vasta fazenda.
372
Rios da ilha de S. Tlimè.— Os rios da ilha de S. Thomé nSo têem
sido explorados, e faltam também os estudos bydrograptiicos propria-
mente ditos. NSo é possível portanto calcuiar-se a saperficie das bacias
dos rios qae fecundam os terrenos, nem se conhece com exactidão a ori-
gem e curso da maior parte d^elles. A ilha é todavia recortada por nume-
rosas correntes de agua. Descem umas dos montes altos e desaguam no
mar, e outras atravessam várzeas e fertilisam planícies, indo depois en-
grossar as principaes correntes de agua. A ilha, porém, não se toma notá-
vel pela rede geral dos canaes abertos pela natureza : o que ali é mais di-
gno de attenção são as variadas fontes ou nascentes que ora apparecem
entre o arvoredo, onde se perdem, ora saem em crystallinos fios de agua,
serpenteando por entre mimosa vegetação.
O povo, no seu sincero pensar, distingue a maior parte das aguas pe-
los sítios em que ellas passam ou por alguma circumstancia característica
que os affecta. Estão n'estc caso as chamadas Agua Mafra, Ghóchó> Budo,
Agua Areia, Gallo Canta, Agua Secca, Agua Junta, Clogá e outras. Mas
independentemente d*estes nomes singulares, toem muitos cheios de len-
das poéticas, taes como o rio da Ponte que Deus fez. Agua Casada e o
rio de Oiro de que adiante fatiaremos.
Agua Bõbõ é o nome geral por que se nomeiam todas as nascentes
límpidas, brotando solitárias por entre copado arvoredo. Ha portanto
muitas doeste nome.
Não ha certamente paiz tão abundante de agua como a ilha de S. Thomi.
Os rios não são navegáveis, mas grande numero d'elles conserva um vo-
lume de agua regular em todo o anno e tem foz constantemente aberta.
O povo tem ainda denominações especiaes para estas correntes. Agua
Grande é o nome geral de muitos rios, assim como o de ribeira tem
sido applícado a outros. Alguns tomam também o nome dos logares em
que passam^ e aos quaes se attiibuem também lendas mais ou menos
extraordinárias.
Não nos é possível fazer a descripção hydrographica da ilha, apresen-
tando 08 contornos, superficies, direcção e afiluentes dos diflermtes rios,
mas nomearemos as fazendas que elles banham e as praias em que
desaguam, indicando o que se nos depara de mais curioso e interes-
sante.
Cumpre-nos também declarar que não tivemos occasião de seguir o
curso dos rios desde a foz até ás nascentes, mas que fizemos quanto em
cuja dcseripçâo especial reservámos para publicação adequada, onde apresentare-
mos não só um míippa medieo-geographico da ilha, mas díOerentes vistas de plan-
toçòcs, ele.
373
nós coube para obter com a maior exactidão todas as informações que
nos podessem auxiliar n'esla descripçio.
Fazem-se diversas supposíções acerca da origem de alguns rios, não
faltando quem acredite na existência de um lago na região montaahosa
da ilha, assim como se falia de importantes cavernas, soberbas cataractas
e de immensas cavidades, uma das quaes atravessa a ilba de uma a ou-
tra costa. Nada se sabe, porém, com certeza, porque a ilba ainda nao foi
explorada oa soa parte mais alta.
Sslalistiea feral das emrentes ie afu de naier Mneada. — Agua Mongo. —
Toma o nome do morro onde tem a nascente, corre nas freguezias da
Santissíma Trindade e Magdalena e passa nos fundos da roça denomi-
nada Bemfica e a SO. da fazenda Santa Margarida. Dizem ser este o rio
que corre por detrás da villa da Magdalena e ahi recebe o nome de Agua
da Villa.
Agua da Villa.— ^lo è volumosa n^este logar e um pouco abaixo forma
uma queda de agua. Tivemos occasião de ver esta cataracta, indo em ser-
viço á villa da Magdalena para escolher o terreno apropriado para o cemi-
tério.
Agua Pele-pete. — É conhecida por esta denominação uma agua que
passa nos fundos da roça Pete-pete, que lhe dá o nome. Fica na fre-
guezia da Graça, no sitio da Monta, servindo de limite a algumas fazen-
das.
Agua Simão.— Denomina-se assim uma corrente que serve de limite
á roç4i Mesquita, passando-lhe ao fundo.
Agua Tio. — È o nome de uma corrente que, na freguezia da Graça,
limita umas terras de 4:646 metros de extensão, situadas no logar da
Monta.
Agua ignez. — Fica na roça Ganga, freguezia da Trindade.
Agua Garcia ou Agua Vargem, — É uma correntede pequeno volume
de agua, á qual dão diversos nomes como os legares em que passa. Os ha-
bitantes chamam-lhe Agua Porca n'um sitio, o n'outros toma o nome de
levada, o que prova ter ella mais de um leito ; atravessa a freguezia da
Conceição e marca o fundo da roça Boa Esperança ; divide em parte a
roça Mesquita da roça Campo ; corre na cidade sob a ponte Lucumi ; serve
de limite pelos fundos á roça Garcia, que lhe dá o nome, e com o de
Levada de agua Garcia limita pelo N. a roça denominada Agua Porca, do
lado direito, e pelo S. as roças Boa Morte, que pertenceram á irmandade
do Rosário, das quaes tomou posse a fazenda, bem como limita a que
esta já possuia sob igual nome e é composta de três pequenas fazen-
das distinctas entre si, tendo a primeira a mesma levada de agua Garcia
374
pelo 0., a segunda pelo S. e a terceira pelo O. Corre na freguezia da Con-
ceição, passa a O. das terras denominadie Reboque e nm jimtar-ie ás
aguas que saem da roça Arrayal (hoje horta milíUr), formando vm regueí-
rlo que o poto oom justificada rasSo chama Agua Fede.
Apia FêéB.^k fos doeste regueirio está quasi sempre Mtap\àã pela
areia que ali se accumula nas marés cheias«
Acua Bóbó.-^ Pertence á freguesia da Magdalma e com á frente de
umas terras da roça Cró-Cró. Chamam algumas pessoas agua BôMás Mi*
cenles de agua límpida perdendo-se a pouca distancia do sitio em que ap-
parecem. Ha muitas nascentes com este nome^ devendo designara i que
fica nas proiidades da cidade de 8. Thomé. É d*esta fonte que se abaste»
cem muitos habitantes. Guarda-se em vasos separados, e para se dar a
certeza de que um copo de agua é perfeito diz-se : Ê agua Búbó.
Agm Piedade. — Tem o seu curso na freguezia da Magdaiena e passa
ao fundo de uma roça no sitio de Batepá.
Agua Ouíchó. — Corre nas freguezias da Magdaiena e Santo Amaro,
passando a O. da roça Boa Entrada. Na roça Santa Crus ha diOèrentes
nascentes de agua férrea, flcando entre esta roça e a agua Cbóchó.
Agua Palito. — Nasce, segundo se diz, na roça Agua Palito e corre
na freguezia da Magdaiena, pelo lado inferior das terras denoniínadas
Allemanha e ObA do Meio. Fica debaixo do aqueducto que leva a agua do
rio Mongo ou de Mello para o hospital militar. £ atravessado pelo cmni-
nho ou estrada da Magdaiena, sobre o qual existe uma ponte insiguM»
cante.
Agua Anca. — Pertence á freguezia da Magdaiena e passa ao S. da
roça Otõtõ e na roça praia Melão.
J^iua Tanque. — Pertence á freguezia da Trindade, corre ao fundo
da Boca-Boca e junta-se ao rio Agua Grande. A freguezia da Magdaiena
chega ate este regato.
Agua Pardal. — Tem o seu curso na fregu€7.ia da Trindade a passa
ao fundo da roça Cassumá.
Agua Caranguejo. — Corre nas freguezias da Trindade e Magdaiena
e passa ao fundo da roça Cassumá.
Agua Prálá. — Pertence á freguezia da Magdaiena e costeia os fon*
dos da roça Bô-ízaquente.
Agua Casada. — Tem o seu curso na freguezia de Santo Amaro, e
separa esta freguezia da de Nossa Senhora de Guadeiupe. É lendária esta
corrente ^ Atravessámol-a quando fomos em serviço á villa da Magdaiena.
1 A respeito doesta agua escreveu o sr. Alfredo Tronf um folhetim que aio re-
produzimos aqui para não dar maior extensão a este trabalho.
375
Agua Machado. —Tem o seu curso nas freguezias da Trindade, Santa
Anna e Magdalena, banhando pela frente a roça Gullu e o extremo N. da
roça Pedroma.
Agua Panada. — Pertence á Treguezia da Trindade e corre ao N. da
fazenda Plató Café e a E. da roça Santa Luzia. É affluente da margem di-
reita do rio Manuel Jorge. No ponto de reunião das aguas chama-se Agua
Junta. Observámos esta corrente quando estivemos na fazenda Sacavém,
cuja localidade se reconhece por se achar na direcção dos três montes
que symetricamente se levantam no extremo da serra.
Agua Coco. — Pertence á freguezia da Graça e corre ao fundo de uma
terra que faz parte da roça Margarida Malé ; também passa na roça Uba
Budo, desembocando na praia Almoxarife, um pouco adiante do rio Clara
Dias.
Agua Magra. — Pertence á freguezia de SanrAnna e corre no limite
E. da fazenda Nova Olinda.
Agua S^cm. — Pertence á fazenda da Trindade, levando agua ap^as
no tempo das chuvas. O leito de qualquer riacho n'estas circumstancias
recebe o nome de Agua Secca.
Agua Quinftndá. — Tem o seu curso nas freguezias da Graça e Trin-
dade 6 passa ao fundo da roça Lemos.
Agua Camilo. — Pertence á freguezia da Trindade, corre em frente
da foça Cabeia e ao N. da roça Canga. Passa também na roça Santa Fé.
Agua Mussungú. — Tem o seu curso nas freguezias de Santo Amaro
e Magdalena e passa ao fundo da roça Santa Cruz.
Agua Vaz. — Pertence á freguezia da Trindade e corre a O. da roça
Piedade.
Agua Filippe. — Pertence á freguezia de Santo Amaro e corre ao fun«
do de umas terras no logar de Obõ-Machado.
Agua Cléclé. — Pertence á freguezia da Magdalena e corre em frente
de umas terras no logar de Potõ.
Agua Prevds. — Pertence á freguezia de Nossa Senhora das Neves e
corre a E. de um pequeno terreno.
Agua Colma. — Pertence á freguezia da Graça, corre ao S. da roça
Bonança e em frente da roça Cima Colla. Atravessámos esta agua, que
tem pouca importância.
Agua Falcão. — Pertence á freguezia da Trindade e corre ao fbndo de
uma fracção da roça Folha Fede.
Agua Serra. — Pertence á freguezia da Graça e corre ao fundo de
umas terras no sitio Bom-Bom.
Agua Areia. — Pertence á freguezia da Trindade e corre ao fundo da
roça Uba Cocundia. Forma o fundo da roça Affna Grande.
I
37(5
Agua Thomé. —Tem o seu curso nas freguezias da Graça e Trindade,
corre ao Tundo da roça Mão Três e de umas terras no sitio da Monta. So-
bre o curso e posição d'este rio tem havido contestações.
Água Funda. — Pertence â freguezia da Trindade e corre ao ftindo
da roça Rocinha Golia.
Agua Pequena. — Ê a denominação geral de muitas correntes. Entre
ellas conta-se a que passa proiimo á villa da Trindade e vae juntar-se ao
rio Agua Grande. Ovewo atravessa a viila» dirigindo-se para o sitio do
Canga e fazenda próxima o tem á direita este pequeno riacho; passa em
frente da roça Ganga. Ha outras aguas com este nome, correndo uma em
frente da roça Agua Palito. Â Agua Pequena fica a O. d*esta roça que tem
um pântano ou sumidouro.
Agua Ckió. — Pertence á freguezia da Graça e passa ao fundo de um
pequeno terreno no sitio de Palha.'
Agua Escorrega. — Pertence á freguezia da Graça, passa a O. de uma
terra no sitio da Praia Melão e corre na roça do mesmo nome.
Ato de ikllo ou Braz Francisco. — Pertence á freguezia de Santo
Amaro, passa ao N. da roça Bella Vista e desagua na praia Lagarto.
Ato Minga^Aguorlzé. — Pertence á freguezia de SanfAnna, passa a
O. da fazenda Cachoeira e forma uma cataracta bastante alta, um pouco
antes de se reunir ao rio Agua Abbade. Descobriu-se próximo a esta agua
uma nascente de petróleo. Dá-se-lhe também o nome de Agua Thomé, e
torna-se notável por servir de limite á fazenda denominada Cacboera, de
que adiante fallaremos. A falta de rigor nas denominações dos rios tem
dado origem a differentes protestos sobre o curso d*este riacho, que fica
dentro da fazenda Agua-Izé. Tivemos occasião de observar a cataracta
d*este ribeiro e vadiámol-o por differentes vezes.
Rio Vgunú. — Pertence á freguezia da Trindade e passa ao S. da
roça Molembú.
AguaSantarem.—l&ca este riacho o seu curso nas freguezias de
Santo Amaro e Magdalena, entre as qoaes serve de limite, segundo as
respectivas determinações officiaes^ Passa a O. da roça Mesquita edo
lado de baixo de terras denominadas Santarém. A freguezia da Conceição
também se estende ale esta agua.
Agua Gaito Canta. — Tem o seu curso nas freguezias de Santo Amaro
e Magdalena e passa ao lado de cima das terras denominadas Santarém,
Allemanha c Obò do Meio.
1 Vejam-se as portarias do governo provincial, de 13 de outubro de 1864 e 18
do janoiro de 1865, publicadas nas respectivas collecções dos boletim offleiai da
província.
377
Ribeira Potó. —Pertence á fregaezia da Magdalena e passa ao fundo
da roça Potó.
Agm Prata. —Tem o seu curso nas freguezias da Trindade e Graça^
e corre a O. da roça Melhorada.
Agua Azeitona. — Pertence á freguezía de Santo Amaro ocorre ao
fundo da roça Maíanço.
Agua Budo. — Pertence á freguezía da Graça e passa ao fundo de
um pequeno terreno no sitio da Palha.
Agua Thatné Piedade. — Pertence á freguezía da Trindade e passa ao
fundo da roça Mio Três.
Agua Uba. — Pertence á freguezía da Magdalena e passa ao fundo
da roça Poto-Rei.
Agua Pedroma. —Pertence á freguezía da Trindade e passa ao lado
de dma da roça Guegu Brazíl e na roça Pedroma.
Agua Lama. — Pertence á freguezía da Graça e passa á fírente de uma
pequena terra denominada Melhorada.
Agua Agumi. — Pertence á freguezía da Trindade e passa a E. da
roça Moiembú.
Agua Francisco Palha. — Pertence á freguezía de Santo Amaro.
Agua d'Agó. — Pertence á freguezía da Trindade e passa em frente
de uma terra denominada Cabeça de Agua.
Agua Abbade. — Corre nas freguezias de SanfAnna e Trindade e passa
junto de algumas roças valiosas, a muitas das quaes serve de limite. É
um rio importante, a respeito do qual daremos algumas informações.
Agua Grande. — Nasce, segundo dizem, entre os limites das fazen-
das Monte Café e Saudade, passa nas freguezias da Magdalena, Trindade,
ConceiçSo e Graça, banhando algumas roças importantes. Separa a fre-
guezía da Conceição da da Graça. Alem da vista da cataracta denominada
Blublú, damos uma descripção do curso d'este rio, segundo as informa-
ções que podemos obter.
Aio Manuel Jorge. —Nasce muito para cima da freguezía da Sauda-
de» corre nas da Trindade, Sant*Anna e Graça e desagua na praia Melão
de Cima. Damos uma breve noticia do seu curso e nomeámos algumas
das roças a que serve de limite. A freguezia da Graça chega até á mar-
gem esquerda, servindo de limite desde a altura do Cruzeiro denomi-
nado Petpet até ao mar.
Ato C/ara Dta^. — Nasce na roça Pinheiro e Uba Buddo e desagua
na praia Almoxaríre, depois de atravessar as freguezias da Trindade e
Sant*Anna. D'elle faremos uma descripção especial, por passar junto a
algumas roças importantes.
Ribeira d(i Enseada Engoba. — Pertence á freguezia dos Angolares,
378
tomando o nome da enseada em que desagua, a SO. da qual flca, se-
gundo Cunha Matos, a grande furna dos Morcegos ou Enguíbàs^.
Ribeiroê da Angra dos Angolares. — Desaguam na praia de S. Joio
dos Angolares.
Ato da Praia Io- Gr ande. —Verience á freguezia dos Angolares. A sua
foz, segundo Cunha Matos, torna>-se inac<^esssivel por causa da ressaea.
Regato da Praia Pesqueira. — Pertence á freguezia dos Angolares,
onde se pôde chegar com bom pratico.
Ribeira Martins Mendes. — Pertence á freguezia dos Angolares. A
foz é uma cataracta, próxima á qual bsteve em perigo Cunha Matos, quan-
do em 1600 quiz ol^rvar de perto a quédá da agua.
Rio da Ribeira Peixe. — Segundo dizem, é um dos maiores da ilha.
Ha na praia onde desagua uma aldeia dos Angolares, e aflSrmam ser sí-
tio agradável e muito frequentado. Este rio está officialmente indicado
para separar a freguezia dos angolares da de Nossa Senhora das Ne-
ves. N3o nos parece, porém, que este limite seja exacto.
Ribeira da Praia D. Affonso. — Este rio vem designado na choro-
graphía de Cunha Matos, e é por isso que o inscrevemos aqui. Nunca ou*
vimos fallar d'elle.
Ribeira da Praia Palma. — Fica na costa de O. da ilha dos Angolares.
Rio de S. Miffuel, na costa O. da ilha. — É notável por desembocar
na bahia abrigada por três ilhéus, dando bom fundo próximo á oosta. Es-
tivemos ali em i873, e observámos o viçoso e variado arvoredo que se
levanta junto á praia. Não podemos desembarcar.
Ribeira da Praia do NE. da Ponta Furada.— Pertence á freguesia de
Nossa Senhora das Neves.
Ribeira ao S. da Ponta Allemã. — Desce como a de Martins Mendes»
em forma de cascata, mas com menor volume de agua.
Ribeira da Fazenda Esprainha. — Ignora-se a sua origem e curso.
Ribeira da Fazenda Agua Funda. — Pertence á freguezia de Guada-
lupe e passa ao N. da ilha. É límpida a agua, e as margens do rio nSo
sio orladas de mangues.
RUfeira da Praia das Conchas.— Pertence á freguezia de Guadahipe
e desagua na praia do mesmo nome.
jRto da Praia Preta ou Praia Rei^ ou Agua Funda da Praia Rei. —
Pertence á freguezia de SanfAnna e passa ao N. da Fazenda Castelo r na
parte do S. tem todo o seu curso nas terras da fazenda Agua-Izé.
Agua Telha. — Tem o seu curso nas freguezias de Santo Amaro e
Magdalena e corre ao fundo das roças Desejada, Maianço e Matheus Pi-
1 É este o nome por que na ilha de S. Thomé se conhecem os morcegos.
379
na. NSo sabemos onde otsce nem ODde desagua, mas a saa imporUficU
deprebmde-se das roças que banha ou a que serve de limite debaixo de
tal deoouiiiiacão. Ha dezeseis fazendas que téem os fundos no ribeiro
Agoa Tdba, ficando umas na freguezia de Santo Aiíiaro e outras na da
Blagdalena.
Bio de Oiro. — Tem o seu curso nas freguezias de Guadelnpe, Ma-
gdalena e Trindade. É um dos mais pittorescos rios da cidade e deBagoâ
na praia Femio Dias. Serve de limite entre a freguezia da Magdaleoa e
Guadelupe^
Ribeira Diogo Nunes. — Pretence á freguezia de Santo Amaro*
BUmra da Praia Lagarto. — Pertence á freguezia de Santo Antaro e
serve de limite entre ella a da Conceição, da parte do mar.
Ato da Praia Ribeira. — Serve de limite entre as freguezias dos Ango-
lares e de SanfAnna. Damos uma vista da praia» onde se vé a foz do rio.
Regaio da enargem esquerda da hahia denominada logo-Iogo. — N2o
tem sido explorado e é aU que se vae buscar agua potável, quando se
fundeia na babia.
Ri0 dê Agtuí Salgada da bahia Iogo^Iogo.—EatràmQ& n'este rio» on-
de navegámos na companhia do infeliz governador João Glímaco de Car-
valho. É navegável por escaleres '.
Agiêa Dois. -^Fnuáo da roça Obô Laranjeira.
Agua Picão. —Passa na roça Uba Budo.
Bo de Santa Caiharina.—Hío tem sido explorado nem temos d'elle
intdrmacões algumas.
Agua Lemos. — Limita pelo SE. a gleba n.® 20 da roça António Vaz.
Agua Amoreira.— È um dos affluentes do rio Agua Grande e serve
de limite á roça António Vaz.
Agua Angolàr. — £ um pequeno regato que rega a fazenda Conde dos
Frades.
Agua Lemos. — £ conhecida por este nome uma corrente que serve
de limite a differentes roças, havendo mais de dez que n'ella téem seus
fundos. Corre nas freguezias da Trindade e da Graça.
BeseriKia '• algaos rias e rocas fie lhe fican ^oxiiMe.— /iíd Agua Gram*
d0.«-Dis-se que este rio tem a nascente na roça denominada Saudade*
coUocada por 800 metros de altitude. É conhecido o seu c^irso, porque
passa entre diversas fazendas plantadas de café e atravessa a regilo maia
1 Vide pag. 383, onde tratámos d'este rio.
* O braço de mar a que nos referiaios fornia uma espécie de península ao S.
da ilha. É um logar agradável e onde ha boas madeiras.
380
povoada da ilha. Toma differentes nomes, alguns dos quaes merecem
mencionar-se. Na frente da roça Malhem Angolar ^ baixo, è conhecido
pelo nome vulgar de Lava-o-pé, e designado também por Agua Creoula,
Agua Ponte. Desagua na bahia de Anna de Chaves» atravessando a cidade
quasí ao centro. Â corrente ali é morosa» e as margens s3o cobertas de can-
oas. Podiam-se fazer agradáveis passeios e largos desafogados de uma e
de outra parte d'este rio» mas prefere-se deixar o terreno nú e esbora-
cado pelos caranguejos» que lidam constantemente no seu destruidor
trabalho.
Este rio tem differentes pontes de madeira» sendo quatro na área da
cidade» e uma que liga a estrada que vae da cidade para a villa da Trinda-
de» no sitio denominado Agua Grande» 4 kilometros distante da praça do
governador Mello.
A sua foz fica ao lado esquerdo do largo de D. Luiz I» a qual mui-
tas vezes 86 obstruo de areia. No preamar» todavia» as canoas sobem rio
adma e vão descarregar peixe» tábuas e vários géneros que trazem das
viUas de SanfAnna e dos Angolares para a cidade.
Tem uma pittoresca queda de agua, a que o povo dá o nome de Blu-
blu.
O rio» passada a ponte que liga a estrada publica da cidade á villa
da Trindade» corre em terreno horisontal até á proximidade da queda de
agua. As margens s3o baixas e os terrenos estão cultivados. O volume
de agua é grande no tempo secco ou das ventanias» e n*esta occasião
é agradável e vistoso aquelle manancial. Modificado por algumas pedras»
sobre 2|s quaes se alarga, salta com suave murmúrio de pedra em pedra»
até se despenhar com impetuosidade sem encontrar obstáculo algum.
Para se fazer idéa do volume e forma do lençol de agua do rio Agua
Grande» ajuntámos a esta breve noticia uma gravura S representando
a margem esquerda do rio» na encosta do Outeiro, não se descobrindo
por isso o arvoredo que se ergue aos lados de tão piltoresco logar.
O curso doeste rio offerece três divisões notáveis, segundo as infor-
mações que podemos obter. Estende-se a primeira desde a foz até á queda
de agua» passando entre as roças denominadas Santo Agostinho e Cima
Coita» estando esta na margem esquerda e aquella na direita, prolongan-
do-se até defronte da roça Madre de Deus. Todas estas roças eram do es-
tado» e acham-se hoje vendidas a particulares» que lhe pozeram nomes
distioctivos, sendo algumas assim registadas na conservatória. Ha vestí-
gios evidentes dos edificios onde havia em outro tempo engenhos de as-
1 Veja-se a gravura Catarata BIvblú do rio AQua Grande, 4 kilometros distante
da cidade.
381
sucar, e poucos togares se conhecem mais apropriados para grandes pas-
seios, do que as marj^ens do rio na roça Santo Agostinho.
A segunda parte do rio marca-se entre a queda de agua e o sitio em
que elle tem o nome de Agua Creoula. A roça denominada Uba Flor é
cortada pelo rio, havendo ali um moinho para moer milho e descascar
café. Está na margem esquerda. Fica n'esta parte a ponte da estrada da
villa de Trindade e a da Boca-Boca, sendo esta uma simples trave lança-
da entre as duas margens.
Observa-se aqui um phenomeno curioso ao passar o rio pela estrada
Boca-Boca. O caminhante acba-se no centro de uma curva, parecendo-lbe
dois rios saindo d'entre o arvoredo, um do lado esquerdo e outro do lado
direito, rennindo-se a seus pés. O curso do rio apresenta ali a fórma de
um S, o que dá origem a tal illusao.
A outra parte ò comprehendida entre a Agua Creoula e a chamada .
Cabeça d'Agua na roça Saudade, onde se suppõe ser a nascente.
As roças que se acham em relação com o rio Agua Grande são 32,
divididas do seguinte modo : na freguezia da Santíssima Trindade 22, na
da Magdalena 5, na de Nossa Senhora da Conceição 2, na da Graça 2 e na
de Santo Amaro 1 ^
Rio Manuel Jorge,— Dk-se este nome á maior corrente que se encon-
tra indo da cidade para a villa de Sant'Anna. Não é navegável e em mui-
tos logares tem as margens alcantiladas e cobertas de espesso arvoredo,
formando-lhe aqui e ali uma espécie de docel, sob o qual se tomam quasi
invisíveis as aguas. Para a margem direita ha fazendas importantes, para
as quaes se tem de vadiar o rio ou passar sobre um pau que se lança de
uma a outra margem.
Este rio parece nascer próximo ao pico de S. Thomé ou nas suas pro-
ximidades, porque passa na frente da roça Macambrará, que é boje a que
fic.a a maior altura. Banha depois fazendas importantes e desagua na jmia
Melão de Cima, tendo a foz 45 metros de largura.
Não possuímos photographias de nenhum dos pontos d'este píttoresco
rio, nem tivemos occasião de observar o lunnel em que passa, havendo so-
bre elle uma immensa ponte natural, coberta de arvoredo. Passeia-se por
ali, admiram-se as arvores que se erguem altaneiras, e a poucos metros
de profundidade corre um rio notável da ilha o qual se esconde á vista
do observador.
Este e outros phenomenos geológicos ainda não foram examinados
1 Esta e as seguintes estatísticas das roças referem-se ao anno de i872, e foram
organisadas á vista do registo da conservatória da ilha de S. Thomé. Tivemos de
as reunir para nao tornar o volume de dimensões incommodas.
380
povoada da ilha. Toma differentes nomes, alguDS dos quaes merecem
meocioDar-se. Na frente da roça Matheus Angolar ^ baixo, é conhecido
pelo nome vulgar de Lava-o-pé, e designado também por Agua Creoula,
Agua Ponte. Desagua na bahia de Anna de Chaves, atravessando a cidade
quasi ao centro. Â corrente ali é morosa, e as margens s3o cobertas de can-
oas. Podiam-se fazer agradáveis passeios e largos desafogados de uma e
de outra parte d'este rio, mas prefere-se deixar o terreno nú e esbora-
cado pelos caranguejos, que lidam constantemente no seu destruidor
trabalho.
Este rio tem differentes pontes de madeira, sendo quatro na área da
cidade, e uma que liga a estrada que vae da cidade para a villa da Trinda-
de, no sitio denominado Agua Grande, 4 kilometros distante da praça do
governador Mello.
A sua foz fica ao lado esquerdo do largo de D. Luiz I, a qual mui-
tas vezes 86 obstruo de areia. No preamar, todavia, as canoas sobem rio
adma e vão descarregar peixe, tábuas e vários géneros que trazem das
viUas de SanfAnna e dos Angolares para a cidade.
Tem uma piltoresca queda de agua, a que o povo dá o nome de Blu<
blu.
O rio, passada a ponte que liga a estrada publica da cidade á villa
da Trindade, corre em terreno horisontal até á proximidade da queda de
agua. As margens s3o baixas e os terrenos estão cuUivados. O volume
de agua é grande no tempo secco ou das ventanias, e n'esta occasião
è agradável e vistoso aquelle manancial. Modificado por algumas pedras,
sobre 2|s quaes se alarga, salta com suave murmúrio de pedra em pedra,
até se despenhar com impetuosidade sem encontrar obstáculo algum.
Para se fazer idéa do volume e forma do lençol de agua do rio Agua
Grande, ajuntámos a esta breve noticia uma gravura S representando
a margem esquerda do rio, na encosta do Outeiro, nâo se descobrindo
por isso o arvoredo que se ergue aos lados de tão piltoresco logar.
O curso doeste rio offerece três divisões notáveis, segundo as infor-
mações que podemos obter. Estende-se a primeira desde a foz até á qúéda
de agua, passando entre as roças denominadas Santo Agostinho e Cima
Golla, estando esta na margem esquerda e aquella na direita, prolongan-
do-se até defronte da roça Madre de Deus. Todas estas roças eram do es-
tado, e acbam-se hoje vendidas a particulares, que lhe pozeram nomes
distinctivos, sendo algumas assim registadas na conservatória. Ha vesti-
gios evidentes dos edificios onde havia em outro tempo engenhos de as-
1 Yeja-se a gravura Catarata Bhblú do rio Agua Grande, 4 kilometros distante
da cidade.
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sucar, e poucos logares se conheoeni ma.- :.-~.r.!-*:
seios, do que as margens do rii« ui\ rcr . íiiu ^•
 segunda parte do rio marca-St eur? ont^
que elle tem o nome de Agua Creoui.
cortada pelo rio, havendo ali um moirui az' jir
café. Eslá na margem esquerda. Fic ii rs: dt^
vílla de Trindade e a da Boca-Hoca. seno r.y...jsru.
da entre as duas margens.
Obsena-Str aqui um phenomem cm'it*> :: jèji^^
Boca- Boca. O camiiibante aclia-sc n. : ceoi: út
dois rios saÍDdo d*enlre o arvoredi;. uni ujíihí*
direiUi. reuuiDdo-se a seus pés. O cun- u rm
um S. o qiKr àd origem a tal ilIusâL
A oolní iiHíifí ò íjompreheudiaa enii
Cab^.& d Agua na roca Saudade, unut- se
A^ rj["úi qut* st; acham em reiai.ii.>
di^JdlCa^ ui. s^guiule modo: na tresuBzsL
íIb Ma:ruai*.'iici o ua df Nossa Scmiura uii
dr Saiii - ^majo j * .
kt( Matiuel Jorge,-— bi-^ esit
in iDUi Ut 'jiaadt: [lan a viiia ue
10^ lufrart;. i^^rn ab margens aicauuaii»^
iormaiiUi-lii^ aqui e ali uma esuecit-
iDVi^ivc;!' a.^ a:;uas. Para a
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mu. i oui!'í margtnii.
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382
por pesBoas competentes, e apenas téem servido para assumptos de fo*
Ibetim e para objecto de curiosidade. Merece, porém, ser estudado o
curso d'este rio, que é um dos mais extensos da ilba e atravessa teoidas
importantes, nio sendo pequeno o numero d'aquelias a que eUe serve de
limite, e passa na frente das roças de Santa Luzia, Uba-Metade, GuUu,
eoja frente olha para o N., Sião Três e Agua-Juntá, todas situadas oa fre*
gWHàã da Trindade. Alem doestas fazendas ha outras que se estendem iMé
á margem onde marcam os fundos.
As rocas de que temos conhecimento sio Gró-Gró, na freguezia da Trin-
dade, assim como Gassumá, Guingue, Bemfica, Moka ou Barro Rr»60,
Goegue Brasil, Cabeça de Agua, Ganga e Gabeia.
Corre este rio a E. da roça denominada S. Nicolau, collocada a 900
metros de altitude, e serve de limite, pelo N., á fazenda Sacavém, aberta
n'iNii dos sítios mais bellos e amenos da ilha de S. Thomé. Ftssámos
ali alguns dias e podemos medir a altitude de alguns outeiros, aade
se faz a cultura do café ; e subindo o morro mais alto, que fica em frijnte
da casa da babitaçio, disfructámos um dos mais lindos panoramas que se
pôde offiarecer n'aquella privilegiada ilha.
Estão em relação com o rio Manuel Jorge 54 roças, divididas do se-
goiote modo : na freguezia da Santíssima Trindade 44, na de SanfAsna 4
e na da Graça 6^
Aio Oara Dio^.— Desagua este rio na praia Almoxarife, tendo pa-
qaeoo tohwie de agua ; corre entre os rios Manoel Jorge e Agua Abbade,
atravessa differentes terrenos collocados nas freguezias da Trindade e de
Sanf Ama e passa a O. das roças Agua-Izé e Uba-Budo, e ao S. (ra fandos
das roças Gullú, Uba Metade, Pedroma, Guegue Brazil e Pinheira.
As roças que estio em relaçio com o rio Clara Dias são 12, divididas
pela fflweira seguinte : na freguezia da Santíssima Trindade 4 e na de
SanCAnna 8.
Aio Agua il^bode.— Desagua este rio a pouca distancia da caaa de
habitado da fezenda denominada Agua-Izé, o qual fica dentro d'estaa vas-
tas terras, onde tem todo o seu curso. Damos uma gravura com a vista
da foz, assim como da pittoresca bacia onde a agua se espraia correndo
com suave murmúrio por entre as pedras que cobram o seu leito. As la»
vendeiras Téem ali lavar as roupas, mas não tendo para isso bvadou^
ros regulares, aproveitam as toscas pedras do rio que lhes ficam mab
próximas. As que se representam na gravura slk) as da fazenda Agaa4zé,
que fica a pouca distancia'.
1 Veja-se a gravara Vista do rio Agtia Ahbade^ a poitca áisimieia da f«Sj m
ilha de S, Thomé. Lavandeiras da fazenda Agua^lzé.
383
E vj(060 e aleoUdo o anroredo di nuiigeiíi esqaerda, que M rodeit
pan cbc^ar i monda dos senhores de Agua-hé.
A iòz do rio é pequeoa como é geralmeDle a dos rios mais conhecidos
de & Thomè. O redfe que se levanta em firenle toma-se irisível na granira
qae apresentámos. Delle falloa o chorographo Canha Matos. A ponta es-
qaerda è baixa e de areia; a direita pouco eleirada e arborisada. Fica
por ali ama plantação da anrcMre diamada froota-pio. (Arêoemrpm tu-
aza.)
Passa este rio a O. das roças Agua-Izó e S. Nicolaa, e á soa maifeai
esqaerda chegam os fundos das roças Plató-Gafé, Santa Luzia, Maçam*
brará e Sacavém. É um dos rios cuja origem importa conhecer, pere-
cendo, porém, que elle nasce em algumas planuras ou aberturas proxí*
mas ao pico de S. Tbomé.
Ajuntimos duas gravuras d*este rio, porque a eUe se prendem reeor»
dações importantes, porque é dos mais extensos e atraveasa a maior das
fazendas da ilha ^
Estão em relação com o rio Agua Abbade 13 roças, divididas pela
seguinte forma : na freguezia de Sant*Anna 2 e na da Santíssima Itin-
dade 11.
Âgm Funda da Praia Rei. — Damos uma gravara da fos d*este rio
que passa no interior das terras de Agua-Izé, o qual desagua na praia Rei
e tem o nome de rio de Praia Preta, de Praia Rei ou Agua Funda de Praia
Bei*. Divide a fazenda Agua-Izé propriamente dita da fazenda denomínadi
Ca^lello do Sul.
As cartas geograpbicas de Lopes de Lima e de Boteler não deleraii*
nam a posição d'e6te rio, nem do rio Agua Abbade. Regolam-se todos
pelas infipraiaçoes do chorographo Cunha Matos, que descreveu a eosta
da ilha de S. Tbomé com muita mioucíosidade, sendo porém inexacto em
alguns pontos. Não pôde Lopes de Lima rectificar a posição das praias •
rios, de modo que os trabalhos d'esles dois escriptores sio hí^e mnito
deficientes.
Rio de Oiro.— Nasce este rio, segundo dizem, no Monte Café, sobre o
qual se acha a conhecida fazenda d'este nome, cuja altitude varia entre
700 a 800 metros acima do nivel do mar.
Encontra-se a foz do rio a cerca de 12 kilometros da cidade de
^ o rio Agua Abbade serve de limite entre as terras da fazenda Agoa-Izé e as
fazendas situadas na face do NE. da ilha.
2 Veja-se a gravura Bio, bahia da praia Rei e haMação da fasenda Agua-ÍMi,
12 kilometros distante da cidade.
384
S. Tbomé, um pouco adiante da praia Fernão Dias, que 6 uma das mais
a^'adaveís da costa seplentrional da ilba. Passa entre coqueiros, e atra-
vessa a roça de Joaquim José do Prado.
É um dos rios mais pittorescos e a respeito do qual vogam lendas
mui curiosas.
Merecem ser visitadas as fumas que téem fama na ilba» assim como
as cascatas, cuja vista é digna de ser apreciada.
As roças que estão em relação com o rio de Oiro são 17, as quaes se
dividem do modo seguinte : na freguezia de Nossa Senhora de Guada-
lupe 4, na de Santo Amaro i , na da Magdalena 10 e na da Santíssima
Trindade 2.
Cidaie d6 8. Ttené.— Para se fazer idéa approximada da cidade da ilba
de S. Tbomé julgámos mais conveniente que o leitor nos acompanhe a
um passeio por toda ella. Sairemos da agradável e salubre fortaleza de
S. Sebastião pelas quatro boras da tarde e, no espaço de duas horas, po-
der-sd-ha examinar a cidade como a vimos em 1872.
Perto da fortaleza encontra-se um lai^o no extremo da ponta meri-
dional da babia de Anna de Cliaves.
Á esquerda, olhando para a cidade, está um muro marginal, a partir
do angulo oriental da fortaleza até ao principio da lingua de terra que
se estende entre o pântano e o mar; á direita existe uma pequena ca-
lheta» adiante da qual se vé uma ordinária e mal feita estacaria para im-
pedir que as aguas do mar transbordem para aquella parte do largo da
fortaleza.
Doeste largo passa-se por uma ampla rua entre o barracão que serve
de quartel e um retiro ajardinado, feito modernamente, em lirente d*a-
quelle mal collocado barracão. No fim d'esta rua fica outro largo espa-
çitto.
De um lado existem pedras negras e repugnantes, que bein poderiam
ser substituídas por um ameno jardim, do outro a cozinha do batalhão de
caçadores n.^ 2, conjunctamente com a arribana de um boi e a casa da
guarda, tudo muito próximo ao mar.
Apparecem emfim as primeiras casas e entra-se na rua do Espalma-
dor, que é regular, tendo de um e de outro lado edificios feitos de ma-
deira ; no meio d'esta rua depara-se ao observador uma das pontas da ci-
dade. Demoremo-nos ali por algum tempo, e observemos o que nos cer-
ca em volta.
A agua do mar passa sob esta ponta, e alimenta uma extensa e longa
lagoa que na vasante fica descoberta e nas peiores condiç-ões em que se
podem observar taes logares.
HF"^"
1 ^
^
^K *fln^4 MB
1^: # : Jii
385
Vem á mente perguntar a rasão por que, durante quatro séculos, não
houve quem se empenhasse em impedir que a agua do mar fosse crear,
junto da cidade, pântanos, charcos e logares infectos. Ninguém de certo
responderá, mas o pântano ali está e continuará a prejudicar por muitos
annos a cidade.
A ponta do Espalmador serve de communicaçSo áquella rua, e vô-se
á esquerda a acanhadíssima casa onde se recolhem os addidos e se deno-
mina Deposito penal I N'esta parte da rua só ha casas d'aquelle lado. En-
tre ellas existem dois ediãcios grandes e regulares. A vista é desafogada,
mas nota-se o grande inconveniente das numerosas canoas e redes que
por ali estão obstruindo a praia. Á comprida rua do Espalmador segue-se
a rua da Praia, que vae passar ao pé da porta da pharmacia e da alfande-
ga, terminando no largo do Palácio do Governo, e a rua do Tronco, que
tem casas de ambos os lados. Passámos por esta rua, que é pequena e
termina D'om largo de onde partem as ruas da Misericórdia, de Domin-
gos António e de S. Miguel.
É preciso escolher uma d'estas para continuarmos o passeio. Optá-
mos pela da Misericórdia que tem a denominação do edificio, o qual é
muito antigo, mas sem cousa alguma notável.
No extremo d'esta rua fica a cadeia civil e em frente d'ella a igreja
da Misericórdia, para o largo do Palácio, hoje de D. Luiz I.
A santa casa da misericórdia tem o edificio arrendado ao governo
para serviço da alfandega, e em alguns de seus velhos armazéns esteve
por muitos annos estabelecida a pharmacia.
Esta ma não é muito extensa.
Atravessemos rapidamente o largo do Palácio para chegarmos á pri-
meira ponte do rio Agua Grande.
O muro marginal que circumda o largo 6 uma das úteis obras que se
tem feito. A foz do rio Agua Grande muda muitas vezes por causa da
areia que a entupe.
Pôde seguir-se pela margem esquerda do rio, ou pela roa do General
Calheiros, ou então pela da Praia. Seguiremos por esta ultima, a fim de
observar a limpeza da praia. A rua por este lado 6 muito comprida. É
triste o passeio. Falta ali o arvoredo I
A limpeza não é regulara Difierentes travessas convergem para esta
rua, mas não entraremos em nenhuma e seguiremos sempre atè á tra-
vessa próxima ao cano do esgoto, que conduz as aguas do coqueiral e
1 Referimo-nos ao que sempre observámos emquanto estivemos na ilha de S.
Thonié
23
386
da roça Arrayal, oode hoje está a horta militar S para crear o pântano
a que o povo dá o nome de Agua Fede. Sobre este cano infecto está lan-
çada uma ponte de madeira. Paremos aqui um pouco.
De um dos lados da cidade fica a rua Alegria, que é ampla e desafogada,
e do opposto existe a rua da Conceição. O cano de esgoto dirige-se para
o N. vindo de SO., e a rua da Conceição tem o rumo de NO. Sigunos por
esta e passemos sobre a ponte do ribeiro, que dizem chamar-se Agaa Car-
da. Fazem lavadouro ao pé da ponte, o que é impróprio, assim como é
inconvenientíssima a vegelação cerrada que por ali avulta. N'esta ponte,
extremo da rua da Conceição, começa a rua de S. João, que só tem casas
do lado direito e do esquerdo è tudo mato, e vae terminar no templo da
mesma denominação. £ ali o extremo N. da cidade de S. Tbomé, de onde
se vé a estrada ou antes a ladeira que conduz ao cemitério, e se encontra
mna superficie que se estende a par da estrada publica, a qual seria uma
agradável e pittoresca alameda se, em logar do baixo e rasteiro mato de
purgueiras e de goyabeiras que a cobrem, estivesse cooveoieotemente
tratada.
É predso voltar pelo mesmo caminho até chegarmos á ponte lançada
no cano de esgoto da roça Arrayal, a fim de passarmos não longe da igreja
da Conceição, que não parece templo de uma cidade, porque está cercado
de mato. Tudo por ali revela pobreza e descuido.
Um pequeno carreiro, limite da cidade pelo SO., conduz, não para
uma rua em boas condições, mas para um caminho acanhado, mal failo e
mal conservado. Fica entre um abandonado e mal disposto palmar e os
quintaes das ruas Alegria e Goi, na extensão approximada de 570 metros.
£ de toda a conveniência melhorar as condições d'aqueUe mal tratado
terreno, transformando-o em um bom palmar, jardins públicos e aprazir
veis passeios.
A rua do Rosário, principio da estrada da Madre de Deus ou da Agua
Grande, conduz ao caminho de que falíamos, o qual mais parece ser de
uma fazenda abandonada que de uma cidade capital de província. Ap-
proximemo-nos da tortuosa corrente do rio Agua Grande. Vamos até á
quarta ponte doeste rio, ou ponte Tavares, limite da cidade da parte de
SO. As margens estão cercadas de arvores. Os zig-zags que o rio faz
dão-lhe feio aspecto e explicam bem o pântano que forma junto da terceira
ponte denominada Locumi.
Por que rasão se não fazem descer as aguas em linha recta até á foz?
1 Referirao-nos ao anno de 1877, e é justo dizer que o sr. Henrique Augusto Dias
de Carvalho se empenhou em fazer do pântano da roça Arrayal um logar útil e
agradável.
887
Por qae rasSo se nlo h3o de construir paredes marginaes, embora sejam
de estacas» a fim de impedir que as aguas, nas marés vivas, transbordem
a ponto de n3o ser possível a passagem no principio da rua das Rosas? É
esta uma das obras de primeira necessidade, e que devia fazer-se com
brevidade.
É triste e desconsolador descer pela abandonada rua de Santo Antó-
nio, e ainda mais desconsolador é o abandono em que está o largo que
fica entre a margem direita do rio, desde a ponte da rua da Feira ou de
Santo António até á de Locumi por uma parte, e por outra o lado es-
querdo da rua de Santo António e o da pequena rua que põe o largo da
Sè em conununicação com a ponte de Locumi.
NSo é um largo, é um mato baiio, espesso, inútil e improductivo.
É necessário fazer ali uma vasta praça, segundo todas as condições
da arte e da boa bygiene K
O templo da Sé ò de apparencia agradável e merece pela sua natureza
e importância ser visitado.
Desde 4867 que está em obras, e se não se acham ainda concluídas
muito pouco lhes deve faltar, se nao acontecer o que frequentemente suc-
oede oom as casas que os naturaes mandam construir, e que muitas ve-
ies não acabam para não se lhes appUcar o singular agouro: cGasa aca-
bada morte chegada».
O grau da moralidade, da civilisação e do progresso de uma cidade
avatta^se pelos templos, pela cadeia, pelas casas das escolas e pelo hospi-
tal. Na cidade de 8. ThonÃè os templos raras veses são caiados e alguns estão
sem solho, como o da Conceição; a cadeia tem prisões impróprias, como
os médicos téem demonstrado e os factos patenteado; as casas das escolas
são inclassificáveis; no hospital não se podem fazer as obras necessárias
para commodo dos doentes, porque o prédio nao pertence ao estado.
Os pântanos, os paúes, os terrenos encharcados e as margens do rio
Agua Grande merecem muita attenção dos poderes públicos, a fim de que
se attenuem ou destruam as causas principaes da insalubridade da cidade
de S. Thomé.
Undtes ^^ cidade de S. Thwi'.— Os limites doesta cidade são, segundo
um documento ofiicial que possuimos, os seguintes : cdo Pau da Ma/rca a
um coqueiro, pertencente ao casal do fallecido António José PiDoentel ;
1 Causa pena ver o desleixo em que permanece este logar. Existe ali um paul
iBlèeto onde podia fuer-se um agradável Jardiín t
* Aehavamo-Bos encarregados de nm trabalho offleial para a junta de saúde
publica, e precisando por isso saber os limites da cidade Ad S. Thomé^ requere-
388
doeste coqueiro á igreja de S. Miguel, pelo nascente. Da igreja de S. Mi-
guel até um carreiro que existe no campo, o qual segue para a igreja de
Santo António. Da igreja de Santo António á ponte Tavares. Da ponte Ta-
vares á igreja do Rosário. Da igreja do Rosário para baixo até uma pai-
meira, em que se poz um marco. D'esta palmeira per uma linha de co-
queiros até á roça Arrayal. Da roça Arrayal pelo caminho denominado
Juco até á igreja da Conceição. Da igreja da Conceição por uma linha de
coqueiros até á ponte Locumi. Da ponte Locumi por uma linha de co-
queiros até á igreja de S. João.»
Abi Ocam designados os limites officiaes da cidade da ilba de S. Thomé I
Não é muito fácil adivinhar onde jaz aquelle pau de marca, e ainda me-
nos aquelle coqueiro, que se torna reconmiendavel por ser pertencente a
certo individuo!
Do tal coqueiro á igreja de S. Miguel a linha de separação não será
facilmente calculada, por não se saber se é representada por uma linha re-
cta» curva ou quebrada, se está mais próxima aos quintaes ou mais perto
da margem esquerda do paul, campo ou descampado de S. Miguel, o qual»
como dissemos, tem por ali grande extensão.
N'este campo, ao lado esquerdo de quem desce para o mar, ha um
carreiro que foi escolhido para limite até á igreja de Santo António. Mas
onde nos conduzirá esse atalho? em que sitio do largo de Santo Antó-
nio termina elle? O terreno do antigo cemitério não pertencerá á ci-
dade? Nas proximidades da igreja de Santo António ha outro carreiro,
mais ou menos mudável, mas que sempre é mais distincto em direcção
á ponte Tavares, e fica logo adiante a igreja do Rosário e ao pé da estrada
denominada Madre de Deus ou do Rosário ^
mos ao governo da província que nos mandasse passar a respectiva certidão. Cus-
tOQ-nos 3í9085 réis, mas ao menos conservámos nm docnmento original sem o qual
difficílmente se acreditaria o qae se lé no texto. Não sabemos se os registos estão
assim feitos, ou se o documento foi passado por algum amanuense menos pratico
d'estes serviços; o que é certo é que a certidão está authentícada devidamente, e
que a responsabilidade do seu conteúdo cabe toda à auctoridade superior da secre-
taria, ainda mesmo, o que não é de suppor, a assignasse sem ler ou commettesse
este serviço a pessoa de sua confiança. Em papeis d'esta ordem deve haver todo o
cuidado, porque d*elles depende muitas vezes opinião mais ou menos favorável da
localidade que se descreve.
1 A cidade de S. Thomé parece condemnada a permanecer eternamente junto
à praia, o que nós sempre reprovámos desde que ali chegámos. Mas já que a fa-
talidade a persegue, cuide-se ao menos de a dotar com os melhoramentos de que
tanto carece e que tão facilmente podem ser realisados; e aindaque se não effectuem
todos immediatamente, ao menos que se prefiram os de mais instante necessidade,
e conforme as forças do thesouro o permittírem.
390
denominação. Começa na ponte Snm Mígué, segunda do rio» onde mui-
tas vezes se não pôde passar, por causa da 2|gua que a invade • áitíêA-
cia de uns iO metros. Ao lado esquerdo, subindo, ba qaintaes im^
mundos.
Rua Baixo da Sé, rua Cima da Sé, rua Atrás da Si. — Não se deve
dar o nome de ruas ao que mais propriamente se deveria denominar adro
ou largo da Sé.
Rua da Ponte Sum Migue. — É a que limita o charco, pântano ou ter-
reno alagadiço que fica na margem direita do rio Agua Grande, e foi em
tempo leito do tortuoso rio da cidade. N'esta rua inclue-se a de Trás da
Sé, bavendo ao principio (do lado da Sé) uma péssima descida, que fe-
lizmente é pequena.
Rua da Feira Velha. — Conduz para o largo de Santo António, pas-
sando sobre a terceira ponte do rio da cidade. Não está calçada, nem sa-
tisfaz ás mais simples regras exigidas em construcções doesta ordem.
Rua de Santo António. — Não deve dar-se o nome de rua a simi-
Ibante carreiro, de pessinlo pizo e obstruido por hervas. Por ali ficam
matos espessos de bananeiras, goiabeiras, etc. Em 4665 foi abandonada
por causa da epidemia de varíola, e difiBcilmente se construíam ali pré-
dios. D'este abandono resultou ser uma das mais obstruídas e perigosas
da cidade.
Travessa dê Santo António e rua do Amaral. — Correm para o lido
do campo, paul ou descampado, e por estarem mais ahstadas, são total-
mente esquecidas ; todos os quintaes que lhe ficam próximos estão èm
péssimas condições.
Rita de Catharina Jorge.— \^e do largo da Sé para o de S. Miguel.
Não é calçada nem regular. Poucas vezes está completamente limpa.
Travessa da Rua de Catharina Jorge. — É uma viella inclassificável,
estreita e de mau pizo.
Rua de Domingos António. — Principia no largo da Sé e encontra-se
com a rua de S. Miguel ; não é limpa, e ao lado esquerdo fica-lhe o alio
muro do quintal da casa da residência dos governadores. Ha ali um case-
bre ou cubata que a camará municipal não tem mandack) retirar. O seu
pizo é péssimo.
Rua da Misericórdia. — É a continuação da rua do Tronco; é pouco
extensa, não é calçada e acaba no largo do Palácio.
Travessa da Misericórdia. — Passa entre a velha pbarmacia do estado
e vae sair á praia ; tem mau pizo e recebe as aguas que escoam das ruas
da Misericórdia, de S. Miguel e outras, as quaes formam um regueiro
que a tornam do mau pizo.
Afia da Praia da M$ertcord'a. — Passa entre a ponte e a frente da
airandega, e segae até se encontrar com a rua do Tronco. Podia ser uma
formosa rua se se lhe fizessem alguns melhoramentos.
Rua de S. Miguel, travessa de S. Miguel e beco de S. Miguel — For-
mam o bairro de S. Miguel que está muito abandonado, e onde as hervas,
que obstruem esta parte da cidade e que por ali apodrecem, s3o preju-
diciaes, por serem em grande quantidade e levadas pelas aguas pluviaes
para outras ruas.
Ma do Tronco. — Ao extremo da rua do Espalmador seguem-se as
ruas da Praia e do Tronco, abrindo-se em angulo agudo, o qual ô fecha-
do pela rua e travessa da Misericórdia, formando assim um quadrilátero,
cujo lado maior é a rua da Praia.
Rua do Espalmador. — É uma das maiores ruas da cidade, porque
comprehende a praia (futuro boulevard) e a ponte da Alagoa, que põe
esta parte em communicação com o seu seguimento, o qual devia ter difie-
rentenome; vae sair ao largo da fortaleza de S. Sebastião.
As ruas, quer orientaes quer occidentaes, s3o irregulares.
Coqueiros, bananeiras, arvores imiteis, trepadeiras, arbustos, sub-ar-
bustos, etc., tornam a cidade húmida e espantosamente assaltada por mos-
quitos, meigas, caranguejos, ratos e por outros animaes incommodos e
muito danminhos.
N3o será fácil o melhoramento da cidade, sem se tirar primeiro a res-
pectiva planta S nao só para se dirigirem os trabalhos com methodo em
relação ás ruas largas e quíntaes existentes, mas também aos parques,
jardins, praças, passeios, ruas ou bairros que se formarem.
Não nos demoraremos a faliar acerca do melhor modo de empedrar
ou calçar as ruas, nem da necessidade de haver limites bem determina-
dos em volta da cidade. São assumptos que se patenteiam, conhecendo-se
a direcção, exposição, inclinação e qualidade dos terrenos.
Parece-nos também que seria inútil estabelecer hypotheses sobre um
objecto tão positivo, pois é certo que as obras são variáveis e de execução
mui diversa, segundo as circumstancias; as ruas devem ser bem calçadas,
bem arborisadas e construídas de maneira que recebam o vento do N.,
NE., NNE., etc.
Não haverá tfellas canos de despejo, e deve-se attender mais que
tudo á sua inclinação para que as aguas não as encharquem. São estas as
regras geraes, mas como ali falta tudo, não falte ao menos a lembrança I
A freguezia da Conceição tem, como a da Graça, algumas ruas com-
> Escrevíamos em 1873 estas observações, e em 1876 realisava-se o nosso de-
sejo. Não foi preciso senão que chegasse á ilha de S. Thoraé um trabalhador e in-
teiligente director de obras publicas.
392
muDS, a saber : a do General Galbeiros, Soares, das Rosas e da Praia, as
quaes já nomeámos.
Existe n'esta freguezia a praça do Governador Mello, á qual vem sair
as ruas do Pelourinho, das Flores, da Praia Tabaco, do Morgado, do Ge-
neral Galbeiros, duas travessas da rua da Praia e a rua Açougue. Sio as
mais limpas, com excepção da rua da Praia Tabaco.
A rua Goy segue parallela ao celebre caminho Juco, assim como a roa
Alegria.
A rua Agua Fede corresponde ao nome, assim como o bairro que é
intolerável.
Quem poderá classificar o notável Mato Quitibá ?
S3o repugnantes os logares designados pelos nomes Juco, Agua Fede,
Quitibá. Se a parte oriental da cidade carece de melhoramentos, a parte
Occidental reclama-os com mais urgência e necessidade.
Os trabalhos de saneamento da cidade de S. Thomé serão mais dispen-
diosos do que a mudança da cidade? Será possível abandonar esta?
S3o assumptos mais para o architecto e engenheiro resolverem, do
que para o medico tratar ; é porém indispensável e urgentíssimo fazer-se
alguma cousa, n'um ou n'outro sentido.
A actual cidade de S. Thomé não está á altura d'esta denominação, e
podemos acrescentar que nem nos parece aldeia, nem campo, nem bos-
que, nem villa, nem logar, nem logarejo . . . é uma superScie de areia,
com casas pessimamente coUocadas.
Para terminarmos as nossas informações a este respeito, copiámos do
relatório de 4869 um trecho, por onde se vé que o empenho dos médi-
cos tem sido o mesmo em todos os tempos, como está demonstrado nos
relatórios médicos de que temos conhecimento desde 1860 até 4862, ou
antes até ao principio do anno de 1873, em que escrevemos o do anno
anterior. Quando os governos não querem e os directores de obras pu-
blicas não executam os conselhos dos médicos, que devem estes fazer?
Ao medico somente cumpre aconselhar; é esta a nossa missão, e nada
mais.
O que se disse em 1865 e 1869 deve ser bem apreciado, e todos os
pareceres dos médicos toem sido coherentes. Aprecie-se finalmente o se-
guinte extracto do relatório de 1869:
<xV cidade de S. Thomé assenta em um terreno arenoso e baixo, lavado
pelas aguas do oceano, em uma praia que corre desde o N. até ESE., fi-
cando-lhe n'esta extremidade um terreno pantanoso, por onde entra o
mar nas grandes marés, depositando ahi grande quanUdade de sal, que os
indigenas extraliem e purificam por meio de evaporação ao fogo, para o§
seus usos culinários.
cAo S. da cidade jaz outro pântano, em um vasto campo coberto de
relva e capim, próximo ao muro do antigo cemitério, na cerca do extin-
cto hospicio de Santo António, até á vizinhança da igreja de S. Miguel,
constituindo uma verdadeira fonte de exhalações nocivas á saúde pu-
blica.
«Para remover os males causados por este foco delinfeoção e outros si-
miibantes que existem na povoação, a junta de saúde publica da provin-
da (de que eu fazia parte) dirigiu em 4862 ao governador de S. Thomé
um relatório, no qual se apresentaram as considerações que um assumpto
de tanta magnitude suggere, e se propozeram os meios de remover taes
males; mas os governos até boje (Gns de 1865) téem descurado comple-
tamente de taes ramos de serviço publicO; aliás de t3o alta transcendência,
tendo*se unicamente conseguido a mudança do cemitério para outro pon-
to mais conveniente, com exposição ao N.
«Ck)mo querem, pois, que melhorem as condições de salubridade em
um paiz onde se desconhecem os preceitos de hygiene publica, e onde as
auctoridades administrativas, em geral, pouco curam do melhoramento
material e intellectual de seus habitantes ?
cQueixam-se da grande mortalidade que ha no paiz, pedem médicos,
mas não applicam os meios que estes aconselham.
cQue serviço esperam, pois, que os médicos prestem?
«A posição da cidade é má e a sua exposição péssima.
«A primeira providencia seria fazer a mudança, para outro sitio conve-
niente, das repartições publicas. Ck)m o andar dos tempos deixariam de
existir casas nos logares onde boje se vão construindo.
«Ck)mo é sabido, não foi o local em que hoje assenta a cidade o pri-
meiro escolhido ; passou da praia Anna Ambó, a umas 4 léguas (20 ki-
lometros) da cidade actual, na costa do N., para o logar que occupa pre-
sentemente; para o melhorar é preciso ao menos tentar alguma cousa.
A cidade de Loanda tem parte alta e parte baixa : n'esta trata-se do com-
mercio durante algumas horas do dia ; n'aquella vive-se, passa-se a noite.
Para S. Thomé aconselhámos a mesma cousa.
cAs principaes repartições publicas devem estar em posição vantajo-
sa. Pelo menos o palácio do governo, o hospital, o obsen^atorío meteo-
rológico, a cadeia civil, etc, devem ser feitos em boas condições.»
Os médicos não podem levar mais longe os seus trabalhos, nem as
suas considerações : cumpre-lhes mostrar as condições em que se acham
as localidades. Aos poderes públicos incumbe a execução dos melbora-
n^entos que forem indispensáveis,
394
Mamiiltoa «o« tredllMi vtMbm eiIstoBlcè nm llliii die 0. íhléÉié
Fregaezias
Nòssâ Senhora da Conceição (cidade).
Noésa Senhora da Graça (cidade) . . . .
SánfAnna
Santo Âtharo
Santíssima Trindade
Nnmvp
deprediói
44
16
3
4
13
80
J
A estatística dos prédios urbanos que apreseutâmos não comprebende
asdifferentes casas ediflcadas nas fazendas agrícolas nem as que se fizeram
depois do anno de 1872. Daremos, porém, uma breve noticia das coih
strucções em geral, e do estado em que ellas se acham em 1876, segando
a informação do director de obras publicas, Henrique Augusto Dias de
Carvalho; e para complemento ajuntámos uma vista S tiradaí da torre da
igreja da Sé, na qual se distingue a cidade e a região septentríonal da ilha,
o monte Macaco e o principio da serra que se ergue ao rumo O. da cidade
e se estende por um arco de circulo de 20^ magnético.
cSe retrogradarmos trinta annos, diz o hábil director de obras publi-
cas, vemos a cidade de S. Thomé composta, na maior parte, de casebres
ou choupanas e de muilo poucas habitações com as commodídades pre-
cisas e construídas segundo as indicações da arte.
«Ainda hoje (i876) se vêem pequenas casas de madeira, térreas elei-
tas com pouca solidez, a ponto de se encontrarem mais ou menos inclina-
das, sendo preciso escoral-as ou deital-as abaixo para evitar sinistros.
•Sem alicerces, enterrados apenas os esteios 0™,6 a 0",8 no solo, eram
perfiladas as habitações. Pregavam-se pelo lado exterior tábuas delgadas
e de pequena espessura, e assim ficavam completas as paredes. N'estas
deixavam-se aqui e acolá rasgamentos ou aberturas, que eram as janellas
e portas. O todo era coberto de madeira, e, mais tarde, algumas recebiam
ainda uma outra cobertura de telha, vinda então da ilha do Príncipe. No
tempo das chuvas ou ventanias os rasgamentos que serviam de janellas
eram tapados com pannos ou com tábuas.
^ Veja-se a gravura a que já nos referimos : Uma vista da cidade de S, Th(h
méj tirada de cima da torre da Sé.
cAs melhores habitações em dois andares eram feitas quasi do mesmo
modo, mas com melhores madeiras, apparelhadas apenas a maohado. Ti-
nham portas, aindaque grosseiras, nas janellas ; e quasi todas á frente pos-
suíam varandas sustentadas sobre prumos. Encontram-se sitios, em que
as paredes do andar térreo, a frente e lados, eram construídas de pedra
e barro, que ultimamente bio sido rebocadas a cal e caiadas.
cAs casas, por mais pequenas que fossem, ao lado e fundo, todas ti-
nham quintaes ou pateos cercados por tábuas ordinárias, terminando su-
periormente em ângulos mais ou menos agudos ou por pequenas arvores
unidas umas ás outras e de pouco crescimento, conhecidas pelo nome de
Quimes.
cGomeçando a exportação do café em maior escala, os proprietários
das melhores fazendas, tendo bastantes braços aproveitáveis para o officio
de carpinteiro, animaram-se a mandar vir alguns artistas que foram edu-
cando aquelles. As arvores derrubadas foram então serradas e apparelha-
das com as devidas ferramentas, e principiaram nas fazendas a construir
habitações mais regulares, armazéns, hospitaes e outros estabelecimen-
tos.
cEstes novos operários, com a pratica que iam adquirindo, e podendo
OB agricallores dispor de braços para o transporte de madeiras appare-
lhadas, começaram a construir habitações muito regulares, obrigadas a
riacos ou planos, segundo o gosto e vontade dos proprietários, e feitas
com mais segurança e solidez do que no meado d'este século.
cAs melhores casas da cidade de S. Tbomé são a da agencia do banco
ultramarino, as dos negociantes José Velloso de Carvalho, João da Gosta
Goimaries, Manuel Joaquim de Sousa, Salvador Levy^ Joaquim António
Gomes Roberto, João d'Alva e António Paiva Soares Dinis, e as dos agrí-
enltores D. Adelaide Garção Stockler, Manuel da Gloria Costa Alexandre,
Ruy Mattoso da Gamara, Luiz Joaquim da Gunha Lisboa, dr. Gabriel de
Bostamante, José António Saavedra Martins, José António Freire Sobral,
Theodosio ds Silva Varella, Thomás da Costa e Joaquim António Bahia.
cPóde dizer-se que todas estas construcções hão sido feitas nos últimos
dez annos, não sendo pequeno o numero das que se construíram desde
1873 até hoje (4876).
«A par d'estas construcções apenas possuia o governo n'esta cidade
quairo edificioês dos quaes três, casas particulares muito antigas e arrui-
nadas, sem as precisas commodidades de vida, luz e pouco salubres ;
serve uma no Espalmador de quartel aos degredados ; outra, mui pequena
e acanhada, junta ao palácio do governo, serve de cadeia civil; a terceira,
offerta de Anna Chaves, por muitos annos tem sido residência dos gover-
nadores ; a quarta Gnalmente não é outra cousa mais que um barracio di-
vidído interiormente e construído impropriamente para quartel, onde
está alojado o batalhão de caçadores n.^ 2.
«As outras repartições publicas acbam-se em casas arrendadas, distan*
tes umas das outras, sem accommodações, velhas, n3o tendo a devida se-
gurança, chovendo em algumas e estando arruinadas.
«Assim estão : o tribunal judicial, conservatória e escola para o sexo
masculino n'uma casa da viuva Freitas, ao Espalmador ; a alfandega em
uns casebres da santa casa da misericórdia, annexos á igreja da mesma,
á esquina da praça de D. Luiz I ; o hospital n'uma casa antiquíssima, na
rua da Alegria, que hoje (1876) é mais um foco de doenças que um esta-
belecimento de saúde, devido á accumulação de doentes e falta de con-
dições bygienicas que deve haver em taes estabelecimentos ; a escola do
sexo feminino, em uma pequena casa na rua do Tronco ; a policia aquar-
telada em um pequeno barracão na rua Goy, que não tem a capacidade
precisa, nem a conveniente luz e ventilação ; a administração do concelho
com a camará municipal em uma casa abarracada, que não tem os aloja-
mentos indispensáveis para uma só d'estas repartições ; emBm, a repar-
tição das obras publicas acha-se hoje na mesma casa em que estão a se-
cretaria do governo, a curadoria, a contadoria da fazenda e a sala das
sessões do conselho do governo da província, etc, tendo por baixo ar-
mazéns de peixe salgado e de outros géneros, d'onde exhalam emana-
ções pútridas, que passando através das fendas dos sobrados, enauseiam
e incommodam os empregados, principalmente no tempo quente, o que
os obriga muitas vezes a sair das repartições para respirarem melhor.
«Todas* estas propriedades não passam de casebres muito arruinados
sem condições próprias para um clima quente como este, e não mei^ecem
confiança pela pouca resistência que offerecem, podendo ser arrombadas
ou assaltadas a qualquer hora da noite, em que mal intencionados podem
desviar quaesquer documentos ou papeis importantes.
«Pelo que respeita a templos, exceptuando o da Sé, que não astá con-
cluído, a capella de S. Sebastião, que foi o anno passado (1875) mandada
reparar pelo governo, e o de Nossa Senhora da Conceição, que está sendo
reparado por esmolas, as mais igrejas estão mais ou menos arruinadas e
algumas em completo abandono !
«As construcções de todas são bastante rústicas, simples e sem elegân-
cia alguma. As paredes, feitas de pedra e barro, foram calafetadas e caia-
dos interiormente, e só no frontispício exteriormente. O madeiramento,
coberto de telha vã, forma os seus tectos, e o terreno, apenas batido, o
seu pizo.
«Os altares feitos de madeira, muito toscos, conservam*se ainda com
figuras pintadas mais ou menos grutescas. »
397
ippa enlallatlco do» prédio» urbanos d*
referido aos livros da eonserratorla
lliia de m. TliaBié
Designações
Casa de madeira coberta
de telha, com i.^ andar,
lojas, armasens, paioes,
etc.
Uma propriedade de casas
de habitação, lojas, ar-
mauns e quintal.
Uma propriedade de casas
de habitação, lojas, ar
eqointal.
Casa de madeira coberta de
telha, eom i.* andar e lo-
Casa nobre com terrenos e
qnintaes.
Fregue-
zias
Conceição
Frente. ~ Roa do General Ga-
Iheiros.
Fundo ~Praia.
Conceição
E. frente -Largo do Governa-
dor Mello.
S.— Rna do Peloorinho.
Graça
O. frente -Rua do Tronco.
Conceição
N. frente -Rua do Pelourinho.
E.-Rqa das Flores.
Conceição
Uma morada de casas al-
tas, com seus baixo*, fei-
ta de madeira e coberta
de telha, com quintal e
.cozinha feita de madeira
no mesmo quintal.
Uma morada de casas altas
com duas meias paredes
de alvenaria, sobrado, e
é coberta de telha.
Casa com meia parede de
pedra e cal, o resto de ma
deira, coberta de telha.
Conceição
Conceição
Conceição
Metade de nma casa de ma-
deira, coberta de telha,
com 1." andar e quintal.
Casa de madeira, coberta
de telha, com loja, andar
superior e armazéns.
Casa de madeira coberta
de telha.
Um prédio de casas.
Posição
Valor
estima-
tivo
Frente -Rua da Alegria ou
Conceição.
N.— Rua da Praia Açouj^ue.
O.— Travessa da Alegria para
a Praia Açougue.
N. frente -Rua da Praia Açou<
gue.
0. frente -Rua Goy.
O. ftando-Caminho para a ro-
ça do estado Areai.
8:4OOi9O0O
7:000i»000
4:383^340
3:500^^000
Possuidores
José Vellosp de Carva-
lho.
Nicolau José da Costa.
D. AnnaLniza da Rocha
Freitas.
J(Ao da Coeta Guima-
rães.
3:000^^000
3:OO0í;M)0O
3:000^^000
N. frente -Largo do governa'
dor Mello.
O.-Rua das Flores.
Conceição
Conceição
Conceição
Graça
S. firente-Rua da Praia Açou<
gue.
N. fimdo- Praia.
Frente-RuadoGoy.
S.-Rua do Contador.
2:600^^000
Pedro Zeferino BirboM
Paiva.
Manuel Martins Xavier
de Paiva.
António Soarei Neto de
Lima.
Joaquim RodrjgiM.
S:500i9000 Maoricio José Soares. (•)
2:300^^000
João António da Silva
Valia. (.)
E. frente - Rua da Feira Velha-
N.— Rua do Contador.
Casa de madeira coberta de
telha, e meias paredes de
pedra e cal.
Casa de madeira coberta
de telha.
Graça
Conceição
S. frente -Rua da Misericór-
dia.
N. ftando- Praia.
Frente -Rua da Misericórdia.
Fundo -Rua de Domingos An-
tónio.
E.-Rua das Flores.
%:W0fiO00
SKX)Oi9000
S:000#000
João dAlva.
João Caetano da Concei-
ção MoDii.(*)
Francisco José de Fhm-
ça e Almeida. (»)
SKWOi^OOO Joaquim Vieirt Rabel-
lo. (.)
398
Designações
Fngoe-
sias
Posiçio
Valor
estinu-
tiTO
PowBidoras
Uma morada de casas oom
sobrado, meias paredes
de pedra e cal, coberta de
telha, dois qointaes, co-
xinha, casa de creado e
asinèaria.
Graça
S. frente - Rua do General Ca-
Iheiros.
N. frente -Rua da Praia.
E.-Rio.
S:OOO^POO0
Uma sodedide emo re-
prweeUMUe é Fraa-
ciscodeAsiiafieUard.
Uma propriedade de casas
coberta de telha, com
meias paredes de pedra e
cal.
Conceiçio
Frente -Roa da Alegria.
S.— Travessa para a ma da
Praia Açougue.
1:500^^000
Pedro Zeferino BaitMMa
Paiva.
Uma propriedade de ma-
deira coberta de telha,
com 1.* aodar, lojas, ar-
rafiifflB e qiiiotal; Iam
meias paredes áfi pedra e
cal.
Graça
Frente -Roa do General Ga-
Iheiros.
E.- Travessa do General Ca-
Iheiros.
l:500i9000
D.MaríadoNaidanto
da GosU Ventura. («)
Q^apQmmMDaredesde
pedra e cal, coberta de
Conceiçio
S. frente- Roa da Praia Açou-
gue.
N. fondo- Praia.
E. Um beco.
1:500^^000
TheodorodaSihraBM-
tosVardta.
Casa coberta de tflha, de
um só pavimento.
Graça
S. frente—Rua da Praia Ama-
dor.
N.eO. -Praia.
l:500/f000
Casal do faUeei4a to-
qmm Manoel de Al-
meida.
Casa de madeira coberta
ái telha, cofl| i.*^ acidar •
Conceiçio
E. frente- Rua das Flores.
1:500^^000
Joio da Costa Goima-
ries.
Metade de am prédio de ca-
sas oom meias paredes de
alvenaria (o andar de ci-
ma tam paredes de ma-
deira]^ coberto de telha.
Graça
N. frente -Rua do General Ca-
Iheiros.
0. -Travessa do mesmo nome.
1:500^9000
D. Protaiia Vas da 4>-
sumpçlo.
Uma casa.
Conceiçio
E. frente- Rua Soares.
S.-Rua das Rosas.
1:050#000
Luis Joaonim da Gnka
Lisboa.
Metade de ona casa de pe-
dra e caL
Graça
Frente- Rua dos Espalmados.
i:000#OQO
Catharina Joio ^imeií-
tel.
Metade de nma casa do pe-
dra e cal coberta de toUia.
Graça
Frente -Rua do Tronco.
0. - Travessa para o campo.
1:000^^000
Tbereiade Jesus Piaeií-
tel.
Casa de madeira coberta de
telha.
Graça
N. frente -Rua das Rosas.
S. frente -Rio Agua Grande.
0. -Rio Agua Grande.
1:000^31000
José António de Olifei*
ra. (.)
Casa de madeira coberta
de telha, com meias pare-
des de pedra e cal até ao
i.* andar.
Conceiçio
E. frente - Rua Goy.
S.— Travessa da rua de Goy
para a rua das Fioies.
l;000^9000
Padre Pedro Soares dos
Ramos.
Casa coberta de telha.
1
Conoeiç-io
Frente- Rua das Flores.
9OOi9O0O
Eduardo AatoBio dai
Reis.
Uma morada de casas de
madeira coberta de telha,
eom i.* andar, lojas, ar-
maaem e qointal.
Conceiçio
E. - Rua do General Calheiros.
0. frente -Rua do Morgado.
900^^000
Joaquim António GooMs
Roberto.
Casa de madeira coberta
I de Mha, janellae de ^
JH dnça, 1.^ andar e lojas.
SanfAnna
N. frente -Roa publica.
900f000
PMcboal Bairelo df
Sousa e Aléeidi.
Fngue-
PotiriD
Vator
eitÍDia-
PouDidorei
Cau de madeira cobEtU
Cancíi[3o
0. fivuk-HnadasFJons.
80U#000
rpacw doi Sanloí.
Cata da haltiUctd.
CoecE,ilo
.V.tr™u-BecodaiiiadaPr»U
do Tjbaco.
O.-UuadaiFlorus.
smoeo
"Ks.r '""■
Caia dt maileifa (ubcrla
J.lella,lojaiíiwis.iaa.
dar.
C(iDceiçao
S.traiU-UríadoGaimi-
BIWÍOOO
Manuel Siiua).(.)
Uma morada de cauí ai
u..
CooMiçío
S. (nolu-RBaJai&aui.
K.-ltt«> da rua da Praia do
Tabaco.
SI10«OOU
D. AunaJoaquiBaltir-
liní.
Ctu d<^ ma.teira (obarU
<leUj]|u,uuiaiuDaíuin
III.
Grac»
Fmnle-BaalioirBi.
Fuado-Rio.
Lado dir«ila-TraieiM da na
Soarei.
TSU^WO
Fraaeisro da F«u«i
Acagla.
Uma propriulada d« (asa)
Cooc4^iç40
-
eisjoOD
Heoriqno da Cunha ila-
loiejuimuUiei.
Cua da madeira.
Trladadp
Fronla-flua de Santo Aolo-
Foudõ-Jt^aaLunoi.
"tS'»£„'.S-*
'Í-X"*"""'"'"
Craca
E.f«nle-Riia do Tronco.
Ú.- Praia.
eoofooD
Rodrijo Joié Diai de
Ciu itc madura coburla
da l>'Lb:>.
CoBDtitiO
O.rrenla-Rna das Flora..
E. luudo-Kua da Praia do
Tabaco.
nÉa.{.)
llíladadennucuaJcma
GoQcgtCla
[■rrale-Bui da Praia Afos-
Fnmló- Praia.
COOJOOU
MarroliiMdaCoitaHo.
Cua lia raadílra Cuberto
i^Ulha.
Tnndade
FrDDlf - Villa dl Trindade.
fuDdat.-A«uaUmoi.
«mm
"rsícs?"
^^ru.lha.'"''"" """"^
SaulAimi
S.-EiUadapwiicid.ide.
il. fteale-Larjio da V dia de
li ao LO Anun>.
IgDora-w.
ClH il> nujelra colxirla
dalaJb.1.
Conceitln
E.IrcDlc-Raa da, florai.
N.-Biwi úá ma dii FlortJ
pitaanialioT.
MUflOOU
João iDDorericio da Ha-
Cufe i> nadein ulxna
Trindadí
J—Frenlíparaoladodan.-
Iradi da Trmdada. Etla n-
sou,;4x»
Andreia Vai da Conui-
(10.
CoDCuitlO
Frenta-Rna da Praia *(00-
4M,ía)U
da Oli>«ira Jnmor
CaiacoUrladenuJoiraí
HHi ijDinlal.
Trindade
Freota-RuadeSaoMAslonio.
Fundo -Agua Pcigocna.
ÍSOÍOOO
LuB da Narnelb
Caia de madeira (obtrla
da Olha.
Trindade
Ú.-E<Irada de Otna caiado.
mim
FrantlMdaSUv».
Caia (te madeira colierLi
de l<.'llia.
Trindade
Fmle-Rna diraiU da Tilla
da Trindade.
mim
"ísaís-hI
400
Deúgnaçõei
Casa de madeira coberta
dê telha.
Fregne-
lias
Graça
Caia de madeira coberta! Trindade
de telha.
Casa de madeira coberta
de telha.
Um tereo de mn prédio de
catas de madeira coberto
detalha.
Caia de madeira coberta
de telha.
Casa de madeira coberta
de telha.
Metade de oma casa com
meias paredes de pedra e
eal, eoDerta de telha.
Casa de madeira coberta
detalha.
Casa de madeira coberta
de telha.
Casa de madeira coberta Conceiçio
detalha.
Casa feita e coberta de ma-
deira.
Casa de madeira.
Casa coberta de telha e
qointal.
Uma morada de casas de
madeira, coberta de telha
e quintal.
Casa de madeira.
Casas feitas e cobertas de
madeira.
Casa de madeira coberta
de telha.
Caia de madeira coberta
de telha e <|iiintal.
Conceiçio
Trindade
SanfAnna
Trindade
PosiçSo
Lado de cima -Roa Gaida.
0. frente -Rua Grande.
Frente -Rua direita da Trin-
dade.
Fnndo-Agna Pequena.
Frente-Rna direiU da Villa
de SanVAnna.
Frente -Cnueiro da lirindade.
S.- Estrada do Obd Longo.
O.*— Estrada do mesmo era-
seiro.
Graça
Conceiçio
Goncei^
Trindade
Conceiçio
Conceiçio
Conceiçio
Conceiçio
Trindade
Graça
Conceiçio
Valor
estima-
tÍTO
400^9000
400^^000
Possuidores
Maria da Graça Ramos
de Andrade.
António Lais da Maa-
reth.
«OOi^OOOlJosé Velloso de Carva-
lho.
E. frente- Rua do Tronco.
O. ftmdo- Praia.
O. f^te - Rua da Feira Velha
N.-Rna do Morgado.
Frente -Rua das Rosas.
Frente -Estrada para a Trin-
dade.
Fundo -Agua Ud.
Frente - Rua do Rosário.
S.-Beco da ma do Rosário
para o largo da Conceiçio.
N. frente -Rua Publica.
S.— Rio Agua Grande.
L. frente -Rua Soares.
N.- Travessa da Praia do Ta-
baco.
N. frente -Largo do Goveraa-
der Mello.
Frente -Estrada da Trindade.
Lado de cima - Estrada d' Agua
Creoula.
Frente -Rua de S. Miguel.
Frente -Rua do Pelourinho.
400^^000 D. Maria do Espirito
Santo Lendolph.
400^^000
400^^000
400^^000
400^^000
400i9000
300#000
aoOi^ooo
300#000
300^^000
sso^^ooo
SiS^^OOO
nsfioob
José Velloso de Carva-
lho.
losé Velloto de Carva-
lho.
IxabelVai PimenteL
Cypriano dos Santos e
soa mulher.
António Aiancot.
Joaquim Isidoro Pires.
Joio Sesinando de
Abreu.
aOOi^OOO José Joaqoim Jeronymo.
António Simas.
Uma sociedade cujo re-
preaentante éFraMii-
CO de Assis Bellard.
António Simas.
António de Paiva Soares
Dinis.
Athanasio Lopes Ban-
deira Gago.
tt5#O0OMannel Francisco da
I Silva.
401
DesifDaçSes
Frqgoe-
nas
Posição
Valor
estima-
tivo
Possuidores
Una propriedade de ma-
deira, coberta de telha,
com i.^ andar, lojat, ar-
maieiM, tendo meias pa-
redes de pedra e ca).
Graça
Krente— Rua do Troneo.
Fando e um lado— Travessa de
S. Miguel.
200^9000
DJI Maria do Espirito
Santo Lendolph.
Armaiem de madeira co-
berto de telha.
Cooceiçio
N. frente -Travessa da roa das
Flores.
S. ftando-Pateo de Manuel
Martins.
900^000
António Simas.
Metade de uma casa de ma-
deira coberta de telha.
CoDceiçio
S. frente -Rua da Praia Açou-
gue.
N. ftaodo- Praia.
900^^000
José Maria da CosU No-
gueira.
Casa de madeira coberta
de telha, de qnatro portas
Cooceiçio
N. frente- Praça da Quitanda,
hoje largo do Governador
Mello.
SOO^OOO
Manuel da Cunha Si-
mas.
Casa de madeira coberta
de telha.
S. Amaro
Frente -Caminho da roça San-
tarém.
1
180^000
António Maria Teixeira.
Casa de madeira coberta
detalha.
Conceição
£. frente- Rua do Rosário.
0. fundo -Agua Grande.
ISOi^OOO
José António de Olivei-
ra.
Casa de madeira coberta
de telha.
Trindade
N.-Rio Agua Angola.
S.- Estrada publica para a
Trindade.
150^000
Loii Barbosa dos San-
tos.
Casa de madeira eoberta
deteliia.
Conceição
0. frente - Estrada de Boa
Morte.
100^^000
José António de Olivei-
ra.
Casa de madeira.
Coneeiçio
0. frente -Rua Goy.
97^^000
Silvestre Soares dot
Santos.
Casa feita e eoberta de ma-
deira.
S. Amaro
Frente -Estrada para a roça
Santarém.
80^^000
António Maria Teixeirt.
Casa de madeira coberta
de telha.
S. Amaro
Frente -Estrada para a roça
Santarém.
50^^000
António Maria Teixeira.
Casa coberta de madeira. .
Conceição
S. frente -Rua do Pelourinho.
90^^000
José da Gosta Gravide.
Casa de madeira coberla
de telha.
Trindade
0. frente- Estrada de Folha
Fede.
S. -Estrada para Canga.
50#000
José Vieira Rebello.
Casa Mta e eoberta de ma-
deira.
S. Amaro
Frente-Estrada da fasenda
Rio do Oiro.
Um lado-Estrada para a Cmi
Grande.
40^9000
António Maria Teixeira.
Casa de madeira coberta
de telha.
Conceição
L. frente- Rua das Flores.
10#000
Joaquim Rodrigues.
N. B. Esta estaiislica serve para termo de comparação quando ymr ventura se deseje avaliar o pro-
gresso material da ilha de S. Thomé. Comprehende o período de sete aanos, e nio se lucreiíeii prédio
algum ooostmido depois do aono de 1872. Os valores referem-ie ao tempo do registo.
0 signal (•) indica que os mdividoos que fiíeram o registo das propriedades na oonsenratoría já
falleceram.
.^_ . ■ -1
402
ForUleza de S. SebasUio c seus calabouços. — Fica esta fortaleza no ex-
tremo da ponta NE. da baliia Anna Chaves. Não obstante ser construída
ha muitos annos tem comtudo uma apparencia agradável. Quasi todos
os governadores Ibe téem mandado fôzer obras, e é boje um edifido
regular.
Em desempenho das ordens recebidas do chefe do serviço de saúde,
os dois vogaes da junta de saúde publica deram em 1872 o seguiute pa-
recer acerca do estado dos calabouços que existem dentro das muralhas
da fortaleza.
€lU.°® e ex."^ sr.— Para dar cumprimento ás ordens de v. ex.*, ex-
pedidas em 24 de abril do corrente anno, passámos a examinar os cala-
bouços da fortaleza de S. Sebastião, a fim dQ podermos fazer a descripçao
topographica doestas prisões, com a maior exactidão possível. A fortaleza
de S. Sebastião fica em boa posição relativamente a qualquer ponto da
cidade, porque emquanto esta recebe os ventos de SE. que varrem os
pântanos existentes entre a fortaleza e a igreja de S. Miguel, aquella está
livre d'elles, as vagas vem quebrar-se nas muralhas d'aquelle agradável
ediUcío, e as brizas ali são sempre puras e frescas.
cÉ finalmente a fortaleza de S. Sebastião o edificio publico mais am-
plo que esta província possue actualmente, e é também o único que está
regularmente acabado. É um bom retiro para convalescentes, e se bem
que não seja este o logar proi)rio para se demonstrar a necessidade de
baver ali as commodidades precisas para alguns doentes se estabelece-
rem, ou a de se construir n aquelle sitio uma casa do estado, para este
Justo e humano fim, comtudo não podemos deixar de recordar a salubri-
dade d'aquelle edificio, entre tantos doentios e insalubres que existem na
cidade. A porta que dá entrada na fortaleza de S. Sebastião é pequena e
a ella segue uma espécie de galeria que passa por debaixo da bateria que
olha para o S. da ilha. N'esta galeria ha quatro degraus, um patamar e
uma espécie de quarto, do qual se passa por outra porta interior para
um largo central. A ventilação por esta communicação é nulla, mas tam-
bém não é ella precisa doeste lado, nem para os calabouços, que para as
salas ou para as baterias é regular. Para ellas abrem-se oito portas e par-
tem d'ali duas boas escadas de pedra que fazem as communicações supe-
riores.
«O ar penetra completamente n'este largo, onde se renova facilmente.
Fronteira á porta da entrada fica a porta de uma linda capellínha, e das sete
restantes portas que se abrem para este largo apenas nos foram indica-
das duas por onde se entrava para os calabouços que tínhamos a exami-
nar.
«O calabouço á esquerda de quem entra, e mais próximo á capelliaba,
403
lem 10 metros de comprimento, 4™,50 de largo e 3'",30 de alto, segundo
a medição feita por um carpinteiro das obras publicas. A sua capaci-
dade é portanto de 148 metros cúbicos. Â ventilação falta n'este calabou-
ço» assim como a luz é pouca, e a limpeza material não é muita.
cO ar renova-se com extrema difficuldade, sendo por isso necessário
evitar todas as causas que o possam conspurcar.
«Apesar d'estes defeitos, julgámos bastante 1 2 metros cúbicos de ar pa-
ra cada preso, demorando-se elies ali só de noite. O numero de indivíduos
é portanto, mais ou menos elevado, segundo se poder pôr em pratica a
desaccumulação e outros meios bygienicos, de que se tiram boas vanta-
gens ; o numero menor de presos que pôde estar n*este calabouço é por-
tanto quatorze. O calabouço que fica do mesmo lado d'este tem 114
metros cúbicos de capacidade, e pôde conter dez presos, sendo este nu-
mero o limite inferior.
cOs cálculos que fizemos em presença das condições materiaes dos
calabouços baseiam-se apenas na concessão de 12 metros cúbicos de ar
para cada preso, mas a humanidade, a boa rasão e a hygiene exigem que
em caso nenhum se façam reunir presos com menos de 6 metros cúbicos
para respirarem. E se em algum caso for tolerado este numero, è incon-
testável que em outros deve ser inteiramente reprovado, como acontece
nas prisões da cadeia pubUca.
«Terminámos as nossas considerações a respeito dos calabouços da
fortaleza de S. Sebastião, formulando, para complemento, as seguintes
considerações :
« 1 .* Na prisão que offerece 1 48 metros cúbicos de capacidade, actual-
mente, podem estar reunidas doze pessoas ;
«2.* Sendo o ar na fortaleza mais fresco e mais puro que o da cidade,
e dando-se a este calabouço todas as condições possíveis de limpeza,
pôde elevar-se o numero de presos a vinte e oito, o máximo ;
«3.* No calabouço de H4 melros cúbicos de capacidade devem estar
relidas dez pessoas, e, attentas as rasões acima exaradas, pôde elevar-se
este numero a vinte pessoas, o máximo;
«4.^ Os calabouços da fortaleza são mais salubres que as prisões da
cadeia publica, sendo certo que n^aqiiellas falta lambem a ventilarão re-
gular, a boa luz e a limpeza;
«5.^ A desaccumulação durante o dia, empregando os presos em dif-
forentes obras de utilidade publica, é um meio hygienico, moral e civilisa-
dor que se deve pôr constantemente em pratica.
«Cidade de S. Thomé, aos 10 dias de maio de 1872.-111."° e ex."*®
sr. dr. José Correia Nunes, chefe de serviço de saúde. Dos facultativos,
Manuel Ferreira Ribeiro = Aleixo Sbriano Fernandes, t^
EsUçâo militar uo rcdacio de 8. José. — O reductx» cie S. José tica na
ponla N. da babia da cidade, e foi posto a descoberto, e em círcom-
stancias de se ver, pelo intelligeDle governador Pedro Carlos de Aguiar
Craveiro Lopes. Aqueila ponta prolonga-se por cerca de 2:500 metros
desde a igreja de S. João, e dos últimos 1:000 metros o terreno é ele-
vado, descobrindo-se para o N. e O. uma larga planície. Não ha erro sen-
sível em lhe attribuir 20 a 25 metros de altitude, estando o redocio na
face da ponta que olha para a fortaleza de S. Sebastião, próximo ao mar.
Fica-lhe do lado de cima uma casinha branca e de alegre vista.
Existe ali um destacamento de alguns soldados e um cabo.
O aspecto da ilha observada d'aquella logar é agradável.
O passeio ou caminho que ali conduz é amplo, mas está quasí aban-
donado. É talvez esta a rasão por que aquelle logar não é frequentado,
sendo aliás as brizas frescas e puras.
Ha grande vantagem em se fazer uma estrada lai^a, bem disposta e
arborisada, desde a igreja de S. João até ao reducto de S. José.
Quartéis e deposito dos iddidos. — A casa onde se recolhem os addidos
está situada na margem esquerda, espécie de rio, que as aguas do mar
alimentam entrando e saindo por debaixo da ponte do Espalmador, e for-
mando a grande lagoa a E. da cidade. É acanhada e não comporta o
numero de addidos que n'ella seriam obrigados a viver, se não fossem
as licenças concedidas áquelles que dão fiador idóneo e desejam empre-
gar-se no commercío ou nos trabalhos agrícolas. Está em má posição e é
de péssima construcção. É preciso realmente cuidar d'ella constantemen-
te, para não se tornar inhabitavel.
A rua que lhe passa em frente foi nivelada ; na margem esquerda da
lagoa, para o lado do edifício e para a retaguarda, foi construído um re-
tiro ajardinado, onde se vé a maracujá, a pimpinella, dando fresca som-
bra, e se produz hortaliça, boa melancia, pimentas, hervas aromáticas, etc.
O deposito dos addidos não deve pois continuar n'aquella casa. É
preciso cuidar-se quanto antes da constiucção da colónia penal, segundo
as regras da moderna colonisação, recui*sos da ilha e leis da boa hygie-
ne colonial. É o que nos cumpre pedir em favor da classe que mais sof-
fre.
Barracio-quartei e praças adjacentes. — A respeito do quartel dos sol-
dados escrevemos em 1869 o seguinte:
cO quartel da cidade de S. Thomé, onde se recolhem os soldados e
addidos, é mau e mal collocado. É um barracão construído sem se atten-
der ás mais ordinárias regras de hygiene militar» ficando-lhe o mar ao
405
poento, e a poucos metros de dislaiicJa, muito próximo â'elle, ao S., um
largo e extenso panUino que começou a ser aterrado em 4868!
•Consta este barracão de um só pavimento, flcando o soalho a poucos
palmos do chão. Tem dormitórios largos e espaçosos, sem tarimbas, o
soalho completamente despido, sobre o qual dormem em esteiras os sol-
dados addidos. Similhante quartel é impróprio de uma capital, repugna á
humanidade e á hygiene militar, que o condemna totalmente.»
Em 4872 fez-se a separação dos soldados e dos addidos, melhora-
mento altamente moral e civilisador, e preparou-se um retiro ajardinado,
de 5:084 metros, onde se ostenta uma agradável vegetação, e que flca
entre o barracão e as negras aguas enxarcadas do pântano de S. Sebas-
tião. Os dois largos que ha entre a fortaleza de S. Sebastião e o deno-
minado quartel, e entre estes e as primeiras casas, onde se levanta a linda
casinha do activo officiaj, António Victor Ferreira de Carvalho, estão
nivelados, mas completamente desarborisados, o que é realmente para
lamentar.
A importância e urgência das obras por aquelle lado da cidade, reco-
nhece-se á vista do que acabamos de expor. Aos poderes públicos e á
camará municipal pertence dar-lhes execução prompta e rápida, como re-
quer a salubridade publica, a saúde dos habitantes e a extrema prodnc-
ção e abundância da ilha.
Cadeia civil. — A respeito d'este edifício copiámos o seguinte trecho
do relatório de 4869:
«A cadeia civil tem sido frequentes vezes condemnada officialmente e
ainda se acha no mesmo estado. O pavimento térreo onde ha algumas
prisões, é péssimo ; contém espeluncas que mal alojariam três indivíduos
e onde frequentemente se encontram dezeseis ou vinte.»
Pediram-se providencias, até que a final se conseguiu que no andar
superior houvesse casas de detenção, e algumas salas hmpas e arejadas.
A camará municipal fazia ali as suas sessões, mas o digno juiz Antó-
nio Ferreira de Lacerda não consentiu que continuassem funccionando
n'aquelle pavimento, o qual pertence hoje á cadeia.
Em 487ã, o andar superior servia para escola principal, e os calabou-
ços estão como em 4862, e como em 48691 É dolorosa a impressão que
causa a cadeia civil, mas são notáveis os officios e documentos que se
téem trocado entre os médicos e os governadores, entre estes e a camará
municipal.
Não queremos perder o propósito em que estamos de não safr fora
dos limites que traçámos para as nossas informações, se não teríamos a
fazer larguíssimas considerações a respeito d'este assumpto.
406
 cadeia é úm dos edifícios públicos civis que pódc atlestar o estado
da civilisaçío e do progresso de uma cidade, mas n'esta ilha nao se tem
cuidado d'ella. O seguinte documento tem muitos annos de existência e
merece ser aqui transcripto *.
tN.^ 8i3. — III.*"^ sr. presidente e mais vereadores da camará mu-
nicipal.— N3o é sem bastante pezar que hoje dirijo á ill.™* camará algu-
mas expressões que talvez a possam resentir, mas se eu ficasse silencioso
depois de que sou relator, faltaria aos deveres que a minha posição me
incumbe e aos deveres da humanidade, de que nunca me afastarei. Hon-
tem de tarde fui visitar a cadeia publica, e com a franqueza que me 6
própria, direi que fiquei surprehendido e horrorisado de ver quatro mui
pequenas prisões sem ventilação, com as paredes tão denegridas, que
se nSo differençavam os escravos que occupavam uma d*ellas, e onde se
respira um ar infecto, de que podem resultar graves inconvenientes.
«A condição de preso é sempre má, supposto que seja uma necessidade.
As auctoridades na capital do reino se esmeram a melhorar a sorte d*aquel-
les cujas acções os fizeram entregar á justiça, será para nós vergonha,
que pelo facto de existirmos na Africa, abandonemos ao horror da im-
mundicie e insalubridade, os que já soffrem o pesado jugo da falta de li-
berdade. Confiando, pois, em que a ill."* camará porá todos os meios ao
seu alcance, para a reforma completa da cadeia, cumpre-me asseverar-
Ibe que porei á disposição da mesma camará todo o auxilio de que care-
cer e esteja ao alcance do governo, logo que seja pedido e justificada a
sua necessidade. Deus guarde a v. s.*— Secretaria geral do governo de
S. Thomé, 27 de dezembro de 1860.-111."° sr. presidente e mais verea-
dores da camará municipal. = Joâo Manuel de Mello, governador inte-
rino, p
Compare-se o que se acaba de ler, referido a ^ 860, com o que escre-
vem os membros da junta de saúde em 1872, pelos facultativos abaixo
assignados.
€lll."®eex.°*® sr. — Para dar cumprimento ás ordens de v. ex.*, rece-
bidas em 24 de abril do corrente anno, dirigimo-nos á cadeia civil d'esta
cidade, a fim de observar com exactidão o seu estado actual, e poder fdn-
damentar o nosso parecer a respeito d'este edificio publico.
€ A cadeia civil tem sido condemnada por todos os facultativos que têem
sido" encarregados de darem informações acerca do seu estado; aquelle
edificio publico foi com toda a verdade reputado escola permanente de
vicios e corrupção, pelo digno juiz António Ferreira de Lacerda. A sua
1 Apesar do que se lé no documento exarado no texto, a cadeia publica de
S. Thomé tem-se conservado no mesmo edificio.
407
po3iç3o e exposição é péssima, e as prisões parciaes muito más. O edi-
fício é bastante alto, mas as prisões são térreas, e sem a menor distino
C9o para receberem os criminosos, segundo a gravidade e natureza dos
crimes, provados ou não provados. Reunem-se bons e maus no mesmo
cubículo sem ar, sem luz e sem limpeza I
cSSo estes os primeiros defeitos que notámos e que reputámos muito
graves.
< O prédio está edificado em logar baixo e mettido a um canto do largo
do palácio. Ao N. corre-lhe a rua da Misericórdia, ou antes um pequeno
largo, pelo qual esta rua communica com o largo do palácio; ao S. tem
um quintal, ao poente fica-lhe o dito largo do palácio, e ao nascente uma
velha casa de madeira, apenas separada da cadeia por um pequeníssimo
espaço. As prisões são formadas nos quartos térreos d'esta casa, e por
tanto estão sempre abrigadas de todos os ventos, o que é realmente gra-
víssimo defeito, e muito concorre também para a sua insalubridade abso-
luta.
«Para se entrar na cadeia sobe-se por um socalco de pedras negras,
cavadas e desunidas pelo bater da chuva. Este montão de pedras esten-
de-se á direita e á esquerda da porta principal da cadeia.
tPercebe-se bem pelo abandono exterior d'este edifício o seu com-
pleto desarranjo interno I
«A porta principal abre-se immediatamente para um acanhadíssimo
quarto, ou o quer que seja, o qual para se tornar ainda mais pequeno está
dividido a um terço da sua capacidade por algumas tábuas, por detrás
das quaes fica um cubículo, onde na occasião da nossa visita se estava
cozinhando ! Para este único semi-quarto central da cadeia, abrem-se as
portas das quatro prisões térreas, ficando duas á direita e duas á es-
querda de quem ali entra. A primeira prisão á direita tem 5'',83 de com-
primento, 4°^,29 de largura e 5"*,39 de altura, segundo a medição feita
por um dos carpinteiros das obras publicas. A capacidade d'esta prisão
épolsdel34'°8,8B7.
«Em todos os tempos e em todos os systemas penitenciários tem sido
objecto de discussão a quantidade de ar que deve ser concedido a cada
preso. Não querendo seguir a opinião d'aquelles que exigem 30 metros
cúbicos, nem a dos que se contentam com 10 metros, appellámos por um
numero que seja accommodado á natureza d'este clima, e aconselhámos
10 metros cúbicos, para as actuaes prisões, como um dos meios neces-
sários á conservação da saúde dos encarcerados.
«Com 08 dados acima exarados pôde demonstrar-se que na prisão a
que nos referimos deveriam estar oito homens, e comtudo outras Impor-
tantes considerações ha que obrigam a reduzir muito aquelle numero.
406
O quarto de que tratámos tem Ires jaiiellas, mas por tal modo dispostas
que difficilmeute se pôde renovar o ar na prisão por meio d'ellas! Â com-
municaçio d'este quarto com o que lhe fica próximo, a Talta de cozinha,
de quarto para o carcereiro, etc, são defeitos graves e permaneotes,
que tornam sempre péssima similbaote cadeia. Aos defeitos de constroc-
ç9o permanente, reunem-se accidentaes que são prejudidalissimos. A
falta de limpeza nas prisões, que não estão caiadas nem são varridas, as
péssimas luzes que se adoptam durante a noite, a pouca limpeza dos pa-
vimentos, a falta de leitos ou de tarimbas, accommodadas a cada prisão,
etc, são outras tantas causas de insalubridade, n'estes cubículos ordiná-
rios e pestilentos.
«As considerações que acabámos de fazer são sufficientes para provar
á saciedade a seguinte cqnclusão que estabelecemos.
«O primeiro quarto, á direita de quem entra na cadeia publica d'esta
cidade, só pôde conter actualmente quatro presos. A prisão parallela e
contigua á antecedente tem as mesmas dimensões, e portanto a mesma
capacidade, está muito mais suja que a outra, e tem o mesmo systema
de janellas. É impossível renovar-se ali completamente o ar! E como se
yeriflcam n'ella todos os defeitos da primeira, e muitos outros íaceis de
reconhecer á primeira vista, é claro que chegámos á mesma conclusão
acima estabelecida.
«Na occasião da visita estavam n'este quarto onze pessoas, e segundo
a informação do carcereiro, quasi sempre ali téem estado vinte a vinte e
cinco pessoas presas !
«As prisões que ficam á esquerda de quem entra na cadeia, têem a me-
nos 10 metros cúbicos de ar cada uma, e ambas téem igual capacidade.
«Avaliada esta em 124"',60, não se devem ter presas mais de sete
pessoas em cada uma das prisões, concedendo 16 metros cúbicos de ar
a cada um preso, que não é muito n'uma cidade tão mal collocada como
esta, e de mais a mais completamente rodeada de pântanos! As re-
gras mais communs de bygiene condemnam absoluta e relativamente
estas prisões, e portanto a construcção de um edificio para a cadeia pu-
blica em logar alto, secco, desafogado e bem batido aos ventos, está alta-
mente indicada ; é realmente necessária uma cadeia que corresponda ao
fim para que é destinada, poisque na cadeia actual não ha uma só con-
dição material, moral ou hygienica, essencial a edificios d'esta ordem.
«Não é este parecer adequado para conter a nossa opinião, sobre se são
mais úteis as prisões coUectivas ou individuaes, mas seja-nos somente
permittido o dizer, que as prisões para os criminosos europeus devem
estar em condições mui diversas d'aquellas em que se encarcerarem os
africanos, devendo estas, pelo menos, ser no pavimento inferior, e aqoel-
409
las DO superior ; os quartos para detenção devem ser separados uns dos
outros.
cA falta doestes requisitos na actual cadeia publica prova com eviden-
cia que é ella um foco de vicios e de corrupção. Limitámos as nossas
considerações ao exame do estado actual da cadeia civil, aonde fomos no
dia 7 de maio do corrente anno, por nos ter sido impossível ir com mais
brevidade, depois de recebermos as ordens de v. ex.^
«Sem nos alargarmos em mais considerações, apresentámos finalmente
as seguintes conclusões, como resumo e resultado do nosso trat^alho :
«1.^ Nos quartos que formam a actual cadeia publica, em boas condi-
ções de limpeza,* podem estar o máximo trinta pessoas ;
«2/ Os quartos actualmente estáo immundos, parecendo n3o terem
sido caiados ha multo tempo, são térreos, mal ventilados e mettidos todos
n'um pequeno espaço, etc, e por isso é necessário presentemente redu-
zir o numero de trinta, antecedentemente estabelecido, a metade, ou
a dezeseis presos ;
<3.^ A constnicçao de uma cadeia em condições materiaes, moraes e
hygienicas, accommodada ao clima e ao fim a que se destina, é urgentís-
sima e de absoluta necessidade ;
«4.^ É necessário que se obrigue o carcereiro a não cozinhar no im-
mundo cubículo que fica em frente da porta principal, que se mande caiar
cada quarto pelo menos de três em três mezes, sendo prohibido accender
fogo dentro d'elles como agora fazem; que se façam lavar e limpar con-
stantemente os pavimentos e as paredes ; finalmente que se executem em
cada quarto as obras mais necessárias para haver ventilação, luz e mora-
lidade.
cDeus guarde a v. ex.' Cidade de S. Thomé, aos iO dias do mez de
maio de 1872.— IIL"*** e ex."® sr. dr. José Correia Nunes, chefe de ser-
viço de saúde. — Dos facultativos = Jfantie/ Ferreira Ribeiro = Aleixo
Mariano Fernandes, i^
Por ser completamente impossível não transcrevemos todas as porta-
rias e ofiQcios expedidos a respeito da cadeia civil, e apesar de tudo as
cousas estavam em 1872 como em 1860, como em 1862 e como em
1865!
Calibotçê da policia. — N'um dos ângulos da praia José Pedro de Mello,
fica o denominado calabouço da policia. Não é fácil descrevel-o, e ainda
menos indicar as suas divisões internas e as respectivas paredes. Fare-
mos comtudo todos os esforços para nos approximarmos da verdade, de-
finindo-o n^estas poucas palavras, que caracterisam bem o estado em que
se acha.
440
— É uma casa térrea, sem luz, sem ar e sem espaço suflQcienle, onde
pozeram umas grades grossas e toscamente preparadas. Ficando assim con-
stituido o calabouço da polícia i
Não somos mais extensos a respeito d'este assumpto porque o que abi
fica exarado fr o bastante para se tratar com urgência da constrac^So de
prisões adequadas para detenções, para correcçSo ou para castigo.
É este um melhoramento altamente reclamado e de primeira necessi-
dade na capitai, onde estão todas as auctoridades superiores.
Villaa ea prineipae^i lôgaros da ilha it â. Thomè ^ — Villa de SaníAtma.—
A casa da policia, a casinha da escola e a igreja, merecem em primeiro
logar a attençSo do observador. Mas que poderemos dizer d'estes edifí-
cios?
A casa da policia é ordinarissíma e a da escola é da mesma natureza.
A igreja flca na base da collina e está em completo abandono.
A villa de Sant*Anna esteiide-se por um outeiro, cuja parte mais alta
tem 40 metros de altitude, no fundo d*elle corre um ribeiro de oude os
habitantes se abastecem de agua. Antes de se chegar á villa encontra-se
uma corrente de agua que se tem de rodeiar para se evitar o risco de
uma queda, se se tenta passar sobre o tronco de uma arvore, que se
acha lançado entre as margens. Ghamam-lhe uns Agua Covo, outros Agua
Lavagem.
Ha casas de madeira que os naturaes ali téem edificado, revelando
todas grande pobreza, no meio de ten%nos férteis e abundantes I
O cume da collina estende-se para a ponte em forma de planura alta,
com terrenos cultivados de café, que por ali produz bem.
Do alto da planura em que assenta a villa, avista-se o ilhéu de Santa
Anna, coberto de coqueiros.
A enseada de Sant*Anna olha para E. e tem ao S. um morro que flca
a 50 metros de altitude. Não existem casas por aquelle lado, mas ao pé
da praia estio construídas algumas, e segue*se uma rua, rodeando a col-
lina, onde existem as melhores lojas da villa.
A flalta de uma estrada publica entre a villa de SanfAnna e a cidade
concorre muito para o atrazo d'aquella localidade, digna a todos os res-
peitos de muita attenção. A via marítima é sujeita a incommodos e não
poucas vezes a perigos. É necessário dobrar a ponta PraiSo, sendo as
1 Denominam-se villas os logares em que se acham as igrejas parocbiaes, pró-
ximo ás quaes ha algumas casas. Nenhuma d*essas localidades merece actualmente
o nome de villay mas podem de futuro adquirir muita importaíicia, príncipalmontd
a villa da Trindade e a de SanfAuna.
411
canoas obrigadas a sair maito ao mar. É comtudo este o meio de mais
facíl communícaçSo da villa para a cidade e vice-versa.
O cemitério pulriico está ao N. e em sitio elevado, sobre uma ponta
sobranceira ao mar e afastado da povoação.
ViUa da SanlisHma Trindade.— Esta vilia eleva-se 260 metros sobre
o nivel do mar, e a igreja fica em sitio um pouco mais alto. É mau o es-
tado d'esle templo, tanto interior como exteriormente.
A casa da escola é ordinária e a cadeia é, como aquella» impossível
de classificar I O cemitério está entre mato a NE. da villa. Tem um ar-
cado de tábuas, e nenhuma lapide, nem inscripçSo ali se encontram ! Por
toda a parte o esquecimento e o abandono !
A villa occupa um logar central, em relação a algumas boas Ai2en-
das. Falta-lhe, porém, uma estrada, bem feita e larga, e conveniente-
mente arborisada.
Pelo O. e N. da povoação corre uma agua que a abastece, e ba tam-
bém uma nascente ou agua BobA, que se aproveita para beber, por ser
mais limpa e fresca.
Existem na localidade algumas lojas para negocio, mas quasi todo o
conunercio se faz na cidade.
Villa da Magdalena.—È doloroso fallar d'esta villa, porque é desola-
dor o aspecto das poucas casas que ali ha. Está edificada a 200 metros
sobre o nivel do mar, e fica 9 kilometros distante da cidade. Quando ali
fomos em 1870 para escolher o terreno para o cemitério, tivemos occa-
sião de observar o seu estado de pobrezn e abandono. O exterior da igreja
revela o mais completo desamparo, e parece não ter sido caiada ha de-
zenas de annos i Tem do lado direito um velho cercado onde em 1872 vi-
mos um montão de ossos humanos, o que nos causou a mais desconsola-
dora tristeza.
A estrada que liga a cidade com a villa da Magdalena é a mesma
da villa da Santíssima Trindade até próximo do morro Agua Grande.
É supportavel, mas a arte pouco tem contribuído para o sen embelleca-
mento.
Próximo da igreja de Nossa Senhora do Rosário começa uma subida
suave até cerca de 20 metros; corre d'ali um lanço direito e extenso, mas
elevando-se sempre de modo que, quando se volta para a direita e se
deixa a estrada da Trindade e do Monte Café, as ladeiras succedem-se até
á casa denominada do Campo, a 100 metros de altitude.
Villa de Guadalupe,— Dá-se este nome a um logarejo situado a 13^,5
da cidade e a 7*^,5 da praia das Conchas. Estivemos ali por differentes
vezes em serviço, e nio podemos deixar de nos referir á visita que fize-
mos quando se tratou em 1870 da escolha de local para um cemitério.
412
O terreno foi examinado e benzido, derrubou-se o arvoredo, e de nada
serviu este trabalho. Nâo ha ainda cemitério ^
£ uma vilia pobríssima e abandonada, onde não ha casa de escola,
onde a casa da policia é um telheiro sem forma, sem ordem e sem classi-
ficação possivel, e onde, fínalmente, o templo não revela a cuidadosa at-
tenção dos fieis, que não se empenham em o conservar bem limpo, caiado
e singelamente adornado.
 situação da vilIa não é boa, porque está ao pé de um morro saliente,
de forma oval e muito regular denominado Monquinqui. Tem uma porção
de arvoredo lançado de N. a S., o que lhe dá um aspecto característico,
porque o resto da superfície não tem uma única arvore.
A povoação está cercada de copadissimo arvoredo, tendo por um lado
o morro a que nos referimos, e pelo outro o príncipio da falda da serra
oriental da ilha. Doesta povoação disse, em i844, Lopes de Lima:
«Légua e meia ao NO. da cidade (7,5 kilometros) se estende em uma
planura rodeada de outeiros de altura mediana e aspecto risonho, a villa
de Nossa Senhora de Guadalupe. »
É uma villa apenas no nome, escrevemos nós ém 1869. As casas da
villa de Guadalupe, afogadas, metlidas no meio de espesso arvoredo, não
se avistam de longe. A estrada da cidade para aquella villa é a da villa
de Santo Amaro. Não está em peior estado do que a da Magdalena.
Na occasião em que visitámos a villa de Guadalupe, observámos que
Ficava a iãO metros acima do nível do mar. Ha no meio de um largo um
grande tamarindeiro, sob o qual descansámos por algumas horas. Fica-
va-nos ao N. o caminho da praia das Conchas, a O. via-se espesso mato
e a EViSE-NOViO. levanlava-se o morro Monquinqui.
Villa de Sanlo Amaro, — Parece que o logar denominado Santo Amaro
devia prosperar alguma cousa nos últimos annos. Tem a vantagem de fi-
car na estrada que põe a cidade em communicação com a outra villa e
importantes fazendas, mas de nada lhe tem servido, porque, de 1869
para cá, somente lemos a dizer que tudo está do mesmo modo em que
n encontramos pela primeira vez.
Villa de Nossa Senhora das Neves. — Está collocada no principio da
contra costa, ou, como se diz em geral, atrás da ilha. Não tem estradas,
caminhos ou atalhos por onde se possa vir á cidade. Permanece no mesmo
estado em que estava ha muitos annos e não tem importância alguma^.
1 Não nos consta qac se tenham construído os cemitérios das villas cujos ter-
renos foram escolhidos para esse fím.
2 Pernoitámos ali em janeiro de 1873. Dormimos em cima de umas toscas tá-
buas, e não foi possível obter alimentos. Nunca vimos nada mais desgraçado.
413
Villa de Santa Cruz dos Angolares. — A respeito doesta villa diremos
quasi o mesmo que a respeito da villa de Nossa Senhora das Neves. Tado
respira pobreza, miséria e ignorância! Está por assim dizer abandonada.
As cubatas ou as casas mostram, na máxima parte, completa ruína, e o
templo é pobríssimo. Arvores, hervas e arbustos approximam-se da ci-
dade a passos agigantados, e parece apromptarem-se para asphyxiar a
villa n*um amplexo estreitamente dado.
Âquelles infelizes povos vivem da pesca e do vinho de palma. Arran-
jam algumas tábuas, fios para redes, especialmente feitos de ortigas sil-
vestres, preparam gamellas, e conduzem estes géneros para a cidade nas
suas canoas! Toem por capital a residência do commandante, e por ci-
dade de primeira ordem a praia denominada Ribeira Peixe, mais popu-
losa, mais frequentada e mais querida.
Desejam cultivar o cacau e o café, mas ignoram o que devem fazer,
assim como não conhecem a utilidade de muitas arvores. As tábuas ob-
téem diminuto preço nos mercados; servem apenas para cercados ou
ubás, para cubatas e para outras obras ordinárias.
Vivem quasi abandonados, soffrem grandes privações nas suas doen-
ças, e medicam-se com tisanas feitas de vegetaes que alguns d'elles co-
nhecem. Quasi todos téem ulceras nas pernas, rebeldes ao tratamento, e
muitos são victímas d*esta enfermidade.
Ali não ha regedor, ha apenas o parocho e um commandante indí-
gena, que tem um immediato e differentes alferes nomeados pelo go-
verno da província !
412
O terreno foi examinado e benzido, derrubou-se o arvoredo, e de nada
serviu este trabalho. Nâo ha ainda cemitério ^
£ uma vilia pobríssima e abandonada, onde não ha casa de escola,
onde a casa da policia é um telheiro sem forma, sem ordem e sem classi-
ficaçSio possivel, e onde, finalmente, o templo não revela a cuidadosa at-
tenção dos fieis, que não se empenham em o conservar bem limpo, caiado
e singelamente adornado.
 situação da vilIa não é boa, porque está ao pé de um morro saliente,
de forma oval e muito regular denominado Monquinqui. Tem uma porção
de arvoredo lançado de N. a S., o que lhe dá um aspecto característico,
porque o resto da superficie não tem uma única arvore.
A povoação está cercada de copadissímo arvoredo, tendo por um lado
o morro a que nos referimos, e pelo outro o principio da falda da serra
oriental da ilha. Doesta povoação disse, em i844, Lopes de Lima:
«Légua e meia ao NO. da cidade (7,5 kilometros) se estende em uma
planura rodeada de outeiros de altura mediana e aspecto risonho, a villa
de Nossa Senhora de Guadalupe. »
É uma villa apenas no nome, escrevemos nós ém 1869. As casas da
villa de Guadalupe, afogadas, metlidas no meio de espesso arvoredo, não
se avistam de longe. A estrada da cidade para aquella villa é a da villa
de Santo Amaro. Não está em peior estado do que a da Magdalena.
Na occasião em que visitámos a villa de Guadalupe, observámos que
ficava a iãO metros acima do nivel do mar. Ha no meio de um largo um
grande tamarindeiro, sob o qual descansámos por algumas horas. Fica-
va-nos ao N. o caminho da praia das Conchas, a 0. via-se espesso mato
e a EViSE-NOViO. levanlava-se o morro Monquinqui.
Villa de Sanlo Amaro. — Parece que o logar denominado Santo Amaro
devia prosperar alguma cousa nos últimos annos. Tem a vantagem de fi-
car na estrada que põe a cidade em communicação com a outra villa e
importantes fazendas, mas de nada lhe tem servido, porque, de 1869
para cá, somente lemos a dizer que tudo está do mesmo modo em que
a encontramos pela primeira vez.
Villa de Nossa Senhora das Neves. — Está coUocada no principio da
contra costa, ou, como se diz em geral, atrás da ilha. Não tem estradas,
caminhos ou atalhos por onde se possa vir á cidade. Permanece no mesmo
estado em que eslava ha muitos annos e não tem importância alguma^.
1 Não nos consta qac se tenham construído os cemitérios das villas cujos ter-
renos foram escolhidos para esse fím.
2 Pernoitámos ali em janeiro de 1873. Dormimos em cima de umas toscas tá-
buas, e nâo foi possivel obter alimentos. Nunca vimos nada mais desgraçado.
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Villa de Santa Cruz dos Angolares. — A respeito desla villa diremos
qaasí o mesmo que a respeito da villa de Nossa Senhora das Neves. Tudo
respira pobreza, miséria e ignorância! Está por assim dizer abandonada.
As cubatas ou as casas mostram, na máxima parte, completa ruina, e o
templo é pobríssimo. Arvores, hervas e arbustos approximam-se da ci-
dade a passos agigantados, e parece apromptarem-se para asphyxiar a
villa D'um amplexo estreitamente dado.
Aquelles infelizes povos vivem da pesca e do vinho de palma. Arran-
jam algumas tábuas, fios para redes, especialmente feitos de ortigas sil-
vestres, preparam gamellas, e conduzem estes géneros para a cidade nas
suas canoas! Toem por capital a residência do commandante, e por ci-
dade de primeira ordem a praia denominada Ribeira Peixe, mais popu-
losa, mais frequentada e mais querida.
Desejam cultivar o cacau e o café, mas ignoram o que devem fazer,
assim como nao conhecem a utilidade de muitas arvores. As tábuas ob-
téem diminuto preço nos mercados; servem apenas para cercados ou
ubás, para cubatas e para outras obras ordinárias.
Vivem quasí abandonados, soffrem grandes privações nas suas doen-
ças, e medicam-se com tisanas feitas de vegetaes que alguns d'elles co-
nhecem. Quasí todos téem ulceras nas pernas, rebeldes ao tratamento, e
muitos s9o victimas d'esta enfermidade.
Ali n3o ha regedor, ha apenas o parocho e um commandante indi-
gena, que tem um immediato e differentes alferes nomeados pelo go-
verno da província !
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CAWTULO V
Rogas e fiusendas agrioolaa
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rtíi, lahr ^ iai afMri^ fir tccnât h rcfírit u c«iKmttría.-<laffa 4as prtpíeMMfc*
fMn c Rspcdifts nitres Mt a an fiila^ât alé it aiM it iSIt.— btalkliras im wm^
tn ftÊÊ/âÍÊits èt raras •■ íutUa ms aitas 4e iS6) e iS72, — QiaiiiMfs éi ciii t caui
prefaiáas bs rtcas akaha faifiaias, eipariato fúu partis ila íika ^ S. Tkuir, m aiMi
ét iS(5 I fS72.— Kipiriaçâi ét rafe ilas ctluias akixi faifiidas ms ams U ISII •
iS7(.-lai|nrái, pir frejioias, te n^as perteiceiles ai esla^i. — Posi{ii e iriMtajii 4ii
riras pcfteicfiles u estadi, cia desigia^^âo das qiaitias pir qie eslâi arreidadas.
Resuo das roças oa faiendas eiistentea na ilha de S. Thômè» classificadas per
frefieilas, segunda o registo da consertatoria» nos annos do 1867 a 1872,
difMidas por gmpos ctnpreliendidoè entro 1:000f$000 a 80:000)$000 rèls,
«NMOOO a 1:000M00 r«ís e lOMOO a iOlMIOOO réis.
Frcgtieiias
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dtrcfisU ■■ censenaloria-
De l-.OOO^OO a 80:0004000 i41b
Agu-fié.
BellaVisU
StnUrem ohViI-FIot....
Caitello do Sul (dominio
de Agua-Iié)
Terras da roça Monte Café
Alto Douro (domínio de
A|iu-Ii6)
Andrt Velho
S. Nicolau
TtÈoçfieê da roc« Bo« En-
trada
PlatóCaK
Santa llaif árida
Terras da fazenda l\io de
Oiro
A II ema [il ia e Obó do Hcio
Huculu
Santa Lniia
Ternu na roça Meaquita..
Chio Prelo
Potó
Saadadc
Agua Panda
Sacavém
EitreUa
Boa Vista ou Qoínglaio.- .
Prac(Oca da roça Maianfo
Beuifica
Rodia
SO:00OJHnO
3O:00OM0O
50:000 WOO
(ã:0OOW00
S9:83&M00
36:O0O»O0O
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Í4:(»0«000
I9:370«000
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18:000«000
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16:000»000
luiOOOfUOO
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12:600X000
11:000^000
IO:OOOSO0O
10:OOOMOO
10:0004000
9:0004000
8:4004000
8:0004000
8:0004000
8:0004000
Berallca
Moka oatr'ora Barro Branco
Atleminba
Potó Hei
Pedroina
Mesquita
Campo
Terras em Mouta
Praia das Conchas . . .
i>choei ra (dom in i o de Agoa-
lié)
Uheu das Rolas
Cangi...
logo-logo (dominio deAgva-
IhJ)
Mestre Anloiiiu
Boa Nova
Margarida Manoel
Quingai
Cassumi
FraccSo da Ro^a Mesqnila.
Cabeça
Canga
Lentoe
GullD
Fernando Dias
Blubtu
Bóca-Búca
CangA
Agua Palito
8:0004000
8:0004000
7:5004000
7:3964000
7:0004000
6:0004000
5:8304000
5:2954300
5:S004000
5:0004000
5:0004000
5KI004000
4:5004000
4:3004000
4:1004000
4:0004000
3:7504000
3:5004000
3:3754000
3:1644S0O
3:4054000
3:0004000
:0004000
3:0004000
3:0004000
3:0004000
3:0004000
3:0004000
Ds«gMtao 1 V.lor
DwiKIUIAn
V„o,
3:000W00
3:000<000
3:5OO«OO0
S:100íOOO
1:000*000
Í:O00M00
3:000^100
umim
1:5002000
!:fiO0íO0O
1:500^000
ItSOOJOOO
1:237*500
Teimem Agua Junta
1:300*000
1:300*000
1:157*300
I:li8*400
1:080*000
iiOOOlOOO
1:000*000
1:000*000
1:000*000
1:000*000
1:000*000
1:000*000
1:000*000
1:000*000
Angra de S. João do Grande
Terras na roça Mesquita. . .
Nova Olinda ou Picão (do-
mínio de Agua-hé)
Terras na freguesia da Uag-
Cassami e Barro Branco . .
Terras na roça OWlo
Terras em Agua Funda . . .
Terrenonosiliode Bdca- Boca
Terras na fregueria da Trin-
Ttrras em Cas»uniá
Terreno em AMemanhi
j>e 1002000 a 1:000^000 rãls
Df»ignat*o
Vilor
DnifSiiç*!
v.,„
933*U)0
DOIllOOO
900*000
900*000
870*000
800*000
800*000
8004000
800*000
800*000
7SO*000
750S000
720*000
679*000
6W*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
600*000
1 300*000
1 S00*000
Praia Grande (domínio de
Gnlbu (no logar de)
Terras em Santa Lniia
Quinta da Grafa (melade)..
Terras em Macarnbrarl
Margarida Hannel
Terras em Margarida Manuel
S. João da Vargem do PicSo
Terra na roça Labala
T«ra na íregueiia da Trin-
Terra no logar da Lemos . .
Santo António de El-Hei
(dominio de Agua-lié) . .
Fracção da ro-.a Quibanzá..
Terra na roça Obó Verme-
ItK)
Frac.;áodaroçaOtfllo....
Fracção da roça. Diogo Vai
Terra ■>oi Diogo Vai e Praia
«elao
Terra no aitio .àe Bom Bom
4IS
r
Detignaçio
Gi^
Gaofá
Tém em Madre de Deus . .
Terra em Babau
Tem ao titio de VaUáo . • •
Terra na roça Cró-Cró ....
Ulba
B^BÒ
MaiaBço
Piedade
Roça na freguezia da Trin-
dade
Baião
Terra na íregaezia da Mag-
dalena
Reboque
Terra no sitio de Palha . • .
Terra no sitio de Agua Ee-
corregar
Babo
Terras em Santa Coelho. . .
Fracção da roça Ob^ Verme-
lho.
Bd-Iíequente
Terra no sitio de Agua Jontá
Boa Esperança em Agiu
Porca
Ubba Gocundia
Menlembu
Melhorada
Terras no sítio da Melho-
rada
Obd Vermelho
Terras no sitio da Madre de
i/eu9 •• ••••.••••
Cassumá
Terra no sitio de Agua
CreoQla ,...
fiOOfOOO
SOO^OOD
500«000
500^000
4804000
450^000
450^000
450^000
4501000
4201000
400i«;000
4004000
4004000
4004000
4004000
4004000
4004000
4004000
4004000
3964000
3784000
3754000
37S4000
3504000
3304000
3104000
3004000
3004000
3004000
3004000
Ubba Velha
Terra no sitio de Fugi FaUa
Terra no sitio de António
Soares
Terras no sitio do Potô Cor-
reia
Ubba Cocundia
Terral em Allemanha
PracçSo da roça Agna Es-
corregar •
Pracçfto da roça Maianço . .
Carreia «
Terra em Agua Machado . .
Terra em Allemanha Baixa
Terra na freguezia da Trin-
dade
Quingue ou Cassumé
Quingue
Terra em Ocá Gentil
Polo
Mâo Três -
Agua Porca
Obó Vermelho
Roça em Datepá . . •
Laranjeira
Terra em António doaree. •
Terra no sitio da Cnu
Grande
Terra da roça Oqoe d'EI-Rei
GttUn em Manuel Jorge . . .
Mathens Angolar
Piedade
Terra no sitio de Chagra . .
Terras ao íando e á firenle
da roça Ubba Metade . . .
Agua Junta
Terra no sitio de Palha ....
Molemba
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
3004000
2804000
2704000
2704000
2704000
2554000
2504000
2454000
2404000
2304000
1254000
2154000
1254000
1254000
1254000
120400D
1164000
1134500
1IO4000
10O400O
2004000
2004000
1004000
4ia
Olólo
Totm no âtio de Oqae cl'EI-
Rti
Sinte Lum
Cerca de Santo António. • .
PM«
Terra no 9itk> de Gaixio
Grande
Piraeçio da roça Folha Feda
Fngi-Falla
Terra no sitio de Desejada.
Rocinha Colla
Pau Branco
Terra no logar de Rodia. . .
Vermelha
Obô Vermelho
Colla Agua
Terra no sitio de Obô Ver-
melho
Terra no sitio de Bobó. . • .
Terra no sitio de Obó Ver-
melho
Terra no sitio de Bóca-
B<5ca
Terra no sitio de Canga . . .
Matheus Angolar de Baixo.
Valor
lOOMK)
lOOMOO
lOOMOO
MWOOO
200M00
sooimo
MWOOO
iâO^OQO
166^500
1601000
Í60ji000
160^000
1501000
150^000
150^000
150^000
150i^000
150^000
150^000
1504000
147ij(600
■P
Oetignaçio
MSoTres
Tam no sitio de Tom
Dí»
Tenra no logar de Obó Ma-
obado
Tam DO aitio de Maianço..
António Soam
Terra no sitio de Monta . . .
Ttrra no sitio de Saato
Amaro ••••••
Terra no sitio de Obó Ma-
chado
Bobó
Roça no sitio do Cruzeiro. .
Cassumá
Terras no sitio de Potó ....
Ototô
Terra no sitio de Potó
Terra no logar de Potó. . . .
Oque d'Agó
Piedade
Batepá
Cruzeiro
Fracção da roça Maianço.. .
Terra no sitio de Manuel
Jorge
Valor
1441000
íWUtí»
ISdMOO
ISOMOO
isoion
iiOjOOO
1204000
1Í04000
1204000
11M500
1124500
1124500
1124500
1124500
1084000
1004000
1004000
1004000
1004000
1004000
De 104000 a 1004000 róis
Designação
Mâo Três
Oque d'Agó
Terra no sitio de Agua Porca
Terra da lova Margarida
Malé
Valor
994000
904000
904000
874500
Betignação
MonfAlvâto
Terra no sítio da Capella.. .
Terra no sitio da Agua
Porca
Terra no sitio do Vermelho
Valor
814000
804000
804000
704000
421
lappa ias prtpriedaiM regisUdas e respeetiTis falares
desda a sia ro4a$ia até aa aaia ia 1872
Xatirtia áa* propriedades
Prédios rusUcos
Plredios urtumos
Moveis
Diversas
Livres
Hypotb».
eadat
199
37
4
131
46
3
2
240
182
ToUl
330
83
3
6
422
Valoras
os
78O:O49M03
85:5744840
5:927^236
450^000
872:001M79
Estatística das Balares passBÍ^^f^ '^ ^H^^ •■ iueidas
■as aoas de iSN e i872
Europeus..
Asiáticos..
Africanos..
Brazileiros
Ignorados .
Desagnaçáo
iS6e
28
33
3
64
1871
36
1
4
16
183
420
Designação
Terra no sitío de Cassumá e
Barro Branco
Boa Morte
Bôea-Bóca
LeoMM.....
Santa Cruz
Tenra no logar de Moleroba
Rocinha na freguezía de
Santo Amaro
Valor
701^000
66M00
60^000
6OIÍ000
56^290
53^000
48M00
DesigDaçSo
Terras próximas á Viila de
Santo Amaro
Terra no sitio da Cachoeira.
Terra no sitio de Prevas. . .
Terra no sitio da Madre de
Deus
Terra no sitio de Ohba Co-
cundia
Terras no sitio de Torres Dias
Valor
4OM00
404000
404000
354000
194500
194000
I
421
Happa das prapriedades refistadas t respecÚTOs ? alores
desde a aia fudaçio ali aa aua de 1872
Natoreu das propriedades
Prédios rústicos
Prédios urbanos
Moveis
Diversas
Livrei
Hypotbe-
eadat
Total
199
131
330
37
46
83
—
3
3
4
±
6
240
182
422
Valores
dotpndios
legindo
os regiftot
780:049M03
85:5744840
5:927|;236
450^000
872:00U479
Estatística dos naiores passnidores de rafas oa faieadas
nos annos de i8S9 e i872
Designaç&o
iSM
1871
EuroDMis • • •
28
33
3
36
1
96
4
16
Asiáticos ••• •
Africanos • •
Brazileiros
Iff norados
64
153
4t2
VISaBBBBBn
gp 9 s >
& 8
CO
99
0
3
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BipirtafM 4e uft iu Htnin ataln éMÍfn4aa
MS auH dt JM» • Wt
S. TlioDiâ
Ilha do Príncipe..
Louida ,
Benguella
Aoibrit
Cabo Verde
Nova Goa
Hoçambiqoe . ...
1081:712,659 167
182,000 -
1,1 8.1:349 ,927 24
93,000 -
194:754,180
191:106,907
4.5,000
3.631:443,673 260] 3í5
í
1.336:899,618
_
1:173,000
-
l.222;33«,367
-
409,000
_
6*7:062,976
-
34:928,000
30:132
57,187
366,062
3.433:194,210
30:182
DesigBi{io, p«r fregoeiias, das rofas pertenECates u ettido
Santíssima Trindade
NowaSeaborada Graça
Nooa Senhora de Guadelupe
Santo Amaro
lUfdaleoa
SanCAnna
Nona Senhora da Coneaiçio
Ignoram-se as fr^neiias
JV. B. N3o w mentíoDa uma roça por se ignorarem as circumstancias em que
uacha.
Positio t orienucão das roças ptrteiiceiílea ao estado, um dtaisiafit
dus quaolias por que estão arrendadas
rr«u«úi
iss-
PducIo e oiitwae*"
dtftab»
*
■.t
rfloo
UW89
334110
3U6S9
atum
Frente.- 1:»!-.» de«ie o
6
t8<883
antigo Pau de Sabão (ao
'
Mim
NO. — Limites lateraes
9
33MT0 1
Fundo.— Agoa Grande i es-
10
3*'>»flOO
querda da estrada
11
13
«
3ll(>8a
35449t)
33(930
33<»0
Santíssima
Ttindad». .
António Vaa
(34,1.1».)
17
UiTSO
20UOO
547(809
I7M0O
18
361960
Frente. — 1:149*,9 desde o
antigo Paa de Satilo (es-
tremo), n.' 17 ao Untoé
19
20
31
22
SMIIS
S0«980
4S(410
38(615
23
34
37(330
48(060
SE.— Limites Uteraea
2S
41(400
i
36
5J(9;0
^
27
41(040
7
470(090 1
425
itissimâ
rindade..
Fodçio • orintafio
Frente. — 125 metros desde
o Untoé D.* 28 até ao Pau
de Sat)So (extremo) ....
Pondo. — Manoel Qoaresma
:l
NO. — Gleba n.* 25 e seo pro-
longamento
SE. — Agoa Lemos.
SO.— Gleba n.* 26
NE.- Gleba n.* 30.
NO. — Gleba n.* 24 e seo pro-
longamento
SE.— Agoa Lemos
SO.— Gleba n.* 29
NE.— Gleba n.* 31
I
I
NO. — Gleba n.* 23 e seo pro-
I longamento .•..
SO.— Gleba n.* 30
NE.--Gleba n.« 32
NO.— Gleba n.* 22 e seo pro-
longamento
SE. — Agoa Lemos
SO.— Gleba n.^ 3i
NE.— Gleba n.« 33
NO. — Gleba n.* 21 e seo pro-
longamento.
SE. — Agoa Lemos
SO.— Gleba n.* 32
NE.— Gleba n.» 34
NO.— Gleba n.« 20 e seo pro
longamento
SE.— Agoa Lemos ,
SO.— Gleba n.» 33 ,
NE.— Roçade Leandro Frotta
Rendmento toíal da roça
I
dtgMMt
28
29
30
31
32
33
34
36^190
30|;450
21fM
27«450
30|;605
40M70
45|3<M)
1:261M24
Paslfis e •ricDtafie das rofis perltactoleg lo esUdo, c«m desígnatio
das quaDiias por que eslio arrendadas
Santissima
Trindade. .
Puttrlo r ortnila(Ai>
Frente. — l:S6l-,9 desde
■Dligo Pao de Sabão (ao
extremo)
—Limites tateraes . .
Fnndo,— Agua Grande á
querda da estrada. . . .
António Vaz J
(34 glehAsy
Frente. — !;l49-,9 desde n
antigo Pao de SabSo (es-
tremo), n.* 17 ao Unloé
'SE.~ Limites lateraes..
27«600
»«8S6
33X120
3S«639
41M00
W4885
34IQ20
331060
3ÍI670
3li«000
3IX(i80
35^490
33^930
33/»0
48f;20
20i400
5474809
274000
361960
SWK
501980
42A4IO
36X615
37XS30
46X060
41«400
52X970
44X040
470X090
42S
Fffgoeiias
Detipiftçio
• dl? i»fto
Pofiçlo e orieDtaçfto
Frente.— 125 metros desde
o Untoé n.« 28 ató ao Pau
de Sal)ão (extremo)
FuDdo.— Manuel Quaresma.
NO.— Gleba d.« 25 e seu pro-
longamento
SE. — Agua Lemos.
SO.— Gleba n.« 26
NE.- Gleba n.« 30.
NO. — Gleba n.« 24 e seu pro-
longamento •
SE.— Agua Lemos
SO.— Gleba n.* 29
NE.— Gleba n.* 31
I NO.— Gldba n.* 23 e seu pro-
I
I
I
Santíssima
Trindade..
(longamento.
SE .
^XU" SE.-A«-í^"»~
SO.— Gleba n.» 30 ,
NE.— Gleba n.» 32
NO.— Gleba n.« 22 e seu pro
longamento
SE. — ^Agua Lemos ,
SO.— Gleba n.» 31
NE.— Gleba n.« 33 ,
NO. — Gleba n.* 21 e seu pro
longamento
SE. — ^Agua Lemos
SO.— Gleba n.* 32
NE.— Gleba n.» 34
NO.— Gleba n.» 20 e seu pro
longamento
SE.— Agua Lemos
SO.— Gleba n.« 33
NE.— Roçade Leandro Frotta
RendimêtUo total da roça
Arrendamentos annoaes
Numero
de glebas
28
29
30
31
32
33
34
Importância
36|;150
30^450
32|;940
27«450
30|;605
40M70
45|3<M)
1:261|;324
■^■wvanF
iR55S9^S?BnBBB
SHBBBa
Fr<tn>^itt<^
• divisão
Pwfio • «ienUçio
9=9
AmodaiiiflDtot
Roça Bailem
Frente.— Estrada que dei
A|aa Greotila vae a Monte]
(28flebu)) Café
Ifiiora^-M a arta • nimos..
Santíssima
Trindadei .
Roça Agua
RenéimmUo ioUd da roça
Frente.— Estrada qne d'e8te|
sitio vae á tilla da Trín-
Grande! (21< dade
glebas) .... / Ignoram-se as demarcações,]
área e rumos
Nimflro
deglebu
1
3
4
5
6
7
8
9
10
ii
i2
13
14
15
i6
i7
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
1
2
3
4
5
6
Importância
2i^90
10^070
31030
2^705
6M60
5^800
5iS000
3^825
4|;180
3^075
3«)75
3|;520
7|;925
3^600
4|;020
6^965
84310
5^765
4|;085
44565
94510
194130
14515
24700
34240
64045
64045
164950
1634300
54825
54510
114400
24460
74725
14530
344450
487
FrQfKanias
Detigiia(in
f divitâo
Pofiffio e orieotaçJUi
AiTMidanMntm
Nomero
deglebu
Traruporte. . . . /
/ Roça Agua 1
Saotissima
Trindade..
glebas) . . .
Matheiís An-
goli»« (8
glebis). . . .
área e ramos.
Rendimento total da roça
Ignoram-se as demarcações,
área e rumos
Roça Gftpellas
Rendimento total da roça
Ignoram-se as demarcações.
f área e rumos
Obudo Coe-
lho'
I
Bóca-Bôcai..
Rendimento total da roça
Ignoram-se as demarcações,
área e rumos
{
M a t h e u s ( Ignoram-se as demarcações,)
/ Ignei>....| área e rumos (
7
8
9
10
ii
12
13
14
19
16
17
18
19
20
21
1
2
3
4
5
6
7
8
1
2
Importância
34i^450
10M20
6^000
7iS740
84010
20^10
U870
54040
274500 I
24820
44080
94100
24445
64{S55
64480
24560
1544980
1424800
304800
224600
74640
54100
604745
764820 I
1244520
4714025
54130
34000
84130
814000
304100
428
1 !
ArrendameDtoi aonuaes
FregueiiaH
edinsSo
Policio e oríenUção
NoB6ro
de glebas
Importância
1
3M80
1
i
2
94830
f Cruzeiro da
Melhorada 1
(7 glebas)..
1
Ignoram -se as demarcações,
área e rumos
3
4
5
1U295
34825
34825
%WS ^^w ^ m \mmMm^^^ 9 •■••*••■••
Nossa Senho-
ra da Gra-i
Rendimento tokU da roça
Ignoram-se as demarcações,
* área e rumos
6
7
i
34810
94930
ra
Alba Qnim . .
; Melhorada 2..;
•
464365
304040
Ignoram-se as demarcações,
254000
«tca c rumos •••••••••••
94000
f
2
44500
1
3
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1
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4
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5
34040
1
6
24415
7
54000
8
34615
9
10
304015
284065
Nossa Senho-
ra de Gua-
Roça Crui
* Grande *. . .
1 Ignoram-se as demarcações,^
1 área e rumos '
ii
12
13
34030
44200
24400
delupe )
%^m ^i*»^ ^i" S WWV^^*^ •■■•w^W VSv'
14
14560
15
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1
16
17
18
19
24670
34015
34015
204000
1
20
14680
21
34315
1
7 A
\ 7B
34420
}
34450
1484380
439
Fr^gnetias
Besi^naçio
• divisSo
Roça Cruz
Posição 6 orienlaçlo
TraiufHírte , , . ,
Arrendamentos annuaes
Namero
de glebas
! Ignoram-se as demarcações,
Grande.... ( área e rumos.
f
Nossa Senho-I
ra de Gua-j
delupe. . . .
Rendimento total da roça
Obó Ango- 1 Ignoram-se as demarcações,
lar^ I área e rumos
Ignoram-se as demarcações,)
16 A
16 B
19 A
Direita
Esquerda
Esquerda
Santo Amaro
Maianço
área e rumos i
. « , Ignoram-se as demarcações,}
Larangeira2..< >
área e rumos .)
Bobó (roça). 1
Frente na f Ignoraín-se as demarcações,
Magdalena . ./ estrada da [ área e rumos
Magdalena^l
^ .* . .i Ignoram-se as demarcações,!
O que Volta* ' ^
( área e rumos
SanfAnna ..) Rocinha San-J Ignoram-se as demarcações,.
Nossa SenhO'
fAnna * . . . { área e rumos.
Msa Senho- j |
ra da Gon.( Qoií^nga?... .1 í«noí>^>n-»« «s demarcações,)
ceiçfio....! I área e rumos (
r. , .. i Ignoram-se as demarcações,)
Bom Jesus-'.. { \
f área e rumos \
Coima Bra-i Ignoram-se as demarcações,!
va 1 ) área e rumos i
I I
Importância
148M80
2^265
21295
211325
2^900
8^200
18^600
18M20
203^385
24^00
loJíSOO
67M80
M545
22ift5l5
6^200
24M80
18JÍ810
14^270
* o seu estado de cultora é soffrivel
' Igoora-ae o sen estado de coltora.
* 0 estado de cultora em grande atraso.
* Ignoram-se os valores dos arrendamentos das gleba» ii.'* 3, existem uiua âem numero de ordem e
ires com a dassilIcaçSo de I i direita e 3 á Mqaerda. Ignort-te também o mu estado de cultura.
I
i
CaNDICOES PHYSIGAS E lORAES DOS BiUTANTBS
DA lUU DE S. THOlfi
Habitam m S. TbomMses em paix ftitfliuiao é ?i-
fwi pttèraa • vifMD tm lut Amam •• ■Umaai ê má
cubtUa, que transportam de um para oatro logar, e igno-
ram completamente os beneficios que lhes resoltaria de
paawiwi boM piídkis. Ha ena amne^tedeit lecnlos
eramatsiml
C aa o grande aogmento de popnlaçio serre pata
ffWMr qM naa paia é fMU a ataãdaailak podaria diw^
se que a ilha de S.Thomé nem é fértil nsm abondattle
em preaença do estadonameato oo da diminaiçio do
(Relalorío de 1860, pag. 80 e U.)
CAPITDLOVI
Meio soolal em que se vive e populaçSo ambulaiite
Considerações geraes. — Aiimenlajio dos btbitaBtes.— AKnesfaçio popihr.-Alinéitaçlo dos âolla-
dos.— AlimeDUção dos addidos.— Alimentício dos libertos.— Alimentarão dos empregados pablieos,
dgs ujtciantes e los evipii em geral.— lesliarM im kabilailes.— Dm o kiImmí iis hibilin-
Its.— Dm arraial n ilha de 8. IheBé.-Migiie de§ kalkailii de S. TloBé.-lrrÍBeil» ditee-
pregados nas repartisêes fiklieas da ilk de L ThoM, desde 1SM a it2l.-leiÍMle des íiè-
lidiis fie eatraram ia iliia de L Themé desde IMI a l&22.-(ieienadere8 de i, TInmí dnáe
i&41alS72.
Considerações geraes. — As condições physicas e moraes dos habitantes
de qualquer paiz fornecem sempre os melhores elonentos para se resol-
verem muitas das questões acerca da salubridade e insalubridade relativa.
É esta uma verdade de ha muito reconhecida, mas abstemo-nos de dar
grande desenvolvimento a estas considerações, porque desejámos apenas
expor algumas observações com o fim de fazer sentir a importanda do
assumpto, e para que se façam conhecer aos povos de que tratámos as
vantagens da civilisação e do progresso, e as regras da agricultura e hy-
giene colonial.
432
Dã pagina 97 do relatório de Í8G9 transcrevemos o seguinte trecho,
pelo qual se determina o assumpto d*este importante capitulo:
cNas proflssões, modo de vestir, superstições, linguagem, etc., dos
habitantes de um paiz, encontram-se algumas particularidades que podem
classiGcar e distinguir os habitantes de certos logares; existem na mesma
provincia, ás vezes, modiricações nos usos e costumes que nSo devem es-
quecer; mudam-se com os tempos as inclinações de um povo» e concor-
rem muitas vezes para a sua felicidade e também para a sua ndoa ; e por
isso julgámos necessário recorrer ao methodo analytico, não esquecendo
circumstancía alguma digna de se notar. Do exame de cada uma das suas
partes chegaremos á resolução da questão que pretendemos desenvolver;
trata-se de avaliar o estado da população da ilha em i SCO. >
Alimeita^o dos habítaites de S. Thomè. — Entre os habitantes d'esta ilha
ha differentes categorias ou classes de pessoas, que se alimentam segundo
os meios de fortuna de que dispõem. As comidas são preparadas ao gosto
de cada um, sem que se possa aflançar existir mais predilecção pela co-
zinha de um determinado sjstema. Em muitas casas a alimentação é va-
riada, abundante e delicada. O que, porém, é certo é que para se fazerem
algumas considerações sobre este assumpto, é de absoluta necessidade
tratar em separado da alimentação popular propriamente dita» pois é essa
que mais importa conhecer, da dos soldados, dos addidos e dos libertos ;
e depois de enumerarmos os géneros que o palz fornece em geral e dos
que é preciso importar, diremos em conclusão algumas palavras acerca
da alimentação dos empregados públicos.
AIímbUcío popilar. — Os inermes habitantes da ilha de S. Tbmné» lu*
xuosa pela vegetação, contemplando o fructo, que facilmente colhem» téem
o coco, que lhes dá agua e a celebre corda-agua que lhes mata a sede, as
bananas, que são de fácil acquisição, e a frueta-pão lhes fornece farinha e
amido. Da palmeira extrahem vinho, azeite e manteiga; e alem disto ha
outros saborosos fructos que a terra produz em abundância. A ginguba,
o inhame, a mandioca, crystallinas aguas, batatas, e finalmente variados
vegetaes com que se preparam bons manjares, tudo ali encontram e quasi
sem trabalho !
Abundam os peixes, são variados os fructos, e não é rara a carne da
tartaruga» de carneiro e de cabrito. As espigas de milho, que assam quando
estão verdes, a carne de porco, e as sementes da izaquente obtêem-se
com extrema facilidade.
Dissemos em 1869 o seguinte :
« Encontrar-se-ia em qualquer parte e sem trabalhar o que se teria de
W ' 'iw^^^^^^BwHhP
1 igfl^^^^^lB^Bvn
'HiillíBHIIHHIIIib' R^^^^^HH
433
obter trabalhando, se por acaso os terrenos estivessem lao cultivados
como no Minho. A abundância dá aqui o contrario do que se observa n'ou-
tras partes: a população estaciona e foge do trabalho; falta-lhe um in-
verno, uma estação rigorosa em que ella fosse obrigada a guardar alimen-
tos, acautelando-se da intempérie do tempo e da esterilidade da terra
para nao morrer de fome. Os fructos são espontâneos, mas parece que a
constante fertilidade produz a pobreza e o enfraquecimento!!»
A alimentação popular n'esta ilha è hygienica, variada e de facii acqui-
sição, mas assim como a terra não exige o trabalho do homem, assim este
não tem amor á terra. Não se vé um jardim junto da casa do homem do
povo, não se encontra uma horta, não se descobre signal algum por onde
se conheça que ali se vive com prazer e commodidade !
A riqueza do solo, a esplendida vegetaOão e os agradáveis panoramas
não concorrem em cousa alguma para a felicidade que se poderia disfru-
ctar gosando-se tão bons dotes da natureza ; não se vê ali uma festa de
noivado, nem o viver feliz das famílias, nem o cantar alegre da rapariga,
nem o amor ao trabalho do aflançado mancebo; não se encontra um vis-
lumbre da vida moral. As famílias não se ligam para viver em qualquer
logar com permanência ; os fllhos, os pães, os irmãos, ou os recemcasa-
dos não perpetuam o nome construindo vivenda ao pé de um outeiro, nas
margens de um rio, n'um logar mais fértil e mais ameno, formando aqui
uma linda aldeia, acolá um distincto logar, mais alem uma elegante po-
voação, onde os jardins, pomares, as ruas e as casas revelem felicidade,
gosto e amor á pátria.
É triste e melancólica a vista interior d'esta ilha ! Onde a terra produz
com abundância géneros de toda a espécie, divisa-se um abandono quasí
completo ; onde o clima favorece culturas variadas e úteis, observa-se o
desleixo, a pouca actividade ou o desamparo; onde tudo devia respirar
alegria, só a tristeza e isolamento se descobre ; onde a associação mais se
precisa, é onde ella não existe !
/ Não è somente isto, infelizmente, o que acontece. Se se não tratar se-
riamente de promover para esta desditosa ilha a emigração de indivíduos
de ambos os sexos, vinte annos, unicamente, lhes bastarão para que a popu-
lação se reduza a um numero insignificantíssimo. A força da vegetação e a
fertilidade da terra, que n'outra parte seriam causa de progressivo au-
gmento dos habitantes, parecem produzir ali o efifeito contrario ! Como
se poderá explicar o nenhum augmento ou decrescimento da população
da ilha de S. Thomé? As estatísticas demonstram claramente que ella vol-
tará aos annos da sua descoberta (i47i) e ficará sem uma única pessoa!
A alimentação terá alguma influencia na producção de similhanle phe-
nomeno?
S8
434
Será a falta do trabalho a causa da grande mortalidade e da pouca fe-
cundação ?
A explicação doeste acontecimento não se dará sem que as estatísticas
sejam completamente a representação dos factos.
A alimentação popular é de certo curiosa sob muitos pontos de vístâ.
Diz-se que ha uma cozinha á portugueza, outra á franceza e também A
brazileira ; pois deve dizer-se igualmente que ha uma cozinha original em
S. Thomé.
Os habitantes contentam-se com os alimentos que menos lhes custam
a obter; a sardinha defumada, se a ha ; se não bananas assadas oa espi-
gas de milho também assadas. Procuram a carne de tartaruga com prazer e
usam da pimenta com abundância. O azeite de palma dá aos seus manjares
um aspecto desagradável, mas isso para elles é o menos. A carne do terrivel
tubarão (guandu ou gandú), a do peixe agulha, a do voador, que pescam
em mezes certos, ou a do carapau tem grande procura. O peixe miúdo'
preparado em massa vende-se na praça pelo preço de 20 réis» e o vinho
de palma é vendido ás garrafas, sendo conduzido em cabaças ou ocos.
Esta gente tem as suas festas, e por essa occasião dão lautos jantáfes,
em que figuram em profusão leitões, gallinhas, patos, bananas cozidas,
etCé
Os manjares mais estimados são os seguintes :
Cazilu ou Gadulu, que é feito de um peixe secco, a que dão o nome
de placlá, temperado com agua, sal, pimenta, malagueta, oçami, folhas
de misquito e flor de micocó. Pisam algumas folhas de ocá tamarindo, sl-
máncoiá, libu, pedígotto, manquequé, rosa bilausa (que é uma planta co-
nhecida em Lisboa pelo nome de boas noites) e deitam tudo n'uma pa-
nella, juntando-lhe quiabos. Depois de bem cozido leva azeite de palma.
Idgiógó, é preparado com folhas de couve e de agriões, agua, sal, pi-
menta, malaguetas, oçami e pimenta de ôgô. Cozem uma porção de ba-
nanas, que amassam em um almofariz, e é com esta espécie de pão, a que
chamam ougú, que elles comem o idgiógó.
Sanous é feito de peixe fresco com agua, sal, pimenta, malagueta, li-
mão, cebola, alhos e azeite de palma.
Izaquente, é feito das sementes de um fructo, que é maior que uma
melancia, as quaes são do tamanho de feijões; fervem-se em agua, lançam-se
1 o peixinho é apanhado na foz dos rios, como temos dito, e repetimos de no-
vo, a fím de que as respectivas auctoridades, informando*se d'este facto, tomem as
providencias precisas para evitar similhanle pesca, que causa de certo muito pre-
juízo pela destruição dos peixinhos, que mais tarde povoariam o mar da ilba e se*
riam um elemento de abundância publica.
435
depois D'uma gamella, onde são raladas para lhes tirar a casca ; de-
pois deitam-se D'uma panella com a agua necessária, juntando-se-lhe peixe
placlá ou outro qualquer que seja secco, e os mesmos temperos usados
no caluiú e idgiógó. Também se prepara com amêndoas de coco» não le-
vando, n'este caso, nem peixe, nem temperos. É uma espécie de arroz
doce.
Doce cangicár, compõe-se de milho verde pisado até ficar em massa;
envolve-se esta em folhas de bananeira verde, que se aquecem, mettendo
depois tudo em agua bem quente, aonde se conserva até estar bem co-
zido. É-lhe depois tirado o invólucro e posto ao fumeiro. A esta massa
chamam mácumjá.
Os angolares sustentam-se somente de banana assada, peixe ou carne
de porco assada. Não bebem agua, usam só do vinho de palma. £ raro
alimentarem-se de comidas cozidas, e no emtanto todos são fortes e mus-
culosos.
Nas villas ou roças matam, em dias festivos, porcos e cabras, con-
forme a qpantidade de convivas. Fazem dififerentes pratos á europea, não
faltando, comtudo, o idgiógó e o caluiú.
A izaquent^ dáse aos creados.
Alimentação dos soldados. — O que dissemos em {869 acerca da alimen-
tação dos soldados referia-se também á dos addidos, porque todos se
achavam reunidos. Felizmente realisou-se um melhoramento fecundo, no-
bre e de grandissima necessidade — separaram-se estas classes de indiví-
duos.
Devemos memorar o anno e o nome do governador que deu o pri-
meiro passo para se realisar um facto, que á primeira vista parece insigni-
ficante, mas que tem alta importância. Em 1871 foi creado o deposito pe-
nal de addidos, primeiro degrau para se chegar á colónia que lhes foi
designada em 1869. Ao governador Pedro Carlos de Aguiar Craveiro
Lopes se deve esta feliz mudança, intermédio entre o mal e o bem.
Custa a conceber a rasão por que se faziam dormir sob o mesmo tecto
os addidos com o soldado, que deve ter constantemente diante de si masi
escola de moralidade e não uma cohorte de infelizes condemnados a tra-
balhos públicos por differentes crimes !
Não podiamos deixar de fazer estas considerações ao dar conta do fa-
cto que se realisou — a separação de soldados e de addidos — os quaes
estão agora em casas próprias, sob a vigilância de commandantes, e su-
jeitos a regulamentos especiaes, aindaque o nosso fim n'este logar é fat-
iar da alimentação dos soldados.
O quadro do batalhão não dá facultativo a este corpo, o que mal se
436
explica, visto ler uma organisação regular, pelo que se deprehende da lei
orgânica que o creou. No regulamento geral de saúde procurou-se de
alguma fórma remediar este mal, impondo aos facultativos do quadro de
saúde a obrigação de desempenhar o serviço medico das praças, corpos
militares e destacamentos que não tenham facultativos.
Como se poderão conciliar todos os serviços a que a lei * obriga os fa-
cultativos do quadro de saúde de S. Thomé?
Os soldados devem ter uma ração diária de café ou de vinho, e na
composição do rancho é conveniente a hortaliça, que se pôde obter fa-
cilmente.
N'esta ilha, onde os suores abundantes e a acção do calor diminuem
as forças e produzem a anemia, é necessária a alimentação tonica-excí-
tante, a qual o paiz fornecerá variada, boa, barata e hygienica, logoque
haja desejo de tratar convenientemente d'estas cousas.
A alimentação dos soldados continua a ser deficiente, não variando os
géneros empregados no rancho, o que n'este paiz é de um effeito pouco
salutar ; quasi que se sustentam de feijão, ou arroz principalmente. A agua
é apanhada no rio um pouco acima da foz e conduzida n'uma pipa para o
quartel, sendo necessárias as pedras de filtrar em abundância, pois a
diarrhea e a dysenteria têem nas aguas immundas do rio uma das causas
principaes; c tanto isto parece exacto, que as dysenterias estão quasi cir-
cumscriptas aos soldados e addidos.
São estas as considerações que nos cumpre fazer, e cremos que se não
farão esperar por muito tempo os melhoramentos e reformas necessárias
á conservação da vida dos soldados, como a rasão aconselha, a lei exige
e a bygiene ensina.
Alimentatão dos addidos.— Os addidos são considerados operários, e
como taes distribuídos para diversas obras publicas, e n'este caso são-
Ihes applicaveis algumas regras de hygiene dos pântanos, que extrahimos
do relatório de 1869, pagina 106, referindo-nos ao livro de Macedo Pinto.
1 .^ Os trabalhos dos aterros, charcos, pântanos ou paúes devem co-
meçar uma hora depois de nascer o sol, e terminar uma hora antes do oc-
caso;
2.^ Terão vestidos adequados e alimentação nutritiva, bemcondimen-
* Pelo regulamento incumbe-lhes assistir a lodos os corpos de delicio, às visi-
tas sanitárias do porto e diárias do liospit(il, ás inspecções militares, ás sessões da
junta de saúde, c alem d*isso fazerem o serviço do batalhão, o dos addidos, o da
camará municipal, e ainda mais escolher, preparar e remetter para Lisboa produ-
cios de historia natural, fazer um relatório annual, etc, ele.
437
tada com sal e substancias aromáticas, sendo metade das refeições forma-
das por substancias azotadas;
3.* Almoçarão antes de sair para o trabalho, tomando em seguida
uma ração de café ou de vinho;
4.* Próximo ao logar do trabalho haverá agua bem límpida e compe-
tentemente acidulada, empregando-sc para isso o vinagre, o limão, etc;
5.* Ser-lhes-ha completamente prohibido o deitarem-se no chão, quer
de dia quer de noite ;
6.* Terão cama regular e roupa para se agasalhar;
7.* Nenhum dos operários será reputado doente, sem a visita de um
facultativo, a qual deverá ser feita pelo medico da respectiva colónia pe-
nal.
Doestas regras geraes de hygiene da cidade de S. Thomé indicadas em
1869, para se applicarem aos addidos, nenhuma se poz em pratica, e por
isso a mortalidade attingiu o grau que se nota nos respectivos mappas.
É preciso fazer-se a remoção dos addidos para outro logar, e é muito
conveniente que a colónia penal se estabeleça em local afastado dos pân-
tanos e que seja próximo do hospital geral ; do contrario terá de con-
struir-se uma enfermaria especial com competente pharmacia, medico,
pharmaceutico e mais pessoal indispensável.
Tanto o hospital geral e permanente, como a colónia penal conserva-
rão entre si e a cidade relações regulares, a fim de que o serviço se faça
commodamente.
Da colónia penal serão remettidos os vegetaes para o batalhão ; e se
for organisada em boas condições, os productos das terras darão para as
despezas que ella fizer, e também para um cofre commum e para os
soccorros immediatos, sendo d'este modo úteis a si, aos outros, á ilha e
á fazenda publica. As consequências moraes e materíaes de um melhora-
mento d'esta ordem são evidentes, e por isso nos abstemos de fazer con-
siderações a este respeito, porque não pertence á junta de saúde o occu-
par-se de tão importante assumpto, mesmo por terem já sido encarrega-
dos alguns officiaes de o estudar na ilha e em outros pontos; mas não
podemos deixar de levantar um brado de alegria ao lembrarmo-nos que
se trata de realisar um melhoramento tão humano, tão civilisador, tão
justo, e de facilima e económica execução. . .
As condições dos addidos são actualmente péssimas, miseráveis e an-
ti-hygienicas; não tecm nome nem classificação possível, dormem, comem
e vestem mal I !
Mudem-se as condições de tantos infelizes, e veremos diminuir a sua
mortalidade. Os serviços que elles prestam nas obras publicas serão re-
gulares e úteis, e as despezas com dietas serão menores.
à
438
A realisaçao da colónia salisfaz a todas essas indicações, e nós pugna-
remos constantemente pelos infelizes addidos e pela colónia penal. «Pe-
de-o a humanidade e a religião christã ; exige-o a hygiene e a caridade ;
e, o que é mais, arrancam-se muitos desgraçados a uma morte certa ; ha-
verá mais operários para as obras publicas, e animam-se pela boa Fama da
ilha os trabalhadores que porventura convenha para o futuro introduzir
aqui».
Alimentação dos libertos. — A classe de liberto é a dos de trabalhadores
regulamentares. Na província do Minho, em Portugal, ha reuniões popu-
lares, em que apparecem uns expondo em praça os seus serviços, e ou-
tros examinando aquelles que mais lhes convém, a fim de os contratar
por um preço rasoavel. A essas reuniões chamam feira de creadas, e di-
zia-se muitas vezes os creados estão caros. Ninguém se julga offeodido
com estas palavras, e as feiras são muito concorridas. Todos entendem
que nasceram para trabalhar, e encontram ali os lavradores ou fazendei-
ros, desde o mais ignorante boieiro, até ao mais babil trabalhador de jar-
dins, de campo, de hortas, pomares, etc. ; em S. Thomè vê-se o contra-
rio, julgam que os homens nasceram para viver á sombra de uma palmeira,
e que a terra cumpre o seu dever, dando pão, vinho, azeite, fructos, e tudo
o que é necessário á vida sem ninguém lhe pedir cousa alguma.
A izaquente, volumoso fructo que abunda na ilha, a fructa-pão, os co-
cos, o andim, as bananas, a liamba, o algodão, o safu, o caju e muitos ou-
tros géneros necessários encontram-se nas fazendas, nos caminhos, em toda
a parte. Os libertos julgam que aquíllo é para olles, mas que o trabalho o
não él Os fazendeiros dão-lhes peixe de Mossamedes, bananas grandes,
farinha de mandioca, izaquente preparada, e em algumas fazendas téem
dinheiro, cachimbos, tabaco e paunos.
A alimentação dos libertos é, pois, como a dos indigenas, e, como estes,
amam certos manjares que preparam ao seu gosto e á moda da sua terra.
Alimentação dos empregados públicos, dos negociantes e dos earopeaa em ge-
ral.— X alimentação á portugueza é rara e muito cara. Os empregados
públicos soffrem privações, porque á maior parte d'elles é impossível al-
moçar, jantar e tomar a noite alguma pequena refeição sem gastarem pelo
menos 1^500 réis, que corresponde a um vencimento mensal de 45i5lOOO
réis, o que poucos recebem.
Como poderá subsistir um oflicial com 30í5000 réis?
Que posição dolorosa, dizíamos já em 1869 *, e continuámos a repetir.
1 Relatório da junta, pag. 108.
439
Se a alimentação é má e deficiente, gastam na pharmacia^ os seus ven-
cimentos e sustentam uma lucta inglória ; se quizerem ter uma alimenta-
ção regular, não Ibes chegam os seus precários vencimentos!
cA maioria dos empregados, n'esta ilha, ou andam ausentes dos seus
iogares, ou estão doentes ou em convalescença. Nem téem forças para o
serviço, nem gosto para o trabalho. »
Acerca da alimentação dos habitantes da ilha de S. Thomé mal se pôde
dar actualmente uma descripção minuciosa e completa. Pelas genersdida-
des enunciadas n'este capitulo pôde ajuizar-se até certo ponto da qualidade
e abundância dos alimentos, mas não da sua quantidade nutritiva e da sua
influencia no organismo ; e é de esperar que chegue occasião opportuna
de se fazerem analyses, observações e experiências tendentes a esclarecer
quaesquer duvidas que se apresentem a respeito d'este importante as-
sumpto.
Ha alguns factos notáveis que exigem attento estudo, sendo um d'el-
les o pequeníssimo augmento da população n'uns annos e grande dimi-
nuição n'outros. Prende-se esta questão á estatística da população, a qual
deve constar de elementos em que se não tem reparado até ao presente,
correndo por isso as estatisticas irregulares, incertas e duvidosas. Sirva
de exemplo este facto :
De 4871 para 1872 desappareceram do mappa dos habitantes doesta
ilha 1:364 individuos, sem se explicar o que foi feito d'elles!
É necessário empregar todos os meios para que se não repitam estas
e outras irregularidades, e ao mesmq tempo fazer todos os esforços, a fim
de que se torne possível o exame e estudos dos alimentos sob o ponto de
vi&ta da sua quantidade nutritiva e verdadeira influencia na procreação e
na producção das doenças dos habitantes d'esta formosa e fértil ilha.
Vestuário dos habitantes de 8. Thomé. — Um [)anno e uma camisa decotada
fazem o principal e um pouco livre vestuário da mulher do povo.
O panno envolve a cintura, caindo até aos pés, os quaes ficam comple-
tamente descobertos. A camisa é de braço curto e com o seu competente
bordado. Chama-se a isto andar em liberdade.
Os homens mandam vir roupas e calçado de Lisboa, e trajam vulgar-
1 Ao intelligente governador Pedro Carlos de Aguiar Craveiro Lopes devem os
«Miiprogados públicos o valiosíssimo benefício de terem o receituário abonado pela
fazenda publica.
fj nobre aquelle que deixar acções tão meritórias, e que se esforce para que
nào falte o pào aos empregados de um paiz, que percebem ténues vencimentos.
\
440
menle com asseio e distincçâo. Ha muitos que apparecem nas suas re-
partições com a maior decência.
Em objecto de vestuário è necessário distinguir também as differeotes
classes de habitantes, e seriamos demasiadamente minuciosos se failasse-^
mos dos soldados, dos addidos, dos libertos, dos empregados públicos,
dos negociantes c agricultores, das mulheres de distincçâo e do povo, e
até dos padres. S3o classes differentes, cada uma com as suas inclinações,
com os seus exageros e com o seu modo de trajar finalmente.
Escrevemos no relatório de i869, a pagina i09 :
tO vestuário pôde ser característico de um paiz, de uma província e
até de uma cidade; e ate o pôde ser de uma ou de outra epocha, quando
se trata de usos e costumes, t^
Actualmente pôde dizer-se que não ha feição particular e diversa da
que apontámos n'aquelle anno.
A cidade desmerece do nome ao patentear as suas ruas ordinárias, ao
mostrar os seus tristes cercados, os quintaes e as praças ! A feira sem or-
dem, os becos sem limpeza, a tortuosa e morosissima corrente do rio e
margens pantanosas e encharcadas fazem-n'a descer muito mais ; e se no
meio de tudo isto se passeia sobre herva, ou por entre aguas emprazadas
nas depressões das ruas, abate-se a cidade de S. Thomé até se não poder
comparar com o mais escondido logarejo das provindas de Portugal. E
quem poderá exigir um vestuário rígoroso, um toilette elegante, um ves-
tido de primeira ordem?
O trajo dos angolares consiste em duas tiras de panno atado á cintura
com uma corda; o resto do corpo fica nú, aindaque esteja a chover.
Quando saem de casa para o mato untam-se com azeite do palma, jul-
gando-se assim, quando chover, ao abrigo de qualquer resfriamento.
Usos e costumes dos habitantes de 8. Tliomè. — Não se deve fallar dos usos
e costumes de um paiz onde as escolas de instrucção primaria são poucas
e mal dirigidas. O povo recebe a instrucção que se lhe oflferece; e quando
esta falta, o que se pôde exigir d'clle?
É innegavel que os nativos têem inlenigencia, amam o estudo, e am-
bicionam gloria*; mas se lhes faltam as escolas e os bons mestres, nin-
guém dirá que elles podem aprender.
* Conhecemos muitas creanças que lêem e escrevem regularmenle, c ha rapa-
zes de quinze a vinte annos com boa cailígraphia, que téem amor ao trabalho e desejam
ser úteis a si c aos seus. O amanuense que fez a copia do relatório da junta de
saúde que foi remeltido para a secretaria em 1872 é uma das provas do que avan-
çamos, e poderíamos também nomear os empregados da alfandega e das secretarias
44i
A educação civil e ccclesiastica tem grande poder no futuro dos po-
vos, na sua felicidade, no seu amor ao trabalho e á pátria, e aos seus si-
milhantes. Aos poderes públicos cumpre estabelecer uma e outra, empre-
gando os meios ao seu alcance para dar a luz a quem a nSo tem.
Fazem-se ainda requerimentos aos santos, esperando bom deferimento
contra um inimigo ou para que desappareça qualquer doença. As creanças
trazem ao pescoço contas, sementes, bervas, paus benzidos, etc, para as
livrar do feitiço e maus olhados ^ As mulheres, aos sete dias do parto,
v3o ajoelhar ás porias das igrejas, offerecendo-se a Deus. Nas suas cuba-
tas não se pôde entrar, porque são pequenas, baixas, sem gosto, sem or-
dem e sem arranjo. Não ha leitos regulares, uma esteira estendida no chão
serve de cama ! Gostam de se enfeitar, amam a musica e a dansa ; mas
nas festas e landús perdem toda a elegância pelos tregeitos que fazem.
Entre ellas, porém, ha muitas que dansam soffrívelmente, e se apresen-
tam com graça e simplicidade.
Um arrayal ná ilha de S. Thomé. — Na proximidade da igreja faz-se uma
barraca ou cubata muito grande, dentro da qual se põe a mesa. Gompõe-se
esta barraca de oito estacas de altura regular e sobre ellas coUocam-se tra-
vessas e uma porção de andala de palmeira, que é amarrada ás travessas
com corda feita da mesma andala, a que se dá o nome do inhé. Na cabe-
ceira da mesa toma assento o juiz da festa e, para mais distincção, no es-
teio ou estaca que lhe fica mais próximo, põe-se a imagem de Jesus
Christo. Se porém, algum offlcial da mesma festa se assentar n'este lo-
gar, paga a multa (a que elles chamam condemnação) de uma garrafa de
aguardente ou botija de genebra, c o dinheiro que o juiz e mais officiaes
arbitrarem.
do governo. Déem-lhes escolas regulares e bem dirigidas, que a mocidade n^estailha
será illustrada.
^ Quando vimos pela primeira vez o immedíato do commandante dos angola-
res, tinha elle uma saliente corcunda. Lamentámos similhante deformidade, e não o
encarámos detidamente n'aquella occasião, reservando-nos para no dia seguinte
examinarmos o phenomeno logoque nos fosse possível, poisque, tendo cbegado à
capital pelas nove horas da noite, pensávamos mais em descansar do que em indagar
das causas de similhante aleijão. Mas qual não foi a nossa surpreza quando, ainda
não tinham decorrido vinte e quatro horas, nos approximámos d*aquelle individuo,
com o Gm de o comprímentar e o vimos sem a corcunda! Soubemos depois a causa.
Á nossa chegada tinha o pobre do homem vestido á pressa um casaco, e o seu
saco contra o feitiço ou contra os maus olhados, não havia assentado bem e pro-
duzira aquelle grosso volume sobre as costas.
A não ser aquelle incidente, não teríamos conhecido tão bem o génio supersti-
cioso do homem do saco, o immedíato do rei dos angolares.
442
As comidas sao compostas, em geral, de uma porção de lUispeiey que
d feito da mandioca, de banana assada, calulú e de idgiógó. Em grandes
óg69 (cabaças) está o vinho de palma, e não falta vinho tinto, genebra e
aguardente, O arrayal dura dois ou mais dias e as dansas começam ás sais
OQ sete boran da tarde. É muito conhecida a musica da irmandade de Santo
liidoro. Os instrumentos limitam-se a um tambor, zabumba e flautas de
caniços toscamente feitas !
Snterrameatos. — O modo como se fazem os enterramentos também
tem alguma cousa de singular.
Quando morre alguém que tem irmãos ou mais parentes, estes e os
conhecidos se juntam e principiam a chorar ; depois lavam o cadáver, ves-
ttm*-n*o, tiram licença e faliam a um padre para o encommendar; mettem
o defunto no caixão, que collocam em cima de uma mesa na sala, tendo
previamente coberto a parede com um panno preto e encostado a esta
uma outra mesa cm forma de altar, em cima da qual põem a imagem de
Cbristo alumiada por duas velas, e convidam dois sacristães para can-
tarem na qcoasião de conduzirem o cadáver para o cemitério.
Nos usos e costumes dos habitantes d'esta ilha ha muito que refor-
mafs no que respeita á moralidade, religião e clvilisação, para que possa
tomar o seu logar na estrada do progresso colonial, que deve ser prote-
gido por todas as auctoridades superiores.
Religião dos habitantes de S. Thomè. — A religião dos povos d'esta ilha é
a catholica romana, mas os templos são somente d'esta terra ; não se en-
contram outros assim em parle alguma.
O templo da Sé servia, em 4872, de deposito das obras publicas!
Tem-se gasto ali quantia superior a i2:000;5000 réis, e não se vê de
igreja mais que as paredes exteriores, porque o interior está todo arrui-
nado.
Na villa da Magdalena o templo parece uma casa velha abandonada, e
a igreja da villa da Trindade, collocada n'um agradável outeiro, pelo es-
tado em que está, faz desanimar o mais fervoroso catholico.
Não faltemos das outras igrejas: não faltemos de cousa alguma mais
a similhante respeito, e terminaremos com as seguintes palavras do rela-
tório de 1869, a pagina 115:
cDéem-^e a este povo bons mestres e bom clero, eduquem-no para o
trabalho, que não serão perdidos taes esforços. Muitos e muitos indígenas
conhecemos illustrados, cortezcs c amigos de trabalhar, c isto acontece
nas circumstancias em que tem estado sempre esta ilha.
«O que aqui falta é um bom e útil ensino fabril, franco e intelligente
443
ensino religiosoi fácil e carinhoso ensino lílterarío. Se instituir^oi estes
três elementos do progresso e da civilização p'esta ilha, ella sairá do aba-
timento moral a que chegou» para entrar na senda do progresso. Ver^se-ha
renascer por toda a parte a esperança. Formar-se-hão associações de be-
neCccncia, desapparecerão os costumes brutaes, e a religião não será um
simulacro. Ao movimento moral e intellectual seguir«se-ha a prosperidade
publica, para a qual ha verdadeiros elementos, e a ilha de S. Thomè será
então a Madeira do Equador ! t »
O assumpto é vasto e muito complexo. Se por um lado se tem a exa-
minar as proflssões, a alimentação, o vestuário e as habitações dos povos
d'este paiz, por outro é necessário attentar no seu temperamento, consti-
tuição media, longevidade e maior ou menor duração da vida de cada um.
Cumpre, porém, declarar, que muitos males se poderiam ter reme-
diado se fosse mais demorada nos conselhos da coroa a permanência de
homens reconhecidamente dedicados á causa da civilisação e engrandeci-
mento das nossas colónias, os quaes, havendo estudado e intentado cer-
tos melhoramentos para as provindas ultramarinas, não tiveram tempo
de fazer realisar a sua execução.
A falta de recursos pecuniários, e o pouco ou nenhum conhecimento
que alguns deputados representantes das nossas possessões têem das suas
necessidades urgentes, são também causa de se não attenderem as con-
stantes reclamações de muitos goveniadores. Como pôde advogar, com
verdadeiro conhecimento, as vantagens ou desvantagens de qualquer me-
dida, ura individuo que só conhece uma localidade por ter ouvido fallar
n'ella, ou por ter lido o que muitos também escrevem sem terem sido tes-
temunhas oculares? Por melhores que sejam as intenções e boa vontade,
falta o principal, que é o conhecimento pratico.
Na secretaria do ultramar existem todos os elementos necessários
para se poder decretar ou propor ao parlamento uma reforma ampla e ra-
dical; mas qual será o ministro que a possa emprehender de uma vez?
Onde se poderiam ir buscar os recursos precisos para se augmentar a
nossa esquadra, provel-a de bom material e pessoal necessário, sem ele-
var consideravelmente a divida publica. Sem navios de guerra e transpor-
tes não se pôde attender devidamente ao progresso colonial. Esta é a
primeira necessidade. Depois seguem-se as expedições compostas de in-
divíduos competentemente habilitados para os trabalhos de obras publi-
cas, e o augmento do exercito de terra e do pessoal das repartições, muito
mais bem retribuidos do que actualmente estão, para poderem supprir
ás mais insignificantes obrigações da vida.
Tem sido esta sempre a nossa opinião, e já tivemos o gosto de ver
organisar duas expedições, que muito devem contribuir para o progresso
444
das possessões que vão explorar. Oxalá que em breve possamos dólar
todas as provindas com iguaes elementos.
A attençSo da maioria dos porluguezes está fixa n'este assumpto, e
parece-nos que não haveria grande repugnância dos povos em fazerem
algum sacrificio para se efifectuar a reforma completa das nossas posses-
sões» o que nos poria a par, como paiz colonial, das primeiras nações da
Europa, e attenuaria a repugnância dos que actualmente olham para as
provincias de alem-mar com horror, buscando em outras terras os ele-
mentos de riqueza que ali poderiam encontrar.
\
Empregados nas repartições palilicas ila illia lie S. TIiouib
desde 18fi» a 1872
DfliíDacats
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Tenentes quartéis mestres
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Alferes ajudante
Cónego
Vigários capitulares
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Escrivães
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447
Namero de indiyidaos qne entraram na ilha de S. Thomè desde 1868 a 1872
Designações
Negociantes
Caateleiro
Serventes
Trabalhadores
Missionário*
Governador • .
Advogados
Carpinteiros
Gapitfles de navios . . «
Caixeiros
Marinheiro
Lavradores
Gerente do banco < . • •
Peixeiros
CoBÍnheiro
Músicos
Menores
Administrador de propriedade. •
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448
Governadores de S. Thomé desde 1842 até 1872
Bernardo José de Sousa Soares de Andrêa, ofiQcíal da armada, foi no-
meado por decreto de 14 de novembro de 1838. — Ignora-se a data
em que tomou posse.
Leandro José da Costa, brigadeiro reformado de milícias. — Tomou posse
em 5 de fevereiro de 1843.
José Maria Marques, capitão tenente da armada. — Tomou posse em 11
de março de 1843.
Desde 1 de maio de 1846 até 26 de janeiro de 1847, exerceu a direcção
dos negócios da província o conselho do governo.
Leandro José da Costa, brigadeiro reformado de milícias. — Tomou posse
em 26 de janeiro de 1847.
Carlos Augusto de Moraes e Almeida, capitão tenente da armada. — To-
mou posse em 30 de setembro de 1847, e fallecendo em 22 de novem-
bro do mesmo anno, assumiu a direcção dos negócios da província até
20 de julho de 1848, o conselho do governo.
José Caetano Bené Yímont Pessoa, capitão tenente da armada. — Tomou
posse em 20 de julho de 1848, e fallecendo em 30 de junho de 1849,
assumiu a direcção dos negócios da província até 12 de dezembro de
1849, o conselho do governo.
Leandro José da Costa, brigadeiro reformado de milícias. — Tomou posse
em 12 de dezembro de 1849.
José Maria Marques, capitão de fragata. —Tomou posse em 9 de março
de 1851.
Francisco José de Pina Bollo, capitão tenente da armada. —Tomou posse
em 20 de março de 1853.
Adriano Maria Passalaqua, primeiro tenente da armada. — Tomou posse
em 28 de julho de 1855, e fallecendo em 21 de março de 1857, assu-
miu a direcção dos negócios da província até 15 de janeiro de 1858 o
conselho do governo.
Francisco António Correia, capitão tenente da armada. — Tomou posse
em 1 5 de janeiro de 1 858, e fallecendo em 29 de maio do mesmo anno,
assumiu a direcção dos negócios da província até 7 de fevereiro de
1859, o conselho do governo.
Luiz José Pereira e Horta, capitão do exercito de Portugal. — Tomou
posse em 7 de fevereiro de 1859.
Desde 8 de julho até 21 de novembro de 1860, exerceu a direcção dos ne-
gócios da província o conselho do governo.
Pilmeua braTi t uma mulimlieira. na Cabacaua Giande
449
José Pedro de Mello, major do exercito de Portugal. —Tomou posse em
21 de novembro de 1860.
Desde 8 de julho até 17 de novembro de 1862, exerceu a direcção dos
. negócios da província o conselho do governo.
José Eduardo da Gosta Moura, major do exercito de Portugal. — Tomou
posse em 17 de novembro de 1862.
João Baptista Brunachy, primeiro tenente de artilheria da província. —
Tomou posse em 30 de março de 1863.
Estanislau Xavier de Assumpção e Almeida, capitão do exercito de Por-
tugal. — Tomou posse em 8 de janeiro de 1864.
João Baptista Brunachy, capitão de artilheria da provinda.— Tomou posse
em 11 de agosto de 1865.
António Joaquim da Fonseca, capitão de artilheria da província. —Tomou
posse em 30 de julho de 1867.
Estanislau Xavier de Assumpção e Almeida, major do exercito de Portu-
gal. —Tomou posse em 30 de outubro de 1867.
Pedro Carlos de Aguiar Craveiro Lopes, capitão tenente da armada. —
Tomou posse em 30 de abril de 1869.
João Climaco de Carvalho, capitão tenente da armada. — Tomou posse em
7 de outubro de 1872, e fallecendo em julho de 1873, assumiu a di-
recção dos negócios da província até 28 de outubro do mesmo anno, o
conselho do governo.
Gregório José Ribeiro, capitão tenente da armada. — Tomou posse em
28 de outubro de 1873.
Por este quadro vé-se, pois, que desde 1842 a 1873, dirigiram a pro-
víncia de S. Thomé e Principe vinte e dois governadores e oito conselhos
de governo.
i9
CAPITULO vn
NavegagãLOi credito e oapltaeif
l^jio dis casas eommerciaes existentes na ilha de S. Thooé do anno de (872. — Caf^ e cacai ei-
portado nosannos de i 869 a (872 e sen Talor no mercado.— Valores dos géneros importados e
exportados pela alfandega de S. Thomé nos annos de (869 a (876.— Bireitos de importado e
exportario cobrados na alfandega de 8. Thomé nos annos de (869 a (876.— Transfereieii de
fnndos da alfandega de S. Thomé para o cofre da fazenda nos annos de (8&t a (876.— Embar-
eaçies entradas no porto de 8. Thomé nos annos de (868 a (876. — liedia da dnra^io das
viagens de Lbboa a S. Thomé e de Loanda a S. Thomé nos annos de (870 a i876.— hbarca-
cies entradas no porto de S. Thomé nos annos de (868 a (876, com desigqasiP de classei, pro-
cedências e nacionalidades. — Distancias Ulometricas entre dÍTcrsos portos. — Ezpor(a$âo du |rovindas
ultramarinas em (869.— Exportação d^s provincias nllramarínas em i876.~Designa{|o do9 pro-
dactos coloniaes, qne Tieram para Lisboa em (876.— Rendimentos poblicos.
Relação das casas eommerciaes eiistentes na ilha de S. Thomé
no anoo de 1872
Frpgoezias
Nossa Senho-
ra da Graça
(Cidade)
Xomps (los proprioUrios
Localidades
ClassifiraçTics
/Francisco de Assis Bilard
•
Cravid ót Santos
Rua do General Ca-
Ihciros
Idem
Seccose mo-
lhados.
Molhados.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Manuel Simões da Silva
Joaquim Viegas de Abreu
André Fernandes de Barros
Manuel da Gloria Costa Alegre . .
José Fernandes de Barros
l Manuel Pimentel Montevorde. . . .
Rua da Misericórdia
Idem
Rua do Tronco . . •
Rua do General Ca-
Iheiros
Rua de Cima da Sé
Idem ...
451
FregoexíM
Nomes dos proprietários
João Pires dos Santos.
Nossa Senho-
ra da Graça
(Roças)
Manuel Pimentel Monteverde . • .
I Lucinda Maria fiarbosa e Paiva. .
Nicolau José da Costa
JoSo Innocencio Machado
[José Pires dos Santos
Francisco José da França c Al-
meida
Feliciano José da Costa
José Narciso da Costa
António Pereira da Cunha
Maria da Piedade França e Almei-
^ da de Andrade
Nossa Senho- (João Mendes da Costa e Silva. . .
rada Graça{ André Gonçalves Pinto
(Cidade)
Nossa Senho-
(José António Soares Dias,
Jo2o Baptista de Macedo .
Simfio Anahory
Localidades
José Afiònso Bastos
Manuel Joaquim de Sousa
1 Joaquim António Gomes Roberto
Rebello & Sobral
Miguel de Sousa
Amaral & Irmão
Mato Audim
Lima & Leal
Lima á Leal
JoSo Antooio Pereira da C^nha. •
António de Paiva Soares Diniz. .
João da Costa Guimarães jldem
João d*AIva Rua da Feira Velha
Petepete
Moula
Margarida Malé . . .
Ubaquime
Palha
idem
Caixão Grande....
Bombom
Armelim
Thió
Rua do Tronco . . .
Rua do General Ca-
Iheiros
Rua do Pelourinho
Rua das Flores . . •
Rua da Praia Açou-
gue...
Praça do Governa-
dor Mello
Idem
Rua do Morgado..
Rua das Flores . . .
Rua do General Ca-
Iheiros
Rua do Rosário...
CluiifieaçSes
Roa de Góes
Rua de S. João . .
Rua das Flores . . .
Idem
Seccose mo-
lhados.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Molhados.
Drogaria.
Seccose mo-
lhados.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Molhados.
Seccose mo*
Ihados.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
4b2
•
Frefioias
Nomei dos propríeUrios
«
Localidades
QassilicaçOet
/Francisco de Assis Bilard
Rua de Góes
Seccose mo-
'
lhados.
Francisco de Assis Bilard
Rua de Soares....
Idem.
Manuel da Graça Camplô
Rua da Praia Açou-
ime
Idem.
António Pedro Monforte
Rua das Rosas. . . .
Molhados.
Félix Joaquim de Oliveira
Praça do Governa- (Seccose mo-
.
dor Mello ( Ihados.
António Eduardo Reis ......••.
Rua das Flores . . .
Rua de Góes
Molhados.
Seccose mo-
Jo2o António da Silva Valia. . . .
lhados.
Manuel José Gomes
Rua do Rosário...
Rua de Góes
Rua do General Ca-
Molhados.
Seccose mo-
lhados.
JoSo d'Alba
Nossa Senho-
ra da Con-
ceiç5o....
(Cidade)
' Sousa Almeida & Thibus
•
Sousa Almeida & Thihus
Iheiros
Rua da Praia Ta-
Idem.
Manuel Duarte da Silveira
baco
Idem.
Idem.
Rua do Morgado. .
Josó Maria Constantino
Rua das Flores . . .
Idem.
Lucrécia Maria Barbosa e Paiva . .
Rua do Rosário...
Molhados.
Nicolau José da Gosta .......••
Praça do Governa- í^^^-cosâmo- II
1
dor Mello
Ihados.
António Auzancot &. C*
Idem • . . . .
Idem.
Idem.
Idem.
José Roballo Gamboa
Rua do Morgado..
Rua Soares
José Manuel da Costa França. • . .
José Velloso de Carvalho
Rua do General Ca-
\ Justino Teixeira Guedes
Iheiros
Idem.
Rua da Feira Velha
Idem.
1 JoSo Innocencio Machado
Rua da Praia Ta-
NossaSenho- Jo2o da Costa GuimarSe»
hflCO •
Idem.
Idem.
Boa Morte
ra da Con*
Jofio d' Alva ...A....
Agua Grande
Boa Morte
Idem.
Idem.
ceiçifo.....\
Joaquim Yiefas de Abrea
(Roças) J António Augusto Barreto da Fon*
F
ovvO '^••••••^••«•••••ééA**
Agua Porca
Bobó
Idem.
Idem.
1
António Pereim Mia Cunha* • . . » .
433
Fr«gaeiias
Nomes dos proprícUrios
Santissima/Felix Joaquim de Oliveira
Trindade . . |
(Villa) f Manuel Duarte da Silveira
I
[Caetano Bernardo Pimentel
Joaquim de Carvalho Pouca|Roupa
Amaral & Irmão
Amaral & Irmão
Nicolau José da Costa
Nicolau José da Costa
João d'Alva
Manuel da Gloria Costa Alegre . .
Sanlissima Ij^^ da Costa Guimarães
Trindade, .(gousa Almeida <5t Thibus
(Districtos) prancisco de Assis Bilard
Rebello & Sobral
José Velloso de Carvalho
Joaquim António Gomes Roberto
António Azancot 6l C*
José da Costa França
I Rebello & Sobral
\Franeisco da Silva
IJoSo António da Silva Valia ....
Simão Anahory
Francisco de Assis Bilard
Sousa Almeida & Thibus
I Nicolau José da Costa
Jofio Baptista de Macedo
Sousa & Irmão
I António Pereira da Cunha
Francisco d'Alva Brandão
António Azancot & il.*
Sousa Almeida & Thibus
N. S. de Gua-j Nicolau José da Costa
delupe .... /António Azancot & C*
Francisco A. da Fonseca Aragão
Magdalena . . \ José Marques
Joaquim Viegas de Abreu
Localídadcf
Lemos
Cruzeiro
Idem
Ubaquim
Matheus Angolar..
Batepá
Matheus Angolar. .
Folha Fede
Agua Creoula
Agua Funda
Cima Cola
Agua Tanque
Belém
Obó-longo
Matheus Angolar..
Agua Doce
Cruzeiro
Monte Fidele
Mussungu
Angra
Angra
Angra
Cruz Grande
Cruz Grande
Obó Izaquente....
PaUto
Campo
Classificações
Seccosemo-
Ihados.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
(dem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
Idem.
4?)4
Mappa dcmonslratifo da quantidade do café e cacau,
eiportados da ilha de S. Thomè nos annos de 1869 a 1872,
e seu valor no mercado
Annos
Mexes
1869..
Janeiro . . .
Fevereiro .
Março.. ..
Abril ....
Maio
Junho ....
Julho
Agosto....
Setembro .
Outubro ..
Novembro.
l Dezembro .
1870. .
Janeiro . . .
Fevereiro .
Março....
Abril . . . .
Maio
Junho....
Julho
Agosto. . . .
Setembro .
Outubro . .
Novembro.
1 Dezembro
Café
Kilogrammas
1:113
153:203
5:786
5:692
6:200
431:325
24:600
326:888
394:614
145:506
443:630
82:538
2.021:095
89:859
92:201
35:657
103:413
352:921
404:277
344:123
257:021
31:810
2:089
175:00o
Valor
165^450
21:993^267
8595800
843^450
8891400
63:775^610
3:515^340
48:246iS890
59:149i$510
24:501)^680
65:907)^430
12:373^450
302:221.^277
1.888:376
13:31 U440
13:895^150
5:314^275
15:420^300
52:188^385
61:203ifi650
49:404if>641
37:489^911
5:007 j£860
23U700
6:988^920
260:456^232
Cacaa
Kilogrammas
6:981
531
13
1:040
8:855
907
1:746
6:625
5:419
9:895
1:903
44:115
9:780
16:26:)
6:461
2:478
3:418
1:035
5:064
19:373
.6:114
il5
22:757
92:858
Valor
960j!S520
73i^780
ls^820
112^570
1:229^200
1254720
2724620
947:^240
75U660
l:288i$660
263 ^9(K)
6:027^690
1:355^654
2:2554000
9864380
3544960
4744740
1314490
6944270
2:6124560
7284548
10j;000
3:0924600
12:6964202
45»
^>*«
Aniioi
4871
MeiM
Janeiro...
Fevereiro .
Março... .
Abril . . . .
Maio
Junho....
Julho
Agosto . • .
Selembro .
Outubro ; .
Novembro.
\ Dezembro
/Janeiro...
Fevereiro.
Março
487Í.
Maio..
Junho.
Julho .
Agosto
Setembro .
Outubro..
I Novembro
Dezembro
Café
Kilognmmafl
9:084
7:757
5:977
28:037
28:538
335:448
254:823
679:509
208:264
299:103
39:649
66:816
1.903:005
113:282
152:785
3:230
60:335
134:119
95:758
208:059
491:209
58:949
180:234
46:976
51:631
1.596:567
Talor
1:427^150
1 :096^800
1:383^650
4:10U830
8:532^450
52:952^550
39:4285i80
99:003^470
30:3275410
45:76U990
5:643^280
9:198;g800
298:857^860
16:543^200
22:285^^890
470^250
8:784^460
19:659^150
13:970^500
30:572^580
72:900^865
8:571^100
26:420^250
8:778^400
10:042^500
238:999^145
Gacaa
Kitograinmas
2:556
3:090
4:265
9:248
2:342
10:342
3:200
35:232
9:112
5:080
17:954
22:202
10:408
10:145
272
26:452
21:895
1:076
4:566
8:539
4:300
56:335
16:204
52:412
212:604
Valor
119^150
368^560
578^300
1:103^140
318^500
1:3795640
3805220
4:607^520
8025640
1:1375626
2:9625580
2:5545120
124:023 16:4115996
1:0405600
1:3915640
365960
3:6135080
2:9765680
1465660
6205620
1:1285380
5845500
7:0915080
2:0085540
6:8285840
27:4675580
4ufi
Valeres dos géneros importados e eiportados pela alfandega de S. Thomé,
nos annos de 1S69 a 1876
Amos
Meies
Janeiro
Fevereiro.
Março
Abril
Maio.
Junlio.
1869
Julho.
Agosto.
Setembro
Outubro
Novembro
\ Dezembro
Somina.
Total
Media mensal,
Navios
JNacionaes ..
r Estrangeiros.
iNacionaes ..
1 Estrangeiros.
iNacionaes ..
/Estrangeiros.
\
Nacionaes . .
I Estrangeiros.
Nacionaes ..
Estrangeiros.
Nacionaes ..
Estrangeiros.
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f Estrangeiros.
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JNacionaes ..
(Estrangeiros.
Nacionaes . .
Estrangeiros.
Nticionaes ..
Estrangeiros .
J Nacionaes . .
/Estrangeiros.
Importarão
7:031^178
-^-
7:097^382
illi^BOO
15:543i»570
-*-
o:2r>7i^2!9
-í-
18:80oM84
21:256 Jí89â
10:052^466
556^845
10:172i^965
831^853
Í0:22i^l2i
41 MOO
4:232^034
l:655|i808
8:47U643
750^000
10:689^887
40^000
132:789i|!i547
Ex|>ort3çâo
237^450
23:609^560
1:253^060
1:385^630
-*-
1:412^710
65:852^590
-í-
3:557^580
127i^200
50:75U490
104650
60:544^030
24:7284160
8644320
72:2994560
2324500
13:9174350
-4-
320:7834860
453:5734407
37:7974783,9
.....
..„.
Sinoi ] ImporU^íi.
EiporUfío
Ian.1,.
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
Í3:800»S31
l:45i*7li
14:716*448
340*000
Fevereiro
Nacionaes ...
Estrangeiros..
I5:l89íá62
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25*400
-*-
Nacionaes . . .
15i037i450
16:723*798
Estrangeiros..
166^830
-í-
Nacionaes ...
Estrangeiros..
12:311 «63
Í53SÍ.7B
7:S09*89S
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Maio
Nacionaes . . .
19:0tifl94
IS:I88*8IS0
369áo«0
-i-
Nacionaes ...
Estrangeiros . .
37:979*693
70*000
54:985*958
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Julho
Nacionaes . . .
27:704*208
62:332*180
Estrangeiros..
-*-
-*-
Agosto
Nacionaes...
Estrangeiro!!..
23:699*121
iO8*S10
45:749*430
37*S00
Selcmbro
Nacionaes...
11:094*290
34:098*060
Estrangeiros..
437*728
8:731*300
Otilnbn
Nacionaes . . .
5:998*120
6:287*398
Estrangeiros..
lOOáOOO
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Novembro
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
7:668*941
-í-
469*400
-a-
Nacionaes ...
Estrangeiros..
13:317*970
-a-
32:666*080
.-*-
•íomina
205:532*339
300:074*694
5O5:fiO7*033
M.-Hja iiiítisal ....
Nacionaps . . .
Estrangeiros..
42:133*919,4
ll:330*46;t
2:286*680
-a-
1871
Fevereiro
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
19:391*308
-*-
1:468*360
-a-
Março
Nacionaes . . .
t(:407*74)l
2:789*180
Estrangeiros..
-*-
_*-
42:189*519
S:((U*IM
Kaaot
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,..,..
ImporUclo
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IVinutiorfe
_
42:18g«SI9
6:!»ilfl90
Nacionaes ...
92:858j029
5:389*740
Estrangeiros..
9W698
-#-
Nacionaes . . .
EslrangeiroB..
33;5SU33S
402000
8:988*950
_*_
Nacionaes ...
Estrangeiros..
17:5051335
-í-
33:708*079
-í-
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
11:989W2S
-*-
47:418*780
-í-
1871
Agosto
Nacionaes...
EstrangFÍros..
11:875^891
900*000
104:125*830
-5-
Selembro
Nicionaes ...
3i!:556l730
30:080*800
Estrangeiros..
aaoaooo
1:879*200
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
27.-951Í986
-6-
38:936*796
8:528*400
Novembro
Nacionaes ...
Estrangeiros..
17:08IS186
-í-
9:079*320
-*-
Doíembro
Nacionaes ...
Estrangeiros..
6:2134124
-i-
13:167*800
-*-
Soraoia
208:056 M58
:)26:8it5765
53i:898fi743
Media mensal
Nacionaes ...
Estrangeiros..
44:374 5895,2
30:832f7BI
-í-
17:982*210
-*-
Pever ro
Nacionaes ...
Estrangeiros..
17:516^944
24:385*400
-a-
Nacionaes . . .
2?:812«08!
1:013*210
1872
Estrangeiros,.
-i-
-í-
Abril
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
49:838Í977
-í-
12:198*418
-a-
Mab
Kacionaes . . .
Estrangeiros..
50:567*404
23:006*420
-*-
Junhu
Nnuionaps . . .
2?;6383846
13:1333620
Estrangeiros..
-í-
-&-
199:207f034
91:721í278
^
„..,.
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EipoiUclD
Trantport»
_
19g:S07M34
91:721*278
Julho
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2S:Sf2fS30
31:807*660
Estrangdros..
-í-
-*-
Nacionaes . - .
S9:319ig9>J
73:404*743
Agosto
Estrangeiros. .
-t-
-*-
Nacionaes . . .
9:441^387
9:330*410
Estrangeiros..
-S-
-*-
I87S i^
Nacionais ...
16:896*115
11:379*620
Oulnbrn
Estrangeiros. .
-A-
22:838*910
Nacionaes...
I7:308#2«
11:073*240
Novembro
Estrangeiros. .
2135000
-*-
Nacionaes ...
7:630,8100
18:136*930
Deiíembro
Somma
JqÍSÍ
Estrangeiros. .
-3-
33S:«8S309
-*-
2159:314*793
604:7433102
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Janeiro
Nacionaes . . .
30::!95áÍ38,4
16:115^489
24:324*980
Estrangeiros..
.4.
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Nacionaes . . .
15:7Slí399
14:739*060
Fevereiro > é > > > . . . » ■ >
Estrangeiros. .
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-*-
Nacionaes...
Estrangeiros..
94:509í378
7:800*543
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Abril
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
28:735M17
31:576*400
-6-
Nacionaes ...
S3:064«S34
21:147*770
1873
Maio
Estrangeiros. .
-£-
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Nacionaes . . .
38:410*638
44:719*940
Ealrang-iros. .
-í-
-*- l
.Nacionaes . . .
20;183í747
107:047*170
Julho
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-*-
-*-
Agosto
iNaeionaes . . .
36:659*019
33:340*680
Estrangsin». .
-*-
-*-
Nacionaes ...
37:790*524
64:931*713
Seleubro
Estrangeiros..
-*-
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339:59l«l58
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Novembro
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Nacionaes
Estrangeiros.
Nacionaes .
Estrangeiros,
, Nacionaes .
Estrangeiros,
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Estrangeiros,
Nacionaes
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Nacionaes
Estrangeiros.
Nacionaes .
Estrangeiros,
Nationaes .
Estrangeiros.
! Nacionaes
Estrangeiros.
1 Nacionaes
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47:758*100
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19:032í608
-í-
24:8 13 j4 12
-í-
71:6831816
-S-
38:6722698
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19:746«308
486^4011
30:997 «803
11:778*070
-3-
83:459*740
-S-
42:838*920
4:361 *Oãíl
83:378*539
-*-
96:141*390
-*-
20:511*300
22*500
19:971*443
l:477jliO
398:896*777
Abdw
Mniil
Natios
Importa çilo
Transporte
_
352:i65í662
398:8963777
1874
Dezembro
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
ll;ii!8fi601
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17:199*420
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810:176^838
Media msjisal ....
67:5IÍí736,.í
Janeiro
ÍSacionaes . . ,
Estrangeiros..
30:020*174
82:727*470
-í-
Fevereiro
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
18:197ía9l
-i-
14:892*680
-*-
Nacionaes . . .
38:84)9/894
1:363*200
Estrangeiros..
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-*-
Abril
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a3:717A8SI
Estrangeiras. .
l:243i339
-í-
Maio
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
89:921^229
408^300
20:175*354
-i-
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Jdho
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
Estrangeiros. .
51:792í654
793Í375
37:493*233
-è-
43:325*794
-fi-
60:329*122
-#-
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
.>i3; 618*048
6111902
131:367*383
-*-
Setembro
Nacionaes ...
34:639 jS42
73:478/100
Estrangeiros. .
14U572
7:689*780
Outubro
Nacionaes . . .
19:858i354
50:833*146
Estrangeiros..
4«27S
865*160
Novembro . ,
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
2l;883j606
-í-
43:809*148
-*-
Nacionaes ...
Estrangeiros..
2r>:636i644
-í-
8:570*390
-*-
458:840M39
313:451*112
Tolal
972:2S
lí.151
Media mensal
81:0244295,92
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M«IM
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Janeiro
Nacionaes . .
98:319^233
65*309
12:496*230
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Nacionaes...
3i:\5likQ6
2Í8*980
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415^184
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Nacionaes . . .
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13:733*048
Estrangeiros.
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Abril
Nacionaen . . .
62:530*754
2:866*939
Estrangeiros..
l:47S*OO0
-4-
Nacionaes . . .
34:3035757
63:o51*630
Maio
Estrangeiros..
6d6£OO0
393*000
Nacionaes . . .
£3:4955066
42:6215820
1876
Junliti
Estrangeiros..
6733000
48:829*431
53*800
23:793*888
Jullio
Estrangeiros.
319*050
37*500
A«osl(j
Nacionaes .■
62:701*269
5i: 4975450
EslrangeiroB..
1:030*800
-*-
Seleiuhro
Nacionaes . . .
39:403*507
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Estrangeiros..
849*500
60*000
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Nacionaes . .
47:003^988
S1:0;í2*24O
Estrangeiros.
M74*720
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Novembrn
Nacionaes . . .
Estrangeiros.
30:709*458
1:25^*200
-5-
De»embri>
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N'aciODaes ..
Estrangeiros..
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23:166*200
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859:6365159
71:636â347,4
Direitos de importação e ciporUcâa cobrados oa altandega de S. Tbooè,
DOS aDDOS de 1869
11876
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KacioniM ...
EstraoReiros. .
684^608
10*689
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Fevereiro
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Eslrangeiroi. .
206^901
24íl35
2:337*374
Março
Nadoiitea...
EsUangeiros. .
1l374í545
I03#726
-*-
Nacionaes ...
Eslraniieiro}..
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116*793
-*-
KacioQaes ..-
Eslrangeiros..
1:053^800
114*168
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Naciooies ...
Estrangeiro». .
2:538^316
-*-
9:489*446
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Nacíonae» . . .
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3«9*787
Estrangeiros. .
10O«37S
13*720
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Xacionae» . . .
1:467*303
4:8(ie*964
Eslrangeiroi. .
131*311
1*069
Selembro
Nacionaei . . .
Estrangeiros. .
991*062
8*4G3
6:017*111
-*-
Outubro
Naciooaes . . .
358*897
9:156*311
Eslrangeiroa. ,
132*693
60*866
Novembro
Naciouaes . . .
l:l88»ldt
6:711*779
Estrangeiros. .
m»m
34*424
Dezembro
Estrangeiros. .
1:199*039
13*387
1:399*078
14:4662913
33:769*306
48:338í818
Media meoMl
4:019*068,1
Annos
Heiei
,.«»
ImporUtao
Nacionaes . . .
l:157«3H6
1:8(0*788
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Eslrangeiros. .
670*713
1*013
Fevereiro
Nacionaes ...
1:6614191
3*642
Estrangeiros. .
79*323
-3-
Março
Nacionaes ...
1:853*230
1:580*910
Estrangeiros. .
66*366
-*-
Abril
Nacionaes...
1:693*353
604*808
EstH^ngeiros..
30*206
-6-
Nacionaes . . .
3:1159*980
1^*923
1 :628*9SO
-*-
Junho
■i:2S9*114
5:507^905
1870
29*660
-*-
Julho
Nacionaes . . .
3:579*882
6:157*372
Estrangeiros. .
.■í: 770*341
3:198*426
Agoalo
.Nacionaes . . .
97*168
4*438
Estrangeiros. .
-á-
-*-
Seteinbw
Nacionaes . . .
1:417*731
98*246
3:443*174
850*713
Nacionaes ...
809*916
34*77S
716*.301
-*-
Novembro
Nacionaes ...
Estrangeiros. .
1:362*005
-í-
26i678
-*-
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
1:344*165
3:636*116
-*-
27:519*986
58:89
31:170*504
Total
0*490
Hedia mensal
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
4:890*874,1
h.m*437
36*100
il 8*061
-*-
1871
Fevereiro
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
2:301*673
179Í889
-*-
Marco
Nacionaes , . .
Rstrangeiros. .
1 :7íi4*691
-*-
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I93*S!3
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1871
1872
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4:0liO«7SO
164271
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2:67(UJ97
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S70I365
3:2661865
-t-
2:6074240
-t-
1:8814294
-4-
8164498
-4-
5914473
1:4724808
-4-
1:0984282
-4-
6:2774486
-4-
4:7244739
-4-
12:8444330
3:7044699
2344900
4:5154158
1:0634801
1*334677
-4-
1:3684722
-4-
Niciooaes...
Estrangeiros. .
Niíioiíae. ...
Estrangeiras. .
Nacionaes ...
Estrangeiros..
Nacionaes . . .
Estrangeiros..
Nacionaes . . .
Eslrangeiros. .
Nacionais...
Estrangeiros. .
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
Nacionaes ...
Estrangeiros. .
Estrangeiros. .
Maio
Agorto
30:5004131
38:9304075
69:4*
J4206
Media mensal
Nacionaes . . .
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
Estrangeiros. .
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
Nacionaes...
Estrangeiros..
Nacionaes...
Estrangeiros. .
5:785
850,5
.3:li074411
-4-
2.0774397
-4-
3:9064326
-4-
4:0594426
-4-
S:3M435S
-4-
3:3394244
-4-
2:2094836
-í-
2:9484193
-4-
964507
-4-
1:4314913
-4-
2:7394777
-4-
1:6394691
-4-
Março
Abril
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11:064*917
3:878*792
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Naciouaea ...
EtlrsQgeiroi. .
Agosto...,
NacionKes . . .
3:6iS«6Sl
9:094*469
EítrflDgeiroí. .
-í-
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Setembro
NicioiuM . . .
Eitrwgairqi. .
l:332í36a
1:140*197
-4-
Outubro
Nkciona» . . .
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1:309*397
Eetraogeirot .
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2:693*495
Novembro......
Eilruigai/ot. .
2:312*128
46*180
1:061 á.^11
NacÍon»M . , .
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1:23456115
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1:606*350
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J 1:839* 1^8
70:020*7(51
MedhraeBsal
Naciooaeí . ■ .
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1:759*G18
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2:262*717
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Fevereiro
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
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1:307*91)8
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Nacionae* ...
3:813*033
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Abril
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Nacionaes . . .
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1 :985*385
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Nacionaes ...
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4:465*439
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3:9|1*38G
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9:994*807
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Nacionaes ...
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3:135*933
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3:1(6*619
-*-
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
2:834*244
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fi:305*18O
-5-
35:316*346
31:595*924
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1:727/848
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1:489/546
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9:436/511
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6:173/268
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5:530/473
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4:214í808
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2:715/852
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3:040/121
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3:303/942
66/424
3:977/703
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1:085/032
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7:744/282
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1:767/768
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3: 442*948
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3:600*970
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4:62S*1S8
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1:338*023
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11:931*613
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Estrangeiros. .
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1:1204917
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Fevereiro
Nacionaes . . .
Estrangeiros. .
2;957«17
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-4-
Março
Nacionaes . . .
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1:2034406
EstraoBeiros. .
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-4-
Abril
Nacionaes . . .
8; 198^935
240/475
Estrangeiros. .
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Maio
Nacionaes...
4:9O5á330
5:9524192
Estrangeiros. .
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Nacionaes . . .
7:5J0í890
3:9974763
Eslraugeiros. .
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Nacionaes . . .
6:6304534
2:0744605
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Estrangeiros. .
I0Í4901
14988
Agosto
Nacionaes . . .
f{:S6S4091
3:7684507
Estrangeiros. .
2214576
-4-
Setembro
Nacionaes . . .
9:3864457
4:6344762
Estrangeiros. .
2484516
4376
Outubro
Nacionaes...
3:5884701
4:2474566
2024975
-4-
Novembro
Nacionaes ...
Estrangeiros. .
3:0794136
-4-
ÍI2499S
-4-
Nacionaes . . .
3:7934833
1:9284719
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Media mensal.....
Estrangeiros. .
4734630
-4-
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JILiUU-
3Ese
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Nnttiero de etnblrcaçdes entradas do perto de S. Thouiè
DOS annos de i868 a 1876
Anãos
Embarcações
1868
1869
1870
1871
1872
1873
1874
1875
1876
Somma
Afapor
0«t4U
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98
26
98
30
94
98
43
98
41
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37
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49
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iV. B. O anno de 1871 foi o de maior numero de embarcações de vela entra-
das no porto, e o de 1875 foi o de maior namero de vapores.
Media das embarcações entradas mensalmente 5
Media das embarcações entradas annualmentc 60
■edil da ilnrafão das riagens de Lisboa a S. Ttatuê t de Loanda a S>. Thoné
nos unos de 1870 a 1876
( De Lisboa a 5. Thoraé
^^P°'^^-i De Loanda aS.Thomé
1 De Lisboa a S. Thomé
^^^""''^■i De LoandaaS. Thomé
i De Lisboa a S. Thoraé
^^^■■JDeLoandaaS.Thomé
1 De Lisboa a S. Thomé
■■■■JDeLoandaaS.Thomé
) De Lisboa a S. Thomé
""""^ " í De Loanda a S. Thomé
j De Lisboa a S. Thomé
1 De Loanda a S. Thomé
( De Lisboa a S. Thomé
Palhabotea „ , , , ^,
Da Loanda a fa. Thomé
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Mandioca.
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Café.
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Ginguba.
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Gomma.
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Algodão.
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Azeite de peixe.
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Amendoim.
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Esteiras.
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Assacar.
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Gonro.
Sumaúma.
Linho.
Bambus.
Borracha.
Café.
Botim.
481
HeodimeDCos públicos. — Para se poder veriticàr o acréscimo de receita
das nossas possessões, e avaliar-se a quanto poderá ascender quando
ellas forem verdadeiramente apreciadas, e se desenvolva conveniente-
mente a sua producçSo, apresentámos o resumo da receita total dos im-
postos cobrados no anno económico de 1850-1851 e no de 1875-1876,
d^onde se vê que houve um augmento muito considerável, que nos faz
antever um futuro ainda mais prospero, se os governos continuarem a
prestar a sua attenção para este ramo de administração como ultimamente
téem feito.
1850-1851
Impostos directos 185:992,5(225
Ditos indirectos.* 379:213^(943
Próprios e rendimentos diversos 148:977}$!068
714:183,$236
1875-1876
Impostos directos 589:070(5i777
Ditos indirectos 929:384,51333
Próprios e rendimentos diversos 312:921i$333
Rendimento com applicação especial 195:7774777
2.027:1544220
DiQerença para mais no ultimo anno económico:
Impostos directos 403:078,$552
Ditos indirectos 550:170(5(390
Próprios e rendimentos diversos 163:944i$26o
Rendimento com applicação especial 195:777^51777
1.312:970i5(984
Infere-se d'este quadro um acréscimo de receita que se não afasta
muito da percentagem de 200 por cento.
Note-se, porém, que as despezas também augmentaram relativamente,
porque sendo, no aono de 1850-1851, 803:01 6í5í648 réis, subiram no de
1875-1876 a 1.130:163^828 réis, devendo observar-se que no primeiro
periodo o orçamento apresentava um deflcit de 88:833f5412 réis, ao
passo que n'este ultimo accusa um saldo não inferior a 96:990^5(392 réis.
Sendo o commercio de Africa aquelle que hoje mais interessa á praça
de Lisboa, damos em seguida termos de comparação, idênticos aos pre-
cedentes, para a receita privativa das quatro provincias africanas.
31
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1878-1876
220*377f5O0O
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... 141:932*730
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187ÍÍ-1870
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... 102:l44í(33G
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... 565:074,5000
DífTerciica..
... 330:832^280
Moçambique
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qi7-713AOOO
Differença . .
.. lliO 308,^489
Entram n'esle$ lolacs
çõcs:
!8;íO IHHi
os impostos indireclos nas seguintes propor-
Oabo Tardo
Aí)-n9r>.t^l4
1873-1876
... 1)0:000^0
Differença..
... fií):973^fi8M
S. Thomú
Í87S-I87C
70-6005000
Differença..
... íli:8 6;M)!íl
J8a0-)8jl
Ancola
... 177'077tí333
Differença..
... 2H:7224667
I8y0-Í8yi
Moçambiqno
C6-888Â6Í)K
1875-1876
... 200- 160^00
Diffei-ença. .
... l33.27U34a
mmm publica
CAPITULO vni
A oidade de S. Thoxnó em 1870
CoDsiderarôcs a respeito do estado actnal da cidade de S. Thomé; consultas da joola de savde a tal res*
peito.
Antes do expormos o estado actual da cidade de S. Thomè, convém
mencionar algumas providencias que foram aconselhadas e ordenadas pe-
las auctoridades competentes, com o Qm de melhorar as condições bygie-
nicas da referida capital.
Em 1861 era tão reconhecida a insalubridade d'esta cidade, que se
publicou um código de posturas, em que se determinaram diversas dis-
posições tendentes, n3o só ao asseio e policia da capital, como ao seu em-
bellezamento. Estas posturas n3o chegaram a ter execução, não obstante
a approvação do conselho de districto e as instantes recommendações dos
governadores da província.
Um tão manifesto abandono nas cousas tão reconhecidamente úteis è
mais que reprehensi vel, está abaixo de toda a classificação. Custa a crer que,
sendo o queixume quasi geral nos habitantes, estes se esquivem também
a auxiliar as auctoridades no empenho dos melhoramentos que, uma vez
iniciados, seriam um principio de progresso e a guarda avançada de to-
dos os melhoramentos de que a cidade, em especial, tanto carece» e tão
recommendados hão sido, não só pelo governo da metrópole, como por
muitas das auctoridades administrativas.
O nosso empenho n*esta publicação é patentear com toda a clareza
não só o que merece ser censurado, como o que è digno de louvor. N*este
simples c despretencioso trabalho não conhecemos pessoas, conhecemos
factos, e apontaI'OS é um dever de quem se propõe escrever obras doesta
natureza, embora lenha a convicção de que não serão adoptados tão cedo
08 conselhos que se apresentam, como o nSo téem sido as determinações
das auctoridades que, revestidas da força que a lei lhes dá, se vêem obri-
gadas a repetir tempo depois, embora por differente forma, as dísposi- -
ções que haviam determinado anteriormente.
484
U código de posturas a que nos referimos foi a primeira base para se
cuidar da limpeza e policia da cidade de S. Thomé, tão afamada pela soa
JDsalubridade ; e comtudo, a despeito da portaria de 20 de novembro de
1861, referendada pelo governador José Pedro de Mello, ficou ella sendo
letra morta, n3o obstante este funccionario chamar a attenção e responsa-
bilidade do administrador do concelho para que fizesse executar as pre-
scripções das referidas posturas, vistoque o policiamento da cidade apre-
sentava os maiores inconvenientes pelos abusos que appareciam contra os
preceitos determinados, e que dependiam da irregularidade de serviço,
do pouco zelo e da falta de actividade da administração do concelho.
Esta portaria é um sígnal evidente do que levámos dito; mas para que
se não julgue exagerado o que escrevemos, publicámos o circumstanciado
relatório da junta de saúde, datado de 24 de dezembro de 1862, que
foi elaborado em execução da portaria de 26 de novembro do mesmo
anno, referendada pelo governador José Eduardo da Ck)sta Moura, na
qual se determinou que a referida corporação, tendo estudado devida-
mente as causas d'onde provém a insalubridade da cidade, e depois de
reconhecida a utilidade que deverá resultar para a província de serem
melhoradas as condições bygienicas em harmonia com os meios de que a
mesma poder ir dispondo, informasse minuciosamente das causas prová-
veis que originam e alimentam aquella insalubridade, apontando os meios
que julgasse mais adequados para a sua extincção.
cKepartíçlo de saúde da proTÍocía de S. Tbomé e Príncipe. — A junta de
saúde da província de S. Thomé e Príncipe, tendo entrado no exame e
indagação das causas que determinam ou favorecem o desenvolvimento
das moléstias mais graves que reinam n'esta ilha e que alimentam a sua
insalubridade, em virtude da portaria de v. ex.* n.® 164 de 26 de novem-
bro ultimo (1862), tem a honra de apresentar a v. ex.^ as seguintes con-
siderações como resultado d^aquelle trabalho.
«Começando pela collocação da cidade *^ diremos que, estando esta
situada dentro de um amphitheatro de montanhas cobertas da mais lu-
xuriosa vegetação, em terreno baixo, com muito pouca inclinação para o
mar, rodeada por quasi todos os lados de rios e regatos que trazem a
I
^ «A collocação da cidade ha sido coiidemuada em todos os relatórios ou iofor*
iiiaçòes medicas, mas téem sido olvidadas taes recommendações, e comtudo a mu-
dança é tão fácil quanto necessária e económica para a fazenda publica e camará
municipal. Não ha um único estabelecimento publico regular, téem de ser toâos
construídos; porque se não procura logar próprio?... (Nota do relatório do ser-
viço de saúde de 1871.)^
485
sua origem dos altos picos, é esta existência muito favorável á accumula-
ç3o ou deposito das aguas das chuvas, produzindo charcos e pântanos,
cujas exhalações miasmaticas, provenientes dos detritos vegelaes e ani-
maes que n'elles se acham suspensos, influem poderosamente no desen-
volvimento das Tebres e de outras enfermidades com caracter mais ou
menos grave. Mas, apesar d'esta má collocaçao e da natureza do clima
excessivamente quente, a cidade tornar-se-ia menos insalubre se nâo
concorressem outras causas cuja influencia maleGca talvez seja de mais
intensidade, como vamos desenvolver nos seguintes paragraphos.
«A agua de que em geral se faz uso na cidade é tirada dos rios de
que acima falíamos, e a tão pequena distancia da cidade que não é pos-
sivel obtel-a pura e livre de immundicias, não só pela circumstancia de
estarem as margens dos rios cobertas de lodo e hervas, onde a fermenta-
ção pútrida se opera com muita promptidão, mas também porque os ha-
bitantes, pela maior parte, ali fazem os seus despejos; por conseguinte
os miasmas deletérios não só são ingeridos na economia animal pelo ar
que se respira, mas também nas comidas e na própria agua que se bebe.
E note-se também que é n'estes mesmos rios onde toda a gente vae lavar
a roupa, o que não deixa de ser bastante nocivo á saúde publicai
a Alem das causas de insalubridade acima enumeradas, não podemos
deixar de notar o péssimo systema das construcções das casas, pela maior
parte de tábuas até ao chão, sem terem a ventilação necessária, e rece-
bendo muito pouca luz solar, com quintaes cobertos de plantas diversas
sem conveniência alguma aos usos domésticos, e que por suas exhalações
só servem para viciar o ar atmospherico e para occultar a immundicia
que eflectivamente existe na maior parte dos quintaes ou cercados ^
Acresce a esta circumstancia a pouca limpeza que se encontra no interior
de quasi todas essas casas, assim como nas ruas que estão quasi sempre
cobertas de herva, a qual no tempo das chuvas serve de deposito de aguas
estagnadas ou charcos, cujas evaporações mephyticas viciam o ar atmos-
' Não se tomou at<'; hoje providencia alguma a similhanle respeito! «Os mias-
mas deletérios são ingeridos na economia na própria aj^ua que se bebe», repelam
isto lodos os médicos desde i862, mas tèem sido completamente desprezadas eslas
indicações! (Nota do relatório referido a ISll e repetida em 1872.)
2 Nas casas sogue-se o mesmo syslema ile c^nslrucçáo com niras excepções;
nos quintaes continuam sem alteração alguma, e sem haver quem faça desappa-
i*ecer aquelles focos de infecção! (Nota refeiida ao relaiorio de 1811.)
A rua de Santo António e o largo da margem direita do rio Agua Grande cor-
respondente a esta rua, a rua de S. Miguel e os limites de E., S. e SO. da cidade
estão ainda no máximo abandono em que podem estar os mais desprezíveis legares
públicos.
48G
pberico. Yé-se portanto que todas essas circiimstancias alimentam a insa*
lubridade doesta cidade, e concorrem para o desenvolvimento das moles*
tias endémicas do paiz.
«Depois doestas ponderaç5es apresenta-se outra não menos impor-
tante. A má alimentação em geral dos escravos e do povo miúdo» in-
fluindo nas forças vitaes, que deterioram, predispondo-lbes o organismo
para ser invadido mais violentamente por qualquer enfermidade. É bem
sabido que s3o poucas as casas dos moradores d'esta ilha que d3o abun-
dante e sadio alimento aos seus escravos, e como o alimento saudável e
nutritivo é uma condiçlo essencial á vida, segue- se que a privação d'elle
deve concorrer para a deterioração da saúde, porque, diminuindo as for-
ças vitaes, predispõe o organismo a ser acommettido com maior activi-
dade por qualquer causa morbiQca. O povo miúdo também se alimenta
muito mal, e para prova d'isto basta ver-se as substancias de que geral*
mente fazem uso em suas comidas.
«Ora faltando-lhes na sua alimentação as duas condições essenciaes,
abundância e boa qualidade nutritiva, segue-se que não podem gosar de
uma saúde vigorosa, e conseguintemente ficam expostos a ser atacados
com mais violência pelo desenvolvimento de qualquer enfermidade.
«Alem das desfavoráveis condições hygienicas provenientes das aguas
e da má alimentação, não deixaremos passar em silencio uma outra con-
dição péssima que acompanha este povo em geral. Queremos fallar do
modo por que se tratam nas suas enfermidades. £ por todos sabido que
os índigenas d'este paiz raras vezes consultam os médicos nas suas mo-
léstias, e quando chegam a fazel-o é sempre em estado tal de adiantamento
de doença e quasi sem esperanças algumas de melhorarem que pouco ou
nada lhes aproveitam as indicações medicas V, porque muitas vezes, até
depois de consultarem o medico, ainda assim não executam o que elle
prescreve, pela repugnância que a maior parle tem de tomar remédios da
botica.
«A falta de limpeza nas margens dos rios da cidade e nas praias é uma
outra causa de insalubridade: a herva ali se encontra crescida a ponto de
obstruir os caminhos, e ali se acham grandes depósitos de entulho e im-
mundicias, exhalando um fétido incommodativo e pestifero, proveniente
também muitas vezes da putrefacção de animaes que para ali são arroja-
dos depois de mortos.
í Em toda a parte do mundo apparecem curandeiro?, mas em nenhuma se tor-
nam Ião ousados o damnlnhos como em S. Thomi*. As victimas que elles causam
não sao inferiores ás que fazem os miasmas. Nào se tem procurado remédio para
destruir estes, assim como passeiam impunes aquelles! (Nota refmda n Í87J.J
487
•
«Em seguida devemos fallar do cemitério, que pela sua influencia na
saúde publica já por vezes tem occupado a allençUo da aucloridade go-
vernativa doesta província. A collocaçSo do actual cemitério ao S. da ci-
dade, d'onde sopram os ventos mais frequentes sobre a povoação; a má
qualidade de seu terreno, que diíBculta a consumpçâo completa dos ca-
dáveres; o vicioso systema dos enten^amentos encarregados a pretos bo-
çaes, que nenhuma importância ligam aos inconvenientes que nascem da
falta de execução dos preceitos dos respectivos regulamentos que devem
presidir a taes actos, são outras tantas causas de insalubridade. A má con-
strucçuo do cemitério no alto de Santo António, e a sua inconveniência
ali, bem como a sua influencia maléfica sobre a saúde publica, foram já
suflicientemente estudadas e demonstradas no relatório que sobre tal as-
sumpto foi publicado em <861, pelo dr. Lúcio Augusto da Silva, ex-cirur-
gião de primeira classe ao serviço doesta província. Nada, pois, temos a
acrescentar; porquanto alimentámos as mesmas idòas sobre tal matéria,
e unicamente diremos que a prompta construcção de outro cemitério em
local diametralmente opposto ao actual (devendo este ser logo abando-
nado) é a providencia mais urgente que esta povoação reclama K A junta
de saúde já foi consultada pelo ex-governador da província o sr. José Pe-
dro de Mello, sobre este assumpto, e nós então tivemos occasíão de indi-
car o local que nos pareceu mais apropriado, e que apresentava as con-
dições exigidas. Este local é o sitio chamado Picão, terreno da fazenda
publica.
c Outra causa de insalubridade são os pântanos'. Ha perto da cidade dois
mais notáveis, e que seguramente não podem deixar de ser olhados como
tendo uma grande influencia no desenvolvimento das moléstias graves
que têem apparecido. Um d'ostes dois pântanos existe no descampado que
80 acha pouco distante da igreja de S. Miguel, e estende-se até ao antigo
forte de S. Jeronymo, por um lado e por outro, ás immediações da for-
1 Procedcu-se á comlrucçào do novo eemit(>río, que ao acha em logar alto, ao
NO. da cidadt^ a 300 metros d(^ distancia das ultimas casaa. Depoig do uma lula do
seis annos viram as auetoridades medicas realisados os seus desejos. (Nota referida
a ISll.)
' Os pântanos que circundam a cidade sào muitos, e apenas se abriu uma valia
para o que ge forma no sitio chamado Agua Fede (nome popular bem apropriado),
<í inelhorou-s(» o que sejçiie em direcção ao pântano LocumL Emquanto aos outros
nada se fez a não ser o aterro de 30:000 mt^tros quadrados no pântano da fortaleza
dr^ S. Sebastião, mas as obras do aterro pararam no anno de 1871, sem haver mo-
tivo que justifíque similhante abandono. (Nota referida a íSllJ
Em 1872 os pântanos eram tão activos como em i86â, porque a superfície
aterrada o o regueiro aberto só téem importância pela intenção de quem mandou
fazer as obras, e não pela influencia que possa ter na salubridade publica.
488
taleza de S. Sebastião, produzindo a maior parte do anno um lodaçal in-
fecto em todo aquelle descampado, abrigado pela relva e capim, que ahi
é permanente. O outro é o que existe em uma grande extensão de terreno
pertencente á fazenda publica, desde o sitio denominado Agua Fede, junto
ao Arraial, tendo os seus extremos d'esse lado até perto da igreja do Ro-
sário, e do outro até próximo da igreja da Conceição, abrigado por uma
grande mata e que não só conserva quasi sempre alagado todo aquelte
terreno, mas também serve de deposito e despejo de toda a qualidade de
immundicias que ali lançam todos os moradores d'aquelle contorno.
«D'estes dois pântanos deve notar-se que o primeiro tem communica-
ção com o mar pela ponte da praia Amador, tomando-se por tal circnm-
stancia menos nocivo n'esta sua parte inferior, em que existe uma salina
cronde o povo d'esta cidade extrahe o sal de que faz uso em suas cozi-
nhas. O segundo, porém, não tendo ventilação alguma, por se achar de-
baixo de uma densa mata, e não tendo escoante para rio algum, nem
communicação com o mar, toma-se por isso muito mais prejudicial á
saudç publica.
«Ha também um grande lodaçal no campo de Santo António^ próximo
ao actual cemitério, causado pelo afUuxo das aguas para ali conduzidas
por uns cannes ou regos que foram abertos n'aquellas proximidades para
fins de lavoura, mas que, não tendo sido posteriormente beneficiados, tor-
nam-se actualmente prejudiciaes á saúde publica pela viciação que aquelle
lodaçal produz no ar atmospherico. A agua doeste campo afflue também
ao descampado de S. Miguel, passando por detrás do cemitério, que igual-
mente alaga e dá um grande alimento aquelle pântano. Deve, pois, ser
destruido e beneficiar-se o referido campo por meio de uma boa capina-
ção, queima e canalisação. Alem doestes ha outros pântanos menos consi-
deráveis e menos dignos de attenção, não só pela distancia a que se acham
da povoação, mas também pela sua collocação — taes são uns dois pânta-
nos que se acham para o sitio de S. Marçal e praia Pantufo.
cTambem notaremos que na direcção da rua de Santo António, lado
direito, começando logo por detrás da igreja da Sé, junto á ponte Miguel
1 Em 187â foi indicado este péssimo local para a construceao do hospital per-
manento e geral, mas foi depois condemnado por um distinclo e auctorisado me-
dico.
«Fica por ali (escrevia em 1860 um respeitável medico, dr. Lúcio Augusto du
Silva) um lombo ile terra pouco regular, que elevando-se suavemente do lado da
cidade, ao S. da qual vae perder- se do lado opposto em um campo árido e pedre-
goso a que segue outra elevação de terreno da mesma natureza.»
Alem doestas más condições nota-se a pouca elevação de terreno e proximidade
dos pântanos.
489
(seguDda do rio Água Grande) no antigo leito do rio que corre por baixo
d'esta ponte, ha um lodaçal, não pequeno, entre um denso canavial, que
ali se desenvolveu desde um certo tempo em que se pretendeu entulhar
aquelle leito, para dar nova direcção ao rio. Esse lodaçal é, pois, bastante
nocivo á saúde publica.
«Depois de investigadas e reconhecidas as causas mais geraes que ali-
mentam a insalubridade d'esta povoação, apresentaremos os meios que
nos parecem mais apropriados para melhorar o estado sanitário d'esta
ilha, nos seguintes artigos:
« 1 .^ A construcção de um cemitério em sitio diametralmente opposto
áquelle em que se acha o actual, abandonando-se este';
«S.^ A limpeza geral das ruas, praças e quintaes, destruindo-se n'es-
tes toda a vegetação desnecessária e prejudicial^;
«3.^ A limpeza do rio da cidade e suas margens pelo menos até á ponte
Tavares, destruindo-se toda a vegetação que favorece o deposito de aguas
estagnadas; devendo desde já prohibir-se que para ali se continue a lan-
çar lixo e immundicias^;
<4.^ Beneficiar as praias da cidade, Umpando-as de todas as immundi-
cias n'ellas accumuladas, fazendo fogueiras que consumam todos os de-
tritos que ali se contéem^;
t5.^ A destruição completa dos dois pântanos mais notáveis que acima
ficam mencionados, abrindo-se canaes próprios para conduzirem ao rio
principal ou ao mar as aguas que n'elle podessem depositar-se^;
«6.^ Fazer os convenientes reparos e melhoramentos possíveis no edi-
fício do actual hospital, emquanto se não construir um hospital militar
com melhores accommodações e que tenha as condições próprias de uma
casa para enfermos, em harmonia com o que esta junta fez ver em seu
relatório de 24 de março do corrente anno, sobre este assumpto ;
«7.^ Construcção de uma nova cadeia em outro local e com melhores
condições hygienicas. A actual cadeia reúne péssimas condições ^ e pre-
cisa ser melhorada emquanto se não construir outra, como já se fez ver
ao presidente da camará municipal, em ofiicios de 10 e 17 do corrente
mez;
«S."* Fazer fiscalisar pela auctoridade competente a execução das pos-
1 Já SC realisou este melhoramento.
2 Não se tem feito nada.
3 Idem.
* Idem.
^ Estão om 1872 como em 1862.
^ Sào peiore» em 1872.
400
turas municipaes sobre hygiene publica, conforme se acha consignado no
código administralívo, impondo-se penas pecuniárias e de prisão aos in-
fractores. N'e3tas posturas sobre hygiene publica comprebende-se a lim-
peza da cidade em geral, e a boa qualidade das substancias alimentares
que se vendem nas lojas e mercados públicos ;
a 9.° Estender a fiscalisaçâo municipal também á margem do litoral»
para que n^ella se nio continue a deitar lixo e mais immundicias;
cio.® Finalmente fazer crear em logares apropriados depósitos de en-
tulho ou lixo e todos os mais despejos, que devem ser queimados amiu-
dadas vezes.
«São estas idèas que a junta de saúde da província submette á conside-
raçSo de v. ex.*, a fim de que, empregando v. ex." os meios que tiver ao
seu alcance, possa realisar uma das medidas mais importantes do seu go-
verno em beneficio doeste paiz.
•Deus guarde a v. ex.* — Repartição de saúde em S. Thomé, 24 de de-
zembro de 1 862. — 111.™° e ex."*° sr. governador da província de S. Thomé
e Príncipe. =P^rfro António Fernandes Pires, cirurgião mór da provín-
cia ■««Dr. Josó Corrêa Nunes, cirurgião de 1.^ classe da província. •
Por este documento prova-se á evidencia que se não têem cumprido
ai disposições da lei acerca dos pareceres da junta de saúde, de um modo
claro, conciso e positivo.
Teem-se indicado ás camarás municipaes as providencias necessárias
para a limpeza das ruas e logares públicos, pateos e quintaes, e para o sa-
neamento dos pântanos, assim como também se téem proposto ás auctori-
.dades competentes as providencias adequadas para extinguir ou attenuar
as causas locaes ou geraes do insalubridade, isto é. tem-se satisfeito sem-
pre e cabalmente aos n.°' 9.** c 10.° do artigo 38.° do decreto de 2 de de-
zembro de 1869.
Por que rasão se não organtsou ainda uma companhia composta de
cincoenta indígenas válidos, que trabalhem assiduamente na limpeza pu-
blica da cidade, como indicámos no relatório de 1869, pagina 287?
Porque se não canalisou o rio Agua Grande, até, pelo menos, ao logar
mais próximo aos limites da cidade?!
Porque se não fez caso das providencias hygienicas enumeradas nos
capítulos 12.° e 3.° do relatório de 1869?!!
Desde ha dez annos que a junta de saúde publica tem indicado as cau-
sas gcraes e parciaes da insalubridade da ilha e téeni sido baldados os
seus trabalhos. É amarga e dolorosíssima esta verdade, mas os factos
e os documentos tornam-n'a muito mais amarga e muitíssimo mais do-
lorosa.
m
o interior da ilha de S. Tbomé ò muito mais salubre do que a capital»
e a causa d'isto é a sua má posição» como já demonstrámos o^este livro.
Ora» se se reconhece isto como uma verdade incontestável» porque se não
trata de» ao menos» melhorar as condições hygienicas da cidade, para de
algum modo conjurar os maus effeitos resultantes da sua posição?
É opinião seguida pelos médicos que se dedicam de preferencia ao es-
tudo das moléstias que mais predominam nos climas quentes, que os
miasmas se geram no solo» dadas certas circumstancias, e a sua maior ou
menor actividade depende da natureza dos terrenos. Não offerece contes-
tação esta opinião» e todos mais ou menos estão concordes em que è esta
uma das causas que mais concorre para a insalubridade da ilha e espe-
cialmente da cidade ; e custa a crer que se desprezem taes opiniões e se
não trate de evitar que os pântanos se conservem em logares que, conve-
nientemente aterrados e beneficiados» poderiam tornar-sc aprazíveis e de
recreio.
A fim de corroborar estas nossas opiniões e para se conhecer que já
datam de mais tempo as repetidas instancias para o melhoramento da ci-
dade» em virtude das causas que concorrem para a sua insalubridade» pu*
blicámos o parecer» ainda mais antigo que o que acabámos de transcre*
ver» elaborado pelo dr. Lúcio Augusto da Silva.
<A cidade de S. Thomé está collocada na bahia de Anna de Chaves e
estende-se pelos dois terços da concavidade da sua margem» approximán-
do-se mais da ponta do S.» onde está edificada a fortaleza de S. Sebas-
tião» de modo que ella olha para o N.» emquanto que a bahia se abre
para NE.
«Com similhante disposição a cidade e o porto ficam expostos a todos
os ventos, desde o N. ató ao SE., vindo-ll^BS este ultimo e o ESE. por
sobre a terra baixa o raza que corre da referida fortaleza para o S. Todos
estes ventos» bem como o NNO.» NO. e ÒNO. chegam á ilha depois de
atravessarem as vastas regiões do continente africano. Os ventos de O. a
S. são todos do alto mar» e d'estes acha-se a cidade abrigada por uma
cinta de montanhas que começam a crescer não longe d*ella. Entre estas
montanhas e a cidade» que fica em um local baixo e húmido, ha grandes
depressões de terreno» para onde» alem da chuva que cae directamente»
correm as aguas dos pontos mais elevados» formando paues» cobertos de
hervas» arbustos e arvores» cujas folhas ali se putrefazem de mistura
com as immundicias e animaes mortos que os habitantes da cidade lá vão
depositar.
<A maior parte d'esses paues seccam completamente no tempo das
ventanias, excepto o que fica a E.» o qual communica com omareconstí-
493
Em portaria de ^4 de fevereiro do mesmo anno» mandou o mencio-
nado governador que o tenente coronel director das obras publicas, logo
que tivesse dado o conveniente andamento ás obras do pântano da forta-
leza de S. Sebastião, passasse a fazer os necessários estudos para o enca-
namento da agua até á praça de D. Luiz I, seguindo a mesma canalisaçSo
para aquella fortaleza, devendo, porém, fazer em separado o orçamento
d'esta ultima obra.
É pena que todos estes esforços nâo produzissem resultado algum, e
que em 1873 se visse tudo como em 1863. É realmente incomprebensi-
vel este estado de cousas, e não ba palavras que possam descrever o qua-
dro em que se apresentam os terrenos da circumvalação da cidade, mui-
tas praças, as margens do rio e as praias, por não haverem sido cumpri-
das as ordens tantas vezes repetidas !
Em 18 de julho de 1863, sendo ministro da marinha o sr. José da
Silva Mendes Leal, baixou uma portaria ao governador da província, em
que se lhe recommendou que empregasse todos os meios ao seu alcance
para que a camará municipal fizesse roçar e limpar os matos dos quintaes
a barlavento da cidade, estabelecendo para isso as convenientes posturas
em que se impunham multas aos contraventores, com applicaçao exclu-
siva do seu producto á extincção dos pântanos ; e determinou-se ao mes-
mo governador que fizesse sentir á camará que o bem publico exigia que
elle fosse vigilante no cumprimento do que se ordenava, e que empre-
gasse todo o seu zelo para que a pena fosse infallivelmente applicada aos
que não cumprissem um dever tão importante para o bem estar e pro-
gressivo augmento de uma cidade a que o commercio dava cada dia mais
consideração.
Esta portaria terminante, dimanada do governo da metrópole, teve,
infelizmente, o mesmo resultado. O fim, talvez, que a dictou, foi reforçar
a auctoridade do governador, abatida pela negligencia das auctoridades
subalternas, e pelo nenhum conhecimento que a generalidade da popula-
ção tem das mais insignificantes noções do que lhe é útil. É incrível, e
custa a conceber, que não haja ao menos um homem, que com a sua au-
ctorisada voz faça comprehender áquelles cegos de espirito que as medi-
das tão instantemente recommendadas são todas em seu favor, e que
d'ellas dimana o seu futuro e o dos seus filhos.
N'uma terra onde o capim e outras hervem tendem sempre a ani-
quilar o trabalho do homem, onde quinze dias apenas de descuido são
bastantes para que os differentes vegetaes tornem quasi intransitáveis os
caminhos, onde as grandes matas e infinitos arbustos interceptam as cor-
rentes de ar e promovem a humidade, onde o sol abrasador dardeja per-
pendicularmente os seus raios, e onde as abundantes chuvas, que na
494
maior parto do anno correm torrencialmenle, predispõem os terrenos
para formarem constantes focos de infecção^ nada se poderá fazer sem o
auxilio mutuo das auctoridades e dos habitantes.
Uma populaçSo com quatro séculos de existência» que recebe constan-
temente indivíduos de ambos os sexos, e cultiva apenas uma insignificante
porção de terreno relativamente á sua área, patenteia exuberantemente
a existência de poderosas causas que promovem a mortalidade e se op-
põem á procreação. Estas causas, que se manifestam de preferencia na
populaçSo branca, poupando mais os indigenas, e n3o s3o tSo prejudiciaes
ás famílias descendentes de pretos e brancos, exigem prompto remédio,
se nio para as destruir, ao menos para as attenuar.
A má alimenlacSo exerce influencia directa sobre a saúde dos habi-
tantes de uma população, mas as péssimas condições hygienicas nlo s3o
menos nocivas. Juntem-se agora estas duas causas, e pense-se que males
nio pôde acarretar o descuido a que ha tantos annos está votada a ilha de
S. Tbomè, não obstante o desejo das auctoridades para que se removam
as causas que os produzem.
O conselho extraordinário de saúde publica do reino, creado por de-
creto de 20 de setembro de 1857, por occasi9o da epidemia de febre
amarella que assolou a cidade de Lisboa, no importante e consciencioso
relatório que dirigiu ao governo em 6 de julho de 1859, dizia que «Por-
tugal, por seu clima, pôde ser considerado um dos paizes mais saudáveis
da Europa. Se os seus habitantes fossem mais cuidadosos na agricultura,
no encanamento dos rios, na limpeza das povoações e na observância das
regras de boa hygiene, grande numero de moléstias desappareceria, ou.
pelo menos, diminuiria n^estc solo abençoado da providencia».
Dizia isto uma commissSo composta de homens que julgámos auclo-
risados pelos seus vastos conhecimentos e pratica adquirida no serviço
medico, e em outros ramos da publica administração. Mas o que diriam
estes mesmos individues, se lhes fosse commetlido igual encargo na pro-
víncia de S. Thomé?
NSo ha espectáculo mais triste para quem preza o progresso de um
paiz do que ver desapparecer dia a dia a população, conhecendo as causas
que motivam similhante mal, e sem se porem em pratica os meios de re-
medial-o.
Pcrcorrem-se todas as obras que tratam doesta ilha, folheia-sc a sua
historia, indagara-se os diversos acontecimentos, e vê-se sempre o seu es-
tado de abatimento.
Os governos têem muito que fazer a prol do progresso e da civilisa-
ção d*estes povos, mas para isso é necessário que da parte d'elles haja a
boa vontade e o incitamento ao trabalho ; quando isto se conseguir, po«
495
deromos então colher os fructos do progresso e nSo veremos empregar
inutilmente dinheiro e tempo, como se arroteássemos um terreno es-
téril.
Para os pequenos melhoramentos era escusada a iniciativa do gover-
no, bastava só que os habitantes lhe pedissem auxilio, a fím de não serem
perdidos os seus esforços. As construcções regulares e em boas condi-
ções, a limpeza das casas, dos matos e dos quintaes s9o attribuições ex-
clusivas dos proprietários, e concorreriam já para melhorar a hygiene da
cidade.
Esta é que é a verdade, embora algumas vezes se divise na nossa lin-
guagem a idéa que possa deitar á conta dos governos todos os males que
afiligem a provincia de S. Thomé e a maioria das nossas colónias.
Nas províncias do continente de Portugal ha melhoramentos devidos
só á iniciativa do governo, bem como á das camarás municipaes, cobrando
estas para os executarem impostos com applicaç3o especial a esses me-
lhoramentos ; alem disto ha também alguns proprietários que téem au-
xiliado esses trabalhos com offertas de dinheiro e cedências de terrenos
que se deveriam expropriar para abertura de estradas, quando estas d9o
mais valor ás suas propriedades. E nSo seria possível conseguir que as*
sim se praticasse nas nossas colónias? Em S. Thomé ha bastantes pro-
prietários, senhores de extensas fazendas, que muito lucrariam com este
systema, quando iniciado, o qual n3o nos parece impossível de conseguir,
quando se organisar uma expedição de obras publicas, como as que ha
pouco partiram para Moçambique e Angola.
Estabelecida na populaçllo a conflança de que os melhoramentos s9o
uma realidade, convencidos os mais illustrados de que muito lucrar3o,
n3o só nos seus haveres, mas muito principalmente na saúde, com uma
bem dirigida e illustrada serie de trabalhos tendentes a transformar o
solo de miasmatico em salubre, cremos que os mais incrédulos e os mais
egoístas concorrerão para que a desditosa ilha de S. Thomé, hoje tfío des-
prezada e temida pela sua má fama, se torne da maior importância, pois
a sua fertilidade, quando bem aproveitada, a ha de tornar invejada.
Temo-nos afastado um pouco da enumeração das providencias da ini-
ciativa das auctoridades, levados pelo enthusiasmo que sentimos quando
imaginámos o que poderá vir a ser a ilha em que primeiro servimos como
medico colonial, mas proseguiremos na nossa tarefa, a fim de tomar bem
patente o estado a que ella está reduzida, para que, se alguma vez se
realisarem os melhoramentos reclamados, mais facilmente se possam
comparar e apreciar os benefícios que ali se introduzirem.
A alimentação dos soldados è deficiente, como já dissemos, e por con-
seguinte uma das principaes causas das repelidas febres que os acom-
4%
mettem, e que nâo tem sido possível melhorar pela escassez e excessivo
preço dos geoeros alimeDlicios.
Com o flm de melhorar este ramo de serviço, determinou ainda o go-
vernador José Eduardo da Cosia Moura, em portaria de 27 de fevereiro
de 1863, que a roça Arraial fosse cedida á bateria de artilheria pelo es-
paço de dez annos consecutivos, para a cultivar e amanhar, devendo o
rendimento dos três primeiros annos constituir fundo especial para o ran-
cho e para as obras necessárias na bateria e na fortaleza de S. Sebastião,
ficando dependente de determinação opporluna do governador a applica-
çao do rendimento dos annos restantes. N'esta cedência era condição ex-
pressa, entre outras de menos importância» que deveria ficar impreteri-
velmente extincto, até fim de dezembro do mesmo anno, o pântano for-
mado na mencionada roça, pelo mal que causavam aos habitantes da ci-
dade as constantes exhalaçoes mephiticas que d'ali provinham.
N3o podemos deixar de louvar esta medida ; assim ella tivesse pro-
duzido os effeitos desejados.
Em 24 de março do anno seguinte, pouco mais de dois mezes depois
de tomar posse do governo, determinava o novo gevernador, Estanislan
Xavier de Assumpção e Almeida, em uma portaria publicada no Boletim
ofíicial, que o presidente da camará municipal fizesse publicar novamente
o código de posturas municipaes, e que recommendasse toda a vigilância
na sua execução ; e tornando responsável o administrador do concelho
pelo cumprimento da lei, sem vexame para os povos, esperando do bom
censo dos habitantes que não seria preciso compellil-os com as penas da
lei a prestarem a attenção devida ás ordens da auctoridade superior, es-
pecialmente quando essas ordens eram fundadas no bem geral.
Esta portaria devia ter plena execução dez dias depois da sua publi-
cação, e aos transgressores seriam applicadas inexoravelmente as multas
comminadas nas respectivas posturas.
Allegava este governador que, tendo observado, não obstante as re-
petidas providencias e ordens emíltidas por differentes portarias do gover-
no da província acerca da limpeza da cidade, continuavam a apparecer
immundicias aggiomeradas em difi^erentes pontos e em algumas das ruas
principaes da povoação, bem como nas praias, e os quintaes estavam
pela maior parte cobertos de vegetaes nocivos; alem de se notarem mui-
tos outros abusos, que se poderiam ter evitado, se se tivesse executado o
código de posturas, o que, não só revelava o não cumprimento das dispo-
sições dos artigos 249.^ e 251.^ do código administrativo, como também
é uma prova irrefragavel do estado anti-civilisador em que ainda se achava
a povoação.
Parece que depois da publicação de um documento tão positivo, ai-
497
gum resultado se deveria ver, mas nao succedeu assim ; as posturas, al-
teradas em alguns dos seus artigos, foram approvadas por accordão do
conselho de districto em sessão de 8 de abril do mesmo anno, e a cidade
continuou sem o menor benencio emquanto á limpeza tuo recommendada.
Só vendo é que se pôde avaliar bem o estado dos terrenos nos limites da
cidade. *
^ Este governador, que parecia animado a fazer cumprir as ordens ten-
dentes ao melhoramento da província, entregou o governo em 1 1 de agosto
de 1805, e por isso nao podemos asseverar se elle poderia conseguir ou
não o seu louvável empenho.
Appareceu mais tarde outra portaria, datada de 8 de agosto de 18C7,
e referendada pelo governador interino, António Joaquim da Fonseca, re-
commendando á camará municipal c ao administrador do concelho a exa-
cta observância de código de posturas, e mandando limpar immediata-
mente as praias e largos, multando os moradores que não conservassem
os quintaes nas condições exigidas ; mas ainda assim tudo foi baldado, não
obstante serem escolhidos alguns logares mais apropriados da praia para
deposito de lixo e outras immundicías que se podessem queimar, por-
que um anno depois estes sitios eram outros tantos focos miasmaticos,
visto que a maior parte das vezes não se lançava fogo áquelles montes de
hervas, paus e outros despojos que ali apodreciam, e a cidade continuou
como anteriormente.
Em 1872 ordenou-se que se lançassem ao mar todos os detritos, mas
o fluxo e refluxo das aguas depositou nas praias muitos vegetaes que re-
sistiam á acção dissolvente pouco demorada, tornando-se outra vez ele-
mentos de insalubridade.
O estado da cidade em 1872 tem sido referido por diversas vezes
n'este nosso trabalho, mas parece-nos conveniente apresentar ainda aqui
algumas considerações e informações concisas, devendo relevar-se-nos as
repetições que somos obrigados a fazer, por ter dividido o relatório em
muitos capitulos, alguns dos quaes certamente não téem rasão de ser se-
não por motivos especiaes, que declarámos.
Não è fácil fazer a enumeração das hervas, arbustos e sub-arbustos
que enchem a rua de S. Miguel e o bairro próximo em todas as direcções
onde não é dado caminhar sem espanto ! Aquelle espesso e continuado
mato prolonga-se em volta da cidade por um modo singular e próprio da
vegetação tropical.
Não se atravessa facilmente pelo meio doestes matos, os quaes correm
entre o paul que se segue á lagoa de S. Sebastião e a rua do Espalmador,
e estão também ao pé da igreja de S. Miguel nas mesmas condições, e
assim se dirigem cercando a cidade por detrás da rua de S. Miguel e das
33
498
que ri'ella desembocam, da rua de Santo António, etc. ; o paíil estende-se
do mesmo modo por aquelle lado, vindo os matos a ficar entro o paul e
as ruas extremas de barlavento da cidade. Na altura de Santo António a
direcção muda completamente, sendo por assim dizer perpendicular ao
romo indicado. Encontra-se ali a ponte Tavares e arvores altas, espesso
mato de arbustos, hervas, trepadeiras, etc. ; e na margem direita do va-
garoso rio Agua Grande íicam o charco e pântano formado pelo antigo
leito d'este rio, entre a ponte denominada José do Paço e a rua da Feira.
Yê-se que esta parte está quasi no centro, da cidade, e as aguas mui-
tas vezes, em 1872, não permitliam a passagem na primeira ponte refe-
rida (a segunda do rio Agua Grande).
Para se avaliar a humidade que ha nos terrenos da cidade é sufflciente
recordar as oito pontes que dão passagem de umas para outras ruas, e
que nSo são de corrente rápida as aguas, nem ião pouco de origem limpa
e de leito bom.
Este é o verdadeiro estado em que se acha a cidade de S. Thomé. As
causas da insalubridade são conhecidas e é necessário destruil-as ou atte-
naal-as conforme a sciencia e a boa rasão aconselham. Feito isto, não he-
sitámos em asseverar que, se as condições hygienicas téem melhorado al-
guma cousa relativamente ao estado em que estavam em 1776, muito e
muito mais se conseguiria em três ou quatro annos de aturado e bem di-
rigido trabalho e com uma boa colonísaçâo.
I
CAPÍTULO IX
Melhoramentos
Abertara de passeios, largos e mas; aterros c dessecamenlo de pântanos; canalisaeâo do rio i|ae atra-
lessa a cidade de S. Thoné.
A cidade de S. Thomé, pela sua posição e Tertilidade, é das que mais
se presta a uma transformação completa, de modo que, de insalubre e
pantanosa como actualmente está, se possa tornar agradável e salubl*e, e
rivalisar com as principaes cidades das colónias de outros paizes. Para
isto se conseguir são necessárias principalmente três cousas : boa vonta-
de, perseverança e recursos pecuniários. A primeira está ha muito na
mente dos governos, que todos mais ou menos têem manifestado bons
desejos de levantarem as nossas colónias do abatimento em que jazem; a
segunda, cremos que se não tem realisado pela pouca permanência dos
ministros nos conselhos da coroa, como dissemos no final do capitulo 5.^;
e a terceira é um mal muito antigo, que obsta a qualquer emprebendi-
mento de maior valia que se queira fazer, é um cancro constante que des-
troe todas as idéas de progresso que se imaginem, e que f^z com que fi-
quem sempre para o fatal dia de amanhã, quando toda a demora se trans-
forma em maior sacrificío futuro.
Cremos que estas causas hão de um dia desapparecer, se nSo dêi todo,
ao menos em parte, e que as constantes instancias e o verdadeiro conhe-
cimento de que não convém espaçar por mais tempo assumpto tão mo-
mentoso, farão com que progridam os últimos melhoramentos encetados,
e que jamais se abandone a idéa de aproveitar os recursos que aquelle
solo pôde prestar, derramando ao mesmo tempo a civilisa^So e a instruc-
ção nos povos que d'ella tanto carecem.
Gomo base d'esses trabalhos não podiamos deixar de dedicar n'este
livro xm capitulo especial relativo aos melhoramentos de que é susceptí-
vel ^ cidade de S. ThoAé. É apenas uma breve indicação, porque o pe-
queno espaço áb que dispomos não permitte que nos alarguemos tanto
como desejávamos ; contudo datnos summariamente a idéa das pírincipaes
500
obras, dividindo a cidade em três bairros com passeios, largos e ruas,
aterrando e dessecando os pântanos tâo prejudiciaes á salubridade publica,
e canalisando o rio que atravessa a cidade. São estes, a nosso ver, os pri-
meiros trabalhos que cumpre fazer, deixando para mais tarde outros que
de futuro se julguem necessários.
Bairro occiílcDtal. — Da margem esquerda do rio Água Grande, a contar
da sua foz até á quebrada da fazenda Boa Vista ou Quingloró, onde corre
a Agua Flamenga, poder-se-ha formar em todo o comprimento da praia
um passeio de arvoredo escolhido (boulevardj, construindo-se para esse
fim, do lado do mar, um muro de pedra e cal, e procedendo-se ao con-
veniente aterro para o nivelamento regular do terreno. As arvores podem
ser dispostas com intervallos de 10 ou 20 metros, collocando-se entre
cada uma um banco de ferro. Para maior utilidade, e evitar o empoça-
mento das aguas das chuvas, deverá ser empedrado. N3o será permittida
n'este passeio edificação de casas baixas, nem de ^onstrucções que não te-
nham jardins lateraes.
O regueiro que vem da roça Arraial, sobre o qual ha duas pontes,
sendp a da Conceição no fim da rua Alegria, e o regato Agua Garcia, que
passa no fim da rua da Conceição, sob a ponte Lucumi, serão também
empedrados, assim como o celebrado boqueirão Agua Fede, charco com-
mum onde se reúne a agua mar, a Agua Garcia e a agua paludosa que sáe
da roça Arraial. O povo na sua linguagem simples e despretenciosa de-
nominou aquelle sitio Agua Fede.
É, pois, conveniente que as obras ali sejam regularmente feitas e por
tal modo que façam desapparecer de todo qualquer vestigio ou signal da
Agua Fede.
A Agua Flamenga, ao fundo da quebrada da roça Boa Vista ou Quin-
gloró, deverá também correr em um canal de pedra e cal, bem construído
e com o necessário declive.
Estebello e agradável passeio terá duas boas pontes — uma no si-
tio Agua Fede e outra na Agua Flamenga, e pertencerá á parte NO.
da cidade, a qual collocada na margem esquerda do rio Agua Gran-
de, será cingida com um muro de alvenaria, construido no meio de uma
superficie ampla e bem nivelada. Começará este muro junto á porta da
cidade que se deve levantar na estrada real, denominada do Rosário ou
da Madre de Deus, e seguirá até á Cruz dos Caminhos, por detrás da
igreja da Conceição, onde se levantará outra grande porta. O muro coo*
tinuará até se encontrar com a denominada Agua Flamenga, seguindo
por detrás do cemitério publico, o qual, coUocado n'uma eminência de
cerca de 20 metros, ficará dominando esta vistosa parte da cidade.
501
Em frente do cemitério ha uma planície, muito baixa, plana e regular,
com cerca de 600 metros de largura e talvez mais do triplo de compri-
mento, que será uma poética e fresca alameda, em boas condições de sa-
lubridade.
As ruas d'esta parte da cidadã devem ser calçadas ou preparadas de
modo que não conservem a menor porção de agua estagnada.
Este rápido esboço, feito na ausência de planta, descripção ou carta
topogràpbica da capital d'esta riquissima e productiva província, e apenas
com o conhecimento que d'ella temos, serve para se indicarem as obras
de primeira ordem mais urgentes e necessárias, e pelas julgarmos im-
portantíssimas, nomeâmol-as resumidamente :
1.° Passeio de arvores escolhidas, tendo um parapeito do lado do
mar. Este passeio deve ser bem empedrado e nivelado, com bancos de
espaço a espaço e com duas pontes, começando na margem esquerda do
rio Agua Grande, e terminando na Agua Flamenga;
2.^ Alameda, não de alamos, mas de arvores escolhidas entre as abun-
dantes Mimosissimas y ou entre as variadas Malvaceas, ou então, o que
será preferível, composta somente de eucalyptos;
3.° Grandioso passeio ou jardim construido no pântano da roça Ar-
raial; as ruas centraes e lateraes serão bem calçadas, e todo o terreno
preparado para receber eucalyptos, girasoes, hervas e plantas aromáti-
cas, e flores das espécies que possam ali produzir ;
4.^ Muro do alvenaria, de 2 metros de altura e com a espessura con-
veniente, começando na porta da estrada real e seguindo até á porta da
estrada da Conceição, e d'ahi até á Agua Flamenga, em cuja margem di-
reita descerá a encontrar a alameda referida em o n.® ^.^
Deve organisar-se uma companhia de cem indígenas válidos, que se
occuparão constantemente da limpeza publica.
As três pequenas elevações próximas á cidade de NO., que são uma
no sitio em que existiu o denominado Forle Hollandez, outra no local
onde está o cemitério, a outra no ponto em que está edificada a casa co-
nhecida pelo nome de Quingloró ou da Boa Vista, servirão então para se
construirem quartéis, agradáveis vivendas, palácios, etc.
Bairro central. — A parte central d'esta cidade, isto é, a cidade com-
nicrcial propriamente dita, abrangerá a área comprehendída na margem
direita do rio Agua Grande, estendendo-se pelo largo da igreja de Santo
António, por toda a rua de igual denominação e pela do Amaral, largo da
Sé, ruas Catharina Jorge e Domingos António, largo de S. Miguel e ruas
próximas, tendo a frente na praia desde a margem direita do indicado
no alé do logar onde desemboca a rua do Tronco.
O templo da Sé, a casa que serve aclualmenle de residência aos go-
, vernadores e a alfandega devem ter as fachadas para a lado da babia- fp-
felizmente todos elles carecem de grandes melhoramentos, e com espe-
cialidade a alfandega, que tem de ser quasi reconstruída, acrescen^ioda-
se-lbe vastos armazéns, porque os que possue são acanhadíssimos. O que
porém devia ser a área de terreno da cidade a que nos referimos vé-se
pela seguinte concisa e breve exposição.
Entre a igreja de Santo António, a margem direita do rio Agua Gran-
de, e a rua de Santo António até á rua detrás da Sé, e a sua continuação
até á ponte denominada José do Paço ou Sum Migue, segundo a lingua-
gem da ilha, haverá um largo arborisado, bem calçado e nivelado. Os ca-
sebres que ficam entre o largo da Sé, formando a rua de Baixo da Sé,
serão demolidos, conservando-se apenas alguma casa de melhor cons-
trucção, mas perdendo parte do quintal próximo á margem do rio. Em
volta da velha igreja de S. Miguel formar-se-ha um largo. A casa proxiipa
á travessa da Sé e o armazém serão expropriados para armazéns da alfan-
dega, amplos e hygienicos que occuparão também a mesma travessa. Em
logar da actual ponte de madeira far-se-ha uma outra de ferro, estenden-
do-se até onde houver bom fundo.
A igreja da Conceição, por se achar encravada no edifício da alfande-
ga, será applicada a outro fim, segundo as necessidades da casa fiscal.
O muro que se interrompeu na estrada do Rosário para lhe dar pas-
sagem e ao rio Agua Grande começará na mesma altura da margem di-
reita, deixando espaço para a estrada publica do Caixão Grande, etc, se-
guirá por detrás da igreja de Santo António e voltará pela beira esquerda
do extenso paul até defronte da igreja de S. Miguel, onde haverá uma es-
trada para a villa de SanfAnna. O paul extenso, em cujo centro ha lama-
çaes, accommodar-se-ha a jardins, praças, largos e vistosas alamedas de
bellas sombras, espongeiras, anomaceas, artopos, incisas, etc, correndo
no centro, em um bom canal, as aguas e todas as vertentes que para ali
affluem e possam ser dirigidas.
A parte central da cidade seria então de uma deslumbrante vista,
observada do fundeadouro do porto, e demonstraria cabalmente o bom
gosto, riqueza e importância da colónia porlugueza no Equador.
Uma outra companhia de cem indígenas válidos se occupará, em
iguaes condições á do bairro Occidental, de conservar sempre em completo
e perfeito estado de limpeza as praias, ruas, jardins, alamedas, canaes,
etc.
Ignorámos se na ilha ha pedreiras, e, no caso affirmativo, se se en-
contrarão ali indivíduos habilitados para as explorarem; mas, se os não
houver, pôde transportar-se a pedra já preparada de Lisboa ou do Porto,
503
coino lastro dos navios que venham carregar géneros coloniaes. As pe-
dras para as calçadas devem ser parallepipedos regulares, de 1 decime-
Iro por face. A cantaria para as edificaç(5es e os parallepipedos de pedra
para as calçadas das primeiras ruas devem ser enviados com brevidade
para que os trabalhos se possam realisar gradualmente.
São cinco as estradas publicas que saem da cidade, sendo duas na
parte oriental e três na occidental, e portanto haverá cinco portas.
A canalisaçâo do rio Agua Grande deve realisar-se com todas as in*
dicações da arte. Os lavadouros públicos serão collocados de forma que,
a agua esteja em continua corrente, a flm de se conservar o mais límpida
possivel. Em ambas as margens do rio haverá passeios de boas arvores,
assim como bancos de ferro, de pejdra ou de madeira, collocados espe-
cialmente próximo ás pontes.
Bairro oriental. — A parte de SE. da cidade será tão salubre quanto
notável e bella. Poderá nomear-se o lado oriental em opposição ao de
NO., que se denominará occidental.
Para esse flm construir-se-ha um passeio de arvoredo escolhido (bau-
levará oriental) desde a ultima parte da praia do cães da alfandega até ao
largo da fortaleza de S. Sebastião. N'este passeio ha apenas uma ponte,
quasi fronteira á ponte occidental, ou do boqueirão Agua Fede, sendo
uma e outra amplas, bem feitas e solidas. A oriental será lançada sobre
a foz da alagoa. O pântano que rodeia a superfície banhada pelas aguas
do mar será bem aterrado e transformado em jardim, e o seu extremo
em relação á alagoa constará de um muro de alvenaria de modo que as
aguas não transbordem. As aguas do canal central feito pelo meio do paul
correrão para esta parte, assim como ioda a das vertentes que houver por
aquelle lado.
O muro que havíamos deixado pela altura do largo da igreja de S. Mi-
guel será continuado segundo o plano que se adoptar para se realisarem
os melhoramentos da cidade, a qual, sem grande sacrifício, poderia ter os
limites mais largos, mais regulares e extensos, e n'este caso o muro a
que nos temos referido ou acaba na fortaleza de S. Jeronymo, ou então
em qualquer ponto da estrada que segue para a villa de SanfAnna.
É condição essencial que ao lado do extenso muro se arranje uma su-
perfície de 100 metros de largo em toda a circumferencia. Junto das por-
tas haverá mercado todos os dias e um bi-semanal dentro da cidade. O
açougue ou talho de carnes verdes será construido fora das portas, e da
parte de dentro não serão permittidas as cacimbas, isto é, covas ou focos
para se tirar agua, salvo se o dono as empedrar e mandar limpar de seis
em seis dias.
504
9
Haverá caminbos de feno americanos para a colónia penal e para a
cidade oílicial, em que estiver o palácio do governo e o hospital geral e
permanente.
Três estradas atravessarão a superficie da ilha de um a outro lado,
de modo que se possa ir de trem á freguezia dos Angolares, á de Nossa
Senhora das Neves e á villa de SanfAnna.
 praça do peixe será em logar certo e bem determinado da parte do
mar e dos passeios construidos nas praias da bahia.
, Terminaremos estas considerações com as seguintes indicações ^'
1.° Pôr cincoenta indigenas váhdos trabalhando diariamente no aterro
do pântano de S. Sebastião ;
2.° Formar uma companhia de qjncoenta homens válidos para cuidar
da limpeza publica das ruas, praias, praças e logares próximos aos limi-
tes da cidade ;
3.^ Proteger a agricultura de modo que ella possa trazer aos cofres
públicos cerca de 300:000^000 réis annuaes, podendo applícar-se réis
I00:000]$000 ás despezas dos empregados, I00:000f$000 réis ás obràs
publicas e os outros I00:000f$000 réis a pagar as despezas de passagens
dos empregados públicos e a indemnisar o cofre da marinha e ultramar
das despezas que fizer com qualquer melhoramento que mande realisar,
indo de Lisboa as plantas, operários e mestres de obras, bem como um
naturalista consciencioso que se occupe de estudar os reinos mineral, ve-
getal e animal, indicando os productos de maior utilidade, importância e
valor ;
4.° Mandar empedrar de pedra e cal o regueiro que vem da roça Ar-
raial e o celebrado boqueirão Agua Fede.
1 Fazem parte do relatório da junta de saúde, a resfioito do qual baixou em 1873
a seguinte portaria :
•N.*" 51.— Sua Magestadc Ei-Rei, tendo tido conhecimento do relatório elaborado
pela junta de saúde da província de S. Thomé e Príncipe, relativo ao serviço de saúde
da mesma província no anno de 1872, manda, pela secretaria doestado dos negócios
da marinha e ultramar, que o governador da dita província louve a referida junUk
por haver colligido n'aquelle trabalho minuciosas informações acerca do serviço no
mencionado anno, e outras também importantes a respeito da ilha de S. Thomé, cm
additamcnto ás que se encontram no seu relatório do serviç>o de saúde em 1869.
«Paro, aos 25 de julho de iS7'ò.^ João de Andrade Cmvo.»
CAPITULO X
l2isalubridade relativa
Opinião de diferentes escriftores.— Moléstias mais freqnentes das colónias portujieias nos annos de 1 870
a 1873.— Diferentes estatisticas sobre este assumpto.— Glas^vifeaçlo ias diferentes colónias.
Pertence ao hygienísta dar opinião acerca da natureza do solo, quer
para a edificação de alguma vílla, quer para a de um estabelecimento
importante, quer finalmente para se proceder a uma cultura apropriada,
tendo em vista a purificação do ar ; e nunca o poderá fazer sem estudos
preliminares bem dirigidos. O solo não é salubre somente por ser mon-
tuoso, secco e bem batido pelos ventos, nem também é mau por ser bai-
xo, alagadiço, bumido e pantanoso. São d'esta opinião Dutroulau e Celle,
e ambos concordes cm que deve haver analyses geraes e parcíaes por
tantas vezes repetidas quantas forem precisas para se obterem conheci-
mentos completos e indestructíveis. Mas emquanto não vem a sciencia
pronunciar a sua ultima palavra, vamos nós, pela nossa observação diá-
ria, protestando contra os trabalhos dos europeus em S. Thomé! Não
se sacrifiquem mais vidas inutilmente, bastam as já sacrificadas no es-
paço de quatro séculos, e as que se irão entregando á morte quasi certa
emquanto não forem tomadas as providencias que pela sciencia téem sido
aconselhadas.
Eram estas com pequena differença as palavras que escrevemos ao
Analisar as nossas considerações sobre a salubridade absoluta, no relató-
rio de 1860 (pag. 131). Hoje pouco podemos adiantar, porque as causas
que produzem a insalubridade, não só da cidade como de toda a ilha, são
as mesmas. Limitámo-nos porém a extractar as diversas opiniões de es-
criptores distinctos acerca das ilhas de S. Thomè e Principe, opiniões
que, juntas ás nossas já emittidas no mencionado relatório, servirão de
texto para o desenvolvimento das ostntisticas que fazem parte d'este
r.i[)itulo.
— Opinião de Lopes de Lima áceixa da salubridade das duas ilhas
S. Thomè e Principe, parte ii.*, pag. 7:
506
«Os argumentos de propagação e de longevidade comparativa são
muito em favor da melhor salubridade da ilha do Príncipe para os euro-
peus, e parecem-me mais convincentes por serem de facto mais impor-
tantes do que a theoria scientiflca das duas correntes (a que se refere
D. José de Moros y Morellon, por dar por mais salubre a ilha de Anno
Bom). >
— Opinião do dr. José Correia Nunes e de Thomás Hutchinson, extra-
hida da obra Impressão da costa occidental de Africa, publicada em
Londres no anno de 1858, pag. 207 e 208:
«As febres intermitentes quotidianas e terpãs sao as únicas febres da
manifestação da infecção palustre na cidade da ilha do Principe. Não ap-
parecem casos de febres remittentes, biliosas, ou typhoides (remittent
yellow or typhoid never having occurred in his experience, of th dr. Nu-
nes). As febres intermittentes são em geral benignas. A dysenteria fere
mais os indígenas. N'aquella ilha não ha pântano algum (there is not
square inch of swampy laud upon its whole sur face). O dr. Nunes reputa
a i\h^ salubre, e a opinião deste consciencioso eintelligente medico deve
ser tida em mais consideração do que a d'aquelles que por ali não téem
estado. 1
— Opinião de F. Lencastre, publicada no Archivo pittoresco, voL x,
pag. 309— 1867:
•A ilha do Principe pôde dizer-se saudável relativamente á maior
parte dos climas de Africa, exceptuando a cidade e mais alguns pontos,
Qode as ribeiras, espraiando-se muito, deixam aguas estagnadas, como
acontece em Praia Salgada. »
— Parecer da junta de saúde publica da província de S. Thomé, exa-
rado no relatório de 1869, pag. 142 e 143:
«Sem o conhecimento exacto da constituição geológica do solo, e de
tudo Q que nos possa ser revelado pelo estudo geographico e topogra-
phico de cada ilha em separado; sem o conhecimento da meteorologia,
tqmando em consideração os seus principaes problemas, não se pôde
avaliar a natureza dos climas, e muito menos a das moléstias reinantes.
A falta d'estes dados inhibe-nos de apresentar a nossa opinião fundamen-
tada; e apesar d'isso fazemos a seguinte classificação das ilhas do golfo
dos Mafras, que pertencem aos portuguezes.
«1.° Logares mais salubres de S. Thomé. — Monte-Café, Magdalena,
Mancambrará, e muitos logares cuja altitude é superior a 300 metros.
tf 2.^ Logares mais salubres da ilha do Principe. — Ok-Gaspar, Sun-
dim, Azeitona, Cima-Lô o Ponta da Mina.
«3.° A ilha de S. Thomé é actualmente mais rica, mais povoada e
mais fértil que a ilha do Principe.»
507
Moléstias mais frequentes, segundo a ordem descendente, nas colónias
portugnezas, nos ^nupç i^p i870 a 1873
Cidade da Praia
IST^O — Febres iDtennittentes e remillentes, ulceras, rheumatis-
mo, bronchites, tubérculos pulmonares, ^iarrbea, dois casos de febre
typhoide.
l&^X — Febres inl^rmittent^s, febres remittentes, ulc^r^s, rbeu-
matismo, bronchites, tubérculos pulmonares, febre biliosa, cacbexia pa-
lustre e febre paludosa.
1SV2 — Febres intermiltenles, febres remittentes, ulceras, rheu-
matismo, bronchites, tubérculos pulmonares, diarrhea, cachexias e febre
bilíosa.
1^'7'3 — Febres intermittentes, bronchile, tubçrculQg pulnipn^-
res, ulceras, rheumatismo, pneumonia aguda, cachexia paludosa, aqs-
mia.
nha de S. Vicente
— Tisicas pulmonares, anemia.
Ilha de Santo Antão
— Bronchites, febres intermittentes, rheumatismo, diar-
rhea, febre perniciosa, cachexias, tuberculose pulmonar, febre remit-
tente, anemia, anazarca, febres e diarrhea, gastralgia.
18'7'3 — Bronchile, pneumonia, febre intermittenle, diarrhea,
dysenteria, cachexia, rheumatismo, anazarca, tubérculos pulmonares»
embaraço gastrico-intestinal, enlero-colite, anemia, febres perniciosas e
remittentes, um caso de febre typhoide.
Ilha do Sal
IST^íi — Bronchites, febre intermittenle, rheumatismo, dois casos
de tubérculos pulmonares.
nha do Maio
IST^S — Febres intermittentes, rheumatismo, broqchites, qlcersis,
dois casos de tubérculos pulmonares.
308
— Febres intermíttentes, bronchite, diarrhea, rbeumatismo,
ulceras» pleorísia, três casos de tubérculos pulmonares.
nha Brava
18'7'S — Bronchites, ulceras, febres inlermittentes, rheumatismo,
diarrhea, gastralgia, dois casos de tubérculos pulmonares.
Ilha de Bolama
IST'» — Febres inlermittentes, bronchites, febres remittentes,
ulceras, diarrhea, três casos de febre tvphoide e um de tubérculos pul<
monares.
nha do Príncipe
IST^O — Febres intermíttentes, bronchites, febres remittentes,
febres perniciosas, dysentería, anasarca, um caso de febre typhoide e
cinco de tubérculos pulmonares.
IST'! — Febres intermittenles, ulceras, febres remittentes, dysen-
teria, bronchite, rheumatismo, seis casos de tísica pulmonar.
IST'»— Febres intermillentes, febres remittentes, anemias, cacbe-
xias, embaraço gástrico, rheumatismo, dysenteria, edema dos pés, dois
casos de tubérculos pulmonares.
IST^S — Febres intermíttentes, cachexias, ulceras, anemias, febres
remittentes, bronchites, um caso de tubérculos pulmonares.
S. Thomé
IST^O — Febres intermiltentes, rheumatismo, ulceras, bronchites,
diarrhea, dysenteria, anemia, embaraço gástrico, enterite aguda, febres
perniciosas, gastralgia, enteralgía, edema, um caso de febre typhoide e
dois de tubérculos pulmonares.
IST'! — Febres intermíttentes, rheumatismo, ulceras, bronchites,
febres remittentes, diarrhea, dysentería, cachexia, embaraço gástrico,
edema, febres perniciosas, anasarca, três casos de febre typhoide e três
de tísica pulmonar.
XS'7'2 — Febres intermíttentes, ulceras, bronchites, diarrhea,
rheumatismo, febres remittentes, cachexias, embaraço gástrico, dysen-
teria, anemia, febre perniciosa, anasarca, edema, gastralgia, um caso de
tubérculos pulmonares.
— Febreb intermillentes, ulcera:-, bru^iihiles, rheumatismo.
509
diarrhea, febres remiltenles, dysenteria, embaraço gástrico, aDemia, ca-
chexia, pneumonia» splenite, hepatite, anasarca» pleurite, três casos de
tubérculos pulmonares.
Mossamedes
IST"! — Febres intermittentes, ulceras, broncbites, diarrhea e
rheumatismo.
IST^S — Febres intermittentes, ulceras, diarrhea, bronchite, dy-
senteria, rheumatismo, tubérculos puhnonares, anemia, febre perniciosa
e pneumonia.
Loanda
IST^O — Febres intermittentes, broncbites, rheumatismo, febres
remittentes, diarrhea, ulceras, embaraço gástrico, febres perniciosas, tu-
bérculos pulmonares, anemia, febre biliosa, quatro casos de febre ty-
phoide.
IST"! — Febres intermittentes, ulceras, bronchite, rheumatismo,
embaraço gástrico, diarrhea, febres remittentes, febre perniciosa, anemia,
tubérculos pulmonares, dysenteria, febre biliosa, gastro-enterite, ascite,
enterite, um caso de febre typhoide.
IST^â — Febres remittentes, ulceras, broncbites, diarrheas, rheu-
matismo, febres remittentes, cachexias, embaraço gástrico, dysenteria»
febre perniciosa, anasarca, edema, gastralgia, um caso de tubérculos
pulmonares.
IST^S — Febres intermittentes, ulceras, broncbites, embaraço gas-
tiíco, diarrhea, rheumatismo, febres remittentes, dysenteria, febres per-
niciosas, tubérculos pulmonares, anemias, pneumonias, febres biliosas,
escorbuto, splenite, edema, cachexias, três casos de febre typhoide.
Benguella
— Febres intermittentes, embaraço gástrico, febres remit-
tentes, pneumonia, rheumatismo, bronchite, ulceras, dois casos de febre
typhoide e dois de tisica pulmonar.
IST^S — Febres intermittentes, embaraço gástrico, ulceras, pneu-
monia, diarrhea, bronchite, febre biliosa, rheumatismo, escorbuto, febres
perniciosas, três casos de tubérculos pulmonares e dois de febre ty-
phoide.
5»
gasuúo, rheumatismo, dysenlcrias, dian*hea, splenite, febres remillenles,
(jualro casos de febre typhoide e três de tubérculos pulmonares.
IHT'! — Febres intermittentes, ulceras, bronchite, rheumatismo,
dysenteria, diarrhea, febres remittentes, hepatites, anasarca, tubérculos
pulmonares e pneumonia.
IST^S — Febres intermittentes, rheumatismo, bronchite, ulceras,
dysenteria, diarrhea, hepatite, tubérculos pulmonares, febres remitten-
tes, cólicas, pneumonias, anasarcas, ictericia, anemia, cinco casos de fe-
bre typhoide.
IST^S — Febres intermittentes, bronchites, rheumatismo, emba-
raço gástrico, ulceras, dysenteria, diarrhea, hepatite, cólica, tubérculos
pulmonares, anemia e splenite. três casos de febre typhoide.
Macau
IST' O — Febres intermittentes, rheumatismo, bronchites, diar-
rhea, dysenteria, ulceras, gastralgia, enteralgia, tubérculos pulmonares,
hepatite.
IST'! — Febres intermittentes, rheumatismo, bronchites, diarrhea,
ulceras, tubérculos pulmonares, febres remittentes, enteralgia.
lÔT^S — Febres intermittentes, rheumatismo, bronchites, febres
remittentes, diarrhea, dysenteria, tubérculos pulmonares, hepatite, em-
baraço gástrico, gastrite, gastralgia, ulceras e ictericia.
IST^S — Febres intermittentes, rheumatismo, bronchite, diarrhea,
tubérculos pulmonares, ulceras, dysenteria. pulmonite. febres remitten-
tes, gastralgia e hepatite.
Diiiy
IHTO — Febres intermittentes. ulceras, bronchites, embaraço
gástrico, tubejculos pulmonares, um caso de febre typhoide.
18T1 — Febres intermittentes, ulceras, bronchites, rheumatismo,
diarrhea e tubérculos pulmonares.
IST^íí — Febres intermittentes. ulceras, bronchites, embaraço
gástrico, rheumatismo, tubérculos pulmonares, três casos de febre ty-
phoide.
IST^S — Febres intermittentes, ulceras, tubérculos pulmonares,
bronchite, rheumatismo e embaraço gástrico.
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513
Estatística dos doentes tratados dos hospítaes
das difTerentes cidades e Yíllas das proYÍncias nltramarinas
nos annos de 1872 e 1873
Desígnafão
das localidades em qoo se acham os hospítaes
Cidade da Praia
Ilha de Santo Antão i
Ilha do Sal
Ilha do Maio
IlhaBrava^
Ilha Bolama 3.......
IlhadeS. Tbomé....
Ilha do Príncipe
Loanda
Ambríz
Benguella ^
Mossamedes^
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Moçambique
Nova Goa
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3:182
2:833
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3:607
3:241
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2:775
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2:368
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18
1:154
* Do roappa ofllcíal não consta o numero de corados nos annos de 1872 e 1873.
- Dos roappas ofliciaos referidos ao anno de 1873 só consta o movimento dos mexes de maio a de-
zembro.
' Idem.
* Não se publicaram os mappas nosologícoi o nocrulogicos d'e8te hospital, mas pelos mappas do mo*
Tímento se conhecem os nnmeros acima indicados.
* Idem.
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Inglaterra
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Portugal .
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França.
Hollandi
Inglaterra
França
Inglaterra
Portugal
Hol landa .
Inglaterra
França,.
Inglaterra
Hollanda.
Hon-Kong
Java coro a ilha de Maduro
Aden
Índia (diversos estabelecimenloa)....
Damlla
IKu
Ilha da Martinica
Ilha Saba '.
Bermudas
Windward Island (6 das pequenas
Antilhas).
Território de 8. JoUo Baptista de Ajuda
Ilha Brava
Ilha Hauricia e dependências
K^labelcciíiirriio^ e feitorias (Singa-
pura, Malaca, etc.)
Guadelupe e dependências
Ilha de S. EusUche
índia (IndosLSo e costa oriental do
golfo de Bengala)
Ilha da Reunião ou antiga Bourbon
IlhaadeTure
Goa e dependências
Porto Rico
Ilhas de Vieques, (lalebra e Mona . . .
Ilha S. Marlin
Leewarce Islands (8 das pequenas
Antilhas)
Nossi-Bé e dependências
Ilha de Santa Helena
Ilha Aniba
Tropical ....
Trop. quente (fi.)
Equatorial (5.)
Trop. quente (N.)
Trop. quente (S.)
Trop. quente (N.)
Trop. quente (S.)
Tropico-equat. (N.)
Tropical lerap. (N.)
Tropico.eqnal.(N.)
Equatorial (N.).
Trop. quente (N.)
Trop. quente (S.)
Trop. quente (S.)
Tropico.equat. (N.)
Trop. quente (S.)
Trop. quente (N.)
IVop. quente (N.
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.)
Tropico-equat. (N.)
Trop, quente (N.)
Trop. quente (S.)
Trop. quente (N.)
158:1
153:1
1U:1
132:1
138:1
1)0:1
117 ; 1
81:1
76:1
tH9
NaçOes
colooiiadoras
D«sÍKnaçilo das colónias
Portugal.
Inglaterra j
Hollanda .
França . .
Inglaterra
Hespanha
França . .
Portugal.
Inglaterra
França . .
firazíl . . .
Portugal .
Inglaterra
He;ipanha^
Portugal .
Inglaterra
Hespanha
Hollanda.
Hespanha <
Brazil . . .
Hespanha
Portugal.
Hollanda.
Inglaterra
Ilha de S. Thiago
Ilha do Fogo
Jamaica
Labouan
Ilha Coraçio
Santa Maria a E. da ilha de Madagáscar
Ceyláo
Ilhas Filippinas
Mayote
Santo Antáo
Ilhas de 8. Thomé e Príncipe (fazen-
das agrícolas)
Trindade (sul das pequenas Antilhas)
Cochinchina ao oriente de Siam
S. Pedro Grande e pequena Miquelon
ao S. da Terra Nova
Rio de Janeiro
Município Neutro
S. Vicente
Ilhas de Keeling (estação)
Ilha de Fernando do Pó
Ilha de Corisco
Ilha Elobey
Ilha de Anno Bom
Ilha de S. Nicolau
Costa Occidental de Africa
Ilhas Carolinas *
Ilha Bonaire
Ilha de Cuba
Ilha de Pinos
Alagoas
Ilhas Paláos
RegiSo septentrional (NE. da ilha de
Timor)
Ilha do Maio
Ilha Bali
Ilhas Ti^ji
Clima geral
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.)
Trop. quente (S.)
Trópico equat..,.
Troplco-equat.(N.)
Trop. quente (S.)
Equatorial (N.)...
Equatorial
Tropico-equat(N.)
Temperado (N.) . •
Tropical
Tropical
ProporçSo
Tropico-equat. (S.)
Equatorial (N.)...
Equatorial (N.)...|
Equatorial (N.)...{
Equatorial (S.) . . •
Trop. quente (N.)j
Equatorial (N.)...
Equatorial (N.)...
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.){
Tropico-equat. (S.){
Equatorial (N.)...
49
47
1
i
46:1
42: i
4i:i
38 :i
37:1
3,^: !
33: i
31 :i
27: i
24: i
23:1
20: i
18:1
16:1
14 :i
13: i
11 :1
Equatoríal (S.) . . . } 10 : I
Equatorial (S.)...
Trop. quente (S.)
7:1
Brazil.
HoliaDJa.
Braiil.
Inglaterra
Bruil.
Portugal.
Hespaaha
iQglalerra
Bnzil...
Hollanda.
loglalerra
Braxil
Inglaterra
Hollanda
Portugal.
Hollanda .
Inglaterra
Franfa..
BraEÍI...!
Fran);a . . ■
Inglalerfa/
Hollanda. I
Pernambuco
Banda e dependências (Illjas Holucas)
Parahyba.
Í Costa occideotal...
Costa oriental com
as ilhas de Riow
Benbolen
Lampouga
Paleinbaug
Porto Natal
Ceará-
Ilha da Boa Vista
Ilhas Marianas
Ilhas de Odicog
Sergipe
Ilha Branca.
Uha Celebei — (eiritorial geral
IlhaCelebea — Menado...>
IlhaLordHow
Rio Grande do Norte
Brac (EstacOo) (llhat de Cayanian). .
IlhaBilliton
Ilha do Sal
Ambúino e dependências (Ilhas Mo-
lucas)
Laccadivas (EstaçSo)
Uhaa Uarqueias
Algéria
Santa Calharias
Hioas Geraes
Ilha Nova Caledónia
Ilhas Loyaltys
Camarau (Elstação)
Ilha Panning
Nicolares (EstagSo)
Ilhas de Bahama de Lucaya
Ilha de Bomeo — costa occidental. . .
Trópico- equat. (S.)
Equatorial (S.),
Equatorial (S.).
Equatorial (S.).
Equatorial (S-).../
Equatorial (S.)...l
Equatorial (S.)...l
Tropical temp. (S.)|
Equatorial (S.>. . . i
Trop. quente (N.).
Trop. quente (N.)l
Trópico -equàl-IS,)!
Equatorial (S.)...\
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Equatorial (N.)...f
Tropical temp. {&.))
Equatorial (S.)...l
Trop. quente (N.)1
Equatorial (S.).../
Equatorial (S.)
Tropico-cquaL(N.)
Equatorial (S.)...
Trópico temp. (N.)
TVop. quente.
Trop. quente (S.)
Trop. quente (S.)
Trop. quente (N.)'
Equatorial (N.)...
Trop, quente (N.)
Tropical temp, (N.)
Equatorial
521
SsLÇòeà
colooisadoras
Designação das colónias
Hollanda.l Illia de Borneo
/
Cosia meridional..
(]osta oriental . . . .
Babia
Andamanes (Estação)
Brazil . . .
Inglaterra
^ .. i Espirito Santo..
Brazu , . . '
I Rio Grande do Sul
i Tasmania (Van-Dienien)
Inglaterra ^
Terra Nova
Clima geral
UoUanda.
Inglaterra*
Ternate e dependências (Ilhas Molucas)
Nova Zelândia
Colónia do Cabo
liba Norfolk
Guiana (America do Sul)
Brazil . . .
Portugal.
Inglaterra
Hollanda.
Brazil . . .
Inglaterra
Brazil...
França . .
^ Piauhy
I Maranhão
/ Districto de Loanda (colónias agrícolas)
Districto de Benguelia (fazendas agrí-
colas)
Districto de Mossamedes (colónias agrí-
colas)
Bissau
Cacheu
Bolama
Honduras
Surianam (Demerara ou Guyaua hol-
landeza)
Paraná
Domínio de Canadá
Ilha de Tristão da Cunha (Estação). .
Ilha da Ascensão
Austrália
Goyaz
Pará
Guyana
Districto de Cabo Delgado.
Portugal . l Distrícto de Moçambique .
( Districto de Quilimane . . .
Equatoríal (S.)...
Equatoríal
Trop. quente (S.)|
Trop. quente (N.)
Trop. quente
Tropical temp. . . .
Temperado (S.) . .
Frio(N.)
Equatorial
Temperado (S.).. .
Tropical temp. (S.)
Tropical temp. (S.).
Equatoríal (S.)...
Equatorial (S.) . . .
Trop. quente (S.)]
Trop. quente (S.)|
Trop. quente (S.)^
Tropico-equat....{
Tropico-equat. . .
Trópico -equat. . .
Trop. quente (N.)^
Equatorial (N.)...
Tropical temp. . . .
Frio(N.)
Temperado
Equatorial (S.) . . .
Trop. q. e temp. . .
Tropico-equat . . •
Equatorial (S.)...
Equatoríal (N.)...
Equatoríal (S.)...
Trop. quente (S.)
Trop. quente (S.)
Proporçio
2: i
i :4
9:i0
7:10
5:10
4:10
3: 10
ã:IO
1 : 10
K22
Naç5os
colonisadorat
Defígoaç Ao das colónias
Portugal.
Inglaterra <
Brazíl...
França . .
Portugal.
Hollanda.
Inglaterra^
França . .
Inglaterra^
Districto de Sena
Districto de Tete e Zumbo
Districto de Sofala
Districto de Inhambane
Districto de Lourenço Marques ....
IlhaNathan
Ilhas Falkland
Mato Grosso
Auiasonas
Senegal
Gabão
Districto de Angoche
Santa Luzia
Ilha de Timor (parte occidental) ....
Ilha Nova Guiné
Ilha de Kouriâ Mouria (Estação) ....
Nova Amsterdam (Estaçáo)
S. Paulo (EsUçáo)
Perin
Mostra (Estação)
Ilha de Anchland
Ilha de Ciiperton a SO. da Aiiiorica
do Norte
Ilha Maldin
Ilha Starbouch
Ilha Carolina
Clima geral
Proporção
Trop. quente (S.)
Trop. quente (S.)|
Trop. quente (S.),
Tropical (S.) l
Tropical temp. (S.)
Temperado (S.) . • .
Trop. quente
Equatorial
Trop. quente (N.)
Equatorial
Trop. quente (S.)
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9
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100
100
100
100
l|oera-se i si-
p«rfide.
Equatorial (S.) . . .
Equatorial (S.)...|
Trop. quente (N.)
Temperado 1 !!■•"-» * ?•-
Temperado [ ^■'*Ç**
Trop. quente (N.)
Trop. quente (N.)
Frio (S.)
Equatorial (N.) . . . /
Equatorial (S.).. .
Equatorial (S.) ..,) Iikikilaieií.
Equatorial (S.)...
523
Classilicação das príncipacs nações da Europa,
segundo a sua população especifica por kiloioelro quadrado
Coni|)reheiidon(Io as colónias, proleclorados
e territórios adjaceiílCH
Designações
Bélgica
Paízes Baixos. ..
Itália
Ilhas Brítannicas
Allemanha
França
Suissa
Austro-Hungria .
Dinamarca
Portugal
Hespanha
Grécia
Turquia
Bussia
Suécia
Noruega
Proporção
178
M
114:
101 :
100
7o:
68:
64:
57:
49:
44:
32:
29:
23:
13:
9:
5:
ludopeodcntfinpult! do colónias, prolertorados
e territórios adjacentes
Designações
Proporção
Bélgica
Itália..
Allemanha.
oUissa ••.•*...
Austro-Hungria
Hespanha
Grécia
França.
Paizes Baixos. .
Inglaterra
Suécia
Turquia. . .
Noruega. . .
Portugal . .
Bussia....
Dinamarca.
178
90
75
64
57
30
29
27
16
11
10
• * ^
8
5
3
1
6
: 10
Glassíricaçâo das províncias do Brazil,
segundo a sua população especiflca por kilometro quadradc
Designações
Rio de Janeiro (Município
Neutro)
Alagoas
Pernambuco
Parahyba
Ceará
Sergipe
Rio Grande do Norte
S. Paulo
Santa Catharina
Minas Geraes
Proporção
20:1
11 :1
7 :1
6: 1
5:1
5:1
4:1
3: 1
3:1
3: 1
Designações
Bahia
Espirito Santo . . . .
Rio Grande do Sul
Maranhão
Piauhy
Paraná
Pará
Goyaz
Mato Grosso
Amazonas <
Proporçto
2:1
1 :1
i
9
1
10
8: 10
4: 10
2:10
2
3
10
100
2:100
^
CAPITULO XI
População geral e espeoifloa da ilha de S. Thomó
* e providencias hygrienioas
EsUtislira dos fo(|os exisleulcs na ilha.— Óbitos por eíeilo da moléstia de bciiga^i nos aeies de i«tHi-
bro e dezembro de 1864 e jaoeiro de 18GS.— Eslalística dos eiropeiis.— Eslalislica dos africaios.—
Vappa demonstrativo dos europeus fallecidos nos amos de 1864a 1876, diiidídos pomnes e tri-
mestres, e com designarão dos estadas, seios, idades, condirdes e naturalidades.— Happa demoislra-
li«o dos indivíduos fallecidos nos annos de 1868 a 1875, com designação das idades, sexoy, estados,
coudíc4»es e naturalidades.— Estatística dos nascimentos nos annos de 1867 a 1875.— Suero dein-
dividnos que entraram e sairam do porto da ilha de S. Tbomé nos annos de 1874 a 1876.— Popi-
laçâo da ilba de 8. Tkomé nos annos de 1874 e 1875.- Providencias hjgienicas.
Estatística dos fogos eiJslentes na ilha de S. Tlionè
nos annos abaixo designados
Fregoezias
Nossa Senhora da Graça . . .
Nossa Senhora da Conceiçáo
Santíssima Trindade
Nossa Senhora de Guadelupe
Santo Amaro
SanfAnna
Nossa Senhora das Neves.. .
Santa Cruz dos Angulares . .
Magdaiena
1859
382
1867
362
1868
364
1871
187t
1873
1874
350
440
380
382
435
480
481
550
555
552
556
446
897
898
ilO
120
250
250
99
153
154
250
255
190
i40
76
i69
169
175
170
180
178
309
208
210
372
380
385
385
38
40
40
72
72
74
74
157
215
215
-
93
99
107
54
78
2:602
80
215
220
230
230
1:996
2:611
2:094
2:305
2:340
2:302
1875
384
490
320
102
190
596
80
120
240
2:522
iV. B. N.lo podemos obter o numero de fogos referidos ao anno de 1865, as-
sim como as estatísticas da população e nascimentos. Devemos notar, porém, que
houve n'aquelle aimo a epidemia de bexigas, que ceifou a vida a um grande nu-
mero de indivíduos. A mortalidade proveniente d'esta enfermidade consta do se-
guinte mappa, que extrahimos das participações officiaes remettidas á adminis-
tração do conceilio, e de outros documentos que nos facultaram.
saí)
Mappa demoDstratíTO dos óbitos nas díOerentes fregnexias da ilha de S. Thomè,
por f ITeíto da nolestia de bexigas, nos meies de noYembro e dezembro de 4864
e janeiro de i86S
Freguesias
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Condições
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Europeus
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Novembro i
Libertos
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Escravos
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1
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Dezembro <
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6
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9
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—
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12
13
Escravos
Praças da bateria..
1
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/Europeus
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Ilndigenas
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Janeiro. . .<
Libertos
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Escravos
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-
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-
Idades....
Maiores de 15 annos
12
65
5
38
-
5
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-
-
6
24
134
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-
—
Menores de 15annos
6
71
10
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23
5
12
-
-
1
7
30
V
16^
1
EsWhlica <I«K europfus existente» na illia i)e S. Themí',
DU» aouoa sliaivo designados
KreizMiiai
-
272
3G2
33
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397
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729
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1871...
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Aiiiliosoa senos
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õtWjias
Masculino
Feiíiiiiino
I87:i...
Feriimino
iV. B. Não consta do boletim a desigiunflo por sexos referida ao anno de ÍS.')Í).
Sáí
Estatística dos africanos existentes na ilha de S. Thomé,
nos annos abaixo designados
Anoos
18Õ9...
Sexos
Ambos os sexos •
I
jgg^j Masculino
f Feminino.
1868...!
Masculino
(»'
eminino.
1871...
(Mascai IDO.
F
'^ominino.
18731...
1873...
1874...
Masculino
Feminino .
Masculino
Feminino .
Masculino
Feminino .
1875...)*^'***^"""^
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1:500
4:140
4:309
3:481
859
4:340
1:824
1:147
2:971
1:778
1:219
2:992
9:010
1:740
3:750
3:200
2:040
3:020
2:547
5:567
Fregucúas
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1:165
680
625
1:305
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1:366
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1:538
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1:073
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1:047
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1:280
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600
1:460
960
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1:585
1:172
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2ÍÍ22
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1:560 1:560
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1:496
1:285
1:115
2:400
1:.305
1:139
2:444
1:005
834
1:839
940
816
1:756
1:170
1:040
2:210
1:900
1:440
3:430
2:370
1:670
4:040
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151
77
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148
86
234
206
184
390
215
181
396
208
180
388
208
178
386
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355
956
572
338
394
1:566
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N. B, Não consta do boletim a designação por sexos relerida ao anno de 1859.
\
Hippa ricmonslraliio dos earopeus rallecWos na ilha lif S. Tbomé,
DOR aouns de 1801 ii 1876, ditididos por meies e Irimeslrcs
f roíD designatâo dos rslados, se\Ds, idades, eomliciíes t natuntidades
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iV. li. Não podendo obter com exactidão alguns algarismos, por isso indicá-
mos como condição ignorada os (]ue extrahimos do movimento marítimo; todos
os mais foram coUigidos do boletim.
(*elo presente mappa v^-se que a população se elevou nos trea annos referi-
dos, sendo no de 1874 o augmento de 375 indivíduos, no de 1875 de 285 e no de
1876 de 2:418.
O movimento foi em 1874 de 841 indivíduos, em 1875 de 893 e em 1876 de
3:470; d'onde se \ê que a media mensal referida ao primeiro anno foi de 70, ao
segundo 74 o ao terceiro 311. Se descriminarmos esta ainda pelas entradas e
saídas do porto, temos que no primeiro anno foi a das entradas 50 e das saídas
19: no segundo, a das entradas 48 e das saídas 25, e no terceiro, a das entradas
425 e a das saídas 43.
Happa esuiisllco da |ii>pii]a{io di illia de S. Iliainr,
nos annes de 1874-187S
Oeíipaç^s
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Segundo o registo do porto:
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ProfidcDciaB higiénicas. — As medidas hygienicas que nos parecem de
mais iostaole necessidade s3o as seguintes* :
1/ Estudar a constituição do solo das ilhas de S. Tliomé e Príncipe,
com o intuito de se saber quaes são culturas que devem aproveitar-se
para beneSclar os It^ares mais doentios. fiepuU^mos excellente a cultura
do caré, a do cacau e a do algodão, de preferencia à da canna de nssu-
car, que é menos saudável, e considei-ámos prejudicial a do arroz.
2.* Determinar que os teirenos do estado sejam cultivados, e que se
formem algumas granjas modelos^, sendo o seu rendimento destinado
aos hospitaes, casas de saúde e á santa casa da miserícordia.
3.* Não enviar para aquellas ilhas degredados, empregados e colonos,
desde o mez de outubro até ao fim de maio.
4.* Fazer a canalisação da ribeira até á ponte de Cima Cola, deulro
da cidade, tomando as suas margens em passeios^ ; e construir fontes, tan-
ques e lavadouros públicos.
)
1 Foram approximadamente as cpie escrevemos' no relatório de 1869 p repe-
timos no de 1871 e 1872, mas nada se fez n'esle senlido.
I Não í>e (omiaram ainda as granjas modelos, nem se deu começo ãs colnuias
penaes.
> li um.i obra do (rrandÍRsima urgência, maíi ainda não foi principiada.
538
5.* Melhorar o hospital da cidade de S. Thomé ^ ou, o que é prefe-
rível, construir outro com todas as condições hygienicas, tendo nos ter-
renos adjacentes jardim, pomar ou horta. Convém que o hospital perma-
nente esteja fora da cidade, e que a casa onde actualmente existe este es-
tabelecimento seja destinada a um hospício. A ilha de S. Thomé precisa
de dois hospitaes para a sua população de 16:000 almas.
6.* Incitar de algum modo os proprietários d'esta Uha a construírem
um hospital commum, onde sejam tratados somente os libertos, acabando
assim com os hospitaes q boticas das roças, e com os curandeiros, que
tSo prejudiciaes sao â saúde publica como as carneiradas.
7.' Determinar que a limpeza publica da cidade esteja a cargo de
uma companhia, composta de cincoenta indígenas válidos, que trabalhem
assiduamente: publicar regulamentos hygienicos e policiaes a fim de que
a limpeza publica seja proQcua.
8.* Mandar preparar, na praia, próximo da fortaleza de S. Sebastião,
logares onde não possa entrar o tubarão, a fim de se tomarem ali banhos
do mar*.
9.* Fazer conduzir a Agua Bobo para a cidade, distribuindo-a no hos-
pital e em tanques nas duas praças principaes.
10.* Aconselhar a camará municipal a ter um medico de partido para
dar consultas gratuitas aos pobres, e examinar a qualidade da carne que
se vende ao publico, etc, etc.
H.* Não consentir que se façam canos de esgoto na cidade, nem ge-
raes, nem parciaes ; seriam um foco permanente de infecção miasmatíca.
12.* Determinar que se façam montureiras, e que seja obrigatória a
desinfecção, formando-se para esse fim regulamentos especiaes, e impondo
rigorosas multas aos contraventores ^.
13.* Prohibir que nos trabalhos agrícolas, propriamente ditos, se em-
preguem europeus, a fim de evitar que arrisquem a vida.
1 4.* Construir um bairro novo em logar conveniente, tendo casas sau-
dáveis e económicas, onde os empregados, colonos e quaesquer outras
pessoas que queiram residir na ilha, possam encontrar meios de resisti-
rem ás constantes e fortíssimas trovoadas, chuvas e ventanias, que tanto
incommodo e prejuízo causam á saúde.
15.^ Não permittir que nos quintaes haja bananeiras e hervas ruins,
> O hospital de 1872 é aindíi o de i877. Está porém em via de eonslrucçào um
hospital -barraca.
2 Ainda se nào fez nada n*esle sentido.
' Xao se determinou ainda cousa alguma a este respeito.
536
e determinar que as matas próximas da cidade sejam convenienleiaeDte
devastadas ^
16.^ Regular o serviço medíco-militar de modo que os facultativos te-
nham tempo para organisar trabalhos estalisticos sobre meteorologia^ pa-
thología e historia natural.
17.^ Melhorar a botica do estado para que o serviço pharmaceutico
possa ser feito com promptidão, aceio e economia.
18.^ Permittir que os empregados, principalmente os que tenham
dado provas de aptidão e zelo, possam ir ao reino, no íim de cada trBS
annos de serviço, para se tratarem, e demorarem-se ahi seis mezes, visto
que raros são os europeus que podem viver três annos consecutivos sob
um clima tão deprimente, e em uma atmosphera tuo viciada, sem adqui-
rirem moléstias, mais ou menos perigosas.
A estas providencias juntámos as seguintes, que também reputamos (h
instante necessidade :
^^ Determinar a arborisação dos largos e ruas principaes da cidade»,
empregando arvores próprias, como larangeiras, euoalyplus, mucumblis,
marimboques e muitas outras balsâmicas e de crescimento rápido.
ã.* Determinar que as ruas fiquem planas nas margens e abauladas
no centro, de modo que nunca se encharquem com as aguas das chuvas.
3.* Determinar que se escolham fora da cidade logares próprios para
se abaterem as rezes.
4.* Determinar que se colloquem marcos, signaes ou balisas na cir-
cumvalação da cidade, e que se façam pelo menos dois jardins públicos.
5.* Mandar levantar o plano geral da cidade de S. Thomé, para que
se façam as construcções com regularidade e boa ordem, e se não con-
sinta o grande numero de casebres arruinados que existem, nem quintaes
sem cercados.
6.* Determinar que se abra uma estrada em boas condições para a
villa da Santíssima Trindade, prolongando-se até ao sitio denominadi)
Santa Luzia e d'aqui até á costa de SE. da ilha.
7.* Escolher um logar elevado e distante da colónia penal, das \1l-
las principaes e da cidade, para se construir um hospital geral e perma-
nente, tendo boa e abundante agua, bons terrenos para jardins, pomares,
hortas e conveniente exposição.
• Em i873, como em 187i, e como em 1869, estavam as ruas e os quintaes no
mesmo estado, pejadas de hervas mins, de bananeiras, etc; citámos todo o bairro
de S. Miguel e ruas próximas; a rua d(^ Santo António, a de S. João e outras. Re-
tiràmo-DOS da ilha de S. Thomé no principio do anno de i874 e nâò sal>emos se es-
tão hoje como estavam n*aquelia epocha.
537
8.^ Não consentir que se destruam as florestas, sem ordem, sem me-
thodo e muito especialmente sem se cuidar de as crear segundo as regras
da sylvícultura, fazendo-se para esse efl^eito um regulamento, no qual se
apontem ao mesmo tempo a importância das arvores que se devem con-
servar por causa da boa madeira, bálsamos, óleos, resinas, fructos, etc.
9.^ Nao permittir que nas fozes dos rios se apanhem peixinhos a pan-
no, a coals ou por outros meios que os naturaes costumam usar.
10.^ Construir ediQcios para banhos públicos, nas praias da bahia e
nas margens do rio Agua Grande.
11 .^ Obrigar os moradores da cidade a caiarem os cercados e as fren-
tes de suas casas, ao menos uma vez por anno.
12.^ Fazer aterrar os pântanos que rodeiam a cidade para que a su-
perfície d^elles se transforme em bellos e amplos jardins, em formosas
alamedas e em passeios iiteis e agradáveis.
FLORA PATH0L0r.iC4
CAPITULO XII
PrindfKies mule&lias observadas no hospital de 8. Tlionic duranie o aiino do 1872; ronsideracôcs. — Re-
snmo comparalÍTo da freqneiiria das moléstias ubserradas no hospital militar de S. Thomé c da sua
mortalidade relativa em rada um dos mczes do anno de 1872; considerações. -Numero de doen-
les do hospital de S. Thomé em 1872; considtTarôes. — Resnmo do movimento dos doentes no hos-
pital militar de S. Thomé e das prinrípaes duenras ali observadas; considcrarúcs. — Resumo por Iri*
mestres.— Relaráo da mortalidade para os casos das moléstias, etr.; consíderariíes ácerra da moh
talidade.
Âs gravíssimas moléstias que se manifestam na ilha de S. Thomé e
em muitas outras das nossas possessões ultramatinas, demandam a maior
attençao dos médicos coloniaes e dos governos, nâo só para lhes comba-
ter as causas como para lhes attenuar os eíTeitos.
A maioria das causas são de ha muito conhecidas, e todos os clínicos
as indicam nos seus relatórios, baseados no estudo e longa pratica e nos
estudos dos mais auctorisados médicos e exploradores; os eíTeitos s3o
bem patentes, e as estatísticas que apresentámos manifestam claramente
o quanto urge cuidar das nossas colónias, dotando-as com todos os ele-
mentos indispensáveis, não só para o seu desenvolvimento agrícola e com-
mercial como para melhorar as suas condições hygienicas.
É altamente necessário perscrutar as círcumstancias em que se decla-
ram as prjncípacs doenças e os symptomas que as acompanham conforme
os locaes em que se manifestam ; do seu exame minucioso devem co-
Iher-se resultados fecundos para se estabelecerem as regras praticas, a fim
de se fugir aos terríveis ílagellos que assolam aquelles povos.
Âs doenças que muitas vezes se manifestam benignas complicam-se e
aggravam-se por phenomenos que seriam talvez evitados a tempo se hou-
vesse os recursos precisos, e se os enfermos se tratassem convenien-
temente e apenas os symptomas apparecem, evitando que as febres se
apossem do organismo sem se lhes oppor algum obstáculo que a medi-
cina ou a hygiene aconselham, devendo principalmente fugir-se de medica-
mentos de pouca confiança, porque as moléstias definem-se e muitas ve-
zes matam em poucas horas ; e ó esta uma das rasões por que aconselhamos
o tratamento logoque os mais leves symptomas se manifestem.
Rísiimo das priocipaes mnleslias ohseriiilas
nD liospilii) militar ili itlia de S. Tliomé, c namiTo de dotníps curados
e fallffidos nn i." semestre de 1S72
Diatmulirni
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Resumo das priucipaes uiiilvslias observadas
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542
Não flguram nos mappas nosologicos moléstias de caracter diverso
d^aqucllc que se tem examinado nos outros annos.
A cachexia sob diíTerenles formas, a febre palustre e a diarrhea são
as doenças mais frequentes e as que causam maior mortalidade nos soN
dados e nos addidos europeus.
Conservámos as designações que os facultativos do hospital adopta-
ram, porque desejámos sustentar toda a exactidão nos trabalhos estatís-
ticos colhidos nos mappas nosologicos mensaes publicados no Boletim
official da província.
Não fizemos um mappa nosologico com a classificação sob um ponto de
vista geral, como doenças do systenia nervoso, dos olhos, dos ouvidos, do va-
riz, doapparelho circidatorío, absorvente, respiratoriOf digestivo, uriná-
rio e locomotor, do tecido cellular, da pelle, traumáticas e simuladas, por-
que a população do hospital, segundo a escripturação seguida em 1872,
não offerece elementos rigorosos para essa classificação; e não separámos
lambem as doenças dos soldados das dos addidos, libertos, europeus e
africanos, porque preferimos a exposição das doenças, segundo a traduc-
ção fiel do que se acha exarado nas papeletas.
— A cachexia palustre é doença de todos os mezes; houve 6 casos
termo médio., por mez.
— A diarrhea e a dysenteria tiveram entre si a seguinte relação: 2,54
casos de diarrhea para l de dysenteria. Houve em todos os mezes casos
de uma e de outra doença, apparecendo as diarrheas8,44 por mez, termo
médio, e as dysenterias 3,5, o que mostra muito maior frequência na pri-
meira doestas doenças.
— A doença endémica principal da cidade de S. Thomé é a febre pa-
lustre, que se manifesta sob diversas formas.
A febre perniciosa attinge 68 por cento dos atacados. A febre palus-
tre ó intermittente, remittente ou perniciosa, mas raríssimas vezes ím^â,
e só por acaso se encontra sob qualquer outra forma. A infecção palustre
desenvolveu symptomas primários em 632 individuos e causou 19 falle-
cimentos, o que representa uma mortalidade de 3 por cento sobre os
atacados. É por tanto muito grave esta infecção, porque produz doenças
características da localidade, mas não da ilha, onde pôde admittir-se
sem grande erro a existência de três climas distinctos.
— O rheumatismo appareceu sob diversas formas, a saber: lumbago,
pleurodyniaj rheumatismo articular, e muscular. Houve 88 doentes
affectados d'esta moléstia, o que dá o numero 7,3 por mez. O rheiíina-
.tísmo articular oíTereceu casos graves e morlaes.
— A bronchite chronica é muito grave e muito rebelde ao tratamento;
543
são frequentes os casos, tanto da broncbite chronica como de aguda. De
94 doentes falleceram 6, isto é, 15,66 para 1 atacado.
A frequência das moléstias em cada mez depende de muitas circum-
stancias. A pneumonia é frequente e grave, mas nao se observa em todos
os mezes. Em 1 3 doentes affectados d'esta moléstia houve 4 mortos.
O exame da frequência das moléstias por mezes é muito importante,
mostra as doenças que se manifestam nas epochas das chuvas e das ven-
tanias.
Os elementos de que se dispõe s9o por emquanto muito limitados e
comprebendem apenas os europeus e os africanos que se acham em peio-
res condições de vida. Quando faltam commodidades, quando a alimen-
tação não é variada e os trabalhos são rudes, as doenças são mais fre-
quentes, mais rebeldes e mais graves.
A cidade de S. Thomc está em péssimas condições a todos os respei-
tos; os soldados e os addidos, quer europeus quer africanos, adquirem
doenças graves em consequência de se exporem ao tempo, sol e chuva,
conservando bastantes vezes vestida a roupa molhada pelas chuvas, e
tendo de a deixar enxugar no corpo. É esta uma gravíssima causa de
doenças das vias respiratórias e também a occasional do apparecimento
de febres perniciosas quasi continuas.
Dos mappas parciaes que apresentámos compõe-se o seguinte resumo
relativo á frequência das moléstias observadas e á sua mortalidade em
cada um dos mezes do anno de 1872.
o44
Kesumo comparatÍTO da frequeDcía das moléstias
observadas no hospital militar da ilha de S. Thomè, e da niortalídade relativa
dos doentes em cada um dos mexes do anno de i872
Mezcá
Janeiro...
Fevereiro.
Março....
Abril . . . .
Maio
Junho....
Julho . . . .
Agosto . . .
Setembro .
Outubro..
Novembro
Dezembro.
Numero
de
muleslias
Fal-
tecidos
Relação das
moleslins
observadas
p.-ira
os fallecidos
Curados
192
•«
0
38,40:
117
215
7
30,71 :
143
183
11
16,63 ;
121
166
7
16,57 :
92
216
7
30,85:
138
198
14
14,14
131
209
10
20,9(í :
121
i84
14
13.14
121
145
29,00 :
9o
150
7
21,42
89
182
11
16,54 ,
116
199
8
24,87
124
■ 1 :408
2:239
1U6
21,12 :
Helaçao
doseondos
pan
osfalleddot
o
de 1871
23,40;
20,42:
10,00:
13,14 :
19,71 :
9,35:
12,10 .
8,64;
19,00:
12,7i :
10,54:
16,00:
13,28:
^* 1
7i
7i
A media mensal das doenças observadas é 186
A* media mensal dos curados é 117
O maior numero de moléstias observadas corresponde ao mez de
maio, e o menor verifíca-se em setembro; e é n este mez também qae se
encontra o numero mais baixo na mortalidade.
À media mensal dos fallecidos é de 8,83 e a das doenças traladas
de 186,5.
A população do hospital militar de S. Thomè apresenta-se em péssi-
mas circumstancias. Os addidos do deposito penal, sujeitos a grandes pri-
vações e a trabalhos de toda a ordem, entram ali em elevado numero.
No primeiro trimestre houve 590 doenças e 33 fallecidos, ou 3,80
por cento. Comprehende este trimestre os mezes em que se manifestam
os maiores calores e apparecem os tornados. Ao fim do mez de dezem-
bro e princípios de janeiro corresponde o tempo denominado verauiio,
havendo poucas e ás vezes nenhumas chuvas.
No segundo trimestre contam-se 580 doenças e ã8 fallecidos, ou
4,82 por cento. Caem n'este periodo as grandes chuvas e com ellas au-
/
345
gmenla o numero de doeoças observadas, que, como se vê, attinge o seu
máximo.
Nu terceiro trimeslre trataram-se no hospital S38 moléstias, falle-
cendo 29 indivíduos, ou 5,38 por cento, o que é extraordinário. Em ju-
lho, agosto e setembro, que é o tempo mais fresco do anno, faltaram as
cliuvas por mais de trinta dias successivos. Apreciaremos em outro logar
as causas de similhante irregularidade.
No quarto trimestre a 531 casos observados corresponderam 26 fal-
Iccidos, ou 4,89 por cento. Reinam n'esle tempo as chuvas diluviaes.
Na composição e formação dos mappas ha elementos diversos que
l>odem influir no resultado; é por isso que nós operamos do composto
para o simples. Os casos obervados representam um dividendo maior em
relação ao numero de doentes e muito maior em relação ao numero de
individues differenles. O divisor é sempre o mesmo e n'esta circumslan-
cia o quociente muda segundo a nijtureza dos cálculos que se fazem.
Numero de doeales entridos do hospital da ilha de S. Tbamè, em W2,
SFgaado as classes
Ofliciaes
Officiaes inferiores ....
C.alxis. soldados e corneteiros
Additlos do ileposilo penal..
Praças da aroiaiia real
Empregados públicos
Dnenles civis nosquartos par-
ticulares
Docnles civis nas enfermaria!)
Indigentes da santa rjisa.
Libertos
Relação dos europeus para os africanos %fO: I
546
Os liberlos entram no hospital geralmente em casos graves e chroni-
cos, o que é um elemento grande de mortalidade. Na população do hos-
pital houve 1 liberto por 15,6 indivíduos entrados, isto é, 7 por cento.
Contam-se 217 soldados europeus e 178 africanos ou 305 militares,
isto é, 1 soldado por 4 indivíduos entrados; e o numero dos soldados
europeus excede apenas em 39 por cento dos africanos.
Os addídos foram quasí metade da população hospitalar, sendo 655
europeus e 113 africanos, isto é, 1 africano por 5,7 europeus. Estes indi-
víduos estão nas mesmas condições, e mostram com toda a clareza a in-
fluencia do clima nos europeus e nos africanos; entre 7 d'aquelles apenas
adoece 1 d'estes.
A questão dos trabalhos da agricultura, das obras publicas, etc, deve
tirar doestas estatísticas todos os elementos para ser resolvida com jus-
tiça. O europeu não pôde trabalhar exposto ao sol e ao tempo sem adoe^
cer e arriscar a vida. p
A população do hospital militar e Civil da cidade de S. Thomé chegou
em 1872 ao numero 1:585, isto é, a 132,08 doentes por mez, termo mé-
dio, tendo sido 186,5 a media mensal das doenças observadas. São mui-
to importantes estes dados.
RelagSo entre ob diversos individnos e a populaçSo do
Oiliciaes
Oáciaes inferiores
Gabos, soldados e corneteiros
Addidos do deposito penal
Praças da armada real
Empregados públicos
Doentes civis nos quartos particulares
Doentes civis nas enfermarias
Indigentes da santa casa
Libertos ♦
Europeus (homens)
Europeus (menores do sexo masculino)
Europeus (mulheres) . . é
Europeus (menores do sexo feminino)
Todos os europeus
Africanos (homens)
Africanos (menores do sexo masculino)
Africanos (mulheres)
Africanos (menores do sexo feminino)
Todos os africanos
hospital
176,11
39,62
4,01
2,06
39,62
528,33
158,50
48,03
8,52
15,69
1,55
132,08
28,30
1585,00
1,45
3,49
528,33
45,28
528,33
3,20
547
Resnmo do moTimenlo dos doentes no hospital militar da ilha de S. Thomè
6 das principaes doenças ali obsenradas no anno de 1872
Gropos das príncipaes moléstias observadas
a
.a
I
Abcessos
Adenites
Alienação
Amygdalite
Anasarca.
Anemia tropical
Aneurisma popliteo
Dalanite
Blennorrhagia : . • •
Bronchite aguda.
Bronchite chronica
Gachexia
Cachexia senil, paraplegia..
Cancro venéreo
Gephalalgia é, ...
Cólica nervosa (enteralgia).
Congestão cerebral «
Callo inflammado. ^ . .
Cysti te aguda
Cystite chronica
Dartro pustuloiso
Delirium tremens
Diarrhea
Dysentería
Dilatação arterial
Dyspiep^a
Dores osleocopas
Dores articulares
Eczema
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Ecíhyraa
Edema das extremidades.
Embaraço gaslríco • •
ErysilMla
Enleríte simples.
Epilepsia
EstoDiatite simples
EicoriaçOes
Erythema
Febre intermitlente quotidiana
Febre intermittenle terçS
Febre remiltente
Febre perniciosa
Feridas conlusas e conlosOes
Pendas incisas e penetrantes
Feridas por armas de fogo
Pistolas nríiurías
Fractura do maxiilar inferior
Pnrunculos
Gastro-enteríle-typboide
Gastralgia
Hematúria
Hemorrhoidas
Hemiplegia
Hemoptysis.
Hydrocele
Hemia inguinal
Hepatite agada
Hepatite aguda, alicessn do ligado . . .
Hepatite clironica, anemia
Hypertropliia do coraçâo.aiiasarca..
Hyperlrophia do baço
Hyperirophia do ligado, anemia
Hyperlrophia da glândula mamaria. .
1
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3
3
2
1
4
2
1
ri3i
l
1:133
U9
Grupos das principaes molMliat obsenradat
Transporte.
Icterícia
Icterícia grave, fórrna typhoide ,
Impetigo
Lumbago
Luxações
Maculo
Metrite chronica
Odontalgia
Orchite blennorrhagica
Ophthalmia
Onyxes
Ozena i
Palpitações do coração
Paralysia geral do movimento
Paraplegia
Peritonite aguda
Pleurysia ou pleurite
Pleurodynia
Pemptiigus
Phlegmâo
Pityriasis do couro cabelludo
Pneumonia
Piam de Alíbert (bobas)
Phymoses e cancro venéreo ,
Rheumatismo articular chronico
Rheumatismo muscular
Sarna'
Simuladas (moléstias)
Syphilís terciária
Syphilides pustulosas
Splenite cbronica
Tubérculos pulmonares
Tétano traumático
Ulceras atonicas das pernas
-a
28
i
i
S
44"
i:234
4
2
1
8
6
3
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5
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1
1
i
1
i
12
41
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1
1
13
1
i
37
2
10
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13
1
3
1
1
106
1:532
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a
1
133
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1
8
5
2
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10
2
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1
13
40
1
1
1
10
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1
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7
16
ia'')
71
KSO
Gropos das priocipaes moletUat observadas
Transporte
Ulcera na margem do ânus
Ulceras syphiliticas na abobada palatina
Vegetação venérea na vulva
Vermes intestinaes.
Volvulo ou íleo
Sommas parciaes
Total
§
M
44
44
a
c«
s
a
1
B
1:532
1
3
3
i
i
i:541
i:585
1:400
i
3
3
i
1:408
I
Ti
105
s
CS
w
s
71
106 I 71
1:585
Relação dos curados para os doentes 1 : 1,12, ou 88,8 por cento.
Relação dos fallecidos para os doentes 1 : 14,95, ou 6,68 por c«nto.
I
tÊàm^tÊtm
A traducçSo d'este mappa mostra que no hospital militar da ilha de
S. Thomè appareceram 102 espécies patliologicas em 1:586 doentes.
Indicámos nos seguintes mappas a proporção da mortalidade provenien-
te das doenças pertencentes áquellas espécies e aos géneros ou grupos
n'ellas comprehendidos.
1.°— Disposição sagrando a ordem alphabetloa iaa doenças
Entre cada espécie pathologica e o numero de doentes que lhe cor>
respondem ha a seguinte relac3o:
DoenLci l'al|i>clilos
iVa etpecie — Alienafao mental
Xo g>>iiero ou grupo — Anasarca
Na espécie — Anemia tropical
Na espécie — Dronchite aguda
Na espécie— ^ronchile chronica
No género ou grupo— Cache x ia
Na espécie — CíingesISo cereliral
No grupo ou género— Díarrhea
No grupo ou género— Dy sen leria
Na espécie — Peljre romitlente
No grupo ou género— Febre perniciosa..
Feridas con lusas e contusões
Feriílas incisas e penetrantes
Gaslro-enlerile-typhoide
Henioplyses
Hemia inguinal
Hepatite aguda.
Hepatite aguda, alieesso do Ggado
Hepatite chronica, anemia
Icterícia grave, forma typlioide
Hacúlo
Paraplegia
Peritonite aguda
Pneumonia
Pleuresia ou pleurite
tllieumatismo articular chronico
Rlieumatismo muscular.
Tubérculos pulmonares
Telano traumático
Ulceras atonicas das pernas
Viilvulo ou iieo
: 76,00
4,80
3,U
{,00
i,9i
5,fi6
: 39,00
Í,W
: 25,00
9,66
2,00
i,00
4,00
1,00
3,00
3,00
1,00
3,00
1,00
1,00
3,S0
: 14,00
: 19,00
2,00
1,00
1,00
: 1G,71
S52
2.'' Distribnlgão segrundo o maior niunero de doentes
Diagnostico
Ulceras
Diarrhea
Febre remittenle ,
Bronchite aguda.
Cachexia
Rheumatismo articular
Dysenteria
Anemia tropical
Feridas incisas e penetrantes .
Febre perniciosa
Feridas contusas e contusões.
Bronchite chronica
Pneumonia
Pleuresia ou pleurite
Anasarca
Hepatite
Hemoptyses
Hérnia inguinal ,
Alienação mental
Maculo
Doentes
Fallecidot
Re
117
7
89
18
79
2
76
1
44
14
38
2
34
6
33
2
29
3
25
17
25
1
24
5
14
4
14
1
13
5
7
3
4
1
4
1
3
2
3
1
16,71
4,94
39,50
76,00
3,14
19,00
5,66
16,50
9,66
1,47
25,00
4,80
3,50
14,00
2,60
2,33
4,00
4,00
1,50
3,00
Nao se tomaram em consideração as doenças manifestadas apenas
uma ou duas vezes, das quaes se contam nove espécies. As graves
e mortíferas, classificadas segundo a sua frequência foram: Ulceras,
diarrhea, febre remittente, bronchite aguda, cachexia, rheumatismo
articular, dysenteria, anemia tropical, feridas incisas e penetrantes,
febre perniciosa, feridas contusas e contusões, bronchite chronica, pneu-
monia, pleuresia, anasarca, hepatite, hemoptyses, hérnia inguinal, alie-
nação mental e finalmente maculo, correspondendo-lhes os números se-
guintes: 117, 89, 79, 76, 44, 38, 34, 33, 29, 25, 25, 24. 14, 14, 13,
7, 4, 4, 3, 3.
I
$53
d.<»— Distribuição segundo a maior mortalidade relativa
Febre perniciosa 1
Alienação mental i
Anasarca 1
Hepatite 1
Maculo 1
Cachexia 1
Pneumonia 1
Hemoptyses 1
Hérnia inguinal 1
Bronchite chronica 1
Diarrhea 1
Dysenteria 1
Feridas incisas e penetrantes 1
Pleuresia i
Anemia tropical 1
Ulceras 1
Rheumatismo articular 1
Feridas contusas e contusões 1
Febre remittente l
Bronchite aguda 1
1,47
1,50
2,60
2,33
3,00
3,14
3,50
4,00
4,00
4,80
4,94
5,66
9,66
14,00
16,50
16,71
19,00
25,00
39,50
76,00
Contam-se no anno de 1872 como moléstias principaes, muito frequen-
tes e mais mortíferas, a febre perniciosa, anasarca, hepatite, cachexia,
pneumonia, bronchite chronica, diarrhea, dysenteria, pleuresia, ane-
mia tropical, ulceras e febre remittente; e os seus números correspon-
dentes em relação a 1 fallecido são: 1,47, 2,60, 2,33, 3,14, 3,50, 4,80,
4,94, 5,66, 14, 16,50, 16,7i, 39,50.
As doenças mais frequentes no hospital foram: a febre intermittente
quotidiana, que aiíeclou 5o3 indivíduos; as ulceras, 117; as diarrheas,
89; a febre remittente, 79 vezes, e a bronchite aguda, 76.
O que flnalmente se conclue r que a cidade de S. Thomé é miasma-
tica, como se vé pelo elevadíssimo numero de doentes affectados da febre
palustre, e até pôde dizer-se sem grande erro que no hospital militar
todos tiveram accessos d'esta doença.
Resumo das primipaes molcalias observadas do liospitil da ilha de S. Thomé,
cui cada lrimci>tre do uudo de 1872
Anemia
Broncliile , . , .
Ckcliexia
Diarrhea
Dysenleria
Edema das exiremidades iiireriores
Enibara^o gástrico
Pebrc paluslni
Vehio palustre rouiíllente
Febre pnlusire iiilerniíl lente Ut^H..
Felire pernicioui
Gaglro-eulerile (yplioide
Hepalile
[theuroalismo
Tubérculos pulmonares
Ulceras
Diversas
SOO 33 S80 ã8 ;>
No 1." trimestre a relação dos curados para
os fallecidos foi de 25,65 : 1
No 2." trimestre de 20,71 : i
No 3." trimestre de Í8,55 : 1
No 4.» trimestre de 20,42 : 1
Parece que o terceiro trimestre foi o mais insalubre, quando todas a?
condirues do solo e da atmospliera concorrem i>ara ser mais ruvorarel
esta quadra do anno.
B5g
A frequência das doenças está representada pelos seguintes numeroSi
os quaes são realmente muito approximados, devendo notar-se que o mez
de setembro é o menos insalubre.
p
1.° Trimestre 590
2.*^ Trimestre 580
3.^ Trimestre 538
4.° Trimestre 531
KS6
Hsppa neerologico do hospital miliUr da ilha de S. Thonè, oh 1872
Gni|K)t dat moléstias observadas que tarmÍDaram pela morte
Anemia tropical
Cachcxia palustre
Total {A)
Relaçílo da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
Anasarca (B).
RelaçAo da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
Díarrliea
Dysenteria
Diarrhea biliosa
Total (C)
Relaçílo da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
4.»
Bronchite chronica
Bronchite aguda.
Tubérculos pulmonares. /.
Total (D) •....
Relação da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
aS
a
32
70
102
2
14
16
6,37 : i
21
4,02:1
107
42
8
157
15
6
3
24
6,54: 1
37
102
2
5
1
1
141
20,14:1
557
Gropot das moloitiM observadas que terminaram pela morle
5.»
Gastro-enterite-typhoide (E)
Relação da mortalidade (casos observados para os fallecimenlos).
6.»
Pneumonia
Pleuro-pneomonia
[Meuresia.
Totol(F)
itclaç2o da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
7.»
Hepatite aguda
Hepatite chronica e anemia
Hepatite aguda e abcesso do íigado
Total (G)
helaçáo da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
8.0
l''ebre perniciosa
Pebre palustre, remittente gástrica
Febre palustre perniciosa ,...,
ToUl(//)
Relação da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
9.0
Rlieuiiiatismo articular .....'.
Rlieumatismo muscular, myelitc
Rheumatismo articular chronico
ToUl(/)
Relaçdk) da mortalidade (casos observados para os fallecimentos).
I
s
a
m
O
a
a
1
Cm
t : i
9
10
19
38
7,6:1
1
1
5
4
4
2
1
1
1
10
3,33 : 1
18
7
15
40
2,1 : 1
9
2
8
19
40
2
8
1
. 1
1
50
i6,6G : 1
â58
Grupos das mole^lias otMcrvada« qae tormioaram pela morto
iO.«
Ulceras das pernas
Ulceras atonícas das pernas,
Tolal (K)
Relação da mortalidade (casos observados para os fallccimentos).
Peritonite aguda
Tétano traumático
Alienaçfio mental
Feridas incisas e penetrantes
Hemia inguinal e gangrena do escroto ...
Hemoptyses ,
Feridas contusas e gangrena
Paraplegia
Vohoilo ou ileo
Congestão cerebral
Icterícia grave, forma t^phoide
Maculo i . . . . ^ i
total
Total geral
V
ò S
a u
m
70
i
4
45
í
6
4
i
i
1
3
6
75
898
a
e
CS
5
!
I
2
3
1
1
1
I
I
1
1
16
106
Relação das moléstias mais graves para os fallecidos
8,47 : 1
\
(A) A mortalidade n'este grupo de doenças é realmente grande. Re-
unimos a anemia e a cachexia para mais facilidade de exposição; mas não
porque reputemos a sua natureza ou causa primaria idêntica, e não ha a
menor duvida de que a anemia não produz a cachexia.
A relação de 1 fallecido por 6,37 curados, ou 16 por cento em nome*
ros redondos, fica attenuada por algumas circumstancias que se devem
tomar em consideração.
A demora dos doentes, do hospital, incluídos n'6ste grupo, foi de 1
a 96 dias. Um d'esles doentes estava moribundo quando foi visitado pelo
facultativo da.enfermaria, outro falleceu de um accesso de febre perni-
ciosa ao quarto dia depois de ter entrado no hospital, e outros haviam
padecido de moléstias mais ou menos antigas, taes como : hemorrhagias
abundantes, diarrhea chronica, dysenteria, ulceras cbronicas nas pernas,
pneumonia, paraplegia, etc.
(6) Â mortalidade n'estes doentes manifestou-se entre 1 1 e 40 dias de
tratamento medico no hospital, tendo a anasarca sido acompanhada de le-
sões orgânicas do coração, de bypertrophia do Qgado, e diarrhea.
(C) N'este grupo a mortalidade é de ^ por 6,54, isto é, i6por cento.
Para seguirmos a mesma ordem por que começámos, indicaremos em
primeiro logar a demora relativa dos doentes no hospital, a qual foi entre
3 a 42 dias. A cada doente doesta classe de moléstias correspondem 16,4
dias de demora no hospital emquanto aos fallecidos, sendo o numero
dos atacados 157 e dos fallecidos 24. Em alguns d'esles as doenças men-
cionadas no grupo complicaram-se de rheumatismp, febre palustre, tubér-
culos pulmonares e cachexia.
(D) N'este grupo a relação dos casos observados para os fallecidos é
de 1 para 20,14, isto é, 141 casos observados e 7 fallecidos, notando-se
também em alguns dos que falleceram as seguintes moléstias : diarrhea,
pleuresia e anemia.
(E) Um só caso se apresentou que merecesse a denominação gastro-
enterite-typhoide. Era um liberto natural do Gabão, e que contava trinta e
três annos de idade. Esteve em tratamento no hospital durante 144 horas»
(F) N'este grupo a relação dos fallecidos para a dos casos observados
é 1 : 7^6. O que teve a pleuresia com derramamento, foi também atacado
de febre typhoide.
No relatório de 1869 lê-se na pagina 296: cÂs pneumonias são raras
nos europeus e seriam menos frequentes nos indígenas, se elles seguissem '
os conselhos que os médicos lhes dãoi».
Dos 5 doentes fallecidos apenas 1 era europeu. Ficam portanto corro-
boradas as asserções do relatório de 1869 e seriam mais decisivos os factos
se se archivassem os casos observados em differentes partes da ilha.
(G) Tratando das moléstias designadas n*este grupo, escreveu o sá-
bio clinico Dutroulau no seu notável trabalho: «Â hepatite, esta compa-
nheira inseparável da dysenteria endémica grave, augmenta ou dimínue
com ella e forma de um quarto a um oitavo do numero de seus casos e
de seus fallecimentos» .
O numero dos fallecidos no hospital é pequeno, assim como o dos ca-
. SOS observados; nas dysenterias esse numero é 6 entre 42 casos. Podemos
560
pois dizer, como em 1869: aA bepalíte na ilha de S. Thomé^ão está em
relação com a dyseDleria, nem emquanto á frequência, que mostra i,i
casos de dysenteria por 1 de hepatite, nem emquanto aos fallecídosi>.
(H) Â febre palustre é endémica na cidade, e não só é causa de
grande mortalidade por seus elleitos immediatos, como são immensos os
estragos que produz.
Os terrenos adjacentes á cidade de S. Thomé começam a subir gra-
dualmente na direcção S., SO. e OSO., parecendo o horisonte visual for-
mado por montes isolados ao S., e por uma alta serra de SO. a O. pouco
mais ou menos, estando dispostos em semicírculo, a cujo arco corresponde
um raio de 2:025 kilometros. A cidade é edificada em terreno alagadiço,
baixo e húmido, o que produz febres palustres graves, especialmente
quando acabam as chuvas e ficam os detrictos vegetaes e animaes impre-
gnados de agua e expostos ao calor solar de 40 a 50 e até 56 graus cen-
tígrados, como se pôde ver lendo-se as observações meteorológicas de
1872 (thermometro na relva e exposto).
A demora dos doentes no hospital, fallecidos de febre palustre, foi de
1 a 18 dias.
Dos 19 que falleceram, 18 eram europeus e 1 de Angola, residindo na
ilha de S. Thomé desde 1 semana, 1 , 3 e 6 mezes, e 4 annos.
Terminámos as explicações acerca dos fallecidos de febre palustre no
hospital civil e militar da ilha de S. Thomé, copiando o seguinte trecho do
notável livro de Dutroulau : «O algarismo absoluto dos óbitos (na endemia
palustre) tem por toda a parte importância e é algumas vezes elevadíssi-
mo; e se esse mesmo não parece estar em relação com o dos observa-
dos, todos os médicos das nossas colónias são conformes em lhe attribuir
a causa das frequentes retiradas dos doentes que vão para França, ou
para climas não palustres, e sem as quaes um numero considerável de
cachetícos ainda susceptíveis de se curarem seriam irremediavelmente
votados á morte».
(7) Nos casos de rheumatismo ha 3 fallecidos entre 47 curados, isto é,
1 para 16,66.
(K) É importante este grupo de doenças, sendo notável a relação da
mortalidade 1 para 37,57, que se apresenta mais favorável do que qual-
quer das relações de mortalidade referidas a outros grupos.
Em geral, as ulceras nos climas quentes téem uma feição particular e
são descriptas sob a denominação de ulceras phagedenicas. Desenvol-
vem-se em consequência da má alimentação, da miséria e da falta com-
pleta de hygiene, começando n'uns por qualquer picada de animaes,
u'oulros por meio de ferimentos ou feridas contusas, e em muitos sem
causa bem determinada. Doestes doentes escreve o sábio Dutroulau: tAs
561
•
funcções digestivas alleram-se, observa-se anorexia e diarrhea, sobre-
vêem accessos de febre e o doente cáe em profunda anemia (le malade
tombe dans uné anemie profondej».
Entre os 7 faliecidos eram europeus 5, e a maior parte d'elles acba-
va-se no estado cachetico.
Todas as ulceras occupavam os membros inferiores, os pés ou as per-
nas até ao seu terço inferior. Os doentes eram addidos, praças depret ou
indigentes; a sua demora no hospital foi devida a não terem aquelles in-
felizes aonde se recolherem, a faltarem-lhes todos os meios e a não haver
na ilha casa de saúde, nem hospício de entrevados, nem finalmente re-
curso algum de que se lançar mão.
O tratamento medico que se fez aos ulcerosos foi aquelle que a occa-
siao permittia.
Os grupos de doenças em que houve faliecidos são : cachexia e ane-
mia, anasarca, diarrhea e d}'senteria, bronchite e tísica pulmonar, febre
t} phoide, pneumonia, hepatite, febre palustre, rheumatísmo e ulceração.
Diversas outras doenças produziram 16 faliecidos.
Comparando-se finalmente entre si as doenças acima referidas com
as de 1869, nota-se uniformidade em certas moléstias e augmento em
outras, o que prova que não houve melhoramentos sanitários na cidade
de S. Thomé em 1870, 1871 e 1872.
I Doenças mais graves 222
Números dos faliecidos 48
Relação de mortalidade 4,62
I Doenças mais graves 898
Números dos faliecidos 106
Relação de mortalidade 8,47
As classes a que os 106 faliecidos em 1872 pertenciam eram: addi-
dos 46, soldados 15, indigentes 21, civis 4, hbertos 19 e preso 1.
Em presença do que acabámos de enumerar, e que é extrahido dos
registos do hospital militar e civil de S. Thomé, vê-se que houve 13 fal-
leciroentos durante as primeiras vinte e quatro horas de tratamento, o
que dá idéa do estado de gravidade em que os indivíduos entraram, isto
devido muitas vezes á repugnância manifesta que téem em procurar o es-
tabelecimento hospitalar, preferindo empregar os medicamentos aconse-
lhados por enfermeiros inhabeis e muitos remédios secretos manipula-
dos pelos curandeiros, aos que a medicina aconselha com bom critério,
conhecimento e longa pratica.
É uma providencia de ha muito reclamada o conservar nas nossas co-
se
568
lonias o numero de médicos precisos para occorrer a todas as necessida-
des das províncias, bem como um pessoal de enfermeiros devidamente ha-
bilitado, a flm de conjurar de uma vèz aquelle t3o nocivo e reprehensivel
abuso. Quantas victimas se não poupariam se a propaganda medica escla-
recesse os espíritos fracos e abatidos, e lhes fizesse comprehender o
erro em que estão, a fim de que, logoque sentissem os primeiros sym-
plotnas de enfermidade, se aconselhassem convenientemente, ou se aco-
lhessem ao hospital? Esta propaganda, auxiliada pelas auctoridades supe-
riores e subalternas, faria talvez com que o quadro necrologico diminuísse
pelo menos um terço em toda a população, porque, com respeito aos
tratados no hospital, encontrariam ali, a par de uma medícaçio apropria-
da, a dieta conveniente e os cuidados constantes d'aquelles que se dedi-
cam ao mister de lutar com a parca, disputando-Ihe a vida de seus ir-
mãos.
Estâs sSo as causas, a nosso ver, que motivaram o grande numero de
mortes nas primeiras vinte e quatro horas do tratamento, e cremos que
em muitas das enfermidades que terminaram fatalmente ter^se-ía evitado
este resultado se lhes fossem applicados a tempo os soccorros precisos.
Não è só a insalubridade do paiz que concorre para tão grande mor^
talidade (sendo aliás uma das príncipaes causas), é o abandono, è a pouca
iUustração, è a nenhuma crença do que é útil que domina a maioria da
povoação; esta é a verdade. Os pântanos constantes que viciam a atmos»
phera, as péssimas condições das habitações, a inconveniente e defi-
ciente alimentação, e o pouco ou nenhum resguardo das chuvas e da sol,
predispõem para as infecções que predominam n'esta ilha ; mas não seriam
todos estes males em parte attenuados se se combatessem a tempo tão
nocivos agentes? Aindaque o actual hospital não está em boas condições
hygíenicas, como já dissemos, não estará comtudo muito melhor do que
a maioria das cubatas, em que se albergam tantos desgraçados? Não en-
contrariam elles ali, durante a conTalescença, uma alimentação muito
mais restaurante do que o seu alimento quotidiano? Emfim, para anali-
sarmos estas considerações, não podemos deixar de reproduzir aqui al-
gumas palavras que sobre este assumpto escrevemos no relatório de
1860:
«... Entre os habitantes da cidade e os naturaes de toda a ilha dá-se
pouca importância aos conselhos médicos; ha vicios gravíssimos no trata^
mento, e commetlem-se abusos inclassificáveis.
«Em cada fazenda ha boticas e enfermarias dirigidas por enfermeiros
ibhabeis, que não dão conta alguma do que fazem; os pretos têem os seus
Inedicos, os seus sábios, o seu manipanso, quando são cabindas, e não
procuram os médicos. i>
r
A
HlsmiA NATIRAL
A importância pratica da historia naiural, poisqnc
cila ó um dos poderosos anxiliarcs da medicina, sono
do gnia i agricnltnra c de baso á industria.
{Curso de historia naturêli do J. Rodrignot Goedcs.)
A historia natural comprehende principalmente a biologia applicada,
tomada sob um ponto de vista concreto, descriptivo on applicado ; a bio-
logia propriamente dita oa abstracta estuda os seres da natureza em ge-
ral ; para uma são necessários os estudos práticos, para outra bastam
muitas vezes os de gabinete. No capitulo de que nos occupâmos faltam
ambos os elementos para se escrever com vantagem para a medicina, com
utilidade para a agricultura e com importância para a industria, mas o
nosso intento nâo é compor um tratado de historia natural, é tâo somente
relatar o que ha feito n'este sentido e o que é necessário fazer-se.
Achando-se escriptas as nossas informações acerca dos quatro reinos
da natureza, deparou-se^nos um folheto ^ do qual muito a propósito faze-
mos o seguinte extracto, como considerações preliminares imporlantissi-
mas, com respeito ás ilhas de S. Thomé e Príncipe, que mais nos interessa
conhecer :
«A sua demora rfestas ilhas, diz aquelie viajante, foi de poucos dias,
e esses quasi sempre chuvosos, não lhe permillindo largas digressões.
«As colleçôes feitas por Akerman, que estavam na posse de Van Ilut,
nao haviíim então sido publicadas; as de Mann tinham-se distribuido pe-
los herbarios de kew. Varias plantas das mesmas illias, colhidas por Don
na digressão á Serra Leoa, foram mencionadas na Niger Flora.
«Da fauna occuparam-se Pfeifer, Morelet e Gunther; e a parte ento-
mologica, acrescenta Welwitsch, deve ser interessantissima a julgar pelo
que observou nos poucos dias que estacionou nas ilhas. Nota mais ter ra-
^ As explorações phyto-gcographicas da Africa tropical e em especial as da
Guiné inferior, ordenadas pelo governo português e executadas pelo dr. Friederich
Welwitsch, nos annos de i853 a 1861, por Bernardino António Gomes. Extracto do
Joi^nal de sciencias viaíkematicas, physicas e tuituraes, n.« 14, Lisboa, 1873.
564
são para suppor que na parte oriental e nas regiões elevadas devem offe-
recer estas ilhas o maior interesse, sendo aliás já seduclor no litoral o lu-
xuoso da vegetação, em geral análoga á da costa vizinha do contínenle e
notavelmente invadida de plantas de origem americana.
«Abundam ahi beliissimos fetos e as orchideas epiphylas, as cyatheas
arbóreas, que foram encontradas a 4:000 pèSf (1:200 metros) de eleva-
ção^; foi assignalado no pico de S. Thomè^ uma espécie de podocarpus,
6 pelas densas matas encontram-se bastantes scitamineas, a mais mages-
tosa palmeira da África tropical; o barassus aethiopica mart avista-se logo
nas vizinhanças da capital de S. Thomé; e é das mesmas ilhas a mimosea
gigantesca, a que ali dão o nome de sucupira.»
Se faltam os estudos biológicos, concretos e abstractos, como disse-
mos, escasseiam também completamente os da geologia e mineralogia.
Admiltimos a existência de quatro reinos, o mineral, vegetal, animal
e bominal ^ e vamos dar as informações que podemos obter a respeito de
cada um d'elles, a fim de fazermos sentir a necessidade de se mandar
proceder aos estudos que a colonisação da ilha reclama urgentemente.
CAPITULO XUI
Reino mineral
Do solo da ilha do S. Thomé ó urgente conheoer a
compotiçSo, oxigeH) o estudo das cansas da nia reco-
nhecida e ioconlcstavel insalubridade, e maito espc-
cialmente o exacto conhecimento das moléstias oídemi-
cas o das endemo-epidemicas, que tSo fatacs tècm sido
para os enropeos.
{Relatório de 1869, pagina S65.)
Turfa, cal, pedra, óleo mineral, mercarío, manganez, sal, ele
Se ha sciencia em que seja preciso tomar em consideração os elemen-
tos práticos, a Mineralogia é a primeira entre as primeiras ; é positiva,
determinada, palpável e exige perfeito conhecimento das propriedades
physicas como a forma, o peso especifico e a clareza dos corpos inertes
1 Corresponde á fazenda Macambrà, aberta na face oriental da notável cordi-
lheira^ por detrás da qual íica o celebre pico de S. Thomé.
2 Não consta if esta ilha que se tenha subido ao pico de S. Thomé.
3 Entre o reino animal e hominal ha differenças características, que auctori-
sam, justificam e exigem a separação.
565
ou dos mineraes que estuda, e de tudo o que as propriedades eléctricas
e magnéticas d^esses corpos possam revelar, nao esquecendo as demon-
stradas pelo tacto, pelo gosto e peio olphato. Se as três primeiras proprie-
dades s3o essenciaes, mal se podem dispensar as outras, embora secun-
darias, assim como s3o de grande importância as resultantes das modifi-
cações causadas pelo calor«
A mineralogia é pois essencialmente pratica, e pelo que diz respeito
á ilha de S. Thomé, faltam esses conhecimentos exigidos por uma scíen-
cia tão utíl quanto necessária para o estudo das endemias das locali-
dades.
A mineralogia, isto é, o estudo e classificação dos corpos inertes ou
dos mineraes em separado, é a base da geologia ou do estudo d'esses
mesmos corpos reunidos ou constituídos em grandes massas, chamadas
rochas, formando a crusta da terra e sustentando os vegetaes e os ani-
maes.
A origem da ilha de S. Thomé não é fácil de determinar por falta dos
estudos geológicos. N3o ha noticia de ter havido algum abalo de terra,
que, tendo-lhe modificado os terrenos, lhe desse novas formas, oú expli-
que o seu apparecimento no archipelpgo do mar da Guiné.
Será esta ilha uma porção de terra separada do continente da Africa
por effeito das aguas impellidas sob qualquer influencia poderosa e estra-
nha, como abalos submarinos?
É inteiramente impossível responder a esta pergunta sem o prévio
exame dos mineraes, e, ipso facto, sem minucioso conhecimento dos ter-
renos ou da geologia de todo o archipelego e da costa do Gabão em ge-
ral e d'esta ilha em particular.
Qual das ilhas do golfo dos Mafras appareceu primeiro, qual é a mais
antiga? Appareceriam todas pelo mesmo tempo?
Os terrenos estão em quietação ha mais de quatro séculos, e não ha
tradição de existirem vulcões no interior, nem nos mares próximos, as-
sim como não dão, a este respeito, noticia alguma os escriptores contem-
porâneos dos descobridores d'esta parte do globo, nem os que se lhes se-
guiram.
Não se encontram ali aguas thermaes nem sulphatosas, nem signaes
evidentes de que esta ilha seja producto de um vulcão já extincto ao tempo
da sua descoberta ou de algum phenomeno extraordinário submarino
d'esta ordem.
Qual é a natureza dos mineraes de que são formados os montes da
ilha? Qual é a qualidade dos seus terrenos nas várzeas, nas planícies, nos
alto-planos ou nas costas?
Todos os pântanos e baixos da ilha são palustres?
566
Desconhecidos os mineraes que ha na ilha, ião se podem determinar
os terrenos, e muito menos a sua antiguidade ou origem, nem tSo pouco
as modíQcações que téem soffrido atè ao seu estado actual (1877).
Não ha noticia de se haverem explorado minas, nem o solo abundan-
temente regado por numerosos rios tem exigido que se abram poços de
qualquer natureza. A 3 ou 4 melros e a l^^^S de profundidade encontrasse
agua nos terrenos da cidade, e próximo das fazendas mais elevadas, a
1 :000 metros actualmente, correm rios caudalosos, que descem dos mon^-
tes mais altos para as várzeas e planuras.
A exploração das terras para descobrir ferro, carvão, petróleo ou ou*
tros mineraes importantes não se pôde fazer esperar muito. Na fazenda
. Cachoeira, a SE. da ilha, em altitude de 100 até 150 metros, junto de
um pequeno ribeiro, corre uma fonte natural de petróleo, que será a pri-
meira a explorara Ás perfurações artesianas que de certo ali devem ser
empregadas para se reconhecer a abundância d'aquelle mineral, podem
seguir-se outras nos legares em que se suppQe haver turfeiras oa outros
depósitos importantes de minério.
Não é de esperar que se construam caminhos de ferro, se bem que a
immensa riqueza da ilha e a necessidade de se viver no seu interior recla«
1 Resultado dos ensaios mandados fazer pelo ex.*^ sr. Francisco de Oliveira
Chamiço sobre uma amostra de óleo mineral vindo de Afríoa:
fOleo bruto, submettido á distillação a uma temperatura vizinha de 300», deu:
Alcatrão 20 %
Óleo de primeira distillação 70Vo
«O alcatrão pôde servir para embreagens, asphalto e outros usos.
«O óleo de primeira distillação, do qual mandámos uma amostra, arde com boa
luz, e parece-nos poder já applicar-se a certas illumiaaç5es..£ todavia muito Im-
puro, dando bastante fumo e mau cheiro.
cEste óleo refinado pelas acções successivas do acido sulphurico concentrado
e da soda cáustica, dá um óleo pesado, que se pôde vantajosamente empregar na
lubrificação de machinas, etc, e outro mais leve que, distillado a 300^, dá o pro-
dueto que remettemos com o titulo de óleo de segunda distillação, e que nos parece
bom para illuminação. Relativamente ao oleo bruto a sua porção é de 44 porcento.
cAIem doestes productos, talvez se possam extrahir outros de valor commercial
importante. Para a solução d'esta questão 6 necessário dispor de mais tempo e de
maiores porções de matéria.
«O juizo que fazemos da matéria examinada ô que ella deve ter um valor im-
portante, se as suas condições do abundância e transporte forem favoráveis.
«Lisboa, 3 de julho de iS1± = Rezende e Car/w/ro. = Laboratório central de
analyses mineraes e consultório minério. -r 77, rua do Crucifixo, 79, Lisboa.— Cer-
tificado de anaivse.»
567
mem uma ou mais doestas vias acceleradas; e nSo haverá portanto tão
c6do perfurações de montes, nem terraplenaçciea que dêem occasião ao
exame dos terrenos terciários ou secundários.
Em hyglene publica, e especialmente na parte da bygiene tropical proi-
pria da ilha de S. Thomó, importa somente estudar os terrenos quater^
naríos ou modernos. Se elles assentam sobre uma ou outra ordem de ter«
renos ou se a ilha existe desde o principio do mundo, ou de outra epocha,
decidil-o-hio aquelles que se occupam especialmente do estudo da mine-
ralogia e da geologia. Como medico clinico pedimos que esses naturalis*
tas nos dêem os elementos da composição das terras de alluvião que emer^
- gem do mar e que nós habitámos ha 406 annos I
O terreno humoso doesta ilha está cheio de detritos vegetaes e animaes,
e tem uma potencia vegetativa extraordinária. Â esta quaUdade attribuí-
mos uma das causas da insalubridade, a qual se deve corrigir por meio
de culturas apropriadas, escolhendo não só as úteis ao commercio, como as
proveitosas para a saúde publica.
Não condemnámos as florestas, antes as desejámos, visto que ellas
representam um dos meios de que se deve lançar mão para modificar o
terreno insalubre e humòso, e para conservar a regularidade das estações
ou das chuvas.
N'esta ilha existem arvores accommodadas ao fim que indicámos; basta
somente mandar fazer a sua classificação e obrigar os habitantes, e espe-
cialmente os fazendeiros, a conservarem as que fornecem bons géneros
commerciaes, como a celebre corda mossadá, o pau-cadeira, o pao«oleo.
a amoreira, o cajueiro, o cafezeiro, o cacaeiro e outras cujos produclos
são valiosos, e a fazerem ao mesmo tempo, e em logares apropriados, as
sementeiras das que dão boas madeiras.
A ilha de S. Thomé é susceptível de grande desenvolvimento e pro-
gresso agrícola, mas para isso é preciso que as culturas se façam com me-
thodo, ordem e intelhgencia.
Por não termos outras informações repetimos, em 1877, as que co-
piámos de Lopes de Lima, em 1869:
a No solo da ilha de S. Thomé predomina a argilla, em parte combi-
nada com sílica, areia ou cal, mas por toda a parte extremamente fecunda
e adaptada ás producções equatoríaes, até mesmo nas inaccessiveis mon-
tanhas que formam a parle do sul d'esta ilha importante*.»
Para verificarmos a opinião de Lopes de Lima escrevemos (n'aquelle
anno) «devíamos ter feito a classificação dos principaes mineraes compo-
Lopes de Lima, pagina 8, parle 1/
868
nentes das rochas que podessemos observar, quer pelo que respeita á ex-
ploração de minas, quer ao solo arável*».
«A ossada dos monles é de rochas, granito, quartzo e sile:^: não ha
n'elles vestígios vulcânicos, e dizem os que as lêem visto que nem as aguas,
nem as pedras dão indícios da existência de minas. Um húmus argilloso
constitue quasi geral o solo da ilha^».
O estudo da geologia leva com todo o rigor á demonstração que se
pôde exigir, a fim de se provar que o reino hominal está completamente
s^arado do reino animal, mas reservámos a exposição a este respeito
plira quando fatiarmos dos habitantes d'esta ilha e dos europeus n*ella re-
sidentes ou do reino hominal.
Ha jazigos de cal ^, o sal abunda, as pedras sao negras e encontram-se
em grandes massas ; ha barro vermelho de primeira qualidade que serve
para telhas e para vasos, e alguns ainda se fazem, como tivemos occasião
de ver na villa de Nossa Senhora das Neves. E portanto «a exploração da
ilha de S. Thomé deve dar bom resultado tanto para a colónia como para
a metrópole ^». Foi a nossa opinião, em 1869, a respeito do reino mineral,
e é essa mesma a que hoje reproduzimos.
» Relatório de 1869, pag. 264.
2 Lopes de Lima, pag. 12, ponto 2.°
3 A Junta da fazenda despendeu no anno de 1875, 1:171 j30o réis com a com-
pra de 6:018 alqueires (93:048 litros) de, cal, cujo preço variou entre 105 e 360 réis
cada alqueire (13,8 litros).
* Relatório de 1869, pag. 265.
CAPITULO XIV
*
Reino vegetal
Não nos consta quo se lenha procedido a alguns e9>
ludos nas ilhas de S.Thomé e Frincipc, c, coroo diva-
^'aç5os, nilo li^m vantagem alguma; quando falia o co-
nhecimento exacto da especialidade, contentdmo-nos
com dizer ^e tê deve começar a estudar a rica o variada
flora d>stas ilhas.
(Relatório de 48C9, pagina S57.)
ladeiras pÍDeipaes de S. Thoné; abandancia, qualidade e applicaçôes.— Vantagens da exportação e n^
cessidade de se consenaren as inalas. ~ Arvores dignas de especial menrâo.— Trepadeiras; singu-
lar disposição do lussandá.— Custo das madeiras nos mercados de Lisboa e no da ilba de S. Tbomé,
com de^ignaçío do peso, qualidades, dimensiies e princípaes applicaçôes.— Arvores frudiferas e fru-
ctas mais abundantes.— Raizes alimenlicias.— Drogas medicinaes próprias do paiz.— Produdos natu-
raes e da industria agricola e fabril de S. Tbomé.-- Comparação entre as diferentes epocbas no pro-
gresso agrícola e commercial da ilha de S. Tbomé.
I
Madeiras
1 .^ Lista das prineipaes madeiras de qae temos conhecimento. — Azeitona, amo •
reira, cajueiro, canelleira, caixão, estralla-estralla, soá-soá, sucupira, un-
tuem, viro, marapiam, zamouma, gofe, inhé-preto, go-gó, macanibrará,
miltio, mlcandó, maogue do mato, nespereira, ocá, obá, pau-oleo de
S. Tliomé, englelé, ipé, pau-branco, inhé-bobó, mangue da praia, mangue
do rio, capitão, dumo, pau-gamella, goyabeira, pau-oleo-barriío, pinlieiro
da terra, pau-preto ou quebra-machado, ussubi, pau-vermelho, zungu,
zemzem, guigó, grumati, coáco-branco, sequené, folha pequena K
Vamos dar alguns esclarecimentos a respeito das madeiras de construc-
ção da ilha de S. Thomé, os quaes são em grande numero devidos á ex-
1 As madeiras que nos annos de 1873 a 1876 appareceram no mercado de
S. Thomó foram as seguintes :
Azeitona, viro, caixão, miúdo, marpíão, caibro dos angolares, sapí de obó, obó,
mangue do obó, perallo, amoreira, obá, soassoá, ipé, go-gó, muandum, pau-bran-
CO, glogu e pinho.
570
trema bondade dos fazendeiros barSo de Agua-Izè e de seu irmão o com*
mendador Jacinto Carneiro de Sousa e Almeida, Joaquim António Bahia,
José António de Oliveira e José António Freire Sobral.
Para estudarmos as bellas florestas que ha na ilha seria preciso demo-
rarmo-nos muito tempo pelo interior, o que não podemos conseguir; ape-
nas as percorremos de passagem, mais como curioso do que como obser-
vador estudioso. As arvores que apontámos são suílicientes para mostrar a
importância das florestas existentes na ilha de S. Thomé.
Azeitona. — A arvore conhecida por este nome é alta, grossa e direita, e
tem o tronco limpo. Preparam-se com ella bons esteios, e dizem que é de
grande duração ^ O pau é muito pesado, bem como as foltias. Dão-Ihe aqui
a denominação de amoreira^ os europeus em Angola chamam moreira e
os indígenas mt/cam6a-camòa. É uma espécie de morus^(Moracea$), que
se encontrava com muita frequência, mas que presentemente vae rareando
em consequência da applicação que lhe dão para construcções. Cresce
tanto 6 engrossa por forma tal que ha arvores d'esta espécie com 86, 30
e mais metros de altura, sendo o diâmetro na base de 2 e 2,5 metros.
É um dos colossos do reino vegetal e uma das mais importantes arvores
doesta fertilissima ilha. As raízes desenvolvem-se tanto na superflcie da
terra, que se erguem em altas abas, formando entre si uma espécie de
quartos onde podem esconder-se muitos homens.
Cajueiro. — É conhecido por anacardium ou cassuvium occidental
(Therabinthceas anacardeasj. Produz boa madeira para mobilia e alem
d'isso é muito importante, não só pelo fructo como pela gomma que
d'ella se extrahe.
i
1 N*uin artigo publicado no n,'' 21 dos Annaes ie marinha e ultramar, corres-
pondente ao anno de 1867, pagina 7, nota 12, lô-se o seguinte ;
cNo armazém das madeiras do arsenal da marinha existe uma variada collec-
ção de amostras da índia o Africa, digna de entreter a curiosidade í Ali se obser-
vam, entre muitas, as amostras das seguintes espécies, que são de primeira quali-
dade pela solidez, duraçio e corpoleneia.
^Azeitona, de S. Thomé; pau^ferrOj do Brazil; tmviêlho» do Brasúl] sucupira»
do Príncipe (não inferior à do Brazil); e as seguintes também do Príncipe: furiri,
go-gó, pO'pó, urum, mata-passo, inosimana, remo, espinheiro, muito similhjuU6 ao do
Brazil, e umboló, alem de tantas outras que seria fatigante citar. Das duas ilhas ou
naturaes de qualquer outra parte da Africa notaremos ainda outras, o gulanelienu
iio, bebambój alsona^ champô, inacambrará, zanunno, azueira, cupiuba,jucáj winhe,
que são madeiras preciosas. Ha n'esta lista vinte e trcs arvores reputadas madei-
ras preciosas, e nós damos informação de quarenta e três arvores, somente da ilha
de S. Thomé, de primeira qualidade!»
* Synopse explicativa das amostras de maderras, etc, por F. Welw., 1862, fo-
lheio, pagina 8.
871
Canelleira (Laurns duna). — Tem bello porte esta útil arVore, é ra-
ra, e pouco ou nenhum caso se fazd*ella na ilha ; a sua madeira é boa para
conslrucçao, mas o producto conhecido sob a denominação de canella o
exlrahído da casca é de primeira qualidade.
Caixão. — É vulgar esta arvore, e fazem-se d'ella tábuas, que se
vendem na ilha a l^SOOO réis o cento. Empregam-se nos cercados, e
com qualquer corda de mato e algumas dezenas doestas tábuas levantam
os naturaes facilmente as suas cubatas. Ê um colosso do reino vegetal pela
altura e grossura a que pôde chegar.
Estralla-eslralla. — ?2ivece haver alguma conftisão em especificar
esta arvore a que uns chamam estalla^ e outros clá-clá. Dá boa madeira
para obras de marceneria, e tem uma linda côr de gemma de ovo, depois
de feita em obra, mas n3o se deve expor ao tempo. Merece tanto apreço
como o buxo de Portugal.
Soá-soá.—Ê uma óptima arvore de que se fazem caibros e barrotes;
é madeira de muita duração, e por isso própria para trave», vigamentos,
ele.
Sucupira (Mimosca gigantesca)^.— È também conhecida pelo nome
de muandium. A bowdichia major de alguns naturalistas abunda nas
matas da ilha de S. Thomé e tem aspecto agradável. Esta bella arvore chega
a tornar-se colossal, subindo a uns 30 metros de altura sobre uma base
de quasí 2 metros de diâmetro. A sua óptima madeira pôde empregar-se
em cavername de navios, quilhas de escunas, etc, tem grande duração e
é madeira de lei.
Untuem. — É conhecida sob esta denominação uma arvore de grande
altura, que dá boa madeira para construcção e um fructo agradável ao pa*>
ladar.
Viro,—É de grande utilidade esta arvore; serve para esteiras, cai-
bros, barrotes, etc, É diíDcil tirar tábuas do seu tronco, porque á propor-
ção que se vae serrando vão ellas virando ou abrindo, d'onde lhe provém
o nome de pau-viro.
Marapiam. — Dá-se a esta arvore também o nome de pau-espinha
ou marapinha^. É alta e grossa. A sua madeira é de uma linda côr
amarellada, rija e muito boa para tábuas, as quaes se podem tirar á cu-
1 Lé-se estala-estala na relação de madeiras publicada no Boletim official da
província, em 1862, n.** 33 de 26 de outubro, pagina 431. Estralla-estralla é a in-
formaçãa de um fazendeiro e clá-clá a de outro, mas emquanto á arvore parece ser
a mesma.
2 Bernardino António Gomes, pagina 7.
3 Um fazendeiro da ilha deu-lhe o nome de Vinte e quatro horas; é assim co-
nhecida no pittoresco sitio do Potó.
í
572
nha. Fnzcm-se d'ella canoas e serve para mastros c tábuas de costado de
navios. Âhunda nos maios, e, emqnanto pequena, tem bastantes espinhos
no tronco. Também lhe chamam pinho do Brazil.
Zamonma ou mamuma. — Attinge esta arvore a grande altura e dá
muito bons caibros e barrotes.
Gofe. — Ha quem assevere ser esta arvore a denominada arvore da
preguiça ou a ambayaba (Cecropia peltat, de LInneu), bois trompetíe das
Antilhas, figueira de Surinam, rourouma cecropia e folia acuminaía, de
Martins. A singularidade doesta arvore é o nâo ser a sua madeira atacada
pelo cupim, segundo algumas informações.
Inhé-preto. — D*esta arvore fazem-se ripas, caibros e remos de ca-
noas. A casca é escura e entrançada. É delgada e muito alta. A madeira é
bastante rija e nao devo estar exposta ao tempo, por isso é necessário ha-
ver cuidado no modo por que a empregam, e não a applicar aos artigos
que estejam n'aquellas circumstancias.
Gtí-í^tí. — Osnaturaesapplicama madeira d'esta arvore na conslrac-
ção de canoas, bons caibros e tábuas para costado de navios. Assimi-
Iha-se ao cedro e serve também á marcenaria para folhear cadeiras e ou-
tros moveis. O lindo assombreado da madeira quando está apparelhada e
a sua óptima cõr dá-lhe grande importância, reputando-se de tanto valor
como a murta do Brazil. É arvore de lei e deve ser conservada.
Macambrará. — È arvore do interior. Pega de estaca e fazem-se
d'ella bons esteios, traves e vigas. Ha na ilha uma fazenda denominada
Macambrará, nome que dizem ser devido ás muitas arvores d'esta es-
pécie que ali existem ; é a fazenda mais alta e interior das que actual-
mente existem na face de E. da formosíssima cordilheira ou serra de
S. Thomé.
Milho, pau-milho ou safa de obó. — O fructo d'esta arvore parece-se
na forma e tamanho com a azeitona de Portugal. A sua madeira é de uma
linda côr vermelha.
Micandó ou imbundeiro. — É celebre a arvore conhecida com esta de-
nominação. É o baobah dos naturalistas francezes, a adansonta digiiata, de
Linneu, e tem grandes dimensões. Da sua entrecasca fazem-se cordas» sa-
cos, redes e outros productos. Produz-se mais na praia que no interior. Os
fructos s3o característicos e não permittem confundir, ainda á primeira vis-
ta, o imbundeiro com qualquer outro colosso da flora tropical. É uma
malvacea^. Sendo de muito valor os productos d'este formoso vegetal,
opinámos pela sua conservação.
* Bernardino António Gomes, pagina 22; Frederico Welwitsch, Synopse expli-
cativa das amostrai de madeiras, folheto, 1862, paginas 40 o 47; Synopse Annaes
573
Mangue do maio ou de obô (Corynanthe, de Welw.^. — Chamam-lhe
em, Angola mangue do monte ou paco^. É uma das mais estimadas ma-
deiras das matas virgens da segunda região^ em Angola. Emprega-se em
cabos de machadinbas e em outras ferramentas, tem boa applicação para
pés de moveis, e pôde servir igualmente de prego para segurar di-
versas madeiras.
Nespereira.— É arvore bastante alta e serve para muitas construcções;
a sua madeira é rija e de duração, e tem cõr avermelhada. As tábuas são
boas, e empregam-se também na cobertura das casas, em substituição das
telhas.
Ocá. — É do género bombax^, da familia das bombaceas, esta volu-
mosa arvore. Em S. Thomé é conhecida pela denominação de mafumei-
raj nome aportuguezado de ma fuma, com que os abundas (?Jdí designam
na província de Angola. Attinge a 40 metros de altura sobre 2 a 3 de diâ-
metro na base ! Dá um producto a que, segundo Welwitsch, chamam su-
ma-uma^. Empregam a madeira, que é de fácil corte, no fabrico de ga-
mellas de vários tamanhos, em canoas para seis a dez remos, e em solho
das edificações urbanas.
Obá. — É um dos colossos do reino vegetal, e por isso se extrahem
d'elle óptimos pranchões para construcção de pontes, bellos esteios, boas
tábuas e vigamentos. Como tem muita duração quando se conserva den-
tro de agua é útil para estacas de pontes.
PaU'Oleo de S. Thomé, óleo belombo. — Deve pertencer ás anacar-
diaceas: <a arvore que dá o bálsamo de S. Thomé, pretende Oliver ser a
que elle descreve com o nome de sorindeia trianda, tendo-lhe servido
do conselho ultramarino, serie i.*, dezembro de 1858, pagina 558^ descreve-se na
classe 45.*—Coíi*mní/'i?ríw— familia Sterculiacea.
1 Annaes do conselho ultramarino, pagina 568.
2 Annaes do conselho ultramarino, pagina 530.
Welwitsch classifica o vasto reino de Angola cm ires grandes regiões :
i.* A do litoral, comprehendendo algas, plyceas hiúophitas, adousonias, eu-
phorbeas arborescentes, acácias e capparideas. (Superflcíc iOO kilomctros para o in-
terior, conservando uma altitude de 340 metros, pouco mais ou menos.)
2.* A montanhosa, comprehendendo tUices, oichideas, elacis. (Levantando em
700 metros seguindo por uns 250 kilometros a contar da primeira Gucnensis, flo-
restas passageiras de plantas herbáceas, etc.)
3.* A alto-plano, comprehendendo plantas aromáticas e bolbosas, prados exten-
sos com luxuriante verdura, etc, etc; a sua altitude é de 800, 1:000 e 1:400 me-
tros e é muito interior, a cerca de 425 kilomctros da costa.
3 Synopse explicativa de amostras de madeiras, etc, de 1862, por F. Welw.,
pagina 21, e Annaes do conselho ultramarino, pagina 554.
* Synopse explicativa, etc, pagina 21.
\
574
para isso um exemplar com fruclo remettido de S. Thomé, e que fora co-
lhido Da parte montanhosa da ilha, na altitude de 3:000 pés (915 metros).
Acompanhava o specimen remettido uma etiqueta que dizia Bálsamo de
S. Thomé; a espécie, porém, n3o ficou por ora bem determinada por fal-
tar para isso uma parte dos órgãos da fructificaçao ainda desconhecida *>.
Julgámos não haver duvida em que as arvores de bálsamo pertençam á
familia das burceraceass de Kunth, ou amyrideasy de R. Br., familia es-
sencialmente distincta pelos suecos resinosos-aromaticos que prodos^.
Snglelé.— Parece ser da familia das mimosas a arvore conhecida por
este nome. Emquanto é nova cortam-se d'ella paus fortes e flexíveis. Pôde
reputar-se igual ao crin do Brazil. Ha differentes espécies d*estas arvores
sendo uma englelé-dia ou pau-formiga.
Ipé.—È alta e slmilhante ao freixo de Portugal. Reputa-se superior
á azmlona por se conservar na agua, e pela sua duração.
Pau^hranco. — Ê uma arvore alta e bastante grossa. Fazem-se d'eUa
canoas e gamellas. Tem madeira óptima para tarimbas, mas não deve es-
tar exposta ao tempo.
Inhé-bobó.^È como a anterior alta e grossa. Tem appllcaçao a Alga-
mentoS) barrotes e tabuado ; reproduz^se por estaca, é rija e de bastante
duração.
Mangue da praia. -- Ê verdadeiramente notável esta arvore e a mais
afamada de todas as das regiões indígenas. É o celebre rhy zophor a man*
gle^ de Linneu, de que faliam médicos, naturalistas, viajantes e romancis-
tas ^
1 BcrDardino António Gomes, paginas 34 c 2o, relata as ultimas informações
(1873) que havia acerca da arvore de bálsamo de S, Thomé j d*onde se vê que
ainda está por classiflcar.
* Synopsc explicativa das madeiras, ctc, pagina 48.
3 N'uma descripçHo do Amazonas feita por um capitto de navios fklla-se dos
mangues com verdadeiro enlhusiasmo; no livro de ThomásHutchínson, naturalista
e medico, descreve-se ella largamente, e no livro de Dutroulau ha algumas infor-
mações que gostosamente transcrevemos:
«As localidades equatoriaes sâo todas orladas de paUtutieres (Bizephoramdn*
gte), arvores que nascem nas praias marítimas da America e da Adrica inter-tropl*
t^l e também nas margens das suas ilhas ; mas aquellas ilhas que estão mais perto
dos trópicos e separadas do continente são muitas veies desptovidas d'olÍeS.
«Sem pretender referir unicamente a presença ou a ausência dos tnangues às
díftercnças de salubridade dos climas tropicaes, estou polo menos auctorisado «i at-
t^ibuir-lhcs uma grande parle na intensidade da influencia do solo palustre.» (Du-
troulau^ Maladies des europânis dans les pays chatids, 1868, pagina 98.)
Ê este mais um argumento para se dividirem os climas da Africa em cquato-
tiaes propriamente ditos e em tropicaes, divisão que julgamos justa, necessária e
muito mil.
575
O mangal mais extenso e mais pitloresco» cuja descripção enlhusias-
tica fez o capitão que seguiu aguas abaixo o rio Amazonas, fica n'esta ilha
de S. Thomé na região do. S. Forma pequenas ilhas n*um ponto e mais
alem agradáveis oásis; por uma parte ha mandros attractívos e por ou-
tras vistas aprazíveis.
Mangue do no«— AtUnge 10 e 13 metros de altura; dá boa madeira
para construcçoes e marcenaria. Encontrasse em muitos rios, sendo mais
diíBcíl díxer onde elles faltam do que onde existem»
Capitão.— Mo ha arvore que rivalise com eçta em altura» e d'aqui
lhe veiu o nome de pau-capitão. É direita e de bello porte ; eleva-se a
uns 50 metros e engrossa até qoasi 3 de diâmetro na base, na qual se
levantam abas. A sua madeira nSo é estimada na ilha.
Dumo^-^È alta e delgada esta arvore, cuja madeira, que tem cõr aver-
melhada, é applicada a bons pilões para descascar o café» e serve para
esteios; tem pouca duração exposta ao tempo, mas depois de seccaé
difficil introduzir-lhe verruma ou prego.
PathgameUa, — Dizem uns que este pau é o mesmo que o pau-branco,
outros porém divergem de opinião. Parece, todavia, que são differentes^
Do chamado pau-gamella preparam-se gamellas e canoas e as tábuas são
próprias para solho. Extrahe^se d'esta arvore a borracha ou gomma elás-
tica, segundo dtzem algumas pessoas que lhe tem aproveitado o abun-
dante sueco ou seiva leitosa «
Goyaftwra.— Welwitsch escreve guiaveira^ mas preferimos antes
a outra orlhographia. Ê arvore conhecida e abundantíssima na ilha, e boa
para marcenaria.
Pau-oleO'harrão ou pau-olco-barõo. — Ê uma arvore regular, da qual
se tira boa madeira para construcçoes.
Pinheiro da f^rra.— Falla-se com vantagem d'esta arvore de dimen-
sões regulares, e affirma^se que a sua madeira pôde ter as mesmas appli-
cações do pinheiro de Portugal.
Pan-preto ou çM^ftra-marAado. — Assimilha-se à azeitona; è de
grandíssima duração e faz recordar o pau-ferro de Portugal. Attinge esta
arvore cerca de 25 a 30 melros de altiira sobre 1 a 1,5 metro de diâ-
metro.
Vêsubi.^Sío bons os esteios feitos doesta arvore, cuja madeira é
rija e dura muito tempo.
i Relatório acerca das madeiras da ilha de S. Thomé. Boktm officiál de '186S,
pagina 131.
* Annaes do conselho ultramarino^ pagina 670*
s
576
Pau-veimclho. — Pôde cmpregar-se em marcenaria e dá bom tabua-
do; é baslanle alia e de porle direito.
Zttfiffu. —Coiíhece-se n'esta ilba uma arvore alta e grossa, com esta
deDominação, da qual tiram tabuado e esteios para casas.
Zemzem.—É uma das grandes arvores da ilha.
Guigó.—È uma arvore regular, própria para tabuado e para barro-
tes; tem applicaçSo em marcenaria e produz um sueco amarello.
Grumaii. — Applica-se o tronco doesta arvore para mastros de navios,
por ser grosso, direito e baslante alto. É contada entre as grandes arvo-
res da ilba de S. Tbomé.
Caáco-bramo. — É arvore alta e grossa ; tem pouca estimação oo paiz
a sua madeira, a qual dizem ser mais rija que a do pau-branco.
Sequené.—È alta, serve para caibros e tem grande duração.
Folha pequena. — É uma arvore regular, e d'ella se fazem esteios para
casas.
As florestas da ilha de S. Thomé estão ainda por explorar» e quantas
riquezas se não terão perdido fazendo-se as derrubadas ao acaso, e des-
truindo arvores cujos productos são iguaes ou mais valiosos do que o
próprio café e cacau, e sem se attender a que ellas protegiam o café
dando frescura á sua plantação? Que as cordas e trepadeiras ou pequenos
arbustos e capim demandem trabalhos da capina, entende-se, pois que
o cafezeiro está abafado por aquellas e o café perde-se entre elles, mas
que se cortem arvores raras, altas e úteis não sabemos como se possa
justiQcar.
As matas seculares que occupam ainda nove decimas partes dos
terrenos continuarão a ser derrubadas ao acaso? Não será grande e
valioso serviço prestado a esta colónia, á agricultura e ao conunercío o
fazer explorar aquelles terrenos, ou com os dados já existentes divulgar
entre os fazendeiros todas as informações necessárias á boa colooisação
e ao que mais importa, a salubridade d'esta formosa ilha?
Para que servem as importantes remessas de productos coloniaes
({ue se téem enviado a todas as exposições nacionaes e internacionaes se
se não divulga, se não se ensina, se não se explica a sua utilidade, no-
tando-se-lhe os defeitos, e dizendo o melhor modo de os corrigir?
A insalubridade da ilha de S. Thomé reclama urgentemente que todas
as auctoridades superiores appliquem a sua attenção para a melhorar,
empregando os meios de debellar ou pelo menos attenuar tantos males.
Nas culturas bem dirigidas está um poderoso meio para corrigir a má
qualidade do terreno humoso, e para o fazer produzir três ou quatro ve-
zes mais do que a sua actual producção.
Existem ali planicies, muitas várzeas, alto-planos e planuras cober-
Cataracu Blublú do lio kpi Grande, 4 kiloiDeUDi distanlB di cidade.
l 9
577
tas de florestas antiquíssimas, nas quaes ainda se não penetrou';
abram-se estradas e guie-se a mão dos lenhadores para pouparem as ar-
vores de reconhecida utilidade, e lançarem por terra apenas as que forem
incompativeís com a cultura que se deseja fazer. Convém publicar des-
cripçôes minuciosas da vegetação das serras^ e dos montes, e ao mesmo
tempo a das culturas apropriadas aos terrenos do litoral e do interior
da ilha ou dos terrenos do S. e do N. É este o poderoso meio de concor-
rer para que sejam destruídas e modiflcadas muitas causas da insalubri-
dade, que tão má fama téem acarretado a esta pequena Cuba portugueza.
2.^ Lista de algumas arvores que, tendo propriedades singulares, são mais ou
menos importantes, podendo parte d'ellas ser empregadas em construc^s. — Pau-
ama, pau-alho, pau-bungá, bugi-bugi, bengue-d'obó, pau-cabra, crocoto,
colma-doido, figo-porco, glon ou grão, guegue-falso, inhé-muda, iobo,
laranja-mucambú, macumbli, marimboque, queime, sangue, pau-sabão,
vara-plé, tapa-olho, tabaque, unumú ou pandanus, pau-fede, bambu, bor-
dão, ricinus communis.
Pau-amaK — É muito activo o cheiro que exhala a madeira d'esta ar-
vore quando cortada recentemente. Diz-se que afugenta os mosquitos
agitando os ramos no interior das habitações em que os haja.
Pau-alho. — É uma arvore bastante alta e grossa, e tem a particula-
ridade de eihalar um cheiro alliaceo característico.
Pau'b'ungd. — Serve para instrumentos de corda^ bóias para redes,
gamellas e canoas. É de fácil corte.
1 Em um folheto intitulado Cultura das plantas que dão a quina, Lisboa, 1865,
pagina 97, lé-se o seguinte :
«Segundo elle (o sr. Mann) a parte mais alta da ilha consta de uma estreita
cumeada accessivel, mas com grande difficuldade, pelo lado de £.>
Com o alto respeito que consagramos aos arrojados exploradores ínglezes e com
a devida vénia do auctor do folheto, cumpre-nos declarar que o sr. Mann podia ter
subido a qualquer dos montes d'esta ilha, á serra em cuja costa íicaa fazenda Ma-
cambrará por exemplo, mas nâo podia subir ao pico de S. Thomé, nem ter ido à
sua cordilheira principal.
2 Da vegetação das serras de Jara ha uma interessante descripçao, segundo
se lé no folheto intitulado Cultura das plantas que dão a quina, 1865, pagina 4, e
ali se distinguem quatro zonas principaes; a saber:
!.• A região agricola das arecas, dos cafezeiros e da ei^ythrina indica;
2.» A região de liquidambar alliglann, que não excede a 1:500 metros;
3.* A região dos omericus, dos podocarpus, da astronia, ele, e da cultura da
(juina, que se eleva até mais de 2:000 metros;
4.» A região das crateras ou pincaros mais elevados da Thibandia das Fteris,
Mertensia,
17
578
Bugi-bugi. — Extrabe-se d'6sta arvore uma espécie de tinta preta
própria para tinturaria.
Bengue d'obó.—Dií um fructo bom para alimento dos porcos, e a
madeira applica-se a barrotes.
Pau'Cabra. — É uma arvore de pequenas dimensões, cujas folhas ser-
vem vantajosamente para alimento das cabras.
Crocoto.—k sua madeira é rija.
Colmardoida.-^ks sementes d'esta arvore são applicadas, como a
coca em Portugal, para se apanharem peixes. Ha outra arvore a que cha-
mam colma- fria, a qual tem as mesmas propriedades.
Figo-porco. — Tem esta arvore a propriedade de se poder descascar
em todo o comprimento do tronco, extrahindo-se por esta forma grandes
porções de casca, a que os naturaes chamam couro vegetal. O fructo é
muito similhante ao figo pequeno de Portugal, que os habitantes dos ar-
rabaldes do Porto denominam bacurinho. Dizem que quando os indíge-
nas precisam de bainhas para as suas facas, marcam no tronco as dimen-
sões e cortam-na com a mesma faca, arranjando assim, depois de cozida,
uma bainha de grande duração e de boa consistência. Â madeira é appli-
cada a gamellas e canoas.
Glon ou í^rão. ---Emprega-se nos cercados das fazendas, por pegar
facilmente de estaca e ser abundantíssima na ilha. Esta pequena arvore,
desprezada em S. Thomé, é considerada como de grande riqueza co^une^
ciai em Gabo Verde. Os seus fructos são purgativos. É o curcus purgam
med.j notável euphorbeacea, classe 51.* das Tricoceas, de Welw.
Guegue- falso. — Tem a madeira muito leve, e por isso serve para bóias
de rede ; fazem-se d'ella gamellas de varias formas.
Inhé-muda. — Serve para caibros e barrotes» e dizem que è boa para
vergas de moinhos.
lobo. — Âs sementes d'esta arvore tâem um cheiro aromático muito
característico, e, depois de seccas, lançando-se-lhe fogo, ardem por muito
tempo produzindo uma vistosa cbamma. Os naturaes téem esta semente
em grande reputação por livrar as creanças dos feitiços, ou maus olha-
res*. Monodora angolensis de Welw., que em Pungo Andongo e no Go-
lungo Alto os indígenas chamam n-pepe e em S. Thomè iobo. Âs sementes
d'esta anomacea, a que os angolenses chamam xipepe ou gipepe, são
similhantes ás da myristica moschata, e podem ser como estas emprega-
das *.
1 Poucas creanças ha em S. Thomé que não tragam ao pescoço uns saqainlios
bem recheados de objectos anti-feiticeirosi
2 Bernardino António Gomes, pagina 15.
579
Laranja mucambà. — Tem a má qualidade de prejudicar o terreno,
e por conseguinte a cultura dos cafezeiros. Fazem-se d'ella, quando nova»
bons cacetes, serve para vigamento e é de grande duração.
Macumbli. — É uma arvore em cujo tronco, depois de cortado e em
via de putrefacção, os vagabundos procuram os celebres bichos de pau
occobis, que comem com muito prazer, assados ou preparados a seu modo.
Serve para dar sombra, e existem alguns exemplares no largo do palácio.
Applica-se na construcção de gamellas e outros objectos.
Marimboque. — É uma linda arvore para sombra e para jardins. Pro-
duz umas cabacinhas em que os naturaes guardam tabaco.
Queime. — Tem a particularidade de pegar muito bem de estaca, e
por isso se emprega nos cercados. É abundantíssima no paiz.
Sangu£. — O sueco d'esta arvore é uma tinta vermelha fixa, d'onde
lhe veiu a denominação pau-sangue. É de primeira qualidade, e serve
para tabuado.
Pau-sabão. — É de forma e aspecto singular, de modo que uma vez
vista nunca mais se confunde com as outras arvores do paiz. A este ex-
traordinário aspecto e á circumstancia de pegar bem de estaca e de cres-
cer com incrível rapidez, deve ella o nome de pau da marca, pois é em-
pregada em todas as balisas ou medições dos terrenos. Alem d'este uso,
também a sua dnza pode ser applicada para a fabricação de sabão.
Vara-plé (Pau da Praia). — Serve para cajados, mas a sua propriedade
mais característica é a de servir para cintar as canoas com o fim de dar
mais consistência nos sítios onde trabalham os remos ou nas forquilhas.
Topa-o/Ad.— Espécie de euphorbeacea, cujo sueco leitoso e adstrin-
gente produz, quando se chega aos olhos, uma grande irritação, e d'aqui
lhe resultou o nome por que é conhecida no paiz. Emprega-se em cerca-
dos, por pegar muito bem de estaca.
Tabaque. — Pau leve que tem serventia para bóias de redes. A casca
é fibrosa, e depois de convenientemente cortada e preparada serve de fio
para redes.
Vnumú ou pandanus. — Arvore de crescimento singular, que existe
nas praias. Os seus filamentos servem, depois de convenientemente pre-
parados, para cordas, esteiras e outros objectos. É da familia das ponda-
naceass na classe 18.*, Spadici floras, de Welw.
Pati-fede. — É uma arvore alta e grossa, e que pouco tempo depois
de cortada desenvolve um cheiro nauseabundo.
Bambu, — É uma gramínea arborescente que existe em algumas fazen-
das. Serve para paus de redes e tipóias.
Bordão. — É uma espécie de palmeira que dá bons paus para redes;
existe na Praia Melão e em varias fazendas.
580
Ricinus communis. — Abunda extraordinariamente e produz-se com
muita facilidade. O oleo que se prepara com as sementes è bem conhe-
cido. Está abandonada como tantas outras de reconhecida utilidade.
3.^ Lista das trepadeiras oa cordas de qne temos caDhecímeDto, entre as fiiaea
ha uma qae deve ser considerada oma das maravilhas do reino fOf etal n*e8te pais. —
Corda-pimenta, corda-congló-preto, corda-congló-branco, corda-agua, cor-
da-ubuá, mafundgi, mil-liomens, gunú, mátri, mussandá ou corda-cadei-
ra ou corda-lembá-lembá.
Corda-pimenta. — As sementes doesta corda sao reputadas superiores
á pimenta de Malaca. Attinge grande altura, e tem na sua casca o
mesmo efifeito dos fructos.
Corda-congló-preto. — Serve aos naturaes para atarem as tábuas dos
tetos e das paredes das casas. É flexivel e de boa duração.
Corda-congló-branco. — Differença-se da corda-congíó-preto pelas flo-
res e fructo e até certo ponto também pela casca. É inferior em qualidade
e duração á outra.
Corda-aj^wa.— Quando na encosta de um monte falta agua e se não
conhece alguma nascente próxima, a corda-agua produz liquido suffidente
para saciar a sede. É por isso realmente notável.
Corda-ubuá. — Trepadeira de muita flexibilidade e de grande rijeza.
Tem differenles usos.
Mafundgi. — É a mais forte de todas as cordas, e por isso tem sem-
pre a preferencia quando se trata de sustentar grandes pesos. Seria de
muita vantagem preparal-a convenientemente, porque as suas fibras pa-
recem de superior qualidade.
Mil'homens. — Passa por notável aphrodisiaco. Sobe a muito alto e
chega a engrossar bastante.
Gunú. — É antes uma arvore do que uma corda, mas o seu singular
crescimento auctorisa o nome que lhe deram. Em attingindo certa altura
começa a inclinar até tocar no solo onde lança novas raízes, para recome-
çar novamente o seu crescimento, e isto repete-se por maneira tal, que
muitas d'eslas arvores chegam ás vezes a formar três, quatro e mais arcos
que dâo passagem a um homem de estatura regular:
Mátri. — É uma corda digna de estudo pelos extraordinários effeilos
que occasiona quando preparada pelos naturaes e tomada em excesso ;
produz surdez, segundo dizem.
Mussandá ou corda-cadeira ou corda-lembárlembá. — Esta corda
tem um desenvolvimento extraordinário. Cresce agarrada ou, por melhor
dizer, quasi soldada ao tronco das grandes arvores do paiz. Á proporção
que se dilata vae deixando ramos que seguem da mesma forma, estando
58i
sempre bem presos á casca da arvore. Vae augmentando em numero de
ramos, encruzando-se e engrossando, envolvendo e apertando sempre o
colosso a que se agarra, até que por fim a arvore interior se definha,
estiola e secca, deixando em seu logar uma nova arvore de aspecto sin-
gularissimo. Esta arvore assim formada è uma das maravilhas do reino
vegetal ' de que se não tem feito caso e que é de um valor considerável.
Eitrahe-se d'ella abundante quantidade de um sueco leitoso que, pre-
parado convenientemente, fica boa borracha.
Depois da resumida descripç?ío que apresentámos^ passámos a fazer
algumas considerações acerca das madeiras d'esta ilha e de algumas ou-
tras que se tentem introduzir e aclimar.
As arvores que em S. Thomé sao actualmente consideradas como ma-
deira mais útil s3o: a sucupira, a azeitona, a amoreira, o marapiam, o
viro, o ipé, a nespereira, o macambrará, o gó-gó, o inhé-preto, o man-
gue, o obá e o soá-soá. É altamente necessária a reproducção d'estas ar-
vores, as quaes se devem cortar methodicamenle e de modo que se con-
servem as que for possivel, isoladas ou em florestas, e nos terrenos onde
se não possam accommodar as culturas vantajosas, sendo obrigados todos
os fazendeiros a ter um certo numero d'ellas correspondente á área do
seu terreno. Cada arvore que se cortar deve immedíalamente ser sub-
stituída por outra por meio de sementeira, plantação ou estaca, se este
meio for útil.
O pau assetinado (Chloroxylon swetenea) foi introduzido em 1872,
vindo em pequenos arbustos para duas das principaes fazendas d*esta
ilha. É vantajoso este melhoramento florestal, mas paus tão bons ou me-
lhores do que o chloroxylon swetenea já ali existiam sem serem conhe-
cidos nem poupados I E que culpa se pode attribuir a um lenhador que
corta n'um futuro próximo uma arvore da quina, o pau-assetinado, o pau-
gó-gó, ou o mussandá, se elle desconhece a sua utilidade?. . .
O eucalyptus, tão celebre quanto útil, é uma arvore de grande im-
portância, muito frondosa e de reconhecida vantagem, pela sua sombra e
frescura na circumvallação das cidades, e orlando as estradas e alamedas
regulares *.
1 Na agradável fazenda de Bemfica, pertencente a José António de Oliveira,
existe uma doestas arvores, a qual já destruiu o tronco da primitiva a que a corda
se havia agarrado. É de um aspecto maravilhoso.
2 O eucalyptus globulus tomou-se actualmente arvore da moda, e por isso
julgamos dever rememorar a sua origem, pela curiosidade que apresenta.
«Cerca de 1854, diz o director dos trabalhos do Jardim botânico de Melbourne
(Austrália), uma pequena arvore, que crescia destacadamente n*uma rua do jardim,
chamou a minha attenção. Era um gommeiro azul (Bluegum Iree), da Tasmania,
582
As arvores da quina parecem aclimar-se bem, mas no Boletim da pro-
víncia nio se publicaram informações oflSclaes que possam elucidar este
interessantíssimo ponto da nova flora da ilha de S. Thomé, o que certa-
mente é para lamentar.
Alem do eucalyptus globulus, da chinchofia, da arvore fruta-põo e
do pau-assetinado, outras arvores importantes se deviam introduzir n'esta
ilha S a qual de certo estaria bem pobre se n5o fosse a introducçSo do
cafezeiro, no principio do século actual, e do cacau em 1822.
Dos colossos vegetaes contam-se ali principalmente os ocas, nos
quaes se notam abas grandíssimas, as amoreiras, cujas abas são meno*
res, os obás, os micandós, etc.
Os paus de maior elevação são o pau-capit3o, e o inhé-preto, alguns
dos quaes attingem uma altura extraordinária.
Dos ocas fazem-se as maiores canoas e das amoreiras as mais fortes
e duradouras.
nome vulgar do eucalyptus glohuhis. Eu nâo conhecia então nem o nome nem o
vegetal. Fiquei, portanto, surprehendldo de tal maneira com a elegância particular
doesta nova arvore, que se tornou para mim objecto de admiração e estudo.» (Breve
noticia sobre o eíicalyptos glóbulos e utilidade da sua cultura em Portugal, por J.
D. de Oliveira Júnior, folheto, pagina 43.)
<Ha cerca de dezoito annos qne o eucalyptus entrou no domínio da botânica e já
está uma arvore afamada e largamente espalhada. É por factos d'esta ordem qne
se ennobrece e torna respeitada uma arte tão útil como a silvicultura e elle. Ramal,
o vulgarisador d*aquella arvore, bem mereceu da humanidade e da sciencia, porque
sem elle estaria ainda desterrada no centro de algum jardim botânico,»
1 F. Welwitsch, Annaes do cmiselho ultramarino, pag. S58, depara-se-nos
o seguinte :
cA phytolacca dioica, arvore que os portuguezes com justa rasão designam
com o nome de bella sombra, devia introduzir-se quanto antes n'esta província
(Angola), porque o rápido desenvolvimento que toma e a densíssima sombra da
sua elegante folhagem, a tornam muito própria para a arborisação de praças pu-
blicas.»
É de querer as praças da capital de Angola estejam já arborisadas com aqnella
elegante arvore, e os habitantes desfructem a sua bella sombra, e não se deve fazer
esperar que com ella se arborise também a principal praça da cidade de S. Thomé,
e especialmente o largo do palácio.
Na pagina 559 dos mesmos annaes lé-se também o seguinte :
«Muito conviria a introducçao da garcinia magastarm de Malaca, a da mam-
mea americana do Brazil e ahi conhecida pelo nome de abricote; ambas estas ar-
vores dão fructos deliciosos, e haviam de dar-se bem á borda do rio Bengo.»
As margens infectas do rio Agua Grande devem reduzir-se a vistosos e agra-
dáveis passeios, mas sobre tudo devem fazcr-se com urgência duas boas alamedas
no principal paul que circumda a cidade pelo S. e SSE.
Os contornos da capital da província não devem continuar abandonados como
em 4872 e em 1869.
583
Para terminarmos estas considerações reproduzimos o seguinte tre-
cho do relatório de (869, pag. 270:
cEnumerâmos, não descrevemos ; a nossa enumeração é limitadíssima
e só contém individuos vegetaes muito conhecidos. Para haver rigor e
minuciosidade são precisos trabalhos prévios a que não podemos proce-
dem
E para se avaliarem com melhor conhecimento os úteis e valiosos
productos que este fértil solo nos dá no reino vegetal, apresentámos os
dois seguintes mappas onde se pôde ver em um estudo comparado a ri-
queza das madeiras que d^alí se extrahem, não só pelas variadas appli-
cações e suas qualidades, como pelo seu custo nos mercados da ilba de
S. Thomé e de Lisboa.
584
Costo das madeiras n% mercado de Lisboa, eem da
Nomei dti madeiras
1
2
3
4
5
6
7
9
10
ii
13
14
I»
17
18
2()
31
22
23
24
26
27
28
30
31
32
33
35
36
37
38
39
40
Azeitona
Mangue do rio...
Pao-preto
Gó-gó
Zumea
Ussudí
Oleo-barSo
Paa-millio
!nhé-preto
Marapinha
Pau- vermelho....
Viro
Sucupira
Englélé
Pau-branco
Cuaco-branco. ...
Inhé-bóbó
Obá
Muindo
Colma- doida
Pau-cata
Pau-egua
Pau-capitSo
Pau-gunnú
Quebra prego . . . .
Zemzem
Macambrará
Laranja-mecambú,
Mangue de obá...
Coqueiro
Inhé-molle
Figo-porco
Safú
t3
T3
a
O
!.•
2.»
3/
1.-
2.-
1.-
3.»
2.»
2/
3.-
2.»
1/
3.«
2.-
3.»
3.-
3.«
2.»
2.»
3.«
3/
3.-
3.*
3.»
3.«
3.«
3.-
3/
1.-
2*
3.*-
C*
1.*
Gnunmas
Peso
1,600
1,500
1,500
1,100
1,350
1,200
0,850
0.900
0,850
1,400
1,150
1,650
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0,750
0,900
1,600
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Corte
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Rija
Rija
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Rija
Macia....
Rija
Macia....
Rija
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Rija
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Rija
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Macia....
Rija
Rija
Macia....
Macia....
Rijo preso
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Rija
Macia....
Macia....,
Macia....
CAr
Vermelha
Vermelha
Escura
Arroxeada
Castanho claro
Amarello escura
Claro-escuro
Escura
Claro-escuro
Esbranquiçada
De mogno claro
DiíTerentes
Escura
Escura
Cinzento clara ..*....
Cinzento claro
Cinzento claro
Vermelho escuro .•••
Cinzento claro
Escura
Amarello escura
Escura
Cinzento claro
Cinzento claro
Cinzento claro
Escura
Clara
Vermelho desvanecida
Amarellada
Escura
Esbranquiçada
Escura
Escura.
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Fechados
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Fechados
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Fechados
Abertos
Muito abertos
Fechados
Cgsto das maileiras no mrrcBdo ia ilha Ar> 8. ThoBé,
DOS annoa abam designados
«.,„..
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Prrfr., nos DD! de
1873
tS7i
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Pnimoa de azeitona, . . .
Prumos de moandim., .
Prumos de gb-glo. ....
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Vigas de viro inferiores
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Barrotes de safu de obõ
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Caibros dos angolares. .
Caibros de gõ-gõ muito
Esteios de ipé
Paus de soassoá
Tdbuas de caixSo
Tabuaa de mindo
Tábnas marpilo
Tábuas doperalto
Tábuas de pau branco..
Tábuas de amoreira....
Vigas de pau branco...
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De torro
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5.80 lendo 0,8 a 0,10 .. .
887
II
Fmtaa
i.^ Lista das prindpaes froetas de que temos conhecimento, natifas e aciima-
das. — Saftj, manga, cacau, izaquente, ginguba, pecego, untuem, aracá,
tamarindo, pitanga, cidra, limSo, lima, laranja, tangerina, abacate, nona-
concha, nona-creoula, sap-sap, romã, meiSo, melancia, pepino, abóbora,
mam3o, goyaba, maracujá, ananaz, caju, jambo, coco, amora, figos, ma-
ç3s, peras, fructa-p2o, colla, andim, uvas, bananas.
Safú. — Este fructo tem o tamanho de uma ameixa; come-se assado
e passa por saboroso. Os periquitos gostam muito d'elle.
Manga (Mangifera indica, de Linneu). — É uma fructa de que se nSo
deve abusar por ser nociva á saúde.
Cacau. — O cacoeiro (Theobronia cacau) produz um fructo que se pre-
para para exportação. Â sua importância é conhecida. Foi aclimada n'esta
ilha ha pouco tempo, e na do Príncipe foi introduzida em 1822 *•
Izaquente. — É o fructo de uma arvore da família das artocarpaceas;
tem grandes dimensões, é de forma espheríca e contém centenares de se-
mentes que se preparam para alimento.
Ginguba (Arachis hypogaea, de Linneu). — É da familia das robinia-
ceasy de Welwitsch, da classe das leguminosas. Come-se em grão, depois
de torrado, á sobremesa.
Pecego. — A arvore a que chamam pecegueiro produz o fructo ape-
nas um palmo distante da terra. É original nSo só por esta ras3o como
pela forma exterior do fructo, no qual ha três profundos ângulos reintran-
tes. Parece-se com um solideo.
Untuem. — Asseveram que é saboroso, e que deixa nos lábios uma
espécie de gordura viscosa bastante íncommoda quando se não come com
cuidado. A arvore tem a denominação do fructo.
Aracd (Psidium aracá). — Cultiva-se em algumas fazendas o araca-
reiro, de cujo fructo se faz delicado doce. É da familia das myrtaceas,
classe das myrtifloresy de Welwitsch.
Tamarindo. — Fructo do tamarindus indica. É vistoso o tamarin-
deiro^ e as suas propriedades são assas conhecidas.
1 Dizem que ainda existe na bateria de 0. da ilha do Príncipe um dos primei-
ros pés de cacau, que ali deram fructo em I8Í2.
* Não sabemos a rasao por que F. Welwitsch escreveu tamarinhciro e não
tamarindeiro. Annaes do conselho ultramarino, pagina fí74.
►
588
Pitanga. — É o fructo da pitangueira (Eugenia uniflora, de Linneo),
cultiva-se em algumas fazendas e a arvore é própria para jardíQs'.
Cidra, limão, lima, laranja e tangerina. — São bem conhecidas estas
fructas. As arvores pertencem á classe das hesperidas. De limões ha abun-
dância, mas de laranjas finas é menor a producçSo. A larangeira (Citrus
aurantium) deve ser plantada em algumas ruas da cidade e seria até
conveniente que se dispozessem alguns pomares d'esta espécie*.
Abacate. — £ o fructo do laurus persea. cÉ um dos mais apreciados
fructos dos paizes quentes ; a polpa moUe e oleosa tem sabor a manteiga
fresca, avivado pelo agradável gosto da avelã; come-se só ou com assu-
car e rhum ; não é perigoso, nem d*elle se pôde abusar, porque depressa
enfastia ^. >
Nona-concha. — Esta fructa é a anona squamosa, firucta do conde ou
pinha do Brazil, ata da índia. Passa por muito agradável.
Nona-creoula. — É a anona cheriínolia que se dififerença da antece-
dente por aquella ter uma espécie de escamas e esta ser apenas levemente
ondeada ^ Ha opiniões com respeito á superioridade relativa doestes dois
fructos, mas a maioria opina pela primeira.
Sap'Sap. — É a anona muricata. Passa por ser saborosa.
Romã. — É a fructa da romeira (Púnica granatuno, de Linneu). Cul-
tiva-se em algumas fazendas.
Melão, melancia, pepino e abóbora. — São fructas da familia das cu-
curbitaceas, da classe das pepiniferas, de Welwitsch. Ha boas melancias
e bons pepinos, os melões são mais raros e as abóboras não abundam.
Mamão. — Em S. Thomé ha três espécies de mamoeiro (Caricapa-
paya). Pertence á classe das parietales, de Welwitsch.
1 Nâo ha xim jardim publico na capital! É bem infeliz esta ilha!
* É dever das camarás municipaes promoverem lodos os melhoramentos para
o saneamento da cidade, a fím de não sacrificar a vida dos sens habitantes; e se é
de ha muito reconhecido por todos que para a salubridade são necessárias as plan-
tações adequadas, porque se não terá disposto um laranjal em logar de nm paul?
Porque se não fará um jardim publico ao menos, e porque se não cuida de arbo-
risar as prsças e as ruas? Haverá prazer em estar cercado de pântanos, de ruas
immundas e de praias nojentas?!
3 Tratado de hygiene fMval, de Fonssagríves, traducção de João Francisco Bar-
reiro, 1852, pagina 509.
^ Lô-se nos Annaes do conselho ultramarino, pag. 554 :
iiAnona squamosa (alta) e anona cherimolia, á qual os angolenses chamam
fructa do conde. t
No Tratado de hygiene naval, traducção de João Francisco Barreiros, pagina
503, lé-se «A anona cherimolia e a o/a ou fructa do conde (Anona squamosa)^.
Do exposto se vô que é fácil confundir estes dois fructos.
589
Goyaba. — £ o fruclo da goyabeíra (Psidium puniferum)^. Existe em
tanta profusão esta arvore que alguns fazendeiros a reputam como praga
dos terrenos. Faz-se bom doce do seu fructo.
Maracujá. — É o fructo de uma vistosa trepadeira (Passiflora qua-
drangularisjy a qual é empregada nos jardins e quintaes para latadas e
caramanchões, porque produz uma sombra fresca e agradável. Ha diffe-
rentes espécies d'este fructo, que passa por saboroso.
Ânanaz. — É a bromelia ananaz. Querem alguns que seja o rei das
fructas não só pelo bom gosto como pela elegância. cO volume do ana-
naz, as suas escamas rosadas e verdes, o pennacbo elegante de folbas fina-
mente recortadas, que o coroa, o perfume e gosto da sua polpa dSo-lhe
incontestavelmente supremacia sobre os outros fructos dos trópicos ^i
É um fructo que apenas se deve provar e não todos os dias.
Caju. — É o fructo do cajueiro (Cassurium pomiferum). Tanto o fru-
cto como a arvore que o produz sao de primeira importância. Seria útil e
vantajoso dispor renques doestas arvores nas estradas publicas^, e acon-
selhar os fazendeiros a que tivessem as frentes das suas fazendas cerca-
das d'ellas, bem como a porção de estrada correspondente, conservan-
do-as sempre em bom estado.
Jambo. — É o fructo do jamboeiro (Jambua vulgaris). Abunda no
paiz, tem um cheiro característico e passa por agradável.
Coco. — É o fructo do coqueiro (Cocos nuciferej. Existe em muita
abundância, mas está completamente abandonado. Ha duas palmeiras dif-
rentes, sendo o coco de uma maior que o da outra ; differençam-se por-
que a que produz os fructos mais pequenos tem as folhas exactamente
como um leque aberto. É esta uma das arvores mais importantes da ilha
de S. Thomé.
1 João Francisco Barreiros traduziu goyaba e nós preferimos esta orthographia
à de guiava ou guiaveiro.
2 Fonssagrives, traducçâo de João Francisco Barreiros, pagina 506.
3 As estradas publicas podiam ser largas e orladas de renques de arvores esco-
lhidas e cujo producto daria para a desi>eza da composição e conservação d^essas
mesmas estradas. D'estc modo não seguiríamos supportando um sol abrasador, mas
caminhariamos em ruas agradáveis e frescas, vendo aqui um renque das anona-
ceas, e mais adianto de hespei-úles ; por aqui as artocaiyeas e por ali as bellas som-
bios. Os eucalyptos poderiam flgurar em frente dos cajueiros, as mimossinias como
a sucupira, as trístes mucumblis seriam mais consideradas. Deixaria finalmente
de haver os atalhos que nos conduzem à villa de Sant^Anna, os desabrigados cami*
nhos de S. José e do Qningluró, e a desarrai]jada estrada das villas da Trindade e
da Magdalena, as qnaes são comtudo as melhores da ilha. Não conhecemos paii
mais fértil nem mais abandonado!
Amora, — Ê o fructo da silva (Rubus jamaicensis, de Liooeu). Existe
DOS legares superiores a 600 metros de altitude, pouco mais ou menos.
S5o fructos conhecidos.
Figos. — São o fructo da figueira (Ficiis carica). Os que se produzem
a 400 metros de altitude» cultivados por alguns curiosos, são de superior
qualidade, mas na cidade não se dão tão bem.
Maçãs e peras. — As arvores bem conhecidas que produzem estes fru*
ctos, os quaes fazem as delicias das mesas de Portugal, podem aclimar-se
bem n'esta ilha, nas fazendas abertas de 850 metros para cima^
Fructa-pão. — É o fructo da artocarpus incise^ de Linneu. Esta linda
arvore foi introduzida na ilha e está bem aciimada ^. É própria para orlar
as estradas publicas e particulares. O seu fructo passa por bom alimento.
Colla. — É o fructo da colleira (Sterculia acuminata, de Palissot de
Beauvais). É muito estimado pelos naturaes do paiz, e em outro tempo
fez-se d'elle exportação.
Andim. — Fructo da palmeira de azeite (Elacis guineensis). Os natu*
raes comem as sementes assadas.
Uvas. — Fnicto da videira (Vitis vinifera). Apparecem alguns cachos
de uvas em perfeita maturação e bom gosto. A videira é cultivada apenas
por alguns curiosos.
Bananas. — São o fructo da bananeira (Musa paradisica, musa sa-
pientium). Abunda n'esta ilha, e todas as suas variedades são boas. A ba-
nana grande tem o nome de banana pão e faz a parte principal do alimento
dos pobres.
1 Foi-nos apresentada pelo fazendeiro José António Freire Sobral uma maça de
bom tamanho creada na sua fazenda Saudade, provavelmente a cerca de 7S0 a 800
melros de altitude. Infelizmente a maior altura a que chegámos foi de 580 metros
na parte mais baixa do monte Formoso, em Santa Luzia, a SO. da fazenda Saca-
vém, ficando-nos á esquerda o pico Anni^ de Chaves e á direita o Maria Carlota, os
quaes se vêem da cidade, assim como se distingue perfeitamente a encosta por onde
subimos e o logar onde parámos a 580 metros de altitude. Fica o monte Formoso
approximadamente a 15 kilometros da cidade, a SO. É esta occasiâo de memorar e
agradecer a protecção que nos dispensou o fazendeiro Manuel de Oliveira Costa,
sem a qual nem áqueila altitude chegaríamos, única ha seis annos a que podemos
ir e em que nos demorámos por espaço de uma hora.
2 N'uin artigo acerca da arvore fi*ucta pão, por António Maria de Sousa e Al-
meida, no Boletim offlcial, n.« i3 de i de abril de 1865, lé-se o seguinte:
«Segundo modo de cultura, um único tronco, que tem infinidade de pequenas
raiíes, pôde produzir ao mesmo tempo, sem prejuízo da sua cultura, milhares de
plantas, generalisando no paiz a. multiplicação de um vegetal que, como sustento
do homem, deve ter um dos primeiros legares no catalogo das produeções utUissí-
mas, com que a providencia protege a humanidade.»
59i
«É sem contradicção o melhor, o mais nutriente e são de todos os fru-
ctos dos trópicos ; nunca enfastia ; a sua polpa feculenta contém assucar,
acido e aromas diversos, segundo a variedade*.»
Alem doestas fructas existem outras* que nos parecem importantes e
de utilidade ; de bananas, por exemplo, ha diversas qualidades, bem como
do mamão, de maracujá, etc. Valia pois a pena estudar todas as espécies,
a fim de se tomarem bem conhecidas. As informações que levámos ditas
dizem respeito unicamente a algumas de que temos conhecimento e das
suas respectivas arvores.
III
Haizes alimenticlas, hortaliças e condimentos. Espécies aromáticas.
Vegetaes diversos
i.° Lista das raízes alimentidas. — Inhame, batata doce, mandioca, gen-
gibre, icóco, araruta, batata, cebolas, nabos, rábanos, rabanetes, senou-
ras.
2.^ Lista das hortaliças 3. — Couve lombarda, tronchuda, repolbuda,
couve flor do Algarve, couve portugueza, couve gallega, caparícana, re*
polhos, alfaces, beldroegas, agriões.
«
3.^ Lista dos eoodimeotos, espeeies aromáticas, Tegetaes díYersos. — Toma*
tes, pimentas, hortelã, salsa, aipo, gengivre, pimentões, coentro, chicória,
quiabos, alfaces, otoni, corda-pimenta, pimentões doces, ossami, maque-
que (fructo que também se come), canella.
1 Fonssagrives, traducçâo de João Francisco Barreiros, pagina 503.
2 Temos ouvido fallar de fructas de que não conhecemos a abundância e qiiA*
lidade como o coca, luba, mata-passa, cabaça de mioondó, pimpinella, maqaeque^
safii do mato, guegue ou cajá, salamba, jaca, nespas.
3 Na fazenda Monte Macaco houve couves de toda a qualidade tâo tenras e mi-
mosas como as melhores de Portugal. O actual administrador José António, teve ali
repolhos de primeira ordem e perfeição, e magnificas e abundantes hortas.
592
IV
Drogas medioinaes próprias do paiz
A mim parece-me qne a íalU de cscriptot acerca de
drogas medicinaes da índia se explica pela diflieiíldade
da tarefa ; determinar os c&racUm pkftieoi, dUmioe e
historico-naturaei das sobstaocias e experimeniar em
sef oida para conhecer qaaes os eHeilos ^Uffiolosficn e
therapeuticoSt é um trabalho superior á intelligenda de
qoAlqaer dos mais illustrados, qac pede exclnsfto de
toda outra obrigação e sobretudo recursos da todo o
género.
(Apontamentos sobre alguns agentes phanna-
cologicos da índia porlugueza, no Árdúvo ie
pkarmacia, n.® ^, agosto de 1865, por i.
Sluart da Fonseca Torrie.)
Lista de carias drogas e de ageotes pharmacologicos e substancias qac se re-
patam medicamentos na ilha de S. Tliomè. — Ârtemisia, malva, foIha*maIé,
folha-mícócó, maioba, mammalODga, ióbó, folha-sapateiro, pelicano» libo,
cabaças ou ocos, soíTi, macabli, folha-oundu, mussandá, gligo, butua,
suque, queça ou quessá, mostarda, matri, folha-coDla maguit oio, pimen-
ta, foliia-bõba, tissangá guegne ou cajá, mucubli, uva d*ovo, airavaca de
cobra ou parietaria, massuensuen, itoto(raiz), quime, codoque, bálsamo
de S. Tliomé, babosa, foUia de parceira, feto-macbo, maracujá, uaga-
uaga-d'obó, quiabos, algodão, bananas, oleo de coco, gomma de cajueiro,
cabaça de imbondeiro, oleo de purgueíra, oleo de rícino, sueco do tapa-
olho, tamarindo, canna fistula, araruta, fedegoso, alcova, beatas, gramma,
gengivre, herva de Santa Maria, hortelã, mil-bomens, herva-tostão, folbas
e casca de azeitona, folhas e raizes do pau-aiho, folhas e raizes do pau-
ama, casca de bengue d'obó, gomma-resina da mangueira, gomma elás-
tica, canella, café, cana saccharina, cínchona, laranjas e limões, coUa,
liamba ou diamba, tabaco, goyabeira, folhas, raizes e casca do salambá,
messamfé, folhas e raizes da arvore cata grande, jerichó, pinpim, piam-
plé, folha-gravana, seiva do pau-caixão, folhas da arvore zenzem, folhas
e casca da arvore unluem, casca da arvore vum-vum, folhas e casca da
arvore sequcnc, folhas do pau-quine, seiva do pecegueiro, folhas e casca
da arvore omêmê, folhas e casca da arvore marimboque, folhas da arvore
João Gomes Jaca, fnicto da arvore inhe-muela, seiva amarella do pau-
quijó, raizes de eslralla-eslralla ou clá-clá, seiva da corda-agua, folhas e
casca do arbusto cacumá, raizes crocotó, folhas de arvore sap-sap, herva
santage, folhas e planla-ossamé, folhas de bengallad'obo, casca de muele-
muele-branco, folhas, casca e raizes do pau-fede, leite do pau-sabão» fo-
lhas, casca e raiz da arvore gofe, sueco da arvore amoreira, principio vo-
593
lalil e cheiroso do pau-fede, stramoDio ou folba-feitiço, trombeteiras,
copabibeira, plaota reproductiva, culu-culu, principio volátil do pau-ama,
óleo de izaquente, agriões, otoni, óleo de saQe, aqué, aboboreira do mato«
alcaçus, agó ou anil do mato, bubo-bubo-preto ou bobo-bobo ou bugo-
bugo oquÍDi (venenoso), pega, rato, otage, uquilé, Simão-Goia (Simão Cor-
rêa) maquôqué, matanzem, corda, folha-porco, berva-doce, folha*eu-8ó,
paa-pimenta, língua de vacca, coçá-coçá, pega-pega ou herva agulha,
etc., etc.
São numerosas as substancias reputadas medicinaes na ilha de
S. Thomé, e ha grande abundância de drogas ou productos vegetaes
muito úteis nas artes e manufacturas, que se podem estudar conjuncta-
mente, como gommas, óleos voláteis, tanninos, carimas, farinhas, algo-
dões, etc.
Em presença da lista que apresentámos, vé>se que o assumpto é vasto
e muito difiQcil, e devemos notar que ella nao enumera a centésima
parte dos productos úteis e de grande valia em matéria medica e thera-
peutica.
Qualquer trabalho d'esla ordem exige exclusão de toda a outra obri-
gação e sobretudo recursos de toda a ordem. Não devemos proseguir
sem repetir hoje o que escrevemos a paginas 257 e 258 do relatório de
1869:
fNão nos consta que se lenha procedido a alguns estudos nas ilhas de
S. Thomé e Principe, e, como as divagações não téem vantagem alguma,
quando falta o conhecimento exacto da especialidade, contentámo-nos
com dizer que se deve começar a estudar a rica e variada flora doestas
ilhas.
cO que deixámos enumerado mostra com clareza a necessidade de se
proceder ao exame de drogas tão úteis e tão abundantes, e de que a me-
dicina pôde tirar bom proveito. »
Deve fazer-se com urgência a exploração methodica e scientiíica das
florestas, com o fim de examinar, classificar e mostrar a importância re-
lativa das arvores que dão suecos, gommas, etc.
Sabe-se que o mussandá, o pau-gamella, a mangueira, o pau-caixão,
a amoreira, o tapa-olho, o pau-guigó, o pau-oleo-barrão, o pau-oleo por
excellencia ou do bálsamo de S. Thomé, o pau-sabão, o figo-porco, o pe-
cegueiro da terra, a corda-agua, a copaybeira e a arvore izaquente, dão
productos de que se não tem feito caso, mas que devem ser estudados
para se distinguirem as gommas, as resinas, as gommas-resinas e as gom-
mas-elasticas, e se conhecerem as propriedades da seiva do pau-caixão
que aqui applicam na dor de dentes e a da corda-agua que usam como
collyrio. A importância e utilidade doeste trabalho é evidente se se attcn-
38
s
594
tar a que é morosa a creaçio e formaçSo de uma arvore, e a que se podem
destruir arvores adultas muito proveitosas e de grande valor, se se con*
tinmrem a abrir fazendas ou roças e a derrubar o arvoredo As cegas e
ao acaso.
Esto paiz tSo rico e abundante em arvores, florestas, trepadeiras, a^
bustos e hervas, dará cento por um dos beneQcios que receber; attesta
esta verdade a sua historia agrícola. Destruir as arvores inúteis, osarbot-
tos e hervas ruins, e occupar os terrenos que elles deixam com arvores
dê reconhecida utilidade é um melhoramento que só as culturas em
grande escala podem realisar; mas não deixar derrubar uma an'orf
adulta sem snpprir a sua falta, se for necessário cortal-a, parece-nos ama
providencia racional e em que os poderes públicos, como fomentadores
do progresso colonial, não podem deixar de pensar, e para isso é neces*
sario que as florestas da ilha não continuem a estar desconhecidas e aban-
donadas como até 1872.
Ha três espécies de lã ou algodão vegetal : a do algodoeiro, género
goftgypium; a lã do ocá, género bombax, a qual em Angola se denomina
sumamma, e a lã da elacis guineensis, que aqui se chama upá e em An-
gola ncácu. A importância d'estas substancias vegetaes em medicina è
grande, embora se não appliquem com frequência.
Os usos médicos do gossypium téem sido descriptos por diflerentes
médicos naturalistas, e são muito importantes e variados.
Os quiabos (Hibi$cu$ esculentos, de Linneu), o óleo ou azeite de c6co
e o óleo ou. azeite de palma são excellentes emollientes, assim como a
gommi do cajueiro e as malvas. Os quiabos entram na composição do xa-
rope e pastilhas do celebre Napbé de Arábia.
' A banana quitibd é empregada em muitos casos e applict^se nos
fumncnlos como emolliente. O distincto medico naturalista, João Torne,
reputa as folhas das bananeiras como o melhor succedaneo do ceroto de
spermaceti no curativo das superficies vesicadas.
O óleo de ridno e o de purgueira applícam-se em medicina com van-
tagem.
Será o tapa-olho a euphorbia antiquorum de Linneu? Peio menos
reputámol-o uma espécie das eupkorbiaceas.
A polpa do tamarindo e as suas sementes, e também os bolbos do ta^^
marindeiro, téem bom uso em medicina, assim como a polpa da canna*
flsiula.
A corda-matri passa nesta ilha por um violento drástico, e a casca da
arvore cúhi-cúlu é considerada purgativa, propriedade que se attríbne
também ás folhas da alcova.
Enumerar todas as raizes que são applícadas pelos indígenas eono
50S
purgativas, sem lhe fazer a crilica, é quasi inútil, e por isso nos abstemos
de nomear muitas outras que nos foram indicadas.
Ha n'esta ilha a farinha da rrucla-pão, de mandioca e de milbo, araruta,
caríná ou amido da fructa-pão e de mandioca.
O amido tem applicação em alguns casos médicos, e com a farinha de
mandioca faz-se a chamada cataplasma americana. Ha outras appiicações
que é inútil nomear.
É bom o doce feito do (i*ucto do guegue ou caju, e o de goyaba tem
fama % aconselha-i^e nas diarrheas e convalesenças.
DiíTerentes suecos de arvores e cordas sao applicados como collyrios
e adstringentes ; e a parte aquosa do coco bebe-se com prazer, assim
coroo o vinho de palma passa por diurético.
SSo variadas o numerosas as folhas que servem para banhos aromá-
ticos, refrigerantes e adstringentes, ou para cozimentos a que se attribuem
grandes virtudes medicas. Como lypo de uma receita popular, escrevemos
uma das muitas que nos foram apresentadas e em que se nota o desejo
de combinar substancias pharmacologicas para augmentar a actividade do
remédio que querem applicar. . .
Casca de cajueiro preparada .... Uma porç3o
Folhas de sap-sap Uma porçJo igual
Folhas de goyabeira A mesma porção
Ponha-se a cozer, c6e e tome aos copos.
Nas diarrheas
Os naturaes preparam da raiz de ototo uma espécie de escovas com
que cuidadosamente limpam os dentes; de cabacinhas ou suqués e das
sementes da folha-conta arranjam brinquedos para as creanças; e das
folhas doestas hervas preparam banhos frescos em que as lavam. Domus-
sandá tiram visco para apanharem passarinhos, e nem por sombras lhes
vem á idéa a importância da arvore e do producto que exlrabem.
Os habitantes das florestas, como os angolarês, parecem não precisar
das mais insignificantes commodidades: desconhecem o tratamento me-
dico nas enfermidades, a vantagem das estradas para caminharem, de
casas para se abrigarem e de cidades para commerciarem; mas flcam
surprehendidos por alguns phenomcnos que não entendem e que se lhes
apresentam todos os dias, e dão muita altcn(;ão a quem lh*os explica.
Viria a propósito fallar das lendas extraordinárias que se contam en«
tre estes povos indolentes e preguiçosos, e explicar a rasãoporqueelles
não oiíerecem o seu vinho de palma sem primeiro beber alguns tragos;
mas isso seria afastarmo-nos do nosso fim, com mais proveito para a
historia do que para a medicina.
ao exame da flora e da faana angoleDse. Devem divulgar-se os resultados
dos seus trabalhos e indagações scientiflcas a fim de serem conhecidas
tanto na metrópole como nas colónias. Procedendo-se assim, os médicos
poderiam facilmente escolher, estudar e indicar as substancias que fos-
sem úteis em medicina. »
Os estudos e exame das drogas e agentes pharmacologicos pôde fa-
zer-se se o governo encarregar pessoa habilitada de escolher, preparar
e fozer conduzir para Lisboa os productos mais importantes, os fructos
e flores das arvores, que lá mesmo podem ser classiGcadas e descriptas.
O que 6 para lamentar é que os poderes públicos continuem a deixar ficar
abandonadas as florestas da ilha, e a serem destruídas arvores adultas e
de grande utilidade sem as mandar reproduzir ou sem prohibir que sejam
cortadas sem necessidade. Uma arvore precisa de muitos annos para se
formar, e seria sufQciente esta consideração para se proceder com toda a
urgência á exploração florestal, á classificação das madeiras e das arvores
áh reconhecida utilidade publica; e a par d'este estudo e classificação
viria o conhecimento das arvores fructiferas, das de simples ornato ou
de jardins e de todas aquellas que por alguma circumstancia se tornam
recommendaveis. Os regulamentos de silvicultura são tão úteis como os
livros acerca da cultura do cacau, café, algodão, etc,, e tanto aquelles
como estes devem existir n'um paiz onde a agricultura está incipiente e
seguindo completamento ás cegas.
O exame das liervas, arbustos e trepadeiras, o a sua respectiva classi-
ficação, deve ser feita conjunctamente com a das florestas, dos animaes o
dos mineraes, pois são sempre mais fáceis a um naturalista os trabalhos
d'esta ordem do que a qualquer facultativo ou pharmaceutico, cujas occu-
paçôes diárias não lhe permittem entregar-se ao exame e estudo dos pro-
ductos de historia natural.
Este alvitre, tão necessário para o progresso das colónias em geral e
da industria em particular, é de ha muito reconhecido, poisque existem
ali ignorados productos que, se não se podem classificar como uma ri-
queza, podem innegavelmente trazer immensas vantagens quando explo-
rados convenientemente. E para prova do que avançámos podemos citar o
decreto de 22 de outubro de 1874 pelo qual se concedeu a Francisco Fer-
reira de Moraes, súbdito brazileiro estabelecido em Angola, o privilegio,
lhe cobre os restos mortaes precisámos mais esquecer o que lhe ofTusque a níemo-
ria, e fazer o inventario de qaanto deixou útil c dígoo d^ella. Faremos assim a de-
vida justiça ao finado, o qual teve o destino de tantos outros homens de sciencia,
para os quaes, no fim da vida, mais se accnmulam os desgostos e os contratempos
do que lhes sorriem os motivos da própria satisfação.»
í
:íU8
por dez annos, para exportação de um producto vegetal por elle desco-
berto, o qual, segundo declarou, é exlrahido das quipomas e arbustivas
canomínume, e que è símílbante á gatta-percba ; e o decreto de 13 de
outubro de 4875 que também concedeu o exclusivo da exportação» por
quinze annos, a José Thomás de Figueiredo, das sementes da arvore co-
nhecida em África pelo nome de pau-caixão, destinadas ao fabrico de
veias.
Estes dois privilégios tSo modernamente decretados» bio de certo
estimular outros exploradores a secundarem os esforços d'estes invento-
res, e acharão sem duvida no governo de Sua Magestade o auxilio que
àquelles foi concedido.
Produotos satnraes e de industria agrioola e falnil
da iUia de S. Thomd
o iolo de&U illia é a|iro|príAdn « UmU • qMlqoar
plaoUçâo, quaodo ajudado pela indaslría e IrabaUio do
agrícnitor; e asiia oUerva-M q«« aa gniáa bhmm
de iirodttctos importanlea e qae laaaiB a piia6i|ial ríq9e>
xa u'oQlros paizes, D'etla proviocia apparacem espoota*
Beameote e nachnoi uso d'ellM m aiiraiitiU ; eiHi« oa-
lro«, por laemplo, o anil» a poigaeir», o eanapalairo»
o ajueodobi, o algodão, ele.
(Hebtorio do goTaraador loaé Fedfo de llaflo,
acompanhando as reoMâia* dM aoMutrac
para a cxposiçào de Loodre», BoUiim ofi-
cial, D.* 33, de i9 do ouUibro dt Ml.)
i.^ Pnrfaetts d« coqneiri^ — Sâo variados os productos do coqueiro
(Ck)cos nucifera), e reputa-se uma das arvores mais importantes. Dá-se
bem e existe nas proximidades de quasi todas as praias. As alamedas de
coqueiros devem ser conservadas e cultivadas com todo o cuidado, pois-
que representam uma grande ri(|ueza para esta ilha, oode ji abundam e
promeltem maior desonvolvimeiíto.
Em 1861, segundo os cálculos oOiciaes, avaliava-se a producçSo de
azeite de coco em 63:(XK) litros ^, incluindo a da ilha do Príncipe; em i863
1 Apresenlareuios proniiscuainenlc os diíTerentes productos do reino vegetal^
se bem que «eria mais methudico rcunil-o» em secções separadas eomo, oteos, tin*
tas, drogas medicinaes, alimenlos e íibraí^. Na convicção, porém, de que para o
nosso fim e segundo a naturef.a deslo trabalho o melhodo que adoptámos é sofi-
deolemente claro, nào duvidáuios de o seguir.
2 Boletim official, w 33, de 36 de ot|t<|Uro Oe 1861, pagina 133.
S«9
podia maoufaclurar-se o Iriplo se se tratasse dos palmares e se aprovei-
tassem o seu importante fructo.
O coqueiro é uma das mais belias e productivas arvores da ilha de
S. Thomé. Se actualmente se lhe dá pouco apreço, não é ras3o para dei-
xar de se citar com eotbusiasmo. Tudo u^elie se converte em utilidade
para o homem ; e se a indole do nosso trat)albo não comporta o sermos
muito extensos na sua descripção, não deixaremos comtudo de indicar al-
guns dos seus productos e appiícações.
O resíduo que fica depois de se extrabir o óleo ou azeite serve para ali-
mento do gado ; e a palba é muito útil e emprega-se em diversos usos, ha-
vendo differentes processos para a obter : appiica-se em estofos, camas e
cadeiras, cordas de primeira qualidade, chapéus, esteiras, etc.
A seiva, conhecida sob o nome de vinho de palma, è agradável e re-
frigerante quando se bebe frescal A noz do fructo come-se, e a parle ex-
terior tem differentes applicações.
Das folhas fazem-se vassouras e redes (impialáj para se defumar peixe
e sardinha, e coales (espécie de cestos mutetes em forma de canastras).
Os palmares da ilha de S. Thomè estão abandonados, Umitando-se oe
naturaes a uUlisarem-se de alguns dos seus productos para consumo no
paix; mas poucos^ ou nenhuns se preparam e exportam.
A palmeira de leque é abundante e encontra-se nos logares em que
eitá a coem nucifera, é, porém, muito menos frequente do que esta. Paiaa
por dar productos tão importantes como o coqueiro da índia, e tem o fru-
cto mais pequeno.
Á palmeira ou coqueiro propriamente dito chamam em Angola ma-
leta ', e as suas folhas são boas para vassouras, chapéus e outras obras de
paUia.
1 «O vinho da palmeira é o prodacto da fermeDiação alcoólica da seiva d'esU
arvore. O liquido ê adocicado no momento em que &e exU'ahe, idas \\m tarda em
lurmeotar: trausforma-se em álcool, e quando recente o tiebido em pequena quan-
tidade é agradável ao paladar; pela sua acyào sobre o cérebro fuz lembrar o vijiho
de chaii)p;iguc ; estimula suavemente o estômago, e, moderado, conserva o ventre
livre, e tem propriedades diuréticas; o abuso porém, pôde ser fatal.» (Yeja-se o
livro de Fonssagríves, traducçào referida, pagina 490.)
2 Nas fazendas de Agua Izé monlou-se um engenho para a extracção do azeite
ou oieo de coco. N*aquelias fazendas sào grandes os palmares, e é o primeiro enge-
nho «resta natureza que se emprega na ilba para esta âm.
^ Nos Annaes do conselho uUramarino, pagina 345, lé-so o seguinte : c A pai-
iiieiía chamada mateva é uma espécie de hyphoene, cujas folhas dão óptimo mate-
rial liara chapéus, vassouras, etc, e ;>ào exportadas para o liraiil com iiiero tmn-
deravel».
I
600
O coqueiro ou palmeira conhecida pelo nome de bordão produz eicel-
leutes paus para redes e tipóias, como já dissemos, os quaes pela sua coo-
sistencia e pouco peso são empregados como os bambus, sendo tão bons
como estes.
Os productos do coqueiro são pois de grande importância e utilidade
em muitas das necessidades do homem.
O óleo ou azeite de coco pôde, em muitos casos, substituir o^deo de
amêndoas doces, e até nas pbarmacias se applica na preparação dosoieo-
solutos. Não é somente sob este ponto de vista therapeutico que elie se
toma vantajoso; serve também para luzes, mas è necessário preparal-o
convenientemente quando se lhe quer dar applicação mais delicada.
2.^ PraiaclM da paineira. — A palmeira de neiid (Elacis guifícensis)
produz o denominado e já conhecido azeite de palma e também o de co-
conote, e uma espécie de banha que pôde ter diversas applicações. Mui-
tas pessoas preparam as sementes (andim) para alimento.
Esta palmeira é mais baixa e mais grossa que o coqueiro e que a ma-
teva, e os fructos doestas arvores diíTerem completamente uns dos outros.
Na elacis guineensis os fructos estão juntos aos ramos em forma de
uma grande pinha, e são da grossura de uma noz. Em cada seoiente ba
uma parte externa fibrosa e oleosa, outra media e dura, e uma outra in-
terna e solida. cOs cachos frucliferos de dendem toem a forma de gigao*
tescas pinhas ovato-pyramidaes, das quaes cada uma contém de trezentos
a mil fructos ^ »
O azeite de pahna está sendo muito apreciado na Europa, o que Ibe
augmenta consideravelmente a importância e o valor; mas, apesar disso,
os palmares continuam quasi abandonados, estando para ahi ao acaso,
sem ordem, sem methodo e sem sciencia agrícola.
Não querendo tomar-nos exagerados ao descrever os variadíssimos
productos das palmeiras que estão adimadas n'esta Hha, damos por copia
os seguintes trechos que o sábio naturalista Welwítsch escreveu :
«Uma das arvores mais fecundas e mais úteis da zona tórrida, em
Africa, é sem duvida a nobre palmeira àQ dizeile (elacis guinêenm, jofuej
cujos fructos são geralmente cliamados dendem, e por isso á palmeira mui*
tos chamam demdem.
1 Ás palavras do texto ajuntou F. Welwitsch a seguinte nota : cUm cacho de
dendem que me foi oíTerecido pelo sova de Bango-Aquitamba em 4 de janeiro de
1855, continha seiscentos sessenta c quatro fructos bem feitos o trezentos setenta
e sete outros menores, menos desenvolvidos ou abortados, o que dá a somma de
mil e quarf^nta um fructos n*am racho!!» Synopse explicativa, 1862, pagina 52.
«01
« Om esta palmeira a promdencia indewmisau os povos da Africa tro-
pical da falia da oliveira, da videira e da amendoeira, pois ella fornece-
Ikes azeiUy vinho e amêndoas, e fora disso ainda mmias trastes úteis na
vida domestica.
«É notório que o azeite de dendem, que na Europa chamam azeite de
palma, forma um dos mais valiosos géneros do commercio africano, mas
o qoe nSo é l3o sabido é que a cultura d'esta tSo utilíssima arvore, que
era facílima na Africa portngneza, ainda nSo chegou a merecer a devida
attençio nem da parte do governo, nem dos particulares, e muito menos
dos indígenas que vAo raras vezes estragam as mais bellas palmeiras para
d*ellas tirarem algumas garrafas ou cabazes de vinho. O azeite de coco-
note é particularmente procurado nos mercados europeus ^»
Ao que escreveu penna l3o auctorisada apenas acrescentaremos que
na ilha de S. Thomé passam quasi desapercebidas as palmeiras, e nio ha
esperanças de haver quem anime e proteja a valiosa cultura do rei dos
vegetaes.
S.* FrtAMtas ia iafieile. — A fructa da izaquente é redonda, como já
dissmios, e contém dezenas de sementes, asiquaes se preparam para di-
versas comidas. Ex^iõe-se ao tempo para apodrecer e largar as sementes;
estas sio postas ao sol, e depois de estarem bem seccas pisam-se, n*uma
gamella apropriada, com uma bala de ferro, ou com seixo ou pedra es-
plierica bastante pesado para se lhe poder facilmente tirar a casca. Aca-
bada esta operação lavam-se e reduzem-se a massa, com a qual se prepa-
ram os alimentos dos libertos e dos naturaes.
A respeito d'esta arvore escreveu o mestre dos naturalistas da Africa
as seguintes palavras :
tOs indígenas comem, depois de cozidos e descascados, os pinhOes ou
pequenas amêndoas contidas no fructo, os quaes também sSo aproveita-
dos para confeição de doces e de orchata, emprego a que se prestam
muito bem por causa do sabor excellente que communícam is menciona*
das confeições ^»
É realmente de grande importância esta arvore que conserva a folha-
gem sempre verde, representando o seu fructo um papri importante na
alimentado dos naturaes d'esta ilha.
h.^ Prtiaelas ia arrare frieta*pi». — Sobre esta arvore dizia o abastado
lavrador JoSo Maria de Sousa e Almeida, n*uma exposição dirigida ao
1 Synopse expUcaiivaj paginas 53 e 5i.
2 S$jnopêe eopplkafiva, pagina 54.
mi
goveroo a propósito .da remessa dos productos para a eiposicio do Porto:
«Seria de subida vantagem para a alimentação da população do pais que
\. ex.* (o governador da província) liouvesse por bem igualmeota solicitar
do governo de Sua Magestadc, que pôde facilmente sabel-o por meio das
auctoridades da nossa província de Timor, o systema i>or que os indígenas
da Oceania, para terem todo o anno e sempre em estado de bom alimento
aquella fructa em conserva, por isso que no tempo da colheita aproveitam-
D'a, 6 a superabundante guardam-n'a d'aquelle modo para as occisiões da
falta. Esta utílissima fructa que é só de per si capaz, quando cultivada &sí
devida escala, de sustentar constantemente um pai2 inteiro, tem alem
d*esta incalculável vantagem a de poder ser secular na sua duração indi-
vidual, e portanto poupar aos lavradores incessantes trabalhos da planta
ou replanta a que todo o outro género de cultura, para alimento humano,
è sujeito aonualmente^t
O fructo d*esta arvore produz farinha, amido, etc, e alem doesta par-
ticularidade pôde também ser empregada como arvore de sonubra pas
ruas das fazendas, nas estradas centraes que as grandes fazendas sSo obri-
gadas a abrir, e também, por parte da camará municipal, naa estradas
publicas.
a.^ PraéMtos i$ cijaeira. — O cajueiro não só produz excalloote gom-
ma, mas também se obtém d'elle vinho dé boa qualidade.
A gomma tem grande utilidade, e attribuem-lhe principalm^te a im-
portaotissíma propriedade de impedir a invasão das traças, o que a toma
de certo altamente recommendavel na encadernação e invernizameoto de
livros, e no polimento de moveis de primeira ordem, e em muitas outras
necessidades da vida; pôde em alguns casos substituir vantajosamente a
goouna arábica.
A importância e utilidade do fructo é também reconhecida. Alem de
grandes vantagens para os agricultores e habitantes da ilha, liça o cajueiro
muito bem á beira das estradas, prestando a sombra aos viandantes e pro-
veito a quem os culliva com attenção.
Iriamos muito longe se nos fosse permittido expor algumas conside-
rações Acerca dos variadissimos productos que se obtôem ou iacilmente
se podem obter do preparo ou da cultura das differentes arvores d'esta
ilha; mas para se fazer uma idéa approximada dos importantes fructos a
que nos referimos, damos a seguinte relação, chamando para eUa a atten-
çao dos amigos do progresso e colonisação colonial.
Canna saccharina, assucar e aguardente; urzella; milho, que pro«
^ O Boletim officicd da provinda, u." 31, de 5 de ago»tú de iWã,
tt03
duz como 1 para 400; feijão; gengibre; finissimos doces; bálsamo;
, gomma, como a de S. Tliomc, do cajueiro e producto da amoreira, com
que os Daturaes tornam os chapéus e casacos impermeáveis; fibras varia-
díssimas ou fios de diversas ordens e cordas; Untas como a do urucú e do
bugi-bugi ; tabaco ; sabão ; farinhas, como a da mandioca, etc. ; canella ;
borracha; óleos, como o de safú, de izaquente, de aodim ou dendem, de
coco, de purgueira, de ricino e de coconote; café e cacau, géneros prin-
eipaes e quasi únicos para exportação; serrarias; algodão e outros pro*
duetos como upa ou lã da palmeira e lã de ocá.
Em vista, pois, do nosso fim, não podemos demorar-nos em conside*
rações a respeito de cada um d'estes productos, os quaes tinbam mais
racional cabimento em livro especial, onde se fallasse também acerca da
producção do sal e petróleo, e da preparação de telha, vasos e outros ob-
jectos de barro, esponjas, coales ou cestos de differentes qualidades e fei-^
tios, cabaças grandes (ocos) e pequenas que abundam, e cocos prepara*
dos para diversos usos domésticos.
Não existem ainda serrarias montadas com methodo, ha apenas alguns
fazendeiros que preparam as tábuas, esteios, vigas e soletas, nas florestas
(obós) onde se lhes offerece mais conmiodidade e abundância. N'estas dr-
cumstancias custam as madeiras um preço elevadissimo, podendo com os
meios apropriados tornal-o moderado, vistoque a natureza dotou o solo
d'esta ilha com as condições necessárias para uma producção abundante
e de primeira qualidade.
Não está generaHsada a cultura de pomares, de hortas e jardins. Al-
guns fazendeiros possuem jardins, poucos são os que téem pomares» o
das hortas apenas se colhe alguma hortaliça para uso domestico e moíto
pouca vae ao mercado. Doeste modo a hortaliça è rara e cara, podendo
aliás ser barata e boa.
Não ha fabricas para a extracçiío dos variados óleos, de modo que do
azeite de palma pouco se exporta e do de coconote não se faz casol Para
o fabrico do azeite de coco montou-se um engenho na fazenda Praia Rei,
mas a falta de trabalhadores não só obsta a que se trate d'este ramo de
commercio, como dilliculta a exploração das florestas e do solo.
Aos poderes públicos cumpre remover as dlflQculdades que impedem
o progresso da formosa ilha de S. Thomé, a qual pôde augmentar os ren-
dimentos do estado em 400.-000^000 réis, livres de todas as despezas, ha-
bilitando-se então a ter um ou dois caminhos de ferro para o local mais
salubre, estradas ordinárias que ponham em communicação todas as vil-
las e logares prodiictivos, e finalmente a iev jardins, alamedas e vastos
passeios em volta da cidade, em loyar de pântanos, de paúes e de charcos,
que aaualn^enle possue,
604
VI
CtomparaçSo entre as diífcrentes epoohas no progresso agrícola
e oommeroial da ilha de S. Thomó
1.® Relaçit dos prodnclos da provinda de S. Thomè e Principe qse Ijvranui
M exposiçio nniTersal do Londres. — CaKs cacau, algodão, anil (conhecido
por bugi-bugi^X bálsamo de S. Thomé (com alguns ramos da arvore e
flores'), pecegos de S. Thomé (de infusão em boa aguardente), cássia
ou canna-flstnia, cope (com as folhas e flores das arvores e verniz), cola,
cocos, (sobretudo da palmeira uloá), jalapa, izaquente (espécie de gr3ode
que muito se alimenta o povo), safú (fructo), inhame (diversas espécies
incluindo o coco), izá (fructas inteiras em aguardente), jaca (fructas em
aguardente), malagueta, pimenta e cubebas (especialmente de Ajuda),
mandioca, farinha de pau, tapioca e amidon, míl-homens (raiz medici-
nal), purgueira (óleo e sementes), polpa de tamarindos, tabaco em folha
e fabricado, canna de assucar, aguardente de canna, azeite de palma,
dendé (em caroço ou cachos), canella, pau-alcaçús, pau-guigõ, pau-gogó,
pau-nespera, pau-ová, pau-sangue, pau-vermelho, pau-azeitona, pau-ce-
dro, sucupira, pau-viro, amoreira, caixão, ocá, upá^ ou gamella, gofé,
safu, pau-ribeira, pau-mastro, e terra ocre de diversas cores.
Por esta relação, que foi mandada para Lisboa em 1861 ^, vé-se com
evidencia que n*aquella epocha poucos productos se conheciam da ilha de
S. Thomé e Principe, poisfpie no districlo de Ajuda nem ao menos se
falia t
Para se tornarem bem salientes as epochas a que nos referimos, IStil,
1865 e 1872, passámos a reproduzir a lista das madeiras e dos diversos
productos que foram remettidos para Lisboa, segundo as publicaç^ões fei-
tas no boletim da província e que muito convém divulgara
f
1 O anil e o bugi-bugi fazem dilTerença; a tinta do bugi-bugi é preta.
2 A arvore do bálsamo do S. Thomé ainda não está scientificamcnte conhe-
cida.
' Upà é o nome que se dà á lá da palmeira; oáo sabemos se em algum logar
da ilha o pan-gamella tem este nome.
^ Boletim offkial da província, n.^" 24, de 17 de agosto de i86l.
^ Parece-nos de muita vantagem que se formulem catálogos onde se designem
e descrevam os productos remettidos para o reino, a Pm) de serem distribuídos
aos fazendeiros c agricultores das colónias, de modo que na ilha de S. Thomé se
603
2.^ Lista das madeiras S produelos nataraes e da iodustria a|rieola e bkril
das íilias de S. Thomé e Príncipe no anno de 186i. — Madeiras. Agua» alcaçuz
ama, amoreira, azeitona, azemama, bebé, bõbo-bõbo, branco, bugi-bugi
bungá, cabra, caixão, cacuma, cadeira, caju, capitão, cata-grande, cedro
clá-clá, coaco-branco, cola, colma-frio, culu-culu, cuspira, dumo, estalla
estalla, fede, Ggo-porco, gamella, glou, glou-congo, gufe, gogó, gaegue
guegue-falso, gui[:ó, imboló, inhé-bobo, inhé-branco, inhé-preto, iobó
jaca, jambo, laranja-mucambu, libo, luba, macambrará, malioboque, man
gueira, marapiam, martro, me-me, micondó, mucambá, mucumblé, muío
do, mule-mule, mussandá, nespera, nona, Dona-concha, ocá, óleo, ová
paga-olbo, paga-olbo de marcação, tapa-olho, pecego, popiam, preto
quebra-macbado, quebra-prego, guiné, guiabo, guime, ribeira, safu, sa
lamba, sangue, sapo-sapo, setuR d*obo, soá-soá, sucupira, tabaque, ta
marindo, upá, untuem, vara-plé, vermelho, viro, vum-vum, zamuma.
Productos naturaes e da industria agricola e fabril. — Aguardente de
canna, algodão gomg, anil, araruta, azeite de coco, azeite de palma, bál-
samo de S. Thomé, batata doce, cacau, café, canna de assucar, canoa-fis-
tula, canella, carvão de caroço de palmeira ou dendem, celé-celé, cesto
da folha da palmeira, coador de palha, cabra negra, cocas da paUneíra
ou caroço de dendem, cola, cope, dendé, escada de subir ás paUneiras,
esponjas, farinha de pau, farinha de tapioca, fava, inhame, iza, izaquente,
icocó, jaca, jalapa, limague, verme, malagueta, mandioca, maquèqué,
mendobin, mil-homens, ossame, pecego de S. Thomé, pimenta, mala-
gueta comprida, polpa de tamarindos, popó, purgueira, safu, sal, sabão
feito com azeite de palmeira, tabaco, tabatínga cancu, tamarindo, tapa-
olho, urzella, bálsamo de pau-mesa, gogo pombo, poto-poto, isa sec-
co, canna preta, canna branca, Go de palmeira, lã de palmeira, carvio
da casca da semente da pahneira, um coador e duas vassouras de pal-
meira.
Vé-se pela lista antecedente que se classificaram, entre as madeiras»
paus, arbustos e cordas, e alem disso arvores que não servem para ma-
deiras propriamente ditas.
conheçam os prodactos da índia, de Moçambique, de Gabo Verde e de Angola, e
n*estas os de S. thomé.
As despezas da publicação seriam bem compensadas peia vantagem de sé co-
nhecerem na metrópole o em todas as colónias as riquezas naturaes que possuímos
e do que tão pouca vantagem tiramos.
1 Dos boletins do anno de 186i e i865 copiámos, como já dissemos, as listas
que se vão ler. Pela nossa parte apenas tivemos occasião para entrar em três flo-
restas, demorando-nos duas horas em cada ama.
C06
Nota-se também o diverso modo de escrever as palavras, e parece
que $3o dados como paus diversos aquelles que téem dííTerentes nomes.
A reproducçâo dos productos remettidos para a exposição de Lon-
dres satisfaz a três fms muito importantes :
i.^ Mostra o conhecimento que havia em 1861 das florestas da ilha
de S. Tbomè e Principe, assim como os productos que se conheciam^
quer agrícolas, quer fabris;
2.^ A necessidade de se averiguar bem as d^ominaç5es vulgares
e a de substiluii-as por denominações correctas e bem determinadas em-
quanto não se divulguem as scientiGcas;
3.^ Serve de termo de comparação para se aferir o progresso agrí-
cola da ilha de S. Thomé desde 1861 até 1872.
3.* Lista das madeiras, productos natnraes e de indostria africola e fabril da
iika de 8. Thomé no anno de 186S. — Madeiras. Agua, amá, amoreira, azeito-
na, bálsamo de S. Thomé, bebé, bengue, cabra, cadeira, cncbSo, caju,
capitão, colla, cla-cia, colma-frio, canella, café, cata, chico-mone, dumo,
flgo-porco» fabao, fructo-instrelé, guigo, gofe, gogó, gambo, goiaba, gra-
matí, inhé-branco, inhé-preto, inhé-bobó, iogó, ime-mé, izaqoente, in-
gie-lé, jaca, laranja-malo, laranja-mucambu, lembá, libo, luba, manguei-
ra, mucumblé, macambrará, muindo, muciquiné, mangue, miníngobo,
mam?io« mule-mule, mui, nespera,obá, obatá, ocá, pecego, preto, preto-
remédio, pagaoé(paga-olho), quimé, quine, quedano, sucupira, salambá.
sapopo, soá-soá, tabaque, uzubi, zamumo, viro, vermelho, untuan, vinte
e quatro horas, pau-gamella e gucegue.
Productos naturaes e de industria agrícola e fabril. — Café, cacau,
azeite de palma ou de dendem, azeite de caroço de dendem, azeite de
coco, azeite deiza, fructa-pão, fructa izaquente, preparado para extrahiro
oleo e para alimentação ordinária do paiz, pinhas de andim ou dendem,
fructo da arvore izaquente, farinha de mandioca, canella, algodão, cana-
flsiula, caroço de dendem, pinhas de jaca ou fructo doesta arvore, pi-
menta, malagueta, inhame, batatas, cócó, safu, colla (fructo), gengibre,
mendobim, sal, semente de purgueira, balata doce, canna de assucar. fi-
gos do reino e romãs.
Ao terminarmos as i^ossas considerações acerca dos productos da ilha
de S. Thomé, diremos que as madeiras estão confundidas entre arvores
ordinárias, fructiferas e até entre arbustos, como se vê, comparando a
lista das madeiras referidas a 1861, a 1865 e a 1872, vindo a faltar
n'aquelle anno 17 paus, que em 1872 foram dados como madeiras, em-
quanto que em 1861 faltavam 15 paus.
É certo, porém, que um grande numero de boas madeiras Dão é ainda
607
conhecido de todos, e que os paus recebem nomes differentes, segundo
as localidades e até segundo as Tazendas em que são cortados.
Nos capítulos anteriores apresentámos a importância das exportações,
as quantidades e qualidades dos diversos artigos, e outros esclarecimen-
tos tendentes a mostrar a prosperidade, bem como a decadência ée algu-
mas culturas, e por isso não podemos deixar de publicar também aqui o
numero de exportadores dos productos dos reinos v^etal e animal nos
annos de 1873 e 4874.
608
Eip«r(a4we8 de arUiM eolMiaes n ilkt fc 8. llMBé
MS iBMS de 4873 e 1874
1873
1874
Arligot
I
/
Cãié....
Cacan...
Aleite ..
Madeins.
ArarnU
Aieite de coco.
Aleite de palma
Balaamo. ...•...•
Bamboa
Cacau.
Café
CocoDote
Cocos
Gingttba
Gomma
Farinha de mandioca. . • .
í Barrotes
Madeira l Tábuas. . . •
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309
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Visiá do rio Agua kiibiii. i pouca distancia da foi. na ilha de S. Tboní.
Laiadeiiai da faionda Agua-lié.
OAPlTin.0 XV
Reino animal
Parece quu a classiHcaçâo vKtlo^ioL Unu oerU iiu|K>r-
Uncia, e os naUiralislas qoe m occupam <l'este esladu
em Angola, por conta do governo, deviam passar alguns
mezM em S. Thomé.
(HelMtorio de 1880, pag. 363 o 264.)
k\e», reptis, peixes, etc. — Bois, cavallos, cabras, ele. — Productos zoológicos
Jorge Cuvier dividiu o reino animal em quatro series, baseando-se
nas modificações do systema nervoso *; a primeira comprehende os ani-
maes vertebrados, a segunda os articulados, a terceira molluscos e a
quarta os radiarios.
A classificação d'aquelle naturalista é geralmente seguida^ e é a ella
(]ue nos referimos no presente trabalho.
1.* Serie — Animaes vertebrados
Mamniiferos. — Ha morcegos notáveis, que habitam em furnas, tanto
na costa da ilha como nas margens de alguns rios^; é linda a espécie de
1 É polo profundo exame da anatomia comparada que se demonstram as diflíe- ^
roncas materíaes dos centros nervosos do homem e dos animaes ; no systema de
Linneu foram reconhecidos os erros por i^eio d*aquelle exame, e tornou-se inadmis-
sível a sua classificação zoológica, e com pezar se vé os médicos nao estudarem as
doenças dos animaes, as quaes são ainda pouco conhecidas. Os progressos das
sciencías naluraes são morosos, roas o fíat lux é a aspiração sublime e nobre dos
obreiros do progresso.
2 Na classificação de Cuvier o jurando reino lioniinal está encravado na classe
dos mammiferos, !.• ordem, i.' sub-classe; felizmente ficou primeira a todos os res-
peitos.
3 Os morcegos téem o nomo de yuembrise. As fumas do Rio de Ouro são espa-
çosas e uma está a £. da ilha. Não se encontra ali uma arvore como aquella que
o dr. Repin viu no reino de Dahomé (Le tmr du monde, vol. l.», 1863, pagina 76).
39
610
doninhas que appareceai frequentemente; os ratos são muitos e prejudU
cialissimos nas casas e nos campos ^ ; encontra-se uma espécie de gato al-
galia, que deixa um cheiro muito similbante ao do almíscar; os cães re-
produzem-se espantosamente e incommodam muito os habitantes da
cidade'; os gatos são mansos; os porcos são medianos^ e encontram-se
bastantes bravos pelos matos; os cavallos são raros bem como os jumen-
tos ; ha bodes, carneiros, bois ^ e cabras. Ha uma só espécie de macacos
que causam damno ás plantações ^ e aos fructos.
Nas proximidades da ilha apparecem algumas baleias que não são
apanhadas pelos naturaes, nem pelos navios americanos empregados na
pesca doestes manmiiferos.
As lagaias ou teixugos são prejudiciaes porque comem as gallinhas ;
as ovelhas não téem lã que se possa applicar em tecidos ; e ha apenas al-
gumas mulas que, conjunctamente com os jumentos, já são empregadas
DOS trabalhos do campo, e tiram as carroças e auxiliam a difficil e morosa
conducção dos objectos das fazendas para a cidade e vice versa: não
obstante poderiam aclimar-se outros animaes de que se podesse tirar
vantagem para o commercio e para a agricultura.
Aves. — São notáveis os milhafres e ha feias corujas; encontram-se
andorinhas, cecias, rolas, pombos bravos e mansos ; as codomizes são
numerosas, assim como as gallinholas de Guiné e as gallinhas bravas ou
do mato; podem ver-se alguns pavões; as garças são brancas ou escuras,
1 Os ratos são grandes e multiplicam-se prodigiosamente; nos cafetaes sobem
ás arvores, roem a casca e destroem os fructos.
2 Os cães uivam muito de noite, o que causa desagradabilissima impressão;
são ordinários e de má casta e andam em grandes alcateas atormentando com seus
lúgubres uivos os habitantes da cidade, que se regosijam era lhes bater e maltra-
tal-os.
' A carne dos porcos é saborosa, mas nao tem boa fama; attríbuem-lhe malé-
fica influencia e asseveram especialmente que causa díarrhea, dores intestinaes e
outros incommodos. Nao a reputámos prejudicial á saúde, mas recommendaremos
sempre que se faça parco uso d^ella. Lopes de Lima diz que a carne de porco eri
mais saborosa no tempo dos engenhos de assucar.
^ Ha uma manada regular na praia das Conchas, e sabemos que nao é pequena
a da praia Bei e a de um morador da cidade. Pelos matos existem também alguns
bois bravos.
^ Os macacos causaram grande prejuízo nas primeiras plantações das cincho-
nas na fazenda denominada Bio de Ouro, as quaes em 1872, segulido as informações
do fazendeiro, estavam alentadas e promettiam boa aclimação. Sao animaes tão
danminhos como os ratos.
6H
acompanhando aquellas as manadas de gado nos campos ^ ; ha muitos
patos, e são de um verde lindo os periquitos*; ha tordos, carniceiras,
milheiras e pastelins.
Os ossobos s5o lindíssimos, mas nao se conservam em gaiolas*. Di-
zem que têem canto agradável e sonoro.
Nomeiam-se a canobia, o inquieto tacli, o olho grosso, o pardal *,
moquem ^ o tordo, a carniceira, o melro, o falcão, o mocho, o rabo de
junco, o cordivão, o estorninho, o xinxolo, o papaflgo, o maçarico, etc.
São numerosas e variadas as aves na ilha de S. Thomé e algumas
d'ellas téem particularidades que as tornam curiosas. Ha uma espécie de
passarinhos pequeníssima, e a ave maior parece ser a gallinha de Guiné.
Pouca gente se entrega ao exercício da caça, nem ella proporciona a
distracção que n'outros paizes ofiferece.
Reptis. — Ha duas espécies de tartarugas uma pequena e outra maior;
a primeira denomina-se sarda e a outra ambó ^ aproveitando-se apenas a
1 As garças brancas andam em numerosos bandos e á noite recolbem-se no
recôncavo do morro Peixe, o qual olha para o mar; é surprehendente a vista
d^aquella face do morro, a que se pôde chamar com verdade superfície láctea,
2 Os periquitos vendem-se a 100 e a 140 réis cada um, gostam muito de safú
e acostumam-se facilmente ao milho pisado. Em 1872 foi o anno em que se expor-
tou maior numero d*estas aves.
É notável a circumstancia de não haver aves d'esta espécie na ilha do Prín-
cipe nem papagaios em S. Thomé.
O povo, na sua poesia sublime e rude, procura explicar estes factos, e dá como
causa do phenomeiío a guerra entre os falcões e os papagaios, que ciosos das suas
terras não consentem que os outros lh'as devassem.
3 A fêmea do melancólico ossobo não faz ninho para si; deposita os ovos nos
dos outros passarinhos, que assim trabalham em seu logar. É de cores muito boni-
tas e agradáveis á vista, o que contrasta com o seu proceder egoísta.
* Asseveram algumas pessoas que ha pardaes com canto.
5 É triste o gemido do moquem e causa triste impressão a quem ao anoitecer
percorre a ilha de S. Thomé ; ha grande numero d'estes pássaros.
^ A caça da tartaruga faz-se em dezembro e janeiro ou desde outubro a feve-
reiro.
As fêmeas vem á praia para depor os ovos na areiíu lia prelos estacionados,
e de vigia, que, quando ellas se preparam para a postura, se approximam voltando-
Ihe as costas; por este meio, conseguindo a caça, colhem também grande quanti-
dade de ovos tanto em casca como em gemma, que vendem aos vinténs. O macho
é apanhado, ás vezes, em redes.
A tartaruga ambó tem armadura de má qualidade e é muito maior do que a
sarda, de cuja concha se tiram treze cascos ou pedaços que se desarticulam bem.
Da couraça não se faz caso. A carne doestes dois reptis, depois de bem preparada,
é saborosa e serve para alimento. Yeude-se a peso, e os naturaes procuram-na
com prazer.
l
61i
casca das de espécie pequena, que é íiua e de primeira qualidade. Tam-
bém se encontram os kagados, ou tartarugas de agua doce.
Encontram-se alguns lagartos, lagartixas e as innocentes osgas que
habitam nos tectos e nas paredes das casas para apanharem insectos e
outros animaes de que se nutrem. São muitas e variadas as espécies de
cobras, distinguindo-se bem a denominada cobra preta, a qual habita os
matos e especialmente as terras do S.
Batrachios oa amphibios. — Ha rãs, sapos e salamandras. Da rã não se
prepara comida alguma» como se usa em alguns paizes.
Peiíes. — Apresentámos a lista dos peixes que todos os informadores
dão com o intuito de chamar para as ilhas a attenção dos curiosos, dos
zoologistas e dos poderes públicos, a fim de que a pesca se faça com or-
dem, e possa -constituir uma fonte de riqueza e de abundância D*esta ilha»
a todos os respeitos a primeira entre as primeiras do mundo tropical.
Eis aqui a lista dos nomes vulgares dos que ali se encontram:
Corcovado, cacon (espécie de corcovado), sele (bom para comer),
alada (óptimo assemelhando-se no gosto ao sável), cherne (bom), sopa,
vermelho da terra (bom), vermelho do fundo, pargo (bom), bica (bom),
tainha (bom), carapau (de boa venda para os pobres), sardinha S bubú
(tem muitas espinhas), usa ou raia, tubarão (gandú) ^ baleia, baleote, to-
ninha, boto, xinxim, garoupa (muito bom), sabão, rainha (pequeno), asno
(bom), salmonete, agulha ^, mati-pombo, parenti (bom), bisugo ou be-
sugo, bicudo, bonito (bom), caqui, mero *, chuva, mulato, coelho (coê),
( A sardinha é pequena e parece haver differentes espécies, mas nâo coosla
que haja alguma venenosa. Pesca-se á rede e vende-se a retalho nas praças depois
de fumada e secca. Carregada em moletes, que são urna espécie de cestos feitos
de folhas de palmeira forrados de folhas de bananeiras, cada carga d*estas produz
3ÍS000 réis.
2 Sào muitas as espécies de tubarões e alguns d'elles muito ferozes. Entre ou-
tros, contam-se o tuharào-marta, tubarão-toninha, tubarao-maria-agua, tubarão-
coco, tubarão-toto, tubarão, tubarão-linteiro. O tubarão-toninha tem enormes den-
tes e é de todos o mais feroz. São frequentes em alguns legares da costa da ilha,
e especialmente na ponta ou restinga Diogo Nunes. O tubarão é conhecido na terra
pelo nome de gandú, e os naturaes comem-no depois de ter apodrecido; isto é,
achara-no assim maduro!
3 O peixe agulha é pescado ao candeio. Os naturaes juutam-se em numero de
mais de cincoenta, approximadamente pelas sete horas da noite, e mettidos em ca-
noas, formadas estas em linha, assim se preparam para o fisgarem quando vem ao
lume de agua attrahido pela luz.
^ É um dos grandes peixes da costa da ilha; chega a ter 3 a 4 metros de
hnrbailn, miissang;'!, jndon, rorvina, voador*, cosinheira (hom), líadejo,
rohalo, liiií,'uado, bodião, pacalá^ prombeta, peixinho^, malaguela, bobó-
queinaá, lixa, boto, plogá, bagri, alambá, serra, moçangá, bonga, celva-
cora ou alvacor, bebecá, agolha-buzina, agulba-espada, coê ou coelho do
alto mar, corta-olho (corta vô), morêa, barbado, olêiê, peixe-porco, bo-
lhão, etc.
Esta lista contém as diversas espécies de peixes, segundo as notas dos
informadores que consultámos a este respeito ^. Ha ali peixes bem conhe-
cidos e já classificados; os nomes scientificos do maior numero estão em
muitos livros, mas nós pretendemos apenas relatar ou informar e n3o
fazer sciencia. Os livros doesta ordem escrevem-se em condições, como
se concederam aos naturalistas Anchieta e Welwilsch.
Os peixes multiplicam-se por meio de ovos, sendo estes deixados
pelas fêmeas, nas praias, em logares abrigados. Nem todos procriam d este
modo, mas aquelles que andam mais próximos ás praias desenvolvem-se
por este meio e d'aqui se vê o prejuízo que a pesca do chamado peixinho
rausa á riqueza publica da ilha.
A pescaria representa nos paizes cíviiisados um ramo de commercio
notável e concorre com vantagem para a alimentação publica ; n'esta ilha
nâo se attende a cousa alguma I
Com a enumeração dos peixes completámos as cinco classes dos ani-
mães vertebrados ou a primeira serie dos animaes, segundo Cuvier, reti-
rando da primeira classe o reino hominal, de que fallaremos no capitulo
seguinte.
comprimento; é feroz e infeliz do homem que cair ao mar próximo ao logar em
que elle estiver.
1 Faz-se em junho e julho a pesca do voador, que apparece em grande abundân-
cia. Os naturaes, n* estes mezes, carregam canoas e téem a singularidade de o pôr
ao tempo para o comerem bem podre. Téem n*isto grande fé! Pescam-no lambem
á linha, mas uos mezes referidos, saem ao mar munidos de folhas seccas e palha,
que espalham convenientemente, e o peixe, envolvendo-se ahi, facilmente é apa-
nhado e passado para as canoas.
2 O peixinho é apanhado na foz dos rios. Dois pretos collocados em pontos
oppostos, pegam n*um panno bastante comprido, que emergem na agua, e esperam
os cardumes, e quando estes passam por cima do panno levantam-no, colhendo
assim milhares de pebeinhos. Isto repete-se por centenares de vezes e em quasi
todos os rios. Preparam-no depois em massa e é vendido a retalho na praça; tam-
bém se come guisado. Esta pesca é prejudicial e barbara, e deve acabar.
3 Aos srs. commendador Jacinto Carneiro de Sousa e Almeida e seu irmào
o barão de Agua-Izé, Joaquim António Bahia e Paschoal Barreto de Sousa e Al-
meida devemos a indicação dos peixes por elles conhecidos. Aproveitamos a pre-
aenti» occasião para agradecermos lào valioso auxilio para os estudos d Vsla ordem.
614
2.* Serie ^Anlmaes artlonlados
Insectos. — Ha muitas carochas e besouros ; o louva a Deus ; os grillos
sSo de ires qualidades, e os gafanhotos frequentes ; as formigas s3o de ya*
rias espécies e uma d'ellas denominada lobo contém individues grandes e
avermelhados ; as abelhas existem em enxames pelos matos *- ; apparecem
borboletas grandes e de lindíssimas cores'; as mariposas nao desmentem
o seu triste fado quando entram n'um quarto onde ha luz ; as pulgas não
s3o raras, as moscas são abundantíssimas e as meigas de um incommodo
atroz ^, assim como os mosquitos ^.
O bicho de seda exige para a sua propagação uma temperatura de 20^
Reaumur ou 25® centígrados, e é por isso evidente que elles se podem
aclimar nas fazendas altas desde a villa da Trindade para cima ^.
Ninguém poderá contestar a utilidade da creação do bicho de seda, e
a sua íntroducçSo não se fará demorar muito, se o governo atteuder ás
justas e imperiosas necessidades da ilha de S. Thomé.
Os estragos do cupim ^, os seus notáveis castellos de barro, que elle
construo por entre os matos, são dignos de estudo e de obsarvação. O bi-
cho pólvora, que, quando se lhe toca, exhala fumo com pronunciado cheiro
a pólvora, d'onde lhe veiu o nome, também deve ser examinado.
1 Ás abelhas, que produzem o mel e a cera, nâo se lhes presta a menor atten-
çâo! Avalíe-se por esta e por outras cousas as riquezas que ali se perdem I
' Ás vezes as borboletas apparecem em bandos extraordinários, o que cansia
surpreza aos mais indiíTerentes, como succedeu cm 1869; nas ruas da cidade pas-
savam 6 volitavam milhões e milhões d'estes pequenos insectos, elegantes e pretos.
3 O modo de afugentar as meigas e evitar o terrível incommodo que eausam
é fazer uma fogueira à porta da casa se é térrea, e não se limitar somente a defu-
mar.
^ Muitos são os pareceres dados com o intento de afugentar os mosquitos,
l^m-se aconselhado a agua de Labarraque, que já experimentámos sem bom re-
sultado; ha porém a tradição de que os ramos do paa ama téem a virtude de os afu-
gentar dos quartos em consequência do cheiro activo que exhalam. O melhor meio
de os evitar é fechar cedo as janellas, ter um bom mosqueteiro e sacudir e limpar
bem o quarto da cama.
^ São numerosos os alto-planos em que é constante a temperatura de SS** cen-
tígrados. Se por desgraça nossa vivemos na localidade mais quente e mais insahi«
bres, saiba-se ao menos que n*esta Uha existem logares salubres em que se podon
levantar agradáveis vivendas.
^ Os estragos do salalé, cnpim ou >thermes são grandes. Este insignificante ani-
mal faz prodígios. Chega a atravessar de lado a lado um monte de saccas, n'mna
só noite, reduz a pó uma arvore e levanta montes de barro amarello que são da
altura de um homem I
615
lyriapodos. — Abundam as centopeias nas casas, as quaes, quando são
feitas de madeira ordinária e se tornam velhas, contéem estes anímaes aos
centos.
Aradmides. — Ha muitas espécies de aranhas, e as teias que algumas fa-
zem são curiosas pela sua consistência e lindo tecido ; apparecem os la-
craus e as tarântulas nas casas velhas.
*
Crustáceos. — Ha nos rios muitos e bons camarões, lagostas e diffe-
rentes espécies de caranguejos, passando por venenosos alguns doestes
creados no mar, e que são em geral de cõr vermelha ; são brancos os ci-
TiSy e os do rio azues.
São quatro as classes da primeira sub-serie dos annelados, emquanto
que na segunda se contam três; mas referimos somente duas espécies.
Não consta infelizmente que haja sanguesugas n'esta ilha ^ as minho-
cas servem de isco aos pescadores de anzol.
3.* Serie — MoUusoos
Esta serie de animaes, segundo a classificação de Cuvier, não tem sido
estudada» sendo aliás muito curiosa. Damos apenas noticia dos molluscos
verdadeiramente característicos nas praias d'esta infeliz ilha.
Gephalopodos. — Encontram-se n'esta classe as lulas, o polvo, os argo
nautas e as sibas.
fiasteropodos. — Os búzios, as porcelanas e as cypreas são abundantes,
e a praia das Conchas gosa boa fama a este respeito pela quantidade que
ali se encontra.
Acephalos. — As ostras são abundantes e ha outros numerosos mollus-
cos, que dão variadas e lindíssimas conchas.
4.' Serie— Radiarlos
N'esta serie ha cinco classes, mas apenas citámos as espécies de duas,
as estrellas do mar, que são frequentes, assim como as esponjas tanto
finas como ordinárias.
1 As s«inguesngas sào ás vezes tào altamente reclamadas, que urge por todos
os meios possíveis fazer com que ellas se aclimem na ilha. As que apparecem sÍo
importadas do Gabão.
6i6
Limitámo-nos a escrever os nomes vulgares de alguns animaes, lendo
somente em visla dar uma idéa da fauna da ilha de S. Thomé.
O serviço clinico eslá estabelecido aqui de modo que o facultativo mal
tem tempo de descansar*.
Se a fauna d'esta ilha nâo está explorada, a de Moçambique, a de An-
gola, a do Ambriz e a de Benguella começou ha pouco tempo a ser conhe-
cida.
Tem aqui cabimento fazer menção do zeloso, intelligente e sábio dire-
ctor do museu de Lisboa, que procura por todos os meios ao seu alcance
animar aquelles que se entregam a enriquecer a sciencia, expondo a vida
nos inhospitos climas da Africa tropical e equatorial.
« Pareceme conveniente que se saiba que a nossa terra também pro-
duz homens dedicados á sciencia, e capazes de ir a climas inhospitos. ar-
riscar a vida em seu serviço. Ha muito que admirar e aprender n'este ge-
neroso desprendimento de considerações egoístas, n'esta imprevidência
sublime com que se gastam os melhores annos da vida, não em grangear
riquezas, o que exigiria n'aquellas regiões menos esforços e intelligencia,
mas em dilatar o horisonte da sciencia á custa de sacriflcios enormes. Não
se acolha ao menos com indifferença ou com sorrisos de estúpida commi-
seraçSo a quem volta da Africa, t3o pobre como para lá fora, trazendo por
únicos haveres alguns caixotes toscos, cheios, não de oiro ou de marflm.
mas de pelles de mammiferos e aves, de reptis, de insectos, de mil baga-
tellas, adquiridas á custa de soffrimentos e de perigos que só á mais ex-
tremada coragem é dado affrontar e vencer ^ »
N'este pequeno quadro ha o brado do homem da sciencia em favor
dos homens do progresso. Os facultativos e pharmaceuticos que v3o servir
no ultramar dão exemplos d'aquelles arrojados naturalistas, sacrificando
a vida e o futuro das famílias em prol da humanidade enferma e voltam
ao paiz mais arruinados e pobres I
No Jornal de sciencias mathematicas, physicas e naturaes estão pu-
blicadas algumas listas das aves e reptis, principalmente do vasto reino
de Angola, enviadas pelo naturalista J. Anchieta; com respeito á ilha de
S. Thomé apenas encontrámos as espécies indicadas no n.^ 2 do mesmo
1 O facultativo do quadro n*esta ilha nao pôde sair da cidade sem licença; tem
numerosos corpos de delícto que Ibe exigem a assistência, tem os navios qne po-
dem chegar ao porto de um instante para outro, e o serviço clinico do hospital ó
diário. N*estas circumstancias que fazer?
2 Introducção á lista dos reptis das possessões portuguezas da Africa Occiden-
tal que existe no museu de Lisboa, por J. Y. Barbosa du Bocage, Jornal de stcien-
cias nuUhematicas, physicas e naturaes, publicado sob os auspicies da academia
real das sciencias de Lisboa, n.*" i, novembro de 1866, pagina 39.
(Hl
jornal, de i8fi7, as qnaes existem no museu de Lisboa. São valiosos estes
trabalhos, e lemos d^elles conhecimento porque o seu auclor, o sr. J. V.
Barbosa du Bocage, nos offertou os números em que publicou as referi-
das listas; se assim não fosse talvez os desconhecêssemos.
cOs trabalhos d'estes naturalistas deviam ser impressos, pelo menos,
de seis em seis mezes, dizíamos nós na pagina 259 do relatório de 1869,
de outro modo só tira proveito d'estas explorações um ou outro indi-
víduo que possa estudar as coliecções remettidas para Lisboa.» E pen-
sámos ainda do mesmo modo, pois entendemos que só a máxima publi-
cidade tornará bem conhecidas as riquezas das nossas possessões : ganha
com isso a sciencia.
Vé-se pois que ha muito a fazer para a exploração, estudo e classiR-
cação dos animaes que habitam a ilha de S. Thomé.
Têem-se aclimado ali muito bem os bois, os carneiros, os cavallos, os
c^es e os porcos, e é muito útil que se empreguem todos os meios possi-
veis para que estes mammiferos augmentem e se espalhem na ilha.
As cabras também se aclimaram e reproduzem-se maravilhosamente;
o seu leite é bom e útil, assim como o da vacca, que é mais raro.
O bicho da seda ou phalena da amoreira deve ser introduzido nas fa-
zendas da Cachoeira, Monte Café, Alto Douro, Sacavém, BemRca, Ma-
cambrará, Plato café. Quinta das Flores, etc.
A distribuição geographica dos animaes prova indirectamente que o
homem tem única origem, e se é cosmopolita conserva sempre as formas
do centro commum d'onde partiu.
Nos poios predominam os molluscos, os peixes e os insectos, nos tró-
picos os leões, os tigres, e em Qm os animaes maiores, mais elegantes e
formosos; o homem originário da Ásia, isto é, de um centro médio a res-
peito dos climas frigidos e tórridos, não adquire formas bellas, elegantes
e agradáveis nos trópicos, pelo contrario torna-se fraco e esverdinhado;
se é branco chega a perder a sua cõr, a qual de séculos para séculos se
transforma em parda, negra, cobreada, etc.
Phenomenos particulares se observam também nos climas frigidos.
Os macacos não podem viver para lá dos trópicos ; produzidos nos cli-
mas quentes ali téem a sua localidade própria sem a poderem ultrapassar.
Se os animaes estivessem nas mesmas condições do homem, seria in-
classificável o seu procedimento a respeito d'elles.
Os homens procuram obter raças puras de animaes, destroem umas,
protegem outras, educam-nos para lhes serem proveitosos, e matam um
grande numero d'elles para a sua alimentação. E poderiam obrar d'este
modo sem que as leis da natureza o permittissem?!
O assumpto é vasto, e levar-nos-ia muito fora dos limites do que nos
618
propozemos tratar, e por isso repetiremos apenas que os homens podem»
segundo as leis da natureza, fazer dos animaes tudo o que desejem em
seu proveito particular e da sociedade em geral.
c E Deus creou o homem á sua imagem e disse-lhe : Senhorea sobre
os peia^es do mar, sobre as aves do céu e sobre todo o animal que se move
sobre a terra.» (Génesis, cap. 1.®)
Pelo que deixámos dito vé-se claramente o quanto o solo da ilha de
S. Thomé produz, e muito mais valiosos seriam os lucros a auferir se se
cuidasse da sua exploração com o methodo e com as precauções que a
sciencia aconselha.
^
CAPITULO XYI
Reino hominal
Os homens, p«la estrnetnra, pela força que os ani-
ma e vivifica, são inteiramente dilTerentes de todos os
onlros seres; constituem um grupo com caracteres dis*
ti netos e exciQsivos, devendo por isso formar um reino
Á parte — o reino homiotl.
(Relatório de 1869, pagina S73.)
Origem. — Doutrini de L. Agassiz; theoria de Darwin; exame critico.— Unidade do género humano. —
Dispersão e forma-lo das raças; sua reunião nas planicies banhadas pelo Tigre e Euphrates.— Ca*
racteres dislinctos e exclusivos no reiuo hominal.
Para darmos uma demonstração bem fundamentada da divisão dos
seres que povoam a superfície da terra em quatro grandes reinos, são ne-
cessários elementos que não é possivel obter n'uma ilba como a de
S. Thomé, onde apenas se encontram poucos europeus, alguns america-
nos e asiáticos entre muitos africanos. É todavia certo que, sem preten-
dermos resolver a questão da origem do homem, podemos entrar D'ella,
dizendo o que pensámos a tal respeito.
Começámos, pois, por observar que os africanos que povoam as ilhas
de S. Thomé e Príncipe são muito similhantes aos europeus*. A elegância
de formas, o rasgado dos olhos, a disposição da testa e o porte agradá-
vel, apparecem igualmente n'uns e n'outros.
Não serão certamente os ângulos de Gamper, a modificação dos pés,
a grossura dos lábios, a saliência dos seios maxillares que hão de servir
* O npgro de Guiné, depois de passar para a America, approxima-se do branco,
não só quanto à côr da pelle, mas também relativamente ao craneo e á intelligen-
cia; perdeu, alem disso, o cheiro característico da sua raça.
É um facto do domínio da sciencia, que o negro independentemente do cruza-
mento com o branco, mas vivendo no meio d'elle, sob a acção do mesmo clima e
com alimentação quasi idêntica, approxima-se do branco um grau por cada gera-
ção, (í^ Darwinísnie, par Émile Ferrière, 1872, pagina 392.)
6S0
para so pôr cm relevo a dilTerença enlre os indígenas das ilhas de S. Tho-
me e Principe e os europeus que as habilam^
A primeira vista acode logo á mente a idéa de que pretos e brancos
são irmãos. Mas os cafres, liottentotes, malaios, esquimaus e outros indí-
viduos que elevam alterosa a cabeça, olhando sobranceiros para a terra
e procurando dominar o espaço, estarão no mesmo caso em que se acham
ali os pretos e os brancos?
As nossas considerações téem forçosamente de ser resumidas. Repre-
sentam antes um voto do que uma demonstração. Cumpre-nos, porém,
explicar o motivo que nos levou a estudar similhante assumpto e as ra-
sões que temos para dizer que a verdadeira doutrina acerca da origem
do homem é aí&rmada pelos monogenistas^. Antes, porém, de entrar na
parte principal da questão, parece-nos de alguma vantagem reproduzir
aqui o que a tal respeito expozemos no relatório do serviço de saúde re-
ferente ao anno de 1 869 ^.
Eis-aqui o que ali se lè:
I
ff A historia natural estuda o homem, os animaes, os mineraes, os ve-
getaes. E importante este estudo, e. postoque não seja compativel com a
> As ilhas de S. Thomé c Principe estavam despovoadas na epocha em qoe fo-
ram descobertas.
2 Ao desembarcar na ilha do Principe, em 30 de setembro de 1867, mal jul-
gávamos que íamos encontrar um preto no logar de escrivão do adjunto da fa-
zenda publica. Na primeira conversação que tivemos, mostron-se agradável e re-
velou íntelligencia clara. A cabeça era bem feita, e o rosto bem desenhado. Inspi-
rava sympathia.
As nossas relações estreitaram -se durante a nossa estada na ilha e fomos sem-
pre amigos. Este acontecimento, tão simples na sua essência, dispoz-nos todavia
para examinar uma questão em que havíamos entrado no tempo de estudante, mas
sobre que não tínhamos idéas bem definidas.
Devemos, porém, confessar que a nossa posição de empregado publico nio nos
permíttia estudar um assumpto que demandava observações muito especiaes e para
as quaes não nos sobrava tempo. Perguntávamos muitas vezes a nós mesmos se os
pretos teriam a mesma origem dos brancos, ou se teriam sido creados em epochas
e em logares differentes. Formulávamos d' este modo uma parte da questão acerca
da origem do homem, e não podíamos chegar a qualquer resultado sem estudar os
factos. Não o tendo podido fazer, cumpria-nos examinar os trabalhos dos homens
de sciencia que se tivessem occupado do assumpto. Aqui apresentámos os primei-
ros delineamentos do nosso estudo em tão importante questão. É apenas um en-
s^iio.
3 Estivemos na ilha do Príncipe desde 30 de setembro de 4867 até melado do
anno de 1868, em que passámos para a de S. Thomé.
mi
extensão de um relatório, julgámos necessário mencionar o que a scien-
cia tem ensinado a seu respeito.
cDe todos os problemas da sciencia humana, aquelles que téem o ho-
mem por objectos sao os que em todos os tempos offerecem grande e
importantissimo interesse.
ff Para uns, o homem è um reino da historia natural, e para outros,
uma classe. Ha quem o considere uma ordem dos mammiferos, um gé-
nero e até uma espécie do mesmo género, na qual entram outras espé-
cies de animaes 1 1
«La Metbéríe disse:
ff O homem é a primeira espécie do macaco, e, sendo organisado como
elle, tem os mesmos costumes, os dos frttgiveros.i^
ff A consciência própria falia mais alto do que taes discursos e pala-
vras.
ffA dignidade de cada um repelle immediatamente comparações, que,
nem brincando, se podem admitlir. Se em tal assumpto fosse necessário
invocar a opinião de homens auclorisados, recorreriamos á de quem con-
siderou o homem sem igual, ouviríamos Línneu :
ffO homem é uma intelligencia, servida por órgãos, movidos por um
agente dynamico ; não está n'este caso nenhum outro ser da natureza.
ff As descobertas a respeito da natureza e das suas leis, e o conhe-
cimento dos seres que ella contém, levam e dirigem naturalmente as
investigações para o homem, o mais perfeito ser de toda a creaçUo,
e marcam-lhe, por assim dizer, o seu logar, o seu principio e o seu iim.
«O homem está collocado na grande e extensíssima cadeia dos seres
organisados. Carus fez d'elle uma só classe ; considerou-o a synthese de
todo o seu quadro zoológico. Daubenton considerou-o o rei dos três rei-
nos da natureza, por não achar n^estes logar para elle.
ffEnlre humanidade e animalidade está um abysmo ; não ha meio ter-
mo que possa fazer a transição.
«O orangotango, reputado o ser mais perfeito das famílias dos maca-
cos, está tão afastado da espécie humana, quão próximo ás outras espé-
cies da mesma família. Assim o escreve com muita rasão Macedo Pinto,
hygienista portuguez.
tOs homens, pela sua estruclura, pela força que os anima e viviGca,
são inteiramente differentes de todos os outros seres; constituem um
grupo com caracteres distinctos e exclusivos, devendo por isso formar
um reino á parte, o reino hominal.
^ Homo sapiens, creatorum operum perfectísâimom, ultimam et sammum.
(Linneu.)
b
622
cO reino bominal não tem entre os seres creados, nem espécie vizi-
nha, nem consanguínea, verdade luminosa e bem assente inoculada no
espirito de cada pessoa. Só a lembrança de consanguinidade entre um
homem e um animal, um c9o por exemplo, surprehenderia a imaginado
mais fecunda em hypotheses, porque o sentimento de que o homem con-
stitue um reino exclusivo, independente, com leis próprias, com ordem,
harmonia e unidade, é natural, profundo, innato no coração de todos ; é
sentimento universal e absoluto.
cEsta simples, mas poderosa consideração, não é a principal.
«A espécie propriamente animal foi, é, e será sempre a mesma ; não
é susceptível de perfectibilidade, nem de progresso, e de per si só não é
capaz de cousa alguma. Não queremos dizer com isto que os animaes se-
jam irracionaes.
cO homem é um ente racional, mas um cão, por exemplo, não é um
ente irracional ; é erro que deve ser banido da sciencia.
tQualquer animal é susceptível de se aperfeiçoar; a espécie, não.
cSe um animal pôde individualmente aprender e receber certa in-
strucção, não é capaz de a transmittir aos outros.
cSe assim não fosse, o que seria do homem?
«Poderia acaso resistir a uma alliança de todos os animaes con-
tra si ?
«Deus disse:
^Façamos o homem d nossa imagem e similhança, e senhoreie sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre o gado e sobre todo o reptil
que se move sobre a terra, i^
«Da palavra sagrada se conclue que os animaes não podem lígar-se
contra o homem; pelo contrario, servem-lhe de pasto.
«Dos animaes pôde dizer-se : a geração de hoje será a de amanhã.
«O homem é capaz de progresso, tem reflexão, essa suprema facul-
dade, que não é mais do que a acção do espirito sobre o espirito; e note-
se, possue um completo e perfeito meio de transmissão.
«Do estudo do espirito sobre o espírito nasce o methodo ou arte que
elle não tem e desconhece absolutamente, e por elle é que o homem pôde
descobrir, inventar, comparar, imitar e progredir I
«O espirito de todos os homens é um só espirito universal e único,
que se continua de geração em geração e não acaba ; teve principio e não
tem flm. E na verdade o espirito é único em todos os homens e em to-
dos os tempos.
a Apresenta-se esplendido em Homero, em Virgílio, em Camões, etc,
etc.
«Quatrocentos annos antes de Jesus Ghristo fallou HippocrateS) o
683
creador da medicina. A palawa do sábio de Cós, pronunciada ha dois mil
duzentos sessenta e nove annos, passou através dos séculos e chegou até
nós, revelando-nos muitos princípios da sciencia medica, que se acceitam
como se fossem escriptos em nossos dias 1 1
«E não provará isto a nossa asserção?
cUma geração faz uma descoberta ; a nova geração continua, engran-
dece e aperfeiçoa essa descoberta. Porque?. . •
c Porque o espirito é um e único em todos os homens e em todos os
tempos.
«Pela sua natureza própria e exclusiva, pelo conhecimento do es-
pirito pelo espirito, da rasão pela rasão, tendo por base a consciên-
cia, o homem eleva-se ao intellectual, á rasão primitiva de tudo — a
Deus.
cE que se passa de similhante entre os animaes?
ff A natureza humana é formada por uma dualidade — matéria e es-
pírito, bem e mal, attracção e repulsão, saúde e doença, geração e des-
truição, corrupção e vida I A natureza humana é composta, finalmente,
de corpo e alma.
ff Ora o espirito é único e indivisível, e está em toda a parte, assis-
tindo igualmente ao que se passa, e ãca-lhe depois o direito de julgar.
ffPara o espirito não ha limites; a intelligencia do homem não se en-
cerra, como a dos animaes, nos limites d'este globo ; deixa o visível pelo
invisível, e despindo-se da matéria, vae perder-se nas contemplações do
infinito. N'um só ponto reúne o homem as maravilhas da natureza e as
profundidades do abysmo ; n'esse ponto, e ao mesmo tempo, vê reunido
o que ha de grande, immenso e real ; ha ali um pequeno mundo, um mi-
crocosmo I Tal é o poder da imaginação.
cE será esta faculdade uma secreção do cerebroj como querem al-
guns?
tNão, com certeza.
«Não ha em nós quem contradiga e condemne os pensamentos e as
paixões más?
«É ou não real a consciência?
«Gomo pôde ser propriedade da matéria o sentimento do infinito^
que nem o tempo nem o espaço contém ?
«Como pôde ser propriedade ou secreção dó cérebro o sentimento do
bello, que não tem modelo no mundo ?
iComo se pôde comparar ás correntes eléctricas, o sentimento moral
que combate as nossas paixões ?
ff Quem explicará a natureza intima da consciência, que nos condemna
ou absolve?!
«U coração e o cérebro são o theatro de grandes maravilhas. Como
explíar pelas propriedades da matéria cousas tão oppostas e diversas —
prazer e dor, amor e ódio, amisade e desprezo?
«Como se podem admittir para tão variados productos os mesmos fa-
ctores?
cSe os elementos da substancia cerebral dão, n'um instante, amor,
como é que esses mesmos elementos, n'esse mesmo instante, produzem
rancor e ódio? ,
Q Como se poderá explicar pelo numero dos elementos materiaes do
cérebro e pelas suas propriedades, a existência d'essa potencia que me
leva, por meio do meu braço, a reproduzir n^este papel o que se passa
dentro em mim, coordenando os conhecimentos adquiridos na leitura dos
mestres da sciencia?
«Bem demonstrado fica que o homem deve ser estudado pbysica e
moralmente.
«Para ser moralisado apresentam-se os exemplos do bello, da ver-
dade, da virtude e do bom. O homem inclinado á imitação eleva-se, e se-
gue com passo firme na senda do f)rogresso e da civilisação.
«O homem physico, porém, para se purificar e aperfeiçoar, tem de
attender á acção combinada do ar, das aguas, dos logares, das subsis-
tências e de mil outras circnmstancias, que deve conhecer para as saber
aproveitar ou para saber fugir d'ellas.
« Pertence esta parte á hygiene, e aqucUa á physiologia moral. >
II
cTem-se escripto muito acerca do importante assumpto — unidade
ou multiplicidade da espécie. Não discutimos este ponto para defender os
textos biblicos, nem para repetir a ultima palavra da sciencia. Apresentá-
mos as nossas observações, unindo-nos áquelles que proclamam a uni-
dade de origem no reino hominal.
cOs usos e os costumes modificam muito as formas do corpo huma-
no, de pães a filhos, de filhos a netos, e assim por diante se vão transmit*
tindo essas modificações. Não é preiciso fazer uma historia etbnographica
minuciosa para se conhecer que entre as famílias que povoam a terra não
ha différenças profundas, absolutas e exclusivas.
a Os pés, as cadeiras j os beiços, o nariz e a forma da cabeça variam
muito dos brancos para os pretos, e até de pretos para pretos. São cara-
cteres exteriores e accidentaes.
cAs articulações podem modíficar-se á maneira que a creança cresce.
Ru, tahii dl Piiia Rti e iiatiita;3ii da fuendii Agui-Iié, U kilometids disiaus dâ cidade.
685
£ pela educação que o arlequim faz ás pernas e aos braços o que nao fa*
ria sem risco de os quebrar quem n3o estivesse educado.
<A tracção constante das orelhas e dos beiços toma-os maiores; a
falta de cuidado com a cabeça torna-a defeituosa e até desastrada; o
mesmo acontece com os pès. S^be•se que ba povos que tornam os pés
das mulheres tão pequenos que ellas mal podem conservar-se em' posição
vertical I
ff A cõr da pelle varia do preto ao branco por difiTerentes gradações de
cores, segundo as latitudes. Os phenomenos meteorológicos e geológicos
reunidos actuam so{)re o homem fazendo dominar mais uns elementos
do que outros. Entre os europeus encontram-se casos bem distinctos,
nâo só na cõr, mas até no systema nervoso, no sangue, músculos, etc,
etc. O que dizemos das partes physicas, verifica-se nas qualidades mo-
raes.
«Na ilha de S. Thomé deparam-se pretos bem apessoados e pretas
formosas ; os nativos de Gabo Verde são mais claros que os da ilha de
S. Thomé.
ff A classificação dos indivíduos que constituem o reino hominal, as-
senta portanto em caracteres exteriores, muito variáveis. Não são exclu-
sivos de um povo ; são o resultado das modificações dos climas, que
actua constantemente e de um modo muito enérgico sobre as funcções
da pelle e sobre alguns dos órgãos essenCiaes á vida ; é o resultado
da educação, dos usos e dos costumes, modificadores poderosos da forma
de muitos órgãos.
<iOs negros occupam uma grande parte da Africa. A sua cõr não é
igualmente negra, os lábios não são grossos e salientes em todos os po-
vos d esta região : o nariz, se é muito chato n'uns, n'outros apresenta
uma forma regular, etc, etc.
«Se pelos caracteres exteriores provenientes da acção dos climas e
(los usos e costumes das familias, querem alguns naturalistas classificar
dílTerentes raças de individuos com origem própria, independentes, hão
de forçosamente admittir que a própria raça negra teve origens múlti-
plas, e tantas quantas as diíTerenças exteriores que se notam na cabeça,
nos cabellos, na còr, no rosto, nos pés, nas bacias, que são enormemente
Iwrgas em algumas pretas.
a Transplantem os negros para os climas temperados, e os brancos
para os climas da Africa, e observarão no fim de alguns séculos um cjua-
dro inverso d*aquelle que se observa no século actual.
a Os factos que auctorisam estas asserções sobrosaírão muito com o
progresso e civilisação de Africa, estreitando-se as relações entre os po-
vos de Angola e Moçambique e a nação portugueza.
40
628
«Com o andar dos tempos veremos os brancos estabelecerem-se em
muitos logares dos trópicos e os negros nos climas temperados; o que
hoje parecerá utopia, será então realidade. O estudo comparado dos dif-
ferentes climas inter e extra tropicaes está pouco adiantado ; mas é já
incontestável que as febres paludosas faltam n um grande numero d*elles,
e que a aclimação é realisavel nas localidades não palustres.
cA unidade da origem, a existência absoluta, independente, de todos
os seres creados, animaes, mineraes e vegetaes, e a sua creaçao divina
constituem problemas importantes que se estudam em zoologia, anato-
mia comparada, physiologia o ethnographia. Não cabe nos limites de um
relatório a discussão ampla a respeito d'estes assumptos, e ainda menos
o seu desenvolvimento scientifico. O conhecimento que temos dos ho-
mens pretos e brancos, as idéas que se advogaram n'este paiz suppondo
o preto como um animal, determinaram-nos a fazer algumas considerações
acerca da natureza do homem, do seu logar na terra e da sua missão. Não
resolvemos, indicámos.
«O espirito humano tem poder para realisar grandes descobertas
uleis á perfeição do homem, tanto individualmente como em conmium;
6 um só em todos os homens, em todos os tempos e em todos os logares.
A origem foi a mesma para todos. Gonserva-se o espirito em gérmen
quando lhe falta a educação, a comparação e a imitação; três poderosas
alavancas que arrancam do esquecimento o filho do pobre humilde ou fa-
zem universalmente conhecido quem nasceu ignorado.
«O que se dá entre os brancos vae acontecendo entre os pretos, e
pode verificar-se n'um homem de qualquer paiz.
cÉ impossível admiltir origens diversas do homem, dando-se um es-
pirito susceptível de se educar e de produzir maravilhosas descobertas,
podendo ser continuadas, aperfeiçoadas por differentes homens, em di£fe-
rentes tempos e em diversas regiões do mundo.
cA origem do reino hominal não pôde de modo algum ser múltipla.
O homem pelo pensamento pôde livrar-se por momentos da matéria, e
elevar-se a outras regiões e observar do alto o que se passa na terra que
elle vé, notando em todas as suas diversas partes a harmonia e a unidade
que se enlaça e domina. Reconhecem esta fóculdade do espirito todos os
materialistas. O auctor da força e matéria ministra os principaes argú^*
mentos em favor das nossas asserções. É o que demonstraremos em tra-
balho especial. 1»
Origem do homem. — Gumpre-nos expor as theorias ou doutrinas dos
sábios que se téem occupado d'este assumpto, e faremos depois as apre-
ciações que nos parecerem mais adequadas. Bem sabemos que a solução
627
doeste importante assumpto não é fácil, poisque se de um lado está Darwm
e os seus sectários, do outro levanta-se o voz de Emiie Ferrièrei Fois-
sac e outros que se declaram monogenistas, e demonstram á saciedade
que a espécie humana tem uma origem única, independente*
Não são poucos os sábios que tratam d'esta questão na sua verda*-
deira altura. Está sem duvida n'este caso Emile Ferrière, o qual, de-
pois de analysar com imparcialidade a theoria do naturalista ínglez, diz
o seguinte: «O que tem prejudicado a theoria de Darwin são as exage-
rações dos seus partidários, á frente dos quaes se acha Ernest Haec-
kel*.
Para se fallar acerca da origem do homem é indispensável conhecer o
que ó espécie orgânica, base de toda a classificação *. É sobre este ponto
que assenta a discussão, e não podemos deixar de indicar as idéas a tal
respeito apresentadas por dois dos naturalistas mais eminentes que se
têem occupado doeste grave assumpto. Referimo-nos a L. Agassiz e a
G. Darwin. Não è indifferente também a opinião dos naturalistas que
com mais cuidado téem tratado a questão. Aqui inscrevemos as d'aquel-
les que se podem considerar mais distinctos '.
Espécie orgânica segundo Buffon^. — Este eminente naturalista diz
que a espécie orgânica tem por base uma funcção e não a forma, a pby-
síologia e não a anatomia. O caracter positivo da espécie é a fecundidade
continua. É esta propriedade que dá a unidade e a realidade da espécie,
assim como determina a fíxidade e constância. Deve reputar-se como a
mesma espécie aquella que se perpetua por meio da geração conser-
* Ilistoire de la création ães êtres organisés d'aprê$ les lois naturelles, par
Ernest Haockel, traduite de Tallemand par le docteur Gh. Letoumeau, 1874.
Esta obra appareceu pela primeira vez em i868. Gomprebende as conferen-
cias feitas durante o inverDo de 1867 a 1868, e não foi precedida dos trabalhos
preliminares a que Darwin se soccorreu para levar a cabo o seu trabalho. Um
estudou a natureza, outro examinou principalmente os livros dos naturalistas, in-
terpretando-os a seu modo. Nas viagens e estudos a que se entregou Ilaeckel ia
preoccupado dos princípios que desejava demonstrar, poisque jà na idade de doze
annos, segundo um dos seus biographos, tinha duvidas acerca da existência e le-
gitimidade das espécies, O observador deve estudar os factos sem a menor preoc-
cupaçâo. A phanlasia individual, observa um esclarecido escriptor, a imaginação,
as idéas preconcebidas são muitas vezes causa involuntária de grandes erros, e fa-
zem sempre ver as cousas sob um aspecto de vista diiTerente do qne ellas téem na
realidade.
2 Tornar-se-iam demasiado extensas estas considerações se quizessemos fallar
também a respeito da variedade do género e cruzamento das raças.
3 Seguimos a disposição que se acha no diccionario de Larousse a que nos
referimos.
4 BuíTon mudou de parecer.
vaiido a simiibança d'essa espécie e como espécies diflferentes as que
pelo mesmo meio não podem dar producção.
A espécie d'este modo Gca claramente designada. Assim, todos os in-
díviduos que produzem outros indivíduos simílhantes são da mesma es-
pécie. O homem está n'este caso. Tem uma origem única, poisque os
homens de todos os grupos, de todas as regiões e de todas as cores
misturam-se e produzem indivíduos simílhantes entre si e aos progeni-
tores.
Espécie orgânica segundo Cuvier. — Este eminente sábio pertence á
escola positiva. Defende a estabilidade da espécie que, segundo sua opi-
nião, comprehende não só os indivíduos que descendem uns dos outros
ou de pães conmiuns, mas também aquelles que se lhes assimilbam tanto
quanto elles se assimilbam entre si. A natureza, observa o sábio natura-
lista, impediu a mistura das espécies, desenvolvendo n'ellas mutua aver-
são.
D'este modo não se alteram as espécies, conservando-se sempre inde-
pendentes. O que, porém, é um facto incontestável na espécie hominal,
deixa de o ser nas differentes espécies animaes, o que prova que entre
humanidade e animalidade ha um abysmo insondável.
Espécie orgânica segundo Flourens. — Para este naturalista a espécie
é caracterisada pela fecundidade contínua. A idéa de similhança é apenas
um accessorio e não serve para definir a espécie ^
Espécie orgânica segundo M. Quaírefage. — Este naturalista diz que
a espécie tem alguma cousa de primitivo, de fundamental. A espécie, se-
gundo este sábio, é a reunião de todos os indivíduos, mais ou menos si-
mílhantes entre si, e que descendem ou podem descender de um par pri-
mitivo, único, por meio de uma successão ininterrompida de família.
Esta definição é, na sua essência, como a de Cuvier. A filiação é o
caracter da espécie.
Espécie orgânica segundo L Agassiz. — Este eminente naturalista
rejeita não só a definição e parentesco, mas também o systema de uni-
dade originaria de cada espécie segundo uma origem commum, um par
primitivo.
A espécie, segundo este sábio, não tem realidade, a realidade está no
individuo. Os indivíduos não formam a espécie, representam-na tempo-
rariamente. A espécie é, pois, uma entidade ideal. Existe emquanto não
^ Flourens procura determinar ou precisar as relações que ba entre a idéa de
espécie, género e raça, A fecundidade contínua, segundo este sábio naturalista, ca-
racterisa a espécie, c a fecundidade limitada designa o gcnero. A perbereditaríeda-
de, isto é, a propriedade de berdar as variações adquiridas, determina a raça.
«29
flesapparecom os indivíduos que a represenlam. Mr. Agassiz admille as
creaçôes snccessivas; e se os indivíduos da mesma espécie se ajuntam na
procreação é porque a natureza os formou para isso e n3o para lançar os
fundamentos da sua espécie.
O naturalista suisso tem um modo de ver muito especial a respeito
da creação. Não admitte a unidade da composição orgânica, nem a varia-
bilidade das espécies, nem a unidade da creação. Âs raças humanas, se-
gundo Agassiz, são formas distioctas, primordiaes do typo humano.
Espécie orgânica segundo Lamarck e Ur. Darwin. — Segundo estes
naturalistas a espécie orgânica não tem um caracter primitivo, absoluto,
constante. Resulta, pelo contrario, das variações progressivas accumula-
das no mesmo individuo. A espécie representa por assim dizer um mo-
mento da evolução vital que vae estabelecendo as diíTerenças entre os ser^s
vivos, e separando-os uns dos outros. A variedade n'este caso é uma es-
pécie nascente.
As divergências que se notam entre os naturalistas que acabámos de
citar não são totalmente difTerentes. Definem a espécie segundo a impor-
tância que ligam a um ou a outro dos caracteres por que a podem distin-
guir. Tomam por base idéas subjectivas e não a realidade objectiva, os
factos palpáveis. Agassiz, porém, tornou-se notável pela originalidade da
sua opinião, mas não chamou a attenção do mundo scientifico, como a theo-
ria de Darwin. Esta tem sido largamente discutida e merece detido exame.
O naturalista inglez Carlos Darwin no seu importante livro : A origem
das espécies por meio da selecção natural mi luta para a eocistencia em a
natureza^ revela grande saber e elevado estudo. A sua theoria, porém,
vale mais pelas leis naturaes que n^ella se contém, do que pela conclusão
a que se quer chegar. Mas, justo é confessal-o, o trabalho do sábio natu-
ralista acha-se exposto com toda a clareza. Ha ali verdades inconcussas,
a argumentação é leal e vigorosa. Aquella robusta e potente intelligencia
não é de certo a modificação de um macaco, nem a transformação de um
cao. As forças naturaes não produzem, não geram indivíduos que as do-
minem, expliquem, prescrutando-lhes os mysterios, dizendo o que ellas
valem e dando-lhes direcção. Se o homem fosse creado pela natureza
não seria composto da alma, cujas faculdades illuminam o mundo. A ele-
ctricidade é maravilhosa, mas sem a mão do homem seria inútil. A ve-
getação é esplendida, mas se o homem não a devastasse, se não trans-
pozesse as sementes de um para outros logares, se não substituísse
í Uorifjine des espéces an moyen de la Rélectim natnrelle mi la hitte pmtr
Vexisltnce dam !a mature, par f.harles Darwin, M. A., F. R. S., traduit sur ia si-
xií^ine étliiion anglaise, par Ed. Barbier, 1876,
630
umas arvores por outras, a terra seria uma mata immensa, para que niD*
guem olhava. Os cavallos que servem de meio de couducção do homem,
os cães que lhe servem de companheiros e até de amigos, os bois que
lhe dão alimentos, assim como as aves e os peixes, podem acaso adquirir
uma alma sob a influencia das forças naturaes?. . .
Mas deixemos estas considerações, e passemos a faltar do celebre na*
turalista inglez.
Nasceu em Sprewsbury no anno de 4809, e aos vinte e dois annosde
idade obteve o grau de doutor em sciencias naturaes. Foi logo em seguida
admittido na qualidade de naturalista n*uma expedição, tendo occasião
de visitar o Brazil, o estreito do Magalhães, a costa occidental da America
do Sul e differentes ilhas do oceano paciflco. Regressou doesta viagem no
anno de 4837 ^ Impressionára-o, durante a exploração dos territórios em
que tocou, o modo por que se acham distribuidos os seres organisados
que povoam a America do Sul. Resolveu, pois, estudar os factos que
observara com toda a attenção, e não se tem poupado a trabalhos nem a
fadigas para o conseguir.
No fim de cinco annos de aturado trabalho formulou os primeiros
delineamentos da sua importante theoria, e em 1844 transformou as suas
observações n'uma memoria em que indica os resultados dos seus es-
tudos.
São indispensáveis estas informações não só para conhecer o sábio
inglez, mas também para lembrar que as obras d'aquella ordem não se
escrevem em pouco tempo.
Publicada a memoria a que nos referimos, sete annos depois da via-
gem e oito depois de concluir o curso de sciencias naturaes, Darwin con-
tinuou o estudo com assiduidade, e no fim de vinte e dois annos dava á
luz o seu livro sobre a origem das espécies e fazia uma ftvolução em
sciencias naturaes.
Propoz-se sustentar que as espécies animaes e vegetaes não são im-
mutaveis. Mostra-se convencido de que as espécies que pertencem ao
mesmo género descendem directamente de outra espécie extincla, assim
como as variedades reconhecidas de uma espécie, qualquer que ella seja,
descendem directamente d'essa espécie. Diz o sábio naturalista, flnalmente,
que a selecção natural representa o principal papel na modificação das
espécies, não devendo esquecer a influencia que outros agentes exercem
também.
Doeste modo estão definidos os campos. Não ha meio termo. Enlra-
1 Em Laronsge dá-se a chegada do dr. Darwin no anno de i836; masnao|)r3
supracitada diz o auctor que chegara no anno de 1837,
631
remos, pois, na questSo examioando os argumentos que se apresentam
de um e de outro lado, e acceitaremos a que nos parecer mais conforme
á sciencia, á ras3o e á verdade.
Devemos notar, antes de seguir mais adiante, que o próprio Darwin
confessa que, por muito tempo, acceitára a opini&o geralmente seguida de
que cada espécie tem uma creação independente, um principio determi-
nado, uma origem única.
Vira-se, porém, obrigado a mudar de opini5o, procurando demons-
trar que a natureza tem em si o poder de crear. A doutrina de tão emi-
nente naturalista fez epocha, e s3o numerosos os seus sectários, para os
quaes o Deus da creação ó a selecção natural. É um Deus.
Pela nossa parte reputámos a selecção natural como a expressão de
um facto, mas não como uma força capaz de tirar alguma cousa do nada«
A Iheoria de Darwin não tem o consenso geral, e outros homens aba-
lisados apresentam argumentos completamente dilTerentes sobre a ori-
gem do reino bominal.
O dr. Foissac escreveu, em 1873, o seguinte:
«Quoique des novateurs insensés aient prétendu le contraire, il
n'exíste pas une moindre séparation entre les diverses classes d'animaux
qu'entre ceux-ci et Thomme. Les espèces sont stables, immuables.»
Este sábio medico é ardente sectário da conservação ou immobilidade
de cada espécie com seus caracteres physicos e moraes. N'i8to consiste a
lei da hereditariedade. Mas se o dr. Foissac se exprime d'este modo,
Émile Ferriòre demonstra á saciedade que os homens tem uma origem
única.
Diz Émile Ferrière:
«O que separa os monogenistas e os polygenistasé a maneira por que
elles encaram a espécie *.»
Os monogenistas dizem que a espécie tem por caracter essencial a fl-
liação; é a espécie physiologica. Os polygenístas tomam para base da de-
finição de espécie a estructura e a forma; é a espécie morphologica.
1 A discussão entre os monogenistas e polygenístas, diz Émile Ferrière, tem
sido acalorada. Envolveuse no principio com uma questão religiosa e com uma
qm^stão social.
Como a Bíblia ensina que os homens descendem de Adam e Eva, os que se-
guem a doutrina da Bíblia íizeram-se monogenistas; os que atacavam aquelle livro,
por um sentimento de hostilidade, adoptaram a opinião dos polygenístas.
Os partidários da escravatura, na America, sustentaram o polygenismo, a fim
d(i rollocar os negros, suas victimas, n*uma espécie inferior. O negro não era ir-
mão do branco, era uma espécie de intermediário entre o branco e o bruto, de-
vendo ser tratado como os outros animaes,
632
A espécie é única, e as variedades qne n'eila ha s?io o resultado dos
climas. A espécie humana viaja e nlo emigra, colonisa, adapta-se ao cli-
ma, o que nâo acontece em geral aos animaes.
Dhpersio e foriiiaçio das raças*. — Se podesse ser admittida a plurali-
dade de origens, seria preciso provar que em differentes pontos da ter-
ra, em condições de temperatura mui diversas, appareceram indivíduos
com brilhantes faculdades affectivas e íntellectuaes.
A hypothese mais racional é que o primeiro homem foi creado em
alguns dos pontos da antiga Média e collocado no golfo pérsico nas plani-
' cies regadas pelo Eufrates e Tigre, que ali se formou a primeira familia,
e os seus descendentes occuparam os terrenos que se estendem ao orien-
te, até ao mar Vermelho, e ao occidente até ás margens do Oxus que des-
agua no mar de Arai.
Eram então desconhecidos os processos, ainda os mais elementares,
da agricultura, e os rebanhos, principal riqueza d'aquelle tempo, torna-
1 Temos diante de nós um folheto, cujo titulo é assim designado : Ensaio de
philosophia anthropologica. i* Tasciculo. Agentes de transformação e classiíieaçào
das raças humanas. Coimbra. 1875. É seu auctor Pedro Gastão Mesnier, o qoal
começa o seu escrípto por estas palavras: cDepois de ter vivido durante bastante
tempo em contacto com muitas variedades da espécie humana, julguei dever apre-
sentar ao publico o resultado dos meus estudos e observações sobre alguns assum-
ptos anthropologicos. Creio que as leis principaes que deduzi, se encontrarão enun-
ciadas pela primeira vez n'este trabalho, e espero que a critica e a discussão que
resultarem da publicidade determinarão melhor o seu valor a todos os respeitos.»
Eis-aqui um specimen da doutrina que ali se acha expendida:
cA alteração no uso, isto é, uma modificação tal na direcção do movimento
que resulte ficar o or|âo exposto a uma classe nova de Torças exteriores, produz
modificações mais ou wios profundas.
cA faculdade de prehensão com os dedos dos pés, que subsiste em algumas
raças humanas inferiores, desappareceu totalmente nas raças superiores, modifi-
cando-se certos, músculos do pé quando elle serve unicamente para a locomo-
ção.
cAs differenças notáveis da mão nas varias classes dos mammiferos (differen-
ças que não poderam comtudo fazer desapparecer as analogias) procedem da mo-
dificação de uso. Assim a mão é barbatana na baleia, aza qo morcego, órgão exclu-
sivo de locomoção no cavallOy»orgão mixto de prehensão e locomoção nos macacos
superiores e nas raças humanas inferiores, e órgão exclusivo de prehensão nas
raças humanas superiores.
•Raras são as modificações que se limitam a um órgão único nos homens e
nos animaes. É tal a dependência orgânica das diversas funcções, que uma altera-
ção qualquer n'um ponto vae influir em toda a circumferenda. É sabido que a
grossura dos ossos está em relação immediata com a energia dos músculos que
n*elles se apoiam; e a rasão do desapparecimento do appendice caudal nos maca-
6^3
vam os terrenos áridos, sendo necessário procurar aquelles que apresen-
tavam melhores condições para a vida.
Os homens que acampavam nas locaUdades mais Terteis, lendo melhores
meios de commutiicação, formavam populações permanentes, outros pas-
savam aos logares que tinham melhores pastagens, etc. Passaram á Eu-
ropa uns, e outros para a Africa, e espalharam-se muitos pela Ásia; e
asáim foram occupando diversos pontos, até que no século xix occupam
a superficie de todo o mundo.
As formações de diversos grupos humanos explicam-se, pois, facil-
mente, poisqne são poucas as causas que as determinam.
A origem do homem refere-se a uma região determinada.
eos anthropoides deve-se principalmente á maior frequência da posição vertical,
desenvolvendo-se então os membros inferiores á custa d'esse órgão, que, lendo-se
utilisado para dirigir o movimento na posição recumbente, se tornaria depois no-
civo contribuindo para desequilibrar o animal levantado.
«Como é necessário para a reproducção o concurso de dois entes independen-
tes, segue-se que aquelles característicos que facilitarem esse cx)ncurso serão os
que permanecerão na espécie, sendo transmittidos hereditariamente á prole.
c Assim, particularidades orgânicas, insignificantes para a vida individual, po-
dem ser de uma importância capital para a conservação da espécie, determinando
a escolha dos indivíduos de um sexo assim caracterisado pelo outro. Não ha du-
vida que infinitas parUcularidades orgânicas, das que parecem mais mysteriosas,
são de facíl explicação pela theoria da selecção sexual. Tarde ou cedo o ideal es-
thetico no homem e nos animaes attinge a sua realisação.
« Pôde crer-se que, se todos os homens desejassem unicamente mulheres com
azas, e este desejo se conservasse durante sutHciente tempo, a transformação se
operaria gradualmente. E lembraremos que não deve parecer ^o extravagante esta
supposição, pois realmente existem na natureza animaes em que um dos sexos tem
azas e o outro não.
<Âs difTerenças de forma, que são tão características no mundo animal entre
o macho e a fêmea na mesma espécie, téem a sua origem na escolha esthetica de
um dos sexos. O amor que vestiu as aves da mais brilhante plumagem, também
desenhou as feições da mulher, deu-lhe a sua loura coroa de lonj^os e ondeantes
cabollos, formando-a segundo uma norma de belleza que existe igualmente no
mais humilde insecto e no pintor mais idealista, pois essa norma procede de um
sentimento que pôde variar em quantidade na serie animal, mas que é sempre um
só em qualidade.
c Apresentaremos na forma tabular, para mclhocintelligencia,omododeacção
dos vários agentes transformadores, resumindo os processos geraes, pelos quaes
se produzem, entre outras, essas difTerenças que nos servem para distinguir as
raças humanas.
«Convém observar que, posto appliquemos especialmente ao homem estas con-
siderações, ellas referem-se igualmente a todos os entes organisados, pois jamais
devemos esperar, em questões geraes de morphologia biológica, descobrir leis de
applícação exclusiva ao género humano.»
I
\
634
É innegavel a existência do diluvio universal, o qual modiflcou a
crusta da terra, elevando montes e formando novas correntes de agua.
Nas proximidades do monte Arará estiveram por muitos annos Noé
e os seus descendentes. Se d'esse facto incontestável se pôde concluir
que o paraizo terreal existira ao occidente da Ásia em 34^ de latitude N. e
40° de longitude E., não se negará também que os primeiros povoado-
res da terra occcuparam uma região tropical e d'ali partiram para outras
era que continuaram a propagar a espécie.
Estabeleceram-se finalmente ao N. da Africa, no centro da Ásia e na
parte oriental e meridional da Europa *.
Os povos que seguiram para as regiões frias, receberam as modifica-
ções próprias dos climas por que iam passando. Não chegaram de repente
ao ponto em que hoje se encontram; passaram gradualmente de umas
localidades para as outras. Succedeu igualmente aos que seguiram para
as regiões quentes: occuparam primeiro os legares que mais vantagens
lhes offereciam. Os que permaneceram nas regiões temperadas, espalha-
ram-se mais facilmente, porque a terra lhes offerecia meios mais vantajo-
sos de sustentar a vida.
Caracteres dístinctívos e excIusi?os do reino hominal. — Reunimos sob este
titulo n3o só alguns factos de immediata observação, mas também o pa-
recer de alguns médicos e naturalistas. Não citámos as obras em que en-
contrámos muitos dos factos que registámos, não só porque seria tornar
mais extensa esta enumeração, mas porque desejámos separar os factos
das auctoridades que os demonstram ou apresentam. Eis aqui os caracte-
res que são exclusivos do reino hominal.
1 .° A união do branco e do negro produz invariavelmente um mulato.
É um facto necessário, absoluto.
O branco e o mulato geram um mestiço que representa um .meio
termo entre estes dois individues. Do mestiço finalmente e do branco
resulta um branco.
O cruzamento que se faz entre a raça branca e preta, verifica-se lam-
bem entre os brancos e amarellos, entre estes e os americanos ou entre
aquelles e os malaios.
2.° A rasão e a consciência são próprias do homem e lutam constan-
temente contra os instinctos.
* A narrativa bíblica diz que Japhet se dirigira para a Europa, Sem para a
Ásia e Cham para a Africa. Do primeiro descendem os phryglos, scythas, gregos,
ele; do segundo resultaram os persas, assyrios, lydios, ctc, e; flnalmente, do ler-
ceiroj provieram os babylouios, egypcios e mauritanos.
035
3.*^ O livre arbítrio, o mérito e demérito são próprios l5o somente
do reino hominal.
Nos animaes ha apenas instincto; no reino hominal ha a concepção
intellectiial, que não tem Hmites.
A acção do homem sobre todos os animaes, marca profunda e radical
diíTerença entre a animalidade e humanidade.
4.° A côr da pelle não é caracter dislinctivo da espécie, no que res-
peita á origem, entre os brancos, pretos, cobreados, etc.
3.® Os cabellos não servem também para distinguir os indios dos eu-
ropeus, africanos, etc.
0.^ O estudo do esqueleto humano mostra que não ha dilTorenças
sensíveis nos individuos do reino hominal.
7.° O tempo de gestação é o mesmo entre os pretos, brancos ou in-
dianos. As excepções não destroem a regra geral.
8.*" Todos os cruzamentos entre os individuos de diílerentes grupos
do reino hominal são fecundos.
9.** São attributo primitivo do homem as faculdades effectivas, e elle
nunca pôde nivelar-se com o bruto.
10.® O monogenista toma a Oliação por caracter de espécie, o poly-
genista toma a estructura e a forma por base da sua argumentação.
H.° A theoria que faz descender o homem do macaco, representa
apenas uma espécie de gymnastica de espirito. Invoca a seu favor tão so-
mente hypotheses mais ou menos floreadas que se acham em contra-
dicção com os factos bem observados.
12.® O homem não descende, nem é a transformação nem a modifi-
cação de um gorilla, nem de um orangotango, nem de um chimpanzé,
nem de uma phoca, nem de um peixe nem de qualquer outro animal.
13.® No homem desenvolve- se em primeiro logar o lóbulo anterior
do cérebro e no macaco o temporal.
14.® Alors méme que Thomme semble tomber au-dessous de la bete
par rimperfection des organes de la pensée il ne devient pas pour cela
un animal, anatomiquement.
O homem ó um ser creado, contingente, mas tem origem única, in-
dependente, quer seja branco, quer preto, quer amarello ou pardo.
O riso, a rasão e a consciência só se encontram na espécie humana.
A vontade é um caracter distinctivo do homem. Sem a existência da
vontade não poderia admittir-se a idéa de premio e de castigo. A vontade
é inquestionavelmente um attributo próprio do reino humano.
METEOROLOGU E CLIMATOLOGIA
Garaetériaar an Glimai cst une eatreprise lon^^ae et
peoible.
(Dagnio, Trtado elementar 4e jéffiiea, toI. u,
pag. 5iO.)
Emprega-se muitas vezes índiffereDtemenIe o termo meteorologia em
vez de climatologia, parecendo inferir-se que uma palavra é synonyma de
outra, o que não é exacto. Para nós ha grande differença entre estas scien-
cias. A climatologia tem por base a meteorologia, assim como esta, sem o
estudo da pbysica, fícaria estacionaria.
A meteorologia tem por objecto os phenomenos atmosphcricos, os me-
teoros; é uma sciencia em que ha leis próprias e fados bem observados.
O seu fím tem elevada importância, seja qual for o ponlo de vista sob que
se estude tal sciencia. O que, porém, é certo é que ha relação immediata
e necessária entre a meteorologia e a pathologia, hygiene e therapeutica.
Aos médicos cumpre por isso interessar-se no seu adiantamento.
As leis meteorológicas precisam de observações completas e unifor-
mes; os factos sao de difiScilima interpretação, e os prognósticos n3o po-
dem ser feitos sem haver muita exactidão nos phenomenos observados.
A climatologia appiica-se ao estudo de uma região limitada. Tem leis
próprias, factos distínctos e fim especial. São grandes as differenças que
se notam no campo de observação.
Por clima deve enlender-se o conjuncto de phenomenos atmospheri-
cos que exercem influencia característica nos seres organisados de uma
localidade qualquer. Um immenso valle, por exemplo, offerece um clima
determinado, cujo estudo assenta em observações próprias, referidas á
natureza do solo e do ar que o circumda, e, como sabemos, o estudo do
solo e do ar está subordinado ás differentes sciencias naturaes. Os climas
não devem multiplicar-se indefinidamente, assim como ha grande inconve-
niência em os reduzir a um numero muito limitado, regulando-se já pelos
continentes em que se acha dividido o globo, já pelos graus de latitude
ou pelas linhas isothermicas. É indispensável seguir o meio termo, e nós
já apresentámos o modo por que encarávamos tão importante assumpto.
r>38
Aqui tratHinos de examinar as condições ciamatcricas em qu
ilha dtí S. Tliomé.
Julgamos, pois, de grande vaniagom dividir este assumpto
capiluios, procurando assim expor com mais clareza as cunsidera;
temos (pic fazer acerca da meteorologia e climatologia respeilanl
de S. Tliomé, As conclusijes, a que chegãiiios, não são de cerlo
teorologicas definidas, nem o clima d'cãta illia íica bem deteniiiiia<
que nos faltam os meios de conhecer com exactidão um clima e
entre 3" e 30' ao N. do Equador, e G' 30' a C" 43' ao oriente do mt
o de Greenwich.
CAPITULO XVII
HeteoTOlogria
Depuii i|dB \a obimaliont nrtnroIttpK
iiii Anlillu íiK da Luni uiilniiiiciiU d i
réíiW uniliirDi'', te llirrnioiiii'lrr n';i pju icri
rulinai ai In lumlrurt tugn^i >l|ailéu
(DalrODlao. pag. 33.)
Comidcrarúti gcraci.— llcilii Jií (iliHni{ur;i melFlroliijiicas de iiar^'<i, abril c min ir (Si
de junb, julb eagoslo de (lil— Idem ilc sclcmbro, oulnbro e novfnbrii dt Íl1l-
dciemliro de illl e janeiro c frtemra de IS73.-Meiii dr mRr{<i, abríl c miio de tS7
de jiinlin, julbn e agoalo de (S73.— Heilias do primeiro seme^Iíe metcoralogicci de HH.
do annv nfleoralDjiro de ÍiU.—kni\ mplcnrolcgire, i." de deicnbro de iiU i .10 i
bro de 1S7S.--CoBpira;ía da ine1íorolet[ii i'ftít anno rem a do anne pinad*.— Prímr
Ire do nn» nelcorologito de I S76.
Em março de I81i foram publicados no Boletim official o» prí
mappas meteorológicos depois das observações do dr. Lacio Augi
Silva cm 18;í8 e ISÍiO. Representam ensaios e não verdadeiras ol
ções. ^ão só o posto não estava convenientemente cotloado, m;
bem em muitos dias deixou de haver trabalhos por falta de pesgo
se encarregasse de substituir o director no sou impedimento.
Os instrumentos estavam dispostos na varanda do palácio, vi
ao S. O anemómetro tinha por um lado a igreja da Sé e por outro o i
palácio.
Nos mappas faltam as variações diurnas dos barómetros e nyctei
dos tliermomelro,':.
Damos na sua integra os mappas meteorológicos, contendo o r
das medias das observações que se fizeram de 1873 a 1876.
Barómetros.
63!)
Medias das observações meteorologioas
em março, abril e maio de 1872
l Pressão atmospherica 759^'",57
' ^^ j Adjunto, gr. c 27^7
, , Pressão atmospherica 762""",5
Anerovcle j . ,. , cioo b..
I Adjuntí), gr. c 28^5
/ _- , ,^ ^ i Máxima • • • 00,1 1 c^^n r\
i Na relva (9 m.) . L-. . an 1 gr. c. . . 26^9
\ ^ ^ (Mmima 20,1 p
Thermomelros { Exposto (3 t.) gr. c 40^9
A sombra (9 n.) .... " * ^' gr. c. . . 25^8
^ ^ I Mmima 21,8 p
Tensão do vapor almospherico 21™'",63
Humidade relativa 80
Evaporação 4"°,2
Ozone 7,7
Vento (velocidade horária) 12S05
Chuva recolhida tfeste período 463"''",0
Aspecto do céu, gr. med 3
Os ventos de mais frequência foram : em março dos quadrantes de E.
e SE. ; em abril de SE. e SSE., observando-se, não obstante, alguma va-
riedade nos ventos superiores que frequentaram S., O. e SO.; em maio
houve grande variedade tanto nos ventos superiores, como nos inferiores *.
Medias das observações meteorológicas
em Junho, Julho e agosto de 1872
, . ,. j Pressão atmospherica 7f>l'"™,07
Barómetros . I ' ^^j""^^' »'• ' 2^''*
' " . , l Pressão atmospherica 7S6"'",6
^ I Adjunto, gr. c 25^9
í Na relva (9 m.). í U'^/""^ ' ' ' f'^ j gr. c . . . 2(^,5
l ^ ^ (Mmima..* . 17,0 p
Thermometros \ Exposto (3 l.) gr. c 48^4
^--"(»"-)|:„ir.:;-JÒ;?|«— •^".'
í Junho 25,7 j
Temperatura ao ar livre 1 Julho 24,6 l gr. c. . . 21^5
( Agosto 25,0 )
1 Boletim official da pfovincia, n." 20^ do O de agosto de 1873.
t
640
Tensão do vapor atmospherico I9™",33
Humidade relaliva 81
Evaporação i^^^i
Ozone 9,2
Vento (velocidade horária) 8*^,04
Aspecto do céu, gr. médios 4
Chuva recolhida n'este periodo. 3"",6
As nuvens em junho e julho apresentaram formas primarias e secun-
darias, notando-se mais d'eslas do que d'aquellas. O tempo n'este ultimo
mez observava-se, á noite, bem limpo e seguro. Em agosto, as nuvens
apresentaram-se na forma primaria, com exclusão de poucas observações
em que figuraram cirro-cumulos e cirro-straítis. Os ventos de mais fre-
quência n*esta estação foram doS., variando pelos quadrantes de O., SSO.
e SSE. e mui pouco pelo N. *
Medias das obsorvaQoes meteorológicas' em setembro,
ontubro e novembro de 1872
. |. J Pressão atraospherica 7d9""",55
, Adjunto, gr. c 26^á
Barómetros...'^ n * ; u - -^-mm li
, , Pressão atmospherica ^ /So"'™,^
Anerovde ... . *^ ^..^ ^
I Adjunto, gr. c 2b**,9
("» '^'" <»"■•'• I "Sa.: :: '8.8 !«'--'--»"'^'
Theimometros < Exposto, gr. c. (3 t.) 41**,!
j i , /n \ i Máxima . . . 25,5 i ^«^ u
fAsombra(9n.)jj^.^.^^ ^2,2[-^''-^----'^'«
í Setembro. . 25,8 1
Temperatura ao ar livre | Outubro. . . 24,4 > gr. c. . . 2G'',1
( Novembro. 27,1 )
Tensão do vapor «itmospherico lir™,97
[lumidade relativa 80
Evaporação 4'", 1
Ozone 7,3
Vento (velocidade horária) 4*^,76
Chuva recolhida d'este período 451 """,4
i\specto do céu, gr. médios 3
* Boletim offlcial da provinda, n.° M), de 15 de novembro de 1872.
641
Foram mais frequentes n'esta estação os ventos dos quadrantes de E.
a 0. pelo S. Notaram-se poucos dos quadrantes do N., e mais raros foram
os ventos superiores. Quanto á sua velocidade nada ha digno de reparo.
As nuvens apresentaram-se com formas variadissimas, não entrando
D*ellas, porém, os cirrus^ assim como os stratus, que rarissimas vezes
se observam.
Em 27 de novembro, das oito para as nove horas da noite, precipita-
ram-se para a terra pela sua attracção, no sentido dos quadrantes entre S. e
NNO., diversos teroides, cujo numero era admirável. As trovoadas come-
çaram em 20 de outubro, frequentando mnis os quadrantes de N. a E. A
sua approximação nunca chegou a mais de G80 metros, segundo os nos-
sos cálculos. O ozone, desde o 1.^ de dezembro tornou-se menos abun-
dante na atmospbera, presagiando, em vista da sua acção sobre os mias-
mas pútridos, grande numero de enfermidades *.
Medias das observações meteorológicas em dezembro de 1872
janeiro e fevereiro de 1873
-. . i Pressão atmospherica 758"*",23
Barómetros . ,. , ^ a/m
( Adjunto, gr. c 2G,9
/ m« t //\ \ 1 iMaXima ... «5o, l \ rk%»n m
i Na relva (9 m.) . „• • *« o ST- c. . . 25S7
\ ^ ^ (Mmima... . 16,3)^
Thermometros \ Exposto (3 t.) gr. c 43^,5
A sombra (9 n.) j ^2. \ '. \ % \i'-'-" ^^"'"^
I Dezembro . 26,5 j
Janeiro. . . . 26,9 > gr. c. . . 26^,1
Fevereiro.. 24,8)
Ten^o do vapor atmospherico 2P'°,90
Humidade relativa 80
Evaporação 3",7
Ozone 4,7
Vento (velocidade horária) S^^.TÔ
Chuva recolhida n'este período 230",8
Aspecto do céu (gr. médios) 3
N^esta estação os ventos variaram extraordinariamente, conhecendo-
se-lhes mais persistência nos rumos entre S. o 0. ; sendo todavia notável
a sua mui pequena velocidade.
1 Boletim oficial da provinda, n.« 5, de i de fevereiro de i87;(.
41
642
As formas mais frequentes que as nuvens apresentaram foram os nim-
bas e os cumulus.
Em 10 de fevereiro, pela uma hora da manbS, começou uma descarga
eléctrica ao rumo de NNO., com relâmpagos de contornos perfeitamente
determinados. Âpproximou-se, e ás três horas e vinte minutos fulminou
com faísca de relâmpago da quarta espécie a superficie pantanosa perto
d'este posto.
No dia 12 do mesmo mez, achando-se desde as nove horas da ma«
nhã trovoada armada para NE., formaram-se ás onze horas, no mesmo
rumo e com espaços mal divididos, três trombas marinhas, que produ*
ziam fortes aspirações. A duração d'este phenomeno permaneceu entre
quinze a vinte segundos.
A conflguraçao de uma era afunilada, a das outras, porém, de mao*
gueira. O seu trajecto foi para E., direcção qne também tomaram os ou-
tros meteoros eléctricos*.
Nao podemos classificar o clima meteorológico da ilha de S. Thomé
em geral, nem ao menos um dos seus climas locaes, o da cidade por
exemplo! As observações meteorológicas dos dez mezes do anno de 1872
servem apenas para se ter uma idéa approximada de alguns phenomenos
atmosphericos, e para se reconhecer a necessidade momentosa de se con-
struir um observatório regular, tendo differenles postos sob a sua depen-
dência. No relatório de 1869 (capitulo xi) demonstrámos a utilidade (^'es-
tas observações, e hoje insistimos na importância de taes trabalhos.
As observações meteorológicas s3o sujeitas a muitas causas de erro.
Dependem umas da posição e da exposição dos instrumentos; outras pro-
vêm das horas da observação e do modo de se contarem as medias.
O posto ou estação meteorológica da ilha de S. Thomé estava, como
já dissemos, na varanda do edificio do palácio, tendo em frente um toldo
de lona. Os instrumentos olhavam para o S. e a casa corre de E. a 0.
O local do posto era determinado por O® 21' 25'' de latitude e 6° 43'
18" E., Greenwich. Estava afastado do marSO^^ylt, e os instrumentos
collocados a P,73 sobre o terreno adjacente. Os thermometros funcciona*
vam no posto e na relva, e as observações eram feitas ás oove horas da
manhã, ás três da tarde e ás nove da noite.
A estação meteorológica foi mudada do corredor ou varanda do palá-
cio do governo para a casa do deposito penal.
f
Boletim official da provinda, n.« 18, de 3 maio do 1873.
643
A este respeito lé-se, nas observações á terceira década do mez de
setembro, o seguinte:
cNos dias 22 a 25 não foi possível fazer observações em consequên-
cia do observatório ter sido removido. Âcha-se estabelecido próximo á
ponte do Espalmador, e aindaque se note não preencher o posto as con-
dições que scientiflcamente sSo exigidas, não é de admirar, porque nao
são ellas mui poucas, e as quaes única e exclusivamente dependem de um
edificio de construcção apropriada ao mister. No entretanto approximam*se
mais que as precedentes (as que se fizeram no corredor do palácio desde
março a princípios de setembro).»
O novo local está determinado, segundo o que se lê no mappa publi-
cado no Boletim official da provinda, por 0^ 20' 45" S. (?) de latitude e por
6° 42' 43" de longitude E. Greenv^ ich. A sua dístóncia do mar é 27"*,30,
elevando-se os instrumentos sobre os terrenos adjacentes l'",60.
Fomos minuciosos n'estas informações para mostrar que a posição e
exposição dos thermometros no posto na ilha de S. Thomé ó viciosa e su-
jeita a muitos erros. Não fatiaremos do primeiro posto, porque apenas du-
rou sete mezes do anno; rcferimo-nos ao local onde ficou no fim do anno
de 1872.
Os thermometros e os outros instrumentos meteorológicos acham-se
coliocados n'um quarto da casa, o qual está na frente do ediOcio que olha
para 0., e é pequeno e acanhado.
O anemómetro, no primeiro posto, tinha por um lado o edificio do pa-
lácio, e por outro a igreja da Sé. Ê evidente ser esta posição viciosa e su-
jeita a muitos erros, não podendo contar-se com exactidão a velocidade
do vento. No segundo está mais baixo que a casa do deposito penal, da
qual flca próximo ao rumo 0. e SO.
Não se tomaram as oscíllações diurnas dos barómetros, no que ha im-
portante falta para o completo conhecimento do climn doesta ilha.
Medias das observações meteorológicas
em março, abril e maio de 1873
-. . j Pressão athmosphericn.... ToS'""*,^?
Barómetro {.,. . * d-n ,
1 Adjunto, gr. c 2/^'^
, ., , .^ .1 Máxima , • i ^^. ^
Na relva (9 m.). j j^j.^^.^^ j gr. c. . . 2B*,3
Thermometros | Exposto (3 t.) gr. c 4Ii^4
A sombra (9 n.) ^^^^\ ..\...\ ^^' ^' ' ' ^^''^
644
Março 27,1
Temperatura ao ar livre • • { Abril 28,0 } gr. c. . . 27^4
Maio 27,1
Tensão do vapor atmospherico 21*",64
Humidade relativa 80
Evaporação 4'"°,4
Ozoue 5,0
Vento (velocidade horária, media diurna). : 4S12
Chuva recolhida n'este período 305"",0
Aspectos do céu (gr. médios) 3
Os ventos n'esta estação frequentaram os quatro pontos cardeaes,
sendo bem conhecida a persistência no quadrante do S.
Os de E. e 0. apresentaram uma relação para o N., como de 20
para 30.
A sua velocidade foi maior que a da estação anterior, regulando a me-
dia entre 1 e 6.
O dia mais ventoso, 31 de maio.
0 dia menos ventoso, 3 de abril.
Os ventos de 0. e SO. predominaram de noite.
A conflguração das nuvens, comquanto não fosse muito variada, ap-
pareceram comtudo Gí-G. G-st, e raras vezes Gi-st^
Medias das observaoSes meteorologioas
em Junho, Julho e agosto de 1873
^ . I Pressão atmospherica 761*",17
Barómetro j . ,. . ^ / a/io j
( Adjunto, gr. c 26M
XT 1 /f^ \ i Máxima • . . 34,2 ) ^-^ o
Narelva(9m.).j„i„,^3 ,g4(gr.c...24%3
Thermometros { Exposto (3 1.) 40^,8
A»mta,(9..)jj;|^^::;^;5|gr.«...«..0
I Junho 29,1 \
Julho 25,4 > gr. c. . • 26^7
Agosto. . • • 25,7 )
Tensão do vapor atmospherico 19^,14
Humidade relativa 75
Evaporação 5~,2
1 Boletim official da provinciaj n* 31, de 16 de agosto de 1873.
645
Ozone 4,7
Vento (velocidade horária, media diurna) 8S42
Chuva recolhida n'este periodo 38"",4
Aspecto do céu (gr. médios) 3
Os ventos n*esta estação pouco se afastaram da sua frequência ordi«
naria e mui conhecida, qual é a do quadrante de S. e SO.
A configuração das nuvens também pouco variou, porque no céu
quasi sempre se viam Ni, C Ni, ou Ene. e raras vezes Ci-st^
Medias do primeiro semestre meteorológico de 1874
Barómetro 759°''",16. Velocidade do vento {i^,13. Graus de humi-
dade 84. Graus de ozone 8.
^. , ( Á sombra : máxima ã9,4 ; mínima 23,0.
Thermometros . <«, , . «* /\ «.• -^^ Ê't i-
I Na relva: máxima 34,0; mmima 17,5.
Quantidade de chuva recolhida 683'°'",9. Quantidade de agua evapo-
rada 729™, 4.
A serenidade do céu foi de O a G, c a sua media de 2.
A configuração das nuvens foi cumulus, cumulo-nimhus c cirrus,
predominando cumnlus.
0 estado do mar: chão, algumas vezes, porém, observou-se agitado
entre as dez horas da manhã e três da tarde ; c de pequena vaga cm ^5 do
fevereiro do meio dia ás duas horas da tarde.
Dia de tempestade : 25 de fevereiro.
Dias de chuva: em dezembro, 1, 3, 4, 5, 9, 13, 14, 19 e 30; em
janeiro, 4, 7, 11, 13, 24, 26 e 29; em fevereiro, 3, 5, 7, 12, 13, 25, 26
e 27: em março, 1, 6, 10, 16, 17, 22 e 23; em abril, 2, 3, 12, 16, 19,
21 e 22; em maio, 3, 4, 5, 6 e 30; total 43.
Dias de trovoada : em dezembro, 4, 9, 13, 18, 19, 20, 23, 24 e 29;
em janeiro, 1, 4, 7, 11 e 13; em fevereiro, 3, 7, 10, 25 e 27; em março,
6, 9, 16, 17, 18 e 22; em abril, nenhum; em mato, 3; total 26.
Dia mais chuvoso : 2 de maio.
Dia mais ventoso: 25 de fevereiro.
Rumos dominantes dos ventos: S. e SO., sendo o primeiro muito
mais frequente^.
1 Boletim ofpcial da provinda, n.'> 43, de 8 de novembro de 1873.
2 Boletim official da provinda, n.*" 24, de 13 de junho de 1874.
O posto meteorológico foi mudado da casa do deposito penal dos addidos para
a residência do novo observador. Estava muito próximo da fortaleza de S. Sebas-
ti$o.
647
ma. O estado do céu, de dia quasi sempre nublado como na estação secca,
de noite, entre as dez e duas horas está frequentemente limpo, especial-
mente quando nas tardes anteriores houve chuvas e trovoadas. A configu-
ração das nuvens é de cumulas e nimbus ao S. e SO.
No pico da ilha de S. Thomé, serro altíssimo e inacessível, já pela
sua configuração, já pelo cerrado arvoredo que o circumda e vegeta sobre
um terreno alagado e escorregadio, e n'outras montanhas também de
grandíssima altura os nevoeiros são perpétuos, e da sua perenne conden-
sação na folhagem de uma flor sempre verde formam-se pelas suas faldas
verdadeiros regatos de agua crystallina. Âli a temperatura é sempre bai-
xa ; os dias, especialmente na estação secca, são muito frescos, e as noi-
tes frigídissimas. Não temos d'estes phenomenos conhecimentos theorfcos
ou práticos, baseámo-nos apenas no testemunho de pessoas fidedignas.
Nos mezes de dezembro a maio são frequentes as grandes tro-
voadas; apparecem ao N., NE., ENE. ou E. sobre o horisonte visível
densas nuvens negras, que sobem com muita velocidade durante quin-
ze a trinta minutos, ímpellidas por um vento fresco ou forte dos mes-
mos rumos.
Os trovões que se ouviam longe, approximam-se com a mesma ra-
pidez e a tão pequena distancia do porto, que é inapreciável o espaço de
'tempo entre o clarão do relâmpago e o estampido do trovão; uma cbuva
copiosíssima, que muitas vezes dura doze e mais horas, acompanha este
plHsnomeno, cessando o vento completamente; e o estado do mar que é
em geral chão e muito poucas vezes de pequena vaga, chega a ser de gran-
de vaga, (|uando principia a trovoada. Observam-se n'esta occasiao gran-
de numero de ] olampagos das três seguintes formas : em zig-zag, com
apparencía do globos do fogo, e em faíscas eléctricas que se precipitam
00 mar ou se perdem totalmente no espaço.
Não se deve pelas observações feitas no nosso posto julgar da quan-
tidade da chuva que cáe durante o anno na ilha de S. Thomé. É na ver-
dade na cidade onde menos chove.
Durante a quadra das chuvas é raríssimo o dia em que não chove
torrencialmente no interior da ilha, phenomeno que infinitas vezes temos
presenciado olhando do porto para o S. e SO., sem que possamos reco-
Iber no udomelm seqlier uma gota de agua. Saigy calculou a media annaal
da chuva caída em mais de 3:000 millímetros, e nós queremos que, em-
bora tenhamos apenas registado nas nossas folhas 87S'*'",8, a quantidade
total se deve approximar muito da calculada por aquelle observador.
Ê necessário atlendermos lambem a que este anno foi um dos menos
t* chuvosos n'esta ilha.
[ Os nimbus formados do S. e SO. da terrai raras vezes caem sobre
^
64»
Medias do anno meteorológico de 1874
Barómetro 700""*,16. Velocidade do vento 5S16. Graus de humi-
dade 81. Graus de ozone 7. Serenidade do céu 2.
^. • i Na relva: máxima 32,1 ; mínima 17,6.
Thermometro Ar . * ' ' ^
( A sombra : máxima 28,7 ; mmima 22,2
Total da chuva recolhida 872*^,8 ; e da evaporaçSo 1342,8. .
Houve durante o anno sessenta e um dias de chuva e trinta e um de
trovoada; os do primeiro semestre já foram publicados n'esta folha, e os
do segundo são: em junho, chuva nenhum, trovoada nenhum; em julho,
chuva nenhum, trovoada nenhum ; em agosto, chuva nenhum, trovoada
nenhum; em setembro, chuva 8, 9 e 25, trovoada nenhum ; em outubro,
chuva 9, 12, 14, 15, 1(5, 19, 21, 24 e 27, trovoada nenhum ; em novem-
bro, chuva 1, 2, O, IG, 18, 24 e 28, trovoada 1, IG, 2i e 28.
O dia mais chuvoso do anno 3 de maio, e o mais ventoso 25 de fe-
vereiro.
Os ventos predominantes foram os do quadrante do S. os geraes;
todavia poucos dias houve em que entre as dez horas da manhã e as três
da tarde não soprassem do N.
Na ilha de S. Thomé ha duas estações bem caraclerisadas, a secca,
que dura dos principios de junho ao meado ou Qns de setembro, e a das
chuvas, que são todos os mais mezes do anno. Na secca o barómetro sobe
a sua media (referindo-nos ao trimestre de julho a setembro) 762*^,23,
o ar é menos húmido, a evaporação é maior, sopram com grande intensi-
dade os ventos do S., os dias e as noites couservam-se sempre frescos,
marcando os thermometros : o exposto entre 35 e 40 graus, os da relva,
de máxima media 30 graus e de minima 17,3, e os da sombra de má-
xima media 28 e de minima 26,6. O estado do céu de dia é bastante
nublado, e representada por 2 a sua serenidade media; de noite a sere-
nidade é maior; ás nove horas è vulgar ser de 4, e depois doesta hora vé-se
frequentemente o céu quasi limpo. A confíguração das nuvens que mais
predomina é cumuluss cirrus e cirro-cumiUus.
Nas estações das chuvas o barómetro desce, a sua media é de 769"**, 16,
(rcferimo-nos ao semestre de dezembro a maio). O ar é muito húmido, ha-
vendo dias em que a media do vapor atmospherico chega a ser de 90
graus, dados pelo psychromelro de Augusto; a evaporação é pequena, o
vento ordinariamente não passa de uma muita ligeira bafagem, cuja velo-
cidade media por hora é de 5^13, os theiínoniclros marcam: o exposto
entre 42 e 50 graus, e os da relva de inuxíaia 34 graus c de minima
17,5; e os da sombra de máxima temperatura media 29,4 e 23 de mini-
(347
ma. O estado do céu, de dia quasi sempre nublado como Da estação secca,
de noite, entre as dez o duas horas está frequentemente limpo, especial-
mente quando nas tardes anteriores houve chuvas e trovoadas. Â conflgu-
ração das nuvens é de cumulas e nimbiis ao S. e SO.
No pico da ilha de S. Thomé, serro altíssimo e inacessível, já pela
sua configuração, já pelo cerrado arvoredo que o circumda e vegeta sobre
um terreno alagado e escorregadio, e n'outras montanhas também de
grandíssima altura os nevoeiros são perpétuos, e da sua perenne conden-
sação na folhagem de uma flor sempre verde formam-se pelas suas faldas
verdadeiros regatos de agua crystailína. Âlí a temperatura é sempre bai-
xa ; os dias, especialmente na estação secca, são muito frescos, e as noi-
tes frigidissimas. Não temos d'estes phenomenos conhecimentos theoricos
ou práticos, baseámo-nos apenas no testemunho de pessoas fidedignas.
Nos mezes de dezembro a maio são frequentes as grandes tro-
voadas; apparecem ao N., NE., ENE. ou E. sobre o horísonte vísivel
densas nuvens negras, que sobem com muita velocidade durante quin-
ze a trinta minutos, impellidas por um vento fresco ou forte dos mes-
mos rumos.
Os trovões que se ouviam longe, approximam-se com a mesma ra-
pidez e a tão pequena distancia do porto, que é inapreciável o espaço de
'tempo entre o clarão do relâmpago e o estampido do trovão; uma cbuva
copiosíssima, que muitas vezes dura doze e mais horas, acompanha este
phenomeno, cessando o vento completamente; e o estado do mar que é
em geral chão e muito poucas vezes de pequena vaga, chega a ser de gran-
de vaga, (|uando principia a trovoada. Observamse n'esta occasião gran-
de numero de relâmpagos das três seguintes formas: em zig-zag, com
apparencia de globos de fogo, e em faíscas eléctricas que se precipitam
00 mar ou se perdem totalmente no espaço.
Não se deve pelas observações feitas no nosso posto julgar da quan-
tidade da chuva que cáe durante o anno na ilha de S. Thomé. É na ver-
dade na cidade onde menos chove.
Durante a quadra das chuvas é raríssimo o dia em que não chove
torrencialmente no interíor da ilha, phenomeno que infinitas vezes temos
preseiiciado olhando do porto para o S. e SO., sem que possamos reco-
lher no udometix) sequer uma gota de agua. Saigy calculou a media annaal
da chuva caída em mais de 3:000 millímetros, e nós queremos que, em-
bora tenhamos apenas registado nas nossas folhas 87S"'",8, a quantidade
total se deve approximar muito da calculada por aquelle observador.
È necessário attendennos também a que este anno foi um dos menos
' chuvosos n^esta ilha.
Os nimbas formados do S. e SO. da terrai raras vezes caem sobre
í
64»
Medias do anno meteorológico de 1874
Baromelro 700""*, 16. Velocidade do vento 5Sl6. Graus de humi-
dade 81. Graus de ozone 7. Serenidade do céu 2.
^. . i Na relva: máxima 32,1 ; mínima 17,6.
Thermometro . , . * ' ' ^
( A sombra: máxima 28,7 ; mmima 22,2
Total da chuva recolhida 872*^,8; e da evaporaçSo 1342,8. .
Houve durante o anno sessenta e um dias de chuva e trinta e um de
trovoada; os do primeiro semestre já foram publicados n'esta folha, e os
do segundo s3o: em junho, chuva nenhum, trovoada nenhum; em julho,
chuva nenhum, trovoada nenhum ; em agosto, chuva nenhum, trovoada
nenhum; em setembro, chuva 8, 9 c 25, trovoada nenhum ; em outubro,
chuva 9, 12, 14, 15, 10, 19, 21, 24 e 27, trovoada nenhum ; em novem-
bro, chuva 1, 2, O, 10, 18, 24 c 28, trovoada 1, 10, 24 e 28.
O dia mais chuvoso do anno 3 de maio, e o mais ventoso 25 de fe-
vereiro.
Os ventos predominantes foram os do quadrante do S. os geraes;
todavia poucos dias houve em que entre as dez horas da manhã e as três
da tarde nâo soprassem do N.
Na ilha de S. Tliomé ha duas estações bem caracterisadas, a secca,
que dura dos princípios de junho ao meado ou Qns de setembro, e a das
chuvas, qup são todos os mais mezes do anno. Na secca o barómetro sobe
a sua media (referindo-nos ao trimestre de julho a setembro) 762''%23,
o ar é menos húmido, a evaporação é maior, sopram com grande intensi-
dade os ventos do S., os dias e as noites conservam-se sempre frescos,
marcando os thermometros: o exposto entre 35 e 40 graus, os da relva,
de máxima media 30 graus e de mínima 17,3, e os da sombra de má-
xima media 28 e de mínima 26,6. O eslado do céu de dia é bastante
nublado, e representada por 2 a sua serenidade media; de noite a sere-
nidade é maior; ás nove horas è vulgar ser de 4, e depois doesta hora vé-se
frequentemente o céu quasi limpo. A configuração das nuvens que mais
predomina é cumulas, cirrus e cirro-camulus.
Nas estações das chuvas o barómetro desce, a sua media è de 760"", i 6,
(referimo-nos ao semestre de dezembro a maio). O ar é muito húmido, ha-
vendo dias em que a media do vapor atmospherico chega a ser de 90
graus, dados pelo psychrometro de Augusto; a evaporação é pequena, o
vento ordinariamente não passa de uma muita ligeira bafagem, cuja velo-
cidade media por hora é de oSl3, os theruioniclros marcara: o exposto
entre 42 e 50 graus, e os da relva de muxiuia 34 graus e de mínima
17,5; e os da sombra de máxima temperatura media 29,4 e 23 de miui^
(347
ma. O estado do céu, de dia quasi sempre nublado como Da estação secca,
de noite, entre as dez e duas horas está Trequcntemente limpo, especial*
mente quando nas tardes anteriores houve chuvas e trovoadas. Â configu-
ração das nuvens é de cumulas e nimbus ao S. e SO.
No pico da ilha de S. Thomé, serro altíssimo e inacessível, já pela
sua configuração, já pelo cerrado arvoredo que o circumda e vegeta sobre
um terreno alagado e escorregadio, e n'outras montanhas também de
grandíssima altura os nevoeiros são perpétuos, e da sua perenne conden-
sação na folhagem de uma flor sempre verde Tormam-se pelas suas faldas
verdadeiros regatos de agua crystallina. Âti a temperatura é sempre bai-
xa ; os dias, especialmente na estação secca, são muito frescos, e as noi-
tes frigidissimas. Não temos d'estes phenomenos conhecimentos theoricos
ou práticos, baseámo-nos apenas no testemunho de pessoas fidedignas.
Nos mezes de dezembro a maio são frequentes as grandes tro-
voadas; apparecem ao N., NE., ENE. ou E. sobre o horisonte visivel
densas nuvens negras, que sobem com muita velocidade durante quin-
ze a trinta minutos, impellidas por um vento fresco ou forte dos mes-
mos rumos.
Os trovões que se ouviam longe, approximam-se com a mesma ra-
pidez e a tão pequena distancia do porto, que é inapreciável o espaço de
tempo entre o clarão do relâmpago e o estampido do trovão; uma cbuva
copiosíssima, que muitas vezes dura doze e mais horas, acompanha este
phenomeno, cessando o vento completamente; e o estado do mar que é
em geral chão e muito poucas vezes de pequena vaga, chega a ser de gran-
de vaga, (|uando principia a trovoada. Observamse n'esta occasião gran-
de numero de lelampagos das Ires seguintes formas: em zig-zag, com
apparencia de globos de fogo, e em faíscas eléctricas que se precipitam
00 mar ou se perdem totalmente no espaço.
Não se deve pelas observações feitas no nosso posto julgar da quan-
tidade da chuva que cáe durante o anno na ilha de S. Thomé. É na ver-
dade na cidade onde menos chove.
Durante a quadra das chuvas é raríssimo o dia em que não chove
torrencialmente no interior da ilha, phenomeno que infinitas vezes tédios
preseiiciado olhando do porto para o S. e SO., sem que possamos reco-
lher no udometix) seqUer uma gola de agua. Saígy calculou a media annaal
da chuva caída em mais de 3:000 millimetros, o nós queremos que, em-
bora tenhamos apenas registado nas nossas folhas 87â"'",8, a quantidade
total se deve approxímar muito da calculada por aquclle observador.
É necessário attendermos também a que este anno foi um dos menos
' chuvosos n^esta ilha.
Os nimbus formados do S. e SO. da tenai raras vezes caem sobre
648
a cidade. Quando apparecem os fiimbus a O., NO., N., e NE. oa E., d
mar, e são acompanhados por vento fraco, moderado, fresco ou forti
podemos ter como certo que uma chuva intensíssima e duradoara ei
sobre toda a cidade ^
Anno meteorológico do 1." de dezembro de 1874
a 30 de novembro do 1876
Pressão barométrica 7 59'"*°, 72.
Thermometro: exposto 43,7; na relva o de máxima, 32,3, e o è
minima 21,3 ; á sombra, o de máxima 28,8, e o de minima 22,0.
Psychrometro : graus de humidade 82.
Anemómetro : velocidade do vento (horária) 4 kilometros.
Ozonometro: graus de ozone 5.
Quantidade das nuvens que encobriram o céu 8.
Serenidade do céu 2.
Estado do mar 1 (chão).
Total da evaporação l:544'""',d.
Total da chuva recolhida 1:305 millimelros.
Houve durante o anno noventa c seis dias de chuva e cincoenta e ui
de trovoada.
De chuva foram: cm dezembro, os dias 2, 8, 9, 12, lU, 23, 24, í
e 27; em janeiro, os dias 3, 4, 5, 8, 10, 13, 14, 17, 18 e 27^ em Tev
reiro, os dias 2, 7, 9, 14, 17, 22 e 23; em março, os dias 1, 10, 11, |i
18, 21, 23, 25, 27, 29 e 31 ; em abril, os dias 5, 6, 7, 9 e 16; emmai
os dias 8, 14, 15, IG, 17, 22, 25, 27, 28, 29 e 30; cm junho, os dias
e 3 ; em julho, o dia 21 ; em agosto, os dias 11, 16, 17, 20, 21, 25, 2
27, 28, 29 o 31 ; em setembro, os dias 4, 7, 14, 16, 17, 21 e27; e
outubro, os dias 2, 8, 9, II, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 23, 30 6 3^
e em novembro, os dias 5, 7, i), 15, 17, 19, 24 e 28.
Os de trovoada foram : em dezembro, os dias 4, 5, 16, 1 7, 23, 24
26; cm janeiro, os dias 3, 4, 5, G, 13, 14, e 27 ; em fevereiro, os dias
7, 9, 14, 17, 22 e 23; em março, os dias 1, 11, 16, 21, 23, 25, 27, í
e 31 ; em abril, os dias 5, 6, 12 e 23 ; em maio, os dias 5, 8, 13, 14, 1
18, 21 e 25 ; em junho e julho não houve trovoadas ; em agosto, o dia 21
em setembro, não houve trovoadas; em outubro. Os dias 4, 7, 12 e li
c em novembro, os dias 9, 24 e 28.
As trovoadas foram todas de pequena intensidade.
O dia de maior chuva foi cm 23 de março.
Observámos no anno 1:080 vezes a direcção do vento, e registam
\
* Boletim official da provincial n.° 11, de i3 de março de 1875.
649
7 do quadrante de E., i2 de NE, 79 do N.» 25 de NO., i4 de O., i57 do
SO., 588 do S., 12 de SE., 3 de SSO. e 183 de calma. Predominou o vento
S. O dia de mais vento foi em 1 de março.
Não houve tempestades.
O estado do mar foi sempre chão; algumas vezes, porém, fora das três
horas das observações diárias, observámol-o de pequena vaga, e de grande
vaga entre o ancoradouro da bahia de Ânna de Chaves e o horisonte.
 configuração das nuvens foi cumidus, cirrtês, cirro-cumulus, ntm-
bus e cumulo-mfnbus.
Predominaram eumulus e cirrus-eumulus.
O estado do céu, de dia, foi geralmente muito nublado ou encoberto,
sendo-ihe registrada a quantidade das nuvens por 7, 8 e 10; e de noite
foi quasi limpo entre as oito e dez horas, e limpo muitas vezes das dez até
ás duas e três horas.
ComparagSo da meteorologia d'e8te anno oom a do anno anterior
Pressão barométrica. —Foi menor a d*este anno; differença 72 míl-
iimetros.
Thermometria.— A temperatura foi igual á do anno precedente (de-
duzido dá comparação das máximas e mínimas na relva, e máximas e mi-
nimas á sombra).
Humidade. — Foi mais húmido este anno; differença I grau.
Ozonometria. — A quantidade do ozone foi menor este anno; diffe-
rença 2 graus.
Anemometria.— A velocidade do vento foi menor este anno; diffe-
rença 1^,16.
Serenidade do céu. —A doeste anno foi igual á do anno anterior.
Pluviometria. — A quantidade de chuva foi menor este anno ; diffe-
rença na totalidade o32'"^8.
Evaporimetro. — A evaporação foi maior este anno ; differença na to-
talidade 196'"™,! ^
Primeiro semestre do anno meteorológico de 1876
(Barómetro, pressão 759"",73
Medias /Na relva í **^*™* '*'*
Un • Minima 16,2
Thermometros < ,. . '^
/ . Máxima 29,2
A sombra.. ... . '
Mínima 20
\
Boletim official da provinda, n.* 3, de i5 de jandiro de 1876.
680
Elposto 43ȉ
Psycbrometro, humidade 84^ J
^ ,. JOzonometro, ozone 5,4
lOscillaçoes baromelricas 2™,10
Quantidade de nuvens que encobriram o céu. . . 7
Estado do mar 1
,|, , l Chuva recolhida 733™,9
j Evaporação 728,6
Mez mais chuvoso (quantidade de chuva 191"",!) março.
Houve n'este semestre quarenta e oito dias de chuva e trinta e nove
de trovoada.
Os de chuva foram: cm dezembro, 5, 8, 11, 12, 17, 22, 26 e28;
em janeiro, 1, 3, 7, 18, 20, 22, 27 e 31 ; em fevereiro, 1, 8, 11, 15, 17,
18, 19, 21, 22 e 25; em março, 4, 7, H, 12, 13, 18, 21, 22, 26 e29;
em abril, 8, 9, 12, 13, 17, 20, 21, 22 e 30; em maio, 12, 13 e 10.
Os de trovoada foram: em dezembro, 3, 5, 12, i4, 17, 20 e 28; em
janeiro, 1, 7, 18 e 27 ; em fevereiro, 8, 11, 13, 17, 18, 21, 22,24 e 25;
em março, 2, 4, 6, 10, 1 1, 12, 13, 18, 20, 21, 22, 26 c 29; em abril, 8,
20, 21, 22 e 30; em maio, 6.
No mesmo semestre observámos 484 vezes â direcç3o dos ventos e
registámos 282 do quadrante do S., 75 de SO., 39 do N., 7 de SE., 6 de
O., 4 de NO., 3 de E., 3 de NE. e 45 de calma ^
Se o calor e a humidade exercem muita influencia nos seres organisa-
dos, a da pressão atmospherica nao é menos notável, bem como as da
natureza do solo o das aguas, o estado da agricultura e das florestas, a
posição dos montes, etc, etc. Podemos portanto dizer que a meteorolo-
gia e a geologia fornecem valiosos elementos para se conhecer a natureza
do clima das ilhas de S. Thomé e Príncipe e do de Ajudi, que formam a
província de S. Thomé e Príncipe, e suas dependências; nlo se teodo to-
davia feito até hoje os necessários estudos acerca das duas sciencias re-
feridas com applicação á mais Tertil província da coroa de Portugal nu
ultramar.
I
1 Boletim ofíkial da proviticiaj 1870.
CAPITULO XVIII
Climatologia
La pluparl des goaveroeruenlá, coroproial combíea
les études climalniogiques ont «rimportanco pour Tagri-
rulture, la navigaliuo d riiy^iònc publique, ool coo-
struil des obsenaloirrs de mól(H)rologie placós daiiH des
stations choisies avec soin.
(P. A. Itaguln, \ol. 3.', |>ag. 3U.)
CoDsideraçifs geraes.— Icsomo dis tbserTi{5es meteorológicas no aoDO de 1838. -Media das ^das
dos Bfzes cm 1838.— Ventos qie sopraram para a cidade de S. Thomé em 1858. — Resumi dos
Yritos que se observaram por décadas de cadamez em 1858.— Resumo das observações mete«rolo-
jicas, por meies, lo anuo de 187!.— Numero de ventos que sopraram para a cidade de S. Thoinc
em 187?.— Resumo dos ventos que se observaram por décadas em cada mcz em 1872.— Quadra
das ventanias, estação secca, em 1872.— Quadra das chuvas em 1872.— Happa contendo o numero
de vezes qne os ventos sopraram de noite para a cidade de S. Thomé nos mezes de março a dezem-
bro de 1872.— Resumo das observações meteorológicas no anno de 1873.— ledias das décadas dos
mezes dtaaioie 1873.- lappa dos ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé em 1873.—
Resimo dos veitos qie se observaram por décadas de cada mei em 1873.— Resumo das observa-
Mies meteorológicas lo anno de 1874.— Hedia das décadas dos mezes de 187-1.— Ventos que sopra-
ram para a cidade de 8. Thomé em 1 8 7 4.— Resumo dos ventos que se «bsenrarim por deciéii éb cada
mrz em 1874.— Resumo das obsenaçôes meteorológicas no anno de 1875.— Hedia das dctadasdos
mezrs de 1 8 75.— Ventos que sopraram para a cidade de S. Thomé em 1 8 75.— Resumo dos ventos que
se observaram por deradas de cada mez em 1875.- Resumo das observações ueteorologiras no anno
de 1876.— ledia das décadas dos mezes do amo de 1876.— lappa dos ventos que sopraram para
a cidade 4e 8. Thomé em 1876.— Resumo dos \entos que se observaram por décadas de cada mez
em 1876.
(jual será a natureza do clima da ilha de S. Thomé?
Ê este o assumpto de que nos vamos occupar, e antes de entrar n'ou-
trás considerações, apresentamos os seguintes mappas, que extrahimos
das observações publicadas no Boletim o/ficial da província. Referem-se
a dilTercnles annos, tendo as observações sido feitas por vários observa-
dores, o em diversos logares da cidade. Começaremos pelo anno de 1858,
que foi o primeiro em que se flzeram.
Resumo d)s obsrrrafôrs mrleorologicag do
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
lunbo
Julho
Agosto
Sclembro
Oulubro
NoTenibro
Detembro
ICedioB trimestres
t.'
2.'
3.'
4.'
Uediae do oito mezea
758,I0| 28,41
759,58 39.71
760.5l' 28,94
761,80
761,4-!
761.1 li
75Í1.33,
JV. B. Nos meies tie janeiro, fevereiro, iriarco e óeti
KiytçOei, e do de abril faliam as Uuaa primeiraa decaJa
de quasi cineo meies.
653
Hedia das deeadas dis mexes de Í8!i8
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759,54
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23,8
759,93
30,1
23,7
760,10
28,9
23,1
760,53
28,3
23,1
760,97
27,6
21,6
761,24
27,0
21,3
76135
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21,6
762,17
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20,9
761,99
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27,4
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27,6
21,6
761,39
27,9
21,7
762,03
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28,8
759,06
27,2
29,0
759,89
30,7
22,9
759,20
30,7
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'. B. Nfo se mencionam n'este mappa os mezes de janeiro, fevereiro, mar(0,
embro, porque nos faltam as obsenraçOes que lhes diiem respeito.
Vínlos que sopraram pari a cidadt de S. Tboinè, r:
Superiores .
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Inferiores...
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20,41
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3
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Seleiíibro (/)....
760,49
47,83
24,07
21,74
22,90
18,78' 72,2
4
3,80
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27,07
23.53
24,81
20,58 1 83,6
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13,81
NovcniLro
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Dezariiliro (g)....
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27,;ío
23,37
25,43
21,11 81,6
9
12.46
(r) ano i'Uut<'u noi Mmoi Úet Mm. I'[lw'ir>í<> <lii i-ilarãu MCU ou venluias.
(rf|»atíi»i.-auiiiM<
a Nctie lun. Km 11), 9I> r H riirain oi dúi d<- maia Kii» Icmpirnlu».
(() NloclMvran<urriinelroid«Jlis<in,i»;:iii>.1a.l».-iil»b«i»JolidinsJi'Chii>ii, eln-íiulfr.c<>a.
tf) Klm bimic DlHur>«{ik» tm quatro iliiu d» iilllmi iIccuU.
il) Ito dIUdu (Irradi iHo u Uicnm obKr>i{itM n> hU diii.
o mez de abril foi o mais quente.
O mez de jullio foi o mais fresco.
lAbril (mais alia) 76i""',í!S
"^^''^ (Dezembro fmais baixa) 758— ,15
Differença enlre as medias d'estes dois mezes .
3,10
Temperatura (ã sombra))!^™^^^;;;'^^^;-/^;;
30,S2
19,91
DlETerença .
lff,6l
Outubro, março e abril foram os mez^s em que liouve mais dias de
cbuva.
As veutanias começaram em junho, prolongaram-se pelos mezes de
julbo, agosto e setembro; é esta a estação própria para excursi^es ao in-
terior da ilba, sendo os mezes ào julho o agosto os mais favoráveis para
esse fim.
TrliDítltci
7S8,I0
739,9.1
7SS,00
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80,!10
80,07
81 ^
i:;.t8
1,39
18,39
0 segundo Irimeslre foi o mais quente e o lerctir
JV. D. Et,ias (ibsKrv atoes nSo correspondem a lodos
0 mais íieseo.
oa dias dus differt
iiles iiiezts.
PaltaraiD as observações de janeiro e fevereiro, assim como se nSo
Qzerem em muitos dias dos dez mezes observados, e por isso não se tirou
a media animal.
N3ú se calcularam as variações diurnas da pressão atmospberica, om
as nocturnas da temperatura.
65»
Ventos qne sopraram para a cidade de S. Thomè em 1S72
Roídos
NE..
NNE.
N...
NNO.
NO..
SE..
SSE.
S...,
SSO.
SO..
OSO,
O...
ONO
E8E.
E...
ENE
Namero
de vezes
20
40
4
14
112
30
379
22
23
O
130
12
16
Observações
Venlos superiores. — O porlo da cidade
está exposto aos ventos do N.
Ventos inferiores. — O vento do SO. è
o mais prejudicial á cidade.
5
873
Venlos occidentaes. — Ficam d'estc lado
as altas montanhas da ilha.
Ventos orienlaes. — A costa oriental da
ilha olha para o continente africano e o
porto da cidade está exposto a E.
Os venlos de O. o do S. chegam â ilha depois de alravessareni as
aguas do mar da Guiné. As montanhas, que começam a elevar-se a 45
ou ^0 kilometros da cidade, formam cordilheiras, subindo a 2: SOU me-
tros de allura e algumas a 3:000 melros, oppondo assim uma enorme
barreira á violência dos ventos e á sua direcção de O. para OSO. ou para
NO.
Nos terrenos da illia encontram os ventos SE. e £SE. pântanos^ paueSi
lagoas e charcos, os quaes correm da fortaleza de S. Sebastião para o S.
São estes os ventos mais prejudíciaes á cidade de S. Thomé.
A bahia de Anna de Chaves e a cidade de S. Thomé estão exposta?
aos ventos de NE. e SE., os quaes podem prejudicar as embarcações sur-
tas no porlo, trazendo-as á terra.
Os ventos vindos do continente africano, atravessando a porção do
mar que fica entre a costa do golfo dos Mafras, chegam á ilha pela sua
margem septentrional e oriental. São os ventos ONO., NO., NNO., N.,
E., ESE. A ilha n3o offerece terrenos aos ventos de N. e de E., mas a
660
todos os outros, sem excepção, oppõe serras, e inrelizmente a alguDs
d'elles logares pantaocsos, como acima dissemos.
Os ventos que mais predominam são os do S., e d'este lado chegam
á ilba, e açoutam>na com violência, tornando perigosas as praias do S.
Os rumos dos ventos observados correspondem ás nove horas da ma-
nhã e ás nove da noite. Para se conhecer o clima da ilha de S. Thomé, e
especialmente o da cidade, onde reside a maioria dos europeus, pre-
cisa-se de maior numero de observações meteorológicas.
O estudo dos ventos nunca será surGcienlemente dirigido sem que se
façam o maior numero possivel de ohservatões de mite e de dia. sem
que se note o tempo do começo e duração das aragens, das brisas ou dos
ventos iocaes, etc.
llesumo dos vcnlos que se oiíservaram por decutas em cada mei
DO anne de 1872
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Durante as observações ás nove horas da manh3, no mez de março,
predominou o vento SE., e depois o N., SO. e ESE.
Nos dias 25 a S8 de março houve a mais alta temperatura, notando-se
os ventos E., SE. e ESE.
O dia de mais chuva Toí o dia 28 com o vento de SE. de manhã e E.
pelas nove horas da noite.
No mez de abril foi o vento de SE. mais frequente do que em março,
e depois d'elle foi o E.
Choveu muito no dia 18 do abril, havendo de manhã vento N. ; no dia
13 foi também muita a chuva, mas o vento foi SE.
No mez de maio começou o vento S. a substituir o SE., e emquanto
que este soprou dezoito vezes, aquelle apresentou-se vinte e três, sendo
notável que no dia de maior chuva se marcasse ás nove horas da ma-
nhã o vento N., direcção inferior. Os ventos n'estes dias não foram fracos.
No mez de junho ha a completa substituição do vento SE. pelo
S. que predominou sobre todos os outros com grande differença. As
ventanias começam na ultima década doeste mez, e é evidente que lho
abrem as portas os ventos do S. Nos últimos dez dias d*este mez não
choveu.
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O mez de julho é o principal das ventanias; não houve era todo f
iim só dia de chuva, e o vento do S. soprou com frequência. Os dias
mais baixa temperatura corresponderam a 17 a 20 de julho, reinandi
noite e de manhã o vento S. e 0.
Em algumas fazendas da ilha ha frio, segundo asseveram os fazi
deiros.
No mez de agosto predominou o vento S. Os primeiros chuvisc
depois de sessenta e sete dias successivos sem chuva, appareceram
dia \ 7, marcando-sc o vento N. de manhã e á noite o S. No mez de ago
houve chuviscos nos dias 17, 18, SI, 28e 31 , mas em quantidade ir
gnificanle.
Em cada um dos últimos quatro dias ile setembro clioven, e as ven-
tanias chegaram ao seu termo, mas ainda o vento S. dominou todos os
outros.
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No mez de outubro predominarnm os ventos do S., mas os de SE.
e os de O. foram quasi metade do numero que representa o vento S.
Choveu nos dias 2 e 3, raarcando-se o vento N. e o S. no dia 22 com
o ESE., e o dia 3i, especialmente, foi notável pela quantidade de agua
caída, sendo o venlo SO., iis nove horas da manha, nquehe que pre-
dominava.
No mez de novembro o vento do S, foi excedido pelo vento de O.
O ília 6 foi muito chuvoso, r o vento de O. foi o que se marcou ás nove
664
hora<; da manhã; foi nolavel pela qiiatitiilade de a;
qual correspondeu o vento SE.
No mez de ilezembro iiotaram-se os venlos S,
lante no dia 2 com venio de SO., e no dia 13 com
um dia de chuva com o vento E.
Happa contenilo a numero de T»es qne os ventos ;
para a eidaile de S. Thnm^ de mnrfo » deiem
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nliã, ás nove horas.e de noite a igual hora. Pare(
ohservações são insuílicientes e por ellas n3o se
idéa approximada da frequência de alguns dos ven
Março — Os ventos em todo este mez foram :
ram-se aos que os marítimos cliamam bafagens.
O exame e conhecimento da duração, força e |
66S
n'uina ou n'outra praia parecc-nos de grande utilidade n'uma ilba como
a de S. Thomé, otiilc a sua capital está encravada entre pântanos, lagoas,
paúes. charcos, lezírias e canos de esgoto sem declive e infectos.
As brisas durante o dia, chegando do mar á terra, devem ser menos
prejudicíaes do que aquellas que passam, de noite, de terra para o mar.
Qualquer ediDcio construído para os lados dos muros arruinados da for-
taleza de S. Jeronyrao deve ser insalubre. .
Âhhl— Os. ventos não passaram de bafagens; e predominaram os
de SE.
Maio — Os ventos não passaram de moderados, e alguns dias de ara-
gens ; o vento de mais força foi em 28 de maio (moderado oujionançoso),
choviscou n'esle dia. o céu esteve sempre encoberto. Foi o S. o principal
vento, tanto de noite como de dia.
Junho — Houve a 22 d'este mez uma tempestade, sem haver chuva ;
no dia 23 vento forle, e cm alguns dias foi moderado: predominou o
vento S., como quasi sempre acontece.
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É esta a estação denominada vulgarmente das
Julho — Sopraram apenas os ventos S. e 0. eu
taram-se onze ventos differentes, aragens e uma s
Agosto — Heduziram-se ao vento do S. osve
noite no mez de agosto; o S. foi o vento princ
Houve em muitos dias ventos moderados.
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mais sensível esie excesso do que de dia. Aragen:
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dades; os terrenos do S. e os do N. esl3o lambem em condições diver-
sas uns dos outros. Damos como provável que haja três climas difleren-
tes na ilha de S. Thomé, mas só trabalhos posteriores poder5o justifi-
car a bypothe>e que apresentámos.
As praias ou logares baixos mais notáveis e dignos de se estudarem,
a contar da praia de Anna de Chaves seguindo para E., S., O. e N, sHo
as seguintes: Melão, SanfAnna, Mecia Alves, Rei, Pedra Farada, Angra
de S. João dos Angolares, Ribeira Peixe, logo-Iogo (Boa Esperança), a
do N. na pequena ilha das Rolas, a da pittoresca angra de S. Miguel,
Santa Calharina, Agua Ambó, das Conchas. Fernando Dias, Diogo Nu-
nes e Lagarto.
Os logares de mediana altura, como os de Santa Mar<;arida e rodeando
a ilha pelo E., S., O. e N., os do monte Café, Santa Luzia, Cachoeira,
Alto Douro, etc, os quaes podem tomar os nomes das Tazendas n ellas
abertas, ficam entre 350 e 800 metros de altitude e pertencem todos
provavelmente á linha isothermica difl^erenle da /]ue se observa na pri-
meira região.
Somente por meio das linhas isothermicas pôde fuzer-se a classifi-
cação rigorosa, e por isso não nos demorámos mais neste importante
assumpto e terminámos por pedir com instancia que se façam os estudos
necessários para elle se completar.
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da 3.* década de julho e 1.» de set<'mbro, vindo portanto a faltar a» observar;/^»
em quasi dois meze».
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da 3.* década de julho e 1.* de setctubro, vindo portanto a faltar as observações
em quasi dois u)ezes.
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CAPITULO XIX
Clima da cidade da ilha de S. Thomó
o palácio do governo está delermioado em 0<^riri'/
do lai. N. r 6» 4i'i8" long. E. Creonwch, o leiu I^TS de
aliilud^ 89",H do distancia do mar.
(Pedro Carlos de Aguiar Craveim Lope«,
governador dt proviocii, março d«
1872.)
Clina local — laior e menor pmsio alnospkerifa, Icaperalura e kunidadf, e naior quanlídade de cki-
\a, obscnadas dfsde abril a novfnbro de 1HS8.- Iden de narro a dezenbro de 1872.— Iden
do anno de 1873.— Iden do aaio de 1874. - Uen do aono de 1873.- iden do aiio de 1876.
Clima local é aquellc que comprchendc uma zona limitada em relação
a qualquer região. Um valle pode ter um clima sui gencris, muito parti-
cular. A cidade de S. Thomé e a planície que lhe fíca pro.ximn, represen-
tando uma área bastante larga, téem um clima diíTerentc dos que se obser-
vam em outros logares da mesma ilha. E não deve esquecer-se que se
nuo determina a natureza de qualquer clima local sem se conhecer a com-
posição dos terrenos, a sua cultura, florestas, dírecçiío e forma dos valles,
a extensão e qualidade dos pântanos, etc.
Faltam-nos as observações meteorológicas referidas aos diflerentes
logares que se acham cultivados, como o monte Café, S. Nicolau, e ou-
tros, e por isso não podemos fazer uma comparação exacta entre o cli-
ma da cidade e o da parte montanhosa da ilha. Trataremos, porém, de
organisar as estatísticas meteorológicas, segundo os dados fornecidos no
posto que se fundou em 1873, na cidade, e que tem occupado já difle-
rentes logares, c aproveitaremos as informações que podem colher-se a
respeito da temperatura dos locaes mais elevados. Ficam assim lança-
dos os primeiros dehniamentos para se avaliar a natureza do clima da
ilha de S. Thomé, principalmente pelo que diz respeito i cidade.
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